Você está na página 1de 128

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

ESCOLA DE CIÊNCIAS MÉDICAS E DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE

ADRIANA NAVARRO ROMAGNOLO

PERCEPÇÃO DE PUÉRPERAS A RESPEITO DA


INFLUÊNCIA DO RELACIONAMENTO CONJUGAL NO
CICLO GRAVÍDICO-PUERPERAL

São Bernardo do Campo

2018
Adriana Navarro Romagnolo

PERCEPÇÃO DE PUÉRPERAS A RESPEITO DA


INFLUÊNCIA DO RELACIONAMENTO CONJUGAL NO
CICLO GRAVÍDICO-PUERPERAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-


Graduação em Psicologia da Saúde da
Universidade Metodista de São Paulo – UMESP,
como requisição parcial a obtenção do título de
Mestre em Psicologia da Saúde.
Pesquisadora: Adriana Navarro Romagnolo
Orientadora: Profa. Dra. Miria Benincasa Gomes

Área de concentração: Psicologia da Saúde


Linha de Pesquisa: Saúde, Violência e Adaptação Humana

São Bernardo do Campo

2018
FICHA CATALOGRÁFICA

Romagnolo, Adriana Navarro


R66p Percepção de puérperas a respeito da influência do relacionamento
conjugal no ciclo gravídico-puerperal / Adriana Navarro Romagnolo.
2018.
126 f.

Dissertação (Mestrado em Psicologia da Saúde) –Escola de


Ciências Médicas e da Saúde da Universidade Metodista de São
Paulo, São Bernardo do Campo, 2018.
Orientação de: Míria Benincasa Gomes.

1. Relacionamento conjugal 2. Ciclo gravídico-puerperal


3. Fatores de risco 4. Fatores de proteção I. Título
CDD 157.9
A dissertação de mestrado sob o título PERCEPÇÃO DE PUÉRPERAS A RESPEITO DA
INFLUÊNCIA DO RELACIONAMENTO CONJUGAL NO CICLO GRAVÍDICO-
PUERPERAL, elaborada por Adriana Navarro Romagnolo foi apresentada em 19 de fevereiro
de 2018, perante banca examinadora composta por Profa. Dra.Miria Benincasa Gomes
(Presidente/UMESP); Prof. Dra. Hilda Rosa Capelão Avoglia (Títular/UMESP) e Prof. Dra.
Ana Cristina Araújo Nascimento (Títular/UNITAU).

____________________________________________

Profª Draª. Miria Benincasa Gomes

Orientadora e Presidente da Banca Examinadora

____________________________________________

Profª Draª. Maria do Carmo Fernandes Martins

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Saúde


Área de concentração: Psicologia da Saúde
Linha de Pesquisa: Saúde, Violência e Adaptação Humana

São Bernardo do Campo, 19 de fevereiro de 2018.


Dedico este trabalho à minha mãe, a qual me mostra diariamente a importância da

maternidade realizada com amor e dedicação e às minhas avós, que me ensinaram que o

amor materno se perpetua mesmo com a ausência física... Fica guardado para sempre em

nossas memórias e em nosso coração.


AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais Alice e Corrado, pelo apoio e incentivo que sempre me dão,
pela confiança em mim e em meu trabalho, por incentivarem e auxiliarem em meus estudos.
Meu irmão Rodrigo, pelos ensinamentos ao longo da vida e a minha prima-irmã Maiara,
a primeira a despertar em mim o sentimento de amor e olhar materno.
Minha orientadora Profª Dra. Miria Benincasa Gomes, pelo acolhimento, pela paciência,
pela confiança. Minha eterna gratidão por todo seu apoio, incentivo e carinho.
Fernando Godoy, pela parceria, pelas madrugadas sem dormir junto comigo, pelas
caronas, almoços e por todo amor e carinho que sempre me dedica.
Minha Psicóloga Sueli Moreira, por me auxiliar a despertar o melhor que há em mim e
contribuir com meu desenvolvimento psíquico, emocional, pessoal e profissional.
Às amigas Luciana Inham e Iara Guimarães, minha família mineira/portuguesa que
compartilharam comigo as alegrias, viagens, angústias, conquistas e todos os momentos vividos
em Lisboa e às amigas Debora Nadale e Nathália Chagas, parceiras de vida, por tantos anos de
amizade e companheirismo.
A todos que contribuíram e contribuem com a minha formação enquanto psicóloga,
sendo em especial as colegas da Lázuli – Psicologia Obstétrica, Aline Costa, Neliane Lazarini
e Damiana Angrimani, por tanta troca tanto em aspectos pessoais quanto profissionais.
À Profa. Dra. Hilda Rosa Capelão Avoglia, por acompanhar minha trajetória acadêmica
desde o início, pela disponilidade, carinho, atenção e pela participação compromissada na
Banca Examinadora e de Qualificação.
Á Profa. Dra Ana Cristina Araújo Nascimento, pela sensibilidade, respeito e pelas
valiosíssimas contribuições, não apenas para este trabalho, mas para sua continuidade e pela
disponibilidade em participar da Banca Examinadora e de Qualificação.
À Elisangela Aparecida de Castro Souza, Assistente da Coordenação do Programa de
Pós-Graduação em Psicologia da Saúde da UMESP, pelo atendimento sempre prestativo e
carinhoso.
A todas as mulheres que abriram as portas de suas casas e me receberam,
compartilhando suas histórias de alegrias e dores, momentos íntimos e uma vivência única que
é o momento do parto e do nascimento.
EPÍGRAFE

“Me espera” - Sandy

Eu ainda estou aqui


Perdido em mil versões
Irreais de mim
Estou aqui por trás de todo o caos
Em que a vida se fez
Tenta me reconhecer no temporal
Me espera
Tenta não se acostumar
Eu volto já
Me espera
Eu que tanto me perdi
Em sãs desilusões ideais de mim
Não me esqueci
De quem eu sou
E o quanto devo a você
Tenta me reconhecer no temporal
Me espera
Tenta não se acostumar
Eu volto já
Me espera
Mesmo quando me descuido
Me desloco
Me deslumbro
Perco o foco
Perco o chão
Eu perco o ar
Me reconheço em teu olhar
Que é o fio pra me guiar
De volta
De volta
Tenta me reconhecer no temporal
Espera
No temporal
Me espera
Tenta não se acostumar
Eu volto já
Me espera

Eu ainda estou aqui


RESUMO

Entre as décadas de setenta e oitenta do século passado houve uma mobilização no sentido de
avaliar a assistência ao parto em âmbito mundial. Os principais assuntos em pauta eram os
elevados índices de cesárea e a excessiva medicalização do processo de parto, ambos sem
evidências científicas, em vários lugares do mundo. O Ministério da Saúde preconiza diversas
práticas acerca da saúde da mulher e procedimentos que favorecam o relacionamento conjugal.
Assim, esse trabalho teve como objetivo verificar a percepção de mulheres sobre sua relação
conjugal durante a gestação, parto e pós-parto, além de investigar a interferência da relação
conjugal na representação da imagem de si, no modelo de assistência ao parto, no exercício da
maternidade e na adaptação a esse novo papel, de acordo com as recomendações preconizadas
pelo Ministério da Saúde e pela OMS. Participaram desse estudo três mulheres com diferentes
vivências de parto, sendo eles cirurgia cesariana eletiva, parto com assistência humanizada e
parto com violência obstetrica. Os instrumentos utilizados foram: Entrevista semi – aberta;
Procedimento de Desenho - Estória com Tema (DE-T); Escala Fatorial de Satisfação com o
Relacionamento de casal (EFS-RC); questionário sociodemográfico e Escala de Autoestima de
Rosenberg. Os resultados mostraram que a forma como cada participante percebe o
relacionamento conjugal possui influência considerável nos aspectos psíquicos analisados não
só no pós-parto, mas durante todo o ciclo gravídico-puerperal. Na participante de Cesárea
Eletiva, é possível notar vínculo conjulgal fragilizado, decisão médica pela via de parto,
dificuldade acentuada no exercício da maternidade e autoimagem e autoestima comprometidas.
Na participante de Parto com Assistência Humanizada, o vínculo é fortalecido, o parto aparece
como decisão do casal, a participante encontra-se em processo de adaptação da função materna
e a autoimagem comprometida, porém a autoestima é compensatória. No parto com Violência
Obstétrica, o vínculo conjugal é ausente, o parto foi uma imposição médica, apresenta
dificuldade no exercício da maternidade sozinha e a autoimagem e autoestima são
compensatórias. Assim, entende-se a necessidade de ampliar o estudo com maior número de
participantes e análises aprofundadas dos instrumentos quantitativos, bem como a importância
de modelos de intervenção psicólogica durante a gestação como atuação preventiva, promoção
de saúde e fortalecimento do vinculo do casal e o fortalecimento de políticas públicas que
garantem os direitos da mulher.

Palavras-chave: Relacionamento conjugal; Ciclo Gravídico-Puerperal; Fator de risco; Fator de


proteção.
ABSTRACT

Between the 1970s and 1980s there was a mobilization to evaluate childbirth care worldwide.
The main subjects on the schedule were the high rates of cesarean section and the excessive
medicalization on the labor process, both without scientific evidence, in several places of the
world. The Ministry of Health defends various practices about women's health and procedures
that benefits marital relationships. Therefore, this study aimed to verify the perception of
women about their marital relationship during pregnancy, delivery and postpartum, as well as
to investigate the interference of the conjugal relationship in the representation of the self image,
in the delivery model, in the exercise maternity and adaptation to this new role, in accordance
with the recommendations of the Ministry of Health and WHO. Three women with different
birth experiences participated in this study, including elective cesarean surgery, delivery with
humanized assistance and delivery with obstetric violence. The instruments used were: Semi -
open interview; Drawing Procedure - Theme Story (DE-T); Factorial Scale for Satisfaction with
the Double Relationship (EFS-RC); sociodemographic questionnaire and Rosenberg's Self-
esteem Scale. The results showed that the way each participant perceives the marital
relationship has considerable influence on the psychic aspects analyzed not only in the
postpartum period, but throughout the pregnancy-puerperal cycle. In the participant of Cesarean
Elective, it is possible to notice a weakened conjugal bond, medical decision by the way of
delivery, marked difficulty in the exercise of maternity, and self-image and compromised self-
esteem. In the participant of Childbirth with Humanized Assistance, the bond is strengthened,
the delivery appears as a decision of the couple, the participant is in the process of adapting the
maternal function and the compromised self-image, but the self-esteem is compensatory. In
childbirth with Obstetric Violence, marital bonding is absent, childbirth was a medical
imposition, presents difficulty in the exercise of motherhood alone, and self-image and self-
esteem are compensatory. Thus, it is understood the need to expand the study with a greater
number of participants and in-depth analyzes of the quantitative instruments, as well as the
importance of psychological intervention models during pregnancy such as preventive action,
health promotion and strengthening of the couple's bond and strengthening of public policies
that guarantee the rights of women.

Key words: Marital relationship; Pregnancy-Puerperal Cycle; Risk factor; Protection factor.
Lista de figuras

Figura 01. Desenho da Mulher – Maya – Cesárea Eletiva ....................................................... 81


Figura 02. Desenho da Mulher – Gaia – Parto com Assistência Humanizada ......................... 83
Figura 03. Desenho da Mulher – Iris – Parto com Violência Obstétrica ................................. 85
Figura 04. Desenho da Mãe – Maya – Cesárea Eletiva ............................................................ 87
Figura 05. Desenho da Mãe – Gaia – Parto com Assistência Humanizada.............................. 89
Figura 06. Desenho da Mãe – Iris – Parto com Violência Obstétrica ..................................... 93
Figura 07. Desenho da Família – Maya – Cesárea Eletiva ....................................................... 95
Figura 08. Desenho da Família – Gaia – Parto com Assistência Humanizada ........................ 96
Figura 09. Desenho da Família – Iris – Parto com Violência Obstétrica ................................ 99
Lista de tabelas

Tabela 1. Caracterização sociodemográfica das mães............................................................. 43


Sumário
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................12
2 REVISÃO TEÓRICA ......................................................................................................... 15
2.1 A mulher no ciclo gravídico-puerperal ........................................................................... 15
2.1.1 Alterações físicas e corporais ............................................................................. 15
2.1.2 Alterações psicológicas ...................................................................................... 18
2.2 Maternidade e função materna: aspectos sociais e psicodinâmicos ............................. 21
2.3 Autoestima e autoimagem ................................................................................................ 25
2.4 Relação conjugal no ciclo gravídico puerperal ............................................................. 27
2.5 Assistência ao parto ......................................................................................................... 31
2.5.1 O parto normal ................................................................................................... 35
2.5.2 A cirurgia cesariana ........................................................................................... 36
2.5.3 Violência obstétrica (VO) ................................................................................... 36
2.5.4 Parto com assistência humanizada ..................................................................... 39
3 MÉTODO ............................................................................................................................ 42
3.1 Amostra ............................................................................................................................ 42
3.1.1 Caracterização da amostra ................................................................................. 43
3.2 Local .................................................................................................................................. 44
3.3 Instrumentos .................................................................................................................... 44
3.3.1 Entrevista semi – aberta ..................................................................................... 44
3.3.2 Procedimento de Desenho - Estória com Tema (DE-T) ..................................... 45
3.3.3 Escala Fatorial de Satisfação com o Relacionamento de casal (EFS-RC) ......... 45
3.3.4 Questionário sociodemográfico .......................................................................... 46
3.3.5 Escala de Autoestima de Rosenberg ................................................................... 46
3.4 Procedimento para a coleta de dados ............................................................................. 46
3.5 Procedimento para a análise dos dados ......................................................................... 47
3.5.1 Entrevista semi - aberta ...................................................................................... 47
3.5.2 Procedimento de Desenho - Estória com Tema (DE-T) ..................................... 47
3.5.3 Escala Fatorial de Satisfação com o Relacionamento de Casal (EFS-RC) ........ 47
3.5.4 Questionário sociodemográfico .......................................................................... 48
3.5.5 Escala de autoestima de Rosenberg .................................................................... 48
3.5.6 Integração dos resultados obtidos ....................................................................... 48
3.6 Objetivo ............................................................................................................................. 49
3.6.1 Objetivo geral ...................................................................................................... 49
3.6.2 Objetivos específicos ........................................................................................... 49
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 50

4.1 Análise categorial das entrevistas ................................................................................... 50


4.1.1 Categoria 01 - Relacionamento Conjugal ........................................................... 50
4.1.2 Categoria 01 – Discussão - Relacionamento Conjugal ....................................... 55
4.1.3 Categoria 02 - Exercício da Maternidade ........................................................... 59
4.1.4 Categoria 02 – Discussão - Exercício da Maternidade ....................................... 65
4.1.5 Categoria 03 - Escolha da via de parto ............................................................... 68
4.1.6 Categoria 03 – Discussão - Escolha da Via de Parto ......................................... 73
4.1.7 Categoria 04 – Autoimagem ................................................................................ 77
4.1.8 Categoria 04 – Discussão - Autoimagem ............................................................. 80

4.2 Análise do Desenho-Estória com Tema .......................................................................... 81


4.2.1 Desenho da Mulher ............................................................................................. 81
4.2.2 Desenho da Mãe .................................................................................................. 87
4.2.3 Desenho da Família ............................................................................................. 95
5 Considerações finais .......................................................................................................... 101
6 Referências ......................................................................................................................... 106
ANEXOS ............................................................................................................................... 117
12

Introdução

Entre as décadas de setenta e oitenta do século passado, houve uma mobilização no


sentido de avaliar a assistência ao parto em âmbito mundial. Os principais assuntos em pauta
eram os elevados índices de cesárea e a excessiva medicalização do processo de parto, ambos
sem evidências científicas, em vários lugares do mundo. Pontos importantes considerando que,
há bem pouco tempo, o parto era um processo fisiológico normal (World Healt Organization
[WHO], 2010). Em 1985, realizou-se a Conferência sobre Tecnologia Apropriada para o Parto,
sob a coordenação da Organização Mundial de Saúde (WHO, 1985). Essa reunião foi
considerada um marco tanto para a saúde pública quanto para a defesa dos direitos da mulher e
do bebê. A partir de então, estudos vêm sendo realizados no sentido de desenvolver uma
assistência obstétrica que envolva as melhores práticas, priorizando o bem-estar da mãe e do
bebê de maneira integral (Patah & Malik, 2011).
A Carta de Fortaleza, documento desenvolvido nesse mesmo encontro, preconiza a
liberdade da mulher para escolher a melhor posição no trabalho de parto e no momento do
nascimento; a opção de ter acompanhante durante o parto e todo o trabalho de parto; o fim de
alguns procedimentos médicos que, além de não apresentarem benefícios, podem gerar
prejuízos quando aplicados rotineiramente. Esta reunião configurou-se com o início de
mudanças no cenário obstétrico daquele momento (Agência Nacional de Saúde Suplementar
[ANS], 2008; Diniz, 2005).
No que se refere à realidade brasileira, observa-se a reprodução do padrão mundial, ou
seja, as mulheres com gestação de baixo risco são desnecessariamente expostas às situações
adversas e iatrogênicas (complicação ou doença causada por medicamento ou tratamento
médico) que o excesso de tecnologia impõe, independentemente de sua situação
socioeconômica (Andreucci & Cecatti, 2011). Esta realidade gera impacto em outras áreas da
vida que se estendem para além do momento do nascimento. Os autores mostram implicações
da via de parto, por exemplo, na amamentação. As pesquisas indicam que a cesárea eletiva, em
comparação com a cesárea de emergência ou o parto normal, gera um início tardio da
amamentação e oferece pelo menos três vezes mais risco de interrupção da amamentação no
primeiro mês de vida (Machuca, Quadros, Castro, Siqueira, & Venturi, 2011; Pereira, Fonseca,
Oliveira, Souza, & Mello, 2013; Prior et al., 2012; Weiderpass, Barros, Victora, Tomasi, &
Halpern, 1998; Zanardo et al., 2010).
Se levarmos em consideração as políticas públicas do Ministério da Saúde sobre a
amamentação, devido aos seus já conhecidos benefícios, verifica-se que há indicação, quase
13

consensual, da amamentação como alimento exclusivo para o bebê durante os seis primeiros
meses de vida e como complemento da alimentação até os 24 meses (Brasil, 2015). Ao se inserir
nessa jornada de gestação e maternidade, a mulher é bombardeada por pressupostos de como
ser uma boa mãe (Nunes, 2011), sendo que dentre os principais itens está a capacidade de
amamentar. Nessa pesquisa considera-se que a dificuldade de nutrir seu bebê — a qual, segundo
a literatura, é agravada pela cesárea eletiva — gera algum impacto na percepção de sua
capacidade de ser mãe.
Um movimento crescente observado no Brasil e também em vários outros países do
mundo, tem defendido que os homens podem e devem ser envolvidos integralmente em tudo o
que diz respeito à tomada de decisão reprodutiva, desde a escolha de ser pai até a participação
solidária na gestação, no parto, no cuidado e na educação dos filhos. O argumento central
trazido por esse debate é que, dessa forma, é possível romper e transformar, na prática,
construções sociais de gênero que, por um lado, direcionam todas as responsabilidades
relacionadas à reprodução e aos cuidados das crianças às mulheres e, por outro, afastam os
homens tanto dos compromissos e dos deveres quanto dos prazeres e dos aprendizados que
circundam esse universo (Benazzi, Lima, & Souza, 2012).
O envolvimento consciente dos homens – independentemente de serem pais biológicos
ou não – em todas as etapas do planejamento reprodutivo e da gestação, pode ser determinante
para a criação e/ou fortalecimento de vínculos afetivos saudáveis entre eles, suas parceiras e
filhos(as). Ressaltamos que isso pode ser positivo não apenas para as crianças e mulheres, mas
especialmente para os homens, por aproximá-los definitivamente da arena do afeto e do
cuidado. Oliveira et al. (2009) apontam que no momento que o pai se sente “grávido” e
reconhece a gravidez como um evento familiar, passa a participar de forma mais ativa nas
consultas de pré-natal, bem como nos exames e na preparação do parto. Além disso, adquire
uma nova visão de cuidado e de ser cuidador, de forma a assegurar que o compartilhamento das
responsabilidades pode ser mais favorável também aos cuidados de saúde da mulher.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que o cuidado no ciclo gravídico-
puerperal deve ser centrado na família, sendo dirigido para as necessidades do casal e não mais
voltado apenas para a mulher e o bebê; o que promove uma assistência global, respeitosa e de
forma integral. Assim, apontam para a importância da inclusão do parceiro durante todo o
processo de forma a proporcionar uma assistência adequada à família, fundamental para a
obtenção de bons resultados na gestação e no puerpério (Brasil, 2008). O modelo tradicional de
assistência, não inclusivo e não integral, impede a construção da parentalidade de forma
conjunta, condenando os futuros pais à elaboração individual desse processo tão singular do
14

ciclo vital.
No Brasil, a política pública que prioriza a saúde masculina e intervém em suas
necessidades é a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), que tem
como objetivo qualificar os profissionais que atuam na atenção básica para que ofereçam uma
assistência maior e mais acolhedora a esse grupo. As atuações propostas pelo Ministério da
Saúde possibilitam que a atenção primária sirva como porta de entrada dos homens nos serviços,
de forma a viabilizar a prevenção de doenças, promoção de saúde e intervenções quando
necessário. Além disso, possibilitam uma integração transversal com outras políticas públicas
de saúde (Brasil, 2005; 2016).
Optando-se pela avaliação de mulheres que tiveram diferentes formas de assistência ao
parto, podemos compreender esse processo a partir da perspectiva da mulher, ou seja, como se
construiu para ela a maternidade e qual a contribuição do parceiro para essa imagem de si como
mulher e mãe. Outro levatamento deste estudo é de que a assistência pré-natal e ao parto
interferem na formação dessa imagem. Assim, ao ouvir a história pregressa dessas mulheres,
pode-se inferir quais fatores foram protetivos e quais foram os de riscos na construção da
imagem que têm de si, de mãe e na relação com o parceiro.
Dessa forma, a pesquisa buscou como objetivo verificar a percepção de mulheres sobre
sua relação conjugal durante a gestação, parto e pós-parto; além de investigar a interferência da
relação conjugal na representação da imagem de si, no modelo de assistência ao parto, no
exercício da maternidade e na adaptação a esse novo papel, de acordo com as recomendações
preconizadas pelo Ministério da Saúde e pela OMS.
Este trabalho se justifica por estudos anteriores que relatam as implicações dos
diferentes modelos de parto na vida da gestante, tanto psíquicas quanto sociais. A relevância se
mostra na possibilidade de aprimorar a discussão sobre o tema de forma a embasá-lo
cientificamente, para que nós, psicólogos, possamos entender nosso papel dentro do contexto
da humanização da assistência ao parto e ao nascimento.
Após o levantamento do referencial teórico, foi realizada uma análise de conteúdo
temático-categorial proposta por Oliveira (2008). A partir da análise elaborada, a revisão teórica
foi dividida em alguns temas para facilitar a compreensão da temática em questão, sendo eles:
a mulher no pós-parto (abordando as questões físicas, corporais e os aspectos emocionais); o
relacionamento conjugal no ciclo gravídico-puerperal; modelos de assistência ao parto
(abordando o parto normal, a cirurgia cesariana, violência obstétrica e o parto com assistência
humanizada); maternidade e função materna e, por fim, autoimagem e autoestima.
15

2 Revisão teórica

2.1 A mulher no ciclo gravídico-puerperal

A gestação faz parte do ciclo vital feminino e pode ser compreendida como um conjunto
de fenômenos fisiológicos que resultam na criação de um novo ser. Esse período pode ser
considerado um dos mais ricos por algumas mulheres, um momento de mudanças físicas e
psicológicas (Rezende, 2005). As alterações fisiológicas da gestação possivelmente são
responsáveis por gerar medos, dúvidas, angústias, fantasias e/ou curiosidade com as
transformações sofridas pelo corpo grávido. É de extrema importância que tais sentimentos
sejam compartilhados com profissionais de saúde durante a assistência pré-natal e que tais
profissionais estejam capacitados para realizar um acolhimento adequado auxiliando no manejo
de tais demandas (Silva Costa et al., 2010).

2.1.1 Alterações físicas e corporais

A gestação promove uma série de mudanças no organismo da mulher, tendo em vista


que ele é o grande responsável por nutrir o bebê que cresce em seu ventre. Algumas dessas
mudanças são visíveis e perceptíveis pela gestante: as alterações físicas, por exemplo. Já outras,
como as questões hormonais, muitas vezes não são percebidas (Caldas, 2007). As
transformações físicas e hormonais têm início nas primeiras semanas de gestação. A principal
base de todas as alterações está na produção dos hormônios progesterona e estrógeno, por meio
do ovário e da placenta. Conforme a gestação vai evoluindo, as mudanças vão sendo cada vez
maiores (Caldas, 2007).
Para facilitar a compreensão, muitos autores classificam as mudanças por meio de
sistemas, sendo eles: locomotor, cardiovascular, imunológico, respiratório, urinário, digestivo,
endócrino, nervoso, além do metabolismo e órgãos do sentido. Abaixo destacaremos algumas
alterações mais significativas (Caldas, 2007):
 Sistema locomotor: o centro de gravidade se altera devido ao aumento das
mamas e do abdome, dessa forma há alteração da curvatura lombar e
modificação no equilíbrio. Modificam-se os níveis de cálcio para que o bebê
também o receba, e há um aumento do volume de água corporal em até 3,5 litros.
Com essas mudanças a gestante pode apresentar maior ingestão de água e,
consequentemente, maior frequência urinária. Tais alterações hídricas
16

interferem na produção de sódio, fazendo com que o organismo precise se


adaptar a esse novo ciclo (Gordon, 2002, p. 63-64).
 Sistema cardiovascular: com o crescimento do feto, há mudança na posição do
coração, aumento da frequência cardíaca e do trabalho cardíaco. O volume
sanguíneo pode aumentar em 30% (aproximadamente 1,5 litro). Com essas
alterações sanguíneas, algumas mulheres podem apresentar índices próximos
aos de anemia, que são considerados normais na gestante. O aumento do volume
sanguíneo também pode causar mudanças na pressão, que variam conforme cada
período da gestação (Caldas, 2007).
 Sistema respiratório: há mudanças no diafragma e na circunferência do tórax,
que aumentam de tamanho. A elevação dos níveis de progesterona provoca
respiração mais profunda, causando um estado de hiperventilação que promove
com mais facilidade a troca de gás carbônico e oxigênio entre mãe e bebê
(Gordon, 2002, p. 71)
 Sistema urinário: durante a gestação há dilatação das vias urinárias, pois a
progesterona provoca relaxamento da musculatura lisa. No terceiro trimestre,
devido ao peso da barriga sobre a bexiga, podem ocorrer micções frequentes
com pequenos volumes ou até mesmo incontinência urinária. Há também
alterações no funcionamento renal que podem sugerir indicativos de pré-
eclâmpsia (Gordon, 2002, p. 77).
 Metabolismo: há alteração dos níveis de glicemia devido à glicose consumida
pelo feto; aumento de triglicérides, ácidos graxos e colesterol materno. Os
aminoácidos são utilizados pelo feto como fonte de energia e transportados
ativamente através da placenta. Há também diversas alterações de sais minerais
e vitaminas que contribuem para o desenvolvimento do bebê (Gordon, 2002, p.
84).
 Sistema digestivo: há aumento de apetite e, por vezes, mudanças nos hábitos
alimentares com preferências ou aversões. Durante o primeiro trimestre é
comum a gestante apresentar náuseas e vômitos. A progesterona inibe a
musculatura lisa, reduzindo a capacidade de contração do duto gastrointestinal,
podendo ocasionar refluxo, azia, regurgitação, hérnia de hiato, obstipação
intestinal, dentre outros (Rezende & Coslovsky, 1998, p. 146). A mulher pode
apresentar aumento da produção salivar e sangramento na gengiva. O fígado
17

também tem aumento na atividade metabólica para a produção de energia e


proteínas necessárias na gestação. Quanto ao intestino, há flatulências devido
maior absorção de ferro e cálcio. Com o aumento da pressão na circulação entre
intestino e fígado, podem ocorrer hemorroidas (Caldas, 2007).
 Sistema endócrino: as alterações dos hormônios produzidos pela tireoide afetam
diretamente o desenvolvimento do sistema nervoso do feto. A glândula adrenal
é responsável pela regulação de sódio e potássio, controlando a pressão arterial;
e do cortisol, que possui papel importante na imunologia. A hipófise aumenta na
gestação, pois é responsável pela produção de prolactina, que prepara a mama
para a lactação (Caldas, 2007).
 Sistema nervoso e órgãos do sentido: a progesterona deprime o sistema nervoso
central causando sonolência, fadiga e embotamento psicomotor. Quanto às
questões oftalmológicas, pode ocorrer espessamento de córnea e redução da
pressão intraocular. Na região nasal há hipervascularização, podendo ocasionar
obstrução nasal, rinite, hipersecreção e sangramento nasal (Caldas, 2007).
Devido às diversas alterações fisiológicas citadas acima, alguns autores apontam que as
queixas mais comuns apresentadas por gestantes durante as consultas de pré-natal são náuseas
e vômitos, pirose ou azia, tonturas ou vertigens, obstipação intestinal, dores sacrolombares,
sangramento gengival, câimbras e palpitações (Matheus, 2007).
Após o parto, a mulher passa por um período denominado puerpério, o qual ainda possui
grandes mudanças fisiológicas. Cronologicamente, o puerpério inicia-se com a dequitação e
expulsão da placenta e finaliza-se conforme a recuperação da genitália materna depois do parto,
bem como com o retorno das funções ovarianas, sendo essa recuperação variável conforme o
organismo de cada mulher. O fim do puerpério confunde-se também com o início da lactação,
que traz uma nova fase biológica e endócrina da mãe. A maioria dos autores define como tempo
esperado para o puerpério de 6 a 8 semanas após o parto. Essas semanas são divididas em três
fases, cada uma com alterações fisiológicas específicas que serão definidas a seguir (Nakamura,
Junior, & Rocha, 2007; Rezende & Kamnitzer, 1977).
 Pós-parto imediato: 1º ao 10º dia após o parto
É marcado por um período de exaustão física que ocasiona sono, gerando muitas vezes
alívio e tranquilidade quando o parto é fisiológico. Podem ocorrer tremores e calafrios seguidos
de sudorese e a temperatura pode estar mais elevada, conforme a apojadura das mamas. O
volume de sangue bombeado pelo coração aumenta de 10% a 13% (Nakamura et al., 2007;
Rezende & Kamnitzer, 1977).
18

Ocorre a involução da musculatura uterina e a regressão do epitélio vaginal. O fundo do


útero começa a descer, a ferida da placenta e o colo do útero começam a fechar. Na lactante
esse processo ocorre mais rápido devido à produção de ocitocina, bem como nas mulheres
primíparas, pois o útero é menos volumoso (Nakamura et al., 2007).
 Pós-parto tardio: 10º ao 45º dia após o parto
Começa a recuperação genital e ainda há redução do volume uterino, porém de forma
mais lenta. O endométrio regenera-se completamente e, quando a mulher não amamenta,
modifica-se de forma semelhante à fase proliferativa do ciclo menstrual (Nakamura et al.,
2007).
 Pós-parto remoto: 45º dia em diante.
Tem duração imprecisa e é mais rápido em mulheres que não amamentam.
Fisiologicamente esse período termina quando o útero retoma o endométrio proliferativo do
tipo menstrual (Nakamura et al., 2007).

