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ORGANIZADORES
Juiz de Fora
14 - 17 de maio de 2019
ANAIS
VI Congresso de Engenharia Civil
“Engenharia e sustentabilidade: caminhos para o futuro”
Realizado nos dias 15, 16 e 17 de maio de 2019
ORGANIZADORES
Juiz de Fora
14 - 17 de maio de 2019
2019
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio
sem a autorização por escrito dos organizadores.
ORGANIZADORES
ANAIS: VI Congresso de Engenharia Civil / Prof. Dr. José Alberto Barroso Castañon, Profa.
Dra. Maria Teresa Gomes Barbosa, Profa. Dra. Maria Aparecida Steinherz Hippert - Juiz de
Fora : Templo, 2019. 1907 p.
ISBN: 978-85-98026-83-1
I. Engenharia Civil. 2. Castañon, José Alberto Barroso. II. Barbosa, Maria Teresa Gomes.
III. Hippert, Maria Aparecida Steinherz.
2
BragaHabit, Braga, Portugal, nelsonpinheiro@bragahabit.pt; nelsonpinheiro85@gmail.com
3
Centre for Territory, Environment and Construction, Department of Civil Engineering, University of Minho, Campus
Azurém, Guimarães, Portugal, malmeida@civil.uminho.pt
Resumo: O consumo de energia associado aos edifícios existentes constitui um dos principais
desafios para o desenvolvimento sustentável das cidades. A melhoria de desempenho energético pode
ser obtido através de soluções implementadas na envolvente do edifício, mas estas devem ser
avaliadas considerando não só as poupanças energéticas que proporcionam, mas também o custo
global da solução em toda a sua vida útil. O artigo analisa medidas possíveis de serem implementadas
na envolvente de um edifício de habitação social em Braga, Portugal, utilizando a metodologia de
custo-ótimo.
Abstract: Energy consumption associated with the existing building stock is one of the major
challenges that have to be tackled for sustainable development in cities. Improved energy
performance in existing buildings can be obtained through envelope renovation solutions, but these
should be evaluated considering not only potential energy savings, but also the global cost in the
whole building life cycle. The paper analyses several renovation solutions to be implemented in the
envelope of a social housing building in Braga, Portugal, using the cost-optimal methodology.
2. METODOLOGIA DE CUSTO-ÓTIMO
A base deste estudo é a análise comparativa de vários cenários de reabilitação térmica com a
reabilitação de referência. A reabilitação de referência consiste numa intervenção centrada em obras
de manutenção e conservação em que não há melhorias no desempenho energético do edifício.
A análise de custo-ótimo das medidas de melhoria propostas seguiu o estabelecido pelo Regulamento
Delegado (UE) Nº 244/2012 da Comissão Europeia de 16 janeiro de 2012 que complementa a
Diretiva 2010/31/EU do Parlamento Europeu e do Conselho relativa ao desempenho energético dos
edifícios [5][7]. Esta metodologia sugere uma comparação entre a rentabilidade das diferentes
medidas de melhoria em comparação com a reabilitação de referência, relacionando a energia
primária com os custos globais de cada solução construtiva em análise, tomando em consideração o
ciclo de vida do edifício [8]. O ciclo de vida do edifício foi considerado como sendo de 30 anos,
conforme descrito nos princípios gerais do Regulamento Delegado (UE) Nº 244/2012 [7].
Os resultados das medidas de melhoria propostas para a reabilitação são representados com recurso
a gráficos de forma a ser mais prático identificar a rentabilidade das várias medidas e da solução de
custo-ótimo. O eixo das ordenadas (y) apresenta os valores do custo global da reabilitação, já o eixo
das abscissas (x) está associado aos valores do consumo da energia primária não renovável, por cada
medida de melhoria estudada. São consideradas medidas com rentabilidade as que se localizam
abaixo da linha definida pela reabilitação de referência (Figura 1). O nível de custo-ótimo corresponde
à medida de melhoria que proporciona um desempenho energético do edifício pelo menor custo
global durante o ciclo de vida do edifício.
Em que:
𝜏 - Período de cálculo
𝐶𝑔 (𝜏) - Custo global (relativo ao ano inicial 𝜏0 ) no período de cálculo
𝐶𝐼 - Custo de investimento inicial para a medida ou conjunto de medidas j
𝐶𝑎,𝑖 (𝑗) - Custo anual no ano i para a medida ou conjunto de medidas j
𝑅𝑑 (𝑖) - Fator de desconto para o ano i, com base na taxa de desconto r e p o número de anos
[(1/(1+r/100))p]
𝑉𝑓,𝜏 (𝑗) – Valor residual da medida ou conjunto de medidas j no final do período de cálculo
Os custos de cada medida de melhoria e respetivo custo das operações de manutenção foram obtidos
com recurso ao programa informático Gerador de Preços da CYPE [13].
O custo da energia elétrica e suas previsões da evolução foram obtidos tendo por base o observatório
europeu através da publicação “EU energy trends to 2030” [14] e também pelos valores previstos nos
cenários ”Roadmap 2050” da Fundação Europeia do Clima [15]. Já os custo do gás natural e sua
previsão de evolução foram os valores publicados na “Word Energy Outlook” da Agência
Internacional da Energia (IEA) [16].
3. CASO DE ESTUDO
O edifício caso de estudo está situado no Bairro Social das Enguardas. Sendo um edifício de habitação
social com visíveis patologias existentes ao nível da envolvente, existe a necessidade de reabilitação
de forma a colmatar as patologias construtivas existentes, aumentar o conforto, melhorar a
funcionalidade e a estética e também melhorar o seu desempenho energético de forma significativa,
de modo a ir ao encontro das necessidades atuais dos habitantes, no sentido de diminuir a pobreza
energética identificada neste tipo de bairros.
O Bairro Social das Enguardas fica localizado na freguesia de S. Victor, Concelho de Braga, e faz
parte do parque habitacional municipal da cidade de Braga. O bairro (Figura 2) é composto por 11
edifícios multifamiliares de habitação social e foi construído no ano de 1979, genericamente
composto por R/C e três andares. Os 11 edifícios abarcam 7 frações comerciais e 171 frações
destinadas exclusivamente a fins habitacionais, distribuídas em 24 apartamentos com dois quartos
(T2),127 apartamentos com três quartos (T3) e 20 apartamentos com quatro quartos (T4). As lojas
encontram-se a ser usadas em diversas atividades instaladas ao nível térreo. O bairro apresenta
características típicas de construção a custos controlados, com áreas dos compartimentos reduzidas e
materiais construtivos, nomeadamente os revestimentos, de baixa qualidade.
Todos os blocos habitacionais são servidos por mais de uma entrada que dá acesso direto à caixa de
escadas sem recurso a elevadores. O edifício alvo de estudo, Bloco C (Figura 3) é acedido por duas
entradas com acesso direto à caixa de escadas. Cada entrada é composta por 8 apartamentos, dois por
cada piso, totalizando 16 fogos.
O edifício (Figura 3) é composto por frações com três tipologias diferentes: 4 são apartamentos T2,
8 são apartamentos T3 e 4 são T4. O estudo foi centrado numa fração do último piso. O apartamento
T3 (Figura 4) é representativo da tipologia com o maior número de fogos no bairro. Para além disso,
será aquele que potencialmente poderá apresentar maiores necessidades energéticas, essencialmente
por 1) localizar-se junto à cobertura; 2) por conter a fachada lateral direita (parede de empena)
orientada a norte e 3) ter maior área de envolvente exterior. Esta conclusão teve como base estudos
já elaborados no âmbito da reabilitação energética em edifícios e condições semelhantes [17].
Figura 3 - Planta piso tipo do edifício (Bloco C), com o apartamento alvo de estudo assinalado
As soluções construtivas utilizadas neste bairro são apresentadas na Tabela 1 que contem informação
descriminada sobre os materiais utilizados na sua constituição e respetivas características relevantes
no âmbito da reabilitação em causa. Esta informação foi possível com recurso a visitas ao local com
execução de sondagens e confrontação com a documentação existente. As características dos
materiais, nomeadamente a massa volúmica e a condutibilidade térmica, foram obtidas com recurso
ao ITE 50, publicação do Laboratório Nacional de Engenharia Civil [18].
Elemento da Espessura
Constituição U [W/(m².ºC)]
envolvente (m)
Cobertura (laje
0,15 betão armado COB=3,52
esteira)
betão celular
0,2 PE1=0,69
Paredes exteriores autoclavado
(fachadas) betão celular + betão
0,07 + 0,13 PE2=1,43
armado
Uwdn
Vãos gꞱ,vi gꞱ,Tp
[W/(m².ºC)]
Envidraçados
(madeira + vidro VE1=0,88 VE1=0,07 VE1=3,40
simples 4mm) VE2=0,88 VE2=0,88 VE2=5,10
Do ponto de vista estrutural, o edifício (Figura 5) foi construído com recurso à designada construção
em túnel, constituída por paredes e lajes maciças de betão, sem isolamento térmico. Do ponto de vista
de envolvente, a cobertura é inclinada, construída em duas águas com as vertentes revestidas a painel
sandwich, constituído por isolamento térmico e confinado em ambas as faces por chapa metálica
lacada. Os painéis são aplicados sobre vigotas pré-fabricadas de betão que têm a função de madres, e
estas são suportadas por alvenarias de blocos de cimento. O desvão da cobertura não é acessível, e
apresenta características de espaço não ventilado. A laje de esteira é em betão armado com 15 cm de
espessura, revestida pelo interior com reboco à base de gesso.
Var. Cob. Pared. exteriores Vãos env. U [W/(m².ºC)] Var. Cob. Pared. exteriores Vãos env. U [W/(m².ºC)]
COB=3.52; PE1=0.69;
REF ------ Pintura Pintura PE2=1.43; VE1=3.40; 21 ------------- Iso.Int. EPS 90 mm -------------------- PE=0.32
VE2=5.10
1 ------ ETICS EPS 40mm ------ PE1=0.40; PE2=0.57 22 ------------- Iso.Int. EPS 120 mm -------------------- PE=0.24
2 ------ ETICS EPS 80mm ------ PE1=0.28; PE2=0.36 23 ------------- Iso.Int. PLMN 60mm -------------------- PE=0.48
3 ------ ETICS EPS 120mm ------ PE1=0.22; PE2=0.26 24 ------------- Int. PLMN 90mm -------------------- PE=0.33
4 ------ ETICS PLRV 40mm ------ PE1=0.40; PE2=0.57 25 ------------- Iso.Int. PLMN 120mm -------------------- PE=0.25
5 ------ ETICS PLRV 80mm ------ PE1=0.28; PE2=0.36 26 ------------- Iso.Int. Cortiça 60mm -------------------- PE=0.53
6 ------ ETICS PLRV 120mm ------ PE1=0.22; PE2=0.26 27 ------------- Iso.Int. Cortiça 90mm -------------------- PE=0.37
7 ------ ETICS Cortiça 40mm ------ PE1=0.41; PE2=0.59 28 ------------- Iso.Int. Cortiça 120mm -------------------- PE=0.28
8 ------ ETICS Cortiça 80mm ------ PE1=0.29; PE2=0.37 29 EPS 60mm ------------------ -------------------- COB=0.48
9 ------ ETICS Cortiça 120mm ------ PE1=0.22; PE2=0.27 30 EPS 90mm ------------------ -------------------- COB=0.33
10 ------ MORE-CONECT ------ PE1=0.13; PE2=0.14 31 EPS 120mm ------------------ -------------------- COB=0.26
11 ------ F.Vent. EPS 40 mm ------ PE1=0.37; PE2=0.50 32 PLMN 60mm ------------------ -------------------- COB=0.38
12 ------ F.Vent. EPS 80 mm ------ PE1=0.25; PE2=0.30 33 PLMN 90mm ------------------ -------------------- COB=0.32
13 ------ F.Vent. EPS 120 mm ------ PE1=0.19; PE2=0.22 34 PLMN 120mm ------------------ -------------------- COB=0.28
14 ------ F.Vent. PLMVP 40mm ------ PE1=0.39; PE2=0.57 35 PP 60mm ------------------ -------------------- COB=0.41
15 ------ F.Vent. PLMVP 80mm ------ PE1=0.27; PE2=0.33 36 PP 80mm ------------------ -------------------- COB=0.32
16 ------ F.Vent. PLMVP 120mm ------ PE1=0.21; PE2=0.24 37 PP 100mm ------------------ -------------------- COB=0.26
17 ------ F.Vent. Cortiça 40 mm ------ PE1=0.39; PE2=0.55 38 ------------- ------------------ PVC. +Vidro 2x Standard VE=2.70
18 ------ F.Vent. Cortiça 80 mm ------ PE1=0.27; PE2=0.34 39 ------------- ------------------ PVC. +Vidro 2x térmico VE=1.40
19 ------ F.Vent. Cortiça 120 mm ------ PE1=0.21; PE2=0.25 40 ------------- ------------------ ALUM. +Vidro 2x Standart VE=2.70
20 ------ Iso.Int. EPS 60 mm ------ PE=0.46 41 ------------- ------------------ ALUM. +Vidro 2x térmico VE=1.40
As medidas relativas às paredes exteriores são constituídas por 4 tipos de soluções construtivas -
sistema composto de isolamento térmico pelo exterior (ETICS), painel pré-fabricado aplicado pelo
exterior, fachada ventilada e isolamento térmico pelo interior. Cada solução construtiva concebida
para as paredes exteriores tem 3 variantes em relação ao tipo de isolamento e cada tipo de isolamento
tem 3 variantes ao nível da espessura. Os tipos de isolamento usados foram o poliestireno expandido
(EPS), placa de lã rocha vulcânica (PLRV) e cortiça expandida. O painel pré-fabricado analisado
neste estudo foi desenvolvido no âmbito do projeto de investigação internacional More-Connect na
Universidade do Minho e é composto por uma estrutura de madeira, revestimento em Coretech e
isolamento em poliuretano injetado, tendo no total 120mm de espessura. Esta solução preconiza ainda
a colocação de uma manta de lã rocha de 100mm entre o painel e a parede exterior existente[17].
As melhorias propostas para a cobertura referem-se à adição de isolamento térmico sobre a laje de
esteira. Neste elemento construtivo também foram analisadas 3 variantes relativas aos tipos de
isolamento e cada tipo de isolamento tem 3 variantes ao nível da espessura. Os tipos de isolamento
analisados foram o EPS, placa de lã mineral natural (PLMN) e o poliuretano projetado (PP).
Os vãos envidraçados foram avaliados com 4 variáveis, 2 constituídos com caixilharia em PVC e 2
constituídos em caixilharia de alumínio. Cada de tipo de caixilharia foi analisado com vidro duplo
standard e com vidro duplo térmico. Todos os envidraçados contêm proteções exteriores em alumínio
termolacado de cor branca com isolamento térmico no interior.
O coeficiente de transmissão térmica (U) foi obtido analiticamente, recorrendo aos parâmetros
térmicos constantes na publicação ITE 50 do Laboratório Nacional de Engenharia Civil [18],
nomeadamente, resistências superficiais, massa volúmica e a condutibilidade térmica.
4. RESULTADOS
Por forma a manter os níveis de conforto definidos na regulamentação portuguesa (entre 18 ºC e 25
ºC), o apartamento de tipologia T3, nas suas características atuais, com uma taxa de renovação de ar
calculada de 0,92 rph, apresenta necessidades nominais anuais de energia útil para aquecimento (Nic)
de 266.43 kWh/m².ano e necessidades nominais anuais de energia útil para arrefecimento de 4.59
kWh/m².ano. Para a preparação de águas quentes sanitárias (AQS) a uma temperatura de 45ºC
necessita de consumir 2377 kWh/ano.
A habitação com 63 m2 de área útil tem necessidades nominais anuais globais de energia primária de
621.80 kWh/m².ano, correspondente à classe energética F (menos eficiente) com um custo global
anual de 1126€/m². Esta classe energética deve-se sobretudo ao consumo de energia relacionada com
a estação de aquecimento, que é bastante superior aos valores de referência. Por outro lado, verificam-
se consumos energéticos na estação de arrefecimento abaixo dos valores de referência (a perda de
energia noturna pela envolvente é suficiente para arrefecer os espaços interiores), mas com menos
expressão nos valores globais de energia primária necessária.
A Figura 6 mostra os resultados obtidos para o caso de estudo, analisadas as paredes exteriores
(fachadas) com 4 tipos de soluções construtivas, conforme anteriormente descrito. Para as paredes
exteriores foram testadas 28 variáveis isoladamente. Observando o gráfico constata-se a existência
de 4 tipos de soluções construtivas como soluções rentáveis (abaixo da linha referência). Praticamente
todas as variantes ETICS, com exceção da cortiça com espessura 120mm, apresentam-se como
soluções com rentabilidade. A mesma situação é verificada para o isolamento interior, com todas as
variantes a serem apresentadas como rentáveis com exceção da cortiça com espessura de 60mm. A
fachada ventilada apresenta menos variáveis rentáveis. Os cálculos indicam que, para o isolamento
com cortiça, nenhuma espessura é rentável, e que para os isolamentos EPS e PLMN, as menores
espessuras consideradas também não se encontram abaixo da linha de referência. Da análise efetuada,
a solução de custo-ótimo é o painel pré-fabricado More-Connect, com o custo global anual de
1029€/m² e um valor de energia primária não renovável (EPNR) de 525 kWh/m².ano. Muito próximo
da solução de custo-ótimo apresenta-se a variável ETICS com isolamento EPS de 80 mm de espessura
com o custo global anual de 1063€/m² e de EPNR de 543 kWh/m².ano. Esta melhoria aplicada
isoladamente representa uma diminuição de 10% a 15% nas necessidades nominais anuais globais de
energia primária.
A Figura 7 mostra os resultados obtidos para o caso de estudo, analisada a laje de esteira da cobertura
com 3 tipos de isolamento, conforme anteriormente descrito. Para a laje de esteira foram testadas 9
variáveis isoladamente.
A Figura 8 mostra os resultados obtidos para o caso de estudo, analisados os vãos envidraçados,
conforme anteriormente descrito. Para os vãos envidraçados foram testadas 4 variáveis isoladamente.
Da análise efetuada, constata-se que nenhuma das variáveis são soluções de reabilitação com
rentabilidade, encontrando-se acima da linha de referência. De destacar que a solução que apresenta
o melhor custo é a caixilharia PVC com envidraçado térmico, com o custo global anual de 1166€/m²
e de EPNR de 604 kWh/m².ano. Esta melhoria aplicada isoladamente representa uma diminuição de
0.4% a 3% na dependência das necessidades nominais anuais globais de energia primária.
A Figura 9 mostra todos os resultados obtidos aplicados ao caso de estudo para 41 variáveis analisadas
isoladamente. Destacam-se 3 grandes grupos de variáveis associados às soluções construtivas
aplicadas à cobertura (laje esteira), às paredes exteriores e aos vãos envidraçados que representam
uma diminuição de EPNR de cerca de 46%, 15% e 3%, respetivamente.
Após análise das medidas aplicadas isoladamente, criaram-se 6 pacotes de reabilitação com as
melhores soluções relativamente à rentabilidade, incluindo as soluções de custo-ótimo, dos 3 grandes
grupos de variáveis. Para as paredes exteriores foram escolhidas o painel pré-fabricado More-
Connect, o ETICS com EPS de espessuras 80mm e 120 mm. Para a laje de esteira da cobertura foi
escolhido a PLMN de espessuras 120 mm e 140 mm. Para o vão envidraçado foi escolhida a
caixilharia de PVC com vidro duplo térmico. Não houve modificação relativamente aos sistemas de
climatização e águas quentes sanitárias selecionados.
A Figura 10 mostra 4 grandes grupos de variáveis associados aos pacotes de reabilitação e às soluções
construtivas aplicadas isoladamente. Observando a figura, verifica-se que os pacotes conduzem a uma
diminuição de 70% na EPNR e 56% do custo global anual. De referir que o pacote solução custo-
ótimo é constituído pelo painel More-Connect nas paredes exteriores, pela PLMN de 140 mm na
cobertura e pelo vão envidraçado PVC com vidro duplo térmico que representa um custo global anual
de 638€/m² e EPNR de 183 kWh/m².ano.
5. CONCLUSÃO
As reduções calculadas neste estudo indicam que é possível alcançar melhorias significativas no
desempenho energético com soluções com rentabilidade muito elevada. Estes resultados sugerem
ainda que este tipo de soluções podem contribuir significativamente para que o edificado existente
atinja os requisitos nZEB definidos na legislação europeia, nomeadamente quando combinados com
sistemas de climatização com eficiência elevada e produção de energia renovável.
REFERÊNCIAS
[1] Comissão Europeia, “Energia,” Compreender as políticas da União Europeia: Energia. p. 16, 2015.
[2] United Nations Framework Convention on Climate Change, “Kyoto Protocol Reference Manual,” United
Nations Framew. Conv. Clim. Chang., pp. 1–130, 2008.
[3] United Nations, “Convention on Climate Change: Climate Agreement of Paris.,” pp. 1–27, 2015.
[4] INE and LNEC, O Parque Habitacional e a sua Reabilitação - Análise e Evolução 2001-2011. 2013.
[5] União Europeia, “Directiva 2010/31/UE,” J. Of. da União Eur., pp. 13–35, 2010.
[6] M. Dowson, A. Poole, D. Harrison, and G. Susman, “Domestic {UK} retrofit challenge: {Barriers}, incentives
and current performance leading into the {Green} {Deal},” Energy Policy, vol. 50, pp. 294–305, 2012.
[7] Comissão Europeia, “Regulamento Delegado n.o 244/2012,” J. Of. da União Eur., pp. 18–36, 2012.
[8] M. Ferreira, M. Almeida, and A. Rodrigues, “Cost optimality and net-zero energy in the renovation of
Portuguese residential building stock – Rainha Dona Leonor neighbourhood case study,” Int. J. Sustain. Build.
Technol. Urban Dev., vol. 5, no. 4, pp. 306–317, 2014.
[9] M. Almeida and M. Ferreira, “Cost effective energy and carbon emissions optimization in building renovation
({Annex} 56),” Energy Build., vol. 152, no. Supplement C, pp. 718–738, 2017.
[10] Ministério da Economia e Emprego, “Decreto-Lei n.o 118/2013 - Regulamento de Desempenho Energético dos
Edifícios de Habitação (REH),” Diário da República, 1.a série — N.o 159, pp. 4988–5005, 2013.
[11] ITeCons, “Folha de Cálculo de Avaliação do Comportamento Térmico e de Desempenho de Edifícios, de
acordo com o REH (Decreto Lei no118/2013 de 20 de Agosto),” Instituto de Investigação e Desenvolvimento
Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade, 2017. .
[12] Ministério Da Economia e do Emprego, “Despacho n.o 15793-D/2013,” Diário da Répuplica, no. 13, p. 35088,
2013.
[13] S. A. CYPE Ingenieros, “Gerador de Preços. Portugal,” 2018. .
[14] P. Capros, L. Mantzos, N. Tasios, A. De Vita, and N. Kouvaritakis, EU energy trends to 2030 - UPDATE 2009.
2010.
[15] European Commission, “Roadmap 2050,” Policy, no. April, pp. 1–9, 2012.
[16] IEA and OECD, “World Energy Outlook 2011,” IEA Publ., p. 577, 2011.
[17] P. Catarina and F. Castro, “Caracterização e Otimização do Desempenho dos Módulos de Reabilitação
Energética da Fachada do Edifício Eng. Mota Pinto em Gaia,” 2016.
[18] C. Santos and L. Matias, Coeficientes de Transmissão Térmica de Elementos da Envolvente dos Edifícios ITE
50, LNEC. Lisboa: Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), 2006.
[19] Ministério Da Economia e do Emprego, “Despacho n.o 15793-K/2013, de 3 de dezembro,” Diário da
Républica, vol. 2.a série, no. 234, pp. 58–87, 2013.
[20] Laboratório Nacional de Engenharia Civil, “Aplicação LNEC Ventilação REH e RECS,” 2018. .
[21] Ministério do Ambiente Ordenamento do Território e Energia, “Despacho no 15793-F -Zonamento Climático,”
Diário da Républica, vol. 2.a série, no. 234, pp. 26–31, 2013.
ESTUDO DE APARELHOS DE APOIO DA PONTE RIO-NITERÓI
Abstract. This paper addresses with the types of pads elastomers. It presents the design of these
structural elements submitted to the compression force, the horizontal force and the rotation, using
the international methodologies, French, S.E.T.R.A / 1974 and German, DIN 4141-14 / 1986. A brief
disclosure about the Rio-Niterói Bridge, the format of its structure and its neoprene pads, as well as
the values of the active loads to which they are submitted. It analyzes a new elastomeric pad, sized
according to the requirements of SETRA / 1974 and DIN 4141-14 / 1986, considering the load values
presented by Pfeil (1975) and the commercial dimensions of the NEOPREX. The conditions existing
in the Rio-Niterói Bridge are presented in a technical report published by ANTT (2015) from simple
compression tests on pads in true magnitude and on test bodies. With these results the analysis of the
specific deformations of the devices tested by the ANTT is applied, applying the Grubbs Method that
verified two spurious data in the verification of the dimensions of these devices, concluding from the
normal specific deformations and with the module of elasticity that were dimensioned with excess
stiffness.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os resultados obtidos conclui-se que o critério para escolha da metodologia utilizada para o
dimensionamento de aparelhos de apoio de elastômero fretado é de livre escolha do engenheiro
projetista. Os resultados apresentados mostram que em todas as verificações o aparelho proposto para
a Ponte Rio-Niterói teve bom desempenho. É importante destacar também que em todas as
verificações segundo à S.E.T.R.A/1974 geraram valores mais altos que as da DIN 4141-14/1986, daí
conclui-se que a norma francesa como a mais criteriosa (Tabela 33).
Tabela 33 – Verificações da tensão cisalhante do aparelho proposto
Aparelho proposto
Verificação da tensão cisalhante S.E.T.R.A/1974 DIN 4141-14/1986 Diferença percentual
Devido à força de compressão 1,08 MPa 0,88 MPa 81,48%
Devido à força horizontal 1,20 MPa 0,77 MPa 64,17%
Devido à rotação 0,54 MPa 0,47 MPa 87,04%
Em relação aos resultados das deformações específicas normais apresentadas foi realizada
comparando-se essas deformações específicas para a tensão de 15 MPa (que foi estabelecida para o
projeto dos aparelhos de apoio da Ponte Rio-Niterói) e a última tensão com a qual os aparelhos foram
submetidos no ensaio de compressão divulgado pela ANTT (2015).
Conforme analisado pelo Método de Grubbs os aparelhos de apoio ensaiados dos eixos 136 (segundo
aparelho) e 335-R2 (primeiro aparelho) tiveram uma de suas dimensões aferidas de forma incorreta.
Esse erro fica comprovado por haver em cada um desses aparelhos um valor espúrio, ou seja, um
valor atípico que está afastado dos demais valores verificados. Para o segundo aparelho do eixo 136
verifica-se esse erro pela média de suas dimensões. O valor final encontrado após uma tensão de
compressão de 50 MPa foi de 6,04 cm, sendo que a média da altura inicial do aparelho era de 5,88
cm. Um valor completamente contraditório, visto que ao se submeter um corpo a um ensaio de
compressão, onde a carga é aplicada de forma uniforme, a altura dele, evidentemente, deve diminuir.
Em relação ao módulo de elasticidade dos aparelhos todos os valores encontrados nos ensaios foram
superiores que os valores para os quais os aparelhos foram dimensionados. Isso mostra que a
formulação, equação 14, é muito conservativa tornando o aparelho mais rígido. Outra resposta
também seria o módulo de elasticidade para cada camada de neoprene muito baixo, 𝐸 = 4 𝑀𝑃𝑎.
A fim de confirmar a teoria de que os aparelhos de apoio da Ponte Rio-Niterói são mais rígidos do
que o esperado no seu dimensionamento foi realizada uma verificação da variação percentual de cada
elemento estrutural (Tabela 34).
Sendo a variação percentual negativa tem-se uma taxa percentual de decrescimento. O que confirma
que a deformação específica normal para a qual os aparelhos foram dimensionados está muito acima
do necessário para manter um bom desempenho. Ressalta-se que esses aparelhos têm mais de 40 anos
de serviço, e o excesso de rigidez garantiu o desempenho adequado de sua função: transmissão de
solicitações entre a superestrutura e a mesoestrutura. Verifica-se que para os dois aparelhos de apoio
do eixo 136 os valores das deformações teóricas estão muito superiores aos dos demais aparelhos.
𝑎 2
Isso é devido ao valor adotado para 𝑘4 na equação 14 (𝐸𝑖 = [𝑘4 ∗ 𝐸 ∗ (𝑑) ] 4), onde 𝑘4 =
0,0049 𝑠𝑒 𝑎 ≅ 𝑏
{ . Para os aparelhos do eixo 136 foi utilizado 𝑘4 = 0,0049, pois em planta a
0,066 𝑠𝑒 𝑏 → ∞
dimensão longitudinal é igual a transversal. Para os aparelhos do eixo 335-R2 e para o da perimetral,
𝑘4 = 0,066, pois esses têm dimensão em planta retangular. Contudo, afim de verificar o exposto e
utilizando-se para o aparelho de apoio da perimetral 𝑘4 = 0,0049, pois suas dimensões nas direções
longitudinal e transversal não são muito diferentes (480 mm x 250 mm), tem-se os valores mostrados
na Tabela 35.
Tabela 34 – Variação percentual da deformação específica dos aparelhos de apoio ensaiados
Deformação específica (%)
Aparelhos de apoio
𝜀𝑍 (teórico)* 𝜀𝑍 (experimental)** Variação percentual
1º aparelho do eixo 136 -118,1 -2,68 -98
2º aparelho do eixo 136 -118,1 -3,57 -97
1º aparelho do eixo 335-R2 -8,52 -3,08 -64
2º aparelho do eixo 335-R2 -8,52 -5,03 -41
Aparelho da perimetral -15,41 -4,83 -69
Tabela 35 – Módulo de elasticidade teórico para o aparelho de apoio da perimetral
Módulo de elasticidade teórico
Para 𝑘4 = 0,066 𝐸𝑖 = 9,73 ∗ 10−2 𝐺𝑃𝑎
Para 𝑘4 = 0,0049 𝐸𝑖 = 7,23 ∗ 10−3 𝐺𝑃𝑎
Com a tensão de 15 MPa e 𝐸𝑖 = 7,23 ∗ 10−3 𝐺𝑃𝑎, tem-se uma deformação específica muito elevada,
𝜀𝑧 = −207,6%. Isso monstra que os valores para o parâmetro 𝑘4 tem grande influência sobre a
deformação específica de um aparelho de apoio de neoprene. Esse parâmetro é teórico, sendo
publicado no Brasil por Mason (1977), mas foi obtido por Topallof (1964).
5. REFERÊNCIAS
[1] DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. DNIT 091: Tratamento de
aparelhos de apoio: concreto, Neoprene e metálicos – Especificação de Serviço. Rio de Janeiro, 2006.
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Disponível <http://www.ibracon.org.br/publicacoes/revistas_ibracon/rev_construcao/pdf/Revista_Concreto_77.pdf>.
Acesso em 27 de fevereiro de 2018.
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Editora LTC, 1983.
[5] PFEIL, Walter. Ponte Presidente Costa e Silva: Métodos Construtivos. Rio de Janeiro: LTC, 1975.
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Usuais de Concreto Armado. 4ª ed. São Carlos. EdUFSCar, 2016.
[8] HIBBELER, R. C. Resistência dos Materiais. 5ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.
[9] SÁNCHEZ FILHO, Emil de Souza. Aparelhos de apoio. Notas de aula. Rio de Janeiro, 2014.
ANÁLISE DA FUNDAÇÃO EM RADIER – ASPECTOS RELEVANTES
Abstract. NBR 6122:2010 briefly mentions the mat foundation design, just enough to direct the
designer to the NBR 6118:2014, or to other international codes, like the ACI 360R-06. Currently, in
Brasil, the mat foundation is associated with projects of social interests. The purpose of this paper is
to analyze the primordial parameters to run a complete analysis of the raft foundation, including the
soil stress, the modulus of subgrade reaction, the magnitude of both loads and settlements, and the
superstructure complexity. Based on the Winkler model this paper analyses the following basic
parameters for analysis and design of raft foundation settlements: the modulus of vertical subgrade
reaction through empiric expressions, tables, and correlation. The correct choice of the modulus of
subgrade reaction results in less conservative and less expensive designs. NBR 6118:2014 and the
ACI 318:2011 prescriptions to the prestressed mat foundation are also shown in this paper.
1. INTRODUÇÃO
O uso do sistema radier é bastante antigo. Esse sistema é encontrado em fundações de aquedutos da
Roma Antiga, por exemplo. No século XVII, durante período do rei Luís XIV, L’aqueduc de Retz,
que trouxe água ao castelo St-Germain-en-Laye, foi executado com fundação em radier. Entretanto,
as teorias de análise desse tipo de fundação datam do século XIX (ALBINO, 2017). A grande
contribuição para a análise do radier foi proposta por Emil Winkler (1867), por meio do seu modelo
conhecido como Solo de Winkler, que admite que a reação do solo é proporcional aos deslocamentos,
por meio de uma constante de proporcionalidade 𝜅.
Define-se radier como uma fundação superficial de grandes dimensões que recebe os carregamentos
e os transmite ao solo ou à rocha (NBR6122:2010). É possível analisar a fundação em radier como
um elemento rígido. Nesse tipo de análise, os recalques são mínimos e as pressões do solo são
uniformes em toda a área do radier. Porém, há recalques diferenciais que causam variações nas
pressões do solo e nas tensões de flexão na placa.
12 EB E 1
VÉSIC (1961) κ = 0,65 (𝑘𝑁⁄𝑚³) (4)
EI 1 − ν B
onde
E = módulo de deformabilidade do solo;
E = módulo de Young do material da fundação;
𝜈 = coeficiente de Poisson;
I = fator de forma do radier e de sua rigidez (Tabela 1);
I = momento de inércia da fundação;
q = tensão admissível em kips/𝑓𝑡 ;
B = menor dimensão da fundação.
Tabela 1 – Valores do coeficiente de forma Is. VELLOSO e LOPES (2014).
Flexível
Rígido
Forma Centro Borda Média
Círculo 1,00 0,64 0,85 0,79
Quadrado 1,12 0,56 0,95 0,99
Retângulo L/B=1,5 1,36 0,67 1,15
2,0 1,52 0,76 1,30
3,0 1,78 0,88 1,52
5,0 2,10 1,05 1,83
10 2,53 1,26 2,25
100 4,00 2,00 3,7
1000 5,47 2,75 5,15
10000 6,90 3,50 6,60
Na ausência de valores experimentais, usar tabelas para determinar o valor do módulo de reação do
solo.
Coesão Resistência não confinada à coesão (kgf/cm2) Módulo de reação do solo (kgf/cm3)
Rija 1–2 2,7
onde
𝜅SPT( , ) = módulo de reação do solo corrigido para placa de 300mm em MN/mm3;
𝑁60 = NSPT corrigido para levar em conta a energia dissipada do martelo.
0,72NSPT (6)
Brasil: N60 =
0,60
onde
G = pedregulho
S = areia
M = silte
C = argila
W = bem graduado
P = mal graduado
U = uniformemente graduado
L = baixa a média compressibilidade
H = alta compressibilidade
O = orgânico
Figura 1 – Curva de ajuste dos valores de 𝜿 em função do CBR. Fonte: ALMEIDA (2001).
A curva gera as expressões (10) e (11) para os valores do módulo de reação do solo em função do
CBR.
ALMEIDA (2001) κ = 2,495(ln 𝐶𝐵𝑅) + 89,78(ln 𝐶𝐵𝑅) − 35,06 (𝑝𝑜𝑢𝑛𝑑𝑠 ⁄𝑖𝑛 ) (10)
ALMEIDA e κ = 0,06906(ln 𝐶𝐵𝑅) + 2,485(ln 𝐶𝐵𝑅)
(11)
ARCARO (2003) − 0,9705 (𝑘𝑔𝑓⁄𝑐𝑚 )
BOWLES (1997) propõe uma correlação entre o módulo de reação do solo e a tensão admissível:
𝜅 = 36𝑞 (12)
onde
𝑞 = tensão admissível em kips/ft2.
Na análise das expressões, tabelas e correlações, para determinar o módulo de reação do solo,
observa-se que este não é um fator intrínseco ao solo. Esse parâmetro depende, além de tipo de solo
e sua rigidez, do formato da fundação, das relações entre as rigidezes da fundação e a superestrutura.
Esses fatores influenciam os valores do módulo de reação vertical do solo em diferentes regiões do
radier. Na preparação deste estudo, observou-se que a variação nos valores do módulo de reação do
solo em uma mesma fundação só será significativa em estruturas de grandes dimensões e sensíveis a
recalques (VILELA, 2016).
3. PARÂMETROS DE PROJETO
Para um bom desempenho de qualquer elemento de concreto, o que inclui a fundação radier, é
necessária a atenção a todos os aspectos relacionados com a tecnologia do concreto. O objetivo é
obter um concreto que atenda às especificações de projeto. Essas especificações normativas adotadas
nos projetos vão além da resistência do concreto à compressão.
Tabela 8 – Correspondência entre a classe de agressividade e a qualidade do concreto. Fonte: NBR 6118/2014
𝑓 , = 0,3𝑓 (16)
onde
𝑓 , = resistência média à tração do concreto em MPa;
𝑓 = resistência característica à compressão do concreto em MPa.
3.3. Cordoalhas e armadura passiva
Além dos parâmetros supracitados, um bom desempenho da fundação em radier requer que todas as
prescrições normativas sejam observadas. Para os fios e cordoalhas do concreto protendido, as NBRs
7482 e 7483/2008 reúnem as recomendações a serem adotadas. Para o concreto armado, as
prescrições estão na NBR 7480/2008. Para o radier protendido, as cordoalhas mais usadas são as de
½", baixa relaxação e tensão última de ruptura (fpu) de 1860 MPa, enquanto no concreto armado, o
aço usual é o CA-50 com 500 MPa de resistência característica ao escoamento. Na prática, os sistemas
protendidos com aderência posterior e sem aderência se mostram mais vantajosos e competitivos.
Porém, essa escolha deverá ser posterior às análises das condições de flexibilidade, layout e
segurança.
Quanto ao uso de uma armadura mínima, de acordo com a NBR 6118/2014, pode-se afirmar que no
radier em concreto armado é necessária uma armadura mínima de flexão. Porém, a falta de uma
normativa específica para radier impede o consenso sobre essa prescrição, no caso do radier
protendido. O PTI DC10.1-08 estabelece condições em que essa armadura mínima de flexão pode ser
dispensada. Existe a necessidade de colocação de uma armadura construtiva e outra de fretagem nas
ancoragens passivas e ativas.
4. CONCLUSÕES
A fundação em radier exige atenção a muitos aspectos, desde análise e dimensionamento, montagem,
concretagem e pós-concretagem. Além disso, não se pode desprezar a importância do conhecimento
do solo. Uma campanha mínima de sondagem, nos moldes das prescrições da NBR 6484/2001 e NBR
8036/1983, para identificar a presença de solo expansível ou colapsível é de extrema necessidade,
visto que toda a análise poderá ser alterada na presença desses solos. A escolha adequada dos
parâmetros e o atendimento às prescrições normativas são imprescindíveis. Quando escolhida uma
normativa internacional para a análise do radier, é preciso verificar se tal normativa se adequa às
condições nacionais de solo e projeto, deixando claro qual foi a normativa escolhida.
Nesse trabalho, ficou demonstrado que muitos dos tópicos relacionados com o radier ainda não estão
claramente normatizados. Concluiu-se que as normativas do Brasil precisam sanar as lacunas
relacionadas ao tema radier. Além disso, é necessária a publicação de uma normativa nacional para a
fundação em radier.
REFERÊNCIAS
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[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6122: projeto e execução de fundações.
Rio de Janeiro, 2010.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6118: projeto de estrutura de concreto –
procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
[4] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE – ACI. Building code requirements of structural concrete (ACI 318-11),
2011.
[5] ALBINO, F.S. Radier simples, armado e protendido – teoria e prática. Campinas, 2017.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6489: prova de carga direta sobre
terreno de fundação. Rio de Janeiro, 1984.
[7] VELLOSO, D.A; LOPES, F.R. Fundações Volume 1: Critérios de projeto – Investigação de subsolo –
fundações superficiais. 2 ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2014.
[8] MORAES, M.C. Estruturas de fundações. 3 ed. São Paulo: Editora McGraw Hill, 1976
[9] GUPTA, S.C. Raft foundations design and analysis with a practical approach. New Delhi, New Age
International (P) Limited, Publishers, 1997.
[10] SCOTT, R; Foundation analysis. Prentice-Hall civil engineering an engineering mechanics series. Spectrum
Book, S-642, New Jersey, 1981.
[11] BAROUNIS, N; SAUL, G; LALLY, D.; Estimation of vertical subgrade reaction from CPT investigations:
Application in Christchurch. Proceedings. 19th NZGS. Geotechnical Symposium, Queenstown, 2013.
[12] BOWLES, J. E.; Foundation analysis and design. 5th ed. Singapore: McGraw-Hill, 1997.
[13] ALMEIDA, L.C. Laje sobre solo para fundação de residência. Dissertação de mestrado apresentada à comissão
de pós-graduação da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas como parte dos
requisitos para obtenção do título de mestre em Engenharia Civil na área de engenharia de estruturas. Campinas,
2001.
[14] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS – ASTM. Standard practice for classifications of
soils of engineering purposes (ASTM D2487-00), 2000.
[15] BAROUNIS, N; ARMAOS, P.; Sensitive analysis of the vertical modulus of subgrade reaction, as estimated from
CPT for the design of foundations and comparison with values from SPT for a site in Christchurch. NZEE, Annual
Technical Conference, Christchurch, 2016.
[16] ALMEIDA, L.C., ARCARO, V.F. Laje sobre solos para fundação ou Pisos. V Simpósio EPUSP sobre
Estruturas de Concreto. São Paulo, 2003.
[17] VILELA, I.P.S., Análise de Radiers de Concreto Estrutural. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense, Escola de Engenharia, como requisito parcial
para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil. Niterói, 2016.
[18] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 8522: determinação dos módulos
estáticos de elasticidade e deformação à compressão. Rio de Janeiro, 2017.
[19] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 7482: fios de aço para estruturas de
concreto protendido – especificação. Rio de Janeiro, 2008.
[20] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 7483: cordoalhas de aço para estruturas
de concreto protendido – especificação. Rio de Janeiro, 2008.
[21] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 7480: aço destinado para armadura de
estruturas de concreto armado – especificação. Rio de Janeiro, 2008.
[22] POST TENSION INSTITUTE. PTI DC10.1-08: Design of post-tensioned slabs-on-ground. 3rd. edition, 2008.
[23] FOUNDATION PERFORMANCE ASSOCIATION - Structural Committee. FPA-SC-14-0: Comments on the
post-tensioning institute's "Design of post-tensioned slabs-on-ground" 3rd edition. Houston, 2006.
[24] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM E 145-11: standard specification for plastic
water vapor retarders used in contact with soil or granular fill under concrete slabs. West Conshohocken, 2011.
[25] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6484: solo – sondagens de simples
reconhecimento com SPT – método de ensaio. Rio de Janeiro, 2001.
[26] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 8036: programação de sondagens de
simples reconhecimento dos solos para construção de edifícios. Rio de Janeiro, 1983.
Análise do concreto com incorporação de EPS em substituição total de
seu agregado graúdo
Resumo: Com o crescimento do ramo da construção civil, a atenção voltou-se para o meio
ambiente e a escassez dos recursos naturais movimentando a sociedade a procurar meios de
crescimento sustentável. Com isso, o estudo da engenharia tem buscado o desenvolvimento técnicas
e metodologias para construção de estruturas, tentando conciliar qualidade, custo e sustentabilidade.
Assim, este trabalho foi elaborado com intuito de analisar o comportamento do concreto ao
substituir o agregado graúdo por poliestireno expandido (EPS) na confecção de concreto leve,
disponibilizando uma opção para utilizar estes resíduos e verificar a resistência à compressão. O
concreto leve se apresenta como material eficiente, entre suas vantagens para a construção civil
destaca- se a redução dos esforços nas estruturas. Foram definidos dois traços diferentes de mistura,
confeccionados seis corpos de prova que foram submetidos a ensaio de compressão axial conforme
a norma 5739 (ABNT, 2007). Os resultados das resistências a compressão se mostraram diferentes
de um traço para o outro, sendo do traço T-1 o corpo de prova 1, 0,53 Mpa, o corpo de prova 2
obteve 0,57 Mpa, o corpo de prova 3, 0,65 Mpa e do traço T-2 o corpo de prova 1, 0,49 Mpa, o
corpo de prova 2, 0,81 Mpa, o corpo de prova 3, 1,07 Mpa.
Abstract: With the growth of the construction industry, attention was focused on the environment
and the scarcity of natural resources, driving society to seek sustainable growth. With this, the
engineering study has sought the development of new techniques and methodologies for building
structures, trying to reconcile quality, cost and sustainability. Thus, this work was elaborated with
the purpose of analyzing the behavior of the concrete by replacing the expanded aggregate with
expanded polystyrene (EPS) in the confection of light concrete, providing an option to use these
residues and verify the compressive strength. Lightweight concrete presents itself as an efficient
material, among its advantages for civil construction stands out the reduction of efforts in the
structures. Two different mixing traces were defined, six specimens were prepared and submitted to
axial compression tests according to standard 5739 (ABNT, 2007). The results of the compressive
strengths showed to be different from one trace to the other, being from the T-1 trace the test body
1, 0.53 MPa, the test body 2 obtained 0.57 MPa, the test body 3, 0.65 MPa and the T-2 trace the test
body 1, 0.49 MPa, the test body 2, 0.81 MPa, the test body 3, 1.07 MPa.
A construção civil utiliza grande quantidade de materiais e por isso tem bom potencial para
reutilizar resíduos em seus processos, como exemplo a reutilização de Poliestireno Expandido
(EPS) para a confecção de concreto leve. Usualmente, a designação de concreto leve é utilizada
para identificar concretos com estrutura porosa, geralmente à base de ligantes hidráulicos, com
massa específica inferior à dos concretos tradicionais (ROSSIGNOLO, 2003). De acordo com a
NBR 12655 (ABNT, 2006), o concreto leve é definido como o concreto endurecido que, quando
seco em estufa, apresenta massa específica entre 0,8 e 2,0 g/cm³. O concreto leve se mostra um
material eficaz e entre suas vantagens ressalta-se a redução nos esforços na estrutura e na
infraestrutura das edificações, a economia com fôrmas e cimbramentos, pela redução das
solicitações, bem como a diminuição dos custos com transporte e montagem de construções pré-
fabricadas, pela redução no peso dos materiais manuseados e aumento da produtividade (CATÓIA,
2012).
Entre os materiais utilizados como agregados leve para a confecção do concreto leve, está o
Poliestireno Expandido (EPS), conhecido popularmente como isopor, com massa específica inferior
a 0,030 g/cm³, tem sido utilizado para produzir concretos com massa específica entre 600 g/cm³ e
1.800 g/cm³, e resistências à compressão entre 4 MPa e 12 MPa, dependendo do tamanho, da
quantidade de EPS e de sua finalidade, (GANESH BABU; SARADHI BADU, 2002;). O
poliestireno expandido destaca-se por ser um material isolante térmico, de baixa densidade,
resistente, fácil de manusear e de baixo custo.
Neste artigo foi executado ensaio laboratorial e análise do comportamento do concreto com a adição
de pérolas de EPS, verificando as propriedades físicas e mecânicas do traço realizado.
2. OBJETIVOS
O intuito deste trabalho é analisar o comportamento do concreto quando substituído o seu agregado
graúdo, a brita, por poliestireno expandido através de ensaio de compressão axial e também
possibilitar a reciclagem do EPS na produção do concreto leve.
3. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste trabalho, foram realizados ensaios em laboratório com dois traços
diferentes, sendo estes, divididas em duas etapas:
• Definição dos traços, que contemplou um estudo detalhado sobre o melhor traço a ser
utilizado na produção do concreto leve para que o mesmo desenvolvesse baixo peso
específico e uma resistência considerável.
T-1
0,05 gramas 2,0 0,6 1,2 0, 0056
T-2
7 litros 2.5 0.75 0,805 0,007
3.2 ENSAIOS
O ensaio foi realizado em outubro de 2017, no Laboratório de engenharia civil da faculdade
Pitágoras campus Guarapari, onde foram produzidos seis corpos de prova cilíndricos, com
dimensões de 10 cm de diâmetro por 20 cm de altura, conforme recomendações da NBR 5738
(ABNT, 2003).
3.2.1 Preparação do concreto leve:
O traço inicialmente adotado foi o T-1 indicado na tabela 1, onde foi substituído o agregado graúdo
pelas perolas de EPS totalmente. A preparação do concreto consistiu em dissolver inicialmente a
cola em água nas proporções definidas no traço. Em seguida, colocou-se o EPS na betoneira em
movimento e misturou o adesivo dissolvido em água, após essa mistura, foi adicionado um pouco
de cimento. Logo após o cimento começou a fixar-se no EPS, então o restante de cimento, água e
areia foi adicionado alternadamente. Observou- se que a massa adquiriu a pega ideal, a betoneira foi
desligada e encheram-se os três corpos de provas.
Na segunda preparação do concreto leve utilizou-se o traço T-2 nas proporções mostradas na tabela
1, seguindo o mesmo processo de preparação do traço T-1. Neste processo foram confeccionados
três corpos de prova. Passadas 24 horas os corpos de prova foram levados para câmara úmida.
Figura 5: Corpo de prova submetido ao ensaio Figura 6: Painel da prensa utilizada para ensaio
Origem Indeterminado
3.3.4 Cimento
As especificações estão indicadas na Tabela 3.
Tabela 3: Especificações do cimento
Marca Mizu
4. RESULTADOS
5. CONCLUSÕES
A produção de concreto leve utilizando resíduos de EPS, para originar elementos construtivos é
considerada relativamente simples, o que não trará grandes dificuldades na fabricação desses
elementos a serem utilizados na construção civil em larga escala.
Esses elementos trarão vantagens para a construção civil, visto que o custo e o tempo de execução
das construções serão reduzidos, além de diminuir os problemas ambientais causados pela
destinação final de resíduos de EPS, que sendo um material de demorado tempo de decomposição e
de alto custo de reciclagem, poderá contribuir para as ações de desenvolvimento sustentável.
Com base nos experimentos e nos resultados dos ensaios realizados, concluiu-se que a resistência à
compressão é uma propriedade que sofre influência com a substituição do agregado graúdo pelo
poliestireno expandido (EPS). Levando em consideração a NBR 6136 (ABNT, 2007), os corpos de
provas produzidos não atenderam a resistência mínima de compressão axial exigida de 2 MPA, não
se enquadrando na classe dos blocos sem função estrutural usados como elementos em alvenarias.
Portanto, para obter uma resistência a compressão axial mais elevada é necessária a realização de
novos testes com a variação dos traços, a fim de poder utilizar o concreto leve como aliado a
construção civil para diminuir os esforços nas estruturas e contribuir para a sustentabilidade.
6. AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Faculdade Pitágoras - Campus Guarapari pela possibilidade de utilização dos
equipamentos e materiais o que possibilitou a realização dos ensaios e posteriormente a elaboração
deste artigo científico.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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para redução da permeabilidade de superfícies de concreto. Revista Matéria, v. 13, n. 4, p. 664-673, 2008.
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[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739: Concreto – Ensaio de compressão de
corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2007. 9p.
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Esbeltos: dosagem, produção, propriedades e microestrutura. São Carlos, 2003. 211 f. Tese (Doutorado em Ciência
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O PROCESSO DE PROJETO DE ARQUITETURA SOB A PERSPECTIVA
DO LEAN DESIGN – UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA
The design process of architecture under the lean design perspective – A systematic
review of literature
Abstract: The civil construction sector, for some decades, has been going through periods of
turbulence, leading companies in this sector to look for alternatives that add productivity and
quality to the built environment. In order to adapt to this demand, the search for tools that make its
production process more efficient and dynamic and consequently more competitive is observed.
Therefore, the implementation of project management is observed, which has continuously required
the development and improvement of tools that guarantee the solution of various problems and
obstacles mapped throughout the entire project process. In this sense, Lean Design is presented as a
tool with potential for improvements in this process. The adaptation of the principles of lean
production in construction processes originated Lean construction or lean construction and in design
processes, the lean design process, also called Lean Design. It takes care of managing the
complexity of the design process with the aim of reducing waste and leveraging activities that add
value. The workflow from the perspective of Lean Design concepts has the potential to drive
improvements in the design process, reducing errors and increasing reliability. This paper aims to
identify and map the literature scenario in the scientific context of the Lean concept. The applied
methodological approach is based on the Systematic Review of Literature, which consists of
critically identifying, selecting and evaluating systematically the studies relevant to the work,
answering in a clear way the motivating question of the research. As a result, from the Systematic
Review of Literature, the identification of the lines of research carried out in order to avoid fruitless
approaches, as well as the identification and mapping of the possibilities of advancement in the
design process from an alternative of visualization of the entire process. The paper aims to
contribute to the dissemination of the theme, as well as to broaden the lines of research of the
question proposed by the research in order to provide a complementary framework to future
researchers who intend to explore the subject.
1. INTRODUÇÃO
O vínculo e conexão das atividades indispensáveis ao desenvolvimento de projeto de edifícios
relacionam múltiplas ações combinadas entre pessoas, tecnologia, situações e decisões, o que torna
o produto final desse processo ainda mais singular e complexo (EMUZE; SAURIN, 2016).
Com intuito de contribuir para a melhoria dos processos de projeto estudaram-se diretrizes para
modelos de processos à luz da produção enxuta e da gestão da qualidade (TZORTZOPOULOS,
1999). Dantas Filho (2016) e Franco (2016) apontam o estudo de Tzortzopoulos (1999) como um
trabalho de importância fundamental, tratando-se de referência para outros trabalhos que foram
realizados nos anos posteriores.
Segundo Tzortzopoulos (1999), o modelo do processo de projeto se apoia numa visão holística para
o seu desenvolvimento, onde são definidas as principais atividades a serem desenvolvidas e suas
relações, os papéis e responsabilidades de todos os stakeholders envolvidos, o fluxo principal de
informações e instrumentos de retroalimentação dentro do processo. Sua fundamentação teórica se
desenvolve a partir de proposta de melhorias no processo de projeto baseada na mentalidade enxuta,
cuja abordagem possibilita que muitos dos problemas usuais do mesmo possam ser adequadamente
identificados, através da análise das conversões e dos fluxos envolvidos no processo. Dessa forma,
Dantas Filho (2016) e Franco (2016) apresentam estudos onde elaboram diretrizes, recomendações
e modelos de processo de projeto de arquitetura sob a perspectiva do Lean Design, agregando outras
informações da mentalidade enxuta no processo enxuto, porém sob viés diferente de Tzortzopoulos
(1999). Este conceito é ligado à filosofia do Lean Construction, que tem por objetivo a busca por
qualidade, eficiência e produtividade na construção civil. Koskela (2000) revela que as pesquisas,
inicialmente, envolvendo o Lean Construction eram focada na fase de produção física e,
posteriormente, as discussões abrangeram a fase de design, originando assim o Processo de Projeto
Enxuto, ou, comumente, conhecido como Lean Design.
Tilley (2005) ratifica o alto potencial de melhoria do Lean Design na maneira como o processo de
projeto é gerenciado, aumentando o valor para o usuário final e minimizando o desperdício no processo
de construção. Embora o gerenciamento de processo de projetos enxutos pareça ser válido, é necessário
que seja adaptado ao contexto do projeto a fim de alcançar o valor desejado para todos os interessados
(EL REIFI; EMMITT, 2013).
Franco e Picchi (2016) revelam que estudos exploratórios mostraram que alguns princípios do Lean
Design vêm sendo aplicados em empresas de construção e de projeto de arquitetura, entretanto,
pesquisas anteriores já vinham examinando a relação entre Lean Construction e programas de melhoria
de desempenho, onde identificaram dois caminhos para estruturar um programa de melhoria: focado nos
resultados ou focado nos processos.
Aziz e Hafez (2013) esclarecem que quando se foca nos resultados se tem uma habilidade limitada em
resolver problemas sistêmicos. Enquanto que quando se foca em processos são enfatizados as
interdependências entre participantes e os próprios processos, o que permite uma resolução mais
eficiente de problemas sistêmicos.
Diante da importância e potencial de melhoria para a área da Arquitetura, Engenharia e Construção do
Lean Design, observa-se a relevância em conhecer a quantos anda sua discussão no meio científico.
Deste modo, este trabalho tem por objetivo traçar um mapeamento da produção científica relacionada ao
Lean Design de forma a possibilitar conhecer o panorama desta área de conhecimento, o que também
contribui para divulgação do tema na comunidade científica, assim como fundamentar novos estudos.
2. ABORDAGEM METODOLÓGICA
O artigo se apoiou na Revisão Sistemática de Literatura (RSL), que busca responder de forma clara
e objetiva a questão motivadora da pesquisa que é: Quanto e como está sendo discutido o Lean
Design?
Apresenta questão específica, com fontes definidas, explícitas estratégias de busca e seleção
baseada em critérios aplicados uniformemente (GALVÃO; PEREIRA, 2014). Sua avaliação deve
ser criteriosa e reprodutível. Possui síntese quantitativa com inferências baseadas nos resultados da
pesquisa. Configura-se basicamente em três etapas: planejamento, realização e divulgação ou
comunicação da revisão, esclarece Randolph (2009) como esquematizado pela figura 1.
O processo de identificação dos estudos deve ser uma busca tão ampla quanto o possível, nesse
sentido diversas fontes devem ser utilizadas para reduzir a possibilidade de viés (RANDOLPH,
2009). Esta pesquisa limita-se a análise quantitativa dos resultados, não possuindo, portanto viés de
análise qualitativa da amostra encontrada. A triagem dos trabalhos se baseia nos protocolos
estabelecidos na tabela 1. Ressalta-se que este estudo é parte integrante de uma pesquisa maior que
abrange outras áreas de conhecimento envolvidas na dissertação de mestrado em andamento da
primeira autora, cujo foco central é processo de projeto de ambientes de saúde sob a perspectiva do
Lean.
Quando na realização da RSL, foram identificados, inicialmente, 104 estudos distribuídos nas
seguintes bases de dados: PubMed, Web of Science, Banco de Teses, Periódicos Capes, Scopus e
Google Acadêmico. Ressalta-se que os valores encontrados na base “Google Acadêmico” não
foram contabilizados para análise, uma vez que se considerou apenas visualizar numericamente o
alcance do termo “Lean Design”. Os bancos de dados foram selecionados com base em sua
confiabilidade no meio acadêmico científicos. Na fase 1 de seleção, foram analisados apenas os
títulos que apresentaram relação com a temática central desta pesquisa, contudo, títulos que
pudessem gerar dúvidas quanto ao seu conteúdo foram incluídos para posterior análise.
A segunda fase se apoiou na seleção dos estudos a partir da leitura de seus resumos. Estes deveriam
apresentar direta conexão com a área de conhecimento pesquisada: o processo de projeto sob a
perspectiva do Lean Design, além de observar possível duplicidade entre as bases de dados, bem
como acesso integral ao seu texto. Os estudos que não se encaixaram nos critérios seletivos
implicaram em seu descarte (Tabela 2). Importante destacar que a partir da leitura analítica da
amostra foram subtraídas as publicações que, mesmo atendendo aos critérios adotados no protocolo
da etapa de busca das fontes, não abordaram o Lean Design como assunto principal. Utilizaram-se
como instrumentos de representação tabelas e gráficos.
Tabela 2 – Mapeamento quantitativo dos estudos segundo critérios de exclusão
Fases Quantitativo
Busca inicial 104
Fase 1 – Exclusão por título 67
Fase 2 – Exclusão por resumo 26
Disponibilidade 03
Duplicidade 06
Total 17
Fonte: Autores, 2018
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Ao todo foram subtraídos 87 itens dos 104 coletados, que não se enquadraram no protocolo
estabelecido pela RSL. É relevante ratificar que foram desconsideradas publicações que abordavam
o Lean Design no corpo do texto, mas que não apresentavam o termo como questão central. Por
isso, este trabalho objetiva mostrar o quanto e como vem sendo discutido a área de conhecimento
em questão, com a reserva de não contemplar integralmente todas as publicações consonantes com
o tema. A amostra totalizou o número de 17 trabalhos que apresentaram aderência ao escopo de
planejamento e critérios de inclusão estabelecidos por esta RSL caracterizados em 10 artigos de
congresso, 06 artigos de periódicos e 1 dissertação de mestrado distribuídas ao longo dos anos de
2004 à 2017 (Tabela 3).
Tabela 3 – Mapeamento quantitativo: Tipo de Publicação x Autores
Em análise quanto ao número de publicações e seu recorte temporal, a linha do tempo demonstra
que o tema vem aumentando gradativamente, com ênfase no ano de 2016, onde se concentra grande
parte dos trabalhos, o que pode evidenciar aumento de interesse pelo tema, contudo os números
totais evidenciam a pouca quantidade de pesquisa na área. Em paralelo, quando se observam os
números de 2016, pode-se concluir a existência de esforço para publicações, indicando maturidade
do conhecimento na área (Gráfico 1).
Gráfico 1 – N° de publicações x Ano
Quando da análise autorais dos trabalhos, observou-se a participação de 37 autores. Destes, exceto
Gleen Ballard, Iris Tommelein, Patrícia Tzortzopoulos e Mike Kagioglou participaram em mais de
um estudo (Gráfico 2). Destaca-se que boa parte das pesquisas analisadas contém mais de um autor.
Quanto à análise de trabalhos referenciados nos estudos da amostra apresentada, encontrados pela
amostra desta RSL, revelam-se entre os mais citados, os autores Gleen Ballard, J. Womack, Allen
Ward, J. K. Liker e J. M. Morgan, o que os caracterizam como autores representativos dentro desta
área de conhecimento.
Gráfico 2 – Autores x N° de publicações
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POSTOS DE SAÚDE SUSTENTÁVEIS: SUGESTÕES DE ADEQUAÇÕES A
SEREM FEITAS NOS SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO
Abstract: Since sustainability is defined as the ability and commitment to interact with the
environment without compromising natural resources, and as this concept is becoming widespread
in the current world scenario due to its need for implementation, it is up to the construction sector to
apply it to its edifications. As a concept that has been consolidated in engineering projects in the
last decades, this study has as main objective to introduce the qualities of sustainability in building
maintenance services that were designed and built in times when social responsibility with the
environment was so recommended. Firstly, a survey of the most recurrent pathological
manifestations is carried out at health centers located in the city of Juiz de Fora (MG).
Subsequently, a bibliographic review on the application of sustainability in construction begins, and
then presents solutions to be implemented by public agencies, in order to adapt the buildings to the
concept of sustainable development, guaranteeing compliance with the environmental, social and
economic and institutional dimensions that govern the current buildings. The hope is that this
assignment contributes to the scientific and technological advances at the construction fields,
favoring the development of the sector in favor of green building, so as to cooperate to the good of
the current society and the future generations.
1. INTRODUÇÃO
A indústria da construção civil é uma das maiores devastadoras do meio ambiente. Além de ser uma
consumidora em potencial dos recursos naturais e energia, os resíduos gerados por esse setor são
altamente poluentes, existindo nas formas sólida, líquida e gasosa e, assim, gerando impactos
ambientais de grande escala. Ademais, o setor da construção caracteriza-se por ampla ocupação do
espaço e alteração dos aspectos naturais do ambiente (MARTINS, 2016). Segundo o Ministério do
Meio Ambiente, da massa total de resíduos sólidos urbanos, cerca de 50 a 70% são gerados pela
construção civil.
Diversas fases do setor em questão interagem diretamente com o meio ambiente, desde a remoção
da vegetação no terreno e serviços de terraplanagem, obtenção dos materiais de construção, até a
geração de resíduos decorrente das etapas de execução.
Segundo a World Wind Fund for Nature (WWF), na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, criada pela Organização das Nações Unidas, surgiu o conceito de
desenvolvimento sustentável, sendo entendido como o desenvolvimento que sustenta as
necessidades da geração atual sem interferir na capacidade de suprir as necessidades das gerações
futuras. Essa definição surgiu frente à percepção da problemática social e ambiental fundamentada
em um modelo de desenvolvimento que, até então, baseava-se em um elevado consumo de recursos
naturais e consequente degradação do meio ambiente (WWF, 1983).
Portanto, dentro desse conceito, é necessário estudar formas de reduzir ou até mesmo extinguir as
perturbações ambientais causadas pela construção civil, através de práticas sustentáveis nos serviços
oferecidos pelo setor, a fim de garantir a sustentabilidade do processo de evolução da indústria da
construção.
A partir dessa definição e da necessidade de implantação em edificações, surge o conceito de green
building, ou “construção verde”, que objetiva que as construções consumam o mínimo possível dos
recursos naturais, utilizando-se de técnicas e materiais que as tornem parte do meio ambiente no
qual estão inseridas, ao invés de transtorná-lo (KRUGER e SEVILLE, 2016).
Sendo assim, uma das sugestões de adequações a serem feitas em edificações é a inserção da
sustentabilidade nos serviços de manutenção. Dessa forma, torna-se possível conformar uma
construção ao conceito de sustentabilidade.
Atualmente, muitas cidades têm adotado como meta o desenvolvimento sustentável. A cidade de
Juiz de Fora, por exemplo, situada no estado de Minas Gerais, conta com vários projetos que
incluem a sustentabilidade em sua forma de execução e manutenção, a fim de proporcionar aos seus
habitantes uma melhor qualidade de vida, visando o conforto das futuras gerações.
Partindo desse princípio, torna-se necessário atentar-se às Unidades de Atendimento Primário à
Saúde (UAPS) da cidade, estabelecimentos destinados à resolução de problemas de saúde de
gravidade baixa a intermediária, a fim de reduzir filas em hospitais. Ocorre que essas unidades, em
sua maioria, funcionam em edificações não apropriadas para esse tipo de utilização, resultando em
alto índice de manifestações patológicas.
Portanto, este trabalho, em parceria com o Programa de Educação Tutorial do curso de Engenharia
Civil da Universidade Federal de Juiz de Fora, busca colaborar para a inserção da sustentabilidade
na cidade, através de estudos de caso das UAPS que nela se contêm, a fim de buscar alternativas
sustentáveis a serem implantadas nos serviços de manutenção desses estabelecimentos, de acordo
com os tipos de patologias que neles se manifestam.
Portanto, dos principais tipos de manifestações patológicas encontradas, concluiu-se que as mais
relevantes são causadas por falhas de revestimento e fissuras, já que essas representam o maior
percentual de incidência em todas as UAPS analisadas, conforme mostra a figura 2.
3. MANUTENÇÃO SUSTENTÁVEL
Segundo a NBR 5674/12, a manutenção de edifícios é definida como um conjunto de
procedimentos que visam conservar ou recuperar a funcionalidade de uma edificação, bem como de
todas as suas partes constituintes, de forma a atender as necessidades e a segurança de seus
usuários.
Dentre os tipos de manutenção existentes, pode-se citar:
i) manutenção preventiva, realizada periodicamente com o objetivo de reduzir a probabilidade de
ocorrência de alguma falha;
ii) manutenção corretiva, que visa recuperar a funcionalidade de um ambiente após a ocorrência de
algum erro;
iii) manutenção preditiva, que controla o ambiente através de supervisão e técnicas de análise, para
reduzir as manutenções preventiva e corretiva (ABNT, 1994).
Sendo a sustentabilidade a palavra de ordem em diversos setores na atualidade, inclusive na
construção civil, é importante que esse conceito seja implementado também nos serviços de
manutenção de edifícios.
Nesse contexto, foi desenvolvido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, organizada pela ONU em 1987, o conceito de sustentabilidade como sendo a
capacidade e, mais ainda, a responsabilidade, de interagir com o meio ambiente prezando pela
manutenção dos recursos naturais. A preocupação com o meio em que se vive está ligada à
melhoria da qualidade de vida, tanto para as gerações atuais quanto para as futuras. Além disso, é de
fundamental importância a mudança de hábitos na construção civil em prol da implantação de
edificações sustentáveis, haja vista os incalculáveis danos ao meio ambiente causados pelo setor,
tornando-se primordial aplicar esse conceito nas edificações.
Um dos maiores desafios desse processo é o fato de que muitas das construções existentes hoje
foram idealizadas e projetadas em épocas em que esse conceito não era largamente difundido.
Sendo assim, uma das soluções viáveis é a inserção da sustentabilidade nos serviços de manutenção
dessas edificações, que devem ser realizados periodicamente, solucionando o problema das
manifestações patológicas e mantendo tais construções aptas para utilização.
Ao inserir a sustentabilidade nesses serviços, torna-se imprescindível o cumprimento dos pilares
que regem tal conceito: social, econômico, ambiental e institucional. Espera-se que uma construção
sustentável zele pelo conforto dos usuários e pela responsabilidade com as futuras gerações; seja
economicamente viável e rentável; preocupe-se com o meio no qual está inserido, tanto em sua
concepção quanto nas formas de utilização; e cuide do patrimônio histórico no qual está inserido, a
fim de manter e preservar a memória institucional (ELKINGTON apud AMARAL e BOECHAT,
2012).
Para que uma construção seja considerada sustentável, algumas diretrizes são consideradas
essenciais, como: eficiência energética, uso adequado e reaproveitamento da água, utilização dos
recursos naturais presentes no entorno, uso de materiais e técnicas ambientalmente corretas, gestão
dos resíduos sólidos, conforto e qualidade interna dos ambientes, acessibilidade e integração dos
transportes de massa e/ou alternativos ao contexto do projeto. (MOTTA, 2011).
Segundo Strapasson (2011), um conceito importante que passou a ser aplicado em projetos
construtivos a partir do século XX foi a flexibilidade. Considerar uma construção como flexível
significa dizer que a mesma é apta para receber possíveis modificações que visem melhorar e/ou
alterar sua utilização, sem que haja mudanças excessivas na quantidade de recursos necessários à
sua funcionalidade, aumentando, assim, a vida útil da edificação.
Sendo assim, uma construção flexível tem larga importância na aplicação dos serviços de
manutenção, pois permite que sejam realizados de forma organizada e com gastos otimizados. Além
disso, a flexibilidade também garante benefícios do ponto de vista ambiental, visto que aumenta a
durabilidade das edificações e permite a inserção da sustentabilidade em edificações antigas, através
de serviços de manutenção, que são facilitados por esse conceito.
Portanto, torna-se possível aprimorar uma edificação através de serviços de correção que não
apenas visem manter e prolongar seu ciclo de vida, como também a readaptem de forma a
minimizar os impactos ambientais, classificando-se como manutenção sustentável e inteligente,
pois reduz o consumo de recursos naturais, garantindo benefícios para as gerações atuais e futuras.
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Acesso em 2 de novembro de 2018.
COMPARATIVO ENTRE ARGAMASSAS ADITIVADAS E MISTA:
ANÁLISE DOS ADITIVOS INCORPORADOR DE AR, RETENTOR DE
ÁGUA E PLASTIFICANTE
Comparative study between mortar with additive and mortar with hydraulic lime:
Analysis of air entraining agent, water retainer and plasticizer
Resumo: A argamassa mista composta por cimento Portland, cal e areia natural é amplamente
utilizada, por apresentar propriedades que garantem características mais satisfatórias ao
revestimento argamassado. No entanto, o trabalho com a cal deve ser minucioso, pois quando a cal
não é de boa qualidade ou o tempo de carbonatação para a finalização não é respeitado, a eficiência
do revestimento é prejudicada. Assim, atualmente, busca-se substituir a cal por aditivos disponíveis
no mercado que possuem características semelhantes a ela, como a aderência e a trabalhabilidade.
No entanto, pouco se conhece a respeito da influência destes sobre os revestimentos. Diante disso,
buscou-se estudar os efeitos de três aditivos, retentores de água, incorporadores de ar e
plastificantes, individualmente, comumente utilizados em argamassas. Para o desenvolvimento do
estudo, foram moldados um traço com cal e três traços com aditivos, sendo que a utilização do
aditivo foi a máxima recomendada pelo fabricante. A seguir foram realizados ensaios de flow table,
retenção de água, densidade no estado fresco, porosidade aberta e resistência de aderência à tração.
Nos resultados observou-se que: as consistências dos traços foram semelhantes, sendo que nenhum
deles ficou dentro do limite pré-estabelecido para a metodologia (260 ± 15 mm) e que o traço com
retentor de água teve uma consistência muito mais elevada. A retenção de água mais elevada foi do
traço de argamassa mista e a argamassa com retentor apresentou a menor retenção de água, sendo
que todos ficaram acima de 85%; A maior densidade no estado fresco foi da argamassa mista
diminuindo respectivamente no traço com plastificante, retentor de água e incorporador de ar. A
menor porosidade foi da argamassa com incorporador de ar seguida pela argamassa com
plastificante, sendo que a argamassa mista apresentou a maior porosidade. A argamassa mista
obteve o maior valor de aderência seguida pela argamassa com retentor de água, as outras
argamassas não atingiram o limite estabelecido para revestimentos externos. Conclui-se que antes
de analisar as propriedades é importante estabelecer no projeto os limites aceitáveis das
características do composto anteriormente à sua utilização, mas de forma geral observou-se que
quando os aditivos são utilizados de forma separada eles não possuem propriedades semelhantes a
argamassa mista e não seriam satisfatórios para substituí-la.
Palavras-chave: Argamassa mista, Argamassa aditivada, Revestimento argamassado.
Abstract: The mortar mixed with hydraulic lime, composed by Portland cement, hydraulic lime
and natural sand is widely used in Brazil because it ensures satisfactory characteristics to mortar
coating. However, working with hydraulic lime must be rigorous, because when the hydraulic lime
is not good or the lime carbonation time is not respected to do the finishing, the efficiency of the
mortar is compromised. Therefore, engineers intend to substitute the hydraulic lime for additive
present in the market that have similar properties with the hydraulic lime, such as workability and
adherence. Then, this study intended to analyze the effect of three different chemical additive,
individually, commonly used in mortar coating: water retainer, entraining agent and plasticizer. To
develop this study, one sample with hydraulic and three samples with additive, being the dosage of
additive, the maximum recommended by the supplier, were made. The properties tested were water
retention, density in the fresh state, open porosity and adherence resistance. The results presented
that none of the samples prepared had the workability between the limit pre-established for the
methodology (260 ± 15 mm) and the sample with water retainer had the highest workability. The
highest water retention presented was the one of the mortar with hydraulic lime and the mortar with
water retainer presented the lowest value, but all the values were higher than 85%. The mortar with
hydraulic lime presented the highest density in fresh state, decreasing respectively in the mortar
with plasticizer, water retainer and entraining agent. The mortar with entraining agent had the
lowest open porosity followed by the mortar with plasticizer; the mortar with hydraulic lime
presented the highest value. The highest values of adherence were obtained by the mortar with
hydraulic lime followed by the mortar with water retainer; the others mortars did not achieved the
limit for external mortar coating. This study concluded that before analyzing the properties, it is
important to establish the acceptable projects limits for the mortar characteristics and it was
possible to observe that when the additive was used individually in the mortar, the mortar with
additive did not have similar properties with the mortar with hydraulic lime and the substitution
would not be satisfactory.
Keywords: Mortar with hydraulic lime, mortar with chemical additive, mortar coating.
1. INTRODUÇÃO
A argamassa mista composta por cimento Portland, cal e areia natural é comumente aplicada na
construção civil, por apresentar propriedades plastificantes, resistência à penetração de água,
flexibilidade para absorver pequenos deslocamentos, propriedades retentoras de água, melhora de
adesão dos elementos e reconstrução autógena de fissuras [1] e [2], que asseguram particularidades
mais satisfatórias ao revestimento argamassado. Entretanto, o desempenho dessa está relacionado a
diversos fatores como a natureza mineralógica e granulométrica do agregado [3], estrutura porosa
da argamassa [4], resistência mecânica originária dos agregados utilizados [5], quantidade de água
na mistura [6] e acabamento final [7]. Além de que ao se utilizar a cal, o trabalho deve ser
minucioso, pois quando a cal não é de boa qualidade ou o tempo de carbonatação para a finalização
não é respeitado, a eficiência do revestimento é prejudicada.
Atualmente, estudos sobre a durabilidade e a vida útil de edifícios têm sido recorrentes, devido ao
crescimento de problemas na construção civil com o aparecimento de diversas patologias [8]. Neste
contexto, o revestimento argamassado deve ser levado em consideração, já que é uma etapa de
elevado custo e responsável pela performance das fachadas. O principal fator de degradação de
revestimentos argamassados, contendo cal, é a sua elevada capacidade de absorção, facilitando a
entrada de agentes agressores como a água, sais e sulfatos. Assim, busca-se substituir a cal por
aditivos disponíveis no mercado que possuem características semelhantes à ela, como a aderência e
a trabalhabilidade, de forma a evitar possíveis problemas com o uso da cal e facilitar o controle das
propriedades.
Para a substituição dessa, indústrias de argamassas pré-fabricadas têm utilizado aditivos retentores
de água, plastificantes e incorporadores de ar nas argamassas, de forma a melhorar suas
características mecânicas e de durabilidade, no estado fresco e endurecido. O uso dos aditivos
retentores de água busca melhorar a capacidade de retenção de água das argamassas de
revestimento e assentamento, aumentar a coesão e a aderência, além de melhorar a trabalhabilidade
e o processo de hidratação do cimento [9], [10], [11], [12] e [13]. Aditivos plastificantes aprimoram
as propriedades mecânicas e de impermeabilização do revestimento, diminuem a porosidade e
reduzem a absorção por capilaridade e por imersão [14], [15] e [16]. Aditivos incorporadores de ar,
por sua vez, reduzem a relação água/cimento da argamassa e melhoram a consistência e a coesão da
mistura [17] e [18].
A incorporação dos aditivos na argamassa, visando a substituição de cal, ainda não é comum na
construção civil, sendo necessário estudar as propriedades mecânicas e de durabilidade dos
revestimentos argamassados com aditivos. Assim, buscou-se estudar individualmente os efeitos de
três aditivos, a saber: retentor de água, incorporador de ar e plastificante, comumente utilizados em
argamassas.
2. OBJETIVOS
O objetivo geral do presente estudo é estabelecer a viabilidade da substituição da cal por
determinado aditivo: retentor de água, incorporador de ar ou plastificante. Sendo que para atingir
este objetivo serão analisadas propriedades no estado fresco: densidade e retenção de água e no
estado endurecido: porosidade aberta e resistência de aderência à tração.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1. Materiais
Neste estudo, utilizou-se cal aditivada CHI, Cimento Portland CPII-F 32, areia natural lavada fina,
aditivo incorporador de ar à base de resinas naturais, plastificante à base de lignosulfonato e retentor
de água à base de polímero acrílico. A água utilizada na mistura foi proveniente do abastecimento
público, conforme aprovação no estabelecido pela NBR 15900-1 [19].
3.3. Metodologia
O traço da argamassa aditivada foi estabelecido conforme metodologia de [20], levando em
consideração a massa unitária do agregado. Sendo, 1:1:4,5 em volume ou 1:0,5:3,3 em massa.
Visando comparar uma mesma argamassa com cal e uma argamassa sem cal, mas com aditivo
tentou-se manter uma mesma proporção dos materiais, porém, eliminando a cal. Assim, o traço das
argamassas aditivadas estabelecido foi 1:5 em volume ou 1:3,8 em massa, sendo que foram dosados
três traços aditivados e cada um apresentou concentração máxima estabelecida pelo fabricante em
relação a massa de cimento.
O ensaio de Flow Table foi realizado conforme a NBR 13276 [21] e foi utilizado para dosar a
quantidade de água para manter uma consistência pré-determinada de 260 ± 15mm na etapa de
ajuste. Após o ajuste, os corpos de prova dos ensaios foram todos moldados com a quantidade de
água pré-determinada, verificando novamente a consistência. O ensaio de densidade no estado
fresco foi realizado conforme a NBR 13278 [22] e o ensaio de retenção de água foi estabelecido
conforme a norma brasileira NBR 13277 [23]. Os corpos de prova foram curados em condição de
laboratório por 28 dias e foram realizados: o ensaio de porosidade aberta conforme NBR 9778 [24]
e o ensaio de resistência de aderência à tração conforme a NBR 13528 [25].
4. RESULTADOS
4.1. Flow Table
Depois de realizado os ajustes através do flow table, sendo que nesta fase as argamassas foram
misturas em um argamassadeira de eixo vertical, realizou-se a dosagem mistura para execução dos
ensaios, sendo realizado novamente o flow table para verificar a consistência dos compostos. A
Figura 2 apresenta os resultados obtidos de flow table para as argamassas com Cal (Cal), aditivo
Plastificante (P), aditivo retentor de água (R) e aditivo Incorporador de ar (I) e as respectivas
proporções de água/cimento adotadas no ajuste. É possível observar que os resultados aumentaram
a sua variabilidade em relação a condição inicial, saindo do limite pré-estabelecido de 260 ± 15 mm
do ajuste dos traços. Observou-se que a argamassa com retentor de água apresentou o maior
espalhamento, cerca de 34% maior que a argamassa mista, e a argamassa mista apresentou o menor
espalhamento. De acordo com a demanda de água para dosar cada traço, observou-se que os traços
com cal e com retentor de água demandaram mais água, 1,07 e 1,08 a/c respectivamente, devido a
suas características, sendo a cal o elevado teor de finos e o retentor o aprisionamento de parte de
água de amassamento para posterior liberação. Sendo assim, viu-se que a maior demanda de água
do retentor favoreceu um maior espalhamento e o elevado teor de finos da cal, apesar da elevada
demanda de água, contribuiu para um aumento da viscosidade da mistura. Contudo, visualmente, no
momento de aplicação das argamassas o pedreiro considerou todas adequadas para aplicação, logo
com trabalhabilidade (consistência + coesão) adequada. Ainda, é possível observar através do maior
espalhamento obtido (228 mm) e da menor demanda de água (a/c = 0,97) necessária em
comparação com o plastificante, que o incorporador de ar plastificou mais a mistura do que o
aditivo plastificante utilizado, cerca de 7% a mais com 1% a menos de água.
Figura 2 - Resultados de consistência pelo método Flow Table.
A argamassa com somente plastificante também não obteve aderência satisfatória, apesar de
apresentar um resultado cerca de 50% mais elevado quando comparado com a argamassa I. Pois,
conforme apresentado no estudo de SOUZA, RICCIO, et al. [37], os revestimentos que continham
somente plastificante reduzem a quantidade de água do constituinte, e com a perda de água por
evaporação para o meio ambiente ou sucção pelo substrato, tornam-se deficitárias da água de
hidratação, necessária para a reação dos compostos responsáveis pela ancoragem mecânica. Sendo
assim, a argamassa com plastificante apresentada neste estudo seria adequada somente para
aplicação em ambientes internos, que são menos solicitados.
A argamassa com retentor de água conseguiu resultados superiores a 0,3 MPa, sendo cerca de 110%
mais elevada que a argamassa I, podendo ser utilizada tanto em revestimento interno quanto externo
[36]. Entre os três aditivos, o retentor de água foi o que conseguiu manter a água necessária para as
reações que favorecem a aderência, apesar do resultado baixo apresentado ne retenção no estado
fresco (Figura 4). Contudo, observou-se que a substituição da cal por qualquer um dos três aditivos
estudados, quando utilizados individualmente, não é favorável para a aderência, e a queda de
resultado é expressiva, principalmente para os casos do incorporador de ar e do plastificante,
comumente utilizados no comercio nacional. Uma possível substituição poderia ser feita da cal pelo
retentor de água, contudo os resultados foram muito próximos do limite inferior de norma, o que
não seria recomendado.
5. CONCLUSÃO
De acordo com os resultados, foi possível observar que: a argamassa com cal possui a maior
densidade no estado fresco, a maior retenção de água, a maior porosidade aberta e a maior
resistência de aderência à tração. Sendo que para sua utilização, a maior densidade e a maior
porosidade aberta são desfavoráveis. Quando se compara a argamassa mista com as argamassas
aditivadas, o uso dos aditivos, de forma isolada, acarretou na redução de todas as propriedades
estudadas. Apesar da argamassa dosada com retentor apresentar indício de melhor durabilidade,
menor porosidade aberta, que a argamassa mista, seu resultado de aderência ficou muito próximo do
limite inferior estabelecido para revestimentos externos.
De forma geral, este estudo conclui que a substituição da cal pela argamassa com incorporador de
ar, ou com aditivo plastificante, ou com retentor de água não é satisfatória. Como a propriedade de
resistência de aderência à tração é extremamente importante para revestimentos argamassados,
deve-se buscar dosagens em que os resultados atendam os limites de norma.
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ISSN 2251-8843.
REPAROS E REFORÇO DAS COLUNAS DO PALACETE BABILÔNIA NO COLÉGIO
MILITAR DO RIO DE JANEIRO
Repair and reinforcement of the columns from Palacete Babilônia at Colégio Militar do Rio
de Janeiro
Emil de Souza SÁNCHEZ Filho, D. Sc.1, Amaro Francisco Codá dos SANTOS, D. Sc.*2,
Júlio Jerônimo HOLTZ Silva Filho, D. Sc.3, Noêmia Lúcia BARRADAS Fernandes, M. Sc.4
RESUMO
Este trabalho apresenta as diversas etapas de avalição, reparo e reforço das colunas de
alvenaria em tijolos maciços do Palácio Babilônia. São descritas e ilustradas as patologias
que ocorreram nesses elementos estruturais, cujas configurações possibilitaram o
diagnóstico de suas origens. Explica também as fases pré-intervenção com a execução
de escoramento metálico e moldagem dos capitéis das colunas. Descreve as diversas
fases de reparo e reforço estrutural: preparo das superfícies, injeção de resina epóxi,
colocação de armadura adicional, execução de proteção catódica e revestimento em grout
tixotrópico, e colocação de novos capitéis. As intervenções não alteram a arquitetura do
Palacete Babilônia.
Abstract: this paper presents the different steps necessary for the repair of the Palacete
Babilônia, such as evaluation, repair and reinforcement of it masonry columns. The
pathologies encountered on those columns are described and illustrated and, through its
correct analyses, allowed the correct diagnosis and treatment. It presents the phases
before intervention such as shoring and modeling the columns capitals. The diferents
phases of repair and reinforcement are also described: surface preparation, epoxydic resin
injection, steel rebar reinforcement, cathodic protection, thixotropic grout protection layer
and new capitals addition. The cited interventions didn’t alter the original architecture.
Este artigo visa apresentar as patologias encontradas nas colunas do Palacete Babilônia
situado no Colégio Militar do Rio de Janeiro, abrangendo o diagnóstico e as terapias
adotadas para a sua recuperação e reforço estrutural, pois o imóvel estava em péssimo
estado de conservação.
O nome do palacete é devido à sua situação geográfica, pois situa-se próximo à pedra da
Babilônia. Construído entre os anos de 1837 e 1838 por Antônio Alves da Silva Pinto, foi
propriedade de Jerônimo José de Mesquita, o Barão de Mesquita, filho do Conde de
Bomfim. Também pertenceu à Baronesa de Itacurussá, Dona Jerônima Mesquita, filha do
mencionado Barão. O estilo das fachadas do Palacete Babilônia é neoclássico, com um
pórtico na entrada juntamente com escadaria, e tem cúpula adornada com relógio circular.
Internamente sua decoração é exuberante, típica das construções similares edificadas à
época do Império (Figura 1).
Este artigo descreve os diversos serviços executados para a recuperação e reforço
estrutural das colunas externas do Palacete Babilônia, situado no Colégio Militar do Rio
de Janeiro. O ambiente agressivo, nível IV da NBR 6118:2014, deteriorou as armaduras
longitudinais e transversais das colunas dessa edificação, a qual não teve qualquer tipo
de manutenção durante a sua existência. Quando esses elementos estruturais foram
escarificados constatou-se que as colunas eram apenas aparentes, pois os núcleos eram
formados por alvenaria de tijolos cerâmicos maciços envolvidos por um anel de concreto
armado, cujas armaduras eram mínimas e estavam corroídas. Foram providenciados
escoramentos para resistir aos carregamentos do telhado e aliviar as forças atuantes nas
colunas, e assim possibilitar a execução das diversas intervenções: reparos, injeções e
reforço das armaduras. Os diversos trabalhos executados não modificaram a arquitetura
do imóvel que é tombado pelo IPHAN.
Figura 1 – Fachada principal do Palacete Babilônia.
Toda a estrutura inspecionada foi inicialmente escorada porque não havia nenhum projeto
estrutural que pudesse fornecer informações que possibilitassem avaliar a sua resistência.
A Figura 2 mostra as localizações das colunas constantes das plantas elaboradas pela
empresa Souza Dutra Engenharia Ltda.
A Figura 3 mostra o escoramento metálico executado com escoras tubulares verticais
ajustáveis, emendadas por luvas (pé-direito alto) e contraventadas por tubos horizontais
em duas direções ortogonais. No topo foram postos forcados para os devidos ajustes nas
alturas dos escoramentos, e nas bases das escoras foram colocados plásticos bolha e
folhas de compensado. Nas interfaces das escoras com as lajes utilizou-se espuma de
média densidade para proteção dos elementos do teto.
Figura 2 – Plantas com as locações das colunas da fachada principal e da fachada
lateral.
Os procedimentos de reparo das vigas foi o mesmo adotado para as colunas (escovar,
escarear, aplicar pintura a base de zinco), mas a função do grout tixotrópico aumentar a
seção transversal e garantir o cobrimento das armaduras. Um novo capitel foi executado e
implantado após a viga ser reparada.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os demais serviços executados no Palacete Babilônia não são relatados neste texto, e
foram executados em diversas outras etapas da obra.
Os prazos das diversas etapas foram cumpridos e a obra foi executada sem adulterar a
arquitetura original, em total concordância com as exigências do IPHAN.
Os reforços das colunas aumentaram a sua capacidade resistente, e foram executados de
conformidade com as prescrições da NBR 6118:2014.
Referências
Resumo: A Indústria da Construção Civil hoje é um dos mais importantes setores de desenvolvimento
econômico e social do país, sendo responsável por 13,5% de todo o PIB brasileiro. Mas ao mesmo
tempo atua como uma grande geradora de subprodutos e consumidora de recursos naturais. Nos
últimos anos, com o alto crescimento da urbanização, o setor da Construção Civil passou a gerar cada
vez mais resíduos de construção e demolição (RCD), atingindo níveis preocupantes. Portanto, torna-
se relevante a reutilização desses no contexto brasileiro, especialmente em grandes centros urbanos.
Faz-se necessário então estudos em relação aos agregados de RCD, para utilização em serviços de
pavimentação, em especial na confecção de misturas asfálticas. O uso desses agregados em
revestimentos asfálticos por mistura, pode ser a quente (CBUQ) ou a frio (PMF). Neste trabalho foi
estudado o uso em mistura asfáltica do tipo Pré-Misturado a Frio, que consiste de mistura de agregado
mineral, material de enchimento (Filler) e emulsão asfáltica, espalhada e comprimida a frio (DNER,
1997). Assim, esse trabalho consiste em analisar a aplicabilidade dos resíduos de construção e
demolição (RCD) provindos de obras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), como
agregados alternativos em misturas PMF com emulsão catiônica convencional em substituição parcial
ou total aos agregados convencionais utilizados nestas misturas (britas e areias), de acordo com os
padrões das normas brasileiras, especialmente aqueles ditados pelo DNIT.
Abstract: The Construction Industry today is one of the most important sectors of economic and
social development in the country, accounting for 13.5% of all Brazilian GDP. But at the same time
it acts as a great generator of by-products and consumer of natural resources. In recent years, with the
high growth of urbanization, the Construction sector has been generating more and more construction
and demolition waste (CDW), reaching levels of concern. Therefore, it is relevant to reuse these in
the Brazilian context, especially in large urban centers. Studies are therefore required in relation to
RCD aggregates for use in paving services, especially in the manufacture of asphalt mixtures. The
use of these aggregates in asphalt coatings by mixing may be hot (MAH) or cold (MIC). In this work
the use of asphalt mixtures of the Pre-Mixed to Cold type, which consists of mixing of mineral ag-
gregate, filler and asphalt emulsion, spread and cold compressed (DNER, 1997) was studied. Thus,
this work consists of analyzing the applicability of construction and demolition residues (CDW) from
works of the Federal University of Juiz de Fora (UFJF), as alternative aggregates in PMF blends with
conventional cationic emulsion in partial or total replacement to conventional aggregates used in these
mixtures (brittle and sand), according to the Brazilian standards, especially those dictated by DNIT.
Devido à escassez dos recursos naturais, às rigorosas legislações ambientais e os altos cultos
econômicos e sociais causados pelos desperdícios de materiais, faz-se necessário no atual contexto,
a procura de novos materiais para uso de construção de pavimentos [9].
Segundo [10], todas as estruturas que compõe um pavimento rodoviário podem ser constituídas com
materiais reutilizados ou reciclados. Entre essas camadas, destacam-se o revestimento, a base e sub-
base.
3. PRÉ-MISTURADO À FRIO
O [11] define PMF como sendo uma mistura executada à temperatura ambiente, em usina apropriada,
composta de agregado mineral graduado, material de enchimento (filler) e emulsão asfáltica, para
espalhamento e compressão a frio. Podendo ser usado como revestimentos de ruas e estradas de baixo
volume de tráfego, ou ainda como camada intermediária e em operações de manutenção e
conservação. No Brasil é maior empregada em serviços rotineiros, como “tapa-burcacos”.
Dentre as misturas a frio do tipo PMF, essas variam com relação a distribuição granulométrica de
seus agregados, resultando em: misturais mais abertas, com elevado volume de vazio e resultando em
um material bastante drenante; e densos, com graduação contínua e com baixo índice de vazios [12].
Segundo [13], as principais vantagens da utilização do PMF quando comprados com as misturas a
quente estão ligadas a utilização de equipamento simples, alta produtividade, menor custo,
trabalhabilidade à temperatura ambiente e elevada capacidade de suportar às grandes deflexões das
camadas subjacentes. Como desvantagem, há maior desgaste ao uso e envelhecimento acelerado,
apresenta valores inferiores de resistência e limitações para aplicações em rodovias de alto tráfego.
Segundo Roso (2007, apud [14]), os reparos superficiais de pavimentos podem ser executados com
misturas usinados à frio, pois os resultados de trincamento por fadiga apresentam melhor desempenho
paras as misturas à frio do que à quente com alto volume de vazios.
A norma [11] contém os procedimentos para fabricação e aplicação de PMF, com emulsão asfáltica
catiônica convencional, para construção de camadas de pavimentos flexíveis. Além dos requisitos
necessários aos materiais e ensaios dos serviços.
4. MATERIAIS E MÉTODOS
O desenvolvimento da pesquisa seguiu o procedimento envolvendo as seguintes etapas:
a) Caracterização dos materiais: nessa etapa, fez-se a caracterização dos RCDs através dos en-
saios de granulometria, massa específica, absorção, abrasão “Los angeles”, índice de forma,
durabilidade e adesividade. A emulsão asfáltica já veio com caracterização do fornecedor.
b) Montagem das misturas de agregados: para o estudo, escolheu-se duas faixas para serem tra-
balhadas: a faixa C da especificação de serviço [11] e faixa XII de [15]. A partir dessas, variou-
se a porcentagem de agregados e montou-se corpos-de-prova formados apenas com esses (es-
queletos minerais), afim de se enquadrarem nas faixas.
c) Dosagem das misturas asfálticas: para a definição do teor de projeto de ligante, aplicou-se o
método Marshall, e com os resultados, obteve-se um teor para cada faixa. Resolveu-se fazer
duas dosagens, pelo fato da primeira ter apresentado dificuldade de mistura.
d) Propriedades mecânicas das misturas asfálticas: Com o teor de projeto já definido, montou-se
corpos de prova e avaliou-se algumas propriedades mecânicas, através de ensaios como resis-
tência à tração por compressão diametral, módulo de resiliência e fadiga.
4.1. Caracterização dos Materiais
O trabalho referente faz um estudo com relação a aplicabilidade de RCD em misturas asfálticas para
uso em revestimento. Para se obter um pavimento bem projetado, é necessário que esse proporcione
ao usuário conforto e segurança, além de garantir uma boa vida útil.
Para que se cumpra esse objetivo, é de suma importância fazer um estudo e análise dos materiais
empregados nos revestimentos asfálticos, assim como suas características mecânicas. Feito isso, fica
mais fácil e preciso o dimensionamento posterior do revestimento e pavimento.
O RCD utilizado na pesquisa e na qual foi feita sua aplicabilidade em misturas asfálticas, foi fornecido
pela Pró-Reitoria de Infraestrutura (PROINFA) da Universidade Federal de Juiz de Fora, advindo de
obras de demolição do próprio Campus. Os resíduos foram levados para o pátio da PROINFA, com
o objetivo de se realizar a triagem. O entulho coletado era composto por diversos materiais, como
argamassa, concreto, tijolos, cerâmica, vidro, plástico, etc.
Com os entulhos já separados, deu-se início ao processo de britagem do mesmo, em um triturador de
mandíbula, afim de obterem frações menores daquelas já obtidas e para a retirada do aço junto ao
concreto. Após isso, utilizou-se de 3 frações diferentes: uma acima de 3/8'” (9,5mm), uma entre a
peneira de 3/8” e a Nº 10 (2mm) e outra passante na peneira nº 10, com o objetivo de separar em
parcelas menores os materiais e facilitar os ensaios. Desse processo resultou-se em três tipos de
materiais, denominados neste trabalho de:
a) Brita 1
b) Brita Ø
c) Pó de Pedra
A figura 1, abaixo, ilustra os passos do entulho no local da demolição até a chegada ao Laboratório:
Figura 1 - Etapas do processo de produção do RCD.
Para o uso dos agregados e do ligante asfáltico em misturas asfálticas faz-se necessário conhecer suas
propriedades tecnológicas e de caracterização, então realizou-se os seguintes ensaios e procedimentos
representados na tabela 3 a seguir:
Tabela 3 - Ensaios de Caracterização dos materiais
Material
Agregado graúdo Agregado miúdo Ligante Asfáltico
Análise Granulométrica [16] Análise Granulométrica [16] Viscosidade Saybolt (NBR 14491)
Massa Específica Real e Aparente Massa Específica Real e Aparente Peneiração (NBR 143939)
[17] [17]
Absorção [18] Absorção [18] Sedimentação (NBR 6570)
Abrasão ‘Los Angeles’ [19] Carga da Partícula (NBR 6567)
Índice de Forma [20] Resíduo Seco (NBR 14367)
Durabilidade [21] pH (NBR 6229)
Adesividade a ligante betuminoso
[22]
Para facilitar o enquadramento do RCD nas faixas solicitadas, utilizou-se do recurso da ferramenta
computacional Microsoft Excel. Nela, colocou-se a distribuição granulométrica de cada material
(Brita 1, Brita 0 e Pó de Pedra) e variou-se a porcentagem de cada um desses na mistura para que se
enquadrassem nos limites das faixas (Método das Tentativas).
Após ter a porcentagem de cada um dos agregados, separam-se quantidades suficientes de materiais
de acordo com as peneiras especificadas. Depois de cada material separado em cada peneira,
montaram-se 24 esqueletos minerais com aproximadamente 1,1Kg cada, formados pelas
granulometrias especificadas. Resolveu-se por chamar a faixa C do [11] de Primeira Mistura, e a
Faixa XII do livro [15] de Segunda Mistura.
4.3. Dosagem das Misturas Asfálticas
A dosagem de uma mistura asfáltica consiste na metodologia da escolha de um teor de projeto de
ligante, a partir de uma curva granulométrica predefinida. Esse teor de projeto de ligante asfáltico
varia de acordo com o método de dosagem, e sendo função de parâmetros como energia de
compactação, tipo de mistura, temperatura, etc [23].
Para o trabalho proposto, fez-se uso da Norma [24], Mistura a frio – Ensaio Marshall. Primeiramente,
adotou-se 5 teores de asfalto, variando em 1% na primeira mistura, e para uma segunda mistura
adotou-se 3 teores de emulsão, variando em 2%.
Para cada CP, mediu-se: altura, diâmetro, massa seca, massa úmida e massa imersa. Com os valores
obteve-se a massa específica aparente compactada (Gmb) e massa específica máxima teórica (DMT).
Por seguinte, calculou-se o volume de vazios (Vv), vazios dos agregados minerais (VAM) e relação
betume/vazio (RBV).
Com os valores da porcentagem de vazios, estabilidade e fluência de cada CP, traçou-se curvas e
comparou-se com os limites estabelecidos pela [11], optando-se por um teor de projeto para cada
mistura.
4.4. Propriedades Mecânicas
Para as misturas asfálticas, foram determinadas as propriedades mecânicas das mesmas para analisar
se seus resultados atendem as especificações. Para isso, foram realizados os ensaios de resistência à
tração por compressão diametral, ensaio de fadiga e módulo de resiliência, com 3 corpos-de-prova
para cada ensaio e o resultado final foi a média desses. Os ensaios realizados e suas respectivas
normas são representados na tabela 4, a seguir:
Tabela 4 - Ensaios mecânicos para as misturas asfálticas
Ensaio Norma
Resistência a Tração por Compressão Diametral [25]
Ensaio de Fadiga -
Módulo de Resiliência [26]
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. Caracterização dos Agregados
As respectivas granulometrias dos agregados empregados na composição das misturas asfálticas
consideradas na dosagem Marhsall estão apresentadas na Figura 3, e a Tabela 5 reúne os demais
índices físicos característicos desses materiais.
A Norma [11] especifica apenas três quesitos: a porcentagem de vazios, a estabilidade mínima e a
fluência, com os respectivos valores mínimos descritos na tabela 3. Analisando-se essas
especificações e os gráficos em função do teor de emulsão, obteve-se os seguintes teores de ligante
asfáltico para as misturas, descritos na tabela 10.
Os valores obtidos de RT no trabalho são menores a outros valores encontrados na literatura. [28], [9]
e [29] obtiveram, respectivamente 0,63 MPa, 0,86 Mpa e 0,44 MPa. Os valores inferiores, podem ser
justificados pelo tipo de mistura, a frio com a quente, quando comparado com os dois primeiros
trabalhos, que também usaram RCD, e com o último trabalho, em que se usou o PMF, mas com
agregados convencionais.
No Brasil, atualmente não existe padronização nas normas brasileiras quanto aos limites dos valores
de módulo de resiliência em misturas asfálticas. Comparando os valores obtidos com o de outras
pesquisas, os resultados se mostraram inferiores a demais literaturas. [9] e [28] que usaram misturas
com RCD a quente, acharam valores de 2858 MPa e 6000 MPa, respectivamente, e [29], com misturas
a frio com agregados convencionais com valor de 1616 MPa para o módulo, e como no caso do ensaio
de resistência à tração, se justificando ao fato de se tratar de misturas a frio e com o uso de RCD.
4.5.2. Ensaio de Fadiga
A expressão da vida de fadiga para as misturas é do tipo N = k1 x ∆𝜎 −𝑛1 e estão representadas na
Figura 4, em um gráfico log-log. Nas abscissas estão representadas as diferenças de tensões (Δσ), e
nas ordenadas, o número de solicitações até a ruptura (N).
A partir da regressão dos dados de ensaio que compõem a curva de fadiga para cada mistura, obteve-
se os parâmetros (constantes) de fadiga, k1 e n1. Os resultados desses valores dos ensaios estão
descritos na tabela 12.
Tabela 12 - Constantes experimentais das curvas de fadiga das misturas
Mistura Faixa Teor de Ligante k1 n1
Primeira C [11] 9% 80,701 -1,906
Segunda Tab. XII [15] 10% 318,79 -0,461
Primeira C [11] 11% 466,37 -1,038
Segunda Tab. XII [15] 11% 98,158 -1,732
Com os resultados, pode-se observar que a primeira mistura apresentou uma resistência ao
trincamento por fadiga superior ao da segunda mistura. Isto pode ser justificado pela granulometria,
observando que uma mistura mais densa apresenta valores superiores de vida de fadiga comparadas
a misturas abertas.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A caracterização do agregado de RCD possibilitou analisar que o material reciclado apresenta valores
um pouco inferiores de massa específica do que agregados naturais. Além disso, observaram-se
valores elevados de absorção do material reciclado, quando comparados com os convencionais,
devendo-se ao fato de apresentar materiais em sua constituição (tijolos e concreto) que conduzem a
maior absorção.
No que se refere aos ensaios de Abrasão “Los Angeles” e Índice de Forma, os agregados de RCD
apresentaram resultados satisfatórios com as exigências da norma com relação aos agregados, e
resultados próximos a de outras pesquisas e literaturas. A adesividade apresentou valores diferentes,
quando comparados com outros trabalhos, por se tratar de um material altamente absorsivo.
A primeira dosagem do RCD apresentou teores de projeto de 9% e 10%, valores superiores aos teores
usados em misturas com agregados convencionais. As porcentagens inferiores usadas nas primeiras
dosagens apresentarem dificuldades na hora de misturar, pelo alto teor absorvido dos RCDs. Então
ao aumentar os teores de ligante no ensaio Marshall, a segunda dosagem resultou em valores de 11%
para as duas misturas no teor de projeto.
As misturas produzidas com RCD na pesquisa apresentaram valores inferiores de resistência à tração
por compressão diametral e módulo de resiliência, quando comparados a outros trabalhos, que se
utilizaram de outros agregados e misturas. O resultado inferior é justificado pelo fato da pesquisa
utilizar de misturas a frio e agregados de resíduos, apresentando resultados inferiores ao valor mínimo
indicado para misturas a quente do tipo concreto asfáltico.
Os ensaios de vida de fadiga dos agregados reciclados apresentaram-se satisfatórios, devendo-se ao
fato do melhor entrosamento entre as partículas de maior cubicidade, do maior teor de ligante usado
(comparado com misturas convencionais) e ao alto teor absorsivo do resíduo reciclado. Embora
apresente valores inferiores de resistência a fadiga do que em outras pesquisas, os resultados
apresentaram-se adequados para o fim que a mistura teria.
Em suma, com os resultados obtidos pelos ensaios, pode-se concluir que os resíduos da construção e
demolição utilizados nessa pesquisa podem ser aplicados em misturas asfálticas do tipo PMF a fim
de serem alternativas em revestimentos de pavimento. Esse bom desempenho das misturas com RCD
está ligado diretamente à origem do resíduo utilizado, que possuía boa quantidade de concreto de
cimento Portland e argamassa.
REFERÊNCIAS
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Horizonte, 2008.
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de resíduos de construção e demolição. 18 ENACOR, Foz do Iguaçu, Rio de Janeiro, 2015.
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base e sub-base de pavimentos. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, 2007.
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Doutorado. Universidade de São Paulo, 2001.
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Cidades, Secretaria Nacional de Habitação. Publicada no Diário Oficial da União em 17/07/2002.
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para utilização em concreto, 2007.
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asfálticas. Universidade do Brasília, 2014.
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recycled materials in road construction: method for decision-making in Norway. Resources. Conversation and
Recycling, 42: p 249-264, 2004.
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Soluções para pavimentar sua cidade. 1. Ed. Rio de Janeiro: ABEDA, 2001.
[14] GUIMARÃES, A. C. R.; LOURES, R. C. B. A.; Utilização de misturas asfálticas usinadas à frio como alternativa
técnica, econômica e ambiental às misturas usinadas a quente. XXIX Anpet, Ouro Preto, 2015.
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[22] DNER. Agregado graúdo – adesividade a ligante betuminoso, 078/94. Rio de Janeiro, RJ.
[23] BERNUCCI, L. B. et al.; Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros. Rio de Janeiro: Petrobrás:
ABEDA, v. 504, 2006.
[24] DNER. Mistura betuminosa a frio, com emulsão asfáltica – ensaio Marshall. Método de Ensaio, 107/94. Rio de
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diametral – ME, 138/94 Rio de Janeiro, RJ.
[26] DNIT. Pavimentação - Solos - Determinação do módulo de resiliência – Método de ensaio, 134/2010. Rio de Janeiro,
2010.
[27] DNER - Emulsões asfálticas catiônicas, 369/97. Rio de Janeiro, 1997.
[28] SILVA, C. A. R.; Estudo do agregado reciclado de construção civil em misturas betuminosas para vias urbanas, 2009.
[29] SILVA, T. K. et al.; Dosagem de Misturas Betuminosas a frio e seu estudo sob efeitos de cargas estáticas e repetidas,
2015.
.
ANÁLISE COMPARATIVA DA SUSTENTABILIDADE DOS SISTEMAS
ESTRUTURAIS EMPREGADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, talita.nogueira@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br
Resumo: O ramo da construção civil gera impactos significativos ao meio ambiente, seja pela
demanda excessiva de matéria prima e energia, seja devido ao grande volume de resíduos sólidos
descartados. Tendo em vista essa problemática, o conceito de construção sustentável foi
estabelecido e cresce significativamente ao decorrer do tempo, impactando não só a vida dos
engenheiros, mas também dos empresários e das grandes construtoras. Essa concepção, por sua vez,
incorpora, além dos aspectos ambientais (o emprego de materiais sustentáveis, o uso de energia
limpa na construção, dentre outros), os sociais e econômicos, a fim de promover melhor qualidade
de vida aos indivíduos e à sociedade. Assim sendo, o presente trabalho busca promover um estudo
comparativo da sustentabilidade dos sistemas estruturais empregados na construção civil, levando
em conta a análise do ciclo de vida. A fim de que a pesquisa seja realizada de forma eficaz e
forneça bons resultados, será realizada uma revisão bibliográfica com o intuito de propiciar maior
conhecimento dos diversos sistemas estruturais que podem ser empregados em um projeto, além de
esclarecer o conceito de sustentabilidade e sua aplicação na área. Ademais, um levantamento dos
principais indicadores do desenvolvimento sustentável aplicáveis à análise da sustentabilidade dos
sistemas estruturais também se faz necessário e, portanto, imprescindível para realização desta
pesquisa. Espera-se que este trabalho possa auxiliar a elaboração de projetos estruturais que visem
maior desempenho e menor impacto à sociedade e ao meio ambiente, o que será alcançado a partir
de um estudo dos diversos métodos construtivos e aplicabilidade em cada caso específico.
Abstract: The area of civil construction generates significant impacts on the environment, either by
the excessive demand of raw materials and energy or by the large volume of solid residues
discarded. In attention to this problematic, the concept of sustainable construction was established
and grows significantly with time, impacting as much the engineers and entrepreneurs’ life as the
large builders’. This concept, in itself, incorporates, besides the environmental aspects (the use of
sustainable materials and clean energy, for example), the social and economic ones, with the finality
of promoting a better quality of life to the individuals and to society. Thereby, the present article
craves to promote a comparative study of the sustainability of the structural systems employed at
civil construction, utilizing the life cycle assessment. Aiming to accomplish research of an effective
way and to give good results, it will promote a bibliographic revision to propitiate the biggest
knowledge of the several structural systems that can be used in design, besides clarify the concept
of sustainability and its application on the area. Moreover, it is necessary and indispensable to this
article to make a survey about the mainly indicators of sustainable development applicable to the
analysis of the sustainability of the structural systems and, because of this, it will also be made here.
It is hoped that this research can help with the elaboration of structural projects that aim at a better
performance and the smallest impact to the society and to the environment, what will be reached
starting by a study of the several constructive methods and their applicability to each specific case.
1. INTRODUÇÃO
Com o passar dos anos, a preocupação pelo meio ambiente e pelo impacto que a sociedade
gera sobre ele cresceu substancialmente. Com isso, o ramo da engenharia civil também foi afetado,
uma vez que, segundo (MONICH, 2010), a construção civil é responsável pela maior parte do
consumo de energia e das emissões atmosféricas no mundo, sendo a fabricação dos materiais de
construção uma das principais fontes de gases poluentes neste setor. Sendo assim, em vista de
solucionar este problema, surgiu o conceito de construção sustentável e formas de aplicá-lo à área.
Embora seja empregado desde o início da década de 1970, é amplamente reconhecido na área
da Avaliação da Sustentabilidade da Construção que o ACV (análise do ciclo de vida) é um método
preferencial na avaliação da pressão ambiental causada pelos materiais, elementos construtivos e
pela totalidade do ciclo de vida de um edifício (BRAGANÇA, 2011). Por esta razão, o presente
estudo foi baseado nesse procedimento, levando em consideração a variante Cradle-to-Gate (“do
berço ao portão”), mais usual entre as pesquisas. Vale ressaltar, ainda, que devido ao alto grau de
complexibilidade em promover um reconhecimento local do impacto ambiental gerado pelos
materiais analisados, os dados foram coletados a partir de uma revisão bibliográfica em livros e
trabalhos já publicados.
Tem-se, portanto, que este artigo visa promover um estudo comparativo da sustentabilidade
dos sistemas estruturais empregados na construção civil, levando em conta a análise do ciclo de
vida (ACV). Dentro desse método, serão avaliados, para cada sistema distinto, os materiais que
mais contribuem para a emissão de CO2 na atmosfera e a quantidade de energia incorporada em
cada um. Ao final, espera-se obter uma relação entre os diversos métodos construtivos, no que tange
à sustentabilidade, a fim de propor melhorias e mudanças que potencializem os aspectos ambientais,
econômicos e sociais da estrutura.
2. MÉTODOS
Para que seja possível contrastar os diversos métodos construtivos, antes se faz necessário
conhecer cada um deles. Dessa forma, será apresentado, a seguir, um panorama geral de cada
sistema, explicitando os materiais utilizados para seu emprego, suas principais características, suas
vantagens e desvantagens e os componentes mais expressivos para análise do ciclo de vida. A partir
dos dados obtidos no último parâmetro listado anteriormente, será feito um levantamento da
quantidade de gás carbono (CO2) emitido à atmosfera e a quantidade de energia incorporada (EI)
necessária para sua utilização de tais materiais. Por fim, após esclarecer o conceito de
sustentabilidade e seu emprego no presente trabalho, todos os sistemas serão classificados, para que
seja possível a comparação.
Adaptabilidade
Flexibilidade
Industrialização
Qualificação da mão de obra
Relevância do tempo de execução
Organização/ limpeza do canteiro
de obras
Relevância na geração de resíduos
Isolamento térmico e acústico
Baixo peso específico
¹Até quatro pavimentos.
Tabela 1 – principais parâmetros dos sistemas construtivos.
Após ter ciência dos métodos construtivos que serão abordados neste artigo, é preciso
esclarecer o conceito de sustentabilidade e entender o que significa a análise do ciclo de vida de
determinado componente, assuntos abordados adiante.
Durante muitos anos, a humanidade extraiu matéria prima do meio ambiente de forma
desordenada e sem grandes preocupações com o impacto que este ato geraria ao futuro. Com o
ramo da construção civil, portanto, não foi diferente. Além disso, deve-se destacar que, atrelada à
extração descontrolada de recursos, está a emissão de gases poluentes à atmosfera e o consumo de
energia para a fabricação dos materiais. Com o passar do tempo, porém, o conjunto desses fatores
despertou nas pessoas a necessidade de tomar providências, a qual contribuiu para a criação e
difusão do conceito de desenvolvimento sustentável, definido pelo relatório Our common future
como sendo aquele que "permite satisfazer as necessidades do presente sem comprometer as
possibilidades das gerações futuras satisfazerem as suas".
Ao abordar a área de construção civil, o desenvolvimento sustentável torna-se ainda mais
específico. Sendo assim, emprega-se um novo conceito: o de construção sustentável. Este, por sua
vez, se compromete com “a criação e manutenção responsáveis de um ambiente construído
saudável, baseado na utilização eficiente de recursos e no projeto baseado em princípios
ecológicos” (Kibert, 2008). Nesse âmbito, uma das formas encontradas para implementar o conceito
foi através da Análise do Ciclo de Vida (AVC) do produto (ou conjunto de produtos) utilizado na
execução da edificação.
Por definição, a ACV “inclui o ciclo de vida completo do produto, processo ou atividade, ou
seja, a extração e o processamento de matérias-primas, a fabricação, o transporte e a distribuição, a
utilização, a manutenção, a reciclagem, a reutilização e a deposição final” (SETAC, 1993). Todavia,
aplicar o método de forma a abranger todas as suas especificações torna-se inviável e impraticável
neste artigo, tanto por demandar uma quantidade de dados elevada quanto por necessitar de um
gasto de tempo significativo para sua elaboração. À vista disso, será feito uma simplificação para
este estudo, recorrente entre demais pesquisas desse mesmo gênero, que se baseia em considerar
apenas dois parâmetros influenciadores na AVC: o volume de gás carbono (CO2) emitido à
atmosfera e o montante de energia incorporada (EI) durante o processo de fabricação do produto a
ser analisado (no caso, os materiais mais expressivos em cada sistema construtivo abordado).
Uma vez entendido os conceitos supracitados, torna-se possível comparar os diferentes
métodos. Porém, antes de qualquer coisa, deve-se salientar que no Brasil não há referências
suficientes para coleta de dados, por isso serão usadas bibliografias de outros países. Ao fazer isso,
as informações passam a não refletir exatamente a nossa realidade, já que os métodos de fabricação
de um material, seu transporte e o impacto ambiental gerado por ele pode variar em diferentes
localidades. Isto, contudo, não impactará de forma significativa na pesquisa, pois os sistemas serão
comparados a partir de uma mesma base de dados e segundo o mesmo critério.
Para uma análise completa do ciclo de vida de um material em relação à energia incorporada e
ao CO2 embutido a ele é preciso levar em consideração uma condição de contorno conhecida como
Cradle-to-Grave, que significa “do berço ao túmulo”. Como o próprio nome já sugere, nela é
contabilizado tanto a energia quanto o CO2 emitido desde a extração da matéria prima necessária
para a fabricação do material – “berço” – (incluindo o combustível utilizado nesta etapa) até o final
da vida útil do produto – “túmulo”. Neste caso, portanto, estaria incluso, além da extração, a
fabricação do item, o transporte, a energia para a fabricação de equipamentos de capital, o
aquecimento e iluminação da fábrica, a manutenção, a eliminação, etc.
Devido ao alto grau de complexibilidade embutido nesse tipo de investigação, frequentemente
é adotado o chamado Cradle-to-Gate, “do berço ao portão”, para contabilizar esses valores a certo
material. Nesse estudo, levam-se em consideração apenas as etapas iniciais citadas no caso anterior,
isto é, desde o início da extração da matéria prima até à porta da fábrica. Por último, tem-se o
Cradle-to-Cradle, o qual é considerado uma variante do primeiro método apresentado aqui, uma
vez que contabiliza todas as etapas desta situação, acrescida do processo de reciclagem – dado
como última fase do ciclo de vida do produto. Um resumo esquemático dessas variantes é
apresentado na figura 1 que se segue.
Figura 1: Representação esquemática das fases do ciclo de vida incluídas em cada variante da ACV.
Fonte: adaptado de BRAGANÇA, 2011.
Para fins práticos, é usual adotar o Cradle-to-Gate como variante da análise do ciclo de vida
de um material, dado que a demanda por informações não é tão extensa e os resultados são
satisfatórios. Por esta razão, o presente artigo utiliza este parâmetro para coleta de dados.
3. RESULTADOS E ANÁLISES
A partir da análise dos dados acima citados (vide Figura 2 e 3 e Tabela 1) verifica-se:
i. Primeiramente, devemos destacar a tecnologia do steel frame e da estrutura metálica, que
apesar de terem sido consideradas como sustentáveis ao longo dos anos, quando analisamos a
energia incorporada para produção de seus componentes e a emissão de CO2 durante o processo,
esta afirmativa deixa de ser totalmente verdade. Sendo assim, ao tomarmos como referência apenas
o primeiro gráfico, percebemos que os maiores consumidores de energia são, justamente, o aço
comum e o aço galvanizado – este, por sua vez, sobressai seu valor em relação ao anterior por sofrer
o processo de galvanização, que requer a manutenção de zinco fundido.
