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DOI: 10.1590/1413-812320152110.

16642016 3061

Problematizando o conceito de deficiência

ARTIGO ARTICLE
a partir das noções de autonomia e normalidade

Questioning the concept of disability


based on the notions of autonomy and normality

Paula Gaudenzi 1
Francisco Ortega 2

Abstract This is a conceptual theoretical study Resumo Trata-se de um estudo teórico concei-
to reflect upon disability and some basic concepts tual para pensar a deficiência e alguns conceitos
that are involved in its profiling. The scope of the -base que são manejados para a caracterização
article is to broaden the outlook upon disability re- da mesma. O objetivo do artigo é ampliar o olhar
moving it from a description that reduces it to an sobre a deficiência retirando-a de uma descrição
ailment. For this purpose, we situated the Disabil- que a reduza à doença. Para tanto, situamos his-
ity Studies historically presenting the Medical and toricamente os Disabilty Studies apresentando os
Social Models of Disability and problematized the Modelos Médico e Social da Deficiência e proble-
concepts of autonomy and normality. These con- matizamos os conceitos de autonomia e normali-
cepts and their correlated aspects – independence, dade. Estes conceitos e seus correlatos – indepen-
functionality and the norm – are used as a tacit dência, funcionalidade e norma – são utilizados
touchstone to differentiate some bodily variations como fundamento tácito para diferenciar algumas
that are identified as different lifestyles from oth- variações corporais que são identificadas como es-
ers that are often called disabilities. We conclude tilos de vida diferentes de outras que são, muitas
by stating that disability can be analyzed based on vezes, denominadas de deficiências. Concluímos
other interpretations that do not construe it as a afirmando que a deficiência pode ser analisada a
synonym for ailment if we consider the notions of partir de outras chaves de leitura que não a colo-
interdependence, normativity and creation of the cam como sinônimo de doença se considerarmos
self in the world as basic concepts to describe it. as noções de interdependência, normatividade
Key words Disability, Medical model of disabili- e criação de si no mundo como conceitos básicos
ty, Social model of disability, Autonomy, Normal- para descrevê-la.
ity Palavras-chave Deficiência, Modelo médico da
deficiência, Modelo social da deficiência, Autono-
1
Instituto Nacional de
Saúde da Mulher, da mia, Normalidade
Criança e do Adolescente,
IFF, Fiocruz. Fiocruz.
Av. Rui Barbosa 716,
Flamengo. 22250-020 Rio
de Janeiro RJ Brasil.
paula.gaudenzi@gmail.com
2
Instituto de Medicina
Social, UERJ. Rio de Janeiro
RJ Brasil.
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Gaudenzi P, Ortega F

