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Representante Discente: Prof. Dra. Sinara Lacerda Andrade – UNIMAR/FEPODI – São Paulo
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Profa. Dra. Cinthia Obladen de Almendra Freitas - PUC – Paraná
Profa. Dra. Livia Gaigher Bosio Campello - UFMS – Mato Grosso do Sul
Membro Nato – Presidência anterior Prof. Dr. Raymundo Juliano Feitosa – UMICAP – Pernambuco
D597
Direito internacional dos direitos humanos [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI
Coordenadores: Ana Paula Martins Amaral; Samyra Haydêe Dal Farra Naspolini; Vladmir Oliveira da Silveira –
Florianópolis: CONPEDI, 2022.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-65-5648-487-7
Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
Tema: Inovação, Direito e Sustentabilidade
1. Direito – Estudo e ensino (Pós-graduação) – Encontros Nacionais. 2. Direito internacional. 3. Direitos humanos. V
Encontro Virtual do CONPEDI (1: 2022 : Florianópolis, Brasil).
CDU: 34
Apresentação
Resumo
Em 2020, a Corte Interamericana de Direitos condenou o Brasil no caso da Fábrica de Fogos
de Santo Antônio de Jesus. A partir desse caso, este estudo analisa as obrigações
estabelecidas pela Corte ao Estado brasileiro, tendo como problema de pesquisa: qual a
relação entre as exclusões abissais e não abissais e as condenações estabelecidas pela Corte?
Esta pesquisa é orientada pelo referencial teórico descolonial e pelas contribuições de
Boaventura de Souza Santos. A investigação se sustenta na metodologia do estudo de caso,
valendo-se da revisão bibliográfica e da análise documental como técnicas de pesquisa.
Abstract/Resumen/Résumé
In 2020, the Inter-American Court of Rights condemned Brazil in the case of the Fábrica de
Fogos de Santo Antônio de Jesus. Based on this case, this study analyzes the obligations
established by the Court to the Brazilian State, having as a research problem: what is the
relationship between the abyssal and non-abyssal exclusions and the convictions established
by the Court? This research is guided by the decolonial theoretical framework and by the
contributions of Boaventura de Souza Santos. The investigation is based on the case study
methodology, using the literature review and document analysis as research techniques.
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1 INTRODUÇÃO
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2 EPISTEMOLOGIAS DO SUL E A LINHA ABISSAL: A LÓGICA DA
COLONIALIDADE
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ponto de vista, este contexto tem em sua base um problema epistemológico, de
conhecimento, por isso é necessário partir das Epistemologias do Sul (...)
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se intimamente com o percurso histórico dos direitos naturais do homem” (BRAGATO, 2014,
p.206). Há aqui uma abordagem pautada por uma essência universal do homem, enquanto
atributo compartilhado, que o difere dos demais seres e igualmente permite fundamentar sua
superioridade, sendo a racionalidade o elemento identificador, capaz de transformar, fazer
conhecer e sentir (BRAGATO, 2014).
A lógica da colonialidade opera entrelaçando e criando uma situação de
interdependência entre o status pleno de ser humano e a proteção integral dos direitos humanos,
como trata Bragato (2016). Isso se dá justamente em virtude da manutenção desse discurso
racional-individualista, que opera com base na colonialidade, identificando, classificando e
definindo, de forma seletiva, os sujeitos então percebidos como integralmente humanos. Dessa
lógica parte um processo de não garantia de direitos a todos, que se dá por meio da
discriminação em nome de um padrão de humanidade constituído pelo discurso (BRAGATO,
2016), cujas bases excludentes remetem a colonialidade.
O colonialismo se apresenta como processo de poder exercido nas relações de
dominação colonial, ao passo que a colonialidade é uma característica proveniente deste
processo (QUIJANO, 2008), que remanesce de diferentes formas como no neocolonialismo
global ou colonialismos internos. A matriz colonial de poder, objeto das análises críticas do
pensamento descolonial, sustenta-se pela “codificação das diferenças entre conquistadores e
conquistados na ideia de raça” (QUIJANO, 2005, p.227), compreendida como uma estrutura
biológica reputada como diferente, permitindo que alguns sejam naturalmente inferiores que
outros dadas essas circunstâncias biológicas; e também pela “constituição de uma nova
estrutura de controle do trabalho e dos seus recursos, da escravidão, da servidão, da pequena
produção mercantil independente, em conjunto e sobre a base do capital e do mercado mundial”
(QUIJANO, 2005, p.227).
