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A Água como Agente Ambiental Decisivo para a Biodeterioração de

Estruturas de Concreto em Cidades Litorâneas: O Caso dos Túneis da


Cidade do Recife

Water as a Decisive Environmental Agent for the Biodeterioration of


Concrete Structures in Coastal Cities: The Case of the Tunnels of the City
of Recife

Josiane Maria de Santana Melo LINS1, Ramon Duque Ferraz Burgos2, Eduardo José Melo LINS3
1
Universidade Católica da Pernambuco, Recife-PE, Brasil, josianemlins@hotmail.com
2
Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco, Recife-PE, Brasil, rramonduque@gmail.com
3
Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco, Recife-PE, Brasil, eduardojmlins@hotmail.com

Resumo: As águas pluviais contaminadas ou não, as águas percoladas de lençois freáticos, as


águas servidas de sistemas de esgoto e drenagem urbana, a água de amassamento de concretos, a
água para o processo de cura do concreto endurecido, dentre outras, são agentes ambientais
decisivos para a deterioração física, química e biológica ou para a conservação das estruturas dos
ambientes construído e natural. A água é um elemento vital para o desenvolvimento e reprodução de
micro-organismos vivos, sendo os ambientes úmidos por consequência mais propícios ao surgimento
de manifestações patológicas. O fator água-cimento (fac) é uma relação importantíssima para a
garantia da qualidade de concretos, uma vez que tal relação influencia na capacidade dos mesmos
resistirem às agressividades do meio ambiente nos quais estão inseridos e, por conseguinte na sua
vida útil. Importante propriedade dos concretos, diretamente relacionada ao fac, é a porosidade, visto
que os poros são as portas de entrada para os agentes agressivos aos mesmos. Os sistemas de
impermeabilização e drenagem são essenciais para a proteção das estruturas de concreto, uma vez
que funcionam como barreiras à ação deletéria dos diversos tipos de águas. As estruturas de
concreto podem estar em contato com os diversos tipos de águas, desde que adequadamente
projetados, executados e conservados. A cidade do Recife, também conhecida como a Veneza
brasileira, se situada na região litorânea do nordeste do Brasil. De clima tropical úmido, Recife tem
áreas que se localizam a até dois metros abaixo do nível médio do mar, características estas que
influenciam sobremaneira o desenvolvimento de processos de deterioração de estruturas
subterrâneas. Foram realizadas inspeções visuais nas estruturas dos cinco túneis urbanos existentes
no Recife, no período tradicional de chuvas intensas, maio e junho de 2017, através das quais foi
traçado um diagnóstico preliminar, donde foi possível compreender que as águas atuantes nas
citadas estruturas têm sido determinantes para a sua deterioração, bem como que os túneis mais
recentemente construídos, Túnel da Abolição (2015) e Túnel Felipe Camarão (2012), apresentam
manifestações patológicas equivalentes em tipos e extensão aos túneis mais antigos, tais como a
presença de micro-organismos incrustados sobre o concreto, desplacamento do concreto e
corrosão de armaduras, devido principalmente à ação das águas percoladas e infiltradas,
exigindo tal conjuntura ações de recuperação das estruturas daquele que é responsável pela
estabilidade estrutural, funcional e estética dos túneis - o poder público.
Palavras-chave: Bioterioração; Micro-organismo; Água; Concreto; Túneis.

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A Água como Agente Ambiental Decisivo para a Biodeterioração de Estruturas de Concreto
Abstract: Contaminated or uncontaminated rainwater, percolated water from groundwater, sewage
and urban drainage water, concrete kneading water, water for curing concrete, among others, are
decisive environmental agents. For the physical, chemical and biological deterioration or for the
conservation of the structures of the constructed and natural environments. Water is a vital element for
the development and reproduction of living microorganisms, the humid environments being
consequently more prone to the appearance of pathological manifestations. The water-cement factor
is a very important relation for the quality assurance of concretes, since such a relation influences in
the capacity of the same to resist the aggressions of the environment in which they are inserted and,
therefore, in their useful life. Important property of the concretes, directly related to the fac, is the
porosity, since the pores are the entrance doors for the aggressive agents to them. Waterproofing and
drainage systems are essential for the protection of concrete structures, since they act as barriers to
the deleterious action of the various types of water. Concrete structures may be in contact with the
various types of water as long as properly designed, executed and maintained. The city of Recife, also
known as the Brazilian Venice, is located in the coastal region of northeastern Brazil. From a humid
tropical climate, Recife has areas that are located up to two meters below the average sea level,
characteristics that influence greatly the development of processes of deterioration of underground
structures. Visual inspections were carried out in the five urban tunnels existing in Recife during the
traditional heavy rains period, in May and June of 2017, through which a preliminary diagnosis was
drawn, from which it was possible to understand that the waters acting on the mentioned structures
have been determinant For its deterioration, as well as the more recently constructed tunnels,
Abolição Tunnel (2015) and Felipe Camarão Tunnel (2012), show pathological manifestations
equivalent in type and extension to the older tunnels, such as the presence of micro-organimetry On
concrete, concrete displacement and corrosion of reinforcement, due mainly to the action of
percolated and infiltrated waters, requiring such an event to recover the structures of the one who is
responsible for the structural, functional and aesthetic stability of the tunnels - the public power.
Keywords: Bioderioration; Microorganism; Water; Concrete; Tunnels.

