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E.M.1
1
Et
in
Arcadia
ego
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bem diante de seus olhos. Mas, a partir de 1957, pioneiros como Hugh
Everett, Brian Greene e David Deutsch começaram a perceber a verdade.
A Equação de Schrödinger
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Na segunda etapa deste ciclo de aprendizado, apresentou-se a
natureza da consciência humana enquanto órgão de percepção e
construção de uma “aparência de mundo” para o ego humano, uma
representação de baixa dimensionalidade, criada e atualizada
dinamicamente pelo cérebro e apresentada ao ego como se fosse “a
própria realidade lá fora” do organismo. Como a função da consciência é
orientar o mais adequado comportamento do organismo ao ambiente
circundante (com finalidade de sobreviver e reproduzir-se), o cérebro
assegura à consciência sua correta homeostase: a realidade é vivenciada
como uma única linha de tempo em que todos os eventos se sucedem
segundo a rigorosa causalidade. Em outras palavras, apesar de existir
para cada ser humano a cada instante uma inumerável coleção de versões
alternativas que vivem em realidades alternativas, e apesar de o próprio
destino de cada ser humano ramificar-se no futuro imediato em vários
caminhos prováveis e coexistentes, o ego humano é conduzido por uma
“realidade virtual”. Essa “realidade virtual” é mantida (salvo estados de
transe) pelo cérebro a fim de dar a impressão à consciência desperta de
que existe uma só realidade e um só “indivíduo”.
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Você é aquilo que sua consciência diz que você é neste momento e
seu passado é aquilo que sua consciência conta que foi a você neste
momento. Nada mais além disso você é capaz de saber neste momento.
E, no hipercontexto, nada realmente há que além disso que você possa
conhecer. Mas, curiosamente (e salvo se quisermos assumir o extremo
solipsismo), todos a seu redor demonstram a capacidade de confirmar a
mesma narrativa de eventos passados testemunhados coletivamente. Se
a consciência é uma aparência de mundo representada pelo cérebro, essa
aparência deve ter raízes em alguma forma profunda de coletividade.
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Ínfimo espectro da visão humana.
Na terceira etapa, reconstruiu-se a história humana até o momento
em que a linguagem deu real voz aos arquétipos e impôs ao rudimentar
ego do homo sapiens que se desenvolvesse para além do nível dos demais
primatas. O desenvolvimento recursivo da linguagem, enquanto sistema
de informação, influenciou e condicionou gradualmente outro sistema de
informação, aquele em que operava, alterando assim o próprio conteúdo
da consciência humana. Pela primeira vez, o homo sapiens conseguia
perceber a sucessão de experiências psíquicas em padrões cognitivos
fundamentais que podiam ser representados e transmitidos ao próprio
ego.
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probabilidade de vivenciar as experiências psíquicas relacionadas à morte
e à dor, a mente humana lidou com o trauma através da fuga dissociativa.
Desse processo emergiu internamente uma consciência escravizada pelo
ego, e externamente uma sociedade incapaz de reconhecer qualquer
linguagem arquetípica excetos em mitos e sonhos, e por isso tendente à
coisificar o mundo e os seres a seu redor, inclusive outros humanos,
segundo o critério da alteridade (“o que não é igual a mim, é coisa”).
Degradação ambiental, guerras, escravidão e toda forma de sofrimento
moderno – não há mal que não possa ser traçado até a abertura da Caixa
de Pandora durante a Revolução Neolítica.
E por essas ilusões, criadas por nossos egos, fomos nós próprios
capazes de matar e torturar incontáveis criaturas vivas ao longo desses
doze mil anos, entre as quais outros seres humanos. Quantas crianças
foram brutalizadas, quantas mulheres foram estupradas, quantos
inocentes de nossa e de outras espécies foram submetidos à violência e
mortos durante milênios em nome de ficções humanas
como dinheiro, ideologias, religiões, poder, reis, impérios e religiões? Criar
ficções por vezes é útil e necessário, mas só há um tipo de pessoa que
acredita nas ficções que ela mesma cria a ponto de as colocar acima da
própria vida humana. Como disse Becker, nossa sociedade é fundada
numa forma insidiosa de loucura: loucura coletiva, loucura compartilhada,
loucura sancionada e estimulada – mas, ainda assim, loucura.