Introdução participação social de pessoas com deficiências, o


qual ficou conhecido como Modelo Social da De-
A deficiência constitui um campo crescente e he- ficiência5. De uma categoria estritamente biomé-
terogêneo de ativismo político e investigação no dica na ICIDH, a deficiência assumiu um caráter
Brasil e no mundo. No final dos anos sessenta, sur- também sociológico e político na CIF.
giram em diversos países ocidentais movimentos Os debates sobre o sentido de “deficiência”
sociais que reivindicavam os direitos de grupos não se esgotaram com a aprovação da CIF. Ade-
específicos, como mulheres e negros e, neste con- mais, como vemos, o termo deficiência desapare-
texto, a politização das pessoas com deficiências ce nesta classificação e os termos funcionalidade
ganhou força. Na África, América Latina, Améri- e incapacidade ganham destaque. A proposta da
ca do Norte e Europa, os movimentos sociais que OMS é que a CIF não seja apenas para aqueles
reivindicavam igualdade de oportunidades e de com deficiências, sendo sobre todas as pessoas. O
direitos para as pessoas com deficiências ficaram que está em causa, portanto, é a relação do indi-
conhecidos como Disability Rights Movement. Na víduo com a sociedade e, neste artigo, preocupa-
Inglaterra nasceu o Union of The Physically Move- nos essa questão.
ment Against Segregation (UPIAS)1 e nos Estados Com vistas à inclusão social e à cidadania
Unidos da América foi organizado o Independent plena e efetiva dos deficientes, no ano de 2015,
Living Movement (ILM)2. O âmbito do território o Brasil instituiu a Lei Brasileira de Inclusão
investigativo, por sua vez, é conhecido no mundo da Pessoa com Deficiência, também conhecida
anglo-saxônico como Disability Studies e é mar- como Estatuto da Pessoa com Deficiência6, que
cado sobretudo por uma visão crítica da noção entrou em vigor em janeiro de 2016. A Lei ga-
de deficiência utilizada por médicos, educadores rante, entre outras coisas, condições de acesso à
e outros especialistas e por estudos que lidam educação e à saúde e estabelece punições para
com aspectos legais da deficiência. atitudes discriminatórias contra essa parcela da
Um exemplo da expressividade dos estu- população.
dos críticos foi a relevância que ganharam seus Apesar das conquistas sociais e dos avanços
questionamentos à linguagem sobre a deficiência no que diz respeito aos direitos que estão sendo
utilizada na Classificação Internacional de Lesão, assegurados aos deficientes nos parece importan-
Deficiência e Handicap (ICIDH) proposta pela te manter e aprimorar as críticas sobre os enfo-
Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1980. ques médico e social da deficiência. Segundo o
Os críticos reivindicavam a descrição da defici- Estatuto da Pessoa com Deficiência, a avaliação
ência como uma questão de direitos humanos e da deficiência deve ser médica e social; enquan-
não apenas biomédica. Neste momento a inter- to a primeira enfatiza as funções e estruturas do
pelação de natureza política tinha como um dos corpo para caracterizar a deficiência, a segunda
principais alvos a relação de causalidade entre pondera sobre os fatores ambientais e pessoais
impairments, disabilities e handicaps assumida envolvidos. Ambas, diz o Estatuto, devem levar
pela ICIDH. De acordo com a mesma, impair- em consideração a limitação do desempenho das
ments significava perda ou anormalidade de uma atividades segundo suas especificidades.
estrutura ou função corporal – psicológica, fisio- A proposta deste artigo é, partindo de uma
logia ou anatômica; disability significava a restri- perspectiva crítica, problematizar as noções de
ção ou perda da capacidade de performance de (limitação de) desempenho e de (limitação da)
atividades de forma considerada normal para os funcionalidade, por meio dos conceitos de auto-
seres humanos e handicap era a desvantagem de nomia e normalidade. Neste sentido, o trabalho
uma pessoa individual oriunda do impairment situa-se no campo reflexivo da saúde coletiva
ou da disability que a limita de desempenhar um que, alimentada pelos pressupostos das ciências
papel que é normal em determinado grupo3. humanas e sociais, toma a constante problemati-
Para os críticos, a afirmação da relação de zação dos conceitos de normal e patológico como
causalidade entre essas condições refletia a so- um de seus aspectos fundamentais.
berania da linguagem biomédica e a ênfase em
propostas curativas. Como resultado da revisão Breve Histórico dos Disability Studies: do
da ICIDH, em 2001, foi aprovada a Classificação Modelo da Tragédia Pessoal à Crítica Social
Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e
Saúde (CIF)4. O documento é um marco na le- Portadores de um corpo marcado pela dife-
gitimação de um modelo interpretativo da defi- rença foram, por um longo período do pensa-
ciência com foco nas barreiras e na restrição de mento ocidental, compreendidos como inváli-
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dos, anormais, monstros ou degenerados e seus Por outro lado, a construção cultural e ideológica
