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Parâmetros físicos,
químicos e biológicos

A qualidade das águas e dos solos para o desenvolvimento e a qualidade de vida


dos humanos é uma questão extremamente importante. Conforme a Organização
Mundial da Saúde (OMS), constitui um dos principais assuntos de saúde pública, seja
visto que a humanidade necessita de água para seu consumo e do solo para a produ-
ção de alimentos.

Nesta aula serão apresentados os parâmetros de análise de qualidade da água e do


solo no Brasil, dando enfoque aos parâmetros físicos, químicos e biológicos.

Gerenciamento e Controle de Poluição da Água e do Solo 9


1 Parâmetros físicos, químicos e biológicos

1.1 Parâmetros físicos da água e do solo

1.1.1 Água
Segundo a Organização das Nações Unidas ONU (2010), estima-se que aproximadamen-
te 1 bilhão de pessoas necessitam de acesso ao abastecimento de água que seja suficiente para
suprir suas necessidades básicas, definido como uma fonte que possa fornecer 20 litros por
pessoa por dia a uma distância não superior a mil metros. Essas fontes incluem ligações do-
mésticas, fontes públicas, fossos, poços e nascentes protegidos e coleta de águas pluviais.
A Declaração da ONU Água para o Dia Mundial da Água em 2010 apontou as seguintes
diretrizes:
A água potável limpa, segura e adequada é vital para a sobrevivência de todos
os organismos vivos e para o funcionamento dos ecossistemas, comunidades
e economias. Mas a qualidade da água em todo o mundo é cada vez mais
ameaçada à medida que as populações humanas crescem, atividades agrí-
colas e industriais se expandem e as mudanças climáticas ameaçam alterar o
ciclo hidrológico global.
[…]
A cada dia, milhões de toneladas de esgoto tratado inadequadamente e resíduos
agrícolas e industriais são despejados nas águas de todo o mundo. […] Todos os
anos, morrem mais pessoas das consequências de água contaminada do que de
todas as formas de violência, incluindo a guerra. […] A contaminação da água
enfraquece ou destrói os ecossistemas naturais que sustentam a saúde humana,
a produção alimentar e a biodiversidade. […] A maioria da água doce poluída
acaba nos oceanos, prejudicando áreas costeiras e a pesca. […]
A água é um bem natural de alto valor agregado e de interesse difuso com ordenamento
jurídico bem extenso no Brasil, como na esfera federal pelo Decreto 24.643/34, que estipulou
o Código de Águas; a Lei 9.433/97, conhecida como Lei das Águas, e a Lei 9.984/2000, que
criou a Agência Nacional de Águas, sem olvidar da Carta Magna Federal de 1981, esses são
os diplomas legais sobre a temática.
Os diferentes processos físicos aquáticos podem ser influenciados pela poluição am-
biental por meio do aporte de substâncias nos mananciais e têm origem em várias fontes,
como efluentes domésticos e industriais e escoamentos superficial urbano e agrícola.
Cada uma dessas fontes apresenta características próprias quanto aos poluentes que
transportam, como: contaminantes orgânicos, nutrientes (que podem causar eutrofização
dos ambientes lóticos e lênticos) e bactérias.
Mesmo separando os poluentes em grupos, a diversidade das indústrias existentes au-
menta, ainda mais, a variabilidade dos contaminantes aportados nos corpos de água, tor-
nando-se praticamente impossível a determinação sistemática de todos os poluentes que
possam estar presentes nas águas superficiais, em tempo relativamente curto.

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Parâmetros físicos, químicos e biológicos 1
Existem parâmetros de qualidade de água, levando em conta os poluentes mais repre-
sentativos que são: físicos, químicos, microbiológicos e bioensaios ecotoxicológicos.
Nesta aula daremos enfoque aos parâmetros físicos que também são indicadores de
qualidade das águas. No Brasil, a resolução Conama 357, de 17 de março de 2005, dispõe
sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento,
bem como estabelece as condições e os padrões de lançamento de efluentes, além de dar
outras providências e ser utilizada para o monitoramento e fiscalização ambiental.
A seguir, apresentamos os principais parâmetros físicos da água.