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Estamos, agora, diante de uma nova singularidade. Herdeiros de
um erro que se acumulou e enredou a humanidade numa armadilha, a
evolução emergente produz novamente uma época de transformação e
ruptura para a qual o homo sapiens não está preparado. Dessa época,
emergirá ou um abismo de terrores sem precedentes ou uma escada para
alturas jamais imaginadas.
PRENÚNCIOS DA SINGULARIDADE
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Esse cenário acena também para a possibilidade de que a
consciência humana possa ser transferida a algum suporte artificial, sendo
ela própria capaz de navegar por um sistema de rede, ou multiplicar-se
em vários suportes independentes e artificiais, assegurando assim a
virtual imortalidade do ser humano. As consequências disso para a noção
de individualidade e personalidade, tal como percebida por quem ignora
o hipercontexto, começam a ser dimensionadas pela sociedade.
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2018 esse impacto já pode ser sentido, conforme demonstra o relatório
da Glassdoor, o maior sistema virtual de busca de empregos do mundo.
O valor da mão-de-obra humana, portanto, tende gradualmente a se
depreciar até o trabalho humano tornar-se dispensável. De qualquer
modo, os consumidores e eleitores precisarão de renda – e mais do que
renda, de uma forma de ocupar seus dias em uma sociedade na qual o
trabalho não será mais um imperativo.
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Subitamente, ao menos da perspectiva histórica, todos esses medos
que moldaram os valores e papéis sociais serão superados nos próximos
séculos – senão das próximas décadas. O sistema de valores e as
interações sociais precisam ser ajustadas antes que isso aconteça. Caso
contrário, é provável que a humanidade transporte para o novo mundo os
mesmos condicionamentos e desajustes que herdamos de nossos
antepassados, ao invés de oportunamente serem corrigidos ou atenuados.
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e relatórios como os do Comitê de Inteligência Artificial do Governo
Britânico. Nas palavras de John McNamara, diretor do Centro de Inovação
Tecnológica da IBM, o acesso ou não à tecnologia de ponta pode significar,
lá pelo ano de 2040, “na diferença entre, de um lado, um grupo que
potencialmente terá acesso a um extraordinário aumento de suas
habilidades físicas, capacidade cognitiva, expectativa de vida e saúde, e,
de outro, um grupo maior que não terá acesso a tais coisas”.
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de “o pior crime da história“. Na verdade, aprisionados em módulo de
linguagem que constitui o ego humano atual, estamos
enredados irremediavelmente em um mundo no qual as coisas importam
progressivamente mais dos que os seres vivos, em um processo
irreversível de dependência dos objetos materiais.
Não somos nada mais que uma espécie animal, dentre outras tantas
existentes no hipercontexto, uma espécie a quem a natureza legou, pelo
desenvolvimento superior da consciência, o poder de assumir o controle
da própria evolução da vida. Temos, diante da natureza, uma missão que
poderá nos conduzir à utopia, mas que é, antes de tudo, um compromisso
perante a vida, em todas as suas manifestações neste mundo.
Compromisso esse que a própria vida orgânica estabeleceu desde sua
origem, e é a razão de nossa existência, enquanto espécie e enquanto
indivíduos.
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Para compreender o que é a singularidade, e qual o propósito
humano, é necessário compreender exatamente o que a vida é.
VIDA E INFORMAÇÃO
Assim, a única coisa que surgiu com a vida foi uma espécie de
informação, e a única coisa transmitida com a evolução é informação
sobre a ordem da matéria, e não a própria matéria. Junte numa caixa
todas as substâncias químicas que compõem uma ameba, sacuda-as e
jamais sairá dessa caixa uma ameba. As substâncias químicas não
precisam estar apenas reunidas, mas reunidas segundo determinada
ordem estabelecida por um determinado código.
