Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Rio de Janeiro
2018
Ana Maria Almeida da Costa
Rio de Janeiro
2018
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/ BIBLIOTECA CCS/A
______________________________ ___________________________
Assinatura Data
Ana Maria Almeida da Costa
___________________________________________
Profa. Dra. Marilda Villela Iamamoto (Orientadora)
Faculdade de Serviço Social - UERJ
_________________________________________
Profa. Dra. Ana Maria Motta Ribeiro
Universidade Federal Fluminense
_________________________________________
Profa. Dra. Leda Regina de Barros Silva
Universidade Federal Fluminense
_________________________________________
Prof. Dr. Ney Luiz Teixeira de Almeida
Faculdade de Serviço Social - UERJ
__________________________________________
Prof. Dr. Paulo Roberto Raposo Alentejano
Faculdade de Formação de Professores - UERJ
Rio de Janeiro
2018
DEDICATÓRIA
COSTA, Ana Maria Almeida da. O processo de expropriação das terras do Açu e a trajetória
de lutas dos camponeses impactados pelo projeto Minas-Rio. 2018. 266 f. Tese (Doutorado
em Serviço Social) – Faculdade de Serviço Social, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.
COSTA, Ana Maria Almeida da. The expropriation process of the Açu lands and the
trajectory of struggles of the peasants impacted by the Minas-Rio project. 2018. 266 f. Thesis
(Doctorate in Social Work) - Social Work College, Rio de Janeiro State University, Rio de
Janeiro, 2018.
The expropriation process of the Açu lands and the trajectory of peasant struggles
impacted by the Minas-Rio project aims at the study of the specific forms of struggles and
resistances of the peasants and the expropriation of their lands, in the implantation of the
Açu Port, and the capital expressed in the groups of EBX and Prumo Logística SA, in the
North Fluminense region, State of Rio de Janeiro, Brazil. The analysis was based on the
empirical study of the workers of the 5th District / Açu, municipality of São João da Barra,
privileged social subjects of this research, in the period of 2011/2017, and documentary
sources: decrees; ordinances; reports; court lawsuits; representations sent to the Public
Ministry; minutes; notifications of bailiffs; terms of immission of possessions; EIA-Rhymes;
collection of statistical data / IBGE; maps, reports and newspaper / blog interviews, with
local, regional and national coverage; documentaries; videos; personal documents;
photographs. Another source was the recording of the process of struggles and resistance,
through participant observation and advice to workers. The quantitative and qualitative
research was developed in a historical-critical perspective, contextualizing the field of study
and exploring particularities of its object, having as main focus the peasants of Açu and the
forms assumed by the resistance to the process of expropriation of the lands, considering the
complexity of the impacts arising from the construction of the CIPA. There are 7,036
hectares of expropriated land. The investigative effort is complicated by the actions of the
State, not only in the viability of the enterprise supported by the state credit - from the public
fund - that dumps corporate groups, but by guaranteeing the income of the land expropriated
and passed on to the representatives of the capital for rentier purposes. The main axes are
the intervention of the State articulated to the great capital, aiming to create general
conditions of capitalist production and reproduction. In the historical antecedents of these
processes of occupation / invasion, it is sought to understand the land issue, its conflicts and
simultaneously recover the protagonism of the subjects dispossessed in the conflicts of the
Goitia Plain. Visibility is given to the set of circumstances in the implementation of the CIPA,
within the scope of the Minas-Rio Project, and shows how this mega-project was favored by
the State in the form of public-private partnerships, expropriation of lands and credit
guarantee through public fund, enabling the general conditions of production in this process
of over-accumulation of capital. At the end, the conflicts that permeate the implantation of the
Açu Industrial and Port Complex are analyzed and analyzed, dealing with the political and
legal struggles and the confrontation processes experienced by those affected, expressed in
the time line, drawn with the struggling individuals. At the center of the analysis of these
struggles were fieldwork, direct monitoring of affected families, and processes of resistance,
struggles and denunciations at local, regional, national and international scales.
Keywords: Land expropriation, state and capital, peasant struggles, collective experiences,
violation of rights.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
INTRODUÇÃO.............................................................................. 18
1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS: PROCESSO DE
EXPROPRIAÇÃO DA TERRA NA PLANÍCIE GOITACÁ............ 28
1.1 Raízes fincadas e as ameaças de destruição pelo invasor:
uma saga na Planície Goitacá.................................................... 31
1.2 A terra como valor de uso e valor de troca: uma tentativa de
diálogo entre o passado e o presente....................................... 37
1.2.1 Os direitos e a lei: as classes em luta no decorrer da história...... 41
1.3 Processo de colonização e especulação: o território em
disputa.......................................................................................... 48
1.4 Luta e resistência dos “despossuídos”.................................... 59
1.5 Expropriação do território por decreto..................................... 63
2 MEGAEMPREENDIMENTO: CONTEXTUALIZANDO O
PROJETO MINAS-RIO................................................................. 77
2.1 Um histórico da implantação do Porto do Açu........................ 77
2.2 Os Interesses econômicos e políticos do projeto Minas-Rio
e a crise hídrica........................................................................... 104
2.3 Cidadania e luta por direitos no mundo moderno e
contemporâneo............................................................................ 111
3 CONFLITOS: LUTAS E RESISTÊNCIAS NO ÂMBITO DO
COMPLEXO INDUSTRIAL E PORTUÁRIO DO AÇU.................. 118
3.1 Das montanhas aos mares: o percurso nas terras atingidas. 124
3.1.1 O primeiro encontro: os dos mares vão para as montanhas......... 124
3.1.2 O segundo encontro: os das montanhas descem aos mares....... 129
3.2 Desapropriação das terras e os marcos legais........................ 133
3.3 Projeto Minas-Rio e o Complexo Industrial e Portuário do
Açu: um alinhavo no tempo (2006 – 2017)................................ 149
3.4 Algumas considerações analíticas sobre a linha do tempo... 200
3.4.1 Uma tragédia anunciada: o Estado como parteiro desse
monstro, designado Porto do Açu................................................. 201
3.4.2 Organização e resistências: de Água Preta às escalas
internacionais, as lutas do Projeto Minas-Rio espraiam-se........... 209
3.4.3 Quando o solo está fértil, a semente cresce................................. 216
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................... 229
REFERÊNCIAS............................................................................. 234
Anexo A - Ata do 3º encontro na OAB/RJ, sobre impactados
pelo complexo portuário do Açú.................................................... 256
ANEXO B - Carta do Açu.............................................................. 258
ANEXO C - Carta Aberta das Comunidades Socialmente
Atingidas pelo Empreendimento Minas-Rio à sociedade............. 261
ANEXO D – Relatório Técnico sobre “Amostragem de água e
avaliação da condutividade elétrica e salinidade São João da
Barra............................................................................................... 263
18
INTRODUÇÃO
1
O "x" presente no nome de cada uma de suas empresas é símbolo da multiplicação de riqueza,
ousadia, criatividade e capacidade de execução (BATISTA, 2011).
21
Uma outra questão importante para a tese foi o registro do processo de lutas
e resistências identificados no período de 2009 a 2017, quando eles tomam
conhecimento do empreendimento e se mobilizam e se organizam para o
enfrentamento do “monstro”, que começa a rondar a região: a construção e
implementação do Complexo Industriário e Portuário do Açu. O que Martins (1993)
classifica de estranho, para ele “não é apenas esse outro dominado, mas é também
o invasor de terras e de tribos, aquele que expulsa os camponeses, quebra
linhagens de família, destrói relações sociais [...]” (Schindler, 1994, p. 150).
Com caráter quantitativo e qualitativo, a pesquisa foi desenvolvida, numa
perspectiva histórico-crítica, contextualizando o campo de estudo. Este teve como
universo empírico o Município de São João da Barra, e como foco principal, os
camponeses do Açu, no 5º Distrito, em função de toda a complexidade que os
impactos na construção do CIPA provocaram e a forma como eles buscaram resistir
ao processo de expropriação de suas terras.
23
2
Restinga, segundo Freire (1990), é ambiente geologicamente recente e as espécies que a
colonizam são principalmente provenientes de outros ecossistemas (Mata Atlântica, Tabuleiros
e Caatinga), porém com variações fenotípicas devido às condições diferentes do seu ambiente
original. Essa vegetação possui importante papel na estabilização do substrato (LAMÊGO 1974;
PFADENHAUER 1978; COSTA et al., 1984). As plantas colonizam a areia logo à linha de maré alta,
amenizando, no caso de planícies arenosas, a ação dos agentes erosivos sobre o ecossistema
LAMÊGO 1974), protegendo o substrato principalmente da ação dos ventos, importante agente
modificador da paisagem litorânea (apud ASSUMPÇÃO, J. & NASCIMENTO, M. T. 2000, p. 302).
25
3
O dono desse dinheiro todo teria à sua disposição R$ 3.375.000,00 para gastar por dia, todos os
dias, nos próximos 40 anos. São R$ 140.600,00 por hora. Essa fortuna significa ter R$ 2.343 para
serem gastos a cada minuto da vida. E o dinheiro só acabaria daqui a quatro décadas (Fonte: Jornal
O Globo de 14/03/2010, com notícias do Fantástico). Eike Batista foi de sétimo homem mais rico do
mundo, com uma fortuna estimada de US$ 30 bilhões, para a cadeia de Bangu 9, sem direito à cela
especial. Foi denunciado na Justiça por crimes contra a economia e preso pela Operação Lava Jato,
acusado de ter pago propina de US$ 16,5 milhões ao ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral
(FOLHA DE SÃO PAULO, 15/02/2017).
31
Isso aqui é nosso, quando voltar aqui e o milho já tiver espiga, entra e pega
(SEU TOTONHO, DEPOIMENTO À AUTORA, 03/12/2011).
33
Figura 3 - Registros fotográficos dos plantios do Sr. Totonho no verão de 2011. Antes de o ’monstro’
destruir a plantação
Para esse simples camponês, plantar, colher e repartir não é um lema, mas
uma vivência cotidiana. Daí o seu inconformismo com a invasão das terras, que à
época, era a representação maior e concreta do capital e do seu processo de
acumulação ampliada. E então, esses camponeses atingidos do Açu, se
perguntavam a todo momento: por quê o Açu? A empresa LLX, justifica a escolha do
Açu, da seguinte forma:
4
O distrito é uma subdivisão do município, que tem como sede a vila, que é um povoado de maior
concentração populacional. [...] O distrito tem a mesma denominação de sua vila e, somente pode ser
criado por meio de lei municipal. No entanto, os requisitos exigidos para a criação de um distrito são
estabelecidos por meio de lei estadual. [...]. Faz-se necessário que um povoado atenda todas as
35
exigências determinadas pela legislação estadual para que o município, por meio de uma lei
municipal aprovada pela Câmara de Vereadores local, o eleve à categoria de distrito (PINTO, 2003, p.
57).
36
Figura 5 - Registros fotográficos da invasão da Polícia Militar às terras de três camponeses no Açu
1.2 A terra como valor de uso e valor de troca: uma tentativa de diálogo entre
o passado e o presente
Figura 6 - Mapa: Uso e ocupação do solo no Litoral Norte Fluminense, conforme O ZEE-RJ. Destaque para A faixa contínua de Restinga e as áreas previstas
do Distrito Industrial de São João da Barra (DISJB) e Zona Industrial Portuária do Açu – Projeto MG-RJ
Mas de acordo com o texto Manuscritos Manoel Martins do Couto Reis 1785,
(2011) e Soffiati (2012), a colonização pelos portugueses da planície aluvial do
futuro Norte Fluminense ocorreu com a pecuária, em 1633, onde os primeiros currais
foram fincados. Portanto, a cana não foi a primeira cultura dos colonos, como pensa
o senso comum. Até porque o gado era a força necessária para mover os engenhos
nessa época, o que demonstra que só nesse no século, a produção da cana vai
expulsar a criação de gado para áreas mais elevadas.
Nesse período, a ocupação e desenvolvimento da região pelos Sete Capitães
tornou a criação de gado, aliada à cultura da cana, a “principal fornecedora de carne
bovina para a cidade do Rio de Janeiro” (SOFFIATI, 2012, p. 10). Uma questão
interessante, que Oliveira Vianna (2005) apud Soffiati (2012), apresenta é o curral
como o sinal da posse. “Depois vem a fazenda, o engenho, o arraial, a povoação, a
vila. [...] O vaqueiro é, então, em nossa história o vanguardeiro da civilização”.