• Turbidez: A turbidez da água é determinada por diversos materiais em suspensão, de tama-


nho e natureza variados, tais como areia, matéria orgânica e inorgânica, compostos corados
solúveis, plâncton e outros organismos microscópicos (BRASIL, 2006).
• Cor: A cor da água é proveniente da matéria orgânica como, por exemplo, substâncias hú-
micas, taninos e também por metais como o ferro e o manganês e resíduos industriais forte-
mente coloridos (BRASIL, 2006).
• Temperatura: A variação da temperatura tem incidência sobre distintos parâmetros físicos e
químicos que, por sua vez, podem afetar a qualidade das águas de irrigação. Os fatores que
se deve ter em conta são oriundos dos sistemas de irrigação, das condições de cultivo e da
variação de temperatura diária e das estações (ALMEIDA, 2010).
• Condutividade elétrica: A condutividade específica de uma água é a amplitude dela para
transmitir uma corrente elétrica. Para medir a condutividade, faz-se uso de uma ponte de
wheatstone (condutivímetro digital com sonda de temperatura) e uma cédula de condutivi-
dade apropriada (ALMEIDA, 2010).

1.1.2 Solo
De acordo com Gomes (2016), a qualidade do solo é tão importante quanto as qualida-
des do ar e da água no estudo de indicadores da qualidade global dos ambientes e ecossis-
temas. A qualidade do solo está ligada diretamente aos efeitos na saúde e na produtividade
de determinado ecossistema e nos ambientes a ele relacionados.
Gomes (2016) ainda aponta que a melhor eficiência e indicadores que sejam apropria-
dos para avaliar a qualidade do solo dependem da conjuntura e análise dos componentes
múltiplos que determinam a sua capacidade em desempenhar suas funções, como a produ-
tividade e o equilíbrio ambiental.
Neste capítulo daremos foco aos parâmetros físicos que são comumente analisados e
que estão relacionados ao arranjamento das partículas e do espaço poroso do solo, incluin-
do densidade, porosidade, estabilidade de agregados, textura, encrostamento superficial,
compactação, condutividade hidráulica e capacidade de armazenagem de água disponível.
O solo é composto fisicamente por estruturas complexas e variáveis resultantes da inte-
ração e mistura não homogênea dos seus componentes. É formado por um conjunto de três

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1 Parâmetros físicos, químicos e biológicos

frações, sendo a física que são os sólidos, os líquidos que é a solução do solo e os gases que
são compostos pelo ar presente nos poros do solo (LIER, 2015).
Os principais parâmetros físicos do solo são:

• Textura: é um termo empregado para designar a proporção relativa das frações argila, silte ou
areia no solo. Estes se diferenciam entre si pelo tamanho de suas partículas (granulometria).
• Densidade global: relaciona a massa do solo seco por unidade de volume. A densidade global
é variável, manifestando a influência da compactação, estrutura, adensamentos e textura.
• Porosidade: representa a porção do solo em volume, não ocupada por sólidos.
• Estabilidade de agregados: a agregação resulta das forças de aproximação e cimentação de
partículas orgânicas e minerais no solo. A união de agregados menores formam os macroa-
gregados (> 0,25 mm) do solo. Nos solos tropicais a cimentação é resultante principalmente
da matéria orgânica e da ação e do metabolismo de organismos vivos sobre essa matéria
orgânica gerando substâncias agregantes. Também tem papel relevante a secreção de com-
postos orgânicos pelas raízes e a presença de elementos químicos minerais como cálcio,
magnésio, entre outros (HERNANI, 2016).
• Encrostamento: é o processo de desagregação do solo pela água da chuva reduzindo os poros
que absorvem a água. Desse modo, com menos poros para absorver água, há uma diminuição
da velocidade de infiltração de água no solo, estando esta mais sujeita a correr na superfície do
solo em um processo denominado escoamento superficial. Esse processo é chamado de erosão
por salpico, e a redução da infiltração em virtude da obstrução de poros da superfície do solo
é conhecida como selamento superficial devido à formação de crostas superficiais.
• Compactação: processo de aumento da densidade do solo no qual ocorre aumento de sua
resistência, redução da porosidade, redução da permeabilidade, redução da disponibilidade
de nutrientes e água.