1. Introdução

Segundo a norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) que versa sobre a
manutenção das edificações, aplicáveis por analogia às estruturas de túneis, as construções são
construídas para atender aos usuários por muitos anos com condições adequadas de uso,
considerando inviável, sob o ponto de vista econômico e inaceitável sob o ponto de vista ambiental,
considerar as construções como descartáveis (Müller, 2010).
Dentre os agentes ambientais a água é um dos principais, estando relacionada ao aparecimento de
manifestações patológicas em todos os tipos de construções. A ação combinada do vento (pressão),
direção e intensidade, e da chuva, somados às condições de exposição das estruturas, podem
intensificar a ação de degradação da água sobre as construções.
A chuva é o agente mais comum para gerar umidade, tendo como fatores importantes a direção e a
velocidade do vento, a intensidade da precipitação, a umidade do ar e fatores da própria estrutura
(impermeabilização, porosidade de elementos de revestimentos, sistemas precários de escoamento
de água, dentre outros). Este tipo de umidade pode ocorrer ou não com as chuvas. O simples fato de
ocorrer precipitação, não implica em patologias de umidades com esta causa. (Souza, 2008).

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Nos processos de biodeterioração ou de deterioração por micro-organismos, a água figura como um
elemento vital, tendo em vista que nenhum organismo vivo é capaz de se desenvolver e se reproduzir
sem a mesma, e por consequência disto ambientes úmidos possuem uma maior propensão ao
desenvolvimento do citado processo (Filla et al., 2010)
Após o endurecimento do concreto, a água se torna um dos agentes que mais influenciam para
degradação do mesmo. O meio mais frequente de ingresso de agentes agressivos no concreto é por
meio de sua rede de poros, podendo ter como vetor a água, sendo a forma mais frequente de
ingresso de água para o interior do concreto o mecanismo de absorção capilar (Helene, 1993)
No Brasil os métodos usuais para minimizar ou prevenir a infiltração de água em estruturas
subterrâneas, tais como tratamento do maciço adjacente com injeções, associado à construção de
uma estrutura em concreto de baixa permeabilidade, impermeabilizações com mantas betuminosas
ou até mesmo injeção posterior das estruturas, não têm produzido resultados eficientes em termos de
custo-benefício, tanto do ponto de vista de estanqueidade como de durabilidade.
O presente artigo científico consiste em parte das análises desenvolvidas a partir dos dados das
inspeções realizadas pelos autores nos cinco túneis urbanos da cidade do Recife, tendo como foco
as manifestações patológicas encontradas, em particular aquelas vinculadas à presença de águas no
ambiente construído, da sua interação com as estruturas, dos processos de biodeterioração aos
quais estão submetidas.

2. A biodeterioração de estruturas de concreto

A biodeterioração dos concretos é um problema de caráter multidisciplinar, tendo em vista envolver


diversas áreas do conhecimento, a exemplo da geologia, bioquímica, microbiologia e ciência dos
materiais.
Como comentado por Filla et al. (2010), é difícil conceber a luz do senso comum como os micro-
organismos, tais como bactérias, fungos e algas podem causar algum tipo de dano à materiais tão
resistentes como os concretos.
Os micro-organismos são os agentes de deterioração das estruturas de concreto menos explorados
pelo meio acadêmico, que invariavelmente está acostumado a se preocupar com a deterioração
causada por ataque químico de cloretos e sulfatos, ciclos de gelo e degelo, tensões térmicas e
reações álcali-agregado (Filla et al., 2010). No Brasil os primeiros estudos sobre a biodeterioração de
concretos foram desenvolvidos por Moema Ribas da Silva na década de 1990, com o estudo da
presença de micro-organismos em amostras de concreto deteriorado, seguido pelos estudos de
Márcia A. Shirakawa, que realizou o isolamento de micro-organismos presentes no concreto. De
acordo com Metz et al. (2004), diversas outras aplicações do concreto têm sido estudadas no tocante
à biodeterioração de elementos de fundações, redes de esgotos e mais recentemente à barragens.
A palavra biodeterioração está em uso há mais de 40 anos (Allsopp, 2004), possui um sentido
negativo e refere-se a interações indesejadas e destrutivas entre micro-organismos, ou mesmo
macro-organismos, e diversos materiais, como é o caso de metais, vidro, madeira, plástico, concreto,
argamassas, óleos e combustíveis, dentre outros. Os danos causados ao concreto ou argamassas
podem ser tanto de ordem estética, quanto funcional (Gaylarde, 2003).
Ainda segundo Filla et al. (2010) a disponibilidade de nutrientes para os micro-organismos é um dos
fatores necessários para o desenvolvimento do processo da biodeterioração dos concretos, a
exemplo dos aditivos orgânicos utilizados na preparação de concretos e argamassas e de matérias