(SOFFIATI, 2012, p. 11).
Os Sete Capitães são identificados por Lamego como senhores de engenho
na Guanabara, e que em função de alguns deles terem lutado “contra franceses,
tamoios e tupinambás no Rio de Janeiro, em fins do século XVI”, foram nomeados
“capitães de vários troços”. São eles: Miguel Aires Maldonado, Miguel da Silva
Riscado, Antônio Pinto Pereira, João de Castilho, Gonçalo Correia de Sá, Manuel
Correia e Duarte Correia, que “requerem e obtêm, em 1627, sesmarias na capitania
abandonada, realizando a primeira visita em 1632 (LAMEGO, 1945, p. 81).
A divisão de seus quinhões, partindo de marcos de pedra fincados na costa,
indo até a serra, ocorrerá na segunda visita, em 1633, dos Sete Capitães, momento
em que os dois currais foram levantados. Para Lamego é quando nasce
definitivamente a pecuária em Campos.
41
político. Apesar de algumas teorias terem apresentado uma conotação individual aos
direitos humanos, não se pode esquecer de que todos os direitos, inclusive os civis,
tiveram sempre suas primeiras manifestações coletivas. Para Coutinho (1997), são
as demandas trazidas pelas classes ou por grupos sociais em determinado
momento histórico que expressam a sua face coletiva, ou melhor, que caracterizam
os direitos como “fenômenos sociais”, logo como “resultado da história”.
Mas os direitos sociais trazem o selo do século XX, com os processos de
ampliação do Estado nos termos gramscianos (COUTINHO, 2003), tendo como
tônica o valor da igualdade, enquanto os direitos civis e políticos tinham por
referência a liberdade. Eles incluem, entre outras dimensões, o direito ao trabalho, à
organização sindical, à greve, à estabilidade no emprego, à segurança no trabalho, à
previdência social, à saúde, à educação gratuita e ao acesso à cultura e moradia.
Conquistas históricas da classe trabalhadora que os representantes do
capital, fundamentados em sua lei geral abaixo descrita, insistem em negar
desconstruindo-as, na busca de ampliar o processo de superacumulação da riqueza,
por um lado, e da extrema pobreza, por outro.
O “breve século XX”, como denominado por Hobsbawm (1995), foi marcado,
principalmente, por duas grandes guerras mundiais, tendo a primeira ocorrida no
período de 1914-1918, considerada a Grande Guerra, não só pelo extenso tempo de
duração, mas também pelos seus efeitos devastadores, e pelo envolvimento de um
número grande de países. Como os motivos estão relacionados às disputas
imperialistas do final do século XIX, esta guerra causaria profundas mudanças no
espaço geográfico mundial, logo no começo do século XX. Um fato histórico da
maior importância, ocorrido neste intervalo, foi a Revolução Russa em 1917,
realizando transformações importantes nas relações sociais daquele país.
A Segunda Guerra tem início com as tentativas da Alemanha de ampliar seu
território, descumprindo cláusulas impostas pelo Tratado de Versalhes. O objetivo
era expandir o domínio alemão sobre outros países europeus. O conflito envolve os
países do Eixo formado pela Alemanha, Itália e Japão, e os países Aliados, formado
pela Inglaterra, França e posteriormente pelos Estados Unidos e União Soviética.
No Brasil, o início do século XX é marcado pelos rebatimentos de
acontecimentos mundiais, como as guerras, mas também por um conjunto de
demandas apresentadas pela classe trabalhadora no contexto do processo
embrionário da industrialização. O acirramento das contradições vivenciadas por
esses trabalhadores e o seu consequente processo de organização e de tomada de
consciência da condição de superexplorados, com péssimas condições de trabalho,
jornadas excessivas, dentre outras, até então concebidas e tratadas como questão
de polícia pelo Estado para manter assim o status quo, passam por mudanças
46
5
Figura 7 - Repressão à Greve São Paulo 1917 . Cotidiano da cidade de São Paulo Julho 1917
5
Em junho de 1917, uma greve geral paralisa totalmente a cidade de São Paulo por oito dias. Os
trabalhadores, organizados, entram com uma nova qualidade na agenda política nacional. Vitorioso,
o movimento por melhores salários assusta as elites e demonstra que os limites institucionais da
primeira República estavam se tornando estreitos para enquadrar uma nova complexidade social.
47
empresa”, o que de certa forma, limitava a luta dos trabalhadores. Ao mesmo tempo,
“o movimento operário também não conseguirá estabelecer laços politicamente
válidos com outros segmentos da sociedade, especialmente os trabalhadores do
campo, que nesse momento constituem a imensa maioria da população”
(IAMAMOTO; CARVALHO, 1985, p. 136).
Assim, “a classe operária, apesar de seu progressivo adensamento,
permanece sendo uma minoria fortemente marcada pela origem europeia, estando
social e politicamente isolada, inclusive das outras classes dominadas” (IAMAMOTO;
CARVALHO, 1985, p. 136-137).
O reconhecimento da cidadania do proletariado ocorreu no marco da
redefinição das relações entre o Estado e as diferentes classes sociais e foi
acompanhado de mecanismos destinados a integrar e controlar os interesses dos
assalariados como recurso para o enfrentamento do processo de organização e
lutas autônomas do movimento operário. Em síntese, os eixos da intervenção do
Estado são a repressão à organização autônoma dos trabalhadores, o
reconhecimento dos direitos do trabalho e o sindicalismo controlado (IAMAMOTO;
COSTA, 2016).
No cenário atual em que o realinhamento ao projeto neoliberal assume um
perfil cada vez mais distinto, envolvendo uma combinação e atrelamento da
economia, modos de vida e funcionamento do Estado às determinações do capital
internacional, o modus operandi e o seu consequente discurso tornam-se cada vez
menos reveladores dos propósitos em jogo. O primeiro a ter que se ajustar às novas
modalidades de gestão neoliberal do capitalismo é o Estado, devendo,
primeiramente, reduzir os gastos sociais através da adoção de medidas político-
econômicas de privatização, mercadificação, financialização, administração e
manipulação de crises e redistribuições, via Estado. Como afirma Harvey,
Legenda: 1- Rio Paraíba do Sul; 2- Lagoa do Taí Pequeno; 3- Lagoa dos Jacarés; 4- Lagoa de
Bananeira; 5- Lagoa do Pau Grande; 6- Brejo do Riscado; 7- Lagoa do Taí Grande; 8- Lagoa do
Quitingute; 9- Lagoa da Ostra; 10- Lagoa Salgada; 11- Lagoa de Gruçaí; 12- Lagoa de Iquipari; 13-
Lagoa do Veiga; 14- Rio Iguaçu.
Este autor, afirma ainda, que somente ao final do século XVIII, que a Planície
será totalmente dividida e que, no século XIX, o clima de paz instalado com o fim
daquelas primeiras disputas por terra, fará grande progresso a cultura diversificada
desses lavradores que tem na terra o seu instrumento valioso de trabalho e
reprodução de suas vidas e de seus familiares. “Com o estímulo extraordinário da
lavoura, a planície é tão instigada de iniciativas, que, já em 1785, os dados de Couto
53
Reis impressionam pelo contraste com os de pouco mais de trinta anos antes”
(LAMEGO, 1945, p. 104).
Dentre os dados, destaca-se o açúcar, a aguardente, o gado bovino, o gado
cavalar, o feijão, a farinha; o milho, o arroz e o algodão. Informa ainda a existência
de 218 currais; 245 engenhos e engenhocas; 99 teares de tecidos e 3160
fazendeiros com 12.085 escravos, número aproximado ao da população total dos
meados do século XVIII, quando começara o "Ciclo do Açúcar". Lamego observa
que nesse período,
6
Salvador Correia de Sá e Benevides foi um militar e político português durante a Guerra da
Restauração ao serviço do reino de Portugal,. Destacou-se no comando da frota que, em 1647,
reconquistou Angola e São Tomé e Príncipe, terminando a ocupação holandesa. Foi por três vezes
governador da capitania do Rio de Janeiro (1637-1642, 1648 e 1659-1660); governador da capitania
do Sul do Brasil (1659-1662); governador de Angola (1648-1651) e Almirante da Costa do Sul e Rio
da Prata com superintendência em todas as matérias de Guerra; administrador de todas as Minas
do Brasil e Conselheiro dos Conselhos de Guerra e Ultramarino.
55
Tal ocupação inaugurou uma era de violência pela rica terra da planície
campista que perdurou até o século XIX, quando os descendentes do
governador Correia de Sá foram definitivamente expulsos da região com o
fim do regime dos morgadios. A raiz dessas lutas foi a oposição entre duas
noções de direito de propriedade, de um lado os que arrogam seus direitos
sobre o solo com base no trabalho e nas marcas deixadas por ele e de
outro os que mantêm suas propriedades baseados nos títulos oriundos,
muitas vezes, de fontes duvidosas e chancelados pelo estado. Os primeiros
que obtêm seu sustento pela terra e dela necessitam para sobreviver em
contraposição aos que se utilizam de suas posses para a obtenção de
rendas, aluguéis e foros enriquecendo de maneira ilegítima e fácil. Entre
legítimos ocupantes e trabalhadores e homens que tornaram sua
propriedade ilegítima perante o olhar do autor pela forma violenta e ilegal de
7
tomada de seus quinhões (GOMES, 2014, p. 4-5) .
7
A preocupação com as fontes primárias, como os documentos encontrados nas bibliotecas,
cartórios e arquivos particulares de Campos é o principal destaque do livro “Subsídios para a História
de Campos dos Goytacazes”, de Julyio Feydit. Outra característica salientada, é a forma crítica de
sua narrativa. Este trabalho vem sendo, “cada vez mais redescoberto pelas novas gerações de
historiadores dedicados a região de Campos dos Goitacazes, jaz praticamente esquecido em poucos
arquivos e bibliotecas do estado” (GOMES, 2014, p. 02).
56
Do final do século XVII ao século XVIII, Lamego afirma que ainda não havia
os ricaços do açúcar nem de solares grandiosos, a não ser o Colégio de São Bento.
Portanto,
A luta é individual e áspera. Mas é esta luta justamente que nos mostra o
caráter essencial da cultura da planície. A divisão da terra. O equilíbrio
social com a pequena propriedade. A produção é distribuída entre a
população, não obstante "as ciladas", tramas e persuasões dos
negociantes", que se assemelham em todos os tempos (LAMEGO, 1945, p.
107).
Lamego (1945) destaca também que no início do século XIX, as 60.000 almas
da Planície Goitacá ainda são muito apegadas ao solo, tendo como grande desejo a
conquista de algumas braças de terras boas para serem cultivadas. A seguir, ele
chama a atenção sobre esse apego à terra, quando afirma que foi exatamente ele, o
apego, que elevou o número de engenhos nesse período, alcançando um total de
700. Nesse contexto, os lavradores, assim denominados por Lamego, foram
expulsos de suas terras por conta das primeiras usinas a vapor.
O fato estudado nesta tese – os impactos da implantação do maior porto das
Américas na vida de agricultores dessa mesma região – revela que mais uma vez os
camponeses estão impedidos de cultivar e prover, pois suas terras estão sendo
expropriadas.
Para compreensão do processo de expropriação na atualidade é fundamental
analisar as lutas e resistências das famílias atingidas pelos impactos da implantação
e funcionamento do porto, contextualizada sócio- historicamente na produção deste
espaço. Desde as tentativas frustradas dos colonizadores durante mais de um
século, enfrentando a resistência da população nativa, os bravios índios Goitacá não
conseguiram expropriar as terras e os demais recursos naturais.