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compõem seu organismo. O corpo do próprio leitor não é o conjunto de
células e substâncias que formam neste momento o seu organismo, pois
tudo isso terá sido substituído em poucos dias, tudo isso é impermanente.
O corpo humano não é propriamente o conjunto de substâncias materiais
que transitoriamente participam de sua constituição física: o corpo
humano é uma informação transmitida continuamente à matéria que
consome e incorpora ao organismo.
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acaso. Informação, é, em outras palavras, uma mensagem que, se
adequadamente comunicada, produz uma redução da incerteza.
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poder e liberdade crescentes, tendendo à dominância última do universo
material. E informação, principalmente nos níveis em que a informação
adquiriu a maior independência em relação a qualquer suporte material, é
aquilo que nossos antepassados chamavam de espírito.
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Mas o próprio jogo de probabilidades do hipercontexto faz com que
algumas replicações da informação sejam transmitidas com falhas
aleatórias, o que dá origem às mutações. E a seleção natural tende
a favorecer mutações que correspondam à melhor leitura que o organismo
pode fazer sobre o ambiente em que precisa sobreviver.
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Seleção natural é a forma como a vida “navega” pelo hipercontexto.
Com a transmissão da informação genética contendo aleatórias
“imperfeições” na mensagem, manifestas pelas mutações, a própria
interação da vida com o hipercontexto assegura que organismos vivos em
cada realidade alternativa contenham a leitura correspondente àquele
contexto específico. Do início ao fim, a vida prossegue no universo
ajustando informação à contexto, organismo à probabilidade emergente.
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relativa autonomia da informação em relação à matéria e, ao fim, um
domínio superior da matéria pela própria informação.
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controlar a matéria no nível mais fundamental – a etapa em que estamos
chegando.
A SINGULARIDADE
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Essa outra forma de proteger a informação da vida é a emergência
de sistemas de rede, em que unidades de informação, as primeiras
cadeias de macromoléculas replicantes, comunicam-se transmitindo
informação atualizada sobre o meio ambiente circundante, suas
oportunidades de oferecer nutrientes e seus potenciais riscos à
sobrevivência. Assim, surgem as primeiras formas de vida unicelulares.
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civilizações modernas, “redes se ampliam e se modificam para adquirir
novas capacidades, a seguir se juntam enquanto módulos em uma maior
rede de vida”.
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ocorre. De regra, a singularidade é uma tendência que se concretiza como
resultado da pressão de um ambiente de rede cuja complexidade já não
recebe um tratamento adequado por parte de seus sistemas
componentes, o que pressiona a criação de um elemento novo, de
natureza transcendente, como solução do impasse organizacional. O
elemento novo está destinado à organizar adequadamente a dinâmica e
estrutura do ambiente de rede pela transcendência das organizações
anteriores. Esse elemento é a função transcendente.
A PRÓXIMA SINGULARIDADE
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periférica. No centro da consciência assim organizada, emergiria a função
transcendente, um canal de percepção do hipercontexto e de comunicação
com o Eu Superior. Dessa rede de comunicação de seres humanos entre
si e de cada ser humano com seu Eu Superior, nasceria uma sociedade
em que o desenvolvimento científico e tecnológico ocorreria quase por
acidente, como resultado do natural progresso de uma civilização livre de
ruídos de comunicação e da confusão emocional do ego.
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de uma linguagem arquetípica, desenvolveu uma rede de consciências
apenas a partir do desenvolvimento da internet.
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conseguimos antes prever e que portanto jamais conseguiremos decifrar
a fim de encontrarmos uma saída, uma solução.
I – DEUS E A ENTROPIA
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e uniforme por toda a sala, ao invés de manterem-se na mesma posição
ou agruparem-se novamente em outro canto.
