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Introdução

A comparação pode parecer um pouco clichê, mas quando uma criança nasce, ela é como uma folha em branco
esperando por novas histórias. Durante seu crescimento, ela terá que aprender uma série de atividades e
desenvolver uma série de habilidades para que consiga sobreviver e se relacionar com seu meio. E dentre esses
aprendizados está um conjunto de habilidades chamadas "funções executivas".

As funções executivas são ingredientes fundamentais no desempenho da criança durante o seu desenvolvimento
e amadurecimento e, posteriormente, durante toda a sua vida. Isso porque elas não tratam apenas do
aprendizado envolvendo linguagem, matemática ou mesmo história: elas compreendem uma experiência lógica
e quase que inerente ao comportamento humano, para que um indivíduo consiga lidar com situações e fazer
escolhas independente das distrações ou das múltiplas demandas que lhe são apresentadas. É importante
ressaltar que as funções executivas contribuirão no futuro para a sua produtividade de força de trabalho como um
todo, e é desse assunto que trataremos neste ebook.

Boa leitura!
Capítulo 1

O que são funções executivas?


Mesmo sem perceber, diariamente somos expostos a situações que nos exigem determinadas habilidades de
diferentes funções cerebrais. Por exemplo: desde o momento que você acorda, você precisa fazer escolhas. Você
precisa avaliar a sua temperatura corpórea e a do ambiente para decidir se vai usar roupas quentes, por exemplo.
Precisa ainda calcular quanto tempo tem para se organizar, precisa determinar qual o melhor caminho para se
locomover até um determinado local e etc.

Todas essas atividades, mesmo que simples, exigem algum grau de raciocínio, lógica, estratégia e tomada de
decisões. Essas funções estão relacionadas à atividade cerebral porque são funções que exigem determinado
controle mental. E é aí que o termo “funções executivas” entra.

Função Executiva é um conceito neurológico e um termo genérico utilizado para uma diversidade de processos
cognitivos hipotéticos originários de determinadas partes do cérebro. Estes processos incluem planejamento,
iniciação de tarefas, memória de trabalho, atenção iniciada, inibição, autocontrole, autorregulação e outras
atividades realizadas por áreas pré-frontais dos lobos frontais do nosso cérebro.

É importante ressaltar que as funções executivas têm papel essencial na organização e no planejamento de todas
as nossas ações do cotidiano, pois são elas que auxiliam na manutenção de determinada iniciativa ou mesmo no
estabelecimento de objetivos e metas. As funções executivas também fazem com que possamos, mesmo sem
perceber, monitorar tarefas por meio do autocontrole, repensando as estratégias durante a sua execução e de
acordo com o plano original. Se decidimos iniciar uma tarefa e terminá-la em determinado período, as funções
executivas estão diretamente ligadas a todo o processo.
Para tornar o assunto mais claro, basta pensar o seguinte: você provavelmente consegue criar “agendas” com
listas de atividades para se fazer, e a partir daí, segui-las com o foco no cumprimento dos compromissos, certo? O
exemplo pode parecer bobo, mas levanta um ponto importante: as funções executivas são aquelas que mais nos
diferenciam dos animais já que compreendem o processo cognitivo orientado a execução e cumprimento de uma
determinada meta.

Apesar de essenciais, nós não nascemos com essas habilidades. Aliás, uma criança pequena é impulsiva, e não
mede consequências porque ela ainda não tem a capacidade total de poder controlar os impulsos, fazer planos
ou permanecer focada. Ainda assim, ao nascer, a criança tem o potencial de desenvolver tais capacidades de
controle – ou não – dependendo de suas experiências quando recém-nascida, durante a infância e na sua
adolescência.

Para que servem?


O gerente de uma loja tem um grande papel na sua empresa, que é o de coordenar a equipe de trabalho. As
funções deles incluem organizar a equipe, orientar, atender, solucionar problemas, além de monitorar as
diferentes áreas do negócio em seus diversos aspectos, certo? Para isso, ele precisa ter um senso para administrar
as muitas responsabilidades que lhe foram incumbidas.