Em contrapartida, tais sistemas permitem o reaproveitamento do aço, o qual, quando
reciclado, consome apenas 24% do total de energia necessária para sua produção primária. Além
disso, sua escória pode ser usada para a produção do cimento, reduzindo a geração de resíduos e,
consequentemente, seu impacto ambiental. Isso justifica, portanto, o porquê do material ser
considerado sustentável.
ii. Ainda se tratando de estruturas metálicas, outro material chama atenção em relação à
emissão de CO2: as placas de gesso acartonado. A princípio, a fabricação dessas placas é
semelhante à do gesso comum: o minério gipsita é moído e o pó é submetido a altas temperaturas,
pelo processo de calcinação, virando gesso comum. A este produto são acrescentados aditivos e
água, a fim de que se obtenha uma pasta, a qual é lançada entre duas folhas de papel cartão especial,
por meio de laminação contínua. Feito isso, promove-se a reação do gesso com a água, responsável
pelo endurecimento da pasta. Após cortado, o material é submetido à secagem e cura, retomando a
sua formação rochosa original. Por ser um procedimento altamente industrializado, há grande
consumo de combustível nas diversas etapas supracitadas, as quais justificam o elevado grau de
emissão de CO2 para fabricação do item.
iii. Partindo agora para análise da madeira, é importante destacar que no Brasil o seu uso para
construção completa de uma edificação ainda não é muito difundido, porém esse material está
presente na maioria – se não em todas – as edificações brasileiras, seja nas portas, nas janelas, no
piso ou mesmo nos móveis. Por ser um material natural e renovável, que tem a capacidade de filtrar
o ar poluído quando ainda não foi cortado, seu uso na construção civil pode ser considerado
sustentável. Entretanto, para que esta condição seja satisfeita, é necessário que a madeira seja
certificada, isto é, que respeite os princípios e critérios do FSC (Forest Stewardship Council – em
português, Conselho de Manejo Florestal), organização não governamental criada com a finalidade
de promover o manejo cuidadoso e não predatório das florestas. Por fim, deve-se salientar que uma
madeira certificada extrapola as condições necessárias para a obtenção de uma madeira legal, uma
vez que no primeiro caso são levados em consideração, além das leis ambientais, aspectos sociais e
econômicos que visem a garantir o bom uso dos recursos naturais, a segurança e o bem-estar das
partes interessadas.
iv. Um fato curioso ocorre quando analisamos os dados referentes ao concreto: apesar do
cimento ser considerado um dos “vilões” da construção civil, o material apresentou bons resultados
na análise. De fato, o cimento causa grande impacto ambiental, pois além do uso de combustíveis
fósseis para geração de energia térmica, durante a produção do clínquer ocorrem emissões
adicionais pela calcinação de calcário. Dessa forma, fazendo um comparativo apenas entre esses
dois produtos – cimento e concreto – chega-se ao resultado mostrado na tabela abaixo:
4. CONCLUSÃO
Após estudo dos resultados percebemos que para realizar a análise do ciclo de vida de dado
objeto, de forma completa, é preciso levantar um número muito grande de dados. Portanto,
usualmente se faz uma análise simplificada, a qual também garante bons resultados. Baseado nisso,
observamos que não há um sistema construtivo ideal a se adotar em um projeto, já que muitas
variáveis estão envolvidas nessa escolha. Apesar disso, alguns oferecem mais vantagens do que
outros, como é o caso do aço, que embora gere considerável impacto quando produzido pela
primeira vez, seu reaproveitamento reduz substancialmente o consumo de energia e emissão de
CO2, garantindo bons resultados. O mesmo acontece quando analisamos o sistema do wood frame:
além de ter um produto natural como base, por ser um processo que não exige tanto refinamento de
materiais, mostra-se como uma boa opção.
Por último, vale ressaltar que embora o concreto armado tenha obtido bons resultados pelos
gráficos analisados, isso não significa que o sistema seja uma escolha sustentável, já que além da
elevada geração de resíduos, não considerada nessa análise, os materiais usados não podem ser
reaproveitados, sendo, portanto, rejeitados após sua vida útil. Além disso, em sua composição
encontra-se o cimento, com grande potencial poluidor, principalmente pela produção do clínquer.
Uma alternativa para esse problema é substituir o cimento convencional pelo cimento LC3, que
consiste basicamente em uma mistura de calcário e argila calcinada para substituição parcial do
clínquer, se apresentando como uma possibilidade bastante viável justificada pelos custos
relacionados, pela disponibilidade de matérias-primas e pelos resultados obtidos em diversos
estudos realizados (LOUZEIRO, 2018).
REFERÊNCIAS
BARBOSA, M. T.. Reconhecimento da sustentabilidade da construção: estudo de caso: Faculdade de Engenharia da
UFJF. In: ELECS: Encontro Latino-Americano e Europeu sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis, 2017,
São Leopoldo – RS.
BRAGANÇA, L.; MATEUS, R.. Avaliação do ciclo de vida dos edifícios: impacte ambiental de soluções
construtivas. 1ª edição. Portugal: Multicomp, setembro de 2011.
BRANCO, A. S. J. et al. Energia e emissões de CO2 de sistema de vedação vertical em drywall. REEC: Revista
Eletrônica de Engenharia Civil, volume 14, nº 2, 18 – 27, julho de 2018 – dezembro 2018.
BRUNTLAND, G. (1987) Our Common Future. Report of the World Commission on Environment and Development,
Oxford University Press, Oxford (1987).
FSC Brasil. PROGRAMA DE MANEJO FLORESTAL: Levando inovação para o Manejo Florestal. Disponível em:
<https://br.fsc.org/pt-br/polticas-e-padres/reas-de-programas/programa-de-manejo-florestal>. Acesso em 30 de outubro
de 2018.
LOUZEIRO, R.M. Gustavo; REGO, H.S. João; LIRA, S. M. M. Júlia. Avaliação do Ciclo de Vida do Cimento: Análise
do Gasto Energético do Cimento LC3 em Comparação ao Cimento Portland CP-I. In: CBC 2018: 60º Congresso
Brasileiro do Concreto, 2018, Foz do Iguaçu – PR.
MONICH, C.R.; TAVARES, S. F.. Energia e CO2 embutidos na fabricação dos materiais de construção: panorama atual
no Brasil e exterior. In: ENTAC: XIII Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, 2010, Canela –
RS.
SETAC (1993) Society of Environmental Toxicology and Chemistry – Guidelines for Life-Cycle Assessment: A code of
Practice, Bruxelas, Bélgica.
TAVARES, S. F.. Metodologia de análise do ciclo de vida energético de edificações residenciais brasileiras. 2006.
Tese. 225. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC, Florianópolis, 2006.
TORGAL, F.P.; JALALI, S.. A sustentabilidade dos materiais de construção. TecMinho, novembro de 2010.
REÚSO DE REJEITO DE MINÉRIO DE FERRO EM COMPÓSITOS
CIMENTÍCIOS
Bruna Silva Almada1, Alex Sovat Cancio 2, Marlo Souza Duarte 3, Nara Linhares de Castro 4,
White José dos Santos 5
Resumo: O mercado de minério de ferro é um dos maiores responsáveis pela demanda de ferro na
siderurgia e representa grande importância na economia brasileira. O crescente desenvolvimento do
setor levou a um aumento da geração de resíduo de minério de ferro (RMF). Nesse contexto, este
estudo visa avaliar as perspectivas para reaproveitamento do RMF como adição à matriz de
compósitos cimentícios, no teor de 40%. Foram avaliadas propriedades no estado fresco e endurecido,
estudando-se pastas e argamassas. Os resultados indicam um aumento na demanda de água e do
coeficiente de capilaridade devido à finura do material, causando refinamento da estrutura dos poros.
Com o aumento da permeabilidade de fluidos a resistividade elétrica foi reduzida. Entretanto,
observou-se um aumento na resistência à compressão e no módulo de elasticidade dinâmico,
propriedade também influenciada pela elevada massa específica do resíduo. De forma geral, o
desempenho mecânico de pastas e argamassas utilizando 40% de adição de RMF mostrou-se superior
à composição de referência, podendo ser uma solução técnica e eficiente para produção de materiais
destinados à construção civil, contribuindo para a diminuição do volume do rejeito e fomentando uma
destinação ecoeficiente dos rejeitos armazenados em barragens.
Palavras-chave: Resíduo de mineração, substituição de cimento, rejeito de minério de ferro.
Abstract: The iron ore market is one of the main responsible for iron demand in the steel industry
and represents great importance in the Brazilian economy. The growing development of the sector
has led to an increase in the generation of iron ore residue (RMF). In this context, this study aims to
evaluate the prospects for reuse of RMF as an addition to the cement composites matrix, in the 40%
content. Fresh and hardened properties were evaluated by studying pastes and mortars. The results
indicate an increase in the water demand and the capillary coefficient due to the fineness of the
material, causing refinement of the pore structure. With the increase of the fluid permeability the
electrical resistivity was reduced. However, an increase in compressive strength and dynamic
modulus of elasticity was observed, a property also influenced by the high specific mass of the
residue. In general, the mechanical performance of pastes and mortars using 40% addition of RMF
was superior to the reference composition, being a technical and efficient solution for the production
of materials destined to the civil construction, contributing to the decrease of the volume of the reject
and promote eco-efficient disposal of tailings stored in dams.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi dividido em quatro etapas: preparação dos resíduos, caracterização dos materiais,
análise das propriedades das pastas e argamassas no estado fresco e, posteriormente, no estado
endurecido.
O resíduo de minério de ferro estudado foi coletado de uma barragem de rejeito de Sarzedo, cidade
pertencente ao Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais e possuía características semelhantes às das
areias, percebendo-se grãos visivelmente maiores, predominantes em toda a amostra. Para os
objetivos deste estudo, foi necessário submeter o RMF ao processo de cominuição, reduzindo sua
granulometria até que suas partículas possuíssem dimensões próximas às do cimento, sendo inferiores
a 75 µm. O moinho utilizado neste procedimento foi o do Laboratório de Minas da UFMG, fabricado
pela PAVITEST – Contenco Indústria e Comércio LTDA. A moagem foi feita via seca por 15
minutos, com uma amostra de 5 kg, no moinho contendo 42 barras de aço, com peso médio
aproximado de 1,4 kg por barra.
O resíduo foi caracterizado quanto a composição granulométrica, por granulometria à laser, massa
específica por picnômetro à hélio, composição química por fluorescência de raios-X (FRX) e
mineralógica por difração de raios-X (DRX). A FRX foi realizada pela empresa SGS Geosol,
localizada na cidade de Vespasiano-MG, com limite de detecção de 0,01% e método de referência
analítica CLA70C, para determinação de óxido de ferro (II) – FeO (silicato) volumétrico. A perda ao
fogo foi realizada por calcinação da amostra a 405⁰ C e/ou 1000⁰ C, utilizando o método PHY01E:
LOI (Loss on ignition) e, na quantificação por RFX, utilizou-se o método XRF79C: fusão com
tetraborato de lítio. Para a DRX o equipamento utilizado foi o Difratômetro de raios-X, para amostra
em pó, PHILIPS (PANALYTICAL), sistema X’Pert-APD, controlador PW 3710/31, gerador PW
1830/40, goniômetro PW 3020/00, existente no Laboratório de Raios-X do Departamento de
Engenharia de Minas da UFMG.
Nas fases seguintes, foram moldadas pastas e argamassas, contendo somente cimento (REF), e
contendo a adição de 40% de resíduo (RMF), conforme dosagens indicadas na Tabela 1, avaliando-
se as propriedades no estado fresco e endurecido, de acordo com ensaios apresentados na Tabela 2.
Os ensaios foram realizados no Laboratório de Concreto, Laboratório de Síntese de Materiais e
Ensaios Químicos e Laboratório de Caracterização de Materiais de Construção Civil e Mecânica da
UFMG. Os corpos de prova submetidos aos ensaios para avaliação do desempenho das propriedades
mecânicas e de durabilidade foram moldados conforme [22], sendo o adensamento realizado em mesa
vibratória, até exsudação de cada camada. A cura foi realizada em câmara úmida por 28 dias.
Ensaio Norma
Pastas
Consistência normal ABNT NBR 16606:2017 [25]
Flow table ABNT NBR 13276:2005 [26]
Resistência à compressão ABNT NBR 7215:1997 [27]
Argamassas
Flow Table ABNT NBR 13276:2005 [26]
Resistência à compressão ABNT NBR 5739:2018 [28]
ABNT NBR 9779:2012 [29]
Absorção de água por capilaridade
ABNT NBR 15259:2005 [30]
Absorção de água por imersão e porosidade ABNT NBR 9778:2005 [31]
Módulo de elasticidade dinâmico ASTM C215:2008 [32]
Resistividade elétrica ABNT NBR 9204:2012 [33]
Foi utilizado cimento Portland CPI, por não conter adições, permitindo uma melhor avaliação da
influência do RMF como substituinte do cimento. O cimento foi caracterizado conforme sua massa
específica, pelo método de picnometria a gás hélio, obtendo-se como resultado 3,221 g/cm³. A
composição química foi determinada pela análise quantitativa por fluorescência de raio-X – EDS,
apresentada posteriormente. Na confecção das argamassas, foi utilizada areia normal, fornecida pelo
Instituito de Pesquisa e Tecnologia de São Paulo, composta por quatro frações de areia (nº 16, nº 30,
nº 50 e nº 100) igualmente proporcionadas. Essa areia é utilizada como material de referência para
ensaios físico-mecânicos de cimento Portland e suas propriedades atendem à norma [23], que
estabelece os critérios da areia normal para utilização para ensaios de cimento. A água utilizada é
proveniente da rede pública de abastecimento disponibilizada pela Companhia de Saneamento de
Minas Gerais – COPASA, em Belo Horizonte, se adequando à norma [24], que estabelece limites de
composição das substâncias.
Para o estudo com as pastas, foi realizado, inicialmente, o ensaio de consistência normal com a
pasta de referência, e com a pasta contendo RMF, buscando verificar a demanda de água dos materiais
secos. Como esse resultado foi diferente, foram moldadas pastas nos dois fatores água/cimento
obtidos. O índice de consistência das pastas foi realizado em molde de tronco de cone, com dimensões
49,15 x 30,80 x 18,15 mm (Bxbxh) e das argamassas, utilizou-se o molde padrão da norma [26]. A
resistência à compressão das pastas foi determinada a partir do rompimento de corpos de prova
prismáticos (5x5x5) cm, em máquina de ensaios universal, modelo Instron 5582, de carga máxima de
100 kN e velocidade de carregamento de 0,5 mm/min. Já para as argamassas, foram utilizados corpos
de prova cilíndricos (5x10) cm, rompidos em prensa automatizada EMIC, modelo DL2000, de carga
máxima de 200t e velocidade de carregamento de (0,45 ±0,15) MPa/s. A absorção por capilaridade e
por imersão foram realizadas seguindo os procedimentos das normas, indicadas na Tabela 2. A
porosidade teórica foi calculada, considerando o Teorema de Arquimedes, utilizando os dados obtidos
no ensaio de absorção por imersão e considerando somente os materiais secos para a massa específica
da argamassa.
O módulo de elasticidade dinâmico foi determinado pelo método de frequência ressonante forçada
no modo longitudinal em corpos de prova cilíndricos (10x20) cm, seguindo as recomendações da
norma [32] e as adaptações na equação de [34]. Foi utilizado o equipamento Erudite MKII Ressonante
Frequency Test System para aferição da frequência ressonante. A frequência de condução é variada
até a resposta da amostra medida atingir uma amplitude máxima, que é o considerada a frequência de
ressonância do material. O módulo de elasticidade dinâmico pode ser obtido levando-se em conta as
dimensões e densidade do corpo de prova, além da frequência de vibração, conforme modelo
matemático descrito por [34].
A resistividade elétrica é a medida de resistência à passagem de corrente elétrica e está associada
à possibilidade de corrosão de armaduras. Para o ensaio, foram utilizados corpos de prova cilíndricos
de (10x20) cm, que ficaram em imersão completa por 24 horas para saturação, realizando-se leituras
de corrente elétrica contínua, aplicada através de diferença de potencial entre dois eletrodos
localizados nas superfícies de base e topo dos corpos de prova. Para isso, utilizou-se o equipamento
Gerador de Função Digital FG -8102 da Politerm, considerando a geometria do material e a Lei de
Ohm.
3. RESULTADOS
O RMF apresentou massa específica de 4,359 kg/dm³ enquanto o cimento obteve o valor de 3,221
kg/dm³, logo percebe-se que se trata de um material 35% mais pesado que cimento. Deste modo, o
uso deste material como agregado ou cimento convergiria para redução de possíveis utilização,
devido ao aumento de peso do material. Espera-se que, ao ser adicionado à matriz de argamassas,
permita um uso maximizado para fins estruturais. Aliado a isto, tem-se os valores da composição
química (Tabela 3) e mineralógica (Figura 1), que demonstram não possui elementos contaminantes
ou que pudessem convergir para alguma reação deletéria nos compósitos cimentícios, como reação
álcali-sílica [35].
Tabela 3 - Composição química do RMF e do cimento.
Amostra FeO SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO TiO2 P2O5 Na2O K 2O MnO LOI
RMF 0,49 25,6 3,13 59,1 3,85 0,23 0,14 0,16 <0,1 0,38 0,23 6,12
CPI - 19,9 4,34 2,38 63,3 2,68 0,23 0,18 0,17 0,98 0,05 2,29
Para o resíduo utilizado neste trabalho, percebe-se ainda alto teor de ferro, o que se justifica devido
ao processo simplificado de beneficiamento pelo qual o minério extraído da lavra foi submetido. Pela
difração de Raios-X, observa-se uma maior quantidade de Ferro (Fe) e Oxigênio (O), média
quantidade de Sílica (Si), baixa quantidade de Alumínio (Al) e Fósforo (P) e traços de Manganês
(Mn), Tálio (Ti), Cloro (Cl), Enxofre (S), Magnésio (Mg) e Sódio (Na) na amostra de RMF analisada,
semelhante ao resultado de Fluorescência de Raios-X. Também percebe-se a presença predominante
de Quartzo - SiO₂, Hematita - Fe₂O₃, Goethita - FeO(OH) e Gibbsita - Al(OH)₃. Constata-se vários
picos demonstrando a elevada cristalinidade do resíduo de mineração e possivelmente, pouca
probabilidade de uma eventual reação deste material com os materiais presentes nos compósitos
cimentícios. Quanto à composição química do cimento CPI utilizado, o ensaio de Fluorescência de
raios-X demostra que o material se encontra dentro da norma referência [36], apresentando mais de
95% de clínquer e sulfatos de cálcio, com óxido de magnésio inferior a 2% em massa. A perda ao
fogo dos dois materiais possui valores próximos, logo a presença do RMF tende a não gerar grandes
comprometimentos ao comportamento do microconcreto em situações de incêndio.
100
90
80
% Passante acumulado
70
60
50
40
30
20
10
0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33
Diâmetro das partículas (µm)
Os resultados para a consistência normal mostraram que a pasta de referência demandou um fator
água/cimento (a/c) de 0,345, enquanto que a pasta contendo RMF demandou 0,416. Observa-se,
portanto, um aumento de 20,5% na quantidade de água da pasta, que é resultado do aumento da área
superficial das partículas, devido à inserção do resíduo na mistura.
Na Figura 3, são apresentados os resultados para o índice de consistência das pastas e das
argamassas avaliadas. Observa-se que o incremento na quantidade de água promoveu um maior
espalhamento das pastas, como já era esperado. Entretanto, esse espalhamento não seguiu a mesma
proporção do aumento de água, variando 23,70% na pasta de referência e 29,60% na pasta contendo
RMF, o que indica que a diferença granulométrica e área superficial específica dos resíduos
influenciou esta propriedade, conforme observado por [17, 20]. Destaca-se que a forma dos grãos do
resíduo também influencia as propriedades de argamassas no estado fresco. Conforme visto em [20,
37], as partículas do RMF geralmente possuem formas angulares e superfície rugosas. As pastas
contendo RMF obtiveram índices de consistência inferiores às pastas de referência, sendo 20,00%
para o fator a/c 0,345 e 16,16% para a/c 0,416. Esse resultado pode ser atribuído à finura do material e
à maior densidade do RMF em relação ao cimento, conforme visto nos estudos de [6, 11]. De forma
semelhante, houve uma redução de 20,23% no espalhamento das argamassas.
12,0 35 20
a/c - 0,345 a/c - 0,416 18
Índice de Consistência
10,0 30
Índice de Consistência
16
25 14
8,0
Δ a/f (%)
20 12
(cm)
(cm)
6,0 10
15 8
4,0 6
10
4
2,0 5 2
0,0 0 0
REF RMF REF RMF
(a) (b)
Figura 3 - Resultado do índice de consistência (flow table) das (a) pastas e das (b) argamassas
30,0 7,8
Cc P aberta P total Ai
Coeficiente de Capilaridade
7,6
25,0
(10-² g/dm² min1/2) e
7,4
Porosidade (%)
20,0
7,2
15,0 7,0
6,8
10,0
6,6
5,0
6,4
0,0 6,2
REF RMF
Figura 4 - Resultado do coeficiente de capilaridade, porosidade e absorção de água por imersão das argamassas.
0,45 2,5
0,40
Variação (10-2g/cm²)
Capilaridade (g/cm²)
0,35 2,0
Absorção por
0,30
1,5
0,25
0,20
1,0
0,15
REF RMF Variação
0,10 0,5
0,05
0,00 0,0
0 720 1440 2160 2880 3600 4320
Tempo (min)
Figura 5 - Resultado da absorção de água por capilaridade e resistividade elétrica das argamassas .
A Figura 7 apresenta os resultados da resistividade elétrica. [38] afirma que a resistividade está
fundamentalmente relacionada à permeabilidade de fluidos e à difusividade de íons através dos poros
do material. Segundo [39], a resistividade é altamente sensível a diversos fatores da composição dos
concretos como relação água/aglomerante, consumo e tipo de cimento, o tipo de agregado e adições
minerais e aditivos, pois os mesmos promovem alterações no tamanho e distribuição dos poros, teor
de umidade interna, pH, entre outras. Como houve aumento do coeficiente de capilaridade e
refinamento da estrutura dos poros, a permeabilidade do material foi aumentada, observando uma
redução da resistividade elétrica no valor similar (15,47%). Destaca-se ainda o elevado teor de óxido
de ferro (59,1%) do resíduo, que contribui elevando a condutividade e, consequentemente, reduzindo
a resistividade elétrica.
45
40
Resistividade Elétrica
35
30
(Ohm.m)
25
20
15
10
5
0
REF RMF
As propriedades mecânicas das argamassas e pastas podem ser vistas na Figura 8. Observa-se que
a pasta de referência no teor a/f de 0,416 resultou em uma resistência à compressão superior (39,06%)
à do teor a/f de 0,345, o que não era esperado. Esse resultado pode estar atribuído a falhas na
moldagem, gerando corpos de prova com faces não paralelas e superfícies irregulares, acarretando
concentração de tensão durante a execução do ensaio. Isso corrobora com as rupturas, ocorridas
próximas às faces laterais das amostras, conforme ilustra a Figura 9. Essa situação ocorreu na maioria
dos corpos de prova também devido à grande sensibilidade do equipamento, sendo mais evidente
para a pasta de referência.
Ed fc
60 50
fc (MPa) e Ed (GPa)
50
40
(MPa)
40
30
30
20
20
10 10
0 0
REF RMF REF RMF
(a) (b)
Figura 8 - Resultado da resistência à compressão (fc) e módulo de elasticidade dinâmico (Ed) das (a) pastas e das (b)
argamassas.
(a) (b)
Figura 9 - (a) Execução do ensaio de resistência à compressão (b) corpos de prova rompidos
Na figura 7, observa-se a microestrutura da pasta contendo RMF, onde percebe-se uma região de
“afastamento” de uma partícula da pasta que pode estar atribuída a absorção de água do RMF
ocasionando um aumento no volume da mesma e contribuindo com a formação da portlandita
(Ca(OH)2). Uma outra hipótese levantada seria a da presença de algum componente no resíduo de
minério de ferro que possa reagir de forma expansiva nas primeiras idades, afastando a matriz e
gerando a formação da portlandita na zona de transição. Ambas as hipóteses necessitariam de estudos
mais aprofundados para conclusões mais elucidativas.
A composição química, referente a área demarcada em vermelho, através da análise do RMF pelo
método de EDS, sendo composta principalmente por 42,7% de Ca (cálcio), 29,5% de Fe (ferro),
12,2% de Si (silício), dentre outros, e que difere do EDS realizado em outros pontos da pasta com
adição de RMF, que não apresentou concentração elevada de Ferro. Acredita-se que este seja uma
partícula de resíduo recoberta pela pasta de cimento o que causaria o elevado valor de cálcio, contudo
não se identifica qualquer estrutura que corrobora com o cimento recobrindo. O comportamento
observado neste trabalho difere das observações, por exemplo, de [41], que realizou estudos com
materiais cerâmicos com adição de resíduo de minério de ferro, onde pela análise de MEV, na região
onde encontravam-se uma quantidade excessiva de resíduo de minério de ferro, percebia-se “defeitos”
na estrutura que podem estar atribuídos à presença dos aglomerados de hematita, estes defeitos
dificultariam a consolidação das partículas e como consequência, poderia ocorrer um decréscimo da
resistência mecânica do material estudado.
(a) (b)
Figura 10 - Microestrutura das pastas próximo às partículas de RMF.
3. CONCLUSÃO
4. AGRADECIMENTOS
Agradecemos o apoio da UFMG e dos órgãos de fomento CAPES, FAPEMIG e CNPQ para
realização desta pesquisa.
REFERÊNCIAS
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[2] IBRAM. Relatório Anual de Atividades, julho de 2017 - Junho de 2018. Disponível em:
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REFORÇO COM MANTA DE FIBRA DE CARBONO EM DIFERENTES
LARGURAS: DESEMPENHO A FLEXÃO DE CONCRETO COM ALTO
TEOR DE FIBRAS DE AÇO CFRP
Reinforcement in different width: Flexural performance of concrete reinforced
with steel fibers
Jorge Luiz ALVES JUNIOR1, Amaro Francisco Codá dos SANTOS, D. Sc.2
1 Engenheiro Civil pelo CEFET/RJ, Mestrando IME, Rio de Janeiro, Brasil
2 Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ, Rio de
Janeiro, Brasil
1. INTRODUÇÃO
O concreto armado é uma das soluções estruturais mais adotadas no mundo. Tal deve-se
a excelente interação entre ambos elementos, aço e concreto, a durabilidade destas
construções, baixo custo e facilidade de execução. Diversos estudos apontam que após a
água, o cimento Portland é o material mais consumido no planeta.
Contudo, estruturas de concreto armado não possuem vida útil ilimitada, tampouco estão
imunes à ação de elementos deletérios ou mal-uso. A falta de programas de manutenção
que visem combater ou prevenir o ataque de agentes nocivos aos componentes do
concreto armado, usos não previstos das estruturas, acidentes, falhas de projeto ou
execução demandam a utilização de técnicas de reparo ou reforço destas estruturas.
Fissuras, por exemplo, são imensamente nocivas às estruturas de concreto armado, pois
tornam-se canal de fácil entrada para gases e águas nocivas que geram corrosão nas
armaduras. Tal processo corrosivo agravará a fissuração, pois o aço carbono, ao ser
oxidado, aumenta significativamente de volume (até sete vezes), expelindo parte do
cobrimento do concreto, gerando um ciclo que culmina com a total corrosão das barras de
aço e a consequente perda de sua função estrutural [1].
Um dos fatores fundamentais para atingir-se e, até mesmo, superar a vida útil estimada
(pela NBR 15575:2013, a vida útil mínima das edificações será de cinquenta anos) de
uma estrutura é a manutenção preventiva. Este sistema de manutenção deve ser
elaborado de modo a garantir um bom desempenho, através de manutenções preventivas
periódicas, com o acompanhamento e cumprimento do planejamento, previsto no
programa de manutenção preventiva [2].
Desta forma, surge o conceito de Vida Útil Estrutural. Esta Vida Útil Estrutural está
associada às condições de segurança e de utilização da estrutura, nomeadamente
garantindo que não ocorram situações de colapso, deformações excessivas, entre outros.
Assim, a Vida Útil Estrutural depende essencialmente da evolução das ações, dos
materiais e manutenções preventivas e corretivas ao longo da vida da construção [3].
Construções duráveis, portanto, são aquelas nas quais desde a concepção do projeto,
sua construção e uso foram ponderados fatores como agressividade ambiental, uso a que
se destinam, vida útil, entre outros conceitos.
Fig.1 - Reforço com PRFC em vigas e lajes de teto de garagem no Rio de Janeiro [9]
Em nível mesoscópico o concreto possui duas fases que podem ser distinguidas
facilmente, a dos agregados graúdos que são distribuídos em meio contínuo formado por
uma pasta de argamassa. Em nível microscópico o concreto, já não apresenta somente
duas fases, mas sim três. A terceira fase recebe o nome de zona de transição. Esta
região representa uma área interfacial entre as partículas de agregado graúdo e a pasta.
Sendo uma camada delgada tipicamente de 10 a 50 µm de espessura ao redor do
agregado graúdo, a zona de transição é geralmente a mais fraca entre todos os
componentes do concreto e, consequentemente, exerce uma influência muito maior sobre
o comportamento mecânico dele. Além disso, cada uma das fases é de natureza
multifásica das quais cada partícula de agregado pode conter vários minerais, e também
microfissuras e vazios [10], como se observa na Figura 2.
Fig.2 - Microestrutura do concreto [10].
Portanto, a utilização de fibras de aço incorporadas à matriz cimentícia funciona como
ponte para transmissão das tensões que ocorrem no interior da matriz cimentícia. Desta
forma, estas fibras de aço podem ajudar a controlar o processo de fissuração, além de
conferirem ao concreto reforçado com fibras de aço (CRFA) uma resistência residual pós-
fissuração. Os teores comercialmente utilizados variam de 20 a 40 quilos de fibras de aço
por metro cúbico de concreto, variando por tipos de fibra, fabricantes e resistências pós-
fissuração desejadas.
A normatização das fibras de aço no Brasil foi criada no ano de 2007 através da NBR
15530:2007 [11], “Fibras de aço para concreto – Especificação”. Nela foram estabelecidas
os tipos de fibras de aço, suas características e ensaios específicos. Os diferentes tipos
de fibra e sua nomenclatura encontram-se na Figura 3.
2. MOTIVAÇÃO DO TRABALHO
2.1.3 Plastificantes
Não foi utilizado qualquer tipo de plastificante na primeira etapa de ensaios (concreto com
92,7 kg/m³ de fibras). Esta escolha resultou em grande dificuldade na mistura, moldagem
do concreto nas formas dos corpos de prova e adensamento. Os corpos de prova
resultantes, portanto, apresentaram grande porosidade e ninhos de concretagem.
Para o concreto com 25,0 kg/m³ de fibras de aço, utilizou-se um plastificante
multifuncional retardador de pega.
3. ROTEIRO EXPERIMENTAL
Os corpos de prova cilíndricos foram moldados com diâmetro de 15,0cm e altura de 30,0
cm para o ensaio 1 e 10cm de diâmetro e 20cm de altura para o ensaio 2. Utilizaram-se
moldes em PVC nos quais aplicou-se desmoldante à base de óleo mineral na diluição de
1:10 em água, mesma diluição recomendada pelo fabricante para formas de madeira
plastificada, para os ensaios 1 e 2. Para os ensaios 2, utilizou-se moldes padronizados
em aço. As quantidades de materiais utilizadas em cada ensaio encontram-se
discriminadas nas Tabelas 3 e 4.
Moldaram-se um total de dezenove corpos de prova cilíndricos com o concreto reforçado
com fibras de aço para o ensaio 1 e, para o ensaio 2, moldaram-se um total de dezoito
corpos de prova cilíndricos divididos da seguinte forma: 6 corpos de prova sem
plastificante e sem fibras de aço, chamados de série T3; 6 corpos de prova com
plastificante e sem fibras de aço, chamados de série T2; 6 corpos de prova com
plastificante e fibras de aço, chamados de série T1.
Para o ensaio 1 os corpos de prova prismáticos foram moldados em formas de madeira
compensada e plastificada, totalmente estanques nas dimensões de 10 x 10 x 30 cm³.
Foram utilizados dezoito moldes prismáticos. Nos moldes aplicou-se o mesmo
desmoldante na diluição de 1:10 em água. Não houve dificuldade na desforma dos corpos
de prova.
Para o ensaio 2 foram moldados seis corpos de prova prismáticos para realização dos
ensaios de tração na flexão com quatro pontos nas dimensões de 15 x 15 x 50 cm.
Utilizou-se formas metálicas padronizadas, nas quais aplicou-se desmoldante. Não houve
dificuldade na desforma dos corpos de prova.
Tabela 3 - Quantidades de materiais utilizados no concreto do ensaio 1
Cimento
CPIII-40-RS Areia Brita 0 Brita 1 Água Fibra de aço
(kg) (kg) (kg) corrigida
(kg)
Umidade Peso corrigido Peso Teor de Fibras
80,9 média (%) (kg) 88,9 88,9 33,2 (kg) (kg/m³)
1,8 90,5 *15,3 92,7
*4% em massa
4. RESULTADOS
Desta forma, a utilização do teor de 25,0 kg/m³ de fibras de aço incorporadas ao concreto
com utilização de plastificante, série T1, aumentou a resistência à compressão aos 28
dias em 11,89%, quando comparada ao concreto sem fibras, mas com plastificante, série
T2. Assim, observa-se que, diferentemente do Ensaio 1, a adição de fibras de aço
aumentou à resistência à compressão. Observou-se que na literatura à divergências
sobre o efeito das fibras de aço sobre o fc médio.
Quando comparados os resultados do concreto sem fibras de aço e sem plastificante,
série T3, ao concreto sem fibras de aço, mas com plastificante, série T2, observa-se que
houve uma queda na resistência à compressão média na ordem de 4,43%.
Dado que o fc médio para a série T1, concreto com o uso de fibras de aço e plastificante,
foi de 48,0 MPa, Desta forma, pode-se estimar a resistência à tração deste concreto em
4,8 MPa, ou seja, 1/10 da resistência à compressão obtida.
Desvio
Média
Série CP Fct (MPa) Padrão
(MPa)
(MPa)
1 5,36
T00 – Sem PRFC 5,47 0,16
2 5,58
Contudo, para os prismas cujos reforços de PRFC do ensaio 1 que cobriam toda a base
dos mesmos (100% da base), houve um aumento menor que os reforçados em 50 e 60%
da base, quando comparadas as resistências mínimas, menor que o reforçado em 60%
da base, comparando-se as médias, e menor que 50 e 60%, quando comparados os
valores máximos. Estes resultados são facilmente observados na Figura 7.
Para o ensaio 2, foi possível observar, como já esperado, um aumento da resistência à
tração na flexão dos prismas reforçados com PRFC quanto maior fosse o percentual de
PRFC aplicado ao banzo tracionado quando comparada a largura da base do prisma. Ou
seja, quanto mais larga a manta de fibra de carbono aplicada, maior a resistência à tração
na flexão. Estes resultados estão descritos na Figura 8.
Fig. 7 - Curvas de aumento da resistência em função da largura de PRFC, ensaio 1
Custo da
Fct Médio Área de Fibra de
Solução Incremento de Solução
(MPa) Carbono (m²/m)
Resistência (R$/m²)
(Tn/T0)
T0 5,47 - 1,0 0,00
T60 13,78 0,09 2,5 23,88
T100 15,92 0,15 2,9 39,81
Desta forma, obteve-se a relação incremento custo demonstrada na Figuras 9 e 10. Com
estes gráficos, observou-se que utilizando-se um reforço em 60% da largura do prisma,
obteve-se a melhor relação custo/resistência.
Fig. 9 e 10 - Custos em comparação ao incremento de resistência
6. CONCLUSÕES
Neste trabalho foi possível observar a importância da utilização de fibras em conjunto com
o concreto, suas vantagens e desvantagens. Notou-se também que há necessidade de
maior incentivo à pesquisa e normatização do uso das diversas fibras para que as
mesmas possam ser agregadas à rotina das construções do país, dentro das
características adequadas a cada uma delas.
A grande dependência dos PRFC quanto ao preparo adequado dos materiais, domínio
das técnicas e treinamento da mão de obra demanda que a academia dissemine o
conhecimento, especialmente, propondo normas para utilização e dimensionamento dos
PRFC, normatização de materiais e verificação da qualidade do material aplicado.
Utilizando-se um total de 92,7kg/m³ de fibras de aço incorporadas ao concreto e sem uso
de aditivo plastificante, a resistência à compressão aos 28 dias foi de 34,0 MPa. Para uma
utilização de 25,0 kg/m³ de fibras de aço incorporadas ao concreto e com o uso de aditivo
plastificante esta resistência à compressão aos 28 dias foi de 48,0 MPa. Desta forma, o
teor de 25 kg de fibras de aço por metro cúbico de concreto mostrou-se melhor que um
teor de 92,7 kg/m³. Note-se que os resultados dos ensaios apresentaram menor
dispersão, o concreto resultante apresentou aspecto menos poroso e com menores falhas
de concretagem. Desta forma, a durabilidade do concreto dosado no segundo traço será
maior que o primeiro.
Quanto à tração na flexão, o concreto reforçado com PRFC em 60% da base tracionada
dos prismas apresentou melhores resultados quando comparado à aplicação em 100% da
base dos prismas, comparando custo vs. Incremento de resistência.
Para o concreto com 92,7 kg/m³ de fibras de aço incorporadas ao concreto e 60% da base
tracionada dos prismas reforçados com PRFC obteve-se uma resistência média à tração
na flexão de 24,55 MPa.
Para o concreto com 25,0 kg/m³ de fibras de aço incorporadas ao concreto e 60% da base
tracionada dos prismas reforçados com PRFC obteve-se uma resistência média à tração
na flexão de 13,78 MPa.
Assim, o uso de 3,71 vezes mais fibras de aço incorporadas ao concreto resultou um
aumento na resistência à tração na flexão de 78,16%.
Quanto ao custo, em ambos teores de fibras de aço incorporados ao concreto (92,7 kg/m³
e 25,0 kg/m³) com o reforço em PRFC em 60% da largura da base tracionada dos prismas
mostrou-se mais econômica que o reforço cobrindo 100% da largura dos prismas: para o
teor de 92,7 kg/m³ de fibras de aço incorporadas ao concreto, a utilização de 100% de
PRFC, observando-se a relação custo/incremento de resistência, mostrou-se 129,1%
mais cara que a mesma relação para 60% de PRFC; para o teor de 25,0 kg/m³ de fibras
de aço incorporadas ao concreto, a utilização de 100% de PRFC, observando-se a
relação custo/incremento de resistência, mostrou-se 43,8% mais cara que a mesma
relação para 60% de PRFC.
Desta forma, conclui-se que a utilização de 60% de PRFC, com um teor de fibras de aço
incorporadas ao concreto de 25 kg/m³, para recuperação e reforço de vigas de concreto
armado é a mais vantajosa.
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em Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2014, págs.
50 a 135.
ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE ENCOSTA EM SOLOS RESIDUAL
Isabella Novais Silva 1, Tatiana Tavares Rodriguez 2, Jordan Henrique de Souza 3, Jonathan do
Amaral Braz 4, Sabrina Medeiros Penasso 5
1Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, isabella.novais@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, tatiana.rodriguez.ttr@gmail.com
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, jordan.souza@engenharia.ufjf.br
4
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, jonathan.amaral@engenharia.ufjf.br
5
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, sabrina.penasso@engenharia.ufjf.br
Resumo: Encostas, de forma geral, são superfícies suscetíveis a instabilidades que podem ter como
consequência movimentos de massa. Determinadas atividades antrópicas, como ocupações
inadequadas ou alterações na geometria da encosta, podem ser fatores catalisadores desses
fenômenos. Dessa forma, o objetivo do presente trabalho é analisar a estabilidade de uma encosta
localizada no bairro Santa Luzia, em Juiz de Fora (MG). Segundo a Prefeitura de Juiz de Fora, o
local de estudo apresenta um grande número de edificações e carece de planejamento que garanta a
segurança dos moradores. Como consequência, segundo a Defesa Civil, a região tem sofrido com
movimentos de massa desde a década de 1990. Para a análise de estabilidade, foram coletadas
amostras deformadas para ensaios de caracterização física e indeformadas para ensaios de
cisalhamento direto – com cargas variando de 25 a 200 kPa para o solo residual maduro e de 25 a
400 kPa para os solos residuais jovens. Após os ensaios, verificou-se que tanto o solo residual
maduro quanto os solos residuais jovens foram classificados como areias siltosas. Quanto aos
parâmetros de resistência, o solo residual maduro apresentou os valores de 24,6 kPa para intercepto
coesivo e de 34,2º para ângulo de atrito. Por sua vez, os solos residuais jovens apresentaram 45,1
kPa de intercepto coesivo e 34,6º de ângulo de atrito. Por fim, os fatores de segurança da encosta
foram obtidos por meio do software Slope/W do pacote GeoStudio 2018, considerando as seguintes
situações: geometria natural, presença de sobrecarga e execução de cortes no talude. Para todos os
casos, os fatores de segurança encontrados foram valores acima de 1,5, como é recomendado por
norma e, portanto, conclui-se que a encosta se encontra em situação de estabilidade.
Abstract: Slopes are inclined surfaces that are generally susceptible to instabilities, which could
lead to landslides. Certain human activities, such as unplanned occupations or change in slope
geometry, could be responsible for triggering these movements. The objective of this study is to
analyse the stability of a slope located in the Santa Luzia neighbourhood, in the city of Juiz de Fora
(MG). According to the City Hall of Juiz de Fora, the place of study is densely populated and lack
of an urban plan that guarantees the locals’ safety. Consequently, the city’s Civil Defence reports
that the region has been experiencing landslides since the 1990s decade. In order to analyse the
slope stability, disturbed samples were collected for physical characterization tests and undisturbed
samples were collected for direct shear tests, which had normal stresses ranging from 25 to 200 kPa
in the mature residual soil and 25 to 400 kPa in the young residual soil. Both mature and young
residual soils were classified as silty sand. The shear strength parameters are as follow: for the
mature residual soil – a cohesion of 24,6 kPa and a friction angle of 34,2º; and for the young
residual soil – a cohesion of 45,1 kPa and a friction angle of 34,6º. The slope’s factors of safety
were obtained with the assistance of the Slope/W Software from GeoStudio 2018 and the following
situations were considered: natural slope geometry, surcharge presence and execution of cuts. The
factors of safety are above 1.5 in all analysed situations, as recommended by the Brazilian Slope
Stability Standard, meaning the slope is stable in the studied section.
1. INTRODUÇÃO
Taludes são definidos como superfícies inclinadas compostas por solo ou rocha. Podem ser de
origem natural – sendo, então, chamados de encostas – ou de origem artificial – sendo classificados
como taludes de corte ou de aterro. Naturalmente, estão suscetíveis a instabilidades, geralmente
associadas ao aumento de sobrecarga ou à diminuição de sua resistência. Determinadas
intervenções antrópicas, como ocupações inadequadas ou alterações na geometria do talude, são
fatores que podem contribuir para uma condição de instabilidade, podendo desencadear processos
de movimentos de massa [1].
Notícias de desastres relacionados a esse fenômeno são divulgadas com frequência nos veículos
midiáticos, especialmente no período de chuvas. Visto isso, a Defesa Civil de Juiz de Fora realizou
um mapeamento de áreas de risco em que foram identificadas 713 regiões suscetíveis a desastres
naturais; dessas, 639 são áreas com risco de escorregamento, sendo 393 de alto risco [2].
Há diversas classificações de tipos de movimentos de massa. A classificação proposta por Varnes
[3] é a mais adotada internacionalmente e divide-se em quedas, tombamentos, escorregamentos
(rotacional ou translacional), expansões laterais, corridas/escoamentos e complexos (combinação de
diferentes movimentos). No Brasil, a NBR 11682 da ABNT [4] traz a terminologia dos tipos
básicos de movimento de massa que ocorrem devido a problemas de instabilidade de encostas, tais
como: queda/rolamento, tombamento, escorregamento e escoamento.
Pode-se analisar a estabilidade de um talude por meio do fator de segurança que consiste na relação
entre a tensão de cisalhamento máxima a que o solo resiste e a tensão de cisalhamento atuante sobre
ele. A NBR 11682 [4] sugere diferentes valores de fator de segurança mínimo para que o talude seja
considerável estável. Tal valor depende do nível de segurança contra danos materiais e ambientais,
e do nível de segurança contra danos a vidas humanas, como apresentado pela Tabela 1.
Tabela 1 – Fatores de segurança mínimos para deslizamentos (ABNT, 2009).
O local de estudo é um talude situado no bairro Santa Luzia, na região sul de Juiz de Fora. É
delimitado pela Rua José Orozimbo de Oliveira e pela Rua Aurora Tôrres. Segundo dados da
Prefeitura de Juiz de Fora [5], o bairro possui 13.732 habitantes em uma área de 1,244 km², sendo
considerado densamente povoado. Além disso, apresenta regiões consideravelmente acidentadas,
muitas vezes com ocupações inadequadas e infraestrutura urbana precária. A Figura 1 apresenta
uma imagem em vista superior da região em que se encontra a encosta.
3. MÉTODOS
3.1. Materiais
Para a realização do estudo, foram utilizados levantamentos planialtimétricos e boletim de
sondagem da região, disponibilizado pela Prefeitura de Juiz de Fora. A Figura 2 apresenta, em
planta, o ponto da região em que foi executada a sondagem, bem como as seções disponíveis. A
seção estudada, denominada ST ESTUDADA, foi escolhida observando os pontos de maior
declividade e maior proximidade da sondagem realizada.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. Caracterização física
O solo variegado amarelo apresentou teor de umidade higroscópica de 20,03% e massa específica
de 2,80 g/cm³. Quanto à análise granulométrica, para a situação com defloculante, o solo apresentou
as frações de 58% de areia, 31% de silte e 11% de argila – sendo classificado como uma areia
siltosa; para a situação sem defloculante, o solo apresentou as frações de 60% de areia, 39% de silte
a 1% de argila – sendo classificado como uma areia siltosa. A Figura 5 apresenta as curvas
granulométricas para os ensaios com e sem defloculante.
Curva Granulométrica
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
Amarelo SD
0
Amarelo CD
0,001 0,01 0,1 1 10 100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
Rosa SD
0
Rosa CD
0,001 0,01 0,1 1 10 100
90
80
Porcentagem que Passa (%)
60
50
40
30
20
10
Marrom SD
0
Marrom CD
0,001 0,01 0,1 1 10 100
REFERÊNCIAS
[1] GERSCOVICH, D. M. S. Estabilidade de taludes. Ed. 2013. São Paulo: Oficina de Textos, 2012, 166p.
[2] G1. Defesa Civil em Juiz de Fora realiza mapeamento inédito de áreas de risco. 07 out. 2016. Disponível em: <
http://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/2016/10/defesa-civil-em-juiz-de-fora-realiza-mapeamento-inedito-de-
areas-de-risco.html>. Acesso em: 08 mar. 2018.
[3] VARNES, D. J. Slope Movement types and processes. In: TRANSPORTATION RESEARCH BOARD.
Landslides: Analysis and Control. Washington (EUA): Transportation Research Board, n. 176, 1978, cap 2, 23 p.
[4] ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR11682: Estabilidade de encostas. Rio de
Janeiro, 2009, 38 p.
[5] PJF. Mapas de JF – Região Sul. 2003. Disponível em: <https://pjf.mg.gov.br/cidade/mapas/mapa_sul.php>. Acesso
em: 10 mar. 2018.
[6] GOOGLE MAPS. Rua José Orozimbro de Oliveira, 350, Juiz de Fora – Stateof Minas Gerais. Disponível em: <
https://www.google.com.br/maps/place/R.+Jos%C3%A9+Orozimbo+de+Oliveira,+350+-
+Alto+Sta+Luzia,+Juiz+de+Fora+-+MG,+36030-210/@-21.790965,-
43.3451384,525m/data=!3m2!1e3!4b1!4m5!3m4!1s0x989b3b7918018b:0x92b269c5b23c27e9!8m2!3d-21.790965!4d-
43.343571>. Acesso em: 10 mar. 2018.
[7] SILVA, I. N. Análise de estabilidade de encosta em solo residual no bairro Santa Luzia, Juiz de Fora. Trabalho
Final de Curso. Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, 2018, 76p.
[8] PJF. Relatório de sondagem S7 – Santa Luzia. Secretaria de obras. Juiz de Fora, 2014, 5 p. CD-ROM.
[9] DNER – DEPARTAMENTO DE ESTRADAS E RODAGEM. PRO 003: Coleta de amostras deformadas de
solos. [s.l.], 1994, 4 p.
[10] ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR6457: Amostras de solo – Preparação
para ensaios de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 2016, 12p.
[11] ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR7181: Solo – Análise granulométrica.
Rio de Janeiro, 2016, 16p
[12] DNER – DEPARTAMENTO DE ESTRADAS E RODAGEM. ME093: Solos – Determinação da densidade
real. [s.l.], 1994, 4p.
[13] ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR6459: Solo – Determinação do limite
de liquidez. Rio de Janeiro, 2016, 9p.
[14] ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR7180: Solo – Determinação do limite
de plasticidade. Rio de Janeiro, 2016, 7 p.
[15] ASTM – AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D3080: Direct shear test of soils under
consolidated drained conditions. United States, 1998, 6 p.
DETECÇÃO DE PATOLOGIAS E PROPOSIÇÃO DE TERAPIAS PARA O
EDIFÍCIO ENGENHEIRO ITAMAR FRANCO
Adilson Campos de PAULA JUNIOR 1, Marcos Lamha ROCHA 2, Thaís Mayra de OLIVEIRA 3
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, cpjunior.adilson@gmail.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, marcoslr94@gmail.com
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, thaismayra@yahoo.com.br
Resumo: Toda edificação apresenta um ciclo de vida útil determinado, essencialmente, por fatores
associados ao nível de agressividade ambiental e aos processos construtivos empregados. Este
panorama pode ser favorecido a partir da adoção de certas práticas que compreendem o
desenvolvimento eficiente do projeto, a racionalização da construção e, sobretudo, a realização de
manutenção periódica. Entretanto, mesmo com a evolução tecnológica que o setor da construção civil
tem apresentado nas últimas décadas, seja mediante o surgimento de novas técnicas construtivas ou
pelo uso de materiais de construção de melhor qualidade, ainda são identificadas diversas
manifestações patológicas em construções relativamente recentes. Portanto, além do oneroso
consumo de recursos financeiros em reparações evitáveis, o desempenho dessas edificações é
comprometido. Neste contexto, o objetivo do presente estudo envolve a identificação e análise das
manifestações patológicas presentes no Edifício Engenheiro Itamar Franco, localizado na Faculdade
de Engenharia da UFJF, concluído em 2011, bem como estabelecer suas origens e propor
procedimentos viáveis de reparo e recuperação dos pontos de degradação. A metodologia adotada
consiste na obtenção do diagnóstico patológico elaborado a partir de visitas realizadas ao prédio, que
permitiram a composição do relatório fotográfico e o levantamento dos dados pertinentes à edificação.
Com base nas vistorias executadas, as relações de causa e efeito que caracterizam o mecanismo de
deterioração foram estabelecidas, colaborando para uma abordagem mais precisa acerca de cada
patologia e de suas respectivas terapias. Associou-se o surgimento das manifestações patológicas
encontradas, principalmente, aos erros construtivos comumente observados em obras públicas, seja
por divergências entre a construtora e o setor contratante, por fiscalização insuficiente ou pela
economia exacerbada por parte da empresa contratada. Portanto, haja vista os processos de
degradação acelerados do edifício em detrimento ao seu pouco tempo de ocupação, pode-se concluir
que grande parte das patologias são provenientes de projeto ou execução inadequados, dados pela
ausência de planejamento e contenção de recursos básicos na elaboração e construção da edificação.
Palavras-chave: diagnóstico, patologia, terapia.
Abstract: Every building has a life cycle determined, essentially, by factors associated with the level
of environmental aggressiveness and the construction processes employed. This panorama can be
favored from the adoption of certain practices that include the efficient development of the project,
the rationalization of the construction and, above all, the accomplishment of periodic maintenance.
However, even with the technological evolution that the construction industry has presented in the
last decades, whether through the emergence of new construction techniques or the use of better
quality building materials, several pathological manifestations are still identified in relatively recent
constructions. Therefore, in addition to the costly consumption of financial resources in avoidable
repairs, the performance of these buildings is compromised. In this context, the objective of the
present study involves the identification and analysis of the pathological manifestations present in the
Engenheiro Itamar Franco Building, located at the Faculty of Engineering of UFJF, completed in
2011, as well as establishing its origins and proposing viable procedures for repair and recovery of
points of degradation. The methodology adopted consists of obtaining a pathological diagnosis based
on visits to the building, which allowed the composition of the photographic report and the collection
of data pertinent to the building. Based on the surveys performed, the cause and effect relationships
that characterize the mechanism of deterioration have been established, collaborating for a more
precise approach to each pathology and their respective therapies. It was associated with the
appearance of pathological manifestations found, mainly, to the constructive errors commonly
observed in public works, either due to divergences between the contractor and the contractor,
insufficient inspection or the exacerbated economy by the contracted company. Therefore,
considering the accelerated degradation processes of the building over its short occupation time, it
can be concluded that most of the pathologies come from inadequate design or execution, given the
lack of planning and containment of basic resources in the elaboration and construction of the
edification.
Keywords: diagnosis, pathology, therapy.
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o Brasil tem sido cenário de um grande avanço no setor da construção civil, o que
se reflete na demanda por novas edificações habitacionais, promovendo um grande salto científico e
tecnológico na área. Mas mesmo com esse avanço, de novas técnicas construtivas e do aprimoramento
de materiais e componentes, um grande número de manifestações patológicas ainda está presente nos
mais variados tipos de edificações [1].
Segundo [2], “Patologia das construções” pode ser entendida como a ciência que estuda as origens,
as causas, os mecanismos de ocorrência, além das próprias manifestações e consequências deletérias
associadas a uma edificação que não demonstra mais o desempenho estabelecido. Toda construção
está sujeita ao surgimento de diversas manifestações patológicas. Dentre as principais, podem ser
citadas: o destacamento ou deslocamento de revestimentos, irregularidades relacionadas à umidade
bem como a presença de rachaduras, trincas, fissuras e bolhas nos acabamentos. A ocorrência desses
problemas está ligada, essencialmente, à idade da construção, às técnicas construtivas e materiais
utilizados, ao nível e controle de qualidade implantado e ao clima [3].
Para minimizar a incidência de problemas patológicos deve-se haver maior controle de qualidade nas
etapas de projeto (concepção, execução e utilização). De acordo com [4], as chances de futuras
patologias e erros construtivos reduzem-se consideravelmente quando se conhece os problemas ou
defeitos que uma construção pode vir a apresentar e suas respectivas causas.
As patologias, em si, não têm suas origens concentradas em fatores isolados, mas sofrem interferência
de uma série de variáveis, que podem ser agrupadas conforme a causa que gerou tal problema, os
sintomas, ou a etapa construtiva na qual ocorrem, além de apontar para erros no sistema de controle
e qualidade das atividades construtivas [5]. Diante deste contexto de patologias em edificações, [6]
aponta que, atualmente, metade das edificações apresentam problemas em sua construção. As obras
públicas seguem a mesma tendência, devendo, portanto, apresentar programas de atividades quanto
à manutenção, visando obter condições adequadas de desempenho, durabilidade e estabilidade das
edificações, com serviços preventivos e corretivos [7].
O presente estudo tem como objetivo a identificação e análise das manifestações patológicas
presentes no Edifício Engenheiro Itamar Franco, localizado na Faculdade de Engenharia da
Universidade Federal de Juiz de Fora, concluído em 2011. Determinou-se, ainda, as possíveis causas
dessas patologias, considerando-se o pouco tempo de serviço do prédio, além de propor
procedimentos viáveis de reparo e recuperação dos pontos afetados por problemas patológicos.
2. MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS
Uma edificação, seja ela pública ou privada, é naturalmente suscetível à presença de patologias com
o passar dos anos. Contudo, como esse fato afeta diretamente a durabilidade dos materiais e
componentes construtivos, a sua vida útil é comprometida. Ademais, essas manifestações patológicas,
além do prejuízo estético, representam um aumento potencial dos riscos associados à saúde e
segurança dos usuários do espaço.
Os erros que comprometem as condições de desempenho e durabilidade das edificações, diretamente
relacionados às patologias, podem despontar desde o início do processo construtivo. Seja a partir de
inadequações na elaboração do projeto, adoção de materiais de baixa qualidade ou por falhas na
execução da obra.
Conhecer a respeito das patologias permite identificar com maior precisão as eventuais causas e
adotar a intervenção mais apropriada a cada circunstância. Diante dessa problemática, este trabalho
apresenta uma breve abordagem acerca das manifestações patológicas mais recorrentes na edificação
estudada.
2.1. Trincas e Fissuras
[8] define trinca como a ruptura da estrutura de uma placa, dividindo-a em ao menos duas partes.
Podem ser identificadas por danificar a integridade superficial do corpo da placa. Já as fissuras,
segundo [9], são caracterizadas como pequenas aberturas limitadas a 1 mm de espessura que surgem
na superfície de uma estrutura, sem resultar no seu rompimento.
As fissuras estão presentes em toda a extensão do prédio estudado: no encontro entre a alvenaria e
vigas ou pilares de concreto, causadas pela formação de gradiente térmico, definido como a diferença
de coeficientes térmicos na interface entre materiais; nas paredes, provocadas pela retração do
emboço; em guarda-corpos e sob janelas, devido ao assentamento inadequado das placas de granito
sobre as estruturas; e, finalmente, nos forros de gessos das salas.
Já as trincas foram identificadas principalmente na área externa ao edifício, entre a parede e o passeio,
provocadas por recalques diferenciais, e nas marquises, causadas, assim como boa parte das fissuras
encontradas, por gradiente térmico. Também foram encontradas trincas diagonais nos degraus das
escadas, graças à concentração de tensões não planejadas. Patologias dessa natureza estão
normalmente associadas à presença de infiltração, eflorescência, do acúmulo de limo e da eventual
corrosão de armadura exposta, que surgem em ambientes onde não se preveniu o contato constante
com a água.
2.2. Umidade
Problemas relativos à umidade representam um dos principais transtornos enfrentados em uma
edificação durante sua vida útil. São inúmeros os fatores que a tornam bastante frequente: clima,
idade da construção, materiais e técnicas empregadas durante a construção, entre outros.
Normalmente, as patologias relacionadas à presença de água surgem a partir de outras manifestações
patológicas, intensificando a problemática no local [10].
Além das patologias referentes à presença de trincas e fissuras, foram encontrados muitos outros
pontos danificados pela água. Manchas de umidades eram comumente localizadas nos corredores,
nos degraus das escadas, nas paredes adjacentes aos banheiros e às salas, em razão, principalmente,
à umidade ascensional (no pavimento térreo), às infiltrações oriundas dos pavimentos superiores e à
ausência de caimento de água adequado. Esse panorama acaba sendo responsável pela inevitável
deterioração do revestimento, que envolve a aplicação de massa niveladora e pintura.
2.3. Deterioração e Desplacamento de revestimento
Os concretos, atualmente, vêm sendo dosados com quantidades significativas de aditivos para
otimizar certas propriedades do material. Após a concretagem utilizando formas plastificadas, uma
película de nata de cimento e aditivo pode se formar nas faces do elemento estrutural em questão,
prejudicando a aderência entre o concreto e o emboço, o que justifica o desplacamento de
revestimento ocorrido em determinados pontos da edificação.
Este panorama é potencializado, ainda, pela ausência de pingadeiras e de chapins (também
conhecidos como chapéus de muro) apropriados, indicando mais uma deficiência de projeto e
execução. Basicamente, as patologias encontradas se relacionam, de modo que a presença de uma
patologia leva ao surgimento de outra. Neste contexto, a negligência quanto à execução ou
manutenção preventiva da edificação que é responsável por uma manifestação patológica específica
torna-se causadora dos problemas posteriores a ela associados.
3. ESTUDO DE CASO
O estudo de caso do trabalho em questão busca descrever a edificação na qual foi realizada o
levantamento das manifestações patológicas além de caracterizar a metodologia adotada no
desenvolvimento da pesquisa.
3.1. Descrição da Edificação
Como o presente trabalho visa associar os problemas patológicos detectados em uma edificação
pública às suas possíveis causas e eventuais terapias, é necessário conhecer efetivamente o objeto de
estudo: Trata-se do Edifício Engenheiro Itamar Franco, destinado aos cursos de Engenharia e
Arquitetura da Universidade Federal de Juiz de Fora. A edificação teve sua conclusão em 2011,
quando suas instalações começaram a atender à faculdade. Sua arquitetura é simples, sendo composto
de três pavimentos de aproximadamente 1000 m² cada. Apresenta, além da entrada principal, acesso
ao antigo prédio da Engenharia e a um estacionamento construído posteriormente para atender o
aumento da demanda por vagas na faculdade. Há, ainda, quatro auditórios anexos ao prédio principal,
sendo dois maiores de 240 m² e dois menores de apenas 112 m².
Possui fachada frontal voltada para o sudeste e sua estrutura é constituída, basicamente, por concreto
armado com vedação composta por blocos cerâmicos. Sua cobertura consta de telhas termoacústicas,
bem como os anfiteatros. Cada pavimento contém quatro banheiros, sendo dois masculinos e dois
femininos, além de oito salas de aula. No centro da edificação encontra-se um espaço aberto, cuja
área é de 220 m², sendo esta gramada. Conta ainda com um elevador, o qual permanece desabilitado
até o fim da elaboração deste estudo. Abaixo, as figuras 1 e 2 apresentam a fachada do prédio e a
planta baixa do primeiro pavimento, respectivamente.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se, a partir dos levantamentos realizados, que as fachadas representam os locais de maior
incidência de manifestações patológicas. Dentre as quais, destaca-se o surgimento de fissuras,
presentes por toda a extensão do prédio, seja por formação de gradiente térmico ou por falhas na
transferência de tensões na interface entre materiais.
Vale ressaltar, ainda, a presença de diversos pontos apresentando destacamento de argamassa de
revestimento do substrato, além dos problemas acerca da umidade. Geralmente, essas anomalias se
relacionam intrinsecamente à falta de qualificação da mão-de-obra e às consequentes falhas na
execução do projeto, aliadas à escolha inadequada de materiais. A ausência de um planejamento
adequado associada à deficiência quanto à manutenção preventiva e corretiva acarretam patologias
de naturezas variadas, com recorrência em todos os setores do edifício.
O quadro patológico encontrado no objeto deste estudo refere-se a uma edificação com projetos
desprovidos de detalhes construtivos e com prazos inadequados ou inexequíveis. Este panorama
elucida a aceleração do processo natural de ocorrência das patologias, que incidem normalmente a
longo prazo, muito comum em obras públicas, onde são frequentes divergências entre a construtora
e o órgão beneficiado, que por sua vez peca em relação à fiscalização da construção.
Deste modo, evidencia-se que as edificações públicas de maneira geral não são projetadas nem
executadas com enfoque na durabilidade, haja vista que a vida útil mínima das estruturas de concreto
no Brasil, segundo a norma de desempenho NBR 15575 [12] deve ser igual ou superior a 50 anos, e
a construção avaliada na presente pesquisa apresentava diversos problemas patológicas já nos
primeiros anos de idade.
Ademais, grande parte das anomalias abordadas apresentam possibilidade de tratamento efetivo.
Entretanto, é necessário que cada procedimento seja adotado de forma rápida e precisa, com a
finalidade de mitigar a problemática e evitar com que o risco à população evolua.
Portanto, conclui-se que o conhecimento acerca das patologias, suas causas e mecanismos de
propagação permite a identificação de possíveis riscos à saúde e segurança dos usuários. Neste
contexto, torna-se evidente a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas de preservação
predial, até mesmo quanto ao fator econômico, uma vez que eventuais reparos, reformas ou até
mesmo a construção de novas estruturas representam um gasto muito maior junto à entidade pública,
quando da não adequação de projeto e execução das edificações.
REFERÊNCIAS
[1] KLAMT, R. A.; PINHEIRO, L. P. Análise de Manifestações Patológicas em Edificações da Cidade de Rodeio
Bonito/RS–Estudo de Caso. RECeT-Revista de Engenharia, Computação e Tecnologia, v. 1, n. 1, 2017.
[2] PEREZ, A. R. Umidade nas Edificações: recomendações para a prevenção de penetração de água pelas fachadas.
Tecnologia de Edificações, São Paulo. Pini, IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo,
Coletânea de trabalhos da Div. de Edificações do IPT, 1985.
[3] CAMPOS, L. T.; SILVA, M. R. C.; CORDEIRO, L. N. P.; PAES, I. N. L. Estudo de Caso: Manifestações Patológicas
em Fachadas de Edificações Antigas em Belém–PA. PATORREB, 2018.
[4] VERÇOZA, E. J. Patologia das Edificações. Porto Alegre, Ed. Sagra, 1991.
[5] OLIVEIRA, D. F. Levantamento de Causas de Patologias na Construção Civil. Trabalho de conclusão de curso,
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Rio de Janeiro, 2013.
[6] FIGUEIREDO, E. P. Mecanismo de Transporte de Fluidos no Concreto. In: ISAIA, G. C. Concreto, Ensino, Pesquisa
e Realizações. São Paulo: IBRACON, 2005.
[7] LADEIRA, R. V. M. Unidade de atenção primária a saúde x patologias: realidade e perspectivas. Monografia
(Graduação em Engenharia Civil) – Curso de Graduação em Engenharia Civil, UFJF, Juiz de Fora, 2011.
[8] THOMAZ, E. Trincas em edifícios: causas, prevenção e recuperação. 2. ed. São Paulo: Pini, 2013.
[9] BARRETO, L.; RAMOS, J. L. M.; BERENGUER, R. A.; CARNEIRO, F. L.; NASCIMENTO, E. C.; MONTEIRO,
E. C. B. Análises das manifestações patológicas em estruturas de concreto armado de sub-estações de energia elétrica
(subestação Joairam). In: 2º Congresso brasileiro de patologia das construções (CBPAT-2016), 2016, Belém - PA.
Anais... Belém-PA, 2016.
[10] JONOV, C. M. P.; NASCIMENTO, N. O.; SILVA, A. P. Avaliação de danos às edificações causados por
inundações e obtenção dos custos de recuperação. Ambiente Construído, v. 13, n. 1, p. 75-94, 2013.
[11] LICHTENSTEIN, N. B. Patologia das construções: procedimento para diagnóstico e recuperação. Boletim técnico
06/86. São Paulo: Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 1986.
[12] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edifícios Habitacionais: Desempenho.
Rio de Janeiro, 2013.
GERAÇÃO DE RESÍDUOS DE CONCRETO EM CENTRAIS DOSADORAS
DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE
Juliana Vieira MARTINS 1, Silvia Pereira FREIRE 2, Rodolfo Rabelo NEVES 3, White José dos
SANTOS 4
1
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, julianavmartins@outlook.com.br
2
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, sil.freire09@gmail.com
3
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, rodolforabelon@gmail.com
4
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, whitejsantos@gmail.com
Resumo: A elevada geração de resíduo de concreto dosada em central é uma preocupação mundial.
Diferentes tipos de resíduos de concreto são produzidos em uma central dosadora. Estudos foram
realizados a fim de reduzir a geração, como os aditivos estabilizadores de hidratação e centrais de
reciclagem, ou o de viabilizar o seu aproveitamento em compósitos cimentícios ou na produção de
cimento. O objetivo desse trabalho é verificar o cenário atual das principais concreteiras da região
metropolitana de Belo Horizonte no que diz respeito ao tratamento e destinação dos resíduos
gerados pelo processo de produção do concreto. Foram realizadas visitas a nove centrais onde foi
aplicado um questionário para obter informações a respeito da produção do concreto, além do
armazenamento e destinação do resíduo. Observou-se a variação nos materiais utilizados em função
dos diferentes traços produzidos. Todas as centrais possuem tanques de decantação que recebem a
água de lavagem dos caminhões-misturadores, podendo ou não receber também os traços
devolvidos à concreteira e outros diferentes resíduos de concreto. A fase líquida presente nos
tanques é totalmente aproveitada em todas as centrais, porém, a fase decantada, chamada de lama
residual, é enviada a baias onde fica armazenada até ser transportada para sua destinação final.
Diferentes destinações foram encontradas, sendo que, aproximadamente 38% do resíduo é enviado
a aterros. O volume de geração de lama residual em relação ao volume de concreto produzido
variou de 0,2 a 7,5%. Conclui-se que, apesar dos vários estudos relacionados ao seu
aproveitamento, ainda não foi encontrada uma solução que possibilite o aproveitamento ou a não
geração do resíduo na prática.
Palavras-chave: Central dosadora de concreto, lama residual de concreto usinado (LRCU), resíduo
de construção civil, gestão de resíduos sólidos.
Abstract: The high ready-mixed concrete waste’s generation is a worldwide concern. Different
types of concrete residues are produced in batching plants. Studies have been carried out in order to
reduce generation, such as hydration stabilizing additives and recycling plants or to enable their use
in cement composites or in cement production. This study aims to verify the current scenario of
main concrete batching plants in Belo Horizonte’s metropolitan area in relation to the treatment and
destination of waste generated by the concrete production process. Visits were made to nine
different batching plants where questions about the concrete production, storage and destination of
the waste were made. It was observed the variation of materials used in function to different
concrete mix design produced. All the plants have decantation tanks that receive the washing water
from the mixer trucks, and may or may not also receive concrete mixtures that returned to the
concrete batching plant and also other different concrete wastes. The liquid phase present in the
tanks is totally utilized in all the plants, however, the decanted phase which is called residual mud,
is sent to bays where it is stored until it is transported to its final destination. Different destinations
were found, and approximately 38% of the waste is sent to landfills. The volume of residual sludge
generation in relation to produced concrete volume ranged from 0.2 to 7.5%. It is concluded that,
despite the several studies related to its use, a solution has not yet been found that allows the use or
non-generation of this residue.
Keywords: Ready-mixed concrete batching plants, Concrete slurry waste (CSW), building waste,
solid waste management.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, em 2017, o consumo aparente de cimento foi de 54,2 milhões de toneladas, considerando
as vendas no mercado interno e importação [1]. Ainda esse ano, 17% do consumo total de cimento
foi absorvido por concreteiras [2]. Uma pesquisa realizada pela Associação brasileira de cimento
Portland (ABCP) [3], estimou que 51 milhões de m³ de concreto dosado em central foram
produzidos em 2012. A produção desse concreto, somados os vinte países membros da European
ready mixed concrete organization (ERMCO) foi de 366,1 milhões de m³, enquanto apenas nos
Estados Unidos a produção foi de 265 milhões de m³ [4].
O volume de resíduo de concreto dosado em central é variável, sendo estimados percentuais de 1 a
4% na Europa e 9% no Brasil [5]. Com base nessas estimativas, em 2012 no Brasil,
aproximadamente 4,6 milhões de m³ de resíduo podem ter sido gerados e nos membros da ERMCO,
em 2016, até 14,6 milhões de m³. Ou seja, 19,2 milhões de m³ desse resíduo pode ser gerado em um
ano, considerando apenas 22 dos 193 paises que compõe a ONU [6]
Diferentes tipos de resíduos de concreto fresco podem ser gerados em uma central dosadora. Um
deles é o concreto devolvido, que retorna das obras sem ser descarregado [6serifou]. Outro tipo é o
resíduo proveniente dos tanques de decantação cujo principal componente é a água de lavagem dos
caminhões betoneira [5][8][9][10]. A pasta de cimento que sobra após a passagem do concreto
residual por máquina recicladora é outro tipo de resíduo que pode ser gerado [11] [12].
Algumas alternativas podem ser adotadas dentro das concreteiras a fim de reduzir o resíduo gerado
no processo produtivo. As centrais de reciclagem são equipamentos que separam a pasta de cimento
dos agregados, que podem ser utilizados nos traços posteriores [13]. Outra alternativa é a utilização
de aditivo estabilizador de hidratação (AEH), que ao ser incorporado à água de lavagem dos
caminhões betoneira, estabiliza a hidratação do cimento até a produção do próximo traço. Essa nova
mistura poderá ser feita no dia posterior ou após um final de semana ou um final de semana
prolongado. Os teores de aditivo serão variáveis de acordo com o tempo de estabilização [14].
Diferentes estudos foram realizados visando o aproveitamento esses concretos residuais em
misturas de materiais cimentícios. Em substituição aos agregados em concretos [6][11][7][8][10] e
blocos de concreto [15], ao fíler e areia em argamassas [9] e também em substituição ao clínquer no
cimento Portland [16]. Entretanto, poucos estudos avaliaram a atual situação da gestão dos resíduos
de concreto nas centrais dosadoras. Esse estudo é importante para verificar se os trabalhos
realizados anteriormente foram suficientes para minimizar a geração ou viabilizar o seu
aproveitamento, reduzindo assim sua destinação para aterros.
O objetivo desse trabalho é verificar o cenário atual da geração de resíduos de concreto em centrais
dosadoras da região metropolitana de belo horizonte. Para que o objetivo geral seja alcançado, será
realizada uma pesquisa de como e quais os traços estão sendo produzidos em maior volume, além
dos materiais utilizados nas misturas. Será também averiguado como o resíduo está sendo gerado e
sua destinação.
2. MÉTODOS
Foram realizadas visitas a nove concreteiras na região metropolitana de Belo Horizonte onde foi
aplicado um questionário e coletado material (LRCU e fíler calcário) para caracterização. O
questionário aplicado, cujos tópicos analisados estão listados na Tabela 1, foi aplicado para obter
informações a respeito da produção do concreto e do resíduo e sobre o armazenamento e destinação
da água e da lama dos tanques de decantação.
3. RESULTADOS
Durante a fase de produção dos traços, são gerados diferentes tipos de resíduos, provenientes dos
processos listados abaixo e estão resumidos na Fig. 2:
Tabela 2 - Materiais utilizados para produção dos traços nas CDC's visitadas.
Tanques de decantação
Reaproveitamento em
atividades da concreteira Aterro
(dosagem do concreto, ou
limpeza interna dos balões, Reaproveitamento
limpeza do pátio, etc.)
Os resíduos contaminados por óleo devem ser separados dos resíduos de concreto, tratados e
destinados da forma correta. O resíduo de concreto, que é depositado nos tanques de decantação é
variável, geralmente provenientes dos cinco primeiros itens ou de parte deles. O objeto de estudo
deste trabalho é o resíduo sedimentado nos tanques de decantação sendo chamado de lama residual
de concreto usinado (LRCU).
A produção mensal das CDC’s visitadas variou de 2.500 a mais de 10.000 m³ e para atender a essas
demandas possuem de 7 a 45 caminhões betoneira, cuja lavagem interna dos balões é realizada ao
final do dia ou, em dias de menor produção, a lavagem é feita sempre que o caminhão ficará parado
por mais tempo. Observou-se que os resíduos coletados nas baias possuíam diferentes formas de
geração, podendo ser provenientes da lavagem dos caminhões, do pátio de operações, do concreto
que retorna das obras e da dosagem do concreto. Houve variação também na frequência de coleta
do resíduo para envio às baias de armazenamento, conforme demonstrado no Tabela 3.
Tabela 3 - Tipo de geração do resíduo nas CDC's visitadas.
As centrais 7 e 6 depositam o concreto que retorna das obras (devolvido) diretamente nas baias de
armazenagem. As centrais 3 e 9 depositam esse resíduo nos tanques de decantação. Pode-se
perceber (Fig. 3) que algumas centrais estão reciclando a LRCU gerada para reaterro de valas, como
bica corrida, por meio do aditivo estabilizador de hidratação (AEH) ou através de máquina
recicladora. Porém a maior destinação das LRCU’s ainda são os aterros sanitários. Esse resultado
concorda com o que foi observado por Serifou et al. [7], que afirmam que a pratica atual de
gerenciamento desse resíduo é sua utilização em estradas ou seu descarte em aterros sanitários.
A reutilização como bica corrida e sub-base para pavimentação é realizada por empresas
terceirizadas que recolhem o resíduo das centrais sem custo. É uma alternativa benéfica para as
CDC’s, uma vez que eliminam o gasto com o transporte e descarte da LRCU.
Em todas as centrais a ARCU era aproveitada principalmente para produção de novos traços, mas
também foi observada sua utilização em atividades variadas das CDC’s como lavagem interna dos
balões dos caminhões, molhagem de agregados, lavagem do pátio de operações, etc. A água do
último tanque de decantação é bombeada para caixas d’água de água reciclada. Em alguns casos é
misturada à água potável e em outros é aproveitada sem essa mistura. A quantidade de tanques de
decantação varia de uma central para outra. No caso das centrais visitadas essa quantidade variou de
3 a 11.
3. CONCLUSÃO
Observou-se variação nos materiais utilizados em função dos diferentes traços produzidos. Todas as
centrais possuem tanques de decantação que recebem a água de lavagem dos caminhões-
misturadores, podendo ou não receber também os traços devolvidos à concreteira e outros diferentes
resíduos de concreto. A fase líquida presente nos tanques é totalmente aproveitada em todas as
centrais, porém, a fase decantada, chamada de lama residual, é enviada a baias onde fica
armazenada até ser transportada para sua destinação final.
Diferentes destinações foram encontradas, sendo que, aproximadamente 38% do resíduo são
enviados a aterros. O volume de geração de lama residual em relação ao volume de concreto
produzido variou de 0,2 a 7,5%. Conclui-se que, apesar dos vários estudos relacionados ao seu
aproveitamento, ainda não foi encontrada uma solução que possibilite o aproveitamento ou a não
geração do resíduo na prática.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao apoio da Universidade Federal de Minas Gerais e aos órgãos de fomento: CAPES,
FAPEMIG e CNPQ.
REFERÊNCIAS
[1] SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO (SNIC). Resultados Preliminares de Dezembro de
2017, 2017. Disponível em: http://snic.org.br/numeros-resultados-preliminares-ver.php?id=20. Acessado em:
28/09/2018.
[2] SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO (SNIC). Perfil da distribuição do cimento por
regiões e estados, 2017. Disponível em: http://snic.org.br/assets/pdf/numeros/1537281273.pdf. Acessado em:
28/09/2018.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND - ABCP. Pesquisa inédita e exclusiva revela cenário
do mercado brasileiro de concreto, 2013. Disponível em: <http:// www.abcp.org.br/cms/imprensa/noticias>
Acessado em: 29/09/2018.
[4] European Ready Mixed Concrete Organization (ERMCO). Ready-Mixed Concrete Industry Statistics: Year 2016,
2017. Disponível em: http://ermco.eu/new/wp-content/uploads/2018/07/ERMCO-Statistics-2016-18.02.04.pdf.
Acessado em: 29/09/2018.
[5] CORREIA, S. L. et al. Assessment of the recycling potential of fresh concrete waste using a factorial design of
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[6] NACOES UNIDAS NO BRASIL ONUBR. Paises membros da ONU. Disponível em:
<https://nacoesunidas.org/conheca/paises-membros/> Acessado em: 16/10/2018.
[7] SÉRIFOU, Mamery et al. A study of concrete made with fine and coarse aggregates recycled from fresh concrete
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[9] AUDO, Mariane; MAHIEUX, Pierre-Yves; TURCRY, Philippe. Utilization of sludge from ready-mixed concrete
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efficiency for ready-mix concrete plants. Waste Management, v. 56, p. 337-351, 2016.
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hidratação. 92 f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Construção Civil) – Universidade Federal de Minas
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[15] KOU, Shi-cong; ZHAN, Bao-jian; POON, Chi-sun. Properties of partition wall blocks prepared with fresh
concrete wastes. Construction and Building Materials, v. 36, p. 566-571, Hong Kong , 2012.
[16] SCHOON, Joris, BUYSSER, Klaartje De, DRIESSCHE, Isabel Van, BELIE, Nele De. Feasibility Study of the Use
of Concrete Sludge As Alternative Raw Material for Portland Clinker Production. Journal of Materials in Civil
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[17] SOUZA, Aline Ferreira de. Otimização do uso de aditivo estabilizador de hidratação do cimento em água de
lavagem dos caminhões-betoneira para produção de concreto. 182 f. Dissertação (Pós-Graduação em
Engenharia Civil) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007.
PANORAMA PRÁTICO-LEGISLATIVO DAS CAPITAIS DA REGIÃO
SUDESTE QUANTO À GESTÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL
(RCC)
Resumo:
O setor da construção civil é um dos que mais geram resíduos sólidos no país, os quais são
raramente reaproveitados e causam grandes impactos ao meio ambiente. Sob este foco, o objetivo
da pesquisa realizada foi analisar se a legislação e os planos de gestão de resíduos sólidos vigentes
nas capitais da região Sudeste contemplam à questão do gerenciamento dos resíduos de construção
civil (RCC) como proposto pela Resolução nº 307/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) e pela Lei nº 12.305/2010, que configura a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), bem como levantar dados acerca do cumprimento dessas leis e planos de gestão nos
municípios estudados. Os métodos adotados para a realização desse trabalho condizem com o
estudo de referencial bibliográfico sobre a gestão dos RCC, tais como as legislações pertinentes a
nível nacional, estadual e municipal sobre o tema, os planos de gestão de resíduos sólidos dos
municípios observados, além de trabalhos atuais que tiveram como foco os RCC em tais capitais.
Foi possível identificar que os planos para gestão de RCC nas capitais da região Sudeste focam
mais em reciclagem e deposição correta dos resíduos do que em ações educativas visando a não
geração de entulho em obras, o que perpetua a indústria da construção civil como grande geradora
de resíduos. Neste contexto, os autores propõem adequações aos planos e aos mecanismos legais
vigentes nas capitais em estudo de forma a abarcar a questão da não geração de resíduos. E, ainda,
que as instituições formadoras de profissionais para a indústria da construção civil, do nível básico,
técnico e superior valorizem a temática da sustentabilidade em suas grades curriculares.
Abstract: The civil construction sector is one of the ones that generate the most solid waste in the
country, which is rarely reused and causes great impacts on the environment. Under this focus, the
objective of this research was to analyze whether the legislation and solid waste management plans
in the capitals of the Southeast region address the issue of the management of civil construction
waste (CCW) as proposed by Resolution nº 307/2002 of the Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) and Lei nº 12.305/2010, which establishes the Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), as well as collect data on compliance with these laws and management plans in the
municipalities studied. The methods adopted to carry out this work are consistent with the study of
bibliographic reference on the management of CCW, such as the pertinent national, state and
municipal legislation on the subject, the solid waste management plans of the cities observed,
besides current publications about CCW in such capitals. It was possible to identify that the CCW
management plans in the capitals of the Southeast region focus more on recycling and correct
disposal of waste than on educational actions aimed at not generating rubble in works, which
perpetuates the construction industry as a major generator of waste. In this context, the authors
propose adjustments to the legal plans and to the mechanisms in force in the capitals under study to
cover the issue of non-generation of waste. And, also, that institutions that train professionals for
the civil construction industry, at the basic, technical and higher levels, value the sustainability
theme in their curricular grades.
Keywords: civil construction waste, civil construction industry, brazilian legal framework,
sustainability.
1. INTRODUÇÃO
Com a proximidade da virada para o terceiro milênio, as Nações Unidas definiram a partir da
Agenda Global, assinada por 179 países em 1992, inclusive o Brasil, medidas a serem adotadas
paulatinamente visando uma melhor configuração para o desenvolvimento mundial, primando por
um melhor relacionamento entre o homem e o ambiente em que ele se insere. Buscando internalizar
as aspirações de desenvolvimento sustentável na realidade nacional, o governo brasileiro formulou
e promulgou em 2002 a Agenda 21 Brasileira, a qual expõe os desafios a serem superados nos
âmbitos econômico, político e social para que o país passe a desenvolver-se de forma sustentável
[1].
Tendo como primeiro objetivo a abolição da cultura do desperdício, visando uma economia
ambientalmente correta, pode-se elencar dentre as ações prioritárias expostas na Agenda a
recomendação pela formulação de leis que gerissem a questão dos resíduos sólidos no país, com
enfoque para a redução e reaproveitamento destes [1]. Seguindo essa linha, em julho do mesmo ano
o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) publicou em formato de resolução
generalidades e procedimentos referentes à gestão dos resíduos da construção civil (RCC),
costumeiramente chamados entulho de obras, definidos como aqueles advindos de processos
construtivos ou de manutenção, assim como resíduos de demolição e movimentação de terra. O
mesmo instrumento legal abrangeu aspectos tais como definições acerca do tema, classificação dos
resíduos (referente à possibilidade de reciclagem e risco à saúde), e gestão destes por parte dos
geradores e da esfera pública [2].
No que tange à nivelação da preferência para o manejo de RCC, o CONAMA apresentou como
objetivo prioritário a não geração de resíduos e, secundariamente, a redução, a reutilização, a
reciclagem a e a destinação final dos resíduos [2], como indicado na Figura 1. O modelo hierárquico
proposto dialoga com as proposições de outros autores [3–5], além de primar pela diminuição do
impacto descomunal implicado pela construção civil no meio ambiente, visto que este setor
consome cerca de 40% das matérias-primas exploradas no mundo atual [6].
Fig. 1 – Modelo geral para gestão de RCC
Mesmo com o alavancar da preocupação a nível nacional sobre a gestão de resíduos sólidos, é
comum que tal manejo sustentável seja encarado como uma ação corretiva para o momento
presente, sendo que em realidade a gestão de RCC deve ser uma medida educativa, para que
empresas e órgãos responsáveis exerçam suas funções da forma mais sustentável possível [20].
Como é consenso em vários autores [16, 19, 21, 22] uma das medidas de cunho técnico mais
eficazes para uma melhor gestão do RCC é a capacitação dos funcionários envolvidos na
construção. Udawatta, Zuo, Chiveralls e Zillante [22] apontam ainda que incentivos financeiros,
como redução de impostos, e a dedicação de maior atenção às etapas de projeção, supervisão da
execução e gerenciamento da obra são elementos a serem encorajados para uma melhor gestão dos
RCC. Visto o cenário ainda manufatureiro da construção civil no Brasil, a profissionalização
daqueles que trabalham em obras, seja nos projetos ou na execução em si, poderia culminar em
menor geração de resíduos e melhor segregação do que fosse posteriormente gerado, visando a
correta destinação.
Nessa conjuntura, buscou-se no presente trabalho comparar as leis e os planos adotados nas capitais
da região Sudeste relacionados à gestão de resíduos da construção civil (RCC) com a Resolução nº
307/2002 do CONAMA e a Lei nº 12.305/2010, verificando o direcionamento das legislações
municipais e o nível de incorporação das premissas preconizadas pelos documentos federais.
Considerou-se ainda, estudos de caso nessas capitais e outras fontes de dados, identificando-se o
grau de intervenção do poder público nas questões relativas à gestão de RCC.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
O desenvolvimento do presente trabalho deu-se por meio de estudos de caráter bibliográfico sobre a
temática dos RCC, tendo como principal fonte de informações os elementos legislativos a nível
nacional, estadual e municipal acerca da gestão desse tipo de resíduos. Concomitante a esse aspecto,
foram também trabalhados os planos municipais das capitais da região Sudeste que tratam sobre o
tema, assim como os relatórios disponibilizados pelas prefeituras em meio online e estudos de caso
realizados por outros estudiosos sobre as mesmas cidades. Para corroborar a discussão, levantou-se,
ainda, trabalhos nacionais e internacionais sobre a gestão de resíduos gerados na construção civil,
focando nos aspectos principais da sua gestão, ou seja, não geração, reuso e reciclagem, objetivando
elencar soluções viáveis para os problemas enfrentados pelas capitais brasileiras estudadas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente [23], somente os estados do Rio de Janeiro e de
São Paulo apresentavam Plano Estadual de Resíduos Sólidos na região Sudeste, estando em
elaboração os planos referentes a Minas Gerais e Espírito Santo.
No entanto, as quatro unidades federativas já possuem leis estaduais que tratam sobre uma Política
Estadual de Resíduos Sólidos, o que contrasta com a realidade observada. São elas a lei nº
4.191/2003 do Rio de Janeiro [24], a lei nº 12.300/2006 de São Paulo [25], a lei nº 18.031/2009 de
Minas Gerais [26] e a lei nº 9.264/2009 do Espírito Santo [27], as quais apresentam generalidades
semelhantes quanto às diretrizes e aos instrumentos para a gestão de resíduos sólidos.
Os resíduos provindos da construção civil aparecem efetivamente somente na legislação estadual de
São Paulo, onde são enquadrados como uma das categorias de resíduos sólidos, além de serem
definidos os responsáveis pelo seu gerenciamento [25]. Na lei estadual capixaba é citado
unicamente que os resíduos da construção civil, assim como os demais, são geridos por um órgão
gestor específico, o Comitê Gestor de Resíduos Sólidos (COGERES) [27].
Já no âmbito das capitais da região, são visíveis certas divergências quanto ao tratamento dado às
exigências advindas da resolução nº 307/2002 do CONAMA acerca da gestão de resíduos da
construção civil (RCC). É apontado na resolução como instrumento para a gestão de RCC o Plano
Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PIGRCC), a ser formulado por
municípios e pelo Distrito Federal. Como consta no art. 6º, deverá integrar o PIGRCC [2]:
• Diretrizes quanto a formulação de planos de gerenciamento pelo município e pelos
geradores de RCC, em vista de possibilitar o exercício da responsabilidade por todos;
• Cadastramento de áreas destinadas a alocar temporariamente pequenos volumes a serem
triados e, posteriormente, destinados a áreas de beneficiamento e disposição final de
resíduos;
• Processos de licenciamento para áreas de beneficiamento e disposição final de resíduos e
proibição de locação de resíduos em áreas não licenciadas;
• Incentivo à reciclagem e à reutilização de materiais provindos de resíduos da construção
civil;
• Ações de orientação, fiscalização e controle dos agentes envolvidos, tais como critérios para
cadastramento de transportadores; e
• Práticas educativas almejando a redução dos RCC e uma melhor segregação destes por parte
da população.
A PNRS [6], por sua vez, reafirma a necessidade de planos de gestão de resíduos sólidos para
municípios, recomendando as soluções consorciadas intermunicipais e a sujeição das empresas de
construção civil à elaboração de planos de gerenciamento de resíduos sólidos. No entanto, os
tópicos referentes a essas questões são vagos e não expõe objetivamente parâmetros e/ou
mecanismos a serem adotados de maneira a sofisticar a logística de RCC no país.
Tendo tais premissas em foco, serão expostos os marcos legais relativos à gestão de resíduos da
construção civil nas quatro capitais da região Sudeste, Belo Horizonte/MG, São Paulo/SP,
Vitória/ES e Rio de Janeiro/RJ, buscando relacionar a legislação e os planos municipais pertinentes
com o que é preconizado a nível federal, bem como sua validade.
4. CONCLUSÃO
Torna-se claro, a partir do exposto, que nenhuma das capitais estudadas segue plenamente o que é
preconizado a nível federal quanto a gestão de RCC, fato devido, principalmente, à morosidade do
poder público em fazer valer o aparato legislativo pertinente.
A premência pela não geração e redução da geração de resíduos em obras e reformas é encontrada
somente no plano de gestão de RCC belo-horizontino, o que figura a capital mineira como a que
melhor se atem ao que é preconizado pelo CONAMA e pela PNRS, por mais que ainda sejam
necessários maiores investimentos e melhores práticas para manejo dos RCC produzidos no
município. Rio de Janeiro e São Paulo, por sua vez, prezam majoritariamente pela questão da
reciclagem e do reaproveitamento dos resíduos de construção civil. O PIGRCC de Vitória, por fim,
ainda está em processo de elaboração, sendo necessária a reformulação da legislação vigente para
melhor atender à problemática dos RCC no município.
É perceptível nas legislações e nos planos municipais que tratam sobre a gestão de resíduos nas
capitais da região Sudeste, portanto, a manutenção de uma visão corretiva, ou seja, mais voltada a
melhores procedimentos de destinação e tratamento do entulho gerado em obras no momento
presente em detrimento de um posicionamento mais ambiental-educativo, que estimule a adoção de
práticas, técnicas e novas tecnologias que induzam à não geração ou à geração mínima de RCC.
Por mais que a reciclagem e o reaproveitamento dos RCC sejam práticas de grande interesse para
determinados setores da economia, o impacto ambiental gerado pelo transporte e pelo
processamento dos resíduos são fatores a serem considerados, o que reafirma a necessidade da
promoção de práticas construtivas mais enxutas no cenário nacional.
Logo, compete aos órgãos governamentais cabíveis das capitais estudadas fiscalizar e fazer valer as
legislações e o planejamento vigentes sobre o assunto, reformulando-os para que acatem à questão
da não geração e redução da geração de resíduos da construção civil. Para tal, recomenda-se a
convocação de corpo técnico-administrativo especializado para que sejam realizadas as corretas
alterações e aplicadas as melhores medidas para uma gestão mais sustentável dos RCC. Às
instituições formadoras de profissionais do ramo da construção civil concerne o incentivo ao ensino
e à pesquisa de temáticas relativas à projeção e gerenciamento de obras mais ambientalmente
viáveis, primando pela sustentabilidade.
REFERÊNCIAS
[1] COMISSÃO DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DA AGENDA 21 NACIONAL.
Agenda 21 Brasileira – Ações Prioritárias. 2. ed. Brasília/DF: Ministério do Meio Ambiente, 2004.
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a gestão dos resíduos da construção civil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 2002.
[3] YUAN, H. Key indicators for assessing the effectiveness of waste management in construction projects. Ecological
Indicators [online], v. 24, p. 476–484, 2013. doi:10.1016/j.ecolind.2012.07.022.
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[36] SÃO PAULO (MUNICÍPIO). Decreto no 54.991, de 2 de abril de 2014. Aprova as alterações e consolida o Plano
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[37] SÃO PAULO (MUNICÍPIO). Lei no 13.478, de 30 de dezembro de 2002. Dispõe sobre a organização do sistema
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CONTRIBUIÇÕES PARA A UTILIZAÇÃO DE ENERGIA GEOTÉRMICA
NO BRASIL
Adriana Coelho Vieira1, Brunno Daibert Andrès2, Luis M. Ferreira Gomes3, Peter Kallberg4
1
UFJF – UBI, Juiz de Fora, Brasil, adriana.vieira@engenharia.ufjf.br
2
UFJF – UBI, Juiz de Fora, Brasil, brunno.daibert@engenharia.ufjf.br
3
UBI, Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal, lmfg@ubi.pt
4
Sylvander Trading Lda, Estocolmo, Suécia, peter.kallberg@sylvander.pt
Abstract: Into the perspective to increase the renewable energy sources in the composition of the
global energy matrix for sustainable economic and social development, in strict respect for the
environment, as well as a mitigating element for climate change, is confronted with the pressure of
demand by resources generated by the growth of the world population. In this context and in order
to improve the economic and social in balance with the environment, come to light the source of
energy due to the heat coming from the interior of the earth, geothermic energy. In addition, beyond
the fact to being renewable, clean and with restricted environmental impacts, it has a maximum
energy availability rate of up to 24 hours a day (uninterrupted) throughout the year. In this essay,
the present work, after a brief reference on the need for renewable energies, presents some basic
conceptual and technical aspects about geothermal energy, in a next phase to focus on the
geothermal potential of Brazil, with a synthetic presentation of the main uses. In the end, some final
considerations are made in order to encourage and increase the exploration and utilization of
geothermal energy in Brazil.
Keywords: renewable energy, geothermal energy, electricity, direct geothermal uses, Brazil.
1. INTRODUÇÃO
Mesmo em um cenário de baixa fertilidade, a presente taxa de crescimento da população mundial
(Tabela 1) permite estimar que no ano de 2050 existirão 9,8 mil milhões de pessoas [1], o que
orienta para não haver qualquer tendência de diminuição ou manutenção na atual demanda por
energia para atender a todas as necessidades dessas pessoas.
Tabela 1 - Perspetiva da evolução da população nas várias regiões do mundo ao longo do tempo [1]
População (Milhões)
Região
2017 2030 2050 2100
Mundo 7 550 8 551 9 772 11 184
África 1 256 1 704 2 528 4 468
Ásia 4 504 4 947 5 257 4 780
Europa 742 739 716 653
América Latina e Caraíbas 646 718 780 712
América do Norte 361 395 435 499
Oceania 41 48 57 72
Em adição, de forma conjunta à necessidade crescente por energia para atender à população
mundial, existe também importante questão da necessidade de redução da emissão de gases que
causam o chamado “efeito estufa”. Os temas têm sido alvo de discussão nos meios acadêmico e
científico há várias décadas, mas ganharam repercussão mundial e contorno de cooperação entre as
diversas nações a partir da Cimeira do Verão de 1992, também chamada “Eco-92” ou “Rio 92”,
realizada na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. A cimeira produziu como resultado o documento
intitulado de “Agenda 21” no qual cada país participante se comprometeu a refletir e envolver todos
os setores de sua sociedade no estudo de soluções para os problemas resultantes das alterações
climáticas e socioambientais nele expressos. Nesse âmbito houve consenso no que tange à
necessidade da diminuição na emissão de gases com efeito estufa e, para tal efeito, não se poderia
ter um desenvolvimento sustentável sem o uso de fontes de energia renováveis. Nesse sentido, ficou
estabelecido o objetivo de cada país formular programas nacionais para o desenvolvimento de
energias renováveis em vários setores: solar, hídrico, eólico, geotérmico e de biomassa [2].
De qualquer modo enfatiza-se que mesmo as fontes de energia renováveis sendo em sua maioria
consideradas limpas ou que não causam poluição ambiental, é facto que não se pode dizer que
deixem de causar quaisquer impactos ao meio ambiente. Por exemplo, uma central hidroelétrica
quando de sua implementação e operação, por vezes demanda a constituição de grande reservatório
e extenso troço de rio com caudal reduzido afetando os ecossistemas existentes em nível de macro e
micro-habitat. Uma segunda observação deve ser colocada no sentido de que quanto mais fiável e
constante é a disponibilização da energia, maior é a segurança de uma sociedade na sua utilização
para fomento de seu desenvolvimento e menor é a dependência de fontes complementares. Essa
segunda consideração é devida em virtude de a maioria das fontes possuir “gargalos” que afetam
sua pronta disponibilidade e que podem ser, por exemplo, devido a fatores hidrológicos sazonais no
caso de aproveitamentos hidráulicos ou intermitência dos ventos no caso de eólicas.
Das fontes de energia anteriormente mencionadas, a geotérmica é uma das que mais se destaca por
conseguir colidir com os interesses da proteção ao meio ambiente (limpa e renovável) e prover
fiabilidade no sentido da disponibilidade da energia necessária a servir como alicerce para o
desenvolvimento económico e social, pois podem funcionar 24 horas por dia sem problemas de
intermitência.
b)
c)
Figura 1 - Componentes principais e esquemas de princípio de sistemas “plug and play” que permitem produzir eletricidade a
partir de água quente disponível a temperaturas desde 70ºC [7]
i)
ii)
Figura 2 - Central Geotérmica de Soultz-sous-Forêts na Alsácia, do tipo HDR (Hot Dry Rock): i) sua localização; ii)) imagem real
da Central Geotérmica; iii) esquema de princípio da estação piloto da central geotérmica [11]
Aquecimento de ambiente
Aquecimento de estufas
Aquacultura
Usos Industriais
Banhos e Natação
Outras
Figura 3 - Diferentes usos diretos em aproveitamentos geotérmicos no mundo em 2015 (sem bombas de calor geotérmicas) [13]
Figura 4 - Esquema de princípio dos sistemas exploração/produção de energia geotérmica no Polo das Termas de São Pedro do Sul
(Portugal) e em particular no Hotel do Parque [14]
Nesta fase é de referir os sistemas de trigeração, que a partir de fontes de água quente natural, com
temperaturas muito inferiores a 100ºC, consegue-se climatizar em frio, usando refrigeradores de
adsorção, que são ativados termicamente e, portanto, têm um consumo de eletricidade
insignificante. A refrigeração por adsorção é uma alternativa de climatização muito económica e
ecológica. Sobre a situação de usar máquinas de refrigeração termicamente ativadas com energia
geotérmica, para fins de climatização em frio pode ser consultada em ANASTASIOUA et al. [15].
O uso da geotermia de muito baixa temperatura (T < 20ºC), é conhecido tradicionalmente pelo uso
de bombas de calor geotérmicas (BCG) e mais recentemente também por Geotermia Superficial
(GS). A utilização de GS, como tecnologia, baseia-se no facto da temperatura do solo ser constante
(cerca de 13ºC a 17ºC dependendo da região e da profundidade). Captando-se essa temperatura
constante do solo, para um fluido a circular numa conduta, que evolui até à bomba de calor (Figura
5). A bomba de calor tem como missão receber aquela temperatura e função do objetivo aumenta-a
ou diminui-a, para que um outro fluido evolua até ao local de consumo, em aquecimento ou
arrefecimento. Pode considerar-se que estes sistemas são constituídos, basicamente, por três
principais componentes: a captação (solo), a bomba de calor, e a emissão (aproveitamento). A
captação pode ser de várias maneiras, como se mostra na Figura 5; podem usar-se sistemas de tubos
geralmente de polietileno colocados na horizontal, na vertical, ou até em fundações de edifícios
quer em estacas, quer até associadas a sapatas contínuas de grandes muros de suporte, usando um
fluido que pode ser água glicolada ou um fluido frigorígeno que circula continuamente em circuito
fechado; a captação pode ainda ser de água subterrânea, e esta ser usada diretamente a circular no
tubos até à bomba de calor e depois de transferir o seu calor, ser reinjetada no sistema aquífero.
A terceira componente, a emissão, permite a produção de águas quentes sanitárias, e no caso de
climatização em aquecimento pode ser assegurado através da instalação de piso radiante,
radiadores, e ventilo-convectores; no caso de climatização em arrefecimento devem-se usar os
ventiloconvectores devido a eventuais condensações.
i)
iv)
ii)
v)
iii)
Figura 5 - Esquemas de princípio dos sistemas exploração/produção de energia geotérmica no âmbito da Geotermia Superficial
(com T < 20ºC) para climatizar edifícios (aquecer e/ou arrefecer) e aquecimento de águas sanitárias: i) esquema de principio geral,
evidenciando a bomba de calor ao centro, o sistema de captação de calor do solo à esquerda e o sistema de transferência de energia
para o local de consumo à direita; ii) a v) sistemas de captação de calor do solo [16]
3. ENERGIA GEOTÉRMICA NO BRASIL
Paleozoic
Grupo de Nascentes
Figura 6 - Localizações dos principais sistemas de nascentes termais no Brasil e relação com as suas pricipais unidades geológicas e
aplicações [18]
Tabela 2 - Caracteristicas das principais sistemas de Nascentes Termais do Brasil [18]
Localidade Coordenadas Caudal Temperatura Potência
Latitude Longitude (L/s) (ºC) (MWt)
Cachoeira Dourada 18.4920 49.4750 139 40 6
Caldas Novas 17.7478 48.6258 333 57 35
Itajá 19.1333 51.6000 400 38 15
Rio Quente 17.7478 48.6258 1667 42 70
General Carneiro 15.7000 52.7667 152 46 10
Águas do Veré 25.8833 52.9167 694 38 23
Piratuba 27.4200 51.7720 194 38 7
Cornélio Procópio 23.1747 53.6469 14 39 2
Araçatuba 21.2090 50.4330 417 48 31
Fernandópolis 22.8400 50.2460 14 48 2
Jales 20.2667 50.5500 14 59 2
Paraguaçu Paulista 22.4130 50.5760 14 61 2
Presidente Epitácio 21.7630 52.1160 28 78 6
Presidente Prudente 22.1260 51.3890 56 63 8
São José do Rio Preto 20.8156 49.3858 28 45 2
Taubaté 23.0250 45.5586 28 48 2
Total 223
Correlation
relation between ultrasonic pulse velocity and thermal conductivity of cement
cement-
based composites
Júlia Castro Mendes 1, Rodrigo Rony Barreto2, Laís Cristina Barbosa Costa 3, Guilherme Jorge
Brigolini Silva4, Ricardo André Fiorotti Peixoto5
1
Universidade Federal de Ouro Preto
Preto, Ouro Preto, Brasil, julia.mendes@ufop.edu.br
2
Universidade Federal de Ouro Preto
Preto, Ouro Preto, Brasil, rodrigobarretoo@outlook.com
3
Universidade Federal de Ouro Preto
Preto, Ouro Preto, Brasil, lais.cristina.costa@gmail.com
4
Universidade Federal de Ouro Preto
Preto, Ouro Preto, Brasil, guilhermebrigolini@ufop.edu.br
5
Universidade Federal de Ouro Preto
Preto, Ouro Preto, Brasil, fiorotti.ricardo@gmail.com
Resumo: Ao longo dos últimos anos, o setor da engenharia civil vem buscando adotar medidas
sustentáveis; através, por exemplo, da seleção e uso de materiais com reduzida condutividade
térmica nos sistemas de vedação. Esta propriedade é diretamente relacionada com a composição das
matrizes cimentícias,, juntamente com seu sistema de poros. Paralelamente, esses mesmos fatores
influenciam a velocidade de pulso ultrassônico (VPU) das matrizes.. Neste sentido, o presente
trabalho avalia a correlação entre a condutividade térmica e VPU. Para este propósito,
propósito foram
analisados três traços de argamassas com areia natural de rio, cimento e cal hidratada (1:3, 1:1:6 e
1:2:9); com três dosagens de aditivo incorporador de ar (0%, 0.05% e 0.5%). Um coeficiente de
determinação satisfatório (R² > 0,
0,9) foi obtido entre a condutividade térmica e a velocidade de pulso
ultrassônico das argamassas. A principal vantagem deste método é a velocidade de medição e
portabilidade do equipamento. Isso permitiria uma rápida avaliação in situ da cond
condutividade térmica
das alvenarias das edificações.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Materiais
Para a preparação das argamassas, foram utilizados os seguintes materiais: cimento Portland CPV-
ARI; cal hidratada; agregados miúdos; água potável e um aditivo incorporador de ar (AIA) à base
de Linear Alquil Benzeno Sulf
ulfonato de Sódio (LAS). Os agregados miúdos consistem em areia de
rio natural. As amostras foram coletadas de forma representativa, de acordo com as prescrições
normativas da NBR 10007 [17]
[17]. Antes da mistura, o agregado miúdo foii peneirado na malha # 4
(4,75 mm) e seco em estufa a 105°C.
O cimento Portland de alta resistência inicial foi escolhido por apresentar o menor teor de aditivos
minerais entre os demais tipos de cimento brasileiros. De acordo com a Norma NBR 5733 [18], em
vigor durante o período de realização dos ensaios, este produto contém 95% - 100% de clínquer e
gesso e apenas 0% - 5% filler calcário inerte
inerte. Cal hidratada tipo CH-I foi adotadadevido
adotad ao seu alto
nível de pureza [19]. Finalmente
Finalmente, o AIA baseado em LAS, avaliado em um trabalho anterior [20],
consiste em uma associação de sulfactantes aniônicos entre 6 e 10%10%:: LAS; Linear Alquil Benzeno
Sulfonato de Trietanolamina e Lauril Éter Sulfato de Sódio
Sódio[21]. Duas concentrações de AIA foram
utilizadas: 0,05% e 0,5%, além da argamassa de referência (0%).
0%
10%
Porcentagem acumulada
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
0,001 0,01 0,1 1
Diâmetro das partículas (mm)
Fig. 1 – Distribuição granulométrica do agregado miúdo por peneiramento e difração a laser
A caracterização química foi realizada por fluorescência de raios X (FRX). Observa-se que a areia
do rio compreende principalmente óxidos de silício (59,6%) e alumínio (31,3%). Finalmente, o
módulo de finura [22] e a massa específica aparente e específica do agregado [23] são mostrados na
Tabela1.
Tabela1 – Propriedades físicas dos agregados
Areia de Rio
Massa Específica (g/cm³) 2.65
Massa Específica Aparente (g/cm³) 1.58
Módulo de Finura 0.61
2,80
3 2,40
2,05
1,90
1,69
1,60
1,48
1,42
1,31
1,27
2
1,11
1,06
1,06
0,90
0,90
0,78
0,78
0
0.05%
0.05%
0.05%
0.5%
0.5%
0.5%
0%
0%
0%
Fig. 2–Relações
Relações água/ligantes (a/l) e água/cimento (a/c) das argamassas produ
produzidas
zidas com agregado natural com
0%, 0,05% e 0,5% de teor de AIA.
Para cada mistura, foram moldados 4 corpos de prova em forma de placa,, de dimensões 300 × 300
× 50 mm. A cura foi realizada em câmara úmida por 28 dias; temperatura 25 ± 2 ° C e umidade
relativa de 90% ± 5%.
2.4 Caracterização Térmica das Argamassas
A condutividade térmica foi obtida com um medidor de fluxo de calor (HFM) tipo Lambda HFM
436, fabricado pela NETZSCH. Antes do teste, os corpos de prova foram secos
seco em estufa a 80 °C e
pesados a cada 24h até a perda de massa não exceder 0,5% em dois intervalos subsequentes. Este
procedimento procurou nivelar o conteúdo de água livre de todas as placas para o nível mais baixo
possível. O valor final da condutividade térmica foi dado pela média da
dass 4 placas na temperatura
média de 20 °C e diferença de temperatura
temperaturade 10 °C.
3 RESULTADOS E DISCUSS
DISCUSSÕES
1,4
1,26
1,13
Condutividade Térmica
1,2
0,98 0,94
1,0
0,82 0,79
0,75
(W/mK)
0,8
0,58 0,55
0,6
0,4
0,2
0,0
0% 0.05% 0.5% 0% 0.05% 0.5% 0% 0.05% 0.5%
Fig. 4– Condutividade térmica de argamassas produzidas com agregado natural com teor de AIA de 0%, 0,05%
e 0,5%.
2500 2000
2000 1800
VPU(m/s)
(kg/m³)
1500 1600
1000 1400
500 1200
0 1000
0% 0.05% 0.5% 0% 0.05% 0.5% 0% 0.05% 0.5%
Fig. 5 – Média de VPU,, variação média de VPU dentro dos corpos de prova e massa específica aparente média de
argamassas produzidas com agregado natural com teor de AIA de 0%, 0,05% e 0,5%.
Esta redução deve-sese provavelmente aos efeitos do AIA, reduzindo a tensão superficial da água e
estabilizando oss poros do estado fresco ao endurecido [20][31][32]. Além disso, o crescente teor de
cal promove a retenção de água, o que contribui para uma porosidade aumentada e refinada
[33][28][30], como notado nos resultados de condutividade térmica. A diminuição da massa
específica aparente foi mais significativa dentro dos traços de argamassaa (1:3, 1:1:6 e 1:2:9) do que
entre elas. Por sua vez, a VPU apresentou uma diferença mais expressiva entre as misturas de
argamassa e para teor de AIA de 0,5%.
A tendência da VPU se origina do aumento da reflexão e refração que ocorrem quando as ondas
sonoras
oras interagem com as interfaces argamassa / ar [25][11]. Quanto mais interfaces (ou seja,
poros) existem e quanto menor a rigidez da amostra, maior será o tempo de trânsito dos pulsos
ultrassônicos [34][10]. Esses fenômenos explicam o decréscimo da VPU com conteúdo de AIA
(0,5%) e também entre as misturas de argamassa. Uma relação semelhante entre porosidade e VPU
foi observada por Lafhaj, et al.
al.[35] e Lafhaj & Goueygou [36]para
para argamassas,
argamassas e por Punurai, et
al.[37] para pastas de cimento.
É perceptível que para argamassas com 0,05% de AI AIA, a VPU foi semelhante ou menor do que para
as 0% de AIA, apesar de apresentarem,
presentarem, em média, 5% menor densidade aparente. Isso pode ser um
efeito da concentração mais baixa de AIA. De acordo com um trabalho anterior [20] e apoiado por
Łaźniewska-Piekarczyk[38],, Du &Folliard, [32]e Ramachandran [39], o baixo teor de AIA leva a
um refinamento do sistema de poros, evit evitando
ando que os vazios de ar se difundam para bolhas
circundantes maiores. Além disso, a melhoria na capacidade de trabalho promovida pelo AIA leva a
uma redução darelação a/c. Esses dois fatores culminaram em uma matriz mais porosa (como
mostrado pela sua massa sa específica aparente), mas seu sistema de poros refinados não afetou
significativamente sua rigidez (mantendo assim valores semelhantes de VPU).
VPU
R² = 0,80
1,0
(W/mK)
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
0 500 1000 1500 2000 2500
Massa específica aparente (kg/m³)
Fig. 6 – Relação entre condutividade térmica e massa específica das argamassas
1,4
1,2 R² = 0,76
Condutividade Térmica
1,0
(W/mK)
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
VPU (m/s)
Fig. 7 - Relação entre a condutividade térmica e a velocidade de pulso ultrassônico (VPU) de argamassa
1,2
1,0
(W/mK)
0,8
0,6
0,4 R² = 0,93
0,2
0,0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
VPU(m/s)
Fig. 8 - Relação entre condutividade térmica e Velocidade de pulso ultrassônico (VPU) de argamassas
produzidas com agregado natural com 0% e 0,05% de AIA e com 0,5% de AIA.
Sabe-se
se que um alto teor de AIA aumenta o número de vazios com diâmetros maiores juntamente
com a porosidade total [20][38]
[38][39].. Poros maiores e maior porosidade total geram uma matriz
menos uniforme, o que significa que os pulsos ultrassônicos
sônicos devem percorrer caminhos mais longos
e mais variados [34][10]. Nesse caso, as alterações promov
promovidas
idas pelo teor de 0,5% de AIA
AI na
estrutura dos poros das argamassas foram tão significativas que não puderam ser comparadas às
demais.
Além disso, deve-se se notar que, enquanto o teste de condutividade térmica com o equipamento HFM
levou 2-3h por amostra, o ensaio de ultrassom requer apenas alguns minutos. Esta é uma vantagem
importante do método. Portanto, embora os resultados atuais sejam baseados em correlações de
escala
ala laboratorial, a leveza e a flexibilidade do equipamento de VPU permitem que ele seja usado
in situ também. Isso exigirá curvas de calibração específicas, mas é uma alternativa promissora.
4 CONCLUSÃO
Em resumo, foi encontrada uma relação linear com um coeficiente de determinação satisfatório
(R²> 0,9) entre a condutividade térmica e a VPU para a argamassa.. Esse resultado é válido para
compostos com componentes e estrutura de matriz semelhantes. Foi observado
ervado que esta estrutura
dos poros do compósito influencia fortemente a VPU, bem como eles influenciam a condutividade
térmica. Esta é provavelmente a razão pela qual uma melhor correlação foi encontrada entre a VPU
e a condutividade térmica do que entre a VPU e a massa específica aparente (que avalia somente a
porosidade total).
A principal vantagem deste método é a velocidade de medição e portabilidade do equipamento. No
entanto, semelhante a outras propriedades que estão correlacionadas com a VPU (por exemplo,
resistência à compressão e homogeneidade
homogeneidade), ), esta técnica deve ser usada em conjunto com uma
curva de calibração para alcançar uma precisão significativa. Sabendo da sua eficácia, é agora
possível estudar melhor a relação entre a VPU e a condutividadee térmica em pastas de cimento e
concretos.. Além disso, técnicas e curvas de calibração para medições indiretas podem ser
desenvolvidas para sistemas de vedação convencionais. Isso permitiria uma rápida avaliação in situ
da condutividade térmica das alvena
alvenarias das edificações.
Agora é possível que pesquisador
pesquisadores com materiais semelhantes aos aqui estudados
estudado avaliem suas
condutividades térmicas dentro das curvas apresentadas. Além disso, os desenvolvedores de
matrizes cimentícias podem reduzir o tempo e o custo necessários para o teste de várias amostras
usando o método VPU.. Como a VPU é um método comparativo, é possível usar testes de
condutividade
dade térmica para algumas amostras principais e usar a VPU para interpolar os outros.
5 AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer as instituições FAPEMIG, CAPES, UFOP e CNPq pelo apoio
financeiro para a realização e apresentação dessa pesquisa. També Também somos gratos pela
infraestrutura e colaboração do Grupo de Pesquisa em Resíduos Sólidos – RECICLOS – CNPq.
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ESTADO DA ARTE DO COEFICIENTE DE EMPUXO NO REPOUSO DE
SOLO SATURADO E NÃO SATURADO – REVISÃO E PERSPECTIVAS
State of the Art of Coefficient of Earth Pressure at Rest of Soil Saturated and
Unsaturated — Review and Perspectives
Resumo: Para o conhecimento do estado de tensão natural do solo, expresso pelo coeficiente de
empuxo no repouso ( K 0 ), emprega-se a realização de ensaios de laboratório em amostras
indeformadas. A importância da determinação desse parâmetro para solos residuais e coluvionares
diz respeito à aplicação em obras de engenharia que envolvam empuxo de terra e fundações. Surgiram
muitos métodos para a determinação do coeficiente de empuxo no repouso ( K 0 ): correlações
empíricas, ensaios de laboratório e ensaios in situ. Existem correlações na literatura para a
determinação de K 0 que provém de pesquisas desenvolvidas considerando solos sedimentares,
tipicamente de regiões temperadas ou frias. Todavia, ao tratar-se de solos residuais e coluvionares,
típicos de regiões de clima tropical, não é condizente utilizar essas correlações, visto que o K 0 é
afetado por vários fatores, tais como a sucção, grau de intemperismo, processo de laterização, entre
outros que também afetam solos sedimentares saturados. Dessa forma, ensaios de laboratório e de
campo são essenciais para a determinação e avaliação do K 0 . Esta revisão abrange alguns dos
principais métodos para a determinação do coeficiente de empuxo no repouso desses solos nas
condições saturado e não saturado. Além disso, o presente estudo incluiu dados de ensaios mais
recentes para a determinação de K 0 em solo residual e coluvionar, apresentando as principais
características peculiares desses solos - bem como os impactos gerados pela sucção e o intemperismo
no valor do K 0 , além dos equipamentos desenvolvidos para esses estudos, abrangendo desde os
primeiros instrumentos até os mais modernos. Por fim, almeja-se que esta revisão sirva como material
de auxílio e estímulo para profissionais que projetam obras que envolvam empuxo de terra para a
avaliação dos impactos gerados pela variação do coeficiente de empuxo no repouso nas obras de
engenharia e no meio científico.
Abstract: For the knowledge of the natural stress state of the soil, expressed by the coefficient of
earth pressure at rest (K 0 ), a laboratory test is used in undisturbed samples. The importance of the
determination of this parameter for colluvium soils relates to the application in engineering works
that involve buoyancy of earth and foundations. Many methods were used to determine the earth
pressure at rest (K 0 ): empirical correlations, laboratory tests and in situ tests. There are correlations
in the literature for determination K 0 that comes from researches developed considering sedimentary
soils, typically from temperate or cold regions. In dealing with residual and colluvium soils, typical
of tropical regions, it is not appropriate to use these correlations, since K 0 is affected by several factors,
such as degree of weathering, laterization processes and suction, among others that also affect
saturated sedimentary soils. In this way, laboratory and field tests are essential for the determination
and evaluation of K 0 . This revision covers some of the main methods for the determination the
coefficient of earth pressure at rest in this soils of saturated soils and unsaturated conditions. In
addition, the present study included data from more recent trials for the determination of K 0 in
residual and colluvium, presenting the main peculiar characteristics of these soils - as well as the
impacts generated by suction and weathering in the K 0 , beyond the equipment developed for these
studies, ranging from the first instruments to the most modern ones. Finally, it is hoped that this
review will serve as a source of aid and encouragement for professionals who design works involving
ground thrust for the evaluation of the impacts generated by the variation of the lateral thrust
coefficient in engineering works and in the scientific environment.
1. INTRODUÇÃO
Devido à grande necessidade na engenharia em prever o comportamento de tensão-deformação dos
solos sob carregamento torna importante conhecer o estado de tensão in situ que ocorre inicialmente
no solo (VAUGHAN e KWAN, 1984). O coeficiente de empuxo no repouso é definido como a razão
entre tensões efetivas horizontais e verticais. Assim, é um parâmetro que expressa o estado natural
atuando no solo. A determinação desse valor deve, portanto, ser uma prática comum em engenharia.
Os solos residuais, bem como os solos coluvionares, típicos do território brasileiro, diferentemente
dos solos sedimentares, apresentam um comportamento in situ particular, uma vez que condicionantes
do meio físico, fatores geológicos e geotécnicos, entre outros, como clima, relevo e vegetação afetam
as suas propriedades. Visto isso, utilizar de correlações para o coeficiente de empuxo no repouso (K 0 )
obtido para solos sedimentares, tipicamente das regiões temperadas ou frias não é condizente, sendo
essencial a sua determinação em laboratório ou em campo para cada tipo de solo residual e coluvionar.
2. OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa é estudar o coeficiente de empuxo no repouso (K 0 ) de solo saturado e não
saturado, apresentar os principais ensaios de laboratório e campo que permitem a sua determinação,
exemplificar os fatores que afetam tal parâmetro, bem apresentar a sua faixa de variação em estudos
mais recentes, com o intuito a contribuir para a melhor compreensão do comportamento desse solo
típico do território brasileiro em termos de propriedades de engenharia à pesquisadores e projetistas
de obras de terra.
3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O conceito de coeficiente de empuxo no repouso (K 0 ) foi introduzido dentro da mecânica dos solos
clássica por Donath (1891), como sendo a razão entre a pressão horizontal 𝜎ℎ e a pressão vertical 𝜎𝑣
atuantes em um solo decorrentes de um carregamento vertical sob a condição de deformação lateral
nula (Brooker e Ireland, 1965):
𝜎ℎ
𝐾0 = (1)
𝜎𝑣
A definição do coeficiente de empuxo no repouso através dessa formulação assume que a tensão
horizontal in situ é igual em todas as direções. Considerar que o solo está submetido a um estado
hidrostático de tensões in situ só é válido para solos que não sofreram deformações horizontais e
terrenos horizontais ou tensões tectônicas na sua história geológica.
Posteriormente, estudos foram realizados por Bishop e, a Equação (1) foi modificada para expressar
o K 0 em termos de tensões efetivas, e assim, englobar o papel fundamental exercido pela poropressão
no comportamento dos solos:
σ′h 𝜎ℎ − 𝑢
K0 = = (2)
σ′v 𝜎𝑣 − 𝑢
De acordo com os resultados de ensaios de laboratório em argila realizados por Brooker e Ireland
(1965) e apresentados na Figura 1, a definição do coeficiente de empuxo no repouso apresentada por
Bishop mostrou ser mais adequada ao comportamento de solos normalmente adensados, onde devido
à linearidade da curva de tensão efetiva vertical versus tensão efetiva horizontal, obtêm-se um valor
único de K 0 na primeira reta de carregamento independentemente do nível de tensões atuante.