corpos eram entendidos misticamente como re- dos corpos atípicos foi trabalhada principalmen-
sultado da ira ou do milagre divinos. A anomalia, te pela segunda geração do modelo social da de-
sobretudo a congênita, era vista como corporifi- ficiência marcada pelas abordagens feministas e
cação da ira dos deuses e o destino do sujeito era culturalistas. Nestas, os impedimentos intelectu-
a morte imediata7. ais e o cuidado estavam no centro das discussões
Com a entrada da narrativa biomédica sobre e buscou-se desafiar a cultura da normalidade5,13.
o corpo na modernidade o discurso religioso so- Na década de 1970, impulsionada por Paul
bre o excêntrico perdeu força e o corpo atípico Hunt, sociólogo deficiente físico, foi constituída
passou a ser diagnosticado como patológico ou a primeira organização política sobre a deficiên-
deficiente, buscando-se o saber e o controle so- cia formada e gerenciada por deficientes, deno-
bre o mesmo. Doravante, discursos doutos de minada Union of the Physically Impaired Against
caráter científico tomam os corpos que não se Segregation1. Esta questionava a compreensão
encaixam nos padrões estéticos ou funcionais da biomédica tradicional da deficiência como um
média da sociedade como objeto de saber/poder problema individual e afirmava que a experiência
e os rotulam como anormais, isto é, corpos que da deficiência não era resultado da lesão indivi-
não são apenas diferentes, mas que devem ser dual, mas de uma sociedade hostil à diversidade
“corrigidos”8. Diferentes expressões da atipia se humana10,14.
transformam, paulatinamente, em imagens da Em 1980, a rejeição ao modelo médico e à
deficiência. ideia de que a deficiência precisa ser “corrigi-
A compreensão da deficiência como um fe- da” ganha força, assim como a defesa de que os
nômeno no âmbito da patologia ficou conhe- “ajustamentos” não deveriam ser dos indivíduos
cido como o Modelo Médico da Deficiência ou deficientes, mas da sociedade, pois ela que era
Modelo da Tragédia Pessoal. Desta perspectiva, a desajustada em relação a estes. Entendia-se que
desvantagem vivida pelos deficientes é efeito de a opressão social e a exclusão dos deficientes
desvantagens naturais inerentes aos contornos não resultavam de suas limitações físico-men-
do corpo e, portanto, seus impedimentos são re- tais e que a experiência da desigualdade apenas
conhecidos como infortúnios privados, uma tra- se manifesta em uma sociedade pouco sensível
gédia pessoal9. Diversos autores, porém, criticam à diversidade de estilos de vida. Neste contexto,
este ponto de vista e afirmam que a narrativa da marcado pela “primeira geração” dos acadêmicos
tragédia pessoal envolve a ideia de incapacidade e ativistas da deficiência, os estudiosos atentam
pessoal e corrobora práticas medicalizadas e in- para a complexidade do conceito de deficiência
dividualizadas para lidar com a deficiência10. que, longe de ser sinônimo de um corpo com
Em confronto com tal perspectiva, em 1960 lesão, também denuncia a estrutura social que
tem início o Movimento do Direito dos Defi- oprime a pessoa que apresenta um corpo atípico.
cientes, quando se iniciou a reivindicação da Em contraposição ao modelo médico da deficiên-
participação de pessoas deficientes na pesquisa e cia, cresce o modelo social da deficiência.
nas decisões políticas referentes a este grupo. O Para os defensores do Modelo Social o corpo
Movimento defendeu o estabelecimento de um atípico não é um destino de exclusão15. Habitar
novo campo acadêmico que foi denominado no um corpo anômalo é uma experiência singular
mundo anglo-saxão de Disability Studies11. que pode ser descrita de diversas formas, depen-
Segundo Gareth Williams12, os Disability Stu- dendo da experiência subjetiva e do aporte am-
dies são marcados pelas correntes teóricas mar- biental. Se o prejuízo sofrido pelos deficientes for
xista e feminista pós-estruturalista e por duas analisado como resultado da sociedade, as pesso-
ênfases principais: a opressão social da pessoa de- as com deficiência serão vistas como membros de
ficiente e a construção cultural e ideológica dos uma minoria cujos direitos foram violados por
corpos atípicos. Grosso modo, pode-se dizer que uma maioria injusta. Assim, o foco da atenção
a opressão dos deficientes foi trabalhada, sobre- aos deficientes seria permitir às pessoas com de-
tudo, pelos teóricos da primeira geração do mo- ficiência liberdade para participar da vida social
delo social, os quais tinham forte inspiração no e das oportunidades13.
materialismo histórico e explicavam a opressão Para alguns mais radicais, como Palacios e
por meio de valores centrais do capitalismo rela- Romañach16, a deficiência é fonte de orgulho e
cionados aos corpos produtivos e funcionais. Os empoderamento, um símbolo de identidade pes-
principais teóricos dessa geração eram homens soal enriquecida. Ela é vista como diversidade
adultos, brancos e portadores de lesão medular5. corporal e funcional e como diferença subjetiva.