O eixo importante, nesses diferentes períodos históricos, é o surgimento do
capitalismo numa ponta junto às protoformas das relações capitalistas no campo da
Planície Goitacá, iniciando o processo de industrialização e de acumulação primitiva,
em que a máquina a vapor se destaca no desenvolvimento das forças produtivas, na
concentração de terras e de capital. Na outra ponta, apesar de suas características
57
A distinção que faço entre terra de trabalho e terra de negócio foi resgatada
da distinção subjetiva que os próprios trabalhadores fazem entre as terras
que eles próprios utilizam e terras que o patrão e proprietário utilizam para
explorar o trabalhador e para especular – para negar o trabalho (MARTINS,
1991, p. 12).
registro de todas as terras num prazo de seis meses, sob pena de confisco; a
medição e demarcação dos terrenos, sob risco de serem considerados áreas
devolutas, e a criação de um imposto sobre as terras, que seriam confiscadas em
caso de não pagamento por três anos consecutivos ou alternados. O fracasso foi
inevitável.
No Brasil, aos libertos não foram dadas nem escolas, nem terras, nem
empregos. Passada a euforia da libertação, muitos ex-escravos
regressavam a suas fazendas, ou a fazendas vizinhas, para retomar o
trabalho por baixo salário (CARVALHO, 2001, p. 52).
A luta pela terra na região não foi restrita apenas às classes possuidoras e as
não possuidoras, ou entre os sem-terra e os com terra, mas também com os
"Hereos", que são os herdeiros dos Sete-Capitães e demais pioneiros, com os
colonos-campeiros e com os vaquejadores das boiadas primitivas, de um lado; do
outro, com os grandes senhores que no Rio ou em Lisboa, comodamente, usufruíam
a renda dos territórios usurpados (LAMEGO, 1945, p. 83-84).
Com os negros escravizados não foi diferente. O que altera em cada contexto
são as formas de luta e resistência. Na Planície, o “corpo mole”, os incêndios nos
canaviais, as fugas e a organização por meio dos quilombos, as rebeliões contra os
senhores, tendo casos em registro na historiografia de atendados sobre a vida de
capatazes e dos próprios senhores8, são alguns exemplos que comprovam que,
apesar de toda violência e subordinação sofridas, a população negra construiu suas
próprias táticas e estratégias de resistências individuais e coletivas, as rebeliões, às
vezes silenciosas, outras, nem tanto.
Na década de 1870, presencia-se o aumento nos índices da criminalidade
escrava em que se inaugura uma nova fase de rebeldia dos negros. Os processos
8
Para aprofundamento cf: LARA (1988).
61
9
Onde se localiza o segundo engenho do Brasil, implantado em 1888.
64
10
Fato relevante, publicado no Diário oficial do Estado do Rio de Janeiro: A LLX Logística S.A.
("Companhia" ou "LLX"); (Bovespa: LLXL3), empresa privada brasileira responsável pela construção
do Porto do Açu, complexo industrial integrado que contempla os terminais T1 e T2, em cumprimento
ao disposto no art. 157 da Lei nº 6.404/76 e no art. 3º da Instrução da Comissão de Valores
Mobiliários nº 358/02, comunica aos seus acionistas e ao mercado em geral que: Em Assembleia
Geral Extraordinária realizada em 10 de dezembro de 2013, foi aprovada a alteração da razão social
da Companhia, que passa a ser denominada PRUMO LOGÍSTICA S.A. com CNPJ/MF:
08.741.499/0001-08, especificada como Companhia Aberta (Ano XXIX, n° 232, parte V de
12/12/2013).
11
Disponível em: http://prumo.riweb.com.br/show.aspx?idCanal=aPTeJS1GrlWgz15OZlz2lg.
66
12
Fonte: Prumo Logística Global, 2014 .
12
Disponível em: http://prumo.riweb.com.br/show.aspx?idCanal=J+nL+S8dBeUoIxUawJygZg==&linguagem=pt.
67
13
Segundo o EIA/RIMA do empreendimento, a criação deste parque seria para proteger alagados
rasos. No entanto, no projeto original foram retirados: 1.667 ha do corredor logístico, 2,100 do distrito
industrial e mais 5.000 hectares da Fazenda Caruara, destinada a RPPN – Reserva Particular do
Patrimônio Natural, totalizando, 21.882 hectares retirados de área rural, e, que em tese seria utilizado
pelo Porto e o retroporto.
74
14
Para Castel (1995), os sobrantes representam a terceira expressão da nova questão social, é a
constituição [...] de uma população de inúteis para o mundo, no sentido da desintegração destes
indivíduos.
76
15
Disponível em: http://prumo.riweb.com.br/show.aspx?idCanal=aPTeJS1GrlWgz15OZlz2lg==.
79
da Barra (RJ). Era previsto que em 2012, quando o Sistema Minas-Rio entrasse em
operação, deveria produzir 26,5 milhões toneladas anuais de minério de ferro.
Segundo a Portal Metálica construção civil, para atravessar os 525 km entre a
unidade de beneficiamento e o porto, o mineroduto encontrou muitas interferências,
principalmente rios, além da geografia montanhosa de Minas Gerais. Em alguns
pontos foi necessário “utilizar a técnica de Furos Direcionais Horizontal (HDD), bem
como túneis, entre os quais se destaca o localizado em Sem Peixe (MG), com 1.200
m de extensão”.
Para instalação da tubulação foram abertas “valas com 1,06 m de largura,
utilizando escavadeiras hidráulicas para terreno de 1ª categoria e fresas nos locais
onde houve material de 2ª e 3ª categorias”. A cobertura da tubulação com 0,76 m,
no mínimo. O projeto do mineroduto contém duas estações de bombeamento e uma
estação de válvulas redutoras de pressão. “A polpa contendo o minério de ferro
percorre todo o trajeto do mineroduto em aproximadamente 85 horas e 14 minutos”
(PORTAL METÁLICA CONSTRUÇÃO CIVIL, 2016)
80
Prevalência de uma força de lei sem lei, uma força de lei discricionária que,
no entanto, permitida na própria lei, a suspende a fim de preservá-la e, para
isso, rompe com o pacto entre Estado e cidadãos, sujeitando-os à toda
sorte de privação de direitos em nome de uma necessidade qualquer
exterior ao direito (...). Logo, é evidente que os cidadãos sofrem de um ato
de violência perpetrado pelo Estado por razões completamente alheias à
sua própria constituição, a saber, a defesa de seus direitos naturais e de
sua cidadania (LUIZ, 2015, p. 51).
16
Comissão Especial para estudar e acompanhar as obras e investimentos do Porto do Açu e seus
impactos nos municípios vizinhos, bem como a construção do corredor logístico, presidida pela
Deputada Estadual Clarissa Garotinho (ALERJ, 2011).
86
Quando foi um dia, apareceu uma turma, até Assistente Social apareceu aí,
dizendo que eu ia sair de lá, aí, quando passou uns dias, um tio dela ali me
levou para São João da Barra enganada, eu não sabia não. Aí chegou lá,
eles me botaram sentada, eu conversando com o advogadozinho novinho e
uma moça, aí toca jogar conversa pra cima de mim, mas não sei tudo, o que
é o bom, o que é o ruim, aí fui só escutando, aí daqui a pouquinho vieram
com um cafezinho assim... aí depois que eu tomei um cafezinho, o
advogado veio com um negocinho assim, todo cheio de pauzinho do lado,
aqui em cima era uma coisa e aqui embaixo era outra, aí o negócio, um
potezinho assim, redondinho. Pegaram meus dedos à força, começaram a
molhar os meus dedos e manchar no papel (DONA RUTE, 2011).
88
Na questão da Dona Rute, a gente percebeu que ela tem quase cem anos,
a gente constatou que ela vai fazer [cem anos agora em setembro de 2012],
e, a filha dela, ela foi sondada e procurada pela CODIN junto com a LLX,
para poder dar uma nova casa pra ela. Eles convidaram eles a irem na sede
da CODIN, em São João da Barra, Dona Rute foi sem saber muito bem do
que se tratava. Quando chegou lá, falou pra ela que era pra ela fechar o
documento que ela ia ganhar uma nova casa e a filha dela teve que assinar
dizendo que seria bom pra eles ganharem um novo lar, com tudo
estruturado, com toda mobília, com todo conforto. Quando ela chega em
casa, a casa já estava derrubada, ela já sem o seu lar e quando foi procurar
a empresa, a empresa disse que não tinha casa para ela, que era pra ela
correr com o seu direito de justiça, porque a casa dela estava sendo
demolida para dar local, para dar lugar ao Complexo Industrial
(DOCUMENTÁRIO IGNORADOS, 2012).
17
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=dpM_QLX9svM&t=227s.
89
Chegou uma mulher lá e disse que ia me dar cinco minutos para mim sair
da casa. Aí eu disse que não saía não, porque a casa era minha. Aí ela
disse, mas vai sair agora, se não invado aí, meto o pé pra dentro e apanho
à força. Aí eu disse, não saio! Aí ela disse, vai sair, porque vocês invadiram
aqui, aí eu disse... não, não invadi não, porque a casa é do meu pai. Aí ela
disse que invadi, invadi. Aí eu disse que não saía não. Aí, ela entrou pra
dentro, agarrou as crianças e carregou pro sol, ficou tudo cheio de cocô lá
no sol, as crianças, e disse que...eu mandei meu irmão sair do sol com as
crianças, aí o policial cercou, quatro policial cercou ele, pra ele não entrar.
18
Em tese de doutoramento, intitulada “Discursos sobre a milícia:
nomes, vozes e imagens em movimento na produção de sentidos”, Costa (2011, p. 7) afirma que na
Wikipédia milícia tem seu sentido atualizado enquanto grupo criminoso. Nessa mesma enciclopédia,
encontra-se milícia (do latim militia) como a designação genérica
das organizações militares ou paramilitares, ou de qualquer organização que apresente grande grau
[1]
de atuação. Stricto sensu, o termo refere-se a organizações compostas por cidadãos comuns
armados (apelidados de milicianos ou miliciantes), ou com poder de polícia que, teoricamente, não
integram as forças armadas ou a polícia de um país. As milícias podem ser organizações oficiais
mantidas parcialmente com recursos do Estado e em parceria com organizações de carácter privado,
muitas vezes de legalidade duvidosa (WIKIPEDIA, 2015).
90
Levaram o leite da minha filha, levou mamadeira... minha filha agora não
quer mamar porque tava acostumada com aquela mamadeira, levou o leite
todinho, levou as carnes, carne seca do sol, levou carne assada, levou
feijão que eu tinha cozinhado na quarta-feira, daí ninguém jantou, ninguém
queria jantar, aí levou meu feijão cozinhadinho que eu cozinhei, minha
carne assada, levou minha roupa todinha, levou tudo... levou minhas
calcinhas, as cuecas dos meus filhos...tudinho. [...] Meus cobertores, meus
tapetes... O cobertor também? É.…tudo! Levou tudo, meu fogão, dois
botijões de gás, cinco galões de água, eu comprei um galão d’água, o
homem queria o galão, aí teve que botar nos depósito pra poder dar o
galão... (DOCUMENTÁRIO IGNORADOS, 2012).
Logo após esse processo violento vivenciado com sua família no ato de
expulsão, tendo toda a sua mobília, eletrodomésticos, roupas, alimentos, objetos
pessoais, dentre outros retirados violentamente por agentes do poder público e
levado para o depósito, essa senhora, após ser acometida por uma depressão
profunda, teve sua saúde agravada e foi internada em um hospital psiquiátrico em
Campos dos Goytacazes, com transtornos mentais graves. Dona Maura faleceu em
20/01/2017.
Tal processo é apreendido pelos sujeitos envolvidos como um “monstro” que
ronda e desestabiliza a vida pacata, honesta e de trabalho que eles sempre tiveram.
Isso tem levado esses camponeses a achaques e adoecimento físico e mental,
impossibilitando até que alguns deles sobrevivam aí, e se mantenham as atividades
na lavoura. As ações políticas de luta em curso, visam a resistir aos descalabros
desse processo expropriatório de suas terras, patrocinado pelo Estado e pelo capital
financeiro.
As desapropriações no 5º Distrito/Açu devem ser entendidas, não apenas
pela necessidade de aquisição das terras para implantação do Complexo Industrial e
Portuário do Açu, como tentam passar os meios de comunicação. As
desapropriações são muito superiores às necessidades operacionais do Complexo.
