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O MAIOR PECADO DA
IGREJA E A BUSCA DO
PERDÃO

José Carlos Marion

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SUMÁRIO

PREFÁCIO ......................................................................... 5
INTRODUÇÃO .................................................................... 7
CAPÍTULO 1 - DIVISÃO: O PECADO MAIS DESTRUTIVO DA
IGREJA ........................................................................... 17
CAPÍTULO 2 - ALGUMAS PASSAGENS BÍBLICAS QUE
COMPROVAM O PECADO DA DIVISÃO ................................. 25
1) A divisão afronta a morte de Cristo na cruz ..................... 27
2) A divisão destrói o edifício que é o templo santo do Senhor
para a morada de Deus em Espírito.................................... 30
3) A divisão reconstrói o muro de separação que Cristo derrubou
e ressuscita a inimizade que ele desfez em sua carne. .......... 34
4) A divisão entristece o Espírito Santo por não guardar a
unidade do Espírito .......................................................... 38
5) Dividir é anular o perdão de Deus .................................. 43
6) Dividir é ignorar (ou negar) o maior dos mandamentos
deixado por Jesus ............................................................ 48
7) Dividir é quebrar alianças ............................................. 51
8) A síndrome do irmão mais velho e a divisão da família ..... 58
9) Achar-se melhor e julgar irmãos (que às vezes nem
conhecemos) ................................................................... 61
10) Impedir a ação do Espírito Santo, cogitando coisas de
homens a serviço de Satanás ............................................ 67
CAPÍTULO 3 - A BUSCA DO PERDÃO ................................... 72
1) Arrependimento e conversão para a unidade do Corpo de
Cristo ............................................................................. 74
2) Buscar o segundo toque do Espírito Santo....................... 80

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3) Derrubar muros e reconstruir pontes .............................. 85
4) A oração que alegra o Espírito Santo .............................. 91
5) Perdão, o maior marco da peregrinação espiritual ............ 97
6) Decidir e agir em prol do amor ágape ........................... 103
7) Como restaurar alianças quebradas .............................. 110
8) A “síndrome do filho mais velho” ................................. 117
9) O oposto de julgar é lavar os pés uns dos outros ........... 122
10) Cogitar as coisas de Deus a serviço do Corpo de Cristo . 129
CAPÍTULO 4 - UMA PEQUENA COLETÂNEA DE DEPOIMENTOS
SOBRE A DIVISÃO ......................................................... 138
CAPÍTULO 5 - UMA PROPOSTA DE GUIA DE ORAÇÕES E
REFLEXÕES SOBRE A UNIDADE DO CORPO DE CRISTO ...... 183
ANEXO ......................................................................... 212

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PREFÁCIO

Falar sobre as heresias de outras ramificações do cristianismo


não é difícil; como disse o próprio Jesus, muito antes que
viessem as divisões que dilacerariam a Igreja ao longo da
História, é bem mais fácil ver o cisco no olho do irmão (que
geralmente nem consideramos irmão) do que a enorme viga que
está no nosso (Mt 7.1-5).

O tema deste livro é a divisão, uma prática peculiar das


igrejas que surgiram com a Reforma. Os membros dessas igrejas
eram chamados inicialmente de “protestantes” por causa da
oposição militante que levantaram, primeiramente contra a
Igreja Romana, mas, logo em seguida, contra seus próprios
companheiros que não concordavam com eles em todos os
pontos.

Atualmente, as divisões se multiplicam, não tanto nas


igrejas históricas, que têm suas raízes na época da Reforma ou
nos movimentos dos séculos seguintes, mas nas igrejas
evangélicas e pentecostais do século passado para cá. O nome
“protestante” hoje nem é muito conhecido, e a maioria dos
cristãos atuais desconhece suas origens em termos de sequência
histórica e influência doutrinária. Mesmo assim, o vírus nocivo
da heresia protestante foi passando de geração em geração,
tornando-se hoje, nos meios evangélicos, muito mais forte e
destrutivo ainda do que era no princípio.

A proposta deste livro ao discutir este tema não é oferecer


a solução nem o mapa para curar e unificar o Corpo de Cristo
que está tão fragmentado e despedaçado. É, em primeiro lugar,
identificar a doença, entender que a divisão, a desarmonia e o
partidarismo estiveram por trás da origem de quase todas as

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denominações cristãs atuais. É procurar mostrar de onde surgiu
esse vírus nocivo e como está presente não só nos grandes
concílios e lideranças eclesiásticas, mas também nos níveis mais
elementares dos grupos de evangelismo, dos conjuntos e bandas
de louvor e dos conselhos e juntas ministeriais das igrejas locais.

Por favor, não pense que esse assunto não lhe diz respeito.
Leia com atenção e peça ao Espírito Santo para livrá-lo do
espírito de julgamento e crítica e para lhe revelar a viga que está
no seu olho.

Harold Walker

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INTRODUÇÃO

“DERRAMAMENTO DE SANGUE” PELAS DIVISÕES

Já ouvimos pessoas afirmarem, sem base em dados estatísticos,


que quem mais matou no mundo não foi Hitler (embora chegasse
em torno de 20 milhões de assassinatos), nem Stalin ou Mao
Tsé-Tung (que, juntos, eliminaram em torno de 100 milhões de
pessoas), mas foi a religião (divisões), que poderia ter chegado
a números mais elevados. Não cremos nisso, porém, embora não
haja levantamentos exatos, outras fontes afirmam que houve
muito derramamento de sangue em conflitos que envolveram o
nome de Deus e, mais para frente, o nome de Cristo.

Nós, a Igreja, temos sido instrumentos de divisão. O


homem (nossa raça) tem sido a causa de tantas divisões. Uma
divisão, ainda que permitida por Deus, mas originada pelo
homem, aconteceu em Israel, quando se tornaram dois povos:
Israel e Judá. Essa divisão gerou uma batalha em que só de
Israel caíram (morreram) 500 mil homens numa única batalha
(2 Crônicas 13.17). Imagine uma carnificina de irmãos matando
irmãos, filhos do mesmo Deus, escolhidos do Senhor.

Roberto Damata, no seu artigo “Sou Charlie e antropólogo”


(O Estado de São Paulo, 14 de janeiro de 2015), comenta sobre
a origem do radicalismo religioso. Ele afirma que a era das
grandes descobertas marítimas (os séculos 15 e 16), com as
consequentes catequeses e destruição das civilizações e culturas
do chamado “mundo novo”, coincide significativamente com as
“guerras religiosas” na Europa. Essas batalhas, por seu turno,
freudianamente repetem as “guerras santas” e “jihads” entre
cruzados e infiéis islâmicos iniciadas no final do ano mil. Seria

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exagero dizer que a noite do “massacre de São Bartolomeu” (24
de agosto de 1572), ocasião em que foram mortos 2 mil
protestantes na contagem católica e 70 mil na contagem
protestante, foi o evento fundador do fundamentalismo
ocidental? Dele, nasceram outros radicalismos. É bom lembrar
que esse massacre ocorreu em Paris, onde os católicos atacaram
os huguenotes. A violência se espalhou por toda a França, e
dezenas de milhares de cristãos foram mortos por outros irmãos
cristãos — em outras palavras, “matando em nome de Cristo”.

Alguns anos depois, aconteceu na Europa o conflito entre


diversos países europeus conhecido como a Guerra dos 30 anos
(1618-1648), tendo como elemento catalisador as disputas
religiosas decorrentes das reformas protestantes do século16. A
Wikipédia fala em 8 milhões de mortos.

Poderíamos falar de tantos outros conflitos religiosos,


como: a) as Cruzadas (Raymond de Aquiles, um dos cruzados,
escreveu que Jerusalém foi transformada num cemitério a céu
aberto, que “cabeças, mãos e pés se amontoavam nas ruas”);
b) a Inquisição (milhares de judeus foram condenados à
fogueira, e houve muitos outros derramamentos de sangue); c)
judeus versus mulçumanos;(1) d) o antissemitismo; e) o conflito
dos anos 90 nos Bálcãs, levando em conta as heranças religiosas
do passado; etc. Mas o que deixa uma marca muito forte nos
nossos dias é o conflito atual na Irlanda do Norte entre católicos
e protestantes, com quase 4 mil mortos, irmãos matando
irmãos, havendo ainda um muro que separa os cristãos.

AS INCONTÁVEIS MORTES CAUSADAS PELA DIVISÃO

Por outro lado, temos uma incontável mortalidade intangível,


invisível, que a História não registra, porque ela é vista apenas

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no mundo espiritual embora se manifeste nos membros do Corpo
de Cristo.

Podemos citar pelo menos duas passagens bíblicas que


revelam isto. A primeira é quando Jesus, no sermão do monte,
estabelece as leis do Reino que transcendem as leis de Moisés.
Por exemplo:

Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás, mas


qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo
que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu
irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser ao seu
irmão: Raca, será réu do sinédrio, e qualquer que lhe
disser: Louco, será réu do fogo do inferno. (Mateus
5.21,22)

Nessas “leis da Nova Aliança”, os cristãos devem ter


motivos justos (corretos) para irar-se. Porém, muitas vezes
fazemos juízo de irmãos. Falar “raca” (uma grande ofensa, um
escárnio; é como se dissesse enganador, salafrário) a um irmão
é cometer um assassinato. “Louco” tem um sentido neste texto
de reprovado moral, destituído de qualquer espiritualidade. Isto
é julgamento, algo condenado por Jesus em Mateus 7.1.

A segunda passagem igualmente impactante é dita pelo


apóstolo João, em sua primeira carta, ao ensinar sobre o amor
aos irmãos: Qualquer que aborrece seu irmão é homicida. E vós
sabeis que nenhum homicida tem permanente nele a vida eterna
(3.15). Ele se baseia no assassinato de Abel por Caim (v.12).
Esse primeiro homicídio ocorreu entre irmãos de sangue e de
forma física. Inspirado nesse crime, João fala sobre irmãos
unidos pelo sangue de Cristo que se matam espiritualmente.
Quando isso acontece?

Nas divisões, é comum ver irmãos que se sentavam juntos


à mesa para cear quebrando essa aliança, desprezando uns aos
outros a ponto de desviar o caminho ao encontrar um deles na

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rua. Há acusações, julgamentos. Isso aconteceu muito no início
do século 20 com o mover pentecostal. Mais para frente, na
década de 1970, houve igual fato que se denominou Movimento
Carismático, separando em muitos grupos os tradicionais dos
renovados.

Há casos de cristãos falando mal de irmãos de outras


denominações: “Isso não é de Deus”. Bom, se não é de Deus,
então só pode ser do diabo. Essa acusação também foi feita pelos
fariseus e doutores da lei para Jesus (Mateus 10.28, Marcos
3.22). Outras vezes, acusam-se de hereges, idólatras, legalistas,
traidores... Isto é homicídio, pois “matamos” o próximo em
nosso coração. Atualmente, essa briga está acirrada com os
neopentecostais. A cada tempo, a artilharia se volta contra novas
frentes que vão se formando, ignorando que, embora existam
erros, sempre teremos, nessas frentes, irmãos comprados pelo
sangue do cordeiro. Não cabe a nós julgar.

Essas brigas têm afetado principalmente as famílias.


Pessoas que praticam uma linha diferente no cristianismo são
orientadas, pelos seus líderes, a não ter comunhão com outros
que não são adeptos “de sua visão”. Há acusações constantes:
irmão “matando” irmão; muito triste.

Em Provérbios 6, fala-se de sete pecados. O sétimo pecado


é semear contendas. No verso 16, é dito: Estas seis coisas o
Senhor odeia, mas a sétima (que é semear contendas) a Sua
alma abomina. Provocar comentários e conflitos contra irmãos é
uma abominação para Deus. Deus detesta esse tipo de atitude.
Jesus diz que é assassinato.

A IGREJA ESTÁ REGREDINDO?

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Segundo o Instituto Gospel Prime e outras fontes, em 1900
tínhamos uma população mundial em torno de 1,6 bilhões, sendo
que em torno de 500 milhões eram cristãos, e 1,1 bilhão eram
não cristãos.

Em 2019, estamos próximos de 7,7 bilhões de habitantes


no planeta Terra, sendo que aproximadamente 2,5 bilhões se
dizem cristãos, enquanto 5,2 bilhões não conhecem a Cristo
como Salvador (enquanto nós esperamos a segunda vinda de
Cristo, essa população enorme não sabe que ele já veio pela
primeira vez como o Messias).

Observando as estatísticas, aparentemente a situação não


é tão ruim para a Igreja, pois, nestes últimos 120 anos, tem-se
mantido um terço (em torno de 33%) de cristãos nominais. De
500 mil cristãos em 1900, hoje temos cinco vezes mais. Os não
cristãos também aumentaram em torno de cinco vezes: de 1,1
bilhão para 5,2 bilhões.

Porém, em números absolutos, hoje temos 5,2 bilhões de


pessoas que precisam ser evangelizadas. Jesus disse que a
unidade da Igreja seria o grande instrumento de evangelismo:

Para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em


mim e eu em ti, que também eles sejam um em nós, para
que o mundo creia que tu me enviaste... eu neles, e tu em
mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, a fim de
que o mundo conheça que tu me enviaste, e que os amaste
a eles, assim como amaste a mim. (João 17.21,23)

Talvez, pudéssemos dizer que nada temos a ver com isso.


Porém, a Igreja, após o movimento protestante, não para de se
dividir, e nós, hoje, somos frutos dessas divisões. Não estamos
aqui discutindo o mérito ou demérito dessas divisões, mas sim
as consequências. Quantas mortes, quanto ódio, perversidades,
guerras, destruições — e nós fazemos parte de tudo isso! Assim

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como também somos responsáveis pelo pecado de Adão, somos
responsáveis pelo estado desta Igreja tão fragmentada.

Segundo um levantamento da Gospel Prime, no ano de


1900 havia em torno de 1.600 denominações cristãs. Em 2015,
de acordo com o mesmo instituto, chegamos a 45 mil, sendo que
a maioria esmagadora é composta pelas igrejas chamadas
“evangélicas”.

Por outro lado, notamos que o islamismo tem tido cada vez
mais adesões. Segundo o instituto, em 1900 eram 200 milhões
de mulçumanos. Em 2015, eram em torno de 1,7 bilhões, ou
seja, houve um crescimento de mais de oito vezes.

Sem dúvida, essa credibilidade que boa parte da população


mundial tem dado ao islamismo se deve à unidade que existe
ente eles. Ouvimos falar somente de xiitas e sunitas (isso
remonta ao século VII e tem origem na disputa pela sucessão de
Maomé). Embora isto seja realidade, é muito pouco em relação
às dezenas de milhares de divisões no cristianismo.

Claro que existem outras razões para o crescimento


astronômico do islamismo, quase sempre voltadas para a
unidade mantida por eles. Uma delas é a unidade entre o Islã e
a política, incluindo os chefes de estado. Outros casos de
unidade: algumas festas, como o “Ramadã” (jejum anual);
recitam a shahada (credo mulçumano) cinco vezes ao dia;
evitam críticas a outros mulçumanos (por exemplo, nunca vêm
a público criticar atitudes do Estado Islâmico e outros) etc. Não
estou elogiando nem criticando, apenas afirmando que as
posturas de unidade geram mais credibilidade.

Quando andamos em unidade, anulamos aspectos


negativos como egocentrismo, competição, autopastoreio, fazer
a vontade de Satanás (que é o pai das divisões), desintegração,
defesa dos próprios pensamentos, desconfiança, hipocrisia,
religiosidade, casa dividida (Mt 12.25-30), meninos

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inconstantes, que são levados por todo vento de doutrina
(Efésios 4.14-16) etc.

Por outro lado, a Corpo de Cristo cresce quando chegamos


à unidade, à harmonia, à interdependência, seguindo a verdade
em amor: do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo
auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada
parte, faz o aumento do corpo, para a sua edificação em amor
(Efésios 4.16). (grifos nosso)

Willians Araújo (www.evangelicodecristo.com.br) diz que a


identidade cristã é unidade e amor. A nossa unidade reflete a
imagem do Pai e do Filho a fim de que o mundo creia que Deus
o enviou. Portanto, sem unidade, perdemos a credibilidade
diante das pessoas e dificultamos sua conversão ao Senhor, uma
vez que dificilmente acreditarão que somos, de fato, discípulos
de Jesus (Jo 13.34-35). Em unidade, temos mais autoridade
para resistir aos ataques do inimigo. Em unidade, somos mais
fortalecidos e enriquecidos pela singularidade de cada membro.
Em unidade, exercemos um poder de atração para que as
pessoas conheçam a Jesus.

Nós nos tornamos uma “máquina” de produzir divisões em


série a uma velocidade cada vez maior. No entanto, bebemos do
nosso próprio veneno, pois as denominações cada vez mais se
tornam irrelevantes. Hoje, a chamada Igreja Evangélica está
dividida em milhares de “corpinhos”. Temos conseguido o
impossível: dividir o indivisível.

Paulo diz que o nome de Deus é blasfemado entre os


gentios por vossa causa (Romanos 2.24). Pedro diz, em sua
primeira carta (4.17), que o julgamento começa pela casa de
Deus, e, depois, chega aos outros. Tiago 4.11 nos ensina a evitar
a divisão:

Quem és tu que julgas os outros? Não fale mal uns dos


outros. Quem fala mal do irmão julga seu irmão, fala mal

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da lei e julga a lei. Se tu julgas a lei, já não és observador
da lei, mas juiz.

Na verdade, enquanto nos dividimos, impedimos a ação do


Espírito Santo, impedimos que o mundo conheça Jesus. Quanto
mais estivermos unidos, mais o mundo conhecerá a Jesus; mas
o inverso também é verdadeiro: quando mais estivermos
desunidos, menos o mundo saberá que Jesus foi enviado pelo
Pai para a salvação da humanidade.

O PAI DAS DIVISÕES

Possivelmente, a primeira dor no coração de Deus foi a divisão


causada por Lúcifer. O problema não foi apenas ter-se rebelado
contra Deus — por mais que tenha sido maligno. O pior foi ter
roubado um terço dos anjos do céu por meio do engano e da
calúnia contra Deus. Considere o poder de sedução e engano
deste mestre da divisão: ele conseguiu convencer um grupo de
anjos (Apocalipse 12.4) que contemplava a glória
resplandecente de Deus de que eles conseguiriam vencer uma
guerra contra o seu Criador. Lúcifer engendrou
descontentamento entre eles a fim de que todos os prazeres do
céu não conseguissem satisfazê-los.

A consequência maior dessa primeira divisão foi que o


próprio Lúcifer (o diabo), por meio da sedução, separou o
homem de Deus, tempos depois, disfarçado de serpente,
introduzindo o pecado original. Em grego, diabo (“diabolôs”)
significa “que desune, que inspira ódio e inveja, caluniador,
espírito de mentira”.

Talvez, esse seja o maior alvo do diabo hoje: dividir ainda


mais o Corpo de Cristo por meio de calúnias e mentiras. A Igreja
dividida, fragmentada, partida, torna-se o grande obstáculo para

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a volta de Cristo. Esta igreja certamente não é a noiva gloriosa,
imaculada, sem rugas para a qual Jesus voltará.

Porém, sabemos que o Espírito Santo reverterá esse


quadro. Sabemos que o Evangelho da Paz (Efésios 2.15,17)
ainda será pregado. Sabemos que as nossas diferenças nos
enriquecerão no amor.

Quando a Bíblia nos ensina que o casal é “uma só carne”,


sem com isso fazer com que a mulher ou o homem perca a sua
identidade, podemos estender esse princípio a outra verdade: de
que “somos um só Corpo” na diversidade, respeitando a
identidade, o dom, o ministério, a manifestação de cada um.
Assim, todos nós, cristãos, bebemos de um mesmo Espírito (1
Coríntios 12.13b).

Todavia, a Igreja não tem agido assim. Enquanto isso, os


não cristãos e descrentes, vendo nossas divisões, não podem
acreditar em nossas mensagens de amor, paz, união, perdão e
fraternidade. Essas divisões contradizem a vivência dos
primeiros cristãos, que, crentes em Jesus Cristo, estavam juntos
[...] perseveravam unânimes no Templo, partiam o pão de casa
em casa, e tomavam suas refeições com alegria e singeleza de
coração, louvando a Deus e contando com a simpatia do povo
(Atos 2.42-47). Essa comunidade era atrativa, e, a cada dia,
novas pessoas aderiam à Igreja.

Na Trindade, o exemplo maior de unidade, vemos que o


próprio Jesus subjuga o “pai de todo mal” no poder do Pai triuno.
Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com
virtude; o qual andou fazendo o bem, e curando a todos os
oprimidos do Diabo, porque Deus era com ele (Atos 10.38).
(grifos nosso)

Na sua primeira carta, João diz: Quem comete pecado é do


Diabo, porque o Diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho
de Deus se manifestou: para desfazer as obras do Diabo (1 João

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3.8). No verso 10 deste mesmo capítulo, João diz: Nisto são
manifestos os filhos de Deus e os filhos do Diabo. Qualquer que
não pratica a justiça, e não ama ao seu irmão, não é de Deus.

Nisto, concluímos que, unidos, praticando a justiça e


amando os nossos irmãos (não haverá divisão), o diabo será
vencido, e as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja
(Mateus 16.18b).

1 - Quando Abraão atendeu ao pedido de Sara para despedir Agar e Ismael (Gn
21), embora debaixo da permissão de Deus, uma divisão se estabeleceu na
família daquele homem escolhido por Deus. Podemos ver, até hoje, incontáveis
mortes por causa dos descendentes de Ismael (árabes) e de Isaque (judeus).

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CAPÍTULO 1
DIVISÃO: O PECADO MAIS
DESTRUTIVO DA IGREJA

INTRODUÇÃO

Em março de 2019, tive a oportunidade de ministrar no Encristus


(Encontro de Cristãos em Busca da Unidade e Santidade) no Rio
de Janeiro. O tema que me foi atribuído foi “Divisão é Pecado”.

A partir do momento em que comecei a orar e pesquisar


sobre o assunto, constatei que a divisão é um grande pecado.
No final da preparação para ministrar esse tema, eu já estava
convicto de que a divisão é o pecado mais nefasto da Igreja.

Nesse período, descobri uma prelação feita pelo pastor


argentino Jorge Himitian (um dos fundadores da Apostolic
Felowship Internacional - AFI) no Brasil, em 2005, cujo título
era: “Qual o maior pecado da Igreja: a divisão ou a idolatria?”.
Após meditar sobre essa questão, cheguei à mesma conclusão
que o pregador: a divisão é o maior pecado da Igreja.

Ainda na minha pesquisa, cheguei à edição número 51 da


revista Impacto (2 de agosto de 2011), cuja manchete de capa
foi: “Senhor, livra-nos da divisão, a heresia evangélica”. A
divisão é tratada, nessa edição, como uma grande heresia, como
um vírus nocivo que vai passando de geração para geração.

1) O AMOR COBRE TUDO

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Nessa edição acima citada, o artigo que causa maior temor
aos cristãos é o de origem de Paul Billheimer (pastor e escritor
americano, 1897-1984) intitulado “O Maior Pecado da Igreja”.
Com autorização dos editores da revista, transcrevemos, a
seguir, este impactante artigo.

O maior pecado da Igreja

A desunião do Corpo de Cristo é o escândalo dos séculos. Creio que


se trata do mais hediondo e destrutivo dos pecados da Igreja. Visto
que a desunião do Corpo é bem mais frequente do que os demais
pecados e, à semelhança destes, verdadeiramente ata as mãos do
Espírito Santo, ela faz com que mais almas se percam do que
outras ofensas flagrantes, como mentira, imoralidade, alcoolismo
etc. O Espírito Santo não pode tratar eficientemente da convicção
e conversão dos pecadores quando os “santos” estão divididos.

A falha em reconhecermos, compreendermos, apreciarmos e


preservarmos a unidade do Corpo de Cristo na Terra é equivalente
a reabrirmos as suas chagas na cruz. De acordo com o apóstolo
Paulo em 1 Coríntios 11.27-30, não “discernir o corpo” traz
consequências muito sérias para a igreja. Os ferimentos ao Corpo
de Cristo trazem ao Senhor dores semelhantes às das chagas de
seu corpo físico na cruz. O pecado da desunião é um pecado contra
o corpo e o sangue de Jesus, contra a oração que Jesus fez em
João 17.

É também o maior obstáculo à salvação do mundo. Sempre que


missionários, evangelistas ou obreiros – todos vindicando a
representação de Jesus Cristo e do seu Evangelho – manifestam
antagonismo e franca hostilidade uns com os outros, somente
Satanás é o vencedor. Quando pessoas interessadas no Evangelho
ou novos convertidos descobrem que os discípulos professos de
Jesus estão fragmentados, são invejosos e até beligerantes em
espírito, eles ficam totalmente frustrados e decepcionados. Para
eles, é incompreensível, inexplicável e até vergonhoso ver o Corpo
de Cristo dilacerado pelo proselitismo, pela avareza e pelo ciúme.

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A ordem clara de não julgar

Tem-se denominado a crítica injusta e desamorosa em relação ao


próximo de “o pecado peculiar dos santos”. De fato, é o vício mais
evidente do “povo santo”. Muitos que condenam enfaticamente as
doutrinas de uma religião pecaminosa são culpados por violar o
mandamento inequívoco de Cristo: “Não julgueis” (Mt 7.1). Essa
violação é pecado.

Paulo, em Romanos 14, ressalta ainda mais o mandamento de


Cristo. No contexto de aconselhamento à igreja sobre como tratar
de uma questão divisória, ele diz:

Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões.


Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes; [...]
Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio Senhor
está em pé ou cai; (...) Tu, porém, por que julgas a teu irmão? E
tu, por que desprezas o teu? [...] Não nos julguemos mais uns aos
outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou
escândalo ao vosso irmão. (Romanos 14.1-4,10,13)

Por alguma razão, os “santos” que sinceramente abominam o


pecado da mentira, do roubo e do adultério, e que gritam mais alto
que todos reivindicando viver sem pecado, com frequência são
culpados de grosseira desobediência ao mandamento positivo de
Cristo e ao conselho inspirado de Paulo. De acordo com Jesus e o
apóstolo Paulo, o julgamento em assuntos não essenciais é
pecado. Os grupos que mais insistem na necessidade de se viver
acima do pecado com frequência são os piores transgressores
nessa área. As congregações e denominações que pregam os mais
elevados padrões de santidade parecem ser as mais fragmentadas.

O hábito de julgar os outros resulta na rejeição de um irmão que


nasceu de novo por causa da sua opinião quanto a assuntos não
essenciais à salvação. O aumento do hábito de julgar, portanto, é
sinal da diminuição da graça. Significa que não acreditamos que
Deus sabe corrigir os seus filhos, ou que seja capaz de fazê-lo. Em
outras palavras, é colocar-se no lugar de Deus.

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Admito, com tristeza, que já fui culpado desse pecado. Para
remediar uma situação, o crítico típico tem mais confiança em sua
crítica do que na oração. Grande parte da crítica que leva à
desarmonia e às divisões não procede primariamente de
convicções superiores, mas de um ego não santificado e da carne
não crucificada.

Um laboratório para desenvolver o amor ágape

A igreja local é considerada uma família (Efésios 2.19). É onde


podemos encontrar uma oficina espiritual dedicada ao
desenvolvimento do amor ágape. São as pressões e exigências de
uma comunhão espiritual entre membros diversificados que
favorecem a situação ideal para testar e amadurecer a
importantíssima qualificação para a Noiva de Jesus participar do
governo do universo, que é o amor ágape.

Visto que todas as pessoas que nasceram de novo são membros


do Corpo de Cristo (1 Coríntios 12.12,13), e que esse Corpo inclui
pessoas das mais variadas procedências, opiniões e
posicionamentos, podemos afirmar que Deus mantém comunhão
com pessoas em lados totalmente opostos nas diversas disputas
doutrinárias. Sendo isso verdade, será que temos direito de
recusar a comunhão com outros membros do Corpo? Se o
fizéssemos, não estaríamos em perigo de diminuir ou romper
nossa comunhão com Deus, que é Pai nosso e deles também?

Quantidade alguma de graça jamais fará com que todas as pessoas


nascidas de novo concordem que determinado sistema doutrinário
constitui absoluta verdade conceitual. Se a oração de Cristo pela
unidade do Corpo deve concretizar-se deste lado da eternidade, há
de ser na base de um Pai comum, isto é, na base do amor ágape.
Significa que o amor pela família excederá a devoção que a pessoa
nutre pelas próprias opiniões acerca de tópicos não essenciais à
salvação.

Não se trata de abrir mão de convicções pessoais a fim de amar


um irmão, membro do mesmo círculo familiar, que tem o mesmo
Pai. A pedra fundamental e o alicerce mais tangível e vital do amor

20
— e, portanto, da unidade e da comunhão — é reconhecer nos
outros um mesmo ancestral ou um relacionamento familiar, e não
uma opinião comum. Sendo assim, a comunhão nessa base é mais
importante para Deus do que a teologia absolutamente correta.

O que mais interessa a Deus

Deus está mais interessado no amor entre os membros de sua


família do que na inerrância das opiniões desses irmãos. Em
qualquer controvérsia, quer na prática, quer na doutrina, o
elemento mais importante não é que se tomem as decisões mais
sábias, mas que se mantenha o espírito correto.

Uma pessoa pode estar certa na opinião, porém errada no espírito.


Outra pode estar certa no espírito e errada na opinião. O que
acontece quando alguém está errado no espírito? Não fica o
Espírito Santo dentro dessa pessoa entristecido e não testemunha
acerca dessa ofensa mediante um sentimento íntimo de
desaprovação? Seria possível negar isso?

Quando afirmamos que, para Deus, há algo mais importante do


que pontos de vista corretos, estamos dizendo que o espírito certo,
a expressão do seu amor, é o que mais conta para ele. Deus pode
abençoar — e realmente abençoa — os que assumem pontos de
vista contraditórios, mas jamais abençoa a falta de amor. Estar
certo na doutrina e errado no espírito é estar quase totalmente
errado.

Ao passo que a Palavra de Deus é inerrante, a opinião de alguém


sobre um ponto controvertido não o é. Há possibilidade de erro em
todas as declarações doutrinárias extraescriturísticas, ou em todos
os enunciados de interpretação bíblica. Portanto, nenhum credo
eclesiástico é infalível.

Por outro lado, o amor, à semelhança de outras graças do Espírito,


só cresce sob provações. Sempre que pessoas nascidas de novo se
encontram em lados opostos de uma controvérsia sobre um ponto
não essencial à salvação, o amor ágape deve evitar a ruptura da
comunhão ou uma divisão direta. Tais ocasiões oferecem

21
oportunidade para o crescimento em amor e, portanto, em esferas
eternas.

As divisões por causa de doutrinas não relacionadas à experiência


do novo nascimento, como costumes, formas de governo,
personalidades e outras, são um desperdício de tristezas e pesar
ao Espírito Santo. Não se deve permitir que nada, a não ser uma
heresia ou um pecado aberto, algo que afete o relacionamento com
o Pai, traga cisma ao Corpo de Cristo.

A maior parte das desavenças nas congregações locais é produzida


não principalmente por diferenças quanto a pontos essenciais, mas
por ambições humanas não santificadas, inveja e choques de
personalidade. A verdadeira raiz de muitas dessas situações é uma
carência em crentes individuais que revelam lamentável
imaturidade no amor. É por isso que a igreja local é um dos
melhores laboratórios onde os crentes individuais podem descobrir
seu real vazio espiritual e começar a crescer no amor ágape.

Quando há verdadeiro arrependimento, humilde confissão dos


pecados de inveja, ciúme e ressentimento e o pedido de perdão
mútuo, o resultado é crescimento real no amor que cobre tudo.
Isso libera o Espírito Santo para curar feridas e atear o fogo do
reavivamento.

2) A COSMOLOGIA DE PAUL BILLHEIMER

O texto do artigo acima foi extraído do livro “O Amor Cobre


Tudo”, de Paul Billheimer, publicado pela Editora Vida, com
edição atualmente esgotada em português. A cosmologia
apresentada nesse livro representa uma continuação da que o
autor desenvolveu em livros anteriores “Seu Destino é o Trono”
e “Não Desperdice Suas Lágrimas”, ambos igualmente esgotados
em português.

A síntese da cosmologia de Billheimer é a seguinte: o


universo, inclusive o nosso planeta, foi criado para prover uma

22
habitação adequada para a raça humana. Os homens, por sua
vez, foram criados à imagem e semelhança de Deus a fim de
providenciar uma companhia eterna para o seu Filho.

Após a queda e a promessa da redenção, a raça messiânica


foi criada e sustentada a fim de fazer vir o Messias. Este veio
com uma intenção: dar à luz a Igreja e, assim, obter a sua Noiva.
Assim, a Igreja se tornou o objetivo final do universo e, no que
concerne à revelação, a única razão da criação.

Em “Seu Destino é o Trono”, Billheimer mostra que Deus


projetou o sistema de oração a fim de equipar e qualificar a Noiva
com técnicas, meios e potenciais para participar do governo de
Deus. Em “Não Desperdice Suas Lágrimas”, ele afirma que Deus
projetou o sofrimento, consequência da queda, com a finalidade
de produzir caráter e disposição, o espírito compassivo
necessário à liderança de um governo espiritual em que a lei do
amor é suprema.

Quando a pessoa nasce de novo, ela imediatamente começa


seu treinamento no governo espiritual. É que o amor ágape, o
amor incondicional que caracteriza o próprio Deus, constitui
qualificação essencial para o exercício de autoridade na ordem
social celeste, em direção à qual se move o universo (também
chamado de reino de Deus). Portanto, esse aprendizado serve
ao desenvolvimento desse amor. Se esse treinamento e
amadurecimento no amor não fossem necessários, Deus
provavelmente levaria a pessoa para o céu tão logo ela fosse
salva.

Visto que a tribulação é necessária para a descentralização


do ego e para o crescimento de profundas dimensões do amor
ágape, este só pode desenvolver-se na escola do sofrimento. Ele
só cresce por meio de exercício e prova.

É por isso que, logo após ser regenerado e cheio do Espírito


Santo, Deus coloca cada membro da sua Noiva no lugar em que

23
desenvolverá as mais profundas dimensões do amor ágape, que
é o objetivo supremo de Deus para a humanidade. De acordo
com o dicionário de palavras bíblicas no grego de W. E. Vine,
amor ágape é o amor que ama em virtude de sua própria
natureza, não por causa da excelência ou do valor do objeto
amado.

Nesse contexto, os relacionamentos dentro da Igreja nos


oferecem tremendas oportunidades para crescermos em amor.
Os conflitos encontrados nesses relacionamentos são cruciais
para o desenvolvimento do amor ágape e para se alcançar a
unidade do Corpo de Cristo.

24
CAPÍTULO 2
ALGUMAS PASSAGENS BÍBLICAS
QUE COMPROVAM O PECADO DA
DIVISÃO

INTRODUÇÃO

Felizmente, a igreja cristã é unânime em aceitar que somos


salvos pela graça por meio da fé em Jesus Cristo (Ef 2.8).
Todavia, mesmo assim, os cristãos se dividem em assuntos
como a forma de tomar a ceia, de batismo, de governo
eclesiástico, a liturgia, os dons espirituais, as doutrinas, a
Trindade e até mesmo aspectos que tangem a doutrinas da
salvação.

Alguns estudiosos entendem que a proliferação de


denominações não foi promovida com o espírito de divisão, e sim
por necessidade: crentes que se amam e se unem em
denominações estão igualmente dispostos a cooperar com a
causa comum do Evangelho. Dessa forma, todas as
denominações estariam colaborando com o reino de Deus nestes
dois últimos milênios.

O problema é que a maioria das denominações acaba sendo


intolerante com os que delas discordam, ou que agem
diferentemente, ou que não compartilham de suas práticas. Por
diversos motivos, essas denominações acabam não cooperando
entre si, mas, quase sempre, passam a ter uma confrontação
hostil. Assim, cria-se uma situação de exclusão, responsável por
dar um péssimo testemunho principalmente para aqueles que
não conhecem a Cristo.

25
Neste capítulo, selecionamos dez passagens bíblicas que
evidenciam este grande pecado que a Igreja fragmentada vive
em nossos dias.

26
1) A divisão afronta a morte de Cristo na cruz

Nem considerais que nos convém que um homem morra


pelo povo, e que não pereça toda nação. Ora ele (Caifás)
não disse isto de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote
naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação.
E não somente pela nação, mas também para reunirem em
um corpo os filhos de Deus que andavam dispersos. (João
11.50-52)

Jesus foi crucificado e morto para nos reconciliar com Deus,


purificando-nos com o seu sangue, perdoando os nossos
pecados. Todos os remidos pelo sangue de Jesus formam o seu
corpo, a Igreja, a sua noiva:

Assim, somos membros de um só corpo: todos nós fomos


batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus,
quer gregos, quer servos, quer livres. E todos temos bebido
de um Espírito (1 Coríntios 12.13).

O apóstolo Paulo também explica essa verdade:

Porque assim como em um corpo temos muitos membros, e


nem todos os membros têm a mesma operação. Assim, nós
que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas
individualmente somos membros uns dos outros. (Romanos
12.4,5)

Não é uma opção nossa ser membro de um só corpo e uns


dos outros. Deus Pai decidiu que o sacrifício de seu Filho é para
nos salvar da perdição eterna e sermos UM em Cristo.

O profeta Isaías (cap. 53), aproximadamente 700 anos


antes de Cristo, teve uma visão profética da crucificação de Jesus
e a descreveu com tanta riqueza de detalhes como se ele

27
estivesse presente nos evangelhos. Nessa profecia, ele aborda
as três dimensões da morte de Cristo na cruz:

4 - Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas


enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o
reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. 5 - Mas
ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído
pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz
estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. 6 –
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um
se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele
a iniquidade de todos nós.

No verso 4, Jesus (que é o Messias profetizado) trata da


restauração da nossa natureza física (dores e enfermidades),
como pode ser comprovado em Mateus 8.16-17. No verso 5, ele
enfoca a restauração da nossa natureza espiritual (transgressões
e iniquidades, conforme 1 Pedro 2.24). A expressão “o castigo
que nos traz a paz” significa Jesus tirando a nossa culpa
espiritual, e a palavra “pisaduras”, ou ferimentos, indica a cura
ao nosso corpo físico. No verso 6, ele trata de ovelhas perdidas
(desviadas), cada uma seguindo o seu próprio caminho. A
proposta aqui é reunir essas ovelhas e lhes dar uma direção de
“um só rebanho”, como está escrito em João 10.16 e 11.52.

Concordamos que Jesus levou sobre si os nossos


sofrimentos e as nossas dores. Aceitamos plenamente que ele
morreu pelos nossos pecados. Também concordamos que, na
condição de salvos, não servimos mais ao pecado. Sabemos que,
se pecarmos voluntária e continuamente depois de ter conhecido
a verdade, estaremos afrontando o Filho de Deus, profanando o
sangue da aliança com que fomos santificados (Hebreus 10.26-
29).

Hoje, a Igreja é uma máquina contínua de fazer divisões.


Nós nos acostumamos com esse pecado e estamos com a

28
consciência cauterizada. Cada denominação (ou grupo) se
vangloria de suas conquistas e se julga dona da verdade. Fazem
críticas, julgam constantemente os “outros irmãos”, não
percebendo que, com isso, estão vulgarizando o sangue de Cristo
derramado para nos tornar um só corpo.

Jesus morreu para atrair de volta as ovelhas que estavam


dispersas, afastadas, a fim de que se tornasse o único Senhor e
pastor sobre elas. Ele não morreu apenas para nos salvar e
curar, mas também para nos reunir em uma grande família. Ele
quer que tenhamos uma vida comunitária, que amemos os
irmãos, que vivamos em unidade: um só Corpo, uma única e
grande família que reinará com ele por toda a eternidade:

...e entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o


livro e de abrir-lhe os selos, porque foste morto e com o teu
sangue compraste para Deus os que procedem de toda
tribo, língua, povo e nação e para o nosso Deus os
constituíste reino e sacerdotes; e reinarão sobre a terra.
(Apocalipse 5.9,10)

Jesus morreu para ser o Pastor de um único rebanho — para


sermos UM. Hoje vivemos em inúmeras divisões e, com isso, nos
posicionamos contrários à cruz de Cristo. Ele já solucionou a
questão das divisões, mas não aceitamos essa solução e
tomamos rumos diversos.

29
2) A divisão destrói o edifício que é o templo
santo do Senhor para a morada de Deus em
Espírito

Não sabeis que sois o santuário [templo] de Deus e que o


Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o
santuário [templo] de Deus, Deus o destruirá; porque o
santuário [templo] de Deus, que sois vós, é santo. (1
Coríntios 3.16,17)

A primeira divisão aconteceu na igreja de Corinto mais ou menos


20 anos depois da ascensão de Cristo. O apóstolo Paulo, já no
primeiro capítulo dessa carta, adverte a igreja acerca desse
grave pecado. No décimo versículo, ele mostra como deveria ser
a igreja e, em seguida, mostra seu estado pecaminoso:

Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus


Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre
vós divisões, antes sejais inteiramente unidos, na mesma
disposição mental e no mesmo parecer. Pois a vosso
respeito, meus irmãos, fui informado pela casa de Cloe, de
que há contendas entre vós. Refiro-me ao fato de cada um
de vós dizer: Eu sou de Paulo, e eu sou de Apolo, e eu de
Cefas, e eu de Cristo. Acaso, está Cristo dividido? Foi Paulo
crucificado por vós? Ou fostes vós batizados em nome de
Paulo? (1 Coríntios 1.10-13)

A igreja de Corinto demonstrava claramente preferências


por certos líderes a ponto de valorizá-los (já que, certamente,
cada um dos membros foi evangelizado por algum desses
líderes, e daí sua preferência) e ameaçar a soberania de Cristo.
Desta forma, o apóstolo conclui este capítulo dizendo, nos versos
27 ao 31, que Deus escolhe os fracos, vis, desprezíveis, os que

30
não são para que nenhuma carne se glorie, mas, se quisermos
nos gloriar, que seja em Cristo, a quem nos pertencemos: Mas
vós sois dele [de Deus], em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito
por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção (v.30).
Em outras palavras, para que ninguém se glorie nos homens e
nem mesmo nele, Paulo.

No capítulo 3, o apóstolo Paulo volta a falar sobre a divisão


dessa igreja, dizendo que seus membros ainda eram carnais,
mundanos, agiam como crianças, pois havia divisão no meio
deles. Cita, no verso 3, que os motivos da divisão eram inveja,
contendas (brigas), ciúme e dissenções.

No verso 9, o apóstolo ressalta que nós somos cooperadores


de Deus, que a Igreja é lavoura de Deus, edifício de Deus. Assim,
o verso 16 ressalta que nós (plural), a Igreja, formamos o
edifício de Deus (onde o Espírito de Deus habita) e, se
destruirmos este templo, Deus nos destruirá (v.17), porque o
templo de Deus, que somos nós, é santo.

Note que esse texto é diferente do texto de 1 Coríntios 6,


no qual nosso corpo é abordado como templo do Espírito Santo,
mas em relação ao pecado sexual. Os pecados sexuais ocorrem
no corpo, onde Jesus habita. Por isso, esse pecado é tratado
como terrível, perverso (6.18-20).

Há uma diferença significativa entre os capítulos 3 e 6 dessa


carta. No capítulo 6, o texto fala em templos (a presença de Deus
habita em todo cristão individual). No capítulo 3, ele fala no
templo que formamos juntos (a igreja formada por pedras vivas)
— ou seja, o corpo de Cristo tornando-se o substituto do Templo
de Jerusalém, que seria destruído no ano 70 pelos romanos.

Na verdade, a assunto central dos capítulos 1 a 3 é a divisão


na Igreja, que é o Corpo de Cristo, o templo onde Deus habita.
Assim, nos versos 15 e 16 do capítulo 2, Paulo usa o termo
“templo” para referir-se à Igreja e, se alguém destruir este

31
templo, Deus destruirá esse indivíduo, pois o templo de Deus,
que formamos juntos, é santo.

É importante concluir que ser mundano (carnal), neste caso,


não é algo relacionado a fumar, beber, ouvir música do mundo,
mas a viver na carne com ira, mágoa, raiva, orgulho, inveja,
conflito, divisão.