1.2 Parâmetros químicos da água e do solo

1.2.1 Água
No Brasil, os parâmetros químicos da água no que compete a sua qualidade para o
consumo humano são determinados pelo Ministério da Saúde pela Portaria MS 2.914, de 12
de dezembro 2011.
Essa portaria traz algumas definições que são importantes na análise de parâmetros de
qualidade química de água.
I – água para consumo humano: água potável destinada à ingestão, preparação
e produção de alimentos e à higiene pessoal, independentemente da sua origem;
II – água potável: água que atenda ao padrão de potabilidade estabelecido nesta
Portaria e que não ofereça riscos à saúde;

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Parâmetros físicos, químicos e biológicos 1
III – padrão de potabilidade: conjunto de valores permitidos como parâmetro
da qualidade da água para consumo humano, conforme definido nesta Portaria;
IV – padrão organoléptico: conjunto de parâmetros caracterizados por provocar
estímulos sensoriais que afetam a aceitação para consumo humano, mas que não
necessariamente implicam risco à saúde;
V – água tratada: água submetida a processos físicos, químicos ou combinação
destes, visando atender ao padrão de potabilidade.
Os indicadores de qualidade química que são analisados como referência para a qualidade
de água são potencial hidrogeniônico (pH), alcalinidade, dureza, cloretos, ferro, manganês, ni-
trogênio, fósforo, fluoretos, oxigênio dissolvido (OD), matéria orgânica (demanda bioquímica de
oxigênio: DBO e demanda química de oxigênio: DQO) e componentes orgânicos e inorgânicos.
De acordo com Moraes (2008), esses indicadores apresentam os seguintes conceitos:
• Potencial hidrogeniônico (pH) – pH é a sigla usada para potencial (ou potência)
hidrogeniônico porque se refere à concentração de [H+] (ou de H3O+) em uma solu-
ção. Assim, o pH serve para nos indicar se uma solução é ácida, neutra ou básica. A
escala de pH varia entre 0 e 14 na temperatura de 25°C. Se o valor do pH for igual
a 7 (pH da água), o meio da solução (ou do líquido) será neutro. Mas se o pH for
menor que 7, será ácido, e se for maior que 7, básico.
• Alcalinidade da água – também pode ser identificada em função da concentração
de sais alcalinos, como sódio e cálcio. Tais elementos interferem no processo de
tratamento da água. A presença de cálcio e magnésio configura a dureza, e esses
sais em grandes concentrações provocam incrustações em tubulações, além de au-
mentar o consumo de água pelos seres humanos.
• Oxigênio dissolvido (OD) – origina-se do ar e da atividade fotossintética de algas
e outros vegetais aquáticos e é fundamental à sobrevivência dos organismos aeró-
bios. A água com baixos teores de OD indica que recebeu uma carga de matéria
orgânica que, para ser decomposta por bactérias aeróbias, necessita consumir o
OD presente na água.
A demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e a demanda química de oxigênio (DQO)
indicam o teor de matéria orgânica presente em determinado corpo hídrico. O aumento no
teor da matéria orgânica, como o despejo de esgoto sem tratamento nos rios, representa o
consumo de oxigênio por micro-organismos.
• Demanda bioquímica de oxigênio (DBO): quantidade de oxigênio que seria neces-
sário fornecer às bactérias aeróbias, para consumirem a matéria orgânica presente
em um líquido (água ou esgoto). A DBO é determinada em laboratório, obser-
vando-se o oxigênio consumido em amostras do líquido, durante cinco dias, à
temperatura de 20°C.
• Demanda química de oxigênio (DQO): quantidade de oxigênio necessária à oxi-
dação da matéria orgânica por meio de um agente químico. A DQO também é de-
terminada em laboratório, em prazo muito menor ao teste da DBO. Para o mesmo
líquido, a DQO é sempre maior que a DBO.