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Para estes, a experiência da “deficiência” propor- considerada nas perspectivas dos primeiros teó-
ciona um sentido de comunidade que é aprovei- ricos da deficiência. Perceber nas estruturas so-
tado na intenção de exaltar os valores fundamen- ciais uma importância maior para incorporar a
tais da vida, os direitos humanos e a celebração diversidade corporal do que nas vantagens que a
da diferença17. Trata-se de mais uma expressão biomedicina poderia oferecer ao corpo deficiente
de um fenômeno cultural que se desenvolveu nas fez com que os teóricos ignorassem a dimensão
últimas décadas que foi a emergência de movi- da lesão e da necessidade de cuidados especiais
mentos de defesa de plena cidadania daqueles dos deficientes. A entrada das teóricas feministas
que falam em nome da diferença. Indivíduos na discussão – que marcaram a segunda gera-
com conformações corporais e/ou mentais ante- ção dos estudos da deficiência – complexificou a
riormente classificadas como patológicas reivin- problemática ao considerar a lesão no debate e
dicam o estatuto de singularidades atípicas não ao negar a suposição de que todos os deficien-
patológicas. tes desejam a independência ou são capazes de
Desenvolve-se a ideia da “deficiência como alcançá-la. Argumentando que todas as pessoas
cultura” e como “categoria diversa” similar à raça são dependentes em diferentes momentos da
e orientação sexual. O campo passa a ter afini- vida, algumas feministas introduziram a ideia da
dades com disciplinas que lidam com noções de igualdade na interdependência como um prin-
identidade política, como os estudos de gênero cípio mais adequado à reflexão sobre questões
e de diversidade sexual10. Portanto, a forma de de justiça para deficientes20. A ambição por in-
compreender e tratar a deficiência passou a ser dependência, dizem, é um projeto moral que se
comparada com outras formas de humilhação e adéqua às aspirações das pessoas não deficientes.
opressão pelo corpo como o sexismo e o racismo. Mas, autonomia, independência e produtividade
Neste sentido, cria-se o neologismo disablism não são valores morais inquestionáveis. É preciso
para denunciar a cultura da normalidade que considerar a diversidade da experiência de viver
oprime e discrimina os portadores de impedi- em um corpo lesionado21.
mentos corporais17.
A tomada de consciência desse movimento Deficiência e Autonomia
vem produzindo processos de coming out defi-
ciente, análogos aos coming outs de gays, lésbicas A mudança na forma de compreender a cau-
e negros, declarando um “orgulho deficiente”. A salidade da deficiência, deslocando a desigualda-
afirmação “sou deficiente” constitui uma afirma- de do corpo para as estruturas sociais fragilizou a
ção de autocategorização, um processo de subje- autoridade dos discursos curativos e abriu possi-
tivação e de formação de identidade. Para os teó- bilidades analíticas para uma redescrição do sig-
ricos do campo essa afirmação permite um des- nificado de habitar um corpo com deficiências17.
locamento do discurso dominante da dependên- A passagem simbólica do tema da deficiência do
cia e anormalidade para a celebração da diferença espaço doméstico para o público forçou a ques-
e o orgulho da identidade deficiente18. Trata-se tão sobre que tipo de sociedade pode garantir os
tanto de um compromisso coletivo e político de direitos específicos das pessoas com determina-
protesto contra as barreiras sociais incapacitantes dos tipos de impedimentos sem que sejam consi-
encaradas pelos indivíduos com algum tipo de le- derados sujeitos de “segunda categoria”.
são, como de uma transformação da identidade Nosso ponto de vista leva em consideração o
pessoal vivenciada com orgulho. trabalho do filósofo sueco Lennart Nordenfelt22,23
Por outro lado, “passar por” (passing) é o ter- e segue a linha argumentativa da segunda gera-
mo usado para descrever aqueles que escondem ção dos estudos da deficiência. Uma das grandes
os seus prejuízos (impairments) ou não querem controvérsias entre os estudiosos da deficiência
“sair do armário” (come out) enquanto deficien- é sobre a necessidade de desacoplar a análise da
tes. Ambivalências identitárias como estas e as di- mesma de dentro do quadro conceitual episte-
ferentes experiências de pessoas que vivem com mológico da saúde e da doença. Os defensores
alguma deficiência são frequentemente ignora- do Modelo Social tiveram o mérito de rechaçar o
das por ativistas radicais dentro do movimento modelo biomédico hegemônico da análise sobre a
da deficiência e desclassificadas como opressão deficiência, mas teorias que aproximam a doença
internalizada ou falsa consciência19. da deficiência não se restringem a este modelo.
Vemos que, em geral, a dimensão da lesão, Nordenfelt, por exemplo, trabalha os concei-
isto é, da limitação imposta pelo corpo com al- tos de saúde e doença de forma holística e dialoga
gum tipo de redução da funcionalidade, é des- com os estudiosos da deficiência. Na concepção
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do autor, deficiência e doença não são condição importante avanço proporcionado pelos teóricos