Ron Cantor (Revive Israel – abril de 2018) afirma que a


palavra “vós” (vocês) em grego está no plural nesses versos. A
versão NVI em inglês acrescenta a palavra “juntos” no final do
versículo 17 a fim de enfatizar que nós, o Corpo de Cristo, juntos,
somos o templo de Deus, e não cada pessoa individualmente.
Por isso, quando Paulo afirma que Deus destruirá o indivíduo que
destrói o templo de Deus, ele não se refere a pessoas que fumam
ou comem demais (coisas que não recomendamos), mas àquelas
que causam divisão. Por meio das divisões, as pessoas se
afastam da fé, ou seja, as divisões fazem com que se desviem
do Senhor. Divisões e cisões partem o coração de Deus, porque
rasgam o corpo de Jesus.

Ainda, continua Ron Cantor, a questão não são os


agrupamentos, mas o orgulho que se instala. Quando você
começa a pensar que a sua equipe é a melhor, você já se
encontra numa situação perigosa. Paulo ficou impressionado que
Apolo estava dando frutos, mas não se impressionou com o fato
de alguns daqueles discípulos serem excessivamente leais a um
homem e começarem a julgar outros líderes ou movimentos que
pensavam diferente.

Mas a pergunta é: se houve tantas divisões, por que Deus


não destruiu os causadores das mesmas? Creio que, por
misericórdia, Deus não tem sido rigoroso como foi em Atos 5.1-
11. Ouvi, certa vez, uma explicação de que, neste tempo, é como
se o Senhor tivesse “desligado a tomada” (puxado o fio da
tomada). Por enquanto, o rigor da Palavra pode não estar sendo

32
levado em conta por Deus, mas os textos de 1 Coríntios 1 e 3
mostram que ele continua abominando a divisão. Portanto, a
divisão é um grande pecado.

33
3) A divisão reconstrói o muro de separação
que Cristo derrubou e ressuscita a inimizade
que ele desfez em sua carne.

Naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da


comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa,
não tendo esperança, e sem Deus no mundo. Mas agora em
Cristo Jesus, vós que antes estáveis longe, já pelo sangue
de Cristo chegastes perto, porque Ele é a nossa paz, o qual
de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede [o muro]
de separação que estava no meio, na sua carne desfez a
inimizade, isto é a lei dos mandamentos que consistia em
ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo
homem, fazendo a paz, e pela sua cruz reconciliar ambos
com Deus em um corpo, matando com ela [cruz] as
inimizades. E, vindo, ele evangelizou a paz, a vós que
estáveis longe, e aos que estavam perto; porque, por Ele
ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito. Assim,
já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos
dos santos e da família de Deus. (Efésios 2.12-19)

No primeiro século, o templo de Jerusalém tinha vários pátios


com acesso restrito. Qualquer pessoa podia entrar no pátio dos
gentios, mas apenas os judeus e os prosélitos podiam entrar nos
pátios do templo. Para separar as áreas reservadas das áreas de
acesso livre, havia um muro de pedra bem trabalhado,
supostamente de 1,3 metros de altura. Segundo Flávio Josefo
(historiador e apologista judaico-romano do primeiro século),
foram colocadas nessa barreira inscrições em grego e em latim,
alertando os gentios a não atravessá-la para que não pisassem
nos recintos sagrados.

34
Encontrou-se uma dessas inscrições no idioma grego. Ela
dizia: “Que nenhum estrangeiro ultrapasse a barreira e a cerca
em torno do santuário. Quem for apanhado fazendo isso será
responsável pela sua morte, que virá como consequência”.

Não podemos afirmar com convicção se houve a queda


literal dessa barreira, ou se é um fato simbólico. De um jeito ou
de outro, o que a Palavra de Deus nos ensina é que, com a cruz,
a inimizade entre os que se converteram a Deus foi destruída.
Mais do que isto, Jesus desfez a inimizade em sua carne e, pela
cruz, reconciliou os que antes eram inimigos de Deus em um
corpo, matando assim essa inimizade.

Assim, o efeito da cruz não é somente a reconciliação do


homem com Deus (rasgando o véu do templo), mas também a
reconciliação entre o povo de Deus (derrubando o muro que
separava os homens no templo), fazendo-nos um só corpo.

Então, se o muro caiu, se Cristo desfez em sua carne a


inimizade, se na cruz a matou, se evangelizou a paz, se somos
concidadãos dos santos e uma só família, qualquer inimizade
significa levantar novamente a parede, o muro que com penoso
trabalho foi destruído por Cristo. Levantar muros é ir contra a
obra de Cristo na cruz. Estabelecer inimizade dentro da Igreja é
uma ofensa inominável a Deus, é sangrar o corpo de Cristo
novamente.

Não imaginamos o quanto é doloroso para Deus ver seus


próprios filhos praticando, em vez do Evangelho da paz, o ódio,
a inveja, os ciúmes, as contendas, as divisões. Desconsiderar
que Jesus foi propiciação (Romanos 3.21-26; Hebreus 2.17; 1
João 2.1-2 e 4.8-10) pelos nossos pecados, incluindo a divisão,
é muito sério.

Ainda que Jesus Cristo, por muitas vezes, tenha anunciado


sua morte, observamos que no Getsêmani ele começou a ter
pavor e a angustiar-se (Mc 14), dizendo: A minha alma está

35
profundamente triste [...] passe de mim este cálice, contudo,
não seja o que eu quero, e sim o que tu queres. Jesus prostrou-
se em terra (não se ajoelhou, mas se lançou ao chão em postura
de súplica). Em Lucas 22, esse mesmo fato é narrado dizendo
que sua agonia era tanta que o seu suor se tornou como gotas
de sangue caindo sobre a terra, vindo um anjo do céu para
confortá-lo. Um médico francês disse a esse respeito: “Debaixo
de agonia profunda, finos capilares nas glândulas sudoríparas
podem romper-se, misturando assim o sangue com o suor. Este
processo causa fraqueza, choque e hipotermia”. Isso ocorreu
devido à sua angústia e ao temor pelo sofrimento e cruz que
teria de enfrentar.

Como podemos explicar que um mártir como Estêvão


enfrentou a morte com alegria, e Jesus parecia estar em pânico,
totalmente apavorado? Ora, Jesus iria tomar sobre si, na cruz, o
peso dos pecados do mundo, consentindo em ser, como
realmente foi, contado entre os transgressores; e pior, como ele
mesmo disse, desamparado por Deus. Este pavor sem igual da
morte era porque ele provaria no Calvário a ira de Deus que nos
era devida, fazendo-se propiciação pelos nossos pecados, e
sendo, por isso, por breve tempo separado da presença do Pai.
Na visão profética de Isaías 53, Jesus não tinha aparência nem
formosura (a ponto de as pessoas esconderem o rosto e não
poder contemplá-lo), era desprezado, rejeitado, aflito, ferido de
Deus, oprimido, humilhado, traspassado, moído pelas nossas
iniquidades. Ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar.

Segundo J. I. Packer (no livro “Conhecimento de Deus”,


Editora Mundo Cristão), na cruz Jesus perdeu tudo o que possuía
de bom antes: consciência da presença e do amor do Pai,
consciência física, mental e espiritual de bem-estar, todo gozo
de Deus das coisas criadas, toda a alegria e o consolo da
amizade; tudo isso lhe foi tirado. Em seu lugar, nada mais havia
a não ser solidão, dor, uma consciência penosa da malícia e

36
maldade humana e o horror da mais completa escuridão
espiritual. A dor física, embora grande, não passava de uma
pequena parte da história; o maior sofrimento de Jesus era
mental e espiritual, uma agonia de seis horas, agonia tal que
cada minuto era uma eternidade, algo que os que já sofreram
mentalmente podem avaliar.

O fato de Jesus ter-se manifestado em carne, sem dúvida,


produziu uma aparente separação na Trindade. Deus se fez
homem para salvar a humanidade. Porém, a intimidade, a
comunhão do Filho aqui na Terra com o Pai sempre foi intensa,
como podemos ver nos capítulos 14 a 17 de João.

Você consegue imaginar que, na cruz, em certo sentido, a


Unidade Trinitária (Pai, Filho e Espírito Santo) foi comprometida
para nos unir como família? A Trindade é eterna. Ela nunca foi
ameaçada. Nunca as partes da Trindade experimentaram uma
separação. Mas, na crucificação, tivemos esse momento crítico.
Mais do que isso: uma das partes da Trindade suportou a ira
divina para destruir a inimizade na cruz. Jesus suportou em sua
carne toda a inimizade e derrubou o muro que separava os filhos
de Deus. Que amor é esse? É difícil entender isso, mas Deus
estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes
imputando seus pecados, e pôs em nós uma palavra de
reconciliação (2 Coríntios 5.19). Em outras palavras, a dor do
Filho desprezado era a dor do Pai. Por que tudo isso? Para que
nós também fôssemos ministros da reconciliação, isto é,
chamados para reatar amizades, restaurar a harmonia perdida.
Então, como será que o Pai se sente quando nós, em vez de
reconciliar, agimos como ministros da separação?

37
4) A divisão entristece o Espírito Santo por não
guardar a unidade do Espírito

Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é


digno da vocação que fostes chamados, com toda humildade
e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos
outros em amor, procurando guardar a unidade do Espírito
no vínculo da paz. Há um só corpo e um só Espírito, como
também fostes chamados em uma só esperança da vossa
vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só
Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos e em todos vós.
[...] Até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao
conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida
da estatura completa de Cristo. (Efésios 4.1-6, 13)

O apóstolo Paulo usa o termo "rogo-vos", que tem a conotação


de súplica, de implorar misericórdia, um desejo do fundo do
coração. Ele roga que andemos de forma digna da nossa
vocação, produzindo os frutos do Espírito Santo. Nós somos
vocacionados, escolhidos, predestinados para isso. O apóstolo
não está rogando a pessoas que não conhecem ou não têm
comunhão com Jesus, mas a cristãos aliançados com Deus, que
guardem (conservem, mantenham) uma unidade que já existe,
a unidade do Espírito.

Em nosso livro “Um só Corpo, um só Espírito, um só


Senhor”, no capítulo 3 (no qual fazemos referências a John
Walker), abordamos Efésios 4.3, que diz que devemos nos
esforçar diligentemente para preservar a unidade do Espírito. Em
grego, esse texto diz: Usando toda vossa diligência para guardar
a unidade do Espírito. Não precisamos procurar a unidade do
Espírito, mas preservá-la, guardá-la, protegê-la, porque ela é

38
um fato do Espírito. Ora, se vamos guardar alguma coisa é
porque já a temos. Se temos o Espírito, temos a unidade, porque
o Espírito não está dividido; ele é unido. Se entendermos isso,
preservaremos a unidade que o Espírito já possui em si mesmo.

O capítulo 4 de Efésios se refere a dois tipos de unidade: a


unidade do Espírito (v.3) e a unidade da fé (v.13). Nossa vocação
começa com a unidade do Espírito e termina com a unidade da
fé. Essa ordem é de suma importância: a unidade da fé nunca
deve vir em primeiro lugar. Toda igreja que começa com a
unidade da fé termina em confusão e divisão. Os líderes
estabelecem suas doutrinas e só têm comunhão com aqueles
que concordam com eles. Eles dizem: “Você crê nisso ou não?
Crê no batismo por aspersão ou por imersão? Crê na Trindade
ou só em Jesus? O que você acha disto?”. Se alguém discorda
em algum ponto, é considerado fora da comunhão. Esse é o
processo do homem. Mas o processo de Deus é começar pela
unidade do Espírito para chegar à unidade da fé. Se procurarmos
o Espírito de Cristo em cada um e guardarmos a paz,
terminaremos com a unidade da fé, ou seja, um só Corpo.
Começa com um só Espírito e termina com um só Corpo. Esse
processo de unidade é baseado no Espírito e na Palavra (fé). O
processo termina com a unidade da Palavra, mas é preciso ter
início no Espírito.

Portanto, devemos procurar diligentemente guardar o que


temos em unidade. Cada um pertence a Cristo, tem o Espírito de
Cristo. Precisamos olhar para o espírito que está em cada um e
preservar ou cultivar a unidade espiritual que já temos. Se
procurarmos guardar a unidade da fé sem a unidade do Espírito,
teremos doutrinas sem realidade. Por exemplo, posso falar: “Paz
do Senhor” sem transmitir paz alguma. Mas, se procurarmos
preservar a unidade do Espírito, acharemos Cristo, a palavra
viva, e chegaremos à unidade da fé.

39
O aspecto que eu gostaria de enfatizar é que nós (os
nascidos de novo) temos o Espírito Santo. E, se temos o Espírito,
devemos guardar sua unidade. Geralmente, não conseguimos
entender isso. Para nós, é fácil entender a unidade com base no
que cremos ou não. Sabemos que cada um tem o Espírito, mas
não entendemos que é o mesmo Espírito. Portanto, se deixarmos
de olhar para as doutrinas e olharmos para o Espírito de Cristo
em cada pessoa, veremos que já temos a unidade e, por isso,
devemos preservá-la. O Espírito, em si mesmo, tem o potencial
da unidade, mas enquanto não o reconhecermos em cada
pessoa, não teremos a unidade real, de fato. Para haver unidade
do Espírito, precisamos reconhecer que o Espírito que habita em
nós é o mesmo que habita em nossos irmãos, e isso faz com que
as outras coisas se tornem insignificantes.

Sem andar no Espírito, não há possibilidade de o Corpo ser


restaurado à sua verdadeira unidade. Qualquer obra ou
movimento de restauração que não comece com esse andar no
Espírito em humildade, mansidão, guardando a unidade
espiritual, acabará produzindo mais denominações. Se
desejamos uma igreja semelhante à do Novo Testamento,
devemos ter homens do Novo Testamento que andem no
Espírito, com a natureza de Jesus, em humildade (que significa
deixar-se rebaixar ao máximo), em mansidão (na versão
italiana, mansidão é traduzido por ”doçura”), em longanimidade
(longsuffering, em inglês, é igual a um sofrimento de longo
prazo), suportando os irmãos em amor (apoiar, promover, dar,
contribuir, fazer o melhor para o irmão).

Em 1 Coríntios 12.4,7-11, Paulo enfatiza que há um só


Espírito. Os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo (v.4).
Há muitas manifestações, mas um só é o mesmo Espírito que
opera todas as coisas (v.11). No verso 13 deste capítulo, lemos
que todos nós fomos batizados no Corpo em um mesmo Espírito,
e que todos temos bebido de um mesmo Espírito. Também, em

40
Efésios 2.18, lemos que todos temos acesso a Deus Pai em um
mesmo Espírito.

Em Filipenses 2.1-4, o versículo 2 é a mesma exortação de


Efésios 4.3 usando outras palavras: a unidade do Espírito implica
em pensar a mesma coisa, ter o mesmo amor, estar unido em
alma, ter o mesmo sentimento. E os versículos 3 e 4 são os frutos
do Espírito resultantes de um andar no Espírito. O próprio andar
espiritual nos leva à unidade da fé. É impossível haver o Corpo
de Cristo sem o andar no Espírito. Assim, ao invés de
procurarmos o Corpo, devemos procurar o Espírito e guardar a
sua unidade, pois, desta forma, o Corpo aparecerá.

Quando não nos esforçamos diligentemente para guardar a


unidade do Espírito e causamos divisões, impedimos a ação do
Espírito, atando-lhe as mãos e, portanto, entristecendo-o. No
capítulo 4 de Efésios, o apóstolo enfatiza no verso 30: E não
entristeçais o Espírito Santo, no qual estais selados para o dia da
redenção.

A quebra da unidade selada pelo Espírito Santo implica em


falta de humildade, ausência de mansidão, de longanimidade e
de amor. Tudo isso entristece o Espírito; portanto, é pecado. É
ir no sentido oposto à vontade de Deus. Sendo assim, quando
não temos comunhão com outros irmãos em Cristo,
entristecemos o Espírito Santo.

Uma situação ainda pior é quando os membros de uma


denominação alegam que os membros de outra denominação
cristã não são salvos. Nesse caso, extinguimos o Espírito Santo
(1 Tessalonicenses 5.19). É como se fôssemos apagando a
chama do espírito da unidade. Nesse caso, ignoramos (ou até
mesmo negamos) o Espírito que está em outro irmão. Jesus ficou
muito triste quando os escribas disseram que ele expulsava
demônios por Belzebu. Eles extinguiram o Espírito que estava
em Jesus e o substituíram por Satanás. Então, Jesus concluiu

41
dizendo que todos os pecados seriam perdoados aos filhos dos
homens; porém, quem blasfemasse contra o Espírito Santo
nunca obteria perdão, mas seria réu do eterno juízo (Marcos
3.22-30).

Quem julgou Jesus? Os escribas, estudiosos da lei,


profundos conhecedores de Moisés e dos profetas. Eles
entendiam ser os “donos da verdade”. Praticavam dois grandes
pecados segundo Jesus: julgamento (Mateus 7.1) e falta de
humidade (Mateus 11.29).

42
5) Dividir é anular o perdão de Deus

Então Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, até


quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe
perdoarei? Até sete? Jesus lhe disse, não digo até sete; mas,
até setenta vezes sete. Por isso, o reino dos céus pode
comparar-se a um certo rei que quis fazer contas com seus
servos; e começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um
que lhe devia dez mil talentos; e não tendo ele com que
pagar, o seu senhor mandou que ele, sua mulher e seus
filhos fossem vendidos, com tudo quanto tinham, para que
a dívida se lhe pagasse. Então, aquele servo, prostrando-se,
o reverenciava, dizendo: Senhor, sê generoso para comigo,
e tudo te pagarei. Então o Senhor daquele servo, movido de
íntima compaixão, soltou-lhe e perdoou-lhe a dívida.
Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus
conservos, que lhe devia cem dinheiros, e, lançando mão
dele, sufocava-o dizendo: Paga-me o que me deves. Então
o seu companheiro, prostrando-se aos seus pés, rogava-lhe,
dizendo: Sê generoso para comigo e tudo te pagarei. Ele,
porém, não quis; antes, foi encerrá-lo na prisão até que
pagasse a dívida. Vendo, pois, os seu conservos o que
acontecia, contristaram-se muito, e foram declarar ao seu
senhor. Então o seu senhor, chamando-o à sua presença,
disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida,
porque me suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter
compaixão do teu companheiro, como eu também tive
misericórdia de ti? E, indignado, o seu senhor o entregou
aos atormentadores até que pagasse tudo o que devia.
Assim vos fará também meu Pai celestial. (Mateus 18.21-
35)

43
No texto acima, Pedro indagou Jesus sobre um "limite diário"
para o perdão, mas o Senhor lhe mostrou que o perdão deveria
ser ilimitado, sem fim (setenta vezes sete). Como julgou muito
importante a pergunta de Pedro, Jesus exemplificou a resposta
usando uma parábola.

Perdão, em hebraico, tem o sentido de "tirar a carga" de


cima de algo ou de alguém. Um homem aliviado pelo rei de uma
carga de dez mil talentos (uma quantia impagável) não foi capaz
de fazer o mesmo ao conservo que lhe devia apenas cem
dinheiros, uma quantia incomparavelmente menor. Ao saber
disso, o rei teve uma forte reação contra o servo a quem acabara
de perdoar: chamou-o de servo malvado, ficou bravo (indignou-
se) e retirou seu perdão (o entregou aos verdugos, até que lhe
pagasse toda a dívida). Por causa de cem dinheiros, ele perdeu
dez mil talentos.

Jesus ensinou a Pedro que a nossa dívida é impagável e, por


isso, não podemos colocar limites para perdoar aos outros.
Assim também vos fará meu Pai celestial, se de coração não
perdoardes, cada um a seu irmão (v.35). Da mesma forma como
o rei reagiu, o Senhor também fará com quem não perdoar:
chamará de malvado, ficará irado e retirará o perdão.

Também, após a oração do Pai Nosso, Jesus realça: Porque


se perdoardes aos homens suas ofensas, também o vosso Pai
celestial vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos
homens as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as
vossas ofensas (Mateus 6.14-15). Assim, a falta de perdão se
torna uma parede, um muro no nosso relacionamento com a
pessoa não perdoada e também com Deus.

A Reforma Protestante foi tremendamente importante no


sentido de restaurar a verdade de que as pessoas são perdoadas
não por obras, mas pela fé no único e suficiente sacrifício de
Jesus. No entanto, os reformadores não ensinaram que esse

44
perdão de Deus é bloqueado quando não perdoamos aos outros.
Essa lacuna deixou uma herança terrível de brigas, contendas e
divisões entre os cristãos evangélicos.

Segundo Fernando Jorge, em seu livro “Lutero e a Igreja do


Pecado” (Editora Novo Século, São Paulo), o luteranismo foi
fragmentado em diversas divisões: os huteritas, da Morávia; os
estancaristas, de Francisco Stancar; os criptocalvinistas ou
calvinistas ocultos; os osiandistas, discípulos de André Osiander;
os menonitas, cujo líder era o Pe. Menno Simons; os anabatistas;
os majoritas, adeptos de George Major; os “indiferentes”, isto é,
os luteranos que desejam conservar os rituais da Igreja Católica.

Lutero também sustentou uma polêmica com Zuínglio


(reformador suíço) sobre a eucaristia: Lutero defendia que Cristo
está presente no pão e no vinho (consubstanciação), mas
Zuínglio dizia que era apenas um ato simbólico, uma recordação
da última ceia (em memória).(2)

A grosso modo, em 1517 havia em torno de três grandes


eixos cristãos: católicos romanos, ortodoxos e protestantes. No
ano de 1900, já existiam em torno de 1.600 denominações. Na
virada do século, já eram 33 mil. Em 2020, fala-se em até 45
mil denominações. Infelizmente, a porta da falta de perdão ficou
aberta pelos reformadores. Que estrago!

Muitos acreditam erroneamente que é possível ter graça e


livre comunhão com Deus mesmo que não se perdoe aos
ofensores. As pessoas dividem igrejas, passam mutuamente a
odiar-se e caluniar, mas continuam considerando-se cristãos
exemplares e "adorando" a Deus em suas comunidades
separadas. Porém, se não perdoardes aos homens as suas
ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas.
(Mateus 6.14)

Pessoas que não perdoam vivem expressando mágoas,


sendo consumidas diariamente pelo ódio ou pela amargura.

45
Mesmo que alguns ofensores já tenham até morrido, continuam
sendo alvos dessa amargura.

Normalmente, a divisão evidencia a falta de perdão. Mesmo


com a morte do líder da divisão, seus sucessores continuam
ensinando que o corpo doutrinário pregado pela denominação é
o mais correto. Porém, um dia eles beberão do seu próprio
veneno, e sempre haverá novas divisões.

Como já dissemos, o “cristianismo organizado” tornou-se


uma “máquina de produzir divisões em série” a uma velocidade
cada vez maior. Parece que cada denominação traz em si o gene
da divisão transmitido de geração para geração.

Os não cristãos e não crentes, como falamos na Introdução,


vendo nossas divisões, não podem acreditar em nossas
mensagens de amor, paz, união, perdão e fraternidade. Essas
divisões contradizem a vivência dos primeiros cristãos que,
crentes em Jesus Cristo, estavam juntos, perseveravam
unânimes no templo, partiam o pão de casa em casa e tomavam
suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a
Deus e contando com a simpatia do povo (Atos 2.42-47). Essa
comunidade era atrativa, e, a cada dia, novas pessoas aderiam
à Igreja.

Em seu livro “Religião do Pombo: Como discernir a


Manipulação Espiritual” (R. T. Kendall, Editora Vida, São Paulo),
o autor diz:
Quando o Espírito Santo caiu sobre certos grupos em décadas
anteriores, seus líderes supuseram que a benção divina era um
sinal de que eram “especiais”. Algumas denominações chegaram a
ensinar que todos os outros cristãos um dia estariam sob a mesma
bandeira – pois eles acreditavam que tinham um status de elite. O
orgulho sectário poderia soar espiritual, mas ainda assim seria
orgulho. Existe uma tendência em novos grupos hoje que alegam
ter o monopólio da verdade. Sua sutil mensagem é: ‘somos
melhores’”.

46
Certamente, esta atitude entristece o Espírito Santo. A
divisão induz à falta de perdão, e a falta de perdão entre nós é
uma ofensa ao perdão de Deus que foi liberado na cruz por meio
de Jesus Cristo.

(2) Veja no Capítulo 4, o item 5: “Concordando em quase tudo – Unidos em


quase nada”.

47
6) Dividir é ignorar (ou negar) o maior dos
mandamentos deixado por Jesus

Nisto são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do Diabo:


quem não pratica a justiça não é de Deus, nem o que não
ama a seu irmão. Porque esta é a mensagem que ouvistes
desde o princípio, que nos amemos uns aos outros, não
sendo como Caim, que era do Maligno, e matou a seu irmão.
E por que o matou? Porque as suas obras eram más e as de
seu irmão justas. Meus irmãos, não vos admireis se o mundo
vos odeia. Nós sabemos que já passamos da morte para a
vida, porque amamos os irmãos. Quem não ama permanece
na morte. Todo o que odeia a seu irmão é homicida; e vós
sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna
permanecendo nele. Nisto conhecemos o amor: que Cristo
deu a sua vida por nós; e nós devemos dar a vida pelos
irmãos. Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu
irmão necessitando, lhe fechar o seu coração, como
permanece nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de
palavra, nem de língua, mas por obras e em verdade. (1
João 3.10-18)

Jesus é o centro do Velho e do Novo Testamento. Ele é a maior


autoridade, o Príncipe da vida, o Salvador da humanidade. Por
tudo isso, precisamos estar atentos às ênfases dos seus
ensinamentos.

Num certo momento, quando Jesus passava as últimas


instruções aos seus discípulos, algumas horas antes da sua
crucificação, ele declarou: Novo mandamento vos dou: que vos
ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também
vos ameis uns aos outros... (João 13.34).

48
Todavia, o impacto da declaração de Jesus não parou por aí;
ele ainda revelou algo mais impressionante aos seus seguidores:
anunciou que aqueles que fossem seus teriam uma marca, um
sinal, uma identificação inconfundível diante do mundo, diante
dos incrédulos e diante de outros cristãos — Nisto todos
conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos
outros. (João 13.35). Jesus disse que seus seguidores seriam
conhecidos por todos através de uma única e exclusiva marca:
O AMOR.

Veja que tipo de amor a Bíblia nos ensina: Nisto conhecemos


o amor, em que Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar
nossa vida pelos irmãos (1 João 3.16). Este é o amor de dar a
vida, o amor sacrificial, o amor que traz prejuízos, perdas e
sofrimentos.

Normalmente, gostamos do amor que nos traz lucro.


Convidamos pessoas agradáveis para estar conosco, para
partilhar da nossa mesa; pessoas com os mesmos ideais, da
mesma classe social, pessoas que não nos incomodam. Esse tipo
de amor, embora bom, não é sacrificial e não tem valor algum
no sentido cristão. Paulo nos ensina que o amor dos filhos de
Deus sempre sofre, sempre espera, sempre crê e sempre
suporta (1 Coríntios 13.7). Esse sim é o amor no padrão de
Jesus.

Porém, será que os não cristãos estão contemplando esse


tipo de amor entre os cristãos? Claro que não! Sem dúvida, essa
é a principal razão pela qual a Igreja está estacionada há séculos,
não ultrapassando os 33% de pessoas, como vimos na
Introdução, que conhecem a Cristo no globo terrestre.

As divisões são sinais visíveis da falta de amor, um pecado


terrível do Corpo de Cristo, da Igreja. Paul Billheimer, como
descrito no Capítulo 1, afirma:

49
A maior parte das desavenças nas congregações locais não é
produzida principalmente por diferenças quanto a pontos
essenciais, mas por ambições humanas não santificadas, invejas e
choques de personalidades. A verdadeira raiz de muitas dessas
situações é uma carência dos crentes individuais que revelam uma
lamentável imaturidade no amor. É por isso que a igreja local é um
dos melhores laboratórios onde os crentes, individualmente,
podem descobrir seu real vazio espiritual e começar a crescer no
amor ágape.

Quando houver verdadeiro arrependimento, humilde confissão de


pecados de inveja, de ciúme e de ressentimentos e um pedido de
perdão mútuo, o resultado será um crescimento real no amor que
cobre tudo. Isso libera o Espírito Santo para curar feridas e atear
fogo do reavivamento. Só assim a Igreja ultrapassará os seus
limites de conversão por todo o mundo.

O que mais interessa a Deus é o amor entre os membros de sua


família, a Igreja, e não a inerrância das opiniões dos irmãos.
Quando afirmamos que, para o Senhor, existe algo mais
importante do que pontos de vista corretos, estamos dizendo que
o espírito certo, a expressão do seu amor, é o que mais conta para
ele. A pedra fundamental, o alicerce mais tangível e vital do amor
e, portanto, da unidade e da comunhão, é reconhecer nos outros
o mesmo ancestral, ou um relacionamento familiar, e não uma
opinião comum. Sendo assim, a comunhão nessa base é mais
importante para Deus do que a teologia absolutamente correta. Se
levarmos em conta que a prática do amor entre os irmãos nascidos
de novo, que formam a família de Deus, é mais importante do que
a doutrina absolutamente correta, concluiremos que a Igreja
comete o seu grande pecado neste ponto.

Não amar é desobedecer o mandamento de Jesus. Quase


sempre as divisões são frutos do endurecimento de coração.
Jesus diz para a Igreja (e não para o mundo): “E, por se
multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará” (Mateus
24.12).

50
7) Dividir é quebrar alianças

Tendo pois, irmãos, ousadia para entrarmos no santíssimo


lugar, pelo sangue de Jesus, pelo caminho que ele nos
inaugurou, caminho novo e vivo, através do véu, isto é, da
sua carne, e tendo um grande sacerdote sobre a casa de
Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira
certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência,
e o corpo lavado com água limpa, retenhamos inabalável a
confissão da nossa esperança, porque fiel é aquele que fez
a promessa; e consideremo-nos uns aos outros, para nos
estimularmos ao amor e às boas obras, não abandonando a
nossa congregação, como é costume de alguns, antes
admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto
vedes que se vai aproximando aquele dia. Por que se
pecarmos voluntariamente, depois de termos conhecimento
da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados [...]
De quanto maior castigo cuidais vós, será julgado
merecedor aquele que pisar o filho de Deus, e tiver por
profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer
agravo o Espírito da graça. (Hebreus 10.19-26,29

Derek Prince (teólogo e pastor internacional – 1915-2003), ao


escrever sobre a “restauração de todas as coisas” (Atos 3.19-
21), afirma que Jesus voltará do céu para a terra, e que o
processo de restauração divino é baseado principalmente nos
dois povos com os quais Deus estabeleceu uma aliança na Terra:
Israel e Igreja. Ele diz ainda que os princípios são revelados no
plano natural da restauração de Israel (que por séculos andou
como povo desterrado), e são igualmente aplicáveis à
restauração da Igreja no plano espiritual (que também por

51
séculos esteve em um exílio semelhante a Israel, longe de sua
herança espiritual doada por Deus).

Ele exemplifica a profecia que prediz tanto a restauração de


Israel quanto a da Igreja, citando o vale dos ossos secos
(Ezequiel 37.1-10). Neste vale, os ossos secos, desligados e
espalhados, sobrenaturalmente se unem às suas respectivas
juntas; depois, são cobertos por ligamentos, músculos, carne e
pele, tornando-se fisicamente perfeitos, com fôlego (espírito),
levantando-se e constituindo-se um exército grande em extremo
(“sobremodo numeroso”).

Em Efésios 4.15,16, Paulo nos ensina que o propósito de


Deus para nós é que cresçamos como “juntas espirituais”
encaixadas no Corpo de Cristo:

Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo


naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem
ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo
a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo,
para sua edificação em amor.

Em primeiro lugar, devemos estar firmemente unidos com a


Cabeça (Colossenses 2.18-19); depois, devemos estar
firmemente unidos por juntas e ligamentos com os nossos
irmãos. Nosso relacionamento pessoal com Cristo é primordial,
mas não é suficiente. Temos de estabelecer um relacionamento
certo com os outros crentes aos quais Deus nos ligou no Corpo.

Derek Prince trata “juntas” como o relacionamento pessoal


entre os cristãos que Deus uniu. Já os “ligamentos” (que são as
fibras de tecido que mantêm os ossos ligados nos lugares em
que se formam as juntas) seriam essenciais para conservar cada
junta forte e segura – exatamente o papel do compromisso de
aliança.

52
Ao tomar a ceia do Senhor, reconhecemos um compromisso
de aliança uns com os outros assim como os ossos do corpo
humano são unidos pelos ligamentos em um só corpo.
Reconhecemos que éramos “ossos secos” e que, pela cruz de
Cristo, fomos unidos, tornando-nos um só Corpo.

Derek Prince também nos lembra que, dentre os povos


semíticos descritos na Bíblia, a maneira normal de duas pessoas
entrarem em uma aliança era participar solenemente de uma
refeição juntas e, especialmente, comer de um só pão e beber
de um só cálice. Por essa razão, foi apropriado que Jesus
iniciasse a Nova Aliança com uma refeição solene, na qual cada
pessoa participou do mesmo pão e bebeu do mesmo cálice
(Mateus 26.20-28). Por meio desse ato único, todos os que
participaram foram, daquele momento em diante, ligados numa
aliança sagrada. Desde então, a participação na ceia do Senhor
tem sido, do ponto de vista de Deus, uma renovação dessa
aliança, por meio da qual todos os que participam são ligados ao
Senhor e uns aos outros.

Ao participar da ceia do Senhor, reconhecemos que somos


irmãos, membros da mesma família divina. Renovamos o
compromisso de amor mútuo, de perdão, de cuidar uns dos
outros e, do ponto de vista cristão, até de dar a vida pelo irmão;
de usar nossas provisões para suprir as necessidades do próximo
e vice-versa; de alegrar-nos com suas vitórias e sofrer com ele
as dores de suas aflições; de não romper relações com os irmãos
ainda que, em certos pontos, não haja um pensamento único (e
sim diversidade). Renovamos, então, o compromisso de ser
sinceros, transparentes e continuar amando mesmo que
tenhamos de ser exortados. Enfim, confirmamos o propósito do
amor incondicional assim como somos amados por Cristo, que é
o centro dessa aliança.

Não bastassem todos esses termos da aliança, Derek Prince


ainda ressalta que as suas obrigações na aliança não se limitam

53
aos seus irmãos pessoalmente, mas se estendem também
àqueles com quem eles têm aliança. Ou seja, se A está em
aliança com B, e B está em aliança com C, então, por esse fato,
A está em aliança com C, e C com A. Isto explica por que os
compromissos de aliança, assim como os ligamentos, podem
unir todos os ossos no Corpo de Cristo. Cada osso é diretamente
ligado com os que estão próximos a ele, mas estes, por sua vez,
também são ligados aos outros. Dessa maneira, todos os ossos
estão interligados para formar um só corpo.

As estatísticas mostram que existe, principalmente no meio


evangélico, além da divisão, um grande fluxo de cristãos entre
as denominações. Quase sempre, infelizmente, o fluxo de um
cristão de uma denominação para outra implica em quebra de
aliança, pois houve um afastamento (muitas vezes, sem nenhum
acordo ou explicações) de irmãos que “sentavam juntos à mesa”
para cear. Os ligamentos (alianças) foram rompidos, e as juntas
se desarticularam. Essa crescente infidelidade significa, para
nós, números crescentes de quebra de alianças.

O pior são os pastores e líderes saindo (normalmente


brigados) de uma denominação para fundar outra. Os pastores
que ficam e os que vão embora louvam a Deus com a maior
liberdade, cada um com a sua congregação, como se tudo
estivesse normal. Assim, alianças são rompidas com muita
frequência, e isso chega a ser considerado um “fato normal”;
mas sabemos que é um pecado contra o Corpo de Cristo!

Essas quebras de alianças (paradigmas) abriram as


“porteiras” para uma igreja frágil e fragmentada. A
permissividade também levou cristãos a fortalecer-se na quebra
de alianças nos casamentos, chegando-se a um número
astronômico de divórcios dentro das igrejas. Para não me
alongar nos exemplos, concluo que nunca a instituição da família
esteve tão debilitada como nos nossos dias.

54
Alianças quebradas no Velho Testamento eram duramente
punidas. Deus tomou a iniciativa de estabelecer uma aliança com
Abraão (Gênesis 15.1-10) nos moldes comuns aos homens da
época. O padrão da aliança consistia em cortar um animal ao
meio, e as pessoas que estavam aliançando-se passavam por
entre as duas partes do animal e andavam sobre o sangue
derramado (aliança de sangue). O não cumprimento da aliança
implicaria, para quem a quebrasse, que o acordo seria cortado
ao meio à semelhança daquele animal.

No livro de Jeremias, por exemplo, Deus mostra que a


seriedade da aliança não se resume aos pactos feitos entre ele e
os homens, mas também inclui os acordos feitos entre os
homens. No capítulo 34, Jerusalém estava sitiada pelos
babilônios e prestes a sucumbir. O povo de Israel vinha
escravizando seus próprios irmãos havia muito tempo, o que era
proibido pela Lei de Moisés. Numa tentativa de sensibilizar o
coração de Deus, fizeram uma aliança e libertaram os escravos
hebreus. Deus ficou feliz, pois finalmente eles cumpririam sua
Lei. Entretanto, no dia seguinte, quebraram a aliança e
chamaram os escravos de volta. Vejam como Deus se indignou
com eles:

Portanto, assim diz o Senhor: Vós não me ouvistes a mim,


para apregoardes a liberdade, cada um ao seu irmão, e cada
um ao seu próximo; pois eis que eu vos apregoo a liberdade,
diz o Senhor, para a espada, para a pestilência, e para a
fome; e farei que sejais espanto a todos os reinos da terra.
E entregarei os homens que transgrediram a minha aliança,
que não cumpriram as palavras da aliança que fizeram
diante de mim, com o bezerro, que dividiram em duas
partes, e passaram pelo meio das suas porções; a saber, os
príncipes de Judá, e os príncipes de Jerusalém, os eunucos,
e os sacerdotes, e todo o povo da terra que passou por meio
das porções do bezerro; entregá-los-ei, digo, na mão de

55
seus inimigos, e na mão dos que procuram a sua morte, e
os cadáveres deles servirão de alimento para as aves dos
céus e para os animais da terra. (Jeremias 34.17-20)

Parece que a ira divina se acende quando a aliança, ainda


que seja entre homens, é quebrada. Nesse caso, o Senhor se
irou principalmente porque se tratava de uma aliança de sangue
– eles passaram no meio de bezerros cortados. Por isso, Deus se
indignou e puniu os infratores.

Nas alianças do Velho Testamento, como vimos, havia um


corredor entre os animais partidos. Mas, na Nova Aliança
(Hebreus 10.19-21), passamos pela própria carne partida do
Senhor Jesus. Ele foi partido na cruz para que pudéssemos
“comê-lo”. Na cruz, ele derramou seu sangue para que
pudéssemos “bebê-lo”. Por isso, tenhamos liberdade e ousadia
para entrar no santíssimo lugar pelo sangue de Jesus que foi
derramado em sua morte. O véu, a sua carne, foi rasgada e
inaugurou um caminho novo e vivo para nós. Parafraseando, ele
“abriu um corredor por sua carne rasgada a fim de que
passássemos no meio do Cristo partido”. Se ele ficasse vivo, não
poderíamos passar, mas ele morreu.

Aquele que foi partido ressuscitou e, agora, temos um


grande sacerdote sobre a casa de Deus (Hebreus 10.21). Ao
mesmo tempo em que Jesus é o Cordeiro partido, ele também é
o sacerdote que nos recebe no “fim do corredor”.

O texto de Hebreus 10.19-21 fala sobre aliança, deixando o


alerta de que esse o sangue derramado nesse tipo de pacto
nunca deve ser profanado. A passagem de Hebreus 10.26-31
afirma que, se voluntariamente continuarmos no pecado, depois
de termos recebido o pleno conhecimento da verdade, já não
restará mais sacrifício pelos pecados. Ora, se entendermos que
a divisão é um pecado CONTÍNUO e PERMANENTE (e não resta
dúvida disso), e não nos arrependermos, o texto acima diz que,

56
como punição, será julgado merecedor de castigo aquele que
pisar o Filho de Deus e tiver por profano o sangue da aliança com
que foi santificado ao ultrajar o Espírito da graça.

Essa passagem deve ser lida com muita atenção. Fomos


comprados por um preço de valor incalculável: o sangue de
Jesus. Ele já nos provou que somos seus filhos amados. Ele torce
por nós e quer nos dar todas as bênçãos espirituais em Cristo
Jesus. Mas, se banalizarmos isso, se não zelarmos, se
profanarmos essa aliança, cometeremos um grave pecado.

57
8) A síndrome do irmão mais velho e a divisão
da família

E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e


chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E,
chamando um dos servos, perguntou-lhe o que era aquilo.
E ele lhe disse: Veio teu irmão; e o teu pai matou o bezerro
cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou,
e não queria entrar. E saindo o pai, instava com ele. Mas
respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos
anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca
me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos;
vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens
com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. E ele lhe
disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas
coisas são tuas; mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos,
porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se
perdido, e achou-se. (Lucas 15.25-32)

Esta é a parábola do filho pródigo em Lucas 15.11-32. Seu irmão


mais velho tinha razões de sobra para considerá-lo leviano,
irresponsável e praticante de ações que não dignificavam a
família. Quando o pródigo chegou, e o pai lhe fez aquela grande
festa, o mais velho se indignou e não queria entrar; saindo,
porém, o pai, procurava conciliá-lo. No entanto, ele respondeu
ao pai: Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma
ordem tua... Vemos que o pai queria a reconciliação dos irmãos.

Esse irmão se julgava tão adequado à sua condição de filho


que se sentia no direito de recusar a irmandade do outro filho.
Entretanto, não considerou que o pai, mais ofendido do que ele,
tinha uma misericórdia que superava as falhas do filho mais novo

58
e se alegrava por tê-lo de volta, acima de qualquer ofensa.
Apesar de reconhecer as muitas razões do filho mais velho, o pai
desejava que ele relevasse as falhas do mais novo e se alegrasse
por tê-lo em casa. Todas as suas obras e a sua obediência não
tinham valor para o pai sem a consideração pelo irmão.

Muitas vezes, estamos fazendo o mesmo papel do filho mais


velho: por mais que nos esforcemos por cumprir todas as ordens
do Pai, parece que ele não está tão preocupado com isso. É
errado, carnal e maligno aquele pensamento de que o irmão da
outra igreja poderia estar na nossa igreja (denominação), pois
estamos mais “alinhados com Deus”. É muito importante que
estejamos firmes na obediência à Palavra; porém, não podemos
impor nossas práticas aos outros. Nosso propósito não é formar
uma “confederação de igrejas”, adotar um “ritual e doutrinas
únicas”. Isso não vai acontecer. Unidade é algo do Espírito
Santo, mas os irmãos podem e devem superar essas diferenças
e as barreiras que existem entre as igrejas.

Oh! Quão bom e suave é que os irmãos vivam em união […]


porque aí o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre (Salmo
133.1, 3b). Quem diz isto? É Deus, é a Palavra de Deus. É pela
unidade que possibilitamos que o Senhor, o Pai da família, nos
abençoe. Em outras palavras, podemos dizer: “Como é bom e
agradável que o povo de Deus viva unido, como se todos fossem
irmãos! E, assim, receberemos bênçãos e vida (Jesus)”.

É impressionante o número de famílias que vivem divididas


por causa de um dos irmãos (ou mais) que prega um alto padrão
de santidade e recusa comunhão a outros membros de Cristo.
Fazendo isso, estamos reabrindo as chagas de Jesus dentro da
nossa própria casa, do nosso lar. Estamos pecando contra o
corpo e o sangue de Jesus numa família na qual corre “o mesmo
sangue” nas veias. Estamos indo contra a oração de Jesus em
João 17. Estamos sendo obstáculo para a salvação do mundo

59
(…para que o mundo creia). Somente Satanás sai vencedor de
uma família assim, pois há beligerância e conflitos.

Como diz Paul Billheimer, mencionado no capítulo 1,


repetimos:
Não se trata de abrir mão de convicções pessoais a fim de amar o
irmão, membro da família ou do mesmo círculo familiar, que tem
o mesmo pai. Porém, trata-se de entender que o que mais
interessa a Deus é o amor entre os membros de sua família e não
tanto a inerrância das opiniões desses irmãos.

