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20/02/2019 Disputas sobre o Sagrado: O que a liberdade de imprensa e a figura do Profeta Mohammed têm em comum?

| Revista Diáspora

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DISPUTAS SOBRE O
SAGRADO: O QUE A Curtir Compart

LIBERDADE DE IMPRENSA E
A FIGURA DO PROFETA
MOHAMMED TÊM EM
COMUM?
Posted by Bruno Bartel | 22/02/2016 | Política | 0 
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O que
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 UM ANO APÓS O ATENTADO AO israele
PERIÓDICO CHARLIE HEBDO, nse
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AS TENSÕES ENTRE POLÍTICA E RELIGIÃO, tado
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A PARTIR DE SUA EXPERIÊNCIA NO Bolson


MARROCOS aro,
Israel e
o
sionis
mo
cristão
:
Por Bruno Bartel
Aliança
s
eletiva
seo
Após o atentado ao periódico francês Charlie Hebdo, a 7 de triunfo
janeiro do ano passado, o tema da liberdade de imprensa das
utopia
retornou ao espaço público marroquino acionado pelas s
publicações das charges contendo a gura do profeta regres
Mohammed. A edição do semanal satírico que se seguiu ao sivas
Política
evento ocorrido em Paris trouxe consigo a célebre frase “Je suis
Charlie” (Eu sou Charlie) em apoio às vítimas do massacre. Tal
síntese acabou não apenas funcionando como um símbolo de Islã e
Rock’n
defesa à liberdade de impressa na França, mas também
Roll:
reforçou o debate sobre as múltiplas formas de presença do Islã uma
no país. Porém, dessa vez, com o cuidado de se evitar relaçã
referências islamofóbicas. o
contro
versa
O apoio de diversos países do mundo ao atentado em solo Cotidian
francês representou um ganho de aliados na luta contra o o

radicalismo islâmico na Europa. Entretanto, algumas


divergências políticas relativas aos pormenores do que se de ne
como os limites dessa liberdade de imprensa do “Ocidente” TAGS
novamente foram levantadas por países do Oriente Médio,
Norte da África e pelas demais nações onde a religião islâmica é Política Integração Arte

majoritária. Islã Político Refugiados

Mídia Digital Islã

No Marrocos, a circulação do número 1178 do Charlie Hebdo, Diálogo ISIS Fluxos

que portava a imagem do profeta Mohammed com um cartaz Migratorios

onde se podia ler “Je suis Charlie” (Eu sou Charlie) e com o título Oriente
extra de “Tout est Pardonné” (Tudo está Perdoado), numa
referência ao ocorrido com os cartunistas, foi proibida pela
Médio Redes
Orientalismo Síria
monarquia Alauíta de Mohammed VI (no poder desde 1999). O
Conteúdo Livre
rei, inclusive, se recusou a participar da marcha organizada em
Intercultural Sul-Sul
Paris, que contou com líderes de diversas nações em
Transnacionalismo
solidariedade a François Hollande. Além disso, o periódico
marroquino MarocHebdo estampou em sua capa, dois dias após
Palestina Geopolítica
a edição do Charlie Hebdo, uma imagem contendo milhares de
Sul Global Norte da
muçulmanos em peregrinação a Meca (cidade sagrada para a
África Migração

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religião islâmica) com a frase: “Je suis mahométan” (Eu sou


maometano). FEED RSS –

Embora o conteúdo da revista criticasse o uso da violência O que é Oriente


contra os cartunistas, reforçando a imagem de um Marrocos Médio?
Oriente Médio é
combatente aos grupos ligados ao fundamentalismo islâmico um termo que se
refere a uma área
delineado pelo “Ocidente”, a exposição da gura do profeta
geográ ca à volta
Mohammed em um jornal satírico não deixou de ser apontada das partes leste e
sul do mar
como uma possibilidade real de incitação ao ódio por parte de
Mediterrâneo. Mas,
alguns marroquinos. Logo, o que se veria ao longo de todo o a nal de contas, o
que esse termo
mês de janeiro de 2015 seria uma série de debates nos meios de
nos diz? Quais
comunicação do país (televisão, rádio, internet e mídia impressa) povos habitam
suas regiões? E,...
sobre os limites do uso da imagem do Profeta e as razões de o Clique pra ver
“Ocidente” querer representá-lo. As argumentações religiosas conteúdo completo

