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Parâmetros físicos,
químicos e biológicos
1.1.1 Água
Segundo a Organização das Nações Unidas ONU (2010), estima-se que aproximadamen-
te 1 bilhão de pessoas necessitam de acesso ao abastecimento de água que seja suficiente para
suprir suas necessidades básicas, definido como uma fonte que possa fornecer 20 litros por
pessoa por dia a uma distância não superior a mil metros. Essas fontes incluem ligações do-
mésticas, fontes públicas, fossos, poços e nascentes protegidos e coleta de águas pluviais.
A Declaração da ONU Água para o Dia Mundial da Água em 2010 apontou as seguintes
diretrizes:
A água potável limpa, segura e adequada é vital para a sobrevivência de todos
os organismos vivos e para o funcionamento dos ecossistemas, comunidades
e economias. Mas a qualidade da água em todo o mundo é cada vez mais
ameaçada à medida que as populações humanas crescem, atividades agrí-
colas e industriais se expandem e as mudanças climáticas ameaçam alterar o
ciclo hidrológico global.
[…]
A cada dia, milhões de toneladas de esgoto tratado inadequadamente e resíduos
agrícolas e industriais são despejados nas águas de todo o mundo. […] Todos os
anos, morrem mais pessoas das consequências de água contaminada do que de
todas as formas de violência, incluindo a guerra. […] A contaminação da água
enfraquece ou destrói os ecossistemas naturais que sustentam a saúde humana,
a produção alimentar e a biodiversidade. […] A maioria da água doce poluída
acaba nos oceanos, prejudicando áreas costeiras e a pesca. […]
A água é um bem natural de alto valor agregado e de interesse difuso com ordenamento
jurídico bem extenso no Brasil, como na esfera federal pelo Decreto 24.643/34, que estipulou
o Código de Águas; a Lei 9.433/97, conhecida como Lei das Águas, e a Lei 9.984/2000, que
criou a Agência Nacional de Águas, sem olvidar da Carta Magna Federal de 1981, esses são
os diplomas legais sobre a temática.
Os diferentes processos físicos aquáticos podem ser influenciados pela poluição am-
biental por meio do aporte de substâncias nos mananciais e têm origem em várias fontes,
como efluentes domésticos e industriais e escoamentos superficial urbano e agrícola.
Cada uma dessas fontes apresenta características próprias quanto aos poluentes que
transportam, como: contaminantes orgânicos, nutrientes (que podem causar eutrofização
dos ambientes lóticos e lênticos) e bactérias.
Mesmo separando os poluentes em grupos, a diversidade das indústrias existentes au-
menta, ainda mais, a variabilidade dos contaminantes aportados nos corpos de água, tor-
nando-se praticamente impossível a determinação sistemática de todos os poluentes que
possam estar presentes nas águas superficiais, em tempo relativamente curto.
1.1.2 Solo
De acordo com Gomes (2016), a qualidade do solo é tão importante quanto as qualida-
des do ar e da água no estudo de indicadores da qualidade global dos ambientes e ecossis-
temas. A qualidade do solo está ligada diretamente aos efeitos na saúde e na produtividade
de determinado ecossistema e nos ambientes a ele relacionados.
Gomes (2016) ainda aponta que a melhor eficiência e indicadores que sejam apropria-
dos para avaliar a qualidade do solo dependem da conjuntura e análise dos componentes
múltiplos que determinam a sua capacidade em desempenhar suas funções, como a produ-
tividade e o equilíbrio ambiental.
Neste capítulo daremos foco aos parâmetros físicos que são comumente analisados e
que estão relacionados ao arranjamento das partículas e do espaço poroso do solo, incluin-
do densidade, porosidade, estabilidade de agregados, textura, encrostamento superficial,
compactação, condutividade hidráulica e capacidade de armazenagem de água disponível.
O solo é composto fisicamente por estruturas complexas e variáveis resultantes da inte-
ração e mistura não homogênea dos seus componentes. É formado por um conjunto de três
frações, sendo a física que são os sólidos, os líquidos que é a solução do solo e os gases que
são compostos pelo ar presente nos poros do solo (LIER, 2015).
Os principais parâmetros físicos do solo são:
• Textura: é um termo empregado para designar a proporção relativa das frações argila, silte ou
areia no solo. Estes se diferenciam entre si pelo tamanho de suas partículas (granulometria).
• Densidade global: relaciona a massa do solo seco por unidade de volume. A densidade global
é variável, manifestando a influência da compactação, estrutura, adensamentos e textura.
• Porosidade: representa a porção do solo em volume, não ocupada por sólidos.
• Estabilidade de agregados: a agregação resulta das forças de aproximação e cimentação de
partículas orgânicas e minerais no solo. A união de agregados menores formam os macroa-
gregados (> 0,25 mm) do solo. Nos solos tropicais a cimentação é resultante principalmente
da matéria orgânica e da ação e do metabolismo de organismos vivos sobre essa matéria
orgânica gerando substâncias agregantes. Também tem papel relevante a secreção de com-
postos orgânicos pelas raízes e a presença de elementos químicos minerais como cálcio,
magnésio, entre outros (HERNANI, 2016).