Entretanto, notaram que o K 0 obtido em um determinado nível de tensões era maior durante o
descarregamento, onde há o pré-adensamento do solo, do que na fase de carregamento, onde o solo
encontra-se normalmente adensado.
Figura 1- Relação entre tensões verticais e radiais (BROOKER e IRELAND, 1965).
A relação entre a tensão efetiva horizontal e a tensão efetiva vertical é fortemente dependente da
deformação lateral. Durante a deposição de solos em camadas horizontais, geralmente não há a
deformação lateral do maciço, uma vez que as dimensões horizontais são consideradas infinitas com
relação à dimensão vertical, então, diz-se que, durante a deposição, o solo encontra-se sob um estado
de tensões no repouso e o coeficiente de empuxo no repouso é definido para deformação lateral nula.
Além das formulações apresentadas, a Equação 5, proposta pelos pesquisadores Fredlund e Rahardjo
(1993), mostra a definição do K 0 para solos não saturados.
(𝜎ℎ − 𝑢𝑎 )
K0 = (5)
(𝜎𝑣 − 𝑢𝑎 )
Surgiram muitos métodos para a determinação do coeficiente de empuxo no repouso. Esses métodos
foram classificados por Hamouche et al. (1995) em três categorias: correlações empíricas, ensaios de
laboratório e ensaios in situ.
1− sin φ’0
𝐾0 = 1+ sin φ’0 (6)
Em 1943, Terzaghi define o coeficiente de empuxo no repouso como sendo a relação entre a tensão
principal horizontal e a tensão principal vertical na condição do maciço em repouso, que depende do
tipo de solo, da história de tensões e da origem geológica (TERZAGHI, 1943).
Jaky (1944) propôs uma das mais conhecidas correlações para a determinação de K 0 em termos do
ângulo de atrito interno (∅′ ), a Equação 7. Para tal evidência, Jaky (1944) analisou um talude de solo
granular com inclinação igual ao ângulo de repouso (maior inclinação com a horizontal na qual o
maciço permanece em equilíbrio) e admitiu que este ângulo é igual ao ângulo de atrito interno (∅′ ).
Ao se tratar de solos sedimentares ou normalmente adensados, nos quais o ângulo de atrito no
repouso é igual ao ângulo de atrito a volume constante (∅′ cv), esta hipótese assumida se torna
razoável (MESRI e HAYAT, 1993).
2
1+ sin φ’
𝐾0 = (1 − sin φ’) 3
(7)
1+sin φ’
Esta equação é muito utilizada, pois apresenta boas estimativas de K 0 (MESRI e HAYAT, 1993).
Hendron (1963) √5 √5 ′
∅′ = ângulo de atrito efetivo
1 1 + 8 − 3 8 sen ∅
Ko = [ ]
2 √5 √5
1+ +3 sen ∅′
8 8
Diversos outros estudos foram realizados com o intuito de correlacionar o K 0 com o limite de liquidez,
índice de plasticidade, fração argila, coeficiente de uniformidade, índice de vazios, porosidade,
densidade embora não comprovada a aplicação em todos os tipos de solo (FJODOROV e
MALYSHEV, 1959; ALPAN, 1967; MASSARSCH, 1979; FLAVIGNY, 1980; KÈDZI, 1975; HOLTZ
E KOVACS, 1981; SHERIF e ISHIBASHI, 1981). A Tabela 2 apresenta um resumo das principais
correlações encontradas na literatura que levam em consideração este parâmetro.
Tabela 2 - Correlações para o coeficiente de empuxo no repouso em termos de porosidade, plasticidade e
densidade.
O efeito da história de tensões foi inicialmente avaliado por Brooker e Ireland (1965). Os autores
observaram a linearidade da curva tensão efetiva vertical versus tensão efetiva horizontal durante o
primeiro carregamento e obtiveram valores superiores de K 0 na curva de descarregamento. Em 1982,
Mayne e Kulhawy identificaram a mesma tendência.
Szepesházi (1994) apontou como explicações para a linearidade da curva K 0 durante o primeiro
carregamento e, maiores valores de K 0 na curva de descarregamento que o solo é anisotrópico e tem
comportamento inelástico e não linear.
Schmidt (1966) encontrou uma relação aproximadamente linear do K 0 em função do OCR ao plotar
valores conhecidos de K 0 e OCR de diversos materiais em escala logarítmica.
K 0R = K 0 OCRα (9)
Onde:
K 0R = coeficiente de empuxo no repouso durante o recarregamento;
K 0 = coeficiente de empuxo no repouso na condição normalmente adensada;
𝑂𝐶𝑅 = razão de sobreadensamento;
𝑎 = parâmetro que depende do tipo de material e independe da história de tensões.
Os ensaios triaxiais conhecidos como de parede flexível, são aqueles em que uma membrana de
borracha confina a amostra, (membrana látex), apresentando como vantagens a ausência de atrito
entre o solo e a sua parede de confinamento, e o controle das suas pressões laterais e axiais, enquanto
a deformação lateral é mantida através de um monitoramento da deformação radial. Além disso, a
mensuração das tensões laterais é possível se um fluido celular confinante incompressível e uma
célula triaxial rígida forem usados, como por exemplo, Ting et al (1994), Bishop e Henkel (1957). As
desvantagens estão relacionadas em manter uma tensão radial nula em todo o altura da amostra
quando o ensaio é baseado em medição de deformação radial (TING et al., 1994).
Os testes de parede rígida compreendem aqueles em que a borda lateral rígida confina a amostra,
como no caso de testes edométricos. Nestes testes, o requisito de deformação lateral nula é
tipicamente obedecido. Como apontado por Ting et al (1994), a principal desvantagem de tais ensaios
é a medida da tensão horizontal devido à ocorrência de atrito lateral entre a amostra e a parede de
confinamento rígida do anel edométrico.
Os ensaios K 0 realizados em prensas triaxiais são muito versáteis, uma vez que é possível ter o
controle independente das tensões axial e lateral e das poropressões.
• Volume controlado:
Uma célula extremamente rígida é utilizada para confinar a pressão do fluido que envolve o corpo
de prova que encontra-se isolado por uma membrana flexível. O pistão de carregamento possui o
mesmo diâmetro do corpo de prova, o que permite garantir a condição de deformação lateral nula,
uma vez que a variação de volume do corpo de prova será igual ao volume ocupado pelo pistão. A
pressão desenvolvida no fluido pode ser medida por um transdutor de pressão e é igual a pressão
lateral total que ocorre no corpo de prova.
(b) Ensaios Edométricos:
O ensaio edométrico para a determinação de K 0 é semelhante ao ensaio de adensamento
edométrico convencional, entretanto, sua célula requer um sistema que permita a medição da
tensão horizontal. Pela literatura técnica científica, existem três principais tipos de células
edométricas para a determinação de K 0 , cujas características estão apresentadas abaixo (TING et
al., 1994).
• Arcos semi-rígidos:
O problema de atrito lateral entre as paredes e o corpo de prova pode ser diminuído ao confinar o
corpo de prova com uma série de arcos semi-rígidos de deformação calibrada e separados por
pequenos espaços anelares. A fim de que não haja a saída de material do corpo de prova por estes
espaços, o corpo de prova é revestido por uma membrana flexível. Esta técnica de ensaio permite
a determinação da tensão lateral em vários pontos ao longo da altura do corpo de prova, porém são
necessárias deformações laterais para que isso aconteça.
Para cada tipo de solo são utilizados métodos específicos de medição in situ do K 0 do solo. Sendo
assim, em argilas moles (K 0 <1) são empregados os métodos de células de pressão total, fratura
hidráulica e pressiômetro, tanto em argilas rijas (K 0 >1) quanto em areias são recomendados o uso
de pressiômetros, preferencialmente os auto-perfurantes, já em rochas brandas os ensaios de
fratura hidráulica. A seguir são detalhados os métodos de medição de K 0 in situ para os solos
abordados acima:
a) Células de pressão total: esse tipo de equipamento é responsável pela medição direta de tensão
horizontal total, sendo necessárias estimativas ou medições da poropressão e da tensão vertical
total. Usualmente é empregada a célula de Glotzl, tendo versões mais atualizadas produzidas por
Tavenas et al., (1975) e Massarsch et al., (1975).
b) Fratura hidráulica: o ensaio consiste em impor a abertura de uma fissura no solo ao realizar o
bombeamento de água dentro do piezômetro até que a pressão de água gere a abertura dessa fissura.
No instante após a abertura da fissura, interrompe-se o bombeamento, com o tempo a pressão vai
reduzindo e o fluxo de percolação é monitorado até que a pressão torne-se tão pequena que gere o
fechamento da fissura. Sabe-se que a tensão que leva ao fechamento da fissura, ocorre no plano de
atuação da menor tensão vertical total in situ, ou seja, da tensão horizontal total.
c) Pressiômetro: o método do pressiômetro que consiste na introdução de sondas pressiométricas
no solo pode ser realizado por meio do pressiômetro clássico, bem como do pressiômetro auto-
perfurante, a depender do tipo de solo a ser ensaiado.
O conhecimento da origem dos solos residuais e dos fatores que afetam a sua resistência é essencial
para compreender o seu comportamento em termos de tensão-deformação. A Tabela 4 mostra as
principais características presentes nos solos residuais que são peculiaridades desse tipo de solo.
Tabela 4 - Comparação entre as características dos solos residuais e transportados (BRENNER et al., 1997).
Durante o processo de formação dos solos residuais (intemperismo), os mesmos podem sofrer um
ligeiro desconfinamento vertical devido à perda de massa e à transferência de diversos minerais
entre os horizontes do solo. Isto significa uma alteração progressiva do estado de tensões in situ.
Dessa forma, é praticamente desprezível o efeito da história de tensões nos solos residuais durante
o seu processo de formação (VAUGHAN, 1988).
De acordo com Brenner et al., (1997), a cimentação, é caracterizada como uma “coesão aparente”,
sendo uma característica peculiar que atua como uma componente de resistência, conferindo maior
resistência ao cisalhamento dos solos residuais tropicais. Segundo Vaughan (1988), as causas para
o desenvolvimento da cimentação são: aparecimento de ligações durante o processo de alteração
química dos minerais; solução e nova precipitação de agentes cimentantes, tais como os silicatos,
e cimentação por meio da deposição de carbonatos, óxidos/hidróxidos de ferro, matriz orgânica,
dentre outros.
Outras propriedades peculiares desses solos, tais como a anisotropia, a heterogeneidade do solo e
outras propriedades, como a cimentação, dificultam a elaboração de um modelo conceitual que
generalize o seu comportamento. Como consequência, os solos residuais conferem respostas
distintas e extremamente difíceis de se prever frente às solicitações. O comportamento
anisotrópico desses solos se deve a herança da rocha matriz, principalmente, ao tratar-se de solos
originados de rochas metamórficas, onde a mica presente pode originar superfícies mais frágeis e
de cisalhamento (MENDES, 2008).
Os aspectos mineralógicos e químicos dos solos residuais apresentam grande diferença em relação
aos solos sedimentares. A mineralogia é responsável por conferir aos solos residuais características
de expansibilidade ou não, dentre outras propriedades mecânicas do solo. Além disso, a
composição dos minerais primários e elementos químicos presentes no mesmo em conjunto com
as condições climáticas, o regime e a intensidade de chuva, relevo, microorganismos e drenagem
irão definir os argilominerais e a cor do solo (SALOMÃO e ANTUNES, 1997 apud FUTAI, 2002).
Os ensaios na prensa com sucção controlada realizados por Daylac (2004) relataram uma variação
média de K 0 de 0,20 a 0,24, no carregamento, para um solo residual jovem do câmpus da PUC-Rio.
Daylac (2004) mostrou a influência da sucção e do intemperismo nos seus estudos, e concluíram
que o aumento da sucção afeta o K 0 , reduzindo-o, e maiores valores de K 0 são encontrados em solos
menos intemperizados.
Os ensaios realizados por Alvim (2017) em solo residual gnaissico no equipamento de sucção
controlada desenvolvido por Daylac (1994) com sucções de 10, 40 e 100 kPa também mostraram a
influência do grau de intemperismo e da sucção no coeficiente de empuxo no repouso. Os valores
de K 0 obtidos por Alvim (2017) variaram de 0,60 a 0,65 no solo residual jovem, de 0,54 a 0,64 no
solo residual de transição e de 0,53 a 0,61 no solo residual maduro. Em geral, os resultados
mostraram uma diminuição do coeficiente de empuxo do repouso com o aumento da sucção e
maiores valores de K 0 no solo residual jovem, uma vez que o K 0 decresce ao longo do processo de
intemperismo.
Torres e Colmenares (2017) realizaram ensaios para a determinação do K 0 em um solo não saturado
colapsível formado por caulim e areia e chegaram a conclusões que o processo de intemperismo
influencia o desenvolvimento de uma microestrutura cimentada, que aumenta a rigidez.
Delcourt (2018), encontrou um K 0 de 0,43 ao ensaiar um colúvio saturado de um local do Rio de
Janeiro. Por outro lado, Abrantes (2019) obteve K 0 de 0,36 ao realizar ensaios C K 0 em solo
coluvionar saturado proveniente da encosta do câmpus da PUC-Rio.
4. CONCLUSÃO
No Brasil, a ocorrência de solos residuais é comum em grande parte da sua extensão territorial. Os
resultados compilados nesta revisão confirmam a variação do coeficiente de empuxo no repouso
nos solos residuais, bem como a influência do intemperismo e do grau de saturação nesse parâmetro.
Apesar do número de publicações sobre o coeficiente de empuxo no repouso no Brasil vir
aumentando constantemente, é fundamental estimular o desenvolvimento de novos estudos que
contemplem os diversos tipos de solos residuais e coluvionares, ao mesmo tempo que metodologias
são implementadas e novos métodos são determinados. Além disso, também é crucial a realização
de ensaios de laboratório e de campo de forma a obter um banco de dados que contribuam para a
melhor compreensão desses solos típicos de ocorrência no território brasileiro.
REFERÊNCIAS
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ANÁLISE DE TENDÊNCIA DE CHUVAS NO MUNICÍPIO DE JUIZ DE
FORA – MG
Analysis of Trends in the Rainfall in the Municipality of Juiz de Fora – Minas Gerais
Guilherme Batista da Silva 1, Lorena Gomes Abrantes 2, Maria Helena Rodrigues Gomes 3
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, batista.guilherme@engenharia.ufjf.br
2
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, lorenagomesabrantes@hotmail.com
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mariahelena.gomes@ufjf.edu.br
Abstract: Difficulties in the planning of activities guided by precipitation, evaporation and flow
occur due to the randomness of the hydrological processes, since their characterizations along the
space and time are dependent on the evolution of the main meteorological elements such as humidity
of the air, wind, insolation, temperature of the air, solar radiation, among others. In this way,
statistical-based instruments for the treatment of randomness are used and they are applied to the
knowledge of the trends of the factors of the hydrological cycle, to plan projects. Considering that
increase of the population generates direct demands, whether due to transportation, food, irrigation,
urban supply or electric power generation, researches that are capable of describing the historical
behavior of water resources become more relevant in the contemporary context, showing the need for
management policies developed and applied for the conservation and sustainable use of this resource.
Given the current scenario of speculation and uncertainties regarding the impacts caused by climate
change in hydrological series, this work aims to contribute to the analysis of trends in the rainfall
regime in the city of Juiz de Fora - MG, by detecting possible precipitation trends in the locality, using
a set of statistica tests, parametric and non-parametric. For this trend analysis, four rainfall stations
with at least 30 years of records were used. From these collected data, a set of annual total
precipitation series was obtained. The data collected underwent a process of visual analysis through
the construction of graphs and subsequent analysis of statistical tests for trend detection through
TREND software. The results obtained did not show significant trends for the rainfall regime of the
city of Juiz de Fora for the series of annual totals, confirming the previous hypothesis of seasonality
of annual totals. These results were corroborated and certified by the graphical analysis of the data.
1. INTRODUÇÃO
Considerando que o aumento populacional gera demandas diretas, seja pela necessidade de transporte,
alimentação, irrigação, abastecimento urbano ou para geração de energia elétrica, pesquisas que sejam
capazes de descrever o comportamento histórico dos recursos hídricos tornam-se mais relevantes no
contexto contemporâneo, mostrando a necessidade de políticas de gestão elaboradas e aplicadas para
conservação e uso sustentável deste recurso [1].
Dificuldades no planejamento de atividades norteadas pela precipitação, evaporação e vazão ocorrem
em razão da aleatoriedade dos processos hidrológicos, já que suas caracterizações ao longo do espaço
e tempo são dependentes da evolução dos principais elementos meteorológicos como umidade do ar,
vento, insolação, temperatura do ar, radiação solar, entre outros. Dessa forma, utilizam-se de
instrumentos para o tratamento da aleatoriedade baseados na estatística, a qual é vastamente aplicada
para o conhecimento das tendências dos fatores do ciclo hidrológico, para planejar empreendimentos
[1].
Diante do atual cenário de especulações e incertezas quanto aos impactos causados pelas mudanças
climáticas em séries hidrológicas, o presente trabalho visa contribuir com a análise de tendências do
regime de chuvas no município de Juiz de Fora - MG, utilizando um conjunto de técnicas estatísticas.
Observa-se com crescente frequência o aparecimento de estudos e técnicas diversas que têm como
objetivo determinar a possível existência de evidências de mudanças em séries hidrológicas temporais.
Esses estudos, em sua grande maioria, englobam em geral séries pluviométricas de valores médios,
máximos e mínimos.
A escolha de séries pluviométricas de totais anuais da cidade de Juiz de Fora é justificada, em especial,
pela ausência de estudos de tendências no regime de chuvas da região. Além do mais, trata-se de uma
cidade que, aparentemente, demonstra estar sendo afetada por eventos extremos de chuva cada vez
mais frequentes, requerendo um maior aprofundamento de estudos dessa natureza.
2. OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa é estudar as séries de precipitação registradas na cidade de Juiz de Fora -
MG, por meio da análise de séries de totais anuais, as quais são consideradas mais representativas
que as demais séries (mensais, semestrais, entre outras), de forma a identificar possíveis tendências
no regime pluviométrico por meio da utilização de técnicas estatísticas.
3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Destaca-se duas possíveis causas principais para o surgimento de erros grosseiros, sendo elas: erros
grosseiros nas medidas e erros grosseiros oriundos por modelo matemática equivocado. A detecção
de erros grosseiros em observações pode ser fácil (no caso de erros grandes, por exemplo) ou difícil
(no caso de erros irrelevantes, por exemplo), sendo feita muitas vezes somente com uso de teste
estatístico que justifique ou rejeite uma observação suspeita [5].
Dessa forma, a possibilidade de existência de erros grosseiros (outliers) cresce proporcionalmente à
quantidade dessas observações e inversamente proporcional à qualidade dos equipamentos e técnicas
utilizadas num conjunto de observações [9].
O termo “independência” significa que nenhuma observação presente na amostra pode influenciar a
ocorrência, ou a não ocorrência, de qualquer outra observação seguinte. Mesmo que uma série seja
considerada aleatória, as observações que a constituem podem não ser independentes [5].
Homogeneidade em séries hidrológicas significa que as estatísticas da série hidrológica não se alteram
com o tempo. Essa hipótese serve como base para a avaliação dos processos hidrológicos em diversos
estudos de recursos hídricos [16].
4. ESTUDO DE CASO
O município de Juiz de Fora está localizado na latitude de 21°45’51” sul e longitude 43°20’59”’ oeste,
na região sudeste do Estado de Minas Gerais. De acordo com o censo demográfico de 2010, realizado
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a cidade dispõe de uma população
estimada em quinhentos e vinte mil habitantes.
Considerando as características climáticas da região, Juiz de Fora está inserida nas classificações de
Köppen tipo Cwa, ou seja, um clima mesotérmico com verões quentes e estação chuvosa também no
verão. Este clima pode também ser definido, genericamente, como Tropical de Altitude, por
corresponder a um tipo tropical influenciado pelos fatores altimétricos, em vista do relevo local
apresentar altitudes médias entre 700 e 900 m, que contribuem para a amenização das temperaturas.
Com relação ao regime de chuvas, pode ser considerada uma região chuvosa, com precipitação média
anual em torno de 1500 mm. O clima de Juiz de Fora apresenta duas estações bem definidas: uma,
que vai de outubro a abril, com temperaturas mais elevadas e maiores precipitações pluviométricas,
e outra de maio a setembro, mais fria e com menor presença de chuvas.
Uma das características do verão local, além dos elevados índices de calor e umidade, é a presença
de chuvas de tipo convectivo, típicas de final da tarde e início da noite, acompanhadas de elevadas e
concentradas precipitações pluviométricas. Com relação à distribuição dos deslocamentos de massas
de ar, os dados mostram a presença marcante de ventos do quadrante norte. Esta característica, aliada
à existência de uma depressão alongada ao longo do fundo de vale do Rio Paraibuna, com direção
aproximadamente coincidente, forma um corredor preferencial de deslocamento de massas de ar que
se dirigem para o centro urbano da cidade, localizado ao sul.
5. METODOLOGIA
No estudo de tendências a partir de testes estatísticos, foi analisado um conjunto de quatro séries
hidrológicas, com registros de 67 anos, 73 anos, 34 anos e 31 anos, obtido por meio dos dados mensais
coletados no Sistema de Informações Hidrológicas da Agência Nacional de Águas (ANA) - Hidroweb
originando séries de totais anuais correspondentes.
O critério que norteou a seleção dos registros de precipitação total anual para a cidade de Juiz de Fora
foi séries com, pelo menos, 30 anos de registros – exigido pela Organização Meteorológica Mundial
(OMM) a fim de caracterizar o clima de uma determinada região, além de ambas se encontrarem
distribuídas homogeneamente em relação ao município de Juiz de Fora [20].
Utilizou-se para as estações pluviométricas o método de reamostragem (resampling) de 1000 réplicas
para o cálculo dos valores críticos das estatísticas de teste. Nessa perspectiva, foram processados, no
software TREND, todos os testes estatísticos disponíveis no mesmo para as 4 estações selecionadas
na cidade de Juiz de Fora, conforme mostra a Figura 1.
6. RESULTADOS
Com a aplicação dos testes: Mann-Kendal, Spermann-Rho e Regressão Linear, não foram detectadas
tendências (significâncias estatísticas em α=0,05) para as estações 02143012, 02143015 e 02143020,
como pode-se perceber nas Tabela 1,
Tabela 2 e Tabela 4. Para a estação 02143016, somente o teste de regressão linear apresentou tendência
significativa, como pode-se observar, após uma análise minuciosa, na Tabela 3.
Com relação às mudanças abruptas, após aplicação dos testes: Cusum, Cumulative Deviation,
Worsley Likelihood, Rank Sum e Student’s t, duas estações apresentaram significância estatística
para somente um teste cada uma, tendo a estação 02143012 mostrado significância para o teste t-
Student (Tabela 1) e a estação 02143020 para o teste Cumulative Deviation (Tabela 4).
Para os testes de correlação serial aplicados: Median Crossing, Turning Point, Rank Difference e Auto
Correlation, apenas as estações 02143012 e 02143020 indicaram significância nos testes de
independência, tendo a estação 02143012 apresentado significância para o teste Turning Point, como
mostrado na Tabela 1, e a estação 02143020 para os testes Median Crossing, Rank Difference e Auto
Correlation, como pode-se observar na Tabela 4. Dessa forma, os resultados para esta última estação
(02143020) devem ser analisados com muita cautela, pois as tendências verificadas nesta estação
podem ter sido influenciadas pela autocorrelação dos dados.
Portanto, após realizado o processamento dos testes estatísticos contidos no programa TREND, não
foram evidenciadas tendências ou mudanças abruptas significativas nas séries de totais anuais de
precipitação da cidade de Juiz de Fora.
Tabela 1 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais anuais de
precipitação da estação 02143012.
(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;
(*)S: significância estatística em α=0,05
Tabela 2 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais anuais de
precipitação da estação 02143015.
Tabela 3 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais anuais de
precipitação da estação 02143016.
6. CONCLUSÃO
Após o processamento dos dados no software TREND e a análise gráfica das séries temporais,
verificou-se que, em termos anuais, o regime de chuvas da cidade de Juiz de Fora não mostra nenhuma
evidência de tendências significativas em suas séries, ratificando a hipótese prévia de
estacionariedade dos totais anuais.
É importante ressaltar que os resultados obtidos pelos testes estatísticos não devem ser interpretados
como provas de presença ou ausência de tendências/mudanças abruptas nos dados. De qualquer forma,
essa ferramenta estatística demonstra ser de muita relevância na análise de tendências de séries
temporais, servindo como instrumento complementar à análise gráfica dos dados. Além disso, na
análise estatística das séries de precipitação anual da região, não foram evidenciadas tendências
significativas.
Tendo tudo isso em vista, a análise desenvolvida neste trabalho ajudou a compreender um pouco
melhor o comportamento do regime de chuvas na cidade de Juiz de Fora, em meio a especulações e
inconclusões quanto aos impactos das mudanças climáticas em séries hidrológicas. Apesar de
diversos noticiários e pesquisas científicas apontarem que as catástrofes naturais observadas
atualmente, como tempestades e enchentes, estão associadas às alterações do clima, tais informações
devem ser julgadas com maior ponderação.
É notório que outros fatores, não de menor importância, além das mudanças globais do clima, podem
intensificar os fenômenos relacionados, em especial, ao regime de chuvas. Outros desafios globais,
tais como elevação do nível de vida, crescimento populacional, urbanização e ocupação de obras de
infraestrutura em regiões críticas (margens de rios, por exemplo) também devem ser vistos como
fatores que afetam fortemente os recursos hídricos. Portanto, associar eventos climáticos extremos
apenas às mudanças climáticas, dissociando-os de outros fatores, como os citados anteriormente, não
é sensato.
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região metropolitana de Belo Horizonte, XXI Simpósio de Recursos Hídricos, Brasília, 2015.
ANÁLISE DE TENDÊNCIA PARA EVENTOS EXTREMOS DE
PRECIPITAÇÃO NO MUNICÍPIO DE JUIZ DE FORA – MINAS GERAIS
Lorena Gomes Abrantes1, Guilherme Batista da Silva2, Maria Helena Rodrigues Gomes3
1
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, lorenagomesabrantes@hotmail.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, batista.guilherme@engenharia.ufjf.br
32
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mariahelena.gomes@ufjf.edu.br
Resumo: Eventos climáticos extremos têm emergido como uma das principais manifestações de
mudança climática, sendo que a adaptação e minimização dos impactos decorrentes passam pelo
estudo da magnitude e frequência de suas ocorrências. Os estudos de tendências em séries temporais
são importantes devido à necessidade de se compreender o impacto que o homem pode ter sobre os
recursos naturais. Atividades antrópicas como a urbanização, o desmatamento, emissões de gases de
efeito estufa e mudanças na prática agrícola podem alterar importantes aspectos do ciclo hidrológico,
sendo que os maiores problemas nos sistemas de recursos hídricos são relativos às cheias ou às
estiagens, de modo que é grande a importância de se estudar mudanças nas características de extremos
hidrológicos. Levando em consideração a importância do conhecimento da intensidade e da
frequência de ocorrência de eventos extremos em centros urbanos, como na cidade de Juiz de Fora -
MG, objetivou-se com o presente trabalho analisar os eventos diários de chuva com potencialidade
em causar alagamentos na cidade de Juiz de Fora e, a partir da indicação de um valor de referência,
avaliar a existência de tendência nas séries de picos de chuva acima do limite inicial indicado,
utilizando testes estatísticos. A primeira etapa do trabalho consistiu na busca dos eventos de
alagamento ocorridos na cidade, analisando-se, também, dados de precipitação, correspondentes aos
dias de ocorrência dos alagamentos, a fim de estabelecer um princípio indicativo a partir do qual um
evento pode vir a acarretar impactos. Foi realizada a construção das séries de precipitações de quatro
estações contemplando o número anual de dias chuvosos acima do limiar e aplicados testes
estatísticos a partir do software TREND com objetivo de avaliar a presença de tendências. Esse
trabalho permitiu o registro de 17 alagamentos e a estimação de precipitações em um limiar de 30
mm. Verificou-se que uma estação apresentou tendência positiva significativa, mas a mesma indicou
correlação serial entre os dados, devendo os mesmos serem analisados com maior cautela, e uma
outra estação apresentou mudança na média, indicando que os anos mais recentes apresentam maior
quantidade de eventos extremos. Os resultados são indicativos de que o pressuposto de
estacionariedade de séries de máximos de precipitação são corroborados por outros trabalhos
análogos para o mesmo local de estudo, no caso, a cidade de Juiz de Fora. Informações desta natureza
são essenciais nos processos de tomada de decisão dentro da perspectiva de gestão de risco.
Abstract: Extreme climatic events have emerged as one of the main manifestations of climate change,
and the adaptation and minimization of the resulting impacts go through the study of the magnitude
and frequency of their occurrences. Studies of trends in time series are important because of the need
to understand the impact man can have on natural resources. Anthropogenic activities such as
urbanization, deforestation, greenhouse gas emissions and changes in agricultural practice can alter
important aspects of the hydrological cycle, with major problems in water systems being related to
floods or droughts, so that the importance of studying changes in the characteristics of hydrological
extremes. Taking into account the importance of knowledge of the intensity and frequency of extreme
events occurring in urban centers, such as in the city of Juiz de Fora, MG, the objective of this study
was to analyze daily rainfall events with potential to cause flooding in city of Juiz de Fora and, based
on the indication of a reference value, to evaluate the existence of trend in the series of peaks above
the indicated initial limit, using statistical tests. The first stage of the work consisted in the search of
flood events in the city, also analyzing precipitation data, corresponding to the days of occurrence of
floods, in order to establish an indicative principle from which an event can come to impacts. The
construction of the four - station precipitation series was carried out, considering the annual number
of rainy days above the threshold and statistical tests were applied from the TREND software to
evaluate the presence of trends. This work allowed the registration of 17 floods and the estimation of
precipitations in a threshold of 30 mm. It was verified that a station presented a positive positive trend,
but it indicated a serial correlation between the data, and they should be analyzed with greater caution,
and another station presented a change in the mean, indicating that the most recent years present a
greater amount of events extremes. The results are indicative that the assumption of stationarity of
series of precipitation maxima is corroborated by other similar works for the same place of study, in
the case, the city of Juiz de Fora. Information of this nature is essential in decision-making processes
from the perspective of risk management.
1. INTRODUÇÃO
Um dos temas que vem ocupando o meio científico e acadêmico nas últimas duas décadas está
relacionado à identificação de evidências científicas que expliquem as mudanças do clima em nível
mundial. Isso ocorre porque estudar as alterações climáticas ocorridas no passado possibilita
compreender melhor as variabilidades inferidas no presente, além de subsidiar elementos para melhor
averiguação do comportamento do clima futuro. Este último aspecto pode ser melhor compreendido
ao efetuar projeções geradas por modelos climáticos que levam em consideração diferentes aspectos
socioeconômicos, como uso da terra, concentrações de Gases de Efeito Estufa (GEE), dentre outros
fatores [1, 2].
Eventos climáticos extremos têm emergido como uma das principais manifestações de mudança
climática em diversas regiões do mundo. Os eventos extremos são geralmente definidos por valores
atipicamente elevados ou baixos considerando um intervalo de observações [3].
Intensos debates relativos a possíveis mudanças climáticas vêm acontecendo, assim como se observa,
com frequência, o desenvolvimento de estudos e técnicas diversas com o intuito de evidenciar
eventuais tendências na ocorrência de eventos climáticos extremos.
Levando em consideração a importância do conhecimento da intensidade e da frequência de
ocorrência de eventos extremos em centros urbanos, como na cidade de Juiz de Fora - MG, faz-se
necessário analisar os eventos diários de chuva com potencialidade em causar alagamentos na cidade
de Juiz de Fora e, a partir da indicação de um valor de referência, avaliar a existência de tendência
nas séries de picos de chuva acima do limite inicial indicado, por meio de testes estatísticos.
2. OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa é estudar séries de precipitação registradas na cidade de Juiz de Fora - MG
por meio da análise de séries de máximos mensais, de forma a identificar possíveis tendências no
regime pluviométrico por meio da utilização de técnicas estatísticas.
3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
3.4 Análise Exploratória dos Dados
A detecção de tendências em longas séries temporais é um problema recorrente na análise de dados
hidrológicos. A fim de detectar tendências graduais ou abruptas em séries hidrológicas, pode-se
melhor fazê-lo, inicialmente, de modo visual [4].
Mesmo havendo muitos testes para a avaliação da significância estatística de uma tendência,
considera-se indispensável a análise gráfica exploratória das séries temporais, previamente à
aplicação de tais testes. Além de ajudar no desenvolvimento de hipóteses a respeito da natureza das
tendências, que devem estar sujeitas a testes formais de significância, a visualização gráfica dos dados
pode fornecer importantes indicações a respeito das possíveis causas das tendências suspeitadas [5].
A avaliação visual dos dados descrita acima é parte de um conjunto de técnicas conhecido como
"Exploratory Data Analysis - EDA" com tradução da terminologia da língua inglesa para o idioma
português como Análise Exploratória dos Dados [4].
3.5.2 Testes de Hipóteses
Além dos métodos de estimação de parâmetros e de construção de intervalos de confiança, os testes
de hipóteses são procedimentos usuais da inferência estatística, úteis na tomada de decisões que dizem
respeito à forma ou ao valor de um certo parâmetro, de uma distribuição de probabilidades, da qual é
conhecida apenas uma amostra de observações. Tais testes envolvem a formulação de uma hipótese,
na forma de uma declaração conjectural sobre o comportamento probabilístico da população [6].
Nessa premissa de base, estão implícitas as hipóteses de aleatoriedade, independência,
homogeneidade e estacionariedade, as quais, pelas características distributivas das variáveis
hidrológicas e pelo tamanho típico de suas amostras, podem ser testadas apenas com o emprego dos
testes não-paramétricos. Os testes descritos a seguir são alguns dos procedimentos não-paramétricos
que possuem maior utilidade na hidrologia estatística [6].
3.5.2.1 Teste da Hipótese de Aleatoriedade
No contexto dos fenômenos do ciclo da água, o termo “aleatoriedade” significa, em sua essência, que
as flutuações de uma determinada variável hidrológica decorrem de causas naturais [6].
3.5.2.2 Teste da Hipótese da Independência
4. ESTUDO DE CASO
O município de Juiz de Fora está localizado na latitude de 21°45’51” sul e longitude 43°20’59”’ oeste,
na região sudeste do Estado de Minas Gerais. De acordo com o censo demográfico de 2010, realizado
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a cidade dispõe de uma população
estimada em quinhentos e vinte mil habitantes.
Considerando as características climáticas da região, Juiz de Fora está inserida nas classificações de
Köppen tipo Cwa, ou seja, um clima mesotérmico com verões quentes e estação chuvosa também no
verão. Este clima pode também ser definido, genericamente, como Tropical de Altitude, por
corresponder a um tipo tropical influenciado pelos fatores altimétricos, em vista do relevo local
apresentar altitudes médias entre 700 e 900 m, que contribuem para a amenização das temperaturas.
Com relação ao regime de chuvas, pode ser considerada uma região chuvosa, com precipitação média
anual em torno de 1500 mm. O clima de Juiz de Fora apresenta duas estações bem definidas: uma,
que vai de outubro a abril, com temperaturas mais elevadas e maiores precipitações pluviométricas,
e outra de maio a setembro, mais fria e com menor presença de chuvas.
5. METODOLOGIA
A primeira etapa do trabalho consistiu na busca dos eventos de alagamento ocorridos na cidade,
analisando-se, também, dados de precipitação, correspondentes aos dias de ocorrência dos
alagamentos, a fim de estabelecer um princípio indicativo a partir do qual um evento pode vir a
acarretar impactos. Foi realizada a construção das séries de precipitações de quatro estações (Tabela
1) contemplando o número anual de dias chuvosos acima do limiar e aplicados testes estatísticos a
partir do software TREND com objetivo de avaliar a presença de tendências.
Tabela 1– Localização das estações selecionadas para a cidade de Juiz de Fora [9].
No estudo de tendências a partir de testes estatísticos, foi analisado um conjunto de quatro séries
hidrológicas, com registros de 67 anos, 73 anos, 34 anos e 31 anos, obtido por meio dos dados mensais
coletados no Sistema de Informações Hidrológicas da Agência Nacional de Águas (ANA) - Hidroweb
originando séries de totais anuais correspondentes.
O critério que norteou a seleção dos registros de precipitação de total anual para a cidade de Juiz de
Fora foi séries com, pelo menos, 30 anos de registros – exigido pela Organização Meteorológica
Mundial (OMM) a fim de caracterizar o clima de uma determinada região, além de ambas se
encontrarem distribuídas homogeneamente em relação ao município de Juiz de Fora [10].
Utilizou-se para as estações pluviométricas o método de reamostragem (resampling) de 1000 réplicas
para o cálculo dos valores críticos das estatísticas de teste. Nessa perspectiva, foram processados, no
software TREND, todos os testes estatísticos disponíveis no mesmo para as 4 estações selecionadas
na cidade de Juiz de Fora, conforme mostra a Figura 1.
Figura 1 - Representação das 4 estações selecionadas para a cidade de Juiz de Fora.
-testes para tendências: são testes que verificam a significância de mudanças graduais na série de
dados. Exemplos: Mann-Kendall (não paramétrico),teste de Spearman ou Spearman’s Rho (não
paramétrico) e teste dos coeficientes de Regressão Linear (paramétrico);
- testes para mudanças abruptas: são testes que verificam a significância da mudança da média ou
mediana da amostra a partir de um ponto da série, seja ele conhecido ou não. Exemplos: soma
acumulada não paramétrica ou Distribution-Free CUSUM (não paramétrico), desvio acumulado ou
Cumulative Deviation (paramétrico), teste da razão de verossimilhança de Worsley ou Worsley
Likelihood Ratio (paramétrico), soma das ordens ou Rank-Sum (não paramétrico) e o teste
convencional de Student (paramétrico);
- testes para verificação da independência: são testes que buscam verificar se existe correlação serial
entre os dados da amostra. Exemplos: cruzamento da mediana ou Median Crossing (não paramétrico),
inflexões ou Turning Points (não paramétrico), diferença de ordem ou Rank Difference (não
paramétrico) e Autocorrelação (paramétrico).
Ao final do processamento dos testes estatísticos contidos no programa TREND, não foram
evidenciadas tendências ou mudanças abruptas significativas nas séries de totais anuais de
precipitação da cidade de Juiz de Fora. Juntamente com a análise gráfica dos dados, foram aplicados
testes de hipótese para identificação de tendências nas séries mencionadas. Para tanto, foi adotada a
abordagem estatística tradicional e foi considerado um nível de significância α de 0,05. Para a análise
dos testes estatísticos, foi utilizado o software TREND.
6. RESULTADOS
Com a aplicação dos testes: Mann-Kendal, Spermann-Rho e Regressão Linear, não foram detectadas
tendências (significâncias estatísticas em α=0,05) para as estações 02143012, 02143015 e 02143020,
como pode-se perceber nas Tabela 2, Tabela 3, Tabela 5. Para a estação 02143016, ambos os métodos
apresentaram tendência significativa, como pode-se observar na Tabela 4.
Com relação às mudanças abruptas, após aplicação dos testes: Cusum, Cumulative Deviation,
Worsley Likelihood, Rank Sum e Student’s t, duas estações apresentaram significância estatística,
tendo a estação 02143012 mostrado significância para os testes Rank Sum e t-Student (Tabela 2) e a
estação 02143016 para todos os testes mencionados (Tabela 4).
Para os testes de correlação serial aplicados: Median Crossing, Turning Point, Rank Difference e Auto
Correlation, apenas as estações 02143016 e 02143020 indicaram significância nos testes de
independência, tendo a estação 02143020 apresentado significância para o teste Auto Correlation
(Tabela 5) e estação 02143016 para todos quatro testes citados acima, como pode ser visto na Tabela
4.
Dessa forma, os resultados para esta última estação (02143020) devem ser analisados com cautela,
pois as tendências verificadas nesta estação podem ter sido influenciadas pela autocorrelação dos
dados e, os resultados obtidos para a estação 02143016 devem ser desconsiderados, visto que essa
estação apresentou muitas incongruências em seus valores, sendo mais notável por meio da correlação
serial, em que entre todos os resultados possuem significância estatística para os quatro testes para
verificação da independência (Median Crossing, Turning Point, Rank Difference e Auto Correlation).
Portanto, após realizado o processamento dos testes estatísticos contidos no programa TREND, não
foram evidenciadas tendências ou mudanças abruptas significativas, em maior parte, desconsiderando
os resultados da estação 02143016, nas séries de máximos mensais de precipitação na cidade de Juiz
de Fora.
Tabela 2 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os máximos mensais de
precipitação da estação 02143012.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall 1,563 1,96 1,948 NS
Spearman's Rho 1,886 1,96 2,026 NS
Linear regression 1,807 1,979 1,97 NS
Cusum 11 18,448 21 NS
Cumulative deviation 1,266 1,297 1,286 NS
Worsley likelihood 2,58 3,157 4,156 NS
Rank Sum -2,606 1,96 2,055 S
Student's t -2,314 1,979 2,035 S
Median Crossing 0,961 1,96 1,848 NS
Turning Point -1,289 1,96 2,87 NS
Rank Difference -1,833 1,96 1,957 NS
Auto Correlation 0,132 1,96 1,881 NS
Tabela 3 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os máximos mensais de
precipitação da estação 02143015.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall -1,492 1,96 1,918 NS
Spearman's Rho -1,191 1,96 2,021 NS
Linear regression -1,71 1,979 2,055 NS
Cusum 11 18,398 21 NS
Cumulative deviation 1,005 1,296 1,331 NS
Worsley likelihood 2,306 3,157 3,588 NS
Rank Sum 0,881 1,96 2,061 NS
Student's t 1,166 1,979 1,979 NS
Median Crossing 0,148 1,96 1,927 NS
Turning Point -1,703 1,96 2,584 NS
Rank Difference 0,564 1,96 1,957 NS
Auto Correlation -0,417 1,96 1,942 NS
Tabela 5 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os máximos mensais de
precipitação da estação 02143020.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall -1,471 1,96 1,933 NS
Spearman's Rho -1,128 1,96 2,123 NS
Linear regression -1,794 1,975 1,914 NS
Cusum 13 25,84 33 NS
Cumulative deviation 1,249 1,31 1,311 NS
Worsley likelihood 3,212 3,153 3,619 NS
Rank Sum 1,026 1,96 2,103 NS
Student's t 1,519 1,975 1,876 NS
Median Crossing 1,265 1,96 2,003 NS
Turning Point -2,419 1,96 2,67 NS
Rank Difference -1,879 1,96 1,945 NS
Auto Correlation 2,364 1,96 1,963 S
7. CONCLUSÃO
Esse trabalho permitiu o registro de 17 alagamentos e a estimação de precipitações em um limiar de
30 mm. Verificou-se que uma estação apresentou tendência positiva significativa, mas a mesma
indicou correlação serial entre os dados, devendo os mesmos serem analisados com maior cautela
(sendo recomendável o descarte de seus dados, visto as demasiadas incongruências em seus valores),
e uma outra estação apresentou mudança na média, indicando que os anos mais recentes apresentam
maior quantidade de eventos extremos. Os resultados são indicativos de que o pressuposto de
estacionariedade de séries de máximos de precipitação são corroborados por outros trabalhos
análogos para o mesmo local de estudo, no caso, a cidade de Juiz de Fora. Informações desta natureza
são essenciais nos processos de tomada de decisão dentro da perspectiva de gestão de risco.
É importante ressaltar que os resultados obtidos pelos testes estatísticos não devem ser interpretados
como provas de presença ou ausência de tendências/mudanças abruptas nos dados. De qualquer forma,
essa ferramenta estatística demonstra ser de muita relevância na análise de tendências de séries
temporais, servindo como instrumento complementar à análise gráfica dos dados. Além disso, na
análise estatística das séries de precipitação anual da região, não foram evidenciadas tendências
significativas.
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definição das alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do século XXI. Ministério do Meio Ambiente,
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[4] ALEXANDRE, G. R. Estudo para identificação de tendências do regime pluvial na região metropolitana de Belo
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Curso de Pós Graduação em Saneamento, Meio ambiente e Recursos Hídricos, Universidade Federal de Minas
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[5] GRAYSON, R.B., ARGENT, R.M., NATHAN, R.J., MCMAHON, T.A., MEIN, R. Hydrological Recipes: Estimation
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[6] NAGHETTINI, M. C., PINTO, E. J. A. Hidrologia Estatística. 1ª ed, Belo Horizonte: CPRM – Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais – Superintendência Regional de Belo Horizonte, 561 p, 2007.
[7] TUCCI, C. E. M. Hidrologia: Ciência e Aplicação. Organizado por Carlos E.M. Tucci. 3ª ed, Porto Alegre: Editora
UFRGS/ABRH, 2002.
[8] QUEIROZ, M. A. Avaliação de tendências em séries de precipitação diária máxima anual na faixa central do
Estado de Minas Gerais. Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e
Recursos Hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, Belo Horizonte, 2013.
[9] ANA. Agência Nacional de Águas. Inventário das Estações Pluviométricas. Superintendência de Administração da
Rede Hidrometeorológica, 488 p, 2006.
[10] NUNES, A. A., PINTO, E. J. A., BAPTISTA, M. B. Análise de tendência para eventos extremos de precipitação na
região metropolitana de Belo Horizonte. XXI Simpósio de Recursos Hídricos, Brasília, 2015.
ANÁLISE DE TENDÊNCIA DE PRECIPITAÇÃO DE TOTAIS SEMESTRAIS
E TRIMESTRAIS NO MUNICÍPIO DE JUIZ DE FORA – MINAS GERAIS
Lorena Gomes Abrantes1, Guilherme Batista da Silva2, Maria Helena Rodrigues Gomes3
1 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, lorenagomesabrantes@hotmail.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, batista.guilherme@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mariahelena.gomes@ufjf.edu.br
Abstract: The study of changes in time series of hydrological data is of great importance in the
management of water resources by local managers. In general, the water resources system is designed
considering the stationarity of the hydrological flow or precipitation data sequence. However, this
assumption can not be verified when there are aspects of climate change, change of vegetation cover
and climatic variability. In such cases, projects based on the stationarity of hydrological events should
be reviewed in order to evaluate the possible impacts on the local water system. On the other hand, it
is quite difficult to detect changes in the temporal series of hydrological data inherent to climate
change due to the strong natural variability, especially of the flows, which is sometimes associated to
the use of the soil in the basin. For this trend analysis, four rainfall stations with at least 30 years of
records were used. From these collected data, sets of precipitation series of semiannual and quarterly
totals were obtained. The data collected underwent a process of visual analysis through the
construction of temporal graphs and later analysis of statistical tests for trend detection through
TREND software. The analysis of the results obtained from the statistical methods showed that, in
terms of semiannual and quarterly totals, the rainfall regime of the city of Juiz de Fora shows no
evidence of a significant trend, ratifying the previous hypothesis of stationarity in both total half-
yearly. These results were corroborated by the graphical analysis of the data performed in parallel.
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, diversas séries hidrológicas não tem sido estacionárias devido a fatores como a
variabilidade climática, por exemplo. Quando as estatísticas de uma série não alteram com o tempo
e suas amostras são representativas, a mesma é chamada de série estacionária [1]. Muitas questões
tem sido levantadas quanto à adequação de métodos estatísticos convencionais para a previsão de
recursos hídricos regionais de longo prazo de modo a evidenciar não estacionariedade de alguns
registros hidrológicos longos existentes [3].
2. OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa é estudar séries de precipitação registradas na cidade de Juiz de Fora - MG
por meio da análise de séries de totais semestrais e trimestrais, de forma a identificar possíveis
tendências no regime pluviométrico por meio da utilização de técnicas estatísticas.
3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Os testes de hipóteses são procedimentos usuais da inferência estatística, os quais envolvem a
formulação de uma hipótese, na forma de uma declaração conjectural sobre o comportamento
probabilístico da população, estando implícitas as hipóteses de aleatoriedade, independência,
homogeneidade e estacionariedade, testadas apenas por meio de testes não-paramétricos [4].
Os testes de hipóteses são classificados em: paramétricos e não paramétricos. Os testes paramétricos
tem seus dados amostrais extraídos de uma distribuição, cujo modelo é supostamente conhecido ou
anteriormente especificado e os testes não paramétricos são aqueles que não necessitam da
especificação prévia da distribuição da população da qual foram extraídos os dados amostrais [5].
4. ESTUDO DE CASO
O município de Juiz de Fora está localizado na latitude de 21°45’51” sul e longitude 43°20’59”’ oeste,
na região sudeste do Estado de Minas Gerais. De acordo com o censo demográfico de 2010, realizado
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a cidade dispõe de uma população
estimada em quinhentos e vinte mil habitantes. Considerando as características climáticas da região,
Juiz de Fora está inserida nas classificações de Köppen tipo Cwa, ou seja, um clima mesotérmico
com verões quentes e estação chuvosa também no verão. Este clima pode também ser definido,
genericamente, como Tropical de Altitude, por corresponder a um tipo tropical influenciado pelos
fatores altimétricos, em vista do relevo local apresentar altitudes médias entre 700 e 900 m, que
contribuem para a amenização das temperaturas. Com relação ao regime de chuvas, pode ser
considerada uma região chuvosa, com precipitação média anual em torno de 1500 mm.
5. METODOLOGIA
No estudo de tendências a partir de testes estatísticos, foi analisado um conjunto de quatro séries
hidrológicas, com registros de 67 anos, 73 anos, 34 anos e 31 anos, obtido por meio dos dados mensais
coletados no Sistema de Informações Hidrológicas da Agência Nacional de Águas (ANA) - Hidroweb
originando séries de totais anuais correspondentes. Utilizou-se para as estações pluviométricas o
método de reamostragem (resampling) de 1000 réplicas para o cálculo dos valores críticos das
estatísticas de teste. Nessa perspectiva, foram processados, no software TREND, todos os testes
estatísticos disponíveis no mesmo para as 4 estações selecionadas na cidade de Juiz de Fora, conforme
mostra a Figura 1.
- testes para tendências: Mann-Kendall (não paramétrico), ou Spearman’s Rho (não paramétrico) e
teste dos coeficientes de Regressão Linear (paramétrico).
- testes para mudanças abruptas usados: soma acumulada não paramétrica ou Distribution-Free
CUSUM (não paramétrico), Cumulative Deviation (paramétrico), ou Worsley Likelihood Ratio
(paramétrico), Rank-Sum (não paramétrico) e o teste convencional de Student (paramétrico).
- testes para verificação da independência: Median Crossing (não paramétrico), Turning Points (não
paramétrico), Rank Difference (não paramétrico) e Autocorrelação (paramétrico).
O teste de Mann Kendall testa a possível existência de uma tendência na série de dados. Os n valores
da série temporal (x1, x2, x3, xn) são reorganizados de acordo com a sua ordem de classificação (R1,
R2, R3, Rn) (ordem crescente dos valores), sendo que a estatística de teste S é:
(1)
Em que:
• sgn(x) = 1 para x > 0; • sgn(x) = 0 para x = 0; • sgn(x) = -1 para x < 0.
Se a hipótese nula (H0) é verdadeira, então S é aproximadamente normalmente distribuída com 𝜇 =
0 𝑒:
(2)
A estatística de teste é, portanto:
(3)
Os valores críticos da estatística de teste para vários níveis de significância podem ser obtidos a partir
de tabelas de probabilidade normal. Um valor positivo de S indica tendência positiva nos dados e
vice-versa.
O método de Spearman’s Rho é baseado em classificaçõees que determinam se a correlação entre
duas variáveis é significativa. Assim como no teste de Mann-Kendall, os N valores da série temporal
são colocados de acordo com a sua ordem de classificação. A estatística de teste ρs é o coeficiente de
correlação, que é obtido da mesma maneira que um coeficiente de correlação de uma amostra usual
é obtido, com a diferença que são usados os ranks da amostra (ordens de classificação):
(4)
Onde:
(5)
(6)
(7)
E xi (rank original), yi (rank da ordem crescente dos dados), 𝑥̅ e y referem-se às médias dos ranks xi
e yi, respectivamente. Para grande amostras, o valor 𝜌𝑠√𝑛 − 1 é, aproximadamente, normalmente
distribuído com média de 0 e variância de 1. Os valores críticos da estatística de teste para vários
níveis de significância podem ser obtidos a partir de tabelas de probabilidade normal.
O teste de regressão linear assume que os dados são normalmente distribuídos e os erros (desvios da
tendência) são independentes, seguindo a mesma distribuição normal com média zero. Ele testa a
possível existência de uma tendência linear, examinando a relação entre o tempo (x) e a variável de
interesse (y). O gradiente de regressão é estimado por:
(8)
Com xi sendo o rank original, yi a variável de interesse e 𝑥̅ e 𝑦 referem-se às médias dos ranks xi e yi,
respectivamente. O intercepto é estimado como:
(9)
A estatística de teste S é:
(10)
Onde:
(11)
A estatística de teste S segue uma distribuição de Student’s t com n-2 graus de liberdade, sendo n o
tamanho da amostra, sob a hipótese nula (H0). Os valores críticos da estatística de teste para vários
níveis de significância podem ser obtidos a partir de tabelas de probabilidade normal.
O método Distribution Free Cusum testa se as medianas em duas partes de um registro de dados são
diferentes (para um tempo de mudança desconhecido). Dada uma série de dados (x1, x2, x3,..., xn), a
estatística de teste é definida como:
(12)
Onde:
• sgn(x) = 1 para x > 0; • sgn(x) = 0 para x = 0; • sgn(x) = -1 para x < 0; • xmediana = o valor
mediano do conjunto de dados xi.
A distribuição de Vk segue a Kolmogorov-Smirnov com estatística de teste dada por:
(13)
Os valores críticos de 𝑚á𝑥𝑥|𝑉𝑘 | são dados por:
Um valor negativo de Vk indica que a parte posterior do registro de dados tem mediana maior que a
parte anterior e vice-versa.
O método Cumulative Deviation testa se as médias em duas partes de um registro de dados são
diferentes (para um tempo de mudança desconhecido), assumindo que os dados são normalmente
distribuídos. O propósito deste teste é detectar uma mudança na média de uma série de dados depois
de m observações:
(14)
(15)
E os Rescaled Adjusted Partial Sums (RAPS) são obtidas dividindo o 𝑆𝑘∗ pelo valor do desvio padrão
da amostra:
(16)
(17)
(18)
E é calculado para cada ano, no qual o maior valor indica o ponto de mudança. Um valor negativo de
𝑆𝑘∗ indica que a parte posterior do registro de dados tem média maior que a parte anterior e vice-
versa. Os valores críticos de 𝑄/√𝑛 são dados na Tabela 1 a seguir.
O método Worsley Likehood Ratio testa se as médias em duas partes de um registro de dados são
diferentes (para um tempo de mudança desconhecido), assumindo que os dados são normalmente
distribuídos. Ele é similar ao teste Cumulative Deviation, mas os pesos dos valores de 𝑆𝑘 ∗ dependem
da posição deles na série temporal.
(19)
(20)
A estatística de teste W é:
(21)
Onde:
(22)
Um valor negativo de W indica que a parte posterior do registro de dados tem média maior que a parte
anterior e vice-versa. Os valores críticos de 𝑊 são dados na Tabela 2 que se segue.
Tabela 2 – Valores críticos de níveis de significância de W [7].
O teste Rank-Sum é um método que testa se as medianas em dois períodos são diferentes. Para
computar o teste estatístico, os dados devem ser ordenados de acordo com sua ordem de classificação
de 1 a N (ordem crescente dos dados), sendo N o tamanho da amostra, dividindo a série em dois
grupos (para um tempo de mudança conhecido). No caso de valores iguais, deve ser usada a média
das ordens de classificação. A estatística S é computada como a soma dos ranks de observações do
menor grupo (o número de observações no menor grupo é denotado como n e o número de
observações no maior grupo é designado por m). Em seguida, a média e o desvio-padrão de S sob H0
são calculados a partir das seguintes equações:
(23)
(24)
A estatística de teste Zrs é computada a partir das seguintes condições:
• 𝑍𝑟s= (𝑆 − 0,5 − 𝜇) se 𝑆 > 𝜇; • 𝑍𝑟s= 0 se 𝑆 = 𝜇; • 𝑍𝑟s= (𝑆 + 0,5 − 𝜇) se 𝑆 < 𝜇.
(25)
Onde 𝑥̅ e 𝑦 (com barra em cima de x e de y) são as médias do primeiro e do segundo período,
respectivamente, e m e n são o número de observações no primeiro e no segundo períodos,
respectivamente, e S é o desvio padrão da amostra. Os valores críticos da estatística de teste para
vários níveis de significância podem ser obtidos a partir de tabelas de probabilidade do teste de
Student.
No teste Median Crossing, os valores da série temporal de tamanho n são substituídos por 0 se xi <
xmediana e por 1 se xi > xmediana. Se os dados da série temporal forem independentes, então m (o
número de vezes que 0 é seguido por 1 ou 1 é seguido por 0) é aproximadamente normalmente
distribuído com:
(26)
(27)
A estatística de teste z é, portanto:
(28)
Os valores críticos da estatística de teste para vários níveis de significância podem ser obtidos a partir
de tabelas de probabilidade normal.
No teste Turning Points, os valores da série temporal de tamanho n são fixados em 1 se xi-1 < xi >
xi+1 ou xi-1 > xi < xi+1, caso contrário eles são fixados como 0. Os valores críticos da estatística de
teste para vários níveis de significância podem ser obtidos a partir de tabelas de probabilidade normal.
O número de vezes que o número 1 aparece (m*) é, aproximadamente, normalmente distribuído com:
(29)
(30)
A estatística de teste z é, portanto:
(31)
No teste Rank Difference, os valores da série temporal de tamanho n são substituídos pelas ordens de
classificação deles, começando de 1 até n (ordem crescente). A estatística U é a soma dos valores
absolutos das diferenças entre as sucessivas ordens de classificação (ranks), que é expressa por:
(32)
(33)
(34)
A estatística de teste z é, portanto:
(35)
Os valores críticos da estatística de teste para vários níveis de significância podem ser obtidos a partir
de tabelas de probabilidade normal.
Para o teste de Autocorrelação, o coeficiente de autocorrelação é calculado como:
(36)
com xi sendo a variável de interesse e 𝑥̅ a média da amostra. Se os dados da série temporal forem
independentes, então os valores da esperança e da variância de r1 são dados por:
(37)
(38)
A estatística de teste z é, portanto:
(39)
Os valores críticos da estatística de teste para vários níveis de significância podem ser obtidos a partir
de tabelas de probabilidade normal.
Ao final do processamento dos testes estatísticos contidos no programa TREND, não foram
evidenciadas tendências ou mudanças abruptas significativas nas séries de totais anuais de
precipitação da cidade de Juiz de Fora. Juntamente com a análise gráfica dos dados, foram aplicados
testes de hipótese para identificação de tendências nas séries mencionadas. Para tanto, foi adotada a
abordagem estatística tradicional e foi considerado um nível de significância α de 0,05. Para a análise
dos testes estatísticos, foi utilizado o software TREND.
6. RESULTADOS
Com a aplicação dos testes: Mann-Kendal, Spermann-Rho e Regressão Linear, não foram detectadas
tendências (significâncias estatísticas em α=0,05) para nenhuma das quatro estações tanto para totais
semestrais quanto trimestrais de precipitação, como pode-se perceber nas Tabela 3, Tabela 4, Tabela
5 e Tabela 6.
Com relação às mudanças abruptas, após aplicação dos testes: Cusum, Cumulative Deviation,
Worsley Likelihood, Rank Sum e Student’s t, duas estações apresentaram significância estatística
para totais semestrais, sendo elas as estações 02143016 e 02143020, tendo a estação 02143016
mostrado significância estatística para os testes Cumulative Deviation e Worsley Likehood (Tabela 5)
e a estação 02143020 para o teste Cumulative Deviation (Tabela 6). Para os totais trimestrais,
referentes aos testes para mudanças abruptas, apenas a estação 02143016 apresentou significância
para o teste Worsley Likehood.
Para os testes de correlação serial aplicados: Median Crossing, Turning Point, Rank Difference e Auto
Correlation, nenhuma estação indicaram significância nos testes de independência para os totais
semestrais de precipitação, mas para os totais trimestrais de precipitação, todas as quatro estações
apresentaram significância para somente o teste Turning Point, como mostrado nas Tabela 7, Tabela
8, Tabela 9 e Tabela 10. Dessa forma, os resultados para os totais trimestrais de precipitação para
ambas as estações devem ser analisados com cautela, pois os resultados obtidos nestas estações
podem ter sido influenciados por autocorrelação dos dados - apesar de não ter havido constatação de
tendências para as estações em análise
Portanto, após realizado o processamento dos testes estatísticos contidos no programa TREND, não
foram evidenciadas tendências ou mudanças abruptas significativas nas séries de totais anuais de
precipitação da cidade de Juiz de Fora.
Tabela 3 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais semestrais de
precipitação da estação 02143012.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall 1,317 1,96 2,014 NS
Spearman's Rho 1,382 1,96 1,952 NS
Linear regression 1,305 1,999 1,945 NS
Cusum 10 11,049 11 NS
Cumulative deviation 1,074 1,276 1,283 NS
Worsley likelihood 2,221 3,16 3,915 NS
Rank Sum -1,757 1,96 2,013 NS
Student's t -1,931 1,998 2,006 NS
Median Crossing 0,868 1,96 2,109 NS
Turning Point 1,283 1,96 1,974 NS
Rank Difference 0,446 1,96 1,928 NS
Auto Correlation -1,142 1,96 1,909 NS
Tabela 5 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais semestrais de
precipitação da estação 02143015.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall 1,25 1,96 1,932 NS
Spearman's Rho 1,288 1,96 2,001 NS
Linear regression 1,868 1,98 2,189 NS
Cusum 8 15,918 16 NS
Cumulative deviation 1,32 1,293 1,291 S
Worsley likelihood 3,383 3,158 3,282 S
Rank Sum -0,704 1,96 1,939 NS
Student's t -1,23 1,98 1,904 NS
Median Crossing 0,686 1,96 1,886 NS
Turning Point 1,02 1,96 2,244 NS
Rank Difference -0,266 1,96 1,883 NS
Auto Correlation 1,93 1,96 1,998 NS
Tabela 7 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais trimestrais de
precipitação da estação 02143012.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall 0,85 1,96 2,041 NS
Spearman's Rho 0,94 1,96 1,857 NS
Linear regression 0,752 1,98 1,956 NS
Cusum 4 15,743 15 NS
Cumulative deviation 0,645 1,293 1,287 NS
Worsley likelihood 1,291 3,158 3,592 NS
Rank Sum -1,023 1,96 1,869 NS
Student's t -1,264 1,98 2,009 NS
Median Crossing 0,087 1,96 1,994 NS
Turning Point -4,126 1,96 2,269 S
Rank Difference 0,575 1,96 2,049 NS
Auto Correlation 0,031 1,96 2,015 NS
Tabela 9 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais trimestrais de
precipitação da estação 02143016.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall 1,192 1,96 2,046 NS
Spearman's Rho 1,202 1,96 2,035 NS
Linear regression 1,169 1,976 1,972 NS
Cusum 8 23,2 23 NS
Cumulative deviation 0,74 1,305 1,329 NS
Worsley likelihood 3,43 3,155 3,149 S
Rank Sum -0,876 1,96 1,994 NS
Student's t -0,851 1,976 2,032 NS
Median Crossing 0,117 1,96 1,997 NS
Turning Point -5,532 1,96 2,046 S
Rank Difference -0,254 1,96 1,993 NS
Auto Correlation -0,034 1,96 1,909 NS
7. CONCLUSÃO
Após o processamento dos dados no software TREND e a análise gráfica das séries temporais,
verificou-se que, em termos anuais, o regime de chuvas da cidade de Juiz de Fora não mostra nenhuma
evidência de tendências significativas em suas séries, ratificando a hipótese prévia de
estacionariedade dos totais semestrais e trimestrais.
REFERÊNCIAS
[1] MILLY, P. C. D., BETANCOURT, J., FALKENMARK, M., HIRSCH, R. M., KUNDZEWICZ, Z. W.,
LETTENMAIER, D. P., STOUFFER, R. J. Stationarity is dead: whither water management, Science, 319, 573–574,
2008.
[2] TUCCI, C. E. M. Hidrologia: Ciência e Aplicação. Organizado por Carlos E.M. Tucci. 3ª ed. Porto Alegre: Editora
UFRGS/ABRH, 2002.
[3] COULIBALY, P., BALDWIN, C. K. Nonstationary hydrological time series forecasting using nonlinear dynamic
methods. Journal of Hydrology, v. 307, n. 1-4, p. 164-174, 2005.
[4] NAGHETTINI, M. C., PINTO, E. J. A. Hidrologia Estatística. 1ª ed, Belo Horizonte: CPRM – Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais – Superintendência Regional de Belo Horizonte, 561 p, 2007.
[5] PINTO, N.L.S.; HOLTZ, A.C.T.; MARTINS, J.A; GOMIDE, F.L.S. Hidrologia Básica. Editora Edgard Blucher Ltda.
São Paulo-SP. 278p, 1976.
[6] ANA. Agência Nacional de Águas. Inventário das Estações Pluviométricas. Superintendência de Administração da
Rede Hidrometeorológica, 488 p, 2006.
[7] CHIEW, F., SIRIWARDENA, L. Trend User Guide. Australia: CRC for Catchment Hydrology, 29 p, 2005.
AVALIAÇÃO CRÍTICA DAS SOLUÇÕES EMPREGADAS NO REPARO DE
RECALQUES DIFERENCIAIS EM EDIFICAÇÕES
Abstract: Foundation is the element that promotes the soil-structure interaction, through the
transfer of buildings loads to the ground. This process can be compromised in its life cycle by
several factors, among them the differential settlement, culminating in architectural, functional and
use damages that compromise the building and user safety. The pathological manifestations
resulting from differential settlements has its origin in project problems, execution or utilization of
the structure. In addition to compromising the building safety, such pathological manifestations can
culminate in judicial troubles and big financial losses. This paper has as main objective to correlate
the most appropriate techniques and procedures to be employed in the repair with the type of local
soil and its respective cost of execution. For this, it will be done a bibliographical review of the
possible causes of downslope movements, their principles and pathological manifestations, the
different types of foundations, types of soil and the presentation of several procedures used in the
repair. In the end, it is helped that this work may contribute to future interventions by providing
data and information that will help in choosing the repair technique to be used.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
É fundamental que o engenheiro civil tenha conhecimento das características físicas do solo para
escolha adequada do tipo de fundação e seu correto dimensionamento, para evitar imprevistos
durante a etapa de execução, que resulte em prejuízo financeiros ou acidentes. E é, principalmente,
a partir da sondagem a percussão (SPT) que as condições naturais do solo são levantadas e
determina-se a resistência do mesmo. No presente trabalho, por simplificação, os solos serão
tratados como moles ou resistentes. Por solos moles compreendem-se argilas com valores de spt ≤ 5
e também solos compressíveis, como as areias fofas. Solos resistentes são considerados aqueles
com maiores valores de spt, como argilas rijas, duras ou areias compactas ou muito compactas. Os
valores de referência para tal designação estão apresentados na Tabela 1, a partir da resistência à
penetração determinada na sondagem à percussão.
Tabela 1 - Resistência à penetração e respectivas designações
≤4 Fofa(o)
5a8 Pouco compacta(o)
Areias e siltes
9 a 18 Medianamente compacta(o)
arenosos
19 a 40 Compacta(o)
> 40 Muito compacta(o)
≤2 Muito mole
3a5 Mole
Argilas e siltes
6 a 10 Média(o)
argilosos
11 a 19 Rija(o)
> 19 Dura(o)
Sapata Sapata sujeita à ação de uma carga distribuída Receber ações de elementos alongados Opção para solos com camadas iniciais resistentes
Corrida linearmente ou de pilares ao longo de um mesmo com carregamento uniforme, como
alinhamento muros ou paredes
Sapata Sapata comum a mais de um pilar Recurso usado quando há pouco espaço, Opção para solos com camadas iniciais resistentes
Associada ou falta desse, para execução de sapatas
isoladas
Radier Laje em concreto armado, sobre o solo, que Usado no caso de mais de 50% das Opção para solos com baixa resistência; tem
abrange parte ou todos os pilares de uma sapatas apresentarem interferência e rápida execução
estrutura, distribuindo os carregamentos quando se visa uniformizar recalques
Estaca Executada inteiramente por equipamentos ou Cada tipo de estaca tem uma indicação, Escavada - não é indicada para solos moles, com
ferramentas, sem a descida de pessoas; pode ser considerando vibração, atrito com solo e risco de desmoronamento
pré-moldada ou moldada in loco. A transmissão capacidade de carga do mesmo,
das cargas ocorre pela ponta e/ou pela superfície profundidade, obras de recuperação, Cravada - indicada principalmente para solos
Profundas
Tubulão Elemento escavado manualmente ou por Terrenos de difícil acesso para máquinas Não é indicado para solos moles, com risco de
equipamentos, que pelo menos em sua etapa e equipamentos, que necessitam de desmoronamento
final, há descida de operário para execução da fundação profunda
base alargada, que transfere as cargas ao solo
Causas Descrição
Sobreposição do bulbo de Ocorre quando bulbos de pressão de edificações vizinhas se sobrepõem, alterando as
pressões tensões na massa de solo
Deficiência na investigação Pode ser por ausência de sondagem, número insuficiente de furos, profundidade de
geotécnica investigação insuficiente, resultando em um perfil de solo incoerente com a realidade
local, induzindo um projeto errado de fundação
Alteração da função do Situação comum nos centros urbanos, onde as edificações sofrem adaptações alterando
edifício a sobrecarga, como por exemplo a adição de novos pavimentos, mezaninos, ou
mudança no uso
Fundação sobre aterros Situação indesejável, por ser fonte recorrente de problemas; o recalque pode ser
consequência de deformações no próprio aterro, quando o mesmo é mal executado ou
por deformações no solo natural abaixo do aterro
Rebaixamento do lençol Procedimento adotado para execução de fundações ou construções subterrâneas, que
freático reduz a pressão neutra e aumentando a pressão efetiva. Assim sendo, a pressão sobre o
solo aumenta, mesmo sem acréscimo de carga sobre a fundação
Efeito Tschebotarioff Movimentação transversal em camada compressível de solo, causada por cargas
verticais assimétricas, provocadas por aterro ou escavação
Influência da Vegetação A presença de vegetação pode provocar variações na umidade do solo local, que
provocam mudanças volumétricas no terreno e possivelmente, movimentação de
fundações
Solos colapsíveis Solos que em contato com a água têm sua estrutura destruída
Solos expansivos Solos que em contato com a água apresentam um aumento de volume; nesse caso,
pode ocorrer levantamento da fundação e diminuição da resistência desse solo
Infiltração Pode provocar o carreamento do solo abaixo das fundações, afetando a interação solo-
estrutura
Os reforços de fundação podem ser de diversos tipos e para as mais diferentes situações dentre eles
os reforços provisórios que são indicados para reformas ou em casos onde haverá uma sobrecarga
atuando por um determinando intervalo de tempo e os permanentes, que são indicados quando há
problemas estruturais ou de recalque na edificação, ou quando haverá um aumento na sobrecarga da
edificação de modo permanente; escoramento auxiliar para execução de reforço, que é usado para
reduzir o carregamento atuante em uma fundação que será reforçada permanentemente (GOTLIEB,
1998). Na sequência, são apresentadas técnicas de reforço de fundação.
ii) Aumento da área de apoio: O aumento da área de apoio é indicado quando há um aumento
das cargas ou por ter sido adotado um valor de tensão admissível do solo inadequado e é
uma técnica aplicável no caso de fundações onde a transferência das cargas da edificação
para o solo ocorrem pela base, caso dos blocos, sapatas e tubulões. Constitui-se na
ampliação da seção em planta da sapata ou da base do tubulão, efetuada por meio de um
“enxerto”. Este, em geral é caracterizado pelo chumbamento de ferragens na peça existente,
apicoamento de suas superfícies e o uso de resinas colantes, bem como traços especiais de
novo concreto a ser aplicado que, por exemplo, garanta uma forte retração para a melhor
ligação entre o concreto antigo e o novo (GOTLIEB, 1998).
iii) Estaca Mega: Também chamada de estaca de reação ou estaca prensada, esse tipo de
reforço tem como principal característica o seu processo de cravação, feito com macaco
hidráulico. Essa técnica consiste na instalação de pequenos elementos de estacas vazadas
(com 0,50 a 1,00 metro de comprimento), cravadas superpostas até a profundidade
requerida, a partir do emprego do macaco hidráulico. O mesmo reagirá contra uma
plataforma de sobrecarga, chamada cargueira, ou então contra a estrutura ou contra a própria
fundação a ser reforçada. Quanto ao processo de execução, em alguns casos torna-se
necessária a construção de uma viga de concreto armado sob as paredes para o reforço da
alvenaria que pode não suportar os esforços gerados pelos macacos hidráulicos. Além disso,
para as estacas de concreto armado, é usual a colocação de barras de aço no círculo vazado e
o seu preenchimento com concreto, a fim de promover uma ligação entre os diversos
segmentos da estrutura (GOTLIEB, 1998). Quanto as estacas metálicas, a NBR 6122 da
ABNT (2010) indica que as emendas dos diversos segmentos sejam feitas por solda ou
rosca.
iv) Estaca Raiz: A NBR 6122 da ABNT (2010) define a estaca raiz como “uma estaca moldada
in loco, em que a perfuração é revestida integralmente, em solo, por meio de segmentos de
tubos metálicos (revestimentos) que vão sendo rosqueados à medida em que a perfuração é
executada”. Desenvolvida a partir da década de 1950 na Itália, a estaca raiz foi concebida
para uso em reforço de fundações e obras de contenção, tendo posteriormente, seu uso
ampliado para opção de fundação profunda, sendo amplamente utilizada nos dias atuais,
principalmente em terrenos com presença de matacões ou em que existam fundações de
obras antigas. A característica principal que a torna apta a esse tipo de solo e também para
reforço é a capacidade de perfurar materiais rochosos e estruturas de concreto, além de não
produzir vibração e de ser executada com equipamento de pequena altura (ALONSO, 1998).
Também denominada de estaca injetada, outra característica que a difere das demais estacas
é a possibilidade de execução com grandes inclinações (entre 0 e 90 graus). O processo de
execução inicia-se com a perfuração do solo, através de tubo de revestimento rotativos com
auxílio de circulação de água. Esses tubos são rosqueáveis e vão sendo emendados à medida
em que a perfuração avança, até se chegar na cota desejada. Terminada a perfuração, é feita
a instalação da armadura. Observa-se que esse tipo de estaca pode trabalhar à compressão e
também à tração, devendo a armadura ser dimensionada de acordo com o tipo de solicitação.
Em seguida é feito o preenchimento da estaca com argamassa. O tubo de injeção é
introduzido até o fundo da perfuração, e a injeção acontece de baixo para cima. Por fim, se
procede a retirada do tubo de revestimento, através de macacos hidráulicos. Durante essa
etapa, golpes de ar comprimido são aplicados na estaca, com objetivo de garantir a
integridade da mesma. Assim, são golpes de baixa pressão (inferiores a 0,50 Mpa). Isso
provoca um rebaixamento no nível da argamassa, que deve então, ser completada antes de
um novo golpe de ar. Esse procedimento é repetido até a retirada total do tubo (ALONSO,
1998).
v) Microestacas: A NBR 6122 (ABNT, 2010) define microestaca como uma estaca moldada in
loco, executada através de perfuração rotativa com tubos metálicos (revestimento) ou
rotopercussiva por dentro dos tubos, no caso de matacão ou rocha. Esta estaca é armada e
injetada, com calda de cimento ou argamassa, através de tubo “manchete”, visando
aumentar a resistência do atrito lateral. As microestacas são executadas com tecnologia de
tirantes injetados em múltiplos estágios a partir do auxílio de tubo-manchete de válvulas
múltiplas, que impedem o retorno da calda de cimento. Em cada estágio, utiliza-se pressão
que garanta a abertura das “manchetes” e posterior injeção. Ao contrário das estacas-raiz,
usam-se altas pressões de injeção (ALONSO, 1998). Para baratear o custo das microestacas,
pode-se substituir o tubo de aço por PVC rígido, mas neste caso é obrigatório o uso de
armadura, pois o PVC não tem função estrutural. O procedimento de execução de uma
microestaca compreende basicamente em cinco etapas consecutivas, a saber: perfuração
auxiliada por circulação de água; instalação de tubo-manchete; execução de “bainha”;
injeção de calda de cimento e vedação do tubo manchete (ALONSO, 1998). A utilização de
microestacas é competitiva quando, por exemplo, em presença de interferências naturais,
tais como lâmina de rocha, matacões, solo concrecionado ou artificiais, tais como entulhos,
concreto e alvenarias. Sua aplicação é importante para situações onde se tem proximidade de
estruturas sensíveis à vibração e ruído ou restrições em planta, altura (pé-direito reduzido)
(AZEVEDO e RICHTER, 1998).
vi) Estaca injetada autoperfurante: É uma técnica que tem se popularizado devido simplicidade
de execução, com fácil instalação e controle de execução, uma vez que utiliza de
equipamentos simples, apresentando assim uma menor relação custo/carga dentre as estacas
injetadas. Além disso, pode ser executada com grandes inclinações e o seu processo de
perfuração pode atingir grandes profundidades em terrenos de baixa resistência, conferindo
maior parcela de transmissão de carga ao solo por atrito lateral (SILVA, 2017). A estaca
injetada autoperfurante é uma estaca de pequeno diâmetro moldada in loco, a qual consiste
em perfurar o solo com altíssima velocidade por rotação e pull down, com injeção
simultânea de calda de cimento, utilizando-se um tubo de aço de alta resistência e com ponta
cortante, considerado a armação principal da estaca (ZULUAGA, 2015). Ainda segundo
Zuluaga (2015), esse tipo de estaca é ideal para situações de solos argilosos moles. Silva
(2015) comparou as estacas injetadas convencionais raiz e microestaca com a estaca
autoperfurante em relação à capacidade de carga a tração, em um solo residual de gnaisse na
região de Belo Horizonte e concluiu que essa técnica reúne vantagens e elimina
desvantagens das estacas injetadas convencionais, pois além de alcançar maior capacidade
de carga possui uma produtividade superior, sendo indicada para execução em solos com
ausência de rochas.
O processo de reforço de solo consiste em se introduzir no maciço elementos que possuam elevada
resistência à tração (fitas metálicas, mantas geotêxteis, malhas de aço) ou compressão (calda de
cimento). (ABRAMENTO et al., 1998).
São técnicas utilizadas com intuito de aumentar a capacidade de carga de um solo, para evitar
problemas de recalques futuros num projeto de construção e também como reforço de solo sob
edificações já existentes, que estejam sofrendo processo de recalque. O melhoramento de solo pode
ser o reforço final em si ou ser executado para permitir a execução de um reforço de fundação. São
descritos em seguida, algumas técnicas de melhoramento de solo.
i) Jet Grouting: O jet grouting é uma tecnologia de estabilização de solos realizada sem
escavação prévia, através de jateamento sob grande impacto, causado por bombeamento do
líquido sob pressão de 200 a 500 vezes a pressão atmosférica, desagregando a estrutura do
terreno natural e misturando calda de cimento com partículas de solo desagregado, de modo
a transformar o maciço terroso de baixa propriedade em maciço tratado, com melhor
resistência e menor permeabilidade (ABRAMENTO et al., 1998; MARCOS, 2011). Essa
técnica aplica-se, em princípio, em qualquer tipo de solo, sem restrições granulométricas, ou
origem geológica, ou presença de água, assim como as colunas podem ser feitas em
quaisquer direções desde o vertical até o horizontal, tratando os níveis estritamente
necessários (ABRAMENTO et al., 1998).
ii) Congelamento de Solo: O congelamento de solo aparece como solução para obras nas quais
não há estabilidade adequada do terreno durante o processo de construção e também em
situações onde se deseja parar o processo de recalque para execução de uma obra de reforço
de fundação. É uma técnica que se encontra numa fase bastante avançada em países onde há
predominância de temperaturas baixas, mas é aplicável também em países de clima quente,
onde o congelamento é feito artificialmente (MARCOS, 2011). Essa técnica considerada
ainda hoje como inovadora foi desenvolvida e utilizada na Alemanha em 1883, para abertura
de poços em solos de minas de carvão. No Brasil, seu uso mais marcante foi em São Paulo,
no edifício da Companhia Paulista de Seguros, onde o solo foi congelado para perfuração de
tubulões. O método tem como ponto positivo ser uma eficiente barreira contra água, com
impermeabilização perto de 100%, fornecendo alta capacidade de carga e sendo uma
solução menos impactante ao ambiente na zona que se pretende estabilizar (MARCOS,
2011). O procedimento executivo consiste em se enterrar no solo tubos de congelamento
com diferentes espaçamentos, pelos quais passam o material de refrigeração, normalmente
salmoura ou nitrogênio líquido. O refrigerante então passa através dos tubos, que absorvem
o calor do solo envolvente à medida que o material circula. Dessa forma, o processo
transforma água intersticial in situ em gelo.
iii) Carregamento sobre o terreno adjacente: Nos casos de recalques consideráveis e que há
necessidade de estabilização do terreno para evitar o colapso de uma estrutura, uma possível
solução é o carregamento do terreno adjacente à construção, em um dos lados, a fim de parar
ou desacelerar o movimento lateral do solo e o consequente deslocamento da estrutura. Esse
carregamento pode ser feito de diversas formas, desde solo compactado a peças de algum
metal pesado, como chumbo. Essa técnica consiste em uma medida provisória para
estabilização do recalque da fundação, até que algum reforço seja executado. Pode ser
destacado seu uso nas obras de reforço na Torre de Pisa, na Itália.
NOVATO, Estaca raiz e microestacas Alto O custo dessa técnica é alto devido ao tipo de
20Solo com equipamento utilizado, de alta tecnologia e demanda
presença de mão-de-obra especializada. É um tipo de reforço
matacões indicado para as mais diversas situações, mas torna-se
competitivo em solos com presença de rochas ou
concreto proveniente de antigas obras
Fonte: Autores
5. CONCLUSÃO
Salienta-se que patologia de fundações é, ainda hoje, uma área que não é extensivamente estudada,
principalmente quando comparada com outras dentro da engenharia civil. O presente trabalho
abordou teorias básicas sobre fundações, tipos de solos e processo de recalque nos solos, como
fundamentação teórica para entendimento dos problemas em fundações e apresentou técnicas de
reparo a fim de correlacioná-las com a adequada utilização.
Ressalta-se que o melhor é garantir um empreendimento de qualidade desde o início, nas fases de
projeto e execução de forma a evitar transtornos e prejuízos financeiros oriundos da necessidade de
reforço das fundações da edificação.
Como forma de prevenção ao recalque de fundações, antes do início da obra, conclui-se que deve
ser elaborado um bom projeto de engenharia, dando devida importância a etapa de investigação
geotécnica e análise de solo, respeitando as exigências normativas e sob acompanhamento de
profissional capacitado, a fim de evitar erros na execução da sondagem. Como forma de minimizar
o risco de falsos resultados, pode ser sugerido investigações complementares do solo, com um
número de sondagens superior ao mínimo determinado em norma.
A execução da obra deve ser realizada seguindo as considerações previstas em projeto, uma vez que
erros de construção podem alterar a forma que os esforços da estrutura atuam no solo.
Mas na ocorrência das manifestações patológicas que sugerem recalque de fundações, é
fundamental que seja feito o controle das movimentações ao longo do tempo, para previsão do
comportamento futuro da edificação, garantindo segurança da estrutura até a execução de
procedimentos de reparo.
Verifica-se a existência de diferentes técnicas de reparo e que em diversos casos, pode existir mais
de uma solução para o mesmo problema. O que deve nortear a escolha é a oferta de mercado na
região e o custo de execução da técnica, que geralmente apresenta custo elevado, bem como o
conhecimento do solo local.
REFERÊNCIAS
[1] MILITITSKY, J.; CONSOLI, N. C. e SCHNAID, F. Patologia das Fundações. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos,
2008. 207 p.
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concreto de edificações. 2008. 90 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Engenharia Civil),
Departamento de Tecnologia da Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2008.
[4] ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6484: Solo – Sondagens de simples
reconhecimentos com SPT – Métodos de ensaio. Rio de Janeiro, 2001.
[5] VELLOSO, D.; LOPES, F. L. Concepção de Obras de Fundações. In: HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J.
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1998. Cap. 12. p. 471 – 482.
[6] GOTLIEB, M. Reforço de Fundações Convencionais. In: HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J. L.; FROTA,
R. G. Q.; CARVALHO, C. S. e NIYAMA, S. Fundações: Teoria e Prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998. Cap. 12.
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[7] ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e execução de fundações.
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[8] ALONSO, U. R. Estacas Injetadas. In: HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J. L.; FROTA, R. G. Q.;
CARVALHO, C. S. e NIYAMA, S. Fundações: Teoria e Prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998. Cap. 9. p. 361 –
372.
[9] AZEVEDO, C. P. B.; RICHTER, C. M. B. Microestacas Injetadas. Revista Fundações e Obras Geotécnicas. São
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Foco.pdf>. Acessado em: 11 de agosto de 2017.
[10] SILVA, R. R. C. da. Verificação do desempenho das estacas injetadas autoperfurantes executadas em solos
arenosos para construção de uma usina eólica. REEC – Revista Eletrônica de Engenharia Civil. v. 13, n. 2,
2017. Disponível em: <https://www.revistas.ufg.br/reec/article/view/45095>. Acesso em: 12 de agosto de 2017.
[11] ZULUAGA, F. A. Estimativa da capacidade de carga e recalque de fundações tipo Alluvial Anker no solo do
Distrito Federal. 2015. 141 p. Dissertação (Mestrado em Geotecnia), Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, Faculdade de Tecnologia – UnB, Brasília/DF, 2015.
[12] SILVA, R. R. C. da. Confronto de estacas injetadas: análise do comportamento a tração em solo residual da
região mineira. In: SEFE Seminário de Engenharia e Fundações Especiais, 2015, São Paulo – SP. SEFE 8, 2015,
v. 8. Disponível em < http://acquacon.com.br/sefe8/pt/pdf/12h45-pap018851-rodrigo-rogerio-23-06-poster2.pdf>.
Acessado em: 12 de agosto de 2017.
[13] ABRAMENTO, M.; KOSHIMA, A.; ZIRLIS, A. C. Reforço do Terreno. In: HACHICH, W.; FALCONI, F. F.;
SAES, J. L.; FROTA, R. G. Q.; CARVALHO, C. S. e NIYAMA, S. Fundações: Teoria e Prática. 2. ed. São
Paulo: Pini, 1998. Cap. 18. p. 641 – 690.
[14] MARCOS, A. P. P. Estabilização Temporária de Areias por Congelamento. 2011. 115 p. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil), Universidade de Aveiro, Aveiro, 2011.
ANALISE CRÍTICA DOS ENSAIOS DE ESTAQUEIDADE DE SISTEMAS
DE VEDAÇÃO VERTICAL DA NBR 15.575/2013
Critical analysis of vertical sealing system tests from the Brazilian Standard NBR
15.575/2013.
Matheus Pereira Mendes 1, Vitor Dias Lopes Nunes2, Maria Teresa Gomes Barbosa 3
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, matheus.mendes@engenharia.ufjf.br
² Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, dias.vitor36@gmail.com
³ Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br
Resumo: Em 2013, foi publicado a norma de desempenho NBR 15.575, sendo o primeiro
documento nacional a considerar o comportamento em uso da edificação, o que causou uma
mudança nos paradigmas da construção civil. Atualmente é importante que os projetistas levem em
conta o desempenho como um dos parâmetros, visto que têm sido crescentes as preocupações a
respeito da durabilidade e sustentabilidade das edificações. A norma define requisitos gerais de
segurança, habitabilidade, sustentabilidade e nível de desempenho de habitações. No intuito de
alcançar algumas das premissas preconizadas no documento, deve-se garantir a estanqueidade dos
sistemas verticais de vedação, já que limitar sua penetração da água é uma tarefa fundamental para
prevenir manifestações patológicas, aumentar a eficiência energética e reduzir os custos de
manutenção dos edifícios. Os critérios de estanqueidade dos sistemas de vedação vertical são
apresentados em dois parâmetros: infiltração de água em fachadas e umidades decorrentes da
ocupação e uso do imóvel, obtidos por meio de ensaios in situ de permeabilidade e estanqueidade.
Sabe-se, no entanto, que os agentes da construção civil vêm apresentando impasses relacionados
aos ensaios e procedimentos descritos na norma, visto que são apresentados, muitas das vezes, de
forma complexa ou com carência de informações para reproduzi-los fielmente. Diante desse
pressuposto, o presente trabalho tem como objetivo a análise crítica dos ensaios para os requisitos
de Estanqueidade nos Sistemas de Vedação Vertical Internos e Externos, representados na Parte 4
da ABNT NBR 15.575/2013 nos anexos C e D. Para alcançar este fim, foi feito uma revisão
bibliografia de estudos que abordaram estes ensaios. Além disso, foi realizado uma análise
comparativa entre as normatizações mais significantes do mundo, para contextualizar a norma
brasileira num cenário internacional. Os resultados apontam uma carência de especificações e
padronizações nos ensaios, o que levam a imprecisões nos resultados. Conclui-se que agentes
envolvidos na normatização devem adequar o documento para que seus ensaios possam ser
realizados de forma padronizada e sistemática, de modo que seja evitado variações em cada
operação, e que seja retratado da melhor forma possível as condições reais que o sistema de
vedação estará exposto.
Abstract: In 2013, the Brazilian performance standard NBR 15.575 was published, being the first
national document to consider the behavior in use of buildings, which has caused a change in the
paradigms of the civil construction. Nowadays it is important that designers consider the
performance in the design process, as the concerns about the durability and sustainability have been
increasing. The standard defines general requirements of safety, habitability, sustainability and
performance level. In order to achieve some of the criteria recommended in the document,
watertightness of vertical sealing systems must be analyze, as limiting water penetration is a
fundamental task to prevent construction defects, increase energy efficiency and reduce buildings
maintenance costs. The watertightness requirement of vertical sealing systems are presented in two
parameters: water infiltration in façades and dampness due to occupation and use of the habitation,
obtained through experimental tests of permeability and watertightness. It is known, however, that
civil construction agents have presented obstacles related to the experimental tests and procedures
described in the Brazilian standard, as they are often presented in a complex way or with a lack of
information to reproduce them faithfully. Therefore, the aim of this work is the critical analysis of
the experimental tests for the requirements of Watertighness in Internal and External Vertical
Sealing Systems, represented in Part 4 of ABNT NBR 15.575/2013, Attachment C and D. To
achieve this goal, a bibliographical review of studies that utilized the tests was carried out.
Furthermore, a comparative analysis was done between the most significant standards in the world
to contextualize the Brazilian standard in an international scenario. The results show a lack of
specifications and standardizations in the tests, which lead to impressions in the results. It is
concluded that agents involved in the Brazilian standard should adjust the document so that their
experimental tests can be performed in a systematic way, so that variations in each operation are
avoided and that the real environmental conditions are simulated.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, a maior parte dos projetos de edificações não consideravam o desempenho como
parâmetro a ser seguido [1]. Era evidente a necessidade de premissas para se alcançar uma melhora
da qualidade da indústria da construção civil, caracterizada por um alto tradicionalismo e baixa
industrialização. O cenário começou mudar a partir de 2008, com a publicação da norma brasileira
ABNT NBR 15.575 Edificações Habitacionais – Desempenho, submetida a uma revisão e
republicada em 2013 [2]. Sua publicação representou um impasse na construção civil visto que até
então, não existia uma norma técnica vigente em território nacional que considerava o
comportamento em uso da edificação.
Atualmente é importante que os projetos de edifícios levem em conta o desempenho como um dos
parâmetros, ora na fase de concepção, ora na fase do programa das exigências de projeto. Para
Oliveira e Mitidieri Filho [1], a prática é necessária, visto que têm sido crescentes as preocupações a
respeito da durabilidade e sustentabilidade das edificações. Diante disso, os agentes da indústria da
construção civil estão investindo mais esforços para transmitir informações com foco no
desempenho dos produtos [3].
A norma NBR 15.575 [2], conhecida como Norma de Desempenho, define os requisitos gerais
preconizados em cada sistema das edificações habitacionais. São divididos em quatro exigências,
sendo elas a segurança, sustentabilidade, nível de desempenho e habitabilidade, foco deste estudo.
Cada exigência possui subdivisões e no caso da habilidade são elas: desempenho térmico, acústico e
lumínico; saúde, higiene e qualidade do ar; funcionalidade e acessibilidade; conforto tátil e
antropodinâmico; e por fim, estanqueidade.
A estanqueidade nada mais é que uma “propriedade de um elemento (ou de um conjunto de
componentes) de impedir a penetração ou passagem de fluidos através de si” [2]. Para as
edificações, sua importância se dá devido a aceleração dos mecanismos de deterioração causados
pela exposição dos elementos construtivos à água proveniente das chuvas, solo ou da fase de uso.
Responsáveis por parte da estanqueidade e consideradas como envoltória da edificação, as vedações
verticais acabam servindo de anteparo para os agentes agressivos do ambiente externo, como a
água, prejudicando sua durabilidade. Deste modo, pode-se perceber com facilidade nos centros
urbanos, a deterioração e aparência prejudicada destes elementos construtivos [4].
A norma NBR 15.575 [2], especificamente na Parte 4, aborda os parâmetros de estanqueidade dos
sistemas verticais de vedação externa e interna dividindo-os em duas partes: infiltração de água nos
sistemas de vedação externa (fachadas), e umidades decorrentes da ocupação e uso do imóvel nos
sistemas de vedação internos e externos. Para análise do cumprimento dessas premissas, são
disponíveis dois ensaios, representados no anexo C (Estanqueidade à água) e D (Permeabilidade à
água) respectivamente.
Sabe-se, no entanto, que os agentes da construção civil vêm apresentando impasses relacionados à
norma de desempenho devido a diversos fatores, a saber [5]–[7]:
i) A norma faz referência de muitas outras normas nacionais e internacionais, o que a faz
completa, porém, dificulta o acesso dos usuários a todos os documentos citados;
ii) Os agentes da indústria da construção civil carecem de informações acerca de produtos
de fornecedores e fabricantes, o que dificulta a análise do desempenho do produto final;
iii) Não há uma plataforma que esclareça ou conecte os agentes do setor para facilitar a troca
de informações;
iv) Não existe um roteiro de implantação;
v) Não há um órgão fiscalizador das premissas preconizadas na norma;
vi) Quanto aos métodos de avaliação e ensaios, foco deste trabalho, a norma os apresenta,
muitas das vezes, de forma complexa ou com carência de informações para executá-los
in situ.
Diante desse pressuposto, o presente trabalho tem como objetivo a análise crítica dos ensaios para
os requisitos de Estanqueidade nos sistemas de vedação internos e externos, representados na Parte
4 da norma nos anexos C e D [2]. Além disso, será feita uma análise comparativa entre as
normatizações mais significantes do mundo, para contextualizar a norma brasileira num cenário
internacional. Espera-se que este trabalho possa contribuir com sugestões de melhorias dos ensaios
para cumprimento de requisitos prescritos na norma.
2. ESTANQUEIDADE E A NORMA DE DESEMPENHO
O sistema de vedação vertical funciona como uma barreira que previne que a água entre no edifício,
seja por chuvas, vapor d’água no ar, umidade do solo, dentre outros. A desqualificação de mão de
obra, erro nas especificações de materiais e até mesmo falhas na execução e projeto, como fissuras,
por exemplo, podem facilitar a presença de umidade indejesável nas edificações [8].
Segundo Nappi [9] a umidade em paredes é responsável pelos problemas mais frequentes nas
edificações, resultando numa insalubridade e uma degradação dos materiais compostos da
alvenaria. As consequências da umidade nos sistemas de vedação vertical são diversas como o
aparecimento de fungos e bolores, lixiviação, eflorescência, redução de seção dos materiais e além
disso, sabe-se que á água diminui a resistência térmica de sistemas de revestimento, diminuindo
ainda mais seu desempenho térmico. Diante disso, limitar a penetração da água nos sistemas de
vedações verticais é uma tarefa fundamental para prevenir manifestações patológicas, aumentar a
eficiência energética e reduzir os custos de manutenção dos edifícios [10]–[12].
Para Polisseni [13] a estanqueidade é “a propriedade dos materiais, componentes ou elementos da
edificação de não permitirem a penetração da água”. A perda de estanqueidade geralmente está
associada à uma umidade nos elementos de vedação que são levados a uma deterioração (física,
biologia e química), através da permeabilidade.
A permeabilidade é definida como a capacidades de permitir ou não a entrada de água no material,
que na maioria dos casos é poroso. Esta propriedade depende diretamente de algumas características
do revestimento, como o índice de vazios, técnica de execução, espessura, presença de fissuras,
dentre outros. Embora seja ideal que o sistema de vedação vertical seja estanque à água, a passagem
de vapor é recomenda já que reduz os riscos da umidade de condensação interna nos períodos de
inverno [14].
Para Chew [15], durante uma tempestade, os cinco principais mecanismos por trás da penetração da
umidade são:
a) forças capilares;
b) forças cinéticas;
c) diferencial de pressão;
d) gravidade;
e) tensão superficial.
Destes, apenas forças cinéticas e pressão diferencial são relacionados a água. As demais são
característica das propriedades do material. Cabe aos ensaios então, tentar simular todos esses
meios de penetração de água.
A norma de desempenho trata da estanqueidade como uma das exigências da habitabilidade, uma
vez que a presença de água nas moradias causa insalubridade e pode influenciar no conforto térmico
[2]. A exigência é avaliada por dois requisitos:
i) infiltração de água nos sistemas de vedações verticais externas: estanqueidade da fachada à
água de chuva ou outras fontes;
ii) umidade no sistema de vedações verticais decorrente da ocupação do imóvel: não permitir
permeabilidade de água entre as faces internas ou externas, quando em contato com áreas molhadas
e molháveis.
Para avaliação dos dois requisitos, a normatização oferece dois ensaios apresentados de forma
descritiva em seu anexo. O primeiro ensaio consiste em submeter a face externa de um exemplar do
SVV Externa, com dimensões de 105 x 135 cm e espessura variável, à uma vazão 3 L/m²min por 7
horas, sob uma pressão pneumática, para que seja avaliado a soma das áreas das manchas de água
na face oposta àquela que está sendo aplicada a vazão. Já o segundo, consiste em sujeitar um trecho
da face interna ou externa à presença de água em uma bureta, mantendo a pressão constante, por
meio de uma câmara fixada na parede, e assim é medido o volume de água que infiltra na parede,
devendo ser inferior a 3 cm² num período de 24 horas.
Os ensaios propostos pela norma NBR 15.575/2013 são fundamentais para o conhecimento do
desempenho dos sistemas que compões as edificações, e com seus resultados é possível criar uma
base de dados que pode realimentar o processo para escolha e especificações de materiais e
sistemas. Sabe-se, no entanto, que atualmente são poucas as empresas que realizam de fato os
ensaios para verificação dos requisitos e que esta pratica está bastante distante da realidade da
construção civil no Brasil [16].
Borges [17] afirma que a indústria da construção civil pode vir a utilizar os métodos de avaliação de
desempenho, seja para sanar os conflitos entre os agentes das edificações – incorporador, construtor
e usuário – ou para especificar o comportamento em uso de sistemas que serão empregados. Para
que isto ocorra, no entanto, é necessário que os agentes da construção civil tenham domínio de todo
conteúdo da norma de desempenho assim como a mão de obra, que deve ser cada vez mais
capacitada
Cabe mencionar que, além de serem pouco utilizados, os ensaios se apresentam de maneira
simplificada dificultando sua realização por meio das empresas e de pesquisadores. São poucas as
pesquisas que realizam os experimentos, mas todas elas enfrentaram impasses na sua realização
devido a diversos fatores, como a falta de padronização de equipamentos e carência de
especificações [16], [18]–[22]. Ademais, se tratando de normatizações internacionais, pouca
atenção tem sido dada à correlação entre os testes de estanqueidade disponíveis mundialmente e os
fatores que contribuem para a penetração da água [15], [23], [24].
Diante disso, o foco deste trabalho é na análise crítica dos ensaios de estanqueidade da norma de
desempenho, para que sejam mostrados os obstáculos encontrados em sua execução e a sua
correlação com as normas internacionais mais significantes, para que possam ser encontrados
pontos de melhorias e soluções.
3. METODOLOGIA
No trabalho, foi implementada uma metodologia de caráter exploratório que consiste numa revisão
bibliográfica seguida da análise crítica de pesquisas que realizaram os ensaios de estanqueidade
presentes na norma NBR 15.575. Cabe ressaltar que a maioria dos trabalhos encontrados são da
região sul do país, onde se concentram a maioria dos trabalhos dedicados à norma de desempenho,
o que dificulta uma heterogeneização das amostras estudadas.
A pesquisa será dividida em duas etapas. A primeira etapa será feita uma revisão bibliográfica de
estudos de pesquisadores que realizaram os ensaios de estanqueidade, mostrando os obstáculos que
têm sido encontrados na sua execução, para que então possa ser proposto sugestões de melhorias. Já
a segunda etapa visa fazer uma análise comparativa para mostrar a relação da norma brasileira
perante a normas internacionais no intuito de que algumas sugestões sejam adaptadas à nossa
realidade. Foram selecionadas as cinco normatizações mais utilizadas no mundo que possuem
versões na língua inglesa e portuguesa. Cada documento foi analisado e foram extraídas as
seguintes informações a respeito do ensaio:
a) Nome;
b) Pressão utilizada;
c) Fluxo de água e tipo (se superficial ou por aspersão);
d) Duração do experimento;
e) Meios de percolação de água que são simulados segundo Chew [15];
f) Vantagens e Desvantagens;
4. ANÁLISES E RESULTADOS
O quarto estudo foi realizado por Neves (2015) [19], no qual foi realizado o ensaio D em paredes
sem revestimento, com revestimento de um lado e revestidas totalmente. Semelhante a outros
autores [18][21], o autor cita a permeabilidade quase que instantânea da água na parede,
impossibilitando a leitura da bureta e obtenção de resultados.
A quinta pesquisa foi feita por Pierozan Junior em Florianópolis em 2015 [20], no qual os ensaios
dos anexos C e D foram realizados em paredes de tijolos de concreto. O autor encontrou o mesmo
problema relatado anteriormente, que é a rapidez com que a água escoa pela parede,
impossibilitando a leitura da bureta em 24 horas, visto que está já não continha mais água,
caracterizando o sistema de vedação como falho [18], [19][21]. Cabe ressaltar, que os ensaios são
realizados com a parede sem revestimento de argamassa, e que este, juntamente com a pintura, tem
influência significante relacionada a estanqueidade.
Por fim, o último estudo foi realizado por Sathler em 2018 em Viçosa, como parte de uma
dissertação de mestrado que teve como objetivo fornecer um detalhamento executivo da câmara de
estanqueidade, além de fornecer um programa computacional para mensuração da área da mancha
de umidade. [22]. Dentre os problemas citados pela autora, destacam-se a falta de especificações
para a realização e construção dos instrumentos. A autora cita que devido ao alto peso da caixa de
umidade, era necessária sua fixação na parede por parafusos, os quais eram responsáveis por
vazamentos na câmara.
4.2. Análise crítica dos ensaios de estanqueidade da norma de desempenho
Para contextualizar os ensaios da norma brasileira num recorte internacional, uma análise
comparativa foi feita com as normatizações mais significativas e utilizadas do mundo.
A primeira normatização analisada é a norte-americana ASTM E514:2011, que apresenta um teste
de laboratório para determinação da resistência à penetração de água em paredes de alvenaria. A
norma simula uma chuva conduzida pelo vento em condições mais severas que as naturais, que só
seriam possíveis de ocorrer em uma localização dos Estados Unidos. A taxa de pulverização de
água aplicada é de 2.3 L/(m².min), e se nenhuma diferença de pressão for especificada, a amostra
deve ser testada com pressão de 500 Pa, constantes por pelo menos 4 horas. A norma brasileira
NBR 15.575/2013 não especifica as condições ambientais do laboratório e dos corpos de prova, já
na estadunidense, define que as amostras de paredes de alvenaria devem ser armazenadas por 7 dias
em condições especificadas em laboratório antes do ensaio. Além disso, apresenta um item sobre os
perigos que os operadores dos ensaios estão sujeitos. No entanto, a ASTM E514:2011 não
proporciona um critério de aceitação como a norma brasileira, mas especifica os resultados que
devem ser registados durante o teste [15], [23], [26].
A segunda normatização é a versão in situ da norma norte-americana, isto é, a ASTM C1601. Para
avaliação da penetração de água no SVV, submete-se o corpo de prova às mesmas condições de
vazão e pressão de sua versão de laboratório (2.3 L/(m².min) e 500 Pa). Como o ensaio é realizado
no campo, a norma fornece cálculos para adaptações da vazão e da pressão para simular a realidade
ambiental do local escolhido. A norma brasileira também oferece este recurso para diferenciação de
pressão por regiões do Brasil, no entanto, a vazão permanece a mesma independentemente do local
[27].
O terceiro documento normativo analisado é o europeu EN 12865. É considerada uma das
poucas normatizações que simula todos os meios de percolação de água em vedações verticais
segundo Chew [15]. A maioria dos ensaios de outras normatizações simula as condições reais que o
SVV está sujeito através de mecanismos de diferença de pressão (que simula ventos), gravidade,
capilaridade e tensão superficial. Enquanto que a EM 12865, simula também a energia cinética,
alcançada através de um sistema que cria uma película de água que percorre a superfície do corpo
de prova, além da própria pulverização. Além disso, diferente de todas as demais, a norma adota
uma pressão que não é constante, e sim pulsante, aumentando gradativamente em 150 Pa, e se
reduzindo a 0 Pa em ciclos de 15 segundos; o que simula fielmente à ventos dirigidos. Utiliza-se
uma vazão de aspersão de 1,5 L/ (m².min) e de escorrimento superficial de 1,2 L/(m.min). O tempo
de ensaio também é reduzido, sendo no mínimo 30 minutos [28]. No entanto, segundo Bossche,
Lacasse e Janssens [23], são poucas as pesquisas dedicadas a essa normatização.
A quarta normatização estudada é a britânica BS 4315-2. A norma especifica métodos de teste para
medir a resistência à penetração de água de estruturas de parede permeáveis sem juntas abertas sob
pressão de ar estática. São dados três métodos para registrar a penetração de água através da parede:
registrando por fotografia o aumento da área de umidade, registrando a mudança no peso da
amostra do corpo de prova, e a quantidade de vazamento através da amostra. É a única das
normatizações que não aplica fluxo de água constante. No ensaio, água é pulverizada por 1 min a
intervalos de meia hora a uma taxa de 0,5 L/(m².min), com uma diferença de pressão constante de
250 Pa, e é aplicada para um período contínuo de 6 h/dia durante um número de dias consecutivos
[29][30].
A quinta norma apresentada é a de Singapura, país referência em pesquisa e tecnologia no sudeste
asiático. A norma apresenta uma forma simplificada de mensurar a percolação de água nas juntas de
paredes de alvenaria, pois sabe-se que nas juntas é onde se há mais percolação do líquido [18], [22],
[31]. O ensaio compreende em um dispositivo de ventoinha conectado a uma câmara longitudinal
de 1 m com três furos. A água é fornecida aos bocais a 1 L/min e então aplica-se uma pressão de
240 Pa na câmara sob parede. Este teste se destaca devido à sua fácil execução por focar somente
nas juntas. No entanto, se mostra insatisfatório já que não representa todo o sistema (juntas e
blocos)[15].
Por fim, tem-se os ensaios do anexo da norma brasileira de desempenho NBR 15.575/2013. Os
ensaios se mostram bastante conservadores quanto o assunto é a vazão de água pulverizada, sendo a
maior dentre os demais. Isto é um ponto positivo, visto que retratariam uma situação extrema de
chuva. No entanto, no que diz respeito às pressões, o ensaio é o menor dentre as normatizações.
Diferente da normatização europeia, a brasileira, assim como as demais, não simula a entrada de
água no sistema de vedação por energia cinética. Os ensaios da NBR 15.575 carecem de mais
informações quanto aos seus equipamentos, aparatos e sua condições de exposição no ambiente;
problemas que são enfrentados na sua execução, como visto acima. Dentre as normais
internacionais, é uma das poucas que possui um critério de aceitação e que possui uma versão para
laboratório e outra para ensaios in situ[2].
Os resultados da análise comparativa dos ensaios preconizados pelas sete normatizações são
exibidos na Tabela 2.
Tabela 2 - Análise comparativa da norma brasileira com as internacionais (Fonte: Os autores, 2018)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi apresentado pode-se encontrar um problema comum enfrentado a todos os
estudos que fizeram a realização dos ensaios de estanqueidade presentes na norma NBR 15.575, que
é a falta de especificação e de padronização de seus materiais e instrumentos. Este fato é
responsável por aumentar a dificuldade de execução e por resultar num alto grau de variabilidade de
resultados, já que cada pesquisador adequa suas lacunas e carências do modo que lhes parecer
correto. Este problema era presente na primeira versão da norma de desempenho e como pode-se
perceber, os problemas ainda persistem.
Os ensaios da norma de desempenho não mencionam em nenhum momento quais as especificações
do ambiente em que devem ser realizados os ensaios, apenas a condição de pressão. Além disso,
não mencionam qual o tipo de sistema de vedação vertical que lhe é recomendável. Sabe-se que a
NBR 15.575 é a única normatização que contém um ensaio de estanqueidade para sistema de
vedação em território nacional, então, este ensaio deveria aceitar qualquer tipo de parede, como de
concreto, steel frame, madeira, dentre outras.
Os ensaios devem retratar, da melhor forma possível, as condições reais que o sistema de vedação
estará exposto, simulando todos os métodos de entrada de água nos revestimentos. Há uma norma
internacional que retrata todos estes meios, a britânica, e esta deveria ser analisada e adaptada às
condições brasileiras.
Em resumo, pode-se citar algumas soluções de melhorias e correções de problemas nos ensaios da
norma brasileira, dentre elas:
a) Considerar documentos de outros países, como a norma americana, que possui
requisitos das condições ambientais do experimento e fatores de adequação para
temperaturas e umidades diferentes;
b) Tentar reproduzir todos os meios de percolação de água no revestimento, assim como
faz a norma britânica;
c) Especificar qual tipo de sistema de vedação é ideal para aquele tipo de ensaio;
d) Especificar e padronizar os equipamentos e materiais para evitar variabilidades;
e) Aprimorar a metodologia, incluindo métodos mais precisos de verificação de
aceitação, como a leitura da mancha de umidade por método computacional.
Espera-se que esta pesquisa contribua na disseminação do conhecimento a respeito da norma de
desempenho para os agentes da construção difícil e que forneça diretrizes de melhorias para os
ensaios de estanqueidade. Vale ressaltar que há pesquisas que, assim como esta, apresentam
soluções e sugestões para correções de outros requisitos da norma, e que estas deveriam sempre
realimentar o sistema de revisão das normatizações brasileiras.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a CAPES pelo apoio à pesquisa.
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Patologia das Construções (ALCONPAT), 2018
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Desempenho Na Construção : Um Comparativo Entre A Espanha ( Cte ) E Brasil ( Nbr 15575 / 2013 ). Gestão
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[31] HATTGE, A. F. Estudo comparativo sobre a permeabilidade das alvenarias em blocos cerâmicos e
alvenarias em blocos de concreto. Porto Alegre, 2010. Trabalho de Conclusão de Curso – Graduação em
Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto alegre, 2010.
MANUTENIBILIDADE NA NBR 15.575 - NORMA DE DESEMPENHO
Matheus Pereira Mendes1, Vitor Dias Lopes Nunes2, Maria Aparecida Steinherz Hippert3
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, matheus.mendes@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, dias.vitor36@gmail.com
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, aparecida.hippert@ufjf.edu.br
Abstract: Currently, construction industry agents and the academy have invested in information on
the performance of materials, as more concerns have been increasing about the sustainability of
buildings. It is also known that the construction industry must always seek sustainable development,
due to its socioeconomic importance and its high potential to generate environmental impacts. The
Brazilian Performance Standard for Residential Buildings NBR 15.575/2013 represented a
significant change in the construction sector, as there was no national standard document that
considered the behavior in use of the buildings. In the document, a general list of user requirements
is presented, such as safety, habitability and sustainability. Regarding to sustainability, some needs
are presented: environmental impact; durability; and maintainability, defined as the ability of the
building and its systems to permit building inspections and maintenance. It is known that
maintenance is the set of activities carried out to conserve or restore the functional capacity of a
building; an activity recommended by the Maintenance Standard NBR 5674, revised and updated in
2012. However, the maintenance of buildings has often been disregarded, resulting in little
recognition of their importance. In this context, it becomes necessary to think of edification as a
system that works beyond its construction. Therefore, the present paper aims to analyze the
requirements of maintainability and maintenance by construction companies, according to the
Brazilian Standard NBR 15.575/2013 Residential Buildings - Performance. This objective will be
achieved through a bibliographical review and data obtained from case studies of national
researches. It is expected that this paper contributes with guidelines for dissemination of knowledge
about the Brazilian Performance Standard among construction agents, so the maintainability could
be always considered in practice.
1. INTRODUÇÃO
Cada vez mais, procura-se alcançar um desenvolvimento sustentável na indústria da construção
civil, devido a sua significante importância socioeconômica e seu alto potencial de ocorrência
impactos ambientais. A este setor cabe considerar a qualidade de processos e produtos, assim como
a redução dos impactos ambientais. Neste contexto, a expansão dos debates acerca da
sustentabilidade da construção civil tem se refletido numa ferramenta fomentadora do
desenvolvimento das empresas do setor.
A durabilidade e sustentabilidade estão relacionadas ao desempenho e qualidade das edificações, e
sabe-se que estas preocupações tem aumentado entre os agentes da construção civil devido ao
crescimento do mercado e à baixa qualidade dos empreendimentos habitacionais [1]–[3]. Neste
contexto, surge a Norma Brasileira de Desempenho NBR 15.5575/2013 [4], que estabelece critérios
de desempenho ao comportamento em uso de edificações habitacionais. Para isso, o documento
preconiza formas qualitativas (requisitos), quantitativas (critérios), premissas e métodos de
avaliação. A normatização elaborada visa melhorar a qualidade da habitação, considerando a
necessidade dos seus usuários além de incentivar e orientar o desenvolvimento de novas tecnologias
no setor [4].
A norma NBR 15.575 [4] apresenta uma lista geral de exigências dos usuários que servem de
referência para a definição dos requisitos e critérios, sendo elas: a segurança, a habitabilidade e a
sustentabilidade. Correspondente a sustentabilidade, a normatização lista dois fatores: a
manutenibilidade e a durabilidade. A durabilidade é a capacidade da edificação de cumprir seu
desempenho ao longo do tempo, sob condições específicas na fase de uso. Já a manutenibilidade é a
facilidade de um sistema construtivo de ser mantido ou recolocado à sua capacidade funcional
quando a manutenção é executada.
O desempenho está relacionado com a manutenção, uma vez que são necessárias intervenções na
fase de uso para que a edificação cumpra sua capacidade funcional por toda vida útil [5]. A NBR
15.575/2013 [4] e a NBR 5674/2012 [6] definem a manutenção como sendo as atividades que são
realizadas ao longo da vida da edificação para manter, conservar, ou recuperar sua performance e
capacidade funcional, no intuito de sempre atender as necessidades e segurança dos usuários.
Com os custos crescentes de novas construções, a manutenção predial se tornou ainda mais
importante [7]. Cada vez mais, as empresas estão começando a aceitar que a manutenção deve ser
planejada e gerenciada de forma tão eficiente quanto qualquer outra atividade. Para esta fase, são
requeridas metodologias de gestão complexas, já que devem ser encontradas a origem de falhas e
suas previsões de ocorrência, de forma a restringir a repetição de problemas construtivos, com
consequências diretas na qualidade do produto [8].
A carência da gestão da manutenção conduz a situações desfavoráveis ao funcionamento da
edificação e de seus sistemas, resultando no não cumprimento das exigências do usuário, e em
alguns casos, colocando em risco sua própria integridade, assim como a do edifício [9]. Nesse
contexto, torna-se necessário pensar na edificação como um sistema que abrange fases que
perduram após sua entrega física.
Diante do que foi apresentado, o presente trabalho tem como objetivo a análise das premissas da
manutenibilidade por parte de empresas construtoras, as quais estão dispostas nas normas NBR
15.575/2013 Edificações Habitacionais – Desempenho. Espera-se que esse trabalho contribua para
disseminação do conhecimento a respeito da norma de desempenho junto aos agentes da construção
civil e à academia, para que cada vez mais a manutenibilidade seja considerada na prática.
2. MANUTENÇÃO E MANUTENIBILIDADE
A norma de desempenho foi publicada buscando atender às necessidades dos usuários, que em
alguns casos eram negligenciadas, e melhorar a qualidade da habitação, já que preconiza premissas
para se alcançar um desempenho mínimo ao longo de toda a vida da edificação. A publicação do
documento representou um impasse na construção civil, visto que não existia uma norma que
considerava o comportamento em uso da edificação [10].
Em geral, o desempenho pode ser entendido como o comportamento em uso de uma edificação. A
fase de uso tem grande significância, porque, além de ser a maior fase do ciclo de vida da
edificação, é responsável por fornecer uma qualidade de vida ao usuário. Para Borges [1], o desafio
é que este comportamento cumpra as necessidades dos usuários por toda vida útil da edificação,
considerando as diferenças socioeconômicas e técnicas de cada país e empreendimento.
Cada vez mais, procura-se construir edificações mais duráveis já que esta é uma exigência
econômica do usuário e implica no custo global do bem imóvel [4]. Sabe-se, no entanto, que a
edificação vai perdendo seu desempenho com o passar do tempo, sendo necessárias intervenções
para que sejam cumpridos seus requisitos de desempenho: as manutenções. No entanto,
historicamente a manutenção tem sido vista como um "mal necessário", uma carga de custos
inevitável para os projetos. A função da manutenção é maximizar ou manter o valor dos ativos, mas
em tempos de má economia, suas operações estão sujeitas à redução [7].
O conceito de manutenção supera a ideia de se pensar no processo de construção limitado até a fase
de entrega da obra [6] e foi desenvolvido a partir de outras indústrias. Na construção civil,
atualmente, as intervenções são balizadas pelo cumprimento dos requisitos da norma NBR
5674/2012, que tem objetivo de preservar as características das edificações e prevenir a perda de
desempenho da degradação dos seus sistemas. Esta última está diretamente ligada à NBR
15575/2013, especificamente o requisito manutenibilidade.
Todos os elementos e sistemas das edificações requerem inspeções regulares. Diante disso, é
fundamental que estejam disponíveis informações para realizar as atividades de inspeção e que os
projetistas dominem o conhecimento das normas técnicas e de todas suas respectivas premissas
[11]. Além disso, é necessário que a manutenção seja encarada como um processo que deve ser
gerenciado e de caráter estratégico, para que haja uma manutenção eficiente, disponível, confiável,
de baixo custo e de alta qualidade [12].
Para Siqueira [13] a gestão das atividades de manutenção é caracterizada como complexa, já que
são necessários o tratamento aprofundado da origem de manifestações patológicas, técnicas
preditivas e atitudes proativas, de formas a evitar erros humanos e a reaparição de problemas,
garantindo a qualidade do produto. Além disso, fatores como o aumento de novas tecnologias e da
complexidade dos projetos tem resultado em uma crescente dificuldade em se gerenciar a fase de
uso da edificação, sendo necessárias a sistematização e padronização de seus processos para
melhorar sua gestão.
Para realização do programa de manutenção da edificação é fundamental que se tenha alcançado a
manutenibilidade; definida pela norma como a capacidade dos sistemas da edificação de favorecer
as inspeções assim como as intervenções de manutenção, que são previstas no programa de
manutenção e no manual de operação, uso e manutenção [4]. Os requisitos exigidos pela norma são
apresentados na Tabela 1.
Mais da metade dos requisitos de manutenibilidade fazem referência ao manual do proprietário, que
é preconizado pela norma NBR 14037 - Manual de operação, uso e manutenção das edificações
[14]. O objetivo deste documento é fornecer informações aos usuários a respeito das características
da edificação, descrever os procedimentos e intervenções para que o desempenho dos sistemas
perdure por toda vida útil, e prevenir a ocorrência de falhas e manifestações patológicas decorrentes
do mal-uso. No entanto, alguns estudos mostram que o entendimento e conhecimento sobre o
manual ainda não estão disseminados entre os agentes da construção civil por diversos motivos,
como, por exemplo:
a) alguns manuais não mostram informações claras e didáticas sobre a manutenção dos seus
sistemas [15];
b) poucas empresas desenvolvem o manual [16];
c) os incorporadores e construtores não possuíam sequer um exemplar da NBR 14.037 [16];
d) os manuais são focados mais sob uma perspectiva de proteção ao incorporador ou construtor
do que no fornecimento de garantias e responsabilidades [17];
e) ausência de um programa de manutenção contundente, visto os critérios da NBR 5674 [5];
f) os agentes fazem o manual sem seguir as premissas da NBR 14.037, já que apresentam
deficiências em itens fundamentais como prazos de garantia, definições étnicas, informações sobre
o empreendimento, dentre outras [18];
g) pouco conteúdo bibliográfico sobre o tema [19].