da natureza humana, termos a-históricos ou do Modelo Social, pois permitiu recusar a descri-
atemporais; elas são categorias construídas por ção do corpo com impedimentos como patológi-
uma determinada sociedade e estão sujeitas a jul- co. Partindo desse pressuposto – de que o corpo
gamentos de valor22. A seu ver, autonomia é um com impedimentos não é necessariamente pato-
valor social central na caracterização da saúde e o lógico – parece-nos que o trabalho de Nordenfelt
conceito de deficiência que importa à medicina é nos traz um outro desafio fundamental para o
igualmente valorativo, podendo ser entendido a avanço na discussão sobre a noção de deficiência:
partir do mesmo quadro conceitual. a problematização do valor moral dos estilos de
A teoria da saúde de Nordenfelt é fortemente vida e da concepção de autonomia que sustenta
influenciada pela noção de dignidade e se baseia os discursos sobre a deficiência.
na ação pragmática do sujeito no mundo, consi- Parece-nos que um dos pontos chave das te-
derando o terreno da manifestação afetiva do ser orias sobre a deficiência para a consideração de
humano e o bem-estar. O autor faz referência a alguém como deficiente é se a condição corporal
um tipo de dignidade que denomina de dignida- atípica prejudica o exercício da identidade social
de de identidade que está ligada à integridade e à dominante que é de um sujeito livre e autônomo.
autonomia do corpo e da mente do ser humano Nesta perspectiva, a pessoa é deficiente quando a
e, em alguns casos, à sua autoimagem. mesma não pode andar por si, não pode cumprir,
Em sua concepção, a saúde de uma pessoa de forma independente, os projetos que a corrente
está ameaçada quando sua integridade corporal principal da cultura considera dignos.
está comprometida, temporária ou permanen- Tauber25 nos ajuda neste debate ao estabelecer
temente, a ponto de impossibilitá-la de cumprir as bases para a discussão da autonomia, explo-
seus projetos de vida, os quais denomina de “me- rando como ela pode ser designada como uma
tas vitais”. A especificação das metas vitais deve característica do self. O autor apresenta duas ma-
ser deixada à avaliação do bem-estar, a qual é neiras distintas de entender a identidade pessoal:
sui generis. A avaliação sobre os graus mínimos a partir do self atomístico e a partir do self rela-
de bem-estar é realizada sobre as bases de uma cional.
cultura comum, mas os valores ligados às metas O self atomístico é o self altamente individua-
vitais são muito mais egocêntricos, isto é, relacio- lista para o qual o princípio da autonomia assume
nam-se com a satisfação do próprio agente e não uma característica central da identidade pessoal.
necessariamente com a prescrição da sociedade24. Baseia-se na ideia de um agente neutro, racional,
Por outro lado, não são quaisquer projetos independente e objetivo fruto da filosofia liberal
individuais que são legítimos, diz. Eles não po- de John Locke, que considera o sujeito cognos-
dem destoar muito dos projetos hegemônicos cente como radicalmente separado do mundo. O
da cultura em que a pessoa está inserida. Pessoas self atomístico, diz Tauber, é adequado ao ethos
da mesma cultura tendem a fazer uma avaliação político liberal, que entende o autogoverno como
parecida sobre o que é uma vida boa. Há certo um novo e fundamental valor, temperado apenas
consenso sobre os graus mínimo e desejável de pela infração à liberdade de outros.
bem-estar. Este, entre outras coisas, diz Norden- A supervalorização da individualidade em
felt22, equivale a especificar o que é considerada a detrimento da sociabilidade, manifestada no alto
fronteira entre a saúde e a doença. valor dado ao indivíduo e no desprezo ao valor
Portanto, o que, em última instância, funda- das redes de reciprocidade é uma marca do self
menta a análise se estamos diante de uma con- individualista. Dado o elevado valor concedido
dição apenas atípica ou patológica é a avaliação à independência de pensamento e à liberdade de
da autonomia. Segundo Nordenfelt, se a pessoa escolha, a visão do self como individualista se tor-
não consegue cumprir suas metas vitais devido a nou um princípio básico da filosofia Iluminista.
um comprometimento corporal, estamos diante O self atomístico demanda que cada um de nós
de alguém que não está em boa saúde ou é defi- seja o criador de sua própria identidade, haven-
ciente, o que realça o valor pressuposto de sujeito do, portanto, uma celebração da primazia do self
autônomo para a definição da deficiência. sobre o viver coletivo.
Apesar de Nordenfelt não o fazer explicita- Mas Tauber mostra que o sujeito pode ser
mente, dissociar o campo da doença do campo compreendido a partir de outro referencial. Tra-
da deficiência é fundamental. A ruptura com o ta-se da concepção do sujeito como produto do
olhar médico marcado pela dicotomia entre nor- encontro com o outro. Nesta matriz, há outra
mal e patológico no terreno da deficiência foi um representação do self: o self relacional ou self so-