Elas fazem parte do mecanismo de concentração de terras, que intensifica o
processo de acumulação de capital fundiário. Este processo de acumulação
realizado por tal empreendimento vem tentando destruir o processo de construção
da autonomia dos pequenos agricultores e pescadores, na tentativa de reduzir suas
ações de resistência, separando-os do seu meio fundamental de produção, que é a
terra. Vera Telles (1998, p. 04) afirma que,
Com uma área de 7.036 hectares próxima à costa do continente, com obras
de abastecimento de água, esgoto, drenagem, além de vias de acesso aos lotes do
porto, estão previstas para o DISJB: unidade de construção naval; fábrica de
automóveis; fábricas de cimento; fábricas de peças pré-moldadas de concreto;
indústrias mecânicas; fábricas de máquinas e equipamentos; fábricas de autopeças
e eletrodomésticos; unidades siderúrgicas; outras fábricas e serviços associados às
atividades industriais e portuárias.
O que se tem presenciado é que o respeito e a garantia dos direitos humanos
que deveriam se “constituir como uma nova “condicionalidade” nas opções
econômicas [e que fosse] imposta à busca simultânea das grandes prioridades,
como o emprego, o respeito ao meio ambiente e das comunidades (...) e a
distribuição da riqueza” (RODRIGUEZ, 2009, p. 08), não têm sido o eixo das
preocupações do Estado, do Grupo EBX/LLX e nem dos setores da sociedade que
se mantêm alheios às expropriações das terras dos camponeses do Açu, às
violações aos direitos humanos e a todos os desrespeitos a que eles estão
submetidos.
Assim como Rodriguez (2009), que busca conciliar um modelo de
desenvolvimento e o respeito aos direitos humanos e a garantia da distribuição da
riqueza, Cruz (2016), também discute as dinâmicas econômica e espacial atuais do
estado do Rio de Janeiro, “com o objetivo de contribuir para a elaboração de
políticas públicas adequadas ao enfrentamento dos problemas histórico-estruturais
do seu desenvolvimento”. Cruz apresenta a seguinte questão: “Quais as
características das novas contradições, dos novos conflitos, e que questões colocam
para o desafio de elaboração de políticas públicas orientadas por um padrão de
desenvolvimento justo e equitativo?”.
Para Acosta, o conceito de “desenvolvimento”, como toda crença, nunca foi
questionado, mas simplesmente redefinido. Afirma, portanto que:
É esse processo geral – no Brasil apoiado pelas ações dos governos Federal,
Estadual e Municipal – que torna possível a realização da fantasia do Senhor Eike
Batista de transformar-se num dos homens mais ricos do mundo. É mister destacar
que essa tentativa de transformação do filho de Eliezer Batista, presidente da Vale,
uma empresa estatal à época, e ministro das Minas e Energias do Governo João
Goulart, num midas, se deu num curto espaço de quatro anos (2008/2012). Ele
19
A Ampla Energias e Serviços, distribuidora de Energia elétrica no Rio de Janeiro até novembro de
2016, atualmente Enel.
101
tornou-se o sétimo homem mais rico do mundo e o primeiro mais rico do Brasil. Com
o seu poder político e econômico e,
Um outro produtor que também teve a sua propriedade toda salinizada, foi o
agricultor Durval Ribeiro Alvarenga, cuja propriedade fica bem perto das obras do
107
porto. Ele afirma que se livrou das desapropriações, mas teve as suas terras
invadidas pelas águas salgadas e até hoje não conseguiu recuperar a sua plantação
e nem a criação de gado.
Segundo ele, o solo continua com uma quantidade excessiva de sal. “Os
agentes do Inea estiveram na minha casa em dezembro, confirmaram
para mim a contaminação e depois sumiram. O problema continua e
estou sendo muito prejudicado, porque perdi a minha plantação de cana,
abacaxi e a minha criação de gado está sentindo demais os efeitos da água
contaminada”, contou ele. Durval disse que vai entrar, ainda esta semana,
com processo contra o Estado, pedindo indenização pelos danos causados
pelas obras do grupo de Eike Batista (CLÁUDIA FREITAS, JORNAL DO
BRASIL DE 04/09/2013, grifos da autora).
litoral brasileiro. É o caso dos projetos situados nas áreas de expansão da fronteira
da mineração no Estado, situados na região Norte e Meridional da cadeia
montanhosa do Espinhaço em Minas Gerais, como os casos dos projetos da Anglo
American, SAM e Manabi.
A reação do segmento das empresas de mineração às críticas dos
movimentos sociais, sobre os abusos do uso de água pela atividade de mineração
de ferro, particularmente, pelo uso de minerodutos, frente à atual situação de
escassez de água, foi imediata e visa a preservar um modelo de transporte que se
quer consolidado para incrementar a lucratividade de seus negócios.
Menos de dez por cento (10%) pode ser rapidamente alterado para num
próximo 30%, 40% ou proporção maior da atividade da exploração de minério de
ferro, que já busca jazidas com menor teor de pureza em diferentes regiões do
Brasil. Nesta situação, o uso do mineroduto seria apresentado, então, como uma
tendência a justificar a sua aplicação e legitimação, que se quer também
reproduzido em outros Estados, visados por número crescente de pedidos e
autorizações de pesquisas geológicas, a exemplo do Estado da Bahia, também
cortado pela cadeia do Espinhaço.
A concepção aqui relatada reflete o estado da arte do modus operandi de
grupos empresariais e agentes especuladores que, a exemplo do Projeto Minas-Rio,
aqui mais comentado, associaram esse caso de acumulação e jogo capitalista ao
desdobramento de outras iniciativas com igual perfil e que vem causando grande
prejuízo ao país.
É curioso notar que as empresas que estão sendo criadas para fazer
exploração de minério de ferro e uso de minerodutos, como meio de transporte, são
empresas com poucos anos de existência e que replicam seu modelo de negócios e
política de interação com atores políticos e governamentais num sistema
autorreprodutivo. Assim, gestores e técnicos da Samarco, juntamente com de outras
empresas, emprestaram sua expertise para a criação e negociação do Projeto
Minas-Rio, de onde saíram vários que vieram aportar seu know how ao projeto da
Manabi e assim sucessivamente. Minas Gerais é conhecida como um celeiro de
artimanhas jurídicas para viabilização destes negócios e modos de implantá-los em
outros Estados do Brasil, e em países da África e América Latina.
110
desaparecer progressivamente aquele ‘Estado restrito’ que exercia seu poder sobre
uma sociedade atomizada e despolitizada” (COUTINHO, 1997, p. 162).
Logo, a ampliação efetiva da cidadania política, conquistada de baixo para
cima, confirma a assertiva de Coutinho, ou seja, “essa nova concepção marxista do
Estado [...] parece ligada organicamente aos processos de ampliação e construção
de cidadania” (1997, p. 164).
Então, quando este autor afirma que democracia é sinônimo de soberania
popular, apreendem-se as articulações profundas entre democracia e cidadania
apontadas por ele “como a presença efetiva das condições sociais e institucionais
que possibilitam ao conjunto dos cidadãos a participação ativa na formação do
governo e, em consequência, no controle da vida social” (COUTINHO, 1997, p. 145).
Nesta perspectiva, o processo de participação dos camponeses, pescadores
e demais moradores das áreas atingidas pelos megaempreendimentos aqui
tratados, tem-se constituído em óbices ao desenvolvimento pleno e rápido neste
estágio do capital em que se objetiva a redução máxima de sua rotação. Se o tempo
de rotação é constituído da soma do tempo de produção e do tempo de circulação
do capital, as ações realizadas pelos atingidos – em que estradas foram
interrompidas, as obras do porto paralisadas, por exemplo – revelam que processos
de “socialização da política” e de cidadania política vêm contribuindo para que estes
possam contestar a violação aos seus mais elementares direitos, mesmo quando a
legislação prevê que o indivíduo não pode contar com a lei para se defender. Em
bom português, pode-se falar de estado de exceção (OLIVEIRA, 2015).
Telles (1998) lembra que desde a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, da ONU, em 1948, “os direitos sociais foram reconhecidos, junto com os
direitos civis e os direitos políticos, no elenco dos direitos humanos”.
Mas isso também significa dizer que ao revés da versão hoje corrente que
os reduz [os direitos] a meras defesas corporativas de interesses, em torno
dos vários sujeitos que reivindicam direitos abrem-se horizontes de
possibilidades que, desenhadas a partir da singularidade de cada um, não
se deixam encapsular nas suas especificidades, pois a conquista e o
reconhecimento de direitos têm o sentido da invenção das regras da
civilidade e da sociabilidade democrática (TELLES, 1998, p. 4).
Figura 16 - Protesto contra a salinização das águas e do solo no Açu - fechamento da rodovia RJ-
240
Com base em Rancière (apud Telles, 1998), pode-se dizer de forma breve,
que política é o rompimento do consenso através da fala, da reivindicação. É
conflito, dissenso ou consenso negociado, processo que indica mudanças de
lugares. Portanto, o exercício da política possibilita a construção de processos que,
117
Depois que começou esse empreendimento, isso aqui virou uma desgraça;
no início eu pensava por que tinha que ser em Conceição do Mato Dentro,
por que não foi para outro lugar. Mas hoje, eu digo: isso não tinha que
existir, pois o que não é bom para nós daqui, não pode ser bom para
trabalhador de nenhum LUGAR (JOSÉ ADILSON MIRANDA, CONHECIDO
POR SR ZÉ PEPINO).
Figura 17 - Placa fincada nas terras dos camponeses após o bloqueio da área pela EBX
Três de maio de dois mil e treze. Eles iam para longe. Quase seiscentos
quilômetros e um trajeto pouco preciso, o que fez com que se perdessem pelo
caminho entre São João da Barra e Conceição do Mato Dentro. Os atingidos do Rio
de Janeiro gastaram quase um dia inteiro para chegar a Conceição. A gentileza dos
motoristas e a importância daquela experiência em suas vidas corroboraram para
que todos chegassem animados; foram recebidos de forma calorosa pelos
camponeses afetados em Conceição de Mato Dentro.
Na Câmara dos Vereadores da cidade, ao anoitecer, uma primeira roda de
conversa aproximou as comunidades atingidas, junto a uma mesa farta de
alimentos.
Era outono, e o clima perfeito para que os visitantes do Açu, ao encontrarem
os conceicionenses, pudessem desfrutar das belezas daquele lugar distante e belo.
Mas o objetivo era outro: buscavam, nesse intercâmbio, a unificação dos processos
de resistências e o fortalecimento de suas lutas. Eles queriam conhecer o ponto de
partida do Projeto Minas-Rio, as cavas onde se exploram os minérios que
transportáveis por aqueles tão comentados 525 km de mineroduto, que impactam 35
municípios.
126
Acreditar que após tanto sofrimento e luta dos camponeses do Açu, hoje
atingidos pelos choques provocados pela implementação do Porto, que ansiavam
por ver, ouvir e sentir como os moradores, trabalhadores e demais atingidos não
apenas pela mineração, como também pelo Projeto Minas-Rio, estavam vivenciando
e enfrentando as violações dos seus direitos mais elementares – como o de plantar
seus próprios alimentos, com qualidade; para pescar o peixe que até então era de
águas límpidas; para trabalhar na terra e viver ali...
Passada a primeira noite, depois da viagem intensa, naquele sábado de sol,
no dia 4 de maio de 2013 ao tentar percorrer a área dominada e insulada pelo
Projeto Minas-Rio, o grupo foi surpreendido e depois seguido por veículos com o
logotipo da Anglo American, que permaneceram, durante todo o tempo, monitorando
o ônibus da universidade, onde se encontravam os estudantes, os professores-
pesquisadores, os moradores atingidos pelo Minas-Rio, os defensores públicos, os
promotores de justiça, os representantes de entidades apoiadoras, dentre outros.
Durante esse percurso espreitado, foi realizada uma visita às margens do
Córrego Passa Sete para verificação, in locu, da degradação do curso d’água. Daí,
rumou-se em direção à propriedade de uma moradora antiga daquela comunidade,
cujas terras foram invadidas pela Anglo, sem autorização da família ou ordem
judicial. O carro perseguidor ultrapassou o ônibus que conduzia o grupo, e de forma
brusca, atravessou e fechou a estrada que possibilitava a passagem ao sítio. Os
seguranças utilizaram câmeras fotográficas como se fossem armas, filmando as
pessoas e registrando todas as falas de um jeito agressivo, na tentativa de intimidar.