Tabela 1: Requisitos de manutenibilidade da NBR 15.575/2013 (Fonte: ABNT, 2013)
Segundo Zanotto et al. [17] o critério de manutenibilidade deve ser sempre atrelado ao de
durabilidade, já que é exposto desta maneira na norma de desempenho. Para os autores, os
requisitos são apresentados de forma insatisfatória na norma de desempenho, já que estão
relacionados a facilidade de acesso ou análise de documentos (como o manual do proprietário), sem
haver parâmetros para medir a qualidade destas informações. Neste mesmo estudo, os autores
avaliaram as premissas para se alcançar a manutenibilidade em cada fase do processo de um
empreendimento. Para atender esses requisitos na fase de planejamento, devem ser considerados os
impactos ambientais e riscos que o empreendimento pode apresentar. No estudo preliminar, deve-se
fornecer nos projetos condições suficientes para a realização de futuras inspeções e operações de
manutenção. No anteprojeto, é necessário que se faça uma análise do custo ao longo da vida útil de
materiais e elementos da edificação. No projeto executivo, deve-se fazer a correta especificação de
materiais, de modo a dar preferência àqueles que apresentam maior durabilidade com menores
gastos de manutenção. Na execução, deve-se elaborar o Manual de uso, operação e manutenção,
seguindo as premissas especificadas na norma ABNT NBR 14037/2011. Por fim, no uso, é
fundamental que se cumpra o programa de manutenção proposto no manual. Os requisitos são
especificados na Tabela 2.
Tabela 2: Critério de manutenibilidade no processo de projeto (Fonte: Adaptado de Zanotto et al., 2015)
Ademais, sabe-se que a norma NBR 15575/2013 apresenta 155 critérios de avaliação de
desempenho, e que apenas 6 destes estão relacionados diretamente com a manutenibilidade,
distribuídos entre os sistemas da edificação [20]. Mesmo assim, pesquisas mostram que as
construtoras e incorporadoras apresentam dificuldades em seu cumprimento [3], [5], [10], [17],
[20].
3. METODOLOGIA
A metodologia empregada neste trabalho tem caráter exploratório e consiste numa revisão
bibliográfica no contexto nacional baseada nos estudos dos últimos 10 anos, que compreende o
período da primeira publicação da norma de desempenho (2008) até o presente momento (2018). As
referências foram buscadas em plataformas de trabalhos científicos, sendo elas: Periódicos Capes,
Google Acadêmico, Catálogo de Teses & Dissertações Capes e o repositório de universidades como
o da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a qual realiza diversos estudos a respeito desta
normatização. Além disso, foram coletadas 17 amostras de 5 estudos de casos de pesquisas já
existentes com empresas no setor de edificações; nas quais foram utilizados métodos
observacionais, que para Gil [21] é o método mais utilizado para estudo de caso com foco na análise
de dados qualitativos. Cabe ressaltar que as pesquisas relacionadas ao critério de manutenibilidade
são mínimas, sendo mais frequentes no sul do país, especificamente no estado do Rio Grande do
Sul, dificultando então a representatividade da amostra para o contexto nacional.
A primeira pesquisa, realizada por Mattos Júnior (2015)[5], utilizou como estudo de caso cinco
manuais de empresas que trabalham com o Programa Minha Casa Minha Vida para a primeira faixa
de renda na cidade de Juiz de Fora (MG). Cabe ressaltar que, no momento que os projetos das
edificações e os manuais foram analisados, os critérios da norma de desempenho ainda não eram
vigorados, no entanto, já havia sido publicada sua versão de 2008. O autor coletou os dados através
da análise dos manuais de uso, operação e manutenção cedidos pelos mesmos ou pela Gerência de
Desenvolvimento Urbano da cidade. As cinco empresas serão denominadas como A, B, C, D e E.
O segundo trabalho analisado foi realizado por Ferreira (2015)[22] na cidade de Juiz de Fora, Minas
Gerais. Na pesquisa foram utilizadas cinco empresas de edificações como estudo de caso, quatro
delas que trabalham com edificações residenciais de médio a alto porte e uma que trabalha com
projetos para o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV). No momento da coleta de dados nas
amostras, a norma de desempenho ainda não era vigente, no entanto já havia sido publicada sua
versão de 2008. Os dados deste trabalho foram coletados através de entrevista com seus diretores
e/ou engenheiros responsáveis. Os estudos de caso serão denominados como F, G, H, I, e J.
A terceira pesquisa foi realizada por Souza, Kern e Tutikian (2016) [20]. Os autores utilizaram um
único estudo de caso na cidade de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, caracterizado como um
edifício habitacional de padrão alto que foi projetado com o objetivo de atender o nível superior da
norma de desempenho NBR 15.575/2013. Na pesquisa, o empreendimento será referido como K.
O quarto trabalho, realizado por Costella et al. [10], foi a aplicação de um checklist de critérios da
norma de desempenho em cinco empreendimentos, dois de padrão alto, um de padrão médio, e dois
de padrão baixo (um do PMCMV). Os empreendimentos são localizados na cidade de Chapecó
(RS) e são representados neste estudo com as letras L, M, N, O e P. O checklist é composto de cada
requisito da norma, seu método de avaliação, o seu responsável e sua comprovação.
Por fim, o último estudo de caso levantado foi realizado por Honório e Maurício Filho [23] e será
aqui chamado de empreendimento Q. Na pesquisa foi aplicado um checklist da norma de
desempenho para verificar suas conformidades num empreendimento na cidade de Tubarão, no
estado de Santa Cataria. A verificação foi feita através da análise dos projetos assim como dos
manuais de proprietário.
Os dados foram analisados de acordo com o cumprimento ou não do requisito normativo, sendo
adotados a letra S para os conformes, N para os não conformes, e P para parcialmente conformes.
Para transformação de dados qualitativos em quantitativos, foi atribuída uma escala de 1 a 0 para
cara requisito cumprido, sendo 1 para os conformes, 0,5 para os parcialmente conformes, e 0 para
os não conformes.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados gerais das conformidades nos 17 empreendimentos dos 5 estudos de caso analisados
são mostrados na Tabela 3.
Tabela 3: Conformidades das 17 amostras.
Inst. Vigência
Empreen- Generali- Sistemas Vedações
Coberturas Hidrosani- Local/Ano da
dimento dades Estruturais Verticais
tárias norma
A S S S S P
B N N S S S
C S N S S S Juiz de Fora (MG), 2015 Não
D N N S S P
E N N N N P
F S N N N P
G S S S S S
H S S S S S Juiz de Fora (MG), 2015 Não
I N S N N S
J N S N N S
K N S S S S N. Hamburgo (RS), 2016 Sim
L N N S S S
M S S S S S
N N N S S N Chapecó (RS), 2017 Sim
O N S S N S
P N N N N S
Q N N N N P Tubarão (SC), 2017 Sim
Legenda: Conforme = S Não Conforme = N Parcialmente conforme = C
Como pode ser observado nas amostras, a exigência de manutenibilidade não era inserida por
completo nos processos da construção civil. Após sua primeira publicação em 2008, antes de entrar
em vigência, a porcentagem média de conformidade das amostras era de 60% (Figura 1). Após
2013, que a norma passou a ser vigorada, a porcentagem média caiu para 53%, mostrando que neste
conjunto de amostras, a entrada em vigor não teve efeito significativo. No entanto, cabe ressaltar
que esta amostragem não é suficiente para representar o todo, já que se espera que, com a
publicação da norma, a porcentagem de conformidade tenha aumentado. De modo geral, nota-se
uma grande negligência na conformidade dos indicadores, e em alguns casos é cumprido apenas um
deles (Empreendimentos P e Q). Nesta coletânea de estudos de caso, apenas três empreendimentos
mostravam conformidade total do requisito, os de letra G, H e M; observado na Figura 2.
0%
A B C D E F G H I J K L M N O P Q
79%
65%
59%
47%
35%
Padrão do empreendimento e % de
Conformidade
90%
62%
47%
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a CAPES pelo apoio à pesquisa.
REFERÊNCIAS
[1] BORGES, C. A. M.; SABBATINI, F. H. O conceito de desempenho de edificações e a sua importância para o
setor da construção civil no Brasil. São Paulo: Departamento de Engenharia de Construção Civil, Escola
Politécnica, USP, 2008. (Boletim Técnico, n. 515).
[2] OLIVEIRA, L. A.; MITIDIERI FILHO, C. V. O Projeto De Edifícios Habitacionais Considerando A Norma
Brasileira De Desempenho: Análise Aplicada Para As Vedações Verticais. Gestão & Tecnologia de Projetos, v.
7, n. 1, p. 90–100, 30 maio 2012.
[3] SANTOS, F. M. Á.; HIPPERT, M. A. S. Gestão da manutenção e a NBR 15.575/2013 1. In: XVI Encontro
Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. São Paulo, 2016. Anais... São Paulo (SP): ANTAC, 2016
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 15575: Edificações Habitacionais. Rio
de Janeiro, 2013.
[5] MATTOS JUNIOR, V. H. C. Manutenção e desempenho em habitações de interesse social. Juiz de Fora (MG),
2015. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Juiz
de Fora (UFJF), Juiz de Fora, 2015.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5674 - Manutenção de edificações - Requisitos
para o sistema de gestão de manutenção. Rio de Janeiro , 2012.
[7] CHEW, M. Y. L.; TAN, S. S.; KANG, K. H. Building Maintainability — Review of State of the Art. Journal of
Architechtural Engineering, v. 10, n. September, p. 80–87, 2004.
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social : estudo de caso no programa de arrendamento residencial. Porto Alegre (RS), 2012. Tese (Doutorado) –
Programa de Pós-graduação em Engenharia civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre (RS),
2012.
[9] ANTONIOLI, P. E. Estudo crítico sobre subsídios conceituais para suporte do planejamento de sistemas de
gerenciamento de facilidades em edificações produtivas. São Paulo, 2013. Dissertação (Mestrado) – Programa
de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.
[10] COSTELLA, M. F. et al. Avaliação da aplicação da norma de desempenho: estudo de caso em cinco
empreendimentos. Revista de Engenharia Civil IMED, v. 4, p. 55–74, 2017.
[11] WU, S. et al. The use of a multi-attribute tool for evaluating accessibility in buildings: the AHP approach.
Facilities, v. 25, n. n 9/10, p. 1949–1959, 2007.
[12] PINTO, A. K.; XAVIER, J. DE A. N. Manutenção: Função Estratégica. 4a Edição ed. Rio de Janeiro:
Qualitymark, 2012.
[13] SIQUEIRA, I. P. Manutenção centrada na confiabilidade: manual de implementação. Rio de Janeiro:
Qualitymark, c2005. xix, 374 p. : il.
[14] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 14037:2011 Diretrizes para elaboração
de manuais de uso , operação e manutenção das edificações — Requisitos para elaboração e apresentaçãodos
conteúdos. Rio de Janeiro, 2011.
[15] SANTOS, A. DE O. S.; SCHMITT, C. M. Estudo Exploratório Sobre O Conteúdo De Manuais De Operação , Uso
E Manutenção De Edificações Desenvolvidos Por Empresas Do Rio Grande Do Sul E Expectativas Dos Usuários.
In: I CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL, São Paulo, 2004.
Anais...São Paulo (SP): 2004
[16] MICHELIN, L. A. C. Manual de operação, uso e manutenção das edificações residenciais
multifamiliares: coleta e avaliação de exemplares de empresas de Caxias Do Sul – RS. Porto Alegre (RS), 2005.
Trabalho de Conclusão (Mestrado Profissionalizante) – Programa de Mestrado Profissionalizante em Engenharia
Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre (RS), 2005.
[17] ZANOTTO, G. et al. Atendimento Ao Requisito Manutenibilidade Da Nbr 15575 : 2013 Em Um Empreendimento
Habitacional. Sibragec Elagec 2015. São Carlos, 2015. Anais...São Carlos (SP): ANTAC, 2013.
[18] POHLMANN, T. K. Análise e critérios de elaboração de manuais de uso, operação e manutenção de
edificações. Santa Cruz do Sul (RS), 2017. Trabalho de Conclusão (Graduação) – Graduação em Engenharia
Civil, Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul (RS), 2017.
[19] SANTOS, F. M. Á. DOS. Impactos da aplicação da ABNT NBR 15.575/2013 nas empresas de edificações.
Juiz de Fora (MG), 2017. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Juiz de Fora, 2017.
[20] SOUZA, J. L. P. DE; KERN, A. P.; TUTIKIAN, B. F. Análise quantiqualitativa da Norma de Desempenho (NBR
No 15.575/2013) e principais desafios da implementação do nível superior em edificação residencial de
multipavimentos. Gestão & Tecnologia de Projetos, v. 13, n. 1, p. 127–144, 2018.
[21] GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 2008.
[22] FERREIRA, K. L. Impactos da Nova Norma de Desempenho e Diretrizes para a sua Aplicação nas Pequenas
Empresas de Construção Civil. Relatório (Iniciação Científica) – Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de
Fora, 2015.
[23] HONÓRIO, R. B.; MAURÍCIO FILHO, S. Análise de um projeto residencial multifamiliar às exigências
estabelecidas pela NBR 15575/2013: estudo de caso. Tubarão (SC), 2017. Trabalho de Conclusão (Graduação) –
Graduação em Engenharia Civil, Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão, 2017.
[24] RESENDE, M. M. Manutenção preventiva de revestimentos de fachada de edifícios: limpeza de revestimentos
cerâmicos. São Paulo, 2004. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2004.
AS PESQUISAS SOBRE A NORMA BRASILEIRA DE DESEMPENHO - NBR
15575: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA
The research about the brazilian standard of performance - NBR 15575: a systematic
review of literature
Vitor Dias Lopes Nunes 1, Matheus Pereira Mendes2, Aldo Ribeiro de Carvalho3, Diana Fiori
Rubim4, Maria Aparecida Steinherz Hippert5
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, dias.vitor36@gmail.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, matheusmendes.ad@hotmail.com
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, aldo.carvalho@engenharia.ufjf.br
4
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, diana.rubim@engenharia.ufjf.br
5
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, aparecida.hippert@ufjf.edu.br
Abstract: The application of the concept of performance in construction depends on several factors,
and in Brazil, one aspect under discussion is the implementation of ABNT NBR 15575: 2013 -
Housing Buildings - Performance. The standard includes extremely comprehensive and complex
aspects, encompassing several areas of knowledge and requires: the qualification and engagement
of professionals and the supply chain; the development of research; and consumer awareness and
demand. The discussion on quality and performance has been carried out for more than a decade,
but only nowadays it is possible its development, with the growth of the construction market and
the improvement of the production chain. The ABNT NBR 15575: 2013 establishes the concept of
performance through the definition of requirements (qualitative), criteria (quantitative or premises)
and evaluation methods, which can be measured, that apply to housing, regardless of materials or
construction system, based on the user needs. The performance standard had its first version
published on May 12, 2008, with document ABNT NBR 15575 - Housing Buildings up to five
floors - Performance, with a period of two years for public discussion of the base texts with the
entire production chain construction. However, due to the great impact of the publication of the
Brazilian standard and the complexity of the subject approached, the deadline was extended to
March 2012, and then to July 2013, when the Brazilian standard officially came into validity. These
years of discussion represented significant advances both in the qualification and improvement of
its content and in the involvement of the interested parties and in the adaptation to the reality of the
country, including its technical and socioeconomic development stage. In this context, this work
aims to do an exploratory research to characterize the studies related to the performance standard.
For this, a systematic review of the literature was carried out, considering the period of 2008 to
2018, searching papers, theses and dissertations in the CAPES Periódicos website and the Thesis
and Dissertation Catalog. The analysis of the data was done through the identification of the
authors, institutions, theme, methodology, key words and year of publication. The work identified
the research related to ABNT NBR 15575: 2013, in order to establish the academic state of art
regarding the performance standard and to indicate new directions for future investigations.
1. INTRODUÇÃO
A palavra desempenho é utilizada informalmente por toda a sociedade, normalmente associada a
um nível de qualidade desejado quando comparado ao nível a ser entregue. Na construção civil,
esse conceito está ligado a prática de se pensar em termos de fins e não de meios, de forma a definir
os requisitos que a construção deve atender, e não a forma com a qual deve ser construída [1].
O conceito de desempenho vem sendo estudado desde a década de 60, contudo até o final da década
de 80 estava voltado para o contexto conceitual. A partir da década de 90, iniciou-se a aplicação do
conceito para a concepção e execução de construções [1], [2].
A exemplo disso, temos Países Europeus, como Dinamarca, Holanda, Espanha e Reino Unido, que
em 1992 iniciaram ações e programas para avaliar o desempenho do consumo de energia das
edificações [3]. No Brasil, o conceito de desempenho evoluiu a partir da década de 80,
principalmente devido aos trabalhos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para o Banco
Nacional da Habitação, e depois para a Caixa Econômica Federal. No ano de 2000, a Caixa
Econômica Federal financiou, um projeto para a criação de um sistema de avaliação de sistemas
construtivos inovadores baseado no conceito de desempenho. Este projeto resultou na publicação do
conjunto de normas ABNT NBR 15575: 2013 – Edifícios Habitacionais – Desempenho [3], [4].
A ABNT NBR 1575:2013 envolve aspectos extremamente abrangentes e complexos, englobando
diversas áreas de conhecimento, sendo necessárias algumas premissas, dentre elas: a qualificação e
o engajamento de profissionais e da cadeia fornecedora; o desenvolvimento de pesquisas; e a
conscientização e exigência dos consumidores [2], [5].
Neste contexto, verifica-se a necessidade de avaliar os estudos da norma de desempenho ABNT
NBR 15575:2013 visando compreender como o assunto vem sendo tratado atualmente. Para tanto,
foi realizada uma Revisão Sistemática de Literatura (RSL) fazendo uma análise bibliométrica das
publicações disponíveis nas bases de dados abrangidas pelo Portal Periódicos CAPES e no Catálogo
de Teses e Dissertações da CAPES. A contribuição deste trabalho é identificar as pesquisas
relacionadas a norma de desempenho e estabelecer um panorama quantitativo acadêmico do campo
de estudo.
3. METODOLOGIA
A revisão sistemática de literatura (RSL) é pautada em um rigor metodológico e em um fluxo de
etapas, de forma a traçar uma avaliação crítica dos estudos empregando critérios objetivos e
reprodutíveis de seleção e qualificação da amostra de pesquisas consideradas relevantes. Assim, a
RSL se divide basicamente em duas etapas: (i) identificação e seleção dos artigos, e (ii) análise
sistemática do conteúdo.
Cabe ressaltar que, como passo inicial, antes da RSL de fato, foi realizada uma revisão narrativa de
literatura. Tal revisão, que ocorre por processos não metódicos e se dá por conhecimentos e
investigações extra base de dados, contribuiu principalmente para a aproximação inicial ao tema.
Buscando traçar o panorama do tema abordado, foram planejadas questões a serem respondidas a
partir da investigação na literatura. Tais questões são apresentadas a seguir:
1. Como os estudos sobre a norma se distribuem ao longo do tempo?
2. Qual os principais temas abordados?
3. Quais os métodos utilizados na pesquisa?
4. Quem são os autores?
5. Quais Instituições têm mais estudado sobre a norma?
Uma vez que a ABNT NBR 15575 é uma norma brasileira, espera-se que as pesquisas
desenvolvidas sobre o tema sejam desenvolvidas em universidades brasileiras, e publicadas em
periódicos nacionais. Portanto, a identificação dos arquivos (artigos, teses e dissertações) foi feita
nos seguintes bancos de dados: (i) periódicos CAPES, principal biblioteca virtual no Brasil, que
reúne e disponibiliza às Instituições de Ensino e Pesquisa no país, com acesso gratuito a mais de 38
mil publicações periódicas, internacionais e nacionais, e a diversas bases de dados cobrindo todas as
áreas do conhecimento; e (ii) no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES, que apresenta os
arquivos completos das teses e dissertações brasileiras, informados diretamente à CAPES pelos
programas de pós-graduação, que se responsabilizam pela veracidade dos dados.
O termo de busca utilizado na pesquisa foi: “NBR 15575” OR “NBR 15575”. Ele foi definido após
a observação da diferenciação do termo com ponto e sem ponto, e exibição de grande quantidade de
resultados não relacionado com a norma de desempenho sem a utilização das aspas, surgindo
arquivos envolvendo os termos NBR ou 15575. O recorte temporal considerado foi de 2008 a 2018,
devido a 2008 ser o ano de início do período que a norma ficou aberta à discussão.
Após delimitado os termos de busca, foi definido que todos os trabalhos devem apresentar acesso
integral aos textos. Assim, caso o acesso ao arquivo não fosse possível, de imediato já seria
excluído. Após a coleta dos trabalhos, foi realizado a análise inicial do título, que deveria conter
NBR 15575 em todas as suas possibilidades (com ponto, sem ponto, com “NBR” ou sem ou, ainda,
“Norma de desempenho”) ou temas e termos referentes às exigências dos usuários presentes na
Norma, ou seja:
Desempenho Estrutural
Segurança contra incêndio
Segurança no uso e na operação
Estanqueidade
Desempenho Térmico
Desempenho Acústico
Desempenho Lumínico
Durabilidade e Manutenibilidade
Saúde
Higiene e Qualidade do Ar
Funcionalidade e Acessibilidade
Conforto Tátil e Antropodinâmico
Adequação Ambiental e
Tema Geral (este último considera os trabalhos que tratam a NBR 15575 de maneira mais
ampla como aplicabilidade da mesma, incumbências dos intervenientes, etc.)
Em seguida foi realizada a análise dos resumos. Nesta etapa os trabalhos devem ter relação direta
com o tema pesquisado (NBR 15575) sendo excluído aqueles que não discutem ou apenas citam a
norma. Por fim, de cada trabalho foram retirados os dados necessários par responder as perguntas já
citadas: Título, Ano de publicação, Tipo de publicação, Autores, Orientador (a) (no caso de teses e
dissertações), Instituição de Ensino, Palavras chave, Tema e Metodologia. Vale lembrar que, no
caso de artigos com múltiplos autores a Instituição de Ensino foi considerada apenas uma vez, salvo
em caso de cooperação institucional.
Os trabalhos foram classificados em temas de acordo com os requisitos dos usuários presente na
norma, caso abordasse, mas fora dos requisitos, foram classificados como tema geral. Além disso,
as palavras chave foram reproduzidas fielmente, de forma que termos semelhantes foram
diferenciados apesar de indicarem a mesma coisa, como por exemplo: “NBR 15575”; “NBR
15575”; “ABNT NBR 15575”; e outras variações.
A identificação e seleção dos trabalhos foi realizada no dia 31/08/2018 para as duas bases de dados.
As etapas seguintes deram continuidade a partir dos arquivos disponíveis nesta data.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir são apresentados os resultados obtidos nas duas bases de dados utilizadas, Portal
Periódicos CAPES e Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou analisar os estudos da academia relacionados a norma de desempenho
ABNT NBR 15575. Foi realizada uma Revisão Sistemática de Literatura (RSL) buscando traçar um
panorama quantitativo das publicações disponíveis nas bases de dados do Portal Periódicos CAPES
e no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES.
No portal de periódicos foram encontrados 70 resultados, totalizando em uma amostra final de 27
artigos. A maioria dos trabalhos foram eliminados na fase de análise do resumo. Enquanto isso, no
catálogo de teses e dissertações foram identificados 154 resultados, sucedendo uma amostra final de
94 trabalhos. Neste caso, as publicações foram excluídas devido à ausência do texto completo na
base de dados.
As distribuições dos trabalhos ao longo do tempo mostraram um crescimento após a norma entrar
oficialmente em vigor. Mas, nos últimos anos houve uma estabilização dos estudos.
Além disso, apesar da NBR 15575 apresentar uma grande quantidade de requisitos, os estudos estão
concentrados nas áreas de desempenho térmico e desempenho acústico, com aproximadamente 50%
dos trabalhos abordando esses temas. Por outro lado, os temas relacionados à sustentabilidade
foram poucos estudados, ainda que a própria norma declare dificuldades de determinação de
critérios e requisitos em relação ao impacto ambiental, tendo em vista a necessidade de maiores
estudos.
Revela-se, por meio dos resultados da RSL, que há uma tendência à exploração do conteúdo da
norma através de métodos práticos ─ simulação computacional, pesquisa experimental e estudos de
caso ─ em detrimento de estudos teóricos. As simulações são mais utilizadas devido à grande
quantidade de estudos relacionados a eficiência energética e acústica.
Um fato interessante a se considerar, é que o número de publicações de teses e dissertações das
Instituições de Ensino não está diretamente relacionado com o número de publicações em artigos de
periódicos. A UNISINOS, por exemplo, tem um maior número de publicações em periódicos, mas
encontra-se em quinto lugar em número de titulações.
Por fim, os resultados desse artigo permitem estabelecer um panorama quantitativo de como e quais
temas estão sendo estudados relacionados a norma de desempenho. As questões relacionadas a
habitabilidade são as mais discutidas, enquanto as de sustentabilidade e segurança são pouco
estudadas quando relacionadas a ABNT NBR 15575.
AGREDCIMENTOS
Os autores agradecem a UFJF pelo incentivo à pesquisa.
REFERÊNCIA
[1] BORGES, Carlos A. de Moraes; SABBATINI, Fernando H. O Conceito de desempenho de edificações e a sua
importância para o setor da construção civil no Brasil. Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, 2008.
[2] KERN, Andrea Parisi; SILVA, Adriana; KAZMIERCZAK, Claudio de Souza. O Processo De Implantação De
Normas De Desempenho Na Construção: Um Comparativo Entre A Espanha (CTE) E Brasil (NBR 15575/2013).
Gestão & Tecnologia de Projetos, [s.l.], v. 9, n. 1, p.89-101, 31 ago. 2014. Universidade de São Paulo Sistema
Integrado de Bibliotecas - SIBiUSP. http://dx.doi.org/10.11606/gtp.v9i1.89989.
[3] BOSCH, M. et al. Final architecture diploma projects in the analysis of the UPC buildings energy performance.
WIT Transactions on Ecology and the Environment, v. 93, p. 541–547, 2006.
[4] CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO (CBIC). 2013. Desempenho de edificações
habitacionais: guia orientativo para atendimento à norma ABNT NBR 15575/2013. Fortaleza, Gadioli Cipolla
Comunicação, 311 p.
[5] OTERO, J. A.; SPOSTO, R. M. Incorporadoras E Construtoras a Partir De Processos De Sistemas De Gestão Da
Qualidade. XV Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, n. 1, p. 1247–1256, 2014.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 15575: Edificações habitacionais -
Desempenho. Rio de Janeiro, 2013.
[7] SILVA, A. T. et al. Novas exigências decorrentes de programas de certificação ambiental de prédios e de normas de
desempenho na construção. Arquitetura Revista, v. 10, n. 2, p. 105–114, 2015.
[8] YIN. R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3 ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
MODERNIZAÇÃO E MANUTENÇÃO: PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA
UM USO MAIS SUSTENTÁVEL DAS EDIFICAÇÕES
Vitor Dias Lopes Nunes 1, Matheus Pereira Mendes2, Maria Teresa Gomes Barbosa3
1. INTRODUÇÃO
O atual cenário da construção civil é caracterizado por pressões direcionadas a diminuição de
impactos ambientais, sociais e econômicos e a melhoria de desempenho do ambiente construído [1].
O setor se caracteriza como um dos que mais consomem recursos naturais, desde a produção dos
insumos utilizados até a execução da obra, operação − durante a vida útil da edificação − e
demolição [2].
Os números atribuídos ao setor destacam a importância de discutir sustentabilidade na construção
civil. Segundo o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) [3] com dados de 2012, a
construção civil mundial consume um terço dos recursos naturais; emitem um terço dos gases
estufa; demanda 40% da energia; consume 12% da água potável; produz 40% dos resíduos sólidos
urbanos; é responsável por 10% do PIB global e emprega 10% da mão de obra mundial. Já na
escala urbana, os dados do CBCS mostram que as cidades produzem 50% dos resíduos; consumem
75% dos recursos naturais; e cerca de dois terços da energia mundial é consumida no ambiente
urbano.
A partir desses dados, é possível observar que a construção civil possui grande potencial de redução
de impactos com a adoção de práticas de conservação e uso racional dos recursos. O CBCS [2]
estima que seja possível reduzir entre 30% e 40% o consumo de energia e de água durante o uso e
operação do edifício e que a racionalidade e eficiência no consumo de recursos pode traduzir em
redução de gastos, com vantagens para a sociedade.
Campos [4] afirma que uma das maneiras de minimizar o impacto ambiental das cidades é fazer
frente a urbanização dispersa e o esvaziamento das áreas e prédios antigos, de modo que se possa
reabilitar essas áreas e aproveitar sua infraestrutura, sistema de transporte e urbanização. Rogers [5]
acredita que devemos investir no conceito de cidade compacta, e justifica declarando que “as
cidades densas, através de um planejamento integrado, podem ser pensadas tendo em vista um
aumento de sua eficiência energética, menor consumo de recursos, menor nível de poluição e, além
disso, evitando sua expansão sobre a área rural.”.
Nesse sentido, os serviços de manutenção das construções, que buscam o reparo e/ou recuperação e
o prolongamento da sua vida útil, devem ser utilizados para a adequação do desempenho das
edificações, incorporando, inclusive, fatores sustentáveis. Recentemente, a norma ABNT NBR
15575:2013 [6] fortaleceu o conceito de desempenho no mercado brasileiro, podendo ser
considerada uma oportunidade na melhoria da qualidade das habitações brasileiras e representando
um avanço nos aspectos ambientais, sociais, econômicos e de atendimento as necessidades dos
usuários.
A norma [6] determina o conceito de vida útil da edificação, como a “[...] capacidade da edificação
ou de seus sistemas de desempenhar suas funções, ao longo do tempo e sob condições de uso e
manutenção especificadas.”. Assim, ela preconiza que toda edificação deve passar por um processo
de manutenção, sendo previsto e planejado. Entretanto, a normatização aplica-se apenas para
projetos “novos”, não contemplando as edificações já construídas e desconsiderando os serviços de
manutenção nessas ultimas.
Desse modo, o objetivo deste trabalho é analisar e apresentar estratégias, materiais e métodos que
atendam os critérios de sustentabilidade e que sejam passíveis de inserção durante os serviços de
manutenção e modernização da edificação. Para tanto, foi realizada uma revisão bibliográfica dos
conceitos de desenvolvimento sustentável na construção civil e manutenção predial, fazendo uma
correlação entre os dois e gerando maior aproximação com o tema; para então propor possíveis
procedimentos a serem utilizados na situação descrita.
2. MANUTENÇÃO
As edificações têm um valor social fundamental, uma vez que são o suporte físico, direto ou
indireto, para a realização de todas as atividades produtivas. Além disso, diferente de produtos
comuns, elas são construídas para atender seus usuários por muitos anos, devendo sempre
apresentar condições adequadas para o uso. É inviável economicamente e inaceitável
ambientalmente considerar as edificações como produtos descartáveis, passíveis de substituição
quando seu desempenho não se torna mais adequado [7]. Isso exige que as edificações passem por
um processo de manutenção e modernização, para que elas se mantenham em condições adequadas
para atender as exigências dos usuários.
A ABNT NBR 15575:2013 [6] define manutenção como sendo “conjunto de atividades a serem
realizadas ao longo da vida total da edificação para conservar ou recuperar a sua capacidade
funcional e de seus sistemas constituintes de atender as necessidades e segurança dos seus
usuários.”, ou seja, é um processo para recuperar ou conservar a sua capacidade funcional e dos
sistemas da edificação, a fim prolongar ou atingir a vida útil de projeto – período de tempo estimado
que um sistema é projetado para atender aos requisitos de desempenho estabelecidos na norma.
Como mostrado na Figura 1, o desempenho de uma edificação reduz ao longo do tempo, sendo
necessária a realização de manutenções periódicas para mantê-la num nível de desempenho acima
do requerido, até atingir a vida útil de projeto. No caso de ausência de manutenção, a edificação irá
se desgastar com maior rapidez, tendo sua vida útil reduzida.
Figura 1: Desempenho da edificação ao longo da sua vida útil (Fonte: Adaptado de ABNT NBR 15575 [6])
A maneira pela qual é feita a intervenção nos sistema, instalações e equipamentos caracteriza os
vários tipos de manutenção. Temos então a manutenção preventiva, preditiva e a corretiva.
3. SUSTENTABILIDADE
O conceito de sustentabilidade é derivado do debate sobre o desenvolvimento sustentável que
ocorreu ao longo do tempo. O marco inicial dessa discussão é a Conferência Internacional das
Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (United Nations Conference on the Human
Environment), realizada em 1972 em Estocolmo [11].
Em 1987, a Comissão Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento (WCED) publicou o relatório
Our common future (Nosso futuro comum), também conhecido como relatório Brundtland. Neste
relatório foi declarado que o uso excessivo dos recursos naturais era um processo que provocaria o
colapso dos ecossistemas. Dessa forma, ele propunha a busca de soluções como uma tarefa comum
a toda humanidade [11], [12].
Em 1992 no Rio de Janeiro foi realizada a Cúpula da Terra, também conhecida como Eco’92 ou
Rio’92, segunda conferencia ambiental realizada pela ONU. Neste evento foram discutidos planos
de ações para preservar os recursos do planeta e possíveis maneiras de eliminar as diferenças entre
os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. Como resultado, foi aprovado a Agenda 21,
documento com 2500 recomendações de estratégias de conservação do planeta e metas de
exploração sustentável dos recursos naturais que não impeçam o desenvolvimento de nenhum país.
Após 20 anos, em 2012, a Rio+20 reafirmou e renovou o compromisso político com o
desenvolvimento sustentável [12],[13].
Após essa larga discussão, muitas são as definições encontradas para sustentabilidade, no entanto, a
maioria dos especialistas concordam que a sustentabilidade implica na produção de bens com
menor carga ambiental, de forma que se preserve o meio ambiente de degenerações futuras [14].
A Câmara da Industria da Construção, por exemplo, definiu no seu Guia de Sustentabilidade na
Construção o termo sustentabilidade como a integração dos fatores “[...] econômicos, sociais,
culturais e ambientais da sociedade humana com a preocupação principal de preservá-los, para que
os limites do planeta e a habilidade e a capacidade das gerações futuras não sejam comprometidas.”
[11]. Agopyan e John [15] complementam declarando que o desafio é o desenvolvimento
econômico, atendendo às expectativas da sociedade e mantendo o ambiente sadio.
De Castro e Loura [16] elencam que as principais preocupações ligadas à sustentabilidade
envolvem as questões:
a) Ambientais: expressada pela preocupação com diversos fatores ao longo de todo ciclo de
vida da edificação, contemplados ou não pelas normas, voltadas pelo custo em uso,
incluindo geração de resíduos, desperdício, poluição; a durabilidade, reutilização,
intensidade energética, intensidade material; custo de manutenção e operação, uso,
eficiência o consumo de água, e eliminação de resíduos, etc;
b) Sociais: indo além das exigências das normas, estabelecendo uma preocupação com as
condições de trabalho saúde e segurança dos trabalhadores e ocupantes pós obra;
c) Econômicas: no nível da sociedade, incluindo o questionamento sobre o impacto no
mercado de trabalho, na comunidade ou no trânsito.
Portando, torna-se necessário a adoção de estratégias de gestão e práticas de negócios integrando os
fatores sociais, econômicos e ambientais, principalmente na construção civil, pois essa indústria
está vinculada à: uma grande cadeia produtiva, normas técnicas, códigos de obras, planos diretores
e políticas públicas. Além disso, o setor é também responsável pelo consumo de parte significativa
de energia e água e por geração de poluentes [12], [13].
O guia de sustentabilidade da construção da Câmara da Industria da Construção (CIC) [11] fez uma
análise dos principais sistemas de avaliação de sustentabilidade e certificação, chegando à
conclusão que a maior parte dos sistemas não considera diversos aspectos sociais relevantes. Por
outro lado, quanto aos aspectos ambientais de sustentabilidade ligados a construção sustentável,
destacam-se:
Qualidade da implantação.
Gestão do uso da água.
Gestão do uso de energia.
Gestão de materiais e (redução de) resíduos.
Prevenção de poluição.
Gestão ambiental (do processo).
Gestão da qualidade do ambiente interno.
Qualidade dos serviços.
Desempenho econômico
Além disso, o guia da CIC [11] declara que uma das pré-condições para empreendimentos
sustentáveis é a busca constante pela inovação, utilizando novas tecnologias quando possíveis e
adequado. E caso inviável buscar soluções criativas, mas sempre respeitando o contexto. Portanto,
no caso de edificações já construídas é necessário a modernização de suas instalações para a
incorporação de aspectos sustentáveis e inovadores.
4. MODERNIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE
Manegat [18] declara que há grandes benefícios nas construções sustentáveis, que podem ser
classificados em:
a) Estratégicos (evitam riscos e danos ambientais, além de aumentarem o valor do imóvel);
b) Operacionais (garantem a economia de custos e consumos);
c) Econômicos (tornam os empreendimentos mais atraentes, o que garante um maior valor
agregado, além de reduzirem os custos de operação e manutenção).
Corroborando, Maran [19] afirma que após a compreensão do que é desenvolvimento sustentável e
seus benefícios, a manutenção dos edifícios passa de um mal necessário para um meio de
gerenciamento do ciclo de vida dos ativos. E que a modernização da edificação e elevação do seu
desempenho proporcionam um ambiente de qualidade, que beneficia a saúde, satisfação e
produtividade do usuário. Portanto, a manutenção do sistema prediais é fundamental para manter a
sustentabilidade da edificação ao longo de toda a sua vida útil.
Barbosa e Almeida [13] declaram que a sustentabilidade envolve vários fatores, sendo os mais
importantes os que estão relacionados à redução do consumo de materiais não renováveis, água,
energia, da produção e emissões de poluentes e maior controle de resíduos. Assim, a seguir são
apresentadas estratégias, materiais e métodos relacionados a redução do consumo de água e energia
que sejam passíveis de inserção durante uma manutenção e modernização da edificação.
Além disso, para reduzir e otimizar ainda mais o consumo de agua recomenda-se um sistema de
reaproveitamento das águas fluviais e reciclagem de água já utilizada. As águas da chuva são
coletadas em áreas impermeáveis (calhas, áreas de estacionamento, coberturas das moradias, entre
outros locais). Em residências consumo dessas águas é direcionado à limpeza, como descargas de
vaso sanitário, lavagem de roupa, lavagem de automóveis, quintal, regas de jardim. Para que a água
armazenada da chuva possa ser utilizada é recomendável que se tenha um filtro para separar a
matéria orgânica como folhas e galhos ou quaisquer outros resíduos sólidos que possam estar na
área de coleta da água ou que possam vir junto com os ventos e a chuva, melhorando a qualidade da
água, aumentando, inclusive, a vida útil do reservatório. A água é, então, encaminhada para um
reservatório de proteção e acumulação, também chamada de cisterna. O PROSAB [20] recomenda
além do recolhimento de águas pluviais a reutilização das águas provenientes de chuveiros,
máquinas de lavar roupa e tanques, a água cinza, para fins não nobres. A água é recolhida dos
aparelhos, e é encaminhada para o sistema de águas cinzas em um reservatório inferior, que é, em
seguida, encaminhada à um reservatório superior para reutilização. Portanto, o sistema de
distribuição e disposição de água é representado de acordo com a Figura 3.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os estudos realizados foi possível analisar a relação entre a sustentabilidade e manutenção das
edificações. Após a compreensão do que é desenvolvimento sustentável e seus benefícios, a
manutenção dos edifícios passa a fazer parte do gerenciamento do ciclo de vida dos ativos. E que a
modernização da edificação aumenta o seu desempenho e proporciona um ambiente de qualidade,
que beneficia a saúde, satisfação e produtividade do usuário.
Percebeu-se, portanto, que a adoção de estratégias, materiais e métodos que sejam passíveis de
inserção durante os serviços de manutenção e modernização da edificação, fazem com que o
edifício se torne mais sustentável. Logo, a manutenção do sistema prediais é fundamental para
manter a sustentabilidade da edificação ao longo de toda a sua vida útil.
A economia de água se dá a partir das escolhas corretas de materiais hidráulicos e do
reaproveitamento de águas pluviais e das águas cinzas para os consumos não nobres dentro da
edificação. A adoção de medidas simples, como a instalação de arejadores e redutores de vazão em
torneiras e chuveiros, pode gerar uma economia de até 80% em relação a aparelhos similares, e
sistema de reaproveitamento de água pode reduzir em 64% o volume destinado ao sistema de
esgoto sanitário.
No que se refere ao consumo energético a arquitetura influencia permitindo uma ventilação
apropriada e redução do calor interno da edificação, fazendo uso de brises, ventilação cruzada e
escolhendo o tipo material de vedação, reduzindo o uso de equipamento que possibilitam a
refrigeração do ambiente para gerar as condições adequadas de conforto aos usuários. A troca de
equipamentos poucos eficiente, por outros mais modernos pode gerar uma grande economia de
energia, principalmente para sistemas grande e com alto índice de utilização. Além disso, tem-se a
possibilidade de utilização de novas métodos de geradores de energia de baixo impacto ambiental,
como é o caso da energia solar.
As diretrizes apresentadas neste influenciam diretamente nos aspectos ambientais, socais e
econômicos da edificação. A redução do impacto ambiental se dá a partir da adoção de práticas de
conservação e de uso racional dos recursos naturais. Já o fator econômico ganha destaque quando se
considera a diluição dos custos de implementação dos sistemas ao longo de vida útil. O social é
atingido a partir da melhoria da qualidade do ambiente construído e desempenho das edificações.
Assim destaca-se como diretrizes:
Troca de aparelhos hidrossanitários
Implantação de sistema de recolhimento de agua pluviais
Implantação de sistema de reutilização de agua cinzas
Troca de aparelhos e sistemas elétricos por mais novos e mais eficientes
Utilização de materiais para a redução do calor interno da edificação
Aproveitamento de mecanismos arquitetônicos para melhora do ambiente interno
Utilização de sistema gerador de energia de baixo impacto ambiental
Uso de novas tecnologias a favor da economia de agua e energia
Por fim, a manutenção da edificação e de seus sistemas é fundamental para garantir a sua
durabilidade, devendo sempre optar pelas manutenções preditiva e preventiva, evitando a correção
somente após a falha. Assim é possível reduzir o custo do ciclo de vida da edificação, aumentar a
sua vida útil e reduzir o impacto ambiental, além de garantir o conforto do usuário.
REFERENCIAS
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ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE A INFLUÊNCIA DA ILUMINAÇÃO DO
AMBIENTE CONSTRUÍDO NO BEM-ESTAR DO INDIVÍDUO.
Exploratory study on the influence of lighting of the built environment in the well-
being of the individual.
Ana Paula Bonini Penteado 1, Alfredo Iarozinski Neto², Ana Carolina Bonini Penteado3
1 UniversidadeTecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, anapaula_bpenteado@hotmail.com
2Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, alfredo.iarozinski@gmail.com
3 Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, anacarolina_penteado@hotmail.com
Resumo: O ser humano quando percebe o mundo, o faz simultaneamente por meio de todos os seus
sentidos. Essa percepção do mundo ocorre em especial através da visão, da audição, do olfato e do
tato. Quando o indivíduo experiencia o ambiente construído, há o envolvimento dos sentidos para
que, se conheça e reconheça os elementos presentes no espaço e, dessa maneira, ocorra a interação
do indivíduo com o ambiente. Sendo assim, a percepção do indivíduo passa a ter um peso
determinante no bem-estar do usuário em relação ao ambiente construído. É através da visão que os
indivíduos constroem as relações, entre outros, de distância, de cor, de textura e de luz. Baseando-se
nesse fato, o presente trabalho tem por objetivo avaliar como a percepção associada à visão,
influencia o bem-estar psicológico do indivíduo. Para isso, foram utilizadas variações de iluminação
natural presentes no ambiente construído. Dessa maneira, foi elaborado um experimento composto
por imagens e questionário. Foram apresentadas aos respondentes três imagens que representam o
mesmo ambiente construído, sendo que a primeira foi considerada a imagem de referência. Nas
demais imagens foram apresentados o mesmo ambiente com as alterações referentes à alta e baixa
incidência de iluminação natural. O questionário foi desenvolvido com base na escala PANAS
(Positive and Negative Affect Schedule), que permite mensurar o bem-estar por meio de sentimentos
associados a afetos positivos e negativos. O método consistiu em expor as imagens a um grupo de
indivíduos e, em seguida, solicitar para que estes preenchessem o questionário contendo vinte
sentimentos relacionados aos afetos. Ao observar as imagens, os respondentes associaram sua
percepção do ambiente aos sentimentos relacionados. Os resultados mostraram que a sensação de
bem-estar dos indivíduos está diretamente associada à percepção de iluminação natural do ambiente
construído. O contrário, também se mostrou verdadeiro, ou seja, a redução da percepção de
iluminação natural causou um aumento significativo dos sentimentos com viés negativo.
Abstract: When the human being perceives the world, he does so simultaneously through all the
senses. This perception of the world occurs in particular through the vision, hearing, smell and
touch. When the individual experiences the built environment, there is the involvement of the
senses in order to know and recognize the elements present in space and, in this way, the interaction
of the individual with the environment. Thus, the perception of the individual has a determining
influence on the well-being of the user in relation to the built environment. It is through the sight
that the individuals construct relations, among others, of distance, color, texture and light. Based on
this fact, the present study aims to assess how perception associated with the sight influences the
individual's psychological well-being. For this, variations of natural lighting were used in the built
environment. In this way, an experiment was elaborated with images and questionnaire. The three
images representing the same build environment were presented to the respondents, and the first
one was considered the reference image. In the other images, the features with the alterations
related to the high and low incidence of illumination natural, were presented. The questionnaire was
developed based on the PANAS (Positive and Negative Affect Schedule) scale, which allows to
measure well-being through feelings associated with positive and negative affects. The method
consisted in exposing the images to a group of individuals and then asking them to complete the
questionnaire containing twenty feelings related to the affection. While looking at the images, the
respondents associated their perception of the environment with related feelings. The results
showed that the sense of well-being of the individuals is directly associated to the perception of
natural light of the built environment. On the contrary, it was also true, that reducing the perception
of natural light caused a significant increase of feelings with negative bias.
1. INTRODUÇÃO
2. OBJETIVO
Como cada ambiente é percebido por seus usuários de maneiras distintas, o objetivo deste trabalho é
avaliar como a percepção associada à visão, influencia o bem-estar psicológico do indivíduo.
Sendo o aspecto visual um dos que influenciam o bem-estar do indivíduo, além de impactar no
conforto, na percepção e também no humor do indivíduo, buscamos identificar como a iluminação
natural e sua variação de intensidade no ambiente construído impactam no indivíduo e seus efeitos
na percepção de bem-estar psicológico do indivíduo. Neste trabalho, a “percepção de conforto
psicológico” é entendida como a variação dos sentimentos positivos ou negativos em um indivíduo
quando este está em contato com determinado ambiente.
3. MÉTODOS
Para a concretização do objetivo da pesquisa foi utilizado o Método Experimental como
procedimento principal, permitindo assim, a obtenção de dados primários de forma sistematizada. O
desenvolvimento deste estudo foi elaborado seguindo algumas etapas, apresentadas na Figura 1.
Problema
Como a percepção do ambiente, associada à
visão, influencia o bem-estar do indivíduo?
Aplicação do experimento
• Escolha da amostra;
• Coleta dos dados
Para a definição dos sentimentos e como seriam avaliados no experimento, surgiu a necessidade do
uso de um modelo que propusesse os sentimentos que expressassem o “conforto psicológico”. Entre
os modelos analisados, o PANAS (Positive and Negative Affect Schedule) se mostrou mais
adequado aos objetivos propostos. Este modelo foi utilizado em estudos relacionados ao ambiente
construído (KNEZ, 1995 [10]; KNEZ e KERS, 2000 [11]; GALÁN-DÍAZ, 2011[12]), pois os
sentimentos contidos e o estilo dele são de fácil compreensão para o entrevistado.
O modelo PANAS foi desenvolvido por Watson, Clark e Tellegen (1988) apud Galinha e Ribeiro
(2005) [13 ab] para a avaliação das emoções em função de sua ocorrência. Dessa forma, os
indivíduos recebem um questionário contendo adjetivos e descrevem cada sentimento, ou seja, cada
palavra é relacionada ao seu sentimento correspondente (GONÇALVES; DORES, BENEVUTO,
2012) [14]. Para o modelo PANAS, os sentimentos específicos são considerados como
combinações de duas dimensões básicas. Dessa forma, o modelo apresenta forma circular de afeto,
apresentando 8 eixos, onde duas dimensões se cruzam, resultando em diâmetros perpendiculares de
um círculo.
Para o estudo foram selecionados vinte sentimentos dos contidos no modelo PANAS e que foram os
sentimentos que os respondentes do experimento classificariam de acordo com a intensidade. Para
isso os sentimentos foram adaptados no modelo para o experimento, apresentado na Figura 2.
Fig. 2 - PANAS para o experimento – adaptado de Galinha e Ribeiro (2005)
Após a definição da escala e dos sentimentos que seriam utilizados, foi elaborado o experimento,
composto por questionário e por cinco imagens.
Na primeira parte do experimento, o respondente preencheu um formulário contendo perguntas
sobre os dados pessoais, tais como idade, gênero e orientação profissional, para dessa forma
identificarmos o perfil da amostra.
Na segunda parte foi entregue aos respondentes três questionários, sendo um para cada imagem.
Para cada imagem apresentada, o respondente preenchia a intensidade do sentimento ao observar a
imagem do ambiente. Para isso foram utilizadas vinte emoções, baseadas no Modelo PANAS
(Positive and Negative Affect Schedule). Dessa forma, foi apresentada ao respondente uma lista com
as vinte emoções intercaladas entre afetos positivos e negativos. A intensidade associada a cada
sentimento foi baseada no modelo Likert de sete pontos, variando de -3 a 3, sendo -3 discordava
totalmente e 3 concordava totalmente.
Foram apresentadas aos participantes do experimento três imagens geradas em programa de 3D,
sendo todas do mesmo ambiente e sempre no mesmo ângulo. A primeira imagem apresentada foi a
imagem de referência do experimento, sendo a base das outras imagens apresentadas para os
entrevistados (Figura 3). Nessa imagem não foram contempladas as características específicas a
serem estudadas. Optou-se pela imagem de referência para que o entrevistado pudesse notar as
variações dentro de um mesmo ambiente construído.
Fig. 3 – Imagem de referência
Em seguida foi mostrada aos respondentes a imagem referente a iluminação natural com alta
incidência. Para isso, foi aumentado o tamanho da janela em relação à imagem de referência e,
consequentemente, a integração com a área externa e a quantidade de luz natural que entrava no
ambiente foi maior, como mostra a Figura 4 (a). Para contrapor com a alta incidência de iluminação
natural a Figura 4(b) refere-se à baixa incidência de iluminação natural presente no ambiente. Para
isso foi reduzido o tamanho da janela, deixando-o bem menor do que comumente utiliza-se nas
construções. O tamanho reduzido foi proposital, pois a intenção foi enfatizar a questão de um
ambiente com janela pequena e pouca presença de iluminação natural.
(a) (b)
Fig. 4 – Imagem com alta incidência (a) e com baixa incidência de iluminação natural (b)
Cada uma das imagens foi exibida durante o período de 10 a 20 segundos e, em seguida, solicitou-
se que o entrevistado preenchesse ao formulário. Ao término de cada preenchimento, passava-se
para a imagem seguinte. Sendo assim, através do estímulo visual, e observando características
percebidas através da visão quando inseridos nos ambientes construídos, os participantes deveriam
assinalar as percepções/emoções que sentiam ao observar as imagens.
Para a realização do experimento, foi escolhida a amostra por conveniência, abrangendo estudantes
dos últimos períodos dos cursos de Engenharia Civil e de Arquitetura e Urbanismo de uma
Universidade. Os experimentos foram realizados em sala de aula, projetando-se a imagem para os
estudantes e contou com um total de 120 participantes.
4. RESULTADOS
Em relação ao perfil dos entrevistados, constatou-se que 83% dos entrevistados têm idade menor de
25 anos. Dos restantes, 14% encontram-se na faixa dos 25 a 40 anos de idade e 3% têm entre 41 e
55 anos. Quanto ao gênero de entrevistados, 58% são do gênero feminino e 42% pertencem ao
gênero masculino. E quanto à orientação profissional, 57% da amostra são estudantes do curso de
Engenharia Civil e 43% dos entrevistados pertencem ao curso de Arquitetura e Urbanismo.
Para análise dos dados foi escolhida a análise discriminante. A análise discriminante é uma técnica
estatística multivariada de análise de dados cujo principal objetivo é a identificação das variáveis
que melhor discriminam dois ou mais grupos (HAIR Jr. et al.,2005) [15].
A análise discriminante permite ainda, verificar se existem ou não diferenças significativas entre
duas situações relativamente às variáveis dependentes, nesse caso os sentimentos. É necessário que
as variáveis dependentes sejam qualitativas (tipo de característica testada) e as variáveis
independentes sejam quantitativas (intensidade de sentimento) (MAROCO, 2003) [16].
Considerando que o problema da presente análise consiste em obter uma combinação da intensidade
de sentimentos do Modelo PANAS com poder de discriminação entre as diferentes características
testadas, que são o ambiente de referência e os ambientes com iluminação natural com alta e baixa
intensidade, essa técnica estatística auxilia na identificação de quais variáveis, neste caso os
sentimentos, conseguem melhor diferenciar essas três situações.
O teste de igualdade de médias de grupo (Tabela 2) mostra o potencial de cada variável para
distinguir os três grupos (características do ambiente). Os fatores que apresentam uma menor
probabilidade de erro de tipo I, correspondendo a 5% (α<0,05), passam na hipótese de igualdade
das matrizes de variância e covariância, sendo estes significantes na diferenciação ente os grupos
(MAROCO, 2003 [16]; HAIR JR. et al, 2005 [15]). A tabela 2 mostra ainda que todos os
sentimentos obtiveram o valor da significância (Sig.) menor que 0,05, e, portanto, todos os
sentimentos podem ser utilizados para avaliar a diferença entre as 3 situações.
O Lambda de Wilks, que varia de 0 a 1, nesse caso, testa a existência de diferenças de médias entre
os grupos para cada variável. Quanto mais próximo de 0 maior é a diferença. Os valores dos
sentimentos do Lambda de Wilks mais próximos de um (1) são os que possuem menor poder de
discriminação (X6 – “Culpado” com 0,953; “orgulhoso” com 0,881; X14 – “Com remorso” com
0,966, X17 – “Determinado” com 0,916 e X18 “Trêmulo” com 0,956). Isso significa que são
sentimentos inadequados para a avaliação do ambiente construído. Já sentimentos tais como X1-
“Interessado” e X5 - “Agradavelmente surpreendido” são altamente sensíveis as variações das
características dos ambientes testados. Isso mostra a necessidade de aprofundamento no estudo dos
sentimentos do modelo PANAS que poderão refletir melhor a variação dos sentimentos em relação
as variações das características do ambiente construído.
A Tabela 3 apresenta o Lambda de Wilks que testa a significância das funções discriminantes. A
estatística de Wilks é uma medida inversa do grau de diferenciação entre os grupos, quanto menor o
seu valor, maior o grau de diferenciação. O maior valor do Lambda do Wilks é 1, o que representa
baixa diferenciação entre os grupos (BELFIORE et al., 2005 [17]).
Tabela 3 - Lambda de Wilks
Convém verificar o poder discriminatório da matriz de classificação, para certificar-se de que não
existem problemas em relação às premissas das variáveis e se os elementos da amostra estão
corretamente classificados. Para tal, foi aplicado o cross-validation, um teste estatístico do SPSS
que consiste em comparar a variável reclassificada com seu valor original, obtendo-se um
percentual de casos “corretamente classificados”. Este percentual pode ser visualizado na Tabela 4.
Neste caso, o teste resultou em 78,6% dos casos foram corretamente classificados. Este resultado
mostra que é possível estabelecer uma discriminação importante com base nos diferentes
sentimentos percebidos pelos participantes do experimento em relação às três situações
representadas nas imagens.
Tabela 4 - Resultados da classificação
6. CONCLUSÃO
A partir da análise dos dados, conclui-se que o modelo PANAS pode ser usado como base de uma
escala para medir a variação dos sentimentos dos indivíduos em relação às variações das
características do ambiente construído.
O fato de uma janela maior aumentar a incidência de iluminação natural no ambiente, tornando-o
mais agradável e proporcionando conforto ao indivíduo que irá utilizar esse ambiente, pôde ser
observado e comprovado, através dos resultados obtidos com a aplicação do experimento.
A redução de sentimentos negativos, nessa característica de projeto, mostra claramente que, quando
expostos aos ambientes com elevada intensidade de iluminação natural, o indivíduo tende a ficar
mais satisfeito com o local e dessa maneira aumentar os níveis de sentimentos positivos
Quando avaliada a iluminação com menor incidência, o resultado dessa característica foi o oposto
do resultado obtido na imagem anterior, cuja janela era grande e a luz natural apresentava maior
incidência. Esse fato pode ter ocorrido também em virtude do tamanho da janela, visto que as
pessoas tendem a sentir-se melhor em ambientes com janelas grandes. Diante do resultado, observa-
se que as pessoas não se sentem bem quando em ambientes com pouca incidência de luz natural e
com janela pequena.
REFERÊNCIAS
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53–75, 11 maio 2005. 4.
CONSTRUÇÃO DE ESCALA PARA AVALIAÇÃO DE BEM-ESTAR
DENTRO DO AMBIENTE CONSTRUÍDO
Ana Carolina Bonini Penteado1, Alfredo Iarozinski Neto 2, Ana Paula Bonini Penteado 3
1
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, anacarolina_penteado@hotmail.com
2
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, alfredo.iarozinski@gmail.com
3
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, anapaula_bpenteado@hotmail.com
Resumo: A influência que os espaços exercem sobre o bem-estar dos seres humanos é significativa,
visto que ambientes mal projetados geram um impacto negativo na qualidade de vida de seus
usuários. O entendimento acerca de como as pessoas percebem os ambientes é necessário para o
desenvolvimento de instrumentos capazes de avaliar a percepção e o bem-estar dentro do ambiente
construído. Neste âmbito, o objetivo desse trabalho é a construção e validação de uma escala de
bem-estar relacionada ao ambiente construído interno. Realizou-se um experimento composto pela
aplicação de um questionário de 48 sentimentos derivados da escala PANAS (Escala de Afeto
Positivo e Negativo) a fim de determinar quais sentimentos são sensíveis à variação das
características do ambiente construído e que são percebidos com maior intensidade pelos
indivíduos. O questionário foi aplicado em estudantes dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura
e Urbanismo de uma universidade, nos meses de outubro e novembro de 2017. Foram avaliados
cinco ambientes de características projetuais distintas. A partir da aplicação do experimento,
concluiu-se que, a percepção do indivíduo está adequada ao modelo preconizado pela escala
PANAS, pois houve a tendência de agrupamento e de aderência dos sentimentos por meio dos eixos
estabelecidos pelo modelo. Verificou-se também que a representação de uma escala de bem-estar
associada ao ambiente construído não pode conter um número menor que dez dimensões de
sentimentos. Ademais, pôde-se perceber a inviabilidade do desenvolvimento de uma escala global,
que seja capaz de avaliar casos do ambiente construído pertencente a segmentos distintos, dada a
complexidade e diversidade do ambiente construído.
Abstract: The influence that spaces exert on the well-being of human beings is of extreme
importance, since poorly designed environments have a negative impact on the quality of life of
their users. The understanding of how people perceive environments is fundamental, making it
necessary to develop instruments capable of assessing perception and well-being within the built
environment. In this context, the aim of this work is the construction and validation of a scale of
well-being related to the internal built environment. An experiment was carried out using a
questionnaire of 48 feelings derived from the PANAS scale (Positive and Negative Affect Scale) in
order to determine which feelings are sensitive to the variation of the characteristics of the
constructed environment and that are perceived with greater intensity by the individuals. The
questionnaire was applied to students of the courses of Civil Engineering and Architecture and
Urbanism of a university, in the months of October and November of 2017. Five environments of
distinct design characteristics were evaluated. From the application of the experiment, it was
concluded that, the perception of the individual is adequate to the model recommended by the
PANAS scale, because there was a trend of grouping and adherence of the feelings through the axes
established by the model. It has also been found that the representation of a scale of well-being
associated with the built environment can not contain a number smaller than ten dimensions of
feelings. In addition, it was possible to perceive the impossibility of the development of a global
scale, which is capable of evaluating cases of the constructed environment belonging to distinct
segments, given the complexity and diversity of the built environment.
1. INTRODUÇÃO
O ambiente construído é um meio de comunicação não verbal qualificado para promover pistas
sobre comportamento humano (REIS e LAY, 2006) [1]. Evans et al. (2003) [2] afirmam que a
moradia reflete tanto interiormente como externamente o que as pessoas são, o que realizam e o que
defendem. A ligação entre o ambiente construído e o comportamento humano está estreitamente
ligada aos arranjos sociais e culturais de uma época e, as condições geradas no ambiente são
capazes de alterar o modo de vida das pessoas, renovando-se diante das necessidades do usuário,
criando assim uma associação recíproca entre ambiente e homem (ORNSTEIN, 1995 [3]; SOBRAL
et al., 2015[4]).
Há um próspero interesse em avaliações ambientais e pode-se encontrar um grande número de
ferramentas para esse tipo de avaliação, com foco no uso de energia em edifícios, clima interno,
materiais de construção, entre outros aspectos, dentre eles o viés psicológico (FORSBERG;
MALMBORG, 2004 [5]). É relevante para a qualidade de projetos o entendimento sobre a
importância da abordagem perceptiva e cognitiva em sua avaliação, visto que espaços urbanos que
demonstram um desempenho satisfatório são resultado de avaliações envolvendo seus usuários
(REIS; LAY, 2006 [1]).
Projetos devem se ajustar mediante a criação das formas e do detalhamento do ambiente construído
para abrigar a relação entre o ambiente e o comportamento humano e contribuir com melhorias.
Deve-se haver a preocupação com o estudo da interação entre indivíduos e as suas condições físicas
(GIFFORD, 1997 [6]).
Segundo Sobral et al.(2015) [4], a importância do ambiente físico em que as pessoas realizam suas
atividades diárias e a influência que os espaços têm sobre o comportamento humano é
incontestável. Ambientes mal projetados acabam gerando uma influência negativa na segurança e
qualidade de vida de seus usuários. Neste cenário, o entendimento a cerca de como as pessoas
“sentem” espaços, é primordial para a relação pessoa-ambiente e seus efeitos. Assim, torna-se
necessário propor ferramentas que avaliem percepções do ambiente construído e que demonstrem
que os dados obtidos são confiáveis e que podem ser adaptados às características particulares dos
usuários.
Mesmo com a importância de se estudar o bem-estar, os modelos teóricos e empíricos sobre o
fenômeno são escassos, pois as principais pesquisas na área referem-se ao bem-estar geral,
principalmente nos campos da saúde e do trabalho. O avanço do conhecimento acerca de um
fenômeno depende da existência de instrumentos de medida válidos e confiáveis (PASCHOAL;
TAMAYO, 2008 [7]).
O campo de estudo relacionado ao bem-estar subjetivo dispõe suas bases em estudos empíricos,
principalmente por medidas de autorrelato. Sendo assim, diferentes instrumentos foram
desenvolvidos para avaliar de que maneira as pessoas percebem e avaliam o ambiente ao seu redor
(DIENER, 1984 [18], LUCAS et al.,1999 [19]).
Segundo Bedin e Sarriera (2014) [20], os estudos relacionados ao bem-estar subjetivo no Brasil são
efetuados com o uso de diversas medidas. Porém, as mais utilizadas são o Questionário de Saúde
Geral, QSG (BORGES; ARGOLO, 2002 [21]; PASQUALI et al., 1994 [22]; SARRIERA et al.,
1996 [23]), a Satisfaction With Life Scale, SWLS (GOUVEIA et al., 2009 [24]; SARRIERA et al,
2012 [25]; ZANON et al., 2013[26]) e medidas multidimensionais de bem-estar (BUENO et al.,
2010 [27]; GIACOMONI; HUTZ, 2008 [28]). Além disso, uma das escalas mais utilizadas em
pesquisas nacionais referentes ao aspecto afetivo do bem-estar é a Escala de Afetos Positivos e
Negativos (PANAS).
2. OBJETIVOS
A proposta desta pesquisa é fundamentada na necessidade de desenvolvimento de escalas
psicológicas voltadas para a avaliação do ambiente construído, a fim de que projetos sejam capazes
de considerar conceitos ligados à percepção que os indivíduos têm sobre o espaço, centrando-se nas
emoções evocadas dos mesmos dentro do ambiente.
Para Desmet (2002)[14], o desenvolvimento de projetos deve contemplar os aspectos relacionados à
percepção dos usuários e atendam às expectativas e às necessidades dos mesmos.
O estudo visa testar a aderência de uma escala que avalia o bem-estar relacionado às variações das
características do ambiente construído interno, levando em consideração aspectos relacionados à
percepção e à emoção, a fim de colocar em prática o ideal de projetar seguindo esses fatores.
3. MÉTODOS
Com relação aos métodos e procedimentos de pesquisa utilizados, visto que esta é uma pesquisa
aplicada exploratória, foram seguidas as etapas de pesquisa, apresentadas na Figura 1.
Buscou-se avaliar ambientes que contemplassem características projetuais diversas, a fim de tornar
cada ambiente único em sua avaliação. O objetivo principal foi verificar quais eram os sentimentos
sensíveis às mudanças projetuais de cada ambiente. Para as respostas dos entrevistados foi utilizada
a escala Likert de sete pontos, aos quais o entrevistado preencheu de -3 a 3, sendo -3 “discordo
totalmente” e 3 “concordo totalmente”.
Foram realizadas 143 entrevistas, sendo a amostra por conveniência, em estudantes de Arquitetura e
Urbanismo e de Engenharia Civil da mesma universidade.
4. RESULTADOS
Para obtenção dos resultados, uma análise fatorial foi elaborada, buscando identificar de forma
objetiva, um menor número de novas variáveis alternativas que não são correlacionadas e que sejam
capazes de condensar as informações essenciais das variáveis originais localizando os fatores ou
variáveis latentes (MINGOTI, 2005 [38]).
A utilização da análise fatorial nesse trabalho objetiva analisar como as variáveis se agrupam e se
estão relacionadas ao modelo de PANAS, na medida em que há variações das características dos
ambientes observados. As ferramentas de apoio utilizadas na transformação dos dados e nas
análises estatísticas foram o aplicativo Microsoft Excel 2010 e o software Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS), versão 22.
A fim de explorar o número mínimo de fatores pelo qual as variáveis se agrupam, foi realizada uma
análise fatorial sem a fixação do número de fatores e dessa maneira, observou-se que as 48
variáveis listadas podem ser agrupadas em no mínimo dez fatores. Ou seja, a escala não pode ser
representada com um número menor que dez dimensões de sentimentos.
Porém, nesse estudo optou-se pelo número de fatores fixado em 16, a fim de obter os dois
sentimentos mais representativos para cada um dos oito eixos propostos por PANAS, a partir da
percepção dos respondentes dentro dos cinco ambientes distintos.
A matriz anti-imagem dos dados realizados com fatores livres teve a maior parte de seus valores da
diagonal inferiores a 0,500, o que significa que as variáveis não podem ser agregadas, ou seja, os
sentimentos não podem ser agrupados e reduzidos em outros sentimentos. Sendo assim, para a
elaboração da escala não se utilizou a agregação das variáveis. Para tanto foram feitas as análises
fatoriais com 16 fatores fixados e selecionaram-se os sentimentos mais representativos para cada
um dos oito eixos.
O eixo Afeto Positivo Alto pôde ser descrito nos sentimentos Energia e Realização, já o eixo Afeto
Positivo Baixo, com os sentimentos de Sonolência e Cansaço. Representando o eixo Afeto Negativo
Alto, os sentimentos Ansiedade e Nervosismo e para o eixo Afeto Negativo Baixo, Despreocupação
e Segurança.
Relativamente ao eixo Prazer, os sentimentos mais representativos foram: Satisfação e Empatia; o
eixo Desprazer: Nojo e Solidão. Já o eixo Forte Empenho pôde ser representado pelos sentimentos
Espanto e Surpresa; e o eixo Baixo Empenho, pelos sentimentos de Privacidade e Passividade.
5. CONCLUSÃO
O presente estudo se propôs a desenvolver uma forma de medir o bem-estar relacionado ao
ambiente construído interno. Dessa forma, os sentimentos mais sensíveis às variações das
características do ambiente construído e que foram percebidos com maior intensidade pelos
indivíduos foram analisados.
Identificados os modelos de medida de bem-estar, avaliaram-se as possibilidades de seus usos em
relação ao ambiente construído. Foi considerada a mais apropriada dentre as escalas capazes de
medir o bem-estar, a escala PANAS, sendo utilizada em alguns dos estudos selecionados (GALÁN-
DÍAZ, 2011 [34]; KNEZ; KERS, 2001[35]; ALBUQUERQUE; TRÓCCOLI, 2004 [39]).
Por meio da análise fatorial, confirmou-se a adequação do modelo por ela preconizado, verificando-
se a tendência de agrupamentos e de aderência dos sentimentos por meio dos eixos estabelecidos
pelo modelo.
A análise fatorial, também verificou que uma escala de bem-estar associada ao ambiente construído
não pode ser representada com um número menor que dez fatores de sentimentos.
Outra conclusão encontrada nessa pesquisa foi a impossibilidade do desenvolvimento de uma escala
global, capaz de promover a avaliação do ambiente construído se pertencente a segmentos distintos,
dada a complexidade e diversidade do ambiente construído, tais como ambientes comerciais, ambientes
de trabalho e domésticos.
REFERÊNCIAS
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ESTUDO DO SISTEMA CONSTRUTIVO LIGHT STEEL FRAMING E
MODELAGEM DE UMA CASA GEMINADA EM SOFTWARE BIM
Study of the Light Steel Framing construction system and modeling of a semi-
detached house in BIM software
Eng. Laender Coelho Braga 1, Antônio Eduardo Polisseni, D.Sc. 2, Mauricio Leonardo Aguilar
Molina, D.Sc. 3
1Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, laendercoelho@gmail.com
2 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, aepolisseni@gmail.com
3 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mauricio.aguilar@engenharia.ufjf.br
1. INTRODUÇÃO
Como consequência do crescimento populacional e dos avanços tecnológicos, o mercado da
construção civil mundial tem buscado novas técnicas construtivas mais eficientes, visando o aumento
da produtividade, diminuição do desperdício e atendimento de uma demanda crescente. O uso do aço
na construção tem sido uma alternativa para atender estes objetivos, porém, esta técnica construtiva
exige conhecimento e grande atenção no planejamento e interação de cada uma de suas etapas, desde
a concepção do projeto até a montagem e término da edificação [1].
O Steel Framing é um dos sistemas construtivos que tem o aço como matéria-prima, compondo um
esqueleto estrutural ou não estrutural da edificação a partir da união de perfis formados a frio de aço
galvanizado. Estes elementos ligados entre si adquirem função de resistir às cargas solicitadas e de
dar forma à construção. Além disso, podem compor vigas secundárias, vigas de piso, tesouras de
telhado e outros componentes, como mostra a Figura 1 [2]. Usualmente pode também ser chamado
de Light Steel Framing (LSF), na qual o termo “Light” se refere a uma construção leve, enxuta. O
LSF tem como característica principal ser um sistema construtivo a seco, pois a presença de água nas
etapas construtivas é quase nula. Este recurso é utilizado apenas durante as etapas de concretagem da
fundação e assentamento de revestimentos cerâmicos [3].
2. OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho é fazer um estudo do método construtivo LSF, pouco conhecido no Brasil
e também pouco abordado em cursos de graduação. Após o estudo completo de todo o processo
construtivo em LSF foi feita uma modelagem virtual, com uso de softwares que utilizam a plataforma
BIM, de uma casa geminada construída em LSF na cidade de Matias Barbosa. Essa modelagem tem
como finalidade extrair quantitativos de projeto, bem como identificar e reduzir as interferências e
divergências que ocorrem na prática entre projeto arquitetônico, estrutural, elétrico, hidráulico, entre
outros.
3. METODOLOGIA
O presente trabalho envolve uma revisão bibliográfica baseada em manuais, livros, artigos e
dissertações a respeito do método construtivo estudado e de um estudo de caso, com base na
modelagem de um projeto real em LSF.
No que se refere à revisão bibliográfica, foram coletadas informações a partir das bibliografias e
foram criados tópicos explicando todos os processos construtivos do LSF, como por exemplo etapas
de: fundação, estrutura, cobertura, fechamentos, instalações elétricas e hidráulicas, tratamento
térmico e acústico, entre outros. Além disso, um tópico foi destinado ao conceito de Building
Information Modeling, interoperabilidade, suas vantagens e limitações.
Para o estudo de caso, foram utilizados os projetos (arquitetônico, estrutural, elétrico e hidráulico)
fornecidos pela construtora responsável para auxiliar na modelagem da casa geminada. A modelagem
virtual foi feita utilizando o software Revit, da empresa Autodesk, que é um dos principais softwares
que utilizam a tecnologia BIM. Os projetos foram reproduzidos e modelados no software, sendo
possível a análise qualitativa completa da construção, bem como a verificação de interferências e
erros de projeto.
Além disso, foram realizados encontros semanais e visitas técnicas com o engenheiro responsável da
construtora, que possibilitou a troca de conhecimentos a respeito do LSF e soluções de dúvidas que
surgiram. Todo o processo de modelagem e alterações no projeto também foram avaliados e
aprovados pelo engenheiro responsável.
4.1. Interoperabilidade
É importante ressaltar que o BIM não é um software específico. Seu conceito envolve uma nova
forma de processamento de projetos e geralmente é essencial a utilização de vários softwares
integrados entre si para obter um resultado final. Não existe um software único que consiga armazenar
todas as informações da edificação necessárias para a criação de um modelo BIM unificado [10].
O conceito de interoperabilidade se refere à capacidade de comunicação entre os diversos softwares
BIM. A interoperabilidade é a capacidade de trocar informações entre as aplicações, suavizando
fluxos de trabalho e algumas vezes facilitando a automação [11]. A interoperabilidade também é
sinônimo da capacidade de sistemas de múltiplas informações coexistirem, interagirem e
compreenderem um ao outro durante a comunicação [12].
Buscando evitar a incompatibilização entre os arquivos utilizados entre os diferentes escritórios, a
International Aliance of Interoperability (IAI) desenvolveu o formato IFC, padronizando a troca de
dados entre os vários softwares BIM existentes a partir de um único arquivo, como mostra a Figura
2. O IFC descreve os objetos utilizados no contexto do ciclo de vida da edificação, o modo como a
informação deve ser compartilhada e armazenada e o modo como os objetos estão interligados. Trata-
se de um modelo aberto e planejado para poder operar em qualquer aplicativo [10].
Com a modelagem 3D da casa geminada pronta, se deu início à inserção das tubulações hidráulicas a
partir dos projetos hidráulicos modificados no AutoCAD. As tubulações utilizadas foram tubos de
PVC para esgoto e água pluvial, e tubos PEX para as instalações de água fria e água quente.
7. CONCLUSÕES
Ao longo do desenvolvimento deste trabalho, foi possível aprender sobre o método construtivo Light
Steel Framing, que até então era desconhecido por grande parte do meio acadêmico. O LSF é pouco
comentado nas salas de aula e não há uma disciplina que ensine a dimensioná-lo, ou que destaque
suas etapas construtivas. Com isso, o medo do desconhecido também influencia a sociedade leiga,
que acaba optando pela construção tradicional em alvenaria e que tem receio de construir utilizando
perfis de aço. Portanto, este trabalho é importante para difundir este novo método construtivo no meio
acadêmio e quebrar os preconceitos e receios quando a este tipo de edificação.
Durante a realização do trabalho foi possível fazer visitas à Casa Geminada em estudo e interpretar
os seus projetos reais, como por exemplo projetos estruturais, hidráulicos, elétricos e telefônicos. Esta
ligação entre a teoria e a prática foi de extrema importância para facilitar o entendimento do estudo
de caso.
Além disso, o trabalho trouxe também conceitos de BIM e suas aplicações, que ainda é pouco
conhecido no meio acadêmico e muitos discentes acabam não tendo a oportunidade de ter contato
com a plataforma. Com o conhecimento e disciplina aprendidos durante a graduação, foi possível
aprender a utilizar um dos mais conhecidos softwares BIM: o Revit; e aplicar suas funções a favor da
realização deste trabalho. Consequentemente, foi possível adquirir conhecimentos e poder expandi-
los para a sociedade e para o meio profissional.
Como conclusão, pôde-se observar que o software Revit é uma excelente escolha para extração de
quantitativos de projetos, o que facilita e agiliza muito o trabalho no canteiro de obra. Os quantitativos
podem ser feitos até mesmo antes do início da obra, facilitando a realização de orçamentos e compras
de material, e reduzindo o tempo gasto analisando os projetos, bem como o desperdício de material.
Outra vantagem observada na modelagem da construção e seus componentes em 3D é a verificação
e correção de interferências antes da montagem no canteiro de obra. A correção das interferências
facilita e agiliza o processo construtivo, não havendo perda de tempo com as tentativas de resolução
dos problemas no canteiro de obra.
REFERÊNCIAS
[1] CRASTO, R. C. M. Arquitetura e tecnologia em sistemas construtivos industrializados: Light Steel Framing.
Dissertação de Mestrado. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto, 2005.
[2] SANTIAGO, A. K.; FREITAS, A. M. S.; CASTRO, R. C. M. Manual de construção em aço Steel Framing:
Arquitetura. Instituto Aço brasil. 2. ed. 2012.
[3] CAMPOS, P. F. Light Steel Framing: uso em construções habitacionais empregando a modelagem virtual
como processo de projeto e planejamento. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Universidade de São Paulo,
2014.
[4] CRASTO, R. C. M.; FREITAS, A. M. S.; Construções em Light Steel Frame. Téchne, Ed. 112, 2006.
[5] MENEZES, G.L.B.B. Breve histórico de implantação da plataforma BIM. “Cadernos de Arquitetura E
Urbanismo”. Disponível em:
<http://periodicos.pucminas.br/index.php/Arquiteturaeurbanismo/article/view/P.23161752.2011v18n22p152>.
Acesso em 10 maio de 2016.
[6] AZHAR, S. Building Information Modeling – BIM: Trends, Benefits, Risks, and Challenges for the AEC
Industry, ASCE Journal of Leadership and Management in Engineering, v. 11, n. 3, p. 241-252, 2011.
[7] EASTMAN, C.; TEICHOLZ, P.; SACKS, R.; LISTON, K. Manual de BIM: um guia de modelagem da
informação da construção para arquitetos, engenheiros, gerentes, construtores e incorporadores. Porto
Alegre: Ed Bookman, 2014, 500 p.
[8] HIPPERT, M. A. S.; ARAÚJO, T. T., BIM e a Qualidade do Projeto: um Estudo de Caso em uma Pequena
Empresa de Projeto. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 13.,
Canela. Anais... Canela: ENTAC, 2010, 10p.
[9] CARNEIRO, T. M.; LINS, D. M. O., BARROS NETO, J. P. Building Information Modeling: Análise da Produção
Científica nos anos de 2010 e 2011. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE
CONSTRUÍDO, 14., Juiz de Fora. Anais... Juiz de Fora: ENTAC, 2012.
[10] FERREIRA, B. R. Elaboração de um projeto de edificação de habitação de interesse social sob a ótica do
BIM. Trabalho de Conclusão de Curso. Juiz de fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, 2016.
[11] EASTMAN, C.; TEICHOLZ, P.; SACKS, R.; LISTON, K. BIM Handbook: A Guide to Building Information
Modeling for Owners, Managers, Designers, Engineers and Contractors. [S.l.]: Wiley Publishing, 2008. ISBN
0470185287, 9780470185285.
[12] CHEN, D.; DACLIN, N. et al. Framework for enterprise interoperability. In: Proc. of IFAC Workshop EI2N.
[S.l.: s.n.], 2006. p. 77–88.
AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA DE MATERIAIS EMPREGADOS NA ENVOLTÓRIA
DE EDIFICAÇÃO: ESTUDO DE CASO DE GALPÃO INDUSTRIAL
Evaluation of the life cycle of materials employed in the building envoltory: case study of
industrial shed
Abstract: In recent times, sustainability, environmental impacts and waste of natural resources
have been discussed, especially in the construction sector, which presents a flawed management in
most companies. It represents an important part of the world economy, since it consists of a large
consumption of incorporated energy (EI) and emission of CO2 in the stages of extraction,
manufacture, use and maintenance, deconstruction or disassembly and final disposal of the products
used. Therefore, all materials applied in construction have environmental impacts on a larger or
smaller scale, so the qualified professional is able to opt for the ones that have a lower
environmental impact, besides being able to choose less aggressive techniques. In this scenario, the
objective of this work is to analyze the life cycle (LCA) of the materials used in the construction
envelope, evaluating its incorporated energy (EI) and its CO2 emission for the case used in
industrial warehouses. The study will focus on two sheds that have 285sqm and 220sqm of built
area, used the traditional method of construction and are located in regions near the central area of
the city of Juiz de Fora, MG, where in the surroundings are other constructions with provision of
services. It should be noted that the climate of the region is tropical at altitude, with average annual
temperatures between 18ºC to 22ºC, has two well defined seasons. The research consists of a case
study, of a qualitative nature, being carried out in situ observations and data collection of the
materials used in the façades, for the development of analysis of the constructive elements. And
finally, it was concluded that the proper choice of the construction components tend to contribute to
the reduction of pollutant emission where it is suggested guidelines in the selection of materials in
order to specify the ones with the least impact and ensuring sustainability.
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos tempos tem-se discutido a sustentabilidade, os impactos ambientais e desperdícios de
recursos naturais derivada da atividade humana, principalmente no setor da construção civil que
apresenta gestão falha na maioria das empresas. Segundo Guia PMBOK, PMI [1] os custos de
falhas ou custos de má qualidade podem ser internos ou externos, e estão associados a não
conformidade dos produtos, entregas ou serviços em relação às necessidades ou expectativas das
partes interessadas.
A sustentabilidade está vinculada a vários fatores que compõe o espaço, a cultura, o ambiente, o
político, o social e o econômico, sendo o setor da construção civil um grande consumidor de
recursos naturais e para isso deve ser avaliado o modo como utilizam esses elementos [2].
O setor da construção civil, conforme Souza et al. [3], se “caracteriza como um dos que mais
utilizam recursos naturais e dos que mais geram desperdícios desnecessários e impactos ao
ambiente, desde a produção dos insumos utilizados até a execução da obra e sua operação”.
Desta forma, é importante à busca de estratégias que possam minimizar as falhas e preservar os
recursos naturais. Conforme Lordsleem Jr e Neves [4], nos últimos anos as construtoras vêm
adotado métodos construtivos com maior racionalização e implementação da gestão da qualidade.
No Brasil, segundo dados do Balanço Energético Nacional [5], os setores que mais utilizaram a
energia, foram às indústrias 33,3% e de transporte com 32,5% representando 65,8% do consumo de
energia do país. No caso da emissão de CO2, o transporte corresponde a 45,8%, outros setores com
31% (inclui os setores agropecuários, serviços, energético, elétrico e as emissões fugitivas) e a
indústria com 18,9%. Desta forma, os dois setores (industrial e transporte) são o que mais
contribuem em comparação ao residencial e de serviço.
O setor industrial na parte de consumo de insumos naturais é um dos grandes consumidores
energéticos e com amplas potencialidades de provocar danos ao meio ambiente, podendo ser no
processo produtivo ou na fabricação de produtos poluentes, na qual a destinação final é inadequada
[6]. Sendo assim, torna-se importante promover a conscientização ambiental nas indústrias e nos
profissionais envolvidos; para que haja redução da energia total nos edifícios é importante que na
fase da concepção do projeto apresente itens para redução da energia operacional, nas escolhas dos
materiais construtivos recicláveis e sistemas que facilite à desmontagem dos elementos [7]. O uso
de materiais reciclados vem surgindo no setor da construção civil, criando eco-produtos com
eficiência e compromisso ambiental [8].
A escolha dos materiais empregados na obra torna-a mais sustentável, deve-se levar em
consideração a forma de aquisição da matéria-prima, desde a origem ao destino final, sendo a
seleção analisada e comparada de forma criteriosa. Uma das ferramentas utilizadas para a
verificação dos materiais é a análise do Ciclo de Vida (ACV), é um processo complexo que envolve
um número elevado de variáveis, pois poderão ser analisados impactos referentes à energia
consumida, consumo de água, a emissão de CO2, matéria-prima, processo produtivo, etc [9].
A energia incorporada, conforme Pires [10], é definida como, sendo o total de energia consumida na
extração de matérias-primas, nos seus processos de transformação, no transporte, bem como, da
energia envolvida no processo construtivo. Assim, a emissão de CO2 está entrelaçada a esses
processos envolvendo todo o ciclo de vida do material.
Para obter melhor análise do ACV serão levantados alguns dos itens apresentados acima, a fim de
contribui na escolha de materiais mais sustentáveis para a construção ou que apresente um menor
impacto.
Diante deste cenário, este trabalho tem como objetivo análise do ciclo de vida (ACV) dos materiais
empregados na envoltória da construção, avaliando sua energia incorporada (EI) e sua emissão de
CO2 para o caso empregado em galpões industriais. Para isso, foi realizada uma pesquisa
bibliografia, para coleta de valores referente à EI e emissão de CO2, em fontes nacionais e
internacionais dos materiais que foram empregados na construção do objeto de estudo. Além disso,
foi contextualizada a importância da avaliação do ciclo de vida, bancos de dados presentes no
mundo e no Brasil. E, por fim, esta pesquisa fornece diretrizes na seleção de materiais adequada
para construção que apresentem menor impacto ambiental nas emissões de poluentes.
Para avaliação do ciclo de vida cada pesquisador adota uma forma de análise, na qual poderá ser por
elemento ou conjunto desses elementos, sendo assim, Caldas e Sposto [12], por exemplo aplicaram
o ACV nos blocos de concreto e blocos cerâmicos estruturais realizando um levantamento das
fábricas que produz o material e a distância percorrida para entrega-lo na obra, com isso calculou-se
as emissões de CO2 da indústria e do transporte rodoviário, ao fim os autores geram uma proposta
de matriz de mensuração da importância do transporte.
Sposto et al. [13], analisaram a energia incorporada e as emissões de CO2 de fachadas de light steel
framing para edificação, eles consideraram as fases do ciclo de vida referentes à indústria e ao
transporte de materiais para cinco regiões do Brasil, tendo como resultado a comparação do sistema
construtivo convencional com o light steel framing, na qual o primeiro apresentou valores maiores
para energia incorporada total e emissão de CO2 total.
Barbosa et al. [14], através da ferramenta ACV identificaram os aspectos mínimos da energia
incorporada e emissão de CO2 em duas edificações construídas em décadas diferentes, os autores
realizaram uma análise comparativa da evolução da sustentabilidade na construção civil e
concluíram que os avanços tecnológicos e sistemas construtivos, não contribuíram com a atual
proposta para a construção sustentável. Apesar das emissões específicas terem diminuído, porém o
processo produtivo cresce e consequentemente a energia incorporada será maior, assim como o
sistema de transporte diferente.
Neste contexto, é importante a definição dos parâmetros a serem estudados estabelecendo a unidade
funcional a utilizar, após o estabelecimento do que será avaliado deverá elaborar o inventário do
ciclo de vida do material e por último, avaliação e interpretação dos impactos ambientais que o
produto gera [15].
Portanto é necessário estabelecer critérios para avaliação do ciclo de vida, se será avaliado uma
unidade funcional ou um conjunto de elementos, e em qual etapa do processo “do berço ao túmulo”,
ou será segmentado, além disso, dados do inventário do ciclo de vida devem ser analisado de forma
cuidadosa para evitar coleta de informação que não tragam resultados confiáveis.
2.2 – Por que o Brasil não apresenta base de dados?
No Brasil a avaliação do ciclo de vida se inicia em 1994, onde Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) cria o Grupo de Apoio à Normalização Ambiental (Gana), Subcomitê de ACV,
para acompanhar e analisar os trabalhos do Comitê Técnico 207 (TC 207), gestão ambiental da
ISO54. Em 1998, o Gana finaliza suas atividades e em 1999 a ABNT cria o comitê ABNT/CB-38
(Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental) para continuar com as discussões das normas
internacionais da série 14000 e suas similares nacionais [16]. Segundo Willers et al. [17], a AVC
começa a ganhar força a partir de eventos para difundir o assunto.
Em 2002 foi fundada a Associação Brasileira de Ciclo de Vida, ABCV, a qual vem
se dedicando à disseminação e consolidação da ACV no Brasil, principalmente pela
promoção de conferências, destacando-se três delas. A primeira ocorreu em 2007, em São
Paulo: a segunda edição da Conferência Internacional sobre Avaliação do Ciclo de Vida,
CILCA, agora denominada Conferência Internacional sobre Análise do Ciclo de Vida na
América Latina. A ABCV também vem promovendo o Congresso Brasileiro sobre Gestão
do Ciclo de Vida de Produtos e Serviços, CBGCV, com duas edições, em 2008 e 2010.
Evento bianual, apesar de recente, ele já pode ser considerado o principal evento nacional
dedicado ao tema ACV. Entretanto, ainda encontra-se em fase de consolidação, o que pode
ser verificado pelo número de trabalhos apresentados nas duas primeiras edições (44 e 55,
respectivamente), os quais não são, necessariamente, relacionados a ACV qualitativas. A
terceira edição do Congresso ocorre em setembro de 2012.
No meio acadêmico o assunto vem crescendo no decorrer dos anos, com números de publicações de
artigos, teses e dissertações, além de grupos de pesquisas que trazem essa temática. Entretanto no
Brasil a base de dados ainda apresenta em desenvolvimento, mas existe um grande esforço do
Conselho Brasileiro de Construção Sustentável para aprimoramento. Conforme Barbosa Júnior et
al. [18], as empresas brasileiras tem dificuldade em aplicar a metodologia de ACV, por apresentar
falta de pessoas capacitadas, de bancos de dados com informações de insumos, de incentivos
governamentais, além disso, quando se aplica os dados internacionais, esses não levam em
considerações as especificações regionais e locais na análise do impacto.
A pesquisa foi elaborada com base no estudo de dois modelos de galpão industrial, com
características distintas no emprego dos materiais e no sistema de construção; localizados na cidade
de Juiz de Fora. O foco do estudo é realizar uma análise comparativa dos materiais empregados na
envoltória da edificação e avaliar o que apresente menor impacto ambiental, através da EI e emissão
de CO2.
4. METODOLOGIA
Galpão 1 Galpão 2
Emissão de CO2 Emissão de CO2
EI (MJ/kg) EI (MJ/kg)
(kgCO2/kg) (kgCO2/kg)
Tijolo cerâmico furado - - 2,630 0,1195
Bloco de cimento furado 1,080 0,000327 1,080 0,000327
Placa de concreto - - 3,10 -
Argamassa (cimento, cal e
1,446 0,012 1,446 0,012
areia)
Revestimento de Brita 0 13,5 1,2 - -
Tinta PVA látex 65,00 - 65,00 -
Telha metálica
210,00 - 210,00
(alumínio)
Telha de fibra 6,00 - - -
Estrutura metálica (aço) 33,80 - 33,80 -
Vidro plano 18,50 - - -
Esquadria de aço (janela) 33,80 - - -
Esquadria de ferro (janela) 32,80 - - -
Esquadria de aço (porta) 33,80 - - -
Esquadria de ferro (porta) - - 32,80
TOTAL 449,726 1,212 349,85 0,131
Fonte: Elaboração própria (2018)
A tabela 4 apresenta os valores da quantidade de energia embutida e emissão de CO2, obtidos a
partir do banco de dados da Inventory of Carbon & Energy (ICE) version 2.0 de 2011.
Tabela 4 – Materiais empregados na fachada – dado internacional
Galpão 1 Galpão 2
Emissão de CO2 Emissão de CO2
EI (MJ/kg) EI (MJ/kg)
(kgCO2/kg) (kgCO2/kg)
Tijolo cerâmico furado - - 3,00 0,23
Bloco de cimento furado 0,67 0,073 0,67 0,073
Placa de concreto - - 4,5 0,73
Argamassa (cimento, cal e
1,03 0,145 1,03 0,145
areia)
Revestimento de Brita 0 0,083 0,0048 - -
Tinta PVA látex 70,00 2,42 70,00 2,42
Telha metálica (alumínio) 155,00 8,24 155 8,24
Telha de fibra 37,00 2,70 - -
Estrutura metálica (aço) 20,10 1,37 20,10 1,37
Vidro plano 15,00 0,86 - -
Esquadria de aço (janela) 20,10 1,37 - -
Esquadria de ferro (janela) 25,00 1,91 - -
Esquadria de aço (porta) 20,10 1,37 - -
Esquadria de ferro (porta) - - 25,00 1,91
TOTAL 364,08 20,52 279,30 14,38
Fonte: Elaboração própria (2018)
Conforme apresentado na tabela todos os dados foram preenchidos conforme informações do banco
de dados do ICE, onde apresenta vários tipos de materiais. Vale ressaltar que alguns resultados
apresenta-se quase o mesmo valor de dados nacionais, como por exemplo, o tijolo cerâmico e o
vidro, e outros com valores bem diferentes como telha metálica, ferro e aço.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
De acordo com o levantamento dos materiais empregados nas fachadas dos objetos de estudos,
foram obtidas as quantidades de EI e de emissão de CO2 emitido por cada material durante seu
processo produtivo. Com isso, as figuras 4 e 5 apresentam os resultados dos dados nacionais da EI e
emissão de CO2 respectivamente para o Galpão 1 e 2, visto que para a energia incorporado todos os
materiais foram completados. Já para a emissão de CO2 não encontrou valores para a maioria dos
elementos na literatura nacional. Desta forma, a análise do resultado fica prejudicada levando a uma
avaliação incompleta.
Para o caso do Galpão 1, a fachada frontal constituída por maior quantidade de materiais se destaca
das outras e a maior energia incorporada esta presente na tinta, esse material no setor industrial
corresponde ao químico que representa 1.900 (103tep1) de consumo elétrico, conforme o BEN [24],
no total representa 12%. As fachadas laterais esquerda e direita por ser constituída por um elemento
não dados expressivo para avaliação, além disso, está entre edificações. A fachada posterior o
material que destaca-se é o ferro, onde no setor industrial para o ferro-gusa e aço contribuiu em
2016 com 5,9% do consumo final por setor [24].
Com relação à emissão de CO2, mostrado na figura 4, apenas o revestimento de brita apresenta
maior quantidade de emissão de poluentes, esta ocorrência deve-se ao processo de extração do
material até a destinação final, sendo as seguintes etapas: extração o uso de explosivo gera poeiras,
materiais particulares e gases; transporte da extração ao beneficiamento utilização de equipamentos
e caminhão que consume diesel; beneficiamento nesta fase a emprego de vários equipamentos que
consume energia e ou algum tipo de combustível; armazenamento contribuição com poeira;
1
Tonelada equivalente de petróleo
transporte do beneficiamento aos caminhões, a brita é transportada por carregadeiras e caminhões
ambos consumem diesel; transporte aos centros consumidores; uso e disposição final [23].
Logo, para ter uma avaliação completa da emissão de CO2 na questão, de qual material contribui
mais para o lançamento de poluentes, seria necessário obter os valores de todos os elementos que
estão nas fachadas. No entanto no Brasil ainda não existe um banco de dados que possa coletar
essas informações, por conta disso, busca-se nas literaturas, mas o número de dados não contempla
muitos materiais ou alguns ainda utilizam de fontes internacionais, o que não condiz com o contexto
nacional.
No caso para o galpão 2, apesar da fachada frontal proporcionar mais materiais, o que se destaca
são os fechamentos de alumínio na fachada lateral direita e fachada posterior, ou seja, maior EI no
material o que leva a maior consumo de energia elétrica.
O setor industrial apresentou um consumo 16.793 103tep de eletricidade, deste total de mineração e
pelotização teve 1.016 103tep e os não ferrosos e outros da metalurgia com 2.331 103tep, com isso o
alumínio se encaixa nesses dois processos levando um gasto de 20% do total de energia [24].
Fig. 5 - Materiais empregados nas fachadas
Fonte: Elaboração própria (2018)
A respeito dos dados internacional foi possível avaliar todos os materiais, com isso é possível notar
diferenças grandes entre os dados nacionais x internacional, no caso, o revestimento de brita tanto a
EI e a emissão de CO2 mostra uma diferença de 13,41 MJ/kg e 1,19 kgCO2/kg. O material mais
próximo dos valores é o tijolo cerâmico furado, cuja o resultado em ambos os casos de aproximam.
Além disso, para a energia incorporada referente à tinta, para as duas fontes de dados a diferença é
de 5,0 MJ/kg, ou seja, o valor não apresenta tão discrepante.
Fig. 6 - Materiais empregados nas fachadas
Fonte: Elaboração própria (2018)
Com relação aos dois dados de informações para a EI, conforme a figura 8, temos no Galpão 1 e
Galpão 2 uma diferença de 22% referente ao resultado Total Nacional e 23% para o Total do ICE.
Comparando o Galpão 2 com resultados do Total de ICE x Total Nacional tem-se 20% e para o
Galpão 1 tem-se 19%. Com isso, as diferenças apresentadas entre as fontes de dados não apresenta-
se grande.
No entanto para a emissão de CO2 os valores são bem diferentes como mostra a figura 9, as barras
demonstram resultados expressivos, isso por causa, da literatura nacional não encontrar informações
o que gerou dados incompletos em comparação com a base de dado internacional. Assim para o
Galpão 1 apresenta 94% em comparação com o Total de ICE e Total Nacional e para o Galpão 2
tem-se 99% na comparação dos dois resultados.
Fig.8 - Materiais empregados nas fachadas
Fonte: Elaboração própria (2018)
Vale destacar que a literatura internacional adota valores para os materiais conforme a sua religião,
os tipos de fonte de energia e tipo de fabricações, que no caso, para o Brasil são elementos que
diferencial do contexto do país.
6. CONCLUSÃO
Foi realizado levantamentos de materiais empregados na envoltória de dois galpões para avaliação
da energia incorporada (EI) e emissão de CO2 conforme a base de dados de referência de literatura
nacional e internacional da Inventory of Carbon & Energy (ICE) version 2.0. Assim, o estudo
realizou uma comparação das informações das duas bases de dados, buscando analisar o grau de
diferença e informações que elas possuem.
Conclui-se que alguns materiais apresentam maior impacto ambiental, pois o EI tem taxa alta isso é
devido ao gasto de energia no processo produtivo.
A limitação do trabalho é obter informações nacionais, pois o número de dissertações e teses com o
tema de ACV vem aumentando no decorrer do tempo, porém ainda não há uma base de dados com
os resultados concentrado, isso dificulta a análise, pois nem todos os materiais são possíveis de
encontrar.
E por fim, recomenda-se para futuros trabalhos que seja analisado o quanto de EI e emissão de CO2
cada galpão apresenta, para isso, é necessário o levantamento quantitativo dos materiais e trabalhar
com a composição unitária de acordo com o TCPO, pois assim será possível quantificar todos os
elementos. Além disso, apesar dos esforços que o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável
tem apresentado, é importante que tenhamos uma base de dados consolidada para que desta forma
os pesquisadores ou profissionais possam coletar informações e poder escolher materiais que
tenham menor impacto ambiental.
REFERÊNCIAS
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6. ed. Newtown Square. Disponível em: www.PMI.org
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ESTUDO EXPERIMENTAL DAS CARACTERÍSTICAS DO CONCRETO
UTILIZADO NA CONFECÇÃO DE BLOCO COM VIDRO TRITURADO
COMO AGREGADO MIÚDO
Experimental study on the features of concrete made
with crushed glass as fine aggregate for blocks manufacture
Armando Preizal FERREIRA*1, M. Sc. UFF; Emil de Souza SÁNCHEZ FILHO1 D. Sc.;
Cláudia Valéria Gávio COURA2 D. Sc.;Sérgio KITAMURA2 D. Sc.
* preizal@uol.com.br
1
Universidade Federal Fluminense, RJ, Brasil
2
Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, MG, Brasil;
RESUMO
Este trabalho apresenta os resultados de ensaios realizados com concretos utilizados na fabricação
de blocos fabricados com vidro temperado e vidro laminado, moído, ou agregado miúdo de vidro
triturado (AMVT) em substituição integral ao pó de pedra, isto é, agregado miúdo natural (AMN).
Avalia as propriedades mecânicas do concreto endurecido utilizado na confecção desses blocos. O
concreto foi ensaiado à compressão axial, tração à compressão diametral, tração à flexão, retração
hidráulica, módulo de elasticidade, coeficiente de Poisson, absorção de água por imersão e por
sucção capilar, e velocidade de propagação de ondas ultrassônicas. Nos ensaios de resistência à
compressão axial, tração à compressão diametral, tração à flexão, retração hidráulica, módulo de
elasticidade, e coeficiente de Poisson as curvas de correlação paralela indicam que: (a) a troca dos
agregados altera a resistência de um valor constante, (b) as resistências do concreto com agregado
miúdo natural e com vidro triturado aumentam efetivamente com o passar do tempo; (c) o uso do
vidro triturado não afeta o comportamento de aumento da resistência do concreto. Nos ensaios de
absorção de água o comportamento foi muito semelhante ao previamente descrito, ocorrendo um
ligeiro aumento da absorção no concreto com agregado de vidro triturado. Na propagação da
velocidade de ondas ultrassônicas o aumento de velocidade foi mais acentuado no concreto com
agregado miúdo natural.
ABSTRACT
This paper presents the results of tests of concrete prepared with tempered glass, crushed laminated
glass, or the small aggregate of crushed glass, as full substitutes for the stone powder, or small
natural aggregate. It evaluates the mechanical properties of the cured concrete used in the
production of blocks. The concrete was tested for axial strength, diametrical tensile strength, flexure
tensile strength, hydraulic shrinkage, elasticity module, Poisson's coefficient, water sorptivity, and
ultrasound waves propagation speed. The correlation curve on the tests on axial strength,
diametrical tensile strength, flexure tensile strength, hydraulic shrinkage, elasticity module, and
Poisson's coefficient indicate that (a) the substitution of the aggregate alters the strength of a
constant value, (b) the strengths of concrete made with small natural aggregate and with crushed
glass increase along the time passing, and (c) that the use of crushed glass does not affect the
increase of concrete strength. The results of the tests on water sorptivity were highly similar to the
previously described results, with a slight increase of sorptivity on the case of the concrete made of
small aggregate of crushed glass. The ultrasound propagation speed was higher on the concrete
made of small natural aggregate.
Introdução
O programa experimental desenvolvido buscou avaliar a substituição do agregado miúdo natural
(pó de pedra) por agregado miúdo de vidro triturado no concreto para a produção de blocos, quando
solicitadas à compressão axial, tração à compressão diametral, tração à flexão, retração hidráulica,
módulo de elasticidade, coeficiente de Poisson, absorção de água por imersão e por sucção capilar,
e velocidade de propagação de ondas ultrassônicas.
2. Propriedades físicas
O vidro tem densidades muito variáveis. Considera-se aceitável a densidade de 2,5, que dá massa de
2,5 kg/dm³ por mm de espessura para vidros planos. A dureza superficial do vidro, determinada
pela escala de MOHS, é de 6,5. O vidro é dezesseis vezes mais resistente à abrasão do que o
granito. Seu coeficiente de condutibilidade térmica é de K = 0,79 Kcal/hm ºC, em média. O calor
específico do vidro é C = 0,19 Kcal/kg ºC a C = 0,20 Kcal/kg ºC, de 5 a 10 vezes maior do que o da
água (PETRUCCI, 2007).
6
O coeficiente de dilatação térmica do vidro é de á = 8,6 x 10 . Em termos de resistência química, o
vidro é praticamente inalterável na água, que dissolve em quantidades muito pequenas os álcalis
nele contidos.
3. Propriedades mecânicas
O vidro é um material perfeitamente elástico, pois nunca apresenta deformação permanente. É,
porém, frágil. Se submetido a uma flexão crescente, rompe sem apresentar sinais precursores. Seu
módulo de elasticidade é de 60 GPa a 80 GPa. O coeficiente de Poisson do vidro é de 0,22, ao passo
que, no concreto, esse coeficiente varia de 0,11 a 0,21. A NBR 6118:2014 admite que o =0,20. O
índice de resistência do vidro à tração varia de 3 MPa a 70 MPa, a depender da duração da carga
(em cargas permanentes, a resistência à tração diminui em cerca de 40%); do índice de umidade
(redução de até 20%); da temperatura; do grau de polimento da superfície; do corte e estado dos
bordos; e dos componentes e suas proporções.
A resistência do vidro à compressão é muito elevada, de cerca de 1000 MPa. Em termos práticos,
isso significa que para quebrar um cubo de 1 cm de lado, a força necessária será da ordem de 100
kN. A resistência do vidro à ruptura por flexão é 40 MPa para vidro recozido, e 120 MPa a 200
MPa para vidro temperado, a depender da espessura, da manufatura dos bordos e tipo de fabrico.
As propriedades físicas e mecânicas acima caracterizadas são relevantes para melhor compreensão
da utilização do vidro como alternativa na substituição do AMN (BARROS, 2010).
5. Programa experimental
Cuidou-se para que a granulometria do agregado miúdo de vidro triturado AMVT fosse semelhante
a granulometria do agregado miúdo natural AMN. A composição dos traços incluiu cimento, areia
artificial (pó de pedra), areia grossa, brita 00 (pedrisco), brita 0 em quilos, e um litro de aditivo
Rheomix 610. Deu-se início à produção dos blocos.
Para 4 MPa 74:458:140:105 ou 1:6,19:1,89:1,42 ou 1:9,50
Para 6 MPa 101:447:136:102 ou 1:4,43:1,35:1,01 ou 1:6,78
Para 8 MPa 123:435:133:100 ou 1:3,54:1,08:0,81 ou 1:5,43
Para 10 MPa 158:419:128:96 ou 1:2,65:0,81:0,61 ou 1:4,07
Foram utilizadas as seguintes quantidades de água e fatores água/cimento:
Para 4 MPa 74 kg de cimento e 64,66 litros de água – a/c = 0,87
Para 6 MPa 101 kg de cimento e 59,69 litros de água – a/c = 0,59
Para 8 MPa 123 kg de cimento e 64,66 litros de água – a/c = 0,52
Para 10 MPa 158 kg de cimento e 59,69 litros de água – a/c = 0,37
O agregado miúdo natural teve módulo de finura de 2,41, massa específica real de 2,66 kg/dm³, e
massa específica aparente seca de 1,51 kg/dm³. O agregado miúdo de vidro triturado, teve módulo
de finura de 2,06, massa específica real de 2,54 kg/dm³, e massa específica aparente seca de 1,35
kg/dm³.
6. Os ensaios
Nos ensaios foram utilizados concretos nas resistências 4 MPa, 6 MPa, 8 MPa e 10 MPa. Os
ensaios foram realizados no Laboratório de Materiais de Construção do Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais, Campus Juiz de Fora (COURA, 2009)
e (KITAMURA, 2011). Ensaiaram-se três corpos de prova para cada resistência, num total de doze
com a utilização do agregado AMN, e doze com AMVT. Os corpos de prova cilíndricos utilizados
foram produzidos com pó de pedra como AMN e também com AMVT.
As principais características estudadas foram: resistência à compressão; resistência à tração por
compressão diametral; resistência à flexão; módulo de elasticidade e coeficiente de Poisson. Assim
como as seguintes propriedades: absorção de água por imersão; absorção de água por capilaridade;
retração hidráulica e velocidade de propagação das ondas ultrassônicas. Estes ensaios são
detalhados na Nova Normalização Brasileira para a Alvenaria Estrutural (SANCHEZ, 2013).
O coeficiente de correlação linear de Pearson indica um forte grau de correlação entre a resistência
à tração por compressão diametral dos corpos de prova de concreto fabricado com AMN e a
resistência à tração por compressão diametral dos corpos de prova de concreto fabricado com
AMVT. A inclinação da reta de regressão que é da ordem de 0,0093% para o corpo de prova de
concreto fabricado com AMN e de,0,0067% para o corpo de prova de concreto fabricado com
AMVT, indica que a resistência do concreto com AMVT é inferior mas não muito inferior ao
concreto com AMN.
Figura 11 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a retração hidráulica nas
resistências estimadas de 8 MPa dos corpos de prova prismáticos com AMN e AMVT.
O coeficiente de correlação linear de Pearson indica um forte grau de correlação entre a resistência
à tração por flexão dos corpos de prova de concreto fabricado com AMN e a resistência à tração por
flexão dos corpos de prova de concreto fabricado com AMVT. A inclinação da reta de regressão,
que é da ordem de 0,07% para o corpo de prova de concreto fabricado com AMN e de 0,067% para
o corpo de prova de concreto fabricado com AMVT, indica que a resistência à tração por flexão do
concreto com AMVT é cerca de 0,003% menor que a resistência à tração por flexão do corpo de
prova de concreto com AMN.
12. Módulo de elasticidade
Os ensaios foram realizados em conformidade com a norma NBR 8522:2008 que prescreve o
método de ensaio para determinação do módulo estático de elasticidade à compressão de corpos de
prova cilíndricos. Os corpos de prova empregados foram de 15 cm por 30 cm. Antes da realização
do ensaio de três corpos de prova para a determinação do módulo de elasticidade, dois corpos de
prova do mesmo concreto foram ensaiados para obter a resistência à compressão. O módulo de
elasticidade foi determinado sob carregamento estático à compressão axial simples, aplicando-se
um carregamento crescente à velocidade de (0,45 ± 0,15) MPa/s, até que fosse alcançada uma
tensão de aproximadamente 30% da resistência à compressão do concreto Nesses ensaios o
coeficiente de variação apresentou o valor mínimo de 2,18% e o máximo de 12,92%. Foram
utilizados 24 corpos de prova. Aplicando-se o Teste de Grubbs o valor mais alto identificado foi de
1,15, que corresponde ao mesmo valor crítico determinado a cada três ensaios. No diagrama de
dispersão (Figura 14) se analisa a correlação entre os valores dos módulos de elasticidade nos
ensaios dos corpos de prova de concreto com relação às resistências de referência. O coeficiente de
correlação linear de Pearson indica um forte grau de correlação entre o módulo de elasticidade dos
corpos de prova de concreto fabricado com AMN e o módulo de elasticidade dos corpos de prova
de concreto fabricado com AMVT. A inclinação da reta de regressão que é da ordem de 36% para o
corpo de prova de concreto fabricado com AMN e de 27% para o corpo de prova de concreto
fabricado com AMVT, indica que o módulo de elasticidade do concreto com AMVT é cerca de 9%
menor que o módulo de elasticidade do corpo de prova de concreto com AMN.
Figura 16 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a absorção de água por
imersão nos corpos de prova cilíndricos com AMN e AMVT aos 28 dias.
15. Absorção de água por sucção capilar
Os ensaios foram realizados em conformidade com a norma NBR 9779:2012, que prescreve o
método de ensaio de determinação da absorção de água por capilaridade. Foram utilizados corpos
de prova de 10 cm x 20 cm que atendem a quantidade mínima de material a ser ensaiada. Nesses
ensaios compostos por 24 corpos de prova, o coeficiente de variação apresentou o valor mínimo de
0,52% e o máximo de 15,56%. Aplicado o Teste de Grubbs, onde para ensaios com três amostras o
valor crítico é de 1,15, o valor mais alto observado foi de 1,14. No diagrama de dispersão (Figura
17) se analisa a correlação entre os valores das absorções de água por sucção capilar obtidas nos
ensaios dos corpos de prova de concreto com relação às resistências de referência. O coeficiente de
correlação linear de Pearson indica um forte grau de correlação entre a absorção de água por sucção
capilar dos corpos de prova de concreto fabricado com AMN e a absorção de água por sucção
capilar dos corpos de prova de concreto fabricado com AMVT. A inclinação da reta de regressão,
que é da ordem de 13% para o corpo de prova de concreto fabricado com AMVT e de 18% para o
corpo de prova de concreto fabricado com AMN, indica que a absorção de água por sucção capilar
do concreto com AMN é cerca de 5% menor que a absorção de água por sucção capilar do corpo de
prova de concreto com AMVT.
Figura 17 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a absorção de água por
sucção capilar nos corpos de prova cilíndricos com AMN e AMVT aos 28 dias.
Patrícia Vasconcelos de Oliveira 1, Rodolfo Rabelo Neves2, Guilherme Augusto Martins Moreira3,
White José dos Santos4, Antônio Neves de Carvalho Júnior5
1
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, eng.patriciavasconcelos@gmail.com
2
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, rodolforabelon@gmail.com
3
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, guilhermemoreirabh@gmail.com
4
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, whitejsantos@gmail.com
5
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, anjunior@demc.ufmg.br
Resumo: O desplacamento cerâmico em revestimento interno tem sido um transtorno para o setor da
construção civil nos últimos anos. A ocorrência da manifestação patológica interfere no custo e prazo
da obra, além de prejudicar a credibilidade das construtoras. O destacamento das placas cerâmicas
ocorre devido à falta de aderência entre as camadas de revestimento e o substrato. Essa falta de
aderência está relacionada a uma série de fatores, como por exemplo o tipo de argamassa colante
utilizada, a execução do tratamento do substrato e o método utilizado para executar o revestimento.
Na literatura existem diversas pesquisas focadas em apresentar soluções para falta de aderência da
argamassa colante em diversos substratos utilizados na construção civil. Porém, não existem estudos
relacionados com as novas tecnologias construtivas empregadas no canteiro de obras, como por
exemplo, a parede de concreto moldado in loco. Diante desse cenário, este estudo aborda as hipóteses
que causam a falta de aderência da argamassa colante e a parede de concreto, sistema construtivo que
está cada vez mais presente nas execuções de obras no Brasil e em diversos países América Latina.
Foi analisado, a partir de pesquisas literárias, que o grau de porosidade do substrato influencia
diretamente na aderência mecânica do revestimento, uma vez que na maioria das situações, a
ancoragem da argamassa colante acontece através da migração da pasta aglomerante para o interior
dos poros do concreto. Já o grau de rugosidade da superfície potencializa a aderência química, por
aumentar a área de contato na interface do revestimento e substrato. Dessa forma, esta pesquisa
apresenta boas práticas para execução de tratamento superficial da parede de concreto, que é um
substrato considerado pouco poroso, além de possuir desmoldante impregnado em sua superfície,
produto que é imprescindível para garantir melhor execução do serviço de desforma da estrutura, mas
que prejudica de forma considerável a aderência. Para melhores resultados práticos, esta pesquisa
aborda um estudo de caso dos métodos utilizados para execução do revestimento cerâmico interno
em uma obra de parede de concreto. Pode-se verificar, a partir de resultados obtidos no teste de
arrancamento, que o tratamento da base realizado com jato de água em alta pressão e lavagem com
escova de aço, associados com a aplicação da cerâmica com dupla camada de argamassa colante tipo
II, resulta em revestimentos com bons valores de resistência à aderência e com menor probabilidade
de ocorrência do desplacamento cerâmico.
1. INTRODUÇÃO
O destacamento de placas cerâmicas em paredes internas tem sido um dos problemas técnicos mais
graves vividos pelo setor da construção civil. A manifestação tem ocorrido em quase todo o território
nacional nos últimos anos e em 81,4% dos casos, o problema surgiu até o segundo ano após a
aplicação [1].
A propriedade responsável pela fixação entre as camadas de revestimento cerâmico (chapisco,
emboço, argamassa colante e cerâmica) e os diversos substratos é denominada como aderência. Para
a verificação da aderência não se pode avaliar somente as propriedades dos materiais constituintes,
mas sim a interação entre as diversas camadas [2]. O mecanismo da aderência está diretamente ligado
ao tipo e teor de umidade do substrato e o tipo de argamassa aplicada [3].
Em diversos estudos, como por exemplo, FIORITO (2009); CANDIA e FRANCO (1998), os
pesquisadores concluíram que a execução do chapisco é essencial para alcançar um bom mecanismo
de aderência entre a argamassa e a base de concreto. Entretanto, atualmente no setor da construção
civil, tem sido cada vez mais incorporado o sistema construtivo parede de concreto moldado in loco,
principalmente após a publicação da ABNT NBR 16055-2012. Segundo SANTO JR (2017),
representante da Associação Brasileira de Cimento Portland em Goiás, o sistema construtivo responde
por 52% das unidades em construção e no projeto do Programa Minha Casa Minha Vida.
O sistema caracteriza-se por construir empreendimentos em larga escala em um curto prazo de tempo
e os revestimentos são executados diretamente na estrutura [7]. As placas cerâmicas, por exemplo,
são aplicadas com argamassa colante sem necessidade de execução de chapisco e emboço, como
praticado em outros métodos construtivos. Porém é necessário seguir alguns critérios com o objetivo
de evitar o desplacamento cerâmico.
Em substratos de concreto é necessário que a estrutura possua 28 dias de idade para que os
revestimentos sejam devidamente aplicados. Além disso é necessário que a película do desmoldante,
se for utilizado, seja totalmente eliminada com uso da escova de aço, detergente e água seguindo-se
a uma operação de apicoamento [8].
Diante desse cenário, essa pesquisa tem como objetivo verificar a aderência da argamassa colante
aplicada na parede de concreto, com o objetivo de investigar os materiais e as formas de execução
mais eficientes que possam atender os requisitos de resistência de aderência à tração propostos pela
ABNT NBR 13749-2013.
Figura 2 - Fotomicrografia (MEV) na interface bloco cerâmico e argamassa com a presença de etringita. CARVALHO
JR (2005)
Figura 3 – Fotomicrografia (MEV) da interface piso e argamassa colante (sistema de assentamento de piso sobre piso).
PEREIRA, SILVA e COSTA (2013)
2.2.3. Ensaios de resistência a aderência
A NBR 13754 (ABNT 1996) especifica que ao conferir o serviço de revestimento, julgar que as placas
cerâmicas não estão aderidas à base (teste de percussão apresentar som cavo) é necessário realizar o
ensaio de arrancamento para comprovar o desempenho do sistema. Esse teste, segundo a NBR 13754
(ABNT 1996) consiste em determinar a tensão de aderência de um revestimento cerâmico, pela
aplicação de uma força simples normal aplicado em uma pastilha metálica que é colada na cerâmica.
Os resultados da resistência de aderência à tração obtidos precisam ser iguais ou superiores ao valor
de 0,3 MPa, conforme demonstrado na tabela 2, que foi reproduzida da norma.
Tabela 2 - Limites de resistência de aderência à tração (Ra). NBR 13749 (2013)
Local Acabamento Ra
Pintura ou base para reboco ≥ 0,20
Interna
Cerâmica ou laminado ≥ 0,30
Parede
Pintura ou base para reboco ≥ 0,30
Externa
Cerâmica ≥ 0,30
Teto ≥ 0,20
Ao realizar o teste de arrancamento a ruptura pode ocorrer aleatoriamente entre qualquer interface
(ruptura adesiva) ou no interior de uma das camadas (ruptura coesiva) (ABNT - NBR 13754-1996).
A identificação do local onde ocorre a ruptura é importante para diagnosticar qual a camada ou
interface apresenta menor resistência no revestimento.
A porosidade e a absorção de água do substrato são propriedades estritamente relacionadas, uma vez
que a migração de água para o interior da base é realizada pelos poros existentes na superfície. As
características superficiais do substrato, assim com a sua porosidade influem diretamente no
transporte de água da argamassa no estado fresco para o substrato poroso. Essas características dos
poros são: o diâmetro, volume, distribuição e interconectividade. A falta dessas particularidades na
superfície do concreto influencia diretamente na resistência de aderência do sistema de revestimento
[20].
2.3.2. Rugosidade
As rugosidades são pontos de ancoragem da argamassa empregada em um substrato, que quando são
rugosos possuem maior área de contato com a argamassa, aumentando assim a resistência de
aderência. Ao contrário, uma vez que os substratos apresentarem superfícies lisas, os valores de
aderência são menores, sendo necessária assim a preparação da superfície com o objetivo de torná-la
rugosa e aumentar a área de contato com a argamassa [21].
Uma vez que os substratos apresentem a superfície pouco rugosa, é necessário executar o tratamento
superficial, com o objetivo de criar irregularidades na base, promovendo dessa forma maior área de
contato com a argamassa, potencializando a aderência do sistema de revestimento ROMERO (2010).
Essa rugosidade superficial do concreto pode ser criada de diversas formas de execução, tais como o
lixamento, escovação, apicoamento, projeção de partículas abrasivas, utilização de retardador de
pega, entre outros.
2.3.3. Resistência
Existe uma relação inversa entre a resistência e a porosidade de um sólido, sendo que a quantidade
de vazio capilar depende da quantidade de água adicionada na mistura e do grau de hidratação do
cimento. Entende-se então, que o aumento do grau de hidratação do cimento e diminuição do fator
água/cimento, implica em uma redução de porosidade capilar. Logo, quanto maior a resistência do
concreto, menor será a sua porosidade e consequentemente maior será a dificuldade de ancoragem
mecânica da argamassa em seu interior, diminuindo assim a aderência dos revestimentos aplicados
em sua superfície [23].
