Você está na página 1de 6

USP / FFLCH / DLCV INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS CLÁSSICOS I – 2015

Meleagro de Gádara
AMARAL, Flávia Vasconcellos.A guirlanda de sua guirlanda - epigramas de Meleagro de Gadara :
tradução e estudo. São Paulo, 2009.
Argentieri, Lorenzo. 'Meleager and Philip as Epigram Collectors.' In: Peter Bing & Jon Steffen
Bruss (edd.). Brill's Companion to Hellenistic Epigram Down to Philip. Leiden: Brill, 2007 (Brill's
Companions in Classical Studies), 147-64.
Krevans, Nita. 'The Arrangement of Epigrams in Collections.' In: Bing & Bruss (edd.). Brill's
Companion to Hellenistic Epigram, 2007, 131- 146.
Zanker, Graham. Characterization in Hellenistic Epigram. In: Bing & Bruss (edd.). Brill's Companion
to Hellenistic Epigram, 2007, 211-32.
• II: (re-)interpreta sua proveniência: cf. Calímaco
• XIII: programático, remete a Calímaco
• CXI: lida com a materialidade que era do suporte dos epigramas
passa a ser de um objeto, como a escultura - cf. Horácio AP
• CXXXV: pseudo-epigrama: lamento
• V: pseudo-epigrama: erudição? jâmbico?
• LX: transitoriedade da vida, exaltação da juventude vs. velhice decrépita
• XIX: transitoriedade da vida; exortação ao prazer, simpótico

Calímaco Hino a Apolo


A estrutura em anel do Hino (106-7 retoma a imagem de v.1-7, com Apolo assumindo o
papel de crítico literário no fim) depende de um rito de pureza específico de Cirene na
época de Calímaco, preservado na inscrição LSS 115 A 26–31, um rito não mencionado na
literatura anterior.

Petrovic, Ivana. 'Callimachus and contemporary religion: the Hymn to Apollo.' In: Benjamin
Acosta-Hughes, Luigi Lehnus and Susan Stephens (edd.). Brill's Companion to Callimachus . Leiden:
Brill, 2011 (Brill's Companions in Classical Studies), 264-87.
Acosta-Hughes, Benjamin & Susan A. Stephens. Callimachus in Context. From Plato to the Augustan
Poets. Cambridge & New York: Cambridge University Press, 2012, 115-6, 155-9 (esp. 158).

exemplo de sincretismo greco-persa no desenvolvimento helenístico de cultos locais:


templo que Antiochus fez erigir em Nemrut Dağı (Turquia/Armênia) em 62 a.C.
http://bmcr.brynmawr.edu/2015/2015-05-34.html
http://whc.unesco.org/en/list/448

1
Calímaco Ep 30
persona loquens : como em todos epigramas de Calímaco, salvo um, o “eu” dirige-se a
alguém. Ao lamentar, constrói uma narrativa, agindo como um detetive para averiguar a
realidade: desmascara a realidade, perscruta-a, reconhece “a verdade”.1
• o aspecto visual de Cleônico trai que ele teve um “caso” – que o deixou exausto
• o que seria o “belo”? Seria Euxíteo?
• em nenhum outro poema, o eu-lírico admite sofrer desses sintomas do amor.
• ser só ossos e cabelo: tal qual defunto de vários dias: esteve como morto
• é competição amorosa do eu-poético e Euxíteo por Cleônico?
• Enquanto Cleônico ama outro, está como morto para o eu-poético?
Não há uma interpretação mais segura do que outra!
junção dos temas – uso do estilo formal do epitáfio
percurso do pensamento na apreensão do personagem
(da ignorância para o conhecimento)
Indiretamente revela mais sobre a prostração erótica da persona loquens do que de
Cleônico. Ela revela sua própria condição prévia, observando Cleônico pela sua perspectiva.
(NB: Propércio 3.7 tem estrutura semelhante).2

Calímaco Ep 58
Errata: onde se lê “Leônidas”, leia-se “Leôntico”
põe no poema que estaria na lápide o que teria se passado na mente de quem
(hipoteticamente) erigiu a lápide:
• o discurso apresenta o personagem a investigar a identidade do morto
• momento anterior à ereção da lápide
• constrói uma persona loquens detetive
O leitor visualiza a cena, imagina Leôntico e como ele pensa/reflete sobre o morto
anônimo. Calímaco constrói a narrativa do epigrama sugerindo que a significação de
destino de navegante que Leôntico dá à morte do desconhecido parte de sua própria
experiência e sua visão deste destino. O epigrama é um exemplo do realismo psicológico
do poeta, pois o discurso de Leôntico caracteriza-o. A persona loquens constrói o significado
da situação centrada em si, como na visão de um monumento por um observador ou leitor
particularmente compreensivo.3