A empresa impediu a passagem do grupo e da moradora-anfitriã, além de ter
acionado veículos para reforçar a barreira.
O ônibus seguia pela MG 10, rodovia Conceição/Serro, onde parte das
comunidades do entorno do empreendimento Minas-Rio, como a do Turco e
cabeceira do Turco eram observadas pelos visitantes e atingidos do Açu/RJ. A
equipe se deslocou à comunidade de Água Quente onde permaneceu por algumas
horas conversando com os moradores, visitando suas casas e escutando o relato
sobre seu modo de vida, antes da mineradora chegar à região. Logo depois eles
passaram a relatar os impactos advindos das obras do Projeto, em razão do
assoreamento e degradação do Córrego Passa Sete – curso d’água que foi o
estruturador da comunidade.
128
20
DECRETO N. º 40.456, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2006
Concede Tratamento Tributário Especial ao empreendimento que
especifica, e dá outras providências.
20
De acordo com o Decreto 40.456 de 22/12/2006, que concede tratamento tributário especial ao
Grupo MMX, todas as empresas onde o grupo tiver participação de no mínimo 10%, receberão por 20
anos, isenção diversas quanto às taxas de exportação, aquisição de insumos, transportes, entre
outras (AAE – AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA, 2009).
137
A “administração das crises” é uma função tão vital do Estado na fase tardia
do capitalismo quanto sua responsabilidade por um volume enorme de
“condições gerais de produção” ou quanto seus esforços para assegurar
uma valorização mais rápida do capital excedente (MANDEL, 1982, p. 340).
A renda total do porto do Açu prevista em 2014 foi de 400 milhões, sendo
R$ 313 só de aluguel de terras. Em 2017, uma renda total de 1,6 bilhão,
sendo R$ 481 milhões de aluguel de áreas. Para 2023, daqui [a 6 anos], a
receita total prevista será de 4,8 bilhões, sendo 1,1 bilhão só de aluguel de
terrenos.
Assim, em doze anos, a LLX, pela estimativa feita pelo Bank of America
Merril Linch em (12/09/2012), terá faturado só em aluguel de terreno a
quantia de R$ 7,3 bilhões, aproximadamente 25% de toda a receita prevista
(BLOG ROBERTO MORAES, 23/11/2012).
Gráfico 1 - Previsão de receitas com a movimentação de cargas e aluguel de área no Porto do Açu
Gráfico 2 - Avaliação da LLX prevê em 12 anos receita de R$ 7,3 bilhões com aluguel de terrenos no
Açu
da parte contrária, que sequer pode contestar o valor imposto pela avaliação da
CODIN, e competindo aos camponeses (réus nesta ação) a comprovação da
qualidade de proprietário e o gravame financeiro.
Nas análises realizadas pelo grupo de pesquisadores do HOMA da
Universidade Federal de Juiz de Fora (2017), uma das grandes dificuldades de
efetivação do acesso à justiça, destacada – além da questão da falta de informação
dos atingidos – foi a “deficiência na formação dos magistrados em uma cultura de
Direitos Humanos e de valorização da vítima”. Em uma pesquisa realizada pelo
Conselho Nacional de Justiça, afirma-se que “o perfil dos magistrados brasileiros os
coloca em posição extremamente distanciada das vítimas e, mediante essa
ausência de proximidade e alteridade [...]” (HOMA, p. 29-30), os obstáculos ao
acesso aumentam.
Numa entrevista ao jornal O Globo, o advogado Rodrigo Pessanha, se
posiciona assim:
Para Fontes (2010, p. 88), “a expropriação não pode ser considerada como
um fenômeno apenas econômico, uma vez que é propriamente social (...)”. Esta
autora afirma que “trata-se da imposição – mais ou menos violenta – de uma lógica
da vida social pautada pela supressão de meios de existência ao lado da
mercantilização crescente dos elementos necessários à vida”. Tais fatos não são
exclusivos do Estado brasileiro, após a chamada mundialização do capital,
possibilitando ao grande capital restabelecer a rentabilidade dos seus investimentos.
Segundo Pessanha (2016), pode-se caracterizar esse porto e o seu projeto de
complexo industrial e seus impactos, como o movimento da “Geografia das
Corporações”, previsto dentro dos grandes ciclos econômicos e vinculados aos
ciclos das commodities. Estes agem sobre o espaço, constituindo circuitos espaciais
de produção, que possui bases em MG e Rio, e se constituem dos investimentos em
capital fixo sobre o território. Para Santos,
2006
27/Dez – Lançamento da pedra fundamental do Complexo Logístico e Industrial do
Porto do Açu, pela Governadora Rosinha Garotinho, o empresário Eike Batista e a
prefeita de São João da Barra, Carla Machado. Segundo a governadora, será o
maior investimento na história do Norte/Noroeste do Estado.
2007
Outubro
151
2008
25/jun. O novo barão de São João da Barra, Eike Batista, hoje durante entrevista
coletiva no gabinete da prefeita Carla Machado. A ex-governadora Rosinha também
esteve presente ao lado do presidente da Cedae, Wagner Victer (BLOG RICARDO
VASCONCELOS, 2008).
Figura 20 - Reunião do barão Eike com a baronesa Carla em São João da Barra
30/jul – Entrega da licença prévia do Porto do Açu, numa solenidade no Palácio das
Laranjeiras com o Governador Sergio Cabral, Eike Batista e sua família, e diversas
autoridades.
05/ago – Comissão Estadual de Controle Ambiental (CECA) libera licença prévia da
Usina Termoelétrica Porto do Açu.
13/ago – O Ministério Público Federal (MPF) ajuíza ação civil pública perante a
Justiça Federal em Belo Horizonte, para impedir a continuidade das obras de
21
Disponível em: http://www.prumologistica.com.br/SitePages/sobre-o-porto/historico.aspx.
152
2009
21/jan – Governador do Estado do Rio de Janeiro assina decreto declarando de
utilidade pública imóveis e benfeitorias situadas nas faixas de terra necessárias à
construção e passagem do Mineroduto Minas-Rio.
Fevereiro – Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o presidente da Colônia de
Pescadores Z-2 afirma estar apreensivo quanto aos impactos da construção do
Porto do Açu, na pesca do camarão na região. Obras do porto estariam afetando a
principal área de pesca do crustáceo no município.
Abril – Após BNDES Participações adquirir cerca de 12,5% das ações da LLX e
integrar projeto do Porto do Açu, Governo Federal aceita incluir projeto no Plano de
Aceleração do Crescimento (PAC).
20/maio – Grupo EBX anuncia início de negociações com a Wuhan Iron and Steel
Co (WISCO) para instalação de usina siderúrgica chinesa no Condomínio Industrial
153
22
Disponível em: http://www.robertomoraes.com.br/2009/08/blog-do-paulo-noel-cobre-
manifestacao.html.
155
2010
Abril – Justiça Federal nega pedido de liminar em julgamento de ação movida pelo
MPF/RJ.
22/ago – Fundação da ASPRIM – Associação dos Proprietários de Imóveis e
Moradores de Pipeiras, Barcelos, Cajueiro e Campo da Praia.
Setembro – Ternium adquire controle acionário da Siderúrgica Norte Fluminense
(então sob controle da LLX).
16/set – INEA concede licença de instalação para Unidade de Tratamento de
Petróleo da LLX.
29/out – Representação ao Ministério Público Federal, que propiciou a instauração
de dois Inquéritos Civis: um, sobre o Corredor Logístico, e o outro, sobre o desvio da
BR 101 e as implicações para os assentamentos da Reforma Agrária e também para
os demais agricultores.
15/nov - Presidente da Hyundai visita Super Porto do Açu em São João da Barra. A
Secretaria de Comunicação da PMSJB noticia que Jai Seong Lee, foi recepcionado
pela prefeita Carla Machado e pelo presidente da OSX Brasil, Luiz Eduardo Carneiro
e que o convidado ficou encantado com a magnitude do projeto (PREFEITURA
MUNICIPAL DE SÃO JOÃO DA BARRA, 2010).
156
23
Figura 23 - “Como nascem os monstros”
Dezembro
17/dez – A LLX e a OSX, empresas do Grupo EBX controlado por Eike Batista,
anunciaram nesta sexta-feira que a Marinha do Brasil emitiu autorização para o
desenvolvimento do canal onshore no Terminal 2 (T2) do Porto do Açu, em que a
OSX construirá a sua Unidade de Construção Naval (EXAME, 2010).
23
Reproduzindo a ideia do filme “Como nascem os anjos”, dirigido por Murilo Sales em 1996.
157
2011
30/mar – Operários do Porto do Açu bloqueiam estrada de acesso a obras em pleito
por melhores salários e condições de alojamento. São trabalhadores da empreiteira
ARG Civil Port, contratada pela LLX, do empresário Eike. As reivindicações afetam a
construção do terminal marítimo do Porto do Açu. A estrada fechada é a RJ 240, que
liga a BR 356 ao Porto do Açu.
Figura 25 - Guindaste coloca estacas no fundo do mar: obras de montagem dos berços de atracação
no Porto do Açu
Figura 26 - Prefeita Carla Machado e o Governador Luiz Fernando Pezão em reunião sobre Açu
Figura 32 - Os atores anunciam: Super porto é bom para o Brasil e para quem vive no Açu
Figura 33 - Dona Maura (in memorian) vítima de deslocamento forçado pelo Eike Batista e a CODIN
24
Fonte: Documentário “Ignorados, 2012” .
24
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=dpM_QLX9svM.
163
Figura 36 - Seminário: “Complexo do Porto do Açu, CODIN e a expulsão dos agricultores de suas
terras”
2012
3/jan – A ASPRIM, CPT, MPA, professores da UFF de Campos e as famílias de
pequenos agricultores do 5º Distrito de São João da Barra protocolam representação
por atos de responsabilidade e ofensa aos direitos assegurados à criança e ao
adolescente, em face dos fatos narrados à Promotora de Justiça da Infância e da
Juventude de São João da Barra.
18/jan – Manifesto de pequenos agricultores e pescadores sobre intimidação e
violência sofridas no Complexo Industrial Portuário do Açu.
19/jan – A violência na expulsão da família de Maura Xavier de sua casa no
loteamento Costa Mar, no 5º Distrito/Açu, acompanhada de três crianças pequenas
e dois adolescentes, iniciada às cinco horas da madrugada e só concluída quase ao
meio dia. Manifestação concreta e visível do poder repressivo e violento do Estado,
representada naquele ato pelas esferas municipal e estadual. Nesse processo de
expropriação e expulsão dessa família, para a empresa invadir, foram
arregimentados em torno de 80 policiais militares, oficiais de justiça, corpo de
bombeiros, conselho tutelar, funcionários da CODIN e os “seguranças” da LLX e,
ainda, os operadores de máquinas gigantescas, que em menos de meia hora,
166
Figura 38 - Parte do efetivo da repressão para expulsar e destruir a casa e o quintal dessa família
Figura 39- Expulsão de Maura Xavier e sua filha Maraína de sua moradia
25
Disponível em: http://g1.globo.com/rj/serra-lagos-norte/noticia/2013/01/lider-do-mst-e-encontrado-
morto-em-campos-dos-goytacazes-rj.html; http://ururau.com.br/cidades26951_Sem-terras-se-
despedem-de-l%C3%ADder-e-pedem-justi%C3%A7a-durante-cerim%C3%B4nia.
26
Além da comunidade local e do entorno do Município de São João da Barra, foram convidados a
participar da audiência popular: os diretores da LLX, OSX e OGX, o Conselho de Sustentabilidade
das referidas empresas e os diretores das empresas de consultoria ambiental contratadas. E ainda o
Presidente do Instituto Nacional do Ambiente – INEA e equipe técnica, assim como o Governador do
Estado do Rio de Janeiro e o Presidente do Companhia de Desenvolvimento Industrial do Estado do
Rio de Janeiro – CODIN, empresa de economia mista também responsável pelas desapropriações
dos imóveis rurais. Apesar da ausência destas autoridades mencionadas, a audiência contou com a
participação da Defensoria Pública estadual, pesquisadores da UFF, UENF, IFF, vereadores,
representantes de Movimentos sociais, dentre outros.