Isto é manter o espírito correto. O amor ágape, para Deus,


é mais importante do que as opiniões corretas. Na família,
sempre haverá os nascidos de novo mais fracos e mais débeis
na fé. E aqui entra o amor. Sair disso é pecado.

Há pessoas que se julgam portadoras da verdade e pensam


ser as únicas que agradam a Deus na família. Chamamos isso de
“síndrome de Elias”: Senhor, mataram os teus profetas, e
derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha
alma. Mas a resposta divina é: reservei para mim sete mil
homens, que não dobraram os joelhos a Baal (Romanos 11.3-4).
Agir assim nos nossos dias, como pensava Elias, é não considerar
que Deus é riquíssimo em misericórdia e age conforme a graça
de nosso Senhor Jesus Cristo a fim de que ninguém se glorie.

60
9) Achar-se melhor e julgar irmãos (que às
vezes nem conhecemos)

E chegou a Cafarnaum e, entrando em casa perguntou-lhes:


que estáveis discutindo pelo caminho? Mas eles se calaram,
porque pelo caminho tinha disputado entre si qual era o
maior. E ele assentando-se à mesa, chamou os doze, e
disse-lhes: se alguém quiser ser o primeiro, será o
derradeiro de todos e servo de todos. E, lançando mão de
um menino, pô-lo no meio deles, e tomando-o nos seus
braços disse-lhes: qualquer que receber um destes meninos
em meu nome, a mim que recebe; e qualquer que a mim
receber, recebe não a mim, mas ao que me enviou. João lhe
respondeu dizendo Mestre, vimos um homem que, em teu
nome, expelia demônios, o qual não nos segue; e nós lhe
proibimos, porque não seguia conosco. Mas Jesus
respondeu: Não lhe proibais; porque ninguém que faça
milagre em meu nome e, logo a seguir, possa falar mal de
mim. Pois quem não é contra nós é por nós. Porquanto,
qualquer que vos der de beber um copo de água em meu
nome, porque sois discípulos de Cristo, em verdade vos digo
que não perderá o galardão. E qualquer que escandalizar
um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora
que lhe pusessem no pescoço uma pedra de moinho, e que
fosse lançado no mar. (Marcos 9.33-42)

Aqui nós temos duas situações de divisão: uma entre os


discípulos e outra entre dois grupos. Na primeira situação, indo
eles a Cafarnaum, os discípulos foram discutindo entre si quem
era o maior. Isso significa divisão no mesmo grupo de pessoas
que andam juntas. Essa situação é comum no meio da igreja:
disputas (competição), poder, achar-se superior ou melhor,

61
soberba, orgulho, crer que Deus tem algo melhor para mim, crer
que eu sei mais do que o meu irmão, que possuo mais verdade,
mais revelação do que ele.

Jesus os repreendeu. Sentou-se com eles para explicar que


quem quisesse ser o primeiro seria o derradeiro de todos e servo
de todos; que deveríamos receber uns aos outros assim como
recebemos uma criança, considerando-a inocente, abraçando-a,
não a vendo como concorrente, inimiga. Receber uma criança
(um irmão em Cristo) significa receber Jesus. Receber Jesus
significa receber o Pai.

Na segunda situação, o quadro de divisão é ainda mais


intenso. Essa é a divisão entre congregações, pois envolve dois
grupos (embora, nesse caso, seja apenas uma pessoa no outro
lado), ou seja, achar que nós fazemos o certo e o melhor em
relação aos outros; achar que nós somos os especiais como
seguidores de Cristo. Nesse caso, Jesus nos ensina a abençoar
os outros:

Porquanto, qualquer que vos der de beber um copo de água


em meu nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo
que de modo nenhum perderá a sua recompensa. Mas
qualquer que fizer tropeçar um destes pequeninos que
creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse no
pescoço uma pedra de moinho e que fosse lançado no mar.
(Marcos 9.41-42)

É importante ressaltar alguns fatos em relação a esse


homem que foi visto expulsando demônios e ao texto acima:

a) Nas versões mais antigas da Bíblia, é subentendido que


o homem que expulsava demônios o fazia no “poder do nome de
Jesus”. Aquele homem não estava usando o nome de Jesus como
“mágica” conforme lemos em Atos 19.13.

62
b) Ele estava ao lado de Jesus, trabalhando a favor de Jesus
embora não fizesse parte daquele grupo privilegiado que andava
com o Mestre.

c) Jesus era conhecido por aquele homem e o conhecia; caso


contrário, não haveria a operação do Espírito de Cristo na ação
da libertação.

d) Essa colocação inoportuna de João (mas muito


importante para nós) ocorre diante da “cruz anunciada” por
Cristo, ou seja, em Marcos 9.31 ele havia explicado como
cumpriria sua missão.

e) No exemplo em que Jesus pega a criança (Marcos 9.36),


ele se refere a “pequeninos” que creem nele, que podem ser
crianças, outros seguidores (Marcos 9.42-50) e até mesmo os
que são fracos na fé (1 Coríntios 8.9-13).

f) No verso 41, Jesus ensina que aquele que der um copo


de água em seu nome a alguém de Cristo (mesmo que não seja
do nosso grupo, da nossa doutrina) com toda certeza receberá
sua recompensa. Há um galardão especial para quem ama
aqueles que, como nós, foram aceitos por Cristo.

g) Jesus repreende o sectarismo. Em Atos 10.15, diante da


desobediência de Pedro, o Espírito Santo afirmou: Não faças tu
comum ao que Deus purificou.

Dake, em sua Bíblia de Estudo, diz que o texto acima de


Marcos 9 é uma lição para o cristianismo dividido que existe hoje.
Ele afirma que os verdadeiros crentes amarão cada pessoa de
outras igrejas (congregações) e apreciarão o trabalho delas
como se pertencessem à sua própria igreja.

Um fato semelhante de ciúme ocorreu com Moisés e Josué:

...tirando do espírito que estava sobre ele, o pôs sobre


aqueles setenta anciãos; e aconteceu que, quando o espírito
repousou sobre eles, profetizaram; mas depois nunca mais.

63
Porém, no arraial ficaram dois homens; o nome de um era
Eldade, e do outro Medade; e repousou sobre eles o espírito
(porquanto estavam entre os inscritos, ainda que não
saíram à tenda), e profetizavam no arraial. Então correu um
moço e anunciou a Moisés e disse: Eldade e Medade
profetizam no arraial. E Josué, filho de Num, servidor de
Moisés, um dos seus jovens escolhidos, respondeu e disse:
Moisés, meu senhor, proíbe-os. Porém, Moisés lhe disse:
Tens tu ciúmes por mim? Quem dera que todo o povo do
Senhor fosse profeta, e que o Senhor pusesse o seu espírito
sobre ele! (Números 11.25-29)

Sem dúvida, somos tentados em ter atitudes reprováveis


como as de João e Josué citadas acima. Quantas vezes nos
colocamos num nível superior e dizemos: “Não concordo com os
procedimentos de certas igrejas, e desejo proibir que elas façam
desse jeito; queremos que o Senhor impeça que elas ajam do
jeito que não me agrada. Não é do jeito que penso ser o certo.
Não é assim que meu grupo procede. Não é assim que aprendi
com a Bíblia”.

Às vezes, temos um procedimento reprovável como o de


Pedro, em Atos 10, rejeitando uma ordem de Deus em relação a
outro grupo, que não era exatamente como o apóstolo queria
que fosse, a ponto de dizer: De modo nenhum, Senhor, pois
nunca comi uma coisa comum, imunda. Por três vezes essa
resposta se repete. Deus teve de insistir com Pedro que ele não
deveria chamar de impuro aquilo que o próprio Senhor havia
purificado (Atos 10.15). Pedro era fiel à lei. No seu
entendimento, a lei e a cultura judaica não permitiam que
houvesse comunhão com não judeus mesmo que fossem amados
e escolhidos por Deus.

São três grandes ícones da Bíblia (João, Josué e Pedro) que


tiverem juízos errados em não querer abençoar aqueles que
Deus abençoava. Será que nós, com a letra (Escrituras) na mão,

64
podemos ter uma atitude assim, que diverge do Espírito Santo?
Certamente (e infelizmente).

Quantas vezes desejamos tolher a liberdade do Espírito?


Corremos o risco (e nem percebemos) de querer “domesticar” e
monopolizar o Espírito de Deus nos termos da nossa eclesiologia.

A ordem de Jesus é para não julgarmos (conforme Mateus


7.1, não julgueis). Isto é pecado. Sempre que identificarmos o
cisco no olho do irmão, devemos identificar a trave de madeira
que está no nosso olho. Quanto mais santos acharmos que
somos, mais estaremos fragmentando, dividindo. Julgar significa
colocar -se no lugar de Deus. Portanto, a prática crescente de
julgar significa a diminuição da graça, significa violar o
mandamento de Jesus.

Se você acha que o outro é fraco na fé, Romanos 14.1


ensina que você deve aceitar essa pessoa sem criticar suas
opiniões.

Vimos que os julgamentos de João, Josué e Pedro tiveram


recriminações. Para eles, foi uma aprendizagem que nos
transmitiram para hoje.

Todavia, no contexto de escandalizar um irmão (divisão),


encontraremos a pior punição sobre a qual a Bíblia fala. Ela é tão
forte que Jesus diz que seria melhor cometer o suicídio: amarrar
uma grande pedra no pescoço e lançar-se ao fundo do mar
(Marcos 9.42).

O problema é que a divisão traz escândalos, afasta as


pessoas de Cristo. Imagine hoje a dificuldade que temos de atrair
alguém para Cristo. Essas pessoas perguntam constantemente:
“Mas o que é correto? Qual denominação? Vemos tantos pastores
acusando uns aos outros pela televisão... Vemos reportagens
sobre tantas brigas na mídia... Vemos católicos brigando com

65
protestantes e vice-versa... Vemos cada um abrindo sua própria
‘igreja’ etc...”

Quantas pessoas se afastaram da igreja cristã devido a


escândalos em seu meio? É lógico que esses escândalos não têm
a ver apenas com divisão, mas com a conduta errada de muitos
líderes. Porém, a divisão enfraquece as lideranças. Quando há
uma quebra na paz, quando há rebeldia ou discordância, não
discernimos o corpo de Cristo e, por isso, “há entre vós fracos,
enfermos, e muitos que dormem.”

66
10) Impedir a ação do Espírito Santo,
cogitando coisas de homens a serviço de
Satanás

Desde então, começou Jesus a mostrar aos seus discípulos


que convinha ir a Jerusalém e padecer muitas coisas dos
anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e
ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia. E Pedro, tomando-
o a parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Senhor, tem
compaixão de ti; de modo nenhum te acontecerá isso. Ele,
porém, voltando-se disse a Pedro: Para trás de mim,
Satanás, que me serves de escândalo; porque não
compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são
dos homens. (Mateus 16.21-23)

A divisão intenta diretamente contra a oração de Jesus


registrada em João 17: Para que todos sejam um, como eu e tu,
ó Pai, somos um, para que o mundo creia. Uma vez que dar
realidade à oração feita de acordo com a vontade de Deus é uma
ação do Espírito Santo, podemos concluir que impedir a sua
concretização é uma ação de Satanás conforme observamos em
Daniel 10.

O anjo brilhante que apareceu na visão de Daniel (cap. 10),


após três semanas de jejum e oração do profeta, disse que Deus
havia ouvido essa oração, mas um príncipe do mal lutara por 21
dias para que a resposta não chegasse a ele. Foi preciso que
Miguel, um dos anjos chefes, viesse ajudar na luta contra essa
potestade do mal a fim de que a revelação chegasse a Daniel.

Assim, cada vez que agimos impedindo que a unidade dos


cristãos exigida por Jesus se realize, estamos a serviço de
Satanás. Isso é forte, mas é verdade.

67
Quando Pedro foi repreendido por Jesus ao tentar demovê-
lo da intenção de morrer na cruz (Mateus 16.23), ficou claro que
ele estava cogitando as coisas dos homens a serviço de Satanás.
Essa situação é muito exemplificada na questão da unidade: são
intenções humanas — às vezes boas — a serviço de Satanás.
Creio que Pedro não tinha consciência dessa gravidade, como
também não a tem a maioria dos cristãos. Mesmo quem admite
falhar com a unidade pensa tratar-se de uma deficiência
humana, apenas uma carnalidade sem grande importância.

Unidade (como diz Pedro Arruda no livro Mãe de Muitos


Filhos, Edições Incenso) não é um ecumenismo, resultado de
uma convenção política entre instituições baseada no que um
pode fazer pelo outro. A unidade não é entre instituições, entre
denominações, entre igrejas, mas sim entre irmãos, entre
pessoas que creem no mesmo Senhor, no mesmo Espírito. A
unidade está no que Cristo fez por nós.

Não podemos conformar-nos simplesmente como se


estivéssemos impossibilitados de fazer algo, como que se isso
fosse um destino inexorável e a oração de Jesus ficasse sem
resposta, ou adiada, para se cumprir somente após a morte do
último cristão. Ora, o fato é que Jesus tem apenas um Corpo, e
terá apenas uma Noiva, uma Esposa, como já dissemos. Jesus
não é polígamo muito embora seja esse conceito que se passa
quando cada um prepara apenas a sua “noiva particular”.

Precisamos reconhecer o erro, ainda segundo Pedro Arruda,


e admiti-lo. Não devemos encobri-lo com explicações, por mais
teológicas que sejam, mas aprender com a História para não
repetir os caminhos errados. Tais atitudes precisam ser
iniciativas do coração de cada um. Portanto, é necessário
reafirmar que a Igreja interessa a Deus e está na Terra para
atender aos propósitos do Altíssimo. Os benefícios obtidos por
servir a Deus, que incluem a salvação, são apenas
consequências.

68
Por meio de Samuel, Deus deu uma ordem a Saul para
destruir os amalequitas (1 Samuel 15), que haviam lutado contra
os israelitas quando estes vieram do Egito. A ordem era destruir
completamente tudo. Foi uma vitória avassaladora. Deus estava
com Saul, com Israel. Porém, conforme o desejo dos soldados,
eles não mataram as melhores ovelhas, os melhores touros e
carneiros. A intenção humana (homens cogitando) era boa: eles
ofereceriam esses animais como sacrifício ao Senhor. Além
dessa desobediência, Saul foi à cidade de Carmelo para construir
um monumento em honra a si mesmo, para cumprir sua
promessa de adorar ao Senhor ao voltar.

Samuel respondeu a Saul que é melhor obedecer que


sacrificar; que a revolta contra o Senhor é tão grave como a
feitiçaria; que o orgulho é um pecado semelhante à idolatria. Por
esses pecados, o Espírito do Senhor se retirou de Saul, conforme
1 Samuel 16.14.

Os pecados de divisão dos nossos dias são parecidos com os


pecados de Saul. Muitos líderes e seus seguidores não têm temor
ao ignorar a oração de Jesus em João 17 implorando ao Pai pela
unidade da Igreja. Certamente, Deus Pai quer atender a oração
de Jesus, mas muitos resistem, impedindo a ação do Espírito
Santo. Isso é desobediência, tão grave como feitiçaria.

Muitas vezes, esses líderes são estimulados, por grupos de


pessoas, a edificar suas próprias denominações ainda que visem
à adoração ao Senhor. Outros afirmam que são escolhidos de
Deus para a sua própria obra. Dizem que seu ministério é
próspero e abençoado, fazendo proselitismo. Há denominações
que afirmam, por meio de seus líderes, que só elas têm a
salvação e que receberam uma revelação do alto.

Para entrar em algumas dessas denominações, o crente


precisa ser batizado novamente. Outros defendem que seu
credo, seu conjunto de doutrinas, é a única verdade. Defendem

69
tanto “essas verdades” que levam a congregação a ficar
orgulhosa de participar dessa fé. Seus membros são proibidos
de participar de outros cultos cristãos.

Será que tudo isso não leva os líderes a sentir orgulho? Será
que tudo isso não é idolatria ao homem (às vezes, aos
fundadores), idolatria à denominação, idolatria às suas
peculiares interpretações da Bíblia? Será que isso não é cogitar
as coisas dos homens, entendendo que estão fazendo o bem?
Será que às vezes não se está a serviço do mal?

Como vimos na Introdução desse livro, “o pai das divisões”


conseguiu seduzir o homem criado por Deus, levando-o a
acreditar que ele tinha opções melhores do que o Senhor; de que
ouvi-lo seria mais proveitoso que ouvir a Deus. Assim, de forma
sagaz, ele induziu a mulher (Gênesis 3.5) a transmitir tal
pensamento ao marido.

Na queda do homem, porém, houve ainda outra


consequência, que é a desunião na família (no casamento, no
relacionamento de pais com filhos, entre parentes etc.). Adão
culpou a mulher pelo pecado: a mulher que tu me deste por
esposa, ela me deu da árvore, e eu comi (Gênesis 3.12).

Nasceram então as desconfianças, as acusações, as críticas


no casamento. O primogênito desse casal matou seu irmão e
tornou-se um fugitivo e errante pela terra (Gênesis 4.12).

Ainda que a divisão possa ser aceitável no caso extremo de


ensino herético, ou pecado grosseiro e grave sem
arrependimento (não podemos afirmar que toda divisão é estar
a serviço do diabo), a maior parte das desavenças nas
congregações locais (que levam às divisões) é produzida,
segundo Paul Billheimer, não principalmente por diferenças
quanto a pontos essenciais, mas por ambições humanas não
santificadas, por inveja e choques de personalidades.

70
Lembremos sempre que o pecado da divisão, da desunião, é
contra o sangue e o corpo de Cristo.

71
CAPÍTULO 3
A BUSCA DO PERDÃO

INTRODUÇÃO

Um ensino maravilhoso sobre a unidade está em Romanos 14.3:


Quem come,não despreze o que não come; e o que não come,
não julgue o que come, porque Deus o acolheu.

Qual é a base para acolhermos as pessoas? Devemos


acolher quem Deus já acolheu — e ele o faz com base no
sacrifício de Jesus. É dessa forma que devemos acolher: não com
base em nossas preferências, costumes ou práticas. Não
podemos julgar, desprezar, criticar e excluir ninguém, pois, no
tribunal de Cristo, cada um de nós prestará contas a Deus. Não
devemos ser mais exigentes do que o Altíssimo. Se Deus os
acolheu, eu também os acolherei no coração. Jesus é o nosso
Senhor.

Neste capítulo, apresentaremos os contrapontos do capítulo


2. Assim, para cada pecado lá relacionado, propomos uma
atitude concreta de receber o perdão de Deus e, a partir daí,
mudar a nossa mente e o nosso comportamento.

Na verdade, nós nos amoldamos tanto a um cristianismo


dividido, fragmentado, que este se tornou o nosso “mundo”.
Assim, é conforme a súplica do apóstolo Paulo que devemos agir:

E não sede conformados com este mundo, mas sede


transformados pela renovação do vosso entendimento, para
que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita
vontade de Deus. (Romanos 12.2)

72
Nosso objetivo, portanto, além da busca do perdão, é não
viver mais nos padrões que afrontam a cruz de Cristo, mas agir
de maneira que Deus produza em nós uma completa mudança
de mente, por meio da ação do Espírito Santo, com o objetivo
de concretizar a oração de Jesus: que sejamos um. Assim, nós
conheceremos a vontade de Deus, isto é, aquilo que é bom,
perfeito e agradável ao Senhor.

73
1) Arrependimento e conversão para a unidade
do Corpo de Cristo

A primeira mensagem de João Batista para preparar o caminho


do Senhor tem como centro o arrependimento (Mateus 3.1,2). A
primeira mensagem de Jesus Cristo também foi sobre o
arrependimento (Mateus 4.17). No livro de Atos, no início da
igreja, a primeira mensagem de Pedro e Paulo também foi sobre
arrependimento.

Das cartas escritas às sete igrejas no primeiro século, no


livro de Apocalipse, em cinco delas Jesus enfatiza o
arrependimento: Éfeso (2.5); Pérgamo (2.16); Tiatira (2.21);
Sardes (3.3); e Laodiceia (3.19).

O arrependimento leva a uma mudança de atitude e a uma


mudança de postura mental. Será que, se Jesus escrevesse
nestes dias para a Igreja, ele pediria arrependimento? Será que
nós, cristãos em geral, temos necessidade de arrependimento?
Será que temos de arrepender-nos pelas divisões em franco
crescimento nos nossos dias? A maioria das pessoas diz: “Por
que eu devo me arrepender das divisões se não participei delas?
Eu sou de uma geração curada, nunca participei de uma divisão”.

Em primeiro lugar, carregamos dentro de nós o estigma da


divisão. Agimos segundo um espírito de denominacionalismo.
Parece que as denominações, por si só, não representam
pecado. Elas procuram praticar a essência do Evangelho. Há uma
diferença entre denominação e denominacionalismo. O sufixo
“ismo” em grego exprime a ideia de um sistema político, religioso
ou filosófico — uma ideologia como, por exemplo, o comunismo,
o socialismo, o capitalismo, o marxismo etc.

74
Portanto, denominacionalismo descreve o sentimento de
pertencer a um grupo por vínculos espirituais (poderiam ser
políticos, filosóficos...) que reivindica o direito de uma
denominação autônoma, com exclusividade. Ao participar de
uma denominação, passo a defender um conjunto de ideias,
pensamentos e doutrinas, a visão do grupo, e a ser orientado
por suas ações.

Essas ações, na maioria das vezes, mesmo baseadas na


Bíblia, levam a uma crença de que só nós estamos certos,
excluindo a comunhão com outros irmãos em Cristo que não são
como nós. Isto impede, por exemplo, que participemos da ceia
juntos e, consequentemente, que possamos assentar-nos juntos
à mesa da aliança, que aponta para a carne e o sangue de Jesus.

O denominacionalismo pressupõe um manual de condutas


que nos leva a julgar outros irmãos conforme os padrões que
nos foram impostos pelo fundador (ou fundadores), ou por
decisões de líderes. Passamos a ter preconceitos mesmo sem
conhecer a prática da fé dos outros irmãos.

Ora, se existem mais de 40 mil denominações, qual delas


estaria certa? “Certamente a nossa! Nós somos mais completos
e temos a maior revelação!” Pensar assim já é pecado, pois
exclui os outros e demonstra não haver humildade, mansidão,
longanimidade e amor (Ef 4.2).

Alguns defendem que o denominacionalismo não é um


problema quando não existe sectarismo (atitude de exclusão) e
sincretismo (corrupção das declarações de fé, mistura de duas
ou mais religiões ou doutrinas diferentes). Mas sempre haverá o
dedo do homem mesmo na sua exegese (interpretação)
particular da Bíblia. De qualquer forma, a tendência é que os
membros acabem seguindo uma ou outra linha: eu sou de Paulo,
ou eu sou de Apolo, ou eu sou de Pedro, ou ainda, eu sou de
Cristo (com a exclusão das demais linhas). Essas atitudes são

75
condenadas por Paulo nos capítulos 1 e 3 de 1 Coríntios. Haja
vista que a Igreja Católica tem como ícone o apóstolo Pedro, a
Igreja Evangélica o apóstolo Paulo, e a Igreja Ortodoxa o
apóstolo João. “Está Cristo dividido?”

Creio que alguns poderão discordar das minhas explicações


e continuar dizendo que pertencem a uma geração curada e que
nada têm de se arrepender quanto ao pecado da divisão. Então,
passemos para um segundo raciocínio.

A maior concentração de unidade cristã no século 20


aconteceu em Kansas City, nos Estados Unidos, em 1977. No
final desse evento, houve uma profecia que, segundo pessoas
que estavam presentes, levou os participantes, por mais de 15
minutos, a chorar prostrados com arrependimento e lamentos:
Apresentem-se diante de mim com corações quebrantados e
espíritos contritos, pois o Corpo do meu Filho está quebrado (ou
partido).

Apresentem-se diante de mim com lágrimas e lamentações, pois o


Corpo do meu Filho está quebrado.

A luz está amortecida, meu povo está disperso, o Corpo do meu


Filho está quebrado.

Eu dei tudo que tinha no corpo e sangue do meu Filho. Ele


derramou-se na terra. O Corpo do meu Filho está quebrado.

Abandonem os pecados dos seus pais e andem nos caminhos de


meu Filho.

Retornem para o plano do seu Pai, retornem para o propósito do


seu Deus.

O Corpo do meu Filho está quebrado.

O Senhor diz para vocês: permaneçam em unidade um com o outro


e não deixem nada separá-los.

76
E, de modo nenhum se separem um do outro por causa das suas
desconfianças, amarguras e de suas preferências pessoais, mas
segurem-se um ao outro.

Porque estou para deixar vocês passarem por um tempo de prova


e teste severos, e vocês terão de estar em unidade um com o
outro.

Mas eu digo também isto: eu sou Jesus, o rei vitorioso. E tenho


prometido a vocês a vitória.

(Descrito no livro de John Walker e outros, “A Igreja do Século 20:


A história que não foi contada”. Impacto Publicações,
Americana/SP, 2013, 4ª edição.)

Essa profecia fala sobre coração quebrantado e pecados dos


nossos pais (pais espirituais, que nem sempre agiram no espírito
da oração de Jesus em João 17.21-23).

Uma situação que presenciei (no início do século 21) foi o


grupo “Unidos em Cristo”, em Toronto, Canadá (que busca a
unidade entre evangélicos e católicos), numa circunstância de
arrependimento e pedido de perdão em três frentes: a) aos
nativos, que hoje vivem numa condição precária em função da
desumanidade dos colonizadores e as regras governamentais; b)
aos irmãos de língua francesa, sendo que as duas línguas no
Canadá trouxeram muita rivalidade; c) entre católicos e
evangélicos.

Não foi a geração atual que provocou essas três crises, mas
os seus antepassados. Todavia, o Espírito Santo os conduziu a
tomar essa atitude de quebrantamento.

O Conselho da União Batista da Grã-Bretanha (CUBGB),


reunido em Swanwick, Inglaterra, de 12 a 14 de novembro de
2007, pediu desculpas pela escravatura e pelo comércio de
escravos. O Conselho declarou que estava arrependido pela dor
causada, pelas divisões criadas, pela rejeição em querer
enfrentar os pecados do passado, pela falta de amor... Temos

77
presenciado outros casos semelhantes; até de pastores
brasileiros pedindo perdão, em nome dos seus antepassados,
pela escravidão na África etc.

Em Levítico 26.39-42, o Senhor estimula que os


descendentes hebreus confessem os seus pecados e também os
pecados de seus pais (antepassados) que foram infiéis a Deus a
fim de que o Senhor os abençoe. O arrependimento pelos
pecados dos nossos antepassados que nos afetam hoje pode ser
encontrado em outros textos bíblicos. Porém, a oração de Daniel,
no capítulo 9, é a mais marcante.

Por outro lado, a divisão nos deixou uma herança maldita


de intolerância, crítica e julgamento. Creio que dificilmente
encontraremos um cristão que não tenha feito pelo menos uma
crítica a um irmão de outra denominação aceito por Cristo. Isso
significa criticar um filho de Deus que custou a morte do Cordeiro
de Deus. Significa mexer com a “menina dos olhos” de Deus.
Portanto, isso requer arrependimento e busca de perdão.

A seguir, colocamos a oração feita por irmãos luteranos,


católicos e evangélicos em geral, em 1º de outubro de 2017, na
Câmara de Vereadores de Jundiaí-SP, por ocasião do Ato Público
de Purificação de Memória dos 500 Anos da Reforma
Protestante:
Senhor Nosso Deus e Pai,

Jesus nos ensinou a orar: “Pai Nosso que estás nos céus,
santificado seja o Teu nome”, como também nos ensinou que “há
um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em
todos nós”;

Porém, Senhor, não temos procedido assim; não temos nos


esforçado diligentemente para preservar a unidade do Espírito pelo
vínculo da paz;

Muito pelo contrário, nós, nossos pais na fé e nossos antepassados


nos separamos de outros irmãos em Cristo por causa das nossas

78
desconfianças, amarguras, preferências pessoais, intolerâncias,
egoísmo, orgulho, falta de humildade, de amor e de perdão e, com
isso, dividimos o Corpo de Cristo;

O Corpo do Seu Filho, a Sua Noiva, a Igreja está fragmentado,


quebrado, partido por nossa causa e de nossos antepassados, pois
não soubemos discernir que somos irmãos, filhos de um só Pai,
que é Santo e que derramou o Seu amor sobre nós pelo Seu
Espírito Santo;

Assim, nos colocamos diante de Ti agora com os nossos corações


quebrantados e arrependidos pelo mal que fizemos;

Pedimos perdão por estarmos dispersos, amortecidos, frios e


indiferentes à súplica que Jesus fez a Ti pedindo que fossemos UM,
assim como o Senhor e Ele são UM, para que o mundo creia que
Ele foi enviado;

Perdoa-nos, Senhor Deus, pelos nossos julgamentos e críticas a


irmãos que têm práticas diferentes das nossas, mas que também
são redimidos pelo sangue de Jesus;

Perdoa-nos todas as vezes que deixamos de ser ministros da


reconciliação, consentindo que imperassem o ódio, a maldade e a
indiferença;

Tira, Senhor, as vendas dos nossos olhos que impedem que


enxerguemos a beleza da Noiva unida e a glória de Cristo, que é a
Sua imagem;

Livra-nos, Senhor, de todo o mal que nos leva à divisão – não só


na Igreja, mas também na família e entre pessoas – e não nos
deixes cair nas armadilhas do diabo;

Perdoa os nossos pecados e ajuda-nos a perdoar uns aos outros


para que, assim, sejamos perdoados por Ti;

Pedimos tudo isso em nome do Senhor Jesus Cristo que ressuscitou


dos mortos e está assentado à Tua direita. Ele é o nosso grande e
maravilhoso Rei Eterno e Vitorioso.

79
2) Buscar o segundo toque do Espírito Santo

No primeiro item, falamos sobre arrependimento. A princípio,


arrependimento se refere ao fato de termos rejeitado a salvação
de Deus e levado um inocente para a cruz por sermos pecadores.
Tal ato gera em nós o arrependimento de rejeição, de não
darmos ouvidos a voz de Deus, à sua Palavra. Esse não é o
arrependimento somente pelos nossos pecados, mas
principalmente por ignorarmos a bondade de Deus manifesta na
encarnação e na morte vicária de Jesus na cruz.

Isso é tão importante que, após o discurso de Pedro em Atos


2, a multidão se compungiu e perguntou-lhe o que deveriam
fazer. Pedro disse: Arrependei-vos, e cada um de vós seja
batizado em nome de Jesus Cristo para o perdão dos pecados, e
recebereis o dom do Espírito Santo (v.19). Quase 3 mil almas se
converteram. No capítulo 3, ao término do discurso de Pedro no
templo, o número dos que creram foi de quase 5 mil. A igreja,
então, começou a ser formada, sempre com base no
arrependimento.

Arrependimento é a atitude necessária para pertencermos a


um novo reino. É o que nos leva à conversão. Pelo
arrependimento, o Espírito Santo opera em nós trazendo a vida
de Jesus. Porém, no nosso dia a dia, cometemos erros e pecados
que requerem arrependimento. Por exemplo, nas cartas escritas
às sete igrejas da Ásia, nos capítulos 2 e 3 de Apocalipse, cinco
delas falam sobre arrependimento. A igreja de Éfeso praticava
boas obras, era paciente, trabalhava constantemente para o
Senhor. Porém, deixou o primeiro amor no decorrer de sua
caminhada. Já não estava mais tão apaixonada por Jesus. É

80
como se ele deixasse de ser o centro, a essência, a fonte de vida
daqueles irmãos. Nesse caso, a Palavra nos ensina:

Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica


as primeiras obras. Quando não, brevemente a ti virei, e
tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres...
(Apocalipse 2.5)

Ora, se a nossa vida cristã sai dos trilhos, certamente, a


primeira coisa que devemos fazer é arrepender-nos. Também
precisamos nos arrepender pelo mal testemunho da Igreja (nós
somos os responsáveis) e olhar e imitar o clamor de Jesus para
a unidade: a fim de que o mundo creia (João 17.21-23). Como
já dissemos, será que o mundo não crê no Evangelho por nossa
causa?

Depois do arrependimento, há uma nova postura, uma nova


mentalidade, novas decisões, um retorno a Deus na proposta
certa. Num sentido didático, é como se fosse uma segunda
conversão.

No mês de janeiro de 2011, participamos de um encontro


do “Charismatic Leaders Fellows” (Virginia Beach, EUA). Vários
participantes haviam comparecido ao encontro da Renovação
Carismática de 1966 (que surgiu numa base ecumênica) e ao
encontro de Kansas City em 1977 (o principal encontro de
unidade cristã de todos os tempos).

Nesse evento, perguntei ao Senhor por que tão pouca gente


trabalhava para a unidade do Corpo de Cristo, e por que nós,
que trabalhávamos, tínhamos tantas oposições. Creio que o
Espírito Santo me direcionou, juntamente com minha esposa,
para um texto que nos ajudou a entender melhor essas dúvidas:
a cura do cego de Betsaida, em Marcos 8.22-26:

E chegou a Betsaida; e trouxeram-lhe um cego e rogaram-


lhe que lhe tocasse. E, tomando o cego pela mão, levou-o

81
para fora da aldeia; e, cuspindo-lhe nos olhos e impondo-
lhe as mãos, perguntou-lhe se via alguma coisa. E
levantando ele os olhos disse: vejo os homens, porém os
vejo como árvores que andam. Depois tornou a pôr-lhe as
mãos nos olhos, e ele, olhando firmemente, ficou
reestabelecido e já via ao longe e distintamente a todos. E
mandou-o para sua casa, dizendo: não entres na aldeia.

O primeiro toque no cego (Jesus cuspiu nos seus olhos e lhe


impôs as mãos) permitiu que ele visse. Sabemos que a
humanidade é cega espiritualmente, que o Evangelho está
encoberto por Satanás (2 Coríntios 4.4). As pessoas não
conseguem ver o poder do Evangelho, não têm revelação do
plano eterno de Deus para a sua salvação, não conhecem a
Jesus.

Para enxergarmos o Evangelho, precisamos de um toque de


Deus. O Espírito Santo vivifica o nosso espírito (novo
nascimento) e passamos a ter revelação de Cristo Jesus. A luz
do evangelho resplandece e abre os nossos olhos espirituais.
Tornamo-nos filhos de Deus, não pela vontade da carne ou pela
vontade do homem, mas por nascermos do Espírito. Assim, em
Atos dos Apóstolos, contemplamos uma igreja que nasceu forte,
com muita gente nascendo de novo, recebendo o dom do Espírito
Santo com arrependimento.

Não duvido que hoje muitas pessoas tenham tido um


encontro real com Jesus, tenham nascido de novo e possam ser
chamadas de filhos de Deus. Todavia, a divisão nos levou a
“feudos” de cristãos, com doutrinas diferenciadas, com práticas
(usos e costumes) divergentes no que tange ao novo
nascimento, batismo, forma de reunir, de cear (tomar a
comunhão), organização eclesiástica etc. Tudo isso tem gerado
conflitos entre os cristãos.

82
Dessa forma, cristãos (filhos de Deus) crescem com uma
“cultura eclesiástica” muito diferente uns dos outros. Ainda que
não sejam mais cegos espirituais, não conseguem ver outros
cristãos como irmãos, como filhos de um mesmo Pai, com o
privilégio de terem um único irmão mais velho (Jesus, o
primogênito).

Essa é uma visão míope, distorcida que um cristão tem do


outro. Na verdade, os irmãos de outras denominações são vistos
como “árvores que andam”. As árvores não são seres mortos
(inanimados). Elas têm vida, dão frutos, dão sombra, oxigenam
o ar, mas não interagem entre si; estão fixas em algum lugar.

O “ativismo da fé” de alguns nascidos de novo faz com que


olhemos para os cristãos de outras denominações até com certo
respeito, sem uma palavra, talvez, de condenação propriamente
dita. Todavia, não confiamos que eles estejam vivendo a verdade
plena e preferimos vê-los a distância como um “ser vivo
espiritual”. Se nos aproximamos do outro, quase sempre é com
a intenção de atraí-lo para a nossa maneira “perfeita” de servir
a Cristo e de viver como “igreja”.

Mesmo no meio evangélico, os pastores não permitem que


um membro tome a ceia com outro irmão em outra congregação.
Na verdade, olhamos uns aos outros como árvores que andam,
que caminham num estilo cristão muito diferente do nosso, e
criamos desconfianças.

Quando enxergamos os outros como árvores que andam,


não discernimos que o irmão também é lavado pelo sangue de
Jesus. Não discernir o Corpo (os irmãos) de Cristo nos leva a ser
uma igreja doente: Porque quem come e bebe, come e bebe para
a sua própria condenação, se não discernir o corpo do Senhor.
Por causa disto há muitos fracos e enfermos, e muitos que
dormem (1 Coríntios 11.29-30). A exortação neste texto é que
examinemos a nós mesmos.

83
E o que fazer diante desse quadro mesmo nos
arrependendo? Buscar esse segundo toque do Espírito Santo.
Dizer a Deus que não queremos mais ser míopes espirituais.
Queremos enxergar os irmãos em Cristo não mais como árvores,
mas como pessoas aceitas por Jesus; pessoas limpas e
purificadas pelo sangue de Jesus; pessoas com as quais
viveremos por toda a eternidade. Isso nos leva a uma mudança
de mente e de vida ajudados pela graça de nosso Senhor Jesus
Cristo.

Entendo que, ao arrepender-nos dessa situação (neste caso,


um arrependimento por fazer parte da divisão da Igreja), e agora
desejarmos mudar de mente e praticarmos o ministério da
reconciliação, o Espírito Santo nos tocará a fim de que
enxerguemos o Corpo de Cristo não mais como árvores que
andam, mas com o entendimento de que somos homens de toda
tribo, língua, povo e nação, comprados para Deus Pai pelo
sangue de Jesus Cristo, fazendo-nos reis e sacerdotes para
reinar sobre a terra (Apocalipse 5.9,10). Como eu disse, para
fins didáticos, chamo esse segundo toque de “segunda
conversão”.

84
3) Derrubar muros e reconstruir pontes

Por meio do sacrifício do seu corpo, Jesus derrubou o muro de


inimizade que havia entre nós. Por sua morte de cruz, ele
destruiu a inimizade, uniu-nos num só corpo e nos levou de volta
para Deus, trazendo-nos a paz. Porém, com muita facilidade, nós
reconstruímos muros, inimizades na Igreja de Cristo.

Uma forma muito comum de construir muros é por meio das


placas denominacionais. Uma avenida em São Gonçalo, no Rio
de Janeiro, me deixou perturbado: inúmeros templos cristãos,
cada um com uma placa indicando uma denominação diferente.
Isso acontece em muitos lugares, principalmente no Brasil.

As placas significam cercas, limites, paredes. Indicam que


cristãos salvos pela graça e pela fé em Jesus Cristo praticam sua
fé com base em um conjunto de regras, doutrinas, liturgias,
credo próprio — diferente dos demais irmãos. Eles não
permitem, como já dissemos, que seus membros tomem a ceia
(ou até mesmo cultuem) com irmãos de outra denominação, e
também se fecham em relação aos irmãos que não têm a mesma
herança religiosa.

Em 2011, numa experiência inédita, quatro congregações


de Jundiaí se uniram e começaram a congregar em unidade num
mesmo prédio na cidade. Porém, o prédio tinha uma placa da
congregação que lá se reunia no início. Numa noite, houve uma
tempestade com ventos fortes e derrubou a placa. Ela ficou caída
no chão por um bom tempo, pois ninguém tinha coragem de
reerguê-la. Todos entendiam que aquele vento havia sido
sobrenatural, a mão de Deus, pois não causou nenhum outro
estrago. Nunca mais se colocou a placa de volta. Essa
congregação, da qual eu faço parte, não tem placa. O muro caiu.

85
Creio que não somos capazes de humanamente derrubar as
placas (os muros). Os nomes das congregações, quase sempre,
são idolatrados. Quando você pergunta a religião de alguém, a
pessoa responde que é católica, ou batista, que é da Assembleia,
que é adventista, presbiteriana, congregacional, pentecostal,
apostólica, Universal, Mundial. Alguns dizem ainda que são de
“tal igreja” com muito orgulho. Poucos dizem que são da Igreja
de Jesus Cristo, ou que apenas são cristãos.

Certa vez, um irmão teve uma visão de um grande lago onde


se criavam peixes. Para não se misturarem, eles eram divididos
em compartimentos quadrados, cercados por telas finas. Até que
houve uma grande enchente, e o nível da água transbordou,
ultrapassando a altura das telas. Aí todos os peixes ficaram
juntos no lago.

Creio que Deus fará o mesmo. Num derramar do seu


Espírito, ele derrubará todas as placas, e seremos realmente um
só rebanho com um só Pastor (João 10.16b). Então atingiremos
a unidade da fé (Efésios 4.13). Porém, enquanto isso, temos de
preservar a unidade do Espírito (Efésios 4.3), corrigindo os erros
que impedem o nosso “sim” em concordância com o clamor de
Jesus em João 17.21-23.

A inimizade destruída por Jesus na cruz, no capítulo 2 de


Efésios, inicialmente se refere à queda do muro que separava
judeus e gentios. Assim, no início, a Igreja era composta de
judeus e gentios crentes em Jesus Cristo. Porém, houve uma
ruptura por parte da igreja gentílica, e o muro foi reconstruído.

A divisão entre judeus e gentios já existia antes de Jesus.


Na cruz, ele acabou com essa separação ou inimizade. No
entanto, a primeira grande divisão na história da Igreja
(oficialmente, no século IV) foi justamente entre a igreja
gentílica e os judeus crentes. Não podemos desprezar a morte
de Cristo. Ela derrubou a barreira entre judeus e gentios, que é

86
a fonte de todas as outras divisões na História. Portanto, unidade
é algo muito sério, pois, se não resolvermos o problema dessa
divisão, não resolveremos os efeitos das demais divisões
subsequentes a essa.

No livro “O Mistério da Oliveira: Judeus e Gentios juntos


para a Volta de Cristo” (Johannes Fichtenbauer, Impacto
Publicações, 2017), o autor explica de forma resumida a questão
acima e apresenta evidências sobre o assunto. Ele usa um
documento chamado Carta de Barnabé escrito aproximadamente
no ano 100, momento em que a igreja primitiva ainda estava em
seus primórdios. Neste documento, consta que os gentios já
estavam rejeitando o legado judaico para o Corpo de Cristo.

A igreja de Atos começou apenas com judeus. Pedro pregou


a Cornélio e abriu as portas para os gentios, mas Paulo, o grande
apóstolo, é que foi enviado às nações gentílicas. O livro de Atos
relata toda essa questão histórica, os conflitos que ambos os
povos tiveram convivendo na mesma igreja. No entanto, anos
depois, a igreja começou a rejeitar os judeus, e estes foram
afastando-se. Inventaram, então, a chamada “Teologia da
Substituição”, que dizia o seguinte: no Velho Testamento, o povo
escolhido era a nação de Israel. Porém, quando Jesus veio, ele
abriu as portas para os gentios, porque os judeus rejeitaram o
Messias. A partir de então, Israel perdeu a sua posição de povo
escolhido, e todas as promessas e profecias sobre ele no Velho
Testamento agora se aplicavam unicamente à Igreja. Ou seja,
por essa teologia errada, a Igreja “substituiu” Israel.

O livro de Romanos trata do futuro de Israel dos capítulos 9


a 11. Em Romanos 11.11, há a pergunta: Será que tropeçaram
para que ficassem caídos? De modo nenhum, mas pela sua
queda veio a salvação para os gentios, para provocar ciúmes.
Paulo não está falando de indivíduos, mas de um chamamento
de Deus para a nação de Israel. Ou seja, de maneira alguma os
israelitas foram rejeitados ou permaneceram caídos. Em outras

87
palavras, eles caíram a fim de abrir espaço para os gentios. Mas
não foi no sentido de substituição, mas para “provocar ciúmes”
aos judeus, a fim de que eles voltassem. Então, os judeus saíram
para que os gentios entrassem e os fizessem voltar! E o restante
do capítulo mostra exatamente isso.