2.1.2 Alterações psicológicas

Estudos recentes apontam que o nascimento de um filho deve ser considerado um


acontecimento normativo e previsível na vida de um casal e não um período de crise. É
possivelmente um dos momentos mais importantes no desenvolvimento individual e familiar,
mas que implica uma necessidade de reorganização e adaptação. Dessa forma, com a exigência
de cuidados, a reorganização familiar, individual, conjugal e profissional pode ser uma fonte de
estresse. Em contrapartida, tais mudanças podem promover uma fonte de satisfação, realização
pessoal e ter um significado positivo atribuído à vida dos pais, de forma a proporcionar maior
aproximação conjugal e familiar (Boss, Bryant, & Mancini, 2016; Canavarro, 2001; C. Cowan
& Cowan, 2000; Moura-Ramos, 2006; Moura-Ramos & Canavarro, 2012; Oliveira, Araújo-
Pedrosa, & Canavarro, 2005).
Sabe-se que o nascimento de um filho ocorre de forma a envolver o casal, porém, ainda
assim, pais e mães possuem adaptações distintas quanto às mudanças promovidas por este
acontecimento. Essa adaptação ocorre conforme as características pessoais dos pais, do bebê e
do contexto social e familiar que o casal está inserido, podendo ocorrer de forma positiva ou
negativa. Ainda que o objetivo seja comum, em formar uma família, a transição para a
parentalidade de homens e mulheres ocorre de forma distinta e com caminhos individuais,
considerando diferentes características biológicas, personalidade, atitudes, prioridades e a
forma como cada indivíduo se percebe em seus papéis sociais. Alguns autores apontam que a
19

mulher possui mudanças mais significativas, podendo apresentar maior perturbação e


dificuldade de adaptação frente aos novos papéis que ocupa, devido às alterações em relação
ao sono, lazer, relacionamento sexual, relacionamentos sociais e tempo com o cônjuge, bem
como as alterações físicas, que ocorrem de forma muito mais intensa do que no parceiro. Além
disso, observa-se que há maior prevalência das tarefas e prestação de cuidados assumidas como
a responsabilidade materna (Moura-Ramos, 2006; Moura-Ramos & Canavarro, 2012; Salmela-
Aro, Nurmi, Saisto, & Halmesmaki, 2000).
Em geral, o nascimento de um bebê tende a ser recebido com alegria pela família e a
comunidade que a cerca, porém, nem sempre esse sentimento se estende de forma positiva para
a mãe. Há três grandes momentos de transformações psíquicas pelas quais uma mulher precisa
passar no ciclo gravídico-puerperal, que exigem dela uma reestruturação emocional e ocorrem
de formas diferentes para cada sujeito. São elas: a transformação de filha e mãe; a transformação
da autoimagem corporal; e a relação entre a sexualidade e a maternidade. Frente a isso, a
puérpera pode apresentar uma mudança de humor denominada “tristeza materna” (baby blues),
que acomete 80% das mulheres, podendo ser um índice ainda maior devido ao tabu que existe
acerca do tema (Brasil, 2006; Iaconelli, 2005).
A “tristeza materna” pode ser definida como um estado de humor depressivo, coerente
e esperado conforme a demanda psíquica exigida pelo período, que costuma ocorrer a partir da
primeira semana após o parto. Aparecem sintomas como irritabilidade, mudanças de humor,
tristeza, insegurança, baixa autoestima, sensação de incapacidade de cuidar do bebê, entre
outros. A mulher perde o papel de filha sem ter clareza do seu papel de mãe; não reconhece o
próprio corpo, pois não é mais gestante, porém não possui mais o corpo que tinha antes da
gestação; agora há entre ela e o marido um terceiro elemento que traz uma nova configuração
familiar. O bebê precisa encontrar um espaço dentro dessa nova configuração de forma que não
interfira na sexualidade do casal. Forma-se um triângulo que remete os pais as suas próprias
questões com as figuras materna e paterna. Este movimento é esperado e envolve uma
quantidade considerável de sofrimento, que pode apresentar-se de forma benéfica conforme
essas questões vão sendo elaboradas e compartilhadas com outras pessoas que compreendam
essa condição como natural, proporcionando acolhimento e cuidado (Brasil, 2006; Iaconelli,
2005).
Em determinadas fases da gestação é esperado que a mulher tenha a sensação de
completude, o que ocorre de forma oposta com a mãe de um recém-nascido, que vive um
momento de incompletude com o vazio da barriga e a separação, necessitando de tempo para
que possa preencher esse espaço. A perda do status de gestante é muito rápida e dolorosa. O
20

nascimento pode ser percebido como uma amputação, considerando que o filho muitas vezes é
sentido pela mulher como parte do corpo materno. É após o parto que a mulher percebe o filho
como outra pessoa e há a necessidade de elaborar a perda do bebê da fantasia para entrar em
contato com o real. Assim, o parto proporciona à mulher a quebra da imagem do bebê idealizado
e o filho passa a ser independente da mãe, recebendo toda a atenção que anteriormente era
dedicada à gestante. A desconstrução da imagem idealizada, muitas vezes gera desapontamento,
desânimo e a impressão de ser incapaz de enfrentar a nova realidade. Desse modo, o parto
provoca intensas mudanças intra e interpessoais, podendo o nascimento do bebê ser considerado
um período no qual a mulher encontra-se emocionalmente vulnerável, pois é o momento que a
mãe atribuirá um significado novo à experiência da maternidade (Borsa & Dias, 2004; Iaconelli,
2005; Maldonado, 2002).
Os primeiros dias após o nascimento são marcados por inúmeros sentimentos
ambivalentes: é um período no qual a mulher está passando pela recuperação do parto e pode
apresentar cansaço, fadiga e desconforto, porém, há também a excitação e ansiedade pela
chegada do filho. As primeiras semanas são definidas por uma relação não-verbal e, por isso,
pouco estruturada e intensamente emocional, pois a mãe conhece muito pouco sobre o filho:
ainda não possuem um padrão de comunicação e não há distinção das necessidades do bebê.
Assim, há margem para que as interpretações maternas sejam projetivas e que os sentimentos
mais hostis sejam reprimidos por formações reativas estimuladas pelos familiares. Com isso,
pode-se dizer que é um momento complexo, com emoções intensas e variadas, no qual a
labilidade emocional encontra-se presente, pois a euforia e a depressão alternam-se rapidamente
e com grande intensidade (Borsa & Dias, 2004; Klaus, Kennel, & Klaus 2000; Maldonado,
2002; Soifer, 1992).
Frente a isso, é necessário apoio e compreensão para que a mãe recém-nascida saiba
que não há nada de errado com ela. O suporte emocional é essencial, pois contribui para a
saúde física e emocional da mulher, proporciona acolhimento, faz com que ela se sinta aceita
em sua natureza materna, diminui o mal-estar de forma a encurtar o período de baby blues e
influencia de forma direta na relação do casal e na construção do vínculo dos pais com o bebê.
Assim, ainda que hajam diferenças entre homens e mulheres na construção da parentalidade e
que, em alguns casos, haja dificuldade de adaptação às novas funções, podemos afirmar que,
em geral, ambos podem apresentar capacidade de adaptação e ajustamento, de forma que o
nascimento seja marcado como desafios e exigências que os casais conseguem superar, e que
a chegada do filho possa se constituir como um momento importante e positivo na vida do
casal (Iaconelli, 2005; Moura-Ramos & Canavarro, 2012).
21

2.2 Maternidade e função materna: aspectos sociais e psicodinâmicos

A construção dos conceitos de família e da função materna possui uma trajetória social
a ser levada em conta. Conforme afirmam Borsa & Feil (2008), a definição dos papéis de
homens e mulheres se confunde no decorrer da história, bem como a trajetória da família e da
sociedade brasileira. Por isso, muitos autores apontam o contexto histórico e cultural como
fatores determinantes ao modelo que predomina nos dias de hoje.
A mulher pode ser biologicamente pré-determinada a gestar. Nos tempos primitivos sua
função era cuidar da prole, domesticar, cultivar a terra e cuidar dos filhos, enquanto os homens
assumiam funções de caça e atividades que exigiam força e velocidade. Foi somente no século
XIX, com a entrada da medicina higienista e o patriarcado, que houve uma mudança
significativa no contexto social e cultural no que se refere a definição da função materna (Prehn,
1999; Costa, 1979; Almeida, 1999).
A medicina higienista proporcionou um novo olhar à saúde, ampliando seu domínio
para além do corpo, passando a considerar também os contextos sociais como relevantes, o que
possibilitou novos enfoques como a alimentação, condições ambientais e o comportamento
humano como soluções de problema para reduzir a taxa de mortalidade infantil. Dentro desse
novo contexto, houve uma formulação de regras mais rígidas impostas a família, que impôs
principalmente à mulher e mãe definir seu comportamento em favor da saúde da criança. Dessa
maneira, a relação mãe-filho começou a ser uma das maiores preocupações dentro do olhar da
medicina higienista, a mãe colocada com o papel de mediadora entre os filhos e o estado. Essa
ação propiciou uma reconstrução da biologia feminina, com o resgate da maternidade e da
amamentação enquanto instintos e fatores vitais para a sobrevivência dos filhos (Costa, 1979;
Almeida, 1999).
Historicamente o papel da maternidade foi construído como o ideal máximo da mulher,
caminho de plenitude e realização da feminilidade. Durante o século XIX, devido ao movimento
social da época, a mulher começou a aceitar o papel de boa mãe, dedicada em tempo integral e
responsável pelo lar representado pela família. Nesse período, em conjunto com o modelo
higienista, o patriarcado também contribuiu com o processo de subordinação feminina, pois aos
poucos as mulheres passaram a assumir um status de bens. Com isso, não só a família, mas a
estrutura social, nascia do poder do pai e com a necessidade masculina em dominar as mulheres,
cujo desejo estaria em transcender sua privação dos meios de reprodução da espécie com o
controle da sexualidade feminina (Petersen, 1999, p.15; Badinter, 1986, p.20; Braga &
Amazonas, 2005).
22

Considerando a instabilidade do conceito de família que se dá devido às alterações


culturais e é definido principalmente pelo ocidente, o conceito nuclear ainda é o que predomina
sobre o grupo familiar, por ser uma construção histórica. Dentro desse modelo nuclear, a mulher
possui um lugar fundamental por meio da maternidade, torna-se um elemento agregador sem o
qual a unidade familiar não sobrevive e é vista como sua identidade principal impulsionada por
interesses políticos e sociais. Dentro desse contexto, o homem encontra dificuldade em separar
sua individualidade das funções paternas, favorecendo que haja um silêncio comprometedor de
toda possibilidade de diálogo com os filhos e a família (Duarte, 1995; Favaro 2007; Gomes &
Resende, 2004). Por consequência, até meados do século XX a maternidade se configurou
como a única função valorizada e reconhecida socialmente, de modo que ser mãe era pertencer
a uma classe especial e de prestígio dentro da sociedade em questão (Borsa & Feil, 2008).
Em contrapartida, no que diz respeito aos aspectos emocionais, Badinter (1985) aponta
que a sacralização da figura de mãe se dá de forma a reprimir o poder e a autonomia da mulher,
promovendo um sentimento de culpa caso não cumpra seu dever materno, dito até então, como
natural e espontâneo. Ela afirma que uma mulher pode ser feliz sem ser mãe e que não existe
por parte dela uma pulsão irresistível em se ocupar do filho. O amor materno é resultado de
uma construção social e cultural e não instinto, fator sanguíneo ou determinismo da natureza
como era afirmado, até então.
A autora ainda aponta que o mecanismo de criação do “mito do amor materno” como
algo natural e instintivo poderia ser classificado como mais uma tecnologia de gênero, de forma
que a maternidade não seria um fenômeno inerente à condição feminina ou uma etapa
onipresente em seu ciclo vital. À vista disso, apontaremos a seguir a definição do exercício da
maternidade em uma abordagem psicanalítica, levando em consideração todos os aspectos
sociais e culturais que permeiam a temática em questão.
Tanto na teoria de Klein, quanto de Freud, há a relação da maternidade ao Complexo de
Édipo. Para Klein (1928/1981), a maternidade será baseada nas fantasias da menina durante a
fase feminina do complexo de Édipo; já para Freud (1924/1976), o lugar que o filho ocupará
será resultado da resolução do Complexo de Édipo. Para ele a feminilidade normal surgiria do
abandono da posição fálica e aceitação da castração materna, o que possibilita então o acesso
ao pai e o desejo de ter o pênis do pai. Por conseguinte, o desejo de ter um filho será um desvio
do desejo de ter um pênis, e, dessa forma, o bebê passará a ser o falo. A maternidade poderá ser
então a resolução do complexo edípico.
De acordo com Lebovici (1987), o desejo de ser mãe não se inicia quando a mulher
decide engravidar, mas está presente desde a infância. Há três bebês na mente materna: em
23

primeiro lugar, o bebê edípico, que surgirá da história da mãe com o seu Édipo e que guarda
com ele todos os desejos infantis desta mãe, o bebê da fantasia, o bebê que ela queria ter com o
pai e reprimiu; em segundo, o bebê imaginário, que será o bebê construído durante a gestação
pelas expectativas e sonhos da mãe; e o terceiro bebê, que é o propriamente dito, o que ela
segurara nos braços após o parto.
O desejo de ter um filho pode ir além da demanda fálica da completude e ter um
significado consciente, que é o de ser mãe e perpetuar a espécie; e o inconsciente, que é a
elaboração da feminilidade. Uma mulher não pode ter um filho sem o ter querido
conscientemente, pois o querer inconsciente da fecundidade estava nela sem que ela percebesse
(Bydlowiski, 2002; Dolto, 1984).
Nem sempre o desejo de ter um filho está clarificado para a mulher e para o parceiro,
levando-os a questionamentos sobre se seria mesmo a hora de ter um filho ou, como irão lidar
com a responsabilidade de ser mãe/pai. Há situações em que o desejo das mulheres de
engravidar é tão intenso quanto o não desejo, deixando assim que aconteça sem que elas se
dêem conta. Devido à mescla de sentimentos, a confirmação da gravidez aparece como um
momento de ambivalência (Maldonado, Nahoum, & Dickstein 1981).
Toda e qualquer gestação se inicia em uma ambivalência básica. Essa ambivalência não
se refere a uma rejeição inerente ao filho, mas sim, para ela, trata-se de uma postura defensiva
diante dos temores e fantasias de rejeição. Mesmo que a vinda de um bebê seja aceita e
planejada, as ansiedades, apesar de minimizadas, aparecerão e estarão ligadas pelas fantasias
de rejeição da gravidez (Soifer, 1976).
Partindo do pressuposto de que gestar um filho é algo sério, que demanda
responsabilidade e outra série de questões, os sentimentos ao descobrir que se está esperando
um bebê pode variar de intensidade: ora aceitação, ora não aceitação, ora alegria, ora medo.
Isso acontece porque gestar um filho é tão profundo e intenso, que o sentimento não aparece
como sendo único, mas sim, com uma diversidade e intensidade de sentimentos. Ainda que esse
filho seja desejado, a dúvida é presente (Maldonado, Nahoum, & Dickstein, 1981).
A gravidez é considerada uma fase de grandes transformações no corpo e na vida
emocional da grávida, além disso, é um processo natural envolvendo aspectos biológicos,
psicológicos e sociais, em que o grau de adaptação a essas mudanças vai influenciar no seu
nível de ansiedade. A mulher, ao sentir os primeiros sintomas da gravidez, já está em processo
de mobilização da organização psíquica (Davim & Menezes, 2001; Fiori, 1981).
A fase gestacional possui um mecanismo de defesa caracterizado pelo processo de
regressão; processo este definido como uma recapitulação que o ego faz para visualizar
24

situações semelhantes no seu passado, que poderiam queimar etapas para se chegar mais
rapidamente ao que se está propondo nessa nova fase do desenvolvimento (Noronha 1997).
Além disso, pode ser caracterizada como um dos três períodos críticos do ciclo vital da mulher
e uma fase de tensão biológica, designada por mudanças metabólicas complexas que alteram
temporariamente seu estado físico e psíquico, envolvendo a necessidade de reajustamento em
algumas perspectivas (Maldonado 1981).
A complexidade desse estado estende-se para além das variáveis psicológicas e
bioquímicas. O aspecto socioeconômico também pode ser incluído como fundamental nesse
momento, levando em consideração a rotina de trabalho e o orçamento familiar. Em seu
discurso, Maldonado (1981) posiciona a família como um sistema peculiar no qual a gravidez
é uma bagagem que pertence a todos; além disso, ressalta que não só a gravidez é tida como
uma situação de mudança e readaptação, mas também o puerpério, que é um momento
importante para o estabelecimento da relação materno-filial, mudança corporal e de rotina.
Quanto ao processo de parto, a autora afirma que é visto como uma situação de passagem de
um ponto a outro, cuja principal característica é a irreversibilidade, podendo gerar ansiedade e
insegurança pelo fato de ele não poder ser controlado e/ou previsto.
A gestação e o puerpério tornam-se momentos em que familiares e amigos irão
disponibilizar uma maior condição em ajudar a mulher, porém, nem toda ajuda irá ser de valia,
uma vez que a mulher se encontra em um momento introspectivo. A rede de apoio faz parte de
um suporte para a mulher e o bebê nos primeiros momentos após o nascimento, podendo haver
conflitos durante esse período, pelo fato da mulher estar passando por um processo de
introspecção e introversão pós-parto (Felice, 2000).
Os medos dos adultos podem ser de dois tipos: medo da dependência e medo da
maternidade. O medo da dependência está relacionado ao receio de viver como submisso ao
outro. Já o medo da maternidade está relacionado às experiências infantis vividas pela mãe.
Toda mulher irá trazer com ela a avó, a mãe e a filha e, assim, a nova mãe irá trazer com ela as
ansiedades que não só dizem respeito à forma como foi cuidada, mas também como ela se
identifica com a mãe (Winnicott, 1982).
Quanto maior a confiança em sua capacidade de ser mãe e seu amor próprio, maior a
probabilidade de ultrapassar as dificuldades próprias do parto e pós-parto. Sentir-se segura,
confiante e capaz para exercer seu papel de mãe, pode trazer benefícios no desenvolvimento
pessoal e na relação com seu bebê. A figura materna é proposta como a presença de uma mulher
estável, capaz de dar amor e que possa compreender, no nível qualitativo, as solicitações básicas
feitas pelo bebê. Portanto, a figura materna não necessariamente é a mulher que gestou ou pariu
25

a criança, além disso, ela tem de criar laços estáveis de amor e confiança na relação entre ela e
o bebê. Dessa maneira, o leite em si não reafirma o papel de mãe e sim essa figura materna
presente e solícita (Felice, 2006; Maçola et al. 2010; Rappaport, 1981).
Durante a gestação e algumas semanas após o parto a mulher vivencia uma preocupação
denominada de “Preocupação Materna Primária”. Nessa condição a mulher está com a
sensibilidade mais aflorada para se adaptar às necessidades do bebê, deixando de lado
temporariamente outros interesses. Como já foi dito, após o nascimento do filho a mulher passa
por uma situação de isolamento e introversão. Esse processo está ligado à regressão do período
gestacional e ao estado de “Preocupação Materna Primária”. Assim, faz parte desse estado uma
certa dose de humor depressivo, pois é um momento introspectivo para a mulher, tendo como
característica nesse período pós-parto uma dificuldade em lidar com os assuntos externos,
denominada “retração narcísica”. Contudo, esse período é necessário e, caso fosse vivido fora
da maternidade, seria considerado esquizoide; no entanto, é fundamental para a vinculação com
a criança (Winnicott, 1999; Felice, 2000; Iaconelli, 2005).

2.3 Autoestima e autoimagem

Ao interagir com os outros, o sujeito atribui valores diferentes a tudo que o cerca, às
pessoas que fazem parte de sua vida e a si mesmo. Ser bem visto pelas pessoas faz com que o
indivíduo tenha um bom valor próprio. Então, a ideia que um sujeito tem de si mesmo é
determinada pelo que ele pensa que outros veem dele e do sentimento que ele tem sobre ele
mesmo. A autoestima inclui dois aspectos básicos: o sentimento de autoeficácia e o sentimento
de se ter valor. Ela seria a convicção de que se é competente e de que se tem valor para os
outros. A autoapreciação abarca as emoções, os afetos, os valores e a conduta. Tem a ver tanto
com ideias como com sentimentos, os quais vão se configurando na pessoa por meio da
interação com outras do ambiente circundante (Branden, 1993).
A autoestima é uma dimensão avaliativa de autoconceito. É o conhecimento que a
pessoa tem sobre ela mesma e o que ela expressa sobre si mesma com a ajuda de
autodescrições (Palacius & Hidalgo 1995). Delineada na infância, a autoestima faz parte de
um conceito para si mesmo e para com os outros. Contudo, a relação da mãe com seu filho
exerce efeito nas experiências emocionais vividas pela mãe na própria infância, ou seja, a
relação de autoestima faz parte da formação de vínculo com seu filho. A tomada de ação de
um sujeito condiz com seu estado emocional, este por sua vez está relacionado com a
autoestima e autoconfiança (Maçola, Nogueira, & Carmona, 2010).
Quando o indivíduo possui uma boa autoestima, torna-se criativo, aprende novas
26

habilidades, torna-se mais produtivo. É formado por sentimentos de competência e de valor


pessoal, somado ao sentimento de auto respeito e autoconfiança. O significado mais
fundamental de autoestima é confiar na própria mente, nos próprios processos mentais,
portanto, confiar na capacidade que você tem de aprender, julgar e decidir. A pessoa que, no
mais fundo de si, não confia em sua própria mente, está em nítida e grave desvantagem em
termos de enfrentar as escolhas e as opções que a vida lhe apresenta (Branden, 1993, p. 92).
Quanto à autoimagem, este é um importante componente do mecanismo de identidade
pessoal. Os autores a definem como a representação e a figuração que nossa mente forma em
relação ao nosso corpo, bem como os sentimentos que estão relacionados à essas características
(Gardner, 1996; Schilder, 1981). Barros (2006) propõe que existem sete afirmações que
contemplam o conceito de imagem corporal, sendo elas:
 A imagem corporal refere-se às percepções, aos pensamentos e aos sentimentos
sobre o corpo e suas experiências;
 É uma experiência subjetiva;
 Imagens corporais são multifacetadas;
 As experiências da imagem corporal são permeadas por sentimentos sobre nós
mesmos;
 Imagens corporais são determinadas socialmente;
 Imagens corporais são dinâmicas;
 Influenciam o processamento de informações, influenciando a percepção de
mundo;
 Influenciam o comportamento, particularmente as relações interpessoais.
Desta forma, entende-se que a imagem corporal é um conceito amplo, pois abrange
processos fisiológicos, psicológicos e sociais. É uma experiência que se modifica a todo instante
conforme o indivíduo se relaciona com o mundo e simboliza todo o ser humano, mesmo sendo
sempre incompleta (Barros, 2006).
Quanto aos fatores sociais, pesquisas afirmam que o ambiente sociocultural é uma das
condições determinantes para o desenvolvimento da satisfação ou de distúrbios da imagem
corporal. Há o ideal de beleza prescrito pela sociedade atual e o padrão que corresponde à
maioria da população. Tal ideal possui uma influência negativa, tendo em vista que promove
conflito entre as expectativas e as experiências vividas por cada indivíduo. Vale ressaltar que a
imagem corporal desempenha um papel importante na consciência de si, já que contempla tanto
a imagem mental quanto a percepção do indivíduo. Assim, se a percepção do corpo é positiva,
27

a autoimagem também será, promovendo satisfação com a imagem corporal e uma melhor
autoestima (Gardner, 1981; Heinberg, 1996; Schilder, 1981)
Será a partir da percepção do meio social e dos demais indivíduos que a pessoa irá obter
informações sobre o mundo ao seu redor e relacioná-las com afetos positivos ou negativos
(Bock et al., 2001). Estes afetos, sejam eles positivos ou negativos, irão determinar as nossas
ações. Portanto, agiremos em função do que foi aprendido por nós e não em função de algo a
priori, inato, no ser humano.
A subjetividade será construída socialmente e se mostrará no plano individual. Para
que haja essa construção, o sujeito participará como indivíduo singular, no entanto, receberá
da sociedade valores, crenças e será inserido também numa determinada classe. Por esse
motivo, esse sujeito será um ator na transformação social, o que mostra que a subjetividade é
determinada pela vida social e pelo desenvolvimento desse sujeito (Furtado, 2001).

2.4 Relação conjugal no ciclo gravídico puerperal

Durante a gravidez, a mulher vivencia experiências reprimidas ou até então,


desconhecidas. Este período é entendido por Cruz (1990) como sendo um processo de
desenvolvimento normal da mulher, que requer reestruturação interna, uma vez que a gravidez
pode ser vista como uma experiência regressiva e também de reajustamento social, o qual a
mulher precisará desempenhar um novo papel social – de mãe – e, com a chegada do bebê,
haverá uma nova identidade familiar, o que, consequentemente, trará modificações emocionais
e comportamentais ao casal. Além disso, a gestação provoca “fantasias, expectativas, sonhos,
angústias, ansiedade e o conflito de sentimentos ambivalentes” (Arrais, 2014, p. 254).

A volta para casa após o nascimento de um filho e todas as novas situações com as quais
o casal vai deparar marcam uma situação transformadora, no que diz respeito à vida a dois.
Essas questões são mais intensificadas em casos em que o casal está esperando seu primeiro
filho (Carter & Goldrick, 1995). O primeiro filho marca uma transição importante na vida dos
pais. Junto com o sentimento de emoção, admiração e espanto, a maioria dos novos pais
experimenta alguma ansiedade em relação à responsabilidade de cuidar de uma criança, ao
compromisso de tempo e energia que ela acarreta e ao sentimento de permanência que a
paternidade e a maternidade impõem a um casamento. A gravidez e a recuperação do parto
podem afetar o relacionamento de um casal, às vezes aumentando a intimidade e às vezes
criando barreiras. Além disso, muitos casais veem seus relacionamentos tornarem-se mais
“tradicionais” após o nascimento de um filho. Estudos sugerem que se o casal era feliz ou não
28

antes da gravidez e se a gravidez foi ou não planejada, também parece afetar o pico de satisfação
após o parto (Papalia; Olds & Feldman, 2012).
A gravidez constitui-se como um evento normal no processo de desenvolvimento
humano e engloba a necessidade e reestruturação e reajustamento em ao menos duas dimensões:
as mudanças na identidade e na definição de papeis. O mesmo processo acontece com o homem:
a paternidade também demarca uma transição no desenvolvimento emocional masculino. Em
geral, quando a relação afetiva com o marido é satisfatória, o apoio que este fornecerá à esposa
durante a gravidez e o puerpério será também satisfatório. No entanto, nestes períodos podem
surgir conflitos no relacionamento conjugal, dando ensejo a situações de muita ansiedade para
a mulher. O vínculo satisfatório e afetivo com o marido atua como um importante fator
facilitador de experiências positivas neste período. Além da família, a equipe médica que assiste
a mulher torna-se também importante, por fornecer a ela parte do suporte que ela necessita
(Maldonado, 1991).
O nascimento de um filho é um evento que modifica a vida do casal, especialmente a da
mãe. A este respeito, Rapoport e Piccinini (2006) referem que o comportamento da mulher
frente a essas mudanças é influenciado por fatores individuais e ambientais, destacando-se,
como um dos fatores mais importantes que influencia o seu bem-estar, o apoio que ela recebe
daqueles que a rodeiam, especialmente do pai do bebê. No que diz respeito à estrutura e
relacionamento familiar, pode-se afirmar que estes sofrem modificações após o nascimento de
um filho. Estas mudanças são muito significativas quando se trata do primeiro filho, pois de
uma relação exclusivamente dualista, origina-se uma tríade amorosa, podendo o casal reviver
antigos conflitos e fantasias edípicas com a chegada do bebê, e o temor na puérpera de que essa
chegada provoque conflitos e desequilíbrios na relação conjugal. Por esse motivo, tem grande
importância para a puérpera a existência de uma relação afetiva sólida e harmoniosa com o
marido, ou companheiro, o que lhe representa em um nível mais profundo, a identificação com
os pais “internalizados unidos e não destruídos”. Além disso, o apoio e a sustentação emocional
fornecidos pelo companheiro e pelo ambiente em geral, são necessários para que a puérpera
possa envolver-se profundamente na relação dual com seu bebê e para fornecer-lhe uma
sustentação adequada (Klein & Riviére, 1975).
A disponibilidade de apoio social estimula a maternagem responsiva, segundo Oliveira
e Dessen (2008), especialmente sob condições estressantes. Ainda são pouco expressivos os
estudos em torno da influência do apoio social às gestantes no Brasil. Ainda assim, Rapoport e
Piccinini (2006) evidenciaram em seus trabalhos quanto a rede de apoio social se faz necessária
na gestação, no período do pós-parto, puerpério e no retorno da mulher às atividades
29

profissionais, o que tem requerido novas formas de manejar o cuidado regular de bebês e
crianças pequenas.
Apesar do emprego materno tornar-se muitas vezes uma sobrecarga para a mulher, os
autores descobriram que o fato desta trabalhar fora, por vezes, tende a aumentar a participação
paterna nos cuidados do bebê e nas tarefas de casa, apesar da maioria das tarefas ainda
continuarem a cargo da mulher. De qualquer modo ainda existem muitos pais pouco envolvidos
e, com o crescente número de separações entre casais, muitas mães acabam tendo que cuidar
basicamente sozinhas de seus filhos (as). Nestes casos, a sua sobrecarga torna-se ainda maior,
o que acaba recaindo sobre a relevância do papel do apoio social (Moraes, 2012).
As pesquisadoras Dessen e Braz (2000), entendem que o ajustamento conjugal, as
formas de comunicação e as estratégias de resolução de conflitos empregadas pelo casal
influenciam o desenvolvimento de padrões de cuidado dos filhos e a qualidade das relações
entre os genitores e suas crianças. Por exemplo, casamentos saudáveis proporcionam mais
suporte aos cônjuges do que relações maritais insatisfatórias e o apoio emocional dos pais às
mães favorece o desenvolvimento saudável dos filhos. De acordo com Silva e Lopes (2009), no
processo de adaptação com a chegada do bebê, importantes dimensões da vida do casal como a
intimidade, comunicação e o sexo tendem a mudar significativamente. A rede social materna
tem sido enfatizada como um dos aspectos mais importantes para o bem-estar materno durante
a gestação e o nascimento dos filhos (Oliveira & Dessen; 2008).
Segundo Ramires (1997), a maternidade e paternidade são vividas de maneira diferente.
Na relação delicada da mãe com seu filho, em que a atenção e emoção da mulher estão
inteiramente implicadas, existe um terceiro componente, muitas vezes deixado de lado – o pai.
Dessa forma, o homem, que é espectador dessa situação, pode ter a percepção de que está
ficando de lado. Arrais, Rocha e Martins (2014) ressaltam que, durante a gestação, o homem
pode estar em situação semelhante à da mulher ao carecer de apoio para expressar suas
angústias, anseios, medos e conflitos e que muitas vezes os homens ficam à margem da
experiência da maternidade, sentindo-se muitas vezes excluídos deste processo.
A experiência da maternidade e da paternidade suscitam nos pais os sentimentos mais
primitivos e ambivalentes. Ter uma criança requer investimentos narcísicos. Ao explicar esta
premissa, Freud (1915) afirmou que para ter um filho, é preciso amar o que somos, o que fomos
e o que gostaríamos de ser. Ao se tornarem pais, surge uma nova relação entre o casal,
influenciada pela história de seu relacionamento. Cada gravidez se insere num determinado
momento da vida do casal, é diferente e tem o seu próprio significado, evocando para o pai e
para a mãe, sua própria história e os remetendo a ela. Para os autores, esse fato é, muitas vezes
30

inconsciente (Szejer & Stewart, 1997).

Nessa perspectiva, tornar-se pai e mãe é um dos acontecimentos mais marcantes no ciclo
de vida de qualquer indivíduo, já que ocorrem profundas alterações na personalidade do sujeito.
Os novos pais se deparam com uma realidade completamente diferente, jamais vista antes: eles
necessitam fazer muitas renúncias, tanto da vida social quanto da própria condição de filho ou
filha, pois, como pai e mãe, reverterão suas próprias experiências infantis, assumindo um novo
papel perante seu próprio filho, ou seja, passam a ter uma adequação psicológica a cumprir
(Eizirik, 2001).

Além do apoio social, para Iaconelli (2005) o apoio psicológico em um momento de


tantas mudanças externas e internas pode contribuir com para melhor adaptação da mulher e do
companheiro, desde a gestação até a chegada do bebê. Pais que participam de discussão de
grupos de casais, conduzidos por profissionais, sobre questões de parentalidade e
relacionamentos, relatam diminuições significativamente menores na satisfação. Em geral,
parece que, embora a maioria dos pais tenha percepções relativamente inexatas do que seria a
realidade da parentalidade, quanto mais realistas forem aquelas percepções quanto ao impacto
que um filho trará sobre o casamento, “mais fácil será o ajustamento deles” (Papalia; Olds &
Feldman, 2012, p. 504).
Winnicott (1982) afirma que caberá à mãe a preparação do pai para conhecer o bebê, de
forma a definir a aproximação dos dois. Além disso, cabe à função materna organizar o tempo
para que o pai participe dos cuidados do bebê, zelando em conjunto dessa criança, de forma a
aumentar o vínculo entre eles. Assim, o bebê irá aproximar esses pais e dar consistência à
relação. Quanto às alterações psicológicas do homem, espera-se que ele consiga entender e
diferenciar as relações edípicas de sua infância com a de seu matrimônio, mantendo-se próximo
e afetuoso durante a gestação. É durante a infância que o menino irá se identificar
primeiramente com a mãe e com suas capacidades de gerar e cuidar dos filhos. Apenas mais
tarde que irá se identificar com o pai. Nesse período de identificações irá se formar sua
identidade de gênero. Quando a identificação ocorre de forma equilibrada, permite ao menino
aceitar futuramente o seu papel de pai e cuidador e, ao mesmo tempo, identificar-se com a
gravidez de sua mulher, não se sentindo excluído e invejoso de suas capacidades criadoras
(Zavaschi, Costa, & Brunstein, 2001).
O parto, para o homem, constitui um momento de intensas emoções e possibilita a
primeira aproximação direta do pai com o filho sem intermediações da mulher, condição
necessária durante a gestação onde o feto está incorporado ao esquema corporal da mãe. Porém,
31

em algumas instituições, o pai não pode acompanhar sua companheira durante o trabalho de
parto e nascimento, ainda que os profissionais da área da saúde discutam que a assistência à
mulher é voltada para uma visão holística que inclui o emocional, o social e o contexto familiar
(Nakano & Mamede, 1994).
A função paterna bem exercida ajuda a garantir que a mãe possa vivenciar o início da
maternidade de forma segura e sem perigos, dando sustentação a ela e procurando propiciar um
bom ambiente para a mãe e o bebê. Nesse ponto, o pai pode ajudar a criar um espaço em que a
mãe circule à vontade, poupando o trabalho de se ocupar das coisas que acontecem à sua volta.
Se o pai não apoia essa mãe, não proporciona a ela e ao bebê um ambiente seguro, a mãe
provavelmente terá problemas em vivenciar a preocupação materna primária, o que poderá ser
prejudicial numa época em que ela precisa se concentrar e se preocupar com o interior do círculo
formado pelos seus próprios braços e no centro no qual está o bebê (Winnicott, 1999, 2008).
Na nossa cultura, no entanto, pouco sabemos a respeito do pai, como também de seus
sentimentos com relação ao ciclo grávido-puerperal de sua companheira (Abreu & Souza,
1999).

2.5 Assistência ao parto

A maneira como um parto é realizado se apresenta como uma característica cultural da


época, no qual são reproduzidos os valores de acordo com a sociedade e o momento
historicamente vivido (Gama et. al., 2009).
O parto normal, por se tratar de um processo fisiológico, traz uma série de benefícios
tanto para a mãe quanto para o bebê. Durante o trabalho de parto, a mãe produz hormônios que
são capazes de proteger o cérebro do recém-nascido. Além disso, ao passar pelo canal vaginal,
o tórax do bebê é comprimido e grande parte do líquido amniótico dos pulmões é expelido,
facilitando a respiração; o aleitamento precoce é facilitado e a recuperação costuma ser rápida,
geralmente, sem dor (Althabe & Belizán, 2006; Goer, Romano, & Sakala, 2012; O’Neill et al.,
2014).
Uma das discussões mais relevantes sobre o parto vaginal é a sua relação na formação
da identidade da mulher. Mulheres que vivenciaram o parto vaginal relatam suas percepções
sobre esse momento; entre elas está a de passar pela dor do parto de forma a se sentir
empoderada como mulher e como mãe, no sentido de vivenciar a dor e a alegria de parir um
filho. Esse processo faz com que a mulher seja protagonista desse momento, é o tipo de parto
mais saudável para a mãe e para o bebê. O pós-parto e sua recuperação são rápidos e com o
mínimo de dor (Gama et al, 2009).
32