Isso também acontece com o nosso corpo, mais precisamente com a nossa “cabeça”: o córtex pré-frontal funciona
como um “gerente” no cérebro humano. Ele é responsável pela administração e organização de toda a cognição
do corpo, controlando a diferentes ações do organismo. Portanto, as funções executivas refletem a capacidade do
cérebro de regulamentar o nosso comportamento e servem para que nos mantenhamos atentos, para que
possamos alcançar determinado objetivo por meio de habilidades como organização, planejamento, e
sensibilidade para tomada de decisões.

Como são úteis?


As funções executivas são úteis porque elas apresentam caminhos para o desenvolvimento de diferentes
habilidades. Vamos apresentar agora, de forma resumida, algumas delas, e nos próximos capítulos retomaremos
o assunto apontando algumas habilidades essenciais:

1. Planejamento: habilidade de traçar um caminho coerente para atingir determinado objetivo ou cumprir uma
tarefa.
2. Organização: capacidade de se criar uma estratégia para facilitar na execução de uma atividade.
3. Manejo do tempo: aptidão para estimar quanto tempo é necessário para a execução de uma tarefa.
4. Iniciação de tarefas: capacidade para começar uma tarefa, sem adiar ou procrastinar.
5. Memória operacional: se trata de uma habilidade para armazenamento e manipulação de informações por um
curto período. A principal função é se manter atento mesmo em situações adversas, com estímulos de distração,
por exemplo.
6. Metacognição: capacidade para auto-observação, onde conseguimos identificar como e qual foi o processo
para a solução de um problema.
7. Resposta (ou controle) inibitória: Habilidade de resistir a uma forte tendência a realizar algo. Falaremos mais
desse assunto ainda neste ebook.
8. Auto-regulação do afeto: capacidade de regular emoções para conseguir completar tarefas, atingir metas e
controlar o comportamento.
9. Fala internalizada: raciocínio, consciência, moral e reflexão. Esse é a nossa “voz da consciência”, o
comportamento envolvendo autoinstrução, definição de regras e orientação a partir das regras definidas.
10. Flexibilidade: Capacidade de adaptar-se às situações adversas e, na presença de obstáculos, revisar os
planos, erros ou novas informações.
11. Persistência ao alvo: Capacidade de seguir e executar um plano até completar a meta, sem desistir.
12. Reconstituição: Sintaxe comportamental, envolvendo fluência (verbal e não verbal), criatividade, ensaios
mentais, análise e síntese comportamental.

Dentro no âmbito da psiquiatria e psicologia, é possível identificar problemas no funcionamento executivo em


vários quadros clínicos. Aliás, é essa avaliação de quadro clínico que auxilia no entendimento dos problemas
cognitivos e especialmente na formulação de um adequado plano de tratamento, levando em consideração as
habilidades e dificuldades do paciente.
Capítulo 2
Controle Inibitório
Explicando de forma bem científica, o controle inibitório serve para coibir respostas prepotentes ou respostas a
estímulos que interrompam o curso eficiente de uma ação, ou ainda, a interrupção de respostas que estejam em
curso.

Para ficar mais claro, o controle inibitório se trata daquela capacidade de “pensar antes de agir”. Ela é a habilidade
de resistir em dizer ou fazer alguma coisa. Essa capacidade de resistir a uma forte inclinação para fazer algo, ao
invés de ceder a ela, é o que nos auxilia a não fazer algo de que nos arrependeríamos.

O controle inibitório nos dá tempo para avaliar uma situação e decidir se algo deve ou não deve ser dito, por
exemplo. Em crianças, existe um teste conhecido para avaliação do controle inibitório. Entrega-se um doce à
criança explicando que ela tem a opção de comê-lo na hora, ou aguardar um curto de período de tempo para
ganhar mais um. No entanto, ela só ganha o outro doce se não comer o primeiro enquanto espera. Nos testes, é
possível perceber claramente a “briga” interna da criança, decidindo se come ou não o doce.