168
Figura 41 - Tudo que Seu Totonho conseguiu tirar de sua roça, no momento da invasão de suas
terras, pela CODIN e a LLX
Figura 43 - Com Rodrigo Santos - ASPRIM; Pinduca - Camponês e Carolina Abreu – CPT
Descrição: Aos 13 de setembro de 2012, na sala de audiências, presente a Drª. LUCIANA CESARIO DE
MELLO NOVAIS, juiz titular. Feito o pregão às 13:50 horas compareceram as partes,
acompanhadas pelos seus respectivos patronos. Ficou acordado entre as partes que a AMPLA
não cumprirá a liminar de imissão de posse antes do prazo de 45 dias. Os réus se reunirão e
apresentarão uma proposta de acordo, assim que possível. Pelo MM. Juiz de Direito foi dito
que: Venham os autos conclusos. Intimados os presentes. Nada mais havendo, foi encerrada
a presente às 15:45 horas. Eu, [...] mat. [...], digitei.
22/out – O Promotor de Justiça, Dr. Leandro Manhães, visita sítio de Dona Noêmia
Magalhães, uma das atingidas do Açu, e faz pronunciamento público, através de um
vídeo, em apoio à luta dos camponeses, pescadores e moradores do Açu.
28/nov – Fiscais do Ministério Público do Trabalho (MPT), acompanhados do
Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, realizam fiscalização em um
alojamento de trabalhadores que prestam serviços no Porto do Açu. Na pousada, na
praia de Grussaí, litoral de São João da Barra, estavam abrigados 180 trabalhadores
de duas empresas.
06/dez – MPF/RJ instaura inquérito para apurar impacto ambiental das obras do
Porto do Açu, em função do processo de salinização das águas que vem causando
danos à saúde da população e prejuízos nas plantações dos pequenos agricultores.
17/dez – Divulgado resultado da análise realizada por pesquisadores da UENF que
confirma salinização de canal em São João da Barra. O relatório dos pesquisadores
poderá ser consultado no (Cf. anexo)
2013
16/jan – As autoridades ambientais do Estado do Rio de Janeiro confirmaram, nesta
quarta-feira (16), que as obras de construção do Porto do Açu, do empresário Eike
Batista, causaram a salinização da água doce usada por agricultores em São João
da Barra.
20/jan – Ação de denúncia e conscientização realizada na BR 101, parando e
conversando com motoristas e passageiros em direção às praias de São João da
Barra, em um domingo de verão e sol brilhante. O Trabalho de campo envolveu a
ASPRIM, representada pelos camponeses do Açu, alunos da UFF, professores e
alunos da FAETEC e lideranças dos movimentos sociais, como a CPT, MST, dentre
outros. Com repressão da Polícia Rodoviária Federal ao final da atividade.
174
31/jan – Índice de Salinidade da água no Norte Fluminense é sete vezes maior que o
permitido para consumo humano. “O Ministério Público Federal (MPF) em
Campos dos Goytacazes (RJ) moveu ação civil pública com pedido de liminar contra
as empresas EBX, OSX e LLX, do empresário Eike Batista, pedindo o fim das obras
de instalação do Complexo Logístico Industrial Portuário do Açu em São João da
Barra (RJ), sob pena de multa diária de R$ 100 mil. Segundo a ação, há indícios de
que as obras para construção do Porto do Açu causaram a salinização em
áreas do solo, de águas doces em canais e lagoas e de água tratada para o
consumo humano. (Processo n° 0000133-13.2013.4.02.5103)31/jan – MPF move
ação civil pública contra OSX, LLX, INEA e IBAMA por danos socioambientais
decorrentes da salinização dos canais.
01/fev – INEA multa OSX em mais de R$ 1 milhão por danos causados pela
salinização no Açu.
08/fev – Justiça Federal suspende supressão de restingas em área de preservação
permanente que estavam sendo destruídas pelas obras do estaleiro da OSX
Construção Naval S/A do Açu, sob pena de pagamento de multa diária de R$100 mil
reais. Intima também o IBAMA para que no prazo de 15 (quinze) dias, a contar da
175
27
Disponível em: http://cristianopacheco.com/wp-content/uploads/2013/02/LIMINAR-ASPRIM.pdf.
176
2014
10-14/fev - VI Congresso Nacional do MST, realizado em Brasília com participação
como convidadas de professora da UFF e uma representante da ASPRIM. Além dos
importantes debates e das trocas de experiências com lideranças de todo o Brasil,
foi uma oportunidade única de ampliar as escalas das denúncias das violações
vivenciadas pelos impactos sociais, econômicos, políticos e ambientais provocados
pela desapropriação de 7036 hectares de terras e pelas obras no processo de
construção do Porto do Açu, para uma Delegação Internacional de 175 delegados,
representando 30 diferentes países, que também participaram do VI Congresso do
MST. Essa reunião articulada e organizada pela Direção Nacional do MST, parceiros
e apoiadores das lutas dos trabalhadores atingidos do Açu há mais de uma década.
11/fev - Reunião com a Equipe Técnica Federal/ETF do Programa de Proteção aos
Defensores de Direitos Humanos/PPDDH da Secretaria de Direitos Humanos da
Presidência da República/SDH/PR e entrega de relatório e documentos
comprobatórios das violações sofridas pelas famílias atingidas no Açu, com a
participação da representante da ASPRIM, da CPT e da professora da UFF. Nessa
ocasião, foi solicitada uma audiência pública da SDH e que esta pudesse também
contribuir e pressionar para que a Ouvidoria Agrária Nacional agilizasse a realização
da audiência no V Distrito/Açu, conforme relatório encaminhado àquele órgão.
181
Denis Toledo, afirma que acompanha desde o início a construção do estaleiro, e que
nenhum tipo de monitoramento é feito sobre o impacto ambiental que já vem
ocorrendo desde 2012. “Nas audiências realizadas aqui pela Unidade de Construção
Naval (UCN), eles documentaram que a erosão aconteceria, mas disseram que o
monitoramento seria constante e que criariam soluções”, lembra (Franco, In: Mega
Brasil, 2014).
2015
16/jan – A possibilidade de empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, como é
o caso da Mendes Junior, rescindirem contratos cria insegurança no Consórcio
Integra no Açu. Dos 600 funcionários, restam apenas 150 e o clima é de tensão. Por
lá estão sendo montados os módulos das plataformas P-67 e P-70. Os módulos 2 e
14 da P-67 estão quase finalizados, faltando apenas pequenos detalhes de
183
06/fev – Prumo Logística S/A impede que decisão judicial seja cumprida no
Açu. Após a morte de dezenas de gado, por meio do Processo número 0000214-
022015.8.19.0053, o Juiz autoriza "a entrada de maquinário da Prefeitura de São
João da Barra para efetuar a limpeza/abastecimento dos poços secos e sujos das
terras informadas na petição inicial”, para garantir água para os animais.
Infelizmente, mesmo estando os proprietários com a ordem judicial em mãos, o
Secretário de Agricultura, um vereador, em torno de quatro viaturas, dezenas de
policiais (mobilizados pela empresa) e a segurança privada bloquearam a entrada,
tendo sido o embaraço resolvido mais tarde.
184
28
Fonte: Infográfico da Prumo, 2015 .
28
Segundo Roberto Moraes, “é a primeira vez que a Prumo destaca, junto da base portuária da
empresa americana Edison Chouest Offshore, na área do terminal 2, a logomarca da presença da
Petrobras (BR), em função do contrato recém-assinado, após licitação conturbada e cheio de
disputas com o governo do estado do Espírito Santo e com a Prefeitura de Macaé” (BLOG ROBERTO
MORAES, 2015).
187
Figura 60 - As denúncias de violações de direitos no âmbito do Projeto Minas-Rio, ecoam para além
mar
Figura 62 - Ocupação em Água: protesto contra à empresa Prumo Logística e a CODIN por impedir
que os proprietários deixassem o gado nas terras em litígio
2016
27/jan – Audiência Pública em São João da Barra para discutir a ampliação do
Terminal 1 no Porto do Açu. A ampliação prevê o aumento da profundidade do
terminal (de 21 m para 25 m), da largura (de 230 m para 280 m) e do canal de
189
acesso (de 13,2 km para 19,3 km). Com o aumento do T1, o porto pode vir a receber
navios com capacidade para transportar até 320 mil toneladas. O objetivo da Prumo
é conseguir o licenciamento do projeto para a dragagem29.
29
Participação da autora como observadora nessa audiência. Ver ainda: Blog Roberto Moraes
(2016).
190
2017
26/jan – Mandado de prisão para Eike Batista é publicado. Segundo o jornal O Globo
(2017), agentes da Polícia Federal e do Ministério Público Federal realizam uma
operação para cumprir mandados de prisão preventiva na Operação Eficiência,
desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro, na manhã desta quinta-feira (26).
Entre os principais alvos com mandados de prisão expedidos está o
empresário Eike Batista, dono do grupo EBX. O empresário é acusado de pagar
propina para conseguir facilidades em contratos com o governo, quando o
governador era Sérgio Cabral. A Revista Veja (2017) afirma que Porto do Açu era a
contrapartida de Cabral para Eike e que o Grupo X pagou 37,5 milhões de reais por
terra que valia 1,2 bilhão.
19/fev – Assembleia da ASPRIM.
191
30
Figura 65 - Faz escuro, mas eu canto por que amanhã vai chegar
30
Poesia do amazonense Thiago de Mello. Em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo (2016) o
autor do emblemático poema Os Estatutos do Homem, que foi sua resposta ao AI-5, afirmou que
ainda acredita na construção de uma sociedade mais justa (ESTADÃO, 2016).
193
27/abr – Reunião na sede da Defensoria Pública em São João da Barra para discutir
– a partir dos dados das pesquisas e análises já realizadas, e a correlação de forças
do movimento, junto aos apoiadores – a repressão e ameaças da empresa/estado
por meio da polícia militar e sua relação, no mínimo suspeita, com a segurança
privada da empresa e qual seria a linha de defesa que seria construída, para
reverter a liminar de reintegração de posse que a empresa ajuizou, no mesmo dia da
ocupação – 19 de abril.
28/abr – Participação no Ato “Fora Temer” organizado pela Frente Brasil Popular e
Frente sem Medo, no Calçadão, no centro de Campos dos Goytacazes, para
denunciar a repressão da polícia militar, no Acampamento, e mobilizar movimentos
sociais e demais pessoas presentes para apoio e solidariedade ao Acampamento no
Açu.
01/mai – Comemoração pelo do Dia do Trabalhador no Acampamento.
04/mai – Reunião no NETRAD/UFF com ASPRIM, MST, Defensoria Pública, AGB e
UFF, para organização da Audiência de Conciliação, no Fórum de São João da
Barra, no dia 12/05/17, e da mobilização dos parlamentares e demais apoiadores
para um ato, pela manhã, no Acampamento, para depois seguir até o Fórum, no dia
da audiência.
195
Agosto - Após a expulsão da área em Água Preta, uma família reocupou uma terra
de sua propriedade e desapropriada pela CODIN e pela LLX. Em agosto a Prumo e
a CODIN tentaram expulsá-los novamente, mas eles resistiram e iniciaram o preparo
da terra para o plantio. Segundo o Alex, “eles iam resistir plantando e que as
colheitas em 120 dias iriam ocorrer” e as fotos abaixo, comprovam.
3.4.1 Uma tragédia anunciada: o Estado como parteiro desse monstro, designado
Porto do Açu
31
Disponível em: https://www.dicio.com.br/monstro/.
32
Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Monstro.
202
33
O licenciamento é um poderoso mecanismo para incentivar o diálogo setorial, rompendo com a
tendência de ações corretivas e individualizadas ao adotar uma postura preventiva, mas proativa,
com os diferentes usuários dos recursos naturais (MMA/IBAMA, 2017).
34
Conforme despacho do Inquérito Civil n.0 1.22.000.000564/2011-91 instaurado nesta Procuradoria
da República no Estado de Minas Gerais, no âmbito do Núcleo dos Direitos do
Cidadão/BH-MG.
203
35
Disponível em: https://www.conflitoambiental.icict.fiocruz.br/index.php?cod=121.