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cial. O self nessa representação é entendido como Trata-se de uma forma de compreender o
uma confluência de relações e obrigações sociais indivíduo e a moralidade diferente da definição
constitutivas da identidade. Somos, fundamental- tradicional do ser humano nas sociedades capi-
mente, traços de identificações com os outros e a talistas ocidentais, em que o indivíduo é priorita-
autonomia é um valor subordinado a tais prin- riamente percebido como sujeito independente,
cípios morais. Nesta concepção, não há um self a submetido apenas a si mesmo e ao comando da
ser revelado, ou uma identidade que reside sepa- razão.
rada da experiência intencional com o outro. Para Nesta concepção, o cuidado também é uma
Mead26, por exemplo, o self é um processo social demanda de justiça social. Afirmando que as re-
individualmente interiorizado. A relação com o lações de dependência são incontornáveis e que
outro é a unidade básica para a construção do self. o discurso da absoluta independência é perverso,
Trata-se claramente de uma disputa ideológi- posto que implique o desamparo como horizon-
ca. A concepção atomística do ser humano consi- te de nossas debilidades, o estudo da autora aju-
dera a confiança, a amizade, a lealdade, o cuida- da a ver o indivíduo autônomo como aquele que
do e a responsabilidade atributos secundários em exerce uma escolha autônoma e não obrigatoria-
relação à autodeterminação e à autorrealização. mente como aquele que é capaz de agir de forma
A segunda geração dos estudiosos da defici- independente.
ência marcada pelas teóricas feministas da área Esvaziar as noções de capacidade individual
assimila que a ambição por independência é um e independência e fortalecer as ideias de interde-
projeto moral que se adéqua às aspirações das pendência e relação interpessoal como critérios
pessoas não deficientes e que ela não é um valor de julgamento da condição variante permitem
inquestionável22. A demanda por justiça não pode que o julgamento da deficiência seja relativizado.
ser referida à ética individualista subordinada à
hipervalorização da ideia de independência. Cri- Deficiências, Normalidades
ticam a primeira geração do Modelo Social por e Normatividades
priorizar a inclusão dos deficientes na lógica ca-
pitalista em detrimento da problematização dos A segunda geração dos estudos da deficiência
pressupostos morais da organização social que trouxe a contribuição de realçar que a dependên-
gira em torno do trabalho e da independência5. cia é um fenômeno universal e que a percepção
Negando a suposição de que todos os deficien- da mesma está relacionada às dependências que
tes desejam a independência ou são capazes de consideramos (i)legítimas em determinada so-
alcançá-la, introduziram a ideia da igualdade na ciedade. Pressupondo a ideia de eficiência ou ca-
interdependência como um princípio mais ade- pacidade, a conceitualização da deficiência traz o
quado à reflexão sobre questões de justiça para problema de demarcar quais são as capacidades
deficientes20. que queremos e quem as define.
A filósofa feminista Eva Kittay20,27 preocupa- De fato, na CIF4 um dos conceitos fundamen-
se em desmontar as teorias liberais da justiça e tais para a caracterização da deficiência é a parti-
igualdade, ao sustentar que as relações de depen- cipação, que pode ser indicada pela avaliação do
dência são inevitáveis na vida social e inescapá- desempenho do indivíduo no meio em que vive,
veis à história de vida de todas as pessoas. Cui- este último termo usado explicitamente no Esta-
dado e interdependência, diz, são princípios que tuto da Pessoa com Deficiência, de 20156. Neste
estruturam a vida social e impõem a centralidade sentido, pode-se dizer que não é a natureza que
da dependência nas relações humanas. oprime, mas a cultura da normalidade que des-
A autora americana fez uso da ideia de que creve algumas performances como indesejáveis.
“somos todos filhos de uma mãe” para dizer A pergunta que se faz necessária é quais per-
que todos somos cuidados por alguém em al- formances são consideradas aceitáveis e quais
gum momento da vida. A partir da noção de self devem ser “reparadas”. O filósofo Ron Amund-
transparente, isto é, do self moral daquele que son28 nos oferece alguns indícios. Aproveitando
tem o dever de cuidar de outras pessoas e é mo- o trabalho de Stokoe29 que demonstra que a lin-
vido por um ideal altruísta, baseado nos laços de guagem dos sinais tem a complexidade estrutural
afeto e preocupação, reitera que o sujeito moral e os poderes cognitivos e expressivos da lingua-
é inerentemente relacional, contrapondo-se à in- gem falada e que injúrias cerebrais que causam
terpretação de self da tradição liberal. Nesta con- certos tipos de afasias na linguagem falada têm
cepção, o self transparente é o elemento moral efeito similar na linguagem dos sinais, Amund-
central da ética do cuidado. son propõe duas formas de interpretar esta con-
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dição. A mais comum é a compreensão de que para a reflexão sobre a deficiência na medida em
