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PERÍCIA

CONTÁBIL I

Aline Alves
Revisão técnica:

Lilian Martins
Especialista em Controladoria e Planejamento Tributário
Professora do Curso de Ciências Contábeis
Coordenadora do Núcleo de Assessoramento Fiscal (NAF)
das Faculdades São Judas Tadeu

P441 Perícia contábil I / Aline Alves ... [et al.] ; [revisão técnica:
Lilian Martins]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017.
330 p. il. ; 22,5 cm.

ISBN 978-85-9502-150-1

1. Contabilidade - Perícia. I. Alves, Aline.

CDU 657

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094


Perícia: objetivos e tipos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir a finalidade da perícia contábil.


 Analisar os tipos de perícia contábil.
 Reconhecer as diferenças entre a perícia e a auditoria.

Introdução
Você sabe quais são os objetivos que a perícia possui? A perícia contábil
envolve procedimentos técnico-científicos que visam a fornecer ao juiz
fatores relevantes que servirão como meios de prova. Assim, busca auxiliar
a decisão que deve ser tomada, ou seja, o julgamento relacionado ao
litígio. O juiz fará uso das informações apresentadas pelo laudo pericial
contábil. Neste texto, você vai estudar a finalidade da perícia, os tipos de
perícias e as diferenças entre perícia e auditoria.

A finalidade da perícia
A perícia objetiva buscar informações relevantes ao processo em questão. Faz
isso mediante procedimentos de exame, vistoria ou avaliação executados por
um profissional capacitado e que tenha conhecimento técnico em relação ao
assunto tratado.
A perícia visa a complementar a falta de conhecimentos pelas partes inte-
ressadas com relação ao objeto da prova pericial. Também busca esclarecer
maiores informações aos advogados e especialmente ao magistrado.
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A perícia tem por finalidade analisar documentos, avaliar registros de operações


efetuadas, apontar os responsáveis pela execução dos procedimentos e das ações,
juntando documentos e informações adquiridos no momento em que a diligência
for efetuada.

A perícia contábil visa à confirmação, prova ou evidenciação contábil da real


situação referente a seu objeto. Ela o transfere mediante sua materialização no
referido laudo a fim de ordenar a sentença decisória, judicial ou extrajudicial.
Entre os principais usuários da perícia estão:
Julgador: corresponde ao magistrado. Ele precisa das informações técnicas
relativas ao campo de conhecimento. Também necessita da experiência que
irá assessorá-lo nos seus julgamentos.
Advogados: farão uso das informações demonstradas por meio do laudo
pericial a fim de buscar a veracidade dos fatos apresentados pelas partes
envolvidas e preservar os interesses daquela que o contratar.
Partes envolvidas: são aqueles que estão envolvidos no processo e que possuem
interesse no laudo pericial. Este poderá evidenciar ou não a realidade das justifi-
cativas e confirmar os fatos, assim como refazer os acontecimentos em debate.
Árbitro ou mediador: é o responsável indicado para solucionar ou auxiliar
na melhor solução de um litígio. Entre suas atribuições está a busca de infor-
mações técnicas referentes a uma área específica para enviar para a tomada
de decisão de um conflito.
A perícia possui dois tipos de objetivos, sendo eles gerais e específicos.
O objetivo geral visa à confirmação, comprovação ou apresentação de fatos
verídicos sobre seu objeto. Com relação aos objetivos específicos da perícia
contábil, é possível destacá-los conforme segue:

 Buscar a veracidade das informações.


 Comprovar, analisar e verificar a condição do objeto.
 Explicar e excluir dúvidas existentes sobre o objeto.
 Buscar a base científica da sentença.
 Elaborar uma opinião ou juízo técnico.
 Mensurar, verificar e avaliar o objeto.
 Apresentar, de forma transparente, o que estiver oculto pelas partes
envolvidas devido à falta de certeza, desvio, erro, fraude, entre outros.
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Você já sabe qual é finalidade principal da perícia contábil. Ela busca


confirmar os acontecimentos ou questões contábeis relativas à causa, ou
seja, ao aspecto patrimonial. Portanto, envolve a análise técnica do perito.
Independentemente dos critérios escolhidos, se consideram características
essenciais da perícia:

 Restrição da matéria, ou seja, limitação do assunto em questão.