204
capital. E por fim, afirma que “a força é o parteiro de toda a sociedade velha que
traz uma nova em suas entranhas. Ela mesma é uma potência econômica” (MARX,
2013, p. 872).
Essa metáfora pode representar também a relação promíscua entre o capital
e o Estado, na constituição do Projeto Minas-Rio, e particularmente, no Complexo
Portuário e Industrial do Açu. Produto de uma união promíscua, ou seja, algo que foi
“agregado sem ordem nem distinção; misturado, confuso, indistinto”36. E ainda
abarcando “elementos desonestos; que contém imoralidade ou degradação moral”.
No caso em questão, a força para parir o monstro, expropriou “(...) as duas fontes de
onde emana toda riqueza: a terra e o trabalhador” (MARX, 2013).
36
Cf: Aurélio (1999).
205
Bartra (2008) no prefácio de seu livro “El hombre de hierro”, afirma que “Los
momentos de crisis producen una vitalidad redoblada en los hombres. O más
sucintamente quizá: los hombres sólo empiezan a vivir plenamente cuando se
encuentran entre la espada y la pared (apud Auster, 2011, p. 255).
Durante a pesquisa em jornais, sites, blogs dentre outros materiais de
divulgação, essa narrativa, reveladora das relações contraditórias e desiguais, que
constituem a lei geral da acumulação capitalista, é reproduzida de forma a ocultar os
conflitos e, logo, os interesses dos trabalhadores que tiveram suas terras, águas,
trabalho, saúde e vida impactados com esses diversos monstros. Para Bartra
(2008), o surgimento dos monstros estaria relacionado aos processos de
desenvolvimento das forças produtivas no sistema capitalista, sendo a ciência e a
técnica de importância fundamental.
Paulino (2013, p. 153), em resenha publicada sobre esse livro do Bartra,
sintetiza da seguinte forma a ideia de monstro apresentada por esse autor:
“artificialidade dos processos de produção e a voracidade desses para com os bens
naturais e o trabalho humano o fará estabelecer correlações com monstros
figurativos que comparecem como estruturantes em sua análise.”
Em trecho de uma reportagem publicada no jornal Folha da Manhã, tendo
como título “Estaleiro do Açu vai entrar em cena com o maior guindaste naval das
Américas”, em maio de dois mil e onze, essa questão do agigantamento dos
assuntos que envolvem e são de interesse do Porto do Açu se evidencia em escala
regional e em seguida, mais uma vez o próprio Eike Batista em seu tuitter, compara
o Porto do Açu ao de Roterdã, que atualmente é considerado o maior porto de toda
a Europa:
37
Para Rodrigues (2007), existem duas formas básicas de os empresários encararem esse mercado
educacional. A primeira é chamada pelo autor de “educação-mercadoria”, acontece quando o capital
empresarial cresce através da venda de serviços educacionais. Nesse caso, os apropriadores desse
capital são os empresários do comércio educacional. A segunda forma se efetiva quando a educação
e o conhecimento são tidos como insumos necessários e indispensáveis à produção de novas
mercadorias.
208
38
Afirmação descrita na assentada da audiência de conciliação.
209
39
Disponível em: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3925759-EI6578,00-
MPFRJ+pede+paralisacao+de+obra+de+porto+de+Eike.html.
210
No Brasil, pelo menos até o final da década de 1960, a luta pela democracia e
pelo socialismo foi por muito tempo concebida como uma luta em dois tempos:
tratava-se, num primeiro momento, de realizar uma ‘revolução democrático-
burguesa’, cujo conteúdo (...) era a “superação da dependência ao imperialismo e
dos supostos ‘restos feudais’ na agricultura (...); só num segundo momento, após a
realização dessa ‘etapa democrática’, é que seria possível pensar na luta pelo
socialismo (...)” (COUTINHO, 1991, p. 93).
A concepção de que a democracia era o caminho e não um caminho para o
socialismo fez suplantar a visão etapista da esquerda brasileira, bem como fazer
com que esta esquerda compreendesse que “o Brasil já se tornou ‘moderno’ e
plenamente capitalista, através dos tradicionais processos de transformação ‘pelo
alto’ que marcaram nossa história” (id.).
Segundo Coutinho (1991, p. 98), “se examinarmos as sociedades ‘ocidentais’,
veremos que elas apresentam – quando abstraímos suas várias particularidades e
nos concentramos no essencial – dois ‘modelos’ principais de estruturação do poder
e de apresentação dos interesses”: ‘modelo’ liberal-corporativo e de democracia de
massas. Ainda para Coutinho, no Brasil estes dois projetos podem ser presenciados
de forma conflitiva, constituindo-se no eixo da ação prática dos blocos sociais em
disputa no País, envolvendo a esfera política, social e mesmo cultural.
Para caracterizar o que seria esse projeto ‘liberal-corporativo’ ou
simplesmente ‘neoliberal, é importante entender a análise de Coutinho (1991), pois
segundo ele, é preciso ter clareza, que os setores dominantes, no caso o Estado e
os empreendedores “reconhecem e até em parte estimulam a auto-organização da
sociedade civil, mas buscam orientá-la para a defesa de interesses puramente
corporativos, privatistas” (p. 99), como se pode verificar nas estratégias e táticas
utilizadas pela empresa, no caso das audiências, denominadas de públicas, que são
realizadas, no caso do Porto, fora do Distrito e sem o conhecimento e participação
efetiva de toda a população vitimada.
Em entrevista concedida pelo Presidente da ASPRIM, quando os
trabalhadores e camponeses atingidos conseguiram paralisar as obras do
Superporto, por mais de 24 horas, através do bloqueio da RJ 240, Rodrigo Santos,
Presidente em exercício da ASPRIM, denuncia:
212
Nesse processo de análise das ações realizadas por esses sujeitos, observa-
se o desenvolvimento de uma consciência coletiva entre os camponeses e o
reconhecimento da sua capacidade de organização, força e união, o que confere
legitimidade à luta, às suas demandas. Também aglutina Movimentos Sociais do
campo e da cidade, grupos de pesquisadores de diversas universidades,
215
Quando Thompson (1987d) afirma que “a classe operária não surgiu tal como
o sol numa hora determinada. Ela estava presente ao seu próprio fazer-se”. Logo no
início do prefácio, o autor não só contribui para a compreensão das experiências
vividas, como também, aponta o importante debate que acompanha toda a sua
trajetória como militante e historiador, que são as críticas à concepção estruturalista
da obra de Marx, representada principalmente por Althusser. Thompson rejeita a
perspectiva de tratar a experiência e a cultura apenas no terreno ideológico, fincado
na superestrutura.
Para ele, “a experiência entra sem bater à porta e anuncia mortes, crises de
subsistência, guerra de trincheira, desemprego [...]. Pessoas são presas: na prisão
pensam de modo diverso sobre as leis (THOMPSON, 1981, p. 17). O contexto em
que as lutas são travadas e vivenciadas pelos sujeitos num determinado momento
histórico, constitui e é constituído por uma cultura ancorada nos processos e nas
relações de produção.
Contrariamente aos estruturalistas, em destaque o francês Althusser, que ao
extrair e cindir a base e a superestrutura na leitura e análise das obras de Marx,
desconsidera o movimento dialético da história, retirando algo que é essencial no
materialismo histórico dialético, que é a história como relação e processo, e a classe
trabalhadora como sujeito da história, (portador das mudanças e transformações).
Thompson afirma que a classe precisa existir realmente para mostrar sua
objetividade, ela tem que acontecer em um determinado tempo e lugar nas relações
humanas. Portanto, ele insiste que:
alguns casos registrados na linha do tempo, e com farto material publicado nos
jornais de abrangência nacional e nas mídias alternativas.
Esses dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais –
INPE e pela ONG SOS Mata Atlântica, nessa reportagem do Jornal O Globo, tornam
público o que essas populações já vêm denunciando há tempos. “Desmatamento na
Mata Atlântica é o maior desde 2008. Minas foi o estado que mais desmatou,
responsável por derrubar 107 km² de floresta”.
Com relação à perda de restingas e manguezais, Pernambuco foi o único
estado que perdeu área de manguezal, ecossistema que funciona como berçário
marinho. Trata-se de áreas importantes para atividades como a pesca.
Mas como tudo no Açu é sempre agigantado, “o maior desmatamento na
vegetação de restinga, ocorreu no estado do Rio de Janeiro, na região de São
João da Barra.”
Nos dois casos, “segundo a SOS Mata Atlântica, o impacto ambiental foi
causado por obras de infraestrutura, como a construção dos portos de Suape (em
PE) e do Açu (no RJ).”
Alguém devia ter avisado a Eike Batista e à Ampla que a eletricidade não
chega só com a colocação das torres de sustentação. Há que haver fiação
e, mais importante, eletricidade para ser transmitida. Agora, essas torres
ficam lá no Açu como símbolos maiores da falta de planejamento básico
para um empreendimento de tamanha envergadura. Com tanta
incompetência, não é preciso nem que existisse críticos.
Entretanto, não custa nada lembrar que um número imenso de famílias,
como por exemplo a do falecido José Irineu Toledo, tiveram suas terras
expropriadas justamente para a passagem dessa linha de transmissão.
(BLOGPEDLOWSKI, 2014).
do distrito industrial. Por que não há? Porque era ele que puxava toda uma
demanda de cadeia produtiva, de montadora, de setor metalomecânico, de
polo cimenteiro, etc., e há uma sobra de capacidade instalada de produção
de aço no mundo de aproximadamente 40%.[...]. Então, não há a
perspectivas de que o projeto antigo possa ser retomado mais adiante. Se
não há perspectiva, não há também imediatamente como o polo automotivo
metalomecânico e cimenteiro possam ser resgatados no futuro. Aliás, nem a
Prumo nem a CODIN colocam isso em seus documentos mais recentes,
enquanto perspectivas – é bom que se diga.
Esses dois exemplos de empreendimentos a que me referi, do setor de
petróleo, petroquímica, gás e siderurgia não estão projetados e nem seriam
viáveis num horizonte de tempo razoável, para qualquer planejamento,
reforçando a tese, que já foi aqui falada, pelos donos da terra. A reserva de
72 quilômetros quadrados de área para o distrito industrial de São João da
Barra é um completo despropósito. Essa é a principal conclusão de estudos
com fundamentação técnica e científica nos apontam, fruto desde o marco
inicial da colocação do Porto do Açu, acompanhada todo esse tempo,
contato com os produtores, contato com o setor produtivo, porque não foi
exclusivamente com um e com outro, acompanhar durante todo esse
tempo, verificar o que acontece em outros sistemas logísticos portuários, no
Brasil e no mundo, para chegar a essa conclusão de que esse decreto não
se sustenta e tem uma completa perda de objeto e finalidade (ATA
DA AUDIÊNCIA PÚBLICA DA COMISSÃO DE DEFESA DOS DIREITOS
HUMANOS E CIDADANIA DA ALERJ, 08/06/2017).
A violência ao retirar estas áreas das mãos dos agricultores da região do Açu,
em São João da Barra fez com que, em apenas seis anos (2009 para 2015), o
número de produtores rurais do município caísse para quase a metade (735). A
produção agrícola foi reduzida de 185 mil para apenas 30 mil toneladas e a área
colhida cai de 3.755 hectares para 1.001 hectares. Assim, a redução da produção de
abacaxi, cana, maxixe e goiaba entre outras, encurtou, enormemente, a circulação
de dinheiro na comunidade afetando também o comércio.
Portanto, a retomada das terras com a revisão dos decretos não impede o
funcionamento dos terminais portuários e dos empreendimentos a ele ligados e
ainda garante uma utilização mista da área, bem de acordo com a desejada
sustentabilidade socioambiental, e assim pode deixar de ser apenas discurso.
226
Figura 76 – Mapa - Mosaico das áreas desapropriadas e dos usos atuais do DISJB
CONSIDERAÇÕES FINAIS
40
Cf. MASCARO (2013).
233
REFERÊNCIAS
ACOSTA, Alberto. O Buen Vivir – uma oportunidade de imaginar outro mundo. In:
BARTELT, Dawid Danilo (org.). Um campeão visto deperto. Uma análise do modelo
de desenvolvimento brasileiro. Rio de Janeiro: Heinrich - Böll-Stiftung, 2012.