BECKER e ANDRADE (2017) fizeram um estudo sobre a aplicação de vários tipos de chapiscos em
concretos com resistências distintas e realizaram o teste de aderência. Os resultados encontrados estão
ilustrados no gráfico 1, onde está evidenciado que à medida que a resistência do concreto aumenta, a
resistência de aderência da argamassa e absorção de água diminuem. Ressalta-se que o concreto
utilizado no sistema construtivo paredes de concreto moldadas in loco, atinge resistências em torno
de 25 à 35 MPa aos 28 dias.
Gráfico 1 – Relação entre resistência de aderência, resistência do concreto e sua absorção. BECKER e ANDRADE
(2017)
O uso de desmoldante na parede de concreto é fundamental para que o serviço de desforma aconteça
facilmente, além de aumentar a vida útil das placas e garantir o ciclo de concretagem ocorra
regularmente. O desmoldante cria uma película fina e oleosa entre as formas e o concreto, que
impossibilita a ancoragem entre ambos. Contudo, essa película de óleo, após a desforma, fica
impregnada na superfície do concreto, fazendo com que o desmoldante presente na superfície e nos
poros exerça função hidrofugante, diminuindo a aderência da argamassa que como já visto
anteriormente, se dá na maioria das vezes pela sua ancoragem nos poros do substrato.
A remoção do desmoldante “pode ser feita de maneira mecânica - jato de areia seca ou úmida, jato
de água quente em alta pressão, química - escovamento com água e detergente, o que requer lavagem
posterior com água ou ar em alta pressão - ou com o próprio apicoamento do concreto”[25]. O autor
completa afirmando que outras boas práticas para a remoção da película de desmoldante é a escovação
da superfície do concreto com uma escova de aço e a lavagem com água pressurizada ou água
combinada com algum tipo de abrasão, como escovas de cerdas de náilon. O tratamento da superfície
não consiste apenas em realizar a limpeza do desmoldante impregnado, mas também proporcionar
rugosidade ideal na superfície e garantir a abertura dos poros do concreto para que haja perfeita
aderência com o revestimento posterior [26].
3. MÉTODOS
A metodologia utilizada para efetivação desta pesquisa foi um estudo de caso realizado em uma obra
de parede de concreto moldado in loco, localizada na cidade de Contagem/MG. Foram verificadas
as práticas realizadas na obra quanto ao preparo do substrato, os materiais utilizados e os
procedimentos adotados na execução do serviço de revestimento cerâmico interno.
4. RESULTADOS
Figura 4 – Aspecto da parede: (a) sem tratamento superficial (b) com tratamento superficial.
Contata-se que o tratamento superficial aumentou o grau de porosidade da superfície. Isso ocorre
devido a capacidade da escova de aço em remover a nata do concreto que estava cobrindo os poros
presentes na base. Observa-se também, que as manchas escuras provenientes do resíduo de
desmoldante diminuíram após a lavagem da parede.
A placa cerâmica (25x35 cm) é aplicada com dupla colagem de argamassa colante tipo II. A
argamassa é aplicada na parede em pequenos panos com a parte lisa da desempenadeira e
posteriormente são realizados frisos na horizontal com a parte dentada (8x8x8 mm). No tardoz da
cerâmica a argamassa é aplicada com a parte dentada, de modo que os frisos da placa se cruzem com
os frisos da parede. Em seguida o pedreiro pressiona e arrasta a cerâmica para que os cordões da
argamassa sejam totalmente desfeitos, aumentando dessa forma a área de contato nas interfaces.
Os resultados obtidos das seis amostras retiradas do revestimento cerâmico aos 28 dias são
relacionados a seguir.
Tabela 3 - Resultados do ensaio de arrancamento
N° CP Resistência de Local do
Local de ruptura
aderência (MPa) ensaio
90% interface argamassa colante com parede de
1 0,40 cozinha
concreto 10% na argamassa
90% interface argamassa colante com parede de
2 0,39 cozinha
concreto 10% na argamassa
80% interface da cerâmica com argamassa colante
3 0,65 cozinha
20% na argamassa
100% interface da cerâmica com argamassa
4 0,43 banheiro
colante
100% interface argamassa colante com parede de
5 0,41 banheiro
concreto
100% interface argamassa colante com parede de
6 0,48 banheiro
concreto
Figura 5 – Aspecto dos corpos de prova ensaiados
Conforme exposto na tabela 3, pode-se analisar que todas as seis amostras apresentaram resultados
acima de 0,30 MPa aos 28 dias, que é o valor de aderência mínimo estabelecido por norma. É possível
analisar também que o local da ruptura foi predominante de forma adesiva, na interface da argamassa
colante e parede de concreto. Conclui-se que o procedimento como a obra executa o preparo da base
e o assentamento das placas cerâmicas é viável para alcançar revestimentos com desempenho
satisfatório e duráveis.
5. CONCLUSÃO
A partir de estudos realizados durante essa pesquisa, pode-se verificar que o desempenho de um
revestimento não está associado somente à um fator principal, mas sim da interação de diversos
aspectos que precisam ser analisados desde a concepção do serviço. Os fatores responsáveis pela
durabilidade do revestimento cerâmico são as características da argamassa colante, o aspecto do
substrato quanto a sua porosidade, resistência e rugosidade, o tipo de tratamento superficial aplicado
na base, além das boas práticas executadas durante o serviço de assentamento cerâmico. A interação
de todos esses fatores supracitados, torna possível a execução de revestimentos com bom desempenho
em obas executadas com parede de concreto moldado in loco.
Pode-se analisar através do estudo de caso, que o tratamento da base realizado manualmente com
escova de aço e lavagem com água pressurizada, é suficiente para criar uma superfície apta para aderir
o revestimento na parede de concreto. Além disso, é necessário fazer o assentamento das placas
cerâmicas com dupla colagem e aplicá-las com argamassa colante industrializada tipo II. Com essa
união de procedimentos, observou-se que podem ser atingidas resistências de aderência com valores
em média de 0,46 MPa, resultado 65% acima do valor mínimo recomendado por norma.
Com essas informações obtidas é possível considerar que os efeitos da manifestação patológica do
desplacamento cerâmico ocorridas em obras de parede de concreto, podem ser minimizados através
dos cuidados com a execução do serviço, escolha do tipo de tratamento de base e tipo de argamassa.
Dessa forma é possível executar revestimentos com desempenho satisfatório em obras de parede de
concreto, além de cumprir requisitos como custo, prazo, qualidade e satisfação dos clientes.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao apoio da Universidade Federal de Minas Gerais e aos órgãos de fomento:
CAPES, FAPEMIG e CNPQ.
REFERÊNCIAS
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2016. Disponível em: <http://www.sindusconsp.com.br/desplacamento-ceramico-e-problema-setorial-e-requer-
mobilizacao-da-cadeia-produtiva/ >. Acesso em: 20/09
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13528: Revestimento de paredes e tetos de
argamassas inorgânicas – Determinação da resistência de aderência à tração. Rio de Janeiro: ABNT, 2010.
[3] CARASEK, Helena. Fatores que exercem influência na resistência de aderência de argamassas. II Simpósio
Brasileiro de Tecnologia das argamassas. Anais... CD ROM. Salvador: CEPED/EPUFBA/UCSAL/UEFS, p. 131-146,
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[4] FIORITO, Antonio J.S.I. Manual de argamassas e revestimentos: estudos e procedimentos de execução. 2a
edição. Pini, 2009.
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para a construção de edificações – Requisitos e procedimentos. Rio de Janeiro, 2012.
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Minha Vida. 2017. Disponível em: < http://www.construirmais.com/revista/index.php/comunidade-da-
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em: 29/08/2018.
[7] SILVA, Fernando Benigno. Paredes de concreto armado moldadas in loco. Revista Téchne – Fev/2011. Disponível
em: < http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/167/paredes-de-concreto-armado-moldadas-in-loco-286799-
1.aspx >. Acesso em: 13/08/2018.
[8] BARBOZA, Nathalia. Construtoras de todo o Brasil se mobilizam para encontrar saídas para o descolamento
cerâmico. Revista TÉCHNE. n. 234. Setembro/2016
[9] COSTA, Marienne do Rocio de Mello. Análise comparativa de argamassas colantes de mercado através de
parâmetros reológicos. 148f, 2006. Tese (Doutorado em Engenharia de Construção Civil e Urbana) – USP, São
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colantes por reometria rotacional. Ambiente Construído, v. 13, n. 2, p. 125-137.
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Materiais de Revestimento (Mestrado do Departamento de Materiais de Construção Civil). UFMG, Minas
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[15] CARASEK, Helena. Aderência de argamassas à base de cimento Portland a substratos porosos; avaliação dos
fatores intervenientes e contribuição ao estudo do mecanismo da ligação. 285f. Tese (Doutorado em Engenharia
de Construção Civil e Urbana) - Escola Politécnica da USP, São Paulo, 1996.
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à identificação do sistema de aderência mecânico, 306f, 2005. Tese (Doutorado em Engenharia Metalúrgica e de
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[17] GRILLO, Karin Verônica Freitas. Análise comparativa da aderência de tipos rochosos assentados com três
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[19] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13749: Revestimento de parede e tetos de
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mistas de blocos de concreto e cerâmico no desempenho dos revestimentos. SIMPÓSIO BRASILEIRO DE
TECNOLOGIA DE ARGAMASSAS, p. 466-476, 2005
[21] BAUER, Elton. Revestimentos de argamassa: características e peculiaridades. Brasília: LEM-UnB/Sinduscon-
DF, 2005
[22] ROMERO, Juan Vázquez. Adherencia al hormigón de morteros de diferentes bases químicas. 367f, 2010. Tese
de Doutorado. Universidad Politécnica de Madrid, 2010.
[23] STOLZ, Carina Mariane. Influência da interação entre os parâmetros reológicos de argamassas e a área
potencial de contato de substratos na aderência de argamassas de revestimento. 162f, 2011. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil) – UFRGS, Porto Alegre, 2011.
[24] BECKER, Felipe Allebrand; ANDRADE, Jairo José de Oliveira. Avaliação da influência do substrato de concreto
na resistência de aderência à tração de diferentes tipos de chapisco. Revista Matéria, Rio Grande do Sul, v. 22, n.
4, 2017.
[25] ABBATE, Vinícius. Desmoldante: um para cada tipo de forma. Téchne, São Pualo, v. 70, p. 48-49, 2003.
[26] PRETTO, Márcia Elisa Jacondino. Influência da rugosidade gerada pelo tratamento superficial do substrato de
concreto na aderência do revestimento de argamassa.180f, 2007. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –
UFRGS, Porto Alegre, 2007.
RESÍDUO INDUSTRIAL ASFÁLTICO: UM ESTUDO DO POTENCIAL DE
APLICAÇÃO EM CONCRETO ASFÁLTICO
Larissa Lobato Guerra 1, Thaís Mayra de Oliveira 2, Geraldo Luciano de Oliveira Marques3
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, larissalobatog@gmail.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, thaismayra@yahoo.com.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, geraldo.marques@ufjf.edu.br
Resumo: Com a questão ambiental cada vez mais em enfoque e o aumento de restrições impostas
pelas legislações, há a necessidade de buscar alternativas sustentáveis de construção. Acrescido a
isso, há a exigência da indústria da construção por materiais duráveis e de custo reduzido, tornando
viável a utilização de resíduos industriais como forma de substituição ou composição de misturas.
Verificou-se, então, a possibilidade de aplicação de um resíduo asfáltico, proveniente de cortes de
telhas, fornecido por uma indústria privada, para incrementar misturas de concreto asfáltico
utilizadas na pavimentação. Buscou-se analisar a influência desse material no possível ganho de
propriedades mecânicas para a pavimentação, ao mesmo tempo em que visa reduzir o volume de
resíduos industriais descartados no meio ambiente. Para tanto, a metodologia consistiu,
inicialmente, em definir os agregados a serem utilizados na mistura e caracterizá-los. Seguiu-se para
a determinação da composição granulométrica do esqueleto mineral a fim de atender a faixa de
concreto asfáltico desejada no projeto (faixa b do DNIT). Utilizou-se o método de tentativas para
essa etapa. Em seguida, foram experimentados quatro teores de asfalto para a mistura de agregados
definida, utilizando a metodologia de dosagem Superpave. Através da análise de parâmetros de
importância em relação aos vazios e densidade da mistura, escolheu-se o teor de projeto de 4,9%.
Moldaram-se, então, novos corpos de prova com o teor de projeto e foram acrescentadas as fibras
provenientes do corte das telhas em três diferentes porcentagens. Moldaram-se também corpos de
prova sem fibras. Com a moldagem feita, realizaram-se os ensaios de módulo de resiliência e
resistência à tração por compressão diametral para análise dos resultados. Ao final, concluiu-se que
as misturas com inclusões apresentavam valores menores de módulo de resiliência e resistência à
tração que as sem inclusões. Entretanto, os valores são aceitáveis e compatíveis com os valores das
misturas convencionais e dos padrões exigidos pelas normas vigentes para concreto asfáltico.
Assim, através de mais ensaios para obtenção de outros parâmetros mecânicos, bem como ensaios
com fibras de outras geometrias, pode-se analisar a possibilidade da aplicação prática desse
material. Dessa forma, espera-se que essa pesquisa estimule o desenvolvimento de mais estudos na
área por ser uma iniciativa diferenciada quanto ao reaproveitamento de resíduos na pavimentação e
por mostrar o amplo campo de estudos ainda possíveis de serem realizados para gerar uma melhor
destinação dos mesmos resíduos.
Palavras-chave: concreto asfáltico, dosagem, resíduo industrial asfáltico.
Abstract: With the environmental issue increasingly in focus and the increasing restrictions
imposed by legislation, it is necessary searching sustainable construction alternatives. In addition,
the construction industry demands durable and cost-effective materials, making it possible to use
industrial waste as a substitute or mixture composition. Then, the possibility of applying asphaltic
residue from roof tiles cuts provided by a private industry to increase the asphalt concrete mixtures
used in the paving was verified. The aim was to analyze the influence of this material on the
possible gain of mechanical properties for paving, while at the same time aiming to reduce the
volume of industrial waste disposed of in the environment. For this, the methodology consisted,
initially, in defining the aggregates to be used in the mixture and to characterize them. It was
followed for the determination of the granulometric composition of the mineral skeleton in order to
meet the desired asphalt concrete strip in the project (track b of the DNIT). The trial method was
used for this step. Then, four asphalt contents were tested for the defined aggregate mixture using
the Superpave dosage methodology. Through the analysis of parameters of importance in relation to
voids and density of the mixture, the design content of 4.9% was chosen. New specimens were then
molded with the design content and the fibers from the cut of the roof tiles were added in three
different percentages. Fiber-free test bodies were also molded. With the molding done, the tests of
resilient modulus and tensile strength by diametral compression were performed to analyze the
results. At the end, it was concluded that the blends with inclusions presented smaller values of
resilient modulus and tensile strength than those without inclusions. However, the values are
acceptable and compatible with the values of the conventional mixtures and the pattern required by
the current standards for asphalt concrete. Thus, through further tests to obtain other mechanical
parameters, as well as tests with fibers of other geometries, the possibility of the practical
application of this material can be analyzed. Therefore, it is expected that this research will
stimulate the development of more studies in the area because it is a differentiated initiative
regarding the reuse of residues in the pavement and for showing the wide field of studies still
possible to be carried out to generate a better destination of the same residues.
Keywords: asphalt concrete, dosage, asphaltic industrial residue.
1. INTRODUÇÃO
O ser humano, desde os seus primórdios, gera uma grande quantidade de resíduos, tanto através de
desperdícios, tanto através de entulho. Observa-se que, com o crescimento urbano, esse fenômeno
tem ganhado maiores proporções. Segundo dados do Banco Mundial, são gerados,
aproximadamente, 1,3 bilhões de toneladas de resíduos sólidos por ano e os maiores responsáveis
pelo volume crescente são os países em desenvolvimento. [1]
Os resíduos sólidos são definidos como aqueles que “resultam de atividades de origem industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição”. [2] A incorreta destinação
desses pode acarretar em diversos problemas para o meio ambiente, como “a contaminação do solo
e das águas superficiais e subterrâneas, oferecendo abrigo e condições favoráveis ao
desenvolvimento de agentes patogênicos e animais sinantrópicos [...]”. [3]
Visto o problema causado pela incorreta destinação dos resíduos sólidos em geral, foi sancionada
em 2010 a Lei nº 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Essa determina que
os geradores de resíduo industrial, entre outros, estão sujeitos à elaboração do plano de
gerenciamento de resíduos sólidos. [4]
A partir de então, colocou-se em evidência a alternativa de reaproveitamento dos resíduos da
construção civil e dos resíduos industriais principalmente em obras, como na construção civil e
pavimentação. Nesse sentido, aumentou-se a busca por resíduos que apresentam potencial de gerar
um produto final de qualidade. Ao incluí-los em uma mistura, ao mesmo tempo em que diminuem o
impacto ambiental e os gastos com destinação adequada, eles otimizam o uso das matérias primas,
reduzindo também esse tipo de gasto. Iniciativas como essa têm conquistado espaço recentemente,
apesar de não haver ainda muitos estudos na área de resíduos sólidos industriais para produção de
concreto asfáltico.
Visto essa lacuna na área de pesquisas, bem como o possível fornecimento de resíduos industriais
asfálticos por parte de uma empresa, percebeu-se a oportunidade da realização desse estudo. Com
isso, buscou-se notar de que forma esses resíduos sólidos poderiam melhorar propriedades de
pavimentos ao serem inseridos na mistura à quente de agregados e concreto asfáltico de petróleo.
2. OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa é analisar a potencialidade de aplicação de um resíduo industrial asfáltico,
proveniente de cortes de telhas, como componente na produção de misturas de concreto asfáltico.
Será observada a influência que essas fibras vegetais trazem ao desempenho das misturas asfálticas,
atuando no intertravamento dos agregados normalmente utilizados e os possíveis ganhos nas
propriedades mecânicas dessas misturas. Neste estudo, será avaliado o comportamento das novas
misturas, por meio dos principais ensaios que caracterizam a tecnologia específica da área de
aplicação (pavimento).
3. MÉTODOS
Para analisar o efeito do resíduo industrial no concreto asfáltico, foi necessário, inicialmente, definir
a mistura asfáltica a ser estudada sem a inclusão a fim de determinar o esqueleto mineral e teor de
asfalto de projeto. Após isso, a inclusão foi acrescentada, e, então, foram moldados novos corpos de
prova para serem submetidos aos ensaios finais e análise de resultados.
3.1. Caracterização e estudo da mistura
Inicialmente, os materiais foram ensaiados a fim de ter a caracterização de cada conforme a tabela
1. Os materiais usados na composição da mistura foram: pó de pedra (areia artificial), brita 0 e
brita1. Foram calculadas as massas específicas reais do agregado miúdo e dos agregados graúdos.
[5], [6] Em seguida, foram calculadas as massas específicas aparentes dos mesmos. [7], [8] Para o
material pulverulento, considerou-se o material retido na peneira de 0,075mm para o agregado
miúdo e na peneira de 1,2mm para os graúdos. [9]
Tabela 1- Caracterização dos materiais
Figura 1 - Método de mistura por tentativas com valores escolhidos e composição granulométrica
3.2. Confecção dos corpos de prova
Com o traço do esqueleto mineral definido, houve a confecção das misturas de agregados para os
corpos de prova (CPs) através dos valores retidos na peneira conforme a tabela 2, totalizando
1150,0 g cada.
Tabela 2 - Determinação dos valores retidos por peneira para confecção dos CPs
Confecção dos CPs traço 25-28-47
Peneiras Mistura Peso CP (g): Peso do CP
Polegadas mm % % Retido % 1150,0 acumulado
Passante Acumado Retido
1” 25,40 100,0 0,0 0,0 - -
¾” 19,10 95,6 4,4 4,4 Entre 25 e 19 mm 50,8 50,8
3/8” 9,50 71,0 29,0 24,5 Entre 19 e 9,5 mm 282,2 332,9
Nº 4 4,80 47,2 52,8 23,9 Entre 9,5 e 4,8 mm 274,7 607,7
Nº 10 2,00 32,5 67,5 14,7 Entre 4,8 e 2 mm 168,9 776,6
Nº 200 0,07 3,0 97,0 29,5 Entre 2,0 e 338,8 1115,4
0,075mm
Fundo - 0,0 100,0 3,0 Entre 0,075 mm e 34,6 1150,0
fundo
Densidade Aparente
Nº Teor de Determinação da Altura Média Peso
do Asfalto (cm) Diamêtro Peso Peso Úmido Densidade
CP (%) H1 H2 H3 H4 Hmed (cm) Seco (g) Imerso (g) (g) Aparente
1 4,5 6,51 6,51 6,51 6,5 6,51 10 1192,2 704,6 1203,2 2,391
2 4,5 6,4 6,45 6,44 6,42 6,43 10 1194,2 708,9 1201,7 2,423
3 5 6,43 6,43 6,45 6,45 6,44 10 1205,4 717 1211,2 2,439
4 5 5,88 5,89 5,9 5,93 5,90 10 1103,2 658,3 1107,2 2,458
5 5,5 6,48 6,51 6,49 6,5 6,50 10 1215,8 723,6 1221,1 2,444
6 5,5 6,42 6,42 6,41 6,41 6,42 10 1213 725 1219,3 2,454
7 6 6,46 6,45 6,51 6,46 6,47 10 1184 702,3 1188,8 2,434
8 6 6,27 6,28 6,3 6,28 6,28 10 1196,1 714,4 1202,1 2,453
Outro parâmetro utilizado no estudo do teor de projeto é a densidade máxima medida (DMM) dos
corpos de prova moldados. Foram ensaiados, então, um CP de 4,5% de teor de asfalto e outro de
6,0%. Utilizaram-se, no ensaio, o picnômetro, a mesa vibratória e a bomba de vácuo. [12] Com isso,
as DMMs foram:
− 4,5%: DMM= 2,556 g/cm³;
− 6,0%: DMM= 2,502 g/cm³.
A dosagem realizada busca definir o teor de ligante de projeto, ainda sem a presença de inclusões.
Assim, a partir da caracterização das amostras, dos pesos (seco, úmido e imerso), da interpolação
para obtenção da densidade máxima medida para cada teor, bem como os valores da massa
específica real e aparente definidos na tabela 1, foi possível determinar parâmetros da mistura: o
teor de vazios (figura 3), a relação betume vazios (figura 4), a densidade aparente dos agregados
(tabela 3), a densidade aparente da mistura asfáltica (figura 5), e a porcentagem de vazios do
agregado mineral (figura 6). Com tais parâmetros, definiu-se o teor ótimo de asfalto para a mistura
como 4,9% conforme figura 3.
Densidade Aparente
Nº Teor de Teor de Determinação da Altura Média Peso Peso Peso
do Asfalto Resíduo (cm) Diamêtro Seco Imerso Úmido Densidade
CP (%) (%) H1 H2 H3 H4 Hmed (cm) (g) (g) (g) Aparente
1 4,9 0 6,49 6,5 6,48 6,47 6,49 10 1204,1 716,5 1209,3 2,443
2 4,9 0 6,44 6,46 6,46 6,45 6,45 10 1199,3 710,2 1202,6 2,436
3 4,9 0 6,38 6,37 6,3 6,34 6,35 10 1195,6 711,4 1198,9 2,453
4 4,9 0,5 6,66 6,59 6,64 6,71 6,65 10 1204,3 707,3 1211,6 2,388
5 4,9 0,5 6,53 6,59 6,54 6,52 6,55 10 1201,4 710,2 1206,8 2,419
6 4,9 0,5 6,65 6,65 6,63 6,68 6,65 10 1207,9 710 1217,8 2,379
7 4,9 1 6,85 6,88 6,85 6,86 6,86 10 1240,8 723,3 1249,8 2,357
8 4,9 1 6,85 6,86 6,81 6,81 6,83 10 1211,9 704,2 1219,8 2,350
9 4,9 1 6,71 6,71 6,72 6,74 6,72 10 1216,7 712,4 1224,5 2,376
10 4,9 2 6,92 6,88 6,9 7 6,93 10 1218,1 699,9 1234,5 2,279
11 4,9 2 6,96 7,08 6,99 7 7,01 10 1227,9 709,4 1241,2 2,309
12 4,9 2 7,12 7,07 7,07 7,15 7,10 10 1228 704,4 1242 2,284
4. RESULTADOS
Foram realizados posteriormente à moldagem dos novos CPs, os ensaios de Módulo de Resiliência
e Resistência à Tração por Compressão Diametral, nessa ordem. [13], [14] Esses ensaios servem
como base para a determinação da aplicação prática do resíduo na mistura de concreto asfáltico. Os
resultados estão apresentados nas tabelas 5 e 6.
Tabela 5 - Módulos de Resiliência
Módulo de Resiliência
Módulo de
Teor de Módulo de
CP Altura Diâmetro Resiliência
Resíduo Resiliência
n° (cm) (cm) Médio
(%) (MPa)
(MPa)
CP01 6,49 10,00 0,0 8020
CP02 6,45 10,00 0,0 8778 8299
CP03 6,35 10,00 0,0 8099
CP04 6,65 10,00 0,5 7915
CP05 6,55 10,00 0,5 7182 7675
CP06 6,65 10,00 0,5 7928
CP07 6,86 10,00 1,0 6874
CP08 6,83 10,00 1,0 6307 6885
CP09 6,72 10,00 1,0 7474
CP10 6,93 10,00 2,0 4996
CP11 7,01 10,00 2,0 4269 4740
CP12 7,10 10,00 2,0 4954
6. CONCLUSÃO
Para a mistura em estudo, foram obtidos 8299 MPa de Módulo de Resiliência e 1,96 MPa de
Resistência à Tração por Compressão Diametral sem a aplicação de resíduos. Ao aplicá-los, os
valores sofreram decréscimo e variaram de 7675 MPa a 4740 MPa para o Módulo de Resiliência e
de 1,81 MPa a 1,22 MPa para Resistência à Tração no intervalo de 0,5% a 2,0% de resíduos. É
notável que esses valores atendem as normas de concreto asfáltico e, assim, há a possibilidade de
uma possível aplicação prática dessa inclusão, visto que ela não causa dano à mistura. Essa
aplicação geraria a redução do volume de resíduos a ser descartado pela indústria e do impacto
ambiental gerado por um resíduo com asfalto em sua constituição. Entretanto, deve ser ressaltada a
importância de mais estudos envolvendo tais inclusões para que, então, seja analisada a aplicação
das mesmas na construção de pavimentos de concreto asfáltico.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Visão da indústria brasileira sobre a
gestão de resíduos sólidos. Brasília. 2014. 218p. Disponível em: <
http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00006221.pdf>. Acesso em: 13/06/2018.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10.004: Resíduos Sólidos –
Classificação. Rio de Janeiro, 2004, 71p.
[3] SILVA, O. H. da; UMADA, M. K.; POLASTRI, P.; NETO, G. de A.; ANGELIS, B. L. de;
MIOTTO, J. L. Etapas do gerenciamento de resíduos da construção civil. Revista Eletrônica em
Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental, Santa Maria, v. 19, p. 39-48, 2015. Disponível em:
https://periodicos.ufsm.br/reget/article/viewFile/20558/pdf. Acesso em: 13/06/2018.
[4] BRASIL. Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Planalto, Presidência da República, Casa
Civil, Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 05/05/2018.
[5] DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. ME 084: Agregado miúdo
– determinação da densidade real. Rio de Janeiro, 1995, 3p.
[6] DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. ME 081: Agregados –
determinação da absorção e da densidade de agregado graúdo. Rio de Janeiro, 1998, 6p.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 52: Agregado miúdo -
determinação da massa específica e massa específica aparente. Rio de Janeiro, 2009, 6p.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 53: Agregado graúdo -
determinação da massa específica, massa específica aparente e absorção de água. Rio de Janeiro,
2009, 8p.
[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 46: Agregados –
determinação do material fino que passa através da peneira 75um, por lavagem. Rio de Janeiro,
2003, 6p.
[10] DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. 031:
Pavimentos flexíveis – Concreto asfáltico – Especificação de serviço. Rio de Janeiro, 2006, 14p.
[11] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D 2726-00: Standard Test
Method for Bulk Specific Gravity and Density of Non-Absorptive
Compacted Bituminous Mixtures. Pensilvânia, EUA, 2000.
[12] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15619: Misturas Asfálticas –
Determinação da densidade máxima teórica e da massa específica máxima teórica em amostras não
compactadas. Rio de Janeiro, 2016, 7p.
[13] DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. ME 135:
Pavimentação asfáltica – Misturas asfálticas – Determinação do módulo de resiliência – Método de
ensaio. Rio de Janeiro, 2017, 13p.
[14] DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. ME 136:
Pavimentação asfáltica – Misturas asfálticas – Determinação da resistência à tração por compressão
diametral – Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2017, 9p.
ESTUDO COMPARATIVO DA ADERÊNCIA DE ARGAMASSA COLANTE
APLICADA EM BLOCOS ESTRUTURAIS DE CONCRETO E PAREDES DE
CONCRETO MOLDADAS IN LOCO
Rodolfo Rabelo Neves 1, Patrícia Vasconcelos de Oliveira 2, Guilherme Augusto Martins Moreira3,
Beatriz Menezes Santos4, Antônio Neves de Carvalho Júnior5
1 Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, rodolforabelon@gmail.com
2
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, eng.patriciavasconcelos@gmail.com
3
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, guilhermemoreirabh@gmail.com
4
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, beatriz.menesan@gmail.com
5
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, antonio@demc.ufmg.br
Abstract: Laying ceramic tile without the use of plaster mortar needs to consider substrates’
peculiarities where it will be applied. The substrate concrete blocks used in structural masonry and
in site molded concrete walls’ substrate have different aspects that may or not contribute to coating
system’s performance. This study’s objective is to perform a comparative study of these substrates
in relation to their influence on adhesive mortar’s adhesion, pointing out characteristics of each one
that may influence that. The data analyzed were obtained by pull-off strength tests. Ceramic pull-off
tests were carried out on both substrates, evaluating the performance for different execution
techniques and types of adhesive mortar. Results’ variations occurred due to the executive
procedure, especially. The combination of factors such as non-breaking of mortar cords and
bonding method were shown to be responsible for poor performance of specimens that did not
achieve normative requirements for pull-off strength. After analyzing results, it was concluded that
laying ceramics tiles directly on concrete blocks of structural masonry presented better results than
those applied on the concrete walls. It was also observed that both substrates allowed normative
requirements to be met for the executive procedure utilized for this study.
Keywords: Adhesion, ceramic tile, porous subtracts, concrete wall castes in place, concrete blocks.
1. INTRODUÇÃO
A industrialização da construção civil tem levado à procura de métodos construtivos mais
racionalizados e que permitam a mecanização do projeto para a construção em série [1]. Neste
contexto, os sistemas construtivos “Parede de concretos moldada in loco” e “Alvenaria estrutural”,
são soluções amplamente utilizadas.
O sistema construtivo “Paredes de concreto” é um método de construção racionalizado que oferece
produtividade, qualidade e economia de escala. A moldagem in loco dos elementos estruturais e de
vedação é a principal característica desse sistema construtivo [2]. No geral, este sistema construtivo
possui paredes e lajes com espessura de 10 cm. A resistência característica à compressão do
concreto, aos 28 dias, é de 25 MPa e a resistência mínima do concreto na desenforma, a 15 horas, é
de 1,8 MPa. A consistência especificada para o concreto é de 22 ± 2 cm (slump test) [3]. O concreto
autoadensável tem sido um dos mais utilizados neste tipo de obra [2].
Segundo Neville e Brooks (2010), há uma relação água/cimento mínima necessária à hidratação
completa do cimento que é de aproximadamente 0,36, em massa. Abaixo desse valor não há espaço
suficiente para a acomodação de todos os produtos de hidratação. Ainda de acordo com estes
autores, há, também, uma relação entre a porosidade e o fator a/c. O aumento desde fator propicia o
aumento da porosidade e, também, a redução da resistência à compressão do concreto (Lei de
Abrams). Assim, para as paredes de concreto moldadas in loco, a utilização de concretos
autoadensáveis e a utilização de aditivos superplastificantes propiciam concretos pouco porosos.
No sistema construtivo “Alvenaria estrutural” é um método racionalizado de construção que se
constitui de um conjunto de peças justapostas coladas em sua interface, por uma argamassa
apropriada, formando um elemento vertical coeso. Os principais componentes empregados na
execução de edifícios de alvenaria estrutural são os tijolos ou blocos (que podem ser de concreto ou
cerâmicos), a argamassa, o graute e a armação. É comum, também, a presença de elementos pré-
fabricados como vergas, contravergas, coxins, etc.[5].
Segundo a American Society for Testing and Materials – ASTM C67, a absorção inicial dos blocos
de concreto corresponde à capacidade de sucção do bloco, sendo um indicador importante para
definir o potencial de aderência do bloco com uma argamassa com retenção adequada. Segundo
essa norma, os blocos de concreto devem apresentar uma taxa de absorção inicial de sucção em
torno de 0,265g/cm2/min. Já de acordo com a NBR 6136:2007, os blocos vazados de concreto
devem atender aos limites de absorção de 10% para aqueles que utilizam agregado normal, e, para
aqueles que utilizam agregado leve, a absorção média deves ser 13% e a absorção individual
16%.
A absorção é influenciada pela porosidade dos blocos sendo mais alta para blocos mais porosos.
Assim é importante que se encontre o ponto de equilíbrio entre porosidade e absorção, uma vez que
a absorção na quantidade certa favorece a penetração dos aglomerantes que ao endurecer tornam
monolítico o conjunto blocos, argamassa, revestimento. Entretanto, quando a absorção é muito alta,
esta pode comprometer as reações químicas necessárias ao endurecimento. Assim, para se garantir o
equilíbrio é importante utilizar uma argamassa com características de retenção adequada [7].
A aderência da argamassa ao substrato pode ocorrer por sistemas mecânicos e químicos. O sistema
mecânico de aderência envolve o transporte de fluidos e dos finos da argamassa para a interface da
argamassa/base seguido da hidratação dos materiais cimentícios [8]. A pasta aglomerante ou a
própria argamassa penetram nos poros e cavidades da base precipitando produtos da hidratação do
cimento e da cal. Com a cura, esses precipitados intercapilares passam a exercer funções de
ancoragem da argamassa à base [9]. Já no sistema químico a aderência advém de forças covalentes
ou forças de Van der Waals desenvolvidas entre o substrato e os produtos da hidratação do cimento
[10].
O objetivo geral deste trabalho é avaliar a resistência de aderência das argamassas de revestimento
aplicadas sobre paredes de concreto e sobre blocos de concreto de alvenaria estrutural, a fim de se
realizar um comparativo dos valores de aderência alcançados nestes substratos.
2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL
2.1. Materiais
Para a realização dos ensaios foram utilizadas argamassas colantes do tipo II (ACII) e do tipo III
(ACIII). Trata-se de argamassas industrializada com características de adesividade que permitem
absorver os esforços existentes em revestimentos de pisos e paredes internos e externos sujeitos a
ciclos de variação termoigrométrica e a ação do vento. A argamassa do tipo III: apresenta aderência
superior em relação à argamassa do tipo II [11].
2.2. Método
Todos os ensaios abordados neste estudo foram realizados em obra. A metodologia para realização
deste estudo contemplou a realização de ensaios de arrancamento cerâmico para determinação de
resistência de aderência à tração, conforme a NBR 13.754:1996. Os procedimentos descritos por
esta norma serão descritos a seguir.
O ensaio de determinação de resistência de aderência à tração foi realizado com a utilização de
macaco hidráulico provido de manômetro. Os corpos de prova possuem dimensões máximas
100mm de lado, seção quadrada. Para a realização dos ensaios foram definidos seis corpos de
prova, para cada situação.
Deve-se estender a argamassa colante com o lado liso da desempenadeira, apertando-a de encontro
à base, formando uma camada uniforme de cerca 3 mm a 4 mm de espessura. Sabendo-se que os
corpos de prova possuem seção quadrada de 100mm de lado, a desempenadeira indicada é com
dentes 6 mm x 6 mm x 6 mm. A seguir, aplicar o lado denteado, formando cordões.
Cada placa cerâmica, seca e limpa, deve ser aplicada sobre os cordões de argamassa colante
ligeiramente fora de posição. Em seguida, pressiona-se, arrastando a placa cerâmica
perpendicularmente aos cordões at8 sua posição final. Atingida esta posição, procede-se com a
aplicação de vibrações manuais de grande frequência, transmitidas pelas pontas dos dedos,
procurando obter a maior acomodação possível, que pode ser constatada quando a argamassa
colante fluir nas bordas da placa cerâmica.
Cola-se uma pastilha metálica no revestimento cerâmico com a utilização de cola à base de resina
epoxídica. Utiliza-se uma pastilha metálica com 100 mm de lado, não deformável, que possui, em
seu centro, dispositivo que permita acoplamento do equipamento de tração.
Após a colagem da pastilha no revestimento cerâmico e secagem da cola, deve-se cortar o
revestimento utilizando o contorno da pastilha como guia para o disco.
Procede-se para a realização do ensaio no qual se deve acoplar o equipamento à pastilha metálica e,
em seguida, aplicar a carga de maneira gradual, sem interrupções, sendo a taxa de carregamento de
250 (± 50) N/s. O esforço de tração deve ser aplicado perpendicularmente ao corpo-de-prova até
ocorrer a ruptura.
Em seguida, deve-se analisar o corpo de prova para verificar se há alguma falha de colagem da
pastilha. Caso alguma falha desta natureza tenha ocorrido, o resultado é rejeitado e um novo
arrancamento deverá ser realizado.
A ruptura tendo ocorrido sem falhas na colagem da pastilha no corpo de provas, deve-se proceder
para a análise da forma de ruptura do corpo-de-prova. A ruptura poderá ocorre, aleatoriamente, das
seguintes maneiras:
Ruptura do substrato (S);
Ruptura na interface argamassa e substrato (S/A);
Ruptura na camada de argamassa colante (A);
Ruptura na interface argamassa e placa cerâmica (A/P);
Ruptura da placa cerâmica (P);
Falha na colagem da peça metálica (F).
A avaliação dos resultados deste estudo também foi feita com base nos requisitos da NBR
13.754:1996. Consideradas seis determinações da resistência de aderência, após a cura de 28 dias da
argamassa colante utilizada no assentamento, será considerado aprovado aquele revestimento que,
em pelo menos quatro valores do ensaio de arrancamento, foram verificadas resistências de
aderência à tração iguais ou maiores que 0,3 MPa.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em todos os ensaios realizados nas obras de “Parede de Concreto” pressupôs-se que todos os
revestimentos haviam sido assentados utilizando-se dupla colagem. Esta técnica de assentamento de
peças cerâmicas consiste no espalhamento de duas camadas de argamassa colante, uma no tardoz da
peça, outra na superfície da base suporte do revestimento, com o objetivo de maximizar a aderência.
1 0,77
Resistência de aderência à
0,8
0,55
tração (MPa)
0,48
0,5
0,5
0,45
0,6
0,38
0,38
0,37
0,36
0,36
0,34
0,34
0,34
0,32
0,31
0,31
0,27
0,27
0,3
0,3
0,3
0,3
0,4
0,24
0,23
0,18
0,16
0,15
0,15
0,14
0,13
0,12
0,06
0,1
0,2
0,04
0,03
0
1 2 3 4 5 6
Corpo de prova
ENSAIO 01 ENSAIO 02 ENSAIO 03 ENSAIO 04 ENSAIO 05 ENSAIO 06
Observa-se no Gráfico 1 que 21 dos 36 corpos de prova ensaiados atingiram o valor mínimo de
resistência de aderência à tração exigido pela NBR 13.754:1996, que é de 0,3 MPa.
Considerando este critério foi elaborado o Gráfico 2 que permite visualizar as médias das
resistências de aderência obtidas nos ensaios a fim de se verificar como estes ensaios se
comportaram em relação à norma supracitadas.
0,50
Resistência de aderência à tração
0,40
0,40 0,35
0,31 0,33
NBR 13.574
0,30 0,24
0,3 MPa
(Mpa)
0,20
0,12
0,10
0,00
ENSAIO 01 ENSAIO 02 ENSAIO 03 ENSAIO 04 ENSAIO 05 ENSAIO 06
Média NBR 13.574
O Ensaio 01 teve três corpos de prova que não atingiram a resistência de aderência à tração
requisitada pela norma. Todos os corpos-de-prova reprovados neste ensaio tiveram rompimento na
interface cerâmica com argamassa colante (Figura 1 (a)).
Observa-se no Ensaio 02, que mesmo aqueles resultados que não atingiram os 0,3 MPa de
resistência de aderência à tração ainda obtiveram valores de aderência próximos ao mínimo exigido
pela norma. O mesmo comportamento se observou no Ensaio 04 e no Ensaio 06.
Em relação ao Ensaio 03, três corpos-de-prova foram reprovados. Para este ensaio o rompimento
destes se deu na interface cerâmica com argamassa colante para um corpo-de-prova (pior resultado)
e na interface da argamassa colante com a parede de concreto para outros dois (Figura 1 (c)).
O Ensaio 05 foi o que apresentou os resultados mais críticos, não tendo nenhum corpo-de-prova que
atingiu os requisitos de desempenho mínimos estabelecidos pela normatização brasileira. As
interfaces de ruptura são apresentadas na Figura 1 (e). Em relação ao corpo-de-prova 01 (CP 01),
apesar de se poder observar que houve a dupla colagem, também está evidente que não houve o
rompimento dos cordões da argamassa colante, evidenciando mais uma falha na execução. Para este
CP o rompimento se deu, majoritariamente, na interface da argamassa colante com a parede de
concreto. O CP 02 teve rompimento total na interface da argamassa colante com a parede de
concreto. O CP 03 também se rompeu na interface da cerâmica com a argamassa colante, podendo-
se verificar, também, a existência de cordões de argamassa que não foram rompidos. Em relação ao
CP 04, novamente nota-se que há a presença de cordões de argamassa não rompidos em toda a
superfície da cerâmica, sendo que o rompimento se deu na interface da argamassa colante com a
parede de concreto. O CP 05 teve rompimento total na interface da cerâmica com a argamassa
colante. Por fim, o CP 06 rompeu-se, majoritariamente, na interface da cerâmica com a argamassa
colante, podendo-se, também, verificar a existência de cordões de argamassa colante que não foram
rompidos.
Figura. 1 – Rupturas dos corpos de prova - substrato “parede de concreto” . (a) Ensaio 1, (b) Ensaio 2, (c) Ensaio
3, (d) Ensaio 4, (e) Ensaio 5 e (f) Ensaio 6
Com relação aos comportamentos dos rompimentos, observa-se que a maior parte se deu na
interface cerâmica/argamassa colante. Conforme foi possível observar durante a realização dos
ensaios houve falhas de execução que influenciaram no desempenho do sistema de revestimento, a
saber: execução de colagem simples ao invés de colagem dupla e; não rompimento dos cordões de
argamassa colante (ver Figura 1).
Em se tratando do tipo de colagem, embora tivesse sido informado, a priori, que se tratava de
colagem dupla, pôde-se observar após os arrancamentos em dois dos ensaios que nem todos os
corpos-de-prova foram assentados dessa maneira. Entretanto, o ensaio que apresentou os piores
resultados (Ensaio 05), foi realizado com dupla colagem. Isso pode ser um indicador que este não
seja o problema que leva às maiores perdas de resistência de aderência.
O outro problema verificado, o não rompimento dos cordões de argamassa, pode indicar duas falhas
de execução. A primeira delas se refere ao não atendimento dos limites de tempo em aberto para
argamassas. Conforme um estudo publicado por GOMES (2013), a perda de resistência de
aderência de placas assentadas depois de excedido o tempo em aberto está relacionado com a
formação de uma película superficial que interfere na adesão da argamassa colante. A segunda falha
pode estar relacionada à inexperiência do operário, que não se atentou para a necessidade de
rompimento dos cordões. O mesmo deveria ter pressionado e arrastado perpendicularmente a placa
cerâmica, até sua posição final, e, em seguida, deveria ter aplicado vibrações manuais de grande
frequência (transmitidas pela ponta dos dedos), a fim de se garantir o rompimento de todos os
cordões de argamassa e melhor acomodação da placa.
A não observância destes procedimentos executivos pode ter sido um dos fatores responsáveis pelo
mau desempenho dos revestimentos.
Ainda em relação ao comportamento dos rompimentos, o segundo mais frequente foi o rompimento
na interface argamassa colante com revestimento. A aderência das argamassas no substrato pode ter
sido comprometida pela existência de camadas superficiais de desmoldante, utilizado nas formas
metálicas. Isto pode ter representado uma barreira para ancoragem do revestimento à base.
Uma pesquisa realizada por Carasek et al. (2001) mostrou que em relação à aderência da argamassa
no substrato concreto, o processo de descolamento da argamassa apresenta um comportamento
heterogêneo. Os autores puderam observar que, em um mesmo pano de revestimento aplicado sobre
estrutura de concreto, havia regiões com boa aderência e outras totalmente descoladas, às quais
chamaram de bolsões de descolamento. Ainda segundo esta pesquisa, estes bolsões ficaram
caracterizados por apresentar alta variabilidade dos resultados de resistência de aderência. Em
relação a esta variabilidade, os autores observaram que o desmoldante quando aplicado sobre a
superfície da fôrma de concreto tende a concentrar-se em regiões localizadas, provavelmente devido
a algum efeito físico entre o líquido e a superfície da fôrma. Assim, o óleo desmoldante se espalha
de maneira heterogênea na fôrma, sendo que o concreto também se mostrou de igual modo
heterogêneo quanto à concentração de desmoldante em sua superfície. Esta concentração
diferenciada afeta a homogeneidade de sucção do substrato no tocante à sua área superficial e, com
isto, tem-se explicada em grande parte a ocorrência dos “bolsões” de descolamento, pelo menos em
uma primeira instância de avaliação.
Além da presença do óleo desmoldante, outra característica das obras de Parede de Concreto que
podem ter contribuído para que alguns corpos-de-prova não atingissem a resistência de aderência
mínima é a menor porosidade do substrato.
Os resultados da pesquisa descrita nos parágrafos anteriores podem contribuir para a constatação de
quais são os fatores que influenciam na aderência da argamassa colante ao substrato parede de
concreto. Além dos problemas executivos, já mencionados, a falta de preparação da base e remoção
do óleo desmoldante podem ser fatores que contribuem para falhas na aderência.
Entretanto, como se pôde observar nos ensaios aprovados, a aplicação do revestimento cerâmico
diretamente sobre o substrato parede de concreto é viável, sendo necessário tomar os cuidados
relativos à preparação da base e execução do revestimento cerâmico para se garantir o cumprimento
das exigências normativas.
Nos ensaios realizados nas obras alvenaria de blocos de concreto foram utilizados dois tipos de
argamassa, ACII e ACIII, e houve a utilização de técnica de colagem simples e de colagem dupla.
Os ensaios foram realizados utilizando-se argamassa colante aplicada diretamente sobre o substrato
bloco de concreto, não existindo as camadas de emboço ou reboco. O Gráfico 3 apresenta os
resultados de resistência de aderência à tração para os seis corpos de prova, em cada um dos ensaios
para o substrato “bloco de concreto”.
1
Resistência de aderência à
0,8
0,62
0,61
0,59
0,59
0,58
0,56
0,56
0,6
0,54
0,53
tração (MPa)
0,48
0,48
0,46
0,5
0,5
0,5
0,6
0,43
0,42
0,42
0,42
0,41
0,31
0,31
0,28
0,28
0,27
0,25
0,4
0,23
0,23
0,22
0,21
0,16
0,2
0,15
0,11
0,2
0,03
0
1 2 3 4 5 6
Corpo de prova
ENSAIO 01 ENSAIO 02 ENSAIO 03 ENSAIO 04 ENSAIO 05 ENSAIO 06
Observa-se no Gráfico 3 que, considerando os requisitos da NBR 13.754:1996, cujo valor exigido
para a resistência de aderência à tração é de 0,3 MPa, grande parte dos corpos de prova conseguiu
atender o valor de resistência ao arrancamento exigido.
Considerando o critério de resistência de aderência à tração da norma, foi elaborado o Gráfico 4 que
permite visualizar as médias das resistências de aderência obtidas nos ensaios a fim de se verificar
como estes se comportam em relação ao requisito normativos.
Resistência de aderência à tração
0,50
0,43 0,43
0,43 0,38
0,40 0,36
0,32 NBR 13.574
0,30
(Mpa)
0,3 MPa
0,20
0,10
0,00
ENSAIO 01 ENSAIO 02 ENSAIO 03 ENSAIO 04 ENSAIO 05 ENSAIO 06
Média NBR 13.574
O Ensaio 01 foi realizado com argamassa ACII (dupla camada) e apresentou dois resultados de
resistência de aderência à tração abaixo do mínimo. Para estes corpos de prova a ruptura se deu na
superfície da cerâmica. Neste caso de ruptura, a falha se devido à imperfeição na colagem da
pastilha. Para estes casos, a NBR 13754:1996 diz que o resultado deverá ser desprezado se menor
que 0,3 MPa, o que aconteceu.
Os Ensaios 02 e 03 também realizados com a utilização de ACII, sendo que no Ensaio 02 utilizou-
se camada única de colagem e no Ensaio 03, colagem dupla. Nos Ensaios 05 e 06, foi utilizada a
argamassa colante ACIII, sendo o Ensaio 05 realizado com colagem dupla e o Ensaio 06, colagem
simples. Para estes ensaios o mesmo padrão de ruptura que ocorreu no Ensaio 01 se repetiu. Em
todos os corpos-de-prova que não atingiram a aderência mínima de norma, a ruptura se deu na
interface cola/placa cerâmica. Assim como já descrito, os resultados do arrancamento destes corpos-
de-prova foram desprezados.
O Ensaio 04 foi realizado com a utilização de argamassa ACII e foi utilizada colagem única da
cerâmica. Conforme se pode observar na Figura 1 (d), os corpos-de-prova que não tiveram bom
desempenho foram aqueles onde se verificou que os cordões de argamassa não haviam sido
completamente desfeitos.
É interessante observar que apesar de se ter utilizado argamassa ACIII nos Ensaios 05 e 06, os
resultados de aderência à tração obtidos não se diferem muito daqueles outros ensaios nos quais se
utilizou argamassa colante ACII. Conforme já apresentado neste trabalho, a superfície do bloco de
concreto é bastante porosa, e isso propicia uma melhor ancoragem mecânica da argamassa ao
substrato.
Além disso, a utilização de colagem única nos Ensaios 02 e 06 foi suficiente para garantir que estes
ensaios fossem aprovados de acordo com os requisitos da NBR 13754:1996.
Figura. 1 – Rupturas dos corpos de prova - substrato “bloco de concreto”. (a) Ensaio 1, (b) Ensaio 2, (c) Ensaio 3,
(d) Ensaio 4, (e) Ensaio 5 e (f) Ensaio 6
Assim como já dito, é de suma importância que as boas práticas de execução do revestimento sejam
respeitadas. O não rompimento dos cordões pode ter ocorrido, novamente, ou por não respeitar o
tempo em aberto ou devido à falha de assentamento por parte do operário.
Os bons resultados obtidos para os ensaios de revestimentos aplicados diretamente sobre os blocos
de concreto podem ser explicados pelo fato de os blocos de concreto possuírem uma maior
rugosidade superficial e uma textura que favorece o intertravamento da própria argamassa, além de
permitir uma melhor penetração da pasta aglomerante no interior do bloco, causando a ancoragem
[14].
0,35 0,36
0,35 0,31 0,33 0,32
0,30
0,24
0,25
0,20
0,15 0,12
0,10
0,05
-
Ensaio 01 Ensaio 02 Ensaio 03 Ensaio 04 Ensaio 05 Ensaio 06
Se formos observar a média geral de resistência de aderência para ambos os sistemas construtivos, a
média manteve-se próxima ao mínimo estabelecido pela norma, que é 0,3 MPa (NBR 13754:1996).
A parede de concreto, apesar de ter obtido uma média pouco abaixo do mínimo estabelecido pela
norma, merece atenção especial. Como se observou nos Ensaios 01, 03 e 05 este substrato pode
apresentar resultados de resistência de aderência muito inferiores ao estabelecido por norma, sendo
necessários cuidados durante a execução do sistema de revestimento para evita-los. O Gráfico 6, faz
um comparativo dos resultados médios de aderência por sistema construtivo.
0,50
Aderência (MPa)
Resistência de
0,39
0,40
0,29
0,30
0,20
0,10
0,00
Em relação às interfaces de ruptura houve uma diferença significativa entre “parede de concreto” e
os blocos de concreto. O Gráfico 7 permite observar, de modo geral, como se deram as rupturas
para os sistemas construtivos tratados neste trabalho. Em 44% dos corpos de prova referentes à
“parede de concreto” o rompimento se deu na interface argamassa com o substrato. Em segundo
lugar, com 36%, se deram as rupturas na interface da cerâmica com a argamassa colante. Estes
resultados podem ser consequência da menor porosidade do substrato “parede de concreto” e,
também, pela presença do óleo desmoldante que pode ser um fator inibidor de aderência.
Entretanto, aconselha-se realizar estudos específicos mais aprofundados para se certificar quanto a
estas suposições.
100%
80% 72%
60%
44%
36%
40%
20%
20% 11% 8% 7%
0% 2%
0%
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aderência de argamassas possui diversos fatores que podem influenciar no bom desempenho do
sistema de revestimento. Desde condições ambientais, método executivo e experiência do
funcionário que irá assentar a cerâmica, até mesmo devido às propriedades do próprio material,
como porosidade, absorção e rugosidade superficial.
A realização dos ensaios permitiu perceber que tanto as cerâmicas aplicadas diretamente sobre
paredes de concreto moldadas in loco quanto aquelas aplicadas sobre os blocos de concreto da
alvenaria estrutural podem apresentar bom desempenho, considerando as condições de execução
utilizadas neste estudo. Propriedades da argamassa colante, como o tempo em aberto, e cuidados
durante o assentamento do revestimento necessitam ser respeitadas para que se garanta que a
mesma desempenhará corretamente sua função.
Em se tratando do sistema Parede de Concreto, observou-se que os bons resultados no ensaio de
aderência do revestimento cerâmico à tração estavam associados à utilização de dupla camada de
argamassa colante e à correta execução do serviço (rompimento dos cordões de argamassa, por
exemplo). Outros fatores como preparo da base não puderam ser observados com clareza, o que
impede que o mesmo seja indicado como um fator influente nos resultados que não atingiram a
resistência de aderência mínima exigida pela norma brasileira.
Já para o revestimento aplicado diretamente sobre os blocos de concreto da alvenaria estrutural,
obtiveram-se melhores resultados nos testes de resistência aderência à tração. A rugosidade dos
blocos de concreto e sua alta porosidade podem ter sido os fatores de maior relevância para o bom
desempenho nos ensaios.
Considerando os ensaios realizados, pode-se concluir que o desempenho do substrato bloco de
concreto em termos de resistência de aderência à tração foi superior àquele registrado para o
substrato parede de concreto.
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ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS ORGANIZACIONAIS
DAS EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL
Resumo: A maneira como uma empresa organiza-se está diretamente atrelada a sua
eficiência e a sua capacidade de manter-se competitiva durante períodos de crise econômica.
Devido à importância da estrutura organizacional no desempenho das empresas, o presente estudo
tem como objetivo analisar a evolução das características organizacionais das empresas de
construção face às variações econômicas ocorridas no período de 2010 a 2016. O método para a
realização deste estudo foi o Survey, permitindo a obtenção de dados primários de forma
sistematizada. Foram realizadas quatro coletas de dados pelo grupo de pesquisa “Núcleo de
Inovação de Gestão da Construção” (NIGEC), da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, nos
anos de 2010, 2012, 2014 e 2016. No total, foram aplicados 362 questionários em empresas de
construção civil que atuam em Curitiba e região. Os dados foram analisados por intermédio da
estatística descritiva e da análise inferencial não paramétrica. Os resultados mostram, de forma
geral, que as empresas pesquisadas apresentam características consolidadas, permanecendo
imutáveis apesar das grandes variações econômicas ocorridas no período. Entre estas
características, podem-se destacar as estruturas predominantemente centralizadas, a preocupação
permanente com a redução de custos e a atuação em um mercado classificado como imprevisível.
Outras características são diretamente afetadas pelas variações econômicas. Especialmente em
momentos ditos de crise econômica, as empresas tendem a aumentar os níveis de treinamento, a
investir em tecnologias e equipamentos e a estimular a autonomia de seus funcionários. Assim, de
forma geral, as características organizacionais mostram um setor com uma gestão tradicional e
atrasada, mas que em momentos de dificuldades buscam alternativas de modernização para superar
as deficiências e aumentar a competitividade.
Abstract: The way a company organizes itself is directly related to its efficiency and capacity of
remaining competitive during periods of economic crisis. In the face of the importance of
organizational structure in business performance, this study aims to analyze the evolution of the
organizational characteristics of construction companies with regard to the economic environment
variations that took place between 2010 and 2016. The method for conducting this study was the
Survey, allowing primary data to be obtained in a systematized way. Four data collections were
performed by the "Núcleo de Inovação de Gestão da Construção" (Nucleus of Innovation in
Construction Management) - NIGEC, from the Universidade Tecnológica Federal do Paraná, in the
years 2010, 2012, 2014 and 2016. In total, 362 surveys were applied to civil construction companies
that operate in Curitiba and region. The data was analyzed by means of descriptive statistics, non-
parametric inferential analysis, and discriminant analysis. The results show, in general, that those
companies researched display consolidated characteristics, remaining unchanged in spite of the
large economic variations during the period. Among the characteristics, the ones that stand out are
the predominantly centralized structures, the ongoing concern in regards to cost reduction, and
activity in a market classified as unpredictable. Other characteristics are directly affected by
economic variations. Especially in such times of economic crisis, companies tend to increase the
levels of training, to invest in technology and equipment, and to encourage the autonomy of its
employees. Thus, in general, the organizational characteristics show a sector with a traditional and
outdated management, but that in moments of hardship seeks modernization alternatives in order to
overcome deficiencies and increase competitiveness.
1. INTRODUÇÃO
A importância do setor da construção civil no mundo é notória, sobretudo pela sua influência sobre
a economia. Este setor é um dos maiores empregadores industriais em vários países, responsável
por 7% dos postos. Esta cadeia de produção representa cerca de 9% do PIB mundial (HORTA e
CAMANHO, 2014).
No Brasil, a construção civil desempenha um papel importante no contexto econômico. Conforme
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE (2015), no ano de 2014, a
participação do setor da construção civil foi de 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
O setor abriga desde indústrias nas quais são utilizadas tecnologias de ponta e capital intensivo,
como a de cimento, siderurgia e química, até milhares de microempresas de serviços, sendo a maior
parte dessas com baixo conteúdo tecnológico (SOARES et al., 2016).
O setor da construção civil é frequentemente criticado por suas deficiências em relação à eficácia de
suas estratégias (HÅKANSSON; JAHRE, 2005) e ineficiência da sua gestão (RAZAK BIN
IBRAHIM et al., 2010). As empresas da construção civil possuem características organizacionais
variadas. Desta forma, a compreensão do seu funcionamento, assim como de todo o setor da
construção é necessária para identificar deficiência e orientar possíveis melhorias e oportunidades.
Portanto, o objetivo deste trabalho é analisar a evolução das características organizacionais das
empresas da construção civil.
As configurações organizacionais têm sido objeto de estudos desenvolvidos com o propósito de
ampliar o conhecimento acerca dos elementos determinantes do desempenho organizacional
(MINTZBERG, 2003). Uma estrutura organizacional pode ser definida pela delimitação da
atividade, pela escolha dos critérios de departamentalização, pela definição do grau de
formalização, pela decisão quanto à amplitude de controle e cadeia de comando, pela determinação
do nível de descentralização da autoridade, pelo sistema de comunicação, entre outros
(VASCONCELLOS; HEMSLEY, 2002; PELLICER et al., 2014).
Para efeito deste trabalho, a investigação foi delimitada às características organizacionais de
empresas da construção civil, localizadas em Curitiba e região metropolitana, no Estado do Paraná,
através de coletas de dados realizadas nos anos de 2010, 2012, 2014 e 2016.
2. OBJETIVO
O objetivo principal deste artigo é analisar a evolução das características organizacionais das
empresas da construção civil, de diferentes ramos de atuação, localizadas na Região Metropolitana
de Curitiba, no Estado do Paraná.
3. ESTUDOS ORGANIZACIONAIS
Cunha et al. (2007) definem organização como um conjunto de indivíduos que trabalham de forma
coordenada para atingir objetivos comuns. Estas organizações possuem como características
impessoalidade, hierarquia, objetivos, eficiência e fronteira.
Mintzberg (1983) define estrutura organizacional como simplesmente a soma das maneiras pelas
quais o trabalho é dividido em tarefas e como é realizada a coordenação entre essas tarefas. Daft
(2008) corrobora com Mitznberg (1983) e afirma que é imprescindível a assimilação de alguns
conceitos para que seja possível o desenvolvimento de estudos sobre estruturas organizacionais.
No decorrer dos anos, vários autores procuraram identificar os fatores componentes e
condicionantes das estruturas organizacional, apresentados, respectivamente no Quadro 1 e Quadro
2.
Quadro 1 – Fatores componentes da estrutura organizacional.
Especialização do trabalho.
Formalização do comportamento.
Mintzberg (1983) Treinamento e doutrinação.
Agrupamento e tamanho das unidades.
Sistemas de planejamento e controle.
Dispositivos de ligação.
Descentralização vertical e horizontal.
A análise de uma estrutura organizacional deve ser realizada com base
nos aspectos de definição de atividade, escolha dos critérios de
Vasconcellos e Hemsley departamentalização, definição quanto ao nível de centralização,
(1989) amplitude de controle e níveis hierárquicos, além do nível de
descentralização da autoridade, sistemas de comunicação e definição
quanto ao grau de formalização (citado por Perrotti (2004) e Alves
(2010)).
A estrutura organizacional atende a três funções básicas. A primeira
objetiva realizar produtos organizacionais e atingir metas. A segunda
destina-se a minimizar a influência das variações individuais sobre uma
Hall (2004) organização. Por fim, as estruturas são os contextos em que o poder é
exercido, as decisões são tomadas e as atividades são executadas. Tais
estruturas devem levar em conta, além do grau de centralização ou
descentralização, a formalização e a complexidade do negócio, ao que
se chamam de funções da organização.
Fonte: Autores (2018)
Fatores como nível de departamentalização, especialização do trabalho, níveis hierárquicos,
centralização e descentralização e controle sob os funcionários são amplamente citados pelos
autores acima como os principais componentes da estrutura organizacional.
Quadro 2 – Fatores condicionantes da estrutura organizacional.
Problema
Como evoluíram as principais características
organizacionais das empresas de construção civil?
Coleta de dados
• Consulta de questionário s anteriores;
• Aplicação de novos questionário;
• Compilação dos dados;
De acordo com Levin e Rubin (2004), não existe um nível de significância padrão a ser utilizado,
porém um elevado número de pesquisas tem utilizado 5% por ser um nível tão alto que raramente
aceitaria erroneamente a hipótese.
5 ANÁLISE DOS RESULTADOSAnálise das variáveis independentes
O grupo das variáveis independentes é formado por características organizacionais que são fixadas
por decisão de cada empresa. Ele é subdividido em estrutura, forma de gestão, formação de pessoal
e a estratégia
5.1.1 Análise das variáveis relacionadas à estrutura
O teste de Kruskal-Wallis foi utilizado para verificar se todas as amostras possuem funções de
distribuição iguais ou se pelo menos duas possuem distribuições diferentes, conforme Quadro 5.
Quadro 5 – Teste de Kruskal-Wallis – Fator estrutura
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho busca contribuir para que as organizações possam adequar suas características
organizacionais e realizar um planejamento estratégico observando a evolução destas variáveis em
relação às alterações do cenário econômico. Em relação às variáveis independentes, é possível
concluir que as empresas pesquisadas se apresentam centralizadas, independente do momento
econômico, isso aponta que a centralização é uma característica das empresas de construção. A
análise das variáveis dependentes permite concluir que as empresas não alteram suas características
em relação à flexibilidade e à relação de seus funcionários e durante variações econômicas,
apontando essas características, assim como a centralização, como peculiar das empresas da
construção civil. Diante das evidencias constatadas neste estudo, conclui-se de forma geral que as
empresas do setor da construção civil da região de Curitiba, Estado do Paraná, possuem estruturas
predominantemente centralizadas, porém com grande capacidade de flexibilidade e busca por
aperfeiçoamento de seus funcionários.
REFERÊNCIAS
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REFLEXÕES NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL:
ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO, MÉTODO SHEWART
E LEAN PROCUREMENT
Reflections in the Civil Construction Industry:Production Administration,
Shewart and Lean Procurement
1. INTRODUÇÃO
A dinâmica do mercado da construção civil demanda das empresas atuantes no segmento análises
pertinentes a administração da produção aplicados na construção civil. A administração da
produção comporta a estratégia necessária para a boa administração da produção civil. Com a
gestão da produção da construção civil, alcança-se a efetividade, o consumo consciente dos
materiais, a gestão do tempo e principalmente o atingimento das metas da organização, redução de
custos, produto de qualidade para o cliente e o aumento dos lucros.
Outro fator que contribui no incremento da gestão é a prática do processo de compras enxuto,
também conhecido como lean procurement. Tradicionalmente a atividade de compras tinha a
responsabilidade de prover a aquisição da compra de materiais e serviços no momento requerido,
com o menor custo e maior qualidade para atender as demandas do cliente. Todavia essa atividade
assumiu dimensões de responsabilidade do incremento do fluxo de informações e materiais ao
longo da cadeia de suprimentos como um todo. Logo, a melhor prática na gestão da atividade de
comprar distancia-se do restrito perímetro da negociação contratual, e orienta-se pelo
estabelecimento de fundamentos operacionais demandados, envolvendo a atividade da compra
estratégica como pesquisa de mercado, avaliação de vendedor e integração na cadeia de
suprimentos. Ainda no perímetro de compras, aspectos como nível de inventário, itens críticos no
atendimento das demandas produtivas tem relações com a performance financeira da organização;
além de poder garantir a competitividade. Para completar o viés de análise em termos da construção
civil perpassando a administração da produção e a prática do lean procurement, há a ferramenta
Shewart ou Método PDCA. Esse método auxilia na tratativa de uma atividade, planejamento, ação,
checagem e avaliação. Qualquer atividade que for submetida a essa sequência de ações iniciando
com planejamento adequado a demanda, a execução feita orientada em concordância com o prévio
planejamento, a verificação da atividade feita, e ajuste conforme necessidade existir, terá uma
efetividade de destaque.
O ambiente da indústria da construção civil competitivo que se tornou, clientes demandando níveis
de satisfação mais elevados, requer o emprego de métodos e técnicas que aportem qualidade na
gestão da organização. À vista desses elementos, cabe nos investigar sob quais perspectivas as
contribuições do planejamento e controle da produção na construção em conjunto com boas práticas
da compra enxuta assessorados pelo método Shewart podem cooperar de forma segura para a
efetividade e competitividade da organização da construção civil.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Planejamento e
Capacidade de Integração Recursos
Instalações Tecnologia Organização Qualidade Controle da Novos Produtos
Produção Vertical Humanos
Produção
qual localização definir seu nível, estabelecer determinar precisar esturtura caracterizar como atribuir definir sistemas com qual
Detalhamento
geográfica, como atingir e equipamentos e produção interna organizacional, recrutar, responsabilidades de PCP, política frequência lançar e
tamanho, volume, como promover sistemas, grau de da empresa,o que nível de selecionar, , tipos de de compras e desenvolver
mix de automoção, comprará de centralização, contratar, controles, normas estoques, nível de produtos e qual a
produção,grau de flexibilidade, como terceiros e formas de desenvolver, e ferramentas de informatização relação entre
especialização, atualizar e difundir estabelecer comunicação e avaliar, motivar e decisão, padrões das informações, produtos e
arranjo físico e política com controles de remunerar a mão e formas de definir ritmo de processos
forma de fornecedores atividades de obra comparação produção e
manutençaão controles
Côrrea e Côrrea (2017) afirmam que a gestão de operações consiste na coordenação dos recursos e
processos para a entrega ao cliente do produto. Todavia, a estratégia de operações está relacionada
com “o processo global da função de produção do negócio como um todo” (Côrrea e Côrrea, 2017,
p.35); que envolvem as interfaces do negócio, dar sustentação a área produtiva alinhada com as
mudanças, e não menos importante a criação de competências para a organização e geração de
vantagens competitivas. Para Tubino (2000), os diferentes tipos de sistemas de produção servem de
arcabouço para a compreensão da complexidade dos produtos, tipos de operações requisitadas e
natureza dos produtos.
Já Chiavenato (2014, p.18) contribui que a gestão da produção requer planejamento para alcançar a
eficiência e a eficácia. Eficiência “é a utilização adequada dos recursos empresariais [...] reside em
fazer as coisas corretamente”; e eficácia está ligada “aos objetivos que a empresa pretende alcançar
com suas operações”. A tabela 2 apresenta as características pertinentes à eficiência e eficácia:
Para uma organização é importante ter eficiência e eficácia unidas, pois é a excelência da
organização que é destaque nessa condição. Assim a fig. 1 concatena o alcance dos objetivos com a
utilização dos recursos, com grau de variação de baixo até alto graus. As combinações desses duas
premissas tem condições da organização ser: (i) nem eficaz, nem eficiente; (ii) ser eficaz mas não
eficiente; (iii) ser eficiente mas não eficaz e a (iv) condição que dá excelência para a empresa ser
eficiente e eficaz. (Chiavenato, 2014).
Alta produtividade e
elevado desempenho
Baixo
Segundo Guerrini e Sacomano apud Abenge a ausência de ênfase em produção civil tem levado o
país a perdas na competitividade no setor por não ter conhecimento técnico, lógico-analítico e
humanístico. Dentre os elementos do conhecimento técnico são elencados a elaboração de custos, a
administração da produção, a gestão da produtividade e da qualidade. Para os autores os tempos não
produtivos ao longo do processo produtivo, comprometem a eficácia na execução da obra.
2.2. Lean Procurement
Womack et al (2007), conceberam a caracterização do termo lean ao analisar a indústria
automobilística no mundo com base no Sistema Toyota de Produção, que resulta na eliminação dos
desperdícios, ganhos em produtividade e qualidade. Os referidos autores apresentam o conceito de
“enxuto”, sob a forma de lean production. O objetivo é orientar as organizações e de seus
interessados de como gerir uma produção diversificada, com pequenos lotes, tempo menor de
produção, flexibilidade, qualidade e custo reduzido, para melhor atender seu cliente.
Pascal (2008) corrobora que o Sistema Toyota de Produção (STP) ou produção lean visa produzir
mais com menos recursos de tempo, material, máquinas, espaço, empenho humano, material; e
atender as expectativas do cliente. Para que se produza mais com menos, a premissa é a redução de
desperdícios. O Sistema Toyota de Produção baseia-se em 80% na revogação das perdas, 15% no
sistema produtivo e 5% com o kanban. Nessa linha de raciocínio, a Toyota aplica o princípio do
“não custo”, ou seja, se alguma matéria prima ou componente tem seu preço elevado, a empresa não
aumenta seu preço de revenda para o cliente; e sim a forma de aumentar o lucro é subtrair do preço
de venda o custo, obtendo então o lucro. (Shingo, 1996).
Na esteira do tratamento lean, toda atividade humana que absorve recursos, mas não produz valor é
desperdício, e são situações como retrabalho, produção de itens não solicitados, excesso de itens em
inventário, etapas desnecessárias no processo, movimentação de funcionários, transporte de
mercadorias de uma lado para outro sem demanda, funcionários trabalhando com baixa
produtividade, aguardando os itens dos estágios produtivos prévios porque as atividades anteriores
não foram coordenadas a tempo hábil; e produtos e serviços que não atendem as demandas do
cliente, são todas consideradas como desperdício. (WOMACK et al, 2007).
Em complemento, Shingo (1996) advoga para que uma empresa mantenha ou aumente seus lucros,
faz-se necessário a redução dos custos; toda organização pode eliminar as perdas ou muda, e nas
organizações há dois tipos de operações, conforme a tabela 3:
Tabela 3 – Tipos de operações
Operações que agregam valor Operações que não agregam valor
atividades que modificam a matéria prima, atividades que não agregam valor, como procurar
transformando-a seja na qualidade ou na forma, documentos não arquivados, deslocar-se para buscar
aumentando seu valor material
Wilson e Roy (2009) completam que lean procurement tem definições distintas entre as
organizações; podendo ser considerada como filosofia, cultura de trabalho, técnica, conceito de
gestão, valor, ou uma metodologia. Entretanto existe um denominador comum entre todas as
organizações, a contínua aprendizagem nem sempre de livre vontade dentro das organizações.
Qualquer organização exige comprometimento, disciplina, confiabilidade e apoio dos fornecedores
da rede de suprimentos para ter sucesso. As organizações que implementam a aquisição lean
seguem suas próprias maneiras, implicando que não há dois sistemas de aquisição lean exatamente
iguais; pois cada empresa tem suas questões específicas.
Para Liker (2004), o lean pode ser aplicado de maneira eficiente em todos os processos de negócios,
incluindo o procurement; bem com os relacionamentos com fornecedores que são de grande
importância para o êxito do negócio. O referido autor complementa que o lean é aplicado nas
atividades da organização e que os princípios, métodos e ferramentas são geralmente os mesmos
entretanto em certa medida diferem. No entanto, o lean é tão importante nos processos de apoio
administrativo, como a compra, ou produtivo.
A compra de em pequenos lotes com fornecedores com entregas em quantidades certas, em horário
e local acordados é distinta da compra tradicional. A relação entre o comprador e fornecedor é uma
orientação de longo prazo, trazendo a confiança e compromisso para a relação entre as empresas; ao
contrário das compras tradicionais que as considerações de preços dominam. O comprador pode em
um sistema enxuto incluir o uso de embalagens reutilizáveis, tipo padrão, reduzindo geração de
resíduos e fomentando a partilha de informações com fornecedores para um arranjoo mais amplo na
cadeia de suprimentos. (Wilson e Roy, 2009)
3. METODOLOGIA
Para a concretização do objetivo do trabalho de reflexão à cerca dos elementos que compoem o
substrato das relações entre a administração da produção, método Shewart e lean procuremen
contou com a realização de uma pesquisa aplicada, exploratória e qualitativa.
Para Oliveira (2010, p.60), a abordagem qualitativa, “facilita a apresentação de resenhas, descrição
detalhada dos fatos e fenômenos observados”, e surge quando as informações sobre um
determinado assunto não podem ser quantificadas, fazendo-se necessário a interpretação
(TRIVIÑOS, 1987).
Tratando dos procedimentos, empregou-se a pesquisa bibliográfica preparada a partir do
levantamento de referências teóricas já analisadas e publicadas nos meios físicos e/ou eletrônicos.
A análise de dados que fundamentou a pesquisa refere-se a pesquisa bibliográfica, qualitativa com
base em informações que não podem ser quantificadas;logo aplica-se a interpretação. O artigo teve
como fonte bibliografias publicadas em bases de dados técnicos científicos, com indexações de
periódicos de artigos, teses, livros, trabalhos de congressos.
Para a coletênea do material bibliográfico foram estabelecidas palavras chaves que melhor retratam
o tema abordado. Após pesquisa exploratória por meio de sondagem dos trabalhos com maior
número de citações no Google Acadêmico, as palavras chave escolhidas foram: “lean
procurement”, “administração da produção”, “método Shewart”. A escolha do Google Acadêmico
deu-se por ter alto grau de acessibilidade e volume amplo de periódicos científicos.
Dando sequência na pesquisa, consultou-se o “Portal de Periódicos CAPES” para acesso da base
Web of Science do ISI (Institute for Scientific Information). A base Web of Science foi adotada por
apresentar volume de expressão de periódicos de relevância à respeito do tema abordado. Para
garantir a qualidade dos resultados da pesquisa foram empregada palavras chaves pertinentes ao
tema, com procedimento estruturado e uma análise sistematizada.
Desta maneira, o composta da análise dos dados deu-se em dois momentos específicos: o primeiro a
análise dos documentos técnicos, e o segundo a interpretação. Ao longo das apreciações dos temas,
foi possível elaborar raciocínios a respeito das relações entre esses temas e seus reflexos, relações
de causa e efeito em termos da gestão da indústria da construção civil.
4.RESULTADOS
Após as reflexões que a pesquisa nos conduziu, tem-se que a administração da produção é
responsável pela transformação de insumos em produtos e ou serviços ou outputs de uma forma
geral em uma organização. Na organização os recursos materiais, humanos, tecnológicos,
temporais, financeiros dentre outros necessitam de gerenciamento pois são escassos. A adequada
interação dos processos que geram e oferecem bens e serviços aos clientes, busca atender a
demandas ou anseios por qualidade, tempo e custo dos clientes. No que tange a estratégia de
produção o desempenho deve ser orientado segundo uma política produtiva, que contemple a
própria capacidade produtiva, os recursos humanos, a estrutura da organização, criação de novos
produtos para que a empresa de construção civil possa estruturar-se e dispor de uma estratégia
empresarial e ter uma postura de vantagem competitiva. .
Ainda no escopo da produção pode-se concatenar com a administração da produção com a compra
enxuta ou lean procurement, que visa a aquisição de insumos em pequenos lotes e o relacionamento
entre comprador e fornecedor é orientada aos relacionamentos de longo prazo, alicerçada na
confiança e comprometimento entre as partes. A aquisição em pequenos lotes evita o desperdício de
materiais no que tange recursos físicos, financeiros, de mão de obra, de espaço para disposição,
além de dirimir perdas, quebras e danos generalizados.
Em complemento da gestão da administração da produção, seja da compra enxuta, o método
Shewart pode ser aplicado desde a fase de planejamento até a conclusão do produto, alicerçado na
melhoria continua dos processos, assegurando a sobrevivência da organização e êxito da
organização. O Método Shewart baseia-se no planejamento, execução, verificação e atuação
corretiva; definindo-se itens de controle e metas para as práticas; ações verificadas e os pontos de
desvios são abordados com ações corretivas.
Com a observação da administração da produção, compra enxuta e método Shewart percebe-se que
há áreas de sobreposição entre aqueles, e que existe uma complementariedade que uma área pode
aportar à outra, resultando em resultados mais assertivos, com operações que agregam valor ao
produto final, mais eficiência, mais eficácia, menos perdas, mais qualidade e atendimento das
expectativas do cliente.
Fig. 2 – Proposta de Relações Intrínsecas na Indústria da Construção Civil.
Fonte: Os Autores 2018
A fig 2 apresenta uma proposta de relações intrínsecas envolvendo administração da produção, lean
procurement e Método Shewart para a indústria da construção civil.
5. CONCLUSÃO
Mediante o presente estudo analisou-se os aspectos conferidos pela administração da produção
alinhados com o lean procurement sendo sustentados pela prática do método Shewart. Pode conferir
à organização atuante na indústria da construção civil. Gerar competências para a organização,
prepara-la para as mudanças, render vantagens competitivas são algumas das benesses que a
administração da produção traz para a organização. A forma de incremento do lucro com a redução
dos desperdícios, eliminação de desperdícios, ganhos em produtividade, o comprometimento e a
disciplina e a criação de um relacionamento de confiança entre comprador e fornecedor são algumas
das vantagens que o lean procurement capacita da organização. O método Shewart é uma forma de
controlar as atividades, imprimindo a melhoria contínua, fomentando a geração de procedimentos
operacionais padrão e a correta abordagem dos problemas, contribui significativamente para a
organização. Esses são elementos direcionadores para a organização ter eficiência e eficácia em seu
processos, demonstrando assim que um processo de planejamento preparado, aufere a organização
um melhor posicionamento estratégico e uma postura no mercado mais competitiva face aos seus
concorrentes. Desta forma a organização da indústria da construção civil atinge a excelência em
seus processos demonstrando ter qualidade em sua gestão organizacional.
REFERÊNCIAS
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[4]-CORRÊA,H.L, CÔRREA,C.A.Administração de Produção e Operações : manufatura e serviços : uma
abordagem estratégica.São Paulo: Atlas,2017.
[5]-TUBINO, D. F. Manual de planejamento e controle da produção. São Paulo:Atlas, 2000.
[6]-CHIAVENATO, I. Gestão da Produção: uma abordagem introdutória. Barueri:Manole, 2014
[7]-GUERRINI, F. M.; SACOMANO, J. B.. Uma proposta de ênfase em administração de produção na construção
civil para os cursos de engenharia civil através de uma visão holística. Disponível em: <
http://www.abenge.org.br/cobenge/arquivos/20/st/q/q062.pdf. Acesso em 22 out 2018
[8]-LOBO,R. N. Gestão da Qualidade. 1ªed. São Paulo: Érica.2010.
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[10]-CARVALHO, M. M.; PALADINI, E.P..(Org.) Gestão da Qualidade: teorias e casos. Rio de Janeiro: Elsevier,
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Janeiro: Editora FGV. 2003.
[12]-VIEIRA, G. F. Gestão da Qualidade Total: uma abordagem prática. 5ª ed. Campinas, SP. Editora Alínea,2014.
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[14]-AGUIAR, S. Integração das Ferramentas da Qualidade ao PDCA e ao Programa Seis Sigma. Nova Lima:
INDG Tecnologia e Serviços Ltda., 2006.
[15]-LÉLIS, E. C. Gestão da Qualidade.1ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall.2012.
[16]-WOMACK, J., JONES,D., ROOS, D. The machine that changed the world. New York: Free press, 2007.
[17]-PASCAL, D. Produção Lean simplificada. Bookman. Porto Alegre.2008.
[18]-SHINGO, S.O Sistema Toyota de Produção do ponto de vista da engenharia da produção. Porto Alegre: Artes
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[19]-LIKER, J. K. The Toyota way: 14 management principles from the world’s greatest manufacturer. New York:
McGraw-Hill, 2004.
[20]-WILSON,M. M.J.;ROY, R. N.Enabling lean procurement: a consolidation model for smalland medium‐sized
enterprises. Journal of Manufacturing Technology Management,2009, Vol. 20 Issue: 6,817-833,
https://doi.org/10.1108/17410380910975096.Disponível em:
https://www.emeraldinsight.com/doi/abs/10.1108/17410380910975096. Acesso em 20/out 2018.
[21]-OLIVEIRA, M. M. Como fazer pesquisa qualitativa. 3.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.
[22]-TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São
Paulo: Atlas, 1987.
ESTUDO COMPARATIVO DAS CARACTERÍSTICAS ORGANIZACIONAIS
E NÍVEL DE EFETIVIDADE ESTRATÉGICA ENTRE OS SEGMENTOS DA
CONSTRUÇÃO CIVIL E INDÚSTRIA DE MANUFATURA
Resumo: Diante do contexto econômico global, dois modelos de organizações que merecem
destaque por sua importância econômica e social no país: a indústria da construção civil e a
indústria de manufatura. Contudo existem particularidades que distinguem estes dois segmentos.
Enquanto a maioria das indústrias passam por um processo intenso de transformação, buscando
agilidade e eliminando o desperdício, indispensáveis para a sobrevivência, a construção civil ainda
está tímida nesta transformação. Nesse sentido foi desenvolvida uma pesquisa aplicada, descritiva e
de natureza quantitativa com o objetivo de comparar as características organizacionais e estratégicas
entre os segmentos da indústria da construção civil e da indústria da manufatura e identificar quais
destas características apresentam diferenças, ou eventualmente afinidade. A comparação entre
processos e características são benéficas para contribuir no desenvolvimento e crescimento das
empresas, com o propósito de otimizar os recursos através da profissionalização e padronização dos
processos. A metodologia adotada foi o Método Survey. O levantamento dos dados ocorreu por
meio da aplicação de questionários. Utilizou-se a análise discriminante para avaliar os dados
obtidos. Observou-se que ambos os segmentos apresentaram preocupações semelhantes para a
maioria das características, porém algumas com intensidades diferentes que permitem inferir ser
consequência do segmento de atuação. Este artigo utilizou como estrutura uma dissertação de
Mestrado [1].
Abstract: Given the global economic context, two models of organization that deserve to be
highlighted for their economic and social importance in the country: the construction industry and
the manufacturing industry. However there are particularities that distinguish these two segments.
While most industries go through an intense process of transformation, seeking agility and
eliminating wastage, indispensable for survival, construction is still timid in this transformation. In
this sense, an applied, descriptive and quantitative research was developed with the purpose of
comparing the organizational and strategic characteristics between the segments of the civil
construction industry and the manufacturing industry and to identify which of these characteristics
present differences, or possibly affinity. The comparison between processes and characteristics are
beneficial to contribute to the development and growth of companies, with the purpose of
optimizing resources through professionalization and standardization of processes. The
methodology adopted was the Survey Method. The data were collected through the application of
questionnaires. The discriminant analysis was used to evaluate the data obtained. It was observed
that both segments had similar concerns for most of the characteristics, but some with different
intensities that allow inferring to be a consequence of the segment of performance.
1. INTRODUÇÃO
Organização é um conjunto de pessoas que interagem através da divisão de trabalho para atingir um
propósito comum. As organizações são instrumentos sociais em que as pessoas unem esforços e
trabalham em conjunto para alcançar objetivos que isoladamente não alcançariam (CHIAVENATO,
2014 [2]).
Neste contexto, a indústria é um tipo de organização vital para o desenvolvimento econômico do
Brasil. Dentre os diferentes tipos de organizações, a indústria da construção civil e a indústria de
manufatura ou de transformação merecem destaque na sociedade. Mesmos não representando a
maior parcela da economia, juntas representam aproximadamente 22% do PIB brasileiro e
empregos formais no Brasil (FIESP, 2017 [3]).
Contudo, existem particularidades que distinguem estes dois segmentos. Enquanto a indústria da
manufatura é pautada por processos robustos e padronizados, que assegura maior produtividade,
produção de produtos com qualidade e a melhoria contínua dos processos (WIEMES;
BALBINOTTI, 2011 [4]), a construção civil é caracterizada por sua complexidade e
heterogeneidade, pela abrangência das atividades, tipo de empresas, tecnologias empregada ou pela
dispersão geográfica. É um segmento nômade que possui dependência mútua entre o produto e o
processo produtivo, com pouca utilização de tecnologias e produtos não padronizados (SOUTO,
2003 [5]).
Assim sendo, a busca por melhores práticas na indústria da construção civil é desejável para
alcançar um desempenho superior. A comparação das práticas de gestão é um instrumento para
melhorar a performance das empresas e conquistar vantagens em relação ao mercado, através de
mudanças e melhoras significativas dos processos, consequentemente no resultado da organização
(DAYCHOUM, 2016 [6]).
1.1. Contexto do Problema
A economia global apresenta uma nova ordem, onde as empresas disputam acirradamente numa
busca desenfreada por clientes, com o objetivo de ampliar a remuneração do capital. Neste sentido,
a competitividade é condição básica de sobrevivência, obrigando as empresas a adaptarem-se às
mudanças impostas pelo mercado (FRANCO, 2005 [7]).
O aumento de construtoras no mercado, somado a escassez de mão-de-obra qualificada do setor,
além da elevada competitividade, obriga as empresas adotarem estratégias de redução de custos,
maior produtividade e melhor qualidade. Isso exige as empresas buscarem por excelência em todos
os processos produtivos e de gestão organizacional (SALGADO et al., 2009 [8] apud FISCH;
RAU; IAROZINSKI NETO, 2015 [9]).
Visto a importância da estrutura organizacional na performance das organizações e a busca por
melhor compreender as características do setor da construção civil, este artigo propõe comparar
fatores determinantes das características organizacionais e do nível de efetividade estratégico
adotados entre as empresas do setor da construção civil e da indústria de manufatura.
2. OBJETIVOS
O objetivo principal deste trabalho é de comparar as características organizacionais e estratégicas
entre as empresas do setor da construção civil e da indústria de manufatura visando identificar as
diferenças mais significativas.
3. METODOLOGIA
Esta pesquisa pode ser classificada como de natureza aplicada, de objetivo descritivo e abordagem
quantitativa. O Método Survey foi escolhido e utilizado como instrumento principal, possibilitando
obter dados primários de forma sistematizada. Quanto ao tempo o estudo foi realizado em corte-
transversal e o procedimento técnico adotado foi observacional.
Survey é um dos métodos mais empregados em pesquisas quantitativas e pode ser enunciada através
da coleta de dados ou informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de
pessoas, indicado como representante de uma população alvo, por meio de um instrumento de
pesquisa pré-definido, normalmente um questionário. (PINSONNEAULT; KRAEMER, 1993 [10]
apud FREITAS et al., 2000 [11]).
O desenvolvimento desta pesquisa foi estruturado de acordo com as seguintes etapas:
Formulação do problema de pesquisa;
Pesquisa bibliográfica acerca do tema a ser estudado;
Aprimoramento da ferramenta de coleta de dados;
Coleta de dados em fontes apropriadas;
Tratamento e análise dos dados por meio de análise discriminante.
Onde:
n = número de empresas;
Zα/2 = valor crítico que corresponde ao grau de confiança desejado;
p = proporção populacional da categoria interessada;
q = proporção populacional de indivíduos que NÃO pertence à categoria interessada (q = 1 – p);
E = Margem de erro.
Arredondo o valor calculado, obtém-se o tamanho para amostra de 40 empresas. Foram totalizados
72 questionários válidos, desta forma atendeu a expectativa da pesquisa.
Referente ao método de amostragem existe duas grandes divisões segundo Maroco (2003) [13]:
probabilísticos e não probabilísticos. Por conveniência, optou-se pelo método de amostragem não
probabilístico em razão das características da população alvo. Este tipo de amostra envolve a
seleção de elementos de amostra que estejam mais disponíveis para tomar parte no estudo e que
podem oferecer as informações necessárias (MAROCO, 2003 [13]).
Os questionários desenvolvimento como instrumento de coleta de dados foram segmentados em três
partes, sendo elas:
Parte 1 - Identificação do perfil da organização e do entrevistado;
Parte 2 - Características do ambiente organizacional;
Parte 3 - Características estratégicas.
Para mensuração e escalas de medida dos questionários, adotou-se uma escala ordinal com valores
de um até sete entre dois adjetivos ou frases antônimas como exposto no Quadro 2 que permite
escolher o valor que mais reproduz a opinião do respondente no intervalo apresentado. Segundo
Dalmoro e Vieira (2013) [14], uma escala com sete pontos permite melhor discriminação, ganho de
consistência interna e confiabilidade das informações, está dentro dos limites da habilidade humana
de distinção e se ajusta bem a estatísticas multivariadas.
Sem Totalmente
Quadro
Qual o nível de formalização 2 - Modelo
das atividades de escala de
e processos? diferencial semântico
formalização
1 2 3 4 5 6 7
formalizada
Por fim, para análise dos dados coletados deste estudo aplicou-se as técnicas de análise
discriminante (ou análise multivariada) que procura identificar quais variáveis se diferenciam do
grupo e quais são necessárias para obter a melhor classificação dos elementos da amostra. Para esta
análise foi usado o software de análise estatística e tratamentos de dados Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS).
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
No total foram coletados 72 questionários, compreendidos no período de outubro de 2015 até junho
de 2017, sendo que a quantidade de empresas entre os segmentos foi igual: 36 de empresas da
Construção Civil e 36 da Indústria de Manufatura.
Com relação ao tipo de constituição, os resultados da amostra mostram que 63% das empresas são
do tipo Limitada, 21% S/A de capital aberto, 11% são S/A de capital fechado, 3% S/A de capital
misto e os 3% restantes são classificadas como outros.
A distribuição do porte das empresas avaliadas apresentou-se regular entre pequeno, médio e grande
porte, sendo este último ligeiramente mais expressivo com 39%, seguido por empresas de pequeno
porte representando 35% e empresas de médio porte com 26% da amostragem. Neste estudo, não
foram consideradas Microempresas por não existir uma amostra razoável entre os segmentos.
Com relação ao tipo de administração das organizações, mais da metade da amostra das empresas
que participaram deste estudo possuem uma administração profissional. Pouco mais de ¼ da
amostra possuem administração considerada familiar, 17% possuem administração mista e 3%
representam outras formas de administração.
4.1. Análise Discriminante
Análise discriminante é uma técnica multivariada que permite distinguir a existência ou não de
características significativas entre grupos, pois processa o tratamento de diversas variáveis
simultaneamente, mesmo quando não se conhece o modelo teórico das relações entre estas variáveis
(BAKKE; LEITE; SILVA, 2008 [15]).
O objetivo da análise discriminante neste estudo é identificar quais as características
organizacionais e estratégicas possuem maior poder de discriminação entre os grupos de empresas
do segmento da construção civil e do segmento da indústria de manufatura. Em outras palavras a
análise discriminante permite identificar quais variáveis possuem maior influência e
consequentemente afinidade com o segmento de atuação.
Desta forma identificaram-se os segmentos de atuação por números: Grupo 1 - Indústria de
manufatura e Grupo 2 - Construção Civil.
4.1.1. Testes de validação
Inicialmente fez se necessário realizar alguns testes para validação dos dados utilizados na análise
discriminante. Com o objetivo de obter maior precisão dos resultados, as variáveis foram agrupadas
em dois grupos: características estratégicas e características organizacionais. Os testes realizados
para validação dos dados foram:
Teste M de box: verifica a semelhança das matrizes de variância e covariância entre os segmentos.
Teste de igualdade de médias de grupo: consiste em realizar a análise prévia das variáveis
independentes. O teste de igualdade entre as médias expõe o potencial de cada variável em separar
cada segmento.
Lambda de Wilks: De acordo com Belfiore et al. (2005) [16], a estatística Lambda de Wilks varia
de 0 a 1 e oferece informações referentes às diferenças entre os grupos. O índice é obtido pela razão
da variação dentro dos grupos (variação não explicada) sobre a variação total e testa a existência de
diferenças de médias entre os grupos para cada variável. Quanto mais próximo de 0 maior é a
diferença, consequentemente quanto mais próximo de 1 o grau de diferenciação é baixo.
Cross-validation: teste de validação do SPSS conhecido como. Este teste relaciona a variável
reclassificada com seu valor original, fornecendo o percentual de casos corretamente classificados.
De acordo com o resultado dos testes, com relação às variáveis estratégicas, 72,5% das respostas
foram classificadas corretamente, ou seja, aproximadamente 51 dos elementos compõe o grupo de
casos usados para determinar funções discriminantes. Quanto às características organizacionais este
percentual foi 69,4%, correspondo próximo de 50 elementos. Este resultado indica que há uma
discriminação importante entre os grupos.
Teste Q de Press: verifica se o percentual de elementos classificados corretamente é satisfatório,
em que o valor calculado é comparado com valor tabelado da distribuição Qui-quadrado.
4.1.2. Análise discriminante das variáveis
A seguir são apresentadas as matrizes de classificação, que facilita a interpretação da importância
que cada variável possui na função discriminante. Esta análise corresponde as características da
construção civil e da indústria de manufatura, obtidas através do uso de escalas variando entre um e
sete. A relação negativa ou positiva da função não importa na ordenação, o sinal apenas representa a
relação com a variável dependente (HAIR, JR. et al., 2005 [12]). Quanto maior o coeficiente da
função, maior o poder de discriminação entre a construção civil e a indústria de manufatura.
A Tabela 1 apresenta a matriz referente às características organizacionais.
Tabela 1 – Matriz de classificação – Características Organizacionais
Característica Organizacional Função1
Nível de centralização 0,753
Nível de cooperação entre os funcionários -0,406
Estilo de gestão 0,384
Nível de polivalência dos funcionários -0,223
Nível de formalização de cargos e funções 0,163
Interação dos funcionários -0,120
Autonomia dos funcionários -0,110
Controle sobre as atividades e funcionários -0,083
Formalização das atividades e processos 0,077
Nível de hierarquização da empresa -0,039
Horas de Treinamento 0,000
Correlações entre grupos no conjunto entre variáveis discriminantes e funções discriminantes canônicas
padronizadas.
Variáveis ordenadas por tamanho absoluto de correlação na função.
REFERÊNCIAS
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os segmentos da construção civil e da indústria de manufatura. 2017. Dissertação de Mestrado. Universidade
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INFLUÊNCIA DO USO DE ADITIVO REDUTOR DE ÁGUA NO
COMPORTAMENTO DE ARGAMASSAS COM AGREGADO MIÚDO
RECICLADO CERÂMICO
Palavras-chave: aditivo redutor de água, argamassa, agregado miúdo reciclado, resíduo cerâmico.
Abstract: The civil construction industry has a great responsibility to accompany and promote
economic and social growth in the world. However, this sector is responsible for the large extraction
of non-renewable natural resources and the generation of a significant quantity of waste. The final
destination of this material has been causing great concern, promoting constant research on the reuse
of this material in several areas, including the civil construction chain itself. In the construction
industry, the ceramic sector is one of the sectors that discard large quantities of waste, both in the
manufacture of ceramic products, and in the use of some ceramic materials in the execution of works.
Such waste can be incorporated as an input in the process of manufacturing new cementitious
composites, mostly replacing the sand, seeking to reduce the extraction of natural resources, and, at
the same time, giving an adequate destination for the generated waste. However, the high porosity of
these recycled aggregates is still a problem that has brought about negative effects on the mechanical
performance and durability of the final product. Some studies, therefore, have already been successful
using water-reducing admixtures in recycled concrete and mortars with recycled concrete aggregates.
Therefore, the aim of this paper is to analyze the influence of the water-reducing admixture on the
behavior of recycled mortars with partial replacement of the fine natural aggregate (FNA) by the fine
recycled aggregate (FRA, originated from ceramic block waste and with dmax = 4,8mm), keeping
constant the water/cement ratio and the workability of the mixtures. Thus, the substitution content,
by mass, of 50% was adopted. The mortars were produced with CPV-ARI cement, and a proportion
of 1:3:0.8 (cement: aggregate: water, by mass), and an admixture content of 2.0%, relative to the mass
of cement, to maintain the same workability of the reference mortar. The mortars in the hardened
state were submitted to the following tests: compression strength, which showed an improvement in
this property with the use of FRA, especially when the superplasticizer was used in the mixture; water
absorption by capillarity, which presented a reduction of this property when incorporating the FRA
to the mixture, having a similar behavior with and without admixture; and absorption by immersion,
which did not show an expressive change in this property, when replacing 50% of the FNA by the
FRA, but which was increased when using the superplasticizer in the mixture, which should be better
investigated once it is contradictory.
1. INTRODUÇÃO
Acredita-se que a quantidade de resíduos de construção e demolição (RCD) gerados mundialmente e
no Brasil seja, respectivamente, de 3 bilhões e de 70 milhões de toneladas por ano, variando de acordo
com o índice de desenvolvimento humano [1, 2]. O mesmo, quando corretamente gerido, pode
ocasionar em benefícios econômicos e ambientais [1]. Os resíduos de construção e demolição
apresentam sua composição de forma bastante heterogênea [3] e um dos seus componentes principais
é o material cerâmico. Este, pode ser gerado pela própria indústria cerâmica, ou pelas atividades de
construção e demolição. Sua quantidade gerada, corresponde a 54% do total de RCD gerados, e isso
ilustra a importância do tratamento e recuperação desse tipo de resíduo [4].
No que tange o uso de resíduos de materiais cerâmicos em substituição aos agregados naturais em
matrizes cimentícias, os resultados obtidos por alguns autores, mostram que o aumento nos
percentuais de agregado reciclado utilizados para produção de concretos, acarreta uma diminuição na
densidade da mistura e um aumento na absorção de água [6,7]. Esse aumento da absorção, pode ser
explicado devido à alta porosidade do bloco que originou esse agregado [6]. E, devido à essa alta
absorção de água, a durabilidade pode ser um dos pontos mais afetados conforme o teor de
substituição nas matrizes cimentícias [8].
A alta capacidade de absorção de água pode ocasionar uma queda na resistência à compressão dos
compósitos cimentícios [6]. Estudos apontam que com um acrescimento do teor de adição de resíduo
de material cerâmico, observou-se uma queda na ordem de 10 a 45% dessa propriedade [9]. Porém,
outros autores observaram que com 75% de substituição do agregado natural por agregados miúdos
reciclados, essa mesma propriedade foi pouco alterada [10]. Em contrapartida, também houve estudo
que apresentou um aumento na resistência, cerca de 11% quando um teor de 25% de agregados
cerâmicos reciclados foi introduzido na mistura [11, 12].
Uma alternativa, para melhorar os indicadores de durabilidade e resistência mecânica com a utilização
desses agregados reciclados, que vem sendo estudada, é a utilização de aditivos redutores de água nas
misturas. Em alguns estudos [13, 14], que utilizaram esses aditivos para confecção de concreto
reciclados, mostraram um efeito positivo no comportamento dessa material. Vale destacar, que as
ações dos aditivos plastificantes não se resumem a melhorar a trabalhabilidade das misturas, eles
ainda tendem à reduzir o volume de vazios em concretos, beneficiando assim o desempenho mecânico
desse material. A utilização desses aditivos é importante ser considerada quando se usa agregados
reciclados, pois há uma compensação da necessidade de adicionar água extra que seria absorvida por
esses agregados, para se manter a mesma trabalhabilidade dos concretos convencionais. Com uma
relação água/cimento reduzida, maior será a resistência e durabilidade desse material [14]. No
entanto, esses estudos que avaliaram o efeito dos aditivos redutores de água em concretos reciclados,
utilizaram agregados reciclados provenientes de resíduos de concretos, portanto, faz-se necessário
avaliar diferentes resíduos, como é o caso do resíduo cerâmico.
2. OBJETIVO
O objetivo deste presente trabalho foi analisar o efeito do aditivo redutor de água no comportamento
de argamassas com substituição parcial do agregado miúdo natural pelo agregado miúdo reciclado
cerâmico, ao manter-se constante a relação água/cimento e trabalhabilidade das misturas produzidas.
Para tal fim, fez-se necessário a análise da resistência à compressão e de parâmetros de durabilidade,
como a absorção de água por capilaridade e por imersão, e índice de vazios.
3. MÉTODOS
3.1. Materiais
O cimento utilizado para a produção das argamassas foi o CP V-ARI, de massa específica 3,07 g/cm³.
Utilizou-se este por ser um cimento de baixo teor de adições, o que garante uma melhor análise da
influência do resíduo cerâmico na substituição parcial do agregado miúdo natural.
Adotou-se como agregado miúdo natural (AMN) a areia lavada fina peneirada de dimensão máxima
característica de 4,8 mm, originada em Esmeralda e Inhaúma no estado de Minas Gerais. Como
agregado miúdo reciclado (AMR), foi utilizado resíduo oriundo de blocos cerâmicos, também com
dimensão máxima característica de 4,8 mm. Como a heterogeneidade e presença de contaminantes
nesses resíduos, são as principais dificuldades encontradas para realização de sua reciclagem [15],
podendo interferir nas propriedades físicas e mecânicas do agregado produzido, optou-se nesse estudo
por se produzir o AMR partindo de blocos cerâmicos novos de mesmo lote, para se obter um maior
controle do resíduo utilizado.
O processo de cominuição consistiu inicialmente numa etapa manual, na qual os blocos cerâmicos de
vedação de dimensões 14x19x29 cm e 5,55 Kg foram quebrados com auxílio de uma marreta para
geração do resíduo. Na sequência esse resíduo passou pelo britador de mandíbula e foi peneirado na
peneira de abertura de 4,8 mm, repetindo todo esse procedimento para as frações retidas na referida
peneira (1º Ciclo). Em seguida o resíduo que se manteve com dimensões maiores que 4,8 mm, passou
pelo moinho de rolos, seguindo o mesmo procedimento utilizado no 1º Ciclo.
A Tabela 1 apresenta as propriedades dos agregados miúdos, utilizados para a produção das
argamassas. Como se observa, tanto a massa unitária quanto a massa específica seca do agregado
reciclado cerâmico são menores (22,50% e 25,68%, respectivamente) do que as do agregado natural
dada a maior porosidade do resíduo cerâmico, como pode ser observado ao comparar Fig. 1 (b) e (d).
No entanto, a massa específica real dos dois materiais, aquela que desconsidera os poros dos grãos,
deram equivalentes com uma diferença de 2,4%. Portanto, devido a essa equivalência, optou-se por
não fazer a correção da massa de material utilizada na produção das argamassas, inserindo a mesma
quantidade de AMR e AMN nas misturas. Constatou-se uma expressiva capacidade de absorção de
água do AMR de 16%, quase 4 vezes maior que a do AMN (4,4%), o que tem efeito sobretudo na
redução da relação água/cimento efetiva e consequentemente, na trabalhabilidade da mistura. Tanto
as massas específicas (seca, saturada superfície seca e real), quanto a absorção de água dos agregados
miúdos reciclados de bloco cerâmico foram semelhantes ao encontrado por outro estudo [7], que
trabalharam com o mesmo resíduo e com a dimensão máxima característica do AMR de 5 mm,
próximo à utilizada nessa presente pesquisa (4,8 mm). Percebe-se grande variabilidade entre os
materiais estudados, logo é importante avaliar estes parâmetros em relação ao comportamento das
argamassas tanto no estado fresco quanto no estado endurecido.
(a) (b)
(c) (d)
Fig. 1 – Imagem de microscopia digital dos agregados utilizados nas misturas (a) visão geral das diferentes
frações granulométricas do AMN (b) grãos do AMN de dimensão 4,8 mm (c) visão geral das diferentes frações
granulométricas do AMR (b) grãos do AMR de dimensão 4,8 mm
A Fig. 2 apresenta as curvas granulométricas dos agregados miúdos utilizados nessa pesquisa, bem
como as curvas dos limites determinados pela NBR 7211:2009 [21]. Pode-se observar que a curva
granulométrica do agregado miúdo natural (AMN) encontra-se mais próxima da zona utilizável
superior, enquanto a curva do agregado miúdo reciclado (AMR) se encontra mais próxima da zona
utilizável inferior. Além disso, verifica-se que as curvas desses dois agregados são bem distintas,
porém ambas podem ser classificadas como contínuas (bem distribuídas). Através das curvas
granulométricas apresentadas, pode-se constatar, ainda, que a combinação desses dois agregados, no
teor de 50%, gera uma curva que caracteriza uma granulometria melhor distribuída, se comparada ao
AMN e AMR individualmente, com módulo de finura igual a 2,72, o que a enquadra na zona ótima
(módulo de finura entre 2,20 e 2,90 [21]).
Fig. 2 – Curva granulométrica dos agregados miúdos e as curvas limites na NBR 7211:2009
Adotou-se, ainda, uma relação água/cimento de 0,8 que garantiu a argamassa de referência um índice
de consistência de 240 mm, atendendo ao limite de 250 ± 15 mm previamente estabelecido por ser
adequado para a produção desse material. Além disso, com o intuito de se corrigir a trabalhabilidade
da argamassa com AMR e devido à maior demanda de água, dada à alta capacidade de absorção de
água do resíduo cerâmico e teor de finos, adotou-se o aditivo superplastificante, a base de
policarboxilados Viscocrete 6010 SA, no teor de 2,0% em relação à massa de cimento.
3.2. Métodos
Para o conhecimento do comportamento das argamassas produzidas realizou-se inicialmente a
determinação do índice de consistência [22] dos três traços estabelecidos (Tabela 2): argamassas de
referência (REF), argamassa com resíduo cerâmico e sem aditivo (RSA) e argamassa com resíduo
cerâmico e com aditivo (RCA). Feito isso, preparou-se as argamassas por meio do método de mistura
da NBR 7215:1991 [23] e moldou-se 8 corpos de prova cilíndricos de 5x10 cm para cada traço, sendo
4 CPs para determinação da absorção de água por capilaridade [24], e absorção de água por imersão,
massa específica e índice de vazios [25], e outros 4 CPs para a determinação da resistência à
compressão [26]. Os corpos de prova foram mantidos em câmara úmida imergidos em água com cal
até as idades de ensaio.
Tabela 2 - Detalhamento dos traços adotados
Mistura Agregado Miúdo Relação a/c Aditivo
REF 100% AMN 0,8 -
50% AMN
RSA 0,8 -
50% AMR
50% AMN
RCA 0,8 2,0%
50% AMR
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados obtidos tanto no estado fresco quanto endurecido, a partir do programa experimental
realizado, encontram-se subdivididos nas seções seguintes.
1,6
1,4
Absorção por capilaridade
1,2
1,0
(g/cm²)
REF
0,8
0,6 RSA
0,4 RCA
0,2
0,0
0 720 1440 2160 2880 3600 4320
Tempo (min.)
Fig. 4 - Curva da absorção de água por capilaridade versus tempo
Foi possível observar que as argamassas com resíduo cerâmico, tanto a sem aditivo quanto a com
aditivo, apresentaram um comportamento bastante semelhante, com suas curvas quase sobrepostas.
Ambas apresentaram uma menor capacidade de absorção de água por capilaridade, quando
comparadas à argamassa de referência. Tal comportamento pode ser explicado pelo alto teor de
material pulverulento do agregado miúdo reciclado cerâmico (12,0%), bem como pela granulometria
mais contínua da composição com o agregado miúdo natural (50% AMN + 50% AMR) que
beneficiam o empacotamento da mistura [28] e assim a redução dos valores desta propriedade. O
material fino presente no AMR cerâmico tem a capacidade de preencher os poros, impedindo assim
que os mesmos se interconectem, e consequentemente, reduzindo a absorção de água por capilaridade
das argamassas recicladas. Esse comportamento foi diferente ao observado em demais estudos que
utilizaram esse resíduo [6, 7, 8], no entanto, outro estudo [6], constatou que a utilização de aditivos
plastificantes tem efeito benéfico em concretos reciclados, uma vez que se reduz a capacidade de
absorção de água dos mesmos.
Tabela 4 – Resultados médios da absorção de água por imersão, índice de vazios e massa específica real
Mistura
Propriedade
REF RSA RCA
Absorção de Água por Imersão
A ± SD (CV) 13,54 ± 0,49 (3,6) 14,19 ± 1,08 (7,6) 15,62 ± 1,67 (10,7)
% ± % (%)
Índice de Vazios
IV ± SD (CV) 25,0 ± 0,68 (2,7) 26,2 ± 1,52 (5,8) 27,9 ± 2,57 (9,2)
% ± % (%)
Massa Específica Real
ρ ± SD (CV) 2,47 ± 0,00 (0,1) 2,51 ± 0,01 (0,5) 2,48 ± 0,01 (0,2)
g/cm3 ± g/cm3 (%)
SD – Desvio Padrão; CV – Coeficiente de Variação
Constata-se pela Fig. 5 e Tabela 4 que a presença de 50% de resíduo em substituição ao agregado
miúdo não promoveu um aumento expressivo na absorção de água por imersão e nem na porosidade
aberta (comparando REF com RSA). Este resultado se justifica pelo maior empacotamento das
partículas (Fig. 2) na mistura, o que promoveu após adensamento, um compósito mais denso e com
tendências de um material durável.
Comparando as argamassas recicladas, com e sem aditivo, pode-se notar um aumento da porosidade
(6%) e, consequentemente, da absorção de água por imersão (10%), o que contradiz o observado em
outro estudo [14], onde os autores afirmam uma tendência do aditivo superplastificante aumentar a
compacidade da mistura ao reduzir os poros da mesma. Portanto, tal comportamento contraditório
deve ser melhor estudado, para um melhor entendimento das possíveis causas influenciadoras. Em
relação à massa específica das argamassas no estado endurecido, não houve variação significativa
dessa propriedade nas três misturas, estando esta variando entre 2,47 e 2,51 g/cm³. Demonstrando
que apesar do material ser mais leve (massa especifica seca e maior porosidade) a melhor estruturação
das partículas impediu a redução desta propriedade.
1,8 1,63
Resistência à Compressão
1,6
1,4 1,31
1,2 1,00
Relativa
1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
REF RSA RCA
Misturas
Fig. 6 - Resistência à compressão relativa
Com os resultados obtidos, observou-se que com a substituição do AMN pelo AMR no teor de 50%
houve um ganho de 31% na resistência à compressão das argamassas, aumentando de 24,81 MPa
(REF) para 32,42 MPa (RSA), o aumento pode ser explicado pela redução da relação água/cimento
efetiva da mistura, dada à elevada capacidade de absorção de água do AMR [28] o que foi
visivelmente constatado pela perda total de trabalhabilidade da mistura. Tal resultado positivo para
as argamassas produzidas não foram condizentes com o obtido em demais estudos que trabalharam
com o AMR cerâmico [6, 8, 9]. Já nas argamassas recicladas, com a adição do aditivo
superplastificante, a resistência aumentou ainda mais, chegando à 40,33 MPa que corresponde à um
aumento de 63% em relação à argamassa de referência (REF) e 24% em relação a argamassa reciclada
sem aditivo (RSA). Esse aumento poderia ser explicado pela ação do aditivo utilizado, que além da
melhoria na trabalhabilidade, o superplastificante tende a reduzir os poros da mistura, proporcionando
assim uma melhoria no comportamento mecânico do material [14]. Porém, não se constatou essa
redução dos poros na mistura e sim um aumento, comparando as argamassas recicladas com a de
referência (item 4.3). No entanto, tais poros não se mostraram conectados, o que daria origem à
capilares, confirmado pela redução da absorção de água por capilaridade das argamassas recicladas
(item 4.2), o que é benéfico, portanto, para o desempenho mecânico das argamassas.
5. CONCLUSÃO
Algumas conclusões podem ser tiradas a partir da utilização do superplastificante utilizado,
juntamente com a substituição do AMN pelo AMR. Foi utilizado um índice de substituição de 50%,
e para fins de comparação, foram confeccionadas três diferentes misturas. Uma referência (REF),
sem resíduo e sem a adição de superplastificante. As outras duas amostras, continham teor de
substituição de 50%, porém uma denominada RSA, sem adição do superplastificante, e outra, RCA,
com adição do superplastificante. A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que:
Foi observada uma redução da relação água/cimento efetiva e da trabalhabilidade das misturas,
quando substituiu 50% do AMN pelo AMR, devida a alta capacidade de absorção de água do
AMR em relação ao AMN;
Os resultados obtidos com o teor de substituição de 50%, foram positivos devido ao melhor
empacotamento promovido pela combinação granulométrica do AMN com o AMR;
A mistura RSA foi a única que apresentou característica de consistência seca, impossibilitando a
determinação do flow table da mesma, e uma maior dificuldade para se moldar os corpos de prova
com essa composição;
As misturas RSA e RCA, apresentaram uma menor capacidade de absorção de água por
capilaridade, ao compará-las com a REF, destacando a influência do elevado teor de finos do AMR
e da combinação granulométrica do AMN e AMR, na melhoria do empacotamento das misturas;
AGRADECIMENTOS
Agradecemos o apoio da UFMG, bem como aos órgãos de fomento: CAPPES, FAPEMIG, CNPQ,
que contribuíram para o desenvolvimento dessa pesquisa.
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O MÉTODO DA MATURIDADE PARA DETERMINAR RESISTÊNCIA À
COMPRESSÃO EM CONCRETOS: REVISÃO DE LITERATURA
Abstract: The concept of maturity in concretes produced with Portland cement is directly related to
the gain of strength. This concept seeks to relate the effect of time and temperature history to
estimate the development of this mechanical property during the curing period when moisture is
available for the hydration of the cement. The most used procedure for the estimation of concrete
maturity is currently recommended by ASTM C1074:2017, where the concrete, monitored locally
and submitted to the calculations defined by the standard, will present results of compressive
strength that allow, for example, without the need for destructive test results, an alternative to the
consolidated compressive strengh test, determined nationally by NBR 5.739:2018. This study aimed
to present the historical evolution of this method, starting from the studies of Nurse, Saul, Carino
and Lew, among others, as well as to report recent results and increments to the method. Little
national literature was observed on the subject, where the history of the use of this method, mostly
in concrete and precast concrete works. Despite the low diffusion of this method in Brazil, it was
verified the great possibility of use in the different constructive typologies that use concrete, since
the records found in the literature have shown satisfactory results in concrete of typologies similar
to the national ones. It was also concluded that, due to the non-destructive test characteristic, the
Maturity Method is an important contribution to the qualification of concrete without generating
waste of material with the preparation of samples that will be later discarded as is the current
protocol of the various works. There is still to be mentioned the productivity gain in the
construction sites. For this, the success of the use of the maturity method is dependent on the design
criteria and also the strict control and knowledge of the properties of the materials that will be the
concrete to be used, so that the readings made in the works are correctly equalized in order to
generate reliable results and for the safety of buildings.
1. INTRODUÇÃO
Prever o comportamento do concreto ao ser aplicado em estruturas tem sido tema constantemente
pesquisado em todo o mundo. Como resultado, vários procedimentos foram criados e deles vieram
normas técnicas, protocolos e práticas, tanto em laboratórios, quanto em canteiros de obras, que
objetivam padronizar e dar segurança à utilização do concreto de forma rastreável e com maior
controle.
Na busca por qualificar concretos quanto ao seu comportamento mecânico pode-se citar, por
exemplo, o ensaio de rompimento de corpos de prova cilíndricos à compressão em idades pré-
estabelecidas, normalizado nacionalmente pela ABNT NBR 5.739 [1]. Há também ensaios que
investigam a durabilidade dos concretos como o ensaio de resistividade elétrica [2, 3, 4], bem como
ensaios para determinação do módulo de elasticidade [5], dentre outros.
Embora existam várias formas de qualificar concretos, como os mencionados anteriormente, há
sempre o questionamento acerca de seus resultados in loco, pois que os corpos de prova nestes
ensaios são manipulados em condições de cura, em sua maioria, diferentes dos locais onde os
concretos são aplicados. Assim, de forma a dar maior exatidão aos resultados obtidos em
laboratórios e nas obras, foi desenvolvido o Método da Maturidade. Um outro influenciador do
desenvolvimento desse método foi o crescente número de acidentes por colapsos estruturais em
obras recém concretadas, principalmente nos Estados Unidos e Europa [6].
Este método engloba um conjunto de procedimentos a serem realizados em laboratório e in loco
com o concreto ainda em suas primeiras idades, de forma a prever o ganho de resistência à
compressão. Seu principal fator de mensuração é a evolução do calor de hidratação, específico a
cada tipo de concreto, e este é acompanhado em função do tempo de cura.
Para tanto, há inicialmente o processo laboratorial do concreto, onde argamassas e concretos de
características semelhantes ao concreto que será lançado na obra é ensaiado até que seja definido o
seu índice de maturidade [6-7] ou também, seu tempo equivalente [9]. Em um segundo momento,
nos canteiros de obra, termopares são inseridos no concreto durante o processo de preenchimento
das formas. Em períodos pré-estabelecidos em projeto, o calor gerado no interior da peça
concretada é medido com o auxílio de equipamentos (multímetros, por exemplo), conectados aos
termopares inseridos no concreto de forma a acompanhar a evolução do calor de hidratação [10,
11]. Estes resultados são tratados matematicamente e, então, é definido o momento em que aquela
peça adquiriu a resistência à compressão esperada.
Seus principais benefícios englobam a possibilidade de desforma de peças concretadas em idades
recentes, liberação de pavimentos, a possibilidade de aplicar uma nova camada de concretagem em
obras de concreto massa [6-7]. Como resultado desses processos há, também, o ganho de
produtividade, pois estes procedimentos podem ser feitos tão logo o concreto alcance a sua
maturidade, sem a necessidade de aguardar os rompimentos de corpos de prova a 7, 14 e 28 dias
como preconiza a ABNT NBR 5.739 [1].
O Método da Maturidade é atualmente normalizado pela ASTM C 1074 [7]. Contudo, até que esta
norma tivesse sido concretizada um longo caminho percorrido por pesquisadores como R.W. Nurse,
H.S. Saul, N.J. Carino, dentre outros, teve que ser percorrido. Nesta revisão poderão ser vistos
alguns dos trabalhos acerca da maturidade de concretos, bem como seus avanços, limitações e
resultados, pesquisas que levaram autores de vários países a testarem o método em seus concretos.
A respeito da grande difusão do método a nível internacional, uma pesquisa feita pelo
Departamento Norte Americano de Tráfego demonstrou que na grande maioria dos estados
pesquisados (32 de 44 estados) utilizar o Método da Maturidade para liberação de pavimentos era
prática comum [12]. Percebe-se uma grande oportunidade de uso na grande maioria das tipologias
construtivas que envolvam a necessidade de aferir o ganho de resistência à compressão em
concretos, pois nota-se na literatura publicada resultados positivos, inclusive resultados nacionais.
Dessa forma, objetivou-se com este estudo aprofundar o entendimento sobre o Método da
Maturidade, partindo do levantamento histórico de seu desenvolvimento, apresentando seus
principais avanços e aplicações. Além disso buscou-se avaliar a possibilidade de utilização deste
método em concretos nacionais por meio da verificação de estudos publicados, bem como pela
comparação de resultados internacionais que obtiveram sucesso na utilização do método e se os
materiais analisados nestas pesquisas se assemelham aos utilizados no Brasil.
Importante destacar que o Método da Maturidade faz parte do grupo de ensaios não destrutivos que
em muito contribuem para a não geração de resíduos e diminuição de custos operacionais quando
são comparados, por exemplo, com os ensaios de resistência à compressão via moldagem e
rompimento de corpos de prova como o estabelecido pela ABNT NBR 5.739 [1]. Dessa forma,
optar por ensaios não destrutivos é também uma forma de contribuir para a sustentabilidade do
planeta. Para tanto, estudos como este que se propõe auxiliam na difusão dos benefícios de utilizar
estes ensaios possibilitando a adesão de mais profissionais que optarão por estes testes.