A gravidez é um processo natural do universo feminino e propiciar que ela ocorra com
respeito à fisiologia da mulher tem demonstrado melhores resultados. As intervenções adotadas
devem ser as mínimas necessárias, com embasamento científico e com evidente benefício para
a mulher e para o bebê (Goer, Romano, & Sakala, 2012; Wolff & Waldow, 2008).
O parto, por sua própria natureza, acarreta riscos potenciais para a gestante e seu bebê,
independentemente da via de realização. Estudos recentes indicam que para determinadas
condições clínicas (como placenta prévia, ruptura uterina, prolapso de cordão, entre outras), o
parto cesariano é a escolha mais segura. Entretanto, para a maioria das gestações que são
consideradas de baixo risco, essa via de parto parece apresentar maior risco de morbidade e
mortalidade materna do que o parto vaginal. Trata-se de uma cirurgia de grande porte e, quando
realizada sem indicações corretas, como ocorre com as agendadas, pode gerar riscos
desnecessários à mãe como: infecções, hemorragia e prejuízos a órgãos internos da gestante.
Quanto ao bebê, esse agendamento gera um maior numero de recém-nascidos com problemas
respiratórios e prematuros, visto que o cálculo da idade gestacional não é exato. Vale considerar
que não existe urgência ou emergência quando o procedimento é agendado (Caughey, Cahill,
Guise, Rouse, & American College of Obstetricians and Gynecologists, 2014; Clark et al.,
2008).
Inicialmente, a cesárea era realizada em caso de óbito materno, com o objetivo de salvar
a vida do bebê. Posteriormente, foi ampliado seu uso, porém, ainda no sentido de salvar vidas,
frequentemente, em gestações de alto risco. Para a OMS, não existem justificativas para índices
superiores a 15% de cesarianas em qualquer região do mundo. Esse procedimento, contudo,
vem sendo realizado em larga escala por vários motivos como: redução da sensação de dor,
realização de laqueaduras, interesses médicos, receio de processos, conforto para mulher, dentre
outros. Observa-se, no entanto, que o aumento dessa via de parto não é homogêneo em todas as
regiões. Em populações subdesenvolvidas e de baixa renda vem sendo usada com escassez,
deixando de salvar vidas pela precária disponibilidade de hospitais e profissionais de saúde
aptos a realizar a cesárea. Por outro lado, em populações economicamente privilegiadas o uso
é excessivo, desnecessário e, muitas vezes, está associado a consequências negativas à mãe e
ao bebê (Betrán et al., 2007; Chiavegatto Filho, 2013; WHO, 2009, 2010).
Cabe ressaltar que, apesar das variações dessas taxas de parto cesáreas, as indicações
clínicas que determinam esse procedimento cirúrgico estão associadas ao risco materno e fetal,
e não se diferenciam nas várias regiões do mundo, sendo incoerente, portanto, tanta variação
dessas taxas entre os países e entre regiões de um mesmo país. Atualmente, devido ao uso
indiscriminado, esse procedimento vem expondo mãe e bebê a riscos desnecessários e, por esse
33

motivo, tornou-se assunto em pauta por parte de autoridades no Brasil e em vários países do
mundo (Gonçalves Barcellos, Oliveira Rezende de Souza, & Frantz Machado, 2009; Brasil,
2014; Uzcátegui & Cabrera, 2010; WHO, 2010).
A título de exemplificação, nos Estados Unidos, país com modelo de assistência à saúde
altamente medicalizado, em 2007 aproximadamente 31,8% dos partos foram cirúrgicos. Patah
e Malik (2011) relatam que esse alto índice está associado ao temor médico por processos
judiciais relacionados à má prática da medicina. No Canadá as taxas de partos cirúrgicos
também aumentaram, mas preocupados com esses índices, em 2000 o governo realizou um
Grupo de Trabalho e identificou 12 fatores para redução de cesáreas e incentivo ao parto
fisiológico, tendo êxito na inibição de intervenções cirúrgicas (ANS, 2008; Hamilton, Martin
& Ventura, 2007; Patah & Malik, 2011).
Na Europa as taxas de cesárea não são homogêneas. Na Holanda e Grã-Bretanha, por
incluírem na assistência ao parto de baixo risco enfermeiras obstétricas, as taxas se aproximam
daquelas preconizadas pela OMS. Na Inglaterra, em 2010, a proporção do total de partos por
cesariana foi de quase 25%, em 2013 essa taxa se manteve, porém, esse valor é preocupante se
for comparado com o de 1990, em que apenas 2% de ingleses nasceram de cesárea (HSCIC,
2013; O'Neill et al., 2014).
A taxa de cesárea no Brasil é a mais alta do mundo, próxima a da China (46,2%),
Turquia (42,7%), México (42%), Itália (38,4%), e muito maior do que a da Inglaterra (23,7%),
França (20%) e Finlândia (15,7%) (HSCIC, 2013; O'Neill et al., 2014). No Brasil, segundo
pesquisa realizada pela FIOCRUZ (2014), verifica-se que estas taxas chegam a 52% no sistema
público de saúde e 88% na rede suplementar, sendo a grande maioria agendada para 36 a 38
semanas de gestação. Chiavegatto Filho (2013), analisando as taxas de cesárea na cidade de
São Paulo, identificou um aumento significativo dessa cirurgia em véspera de datas
importantes, principalmente “Natal (25 de dezembro), Dia de Finados (2 de novembro),
Véspera de Ano Novo (31 de dezembro), Véspera de Natal (24 de dezembro), Ano Novo (1º de
janeiro)”, respectivamente, além da redução progressiva desses partos aos domingos.
Considerando os partos vaginais, os autores verificaram homogeneidade entre os dias do ano.
Esses dados sugerem conveniência médica na escolha de datas, evitando a interrupção do
feriado para assistir um parto e ferindo a bioética. Outra questão que se coloca aqui é que, com
o agendamento antecipado, há grande chance de o bebê não estar suficientemente maduro para
nascer (Gonçalves Barcellos et al., 2009; Chiavegatto Filho, 2013; Ferrari, 2009; Leal et al.,
2014; Patah & Malik, 2011; Uzcátegui & Cabrera, 2010).
Nos anos 1990, em termos proporcionais, a mortalidade neonatal passou a ser o principal
34

componente da mortalidade infantil, mantendo-se estabilizada em níveis elevados e tendo como


uma de suas principais causas a qualidade da atenção prestada durante o pré-natal, no parto e
ao recém-nascido. A Taxa de Mortalidade Neonatal que era de 23,4/1.000 nascidos vivos em
1990, passou para 14,2 /1.000 nascidos vivos em 2005. Já no período de 2000 a 2005, as
afecções perinatais estavam entre as principais causas de óbito infantil, representando mais da
metade das causas de óbitos (Brasil, 2005e, 2006d, 2007b, 2008b).
A inovação tecnológica no campo da saúde e dos fármacos é inegável e vem
contribuindo de forma contundente para o aumento da qualidade de vida e da margem de
segurança para intervenções médicas de risco, mas esse progresso não trouxe apenas benefícios.
Enquanto, há pouco tempo, mães e bebês morriam pela falta de profissionais capacitados e
tecnologia segura para realização de cesarianas, atualmente, essa mesma tecnologia tem
causado à dupla, mãe e bebê, grande exposição a risco quando mal indicada. A exposição
desnecessária a técnicas e tecnologia que não trazem benefícios e, principalmente, que causem
apenas prejuízos para a mãe e/ou para o bebê é considerada violência obstétrica (Caughey et
al., 2014; Diniz, 2009).
No Brasil as mulheres com níveis socioeconômicos mais elevados dão à luz em hospitais
privados. Enquanto estas estão mais propensas a receber uma cascata de intervenções e
medicalização até chegar a uma cesariana, estão menos expostas ao tratamento desumano da
violência obstétrica. Aquelas que utilizam o serviço público e, em sua maioria, vivenciam um
parto normal, tendem a ser submetidas à episiotomia e tratamentos desumanos pelos
profissionais de saúde (Leal et al., 2014).
Um dos aspectos mais marcantes de práticas obstétricas no Brasil em relação à Violência
Obstétrica (VO) é a tendência a acelerar o trabalho de parto, desencadeando um total desrespeito
à autonomia das mulheres. Os cuidados obstétricos acabam sendo centrados nas decisões do
médico, frequentemente desrespeitando a dinâmica do corpo feminino. As tentativas de
controlar o tempo e reduzir a duração do parto explicam o uso excessivo de intervenções,
incluindo cesarianas. Esse processo começa no pré-natal, quando as mulheres não são
informadas sobre as melhores práticas, os benefícios do parto normal e assistência obstétrica
adequada. Continua durante o trabalho de parto com a imposição de uma cascata de
intervenções que não são baseadas em evidências científicas e resultam em experiências
negativas de parto (Andrade & Lima, 2014; ANS, 2008).
Atualmente, devido à institucionalização, o modelo de atenção ao parto e nascimento é
marcado pela medicalização, pelo abuso de práticas invasivas e desnecessárias com potencial
iatrogênico e pela prática abusiva de cesáreas. A institucionalização do modelo de atenção
35

também contribui para que ocorra a perda de autonomia da gestante por meio do isolamento de
seus familiares e falta de privacidade. Rotinas rígidas são adotadas sem a avaliação crítica de
cada caso e não têm sido realizadas práticas adequadas para um bom acompanhamento do
trabalho de parto (BRASIL, 2001b).
No que se relaciona à melhoria da assistência obstétrica, o Ministério da Saúde tem
desenvolvido um conjunto de estratégias a fim de reduzir a morbimortalidade materna e
neonatal e ampliar o acesso, a qualificação e a humanização da atenção ao pré-natal, ao parto,
ao nascimento, ao puerpério, ao recém-nascido e à situação de abortamento. Na direção de
qualificar a assistência ao parto, observa-se que a mulher em trabalho de parto e parto necessita
receber um cuidado humanizado, o que envolve a possibilidade de acesso aos avanços
científicos e, principalmente, o exercício da cidadania priorizando sua liberdade de escolha nos
encaminhamentos durante as ações que permeiam o processo de parir. Com relação à assistência
imediata ao recém-nascido, os principais objetivos são:
 Proporcionar ótimas condições a todos os recém-nascidos, visando auxiliá-los
em sua adaptação à vida extrauterina;
 Estar preparado para intervir naqueles casos que apresentem condições
patológicas que coloquem em risco a sua vida;
 Promover o contato pele a pele precoce entre a mãe e o bebê;
 Promover o apoio ao início da amamentação na primeira hora após o parto,
segundo diretrizes da OMS sobre o aleitamento materno.
Para a assistência ao recém-nascido normal, todos os procedimentos habituais como
pesar, aplicar a Vitamina K, Credê e outros, devem ser realizados após o contato da mãe com
seu filho. Nada mais deve ser feito além de se enxugar, aquecer, avaliar e entregar o bebê à mãe
para um contato íntimo e precoce (Brasil, 2001b).

2.5.1. O parto normal

O Guia Prático de Assistência ao Parto Normal desenvolvido pela OMS (1996) define
o parto normal da seguinte forma: “definimos parto normal como de início espontâneo, baixo
risco no início do trabalho de parto, permanecendo assim durante todo o processo, até o
nascimento. O bebê nasce espontaneamente, em posição cefálica de vértice, entre 37 e 42
semanas completas de gestação. Após o nascimento, mãe e filho em boas condições”.
36

2.5.2. A cirurgia cesariana

De acordo com o Manual MSD (2009), livro de consultas produzido por médicos
americanos: “A cesariana é o parto cirúrgico por meio de uma incisão feita no abdome e no
útero da mãe. Recorre-se a este processo quando os médicos consideram que é mais seguro do
que o parto vaginal para a mãe, para o bebê ou para ambos”.
Segundo o Protocolo de Assistência ao Parto desenvolvido pelo Instituto de
Perinatologia da Bahia (2004), a cesárea pode ser definida em cinco tipos, sendo eles:
- Emergência: ameaça imediata de vida da mãe ou feto;
- Urgência: comprometimento materno ou fetal sem risco de vida imediato;
- Programada: necessidade do parto mais cedo, porém, sem comprometimento materno
ou fetal;
- Perimortem: grave estado materno, após ressuscitação, com o intuito de salvar o feto
ou a mãe;
- Posmortem: realizada após a morte materna, com a finalidade de salvar o feto.

2.5.3. Violência obstétrica (VO)

Segundo as definições dadas pelas leis da Venezuela e da Argentina, onde a VO é


tipificada, esse tipo de violência é caracterizada pela apropriação do corpo e dos processos
reprodutivos das mulheres (ou seja, de sua saúde sexual e reprodutiva), pelos profissionais de
saúde, servidores públicos, profissionais técnico-administrativos de instituições de saúde
publicas ou privadas, por meio de tratamento desumano, abuso da medicalização ou negação
desta quando necessária, e patologização dos processos fisiológicos gerando perda da
autonomia e capacidade de decidir sobre seus corpos e sexualidade de maneira livre (Belli,
2013; Ciello et al., 2012).
Estudo recente da FIOCRUZ (2014) mostra que uma entre quatro mulheres brasileiras
relata ter passado por VO. Há a hipótese de esses índices terem sido subestimados, pois uma
quantidade significativa de mulheres não tem consciência de que não receber esclarecimentos
sobre o que será feito com seu corpo, não dar consentimentos sobre determinadas intervenções,
ter seu parto acelerado por conveniência profissional ou receber indicação de cesárea eletiva,
são também uma forma de violência obstétrica (Andrade & Lima, 2014; ANS, 2008).
As intervenções mais usadas como rotina no Brasil apesar de não terem evidências
médicas para essa prática são:
37

 Episiotomia (corte no períneo) foi observada em mais de 50% das mulheres de


baixo risco que passaram por um parto normal e quase 75% dos nascimentos de primeiro
filho(a). Essa prática tem sido usada rotineiramente desde o início do século XX, sem qualquer
pesquisa de acompanhamento para avaliar os seus benefícios. Estudos mostram que mulheres
que não sofreram episiotomia tiveram menos trauma no períneo, precisaram levar menos pontos
e apresentaram uma melhora mais rápida do tecido. No Brasil, a episiotomia é a única cirurgia
feita sem o consentimento da mulher e sem que ela seja informada sobre suas indicações e
contraindicações. Estudos controlados mostram que a episiotomia aumenta o risco de laceração
perineal, infecção e perda sanguínea excessiva, aumento da dor e incontinência urinária e fecal.
Por essas razões, as diretrizes atuais de assistência ao parto desencorajam o uso rotineiro de
episiotomia. As taxas de episiotomia recomendadas pela OMS estão entre 10 e 30%. O Canadá
diminuiu de 38% para 24% entre 1993 e 2001, enquanto as taxas da Finlândia diminuíram de
42% em 1997 para 25% em 2009. Na França, entre 2003 e 2010, as taxas de episiotomia
diminuíram de 36% para 14% (Amorim & Katz, 2008; Carroli & Mignini, 2009; Ciello et al.,
2012; Leal et al., 2014; Robinson, 2012).
 Posição Litotômica: apesar dos benefícios da posição vertical para a mãe e para
o feto, a posição litotômica (posição ginecológica) foi utilizada em 90% das mulheres de baixo
risco. Apesar do desconforto para a mãe e da inadequação pelas leis da natureza (lei da
gravidade, especificamente), essa posição facilita a intervenção médica e, por este motivo, é
utilizada como rotina (Carvalho et al., 2010; Nilsen, Sabatino, & Lopes, 2011).
 Gotejamento de ocitocina, “dilatação” e ruptura artificial de membrana
amniótica são procedimentos amplamente utilizados para acelerar o trabalho de parto. Ambas
as intervenções foram realizadas em cerca de 40% das mulheres de baixo risco. Esses
procedimentos são dolorosos, causam grande desconforto à parturiente e, frequentemente, são
realizados sem consentimento ou esclarecimento da paciente. O uso de um gotejamento de
ocitocina e amniotomia faz parte do conceito de “gestão ativa de trabalho” para reduzir a
duração do trabalho e a taxa de parto cirúrgico. As Revisões Sistemáticas da Biblioteca
Cochrane destacam que a redução do número de cesarianas é muito modesta quando é adotada
a abordagem de “gestão ativa”, pois, caso essas intervenções sejam no sistema de saúde
suplementar, frequentemente acabam conduzindo a um parto cirúrgico. As mulheres que se
submetem a indução do parto têm maiores taxas de cesariana do que aquelas que experimentam
trabalho de parto espontâneo. Tem sido amplamente assumido que a indução do parto aumenta
o risco de parto cesáreo (Caughey et al., 2014; Amorim & Katz, 2008; Carvalho et al., 2010;
Ciello et al., 2012; Leal et al., 2014; WHO, 2009).
38

 Manobra de Kristeller é realizada com as duas mãos, braços ou o corpo do


profissional de saúde, empurrando a barriga da mulher para a pelve. Além de essa manobra ter
sido desenvolvida sem fundamentação científica, estudos atuais demonstram graves
complicações resultantes dessa prática (deslocamento da placenta, trauma das vísceras
abdominais e do útero). Apesar das evidências, a manobra vem sendo feita para acelerar o
processo de parto quando a dilatação ainda não está completa (Caughey et al., 2014; Ciello et
al., 2012)
Quanto à VO relacionada ao tratamento desumano dos profissionais e técnicos,
pesquisas recentes assinalam as seguintes recorrências:
 Tratar uma mulher em trabalho de parto de maneira a fazê-la se sentir
inadequada, humilhada, inferiorizada, incapaz. Sentimentos como esses podem ser evocados
por meio de falas como: “se não ficar quieta vou te furar todinha”, “na hora de fazer não gritou,
né?”; “se gritar não te atendo” etc. (Belli, 2013; Bowser & Hill, 2010; Ciello et al., 2012; Leal
et al., 2014).
 Impedir ou dificultar que a mulher tenha um acompanhante de sua escolha
durante todo o seu parto e trabalho de parto. Esse direito, apesar de comumente negligenciado,
é resguardado pela Lei 11.108, de 7 de abril de 2005, também chamada Lei do Acompanhante,
que garante à parturiente a presença de um acompanhante de sua livre escolha durante o trabalho
de parto, o parto e no pós-parto (BRASIL, 2014; Wolff & Waldow, 2008);
 Exigir que a mulher se submeta a procedimentos desnecessários e, muitas vezes
dolorosos, como raspar os pelos pubianos, realizar lavagem intestinal, receber exames de toque
com a porta aberta, manter-se em posição ginecológica com portas abertas (BRASIL, 2014;
Bowser & Hill, 2010; Ciello et al., 2012);
 Discriminar ou ridicularizar a mulher por alguma característica ou condição
pessoal como, por exemplo, evacuar durante o parto, ser obesa, ter pelos ou estrias, ter muitos
filhos, não ter realizado pré-natal, ter tentado ou realizado aborto, ter tentado parir em casa, ser
jovem etc. (Bowser & Hill, 2010; Ciello et al., 2012; Wolff & Waldow, 2008);
 Submeter a mulher a vários exames de toque realizados por vários profissionais
diferentes sem seu consentimento prévio, mesmo que para o processo de aprendizagem da
prática médica (Ciello et al., 2012; Diniz, 2005).
39

2.5.4 Parto com assistência humanizada

A discussão sobre a humanização do parto e nascimento ganhou grande


representatividade no ano de 1985, em Fortaleza/CE, durante uma conferência sobre
tecnologias apropriadas para o parto, realizada pelos representantes e convidados da OMS e da
Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). Desse encontro, deu-se como resultado a Carta
de Fortaleza, documento esse que inspirou muitas ações de mudança e algumas recomendações.
A principais são definidas abaixo:
1. A participação das mulheres no desenho e na avaliação dos programas;
2. A liberdade de posição no parto;
3. A presença de acompanhantes;
4. A abolição de algumas práticas realizadas rotineiramente na assistência ao parto,
como a aplicação de enemas (sonda para lavagem intestinal), a tricotomia (raspagem de pelos)
e a amniotomia (rompimento artificial da bola amniótica);
5. O uso seletivo da episiotomia (corte no períneo feito pelo profissional) e da indução
do parto com ocitócitos (hormônios sintéticos).
Ainda no documento em questão, afirma-se que nada justifica taxas de cesárea maiores
que 10% a 15%, tendo em vista que as menores taxas de mortalidade perinatal estão nos países
que mantêm o índice de cesárea abaixo de 10% (WHO, 1985).
O conceito de atenção humanizada é muito amplo. No que diz respeito à humanização
do parto e do nascimento, podemos entender que tal conceito envolve um conjunto de
conhecimentos, práticas e atitudes que visam:
 A promoção do parto e do nascimento saudáveis;
 A prevenção da morbimortalidade materna e perinatal;
 A valorização da capacidade de expressão da mulher de seus desejos, medos e
vontades diante do processo de parto;
 Os cuidados imediatos com o recém-nascido;
 Condutas profissionais benéficas para a mulher e o bebê, que evitem as
intervenções desnecessárias baseadas em evidências cientificamente fundamentadas e, mesmo
assim, sob o consentimento da mulher de forma a garantir a preservação de sua privacidade e
autoestima.
Além disso, a humanização do nascimento envolve o entendimento de que o parto é um
evento que tem a díade mãe-bebê como protagonistas, em detrimento da equipe de saúde. Essa
equipe, que, em um momento de tamanha importância e repleto de significados que é o parto-
40

nascimento, deve se colocar ao lado da mulher e da família em uma posição de quem escuta e
apoia antes da posição de quem intervém (BRASIL, 2001b, 2010; REDE SAÚDE, 2002).
Ao considerar a humanização relacionada ao parto, alguns cuidados merecem especial
consideração como os apresentados a seguir.
 A mulher e o bebê devem ser os protagonistas:
Toda a estrutura de assistência deve estar voltada a tornar aquela experiência positiva
para todos os envolvidos: a mulher, o bebê e a família. A equipe deve ocupar-se da saúde
emocional e física da parturiente, estabelecendo uma boa comunicação com a mulher e com a
família, esclarecendo angústias e questionamentos com linguagem acessível e tranquilidade na
voz. Os profissionais devem estar preparados para respeitar as diferenças culturais e de crenças
que envolvem o período da gravidez, do nascimento e da maternidade. A atenção deve ser
sempre individualizada, acatando essas diferenças e, sempre que possível, ir ao encontro dessas
expectativas. Os motivos da adoção de qualquer procedimento devem ser esclarecidos à mulher,
para que ela entenda a necessidade e a contribuição dessa medida para seu bem-estar e de seu
bebê (ANS, 2008; Diniz, 2005).
 Acolhimento e cuidado:
Para que o atendimento humanizado ocorra a todos é necessário que a rede de serviços
funcione com equidade, universalidade e integridade, como preconiza o Sistema Único de
Saúde (SUS). Para que a mulher possa ter a opção de que seu parto seja em uma casa de parto,
por exemplo, como ocorre em vários países europeus, sua mobilidade para um atendimento
hospitalar deve ser acessível e segura, bem como a garantia de vaga hospitalar (BRASIL, 2014;
Diniz, 2005).
 Empoderamento da mulher para o trabalho de parto e parto:
A mulher deve ser sempre chamada pelo seu primeiro nome ou por um apelido de sua
escolha. Expressões como “mãezinha”, “dona Maria”, “minha filha”, entre outras amplamente
divulgadas em entrevistas com mulheres, devem ser evitadas. A equipe deve buscar a todo
momento encorajar a parturiente para aquele momento, mostrar que ela é capaz de vivê-lo e
legitimar suas escolhas. Atitudes e palavras agressivas, mesmo que apresentadas de forma sutil,
devem ser eliminadas da atenção ao parto, assim como julgamentos e censura à mulher devem
ser evitados (Ciello et al., 2012; Wolff & Waldow, 2008).
 Inclusão da mulher na tomada de decisões:
A todo o instante a equipe deve buscar valorizar a mulher, aquele momento e suas
sensações, fortalecer sua dignidade e buscar aumentar sua autoestima; encorajar sua
41

participação ativa no planejamento do seu parto e no cuidado da sua saúde e de seu bebê. Além
de ter clareza de todo o processo, que terá sido esclarecido anteriormente, ela deve estar ciente
de que seus desejos e opiniões serão considerados e respeitados sempre, desde que não envolva
riscos para a ela e para o seu bebê. Caso sua posição gere riscos, esses deverão ser claramente
apresentados a mulher pela equipe, baseados no compromisso ético com a verdade (ANS, 2008;
Diniz, 2003; Wolff & Waldow, 2008).
 Concepção da gravidez e do nascimento como processos saudáveis e
fisiológicos:
Indicações atuais da OMS e Ministério da Saúde envolvem, durante o trabalho de parto,
o fornecimento de bebidas isotônicas, a adoção da posição vertical ou liberdade de movimento
e o uso de métodos não-farmacológicos para aliviar a dor como a massagem, o chuveiro ou
imersão em água morna, visando aumentar o conforto materno e facilitar o trabalho de parto.
Essas técnicas são acessíveis e de baixo custo, podendo ser fornecidas tanto nos serviços de
saúde públicos quanto privados (BRASIL, 2014; Diniz, 2003, 2005; WHO, 2010).
42

3 MÉTODO

O trabalho em questão constitui-se como um recorte do Projeto de Pesquisa aprovado


pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) intitulado Cesárea
Eletiva, Violência Obstétrica e Parto Humanizado: o legado destas intervenções para a vida
emocional da mulher, coordenado pela Prof. Dra. Miria Benincasa Gomes e pelo Prof. Dr.
Manuel Morgado Rezende, no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde da
Universidade Metodista de São Paulo.
Trata-se de uma pesquisa fundamentada no método clínico do tipo “estudo de caso”,
que é traduzido por Vizzotto (2003) de forma a salientar que, a grosso modo, o método significa
curvar-se sobre o leito e, de início observar e descrever. A autora o aponta com uma lógica que
perpassa um movimento espiral, pois curvamo-nos sobre o fenômeno, observamos o evento
ocorrido, o descrevemos, buscamos hipóteses diagnósticas e após esses procedimentos,
intervimos. Continuamos observando os resultados, avaliamos a eficiência da intervenção e,
novamente, observamos, levantamos novas hipóteses e continuamos. A autora nos pontua sobre
a importância do campo de ação do comportamento, da conduta dos indivíduos (do que é
manifesto e latente), dos grupos, comunidades ou das instituições, o qual o observador encontra-
se presente e afasta-se ao mesmo tempo. Trata-se também de um estudo qualitativo-descritivo,
apresentado por Turato (2000) como um método que possui cerca de um século, emergindo dos
estudos antropológicos, culturais e psicanalíticos. O autor aponta que para o pesquisador
qualitativo os fatos (dados) não bastam, é necessário a imaginação e interpretação para
compreender o que eles querem dizer ao individuo e à cultura a qual o mesmo está inserido.

3.1 Amostra

A amostra, por conveniência, foi composta de 3 mulheres, sendo: a) uma que viveu a
experiência de um parto vaginal com assistência humanizada (PH), segundo o que é
preconizado pelo humanizaSUS4 (Andrade & Lima, 2014); b) uma mulher que optou por
cesárea eletiva (CE) e; c) uma mulher que teve parto hospitalar com violência obstétrica (VO).
Os critérios para a inclusão na amostra além dos determinados acima são: a) ter passado pelo
processo de parto há, pelo menos, 2 meses e, no máximo, 36 meses; b) ser o único filho(a),
mesmo que tenha tido gestações anteriores e; e) bebê ter nascido a termo.
43

3.1.1 Caracterização da amostra

Tabela 1 – Dados sociodemográficos, score da Escala de Autoestima de Rosenberg e score da


Escala Fatorial de Satisfação com o Relacionamento de casal
Maya - CE Gaia - PH Iris - VO

Idade da mãe 23 anos 30 anos 29 anos

Idade do bebê 18 meses 4 meses 16 meses

Estado civil Casada (civil) Casada (mora junto) Divorciada

Cor Branca Branca Branca

Com quem mora Marido e filho Marido e filho Filha

Escolaridade Superior Incompleto Superior Completo Superior Completo

Profissão Ass. Administrativo Arquiteta Jornalista

Renda 6 a 10 salários mínimos 3 a 5 salários mínimos 1 a 3 salários mínimos

Primeira Gestação Sim Sim Sim

Cesárea com anestesia


Cesárea com anestesia
Tipo de parto local, agendada por Parto natural
local
recomendação médica.

Amamentação Ainda amamenta Ainda amamenta Ainda amamenta

Rede de apoio Sim (mãe) Sim (marido) Não

Medo, tristeza,
Medo, tristeza, Choro ansiedade, irritada,
Desanimo, Irritada, Vontade
Sentimentos na hora do frequente, vontade de solidão, Choro
de não ficar sozinha com o
parto não ficar sozinha com o frequente, abandono,
bebê, Felicidade
bebê, Felicidade, prazer felicidade, prazer,
diversão

Alojamento do bebê ao
Alojamento Conjunto Alojamento Conjunto Foi para a enfermaria
nascer

Tempo de espera para


Direto ao nascer Direto ao nascer 7 horas
ver o bebê

Score Autoestima 34 37 30

Score Relacionamento
4,4 4,6 0
Conjugal

Os nomes das participantes são fictícios, inspirados em deusas gregas e foram


44

escolhidos pelo seu significado de acordo com a vivência de parto relatada por cada
participante.
Maya, representando a participante que vivenciou uma cesárea eletiva, tem seu
significado relacionado com a deusa do renascimento e com o desabrochamento das flores após
períodos frios de inverno, onde tudo estava sem vida e cinza. Relaciona-se com a participante,
pois a mesma relata estar passando por um momento sombrio, cinza e difícil, mas apresenta em
seu relato uma força capaz de promover o desabrochar de uma vida mais florida e com muitas
cores.
Gaia, representando a participante que vivenciou o parto com assistência humanizada,
tem seu significado relacionado com a deusa da terra (um organismo vivo que apresenta
características como a capacidade para manter e alterar suas condições ambientais),
representada por uma mulher forte e poderosa. Relaciona-se com a participante, pois apesar das
dificuldades relatadas com o puerpério, mostra-se uma mulher forte e poderosa, capaz de dar
um novo sentido para todos os sentimentos manifestos.
Iris, representando a participante que vivenciou procedimentos de violência obstétrica,
tem seu significado como a deusa mensageira entre os deuses e simbolizava a ligação entre o
céu e a terra, bem como àquela que consegue se mover em todos os lugares do mundo, até
mesmo as profundezas do oceano e do mundo subterrâneo. Relaciona-se com a participante,
pois em seu relato, ela utiliza a vivência negativa que vivenciou no parto como instrumento de
compartilhar informações com outras mulheres, para que não passem pelo que ela passou.

3.2 Local

As entrevistas e aplicações de instrumentos foram realizadas no ambiente confortável


para as entrevistadas. Neste estudo, todas as participantes optaram pelas entrevistas em suas
próprias residências.

3.3 Instrumentos

3.3.1 Entrevista semi - aberta

Segundo Bleger (1998), além de um recurso da clínica, a entrevista é uma técnica


bastante útil para a pesquisa científica em Psicologia. O que diferencia a entrevista Psicológica
de outros tipos de entrevistas é o objetivo, que neste modelo, pretende investigar aspectos
psicológicos. A entrevista utilizada foi semi-aberta, de forma que foram definidos três grandes
temas como guias, sendo eles: Gestação, Parto e Pós-Parto como estímulos para que as
45

entrevistadas, à sua maneira, trouxessem as informações que foram propostas no objetivo da


pesquisa.
Buscando conhecer a gestação, foi solicitado que a participante fizesse um relato
criterioso de sua gestação, do pré-natal, da preparação para o parto, do planejamento para a
recepção deste bebê, do envolvimento familiar nesta gestação, da relação com o obstetra, etc.
Na investigação do parto foi solicitado um relato detalhado deste, abordando desde o início do
trabalho de parto ainda em casa até a saída da maternidade. No caso da cesárea agendada foram
verificados os motivos deste agendamento, além de todos os acontecimentos entre a entrada e
saída da maternidade. Quanto ao pós-parto, buscou-se conhecer sobre a chegada em casa, a rede
de apoio, sentimentos e angústias vividos, cuidados do bebê, cuidados pessoais, rotina, etc.

3.3.2 Procedimento de Desenho - Estória com Tema (DE-T)

Algumas pesquisas realizadas por Barros (2004; 2010), Cairolli (2009), De Felice
(2010) e Herzberg (1986,1993) focalizaram a importância do estudo de fatores emocionais na
gravidez, parto e puerpério, por meio da utilização dos desenhos. Gardner (1971) ressalta que
considerar apenas os aspectos conscientes pode resultar em conclusões equivocadas no que diz
respeito à avaliação dos sentimentos maternos. Segundo Aiello - Vaisberg (1995), o uso da
técnica projetiva possibilita a captação das representações sociais inconscientes, desta forma, o
uso de tais técnicas pode ser enriquecedor para análise e avaliação dos aspectos psicodinâmicos
de mulheres em situação de pós-parto. Com isso, este estudo contemplou o procedimento de
Desenho-Estória com Tema (DE-T), o qual se trata de uma adaptação do procedimento de
Desenhos-Estórias desenvolvido por Walter Trinca (1997). Este procedimento foi escolhido,
pois facilita a expressão da subjetividade, bem como torna possível à investigação de qualquer
tema que seja proposto. Os temas definidos para esse trabalho foram os desenhos de uma
mulher, uma mãe e uma família, escolhidos a fim de compreender as questões que permeiam a
maternidade, como por exemplo a percepção e a representação da imagem de si, o exercício da
maternidade e o relacionamento conjugal, conforme proposto no objetivo deste estudo.

3.3.3 Escala Fatorial de Satisfação com o Relacionamento de Casal (EFS-RC)

Wachelke, Andrade, Cruz, Faggiani e Natividade (2004) elaboraram nove itens, no


formato do tipo Likert de cinco pontos, com respostas numerais de 0 a 5, divididos em dois
fatores: Satisfação com Atração Física e Sexualidade e Satisfação com Afinidades de Interesses
e Comportamentos, constituídos por cinco e quatro itens, respectivamente. Trata-se de um
46

instrumento de autorregistro e breve, cujos índices de confiabilidade foram considerados


satisfatórios. É um instrumento de avaliação individual dos benefícios originados por uma
relação amorosa ou sexual em qualquer grau de intimidade (Anexo A).

3.3.4 Questionário sociodemográfico

Este questionário é composto de 25 questões, sendo a maior parte objetiva. O


instrumento foi desenvolvido pela própria pesquisadora para o presente estudo como auxílio na
padronização da caracterização da amostra. Nele (Anexo B) constam questões sobre dados
pessoais, financeiros, ocupacionais, questões relacionadas ao período gestacional, ao parto, ao
pós-parto e à saúde do bebê.

3.3.5 Escala de Autoestima de Rosenberg

Esta escala foi desenvolvida inicialmente em 1979 por Rosenberg e é composta por dez
afirmações que se relacionam a um conjunto de sentimentos vinculados à autoestima e auto
aceitação. Trata-se de um instrumento auto administrado que propões avaliar a autoestima
global. A resposta de cada item é dada em uma escala tipo Likert, de quatro pontos, que se
compõe por: concordo totalmente, concordo, discordo e discordo totalmente. A versão utilizada
para esse estudo (Anexo C) foi adaptada no ano de 2011, por Hutz e Zanon com o objetivo de
produzir normas de autoestima para crianças, adolescentes e adultos e atualizar as propriedades
psicométricas da Escala de Autoestima de Rosenberg.

3.4 Procedimento para a coleta de dados

O projeto de pesquisa foi enviado ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade


Metodista de São Paulo com aprovação de parecer número 896.875 (Anexo D). Depois da
aprovação deste, foram iniciados os contatos com as participantes através de grupos públicos
no facebook. Foram postadas chamadas para que as interessadas entrassem em contato com a
pesquisadora. A Associação Artemis (http://artemis.org.br/), organização não governamental
sem fins lucrativos, concordou em convidar as mulheres vítimas de violência obstétrica que
procuram a entidade e encaminhá-las para que fossem participantes deste estudo. O blog “gerar
consciência” (http://gerarconsciencia.blogspot.com.br/), e seu grupo fechado do facebook, os
quais se propõem a discutir modelos de parto, através da sua autora Ana Luiza Mayer, também
apresentou carta de interesse para participar do projeto, convidando as participantes do grupo e
colocando um banner no blog para que as interessadas entrassem em contato com a
47

pesquisadora. Assim que as participantes foram contatadas e cumpriram os critérios


estabelecidos pela amostra, foram informadas sobre os objetivos da pesquisa. Ao concordarem
em participar, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo E) e foram
agendadas data e local de suas escolhas para as entrevistas. Foram necessários dois encontros
com cada participante. No primeiro, realizamos a entrevista que foi gravada com duração
aproximada de 70 minutos. Também foi preenchido o Questionário Sócio demográfico (10
minutos). No segundo encontro foram aplicados os outros instrumentos, começando pelo DE-
T (50 minutos) e EFS-RC (10 minutos). O segundo encontro foi de 24h à 336h (de um dia a
duas semanas) da realização do primeiro.

3.5 Procedimento para a análise dos dados

3.5.1 Entrevista Semi-aberta

Foram realizadas análises qualitativas dos instrumentos utilizados. As entrevistas foram


transcritas e foi feita a análise de conteúdo temático – categorial (Oliveira, 2008). Inicialmente
foi realizada uma pré-análise buscando as primeiras hipóteses ou questões norteadoras
relacionadas aos objetivos do trabalho. Estas foram organizadas em indicadores, ou seja,
unidades de categorização, buscando semelhanças e contrastes ao tema investigado.
Posteriormente foram identificadas unidades de registro, buscando descrever e explorar todo
seu conteúdo. As unidades de registro que se relacionam foram agrupadas em uma categoria.
As categorias, diretamente relacionadas aos objetivos do trabalho, foram analisadas conforme
o objetivo proposto, sendo elas: relacionamento conjugal, exercício da maternidade, escolha da
via de parto e autoimagem.

3.5.2 Procedimento de Desenho - Estória com Tema (DE-T)

Os referenciais de avaliação do DE-T enfocam a analise de conteúdo, que foi realizada


neste estudo tendo como referencial o modelo proposto por Trinca (1972 e 1987) e pelos
métodos padronizados de avaliação elaborados por Tardivo (1985) com base na teoria
psicanalítica. Durante a análise dos desenhos, os resultados se apresentam conforme o objetivo
proposto, vinculando-se com o ciclo gravídico-puerperal.

3.5.3 Escala Fatorial de Satisfação com o Relacionamento de casal (EFS-RC)

Os itens foram somados em uma escala de 0 a 5 e efetuado a média dos pontos, conforme
o número assinalado pela participante, levando em consideração que os itens 5 e 7 são somados
48

de forma inversa. A escala sugere que resultados superiores a 3 podem indicar um


relacionamento conjugal satisfatório. Os indicadores numéricos foram utilizados a fim de
complementar a análise dos dados qualitativos obtidos pela entrevista e pelo procedimento de
desenho-estória com tema.

3.5.4 Questionário sociodemográfico

Apesar de ser composto por 25 questões, os resultados do questionário socidemográfico


apresentados foram utilizados a fim de caracterizar a amostra, sendo levados em conta os itens
considerados relevantes frente ao objetivo e aos resultados que se mostraram relevantes durante
a pesquisa.

3.5.5 Escala de autoestima de Rosenberg

As declarações 1, 2, 4, 6 e 7 são formuladas de forma positiva e recebem a pontuação


de forma crescente (0 a 3); já as questões 3, 5, 8, 9 e 10 são formuladas de forma negativa e
recebem a pontuação de forma decrescente (3 a 0). Os resultados considerados satisfatórios
encontram-se na variação entre 15 e 25 pontos. Os indicadores numéricos da escala foram
utilizados a fim de complementar a análise dos dados qualitativos obtidos pela entrevista e pelo
procedimento de desenho-estória com tema.

3.5.6 Integração dos resultados obtidos

As entrevistas foram divididas em três períodos: gestação, parto e pós-parto e, dentro


de cada período, separadas em quatro categorias: relacionamento conjugal, exercício da
maternidade, escolha da via de parto e autoimagem. A EFS-RC foi articulada com a categoria
de relacionamento conjugal e a escala de autoestima de Rosenberg foi utilizada a fim de
aprimorar os dados coletados na entrevista referentes à categoria de autoimagem. O desenho-
estória com tema, devido aos temas propostos (mulher, mãe e família) proporcionou uma
análise complementar das categorias de relacionamento conjugal, exercício da maternidade e
autoimagem, possibilitando uma ampliação dos resultados obtidos com a entrevista e um
material mais rico para uma análise mais abrangente e fidedigna. Por fim, foi feita uma síntese
de caso a caso com a integração dos instrumentos utilizados.
49

3.6 Objetivo

3.6.1 Objetivo Geral

Verificar a percepção de mulheres sobre sua relação conjugal durante a gestação, parto
e pós-parto.