No verso 17, Paulo mostra que fomos enxertados no lugar


dos galhos da oliveira que foram quebrados (simbolizando a
queda de Israel). A raiz da oliveira são os patriarcas, e o tronco
é tudo o que Deus fez com a nação de Israel. Deus caminhou
com os judeus e trouxe Jesus. Os judeus se afastaram (os galhos
foram cortados), e os gentios entraram com a missão de trazê-
los de volta: Mas se a transgressão deles significa riqueza para
o mundo, e o seu fracasso, riqueza para os gentios, quanto mais
a sua plenitude! (11.12). Por outro lado, Paulo diz que eles serão
reenxertados:

Irmãos, não quero que ignoreis este mistério para que não
sejais arrogantes: o endurecimento veio em parte sobre
Israel, até que chegue a plenitude dos gentios; e assim todo
o Israel será salvo... (11.25,26a)

Esse verso 25 afirma que haverá uma plenitude dos gentios


que trará os judeus de volta. Esses, então, terão uma nova
plenitude, e todo o Israel será salvo — isso porque, se a sua
rejeição significa a reconciliação do mundo, o que será a sua
aceitação, senão vida dentre os mortos? (11.15).

Quando eles saíram, nós pudemos entrar. Isso foi uma


grande bênção! Mas, quando eles voltarem, será uma bênção
maior ainda! Esse é o grande mistério a que Paulo se refere: que
os gentios são coerdeiros, membros de um mesmo corpo e
participantes da promessa em Cristo pelo Evangelho (Efésios
3.6).

Quando entrarmos nessa herança juntos, os poderes


celestiais verão o testemunho de Deus na terra. O plano do

88
Senhor não pode se completar sem os judeus. A Noiva de Jesus
ainda não está pronta. Deus está preparando tudo isso para a
nossa geração, pois já existem coisas tremendas acontecendo
na nação de Israel.

Em meio aos primeiros conflitos entre judeus e gentios, os


apóstolos convocaram um Concílio em Jerusalém (Atos 15). Essa
foi a primeira grande reunião de liderança da igreja primitiva.
Ali, eles tiveram de decidir como os gentios seriam aceitos na
Igreja. Todos os apóstolos e presbíteros nas cidades eram
judeus, mas Paulo estava pregando aos gentios, e milhares se
convertiam. Várias decisões foram tomadas em resposta a uma
pergunta: eles devem tornar-se judeus? E a resposta foi: não!
Apenas estabeleceram algumas regras que eram importantes
para o convívio pacífico entre judeus e gentios na mesma igreja.
Hoje, temos de descobrir como católicos, evangélicos, ortodoxos
e judeus messiânicos vão conviver no mesmo tipo de adoração
a Deus.

Aquelas regras não eram para alguém ser salvo, mas para
que pudessem conviver em unidade, mantendo a identidade de
cada um. Porque pareceu bem ao Espírito Santo e a nós... (v.28),
ou seja, Deus lhes deu uma decisão maravilhosa nesse primeiro
concílio. No entanto, a Igreja não fez isso ao longo dos anos, e
os judeus acabaram sendo afastados. Mas a decisão foi: “judeu
continua sendo judeu, gentio continua sendo gentio”, e não
haveria mais a parede de separação entre eles. Nós também,
hoje, precisamos pensar em algumas regrinhas básicas para
conviver em paz.

Que possamos ter o mesmo encargo que Paulo tinha, o


mesmo coração de entrega sacrificial por esse objetivo. Nós,
como igreja gentílica, devemos orar para que os judeus voltem
trazendo toda a sua contribuição, que nos será de muita riqueza.
Essa bênção que receberemos com a volta deles já está

89
acontecendo (e isso é visto em todas as partes do mundo), e é
muito importante que Israel tenha esse apoio da nossa parte.

A principal ponte (a primeira) que cada um de nós deve


reconstruir é orar para que Deus levante um povo (um Israel de
Deus) que aceite a Jesus da mesma forma que nós. Não é criar
outro caminho, outra forma de salvação, mas Deus fará muitas
coisas para trazer seu povo de volta. Nossa oração deve ser para
que ele levante uma representação forte na terra de Israel e em
todas as partes do mundo — homens e mulheres convertidos ao
Senhor Jesus que declarem diariamente: Hosana! Bendito o que
vem em nome do Senhor! Bendito o rei de Israel! (João 12.13).

90
4) A oração que alegra o Espírito Santo

No livro citado em Capítulo 2, item 5, “Religião do Pombo”, R. T.


Kendall dedica o capítulo 10 para falar do segundo maior
avivamento dos Estados Unidos em Cane Ridge, que deu origem
ao chamado “Cinturão da Bíblia” (hoje praticamente em
extinção) naquele país.

O autor se identifica como um carismático reformado e,


inspirado nesse avivamento, estimula que todos nós podemos
aprender a ser um pouco mais tolerantes com aqueles que não
estão ministrando e adorando em nosso território. Porém, isso
só acontece com uma retaguarda de oração. Ele mostra que
Deus pode estar agindo sem que, no entanto, muitos dons do
Espírito estejam em destaque.

Segundo o autor — e todos historiadores americanos


concordam —, o primeiro despertamento nos Estados Unidos foi
na Nova Inglaterra por volta de 1735 a 1750, tendo como
principais expoentes Jonathan Edwards, George Whitefield e
Gilbert Tenent. O ponto alto foi quando Edwards pregava seu
sermão ”Pecadores nas mãos de um Deus irado”, descrevendo
os horrores do inferno, dizendo que, pela misericórdia de Deus,
nós não estávamos no inferno naquele momento. As pessoas
gemiam e pranteavam, e a oração era o suporte daqueles
acontecimentos.

Isso mostra que as manifestações do Espírito não precisam


ser aos moldes do ocorrido na rua Azusa (Califórnia, EUA, 1906),
considerado o maior avivamento do século 20. Mostra que,
quando oramos em busca do grande milagre da unidade do
Corpo de Cristo, Deus opera de uma forma inusitada e,
certamente, tradicionais, reformados, pentecostais,

91
carismáticos, neopentecostais entre outros verdadeiramente são
um só rebanho, a Noiva de Cristo gloriosa, una, imaculada, sem
manchas ou rugas.

Os avivamentos na região do Cinturão da Bíblia começaram


com James McGready, que, ao tornar-se pastor de três igrejas
em Kentucky (em 1797), formulou um acordo e pediu que todos
os membros o assinassem (conforme o livro referido):
Quando pensamos na Palavra e nas promessas de um Deus
compassivo para a pobre família perdida de Adão, encontramos o
mais forte incentivo para os cristãos orarem com fé: pedir, em
nome de Jesus, a conversão dos seus semelhantes. Ninguém
jamais foi a Cristo, enquanto ele esteve na Terra, como o caso dos
seus amigos, e estes foram negados. E, embora os dias de
humilhação tenham terminado, ainda para encorajamento do Seu
povo, Ele deixou registrado que, onde dois ou três concordarem
sobre a terra, pedindo em oração, crendo será feito. Mais uma vez
eu farei o que o que vocês pedirem em meu nome, para que o Pai
seja glorificado no Filho. Com essas promessas diante de nós,
sentimo-nos motivados a unir nossa súplica em uma só oração,
ouvindo a Deus, para o derramamento do Seu Espírito, para que o
Seu povo seja apressado e consolidado, e para que nossos filhos,
e pecadores em geral, sejam convertidos. Portanto,
comprometemo-nos a observar o terceiro sábado de cada mês, por
um ano, como um dia de jejum e oração pela conversão dos
pecadores, de Logan Country e de todo mundo. Também nos
dedicaremos a passar meia hora todos os sábados à noite,
começando ao pôr do sol, e meia hora a cada manhã de sábado, a
partir do nascer do sol, suplicando a Deus que avive a Sua obra.

Quando, em 1800, o avivamento começou a vir, alguns já


estavam orando por mais de três anos com alta expectativa.
Assim também aconteceu no avivamento de Azusa que buscava
a unidade da Igreja principalmente entre brancos e negros. Um
grupo de irmãos passou a virada do século (1901), liderado por
Charles Parham, orando e clamando até que o poder de Deus
começou a operar.

92
A participação, porém, de James McGready foi apenas um
prenúncio do avivamento de Cane Ridge (nome dado por Daniel
Boone por causa da abundância de bambus na região). Após o
avivamento de 1800, Barton W. Stone convidou membros de
todas as denominações a Cane Ridge para um momento de
estudo bíblico e comunhão. Ele foi, portanto, o pastor anfitrião
de um culto com cerca de 15 a 20 mil presentes.

Assim como nos cultos em Logan County (início do


avivamento), a reunião campal de Cane Ridge, segundo R. T.
Kendall, foi realizada à moda escocesa de administrar a ceia do
Senhor. Stones era muito forte na organização e na cooperação
ecumênica. Ele não tinha as habilidades de púlpito como muitos
pastores da época. Assim, não se esperam, em nossos dias,
grandes pregadores da Palavra como instrumentos de Deus para
a unidade do Corpo (embora uma coisa não elimine a outra),
mas sim, com base na oração, esperamos homens de Deus sem
preconceitos, que chorem pela dor da divisão no coração de
Deus, que tenham como meta a mesa do Senhor (o palco da
Nova Aliança) e que amem a comunhão entre os irmãos.

O autor do livro citado narra que Stones estabeleceu


relações de trabalho estreitas com os metodistas. Em 1880,
Stone visitou James McGready depois que o avivamento surgiu
nas igrejas de Logan County. Stone propôs que as pessoas
viessem a Cane Ridge, em 1801, para um encontro em que a
ceia do Senhor fosse o ponto central. Membros de todas as
denominações foram convidados. Em agosto de 1801, milhares
vindos de vários estados (principalmente de Ohio, Virginia,
Carolina do Norte, Tennessee e de todo o Kentucky) chegaram
em carroças cobertas.

Vale a pena ler neste livro como foi essa reunião, como Deus
cuidou de todos os detalhes. A empolgação aumentava, e, antes
do anoitecer, os campos ecoavam choros e gritos penitentes,
interrompidos por choros de bebês, gritos de crianças e relinchar

93
de cavalos. Quando os visitantes chegavam, ficavam
impressionados com o barulho, com o nível de ruído. Foi
chamado de “rugido do Niágara”, pois era possível ouvi-lo de
longe.

Pecadores caíam para todos os lados, gritando, gemendo,


clamando por misericórdia, contorcendo-se; professores orando,
agonizando, desmaiando, caindo em aflição por serem pecadores
ou em arrebatamento de alegria. Alguns cantavam, gritavam,
batiam palmas, riam abraçando-se e até se beijando; outros
falavam com os aflitos, uns com os outros ou com os opositores
da obra, e tudo isso de uma só vez. Nenhum espetáculo pode
despertar uma sensação mais forte.

Eram sermões constantes proferidos pelos presbiterianos e


outros. Um pastor metodista decidiu ir para uma árvore caída a
cem metros a leste da casa do culto e fez dela seu púlpito. Sua
oração e seu hino de abertura lhe deram um grande público
calculado de 10 a 15 mil pessoas. Ele se baseou no texto de 2
Coríntios 5.10: Pois todos nós devemos comparecer perante o
tribunal de Cristo, para que cada um receba de acordo com as
obras, quer sejam boas, quer sejam más. Enquanto falava,
centenas caíam. Entre aquele domingo e quarta-feira, relata-se
que não menos que 500 pessoas estavam no chão. Esse
avivamento durou seis dias. Como eu disse, vale a pena ler no
livro citado os impressionantes detalhes. Infelizmente, houve
soberbas humanas de líderes e pastores que esfriaram a ação do
Espírito Santo.

Assim como aconteceria mais tarde em Azusa, o


despertamento de Cane Ridge, em última análise, causou muita
divisão. Em seu auge, como no sábado e domingo, as divisões
teológicas pareciam nada. Barton Stone afirmou que não
importava se você era batista, presbiteriano ou metodista; era
apenas um cristão. Contudo, infelizmente, mais tarde ele fundou
mais uma denominação, a Igreja Cristã. Entretanto, mudou sua

94
visão teológica e tornou-se arminiano. Os presbiterianos
também se separaram, e, assim, as divisões continuaram.

A partir disso tudo, concluímos que Deus fará obras desse


tipo em proporção infinitamente maior para unir a sua Igreja, a
noiva do seu Filho. Cabe a nós crer e orar para que isso aconteça;
orações comprometidas, disciplinadas, frequentes e objetivas
pela unidade do Corpo; orações particulares, mas que se tornam
muito mais poderosas na comunhão com outros irmãos.

Nessas orações, precisamos reconhecer que pecamos, e que


a Igreja está em pecado por nossa causa, pois somos seus
membros. Que Deus nos prepare para gemer e prantear no dia
em que tivermos revelação desse grande pecado. Esse tipo de
oração certamente alegra o Espírito Santo.

Precisamos orar para que Deus nos prepare para esse


momento grandioso de sermos avivados para viver a realidade
de uma só Igreja. Que Deus nos livre de amar mais a criatura do
que o Criador, e que sejamos pessoas que o Senhor usará (como
em Cane Ridge) como instrumentos para conduzir a Igreja ao
avivamento. Oremos para que entendamos que não somos mais
do que aquele jumentinho que carregou Jesus para a entrada
gloriosa em Jerusalém.

Oremos para que possamos olhar para a mesa que nos


divide a fim de que verdadeiramente ela seja a mesa de
celebração da aliança. Que olhemos para essa mesa num sentido
profético, à qual nós e nossos desafetos, irmãos que não têm
nossa mesma linha doutrinária, comamos e bebamos juntos a
ceia do Senhor.

Oremos pelas denominações que hoje criticamos e, ao


lembrar-nos de alguma que repudiamos, que possamos orar
mais intensamente por ela. Em cada oração, procuremos
lembrar-nos de uma ou mais dessas denominações.

95
Olhemos para Deus, dizendo: “O Corpo do meu Filho está
partido”. Choremos a dor de Deus. Pensemos num corpo
humano, após um acidente terrível, do qual os membros se
tenham separado. Confessemos a Palavra diariamente lendo o
Salmo 133.

96
5) Perdão, o maior marco da peregrinação
espiritual

Na última capa do livro de R. T. Kendall, “Perdão Total”, lemos o


seguinte:
Perdoar totalmente é tão espetacular quanto qualquer milagre.
Estamos falando de uma façanha maior do que escalar o Monte
Everest. Significa o maior marco na peregrinação espiritual de
qualquer pessoa...

Temos grandes marcos em nossa vida: dia do nascimento


(comemoramos todos os anos), dia do casamento, dia do nosso
início universitário ou primeiro emprego, dia em que perdemos
uma vida muito valiosa, dia em que ganhamos um grande
prêmio, dia do nosso batismo etc. Qual destes dias poderia ser
eleito como principal? Talvez, poderíamos ter mais clareza se
pensássemos na própria pessoa de Jesus. Qual foi o dia mais
importante para ele? Jesus faz alguma alusão a isso?

Em João 12.27, Jesus disse para que ele veio: Agora a minha
alma está perturbada; e que direi eu? Pai salva-me desta hora?
Mas para isto vim a esta hora. Poderíamos dizer que Jesus veio
para muitas coisas: falar do seu reino, falar do Pai, curar,
libertar, ensinar o amor e a graça, demonstrar o poder de Deus,
profetizar, anunciar o final dos tempos... Mas todos esses
desígnios são secundários perto da razão específica da
encarnação de Cristo. Ele veio primordialmente para cumprir um
propósito, para um momento específico: morrer na cruz. E,
nesse ato, dele recebemos perdão pelo pecado impregnado em
cada um de nós (o Cordeiro de Deus tira o pecado do mundo) e
pelos nossos pecados (nossos atos pecaminosos).

97
Portanto, sabemos que o dia da crucificação foi o dia do
perdão. Somente o Filho do Homem, Jesus Cristo, tem o poder
de perdoar pecados (Mateus 9.6). Só ele pode tirar nossa culpa
e tomar sobre si os pecados de todos os homens, porque só ele
é o Filho de Deus; só ele é sem pecado, só ele é justo e não
nasceu da semente de Adão, pois se tornou homem pelo Espírito
Santo.

O que Deus espera que façamos imediatamente após


receber tão grande dádiva? Que, imensamente agradecidos,
pratiquemos com o nosso próximo esse ato de amor. Isto fica
claro em Mateus 18.21-35, quando o Rei (Deus) perdoa a uma
dívida impagável de um servo (nós), demonstrando grande amor
e explicando o que é a sua graça. Todavia, o Rei requer que o
servo perdoado (livre) também perdoe a seus companheiros.
Assim como Deus teve misericórdia de nós, devemos igualmente
ter misericórdia dos outros: Assim como Cristo vos perdoou,
fazei vós também (Colossenses 3.13b).

Aqui, portanto, fica claro que, quando Deus perdoa ao


pecador, isso se reflete na convivência dos irmãos na fé. Receber
perdão de Deus e perdoar aos outros são atitudes que andam
lado a lado. Isso fica muito claro na oração do Pai Nosso, na qual
Jesus diz: Perdoa as nossas dívidas, assim como nós temos
perdoado os nossos devedores (Mateus 6.12).

Em outras palavras, assim como nós tivemos o dia do


perdão que nos redimiu, que nos fez novas criaturas, teremos
também o dia do perdão para as pessoas que nos devem, que
nos ofenderam. Também, o outro lado da moeda é verdadeiro:
teremos o dia de pedir perdão.

Quando deve ser esse dia? Imediatamente! Jesus nos ensina


que, se estivermos oferecendo no altar a nossa oferta a Deus
(ou financeira, ou louvor, ou ação de graças, ou adoração...) e
lembrarmos que algum irmão tem alguma queixa contra nós,

98
deveremos deixar a oferta diante do altar e ir imediatamente
fazer as pazes com ele antes de oferecê-la (Mateus 5.23,24).

É interessante que devemos deixar a oferta em suspenso.


Se a entregarmos, parece que não terá valor algum para Deus.
Porém, não a podemos levar para casa, pois seria fácil esquecer,
no momento seguinte, a nossa missão do perdão. É como se eu
tivesse de pagar uma conta e deixasse no meu quarto um
lembrete enorme para não esquecer uma obrigação que precisa
ser quitada. Isso atrapalha meu sono ou me dá insônia. Porém,
é necessário para que eu esteja consciente de algo que
facilmente poderia esquecer. A oferta não entregue ficaria em
um lugar visível e público para eu saber que, enquanto não
resolvesse a questão, minha consagração a Deus estaria
prejudicada. Quem não está em paz com seu irmão não está em
paz com Deus (Mateus 5.22).

Outro momento em que Jesus adverte a urgência do dia do


perdão é detectado no momento das nossas orações (Marcos
11.24-26). Nesses momentos, por estarmos mais sensíveis ao
Espírito Santo, é possível que nos lembramos de pessoas que
nos ofenderam (ou que ofendemos). Assim, paramos de orar e
liberamos o perdão, pois, se não o fizermos, o nosso Pai, que
está no céu, também não perdoará as nossas ofensas.

Ora, de que adianta orar se Deus não nos liberará perdão?


Se alguém não nos perdoou, este alguém não nos ouve e,
mesmo que ouvisse, não poderia nos beneficiar, pois não está
em paz conosco. Creio que assim é com Deus. Enquanto não são
perdoados, nossos pecados nos separam de Deus. Em outras
palavras, sem perdoar, eu oro em pecado, no pecado, e,
certamente, a oração não terá efeito.

Assim, se eu paro de orar, fica um alerta: por que mesmo


não estou orando? Porque não houve o dia do perdão para quem
me ofendeu. Encobrir pecados nos leva a enfermidades, a

99
distanciamento de Deus. Davi disse que, enquanto ele calou
(encobriu) seu pecado, seus ossos envelheceram, ele chorava o
dia inteiro (gemidos), suas forças foram acabando-se, e seu
humor desapareceu. Mais do que isso, ele sentia que as mãos de
Deus pesavam sobre ele. Então, ele tomou a decisão de
confessar o seu pecado, a sua maldade, e Deus lhe perdoou
(Salmo 32).

Imagine que, enquanto não perdoarmos (ou pedimos


perdão se for o caso), enquanto não houver o dia do perdão, não
terão significado no mundo espiritual as nossas ofertas
(dízimos), o louvor e adoração e, aparentemente, até mesmo as
nossas orações. Por isso, o dia do perdão é urgente.

Como deve ser esse dia do perdão?

O texto de Marcos 11 citado anteriormente pode induzir-nos a


pensar que basta uma declaração de perdão diante de Deus
para, em seguida, eu continuar na minha oração e ficar tudo
bem. Talvez, em certas situações, isto pode ser verdade. Porém,
Jesus nos ensina em Mateus 18.15-17 como deve ser o ritual do
perdão:

Ora, se teu irmão pecar contra ti, 1) vai e repreende-o entre


ti e ele só; se te ouvir, ganhaste teu irmão; mas, se não
ouvir, 2) leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca
de duas ou três testemunhas toda palavra seja confirmada;
e se ele não escutar, 3) dize-o a igreja... (Mateus 18.15-
17b; numeração nossa).

Esses ensinos de Jesus mostram que deve existir um esforço


gradativo de nossa parte no sentido de acertos, de reconciliação.
Essas situações não podem ser tratadas superficialmente e de
forma casual, mas estrategicamente. É algo que não pode ser
adiado sem se chegar ao desfecho.

100
É importante dizer que esse texto nos desafia a usá-lo
também no sentido contrário, quando somos nós que
ofendemos, e o ofendido não nos procura. Claro que, nesse caso,
não repreenderemos o irmão, mas, humilhando-nos,
suplicaremos o perdão. Não aceitando ele o pedido, pediremos
ajuda a pessoas comuns entre ele (o ofendido) e nós (o ofensor).
Não dando certo ainda, pediremos ajuda à igreja. Nos três versos
anteriores aos citados acima, em Mateus 18, fica claro que todo
o nosso esforço com relação a esse assunto é para que ninguém
se perca (Jesus está falando de salvação).

Nesse caso, Deus ensina: a) que o silêncio não é a voz do


perdão; b) que não se deve colocar uma pedra em cima da
questão; c) que o tempo não fará esquecer; d) que se sentir
ofendido é normal, pois todos temos uma personalidade; e) que
não devemos comentar com ninguém sobre o assunto, mas falar
diretamente com o desafeto.

Muitas vezes, as pessoas dizem que nem sequer conseguem


ser recebidas por seus desafetos para perdoar ou pedir perdão.
Nesses casos, sugiro que enviem uma carta, um e-mail, uma
mensagem, sempre com muita humildade. Não dando certo,
deverão pedir a ajuda de pessoas que se relacionam com seus
desafetos.

Porém, a nossa ênfase é pedir perdão (ou perdoar) em


função das divisões. Na verdade, quando dividimos, quebramos
alianças, uma vez que nos sentamos com irmãos à mesa da
aliança. Trataremos, no item 7, “como restaurar alianças
quebradas”. Todavia, o que deve ficar muito claro, como está
escrito em Mateus 18.32-35, é que Deus pode retirar o perdão
que foi concedido:

Então o seu senhor, chamando-o à sua presença, disse-lhe:


servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me
suplicaste. Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu

101
companheiro, como eu também tive misericórdia de ti? E,
indignado, o seu senhor o entregou aos atormentadores, até
que pagasse tudo o que devia. Assim vos fará também meu
Pai celestial.

Também, após a oração do Pai Nosso, Jesus salienta:


Porque se perdoardes aos homens suas ofensas, também o
vosso Pai celestial vos perdoará a vós. Se, porém, não
perdoardes aos homens suas ofensas, também vosso Pai vos não
perdoará as vossas ofensas (Mateus 6.14,15).

Parece-me que, se não perdoarmos (depois de conhecer


esse mandamento do perdão), perderemos a comunhão com
Deus, pois, se ele nos vê em pecado (já que poderia retirar o
perdão), este pecado se torna uma parede, um muro no nosso
relacionamento. Não posso, contudo, fazer tal afirmação com
toda a certeza, pois o que nos conforta é saber que Deus é o Pai
das misericórdias. Ainda que estivermos levantando um muro de
separação entre nós e ele, sua misericórdia continuará ativa e,
quem sabe, mais intensa ainda, pois o Senhor deseja que este
muro, que já foi derrubado por Jesus na cruz, desapareça para
sempre em nossa vida.

102
6) Decidir e agir em prol do amor ágape

O Senhor sempre colocou um peso em nosso coração por


pessoas “machucadas, isoladas, com corações insatisfeitos,
desapontadas, espiritualmente doentes”. Existe muita gente
desapontada, esgotada espiritualmente, frustrada com a Igreja
atual. Isto acontece sobretudo pelas muitas divisões e
divergências no meio cristão.

Uma vez, eu li que a “igreja é o único exército no mundo


que larga para trás seus soldados machucados, feridos,
lançando-os à própria sorte”. Entendi que não se tratava apenas
de desviados, desertores, mas de gente de dentro da igreja,
frequentadores de reuniões semanais, irmãos preciosos que se
sentiam descartados, ignorados e sem forças para reagir diante
desse quadro.

Quando Paulo escreve aos colossenses (1.24) sobre sentir


as aflições de Cristo pelo Corpo de Cristo, parece que há mais
ênfase na edificação da Igreja do que na criação da mesma. No
capítulo 2 dessa epístola, ele diz ter muitas lutas e sofrimentos
pelo Corpo. Por quê? Para que o coração dos irmãos seja
confortado, consolado e unido em amor (entendo isso como
receber cuidado carinhoso, amoroso, ser nutrido, restaurado).
Só a partir daí a Palavra fluiria, e o mistério de Deus, que é Cristo
(2.1-3), seria plenamente compreendido.

Fica claro que a Palavra, a inteligência espiritual, o


conhecimento pleno de Deus e da sua vontade só podem ser
desenvolvidos num ambiente onde os corações são acariciados,
onde os irmãos estão unidos no amor. Ora, como pode acontecer
tudo isso sem relacionamento?

103
Antes de me converter, fui uma pessoa de frequentar bares.
Ficava impressionado ao ver os alcoólatras, os bêbados, as
pessoas desprezíveis para a sociedade sendo respeitados,
tratados carinhosamente, às vezes com distinção, outras vezes
abraçados pelos frequentadores do local. Se alguém estava
isolado, num canto, rapidamente era reintegrado naquela
sociedade de frequentadores quase sempre com palavras doces,
carinhosas. Por isso, não fiquei escandalizado quando li, no livro
“Esgotamento Espiritual” (de Malcolm Smith), que “há mais
amor num bar do que na igreja”.

O ministério do apóstolo João foi de remendar (consertar)


redes. Quando Jesus o chamou para segui-lo, ele estava
consertando redes (Mateus 4.21). João foi o apóstolo do amor.
Ele teve um relacionamento profundo com Jesus e, depois,
alimentado pelo amor de Cristo, pôde falar sobre vida e amor
como ninguém. Ninguém, entre os apóstolos, enfatizou tanto o
relacionamento quanto João.

A princípio, todos nós queremos um ministério como o de


Pedro: lançar redes, pescar almas, ser instrumento para a
conversão de muitos, falar às multidões. Em Lucas 5.1-10, Jesus
mandou Pedro lançar a rede, e foi grande a quantidade de peixes
capturada. O instrumento de pescar muitos peixes (almas,
vidas) é a rede, é a igreja. Todavia, essa pesca deve ser
orientada por Jesus. Ele orientou a pesca em João 21.1-11, e a
rede se encheu. Em outras palavras, Jesus enviou os peixes para
o lugar onde a rede foi lançada. Ninguém vem a mim se o Pai
que me enviou não o trouxer (João 6.44).

Parece-me que nos esquecemos do ministério de consertar


a rede espiritual, na qual encontramos muitos furos ou buracos.
A rede precisa estar entrelaçada, com seus nós firmes; caso
contrário, ela se romperá. Sem uma igreja sadia, amorosa,
perdoadora, não será feita uma grande pescaria nos moldes de
Jesus. Não adianta uma grande multidão de peixes enviada para

104
uma rede rompida. A unidade no amor, em Cristo, pode trazer
uma nova evangelização: para que o mundo creia... (João
17.21).

Por outro lado, pescadores que não pegam nada gostam de


ficar lavando a rede (Lucas 5.2). Lavar a rede é cuidar da
aparência; cuidar demasiadamente do templo, dos programas,
de si mesmo, dos cultos, dos rituais.

Certa vez, numa das nossas reuniões da unidade do Corpo


de Cristo, uma irmã teve uma visão da Igreja como um grande
círculo, no qual os irmãos estavam de costas uns para os outros,
sem dar as mãos. Cada um deles estava interessado em sair
correndo para cuidar do seu próprio projeto, da sua
denominação. Não conseguiam olhar-se, dar as mãos, trabalhar
para o reino como um todo.

Rede é um entrelaçamento de fios, cordas, cordéis com


aberturas regulares, formando uma espécie de tecido. Embora a
rede tenha inúmeros outros significados, sempre transmite a
ideia de entrelaçamento, isto é, uma coisa ligada na outra, presa
na outra, unidade.

Igreja é um corpo bem ajustado, sendo que todas as partes


ficam interligadas por meio da união de todas elas. Assim, cada
parte funciona bem, e o Corpo todo cresce e se desenvolve por
meio do amor (Efésios 4.16). Será que essa é a realidade da
Igreja hoje? Com certeza não! Então, é preciso haver conserto,
relacionamento, cobertura mútua, amor mútuo, cuidado mútuo.
Precisamos urgentemente do ministério de João.

Falta amor na Igreja. Há quem diga que ela está doente.


Ainda alguns afirmam que ela está com câncer no útero; por
isso, não gera mais como deveria. Eu não saberia dizer se uma
ou se ambas as afirmações estão corretas. Porém, o que sei é
que precisamos tomar a decisão de amar, de contribuir para

105
consertar a rede – e isso deve começar dentro da nossa
congregação.

Em Mateus 12.18-21, vemos o caráter do ministério de


Jesus:

Eis aqui o meu servo, que escolhi, o meu amado, em quem


a minha alma se compraz. Farei repousar sobre ele o meu
Espírito, e ele anunciará juízo aos gentios. Não contenderá,
nem gritará, nem alguém ouvirá nas praças a sua voz. Não
esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que
fumega, até que faça vencedor o juízo. E, no seu nome,
esperarão os gentios.

Esse texto está em Isaías 42.1-3, que profetizou acerca do


caráter do ministério do Messias que viria séculos depois. Jesus
não veio para “esmagar a cana quebrada” e “apagar o pavio que
fumega”. Conhecendo a dureza da religião farisaica, ele foi
trabalhando com base em situações que surgiam para mostrar o
que significavam essas expressões acima.

Canas quebradas eram pequenos e finos bambus que se


quebravam com facilidade e logo eram descartados por não ter
utilidade. Pavios que fumegam eram os pavios colocados nas
lamparinas que iluminavam os ambientes por meio do fogo que
queimava o querosene contido nas mesmas. Quando o
querosene acabava, o pavio começava a apagar-se e a exalar
um mal cheiro devido à fumaça que saía.

Temos muita facilidade de descartar pessoas,


principalmente aquelas que não são tão “úteis” quanto
gostaríamos que fossem, ou que discordam de nossas posições,
ou que se encontram em períodos de disciplina, ou que “dão
trabalho”. Certo líder me disse uma vez que, na igreja dele,
“quem não lê a mesma cartilha está fora, pois Deus me colocou
como autoridade, e estamos crescendo”. Esse indicador de “estar
crescendo” é algo terrível, pois denota que Deus está

106
endossando ou aprovando tudo o que fazemos, e nem sempre
isso é verdade.

Porém, crescimento não é sinônimo de bênção, pois existem


muitos recursos, métodos e estratégias que, ao ser aplicados em
qualquer área, dão certo, inclusive na Igreja. Há igrejas, hoje,
que operam como empresas e tratam seus membros como
clientes, provendo-lhes atendimento diferencial e outras técnicas
mais — e as pessoas gostam disso, ficam satisfeitas. Muitos são
atraídos por essas “propostas diferenciadas” e se satisfazem com
isso.

Essa questão de excluir as pessoas é um processo altamente


desmotivador para elas. Quando elas saem de uma igreja, não
passam simplesmente a frequentar outra, mas levam aquela
carga espiritual para o resto da vida. O sentimento de rejeição é
muito danoso à vida emocional e espiritual das pessoas.

Quando Jesus estava morrendo na cruz, ele clamou ao


Senhor dizendo: Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste? (Mateus 27.46). O interessante é que sempre
Jesus tratava o Senhor como PAI, mas nesta hora ele usou o
termo DEUS. Naquele momento, ele estava, como homem,
suportando todo o peso do pecado da humanidade sobre si e
sentindo-se totalmente abandonado e rejeitado pela
humanidade e pelo Pai (por causa dos pecados que ele
carregava).

Quando Jesus estava no Getsêmani, a Palavra diz que ele


temeu a morte (Mateus 26.37-39). Esse sentimento, eu entendo,
era devido à rejeição que, como ser humano, ele sofreria. Então,
o sentimento de rejeição é muito doloroso, e, talvez, um dos
piores momentos que passamos na vida é quando somos
rejeitados por pessoas que amamos ou por igrejas e instituições.

A rejeição faz com que as pessoas saiam do normal, percam


o controle, desequilibrem-se mentalmente e espiritualmente – é

107
o próprio inferno em vida. Quem se sente rejeitado por Deus
passa a viver um inferno espiritual, pois acredita que perdeu
para sempre a possibilidade de contemplar a graça do Senhor, a
salvação e a vida eterna. Somente o amor de Deus pode
restaurar essas pessoas.

Temos muita facilidade de descartar as pessoas quando elas


começam a ficar “malcheirosas” ao nosso lado, ou seja,
começam, na diversidade, a discordar, a “dar palpites”, a querer
nos aconselhar e, em casos extremos, a nos criticar. Torna-se
mais fácil simplesmente “apagar este pavio que fumega”. Essas
situações ocorrem frequentemente dentro das igrejas. Fomos
chamados para levantar as pessoas que caem e não para julgá-
las. Às vezes, temos o interesse quase doentio por querer saber
os motivos que as levaram a cair, mas não devemos proceder
dessa forma.

É interessante lembrar como Deus tratou com Abraão. Para


“salvar sua pele”, o patriarca colocou em risco a vida da esposa
(Gênesis 12.10-20). Mas, nem por isso ele perdeu a condição de
“amigo de Deus”. Davi também teve seus momentos de queda
(2 Samuel 11), mas continuou sendo “o homem segundo o
coração de Deus”. Grandes homens de Deus poderiam ter sido
pavios apagados e lançados fora, mas se tornaram exemplos,
pessoas que marcaram a nossa fé.

Precisamos entender que todos nós estamos sujeitos a


situações de quedas. Entretanto, não podemos ficar procurando
os motivos das situações de juízo ou mesmo julgando as
pessoas, colocando-nos em posições superiores a elas. Vale
lembrar sempre um ensino fundamental para manter a unidade:

E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo


mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da
reconciliação; isto é, Deus estava em Cristo reconciliando

108
consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e
pôs em nós a palavra da reconciliação. (2 Coríntios 5.18,19)

Deus nos colocou na Terra como ministros da reconciliação.


Reconciliar significa reatar uma amizade. Nosso propósito é
reatar a graça que se afastou da humanidade, restaurar algo que
se perdeu. O Espírito Santo faz isso, e nós somos seus
instrumentos para esse intuito. Como servos de Deus,
precisamos olhar para a humanidade das pessoas. Enquanto não
tivermos o corpo glorificado, seremos pessoas humanas, sujeitas
a quedas e fracassos. O amor sempre sofre, sempre crê, sempre
espera, sempre suporta (1 Coríntios 13.7).

109
7) Como restaurar alianças quebradas

A Palavra de Deus nos ensina que Jesus vai voltar: Esse Jesus,
que dentre vós foi elevado para o céu, há de vir assim como para
o céu o vistes ir (Atos 1.11b). Sabemos que Jesus virá ao
encontro de sua Igreja, e que essa Igreja será gloriosa, sem
mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e
irrepreensível (Efésios 5.27).

Sabemos que não vivemos plenamente uma Igreja santa e


irrepreensível em nossos dias — estamos longe disso. Como já
foi dito, temos uma Igreja dividida, fragmentada.
Experimentamos uma Igreja que se acostumou a quebrar
alianças por suas constantes divisões. Assim, precisamos de
arrependimento e de restauração (recuperação de algo que foi
perdido, reestabelecimento):

Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem


cancelados os vossos pecados, a fim de que, da presença do
Senhor, venham tempos de refrigério, e que envie ele o
Cristo, que já vos foi designado, Jesus, ao qual é necessário
que o céu receba até aos tempos da restauração de todas
as coisas, de que Deus falou por boca dos seus santos
profetas desde a antiguidade. (Atos 3.19-21)

Assim, o arrependimento nos leva a atitudes concretas;


dentre elas, o perdão. As alianças quebradas só podem ser
restauradas por meio do perdão. Tenho visto vários casos reais
desse fato, mas quero relatar alguns que aconteceram comigo.

a) Em 1987, morando em São Paulo, fomos passar o feriado


de Carnaval em Jundiaí, Bairro Medeiros, e decidimos chamar

110
algumas pessoas do bairro para louvar a Deus e estudar a
Palavra. Assim, foi dado início à Igreja Cristo Salva (tivemos a
cobertura do pastor Cassio Colombo, da Cristo Salva de São
Paulo). Ficamos três anos e meio à frente desse trabalho. No
primeiro semestre de 1990, sentimos que Deus havia terminado
nossa missão. De repente, ele nos levou para um aprendizado
de dois anos nos Estados Unidos. Passamos a responsabilidade
da igreja para um pastor, de grande potencial, que havíamos
consagrado e que amava muito essa obra.

Logo após a nossa ida para os Estados Unidos, eu tive um


sonho impactante. Sonhei que estava dando o meu filho caçula,
com menos de 1 ano de idade, para alguns homens. Parecia que
era algo sem retorno. Sofri muito, pois era um filho "temporão"
(foi o nosso quarto filho quando o até então caçula já tinha 10
anos). Nathan (seu nome significa "presente de Deus")
realmente foi um grande presente para nós). Não entendi por
que, no sonho, eu o estava dando. Sofria muito. Minha esposa e
os outros filhos perguntavam, no sonho, onde Nathan estava. Eu
lhes disse que o havia dado. Eles riam, pois não acreditavam;
mas era verdade.

Por alguns dias, fiquei tentando interpretar aquele sonho.


Não consegui. Algumas semanas mais tarde, recebi uma carta
do pastor que me substituiu. Ele perguntava sobre a
possibilidade de eu renunciar à presidência da igreja a fim de
que eles pudessem constituir uma nova diretoria e ter maior
flexibilidade na administração. Tudo aquilo me parecia lógico,
pois não é fácil administrar com base numa procuração. Assim,
minha esposa e eu renunciamos à presidência por carta. Esta era
a interpretação do sonho. Para mim, aquela igreja era como
"filho", e eu a estava transferindo definitivamente para outros
irmãos.

Já no Brasil, dois anos depois, após o meu retorno à igreja,


comecei a perceber que a visão atual era diferente daquela que

111
Deus nos havia dado para implantar. Sem problemas, pois ele
tinha outro propósito para nós.

Na verdade, Deus nos havia tirado dessa obra, pois nosso


tempo tinha terminado. Ele planejara algo diferente para nós.
Começamos a nos reunir em casa com um grupo de irmãos. Ele
queria que conhecêssemos um grupo de pessoas com muitos
dons e potencial espiritual, pessoas que estavam afastadas de
igrejas ou até “vacinadas contra elas”. Como eu não estava
vinculado a nenhuma igreja, ficou mais fácil e simples
aproximar-me desses irmãos. Desenvolveríamos algo muito
especial com esse grupo.

Numa reunião que fizemos em janeiro de 1993, todos do


grupo, inesperadamente, foram unânimes em dizer que eu
deveria voltar para a Igreja Cristo Salva, e que eles nos
acompanhariam. Fiquei surpreso com a proposta, mas pensei
que a “mão” do Senhor nos havia conduzido e mostrado o
caminho certo a percorrer no tempo certo.

Meu retorno para aquela igreja, por sugestão dos irmãos, ao


contrário do que Deus me mostrara em sonho, trouxe-nos muito
sofrimento. Na verdade, foi um desastre, pois começou a existir
partidarismo na igreja. Depois de poucos meses, entendendo
que eu havia desobedecido ao Senhor, tomamos a iniciativa de
sair. Porém, quebramos alianças com irmãos preciosos com os
quais tomamos a ceia. Com o passar dos anos, o Espírito Santo
nos orientava que o muro que havia sido construído precisava
ser derrubado com o perdão em consonância com a morte de
Cristo.

No final dos anos de 1990, tomamos a decisão de procurar


o pastor daquela igreja e marcar uma data para o dia do perdão.
Minha esposa e eu fomos num culto com quase mil pessoas
presentes, e confessamos nossos erros diante daquela
congregação. Dissemos estar arrependidos e pedimos perdão a

112
todos. Vimos o Espírito Santo nos visitar. A parede caiu. Deus
nos usou para profetizar a multiplicação daquela obra. Hoje são
milhares e milhares de membros, e a Igreja Cristo Salva está em
muitas cidades.

b) No ano de 1986, dois grandes líderes muito conhecidos


no Brasil, um com dons proféticos e outro com dons apostólicos,
uniram-se numa mesma congregação em Jundiaí chamada
Peniel. Infelizmente, em 1987, houve um “racha”, uma divisão
naquele Corpo. Muitas pessoas ficaram desapontadas e feridas
por um projeto frustrado.

Embora eu não tivesse participado dessa divisão, em março


de 2001, marcamos uma reunião na minha casa com os
principais líderes dessa congregação. O assunto tratado se
referia, obviamente, à divisão ocorrida em 1987 na Igreja Peniel.
O texto da Palavra de Deus referido foi Efésios 4, no qual foi
constatado que na época se buscava primordialmente a unidade
da fé (aspectos doutrinários). Concluiu-se que foi ignorada a
perseverança na unidade do Espírito (o relacionamento, o amor,
a unidade do Corpo).

Quando o Espírito Santo nos deu tal consciência (abriu nosso


entendimento), houve um profundo sentimento de
arrependimento, e os irmãos, comovidos, pediram perdão uns
aos outros. Vimos o Senhor operar grandemente naquele dia, e
um milagre maravilhoso foi consumado na liberação do perdão.
Parece que a autoridade espiritual em Jundiaí foi restaurada.

Esse milagre abriu as portas para o caminho inverso da


divisão: a unidade. Boa parte desse grupo começou a reunir-se,
dizendo “sim” para a oração de Jesus em João 17.21: Para que
todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que
também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu
me enviaste. Essas reuniões permitiram a restauração da

113
unidade do Espírito, o que nos levou, em 26 de fevereiro de
2011, à unidade (fusão) de quatro comunidades em Jundiaí,
sendo grande parte de presbíteros oriunda daquela congregação
e vários novos presbíteros.

Mas não foi só isso. É como houvesse sido restaurada a


autoridade espiritual em Jundiaí. Citarei alguns fatos que
ocorreram após tal reconciliação.

c) Um irmão, ainda machucado pela divisão da Igreja Peniel


em 1987 e que não sabia da reunião de 2001 na qual houve a
reconciliação, manifestou o desejo de que os antigos líderes
curados estendessem esse pedido de perdão e reconciliação aos
que haviam participado daquela divisão. Dessa forma, após
levantar o nome de todos aqueles participantes, foi marcada
uma reunião em 3 de dezembro de 2013 para explicarmos o
benefício do perdão e, com isso, buscar a cura para todos.

Foi feito um convite por escrito: “Sentimos que há irmãos


que desconhecem esse evento do perdão total em 2001 e que
ainda sofrem pela divisão em 1986. Sua presença é muito
relevante para a cura total das cicatrizes que ficaram. Neste dia,
estaremos abertos para agendar, se necessário, reuniões
particulares. Por favor, esteja conosco”.

Houve uma grande reunião no templo que sediava as quatro


comunidades unidas. Centenas de pessoas compareceram. Os
líderes de 1986 pediram perdão. Depois de lavar os pés de
alguns irmãos, tomamos a ceia juntos. Alguns tiveram uma
visão: uma grande nuvem negra que estava sobre a cidade se
havia dissipado. Glória a Deus.

d) Depois de muitos conflitos entre católicos e evangélicos


para estabelecer a capelania no Hospital São Vicente (principal

114
hospital da região), e após várias reuniões (oração e estudo da
Palavra) entre o Conselho de Pastores e a Cúria Católica,
passamos a experimentar, neste hospital, uma capelania mista
unindo católicos e evangélicos em 2013. A partir de 2014,
passamos a ministrar cursos anuais para formar capelões
cristãos, com uma média de 50 participantes por ano,
ministrados por católicos e evangélicos. No final de 2014, o
diretor do hospital, no final do seu mandato, manifestou sua
alegria, falando sobre a paz que o hospital vinha experimentando
com a implantação do novo modelo de capelania, que vinha
somar aos esforços de humanização desse tão importante
hospital.