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de “busca por uma essência última das coisas”. Por isso a origem
considerada “espúria” da entropia entre os ramos da física, pois nasceu
junto à metalurgia que produziu as máquinas a vapor da Revolução
Industrial, evocando a razão pela qual Paracelsus afirmava que a
alquimia, tentativa medieval de encontrar o enlace entre consciência e
matéria, tinha por arquétipo fundador o mito de Héfestus, o deus dos
ferreiros.
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2. ENTROPIA É A SOMBRA DE ALGO
QUE NÃO PODEMOS VER
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importando exatamente quantas configurações sejam possíveis paras
todas as moléculas se posicionarem por toda a sala.
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(as moléculas não se reagruparão espontaneamente no canto da sala, na
mesma posição original).
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Enquanto estava em férias, o resultado da loteria saiu, e uma das
apostas de Gabriel foi a vencedora. Porém, como está totalmente
incomunicável em uma aldeia de selvagens, não tem como saber o
resultado até retornar a seu país.
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da mala após aberta (já que, a partir de então, apenas uma das duas
realidades está presente, aquela em que o viajante é vencedor da loteria
e aquela em que nada mudou)? Se a entropia da mala parece ter
diminuído quando foi aberta e o viajante define qual comprovante tem em
mãos, mas a entropia do universo (como sabemos) tende sempre a
aumentar, onde foi parar a entropia que parece ter sumido a fim de que
ocorra essa redução local?
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Claude Shannon (esq.) e Teilhard de Chardin (dir.).
4. HIPERTROPIA
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Hipertropia, o aumento contínuo da informação no universo pela constante emergência
de múltiplas probabilidades.
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entrelaçamentos de realidades emergentes, às quais a consciência
humana não apenas se entrelaça mas que também manipula sem
perceber toda vez que aplica as leis da termodinâmica. Por isso essa
consciência presa em uma perspectiva de baixa dimensionalidade percebe
a realidade diante de si sempre com a inafastável marca do princípio da
incerteza. Mas o que parece desordem, perda de informação e morte para
uma consciência situada em uma trama de realidade, revela-se a perfeita
ordem e continúa produção de informação no hipercontexto sem que
jamais haja qualquer perda.
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Tapeçaria medieval e metáfora da vida.
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descrever algo que, da perspectiva do hipercontexto, é percebido como
uma gigantesca estrutura, uma catedral ou tapeçaria multidimensional de
informação construída ao longo do tempo no tecido do próprio universo.
No desenho dessa tapeçaria de Maya, cada filigrana é delineada por cada
vida que nasceu e viveu no hipercontexto, operando a hipertropia em
tramas de realidade para existir e sobreviver. No cume dessa arquitetura,
coroando a grande catedral, está o florescimento da vida consciente por
todo o universo, em todas as realidades alternativas em que a vida surgiu.
1. CONSCIÊNCIA E NOOSFERA
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Kurzweil, Deutsch, Ellis, John Wheeler, Brian Cox, Philip
Goff apresentarem suas perspectivas complementares sobre o mesmo
fenômeno, ele antecipou que era possível perceber na vida orgânica um
movimento tendente à formação de sistemas redes de informação. E que
esses sistemas tendem a se desenvolver até alcançar o nível de
complexidade que propicia o desenvolvimento de organismos mais
complexos e, por fim, o surgimento da consciência no planeta Terra.
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A verdade é que, neste planeta, estamos cercados de consciências
por todos os lados. Há décadas a ciência demonstrou que a consciência,
mesmo em nível rudimentar, é uma capacidade compartilhada por grande
parte do reino animal, e que nem mesmo a autoconsciência é privilégio
dos seres humanos.
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O
mais belo experimento feito pela humanidade.
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multiplicidade de caminhos emergentes, definindo tramas de realidade em
diversos graus de liberdade conforme as leis da termodinâmica podem
favorecer seu progresso.