3.6.2 Objetivos Específicos

De acordo com as recomendações preconizadas pelo Ministério da Saúde e pela


Organização Mundial de Saúde, investigar a interferência da relação conjugal durante a
gestação, parto e pós-parto:
- na representação da imagem de si,
- no modelo de assistência ao parto,
- no exercício da maternidade e na adaptação a esse novo papel.
50

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados serão apresentados por categorias a fim de facilitar a compreensão dos


dados. São quatro categorias, em cada uma delas encontram-se os casos das três participantes
separados por ciclos: gestação, parto e pós-parto com a discussão elaborada ao final de cada
categoria, conforme o objetivo do trabalho e os temas propostos. Em seguida, foram feitas as
análises dos Desenhos-Estória separadas de acordo com o tema de cada desenho proposto e,
por fim, como considerações finais, uma discussão comparativa dos três casos em conjunto.

4.1 Análise categorial das entrevistas

4.1.1 Categoria 01 - Relacionamento Conjugal

 Maya – CE

 Gestação
Diz que a gravidez não foi planejada, que para ela foi uma surpresa um pouco chocante,
mas que o marido ficou feliz. Relata: “A vida com meu marido era boa. Ele sempre me ajudou
muito. Sempre me apoiou bastante. Me ajudava tanto psicologicamente como com as coisas em
casa”.
Ainda durante a gestação, fizeram um ultrasson que indicava que o bebê seria menina.
Compraram roupinhas, escolheram o nome, mas no exame seguinte foi informado um erro e o
bebê seria menino. Ela relata que ficou muito frustrada, que chorou muito e que o marido
aceitou bem: “O meu marido aceitou bem. Pra ele o que viesse era ótimo”.
Quando perguntamos sobre a sexualidade durante a gestação, ela diz: “Com meu marido
era... (pausa) normal, era tudo normal. Ele era muito bom comigo. Sexualmente era normal
também. Durante o repouso não podíamos ter nada e ele me entendeu muito bem. Ele é bem
compreensivo”.

 Parto
O relacionamento conjugal não é citado durante o trabalho de parto.

 Pós-Parto

Quanto ao pós-parto, Maya cita o marido no que diz respeito à sexualidade. Disse que
ele foi bem compreesivo, que teve a quarentena e que ele entendeu muito bem e complementa:
“Olha foi um pouco mais que a quarentena que ficamos sem sexo. Eu não tinha desejo. Ainda
51

não voltou ao normal.” e diz que esse fator não interfere no relaconamento dos dois, mas que
“no de muita gente acho que sim. Alguns homens talvez não sejam tão compreensíveis quanto
nós”. Maya afirma também que, devido às demandas da maternidade, não quer ter outro filho e
que, por enquanto, o marido concorda.

 Gaia - PH

 Gestação

A participante relata que foi uma gestação não planejada, porém desejada. Conta que
estão juntos há três anos e que já conversava com o marido sobre a possibilidade de ter filhos,
mas que gostariam de realizar outros planos antes, como viajar e reformar a casa. Ainda assim,
diz que os dois ficaram muito felizes quando souberam da gestação e que o marido a
acompanhava durante os exames e consultas de Pré-Natal.
Sobre a reação do marido ao saber da gravidez, a participantes relata: “Meu marido ficou
besta! Porque foi de madrugada (...) Eu acordei ele, mostrei o teste para ele: tá, e dai? E daí que
agora eu estou grávida. Aí ele me abraçou, a gente ficou na cama ainda. Ele chorou ainda. Foi
uma coisa assim… De emoção. Chorou de emoção”. Quanto aos sentimentos dela, demonstra
sentimentos de ambivalência frente à descoberta da gestação. Diz que não contou pra ninguém
que ia fazer o teste de gravidez e que até hoje não sabe o porque o fez, pois apesar de alguns
sintomas não achou que pudesse estar grávida. Quando viu que deu positivo, não sabia se
acordava o marido ou não para contar e que precisou checar o teste várias vezes para ter certeza:
“Eu vou dormir e amanhã eu conto para ele. Aí eu deitei, fiquei lá um tempo: não, não vou
conseguir ficar até amanhã. Voltei lá, olhei o papel de novo. Não! Estou grávida mesmo”.

 Parto

Gaia conta que já queria o parto normal antes mesmo de engravidar e que ao conversar
com o marido sobre o parto natural com assistência humanizada, ele achou diferente e, a
princípio, ficou preocupado: “A primeira coisa que ele falou foi: você não faz nenhum exercício
físico, você não aguenta, não vai dar certo isso”. Em seguida, Gaia relata que pediu a ele que
se informasse antes de conversarem a respeito da decisão. Eles assistiram juntos, na internet,
um parto natural pélvico e em seguida o vídeo de uma cesárea.
Ela diz que, durante o vídeo do parto natural, ele ficou “vidrado” e muito impressionado
(de forma positiva), manteve os olhos fixados vendo a moça parindo e diz que nem imaginavam
que o filho deles também seria pélvico. Durante o vídeo da cesárea, ela afirma que o marido
52

ficou muito impressionado (de forma negativa) e não conseguiu terminar de assistir, fechava o
olho, virava o rosto e dizia: “nossa, de jeito nenhum eu quero que meu filho nasça de cesárea.
A não ser que precise” (sic). Acharam chocante a cirurgia e os procedimentos que são feitos
com o bebê ao nascer.
Assim, ela conclui dizendo que foi fácil convencê-lo; achou que teria mais dificuldade,
mas que foram necessários apenas dois vídeos. Em seguida, assistiram ao documentário “O
Renascimento do Parto”, o qual adoraram e recomendam para todo mundo assistir. Porém, ao
ter a notícia de que o bebê estava pélvico, o marido optou pela cesárea, pois tinha medo dos
riscos e de ela ter que passar por toda a dor das contrações e trabalho de parto tendo a
possibilidade de ir para a cirurgia de qualquer forma.
Após consulta com a pediatra, eles optaram juntos pelo parto pélvico natural. Ainda que
ele tivesse inseguro e com medo, era o que Maya queria e o marido respeitou sua decisão e a
apoiou: “ele vai nascer do jeito que ele quer nascer. Então vamos tentar. Então a gente encarou
isso. Como diz a minha médica, é bancar. Tem mulher que banca um parto pélvico, e tem outras
que não, se desesperam. Então foi assim”.
Ao receber da obstetra a notícia de que estava em trabalho de parto ativo ela conta: “eu
dei um sorriso e olhei para o A.” e completa dizendo que, durante o trabalho de parto, o marido
esteve o tempo todo presente, de forma participativa: “E aí, eu fui subir pra sala de pré-parto.
Fiquei lá um tempo no chuveiro. E com o A., ele ficou tempo todo comigo (...) Depois a placenta
nasceu e ele cortou o cordão umbilical”.

 Pós-Parto

Gaia relata que A. tinha cinco dias de licença paternidade e pegou mais trinta dias de
férias para participar dos cuidados com o bebê. Ela complementa dizendo que foi a melhor coisa
que aconteceu, pois se viesse alguém de fora para ajudar seria muito ruim, tendo em vista que
a mãe e a sogra não conhecem a rotina da casa e que, desta forma, ter o marido em casa foi
ótimo e que ele ajudou muito, principalmente de madrugada quando o bebê acordava.
Com relação à vida sexual, diz que sentia vontade, mas que quis esperar a quarentena
para a cicatrização interna e que, em seguida, teve vontade. Relata ambivalência quanto ao
desejo e a normalidade da sexualidade: “a vontade veio normal, claro que não é normal o ato
em si. Porque tudo muda, seu corpo muda. Mas está sendo normal”. Diz que não sentiu queda
no desejo sexual e que, mesmo ainda amamentando, resolveu tomar anticoncepcional para
evitar outra gestação.
53

 Iris – VO

 Gestação

Iris conta que a gravidez não foi planejada; namorou por dez anos, separaram e um dia
foram “matar a saudade” e ela engravidou. Relata que o ex-marido ficou feliz, pois na época
ele queria reatar o namoro, mas que depois de um tempo perceberam que os problemas que
haviam antes ainda permaneciam e que ter um filho não mudava muita coisa. Conta que quando
souberam da gravidez foram morar com a mãe dele para guardarem dinheiro para comprar um
apartamento, mas que as coisas não fluíram assim, pois ele era um “filho que não corta o cordão
umbilical”. E complementa: “e eu já estava assim... No final da minha gestação e já comecei a
me separar. Então a gente já estava em casa assim... Eu morava com minha ex-sogra... Um
clima muito ruim”.
Sobre a reação do casal frente a descoberta do sexo do bebê, ela diz: “na família do meu
ex marido são todos homens, todo mundo homem e todo mundo militar. Machismo assim
enorme. E a minha família é tudo mulher, e tudo militante. O oposto. Quando ela falou que era
menina, eu estava deitada, eu levantei na hora e falei o que? E ele também me olhava assim…
demorou pelo menos uma hora para cair a ficha que a gente ia ter uma menina”.

 Parto

Quanto ao momento do parto, Iris conta que conversou com uma amiga sobre começar
o trabalho de parto em casa e só depois ir ao hospital, e que sugeriu para o ex-marido, que não
quis e achou um absurdo, não a apoiando em sua decisão. Desta forma, ela foi para o hospital
realizar indução do parto e que, ao chegar na sala de procedimento a equipe não autorizou o
marido a acompanhá-la: “Eles levaram eu e meu marido. Quando chegou numa porta ele
falaram pra ele esperar um pouquinho. E me levaram. E eu nunca mais vi ele”. Relata que após
a internação, ela pedia para vê-lo e não deixavam: “teve uma hora que eu fiquei desesperada e
falei que queria falar com ele, eu chorava e eles diziam que não podiam chamar”. Informaram
que ele teria que ficar do lado de fora aguardando.
Iris diz que ao final do dia já não aguentava mais estar sozinha e com dor e que, ao pedir
a cirurgia cesariana, chamaram o marido: “Aí quando eu vi ele, eu chorava muito, muito, muito.
E na hora eu me sentia muito fracassada. Mas eu via assim, pra mim, ali naquele momento, eu
não tinha condições para mais nada. Aqui eu vou ficar” e que, ainda assim, ele ficou em uma
sala duas horas e meia trancado sem informações.
54

Durante a cirurgia ela relata que ele ficou muito bravo, pois não viu a bebê sair, quando
permitiram que ele entrasse já haviam retirado a bebê.

 Pós-Parto

Ela conta que pouco tempo após o parto a bebê teve uma febre alta e precisou de
internação e que, por já estar em processo de separação foi uma situação muito difícil devido a
falta de suporte: “A gente não entendia porque ela estava emagrecendo, porque ela estava
perdendo peso. Sei lá o que passava na nossa cabeça. Os dois de primeira viagem” e
complementa: “É que eu já estava muito frágilizada no final. Com minha vida pessoal… foi
muito ruim. Quando a gente não tem muito suporte”.
Sobre o processo de separação, conta que ainda durante a gestação já estavam
praticamente separados, mas que ainda optaram por tentar durante um tempo, que moraram
juntos ainda por um mês na casa da sogra, que achavam que as coisas ficariam mais leves, mas
que não ficaram e que, após esse mês, ela optou por ir morar na casa da mãe dela devido aos
problemas do relacionamento e dificuldades na relação com a sogra.
Após esse rompimento, optaram por alugar um apartamento para não ter mais a
influência familiar, ela diz: “Ele vinha morar comigo. Mas durou dois meses, três meses. Eu
sair para trabalhar e ela se enfiava dentro da minha casa. E aí eu vi que não dava mesmo. Chegou
ao ponto que eu não aguentava família dele. Eles não me aguentavam também. Quando a gente
não gosta de alguém… Eu saía para trabalhar e tinha um monte de gente na minha casa. Ele
continua com a vida dele de sair à noite. Daí eu separei e não voltamos mais. Ela tinha cinco
meses. No começo foi muito ruim, foi muito punk. Porque ele tinha isso, mas ele me ajudava
com ela. Às vezes ela acordava muito de madrugada e ele via que eu estava cansada, ele ficava
com ela para eu dormir um pouco. Esse respaldo é o que me fez muita falta. Mas por outro lado
foi bom porque eu me viro muito bem sozinha”.
Sobre a relação do ex-marido com a filha, ela diz que ele é um ótimo pai e muito
presente. Que eles revezam nos cuidados da filha e que ela passa um tempo equilibrado com os
dois, que isso ajuda muito e diz: “Porque se eu não posso confiar na pessoa com quem eu fiz
um filho, no próprio pai dela, eu vou confiar em quem? Se eu coloco isso na minha cabeça e
ele está disposto a me ajudar dessa forma, é perfeito para ela, não é para mim. E essas questões
pessoais, as pessoas tem que entender que ele não faz nada para mim. É para ela, entendeu? E
vai indo”. Ainda complementa sobre a importância desse suporte: “Então eu preciso desse
suporte dele. Toda consulta médica ele me acompanha, ele faz questão de ir, conversar. Se eu
55

não posso ir… Esses dias ela ficou ruinzinha de garganta e eu não podia levar ela no médico
porque eu tinha uma reunião e ele vai pega ela e leva no médico. E me manda mensagem: está
tudo bem, dormiu. Me manda a foto. Eu também faço isso. Então, acho que não tem… Eu
sempre peço, se acontecer alguma coisa, me manda de volta”.
Porém, apesar de manterem uma boa relação referente aos cuidados e responsabilidades
com a filha, ela demosntra preocupações sobre as formas diferentes de educarem a filha: “Não
sei se é errado essa coisa que a gente faz dela ir ficar indo e voltando. Mas ele mora aqui perto.
Mas de ficar lá e ficar aqui, eu não sei se isso mais pra frente vai me dar problema. Porque são
dois tratamentos diferentes: lá ela tem uma paparicação diferente. Então é assim. Mas por
enquanto não me incomoda.”
E, por fim, diz que não se arrepende da escolha pela separação, pois perceberam que
estava começando a refletir na filha: “Por um lado eu acho bom, eu e ele morar junto e ficar
brigando, se magoando é muito ruim. Eu vejo que isso reflete nela (...) Se alguém da um grito
na rua alguém fala mais alto perto dela ela já começa chorar. Não sei se isso é um pouco do
reflexo, porque dizem que no começo vai criando uma… Sei lá. Não sei se foi isso porque a
gente brigava muito. Foi quando a gente achou que ia fazer mal pra ela e realmente foi o certo”

4.1.2 Discussão - Categoria 01 - Relacionamento Conjugal

No que se refere à gestação, as três participantes indicam não terem planejado a


gravidez, porém ao saberem da notícia, as reações mostraram-se de formas diferentes. Maya
(CE) afirma ter sido um choque para ela e uma alegria para o marido; Gaia (PH) relata que os
dois ficaram muito felizes e reagiram de forma positiva e Iris (VO) não relata sobre a reação
dos dois, apenas afirma que não esperavam. Os estudos que investigam a transição para a
paternidade têm verificado que, em geral, os pais mostram-se bastante ansiosos e preocupados
durante a gravidez da esposa, período que tem sido marcado para eles por sentimentos de
alegria, ansiedade e conflitos. Além disso, a relação conjugal necessita de uma rápida
reestruturação para dar conta deste novo membro familiar (Bortoletti, 2007; Krob, Piccinini, &
Silva, 2009). Observa-se, com isso, que os resultados sobre o impacto da noticia de estar gravida
apresentado pelas participantes, coincide com os achados da literatura.
Quanto ao parto, Maya não fala sobre a participação do marido durante esse momento;
Gaia diz que o marido esteve junto o tempo inteiro, a auxiliou durante do trabalho de parto e
fez o corte do cordão umbilical do bebê. Já para Iris, a equipe não permitiu a entrada do marido
durante a indução e durante o parto, permitiram a entrada apenas quando o bebê foi retirado.
56

Esse direito, apesar de comumente negligenciado, é resguardado pela Lei 11.108, de 7 de abril
de 2005, também chamada Lei do Acompanhante, que garante à parturiente a presença de um
acompanhante de sua livre escolha durante o trabalho de parto, o parto e no pós-parto (BRASIL,
2014; Wolff & Waldow, 2008). A literatura mostra que, nem sempre, essa lei é cumprida, como
verificou-se neste estudo. Estes dados apontam para a gama de possibilidades de ações da
equipe quanto ao acompanhamento da gestante no parto.
No Brasil, a política pública que prioriza a saúde masculina e intervém em suas
necessidades é a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), que
possui uma cartilha de diretrizes com o objetivo de qualificar os profissionais que atuam na
atenção básica para que ofereçam uma assistência maior e mais acolhedora a esse grupo. As
atuações propostas pelo Ministério da Saúde possibilitam que a atenção primária sirva como
porta de entrada dos homens nos serviços, de forma a viabilizar a prevenção de doenças,
promoção de saúde e intervenções quando necessário. Além disso, possibilitam uma integração
transversal com outras políticas públicas de saúde, bem como contribuem para estreitar o
vínculo do casal nesse processo (Brasil, 2005; 2016).
Como já descrito anteriormente, o período da gravidez e pós-parto caracteriza-se, para
a mulher, por um conjunto de alterações biológicas, psicológicas e sociais intensas, com isso,
direta ou indertamente, consciente ou inconscientemente, não é de surpreender que o conjunto
das alterações possa ter um impacto considerável ao nível da vivência da sexualidade. A
gravidez apresenta um desafio na preparação para um relacionamento entre três pessoas e, ao
mesmo tempo, na continuação de um relacionamento com o companheiro, incluindo a
sexualidade partilhada enquanto fonte de ligação emocional ao outro. A integração da
aprendizagem de todas estas mudanças pode conduzir a um maior stress e dificuldades várias
ao nível do relacionamento sexual com o cônjuge (Silva & Figueiredo, 2005).
A sexualidade aparece no discurso das três participantes no que diz respeito ao momento
do pós-parto, bem como a participação dos cônjuges nos cuidados com os bebês. Maya fala que
ainda não voltou ao normal, mas que o marido entende e respeita e não cita a participação do
marido com os cuidados do bebê. Gaia, sobre a sexualidade, afirma que ela voltou a sentir
desejo logo em seguida, mas que ainda não estava normal como era antes devido às alterações
corporais. Também diz que o marido entende e respeita e fala sobre a importância da
participação paterna com os cuidados do bebê durante os primeiros 30 dias de vida. Diz que a
presença dele foi fundamental para a recuperação dela. Maldonado (1985), aponta que a
alteração no desejo sexual já é perceptível desde a gestação tanto pela mulher quanto pelo
parceiro, com alteração do comportamento sexual, principalmente com a diminuição do desejo
57

sexual. A realidade do pós-parto, além das questões fisiológicas, mostra que a relação sexual
deve ser adaptada às novas condições da família. A rotina fica, em quase sua totalidade, voltada
às necessidades do bebê, que demanda integralmente a atenção dos pais, sobrando pouco tempo
e energia para o romance livre de antes. Este fenômeno é relatado na literatura, ainda que pouco
explorado e é exemplificado nos três casos apresentados.
Silva e Figueiredo (2005) afirmam que parece existir uma diminuição do interesse
sexual durante a gestação e no pós-parto, onde a atividade sexual torna-se praticamente
inexistente. A tendência é que haja um aumento/retorno de atividade sexual a partir do
segundo/terceiro mês de puerpério, sendo que, para alguns casais, o padrão de ausência de
contato sexual mantém-se durante anos após o nascimento do filho. No entanto, ainda que em
menor quantidade, alguns casais afirmam ter aumentado a satisfação sexual durante o período
de transição para a parentalidade.
Algumas razões foram sugeridas para justificar o declínio do desejo sexual e da
frequência da relação sexual durante o período da gravidez, sendo eles: medos da mulher
relativamente à própria gestação (Bogren, 1991); o desconforto físico ligado à penetração, bem
como a perda de interesse sexual (Solberg et al. 1973) e sentimento de insatisfação com a
imagem física à medida que a gravidez progride, conduzindo a uma atitude de maior inibição
perante o relacionamento sexual com o companheiro foram também sugeridos (La Rossa,
1979).
A literatura também sugere seis fatores que podem encontrar-se relacionados com a
diminuição do desejo e da frequência de atividade sexual, assim como dos níveis de satisfação
sexual durante o período do pós-parto. Esses factores são: o ajuste às mudanças de papéis
sociais durante a transição para a parentalidade, a satisfação marital, o humor, a fadiga, as
mudanças associadas ao nascimento do bebê e a amamentação (De Judicibus & McCabe 2002).
No entanto, já um considerável número de investigações permite estabelecer uma
relação mais consistente entre a transição para a parentalidade e a qualidade da relação marital.
Pertot (1981), por exemplo, sugere que as dificuldades da mulher no pós-parto se relacionam
com as tarefas da parentalidade. As dificuldades relacionadas com o papel materno afectariam
o relacionamento sexual devido a uma diminuição geral do bem-estar da mulher e à ruptura da
relação com o companheiro, que conduziria à perda de desejo sexual.
Quanto aos cuidados do bebê, Iris diz que o parceiro participava, mas que isso não foi o
suficiente para manter o relacionamento. Diz que brigavam muito, que estava afetando a bebê
e que, por isso, acharam melhor não seguir adiante com o casamento. Ela relata que sentiu falta
do suporte inicialmente, mas que por outro lado “se vira bem” sozinha e que a separação foi a
58

melhor escolha. Assim, se por um lado o nascimento de um filho pode constituir um marco de
consolidação de um projeto de vida a dois e emocionalmente investido, por outro lado, uma
fraca e inadequada adaptação/integração deste novo papel pode ocorrer também. Se há
proximidade, harmonia, boa comunicação e se os cônjuges estiverem satisfeitos com sua
condição econômica, a satisfação conjugal aumenta e diferentes estratégias são criadas para a
resolução dos conflitos, porém, quando isso não ocorre, em alguns casais o nascimento do filho
pode representar um “estorvo” ou “obstáculo” à relação marital pré-estabelecida. Sendo que
nessas condições a maternidade pode adquirir uma representação de perda de uma determinada
organização conjugal ou da sua exclusividade e as complicações com o ajustamento do casal
podem afetar a percepção da mãe sobre o apoio recebido. (Canavarro, 2001; Frizzo, Brys,
Lopes, & Piccinini, 2010). Estudos atuais mostram que intervenções psicológicas durante a
gestação podem contribuir para a preparação para este momento crítico do casal (Romagnolo
et al. 2017).
Desta forma, ainda que nenhuma das três gestações tenha sido planejada, cada casal
vivenciou uma reação diferente frente à notícia; circunstância essa que refletiu em todo o ciclo
gravídico-puerperal. Maya (CE) apresenta um marido que está ali, mas não o relata como
participativo, sugerindo um relacionamento conjugal estável, mas com um vínculo não
fortalecido. Para Gaia (PH), o marido aparece de forma presente durante todo o relato, desde a
descoberta da gravidez, durante os medos e angústias que surgiram ao logo do percurso, durante
o parto e no pós-parto, apresentando um marido participativo, sugerindo um relacionamento
conjugal estável com um vínculo forte estabelecido.
É necessário ressaltar a importância dos fatores de proteção para a mulher, dentre eles a
presença de familiares, rede de apoio e uma equipe multidisciplinar integrada. Uma relação
conjugal fortalecida e preparada para novos reajustes pode interferir positivamente no
desenvolvimento da gravidez, tanto pelo suporte emocional quanto pelo apoio econômico.
Nesse período de instabilidade emocional pelos altos níveis de demanda, o suporte do
companheiro é fundamental, pois a mulher necessita da ajuda do marido que assume papéis na
participação nos cuidados do bebê e fornecendo suporte emocional para a mulher, pois a mãe
precisa de alguém que cuide dela para que ela possa cuidar de seu filho (Maldonado, 1985).
Além disso, a participação nas tarefas domésticas promove sentimento de segurança, enquanto
que a ausência do relacionamento estável pode ser considerada fator de risco para a gestante,
de forma que o conflito conjugal se torna um fator de risco para a depressão pós-parto (Braz,
Dessen, & Silva, 2005; Ferreira et al., 2014; Mendonça, Bussab, & Siqueira, 2013).
Quanto a Iris (VO), já haviam conflitos anteriores à gravidez na relação. Passavam por
59

um momento de instabilidade conjugal quando a gestação aconteceu, o que também influenciou


em todo o ciclo gravídico-puerperal. Em sua entrevista ela relata os medos e angústias que teve
durante a gravidez e diz ter enfrentado tudo sozinha, ainda que estivesse junto com o
companheiro na época. Acredita-se que esses conflitos podem ter relação com os procedimentos
de violência obstétrica que Iris vivenciou, tendo em vista que chegou a ser questionada pelo
médico se o pai assumiu a criança, porém não se pode afirmar se a ausência de vínculo no
relacionamento favoreceu a violência obstétrica ou se os procedimentos de violência
favoreceram para que o vínculo entre o casal ficasse ainda mais fragilizado do que já estava.
Guédeney e Jeammet (2001) afirmam que a rede familiar consiste em fator proteção e suporte
durante o ciclo gravídico-puerperal e que a ausência do suporte familiar, dentre eles do
companheiro, e a ausência de subsídio prático efetivo, podem ser considerados aspectos
importantes na origem de impactos emocionais significativos no puerpério, fator esse que vai
de encontro à separação do casal no período após o nascimento da filha.

4.1.3 Categoria 02 - Exercício da Maternidade

I. Maya – CE

 Gestação

Maya relata que a gestação não foi planejada e diz: “Foi uma surpresa. Um pouco
chocante, talvez”. Em seguida afirma que se não fosse pela gravidez e o nascimento do filho,
pretendia terminar a faculdade, arrumar um emprego melhor e estabelecer-se financeiramente
e complementa: “A gravidez interferiu nos meus planos”. Desta forma, o exercício da
maternidade aparece como algo doloroso, difícil e que quebrou outros ciclos que pareciam ser
promissores na visão de Maya.
Além disso, teve complicações durante a gestação que a fizeram ter medo de perder o
bebê. Aos dois meses de gestação precisou retirar células cancerigenas do útero. Em seguida,
pouco tempo depois teve descolamento de placenta e diz ter sido um período dificíl: “Quando
fiz repouso por causa do descolamento de placenta senti tédio. Foi péssimo. Eu não podia fazer
nada, eu não podia fazer esforço. Foram quatro meses sem fazer nada, só dormindo. É muito
ruim (...) Eu tinha medo que acontecesse alguma coisa com ele. Acho que eu ia ficar triste pro
resto da vida”.
Outra questão relevante que ocorreu durante a gestaçao que impactou na maternidade
de Maya foi o diagnóstico errado do sexo do bebê que em princípio, foi dado como menina.
60

Maya comrpou sapatos e roupinhas, escolheu o nome e no ultrasson seguinte descobriu que
seria menino. Ela relata esse acontecimento como de tristeza e decepção: “Eu fiquei frustrada.
No começo fiquei frustrada. Chorei, fiquei chateada”.
Em decorrência de todas as dificuldades enfrentadas durante a gestação Maya afirma:
“Não sei qual a lembrança mais feliz da gravidez, mas acho que é quando eu já estava indo,
para o hospital para ganhar ele”, pois apesar de o bebê estar saudável, ela teve fatores
importantes que favoreceram um sofrimento psíquico considerável.

 Parto

Quanto ao momento do parto, Maya relata ter ficado tranquila, que houve até
estranhamento da equipe pela sua tranquilidade e que pediu pra ver toda cirurgia pelo espelho:
“vi eles cortando, costurando, tudo!”. Em seguida, relata que o bebê não foi direto para o colo,
que a equipe o levou para fazer os procedimentos de protocolo e apenas depois levaram para
que ela pudesse ver. Diz que a sensação de ver o bebê foi muito boa: “Você nunca imagina
como ele seria fisicamente, se ele ia nascer bem e depois te dá um alívio de ver ele de perto”.
Relata que ele estava bem de saúde e que saiu junto com ela do hospital após dois dias de
internação.

 Pós-parto

Maya relata que no início a amamentação foi difícil, pois teve rachadura no peito: “tudo
era complicado” e que demorou em torno de 15 a 20 dias para melhorar. Após esse período
conta que amamentou bem e não teve mais problemas, que hoje é até um sacrifício tirar ele do
peito. Apresenta sentimentos ambivalentes quando fala da amamentação: “ Amamentar é bom.
É um vínculo. É o momento que ele fica próximo de você, você fica sentindo ele, olha no olho.
E é gostoso. Querendo ou não, é bom”.
A participante diz que após o parto sentia coisas estranhas: “Olha, depois do parto eu
sentia coisas estranhas. Eu me sentia muito sozinha, sem vontade pra nada, também eu ficava
sozinha, não tinha ninguém pra conversar”. Afirma que esse período passou após a volta ao
trabalho, pois é um momento que ela sai de casa, tem tempo pra si mesma e que “ querendo ou
não, um tempo longe do filho faz bem pra você. Você passa vinte e quatro horas grudado nele,
se dedicando pra ele e você não tem tempo pra você. Então isso é necessário pra você”.
Sobre as mundaças que a maternidade proporciona ela afirma que foram muitas e relata
dificuldade em lidar com elas: “A maternidade me mudou em questão de responsabilidade e
61

meu pensamento com as coisas. Acho que muda tudo. É uma experiência positiva, mas não
quero ter outro filho. Porque eu fiquei traumatizada. Ele me deu muito trabalho. Acho que é
muito desgastante”.
Maya diz que o desgaste ocorre principalmente devido ao fato do bebê não dormir a
noite inteira e isso ser muito exaustivo: “deu trabalho de nunca dormir. De acordar de quarenta
em quarenta minutos durante a noite inteira por um ano. Agora que ele está com um ano e meio
ele está quase dormindo a noite inteira, mas ainda não dorme. E você ter o sono picado é muito
exaustivo. Você acordar cedo e dormir tarde, cuidando da casa, do filho é muito exaustivo.
Então acho,que não quero outro. Por enquanto, meu marido concorda em não ter outro”.

II. Gaia - PH

 Gestação

A gestação não foi planejada. Gaia ficou um mês sem tomar anticoncepcional, pois
estava com dengue e durante essa pausa, engravidou. Relata: “e com um mês só sem tomar
anticoncepcional o G. nasceu. Ele queria vir mesmo”.
Gaia diz sobre o quanto é difícil encarar e compreender a maternidade: “Quando soube
que estava grávida, era difícil acreditar. Eu não acredito até agora que eu tive bebê! Passou
muito, muito rápido. Foi uma coisa assim, a gestação foi muito rápida, o parto foi muito rápido,
fiquei só um dia no hospital. Então foi tudo muito rápido. Então, quase que eu nem acredito.
As vezes eu olho para ele: meu Deus! Eu nem acredito que você já nasceu. Já está aqui. É bem
diferente de tudo.”
A participante também fala da dúvida que teve frente a possibilidade da maternidade,
quando comprou o teste na farmácia: “quando eu comprei o teste a moça me desejou boa sorte!
E aí eu fiquei pensando: boa sorte pra que? Porque tem mãe que vai lá, tem mulher que vai lá,
boa sorte para estar grávida. E outras que não quer estar grávida. E qual é o meu caso? E eu não
consegui me decidir naquilo. Boa sorte pra que? Para estar ou para não estar?”
Em seguida, conta sobre a descoberta de que seria mãe e como isso repercurtiu nos
sintoms físicos: “Marcou os dois pauzinhos e eu vi. E eu olhava os risquinhos e olhava o
papelzinho e eu disse: meu Deus eu estou grávida (...) Foi só descobrir que estava grávida. Não
estava sentindo nada. Eu descobri no dia seguinte já estava passando mal.”

 Parto

Teve contato pele a pele assim que o bebê nasceu e colocou ele no peito de imediato,
62

conseguindo promover a amamentação na primeira hora de vida. Ela diz que foi um momento
importante e de muita alegria. Em seguida conta da angustia da separação com a ida do filho ao
berçário: “Ele ficou umas duas horas e meia comigo lá. Nessa época, em janeiro, o bebê ainda
tinha que passar pelo berçário. Hoje já não precisa mais. É uma pena! Porque ele demorou umas
duas horas para chegar no quarto, eu estava bem apreensiva. Meu marido estava vendo ele pelo
vidro, mas ele estava lá no berçário sendo que ele podia estar comigo”.

 Pós-Parto

Mais uma vez é possível observar o sentimento de ambivalência: “Quando vim para
casa, primeiro que eu não acreditava que ele já tinha nascido. Foi um negócio muito, muito
doido, assim. Você ainda tem muita ocitocina no corpo, então ainda tem muito amor. Você não
quer sair de perto, você não quer”. Diz que teve dificuldades com a amamentação no inicio,
devido a uma laceração, e , após chamar uma consultora de aleitamento, foi fácil para
amamentar.
Gaia relata da dificuldade que é o período do puerpério: “os trinta primeiros dias são os
mais difíceis. Ele não conhece você e nem você conhece ele. Você não sabe o que ele quer e
nem ele sabe que você pode oferecer. Então, vai por tentativa e erro”. Diz que na teoria, ter
filho é incrível e teria vários, mas que na prática é muito mais difícil, que demanda muito tempo
e que sente-se cansada mesmo o filho sendo bonzinho.
Apresenta muita angústia frente às mudanças na rotina, principalmente quanto à
autonomia. Diz que não consegue fazer nada no horário que quer, pois tudo depende do filho.
Relata sentir-se presa por não conseguir fazer nada sozinha: “Não consigo fazer nada na hora
que eu quero. Tudo depende dele… então eu me sinto presa (...) É bem difícil. Você depender
das outras pessoas para fazer coisas, para fazer tudo. Você está apto a fazer tudo, tem condições
físicas para fazer tudo, mas com ele não dá.”
Quanto ao baby blues, relata: “eu senti tristeza no pós parto. É uma coisa estranha, né.
Eu não tive depressão, nada disso. Mas é um puerpério, então você sente. Está tudo lindo, tudo
ótimo e mesmo assim você está chorando, está triste.”
Como forma de encarar as dificuldades do puerpério, conta da importância de fazer parte
de grupos de apoio com outras mães que têm filhos com idades semelhantes, pois uma auxilia
a outra e percebem que a maioria passam pelas mesmas dificuldades. Complementa dizendo
sobre a dificuldade em receber conselho dos avós, principalmente da mãe: “A minha mãe teve
filho há trinta anos. O meu marido não entende nada de criança. Ele entende do nosso filho, só.
63

Se é normal se não é, então a gente conversa bastante nesses grupos, o que ajuda muito, muito,
muito.”
Gaia aponta também a cobrança que tem consigo para que ocorra tudo bem, e o quanto
isso é desgastante, difícil, cansativo: “Difícil para mim e deixar ele bem. Não acontecer nada.
Um dia o bumbum dele ficou um pouquinho mais vermelho, nossa, já fiquei super chateada.
Não chegou nem a ser assado. Mas o meu filho, não quero que ele tenha nada. Eu não quero
que ele tenha nem assadura. É bem difícil”.

III. Iris – CE

 Gestação

Iris relata que teve descolamento do saco gestacional no início da gravidez e que o
período de gestação foi bem conturbado, mas que apesar de ter tido uma gravidez muito ruim,
ela gostava muito, principalmente após descobrir o sexo, diz que foi muito legal, a melhor fase.
Conta que conversava muito com o bebê, que sempre achou que seria menino, comprou
sapatinhos e que quando descobriu ser uma menina ficou surpresa, mas feliz. Iris conta também
que os últimos dias de gestação foram bons, pois esteve próxima de sua mãe: “Eu já estava
preparada psicologicamente para menino. Eu já tinha até comprado o sapatinho de menino. E
aí vem uma menininha. Mas até parece um menino de tão terrível. Aí foi muito legal essa fase.
E os meus últimos dias antes de eu ter a nenê, foram muito bons. Apesar dos problemas que eu
estava passando, minha mãe estava aqui em Guarulhos. Minha mãe mora perto da USP no
Butantã. E aí tinha umas amigas dela também, então essas últimas semanas elas me
acompanharam bastante e eu estava super saudável”.