O Conselho de Pastores passou a ter ainda diversos projetos


de evangelismo e obras sociais em conjunto com irmãos
católicos (não é uma unidade institucional, mas sim entre
irmãos). Também, todos os anos, irmãos de várias congregações
se reúnem para orar e cultuar juntos na Semana de Oração da
Unidade Cristã reconhecida oficialmente no calendário municipal.

Em outubro de 2017, nos 500 anos da Reforma, foi feito um


Ato Público de Purificação de Memória, no auditório da Câmara
dos Vereadores, com um momento de arrependimento e pedido
de perdão entre evangélicos e católicos.

e) Um dos fatos mais marcantes como fruto desse pedido


de perdão em 2001 foi a reconciliação com a chamada Igreja em
Jundiaí, ou Árvore da Vida, conhecida por nós como “igreja
local”.

As quatro comunidades unidas tiveram dificuldade no


passado com essa igreja. Sabendo do nosso esforço na busca da
unidade do Corpo, eles nos procuraram para reconciliação.
Houve algumas reuniões com as lideranças, com arrependimento

115
e pedido de perdão, e, em seguida, em 2016, confirmamos este
ato reunindo as duas congregações.

Inicialmente, foi realizada uma reunião na nossa


congregação e, em seguida, na congregação desses irmãos.
Depois dessa reconciliação, ambas as congregações passaram a
reunir-se ocasionalmente para tomar a ceia juntas. Projetos
comuns têm sido realizados além do intercâmbio de pastores
para ministração da Palavra.

f) Outro fruto que a restauração (2001) da aliança quebrada


(1986) trouxe foi a aproximação de judeus que reconheceram (a
partir de 1967 – a tomada de Jerusalém) que verdadeiramente
Jesus é o Messias prometido. Hoje, em Israel, eles são mais de
15 mil e dezenas de milhares em todo o mundo.

Tivemos vários líderes ministrando em nossa comunidade,


com vários pedidos de perdão pela atitude de Israel desprezando
a Igreja. Hoje, temos unidade com esses irmãos e um
intercâmbio muito próspero (por meio do Ministério Impacto).

Enfim, temos presbíteros participando de vários moveres de


unidade em todo o mundo. Entendemos que tudo isso aconteceu,
principalmente, porque uma aliança foi restaurada. Daí, nosso
estímulo para que esse caminho (de restaurar alianças) seja
abraçado por todos.

116
8) A “síndrome do filho mais velho”

E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e


chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E,
chamando um dos servos, perguntou-lhe o que era aquilo.
E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro
cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou,
e não queria entrar. E saindo o pai, instava com ele. Mas,
respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos
anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca
me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos.
Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens
com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado. E ele lhe
disse: filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas
coisas são tuas; mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos,
porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se
perdido, e achou-se. (Lucas 15.25-32)

O pensamento do filho mais velho era de que ele cumpria e


vivia a vontade de Deus melhor do que seu irmão. Ele estava tão
certo disso que, se o Pai aceitasse outros sem essas mesmas
práticas, inconscientemente ele era capaz de condenar o próprio
Deus. Um exemplo: uma festa de batismo com grande
quantidade de pessoas por parte de uma “denominação cristã
duvidosa” (festa de boas-vindas a novos cristãos) não contagia
seu coração; muito pelo contrário, você se recusa a alegrar-se,
pois o processo, o ritual, a condição, a reputação daquela
denominação não se ajustam à estrutura de códigos da sua
igreja.

Essa estrutura, uma fórmula praticada fielmente, produziu


essa “síndrome do filho mais velho”: orgulho no coração e

117
desprezo por tantos que não acatam (ou desconhecem) os
preceitos da sua denominação. O seu raciocínio é que esses
cristãos de práticas diferentes não fazem como você faz, não são
zelosos como você, não são disciplinados na leitura da Bíblia, na
oração, na conduta santa como você é. O que essas pessoas com
“síndrome de irmão mais velho” têm dificuldade de enxergar é
que a aceitação de Deus nada tem a ver com ações e
comportamentos.

Malcolm Smith, em seu livro “Esgotamento Espiritual”


(Editora Vida), diz que o filho mais velho ainda não havia sequer
começado a compreender a ideia de um relacionamento de amor
no qual ele, como filho, era aceito e amado por ser quem era e
como era. O pai, ao proceder assim, afirmou que suas ações
nada tinham a ver com aceitação ou rejeição. A aceitação
dependia de quem o pai era, não do que o filho fizera.

Esse autor afirma ainda que, obviamente, o sistema


doutrinário dos fariseus, que procura a aceitação de Deus
mediante a modificação do comportamento, reduz o cristianismo
a uma fórmula em vez de mostrá-lo como realmente é: um
relacionamento dinâmico com Deus proporcionado por Cristo.
Quando o irmão mais velho se referiu ao mais novo como “esse
teu filho”, em vez de “esse meu irmão”, ele deu a entender que
o comportamento do rapaz o levara a perder o direito de ser
membro da família.

De uma forma sutil, essa é uma das maiores razões da


divisão. A divisão está no coração! Normalmente, ela não é
visível, não entra nas estatísticas, mas derruba a unidade do
Espírito no vínculo da paz. O problema é que, às vezes,
inconscientemente, o cristianismo é visto como um conjunto de
regras e códigos. Porém, Jesus declarou que os seus discípulos
seriam conhecidos por uma vida marcada pelo amor de Deus.
Essa é a marca do cristão! O amor ágape destrói o orgulho no

118
coração e leva os preceitos denominacionais para um segundo
plano.

No contexto do discurso final de Jesus em João 13 a 17, a


essência é o amor ágape. E, no capítulo 15, ele dá as diretrizes
para vivermos como irmãos; devemos aceitar, a princípio no
nosso coração, que somos uma família, filhos de um só Pai:

Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o lavrador. Toda a


vara em mim que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela
que dá fruto, para que dê mais fruto. Vós já estais limpos
pela palavra que vos tenho falado. Estai em mim, e eu em
vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não
estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em
mim. Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e
eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis
fazer. (João 15.1-5)

Até os meus 18 anos de idade, morei numa região rural


típica de plantação de uva. Todos dependiam dessa cultura para
sobreviver, inclusive, parcialmente, a minha família. Na verdade,
eu ajudava meu pai junto às videiras.

Sem conhecer a Palavra de Deus ainda, aprendi coisas


interessantes. Todos os ramos eram amarrados nos arames
(havia três arames esticados paralelos, no sentido horizontal,
suportados pelos mourões) e ficavam firmes contra as chuvas de
granizo e tempestades. Acima de tudo, estavam preparados para
suportar grandes cachos de uva, o fruto da videira que nos dava
o sustento.

Achava interessante que os grandes cachos de uvas eram


produzidos por ramos (varas) finos, frágeis. Era um vegetal cuja
madeira para nada servia — uma madeira totalmente inútil ao
contrário de eucaliptos e outras árvores que tínhamos na
propriedade e que serviam para fazer móveis, carvão,
esculturas... O ramo nada produzia por si só, mas era a seiva da

119
videira que gerava aquele fruto lindo e delicioso. Do fruto
também sairiam o vinho, o vinagre de melhor qualidade, os
sucos de uva...

Ao conhecer o texto de João 15, fui entender que nós somos


esses ramos, servos inúteis, mas que produzimos frutos
maravilhosos mesmo não tendo vida própria. Como é lindo saber
que Jesus manifesta a vida dele ao mundo dessa forma. Jesus é
esta seiva que nos transforma, que nos dá a própria vida.

Somos inábeis em produzir frutos por conta própria.


Qualquer ramo separado da videira nunca produzirá sequer
folhas, quanto mais frutos saborosos. O fluxo da seiva vital
subindo pelos ramos é a força, a vida da videira. Essa quantidade
de seiva supre todos os ramos de maneira igual. Mediante a
união dos ramos com a videira, a seiva vital produz vida. Os
ramos estão amarrados, seguros, guardados, protegidos por
Jesus. Por isso, Jesus disse: Sem mim nada podeis fazer. Paulo
diz que se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é
dele (Romanos 8.9).

Os ramos (os cristãos) não possuem vida independente. Não


se pode pensar num ramo vivendo fora da seiva. Por outro lado,
todos os ramos estão interligados pelo tronco da videira, e todos
recebem a mesma seiva, a vida de Jesus. Na minha experiência
como vinicultor, percebi uma semelhança incrível dos ramos:
não havia super-ramos nem ramos minúsculos.

Esse é o canal pelo qual a vida de Cristo flui ao mundo. Esta


vida corre em todos nós, e é ela que nos une. Cristo nos une! Os
ramos estão interligados. Nenhum ramo ganha “prêmio” por ser
mais forte ou mais produtivo, pois tudo vem da seiva, vem de
Cristo. Assim, numa linguagem figurativa, nem um ramo sequer
tem motivo para ter inveja do outro ou se sentir superior.

Essa vida de Cristo independe de se praticar um conjunto


de regras ou do nível de conhecimento. A videira é a “cabeça do

120
Corpo”. Os ramos dependem da cabeça, recebem vida da
cabeça. Não podem viver separados: Assim nós, que somos
muitos, somos um só corpo em Cristo, mas, individualmente,
somos membros uns dos outros (Romanos 12.5).

Para mim, até hoje, vejo a parreira como a Igreja — o tronco


que sustenta tudo e dá vida. Os ramos juntos, ordenados,
interligados, recebem a vida da videira e produzem frutos.

Essa videira tem um lavrador, que é Deus. Cabe a ele retirar


os raminhos que não dão fruto. Cabe a ele estabelecer o número
de ramos e sua quantidade de frutos. Não cabe aos próprios
ramos estabelecer hierarquia, julgamento, código de normas,
padrão de conduta para os outros ramos. Quem nos sustenta é
a vida de Cristo, e isso basta. Todos os ramos são amados pelo
lavrador e interligados por Cristo.

Daria para visualizar a Igreja dessa forma? Veja que, nos


versos seguintes desse capítulo de João, Jesus fala que, ao
permanecermos assim, as nossas orações serão plenamente
atendidas (v.7), que o Pai será glorificado, e nós seremos
realmente seus discípulos (v.8). O Senhor afirma que ele nos
amará da mesma forma que Deus Pai o amou (v.9), que
permaneceremos no seu amor (v.10), que o nosso gozo será
completo nele (v.11), que seremos verdadeiramente seus
amigos e não mais apenas servos (v.15). E Jesus conclui
dizendo: que vos ameis uns aos outros.

121
9) O oposto de julgar é lavar os pés uns dos
outros

Em 2001, a comunidade da qual eu participava, que sentia um


forte peso pela unidade do Corpo de Cristo, tomou a iniciativa de
procurar outra comunidade para iniciar uma parceria de usar o
mesmo prédio para os nossos cultos (mais à frente essa parceria
cresceu, e em 2011 houve a união de quatro comunidades
cristãs).

Decidimos anunciar publicamente, diante de dezenas de


pastores (Conpas), tal iniciativa. Um dos pastores presentes
sugeriu que fizéssemos a cerimônia de lavar os pés. Após eu
lavar os pés do pastor que estava acolhendo-nos, e vice-versa,
o Espírito Santo nos visitou fortemente. Houve pedido de perdão,
e muitos pastores presentes, com muitas lágrimas, lavaram os
pés uns dos outros. Inclusive um irmão judeu messiânico, que
lavou os pés de diversos outros pastores, pediu perdão por
Israel. Era um novo tempo para a igreja cristã de Jundiaí. Logo
depois disto, tomamos a primeira ceia com irmãos de várias
denominações.

Após isso, presenciei várias outras situações (também fora


do Brasil) de busca de unidade nas quais o primeiro passo foi
lavar os pés uns dos outros. Baseado em João 13, primeiro
lavamos os pés para depois nos sentarmos à mesa juntos.

O apóstolo Paulo nos ensina uma situação em que a


participação da ceia deve ser avaliada:

Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste


pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe
indignamente, come e bebe para sua própria condenação,

122
não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre
vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. (1
Coríntios 11.28-30)

Discernir o Corpo, como já vimos, significa identificar se eu


estou em comunhão e aliança com os irmãos. É examinar se eu
faço parte, em comunhão, do Corpo de Cristo, praticando o amor
ágape, eliminando qualquer perspectiva de julgamento.

Ao estabelecer a Nova Aliança, na última ceia, parece que


Jesus interrompe bruscamente sua fala para mostrar que a
comunhão com ele (e entre os irmãos) não pode ser
comprometida por nada. Existe um remédio para a interrupção
da comunhão, e Jesus ensina na prática como resolver esse
impasse:

Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que já era


chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como
havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até
o fim. E, acabada a ceia, tendo o diabo posto no coração de
Judas Iscariotes, filho de Simão, que o traísse, Jesus,
sabendo que o Pai tinha depositado em suas mãos todas as
coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus, levantou-
se da ceia, tirou as vestes, e, tomando uma toalha, cingiu-
se. Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os
pés aos discípulos, e a enxugar-lhes com a toalha com que
estava cingido. (João 13.1-5)

O verso 2 deste texto mostra que o objetivo do maligno é


manter as pessoas afastadas da comunhão com Deus e distantes
umas das outras. Lavar os pés é manter a comunhão com Deus
e com os irmãos. O diabo quer afastar, mas Jesus quer atrair
(como está descrito no final nos versos 40 ao 44 do capítulo 12
de João). Lavar os pés significa a remoção de toda sujeira que
estorva a comunhão do relacionamento entre Deus e o homem
e entre os irmãos.

123
Quando somos salvos (comprados pelo sangue de Jesus),
tornamo-nos UM com Deus. Somos novas criaturas com Jesus.
Mas onde está o nosso corpo? Na terra! O nosso espírito está
regenerado, mas o corpo miserável (velha criatura) está tocando
na terra, “sujando-se com o mundo pelo contato terreno”.

É importante entender que Pedro (como todos nós), mesmo


sendo salvo, poderia estar em pecado, estar sujo. Isso fica claro
no diálogo que Jesus tem com ele:

Aproximou-se, pois, de Simão Pedro, que lhe disse: Senhor,


tu lavas-me os pés a mim? Respondeu Jesus, e disse-lhe: O
que eu faço não o sabes tu agora, mas tu o saberás depois.
Disse-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Respondeu-lhe
Jesus: Se eu não te lavar, não tens parte comigo. Disse-lhe
Simão Pedro: Senhor, não só os meus pés, mas também as
mãos e a cabeça. Disse-lhe Jesus: Aquele que está lavado
não necessita de lavar senão os pés, pois no mais está
limpo. Ora, vós estais limpos, mas não todos. Porque bem
sabia ele quem o havia de trair; por isso disse: Nem todos
estais limpos. (João 13.6-11)

Pedro já estava salvo. A fé em Jesus já funcionara na vida


dele; o sangue de Jesus (mesmo que ainda não tivesse sido
derramado) já operava na vida do apóstolo. Podemos estar
salvos, mas sujos, empoeirados com o mundo, com os contatos
com as pessoas, porque julgamos o próximo.

Quando os judeus iam a um banquete, empoeiravam-se na


estrada. Ficavam com mal cheiro. Assim, para sentar-se à mesa,
lavavam os pés a fim de que a sujeira e o mal cheiro não
impedissem a comunhão. A sujeira tira a comunhão. O pecado
afasta o homem de Deus. Porém, Jesus providenciou o remédio
para as duas situações: Um dos soldados lhe furou o lado com
uma lança, e logo saiu dele sangue e água (João 19.34). O

124
sangue nos purifica de todo pecado; a água nos limpa da sujeira
que quebra a comunhão.

Mas o que é a água? A água é a Palavra de Deus: Para a


santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra
(Efésios 5.26). Cristo nos purifica com a lavagem de água
(Palavra). Isto fica bem claro quando o próprio Jesus diz: Vós já
estais limpos pela palavra que vos tenho falado (João 15.3).
Porém, é a Palavra com o Espírito Santo: O espírito é o que
vivifica; a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos
disse são espírito e vida (João 6.63). Quando o nosso coração (a
bacia d’água) está cheio da Palavra viva, veja o que acontece:
Quem crê em mim, como diz as Escrituras, rios de água viva
correrão do seu interior (João 7.38). Na verdade, um cristão com
fome e sede da Palavra jorra vida para os irmãos. Mas nada disso
vale sem o Espírito Santo.

Assim, a Palavra com a vida do Espírito Santo que está em


nós é o instrumento de lavar os pés do próximo. Há irmãos
abatidos, tristes, com mágoas, com medo, imaturos,
precipitados em julgar, doentes da alma, com autopiedade ou
qualquer tipo de sujeira? Isso interrompe a comunhão. Como
haver cura, sarar uns aos outros lavando os pés? Jesus diz que
isso é possível:

Depois que lhes lavou os pés, e tomou as suas vestes, e se


assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos
tenho feito? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem,
porque eu o sou. Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os
pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. Porque
eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós
também. Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo
maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que
aquele que o enviou. Se sabeis estas coisas, bem-
aventurados sois se as fizerdes. Não falo de todos vós; eu
bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a

125
Escritura: O que come o pão comigo, levantou contra mim
o seu calcanhar”. (João 13.12-18)

Para praticar o “lavar os pés” e ser bem-aventurado, há três


passos a seguir.

a) Tirar as vestimentas.

Jesus chocou os discípulos ao tirar suas vestimentas de cima


e, silenciosamente, lavar os pés deles. Nenhum homem esteve
numa posição tão alta quanto a dele e, paradoxalmente,
ninguém se humilhou tanto como ele. Como rei, tirar suas
vestimentas era como se despojar da própria condição de todo-
poderoso. Não dá para identificar um rei se ele tirar a roupa, a
coroa, o anel. O rei fica igual a uma pessoa comum.

Tirar as vestimentas significa despojar-nos de nossas


realizações, virtudes, atributos. É entender que não temos bom
comportamento e boas ações. É abrir mão de elogios e partir
para uma situação de humilhação. Assim, “despojar-nos das
nossas vestes” é humilhar-nos, esvaziar-nos dos nosso orgulho,
das nossas virtudes, dos pontos de vista, da sabedoria, dos
julgamentos, das posições (devemos sim julgar os outros
superiores a nós mesmos). É ser tolerante, solidário e
abençoador. Veja que Jesus lavou os pés de Judas (traidor), de
Pedro (que o negaria), tirando as crostas de sujeira dos seus
pés. Jesus nos diz: “Faça, pratique o mesmo”. Um irmão está
decepcionado? Peça-lhe perdão em nome do Corpo mesmo que
você não seja o culpado. Isso limpa o irmão.

b) Usar a toalha.

A toalha fica presa no ventre. Isso significa ser escravo,


perder a liberdade. Ao enxugar os pés com a toalha, há conforto,
bem-estar, refrigério para a pessoa beneficiada. Após lavar os

126
pés dos discípulos, Jesus traz ao nosso conhecimento o seu
maior mandamento:

Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos


outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos
outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus
discípulos, se vos amardes uns aos outros. (João 13.34,35)

Um escravo faz apenas a vontade do seu senhor. A vontade


de Jesus, nosso Senhor, é que amemos com amor extravagante,
amor ágape. Assim, a toalha significa que estou preso a Jesus
para praticar o amor.

Normalmente, quanto mais uma dona de casa trabalha,


mais ela se suja. Assim somos nós na obra do Senhor. Você não
quer problemas com os irmãos? Então, não trabalhe para o
Senhor, não vá às reuniões, fique em casa. Mas se você é um só
espírito com Jesus, não dá para ter essa atitude. Portanto, vá
contatar (comungar) os irmãos. Quanto mais contato, mais
sujeira vai surgir. Aí entra a toalha, o símbolo do escravo:
ministre ao outro, humilhe-se, abençoe, traga refrigério ao
irmão.

Isso é discernir o Corpo de Cristo. O amor me leva a estar


em comunhão com o corpo, a me humilhar em favor da unidade
do corpo, a trazer refrigério para o corpo. Ao ter comunhão com
o corpo (toda sujeira é lavada), eu passo a ter comunhão perfeita
com Deus.

c) Estar com a bacia cheia de água.

Uma tendência que temos é afastar-nos de quem está sujo.


Temos uma facilidade enorme de recriminar as pessoas, sentir-
nos ofendidos. Porém, o mandamento de Jesus, o Espírito Santo
em nós, o amor de Deus em nós, leva-nos a tirar o odor ruim
uns dos outros e tornar-nos perfumados. Mas que perfume? O

127
perfume de Cristo que exala em nós. Assim haverá uma
comunhão agradável na Igreja. A vida da Igreja será mantida
cheia de frescor, viva, com o fluir do Espírito Santo.

Para lavar os pés uns dos outros, limpar a sujeira, ministrar


o amor, é necessário “comer” a Palavra de Deus com a vida do
Espírito Santo. Gosto de ver como foi o início da Igreja de Cristo.
Sou tocado quando leio a palavra “perseverar”: E perseveravam
na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e
nas orações (Atos 2.42). Para que houvesse comunhão, partir do
pão (ceia) e oração (concordância nos pedidos), eles
perseveravam (persistiam, mantinham-se firmes) na Palavra de
Deus.

Estar com a bacia cheia é ser uma Igreja que ama a Palavra
e saber que, por meio dela, vem a vida de Jesus. A igreja
primitiva perseverava na comunhão. Isto significa que
comunhão é mais importante do que a visão. Uma igreja com a
Palavra viva que traz comunhão é o início da Igreja gloriosa.
Lembremos que há duas coisas que uma pessoa não pode fazer
sozinha: casar-se e ser cristão.

128
10) Cogitar as coisas de Deus a serviço do
Corpo de Cristo

Sabemos que é o Espírito Santo quem fará a obra de unidade na


Igreja para a volta de Cristo. Porém, podemos comtemplar, orar,
ter esperança nos propósitos de Deus, que certamente atenderá
o clamor de Jesus.

Todos sabemos que Igreja não é um edifício, um prédio


(embora comumente chamamos de igreja). A palavra grega
ekklesia tem o significado de um ajuntamento dos chamados por
Deus. É a reunião dos resgatados por Jesus Cristo.

Em Mateus 16.18, Jesus diz que sobre esta pedra edificarei


a minha igreja. Ele está falando sobre a Igreja do mundo todo
que, juntamente com Pedro e os outros apóstolos como pedras,
e com ele mesmo como rocha fundamental, formam a base da
Igreja. Todavia, na prática, essa Igreja funciona como células,
como unidades distribuídas por toda a Terra.

Por exemplo, em Mateus 18.15-20, Jesus fala sobre a


necessidade de frequentarmos a igreja local, o seu lado prático.
No versículo 17, ele diz: E, se não escutar, dize-o à igreja; e, se
também não escutar a igreja, considera-o como gentio e
publicano. Assim, a igreja se expressa como um agrupamento
num determinado local aonde podemos ir para ter nossos
problemas resolvidos. Que local é esse?

Conforme o livro de Atos, a igreja inicialmente é mencionada


como uma alusão à cidade de Jerusalém (Atos 8.1). Depois, há
referência à igreja que estava em Antioquia (Atos 11.26 e 13.1).
É interessante que o sucesso dessa igreja chegou aos irmãos de
Jerusalém: E chegou a fama destas coisas aos ouvidos da igreja

129
que estava em Jerusalém; e enviaram Barnabé a Antioquia (Atos
11.22).

Paulo faz referência à igreja de Cencreia (Romanos 16.1) e


à igreja de Corinto (1 Coríntios 1.2). Para Tito, ele deixa a
determinação de ordenar presbíteros de cidade em cidade (Tito
1.5). Há diversas outras igrejas nas regiões da Síria e Cilícia
(Atos 15.41), assim como nas províncias da Macedônia (2
Coríntios 8.1) e Ásia (1 Coríntios 16.9).

Quando Jesus ordena a João escrever cartas para as igrejas


que estão na Ásia, ele cita a igreja na cidade: ...e envia-as às
sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, a Esmirna, a Pérgamo,
a Tiatira, a Sardes, a Filadélfia, a Laodiceia (Apocalipse 1.11).

Seria interessante pensarmos hoje que, se Paulo ou João


estivessem por aqui, para qual igreja eles escreveriam? Uma
cidade média como Jundiaí tem mais de 300 denominações.
Todas se julgam ser a “verdadeira igreja”. Certamente, quando
estivermos na Nova Jerusalém, juntamente com a multidão dos
lavados pelo sangue de Jesus Cristo, olharemos para trás e
veremos como fomos infantis ao defender uma placa, uma
denominação.

Podemos pensar que as denominações se tornaram uma


forma prática de operar. Não sei como o Espírito Santo faria se
fôssemos uma única igreja de Cristo na cidade, mas sei que ele
não teria problema algum com isso. Sei também que a forma
como temos agido (à semelhança de Pedro em Mateus 16.22,23)
é cogitar as coisas dos homens a serviço de Satanás.

Não imagino uma megaigreja na cidade. Mas imagino que,


mesmo fragmentada em células (congregações), podemos
aprender a conviver como família de Deus (Efésios 2.19), como
irmãos em Cristo e filhos de Deus (Efésios 1.15), como o Corpo
de Cristo na Terra (Efésios 1.23 e 5.30), como noiva ou esposa
de Cristo (Efésios 5.25-32). Como vimos no capítulo 2, a Igreja

130
é o templo de Deus, o lugar onde o Espírito de Deus habita (1
Coríntios 3.16). A Igreja tem um único e poderoso Senhor, bem
como um único inimigo comum a todos. No entanto, não
expressamos tudo isso para a nossa cidade nem para o mundo.
Com isso, somos o maior obstáculo para que o mundo conheça
e creia em Jesus.

Podemos sim, ainda que em doses homeopáticas, cogitar as


coisas de Deus e parar de fazer sangrar o Corpo de Cristo. As
iniciativas que relacionamos nos itens 1 a 9 deste capítulo
certamente permitirão que o Espírito Santo aja com liberdade.
Mas podemos também experimentar outros passos concretos
para, gradativamente, mudar esse quadro.

Gostaria de dar algumas sugestões, na verdade pequenos


começos, que Deus poderá transformar em grandes vitórias. Não
desprezem os pequenos começos, pois o Senhor se alegra ao ver
a obra começar (Zacarias 4.10).

a) Fizemos referência a Mateus 16.18, trecho no qual Jesus


disse: Eu edificarei a minha igreja, podemos perguntar como isto
seria. Em Mateus 28.19-20, ele falou: Portanto, ide, fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e
do Filho, e do Espírito Santo, ensinando todas as coisas que eu
vos tenho mandado; e eis que estou convosco todos os dias, até
a consumação dos séculos. Essa é a função da Igreja em cada
cidade. Uma pessoa que se converte e é batizada é
automaticamente incluída na Igreja, passa a ser Igreja. Ora, por
que não podemos cogitar isso de Deus em parceria, em sinergia?
Pense em outras denominações próximas à sua. Não podemos
ter programas juntos, unindo nossas forças? Não importa quem
vai batizar, quem vai discipular, ensinar... Importa sim que o
reino de Deus vai ganhar. Já estamos contemplando em nossa
cidade evangelismo em praças públicas ou projetos de

131
evangelismo conjuntos. O ministério “Homens com Honra” é um
exemplo prático no qual mais de 50 denominações se reúnem
para alcançar principalmente homens que não conhecem a
Jesus.

b) Em 2015, passamos a ano-novo no sul da França


(Montpellier), no apartamento de um missionário que havia
convidado outros missionários, todos de uma mesma
denominação muito forte. Ficamos alegres por esse privilégio,
mas ao mesmo tempo tristes por ver aquelas pessoas quase sem
nenhum fruto e sentindo-se solitárias. Eu me questionava: não
seria melhor que se juntassem às igrejas que existiam na cidade
e somassem esforços? Ou que fossem parceiras de missionários
de outras denominações? O reino de Deus não ganharia mais?
Todavia, cada grupo queria exaltar a sua própria denominação e
até, quem sabe, para justificar as doações! E aqui dou outra
sugestão: fazermos missões em parceria com outras
denominações ou ainda enviar missionários para cooperar com
outras obras de Jesus Cristo que já trabalham na região-alvo.

c) Em Vinhedo/SP, foi oficialmente constituída uma casa de


oração chamada Lugar Altíssimo, resultado de uma semeadura
de 20 anos naquela cidade, onde as igrejas locais se mobilizaram
para, em unidade, buscar mais intimidade com Deus por meio
da adoração ao único que é digno: Jesus. Hoje, as igrejas oram
em turnos, e o objetivo é alcançar 24 horas por sete dias. Isto
já tem acontecido em outras cidades. Creio que as denominações
geograficamente próximas poderiam programar reuniões de
oração convocando seus membros.

132
d) Podemos (e devemos) estimular os membros das igrejas
a formar grupos de oração e estudo da Palavra com irmãos de
várias denominações na hora do almoço no trabalho, na
universidade ou em outros ambientes. Seria excelente estimular
esses irmãos ao evangelismo nestes locais, sempre com a visão
do Reino, e não simplesmente no crescimento quantitativo da
“sua igreja”.

e) Em 2016/2017, tivemos oito reuniões mensais em


diversas congregações com a participação de irmãos de várias
denominações e de outras cidades. Havia um grupo misto de
louvor (de várias congregações), um convidado para trazer a
Palavra, muita oração e uma comunhão ao final da reunião, à
qual algumas irmãs levavam “comes e bebes” que eram
colocados numa grande mesa. Era uma alegria, e ficávamos
muito tempo usufruindo a unidade. O que marcava essa reunião
era que sempre se lavavam os pés de alguém. Um exemplo foi
uma irmã que teve os quatro filhos pequenos tirados pela justiça
e enviados a pais adotivos em países da Europa. Isto aconteceu
em larga escala em Jundiaí, e a Igreja se manteve calada,
omissa. Depois de 20 anos, essa irmã conseguiu rever os filhos.
Nós, evangélicos e católicos, pedimos perdão em nome da Igreja
de Jundiaí e lavamos os pés dessa irmã. Nada impede que duas
ou mais congregações tenham esse tipo de reunião
periodicamente para fazer o caminho inverso das divisões. Como
dissemos, são pequenos começos.

f) Hoje, temos visto, principalmente nos Estados Unidos,


entidades para-eclesiásticas fornecendo material para cursos em
áreas carentes das igrejas. Aqui no Brasil, temos, por exemplo,
a Universidade da Família, que oferece material de excelente
qualidade para treinamentos. Podemos unir, num mesmo

133
espaço, irmãos de várias denominações para estudar juntos e
também convidar não cristãos para participar.

g) Cursos para obreiros, cursos de Teologia, cursos sobre


finanças, por exemplo, podem ser organizados por um “pool” de
igrejas com a finalidade de unir seus membros em comunhão.
Atitudes como essa enfraquecem o pai das divisões.

h) Denominações diferentes poderiam fazer parceria com


grupos caseiros (células) nos bairros. Por exemplo, a
congregação A tem três famílias que se reúnem numa casa no
bairro X. A congregação B tem apenas um casal neste bairro X,
que poderia reunir-se na casa dos irmãos da congregação A. Por
outro lado, no bairro Y, a situação é inversa: tem mais irmãos
da congregação B, que seriam completados por irmãos da
congregação A. Claro que os irmãos devem estar preparados
para não tratar de doutrinas e não fazer proselitismos.

i) Em cada reunião da nossa comunidade (que chamamos


de “1C”, pois ela se originou da unidade de quatro comunidades
cujos antigos nomes começavam com “C”; assim, de quatro “C
“, tornamo-nos “1C”), bradamos todos juntos, ao final dos
cultos, as duas principais orações da unidade: a) Maranata, ora
vem Senhor Jesus (em Apocalipse 22.17 e 20, o Espírito e a
esposa – Igreja – dizem juntos: Ora vem, Senhor Jesus. É um
ato profético); b) Bendito o que vem em nome do Senhor (em
Mateus 23.39, juntamente com milhares de judeus cristãos que
em Israel – e em todo mundo - confessam todos os dias
aguardando a vinda de Jesus, reconhecendo-o como o Messias
que o Velho Testamento anuncia). São atitudes simples, mas que
fazem a diferença no mundo espiritual.

134
j) Um desafio mais elevado, mas em casos muito especiais,
é pensar em compartilhar o mesmo prédio para cultos. Uma
pesquisa da ONU, mostra que os prédios evangélicos são os mais
ociosos do mundo: poucas horas usados pela igreja por semana.
Muitas vezes, uma congregação está com orçamento muito
apertado. Por que, então, não propor usar o templo de outra
denominação em horários diferentes? Dividem-se as despesas,
e falamos “sim” para a oração de Jesus pela unidade em João
17. Em nossa congregação, tivemos essa experiência e fomos
muito abençoados.

Uma palavra que temos entendido de Deus é “sinergia”


(ação associada de duas ou mais instituições; ação conjunta;
esforços simultâneos; cooperação de forma que o resultado seja
maior do que alguém agindo sozinho). Outra palavra muito
repetida é que teremos tempos de tribulação, que serão
amenizados para as igrejas que estiverem unidas.

k) Temos participado de vários eventos na busca da unidade


do Corpo de Cristo. Todos ficam maravilhados, mas, ao voltar
para as suas respectivas casas e igrejas, não sabem o que fazer.
Assim, ouvimos irmãos fazendo a mesma pergunta feita a Pedro
em Atos 2.37: ...e ouvindo eles isto, compungiram-se em seus
corações e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: que
faremos, homens irmãos? Em função disso, depois de estudar
várias experiências de unidade do Corpo, preparamos um curso
de 12 aulas (CURSO DA UNIDADE DO CORPO DE CRISTO) que
pode ser encontrado no site www.umemcristojundiai.com.br ou
adquirido pela Editora Pé de Lima (https://pedelima.com.br).

135
l) Em 2017, um grupo de igrejas de Curitiba (Paraná) lotou
a Arena do Atlético Paranaense para engrandecer o nome de
Jesus. Eles chamaram esse evento de “Semana do Avivamento”.
Em 2019, foi feita uma programação segundo a qual cada dia da
semana teria uma reunião de avivamento em cada igreja
participante (Igreja Batista Shalon, Igreja Bola de Neve,
Comunidade Cristã Abba, Comunidade Alcance, Primeira Igreja
do Evangelho Quadrangular, Igreja Videira, Igreja Presbiteriana
Central, Comunidade Vida Plena, Primeira Igreja Batista de
Curitiba e igrejas regionais) e, no sábado, o Culto da Arena.
Experiências como a Marcha para Jesus também são relevantes
para a busca da unidade.

m) Uma iniciativa que os líderes de igrejas podem ter é


convidar outros líderes para cafés da manhã ou refeições em
conjunto. Recentemente, o presbitério de uma igreja organizou
um jantar para pastores e esposas na cidade com a presença de
60 casais. No dia seguinte, um dos organizadores deu o seguinte
testemunho:
Foi simplesmente maravilhoso, uma bênção de Deus! Tudo muito
leve, tranquilo, simples, o salão bonito, bem organizado, o jantar
delicioso. Todos os pastores e esposas presentes estavam muito
alegres, e ninguém parecia preocupado ou chateado. Pedimos para
todos se sentarem ao lado de quem não conheciam, e tiveram um
ótimo momento de comunhão. Não houve pregação ou louvor, pois
o propósito era somente a confraternização. Sugerimos que fossem
visitar outras igrejas, não para pregar, mas para cultuar e ter
comunhão juntos. Todos concordaram, alegraram-se e já
começaram a se organizar para isso. Cremos que muitas barreiras
irão cair na cidade por causa dessa atitude!

n) Por fim, queremos sugerir um período de oração pela


unidade do Corpo. Cremos que vivemos num período de João

136
Batista: de endireitar o caminho do Senhor para a segunda vinda
de Cristo – e nada melhor do que a oração da Igreja para que
isso aconteça.

No anexo deste livro, sugerimos 30 dias de oração e


meditação da Palavra em favor da unidade. Sugerimos, para
cada dia, uma oração e alguns textos das Escrituras. Pode ser
um primeiro desafio. Deus Pai seja louvado em Jesus Cristo!

137
CAPÍTULO 4
UMA PEQUENA COLETÂNEA DE
DEPOIMENTOS SOBRE A DIVISÃO

INTRODUÇÃO

De muitos textos que temos pesquisado sobre a unidade do


Corpo de Cristo, destacaremos dez que mais nos impactaram.
Ao final de cada texto, indicaremos o nome do autor, ou dos
autores.

1) A ORIGEM DE TODAS AS DIVISÕES

Se você já passou por alguma divisão na igreja, está bastante


familiarizado com o terrível turbilhão de emoções e o
inconsolável sofrimento que acompanham essa descida ao
inferno. Se você não tem familiaridade com a experiência, um
grande choque o aguarda: grupos de cristãos outrora bondosos
e unidos se separarão em facções para opor-se uns aos outros.
De repente, manifestarão calúnia, ira, engano, medo, amargura,
ódio, maledicência, falta de perdão, contenda, rebelião e
orgulho.

Qualquer uma dessas atitudes, isolada em um único


indivíduo, seria reconhecida e exposta como pecado. No entanto,
quando ocorrem em massa numa divisão na igreja, são
consideradas de certa forma ”justas”. A ira é redefinida como

138
“lutar por um princípio”. A calúnia e a maledicência agora se
alistam como aliadas “na busca da verdade”.

O epicentro da divisão pode localizar-se em uma única


igreja, mas as ondas de choque são sentidas ao longo de uma
grande área do Corpo de Cristo e em toda a comunidade. As
notícias do conflito são comunicadas em sussurros como quando
ouvimos falar que um membro da família tem câncer. E se trata
mesmo de um câncer – pois a divisão é um sistema de vida
maligno, um falso crescimento autorizado pela ira, pelo orgulho
e pela ambição, em vez da mansidão e paciência de Cristo. É
uma guerra na qual o diabo é o único que realmente vence.

São muitos os motivos para separações na Igreja. As


divisões podem originar-se de confusões relacionadas aos líderes
da igreja. A quem Deus realmente concedeu autoridade final em
qualquer congregação? Às vezes, a raiz do conflito é
simplesmente a ambição mal direcionada de um ou mais líderes
associados. É claro que sempre existe a questão da batalha
espiritual. Com frequência, assim que a igreja começa a crescer
em número de membros ou a desenvolver-se espiritualmente,
surgem conflitos manipulados por demônios.

Talvez, as separações envolvam alguma combinação de


todos os citados. Entretanto, independentemente da fonte de
cada divisão, Jesus avisou que, enquanto nossa casa estiver
dividida, ela “não subsistirá” (Mateus 12.25).

A primeira divisão

Podemos achar que o Senhor não está familiarizado com a dor


de uma divisão na Igreja. Ele está. É provável que você se
lembre de que, antes da criação do homem, o céu passou por
um momento de grande rebelião, uma “divisão” se preferir.

139
Naquele tempo, Satanás era conhecido como Lúcifer ou
Hillel Ben Shahar em hebraico. Hillel vem de Hallel, que significa
louvar, adorar, servir. Ben Shahar significava filho do
amanhecer. A implicação é que Lúcifer era o líder do louvor no
amanhecer da criação. Dotado dos dons de liderança e
criatividade musical, sua posição não lhe bastava. Motivado pela
inveja e ambição, Lúcifer fez com que um terço dos anjos se
rebelasse contra a autoridade de Deus.

O terrível crime de Lúcifer não foi apenas ter-se rebelado


contra Deus – por mais que tenha sido maligno. O pior foi ter
roubado um terço dos anjos por meio da calúnia e do engano.
Considere o poder de sedução e engano deste mestre da divisão:
ele conseguiu convencer um grupo de anjos, que estavam
contemplando a glória resplandecente de Deus, de que eles
conseguiriam vencer uma guerra contra o seu Criador! Em temor
e admiração, eles haviam visto galáxias surgindo pela boca de
Deus. Todavia, de alguma forma, passaram a acreditar que, sob
a liderança de Lúcifer, poderiam derrotar o Todo-poderoso.

Ainda que os anjos rebelados soubessem que Deus era


completamente onisciente de cada pensamento, acreditaram
que poderiam pensar antes dele. Usando discrição, calúnia e
sedução, Lúcifer engendrou descontentamento entre os anjos, a
fim de que todos os prazeres do céu não conseguissem satisfazê-
los. Então, ele os afastou do esplendor inimaginável da presença
de Deus, convencendo-os de que a impenetrável escuridão
externa lhes seria mais satisfatória. Sim, veja o poder de engano
usado por nosso antigo inimigo e imagine se ele não conseguiria
separar bons amigos em uma divisão na Igreja aqui na Terra.

Não sabemos quanto tempo durou a rebelião no céu, e


também não está escrito qual foi o engano que Lúcifer propagou.
A Bíblia apenas concede fugazes reflexões sobre aquela horrível
e cataclísmica divisão. Será que Deus não foi afetado pelo
conflito? Será que o Pai celestial estava perfeitamente distante

140
da dor da separação? Ou será que sofreu algum desgosto quando
os anjos a quem havia concedido o dom da vida se rebelaram
contra ele? Lembre-se de que Deus viu a grande mentira
espalhar-se, infectar cada anjo até que um terço se uniu à
insurreição. Será que a divisão não foi a primeira grande dor no
coração de Deus?

Pense com temor e tremor: antes dessa antiga separação,


o inferno ainda não existia pelo que sabemos. O inferno se
tornou realidade como consequência da divisão, criado para
aqueles que acreditaram na mentira do diabo (Mateus 25.41).

A guerra contra o céu continua – dentro da Igreja

Contudo, embora Lúcifer e suas hostes tenham sido banidos para


os “abismos de trevas” (2 Pedro 2.4), a guerra contra o céu não
terminou. Começando com Adão e Eva, o diabo continuou a
guerrear contra Deus. Na verdade, o conflito que os cristãos
experimentam hoje, de uma forma real, é a continuação desse
grande e primordial conflito. Cada vez que ele divide mais uma
igreja, parte de seu objetivo é atingir novamente o coração de
Deus.

Uma verdade que nos ajudará a derrotar o inimigo é saber


que, quando a Igreja está sofrendo a dor da divisão, o que
parece ser a questão principal geralmente nem vem ao caso. De
fato, quando Lúcifer caiu, do ponto de vista celestial, ele não
manteve mais o nome Lúcifer, mas passou a chamar-se
“Satanás” ou “diabo”. O significado destes dois nomes nos dá
uma ideia da natureza daquilo contra o que lutamos durante uma
separação.

“Satanás” significa “aquele que se opõe ou adversário”. Que


poder fortalece a atitude de confronto daqueles que se opõem à
autoridade estabelecida na Igreja? O poder que reforça a

141
incapacidade de reconciliar-se é satânico e pode infiltrar-se entre
aqueles que discordam e os que estão na liderança. Satanás
ferozmente se oporá à ideia de cura e reconciliação.

O nome “diabo” significa “caluniador”. Caluniar significa


mais do que “falar mal de outra pessoa”. Literalmente falando,
significa “aquele que coloca alguma coisa ou a si mesmo entre
dois a fim de dividi-los”.

O objetivo de Satanás não é apenas falar mal, mas colocar


algo entre as pessoas a fim de dividi-las. A obra de dividir destrói
amizades, casamentos e igrejas. Ele aumentará o que parece
errado em alguém e distorcerá as reações da outra pessoa. Ele
frustrará nossas tentativas de entrar em acordo e dividirá
repetidamente os cristãos com novos assuntos.

Uma das marcas de uma igreja sob ataques demoníacos é


que as críticas do grupo dividido nunca se esgotam: ameniza-se
uma questão, e surgem mais três. Quando Satanás manipula o
grupo dissidente dentro da igreja, as questões que o inflamam
são apenas uma cortina de fumaça para dividir e ganhar a
congregação. Parecem bastante verdadeiras, mas, quando uma
questão se torna mais central para nosso relacionamento do que
a humildade, o amor e a fé, esta questão é de fato uma cunha
enviada para dividir.

A causa mais sutil das divisões

Existem, talvez, muitas fontes de conflitos que levam a divisões


e separações, mas nenhuma delas é mais sutil ou poderosa do
que a ambição religiosa – sobretudo, quando um líder
subordinado começa a imaginar que Deus o chamou para ocupar
o lugar do pastor principal ou do líder do departamento.