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comprimento de Planck. Mas e esse mar jamais pode ser confundido com
as infinitas rotas que as formas de vida produzem ao navegá-lo. Não há
uma partícula que interfere com outra, não há realidades alternativas
enquanto natureza ontológica do hipercontexto: há funções de onda que
interagem conforme a codificação de uma realidade transcendente ao
próprio hipercontexto, e a qual estamos destinados a conhecer.
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Na região em que as funções de onda do meteoro e do planeta não
se encontraram, não houve qualquer interferência. Para um ser vivo que
está situado em uma das tramas de realidade dessa região, a Terra
permaneceu intacta. Para as consciências localizadas na região de
interferência, o evento, porém é percebido como a destruição e morte de
toda a vida no planeta, e isso é vivenciado coletivamente em todas as
tramas de realidade onde havia vida, humana ou não.
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está presente ainda quando os organismos estão em situação de
competição ou oposição extrema. Essa espécie de Amor Transcendente,
tal como entendido por Teilhard de Chardin enquanto afinidade entre
todos os seres vivos de um só contexto, no hipercontexto revela o sentido
verdadeiro do mito hindu pelo qual Brahman está presente tanto no
predador quanto na presa – sem ambos, e sem todas as consciências com
a qual estão entrelaçadas, não há trama de realidade na qual sua
identidade possa ser definida.
3. VOCAÇÃO BIOLÓGICA
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Teilhard de Chardin percebeu que esse condicionamento afetivo próprio
mamíferos, inclusive dos primatas, é a forma pela qual a consciência que
está além do Ponto Ômega inclui, na programação evolutiva do ser
humano, uma manifestação daquela afinidade que une presa e predador
na elaboração da mesma trama de realidade. Nossa herança biológica
faz com que nossa primeira relação com o universo circundante, ainda
antes do nascimento, dê-se com um invólucro composto por um ser vivo
que está ao menos inicialmente condicionado pela natureza a nos amar
e cuidar de nós. Após o nascimento, a primeira experiência com o
mundo exterior é intermediada pela relação biologicamente amorosa
com a mãe.
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Amor é a releitura biológica, na consciência humana, da relação de
complementaridade fundamental entre todos os elementos e seres do
universo, tanto em cada trama de realidade como na enorme função de
onda cosmológica. É a tradução emocional perfeita, enquanto experiência
psíquica, da realidade existencial dessa complementaridade. É a chave
evolutiva pela qual a psique humana pode equacionar o paradoxo
existencial entre individual e coletivo, unicidade e pluralidade, contexto e
hipercontexto. De um lado, a dinâmica arquetípica do afeto é a forma pela
qual o ego animal participa do processo de individuação, ou seja, da
emergência da função transcendente na consciência humana. De outro, é
a forma pelo qual o ser humano concilia sua individualidade com a
emergência da consciência coletiva.
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Quando observamos o que a espécie humana é capaz de fazer com
crianças, talvez não possamos considerar desigual o tratamento
dispensado aos animais. Mas Harari lembra que a ascensão da ciência e
da tecnologia colocou em foco nossa relação com os outros animais. Nos
milênios que sucederam a Revolução Neolítica, a humanidade silenciou
animais e plantas e tornou a grande sinfonia polifônica da biosfera
terrestre, em que ecossistemas narrativos constróem e ramificam tramas
de realidade, em um compulsivo e sangrento diálogo com deuses
imaginários. Aos animais restou apenas a extinção em massa, a
degradação ambiental ou os horrores da indústria de proteína animal.
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produziu formas completamente novas de sofrimento, e isso apenas
piorou com o tempo”.
4. A INDIVIDUAÇÃO E O HIPER-PESSOAL
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cérebro pode incrementar as chances de sobrevivência do organismo.
Essa visão, situada em uma trama de realidade, é correta. Mas, sabe-se
que, no hipercontexto, todas as probabilidades se realizam.