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orgânicas resultante da morte de outros micro-organismos. O tipo de nutriente disponível irá definir,
ou selecionar, o microrganismo capaz de iniciar o citado do processo de biodeterioração.
Já a biorreceptividade está relacionada à capacidade de um material permitir a fixação e o
desenvolvimento de micro-organismos em sua superfície, a qual está relacionada a diversos fatores
como, por exemplo, a rugosidade, composição da camada superficial e umidade (Filla et al., 2010).
O biofilme diz respeito a uma película ou mancha resultante das excreções de organismos vivos,
quais sejam bactérias, fungos e algas, os quais se fixam e desenvolvem-se sobre a superfície de um
material, passando a constituir-se numa comunidade ou ecossistema complexo.
De acordo com Gaylard (2003) os custos envolvidos com a biodeterioração de concretos e
argamassas envolvem a reparação, limpeza, repintura e aplicação de medidas preventivas, tornando-
os desta feita de difícil estimativa.
As causas diretas dos processos de biodeterioração de estruturas costumam ser mais difíceis de
corrigir e impossíveis de serem anuladas, principalmente se são agentes atmosféricos ou
contaminação, a exemplo do vento, temperatura e chuva, e é necessário recorrer à proteção física ou
química, ou seja, atuar sobre as causas indiretas, quais sejam, material defeituoso e problemas de
disposição construtiva por defeito de projeto ou detalhamento e por erro de execução (Müller, 2010).
A biodeterioração é uma ação complexa que envolve processos químicos, físicos e mecânicos, os
quais geram prejuízos que podem ser decorrentes da ação do micro-organismo em si, que utiliza o
substrato como seu alimento ou função de metabólitos excretados, como os ácidos orgânicos. Os
minerais constituintes do cimento, agregados ou argamassas podem ser dissolvidos por produtos do
metabolismo dos micro-organismos, os metabólitos, ou são utilizados diretamente como nutrientes
por alguns tipos de bactérias. É muito comum o caso de bactérias nitrificantes que geram ácido nítrico
ocasionando a dissolução do cálcio pela produção de nitrato de cálcio solúvel levando ao
enfraquecimento da matriz cimentícia (Filla et al., 2010).
Gaylard (2003) relacionou os materiais de construção, os micro-organismos atuantes nos mesmos, a
ação destes últimos sobre os primeiros e o respectivo aspecto visual do material biodeteriorado
(Quadro 1). Nos estudos desenvolvidos por Gaylarde e Gaylarde (2000) sobre os revestimentos
pintados sobre fachadas em oito países na América Latina, foi observado que a condição ambiental
mais influente no desenvolvimento do biofilme foi o constante ciclo de secagem e molhagem, seguida
pela exposição à radiação ultravioleta e temperaturas elevadas.
Dentre as manifestações patológicas mais comuns referentes aos problemas de umidade em
construções, encontram-se a mancha de umidade, corrosão de elementos metálicos, bolores, fungos,
algas, liquens, eflorescências, deslocamento de revestimento (desplacamento), friabilidade da
argamassa por dissolução dos compostos com propriedades cimentíceas, fissuras e mudança de cor
dos revestimentos, bem como problemas de biodeterioração (Araújo, 2003).

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Quadro 1 – Efeitos de micro-organismos em diversos materiais de construção

Material de Construção Micro-organismo Ação Efeito


Descoloração e retenção de
Todos Todos Presença física
água
Algas e bactérias Multiplicação de organismos
Qualquer superfície limpa Presença física
fotossintetizantes heterotróficos
Quebra de componentes e
Madeiras, polímeros, superfícies Fungos, bactérias e Excreção de enzimas
degradação de aditivos de
pintadas, concretos e argamassas fungos filamentosos hidrolíticas
cadeia curta
Fungos,
Rochas, concreto, argamassa e Crescimento de
actinomicetos, algas Desagregação do material
madeiras filamentos
e cianobactérias
Rochas, concretos, argamassas Fungos e bactérias Produção de ácido Corrosão
Perda de resistência e
Rochas, concretos, argamassas Todos Remoção de íons
dissolução
Produtores de ácidos
Sequestro (quelação) de Perda de resistência e
Rochas, concretos, argamassas orgânicos como
constituintes iônicos dissolução
fungos
Algas e Remoção de H+ pelas
Rochas Corrosão alcalina
cianobactérias células
Liberação de polióis
Rochas silicosas Todos (glicerol e Disruptura de silicatos laminares
polissacarídeos)

Fonte: Gaylarde (2003)

No quadro 2 estão relacionados alguns efeitos da biodeterioração sobre os materiais de construção.


Materiais de construção que possuem natureza mineralógica similar poderm sofrer o mesmo tipo de
ataque, a exemplo das rochas, concreto e argamassa (Filla et al., 2010).
Segundo Silva e Pinheiro (2005), para o adequado diagnóstico de processos de biodeterioração é
necessário seguir os passos a seguir elencados, bem como uma avaliação da microestrutura do
concreto segundo a associação das técnicas constantes no Quadro 3:
i. Verificação das condições da estrutura (observação visual com documentação fotográfica de áreas
deterioradas e sãs);
ii. Coleta de amostras documentadas por croquis e fotografias;
iii. Avaliação geral do ambiente (na fase de execução e operação da estrutura);
iv. Informações a respeito do tipo de aglomerante, agregados, aditivos e adições utilizados;
v. Avaliação da microestrutura do concreto ou argamassa com a utilização de técnicas diretas e
indiretas.
De acordo com Müller (2010) o processo do diagnóstico constitui a contínua redução da incerteza
inicial pelo progressivo levantamento de dados. Esta progressiva redução da incerteza é
acompanhada por uma redução paralela do número de possíveis modelos (ou hipóteses), até que se
chegue a uma correlação satisfatória entre o problema observado e um modelo deste problema (o
diagnóstico).

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Quadro 2 – Alterações de superfícies originadas da ação de micro-organismos sobre materiais de construção

Características
Microrganismo Alteração de Superfície
Biológicas
Produzem o próprio Incrustações negras, formação de ferrugem ou pátina
Bactérias autotróficas
alimento (oxidação) negra ou marrom, esfoliação, pulverulência
Alimentam-se de
Bactérias
moléculas orgânicas Incrustações negras, formação de óxidos negros ou
heterotróficas
oriundas de outros seres marrons, esfoliação, alteração de cores
vivos
Obtêm energia por Formação de ferrugem ou pátinas e placas de várias
Cianobactérias
fotossíntese cores e consistências
Organismos de dimensões
Manchamentos de diversas cores, esfoliação, corrosão
Fungos microscópicas como
localizada (pontual, pit)
bolores e leveduras
Organismos fotossintéticos
Formação de ferrugem ou pátinas e placas de várias
Algas de ambientes geralmente
cores e consistências
marinho ou terrestre
Associação simbiótica
Líquens Incrustações, formação de placas e corrosão pontual (pit)
entre fungos e bactérias
Encontradas em ambientes
Musgos e hepáticas terrestres úmidos e com Descolorimentos, formação de placas cinza-esverdeadas
pouca luz solar
Plantas que produzem
Plantas superiores flores e sementes ou frutos Fendilhamento, ruptura e desagregação de material
comestíveis