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1 Parâmetros físicos, químicos e biológicos

1.2.2 Solos
No Brasil, os parâmetros químicos da qualidade do solo são orientados pelas
Resoluções Conama 420/2009 e 460/2013 (altera o artigo 8° da Conama 420/2009 e acres-
centa novo parágrafo).
Em seu artigo 3° da Resolução Conama 420/2009, “a proteção do solo deve ser realizada
de maneira preventiva, a fim de garantir a manutenção da sua funcionalidade ou, de ma-
neira corretiva, visando restaurar sua qualidade ou recuperá-la de forma compatível com os
usos previstos”.
Parágrafo único. São funções principais do solo:
I – servir como meio básico para a sustentação da vida e de habitat para pessoas,
animais, plantas e outros organismos vivos;
II – manter o ciclo da água e dos nutrientes;
III – servir como meio para a produção de alimentos e outros bens primários de
consumo;
IV – agir como filtro natural, tampão e meio de adsorção, degradação e transfor-
mação de substâncias químicas e organismos;
V – proteger as águas superficiais e subterrâneas;
VI – servir como fonte de informação quanto ao patrimônio natural, histórico
e cultural;
VII – constituir fonte de recursos minerais; e
VIII – servir como meio básico para a ocupação territorial, práticas recreacionais
e propiciar outros usos públicos e econômicos.
Para Gomes (2006), os estudos dos parâmetros de análise química do solo podem ser
aplicados tanto para uso agronômico quanto ambiental. Esses estudos podem ser agrupados
em quatro classes:

• Indicam os processos do solo ou de comportamento. Ex: pH, carbono orgânico.


• Indicam a capacidade do solo de resistir à troca de cátions. Ex.: Tipo de argila (1:1 ou 2:1),
CTC, CTA, óxidos de ferro e óxidos de alumínio.
• Indicam as necessidades nutricionais das plantas. Ex: N, P, K, Ca, Mg e elementos traços
(micronutrientes).
• Indicam contaminação ou poluição. Ex.: metais pesados, nitrato, fosfato, agrotóxicos.

Os parâmetros de análise química dos solos mais comumente utilizados estão apresen-
tados a seguir. É importante ressaltar que pode ter outros indicadores específicos de análise
conforme a situação de interesse, como análise de metais pesados advindos de contami-
nação de determinada indústria. Nesse caso, os parâmetros serão determinados de forma
específica pelo órgão ambiental fiscalizador/controlador.

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Parâmetros físicos, químicos e biológicos 1
• Potencial hidrogeniônico (pH): índice de concentração de H+ no solo usado para
determinar se um solo é ácido (pH menor que 7), neutro (pH igual a 7) ou básico
(pH maior que 7). Esse parâmetro identifica a solubilidade de nutrientes no solo, ou
seja, o quanto pode ser absorvido pelos vegetais. Os solos ideais para cultivo devem
apresentar pH entre 6,0 e 6,5. Porém, essa faixa pode ser estendida de 5,5 a 6,8.
• Carbono orgânico: esse elemento não é um nutriente absorvível pela planta, no
entanto ele está ligado à estrutura do solos podendo, na disponibilidade de água,
ser um tamponante diante da presença de compostos tóxicos às plantas.
• Capacidade de troca de cátions (CTC) efetiva: este parâmetro mede a quantidade
total de cátions retidos na superfície das argilas ou coloides minerais e orgânicos
existentes no solo, expressa em e.mg/100 g ou cmolc/kg; CTC = Ca2+ + Mg2+ + K+ +
H+ + Al3+ + Na+ + NH4+ + ... Se estiver ocorrendo a troca de cátions, é um indicador
que os nutrientes estão tendo mobilidade na solução do solo e portanto as plantas
estarão absorvendo os nutrientes.
• Nitrogênio do solo: o nitrogênio é absorvido pelas plantas nas formas nítrica (NO3–)
e amoniacal (NH3–). De forma geral, a grande maioria das espécies de vegetais exi-
gem teores elevados de nitrogênio para desenvolverem-se.
• Condutividade elétrica e sais solúveis totais: a alta concentração de sais na região
das raízes é uma limitação severa, por exemplo, em muitos solos de regiões se-
miáridas e áridas, pois eles reduzem a CTC. A salinidade, portanto, constitui fator
importante na avaliação da qualidade química e produtividade dos solos.

