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Virologia Vegetal

Evelynne Urzêdo Leão


Doutora em Proteção de Plantas/ UNESP
Engenheira Agrônoma/UFT
• Humanos: Vírus da gripe, AIDS, ebola,
dengue,....

• Animais domésticos: Cinomose canina, peste


suína, aftosa....

• Vírus em plantas: Tristeza dos citrus, vira


cabeça do tomateiro, ....
Detection of plant viruses in insects and mammals Balique et al., 2015
including humans.
Por que estudar os vírus de
plantas??????
• Metade das doenças emergentes em plantas
são causadas por vírus;

• Grandes perdas qualitativas e quantitativas na


produção.
• Tristeza dos citrus (Citrus tristeza virus)
– Mais de 35 milhões de pés dizimados (Brasil
1950-70)
• Mosaico dourado do Feijoeiro (Bean golden
mosaic virus)
v
Histórico
• Poema japonês;
• Ano 752;
• Amarelecimento das
folhas de Eupatorium;
• Tobacco leaf curl virus –
Begomovirus
Histórico
• Primeiras menções:
Século XVII (1600 a
1630): Holanda- tulipas
variegadas causadas
por vírus

• 1926 - Tulip breaking


virus (TBV)
Preço pago por um único bulbo
infectado
• 4 toneladas de trigo
• 8 toneladas de cevada
• 4 bois gordos
• 8 porcos gordos
• 12 ovelhas gordas
• 2 barris de vinho
• 4 barris de cerveja
• 2 barris de manteiga
• 450 Kg de queijo
• uma cama
• um armário
• uma pulseira de prata
• Tobacco mosaic virus (TMV), Adolfo Mayer
(1886)
– era transmissível de uma planta doente para uma
saudável;
– não era isolado “in vitro” pela técnicas habituais;
• Ivanowski – Russia 1892
– Repete experimento de Mayer Extrato de plantas doentes permanecia
infeccioso após passagem em filtros de porcelana (retém bactérias)

• Beijerinck (1898)
– Contagium vivum fluidum – (fluido vivo
contagioso) - vírus
• Período de 1900 – 1930
– Descrição de diversos vírus (PVX, PVY, LMV) com
base em propriedades de transmissão e indução
de doenças
• Vírus: origem do latin e significa veneno ou
peçonha
• Natureza dos vírus permanece desconhecida
ainda neste período
Como surgiu os virus?
• Não possuem fósseis

Hipóteses:
a) Teoria da origem regressiva propõe que vírus são formas
degeneradas de procariotos parasitas *
b) Vírus tenham se originado de componentes das células que
adquiriram habilidade de replicação independente (ex:
vírus de DNA a partir de plasmídeos, transposons e vírus de
RNA a partir de mRNAs)*
c) Vírus se originaram de moléculas primitivas que possuíam
habilidade de auto-replicação (ribozimas). Esta teoria leva
em consideração que os vírus coevoluíram com as células
desde os primórdios da vírus
As 2* teorias anteriores levam em consideração que vírus
evoluíram após o desenvolvimento de seus hospedeiros
O Que São Os Virus?

• Conjunto formado por uma ou mais moléculas de ácido nucléico


(RNA ou DNA), de fita simples ou dupla, protegido por uma capa
proteica ou lipoprotéica;
• Replicação dependente do sistema de síntese de proteínas da
célula do hospedeiro;

Vírus (lat.) significa toxina ou veneno

Tamanho e morfologia:
• 104 a 105 nucleotídeos;(são compostos ricos em energia e que auxiliam os processos metabólicos,
principalmente as biossínteses, na maioria das células)

• 30 a 80 nm diâmetro (isométrico);
• 500 a 2000 nm comprimento (alongados);
Principais características dos vírus

• São agentes infecciosos;

• Não possuem estrutura celular

• Não são isolados (crescem) “in vitro” pela técnicas de cultura habituais;
• São parasitos intracelulares obrigatórios;
• Não possuem metabolismo próprio (são parasitas do metabolismo celular);

• Passam por filtros que retêm bactérias;

• Possuem DNA ou RNA (fita simples ou dupla);

• Não possuem enzimas relacionadas a síntese de proteínas ou de energia;


nm = nanômetro = 10-9 do metro
• Dimensões, em geral, de 20 a 1000 nm;
µ = micrômetro = 10-6 do metro
mm = milímetro = 10-3 do metro
• Não são visualizados ao Microscópio de Luz; (milionésimos de milímetros)
Comparação de tamanho da partícula viral