Fonte: Adaptado de Gaylarde (2003)

Dentre as técnicas preventivas que podem ser empregadas para evitar a biodeterioração de
estruturas de concreto estão a manutenção da superfície lisa, o adequado isolamento da água
(impermeabilização), a previsão de declives nas peças para evitar o acúmulo de água, a poda
adequada da vegetação próxima à estrutura e previsão de eficiente sistema de drenagem do terreno
adjacente à estrutura (Silva e Pinheiro, 2005). Segundo Filla et al. (2010) a limpeza dos substratos
para a remoção de poeira, fuligem, biofilmes e crostas são as técnicas mais comuns empregadas
para a manutenção de superfícies bioderioradas, contudo, nem sempre são as mais eficazes, ainda
que seja utilizada lavagem sob pressão ou a vapor.
Na biodeterioração incluem-se não só os danos provocados por organismos microscópicos em meio
à ambientes úmidos, mas também os causados pelas plantas superiores, pelos insetos, pelas aves e
pelos mamíferos (como por exemplo, os morcegos).

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Quadro 4 – Principais associações de técnicas diretas e indiretas para avaliação da microestrutura
de concretos ou argamassas

Tipo 1 Técnica Associada 1 Tipo 2 Técnica Associada 2


Amostragem com adesivo Difração de raio X
Contagem de células Microscopia acústica de varredura
Microbiológicas Detecção de biomoléculas Avaliação da resistividade elétrica
Métodos analíticos de DNA Avaliação da resistividade elétrica
Métodos imunológicos Indiretas Avaliação da perda dielétrica
Microscopia ótica Termogravimetria
Microscopia eletrônica de
Diretas Análise térmica diferencial
varredura
Microscopia acústica de
Técnicas calorimétricas
varredura

Fonte: Filla et al.(2010)

3. A relação água-cimento

Um dos fatores mais importantes na caracterização da qualidade do concreto é relação água versus
cimento. Tal relação irá estabelecer a resistência à compressão, permeabilidade e trabalhabilidade do
concreto. Sua dosagem correta irá influenciar a vida útil do concreto e sua capacidade de resistir aos
agentes agressivos do meio externo, pois a relação água-cimento delimita a porosidade do concreto,
e os poros são as portas de entrada para agentes agressivos ao concreto.
Após o endurecimento, a água se torna um dos agentes que mais influenciam para a degradação do
concreto. O meio mais freqüente de ingresso de agentes agressivos no concreto é a sua rede de
poros, podendo ter como vetor a água, sendo a forma mais freqüente de ingresso de água para o
interior do concreto o mecanismo de absorção capilar (Helene, 1993).
Concretos em contato constante com a água exigem atenção especial, pois, segundo Verçoza (1991)
a umidade não é apenas uma causa de patologias, ela age também como um meio necessário para
que grande parte das patologias em construções ocorra. Ela é fator essencial para o aparecimento de
eflorescências, ferrugens, mofo, bolores, perda de pinturas, de rebocos e até a causa de acidentes
estruturais. A chuva é o agente mais comum para gerar umidade, tendo como fatores importantes a
direção e a velocidade do vento, a intensidade da precipitação, a umidade do ar e fatores da própria
estrutura (impermeabilização, porosidade de elementos de revestimentos, sistemas precários de
escoamento de água, dentre outros). Este tipo de umidade pode ocorrer ou não com as chuvas. O
simples fato de ocorrer precipitação, não implica em patologias de umidades com esta causa. (Souza,
2008)
Porém as construções subterrâneas da cidade do Recife convivem com outro fator que influencia na
deterioração do concreto, as águas do lençol freático. As águas advindas do lençol freático são
significantemente mais agressivas para as obras subterrâneas do que as águas pluviais. A
possibilidade de existir uma contaminação por sulfato ou cloretos, além de uma pressão de empuxo,
intensifica a degradação nas estruturas e requerem mais perícia dos projetistas e executores.

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A percolação de água no concreto pode ativar mecanismos como a lixiviação. Tal fenômeno gera
manifestações patológicas, como a eflorescência e criptoflorescência, que são manchas brancas de
carbonato de cálcio encrostados na superfície do concreto. Elas são geradas pela reação do gás
carbônico com o hidróxido de cálcio, lixiviado da pasta de cimento pela água. Além dos danos
estéticos no concreto, a lixiviação reduz o ph do concreto e deixa a armadura de aço sujeita à
despassivação pela ação de cloretos ou carbonatação.
A água também funciona como agente transportador de subtâncias agressivas ao concreto armado.
Pode-se tomar como exemplo uma estrutura próxima ao mar que recebe névoa salina e fica com uma
camada de íons de cloreto em sua superfície. Quando chove, a água precipitada pode transportar
esses íons pelos poros do concreto até o aço, despassivando-os e causando a corrosão do aço.
Além de servir como agente transportador, a água também pode ativar manifestações patológicas
como as fissuras advindas da reação álcalil-agregado e da etringita tardia, pois o gel desenvolvido
nessas reações expande a ponto de fissurar o concreto.
Lemos (2005) comenta que a maior parte da bibliografia existente relata principalmente danos e
degradação nas estruturas subterrâneas causadas pela infiltração de água. Estes danos são
classificados em três diferentes categorias: efeitos externos (no entorno do túnel, mas não afetando
sua estrutura); efeitos estruturais (afetando a capacidade estrutural do túnel); e os efeitos funcionais
(afetando a funcionalidade do túnel).