1.3 Parâmetros biológicos da água e do solo

1.3.1 Água
Os parâmetros da qualidade biológica no que tange à potabilidade e que serão foca-
dos neste capítulo são as algas e os coliformes. Os indicadores que são analisados determi-
nam a potencialidade de um corpo de água ser portador de agentes causadores de doenças.
Ressalta-se que a avaliação da qualidade de água também pode ser feita por meio de in-
dicadores biológicos dos componentes de um ecossistema aquático, como o fitoplâncton,
zooplâncton, bentos, macrófitas, peixes, pois comunidades bióticas refletem impactos ou
alterações causadas em seus hábitats (JONSSON, 2000).
A detecção dos agentes patogênicos, principalmente bactérias, protozoários e vírus,
em uma amostra de água, é extremamente difícil em razão de suas baixas concentrações.
Portanto, a determinação da potencialidade de um corpo d’água ser portador de agentes
causadores de doenças pode ser feita de forma indireta, por meio dos organismos indicado-
res de contaminação fecal do grupo dos coliformes.

Gerenciamento e Controle de Poluição da Água e do Solo 15


1 Parâmetros físicos, químicos e biológicos

Os coliformes indicam a presença de micro-organismos patogênicos, provenientes de efluentes


sanitários. Os principais constituintes são coliformes totais; coliformes termotolerantes; Escherichia
coli; bactérias heterotróficas; protozoários (Giardia e Cryptosporidium) e clorofila “a”.

Os coliformes estão presentes em grandes quantidades nas fezes do ser humano e dos
animais de sangue quente. A presença de coliformes na água não representa, por si só, um
perigo à saúde, mas indica a possível presença de outros organismos causadores de proble-
mas. Os principais indicadores de contaminação fecal são as concentrações de coliformes
totais e coliformes fecais, expressas em número de organismos por 100 mL de água.
Os coliformes são bactérias e estão subdivididas em totais e termotolerantes ou fecais e
estão presentes em materiais fecais. A sua presença na água pode indicar a possível presen-
ça de seres patogênicos. Quanto maior a concentração desses organismos em um corpo de
água, maior o seu grau de poluição e também o seu potencial causador de doenças.
Todas as bactérias coliformes são gram-negativas manchadas, de hastes não esporula-
das, que estão associadas às fezes de animais de sangue quente e com o solo. As bactérias
coliformes fecais reproduzem-se ativamente a 44,5ºC e são capazes de fermentar o açúcar. O
uso da bactéria coliforme fecal para indicar poluição sanitária mostra-se mais significativo
que o uso da bactéria coliforme “total” porque as bactérias fecais estão restritas ao trato in-
testinal de animais de sangue quente.
Os coliformes totais são bacilos gram-negativos, aeróbios ou anaeróbios facultativos e
não formadores de esporos e estão associados à decomposição de matéria orgânica em geral.
Exemplos: Citrobacter, Klebsiella, Enterobacter.
Os coliformes termotolerantes ou fecais toleram temperaturas acima de 40°C, reprodu-
zem-se nessa temperatura em menos de 24 horas e estão associados às fezes de animais de
sangue quente, como Enterobacter e Citrobacter.