Diagrama esquemático de formas e tamanhos de certos patógenos de plantas em relação ao tamanho


da célula vegetal [adaptado de Agrios (1997).
• Mimivirus é uma espécie de vírus singular,
parasita obrigatório do protozoário (Classe
Rhyzopoda ou Sarcodina) Acanthamoeba
polyphaga, por isso seu nome cientifico é
Acanthamoeba polyphaga mimivirus (APMV).
Mais recentemente: Pandoravirus
– Phillipe, N et al. Science 341, 281-286,
2013
– Pandoraviruses infectam amebas e são
maiores que algumas bactérias
– Foram encontrados em na Costa do Chile
– Tamanho : 1 micrometro de comprimento
e 0,5 micrometros de largura
– Confundido como uma bacteria
– Aumentou ainda mais a complexidade
dos vírus
Constituição dos vírus

Ácidos Nucléicos, Proteínas

Ácidos nucléicos (RNA ou DNA) Principal Capa proteica


constituinte. Também chamada de CAPSÍDEO
Material genético de todos os seres vivos, Que envolve e protege o ácido nucléico
inclusive Vírus. Funções: envolve e protege o ácido
Função: carrega as informações genéticas nucléico, transporte do vírus,
patogenicidade.

PARTICULA VIRAL
Estrutura da partícula viral

ENVELOPE - camada dupla, lipoprotéica, que


envolve o capsídeo de alguns vírus;

Vírus nus Vírus envelopados

NUCLEOCAPSÍDEO - capsídeo + ácido nucléico


(terminologia usada para vírus que apresentam
CAPSÍDEO - capa proteica do vírus envelope);
Morfologia da partícula viral
A – bastonete flexuoso;

B – bastonete rígido;

B1-vírus na forma de bastonete flexuoso,


mostrando subunidades de proteínas [PS] e
ácido nucléico [NA] ;

B2- seção transversal do vírus na forma de


bastonete flexuoso, mostrando o canal central;

C- vírus na forma baciliforme com envelope;

C1-seção transversal vírus na forma baciliforme


com envelope;

D- vírus na forma poliédrica;

D1- icosaedro, representando a simetria de 20


lados que são arranjadas as subunidades de
proteína do vírus poliédrico;

E- vírus na forma poliédrica com duas partículas


iguais seminadas;
Agrios 2005
Poliédrica Helicoidal Bacteriófago
Transdução - o DNA bacteriano
Infecção viral na bactéria - DNA do
é transferido de uma bactéria
vírus é, então, injetado para o
para outra
interior por ficando
da bactéria, um vírus,
fora aos
chamados
cápsula bacteriófagos
proteica vazia .
Em geral os vírus de plantas
são alongados ou isométricos e
possuem RNA como material genético.

Porém, existem vírus de plantas


com formato baciliforme ou
pleomórfico (sem forma definida).

Alongado (rígido ou flexuoso)

Baciliforme

Isométricos
• Vírus sem envelope
• Vírus alongados: Apresentam-se como bastonetes rígidos (18 nm de diâmetro e
comprimento de até 300 nm) ou filamentos flexuosos (3 a 12 nm de diâmetro e
comprimento entre 470 a 2000 nm), com simetria helicoidal (capsídeo cujos
capsômeros são arranjados em torno do ácido nucléico na forma de uma hélice).

Alongada rígida –
Tobacco mosaic virus (TMV)

Alongada flexuosa – Lettuce mosaic virus (LMV)


Vírus isométricos a baciliformes
Variam de 30 a 35 nm de diâmetro

Cucumber mosaic virus (CMV)

Bean golden mosaic virus (BGMV)


Pleomórfico – Tomato spotted wilt virus
(TSWV)

Vírus baciliformes
Apresentam-se em forma de bastonete,
com partículas de dimensões bastantes
variadas.

Baciliforme – Lettuce necrotic yellows virus


(LNYV)
Como se multiplicam?
• Não possuem sistema gerador de energia;

• Depende inteiramente da maquinaria da


célula das plantas hospedeiras para se
replicarem.
Modo de ação no hospedeiro
A) Entrada na célula por ferimento ou inseto;

B) Desencapsulamento;

C) Tradução do RNA em proteínas virais, replicase, capa,


movimento, etc.

D) Replicação do ácido nucléico viral;

E) Montagem de partículas;

F) Translocação do vírus (plasmodesmas; floema)


Movimento e distribuição na célula

Célula a célula
• Movimento lento;
• Passagem para as células vizinhas através dos
plasmodesmas;
• Proteínas de Movimento virais: aumentam o limite de
exclusão de tamanho dos plasmodesmas;

Movimento a longas distâncias


- Tecido vascular (floema);
- Percurso viral: ponto de infecção ⇒ raízes ⇒ folhas jovens ⇒
planta toda
- 10 a 100 vezes mais rápido;
Movimento célula – célula
(plasmodesmas)
Quais os sintomas?
• Sintomas locais;
– ocorrem nas células
adjacentes à entrada do vírus