Por meio do profeta Isaías, o Espírito Santo nos mostra o


motivo da rebelião de Lúcifer contra a autoridade divina: a

142
ambição egoísta. Manifestando-se sucintamente pela voz e
ambição do rei da Babilônia (Isaías 14.12-14), cinco vezes o foco
do orgulho de Lúcifer expressa a cobiça irrestrita pela
preeminência e posição, até afirmar claramente sua busca de
suplantar Deus como ser supremo adorado no planeta Terra.

Lúcifer não apenas deseja ser semelhante a Deus, mas


também procura “subir ao céu” e estabelecer seu trono acima
das estrelas, que é o local onde o Altíssimo se assenta! O
Apocalipse de João confirma esse objetivo várias vezes ao longo
do livro: Satanás busca ser adorado. Ele busca o lugar de Deus
no céu e o lugar de Deus em nós.

Isso é vital para o seguinte discernimento: Satanás é


basicamente um espírito religioso. Ele não quer destruir o
mundo, mas dominá-lo. Ele colocou um terço dos anjos contra a
autoridade de Deus no céu e manipula a ambição religiosa dos
líderes subordinados, a fim de usurpar a autoridade delegada por
Deus à sua Igreja na Terra.

É claro que o envolvimento de Lúcifer na religião humana é


comum e multifacetado, mas nada que ele faz é mais sutil ou
diabólico do que enganar os bons cristãos a voltar-se contra os
líderes de sua própria igreja. Sempre que procuramos ocupar o
lugar de alguém que Deus colocou em posição de autoridade,
estamos assumindo a imagem de Lúcifer, não a de Cristo.

Oração

“Senhor, perdoa-nos por permitir que as divisões e separações


se tornem tradições profundamente arraigadas no cristianismo.
Confessamos que somos facilmente manipulados pelas falsas
questões. Senhor, faz-nos instrumentos de cura. Ajuda-nos a
trabalhar contigo para unir a Igreja e preparar tua Noiva. Ajuda-

143
nos a enxergar a verdadeira questão: em toda diversidade,
permaneceremos unidos? Em nome de Jesus. Amém.”

Extraído e adaptado de “Divisão, a Igreja a Caminho da


Destruição”, Francis Frangipane, Editora Naós, São Paulo,
2003. Francis Frangipane é pastor titular da “River of Life
Ministries” em Cedar Rapids, Iowa, EUA, e presidente do
“Advanced Church Ministries”. É também autor de vários
livros. Para mais informações, acesse www.frangipane.org.

2) RELACIONAMENTOS DE ALIANÇA

Em nosso círculo de irmãos, amigos e colegas de ministério no


reino de Deus, gastamos muito tempo desenvolvendo
relacionamentos. Às vezes, esse investimento de tempo e
energia parece tão exagerado que se poderia questionar se
realmente é a forma mais eficiente de trabalhar em prol do reino
de Deus.

Recordo-me de uma reunião recente que foi marcada com


meus queridos colegas, Eitan Shishkoff e Dan Juster, cujo
objetivo era justamente resolver algumas áreas de
desentendimento que existiam num dos ministérios sob nossa
supervisão. Como Dan estava um pouco atrasado, por um
motivo que acabou revelando-se muito importante, Eitan e eu
ficamos conversando enquanto esperávamos. Começamos a
questionar se realmente valia a pena investir tanto tempo e
esforços em nossos relacionamentos. Afinal, concluímos que, se
estivéssemos seguindo nossos caminhos independentes, cada
um poderia ter construído um ministério maior e mais famoso;
teríamos obtido mais recursos financeiros, alcançado mais
pessoas e realizado muito mais pelo reino de Deus. Entretanto,

144
ali estávamos nós, em pleno tempo nobre do nosso dia,
esperando o início de uma reunião na qual discutiríamos, mais
uma vez, nossa unidade e nossos relacionamentos. Será que
tanto esforço valia mesmo a pena?

De repente, percebemos que nossa conversa se tornara


improdutiva, e então decidimos orar. Assim que iniciamos o
tempo de oração, fomos visitados por uma poderosa mensagem
profética. O Espírito do Senhor nos disse: “Não estou interessado
nesse negócio de construir ministérios, mas sim em construir um
Corpo”. Imediatamente, o Espírito nos dirigiu a ler Efésios 4.16:
...de quem [Jesus] todo o corpo, bem ajustado e consolidado
pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada
parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si
mesmo em amor.

Embora a sensação fosse de levar um pequeno puxão de


orelhas por causa de nossas dúvidas, a mensagem foi clara e
encorajadora. Foi uma confirmação de que o trabalho de
construir relacionamentos deveria continuar, e temos dedicado
muitos anos da vida fazendo isso. Deus está mais interessado
num organismo que tenha potencial de continuar crescendo
indefinidamente do que na formação de uma grande
organização. Os indivíduos que são discípulos de Yeshua (Jesus)
não são membros de uma organização, mas, como mostra essa
passagem bíblica, partes interligadas de um único Corpo. Cada
um de nós é uma junta ou ligamento trabalhando e crescendo
juntos em amor; cada um de nós é uma parte inseparável de
qualquer outra parte.

A primeira lição deste livro pode ser resumida no seguinte


princípio: CORPO, NÃO MINISTÉRIO. A mentalidade dominante
hoje entre as pessoas que estão servindo na obra do Senhor é a
de tentar construir um ministério como se fosse simplesmente
uma organização, ou construir uma congregação como se fosse
mais um projeto a ser realizado. Se pudéssemos enxergar a obra

145
de Deus como um organismo vivo e dinâmico que alimenta e
estimula o crescimento de cada parte do corpo, a Igreja se
encontraria num estado mais saudável. Em longo prazo, o
crescimento quantitativo nas congregações seria muito maior.

Asher Intrater - Extraído da introdução do livro


“Relacionamentos de Aliança”. Impacto Publicações, 2019
(no prelo).

3) CARTA DE UM PASTOR AO PRESBITÉRIO DA


SUA CONGREGAÇÃO

Queridos irmãos em Cristo,

Há alguns dias, estava meditando e orando a respeito do


Conpas (Conselho de Pastores) em Jundiaí quando me ocorreu
uma palavra que sinto ser do Senhor, a qual submeto à
apreciação dos amados.

Quando se fala em UNIDADE entre os crentes em Cristo,


nós nos lembramos do Salmo 133, João 17 e outras passagens
bíblicas, e praticamente todos concordamos que UNIDADE é
importante. Porém, nossa prática normalmente não condiz com
o que proclamamos crer. Estou me incluindo com sinceridade,
porque o Espírito Santo me mostrou em muitas situações minhas
contradições em relação a amar e realmente considerar-me UM
com meus irmãos em Cristo. Quantas vezes julguei e condenei
irmãos e também não fiz o que deveria para ajudar quem
precisava, inclusive, interceder de coração pelos amados.

Em João 17, o Senhor Jesus fala duas vezes que a unidade


tem a finalidade de levar o mundo a crer, ou seja, para que
muitos sejam salvos. Portanto, a unidade precisa de uma

146
expressão clara e visível perante o mundo. Em outras palavras,
as pessoas ao nosso redor, as autoridades, o frentista do posto,
a caixa do supermercado, os meus vizinhos, precisam VER que
os que creem em Jesus Cristo são unidos. A unidade precisa ser
visível para que as pessoas creiam.

Tenho participado do Conselho de Pastores desde o ano de


1996. Fui presidente por alguns anos e tenho procurado cooperar
por entender que é importante. Porém, nunca antes havia
percebido que o Conpas é a única expressão de unidade cristã
em nossa cidade. Tem falhas sim, e muitas, assim como nossas
denominações e nossas congregações locais, mas é, com todas
essas falhas, a única expressão da unidade que os crentes em
Cristo têm em Jundiaí.

Após esse entendimento, passei a dar muito mais valor aos


nossos ajuntamentos, e fico feliz por hoje termos representantes
das principais e maiores congregações de nossa cidade, assim
como fico feliz por ter também entre nós representantes de
pequenas congregações. Louvado seja o Senhor pela vida de
cada irmão e de cada irmã que têm participado dos nossos
singelos e despretensiosos cafés. Por outro lado, imagino que o
nosso Senhor sorri quando estamos juntos, pois foi essa a sua
oração.

Louvamos ao Senhor e nos regozijamos pelos avanços da


igreja em Jundiaí. Hoje temos muito mais crentes em Cristo em
termos percentuais do que anos atrás. Mas creio firmemente,
baseado na palavra do Senhor Jesus em João 17, que muitos
mais poderão crer se aumentarmos a expressão de unidade em
nossa cidade. Termino parafraseando Números 6.24-26:

O Senhor nos abençoe e nos guarde; o Senhor faça


resplandecer o Seu rosto sobre nós e tenha misericórdia de
nós. Que o Senhor levante o Seu rosto sobre nós e nos dê

147
a paz e uma grande expressão de unidade em nossa
cidade.

No amor de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo.

Francisco Vanderlinde – UMC

4) PALIATIVOS EM VEZ DE UNIDADE

Quando verificamos a questão da unidade na história da Igreja,


temos a sensação de ver alguém tentando inutilmente segurar a
água com as mãos enquanto ela lhe vaza por entre os dedos. A
unidade era um ponto alto no início da vida da Igreja: sua prática
foi efetivamente experimentada; sua importância e seu valor,
conhecidos em primeira mão. Inevitavelmente, porém, essa
unidade declinou quando a Igreja perdeu o seu bem mais
valioso, a comunhão no Espírito, não obstante tentar preservá-
la por meios humanos.

À medida que essa comunhão foi-se desvanecendo, a Igreja


procurou substituí-la por elementos objetivos – pessoas e
normas –, o que trouxe resultados desastrosos como podemos
constatar até hoje. Colocar como centro da vida da Igreja as
melhores pessoas, ainda que escolhidas de comum acordo, ou o
melhor livro, no caso a Bíblia, não produziu a unidade esperada.
Mesmo adotando as medidas mais drásticas e rígidas que se
possam imaginar, ou as doutrinas mais bíblicas possíveis,
sempre haverá discórdias. Nada pode substituir a comunhão.

Embora a Reforma Protestante tenha tentado deslocar o


centro da Igreja, tirando-o das decisões pessoais e localizando-
o na interpretação da Bíblia pretendida “como única regra de fé”,
não logrou êxito em produzir ou preservar a unidade, nem

148
mesmo entre os próprios protestantes. Como o exame da
História atesta, o movimento que nasceu dividido desencadeou
ainda mais divisões. Vejamos: antes da Reforma, houve apenas
uma cisão na Igreja, que separou os ortodoxos dos romanos,
quase mil anos após a igreja primitiva. A segunda foi a própria
Reforma Protestante que veio 500 anos depois desta. Nos
séculos seguintes, de quando em quando, surgiam novos
movimentos e dissidências, cuja frequência foi-se acelerando,
especialmente a partir do século 20. Atualmente, as cisões são
imensuráveis, havendo uma verdadeira explosão. Neste
momento, enquanto é lido este livro, inúmeras novas
denominações dissidentes estão sendo criadas.

Pelas mais variadas formas, a tentativa de conseguir a


unidade ainda tem girado em torno de pessoas e da Bíblia, com
as interpretações que se tem dela. A consequência tem sido a
obtenção de uma unidade apenas relativa entre alguns, que
necessariamente implica a exclusão de outros, resultando num
fracionamento cada vez maior do Corpo de Cristo.

Os cristãos, há séculos envoltos nessa realidade e sem


esperança de solução, passaram a aceitar diversas explicações a
partir da racionalização de que as divisões são inevitáveis ou que
até mesmo representam uma estratégia de Deus para favorecer
a multiplicação do crescimento. Outras mais elaboradas colocam
um manto teológico-filosófico sobre a desunião, como a tese da
“igreja invisível”, desenvolvido a partir de Santo Agostinho.
Todas essas explicações buscam acomodar o assunto em nossa
consciência e acalmá-lo do ponto de vista intelectual. Contudo,
nosso espírito se mantém inquieto e inconformado, não
conseguindo admitir que as divisões se originam em Deus; pelo
contrário, a vontade divina é bem oposta ao apontar para a
unidade na diversidade. Divisão é algo do adversário tanto
quanto a unidade é de Deus.

149
Uma esperança verdadeira

No livro “União através da Comunhão”, o irmão Kokichi Kurosaki,


favorecido por sua cultura oriental ainda não paradigmatizada
pelo cristianismo ocidental, mostra-nos o quão nefasto foi para
os japoneses ver as missões reproduzindo no Oriente os conflitos
existentes entre as denominações de seu país de origem. Elas
rivalizavam sobre as doutrinas, cada qual assegurando estar com
a razão, e assim dificultando o surgimento de novos convertidos,
o que isso é incompreensível devido à contradição estabelecida
com os ensinamentos dos evangelhos. Além disso, parecia-lhes
haver mais de um Jesus, o que causava confusão e desconfiança
entre os evangelizados.

Essa situação levou Kurosaki a refletir e considerar que só


Jesus e a nossa comunhão com ele podem ser o centro da Igreja.
Jesus era quem mantinha os discípulos unidos em torno de si.
Mesmo sua ausência física após a ressurreição não diminuiu a
convicção que tinham, pois, pela comunhão do Espírito Santo,
havia a certeza da presença de Jesus entre eles. Esse, então, era
o ponto que mantinha a igreja primitiva sem divisões.

No entanto, resta ainda saber como identificar um cristão


autêntico para aceitá-lo em nossa comunhão. Kurosaki admite
essa preocupação que sempre intrigou a Igreja e argumenta que
não há uma maneira objetiva de medir e qualificar a fé de uma
pessoa, a ponto de poder afirmar com segurança se ela é ou não
um cristão autêntico. Contudo, ele acha desnecessário deter tal
conhecimento, pois, em última análise, é um julgamento que
compete a Deus, e que os homens não deveriam presumir.

Tanto no aspecto pessoal quanto no coletivo, jamais


podemos ter como base para a unidade um credo, ainda que ele
estabeleça “a comunhão com Cristo e Deus” como regra, pois a
comunhão não é um assunto a ser incluído num credo e produzir
sinais exteriores. Ainda que sejamos ansiosos por elementos

150
objetivos que nos deem sensação de segurança, não é assim
com a comunhão, pois ela é, antes de tudo, algo a ser
experimentado. Se recusarmos qualquer credo, instituição ou
outra realidade exterior como elemento essencial e central,
haverá condições para que nossa união consista unicamente no
amor. Esse amor, manifestado na vida de cada um como produto
da sua confissão de Cristo, proporcionará a mesma manifestação
por meio do coletivo, expressando a unidade do Corpo de Cristo.

Portanto, à medida que cada um eleger como ponto central


da sua vida pessoal e da Igreja a comunhão verdadeira com
Jesus e assim buscá-la, teremos também comunhão uns com os
outros, pois isso significa que cada um verá o que é essencial
sob um único ponto de vista: o de Deus, o que reduzirá a
importância de opiniões e valores particulares. Assim, restaurar
a comunhão é restaurar a unidade. E, por melhores que sejam
os argumentos, nada substitui a unidade. Não é por acaso que
Paulo, depois de muito corrigir os coríntios, escreveu-lhes como
última frase: E a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós
(2 Co 13.13).

Extraído do artigo de Pedro Arruda na Revista Impacto,


número 51.

5) CONCORDANDO EM QUASE TUDO – UNIDOS


EM QUASE NADA

Se houve um encontro entre líderes da Reforma Protestante que


encarnou, mais do que qualquer outro, a heresia que deixaria
sua marca indelével nos séculos de divisão que viriam a seguir,
esse encontro foi o famoso concílio protestante que ocorreu em
1º de outubro de 1529, na cidade de Marburg, na Alemanha.

151
Organizada pelo príncipe Philip de Hesse, que queria formar
uma frente política unida entre os protestantes contra as forças
católicas no restante da Europa, a conferência contou com a
presença da maioria dos reformadores alemães e suíços:
Martinho Lutero e Philip Melanchthon, do lado luterano, e Ulrich
Zwínglio, Martin Bucer e Johannes Oecolampadius, do lado
reformado suíço.

Muitos pontos em comum

Os dois principais representantes do movimento de reforma,


Lutero e Zwínglio, tinham muita coisa em comum. Ambos
rejeitavam a autoridade do papa e se apegavam à autoridade
única das Escrituras; concordavam com a doutrina de
justificação somente pela fé; rejeitavam a cerimônia e a doutrina
da transubstanciação que era praticada na missa católica.

Lutero aceitara o convite com certa relutância, pois via na


teologia de Zwínglio a antiga heresia dos nestorianos que fazia
uma separação entre a divindade e a humanidade de Cristo. Ele
acreditava que havia uma relação direta entre o entendimento
que se tinha da ceia do Senhor e o entendimento de salvação e
da atividade de Deus no mundo. Já, pelo outro lado, Zwínglio
não via impedimentos em estabelecer comunhão com Lutero. Na
conferência, ele orou: “Enche-nos, ó Senhor e Pai de todos nós,
te suplicamos, com teu manso Espírito; e dissipa em ambos os
lados as nuvens de desentendimento e paixão. Põe um fim à luta
de fúria cega… Guarda-nos de abusarmos dos nossos poderes e
capacita-nos a empregá-los com toda sinceridade para promover
a santidade…”.

Durante três dias, a conferência prosseguiu, discutindo uma


lista de 15 itens que Lutero havia formulado. Conseguiram
progresso impressionante nos primeiros 14 itens da lista. Houve
acordo sobre a Trindade, sobre a pessoa, a morte e a

152
ressurreição de Cristo, sobre a justificação pela fé, sobre o
pecado original, sobre o Espírito Santo, sobre o batismo, sobre
a confissão de pecados, sobre as autoridades civis e sobre o erro
do celibato entre o clero.

Mesmo sobre a questão da ceia do Senhor, havia vários


pontos em comum. Dos seis subitens no 15º ponto, houve
acordo em cinco! Concordaram que a doutrina da
transubstanciação estava errada, mas que os participantes
deveriam receber tanto o pão quanto o vinho para participar pelo
Espírito do corpo e do sangue de Cristo. Contudo, quando
chegaram à questão da presença real de Cristo no sacramento,
as discussões atolaram.

Dividindo-se sobre a doutrina do Corpo de Cristo

Zwínglio tinha uma interpretação simbólica enquanto Lutero


citava enfaticamente as palavras do texto: Hoc est corpus meum
(“Isto é o meu corpo”). Ele escreveu essas palavras com um
pedaço de giz em cima da mesa à qual estavam conversando e
recusou-se a aceitar qualquer desvio de seu significado literal.

O argumento de Zwínglio era de que o corpo de Cristo havia


subido ao céu (Atos 1.9) e, portanto, não poderia estar nos
elementos da eucaristia. Cristo estava presente somente no
sentido da sua natureza divina, espiritualmente no coração dos
participantes.

Já para Lutero, as palavras deveriam ser aceitas


literalmente. O corpo e o sangue de Jesus eram realmente
presentes “em, com e sob o pão e o vinho”, sem, contudo,
transformar sua substância, como na transubstanciação. O texto
que Zwínglio e Oecolampadius usaram para responder a Lutero
era: “O Espírito é que vivifica; a carne para nada aproveita” (Jo

153
6.63). O argumento, porém, não causou efeito algum sobre
Lutero.

Para a maioria das pessoas hoje, essa discussão pode


parecer muito trivial; porém, para os reformadores, era uma
questão de enorme significado. Para eles, o que mais importava
para manter a pureza e a fidelidade da reforma na Igreja era a
doutrina, principalmente naquilo que se relacionava com a
justificação pela fé em Cristo somente. A discussão da presença
de Cristo na eucaristia era ligada às duas naturezas de Jesus, a
humana e a divina. Lutero enfatizava mais a união entre as duas
naturezas, enquanto Zwínglio procurava mostrar a distinção
entre elas.

Houve momentos no debate em que o tom era ríspido e


cáustico. Em outros, cada lado procurava pedir perdão pelo uso
indevido de palavras e pela falha em demonstrar o verdadeiro
espírito cristão.

A questão, porém, não era tanto o direito que cada lado


tinha de discordar, mas a atitude de separação que isso gerou
no Corpo de Cristo. Lutero insistia que nenhuma aliança política
era possível sem completa concordância doutrinária. Para ele,
seus oponentes, como Erasmo, estavam permitindo que a razão
humana alterasse as palavras claras das Escrituras. Estavam
exigindo que os cristãos levassem algo de si próprios para
alcançar a salvação. Por essa razão, Lutero dizia que não via
razão alguma para ser mais caridoso com os “falsos irmãos” do
que era com os seus inimigos de Roma. “Um lado nesta
controvérsia pertence ao diabo e é inimigo de Deus”, Lutero dizia
– e ele não estava referindo-se a si próprio!

Fracasso e divisão

154
No final da conferência, apesar de todos os pontos com os quais
conseguiram concordar, Lutero se recusou a dar a destra de
comunhão a Zwínglio e disse a Martin Bucer, de Estrasburgo: “É
evidente que não temos o mesmo espírito!”. A partir daí, ele
também não demonstrou esforço algum para trazer união ou
para tratar seus adversários com amor cristão.

Seja por causa de ambição pessoal, seja por causa do


engano de considerar-se os guardiães da verdade e da doutrina
pura, os líderes dessa primeira cúpula protestante deixaram um
modelo que se tem repetido incontáveis vezes através da
História, causando incalculável dano e divisão ao Corpo de
Cristo.

Por Christopher Walker. Compilado de Christian History,


volumes 4 e 39 (uma publicação do grupo “Christianity
Today, Int”. Carol Stream, Illinois, EUA,
www.christianitytoday.com).

6) A DIVISÃO DOS NÃO-SECTÁRIOS

Alguns cristãos se julgam superiores aos que dizem: “Eu sou de


Cefas”, ou “Eu sou de Paulo”, ou “Eu sou de Apolo”. Dizem: “Eu
sou de Cristo”. Tais cristãos desprezam os outros como sectários
e, por esse motivo, começam outra comunidade. Sua atitude é:
“Vocês são sectários; eu não. Vocês são cultuadores de heróis,
nós adoramos somente ao Senhor”.

Mas a Palavra de Deus não apenas condena os que dizem:


“Eu sou de Cefas” ou “Eu sou de Paulo”, ou “Eu sou de Apolo”.
Ela denuncia de maneira muito definida e clara aqueles que
dizem: “Eu sou de Cristo”. Não é errado considerar-se como

155
pertencendo só a Cristo. É certo e essencial mesmo. Nem é
errado repudiar todo cisma entre os filhos de Deus; é altamente
recomendável. Deus não condena essa classe de cristãos por
qualquer dessas duas coisas; ele os condena pelo próprio pecado
que eles condenam nos demais: seu sectarismo.

Como protesto contra a divisão entre os filhos de Deus,


muitos crentes procuram separar-se daqueles que estão
divididos em organizações humanas sem jamais imaginar que
eles mesmos são divisores!

A base que eles tomam para a divisão pode ser mais


plausível do que a de outros que dividem por causa de diferenças
doutrinárias ou preferências pessoais por certos líderes. Porém,
permanece o fato de que eles estão dividindo os filhos de Deus.
Mesmo quando repudiam o cisma onde ele ocorre, eles são
cismáticos.

Dizem: “Eu sou de Cristo”. Querem dizer que os outros não


são? É perfeitamente legítimo que diga: “Eu sou de Cristo” se a
sua observação significa simplesmente a quem pertence.
Contudo, se significa “Eu não sou sectário, estou numa posição
muito diferente da de vocês, sectários”, então estabelece uma
diferença entre você e os demais cristãos. A própria ideia de
distinguir entre os filhos de Deus tem origem na natureza carnal
do homem e é sectária.

Se consideramos os outros cristãos como sectários


enquanto nos consideramos como não sectários, estamos com
isso fazendo distinção no meio do povo de Deus e, dessa forma,
manifestando um espírito de divisão até no próprio ato de
condenar divisão. Não importa que meio usamos para fazer
distinção entre os membros da família de Deus – mesmo que
seja com base no próprio Cristo, nós nos tornamos culpados de
cisma no Corpo.

156
Qual é, pois, a atitude certa? Toda exclusividade está
errada. Toda inclusão (dos verdadeiros filhos de Deus) está
certa. As divisões denominacionais não são bíblicas, e não
devemos ser partidários dessas atitudes; porém, se adotamos
uma atitude de crítica e pensamos: “Eles são denominacionais,
eu não; eles pertencem a seitas, eu pertenço só a Cristo” – tal
diferenciação é, definitivamente, sectária.

Sim, graças a Deus, eu sou de Cristo, mas a minha


comunhão não é simplesmente com os que dizem ser de Cristo,
mas com todos os que são de Cristo. Não devo me importar tanto
com o que eles dizem, mas com o que são. Não indago se eles
são denominacionais, sectários ou não sectários. Só indago: são
de Cristo? Sendo de Cristo, então são meus irmãos.

Nossa posição pessoal deve ser indenominacional, mas a


base de nossa comunhão não é indenominacionalismo. Nós
mesmos devemos ser não sectários, mas não ousamos insistir
no não sectarismo como condição de comunhão. Nossa única
base de comunhão é Cristo. Nossa comunhão deve ser com todos
os crentes numa localidade, não meramente com todos os
crentes não sectários dessa localidade.

Eles podem estabelecer diferenças denominacionais, mas


nós não devemos fazer exigências indenominacionais. Jamais
devemos fazer diferença entre nós e eles só pelo fato de eles
fazerem distinção entre si mesmos e os outros. Eles são filhos
de Deus, e o fato de fazerem distinção entre si mesmos e outros
filhos de Deus não os impede de ser filhos de Deus. O
denominacionalismo ou sectarismo desses indivíduos significa
que são impostas severas limitações ao Senhor no que tange a
seu propósito e à sua mente em relação a eles, e isso significa
que nunca irão além de certa medida de crescimento e plenitude
espirituais. Bênçãos pode haver, mas plenitude do propósito
divino, nunca.

157
Em todo o tempo, devemos manter uma atitude de
inclusividade, não de exclusividade, para com os crentes que se
encontram em diferentes igrejas denominacionais, pois eles,
assim como nós, são filhos de Deus e vivem na mesma
localidade; portanto, pertencem à mesma Igreja que nós.
Quando usamos o termo “nós” em relação aos filhos de Deus,
precisamos incluir todos os filhos de Deus, não somente aqueles
que congregam conosco. Se, quando nos referimos aos “nossos
irmãos”, não incluímos todos os filhos de Deus, mas somente
aqueles que se reúnem regularmente conosco, então somos
cismáticos.

Não desculpo o sectarismo e não creio que devamos


defender diferenças sectárias entre uma igreja e outra. Porém,
não nos compete induzir as pessoas a deixar sua congregação,
ainda que seja sectária. Se o nosso principal interesse for levar
as pessoas a um real conhecimento do Senhor e ao poder de sua
cruz, então elas se entregarão alegremente a ele e aprenderão
a andar no Espírito, rejeitando as coisas da carne. Verificaremos
não haver necessidade de acentuar a questão das
denominações, porquanto o próprio Espírito as esclarecerá. Se
um crente não aprendeu o caminho da cruz e a andar no Espírito,
que adianta ele sair de determinada igreja? Levará consigo o
sectarismo, que é inerente à carne, para onde for.

Texto extraído do livro “A Vida Normal da Igreja Cristã”,


Watchman Nee, Editora Cristã Unida (edição atualmente
esgotada).

7) AS DESCULPAS MAIS COMUNS QUE DEVEMOS


DESCARTAR SOBRE “PORQUE NÃO PRATICAR A
UNIDADE”

158
Primeira desculpa: “No céu todos seremos um”.

Não há dúvida de que no céu todos nós seremos um, mas


em João 17 Jesus orou insistentemente para que todos sejamos
um aqui na Terra.

A palavra “mundo” aparece 18 vezes nesta oração. Alguns


exemplos:

Verso 11: Já não estou no mundo, mas eles continuam no


mundo... guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles
sejam um...

Verso 15: Não peço que os tires do mundo, e sim que os


guardes do mal.

Verso 21: ...a fim de que todos sejam um... para que o
mundo creia...

Verso 23: …que sejam aperfeiçoados na unidade, para que


o mundo conheça que tu me enviaste...

Como podemos observar, Jesus não está clamando por


nossa unidade no céu, mas na terra, para que o mundo creia.

Segunda desculpa: "Nossa unidade é espiritual, é a unidade


do Corpo místico e invisível de Cristo. Em Cristo, todos os filhos
de Deus já somos um”.

Isso é parcialmente verdade, mas, já que somos um em


Cristo, então devemos viver em unidade e manifestá-la diante
do mundo.

Apresento uma comparação: quando um homem e uma


mulher se casam, Deus os declara "uma só carne". Se em
seguida se divorciam, para Deus eles seguem sendo uma só
carne, pois o vínculo que os une é indissolúvel até a morte
embora estejam vivendo separados.

159
O mesmo acontece com a Igreja no mundo e em cada cidade
do mundo. Somos um em Cristo, mas estamos divididos em
milhares de denominações e "igrejas". A divisão da Igreja é o
escândalo (obstáculo) maior para que o mundo creia. Jesus
clamou pela unidade visível da Igreja diante dos olhos do mundo,
pois este acredita apenas no que vê. Ao ver-nos divididos, custa-
lhe crer. O mundo nada entende de uma unidade invisível e
mística se na prática estamos divididos e às vezes brigados.

Terceira desculpa: “unidade na diversidade”.

O Novo Testamento fala de diversidade de dons, diversidade


de ministérios, mas jamais fala de diversidade de igrejas. Ao
contrário, cada vez que ensina sobre a diversidade de dons e
ministérios, declara que essa diversidade deve funcionar em um
só Corpo.

Em Romanos 12.4-8, Paulo diz no verso 6: ...temos


diferentes dons. Mas o verso 5 afirma: ...somos um só corpo em
Cristo, e individualmente membros uns dos outros.

Em 1 Coríntios 12.4-28, lemos sobre a diversidade de dons,


ministérios e operações (vv.4,5,6). Mas, nos versos 12 a 27, ele
repete 17 vezes a palavra “corpo”: um só corpo (v.12).

Efésios 4.11-16 fala sobre diferentes ministérios, mas


sempre enfatizando “o corpo de Cristo”.

Quarta desculpa: “Somos como Israel: um só povo, mas


dividido em 12 tribos”.

Ora, toda figura do Antigo Testamento que não tem seu


ensino correlato no Novo Testamento não é válida para
estabelecer uma doutrina.

Jesus estabeleceu 12 apóstolos, mas nunca lhes disse que


eles seriam cabeças das 12 tribos da Igreja. Em Jerusalém, cada
apóstolo não formou sua própria “tribo”. Atos fala da igreja que
estava em Jerusalém (8.1).

160
Em Antioquia, havia profetas e mestres (ao todo eram
cinco), mas juntos presidiam a única igreja da cidade (Atos
13.1).

Em Corinto, Paulo corrige energicamente aos que querem


dividir a igreja da cidade alinhando-se atrás de diferentes
apóstolos (1 Coríntios 1.10-13).

Em Efésios 3.14-15, Paulo declara que de um só Pai toma o


nome toda família nos céus e na terra.

Quinta desculpa: a resignação, a falta de fé.

Essa é a desculpa mais difícil de vencer. Muitos dizem que


“seria muito lindo que houvesse uma só Igreja, mas hoje isso já
é algo impossível. Afinal, passaram-se tantos séculos, tantas
diferenças, tantas denominações!”.

Os tais dizem que a unidade é uma utopia. Pode ser uma


utopia, mas apenas para o homem. Se este fosse o plano de
alguns homens, concordo plenamente que seria apenas um
sonho distante, irreal. Porém, não há utopias para Deus.

Precisamos afirmar que este é o projeto eterno de Deus. É


o que Deus propôs fazer na Terra por intermédio de seu Filho
desde antes da fundação do mundo. E nada é impossível para
ele. Por acaso, quando se propôs a criar o vasto universo, foi-lhe
impossível fazê-lo? Ele não fez tudo com a palavra de seu poder?

Humanamente, era impossível que uma mulher virgem


concebesse e tivesse um filho. Mas, como disse o anjo Gabriel a
Maria, nada é impossível para Deus (Lucas 1.17). Portanto, tudo
é possível se você acreditar: Se creres, verás a glória de Deus
(João 11.40).

Jorge Himitian, texto extraído do livro “Dá-me um pouco da


tua Água”, capítulo 2, páginas 37 a 39.

161
8) O QUE OS CATÓLICOS QUEREM DIZER COM
“ECUMENISMO”

Fundamento Bíblico

A desunião entre as diversas confissões cristãs têm sido uma


realidade muitíssimo triste, não obstante se tente justificá-la,
frequentemente, atribuindo-lhe a posicionamentos diversos,
assumidos no decorrer da História. Estes posicionamentos
alcançam, muitas vezes, dimensões de tal vulto – certamente
muito acima da importância determinada pelo bom senso – que
passam a constituir-se em elementos desagregadores, em
obstáculos à concórdia, à comunhão que deveria unir os cristãos
em uma só família. Tais ênfases exageradas, quer sobre pontos
doutrinários, quer sobre maneiras de ser ou de agir, por mais
que se pretenda justificá-las, constituem-se pecado, desde o
momento em que embotam a visão do que é fundamental, do
que é básico e comum a todos aqueles que Cristo deseja ver
unidos no seu rebanho.

Perguntamos: o que vem a ser essencial, ou fundamental,


para a unidade dos cristãos? Respondemos: é tudo quanto as
Escrituras, de uma forma clara e imperativa, nos apresentam
como sendo a vontade de Cristo, expressa por ele mesmo e
reafirmada pelos apóstolos. Na Oração Sacerdotal (João 17),
Jesus intercedeu não apenas pelos discípulos, para que se
conservassem unidos na missão que teriam de desempenhar,
mas também pelos que viessem a crer nele por meio da
evangelização, isto é, por todos nós. Ele enfatizou, diversas
vezes, a necessidade de união nestas palavras: ...que todos
sejam um [...] para que o mundo creia. Nossas divisões infelizes
e, muitas vezes, dramáticas se têm constituído obstáculo a que

162
Cristo e o seu Evangelho sejam aceitos por muitos. Esse é um
pecado grave, do qual todos os cristãos têm participado. O
objetivo de Cristo é reunir em um só corpo todos os filhos de
Deus, que andam dispersos (João 11.52).

Deus é lembrado como Pastor no Salmo 23 (ou 24), e o


Salmo 95 (ou 96) afirma: ...somos seu povo e rebanho do seu
pasto. Jesus, em sua missão divina, encarnou o Pastor que veio
buscar as ovelhas perdidas (Mateus 10.6; 15.24; 18.11-14) e
deu a própria vida por elas (João 10.15). Ele predisse: ...haverá
um só rebanho e um só Pastor (João 10.16). Na parábola em
que Jesus compara os cristãos aos ramos de uma videira (Jo
15.1-8), está bem clara a ideia de que todos estes ramos devem
estar unidos ao tronco, que é Cristo, e consequentemente unidos
uns aos outros, pois formam um conjunto. Só assim a videira
estará completa. Sua ordem é: Permanecei em mim, e eu
permanecerei em vós.

Uma das figuras mais impressionantes sobre a unidade da


Igreja é a do apóstolo Paulo, que a compara ao “Corpo de Cristo”
(1 Coríntios 12). Não é por acaso que ele tece um hino ao amor
no capítulo 13. Um corpo, evidentemente, é formado por muitas
partes, mas todas constituem uma unidade. Não se pode
entender que uma dessas partes, isolada das demais, se
considere o corpo, assim como não se pode aceitar que qualquer
comunidade cristã reivindique a exclusividade de ser a Igreja.
Aceita-se sim que seja parte da Igreja. Em certo catecismo, lê-
se: “A Igreja é o Corpo do qual Jesus Cristo é a Cabeça, e todas
as pessoas batizadas são os seus membros”. Neste mesmo
trecho, Paulo afirma que é o Espírito Santo quem promove a
união deste Corpo, enfatizando ser ...o mesmo Espírito quem
concede, a cada membro, os diferentes dons.

De certa feita, o referido apóstolo teve de advertir os


primeiros cristãos sobre divisões causadas pelo apego exagerado
a certos líderes (1 Coríntios 1). Uns se diziam de Paulo, outros

163
de Apolo, outros de Cefas, porque tinham sido evangelizados por
algum deles. Pergunta então: Acaso Cristo está dividido? (vs.10-
13). Completa afirmando magistralmente: Ninguém se glorie nos
homens [...] porque [...] seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas [...]
tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus. Admitimos que
Deus nos concede a liberdade de o adorarmos e servirmos de
formas diferentes, conforme a maneira de ser de cada um.
Podemos admitir, também, uma enorme diversidade entre
grupos cristãos, o que vem atestar a grande riqueza inerente ao
cristianismo. O que repugna, porém, e não pode ser aceito, é
qualquer tipo de isolacionismo ou exclusivismo, que conflite com
a vontade expressa pelo Senhor a respeito do seu Corpo. Paulo
e Pedro tiveram sérias divergências, mas não se separaram. As
primeiras comunidades cristãs não se excluíam mutuamente,
porque tinham a consciência da sua unidade em Cristo.

Na mesma linha de pensamento, Paulo declara (Efésios 4)


que devemos nos esforçar diligentemente por preservar a
unidade do Espírito no vínculo da paz. Há somente um Corpo e
um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança
da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo,
um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio
de todos e está em todos. Neste espírito de unidade e
fraternidade, o apóstolo João (1 João 4.19-21), escreve: Nós
amamos porque ele nos amou primeiro. Se alguém disse: ‘Amo
a Deus’, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não
ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem
não vê. Ora, temos da parte dele este mandamento, que aquele
que ama a Deus, ame também a seu irmão.

Cremos que, acima de tudo, é importante ter a mente de


Cristo (1 Coríntios 2.16); fazer tudo o que Cristo determina (João
2.5); não desconsiderar o que o Espírito inspira a realizar
(Hebreus 3.7) e ter por objetivo principal colaborar com Cristo
na edificação da sua Igreja (Mateus 16.16-19). Assim podemos

164
afirmar sem hipocrisia: “Creio na Igreja Una...” ou cantar,
honestamente, o hino “Uma só família somos...”.

O que não é Ecumenismo

Antes de avançarmos na compreensão do que é o ecumenismo,


é necessário que fique bem claro o que não é, quer dizer, quais
são as falsas concepções a respeito do assunto, para que não
coloquemos barreiras a essa obra tão importante devido a certos
preconceitos. A honestidade, a sinceridade e a verdade são
pressupostos indispensáveis para que possa existir o respeito
entre os cristãos das diversas igrejas na busca da unidade.

Em primeiro lugar, é importante lembrar que não se pode


falar em ecumenismo a não ser entre igrejas cristãs. Assim
sendo, com budistas, islamitas, espíritas e outros, nós, cristãos,
não podemos buscar a unidade de fé. As concepções religiosas
dessas pessoas não permitem uma caminhada nessa direção.
Respeitamos seu direito de crença religiosa, mas não podemos
abandonar aquilo que para nós, cristãos, é fundamental: Jesus
Cristo, o divino Redentor.

Em segundo lugar, ecumenismo não significa irenismo, ou


seja, não significa querer iludir-nos dizendo que não existem
problemas entre nós, que nossas formas diferentes de encarar
certas realidades da fé, dos costumes, das tradições, não têm
nenhuma importância. Isso seria um equívoco. Antes de tudo,
devemos ser verdadeiros e entender que estamos separados.

Em terceiro lugar, ecumenismo não significa também


simplesmente ceder ou abandonar pontos doutrinários
fundamentais de nossas igrejas. Isto é traição, um erro maior.
Aunidade da Igreja não é obra humana, mas do Espírito Santo
de Deus.

165
Em quarto lugar, não podemos confundir o ecumenismo com
o querer “fundar” uma superigreja, uniforme, com uma única
forma de ser.

Por fim, ecumenismo também não pode ser confundido ou


usado como proselitismo, quer dizer, ter segundas intenções de
aliciar pessoas para a própria Igreja. Isto só cria desconfianças,
problemas e aprofunda cada vez mais nossas dificuldades.

Tendo entendido bem esses pressupostos, agora podemos


compreender, com maior clareza, o que é ecumenismo.

O que é Ecumenismo

Ecumenismo é uma palavra grega que significa “todo o universo


habitado”. Todos os homens são habitantes do mesmo planeta e
experimentam a mesma realidade humana. Assim, surge a
noção da unidade da humanidade. No Novo Testamento (Lucas
2.1), o texto nos diz: “O imperador César Augusto mandou
recensear todo o Império” (em grego: pasan tèn oikomênen),
que significa fazer a contagem de todos os cidadãos do Império
Romano daquele tempo. Em Mateus 24.14, descobrimos o
seguinte: “E a boa notícia sobre o Reino será anunciada no
mundo todo”, ou em grego: en óle te oikouméne. Predomina a
noção de universalismo.

Nos primeiros séculos do cristianismo, a Igreja usou essa


palavra para designar a reunião de seus representantes
provenientes do então conhecido mundo, chamando-a de
“Concílio Ecumênico”.

Também, o conteúdo da fé cristã, os credos ou profissões


de fé que foram desenvolvidos no quarto século, nos concílios de
Niceia em 325 e Constantinopla em 381, são chamados símbolos
ecumênicos, porque expressam a fé universal e comum de todos
os cristãos.

166
Após o surgimento das divisões do cristianismo, anos depois
da visível estruturação das igrejas em comunidades diversas, os
cristãos sensíveis ao apelo de Cristo, que todos sejam um [...]
para que o mundo creia (João 17.21), chamaram os esforços
para a construção da unidade, respeitando a diversidade, de
“movimento ecumênico”.

Ecumenismo é um modo de pensar, um estado de espírito,


uma preocupação e solicitude pela unidade de toda a Igreja que
deve ser comum a todos os cristãos. É uma angústia profunda
sofrida pelo cristão, sabendo que a mensagem de união,
fraternidade e paz anunciada por Jesus Cristo, não sendo vivida
integralmente pelos cristãos, escandaliza os não cristãos.

Ecumenismo é um impulso espiritual e dinâmico,


permanente e não temporário, provocado pelo Espírito Santo,
levando os cristãos a trabalhar organizadamente pela unidade
da Igreja. Tal espiritualidade antagoniza qualquer radicalismo e
fanatismo religioso.

Ecumenismo é a própria missão de Cristo, que veio fazer um


só povo de dois povos, os israelitas e os gentios. Ecumenismo é
a essência do Evangelho, a vida da Igreja, desde o seu
nascimento no Pentecostes, antes, durante e depois das divisões
estruturais históricas.

Ecumenismo não pode visar a uma simples fusão


organizativa, que ficaria no nível do jurídico. Pelo contrário, ela
brota da resposta ao apelo de unidade contido na oração de
Cristo ao Pai (João 17.21) durante a última ceia. Por isso, o
ecumenismo é um esforço de crescimento mútuo na Palavra de
Deus em confronto com os desafios do nosso tempo (cf. “Guia
Ecumênico”, Edições Paulinas, p. 90).

O movimento ecumênico, promovido pela ação do Espírito


Santo, que leva igrejas a renovar-se e cristãos a converter o
coração, visa, por meio da oração e da atividade concreta e

167
organizada, a restaurar a unidade da comunhão visível da Igreja.
Trata-se de um conjunto de atividades e iniciativas provocadas
pelo espírito ecumênico e pela constatação de uma realidade
com tendência sectarista ou com divisões já consumadas,
procurando prevenir ou eliminar as divisões.

As atividades se desenvolvem em três níveis:

1. entre cristãos, no sentido estrito do ecumenismo,


visando a reintegrar na unidade visível a Igreja de
Cristo, dividida estruturalmente em várias comunidades
eclesiais ou igrejas;
2. entre cristãos e adeptos de outras religiões (como por
exemplo, judeus, islamistas...), é mantido diálogo
religioso, não para conquistá-los e torná-los cristãos,
mas para enriquecer e ser enriquecido com dons
espirituais por meio do diálogo e da cooperação nos
campos da área social, de comunicação, da arte; é o
sentido lato do ecumenismo, poderíamos dizer.
3. entre crentes e descrentes (ateus). No sentido mais lato
ainda, mantemos diálogo que leva a maior compreensão
e liberdade religiosa e à cooperação na luta pelos direitos
humanos.