Onde se aplica:
O controle inibitório é importante porque ele permite que mantenhamos uma medida de controle sobre nossa
atenção e nossas ações. Isso faz com que não sucumbamos aos impulsos e que não sejamos controlados por
estímulos externos, emoções, ou hábitos mentais ou comportamentais enraizados. Ele se aplica à diferentes
situações, que separamos algumas abaixo:
Mantendo a disciplina: O controle inibitório é que nos torna capazes de reagir de maneira mais ponderada diante
de diferentes situações. A disciplina está diretamente ligada ao controle inibitório, especialmente no caso das
crianças que resistem à tentação de tomar o brinquedo de outra criança, por exemplo; ou dizer algo inapropriado,
ferir ou bater em alguém para se vingar dessa e etc.

No caso dos adultos, um exemplo simples é a capacidade e disciplina para se manter fiel a uma dieta quando
estamos diante de um doce apetitoso.

Mantendo a atenção: Além disso, o controle inibitório também permite que prestemos atenção mesmo quando o
ambiente está cheio de distrações. O caso mais didático para entender esse ponto é quando, por exemplo, temos
a capacidade de bloquear todos os barulhos, exceto a voz de uma pessoa quando estamos conversando em festa.

Exemplos práticos
Apesar de já termos apontado alguns exemplos, vale a pena observar mais uma situação:
Sabe quando você consegue continuar realizando uma tarefa apesar do tédio, do sono, de um fracasso inicial, ou
de um erro que provocou alguma reação no percurso da sua tarefa? Ou quando você insiste em se manter atento
quando uma distração tentadora surge? O controle inibitório é que exerce influência na habilidade de inibir essas
inclinações que de outra forma te fariam desistir de uma tarefa para fazer algo mais divertido.
Capítulo 3
Flexibilidade Cognitiva
Você acordou um pouco tarde e saiu atrasado de casa. Enquanto dirige, percebe que o transito está lento porque
a pista foi bloqueada no seu sentido. Examinando um pouco mais o ambiente, você nota uma fila grande se
formando e lembra que se você pegar a primeira rua à direita, existe um atalho que costuma ter menor tráfego de
veículos e que pode te deixar em segurança no seu trabalho e bem em tempo de começar o seu turno
corretamente.

A situação é hipotética, mas elucida bem a flexibilidade cognitiva. Ela é a capacidade do indivíduo de alternar, de
forma rápida e fácil, suas perspectivas ou foco de atenção, ajustando-se de modo flexível a novas exigências ou
prioridades e a poder raciocinar de maneira não convencional. De maneira mais simplificada, é a habilidade que
desenvolvemos de revisar os planos quando surgem obstáculos, erros ou novas informações. Trata-se de poder
se adaptar a condições adversas.

Onde se aplica:
Podemos perceber a flexibilidade cognitiva em diferentes situações do dia-a-dia, mas, essencialmente, ela é
percebida quando precisamos da criatividade na solução de problemas.

Utilizamos a flexibilidade cognitiva quando nos deparamos com situações que exigem diferentes reações como
consequência de determinado acontecimento. A flexibilidade cognitiva se manifesta quando você precisa
encontrar novas maneiras para reagir quando acontece algo e novas formas de visualizar e solucionar um
problema.
Capítulo 4
Memória Operacional
Apesar das muitas divergências em relação ao conceito de memória operacional, ou memória de trabalho, em
suma, ela é a capacidade de manter certas informações na mente enquanto ainda trabalhamos com elas ou as
atualizamos. Ela é bem fácil de ser compreendida, quando se analisa uma situação simples, como o que você está
fazendo agora. Você está lendo um ebook e provavelmente, fazendo conexões mentais com assuntos ou
situações do seu cotidiano, mas sem perder o “fio da meada”.

A memória operacional é o que dá sentido ou coesão a esta atividade. Ela conecta algo que se desenvolve por um
longo período e que exige que mantenhamos na mente o que aconteceu anteriormente para estabelecer uma
relação com o que está ocorrendo no momento.

Onde se aplica
São muitos os exemplos práticos aplicáveis à memória ocupacional. Por exemplo, a habilidade de relacionar uma
ideia a outra, relacionar o que você leu (ou aprendeu/ouviu) anteriormente àquilo que você está lendo
(aprendendo/ouvindo) no momento, ou mesmo fazer operações matemáticas de cabeça e acompanhar uma
conversa sem esquecer o que você quer dizer

Como a atenção é pré-requisito para o armazenamento temporário de uma informação, um famoso pesquisador
no meio, Baddeley, propôs que a memória ocupacional depende de um sistema “atencional” de supervisão, que
ele chamou de executivo central. Na prática, o executivo central tem função parecida com o de controle inibitório.
Baddeley ainda aponta que a memória operacional é composta por outros três componentes: uma alça
fonológica, um esboço visuoespacial e um buffer episódico.