As algas desempenham um importante papel no ambiente aquático, sendo responsáveis pela


produção de grande parte do oxigênio dissolvido do meio. Quando presente em grandes quan-
tidades, como resultado do excesso de nutrientes (eutrofização) na água, trazem alguns incon-
venientes como sabor e odor; toxidez, turbidez e cor; formação de massas de matéria orgânica
que, ao serem decompostas, provocam a redução do oxigênio dissolvido; corrosão; interferência
nos processos de tratamento da água, além de apresentarem um aspecto estético desagradável.

A determinação da concentração dos coliformes assume importância como parâmetro


indicador da possibilidade da existência de micro-organismos patogênicos, responsáveis
pela transmissão de doenças de veiculação hídrica, tais como febre tifoide, febre paratifoide,
disenteria bacilar e cólera (BRASIL, 2006).
De modo geral, nas águas para abastecimento público, o limite tolerável de coliformes
fecais estabelecido pela Portaria 2.914, de 12 de dezembro de 2011, do Ministério da Saúde

16 Gerenciamento e Controle de Poluição da Água e do Solo


Parâmetros físicos, químicos e biológicos 1
não deve ultrapassar 4 mil coliformes fecais em 100 ml de água em 80% das amostras colhi-
das em qualquer período do ano.

1.3.2 Solo
Muito ao contrário do que visualmente se apresenta, o solo é um recurso natural vivo
e dinâmico que condiciona e sustenta a produção de alimentos e fibras e regula o balanço
global do ecossistema. O solo tem sua qualidade definida como a capacidade de funcionar
dentro do ecossistema visando sustentar a produtividade biológica, mantendo a qualidade
ambiental e promovendo a saúde e o desenvolvimento das plantas e dos animais, além de
ser sustento físico para ambos, podendo ser avaliado pelo uso de indicadores físicos, quími-
cos e biológicos (ARAÚJO, 2007).
Neste capítulo será dado enfoque para os parâmetros biológicos que estão relacionados
a seguir.
• Biomassa microbiana do solo: de acordo com Jenkinson e Ladd (1981, citado por
ARAÚJO, 2007), a biomassa microbiana do solo é o componente vivo da matéria
orgânica do solo, exceto a macrofauna e as raízes dos vegetais. A biomassa micro-
biana é responsável por controlar os ciclos biogeoquímicos, como a decomposição
e o acúmulo de matéria orgânica, ou transformações envolvendo os nutrientes
minerais. Em função dos processos de decomposição e transformação são acumu-
ladas consideráveis quantidades de nutrientes que servem como reserva, e que
são continuamente assimiladas durante os ciclos de crescimento dos diferentes
organismos que compõem o ecossistema.
• Respiração do solo: a respiração do solo é caracterizada pela oxidação biológica da
matéria orgânica gerando CO2 pelos microrganismos aeróbios. Por esse processo,
ela ocupa uma posição chave no ciclo do carbono nos ecossistemas terrestres. O
estudo e a identificação da respiração do solo devem ser de forma frequente, seja
visto que se quantifica a atividade microbiana no solo, podendo verificar os con-
teúdos de matéria orgânica, com a biomassa microbiana e consequentemente a
dinâmica da vida ativa do solo.
• Fixação biológica do N2: a fixação biológica do nitrogênio é muito conhecida nos
meios agronômicos com a utilização por plantas da família das leguminosas para
melhorar as condições químicas do solo. Isso é possível, pois essa família botânica
tem uma relação de simbiose com uma bactéria do gênero Rhizobium, Bradyrhizobium
e Azorhizobium, que convertem o N2 atmosférico em NH3, incorporada em diversas
formas de N orgânico para a utilização por plantas. Esse processo ocorre no interior
de estruturas específicas, denominadas de nódulos, nos quais as bactérias têm a ca-
pacidade de absorver o nitrogênio. Esse processo quebra a tripla ligação do N2 por
meio de um complexo enzimático, denominado nitrogenase (ODUM, 2007). Assim
sendo, a análise desse processo no solo foi transformada em um parâmetro de aná-
lise biológica da qualidade do solo.