2. METODOLOGIA
O presente artigo está inserido no campo da pesquisa qualitativa. Quanto à sua natureza trata-se de
uma revisão de literatura.
Este estudo é constituído de um levantamento bibliográfico acerca do desenvolvimento do método
da maturidade, evolução que culminou na norma técnica americana ASTM C 1074. Neste
levantamento busca-se analisar tanto a questão procedimental quanto os cálculos que foram
desenvolvidos com o passar dos anos. Como um dos objetivos deste trabalho é verificar a
viabilidade do uso do método da maturidade em concretos brasileiros, será também investigada a
existência de trabalhos nacionais publicados na literatura que abordem o tema, de forma a entender
o que há de evolução a nível nacional e o que ainda precisa ser desenvolvido.
De forma a nortear e facilitar a aquisição do aparato bibliográfico foi utilizada a metodologia
desenvolvida por Ensslin et al. [13] denominada ProKnow-C (Knowledge Development Process –
Construtivist). Para a seleção textos estudados foram premissas a autenticidade, a representatividade
junto à comunidade científica e a imparcialidade.
Como pode ser observado, na Fig. 1, logo nas primeiras idades, a influência do gradiente térmico de
cura pode ocasionar resultados distintos na medição de maturidade, o que leva a concluir que o
método da maturidade somente pode ser utilizado com confiabilidade nas primeiras idades [6, 8,
19]. Outro ponto a ser considerado é que este efeito de cruzamento também é afetado pelo tipo de
mistura cimentícia, por apresentar desenvolvimento distinto quanto ao calor e taxa de hidratação
[20, 21], o que será explicado à frente (item 3.1.1).
Diante do exposto, e como o Método da Maturidade se trata de procedimentos que trarão dados a
um modelamento matemático com as características intrínsecas do concreto, em busca de um
resultado numérico que o qualificará, deve-se conhecer e estudar com cautela todas as variáveis
desse processo.
(1)
Em que:
- α (te) é igual ao grau de hidratação em idade equivalente;
- te é igual à idade equivalente (ver Eq. 4) [horas];
- τ é igual ao parâmetro do tempo de hidratação [horas];
- αu é o grau final de hidratação;
- β é igual ao parâmetro da forma de hidratação.
Segundo Xu et al. [11] αu, τ e β, advém de curvas de hidratação que caracterizam os materiais
cimentícios e, portanto, são específicos a cada tipo. Um alto valor de αu indica que aquele material
teve alta magnitude de liberação de calor. Em contrapartida, se o material teve alto valor de τ,
indica que ele tem a característica de hidratar-se mais vagarosamente. Além disso, altos valores de β
indicam que a taxa de hidratação fora expressiva. Poole et al. [22] complementam que mesmo que a
Eq. (1) seja uma formulação empírica para quantificar o grau de comportamento de hidratação do
concreto, na maioria dos casos, fornece uma estrutura razoável para modelos preditivos, porque αu,
τ e β podem ser todos calibrados com dados de teste.
Durante o desenvolvimento do Método da Maturidade o calor de hidratação é o principal fator de
mensuração, contudo, é de grande importância quantificar também a energia de ativação, que está
diretamente ligada ao design do concreto e influenciará o comportamento da hidratação.
3.1.2. Energia de ativação aparente do concreto
A energia de ativação dentro do Método da Maturidade pode ser figurada como a “identidade” do
concreto. Esta advém da química molecular. Foi proposta por Svante Arrhenius na última parte do
século dezenove para explicar que as reações químicas não ocorrem instantaneamente quanto
reagentes são colocados em contato [6, 27]. Arrhenius defendeu a ideia de que antes de um grande
estado de energia ser ativado, os reagentes têm que adquirir uma energia que seja maior do que a
barreira que tende a não reagir quimicamente [22, 28].
Brown e LeMay [27] explicam que em sistemas moleculares as partículas estão em movimento e a
energia é transferida entre elas quando elas colidem. A medida que o número de colisões aumenta
algumas moléculas adquirem energia suficiente para desencadear novas colisões. A partir daí a taxa
de reações aumenta e, por consequência, a temperatura aumenta. Em outras palavras, Poole et al.
[22] complementam que a teoria de Arrhenius é usada para capturar a sensibilidade à temperatura
de uma mistura particular, de modo que seu comportamento possa ser modelado sob diferentes
condições de temperatura.
É importante destacar que as proposições de Arrhenius partem de experimentos em sistemas de
fases homogêneas e o concreto, por ser um compósito multi fase, onde as reações de hidratação não
são uma simples reação, a energia de ativação de Arrhenius não pode ser aplicada diretamente à
cinética do concreto. Na verdade, o que se determina medindo o aumento da temperatura em função
do tempo, durante a hidratação dos grãos de cimento, pode ser chamada de energia de ativação
aparente (Ea) [22, 23, 28].
A obtenção da Ea do cimento pode ser realizada por meio de experimentos calorimétricos,
mecânicos ou medida diretamente a partir da evolução dos valores de água não evaporável [23]. Os
estudos acerca da determinação da energia de ativação em concretos foram iniciados com
experimentos isotérmicos por Carino em 1984 [28]. Estes, acrescidos de formulações matemáticas
desenvolvidos por outros pesquisadores compõem o Anexo A da ASTM C 1074 [7].
Nokken [19] realizou um levantamento sobre ensaios de determinação de calor de hidratação.
Constatou, a princípio, que diversos métodos foram utilizados: reológicos, calorimétricos,
mecânicos e elétricos. A grande variação da Ea também foi observada, partindo de 7,5 a 63 kJ/mol.
Apesar disso, satisfatoriamente a grande maioria resultava na faixa entre 30-45 kJ/mol, em
consonância à faixa de valores sugerida pela ASTM C 1074 [7]. Outra questão observada por
Nokken [19] em seu levantamento: as energias de ativação determinadas em idades precoces são
menores que 35 kJ/mol, enquanto àquelas determinadas em idades posteriores excedem 35 kJ/mol.
Além disso a autora constatou que a Ea é menor em cimentos Portland acrescidos de cinzas volantes
enquanto que a adição de escória apresenta resultados mais elevados.
Ainda sobre estes valores, é importante ressaltar uma importante contribuição ao Método da
Maturidade advinda pelos estudos de Freiesleben-Hansen e Pedersen em 1977. Os autores
apresentaram formulação genérica em função da temperatura do concreto (Tc), onde é considerado
um intervalo de -10 ºC a 80 ºC [9]:
a) para Tc > 20 ºC: Ea (Tc) = 33.500 J/mol
b) para Tc < 20 ºC: Ea (Tc) = 33.500 + 1.470 (20-Tc) J/mol
Estudos nacionais determinaram energia de ativação aparente dentro da faixa sugerida pela ASTM
C 1074 – 40 a 45 kJ/mol - em concretos utilizando cimentos CP V [29, 30, 31]. A título de
exemplo, a Tabela 1 apresenta os dados de Ea definidos pela pesquisa de Peres et al. [30]:
Nota-se que a faixa média de resultados está próxima dos valores encontrados internacionalmente
[7, 11, 19, 21, 27]. Contudo, os autores [30] sugerem novos experimentos em condições de
temperaturas diferentes.
(2)
Em que:
- R é a constante de gases natural: 8,314 [J / mol / K];
- T - temperatura [K] na qual a reação ocorre;
- k - taxa de evolução de calor [W];
- A - constante de proporcionalidade;
Ea - energia de ativação [J / mol].
Portanto, a Ea pode ser determinada pela inclinação do logaritmo natural da mudança da constante
de taxa em relação ao inverso da temperatura, como dado na Eq. (3) [19]:
(3)
Em que:
- R é a constante de gases natural: 8,314 [J/mol/K];
- T = temperatura do concreto [°C].
(4)
Em que:
- M é o índice de maturidade em ºC-horas ou ºC-dias;
- T é a temperatura média do concreto [ºC] durante um intervalo de tempo Δt;
- T0 é a temperatura de referência (sugerida pela ASTM C 1074 de -10º C);
- t é o tempo de aferição [dias ou horas];
- Δt é o intervalo de tempo [dias ou horas].
(5)
Em que:
- te(Tr) é igual a idade equivalente à temperatura de referência T r [horas/dias];
- Tc é igual à temperatura do concreto [ºC];
- Ea e R são como definidos anteriormente.
A base desta equação (5) é determinar o efeito da temperatura na taxa de reações químicas que
ocorrem durante o período de hidratação [9].
Após a determinação em laboratório do índice de maturidade, ou tempo equivalente, os projetos do
canteiro de obras virão com esta informação. Na fase de preparação para concretagem os
termopares são fixados às ferragens e concretados [7]. Ao término da concretagem inicia-se a
medição da evolução do calor gerado na peça estrutural (Fig. 2) [35]. Quando essa temperatura
atinge o índice determinado em projeto pode-se considerar que aquela peça estrutural atingiu a
resistência à compressão esperada.
Figura 2 – Leitura da temperatura do concreto em uma ponte recém concretada. Fonte: Engius [35].
Fig. 3 – Curva resistência à compressão versus idade equivalente para uma viga pré-moldada. Fonte: Peres et al.
[29].
Ainda sobre este estudo, Peres et al. [30] demonstraram aplicabilidade satisfatória do método em
concretos pré-moldados, contudo foram constatadas variações nas curvas térmicas, que no caso da
pesquisa em referência, influenciou os resultados de maturidade em até 17%.
Outros estudos brasileiros sobre o Método da Maturidade e a energia aparente de ativação podem
ser encontrados. Salvador Filho [37] utilizou o Método da Maturidade para avaliar concretos de alto
desempenho (CAD) com diferentes concentrações de adição de sílica ativa. O autor concluiu que o
método proporcionou maior clareza quanto a obtenção das propriedades estudadas, contudo pondera
que para acompanhamento do desenvolvimento do CAD há a necessidade de ciclos térmicos que
extrapolem os limites do Método da Maturidade.
Estudos nacionais também avaliara o uso do Método da Maturidade em diferentes aplicações e
formulações do concreto: Santos [24] avaliou a influência do patamar de cura em concretos auto
adensáveis com diferentes adições minerais; Scoaris et al. [25], assim como Peres et al. [30],
avaliou pré-moldados de concreto, porém, desta vez, reforçados com fibras; Silva [38] verificou
concretos com adições de cinzas de casca de arroz; enquanto que Silva et al. [10] testou concretos
curados em gradientes térmicos superiores aos sugeridos pela ASTM C 1074 de forma a verificar a
possibilidade de aplicar o Método da Maturidade em regiões com climas mais quentes. Por fim,
Coelho [39] obteve resultados de maturidade como dados de entrada para o estudo de efeitos
termomecânicos em obras de concreto massa em barragens. Nestes estudos mencionados os
resultados foram conclusivos quanto à contribuição do Método da Maturidade para avaliar a
propriedade dos concretos estudados.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Avaliar a possibilidade do uso do Método da Maturidade em concretos nacionais foi um dos
objetivos desta pesquisa. Por isso optou-se, nesse final de revisão de literatura, por listar
pesquisadores brasileiros que obtiveram sucesso, comprovando a possibilidade de uso do método
neste país. Os estudos internacionais, relatados no decorrer desta pesquisa, apresentaram resultados
satisfatórios, salvo as limitações e desafios que foram progredindo à medida que novas pesquisas
eram desenvolvidas. Portanto, é de grande valia saber que nacionalmente também há a alternativa
de se optar por um método que priorize ensaios não destrutivos.
Há também o fato de que o acompanhamento in loco da evolução da temperatura na peça
concretada contribui para a produtividade, pois assim que o concreto atinge a resistência esperada
pode-se liberar a próxima etapa construtiva. Isso poderá acontecer em idades diferentes do que é
comumente feito nas obras brasileiras que, na maioria das vezes, seguem os tempos determinados
na NBR 5.739 (7, 14 e 28 dias).
Além disso, extingue-se a necessidade de gerar corpos de prova no canteiro a cada concretagem
para serem curados e rompidos à compressão nos tempos determinados, contribuindo para a
redução do desperdício de concreto, evitando que corpos de prova sejam descartados como resíduo.
Reduz também custos, pois não há a necessidade de gastos com ensaios laboratoriais pós
concretagem. Em obras de parede de concreto, por exemplo, onde há muitas vezes a necessidade da
criação de um laboratório de concreto exclusivo para a obra, esse custo seria suprimido.
As dificuldades a serem vencidas, que estão fora do escopo proposto por este trabalho, e são
impulsionadoras de estudos futuros, são:
a) avaliar os custos dos equipamentos de monitoramento, softwares e treinamento versus custos
dos procedimentos usuais;
b) há a necessidade de numerosos testes em obra, onde os resultados de maturidade do concreto,
devido à variabilidade climática das regiões brasileiras, poderão sofrer a influência dos
gradientes térmicos, diferentes das temperaturas controladas de laboratórios;
c) avaliar também a responsabilidade e influência de vícios construtivos, erros na concretagem,
tratamento dos dados e o seu efeito no resultado real se comparado ao laboratorial.
O resultado destes estudos poderia subsidiar o desenvolvimento de uma normalização nacional.
Importante salientar que o intuito de estudos como este não é incentivar o abandono de práticas
consolidadas de controle tecnológico do concreto, mas sim uma alternativa, não destrutiva, aos
ensaios vigentes.
REFERÊNCIAS
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Engenharia da Ilha Solteira, Universidade Estadual Paulista, 2006.
[37] SALVADOR FILHO, J. A. A. Cura térmica dos concretos de alto desempenho: análise das propriedades
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[38] SILVA, C. A. R. Aplicação do conceito de maturidade em concreto com adição de cinza de casca de arroz.
2004, 130 f. Dissertação (mestrado em Engenharia Civil) – Faculdade de Engenharia da Ilha Solteira, Universidade
Estadual Paulista, 2006.
SELEÇÃO DE LOCAL PARA A CONSTRUÇÃO DE ATERROS
INDUSTRIAIS PERIGOSOS: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA
Raphaela Araújo de Aguiar 1, Fernanda Deister Moreira 2, Mariana Medina da Fonseca 3, Thais
Girardi Carpanez 4
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil, raphaela.aguiar@portejr.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil, fernanda.deister@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil, mariana.medina@engenharia.ufjf,br
4
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil, thais.carpanez@engenharia.ufjf.br
1. INTRODUÇÃO
A produção de resíduos industriais e comerciais são fortemente influenciados pelo aumento
populacional, visto que com este, o consumo de bens e serviços cresce, incentivando a produção
industrial e, por conseguinte, o incremento dos resíduos provenientes dessas atividades (Gianinni,
2010).
Alguns resíduos industriais têm características tóxicas e de biodisponibilidade
potencialmente maior ao meio ambiente do que outros. Dessa forma, com o crescimento desses
resíduos e principalmente, em função de suas características, é necessário selecionar um local
adequado para sua disposição final, sem causar riscos ao meio ambiente. Assim, implementou-se
aterros diferenciados e específicos, como o aterro para resíduos perigosos, que atende a demanda
dos resíduos industriais perigosos. Além disso, qualquer que seja o tipo de resíduo industrial é
importante que tenha um eficiente sistema de drenagem pluvial e a impermeabilização do leito para
evitar a contaminação do solo e da água subterrânea (Monteiro, 2006).
Os aterros de resíduos perigosos são classificados como potencialmente poluidores, segundo
a Deliberação Normativa Copam nº 217, de Minas Gerais (BRASIL, 2017), atendendo, dessa
forma, a lei 6938/81 que estabelece, normas e critérios para o licenciamento de atividades
potencialmente poluidoras, esses aterros devem ser devidamente licenciados (BRASIL, 1981).
Devido a esse potencial poluidor considerável, exige-se estudos ambientais tanto previamente à
implantação quanto após a sua desativação.
Segundo Acioly (2016) a localização inadequada da disposição final dos resíduos é um
grave problema que pode comprometer os recursos ambientais. É necessária, então, a realização de
um estudo prévio, fundamentado em informações ambientais e de legislação que permitem efetuar
uma análise integrada da escolha final das áreas prioritárias para a disposição final dos resíduos
(GOMES, 2001). Esse estudo de seleção de local visa definir qual a melhor área para o aterro
industrial com objetivo de atender a critérios técnicos, legais e ambientais (Tavares & Carissimi,
2012).
Assim, a determinação da localização de um empreendimento deve ser feita de forma
detalhada, para que não ocorra impactos ambientais negativos relevantes que muitas vezes podem
ser custosos ou até mesmo irreversíveis, como a contaminação de solos e águas subterrâneas. Para a
análise da área do aterro industrial perigoso, deve ser feito um estudo sobre as características
hidrográficas, geológicas, do bioma, do relevo e do clima, além de análises aos critérios
estabelecidos por normas e aos levantados pela equipe. Desta maneira, é possível selecionar e
hierarquizar um conjunto de áreas para localização do empreendimento, visando a minimização dos
impactos gerados.
Para o estudo de seleção de local não há um termo de referência específico, contudo
existem metodologias que podem ser seguidas para otimizar este processo. Uma das metodologias
mais utilizadas é a seleção de local por estabelecimento de critérios de restrição e seleção, feita pela
equipe multidisciplinar com base em legislações e experiência prévia, com o auxílio de software de
geoprocessamento, através de análise booleana e análise multicritério para exclusão de áreas
inadequadas (Samizava et al., 2008).
Diante do exposto, o presente trabalho tem por objetivo propor uma metodologia de seleção
de local para um aterro industrial de resíduos perigosos a fim de contemplar os aspectos legais,
ambientais, econômicos e sociais a partir de uma avaliação multicritério.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Visando desenvolver uma metodologia para seleção de local para aterros industriais de
resíduos perigosos, utilizou-se como metodologia de apoio trabalhos que realizaram estudos de
seleção de local para aterros sanitários como Weber e Hasenack (2000), Born (2013), Lourenço et
al. (2015), Schmidt (2016) e Amaral e Lana (2017), utilizando o método de análise multicritério e
análise booleana.
A primeira etapa do trabalho consistiu em revisão bibliográfica e compreensão de normas e
legislações ambientais vigentes para resíduos sólidos perigosos e aterros industriais.
A segunda etapa consistiu no estabelecimento dos critérios, os quais foram classificados
como: restritivos, de seleção nível 1 e de seleção nível 2. Aplicou-se aos critérios restritivos a
análise booleana e aos critérios de seleção 1 a análise multicritério. Os critérios de seleção 2 são
observações que devem ser feitas para definir os locais candidatos, foram escolhidos baseados na
legislação e parâmetros ambientais.
A combinação desses, utilizando essas análises adaptadas dos trabalhos supracitados,
permite uma tomada de decisão mais acertada e embasada, uma vez que possibilita a avaliação de
áreas com maior adequabilidade para o uso dentro da região de interesse.
A terceira etapa foi a validação do método, através do uso do software Vista S.A.G.A 2007 -
LAGEOP/UFRJ, para o município de Juiz de Fora, Minas Gerais.
Esse processo de decisão é de natureza multicritério, ou seja, são considerados diversos
atributos relacionados ao projeto, implantação e operação do aterro na avaliação da seleção do local.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O processo de decisão para a escolha da área para receber um aterro industrial perigoso, foi
desenvolvido a fim de contemplar os aspectos legais, ambientais, econômicos e sociais com base na
avaliação de vários critérios e todas as etapas estão discriminadas na figura 1.
Vias de acesso
A distância das vias de acesso é um critério essencial para planejamento da logística do
aterro. Na falta de uma norma específica para aterros industriais, utilizou-se o critério
conforme a DN COPAM Nº118/2008, que estabelece os requisitos mínimos para a
localização da área de um depósito de resíduos sólidos urbanos. A distância de vias de
acesso não pode ser menor que 100 metros.
Unidades de conservação
A lei n° 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza, estabelece que as Unidades de Conservação (UC), que são espaços territoriais
que possuem restrições quanto ao uso, são áreas inviáveis para a implantação de aterros
sanitários. Já que essa restrição é válida para aterros sanitários, foi considerada para aterros
industriais.
A aplicação dos critérios de restrição é realizada através de uma análise booleana, onde são
combinados todos os mapas temáticos da área de interesse que contemplavam esses critérios e os
dados foram processados no software Vista S.A.G.A 2007.
Análise Booleana- Definição de áreas preliminares
A álgebra booleana consiste na combinação lógica de dados de entrada, gerando mapas
temáticos sobre diferentes critérios através de operadores condicionais. São utilizadas ferramentas
lógicas como AND (interseção), OR (união), NOT (negação) e XOR (exclusão). Para o estudo em
questão, adotou-se o operador NOT (A NÃO B), sendo A os critérios favoráveis e B os não
favoráveis, de forma que, a interação entre os dois critérios também será não favorável.
Esse método foi aplicado aos critérios de restrição, uma vez que a lógica booleana só pode
ser aplicada em análises que os critérios avaliados possuem o mesmo peso; como esses se referem a
condições legais, essa análise se torna válida.
Os resultados são expressos em forma binária, de modo que os critérios não favoráveis
recebem a nota 0 e os favoráveis nota 1.
Para a aplicação da análise booleana, são combinados todos os mapas temáticos da área de
interesse que contemplavam os critérios de restrição, conforme apresentado no Quadro 2 e os dados
processados no software Vista S.A.G.A 2007.
Quadro 2: Análise booleana aplicada às restrições legais para a escolha de áreas para a disposição dos resíduos
industriais perigosos
Valor Norma mais
Critérios restritivos
0 1 restritiva
<1%
Declividade entre 1 % e 20 % NBR 10.157/1987
> 20%
Proximidade à hidrografia < 200 m > 200 m NBR 10.157/1987
DN COPAM
Distância das vias de acesso < 100 m > 100 m
Nº118/2008
Unidades de Conservação (UC) Dentro Fora Lei n° 9.985/2000
Núcleos Populacionais < 500 m > 500 m NBR 10.157/1987
APTIDÃO
Fonte: Autores, 2018.
A análise de cada critério, bem como as funções aplicadas a cada um deles, com seus pontos
de controles, estão representadas no Quadro 6. A nota referente ao uso e ocupação do solo por
apresentar seus valores em categorias, foi definida de acordo com o menor impacto ambiental
causado.
Quadro 6: Análise multicritério aplicada aos diferentes graus de aptidão por critério
Pontos do Gráfico
I Comportamento do
Faixa de
D Critério A B C D critério Nota
avaliação
Sigmoidal Crescente < 200 m 0
(Gorsevski, 2012) 200 - 600 m 7
Distância de 600 - 1000 m 9
M corpos 200 1000 1000 1000
1 hídricos
>1000 m 10
Solo Exposto 10
Capoeira 9
Uso e
M Vegetação
ocupação do - - 8
6 Rasteira
solo
Floresta
0
Natural
Fonte: Autores, 2018.
Após o processamento dos dados, de acordo com as notas e os pesos determinados, obteve-
se como mapa de saída as áreas potenciais para implantação do aterro industrial perigoso. As áreas
que somaram as maiores pontuações são aquelas que representam a maior aptidão para implantação
do empreendimento.
Áreas inundáveis
É necessário que o aterro não seja instalado em possíveis áreas de inundações, para não
comprometer sua estrutura nem espalhar a contaminação através da água. Segundo a NBR
10.157/87 o aterro não deve ser executado em áreas sujeitas a inundações, em períodos de
recorrência de 100 anos.
Distância de aeródromos
A distância de aeródromos com base na Portaria nº 249/GCS/2011 do Ministério da Defesa
não pode ser menor que 9 quilômetros na Zona da Mata Mineira, onde se insere a área de
interesse. Essa distância é definida para que a atração de animais e o odor dos aterros não
interfira no funcionamento de aeroportos.
Tamanho do terreno
Deve-se verificar o tamanho do terreno para saber sua vida útil do aterro. Por ser um
projeto complexo e de alto investimento, a NBR 10.157/87 recomenda que se estipule uma
vida útil mínima para o aterro de 10 anos.
Acesso ao terreno
O terreno deve ter acesso facilitado para a entrada e saída dos caminhões no aterro.
Locais Candidatos
A caracterização dos locais candidatos deverá ser feita a partir de levantamentos expeditos
em campo para reconhecimento de local e de características chave que são essenciais para a
definição do local de implantação do aterro.
A caracterização desses locais será realizada de 6 meses a 1 ano, e após essas definições,
elenca-se os locais candidatos e a partir disso fica a critério do empreendedor escolher o local de
implantação do aterro.
Durante a visita dos locais deve-se atentar para detectar falhas que inviabilizariam a
implantação do projeto. Feito isso, deve-se avaliar fatores geológicos, fisiográficos, ecológicos e
sócio-econômicos. Em geral, avalia-se qualidade das vias de acesso, aspectos socioeconômicos
como valor do loteamento, proximidade de locais arqueológicos ou de valor cultural, proximidade
de postos de saúde, direção predominante do vento, locais com menor necessidade de supressão
vegetal, etc. (Coastal & Environmental Services, 2015).
4. CONCLUSÃO
No presente estudo pode-se observar o passo a passo para seleção de local de um aterro
industrial, a qual, envolve conhecimentos diversos e, por isso, deve-se enfatizar a necessidade de
uma equipe multidisciplinar. O conhecimento da equipe sobre a metodologia de sobreposição de
mapas é imprescindível para uma análise global da determinação do local. É necessário, também,
um conhecimento prévio dos critérios para determinar se esses são restritivos ou seletivos já que só
a partir dessa divisão é possível gerar os mapas que serão sobrepostos indicando, após a análise
multicritério, as áreas candidatas a receber o projeto.
A realização da escolha da localização para o empreendimento é um processo duradouro e
exige, em cada etapa, muitos debates e estudos de toda a equipe. É de sua importância esclarecer
que, apesar de as áreas aptas serem concluídas pelos especialistas, todos devem estar cientes que a
escolha final fica a critério do empreendedor.
REFERÊNCIAS
[1] GIANINNI, C. Gestão dos resíduos industriais e a qualidade de vida. IV Encontro de Engenharia de Produção
Agroindustrial. Campo Mourão-PR, 2010.
[2] MONTEIRO, A. E. Índice de qualidade de aterros industriais-IQRI. Dissertação de mestrado. Departamento de
Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
[3] BRASIL. Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM). Deliberação Normativa nº 217 de Dezembro de
2017. Diário executivo de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2017.
[4] BRASIL. Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938/1981). Diário oficial da união. Brasília, 1981.
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em 18.04.18.
[5] ACIOLY, A. V. Sig Aplicado na pré - seleção de Áreas para a Implantação de Aterro Sanitário no município de
Breves(PA)- Belém - Pará. 2016.
[6] GOMES, Luciana Paulo et al.; Verificação de critérios técnicos utilizados para a Seleção de áreas para disposição
de resíduos sólidos Urbanos. XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária e Ambiental. ABES. Rio de
Janeiro, 2001.
[7] TAVARES, MC.; CARISSIMI, E.Seleção de áreas para implantação de um aterro sanitário em Porto Velho/RO
utilizando geoprocessamento.3º Congresso Internacional de Tecnologias para o Meio Ambiente. Bento Gonçalves – RS,
2012.
[8]SAMIZAVA, T. M.; KAIDA, R. H.; IMAI, N. N.; NUNES, J. O. R. SIG Aplicado à Escolha de Áreas Potenciais
para Instalação de Aterros Sanitários no Município de Presidente Prudente - SP. Revista Brasileira de Cartografia
Nº60/01, Abril 2008. (ISSN 1808-0936). Presidente Prudente, 2018.
[9] WEBER, E.; HASENACK, H. Avaliação de áreas para instalação de aterro sanitário através de análises em SIG
com classificação contínua dos dados. In: VI Congresso e Feira para Usuários de Geoprocessamento da América Latina,
2000, Salvador. Anais... Salvador: 2000. p. 3175-3182.
[10] BORN, V. Avaliação da aptidão de áreas para a instalação de aterro sanitário com o uso de ferramentas de apoio
à decisão por múltiplos critérios. Lajeado. 2013.
[11] LOURENÇO, R. W; CUNHA, D. C; SALES, J. C. A; MEDEIROS, G. A; OTERO, R. P. A. Metodologia Para
Seleção De Áreas Aptas À Instalação De Aterros Sanitários Consorciados Utilizando Sig. Revista do Centro de
Ciências Naturais e Exatas – UFSM. Ciência e Natura, Santa Maria, v. 37 n. 4 set-dez. 2015, p. 122-140.
[12] SCHMIDT, T. Seleção de Área e Dimensionamento de Aterro Sanitário para Consórcio Público Intermunicipal
para Assuntos Estratégicos do G8 - CIPAE G8. Monografia de Conclusão de Curso em Engenharia Ambiental,
UNIVATES. Lajeado, 2016.
[13] AMARAL, D. G. P; LANA, C. Uso de geoprocessamento para indicação de áreas favoráveis à construção de
aterro sanitário no município de Ouro Preto (MG). Caderno de Geografia, v.27, n.51, 2017.
[14] ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10157/87: Aterros de resíduos perigosos – Critérios para
projeto, construção e operação. Rio de Janeiro, 1987.
[15] CONSELHO ESTADUAL DE POLÍTICA AMBIENTAL DE MINAS GERAIS. Deliberação Normativa no 118,
de 27 de junho de 2008. Alteram os artigos 2o, 3o e 4o da Deliberação Normativa 52/2001, estabelece novas diretrizes
para adequação da disposição final de resíduos sólidos urbanos no Estado, e dá outras providências. Minas Gerais, Belo
Horizonte, 28 jun. COPAM, 2008.
[16] BRASIL. LEI N° 9.985. Brasília, DF, Julho 2000. Disponível em:
<http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=322>. Acesso em: 15/05/2018.
[17] MARINO, T.B. Sistema de Análise Geo-Ambiental. Trabalho de Conclusão de Curso do Departamento de Ciência
da Computação, UFRJ.2005.
[18] BRASIL. Ministério da Defesa (Comando da Aeronáutica). Portaria no 249/GCS/2011, de 06 de maio de 2011.
Aprova a edição do PCA 3-2 que dispõe sobre o Plano Básico de Gerenciamento do Risco Aviário – PBGRA nos
aeródromos brasileiros. Disponível em: <http://www.cenipa.aer.mil.br/cenipa/Anexos/article/205/PCA_3-
2_PBGRA.pdf>..
[19] COASTAL & ENVIRONMENTAL SERVICES. Relatório de Seleção de Local. Moçambique, 2015. Disponível
em:
<http://www.cesnet.co.za/pubdocs/Baobab%20Tete%20Iron%20Ore%20Portuguese%20CB127_190116/Relatorio%20
de%20Selecao%20do%20Local%20do%20Aterro%20Sanitario.pdf>. Acesso em: 09/06/2018
INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA NA ANÁLISE DE
ESTABILIDADE DE TALUDES DE SOLO NÃO SATURADO
Resumo: Dentre as particularidades do solo não saturado, uma de notável importância é seu
comportamento quando se trata de resistência ao cisalhamento. A necessidade de um estudo relativo
a tal particularidade deste material se faz clara pelo grande número de acidentes que ocorre a cada
ano devido a movimentos de massa que se dão em função da variação de umidade do solo não
saturado que está presente em boa parte do território brasileiro. Neste trabalho foram feitas reanálises
de um talude que rompeu no ano de 2008 na rodovia BR-116, km 17, no estado do Rio de Janeiro,
cujas análises haviam sido feitas por La-Côrte[1]. Estas reanálises foram feitas considerando uma
escolha diferente da escolha do autor para os parâmetros de resistência dos dois solos existentes no
talude em questão. Segundo a teoria da envoltória estendida de Fredlund, Morgenstern e Widger [2],
foi calculada a coesão total do solo a partir de valores de teor de umidade volumétrica de La-Côrte e
Fernandes[3] e de curvas características de sucção definidas por Fernandes. As análises de
estabilidade e os fatores de segurança foram determinados através do software disponível em modo
gratuito. Foi possível verificar, a partir da comparação com análises anteriores de La-Côrte[1], que o
fator de segurança sofre grande influência dos níveis de sucção do solo. Foi ainda possível perceber
como ensaios de cisalhamento sem sucção controlada, como os realizados por La-Côrte[1], geram
envoltórias de resistência que não condizem com a realidade dos solos não saturados uma vez que os
pontos de ensaio não pertencem a mesma curva por terem níveis de sucção diferentes, de acordo com
a teoria da envoltória estendida de Fredlund, Morgenstern e Widger [2].
Abstract: When discussing the particularities of unsaturated soil, one of notable importance is its
behavior when it comes to shear strength. The need for a study related to this particularity of this
material is made clear by the large number of accidents that occur each year due to mass movements
that occur due to the variation of moisture of unsaturated soil that is present in a considerable part of
the brazilian territory. In this paper, re-analyzes of a slope that slipped in the year 2008 on the highway
BR-116, km 17, in the state of Rio de Janeiro, whose analyzes were made by La-Côrte[1]. These re-
analyzes were made considering a different choice of the author's choice for the resistance parameters
of the two soils in the slope in question. According to Fredlund, Morgenstern e Widger’s [2]extended
envelope theory , total soil cohesion was calculated from La-Côrte[1] and Fernandes [3] volumetric
moisture content values and characteristic curves defined by Fernandes[3]. Stability analyzes and
safety factors were determined using the free software available. It was possible to verify, from the
comparison with previous analyzes of La-Côrte[1], that the safety factor suffers great influence of the
soil suction levels. It was also possible to observe how shear tests without controlled suctioning, such
as those performed by La-Côrte[1], generate resistance sheaths that do not correspond to the reality
of unsaturated soils since the test points do not belong to the same curve because they have different
suction levels, according to Fredlund's extended envelope theory.
Keywords: non satured soils, suction, soil stability.
1. INTRODUÇÃO
Acidentes com movimentos de massa são muito comuns no Brasil, principalmente em períodos de
intensa precipitação. Um dos principais fatores que levam ao movimento de massa é a alteração das
condições de umidade em decorrência da infiltração por água da chuva no solo.
O Brasil é um país de maciços terrosos em regiões tropicais nos quais a condição de solo não saturado
é muito significativa. Dentre as várias peculiaridades do solo não saturado, uma de considerável
importância é a resistência ao cisalhamento do mesmo. O estudo dessa propriedade do solo tem sua
necessidade evidenciada pelo grande número de acidentes envolvendo movimentos de massa que
acontece a cada ano. O estudo da análise de estabilidade de taludes leva em conta a influência de
cortes em massas de terra, que estão sujeitos à ação da gravidade, e à variação do nível d’água nestes
taludes.
A análise da condição da estabilidade de um talude depende fortemente dos parâmetros de resistência
do solo. No caso dos solos não saturados, estes parâmetros são obtidos de ensaios especiais na
condição não saturada ou de ensaios na condição saturada, em conjunto com dados de sucção mátrica.
1.2 Sucção
Solos não saturados apresentam ainda uma característica notável que é a sucção. Este parâmetro
exerce grande influência no comportamento mecânico do solo e em suas características de resistência.
Para que haja um entendimento do fenômeno de sucção de água nos solos deve ficar clara a ideia de
energia no solo. O estudo de energia referente à água em solos segue as regras básicas descritas na
física: a água se desloca de regiões com mais energia para regiões com menos energia [5].
A Equação 1 apresenta os principais potenciais a serem considerados no estudo do fluxo da água no
solo não saturado. Esta equação se assemelha à equação de Bernoulli desconsiderados fatores apenas
presentes em situações muito específicas.
Onde:
Ψtotal = Potencial total;
ψz = Potencial gravitacional;
ψm = Potencial matricial;
ψosm = Potencial osmótico.
Especificamente sobre o potencial matricial, este considera o efeito conjunto dos fenômenos de
capilaridade e de adsorção sobre a energia livre da água do solo.
O potencial capilar surge no solo como consequência de forças de atração entre moléculas do mesmo
fluido (coesão) e entre moléculas de fluido e sólido (adesão). Fenômenos de ascensão capilar ocorrem
em pequenos diâmetros, como é o caso do solo. O fenômeno da adsorção está relacionado à existência
de cargas superficiais não balanceadas na superfície do solo [5].
A curva característica de sucção ou curva de retenção da água do solo, como também é chamada, é
uma representação gráfica da relação entre a umidade gravitacional ou volumétrica e a sucção da água
intersticial [6]. A maioria dos processos ocorridos neste material pode ser analisada por tal curva [5].
A forma que a curva característica apresenta é função de fatores como a trajetória seguida durante o
ensaio, a geometria dos poros do solo, a ocorrência de ar ocluso e as variações volumétricas. A Figura
1 mostra exemplos de curva características em função da granulometria.
Figura 1 - Formas de curvas granulométricas de sucção dos solos devido à granulometria. Fonte: [7]
Segundo Das [8], talude é uma superfície de solo exposta que forma um ângulo com a horizontal.
Como esta superfície não é horizontal, estará sujeita à ação da gravidade que poderá levar esta massa
de solo à ruptura, ocorrendo um deslizamento da mesma.
Para analisar a estabilidade de um talude é necessário determinar seu fator de segurança Fs que é
geralmente definido como a razão entre o somatório dos esforços resistentes e o somatório dos
esforços atuantes, como mostra a Equação 2 [9].
Σesforços resistentes (2)
𝐹s =
Σesforços atuantes
No caso de Fs maior que 1, não há ruptura. Geralmente 1,5 é um valor razoável de Fs para o projeto
de um talude estável. Os esforços resistentes ou a resistência ao cisalhamento são determinados como
função da tensão normal efetiva. Therzaghi definiu a tensão normal efetiva σ’ para solos saturados
como na Equação 3.
onde:
σ ’= σ – uw (3)
σ = tensão normal total;
uw = pressão na água dos vazios do solo.
Dentre as diversas equações propostas para definir a tensão normal efetiva σ’ em solos não
saturados, a mais conhecida foi a de Bishop (Equação 4).
σ’=(σ – ua) – χ (ua – uw) (4)
onde:
ua = Pressão do ar no solo
uw = pressão do líquido no solo
χ = parâmetro dependente do tipo do solo e seu grau de saturação, variando entre 0 e 1.
A Equação (4) apresenta um coeficiente χ que não é uma característica fundamental do solo, o que
representa uma inconveniência. Fredlund então, não se preocupando em definir uma equação geral
de tensões efetivas, demonstrou que as variáveis de tensão (σ – ua), (σ – uw) e (ua – uw) são
suficientes para definir o estado de tensões do solo não saturado. Qualquer par dessas variáveis é
independente visto que (σ – ua) + (ua – uw) = (σ – uw).
Com base nestes conceitos, Fredlund propôs a Equação 5 para a tensão cisalhante de ruptura τf para
solos não saturados.
Os parâmetros de resistência para o solo não saturado se assemelham aos do solo saturado. O
parâmetro c, o intercepto de coesão, constitui a coesão aparente e, assumindo-se Φb constante, sofre
aumento linear com o aumento da sucção. A coesão c pode ser vista como uma parcela de aumento
no valor da resistência do solo, daí pode-se dizer que a sucção contribui para o aumento da resistência.
O parâmetro Φb constitui um ângulo que indica a razão de aumento da resistência do solo não
saturado em relação à sucção [4]. Este parâmetro varia de acordo com o nível de sucção como mostra
o gráfico da Figura 3.
Figura 3 - Variação de Φb com o nível de sucção em solos brasileiros originários de biotita-gnaisse Fonte:
CAMPOS e CARRILLO [10] apud CARVALHO[5]
Conforme observado por Fredlund et al. [2] e Fredlund e Rahardjo [4], nota-se que para o solo
saturado, espera-se que Φb=Φ’. Desta forma, tem-se que envoltória estendida de resistência pode ser
linear ou curva e que, para valores elevados de sucção, o formato curvo é mais provável e Φb e Φʹ
não são constantes.
1.4 Ensaios
Figura 4 - Curva granulométrica do Solo Rosa. Figura 5 - Curva granulométrica do Solo Amarelo.
Fonte: La-Côrte[1] Fonte: La-Côrte[1]
De acordo com a granulometria, o solo Amarelo se caracteriza em uma argila arenosa com silte e o
solo Rosa em uma areia siltosa. Os ensaios de limite de consistência para o solo Amarelo indicaram
LL de 52,6% e LP de 25,2%, enquanto o solo Rosa mostrou-se não plástico.
La-Côrte[1] buscou avaliar a influência do nível d’água na estabilidade do talude. Para tanto, realizou
ensaios de cisalhamento direto para determinar os parâmetros de resistência, a partir de amostra
indeformada na condição saturada. Os valores obtidos constam da Tabela 1. Os valores médios de
massa específica seca do solo foram de 1,21 g/cm3 para o solo Rosa e de 1,49 g/cm3 para o solo
Amarelo.
Tabela 1 - Parâmetros de resistência do Solo Rosa e do Solo Amarelo. Fonte:[1]
Solo ρ C Φ’
Figura 7 - Curva característica de sucção do Solo Figura 6 - Curva característica de Sucção do Solo
Rosa. Fonte: [3] Amarelo. Fonte: [3]
2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é mostrar, a partir de um estudo de caso de um talude rompido e já analisado
por Gabriel La-Côrte[1] em ensaios sem sucção controlada, a influência da escolha dos parâmetros
de resistência ao analisar a estabilidade do talude considerando sua condição de solo não saturado.
3. MÉTODOS
Para que fosse alcançado o objetivo deste trabalho, foram feitas reanálises do talude do Km 17 da
rodovia BR116/RJ a partir da teoria da envoltória estendida de Fredlund, Morgenstern e Widger [2]
(Figura 2), ou seja, de forma que o fenômeno de sucção fosse levado em conta ao analisar a
estabilidade do talude em função de seu fator de segurança.
Para que fosse feita a análise de estabilidade do talude em estudo, foi necessário determinar os
parâmetros c e Φ a serem utilizados no software. Os parâmetros saturados foram obtidos diretamente
da envoltória de ruptura na condição saturada determinada por La-Côrte[1] e constam da Tabela 7.
No caso dos parâmetros c e Φ para a condição natural do solo (não saturada), foi necessário determinar
a coesão total pela (Equação 6), visto que neste trabalho os parâmetros estão sendo determinados a
partir da envoltória de resistência estendida (Figura 2 e Equação 6). Para tanto, foi preciso definir o
valor de umidade natural dos solos.
A Tabela 2 apresenta o valor de coesão total (C) obtido para o Solo Amarelo, sendo este de 140,48
kPa determinado a partir do teor médio de umidade volumétrica de 21,37% medido por Fernandes[3].
Tabela 2 - Cálculo de Coesão total para o Solo Amarelo. Fonte: Autor
θ (%) SUCÇÃO (u-uw) Φ ' (°) Φb/Φ' Φ b (°) c' (kPa) Δ c (kPa) C (kPa)
A Tabela 3 mostra o mesmo cálculo para o solo Rosa, sendo o de 115,10 kPa determinado a partir do
teor médio de umidade volumétrica de 23,75% medido por Fernandes[3].
Tabela 3- Cálculo de Coesão total para o Solo Rosa. Fonte: Autor
θ (%) SUCÇÃO (u-uw) Φ ' (°) Φb/Φ' Φ b (°) c' (kPa) Δ c (kPa) C (kPa)
O valor do ângulo Φ b utilizado para cálculo da coesão total para o Solo Rosa e Solo Amarelo foi
obtido a partir da Figura 3. Segundo Abrantes [17], a resistência ao cisalhamento diminui com o
aumento de Φb, visto que um aumento no valor de Φb diminui o valor da sucção. Desta forma, a
curva do colúvio vermelho foi escolhida para o Solo Rosa e a curva do colúvio típico foi escolhida
para o Solo Amarelo, pois as mesmas apresentam os maiores valores para Φb (sendo Φ’ constante),
o que resultou em uma análise da estabilidade do talude a favor da segurança.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com os valores de coesão total calculados para o Solo Rosa e para o Solo Amarelo e definido um
valor para fi b, foram refeitas análises de La-Côrte[1] pelo software.
Uma das análises de La-Côrte[1] considerou o talude na condição natural, sem existência de linha
piezométrica e parâmetros de resistência obtidos nos ensaios de cisalhamento direto na condição
natural e sem controle de sucção. O resultado da reanálise desta condição com parâmetros de
resistência em condição saturada obtidos por La-Côrte[1] como mostra a Tabela 1 se encontra na Figura
8, e indica o fator de segurança de 1,487.
Figura 8- Análise do talude com parâmetros de resistência na condição saturada obtidos por La-Côrte[1] sem
existêcnia de nível d’água. Fonte: Autor
A análise feita por La-Côrte[1] utilizou parâmetros de resistência da amostra natural. O resultado
para esta condição se encontra na Figura 9, e índica o fator de segurança 0,977.
Figura 9 - Análise do talude com parâmetros de resistência na condição natural obtidos por La-Côrte sem
existência de nível d'água. Fonte: Autor
A comparação destas duas análises mostra uma incoerência na análise de La-Côrte[1], visto que o
resultado esperado, considerando o acréscimo de coesão causado pela sucção, seria um fator de
segurança maior ao se utilizar de parâmetros de resistência em condição natural comparado ao fator
de segurança obtido na análise com parâmetros de amostra saturada.
Dessa forma, foi feita a reanálise do talude na condição natural considerando os valores de coesão
total para o Solo Rosa de 115,10 kPa e para o Solo Amarelo de 140,48 kPa obtidos pela Tabela 3 e
pela Tabela 2 a partir das umidades de Fernandes[3], obtendo um fator de segurança de 3,360 como
mostra a Figura 10.
Figura 10 - Fator de segurança considerando a sucção nos dois solos . Fonte: Autor
Figura 12 - Planificação das envoltórias traçadas por pontos de ensaio de diferentes umidades como no estudo de
La-Côrte [1]. Fonte: Autor
5. CONCLUSÃO
A análise dos resultados mostra que parâmetros de resistência obtidos para a condição natural do solo
a partir de uma envoltória gerada em um ensaio sem controle de sucção não são coerentes. Ao se
utilizar da teoria da envoltória estendida de Fredlund, Morgenstern e Widger [2], é possível obter um
valor de coesão total que representa melhor a realidade do solo não saturado e, portanto, um resultado
mais coerente quando está presente o solo não saturado.
Considerando que um dos principais motivos para que não seja feito o ensaio com controle de sucção
é o custo do mesmo, sugere-se que seja usado um método menos custoso como o do papel filtro para
gerar a curva característica de sucção para a amostra do solo. Assim é possível alcançar um resultado
mais coerente nas análises de estabilidade a partir do valor de coesão total calculado através da teoria
da envoltória estendida de Fredlund, Morgenstern e Widger [2], como demonstrado neste trabalho.
REFERÊNCIAS
[1] LA-CÔRTE, G. H. A.Influência do Nível Freático da Estabilidade de uma Encosta. Trabalho de conclusão de
curso, UFJF, Juiz de Fora, 2015, 60 p.
[2] FREDLUND, D. G.; MORGENSTERN, H.R.; WIDGER R.A. The shear strength of Unsaturated Soils. v. 15(3),
1978, p. 313-321.
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conclusão de curso, UFJF, Juiz de Fora, 2016, 54p.
IDENTIFICAÇÃO DOS IMPACTOS DOS TELEACOPLAMENTO DAS
FRUTAS ORGÂNICAS CERTIFICADAS NO BRASIL
Abstract: Indirectly, organic products offer attributes related to the protection of the environment.
After all, these products, in contrast to conventional agriculture, do not contain pesticides, chemical
fertilizers, genetically modified inputs or synthetic additives. In addition, they present a differential
associated with the nutritional and sensorial aspect. In Brazil the process of certification of organic
fruits requires a production within the international standards. In this way, the local production
system is also able to supply global demand. This fact is a facilitator of the connection between
distant places of production and consumption. This relationship between spatial scales and social
systems is what characterizes a situation of telecoupling. It is argued that understanding the
consequences of this situation for the protection of the environment and food security is relevant for
public policies. Much of the literature on telecoupling often analyzes the flow of commodities
between countries. Under the light of the attributes associated with telecoupling, this study
identifies the environmental impacts of certified organic fruit movement within Brazil in general,
and in particular, to the consumer market of Greater Curitiba. The impacts considered are related to:
(1) production site, (2) seasonality, (3) transportation, and (4) packaging. The telecoupling structure
of the organic fruits commercialized in the Organic Market of Curitiba, integrate several human and
natural elements, involved in a diversity of distant interactions. It provides a way to incorporate
interconnections and return to improve the economy, policy, strengthen the import and export of
organic fruit, valuing the cultural issue where organic agriculture should prevail the traditional, the
technological issue, both transport and storage should be efficient at long distances and what
concerns the ecological issue, take advantage of the good climatic conditions for the cultivation of
organic fruits in the region. Identifying new knowledge that can not be obtained without
considering the interaction alone and distant, understand that telecoupling is important to govern
global sustainability and generate feedback of the whole process.
Keywords: Brazil; Curitiba; Certified organics fruits; Environmental impacts; Telecoupling; Brazil.
1. INTRODUÇÃO
1.1. Teleacoplamento
Segundo Reid et al., (2010), nas últimas décadas, o mundo sofreu drásticas transformações e
ampliou as interações em longas distâncias. O teleacoplamento considera sistemas humanos e
naturais interligados, onde a interação ocorre dentro entre locais geográficos específicos e
possibilita evidenciar os impactos na sustentabilidade socioeconômica e ambiental. Para Levitt
(1983), os cientistas sociais tem estudado a globalização econômica ou interações socioeconômicas
entre sistemas humanos distantes, conforme figura 1B e 2B. Conforme mostra Liu et al. (2011), na
figura 1C e 2C que o teleacoplamento engloba interações socioeconômicas e ambientais entre
sistemas acoplados naturais e humanos distantes. A sustentabilidade pode ser melhor compreendida
quando diferentes tipos de interações são integrados em vários sistemas humanos e naturais
acoplados (Liu et al., 2016).
Figura 1A, 2A, 1B, 2B, 1C, 2C, – Definições de Teleconexão, Globalização, Teleaclopamento
Fonte: Adaptado: Glantz et al. 1991; (Fig, 1A ; 2A); Levitt 1983; (Fig. 1B; 2B); Liu et al. 2011; (Fig. 1C; 2C)
Segundo a FiBL e IFOAM, (2010), é observada uma rápida expansão do sistema orgânico,
sobretudo na Europa, EUA, Japão, Austrália e América do Sul. A figura 3, mostra a distribuição
continental da área orgânica por produtor.
No ano de 1981, Curitiba desponta na agricultura orgânica no Paraná, incentivada pelo 11o
Congresso de Agronomia, que visa a agricultura moderna, realizado em 1979 e pelo Primeiro
Encontro Nacional de Agricultura Alternativa (EBAA). Em 1981, foi criado para promover debates
sobre a temática o Grupo de Estudo de Agricultura Ecológica – GEAE, composto por estudantes e
professores do curso de Agronomia da Universidade Federal do Paraná – UFPR. No período entre
1983 e 1984 com intenção de aproximar produtores e consumidores, foi fundada a Cooperativa de
Consumidores e Produtores Integrais – COOPERA. Em 1985 os princípios filosóficos da
agricultura orgânica foram fortalecidos a partir do 1º Congresso Brasileiro de Agricultura
Biodinâmica, que permitiu unir diversos setores não governamentais com governamentais e de
produtores. A região de Curitiba a partir de 1989, se destaca no processo da agricultura orgânica,
com a 1ª banca de venda direta na Feira Verde de Produtos Orgânicos, ficava localizada no Lago da
Ordem. Em 1991, o GEAE criou o Instituto Verde Vida de Desenvolvimento Rural – IVV, visando
desenvolver políticas públicas e prestar assessoria técnica a projetos em agricultura orgânica no
Paraná. A Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento de Curitiba – SMAB, em 1995,
reúne cerca de 30 famílias de agricultores de diversos municípios da Região Metropolitana e destina
a Feira Verde, aos sábados pela manhã para dentro do Passeio Público, região central de Curitiba.
No período em 1997 e 1998, foi realizado em Curitiba o II Seminário Nacional da Agricultura
Orgânica, marco nacional da institucionalização, que através das instituições governamentais e
sociedade civil criam o Conselho Estadual de Agricultura Orgânica do Paraná – CEAO,
representado pela ASEMA, Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural -
EMATER, Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR, Secretaria do Estado e do Abastecimento -
SEAB e Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos - SEMA e entidades não
governamentais, são elas: Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia – AOPA,
Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural – ASSESSOAR, Associação dos Produtores
Orgânicos de Londrina – APOL, Centro Paranaense de Apoio ao Pequeno Agricultor – CAPA e a
empresa Terra Preservada (IAPAR, 2007).
Em 2005 a Feira Verde passou a ser Feira Orgânica e hoje funciona em 14 bairros de
Curitiba, nos períodos da manhã, tarde e noite em diferentes dias da semana, (IAPAR, 2007).
Além das Feiras Orgânicas, Curitiba como tantas outras regiões no Brasil conta com o
Mercado Municipal considerado ponto turístico importante da cidade, dispõe de alimentos e
serviços de qualidade e o Setor de Orgânicos.
2. MATERIAL E MÉTODOS
4. CONCLUSÃO
Para analisar todo o processo de deslocamento das frutas orgânicas que são vendidas nos
cinco boxes do Mercado de Orgânico, piso superior do Mercado Municipal de Curitiba, as respostas
obtidas no questionário referente a quais frutas comprar e em que Estado ou país, esclarece que na
maioria das vezes a escolha da fruta parte do consumidor, o qual em decorrência de hábitos
adquiridos, visando a saúde e o seu bem-estar, escolhe frutas que estão fora de época local e cabe ao
proprietário do box a responsabilidade de assegurar a compra, assim a sazonalidade é desprezada.
Salienta o proprietário de um dos boxes, que as vezes comprar em São Paulo e até em outros
estados o valor fica mais barato que na Região Metropolitana de Curitiba.
O estudo utilizando a estrutura do teleacoplamento, foi adaptado para o Brasil, país em
desenvolvimento e com um produto diferenciado e específico que são as frutas orgânicas
certificadas, os impactos no local da produção, transporte, comércio, consumo, incluindo os tipos de
embalagens são avaliados para considerar os impactos ambientais e socioeconômicos.
A estrutura de teleacoplamento das frutas orgânicas comercializadas no Mercado de
orgânicos de Curitiba, fornece uma maneira analítica mais ampla para integrar interações
socioeconômicas e ambientais distantes que afetam a sustentabilidade local a níveis globais. As
frutas orgânicas, integram vários elementos humanos e naturais como: terra, água, clima, energia,
ar, seres humanos, envolvidos em uma diversidade de interações distantes. Ele fornece uma maneira
de incorporar interconexões e retorno para melhorar a economia, a política, fortalecer a importação
e exportação das frutas orgânicas, valorizando a questão cultural onde a agricultura orgânica deve
prevalecer a tradicional. Nos aspectos tecnológicos, tanto o transporte quanto o armazenamento
devem ser eficientes a longas distâncias e o que tange a questão ecológica, aproveitar as boas
condições climáticas para o cultivo de frutas orgânicas na região, entender que o teleacoplamento
acontecerá em diferentes escalas espaciais, organizacionais e temporais, identificar novos
conhecimentos que não podem ser obtidos sem considerar a interação sozinha e distante e
compreender que o teleacoplamento é importante para governar a sustentabilidade global e gerar
retorno de todo o processo.
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COMPACTAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE SOLO COM MISTURA DE
CINZA DE EUCALIPTO
José Augusto de Paula MELO 1, Isaque de Souza SILVA 1, Cátia de Paula MARTINS *1, Tatiana
Tavares RODRIGUEZ 1
* catia.martins@ufjf.edu.br
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, Brasil
Resumo: Atualmente, a geração de resíduos sólidos pelas empresas brasileiras tem sido uma grande
preocupação ambiental, tendo em vista que apenas uma pequena parcela possui tratamento e
destinação definida. Como exemplo, pode-se citar o resíduo produzido nas indústrias de papel e
celulose, que realizam a queima de cavacos de pinus e eucalipto para geração de energia no
processo de produção, sendo o produto final dessa queima uma cinza cuja aplicabilidade pode ser
variada dependo de suas características. Nesse contexto, tem-se por objetivo avaliar a possibilidade
de aplicação deste resíduo, proveniente da empresa Paraibuna Embalagens, em Juiz de Fora, através
de misturas com solo buscando a melhoria de suas propriedades para uma eventual aplicação em
aterros compactados. Para tanto, estão sendo realizadas uma série de análises, tanto da cinza quanto
do solo, a fim de se determinar os parâmetros necessários por meio de ensaios de caracterização
para cada um, como os ensaios de compactação com energia normal, de limites de consistência, de
Índice de Suporte Califórnia e de granulometria. Para o resíduo, especificamente, realizou-se
também as caracterizações químicas (espectrometria de fluorescência de raios-x) e mineralógicas
(difração de raios-x), para identificar as composições deste material. A partir das análises até então
realizadas, conclui-se que o resíduo tem, de acordo com a composição granulométrica, a
classificação de areia pedregulhosa com argila, contendo 41 a 65% da fração areia, e um limite de
liquidez de 63%, não sendo possível determinar o limite de plasticidade. Em sua composição
mineralógica, tem-se a presença de dolomita, hematita, quartzo e calcita; já na composição química,
há a predominância de óxido de silício (SiO2) e óxido de cálcio (CaO). Pelo ensaio de compactação,
obteve-se uma umidade ótima de 48% e peso específico seco máximo de 1,05 g/cm³. Para o solo,
tem-se como composição granulométrica a classificação de argila arenosa, limites de liquidez e
plasticidade de 57,7% e 31,1%, respectivamente, e, como parâmetros da compactação, uma
umidade ótima de 23,4% e peso específico seco máximo de 1,63 g/cm³. Realizaram-se três misturas
nas proporções de 5%, 15% e 25% de resíduo, sendo feitos ensaios de compactação na umidade
ótima do solo para avaliar a variação do peso específico. Os resultados mostraram uma diminuição
desse parâmetro, como o esperado, porém, não se obtiveram reduções bruscas, sendo esse um fato
positivo. No entanto, percebeu-se que aplicação em aterros compactados se torna mais viável para
menores quantidade de resíduo misturado ao solo.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, a indústria é responsável por gerar cerca de 33 milhões de toneladas de resíduos sólidos
por ano, sendo que apenas 25% desse total possui um tratamento correto, de acordo com a
Associação Brasileira de Resíduos e Efluentes (Abetre). Os resíduos sólidos são definidos como
resíduos no estado sólido ou semissólido, que resultam de atividades de origem industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição [1]. Atualmente, são inúmeros
os problemas ambientais, sociais e econômicos que o Brasil vem enfrentando. Nesse sentido, pensar
em alternativas para a reciclagem e reutilização desses resíduos é de suma importância para a
minimização de tais problemas, não só no ponto de vista ambiental, como também econômico.
Muitas são as possíveis soluções para a destinação de resíduos sólidos, sendo que, entre as
aplicações, a área da Engenharia Geotécnica pode ser diretamente beneficiada. Em se tratando da
geotecnia, percebe-se que a aplicação de resíduos sólidos ainda é pouco explorada; entretanto, o
desenvolvimento de estudos na área se torna necessário, visto que, atualmente, inúmeros são os
problemas – do ponto de vista geotécnico – em obras que não possuem soluções diretas e
econômicas. A busca por soluções nessa área se dá através da mistura de resíduos com o solo, a fim
de se avaliar as propriedades do solo antes e após a aplicação do resíduo. Nas pesquisas já
realizadas, enfatiza-se a capacidade do aumento de fertilidade que certos resíduos proporcionam,
porém, há casos em que se analisa a aplicação de resíduos para melhoria de características do solo,
como a resistência ao cisalhamento [2].
Um dos problemas geotécnicos que não possuem solução direta e econômica é a construção de
aterros compactados. Para que um aterro desempenhe um bom resultado, é necessário que as
características do material geológico sejam bem definidas e adequadas para tal uso. Nem sempre é
possível encontrar solos com boas características, sendo ideal a busca por outros materiais para a
realização de uma mistura. Define-se um bom composto como aquele cuja resistência aumenta ou,
pelo menos, não tenha grande alteração em relação ao solo separadamente. Além disso, para essas
obras, busca-se um material com pouca deformabilidade.
A indústria de papel e celulose realiza a queima de cavacos de pinus e eucalipto – visto que o
plantio dessas duas espécies é rápido – para geração de energia no processo de produção, sendo que
o produto final dessa queima é uma cinza cuja aplicabilidade pode ser variada dependendo de suas
características. Estudos realizados destacam o uso das cinzas de cavaco de eucalipto (CCE) na
construção civil por ser um material inerte e apresentar atividade pozolânica, sendo usada em
substituição parcial do cimento, em agricultura como redutor de pH do solo e em compósitos, em
que se misturam materiais distintos a fim de se obter um produto com características melhores para
determinada aplicação [3]. Em Juiz de Fora, a empresa Paraibuna Embalagens gera como resíduo a
CCE em seu processo de produção. Parte dessas cinzas são usadas por agricultores da região como
forma de adubo, porém, a maior parte delas não possui uma destinação final.
2. OBJETIVOS
3. MÉTODOS
Previamente à realização dos ensaios, foram coletadas amostras deformadas tanto do solo quanto do
resíduo em estudo, ambos seguindo o procedimento PRO003 do DNER [4]. O solo foi retirado de
um talude da Pró-Reitoria de Infraestrutura (PROINFRA), com auxílio de paceta, e a cinza foi
coletada na empresa Paraibuna Embalagens, com auxílio de uma pá. Os materiais foram coletados
em Juiz de Fora, embalados, identificados e levados para laboratório para realização dos
procedimentos de preparo de amostras com secagem prévia até a umidade higroscópica, segundo a
NBR6457 da ABNT [5]. Na Figura 1 é possível observar o solo e o resíduo em seus locais de
coleta.
Fig. 1 - Locais onde as amostras de solo e resíduo foram coletadas
Após o preparo das amostras, foram realizados os ensaios de caracterização física do solo e do
resíduo. Seguindo a Norma ME093 do DNER [6], realizou-se o ensaio de determinação da
densidade relativa dos sólidos do resíduo. Por não se tratar de um solo comum e baseado numa
análise visual da amostra do resíduo, optou-se pela utilização de três picnômetros de 250 ml, com
30g de resíduo em cada um. A massa específica dos sólidos do resíduo foi, então, obtida pela média
dos resultados de cada picnômetro. Para o solo, não se julgou necessário a realização deste ensaio,
levando em conta que uma amostra do mesmo local de coleta foi estudada anteriormente por
Oliveira Júnior [7], sendo obtida a massa específica dos sólidos do mesmo. Essa situação se repetiu
para a caracterização granulométrica e para os limites de consistência.
Para a determinação da granulometria do resíduo, tomou-se como base a Norma NBR7181 da
ABNT [8] e alterou-se apenas a quantidade de material utilizada na sedimentação, com uma
redução de 50g (20g a menos que o indicado em norma para solos finos). Após a execução dos
peneiramentos e da sedimentação, determinou-se as porcentagens de cada partícula considerada e
plotou-se a curva granulométrica. Já para os limites de liquidez (LL) e plasticidade (LP), usou-se a
Norma NBR6459 da ABNT [9] para LL e a Norma NBR7180 da ABNT [10] para LP.
No ensaio de LL do resíduo, houve uma dificuldade na execução da ranhura com o cinzel devido à
movimentação do resíduo na concha (Fig. 2). Com isso, tornou-se necessária a formação da ranhura
em etapas, evitando que o problema acontecesse. Assim, determinou-se o número de golpes e a
umidade de pelo menos 5 pontos, utilizados para plotar o gráfico do limite de liquidez.
Fig. 2 - Amostra do resíduo movimentado na concha e resíduo com a ranhura feita para realização do ensaio
O ensaio de compactação das amostras seguiu a Norma NBR7182 da ABNT [11] no tópico de
“compactação com reuso de material, sobre amostras preparadas com secagem prévia até a umidade
higroscópica” com uso de energia normal em cilindro pequeno (Proctor), que possui massa e
volumes conhecidos. As figuras 3 e 4 mostram uma etapa da compactação e o aspecto do material
compactado, tanto para o solo quanto para o resíduo.
Após a compactação dos 5 pontos e determinados os teores de umidade em cada um, determinou-se
a massa específica seca e umidade para cada ponto de compactação e plotou-se o gráfico da curva
de compactação. A partir da curva é possível determinar a massa específica seca máxima e o teor de
umidade ótimo, definidos pelo ponto máximo da curva.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Resíduo
O ensaio de densidade real dos grãos do resíduo teve como resultado o valor de 2,479. Quanto à
granulometria do resíduo, foram realizados ensaios com duas amostras para efeito de comparação.
Como o material apresentou partículas grosseiras, resultado de uma queima incompleta, fez-se um
corte na curva granulométrica referente a essas partículas, considerando que a porcentagem
passante a partir nas peneiras acima da abertura de 2 mm foi 100%. Sendo assim, obtiveram-se as
curvas representadas na Figura 5, que designaram uma composição de 80% de areia, 11% de silte e
9% de argila no resíduo.
Fig. 5 - Curva granulométrica do resíduo (AUTOR, 2018)
Pelo ensaio de compactação do resíduo, encontrou-se uma massa específica seca máxima de 1,051
g/cm³ e umidade ótima 48,0%, a partir da curva apresentada na Fig. 7. Esses resultados comprovam
a presença de matéria orgânica no material, tendo em vista que a massa específica seca máxima foi
muito pequena e a quantidade de água necessária para atingi-la foi elevada em comparação a
ensaios com solos.
Os resultados da caracterização do solo foram obtidos por Oliveira Júnior [7]. A massa específica
dos sólidos (ρs) do material é 2,82 g/cm³. Em relação à composição granulométrica, apresenta 1%
de pedregulho, 33% de areia, 5% de silte e 62% de argila, sendo caracterizado como argila arenosa,
sendo a curva granulométrica apresentada na Figura 8. Os limites de liquidez e plasticidade foram
de 57,7% e 31,1%, respectivamente.
A composição química do solo em função dos nove principais óxidos pela espectrometria de
fluorescência dos raios-x é apresentada na Tabela 1, que mostra a predominância dos óxidos de
alumínio, silício e ferro , respectivamente.
Material SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO TiO2 K2O P 2O5 MnO
Solo 19,7606 23,5874 12,7175 0,0067 0,7788 1,6629 0,0225 0,00488 0,011
Quanto à composição mineralógica, o solo apresenta picos predominantes dos minerais caulinita,
quartzo e feldspato, além de alguns picos de Ilita e Mica para a fração areia [12].
Pelo ensaio de compactação do solo, obteve-se uma massa específica seca máxima de 1,63 g/cm³ e
umidade ótima 23,4%, a partir da curva apresentada na Fig. 9.
Fig. 9 - Curva de compactação do solo
4.3. Mistura
Com os resultados obtidos para os materiais estudados, observou-se que as propriedades do resíduo
são inferiores às do solo no quesito aplicação em aterros compactados. Com isso, para uma eventual
mistura, na teoria, as características do solo podem ser prejudicadas com a adição do resíduo.
Optou-se, então, por definir misturas em que as porcentagens do resíduo são menores, como 5, 15 e
25% e analisar os resultados da compactação de um único corpo de prova na umidade ótima obtida
para o solo. A Fig. 10 mostra a variação da massa específica seca da mistura em função da
porcentagem de resíduo.
1,65
Massa específica aparente seca (g/cm³)
S=90%
1,6
1,55
1,5 S=75%
1,45 S=70%
1,4 S=65%
1,35
1,3
0 5 10 15 20 25 30
Porcentagem de resíduo na mistura
Fig. 10 - Obtenção da massa específica seca das misturas pelo ensaio de compactação
Como esperado, tem-se que a massa específica seca do material resultante da mistura diminui
comparada à do solo (0% de resíduo), onde a mistura com 5% de resíduo é a que apresenta o
resultado mais favorável. Contudo, é necessário analisar que os graus de saturação apresentados no
gráfico para cada ponto de mistura compactada, dados pela fórmula da Equação 1.
𝑆×𝜌𝑠 ×𝜌𝑤
𝜌𝑑 = 𝑆×𝜌 (1)
𝑤 +𝜌𝑠 ×𝑤
Onde “ρd” é a massa específica seca, “S” é o grau de saturação, “ρs” a massa específica dos grãos,
“ρw” é a massa específica da água e “w” é a umidade do corpo de prova compactado.
O grau de saturação de cada mistura é apresentado ao lado de cada ponto, sendo que as três
propostas estão fora do limite indicado por Souza Pinto [13], que afirma que os pontos de umidade
ótima estão entre 80 e 90% de grau de saturação. Isso indica que os resultados obtidos ao se
compactar as misturas na umidade ótima do solo, não se encontram os valores de massa específica
seca máxima e umidade ótima da mistura. Esse fato explica o comportamento anormal da curva,
tendo em vista que se esperava que, quanto maior a porcentagem adicionada de resíduo, menor seria
a massa específica correspondente.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por se tratar de uma pesquisa em fase exploratória, foi possível realizar apenas algumas
considerações. Na análise dos resultados da caracterização do solo e da cinza de cavaco e eucalipto
e dos resultados apresentados na compactação das três misturas na umidade ótima do solo, observa-
se que a adição de resíduo altera as características do solo negativamente, fazendo com que a massa
específica aparente seca diminua. Entretanto, para o traço com 5% de resíduo, essa diminuição foi
menos acentuada, indicando que este pode ser um bom traço para a mistura em sua utilização em
aterros compactados. Sendo assim, pode-se observar que, mesmo em pequenas quantidades, é
viável a aplicação do resíduo em aterros compactados, aliando economia e sustentabilidade para as
obras de terra.
Ressalta-se que a pesquisa está sendo continuada visando uma análise mais detalhada desse novo
material obtido, através, por exemplo, da realização de ensaio completo de compactação a fim de se
determinar sua umidade ótima e massa específica aparente seca máxima.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à UFJF pela bolsa de iniciação científica PIBIC/CNPQ/UFJF nas Ações
Afirmativas, que possibilitaram o estudo e pesquisa do tema deste artigo. Agradecem, também, ao
laboratorista Lázaro Lopes, pelo auxílio prestado.
REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004: Resíduos sólidos - Classificação. Rio de
Janeiro, 2004, 71 p.
[2] BANDEIRA, F.O. Estudo da resistência ao cisalhamento de misturas de solo argiloso com resíduo de
borracha de pneus. Artigo Científico – Universidade Federal da Fronteira do Sul, Chapecó, RS, 2016.
[3] GONZALES, A. D. Caracterização e análise comparativa de cinzas provenientes da queima de biomassa.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2014.
[4] DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. PRO 003: Coleta de amostras deformadas de
solos. Rio de Janeiro, 1994, 4 p.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6457: Amostras de solo - Preparação para ensaios
de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 2016, 12 p.
[6] DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS E RODAGEM. ME 093: Solos – determinação da densidade
real. Rio de Janeiro, 1994, 4 p.
[7] OLIVEIRA JUNIOR, M. R. de. Estabilidade de talude do campus da UFJF. Relatório de iniciação cientifica –
Programa Jovens Talentos. Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2014, 34 p.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR7181: Solo - Análise granulométrica. Rio de
Janeiro, 2016 – Versão corrigida 2: 2018, 12 p.
[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6459: Solo – Determinação do Limite de
Liquidez. Rio de Janeiro, 2016 – Versão corrigida: 2017, 5 p.
[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7180: Solo – Determinação do Limite de
Plasticidade. Rio de Janeiro, 2016, 3 p.
[11] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7182: Solo - Ensaio de compactação. Rio de
Janeiro, 2016, 9 p.
[12] ROSA, J. P. e OLIVEIRA, M. S. Análise mineralógica de solos. Relatório de Pesquisa, Universidade Federal de
Juiz de Fora, MG, 2015. 32p.
[13] PINTO, C. de S. Curso Básico de Mecânica dos Solos. 3ª ed. São Paulo: Oficina de textos, 2011.
ANÁLISE DOS RESULTADOS TERMOGRÁFICOS EM FACHADAS
Vicente Junio de Oliveira Ross11, Ana Flavia Ramos Cruz2, Maria Teresa Gomes Barbosa3
1
Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Juiz de Fora, bolsista PROBIC/FAPEMIG, Juiz de Fora,
Brasil, Email: vicente.rosse@engenharia.ufjf.br
2
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ambiente Construído, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil,
Email:ana.cuz@engenharia.ufjf. br
3
Professora Dra., Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, Email: teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br
Abstract: The control and monitoring of pathological manifestations in building façades are
important ways to program preventive maintenance in civil construction. In this context, the non-
destructive tests that theirs allow to following the buildings and estimate the durability and useful
life of the materials and components, such as thermography. This tool is a feasible solution because
it is a fast and relatively cheap technique. The tool consisting in the use of cameras capable of
measuring the thermal radiation of objects, in order to create, through software, the thermograms,
that is, images that illustrate the heat distribution of the components. The analysis of the data
obtained by thermographic inspection is fundamental, being performed through the interpretation of
data and images making in the process of individualized study of each case, and should be
performed by a specialized professional. However, there is no standardization regarding the way
these results are represented, and different representations are possible. This work aims to evaluate
the use of thermography as a research tool in building, considering the methodologies and
typologies of representation already developed and presented in this work. The methodological
procedure involves qualitative evaluations of the pathological manifestations resulting from the
presence of humidity in the façades of buildings located in the Juiz de Fora city. As results, it is
expected to illustrate the most recurrent damages in the study enterprise qualitatively, so that the
obtained data can be used to elaborate a map of damages that considers this methodology
(thermography) as a form of investigation and aid in the mapping, thus constituting a fast and
effective method in the interpretation of the data and in the identification of the damages found.
1. INTRODUÇÃO
O conceito de desempenho trazido pela NBR 15.575: Edificações Habitacionais – Desempenho,
ainda é muito recente e está causando grande impacto na forma de construir no país. Nos países
europeus este conceito já está mais amadurecido e está presente nas diversas fases da obra (do
projeto à manutenção).
A normalização brasileira, mais especificamente, a norma de desempenho, busca melhorar diversos
aspectos no que tange a melhoria da qualidade de uma edificação, dentre esses, destaca-se o
aumento da vida útil da edificação. O conceito de vida útil é definido, por esta, como sendo
“período de tempo em que um edifício e/ou sistema se prestam a atividades para os quais foram
projetados ou construídos[...]” [1]. Deve-se, inclusive, atender requisitos mínimos, sendo que a
vida útil não pode ser confundida com os prazos (legal e contratual) da obra.
Para que a vida útil seja melhor entendida, o conceito de durabilidade torna-se necessário, pois está
diretamente ligado às suas prerrogativas. Nesse contexto, a durabilidade é uma habilidade da
construção e seus componentes de resistirem as ações de agentes degradantes sendo que a questão
da função ou usabilidade de um dado componente também faz parte da durabilidade.[2,3]
Neste contexto, as fachadas possuem grande importância na proteção da edificação, já que delas
espera-se boa resposta aos diversos agentes danosos. A deterioração deste elemento decorre por
diversas formas de ataque, sejam elas físicas, químicas, mecânicas ou biológicas. Para garantia da
vida útil, prevenir a degradação decorrente da ação dos agentes desfavoráveis ao bom
funcionamento da fachada é tarefa de extrema importância, pois evita a ocorrência das
manifestações patológicas e consequentemente o comprometimento da vida útil de projeto (VUP).
Com isso, são necessários estudos, dentro do setor da construção civil, das diversas formas de
avaliar a durabilidade dos materiais. Um dos modelos que se destaca na previsão de vida útil é
baseado em inspeções. Esta metodologia permite avaliar como o material se comporta ao longo do
tempo. Salienta-se que além do auxílio na previsão da vida útil, a inspeção é eficiente no
acompanhamento do desempenho estabelecido pela normatização brasileira. Sendo assim, a
inspeção predial é uma atividade básica para se fazer um plano de gestão e, basicamente, resume-se
a uma sequência: realiza-se um “exame” visual da construção, posteriormente faz-se análise e
previsão, e em seguida são propostas ações corretivas, quando verificadas manifestações
patológicas e/ou anomalias. [4, 5]
A inspeção predial auxilia na prevenção de falhas, no acompanhamento de manifestações
patológicas, na detecção de anomalias e no registro da evolução dos problemas encontrados. Após a
realização da inspeção predial, faz-se necessário um registro de todas as observações feitas durante
esta atividade, ou seja, a elaboração de documentos, que descrevem o estado no qual a edificação se
encontra, comumente denominados Laudos e é neste documento que o mapa de danos se insere.
Ressalta-se que a inspeção predial não possui uma normatização, logo metodologias para fazê-la
são bastante discutidas no meio. Em geral, é tomada como base a NBR 9452 – vistorias de pontes e
viadutos de concreto – procedimento. Nela estão expostas três tipos de inspeções para pontes e
viadutos: cadastral, rotineira e especial. Elas consistem em, respectivamente, coletar as informações
para viabilizar as demais inspeções; manter o cadastro atualizado avaliando a evolução das falhas
apresentadas na etapa anterior; e fazer inspeção sempre que necessário. Para um bom
acompanhamento, deve ser levada em conta a periodicidade a ser feita e todas as complexidades de
cada edificação, tendo em vista que cada sistema construtivo possui suas peculiaridades, e, desse
modo, requerem uma atenção diferente em tempos diferentes. No entanto, dependendo do
tratamento gráfico usado nos documentos oriundos da inspeção, podem-se ter diversos impactos nos
resultados esperados.
O mapa de danos é classificado como uma representação gráfica, uma linguagem ilustrativa,
bidimensional e atemporal, que transmite informações e observações, devendo sempre estar isenta
de ambiguidades para o leitor [6]. Em resumo, o mapa de danos que mostra os danos presentes na
edificação, usando símbolos, linhas, manchas de cores ou texturas, fotografias, mapas com fichas
técnicas e índices, alcançado através da condensação das informações e observações verificadas na
inspeção predial. [7 -9]
Nesse contexto apresenta-se 7 (sete) diferentes tipos de mapas de danos a fim de ilustrar sua
aplicabilidade [9], conforme descrito a seguir:
TIPO I: consiste em uma composição gráfica que utiliza como efeito diferenças de cores
para representar diferentes gravidades de danos na edificação, de modo que as regiões que
possuírem a mesma coloração, consequentemente se associa às mesmas categorias de
degradação, conforme ilustrado na Figura 1. Ressalta-se a necessidade da escolha das cores,
visto que elas podem sobressair umas as outras comprometendo a qualidade do mapa de
danos.
Fig.1. Mapa de danos com emprego de efeito de cores. Adaptado [10].
TIPO II: esse modelo se baseia em fotografias dos danos e posterior localização na fachada,
usando para isso índices numéricos representados em um desenho esquemático da
construção [11]. Ressalta-se que as imagens presentes neste documento, vide figura 2, foram
muito pontuais, o que dificultou a visão geral e ampla da fachada, como também seu grau de
degradação.
TIPO III: tem como base o uso de fotografias para registro da estrutura descrevendo
brevemente o estado de conservação no qual se encontrava a estrutura, sendo que alguns
pontos mais críticos são descritos de forma mais pontual, vide figura 3 [12]. De modo que a
representação possa ser comparada a uma ficha técnica. Salienta-se ainda, que, esse tipo de
representação é a descrição das manifestações patológicas que estão ocorrendo e o registro
fotográfico serve apenas para ilustra-las.
Fig. 2 – Mapa de danos construído a partir de fotos. Adaptado [11]
Fig. 3. Mapa de danos com uso de fotografias e descrição das manifestações patológicas. Adaptado[12].
TIPO IV: produzido pela equipe do observatório de arquitetura e urbanismo da UFMS e
Arruda (2016)[13], este modelo foi usado como forma de representação um desenho
esquemático, com diferenciação de texturas e cores, de modo a representar as diferentes
características da fachada. Desta forma a representação gráfica mostra-se muito
diversificada e bastante eficiente na amostragem das diversidades presentes nas fachadas,
vide figura 4.
Fig. 4. Mapa de danos com representação esquemática em emprego de texturas e cores. Adaptado [13].
TIPO VI: produzido pelo IPHAN em 2003 [15], este método foi usado um modelo gráfico
da edificação, representado por linhas, texturas e cores, que se assemelham muito ao modelo
de Tirello e Correa [14]. A escolha de identificação dos pontos é suscetível a cada autor,
podendo ele adotar a forma que colocará em maior evidencia a manifestação patológica
estudada, vide Figura 6.
Fig. 5. Mapa de danos
com classificação de gravidade. Adaptado [14].
Fig. 7. Mapa de danos com emprego de recurso fotográfico e gráfico. Adaptado [15].
Analisando as figuras 1 a 7 verifica-se que a representação dos danos é muito parecida, mesmo
considerando as peculiaridades de cada modelo o que de certa forma é positivo, visto que, dada as
complexidades e particularidades de cada edificação e manifestações patológicas analisadas, optar e
escolher o modelo mais adequado é essencial.
Auxiliando na inspeção indireta para mapeamento de danos, a termografia mostrou-se como uma
grande aliada. Bauer et al (2018)[16] classifica essa técnica como sendo simples de usar, já que,
resumidamente, a termografia se baseia na emissão de radiação térmica, de modo que cada corpo do
conjunto que compõe a vedação vertical (VV) emite calor de diferente forma, e essa diferença
auxilia na detecção de possíveis problemas que venham a acontecer ([17],[18]).
Para gerar as imagens térmicas é necessário apenas uma câmera térmica, esse fato já se mostra
economicamente viável. A câmera termográfica possui detectores para captação e conversão da
radiação infravermelha produzida pelos corpos. Deste modo, essa conversão baseia-se na
transformação do sinal infravermelho em sinal elétrico, produzindo assim os chamados
termogramas (imagens térmicas) [17]. Assim, o termograma auxilia na confecção dos mapas de
dano, por se tratar de uma metodologia para investigação indireta e instrumento de inspeção predial.
Assim, esse trabalho de mapeamento de danos, com o uso da termografia, torna-se menos
desgastante e mais seguro para o operador, além da vantagem de se enquadrar como um ensaio não
destrutivo (END).
Portanto, esse trabalho objetiva avaliar o uso da termografia como instrumento de investigação em
edificações habitacionais, frente às metodologias e tipologias de representação já desenvolvidas e
apresentadas nesse trabalho. O foco desta pesquisa foi a investigação de manifestações patológicas
pela presença de umidade nas fachadas de um empreendimento em estudo.
2. METODOLOGIA
Este estudo baseou-se na avaliação das fachas de um conjunto habitacional de caráter residencial,
em que os blocos são constituídos de 5 pavimentos tipo. Os apartamentos possuem dois quartos, um
banheiro, sala conjugada com cozinha, área de serviço. Possuem padrão de acabamento baixo e
fazem parte do programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal. Suas características
construtivas resumem-se a edificações construídas em alvenaria estrutural com revestimento
argamassado.
O objeto de estudo possui sua fachada principal voltada à posição sul, na cidade de Juiz de Fora
(zona da mata mineira), que possui clima tropical de altitude segundo classificação do Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET), ou seja, verão com elevados índices de calor e umidade; a
temperatura média anual é de 20,1°C e uma pluviosidade média de 1504 mm; localiza-se numa
zona puramente residencial e de baixa agressividade ambiental.
Para o uso da câmera termográfica, adotou-se a metodologia de Cruz et al. (2018) [19] na captura
dos termogramas, possibilitando escolher os melhores ângulos de captura. As imagens foram feitas
com a câmera do modelo FLIR ONE: Thermal Imaging Camera for Apple. Para procedimento de
coleta, posicionou-se a câmera a uma distância de aproximadamente 10 metros em relação à
fachada e de 1,45 metros em relação ao piso. No que se refere a inclinação da câmera, adotou-se as
orientações fornecidas por [19], ou seja, procurar usar os ângulos no intervalo contido entre 0° e
20°, porém como trata-se de uma fachada de aproximadamente 14 metros de altura o uso destes não
foi sempre possível. Logo prosseguiu-se para analise amostral de 20% da fachada. Tendo em vista
que assim, conseguiria melhores resultados nos termogramas. Em seguida foi estudada a melhor
forma de representação destes dados, e sua adequação aos modelos citados anteriormente,
propondo, assim, um modelo de simples entendimento que pudesse explicitar as áreas degradas da
fachada devido presença de umidade.
Para o levantamento dos dados, vale salientar que a captura de imagens foi feita em um mesmo dia,
logo a variação climática é considerada desprezível. A temperatura média foi de 22ºC, a umidade
relativa estava em torno de 48% e vento de 14 km/h.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A figura 8 representa patologias presentes nas fachadas do empreendimento, objeto de estudo,
constatadas com auxílio da termografia, onde se verifica respectivamente: ocorrência de vazamento
de tubulação no banheiro e umidade ascensional.
(a) Vazamento banheiro (b) Umidade ascensional
Fig. 8. Manifestações patológicas pela presença de umidade. Fonte: os autores.
Com isso, pode-se dizer que a principal vantagem do uso da termografia como ferramenta de
investigação na etapa de mapeamento de danos é o fato de se tratar de um ensaio não destrutivo,
além de ser um método rápido e efetivo para interpretação de dados e identificação de danos, frente
aos demais métodos verificados na bibliografia. Porém, como desvantagem destaca-se o fato de que
a termogafia não deve ser empregada isoladamente nesse processo de investigação, de modo que
inspeções visuais e demais investigações em campo são imprescindíveis na obtenção de resultados
satisfatórios, que favoreçam a geração de um mapa de danos adequado à realidade encontrada no
empreendimento.
4. CONCLUSÕES
Conclui-se, portanto, que a termografia apresentou-se, de fato, como um recurso auxiliar e
determinante na inspeção e levantamento de danos nas fachadas do empreendimento estudado. Sua
principal vantagem em relação a outros métodos é a facilidade e rapidez de obtenção de resultados,
além de ser um ensaio não destrutivo. Porém, ela não dispensa análises visuais e demais métodos de
inspeção.
As imagens termográficas podem contribuir para elaboração de uma forma de representação
particular das ocorrências de anomalias, servindo como base para elaboração de um mapa de danos
completo e adaptado à realidade encontrada em campo. A partir dos mapas de danos obtidos com o
uso da termografia, pode-se avaliar, por exemplo, o grau de degradação dos elementos de fachada
de forma quantitativa, por meio da mensuração dos danos mapeados.
Desse modo, pesquisas como essa desenvolvida nesse trabalho são fundamentais na apresentação de
novos recursos que possam contribuir para o desenvolvimento de mapa de danos de fachadas de
edificações habitacionais, contribuindo, assim, com sua vida útil, desempenho e durabilidade.
5. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG pelo apoio financeiro para execução da pesquisa. (Projeto:
APQ-03068-17)
REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. NBR 15.575: Edificações Habitacionais – Desempenho.
4 ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2013.
[2] NIREKI, T. Service life design. Construction and buildings materials, v.10, n.5, 1996, pp. 403-406.
[3] SORONIS, G., The problem os durability in buildings design, construction and buildings Materials, v. 6, n. 4,
1992, pp. 205-211.
[4] SILVA FILHO, L. C. P., Principio histórico de evolução e escopo das inspeções prediais, curso de capacitação em
inspeção de estruturas de concreto, 14 mai – 24 nov de 2014. 52p. Notasa de aula. PDF.
[5] SILVA, M. A. C., Conceitos e metodologia de avaliação de desempenho e a inspeção de edificações, normalização
técnica e sua aplicação no projeto, execução e uso e operação de edificações. Curso de capacitação em inspeção de
estruturas de concreto, 14 mai- 24 nov de 2014. 52p. Notas de aula. PDF.
[6] BERTIN, J. Semiology of Graphics: Diagrams, Networks, Maps. Redlands: Esri Press, 1967.
[7] COSTA, L.G.G. Cronidas: Elaboração da base de dados para auxílio em representação de mapa de danos.
Dissertação para obtenção do grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo. Universidade Federal da Bahia,
2010.
[8] TINOCO, J. E. L. Mapa de danos: recomendações básicas. Textos Para Discussão: Série 2 - Gestão de restauro,
Olinda, v. 43, p.1-21, 2009. Centro de Estudos de Conservação Integrada - CECI, 2009.
[9] CARVALHO. G., ZANONI. V., Análise de tipologias de representação de danos identificados em fachadas de
edificações patrimoniais. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES
(CBPAT), 2018, Campo Grande. Anais 2018, p.1-12.
[10] FITZNER, B. J. Investigation of weathering damage on stone monuments. Geonomos, Belo Horizonte, v.24, n. 2,
2016. p.1-15.
[11] NÚCLEO DE ARQUITETURA DA BIBLIOTECA NACIONAL. Mapeamento de danos da fachada SE do
Edifício Sede da Biblioteca Nacional. 2014. Disponível em:
<https://www.bn.gov.br/acontece/noticias/2015/01/fbn-finaliza-etapa-mapeamento-danos-fachada>. Acesso em:
29 jan. 2018.
[12] GUEDES, J., ARÊDE. J. C. D., COSTA. A., PAUPÉRIO. E. Reabilitação e Reforço de Estruturas Patrimônio
Nacional: Experiência da FEUP. In: FORUM UNESCO, 2002, Lisboa. Seminário Euro-Mediterrânico.
Lisboa, 2002. p. 1 - 11.
[13] ARRUDA, A. M. V.; Observatório de Arquitetura e Urbanismo da UFMS. Relatório de Extensão do Projeto
Edifício José Abrão: Plano de Restauro e Conservação. 2016. Disponível em:
<http://observatorio.sites.ufms.br/edificio-jose-abrao-plano-de-restauro-e-conservacao/>. Acesso em: 29 jan. 2018.
[14] TIRELLO, R. A.; CORREA, R. H. Sistema normativo para mapa de danos de edifícios históricos aplicado à
Lidgerwood Manufacturing Company de Campinas. UNICAMP, Campinas, 2011. p.1-20.
[15] TELES, V. Y. F. da R. et al. Inspeção e diagnóstico das fachadas da Igreja dos Santos Cosme e Damião (Igarassu-
PE). In: SEMIPAR 2016, 1, 2016, Recife. Anais... Recife: Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco,
2016. p. 1 - 12.
[16] BAUER, E., AIDAR, L., MILHOMEM, P. Análise das possíveis variações nos termogramas provocadas por
alterações no ângulo de obtenção das imagens. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PATOLOGIA DAS
CONSTRUÇÕES (CBPAT), 2018, Campo Grande. Anais 2018, p.1-10.
[17] SILVA. D. D. S., Diagnósticos de patologias em fachadas utilizando termografia, Universidade do Porto, 2012.
[18] CORTIZO, E. C. Avaliação da técnica de termografia infravermelha para identificação de estruturas ocultas e
diagnóstico de anomalias em edificações: ênfase em edificações do patrimônio histórico, 2007. Tese (Doutorado
em Engenharia Mecânica) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.
[19] CRUZ, A. F. R., ROSSE, V. J. O., BARBOSA, M. T. G., A importância do emprego da termografia na avaliação
da vida útil de fachadas. In SIMPOSIO INTERINSTITUCIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE
CONSTRUIDO (SINTAC), 2018, Juiz de Fora, 2018.
[20] NUNES, G.; SILVESTRO, L.; SANTOS, I.; MASUERO, A. Análise termográfica para identificação de
manifestações patológicas. Estudo de caso: Instituto de Ciências Básicas da Saúde da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES (CBPAT), 2018,
Campo Grande, Brasil. Anais... Campo Grande, 2018. 12 p.
ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO RESÍDUO DE ROCHAS ORNAMENTAIS
NA RESISTIVIDADE ELÉTRICA VOLUMÉTRICA DO CONCRETO
Resumo:
No beneficiamento de rochas ornamentais é gerado um resíduo chamado de lama de marmoraria ou
lama agressiva. O volume desse resíduo tem crescido devido ao aumento da exportação de rochas
processadas e, também, ao uso crescente dessas rochas no Brasil. Assim, o estudo do
reaproveitamento dessa lama é relevante, pois poderia contribuir para a redução do volume destinado
ao descarte, visto que a disposição inadequada acarreta danos ao meio ambiente. Este trabalho tem
por objetivo analisar a influência do uso do resíduo das rochas ornamentais na resistividade elétrica
volumétrica do concreto com cimento Portland. Trata-se de uma pesquisa experimental em que se
avaliou, inicialmente, concretos confeccionados com cimento CPV, areia média, brita 1 e relação
água/cimento de 0,53. Também foram confeccionados dois outros traços de concreto: em um se
adicionou 20% do volume de cimento em resíduo de lama, e o outro foi produzido com substituição
de 20% do volume de cimento por resíduo de lama de marmoraria, considerado a massa específica
do resíduo para equalização, sem alteração dos demais constituintes. Os corpos de prova foram
conservados sobre as mesmas condições de cura e submetidos a ensaios de resistividade elétrica
volumétrica e resistência à compressão aos 28 dias. Os resultados indicam que a adição do resíduo de
lama ao traço não influenciou na resistência à compressão. No entanto, os resultados da substituição
mostraram uma redução de 20% em relação ao traço de referência dessa propriedade. Quanto à
resistividade elétrica, os resultados sugerem que tanto a adição quanto a substituição por lama
diminuem a resistividade volumétrica do concreto em 20%.
Abstract:
In the treatment of ornamental rocks a residue is generated called mud of mudflat or aggressive mud.
The volume of this residue has increased due to the increase in the export of processed rocks and also
to the increasing use of these rocks in Brazil. Thus, the study of the reuse of this sludge is relevant
because it could contribute to the reduction of the volume destined for disposal, since inadequate
disposal causes damage to the environment. This work aims to analyze the influence of the use of
ornamental rock residue on the volumetric electrical resistivity of concrete with Portland cement. It
is an experimental research that initially evaluated concretes made with CPV cement, medium sand,
gravel 1 and water / cement ratio of 0.53. Two other traces of concrete were also made: in one, 20%
of the cement volume was added to the sludge residue, and one was produced with a 20% substitution
of the cement volume for the sludge mud residue, considering the specific mass of the residue for
equalization, without alteration of the other constituents. The specimens were stored under the same
curing conditions and subjected to volumetric resistivity and compressive strength tests at 28 days.
The results indicate that the addition of the sludge residue to the trace did not influence the
compressive strength. However, the results of the substitution showed a reduction of 20% in relation
to the reference trait of this property. Regarding electrical resistivity, the results suggest that both
addition and mud substitution decrease the volumetric resistivity of concrete by 20%.
1. INTRODUÇÃO
No beneficiamento de rochas ornamentais é gerado um resíduo chamado de lama de marmoraria.
Segundo a ABIROCHAS[1], em seu informe de 2018, as empresas de rochas ornamentais, nos últimos
anos, apresentam um crescimento no mercado nacional e internacional, e por consequência um
aumento da geração de resíduo. Trata-se de um resíduo não biodegradável, que ao ser descartado,
inadequadamente, compromete o meio ambiente [2-4]. O uso da lama de marmoraria na confecção
do concreto, em substituição parcial ao cimento ou agregados finos, colabora para um menor impacto
da construção civil no meio ambiente, visto que haverá descarte mais adequado e a redução no
consumo cimento e agregados finos naturais [5].
Diversos estudos analisaram os efeitos do uso da lama de marmoraria no concreto. Quanto às
propriedades mecânicas, os trabalhos de Rana, Kalla e Csetenyi (2015) [5] e Khodabakhshian, Brito,
Ghalehnovi e Shamsabadi , (2018) [4] observaram um aumento da resistência à compressão nos
espécimes com substituição do cimento por lama de marmoraria inferior a 10%. Porém, quando
aplicado um teor maior do resíduo os valores sofrem um decréscimo quando comparados com os
espécimes de referências, o trabalho de Turker, Erdogan e Erdogdu . (2002) [6] relaciona esta perda
de resistência à compressão a diluição de C2S e C3S, elementos esses, que geram o CSH no processo
de hidratação.
No que diz respeito à permeabilidade e absorção de água, estudos mostram que a inserção da lama de
marmoraria no concreto colaborou positivamente para estas propriedades, ressalta-se que os
resultados foram melhores para percentuais em torno de 20%[7-8]. Trabalhos, ainda, que a resistência
à penetração de cloretos e ataque de sulfato foram melhoradas pela incorporação de resíduos de
marmoraria no concreto[8-9]. Dietrich, Teles e Vieira (2016) [9] justificam esses resultados,
favoráveis a durabilidade do concreto, em função da redução do volume de poros e pela
descontinuidade dos poros da matriz.
Rodrigues, Brito e Sardinha (2015) relatam em seus estudos um decréscimo do módulo de
elasticidade com o aumento do teor de substituição do cimento pelo resíduo de marmoraria nos corpos
de prova. Seara-Paz et al., (2016) substitui o agregado miúdo pelo resíduo, e, também, os seus
resultados indicam um menor módulo de elasticidade. Nesse caso os autores afirmam que essas
reduções são devidas à interface mais fraca entre os materiais empregados e a pasta de cimento.
Neste trabalho, o emprego da lama de marmoraria é analisado quanto aos seus efeitos nas
propriedades físicas do concreto. Considerando o volume de resíduo produzido, o emprego desse
material em elementos da construção civil é uma alternativa benéfica para a sociedade e o meio
ambiente. Uma vez que, estudos indicam melhorias em determinadas propriedades como resistência
à compressão e permeabilidade. Não localizou-se nas literaturas consultadas a influência da adição
desse material na resistividade elétrica do concreto, este trabalho experimental propõe esta análise.
2. OBJETIVO
Este artigo tem como objetivo analisar a influência do resíduo de rochas ornamentais na resistividade
elétrica volumétrica do concreto.
4. MATERIAIS E MÉTODOS
Este trabalho trata-se de uma pesquisa experimental. Foram confeccionados corpos de prova de
concreto com adição do pó de lama de marmoraria (tipo 1) e com substituição parcial do cimento
(tipo 2) por esse material para comparar a influência com espécimes sem adição (tipo 0).
4.1 Materiais
Os materiais utilizados para a confecção dos corpos de provas foram:
Resíduo de lama de marmoraria;
Cimento Portland CPV Ari;
Agregados miúdo de gnaisse;
Agregados graúdo de gnaisse; e
Água potável.
4.2 Métodos
% retido acumulado
8 2,4 122,03 16,34 83,53 16,47
16 1,2 172,32 23,07 60,46 39,54 70,00
30 0,6 128,14 17,16 43,30 56,70
50 0,3 100,24 13,42 29,88 70,12
60,00
100 0,15 111,07 14,87 15,01 84,99 50,00
200 0,075 75,54 10,11 4,90 95,10
Fundo 36,60 4,90 0,00 100,00 40,00
Soma 746,94
Módulo de finura = 2,68
30,00
Dimensão máxima: 4,80 mm 20,00
Massa úmida = 7,60 g
Massa seca = 7,50 g 10,00
Teor de umidade = 2,10 % 0,00
Teor de material pulvenulento = 4,90 %
Massa unitária seca = 1,55 kg/dm³ 10 1 0,1 0,01
Massa unitária = 1,33 kg/dm³
Massa específica = 2,62 g/cm³ Abertura da peneira (mm)
Umidade do material (%) = 1,87
Teor de argila em torrões = 0,20 %
O agregado graúdo empregado foi brita 1 de gnaisse. A caraterização dos agregados graúdos foi
realizado conforme as seguintes normas NBR NM26:2001, NBR NM45:2006, NBR NM53:2003,
NBR NM248:2003, NBR 7211:2009, NBR7251:1982, as informações constam na tabela 2 e no
gráfico 2.
Tabela 2: Caracterização do agregado graúdo Gráfico 2: Gradação de agregados graúdo
Abertura
Número Peso retido (g) % retido % acumulado % retido acumulado
(mm) 100,00
1 1/4" 32 0,00 0,00 100,00 0,00
1" 25 0,00 0,00 100,00 0,00
90,00
% retido acumulado
A massa especifica foi determinado por meio do equipamento Auto density e o módulo de finura pela
NBR 11579:2013.
Tabela 4: Caraterização do Pó de lama de marmoraria
Massa Específica 2,62 g/m³
Finura #200 0,20%
4.2.4 Dosagens e preparação dos corpos de prova
Foram confeccionados corpos de prova cilíndricos de concreto, 10 x 20 cm, de acordo com a NBR
5738:2015. O traço padrão estabelecido foi de 1: 2,04: 2,34, com relação água cimento de 0,53, para
uma resistência característica de 20MPa aos 28 dias.
A partir do traço de referência executou-se mais duas dosagens experimentais. Em uma adicionou
20% do volume de cimento determinado (T20%Ad), e na outra, substitui 20% do volume de cimento
pelo pó do resíduo de marmoraria (T20%Sb), mantendo todas as outras características, conforme
apresentado na tabela 5.
Tabela 5: Dosagens
Nomenclatura Adição Agregado Agregado
Descrição Cimento a/c
no artigo resíduo miúdo graúdo
Adição de 20% do
resíduo no traço de T20%Ad 1,00 0,20 2,04 2,34 0,53
referência
Substituição de 20%
do cimento T20%Sb 0,80 0,20 2,04 2,34 0,53
Foram confeccionados 10 corpos de prova de cada dosagem, totalizando 30 corpos de prova, os quais
foram desenformado com 24 horas, identificados e submetidos ao mesmo processo de cura em
laboratório.
4.2.5 Ensaios
Os corpos de prova foram submetidos aos ensaios de resistência à compressão e resistividade elétrica
volumétrica aos 28 dias de idade.
5. MATERIAIS E MÉTODOS
Quanto aos valores de resistividade elétrica volumétrica, os valores do gráfico 4 indicam que tanto a
substituição quanto a adição da lama de marmoraria no concreto não aumentam a resistividade
elétrica do concreto. A dosagem com substituição apresentou menor valor de resistividade elétrica se
comparado a dosagem de referência e a dosagem com adição.
Gráfico 4: Resultados de resistividade elétrica volumétrica
50,00 45,51 43,10
40,00 38,65
30,00
20,00
10,00
0,00
Ohm.m
6. CONCLUSÃO
A influência da lama de marmoraria no concreto quanto à resistência à compressão e resistividade
elétrica volumétrica foi avaliada.
Quanto à resistência à compressão, a adição da lama de marmoraria não impactou. Porém, a
substituição contribuiu para uma redução de 20% em relação ao concreto de referência.
Quanto à resistividade elétrica volumétrica, a substituição do cimento pela lama de
marmoraria diminuiu em 15% os valores do concreto referência. A adição não afetou os
valores encontrados.
Considerando que adição da lama de marmoraria não impactou a resistência a compressão e
a resistividade elétrica volumétrica, pode-se considerar o uso da adição no intuito de descartar
o resíduo de forma menos danosa ao meio ambiente. Observa-se ainda que, o acréscimo de
resíduo na produção do concreto colabora para um maior volume final de produto em relação
ao referência, fato que impacta na viabilidade econômica do uso do resíduo.
7. REFERÊNCIAS
Pâmela Souza da Silva1, Paula Alvarenga P. Martins2, Raquel Rodrigues Bernardes3, José Alberto
Barroso Castañon
1
Universidade Federal de Juiz de Fora-Campus Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, pamela.souza@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora-Campus Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, paula.martins@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora-Campus Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, raquel.rodrigues@engenharia.ufjf.br
Resumo:
O espaço urbano é formado por elementos que devem seguir normas preestabelecidas para sua
implementação e, por certo, essas diretrizes são elaboradas pensando na funcionalidade e eficácia
do item em estudo. Porém, tão importante quanto o cumprimento das regras é a verificação do
desempenho desses elementos urbanísticos do ponto de vista dos usuários. Afinal, “os elementos
móveis de uma cidade e, em especial, as pessoas e suas atividades, são tão importantes quanto às
partes físicas estacionárias. Não somos meros observadores desse espetáculo, mas parte dele.”
(BRAIDA, 2011, p 19 apud LYNCH, 1999, p1-2). Entretanto, não existem métodos de avaliação
para galerias. Mediante a essa ausência e ao entendimento da relevância da opinião pública no que
diz respeito a elementos com que têm contato em seu cotidiano, surge a necessidade de criar
medidas para julgar o funcionamento das galerias, tanto de forma técnica, quanto de forma pessoal,
isto é, de acordo com o parecer dos transeuntes. O objetivo desse artigo é apresentar uma
ferramenta capaz de avaliar e qualificar galerias. Para isso foi tomado com base um método
avaliativo para calçadas: o Modelo Estimativo de Movimento de Pedestres Baseado em Sintaxe
Espacial, Medidas de Desempenho e Redes Neurais Artificiais, escrito por Zampieri. Foi feita uma
adaptação do método, de forma que se aplique para galerias, tirando algumas medidas, as quais não
eram adequadas e inserindo outras, para que seja um instrumento completo e aplicável. Para a
validação do método foram utilizados dois tipos de questionários, um para técnicos, no qual as
medidas de desempenho são avaliadas quantitativamente, e outro para os transeuntes, estabelecendo
comparações entre as medidas de desempenho.
Abstract: The urban space is formed by elements that must follow pre-established norms for its
implementation and, of course, these guidelines are elaborated with the functionality and
effectiveness of the item under study. However, as important as complying with the rules is the
verification of the performance of these urban elements from the point of view of the users. After
all, "the moving elements of a city, and especially people and their activities, are as important as the
physical stationary parts. We are not mere observers of this spectacle, but part of it. "(BRAIDA,
2011, p 19 apud LYNCH, 1999, p1-2). However, there are no evaluation methods for galleries.
Through this absence and the understanding of the relevance of public opinion with regard to
elements with which they have contact in their daily lives, there is a need to create measures to
judge the functioning of the galleries, both in a technical and personal way, this is, according to the
opinion of the passers-by. The objective of this article is to present a tool capable of evaluating and
qualifying galleries. For this, an evaluative method for sidewalks was used: the Estimating Model
of Pedestrian Movement Based on Spatial Syntax, Performance Measures and Artificial Neural
Networks, written by Zampieri. The method was adapted so that it applied to galleries, taking some
measures, which were not adequate and inserting others, to be a complete and applicable
instrument. For the validation of the method, two types of questionnaires were used, one for
technicians, in which the performance measures are evaluated quantitatively, and another for the
passers-by, establishing comparisons between performance measures.
1. INTRODUÇÃO
As galerias são exemplos desses componentes urbanísticos e, assim como os demais, possuem
normas para serem implantadas. No entanto, não existem métodos avaliativos para galerias. Esse
trabalho de avaliação é de extrema importância e não pode ser desprezado. Mediante a ausência
desses critérios avaliativos, serão tomados como base estudos já realizados para o julgamento de
calçadas e, através deles será criado um novo método, que contará com parâmetros já existentes e
outros criados especificamente para galerias.
O alvo de estudo deste artigo são as galerias localizadas na região central de Juiz de Fora, cidade da
região sudeste do estado de Minas Gerais a qual, diferente das demais cidades da região, que tinham
como principal atividade a mineração, foi dominada pela indústria têxtil no início do século XX. A
instalação de indústrias no município se deu pelo fato de Juiz de Fora ser uma cidade de passagem.
Para entender o processo de formação das galerias de Juiz de Fora é importante analisar a Rua
Halfeld, da qual se originam as principais galerias da cidade. Essa rua, antes denominada Rua
Califórnia, é considerada o eixo estruturador da cidade, pois permite o fenômeno de centralização,
isto é, a concentração de comércio e do fluxo de pessoas em uma determinada área.
É nessa rua também que se situa o tão famoso “calçadão”, que consiste em uma parte da rua,
destinada exclusivamente para pedestres e foi inaugurado em 1975, no centro histórico e financeiro
da cidade. Essa estrutura certamente é favorável para criar um ambiente propício para o comércio e
o maior fluxo de pessoas, onde se encontram as mais diversas cenas cotidianas e demonstrações de
relações interpessoais.
A instalação de galerias nesse meio é de fato uma grande estratégia para o planejamento
urbanístico, mas o histórico da cidade revela que as primeiras galerias não obtiveram sucesso. Isso
veio acontecer na década de 1950, com a forte estagnação econômica da indústria tradicional, aliada
ao aumento de pequenas indústrias familiares de malharias, as quais as ocupariam com suas lojas de
revenda.
A partir daí essas estruturas foram evoluindo e se aperfeiçoando até chegar na situação que temos
atualmente, sendo as galerias ramificações que se convergem para a rua Halfeld, concentrando o
maior fluxo de pedestres.
2. OBJETIVOS
De modo geral tem-se o intuito de criar uma ferramenta que possa ser aplicada em todas as
variedades e modalidades do elemento em estudo, podendo também ser utilizada em outras cidades
que não a que é base dessa pesquisa, lançando mão de algumas alterações que se devem a legislação
local.
Através da ferramenta criada e das observações feitas em campo, propor melhorias para as galerias
já existentes, principalmente, em relação à acessibilidade, servindo, tanto a ferramenta quanto as
propostas de melhorias para galerias que possam vir a ser construídas.
3. METODOLOGIA
O processo da pesquisa é dividido em várias etapas com objetivos particulares. Deu-se início com a
busca de bibliografias a serem usadas como referência para elaboração do método. Posteriormente
foi feita a adaptação do método de avaliação de calçadas para galerias, excluindo algumas medidas
de desempenho e acrescentando outras, apropriando o método para o elemento estudado. Dessa
forma foram elaborados questionários de caráter técnico e pessoal, que futuramente serão aplicados
a profissionais e aos usuários.
Tendo em vista as bibliografias e artigos analisados referentes às avaliações de uso e qualidade de
calçadas e sabendo da importância da avaliação de outros elementos urbanísticos, com os quais os
moradores de toda cidade tem contato em seu cotidiano, o estudo da avaliação de galerias foi feito
através de um paralelo entre os critérios qualitativos desses dois elementos urbanos, aproveitando
alguns dos já apresentados para calçadas e acrescentando outros que se encaixam propriamente
para avaliação de galerias.
Para a elaboração do questionário, usou-se como base a ferramenta de avaliação de calçadas feita
por Zampieri (2006), que tem como material de análise a sintaxe espacial e a medida de
desempenho dos passeios. Apesar da existência de outros métodos avaliativos, não sendo o
objetivo deste trabalho discuti-los, segundo Castañon, Luchini, Almeida e Andrade, a metodologia
de Zampieri mostra-se mais adequada para as adaptações necessárias de avaliação das galerias, uma
vez que apresenta maleabilidade da estrutura da ferramenta, permitindo inserção, adaptação e
exclusão de atributos.
4. ADAPTAÇÃO DO MÉTODO
Como já relatado, a necessidade de um método para avaliação de galerias leva a uma adaptação da
metodologia usada para avaliar um elemento urbanístico de certa forma semelhante, que conta com
a retirada de algumas medidas de desempenho e a inserção de outras, para que a ferramenta seja
apropriada. O modelo escolhido como base foi o Modelo Estimativo de Movimento de Pedestres
Baseado em Sintaxe Espacial, Medidas de Desempenho e Redes Neurais Artificiais, escrito por
Zampieri.
A proposta de Zampieri envolveu uma longa jornada de estudos sobre modelos urbanos e sintaxe
espacial. Além de apresentar um modelo final com medidas de desempenho bem especificadas, que
seriam os critérios de avaliação das calçadas, houve também uma grande pesquisa sobre o
movimento de pedestres e as redes neurais artificiais, uma tecnologia inovadora com muito
potencial na área de modelagem urbana.
Sua pesquisa consistiu em uma coleta de dados, começando na seleção de algumas calçadas, as
quais foram numeradas para serem estudadas. Foi feita uma contagem do fluxo de pedestres em
cada uma delas, em diferentes horários do dia, por alguns dias, a fim de classificá-las quanto ao
movimento.
Ademais, o autor faz uma análise do que chama de “atratores” , que são os componentes do espaço
urbano que atendem a demanda da população, a exemplo: moradia, supermercado, escolas,
comércio, entre outros. O comércio e a prestação de serviços surgem para atender a população que
se estabelece em determinado local e tudo isso é estudado fazendo um paralelo com a sintaxe
espacial.
Ao final desse longo trabalho e fazendo uma associação de todos esses conceitos, Zampieri chega às
medidas de desempenho que julga essenciais para a avaliação de uma calçada. Algumas alterações
foram definidas durante a elaboração das fichas de avaliação e foi escolhida como ideal a que
possui os critérios dispostos separadamente, sendo que cada um deles ainda é desmembrado em
algumas características. São eles:
● Atratividade
Esse critério engloba as características visuais e sociais do espaço estudado, além das características
visuais do entorno. Tem-se então uma preocupação com a estética e a sociabilização dos pedestres.
● Conforto
Já nesse parâmetro encontram-se as características da faixa de circulação, o acesso a portadores de
necessidades físico-motoras e a disposição do mobiliário urbano.
● Manutenção
Nessa medida de desempenho vê-se a preocupação com as características da adequação da
pavimentação, bem como sua condição física e a limpeza da mesma.
● Segurança
Trata-se aqui da possibilidade de conflito entre pedestres e veículos, as características das passagens
de uma calçada para outra por meio da faixa de segurança e de semáforos.
● Segurança pública
As questões relacionadas a policiamento local, co-presença local e visibilidade entre os diferentes
pontos do passeio são tratados nesse quesito de avaliação. percebe-se então uma preocupação com a
sensação de segurança que o local transmite para os usuários, seja pela presença de uma autoridade
responsável ou pela presença de outras pessoas.
Essas medidas foram dispostas em questionários, sendo um deles elaborado para julgamento
técnico, isto é, deve ser respondido por profissionais da área de urbanismo de forma a serem
avaliadas com notas de 0 a 5, em que 0 se trata da pior condição e 5 a nota máxima.
Além desse questionário técnico, um outro ainda foi elaborado, tendo como objetivo um fator de
ponderação dos critérios, que avalia qual das medidas já expostas são mais importantes para os
pedestres, ou seja, qual a característica que mais influencia o usuário na hora de decidir o caminho a
percorrer. Para isso o questionário a ser respondido pelos pedestres é feito de forma a relacionar
todos os critérios de avaliação entre si.
O cálculo da ponderação é obtido através das notas recebidas no questionário técnico, ponderado
pelo coeficiente de cada medida de desempenho atribuído pelos pedestres.
Em busca de tornar o método mais eficaz em sua aplicação para galerias, algumas adaptações foram
feitas na metodologia proposta por Zampieri (2006).
No critério de atratividade foi retirado o quesito que avalia as características visuais do entorno, que
observa as construções ao redor das calçadas, tendo em vista que os elementos avaliados nessa
subdivisão da medida de desempenho não se aplicam às galerias.
Para as características da faixa de circulação de pedestres, avaliada no critério conforto, foi adotado
coeficientes de avaliação buscando verificar as galerias quanto ao cumprimento da legislação
urbana, que no caso do presente trabalho se refere a legislação urbana de Juiz de Fora.
Sendo assim, esse critério, diferente do abordado por Zampieri, somente será utilizado como
método de ponderação após a avaliação das demais medidas de desempenho.
Ainda no critério conforto foram adicionados, além dos cuidados com pedestres que possuem
deficiências físico-motoras, o quesito de avaliação quanto a existência de piso tátil para deficientes
visuais.
O critério segurança, que avalia a possibilidade de conflito entre pedestres e veículos, faixa de
segurança e a presença ou não de semáforos, foi retirado do presente método pelo fato, de em
galerias, não ter a presença desses itens.
Por fim, no critério segurança pública, o quesito que considera o policiamento local foi retirado,
tendo em vista que em algumas galerias há a presença de seguranças, sendo esse outro fator de
ponderação que foi adicionado à avaliação. Assim, esse critério será avaliado da seguinte maneira:
● Há a presença de segurança no local: 1,1
● Não há presença: 1
Os outros critérios avaliados nessa medida de desempenho foram mantidos.
5. QUESTIONÁRIOS
Para determinar a amostra de questionários que serão aplicados, foi feito com a variável de interesse
uma proporção, ou seja, depois de coletado os dados e analisados os questionários, tem-se a
proporção de pessoas da amostra que preferem o quesito “x”, uma outra proporção de pessoas na
amostra que preferem o quesito “y” ou ainda ambos quesitos.
B2
D= (2)
z2
Onde:
P: estimativa para a proporção obtida de pesquisas feitas anteriormente. Como aqui não há
esta informação será considerado P=0,5.
B: é o erro máximo, ou seja, a disposição de erros nos resultados, a precisão da pesquisa. Foi
utilizado 5%. Ou seja, se em dos resultados finais obtêm que 40% das pessoas preferem o quesito x,
então na verdade de 35% a 45% das pessoas preferem x. Para um erro menor ainda, poderia-se usar
B=4%,3%, 2% ou 1%, mas quanto menor o valor de B maior será o valor de n.
N: população total de Juiz de Fora. Nesta variável, foi considerado o senso do IBGE em
2010.
n≅ 384 questionários.
5.2. Resultados
Ao se fazer a correlação do método de Zampieri com as galerias do centro de Juiz de Fora, foi
possível desenvolver o questionário a ser respondido por técnicos capacitados.
Tabela 1- Fichas das medidas de desempenho. Fonte: original dos autores.
5.2.2. Questionário para o público
Tal questionário deverá ser feito em diferentes dias e horários e têm como objetivo saber quais
características das galerias são preferidas pelos transeuntes. Para tanto, foram comparadas cada
variável, uma a uma, em que a característica mais importante é a assinalada. Cada variável marcada
receberá 10 pontos, caso o transeunte tenha considerado ambas variáveis igualmente importantes,
será atribuído 5 pontos à cada.
Tabela 2- Formulário para identificar o grau de importância das medidas de desempenho. Fonte: original dos
autores.
De posse dos questionários respondidos, obtemos o coeficiente de ponderação. Para isto, basta
somar os valores de cada medida de desempenho separadamente e dividir pelo somatório total
destas, tal como demonstra Zampieri:
Tabela 3. Exemplo do cálculo de ponderação através do método da soma constante feito por Zampieri, adaptado
de Khisty(2004).
Fonte: ZAMPIERI (2006)
Assim sendo, é possível fazer uma análise vinculando os dois questionários, de modo que o
questionário aplicado aos caminhantes funcione como um peso a ser atribuído ao questionário
técnico. Para tanto, multiplica-se o coeficiente de ponderação de cada medida de desempenho pela
sua respectiva média alcançada na avaliação técnica. O somatório deste produto, será então, o nível
de serviço daquela galeria.
Como descrito por Zampieri, convém representar a base de indicadores de qualidade, da seguinte
maneira:
A fim de validar os dados obtidos com a aplicação dos questionários técnicos e pessoais foi
feita uma contagem do fluxo de transeuntes nas galerias listadas acima.
Foram contados os pedestres parados e em movimento para cada galeria. A contagem dos
pedestres foi feita em movimento por dois pesquisadores que partiram cada um de uma extremidade
da galeria, contando apenas os pedestres que estivessem de frente para ele.
Para avaliar a diferença de utilização do espaço, foram distinguidos os pedestres que
estavam em movimento dos que estavam parados, sendo estes os que estavam sentados,
conversando, olhando vitrines, etc. A coleta do fluxo foi realizada durante três dias em todas as
galerias.
Cada pesquisador utilizou uma ficha de avaliação que distinguia as categorias avaliadas
segundo o exemplo:
GALERIA XXX
DIA XX
PERÍODO MOVIMENTO PARADO
H M H M
8 às 10
10 às 12
12 às 14
14 às 16
16 às 18
Tabela 4: Exemplo da ficha de avaliação.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa foi desenvolvida com a intenção de elaborar um método adequado e eficaz
para a avaliação de galerias por meio de um método de avaliação de calçadas já existente. Através
de dois questionários, um de caráter técnico e um pessoal, foram expostas algumas medidas de
desempenho que julgam a qualidade e funcionalidade das galerias.
É importante lembrar que este trabalho trata-se de uma proposta metodológica e que ainda
em uma fase inicial, não foram aplicados os questionários aos técnicos e aos transeuntes, baseando-
se assim, na observação e vivência dos autores em torno do objeto de estudo.
AGRADECIMENTOS
Ao professor José Castañon por nos confiar um trabalho de tanta relevância, pelo
acolhimento no Núcleo de Ergonomia e Sustentabilidade em Transportes (NEST) e por toda
orientação.
Aos integrantes do núcleo pelos momentos de descontração e aprendizagem.
Aos nossos familiares e amigos pelo apoio e confiança durante o decorrer deste e de outros
trabalhos.
REFERÊNCIAS
[1]
BRAIDA, Frederico. Passagens em rede: a dinâmica das galerias e dos calçadões nos centro de Juiz de Fora e de
Buenos Aires. Juiz de fora: Funalfa, UFJF, 2011.
[2]
CASTAÑON, J. B., LUCHINI, B. C., ALMEIDA, D. P., ANDRADE, R.A. Avaliação da qualidade de galerias:
Uma análise das ferramentas existentes. Primeiro Congresso Internacional de Ergonomia aplicada.
[3]
KHISTY, C. Jotin. Evaluation of pedestrian facilities: beyond the level-of-service concept. In: Transportation
Research Record 1438. Chicago, Illinois Institute of Technology, 1994.
[4]
ZAMPIERI, Fábio Lúcio Lopes. Modelo estimativo de movimento de pedestres baseado em sintaxe espacial,
medidas de desempenho e redes neurais artificiais. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em
Planejamento Urbano e Regional, Porto Alegre.UFRGS, 2006.
INFLUÊNCIA DO CARREGAMENTO AXIAL NO ENSAIO
ESCLEROMÉTRICO DAS ESTRUTURAS
Influence of axial loading in the structural structure test
Lucas Cardoso Pereira Carneiro*1, Gabriel Eduardo Ruela Cunha 2, Karoline Caetano da Silva3,
Ana Claudia de Mello Nascimento3.