a capacidade da linguagem é inata e evolutiva- que o objeto de análise proposto pelo autor é a
mente vinculada ao som vocal e, desta maneira, normalidade.
as pessoas têm uma grande flexibilidade refletida Inspirado no trabalho de Kurt Goldstein A
na aplicação da capacidade inata em um domínio Estrutura do Organismo, Canguilhem aproveita
estrangeiro. Outra forma de apreender a questão a ideia de que a norma importante para a saúde
é considerar que a capacidade da linguagem não é a “norma individual”, aquela que toma o indi-
é inatamente associada ao som vocal, mas é de víduo como padrão. A saúde, para Goldstein, é
tal forma abstrata que pode ser aplicada indiscri- concebida como “adaptação ao meio pessoal” e
minadamente às linguagens falada ou de sinais. a doença como uma modificação qualitativa que
Ambas as interpretações negam o determinismo leva a um “estreitamento” desse meio. A “cura”
funcional biológico e sugerem que o potencial não é idealizada como um retorno a um estado
expressivo dos seres humanos é muito maior do prévio, mas como ascensão a uma “nova norma
que se imagina. Temos, por exemplo, a capacida- individual”. Goldstein, então, sugere a distinção
de de construir o mundo sem fala sonora. Apesar entre “anomalia” e “doença”: enquanto a primei-
disso, os surdos são considerados deficientes. ra é um desvio de uma norma supraindividual, a
Amundson faz então uma diferenciação entre segunda refere-se à individualidade pessoal31.
“nível” e “modo” de performance ou desempe- Aproveitando o trabalho do médico alemão,
nho e mostra-nos que é possível ter “exemplares Canguilhem afirma que a norma individual é
da mesma espécie” com design diferentes e que oriunda da relação entre o organismo individual
tenham um desempenho funcionalmente idênti- e o seu ambiente. A pessoa doente é uma pessoa
co no nível de expressão, mesmo que o estilo da cujo ambiente é “estreito” em comparação com
performance seja diferente. O design da espécie, aquele de uma pessoa “normal” e, então, cunha o
diz, permite que alguém conviva com prótese e termo normatividade para se referir à habilidade
essa variação pode, inclusive, permitir um nível do organismo de adotar novas normas de vida. A
de performance melhor, como é o caso de corre- saúde, nesta concepção, é a margem de tolerância
dores portadores de prótese de perna de titânio. às inconsistências do ambiente, a possibilidade
Amundson quer chamar atenção de que po- de transcender as normas. O normal é a norma-
demos alcançar o mesmo fim com funções di- tividade, a capacidade de adaptação, de variação
ferentes, que nada mais é do que a extensão do do organismo às mudanças circunstanciais dos
conceito de performance aceitável. O autor suge- meios externo e interno. Assim, a patologia não
re que o conceito de normalidade da espécie seja é uma unidade propriamente objetiva. A única
substituído pelo conceito de responsividade, que unidade que se pode ter e que não é puramente
seria uma normalidade individual. A normali- objetiva é a de um ser vivo, que é um corpo vivo
dade individual indica que se estabelece a noção em permanente relação com o meio; relação va-
de norma em função de uma média e o autor riável com um meio variável32.
quer desatrelar sua teoria da estatística, evitando Segundo Klautau et al.33 devemos entender a
qualquer referência ao cientista belga Adolphe normatividade como aquilo que individualiza o
Quetelet, que transferiu os modelos explicativos ser vivo, biológica e psicologicamente. O ser vivo
da astronomia para a antropometria, proporcio- deve ser pensado a partir da noção de potência,
nando uma mudança do estatuto epistemológico isto é, os organismos desenvolvem suas potências
da distribuição normal. Quetelet propunha que através de seus comportamentos particulares.
medições de casos representativos de uma popu- Estes, diz a autora, não são apenas respostas au-
lação permitiria descobrir o “homem médio” da tomáticas a estímulos externos, são modos sin-
população investigada em suas dimensões física, gulares de se relacionar com o meio que todo ser
intelectual e moral. A noção de tipo humano ou vivo explora à sua maneira. E é na ação do indi-
de “homem médio”, por sua vez, era usada como víduo no mundo que devemos procurar as refe-
padrão para análises sociológicas. rências para descrever e compreender o alcance
Amundson chama de “modo ou estilo” ou de das modificações impostas pela patologia. Assim,
“responsividade” o que Canguilhem30 chama de só existe para o vivo normalidade na referência
instauração de uma nova norma ou normativi- a um meio.
dade de cada organismo. Normatividade é um Tomando como base a ideia de normativi-
termo caro da obra de Canguilhem e, apesar de dade para pensar a deficiência torna-se impres-
ter sido elaborado para lidar com a problemática cindível considerar o meio como um aspecto
da saúde e da doença, parece-nos fundamental fundamental. Não é apenas a problematização da
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Gaudenzi P, Ortega F