BEHRING, Elaine Rossetti. Política Social no capitalismo tardio. São Paulo: Cortez,
2002.
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 7ªed. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2001.
CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2001.
COSTA, Greciely Cristina da. Discursos sobre a milícia: nomes, vozes e imagens em
movimento na produção de sentidos. 2011. 166 fls. Tese (Doutorado), Universidade
Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem, Campinas, São Paulo,
2011.
__________. GRAMSCI: um estudo sobre seu pensamento político. 2ª ed. rev. ampl.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
COUTO REIS, Manoel Martins do. Manuscritos de Manoel Martins do Couto Reis
1785: Descrição geográfica, política e cronográfica do Distrito dos Campos dos
Goytacazes. 2. ed. rev. atual. Campos dos Goytacazes: Fundação Cultural Jornalista
Oswaldo Lima; Rio de Janeiro: Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, 2011.
236
CRUZ, José Luís Vianna da. Dinâmica socioeconômica territorial no estado do Rio
de Janeiro contemporâneo. In: GERSCHMAN, Sílvia; SANTOS, Angela Moulin S.
Penalva (Orgs.). Saúde e Políticas Sociais no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro/RJ:
Editora Fiocruz, 2016. p. 23-62.
GIANOTTI, Vito. História das Lutas dos Trabalhadores do Brasil. Rio de Janeiro:
Editora MAUAD, 2007.
GOMES, Luís Emílio. Os conflitos de Terra em Campos dos Goytacazes pela ótica
de Julio Feydit. Anais do XVI Encontro Regional de História da Anpuh-Rio. Saberes
e Práticas científicas, 2014
HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos. O breve século XX. São Paulo: Civilização
Brasileira, 1995.
IAMAMOTO, Marilda Villela; Carvalho, Raul de. Relações Sociais e Serviço Social
no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. São Paulo: Cortez,
Celats, 1985.
__________; COSTA, Ana Maria Almeida da. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais
de Campos dos Goytacazes e a Luta por Direitos na Ditadura (1964-1985). Anais do
238
JEHA, Júlio. “Monstros: A face do mal”. In: JEHA, Julio (Org). Monstros e
monstruosidades na literatura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.
LUNA, Denise. Foram retiradas oito pessoas de casa desapropriada em São João
da Barra, norte do Rio. Estadão, São Paulo, 20 nov. 15.
MARX; Karl; Engels, Friedrich; COUTINHO, Carlos Nelson; FILHO, Daniel Aarão
Reis (Orgs.). O manifesto Comunista 150 anos depois. Rio de Janeiro: Contraponto;
São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 1998.
MASCARO, Alysson Leandro. Estado e forma política. 1ªed. São Paulo: Boitempo,
2013.
MONTEIRO, Jorge Luiz Gomes. Acesso a terra urbana em área de varaneio: análise
da produção do espaço na praia do Açu-RJ. 1996. 203 fls. Dissertação (Mestrado
em Planejamento Urbano). Departamento de Urbanismo da Universidade de
Brasília, Brasília, 1996.
NETTO, José Paulo. Capitalismo monopolista e serviço social. São Paulo: Cortez,
1992.
__________. A revolução dos Zés. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, Fundação
Seade, v. 8, n. 3, p. 3-5, 1994.
__________. Estado de Exceção. Estudos urbanos e regionais, v.5, n.1, maio 2003.
OLIVEIRA, Ramon de. Empregabilidade. In: PEREIRA, Isabel Brasil; LIMA, Júlio
César França. Dicionário da educação profissional em saúde. 2. ed. Ver. Ampl. Rio
de Janeiro, EPSJV, 2008. p. 197-202.
PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2008.
SOFFIATI, Aristides Arthur. In.: Roteiro dos Sete Capitães: documentos e ensaios.
Macaé/RJ, Funemac, 2012.
SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. Terra mercadoria, terra vazia: povos,
natureza e patrimônio cultural. Revista InSURgência, ano 1, v. 1, n. 1, 2015.
STÉDILE, João Pedro (Org.). História e natureza das Ligas Camponesas – 1954-
1964. 2ª ed. São Paulo: Expressão popular, 2012b.
ANGELO, Vitor Amorim de. Lei de Terras: Lei de 1850 contribuiu para manter
concentração fundiária. 2007. Disponível em
<https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/lei-de-terras-lei-de-1850-
contribuiu-para-manter-concentracao-fundiaria.htm> . Acesso em: 20 fev. 2017.
BRASIL 247. Eike vai à tevê vender ações. 30/09/2011. Disponível em:
<https://www.brasil247.com/pt/247/portfolio/14667/Eike-Batista-vai-%C3%A0-
tev%C3%AA-vender-a%C3%A7%C3%B5es.htm>. Acesso em: 02 abr. 2017.
ESDRAS. Estaleiro do Açu vai entrar em cena com o maior guindaste naval das
Américas. 2011. Disponível em:
<http://www.folha1.com.br/_conteudo/2011/03/blogs/esdras/176024-estaleiro-do-
acu-vai-entrar-em-cena-com-o-maior-guindaste-naval-das-americas.html>. Acesso
em: 31 jul. 2015.
__________. Autor de faz escuro mas eu canto Thiago de Mello comemora 90 anos
em São Paulo. Disponível em: <http://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,autor-
de-faz-escuro-mas-eu-canto--thiago-de-mello-comemora-90-anos-em-sao-
paulo,10000021236>. Acesso em: 12 jul. 2017.
__________. Após 7 anos, Porto do Açu fica pronto em abril, mas só 10% da área
está ocupada. Reportagem de Mariana Durão. Disponível em:
247
<http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,apos-7-anos-porto-do-acu-fica-
pronto-em-abril-mas-so-10-da-area-esta-ocupada,1628234>. Acesso em: 02 fev.
2015.
FOLHA 1. Câmara de SJB convoca CODIN, LLX e PMSJB para discutir Corredor
Logístico. Disponível em:
<http://www.folha1.com.br/_conteudo/2011/02/blogs/esdras/819560-camara-de-sjb-
convoca-codin-llx-e-pmsjb-para-discutir-corredor-logistico.html>. Acesso em: 15 fev.
2011.
__________. MD.X projeta hospital de primeiro mundo entre Campos e São João da
Barra. Disponível em:
<http://www.folha1.com.br/_conteudo/2011/06/blogs/esdras/820159-md-x-projeta-
hospital-de-primeiro-mundo-entre-campos-e-sao-joao-da-barra.html>. Acesso em: 08
jun. 2011.
__________. Hyundai vai construir maior guindaste das Américas no Açu. Folha da
Manhã Guindaste gigante no Açu: manchete da Folha confirma antecipação do blog.
em 13/05/2011.
FOLHA DE SÃO PAULO. Estudo diz que porto de Eike salgou região no Rio.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mercado/84432-estudo-diz-que-
obra-de-eike-salgou-regiao-no-rio.shtml>. Acesso em: 18 dez. 2012.
__________. LLX, de Eike, recebe licença prévia para instalar terminal de GNL no
porto do Açu. 19/03/2013. Disponível em:
<http://m.folha.uol.com.br/mercado/2013/03/1248682-llx-de-eike-recebe-licenca-
previa-para-instalar-terminal-de-gnl-no-porto-do-acu.shtml>. Acesso em: 09 fev.
2016.
G1. Eike Batista é alvo de mandado de prisão da Lava Jato e é procurado pela PF.
26/01/2017. Disponível em: <https://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/policia-
federal-e-mpf-cumprem-mandados-de-prisao-na-nova-fase-da-operacao-lava-jato-
no-rj.ghtml>. Acesso em: 26 jan. 2017.
__________. LLX e OSX emitem nota sobre salinidade na água de São João da
Barra. Disponível em: <http://www.jb.com.br/rio/noticias/2013/09/05/llx-e-osx-
emitem-nota-sobre-salinidade-na-agua-de-sao-joao-da-barra/>. Acesso em: em 05
set. 2013.
251
MEGA BRASIL. MPF apura invasão do mar no Açu. Sérgio Franco. 25/09/2014.
Disponível em: <http://megabrasil.tv/2014/09/25/mpf-apura-invasao-do-mar-no-
acu/>. Acesso em: 06 mar. 2017.
__________. Sessão de ontem foi marcada por bate-boca e troca de farpas entre
vereadores da oposição e situação em São João da Barra. Jornal O Diário, Campos
dos Goytacazes, 03 jun. 2011.
RODRIGUEZ, Maria Elena. In.: Os Impactos dos Grandes Projetos e a Violação dos
DHESCA: Estudos de Caso PAD Brasil. Rio de Janeiro, 2009.
SÃO JOÃO DA BARRA. Câmara Municipal de São João da Barra. Projeto de Lei n°
39/2008 que dispõe sobre o Ordenamento Distrital do município de São João da
Barra de 15/12/2008 e aprovado em 31/12/2008. As terras do Açu deixam de ser
área rural de Interesse Agrícola e se transforma em Área de Interesse Industrial.
Neste projeto, o estado, através da prefeitura de São João da Barra, cria as
condições necessárias e fundamentais para a promulgação do Decreto de
desapropriação de 7.036 hectares de terras daqueles agricultores camponeses.
SRZD. Porto do Açu deve começar operar até 2013. 25/10/2011. Disponível em:
<http://www.srzd.com/brasil/porto-do-acu-deve-comecar-a-operar-ate-2013/>.
Acesso em: 13 dez. 2015.
URURAU. LLX e OSX rebatem denúncia e dizem que salinização foi pontual. Jornal
Ururau.com.br, CIDADES E REGIÃO. Disponível em:
<http://www.ururau.com.br/cidades35628>. Acesso em: 20 nov. 2015.
<http://novosite.ururau.com.br/cidades/309a70471277d3b98415f5a093a74b18737d5
7d8_sem_terras_e_sem_indenizacoes_agricultores_do_5__distrito_ocupam_area_d
a_codin_em_sjb>. Acesso em: 03 set. 2015.
VALOR ECONOMICO. Eike reage e classifica porto do Açu como ‘Roterdã dos
Trópicos’. 25/03/2013. Disponível em:
<http://www.valor.com.br/empresas/3058736/eike-reage-e-classifica-porto-do-acu-
como-roterda-dos-tropicos>. Acesso em: 25 mar. 2013.
__________. LLX obtêm licença ambiental para construir pátio no Porto do Açu.
27/08/2009. Disponível em: <http://www.valor.com.br/arquivo/631019/llx-obtem-
licenca-ambiental-para-construir-patio-no-porto-do-acu>. Acesso em: 28 maio 2015.
VEJA. Porto do Açú era a contrapartida de Cabral para Eike Batista. 26/01/2017.
Disponível em: <https://veja.abril.com.br/blog/radar/porto-do-acu-era-a-contrapartida-
de-cabral-para-eike-batista/>. Acesso em: 26 jan. 2017.
Brigadas Populares;
Coletivo Margarida Alves – Assessoria Popular;
Comissão Pastoral da Terra – CPT;
Comitê Popular de Erradicação do Trabalho Escravo/NF.
Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais da Universidade Federal de Minas
Gerais – GESTA/UFMG;
Grupo de Trabalho em Assuntos Agrários - Associação dos Geógrafos
Brasileiros/AGB, Seção Rio de Janeiro e Niterói;
Grupo Políticas, Economia, Mineração, Ambiente e Sociedade da Universidade
Federal de Juiz de Fora - PoEMAS/UFJF;
Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas – IBASE;
Laboratório de Cenários Socioambientais da Pontíficia Universidade Católica /PUC
Minas Gerais;
Mariana Criola - Centro de Assessoria Popular
Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB;
Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos da Universidade Federal Fluminense –
NERU/UFF;
Núcleo de Estudos em Estratégias e Desenvolvimento do Instituto Federal
Fluminense – NEED/IFF;
Núcleo de Estudos Socioambientais da Universidade Federal Fluminense
– NESA/UFF;
Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da
Universidade do Estado do Rio de janeiro - PPFH/UERJ;
Rede Nacional de Advogado/as Populares – RENAP.
Associação dos Docentes da Universidade Estadual do Norte Fluminense – Aduenf.