• Sintomas sistêmicos.
– Desvios de cor: diminuição na concentração de
metabólitos essenciais na célula, dos quais a clorofila
é mais evidente.
Reação de hipersensibilidade - HR
• Reação Suicida da Planta
• Mediada por um gene de resistência na planta
que reconhece um fator de avirulencia do
patógeno
• Qualquer gene do vírus pode ser um fator de
avirulencia
• Há varios casos em que é a CP
• Ex: p50 do TMV (helicase viral) x gene N de N.
glutinosa
• Mosaico : combinação de
áreas com matizes de verde,
clorótico e/ou amarelo

Cucumber mosaic virus

Squash mosaic virus


• Mosqueado: diferentes matizes de verde,
bordos indefinidos;
• Amarelecimento: diminuição de clorofila e
aumento de xantofilas e carotenóides;

Mosaico dourado do feijoeiro


Bean golden mosaicvirus
• Clorose: diminuição de clorofila (destruição de
cloroplastos) sem aumento de outros
pigmentos

Cucumber mosaic virus


• Bronzeamento: aumento de pigmentos
semelhantes a melanina.

Vira cabeça do tomateiro


Tomato spotted wilt virus
• Variegação em flores

(Tulip breaking virus)


• Manchas anelares
• Deformações:
– Redução do crescimento (nanismo)
– Enrolamento
– Enrugamento
– Enação
Bolhas – crescimento anormal
do tecido

Bolhosidade
CMV ZYMV PRSV
Canelura – depressão no câmbio de
plantas lenhosas
O mesmo vírus pode infectar diferentes hospedeiros e causar
diferentes sintomas: Cucumber mosaic virus
Tomate Abobrinha Pimentão

Fumo Milho
• Efeitos citopláticos (microscopia eletrônica): alterações
organelas;
aparecimento inclusões = agregados virais;

Ex.: inclusão citoplasmática do tipo cata-vento é típica de


Potyvirus.
Inclusões cristalinas-TMV Acúmulo de partículas
Partículas virais Turnip yellow mosaic virus
Sintomas que se confundem com os causados
por vírus

Genético
Glifosato

Fitotoxidade
Folíolos com descoloração da área
internerval, deficiência de magnésio.

Ponteiros necrosados, deficiência de boro


Como são disseminados e
transmitidos ?
• Transmissão por insetos
Insetos são os vetores de vírus mais importantes:
• aparelho bucal que facilita aquisição e inoculação;
• grande capacidade locomoção;
• geração de grande número indivíduos em pouco tempo;
• formação colônias nas plantas hospedeiras;

• 70% dos vírus descritos dependem de vetores;


• 90% dos vetores de vírus são insetos (Ordens Hemíptera, Coleóptera
e Thysanoptera);
• principal Ordem = Hemíptera (afídeos, moscas-brancas, cochonilhas,
cigarras, cigarrinhas);
Insetos
Denominações:

• Inseto Virulífero: inseto que adquiriu o vírus e é capaz de transmiti-lo;

• Período de Aquisição: tempo necessário para o inseto adquirir o vírus;

• Período Latente ou de incubação: período após a aquisição necessário para que

o inseto se torne capaz de transmitir o vírus;

• Período de Retenção: tempo que o inseto é capaz de transmiti-lo;


Insetos
– Mosca – branca (Bemisia tabaci)
• Tipo de transmissão: circulativa
– Tripes (Frankliniella sp. e Thrips sp.)
• Transmissão circulativa – propagativa.
– Pulgão (Myzus persicae e Aphis gossypii);
• Tipo de transmissão:
– Não circulativa
– Cochonilha

– Cigarrinha

– Besouro
• Ácaro:
– Brevipalpus phoenicis
• Fungos: espécies Olpidium sp., Pollymyxa sp.,
Spongospora sp.

Olpidium brassicae -> vírus da


necrose do fumo, da alface, do
pepino e o vírus do nanismo do
fumo

• Nematóides: gêneros Xiphinema, Longidorus e


Trichodorus

Tobravirus
Tipo de relação vírus – vetor
• Material de propagação vegetativa
– Bulbos;
– Tubérculos;
– Estacas;
– Colmos.
• Sementes
– apenas 20% dos vírus (os que penetram tecidos
embrionários);

Soja
Alface
Soybean mosaic virus
LMV
Bean pod mottle virus
• Pólen
– transmissão durante a fertilização (em alguns
casos os vírus levados pelo grão de pólen passam
através da flor fertilizada para os demais órgãos da
planta mãe, causando-lhe uma infecção
sistêmica).
• Poda
• Enxertia
• Transmissão por plantas parasitas superiores
– Os vírus podem ser transmitidos entre plantas
distintas ou pertencentes a famílias
completamente distintas através de parasitas
como Cuscuta sp.
Qual é o vírus?
Qual é o vírus?
• Observação do sintoma;