4. Impermeabilização do Concreto

A NBR 9575/2010, define impermeabilização como sendo o “conjunto de operações e técnicas


construtivas, e serviços, composto por uma ou mais camadas, que tem por finalidade proteger as
construções contra a ação deletéria de fluidos, de vapores e da umidade”. Falhas nos sistemas de
impermeabilização podem desenvolver um grande número de manifestações patológicas no concreto.
Antonelli (2002) concluiu em sua pesquisa que a falta de projeto específico de impermeabilização é
responsável por 42% dos problemas na impermeabilização, sendo significativa sua influência na
execução e fiscalização dos serviços de impermeabilização. O sistema de impermeabilização a ser
usado deve ser escolhido conforme circunstâncias em que serão usados. Os principais fatores que
devem ser levados em consideração são: pressão hidrostática, frequência de umidade, exposição ao
sol, exposição a cargas, movimentação da base e extensão da aplicação.
No Brasil, os métodos usuais para minimizar ou prevenir a infiltração de água em estruturas
subterrâneas, tais como tratamento do maciço adjacente com injeções associado à construção de
uma estrutura em concreto de baixa permeabilidade, impermeabilizações com mantas betuminosas
ou até mesmo injeção posterior das estruturas, não têm produzido resultados eficientes em termos de
custo versus benefício, tanto do ponto de vista de estanqueidade como de durabilidade.
Segundo EGGER (2004), a idéia do uso de uma camada impermeável entre as duas camadas de
revestimento de concreto em um túnel foi implantada, sem grande sucesso, através da tentativa de
aplicação de uma membrana projetada constituída por mastique asfáltico, isolantes e fibra de vidro,
no início dos anos 60. Dez anos depois, sistemas impermeabilizantes com membranas flexíveis,
constituídas de geotêxteis não tecidos de polipropileno e polímeros de material selante, foram
desenvolvidos na Suíça e na Áustria e foram utilizados na Europa com a adoção do New Austrian
Tunnelling Method (NATM). Em 1983, com a introdução do NATM no Metropolitano de Washington
(EUA), uma membrana impermeabilizante flexível foi aplicada com sucesso nas estruturas
subterrâneas, com conseqüente redução dos custos de manutenção e de custo operacional.

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3. Análise da biodeterioração dos túneis da cidade do Recife

Para a elaboração do presente estudo, foram realizadas inspeções no período tradicional de chuvas
intensas na cidade do Recife, mais precisamente o período compreendido entre os meses de maio e
junho de 2017. De acordo com o boletim de precipitações da Agência Pernambucana de Águas e
Clima (APAC, 2017), o mês de maio apresentou um acúmulo de chuvas elevado com 282,2 mm e o
mês de junho 284,9 mm. Um volume de chuvas elevado representa o aumento do contato das
estrturas dos túneis com a água, eleva o nível dos lençois freáticos e favorece a aparição das
manifestações patológicas mais recorrentes em estruturas de concreto subterrâneas.
Na cidade do Recife existem cinco túneis urbanos que integram o sistema viário, são eles o Túnel
Prefeito Augusto Lucena, Túnel Chico Science, Túnel Josué de Castro, Túnel Felipe Camarão e o
Túnel da Abolição. Eles são considerados túneis de pequena extensão, sendo a marginal direita do
túnel Prefeito Augusto Lucena o mais extenso (315 m/1.033 pés) e o de menor extensão o Chico
Science (93 m/ 305 pés). Ao todo, o Recife possui uma extensão de 1.456 m de túneis urbanos.
As inspeções foram realizadas de forma visual, com o auxilio de um fissurômetro, câmera fotográfica
e uma trena. Com os dados obtidos nas inspeções foram desenvolvidos estudos comparativos aos
dados presentes no trabalho desenvolvido por Da Fonte (2011), tendo como fim a compreensão da
evolução das tipologias e extensões das manifestações para os três túneis constantes naquele
estudo (Túnel Josué de Castro, Túnel Chico Science e Túnel Prefeito Augusto Lucena), bem como do
mapeamento das tipologias e extensões das manifestações patológicas presentes nos dois túneis
construídos posteriormente aos estudos de Da Fonte, quais sejam Túnel Felipe Camarão e Túnel da
Abolição.
Além do problema causado pelas chuvas intensas, um agravante é a influência do nível do lençol
freático nas obras subterrâneas do Recife, visto que a citada cidade está situada a 2,00m acima do
nível médio dos mares. Como grande parte da cidade do Recife é composta por aterros, executados
sobre áreas de alagamentos, o curso natural que as águas corriam quando a maré subia hoje é
impedido pelos aterros, escoando essa água para outras áreas e consequentemente aumentando a
pressão de empuxo em obras subterrâneas. O crescimento ao longo do tempo das áreas de aterro na
cidade do Recife pode ser compreendido através da observação das ilustrações da Figura 1.