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A razão porque fazemos na prática justo o contrário já deixou de
ser um total mistério para quem leu a terceira etapa deste ciclo de
aprendizado. Mas o importante aqui é que pensadores como Teilhard
Chardin identificaram que a programação mamífera corresponde ao nosso
propósito primordial, e que é nossa missão traduzir o elo afetivo dos
mamíferos, o amor, para o âmbito da linguagem superior com que
construiremos a consciência coletiva. “A verdade é, de fato, que o amor é
o limiar do portal para outro universo”, disse de Chardin, o que é
absolutamente verdade, tendo em vista que é o nascimento de uma
consciência coletiva através do desenvolvimento de uma linguagem
arquetípica referenciada na experiência fundamental do Amor
Transcendente (tradução emocional e ecossistêmica do
entrelaçamento/sincronicidade) que poderá inaugurar o caminho até o
Ponto Ômega, e só a capacidade de impregnar toda a matéria do universo
com uma consciência capaz de amar todo ser e toda criatura é que nos
permitirá atravessar esse portal para uma realidade superior.
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neurocientista Karl Pribram o físico David Bohm concluíram, a consciência
humana funciona no hipercontexto ela própria como um sistema
holográfico tal como descrito pela matemática de Dennis Gabor, um dos
primeiros arquitetos de nosso futuro.
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existe na mesma trama de realidade em que ele está. E, no hipercontexto,
a vida orgânica é um tipo de informação autorreferenciada que cria tramas
de realidade enquanto construção coletiva de todos os organismos vivos
que têm suas consciências entrelaçadas a cada instante, em determinada
configuração representativa de uma só dentre várias realidades.
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pode manifestar-se no hipercontexto enquanto as consciências já
iluminadas deste universo alcançam passagem para um nível superior de
realidade. Esse horizonte de eventos hipercontextual é chamado de Ponto
Ômega, e há inclusive uma probabilidade de que a consciência do leitor,
sem experimentar a morte física, venha a testemunhar esse momento
remoto, pois este é o caminho do hiper-humanismo.
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“Vimos e reconhecemos que a evolução está inclinada na direção da
consciência. Portanto ela deve culminar em alguma forma de consciência
suprema. Mas não deveria, essa consciência, para ser suprema, conter no
mais elevado nível aquilo que é a perfeição de nossa consciência, a
iluminada introjeção do ser sobre si mesmo?” Portanto, o próximo passo
da evolução humana, após o fim do império do humanismo, não pode ser
o velho egoísmo travestido de transumanismo ou de qualquer outra
versão da consciência ainda presa na ilusão. “O verdadeiro ego cresce na
direção oposta do egoísmo”, disse de Chardin. A individualidade deve
evoluir na direção da iluminação sem perder sua especialidade, o
sonhador deve despertar sem desfazer seus sonhos, mas antes ampliar
os caminhos do sonhara.
Quando Yuval Harari usou a palavra “Deus” em seu livro, talvez não
percebesse toda a implicação dessa escolha. Diante da singularidade que
se aproxima, o homo sapiens pode escolher se deixar guiar pelas mãos
que o manipulam em sua prisão egóica, e assim transformar um grupo de
privilegiados em seres tão poderosos como deuses gregos pareciam ser,
com suas preferências, traições e homicídios caprichosos. Ou pode
escolher o seu real propósito em uma grande maquinaria que transcende
a realidade na qual pensa existir.
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Mas que maquinaria idealmente perfeita é essa, e qual a extensão da
falha em seu funcionamento?
1. A PERFEITA NOOGÊNESE
Há doze mil anos, algo poderia ter ocorrido diferente. Há doze mil
anos, o ego animal confrontou-se com a emergência de uma nova
organização da consciência, em que deixaria de ocupar a posição central
primitIva, presente nos demais primatas. Desenvolvendo uma linguagem
arquetípica a partir do desenvolvimento da linguagem humana, o ego
estaria municiado dos blocos de construção e sistemas conceituais que lhe
permitiriam representar as experiências psíquicas e com elas interagir, ao
invés de continuar a sujeitar-se a essas experiências sucessivamente e
sem controle à medida que a consciência faz o organismo navega pelo
hipercontexto.