O ecumenismo tem a sua base teológica. Lembramos que


Cristo fundou uma só e única Igreja. Mas existem várias
comunhões cristãs que se apresentam como legítima herança de
Jesus Cristo. Todas essas igrejas caminham por rumos diferentes
como se o próprio Cristo estivesse dividido (Decreto sobre
Ecumenismo, Vat. II). As divisões contrariam a vontade
expressa de Cristo: Que todos sejam um... (João 17.21).
Também, essas nossas separações prejudicam a evangelização
dos povos: ...para que o mundo creia que tu me enviaste (João
17.21). Tantas igrejas diversas e separadas dão um escândalo
ao mundo. Os não cristãos e descrentes, vendo nossas divisões,
não podem acreditar em nossa mensagem de amor, paz, união

168
e fraternidade. Essas divisões contradizem a vivência dos
primeiros cristãos que, crentes em Jesus Cristo, estavam juntos
[...] perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em
casa, e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de
coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o
povo (Atos 2.42). Essa comunidade era atrativa, e, a cada dia,
novos adeptos aderiam à Igreja.

A unidade essencial, porém, não foi quebrada. A Igreja


continua a ser uma, santa, universal e apostólica de modo
invisível e espiritual. O batismo une todos no Corpo de Cristo.
Todos invocam o uno e trino Deus, confessam a Cristo como
Senhor e Salvador não só individualmente, mas também em
assembleias.

As divisões atingem os aspectos acidentais e estruturais da


Igreja no que se refere à sua sacramentalidade e manifestação
visível: estruturas de organização e estruturas doutrinárias
(enunciação da mesma fé de maneira divergente, parcial e
falha).

As próprias divergências teológicas não seriam tão graves


se houvesse unidade de organização hierárquica. Há uma grande
variedade de tradições, culturas, mentalidades, costumes,
filosofias, que levam a um pluralismo de expressões da única e
mesma fé, sem necessidade de romper a unidade visível.

Finalmente, ecumenismo exige oração e diálogo. Também,


devemos estar dispostos a ceder em pontos não essenciais e a
ouvir renovadamente a verdade de Cristo. Devemos reconhecer-
nos como irmãos. A reconciliação abre caminhos. O perdão libera
forças capazes de mover montanhas. Cristo nos chama adiante.
Nele, a unidade é possível. E sem ele, nada podemos fazer (João
15.5). Mas não esqueçamos: a unidade, além de dom de Deus,
é também tarefa nossa. Ela é, em primeiro lugar, um presente
do alto; essa dádiva, porém, deve despertar uma resposta de fé

169
que saia do fundo do coração. O motivo mais profundo da
unidade é Cristo, presente na Igreja. E a força que nos arrasta
em direção à unidade é o Espírito Santo, que o próprio Jesus nos
enviou (“Guia Ecumênico Popular”, Edições Paulinas, p. 62).

A caminho da Unidade

As primeiras tentativas de estabelecimento de confissões


protestantes no Brasil (com os franceses, que vieram fundar a
França Antártica, no Rio de Janeiro, e com os holandeses em
Pernambuco, ambos calvinistas), encontraram, da parte da
Igreja Católica Romana, grande hostilidade, o que era comum,
de ambos os lados, naqueles dias.

Outras notícias sobre protestantes no Brasil só vieram a ser


registradas a partir de meados do século 19, quando do
estabelecimento das primeiras comunidades reformadas. Fato
curioso ocorreu em 1868. Na Faculdade de Direito de São Paulo,
um grupo de estudantes se reuniu “com o fim de estudar os
preceitos da religião católica e lutar em sustentação deles contra
os erros protestantes”. Houve um debate promovido por esses
moços com pastores no qual não foi dada aos pastores a
oportunidade de expor seus pontos de vista. Anos depois,
Joaquim Nabuco, que se formara no grupo daqueles estudantes,
“penitenciou-se nobremente dessa falta” com estas palavras: “É
preciso que me confesse desse pecado dos meus 17 anos...
Desde então, senhores, eu abomino a intolerância com o ódio do
remorso...”.

Dentre outras entidades protestantes, de caráter


ecumênico, que se estabeleceram no Brasil, em fins do século
passado e início deste, encontram-se o Instituto Mackenzie e a
Associação Cristã de Moços “com amplitude necessária para
atender pessoas das mais diferentes confissões”.

170
Em 1929, o pastor presbiteriano Erasmo Braga, quando
procurava o sentido da união entre os cristãos, com grande
arejamento, escreveu o seguinte: “...onde não houver
sectarismo, haverá enriquecimento na liturgia, na experiência
acumulada, nos tesouros de piedade e no aproveitamento de
recursos”. Não obstante o clima de hostilidade entre católicos e
protestantes, naquela época, muitos foram os casos de amizade
entre padres e pastores. Também, diversas foram as
publicações, dentre elas a revista Cristianismo, que contribuíram
para o ideal da unidade.

A partir de 1962, tiveram início em várias cidades, por


ocasião do Pentecoste, as celebrações da Semana de Oração
pela Unidade Cristã, com adaptação para o Brasil de temas
escolhidos por uma comissão mista formada por representantes
católicos do Secretariado do Vaticano para a Unidade dos
Cristãos e membros do Conselho Mundial de Igrejas. Na mesma
época, foram fundados centros ecumênicos em Curitiba, no Rio
de Janeiro, e organização semelhantes em outros lugares.

A Sociedade Bíblica do Brasil, estabelecida em 1948, veio a


contribuir de forma decisiva para tornar a Bíblia um livro
muitíssimo difundido pelas diversas comunidades evangélicas.
Recentemente, os preconceitos que existiam com referência às
edições católicas e protestantes da Bíblia estão sendo superados.
Além de as Bíblias editadas pela Sociedade Bíblica do Brasil
serem aceitas pela Igreja Católica, há edições preparadas em
caráter ecumênico como, por exemplo, a Bíblia de Jerusalém,
que é resultado do trabalho conjunto de peritos de diversas
confissões.

Estão em desenvolvimento, a exemplo do que acontece nos


estados do Paraná e Santa Catarina, programas ecumênicos para
educação religiosa nas escolas públicas. Da mesma forma, são
inúmeros os projetos de promoção humana que estão sendo
executados ecumenicamente em toda parte.

171
À semelhança do que acontece em outras cidades, reúne-
se, em São Paulo, o Conselho de Fraternidade Cristão-Judaica,
cujos objetivos são superar preconceitos e estabelecer
relacionamento fraterno entre cristãos de várias confissões e
judeus.

O Movimento de Fraternidade de Igrejas Cristãs – Mofic está


desenvolvendo programações ecumênicas tais como encontros
para oração e estudo e projetos de âmbito social. Essa entidade
atua em São Paulo.

De importância para o movimento ecumênico, tem sido a


fundação do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – Conic, cujo
objetivo principal é “estabelecer uma associação fraterna entre
as igrejas que confessam o Senhor Jesus Cristo como Deus e
Salvador segundo as Escrituras”.

Folheto “Que Todos Sejam Um – Reflexões Sobre o


Ecumenismo”. Texto preparado por uma comissão composta
de representantes do Movimento de Fraternidade de Igrejas
Cristãs – Mofic, e da Comissão de Ecumenismo e Diálogo
Religioso da Arquidiocese de São Paulo – Cedra.

Requisitos básicos para a prática da Unidade

-Toda pessoa necessita da graça salvadora de Jesus Cristo.

-Essa salvação somente é realizada mediante a morte e a


ressurreição de Jesus Cristo, o único mediador entre Deus e a
raça humana.

-Essa salvação é recebida mediante a fé em Jesus Cristo.

-Jesus Cristo é o eterno Filho de Deus.

-Em sua ressurreição e ascensão, Jesus é Senhor de tudo, tendo


toda a autoridade nos céus e na terra.

172
-No Pentecoste, o Espírito Santo de Deus foi derramado sobre
toda a Igreja.

-A plenitude do Espírito Santo derramado em Pentecostes está


disponível hoje.

-Deus fala aos crentes (cristãos) hoje por meio de seu Filho.

-As Escrituras são a Palavra de Deus inspirada.

-O evangelismo é uma ordem do Senhor para a Igreja.

-O propósito de Deus é ter um povo unido, formando um só


Corpo sob a cabeça, que é Cristo, para glorificar o Pai de todos.

Pe. Peter Hocken. Texto extraído do livro “Reconciliação: O


Segundo Toque”; Conclusão, p. 237.

Peter Hocken. One Lord, One Spirit, One Body – Ecumenical


Grace of The Charismatic Movement. The Word Among Us
Press, Gaithersburg, Maryland, USA e The Paternoster
Press, Exceter, Devon, Great Britain; 1987.

9) ANDAR JUNTOS COMO A ORIGEM DE TODOS


OS ACORDOS

O testemunho da unidade entre os homens é forte e eficaz


porque reflete o ambiente da Trindade. O fato de Deus ser "trino"
faz toda a diferença em relação a como creem os judeus e os
muçulmanos, e precisamos redescobrir esse valor e significado.

O profeta Amós faz uma série de perguntas em seu livro, às


quais se sugere uma resposta negativa. Dentre elas, está:
Andarão dois juntos, se não houver entre eles acordo? (Amós
3.3). Muito se pensa que, para andar juntos, deve-se concordar

173
com tudo, mas na verdade o acordo indispensável é apenas o de
andar juntos para então, unidos, enfrentar as questões que
surgirem. É o que acontece no casamento, pois o casal promete
ficar junto sob todas as circunstâncias, sem saber o que virá pela
frente, haja o que houver. Assim, não é concordar em tudo para
andar juntos, mas concordar em andar juntos para resolver as
coisas. Não haverá concordância em tudo. Temos e teremos
diferenças, mas isso não justifica quebrar a aliança inicial de
continuar juntos.

Essa determinação implica na presença de Deus nessa


aliança como modelo, fiador e sustentador do acordo. Uma
aliança exige pelo menos três partes para juntar seus pontos.
Sem a presença de um terceiro, a relação é apenas bilateral, e a
representação gráfica é de duas retas paralelas que nunca se
encontram. A terceira ponta fará com que as outras duas se
unam. Eclesiastes 4.12 diz: Se alguém quiser prevalecer contra
um, os dois lhe resistirão; o cordão de três dobras não se rebenta
com facilidade. Quando Deus está presente, ele mesmo afiança,
é o modelo e sustenta esse pacto.

Quando Paulo diz: Sede meus imitadores, como também eu


sou de Cristo (1 Coríntios 11.1), ele afirma que devemos imitar
a Cristo da mesma forma como ele próprio o faz. Então, o nosso
modelo não é Paulo, mas o próprio Cristo. Também, quando
Deus diz: Sede santos, porque eu sou santo (1 Pedro 1.16), isso
parece algo muito distante da nossa realidade, mas essa é a
nossa referência. Logicamente, Deus não espera que alcancemos
por nós mesmos uma santidade igual à dele, mas ele não abre
mão de ser o modelo dessa santidade. Assim também acontece
com tudo o mais que ele diz em sua Palavra, sempre se
colocando como padrão para nós.

Quando temos Deus como padrão, não se aplica a


contabilidade de prejuízos e vantagens na relação. No
casamento, por exemplo, quando lemos em Efésios que o marido

174
deve amar a mulher como também Cristo amou a igreja e a si
mesmo se entregou por ela (5.25), o marido não pode vincular
o seu amor à esposa ao nível de obediência dela, mas comparar-
se com o amor de Cristo pela Igreja. Isto também vale para a
esposa, que não deve limitar sua obediência ao amor que recebe
do marido, mas sim ao que recebe de Cristo. Assim, não é amar
a esposa apenas se ela for muito submissa. A relação não é o
quanto ela é obediente, mas o quanto Cristo amou a Igreja. O
que merecíamos? O que Cristo fez para nos salvar? Qual foi o
tamanho do seu amor para conosco?

Outro exemplo: imagine que você tenha assumido o


compromisso de comparecer a doze reuniões no decorrer do ano.
Quando chega em novembro, percebe que compareceu a todas
as dez anteriores, mas outro irmão faltou a três, e outro, a
quatro. Então, você se julga no direito de faltar às demais
restantes, pois "está com crédito", está "acima da média". Isso,
em um acordo ou aliança humana, é comparar-se com o outro.
Contudo, o que Deus ensina não é que não devemos comparar-
nos com o outro, mas com ele. Jesus foi a todas as reuniões às
quais você compareceu e também irá às próximas. Assim, se a
sua relação é com Jesus, você não está com crédito.

Sem Cristo como padrão em nossas relações, quando nos


julgamos com crédito também nos sentimos no direito de revidar
ou ficamos eternamente como subalternos na relação. Tudo o
que fazemos ao outro numa relação de aliança é a Deus que
fazemos, e tudo o que recebemos nessa relação também é dele
que recebemos.

Quando olhamos para Cristo, melhoramos nossa fidelidade,


pois sabemos que ele é o fiador da nossa aliança. Não há nada
que possamos fazer para Deus que não passe pelo outro, e vice-
versa. Assim, ter Cristo como nosso modelo é compreender que
o mesmo ambiente que existe na Trindade também existe em
nossas alianças, em nossa unidade. Quando alguém está

175
querendo fraquejar, ao olhar para Cristo conseguirá manter sua
aliança e superar esse momento.

Estou convencido de que casais permanecem casados não


por causa das facilidades ou não existência de problemas, mas
porque se determinaram a assim permanecer. Problemas
sempre haverá. Já vi casais se separarem por coisas à toa, ao
mesmo tempo em que vi muitos enfrentarem grandes problemas
e continuarem juntos. Uma aliança que tem Deus como modelo
e fiador é forte, não se desgasta, é permanente porque está
alicerçada na Rocha.

Sem compreender o sentido da aliança em Deus, nossa


unidade ficará muito frágil e reduzida a um acordo, no qual a
quebra de uma única cláusula autoriza o outro a rescindi-lo. Mas
isso é apenas um contrato humano; não é aliança, não é
unidade. Cristo jamais infringirá uma cláusula que ele mesmo
nos prometeu. E da mesma forma não temos o direito de fazê-
lo.

Com certeza, há muitas coisas diferentes entre nós. Muitas


delas, julgamos importantes e até fundamentais e gostaríamos
de vê-las mudadas em nossos irmãos. Mas parece que a
prioridade de Deus é diferente da nossa. Andar juntos pressupõe
um acordo inicial e permanente que se faz entre aqueles que
creem na mesma Pessoa imutável, e não em algo ou
circunstâncias que podem ser mutáveis.

Pedro Arruda. Artigo: “A Unidade da Igreja como Profecia e


como Missão”.

10) IGREJA SINFÔNICA: HARMONIA E UNIDADE


NAS ESCRITURAS

176
O entendimento da dinâmica de uma orquestra nos permite, por
analogia, compreender a recomendação bíblica de unidade da
Igreja. Encontramos, nas orientações de Paulo à igreja em
Corinto, um zelo semelhante ao do maestro em uma orquestra.
Aquela comunidade local enfrentava grande desarmonia
justamente porque não conseguia vivenciar a sua diversidade de
dons a partir da unidade do Corpo de Cristo. Por isso, Paulo tece
várias considerações, que podemos resumir em alguns princípios
muito próximos da realidade das orquestras.

Primeiro, o apóstolo destaca a Trindade como a regente da


diversidade de dons. Juntamente com a afirmação da
diversidade de dons, serviços e realizações, Paulo lembra que o
Espírito é o mesmo [...] o Senhor é o mesmo [...] é o mesmo
Deus quem efetua tudo em todos (1 Coríntios 12.4-6). Podemos
inferir, a partir dessas palavras a intenção de encontrar
justamente na igualdade entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo a
condição única para a harmonização da diversidade
característica da vida cristã. Desse modo, a Trindade é o maestro
da orquestra chamada Igreja. Isso significa dizer que, nela, em
sua natureza específica, encontramos o modelo para
compreender a melhor forma de lidar com as complexidades
“rítmicas” das relações interpessoais e os muitos andamentos
que elas podem assumir.

A doutrina da Trindade, exclusiva do cristianismo, é uma das


melhores formas de afirmar a pessoalidade de Deus em
contraposição às concepções impessoais de Deus encontradas
em outras religiões ou outros sistemas filosóficos. Ela também
fornece a descrição do modo como Pai, Filho e Espírito Santo se
relacionam. Ou seja, na Trindade, encontramos o padrão de
realização da tarefa da Igreja no mundo, assim como na
orquestra o maestro tem nas mãos a responsabilidade de
interpretar a composição. Da mesma forma, a Igreja toma

177
consciência de sua natureza e missão ao compreender o ser de
Deus e a responsabilidade de cada pessoa da Trindade como um
aspecto da gestão da criação — tudo isso de forma harmônica,
com beleza e naturalidade.

Para descrever essa dinâmica típica do relacionamento entre


as pessoas da Trindade, alguns teólogos da antiguidade usaram
a imagem de uma “dança” das três pessoas da divindade (a
perichoresis), na qual se conserva a individualidade de Pai, Filho
e Espírito Santo ao mesmo tempo em que se afirma que os três
compartilham a vida uns dos outros. Em síntese, na doutrina da
Trindade, temos unidade e diversidade harmonizada, servindo
como o princípio mais fundamental para a regência da vida em
igreja.

Segundo, o apóstolo reconhece a diversidade “sonora” de


competências na Igreja. Mesmo convicto da unidade que a
Trindade conferia à comunidade cristã, Paulo deixa claro que
essa coesão é composta a partir de instrumentalizações
espirituais diferentes no meio do povo de Deus. Essa ênfase
autoral é visível até mesmo nas palavras que o apóstolo utiliza.
Além de repetir três vezes o termo “diferentes”, ele ensina: Há
diferentes tipos de dons (charismátôn); Há diferentes tipos de
ministérios (diakoniôn); Há diferentes formas de atuação
(energêmatôn) (1 Coríntios 12.4-6). Nisso, fica evidente a
diversidade na dinâmica da vida em comunhão cristã. Não
apenas existe variedade nas formas de vida cristã, como elas
são distribuídas de maneiras diversas: em dons, ministérios e
formas de atuação distintas.

Na orquestra chamada Igreja, a harmonização não significa


uniformização, nem depende dela, justamente porque o maestro
é o Deus trino revelado nas Escrituras. A unidade e a harmonia
do Corpo de Cristo não decorrem de uma uniformização em
formas de atuação, ministérios e dons espirituais. Pelo contrário,
é precisamente por que, na unidade da divindade, há três

178
pessoas de mesma substância, poder e eternidade que sua
Igreja precisa demonstrar tal dinâmica no mundo por meio de
sua atuação variada, coesa e bela. Qualquer tentativa de impor
uma unidade artificial, pela adoção de um padrão monótono,
representa distanciamento dos planos originais de Deus para a
sua Igreja, sem falar no empobrecimento dela.

Seria bastante estranho assistir a uma apresentação da


nona sinfonia de Beethoven em que estivessem presentes os 200
músicos da orquestra, mas só fosse possível ouvir o som dos
violinos. Da mesma forma, uma igreja não é feita apenas com
um ministério, um dom ou uma forma de operar no mundo (1
Coríntios 12.29,30). Isso vale para os cristãos históricos e sua
ênfase no ministério da pregação, para os pentecostais e a
importância que dão ao dom de variedade de línguas, e para os
adeptos da missão integral e sua forma de atuar no mundo não
cristão. Cada um precisa empenhar-se para tocar bem seu
instrumento (cf. 1 Coríntios 12.31), mas não à custa de abafar
as outras manifestações da multiforme graça de Deus derramada
sobre a Igreja.

Terceiro, o apóstolo encontra no bem comum o objetivo


das manifestações do Espírito na Igreja. De acordo com Paulo, a
cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao
bem comum (1 Coríntios 12.7). Aqui, dois aspectos saltam aos
olhos. Em primeiro lugar, cada membro da Igreja de Cristo
recebeu algo do Espírito Santo. Isto é, não existe a divisão em
duas classes, a dos “ungidos” e a dos “não ungidos”. Pelo
contrário, fica evidente o que os reformadores chamaram de
“doutrina do ofício de todos os crentes”, o ensinamento de que,
na comunidade cristã, não existe um grupo apenas de oficiais
ungidos e separados para todo serviço cristão. Na verdade, cada
crente em Jesus tem uma vocação, uma tarefa missional vital
que precisa ser exercida. Quando cada um de nós cumpre o
chamado que recebeu, esse serviço é oficialmente um trabalho

179
ministerial no reino de Deus por meio da sua Igreja. Em segundo
lugar, o motivo que justifica todos os crentes receberem um dom
do Espírito é o bem comum. O termo em grego escolhido pelo
apóstolo para comunicar essa ideia (symphero) transmite a
noção de trazer junto de si algo proveitoso, conveniente para
todos. Aqui, a imagem da orquestra é mais uma vez ilustrativa.
As diversas capacitações dos instrumentistas não têm valor em
si mesmas por mais espetaculares que sejam. Tanto na
orquestra quanto na Igreja, a beleza está na harmonia da
performance da multidão de instrumentos. Caso contrário, não
seria necessário haver uma orquestra; bastava um solo. Ou,
ainda, como afirma o reformador holandês Abraham Kuyper
quando fala da obra do Espírito Santo na Igreja:

Seu propósito não é meramente agradar ou enriquecer


indivíduos, muito menos dar a uns aquilo que nega a outros,
mas, com pessoas assim dotadas, adornar e favorecer a
Igreja toda. Nós não colocamos uma lâmpada na mesa para
favorecê-la de maneira especial ou porque ela seja melhor
do que a cadeira ou o fogão, mas simplesmente porque
assim ela cumpre seu propósito e toda a sala é iluminada.

Compreender essas verdades é um desafio de primeira


grandeza para a Igreja de Cristo em todas as épocas.

A Igreja monótona: desarmonia e desunião no


evangelicalismo brasileiro.

Com base nos termos que estamos utilizando, é possível dizer


que os evangélicos no Brasil não alcançaram a harmonia em suas
diferenças. Pelo contrário, cada um vive em permanente conflito
com os outros. É semelhante a uma orquestra de ponta, em que
seus instrumentos estão empenhados em tocar da melhor forma,
mas, na hora em que se reúnem, nem que seja para um ensaio,
ninguém consegue distinguir a música que está sendo tocada (cf.

180
1 Coríntios 14.7,8). Assim, a Igreja Evangélica brasileira mais se
parece com a reunião de vários solistas tocando ao mesmo
tempo, o que é extremamente desagradável de se ouvir.

Essa desarmonia descreve o cenário evangélico brasileiro.


Ainda que haja indivíduos envolvidos com excelência nos
diferentes ministérios, não há unidade entre eles. Ao contrário,
existe muita competitividade para convencer os ouvintes de que
o violino é mais importante do que a flauta. Muitos que exercem
o ministério profético, denunciando as injustiças sociais e
apontando as idolatrias do povo, acreditam que seu trabalho é
mais urgente do que aquele dedicado ao ensino ou à
evangelização. O mesmo acontece com quem se dedica à arte,
à teologia, à evangelização e à missão urbana ou transcultural.
Vemos um exército de virtuosos empenhado em fazer que o
resto dos instrumentistas – e o mundo fora da Igreja – se
convença de que a sua causa específica é a mais importante.

Esse é o som que a Igreja faz ecoar atualmente no Brasil.


Produzimos acordes de um virtuosismo isolado, e não
demonstramos capacidade de elaborar arranjos diferentes e
criativos que componham uma melodia executada por mais de
um só. Da mesma forma que uma orquestra com essas
características teria uma sonoridade irritante, a postura da
Igreja Evangélica em nosso país soa desagradável. Além de
denunciar nossa falta de harmonia e capacidade de
reconhecimento entre irmãos, gera culpa e dúvida no coração
das pessoas, que então passam a questionar o valor dos seus
dons e de seu ministério em razão das falsas urgências
proclamadas.

Na teoria musical, a harmonia possui três funções


principais: a tônica, a dominante e a subdominante. A primeira
transmite a sensação de estabilidade e finalização; a segunda,
ao contrário, traz instabilidade e tensão; enquanto a última é a
preparação para sair de uma e ir para a outra. Quando essas

181
funções estão corretamente relacionadas, alcançamos um
resultado harmônico. Isso significa que existem acordes
específicos com uma função harmônica particular, e que não é
possível omiti-los sem comprometer toda a música. Mesmo no
caso de uma improvisação, um solo ou algo dessa natureza, é
necessário que tudo aconteça dentro do campo harmônico
apropriado.

A mesma dinâmica precisa ser vivida no Brasil. Sem reduzir


as ênfases que uma igreja pode assumir, podemos dizer que
existem enfoques ministeriais e denominacionais que exercem a
função dominante de criar tensão e instabilidade em seus
ouvintes. São os ministérios proféticos de denúncia do pecado,
da idolatria e da injustiça. Mas eles precisam das funções
subdominantes para “resolver” aquela melodia; caso contrário,
tornam-se uma trilha sonora de filme de terror, na qual apenas
duas notas causam a sensação de pânico. São os ministros de
auxílio, que contribuem para a Igreja alcançar sua função tônica,
de estabilidade, repouso e finalização.

A Igreja no Brasil não precisa de um maestro, nem de


músicos virtuosos, pois já temos ambos. O que falta é harmonia.
Essa relação adequada entre os sons simultâneos na execução
fiel da composição trinitária só será possível quando cada músico
desenvolver a capacidade de tocar seu próprio instrumento sem
se fazer de surdo aos que estão ao redor, sem abafá-los e sem
menosprezar ou hostilizar quem toca instrumento diferente. Para
isso, nossa hipótese é que necessitamos de uma base relacional
forte que, em seguida, assumirá contornos proféticos, plurais,
genuinamente evangélicos, católicos, apostólicos e
demonstrativos.

Pedro Lucas Dulci e outros. Do livro “Igreja Sinfônica: Um


chamado radical pela unidade dos cristãos”. Editora Mundo
Cristão, 2016; pp. 18 a 23.

182
CAPÍTULO 5
UMA PROPOSTA DE GUIA DE
ORAÇÕES E REFLEXÕES SOBRE A
UNIDADE DO CORPO DE CRISTO

A SÚPLICA DE JESUS

Jesus, no evangelho de João, capítulo 17, roga ao Pai por seus


discípulos dizendo: E eu já não estou mais no mundo, mas eles
[discípulos] estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda
em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim
como nós (v.11).
No verso 20, Jesus diz que não rogava somente por seus
discípulos naquele momento, mas também por aqueles que
viriam a crer nele por intermédio da Palavra de Deus.
Nos versos 21 a 23, assim como ele clamou pelos discípulos
que o reconheciam como o Enviado do Pai (v.8b), também
clamou por nós:
Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e
eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o
mundo creia que tu me enviaste. E eu dei-lhes a glória que
a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um.
Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em
unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste
a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a
mim.

ORAR CONCORDANDO COM JESUS

183
Cremos que a volta de Jesus é eminente. Sabemos que ele quer
ser esposo de uma “noiva gloriosa” – sem mácula (mancha),
nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e sem defeito
(irrepreensível) (Efésios 5.27). Uma noiva pura e perfeita!
Sabemos, porém, que esse não é o estado da Igreja neste
momento. Contudo, o Pai quer atender a oração de seu Filho
amado. Nosso propósito, então, é orar com Jesus, concordando
com ele. No entanto, alguns irmãos, quando convocados a orar
pela unidade do Corpo de Cristo, encontram alguma dificuldade
de expandir esse tema à luz da Palavra de Deus.
O objetivo desse material é auxiliar na descoberta de
partes da Bíblia Sagrada que, direta ou indiretamente, falam
sobre a unidade do Corpo. Por exemplo, a Palavra de Deus nos
estimula a preservar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz
(Efésios 4.13). Portanto, a unidade do Espírito já existe embora
não estejamos diligentemente procurando guardar essa
verdade.
Além de 31 propostas (a ideia seria para um mês) de
modelos de orações pela unidade, destacamos nos rodapés
alguns textos bíblicos para reflexão que deram fundamento às
orações propostas. Ao lermos os versículos sugeridos,
certamente a nossa oração será ampliada e mais eficaz.

ORAÇÃO DOS SANTOS (por Asher Intrater)

Nossas orações sempre se transformam em fogo. Quando


estamos intercedendo, elas sobem como incenso, chegam aos
céus, vão se acumulando lá e, aos poucos, começam a
transformar-se em fogo no altar de Deus.
Quando o incensário do Senhor estiver cheio, os anjos as
tomarão (as orações) e jogarão de volta para a Terra em forma
de fogo, relâmpagos, trovões e terremotos:

184
Veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar, tendo um
incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para que
o oferecesse com as orações de todos os santos sobre o
altar de ouro que está diante do trono. E da mão do anjo
subiu diante de Deus a fumaça do incenso com as orações
dos santos. Depois do anjo tomou o incensário, encheu-o
do fogo do altar e o lançou sobre a terra; e houve trovões,
vozes, relâmpagos e terremoto. (Apocalipse 8.3-5; grifos
nossos)
Portanto, nós precisamos ser os agentes ativos que
provocarão os acontecimentos dos últimos dias. Nada acontecerá
se não orarmos! À medida que continuamos a orar, nossas
orações se transformarão em poder e fogo espiritual que
liberarão o poder de Deus sobre a Terra, estrategicamente
atiradas como “bombas inteligentes” pelos anjos.
Então, precisamos aprender a orar de forma que nossas
orações possam sacudir a terra, sacudir os céus e liberar o poder
de Deus. Nossas orações podem e devem mudar a História assim
como aconteceu com o profeta Daniel.
Não podemos ser vítimas passivas dos acontecimentos
mundiais, mas agentes ativos da implantação do reino de Deus
nos últimos dias por meio das orações de fé. Amém!

185
Dia 1 - O muro que nos dividia foi derrubado (Efésios 2.14)
Pai, santificado seja o teu nome. Nós estávamos todos longe
de ti. Fomos trazidos para perto do teu amor e da tua santidade
pela morte de Jesus Cristo na cruz.
Por meio do sacrifício de Cristo, o muro da inimizade entre a
Igreja e Israel foi derrubado, e ele nos fez um só povo, trazendo-
nos a paz.
Também, com a sua morte na cruz, Cristo destruiu a
inimizade entre todos os teus filhos dispersos, unindo-nos em
um só Corpo.
Agora todos, unidos pelo poder de um só Espírito, podemos
ir até a tua presença. Podemos entrar no Santo dos Santos pelo
sangue de Jesus. Por tudo isso, te agradecemos em nome do
nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
Referências bíblicas
Lucas 11.2; Efésios 2.13-18; Hebreus 10.19-22; Mateus 6.9;
João 10.16; 11.50-53; Gálatas 3.27-29; Colossenses 1.20;
Zacarias 9.10

Dia 2 - Ao Deus desconhecido, que é revelado (Atos


17.23)
Ó Deus, que fez o mundo e tudo o que nele existe. Tu és o
Senhor dos céus e da terra e não habita em templos feitos por
mãos humanas.
Tu és o Deus que não precisa que façam algo por ti, pois
somente o Senhor é quem dá a todos a vida, a respiração e tudo
o mais.
De um só homem, o Senhor criou todas as raças humanas
para viver na Terra. Antes de criar os povos, o Senhor marcou
para eles os lugares onde iriam morar e quanto tempo ficariam

186
lá. Tu fizeste isso para que todos pudessem procurar-te e
encontrar-te embora tu não estejas longe de cada um de nós.
Em ti vivemos, nos movemos e existimos. Somos teus
filhos por meio da obra redentora de teu Filho amado, Jesus, que
nos ensinou a arrepender-nos dos nossos pecados, que morreu
por nós, mas ressuscitou ao terceiro dia e está sentado à tua
direita, de onde virá para julgar os vivos e os mortos.
Te agradecemos, ó Pai, pelo teu amor por nós, em nome
do teu santo Filho Jesus Cristo. Amém.
Referências bíblicas
Atos 2.24-27; 7.14,15,48,49; 10.42; 17.24-31; Mateus
11.25-27; Gênesis 2.7; Jó 12.9-11; Romanos 1.20;
Colossenses 1.7; Efésios 1.20

Dia 3 - O amor de Cristo nos constrange a nos reconciliar


(2 Coríntios 5.14,19)
Ó Senhor nosso, quão magnífico em toda a Terra é o teu
nome. De todas as tuas maravilhas, certamente a maior delas é
Cristo, que morreu por todos nós, estabeleceu a paz com o seu
sangue derramado na cruz e nos reconciliou contigo e com todas
as coisas tanto da terra como dos céus.
Esse amor de Cristo, que nos fez novas criaturas, não nos
impele a viver para nós mesmos, mas para aquele que morreu e
ressuscitou por nós.
E Cristo, pelo seu amor, nos confiou a palavra da
reconciliação e nos constrangeu a sermos embaixadores,
pacificadores da unidade do teu Corpo, a Igreja.
Fomos reconciliados contigo, ó Pai, por intermédio do teu
Filho, e agora buscamos a reconciliação entre os irmãos para
reatar as amizades perdidas. Em nome de Jesus Cristo. Amém.
Referências bíblicas

187
Salmos 8.1; 148.13; 2 Coríntios 5.14-20; Colossenses
1.20-22; Mateus 5.9; Malaquias 2.7; Romanos 3.23-25;
5.10; 1 João 2.2; João 13.34,35

Dia 4 - Lava-nos, unge-nos e dá-nos a melhor veste (Rute


3.3)
Bendito sejas, Senhor, pela tua benevolência em conceder-
nos Jesus, o Rei dos reis, o nosso Noivo, que se entregou por
nós, que nos amou para sempre.
Ele tem-nos santificado, lavando-nos com água e
purificando-nos com tua Palavra.
Ele tem-nos levado para perto de ti, embelezando-nos,
tornando-nos puros, perfeitos, sem manchas, rugas ou qualquer
defeito.
Ele tem enchido nossas lâmpadas com o óleo do Espírito e
nos levado à sala do banquete. Sua bandeira sobre nós é o amor.
Pedimos, ó Deus Todo-poderoso, que o Senhor nos dê
vestes de linho fino, puro e resplandecente, que são os atos de
justiça dos santos. Em nome de Jesus Cristo. Amém.
Referências bíblicas
Rute 2.20; 3.1-3; Efésios 5.25-27; Mateus 25.10; Cantares
1.2,3; 2.4; Apocalipse 19.7-9; Salmos 23.5 (Salmos 22.5,
BJ – Bíblia de Jerusalém); Atos 2.17,18; Ezequiel 39.29

Dia 5 - As armas para vencer o inimigo da unidade (1


Samuel 17.49)
Amado Deus e Pai, sabemos que Davi venceu Golias pela
fé. Dá-nos, Senhor, fé suficiente para vencer e convencer
aqueles que são inimigos da unidade; aqueles que não admitem

188
a “unidade no amor” com irmãos em Cristo que têm particulares
diferentes; aqueles que se julgam a única igreja certa, os donos
absolutos da verdade.
Ó Senhor, ensina-nos que sem fé é impossível agradar-te.
Ajuda-nos a ter tempo de qualidade contigo para aumentarmos
a nossa fé; ajuda-nos a ter paixão pela tua Palavra para
recebermos mais fé.
Não queremos parar na metade do caminho. Assim como
Davi, queremos ver essa missão concluída. Com Jesus, conforme
sua oração em João 17.21 e no poder do Espírito Santo,
queremos ser destemidos para enfrentar em amor os gigantes
que nos ameaçam.
Nossa arma não é a pedra ou a funda, mas o amor e o
perdão. Em nome de Jesus Cristo. Amém.
Referências bíblicas
1 Samuel 17.4,37-53; 1 Coríntios 13.1-8; Romanos 8.8;
10.17; 12.3,6; 14.23; Hebreus 11.6; Tiago 1.3,6; 2.1;
João 17.21-23

Dia 6 - Não entristeçais o Espírito Santo de Deus (Efésios


4.30)
Assiste-nos, ó Deus e Salvador nosso, pela glória do teu
nome. Livra-nos e perdoa-nos os pecados por amor do teu nome.
Tu, que nos deste a força salvadora, Jesus, que reina
contigo à tua direita, também nos concedeste o teu Espírito
Santo que recebemos depois de Jesus ter sido glorificado nos
céus.
Esse Consolador nos ensina todas as coisas e nos faz
lembrar tudo o que Jesus falou. Faz-nos lembrar que Jesus orou
a ti pedindo a unidade do Corpo para que o mundo creia.

189
Ao receber a virtude do teu Espírito, nós no tornamos
testemunhas em toda a Terra de que Jesus foi enviado por ti, ó
Pai, e que nele somos um só Corpo, um só Espírito e temos um
só Senhor.
Assim, podemos proclamar em alto e bom som que a graça
do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito
Santo têm sido conosco para sermos instrumentos na busca da
unidade da Igreja. E, agindo assim, sabemos que o Espírito
Santo se alegrará. Em nome de Jesus. Amém.
Referências bíblicas
Salmos 20.6; 51.11; 79.9 (Salmos 19.6; 50.13; 78.9, BJ);
Apocalipse 1.16,17; Hebreus 10.12; Mateus 1.18,20; 3.20;
12.32; 28.19; João 1.33; 7.39; 14.26; 17.21-23; Atos 1.8;
4.8; Efésios 1.13; 4.3-6; Romanos 5.5; Coríntios 12.3;
Coríntios 13.4

Dia 7 - Inclina, Senhor, os teus ouvidos e ouça (Isaías


37.17)
Ó Deus, não estejas em silêncio, não cerres os ouvidos nem
fiques impassível.
Sabemos, ó Pai, que algumas de nossas divisões não são
apenas desnecessárias, mas também uma ofensa a ti e um
empecilho para a propagação do Evangelho.
Queremos sim, ó Deus, uma unidade visível da Igreja para
enfrentar aqueles que se opõem a Cristo. Queremos uma frente
cristã unida. Cremos que essa será a única arma que poderá
derrotar os inimigos do Evangelho.
Jesus disse que as portas do inferno não prevaleceriam
sobre a Igreja. Porém, sabemos que a Igreja hoje não é aquela
sonhada por Jesus e, assim, sentimo-nos fragilizados para lutar
contra a injustiça, o aborto, a corrupção, a iniquidade...

190
Estamos divididos, ó Pai. Tem misericórdia de nós, inclina
teus ouvidos para essa nossa angústia e livra-nos de todo o mal.
Em nome de Jesus Cristo, que assim também orou por seus
discípulos. Amém.
Referências bíblicas
Salmos 18.6; 40.9,10; 83.1; 91.15 (Salmos 17.6;
40.10,11; 82.2; 90.15, BJ); Mateus 6.13; 16.18; João
17.9,11,15; Lucas 11.2-4; Marcos 9.28,29; Romanos 1.16;
Atos 2.42-47; 4.32-35

Dia 8 - Ajuda os nossos líderes a ter a mente de Cristo (1


Coríntios 2.16)
Pai Santo, o Senhor tem-nos chamado para a unidade do
Corpo neste tempo de tantas divisões com mais de 33 mil
denominações cristãs.
Ajuda-nos a sermos fiéis à congregação onde fomos
chamados para estar, mas que ela tenha intensos olhos de amor
para outras denominações cristãs, reconhecendo-as como irmãs
em Cristo.
Permite, Senhor, que os nossos líderes tenham o coração
quebrantado e busquem a mente de Cristo para olhar com
coração perdoador e amor ágape a todos os cristãos que
congregam de maneira diferente da nossa. Ensina-nos a viver a
unidade na diversidade.
Ensina-nos, Senhor, a ver que, embora sejamos muitos,
somos UM só Corpo em Cristo e membros uns dos outros, ou
seja, não somos independentes, mas interligados. Em nome de
Jesus Cristo. Amém.
Referências bíblicas

191
Efésios 4.1,2,17,23; Hebreus 2.12; 10.25; Joel 2.16; João
10.16; 1 Pedro 5.2; Romanos 11.34; 12.2,5; Marcos 9.36-
38; 1 Coríntios 1.10

Dia 9 - Um povo grande e poderoso (Joel 2.2)


Ó Deus Todo-poderoso, como ansiamos pelo dia em que o
Senhor derramará do teu Espírito sobre toda carne. Haverá
profecias, nossos velhos sonharão, e os nossos jovens terão
visões. Todos receberão o teu Espírito.
O Dia do Senhor está próximo. Nesse dia, o Senhor
levantará um povo grande e poderoso, o qual nunca se viu antes
nem se verá mais.
Em nós mesmos, não somos nada, mas em ti seremos
tudo. Em ti, estaremos unidos e reunidos. Não será mais hora de
grandes líderes se levantarem, mas de levantar-se um povo
grande, forte, unido, vigoroso, cheio do Espírito Santo e do reino
de Deus no coração.
Seremos homens e mulheres conscientes do nosso
ministério de reconciliação e cheios da palavra de autoridade
para restaurar a Terra. Seremos um povo lindo, poderoso, cheio
do poder do Espírito Santo.
Diante de nós, a Terra será como um jardim do Éden e,
atrás de nós, um deserto assolado. Nenhuma enfermidade nos
atacará, e seremos mais do que vencedores em Cristo Jesus.
Amém.
Referências bíblicas
Atos 2.16-20; Joel 2.1-8,28,29; Lucas 21.28; 2 Coríntios
2.10; Filipenses 4.13; Isaías 53.4,5; Romanos 8.37; 2
Pedro 3.8; 2 Timóteo 4.8

192
Dia 10 - Dá-nos o segundo toque para termos
discernimento (Marcos 8.25)
Ó Deus onipotente, onisciente e onipresente! A tua Palavra
nos estimula a discernir o Corpo de Cristo. Quando não fazemos
isso, há em nosso meio fraquezas, doenças e sonolência
espiritual.
Sabemos, ó Deus, que quando não reconhecemos que os
outros irmãos são do Senhor, que pertencem a Cristo, que fazem
parte do mesmo Corpo que nós, estamos enfraquecendo a
Igreja.
Ajuda-nos, ó Pai santo, a abrir o coração e discernir Cristo
na vida dos outros irmãos. Leva-nos, Senhor, a converter-nos
para a unidade do Corpo.
Como aquele cego que, parcialmente curado, via homens
como árvores que andavam, queremos também, Senhor,
receber o teu segundo toque, enxergar distintamente todos os
nossos irmãos em Cristo e amá-los como tu os ama.
Tudo isso pedimos em nome daquele que se entregou por
nós, mas ressuscitou e está à tua direita com grande poder e
glória: Jesus. Amém.
Referências bíblicas
1 Coríntios 11.27-32; Marcos 8.22-25; João 13.34,35;
14.13,14; 15.17; Marcos 11.24; 1 Coríntios 13.5

Dia 11 - Somos membros uns dos outros (Romanos 12.5)


O Senhor reina. Tremam as nações. Tu estás entronizado
entre os querubins. Comova-se a Terra.
Sabemos, ó Deus, que o Senhor nos deu Jesus como
provisão para destruir o domínio do inimigo, e precisamos
eliminar as divisões. Quando não há divisões, cuidamos uns dos
outros, e todos são protegidos.

193
A tua Palavra nos ensina que um membro precisa do outro.
Todos são necessários para o Corpo. Aos mais fracos, damos
maior honra, e todos são importantes.
Senhor, tu nos ensinas que, a fim de que não haja divisão
no Corpo, os membros devem cooperar com igual cuidado em
favor uns dos outros. Nós somos o Corpo de Cristo e
individualmente membros desse Corpo. Assim, mesmo sendo
muitos, somos um só Corpo em Cristo e estamos interligados
independentemente de denominações, doutrinas, culturas e
histórias.
Portanto, ajuda-nos, ó Senhor, a abençoar uns aos outros
com os dons que recebemos como bons despenseiros da
multiforme graça que o Senhor nos deu.
Livra-nos de ter preconceitos, de murmurar, de julgar, de
criticar, de condenar. Que tenhamos um ardente amor por todos
os nossos irmãos em Cristo, pois o amor cobre multidões de
pecados. Em nome de Jesus. Amém.
Referências bíblicas
1 Coríntios 10.17; 12.20-27; Romanos 12.5,6,13; Efésios
1.23; 1 Pedro 4.8-10; Salmos 96.10; 97.1; 99.1 (Salmos
95.10; 96.1; 98.1, BJ); Hebreus 13.1; Provérbios 10.12;
17.9

Dia 12 - Livra-nos de blasfemar o nome de Deus


(Romanos 2.24)
Ó Senhor, tu és o meu Rochedo, o meu lugar forte e o meu
libertador. Em ti confiarei.
Sabemos que, todas as vezes que nos dividimos, causamos
uma ferida e dilaceramos o Corpo de Cristo. Sabemos que, todas
as vezes que nos dividimos, trazemos escândalos ao mundo uma
vez que diminuímos a credibilidade do Evangelho.