• No laboratório:
– Ensaios biológicos : transmissão com vetores,
enxertia, transmissão mecânica, plantas
indicadoras;
– Ensaios sorológicos: ELISA
– Ensaios moleculares: RT-PCR
Teste ELISA
(Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay)
• É um teste enzimático que permite a detecção
de vírus em seres vivos, utilizando anticorpos.
Testes moleculares
PCR (Polymerase Chain Reaction)
• Reação: (termociclador)
– ácido nucléico
– primers específicos
– nucleotídeos
– Taq polimerase
– Tampão
• Predominam os de RNA fita simples,
polaridade positiva = RNA (+)
(são vírus que possuem material
genético constituído por RNA fita simples
senso positivo), perfazendo 76% do

total;
• mono, bi ou tripartidos (necessidade
de todas as moléculas na célula
hospedeira para causar infecção);
• tamanho: 104 – 105 nucleotídeos
(bactéria = 106 – 107);

O ciclo de replicação dos vírus (+)ssRNA ocorre


no citoplasma. A replicação do genoma se dá em
duas etapas: em um primeiro momento, a partir da
fita senso positivo é formada uma fita de sequência
complementar (senso negativo); em seguida, esta
fita de (-)ssRNA é utilizada como molde para a
síntese do genoma viral (+)ssRNA.
Família Bunyaviridae
• Comporta todos os vírus com RNA de fita simples e polaridade negativa, (-) ss RNA, que são
tripartidos e que apresentam envelope e morfologia isométrica;

Gêneros dentro dessa família:


• Bunyovírus
• Hantavírus
• Tospovírus: transmitidos por tripes TSWV - Tomato spotted wilt virus (vira- cabeça do
tomateiro), Tomato chlrotic spot, Groundnut ringspot, Impatiens necrotic spot (todos de
grande importância econômica).
Família Potyviridae:
• vírus RNA fita simples e com polaridade positiva, (+) ss RNA;
• partículas flexíveis;
• sem envelope;
• produzem inclusões lamelares do tipo "cataventos" na célula, mais de 300 membros no
grupo, grande importância econômica pelo elevado número de espécies

Gêneros:
• Potyvirus: vírus transmitidos por pulgões;
• Ipomovirus: vírus transmitidos por mosca-branca;
• Rymovirus: vírus transmitidos por ácaros;
• Bymovirus: vírus transmitidos por fungos;

Papaya ringspot virus


(PRSV-w)
Família: Geminiviridae
Gênero:
• Geminivírus
• Grupo A: transmitidos em geral por cigarrinha.
Espécies: maize streak, wheat dwarf, beet curly top, tomato yellow leaf curl (TYLCV), grande
importância econômica no mundo).

• Grupo B: em geral por mosca branca (Bemisia tabaci)


Espécies: African cassava mosaic, bean golden mosaic (BGMV) mosaico dourado do feijoeiro,
tomato golden mosaic virus (TGMV), grande importância econômica), tomato golden mosaic..
Família: Virgaviridae
Gênero: Tobamovírus: bastonete rígido, transmitido mecanicamente com muita
facilidade, grande persistência no ambiente, importância histórica e como vírus-
modelo.
Espécies: Tobbaco mosaic virus (TMV) (vírus do mosaico do fumo), tomato mosaic
virus.
Família: Closteroviridae
Gênero:Closterovírus - bastante elongados, 600 - 2000 nm de comprimento,
afídeos vetores, restritos ao floema.
Espécies: Citrus tristeza virus (vírus da tristeza dos citrus) - CTV, beet yellows.
Família: Flexiviridae
Gênero:
• Potexvírus: alongados, flexíveis, sem vetor.
Espécies: potato virus X, papaya mosaic.

Carlavírus: partículas longas e rígidas, transmitidos por pulgão e mosca


branca.
Espécies: carnation latent virus (vírus latente dos cravos)
Familia: não tem família definida
Gênero:
• Tenuivírus: filamentosos, transmitidos por cigarrinhas, infectam
gramíneas, aparentemente codificam para proteínas de membrana,
apesar de membranas não serem encontradas nas partículas purificadas,
similares a tospovírus na estrutura genômica.
Espécies: rice stripe virus, rice hoja blanca, maize stripe.
Família: Luteovíridae
Gênero:
• Luteovírus: transmitidos por afídeos de maneira circulativa não-propagativa,
restritos ao floema, estabilidade no vetor associada à uma proteína (Gro-El) de
uma bactéria endossimbionte (Buchnera sp.).
Espécies: barley yellow dwarf, potato leaf roll virus - PLRV (vírus do enrolamento da
folha, importante economicamente).

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