 Declaração limitada à questão ou questões planejadas. Nesse caso,
planejamento das perguntas que serão indagadas.
 Exame detalhista e eficiente de campo determinado anteriormente. Isto é,
planejamento do exame pericial que alcançará as perspectivas esperadas.
 Referência minuciosa à matéria periciada, fazendo uma cuidadosa
citação ao assunto que está sendo tratado.
 Total imparcialidade sobre o pronunciamento do perito. Nessa condição,
ele deve agir sem beneficiar as partes envolvidas, relatando sua opinião
com base em suas experiências e competências.

Os tipos de perícia contábil


A perícia contábil é requerida para diferentes situações que envolvem ações
judiciais. A perícia atua na análise de acontecimentos vinculados ao patrimônio
individualizado. Ela busca formar uma opinião por meio de uma situação pro-
posta. Para fundamentar a formação da opinião, se efetuam exames, vistorias,
questionamentos, análises, avaliações e arbitramento. Também se realizam
outros processos que se façam necessários para que o perito possa emitir uma
opinião sobre o caso em questão.
Na busca da solução de litígios, a fim de reduzir e esclarecer dúvidas com
relação a acontecimentos, apresentam-se diferentes tipos de perícia, conforme
você verá a seguir.

Perícia judicial
A perícia judicial é realizada sob o domínio de um juiz. Ou seja, é executada
mediante a tutela do Poder Judiciário. Busca explicar os fatos ou gerar provas
sobre a situação.
A perícia contábil judicial corresponde a uma área importante da contabi-
lidade. Para sua realização, deve haver um profissional capacitado que possa
explicar questões relativas ao patrimônio das pessoas físicas e jurídicas.
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Para a aplicação da perícia contábil, o profissional deve fazer uso de di-


versos procedimentos técnicos. Por exemplo: análise, diligências, busca de
dados, verificação, cálculos, exames, averiguação, apuração, arbitramento,
mensuração, avaliação e confirmação.

É possível afirmar que a perícia judicial tem por finalidade apresentar provas. Para isso,
ela oferece ao juiz explicações referentes ao tema do litígio que precisa ser julgado,
visando fatos relacionados ao patrimônio da pessoa física ou jurídica.

A perícia judicial é composta de algumas etapas:

 Etapa inicial:
■ A perícia é solicitada ao juiz pela parte envolvida;
■ O juiz atende à perícia e faz a nomeação de um perito;
■ As partes envolvidas elaboram os quesitos e escolhem seus assistentes;
■ Os peritos são notificados quanto à sua escolha;
■ Os peritos fazem a proposta relativa aos honorários e solicitam o
depósito;
■ O juiz define o prazo, assim como o local e a hora de início.
 Etapa atuante:
■ Etapa de início da perícia e das diligências;
■ Desenvolvimento e aplicação do trabalho;
■ Desenvolvimento do laudo pericial.
 Etapa final:
■ Rubrica do laudo;
■ Apresentação do laudo;
■ Verificação dos honorários;
■ Explicações, quando solicitadas.

Todas as etapas possuem prazos e protocolos que é necessário atender.


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A declaração do perito referente aos acontecimentos levantados ocorrerá por meio do


laudo pericial. Havendo uma prova técnica, servirá como base para as insuficiências
do magistrado no que se refere aos conhecimentos técnicos ou científicos.

Perícia semijudicial
A perícia semijudicial corresponde à perícia que é efetuada no âmbito estatal.
Ocorre por meio de autoridades policiais, parlamentares ou administrativas que
possuem poder jurisdicional. A ela se impõem as normas legais e regimentais,
sendo similar à perícia judicial.

Perícia extrajudicial
A perícia extrajudicial é a perícia efetuada fora do judiciário, por meio da
vontade das partes envolvidas. Pode ter por finalidade apresentar fatos fide-
dignos ou não relativos ao litígio. Também pode ter como objetivo distinguir
interesses das partes envolvidas no litígio, confirmar o erro ou possível fraude,
desvios, simulação.

Perícia arbitral
A perícia arbitral é o tipo de perícia efetuada por um perito. Mesmo não
sendo definida juridicamente, possui valor de perícia judicial, porém essência
extrajudicial. Isso ocorre porque as partes envolvidas no conflito indicam as
normas que serão executadas na arbitragem.