194
Por isso, Senhor, não queremos contribuir com esse pecado.
Não queremos consentir com essa atitude, mas ficar
incomodados com ela.
Rogamos, Senhor nosso Deus, assim como Paulo, prisioneiro
do Senhor, que andemos de modo digno da vocação a que fomos
chamados, com toda humildade, mansidão, longanimidade,
suportando-nos uns aos outros em amor e, assim, preservarmos
a unidade do Espírito no vínculo da Paz.
Ensina-nos, ó Deus, que todas as nossas diferenças são
maneiras de expressar a tua multiforme Graça e, assim, aceitar
que temos um só Senhor.
Em nome do único Autor dessa graça, o Senhor Jesus Cristo,
é que te pedimos. Amém.
Referências bíblicas
2 Samuel 22.2,3; Efésios 4.1-6; 1 Pedro 4.10; Romanos
2.24; João 13.35; Deuteronômio 32.4; 1 Coríntios 12.1-10;
Salmos 19.13; 40.17 (Salmos 18.14; 39.18, BJ); Filipenses
2.1-4; 1 Coríntios 2.4,7-11

Dia 13 - Trigo moído e uva esmagada (1 Coríntios 10.16)


Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus Todo-poderoso,
aquele que era, que é e que há de vir. Ó Deus, pela oração de
Jesus em favor da unidade do Corpo, vemos que ele não dá a
opção de querermos ou não viver em unidade com os nossos
irmãos, pois só assim o mundo vai crer que ele foi enviado por
ti.
Se a unidade for a visão central para que o Evangelho do
Reino seja pregado em todo o mundo como testemunho da
verdade, faz com que sejamos pedras vivas e lavradas para
encaixar-nos uns nos outros, trigos moídos para ser um só pão,
uvas esmagadas para tornar-nos um só cálice.

195
Senhor, eu assumo o meu chamado de reconciliador no
Corpo de Cristo para a minha geração. Meu desejo é ser e fazer
parte de uma geração curada. Jesus, teu Filho, veio para
nos unir. Ele viveu dessa forma e deixou esse “manto” para cada
um que ele reconciliou contigo.
Para tanto, Senhor, ajuda-me a praticar esse propósito.
Ajuda-me a ter a visão correta. Eu creio na unidade da tua família
bendita. Em nome de Jesus Cristo. Amém.
Referências bíblicas
Mateus 5.9; 24.14; João 10.16,30; 17.11,21-23; Romanos
5.10,11; 12.5; Gálatas 3.28; 1 Coríntios 10.16,17;
Coríntios 5.18-21; 1 Pedro 2.5; Colossenses 1.20;
Apocalipse 4.8

Dia 14 - O ponto central da nossa fé (Colossenses 3.13)


Em ti, ó Senhor, eu confio. Nunca me deixes confundido.
Livra-me pela tua justiça. Inclina para mim os teus ouvidos e
livra-me depressa.
Jesus e os apóstolos nos ensinaram, ó Pai Santo, que o
perdão é o ponto central da nossa fé. Queremos, Senhor,
quebrar o ciclo interminável da “não graça”, que é a falta de
perdão. Livra-nos dessa escravidão de justiça própria, humana,
que habita em nós desde a entrada do pecado no mundo.
Queremos, ó Pai, intervir na história humana e declarar que
o perdão é a essência do Evangelho que nos introduz na tua
família. Sabemos, Pai, que estás nos céus, que fomos chamados
para ser salvos e, portanto, devemos acabar com a prisão dos
nossos próprios padrões de “certo e errado”. Abominamos o
nosso comportamento de querer “acertar as contas” com os
outros e esperar que eles tomem a iniciativa de pedir-nos perdão
quando erram.

196
Fomos chamados para uma natureza superior, para sermos
à semelhança do teu Filho Jesus. Sabemos que não adianta
anunciar as boas-novas aos outros se não experimentá-las
verdadeiramente na própria vida.
Queremos exercer esse ato de fé, perdoando a outras
pessoas, mesmo aquelas que vivem o cristianismo de forma
diferente da nossa, e confiar que tu és um Juiz melhor do que
nós. Perdoando, eu abandono meu próprio direito de vingar-me
e deixo toda a questão da justiça nas tuas poderosas mãos. Em
nome de Jesus Cristo. Amém.
Referências bíblicas
Salmos 31.1,2; 86.5 (Salmos 30.2,3; 85.5, BJ) Mateus
5.23-26; 6.14; 16.19; 18.18,21,22,35; Jó 42.8; 1 Timóteo
3.8; João 20.23; Marcos 11.25; Colossenses 3.13;
Provérbios 6.19

Dia 15 - Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e


dos profetas (Efésios 2.20)
Creio em um só Deus, Pai Todo-poderoso, Criador dos céus
e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis. Creio em um
só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, nascido do Pai
antes de todos os séculos: Deus de Luz, Deus verdadeiro, gerado
e não criado, consubstancial ao Pai. Por ele, todas as coisas
foram feitas. E por nós, homens, e para a nossa salvação, desceu
dos céus, encarnou, pelo Espírito Santo, no seio da virgem Maria
e se fez homem.
Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos, padeceu
e foi sepultado. Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as
Escrituras, e subiu aos céus onde está sentado à direita de Deus
Pai. E de novo há de vir, em sua glória, para julgar os vivos e os
mortos, e o seu reino não terá fim.

197
Creio no Espírito Santo que nos dá a vida e que procede do
Pai, e, com o Pai e o Filho, é adorado e glorificado: ele que falou
pelos profetas. Creio na Igreja una, santa e universal do nosso
Senhor Jesus Cristo sobre a Terra. Professo um só batismo para
remissão dos pecados. Espero a ressurreição dos mortos e a vida
eterna que há de vir. Amém.
Referências bíblicas
Efésios 3.5; 4.4-6,11-13; 5.27; 1 Coríntios 15.1-5; João
1.1-4,13,14; 3.16; 8.41; 10.30; 17.22; Gênesis 1.1,2,27;
Colossenses 1.16-20; Lucas 1.26-35; Mateus 12.31;
27.11-13,22-53; Atos 1.9,10; 17.30,31; Isaías 42.5;
45.18; Apocalipse 10.6; 19.11-16; Hebreus 12.22-24

Dia 16 - Juntos, como família, reagindo contra o mal (1


Coríntios 1.10)
Digno és, Senhor, de receber glória e honra e poder,
porque tu criaste todas as coisas, e, por tua vontade, são e foram
criadas.
Senhor, que nós possamos viver, impelidos pelo amor de
Cristo, reconciliados e motivados a derrubar todas as paredes da
divisão. Pedimos, ó Deus, inspiração, unção, graça e força para
estarmos juntos com outros irmãos na tua obra, defendendo a
dignidade e os direitos especialmente dos pobres e oprimidos,
trabalhando para a justiça e rejeitando todas as formas de
violência.
Como embaixadores da reconciliação, queremos estar
efetivamente unidos para dizer “não” ao aborto, ao divórcio, aos
casamentos antibíblicos, às práticas imorais e injustas, aos
abusos e às heresias que as escolas têm ensinado às nossas
crianças afrontando a tua Palavra.
Suplicamos, ó Pai, que haja concordância no que falamos
a fim de que não existam divisões entre nós. Que estejamos

198
unidos num só pensamento, num só parecer, num só coração,
transbordando o amor e o perdão de Cristo. Em nome de Jesus.
Amém.
Referências bíblicas
Apocalipse 4.11; 5.12; 1 Coríntios 1.10-14; 3.3-9; 16.6;
Hebreus 4.16; 10.29; 1 Coríntios 5.14,17-21; 11.4; 13.11;
Jó 32.18; Romanos 12.6-8; Filipenses 2.2; 1 Pedro 3.8;
Isaías 60.18; Jeremias 9.23,24; Zacarias 4.6

Dia 17 - Um caminho que nunca percorremos (Josué 3.4)


Bendize, ó minha alma, ao Senhor. Deus meu, tu és
Magnificentíssimo e estás vestido de glória e majestade.
Ó meu Deus, assim como Israel, depois de 40 anos
perambulando pelo deserto, ao chegar ao rio Jordão não sabia o
caminho certo a percorrer, assim somos nós em relação à
unidade do Corpo de Cristo.
Porém, o Senhor determinou que eles atravessassem o rio
e seguissem a arca da aliança que os sacerdotes levitas
conduziam. A arca era a tua própria presença, ó Deus.
Senhor, não sabemos como dar passos práticos em direção
à unidade, mas temos plena convicção de que essa obra é do
Espírito Santo. Jesus disse que o Espírito nos ensinaria todas as
coisas e nos faria lembrar tudo quanto o Senhor dissera.
O Senhor garantiu, por meio do teu Filho, que o Consolador
ficaria conosco para sempre, que nós o identificaríamos, e que
ele habitaria em nós. Mais ainda, que ele falaria a respeito de ti,
e que discerniríamos entre o Espírito da verdade e o espírito do
erro.
O teu Espírito, ó Deus, nos guia por toda a verdade porque
ele fala o que ouviu de ti. Ele é a nossa “arca” hoje. Ele vai à

199
nossa frente e nos ensina esse novo caminho que devemos
percorrer. Em nome de Jesus. Amém.
Referências bíblicas
João 14.16,17,26; 15.26; 16.7-14; 1 João 4.6; Josué 3.1-
5; Números 10.33; 11.17; Salmos 103.1,2,22; 104.1
(Salmos 102.1,2,22; 103.1, BJ)

Dia 18 - Datas comemorativas (Naum 1.15)


Ó Senhor, nosso Deus, seja engrandecido o teu nome em
todo o universo. Ó Deus, Rei dos céus, cremos estar vivendo
tempos proféticos.
Passaram-se 500 anos de Reforma Protestante.
Poderíamos, ó Pai, estar celebrando essa data pela revelação da
graça e da justificação. Porém, olhamos para as profundas
divisões que afligem a Igreja e nos entristecemos. Perdoa-nos,
Senhor, por tanto derramamento de sangue.
Passaram-se 50 anos de Renovação Carismática. Estamos
agradecidos, ó Senhor, pelo derramamento do teu Espírito Santo
sobre as igrejas históricas, principalmente sobre a Igreja
Católica.
Passaram-se também 50 anos da Guerra dos Seis Dias, na
qual o Senhor devolveu aos judeus a sua capital eterna,
Jerusalém. É lá que Jesus pisará quando voltar à Terra. É de lá
que ele reinará no Milênio, no trono de Davi.
Há mais de 70 anos, a ONU votou favorável à criação do
Estado de Israel. Que maravilha, ó Deus. Agora já temos os
remanescentes de Israel e, juntos, podemos confessar:
“Bendito o que vem em nome do Senhor!” Em nome de
Jesus. Amém.

200
Referências bíblicas
Malaquias 1.5; Zacarias 8.20-22; 14.1,3,4,9,11,16;
Mateus 21.1-10; 23.33-39; 24.14; Atos 1.9; 2.1-11,17-
19; Salmos 122.6 (Salmos 121.6, BJ); Apocalipse 19.11-
15; Isaías 66.8; Joel 3.1,2; 2.28,29; Romanos 9.27; 11.5

Dia 19 - É o Senhor, e não nós, que escolhe os nossos


relacionamentos (3 João 1.14)
Ó Senhor, Deus de Israel e de todos os povos. Não há Deus
como tu acima, nos céus, ou embaixo, na terra.
Tua Palavra nos tem ensinado que Cristo é a Cabeça do
Corpo. Estar ligado a ele é primordial. Nosso relacionamento
pessoal com ele é vida eterna, é vitória.
Em segundo lugar, o Senhor nos tem ensinado a estarmos
firmemente unidos por juntas e ligamentos corretos com os
outros cristãos que o Senhor convoca para fazer parte do teu
Corpo.
Assim, seguindo a verdade em amor, queremos crescer em
tudo naquele que é a Cabeça, o nosso Senhor Jesus Cristo. Para
isso, ajuda-nos a estarmos ligados, bem ajustados e com o
auxílio de todas as juntas a todos os irmãos em Cristo, para o
aumento do Corpo e sua edificação em amor.
Dá-nos, ó Deus, um coração caridoso e dadivoso no
tratamento com os nossos irmãos que são diferentes de nós. Em
Cristo Jesus, te pedimos. Amém.
Referências bíblicas
Êxodo 15.11; 1 Reis 8.22; Ezequiel 37.1-10; Efésios
4.15,16; Colossenses 2.18,19; Romanos 14.15; 1
Coríntios 8.9-13

201
Dia 20 - Livra-nos de quebrar alianças (Jeremias 34.18)
Senhor Deus da minha salvação, diante de ti tenho
clamado dia e noite. Jesus iniciou a Nova Aliança com uma
refeição solene na qual seus discípulos participaram de um
mesmo pão e um mesmo cálice.
Entendemos, ó Deus, que, por meio desse ato único, todos
os que participaram dessa mesa daquele momento em diante
estavam ligados a uma aliança sagrada.
Nós também, quando participamos da mesa do Senhor,
renovamos essa aliança, por meio da qual declaramos que
estamos ligados ao Senhor e uns aos outros.
Ao participarmos da mesa, reconhecemos que somos
irmãos e membros da mesma família divina. Renovamos o
compromisso de amor mútuo, de perdão, de cuidar uns dos
outros e, conforme o mandamento de Jesus, de dar a vida pelo
irmão.
Senhor nosso Deus, abre os nossos olhos e o nosso
entendimento para não rompermos essa aliança com os irmãos
com os quais comungamos. Livra-nos de desarticular as juntas
e os ligamentos que adquirimos ao sentar-nos à mesa. Em nome
de Jesus Cristo, te suplicamos. Amém.
Referências bíblicas
Salmos 88.1 (Salmos 87.2, BJ); Mateus 26.20-28; João
1.6-10; 1 Coríntios 4.4; 1 Coríntios 11.28,29; Tiago 5.16;
Hebreus 10.26-31; Gênesis 15.17-18; Atos 3.19-21; Lucas
18.7

202
Dia 21 - A divulgação do Evangelho como cristãos
espirituais e não carnais (Atos 1.8)
Pai, o Senhor não nos criou para o nosso próprio deleite.
Tu nos criaste para a tua glória e para servirmos uns aos outros.
Ajuda o teu povo a alcançar muitas outras pessoas com a
melhor notícia para a humanidade: que o reino de Deus chegou.
Abençoa e fortalece os nossos programas de missões e de
evangelismo, dando-nos recursos e sabedoria para semear a tua
Palavra em todos os tipos de terrenos.
Ensina-nos a evangelizar, a testemunhar, a fazer a boa
obra sempre no espírito de que somos UM só Corpo. Embora
sendo muitos, somos um só pão em comunhão com o Corpo de
Cristo e bebemos do mesmo cálice, que é a comunhão do sangue
de Cristo.
Ai de nós se não pregarmos o Evangelho! Porém, ajuda-
nos a abaixar a bandeira denominacional, a levantar a bandeira
de que “Somos Um em Cristo” e estar a serviço de todas as
congregações cristãos dos lugares para onde o Senhor nos
enviar. Em nome de Jesus Cristo. Amém.
Referências bíblicas
1 Coríntios 1.10-13; 3.1-9; 9.16; 10.16,17; Mateus 28.19;
Marcos 16.15; João 10.30; 17.22; 20.18,21-23; Esdras
5.11; Romanos 12.5-8; Efésios 2.10; 4.25; Hebreus 13.21;
Filipenses 1.6

Dia 22 - A oração dos remidos (Apocalipse 15.3)


Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus
Todo-poderoso. Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei
das nações.

203
Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor?
Pois só tu és Santo. Por isso, todas as nações virão a ti e te
adorarão, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos.
Queremos, Senhor, que essa oração de louvor e adoração
seja entoada pela comunhão dos salvos, todos nós que fomos
perdoados por ti, não olhando para as nossas diferenças, mas
olhando para o Autor e Consumador da nossa fé, o nosso Senhor
Jesus Cristo. Em nome dele pedimos. Amém.
Referências bíblicas
Apocalipse 15.3,4; Êxodo 15.1; Salmos 86.9 (Salmos 85.9,
BJ); Jeremias 10.7; Hebreus 12.2; João 17.3; 12.32,44-
47; 1 João 1.7

Dia 23 - Orar pela paz de Jerusalém nos traz prosperidade


(Salmos 122.2)
Ó Senhor Deus e Pai! Tua Palavra nos diz que devemos
orar pela paz em Jerusalém. Nossa oração expressa o amor que
temos pela cidade mais importante do mundo. Se assim agirmos,
tua Palavra nos garante que teremos prosperidade.
Foi lá que Jesus morreu, ressuscitou e subiu aos céus em
uma nuvem. E seus anjos disseram que ele voltaria do céu do
mesmo modo que subiu. Zacarias profetizou que os pés de Jesus
pisarão, na sua segunda vinda, em Jerusalém, no Monte das
Oliveiras, que será fendido ao meio quando ele tocar o solo, e,
então, o Rei dos reis virá reinar no trono de Davi.
Ajuda-nos, Senhor, na nossa oração de unidade com os
judeus messiânicos que estão em Jerusalém e com outros
messiânicos em todo o mundo, confessando e declarando
diariamente: “Bendito o que vem em nome do Senhor”.
A paz esteja contigo, Jerusalém. Em nome de Jesus.
Amém.

204
Referências bíblicas
Salmos 118.26; 122.2-9; 125.2; 128.5,6 (Salmos 117.26;
121.2-9; 124.2; 127.5,6, BJ) Atos 1.9; 4.16; 5.16; Zacarias
14.3-13,16; Ezequiel 11.22; Judas 1.14; Isaías 62.1-7;
Hebreus 12.22; Mateus 20.18,19; 23.37-39

Dia 24 - O último sinal para a volta de Jesus (Mateus


24.14)
Exaltar-te-ei, ó Deus meu e Rei, e bendirei o teu nome para
todo o sempre. Tua Palavra é verdade e nunca falha. Ela é
eterna.
A tua Palavra diz que o fim de todas as coisas, o Dia do
Senhor, a volta do teu Filho amado será quando o Evangelho do
Reino for pregado em todo o mundo.
Jesus, antes de subir aos céus, ordenou que fôssemos a
todas as nações e fizéssemos discípulos. Mas nós falhamos nisso,
Senhor. As estatísticas mostram que há mais de 70% de
habitantes neste planeta que não sabem que o Verbo se
manifestou em carne e habitou no meio de nós. Como, então,
falar da Segunda Vinda se a maioria não conhece o Salvador da
humanidade, não sabe nem que ele já veio pela primeira vez?
Ah, Senhor, mas teu Filho te implorou que a tua Igreja
fosse perfeita em unidade para que o mundo cresse que ele foi
enviado por ti.
Apressa-te, Senhor, para que, pelo teu Espírito Santo,
sejamos UM a fim de que o mundo creia em Jesus e, então, seja
consumada a sua segunda vinda. Em nome de Jesus Cristo.
Amém.

205
Referências bíblicas
Salmos 145.1; 150.6 (Salmos 144.1; 150.5, BJ); Lucas
21.23; Marcos 13.31; Mateus 24.14,30; 28.19,20; João
1.1,14,15; 17.11,20-23

Dia 25 - Quem não é contra mim, é por mim (Marcos 9.40)


Pai das misericórdias e Deus de toda consolação, rogamos
que não haja divisões entre os teus filhos, mas que estejamos
unidos naquele que foi crucificado por nós.
Sabemos que Cristo não está dividido. Ajuda-nos a
discernir o Corpo de Cristo e identificar-nos com os nossos
irmãos que não são contra Cristo, mas o têm como Senhor.
Livra-nos desse tão grande mal que é julgar como se fôssemos
Deus.
Livra-nos de rejeitar quem Jesus recebeu e redimiu ainda
que sejamos diferentes na nossa formação espiritual e nas
nossas práticas. Enche-nos do teu amor. Em nome de Jesus
Cristo. Amém.
Referências bíblicas
Marcos 9.38-40; Mateus 7.2-5; 12.30; 1 Coríntios 1.10-13;
11.28,29; 12.3; 1 Coríntios 1.3; Salmos 9.7; 50.4; 96.13
(Salmos 8.7; 49.4; 95.13, BJ); Lucas 11.17,18

Dia 26 - O apelo dramático do apóstolo (Efésios 4.3)


Poderoso Deus e Pai, queremos ser obedientes à palavra
apostólica na qual Paulo roga aos efésios pela unidade no Espírito
do Corpo de Cristo.

206
Sabemos que precisamos ser aperfeiçoados com todos os
santos a fim de que cheguemos à unidade da fé e do pleno
conhecimento de Jesus, da plenitude de Cristo.
Enquanto isso, queremos diligentemente nos esforçar com
toda humildade, mansidão, paciência, suportando-nos uns aos
outros em amor para preservar a unidade do Espírito
conquistada na cruz para nós.
Queremos confessar constantemente que todos nós fomos
batizados em um mesmo Espírito, formando um só Corpo, e
todos temos bebido desse mesmo Espírito.
Em nome de Jesus Cristo. Amém.
Referências bíblicas
Salmos 90.1-4; 99.1-3 (Salmos 89.1-4; 98.1-3, BJ);
Efésios 4.1-5,12,13; 1 Coríntios 12.12,13,25-28; Gálatas
5.22-25; Romanos 12.5; Judas 1.3; Malaquias 2.10

Dia 27 - Dá-nos apóstolos e profetas para chegarmos à


unidade (Efésios 4.13)
Ó Deus Todo-poderoso. No início da Igreja, o Senhor
levantou apóstolos em Jerusalém, dando início à grande
comissão de levar o Evangelho a partir de lá para todo o mundo
até os confins da Terra. Com a desolação de Jerusalém no ano
70, ficamos sem esse referencial. Porém, agora Jerusalém foi
reconquistada como capital eterna.
Tua Palavra nos ensina que, no Corpo de Cristo, haveria
em primeiro lugar os apóstolos, depois os profetas, visando ao
aperfeiçoamento dos santos para a obra do ministério, para a
edificação do Corpo, até que todos chegássemos à unidade da
fé, ao pleno conhecimento do Filho de Deus, a homens perfeitos,
à medida da estatura completa de Cristo.

207
O livro de Apocalipse nos ensina que os apóstolos e
profetas se alegrarão no julgamento do Senhor na queda da
grande Babilônia. Entendemos que eles existiram no começo da
Igreja e também existirão no final de todas as coisas.
Por isso, ó Deus Eterno, nós te suplicamos que o Senhor
concedas novamente esses apóstolos e profetas à tua Igreja hoje
para, assim, alcançarmos a unidade perfeita do Corpo de Cristo
na Terra. Em nome de Jesus. Amém.
Referências bíblicas
Atos 1.8; 4.33,34; 15.4,22,23; 16.4; 1 Coríntios 4.9;
12.27-29; 15.7-9; Efésios 4.2-20; Apocalipse 18.1,2,20; 1
Coríntios 11.13-15; 2 Pedro 3.2; Judas 1.17; Mateus
20.18,19; 23.37-39; Lucas 21.24

Dia 28 - Somos a família de Deus (Efésios 2.19)


Pai nosso que estás nos céus, em Jesus Cristo, o Senhor
solucionou todos os nossos problemas na cruz: nossa alma
corrompida, nossa iniquidade, as nossas doenças do corpo, as
nossas inimizades, as nossas divisões, os nossos ódios.
Fomos redimidos, curados, salvos, justificados e
santificados na obra completa e plena do nosso Senhor Jesus
Cristo.
Nele, fomos salvos e nele o Senhor criou a tua família na
Terra, derramando sobre nós o teu amor por meio do Espírito
Santo.
Em Jesus Cristo, o Senhor nos perdoou e nos ensinou a
perdoar para a nossa salvação total. Por tudo isso, somos gratos
a ti. Amém.

208
Referências bíblicas
Mateus 6.9,13,14,15; 8.16,17; Isaías 53.4-6; 1 Coríntios
1.30,31; Efésios 2.19; 3.3-6; João 11.50-53; Romanos
5.5; 1 Pedro 2.24,25; Hebreus 12.22,23; Gálatas 6.10

Dia 29 - Acrescenta-nos fé para perdoar (Lucas 17.5)


Senhor Deus e Pai, os discípulos pediram mais fé a Jesus
quando ele determinou que eles perdoassem sete vezes por dia.
Jesus também nos ensinou a perdoar 70 vezes sete, ou seja,
sempre, constantemente.
Sabemos, Senhor, que é a falta de perdão que divide o
casamento, as famílias, as pessoas, a Igreja.
Sabemos, ó Deus Pai, que a falta de perdão enfraquece a
nossa oração, nos traz doenças, invalida as nossas obras e rouba
a nossa salvação.
Ajuda-nos, Senhor, a arrepender-nos desse pecado. Dá-
nos humildade para procurar depressa nossos ofendidos e
ofensores e praticarmos o perdão. Tudo isso te pedimos em
nome do Senhor Jesus Cristo. Amém.
Referências bíblicas
Lucas 17.4-6; Mateus 5.23-26; 6.12,14-15; 18.21,22,32-
35; 19.8; Marcos 11.25,26; Salmos 31.3,4 (Salmos 30.3,4,
BJ); Provérbios 14.27

Dia 30 - Suplicar como Jesus “para que o mundo creia”


(João 17.21)
Pai Santo, assim como Jesus olhou para o céu suplicando
em favor de todos nós, rogamos a ti também, que é a fonte do
nosso socorro.

209
Queremos estar unidos contigo, em Jesus e entre nós, teus
filhos, a fim de que o mundo creia que Jesus foi enviado por ti
como o Unigênito do Pai para a salvação de todos.
As estatísticas mostram, ó Pai, que são mais de 5 bilhões
de pessoas no mundo que não conhecem Jesus, que não sabem
que ele foi enviado por ti para a nossa redenção.
Então, Senhor, nós nos unimos a ele em concordância com
a sua oração. Rogamos a ti, Senhor, que, pela ação do Espírito
Santo, sejamos UM. Sempre em nome de Jesus. Amém.
Referências bíblicas
João 3.16-18; 12.26; 14.3; 17.1,11,21-23; Salmos 121.1
(Salmos 120, BJ); Mateus 16.19b; 18.18-20; Lucas 10.2;
Romanos 5.8; 1 João 4.10

Dia 31 - Portanto, orem assim (Mateus 6.9)


Pai nosso que estás no céu, que todos reconheçam que o
teu nome é santo.
Venha o teu Reino.
Que a tua vontade seja feita aqui na terra como é feita no
céu.
Dá-nos hoje o alimento de que precisamos.
Perdoa as nossas ofensas como também perdoamos às
pessoas que nos ofenderam.
Não deixes que sejamos tentados, mas livra-nos do mal.
Pois teu é o Reino, o poder e a glória para todo o sempre.
Amém.

210
Referências bíblicas
Mateus 6.9-15; 18.21,22; 26.39-42; Lucas 11.2-4;
22.40,46; Atos 21.14; Salmos 103.19 (Salmos 102.19,
BJ); 1 Coríntios 10.13; 1 Pedro 2.9; João 17.15

Obs.: BJ – Bíblia de Jerusalém

211
ANEXO

OBRAS DO AUTOR SOBRE A UNIDADE DO CORPO


DE CRISTO

Reconciliação: O Segundo Toque

(Coautoria com Marcia Maria Costa Marion)

Neste livro, os autores falam acerca da unidade da Igreja.


Sabemos que, muitas vezes, esse assunto requer quebrar
fortalezas em nossa mente. O intuito é despertar os irmãos que
desconhecem o que tem sido divulgado pelos defensores da
unidade do Corpo de Cristo como a “nova evangelização” e
esclarecer melhor a visão de um “novo ecumenismo”, que
abrange o mundo pentecostal/carismático e que insiste mais na
experiência espiritual do que no debate teológico.

A Palavra de Deus ensina que somos um só corpo. Todavia,


unidade não significa uniformidade, já que o corpo tem membros
com funções diferentes. Assim, fala-se sobre a unidade na
diversidade, e cremos que isso ajude a preparar nosso coração
para o assunto. É importante lembrar que Cristo purifica a Igreja
com a “lavagem da água”, a Palavra, a fim de nos apresentar a
si mesmo como igreja gloriosa, sem mácula, sem ruga nem
qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível (Ef
5.26,27).

Impacto Publicações: Americana, 2014.


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212
Um só Corpo, um só Espírito, um só Senhor

Por que Jesus, em sua oração derradeira, enfatizou a unidade de


seus seguidores, e não fez referência a uma infinidade de
criaturas de Deus que não recebeu revelação de sua Pessoa para
ser salva? A resposta é simples: segundo Jesus, o mundo crerá
nele, ou simplesmente o conhecerá, se nós, seus discípulos,
formos unidos.

Hoje existe uma diminuição assustadora, em valores absolutos,


de seguidores de Cristo no globo terrestre às vésperas de sua
volta. Segundo as estatísticas, dentre os mais de 7,5 bilhões de
habitantes neste planeta, apenas 2,4 bilhões se dizem cristãos.
Enquanto a Igreja de Cristo fala sobre sua segunda vinda, mais
de 5 bilhões de pessoas não sabem que ele veio pela primeira
vez. É muito triste.

Considerando-se ainda que, estatisticamente, dentre esses “2,4


bilhões de cristãos”, há uma parcela relevante de pessoas sem
qualquer compromisso com Cristo, que não passa de cristãos
"nominais” ou de “fachada”, “religiosos”, indivíduos que não
congregam ou até desconhecem a Palavra de Deus, a situação
se torna ainda mais grave. Desde que se calcula a a porcentagem
de cristãos dentre a população mundial, vivemos hoje o menor
percentual histórico dos nascidos de novo.

Apesar de ver uma Igreja atual voltada para o evangelismo e


preocupada em anunciar o Evangelho, o autor sente que uma
mudança de postura na busca de unidade poderia preencher em
boa parte esse vazio, essa perda proporcional da participação da
Igreja na Terra. O autor crê que, se continuarmos tão desunidos,
cada vez menos o mundo crerá em Jesus e no Evangelho. Veja
que grande responsabilidade nós temos.

Qual é a dificuldade que existe de acolher um irmão em Cristo


de outra denominação cristã? Como a doutrina pode dividir-nos
se o Cristo que está em nós é o mesmo? Se recebemos o mesmo

213
Espírito? Ora, o Senhor é Espírito; e, onde está o Espírito do
Senhor, aí há liberdade (2 Coríntios 3.17).

Impacto Publicações: Americana, 2016.


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Dá-me um pouco da tua água

(Coorganizador com Iete Nanci Aleixo)

Esse livro foi escrito por mais de 20 autores. Desse grupo,


praticamente metade é de católicos e a outra de evangélicos.
Cada um tem bebido um pouco da água do outro. O título do
livro é inspirado em João 4, capítulo no qual Jesus pede água
(v.7) para a mulher samaritana, e ela pede água a ele (v.15).
Nesses dois pedidos de água, temos muitos frutos resultantes
(vv.41,42).

Na comemoração dos dez anos do Encristus (Encontro de


Cristãos em Busca de Unidade e Santidade) em 2017, os
organizadores entenderam que, durante esse período de
comunhão, oração, partilhas, estudos bíblicos, louvor, adoração,
liberação de perdão, lavar os pés, eventos, muito se aprendeu
uns com a comunhão entre irmãos. Eles foram edificados com
riquezas teológicas e práticas que cada um procurou
compartilhar nessa obra. Assim, o objetivo é ressaltar práticas
católicas que edificam os evangélicos, e vice-versa.

Há riquezas incomensuráveis de cada lado, desconhecidas e


ignoradas por causa do ódio e da rivalidade que a divisão
ocasionou. A Igreja sempre precisará de reformas, mas sem
divisões, sem brigas, sem derramamento de sangue. Essas
práticas não são compatíveis com os ensinamentos de Cristo.
Cristãos odiando cristãos (e até se matando) é abominação ao
Evangelho, é ir para o lado oposto da cruz. Ainda que seja (o

214
Encristus) uma amostra muita pequena, insignificante, entende-
se que o Espírito Santo pode agir para que a súplica de Jesus ao
Pai (João 17.20-23), para que todos sejam um, se torne
realidade.

Impacto Publicações: Americana, 2017.


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Curso: Unidade do Corpo de Cristo

(Organizador)

E agora, o que faremos irmãos? (Atos 2.37). A Bíblia afirma que


Jesus morreu na cruz não somente para salvar-nos dos nossos
pecados, mas também para reunir em um só Corpo os filhos de
Deus que andavam dispersos (João 11.52). A Igreja de Cristo
tem exercido o seu papel de anunciar a salvação por meio do
sangue de Jesus Cristo como o cordeiro sem defeito, sem mácula
(1 Pedro 1.19), e ensinar os que aceitam essa verdade a ser
discípulos de Cristo.

Porém, quando se trata da unidade do Corpo e de perseverar na


unidade do Espírito (Efésios 4.3,4), a Igreja tem falhado, tem
sido omissa. E não apenas isto – ela também tem agido de forma
contrária, tem-se tornado uma ”máquina” de divisões em série.
Ainda que alguns (raros) líderes e alguns movimentos
paraeclesiásticos proclamem a necessidade da unidade do Corpo
para a volta de Cristo, eles não têm ensinado a prática desta
unidade.

Dentre os vários objetivos desse curso, destacam-se: a) Jesus


não é polígamo; ele se casará com uma só Noiva (Apocalipse
19.7); b) Jesus voltará para uma só Igreja: Um só Corpo, um só
Espírito, um só Senhor (1 Coríntios 12.12-14); c) Jesus virá para
uma Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa
semelhante, porém santa e sem defeito (Efésios 5.27); d) para

215
o povo de Deus tornar-se uma grande multidão que se sinta
amada pelo Pai, o mundo terá de reconhecer que Jesus foi
enviado pelo Pai. Para tanto, a Igreja deverá ser aperfeiçoada
em unidade, ser UMA (João 17.21-23).

Assim, esse curso se propõe a ensinar como dar passos


concretos, com base na Palavra e no poder de Deus, para
endireitar as veredas da Igreja para a volta de Jesus. (Obs.:
houve um grupo-piloto com mais de 40 pessoas em 2018.)

Editora Pé de Lima: São Paulo, 2019.


(pedelima.com.br/produto/unidade-do-corpo-de-cristo)

OUTRAS OBRAS CRISTÃS DO AUTOR

A Marca dos Filhos: O único sinal que nos identifica como


cristãos

(Coautor com Luiz Roberto K. Cascaldi)

A maior preocupação dos autores ao escrever esse livro se refere


a muitas pessoas que frequentam igrejas cristãs, se dizem
cristãs, têm trejeitos cristãos, mas não exibem a marca que as
identifica como autênticos discípulos de Jesus. O amor é o
verdadeiro cerne do cristianismo, por meio do qual podem ser
identificados o verdadeiro filho de Deus, a verdadeira convicção
de salvação e a vida eterna com o nosso Deus e Pai. Nisto todos
conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos
outros (Jo 13.35).

Publique! Produção Editorial: Brasília/DF, 2013.


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216
Em Busca da Verdade: A peregrinação espiritual de um
professor universitário

Esse livro aborda, de forma didática e simples, os principais


temas espirituais relativos aos nossos dias, enfrentando-os de
maneira ousada, prática e objetiva. Cada solução apresentada é
revestida de fatos reais, com citações de origem, não se
traduzindo em mera teoria, mas em experiências vividas. O livro
aborda as religiões cristãs e outras que se dizem cristãs.

D’Sena Editora e Consultoria: Campinas/SP, 2002.


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Grandes Tesouros do Maior Livro do Mundo

Se alguém conseguisse desbancar a Bíblia, ficaria muito famoso,


pois é o maior livro do mundo, o mais vendido em todas as
épocas, o único traduzido em todas as línguas e dialetos. É um
livro inspirado pelo Espírito Santo que reivindica ser a Palavra de
Deus. Sua inspiração é notória a ponto de ser percebida até
quando vemos pessoas humildes interpretando-a com sabedoria
e aplicando seus princípios a ponto de desencadear coisas
extraordinárias.

D’Sena Editora e Consultoria: Campinas/SP, 2004.


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Para Onde Iremos Depois da Morte

A única certeza que temos do que vai acontecer conosco no


futuro é a morte. Todos nós temos um encontro agendado com
ela. Ninguém no mundo foi capaz de desviar-se dela. Apesar de
ser um acontecimento "líquido" e certo, parece que conhecemos
muito pouco sobre o assunto, e, pior, parece que a grande
maioria das pessoas não tem sequer curiosidade de pesquisá-lo.
O desafio do autor nesse livro é confrontar o pouco que a ciência

217
desenvolveu até o momento sobre vida além-túmulo com muitas
teorias religiosas que se fundamentam em crenças e, muitas
vezes, mitos sobre o assunto mais importante de nossa
passagem por este planeta.

Life Editora: Campo Grande/MS, 2ª edição, 2013.


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Deus fala através dos Sonhos

O autor observou que muitos só despertam para a importância


dos sonhos depois de acontecer um fato marcante revelado
antecipadamente por um sonho. Por meio desse livro, ele busca
despertar os leitores para as grandes riquezas que estão
contidas nos sonhos enquanto dormimos.

Editora Pé de Lima: São Paulo/SP, 2019.


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Ontem, Hoje e Amanhã com Jesus

(Coautoria com Marcia Maria Costa Marion)

Assim como Igreja buscando a excelência, olhamos para trás,


para a cruz, para a nossa união com Cristo pelo batismo
(irrevogável), centrando a nossa vida nele. Vivemos hoje, cada
dia, na graça do Senhor Jesus, presenciando sinais e curas no
nome de Jesus, tendo comunhão com ele e com os irmãos por
meio da ceia. Olhamos para um futuro próximo e percebemos
que o fim de aproxima, o Apocalipse se manifesta e a Igreja
busca seu status de gloriosa para ser não somente a noiva de
Cristo, mas a esposa dele. O anseio e a oração do autor nesse
livro são que essas verdades sobre a Igreja estejam presentes
em nossa vida hoje, e não apenas no futuro (amanhã).

Jundiaí/SP, 2017. (esgotado)

218
LIVROS DA IMPACTO PUBLICAÇÕES QUE FALAM
SOBRE A UNIDADE DO CORPO DE CRISTO

O Mistério da Oliveira: judeus e gentios juntos para a volta


de Cristo

É impossível entender a Bíblia como relato do plano que Deus


vem desenvolvendo com o homem na Terra sem compreender o
papel do povo e da nação de Israel desde o chamado de Abraão
até a vinda do Messias e o início da era cristã. É por isso,
também, que devemos orar e trabalhar com todo empenho para
que judeus e gentios se unam novamente na única oliveira
(conforme Romanos 11.12,15,25,26), a fim de que haja
plenitude, salvação e vida dentre os mortos na vinda do Senhor
Jesus Cristo.

FICHTENBAUER, Johannes. Impacto Publicações: Americana/SP,


2017.
https://bit.ly/2XqeLhX

Alinhamento

Estamos entrando numa era de transição final semelhante ao


livro de Atos. O apostólico e o apocalíptico estão convergindo. O
padrão bíblico está tornando-se uma profecia viva. O
alinhamento levará ao avivamento; a glória manifesta de Deus
repousará sobre a cidade de Jerusalém e sobre o povo de Deus
em todos os lugares. As nações do mundo se alinharão de um
lado ou de outro. Asher Intrater tem buscado a Unidade dos
cristãos.

INTRATER, Asher Impacto Publicações, Americana/SP, 2017.


https://bit.ly/2QKJQuv

219
Páscoa: A chave para abrir o livro do Apocalipse

Existe algum livro na Bíblia mais enigmático do que o Apocalipse?


Controvérsias a respeito do seu significado o envolvem desde o
primeiro século. Hoje, as discussões continuam. Ainda assim, o
autor nos dá a chave que abre todo o livro: os eventos e as
circunstâncias da Páscoa e do Êxodo. Dan Juster trabalha
arduamente para a Unidade da Igreja com Israel.

JUSTER, Dan. Impacto Publicações: Americana/SP, 2018.


https://bit.ly/2JZLdVG

Em Busca da Verdadeira Unidade da Igreja

Diante do chamado genuíno do Espírito para unidade dos cristãos


e do perigo de envolver-nos com a falsa unidade, como devemos
agir? Quais são as motivações e características da falsa unidade?
Qual a unidade que Deus ama? Como devemos agir para não
ficar fora dela?

WALKER, Harold. Impacto Publicações: Americana/SP, 2017.


https://bit.ly/2ZagQiO

Amigos do Mestre

A Igreja de hoje tem-se conformado cada vez mais às normas e


características de uma empresa. No entanto, Jesus não veio
propor empreendimento algum para salvar o homem. Ele
investiu seus poucos anos de ministério na Terra em pessoas, na
construção de relacionamentos duradouros. Ele não chamou os
discípulos para levantar uma obra, pois sua obra eram os
próprios discípulos.

ARRUDA, Pedro. Impacto Publicações: Americana/SP, 2016.


https://bit.ly/2XsIYx7

220
Revelações sobre a Unidade do Corpo de Cristo para o
Avivamento da Igreja

A autora revela, nessa obra, sua preocupação com o estado atual


do Corpo de Cristo, principalmente no que se refere às
sucessivas divisões ocorridas ao longo da História. O amor e o
perdão, palavras-chaves do Evangelho, não estão sendo
praticadas como deveriam. Nessas revelações, o Senhor a
estimula a partilhar o que ele está falando nesses dias à sua
Igreja.

MARRA SOARES, Helena Cristina. Impacto Publicações:


Americana/SP, 2016.

O Maior Milagre do Fim dos Tempos

A unidade da Igreja, juntamente com Israel, será o derradeiro


milagre dos dias que antecedem a volta de Jesus.

INTRATER, Asher. Impacto Publicações: Americana/SP, 2017.


https://bit.ly/2MvtJlO

União através de Comunhão

A verdadeira união acontece somente quando temos uma


verdadeira comunhão com Cristo, e nos unimos aos outros
irmãos que também têm uma verdadeira comunhão com Cristo.

KUROSAKI, Kokichi. Impacto Publicações: Americana/SP.

OUTRAS LEITURAS RECOMENDADAS

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A Comunhão Nossa de Cada Dia: A reforma da unidade da
Igreja

A comunhão nossa de cada dia não é um manual nem um roteiro


de como se deve praticar a comunhão, mas um diário,
verdadeiro como os diários devem ser: o registro das reflexões
de um homem abrasado pela paixão de ver o sonho de Deus
tocando o chão da História.

ARRUDA, Pedro. Editora Grupo News: Barueri/SP, 2010.


https://bit.ly/2WriG1y

Mãe de Muitos Filhos

A união de Elza e Franco é mais do que um simples casamento.


No encontro dessa católica com esse presbiteriano, está a
possibilidade da unidade para uma Igreja tão mutilada e
fragmentada pelas constantes divisões, mormente por aspectos
secundários, não essenciais e que não sobreviverão à
eternidade.

BRONZATTO, Maurício (publicador). Editora Incenso, 2014.


https://bit.ly/2WO6veI

Religião do Pombo: Como discernir a manipulação


espiritual

Como é possível discernir quando o Espírito Santo se move de


maneira autêntica ou quando um espírito falso gera
manipulação? Se a pomba simboliza o autêntico Espírito Santo,
o pombo simboliza o espírito falso. Infelizmente, muitas vezes a
suposta presença da pomba entre nós não passa de religião do
pombo.

KENDALL, R. T. Editora Vida: São Paulo/SP, 2017.


https://bit.ly/2EUAwiL

222
Encontrei a Chave do Coração de Deus

“Viramos as páginas como faríamos com a partitura de uma


grande sinfonia, e, seja ela de música leve ou sejam os acordes
profundos que são tocados, nossos corações não podem deixar
de responder. A resposta será uma busca mais profunda em
nossos corações e vidas, seguida de amor e adoração por nosso
Senhor Jesus.” Irmã Basilea é fundadora da Comunidade
Evangélica de Maria, que busca a Unidade com judeus desde o
término da Segunda Guerra.

SCHLINK, M. Basilea (autobiografia). Canaã no Brasil:


Curitiba/PR.
https://bit.ly/2wAejCe

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