Abstract: Being a heterogeneous component and dependent on several factors, such as casting,
curing and dense, we often need to evaluate its quality as pressure, modulus of elasticity, adhesion,
among others. This review review, most often in old structures, is end of course inspections. As this
option to elucidate the structure of a surface structure, it is not able to perform a superficial analysis,
through the sclerometric test. The present work has the purpose of evaluating the structure of the
current in the results of the surface resistance of the concrete in the sclerometric tests. In order to
study a possible occurrence of some variation in the sclerometry results, as a function of the
modulus of molding, the concrete specimens were molded in size 30 x 30 x 20 cm which, after 28
days, received retraction of the load of rupture, of this concrete trace, in practice, simultaneously,
performing searches of scleromials in their specimens, during loading. Cylindrical specimens with a
diameter of 10 cm and a height of 20 cm were also molded for a force value as reference, bursting
load. The data were compared with the sclerometric results of the unloaded prismatic specimen, in
order to verify the difference between these values.
Keywords: Concrete, Testing, Sclerometry.
1 INTRODUÇÃO
Devido à falta de hábito dos profissionais da construção civil em criar um histórico contendo
projetos, controle tecnológico dos materiais utilizados, diário de obra e demais especificações sobre
o empreendimento, quando os proprietários do mesmo se deparam com alguma anomalia ou
necessidade de alteração estrutural, estes têm dificuldades em saber as características originais.
Com isso, necessita-se encontrar métodos que elucidem as características desta estrutura, para
diagnosticar a anomalia ou validar a modificação arquitetônica. Para esta avaliação o profissional
responsável recorre a diversas tecnologias dos ensaios não destrutivos, com intuito de evitar
maiores danos a estrutura e maior praticidade na realização dos ensaios. O ensaio da dureza
superficial é um dos ensaios mais populares no Brasil para a avaliação da resistência à compressão
do concreto, porém o mesmo possui fatores influenciadores que podem gerar resultados errôneos
em relação a real resistência do material, como o efeito parede, carbonatação, idade da estrutura,
presença de armadura, falhas de concretagem e outros. Dentre os fatores não avaliados, está a
influência do carregamento na peça ensaiada, que pode gerar uma avaliação errônea, visto que a
este carregamento tem fator influenciador, conforme indicado na NBR 7584 (ABNT, 2012).
2. OBJETIVO
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Ensaios classificados como não destrutivos são os que não causam danos ou que causam pequenos
danos locais, que após a execução do ensaio podem ser reparados facilmente. Estes ensaios
aplicados em obras antigas, visam avaliar as condições e estado dos materiais aplicados,
correlacionando os resultados com a capacidade da estrutura de resistir as solicitações. Já em obras
novas, geralmente são utilizados para monitorar o ganho de resistência e sanar eventuais dúvidas
sobre a qualidade do concreto empregado.
O ensaio esclerométrico, tema deste artigo, se constitui em um ensaio não destrutivo que possibilita
medir a dureza superficial do concreto, fornecendo resultados para a determinação da qualidade do
concreto endurecido. Isto é possível, devido ao fato de podermos relacionar a resistência à
compressão do concreto com a dureza da superfície do elemento ensaiado, onde esta medida é
calculada através do rebote do martelo. Segundo Silva Filho e Helene (2011), é necessário avaliar
com cautela esta relação, pois, há vários fatores que influenciam no resultado como o tipo de
cimento e agregado empregados, a carbonatação, o tipo de superfície, idade do concreto, operação
do esclerômetro entre outros.
O ensaio se consiste basicamente em pressionar o martelo contra a superfície do concreto até que
determinada massa carregada pela mola seja liberada. Com isso, o êmbolo sofre um impacto contra
a superfície ensaiada e rebate uma distância, que é medida por um indicador de deslize (HELAL;
SOFI; MENDIS, 2015). A figura 1 mostra o desenho esquemático do esclerômetro.
4. PROGRAMA EXPERIMENTAL
4.1 Formas
Para a moldagem dos prismas foram utilizadas formas de madeira (Figura 2) feitas no Centro de
Estruturas e Engenharia Civil (CEENC) da Universidade Católica de Petrópolis e suas dimensões
mostradas na figura 3. Os corpos de prova cilíndricos utilizados para a determinação das
características do concreto, foram moldados em formas metálicas com dimensões 10,0 × 20,0 cm.
4.2.2 Preparo
Foram moldados oito corpos de prova prismáticos em dois dias, utilizando o concreto
confeccionado no laboratório. Os materiais foram pesados em balança de precisão, separados em
sacolas plásticas após a retirada de suas embalagens originais. Após a pesagem estes foram
introduzidas em betoneira com a seguinte ordem e duração de mistura:
4.2.4 Cura
A cura dos corpos de prova cilíndricos e prismáticos foram submersas em água, sendo iniciada 5
dias após a moldagem. A necessidade em aguardar este período para a iniciar a cura, foi devido aos
prismas se tornarem autoportantes e evitar danos a sua integridade durante o processo de desforma.
4.3 Ensaio
4.3.1 Ensaio esclerométrico com carregamento do prisma
Para a realização destes ensaios, utilizou-se uma prensa multitestes de 1000 kN do laboratório do
CEENC. Para determinar a dureza superficial do concreto, utilizou-se o esclerômetro de reflexão
HT – 225, figura 4, respeitando os procedimentos e recomendações prescritos na ABNT NBR
7584/12 - Concreto endurecido – Avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão –
método de ensaio. O carregamento utilizado para os ensaios de determinação da resistência
característica à compressão dos corpos de prova cilíndricos foi de 0,45 MPa/s, seguindo os
procedimentos recomendados pela NBR 5739 (ABNT/2007).
Figura 4 - Modelo do esclerômetro utilizado - HT-225 Concrete Test Hammer MC – Ref. 1305394.
Para o carregamento utilizado nos ensaios dos corpos de prova prismáticos, não há norma brasileira
específica para determinação dos parâmetros a serem adotados no ensaio proposto, logo, adotando-
se uma velocidade de 0,005 MPa/s, valor este de forma empírica, visto que, foi imposto a mesma
velocidade dos corpos de prova prismáticos, porém, para os prismáticos, ocorreu esmagamento de
forma brusca, fazendo com que a velocidade do carregamento fosse reduzida para que fosse
possível realizar o ensaio como previsto. Nas áreas de contato entre o bloco prismático e a prensa,
foram utilizadas três placas de borracha de 2 mm de espessura, em sua face superior e inferior, para
melhor distribuição da carga na peça, evitando que eventuais deformações e ou rugosidade das
amostras prejudicassem a veracidade dos resultados obtidos. Após o bloco ser posto e ajustado na
mesa da prensa, o ensaio esclerométrico sem o carregamento da peça era realizado para ter como
referência 0% de carga aplicada, após este procedimento iniciávamos o carregamento. O
carregamento foi feito progressivamente até atingir 20 % da carga de ruptura e mantido por 90
segundos para que fossem feitos os ensaios esclerométricos com esta carga. Tais cargas calculadas
com base na resistência media do concreto fcm, obtido com o rompimento dos corpos de prova
cilíndricos, levando em consideração a área do prisma. Ao final deste intervalo, o carregamento
prosseguia até atingir 30% da carga total de referência. Todos os corpos de prova foram carregados
até a ruptura.
5. RESULTADOS EXPERIMENTAIS
O concreto utilizado possui resistência característica aos 28 dias de 20 MPa. Para todos lotes de
concreto foram os mesmos padrões de dosagem, mistura, moldagem e cura, conforme descrito em
4.2.
Tabela 1 – Resultado de resistência dos corpos de prova cilíndricos, 20×20, ensaiados à compressão.
N° CP Resistencia (MPa) Carga aplicada (kN)
1 18 143,0
2 18 144,2
3 19 119,0
4 16 127,3
5 16 124,1
6 16 127,8
7 17 134,9
8 16 126,5
9 17 134,3
10 16 128,6
11 16 122,1
12 15 121,5
13 17 134,2
5.2. Resultado do ensaio esclerométrico com compressão dos prismas
Tabela 2 – Indicação da taxa de variação do índice esclerométrico com o aumento dos carregamentos.
Resultado (índice
N° CP % de carga esclerométrico médio)
0% 22,8
1
20% 23,2
0% 23,9
20% 24,6
2
30% 25,4
40% 20,8
0% 23,8
20% 24,6
3
30% 18,9
40% 24,5
0% 23,9
20% 21,1
4
30% 17,3
40% 18,7
0% 22,9
20% 23,1
5
30% 23,1
40% 22,6
0% 23,6
6 20% 24,4
30% 24,6
0% 23,1
20% 23,9
7
30% 24,1
40% 22,1
0% 22,5
20% 22,6
8
30% 23,1
40% 21,4
Como fica explicito nas tabelas, os corpos de prova cúbicos não atingiram 100% de sua carga
prevista. Entendemos que pode ser por conta da diminuição da velocidade de carga para 0,005
MPa/s.
6. CONCLUSÕES
Após a análise dos resultados, observamos que possuem variações nos índices esclerométricos, mas
não podemos afirmar que esta variação é resultado exclusivo da aplicação de carga axial no corpo
de prova, podendo ser efeito de outros parâmetros como a heterogeneidade do traço de concreto.
Fica entendido que esses valores servem exclusivamente para a resistência descrita e para o
equipamento, esclerômetro utilizado, sendo necessário criar mais parâmetros e com mais
exemplares para ser efetivamente utilizado em casos práticos. Inclusive, é necessário entender o
fenômeno que fez o corpo de prova cúbico não alcançar a resistência prevista, já que possuía a
mesma composição e método de cura dos corpos de prova cilíndricos.
7. REFERÊNCIAS
HELAL, J.; SOFI, M.; MENDIS, P. Non-Destructive testing of concrete: A review of methods.
Electronic Journal of Structural Engineering, v. 14(1), p. 97-105, 2015.
1. INTRODUÇÃO
O setor da construção civil tem sofrido constante mudança, o que demanda melhorias contínuas em
seu processo operacional e gerencial. Atualmente, no Brasil, o paradigma entre elevados índices de
desempenho das construções, atendimento dos requisitos normativos e a satisfação dos usuários
esbarram em um sistema administrativo moroso, burocrático e pouco eficiente [1] .
Frente a este contexto, é imprescindível a busca de novas tecnologias e metodologias de gestão que
visem a eficiência de seus processos e melhorias contínuas nas construções, a fim de reduzir
desperdícios e garantir o atendimento às exigências dos clientes. Portanto, a utilização de métodos
tradicionais de levantamento de campo, em que o gestor não possui o controle satisfatório de todo o
processo envolvido no processo construtivo não é mais suficiente [2].
Além do mais, a equipe de gerenciamento de campo deve assegurar que atividades e operações
sejam realizadas de maneira segura e saudável para todos os trabalhadores, atendendo aos
requisitos legais de saúde e segurança, estabelecidos pela Constituição Federal de 1988 e
regulamentado pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e Normas Regulamentadoras que
tratam de Segurança e Saúde Ocupacional [3].
Neste contexto, dispositivos móveis e tecnologias portáteis possibilitam coleta de dados de forma
mais eficiente, permitindo monitorar e analisar em tempo real as operações, apoiar o processo de
tomada de decisão baseado em fatos, incorporar processos de coleta, armazenamento, distribuição e
análise de informações [4].
A partir deste panorama, é coerente exemplificar de que forma, dentro do setor da construção civil,
novas tecnologias podem ser aplicadas para garantir a segurança dos operários no canteiro de obras.
O presente trabalho tem como principal objetivo identificar as novas tecnologias utilizadas para
controle e monitoramento da segurança no canteiro de obras.
3. METODOLOGIA CIENTÍFICA
O presente trabalho trabalho propõe desenvolver, através da revisão da literatura, uma análise das
Normas Regulamentadoras de Saúde e Segurança do Trabalho em consonância com artigos da
revista Téchne e artigos científicos do Periódico Capes que relacionam tecnologias na área, sendo
imprescindível identificar as tecnologias que estão quebrando essas barreiras e alavancando o
desenvolvimento da indústria da construção civil no mundo.
Para os olhos, como pode ser visto na figura 02, o smart glasses além de proteger contra
luminosidade intensa, partículas volantes e radiações infravermelha e violeta, permite ao usuário
acessar no seu campo de visão manuais, instruções ou suporte remoto a gestores para sanar
eventuais dúvidas de projeto [24].
Há grande problema relacionado à proteção auditiva. Grande parte dos operários que necessitam de
proteção auricular também precisam receber instruções por rádio ou outro meio de comunicação.
Desta forma protetores auriculares inteligentes intra-auriculares incorporam captação de voz de
dentro do canal auditivo. Tais sistemas usam ar ou condução óssea para captar a voz sem
comprometer o som com exposições ao ruído ambiente. Isso também permite que os trabalhadores
que são obrigados a usar outros equipamentos de proteção pessoal, como respiradores que podem
bloquear ou abafar microfones externos, se comuniquem com mais clareza e eficácia, especialmente
em situações perigosas [24].
Para proteção do tronco, a fim de evitar os riscos ergonômicos sofridos pela mão-de-obra durante a
atividade laboral algumas empresas como Ekson Bioniks, StrongArm Technologies (figura 03)
desenvolveram exoesqueletos e roupas auxiliares que utilizam contrapesos ou redistribuem cargas
para músculos mais fortes para que os trabalhadores possam erguer e transportar objetos ou usar
ferramentas pesadas por períodos mais longos de tempo, reduzindo fadiga e lesões sem
sobrecarregar o corpo [25].
Fig. 3 - Exoesqueleto
Para os membros superiores luvas de trabalho também estão recebendo atualizações para
acompanhar a tecnologia. A empresa Nanotips, introduziu um produto projetado para tornar as
luvas de trabalho mais favoráveis à tecnologia. O produto é uma solução líquida que torna
qualquer luva compatível com tela sensível ao toque pois imita o toque da pele humana,
permitindo ao usuário interagir com todos os dispositivos touchscreen, como pode ser visto na
figura 04. O produto é simples de usar - basta aplicar a solução líquida nas luvas e deixar secar. A
solução líquida pode ser aplicada em couro, borracha, tecidos e lã [26].
Fig. 04 - Nanotips
Nos membros inferiores, sapatos e botas estão entrando na era tecnológica, não apenas como fonte
de informação, mas como fonte de energia. As botas da SolePower ( figura 05) não são apenas
equipadas com GPS, acesso Wi-Fi, iluminação de segurança e sensores de movimento, elas são
dotadas de carregadores cinéticos para gerar eletricidade a cada passo do usuário além de estar
carregar sensores embutidos que vibram quando o trabalhador tentar levantar um objeto que exceda
os limites predefinidos [26].
O colete InZoneAlert usa rastreamento por GPS e comunicação de curto alcance como forma de
proteção do corpo inteiro. Ele envia um alerta ao trabalhador no momento em que algum perigo é
detectado. O colete também possui luzes LED, alto-falantes e vibrações para determinar qual
modo de comunicação é mais eficaz. A RMIT University em Melbourne, Austrália, também
desenvolveu um novo colete de segurança inteligente que usa sensores para medir a temperatura
corporal e a frequência cardíaca de um trabalhador da construção civil e envia os dados sem fio
para um aplicativo de smartphone que alertará instantaneamente os usuários sobre quaisquer
anomalias [26].
Desta forma, de acordo com as informações supracitadas é possível identificar diversas novas
tecnologias que podem ser utilizadas no canteiro de obras. Foram citados Equipamentos de
proteção coletiva como o sistema de gerenciamento de segurança SMS, impressão 3D que afastam
ativamente o operário de serviços considerados perigosos, simulações em 4D, além da tecnologia
RFID. Com relação aos equipamentos de proteção coletiva foram encontradas novas tecnologias
para proteção de cabeça, olhos, ouvidos, troncos, membros superiores, inferiores e corpo todo. Este
artigo não aborda proteção respiratória e queda de nível.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As novas tecnologias envolvendo medidas administrativas e utilização de EPC’s e EPI’s mitigam a
ocorrência de acidentes e riscos que comprometem a saúde e a segurança dos operários no canteiro
de obras. O levantamento bibliográfico referenciando diversos autores fomentam essa ideia,
mostrando que, apesar de lenta, a indústria da construção civil está se adaptando ao novo momento
de aquecimento tecnológico sendo experienciado ao redor do mundo e trazendo muitas novidades
para a área.
As aplicações são diversas e podem resultar em grandes ganhos tanto para a indústria, que pode
reduzir custos habitualmente direcionados para remediação de acidentes e indenizações de
trabalhadores acidentados e observar aumentos de produtividade, qualidade e velocidade nas obras,
quanto principalmente para os próprios trabalhadores, que passam a experienciar um ambiente de
trabalho mais seguro, moderno e controlado.
Espera-se que este estudo de segurança no canteiro de obras possibilite uma visão ampla sobre as
novas oportunidades que estão surgindo na área da construção civil. Pretende-se ainda conscientizar
os profissionais da área quanto à importância do conhecimento e aceitação de novas tecnologias
enfatizando o conhecimento para fomentar a utilização das novas tendências que estão traçando o
rumo do futuro da construção civil no mundo.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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PARA MONITORAR REQUISITOS DE SAÚDE E SEGURANÇA DE TRABALHO NO SISTEMA
PRODUTIVO DA CONSTRUÇÃO CIVIL Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento
Sustentável: a Agenda Brasil+10,” 2014.
[2] L. A. Nascimento and E. T. Santos, “A indústria da construção na era da informação,” Ambient. Construído,
no. 11, pp. 69–81, 2003.
[12] F. D. Vasconcelos, Revista brasileira de saúde ocupacional, vol. 36, no. 124. FUNDACENTRO, 2011.
[13] H. Lasi, P. Fettke, H.-G. Kemper, H.-G. Kemper, and M. Hoffmann, “Industrie 4.0,”
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[17] R. Rodrigues, S. De Melo, D. Bastos Costa, J. S. Álvares, and J. Irizarry, “Applicability of unmanned aerial
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[20] V. H. M. Oliveira and S. M. . Serra, “CONTROLE DE RISCOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL POR MEIO
DE FERRAMENTAS DE ACOMPANHAMENTO REMOTO,” SÃO CARLOS sp, 2015.
[23] J. Lombardo, “New Technologies that Protect Construction Workers,” 2016. [Online]. Disponível:
https://www.forconstructionpros.com/business/construction-safety/article/12192047/new-technologies-that-
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[24] R. S. Bessette, “New Hearing Conservation Technology as Functional Enablers,” 2012. [Online].
Disponível: https://www.ehstoday.com/hearing-protection/balancing-act-new-hearing-conservation-technology-
functional-enablers. [acesso: 12-Out-2018].
[25] K. Jones, “How Technology is Improving Construction Site Safety,” 2017. [Online]. Disponível:
https://www.constructconnect.com/blog/construction-technology/how-technology-is-improving-construction-
sites-safety/. [Acesso: 12-Out-2018].
[26] HDI, “Wearables can improve construction site safety,” 2018. [Online]. Disponível:
https://www.hdi.global/int/en/newsroom/2018/solutions-services/wearables-can-improve-construction-site-
safety. [Acesso: 12-Out-2018].
]
O EMPREGO DA TERMOGRAFIA NO ESTUDO DA DEGRADAÇÃO DE
FACHADA
Vicente Junio de Oliveira Rosse1, Ana Flavia Ramos Cruz2 , Maria Teresa Gomes Barbos3
1
Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Juiz de Fora, bolsista PROBIC/FAPEMIG, Juiz de Fora,
Brasil, Email: vicente.rosse@engenharia.ufjf.br
2
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ambiente Construído, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil,
Email:ana.cuz@engenharia.ufjf. br
3
Professora Dra., Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, Email: teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br
Resumo: A estanqueidade das fachadas das edificações é um dos indicadores do bom desempenho
das construções, tendo em vista que dela se espera boa resposta à ação dos agentes atmosféricos ao
longo do tempo. Quando a capacidade de impedir a absorção de água da fachada é insuficiente
torna-se um dos principais causadores de degradação, resultando em manifestações patológicas.
Este trabalho tem como objetivo estimar e avaliar a área degradada de fechamentos verticais
(fachada das edificações) empregando-se nesse estudo, no levantamento de dados, a termografia
(imagem termográfica) como ferramenta para o mapeamento de danos decorrente da presença de
umidade, bem como determinar o grau de degradação, através do Método de Mensuração da
Degradação. Nesse sentido efetuou-se uma minuciosa pesquisa bibliográfica sobre o emprego de
termogramas para a representação de danos na fachada. Em conjunto foi investigado métodos
aplicados na quantificação de danos em fechamentos verticais. Com isso obteve-se uma
metodologia adequada possível de ser associada às análises das imagens obtidas pela câmera
termográfica, decorrente da falta de estanqueidade nesses elementos que possibilitou a
quantificação (numérica) da degradação das fachadas quando do emprego da termografia nos
estudos de manifestações patológicas. Por fim este trabalho estabelece uma análise mais consistente
das informações obtidas em ensaios não destrutivos, bem como no monitoramento de manifestações
patológicas causados pela falta de estanqueidade das fachadas, através da representação destas por
meio de diferença de temperatura.
Abstract: The watertightness of building façades is one of the indicators of the good performance
of the buildings because it is expected a good behavior of the façade against to the action of
atmospheric agents over time. When the façade cladding do not soak up water may its degradation
façades, i.e., pathological manifestations. This paper aims to estimate and evaluate the affected area
of the wall (building façades) employing the thermographic image for the mapping damages due to
the presence of water, as well as the Degradation Measurement Method (MMD) was applied. In this
sense a thorough bibliographical research was carried out on the use of thermograms for the
representation of façade damage. Together, we investigated tools applied in the quantification of
damages in vertical closures. The adopted procedure enabled an adapted methodology that allows
the images of the thermographic camera to identify and quantify (numerically) the degradation of
the façades, at the points where the lack of watertightness compromise their useful life. Finally,
finally, this research shows a consistent analysis of the information obtained in non - destructive
tests, as well as the monitoring of pathological manifestations caused by the lack of watertightness
of the façades, through the representation of these by means of temperature difference.
1. INTRODUÇÃO
As vedações verticais possuem grande importância na proteção da edificação, pelo fato de estarem
expostas às diversas ações climáticas. Dentre os diversos fatores danosos que atingem a fachada de
uma edificação, podem-se destacar as chuvas direcionadas; as variações de temperatura, que
ocorrem durante o dia e meses do ano; a radiação solar e o efeito dos ventos. Além do aspecto de
proteção, a fachada ainda tem papel importante na valorização do empreendimento, tendo em vista
que ela é a “cara” da edificação.
Tendo em vista seu papel de proteção e alta incidência de agentes degradantes, a fachada está
sujeita a grande ocorrência de patologias. Patologia é a situação na qual o edifício ou parte dele, em
um determinado período de tempo, começa a apresentar falhas ou mal desempenho das suas
funcionalidades. As manifestações patológicas nesses elementos causam além de danos à estrutura
um grande desconforto ao usuário e perda de estética da edificação. [1]
Cumpre esclarecer que este trabalho terá foco principal nos revestimentos argamassados,
vastamente usados como camada de proteção da estrutura e alvenaria de edificações e, neste
contexto, entende-se por argamassa “uma mistura homogênea de agregado(s) miúdo(s),
aglomerante(s) inorgânico(s) e água, contendo ou não aditivos ou adições, com propriedade de
aderência e endurecimento” [2].
As manifestações patológicas que atingem as vedações verticais de uma edificação revestidas com
argamassa, são em linhas gerais: fissuras (horizontais, mapeadas e geométricas), eflorescência,
bolor, vesículas, descolamentos (com pulverulência, com empolas pequenas, em placas duras e em
placas quebradiças). [3]
Visto que a infiltração de água, principalmente água de chuva, é um dos principais causadores de
patologia nos revestimentos argamassados, a normalização prescreve prevenções necessárias para
drenar corretamente a água incidente na fachada. Esta capacidade de impedir a penetração de água
no revestimento é denominada estanqueidade, o sistema de vedação vertical externo (SVVE) deve
“permanecer estanque e não apresentar infiltrações que proporcionem borrifamentos, escorrimentos
ou formação de gotas de água aderentes na face interna, podendo ocorrer pequenas manchas de
umidade” [4].
Verifica-se, então, que a falta de estanqueidade dos elementos construtivos como um dos principais
agentes deterioradores. Para garantia da vida útil, prevenir a ação deste agente desfavorável ao bom
funcionamento da fachada é tarefa de extrema importância, podendo evitar a ocorrência das
manifestações patológicas e, consequentemente, sua degradação e comprometimento da sua vida
útil de projeto (VUP).
Segundo a ISO 15686:2011 [5] degradação é considerada a mudança na composição (propriedades)
de um componente ou de um material usado, provocando a sua redução ou perda de função. Sendo
assim, a degradação pode ser expressa como um par ação-reação, podendo estar relacionada com
agentes ambientais ou com anomalias construtivas [6]. Para avaliação e determinação do grau de
degradação é necessário analisar a fundo as manifestações patológicas, tendo em vista que a
exposição aos agentes degradantes gera alterações nas características do elemento [7].
Nesse contexto, a termografia vem se destacando como grande aliada na detecção de falhas futuras;
sendo uma técnica simples, baseada no princípio da emissão de energia do material, representada
em imagens que são traduzidas em regiões de calor diferenciadas [8]. Resumidamente, este
instrumento faz com que seu operador analise, através da emissão de radiação térmica, as diferenças
de temperatura numa determinada área, auxiliando o mapeamento da deficiência de estanqueidade
([9], [10])
O uso da câmera termográfica é interessante por ser eficiente e enquadrar-se como ensaio não
destrutivo (END). A emissividade pode ser destacada como fator importante nas medidas
termográficas [11], a câmera termográfica possui detectores de infravermelho que convertem a
radiação em sinal elétrico, exibindo o resultado através de imagem térmica ou termograma com as
distribuições das temperaturas superficiais de um corpo, correspondendo cada cor a um
determinado intervalo de temperatura.[9]
Entretanto, a variação dos ângulos, no seu manuseio, causa grande distorção nos valores de
emissividade e, consequentemente, na qualidade dos termogramas gerados, sendo ideais para a
coleta de imagens os ângulos do intervalo entre 0° e 20°, pois estes mostram com melhor precisão, e
sem interferência de corpos celestes, as diferenças de temperatura do objeto em análise [12].
No que se refere às análises dos termogramas obtidos, existem muitas ferramentas passíveis de
serem empregadas e, nesse estudo, será avaliado o emprego do Método de Mensuração da
Degradação. (MMD) [13] a fim de se obter o grau de degradação que possibilitará o
acompanhamento qualitativo e quantitativo da incidência da umidade e seu comprometimento na
durabilidade dos revestimentos argamassados nos elementos verticais, bem como propor
intervenções preventivas e corretivas mais programadas.
Finalmente, este trabalho tem como objetivo, capturar da radiação térmica emitida pelos corpos,
usando a câmera termográfica, a avaliar as áreas afetadas da região de estudo, com base nos
termogramas gerados, quantificar o grau de degradação nos revestimentos argamassados, causado
pela estanqueidade deficiente.
2. METODOLOGIA
Este estudo baseou-se na avaliação das fachadas de em um edifício residencial, que possui 13
pavimentos tipo (composto por 8 apartamentos por andar) mais 3 andares de garagem, sendo 2
situados no subsolo, como mostrado na Figura 1. Os apartamentos possuem dois quartos, um
banheiro, sala conjugada com cozinha, área de serviço e sacada, com padrão de acabamento baixo e
fazem parte do Programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal. Suas características
constritivas resumem-se a um edifício construído em estrutura de concreto armado e fechamento em
alvenaria cerâmica com revestimento argamassado, e possui uma idade aproximada de 5 anos.
Salienta-se que a fachada principal está voltada à posição norte, na cidade de Juiz de Fora (zona da
mata mineira), que possui clima tropical de altitude segundo classificação do Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET), ou seja, verão com elevados índices de calor e umidade; a temperatura
média anual é de 20,1°C e uma pluviosidade média de 1504 mm. A Figura 2 mostra a localização
do empreendimento no mapa da cidade, que se localiza na região leste da cidade, numa zona
essencialmente residencial e de baixa agressividade ambiental.
Fig. 2: Regiões da cidade de Juiz de Fora e Bairro onde de localiza a edificação em. Fonte: adaptado do
google maps.
Adotaram-se os procedimentos descritos a seguir a fim de minimizar possíveis erros:
i) Inicialmente efetuou-se uma revisão bibliográfica acerca do uso da câmera termográfica,
para possibilitar na inspeção com boa identificação dos pontos mais críticos da obra,
tomando, também, como observação reclamação dos moradores sobre infiltrações nas
fachadas.
Adotou-se a metodologia baseada na captura dos termogramas [12], possibilitando escolher os
melhores ângulos de captura. As imagens foram feitas em sequência durante uma semana, e a
variação climática entre os dias de estudo pôde ser considerada desprezível, tendo em vista a baixa
variação térmica e de umidade, a temperatura média foi de 23°C e a umidade relativa estava em
torno de 26%.
Para realização das fotografias foi usada a câmera do modelo FLIR ONE: Thermal Imaging Camera
for Apple, que oferece uma série de filtros de contraste, que explicitam os pontos com diferença de
temperatura, fazendo um mapa da fachada como mostra a Figura 3.
ii) Salienta-se que a coleta de dados foi executada segundo os parâmetros descritos a seguir:
primeiro a coleta de dados foi realizada por andar; a câmara foi posicionada a uma distância
de 5 metros em relação à fachada e de 1,45 metros em relação ao piso. No que se refere a
inclinação da máquina, adotou-se as informações fornecidas por [12], ou seja, os ângulos
verticais entre 0° e 20°, tendo em vista que os autores analisaram as variações de ângulo e
verificaram que em angulações onde a câmera está com mais de 20° a coleta dos dados é
prejudicada pela emissividade de corpos celestes.
Fig. 3: Modelo de termograma usado. Fonte: os autores.
iii) Após o término da coleta de dados (fotos e termogramas), com o auxílio do software
Autodesk AutoCad, as imagens foram sobrepostas por um desenho esquemático como
mostrado na figura 4. A imagem ortogonalizada permitiu obter a área afetada com maior
precisão através das figuras formadas nas diferentes cores do termograma.
(1)
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A figura 5 apresenta algumas imagens das regiões estudadas, onde se verifica nos termogramas
(coluna B) os contrastes das regiões afetadas pela presença de umidade; estes auxiliam a
visualização da mudança na temperatura, causado pela presença de água na vedação da fachada,
quando sua estanqueidade está comprometida.
Com o emprego dos termogramas elaborou-se, através do software AutoCad, como mostrado nas
Figuras 5 (coluna C) a área no qual o espectro possui coloração mais escura, ou seja, a área
degradada.
Observa-se uma diferença de emissividade mais intensa nas paredes onde há incidência direta de
chuva, vide figura 5 (I-B) e 5 (III-B); nessas regiões quando há deficiência do quesito estanqueidade
é eminente as manifestações patológicas. Em regiões de fachada dos cômodos de área molhada
(banheiro, cozinha e área de serviço) o contorno das áreas afetadas é ainda mais visível, como
podemos ver na figura 5 (II-B), mostrando que no local há infiltração interna do sistema hidráulico.
A câmera termográfica mostrou-se, então, grande parceira na detecção prematura dessas patologias.
Constata-se que mesmo em locais “escuros”, com pouca luminosidade natural, como mostrado na
figura 5 (III-A), onde a análise a olho nu é pouco efetiva, a câmera termográfica mostrou-se
eficiente para apontar a área de degradação do sistema de vedação, como mostra a figura 5 (III-B).
No estudo do Grau de Degradação, através do Método de Mensuração da Degradação (MMD)
(Santos et al (2018)) calculou-se o fator de dano das fachadas analisadas conforme apresentado na
equação (1); os resultados obtidos nas imagens da Figuras 5 estão apresentados na Tabela1gina.
A B C
Área estudada Termograma da área estudada Diagrama da área estudada
II
III
Cumpre esclarecer que a metodologia proposta mostrou-se adequada visto que em regiões onde
ocorreu uma manutenção corretiva ineficiente (vide Figura 6), ou seja, repintura, visualmente não
apresentava alterações na argamassa de revestimento e, através do emprego da câmera termográfica
foi possível visualizar diferença na emissão de radiação dos materiais e, consequentemente,
representar a área afetada.
4. CONCLUSÕES
Conclui-se então que a câmera termográfica se mostrou com resultados satisfatórios quando
analisamos fachadas, bem como a metodologia adotada para avaliar o grau de degradação da área
estudada. Para bom resultado dos dados coletados, torna-se necessário tomar cuidado com objetos
que estejam mais quentes por perto (como, por exemplo, pessoas e carros), tendo em vista que estes
podem emitir uma radiação maior, que alterar a qualidade do termograma.
Ainda neste contexto, a metodologia de coleta é essencial para uma boa análise posterior. Salienta-
se que foi possível o uso dos melhores graus de inclinação, neste estudo, por peculiaridades da
edificação em questão. No caso de fachadas mais altas torna-se necessário o uso dos demais graus,
mesmo que estes comprometam a qualidade do termograma. Entretanto, quando o grau de
inclinação for muito elevado e a ortogonalização da imagem não for simples, recomenda-se além do
método apresentado por este trabalho, fazer um gradeamento como proposto por Silva (2014), o
qual seria necessário sobrepor uma malha de dimensões X e Y que ajudará na melhor mensuração
das áreas afetadas.
Entre as principais manifestações patológicas que apareceram no edifício estudado destacam-se
manchas, fissuração, destacamento do revestimento argamassado, e presença de matéria orgânica.
As regiões mais atingidas são as fachadas dos cômodos de área molhada, e as que recebem chuvas
direcionadas. Além dos efeitos climáticos, constatou-se uma falha de projeto, pelo fato de ter usado
uma argamassa de traço pobre. A termografia possibilitou a verificação dos pontos com maior dano,
o fator de degradação da fachada informou, então, o quão comprometida está a estrutura analisada.
Em resumo, apresenta-se uma forma mais simplificada de fazer essa análise, de modo que possa
fazer as ações preventivas, evitando futuros sinistros de comprometimento de estrutura, e causando
menos desconforto ao usuário da edificação.
5. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG pelo apoio financeiro para execução da pesquisa. (Projeto:
APQ-03068-17)
REFERÊNCIAS
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Tecnologia da Construção, 3, São Paulo, Anais... São Paulo: EPUSP, p. 69-76. 1986.
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4th INTERNATIONAL CONFERE ON STRUCTURAL DEFECTS AND REPAIR: 4° CINPAR, 2008 –
Universidade Aveiro. Portugal. 2008
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International Organization for Standartdization.
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alterações no ângulo de obtenção das imagens. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PATOLOGIA DAS
CONSTRUÇÕES (CBPAT), 2018, Campo Grande. Anais 2018, p.1-10.
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diagnóstico de anomalias em edificações: ênfase em edificações do patrimônio histórico, 2007. Tese (Doutorado em
Engenharia Mecânica) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2007.
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[12] CRUZ, A. F. R., ROSSE, V. J. O., BARBOSA, M. T. G., A importância do emprego da termografia na avaliação da
vida útil de fachadas. In SIMPOSIO INTERINSTITUCIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE
CONSTRUIDO (SINTAC), 2018, Juiz de Fora, 2018.
[13] SANTOS, D. G; MACÊDO, M. S. P. H; SOUZA. J. S; BAUER, E. Aplicação do método de mensuração da
degradação (MMD) na distribuição de ocorrências de danos de um edifício em Brasilia. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES (CBPAT), 2018, Campo Grande. Anais 2018, p.1-9.
VIABILIDADE TÉCNICA E DESEMPENHO TÉRMICO DE UM MODELO
DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL CONSTRUÍDO COM ESCÓRIA
DE ACIARIA – A VILA SUSTENTÁVEL
Luiza Carvalho Franco, Laís Cristina Barbosa Costa, Luana Drago Kuster, Julia Castro Mendes,
Ricardo André Fiorotti Peixoto 1
1 Universidade Federal de Ouro Preto. Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil. E-mails: luizafranco@ymail.com;
lais.cristina.costa@gmail.com; luanadkuster@gmail.com; jcmendes.eng@gmail.com; ricardofiorotti@ufop.edu.br
Abstract: One of the biggest challenges in developing countries is the significant housing shortage,
affecting mainly low-income families. This scenario is unfortunately associated with increased
urbanization, poor construction quality and consequent high energy consumption. In this sense, the
present work discloses the design and thermal evaluation of single-family houses designed with
bioclimatic principles for tropical climates - the Sustainable Village complex. The architectural layout
of each 2-bedroom unit includes accessibility measures and bioclimatic strategies for energy
efficiency, such as: openings for natural cross ventilation, ideal solar orientation, chimney design,
among others. Also, the envelope incorporates an innovative approach - in all cement matrices
(concretes, mortars and precast elements) the natural aggregates were completely replaced by
steelmaking slag. These building elements were physically and thermally characterized.
Subsequently, the thermal performance of this project was evaluated through a thermal simulation
software, EnergyPlus. The results indicated that the building elements produced with steel slag
presented better thermal performance than the conventional ones. In this sense, the Sustainable
Village is a promising alternative of social housing for tropical countries. It seeks to reduce social
deprivation by improving the thermal comfort of the occupants, as well as mitigating the
environmental impacts of the deposits of steel waste.
1 INTRODUÇÃO
Em 2014, o déficit habitacional do Brasil correspondia a 6 milhões de moradias, das quais 84% são
de famílias de baixa renda [1]. Esses números representam a grave privação social sofrida pelas
famílias nos países em desenvolvimento, bem como sinalizam a crescente demanda por habitação
social de qualidade e economicamente viável [2].
Neste sentido, construir novas casas para resolver o déficit habitacional não é suficiente. É necessário
projetar as construções considerando o ciclo de vida do edifício, particularmente no tocante à
eficiência energética, à energia incorporada, à manutenção e à saúde dos ocupantes [3] [4]. Um dos
aspectos mais importantes em relação ao bom desempenho de um edifício é o seu balanço térmico
[5]. Nos Estados Unidos, equipamentos para aquecimento e resfriamento artificiais do ambiente são
responsáveis por 48% da energia consumida nas residências [6]. No Brasil, as residências são
responsáveis por 29% do consumo de energia elétrica [7].
Neste cenário, a arquitetura bioclimática é um conceito de design que harmoniza a construção com
as condições climáticas para melhorar a eficiência energética e o conforto térmico. Assim, um balanço
adequado entre ventilação, estratégias de aquecimento/resfriamento e incidência solar no sistema de
vedação permite a redução do consumo de energia [8]. O sistema de vedação, ou envelope, do edifício
é um dos sistemas mais críticos em relação à eficiência energética. [9] [10]. Os materiais desse sistema
separam e controlam o fluxo de energia entre os ambientes interno e externo de um edifício. E
argamassas e concretos são alguns dos materiais mais utilizados na construção de envelopes.
As propriedades térmicas de matrizes cimentícias são influenciadas por diversos fatores, por exemplo:
porosidade, tamanhos de poros, teor de umidade, relação a/c, tipos de aditivos, composição e
quantidade de agregados [11] [12]. O mundo consome 45 bilhões de toneladas de agregados a cada
ano [13]. Neste cenário, uma solução sustentável seria incorporar resíduos como materiais de
construção em substituição de agregados [14].
Em 2015, para cada tonelada de aço bruto fabricada no Brasil, 594 kg eram subprodutos; 28% destes
sendo escória de aciaria [15]. Processando adequadamente o resíduo, concretos, pré-moldados e
argamassas com agregados de escória podem atingir propriedades físicas e mecânicas equivalentes
ou superiores às convencionais [16] [17] [18] [19]. Eles também apresentam durabilidade adequada
frente agentes agressivos [20] [18] e sua viabilidade econômica foi investigada, obtendo resultados
promissores por Gonçalves et al. [21].
Portanto, visando disseminar a ideia de que é possível alcançar moradias de alta qualidade com
impacto ambiental reduzido, o presente trabalho avalia o desempenho térmico de um novo protótipo
de habitação social produzido com matrizes cimentícias sustentáveis. Os concretos, argamassas e
blocos de alvenaria são inteiramente fabricados com agregados (miúdo e graúdo) de escória de
aciaria. Nesse sentido, apresentamos inicialmente o projeto arquitetônico dessa habitação social,
elaborado com conceitos bioclimáticos para climas tropicais. Posteriormente, seu desempenho
térmico é avaliado em comparação com um modelo convencional com agregados naturais.
2 METODOLOGIA
O resíduo foi processado por separação magnética e intemperização para reduzir seu teor metálico e
a quantidade de óxidos expansivos. Suas características estão presentes na Tabela 2, juntamente com
as de agregados naturais para fins de comparação. Os agregados de escória de aciaria apresentam
maior massa específica e unitária devido à sua composição química. Após o processamento, o teor
metálico final foi inferior a 1% para todos os agregados, o que é considerado um valor adequado para
materiais de construção [19]. As escórias de aciaria LD e AE processadas são doravante denominadas
LD-P e AE-P, respectivamente.
Tabela 2 - Caracterização física dos agregados
As argamassas utilizaram cal hidratada e cimento Portland de alto forno (CP III), devido às suas
vantagens ambientais, baixo calor de hidratação e maior resistência para ambientes agressivos. Os
traços adotados foram de 1:1:6 (cimento: cal: agregado miúdo em volume) para as argamassas de
revestimento e 1:3 (cimento: agregado miúdo) para as de assentamento. O fator água/ligantes foi
determinado por um índice de consistência fixo de 260 ± 5 mm. O concreto moldado in loco, utilizado
para a fundação em radier e para as lajes, foi projetado para uma classe de resistência de 15 MPa.
Empregou também cimento Portland de alto forno (CP III).
Para os elementos pré-moldados (blocos de concreto e pavimentação), foi adotado cimento Portland
de alta resistência inicial (CPV), devido à necessidade de rápida desforma. Os blocos de alvenaria
pré-moldados foram projetados para resistência à compressão de 6 MPa. Sua resistência, propriedades
físicas e dimensões (14×19×29 cm) estão de acordo com a NBR 6136 [23].
Tabela 3 - Requerimentos normativos para desempenho térmico na Zona Bioclimática 3 (ABNT, 2013)
Alguns dos parâmetros e hipóteses adotados na simulação, estabelecidos pela norma de desempenho
brasileira NBR 15575 [5], foram:
• O modelo no software foi orientado conforme a implantação real.
• A simulação utilizou o arquivo meteorológico para a cidade de Belo Horizonte, Brasil, uma
vez que os dados de Ouro Preto não estavam disponíveis. As cidades ficam a
aproximadamente 110 km de distância e pertencem à Zona Bioclimática 3.
• A simulação considerou as semanas mais quente e mais fria do ano, respectivamente, de 21 a
27 de novembro e de 28 de julho a 3 de agosto.
• Todos os cômodos foram simulados como zonas térmicas diferentes. No entanto, apenas os
resultados dos ambientes de permanência prolongada (quartos e sala) foram avaliados [5].
• O modelo "ZoneVentilation" foi adotado com módulo de ventilação natural e taxas específicas
de renovação de ar de acordo com as especificações da norma [5]. Foram considerados dois
parâmetros de ventilação: 1 ach e 5 ach (renovações de ar por hora).
• Por sua vez, o modelo “ZoneVentilation: WindandStackOpenArea” foi usado para simular o
efeito chaminé na sala de estar. O nível de pressão neutro foi adotado 0,25 m acima do topo
da casa.
• A janela responsável pelo efeito chaminé foi considerada aberta das 12:00 às 18:00, todos os
dias. No verão, uma fração de 0,5 foi aplicada, alterada para 0,1 no inverno.
• Em relação às condições de sombreamento, não foi considerada proteção contra a radiação
solar nas aberturas.
• A massa específica, o calor específico e a condutividade térmica das matrizes cimentícias
convencionais e outros materiais de construção (ex. madeira, piso cerâmico e vidros) foram
obtidos da NBR 15220 [24].
• A massa específica e a condutividade térmica experimentais das matrizes à base de escória
foram utilizadas. O calor específico foi adotado como o mesmo das argamassas e concretos
convencionais.
• A absortividade da radiação solar das superfícies expostas foi definida de acordo com a cor e
características das superfícies externas da fachada. As paredes são pintados de branco
(α = 0,3), enquanto a laje de concreto é pintada de cor escura (α = 0,7).
3 RESULTADOS
espessura; impermeabilizada e
azulejos cerâmica 20 × 20 cm,
Laje de concreto de 15 cm de
Laje de concreto de 15 cm de
espessura; impermeabilizada
revestido com piso cerâmico
tipo PEI5, atomizada, 31×31
branco gelo
cor branca
Cômodo
Corredor X X X
Sala de Estar X X X
Cozinha X X X
Banheiro X X X
Lavanderia X X X
Quarto X X X
Garagem X
* Alvenaria em blocos de concreto, 14×19×29×2,5 cm (largura x altura x comprimento x espessura), revestidos em
cada lado por chapisco e reboco (total 2,5 cm de espessura) e assentados com argamassa de espessura 1 cm.
** No interior, a laje é revestida com argamassa de revestimento e pintada com tinta látex branca, sem forro.
A possibilidade de ocupação por pessoas com baixa mobilidade (incapacidade física e idosos)
também foi prevista. Nesse sentido, todas as áreas de circulação, rampas e portas possuem espaço
suficiente para giro e dimensões adequadas para uma cadeira de rodas, conforme contemplado pela
norma brasileira NBR 9050 [28]. Além disso, o banheiro possui louça sanitária adaptada (tipo e
tamanho) e contém barras de apoio.
Buscando uso eficiente da luz natural e ventilação, foi estudada a implantação mais adequada da
habitação social. Parâmetros geométricos foram considerados de acordo com a trajetória solar ao
longo do ano na cidade de Ouro Preto, mostrada na Fig. 4.
A insolação de cada fachada foi estudada, buscando promover o melhor desempenho do edifício.
Neste sentido, as fachadas norte e sul foram mantidas sem aberturas e pintadas de branco devido ao
seu maior isolamento solar. A fachada norte foi escolhida para a instalação do sistema de tubulação
de aquecimento de água dentro da laje de concreto do telhado, pois tem a maior incidência solar na
maioria dos meses. A fachada sul é coberta por um telhado verde, formando um painel frio.
Em resumo, a orientação do edifício é definida no eixo norte-sul, e as aberturas estão concentradas
nas fachadas leste e oeste. Esta configuração permite a utilização do edifício por períodos mais longos
sem iluminação artificial. Devido à insolação da tarde, um brise e vegetação são propostos na fachada
oeste para reduzir o ganho excessivo de calor.
O telhado verde tem o objetivo de controlar o gradiente térmico dentro da habitação. Localiza-se
sobre os quartos e compreende: uma membrana impermeável, barreira de raiz, camada de drenagem,
substrato e manto de vegetação. O telhado verde tem uma espessura total de 15 cm (10 cm de solo
sobre 5 cm de camadas de impermeabilização e drenagem).
a)
b)
Fig. 3 – Planta Baixa (a) e Seção Transversal (b) da Vila Sustentável
a)
b)
Fig. 5 - Ventilação da habitação: a) ventilação cruzada natural; b) efeito chaminé
Além disso, uma janela localizada na parede superior da sala gera um efeito chaminé, mostrado na
Fig. 5b. Os dois sistemas de telhado diferentes e a radiação solar originam um gradiente térmico entre
a laje de concreto quente (fachada norte) e o telhado verde fresco (fachada sul), promovendo a
ventilação natural. No inverno, esta janela alta está prevista para ser fechada na maior parte do dia,
criando um ambiente quente devido à transferência de calor pela laje quente. Simultaneamente, o
telhado verde cria uma camada de isolamento térmico evitando a dispersão de calor pelo telhado.
No tocante à condutividade térmica, o menor valor obtido para as matrizes de escória é provavelmente
um resultado da composição química das escórias e da forma das partículas. Os minerais presentes
na escória apresentam menor condutividade térmica que os de agregados naturais comuns [12].
Simultaneamente, a maior porosidade e a forma angular da escória promovem um aumento no teor
de vazios dentro da matriz [30]. Um aumento na porosidade total e uma diminuição nos tamanhos
dos poros levam a uma redução na condutividade térmica, uma relação bem conhecida para materiais
cerâmicos [31]. Esta tendência deve-se à relativamente baixa conduvidade térmica do ar (0,025
W/m·K à temperatura ambiente e livre de convecção) [24] e ao aumento do número de interfaces
geradas quando esses poros são menores [31].
Fig. 6 – Exemplo de resultados para ventilação e temperatura do ar nas semanas mais quente e mais fria do ano
(LD-P; 1 renovação de ar por hora).
Em todos os casos, a diferença de temperatura entre o quarto e o ambiente externo era maior do que
a diferença em relação à sala de estar. Esta é uma combinação dos efeitos de isolamento térmico do
telhado verde modelado no quarto, bem como do efeito chaminé criado propositadamente na sala de
estar, o que aumenta significativamente a convecção na última.
Tabela 6 – Resumo dos resultados de todas as simulações: temperaturas externas (T e), temperaturas internas (Ti)
e níveis de desempenho
Inverno Verão
Cômodo
Neste sentido, comparando os materiais do envelope, é possível observar que as matrizes cimentícias
com escória de aciaria apresentaram melhor desempenho térmico que aquelas com agregados
naturais. Entre os compósitos reciclados, aqueles com AE-P apresentaram um melhor resultado
durante a semana de verão, enquanto os materiais LD-P tiveram desempenho semelhante ou melhor
na semana de inverno. A diferença de temperatura entre os compósitos com escória e aqueles com
agregados naturais é menor entre os meses de verão (0,12 - 0,33 °C), mas atinge 1,01 °C na sala de
estar no inverno (AE-P, 1 ach). Este resultado positivo é função da menor condutividade térmica e
maior densidade dos materiais estudados.
O desempenho térmico potencialmente melhorado do envelope leva a um maior conforto térmico dos
ocupantes com menor necessidade de condicionamento artificial. Por sua vez, esse efeito pode
aumentar a saúde, a produtividade e o bem-estar dos moradores, reduzindo a privação social sofrida
pelas famílias de baixa renda em ambientes termicamente estressantes [34]. As conseqüências não
são apenas sociais, mas também econômicas e ambientais, dado o uso mais racional dos recursos por
meio de menor consumo de energia e do reaproveitamento de resíduos [4] [14].
4 CONCLUSÃO
O presente trabalho descreveu o projeto e avaliação térmica de uma casa unifamiliar adaptada com
princípios bioclimáticos a climas tropicais, a Vila Sustentável. O projeto arquitetônico de cada
unidade de 2 quartos inclui medidas de acessibilidade, instalações hidráulicas otimizadas e um
sistema de construção racionalizado, baseado em alvenaria estrutural. As estratégias passivas de
eficiência energética incluem aberturas para ventilação cruzada natural, orientação solar ideal,
aquecimento de água embutido, efeito chaminé e uma escolha adequada de materiais para o envelope
do edifício.
O sistema de vedação do edifício também incorpora uma abordagem inovadora: a substituição total
de agregados naturais por escória processada em todas as matrizes cimentícias - concretos,
argamassas e blocos de alvenaria. Através de uma simulação térmica do edifício, observou-se que
todos os testes com AE-P e LD-P alcançaram pelo menos o nível mínimo de desempenho térmico, de
acordo com o padrão brasileiro [5]. Além disso, os modelos com escória de aciaria apresentaram
melhores resultados de temperatura do que aqueles com agregados naturais.
As simulações térmicas também atestaram a eficácia do efeito chaminé projetado na sala de estar,
promovendo ventilação sem consumo de energia. Nesse sentido, a Vila Sustentável é uma alternativa
promissora para habitação social para países tropicais. O modelo proposto busca reduzir a privação
social, melhorando o conforto térmico dos ocupantes, bem como mitigar os impactos ambientais do
depósito de escórias siderúrgicas.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.
REFERÊNCIAS
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Belo Horizonte, 2016.
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[19] M. Silva, B. De Souza, J. Mendes, G. Brigolini, S. Da Silva e R. Peixoto, “Feasibility Study of Steel
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[20] Y. Biskri, D. Achoura, N. Chelghoum e M. Mouret, “Mechanical and durability characteristics of High
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[21] D. R. Gonçalves, W. C. Fontes, J. C. Mendes, G. J. Silva e R. A. Peixoto, “Evaluation of the economic
feasibility of a processing plant for steelmaking slag.,” Waste Management & Research, vol. 34, nº 2,
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[22] ABNT, NBR 10004 - Resíduos sólidos - Classificação, Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Normas
Técnicas, 2004.
[23] ABNT, NBR 6136 - Blocos vazados de concreto simples para alvenaria — Requisitos, Rio de Janeiro:
Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2014.
[24] ABNT, “NBR 15220 - Desempenho térmico de edificações,” Rio de Janeiro, 2005.
[25] M. Felix e E. Elsamahy, “The Efficiency of Using Different Outer Wall Construction Materials to
Achieve Thermal Comfort in Various Climatic Zones,” Energy Procedia, vol. 115, pp. 321-331, 2017.
[26] J. Boland, O. Kravchuk, W. Saman e R. Kilsby, “Estimation of the thermal sensitivity of a dwelling to
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3rd ed., John Wiley & Sons, 2008.
[28] ABNT, “NBR 9050 - Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos,”
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[29] O. Amarante, S. F.J.L., A. P. P. E. e G. Caruso, “Wind Atlas: Minas Gerais,” Energy Company of Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2010.
[30] L. Du e K. J. Folliard, “Mechanisms of air entrainment in concrete,” Cement and Concrete Research,
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[31] N. Burger, A. Laachachi, M. Ferriol, M. Lutz, V. Toniazzo e D. Ruch, “Review of thermal conductivity
in composites: mechanisms, parameters and theory.,” Progress in Polymer Science, vol. 61, pp. 1-28,
2016.
[32] A. Niachou, K. Papakonstantinou, M. Santamouris, A. Tsangrassoulis e G. Mihalakakou, “Analysis of
the green roof thermal properties and investigation of its energy performance.,” Energy and buildings,
vol. 33, nº 7, pp. 719-729, 2001.
[33] S. Bodach e J. Hamhaber, “Energy efficiency in social housing: Opportunities and barriers from a case
study in Brazil.,” Energy Policy, vol. 38, nº 12, pp. 7898-7910, 2010.
[34] W. J. Fisk e A. H. Rosenfeld, “Estimates of improved productivity and health from better indoor
environments.,” Indoor air, vol. 7, nº 3, pp. 158-172, 1997.
ESTUDO DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS NAS EDIFICAÇÕES
EXISTENTES EM ÁREAS DE RISCO. ESTUDO DE CASO: BAIRRO TRÊS
MOINHOS/JUIZ DE FORA (MG)
Study of Pathological Manifestations in the Existing Buildings at Risk Areas. Case
Study: Neighborhood of Três Moinhos/Juiz de Fora (MG)
Resumo: A intervenção humana no município de Juiz de Fora é composta por padrões construtivos
diversificados, associados a uma topografia, algumas vezes, peculiar. Neste contexto, a classe social
mais carente classificada pelo governo (SAE - Secretaria de Assuntos Estratégicos) como
extremamente pobre e pobre, concentra-se nas regiões periféricas do município. O objetivo deste
trabalho é efetuar um estudo no Bairro Três Moinhos, localizado em Juiz de Fora – MG, concebido
na década de 1950 conforme registro na Prefeitura, onde atualmente é possível verificar a presença
de três tipos de ocupações precárias, em sua maioria: imóvel irregular, favela e cortiço. Para tanto,
serão analisadas as intervenções efetuadas até o momento, bem como avaliadas as manifestações
patológicas mais recorrentes nas edificações e no terreno, e que tendem a comprometer a
durabilidade e segurança das moradias. Espera-se que este estudo possa auxiliar os órgãos locais,
bem como os regionais e nacionais na elaboração de diretrizes que visem assegurar os requisitos
mínimos em prol da qualidade de vida dos usuários (“proprietários”) das edificações existentes nas
denominadas “áreas de risco”.
Abstract: The human intervention in the city of Juiz de Fora is composed by diversified
construction standards, associated to a topography, sometimes, peculiar. In this context, the most
needy social class classified by the government (SAE – Secretariat of Strategic Affairs) as
extremely poor and poor, is concentrated in the peripheral areas of the municipality. The present
study aims to evaluate the neighborhood of Três Moinhos, located in Juiz de Fora – MG, designed
in the 1950s according to records in the city hall, where currently it is possible to see three types of
precarious settlements, in the majority: irregular property, slum (favela) and tenement. Therefore, it
will be analyzed the interventions made so far, as well as the most recurring pathological
manifestations in the buildings and site, which tend to compromise the durability and safety of the
domicilies. It is expected that this work may assist local authorities, as well as regional and national
authorities, in the elaboration of standards and guidelines that aim to assure the mininum
requirements on behalf of the owners’ quality of life of the existing buildings in the denominated
“risk areas”.
Fig. 1 – Mapa de Localização do Bairro Três Moinhos – Juiz de Fora – MG/Fonte: Google Maps
(2017)
2.1. Barracos
Geralmente são construídos com sobras de vários tipos de materiais de construção, como por
exemplo madeirite (Figura 2), madeiras de desmanche de móveis, chapas de folhas galvanizadas,
telhas de fibrocimento e até mesmo lona. O piso é em terra batida e/ou cimentado, com banheiro em
anexo construído em alvenaria e, em sua grande maioria, não tem acesso ao fornecimento de
energia elétrica, água potável e rede pública de esgoto sanitário, depositando o esgoto em fossas
negras ou até mesmo a céu aberto.
3. METODOLOGIA
Nosso estudo estará focado no município de Juiz de Fora, como ilustração à realidade exposta até
aqui, concentrando-se na região periférica. A metodologia foi dividida em três etapas, a saber:
i) Primeira etapa: Estudo preliminar em três tipos de ocupação no Bairro Três Moinhos:
loteamento irregular, favela e cortiço, definidos a seguir:
a) Loteamento irregular: Tem como condicionantes a ocupação de terras ociosas,
geralmente nos finais de semana que é quando ocorre somente prestação de serviço de
fiscalização sobre regime de plantão, em encostas íngremes ou talvegues. Estas ocupações se
dão através da autoconstrução das unidades habitacionais e ausência ou precariedade de
infraestruturas básicas. O objetivo das invasões é se instalar no local para futuramente
tentarem ser regularizados perante o município através de usucapião ou até mesmo processo
de regularização.
b) Favela: É considerado um aglomerado de construções habitacionais autoconstruídas,
dispostas de forma desordenada, densos e carentes de serviços públicos. São seguramente os
mais precários de todos devido à insegurança da posse da terra, à predominância de padrões
urbanísticos de baixa qualidade, um sistema viário precário e problemas de acessibilidade.
c) Cortiço:Habitação coletiva com vários cômodos que são alugados ou cedidos servindo
cada um destes como moradia para uma família, superlotados e com instalações sanitárias de
uso comum.
ii) Segunda etapa: Após a definição e estudo preliminar dos tipos de ocupação a serem analisados,
foi realizado, em conjunto com a Subsecretaria de Defesa Civil de Juiz de Fora, um levantamento
de dados estatísticos do índice pluviométrico e das ocorrências na cidade de Juiz de Fora e no bairro
Três Moinhos e Alto dos Três Moinhos (vide tabela 1).
É possível perceber um total de 445 ocorrências em 14 anos (vide Tabela 1) e destaca-se como o
ano de maior percentual de ocorrências o ano de 2003 (3,87%) e o de menor percentual em 2008
(0,02%), conforme demonstrado na tabela 1. Não é adequado se fazer uma média de ocorrências
destes anos pois as mesmas variam de acordo com o índice pluviométrico do período, fator este que
acarretaria em um erro na análise dos dados. É importante ressaltar que o período chuvoso no
município é considerado entre os meses de outubro a abril sendo que os maiores índices de chuva
ocorreram entre novembro e janeiro (conforme registros estatísticos da Defesa Civil de Juiz de
Fora).
Tabela 1 – Número de ocorrências registradas pela Defesa Civil de Juiz de Fora de 2003 até 2016.
Quantidade de ocorrências no
Porcentagem de ocorrências Pluviometria mais alta
ANO bairro Três Moinhos e Alto dos
bairro/município no ano (mm)
Três Moinhos
2003 131 3,87% 483,2 Jan
2004 67 1,56% 444,3 Dez
2005 16 1,16% 385,6 Jan
2006 56 1,94% 300,9 Nov
2007 49 0,85% 589,2 Jan
2008 1 0,02% 480,6 Dez
2009 3 0,09% 479,3 Dez
2010 3 0,08% 472,7 Dez
2011 21 0,63% 345,4 Dez
2012 10 0,37% 397,3 Dez
2013 13 0,39% 484,0 Dez
2014 31 1,26% 206,4 Nov
2015 23 0,84% 152,2 Jan
2016 21 0,55% 327,0 Jan
4. RESULTADOS
4.1. Ocorrências segundo a Defesa Civil
Tabela 2 – Principais causas de desabamento – Defesa Civil.
Principais causas de desabamento
segundo material técnico da Defesa Consequências
Civil
Atingindo o solo de alteração e outros fatores
Declividade e altura excessiva de cortes
condicionantes, a encosta fica suscetível a desabamento.
Pode gerar novas vias de condução de água levando à
Execução inadequada de aterros
ruptura do aterro e escorregamentos.
Pela ineficiência de sistema de drenagem, ocorrem
Lançamento e concentração de águas
infiltrações por trincas e fissuras, diminuindo a resistência
pluviais
do solo e provocando a ruptura de solos e aterros.
Infiltração excessiva de água no solo, agravada no período
Lançamento de águas servidas
das chuvas.
Vazamento na rede de abastecimento de Causam saturação de água no solo e redes improvisadas
água são ainda mais inadequadas.
Fossa sanitária -
Deposição de lixo -
Remoção indiscriminada de cobertura Diminui a proteção ao impacto e às infiltrações pluviais,
vegetal além de que as raízes ajudam a conter o solo.
Fonte: Defesa Civil
4.2. Análise da correlação entre índice pluviométrico e ocorrências
A partir do levantamento do índice pluviométrico e das ocorrências segundo a Defesa Civil, obteve-
se o gráfico ilustrado na figura 5 ilustrada, permitindo uma maior visualização das informações bem
como para possibilitar a correta interpretação dos dados. Assim, foi possível concluir que não há
relação direta entre a pluviometria mais alta no ano com o número de ocorrências, uma vez que há
casos em que essa relação não é respeitada, por exemplo, o ano de 2007 em que o valor de
pluviometria mais alto no ano corresponde ao maior valor em todos os anos analisados, embora o
número de ocorrências seja apenas o quarto maior. De maneira semelhante, o ano de 2003, ano com
maior número de ocorrências (131), não apresenta o maior valor anual de pluviometria. Logo, a
interpretação dos dados obtidos nos leva a crer que há mais elementos que sejam determinantes na
influência de ocorrências. Podemos propor uma suposição: a realização de intervenções, que podem
por sua vez, reduzir ou aumentar os dados de ocorrência.
Obs.: A pluviometria foi apresentada em cm para ajuste de escala e melhor visualização das informações para efeitos de comparação.
É importante ressaltar que, durante o tempo de produção deste artigo, não foi possível obter junto
ao órgão público um modelo sistematizado e cronológico das intervenções efetuadas na região dos
Três Moinhos. Por essa razão, não pode-se estabelecer de forma conclusiva uma relação entre as
intervenções em conjunto com as ocorrências e o índice pluviométrico. Ainda assim, fez-se
necessário conhecer as principais manifestações patológicas que acometem os domicílios, uma vez
que elas também fornecem informação relevante acerca das condições de moradia dos usuários.
4.4. Manifestações patológicas encontradas
No levantamento do bairro Três Moinhos realizado durante o mês de outubro de 2017, foram
selecionados e visitados 6 domicílios divididos em: 2 barracos, 2 edificações de baixo padrão e 2
edificações de padrão normal. Não existe na localidade ou não foi encontrada nenhuma habitação
de alto padrão construtivo. Nas vistorias in loco foram verificadas as seguintes manifestações
patológicas:
4.4.1. Barracos: manifestações patológicas verificadas: na cobertura infiltração e gotejamento
devido ao posicionamento e incompatibilidade das telhas utilizadas, proveniente também de furos
preexistentes, com lona plástica frágil não resistindo às intempéries. A própria cobertura por não
possuir um alinhamento correto e por ser o engradamento de madeiras variadas, não possui
parafusos ou pregos para travar as telhas que são amarradas com arame recozido em uma parte e a
outra colocada “pedras marruadas” para segurar a cobertura; ineficiência nas vedações laterais com
vazamentos em vários pontos; fechamento da entrada precário com porta de madeira produzida com
sobras; ventilação insuficiente; presença de muita umidade e mofo; inexistência de energia elétrica
e água tratada prevalecem à utilização de poço raso e energia cedida; o lançamento de esgoto é em
fossa negra e direcionamento de água pluvial a revelia.
4.4.2. Baixo Padrão: manifestações patológicas verificadas: O fechamento de alvenaria mista
(lajotas cerâmicas e blocos de cimento) apresenta-se em desaprumo; no interior são visíveis as faltas
de amarrações entre as lajotas; os vãos de portas não são contemplados com verga possuindo trincas
diagonais em 45º em ambos os lados; nas janelas não existem vergas nem contra vergas
apresentando assim trincas diagonais em 45º acima e embaixo dos vãos; nas lajes de cobertura são
visíveis às armaduras devido à corrosão, fruto de falta de cobrimento e infiltração por falta de
impermeabilização, fator este contribuinte da utilização de concreto de baixa qualidade; o
cabeamento de energia elétrica é exposto com emendas sem isolamento, cabos finos sem
especificação adequada, com vários aparelhos ligados em uma só tomada; a ligação do chuveiro
improvisada com pedaços de cabos, as instalações hidráulicas são expostas executadas com
tubulação de baixa qualidade apresentando vazamentos principalmente nos pontos de serviço
(torneiras, registro de chuveiro); infiltrações nas paredes por falta de um revestimento adequado,
presença de umidade e mofo em todas as paredes do imóvel e direcionamento de água pluvial a
revelia.
Fig. 8 – Exemplo de edificação de baixo padrão, com acúmulo de mofo em laje/Fonte: os autores
(2017)
Fig. 9 – Exemplo de edificação de baixo padrão, com concreto de baixa qualidade em pilar e
armadura exposta/Fonte: os autores (2017)
4.4.3. Padrão Normal: manifestações patológicas verificadas: mesmo sendo executadas sem
projetos e sem acompanhamento de profissional habilitado não foi detectada manifestações
patológicas e sim defeitos construtivos que somente interferem na estética. Também é isenta de
padrões como afastamento e áreas permeáveis. Estão localizadas nas áreas em níveis com cotas
inferiores em terrenos maiores e mais estáveis.
5. CONCLUSÃO
O Bairro Três Moinhos é caracterizado como assentamento precário e um espaço que está em
constante movimento e transformação. Assim, deve ser contemplado com urbanização e obras
estruturantes que venham a abranger esse espaço em movimento. Os agentes transformadores são os
próprios moradores, que no intuito de melhorar suas residências continuam a abrir espaços nas
encostas, além das situações de verticalização das construções do assentamento em cujo muitas
delas não possuem infra e superestrutura em condições de receber carregamento adicional, gerando
assim risco de desabamentos. Nesse caso, existem dois tipos de intervenções principais: primeiro,
uma medida extrema, que é a remoção dos tipos de moradia estudados, através de sua demolição e
realocação dos habitantes em programas habitacionais, assim como a recuperação da área
degradada, de forma a evitar novas invasões e possíveis escorregamentos, mitigar o risco do local e
potencializar melhores condições de vida para estes ocupantes. Este tipo de moradia é parte
integrante do “PAC (Programa de Aceleração do Crescimento – Ministério das Cidades), que em
seus itens financiáveis o habitacional é contemplado, pois visa à diminuição da densidade e ao
reordenamento urbano: realocação (na mesma área) ou reassentamento (em outras áreas). As outras
moradias devem receber melhores condições habitacionais como módulos sanitários e cobertura. O
segundo tipo corresponde à intervenção para a regularização e integração urbana, transformando o
assentamento em bairro, que através do PAC contemplaria a regularização fundiária e a integração
urbana visando assegurar a segurança na posse. A mesma deve ocorrer durante a execução das
obras tanto para as famílias que receberão novas unidades habitacionais, quanto para as que serão
consolidadas; deve-se também assegurar a infraestrutura básica, a contenção e estabilização de solo
para eliminação de risco, construção de equipamentos públicos e ajuste do parcelamento urbano e
ruas. Devido ao assentamento estar localizado na periferia do município e o bairro localizar-se em
uma encosta, sendo esta uma conformação de talvegue com resíduo de mata atlântica e demais itens
mencionados, cabe ressaltar que a questão ambiental também é parte integrante do PAC onde, em
seus itens financiáveis, contempla projetos ambientais visando prevenir novas ocupações em áreas
de onde as famílias foram removidas. Deve, portanto, ser dado um uso adequado considerando: o
perfil natural da área e as características urbanas e sociais da localização. Após a readequação da
estrutura do bairro, visando ao quadro de necessidades e bem estar dos moradores e, mediante os
financiamentos, deve-se propor habitações de qualidade pensando também em um espaço coletivo e
funcional. O bairro deve ser incluído no plano diretor do município e ser incorporado ao processo
de planejamento da cidade, na legislação vigente e nos planejamentos dos cadastros relativos ao
parcelamento e uso do solo urbano, para que sejam mantidas as intervenções realizadas.
REFERÊNCIAS
[1] G1 NOTÍCIAS. Disponível em: http://g1.globo.com/economia/seu-dinheiro/noticia/2013/08/veja-diferencas-entre-
conceitos-que-definem-classes-sociais-no-brasil.html. Acessado em: 01/11/2018
[2] Prefeitura Municipal de Juiz de Fora. Disponível em: https://www.pjf.mg.gov.br/cidade/historia.php. Acessado
em: 01/11/2018.
[3] BARBOSA, Yuri Amaral. O processo urbano de Juiz de Fora – MG: Aspectos econômicos e espaciais do
Caminho Novo ao ocaso industrial. Monografia apresentada ao curso de Geografia da Universidade Federal de
Juiz de Fora como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Geografia, 2013.
[4] GIROLETTI, Domingos. Industr . 1a edição, Ed. UFJF, Juiz de Fora, 1988.
[5] MIRANDA, Sonia Regina.
Mineira. Dissertação. Universidade Federal Fluminense, 1990.
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e Social. Assentamentos Precários Urbanos: Espaços da Região Metropolitana de Curitiba: Curitiba, 2010.
[7] MINISTÉRIO DAS CIDADES. Guia para o Mapeamento e caracterização de Assentamentos Precários,
primeira impressão: Maio de 2010.
[8] DIAS, Daniel da Silva. “VOU LEVANTAR O EU BARRA O” Um diagnóstico geográfico sobre as
condições de habitabilidade no espaço periférico, Três Moinhos, em Juiz de Fora - MG. Monografia apresentada ao
curso de Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) como requisito parcial para a obtenção do título
de bacharel em Geografia, 2017.
[9] Subsecretaria de Defesa Civil. Programa de Urbanização, Regularização e Integração de Assentamentos
Precários (PURI), Juiz de Fora MG, maio 2007.
[10] BRASIL. Lei N° 9811, de 27 de junho de 2000. Institui o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de
Fora.
[11] BRASIL. Lei Nº 12340, de 1 de dezembro de 2010. Dispõe sobre as transferências de recursos da União aos órgãos
e entidades.
[12] BRASIL. Lei Nº 12608, de 10 de abril de 2012. Política Nacional de Proteção e Defesa Civil.
[13] CURSO de Atualização em Gestão de Risco de Desastres, Secretaria Nacional de Defesa Civil, Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Manual do Participante, Brasília DF. 2013
[14] FILHO, A. P. Q. As definições de assentamentos precários e favelas e suas implicações nos dados
populacionais abordagem da análise de conteúdo. Urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana: set/dez 2015.
[15] GONÇALVES, Juliano Costa. Por uma verdadeira e viva Política Nacional de Proteção e Defesa Civil.
NEPED/UFSCAR 2013.
[16] JUIZ DE FORA. Lei nº 6908, de 31 de maio de 1986. Dispõe sobre o parcelamento do solo no Município de Juiz
de Fora.
[17] JUIZ DE FORA. Lei nº 6909, de 13 de dezembro de 2010. Dispõe sobre as edificações no Município de Juiz de
Fora.
[18] JUIZ DE FORA. Lei nº 6910, de 31 de maio de 1986. Dispõe sobre o ordenamento do uso e ocupação do solo no
Município de Juiz de Fora.
ANÁLISE DA MASSA ESPECÍFICA E DO ÍNDICE DE VAZIOS DO
CONCRETO UTILIZANDO O EPS E A PET SUBSTITUINDO
PARCIALMENTE PELO AGREGADO GRAÚDO
1
Uninovafapi, Piauí, Brasil, sodrehyago@hotmail.com
2
Uninovafapi, Piauí, Brasil, higorjonathan@gmail.com
3
Uninovafapi, Piauí, Brasil, demerval_martins@outlook.com
Resumo: Os agregados oriundos da construção civil estão mais escassos, logo é necessário o
desenvolvimento de alternativas que venham a substituir estes materiais. Neste trabalho foi avaliado
o comportamento do concreto substituindo o agregado graúdo (Brita) por resíduos de politereftalato
de etileno (PET) e de poliestireno expandido (EPS). A escolha desses materiais se justifica pelo fato
de que são materiais de baixo custo, requer mais tempo para se decompor, ou seja, visa a produção
de um concreto que reutiliza materiais, podem ser encontrados facilmente e são leves, logo devido
ao seu baixo peso especifico reduz consideravelmente o peso próprio das edificações. Os resultados
encontrados retratam que o concreto com 35% de EPS atingiu o esperado quanto a classificação de
concreto leve. Quanto aos resultados do índice de vazios ocorreu diminuição desse parâmetro
quando comparado com o concreto referência (sem substituição) a ressalva é o concreto com 35%
de PET.
Abstract: And the aggregates from civil construction are more scarce, so it is necessary to develop
alternatives that will replace these materials. In this work, the behavior of the concrete with the
addition of the polyethylene terephthalate (PET) and expanded polystyrene (EPS) was evaluated,
replacing them with the large aggregate (Gravel). The choice of these materials is justified by the
fact that they are low cost materials, it requires more time to decompose, that is, it aims at
producing a concrete that reuses materials, can be found easily and are light, therefore due to its
specific low weight, it reduces considerably the weight of the buildings. The results show that the
concrete with 35% of EPS reached the expected level of light concrete. As for the results of the void
index, there was a decrease of this parameter when compared with the concrete reference (without
substitution). The caveat is the concrete with 35% of PET.
A indústria da construção civil é responsável por uma considerável degradação ambiental, quer seja
pela demanda por matérias primas naturais ou pela geração de resíduos de suas atividades. A análise
da viabilidade de uso de materiais alternativos para a utilização como agregados, tem sido objeto de
várias pesquisas que são influenciadas por alguns fatores, dentre os quais destacam-se as limitações
ambientais impostas para a exploração de materiais naturais, fatores econômicos relacionados as
distâncias das jazidas e o potencial de utilização dos materiais descartados pelas indústrias.
O emprego de poliestireno expandido e politereftalato de etileno como agregado leve formará
concretos com propriedades otimizadas para uma aplicação específica e afetará positivamente no
meio ambiente, pois diminui o uso da areia, que devido a sua extração desordenada traz sérios
danos e às vezes incorrigíveis ao meio ambiente (SCOBAR, 2016). Diante de tal cenário, essa
pesquisa busca avaliar o comportamento do concreto substituindo parcialmente o agregado graúdo
(Brita) por resíduos de politereftalato de etileno (PET) e de poliestireno expandido (EPS).
A substituição parcial da brita por agregados leves pode originar o concreto leve. O concreto leve é
caracterizado, segundo Scobar (2016), por reduzir o peso próprio das estruturas e para Helena
(2009), pela baixa densidade devido a utilização de agregados leves e resíduos industriais.
2. OBJETIVO
Este trabalho visa analisar as características do concreto quanto ao índice de vazios e a massa
específica, substituindo de forma parcial o agregado graúdo pelos agregados leves de poliestireno
expandido (EPS) e politereftalato de etileno (PET).
3. METODOLOGIA
Para a concepção desta pesquisa foram realizados estudos na literatura disponível, a caracterização
dos materiais e métodos empregados na produção, moldagem e ensaios de corpo de prova,
buscando alcançar os objetivos propostos no trabalho. Os ensaios realizados seguiram as
recomendações das Normas Brasileiras.
O cimento Portland empregado para a confecção dos CPs é o CP V ARI. A escolha dessa
especificação deve-se ao fato de ser um cimento que possui maior rendimento e não conter adições.
Logo, o concreto irá possuir resistências elevadas, compensando a baixa resistência dos agregados
utilizados.
O módulo de finura da areia é 1.8, o diâmetro máximo da brita é 19 mm, o EPS utilizado para a
fabricação do concreto é em flocos, com diâmetros 5 mm (Fig. 1) e a PET usada é triturada onde
através do ensaio de granulometria (NBR NM 248/03 Agregados- Determinação da composição
granulométrica) é possível constatar que através dos resultados do diâmetro máximo (6,3 mm) e do
módulo de finura (4,32) o material apresenta-se como um agregado estando numa zona entre areia
muito grossa e brita zero.
Fig. 1- Flocos de EPS
O traço do concreto é o 1: 1,72: 3,11: 0,55 e foi utilizado para todos os tipos de concreto (concreto
normal e concreto com EPS e PET), o que varia é somente a composição dos agregados e suas
porcentagens de substituição. A norma usada para a determinação da massa específica e do índice
de vazios do concreto é a NBR 9778/05 - Argamassa e concreto endurecidos – Determinação da
absorção de água, índice de vazios e massa específica.
Ps (1)
Onde:
Iv x 100 (2)
Onde:
COMUM 0% 5 5
15% 5 5
POLIESTIRENO 25% 5 5
EXPANDIDO 35% 5 5
15% 5 5
POLITEREFTALATO 25% 5 5
DE ETILENO 35% 5 5
Fig. 2 - Moldagem e Adensamento com vibrador de imersão
Para a constatação se o concreto produzido irá se classificar como concreto leve foi usado com
referência as seguintes normas (Tabela 2):
No tocante da classificação do concreto, se o mesmo será concreto leve pela massa específica,
utilizando as normativas do Mercosul NM 35 (1995) e a norma americana ACI 213 R (2003) como
base, não é possível realizar a classificação dos tipos de concretos analisados como concreto leve
estrutural, pois a porcentagem de substituição de EPS e de PET mostrou-se ser insuficiente.
Provavelmente serão necessárias porcentagens superiores, assim para a PET é preciso aumentar a
quantidade para 50% e para o EPS a partir 40% para atender as normas citadas.
Já a ABNT NBR 8953 classifica o concreto pela massa específica da seguinte forma (Tabela 3):
Tabela 3: Classificação pela NBR 8953
Concreto com Agregados Normais 2000 kg/m < ρ < 2800 kg/m3
Levando em consideração a NBR 8953 o concreto 35% de EPS já atende a especificação da norma
e, portanto, é classificado como concreto leve e os demais tipos de concreto são classificados como
concreto normal. Possivelmente para que algum percentual de PET consiga atender a norma faz-se
necessário o aumento da quantidade em percentuais acima de 40%.
O concreto referência possui mais vazios que os concretos com 15, 25% de PET e 15, 25 e 35% de
EPS. Provavelmente o que ocorreu foi que a baixa porcentagem de EPS e de PET preencheu os
vazios, porém a confirmação só poderá ser feita mediante o ensaio da microestrutura do concreto.
Logo é possível afirmar que quanto maior é a quantidade de EPS e PET na mistura mais poroso é o
concreto.
6. CONCLUSÃO
A busca pelo modelo de desenvolvimento sustentável, fez com que o trabalho abordasse aspectos
relacionados a utilização do PET e do EPS na construção civil e ao possível aproveitamento desses
resíduos, que de forma geral são descartados no meio ambiente sem nenhum tipo de destinação.
A constatação de quanto maior o índice de vazios menor é a resistência à compressão só pode ser
afirmada para o concreto com 30% de PET, pois o concreto com 15, 25 e 35% EPS e 15 e 25% de
PET tem valores menores quando comparado com o concreto referência. A verificação da
microestrutura é o ideal para saber o que realmente ocorreu, mas possivelmente como as
quantidades de substituição são pequenas ocorreu que os flocos e os flakes ocuparam os vazios e
devido serem materiais com pouca resistência não colaboraram para o aumento da resistência a
compressão.
A tese almejava a obtenção do concreto leve, porém usando os parâmetros de massa especifica das
normas NM 35 (1995) e da ACI 213 R (2003) não é possível. Entretanto a NBR 8953 (2015) tem
faixas de massa especifica diferente, logo o concreto com 35% de EPS atingiu o esperado quanto a
classificação de concreto leve.
Por fim, através das observações do trabalho a inclusão do EPS e da PET na construção civil é
aceitável em alguns teores e em outros não quando são usados os parâmetros verificados. Desse
modo, novos estudos devem ser desenvolvidos para a validação e aperfeiçoamento dos resultados.
REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 9778. Argamassa e concreto endurecidos -
Determinação da absorção de água por imersão - índice de vazios e massa específica. Rio de Janeiro, 2005.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR NM 35. Agregados leves para concreto
estrutural- especificação. Rio de Janeiro, 2008.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 5738. Concreto – Procedimento para moldagem
e cura de corpo de prova. Rio de Janeiro, 2015.
[4] FARIAS, M.M; PALMEIRA, E.M. Materiais de construção civil e princípios: Agregados para a construção
civil, CAP 16. São Paulo: Geraldo C. Isaia, 2010.
[5] GRASSI, R.L; ANTUNES, E.G. P. Concreto leve: Estudo de dosagens com argila expandida e poliestireno
expandido moído. 24f. Universidade do Extremo Sul Catarinense, 2016.
[6] NEVILLE, A.M; BROOKS.J.J. Tecnologia do concreto. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
[7] PIETROBELLI, E.R. Estudo de viabilidade do pet reciclado em concreto sob aspecto da resistência a
compressão. 71f. Dissertação (Monografia) - Universidade Comunitária Regional de Chapecó, Chapecó, 2010.
[8] ROSSIGNOLO, J.A. Concreto leve estrutural: Influência da argila expandida na microestrutura da zona de
transição pasta/agregado. 9f. Universidade de São Paulo, São Carlos, 2009.
[9] ROSSIGNOLO, J.A; AGNESINI, M.V.C. Concreto: ciência e tecnologia – Resistência mecânica do concreto,
CAP 42. São Paulo: Geraldo C. Isaia, 2011.
[10] SIQUEIRA, L.V.M; STRAMARI, M.R; FOLGUERAS, M.V. Adição de poliuretano expandido para a
confecção de blocos de concreto leve. 12f. Universidade do Estado de Santa Catarina, Revista Matéria, Joinville, 2004.
DESAFIOS E OPORTUNIDADES ACERCA DA GESTÃO DOS RESÍDUOS
ORGÂNICOS EM JUIZ DE FORA, MG.
Resumo: De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (2010), metade dos resíduos sólidos
urbanos é orgânico, constituído basicamente por restos de alimentos e podas. A destinação desses
resíduos poderia ser, por exemplo, uma usina de compostagem ou mesmo composteiras domésticas,
onde se dá a transformação da matéria orgânica em composto orgânico, ou seja, o adubo. De acordo
com dados apresentados pelo CONAMA, no ano 2000, apenas 4,5% dos resíduos eram destinados
para compostagem. Em 2008 esse valor caiu para 1%. Na década de 70 foram importadas tecnologias
de compostagem dos Estados Unidos e da Europa e aplicadas no Brasil, porém, não eram adequadas
para o nível de gestão encontrado no país. Com isso, geraram-se compostos ineficientes, e a
compostagem passou a ser desacreditada, diminuindo o interesse do mercado no produto. Diante do
exposto, o objetivo do trabalho é apresentar os principais desafios e oportunidades acerca da gestão
do resíduo orgânico no município de Juiz de Fora/MG e, especificamente, na Universidade Federal
de Juiz de Fora, com foco na compostagem como solução. Para alcançar este objetivo foi realizado
um diagnóstico das principais iniciativas relacionadas à compostagem no campus de modo que seja
possível traçar um panorama da situação atual e apresentar as necessidades de melhoria. Do total de
220 mil toneladas de resíduos gerados diariamente no Brasil, considera-se que cerca de 128 mil
toneladas/dia sejam de resíduos compostáveis (Mahler et al., 2012). A disposição desse material gera,
para a maioria dos municípios, despesas que poderiam ser evitadas caso essa fração fosse separada
na fonte e tratada em domicílio ou encaminhada para um tratamento específico como a compostagem.
Partindo do princípio que o chorume gerado nos aterros é resultado, em parte, do alto teor de matéria
orgânica depositado no mesmo, conclui-se que a compostagem dos resíduos (em grandes leiras ou
domiciliar) reduziria gastos com o tratamento do efluente, aumentaria a vida útil dos aterros e ainda
minimizaria os impactos ambientais.
Palavras-chave: Aumento da vida útil do aterro sanitário, compostagem, gestão de resíduos
orgânicos.
Abstract: According to the Ministry of the Environment, in 2010, half of urban solid waste consists
basically of leftover food and pruning. The destination for consumption could be, for example, a
composting plant and even of domestic compositions, where the genetic basis, that is, the fertilizer,
is found. This process can be viewed on a domestic scale for a large industrial, safely. However, this
waste is mostly disposed of in landfills. According to data presented by CONAMA, in the year 2000,
only 4.5% of the waste was destined for composting. In 2008 this figure fell to 1%. In the 1970s
compost technologies were imported from the United States and Europe and applied in Brazil, but
these were not adequate for the level of management found in the country. As a result, inefficient
compounds were generated, and composting became discredited, reducing market interest in the
product. In view of the above, the objective of this work is to present the main challenges and
opportunities regarding the management of organic waste in Brazil and specifically in the
municipality of Juiz de Fora/MG. To achieve this objective, a diagnosis of the main initiatives related
to composting in the municipality was carried out so that it is possible to draw a panorama of the
existing public policies and still present the needs for improvement in its management. Of the total
of 220 thousand tons of waste generated daily, it is estimated that around 128 thousand tons per day
are of compostable waste (Mahler et al., 2012). The provision of this material generates, for most
municipalities, expenses that could be avoided if that fraction were separated at source and treated at
home or sent to a specific treatment such as composting. Assuming that the slurry generated in the
landfills is partly a result of the high content of organic matter deposited in the landfill, it is concluded
that the composting of the residues (in large landfills or at home) would reduce expenses with effluent
treatment, increase life of the landfills and would also minimize environmental impacts.
Keywords: Increase the life of the landfill, composting, management of organic waste.
1. INTRODUÇÃO
Os resíduos sólidos vêm se tornando cada vez mais um assunto de extrema importância e preocupação
na sociedade, pois muitas são as questões relativas aos cuidados, responsabilidades, monitoramento
e controle dos resíduos em geral. Medidas como a redução do consumo e a introdução da
compostagem são de grande valia. Muito conhecido, porém pouco difundido, o tratamento do resíduo
orgânico antes mesmo da chegada ao aterro sanitário poderia ser realizado pela sociedade em
domicílios, escolas, empresas e indústrias, de forma que os maiores impactos gerados pela degradação
da matéria orgânica nos aterros (efluentes como chorume e gases) poderiam ser evitados.
A compostagem é um processo no qual microrganismos decompõem e estabilizam biologicamente
substratos orgânicos, liberando dióxido de carbono e vapor d’água, sendo um processo aeróbico em
quase sua totalidade, e em alguns casos, anaeróbico. Os principais fatores que afetam a compostagem
estão relacionados à atividade microbiológica destacando-se: umidade, aeração, temperatura,
concentração de nutrientes, tamanho das partículas e pH.
Na sociedade antiga, homens, animais e plantas ocupavam o mesmo espaço e com isso o ciclo de
nutrientes era fechado. Nos dias atuais, as atividades agrícolas, pecuárias e o consumo humano estão
distanciadas, não havendo assim troca de nutrientes, o que leva ao seu esgotamento na produção
vegetal e sua concentração onde há a criação de animais e o consumo humano. Reaproveitando
compostos orgânicos e utilizando-os como adubo, há a possibilidade de se fechar o ciclo de nutrientes,
minimizando diversos problemas ambientais. O adubo orgânico pode ser utilizado visando o
condicionamento físico, físico-químico e biológico do solo, além de servir de matéria prima para
substratos (Curso de compostagem, EMBRAPA, 2018).
No caso da compostagem domiciliar, é necessário, primeiramente, caracterizar o domicílio no âmbito
social, econômico e ambiental, adquirindo dados como o número de pessoas residentes no domicílio,
a quantidade de refeições preparadas em casa por semana, a instrução escolar, a renda familiar em
salários mínimos, o número de pessoas que trabalham na família, a existência de coleta seletiva no
bairro e identificar se a população tem conhecimento sobre compostagem. Depois dessa
caracterização, é necessária a instrução aos moradores de como proceder com o processo, sendo
necessária a existência de uma composteira, local onde os compostos vão ser processados, e que serão
dispostos restos de alimentos como cascas de frutas e legumes, e como fonte de nitrogênio, o pó de
café.
A compostagem realizada em grandes empresas, universidades ou mesmo em escala industrial, tem
como benefício a redução do lixo acumulado em aterros sanitários, ampliando a vida útil destes e
diminuindo os custos com o seu descarte, neste caso em maior escala.
Neste trabalho, foi feito um mapeamento e entrevistas com professores, bolsistas e funcionários para
averiguar práticas de compostagem na Universidade Federal de Juiz de Fora. Além disso foram
realizadas pesquisas acerca do conhecimento sobre esse tema com a comunidade acadêmica através
de um questionário.
Com base no exposto, o objetivo deste trabalho é apresentar os principais desafios e oportunidades
acerca da gestão do resíduo orgânico em Juiz de Fora, especificamente no Campus da Universidade
Federal de Juiz de Fora, com foco na compostagem como solução.
4. METODOLOGIA
Após coleta de dados diretamente do SNIS – Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento –
acerca do diagnóstico do manejo de resíduos sólidos urbanos de todos os municípios no ano de 2016,
foram extraídas informações da microrregião de Juiz de Fora, sendo composta de 33 municípios. O
enfoque da análise se deu em relação aos resíduos orgânicos, onde também avaliou-se, através da
aplicação de questionários online, a percepção e conhecimento dos alunos e servidores das faculdades
de engenharia e biologia da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, em relação à correta gestão
dos resíduos orgânicos. Foi realizado também, um diagnóstico das principais iniciativas de
compostagem existentes no campus, através de pesquisas e entrevistas.
4.1. Aplicação de questionário
Estruturou-se um questionário onde se pretendia entender qual a percepção de alunos e servidores,
em maior parte da área biológica e engenharia, quanto à gestão dos resíduos sólidos como um todo,
manejo e disposição, e quanto a reciclagem doméstica. A compostagem foi o foco do questionário.
Tabela 1 - Perguntas feitas no formulário
GRÁFICO
PERGUNTAS FEITAS NO FORMULÁRIO REFERENTE ÀS
RESPOSTAS
Você sabe qual o destino do lixo que você produz? Descreva. Fig. 4
Você possui algum tipo de jardim, horta ou plantação que poderia ser Fig. 8
auxiliada pelo produto da compostagem?
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1. SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento
Pela análise de dados do SNIS, foi constatado a presença de UTCs - Unidade de Triagem e
Compostagem - em todo o Brasil. Em Minas Gerais a porcentagem de municípios que possuem UTCs
regularizadas, chega a 15%, de acordo com a figura 1.A, um número pequeno quando relacionado
aos 853 municípios de Minas Gerais. Na microrregião de Juiz de Fora, composta por 33 municípios,
a porcentagem de UTCs atinge 19%, figura 1.B. Muitos dos municípios de Minas Gerais possuem
menos de 10 mil habitantes, com acesso limitado à informação, tecnologia e investimentos nessa área,
e 164 dos municípios mineiros possuem a população rural maior que a urbana (LOBATO, 2015). A
prática de compostagem nesses lugares deve ser mais fácil, já que, em propriedades rurais, com
rebanhos e plantações, existe uma cultura de reaproveitar o lixo, podendo apenas cavar buracos para
a introdução do material orgânico remanescente, e depois utilizar essa terra compostada para as
diversas áreas da propriedade.
Fig. 1 - Disposição Final dos RSU em Minas (A) e na microrregião de Juiz de Fora (B)
Posteriormente, foi questionado quantos deles já haviam feito algum tipo de compostagem, e 74%
das pessoas que responderam disseram que não (fig. 7).
Das pessoas que responderam o questionário, 51% informaram que possuem algum tipo de jardim,
horta ou vasos em sua residência, que poderiam ser beneficiados pelo produto da compostagem (fig.
8).
Fig. 8 - Gráfico referente à porcentagem de pessoas que possuem algum tipo de plantação
Mais de 63% dos participantes, a partir de instrução e dos materiais necessários, responderam estar
dispostos a fazer a compostagem em suas casas, com seus resíduos orgânicos; 24% disseram que
talvez o fizessem, e apenas 13% não estariam dispostos (fig. 9).
6. CONCLUSÕES
Um dos maiores desafios na gestão dos resíduos sólidos urbanos (RSU) é fazer com que esse material
orgânico se estabilize nos próprios domicílios onde são gerados.
A compostagem se mostra como uma alternativa para a destinação dos resíduos orgânicos, visto que,
dispor essa matéria orgânica em aterros e em locais inapropriados pode causar grandes impactos ao
meio ambienta e à saúde humana.
Algumas dificuldades são encontradas no decorrer do processo, começando pela separação do lixo
seco do lixo úmido, prática diária que requer empenho para se tornar uma rotina. Existe ainda a
necessidade de separar o que pode ou não ir para a composteira, já que resíduos orgânicos animais,
como detritos, ossos, resíduos cítricos etc. não devem participar do processo, pois causam maus
odores e afetam a parte microbiológica, podendo eliminar espécies de bactérias. Porém essa
adequação na separação do lixo é proporcionada com o tempo. Mantendo o cuidado e a manutenção
semanal ou diária, a compostagem pode estar em consonância com o dia-a-dia.
Grande parte dessa harmonia pode ser adquirida através de educação ambiental, seja ela em escolas,
projetos sociais ou mídias. Porém, quando colocado em prática, o projeto ganha força, daí a
importância em aplicar essas atividades nos primeiros anos de aprendizado, para que a criança já
cresça com uma conscientização ambiental.
No decorrer do artigo foram expostas as iniciativas já tomadas dentro do Campus, a respeito de
compostagem, ideias de como introduzir ou continuar esses projetos e a percepção dos estudantes e
servidores sobre o tema. De maneira geral, a compostagem é muito bem vista, é uma grande
alternativa para fechar o ciclo de resíduos orgânicos e os entrevistados, em sua maioria, demonstraram
aceitação e até mesmo predisposição para realizar tal procedimento, seja ele feito na própria
faculdade, em casa ou em outros locais onde se adequa o conceito.
Para difundir a ideia de compostagem deve-se começar realizando pequenos projetos, para que se
tornem exemplos para outros, incentivando servidores e estudantes e promovendo diversos meios de
troca de informações entre eles, para que os processos ocorram de maneira correta e continuada.
REFERÊNCIAS
[1] MAHLER, Claudio Fernando (Org.). Lixo urbano: o que você precisa saber sobre o assunto.
Rio de Janeiro: Evan: FAPERJ, 2012. 192 p.
[2] Curso de compostagem, EMBRAPA, 2018
[3] PEREIRA, Luiz, Compostagem de Resíduos Orgânicos, 2003.
[4] Trabalhos Feitos, 2014.
[5] Ministério do Meio Ambiente, 2010.
[6] Redação Ambiente Brasil, 2017.
[7] PIRES, Isabela., FERRÃO, Gregori., Revista Trópica – Ciências Agrárias e Biológicas. p.01-
18, v.09, n.01, 2017
[8] RIGHI, Júlia., Destinação final dos resíduos sólidos no Brasil: Desafios e oportunidades, 2018.
[9] LOBATO, Paulo Henrique. Jornal Estado de Minas - em 13 de setembro de 2015.
[10] Figura 2 - Processo de compostagem (Ciclo) - disponível em <http://sustentahabilidade.com/como-
funciona-a-compostagem-domestica/> em 15 de outubro de 2018.
ANÁLISE COMPARATIVA DA PERMEABILIDADE DA PAVIMENTAÇÃO
INTERTRAVADA DE CONCRETO, UTILIZANDO AGREGADO GRAÚDO
E AGREGADO MIÚDO
Demerval Martins dos Santos Segundo*1, Hígor Jônathas Sena Dias Lopes2, Hyago Sodré Sousa3,
Renan Maycon Mendes Gomes4, Wendel Melo Prudêncio de Araujo5
1 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, demerval_martins@outlook.com
2 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, higorjonathan@gmail.com
3 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, sodrehyago@hotmail.com
4 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, renan_maycon2008@hotmail.com
5 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, wendelprudencio@hotmail.com
Abstract: The floods and the inundations can generate several disorders, as an impediment to the
traffic of vehicles and passers-by, erosive action progress of slopes, pollution of rainwater by mixing
rubbish inserted irregularly on the street, among others, that are maximized due to the urbanization
processes of the big cities that intensifies the waterproofing of the soil, a factor that increases the
surface runoff, potentiating these floods. However, the interlocking concrete pavement are considered
permeable floors, because they allow this surface water to infiltrate the floor, reducing the runned off
volume. Therefore, it is necessary to analyze the most effective alternative for the improvement of its
performance of control of surface runoff. This research is intended to make the permeability
comparative analysis of the interlocking concrete paving, using coarse aggregate and fine aggregate.
For the development of this work, two experimental modules were elaborated that simulated its initial
state of application, being that one adopted the material with granulometric characteristics suggested
by ABNT NBR 16416/2015 [1], and other adopting fine aggregate of which both were used in the
settling and grouting layers, where the tests followed the guidelines described in the current standard
in question. Values of 5.79 x 10-5 m/s to 3.23 x 10-5 m/s were obtained in the permeability test in the
interlocked floor experimental module where the sand was used in these layers; and values between
3.83 x 10-3 m/s to 2.86 x 10-3 m/s in the same test, using the crushed stone with granulometry indicated
in the standard in analysis in the same purpose, indicating that there were better results where the
aggregate with a larger granulometry was used, attending the minimum value of 10-3 m/s required by
the standard in analysis. The experimental interlocking floor modules were have managed to achieve
the defined objective, being verified that only the model that followed the characteristics indicated
by the standard attended the criterion of its permeability coefficient, while that one which was used
the fine aggregate reached much lower results than required by the standard in analysis, being able to
indicate that this norm has plenty rigidity on the question of performance of permeability.
1. INTRODUÇÃO
Derivado de uma urbanização não planejada e não uniforme, com baixa infraestrutura e moradias
locadas em áreas de risco, as inundações urbanas, que são eventos naturais, estão sendo cada vez mais
recorrentes, desde as grandes metrópoles às cidades interioranas. Além do mais, a existência de áreas
urbanas mais valorizadas em relação a outras sem assistência adequada de infraestrutura e serviços
públicos tem como consequência a vulnerabilidade de parcelas da população a desastres naturais,
segregando-as também ao acesso a bens sociais [2].
Contaminação por doenças infectocontagiosas, suspensão das atividades econômicas existentes na
região afetada, danos materiais e mortes são algumas das consequências das inundações, aliados ao
sistema irregular de esgotamento sanitário, o acúmulo de lixo nas galerias e arruamentos com
ineficiente capacidade de permitir a infiltração adequada da água [3].
Os pisos intertravados de concreto permitem a diminuição do escoamento superficial através das suas
juntas de percolação, elevando a superfície permeável dos centros urbanos, sendo utilizados em
estacionamentos, passagem de transeuntes, e até mesmo para o tráfego leve de veículos. Vale ressaltar
que o volume precipitado infiltra no pavimento, sendo filtrado pela camada de base do mesmo, e
armazenada pelas camadas de base e sub-base [4].
Então, no sentido de desenvolver práticas sustentáveis que visem a melhoria da qualidade do recurso
hídrico e da mobilidade urbana, a análise da permeabilidade da pavimentação intertravada de concreto
deve propor a melhoria da eficiência do mesmo, podendo abranger a linha de pesquisa para diferentes
tipos de pisos permeáveis de diferentes locais que utilizam este tipo de pavimento, para a diminuição
do escoamento superficial, que gera problemas de inundações, principalmente nos centros urbanos.
2. OBJETIVOS
O objetivo geral desta pesquisa está voltada a analisar a permeabilidade da pavimentação intertravada
de concreto, utilizando agregado graúdo e miúdo, cujo seus objetivos específicos são de elaborar dois
módulos experimentais que simulem seu estado inicial de aplicação, realizar de ensaios de
permeabilidade nestes módulos e avaliar o coeficiente de permeabilidade dos mesmos.
3. MÉTODOS
Nesta pesquisa foram elaborados dois modelos de pavimentação intertravada, sendo que o primeiro
simulou a pavimentação da Instituição de Ensino Superior, como exemplificação de ensaio (Fig. 1),
e o segundo a pavimentação com características descritas pela NBR 16416 (ABNT, 2015) [1],
conforme descritas nas Tabelas 1 a 4.
A norma americana “ASTM C1701/2009 – Standard Test Method for Infiltracion Rate of In Place
Pervious Concrete” [5] descreve os critérios e procedimentos para este teste, e segundo Ono, Balbo
e Cargnin (2017) [6], a NBR 16416 (ABNT, 2015) [1] incorporou a americana para este ensaio.
Para a execução dos ensaios, foram necessários os seguintes materiais:
Cilindro rígido e resistente a água, com diâmetro interno de (300 ± 10) mm;
Massa de modelar;
Balde capaz de armazenar pelo menos 20 litros;
Proveta;
Cronômetro;
Água.
Na superfície externa dos módulos experimentais, montou-se o sistema formado pelo cilindro, vedado
com massa de calafetar, para que o volume de água que seria utilizado não escapasse do cilindro em
questão. Contudo, de acordo com a norma em análise, especifica-se a utilização da massa de calafetar
para os ensaios, porém, para que houvesse economia de material de vedação, e para sua reutilização,
substituiu-se a massa especificada em norma por massa de modelar.
Definido de pré-molhagem, inseriu-se 3,6 litros de água no sistema corretamente vedado,
cronometrando-se o intervalo de tempo referente entre o início do despejo do líquido no cilindro de
ensaio e a infiltração total deste (Fig. 2). Caso este intervalo fosse inferior a 30 segundos, o volume
utilizado para o ensaio definitivo seria de 18 litros; caso contrário, novamente 3,6 litros.
Apoiado em uma superfície regular e plana, foi montado uma caixa de madeira, com área de 0,56 m²,
sendo que suas dimensões são de 0,75 x 0,75 m, e altura de 0,20 m, e com duas aberturas (superior e
inferior), pois 0,04 m foram destinados a camada de base; para a camada de assentamento em 0,08
m; assim como 0,08 m para o revestimento, dimensionado para tráfego leve, conforme a NBR 16416
(ABNT, 2015) [1]; adequando-se a área mínima de 0,50 m², de acordo com a mesma norma. Depois
disso, foi lançada a camada permeável, compactando-se adequadamente; logo após isso, foi inserido
a camada de assentamento, também devidamente compactada; em seguida foram colocados os blocos
pré-fabricados de concreto. No final, foi aplicado a camada de rejuntamento. Os dois modelos
seguiram esta metodologia descrita, porém o primeiro possuiu a camada de assentamento e de rejunte
com características granulométricas semelhantes a que a Instituição utiliza; e o segundo com
granulometria descrita na norma em análise (Fig. 3).
Fig. 3 – Modelo de piso intertravado com camada de assentamento e rejunte em brita
4. RESULTADOS
Para a elaboração do modelo de pavimento intertravado de concreto, utilizando areia como material
para a camada de assentamento e de rejunte, a curva granulométrica do mesmo está apresentada na
Fig. 4.
197,36 200,38
200,00
178,01 178,35 176,21
152,09
145,92
150,00
131,71 133,25 132,19 126,97
(mm/h)
116,19
100,00
50,00
0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
N° Dias
13000,00
12000,00 10598,07 10978,84 11111,92 10913,49 10300,37
11000,00
10000,00
9000,00
(mm/h)
8000,00
7000,00
6000,00
5000,00
4000,00
3000,00
2000,00
1000,00
0,00
1 2 3 4 5 6
N° Dias
5. DISCUSSÕES
Analisando o resultado referente ao modelo de piso intertravado com areia, constatou-se que com o
decorrer do tempo, isto é, da quantidade de dias de ensaio, houve o acréscimo de intervalo de tempo,
ocasionando, por sua vez, a diminuição do coeficiente de permeabilidade. Além disso, percebe-se que
os primeiros valores de coeficiente de permeabilidade estão muito abaixo que a NBR 16416 (ABNT,
2015) [1] estabelece para pavimentos intertravados recém construídos: da expectativa de 3600
(mm/h) da norma vigente (10-3 m/s), para valores reais de 208,47 (mm/h) e 197,36 (mm/h) (5,79 x
10-5 m/s e 5,48 x 10-5 m/s, respectivamente) obtidos no ensaio de permeabilidade. Este resultado pode
ter ocorrido por causa da compactação da areia durante o período de uso para o controle de
escoamento superficial (Fig. 8), além de se constatar que este material pode não ser o mais adequado
para a camada drenante de assentamento e rejuntamento do pavimento intertravado por sua
distribuição granulométrica, conforme parâmetros exigidos na norma vigente.
Fig. 8 – Modelo de pavimento intertravado de concreto com areia como camada de assentamento antes e após a
aplicação de água, respectivamente
A partir dos valores expostos do modelo de pavimento intertravado com brita, o mesmo possui alto
grau de permeabilidade, muito superior ao limite mínimo estabelecido pela NBR 16416 (ABNT,
2015) [1], de 10-3 m/s (3600 (mm/h)), podendo ser adequado o uso da brita em sua camada de
assentamento e de rejunte, considerando a distribuição granulométrica preestabelecida, para sua
função drenante, segundo os parâmetros da norma analisada. Foi constatado também que os valores
do coeficiente de permeabilidade se mantiveram constantes ao decorrer dos dias de ensaio, do qual o
primeiro dia de testes apresentou o melhor resultado, de 13785,46 (mm/h), ou 3,83 x 10-3 m/s. Estes
resultados podem ter sido alcançados por conta da granulometria mais aberta do material, em
comparação à areia utilizada no primeiro modelo de pavimento intertravado de concreto, tanto na
camada de assentamento, quanto de rejuntamento.
6. CONCLUSÕES
Para os ensaios referentes ao cálculo do coeficiente de permeabilidade, foi atingido o objetivo da
massa de modelar, com sua função de vedar o sistema analisado em todos os dias de ensaio, suprindo
adequadamente a massa de calafetar.
Na elaboração dos módulos experimentais de pavimentos intertravados, conseguiu-se atingir ao
objetivo proposto. Contudo, o valor que a norma analisada exige para o coeficiente tanto após a
execução do pavimento quanto após a prática da manutenção podem ser considerados muito elevados
devido aos valores alcançados do módulo experimental de piso intertravado com areia na camada de
assentamento e rejuntamento nos seus primeiros dias de execução serem muito inferiores aos dois
valores da norma. Além disso, deve-se ressalvar que esta pesquisa está voltada apenas para a análise
do desempenho de permeabilidade do piso intertravado, não sendo analisados os seus desempenhos
mecânicos (adequação ao tráfego, por exemplo).
REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16416: pavimentos permeáveis de concreto –
Requisitos e procedimentos. Rio de Janeiro, 2015.
[2] GUIMARÃES, Rosangela Maria Amorim Benevides. SEGREGAÇÃO E INUNDAÇÃO URBANA:
APONTAMENTOS SOBRE O PAPEL ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL JUNTO AOS AFETADOS.
REINPEC-Revista Interdisciplinar Pensamento Científico, v. 3, n. 1, 2017.
[3] OLIVEIRA, Arlan Jefferson Miguel de. Controle de inundações: causas, consequências e possíveis medidas de
proteção urbana no município de Mulungu/PB. 2017.
[4] MARCHIONI, Mariana; SILVA, Cláudio Oliveira. Pavimento intertravado permeável – melhores práticas –
ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland. São Paulo, 2011.
[5] ASTM C1701 / C1701M - 09 - Standard Test Method for Infiltration Rate of In Place Pervious Concrete.
[6] ONO, Bruno Watanabe; BALBO, José Tadeu; CARGNIN, Andréia. Análise da capacidade de infiltração em
pavimento permeável de bloco de concreto unidirecionalmente articulado. TRANSPORTES, v. 25, n. 3, p. 90-101,
2017.
APLICAÇÃO DE FERRAMENTA COMPUTACIONAL NA OTIMIZAÇÃO E
MITIGAÇÃO DE CUSTOS NA ROTEIRIZAÇÃO DA LOGÍSTICA DE
TRANSPORTE DE CARGAS
Application of computational tool in the optimization and mitigation of costs in
routing of charge transport logistics.
Jaísa Aparecida Costa Gomes*1, José Ronaldo Tavares Santos2, Gustavo Vinicius Duarte Barbosa3,
Giordani Bruno de Carvalho4
1
Centro Universitário UNA Campus Barreiro, Belo Horizonte, Brasil, jaisaamorim@gmail.com
2
Centro Universitário UNA Campus Barreiro, Belo Horizonte, Brasil, jose.tavares@prof.una.br
3
Cindata 1 Comando da Aeronáutica, DTCEA-CF (Confins), Brasil, gustavogvdb@fab.mil.br
4
Centro Universitário UNA Campus Barreiro, Belo Horizonte, Brasil, giordani.carvalho@prof.una.br
RESUMO
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o transporte de cargas por
meio rodoviário é o mais predominante no Brasil, onde a sua movimentação responde de um a dois
terços dos custos logísticos totais do país. Do ponto de vista econômico, empresas com atividades
logísticas mais eficientes têm maior competitividade e maior sustentabilidade no mercado, portanto,
para que isso ocorra é necessária a mitigação dos custos e das distâncias nas rotas de transporte. O
objetivo principal deste artigo é apresentar um estudo de caso em uma empresa do ramo de
transporte de materiais de construção civil, localizada na região centro-sul de Belo Horizonte,
buscando demonstrar como a roteirização e a modelagem computacional podem contribuir na
redução dos custos da logística de transporte dessa empresa. A metodologia da pesquisa é do tipo
aplicado, com abordagem quantitativa, onde são obtidos os dados com o cenário de entrega atual, e
além desses, os novos cenários após a aplicação da modelagem e tomada de decisão, empregando a
ferramenta computacional solver do Microsoft Excel®. Os resultados obtidos evidenciaram a
potencialidade da otimização na roteirização de veículos e a redução dos custos de transporte.
Conclui-se, por conseguinte, a necessidade de utilização de ferramentas computacionais e conceitos
da pesquisa operacional como elementos de auxílio na otimização no processo de roteirização.
1. INTRODUÇÃO
O transporte de cargas constitui em um dos elementos mais importantes nos custos logísticos para
inúmeras empresas, absorvendo de um a dois terços do custo logístico total. Portanto, é importante
que haja uma distribuição eficiente, ou seja, um menor custo para ambas as partes (prestador do
serviço e contratante) e que proporcione agilidade, confiabilidade e segurança ao cliente, tornando a
estratégia competitiva mais dinâmica [1].
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [2], o modal rodoviário é
predominante no Brasil. Esse modal pode se tornar oneroso e inviável quando considerados os
quesitos como o excesso de veículos trafegando nas rodovias e vias urbanas, a poluição ambiental
causada pelos veículos, o aumento nos insumos relacionados aos custos de entregas e o tempo para
se percorrer um determinado roteiro de distribuição de cargas.
Sabendo-se da maior utilização do modal rodoviário na matriz de transporte brasileira, e
compreendendo que as empresas precisam antecipar às tendências de mercado, gerando respostas
rápidas e eficazes aos clientes, justifica-se a necessidade de utilização de técnicas de pesquisa
operacional, especificamente a roteirização, e o uso de ferramentas computacionais, que por sua vez
auxiliam na otimização dos processos de distribuição.
Nesse contexto, o presente artigo aborda a logística de transporte e o problema da definição de rotas
de veículos em um cenário de transporte de cargas, diante da importância do planejamento da
logística de transporte e benefícios que a solução de roteirização pode proporcionar às empresas que
trabalham com distribuição física. Neste trabalho é realizado um estudo de caso em uma
distribuidora de materiais de construção civil na região centro-sul de Belo Horizonte, buscando
demonstrar como a roteirização pode contribuir na redução de custos da logística de transporte
dessa empresa.
A roteirização possibilita que se encontre a melhor rota, de maneira que a demanda de todos os
clientes seja atendida. Com a otimização das rotas diminui-se o tempo de resposta ao cliente (Lead
Time) e a distância percorrida. Com isso, a empresa aumenta sua vantagem competitiva.
Com a finalidade de responder ao problema de pesquisa proposto, o objetivo geral deste artigo é
demonstrar a utilização da roteirização, modelagem e uso da simulação computacional, partindo de
um estudo de caso em uma distribuidora de materiais de construção civil, localizada na região
centro-sul de Belo Horizonte, e visando a redução de custos logísticos de transporte, com os
seguintes objetivos específicos: Avaliar o funcionamento atual da logística de transporte dessa
empresa, identificar os custos logísticos atuais de transporte, analisar e identificar o melhor método
de roteirização, com possíveis reduções de custos e distâncias de transporte.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Logística
De acordo com [3], a logística originou-se na Segunda Guerra Mundial onde esteve relacionada à
movimentação de tropas, armamentos e munições. Contudo, quando o conceito migrou para o
mundo dos negócios ele referiu-se à preparação e movimentação de produtos finais das
organizações fabris até os clientes. Esse entendimento da viabilidade da aplicação da logística em
organizações civis se deu pela necessidade de suprir a reconstrução das cidades e dos países que
foram atingidos pela guerra.
O processo logístico, segundo [4], é o planejamento da movimentação de materiais e informações
com o objetivo de entregar ao cliente o produto e/ou serviço na qualidade e no tempo desejado ao
menor custo possível. Os ganhos extraordinários resultantes do domínio das atividades logísticas
estão proporcionando alterações nesse setor, e um maior número de empresas utiliza a logística
como fator estratégico.
Para [5], a logística é o processo de planejar, implementar e controlar de forma econômica, eficiente
e efetiva. O fluxo logístico começa no fornecedor, percorre todo o processo de fabricação, depois a
armazenagem de matéria prima, dos materiais em processo e dos produtos acabados, seguindo até o
varejista, para atingir finalmente o consumidor final.
3. MÉTODOS
Este artigo parte do conceito de natureza aplicada. A pesquisa aplicada tem como propósito a
geração de conhecimento para aplicações práticas dirigidas à solução de problemas específicos.
[17]. A pesquisa apresenta também uma abordagem quantitativa, onde, segundo [18] "a pesquisa
quantitativa se centra na objetividade. Influenciada pelo positivismo, considera que a realidade só
pode ser compreendida com base na análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de
instrumentos padronizados e neutros".
Partindo de um estudo de caso em uma distribuidora de materiais de construção civil, localizada na
região centro-sul de Belo Horizonte, são realizadas análises em documentos, coletas de dados, a
identificação do processo atual da logística de transporte e os impactos da aplicação da roteirização
quanto a custos logísticos e melhoria do nível de serviço nas entregas dessa empresa.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste trabalho são levantados 7 (sete) principais clientes com maior receita da região sudeste da
empresa objeto de estudo. Por meio de dados fornecidos pela empresa, os pontos de entregas da
região são definidos como clientes 05, 14, 21, 22, 27, 28, 29 e CD (Centro de Distribuição). A
Figura 1 ilustra a rota atual que o motorista realiza com a finalidade de atender a região.
Figura 1: Demonstração da rota atual.
Para realização da rota atual o motorista segue da origem CD para os clientes 29-21-22-27-5-28-14
retornando ao final para o CD. Com essa rota o motorista percorre aproximadamente 192
quilômetros diários. O caminhão utilizado pela empresa consome o equivalente a 3,6 quilômetros
por litro de diesel. Para atender a região sudeste são necessários 54 litros de combustível,
diariamente. O custo mensal para atender a região sudeste é aproximadamente igual a R$6.742,57,
relativos ao combustível e aos custos variáveis com horas extras do motorista.
Para otimização da rota é desenvolvida a modelagem com o propósito de se obter a rota de menor
custo, levando em consideração a origem CD (centro de distribuição), os destinos e a distância de
cada entrega. O objetivo da fórmula é encontrar a solução de alocação de rota que represente o
menor custo de entrega. Pelas características desse problema, a melhor forma de modelá-lo é como
um problema de transportes e com todas as suas variáveis inteiras. O modelo é representado da
seguinte maneira:
Xij = (6)
Onde: i = clientes; j = clientes; n = total de clientes; Cij = distância de i para j; Xij = variável binária
que indica se cliente i foi designado para o cliente j. Após a definição da modelagem construiu-se a
matriz de distância (custo de cada entrega de i para j). Essa, por sua vez, é calculada através da
matriz de deslocamento entre os clientes, conforme apresentado na Tabela 1.
Tabela 1: Matriz Origem x Destinos (Distâncias em km).
Destino
Origem
CD 5 14 21 22 27 28 29
CD 0 12,2 13,3 3,3 37,5 7,9 7,9 24,4
5 12,2 0 11,9 10,9 33,6 22,8 25,3 9,3
14 9,9 13,5 0 9,4 28,3 8,4 16,6 8,6
21 2,3 10,6 12,9 0 40,5 7.2 9,7 16,5
22 35,4 32,8 29,2 34,7 0 39,6 47,3 28
27 7,3 23,3 9,3 7,2 36 0 11,5 16,3
28 7,8 17,8 17,8 9,3 42 11,7 0 23,5
29 16 7,1 6,2 15,3 30,7 17 24,2 0
A roteirização que atende a função objetivo com o melhor trajeto que o veículo deve percorrer, com
a finalidade de diminuir a distância, é a roteirização de ponto de origem e destinos diferentes e a
roteirização que utiliza o trajeto mais curto.
A partir dessa nova proposição, é possível realizar a comparação de novos cenários antes e após a
otimização, conforme mostrado na Tabela 2.
Tabela 2: Análise dos cenários.
Atual Simulado Redução
Cenários
(mensal) (mensal) (%)
Distância Percorrida (km) 5.760 3.060 -46,9
Custo do Consumo de Combustível (R$) 6.010,00 3.116,40 -48,1
Tempo do percurso (horas) 129,9 96 -26,1
Horas Extras (horas) 52,5 0 100,0
Observa-se nessa tabela que, com a rota otimizada, a empresa atenderá todos os clientes
percorrendo ao invés de 192 quilômetros, 102 quilômetros. Isso equivale à redução de 54 para 28
litros de diesel por dia, totalizando um custo logístico mensal de R$ 6.742,57 para R$3.116,40 em
combustível.
5. CONCLUSÃO
Os resultados obtidos são aceitáveis, onde é possível avaliar e identificar a rota atual da empresa,
bem como os custos atuais da logística de transporte, concluindo então que a rota adotada pela
empresa para a região sudeste não era viável e economicamente satisfatória.
Aplicando-se o método da pesquisa operacional e programação linear é possível obter uma nova
proposição para redução em aproximadamente 48,1% nos custos e 46,9% da distância na logística
de transporte, demonstrando a viabilidade técnica, operacional e econômica no uso da ferramenta
computacional.
REFERÊNCIAS
[1] BALLOU, Ronald H. Logística Empresarial. São Paulo: Atlas, 2007.
[2] BRASIL, IBGE. Infraestrutura dos transportes no Brasil, 2014. Disponível em:
<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2013-agencia-de-noticias/releases/14707-asi-ibge-mapeia-
a-infraestrutura-dos-transportes-no-brasil.html>. Acesso em: 03 mai. 2018
[3] SLACK, N. et al. Administração da Produção. 1 ed. São Paulo. Atlas, 1997.
[4] BALLOU, Ronald H. Logística Empresarial: transporte, administração de materiais e distribuição física. São
Paulo: Atlas, 1993.
[5] NOVAES, A. G. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição. 6 reimp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. 400
p.
[6] MEIRIM, H. As atividades primárias da logística. Disponível em:
<http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/as-atividades-primarias-da-logistica/14168/>. Acesso em:
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[7] MORAIS, Roberto Ramos de. Logística empresarial, Curitiba: InterSaberes, 2015.
[8] RODRIGUES, P. R. A. Introdução aos sistemas de transporte no Brasil e a logística internacional. São Paulo:
Aduaneiras, 2000. 148 p.
[9] TAKAHASHI, S. Avaliação ambiental do setor de transporte de cargas: Comparação de métodos. 2008. 89 p.
Dissertação (Mestrado em Engenharia) -Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2008.
[10] GOMES, Carlos Francisco Simões, Gestão da cadeia de suprimentos integrada à tecnologia da informação. São
Paulo, 2004.
[11] KLANN, R. et al. Utilização da programação linear na otimização de resultados de uma empresa do ramo de
transporte rodoviário de cargas. Associação Brasileira de Custos, Santa Catarina, v. 5, n. 1, p. 1-23, jan- abr 2010.
