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Resgate dos símbolos nacionais

A Copa pode re-unir a nação brasileira

Por Alexandre Müller Hill Maestrini, professor e escritor

Às vésperas da Copa do Mundo no Catar, a mudança de governo no Brasil abre a possibilidade de


começarmos a re-unir a nação brasileira em torno de seus símbolos nacionais. Mas antes disso precisamos refletir
sobre as diferenças entre governo e Estado, que durante este último governo foi mal interpretado. Governo é o
síndico de plantão, aquele escolhido pelo povo para governar o país por quatro anos. Já o Estado Brasileiro é muito
mais que isso, são as instituições permanentes e basilares do nosso povo. Entre os símbolos de Estado estão a
bandeira e o hino nacional, o dia de sete de setembro, a camisa da seleção e suas cores. Estes símbolos pertencem
a toda nação, a todos os brasileiros e brasileiras, independente de partido, convicção ou religião.
Muitos de nós sentimos nesses últimos quatro anos uma tristeza grande em ver uma nação literalmente
dividida ao meio, como consequência tivemos agora uma votação de praticamente 50% para um lado e 50% para
outro lado. Não que isso seja anormal em democracias, faz parte do jogo da maioria que governa temporariamente o
país e outra minoria que faz o papel da oposição saudável. No entanto, o aprisionamento de símbolos nacionais pela
política não é nova, mas foi usado no passado em países em direção ao autoritarismo.
A Alemanha, desde o fim do nazismo em 1945, precisou de 69 anos para poder novamente em 2014
comemorar na ruas a vitória na Copa do Mundo de Futebol com suas bandeiras e suas cores nacionais sem
julgamento e culpa de estarem representando um regime autoritário. Este medo o Brasil nunca teve, mesmo tendo
passado por 21 anos de ditadura militar. Éramos acostumados a nos juntarmos para comemorar vitórias, chorar por
derrotas e torcermos por qualquer “Brazuca” que disputasse uma competição internacional. Mas infelizmente nos
últimos anos vimos nossas cores serem capturadas por um lado da política que se julgava os únicos patriotas, os
únicos com direito a usar a camisa da seleção de futebol e quem não fizesse isso em nome da política deveria ser
banido, ir embora, deixar o Brasil, etc.
Muitos passamos por situações de ver alguns parentes e amigos em passeatas verde-amarelas para
defender um candidato a presidência da república. Alguns de nós nos sentimos inibidos de colocar a camisa da
seleção e ir para a rua com medo de sermos carimbado como pertencente à uma corrente política de extrema-direita.
Ainda mais lamentável foi ver nosso dia da Pátria se politizar, foi perdermos o nosso 7 de setembro para uma linha
de pensamento extremista e excludente. Muitos nem foram às ruas com receio de fortalecer a massa de um dos
candidatos. Esse dia da independência sempre foi um dia de 100% dos cidadãos e cidadãs brasileiros e precisa
agora ser reconquistado.
Será necessário integrar todos num só grupo, quem venceu e quem perdeu a eleição. Quem ganhou
precisará estender a mão aos que pensam diferente e entender os motivos que levaram os que perderam a se
distanciarem tanto na Visão de Mundo. Quem perdeu a eleição precisará entender e aceitar a democracia e se
preparar pacificamente para a próxima eleição, participando do processo de formar uma oposição saudável para
nosso sistema político.
Estamos diante de uma oportunidade única de pacificar o país, reconquistar o direito de todos os brasileiros
e brasileiras de usarem os símbolos nacionais sem medo de serem encarados como extrema-direita. Uma Copa do
Mundo de Futebol sempre teve este poder de mobilizar a nação brasileira e unir todos em uma só torcida,
independente da visão política e religiosa. Vamos precisar de todo mundo para vencer os desafios de um mundo pós
pandemia e de gigantes mudanças geopolíticas mundiais. Podemos começar por nos unirmos para conquistar o título
no Catar. Vamos nos re-aproximar, torcer juntos e re-construir o Brasil?

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