Há, portanto, uma estreita conexão entre identidade e diferença e as relações de poder,
sobretudo, o “poder de definir a identidade e de marcar a diferença não pode ser separado das
relações mais amplas de poder” (SILVA, 2012, p. 68). Com isso, considerando a própria
construção do discurso colonial no contexto dessas assimetrias de poder, esse processo não
pode ser compreendido como natural, decorrente do desenvolvimento das sociedades. O
pensamento abissal é produzido discursivamente, operando por meio da lógica da colonialidade
para classificar e hierarquizar saberes e também pessoas. Assim, Santos (2009, p. 23) afirma:
O pensamento moderno ocidental é um pensamento abissal. Consiste num sistema de
distinções visíveis e invisíveis, sendo que as invisíveis fundamentam as visíveis. As
distinções invisíveis são estabelecidas através de linhas radicais que dividem a
realidade social em dois universos distintos: o universo ‘deste lado da linha’ e o
universo ‘do outro lado da linha’. A divisão é tal que ‘o outro lado da linha’ desaparece
enquanto realidade, torna-se inexistente, e é mesmo produzido como inexistente.
Inexistência significa (...).
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divisão radical entre as formas de sociabilidade metropolitana e formas de sociabilidade
colonial (SANTOS, 2019).
Essa divisão é responsável pela divisão do mundo em dois: o metropolitano e o colonial.
O primeiro corresponde ao “nós”, aos integralmente humanos. Admite-se aqui a existência de
tensões e exclusões, todavia, ainda existe o pertencimento ao “nós”, a sua equivalência e
reciprocidade básicas. Santos (2019) afirma que as exclusões geradas no mundo metropolitano
são exclusão não abissais. Deste lado da linha, as lutas contra as exclusões são realizadas por
meio da emancipação social: busca-se a substituição da atual regulação social com escopo de
substituí-la por outra regulação social menos excludente.
O segundo corresponde ao “eles”, o mundo colonial é habitado pelos não inteiramente
humanos, razão pela qual é inimaginável se pensar em qualquer existência de equivalência ou
reciprocidade: estão do outro lado da linha abissal. Deste lado da linha as exclusões são abissais
e a sua gestão ocorre por meio da dinâmica de apropriação e da violência: são mantidos por
meio do Estado colonial e neocolonial, racismo, apartheid, trabalho forçado e trabalho escravo,
tortura, guerra, acumulação primitiva de capital, campos de internamento para refugiados,
violência doméstica, etc.
Aqui, a luta contra a apropriação e a violência é pela sua completa libertação da
regulação social colonial. Nesse sentido Santos (2019, p. 44) afirma: “(...) ao contrário da luta
pela emancipação social, no lado metropolitano da linha abissal, a luta pela libertação não visa
a uma forma melhor e mais inclusiva de regulação colonial. Visa sim a sua eliminação (...)”.
Apesar de as epistemologias do Sul priorizarem às exclusões abissais, esclarece-se que as
exclusões não abissais e as lutas contra ela são igualmente importantes, uma vez que esses
mundos coexistem simultaneamente, ainda que radicalmente diferentes. Aliás, como aponta
Santos (2019, p. 45), alguns grupos sociais podem experenciar a linha abissal ao cruzarem os
dois mundos na sua vida cotidiana:
(...) numa sociedade predominantemente branca e com preconceito racial, um jovem
negro que estuda numa escola secundária vive no mudo da sociabilidade
metropolitana. Pode considerar-se excluído, quer porque os colegas por vezes o
evitam ou porque o plano de estudo contém matérias que são insultuosas para a cultura
ou a história dos povos afrodescendentes. No entanto, tais exclusões não são abissais,
pois ele faz parte da mesma comunidade estudantil e, pelo menos em teoria, tem ao
seu dispor mecanismos para argumentar contra tais discriminações. Entretanto,
quando este jovem, de regresso à casa, é interceptado pela polícia visivelmente apenas
porque é negro (ethnic profiling) e é violentamente espancado, está cruzando, nesse
momento, a linha abissal e passando do mundo da sociabilidade metropolitana para o
mundo da sociabilidade colonial. A partir daí a exclusão é abissal e qualquer
invocação de direitos não é mais que uma cruel fachada.
Como apontado por Santos (2019), a exclusão abissal sofrida reside na ideia de não se
aceitar a vítima como pertencente do “nós”, por não atender ao padrão de humanidade
discursivamente constituído, não podendo, portanto, possuir o mesmo tratamento do
inteiramente humano, o “nós”. O referido exemplo trazido pelo autor ilustra três pontos
importantes: o primeiro é a vivacidade pela qual se identifica a possibilidade de existência de
exclusões abissais e não abissais no cotidiano de um mesmo local geográfico; o segundo é que,
através desse exemplo, é possível verificar que ambas as lutas – seja a luta por emancipação ou
por libertação – são igualmente relevantes e precisam ser solucionadas e; por fim, o terceiro é
a necessidade de respostas distintas por se tratarem de modelos de exclusão distintos.