A alça fonológica, como o próprio nome remete, tem a função de armazenar temporariamente informações
verbais e acústicas. Os dados se mantém por alguns segundos e a alça fonológica recicla essas informações
através de um subcomponente - a alça articulatória. Portanto, ela é fundamental para a coerência do discurso e
para a compreensão da fala, pois para compreendermos o enredo de uma história que ouvimos, apesar de não
conseguirmos gravar todas as palavras, nosso cérebro grava as cinco ou seis últimas palavras para que possamos
compreender o encadeamento do que foi dito.

Já o esboço visuoespacial tem um papel na aquisição do conhecimento semântico referente à aparência dos
objetos ou à maneira de usá-los, apesar da sua limitada capacidade de armazenamento, que se restringe
tipicamente a três ou quatro objetos. Ele é importante para a compreensão de sistemas complexos - tais como
máquinas, bem como para a orientação espacial e o conhecimento geográfico e à leitura.

O último componente da memória ocupacional é o buffer episódico, um sistema de armazenamento que integra
as informações, tanto dos componentes visual e verbal quanto da memória de longo prazo, em uma
representação episódica única.
Capítulo 5
Neuroplasticidade
A neuroplasticidade, ou plasticidade cerebral, é uma habilidade bastante estudada e conhecida entre os
neurocientisticas. Em uma definição comum, ela é a capacidade que o nosso organismo tem, mais precisamente
o nosso cérebro, para um mapeamento das conexões das nossas células nervosas, um processo que nos ajuda a
aprender continuamente. A neuroplasticidade se refere à maneira como o nosso cérebro tem ações e reações à
medida que avançamos em nossa idade e experimentamos mudanças notáveis em nosso ambiente.

Para entender um pouco mais, basta observar o contexto histórico: por muitos séculos era bastante comum
pensar que nossos cérebros se desenvolviam somente durante a infância. O que se pensava na época é que a
nossa capacidade de aprendizado durante a vida adulta e velhice era praticamente nula, sendo que nossos
cérebros se tornariam eventualmente inflexíveis a novos aprendizados. Porém, com o passar do tempo e mesmo
atualmente, pesquisadores conseguiram provar que esta teoria estava errada. Basta pensar que, diariamente,
pessoas adultas se capacitam em novas ocupações, desenvolvendo novas habilidades também.

A neuroplasticidade, portanto, é a capacidade do cérebro humano de se alterar, seja por meio de estímulos
mentais, treinamentos cognitivos e mesmo novos aprendizados.

Outra definição para o termo faz referência às alterações que ocorrem no cérebro em resposta a um dano. Por
exemplo, o comportamento que passamos a ter depois de uma lesão no local, privação do sono, envelhecimento
ou mesmo Alzheimer.
Conclusão
Prestar atenção nas funções executivas é importante, pois elas estão relacionadas à atividades importantes do
nosso dia-a-dia. Elas são essenciais porque permitem que qualquer indivíduo consiga planejar, raciocinar, prestar
atenção e realizar múltiplas tarefas de maneira clara e focada. O assunto é intensamente discutido por uma
grande comunidade de neurocientistas, já que estes entendem a necessidade do desenvolvimento bem formado
destas funções.

Nós, da Valor do Conhecimento, também entendemos a importância do assunto. Aliás, a nossa empresa foi
idealizada para se tornar um centro de referência entre profissionais de psicologia e áreas correlatas e, por isso,
buscamos criar conteúdos na área com o intuito de compartilhar conhecimento e contribuir ativamente para uma
maior e melhor qualificação dos profissionais e estudantes em Avaliação Psicológica.

Aproveite e conheça o Cogmed, um programa baseado em evidências para ajudar, de forma sustentável,
crianças, adolescentes e adultos a melhorar a atenção por meio do treinamento da memória operacional.

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