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13° Congresso Internacional de Tintas

13ª Exposição Internacional de Fornecedores para Tintas

155 - SUSTENTABILIDADE NO PROCESSO DE OBTENÇÃO DE PIGMENTOS DE CORES


PRIMÁRIAS (AZUL, AMARELO E VERMELHO) A PARTIR DE RESÍDUOS FERROSOS.
Célia do R. de J. Valente, Adriana H. C. Assis, Gladson Oliveira, Elson Oliveira, Carlos F
Panichi.
Centro Estadual de Educação Profissional de Curitiba – CEEP , Curitiba-Pr

A reciclagem é uma importante atividade comercial observada desde o Império Romano, sendo o
ferro um dos materiais mais reciclado no mundo pelo setor industrial. Estima-se que 17,82% dos
resíduos metálicos de ferro não sofrem nenhum tipo de transformação ou recuperação. Em um
país como o Brasil que consume, aproximadamente, 25 milhões de toneladas por ano, esse
desperdício é bastante significativo. Nesse contexto, vê-se nestes resíduos um potencial
econômico a ser explorado e convertido em benefício da sociedade através da sua transformação
para obtenção de bens de consumo. Essa medida se efetiva com a redução do volume de lixo
metálico enviado para aterros e ao converter sustentavelmente esses é possível cumprir um papel
fundamental na melhoria da qualidade de vida da sociedade. Deste modo, este estudo tem por
finalidade a obtenção e caracterização dos pigmentos de coloração primária (azul, amarelo e
vermelho) a partir de óxido de ferro proveniente do tratamento de resíduos previamente
selecionados. Pigmentos de cores primárias foram obtidos, caracterizados e testados quanto a
sua dispersabilidade, solubilidade e capacidade de conferir cor a um sistema polimérico de
polietileno.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Pigmento. Ferro. Polímero. Polietileno.

INTRODUÇÃO

Atuando de maneira sustentável, vê-se na sucata metálica um potencial a ser explorado


e convertido em benefício da sociedade através da transformação e obtenção de bens de
consumo. Ao convertê-la através de um processo produtivo, cumpre-se um papel fundamental
na melhoria da qualidade de vida das comunidades e na limpeza das cidades reduzindo o
volume de lixo metálico enviado para aterros e gerando empregos por meio de uma extensa
cadeia de pequenos e médios empreendedores que se dedicam a essa atividade de
segregação e processo produtivo.
Pigmento é definido como um particulado sólido, orgânico ou inorgânico, branco, preto,
colorido ou fluorescente, que seja insolúvel no substrato no qual venha a ser incorporado e que
não reaja quimicamente ou fisicamente com este, utilizados para atribuir coloração aos
materiais [1-2]. Os pigmentos óxidos apresentam forte ligação química metálica, alta resistência
à luz e também, em geral, uma menor toxidade para o homem e para o ambiente [3]. Óxidos
são produtos que possuem boa resistência térmica [4]. Os óxidos de ferro podem ser naturais
ou sintéticos, tem baixo custo, ampla variedade de cores, não são tóxicos e são termicamente
estáveis [5]. Estruturalmente, um pigmento inorgânico é formado por uma rede hospedeira, na
qual se integra o componente cromóforo (normalmente um cátion de metal de transição) e os
possíveis componentes modificadores, que estabilizam, conferem ou reafirmam as
propriedades pigmentantes [3]. De fato, estes podem apresentar características intrínsecas
diferentes e, portanto, serem pouco homogêneos e geralmente conterem diversos tipos e
quantidades de impurezas [2]. Os pigmentos inorgânicos produzem cor por ação de íons
cromóforos que absorvem a radiação visível de forma seletiva e sendo estabilizados por
mecanismos químicos apropriados conseguem manter sua ação pigmentante sob condições
químicas e temperatura desfavoráveis [3].
Este trabalho tem como principal objetivo o tratamento do resíduo industrial e
residencial, de origem ferrosa e transformação em pigmento metálico.

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PARTE EXPERIMENTAL

Material
Sucata metálica, ácido clorídrico, ácido sulfúrico, hidróxido de sódio e ferrocianeto de
sódio.

Obtenção do Sulfato Ferroso


A primeira etapa do experimento consistiu na síntese do sulfato ferroso hexahidratado a partir
do aço extraído de pilhas. Inicialmente fragmentou-se o aço presente na pilha, e adicionou-se
ácido sulfúrico, com aquecimento em chapa aquecedora. O ácido sulfúrico tem um importante
papel para posterior produção do sulfato ferroso (II). Ele irá reagir com os íons ferro II,
dissolvendo o aço e formando sais de ferro (II) com liberação de Hidrogênio. Nem todo enxofre
reage com o ferro, parte do enxofre reage com o hidrogênio formando acido sulfídrico (H2S). As
impurezas oriundas da liga são retidas por filtração. Ao filtrado é adicionado etanol, pois o
sulfato ferroso é insolúvel em álcool. Depois de adicionado etanol na solução, obteve-se um
precipitado de cor verde claro, identificado como sulfato de ferro heptahidratado. Este foi seco e
depois desidratado formando o sulfato ferroso (FeSO4).

Preparação pigmento vermelho


O sulfato ferroso desidratado é enviado para calcinação, onde obtemos o pigmento vermelho
(Fe2O3).

Preparação pigmento amarelo:


O sulfato ferroso reage com solução de hidróxido de sódio sobre oxigenação constante,
gerando o pigmento amarelo (Fe2O3 H2O) o qual é filtrado e seco em estufa.