• Encrostamento: é o processo de desagregação do solo pela água da chuva reduzindo os poros
que absorvem a água. Desse modo, com menos poros para absorver água, há uma diminuição
da velocidade de infiltração de água no solo, estando esta mais sujeita a correr na superfície do
solo em um processo denominado escoamento superficial. Esse processo é chamado de erosão
por salpico, e a redução da infiltração em virtude da obstrução de poros da superfície do solo
é conhecida como selamento superficial devido à formação de crostas superficiais.
• Compactação: processo de aumento da densidade do solo no qual ocorre aumento de sua
resistência, redução da porosidade, redução da permeabilidade, redução da disponibilidade
de nutrientes e água.
1.2.1 Água
No Brasil, os parâmetros químicos da água no que compete a sua qualidade para o
consumo humano são determinados pelo Ministério da Saúde pela Portaria MS 2.914, de 12
de dezembro 2011.
Essa portaria traz algumas definições que são importantes na análise de parâmetros de
qualidade química de água.
I – água para consumo humano: água potável destinada à ingestão, preparação
e produção de alimentos e à higiene pessoal, independentemente da sua origem;
II – água potável: água que atenda ao padrão de potabilidade estabelecido nesta
Portaria e que não ofereça riscos à saúde;
1.2.2 Solos
No Brasil, os parâmetros químicos da qualidade do solo são orientados pelas
Resoluções Conama 420/2009 e 460/2013 (altera o artigo 8° da Conama 420/2009 e acres-
centa novo parágrafo).
Em seu artigo 3° da Resolução Conama 420/2009, “a proteção do solo deve ser realizada
de maneira preventiva, a fim de garantir a manutenção da sua funcionalidade ou, de ma-
neira corretiva, visando restaurar sua qualidade ou recuperá-la de forma compatível com os
usos previstos”.
Parágrafo único. São funções principais do solo:
I – servir como meio básico para a sustentação da vida e de habitat para pessoas,
animais, plantas e outros organismos vivos;
II – manter o ciclo da água e dos nutrientes;
III – servir como meio para a produção de alimentos e outros bens primários de
consumo;
IV – agir como filtro natural, tampão e meio de adsorção, degradação e transfor-
mação de substâncias químicas e organismos;
V – proteger as águas superficiais e subterrâneas;
VI – servir como fonte de informação quanto ao patrimônio natural, histórico
e cultural;
VII – constituir fonte de recursos minerais; e
VIII – servir como meio básico para a ocupação territorial, práticas recreacionais
e propiciar outros usos públicos e econômicos.
Para Gomes (2006), os estudos dos parâmetros de análise química do solo podem ser
aplicados tanto para uso agronômico quanto ambiental. Esses estudos podem ser agrupados
em quatro classes:
Os parâmetros de análise química dos solos mais comumente utilizados estão apresen-
tados a seguir. É importante ressaltar que pode ter outros indicadores específicos de análise
conforme a situação de interesse, como análise de metais pesados advindos de contami-
nação de determinada indústria. Nesse caso, os parâmetros serão determinados de forma
específica pelo órgão ambiental fiscalizador/controlador.
1.3.1 Água
Os parâmetros da qualidade biológica no que tange à potabilidade e que serão foca-
dos neste capítulo são as algas e os coliformes. Os indicadores que são analisados determi-
nam a potencialidade de um corpo de água ser portador de agentes causadores de doenças.
Ressalta-se que a avaliação da qualidade de água também pode ser feita por meio de in-
dicadores biológicos dos componentes de um ecossistema aquático, como o fitoplâncton,
zooplâncton, bentos, macrófitas, peixes, pois comunidades bióticas refletem impactos ou
alterações causadas em seus hábitats (JONSSON, 2000).
A detecção dos agentes patogênicos, principalmente bactérias, protozoários e vírus,
em uma amostra de água, é extremamente difícil em razão de suas baixas concentrações.
Portanto, a determinação da potencialidade de um corpo d’água ser portador de agentes
causadores de doenças pode ser feita de forma indireta, por meio dos organismos indicado-
res de contaminação fecal do grupo dos coliformes.
Os coliformes estão presentes em grandes quantidades nas fezes do ser humano e dos
animais de sangue quente. A presença de coliformes na água não representa, por si só, um
perigo à saúde, mas indica a possível presença de outros organismos causadores de proble-
mas. Os principais indicadores de contaminação fecal são as concentrações de coliformes
totais e coliformes fecais, expressas em número de organismos por 100 mL de água.