Gerenciamento e Controle de Poluição da Água e do Solo 17


1 Parâmetros físicos, químicos e biológicos

• Enzimas do solo: as enzimas são mediadoras do catabolismo biológico dos com-


ponentes orgânicos e minerais do solo, podendo ser estudada como medida de
atividade microbiana, produtividade e efeito de poluentes no solo. A atividade
enzimática do solo está relacionada com o aumento da matéria orgânica, com a
melhoria das propriedades físicas e com a atividade e biomassa microbiana.

Ampliando seus conhecimentos

Influência do uso e ocupação do solo na


qualidade da água: um método para avaliar a
importância da zona ripária
(COELHO, 2011)

Para o desenvolvimento sustentável da humanidade são necessárias as


práticas de exploração dos recursos naturais que aliam princípios de pre-
servação e conservação do meio ambiente, atendendo às necessidades
do presente sem comprometer a capacidade de atendimento das futu-
ras gerações (W O R D C O M M I S S I O N O N E N V I R O N M E N TA L
A N D D E V E L O P M E N T,1987).

Além de considerar os aspectos econômicos e sociais, esse desenvol-


vimento deve considerar a mitigação dos impactos ecológicos com os
conceitos de biodiversidade e integridade de ecossistemas. Esses efeitos
ecológicos envolvem principalmente questões relativas à degradação
do solo, às alterações do ciclo hidrológico, às alterações climáticas e à
manutenção da biodiversidade.

Diferentes princípios, conceitos e práticas têm sido desenvolvidos com vis-


tas ao desenvolvimento, que, sendo “economicamente viável, socialmente
justo e ecologicamente equilibrado” é chamado de sustentável. Variadas
concepções envolvem tão abrangentes conceitos, como o que é “social-
mente justo” ou o que vem a ser propriamente um ambiente “ecologica-
mente equilibrado”, mas além dessa discussão existe a clara necessidade de
se avaliar o impacto exclusivo das atividades humanas no meio ambiente.

No caso dos processos hidrológicos, onde interagem os ciclos biogeo-


químicos, o fluxo de energia e os dinâmicos fatores bióticos, em muitos
casos têm-se considerado a bacia hidrográfica como a unidade ecossistê-
mica para estudo e planejamento (LOTSPEICH, 1980), sendo utilizados
diferentes indicadores tais como balanço hídrico, extensão e condição
da zona ripária, taxas de infiltração e de erosão do solo, diversidade de

18 Gerenciamento e Controle de Poluição da Água e do Solo


Parâmetros físicos, químicos e biológicos 1
invertebrados bentônicos e qualidade da água, para mensurar e avaliar a
sustentabilidade das intervenções antropogênicas em métodos de análise
multicriterial (FRANCISCO et al., 2008).

Uma zona fundamental para a preservação da qualidade da água e diver-


sificação de habitats em uma bacia hidrográfica é o ecossistema ripário
que constitui uma interface entre o ambiente terrestre e o aquático. Esse
ambiente ribeirinho reflete um complexo de fatores geológicos, climáti-
cos, hidrológicos que em interação com os fatores bióticos definem uma
heterogeneidade de ambientes (RODRIGUES, 2000). Sob florestas ciliares
ocorre uma significativa variação de solos, cujos reflexos aparecem nos
diversos tipos de formações florestais (JACOMINE, 2000). As compara-
ções florísticas entre remanescentes de formações florestais ciliares mos-
tram que essas áreas são muito diversas, mesmo em áreas de grande pro-
ximidade espacial, e essa diversidade é dependente também, entre outros
fatores, do tamanho da faixa ciliar florestada (METZEGER et al., 1997).
Esses autores ressaltam que apenas um grande esforço de preservação
pode possibilitar a manutenção dessa biodiversidade, no pouco que resta
de florestas ciliares, aliado a uma implementação no conhecimento cientí-
fico sobre essas áreas. A água que flui nos cursos não está isolada e hermé-
tica à complexa interação com a área ripária. Em realidade, são sistemas
abertos e que participam de todos os processos ecológicos que ocorrem
nas bacias hidrográficas, historicamente negligenciados no processo de
exploração dos recursos naturais (BARRELA et al., 2000).