A luta por libertação exige a necessidade de uma re-existência. No entanto, enquanto o
capitalismo, colonialismo e patriarcado vigorarem, “(...) grandes grupos sociais viverão, de
forma sistemática, embora de modos diversos conformes as diferentes sociedades e contextos,
esse fatal atravessar da linha abissal (...)” (SANTOS, 2019, p. 46). Reconhecer a existência da
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linha abissal é reconhecer que os diferentes tipos de exclusão não podem ser estabelecidos como
exclusões de um mesmo tipo. Assim, o próximo tópico, por meio da análise do caso da Fábrica
de Fogos, pretende apontar as repercussões práticas da não diferenciação entre as exclusões não
abissais e abissais, que opera a partir da lógica da colonialidade.
3. 1 RESUMO DO CASO
O presente caso trata da explosão de uma fábrica de fogos de artifício em Santo Antônio
de Jesus, ocorrida em 11 de dezembro de 1998, em que 60 pessoas morreram e seis
sobreviveram, entre elas 22 crianças (CORIDH, 2020). O município de Santo Antônio de Jesus
se encontra na região do Recôncavo Baiano, localizando-se a 187 km de Salvador, capital do
Estado da Bahia. Referida região possui uma significativa presença histórica de pessoas
afrodescendentes, principalmente em razão do recebimento de pessoas escravizadas a partir do
século XVI (CORIDH, 2020).
Ainda depois da conquista da liberdade, a população afrodescendente enfrentou a
negação de diversos direitos por parte do Estado, possuindo restrições ao exercício da cidadania
e dificuldades para o pleno exercício dos direitos à moradia, à propriedade e à entrada no
mercado de trabalho (CORIDH, 2020). De tal modo, na região dos fatos, após a abolição da
escravidão, muitos afrodescendentes permaneceram em condições de servidão e em relações
trabalhistas marcadas pela informalidade e pelo uso predominante de mão de obra não
qualificada, conservando boa parte dessa população em condições de pobreza, razão pela qual,
no momento dos fatos, a fabricação de fogos de artifício era a única opção de trabalho daquela
população afrodescendente (CORIDH, 2020). Em consequência da situação de pobreza, não
possuíam alternativa senão a realização deste trabalho de alto risco, com mísera remuneração e
sem medidas de segurança adequadas. Cumpre ressaltar que o próprio Estado brasileiro
reconheceu, em audiência realizada em 19 de outubro de 2006, a persistência de pobreza
extrema em Santo Antônio de Jesus, levando muitas famílias a trabalharem em fábricas
clandestinas (CORIDH, 2020).
Geralmente, a fabricação de fogos de artifício ocorre regiões periféricas da cidade, em
tendas clandestinas e insalubres, não possuindo as condições mínimas de segurança exigidas
para este tipo de atividade, expondo os trabalhadores à possibilidade de queimaduras, lesões
por esforço repetitivo, irritação ocular e das vias respiratórias superiores e doenças pulmonares
(CORIDH, 2020). Ocorre que, apesar de muitas vezes clandestina e sem respeito às normas de
segurança, a fabricação de fogos de artifício gera emprego e renda em Santo Antônio de Jesus.
Conforme dados apontados na decisão, em 2005, estimava-se que 10% da população de 80.000
habitantes sobrevivia com a remuneração proveniente dessa atividade e que, em 2008, entre dez
mil e quinze mil pessoas trabalhavam na produção de fogos de artifício no município
(CORIDH, 2020).
Identifica-se que, as trabalhadoras desse setor são frequentemente mulheres
marginalizadas na sociedade, sem outras opções de trabalho, uma vez que, em sua maioria, não
concluíram o ensino fundamental e começaram a trabalhar na indústria entre os 10 e os 13 anos
(CORIDH, 2020). Assim, as empregadas da fábrica de fogos eram impossibilitadas de ter
acesso a alternativas de trabalho, pois, devido à sua falta de alfabetização, não conseguiam um
trabalho no comércio local (CORIDH, 2020). No trabalho nas fábricas não eram oferecidos
equipamentos de proteção individual nem treinamento ou capacitação às trabalhadoras, bem
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como se consta a existência de várias crianças trabalhando na fábrica desde os seis anos de
idade (CORIDH, 2020).