Os coliformes são bactérias e estão subdivididas em totais e termotolerantes ou fecais e
estão presentes em materiais fecais. A sua presença na água pode indicar a possível presen-
ça de seres patogênicos. Quanto maior a concentração desses organismos em um corpo de
água, maior o seu grau de poluição e também o seu potencial causador de doenças.
Todas as bactérias coliformes são gram-negativas manchadas, de hastes não esporula-
das, que estão associadas às fezes de animais de sangue quente e com o solo. As bactérias
coliformes fecais reproduzem-se ativamente a 44,5ºC e são capazes de fermentar o açúcar. O
uso da bactéria coliforme fecal para indicar poluição sanitária mostra-se mais significativo
que o uso da bactéria coliforme “total” porque as bactérias fecais estão restritas ao trato in-
testinal de animais de sangue quente.
Os coliformes totais são bacilos gram-negativos, aeróbios ou anaeróbios facultativos e
não formadores de esporos e estão associados à decomposição de matéria orgânica em geral.
Exemplos: Citrobacter, Klebsiella, Enterobacter.
Os coliformes termotolerantes ou fecais toleram temperaturas acima de 40°C, reprodu-
zem-se nessa temperatura em menos de 24 horas e estão associados às fezes de animais de
sangue quente, como Enterobacter e Citrobacter.
1.3.2 Solo
Muito ao contrário do que visualmente se apresenta, o solo é um recurso natural vivo
e dinâmico que condiciona e sustenta a produção de alimentos e fibras e regula o balanço
global do ecossistema. O solo tem sua qualidade definida como a capacidade de funcionar
dentro do ecossistema visando sustentar a produtividade biológica, mantendo a qualidade
ambiental e promovendo a saúde e o desenvolvimento das plantas e dos animais, além de
ser sustento físico para ambos, podendo ser avaliado pelo uso de indicadores físicos, quími-
cos e biológicos (ARAÚJO, 2007).
Neste capítulo será dado enfoque para os parâmetros biológicos que estão relacionados
a seguir.
• Biomassa microbiana do solo: de acordo com Jenkinson e Ladd (1981, citado por
ARAÚJO, 2007), a biomassa microbiana do solo é o componente vivo da matéria
orgânica do solo, exceto a macrofauna e as raízes dos vegetais. A biomassa micro-
biana é responsável por controlar os ciclos biogeoquímicos, como a decomposição
e o acúmulo de matéria orgânica, ou transformações envolvendo os nutrientes
minerais. Em função dos processos de decomposição e transformação são acumu-
ladas consideráveis quantidades de nutrientes que servem como reserva, e que
são continuamente assimiladas durante os ciclos de crescimento dos diferentes
organismos que compõem o ecossistema.
• Respiração do solo: a respiração do solo é caracterizada pela oxidação biológica da
matéria orgânica gerando CO2 pelos microrganismos aeróbios. Por esse processo,
ela ocupa uma posição chave no ciclo do carbono nos ecossistemas terrestres. O
estudo e a identificação da respiração do solo devem ser de forma frequente, seja
visto que se quantifica a atividade microbiana no solo, podendo verificar os con-
teúdos de matéria orgânica, com a biomassa microbiana e consequentemente a
dinâmica da vida ativa do solo.
• Fixação biológica do N2: a fixação biológica do nitrogênio é muito conhecida nos
meios agronômicos com a utilização por plantas da família das leguminosas para
melhorar as condições químicas do solo. Isso é possível, pois essa família botânica
tem uma relação de simbiose com uma bactéria do gênero Rhizobium, Bradyrhizobium
e Azorhizobium, que convertem o N2 atmosférico em NH3, incorporada em diversas
formas de N orgânico para a utilização por plantas. Esse processo ocorre no interior
de estruturas específicas, denominadas de nódulos, nos quais as bactérias têm a ca-
pacidade de absorver o nitrogênio. Esse processo quebra a tripla ligação do N2 por
meio de um complexo enzimático, denominado nitrogenase (ODUM, 2007). Assim
sendo, a análise desse processo no solo foi transformada em um parâmetro de aná-
lise biológica da qualidade do solo.
Atividades
1. Escolha um corpo de água mais próximo e de fácil acesso, colete uma amostra de
água e faça uma análise visual. Verifique a turbidez, a cor, o odor e a temperatura.
Nessa análise, observe se nessa amostra ocorre algum fenômeno que indique a qua-
lidade da água.
2. Faça um ensaio sobre a qualidade do solo. Pegue uma pequena quantidade de dife-
rentes tipos de solos presentes em sua localidade (de um campo de futebol, da beira
de um rio, da base de uma edificação recém-iniciada etc.) e verifique alguns indica-
dores, como fertilidade e compactação. Para isso, escolha uma espécie de vegetal de
rápido crescimento, plante-o em recipientes com a mesma quantidade de solo e dis-
ponibilize as mesmas condições de irrigação. Verifique o comportamento da planta
quanto ao seu crescimento, coloração e absorção de água pelo solo.