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A Função Transcendente serve de ancoragem inicial do Eu Superior
na consciência individual, e é percebida, quando realizada idealmente,
como uma experiência de iluminação ou santidade pelo indivíduo. Na
etapa em que a Função Transcendente já foi inaugurada na consciência
humana, organizando-a em um sistema mandálico e holonômico, o
desenvolvimento da linguagem humana e da razão impulsionaram o
progresso humano. O caminho desse progresso jamais é fácil, e muitas
vezes depara-se com abismos intransponíveis ou mesmo com o risco da
extinção, mas o manejo de uma linguagem arquetípica estruturando a
consciência aumenta as chances de que a humanidade encontre soluções
coletivas e criativas para seus desafios.
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sua capacidade de transformar o hipercontexto em tramas de realidade
consensualmente construídas pelas consciências entrelaçadas. Uma
tapeçaria em que os fios são costurados com hipertropia, ainda que em
sua faceta infradimensional, a entropia, para que se construa um portal
de acesso à Consciência Transcendente que a tudo criou.
2. A PERVERSÃO DA NOOGÊNESE
PELO “PECADO ORIGINAL”
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tanto valorizamos. Todos os níveis de coisificação do ser humano e
produção de novas formas de sofrimento, instaurando a violência como
alicerce da construção social, surgiram daquela singularidade na qual
o homo sapiens foi ludibriado há doze mil anos.
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realidade sem nem ao menos saber exatamente o que são essas partículas
que constituem o mundo e como explicar o seu estranho comportamento
identificado em laboratório. Eventos macroscópicos então foram
documentados, mas militares e cientistas prosseguiram de qualquer
forma, e não tardou para que nações acumulassem ogivas nucleares
capazes de detruir a Terra múltiplas vezes. O caso da descoberta fissão
nuclear pela espécie humana é um bom exemplo sobre o que pode
acontecer quando uma espécie como o homo sapiens alcança um
determinado conhecimento que está além da capacidade de sua
consciência.
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consenso e discurso violento? Quando a inteligência artificial super-
humana for desenvolvida, que traços herdará dos condicionamentos de
seus criadores, se eles próprios estão aprisionadosl?
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Em seu livro “A Graça Infinita”, o filósofo Foster Wallace cogita
despretensiosamente que Gabor, o precursor das imagens holográficas,
poderia ser o Anticristo. Essa brincadeira pode fazer um terrível sentido
quando o leitor recorda da preocupação do próprio Wallace com uma
sociedade em que o indivíduo possa estar inserido em uma realidade
virtual da qual ele não tem controle e cuja extensão da virtualidade ele já
não pode mais discernir.
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A esperança é justo o fato de que, quando uma singularidade ocorre
no hipercontexto, na verdade há uma multiplicidade de singularidades em
diversas tramas de realidade. Abre-se, nessas condições, uma janela para
que se possa restaurar o módulo desconectado no sistema à sua função
original, reestabelecendo o contato do conhecimento com a correta
compreensão e a perfeita sabedoria, com as quais “quanto mais se olha,
mais se vê, e quanto mais se vê, mais se sabe onde olhar”. Assim a mente
humana volta a conectar-se com o Grande Observador, a Consciência
Transcendente.
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Em outras palavras, ainda há uma chance da humanidade [[Em que
se encontra o leitor.]] alcançar a Perfeita Noogênese e afastar-se de
caminhos indesejados. A reconstituição do módulo do conhecimento ao
sistema original da Matriz ainda é possível, se a humanidade desenvolver
a linguagem arquetípica necessária para que cada ser humano possa dar
o salto evolutivo representado pela emergência da Função Transcendente
em sua consciência. Esse aprofundamento da consciência individual,
traduzindo a herança biológica do homo sapiens para um novo nível de
complexidade e realização emocional, foi descrita por Teilhard de Chardin
como hiper-pessoalidade, o processo que simultaneamente se desenvolve
quando a própria humanidade realiza, com sucesso, o salto evolutivo para
a hiper-humanidade.
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