O fato trazido à Corte ocorreu em 11 de dezembro de 1998, quando, por volta do meio-
dia, ocorreu uma explosão na fábrica de “Vardo dos Fogos”. De acordo com a denúncia
promovida pelo Ministério Público, apesar da ciência dos proprietários da fábrica do perigo
iminente, possuía autorização estatal para o seu funcionamento. Em razão da explosão,
morreram 60 pessoas – 40 mulheres, 19 meninas e um menino – e seis sobreviveram – três
mulheres, dois meninos e uma menina (CORIDH, 2020).
Consta-se que houve realização de perícia técnica pela Polícia Civil no dia 8 de janeiro
de 1999, que constatou que explosão ocorreu em virtude da falta de segurança no local em razão
do armazenamento incorreto e utilização indevida dos propulsores e acessórios explosivos
(CORIDH, 2020). Assim, foram iniciados processos civis, trabalhistas, penais e
administrativos, porém, transcorridos mais de 18 anos, até a data de aprovação do Relatório de
Admissibilidade e Mérito da Comissão Interamericana de Direitos Humanos – CIDH – só
haviam sido concluídos os processos na via administrativa e alguns trabalhistas, porém, ainda
nestes casos, não houve a execução da reparação (CORIDH, 2020). Por esta razão, a CIDH foi
provocada através do protocolo de petição em 3 de dezembro de 2001 (CORIDH, 2020).
A Comissão promoveu uma audiência pública sobre o caso na data de 19 de outubro de
2006, na qual o Estado informou que não questionaria a admissibilidade do caso e também
reconheceu sua responsabilidade quanto à falta de fiscalização (CORIDH, 2020). Assim,
propôs que as partes iniciassem um processo de solução amistosa. De tal modo as partes
acordaram em iniciar um processo de solução amistosa, porém, em 18 de outubro de 2010, a
parte peticionária solicitou à Comissão a suspenção do procedimento de solução amistosa e
emitisse o Relatório de Mérito, uma vez que as violações alegadas continuavam sem reparação.
Esse pedido foi ratificado em 17 de dezembro de 2015 (CORIDH, 2020).
Em 2 de março de 2018, a Comissão emitiu o Relatório de Admissibilidade e Mérito
No. 25/18 apresentando recomendações ao Estado, notificando-o mediante comunicação de 19
de junho de 2018 (CORIDH, 2020). Ocorre que, após transcorrido o prazo de dois meses para
informar sobre o cumprimento das recomendações, o Brasil não apresentou informação a
respeito (CORIDH, 2020). De tal modo, em 19 de setembro de 2018, a Comissão submeteu à
jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos – CorIDH – a totalidade dos fatos e
supostas violações de direitos humanos descritas no Relatório, solicitando à Corte que
concluísse e declarasse a responsabilidade internacional do Estado pelas violações constantes
de seu Relatório (CORIDH, 2020).
Após a análise dos fato, provas e argumentos apresentados, a CorIDH entendeu que o
Estado brasileiro é responsável pela violação dos direitos à vida (art. 4.1) e da criança (art. 19),
bem como por não respeitar os direitos e liberdades e a garantia de seu livre e pleno exercício
a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação (art. 1.1), em prejuízo das
sessenta pessoas falecidas na explosão da fábrica de fogos de Santo Antônio de Jesus, ocorrida
em 11 de dezembro de 1998 (CORIDH, 2020).
Em seguida, a Corte entendeu pela responsabilidade do Estado pela violação dos direitos
à integridade pessoal e da criança (art. 5.1 e art. 19), em relação ao artigo 1.1 da Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, em prejuízo dos seis sobreviventes da explosão (CORIDH,
2020). Em relação a todas as sessenta pessoas falecidas e às seis sobreviventes da explosão, a
Corte entendeu pela responsabilização do Brasil pela violação dos direitos da criança (art. 19),
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à igual proteção da lei e à proibição de discriminação (art. 241) e ao trabalho (art. 262) em
relação ao artigo 1.1 da Convenção (CORIDH, 2020).
Em relação aos seis sobreviventes e dos familiares das vítimas da explosão da fábrica
de fogos, a Corte entendeu pela responsabilidade do Estado pela violação dos direitos às
garantias judiciais (art. 83) e à proteção judicial (art. 254) em relação ao artigo 1.1 da
Convenção (CORIDH, 2020). Quanto aos familiares das pessoas falecidas e dos sobreviventes
da explosão, a Corte entendeu que o Brasil é responsável pela violação do direito à integridade
pessoal (art. 5.1) em relação ao artigo 1.1 do mesmo instrumento (CORIDH, 2020).