atuantes na mídia marroquina rea rmaram a impossibilidade de


se fazer o uso da representação de Mohammed, devido ao seu Salah ameaça
caráter sacro, e exigiram também um compromisso da deixar o
Liverpool caso
comunidade marroquina que vive na França de repudiar
atacante
quaisquer outros atos da mesma magnitude na Europa. Além israelense seja
disso, a tensão entre o que se de ne como liberdade de contratado
O atacante
imprensa, inspirada em processos de secularização, e a Mohamed Salah
capacidade de agência da religião em sociedades islâmicas, teria ameaçado
deixar o Liverpool
como no caso do Marrocos, fornece um contexto especí co de caso o clube inglês
imbricação e tensão entre política e religião. contrate o
centroavante
israelense Moanes
PRODUÇÕES DE ALTERIDADE Dabbur, que vive
boa fase no Red
Bull Salzburg, da
A capa pós-atentado do Charlie Hebdo não agradou à maioria
Áustria, conforme
das populações islâmicas. As autoridades religiosas (‘ulama) no informou... Clique
pra ver conteúdo
Marrocos foram categóricas em criticar a publicação com a completo
gura do profeta Mohammed estampada na companhia da frase
“Tout est Pardonné” (Tudo está Perdoado). O rei Mohammed VI,
Bolsonaro,
denominado comandante da crença (amir al-um’minin), ou seja, Israel e o
uma espécie de “guardião” simbólico da religião islâmica do país, sionismo
ordenou publicamente a proibição do jornal satírico em seu cristão: Alianças
eletivas e o
território como forma de contemplar aos anseios da elite triunfo das
religiosa. utopias
regressivas
Clique pra ver
ASSIM, A IMAGEM DO PROFETA FOI conteúdo completo
USADA EM FAVOR DA DEFESA DOS
VALORES RELIGIOSOS MARROQUINOS Islã e Rock’n
Roll: uma
COMO UMA FORMA DE PRODUZIR
UMA DISTINÇÃO PERANTE OUTROS relação
controversa
SISTEMAS DE CRENÇAS COMO, POR Clique pra ver
EXEMPLO, A LAICIDADE FRANCESA. conteúdo completo

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Eleições no
  Brasil: O que os
candidatos a
presidente
  dizem sobre o
Oriente Médio e
  as relações com
o Brasil?
Clique pra ver
  conteúdo completo

 
Figura 01 – Capa da Edição nº 1178 da Charlie Hedbo. 14 de
Janeiro de 2015. Fonte:  
http://www.liberation.fr/societe/2015/01/12/mahomet-en-une-
du-charlie-hebdo-de-mercredi_1179193. Acesso em 16 de
 
Janeiro de 2015.

Mas nem tudo se resumiu a repúdio por parte dos marroquinos.


Dois dias depois do ocorrido, centenas de pessoas se
manifestaram no centro da capital, Rabat, em protesto aos
atentados. Convocados através das redes sociais, muitos
manifestantes compareceram ao ato, na frente do prédio de um
veículo de comunicação francês, vestidos de preto e com uma
vela em memória aos mortos. Alguns também carregavam
cartazes com mensagens “Je suis Mohammed, mais je suis
Charlie” (Eu sou Mohammed, mas sou Charlie) ou “Je suis
marocain mais je suis aussi Charlie” (Eu sou marroquino mas
também sou Charlie). Entre os presentes, foi possível ver
jornalistas, intelectuais laicos, militantes da esquerda e de

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organiza
ções
pró-
direitos
humano
se
muitos
profess
ores
universit
ários. O
embaixa
dor da
França e
outros
diploma
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delegaç
ão

Figura 02 – Capa da Edição nº 1101 da MarocHebdo. 16 a também


22 de Janeiro de 2015. Fonte: Foto do autor em 16 de compar
Janeiro de 2015 eceram
ao
protesto
.

A disputa em torno da condenação ou da liberdade do uso da


gura do Profeta se prolongaria durante todo aquele mês no
país. A mídia promoveu uma série de debates, enquetes e
opiniões públicas como uma forma de apresentar e de
posicionar os diversos grupos políticos, religiosos e demais
setores da sociedade civil. A produção dessas distinções se
pautou na defesa expressa dos reais interesses ligados a cada
grupo, mais uma vez a partir dos valores morais em jogo. As
formas de controle, silenciamento e apagamento de um grupo
sobre o outro foram notórias e expuseram os eixos de
sacralidade do Profeta provenientes da imagem de um senso
comum atuante sobre a religião islâmica. Entre discursos
a nados com perspectivas voltadas aos valores normativos de
um “Islã universal”, a partir do que se considera como uma
“tradição”, e argumentos mais atípicos, centrados na crença de
um “Liberalismo universal”, alguns meios de comunicação foram
verdadeiros palcos de exibição de alteridades.