 Parto

Sobre o momento do parto, Iris relata que teve contato com a filha apenas 7 horas após
o nascimento. Diz que esteve com as mãos presas durante todo o procedimento, que não
autorizaram a participação do pai, que foi tudo muito rápido: “Aí terminou, eu vi a nenê. Não
peguei ela. Não colocaram no peito, nada. Eu estava amarrada. E logo ele saiu e eu não vi mais
ninguém. Aí fecharam. E eu fui para sala de recuperação. Aí, só não podia levantar a cabeça. E
pronto! A médica que fez o parto não conversou comigo, não nada. Não sei se tinham muita
coisa para fazer”. Além disso, afirma não ter tido nenhum amparo de ninguém no hospital sobre
a amamentação, o que a proporcionou dificuldades durante a volta pra casa.
64

 Pós-Parto

Iris conta que, 12 dias após o nascimento a filha começou a apresentar febre e precisou
ficar internada alguns dias: “Aí voltou tudo de novo o pesadelo”. Conta que houve erro de
diagnóstico médico, pois a informaram que a bebê estava com bactéria no sangue, mas que na
verdade era desidratação devido a dificuldades na amamentação. Fala que brigava muito com a
médica, que questionava, pedia para ver os exames e que, após desconfiar do erro de diagnóstico
(alertada por algumas pessoas da equipe), optou em assinar a responsabilidade de alta da filha,
mesmo sem a prescrição médica.
Diz que o hospital não deu nenhum respaldo também durante a internação e que ela se
recusava a dar mamadeira para a bebê e relata: “E, assim, eu recusava o máximo dar uma
mamadeira para ela. Eu falava: eu tenho leite. Não é possível que eu tenho que ir lá comprar
uma coisa artificial, que não vai fazer bem para ela [...] eu fiquei completamente transtornada.
Psicologicamente muito mal, porque já veio do parto. Aí vem uma mulher me ajudar, e ela dizia
que minha filha não ia mamar no peito, que ela não sugava. E eu pensava como assim, ela
sugava uma mamadeira e não sugava o peito? Não faz sentido”. E conta que em seguida,
demorou um mês até conseguir regularizar a amamentação com o auxilio de banco de leite e de
consultora em aleitamento materno, que foi muito difícil, mas que ela persistiu até conseguir,
pois não “abria mão” da amamentação exclusiva no peito até os seis meses da filha.
Iris conta que a relação com a filha com a volta pra casa e após o divórcio é ótima, que
não tem problemas e que ela é uma filha incrível: “Mas ela é ótima. Ela é cheia de saúde. Ela
não fica doente. Muito esperta, muito, muito, muito, ao extremo [...] ela é muito boazinha [...]
eu falo que ela é assim pra suprir o meu parto. Mas é muito triste isso. Se um dia eu engravidar
de novo, eu quero ir pra casa de parto”.
Além das questões médicas, ela relata por diversas vezes as dificuldades com a sogra
em relação à criação da filha. Segundo ela, a sogra pediu demissão do trabalho para ficar
vigiando a forma como Iris cuidava da filha, pois na época moravam na mesma casa. Diz que
a sogra sempre dizia saber de tudo e que tinha muito ciúme, pois sempre desejou ter filha
mulher, mas teve apenas filhos homens.
Quanto ao ex-marido, ela relata que se entendem bem com os cuidados da filha, que ele
ajuda muito e deixa que ela, enquanto mãe, decida qual a melhor forma de organizar as visitas
na casa dele, bem como os cuidados necessários com a bebê, como por exemplo alimentação,
sono, vacinas, escola, etc. Completa dizendo que não quer que a filha perca o convivio com o
pai, que estimula o máximo que pode o vínculo entre os dois, pois: “se eu não posso confiar na
65

pessoa com quem eu fiz um filho, no próprio pai dela, eu vou confiar em quem? Se eu coloco
isso na minha cabeça e ele está disposto a me ajudar dessa forma, é perfeito para ela, não é para
mim. E essas questões pessoais, as pessoas tem que entender que ele não faz nada para mim. É
para ela, entendeu? E vai indo. vai indo”.

4.1.4 Discussão - Categoria 02 - Exercício da Maternidade

É importante ressaltar que as mulheres não nascem mães, mas tornam-se uma. Ainda
que haja diversas idealizações, para algumas mulheres a chegada de um filho pode significar
uma carga emocional significativa e difícil de suportar. Desta forma, enquanto a maternidade
pode ser prazerosa e vivida com alegria, pode também ser um momento de sofrimento, sintomas
depressivos ou até mesmo um momento de desorganização interna (Moraes & Crepaldi, 2011;
Aguiar, Silveira, & Dourado, 2011). Estes sentimentos contraditórios são compreensíveis e
justificados pela visão de maternidade sustentada pela sociedade. Publicamente, ser mãe é
“ganhar um bebê e uma família”, é uma “dadiva, um milagre, uma benção” (Badinter, 1985),
mas não é senso comum, pelo menos de maneira explícita, tudo aquilo de que a mulher ou o
casal tem que abrir mão. Alteram-se aspectos como liberdade, suprimento de necessidades
pessoais, relações sociais, diversão, trabalho, etc., para os quais, muitas vezes, este casal não
está preparado. Em algum grau pode ser observada essa ambivalência em todas as mulheres
deste estudo, por exemplo: Maya ao dizer sobre a amamentação e quando diz que mudou de
forma positiva com a maternidade, mas que não quer ter outro filho, pois é muito desgastante;
Gaia quando relata a descoberta da gestação, a volta pra casa, relatando sensações de ainda não
acreditar que tudo aconteceu e Iris quando relata sobre exercer a maternidade sem a presença
de um cônjuge, que hora aprece como fator positivo, hora como fator negativo.
Estes sentimentos ambivalentes no puerpério são amplamente discutidos na literatura
(Bortoletti, 2007) e alguns exemplos são: oscilação entre querer e não querer a gravidez e o
medo de abortar e perder o bebê são frequentes; querer ser mãe, mas sentir que não está
preparada; ter medo do bebê não ter saúde; de não aguentar o parto, entre outros. As oscilações
de humor surgem com frequência assim como as primeiras modificações e desconfortos no
corpo como as náuseas, sono, cansaço, os desejos e aversões por alguns alimentos (Maldonado,
1985; Sarmento & Setúbal, 2012). Entretanto essa experiência nem sempre é acompanhada de
momentos de felicidade e alterações emocionais durante a gravidez e no pós-parto são
frequentes e podem comprometer a saúde da mulher e do seu bebê (Marini, 2014).Quando
olhamos para o momento da gestação, as três tiveram preocupações físicas ou emocionais
durante o processo: Maya por ter retirado células cancerígenas, ter apesentado descolamento de
66

placenta e ter o sexo do bebê diagnosticado errado; Gaia devido ao bebê estar pélvico e ter mais
riscos do parto vaginal e Iris devido a também ter apresentado descolamento de placenta e estar
passando por complicações no relacionamento. Quanto à Maya e Iris, as duas relatam que essas
circunstâncias tiveram influência na vinculação com o bebê. Situações complicadas como as
descritas acima podem favorecer o surgimento e ou aumento de sintomas depressivos. Por outro
lado, mesmo se houver uma gestação tranquila e saudável, a mãe poderá não se adaptar ao
nascimento do bebê, pois, embora o momento da maternidade seja associado a sentimentos
positivos, ela pode ter dificuldades e incapacidades para desenvolver o que é adequado em
relação a seu papel de mãe (Campos & Rodrigues, 2015).
Maya apresenta questões importantes quanto à vinculação com o bebê. Em um primeiro
momento, a dificuldade em aceitar a gravidez, que ela diz ter estragado os planos que tinha. Em
seguida, cirurgia para retirar células cancerígenas e descolamento de placenta, que trouxeram
medos, fantasias e angústias quanto a possibilidade de perder o bebê e, por fim, o diagnóstico
errado sobre o sexo da criança, que ela diz ter sido um momento muito difícil, de muito
sofrimento. Todos esses fatores auxiliaram para que Maya apresentasse maior distanciamento
do vínculo com o filho, tendo em vista todo sofrimento psíquico causado por esses fatores. As
alterações físicas e psíquicas podem ter grande repercurssão na saúde mental da mulher, pois
ela precisa lidar com muitas mudanças e essa nova realidade que, em alguns casos, pode gerar
dificuldades de adaptação, além disso, deve-se considerar que após todas estas transformações
a mulher precisa, ainda, adaptar-se a uma nova realidade que é a chegada do bebê (Maldonado,
1985; Marini, 2014).
Gaia aponta sobre os medos e preocupações de saber que o bebê estava pélvico, mas
não diz que esse fator teve influência em outros, apenas na decisão sobre o protocolo do parto.
Já Iris, assim como Maya, relata que as dificuldades físicas e conjugais influenciaram em
diversas decisões acerca da maternidade. Diz que a gestação foi muito difícil por questões
médicas e familiares, mas que ainda assim gostava de estar grávida. Ela apresenta em seu relato
sentimentos de solidão durante a gestação. Aponta o apoio da mãe em alguns momentos, mas
que todas as decisões importantes ela tomou sozinha.
Sobre o momento do parto, Maya apresenta distanciamento afetivo e ausência da
promoção do vínculo pela equipe, mas diz que ver o filho foi muito bom, ainda que não o tenha
pegado no colo. Gaia teve o vínculo na primeira hora de vida promovido pela equipe logo com
o fim do trabalho de parto. O bebê foi para o colo de imediato e ela já o colocou para amamentar,
além de ter tido a participação ativa do pai, que cortou o cordão umbilical, fatores esses que
podem ser benéficos para o vínculo mãe-bebê e a construção da parentalidade. Iris, assim como
67

Maya, não teve a vinculação promovida durante o parto e nem o estímulo a amamentação, que
também é facilitadora da vinculação mãe-bebê. Apesar de ter que lidar com todas essas
experiências durante a gravidez e no momento do parto, é após o nascimento do bebê que se
configura uma mudança brusca onde o estado de união e dependência de duas pessoas se
transforma e ocorre a separação que dá origem a duas pessoas diferentes. Essa passagem de um
estado para outro se caracteriza como um momento delicado, isto significa que antes existia
uma mulher gestante e agora existem uma mulher e um bebê. A mulher precisa elaborar a
função de enxergar seu filho como um ser único, diferente dela, e o parto é o momento da
separação. Se a mulher não conseguir fazer a diferenciação ela pode sentir essa separação como
a perda de uma parte dela (Maldonado, 1985).
No período do pós-parto, Maya e Gaia apresentam sentimentos ambivalentes sobre a
maternidade e relatam sensações advindas do período de “baby blues”, ainda que não as
denominem como tal. Este é um fenômeno bastante comum e tende a diminuir a partir do
décimo dia após o parto e não chega a comprometer a saúde da mulher ou a relação com o seu
bebê (Yamaguchi, Pita, & Martins, 2007). Maya afirma que passou por muitas mudanças,
principalmente em responsabilidades e Gaia fala sobre a perda de autonomia e da importância
de grupos de pós-parto para auxiliar a lidar com todas as transformações que a maternidade
proporciona. Iris direciona o seu discurso em grande parte para as dificuldades familiares e as
vivências traumáticas do parto. Diz que a decisão da separação se deu em decorrência da filha,
pois percebia que as brigas do casal a estavam afetando.
Na atualidade os diversos papéis delegados à mulher sobrecarregam a gestante, que
mesmo grávida não consegue deixar de realizar suas tarefas habituais. Essa sobrecarga pode
causar estresse e promover desequilíbrio emocional na mulher gestante e, consequentemente
no desenvolvimento do seu bebê (Saraiva, 2007). Normalmente isto ocorre porque as mulheres,
desde o período da infância são preparadas para serem amáveis, compreensivas, tranquilas,
acolhedoras e essas qualidades são cobradas em diversos momentos da sua vida. No entanto,
espera-se um modelo de “mulher-mãe” perfeita, um modelo de maternidade que foi criado ao
longo dos anos e que pode gerar um alto custo emocional na vida das mulheres, pois, quando
elas não conseguem realizar tal tarefa podem sofrer preconceitos e serem excluídas da sociedade
(Junior, Silveira, & Gualda, 2009).
68

4.1.5 Categoria 3 - Escolha da Via de Parto

I. Maya – CE

 Gestação

Maya afirma que a escolha do parto deu-se já no início da gestação, por indicação
médica devido ao descolamento de placenta e a retirada de células cancerigenas, porém informa
também que, mesmo se não tivesse indicação médica, ela teria optado pela cirurgia cesariana
devido ao medo da dor do parto vaginal. A cirurgia foi agendada com dois meses de
antecedência.

 Parto

Maya conta que estava tranquila no dia do parto, que os médicos até ficaram surpresos
da calma que ela tinha, pois a maioria das mães ficam muito nervosas. Além disso, ela optou
por assistir a todo o processo cirurgico: “E foi assim, eu assisti toda a minha cirurgia pelo
espelho eu pedi para ver e vi do começo ao fim. Vi eles cortando, costurando, tudo”. Diz que
foi tudo bem e que o parto foi muito tranquilo, assim como a recuperação.

 Pós-Parto

A participante não relata influências do parto no pós-parto.

II. Gaia - PH

 Gestação

Gaia começa o relato contando sobre quando descobriu que seu bebê estava na posição
pélvica. Diz que antes de engravidar, sempre quis ter parto normal e que, em seguida, descobriu
o que é o parto natural e que era esse seu desejo. Ela conta que já estudava sobre parto antes de
engravidar. Que pelo que ela achava, iria demorar para engravidar, mas que “veio antes da hora”
e, frente a isso, quando soube da gravidez começou a se dedicar mais nas pesquisas que fazia e
buscar informações sobre o parto com assistência humanizada. Com isso buscou médicos que
fazem esse tipo de assistência e escolheu a que mais se identificou. Tinha como equipe uma
obstetra, uma obstetriz, uma doula e uma neonatologista.
Ao final da gestação, o bebê não virou em posição cefálica e seria necessária uma
decisão, a qual ela relata ter sido muito difícil. A médica a informou que não tinha experiência
69

com o parto pélvico (que requer cuidados diferenciados na hora do parto) e que se Gaia optasse
em ter o parto com ela, seria cesárea intraparto. A outra opção seria ter o parto natural, porém
com outro obstetra especializado em parto pélvico.
Ela optou por passar em uma consulta com o outro médico antes de decidir e que ele a
explicou todas as diferenças entre os dois tipos de parto (pélvico e cefálico), os riscos, tudo que
poderia acontecer em cada opção. Em seguida, conta da sua decisão: “Então eu decidi numa
terça-feira à noite que ia ser o parto pélvico mesmo, natural mesmo, que eu não ia fazer Cesárea.
Pois eu tenho pavor de Cesária, de cirurgia, de anestesia. E foi isso. E eu decidi isso numa terça
à noite e na quarta de manhã eu liguei para o médico (...). Conversei com ele, ele convidou a
minha obstetra para acompanhar o parto(...) E aí eu decidi na terça à noite e na quarta conversei
com ele e na quinta o meu filho nasceu. A médica falava: é só você decidir que ele vai nascer”.

 Parto

Gaia conta que na hora que chegou no hospital, não havia a sala delivery disponivel,
que é a sala utilzada para partos naturais e que precisou ir para uma sala cirurgica. Diz que a
melhor posição para um parto pélvico é de quatro apoios, que foi assim que decidiu ficar e a
equipe não interferiu. A equipe sugeriu que ficasse na maca ou no chão, ela optou pela maca.
Conta que todo o processo de trabalho de parto durou quatro horas, da chegada ao hospital até
o nascimento.
Contou que, na hora, o médico estava em outra cidade e que iria demorar a chegar. A
obstetra ficou apreensiva, pois se ele não chegasse teria que fazer a cesarea e não era o que Gaia
queria, porém Gaia diz ter ficado tranquila, que sabia que daria tudo certo e que, caso o médico
não chegasse e tivesse que fazer a cesarea, por ela tudo bem, pois mesmo com a cirurgia seu
filho iria nascer na hora certa. Ela diz: “Então eu estava me sentindo bem, eu sabia que tudo ia
dar certo, não sei porque. Mesmo tendo um parto com um pouco mais de risco, eu estava tão
convicta que aquilo ia dar certo. Foi rápido e deu tudo certo. Então, eu me sentia tranquila.
Todas as pessoas que eu queria estavam ali”. O médico chegou a tempo e duas horas depois seu
filho nasceu, ás 23 horas.
Sobre a experiência e a dor do parto ela conta: “Tudo foi do jeito que eu queria que
fosse. Nada saiu do controle. Então para mim foi perfeito, porque eu fiquei com uma roupa que
eu queria, eu queria ficar só de top... Fiquei um pouco na água, depois fiquei um pouco na maca.
E assim foi, eles me acompanhando. Eu me senti tranquila o tempo todo. Claro que a dor ,
Nossa é muita dor mesmo. Mas é uma dor que você sabe que não é uma dor de doença. É uma
70

dor que vai acabar, que você não sabe quanto tempo vai durar… então eu fui aguentando firme,
aguentando firme até que ele nasceu”.
E completa dizendo: “Olha, no momento do parto eu não sabia, estava doendo muito,
mas eu não sabia que entrar nesse negócio da partolandia eles falam, né. Eu não sabia… Será
que existe mesmo? Então, no começo eu estava bem consciente, enquanto estava na sala do pré
parto estava bem consciente. E aí chegou uma hora que eu estava inconsciente. Se eu posso
dizer assim, não sei se eu posso, eu estava ali, mas não estava ali. E foi a hora que eu sai da sala
de pré parto e fui para sala de cirurgia. Eu já não me lembro, eu não me lembro exatamente
como eu sai de lá, eu só sei que foi na maca que eu fui para lá. E só. Eu me lembro de alguns
insights do parto”.

 Pós-Parto

Gaia traz em seu relato as questões hormonais do pós-parto, envolvidas no processo de


parto natural: “eu não acreditava que ele já tinha nascido. Foi um negócio muito, muito doido,
assim. Você ainda tem muita oxitocina no corpo, então ainda tem muito amor. Você não quer
sair de perto, você não quer” e relata que sua recuperação foi muito rápida, ficando apenas um
dia no hospital após o parto.

III. Iris – VO

 Gestação

Iris aponta diversas situações que ocorreram durante a gestação que influenciaram na
sua escolha pela via de parto. Logo de início, já houve a dificuldade em encontrar um médico
que fizesse o parto vaginal, que era sua escolha inicial. Ela relata que trocou de obstétra cerca
de seis ou sete vezes durante a gravidez, pois era desestimulada durante as consultas a ter o
parto da forma que gostaria. Quando conseguiu uma médica que aceitou fazer o parto vaginal,
a mesma deixou de atender o convênio que ela possuia e, ao oitavo mês, ela ficou sem obstetra
novamente e que, desta forma, começou a ser acompanhada por plantonistas: “chegou no final
e não tinha um médico que me acompanhou [...] Começou por eu não ter tido um pré-natal
bom. Então, eu acho que isso influenciou muito. Você passa com o médico, aí você para de
passar com esse e começa a passar com outro. Aí você não tem mais, passa com outro. No final,
eles arrumam o que sobrou e vai embora. Eu acho que o pré-natal está muito ruim. As ideias
que eles já colocam na cabeça das gestantes, da família, é muito ruim, porque é isso mesmo.
71

Eles vão lá fazer o parto e ganham o dinheiro deles. É o que eles acham, que o mundo é dos
espertos. Você acaba fazendo mal para o monte de gente”.
Durante uma das consultas a médica, segundo ela, a forçava a fazer a cirurgia cesariana,
dizendo que se ela esperasse muito a filha poderia morrer e, em determinado dia, a avisou que
o parto já estava agendado: “Até o dia que ela marcou minha cesárea e falou que estava
marcado. Eu saí do hospital, eu estava sozinha. Eu saí do hospital desesperada. Eu não sabia o
que fazer. Eu não sabia qual era o procedimento do hospital. Foi lá e marcou uma cesárea. Eu
achava que ficava agendadinho lá e eu tinha que ir naquele horário. Mal sabia ela que parecia
frango de padaria. Toda hora entra alguém e sai. Aí eu chorava muito porque eu não queria.
Fiquei assustada”.
Após esse episódio, ela diz ter conversado com uma amiga que era doula, que sugeriu
ficar em casa com ela no início do trabalho de parto e que depois iriam ao hospital, mas que seu
marido na época não concordou com a ideia, e que nesse príodo eles já estavam para se separar,
então foi difícil tomar a decisão devido à situação a qual o relacionamento se encontrava. Em
seguida, ela deixou novamente de passar com a médica do plantão e, ao conversar com algumas
enfermeiras do hospital, decidiu pela indução do parto devido ao fato de ter completado 41
semanas gestacionais.

 Parto
Iris conta que iniciaram a indução às 8h00 da manhã e que, logo que foi internada para
a indução, já não a deixaram mais ver o marido. Diz que foi colocada em uma sala escura, com
um banheiro fedido, parecendo filme de terror. Quando ela pedia pelo marido diziam que
chamariam em breve, mas nunca chamavam. A médica que a acompanhava, ao fazer o exame
de toque a incentivava a fazer a cirurgia: “E ela veio, fez e disse assim: mãe, você tem certeza
que você quer fazer isso? Eu disse: tenho. Ela falou: por que você não desiste disso e vai logo
fazer cesárea? Aí eu já percebi qual é o esquema. Eles vão me massacrar o dia inteiro. E foi. Só
que o tempo foi passando e parecia que eu estava muito ansiosa. Eu pedia para ver meu marido
e eles não deixavam. Eles falavam que iam chamar, mas não chamavam. Era um clima muito
chato, assim. E teve uma hora que eu fiquei desesperada e falei que queria falar com ele, eu
chorava e eles diziam que não podiam chamar” e complementa: “Às vezes eu chamava e não
vinha ninguém. E sem comer! Num parto normal você pode comer. Eles já estava me
preparando para a Cesárea. Na hora que ela veio fazer o primeiro exame de toque ela falou, eu
pensei, não vai rolar. Eles fazem de tudo, E nas condições físicas de uma mulher grávida,
72

condições físicas, nas condições psicológicas, é muito fácil… Aí você deixa ela sem amparo
nenhum, sem o suporte da família [...] Não acho que é normal que eles fizeram”.
Sobre o local em que estava, ela diz: “aquilo não é ambiente de parto! Acho que o parto
é uma celebração, não uma cirurgia. Foi isso que eu coloquei na minha cabeça. A gente ganha
o filho amarrada, depois a gente fica sete, oito horas sem a criança. A criança volta sorrindo,
cheia de leite, né? Porque não é possível que aquela criança ... Aí eu fui pra sala de cirurgia seis
e meia. Que foi a hora que eu não aguentava mais e eu falei: eu quero fazer a cesárea! Aí
buscaram meu marido. Aí quando eu vi ele, eu chorava muito, muito, muito. E na hora eu me
sentia muito fracassada. Mas eu via assim, pra mim, ali naquele momento, eu não tinha
condições para mais nada [...] O ambiente em que me deixaram era para me forçar a decidir
pela cesárea. Não tenho dúvida disso!”.
E, desta forma ela optou pela cirurgia cesariana. Ainda assim, após entrar na sala de
cirurgia ela relata ter ficado deitada esperando por duas horas, pois era dia 30 de dezembro e só
havia um pediatra de plantão no hospital, que precisou atender uma emergência e não pdoeriam
começar o parto sem ele. Nesse período o marido dela ficou esperando no pré-operatório sem
qualquer explicação do motivo da demora. Após a cirurgia, na sala de pós-operatório ela conta:
“depois que eu ganhei ela, eu fiquei deitada na sala de recuperação. De um lado tinha um cara
que perdeu um braço, do outro um cara que perdeu a cabeça, assim, está todo arrebentado. Isso
não é normal. Sabe aquele ambiente? Aquele não era o ambiente. Tudo bem que era uma
cirurgia, mas aquele não era o clima de parto”.
Sobre os sentimentos que teve sobre o parto odiou, que foi horrível e que se sentiu
violentada: “Me senti psicologicamente violentada, não fisicamente, mas psicologicamente sim
[...] Eu odiei. Eu conto da minha experiência para todas as pessoas possíveis que que der pra
tentar mudar [...] eu odiei muito. Todo mundo que fala que vai fazer cesárea, eu falo da minha
experiência pra todo mundo. Assim, apesar de tudo isso, eu aprendi muita coisa [...] eu falo que
o próximo filho eu vou tentar ter na casa de parto. Ou senão, vou pro hospital público. Porque
não tem condições [...] eu acho que tinha que ser uma coisa mais leve, eu acho que o clima em
hospital é muito pesado. Parece um frigorífero o negócio. Vai, pega, abre, tira. Eu gravei o
vídeo do meu parto e assim, ah é muito ruim. Eu achei um clima péssimo. É só bonitinho quando
ela está assim deitadinha”.
Sobre a cirurgia, ela relata ter ficado agoniada e muito nervosa, pois estava o dia inteiro
sem comer e beber nada, ficou com as mãos amarradas durante todo o procedimento, não pode
segurar a filha, ficou sem acompanhante, dentre outros fatores que ela atibuiu aos sentimentos
negativos frente ao parto: “O parto foi muito ruim, porque eles forçam mesmo. Eu não vi uma
73

pessoa naquele hospital que teve parto normal. Eles não querem fazer e quando fazem é: cala
boca, para de gritar”.

 Pós-Parto

Iris afirma que a falta de suporte (tanto hospitalar, quanto do ex-marido) durante a
gestação e o parto influenciaram no puerpério, principalmente na amamentação, o que
contribuiu para que a bebê desidratasse e fosse necessário internação após 12 dias do
nascimento.
Ela reforça: “É que eu já estava muito frágilizada no final. Com minha vida pessoal…
foi muito ruim. Quando a gente não tem muito suporte… Não é: ai eu quero fazer vou lá e faço,
não! Você tem um barrigão, tem uma criança em jogo. Eu já tinha tido todos aqueles
descolamentos e tal e para mim foi muito ruim tudo isso. Eu não acho que tenha sido, que tenha
sido o momento certo, sabe assim, que deveria ter sido daquela forma. Eu acho que eles fazem
muita pressão psicológica com todo mundo desde o pré-natal. A partir do momento que o
médico vira para você diz não quero fazer parto natural. Então assim, se o médico que estudou
para isso, quem sou eu? É muito triste. Eu achei muito triste e aí a gente vai escutando. E aí às
vezes a gente até quer conversar. E só falam assim: não, mas o médico falou. Então não tem
como ir contra”.
E, por fim, diz que tem uma filha incrível e que o amor que sente pela filha faz com que
ela esqueça as coiosas que vivenciou: “Mas ela é ótima. Ela é cheia de saúde. Ela não fica
doente. Muito esperta, muito, muito, muito, ao extremo [...] Mas ela é boazinha. Eu falo que o
jeito dela foi para suprir o meu parto. Mas é muito triste isso. Se um dia eu engravidar de novo,
eu quero ir pra casa de parto. E se eu não conseguir ir para casa de parto, eu vou para um hospital
público. Porque no privado não faz.

4.1.6 Discussão - Categoria 3 - Escolha da Via de Parto

A partir das primeiras consultas do pré-natal entende-se que a mulher já tem condições
de elaborar uma série de fantasias a respeito da gravidez. Nesse momento já ocorreram algumas
decisões importantes e conscientes como, por exemplo, continuar com a gestação. Esse é um
período de muitas dúvidas e ansiedades e a equipe médica precisa acolher e permitir um espaço
para envolver-se no processo gravídico-puerperal, favorecer um equilíbrio apropriado para a
chegada de um novo membro na família. Além do atendimento médico, é importante que a
mulher tenha acompanhamento de uma equipe multiprofissional que dará todo suporte
74

necessário na busca de informações seguras, bem como a prepara para as mudanças físicas e
psíquicas decorrentes desse período (Sarmento & Setúbal, 2012; Romagnolo et. al., 2017). Para
envolver-se neste processo e ajudar a futura mãe, é necessário que tanto o obstetra quanto a
equipe multidisciplinar tenham sensibilidade e disposição para aceitá-la, ensiná-la, acompanhá-
la e compreendê-la. Esse processo implica estar ao seu lado e fornecer assistência sempre que
necessário, entender seus anseios, medos, aspirações, sonhos, desejos, revoltas, dores e
fantasias durante a gestação (Nedder, 2007). Este trabalho é extremamente importante porque
os fatores psicológicos são decisivos para a qualidade do desenvolvimento da gestação e do
bebê, assim como a relação que a mulher e os familiares construirão com a chegada do novo
membro na família, pois um ambiente favorável reforça os vínculos familiares e dão condição
básica para o desenvolvimento do ser humano (Brasil, 2005).
Sobre a gestação, Maya afirma que não se interessou em pesquisar, que a via de parto
foi uma decisão médica que coincidia com a vontade dela. Arrais (2005) e Serrurier (1993),
afirmam que as mulheres e a sociedade acreditam, ainda hoje, que a maternidade é instintiva, e
isso implica um comportamento inerente, sabido e já conhecido de todas as mulheres, que não
carece de preparação ou aprimoramento. Assim, a noção de instinto garante ao mesmo tempo
o pressuposto de uma “natureza feminina” como “natureza materna” que seriam suficientes
para dar conta de uma função social tão complexa como a maternidade.
Figueiredo et al. (2010) acreditam que o aumento de informação, o apoio e a preparação
durante a gestação contribuam para o aumento do bem-estar da mulher no final da gravidez,
evidenciando-se uma menor ocorrência de problemas psicológicos e de depressão pós-parto.
No parto de Gaia, ela buscou informação, pesquisou, estudou, leu livros, viu filmes e inclui o
marido na tomada de decisão junto com ela, fator esse que lhe deu segurança em enfrentar os
conflitos e optar pelo parto natural com assitência humanizada, ainda que o bebê estivesse
pélvico, enquanto que Iris relata não ter tido muita opção de escolha, principalmente pela falta
de suporte. Ela possuía algumas informações, mas não teve apoio familiar e nem da equipe
médica para seguir com a sua vontade. Desta forma, as intervenções feitas ainda na gestação
funcionam como suporte a fim de conter as ansiedades, proporcionar trocas de vivências e
reflexões sobre o ciclo gravídico-puerperal. O fato de falar, receber informações e refletir sobre
as mesmas favorece a redução dos medos e da ansiedade relativos a esse período, tornando
possível a percepção de suas modificações, facilitando o processo de adaptação (Nascimento,
2003; Zimerman & Osório, 1997).
No que diz respeito ao parto em si, Maya relata o parto com frieza e distanciamento
afetivo. Gaia relata de forma emotiva, chora ao contar e relata ter tido participação ativa durante
75

todo o processo, bem como uma equipe e o marido de suporte. Para Iris, o parto foi um momento
de sofrimento e traumático; ela relata com pesar, contou tudo de forma detalhada quase como
quem está revivendo as sensações e emoções que sentiu quando tudo acontecia. Não podemos
nos esquecer de que, apesar de a gravidez ser considerada um período de maior vulnerabilidade,
o parto sem dúvida é o momento mais delicado, pois, marca o início de um conjunto de
mudanças significativas. É como se fosse um “salto no escuro”, ou seja, um momento
inesperado e misterioso sobre o qual não se tem controle (Maldonado, 1985). O momento do
parto é, portanto, o maior em vivências, expectativas e as fantasias dessa fase incluem o medo
de não identificar o trabalho de parto e não procurar ajuda no momento certo. A mulher teme
não ter condições de suportar a dor e de não ser capaz de fazer seu bebê nascer, além do mais,
a mulher encontra-se num momento delicado e vulnerável, surgem os desejos e fantasias em
relação aos tipos de parto e teme os mais diversos procedimentos médicos que possam lhe
causar vivências negativas (Sarmento & Setúbal, 2012). Para que a mulher não sinta o momento
do parto como algo “pavoroso” é importante que ela tenha à sua disposição os recursos que
poderá utilizar nesse processo e assim facilitar o trabalho da equipe médica (Bortoletti, 2007).
A presença do “pai” tanto nas consultas do pré-natal como no momento do parto pode trazer
tranquilidade e ela sentir que não está sozinha. Além disso, cria condições favoráveis para que
o homem assuma seu papel nesse acontecimento tão importante na vida do casal. Uma
intervenção multidisciplinar durante a gestação pode auxiliar como medida preventiva nesse
processo de fortalecimento do casal para a contrução da parentalidade (Bortoletti, 2007;
Romagnolo et. al., 2017).
No pós-parto, Maya não apresenta relatos sobre a influência da via de parto em aspectos
do puerpério. Gaia relata sobre a influência dos hormônios e que teve uma recuperação rápida.
Já Iris aponta que teve falta de incentivo da equipe em facilitar o vínculo familiar, dizendo
inclusive que a conduta médica muitas vezes é responsável por mudar o rumo de muitas vidas.
Esse relato de Iris é confirmado pela literatura científica no que diz respeitos a partos
traumáticos. Em uma revisão de literatura elaborada por Zambaldi, Cantilino e Sougey (2009),
observou-se que o parto traumático foi um evento frequente, ocorrendo em cerca de 30% das
mulheres analisadas no estudo. As autoras afirmam que o parto traumático pode trazer
repercussões negativas à vida psíquica da mulher, dentre elas: desapontamento, perda do sonho
contruido durante a gestação para o momento do parto, julgamentos de si própria como
inadequada e incapaz; situações essas capazes de alterar o planejamento familiar em o casa não
desejar ter mais filhos devido ao medo do parto, prejuízos com a relação mãe-bebê, dificuldades
76

no aleimtamento materno, alterações no relacionamento conjugal, bem como desenvolvimento


de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) no pós-parto.
Iris diz sobre a falta de autonomia nas tomadas de decisões e na falta de espaço em
expressar suas vontades, desejos e opiniões. É importante ressaltar que relatos de parto,
especialmente nos casos de mulheres que passaram por violência obstétrica, são fundamentais
para esclarecer dúvidas, no entanto, por mais que se prepare para um parto, ele tem seu próprio
caminho. Os autores apontam que os acontecimentos que envolvem o processo de parto e
nascimento no contexto hospitalar muitas vezes podem marcar uma atmosfera de risco,
sofrimento, insatisfação, frustração e violência, dificultando à mulher e sua família transformar
essa experiência em algo positivo, gratificante e saudável (Souza & Dias, 2010). O Programa
de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) têm como uma de suas ações previstas o
aendimento com equidade e integralidade em todas as fases do ciclo vital da mulher (Brasil,
2012), porém o que pode ser observado conforme os relatos das participantes é que, por muitas
vezes, essas ações não são colocadas em prática pelos serviços de saúde.
Os aspectos emocionais da gravidez, parto e puerpério são altamente reconhecidos e
somente as condutas médicas não são suficientes. A equipe de saúde deverá olhar para cada
paciente, com sua história de vida, seus medos, ansiedades e nessa interação do profissional de
saúde com a gestante, pode ajudar e fornecer acolhimento, alívio necessário e principalmente
prevenir problemas mais graves, como por exemplo, a Depressão Pós-Parto (Sarmento &
Setúbal, 2012). O médico obstetra e os demais profissionais que atendem a mulher durante o
período gravídico precisam estar preparados para lidar com os aspectos emocionais individuais
do gestar, do parir e do puerpério. Quanto mais disposto o médico estiver para suportar essas
mudanças psicológicas que acontecem não só com a mulher gestante, mas também com o
parceiro, mais condições ele terá para entender e ajudar no que for necessário. Se a gestante
confia no seu obstetra e essa relação for significativa, a futura mãe obtém conhecimento das
mudanças que ocorrerão com ela e com o filho que está dentro do seu ventre (Cia & Balau,
2007).
77

4.1.7 Categoria 4 - Autoimagem

I. Maya – CE

 Gestação

Maya relata sentimentos importantes sobre a autoimagem durante esse período: “No
começo eu me sentia bonita, mas no final me sentia horrível, porque minhas roupas não me
serviam. Eu chorava. Vinha na casa da minha mãe pegar as roupas dela. As roupas não
entravam, calça não entrava. Eu colocava uns vestidos que pareciam da minha vó. Eu ficava
muito chateada. Aí eu tinha que sair pra algum lugar aí eu não tinha roupa. Nossa eu ficava me
sentindo horrorosa, horrível”. Além disso, diz sobre as alterações de peso que teve durante a
gestação e que, devido a essas mundanças, a lembrança mais feliz que possui é de quando já
estava indo para o hospital para o parto.

 Parto

Quanto ao parto, Maya relata que possuia medo da dor do parto normal, por isso optou
pela cesarea. Assim, estava segura e tranquila, vivenciando então de forma positiva e segura.