Preparação pigmento azul:


A obtenção do pigmento iniciou-se por decapagem, ataque químico da sucata de ferro com
ácido clorídrico obtendo-se cloreto de ferro. Depois é dosado ferrocianeto de sódio, com
constante controle de temperatura e pH. gerando o pigmento azul (Fe4[Fe(CN)6]3) o qual é
filtrado e seco em estufa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como resíduo metálico utilizou-se a palha de aço residual obtido do refeitório da


instituição. Optou-se por esse resíduo por apresentar-se em pequenas partes e apresenta uma
superfície de contato muito maior, aumentando a velocidade da reação e facilitando a análise
laboratorial. A reação característica foi a de deslocamento através de uma reação exotérmica,
Figura 1, iniciado com a adição de 350 mL de ácido sulfúrico (H2SO4) 40% diluído em água
deionizada até 1600 mL, onde em seguida mergulhou-se a sucata de ferro (Fe), obtendo-se o
sulfato de ferro II (Fe2(SO4)3), que serviu como reagente na produção dos pigmentos.
Essa reação exotérmica potencializou o desprendimento de gás hidrogênio (H2) que
em contato com o enxofre residual formou o gás sulfídrico sendo, portanto imprescindível o uso
de equipamentos de proteção. Esse resíduo é facilmente identificado no laboratório pelo cheiro
característico desagradável. Como resultado desta síntese obteve-se uma solução de cor
escura com um precipitado, isso porque a amostra de ferro contem certas impurezas.

2H2SO4(aq) + 2Fe(s) → 2FeSO4(aq) + 4H2(g)↑


Figura 1- Reação de Síntese do Sulfato de Ferro ll

Após 25 minutos todo o ferro foi atacado, em seguida foi feita a filtração da solução
ferrosa para separar o reagente desejado dos resíduos contidos (carbono e outras impurezas)

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na solução. Na filtração comum utilizou-se um papel filtro qualitativo, o precipitado preto ficou
retido no filtro e o filtrado apresentou uma coloração verde límpida.
Após 24 horas do filtrado em repouso mediu-se o pH com papel tornassol, o mesmo
ficou vermelho escura apresentando pH 1, observou-se a formação de vários cristais de
coloração verde clara na solução, e segundo pesquisa [6] a coloração verde e formação sólida
do sal em meio ácido, trata-se do sulfato de ferro II.

Figura 2: Solução de Sulfato de Ferro ll

Para caracterizar a presença do íon ferroso (Fe2+) foi realizado o experimento com uma
solução de hidróxido de sódio. Transferiu-se 10 mL da solução para um tubo de ensaio e
adicionou-se uma solução de hidróxido de sódio ocorrendo uma precipitação branca
caracterizando o hidróxido de ferro II (Fe(OH)2), em completa ausência de ar, ficou insolúvel
com o hidróxido de sódio em excesso, mas se dissolveu totalmente em meio ácido. Após a
exposição ao ar, o hidróxido de ferro II foi rapidamente oxidado, produzindo por fim, um
precipitado marrom avermelhado de hidróxido de ferro III, comprovando que a solução continha
os íons de ferrosos (Fe2+), conforme Figura 3, abaixo.

Fe2+ + 2OH- → Fe(OH)2↓


4Fe(OH)2 + 2H2O + O2 → 4Fe(OH)3↓
2Fe(OH)2 + H2O2 → 2Fe(OH)3↓
Figura 3:Reação de caracterização da presença de íons ferrosos.

O sulfato ferroso foi calcinado a altas temperaturas para produzir uma linha de
vermelhos. O processo envolveu duas etapas de calcinação, uma desidratação e uma
decomposição, finalizando com a obtenção do pigmento vermelho, Figura 4-a. O sulfato ferroso
em contato com solução de hidróxido de sódio, precipita pigmento amarelo (Fe2O3 H2O) o qual
é filtrado e seco em estufa, Figura 4-b . E através da decapagem, ataque químico da sucata de
ferro com ácido clorídrico obteve-se cloreto de ferro, o qual é dosado com ferrocianeto de
sódio, com constante controle de temperatura e pH, precipitando o pigmento azul de ferro
(Fe4[Fe(CN)6]3) o qual é filtrado e seco em estufa, Figura 4-c.

a b c
Figura 4: Pigmentos obtidos a partir do sulfato ferroso.
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CONCLUSÃO

A sustentabilidade lançou na mente dos jovens estudantes um desafio a ser alcançado,


possibilitando, desta forma, o uso da química como uma arma instigadora que possibilita a
conversão do lixo em matéria prima. O uso da sucata metálica proporcionou a geração do
sulfato ferroso, óxidos de ferro e ferrocianeto férrico, os quais podem ser largamente utilizados
na indústria.

BIBLIOGRAFIA

1. A. P.Lewis Pigment Handbook: Properties and Economics,1ª Ed., New York, 1988..
2. C. A. Bonamartini et al Synthesis and Methodologies inInorganic Chemistry, New
Compounds and Materials, v. 6, pp.145-51, 1996.
3. G. P.Casali, et al, Síntese e Caracterização de PigmentosCerâmicos Obtidos por
Precursores Poliméricos, In: Anais do16º Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciências dos
Materiais, pág. 1425-1431, 2002.
4. D. Feldman, A. Barbalata Synthetic Polymer: Tecnology, Proprieties, Applications. Chapman
& Hall, Canadá, 1996.
5. J. Fazenda, Tintas & Vernizes: Ciência e Tecnologia. 3. ed. Edgard Blucher, São Paulo,
2005.
6. VOGEL, A. I. Química Analítica Qualitativa. 5. ed. Mestre Jou, São Paulo 1981.

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