A preservação da faixa ripária, principalmente nos córregos, é de extrema


importância pois evita a erosão de solos adjacentes, impedindo ou ate-
nuando a sedimentação e assoreamento do leito. O assoreamento pro-
voca a perda de habitats aquáticos, o rebaixamento do lençol freático, a
diminuição na vazão média e o declínio da biodiversidade do sistema
(BERKMAN e RABENI, 1987). A retirada da vegetação das margens
dos cursos d’água é prejudicial também porque o material em suspen-
são interfere na qualidade da água do corpo receptor (ODUM, 1988). Em
escala de pequenas bacias e sub-bacias hidrográficas, a extensão e condi-
ção da mata ciliar podem ser utilizadas como indicadores hidrológicos da
sustentabilidade das atividades humanas (LIMA e ZÁKIA, 1998), pois a
vegetação ripária é responsável por grande parte do regime ambiental do
ecossistema aquático (LIKENS, 1985).

A delimitação da zona ripária é uma das primeiras etapas para a avaliação


desta como um indicador, e, em tese, seus limites estendem-se às mar-
gens laterais dos corpos d’água até o alcance máximo da zona saturada

Gerenciamento e Controle de Poluição da Água e do Solo 19


1 Parâmetros físicos, químicos e biológicos

do solo, que dada a dinâmica dessa zona, aumenta a dificuldade de seu


mapeamento. Diferentes métodos de modelagem e mapeamento das
zonas ripárias foram desenvolvidos a partir de fatores topográficos e de
condutividade do solo, simulando a resposta hidrológica da bacia a uma
determinada chuva em modelos digitais (SIMÕES, 2001), entretanto, na
legislação brasileira, a zona ripária é estabelecida, na prática, conforme
a largura da lâmina dos corpos d’água, sendo protegida como área de
preservação permanente (BRASIL, 1965). O uso dessa área é permitido em
casos de utilidade pública, como obras de infraestrutura, ou no caso de
interesse social, como no caso da pequena propriedade agrícola aliada às
práticas de manejo sustentável (BRASIL, 2000) as quais podem implemen-
tar a funcionalidade do sistema, diminuindo a contaminação dos corpos
d’água por poluentes antropogênicos (WALLACE, 1997).

Mas como avaliar a condição da zona ripária? No caso de toda a bacia,


Mancini et al. (2005) avaliaram a condição da bacia de drenagem clas-
sificando o uso e cobertura do solo em 4 categorias avaliados com um
índice de antropização. Esse índice foi correlacionando com a qualidade
biológica da água, avaliada pela diversidade de invertebrados bentôni-
cos. O escopo deste trabalho foi desenvolver um método unicriterial de
avaliação da zona ripária com enfoque no uso do solo, avaliado com um
índice de antropização adaptado e correlacionado com a qualidade físi-
co-química da água corrente, considerando-se como zona ripária aquela
estritamente estabelecida na legislação brasileira como área de preserva-
ção permanente ripária.

Atividades
1. Escolha um corpo de água mais próximo e de fácil acesso, colete uma amostra de
água e faça uma análise visual. Verifique a turbidez, a cor, o odor e a temperatura.
Nessa análise, observe se nessa amostra ocorre algum fenômeno que indique a qua-
lidade da água.

2. Faça um ensaio sobre a qualidade do solo. Pegue uma pequena quantidade de dife-
rentes tipos de solos presentes em sua localidade (de um campo de futebol, da beira
de um rio, da base de uma edificação recém-iniciada etc.) e verifique alguns indica-
dores, como fertilidade e compactação. Para isso, escolha uma espécie de vegetal de
rápido crescimento, plante-o em recipientes com a mesma quantidade de solo e dis-
ponibilize as mesmas condições de irrigação. Verifique o comportamento da planta
quanto ao seu crescimento, coloração e absorção de água pelo solo.

20 Gerenciamento e Controle de Poluição da Água e do Solo

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