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Desigualdade gera Violência

Pensamentos para escolher melhor nossos governantes

Por Alexandre Müller Hill Maestrini, professor e escritor

Com a proximidade do momento de eleger nossos representantes nos deparamos com várias perguntas, porém a
mais cruel é definir um candidato sem conhecer seu caráter e suas idéias. Não é por culpa de alguém que temos
essa dificuldade, mas sim pela grande desigualdade de oportunidades perpetuadas desde o descobrimento do
Brasil. A culpa é dos portugueses? Claro que não. Infelizmente não conseguimos até hoje acabar com as
desigualdades gritantes em nosso país. O momento da eleição é oportuno para tentarmos entender os motivos
reais de nossas diferenças de opiniões, nossos medos e desejos, pois acredito que todos queremos um Brasil
melhor, mais justo e mais social. Uma das causas da violência não é a falta de armas para a população, mas sim
a falta das necessidades básicas que faz os co-irmãos e co-irmãs brasileiros a ter que ligar o botão do instinto e
tentar sobreviver, as vezes praticando atos que com certeza nunca fariam se tivessem o mínimo para sobreviver.
E aqui eu insisto na palavra sobrevivência e não em “curtir a vida” como muitos acham.
Não precisamos ir muito longe para ver e enxergar a raiz do problema. Se você no início da pandemia pode ficar
em casa em home-office, você provavelmente é branco. Se teve que pegar dois ônibus e ir trabalhar para um
patrão, provavelmente é negro. A classificação do IBGE determina que negros são os indivíduos que
correspondem ao grupo formado por pessoas pretas e pardas. Então vamos seguir. Se você enche o carrinho no
supermercado é geralmente branco, se está sentada no caixa escanneando os produtos, negro. Se você é um
político ou chefe de uma empresa, provavelmente branco. Se trabalha recolhendo o lixo ou varrendo as ruas é
negro. Se está presa você é provavelmente negra, se está lendo um jornal é com grande certeza branca.
Os exemplos são infinitos para uma sociedade que se acostumou a ver o negro como um invisível e inferior. Se
estiver em um shopping e o segurança te abordar, provavelmente é negro. Se o ascensorista de elevador te
cumprimentar, é geralmente branco. Se estiver chegando em uma escola da periferia, tem grande chance de ser
negro, se papai estiver te buscando de carro num colégio particular, é branco. Fomos acostumados como brancos
a tratar os negros como serviçais e invisíveis, já os negros foram culturalmente treinados durante muito séculos a
respeitar e não “atrapalhar” os brancos. Teoricamente se a situação fosse inversa já teríamos uma revolução no
país.
Então para escolher nossos representantes é preciso sim entender o contexto histórico e escolher representantes
que nos represente. Então por que num Brasil com mais de 56% da população negra, não temos mais de 50%
dos cargos altos, dos políticos etc? Por que negro não escolhe negro que lhe represente? Historicamente é
necessário quebrar a barreira cultural que foi gravada a ferro e fogo na alma dos nossos antepassados negros,
que o branco é quem manda por ser superior e o negro é o que rouba. Não, meus compatriotas. Isso foi o que
quiseram que acreditemos. Isso não é verdade. Cor da pele não é determinante, mas vem sim desde os tempos
da escravidão impregnando nossas mentes e gerando desconfiança entre nós – irmãos e irmãs brasileiros – com
o único objetivo de manter os privilégios.
A mudança acontecerá de baixo para cima, no melhor voto, no voto consciente e buscando colocar no poder
quem realmente nos representa ou acreditamos que fará as mudanças que 100% dos brasileiros e brasileiras
precisam. Isto é, um país mais igualitário, sem pobreza extrema e com chances iguais para todos. Enquanto não
criarmos condições de enxergarmos todos com os olhos que somos uma grande família, estaremos perpetuando
a violência e desperdiçando talentos para um país mais próspero. Então, vamos escolher bem nossos
representantes. Interesse-se pela política, ela define sua vida!

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