1 Fantuzzi, Marco & Richard Hunter. Tradition and Innovation in Hellenistic Poetry. Cambridge: CUP, 2004, 338-9.
2 Hatch, Joel S. Poetic voices and Hellenistic antecedents in the elegies of Propertius. Diss. University of Cincinnati,
2007, 39ff.
3 Doris Meyer, “The Act of Reading and the Act of Writing in Hellenistic Epigram,” in Peter Bing, John Steffen Bruss
(eds.), Brill’s Companion to Hellenistic Epigram (Leiden 2007), 187–210, 202-3; também Zanker 2004 – Modes of
Viewing in Hellenistic Poetry and Art, 82-3 – cf. http://bmcr.brynmawr.edu/2005/2005-01-02.html.
2
Leôntico não parece ser um indivíduo específico.

reflexão sobre a transitoriedade da vida é parte da temática de efemeridade na lírica


clássica:
ἐπί + ἡμέρα epi-hemera – sob o dia,
de acordo com o dia
o que fazer contra a vulnerabilidade decorrente? Poesia! Por um bom poeta...

Calímaco Ep 2

o que preserva a memória de algo/alguém é a poesia, sobretudo aquela poesia que parece
ser inscrita. Mas monumentos podem ser destruídos. A poesia –a boa poesia – circula e
sobrevive.
cf. Homero – kléa andrôn

• de acordo com os escoliastas, Heráclito teria sido um poeta. Mas sobre ele, tudo é
incerteza: alguém (v. 3 “που – pou” = “em algum lugar”)
• ao Hades “pan-rapina” –πάντων ἁρπακτὴς – variante do mais usual “anfitrião
universal” opõ-se as ἀηδόνες (rouxinóis e daí por extensão cicadas, canto poético,
canto) imortais: rouxinóis imortais: ou o canto imortal, ou rouxinóis que foram
imortalizados, e.g. da fábula em Hesíodo (Trabalhos e os dias 202-12)
• o sol se pôr ao término de uma cena em que um personagem chora, tal qual o eu-
poético:
Od. 16, 220: Odisseu e seu filho depois da reunião
Od. 21, 226: Odisseu e seus criados fiéis
Il. 23, 154 durante o luto geral por Patroclus
Passagens que evocam memória, amizade e perda.
• Odisseu chora pela memória dos companheiros.

HUNTER, Richard. ‘Callimachus and Heraclitus’. Materiali e Discussioni 28 (1992) 113 – 23 (ou
In. On Coming After – Studies in Post-Classical Greek Literature and its Reception, Berlim, 2014).

3
Calímaco Ep 3

Enigmático, parece ser um “epigrama” jocoso, relacionado aos epigramas tumulares. No


contexto de outros epigramas em um livro de Calímaco ou numa coletânea, pode ganhar
outros significados. De fato, faz parte de um conjunto de epigramas relacionados à figura
literária/quasi-lendária do misantropo Tímon.

Calímaco Ep 4
Uso do epigramas funerários para expressar rivalidade / invectiva de modo explícito... por
conseguinte, posicionamento literário ou filosófico.

v.1: literalmente: Tímon, já que não és (=vives) mais, …


seria parte da tradição poética sobre o misantropo Timon, figura lendária do séc. V a.C.
Mencionado em várias obras clássicas, inclusive Aristófanes.

O epigrama AP 7.313, de dois hexâmetros datílicos, composto pelo próprio Timon estaria
em sua lápide:
‘Ἐνθαδ᾿ ἀπορρήξας ψυχὴν βαρυδαίμονα κεῖμαι·
τοὔνομα δ᾿ οὐ πεύσεσθε, κακοὶ δὲ κακῶς ἀπόλοισθε.
Aqui jazo, apartado de uma vida mal-fadada.
O nome não sabereis: pereçam mal, maus.

Explica melhor o Epigrama 3 como jogo poético.