 Pós-Parto

Conta que voltou ao peso rapidamente, mas que assustou-se com a barriga: “Eu achava
que a barriga voltava ao normal assim que ele saísse. Mas não, a barriga fica imensa por um
bom tempo. Isso demorou quase um ano pra voltar ao normal.
Logo depois da gravidez não me sentia bonita. Eu me sentia pior ainda. Eu não tinha
tempo. Ainda não tenho. Depois que ele nasce eu não tinha tempo pra nada. Não tinha tempo
de arrumar o cabelo, fazer a unha. Pra tomar banho tinha que ser muito rápido, tudo tem que
ser muito rápido. Então você acaba ficando mais feia do que era antes. Essa é a verdade”.
No aspecto emocional, ela relata sentimentos de menos valia e de solidão, sentimentos
esses que melhoraram com a volta ao trabalho: “Eu voltei a trabalhar e foi quando eu melhorei.
Porque você sai de casa, tem um tempo pra você. Querendo ou não, um tempo longe do filho
faz bem pra você. Você passa vinte e quatro horas grudado nele, se dedicando pra ele e você
não tem tempo pra você. Então isso é necessário pra você”.
78

Há também a fala de que tornou-se uma pessoa mais reponsável devido à maternidade,
que mudou muito a sua forma de pensar muitas coisas. Diz que é uma experiência positiva,
porém desgastante e traumatizante.

II. Gaia - PH

 Gestação

Gaia diz que estava muito pesada, que engordou vinte e dois quilos. Que já estava muito
cansada, que fez repouso no final da gestação, pois havia perdido liquido e que não podia fazer
esforço. Fala da dificuldade que era estar em casa e que fazia exames semanalmente. Conta que
mudou a alimentação para poder ter aumento do líquido amniótico, diminuir inchaço e ter mais
disposição, que era pouca devido ao aumento de peso e o repouso. Diz que quando a barriga
começou a crescer, ficou muito grande e isso tornou mais difícil. Fala que quando a barriga
ainda estava pequena era mais gostoso e que ouvir o coração dele era muito bom, que fazia
compensar todo o resto.
Sobre as mudanças físicas, aponta ter sentido enjoos no começo, teve azia durante o
primeiro mês e muito cansaço. Diz diversas vezes que engordou muito e completa: “Meu peso
estava demais, minhas coxas estavam muito grandes. Minhas roupas, tudo ficava quente,
apertado”. Diz que a relação com o corpo foi bem difícil, pois o aumento do peso foi muito
rápido e que o fato das roupas não servirem a incomodava.

 Parto

Na hora do parto, é possível notar a confiança que ela tinha no próprio corpo, de que
tudo iria dar certo e correria bem. Primeiro, quando conversou com o marido sobre sua vontade
de parto normal, que ele diz: “mas você não faz nenhum exercício físico, você não aguenta, não
vai dar certo isso”, e ela aponta que não discutiu com ele, pediu para que ele se informasse e
depois falariam a respeito, pois ela sabia que conseguiria.
Em seguida, quando teve a decisão pelo parto pélvico: “E foi aí que nós decidimos ter
o parto pélvico. Ele não queria, até o último minuto ele queria que fosse cesárea mesmo. Mas
não é o que eu quero, é que eu nunca quis. O parto pélvico tem uma tendência muito grande de
acabar em cesárea, sessenta ou quarenta por cento, não me lembro agora. É bem alto. Aí ele
falou que já que poderia terminar em cesárea, porque não íamos direto, e eu disse que pelo
menos ele vai nascer do jeito que ele quer nascer. Então vamos tentar. Então a gente encarou
isso. Como diz a minha médica, é bancar. Tem mulher que banca um parto pélvico, e tem outras
79

que não, se desesperam. Então foi assim”.


É possível também perceber sua confiança em si mesma quando a equipe mostrava
preocupação sobre a ausência do médico e ela se manteve tranquila: “Eu estava tranquila. Eu
estava bem. Eu não sei como eu sabia isso, mas eu estava muito calma. Eu era mais calma de
todos, não sei porque”.

 Pós-Parto

Relatou que, até a data da entrevista, o corpo ainda não havia voltado ao que era, que ainda
precisaria emagrecer sete quilos que engordou na gestação, que já estava acima do peso antes
de engravidar e complementa: “Então, não voltou nada. Minhas pernas ainda estão bem
grandes. Não tive estrias na barriga, mas tive nas pernas. E eu achei muito estranho. Muito
estria na perna. Eu não gosto, mas eu faço que dá.”.

III. Iris – VO

 Gestação

No aspecto físico, a autoimagem de Iris aparece de forma positiva, ela diz que estava
ótima, que sentia-se bem e que: “Com nove meses eu subia em cadeira, fazia tudo, dava até
pirueta”. Já no aspecto emocional, apresenta-se de forma desprotegida e desamparada.

 Parto

Iris relata sentimento de fracasso: “E na hora eu me sentia muito fracassada. Mas eu via
assim, pra mim, ali naquele momento, eu não tinha condições para mais nada. Aqui eu vou
ficar”, bem como, novamente, a sensação de desamparo, desespero e solidão. Afirma que
sentiu-se agoniada e nervosa durante a cirurgia.

 Pós-Parto

No pós parto ela relata que ficou desesperada e confusa, principalmente com a
internação da filha e conta: “Sei lá o que passava na nossa cabeça. Os dois de primeira viagem.
A gente levou ela no médico achando normal”.
Sobre a separação, diz que foi positiva, pois se vira muito bem sozinha, retratando
sentimento de autonomia e independencia também ao relatar das viagens que faz com a filha:
“por um lado foi bom porque eu me viro muito bem sozinha. O que eu tenho que fazer com ela,
80

eu faço. Eu viajo muito com a minha amiga, a gente vai pra praia, a gente vai pra sítio e ela é
muito adaptável. Ela não me dá trabalho. Onde eu posso levar ela, eu levo. Ela vai brincar,
dorme, ela é muito boazinha”.

4.1.8 Discussão - Categoria 4 - Autoimagem

A maternidade atual traz para as mulheres tentativas, implicações e conflitos distintos.


A transição da imagem de mulher para a imagem de mãe representa uma alteração significativa
na autoimagem materna. Como ficam as angústias, os medos, os sofrimentos, as inquietudes
sobre a vida em relação à atitude de engravidar? “Vou deixar de ser mulher? O quanto vou me
privar? Quanto vale essa renúncia? Vou continuar a trabalhar? Sair, viajar?!” Desse modo, as
redes de apoio são uma das possíveis maneiras de conciliar a vida familiar com a vida
profissional da mulher atual (Martinez & Barbieri, 2011; Almeida, 2007; Souza, Teixeira,
Loreto, & Bartolomeu, 2011).
As intervenções feitas ainda na gestação funcionam como suporte a fim de conter as
ansiedades, proporcionar trocas de vivências e reflexões sobre o ciclo gravídico-puerperal. O
fato de falar, receber informações e refletir sobre as mesmas favorece a redução dos medos e
da ansiedade relativos a esse período, tornando possível a percepção de suas modificações,
facilitando o processo de adaptação (Nascimento, 2003; Zimerman & Osório, 1997). No
período da gestação, Maya e Gaia falam sobre a dificuldade em lidar com as alterações
corporais, principalmente no final, enquanto Iris diz que se sentia ótima, principalmente no fim,
pois curtia muito a barriga. Já no parto, Maya apresenta-se tranquila e segura; Gaia confiante
em si e no seu corpo, relatou estar tranquila e Iris fala que se sentiu fracassada e impotente. A
alteração em relação à alimentação é um dos fatores que se destaca no início da gravidez. É
comum a mulher ter mais apetite e como resultado um aumento de peso que muitas vezes atinge
níveis de extrema voracidade e pode acarretar complicações obstétricas. Observa-se também
maior sensibilidade nas áreas de olfato, paladar, audição e um aumento da irritabilidade: a
mulher fica mais vulnerável a certos estímulos e pode chorar ou rir com facilidade (Maldonado,
1985).
No puerpério, Maya e Gaia falam novamente do descontentamento com o corpo e o
incomodo com o peso. Maya acrescenta que se sentia feia, sozinha e com mais responsabilidade.
Já Iris, não relata aspectos corporais, tendo em vista que havia outras preocupações no momento
do puerpério, como a saúde da filha e a separação, assim, aponta sentimentos de autonomia e
tranquilidade com suas decisões acerca do casamento. É após o parto que a mulher, agora uma
mãe com seu bebê necessita de amparo e proteção. Algumas vezes estas situações estão
81

associadas às novas adaptações e às perdas que as puérperas vivenciaram que inclui a perda do
corpo gravídico, o não retorno do corpo antes da gravidez, a separação mãe-bebê, que passa a
ser um ser real e não mais o idealizado por ela. Outro aspecto, porém, bastante positivo, é que
a gravidez pode proporcionar oportunidade de alcançar novos níveis de ampliação e
amadurecimento da personalidade (Sarmento & Setúbal, 2012; Maldonado, 1985).

4.2 Análise do Desenho-Estória com tema

4.2.1 Desenho da mulher

 Maya – Cesárea eletiva

Figura 01. Desenho da Mulher – Maya – Cesárea Eletiva

Entrevistadora.: Gostaria que você me falasse dessa mulher. Quem é essa mulher, o que ela
pensa, o que sente.
Gaia.: Desenhei uma mulher qualquer que... Aqui eu não me imaginei no desenho, então eu
desenhei uma mulher qualquer. Eu tentei desenhar uma roupa simples, mais fácil de desenhar.
Não pensei muito em contexto, em nada.
E.: Mas se você tivesse que imaginar uma história para ela, o que você imaginaria?
G.: Ahh... Uma mulher normal, solteira, que trabalha e, talvez, more sozinha.
E.: Como ela se sente?
G.: Feliz.
E.: O que ela espera da vida?
G.: Trabalhar bastante. Talvez estudar alguma coisa. Não sei. Sair...
E.: E antes? O que ela fazia?
G.: Morava com os pais, estudava e saia muito, se divertia. Tinha muitos amigos. Acho que
só.
82

 Análise

A participante inicia a história dizendo de forma enfática que desenhou qualquer mulher,
manifestando sua dificuldade em identificar-se com a figura apresentada e negando a
possibilidade de a pesquisadora associá-la ao desenho. Além disso, foi necessário que a
pesquisadora realizasse o inquérito devido à falta de elementos na resposta da participante que
possibilitassem compreender quem é aquela mulher. Nesse sentido, observa-se sinais de
insegurança e certo temor diante de sua falta de elementos para analisar sua produção. É como
se a participante buscasse esconder algum conteúdo possível de ser identificado pela
pesquisadora, o que pode ser associado ao fato de, no desenho, ter colocado as mãos para traz
do corpo, indicando a necessidade de controlar os impulsos hostis e agressivos, além de
dificuldade no contato interpessoal que pode ser a forma de enfatizarmos a dificuldade de
projetar-se diante da pesquisadora.
Em seguida, o sentimento de insegurança é mais uma vez manifestado, ao dizer: “Não
pensei muito em contexto”, reforçando a dificuldade em visualizar o contexto o qual essa
mulher está inserida. Tais aspectos apontam que a atitude da participante diante da atividade
pode ser caracterizada como cautelosa e insegura, também observada ao desenhar os cabelos
presos e bem penteados na figura da mulher, que pode reforçar o seu interesse em manter uma
aparência aceitável.
Neste momento, é possível observar que, diante da insegurança despertada pela
atividade da pesquisa, a participante responde com o uso da racionalização como mecanismo
de defesa, diante da angústia despertada pela solicitação da pesquisadora de que narrasse uma
história sobre essa mulher, ao ser questionada sobre a história, ela analisa o que fazer, o que
dizer, com a necessidade de ter certeza e segurança de que sabe quem é essa mulher sobre a
qual irá falar, apresentando, então, necessidade de controle para lidar com o sentimento de
insegurança.
É interessante relacionar a necessidade de segurança que a participante manifesta neste
relato, considerando-se o fato de ter vivido uma gravidez não planejada. Nesse sentido, o
conteúdo da análise do procedimento de DE-T aponta para possíveis implicações desse não
planejamento em sua dinâmica psíquica. Assim, ao desenhar uma figura de mulher inclinada, é
possível analisar como significado de instabilidade emocional e equilíbrio precário, o que não
pode ser associado exclusivamente ao fato de sua gravidez não planejada, mas certamente isto
pode contribuir para sua dinâmica nesta fase da vida.
83

Ao descrever a história, traz uma mulher idealizada, autônoma, solteira, que mora
sozinha. Como expectativa para o futuro, aponta a necessidade de trabalho e estudos. Vale
ressaltar que a participante deixou de frequentar a faculdade devido ao nascimento do filho e
no desenho, aparece o desejo de retomar alguns aspectos deixados para trás devido às demandas
maternas. Nesse sentido, observa-se que possivelmente a maternidade não foi suficiente para
compensar as perdas (estudo e trabalho).
Assim, é possível observar a necessidade do afeto conjugal e de planejamento da
maternidade como algo distante. Apesar da idealização, apresenta aceitação e identificação
positiva perante a vida no futuro, pois traz elementos de êxito, crescimento, autonomia e
liberdade, bem como autoconceito positivo e figuras significativas positivas.
Ao falar do passado da mulher que foi desenhada, apresenta a família de origem com
capacidade para resolver seus conflitos, dando uma conotação acolhedora e adaptativa com
impulsos amorosos, o que pode ser representativo de sua necessidade de segurança, buscando
apoio na família, no caso, se referindo aos pais e aos irmãos. É possível identificar sentimentos
derivados do instinto de vida e tendências construtivas, trazendo questões de produtividade,
trabalho, viagens. Este aspecto corrobora a análise dos aspectos gerais do desenho, uma vez
que, a participante elabora a figura na metade esquerda da página, indicando o predomínio do
passado e da afetividade.

 Gaia - Parto com Assistência Humanizada

Figura 02. Desenho da Mulher – Gaia – Parto com Assistência Humanizada

E.: Primeiro vou pedir que você desenhe uma mulher. Só não pode ser de palitinho.
Tente fazer o mais completo possível, mas não se preocupe, pois não vamos analisar suas
habilidades como desenhista.
84

L.: Sou muito ruim de desenho. Acho que é isso.


E.: Agora vou pedir que você me conte quem é essa mulher. O que ela pensa, o que ela
sonha. Quais são os planos. De onde ela veio e para onde ela vai.
L.: Bem, eu desenhei qualquer mulher... Não sei...
E.: Conta uma história dessa mulher.
L.: História dessa mulher. Primeiro eu preciso saber quem é essa mulher. Silêncio. Eu
acho que é uma mulher que namora, trabalha. Já é formada. Não estuda mais. Mora sozinha. É
uma pessoa alegre. Gosta de sair de viajar. Acho que é isso...
E.: Quais são os planos dela para o futuro?
L.: Acho que ela pensa em casar, ter uma família, ter filhos. Ser bem sucedida.
E.: Como ela se sente?
L.: É. Feliz.
E.: É onde essa mulher estava? O passado. Como era a família dela? De onde ela veio?
L.: Acho que ela teve uma família normal. Os pais, tem irmãos. Uma família como todas
as outras. Eles têm problemas, mas eles se dão bem...

 Análise
A participante inicia a história demonstrando certa dificuldade diante da atividade
solicitada pela pesquisadora (“Sou muito ruim de desenho”), além de dizer que desenhou
qualquer mulher, de forma a qual manifesta sua dificuldade de identificar-se com a figura
apresentada, negando a possibilidade de a pesquisadora associá-la ao desenho. Nesse sentido,
observa-se sinais de insegurança e certo temor diante de sua falta de elementos para analisar
sua produção.
Em seguida, o sentimento de insegurança é mais uma vez manifestado, ao dizer:
“Primeiro eu preciso saber quem é essa mulher”, destacando sua necessidade de elementos
conhecidos para então, cumprir a solicitação da pesquisadora. Tais aspectos apontam que a
atitude da participante diante da atividade pode ser caracterizada como cautelosa e insegura,
também observada ao desenhar os cabelos escassos na figura da mulher.
Neste momento, é possível observar que, diante da insegurança despertada pela
atividade da pesquisa, a participante responde com racionalização como mecanismo de defesa,
ao ser questionada sobre a história, ela analisa o que fazer, o que dizer, com a necessidade de
ter certeza e segurança de que sabe quem é essa mulher sobre a qual irá falar, apresentando,
então, necessidade de controle para lidar com o sentimento de insegurança. É interessante
relacionar a necessidade de segurança que a participante manifesta neste relato, considerando-
85

se o fato de ter vivido uma gravidez não planejada. Nesse sentido, o conteúdo da análise do
procedimento de DE-T aponta para possíveis implicações desse não planejamento em sua
dinâmica psíquica.
Ao descrever a história, traz uma mulher idealizada, autônoma, que mora sozinha,
independente e bem-sucedida, além de que, namora e espera no futuro construir uma família e
ter filhos. Assim, é possível observarmos a necessidade do afeto conjugal e de planejamento da
maternidade como algo distante. Apesar da idealização, apresenta aceitação e identificação
positiva perante a vida no futuro, pois traz elementos de êxito, crescimento, autonomia e
liberdade, bem como autoconceito positivo e figuras significativas positivas.
Ao falar do passado da mulher que foi desenhada, apresenta a família de origem com
capacidade para resolver seus conflitos, dando uma conotação acolhedora e adaptativa com
impulsos amorosos, o que pode ser representativo de sua necessidade de segurança, buscando
apoio na família, no caso, se referindo aos pais e aos irmãos. É possível identificar sentimentos
derivados do instinto de vida e tendências construtivas, trazendo questões de produtividade,
trabalho, viagens. Este aspecto corrobora a análise dos aspectos gerais do desenho, uma vez
que, a participante elabora a figura na metade esquerda da página, indicando o predomínio do
passado e da afetividade.

 Iris – Violência Obstétrica

Figura 03. Desenho da Mulher – Iris – Violência Obstétrica

E.: Quero que você me fale quem é essa mulher.


N.: Essa é uma mulher que sonha. Que luta. Que é dona das próprias vontades e que aprendeu
a viver sozinha. Aprendeu a fazer as coisas que realmente gosta, que são necessárias para ela.
E.: O que ela sonha para o futuro dela?
86

E.: Que ela continue sendo livre. E que ela corra sempre atrás das coisas que ela almeja. E
sempre sorrindo. Sempre alegre. Isso.
E.: Ela vai ficar sozinha? Ela tem família?
N.: Não sei. Talvez sim. Talvez não. Talvez ela encontre alguém. É... No momento ela vai
ficar sozinha.

 Análise

A participante demonstra identificação positiva com a figura da mulher, pois relata


sentimentos de valorização e identifica-se com o próprio sexo, projeta-se em uma mulher que
luta, que sonha, dona das próprias vontades, capaz de gratificar seus desejos sempre sorrindo e
alegre. Quanto às figuras significativas, apresentam-se omissas. Desta forma, podemos dizer
que são figuras negativas, pois ela relata que é uma mulher sozinha e que continuará assim.
Os sentimentos expressos são de solidão, liberdade, autonomia, sentimentos esses
derivados do instinto de vida, pois a solidão que expressa pode ser entendida como um certo
sentimento de abando, contudo, diante desse abandono ou solidão, reage de modo a buscar
autonomia e gratificação. Além disso, é possível observar necessidade de cura, e aceitação, que
podem ser consideradas tendências construtivas com impulsos amorosos, mesmo quando
originalmente eram negativos (abandono e solidão).
Apesar da identificação com uma mulher em busca de autonomia, as defesas se mostram
presentes e é possível notar o mecanismo de isolamento, pois relata a todo instante que é uma
mulher que aprendeu a viver sozinha e que irá permanecer assim no momento; bem como o
mecanismo de idealização ao dizer que essa mulher esta sempre sorrindo e sempre alegre, o que
pode ser relacioando ao desneho com as mãos para tráz do copo, se referindo a necessidade de
controle dos impulsos hostis e negativos.
Outro aspecto que enfatiza a presença de defesas se refere ao fato de desenhar com um
tipo de grafismo caracterizado como avanços e recuos, o que pode significar sua falta de
confiança em si mesma, hesitação em lidar com situações novas, justificando, deste modo, a
utilziação das defesas.
87

4.2.2 Desenho da mãe:

 Maya – CE

Figura 04. Desenho da Mãe – Maya – Cesárea Eletiva

Enquanto fazia o desenho a participante diz: “Está parecendo um homem!” (Risos).


E.: E essa mãe? Quem é ela?
G.: (Risos) Aí eu me vi um pouco. É uma mulher mais desarrumada. Cabelo amarrado,
bagunçado. De chinelo. Em casa porque geralmente está cuidando dos filhos, dos afazeres da
casa.
E.: O que ela pensa? Como ela se sente?
G.: Ela é feliz, mas diferente da primeira ela já pensa em outros aspectos: na casa, no
filho, no marido. Não tanto nela quanto a outra.
E.: E antes dela estar aí, ela esperava ser mãe?
G.: Acho que não. Não. Pelo menos não na maneira que ela se encontra aqui.
E.: O que você acha que ela imaginava?
G.: Ela imaginava que ter um filho era normal, que não fosse afetar na beleza dela, ou
no cansaço dela. A gente vê os filhos dos outros externamente. Tudo é legal. Você chega e
brinca e aí você vai embora. A parte ruim fica toda pra mãe em casa.
E.: O que ela espera da vida?
G.: Acho que cuidar bem do filho, da casa. Voltar pro trabalho. Aumentar, levantar a
autoestima e ficar parecida, um pouco, com que era antes.
88

 Análise
Ao fazer o desenho, ela associa a imagem masculina e começa a história identificando-
se projetivamente com a imagem desenhada: “Ai eu me vi um pouco”. Em seguida, diz que está
desarrumada, pois dedica mais atenção ao filho do que a si mesma. Apresenta uma imagem
depreciada da figura materna longe do ideal, pois não está arrumada, seu cabelo é despenteado,
de chinelo, bagunçada. Em seguida, ao falar dos sentimentos que a maternidade desperta,
novamente ressalta que a casa, o filho e o marido vêm como prioridade, antes de cuidar e olhar
para si. Entende-se com isso que a experiência da maternidade parece influenciar na sua
autoestima e no cuidado consigo mesma, deslocando esses cuidados para o filho, o marido e a
casa.
Ao representar a mãe de maneira depreciada, a participante apresenta uma imagem
caracterizada por dificuldades frente às demandas que surgem em função da maternidade,
focando na impossibilidade de dar conta de atender a essas demandas e ainda dar conta das
demandas pessoais, principalmente às questões estéticas. É possível perceber a dificuldade em
lidar com a feminilidade, possivelmente deixada de lado diante das intensas demandas da
maternidade já no começo do desenho, quando ela diz que está parecendo um homem. Nesse
sentido, embora ciente do desenho da mãe, constrói um desenho que se assemelha a um homem,
ou seja, o mais distante da maternidade. Ao mesmo tempo desenha os seios na figura o que
pode ser relacionado com certa preocupação reprimida da feminilidade.
Em seguida, é possível observar a idealização que possuía da maternidade. Quando
questionada sobre a expectativa que tinha de ser mãe, ela diz que não se imaginava como mãe
e complemente: “Pelo menos não da maneira que ela se encontra aqui” e em seguida diz: “Ela
imaginava que ter um filho era normal, que não fosse afetar na beleza dela, ou no cansaço dela.
A gente vê os filhos dos outros externamente. Tudo é legal (...) A parte ruim fica toda pra mãe
em casa”. Identifica-se manifestação de angústias e dificuldades diante da maternidade e suas
demandas. Nesse momento, a participante parece estar se deparando com o confronto entre a
fantasia sobre ter um filho e a realidade que experimenta. Ao desenhar a figura de chinelos,
parece identificar o contato próximo com o chão, ou seja, com a realidade de sua vida enquanto
mãe.
Assim como no desenho da mulher, é possível observar a necessidade do controle e
insegurança, sendo que o bebê se apresenta como elemento que a desestrutura, por ela não
conseguir ter controle sobre os comportamentos, que pode ser mais uma vez relacionado ao fato
de desenhar a figura com as mãos para traz, além do sentimento de culpa diante da
impossibilidade de cumprir com as exigências no dia-a-dia.
89

Além disso, é possível observar que a identificação transita entre positiva e negativa.
Negativa, pois fala sobre a dificuldade em assumir o papel de mãe e positiva quando relata o
desejo em cuidar bem do filho e busca de identidade com a volta ao trabalho e a melhora da
autoestima.
Quanto aos sentimentos expressos, identificamos sentimentos ambivalentes, pois há
sentimentos derivados do instinto de vida, representados por sentimento de felicidade e desejo
de cuidar bem do filho, porém apresenta as mudanças com um viés negativo e com dificuldade
de adaptação frente às adversidades, causando sofrimento. Ser mãe é bom, porém há muitos
impedimentos, como a perda da autonomia, mudança na rotina, perda do trabalho, mudança do
corpo; o que vai de encontro com a depreciação desenhadas na figura, pois representa alguém
com poucos recursos para lidar com a vida de mãe que possui atualmente.
No que corresponde às tendências e desejos, apresenta tendências construtivas,
identificadas nas atitudes de necessidade de retomar o que era antes como o desejo de recuperar
partes sadias. Quanto aos impulsos, apresenta impulsos amorosos, representados por sua atitude
de cuidado e acolhimento ao filho e a figura conjugal.
Em relação às ansiedades, apresenta ansiedades paranoides, com excesso de culpa,
angústia elevada, não sabe como lidar com os conflitos e aparenta estar pouco integrada. Em
relação aos mecanismos de defesa, apresenta a idealização, pois relata que não imaginava que
seria assim.

 Gaia - PH

Figura 05. Desenho da Mãe – Gaia – Partu com Assistência Humanizada

E.: Agora vou pedir que você desenhe uma mãe.


L.: Como que desenha uma mãe? Estou pensando. Na verdade acho que é como eu me
vejo. Risos. Acho que é isso.
E.: Agora vou pedir que você me conte quem é essa mãe.
90

L.: Essa sou eu. Risos. Sou eu. Ahhh..... Eu penso que como toda mãe tem que fazer
tudo. Ter vários braços. (Chorando) E sempre queria fazer mais. É, porque assim, antes do bebê
a gente dá conta das coisas e depois a gente não dá mais. Aí tem que se adaptar. É difícil, mas
a gente consegue. Mas demora bastante tempo. A gente tem... Eu tinha controle dos horários,
do que eu tinha pra fazer. E conseguia fazer. E agora com ele, tudo muda. Se projeta uma coisa
para o seu dia, aí acontece alguma coisa, aí já não é mais aquilo. Acho que o que incomoda é
você não conseguir fazer o que tem que fazer. Um dia eu falei pro A. que eu me sinto numa
prisão. Aí ele disse "mas não pode falar isso. É muito ruim" Não é que é ruim, mas antes eu não
dependia de ninguém. Eu fazia tudo sozinha. Hoje eu não consigo ir no mercado, que é uma
coisa simples, que é só pegar a chave, entrar no carro e sair. Hoje não. Eu tenho que fazer ... Eu
tenho que dar de mamar pra ele. Deixar ele satisfeito. Trocar ele, por a roupa certa. Se ele não
estiver bem eu não vou conseguir ir. Se tiver tudo certo, eu ponho ele no bebê conforto e já vou
rezando: ele não pode chorar, ele não pode chorar... Pra chegar até lá... Por exemplo, no
mercado mesmo eu nunca fui sozinha. Não dá. E eram coisas que eu fazia sozinha. Às vezes
faltam coisas , putz, se eu não tivesse... Não que seja ruim eu ter ele. De jeito nenhum, mas
antes eu conseguia me planejar e fazer tudo sozinha e agora eu tenho que depender da minha
mãe, do meu pai, do A. pra ir nos lugares, pra fazer a unha, pra cortar o cabelo. É essa é a parte
difícil de ser mãe. É conciliar e conseguir fazer as coisas que você fazia antes. E coisa simples.
Não é sair. Ahh sair eu saio com ele . É fácil sair com ele, mas sozinha não. Eu tenho que estar
com alguém. Então, por exemplo, esse final de semana eu sai com ele e com o A. e, nossa, é
super tranquilo. Eu entro no carro, o A. dirige, eu vou cuidando dele. A hora que a gente tem
que descer, eu desço. Ele é bonzinho. Ele não dá trabalho, mas é criança. Precisa de atenção o
tempo todo.
E.: Quais são os planos? O que ela sonha?
L.: Eu acho que o que eu sonho mesmo é poder ficar com ele o maior tempo possível.
É minha maior preocupação. Eu não quero mandar ele pra escola, mas eu preciso trabalhar.
Então, eu já estou trabalhando em casa, eu sou autônoma , então... Suja trabalho em casa, mas
eu tenho duas sócias. Eu preciso... Eu não tenho chefe, mas eu devo alguma coisa pras outras
duas pessoas. Então, eu devo minhas horas trabalhadas pra elas, eu devo a entrega do meu
trabalho. Então, não é só... Não sou autônoma sozinha. O que eu penso para o futuro próximo
é conseguir ficar com ele o mais tempo possível. Então, conseguir trabalhar em casa o maior
tempo possível.
E.: E antes dela ser mãe, ela imaginava que seria assim?
91

L.: Ahh já imaginava. Porque você vê outras mães falando: dorme agora! Sabe essas
coisas? E todas as mães ao invés de incentivar a outra falando coisas positivas fica falando as
negativas. "Dorme agora, porque depois você não vai dormir ". Eu sempre tento ver as coisas
domado positivo. Principalmente para pessoas que estão embarcando agora. É igual casamento.
Quando você vai casar sempre tem gente que diz "ahh depois que casa..." Não é só isso. Sempre
tem a parte boa. Casar é bom, você ter seu companheiro. Porque você chega em casa e tem com
quem conversar. Contar as coisas boas. Eu sempre procurei ver o lado positivo. Eu já sabia que
seria assim, mas quando você sabe e sente é diferente. É bem diferente.
E.: Como ela se sente?
L.: Ela é feliz. Mas é claro que a felicidade não é absoluta. Que nem, nosso final de
semana foi ótimo. Eu saí, eu almocei fora. Então eu estou muito feliz. Estou muito bem com
meu marido, muito bem com ele. Ele é uma criança boazinha, não me dá trabalho. Ele é
saudável. Então, é claro que às vezes no dia a dia eu falo, poxa, eu queria ter feito isso e não
consegui. Tá bom. Aquela hora eu fic triste, mas não quer dizer que eu sou infeliz.

 Análise
Ela começa o desenho se identificando com a imagem desenhada: “Essa sou eu. Sou
eu”. Em seguida, diz que “(...)toda mãe tem que fazer tudo. Ter vários braços” e chora. Entende-
se com isso que a solicitação do desenho de uma mãe parece ter desencadeado na participante
as angústias que vivência ao realizar esse papel e essa função.
Ao colocar a mãe com vários braços, a participante apresenta uma imagem da
diversidade de demandas que emanam da maternidade, focando na impossibilidade de atender
a essas demandas trazidas pelo bebê e pela vida cotidiana, como ir ao mercado, fazer a unha e
o cabelo, uma vez que, uma mãe conta com dois braços e não com vários. Denota que as
exigências que enfrenta na maternidade vão além de sua própria condição de atendê-las. Em
seguida, vem o sentimento de culpa por não conseguir suprir a essa demanda, mesmo com
tantos braços, “(...) antes do bebê a gente dá conta das coisas e depois a gente não dá mais”.
Identifica-se manifestação de angústias intensa diante da maternidade e suas demandas.
Assim como no desenho da mulher, é possível observar a necessidade do controle e
insegurança, sendo que o bebê se apresenta como elemento que a desestrutura, por ela não
conseguir ter controle sobre os comportamentos e necessidades dele: “Eu tinha controle dos
horários, do que eu tinha pra fazer. E conseguia fazer. E agora com ele, tudo muda” e os
sentimentos de culpa diante da impossibilidade de cumprir com as exigências no dia-a-dia.
92

Diz sentir-se em uma prisão e dependente de outras pessoas para que possa fazer coisas
que antes considerava simples. Relata que primeiro ela precisa satisfazer ele, se referindo ao
bebê, para que depois pense no que pode fazer; e que tem coisas que ainda não consegue fazer
sozinha, ou seja, não tem recursos emocionais para isso.
Ao que se refere ao desenho, observa-se a presença de muitos braços na figura da mãe
e considerando-se que os braços têm como função dominar e produzir coisas, além de contatar
pessoas e objetos, o que pode indicar a falta de confiança em sua própria produtividade e a falta
de eficiência em sua fazer, neste caso, na maternidade. Em seu relato a respeito do desenho da
mãe, a participante apresenta uma atitude de insegurança, pois fala sobre a necessidade de
proteção e ajuda. Este aspecto pode ser reforçado pelo desenho que elaborou, no qual observa-
se a ausência do nariz, representando a sensação de desamparo e o sentimento de castração.
Além disso, é possível observar que a identificação transita entre positiva e negativa.
Negativa, pois fala sobre o sentimento de incapacidade que possui em cumprir tarefas do
cotidiano e positiva quando relata a busca de identidade e o sentimento de valorização quando
consegue realizar alguma tarefa que acreditava que não iria conseguir.
No que tange as figuras significativas, podemos identificar figura familiares positivas,
pois apresenta o marido e o pai como presentes, amorosos, gratificantes, bem como atitudes de
cooperação e colaboração.
Quanto aos sentimentos expressos, identificamos sentimentos ambivalentes, pois há
sentimentos derivados do instinto de vida, representados por sentimentos de mudança com um
viés construtivo e ela apresenta discurso adaptativo frente às adversidades, porém frente a
sofrimento. Ser mãe é bom, porém há muitos impedimentos, como a perda da autonomia,
mudança na rotina; o que vai de encontro com a diversidade de braços desenhadas na figura,
pois necessita de alguém com muito mais recursos para lidar com a vida de mãe que possui
atualmente.
No que corresponde às tendências e desejos, apresenta tendências construtivas,
identificadas nas atitudes de necessidade de cura e autonomia, bem como um discurso de
aprendizado e crescimento e o desejo de recuperar partes sadias. Quanto aos impulsos,
apresenta impulsos amorosos, representados por sua atitude de reconhecimento a figura
conjugal.
Em relação às ansiedades, apresenta ansiedades paranoides, com excesso de culpa,
angústia elevada, não sabe como lidar com os conflitos e aparenta estar pouco integrada. Em
relação aos mecanismos de defesa, apresenta a racionalização, pois relata que já imaginava que
seria assim e que sabe que a tristeza é transitória e o mecanismo de compensação, quando diz
93

que é difícil, que muitas vezes pensa como seria se não tivesse filho, mas que agradece por ter
ele saudável e que não dá trabalho. O mecanismo de compensação pode ser compreendido
também no desenho dos seios na figura da mãe, pois são representados em tamanho grande,
com mamilo acentuado indicando a garantia de sua feminilidade, possivelmente deixada de
lado diante das intensas demandas da maternidade.

 Iris – VO

Figura 06. Desenho da Mãe – Iris – Violência Obstétrica

E.: Agora eu quero que você me conte quem é essa mãe.