Figura 1 - Evolução dos aterros na Cidade do Recife (Fonte: Diário de Pernambuco)

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3.1 Túnel Augusto Lucena

O Túnel Prefeito Augusto Lucena foi inaugurado no ano de 1997 e está localizado no bairro de Boa
Viagem, sendo constituído por duas estruturas paralelas, em sentidos contrários de tráfego, divididas
por um canal de regularização de maré, o Canal do Rio Jordão. Estas estruturas são denominadas de
Estrutura Marginal Sul-Norte (Direita) e Estrutura Marginal Norte-Sul (Esquerda). Ambas são
constituídas por aduelas em concreto armado e pavimento em concreto e suas extensões
correspondem a 279,5m e 314,5m respectivamente.
Nas duas estruturas foram identificadas manchas de percolação de água nas vigas e bolores nas
faces externas da estrutura. As juntas de movimentação da estrutura estão bastante degradadas e
todas apresentam sinais de percolação de água so seu redor (Figura 19). A marginal direita
apresenta 5 fissuras de canto a canto no decorrer da sua laje e dessas fissuras 3 apresentam sinais
de percolação de água no seu entorno (Figuras 2 e 3).
Na marginal da esquerda foram identificados os mesmos tipos de manchas nas paredes de
contenção e na laje, além de dois pontos onde há desplacamento do concreto e exposição de
armadura corroída. A Figura 4 mostra o sistema de drenagem de água por canaletas confinadas com
placas de concreto. A canaleta drenagem interna do túnel apresenta várias placas quebradas e
acúmulo de resíduos dentro das mesmas, os quais dificultam o fluxo da água. Nas canaletas externas
ao túnel não foi verificada a existência de tampas.
Dentre os cinco túneis inspecionados e analisados, o Túnel Augusto Lucena foi o que apresentou a
menor quantidade de manifestações patológicas causadas pela influência das águas, mesmo sendo o
túnel mais antigo e de maior extensão. As manifestações causadas pela ação das águas ocorreram
em pontos específicos onde a percolação de água favoreceu o surgimento das mesmas (Figura 5 e
6).

Figuras 2, 3, 4 - Manchas de infiltração em fissuras transversais (laje superior), Eflorescência causada por
percolação de água nas juntas de movimentação (parede de contenção), e canaletas de drenagem com tampas
quebradas (Fonte: Dos Autores)

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Figuras 5 e 6 - Bolores (fungos) incrustados na estrutura de emboque do Túnel Prefeito Augusto Lucena
(Fonte: Dos Autores)
3.2 Túnel Josué de Castro (Pina)

O túnel do Pina foi construido no ano de 2007 sob importante avenida da capital pernambucana,
denominada Avenida Herculano Bandeira, e integra o complexo viário da Via Mangue, uma via
expressa de ligação da zona sul com a área central da cidade do Recife. O túnel é do tipo
semienterrado de geometria retangular e foi construído com uso de placas de concreto armado para
contenção lateral do tipo “parede diafragma”.
Durante as inspeções foram verificadas diversas manifestações patológicas em diversos elementos
da estrutura. Nas paredes de contenção, a presença de fissuras tipo mapa se faz distribuida em toda
a extensão de ambos os lados. Na parte subterrânea (corpo do túnel), foram identificados vários
locais com criptoflorescência, derivados de alguns pontos de infiltração nas paredes diafragma.
Pontos de infiltração de água também foram verificados de forma generalizada no fundo da laje
superior e nas vigas transversais, cuja vazão e frequência promoveram a formação de estalactites
derivadas da lixiviação da pasta do concreto. Eflorescência com estalactites e bolores (fungos)
podem ser encontrados na superfície inferior da laje superior do túnel e nas paredes de contenção
tipo diafragma (Figuras 7, 8, 10, 11 e 12).

Figuras 7 e 8 – Vista panorâmica da laje superior norte biodeteriorada e detalhe da manifestação patológica
(eflorescência com estalactites e bolores) (Fonte: Própria)

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Do conjunto de manifestações patológicas que afetam a estrutura do túnel Josué de Castro, é
possível concluir que decorridos aproximadamente 10 anos de serviço, o mesmo já se apresenta
bastante degradado na fase de vida útil de serviço. É provável que a principal causa dessa
degradação seja a ausência de um sistema de drenagem e impermeabilização da laje superior, visto
que há diversos pontos de concentração de água sobre a mesma. O túnel é conhecido pelos
alagamentos constantes nas cotas mais baixas da parte subterrânea, conforme demonstrado na
Figura 9.

Figura 9 – Vista panorâmica do Túnel do Pina durante alagamento (Fonte: Diário de Pernambuco e Própria)

Figura 10, 11, 12 – Bolores (fungos) nas paredes de contenção tipo diafragma (Fonte: Dos Autores)