Mas Ep. 4 pode não referir à figura literária/quasi-lendária do misantropo Timon, e sim a
um filósofo pirronista de Flio, (cf. Clayman, D. 2009. Timon of Phlius: Pyrrhonism into Poetry .
Berlin & NY: Walter de Gruyter, 149) contemporâneo de Calímaco. No Ep. 4, alguém
pergunta algo a alguém no Hades que responde, na Flio fizera uma obra, Siloi , na qual o
eu-lírico estava no Hades e perguntava como cético pirrônico coisas aos vivos.

4
Calímaco Ep 23
“Sobre a alma” é Platão Fedon, onde Sócrates no leito de morte discute o destino pós-
mortem da alma; menciona as vantagens que as almas de filósofos têm quando se separam
dos corpos.
Mas alerta contra suicídio em 62b-c
Cleombroto teria sido um leitor descuidado?
Acosta-Hughes, Benjamin. "The Cicala's Song: Plato in the Aetia. " Princeton/Stanford
Working Papers in Classics, 2007 http://www.princeton.edu/~pswpc/pdfs/stephens/050703.pdf
• No diálogo Fédon,o personagem homônimo comenta (Phd. 59c3-4;3) que Cleómbroto
não esteve resente quando Sócrates morreu, mas como seu interlocutor, em Egina.
Cleómbroto não está presente naquela narrativa: ausência e distanciamento são
temas freqüentes na poesia calimaquiana.
• contexto socrático revelado linha a linha (Cleómbroto, muralha, Platão, Fédon)
• transição de fala para leitura associa:
• performance e registro/reperformance retrospectiva
◦ autor de poesia (Calímaco autor do poema) e autor antigo de prosa (Platão)
◦ leitor de Platão (Cleómbroto na narrativa e Calímaco na realidade) e leitor do
epigrama
• uso do dístico elegíaco em elegias e epigramas (gêneros separados?)
◦ completa com a personagem leitora o registro escrito de um discurso de
Sócrates
• “palavra” (γράμμα – gramma) no singular sugere uma obra específica (cf. Aetia fr.
1.5,9)
◦ Platão autor de epigramas para Calímaco?
◦ Meleagro inclui Platão entre os antigos autores de epigramas (hymnoetai)
◦ dois epigramas (FGE 3 e 6) foram atribuídos a Platão no período helenístico
▪ eróticos, com personagens de diálogos socráticos
• a leitura falha de Fédon por Cleómbroto retratada no epigrama indica
◦ Calímaco leu Platão e conhecia bastante detalhes do Fédon
◦ o significado do epigrama depende do conhecimento de Platão e de bastante
detalhes do Fédon pelo público
◦ Calímaco epitoma em verso sinopticamente temas de diálogos de Platão
◦ lida com a possibilidade de leituras diversas e porventura conflitantes de um
autor “clássico” como Platão
• qual o significado da citação por nome de autores antigos como Platão, Hesíodo ( Ep.
56 GP/27 Pf.), ou Hipponax (Iambus 1)?

5
Calímaco Ep 28
o mais metapoético e “agenda poética” dos Epigramas de Calímaco dentre os que estão na
Antologia

Henrichs, Albert. ‘Callimachus epigram 28. A fastidious priamel.’ Harvard Studies in Classical
Philology 83, 1979, 207-12.

cada dístico começa com algo que está relacionado a “desgosto”/alheio a sua poética:
os outros versos mantém esse sentido
parece a figura retórica do priamel:
usualmente ‘não A, não B, mas C’, ou ‘A, B, mas C é melhor/diferente’.

execro; odeio; Lisânias

colocações “gerais”: o que o “povo” gosta, não agrada a Calímaco


1. poesia (épica) cíclica (=ruim)
2. caminhos trilhados
3. amantes (masculinos)
4. fonte (pública/comum/água)
colocação “específica”
1. Lisânias: diz que gosta,
só para acrescentar a adversativa: “outro tem (Lisânias)”

Se Lisânias é de outro, não é exclusivo de Calímaco, não o interessa, e essa estrutura não
termina afirmando o que Calímaco mais gosta (se fosse um jogo literário trivial como
Epigramas de Teógnis que estaria emulando), pelo contrário.

explicação do eco:
(nekhi k )alos(kalos n )ekhi (kalos kalos)
K. Strunk, "Frühe Vokalveränderungen in der griechischen Literatur," Glotta 38 (1960): 74-
89, esp. 84f.
http://publishing.cdlib.org/ucpressebooks/view?
docId=ft4r29p0kg;chunk.id=d0e5388;doc.view=print
Bulloch1993-Images-Ideologies-Self-definition-HellenisticWorld.pdf

Você também pode gostar