N.: Essa mãe... Essa é uma mãe que é bem forte. Que tem bastante receio, mas que tenta
fazer as coisas mais leves possíveis, assim. Ela não se cobra muito, porque a cobrança para ela
é um peso, um fardo muito grande. Então ela não... Ela sempre se lembra que além de ser mãe
ela também é mulher. Ela tenta dar o máximo para sua filha e fazer que tudo seja de uma forma
bem leve. Não seja uma coisa muito pesada, para ela conseguir aguentar o tranco.
E.: O que ela sonha?
N.: Ela?... Ahh vou chorar. Eu acho que não ando sonhando muito. Porque acho que ela
prefere viver um dia de cada vez. Por mais que ela quer coisas boas para filha dela ela prefere
que tudo isso seja trabalhado no tempo que as coisas ocorrem. Não dá para ficar fazendo muitos
planos porque... Eu fiz muitos planos, já e todos eles deram errado. Então acho que ela prefere
ir vivendo devagarzinho. O que for para daqui um mês ela faz, o que der é se for para pensar
em algumas escolhas mais pra frente, mas nada muito longe. Porque tudo muda e muda de uma
forma muito rápida. Então que seja assim.
94

 Análise
A participante transita entre as atitudes básicas de aceitação e de insegurança, que é
possível perceber logo que ela inicia o desenho, ao dizer que é uma mãe forte, mas que tem
bastante receio.
Quando ela diz “Ela sempre se lembra que além de ser mãe ela também é mulher”, é
possível observar a preocupação consciente em integrar esses dois papeis. Ao ser questionada
sobre os sonhos que possui para o futuro, ela intercala a história em primeira e terceira pessoa
e chora. Com isso, nos diz o quanto é difícil falar sobre essa mãe e os planos e sonhos que ela
tem para o futuro. Identifica-se aqui certa ambiguidade, pois ao falar sobre o futuro se emociona
(chora), mas mesmo assim, afirma que vive um dia de cada vez, negando sua preocupação
quanto ao futuro da filha. Essa negação possivelmente se deve ao fato de não contar com
recursos internos nesse momento para um planejamento mais fortalecido.
Quanto às figuras significativas, a figura materna aparece como positiva, pois representa
uma mãe que é forte e que busca dar o seu melhor e figura paterna negativa, pois é omissa, não
aparece.
Quanto à tendências e desejos, é possível observar uma necessidade de suprir faltas
básicas, com necessidade de compreensão, de ser cuidada. Além disso, observamos impulsos
amorosos, quando ela fala sobre a vontade de fazer tudo dar certo e de ser uma boa mãe para
sua filha, de tornar as coisas mais leves e sentimentos derivados do conflito, pois ela traz de
forma ambivalente sentimentos de instinto de vida e de morte, como uma mulher que não sonha,
que vive um dia de cada vez, que sofre por isso mas que é o melhor que ela consegue fazer no
momento., possivelmente devido ao contato com a ausência de condições internas para dar
conta do desenvolvimento da filha e da falta de confiança em si mesma.... .
Como ansiedade, é possível observar como ansiedade depressiva ao falar das
dificuldades da vida e de sonhar e planejar as coisas.
Nos mecanismos de defesa, observamos racionalização e isolamento e negação, pois
assim como a mulher, aparece uma mãe sozinha, que tem que dar conta de tudo.
Ela diz sobre ser autônoma, livre, sorrindo, porém não apresenta nada em relação ao
futuro. Esse elemento tão desejado (liberdade, autonomia) é também temido, pois como é
possível analisar pelos traços em avanço e recuos, ela apresenta falta de confiança em si mesma
e a ausência de futuro.
95

4.2.3 Desenho da família

 Maya - CE

Figura 07. Desenho da Família – Maya – Cesárea Eletiva

E.: E essa família?


G.: Aí eu imaginei minha família. Coloquei um pai, uma mãe e um filho. Particularmente é
uma família feliz. Sempre juntos os três. Aqui eu já imaginei um dia de final de semana como
se os três tivessem se arrumando para saírem e terem um tempo juntos os três.
E.: Como é a convivência deles?
G.: Feliz. Agradável. Boa.
E.: Quais são os planos para o futuro?
G.: Planos de ele estudar. Se aperfeiçoar pra aumentar o cargo no trabalho. Investir nos
estudos do filho e ela também. A mesma coisa. Voltou a trabalhar. No caso eu estou me
descrevendo. E buscar algo melhor. Estudar também. Não ficar parada no tempo por causa do
filho.
E.: Como eram antes da chegada do filho. Eram felizes?
G.: Sim. Só não esperavam que a chegada do filho fosse tão rápida. Mas imaginavam que
seriam uma família feliz.

 Análise

Na história da família, a participante apresenta nas atitudes básicas aceitação e


identificação positiva. Relata sentimentos de felicidade com a família reunida, de maneira
defensivamente idealizada, pois apenas narra aspectos positivos da convivência familiar. No
desenho elabora um coração no centro acima da família possivelmente representando a
necessidade confirmar que ao feto permeia essa relação.
96

Quando se remete ao futuro, assim como nos desenhos anteriores, retoma o desejo e
necessidade dos estudos, que foi algo deixado para trás com a chegada do filho e neste
momento, novamente se identifica com o desenho. No entanto, a chegada do filho não parece
compensatória das perdas vividas; o que a leva a desenhar o coração como forma de assegurar
que a representação é de afeto.
Relata que não esperavam que a chegada do filho fosse tão rápida, indicando a
dificuldade em lidar com o novo papel que ocupa de mãe dentro do contexto familiar. Ainda
não há adaptação a essa nova realidade.
No que tange as figuras significativas, o marido aparece como figura positiva e o filho
como figura negativa, que tirou as coisas boas que ela possuía, porém aparece a possibilidade
de conquistar novamente aquilo que ficou para trás.
Em relação aos sentimentos expressos, apresenta sentimentos derivados dos instintos de
vida, pois fala sobre a felicidade que possui com sua família atual representada no desenho
pelas figuras de mãos dadas e sorrindo, porém, tais sentimentos aparentam ser de forma
compensatória, como mecanismo de defesa diante da angústia que essa condição de
maternidade desperta.
No que corresponde aos impulsos, identificamos impulsos construtivos, mediante a
possibilidade de trabalho e estudo. Devido ao sentimento de angústia observado anteriormente,
podemos levantar a hipótese de que os impulsos amorosos e construtivos podem se apresentar
de forma idealizada.
Quanto às ansiedades, apresenta ansiedades paranoides, pois são pouco organizadas. E
em relação aos mecanismos de defesa, utiliza racionalização, idealização e compensação.

 Gaia - PH

Figura 08. Desenho da Família – Gaia – Parto com Assistência Humanizada


97

E.: É por último vou pedir que você desenhe uma família.
L.: Qualquer família? Ou a minha família?
E.: Você escolhe. Fica a seu critério.
L.: E não pode ser de palitinho. Risos... Acho que é isso.
E.: É essa família? Quem é? O que eles sonham? O que planejam?
L.: É a minha família. Eu, A., G. e a Lana. Ahh o que eu sonho é estar com eles sempre.
E dar o melhor de mim para eles. A gente sonha sempre estar feliz. Então, a gente busca sempre
estar feliz, ver a felicidade sempre nas pequenas coisas. Assistir um filme, comer, viajar, ir num
restaurante, brincar. Ontem, depois que a gente chegou do almoço de dia das mães, nós ficamos
na cama brincando com ele... É isso! Estar sempre bem. Acho que o principal é fazer tudinho
que a gente quer.
E.: Quais são os planos dessa família?
L.: Os planos...
E.: Mais um bebê?
L.: Por enquanto não. Papai quer. Eu falei "se você quiser uma mulher maluca queira
mais um bebê agora". Eu acho que tem mulheres que pensam que ter os dois ao mesmo tempo
é mais fácil, porque você passa tudo de uma vez. Eu não acho. Eu já acho que se você tem uma
criança mais independente, com uns cinco ou seis anos, você consegue lidar melhor com a
situação. Eu penso dessa forma. A minha mãe teve meus irmãos que foram gêmeos, depois de
mim e por ser gêmeos inclusive, ela ficou maluca. Eu tinha dois anos, eu era um bebê ainda. É
bem complicado para uma mãe cuidar. Porque dois anos ainda quer colo, volta a usar fralda,
além de se alimentar ainda mama. Então, são várias coisas que atrapalham um segundo filho.
Um bebezinho pequeno precisa muito mais de você. Só que o outro está lá. Então eu acho que
tem que esperar um pouquinho. A gente quer ter um segundo filho, mas não agora.
E.: É como era antes? Quando ainda era um casal?
L.: Acho que como casal nem mudou tanto. A gente continua companheiro, a gente
continua rindo, contando piada um pro outro. Sempre vendo o lado bom. Acho que ele
acrescentou, na verdade. A gente continua um casal como antes. É que antes a gente saia mais,
não tinha que pensar. Hoje tem que planejar. As mudanças foram mais de logística.
Planejamento.
98

 Análise

Na história da família, a participante apresenta nas atitudes básicas, insegurança e


identificação negativa em relação aos aspectos do passado, ao contar do nascimento dos irmãos
mais novos. Nesse sentido, mais uma vez, observa-se a participante recorrendo a sua família de
origem como recurso para o enfrentamento da insegurança que experimenta hoje com a
maternidade.
Relata sentimentos de menos valia, incapacidade e de não importância associados a
figura materna. Porém, quando fala sobre o presente e as expectativas sobre o futuro, apresenta
Aceitação e identificação positiva com o cônjuge, ao dizer que são companheiros e vendo o
lado bom das coisas, caracterizando-o como condição necessária para lidar com suas fantasias.
No que tange as figuras significativas, também foi possível identificar diferença em
relação ao passado e futuro. Quando se remete ao passado, apresenta figura materna e fraterna
negativas, com a mãe omissa após o nascimento dos irmãos, incapaz de lidar com os conflitos,
com a rivalidade e inveja nas relações fraternas. Já, quanto ao presente e futuro, é possível
observar figura conjugal positiva de cooperação e igualdade, apresentando-o como suporte
capaz de assegurar sua própria sanidade, afastando-a das fantasias de enfermidade que expressa
("se você quiser uma mulher maluca queira mais um bebê agora").
É importante observar-se a ordem na qual as figuras são elaboradas no desenho da
família, como explica Hammer (1991), pois nota-se a figura do pai (2ª a ser desenhada)
localizada entre a mãe, que projetivamente seria a participante, e a criança, no caso o bebê\filho,
sugerindo o pai como aquele que intermedia a relação entre a criança e a mãe... ou seja, aquele
que, de certa forma, ao se colocar nessa posição, garante a mediação na relação mãe bebê.
O mesmo é possível de ser interpretado pela presença do cachorro, incluído no desenho
para aliviar a angustia que permeia essa família, a partir do surgimento das demandas do vínculo
materno. Inserir o cachorro na imagem pode indicar a necessidade de mais um elemento, neste
caso não humano, portanto menos exigente, capaz de diminuir os conflitos derivados da
convivência familiar angustiante pela presença do bebe.
Em relação aos sentimentos expressos, apresenta sentimentos derivados dos instintos de
vida, pois fala sobre o amor, companheirismo e felicidade que possui com sua família atual.
Porém, tais sentimentos aparentam ser de forma compensatória, como mecanismo de defesa
diante da angústia que essa condição de maternidade desperta.
No que corresponde aos impulsos, identificamos impulsos construtivos, mediante o
crescimento e o filho como complemento das coisas boas que já haviam enquanto casal. Com
99

isso, também é possível observarmos impulsos amorosos. Devido ao sentimento de angústia


observado anteriormente, podemos levantar a hipótese de que os impulsos amorosos e
construtivos podem se apresentar de forma idealizada.
Quanto às ansiedades, apresenta ansiedades paranoides, pois são pouco organizadas. E
em relação aos mecanismos de defesa, utiliza racionalização, idealização e compensação.

 Iris – VO

Figura 09. Desenho da Família – Iris – Violência Obstétrica

E.: E quem é essa família?


N.: Essa é a família que eu não tive. Que era pra ter sido, acontecido, mas não deu certo. É
uma família que foi perdida. É a família da H. Não é a minha nem a do pai dela. Independente
de qualquer coisa, ela tem uma família. Ela tem pai, ela tem mãe e ela vive bem assim. E foi o
que deu para fazer por ela. E acho que nossas escolhas não podem influenciar nosso filho. A
gente não pode forçar uma relação por conta de um filho. Poderia ser muito pior. Eu acho que
na cabeça dela, essa é a família dela. Não é a minha e nem a dele. É a dela.

 Análise

Podemos perceber insegurança e identificação negativa quando diz que essa é a família
que ela não teve, que não deu certo e que foi perdida. Em conjunto com o sentimento de perda,
é possível notar também presente o sentimento de culpa, por não ter essa família que ela
projetou ao desenhar.
No desenho observa-se a figura da filha com as mãos levantadas em direção aos pais,
possivelmente apontado o desejo da participante de oferecer o acolhimento necessário para a
menina. Ao mesmo tempo depositando na filha o desejo de uma família.
Quanto às figuras significativas, novamente é possível observar a figura materna como
positiva e paterna como negativa, pois apesar de falar sobre a presença do pai, ele é presente
100

apenas na família da filha, mas não faz parte da realidade dela (quem perdeu foi ela e não a
filha- ou seja, ela perdeu o marido, mas a filha não perdeu o pai).
Os sentimentos aparecem como derivados do conflito, pois não era a realidade que ela
esperava, mas foi o que ela conseguiu fazer. Como tendências e desejos, observamos
necessidade de suprir faltas básicas, com desejo de proteção, de ser cuidada e tendências
construtivas de reparar e recuperar partes sadias da relação familiar, com impulsos amorosos
de cuidado e proteção para com a filha. Podemos observas ansiedades depressivas, pois fala de
uma família perdida. Como mecanismo de defesa, está presente a racionalização, quando ela
diz que “foi o que deu pra fazer por ela”, como quem se justifica por ter feito a escolha de não
continuar com o casamento.
O sentimento de abandono e a necessidade de proteção podem ser associados ao fato de
Iris ter vivenciado procedimentos de violência obstétrica, que ressaltaram sentimento de
insegurança já presentes também na gestação. A situação de violência obstétrica faz com que a
paciente não tenha controle sobre as coisas que acontecem, pois se submete às decisões feitas
pelo médico, desta forma, também fica sem perspectiva e sem confiança no futuro
101

5 Considerações finais

Este estudo teve como objetivo investigar a percepção de puérperas sobre a influência
do relacionamento conjugal no exercício da maternidade, na escolha da via de parto e na
autoimagem. Os casos escolhidos foram de mulheres que passaram por três situações de partos
diferentes: cirurgia cerariana eletiva, parto com assistência humanizada e parto com vivência
de violência obstétrica.
Quanto a participante que vivenciou a cesárea eletiva, durante seu discursso o cônjuge
aparece de forma distanciada, com pouca vinculação afetiva. É nesse mesmo tom que a
participante relata todo o seu processo do ciclo gravídicio-puerperal, ou seja, com pouca
emoção, de forma apática, sem envolvimento. Maya apresenta uma trajetória de ausência de
autonomia nas decisões desde o momento do casamento, que ocorreu não por vontade
espontânea do casal, mas devido à descoberta da gestação que, segundo ela, foi um choque
muito grande. Em seguida, ela relata a gestação como algo que interferiu nos seus planos de
estudos e emprego, diminuindo suas possibilidades de atuação. Além dos fatores sociais,
tiveram algumas complicações no início, com a retirada de células cancerígenas e descolamento
de placenta, bem como erro no diagnóstico do sexo da criança.
O parto foi decidido pela equipe médica, segundo ela, devido às complicações citadas e
ela concordou por causa do medo da dor do parto natural. No pós-parto ela relata sentir-se
horrível, queda no desejo sexual pelo marido, dificuldades com a amamentação, sentimento de
solidão, alegria pela volta ao trabalho e diz que considera a maternidade uma experiência
positiva, mas não quer outro filho, pois ficou traumatizada com o trabalho que dá.
A participante Maya apresentou aspectos importantes no que diz respeito às quatro
categorias analisadas e que puderam também serem observados nos desenhos. Quanto ao
relacionamento conjugal, ela tráz um marido que de alguma forma está ao seu lado, mas não o
relata de uma forma participativa. Na maioria das vezes o marido é citado apenas quando o
inquérito foi feito pela entrevistadora, não aparecendo de forma voluntária no relato. É possível
considerar a hipótese de um relacionamento conjugal com um vínculo fragilizado, fator esse
que parece impactar de forma direta nas outras categorias estabelecidas. Nos três desenhos da
participante é possível notar sentimentos construtivos como alegria, amor, conquistas e
sentimentos de mudanças, porém, alinhados a esses sentimentos, observou-se a necessidade de
cura, realização e autonomia, bem como de liberdade, crescimento e de recuperar o que foi
perdido, sentimentos esses também observados durante a entrevista, conforme detalhado
anteriormente na analise das categorias.
102

Quanto a categoria do exercício da maternidade, Maya possui traços fortes de


ambivalência e dificuldade na adaptação frente aos novos papéis, fatores esses também
observados no desenho, tendo em vista que a figura de mulher e de mãe se apresentam de forma
dissociada. Há identificação positiva quanto a figura da mulher que aparece na história como
sentimentos de valorização e autonomia; a participante apresenta sentimentos positivos em
relação ao papel da mulher, porém não se vê nesse contexto. Já no desenho da mãe e da família,
é possível observar identificações de insegurança que aparecem de forma negativa.
Sobre a escolha da via de parto, não foi uma decisão do casal, mas sim da equipe, fator
esse que pode estar relacionado com a fragilidade no vínculo conjugal, a falta pela busca de
informações, os aspectos sociais envolvidos, as questões físicas com as complicações da
gestação, bem como os aspectos psíquicos com a dificuldade em aceitar esse novo papel, bem
como todas as mudanças e adaptações exigidas por ele. No desenho da mãe a insegurança
aparece no relato com a necessidade de proteção, ajuda e acolhimento, sentimentos esses
compensados com o desejo de retomar os estudos e o trabalho, fatores esses expressos nos três
desenhos, evidenciando a angustia de não se perceber dentro desses contextos, deixados de lado
devido à maternidade. No desenho da família, a maternidade aparece com o desejo de que fosse
algo distante e no desenho da mãe, como algo depreciativo. As figuras significativas são
positivas nos desenhos da mulher e da família, e negativas na figura materna.
Na categoria de autoimagem, Maya relata dificuldades em lidar com as mudanças
corporais tanto na gestação quanto no puerpério, fator esse que influência na sexualidade do
casal, bem como na autoestima da participante.
No caso de Gaia, que vivenciou o processo de parto com assistência humanizada, a
garvidez não foi planejada para o momento o qual ocorreu, mas já era desejada pelo casal, sendo
uma notícia recebida de forma positiva por eles e por toda a família. Gaia se emociona muito
em diversos momentos, chora quando relata alguns fatos que considera importante e apresenta-
se muito mobilizada ainda com tudo, tendo em vista que durante a entrevista encontrava-se em
um puerpério recente, com 4 meses após o nascimneto do bebê.
Na categoria do relacionamento conjugal, Gaia apresenta um relacionamento estável,
com forte vínculo afetivo e uma participação ativa do cônjuge durante todos os processos de
decisão, desde contar a notícia para a família, até a decisão da via de parto, durante o trabalho
de parto e no pós-parto imediato, incluindo nesse período a amamentação. A participante aponta
que os dois estudaram muito, buscaram informações, conversaram diversas vezes com a equipe
e discutiam todas as possibilidades para decidirem juntos.
103

Quanto ao exercício da maternidade, os desenhos apontam a ambivalência vivida por


Gaia, pois a participante apresentou sentimentos idealizados expressos de instinto de vida,
tendências construtivas e impulsos amorosos, ou seja, possui sentimentos construtivos como
alegria, amor, conquistas, mas também sentimentos de mudanças construtivas, com necessidade
de cura, realização e autonomia. Assim como no caso de Maya, para Gaia a figura de mãe e
mulher apresentam-se de forma dissociada.
Ainda que as figuras se apresentem de forma dissociada, no caso de Gaia há
identificação positiva quanto a figura da mulher que aparecem na história como sentimentos de
valorização e autonomia, com sentimentos positivos em relação ao papel da mulher, ainda que
ela não se veja nesse contexto. Já no desenho da mãe e da família, é possível observar
identificações de insegurança que oscilam entre positivas e negativas.
No desenho da mãe a insegurança aparece no relato com a necessidade de proteção,
ajuda e acolhimento, porém esses sentimentos são compensados com a identificação positiva
com o marido, que a valoriza e na percepção de que a tristeza é transitória. No desenho da
família, a insegurança aparece ao citar o passado, com a percepção do mundo desprotetor e
necessidades de proteção materna, porém é substituído com uma identificação positiva à
situação atual e as perspectivas de futuro. As figuras significativas familiares e conjugal
também aparecem de forma positiva nos desenhos de mulher e de mãe, tendo em vista que
aparecem como protetora, facilitadora, objetos bons e sentimentos positivos em relação a
ambos.
Esses fatores podem ser considerados protetivos durante o ciclo gravídico-puerperal. As
figuras significativas representam uma rede de apoio fortalecida, possibilitando maior
vinculação do casal, fator esse observado também no desenho da família, pois possui
cooperação, colaboração e igualdade que contribuiram para que Maya se sentisse segura na
decisão pela via de parto vaginal, mesmo que apresentando um parto de maior risco pelo fato
de ter o bebê pélvico e para que se sentisse segura e aclhida também no puerpério, mesmo com
dificuldades frente às transformações físicas e psíquicas próprias desse período.
No caso de Iris, que vivenciou o parto com violência obstétrica, há o relato de
complicações com o relacionamento conjugal desde o momento anterior a gravidez, fator esse
que influenciou uma série de questões posteriores, dentre elas o momento do parto. Os
procedimentos de violência obstétrica também influenciaram na manutenção do vínculo do
relacionamento conjugal.
Quanto a categoria de relacionamento conjugal, esse não se manteve após o parto.
Conforme a participante, os problemas que já haviam antes, intensificaram-se ainda mais com
104

o nascimento da filha. A separação e a situação conjugal aparecem como fatores relevantes nos
três desenhos, que reforçam as análises das entrevistas. A participante transita entre insegurança
e aceitação nos desenhos da mulher e da mãe. Ela integra os dois papéis, mas fala o quanto é
difícil esse processo. No desenho da mulher, aparece uma mulher sozinha, mas que é bem
resolvida assim. Já na mãe, a solidão aparece como algo difícil. A mulher é alguém que sonha,
a mãe não anda sonhando muito. Já no desenho da família, há uma identificação negativa, pois
aquela família não faz parte da realidade dela, apenas da realidade da filha.
As figuras aparecem como positivas para a parte materna, como uma mãe e mulher que
busca sempre dar o seu melhor e os sentimentos expressos transitam em instinto de vida na
mulher e na família e sentimentos derivados do conflito na figura materna. A mulher e família
fizeram aquilo que acharam melhor naquele momento e foram mudanças construtivas e
necessárias. Já a mãe, aparece como alguém que está buscando dar o seu melhor, mas que ainda
não tem certeza se o que tem feito é o suficiente para dar conta de tudo. A mulher apresenta-
se de forma construtiva e a mãe e a família com necessidades de suprirem faltas básicas, de
serem amparadas e cuidadas. Aqui, é possível observar a dificuldade em lidar com o exercício
da maternidade.
Quanto à escolha da via de parto, há a hipótese de que possui relação direta com o
relacionamento conjugal, porém não é possível afirmar se o vínculo conjugal enfraquecido foi
um fator que contribuiu para que houvesse procedimentos de violência obstétrica, ou se os
procedimentos de violência foram fatores de risco para que enfatizasse ainda mais os conflitos
que já eram existentes, tendo em vista que a ausência do pai durante o parto inviabilizada pela
equipe impactou de forma significativa na vinculação parental.
No que se refere a autoimagem, Iris não relata sobre os impactos físicos da gestação e
do pós-parto, mas sim nos fatores de percepção dos aspectos psíquicos. A autoimagem é
apontada muito mais sobre a sua percepção de si enquanto mãe, enquanto mulher e nas
mudanças proporcionadas pelo divórcio, muito mais do que pelo puerpério.
Mesmo que a participante aponte dificuldades em exercer a maternidade de maneira
solo, os impulsos aparecem como amorosos nos três desenhos, pois estão sempre em busca de
tomar decisões pensando no bem das pessoas que estão ao entorno, principalmente da filha e
dela mesma. As ansiedades aparecem como depressivas, pois fala da dificuldade em tomar
decisões e se adaptar a elas, porém ela traz como algo possível, ainda que difícil e doloroso.
Os mecanismos de defesa transitam entre isolamento e racionalização, pois traz a figura
da mulher e mãe sempre sozinha, mesmo no desenho da família e traz nos três desenhos o
discurso de que “foi o que deu pra fazer”, racionalizando e justificando-se quanto às suas
105

escolhas.
Por fim, conforme o objetivo proposto, é possível concluir que a forma como cada
participante percebe o relacionamento conjugal possui grande influência nos aspectos psíquicos
analisados. Ainda que a análise tenha sido elaborada com mulheres em situação de puerpério,
é possível notar que a influência ocorre pela percepção do relacionamento desde antes da
gestação e que as percepções acerca do vínculo conjugal se intensificam durante todo o ciclo
gravídico-puerperal. Esses aspectos podem ser notados também nos scores das escalas aplicadas
(Tabela 01). Nas duas escalas (autoestima e satisfação com o relacionamento conjugal) os
índices de Gaia (PH) aparecem superiores ao das outras participantes, em segundo as médias
de Maya (CE) e com o score mais baixo, sendo inclusive ausente no relacionamento conjugal,
a participante Iris (VO). No caso de Maya (CE) o vínculo com o marido era fragilizado, o que
impactou na falta pela busca de informações na gestação, que resultou em um processo de parto
definido pela equipe médica, dificuldades em lidar com o novo papel social de mãe, bem como
grande dificuldade de uma autoimagem positiva e satisfatória. No caso de Gaia (PH), o vínculo
com o marido mostrou-se fortalecido, com forte impacto nas decisões em conjunto pelo casal,
bem como em assumir as responsabilidades pelas escolhas efetudas. O parto foi definido por
eles, com acompanhamento da equipe médica, o exercício da maternidade, ainda que tenha suas
dificuldades, é exercido de forma conjunta, favorecendo não só a maternidade, mas a contrução
da parentalidade e Gaia apresenta uma autoimagem em processo de reconstrução com as novas
demandas maternas. Já para Iris, o relacionamento instável parece tomar conta de suas
preocupações, não dando a ela a oportunidade de se ocupar exclusivamente com as demandas
advindas do nascimento do bebê.
A partir dos resultados obtidos, ressalta-se a importância da realização de novos estudos
sobre o tema em questão, bem como a necessidade da realização de programas de intervenção
com foco preventivo durante a gestação, com o objetivo de promoção de saúde à mulheres e
casais para a construção da parentalidade de forma saudável no fortalecimento do vínculo
familiar.
106

REFERÊNCIAS1

Abreu, A. S. G. T., & Souza, I. E. O. O pai a espera do parto: uma visão compreensiva do
fenômeno. Rio de Janeiro (RJ): Edição do Autor; 1999.

Agência Nacional de Saúde Suplementar, Ministério da Saúde (BR). (2008) O modelo de


atenção obstétrica no setor de saúde suplementar no Brasil: cenários e perspectivas. Rio de
Janeiro (RJ): ANS; 2008.

Aiello-Vaisberg, T. M. J. (1995). O uso de procedimentos projetivos na pesquisa de


representações sociais: projeção e transicionalidade. Psicologia USP, 6(2), 103-127.

Almeida, J.A.G. (1999). Amamentação: um híbrido natureza-cultura. Rio de Janeiro:


FIOCRUZ.

Almeida, L. S. (2007). Mãe, Cuidadora e Trabalhadora: As múltiplas identidades de mães que


trabalham. Revista do Departamento de Psicologia, 19(2), 411-422.

Althabe, F., & Belizán, J. M. (2006). Caesarean section: the paradox. Lancet, 368(9546), 1472-
1473.

Amorim, M. M. R., & Katz, L. (2008). O papel da episiotomia na obstetrícia moderna. Femina,
36(1), 47-54.

Andrade, M. A. C., Lima, J. B. M. C., & BRASIL. Ministério da Saúde. (2014). O modelo
obstétrico e neonatal que defendemos e com o qual trabalhamos. Ministério da Saúde (BR).
Humanização do parto e do nascimento. Brasília: Ministério da Saúde, 19-46.

Andreucci, C. B., & Cecatti, J. G. (2011). Desempenho de indicadores de processo do Programa


de Humanização do Pré-natal e Nascimento no Brasil: uma revisão sistemática. Cadernos
de saúde pública. 27(6), 1053-1064.

Arrais, A. (2005). As configurações subjetivas da depressão pós-parto: para além da


padronização patologizante (Tese de Doutorado, Departamento de Psicologia Clínica,
Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília). Recuperado de
http://repositorio.unb.br/handle/10482/14011.

Arrais, A. R.; Mourão, M. A.; Fragalle, B. (2014) O pré-natal psicológico como um programa
de prevenção à depressão pós-parto. Saúde e Sociedade, v.23, n.1, São Paulo, mar. 2014.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
12902014000100251>. Acesso em: 22 mar. 2016.

Badinter, E. (1985). Um amor conquistado: o mito do amor materno. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira.

Badinter, E. (1986). Um é o outro: Relações entre homens e mulheres. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira.

1
De acordo com o estilo APA (American Psychological Association).
107

Barros, D. D. Imagem corporal: a descoberta de si mesmo. Hist Ciênc Saúde 2006;12(2):547

Barros, I. P. M. de. (2004). Características psicológicas da primeira e da segunda gravidez: o


uso do DFH e do TAT na assistência pré-natal (Dissertação de mestrado não-publicada).
Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo.

Barros, I. P. M. de. (2010). Movimentos do desejo materno antes e após o nascimento do filho:
um estudo longitudinal. (Tese de doutorado não-publicada). Instituto de Psicologia,
Universidade de São Paulo, São Paulo.

Bee, H. (1996). A criança em desenvolvimento. Porto Alegre, Rio Grande do Sul: Artes
Médicas.

Belli, L. F. (2013). La violencia obstétrica: otra forma de violación a los derechos humanos
Obstetric violence: another form of Human Rights violation. Revista
Redbioética/UNESCO, 1(7), 25-34.

Benazzi, A. S. T., Lima, A. B. S., & Sousa, A. P. (2012). Pré-natal masculino: um novo olhar
sobre a presença do homem. Revista de Políticas Públicas, 15(2), 327-333.

Betrán, A. P., Merialdi, M., Lauer, J. A., Bing‐Shun, W., Thomas, J., Van Look, P., & Wagner,
M. (2007). Rates of caesarean section: analysis of global, regional and national
estimates. Paediatric and perinatal epidemiology, 21(2), 98-113.

Bleger, J.(1998). Temas em Psicologia: entrevista e grupos. Martins Fontes: São Paulo.

Bock, A. M. B., Furtado, O., & Teixeira, M. L. (2001). Psicologias: uma introdução ao
estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva.

Borsa, J. C., & Dias, A. C. G. (2004) Relação Mãe e Bebê: as expectativas e vivências do
puerpério. Revista Perspectiva, Erechim, 28 (102), 39- 53.

Borsa, J.C. & Feil, C.F. (2008). O papel da mulher no contexto familiar: uma breve reflexão.
Portal dos Psicólogos, Portugal. Disponível em
:http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0419.pdf

Bortoletti, F.F. (2007). Psicodinâmica do ciclo gravídico puerperal. In Monron, A.F.; Bortoletti,
F.F.; Filho, J.B; Santana, R.M.;,Mattar, R.Psicologia na prática obstétrica: abordagem
interdisciplinar (Cap.3, pp.40-65). Barueir: Manole.

Boss, P., Bryant, C. M., & Mancini, J. A. (2016). Family stress management: A contextual
approach. Sage Publications.

Bowser, D. & Hill, K. (2010). Exploring Evidence for Disrespect and Abuse in Facility-Based
Childbirth Harvard School of Public Health. University Research Co., LLC. Recuperado de
http://tractionproject.org/sites/default/files/Respectful_Care_at_Birth_9-20-101_Final.pdf

Braga, M.G.R. & Amazonas, M.C.L.A. (2005). Família: maternidade e procriação assistida.
Psicologia em Estudo, Maringá, 10(1), 11-18.

Branden, N. (1993). Auto-estima: como aprender a gostar de si mesmo. Saraiva: São Paulo.
108

Brasil. Ministério da Saúde. (2006). Área Técnica de Saúde da Mulher. Pré-natal e puerpério:
atenção qualificada e humanizada. Brasília, DF: o autor.

Brasil. Ministério da Saúde. (2014). Humaniza SUS 4: humanização do parto e do nascimento.


Recuperado de http://www.abenfomg.com.br/site/arquivos/outros/107_ Caderno_
Humanizasus_v4_HUMANIZA%C3%87%C3%83O_PARTO_2014.pdf.

Brasil. Ministério da Saúde. Manual Técnico de Pré-Natal e Puerpério: atenção qualificada e


humanizada, Brasília, 2005.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. (2008). Política Nacional de atenção
Integral à Saúde do homem. Brasília.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. (2010). Política Nacional de


Humanização. Brasília.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. (2015). Estratégia Nacional para
Promoção do Aleitamento Materno e Alimentação Complementar Saudável no Sistema
Único de Saúde: manual de implementação. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à
Saúde. Brasília.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações


Programáticas Estratégicas. Coordenação Nacional de Saúde do Homem. (2016) Guia do
pré-natal do parceiro para profissionais de saúde. Rio de Janeiro; Ministério da Saúde.
Livroilus, tab.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.


Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. (2005). Manual dos Comitês de
Prevenção do Óbito Infantil e Fetal. Brasília, (Série A. Normas e Manuais Técnicos).

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. (2001). Parto, aborto e puerpério:
assistência humanizada à mulher. Brasília.

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de


Situação em Saúde. (2006d). Saúde Brasil 2006: uma análise da desigualdade em saúde.
Brasília. (Série G. Estatística e Informação em Saúde).

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de


Situação em Saúde. (2008). Saúde Brasil 2007: uma análise da situação de saúde. Brasília.
(Série G. Estatística e Informação em Saúde).

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Departamento de Informática do SUS. Rede


Interagencial de Informações para a Saúde. (2007). IDB 2007 Brasil – Indicadores e Dados
Básicos para a Saúde. Brasília.

Braz, M. P., Dessen, M. A., & Silva, N. L. P. (2005). Relações Conjugais e Parentais: Uma
Comparação entre Famílias de Classes Sociais Baixa e Média. Psicologia: Reflexão e
Crítica, 18(2), 151-161.

Bydlowski, M. (2002). O olhar interior da mulher grávida: Transparência psíquica e


representação do objeto interno. In: Corrêa Filho, L., Corrêa Girade, M. H. & França, P.
(Orgs.). Novos olhares sobre a gestação e a criança até 3 anos: saúde perinatal, educação
109

e desenvolvimento do bebê. Brasília: L.G.E. Editora.

Cairolli, P. B. (2009). Avaliação da imagem corporal e da (in)satisfação com o corpo grávido


pela escala de medida em imagem corporal em gestantes inscritas no programa de pre-natal
da rede basica de saude de Vinhedo. (Dissertação de mestrado não-publicada). Faculdade
de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

Caldas, I. F. R. (2007). Modificações gerais na gestação. In Bortoletti, F. F., Moron, A. F.,


Bortoletti Filho, J., Nakamura, U., Santana, R. M., & Mattar, R. Psicologia na prática
obstétrica: abordagem interdisciplinar. (pp. 170-175).São Paulo.

Campos, B. C. & Rodrigues, O. M. P. (2015) Depressão pós-parto materna: crenças, práticas


de cuidados e estimulação de bebês no primeiro ano de vida.Psico(Porto Alegre), 46(4).
483-492. Recuperado
dehttp://revistaseletronicas.pucrs.br/revistapsico/ojs/index.php/revistapsico/article/view/2
0802/14100

Canavarro, M. C. (2001) (Ed.). Psicologia da Gravidez e da Maternidade. Coimbra: Quarteto


Editora.

Carroli, G. & Mignini, L. (2009). Episiotomy for vaginal birth. Cochrane Database of
Systematic Reviews 2009, Issue 1. Art. No.:CD000081. Recuperado de
file:///C:/Users/Miria_2/Downloads/0912f50f42ec763333000000.pdf

Carter, B.; Goldrick, M. (1995). As mudanças no ciclo familiar. Porto Alegre: Artes Médicas.

Carvalho, V. F. D., Kerber, N. P. D. C., Busanello, J., Costa, M. M. G. D., Gonçalves, B. G., &
Quadros, V. F. D. (2010). Práticas prejudiciais ao parto: relato dos trabalhadores de saúde
do sul do Brasil. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, 11, 92-98

Carvalho, V.F.; Kerber, N.P.C.; Busanello, J.; Gomes da Costa, M.M.; Gonçalves, B.G. &
Quadros, V.F. (2010). Práticas prejudiciais ao parto: relato dos trabalhadores de saúde do
sul do brasil. Rev. Rene, vol. 11, Número Especial, p. 92-98.

Caughey, A. B., Cahill, A. G., Guise, J. M., Rouse, D. J., & American College of Obstetricians
and Gynecologists. (2014). Safe prevention of the primary cesarean delivery. American
journal of obstetrics and gynecology, 210(3), 179-193.

Chiavegatto Filho, A. D. P. (2013). Partos cesáreos e a escolha da data de nascimento no


Município de São Paulo. Ciência & Saúde coletiva, 18(8), 2413-2420.

Cia, W.C.; Balau, T.S.S. (2007). Relação médico-paciente em obstetrícia.InMonron, A.F.;


Bortoletti, F.F.; Filho, J.B; Santana, R.M.;,Mattar, R.Psicologia na prática obstétrica:
abordagem interdisciplinar (Cap.10, pp.113-132). Barueir: Manole.