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LIMITES DO SAGRADO
As de nições do que seria o “Islã”, o “muçulmano”, ou a
“liberdade de expressão” foram os centros das disputas desses
grupos que, a partir de seus valores (especialmente os do campo
religioso), se posicionaram na sociedade marroquina.

Em primeiro lugar, a proibição do Charlie Hebdo e a contestação


do uso da imagem do profeta Mohammed, por meio de uma
revista parceira do jornal satírico francês, identi cam o Marrocos
como pertencente à comunidade islâmica, a umma. O processo
de transnacionalização dessa “comunidade imaginada” produz
uma percepção compartilhada de que os “muçulmanos” e o “Islã”
estão sob ataques e necessitam de defesa.

A (RE)INVENÇÃO DOS MUÇULMANOS


NA EUROPA APÓS OS ATAQUE DE
11/09, ATRAVÉS DO RÓTULO DE
“TERRORISTAS”, FAZ COM QUE SEUS
PRATICANTES CRIEM NOVAS
FRONTEIRAS DE DIFERENCIAÇÃO
ENTRE SI.

Esses pertencimentos re etem os interesses dos grupos, mas


também os posicionamentos dos indivíduos, consciente ou
inconscientemente, com relação ao senso comum e às
associações a determinadas alianças políticas.

Em segundo lugar, a questão dos marroquinos que vivem na


França estabelece uma maior tensão para as “minorias
muçulmanas” numa Europa cada vez menos tolerante com a
presença do que se convém denominar de “Islã” e de suas
formas de atuação (ora de invisibilidade ora de promoção no
espaço público). A liberdade de expressão como valor caro ao
“Ocidente” foi incorporada por grande parte da comunidade
marroquina em solo francês, mas também encontrou vozes
consoantes no Marrocos, e não somente na manifestação
ocorrida na capital.

A signi cação moral contida nos discursos e nas práticas dos


muçulmanos, tanto no Marrocos quanto na França, se move a
partir de dispositivos advindos de várias fontes que formariam
as suas “culturas”. Porém, as formas de se acionar esses valores
são particularizadas quando o assunto é apresentar os

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contornos que fazem dessas fronteiras a sua raison d’être. Cada


um procurou controlar a sua imagem diante do que disse ser o
“outro”. A distinção continua a ser um princípio dinâmico à
espera de outras con gurações a partir dos contextos
particulares das relações desenvolvidas entre os dois países.

SEJA COMO FOR, O QUE O ATENTADO


EM PARIS PARECE INDICAR É A
CONTROVÉRSIA ENTRE PROJETOS QUE
ENVOLVEM A PRODUÇÃO DE
ALTERIDADES. 

De um lado, a sacralidade da liberdade de imprensa que se


impõe como um importante valor moral no processo de
secularização francês. Já do outro, a sacralização da gura do
profeta Mohammed cria as condições para se discutir as formas
de poder que estabelecem os limites da liberdade de imprensa
marroquina e a inibem de seguir um caminho nos moldes do
“Ocidente”. No nal das contas, a incomunicabilidade desses
diversos domínios se con gura como um obstáculo tanto na
percepção quanto no trato das diferenças existentes entre o que
se considera como sendo “sagrado”.

SOBRE O AUTOR:
 

Bruno Bartel é doutorando em Antropologia pelo Programa de


Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal
Fluminense (PPGA/UFF), onde fez Mestrado também em
Antropologia. Pesquisador do Instituto de Estudos Comparados
em Administração Institucional de Con itos (INCT-InEAC) e do
Núcleo de Estudos do Oriente Médio (NEOM), ambos da UFF.
Desde 2012, realiza trabalho de campo no Marrocos.

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ABOUT THE AUTHOR

Bruno Bartel
Doutorando em Antropologia pela
Universidade Federal Fluminense .
Mestre em Antropologia pela
Universidade Federal Fluminense.
Bacharel e Licenciado em Geogra a
pela Universidade Federal Fluminense.
Integrante do Instituto de Estudos
Comparados em Administração
Institucional de Con itos (INCT-InEAC),
do Núcleo Fluminense de Estudos e
Pesquisa (NUFEP) e do Núcleo de
Estudos do Oriente Médio (NEOM) .
Doutorando associado do Centre
Jacques Berque (CJB) em Rabat
(Marrocos) e membro do Centro de
Estudos sobre Diversidade Religiosa e
Sociedade pela Universidade Nacional

de Rosário (Argentina). Professor


Regente (Docente I) da Secretaria
Estadual de Ensino do Rio de Janeiro
(SEEDUC).

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