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3.3 Túnel Chico Science

O túnel Chico Science apresenta seção retangular na forma semienterrada, revestido em placas de
concreto. A parte superior da laje de cobertura é o próprio tabuleiro da Ponte Prof. Lima de Castilho,
sob a qual ele está localizado.
Da observação dos emboques do túnel é possível perceber a ação deletéria da água no túnel, tendo
em vista que várias manchas de percolação de água e bolor são aparentes. Nas paredes de
contenção lateral fissuras do tipo mapa, verticais e horizontais, se distribuem por toda a extensão e
em ambos os lados do túnel, com o consequente desplacamento do revestimento argamassado.
Através de uma quantidade expressiva de fissuras vificou-se o fluxo considerável de água com a
presença de lôdo e bolor em torno das mesmas, consoante evidenciado na Figura 13. As citadas
infiltrações nas paredes de contenção também geraram o surgimento de criptoflorescência.
A infiltração de água pelas juntas de dilatação da estrutura do túnel e pela própria laje superior
favoreceu o surgimento de bolores. Da observação da Figura 12 é possível notar que a água advinda
da parte superior da estrutura é um risco aos pedestres por estar em contato com os eletrodutos do
sistema de iluminação do túnel. Ainda quanto à parte interna do túnel, foi possível identificar um ponto
de corrosão avançado na armadura da cinta de amarração inferior de um dos lados do mesmo, donde
um trecho com aproximadamente 60 cm da armadura estava aparente e com seção reduzida.
A área externa do túnel apresenta aproximadamente 75% de sua estrutura coberta por bolor, sendo
as áreas superiores as mais afetadas. Fissuras em forma de mapa foram verificadas por toda a
superfície externa do túnel. Quatro pontos críticos de acúmulo de água foram identificados, quais
sejam as faces superiores das duas lajes superiores e os canteiros externos localizados adjacentes à
ponte. Os canteiros externos ao túnel e laterais à ponte apresentam manta de impermeabilização
degradada e drenos entupidos, porém um dos canteiros está em estado mais avançado de
degradação devido ao acumulo de água que desencadeou a flutuação do enchimento composto por
blocos EPS. Nas lajes superiores foi verificada que uma das duas calhas de drenagem, se encontra
entupida por galhos e folhas, impedindo a drenagem das águas precipitadas e gerando uma lamina
d’água com aproximadamente 2 cm em toda a superfície. Nas citadas lajes existe um sistema de
impermeabilização composto manta asfáltica com proteção mecânica de aproximadamente 1 cm de
espessira, porém a proteção mecânica esta degradada e a manta asfáltica ressecada e com
fissuração em todos os pontos aparentes. Nas faces internas das paredes de contenção do túnel
foram verificados diversos pontos de infiltração com bolores (fungos) (Figuras 13, 14 e 15), bem como
manchas (bolores) na face externa da citada contenção (Figura 17). Também foi verificado problema
de acúmulo de água sobre a laje superior do túnel por deficiência do sistema de drenagem (Figura
16).

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Figuras 13, 14 e 15 – Trechos das paredes de contenção com infiltrações e bolores (fungos) (Fonte: Dos
Autores)

Figuras 16, 17 – Laje superior do túnel com acúmulo de água de chuva e face externa da parede de contenção
com bolores (fungos) (Fonte: Dos Autores)
Após avaliação da natureza das manifestações patológicas encontradas no Túnel Chico Science, é
possível compreender que a influência da água sobre as estruturas que o compõe tem intensificado a
degradação deste, contudo, considerando que o túnel possui aproximadamente 17 anos de uso e que
o mesmo não apresenta danos expressivos que possam comprometer o seu desempenho, é razoável
afirmar que este está na fase da vida útil de projeto.

3.4 Túnel Felipe Camarão

O túnel Felipe Camarão é o único dos túneis urbanos em estudo que está sob a gestão do
Departamento de Estradas de Rodagem de Pernambuco (DER-PE). O citado túnel foi inaugurado no
ano de 2012 e está situado sob a Estrada da Batalha.

A Água como Agente Ambiental Decisivo para a Biodeterioração de Estruturas de Concreto 14


As contenções laterais são compostas por cortinas atirandas de concreto travadas por vigas de
coroamento. O mesmo é composto por quatro faixas, sendo as duas no sentido oeste-leste e as
outras duas no sentido oposto, as quais são separadas por um canteiro central.
A estrutura do túnel apresenta grande número de fissuras verticais do tipo mapa nas paredes de
contenção, as quais aparecem uniformes e em distâncias similares, evidenciando que são fissuras de
alivio de tensões. Várias destas fissuras apresentam sinais de percolação de água.
Nas paredes de contenção há presença de lodo, bolor, criptoflorescência, vegetação e percolação de
material do aterro lateral às contenções. A figura 14 ilustra um exemplo dessas manifestações
encontradas. Algumas vigas apresentam bolor, manchas de percolação de água e eflorescência
(Figuras 18, 19 e 20). Também foram identificados diversos pontos com infiltração e acúmulo de água
das chuvas e dos aterros, com o consequente acúmulo de colônias de fungos, bem como mancha de
óleo (Figuras 21, 22 e 23).

Figuras 18, 19 e 20 - Fissuras tipo mapa com manifestações patológicas, calçada central destruída
por alagamentos e viga com bolor (Fonte: Própria)

No trecho central do Túnel Felipe Camarão foi identificado que o sistema de drenagem está
comprometido, tendo em vista os constantes alagamentos. Os alagamentos acabam por influênciar
nas condições do pavimento asfáltico, pois ambas as faixas de rolamento estão bastante degradados.
O túnel convive com constantes alagamentos com considerável represamento das águas pluviais, a
exemplo do registrado na Figura 24, donde um carro aparece com mais da metade de sua superfície
submersa.
Na face interna da laje superior foi observada a disposição de peças metálicas tipo telha em toda a
sua superfície, a qual inviabilizou a inspeção visual da estrutura. Estas peças direcionam as águas
que percolam na laje para calhas laterais, que por sua vez desaguam em caixas coletoras do sistema
de drenagem. Apesar de não ter sido possível visualizar a face interna da laje superior, verificou-se
indícios de manisfestações patólogicas nas calhas e em seus arredores, bem como o vazamento de
água sobre os eletrodutos do sistema de iluminação (Figura 25).

A Água como Agente Ambiental Decisivo para a Biodeterioração de Estruturas de Concreto 15


Figuras 21, 22 e 23 - Infiltração na cortina atirantada, Acúmulo de água de chuva na calçada interna
ao túnel, Infiltração e bolores na cortina atirantada, Mancha de óleo na cortina atirantada (Fonte: Dos
Autores)

Figuras 24 e 25 - Alagamento no túnel Felipe Camarão e calha lateral apresentando manchas de corrosão e
vazamento de água. (Fonte: Dos Autores e Diário de Pernambuco)

No Túnel Felipe Camarão a influência da água é evidenciada na degradação no pavimento asfáltico,


tendo em vista o acúmulo sistemático das águas precipitadas, as quais permanecem acumuladas até
quando não chove por influência do lençol freático e do deficiente sistema de drenagem.