noção de autonomia que é relevante para abalar aspecto, o deficiente não deve ser ajustado à nor-
nossas certezas sobre a natureza da deficiência. A ma social, mas deve ter o direito de normalizar
relação entre as ofertas do meio e a capacidade por si mesmo sua própria vida de acordo com
individual é igualmente importante. A sociedade suas potencialidades.
constitui o contexto de ação dos indivíduos, pois
o background do ambiente pode favorecer a exe-
cução de certa ação, pode torná-la mais difícil ou Considerações Finais
impossibilitá-la.
Em muitos casos, a suposta falha no desem- Neste artigo pretendemos mostrar como as no-
penho pode ser reparada pela tecnologia aplicada ções de autonomia e normalidade ajudam a pro-
pelos humanos. É o caso dos óculos, dos apare- blematizar a noção de deficiência.
lhos de surdez, da comunicação de autistas facili- O conceito de autonomia nos parece útil para
tada por computador e das inúmeras próteses. A a reflexão sobre a deficiência a partir de dois ei-
ação deliberada de adequação do meio para ma- xos de análise interligados. O primeiro refere-se
nutenção de uma vida satisfatória permite que o à consideração da autonomia como conceito
disfuncional em alguns casos se torne perfeita- chave para a caracterização de uma condição
mente funcional. E, desse prisma, o saudável pode corporal atípica como normal ou patológica. É
ser entendido, à maneira de Canguilhem, como precisamente tal consideração que permite re-
normativo, isto é, capaz de enfrentar as injúrias tirar a deficiência da condição de doença, pois
do meio a partir da criação de novas normas de muitos sujeitos que possuem variações corporais
funcionamento. Para Canguilhem, o vivente não podem realizar suas metas vitais, como diz Nor-
se adapta mecanicamente ao meio, confronta-se denfelt. Isso se dá, sobretudo, quando se modifica
com o meio, o transforma e se transforma. Cabe o comportamento mediano e o equipamento do
a nós acolhermos ou não o diferente, criando ambiente que em geral não atendem às pessoas
condições de estímulo às respostas normativas atípicas.
dos sujeitos individuais. Como diz Canguilhem34: Mas há outra dimensão da questão que nos
“Num certo sentido, não há seleção na espé- leva ao segundo eixo de análise. Quando identi-
cie humana, uma vez que o homem pode criar ficamos a deficiência com o impedimento de re-
novos meios em vez de suportar passivamente as alização dos projetos pessoais permitimos que os
mudanças do antigo. Em outro sentido, a seleção projetos sejam descritos de outra forma, devendo
no homem alcançou sua perfeição limite, visto ser alargados. Para tanto, é necessário redefinir a
que o homem é este vivente capaz de existência, ideia de autonomia para deixar fluida a fronteira
de resistência, de atividade técnica e cultural em entre eficiência e deficiência. Tauber25 nos mostra
todos os meios”. que ao invés de pensar a autonomia como sobe-
Mas a fabricação e a incorporação tecnológi- rania, podemos considerá-la dentro de uma ética
cas não parecem suficientes para o atípico se tor- de cuidado, de dependência e participação. En-
nar normal. Amundson28 sugere que o julgamen- tender autonomia nestes termos permite preser-
to da normalidade costuma se basear no modo e var a atipia, a priori, como diferença e não como
não no nível de desempenho, isto é, aspectos cos- doença ou deficiência.
méticos do aspecto funcional importam mais do No que se refere à noção de normalidade,
que aspectos pragmáticos no julgamento de ati- demonstramos que é uma noção altamente con-
pia biológica como anormalidade ou deficiência. troversa e que pode ser entendida a partir de di-
A grande fascinação pelo modo de funcionamen- ferentes referenciais. No caso da caracterização
to, ou pela normalidade estética é ela mesma um de determinada condição como deficiente, pa-
obstáculo para a performance funcional, o que rece-nos que o sentido de normalidade utilizado
demonstra o preconceito por formas diversas de está próximo daquele de capacidade. Vemos que
experimentar o corpo e de agir no mundo atra- são determinadas performances – consideradas
vés dele. A doutrina da normalidade biológica e a normais ou anormais de acordo com a cultu­ra
falácia da normalidade funcional são sustentadas da normalidade subjacente – que darão suporte à
por uma ideologia que visa manter os corpos atí- noção de deficiência.
picos relegados ao ostracismo social. Apontamos o trabalho de Amundson como
Parece-nos, portanto, mais interessante – referência importante para a compressão sobre
em termos éticos e políticos – considerar, assim quais performances são consideradas aceitáveis
como faz Canguilhem30, a deficiência como mo- e quais devem ser “reparadas”. O autor deno-
dalidade de vida qualitativamente distinta. Deste mina de “normalidade cosmética” a cultura da
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Ciência & Saúde Coletiva, 21(10):3061-3070, 2016


normalidade que sustenta a ideia de atipia como
deficiência e discrimina socialmente os sujeitos
diferentes.
Neste sentido, parece-nos mais interessante
considerar os corpos atípicos a partir da noção
de normatividade de Canguilhem e, neste sen-
tido, o meio – não apenas biológico, mas tam-
bém social – em que a pessoa vive é um aspecto
fundamental para a caracterização da condição.
Considerar a deficiência tendo como referência
a noção de normatividade ao invés da noção de
normalidade é também uma forma de escapar da
“ontologia negativa” inerente ao modelo médico
da deficiência que identifica a deficiência como
um infortúnio privado e, ao mesmo tempo, es-
capar do radicalismo do modelo social que tende
a eclipsar a dimensão biológica da deficiência. A
normatividade como conceito fundamental para
se pensar a deficiência permite que a mesma seja
avaliada de acordo com o caráter criativo da vida
e que a diversidade de estilos de vida seja com-
preendida como um valor moral positivo.

Colaboradores

P Gaudenzi e F Ortega participaram de todas as


etapas de produção do artigo.
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Gaudenzi P, Ortega F

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