A arbitragem corresponde a um procedimento extrajudicial que visa à solução de


litígios. Nela, o árbitro executa ação similar à do juiz estatal.
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A diferença entre perícia e auditoria


Uma das diferenças existentes entre perícia e auditoria é que a perícia é rea-
lizada mediante um perito-contador, enquanto a auditoria externa é efetuada
por um auditor.
Perícia contábil: encontra sua demanda regularmente no âmbito judicial.
A perícia contábil tem um custo elevado para ser realizada.
Corresponde ainda ao exame de um acontecimento ou à união de fatos
relatados nos autos de um processo, ou relatados ainda mediante contrato ou
carta-proposta. Este último ocorre em caso de perícia extrajudicial.
O procedimento pericial visa a examinar de modo profundo o tema discutido
nos autos ou o objeto periciado.
Durante a execução do trabalho desenvolvido pelo perito judicial em um
determinado processo, o contador tem por intuito apurar a veracidade dos
fatos que parecem estar ocultos pelas partes envolvidas, trabalho que deve
ser realizado de maneira imparcial. O contador, quando atua como perito,
objetiva também constatar os acontecimentos da lide. Ele não pode executar
suas funções mediante amostragem ou testes.

Não cabe ao perito-contador se envolver com a empresa. Dessa forma, não deve abordar
questões relativas aos controles internos ou averiguar se os mesmos são apropriados.
Vale ressaltar que o perito-contador atua em ambientes em que existem suspeitas e
vestígios de algum erro ou fraude.

O papel do perito-contador nas perícias é buscar indícios e comprova-


ções de tudo que foi mencionado pelas partes envolvidas no processo. Vale
ressaltar que o perito não corresponde a um consultor da organização. Por
esse motivo, é importante ter o conhecimento de que esse profissional, no
desenvolvimento da perícia, deve buscar sempre a verdade com relação aos
fatos comunicados.
Auditoria contábil: o procedimento é normalmente usado pelas organi-
zações, podendo ser interno e externo.
Auditoria externa: busca averiguar toda a documentação referente a um
período específico, normalmente de um ano ou conforme previsto no contrato
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de prestação de serviços. Tem por finalidade confirmar as demonstrações


contábeis de um período específico, como um trimestre ou um semestre. A
validação poderá ser elaborada com ou sem ressalvas.
A execução de auditorias externas faz uso de técnicas estatísticas, como
a amostragem. Ela determina seus exames nos elementos importantes das
demonstrações contábeis, verificando as mutações patrimoniais. Quem a realiza
é um profissional que não possui nenhum vínculo empregatício e nenhuma
relação de interesse com a organização que está sendo auditada.
O auditor externo visa a emitir opinião sobre os demonstrativos contábeis
examinados por ele nas auditorias contábeis. Na auditoria externa, o auditor
verifica se o controle interno atende às normas de auditoria. Assim, visa a
definir a dimensão do exame das informações contábeis, no caso de auditoria
contábil. Os trabalhos executados pelo auditor externo precisam ser planejados
a fim de identificar erros e fraudes que possam gerar reflexos significativos
nas demonstrações contábeis.
O processo de auditoria usualmente parte dos dados finais e percorre o
percurso contrário. Ou seja, procura por desvios que contrariem as regras
da organização e as normas brasileiras de contabilidade e que podem vir
a colocar em risco a integridade patrimonial. Também busca registros
contábeis desacertados que possam refletir a exatidão das demonstrações
contábeis.
Auditoria interna: a auditoria interna é realizada por colaboradores da
empresa que pertencem a um departamento ou equipe de auditoria interna.
Eles buscam avaliar e monitorar quanto à apropriação do controle interno. A
auditoria interna tem por finalidade analisar se as normas e procedimentos
internos e demais deliberações impostas pela alta administração da empresa
estão sendo cumpridas. Assegura também a qualidade e o desempenho dos
setores quanto às funções e aos planos, metas, objetivos e políticas estabele-
cidas pela organização.
Os auditores internos devem se tornar especialistas na área em que atuam.
Assim, precisam estar preparados para auditar toda a atividade econômica
ou empresarial.

O papel do auditor interno é muito importante. Ele é capaz de descobrir e realinhar


possíveis falhas que poderão ser confirmadas pela auditoria externa.
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BACELLAR, R. P. Mediação e arbitragem. São Paulo: Saraiva, 2012.


CONSELHO REGIONAL DE CONTABILIDADE DO RIO GRANDE DO SUL. Perícia contábil:
a prova a serviço do judiciário. Porto Alegre: CRCRS, 2015.
HENRIQUE, M. R.; SOARES, W. A. Perícia, avaliação e arbitragem. Curitiba: InterSaberes, 2015.
MOURA, R. Perícia contábil: judicial e extrajudicial. 4. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2017.
ORNELAS, M. M. G. Perícia contábil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
SÁ, A. L. de. Perícia contábil. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
SOUSA, S. H. M.; GRANDE, C. G. Perícias na prática. Curitiba: Juruá, 2010.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.

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