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3.5 Túnel da Abolição

O túnel da Abolição fica localizado na Rua Real da Torre e passa sob a Rua da Benfica, possui 287 m
de extensão e é o mais recentemente construído, tendo obras sido concluídas no ano de 2015. O
citado túnel se diferencia dos demais por ter as contenções constituídas por estacas secantes com
600 mm de diâmetro. Essa tecnologia foi escolhida pelo baixo nível de vibrações emitidas, pois nos
arredores do local existem construções históricas, como o Museu da Abolição, que dá nome ao túnel.
Na parte superior e central do túnel foi implantada uma praça para integrar e humanizar os arredores
do Museu da Abolição. A praça é constituída por sete canteiros elevados com grama, os quais
acumulam água e manchas de percolação conforme consta na Figura 26. Também foi verificado o
acúmulo de água nas calçadas do entorno da citada praça, nos patamares da escada de acesso ao
subterrâneo e nas áreas centrais da praça. Nas calçadas da praça estão dispostos 7 ralos para o
escoamento das águas pluviais, porém 5 estavam entupidos e com presença de vegetação em seu
interior (Figura 28). Na área central da praça não há sistema de drenagem, fazendo com que a água
seja direcionada para uma calha improvisada que deságua como em forma de cascata sobre a parte
interna do túnel, dificultando em momentos de maior vazão a visão dos motoristas.
Nas estruturas de contenção do túnel, verificou-se a presença fissuras tipo mapa nas vigas de
coroamento e de percolação de água em toda extensão das paredes de contenção em estacas
secantes (Figura 27, 29, 31, 32 e 33). Em boa parte dos pontos de percolação foi econtrado material
argiloso de consistência pastosa de cor alaranjada, bem como pontos com eflorescência e
criptoflorescência. O material argiloso tinha consistência similar à argila e provavelmente é advindo
do aterro lateral, conferindo risco à estrutura haja vista que pode causar recalque no aterro da pista
lateral exerna ao túnel. Devido à presença de umidade nas paredes de contenção, verificaram-se
pontos como o apresentado na figura 9, com arbustos de médio porte, lodo e pontos isolados onde
pequenos moluscos estavam presos à mesma.

Figura 26 e 27 - Praça sob o túnel com pontos de alagamento e percolação de argila na parede de contenção
(Fonte: Dos Autores)
Nas vigas e lajes superiores do vão central do túnel há pontos de infiltração de água pelas
microfissuras, que se distribuem paralelas ao encontro viga-laje, além de outros pontos isolados onde
há percolação de água em menor quantidade, porém com manchas de eflorescência bastante
acentuadas, como as identificadas na Figura 30.
As estruturas que compõe o túnel não apresentaram sinais de desplacamento do concreto devido a
corrosão de armaduras. O ponto onde foi verificada presença de corrosão das armaduras foi causado

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por falha de execução. Como não foram realizados ensaios para verificar o estado de passivação das
armaduras de aço, não há como afirmar a despassivação das mesmas, apesar de que a presença de
eflorescência na superfície das estruturas é um indicativo de lixiviação do concreto, manifestação
patológica esta que facilita a despassivação por carbonatação. Do conjunto de dados observados
quando da inspeção visual é possível afirmar que a estrutura se encontra na sua vida útil de projeto,
por ainda ter a proteção da camada passiva.

Figuras 28, 29 e 30 - Ralo entupido com vegetação, Eflorescência em laje e Vegetação (Fonte: Dos Autores)

Figuras 31, 32 e 33 - Viga de coroamento com vegetação, Viga de coroamento com bolor, Laje superior com
água escoando, Parede em estacas secantes com manchas de lixiviação de argila do aterro (Fonte: Dos
Autores)

4 Conclusões

Dos resultados obtidos é possível afirmar que os túneis urbanos do Recife necessitam de atenção do
poder público no tocante à recomposição das condições estruturais. Todos os túneis apresentaram
manifestações patólogicas por influência das águas e biodegradação das estruturas, tais como
eflorescência, criptoflorescência, bolores e fissuras. Um ponto a se observar é o estado agravado dos
túneis mais recentemente construídos, no caso o Túnel da Abolição e o Felipe Camarão, que com

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poucos anos de uso já apresentam sinais relevantes de deterioração. A inflûencia da água no Túnel
da Abolição é clara pelos sinais de percolção nas paredes e lajes devido ao acúmulo das águas
precipitadas na face superior da laje, que em estado mais avançado podem gerar problemas graves,
como os de corrosão apresentados no Túnel Josué de Castro. Quanto ao Túnel Felipe Camarão, os
alagamentos constantes fazem com que os veículos evitem passar pelo mesmo, indo tal fato de
encontro a proposta inicial de facilidade de tráfego. Já o Túnel Chico Science, frente a proximidade
com a margem do Rio Capibaribe, merece atenção quanto a possível contaminação da estrutura
pelas águas do mencionado Rio, pois quando o nível da maré se eleva muito, há o contato das águas
do rio com a estrutura externa do túnel. A cidade do Recife é uma cidade litorânea, com muitas áreas
de aterro e com o nível do lençol freático alto. Todos esses fatores comprometem a estabilidade das
estrutura e devem ser fator motivador da adoção de planos de inspeções periódicas e manutenções
preventivas, minorando a deterioração precoce das estruturas
Das inspeções realizadass nas estruturas dos cinco túneis urbanos existentes no Recife, foi possível
traçar um diagnóstico preliminar, donde é possível compreender que as águas atuantes nas citadas
estruturas têm sido determinantes para a biodeterioração e degradação, por vezes aceleradas, das
citadas estruturas de concreto armado.

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