A CorIDH determinou ao Estado brasileiro a continuidade aos processos penal, às ações
civis de indenização por danos morais e materiais e aos processos trabalhistas ainda em
tramitação, para, em prazo razoável, julgar e, caso pertinente, punir os responsáveis pela
explosão da fábrica de fogos (CORIDH, 2020). Ainda, foi determinado que o Brasil forneça,
gratuita e imediatamente, tratamentos médico, psicológico ou psiquiátrico às vítimas do
presente caso que o solicitem. Segundo a Corte, deve, ainda, o Estado brasileiro, no prazo de
seis meses, contado a partir da notificação da presente Sentença, publicar:
a) o resumo oficial da presente Sentença, elaborado pela Corte, uma só vez, no Diário
Oficial, em um corpo de letra legível e adequado; b) o resumo oficial da presente
Sentença, elaborado pela Corte, uma só vez, em um jornal de ampla circulação
nacional, em um corpo de letra legível e adequado; e c) a presente Sentença na íntegra,
disponível por um período de um ano, em uma página eletrônica oficial do Estado da
Bahia e do Governo Federal (CORIDH, 2020, p. 78).
Também foi determinada a veiculação de material para rádio e televisão, de não menos
de cinco minutos, em que apresente o resumo da sentença (CORIDH, 2020). Além dessas
publicações na ordem interna, a Corte determinou ao Estado que realize um ato público de
reconhecimento de responsabilidade internacional, em relação aos fatos do presente caso
(CORIDH, 2020).
Fora, ainda, determinado o dever de inspecionar sistemática e periodicamente os locais
de produção de fogos de artifício, bem como a elaboração e execução de programa de
desenvolvimento socioeconômico – consultando-se as vítimas e seus familiares –, objetivando
a promoção da inserção de trabalhadoras e trabalhadores dedicados à fabricação de fogos de
artifício em outros mercados de trabalho, possibilitando a criação de alternativas econômicas
(CORIDH, 2020). Determinou-se a necessidade de apresentação de relatório sobre o andamento
da tramitação legislativa do Projeto de Lei do Senado Federal do Brasil PLS 7433/2017, que
dispõe sobre a fabricação, o comércio e o uso de fogos de artifício e revoga a normatização
atual (CORIDH, 2020).
A Corte estabeleceu a necessidade de apresentação de relatório sobre a aplicação das
Diretrizes Nacionais sobre Empresas e Direitos Humanos, bem como o pagamento dos valores
fixados na Sentença a título de indenizações por dano material, dano imaterial e custas e gastos
(CORIDH, 2020). Por fim, determinou-se o prazo de um ano, contado a partir da notificação
da Sentença, para a apresentação de um relatório sobre as medidas adotadas para seu
cumprimento, cabendo à Corte a supervisão de seu cumprimento integral (CORIDH, 2020).
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4 DIREITOS HUMANOS, COLONIALIDADE E EXCLUSÕES ABISSAIS: AS
MEDIDAS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITO HUMANOS NO CASO DA
FÁBRICA DE FOGOS
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discursos econômicos, culturais e políticos e práticas institucionais. A diferença como relação
social pode ser entendida como as trajetórias históricas e contemporâneas das circunstâncias
materiais e práticas culturais que produzem as condições para a construção das identidades de
grupo (BRAH, 2006). Esse conceito se volta para o que se designa como “entretecido de
narrativas coletivas”, as quais são compartilhadas dentro de sentimentos de comunidades
existentes ou imaginadas pelos sujeitos. Para exemplificar, Brah (2006) identifica como ecos
da diferença como relação social os discursos que retomam o legado da escravidão, do
colonialismo ou do imperialismo, por exemplo.
É possível tratar desse conceito em termos locais e globais, na medida em que as
relações sociais são constituídas e operam em todos os lugares de uma formação social, sendo
possível tratar tanto de relações sociais como de experiências sem prejuízo para ambos
desdobramentos. Em termos de relações sociais, o que se ressalta é como a diferença é definida,
ou seja, se as percepções de diferença atuam para afirmar a diversidade ou como mecanismo de
práticas excludentes e discriminatórias; ainda, se reforçam e legitimam os discursos da
diferença política de estado progressistas ou opressivas (BRAH, 2006).