Ciello, C., Carvalho, C., Kondo, C., Delage, D., Niy, D., Werner, L., & Santos, K.S. (2012).
Parto do Princípio. Dossiê da Violência Obstétrica “Parirás com dor”.Rede Parto do
Princípio para a CPMI da Violência Contra as Mulheres. Recuperado de
http://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf.

Clark, S. L., Belfort, M. A., Dildy, G. A., Herbst, M. A., Meyers, J. A., & Hankins, G. D.
(2008). Maternal death in the 21st century: causes, prevention, and relationship to cesarean
110

delivery. American journal of obstetrics and gynecology, 199(1), 36-e1-36.e5.

Costa de Oliveira, S., Gomes Ferreira, J., Moura Pereira da Silva, P., Ferreira, J. M., de Almeida
Seabra, R., & Nascimento Fernando, V. C. (2009). A participação do homem/pai no
acompanhamento da assistência pré-natal. Cogitare Enfermagem, 14(1), 73-78.

Costa, J.F. (1979). Ordem médica e norma familiar. Rio de Janeiro: Graal.

Cowan, C. P., & Cowan, P. A. (2000). When partners become parents: The big life change for
couples. Lawrence Erlbaum Associates Publishers.

Cox, J. (1995). Troubles psychiatriques du post-partum: Aspects socioculturels de la «maladie


mentale sévère». Comunicação oral no Colóquio Internacional de Psiquiatria Périnatal de
Marrocos.

Cruz, M.M. (1990). Encantos e desencantos da maternidade. Análise Psicológica, n.4, Lisboa.
Disponível em: <file:///C:/Users/usuario/Downloads/102-310-1-SM.pdf>. Acesso em: 19
mar. 2016.

Darze, O. I., Branco, L., & Fernandez, D. F. (2004). Protocolo Assistência ao Parto. Bahia.
Instituto de Perinatologia. Recuperado de http://www1.saude.ba.gov.br/iperba/admin/db/
userfiles/file/Protocolo-OBS-013-Parto_Ces%C3%A1rea%5B1%5DCorrigido.pdf

Davim, R. M. B., & de Menezes, R. M. P. (2001). Assistência ao parto normal no


domicílio. Revista Latino-Americana de Enfermagem, 9(6), 62-68.

De Felice, E. M. (2000). A Psicodinâmica do puerpério. São Paulo: Vetor.

De Felice, E. M. (2006). Trajetórias da maternidade e seus efeitos sobre o desenvolvimento


infantil. Mudanças-Psicologia da Saúde, 14(1), 7-17.

De Felice, E. M. (2010). O desenho da figura humana como representação da experiência de


maternidade. Aletheia, 32.

Dessen, M.A.; Braz, M.P. (2000). Rede social de apoio durante transições familiares
decorrentes do nascimento de filhos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, vol. 16, n. 3, Brasília.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ptp/v16n3/4809.pdf>. Acesso em 11 jul. 2017.

Diniz, C. S. G. (2003) O que nós como profissionais de saúde podemos fazer para promover
os direitos humanos das mulheres na gravidez e no parto. Projeto Gênero, Violência e
Direitos Humanos – Novas Questões para o Campo da Saúde. Departamento de Medicina
Preventiva – Faculdade de Medicina USP. Recuperado de
http://www2.fm.usp.br/gdc/docs/preventivaextensao_2_cartilhaparto.pdf

Diniz, C. S. G. (2005). Humanização da assistência ao parto no Brasil: os muitos sentidos de


um movimento. Ciência & Saúde coletiva, 10(3), 627-37.

Dolto, F. (1984). Sexualidade feminina. São Paulo: Martins Fontes.

Dolto, Françoise. A gênese do sentimento materno: esclarecimento psicanalítico da função


simbólica feminina. In: DOLTO, F. No jogo do desejo: ensaios clínicos. Rio de Janeiro:
Zahar, 1984.
111

Duarte, L.F.D. (1995). Horizonte do indivíduo e da ética no crepúsculo da família. In: Ribeiro
& A.C.T. Ribeiro (Orgs.) Família em processos contemporâneos: inovações culturais na
sociedade brasileira. São Paulo: Loyola, p. 27-41.

Eizirik, C. (2001). O ciclo da vida humana: uma perspectiva psicodinâmica. Porto Alegre:
Artmed.

Eizirik, C. L., Kapczinski, F., & Bassols, A. M. S. (2001) O ciclo da vida humana: uma
perspectiva psicodinâmica. In Zavaschi, M. L. S., Costa, F., & Brunstein, C. O bebê e seus
pais. Porto Alegre: Artmed.

Favaro, C. (2007). Mulher e Família: Um binômio (quase) Inseparável. In: Strey, M.N.; Neto,
J.A.S. & Horta, R.L. (org), Família e Gênero, Porto Alegre: EDIPUCRS.

Ferrari, J. (2009). A autonomia da gestante e o direito pela cesariana a pedido. Revista Bioética,
17(3), 473-495.

Ferreira, L. S., Leal, I., & Maroco, J. (2010). Sintomatologia de Couvade e o envolvimento
paterno vivenciado durante a gravidez. Psicologia, Saúde & Doenças, 11(2), 251-269.

Ferreira, T. N., Almeida, D. R., Brito, H. M., Cabral, J. F., Marin, H. A., Campos, F. M. C., &
Marin, H. C. (2014). A importância da participação paterna durante o pré-natal: percepção
da gestante e do pai no município de Cáceres–MT. Gestão e Saúde, 5(2), pag-337.

FIOCRUZ – Fundação Osvaldo Cruz. Nascer no Brasil: Inquérito Nacional sobre parto e
Nascimento. Cadernos de Saúde Pública, v. 30, supl. 2014. Recuperado de
http://www5.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/txt_943835885.pdf

Freud, S. (1976). A dissolução do complexo de Édipo. (J. Salomão, Trad.). Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas (Vol. XIX, pp. 215-226). Rio de Janeiro:
Imago. (Originalmente publicado em 1924)

Freud, S. A Feminilidade. Rio de Janeiro: Ed. Imago, v. XXII, 1996.

Frizzo, G. B., Prado, L. C., Linares, J. L. & Piccinini, C. A. (2010). Depressão pós-parto:
evidências a partir de dois casos clínicos. Psicologia: Reflexão e Crítica, 23(1), 46-55.
Recuperado de http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-
79722010000100007&script=sci_abstract&tlng=pt

Furtado, O. (2001) O psiquismo e a subjetividade social. In Bock, A. M. B., Gonçalves, M. G.


M., Furtado, O.(Org.) Psicologia sócio histórica (uma perspectiva crítica em psicologia).
São Paulo: Cortez.

Gama, A. D. S., Giffin, K. M., Angulo-Tuesta, A., Barbosa, G. P., & d'Orsi, E. (2009).
Representações e experiências das mulheres sobre a assistência ao parto vaginal e cesárea
em maternidades pública e privada. Cadernos de Saúde Pública, 25(11), 2480-2488.

Gardner, R. A. (1971). A proposed scale for the determination of maternal feeling. Psychiatric
Quarterly, 45(1), 23-34.

Gardner, R. M. Methodological issues in assessment of the perceptual component of body


image disturbance. Br J Psychol. 1996;87(Pt 2):327-37
112

Goer, H., Romano, A., & Sakala, C. (2012). Vaginal or Cesarean Birth: What is at stake for
woman and babies. New York: Childbirth Conection. Recuperado de
https://childbirthconnection.org/pdfs/vaginalorcesareanbirth.pdf

Gomes, A.J.S. & Resende, V.R. (2004). O pai presente: O desvelar da paternidade em uma
família contemporânea. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 20(2), 119-125.

Gonçalves Barcellos, L., Oliveira Rezende de Souza, A., & Frantz Machado, C. A. (2009).
Cesariana: uma visão bioética. Revista Bioética, 17(3), 497-510.

Gordon, M.C. (2002). Maternal physiology in pregnancy. In Gabbe. Obstetrics: normal ans
problem pregnancies. 4 ed. Chirchill Livingstone, 2002. P.63 a 84. Disponivel em:
mdconsult.com.

Guédeney, N., & Jeammet, P. (2001). Dépressions postnatales (DPN) et décisions d'orientation
thérapeutique. Devenir, 13(3), 51-64.

Hamilton, B. E., Martin, J. A., Ventura, S. J. (2007). National vital statistics report. Births: data
for 2007. Natl Vital Stat Rep., 57(12), 1-23.

Heinberg, L. J. Theories of body image disturbance: perceptual, developmental and


sociocultural factor. In: Thompson JK, editor. Body image, eating disorders, and obesity:
an integrative guide for assessment and treatment. Washington (DC): American
Psychological Association; 1996. p. 27-48.

Herzberg, E. (1986). Aspectos psicológicos da gravidez e suas relações com a assistência


hospitalar. São Paulo. (Dissertação de mestrado não publicada). Instituto de Psicologia,
Universidade de São Paulo, São Paulo.

Herzberg, E. (1993). Estudos normativos do Desenho da Figura Humana (DFH) e do Teste de


Apercepção Temática (TAT) em mulheres: Implicações para o atendimento a gestantes.
(Tese de doutorado não-publicada). Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São
Paulo.

HSCIC – Health & Social Care Information Center. Maternity statistics England: 2012–2013.
NHS Maternity Statistics - England, 2012-13, 2013. Recuperado de
http://www.hscic.gov.uk/catalogue/PUB12744

Iaconelli, V. (2005). Depressão pós-parto, psicose pós-parto e tristeza materna. Pediatria


Moderna, 41(4), 41-55.

Iaconelli, V. (2005). Depressão pós-parto, psicose pós-parto e tristeza materna, Revista


Pediatria Moderna, vol. 41, n. 4. Disponível em:
https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/1927.pdf. Acesso em 01 ago.
2017.

Junior, H. P. O. S., Silveira, M. F. A. & Gualda, D. M. R. (2009) Depressão pós-parto: um


problema latente.Rev Gaúcha Enferm. (Porto Alegre), 30(3), 516-24. Recuperado de
http://seer.ufrgs.br/index.php/RevistaGauchadeEnfermagem/article/view/8062/6997

Klaus, M. H., Kennel, J. H., & KLAUS, P. H. (2000). Vínculo – Construindo as bases para um
apego seguro e para a independência. Porto Alegre: ArtMed.
113

Klein, M. (1928-1981). Primeiras fases do complexo de Édipo (M. Maillett, trad.). In: ______.
(Ed.). Contribuições à psicanálise. 2. ed.). São Paulo: Mestre Jou, [s.d.]. p. 253-267.

Krob, A. D., Piccinini, C. A, & Silva, M R. (2009). A transição para a paternidade: da gestação
ao segundo mês de vida do bebê. Psicologia USP. 20(2):269-291.

Leal, M. D. C., Pereira, A. P. E., Domingues, R. M. S. M., Filha, M. M. T., Dias, M. A. B.,
Nakamura-Pereira, M., ... & Gama, S. G. N. D. (2014). Obstetric interventions during labor
and childbirth in Brazilian low-risk women. Cadernos de saúde pública, 30, S17-S32.

Lebovici, S. (1987). O bebê, a mãe e o psicanalista. Porto Alegre: Artes Médicas.

Machuca, M. S., Quadros, A. P. D., Castro, J. C. D., Siqueira, G. D., & Venturi, I. (2011).
Dificuldades encontradas pelas puérperas em relação ao aleitamento materno no pós-
parto. Pediatria Moderna, 47(4), 134-138.

Maçola, L., Nogueira do Vale, I., & Valentim Carmona, E. (2010). Avaliação da autoestima de
gestantes com uso da Escala de Autoestima de Rosenberg. Revista da Escola de
Enfermagem da USP, 44(3).

Maldonado, M. T. (2002). Psicologia da Gravidez – parto e puerpério. 16ºed. São Paulo:


Saraiva.

Maldonado, M. T. P. (1981). Psicologia da gravidez: parto e puerpério. Petrópolis: Vozes,


1981.

Maldonado, M. T. P., Nahoum, J. C., & Dickstein, J. (1981). Nós estamos grávidos. Rio de
Janeiro: Bloch Educação.

Marini, F., C. (2014) Estudos dos fatores relacionados à pontuação na Escala de Depressão
Pós-Parto de Edimburgo (Tese de Doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais,
Pós-Graduação em Saúde da Mulher, Belo Horizonte.

Martinez, A. L., & Barbieri, V. (2011). A experiência da maternidade em uma família


homoafetiva feminina. Estudos de Psicologia, 28(2), 175-185.

Matheus, E. D. (2007). Noções de Assistência Pré-Natal. In Bortoletti, F. F., Moron, A. F.,


Bortoletti Filho, J., Nakamura, U., Santana, R. M., & Mattar, R. Psicologia na prática
obstétrica: abordagem interdisciplinar. (pp. 179-182). São Paulo.

Mendonça, J. S., Bussab, V. S. R. & Siqueira, J. O. (2013). Depressão pós-parto e conflito


conjugal: Estudo longitudinal das associações bidirecionais em famílias de baixa renda.
Psico (Porto Alegre), 44(4), 581-589, Recuperado de
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistapsico/article/view/13207/10851

MERCK SHARP & DOHME CORP. Capítulo 249: Complicações do Parto. In Secção 22:
Problemas de saúde da mulher. Manual MSD. Portugal. 2009. Recuperado de
http://www.manuaismsd.pt/?id=275&cn=2049&ss=

Moraes, E. (2012). Ser mulher na atualidade: apresentação discursiva da identidade feminina.


São Paulo: Scielo Books.
114

Moura Ramos, M. (2006). Adaptação materna e paterna ao nascimento de um filho: Percursos


e contextos de influência. Unpublished Masters Thesis. Universidade de Coimbra.

Moura-Ramos, M., & Canavarro, M. C. (2012). Adaptação parental ao nascimento de um filho:


Comparação da reactividade emocional e psicossintomatologia entre pais e mães nos
primeiros dias após o parto e oito meses após o parto. Análise Psicológica, 25(3), 399-413

Nakamura, M., Junior, L. K., & Rocha, N. C. (2007). Período Puerperal. In Bortoletti, F. F.,
Moron, A. F., Bortoletti Filho, J., Nakamura, U., Santana, R. M., & Mattar, R. Psicologia
na prática obstétrica: abordagem interdisciplinar. (pp. 192-194). São Paulo.

Nakano, A. M. S., & Mamede, M. V. (1994). O significado do parto na visão de casais


grávidos. Revista Brasileira de Enfermagem, 47(2), 118-123.

Nascimento, M. J. (2003). Preparar o nascimento. Análise psicológica, 21(1), 47-51.

Nedder, M. Prefácio Psicológico Obstetrícia: Permanecendo ao lado da gestante e nova mamãe.


In Monron, A.F.; Bortoletti, F.F.; Filho, J.B; Santana, R.M.;,Mattar, R.Psicologia na
prática obstétrica: abordagem interdisciplina. Barueir: Manole.

Nilsen Evenise, Sabatino Hugo, Lopes Maria Helena Baena de Moraes. (2011). Dor e
comportamento de mulheres durante o trabalho de parto e parto em diferentes
posições. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 45(3), 557-565.

Noronha, D. T. (1997). Gravidez situação de crise. Revinter: Rio de Janeiro.

Nunes, S. A. (2011). Afinal, o que querem as mulheres? Maternidade e mal-estar. Psicologia


Clínica, 23(2), 101-115.

Oliveira, C., Araújo-Pedrosa, A., & Canavarro, M. C. (2005). Gravidez, parentalidade e


mudança. Stress e adaptação nos processos de transição para a parentalidade. Stress e bem-
estar, 59-83.

Oliveira, D. C. D. (2008). Análise de conteúdo temático-categorial: uma proposta de


sistematização. Rev. enferm. UERJ, 16(4), 569-576.

Oliveira, M.R.; Dessen, M.A. (2008). Alterações na rede social de apoio durante a gestação e
o nascimento de filhos. Estudos de Psicologia, vol. 29, n. 1, Campinas. Disponível em: <
http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v29n1/a09v29n1.pdf>. Acesso em 09 jul. 2017.

O'Neill, S. M., Agerbo, E., Kenny, L. C., Henriksen, T. B., Kearney, P. M., Greene, R. A., ...
& Khashan, A. S. (2014). Cesarean section and rate of subsequent stillbirth, miscarriage,
and ectopic pregnancy: a Danish register-based cohort study. PLoS medicine, 11(7),
e1001670.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Assistência ao parto normal: um guia prático.


Relatório de Grupo Técnico. OMS/ SRF/ MSM/ 96.24. Genebra: Organização Mundial de
Saúde, 1996.

Palacius, J., & Hidalgo, V. (1995) Desenvolvimento da personalidade nos anos pré- escolares.
In Palacius, J., & Marchesi, A. (Org). Desenvolvimento psicológico e educação:
psicologia evolutiva, Porto Alegre: Artes Médicas.
115

Papalia, D.; Olds, S.; Feldman, R. (2012). Desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed.

Patah, L. E. M., & Malik, A. M. (2011). Modelos de assistência ao parto e taxa de cesárea em
diferentes países. Revista de Saúde Pública, 45(1), 185-194.

Pereira, C. R. V. R., Fonseca, V. D. M., Oliveira, M. I. C. D., Souza, I. E. D. O., & Mello, R.
R. D. (2013). Avaliação de fatores que interferem na amamentação na primeira hora de
vida. Revista Brasileira de Epidemiologia, 16(2), 525-534.

Petersen, A. (1999). Discutindo o uso da categoria de gênero e as teorias que respaldam estudos
de gênero. In: Roso, A.; Mattos, F.B.; Werba G. & Strey, M.N (org.) gênero por escrito:
saúde, identidade e trabalho. Porto Alegre: EDIPUCRS.

Prehn, A.R. (1999). Divisão sexual do trabalho: isso é coisa de mulher? In: Roso, A.; Mattos
F.B.; Werba G. & Strey, M.N (org.) gênero por escrito: saúde, identidade e trabalho. Porto
Alegre: EDIPUCRS.

Prior, E., Santhakumaran, S., Gale, C., Philipps, L. H., Modi, N., & Hyde, M. J. (2012).
Breastfeeding after cesarean delivery: a systematic review and meta-analysis of world
literature. The American journal of clinical nutrition, 95(5), 1113-1135.

Ramires, V.R.R. (1997). O exercício da paternidade hoje. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos.

Rappaport, C. R., Fiori, W. R., & Herzberg, E. Psicologia do Desenvolvimento: A infância


inicial: O bebê e sua mãe, vol. 2. EPU: São Paulo, 1981. In____FIORI, W, R. Psicologia
da gestação, cap. 1.2, p. 7.

Rede Saúde. Dossiê Humanização do Parto. São Paulo: Rede Nacional Feminista de Saúde
Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, 2002.

Rezende J. (2005). Obstetrícia. 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.

Rezende J., Coslovsky S. Repercussões da gravidez sobre o organismo. In: Rezende J.


Obstetrícia. 8 ed. Rio de Janeiro: Guanabara - Koogan; 1998. p.146.

Rezende J., Kamnitzer MB. O Puerpério. In: Rezende J. Obstetrícia. 3 ed. Rio de Janeiro:
Guanabara - Koogan; 1977. p.324-36.

Robinson, J.N. (2012). Approach to episiotomy. UptoDate.: Sep 11, 2012. Recuperado de
http://firedrops.centelia.net/uptodate/contents/mobipreview.htm?13/42/13992/abstract/37

Romagnolo, A.N. (2017) Gomes, M. B. ; Figueiredo, D. E. A. ; Baccelli, M. S. ; Vizzotto, M.


M. . Pré-natal psicológico: fundamentos e perspectivas de um modelo de intervenção. In:
Adriana Leônidas de Oliveira; Paulo Francisco de Castro. (Org.). Psicologia: diversos
Olhares. 1ed.Taubaté: Universidade de Taubaté, v 1. , p. 50-60.

Salmela-Aro, K., Nurmi, J. E., Saisto, T., & Halmesmaki, E. (2000). Women’s and men’s
personal goals during the transition to parenthood. Journal of Family Psychololy, 14(2),
171-186.

Saraiva, E. R. A. (2007). A experiência materna mediada pela depressão pós-parto: um estudo


das representações sociais(Dissertação de Mestrado em Psicologia Social). Faculdade de
116

Psicologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa.

Sarmento, R. & Setúbal, M. S. V. (2012) Abordagem psicológica em obstetrícia: Aspectos


emocionais da gravidez, parto e puerpério.RevCiencMed, 12(3),261-68.Recuperado de
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_nlinks&ref=000111&pid=S1414-
8145200900020002100001&lng=pt

Scavone, L. (2001). Maternidade: Transformações na família e nas relações de


gênero. Interface: comunicação, saúde e educação, 5(8), 47-60.

Schilder, P. (1981). A Imagem do Corpo - As Energias Construtivas da Psique. São


Paulo:Martins Fontes Ltda.

Serrurier, C. (1993). Elogio às mães más. São Paulo, SP: Summus.

Silva Costa, E., Bernardo Pinon, G. M., Sampaio Costa, T., de Araújo Santos, R. C., Rodrigues
Nóbrega, A., & Barbosa de Sousa, L. (2010). Alterações fisiológicas na percepção de
mulheres durante a gestação. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, 11(2), 86-93.

Silva, I.M.; Lopes, R.C.S. (2009). Reprodução assistida e relação conjugal durante a gravidez
e após o nascimento do bebê: uma revisão da literatura. Estudos de Psicologia, vol. 14, n.
3, Rio Grande do Sul. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/epsic/v14n3/a06v14n3>.
Acesso em 18 jul. 2017.

Soifer, R. (1976). Psicologia del embrazo, parto y puerpério. Buenos Aires, Kargienen.

Soifer, R. (1992). Psicologia da Gravidez, parto e puerpério. 6º ed. Porto Alegre: ArtMed.

Souza, I. F., Teixeira, K. M., Loreto, M. D., & Bartolomeu, T. G. (2011). "... Não tem jeito de
acordar hoje e dizer: hoje eu não vou ser mãe!": Trabalho, Maternidade e Redes de
Apoio. Oikos. Revista de Economia Doméstica, 22(1), 46-63.

Souza, K. R. F., & Dias, M. D. (2010). História oral: a experiência das doulas no cuidado à
mulher. Acta Paulista de Enfermagem, 23(4), 493-499.

Szejer, M.; Stewart, R. (1997). Nove meses na vida da mulher: uma abordagem psicanalítica
da gravidez e do nascimento. São Paulo: Casa do Psicólogo.

Trinca, W. (1997). Apresentação e aplicação. Em W.Trinca (Org.), Formas de investigação


clínica em psicologia: procedimento de desenhos-estorias: procedimento de desenhos de
famílias com estórias (pp.11-34). São Paulo: Vetor.

Uzcátegui, U. O., & Cabrera, C. (2010). Aspectos bioéticos de la cesárea y consentimiento


informado. Revista de Obstetricia y Ginecología de Venezuela, 70(1), 47-52.

Wachelke, J. F. R., Andrade, A. L., Souza, A. M. & Cruz, R. M. (2007). Estudo complementar
da validade fatorial da Escala Fatorial de Satisfação em Relacionamento e predição de
satisfação global com a relação. Psico-USF, 12(2), 221-225.

Weiderpass, E., Barros, F. C., Victora, C. G., Tomasi, E., & Halpern, R. (1998). Incidência e
duração da amamentação conforme o tipo de parto: estudo longitudinal no Sul do
Brasil. Revista de Saúde Pública, 32(3), 225-231.
117

Winnicott, D. W. O que irrita? IN____ Winnicott, D. W ,Conversando com os pais.2.ª edição,


pp. 77-100. São Paulo: Martins Fontes. 1999.

Winnicott, D. W. A criança e seu mundo. Rio de Janeiro: Editora LTC, 1982.

Wolff, L. R., & Waldow, V. R. (2008). Violência consentida: mulheres em trabalho de parto e
parto. Saúde e sociedade, 17(3), 138-151.

WORLD HEALT ORGANIZATION - WHO. (2010) The Global Numbers and Costs of
Additionally Needed and Unnecessary Caesarean Sections Performed per Year: Overuse
as a Barrier to Universal Coverage. Recuperado de
http://www.who.int/healthsystems/topics/financing/healthreport/30C-sectioncosts.pdf

WORLD HEALT ORGANIZATION - WHO. Appropriate technology for birth. Lancet, v. 2,


p. 436-437, 1985.

WORLD HEALT ORGANIZATION - WHO. United Nations Population Fund; United Nations
Children’s Fund; Mailman School of Public Health. (2009) Monitoring emergency obstetric
care: a handbook. Geneva: World Health Organization, 2009. Recuperado de
http://www.unfpa.org/webdav/site/global/shared/documents/publications/2009/obstetric_
monitoring.pdf

Yamaguchi, L.M.;Pita, J.C.;Martins, L.A.(2007). A paciente psiquiátrica no ciclo gravídico


puerperal. InMonron, A.F.; Bortoletti, F.F.; Filho, J.B; Santana, R.M.;, Mattar, R.
Psicologia na prática obstétrica: abordagem interdisciplina. (Cap 17, pp.247-259).
Barueri: Manole

Zanardo, V., Svegliado, G., Cavallin, F., Giustardi, A., Cosmi, E., Litta, P., & Trevisanuto, D.
(2010). Elective cesarean delivery: does it have a negative effect on
breastfeeding?. Birth, 37(4), 275-279.

Zimerman, D. E., & Osório, L. C. (1997). Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre, RS:
Artmed.
118

APÊNDICE/ANEXOS
119

Anexo A: Questionário Sócio Demográfico

Data da Aplicação: ____/____/______


Local de Aplicação: ____________________________________

I. DADOS PESSOAIS

1. Nome: __________________________________________________________

2. Data de Nascimento: _____/_____/___________

3. Idade__________ anos

4. Naturalidade: ____________________________________________________

5. Cidade em que mora:______________________________________________

6. Relacionamento estável à:

________________ Anos ________________ Meses


________________ Semanas ________________ Dias

7. Estado Civil:

a) Casada (civil) ( ) b) Casada (união estável) ( )


c) Casada (civil + igreja) ( ) d) Casada (Mora junto) ( )
e) Casada (igreja) ( ) f) Namora e mora separadamente ( )

8. Cor:

( ) Branca ( ) Negra ( ) Parda ( ) Amarela ( ) Índia

9. Quem mora com você:

__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
______________________________________________

II. DADOS OCUPACIONAIS / FINANCEIROS

10. Escolaridade:

a) Sem Instrução ( ) b) Fundamental Incompleto ( )


c) Fundamental completo ( ) d) Médio Incompleto ( )
e) Médio Completo ( ) f) Superior Incompleto ( )
a) Superior Completo ( ) b) Pós Graduação ( )
c) Mestrado ( ) d) Doutorado ( )

11. Profissão: _______________________________________________________

12. Ocupação Atual:__________________________________________________


120

13. Renda:

a) Nenhuma ( ) b) Igual ou inferior a 1 salário mínimo ( )


c) De 1 a 3 salários mínimos ( ) d) De 3 a 5 salários mínimos ( )
e) De 6 a 10 salários mínimos ( ) f) Mais de 10 salários mínimos ( )

III. DADOS RELATIVOS À GRAVIDEZ / PARTO


14. Gravidez
a) Saudável ( );
b) Complicada ( );
c) De risco ( );
d) Comente b) ou c): ______________________________________________
___________________________________________________________________________
_____________________________________________________
15. Primeira Gravidez?
a) Sim ( ) b) Não ( ) Quantas anteriormente? _______________________

16. Frequentou aulas de preparação para o parto?


a) Sim ( ), Onde? ________________________________ b) Não ( )

17. Tipo de Parto (marque quantas quiser):


a) Vaginal sem epidural ( );
b) Vaginal com epidural ( );
c) Vaginal com ocitocina (sorinho) ( );
d) Vaginal sem ocitocina (sorinho) ( );
e) Vaginal com episiotomia (corte na vagina) ( );
f) Vaginal sem episiotomia (corte na vagina) ( );
g) Cesariana com anestesia local( );
h) Cesariana com anestesia geral( );
i) Cesariana com hora marcada; qual motivo: ______________________________
________________________________________________________________
j) Cesariana com trabalho de parto ( ); Quanto de dilatação _________________
k) Durante o trabalho de parto, teve alguém conhecido ao seu lado?
Sim ( ), Quem? ____________________________________ Não ( )

IV. DADOS RELATIVOS AO PÓS PARTO

18. O seu bebê amamentou no peito?


121

Só na maternidade ( ) Menos de 1 mês ( )


De 1 a 3 meses ( ) De 3 a 6 meses ( )
De 6 a meses a 1 ano ( ) De 1 ano a 1 ano e 6 ( )
meses
De 1 ano e 6 meses a 2 anos ( ) Mais de 2 anos ( )

19. Por que interrompeu a amamentação ou quando pretende interromper? Por que?

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_________________________________________
20. Você teve quem a ajudasse a cuidar do seu bebê?
Sim ( ), Quem? ____________________________________ Não ( )

21. Dos sentimentos abaixo, quais estavam mais presentes logo após sua chegada da
maternidade?

( ) Medo ( ) Desejo de Fugir ( ) Felicidade


( ) Tristeza ( ) Choro frequente ( ) Plenitude
( ) Desanimo ( ) Vontade de não ficar sozinha com o bebê ( ) Animação
( ) Ansiedade ( ) Desesperança ( ) Prazer
( ) Irritada ( ) Abandono ( ) Empolgação
( ) Solidão ( ) Vontade de fazer mal a mim mesma ( ) Diversão
( ) Culpa ( ) Tarefas demais para mim

V. DADOS RELATIVOS AO SEU BEBÉ

22. Sexo do seu bebé: ( ) Feminino ( ) Masculino


23. Idade do seu bebé: _________________________
24. Apgar do seu bebê: 1º ________ e 2º ________
25. Saúde do seu bebé ao nascer:
a) ( ) Foi direto para o colo e alojamento conjunto
b) ( ) Foi direto para o colo e depois para a enfermaria
c) ( ) Foi para a UTI neonatal
d) ( ) Foi direto para a enfermaria e vi depois de ________ horas
e) ( ) Outros: __________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________
122

Anexo B: Escala Fatorial da Satisfação em Relacionamento de Casal – EFS-RC (Wachelke,


Andrade, Souza, & Cruz, 2007)

Pedimos que, por favor, responda aos itens abaixo, referentes a sua relação com seu(sua)
companheiro(a). Não há respostas certas ou erradas; O importante é que você seja o mais sincero
possível. Leia cada item e depois escreva o número que expressa sua resposta no espaço ao lado da
palavra, de acordo com a seguinte escala.
1 – Discordo totalmente
2 – Discordo parcialmente
3 – Não sei responder
4 – Concordo parcialmente
5 – Concordo totalmente

A. Meu(minha) companheiro(a) e eu temos muitas ideias e interesses em comum ( )


...................................................................................................................
B. Considero meu(minha) companheiro(a) bonito(a) ........................................... ( )
C. Meu(minha) companheiro(a) e eu temos interesses e expectativas compatíveis em ( )
relação ao nosso futuro profissional ...........................................
D. Meu(minha) companheiro(a) é fisicamente atraente para mim ....................... ( )
E. Reprovo muitas atitudes do(a) meu(minha) companheiro(a) ........................... ( )
F. Meu(minha) companheiro(a) e eu gostamos de participar de atividades similares ( )
................................................................................................................
G. A aparência de meu(minha) companheiro(a) não é ideal para mim ................ ( )
H. Sinto muita vontade de envolver-me em situações de contato físico com meu(minha) ( )
companheiro(a) .................................................................................
I. As situações de contato físico entre mim e meu(minha) companheiro(a) são muito ( )
prazerosas ...................................................................................................
123

Anexo C: Escala de Autoestima de Rosemberg


124

Anexo D: Parecer do Comitê de ética e Pesquisa


125

Anexo E: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO


Programa de Pós Graduação em Psicologia da Saúde

Eu,_________________________________________________________________________
_________________________aceito participar voluntariamente do estudo “Cesárea Eletiva,
Violência Obstétrica e Parto Humanizado: o legado destas intervenções para a vida emocional da
mãe”, que tem como objetivo:
 Investigar e impacto na vida emocional da mulher que passou por uma das 3 experiências a
seguir: a) uma cesárea agendada; b) foi vítima de violência na hora do parto; c) vivenciou um
parto normal humanizado, ou seja, aquele em que foi respeitada a todo o momento, teve um(a)
companheiro(a) de sua livre escolha ao seu lado e foi informada de todos os procedimentos
realizados nela e em seu bebê.
 Identificar se a violência no momento do parto ou a cesárea agendada geram prejuízos
emocionais para a mulher, para o bebê e para a relação desta mulher com seu bebê e seu
companheiro(a).
 Fornecer subsídios para a implantação de Políticas Públicas que incluam: a) a mulher e o bebê
como protagonistas do trabalho de parto e parto aumentando o bem estar da dupla; b) respeito
aos processos fisiológicos e realização de intervenções que promovam benefícios indicados por
evidências científicas.
Para que estes objetivos sejam atingidos é necessário que a participante: a) passe por uma
entrevista de, aproximadamente 60 minutos em que contará, apenas para a pesquisadora, detalhes sobre
sua gestação, trabalho de parto, parto, amamentação e relação com seu bebê até o presente momento; b)
faça um teste psicológico de, aproximadamente, 30 minutos em que contará histórias livremente, a partir
de desenhos que serão apresentados; c) responda a questionário (escala) sobre seu relacionamento
conjugal, d) responda a questionário (escala) sobre seus sentimentos logo após o parto; e) responda a
questionário (escala) sobre seus sentimentos sobre você mesma; f) responda a questionário (escala)
sobre dados pessoais, onde mora, se trabalha, etc.
Enquanto participante declaro estar ciente de que:
a) faço parte de uma amostra de 90 mulheres que participarão desta pesquisa;
a) serão necessários dois encontros de, aproximadamente 90 minutos cada para que a
pesquisadora realize o que foi acima descrito;
b) poderei interromper / desistir de minha participação a qualquer momento, sem nenhum tipo
de prejuízo;
c) não precisarei pagar ou gastar nenhuma quantia monetária em nenhum momento da pesquisa,
pois, todos os custos com os materiais para a execução da pesquisa ficarão a cargo da pesquisadora.
126

d) poderei me sentir, eventualmente, fisicamente cansada durante a entrevista ou questionários


e poderei ficar sensibilizado por tocar em questões íntimas ou que despertem algum tipo de emoção.
Neste caso, a pesquisadora interromperá o processo até que eu me sinta disposta a continuar. Posso
decidir desistir da participação se essa decisão me deixar mais confortável. Vale ressaltar que tanto
cansaço quanto desconforto são considerados mínimos no que diz respeito aos aspectos psicológicos
e/ou físicos, pois, estarei realizando uma atividade comum (como conversar e responder perguntas sobre
um evento da vida, o parto) do meu dia a dia;
e) no caso de alguma ocorrência que traga dano decorrente da participação na pesquisa, estou
ciente de que terei direito a uma indenização, conforme estabelecido na Resolução 466/12. Contudo,
vale ressaltar que todos os riscos estão minimamente reduzidos por se tratar de atividades rotineiras para
todas as participantes desta pesquisa;
f) se for recomendado, necessário ou de meu interesse, poderei contar com o atendimento
psicológico na Policlínica da Universidade Metodista de São Paulo pela Psicóloga Adriana Navarro
Romagnolo – CRP 06/118877, ou seja, a pesquisadora responsável;
g) a pesquisadora estará à disposição para realizar uma entrevista devolutiva caso eu manifeste
interesse;
h) tenho assegurado que minha privacidade será totalmente preservada e as informações
permanecerão em sigilo, não sendo divulgado em nenhum momento o meu nome e/ou outros dados que
possam me identificar.
i) trata-se de uma pesquisa liderada pela Profa. Dra. Miria Benincasa Gomes, da Universidade
Metodista de São Paulo, registrada no Conselho Regional de Psicologia pelo número: 06/52.180;
j) Fica a minha disposição o contato da pesquisadora responsável pelo projeto, caso seja do meu
interesse contatá-la a qualquer momento. O telefone para contato com da pesquisadora é (11) 9 7594-
1164 e seu e-mail é adriananavarro.psicologia@gmail.com.
k) Caso haja qualquer dúvida, o Comitê de Ética em Pesquisa poderá ser contatado pelo e-mail
cometica@metodista.br ou telefone (11) 4366-5814.
Este documento será assinado em duas vias, ficando assim, uma para cada parte de interesse
sendo a pesquisadora e eu, como participante

Você também pode gostar