Desse modo, o conceito de diferença remete a uma variedade de formas pelas quais o
discurso da diferença é constituído e contestado, sendo que “algumas construções da diferença,
como o racismo, postulam fronteiras fixas e imutáveis entre grupos tidos como inerentemente
diferentes” (BRAH, p.370). Outras partem de uma abordagem relacional e mais contingente,
que não é tão associada a hierarquização e a opressão. É nesse sentido que é possível verificar
que a raça, enquanto categoria produzida a partir de uma diferença que historicamente nos
países marcados pelo colonialismo foi reprodutora de hierarquização, se apresenta como forma
de exclusões abissais. A linha abissal separa, fundamentada na raça, o branco europeu do negro,
do indígena e de outros grupos sociais do Sul global. De tal modo, uma das exclusões abissais
gerada pela raça se consubstancia no racismo, entendido por Almeida (2019, p. 22) como:
(...) uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento, e que
se manifesta por meio de práticas conscientes ou inconscientes que culminam em
desvantagens ou privilégios para indivíduos, a depender do grupo racial ao qual
pertençam.
Como apontado pelo autor, o racismo não se trata de um ato isolado ou um conjunto de
atos discriminatório, mas, sim, possui um caráter sistemático de criação e manutenção de
condições de subalternidade e de privilégio distribuídas entre grupos raciais, reproduzem-se nos
âmbitos da política, da economia e das relações cotidianas (ALMEIDA, 2019). O racismo
decorre, portanto, da própria estrutura social das relações políticas, econômicas, jurídicas e até
familiares, não o entendendo, desta forma, como sendo uma patologia social ou um desarranjo
institucional. O racismo se apresenta como estrutura, mas o uso desse termo não significa:
(...) que o racismo seja uma condição incontornável e que ações e políticas
institucionais antirracistas sejam inúteis; ou, ainda, que indivíduos que cometam atos
discriminatórios não devam ser pessoalmente responsabilizados. Dizer isso seria
negar os aspectos social, histórico e político do racismo. O que queremos enfatizar do
ponto de vista teórico é que o racismo, como processo histórico e político, cria as
condições sociais para que, direta ou indiretamente, grupos racialmente identificados
sejam discriminados de forma sistemática. Ainda que os indivíduos que cometam atos
racistas sejam responsabilizados, o olhar estrutural sobre as relações raciais nos leva
a concluir que a responsabilização jurídica não é suficiente para que a sociedade deixe
de ser uma máquina produtora de desigualdade racial (ALMEIDA, 2019, p.34).
Ao afirmar que, além de se adotar medidas que busquem coibir as expressões individuais
ou institucionais do racismo, é necessário que se produza mudanças profundas nas relações
sociais, políticas e econômicas, Almeida (2019) se aproxima da proposta de Boaventura (2019),
151
para quem, como já apresentado, as lutas por libertação, objetivando acabar com as exclusões
abissais, demandam a destruição de uma regulação social colonial, que opera a partir da lógica
classificatória manejada para identificar o outro como degenerado e menos digno de proteção
e garantia de direitos humanos.
O racismo estrutural é identificado no contexto da explosão da Fábrica de Fogos, ao
passo que a população localizada em Santo Antônio de Jesus, majoritariamente negra, estava
em condição de negação de seus direitos por parte do Estado brasileiro. Essa situação
perpetuava uma histórica condição de trabalhos degradantes, uma vez que, em razão da pobreza,
não lhe restavam alternativas senão a realização de atividades de alto risco, mal remuneradas e
sem medidas de segurança adequadas.
Em razão da raça, pessoas como os familiares e as vítimas da explosão na fábrica de
fogos, bem como os demais trabalhadores que seguem em condições precárias e submetem-se
ao subemprego, e são impedidas de serem vistas enquanto seres humanos em sua totalidade. As
omissões por parte do Estado brasileiro, em especial no que diz respeito a adoção de medidas
administrativas e judiciais preventivas e repressivas demonstra a manutenção de um discurso
de gradação da humanidade, o qual por meio de hierarquias e classificações define e relativiza
o status de ser humano (BRAGATO, 2016), excluindo pessoas da proteção do Estado:
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por danos causados a violações de direitos ocasionadas por exclusões abissais não se trata de
medida que, sozinha, seja capaz de promover a eliminação da regulação social colonial, a fim
de não permitir a repetição dos atos causados em razão do racismo estrutural, como no Caso da
Fábrica de Fogos.
A segunda condenação realizada pela CorIDH determina a apresentação de relatório
sobre o andamento da tramitação legislativa do Projeto de Lei do Senado Federal do Brasil PLS
7433/2017. O Projeto de Lei a que a sentença se refere dispõe sobre a fabricação, o comércio e
o uso de fogos de artifício e revoga o Decreto-Lei nº 4.238, de 8 de abril de 1942. O Referido
Projeto de Lei foi proposto pelo Senador Cyro Miranda (PSDB-GO) em 2013, enviado à
Câmara dos Deputados para revisão da Câmara dos Deputados por meio do ofício n. 297/2017
(BRASIL, 2017) e foi apensado ao PL 3381/2015, que dispõe sobre a comercialização de
sinalizador náutico em todo o território nacional (BRASIL, 2015) e persiste em trâmite no
Congresso Nacional.
O PLS 7433/2017 prevê em seu art. 3º que a emissão de licença ou documento similar
deverá ocorrer “(...) de forma independente entre os órgãos competentes, de modo a não se
restringir direito do interessado em razão de divergências normativas entre os organismos
responsáveis” (BRASIL, 2017). Em seu art. 5º, o Projeto prevê que a instalação de fábrica de
fogos de artifício só será permitida em zona rural, observando-se as disposições de regulamento
específico emitido pelo órgão competente, exigindo-se, para o seu funcionamento, responsável
técnico de profissional qualificado e, proibindo, em seu art. 6º a exposição e a venda, a varejo
ou por atacado, de fogos de artifício não certificados pelo órgão competente (BRASIL, 2017).
Já em seu art. 12, o Projeto prevê que os locais destinados ao comércio, ao
armazenamento e à preparação de fogos de artifício para montagem de espetáculos pirotécnicos
devem estar distantes das áreas de segurança – sede de governo nas esferas federal, estadual e
municipal –, de proteção – hospitais, estabelecimentos de ensino, estádios e terminais
ferroviários, rodoviários, metroviários e aeroviários – e de risco – depósitos de combustíveis e
inflamáveis e tubulações de combustíveis e inflamáveis, exceto as subterrâneas.
Em outras palavras, a conceção de licenças para fabricação, comércio e queima
permanecerá descentralizada, priorizando-se os interesses dos executores dessas atividades, que
poderão buscar a sua realização onde as normas para aquisição da licença seja mais favorável.
Ademais, apenas infrações administrativas são previstas em caso de violação das normas
propostas pelo Projeto. Por outro lado, a mudança legislação proposta não parece capaz de
solucionar os problemas relacionados à má distribuição de renda e a precarização do trabalho
que leva as pessoas da região a atuarem em fábricas clandestinas sob as condições já citadas.
Tal constatação nos leva a um outro ponto: mudar a legislação acerca da fabricação,
comercialização e uso de fogos poderia ser eficaz em locais onde houvesse efetiva fiscalização,
porém, o contexto das violações ocorridas no presente caso denuncia a própria ausência de
intenção do Estado em proteger pessoas do outro lado da linha abissal. Portanto, não há
nenhuma proposta normativa no PLS 7433/2017 que se mostre efetiva na busca de eliminação
da regulação social colonial, reconhecendo as circunstâncias abissais que distinguem a
condição dos trabalhadores e pessoas em situação de vulnerabilidade que habitam a região.
Já no que concerne à condenação ao Estado em apresentar relatório sobre a aplicação
das Diretrizes Nacionais sobre Empresas e Direitos Humanos, a Corte exigiu ao Estado a
implementação e aplicação das Diretrizes Nacionais sobre Empresas e Direitos Humanos. A
nova legislação deve promover apoio a medidas de inclusão e não discriminação, mediante a
criação de programas de incentivo à contratação de grupos vulneráveis, bem como a
implementação, por parte das empresas, de atividades educacionais em direitos humanos,
incluindo-se divulgação da legislação nacional e dos parâmetros internacionais e enfoque nas
normas relevantes para a prática das pessoas e os riscos para os direitos humanos.
153
Essa medida tem um caráter relevante para a análise pretendida neste estudo porque leva
em consideração a condição dos atores envolvidos, em especial as empresas que operam de
forma ilegal, em uma região conhecida pelo manuseio ilícito de explosivos. Nos termos da
Convenção Americana de Direitos Humanos, a responsabilidade pela violação a ser submetida
à jurisdição da Corte é direcionada aos Estado, tento por isso, ainda que a explosão tenha sido
causada por pessoa jurídica de direito privado, é o Estado brasileiro o responsável
internacionalmente por arcar com a condenação, dada a dinâmica da responsabilidade no
Direito Internacional. Apesar disso, a CorIDH não deixou de indicar medidas em relação às
empresas, embora o teor genérico das determinações tenha caráter pouco eficiente em face da
conhecida arquitetura da impunidade, no que concerne a responsabilidade das empresas por
violações de direitos humanos, seja diretamente ou em relação às cadeias de produção.
Por fim, a Corte também determinou o dever de inspecionar sistemática e
periodicamente os locais de produção de fogos de artifício e a elaboração e execução de
programa de desenvolvimento socioeconômico com o objetivo de promover a inserção de
trabalhadoras e trabalhadores dedicados à fabricação de fogos de artifício em outros mercados
de trabalho. No que concerne à essas duas últimas condenações, verifica-se que a busca por
alternativas de inserção econômica de pessoas nas mesmas condições das vítimas do caso se
apresenta como uma resposta adequada às exclusões não abissais, pois visam uma modificação
da regulação social vigente, tornando-a menos excludente:
154
ser decretada reescrevendo a história dos direitos humanos; o segundo pode seguir o caminho
descrito por Santos como um diálogo intercultural.
Reescrever a história dos direitos humanos implica em considerar outras narrativas para
além do discurso hegemônico, que igualmente representam lutas por direitos, para então pautar
uma teoria compreensiva dos direitos humanos (BRAGATO, 2014), cujo compromisso é
considerar todos os eventos modernos como produtores de direitos humanos e lutas de
resistência, inclusive os produzidos no cenário colonial. Esse olhar que aparenta ser para o
passado, tem repercussões concretas para o presente e para futuro. Isso porque, dar conta de um
passado que concebe a integralidade dos sujeitos como aptos para lutar, resistir e fundar direitos
humanos, é também pensar em um projeto de visibilidade do tempo presente, que considera o
que se deu na fábrica de fogos, em 1998, como uma violação de direito humanos, devendo as
pessoas afetadas não mais serem submetidas a uma proteção seletiva, pautada em um discurso
de desumanização.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
155
voltadas para reverter a exploração de mão-de-obra na região por atividades de alto risco,
marcada por uma discriminação interseccional, que leva em conta tanto a raça como o gênero.
Considerando isso, passou-se a examinar os elementos que permitem observar não só a
existência de exclusões abissais no referido contexto, mas também suas repercussões para os
direitos humanos. Tais exclusões, como se sustentou neste estudo, demandam medidas
específicas para além das indenizações de caráter pecuniário, para assegurar a proteção integral
das vítimas e evitar que novas violações continuem ocorrendo. As exclusões abissais enquanto
resultado da lógica da colonialidade, que opera classificando e hierarquizando diferenças
produzidas discursivamente, operou não só considerando as condições socioeconômicas da
população da região, mas também a partir do racismo, manejado como mecanismo que propicia
a seletividade na proteção dos direitos humanos.
Mediante um discurso que parte da diferença para propiciar a subordinação, a
classificação social funciona para designar o outro como tipo degenerado, excluindo-o do
âmbito de proteção, legitimando de forma ativa ou omissiva a constante violação seletiva de
pessoas racializadas. Para que possamos abandonar estes traços e recuperar a ideia de que é
possível se pensar em alternativas potenciais provindas das lutas contra a opressão, é preciso
uma nova epistemologia política, como se pretendeu demonstrar a partir das contribuições de
Santos.
Este autor propõe a ocupação do conhecimento por meio das epistemologias do Sul,
com a produção e a validação de conhecimentos ancorados nas experiências de resistência dos
grupos sociais que têm sido sistematicamente vítimas da injustiça, da opressão e da destruição
causadas pelo capitalismo, pelo colonialismo e pelo patriarcado. Esse processo passa pelo
reconhecimento a lógica da colonialidade e suas estratégias de subordinação, como o discurso
racial, e também da identificação das exclusões abissais produzidas pela colonialidade, que se
distinguem de outras formas de exclusão e tanto por isso demandam ações para além do
discurso hegemônico fundado na reparação episódica e de caráter indenizatório.
REFERÊNCIAS
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BRAH, Avtar. Diferença, diversidade, diferenciação. Cadernos Pagu, n.26, 2006. Disponível:
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sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 10 fev. 2021.
BARRETO, João-Manuel. Epistemologies of the South and Human Rights: Santos and the
Quest for Global and Cognitive Justice. Indiana Journal of Global Legal Studies, v. 21, n. 2,
2014.
BRAGATO, Fernanda Frizzo. Para além do discurso eurocêntrico dos direitos humanos:
contribuições da descolonialidade. Novos estudos jurídicos, v. 19, n. 1, 2014.
OEA. Convenção Americana sobre Direitos Humanos. 1969. Disponível em: www.ci
dh.oas.org/basicos/portugues/c.convencao_americana.htm>. Acesso em 16 de janeiro de
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SANTOS, Boaventura de Souza. Para além do Pensamento Abissal: das linhas globais a uma
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__________. Las epistemologías del Sur. Formas-Otras (Saber, Nombrar, Narrar, Hacer).
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