[12] MASIERO, L. S. Proposta de dimensionamento de frota para uma transportadora. 2008. 103 p. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia de Produção) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2008.
[13] ANDRADE, E. L. Introdução à Pesquisa Operacional: Métodos e Modelos para Análises de Decisões. 4. ed. Rio
de Janeiro: LTC, 2009.
[14] MOREIRA, D. A. Pesquisa Operacional – Curso Introdutório. 2. ed rev. São Paulo: Cenage Learning, 2010.
[15] LACHTERMACHER, G. Pesquisa operacional na tomada de decisões: modelagem em excel. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2007.
[16] TAHA, H. A. Pesquisa operacional: uma visão geral. 8. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
[17] PRODANOV, Cleber Cristiano. Metodologia do trabalho cientifico: Métodos e técnicas de pesquisa do trabalho
acadêmico. 2.ed.- Novo Hamburgo: Feevale, 2013.
[19] FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.
ESTUDO DE BARREIRAS IMPERMEABILIZANTES PARA CAMADA DE
COBERTURA DE ATERROS DE RESÍDUOS
Resumo: A camada de cobertura é uma maneira de proteger a superfície das células de um aterro
de resíduos. Considerando que existem opções alternativas promissoras de materiais a serem
utilizados nessa etapa, o objetivo desse trabalho foi estabelecer uma comparação entre diversos
liners, apresentando os tipos de barreiras mais usadas e como diversos materiais (solo, resíduo de
construção civil, composto orgânico, lodo, PET, geomembrana) vêm sendo empregados nesse
sistema. Foram discutidas as características principais de cada barreira, sua eficiência em relação à
infiltração de águas pluviais e escape de gases, além de seu comportamento segundo a variação de
condições climáticas e a forma de execução dessas camadas. Ao fim do trabalho, apresenta-se como
resultado um quadro que expõe os liners analisados e as vantagens e desvantagens intrínsecas a
cada um deles. Por fim, conclui-se que a escolha de um material adequado para a execução da
camada de cobertura final é de grande importância para que haja um bom funcionamento do aterro
sanitário, com menores taxas de geração de chorume e escape de gases, resultando em projetos mais
conscientes, eficazes e econômicos.
Abstract: The covering layer is a way to protect the surface of landfills. Considering that exist
promising alternative options of materials, the objective this study was establish a comparison
between several liners, presenting the types of barriers most used (soil, building waste, organic
compost, sludge, PET, geomembrane) and how these materials have been used in this system. In
additional, this work discussed the main characteristics of each barrier, their efficiency in relation to
the infiltration of rainwater and the gas escape, also their behavior according to the variation of
climatic conditions and the way of execution of the layers. In the end of the work, this research
presents a table that exposes the liners analyzed and the advantages and disadvantages intrinsic to
each of them. Finally, it was concluded that the choice of a suitable material for the execution of the
final covering layer is very important for a good functioning of the landfill, with lower rates of
slurry generation and exhaust gases. To sum up, a good choice of covering layer results in more
conscious, effective and economical projects.
1. INTRODUÇÃO
Com o crescimento das cidades e ampliação do consumo pela população, a geração de resíduos
sólidos urbanos (RSU) também aumentou de forma significativa. Com isso, a demanda por formas
de disposição de lixo que sejam ambientalmente corretas torna-se cada vez mais necessária e os
aterros sanitários mostram-se como a opção mais viável do ponto de vista econômico. O aterro
sanitário é uma forma de disposição dos resíduos que visa mitigar os impactos ambientais através
de técnicas de engenharia, como o uso de impermeabilização de base, drenagem dos líquidos e
gases gerados e uma camada de cobertura final.
No que diz respeito a essa última etapa, existem grandes preocupações no momento de elaboração
do projeto, uma vez que a cobertura final dos resíduos é de grande importância para o bom
desempenho do aterro sanitário. Essa camada funciona como uma barreira impermeabilizante (liner)
que controla a interação do resíduo e da atmosfera, reduzindo a infiltração de águas pluviais para o
interior do maciço, minimizando a emissão de gases gerados na degradação do lixo e, ainda,
reduzindo a presença de odores e vetores de doença.
Em relação à construção dos liners, não existe uma norma específica ou procedimento a ser seguido
no país. A norma que expõe os critérios para projeto, implantação e operação em aterros de resíduos
não perigosos, ABNT NBR 13896/97, somente preconiza que o projeto e construção da cobertura
final deve “minimizar a infiltração de água na célula, exigir pouca manutenção, não estar sujeita a
erosão, acomodar assentamento sem fratura e possuir um coeficiente de permeabilidade inferior ao
solo natural da área do aterro”.
Desta forma, torna-se necessário estudar diversos liners para a construção da camada de cobertura
final dos resíduos, analisando as diversas configurações possíveis e a disponibilidade de materiais
que podem ser empregados nessa etapa, para que se possa fazer uma escolha consciente durante a
fase de projeto.
2. OBJETIVO
O objetivo desse trabalho foi estabelecer uma comparação entre diversos liners, de forma a
apresentar suas características principais, sua eficiência em relação à infiltração de águas pluviais e
escape de gases, seu comportamento segundo a variação de condições climáticas e a forma de
execução dessas camadas. Ao fim do trabalho, apresenta-se como resultado um quadro que expõe
os liners analisados e as vantagens e desvantagens intrínsecas a cada um deles.
3. MÉTODOS
Esta pesquisa se deu por meio de revisão bibliográfica, reunindo dados coletados em trabalhos já
publicados, como teses, monografias e artigos. Neste estudo, buscou-se informações atualizadas
sobre o tema, priorizando como referência trabalhos produzidos nos últimos 10 anos.
4. DESENVOLVIMENTO
Ao se encerrar uma célula de um aterro, deve ser executada a camada de cobertura final dos
resíduos, que tem a função de proteger a atmosfera do contato com o lixo, reduzindo a presença de
odores e de vetores de doença, além de evitar o arraste de detritos pelo vento. Outra função dessa
camada é impedir o escape de gases produzidos na degradação do lixo e reduzir a infiltração de
águas pluviais no maciço. Para isso, a camada de cobertura final deve ser construída de modo que
sua integridade seja mantida ao longo do tempo, resistindo à erosão, surgimento de trincas e
recalques (OLIVEIRA, 2002).
Na fase de projeto, a concepção desse sistema deve considerar o tipo e classe do resíduo a ser
coberto, balanço hídrico e clima do local, estabilidade dos taludes do sistema de cobertura,
recuperação da área do aterro e disponibilidade de jazida de material próximo ao aterro (BARROS,
2005). Esses fatores são fundamentais para a escolha adequada das camadas que irão compor o
sistema e, dessa forma, atingir um equilíbrio entre eficiência e economia.
A seguir serão apresentados diversos materiais que têm sido empregados para a construção de
coberturas finais de aterro, discutindo as características principais de cada barreira, sua eficiência
em relação à infiltração de águas pluviais e escape de gases e a forma de execução dessas camadas.
4.1. Solo
O solo é um produto natural proveniente da decomposição das rochas pela ação de agentes do
intemperismo físico ou químico, podendo ou não ter matéria orgânica em sua composição. A maior
vantagem do emprego do solo em coberturas de aterros sanitários é a redução dos custos na
implementação desse sistema, visto que, normalmente, é um material fácil de obter e relativamente
barato, podendo ser usado até mesmo o solo do próprio local do aterro, em alguns casos.
Para utilizar o solo como camada de cobertura, devem-se estudar os aspectos geotécnicos desse
material, verificando: composição granulométrica, limite de liquidez e plasticidade, além de ensaios
de massa específica. A qualidade de solos naturais utilizados como camada de cobertura pode ser
melhorada com a adição de alguns materiais, como, por exemplo, bentonita, cinzas voláteis, entre
outros. Também se pode optar pelo uso desses solos conjuntamente com geomembranas, geotêxteis,
geossintéticos e outros (HUSE, 2007).
O uso de uma camada única de solo compactado é o tipo mais comum de cobertura em aterros
sanitários brasileiros, sendo chamada de cobertura monolítica, convencional ou resistiva.
Normalmente utiliza-se um solo argiloso que é compactado até atingir uma condutividade igual ou
inferior a 10-7 cm/s (SANTOS, 2009). Além da cobertura convencional, o solo pode ser usado em
outros tipos de barreiras, como a barreira capilar simples ou dupla, camada evapotranspirativa ou
associado a materiais alternativos.
A camada monolítica evita a penetração da água de chuva nas camadas de lixo, pela baixa
condutividade hidráulica do solo compactado, escoando para fora da célula o excesso de
precipitação. Sua eficiência depende da espessura da camada de solo e da permeabilidade do solo
compactado. Porém a cobertura convencional possui algumas desvantagens, apresentando
problemas, tais como ressecamento e formação de fissuras e trincas, que são causadas por ciclos de
secagem e umedecimento. Isso leva ao aumento da capacidade de infiltração das águas e do escape
de gases, podendo levar até à perda da função da camada (HUSE, 2007). Sendo assim, a diminuição
do desempenho das camadas de coberturas deve ser levada em consideração para o correto
dimensionamento dos custos de longo e de médio prazo da construção e da manutenção desses
sistemas (USEPA, 2003 apud COSTA, 2015).
A barreira capilar simples consiste de uma camada de solo de granulometria fina colocada sobre
uma camada de material de granulometria grossa, na qual ocorre o fenômeno da ruptura capilar,
cujo objetivo não é impedir que a água penetre no solo, como no caso das barreiras resistivas
convencionais, mas que a água seja armazenada no solo fino para que seja, posteriormente,
eliminada por evapotranspiração. O fluxo de água da camada de solo fino para o solo grosso fica
dificultado devido à grande mudança nos tamanhos dos poros entre as camadas de materiais mais
finos e mais grosseiros, que leva a um efeito mais intenso do fenômeno de capilaridade. A barreira
capilar dupla possui o mesmo funcionamento da barreira capilar simples, porém nesse tipo de
cobertura também existe uma camada superior de material granular, que tem a função de evitar que
a perda de umidade retida pelo material de granulometria fina (SANTOS, 2009; LIMA et al, 2015).
Na Figura 1 é possível observar a representação esquemática da uma barreira capilar simples e
dupla.
Fig. 1 - Esquema de barreira capilar simples (esquerda) e dupla (direita). (SANTOS, 2009 ).
Lopes (2011) avaliou a infiltração de águas e emissões de metano em três diferentes camadas de
cobertura, instaladas em uma célula experimental de aterro de resíduos sólidos. As coberturas
avaliadas foram do tipo convencional, barreira capilar e metanotrófica. A camada convencional
(CONV) possui uma camada de solo compactado. A barreira capilar (BAC) foi construída com uma
camada de pedra rachinha, pedra bruta com dimensão entre 6,4 cm a 17 cm, e solo compactado. A
camada metanotrófica (METO) possui uma camada de solo compactado sobreposta de uma mistura
solo+composto orgânico. Em relação à infiltração de água, os resultados mostram que a camada
convencional foi a que apresentou menores taxas mensais, ficando abaixo de 0,1%, mantendo a
umidade constante ao longo do tempo e apresentando infiltrações somente para precipitações de
grande intensidade. Porém, a eficiência da camada convencional foi inferior quando se tratam das
emissões de metano, apresentando níveis de emissão 6 vezes superior às camadas metanotróficas e
barreira capilar. As emissões de metano ficaram dentro da faixa de 0 e 40 g/m².dia nas barreiras
capilar e metanotrófica e entre 0 e 250g/m².dia para a camada convencional, excluindo-se os picos
em função de fissuras, conforme pode ser observado na Figura 2.
Fig. 6 – Resultados dos ensaios de tração por compressão diametral para as misturas solo+PET. (SANTOS e
SILVA, 2015 apud COSTA , 2015)
A amostra com adição de PET fissurou rapidamente, mas apresentou, ao longo do processo, menor
evolução da área fissurada, demonstrado que a fibra atuou evitando a propagação das fissuras com o
tempo.
4.5. Lodo
Os lodos das Estações de Tratamento de Água (ETA’s) são resíduos semissólidos provenientes dos
processos de tratamento de água para abastecimento público. Esse material é produzido pelos
processos de coagulação e floculação e removidos por decantadores. O lodo de ETA é composto de
água e de sólidos suspensos, constituídos de partículas coloidais e finas, acrescidos dos produtos
químicos aplicados durante o processo de tratamento. A quantidade de lodo gerada depende da
qualidade físico-química da água bruta (BOSCOV, 2008).
O lodo de esgoto é gerado quando o esgoto é submetido a algum tipo de tratamento. As Estações de
Tratamento de Esgoto (ETE’s) operam com diferentes sistemas tecnológicos como: lagoa de
estabilização, lodos ativados, filtros anaeróbios, entre outros. De uma maneira geral, o lodo de ETE
pode ser caracterizado como um material bastante rico em matéria orgânica, com alto teor de
umidade e com concentração relativamente elevada de nitrogênio e outros minerais, podendo
apresentar características marcantes como odor, concentração de patógenos e atração de vetores
(PRIM, 2011).
O destino do lodo de ETA era o despejo em rios. No entanto, essa prática foi abolida pelo
CONAMA n°357 (2005), que obriga a disposição deste material em local correto, pois o lodo pode
ser prejudicial à qualidade da água, além de colaborar no processo de assoreamento de rios. Logo,
foram criadas alternativas para o despejo do lodo que em sua grande maioria têm custos elevados,
devido à aquisição de equipamentos ou outras atividades realizadas para tal disposição (BERALDO
et al, 2011). Já para o lodo proveniente de ETE, as principais destinações são: aplicação em áreas
degradadas, disposição em aterros sanitários, incineração, disposição no mar e aplicação na
agricultura e em florestas (PRIM, 2011). A utilização como cobertura de aterros sanitários é uma
forma comum de disposição de lodo desidratado e a Figura 7 ilustra o processo.
Fig. 7 - a) Descarregamento do lodo de esgoto na área desejada; b) Mistura do lodo com aditivo em área
designada; c) Aplicação da mistura em cobertura de aterro. (REINHART et al., 2007 apud Pimentel, 2012).
Castilhos Junior et al (2011), afirmam que o lodo de ETA e ETE in natura não possuem qualidade
suficiente para ser utilizado diretamente como material de cobertura em função do seu alto teor de
sólidos voláteis, umidade e microrganismos patogênicos. No entanto, o tratamento de estabilização
alcalina em estufa agrícola, adotado pelo autor, foi suficiente para adequar o lodo aos critérios
necessários para sua utilização em coberturas de aterro sanitário, considerando os valores
verificados na literatura e o padrão Classe B do CONAMA nº 375 (Brasil, 2006). Além disso, os
resultados apontaram em aumento da granulometria, redução do índice de plasticidade (IP) e da
massa específica dos grãos. Os parâmetros de resistência ao cisalhamento apresentam resultados
significativos provavelmente em função da reação pozolânica entre a cal e os minerais argílicos
presentes no solo e consequentemente conferindo ação cimentante à mistura.
Pimentel (2012) recomenda traços de 1:1 (solo:lodo) com 30% de cal para coberturas finais nas
camadas superficiais (vegetativas) e camadas de proteção e o traço 1:2,33 com 30% é recomendável
para coberturas diárias e intermediárias. O autor afirma ainda que à adição de lodo ao solo aumenta
sua permeabilidade e a capacidade de absorver água, assim a camada reteria a água da chuva e
evitaria que ela se infiltrasse para dentro do aterro sanitário, liberando água para a camada
vegetativa conforme sua demanda ou através de sua evaporação para a atmosfera. Estes fatores
ajudariam a manter a camada vegetativa, e a reduzir a erosão e a infiltração de água da chuva,
diminuindo assim a geração de lixiviado e o potencial de contaminação das águas superficiais e
subterrâneas. No estudo em questão foi avaliado o lodo de esgoto e concluiu-se que estes podem
contribuir para elevar a concentração de alguns parâmetros do lixiviado nos primeiros dias após sua
aplicação, como a DQO, a DBO, a amônia, o nitrito, o fósforo, os sólidos e alguns metais, mas
poucas semanas depois esses valores tendem a baixar e a ficar próximos de uma célula normal que
não tivesse recebido lodo em sua cobertura.
4.6. Geomembranas
As geomembranas (GM) se caracterizam por serem mantas contínuas, flexíveis e impermeáveis,
com espessuras de 0,5 a 2,5 mm e coeficiente de permeabilidade entre 10-12 e 10-15m/s (BOSCOV,
2008). Esses geossintéticos são amplamente utilizados como barreiras hidráulicas em sistemas de
cobertura, devido à sua estrutura não porosa, à sua flexibilidade e à facilidade de instalação
(COSTA, 2015).
Nos aterros de resíduos de RSU, as geomembranas são utilizadas no sistema de confinamento da
base e dos taludes, para que não ocorra a evasão de lixiviados, e no sistema de cobertura, com a
função de controlar a infiltração das águas superficiais e, consequentemente a produção de
lixiviado, além de evitar a migração não controlada do biogás. Além das funções indicadas, as
geomembranas possuem ainda a função de resistir a agressões químicas e biológicas por parte dos
resíduos, lixiviados e biogás, a agressões mecânicas durante a construção (tráfego de obra,
colocação de camadas sobrejacentes) e exploração (peso dos resíduos, assentamentos da cobertura
ou fundação) e ainda ao efeito da exposição aos raios solares, entre outros (LOPES, 2006 ).
Lopes (2006) avaliou as falhas da geomembrana e pode concluir-se que cerca de 98% dos danos
observados em geomembranas utilizadas no confinamento de aterros de resíduos ocorrem durante o
período de construção. Destes 25% ocorrem durante a colocação da geomembrana e ligação dos
painéis e 73% durante a colocação da camada drenante sobrejacente à geomembrana. Os danos
mais recorrentes são as soldaduras defeituosas e o punçoamento da geomembrana devido a pedras
angulosas.
Palmeira (2018) apresenta as principais vantagens do uso da geomembrana em relação às soluções
convencionais em obras de disposição de resíduos. Segundo o autor, o geossintético é um material
de construção manufaturado e sofre rigoroso controle de qualidade, o que lhe confere maior
constância e confiabilidade nas propriedades e características gerais. Além disso, por possuir
pequena espessura, acarreta na redução de volume de disposição ocupado pelo sistema de barreira,
sendo também interessante em regiões com escassez de materiais naturais apropriados ou em locais
de difícil acesso. Palmeira (2018) afirma que com o avanço da tecnologia, já se dispõe de
características e funções diversas em um mesmo produto, e é possível obter a localização de
vazamentos nas geomembranas por meio de monitoramento remoto.
Costa (2015) aponta vantagens da utilização de GM em camadas impermeáveis destacando a
permeabilidade extremamente baixa e a possibilidade de absorver pequenas deformações. O autor
ainda apresenta a capacidade de minimizar os efeitos do ressecamento e da penetração de raízes
quando associadas às camadas de argila compactada. Já como desvantagens, assim como Lopes
(2004), destaca a possibilidade de vazamentos causados por imperfeições ocasionais na GM. Outra
desvantagem evidenciada foi a possibilidade de deslizamento na interface entre a GM e materiais
próximos.
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir das informações obtidas durante o desenvolvimento desta pesquisa, foi possível
desenvolver a Tabela 1, que apresenta as principais vantagens e desvantagens relativas ao uso de
cada material como camada de cobertura. A principal finalidade do desenvolvimento desta tabela é
facilitar a avaliação das diversas possibilidades aqui apresentadas, possibilitando uma escolha mais
consciente do material a ser usado nesta etapa da construção de um aterro sanitário.
Tabela 1 - Principais vantagens e desvantagens relativas ao uso de cada material como camada de cobertura.
Material Vantagens Desvantagens
Baixa permeabilidade; Surgimento de fissuras;
Geralmente é um material de fácil Menor retenção da emissão de gases;
Solo obtenção; Não oxidação do metano;
Algumas vezes pode ser usado solo do Alto custo de transporte e extração do
próprio local. material, caso não exista em locais próximos.
Reaproveitamento de material com Aumento da condutividade hidráulica com o
destinação ambientalmente correta; aumento da porcentagem de RCC incorporado
Diminuição da extração de argila e pedras ao solo.
britadas do meio natural;
RCC Elevação da resistência devido a
argamassa, concreto e materiais cerâmicos;
Menor perda de massa e variação
volumétrica em locais com clima seco;
Redução do nível e da área fissurada.
Reaproveitamento de material com Maior infiltração de água, comparado ao solo
destinação ambientalmente correta; compactado;
Diminuição do volume de lixo orgânico Necessidade de área e materiais para realizar
aterrado; o processo de compostagem.
Aumento da vida útil do aterro;
Composto Orgânico
Diminuição da extração de material natural
do meio ambiente;
Boa retenção e oxidação do metano;
Boa capacidade de retenção da água;
Baixo surgimento de fissuras.
Reaproveitamento de material com Aumento da condutividade hidráulica;
destinação ambientalmente correta; Necessidade de controle da compactação na
Fácil obtenção; obra, já que o grau de compactação afetam os
Absorve as deformações; benefícios do reforço com fibras.
PET Reduz a quantidade, a profundidade e o
comprimento das fissuras;
Evita propagação das fissuras ao longo do
processo de ressecamento; Eleva o módulo
de elasticidade da mistura;
Reaproveitamento de material com Aumento da condutividade hidráulica com o
destinação ambientalmente correta; aumento da porcentagem de lodo;
Lodo Diminuição dos custos com tratamento de Necessidade de pré-tratamento e
lodo; acompanhamento da estabilidade e umidade
Diminuição da extração de material natural do material para posterior uso;
do meio ambiente; Aumento da concentração de alguns
Boa capacidade de retenção da água; parâmetros no lixiviado durante os primeiros
Aproveitamento dos nutrientes para o dias.
crescimento da vegetação na cobertura
final.
Baixa permeabilidade; Possibilidade de vazamentos causados por
Absorve pequenas deformações; imperfeições ocasionais;
Fácil instalação; Incerteza sobre a vida útil;
Geomembrana Minimiza o efeito de ressecamento do solo Possibilidade de deslizamento na interface
e da penetração das raízes, quando usado GM e materiais adjacentes.
junto com o solo compactado;
Ocupa menor espaço.
6. CONCLUSÃO
O trabalho aqui apresentado teve como objetivo reunir informações e estabelecer uma comparação
entre os diversos tipos de camada de cobertura, apresentando os tipos de barreiras mais usadas e os
diversos materiais que vem sendo empregados nesse sistema. Verificou-se uma série de vantagens e
desvantagens a partir da escolha de cada tipo de material para construção da cobertura.
Para as camadas construídas com solos constatou-se que, apesar de possuir uma permeabilidade
baixa, esse tipo de cobertura apresenta problemas de surgimento de fissuras, perdendo a eficiência
com o tempo, e possui baixa retenção da emissão de gases. Além disso, ao escolher esse tipo de
cobertura, deve-se verificar a disponibilidade do material nos locais próximos à instalação do aterro,
já que a extração e transporte do solo tem o custo elevado.
O uso de RCC na cobertura de aterros traz vantagens como a elevação da resistência do material,
redução da área fissurada e diminuição da perda de massa e variação de volume do da camada.
Porém constatou-se que quanto maior a proporção de RCC em misturas com solo, maior será a
condutividade hidráulica da mistura. Desta forma, quando se opta por usar este material em
misturas, estudos devem ser feitos para chegar a uma proporção adequada de RCC e solo.
Em relação ao composto orgânico, as principais vantagens são diminuição da fissuração da
cobertura, boa capacidade de retenção de água e gases e boa oxidação do metano. A maior
dificuldade encontrada na utilização desse material é a necessidade de área e materiais disponíveis
para o processo de compostagem.
No caso do PET, há uma melhora na absorção das deformações, evitando a propagação de fissuras
ao longo do ensaio de tração e uma elevação do módulo de elasticidade. No entanto, ocorre um
aumento da condutividade hidráulica e é necessário um controle de compactação da obra. Além
disso, o reaproveitamento do material é um benefício ao meio ambiente.
As camadas construídas com mistura de lodo e solo têm boa capacidade de retenção de água e
fornecem nutrientes para o crescimento de vegetação na cobertura final. Por outro lado, o uso desse
material gera um aumento da condutividade hidráulica e da concentração de alguns parâmetros no
lixiviado durante alguns dias. Além disso, existe a necessidade da realização de pré-tratamento do
lodo, acompanhando a estabilidade e umidade do mesmo.
O uso de geomembranas na cobertura dos aterros traz como principais vantagens a facilidade da
instalação, redução do volume da camada, absorção de pequenas deformações e a permeabilidade
baixa. Porém, há uma grande preocupação sobre a incerteza da vida útil desse material, a
possibilidade de vazamentos causados por imperfeições ocasionais e de deslizamentos na interface
de contato com outro material.
Por fim, conclui-se que a escolha de um material adequado para a execução da camada de cobertura
final é de grande importância para que haja um bom funcionamento do aterro sanitário, com
menores taxas de geração de chorume e escape de gases, resultando em projetos mais conscientes,
eficazes e econômicos.
REFERÊNCIAS
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perigosos - Critérios para projeto, implantação e operação. Rio de Janeiro, 2010.
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mestrado. Universidade de Brasília. Brasília, 2002.
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Sistema de Cobertura. Dissertação de mestrado. COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro, 2005.
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RJ. Dissertação de mestrado. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2009.
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Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2015.
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Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, p. 555-580, 2015.
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sólidos. Tese de doutorado. Universidade Federal de Pernambuco. Recife, 2011.
[9] SALGADO, L. D. Análise da aplicação de agregado reciclado em cobertura de aterros de resíduos sólidos
urbanos. Projeto de Graduação. Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2010.
[10] COSTA, C.M.C. Avaliação da fissuração por ressecamento em camadas de cobertura de aterros sanitários
utilizando materiais alternativos. Tese de doutorado. Universidade de Brasília. Brasília, 2015.
[11] RIOS, D. C.; SÃO MATEUS, M. S. C. Avaliação de balanço hídrico em aterro sanitário utilizando camada de
cobertura final evapotranspirativa com resíduo da construção civil. IV Congresso Baiano de Engenharia Sanitária
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biologicamente. Engenharia Sanitária Ambiental, v.18 n.4, p. 303-312, 2013.
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Brasil. São Paulo, 2016. Disponível em: <
http://www.abipet.org.br/index.html?method=mostrarDownloads&categoria.id=3>. Acesso em: 18 out. 2018.
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do Território Nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 2005.
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[19] CASTILHOS JUNIOR, A. B; PRIM, E. C. C.; PIMENTEL, F. J. G. Utilização de lodo de ETA e ETE como
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providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 2006.
[22] LOPES, M. G. A. A Experiência de colocação de geomembranas de PEAD em aterros de RSU. Geotecnia, n. 106,
p. 55-74, 2006.
[23] PALMEIRA, E. M.. Geossintéticos em Geotecnia e Meio Ambiente. 1. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2018.
v. 1. 294p .
AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS QUE INFLUENCIAM A
CONFIABILIDADE DE VIGAS PRÉ-FABRICADAS PROTENDIDAS:
TEORIA VERSUS PRÁTICA
Natália Lo TIERZO 1, Fabio Albino SOUZA2, Maria Cecilia Amorim Teixeira da SILVA 3
1UNICAMP, Campinas, Brasil, natalia.tierzo@gmail.com
2
UNICAMP, Campinas, Brasil, fabio@selap.com.br
3
UNICAMP, Campinas, Brasil, cecilia@fec.unicamp.br
Resumo: O objetivo do presente trabalho é apresentar uma análise comparativa entre valores teóricos
e experimentais dos fatores que influem na análise de confiabilidade de vigas pré-fabricadas de
concreto protendido submetidas à flexão. A abordagem teórica, extraída da literatura corrente,
estabelece como são tratadas as principais variáveis consideradas como aleatórias e os parâmetros a
elas associados. Os valores experimentais foram obtidos a partir do acompanhamento da produção de
vigas em uma indústria de pré-fabricados. Foram considerados como principais parâmetros que
influenciam a confiabilidade estrutural das vigas à flexão as dimensões da peça, as resistências dos
materiais e a força de protensão aplicada. A partir dos valores coletados, foi possível verificar que
teoria e prática se alinham quando parâmetros geométricos e aqueles referentes às resistências dos
materiais são analisados. Notou-se, entretanto, que a aplicação da força de protensão na viga foi o
ponto crítico da análise, com difícil mensuração das perdas de protensão devido ao grande número
de incertezas vinculadas a esse processo. A análise comparativa entre os parâmetros teóricos e
experimentais da perda da força de protensão foi inconclusiva, mostrando ser necessário um
aprimoramento no tratamento desse parâmetro para que seja possível se chegar a resultados mais
representativos.
Abstract: The aim of this paper is to present a comparative analysis between theoretical and
experimental values of the variables that influence the reliability analysis of precast concrete beams
subjected to bending. The theoretical approach, extracted from the current literature, establishes how
the main variables considered as random and the associated parameters are treated. The experimental
values were obtained from the monitoring of the production of beams in an industry of precast
structures. The main parameters influencing the structural reliability of the flexural beams were the
dimensions, the strengths of the materials and the prestressing applied. From the collected values, it
was possible to verify that theory and practice fit when geometric parameters and those referring to
the resistances of the materials are analyzed. One observes, however, that the application of the
prestressing in the beam was the critical point of the analysis, with a difficult measurement of the
losses of the prestressing due to the great number of uncertainties related to this process. The
comparative analysis between the theoretical and experimental parameters of the loss of the
prestressing was inconclusive, showing that it will be necessary an improvement in the treatment of
this parameter in order to reach more representative results.
Keywords: prestressed concrete, reliability, precast beam.
1.INTRODUÇÃO
Uma estrutura feita em concreto pré-fabricado é aquela em que os elementos estruturais são moldados
e adquirem certo grau de resistência antes do seu posicionamento definitivo na estrutura. Sua
produção é feita em fábricas, havendo uma completa industrialização da construção com o emprego,
de forma racional e mecanizada, dos materiais, dos meios de transporte e das técnicas construtivas
para se conseguir uma maior produtividade, diferentemente das estruturas moldadas in loco, que
possuem um processo artesanal de produção. Esta industrialização do processo construtivo faz com
que as estruturas pré-moldadas sejam mais eficientes e econômicas, garantindo a padronização das
peças e qualidade da produção. Quando se reúne o processo de pré-fabricação com a protensão, os
resultados são peças ainda mais eficientes, aliando-se as vantagens do concreto protendido, ou seja,
peças mais esbeltas que resistem a grandes cargas com as vantagens da industrialização dos pré-
fabricados, que minimiza os erros nas obras.
Quando se trata de estruturas pré-fabricadas e protendidas o sistema construtivo mais utilizado é a
pré-tração com aderência inicial, trazendo como vantagem a produção em grande escala em pistas de
protensão e evitando o desperdício de materiais.
Apesar do maior controle de qualidade das estruturas pré-fabricadas, existem ainda as incertezas
geradas pela aleatoriedade de alguns parâmetros que podem fazer com que ocorram variações no que
diz respeito à segurança estrutural. A aplicação de técnicas de confiabilidade na avaliação da
segurança estrutural leva a resultados mais realísticos quanto à probabilidade de falha de uma
estrutura. Avaliar os parâmetros que podem ser tratados como variáveis aleatórias e qual a sua
influência no desempenho da estrutura de concreto tem sido objeto de análise há alguns anos de
diversos autores: AL-HARTHY & FRANGOPOL (1994) estudaram os níveis de confiabilidade de
elementos estruturais submetidos a solicitações de flexão, considerando todos os parâmetros
envolvidos como variáveis aleatórias; REAL (2000) desenvolveu um modelo para análise
probabilística de concreto armado sob estado plano de tensões; NOWAK, PARK E CASAS (2001)
compararam os índices de confiabilidade de vigas protendidas projetadas segundo os códigos Spanish
Norma IAP-98 (1998), ENV 1991-3 Eurocode 1 (1994) e AASHTO LRFD (1998);BIONDINI,
BONTEMPI, FRANGOPOL E MALERBA(2004) avaliaram a confiabilidade de estruturas de
concreto armado e protendido pelo Método de Monte Carlo; AGRAWAL & BHATTACHARYA
(2010) apresentaram uma metodologia baseada em confiabilidade para obtenção de fatores de
segurança parciais para vigas de concreto protendido no estado limite último de flexão; ROCHA
(2014) analisou a confiabilidade de vigas portuárias de concreto protendido em relação ao estado
limite último de flexão de acordo com as prescrições da NBR 6118 (2014); e SAN MARTINS (2014)
estudou a confiabilidade de vigas pré-tracionadas de concreto protendido em relação ao estado limite
último de flexão de acordo com as prescrições da NBR 6118 (2014) através do método FORM.
Com base nesses estudos, foi realizado um levantamento dos principais parâmetros de projeto que
podem ser considerados como variáveis aleatórias no dimensionamento de vigas pré-fabricadas de
concreto protendido para verificar se a forma como estas variáveis aleatórias são tratadas refletem a
realidade. Para isso, foi feito o acompanhamento da produção de vigas de concreto protendido pré-
fabricadas em uma empresa de estruturas pré-fabricadas. Esse trabalho foi dividido em três etapas.
Na primeira etapa, foi feito um levantamento bibliográfico e identificação dos parâmetros que
normalmente são considerados como variável aleatória no cálculo de confiabilidade de estruturas pré-
fabricadas protendidas. Após a obtenção destes dados, a segunda etapa foi um estudo de caso em uma
fábrica de estruturas pré-fabricadas de pequeno porte, e os parâmetros citados na literatura como
variáveis aleatórias, foram analisadas in-loco. Por fim, na terceira etapa, foi feita uma comparação
dos dados teóricos com os dados encontrados na fábrica para averiguar se a variação dos parâmetros
considerados como aleatórios referenciada na literatura está de acordo com os valores aplicados na
fábrica.
A partir dos dados coletados das amostras de concreto produzidas neste período, foi possível fazer
uma análise estatística da resistência à compressão do concreto produzido, obtendo-se os valores da
média, do Desvio-padrão e do coeficiente de variação para cada classe de resistência produzida na
empresa, conforme apresentado na tabela 1.
Analisando-se os dados, foi possível verificar que os valores de coeficiente de variação para os
concretos produzidos na fábrica estão menores ou iguais aos utilizados para concreto com controle
de fabricação ótimo sugeridos na literatura, e conforme o fck aumenta o coeficiente de variação
diminui.
3.2 Protensão e medidas de alongamento
Na protensão algumas medidas são importantes para garantir que a força necessária em projeto seja
a realmente aplicada à cordoalha. A forma mais comum de medir se a força aplicada foi realmente
transmitida à cordoalha é através do alongamento, fator este, que é imposto em projeto e verificado
no ato da protensão.
Analisando-se as medições deste parâmetro na fábrica, chegou-se a conclusão de que este é o
momento mais crítico do processo de protensão, pois envolve muitas variáveis que não devem ser
tratadas como determinísticas.
Estão envolvidas neste processo as seguintes variáveis: as dimensões das armaduras, o módulo de
elasticidade da armadura, a aferição do macaco hidráulico, a variação da força aplicada pelo macaco
(varia de acordo com cada fabricante), a força de pré-tensão necessária para retificaras cordoalhas
devido ao grande comprimento das pistas, entre outras.
Nesta empresa foi estipulado como critério de aceitação de alongamento final do cabo que a variação
do valor teórico de alongamento exigido em projeto para o valor real medido na obra seja de no
máximo 5%, a fim de garantir que a força de protensão necessária esteja realmente aplicada à peça.
Qualquer valor diferente deste intervalo deverá ser analisado e corrigido.
Para se ter um controle da influência de cada variável presente no processo de protensão, foram
analisadas, individualmente, as incertezas presentes nesta etapa, chegando-se aos seguintes dados:
1. Macaco de protensão
Aferição: precisão de 0,5%
Força de protensão: precisão lida pelo equipamento de 8%
2. Variação da área de aço: de acordo com o catálogo da Belgo, que define áreas mínima e máxima,
para cada tipo de aço de protensão, as variações entre as áreas de aço máximas e mínimas ficam entre
1,589% a 2,08%.
3. Variação do módulo de elasticidade: valor de 2% de acordo com o catálogo da Belgo.
4.Variação da tensão de escoamento do aço: estes valores são controlados pela fabricante e todo lote
entregue vem acompanhado de um relatório e de um diagrama de tensão-deformação do aço, a fim
de garantir as especificações da norma, desta forma, a adoção do coeficiente de variação entre 0,05 e
0,10 é totalmente aceitável.
5.Variação dos comprimentos das peças: os valores de tolerância para as dimensões da peça atendem
ao manual de selo de qualidade Abcic (Associação brasileira de construção industrializada de
concreto). Para peças com até 5 m de comprimento o coeficiente de variação é 10 mm. De 5 m à 10
m o coeficiente de variação é 15 mm e para peças acima de 10 m o coeficiente de variação é de 20mm.
Nos estudos teóricos, o módulo de elasticidade e a área de aço normalmente são considerados como
parâmetros determinísticos, com a justificativa de que suas variações já estão embutidas na tensão de
escoamento do aço.
Após o levantamento dos fatores que poderiam influenciar na transferência da força de protensão para
a peça, foi realizado um estudo com 330 peças para verificar se os resultados estavam respeitando a
variação de alongamento estipulada em 5% entre o valor de projeto e o valor em campo, e obtiveram-
se os resultados apresentados na tabela 2.
É possível notar que 72% peças não respeitaram o alongamento estipulado em projeto, sendo que
69% estavam abaixo do alongamento ideal, mostrando com este resultado que a força de protensão
final estaria abaixo do requerido em projeto, o que poderia causar, num primeiro momento, o não
comprimento do estado limite de serviço.
Através destes dados é possível notar a importância de uma análise cuidadosa da força de protensão
que deverá ser aplicada à viga, e a grande quantidade de fatores que podem gerar variações na mesma.
Os trabalhos analisados tratam de redução da força de protensão como um todo através do fator de
perdas de protensão rf, não referenciando quais variáveis poderiam influenciar neste parâmetro.
3.3.Características geométricas e tolerâncias na etapa de execução
Na fábrica em questão, todo o processo de execução de uma peça passa por diversas verificações,
desde a sua montagem até a sua armazenagem para a entrega.
A armadura é montada e verificada em uma área externa à forma. Somente após a conferência com o
projeto das dimensões, dobras, bitolas e espaçamentos, a mesma é disposta dentro da forma, onde é
posicionada cuidadosamente, com o auxílio de espaçadores. Nesta fase a armadura de protensão
também é montada. Após toda a armação ser posicionada, uma nova verificação é feita para a
liberação da concretagem.
Após 24 horas da concretagem a peça já adquiriu resistência suficiente para que haja a transferência
da força de protensão para a peça de concreto. Neste momento a mesma já está pronta para ser içada
e armazenada.
Após a retirada da peça da forma, acontece a última verificação para a liberação da mesma. Caso
apresente alguma irregularidade, a peça passa por retificações e em último caso é descartada.
Nesta etapa inspecionam-se: coloração, manchas, desplacamento, falha do concreto, comprimento,
altura, largura, esquadro ou inclinação, alinhamento, torção, contra flecha, consolo, pinos de engaste,
metalon ou ganchos, alça para içamento, furo de engaste, furo de içamento, entre outros aspectos.
Essas verificações seguem o recomendado pelo selo de qualidade da Abcic, que impõem as
tolerâncias dimensionais para as peças conforme apresentado na figura 2.
Fig. 2 - Tolerâncias exigidas para elementos estruturais segundo selo de qualidade (valores em mm)
Comparando-se os limites para as variações das dimensões utilizadas na fábrica com os valores
encontrado na literatura, nota-se que os valores são correspondentes. Na literatura as dimensões da
seção transversal são consideradas com desvio padrão de 5 mm, na prática este valor é considerado -
5 mm/+10 mm, permitindo uma tolerância maior para cima do valor estipulado, o que é a favor da
segurança. Na literatura o posicionamento do cabo de protensão é considerado com Desvio-padrão
de 10 mm, e na prática o valor também é 10 mm. Apesar do posicionamento da armadura passiva não
ser tratado no manual da Abcic, nesta fábrica a variação é limitada a um desvio máximo de 5 mm,
mesmo valor adotado pela literatura.
3.4.Carregamento
Na fábrica não há como mensurar as ações que atuarão na estrutura e suas variações, não sendo,
portanto, variáveis passíveis de comparação entre o projeto e a fabricação. A análise desta variação
pode ser mensurada apenas durante a utilização da estrutura ou em laboratório através de ensaios.
4.DISCUSSÃO
Neste trabalho, foram apresentadas as principais variáveis que costumam ser tratadas como aleatórias
no cálculo de vigas pré-fabricadas de concreto protendido. Teoricamente todas as variáveis poderiam
ser tratadas como aleatórias com a aplicação das devidas correlações entre elas, porém isto tornaria o
cálculo da confiabilidade inviável. Por este motivo, fica a critério do engenheiro verificar o nível de
confiabilidade adequado à sua estrutura, para assim determinar quais as variáveis serão consideradas
como aleatórias e quais serão consideradas como determinísticas. Diversos trabalhos tratam deste
assunto e podem ser referências para esta escolha.
Nesta análise foi possível notar que dentro da fábrica, o controle de qualidade é tratado de forma
rigorosa, todas as peças produzidas são verificadas e liberadas etapa a etapa, desde sua montagem até
a instalação na obra.
Comparando-se as exigências impostas pela Abcic para as dimensões da peça, com os valores
adotados nas análises de confiabilidade, foi possível comprovar que os mesmos estão de acordo,
levando a valores teóricos de variabilidade das peças condizentes com a prática.
Outro fator que levou a resultados satisfatórios foi a resistência à compressão do concreto. Os dados
estatísticos obtidos em campo geraram coeficientes de variação iguais ou abaixo dos sugeridos na
literatura para concretos com controle de qualidade alto.
O aço, por ser um produto industrializado, possui um grande controle de qualidade, desta forma, é
possível a adoção de coeficientes de variação baixos, fato que se aplica na teoria e na prática.
Portanto, tratando-se de materiais e geometria, os fatores considerados como aleatórios utilizados nas
análises de confiabilidade estão de acordo com o realizado nas empresas que seguem as
recomendações de qualidade do selo Abcic.
Quando se trata das questões das forças de protensão e alongamentos, a quantidade de variáveis
envolvidas é grande e cada uma delas carrega erros que somados podem apresentar variações muito
além do estipulado como ideal. Ao se trabalhar com confiabilidade e protensão neste trabalho, não
foi possível chegar a um consenso se as variáveis aleatórias consideradas na teoria são suficientes
para representar as diversas variáveis encontradas em campo.
Nota-se que é muito importante um estudo minucioso sobre quais os fatores que podem ser
determinantes na variação das cargas de protensão aplicada nos cabos no ato da protensão e não
apenas tratar todas as perdas conjuntas como uma única variável aleatória.
5. CONCLUSÃO
Nesta análise foi possível verificar que, ao se tratar de geometria e resistência dos materiais, os dados
levantados nos estudos teóricos estão de acordo com os valores encontrados na fábrica. Porém, ao se
analisar a questão da perda da força de protensão das vigas de concreto na fábrica, verificou-se que
existem muitos fatores que podem influenciar no resultado final, como o tipo de ancoragem, a
aplicação da protensão pelo macaco hidráulico, o comprimento da viga, entre outros. Foi possível
notar que a aplicação da força de protensão é o ponto crítico na fábrica, produzindo o maior número
de incertezas, o que influencia na confiabilidade destas vigas. Por este motivo não foi possível fazer
uma relação direta com os valores adotados na literatura para a perda de protensão.
Conclui-se que devido ao grande controle de qualidade na produção das vigas pré-fabricadas, as
análises de confiabilidade são muito realistas quando leva se em conta as variáveis relativas à
geometria e à resistência dos materiais, pois os valores considerados na teoria e na prática estão muito
próximos. Porém, é necessário um cuidado maior com as considerações sobre as possíveis variáveis
envolvidas no ato da protensão dos cabos. O tratamento destes fatores como variáveis determinísticas
numa análise de confiabilidade pode levar a resultados que não necessariamente corresponde à
realidade das obras.
REFERÊNCIAS
[1] AL-HARTHY, A.S., FRANGPOL, D.M. Reliability Assessment of Prestressed Concrete Beams. Journal of
Structural Engineering, ASCE, Vol. 120, n. 1, 180-199 p., jan. 1994.
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[5] AGRAWAL, G., BHATTACHARYA, B..Partial safety factor design of rectangular partially prestressed
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[6] ROCHA, R. G. Análise de Confiabilidade de Vigas Portuárias de Concerto Protendido. Dissertação (Mestrado
em Engenharia Oceânica) - Programa de Pós Graduação em Engenharia Oceânica, Universidade Federal do Rio Grande,
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[7] SAN MARTINS, D.A. Confiabilidade de vigas pré-tracionadas de concreto protendido. Dissertação (Mestrado
em Engenharia Civil) - Programa de Pós Graduação em engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre. 2014.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de estruturas de concreto – Procedimento:
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[9] ELLINGWOOD, B.,GALAMBOS, T. V., MACGREGOR, J. G., CORNELL, A. Development of a Probability-
Based Load Criterion for American National Standard A58, NBS Special Publication 577, National Bureau of
Standards, Washington, DC. 1980
INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA EM EDIFICAÇÕES ASSENTES SOBRE
FUNDAÇÕES RASAS DO TIPO SAPATA
Resumo: A interação solo-estrutura (ISE) é o estudo do comportamento conjunto entre solo, estrutura
e fundação, ao considerar a deformabilidade do solo na redistribuição dos esforços internos e
recalques de fundação. A suposição simplificadora de considerar apoios de fundação totalmente
rígidos não permite um esclarecimento real do comportamento da estrutura, e do solo. Portanto, o
objetivo deste trabalho é demonstrar a importância da consideração da ISE para análise estrutural. O
método é baseado no estudo de um modelo por meio de pórticos bidimensionais, compostos por uma
estrutura simétrica de pilares e vigas. Inicialmente, analisa-se os esforços internos com apoios de
fundação indeslocáveis, para uma posterior implementação da ISE, através de processos de iteração
com uso de apoios representados por coeficientes de molas. Os resultados denotam diferenças na
redistribuição dos esforços. Tais diferenças, justificam a importância da consideração da ISE em
substituição à hipótese simplificadora de apoios indeslocáveis, seja para correto dimensionamento
dos elementos de infra e superestrutura, como a finalidade de assegurar durabilidade, estabilidade e
funcionalidade da obra perante sua vida útil.
Abstract: The soil-structure interaction (SSI) is a study of joint behavior between soil, structure, and
foundation when considering the deformability of the soil in the redistribution of internal forces and
settlement of the foundations. The simplifying assumption of considering fully rigid foundation
supports doesn’t allow a real explanation of the behavior of the structure, and of the soil. Therefore,
the objective of the present work is to show the importance of SSI consideration for structural
analysis. The method is based on the study of a model by means two-dimensional frame, composed
by a symmetrical structure of columns and beams. Initially, analyses the internal forces with rigid
foundation supports, for a later implementation of SSI, through iteration processes using supports
represented by spring coefficients. The results show differences in redistribution of forces. These
differences justify the importance of considering the SSI as a substitute for the simplifying hypothesis
of fully rigid supports, either for a correct dimensioning of the infra and superstructure elements, in
order to ensure durability, stability, and functionality of the work in relation to its useful life.
1. INTRODUÇÃO
Interação solo-estrutura é o mecanismo de análise mútua entre estrutura e solo. Sua finalidade consiste
em estudar um sistema único e determinar a influência desse sistema nos recalques e nos esforços
solicitantes aos elementos estruturais [1]. O desempenho de uma edificação é governado pela
interação entre estas partes. Porém, na prática, em algumas situações, tal interação é desprezada [2].
Nos escritórios de cálculo estrutural, a estrutura é responsabilidade do engenheiro de estruturas, assim
como no caso da fundação, do engenheiro de fundações. Porém, sabe-se que a superestrutura e a
infraestrutura não subsistem por si só, como comenta Iwamoto [3], “A terminologia diferenciando
infra e superestrutura poderia ser revista. Na verdade, o que existe é a estrutura e o maciço de solo,
[...] e o comportamento desse conjunto denomina-se interação solo-estrutura”.
A origem do problema, apesar dos avanços dos softwares numéricos, é causada pelas simplificações
impostas. Ainda fazem parte de modelagens, considerações de vínculos indeslocáveis, rótulas ou
engastes perfeitos, no qual se obtém carregamentos que irão atuar na fundação [4]. Nesta situação,
são desprezados efeitos de interação entre o solo e a estrutura, provocados pela deformação do terreno
de fundação, consequência da mudança no estado de tensões pré-existentes do solo, em decorrência
da construção da edificação [2].
Chamecki [5], em 1954, já mencionava que esse procedimento convencional de cálculo de estruturas
apresentava divergências de projeto com a realidade, em vários quesitos, principalmente em casos de
edifícios com muitos pavimentos. O autor propôs um sistema de análise da interação solo-estrutura,
em que a partir das reações de apoio e dos recalques de fundação da estrutura, calculada como
indeslocável, inicia-se um processo de iteração. Através de expressões estabelecidas, obtém-se novos
valores de recalque ao considerar novos valores de reação de apoio. Esse processo repete-se até que
os valores de reação de apoio e recalque convirjam entre si. Com o uso dessa metodologia, foi
observado menos erros em resultados de recalque quando medidos em estruturas reais.
Um exemplo da necessidade de uma análise integrada, considerando a camada de solo adensável, é o
caso dos prédios inclinados na cidade de Santos/SP, em que os modelos estruturais convencionais
não representaram a realidade e causaram deficiências na superestrutura [1]. A redistribuição dos
esforços, em especial nos pilares, devido a interação solo-estrutura, causou esmagamento nos pilares
periféricos devido a sobrecarga nos mesmos [2].
Mediante o exposto, o presente estudo justifica-se por lançar uma abordagem do solo como uma base
deslocável, ou seja, demonstrando numericamente um comportamento mais próximo do real através
de sua aplicação sobre apoios elásticos, segundo a Teoria de Winkler. A finalidade em se estudar o
solo e a estrutura como um sistema único é determinar a grandeza dos recalques e a influência do
conjunto na redistribuição dos esforços solicitantes nos elementos estruturais do sistema.
2. OBJETIVO
Demonstrar a diferença nos resultados dos recalques e esforços na estrutura em edificações assentes
sobre fundações rasas do tipo sapata, quando considerada a interação solo-estrutura em relação ao
modelo tradicionalmente utilizado sobre apoios indeslocáveis.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Sendo,
E : Módulo de elasticidade do solo ou Módulo de Young;
ν : Coeficiente de Poisson do solo;
Iw : Coeficiente de Influência;
B : Menor dimensão do elemento de fundação.
Através desse coeficiente, calcula-se os coeficientes de mola à translação, ao longo do eixo vertical,
e à rotação, em torno do eixo perpendicular ao plano considerado, conforme as Eq. 4 e Eq. 5.
𝐾𝑚𝑣 = 𝐾𝑣 . 𝐴𝐵𝑎𝑠𝑒 (2)
Onde,
Kmv : Coeficiente de mola à translação;
ABase : Área da base da fundação.
𝐾𝑚𝜃 = 𝐾𝑣 . 𝐼𝑓 (4)
Em que,
Km : Coeficiente de mola à rotação;
If : Momento de inércia a flexão em torno do eixo perpendicular ao plano em questão.
4. METODOLOGIA
Empregou-se um modelo de pórtico plano a fim de mostrar de forma didática os efeitos da interação
solo-estrutura em um edifício. O edifício apresenta uma tipologia bastante simples, de quatro
pavimentos idealizados com a mesma planta de fôrma, e apoiado sobre fundações superficiais do tipo
sapata. A Fig. 4 sintetiza a metodologia adotada.
Fig. 4 – Fluxograma metodológico, com e sem interação solo-estrutura (ISE)
A planta de fôrma do pavimento tipo estudado, após o pré-dimensionamento dos elementos
estruturais, está ilustrado pela Fig. 5. O pórtico em análise é formado pelos pilares P3, P7 P11 e pela
viga V6 (evidenciado pela Fig. 5 em amarelo e representado pela Fig. 6). Foram adotados como
distância de eixo a eixo de viga: térreo – 3,2 metros; e para os demais pavimentos – 2,8 metros. Para
o módulo de elasticidade longitudinal considerou-se 25000 MPa. A Fig. 6 apresenta o corte
esquemático do pórtico em questão.
Fig. 5 – Planta de fôrma do pav. Tipo do edifício Fig. 6 – Corte esquemático do pórtico estudado
Devido a simetria, as áreas de influencia totalizaram 15,53 m² para cada tramo da viga. As ações
permanentes (g) e variáveis (q) foram adotadas com base na NBR 8681:2003 [15] versão corrigida:
2004, totalizando um carregamento distribuído para o pavimento tipo de 24,85 kN/m e para a
cobertura de 13,98kN/m.
Totalizaram então, as cargas, nos pilares P3 e P11: 73,43 kN para os pavimentos tipo e 80,68 kN para
o pavimento térreo; para o pilar P7: 155,53 kN para os pavimentos tipo e 170,88 kN para o pavimento
térreo.
As ações provocadas pelo vento foram calculadas com base na NBR 6123 [16] de 1998, utilizando a
velocidade do vento como 42 m/s, fator topográfico S1 de 1,0 para terreno plano, fator S2 para
categoria IV e classe A, e fator S3 como 1,0 – grupo 2.
Os pilares, inicialmente, foram engastados nas fundações, sendo estes indeslocáveis em todas as
direções (conforme Fig. 7). Com base nos valores das reações de apoio obtidas para o modelo, foram
dimensionadas as sapatas isoladas para os pilares P3, P7 e P11. Foi considerado que a estrutura assente
sobre um solo de tensão admissível de 250 kN/m²; coeficiente de Poisson de 0,3; coeficiente de
influência de 1,06; e módulo de elasticidade no valor de 20 MPa, características típicas de um silte
argiloso.
As Fig. 10, Fig. 11 e Fig. 12 ilustram a variação dos esforços normais para os pilares P3, P7 e P11,
respectivamente. Os primeiros pavimentos obtiveram maiores variações de valores em decorrência
do aumento da rigidez da estrutura. O sinal negativo indica esforço de compressão.
6. DISCUSSÃO
Dentre as áreas de pesquisas de interação solo-estrutura em edificações, a maioria destes estudos têm
sido desenvolvidos na simples idealização do comportamento do solo através de apoios elásticos,
segundo a Teoria de Winkler. Através disso, pode-se variar o software para obtenção dos esforços, e
a forma de obtenção dos valores de coeficientes de reação vertical. Mendonça, Silva e Sierra [17],
em seu estudo, analisam a interação solo-estrutura no comportamento de estruturas mistas (aço-
concreto) com modelagem em software de elementos finitos, ANSYS, e avaliações dos parâmetros
do solo através do software PLAXIS. Seus resultados indicam considerações similares às obtidos
neste trabalho, embora utilizando diferentes metodologias. Da mesma forma, Mendes [4], com a
utilização do software CAD/TQS, ao concluir semelhantes redistribuições de esforços em seu modelo
de edifício. Vale salientar que a hipótese de Winkler sobre linearidade não é rigorosamente satisfeita,
pela alta complexidade envolvida com a mecânica dos solos, porém, como comenta Gusmão [2],
apesar de suas limitações, para casos de análises com fatores de segurança elevados, o modelo linear
elástico pode levar a resultados bastante acurados.
Há também variações nas formas de iteração, como propõe Chamecki [5], ao processar a estrutura
utilizando deslocamentos impostos a partir dos recalques. Assim, a estrutura passa a ser calculada
com deslocamentos já prescritos, sendo obtidas novas reações de apoio, e consequentemente, novos
valores de recalque, até que haja convergência. Outro método, parte do princípio em que toda a
fundação interage com o maciço de solo. Neste caso, toda a estrutura de fundação é discretizada com
molas, e em cada nó de contorno são representados a deformabilidade do solo. Esse tipo de
modelagem foi empregado por Mota [18] para edificação de múltiplos andares com fundação
profunda. Por fim, pode-se também modelar a estrutura com fundação e solo integrados em uma única
modelagem através de elementos finitos. Tal método pode ser verificado no trabalho de Medeiros
[19], porém, como salienta Antoniazzi [11], este modelo ainda possui pouco uso prático devido o alto
grau de complexidade.
Vale salientar alguns aspectos não tratados aqui neste trabalho, mas também referente à hipótese de
Winkler:
• Deslocamentos horizontais referentes a forças horizontais atuantes nos elementos de fundação. Da
mesma forma, pode ser calculado o coeficiente de reação horizontal considerando tal direção a
uma flexibilidade, para então a determinação do coeficiente de mola. Antoniazzi [11] comenta que
esse tipo de análise é feito em casos de estacas, e estruturas de escoramento em escavações.
• Limitação da teoria quanto à consideração de fundações vizinhas. A independência das constantes
de mola não considera o efeito de grupo na avaliação dos recalques. Gusmão [2], em seu trabalho,
analisa o estudo da interação solo-estrutura considerando a relação entre os elementos de fundação,
não mais válida a hipótese de molas. Para tal estudo, utilizou-se o método proposto por Aoki [20]
6. CONCLUSÃO
Os resultados deste trabalho comprovam a importância da interação solo-estrutura no desempenho de
uma edificação. A equação proposta por Perloff, com base na Teoria de Elasticidade para a
determinação do coeficiente de reação vertical, bem como, a Teoria de Winkler ao representar o solo
por um sistema de molas, demonstram ser eficientes para o correto funcionamento dos processos de
iteração. Comprova-se que a consideração da deformabilidade do solo gera redistribuição dos
esforços ao longo da estrutura. Essa redistribuição pode resultar em dimensionamentos equivocados
quando comparados à estrutura dimensionada com apoios indeslocáveis, como foi observado na
diferença de até 14,48% de esforço normal para os pilares mais carregados, chegando a uma
discrepância de 311% no valor do momento fletor negativo em vigas de pavimentos superiores.
Mesmo que tais redistribuições não resultem em economia, ao menos visam quesitos de segurança e
durabilidade da edificação.
Com base na redistribuição qualitativa dos esforços, foi observado um alívio das cargas nos pilares
mais centralizados e um acréscimo de carga vertical para os pilares mais periféricos, e tal acréscimo
é proporcional a proximidade do pilar em relação ao solo, pelo aumento de rigidez da estrutura. Em
relação ao recalque, foi possível verificar que ocorre o inverso da distribuição de esforços normais,
onde diminuem valores para o pilar central e aumentam para os pilares de canto. Tal relação provém
da Teoria de Winkler, associado ao coeficiente de reação vertical. Portanto, conclui-se que os
objetivos propostos foram atingidos, ficando evidente a redistribuição dos esforços na estrutura, bem
como, comprovada a mudança nos valores de recalque após a consideração da interação solo-
estrutura.
REFERÊNCIAS
[1] REIS, Jeselay Hemetério Cordeiro dos. Interação solo-estrutura de grupo de edifícios com fundações
superficiais em argila mole. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.
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múltiplos andares com fundação profunda. Dissertação de Mestrado. EESC/USP, São Carlos, 2000.
[4] MENDES, Robson dos Santos. Interação solo-estrutura e sua influência na análise estrutural de edifícios em
concreto armado. Revista Especialize On Line. 10 ed. 2015. Disponível em: <https://www.ipog.edu.br/revista-
especialize-online/edicao-n10-2015/interacao-solo-estrutura-e-sua-influencia-na-analise-estrutural-de-edificios-em-
concreto-armado>. Acesso em: 01 out. 2018.
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através do método dos elementos finitos. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande, Rio
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[16] ASSOCIAÇÃO BRASIELIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6123: Forças devidas ao vento em
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Numéricos em Engenharia, 2015, Lisboa. Anais... Lisboa, Portugal. v. 1, 2015.
[18] MOTA, M. M. C. Interação solo-estrutura em edifícios com fundação profunda: método numérico e
resultados observados no campo. Tese de Doutorado da EESC da USP. São Carlos, SP, 2009.
[19] MEDEIROS, Lucas Matheus de Lima. Análise das fundações do reservatório R-10 do Campus Central da
UFRN. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2016.
[20] AOKI, N. Modelo Simples de Transferência de Carga de Estaca Vertical Sujeita a Carga Axial de Compressão.
Anais do Ciclo de Palestras sobre Fundações. ABMS-NRNE, Recife, pp. 79-95, 1987.
GESTÃO DOS RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS NO MUNICÍPIO DE
JUIZ DE FORA – MG
Letícia Teixeira Ferreira 1, Fernanda Fagundes Paes 2, Nicolle Ongaro de Oliveira Santos3, Julia
Righi de Almeida4
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, leticiatferreira1@yahoo.com.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, ffpaes@yahoo.com.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, nicolleongaro@hotmail.com
4
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, julia.righi@ufjf.edu.br
Resumo: O volume de resíduos eletroeletrônicos cresce cada vez mais impulsionado pelo
consumismo e inovações tecnológicas. A alta concentração de metais pesados nesses aparelhos
pode afetar negativamente a saúde humana e o meio ambiente quando descartados de forma
incorreta. O Brasil está entre os países em desenvolvimento que mais produzem esse tipo de
resíduo, tendo sido gerados 1,4 milhão de toneladas em 2014. O objetivo deste trabalho é fazer uma
análise da gestão dos resíduos eletroeletrônicos (REE) avaliando as dificuldades encontradas na
destinação adequada desse material e as oportunidades de negócios existentes nesse setor. Buscando
compreender o cenário municipal de Juiz de Fora - MG, foi realizado um estudo de caso em uma
empresa que coleta esse material na cidade a fim de levantar dados a respeito da quantidade e tipos
de materiais recolhidos. Realizou-se também um questionário com os alunos da Faculdade de
Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) com o intuito de obter informações que
possibilitem avaliar a percepção dos estudantes em relação à geração e destinação correta desse
resíduo. Por Juiz de Fora ser um polo industrial e tecnológico, há uma grande geração desse tipo de
material na região, o que justifica a realização do estudo como forma de contribuir para a melhoria
da gestão desses resíduos. Havendo uma gestão eficiente, com separação do eletroeletrônico para
evitar que seja misturado com resíduos de Classe II em um aterro convencional, evita-se a
contaminação do solo pela migração do chorume. Ressalta-se, ao fim do artigo, as oportunidades de
negócio na reciclagem, visto que do total de produtos eletroeletrônicos gerados, apenas 20%, ou
cerca de 8,9 milhões de toneladas foram recicladas em 2016 (ITU, 2017). Os dados ainda mostram
que, todos os anos, até 90% desse material, com valor estimado em US$ 19 bilhões, são
comercializados ilegalmente ou jogados no lixo comum.
Abstract: The volume of waste electronics grows increasingly driven by consumerism and
technological innovations. The high concentration of heavy metals in these devices can adversely
affect human health and the environment when disposed of improperly. Brazil is among the
developing countries that most produce this type of waste, having been generated 1.4 million tonnes
in 2014. The aim of this work is to make an analysis of the management of electrical and electronic
waste evaluating the difficulties encountered in proper disposal of this material and the business
opportunities that exist in this sector. Seeking to understand the scenario of Juiz de Fora-MG, was
conducted a case study on a company collecting this material in the city in order to raise the data
about the amount and types of materials collected. Also, a questionnaire was carried out with the
students of the faculty of engineering at the Federal University of Juiz de Fora (UFJF) in order to
obtain information allowing to assess the students ' perception regarding the correct disposal of this
waste and generation. By Juiz de Fora be an industrial and technological pole, there is a huge
generation of this type of material in the region, which justifies the conduct of the study as a way of
contributing to the improvement of the management of this waste. Going on an efficient
management, with separation of the electronics to avoid it being mixed with class II waste in a
conventional landfill, prevents the contamination of soil by migration of leachate. It should be
noted, at the end of the article, business opportunities in recycling, since of all electrical and
electronic products generated, only 20%, or about 8.9 million tons were recycled in 2016 (ITU,
2017). The data show that, every year, up to 90% of this material, with value estimated at US $19
billion are sold illegally or thrown in the trash.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, Lei 12.305/2010) institui que os
fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos eletroeletrônicos sejam
obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos
após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana. Porém,
tais sistemas geralmente não funcionam, visto que os processos pelos quais esses resíduos devem
passar têm um custo financeiro elevado e, além disso, geralmente não há fiscalização das empresas.
De acordo com o estudo “Sustainable management of waste electrical and electronic equipment in
Latin America” (ITU, 2015), no continente americano, em 2014, a geração de resíduos
eletroeletrônicos foi de 11,7 milhões de toneladas. Os três países que geraram a maior quantidade
deste tipo de resíduo foram: Estados Unidos (7,1 milhões de toneladas), Brasil (1,4 milhão de
toneladas) e México (1 milhão de toneladas). Ainda de acordo com o estudo citado, no ano de 2014,
na América Latina, foram gerados cerca de 3,8 milhões de toneladas de resíduos eletroeletrônicos,
sendo que, desse total, 52% dos resíduos eram provenientes do Brasil, 11% da Argentina, 9% da
Colômbia e 9% da Venezuela. Além disso, esse estudo também apresenta dados da geração de lixo
eletrônico per capita na América Latina representados na Tabela 1. O Brasil com 7,1 kg de
REE/hab, se mostra como um dos principais geradores por habitante, ficando atrás de países como
Chile, Uruguai, Venezuela e Suriname.
Tabela 1 – Geração de resíduos eletroeletrônicos nos países da América do Latina (modificado de Baldé et al, 2015).
Diante da escassez de estudos feitos sobre esse assunto na cidade, Juiz de Fora foi escolhida como
cenário principal deste trabalho. Localizada na região da Zona da Mata de Minas Gerais, contendo
564 310 habitantes (IBGE, 2018), Juiz de Fora é caracterizada por ser um polo industrial e
tecnológico. Além disso, é sede da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) a qual atrai
estudantes de todo Brasil, sendo uma região propícia à adesão de novas tecnologias e inovações.
2. OBJETIVO
Foram utilizadas duas metodologias para a avaliação da situação do resíduo eletroeletrônico em Juiz
de Fora, o formulário aplicado aos alunos de engenharia na UFJF e o estudo de caso da empresa E-
Ambiental.
3.1 Formulário
GRÁFICO
PERGUNTAS FEITAS NO FORMULÁRIO REFERENTE ÀS
RESPOSTAS
O lixo comum tem como destino o aterro sanitário, você acha que o lixo Fig. 3
eletroeletrônico pode ter a mesma destinação?
Você tem conhecimento de que esse tipo de lixo contém metais pesados Fig. 4
que são prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente?
Você conhece a empresa E-Ambiental que coleta lixo eletroeletrônico nas Fig. 8
residências em Juiz de Fora sem nenhum custo?
Foi realizada uma visita na empresa E-Ambiental localizada em Juiz de Fora, onde se pôde observar
o ambiente de trabalho, a organização do local e o modo de funcionamento da mesma. Além disso,
uma série de perguntas foram feitas aos responsáveis a fim de obter dados para uma estimativa da
quantidade de resíduo eletroeletrônico recolhida por dia.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A primeira pergunta do questionário foi o curso de cada aluno (Fig. 1). A maioria dos alunos que
responderam são dos cursos de Engenharia Civil, Ambiental e Sanitária e Elétrica.
Quando questionados sobre o descarte dos resíduos eletroeletrônicos, 25,3% dos alunos que
responderam ao questionário disseram descartá-los junto ao lixo doméstico (Fig.2), mas quando
perguntados se esse tipo de lixo poderia ter a mesma destinação que o lixo doméstico, 97,3%
marcaram não (Fig.3). Com isso, percebe-se que grande parte dos alunos tem conhecimento de que
não se deve misturar os resíduos de classes diferentes, mas ainda assim, o fazem.
Quando perguntados sobre os metais pesados contidos neste tipo de resíduos, 96% dos alunos que
responderam ao questionário afirmaram saber da presença desses elementos e que os mesmos são
prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente (Fig.4).
Fig. 2: Resposta da pergunta “Você tem o costume de descartar o eletroeletrônico no próprio lixo doméstico?”
Fig.3: Resposta da pergunta “O lixo comum tem como destino o aterro sanitário, você acha que o lixo
eletroeletrônico pode ter a mesma destinação?”
Fig. 4: Resposta da pergunta “Você tem conhecimento de que esse tipo de lixo contém metais pesados que são
prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente?”
Através da aplicação do questionário, verificou-se que 57,3% dos entrevistados têm 5 ou mais
resíduos eletroeletrônicos em suas casas (Fig.5). Como pode ser visto na Fig.6, 64,7% das pessoas
disseram não conhecer ou não saber da existência de pontos de coleta próximos de suas residências
ou locais que frequentam.
Fig. 5: Resposta da pergunta “Quantos celulares, computadores, carregadores, pilhas, baterias, cabos,
eletrodomésticos, câmeras fotográficas, que não estão sendo usados você tem em casa?”
Fig. 6: Resposta da pergunta “Existem pontos de coleta de lixo eletroeletrônico próximos a sua casa ou em locais
que frequenta?”
Para tratar do tema consumo consciente, uma das perguntas feitas aos alunos foi em relação a
preocupação no momento da compra de um produto. Daqueles que responderam ao questionário,
88% informaram que levam em consideração sua multifuncionalidade e vida prolongada (Fig. 7).
Fig. 7: Resposta da pergunta “Na hora de comprar um produto você se preocupa que ele seja multifuncional ou
que aparente ter uma vida prolongada?”
Ao fim do questionário os alunos foram perguntados se tinham conhecimento da empresa E-
Ambiental e se já haviam entrado em contato com a mesma. Entre as 150 pessoas que participaram
da pesquisa, 30% já tinham ouvido falar e 5% já haviam entrado em contato com a empresa para
realizar a destinação adequada dos resíduos eletroeletrônicos (Fig.8). Em seguida, foram
questionados se, sabendo da existência desta empresa, pretendiam entrar em contato para descartar
seus equipamentos e 96% responderam que tem interesse (Fig.9).
Fig. 8: Resposta da pergunta “Você conhece a empresa E-Ambiental que coleta lixo eletroeletrônico nas
residências em Juiz de Fora sem nenhum custo?”
Fig. 9: Resposta da pergunta “Sabendo da existência da empresa, você teria interesse em contatá-la para dar
destino correto aos seus resíduos eletroeletrônicos?”
Segundo a empresa E-Ambiental, por mês são coletadas em média, 16 toneladas de REE
(aproximadamente 200 toneladas por ano). Tendo como base o dado apresentado por Baldé et al
(2015), que cada brasileiro gera aproximadamente 7,1 Kg de REE por ano, pode-se dizer que o
potencial de reaproveitamento e reciclagem desses resíduos em Juiz de Fora seria muito maior, já
que o montante que a empresa consegue coletar representa menos de 5% de todo REE gerado.
O transporte desse material é feito através de caminhonete, carro ou carreta. A partir do momento
que chega à empresa, os aparelhos passam por uma triagem, onde o que ainda está em
funcionamento é separado para doação e o que não está é levado para o CERESP para a
desmontagem. O armazenamento é feito em baias e tambores (Fig. 12 e 13). No desmonte das peças
são utilizados EPI’s e todas as empresas envolvidas nas etapas do processo possuem licenciamento.
Fig. 12 e 13 – Armazenamento dos resíduos no galpão da empresa
A empresa E-Ambiental considera como principal vantagem desse tipo de serviço, a não retirada de
novos recursos da natureza e também, propiciar maior visibilidade ao assunto que é pouco
discutido. Além do fato do recolhimento desse material e sua posterior separação proporcionar
oportunidades como a geração de novos empregos e possibilidade de parcerias com projetos sociais,
todo material coletado deixa de ser descartado em aterros sanitários, fazendo com que a vida útil
dessas áreas possa ser aumentada.
6. CONCLUSÕES
Diante do cenário descrito anteriormente, pode-se perceber o grande potencial de material a ser
coletado e reciclado em Juiz de Fora. Uma discussão pertinente e que deve ser levantada é sobre o
impacto desse lixo no meio ambiente e na saúde da população. Pela pesquisa feita através de
formulário online com estudantes dos cursos de Engenharia da UFJF, 96% dos alunos que
responderam ao questionário afirmaram saber da presença desses elementos e que os mesmos são
prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente. Se todo ou grande parte do REE de Juiz de Fora
fosse coletado, a consequência direta, além de evitar impactos à saúde da população, seria a
oportunidade de emprego para mais pessoas e o aumento da vida útil do aterro sanitário, visto que
grande parte da população descarta seu lixo eletrônico juntamente com o lixo doméstico, mesmo
sabendo que essa não é a maneira adequada.
Ainda em relação à pesquisa realizada com estudantes da UFJF, foi possível perceber que mesmo
grande parte do alunado tendo consciência da importância do descarte adequado do REE (97,3%
dos estudantes assinalaram que o lixo eletrônico não pode ter o mesmo destino do lixo comum),
25,3% dos alunos dizem ainda fazer o descarte de maneira conjunta.
No município de Juiz de Fora 192 toneladas (16 toneladas a cada mês) de REE são coletadas e
deixam de chegar nos aterros sanitários, deixando claro o potencial no aumento da vida útil dessas
áreas. Com as respostas do formulário dos alunos e as informações obtidas na empresa analisada,
percebe-se que para atingir a conscientização da população sobre a destinação adequada ainda é
necessário, por parte do poder público, investimentos em educação ambiental e também, incentivo
às empresas que buscam soluções sustentáveis.
REFERÊNCIAS
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Latin America. Disponível em http://www.who.int/ceh/publications/ewaste_latinamerica/en/, 2015.
[2]ITU - International Telecommunications. The Global E-waste Monitor 2017. Disponível em:
https://www.itu.int/en/ITU-D/Climate-Change/Documents/GEM%202017/Global-E-waste%20Monitor%202017%20-
%20Executive%20Summary.pdf, 2017.
[3] DE OLIVEIRA LIMA, Anna Flávia et al. Gestão de resíduos eletroeletrônicos e seus impactos na poluição
ambiental. Latin American Journal of BusinessManagement, v. 6, n. 2, 2015.
[4] International Workshop Advances in Cleaner Production. Resíduos Eletroeletrônicos: Um Desafio Para o
Desenvolvimento Sustentável e a Nova Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em:
http://www.advancesincleanerproduction.net/third/files/sessoes/5b/6/natume_ry%20-%20paper%20-%205b6.pdf,
2011.
[5] PNRS. Política Nacional dos Resíduos Sólidos LEI Nº 12.305/2010. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm, Presidência da República, Departamento
da Casa Civil. Brasília, 2 de agosto de 2010.
[6] BACHI, Mariana Helena. RESÍDUOS TECNOLÓGICOS: A relação dos Resíduos Eletroeletrônicos e a Legislação
no Brasil. Revista Brasileira de Gestão Ambiental, v. 7, n. 1, p. 01-05, 2013.
[7] Baldé C.P., Wang, F., Kuehr, R., Huisman, J. The global e-waste monitor 2014. United Nations University, IAS –
SCYCLE, Bonn, Germany. Disponível em: http://i.unu.edu/media/unu.edu/news/52624/UNU-1stGlobal-E-
WasteMonitor-2014-small.pdf, 2015.
[8] DCI. Lixo eletrônico é oportunidade. Disponível em: https://www.dci.com.br/colunistas/editorial/lixo-eletronico-e-
oportunidade-1.683528, 2018.
[9] DEMAJOROVIC, Jacques; MIGLIANO, João Ernesto Brasil. Política nacional de resíduos sólidos e suas
implicações na cadeia da logística reversa de microcomputadores no Brasil. Gestão & Regionalidade, v. 29, n. 87,
2013.
[10] DWIVEDY, Maheshwar; MITTAL, R. K. An investigation into e-waste flows in India. Journal of Cleaner
Production, v. 37, p. 229-242, 2012.
[11] KISSINGER, Meidad; REES, William E.; TIMMER, Vanessa. Interregional sustainability: governance and policy
in an ecologically interdependente world. Environmental science & policy, v. 14, n. 8, p. 965-976, 2011.
PRODUÇÃO NACIONAL NO DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS
CONSTRUTIVOS VOLTADOS À HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL
NO BRASIL
Resumo: Desde a década de 1940 o Brasil busca solucionar a questão do déficit habitacional,
responsável por diversas políticas do Estado que permanecem até hoje. A falta de moradias
manifesta-se principalmente nas camadas de baixa renda, responsável pela maior parte da escassez
de habitações, que era de aproximadamente 6 milhões habitações no ano de 2015. Baseado na
necessidade de encontrar meios mais eficientes para construir moradias, diversas pesquisas vêm
sendo desenvolvidas em âmbito nacional, predominantemente nas universidades. Nesse sentido, foi
realizada uma revisão sistemática da literatura para identificar a situação atual do desenvolvimento
de sistemas construtivos voltados à habitação de interesse social no Brasil, camada que mais carece
de oferta de imóveis. A estratégia da revisão focou inicialmente na definição do objetivo para
selecionar as combinações de palavras-chave para pesquisa em quatro portais brasileiros. Na
sequência foram adotados critérios para filtragem dos estudos e a aplicação da técnica “bola de
neve”, resultando ao final em 24 trabalhos. Foram levantadas informações acerca da autoria, tipo,
ano e local de publicação, descrição do sistema construtivo, o emprego de resíduos e os ensaios e
normas atendidos ou avaliados pelos estudos. Foram encontrados estudos a partir do ano de 1998
até 2015. Com as maiores incidências, os artigos publicados em congresso correspondem a 29%,
assim como as dissertações de mestrado e 25% são artigos publicados em periódicos. Quase metade
(49%) dos estudos desenvolveram sistemas construtivos com reuso de resíduos e 45% utilizou
madeira como material constituinte. Quanto aos critérios para avaliação desses sistemas, a maior
parte das pesquisas levantou os desempenhos mecânico, térmico e a sua durabilidade. Diante das
informações coletadas, pode-se afirmar que existe o interesse em desenvolver novos tipos de
materiais para constituir sistemas construtivos alternativos aos convencionalmente utilizados. No
entanto, verificou-se no Sistema Nacional de Avaliação Técnica (SINAT) que as técnicas
inovadoras aprovadas atualmente não crescem na mesma proporção. Isso pode se dar pelo fato de
ser um processo oneroso e demorado, que pode levar ao desincentivo em obter o DATec
(Documento de Avaliação Técnica) e à dificuldade em empregar novas tecnologias nos sistemas de
financiamento habitacional.
Abstract: Since the 1940s, Brazil has sought to solve the housing deficit problem, responsible for
several state policies that remain today. Lack of housing is mainly seen in low-income households,
responsible for most of the housing shortage, which was approximately 6 million households in
2015. Based on the need to find more efficient means to build housing, several studies are being
developed at national level, predominantly in universities. In this sense, a systematic review of the
literature was carried out to identify the current situation of the development of constructive
systems aimed at housing of social interest in Brazil, the most lacking layer of property supply. The
review strategy initially focused on defining the goal to select keyword combinations for research in
four Brazilian portals. Afterwards, criteria for filtering the studies and the application of the
"snowball" technique were adopted, resulting in 24 cases. Information about authorship, type, year
and place of publication, description of the construction system, use of waste and the tests and
norms attended or evaluated by the studies were collected. Studies were found from 1998 to 2015.
With the highest incidence, articles published in congress correspond to 29%, as well as master's
dissertations and 25% are articles published in journals. Almost half (49%) of the studies developed
constructive systems with reuse of residues and 45% used wood as constituent material. As for the
criteria for evaluation of these systems, most research has raised the mechanical, thermal
performance and durability. Considering the information collected, it can be stated that there is an
interest in developing new types of materials to constitute alternative construction systems to those
conventionally used. However, it was verified in the National System of Technical Evaluation
(SINAT) that the innovative techniques currently approved do not grow in the same proportion.
This can be explained by its high cost and for being a time-consuming process, which can lead to a
disincentive to obtain the DATec (Technical Assessment Document) and the difficulty of using new
technologies in housing financing systems.
1. INTRODUÇÃO
Um dos problemas que o Brasil tem enfrentado há décadas é o déficit habitacional que atinge
principalmente a população das camadas de renda mais baixa localizadas nos centros urbanos. Entre
os anos de 2007 e 2015, o déficit habitacional sofreu variações atingindo o seu pico em 2010 com
quase sete milhões e desde 2012 mantém a tendência de crescimento. A escassez de habitações
atinge todas as regiões do país, com maior expressividade no Sudeste (39%) e no Nordeste (31%)
[1].
Como forma de incentivar a aquisição da casa própria e reduzir esse déficit, foram implementadas
condições facilitadas de financiamento principalmente para famílias de baixa renda pelo programa
Minha Casa Minha Vida, lançado em 2009 [2].
Diversos sistemas construtivos que têm sido desenvolvidos nos últimos vinte anos em todo o país
com diferentes propósitos. Desde a avaliação de seu desempenho estrutural [4-16], durabilidade
[4,6,7,12,14,16-19,] conforto térmico ou acústico [4,7,13,15,17,20-22], aproveitamento de resíduos
e sustentabilidade ambiental [8,10,13,23-26] ou ainda a avaliação de custos [10].
Dessa forma, foi criado em 2007 o Sistema Nacional de Avaliações Técnicas (SINAT) para avaliar
o desempenho de técnicas construtivas inovadoras não abrangidas por normas técnicas
regulamentadoras. Essas avaliações consideram características ligadas à durabilidade, vida útil,
comportamento térmico, acústico, estrutural e ambiental [27], que ao atingirem os critérios mínimos
especificados, concede-se o Documento de Avaliação Técnica (DATec). No ano de 2018 foram
identificados 12 DATec’s vigentes, sendo 10 relacionados a sistemas construtivos.
Nesse contexto, o presente trabalho realizou uma Revisão Sistemática da Literatura (RSL) para
levantar os estudos que desenvolveram sistemas construtivos voltados à habitação de interesse
social no Brasil, com o objetivo de identificar os avanços nesta área de pesquisa e a sua
contribuição na redução do déficit habitacional.
2. MÉTODO
As etapas desta revisão seguem conforme a FIGURA 1, que explicita todas as considerações
realizadas conforme os critérios descritos ao longo da revisão para possibilitar a reprodução e
confiabilidade dos resultados [28].
Definição do objetivo
Conclusões
Fig. 3 – Etapas da RSL
Foram também avaliados diferentes portais e bases de dados, em que os resultados mais próximos
ao objetivo foram encontrados no Google acadêmico, ibict oasisbr, Scielo e Periódicos CAPES.
Para o primeiro, devido à grande quantidade de resultados, foram aplicadas as combinações de
palavras: desenvolvimento “habitação social” (método OR sistema) construtivo alternativo;
desenvolvimento “habitação social” (método OR sistema) construtivo inovador (Fig. 2).
Já os portais Ibict oasisbr, Scielo e a base de dados Periódicos CAPES, por apresentarem poucos
resultados, utilizou-se menor combinação de palavras: para o portal brasileiro de pesquisas
científicas Ibict oasisbr, foi utilizado “habitação social” (método OR sistema) construtivo; já para o
Periódicos CAPES e Scielo, (método OR sistema) construtivo.
alternativo
desenvolvimento “habitação social” (método OR sistema) construtivo
inovador
Scielo e Periódicos CAPES
Ibict oasisbr
Google acadêmico
Fig. 2 – Palavras-chave e bases de dados
- Verificou-se que diversos sistemas construtivos fazem uso de resíduos, de forma que também foi
levantado o tipo de material reaproveitado;
As figuras poderão ser em preto e branco ou em cores. Em todos os gráficos, abscissas e ordenadas
deverão ser identificadas com símbolos e unidades. Cuide que os valores nas escalas sejam legíveis
quando o gráfico seja reduzido para caber na coluna. Recomenda-se inserir as figuras de forma tal
que resultem no menor tamanho de arquivo possível.
3. RESULTADOS
[4] Dissertação Centro Paredes com resíduos Resíduos Sim - pneus e - Desempenho técnico (NBR
de Universitário de da construção civil, da resíduos da 15575-2/2008; NBR
mestrado Araraquara lascas de pneu, cal, construção construção 11678/1990; NBR 8952/1983;
cimento e água civil, pneu civil NBR 8054/1983)
e cimento - Estanqueidade (Método do
IPT)
- Desempenho acústico (ISO
140-5:1998; ISO 140-4:1998)
- Resistência ao fogo (ASTM
E-119:1995 e Método do IPT)
- Calor e choque térmico
(Método do IPT)
[16] Artigo de Floresta e Painéis de madeira e Madeira Sim - bagaço - Absorção de água - ABNT
periódico Ambiente chapas de partículas de cana-de- (NBR14810:2006)
de bagaço de cana- açúcar - Desempenho mecânico -
de-açúcar e resina à ABNT (MB-3256:1990 e
base de óleo de NBR 14810:2006)
mamona - ABNT (NBR 15575:2008)
[24] Patente BR 10 2013 Paredes de função Garrafas Não -
023892 9 B1 estrutural com PET com
garrafas PET com formato
formato inovador inovador
[13] Artigo de Ambiente Paredes de vedação Resíduos Sim - resíduos - Desempenho mecânico -
periódico Construído com blocos de EVA de EVA ABNT (NBR 6136:2007,
intertravados de (etileno acetato NBR 8949:1985, NBR
EVA (etil vinil de vinila) 7184:1992 e NBR
acetato) 12118:2006)
- Desempenho térmico -
ABNT (NBR 15575:2005)
[8] Artigo de XV Encontro Paredes de vedação Madeira Não -
congresso Nacional de com madeira de
Tecnologia do reflorestamento
Ambiente conjugada com
Construído derivado de madeira
(chapa de
aglomerado)
[8] Paredes de vedação Madeira Não -
com madeira de
reflorestamento
conjugada com
técnicas de terra crua
(terra palha
monolítica)
[8] Paredes de vedação Madeira Não -
com madeira de
reflorestamento
conjugada com
Tipo de Local de Descrição do Principal
Autor Uso de resíduo Ensaios/requisitos/normas
documento publicação sistema construtivo material
técnicas de terra crua
(terra palha bloco)
[5] Artigo de Revista Nacional Painéis de bambu e Madeira e Não - Desempenho mecânico -
periódico de chapas OSB bambu ABNT (NBR 11675:2011,
Gerenciamento NBR 11680:1990 e NBR
de Cidades 15575:2013)
[11] Dissertação Universidade de Painéis pré- Concreto Sim - resíduos - Desempenho mecânico -
de Brasília fabricados de da construção ABNT (NBR 5739:1994,
mestrado concreto civil RCC) NBR 6136:2007, NBR
8681:2003, NBR 10004:2004
- ABNT (NBR 15575:2013)
Segundo a classificação dos sistemas dada por [29] e descrito no referencial, todos os sistemas
encontrados na revisão podem ser classificados como racionalizados, pois têm além de outros
objetivos, a redução de desperdícios, custos ou qualidade da construção.
Nos estudos de [8,15,20] foram apresentados mais de um sistema construtivo, de forma que se
considerou a percentagem sobre a quantidade total de sistemas construtivos apresentados.
Além disso, a norma NBR 15575 foi a mais consultada, presente em 24% dos estudos. Sua
importância se dá pela apresentação de critérios (quantitativos) e requisitos (qualitativos) de
desempenho da edificação e os métodos de avaliação, sejam eles por meio de ensaios em
laboratório, avaliação do projeto ou simulações computacionais, independentemente do sistema
construtivo adotado, desde que se trate de edificação de até cinco pavimentos.
São avaliados critérios para segurança estrutural, segurança contra incêndio, segurança no uso e
operação, desempenho acústico, desempenho térmico, desempenho lumínico, estanqueidade, saúde,
higiene e qualidade do ar, acessibilidade, conforto antropodinâmico e tátil, durabilidade,
manutenibilidade e o impacto ambiental. Eles são aplicados nas diferentes composições do edifício
(sistemas estruturais, de pisos, de vedações verticais internas e externas, de coberturas e
hidrossanitários) [30]. Importante ressaltar que apesar de ela abranger critérios dimensionados em
outras normas, cabe o cumprimento de todas as exigências.
3. CONCLUSÃO
Foram identificados 24 estudos que desenvolveram sistemas construtivos no país ao longo de mais
de vinte anos. No entanto, ao comparar com a quantidade de DATec’s concedidas a sistemas
construtivos inovadores, verifica-se que não há continuidade no processo para concessão do
documento, necessário para autorizar o financiamento de construções para o programa Minha Casa
Minha Vida.
Uma das hipóteses levantadas para essa questão é o custo e tempo elevados necessários para emitir
o documento (DATec) e o distanciamento entre a academia e o mercado no Brasil, que levam à
desistência ou ao desincentivo em dar continuidade ao processo de validação do desempenho do
sistema construtivo inovador.
De acordo com a RSL, existe o interesse em desenvolver sistemas construtivos inovadores aliados à
preocupação ambiental, de modo que o uso da madeira, um material renovável e de baixo consumo
energético durante o seu processamento, teve um alto índice de aplicação, assim como o uso de
resíduos na constituição do material.
REFERÊNCIAS
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Belo Horizonte, 2018.
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[10] PARTEL, P. M. P. Painéis estruturais utilizando madeira roliça de pequeno diâmetro para habitação social:
Desenvolvimento do produto. 242 f. Tese (Doutorado em Ciências da Engenharia Ambiental) – Setor de
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[13] ROCHA, F. M. D. et al. Pré-moldado (bloco EVAi) para alvenaria intertravada: projeto, produção, desempenho e
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100 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,
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[19] OLIVEIRA, C. F. DE. Autoconstrução em madeira - estudo de caso: Florianópolis/SC. 212 f. Dissertação
(Mestrado em Arquitetura), Universidade de São Paulo, São Carlos, 2003.
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blocos cerâmicos. In: I Conferência Latino-Americana de Construção Sustentável e X Encontro Nacional de
Tecnologia do Ambiente Construído. Anais... São Paulo, 2004.
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Londrina - PR, 2005. Londrina: Universidade Estadual de Londrina. Disponível em:
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container reciclado para Habitação de Interesse Social Bioclimática para a cidade de Pelotas. In: Congresso
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[24] DIBO, J. R. Garrafa e método de construção civil utilizando garrafa. BR 10 2013 023892 9 B1, 05 abr. 2016.
[25] GAVA, M.; INO, A. Utilização de madeira de rejeito comercial como alternativa sustentável para a produção de
componentes de vedação vertical para habitação social. In: I Conferência Latino-Americana de Construção
Sustentável e X Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. Anais... . p.16, São Paulo, 2004.
[27] AMANCIO, R. C. A.; FABRICIO, M. M.; FILHO, C. V. M. Avaliações técnicas de produtos de construção
inovadores no Brasil. In: Cidades e Desenvolvimento (LNEC). Anais… Lisboa, 2012.
[28] ROTHER, E. T. Revisão narrativa vs revisão sistemática. Acta Paulista de Enfermagem, v. 20, p. 6–7, 2007.
[30] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 15575-1: edificações Habitacionais —
Desempenho Parte 1: Requisitos gerais, Rio de Janeiro, 2013.
DESEMPENHO E QUALIDADE DAS EDIFICAÇÕES DO PROGRAMA
MINHA CASA MINHA VIDA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE
LITERATURA
Resumo: A escassez habitacional urbana é um problema que deve ser enfrentado no Brasil, tendo
ultrapassado 5,4 milhões em 2015 [1]. Nesse cenário, o Programa Minha Casa Minha Vida
(PMCMV) atua na construção de casas. Apesar disso, ainda há um forte questionamento sobre a
qualidade da moradia produzida [2], portanto, avaliações de desempenho, como as avaliações pós-
ocupação, tornam-se interessantes para mensurar o real desempenho dos edifícios já entregues do
PMCMV. Neste contexto, uma revisão sistemática da literatura (RSL) foi desenvolvida a fim de
localizar publicações que desenvolveram algum tipo de avaliação de desempenho e qualidade de
edifícios do PMCMV, bem como para determinar quais critérios estão sendo estudados. A RSL foi
feita nas bases de dados eletrônicas Google Scholar, Portal de Periódicos CAPES, e Scopus, sendo
que a busca ocorreu no título das publicações para as duas primeiras fontes e no título, resumo e
palavras chaves no terceiro caso. A pesquisa compreendeu artigos de revista e congresso publicados
de 2013 a 2018 em português ou inglês, de forma a compreender a situação atual das edificações do
PMCMV. Como resultado, 12 publicações foram identificadas, um baixo número de publicações
frente a um programa que impacta milhares de brasileiros. Dessa forma foi, primeiramente,
detectada uma lacuna na pesquisa nacional. Além disso, alguns artigos fizeram apenas uma reflexão
teórica sobre o assunto. Outros, optaram por incluir alguns critérios de desempenho, sendo que
alguns focaram na avaliação do desempenho térmico. Dentre os artigos selecionados tiveram
aqueles que discutiram o uso da tecnologia Building Information Modeling (BIM) para estudar o
desempenho do edifício. Assim, apesar da qualidade das edificações do PMCMV ser um tema atual
e de importância tanto tecnológica quanto social, não foram encontradas pesquisas a altura do
problema. Como resultado, apesar das pesquisas terem abordagens variadas, existe um consenso
sobre a necessidade de uma maior preocupação com a qualidade das edificações do programa. Os
conhecimentos adquiridos podem ser utilizados para identificar falhas recorrentes nas edificações.
Abstract: The urban housing shortage is a problem that must be faced in Brazil, having surpassed
5.4 million in 2015 [1]. In this scenario, the My Home My Life Program (PMCMV) works in the
construction of houses. Despite this, there is still a strong questioning about the quality of produced
housing [2], so performance evaluations, such as post-occupation evaluations, become interesting to
measure the actual performance of PMCMV’s already delivered buildings. In this context, a
systematic review of the literature (RSL) was developed in order to locate publications that have
developed some type of performance and quality evaluation of PMCMV buildings, as well as to
determine which criteria are being studied. The RSL was made in the electronic databases Google
Scholar, Portal of Periodicals CAPES, and Scopus, and the search took place in the title of the
publications for the first two sources and the title, abstract and keywords in the third case. The
research included articles from journals and conferences published from 2013 to 2018 in Portuguese
or English, in order to understand the current situation of PMCMV buildings. As a result, 12
publications were identified, a small number of publications facing a program that impacts
thousands of Brazilians. In this way, it was first detected a gap in the national survey. In addition,
some articles have only made a theoretical reflection on the subject. Others chose to include some
performance criteria, some of which focused on the evaluation of thermal performance. Among the
articles selected were those who discussed the use of Building Information Modeling (BIM)
technology to study building performance. Thus, despite the quality of the PMCMV buildings being
a current theme of both technological and social importance, no research was found to measure the
problem. As a result, although the researches have varied approaches, there is a consensus about the
need for a greater concern with the quality of the buildings of the program. The knowledge acquired
can be used to identify recurring faults in the buildings.
1. INTRODUÇÃO
Segundo dados estatísticos, o déficit habitacional urbano no Brasil passou de 5,4 milhões em 2015
[1]. No ano anterior, 83,9% deste déficit concentrava-se na faixa de renda mensal de até três
salários mínimos. Nesse cenário, o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) atua construindo
casas e contempla quatro faixas de renda, variando de rendas familiares de R$1800,00 a R$7000,00
[3].
O PMCMV tem como objetivo atender as necessidades de habitação da população de baixa renda,
sendo que as moradias devem alcançar padrões mínimos de sustentabilidade, segurança e
habitabilidade [4]. Apesar disso, observa-se ainda um questionamento quanto à qualidade das
habitações que vêm sendo produzidas [2].
Isso pois, usualmente, a preocupação com a necessidade quantitativa das habitações antecede o
interesse e disponibilidade por parte da sociedade em apostar numa melhoria da qualidade [5].
Consequentemente, durante essa transição, famílias podem ser prejudicadas. Além disso, a busca
pela diminuição do déficit não ocorreu da forma mais apropriada se for considerado o usuário e a
pós-ocupação da edificação [6].
O PMCMV deve equilibrar custo e qualidade para atender a demanda por moradias a um preço
acessível enquanto disponibiliza edificações dignas aos ocupantes, o que é um desafio do programa
[5]. Logo, avaliações de desempenho, como as avaliações pós-ocupação (APOs), tornam-se
interessantes em edificações do PMCMV já entregues.
A APO é um tipo de avaliação de desempenho das edificações, depois desta ter sido construída e
ocupada há um certo tempo. Ela pode ser utilizada para documentar as características positivas e
negativas do comportamento do edifício com o propósito de utilizar tais informações em
construções novas e reformas [7]. Ou seja, uma APO permite que os construtores, e demais agentes
envolvidos, entendam quais foram os erros que ocorrem naquele processo gerando informações
capazes de evitar que esses sejam repetidos.
Portanto, a APO pode ser entendida como um passo final lógico de um projeto cíclico, com suas
lições aprendidas podendo ser usadas tanto para melhorar o espaço existente quanto no design e
programação do próximo prédio [8]. Existem diversas variáveis em uma APO, como os métodos de
avaliação (qualitativo e quantitativo); critérios a avaliar (qualidade do ar, desempenho acústico,
etc.); e o tempo de avaliação, que pode variar de acordo com seu objetivo central.
Ademais, uma avaliação de desempenho pode ser realizada sob o panorama de uma norma ou
diretriz. No Brasil, em 2013 foi lançada pela Associação Brasileira de Normas técnicas (ABNT) a
série de normas NBR 15575 "Edificações habitacionais – Desempenho" que buscam atender às
exigências dos usuários independentemente dos materiais constituintes da habitação e do sistema
construtivo utilizado [9]. Essa norma pode então ser utilizada para balizar a qualidade das
edificações no país.
Por fim, diante de um programa de habitações de interesse social tão importante para o crescimento
do país, o objetivo deste estudo é desenvolver uma revisão sistemática de literatura (RSL) a fim de
localizar publicações que desenvolveram algum tipo de avaliação de desempenho e qualidade em
edificações do PMCMV, assim como levantar quais os critérios estão sendo estudados.
2. MÉTODO
O método utilizado foi a revisão sistemática de literatura (RSL) que possibilita encontrar, avaliar
criticamente e consolidar informações a fim de contribuir para um tópico de pesquisa. Para iniciar
uma RSL é necessário estabelecer os termos de busca para a obtenção de resultados convenientes ao
objetivo determinado [10].
A pesquisa foi feita em três bases de dados eletrônicas sendo elas o Google Scholar, o Portal de
Periódicos CAPES, e o Scopus, sendo que a busca ocorreu no título das publicações para as duas
primeiras fontes e no título, resumo e palavras chaves no terceiro caso. Essa diferenciação ocorreu
devido a diferenças técnicas das bases de dados eletrônicas. A pesquisa compreendeu artigos de
revista e congresso publicados de 2013 a 2018 em português ou inglês, excluindo-se patentes e
citações. A restrição temporal das publicações, de 2013 a 2018, foi feita de forma a compreender a
situação atual das edificações do PMCMV, que existe desde 2009. Além disso, busca-se entender o
impacto da NBR 15575 [9], lançada em 2013, na questão central do estudo.
Como pode ser observado no Quadro 1, os termos de busca escolhidos relacionam o PMCMV com
o desempenho e as condições da edificação construída. O termo principal foi fixado como sendo
obrigatório e pelo menos um termo complementar deveria estar presente na publicação. Ou seja,
para ser incluída no estudo em questão a publicação deveria possuir a frase “Programa Minha Casa
Minha Vida” combinada com algum dos termos de busca complementares, como por exemplo
“qualidade”.
Quadro 1 – Termos de busca da RSL
A segunda etapa constou em identificar, por meio da leitura do título e resumo, aqueles que o
assunto não estava relacionado com o objetivo deste estudo. Ademais, diversas publicações não
satisfaziam todos os critérios de inclusão e foram excluídas, como dissertações e pesquisas sobre
questões sociais.
Como resultado, 13 artigos foram selecionados e estudados por completo. Em seguida, a partir desta
leitura, foram excluídos artigos que avaliaram a inserção urbana dos empreendimentos e não a
qualidade da edificação. Alguns desses incluíam outras questões como satisfação dos usuários
quanto ao estacionamento interno [11], ou a eficiência energética [12], mas ainda sem discutir sobre
a qualidade da edificação.
Por fim, as filtragens resultaram em 9 artigos que foram utilizados na construção do panorama
PMCMV – avaliação do desempenho e condições de qualidade. Ademais, foi utilizado o
procedimento backward, no qual são consultadas as listas de referências dos estudos selecionados
[10]. Esse procedimento visa verificar se todas as publicações dentro do escopo da RSL foram
realmente encontradas evitando lacunas na pesquisa. Tal procedimento contribuiu para a inclusão
de mais 3 publicações, que seguiram os mesmos critérios de inclusão que as demais, totalizando 12
artigos. O Quadro 2 mostra o resumo das etapas da RSL.
Etapa Resultado
Pesquisa nas bases de dados eletrônicas 46
Exclusão dos repetidos 36
Leitura do título e resumo 13
Leitura completa 9
Backward +3
TOTAL 12
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Por meio da RSL foram identificadas 12 publicações que discutiam sobre a qualidade e o
desempenho das edificações do PMCMV, como pode ser observado no Quadro 3. O número de
publicações encontradas permite uma reflexão sobre a escassez de pesquisas publicadas sobre a
temática, uma vez que as edificações do PMCMV impactam um número considerável de
brasileiros.
Quadro 3 – Publicações identificadas pela RSL
AUTOR
França e Abiko (2013) [13]
Pedro (2013) [5]
Nardelli e Oliveira (2013) [14]
Batista, Peixoto, Cavalcante e Lima (2014) [15]
Ferreira (2014) [16]
Dantas e Barbirato (2015) [17]
Moreira e Silveira (2015) [18]
Moreira, Silveira e Reis (2015) [19]
Tonso e Nardelli (2015) [20]
De Aragão e Hirota (2016) [2]
Pinto, Silva e Cumerlato (2016) [6]
De Souza, De Moura, De Oliveira e Rodrigues (2017) [21]
Dentre as publicações encontradas, nem todas desenvolviam algum trabalho prático. Duas das
publicações mais antigas não desenvolvem uma avaliação de desempenho mas optaram por seguir
abordagem teóricas [5,13].
Diante desses riscos, [5] faz algumas recomendações como que o bairro local do empreendimento
deve possuir uma identidade visual própria, dispor de equipamentos e serviços próximos e evitar
grandes concentrações de edifícios e habitações do mesmo tipo. Além disso, são feitas outras
recomendações sobre o empreendimento em si, como possuir projeto próprio e específico, superar
os valores mínimos regulamentais (como a NBR 15575 [9]), permitir adaptações internas pelos
moradores e ampliações futuras. A última recomendação do autor é que as melhores soluções sejam
reconhecidas e divulgadas, que é a ideia central de uma APO. Por fim, é discutido sobre
oportunidades do PMCMV para a qualidade arquitetônica e urbanística dos empreendimentos
habitacionais destacando o potencial de aumento do grau de industrialização da construção, com o
uso de elementos pré-fabricados, proporcionando também o desenvolvimento de sistemas
construtivos inovadores, o investimento na realização de estudos de investigação e assim o
aperfeiçoamento progressivo das soluções construtivas.
Em seguida, foi identificado um grupo de artigos que, apesar de possuírem objetivos diferentes,
incluíam algum critério do desempenho da edificação na pesquisa. Alguns desses focavam na
percepção do usuário.
O estudo [19] também avaliou a percepção dos ocupantes do PMCMV sob as três dimensões:
unidade habitacional, empreendimento e entorno. Dentro da dimensão unidade habitacional foram
incluídas 22 variáveis que discutiam sobre a qualidade da edificação e conforto ambiental. Como
resultado, os itens mais bem avaliados foram a iluminação natural e aparência da unidade. Os itens
materiais de revestimento, temperatura da casa no verão, telhado, portas e janelas, tamanho da
cozinha, e, segurança, foram avaliados como ruim ou péssimo.
Em [2] também foi abordado o lado dos usuários. Os autores propõem a estruturação dos requisitos
do usuário como dados de entrada no processo de projeto visando oportunizar o desenvolvimento de
um produto com características que atendam mais adequadamente às necessidades dos ocupantes. A
pesquisa atribui valores a fatores que avaliam o desempenho da edificação como a acústica da casa,
qualidade das esquadrias e acabamentos, temperatura interna, iluminação e aparência da edificação.
Dentre os fatores relacionados com a qualidade da edificação, a acústica da casa foi o fator que mais
se destacou seguido pelo desejo dos ocupantes de terem mais cômodos na casa e então a qualidade
dos materiais, como esquadrias e acabamentos. Ademais, o desejo dos ocupantes em poder fazer
adaptações nas suas moradias também esteve presente, o que mostrou que, mais uma vez, a
recomendação de [5] sobre adaptações e tamanho das edificações do PMCMV continua válida e
também a preocupação dos ocupantes dessas edificações quanto a qualidade de suas moradias. A
pesquisa também contou com um estudo de caso.
Outros trabalhos focaram em uma característica especifica da edificação, sendo que os trabalhos
que avaliaram um tipo de desempenho de edificações do PMCMV optaram pelo desempenho
térmico.
Neste contexto, em [16] o desempenho térmico das paredes externas de seis empreendimentos foi
estudado e em todos os casos o fator solar encontrado foi maior do que o permitido na NBR 15575
[9]. Em um dos empreendimentos a transmitância térmica e o atraso térmico das paredes externas
também foram maiores do que o valor limite. Quanto ao desempenho térmico das coberturas, das
três com cobertura cerâmica, nenhuma alcançou os valores de transmitância térmica no verão, assim
como nenhum dos seis empreendimentos alcançou o valor de transmitância térmica indicado para o
inverno e nem o valor de atraso térmico. A ventilação também foi estudada tanto nos dormitórios
quanto na sala e cozinha e, na maioria dos casos, o valor adequado estabelecido por norma não foi
atingido.
Em [15] também é relacionado o desempenho térmico do PMCMV com a NBR 15575 [9] e com o
Regulamento Técnico da Qualidade de Edificações Residenciais (RTQ-R). Os autores
desenvolveram simulações tanto com as prescrições da NBR 15575-1 [9] quanto do RTQ-R para
um edifício multifamiliar. Como resultado foi observada uma distinção nos resultados entre as
abordagens de avaliação de desempenho utilizadas. Ademais, apesar de apresentar os resultados do
desempenho da edificação do PMCMV a publicação em questão não discute sobre os resultados no
quesito qualidade da edificação.
Já [6] identificou como o usuário do PMCMV avalia sua moradia quanto às condições de conforto
térmico, comparando com sua moradia anterior, além de verificar quais as medidas adotadas pelo
mesmo para amenizar as possíveis situações de desconforto. Como resultado: a avaliação do
conforto térmico no verão foi muito desagradável (84%) e no inverno foi agradável (58%); os
cômodos mais desconfortáveis no verão foram os dormitórios (77%).
A RSL ainda localizou dois trabalhos que desenvolveram pesquisas sobre BIM e desempenho do
PMCMV [14,20]. Ainda em 2013, após a publicação da NBR 15575 [9], em [14] foi elaborada uma
adaptação da biblioteca BIM do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio)
desenvolvida em 2008 para o PMCMV levando em consideração os parâmetros de desempenho
estabelecidos pela norma em questão. Já o estudo [20] teve seu foco no desempenho térmico. O
objetivo dos autores foi explorar a potencialidade do BIM para executar a análise de eficiência
térmica exigida pela NBR 15575 [9]. Os autores discutem ainda sobre a interoperabilidade de
ferramentas BIM no contexto das simulações de desempenho. Em ambos os casos, apesar de ser
debatido sobre o PMCMV, BIM e também a NBR 15575 [9], as publicações focam no processo
BIM e não nos resultados gerados pelas simulações.
Com uma abordagem diferenciada, outra publicação estudou a influência da gestão de projetos no
gerenciamento e controle da qualidade de obras do PMCMV [21]. A pesquisa engloba a qualidade
das edificações do programa e pontua erros ocasionados pela má execução, má qualidade dos
materiais e vícios construtivos, como trincas e rachaduras. Apesar de ser a publicação mais atual
localizada, não e discutida a NBR 15575 [9].
4. CONCLUSÃO
Por meio da RSL foram identificadas doze publicações que falavam sobre a qualidade e
desempenho das edificações do PMCMV. Os artigos identificados englobavam de alguma maneira
a questão do desempenho e da qualidade em edificações do Programa Minha Casa Minha Vida. Foi
possível perceber que, apesar das pesquisas seguirem abordagens variadas, todas as publicações
contextualizavam o PMCMV ressaltando sua importância na construção de habitações de interesse
social no Brasil. Não foram localizados questionamentos sobre a relevância do programa ou
sugestões de propostas alternativas como forma de resolver alguma carência na qualidade e
desempenho das edificações.
Ainda sobre ferramentas, a utilização do BIM, como explorado em [14] e [20], poderia auxiliar na
busca por um melhor desempenho nas edificações do PMCMV. O desenvolvimento de uma
edificação do PMCMV utilizando ferramentas e a lógica BIM, que engloba todo o ciclo de vida da
edificação, poderia auxiliar na tomada de decisões e também, por meio da interoperabilidade entre
ferramentas BIM e ferramentas de simulação, facilitar o processo de simulações de desempenho.
Poderiam ser desenvolvidos outros estudos sobre essas ferramentas e sua interoperabilidade.
Sete pesquisas contaram com o estudo de caso como método de pesquisa, ou simulações em
edificações especificas do PMCMV, o que mostra que as publicações estavam interessadas em
compreender, ou descobrir, a situação real das edificações do PMCMV [2, 6, 15, 16, 17, 18, 19].
Apesar disso, diante de abordagens variadas, não foi possível comparar os resultados entre as
publicações. Dessa forma, encontrou-se uma lacuna de uma avaliação de desempenho unificada
para ser seguida nesse tipo de edificações.
O projeto de uma edificação do PMCMV deve ser feito única e exclusivamente para o
empreendimento em questão. Dessa forma garante-se que as necessidades climáticas da
edificação sejam respeitadas, o que resultará em um desempenho térmico adequado. Além
disso, o projeto deve levar em consideração as características urbanas no bairro aonde está
inserido, impactando de forma positiva nas atividades e na identidade visual do local, o que
resultará em uma maior satisfação de seus moradores.
Por fim, as recomendações feitas em [5] ainda são válidas e caso tivessem sido seguidas poderiam
ter contribuído para edificações com um desempenho e qualidade superiores. Destaca-se que as
edificações do PMCMV além de impactarem a vida de milhares de brasileiros impactam o
planejamento urbano e o crescimento das cidades.
AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem o PPGECC UFPR e a CAPES pelo apoio.
REFERÊNCIAS
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Minha Vida. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 16, n. 4, p. 271-291, out./dez. 2016. ISSN 1678-8621.
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http://dx.doi.org/10.1590/s1678-86212016000400118.
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<http://www.caixa.gov.br/voce/habitacao/minha-casa-minha-vida/urbana/Paginas/default.aspx>. Acesso em: 25
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<http://www.cohapar.pr.gov.br/arquivos/File/GUIA_PROGRAMAS_COHAPAR.pdf> Acesso em 25 mar. 2018.
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[19] MOREIRA, V. de S.; SILVEIRA, S. de F. R.; REIS, F. N. S. C. PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA: a
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[20] TONSO, L. G.; NARDELLI, E. S. BIM para a análise de desempenho térmico em edificações do Programa Minha
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[21] DE SOUZA, D. P. B.; DE MOURA, T. L.; DE OLIVEIRA, C. T.; RODRIGUES, R. S. R. A influência da gestão
de projetos no gerenciamento e controle da qualidade de obras do programa social “Minha Casa Minha Vida”.
Brazilian Journal of Production Engineering (BJPE), v. 3, n. 2, p. 18-25, 2017.
CONTROLE TECNOLÓGICO DO CONCRETO DA LAJE DE TRANSIÇÃO
DE OBRA EM ALVENARIA ESTRUTURAL QUE UTILIZA SISTEMA DE
PROTENSÃO LEVE
TECHNOLOGICAL CONTROL OF THE TRANSITION SLAB CONCRETE IN
STRUCTURAL MASONRY USING PRESTRESSED CONCRETE
Prof. Antônio Eduardo Polisseni, D.Sc.¹, Prof. Thais Mayra de Oliveira, D.Sc.², Alysson Maganin
Almeida³, Eng. Gabriela de Castro Polisseni, M.Sc.4
1. INTRODUÇÃO
Atualmente nas cidades brasileiras é comum observar cada vez mais a presença de construções
edificadas com a tecnologia em alvenaria estrutural. Historicamente, isto vem acontecendo desde a
década de sessenta quando esta tecnologia começou a ser divulgada e implementada pelas
construtoras.
Inicialmente os edifícios construídos em alvenaria estrutural, tinham a seguinte tipologia: andar
térreo assentado sobre uma fundação tipo radier e mais três ou quatro pavimentos tipo. Porém,
como relata Polisseni [1], no fim da década de setenta, no sul do país, região de Porto Alegre - RS,
através do Banco Nacional de Habitação (BNH) foram construídos edifícios em alvenaria estrutural
com blocos de concreto de 8 pavimentos tipo.
A alvenaria estrutural por ser uma construção racionalizada e com grande potencial para agregar
valor de produtividade, quando da fase de construção do edifício, possibilita novos arranjos de
projetos podendo ser incrementados com subsolo, andar de garagem, salão de festa, brinquedoteca,
coberturas com áreas transitáveis, dentre outros. Dentro desta nova concepção, os pavimentos tipo
passam a descarregar cargas em uma laje de transição que por sua vez descarrega em vigas e
pilares, que transmitem suas cargas para os diversos tipos de concepção de fundação em função das
características geotécnicas do terreno.
Da mesma forma, a altura dos edifícios vem aumentando devido às melhorias dos softwares de
dimensionamento, principalmente devido à maior precisão dos cálculos das deformações em função
das cargas, e ao fato de os fornecedores de materiais terem investido em tecnologia, o que refletiu
na qualidade dos materiais: blocos de concreto e cerâmico, argamassas industrializadas, argamassas
estabilizadas produzidas pelas concreteiras, grautes, etc.). A característica de racionalização,
padronização e repetitividade dos serviços na tecnologia de alvenaria estrutural possibilita que o
colaborador seja melhor treinado e consequentemente atinja maior produtividade quando
comparado aos colaboradores da construção de edifícios no sistema tradicional.
A figura 1 [2] representa o ciclo de vida do empreendimento. Na fase de concepção do projeto
estrutural, muita das vezes, para viabilizar técnica e economicamente o empreendimento, em função
de alguma limitação que possa ocorrer quanto a fatores como a altura do edifício ou ordem de
grandeza das cargas que chegam às fundações, por exemplo, o projetista da estrutura pode lançar
mão da utilização do sistema de concreto protendido (protensão leve), para dimensionar a estrutura
de concreto da laje de transição, gerando peças com menores geometrias e taxas de armaduras
passivas (barras de aço).
Figura 1 - Ciclo de vida do empreendimento: fase de projeto estrutural: alvenaria estrutural - laje de transição
2. MÉTODO DE PESQUISA
2.1. Método de pesquisa
O presente trabalho tem por objetivo apresentar um procedimento para mitigara retração do
concreto, que pode ocasionar o aparecimento de fissuras ordem térmica, hidráulica ou plástica
quando da execução de uma laje de transição de um edifício construído na tecnologia de alvenaria
estrutural que utiliza como dimensionamento os fundamentos do concreto protendido (protensão
leve).
3. FUNDAMENTAÇÃO
As lajes de edifícios quando em sua fase de execução estão submetidas à condições de exposição
ambientais que são: temperatura do ar, umidade relativa e velocidade do vento. Estas condições,
associadas à temperatura desenvolvida no interior da massa de concreto geram como consequência
o aumento da taxa de evaporação de água da superfície do concreto.
O concreto, no estado fresco, ao perder água por evaporação está sujeito ao fenômeno de retração.
A retração é o processo de redução de volume que ocorre na massa de concreto, ocasionada
principalmente pela saída de água por exsudação (retração plástica e por secagem ou hidráulica). [3]
Canovas [4] apresenta os seguintes valores como possíveis condições prováveis para ocorrência de
fissuração na superfície do concreto em função da taxa de perda de água da superfície por
evaporação (velocidade de evaporação), expressos em “litros/m² /hora”:
Velocidade de evaporação (0 a 0,5 l/ m² /h): nenhuma;
Velocidade de evaporação (0,5 a 1,4 l/ m² /h): alguma;
Velocidade de evaporação (1,5 l/ m² /h): 100%.
Segundo Metha e Monteiro [5], quando a taxa de perda de água da superfície do concreto for
superior a 1,5 l/ m² /h, ocorrerá fissuração por retração plástica, as quais “são paralelas entre si e
afastadas umas das outras de 0,3 a 1 m com 25 mm a 50 mm de profundidade” (p. 359). Os aspectos
das fissuras podem ser observados na figura 2.
Este trabalho se refere ao processo aplicado num empreendimento imobiliário construído na cidade
de Juiz de Fora, composto por uma torre habitacional de 11 pavimentos, sendo 3 pavimentos de
garagem, 6 pavimentos tipo com oito apartamentos por andar, e 2 pavimentos referentes a 8
apartamentos duplex das coberturas, todas com áreas externas e transitáveis.
Foi apresentado pelo pessoal de compra da construtora para ser analisado uma Carta de Traço que
consta no quadro 3.
Quadro 3 - Carta de traço inicial apresentada pela concreteira
CIMENTO AREIA AREIA BRITA 0 ÁGUA ADITIVO
(kg/m³) NAT. ART. (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³)
(kg/m³) (kg/m³)
269 314 732 836 207 2,046
No quadro 5 são apresentados outros parâmetros que norteiam as propriedades do concreto nos
estados fresco e endurecido que podem ser extraídas da carta de traço após adequação.
(a) (b)
Figura 4: (a) Vista parcial do empreendimento (b) Vista parcial da laje de transição / cabos de
protensão
(b)
Vista parcial da laje de transição
6.1. Consistência do concreto – Slump Test
A figuras 5 e 6 mostram os resultados dos abatimentos do concreto, de cada caminhão betoneira
obtidos pelo ensaio de Slump Test de acordo com a ABNT NM 67 [7]. Visualiza-se que para todos
os caminhões betoneiras, o abatimento encontrou-se em conformidade com o especificado em
projeto que foi de (140 ± 20) mm.
Quadro 6 - Resistência à compressão axial dos corpos de prova da laje de transição (MPa)
MÓDULO DE
ELASTICIDADE
LOTE
Eci (GPa) - 28
DIAS
1 32,4
2 31,4
Quadro 8 – Lote 1 - Resultados de taxa de evaporação de água da superfície de concreto da laje de transição
TAXA DE
T(ar) URA T(concreto) V(vento)
MEDIÇÃO EVAPORAÇÃO
(ºc) (%) (ºc) (km/h)
(l/m²/h)
1 20,9 78,5 28,0 4,0 0,2
2 21,8 69,0 29,0 1,3 0,2
3 20,5 68,7 27,9 1,8 0,6
4 23,4 61,6 27,0 0,7 0,5
5 24,5 59,5 29,9 10,4 0,6
6 25,2 61,2 28,0 6,9 0,6
7 24,0 64,9 29,2 8,0 0,5
8 26,6 61,0 28,5 2,0 0,2
9 26,8 52,7 28,9 1,2 0,3
10 26,5 60,0 32,0 0 0,1
11 27,2 50,9 31,0 1,4 0,2
12 28,2 50,8 31,0 2,7 0,3
Quadro 9 – Lote 2 - Resultados de taxa de evaporação de água da superfície de concreto da laje de transição
A figura 9 apresenta os equipamentos utilizados para a determinação dos parâmetros utilizados para
o cálculo da taxa de evaporação de água na superfície do concreto.
8. REFERÊNCIAS
[1] POLISSENI, A. E. Método de campo para avaliar a capacidade impermeabilizante de revestimentos de parede:
método do cachimbo. 1986. 140 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Curso de Pós-Graduação em Engenharia
Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1986.
[2] MATTOS, A. D. Planejamento e Controle de Obras, São Paulo - SP: PINI, 2010
[3] AOKI, Jorge. e MEDEIROS, Giovana., Retração – Redução de Efeito e Compensação. 2010. Disponível em:
<"http://www.cimentoitambe.com.br/massa-cinzenta/retracao-reducao-de-efeito-e-compensacao">. Acesso em:
08/11/2018
[4] CÁNOVAS, M. F., Patologia e terapia do concreto armado. São Paulo, PINI, 1988.
[5] METHA, P. K. e MONTEIRO, P.J., Concreto: estrutura, propriedades e materiais. São Paulo, PINI, 1994.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 33: Concreto - Amostragem de concreto
fresco. Rio de Janeiro, 1998.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 67: Concreto - Determinação da consistência
pelo abatimento do tronco de cone. Rio de Janeiro, 1998.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12655: Concreto de cimento Portland - Preparo,
controle, recebimento e aceitação - Procedimento. Rio de Janeiro, 2015.
[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8522: Concreto - Determinação dos módulos
estáticos de elasticidade e de deformação à compressão. Rio de Janeiro, 2017.
[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739: Concreto - Ensaio de compressão de
corpos de prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2018.
[11] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5738: Concreto - Procedimento para moldagem
e cura de corpos de prova. Rio de Janeiro, 2015.
GESTÃO DE ÁREAS COMUNS EM PROJETOS DE HABITAÇÃO DE
BAIXA RENDA
Management of Common Areas in Low Income Housing Projects
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, brittes_pt@yahoo.com.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, aparecida.hippert@ufjf.edu
1. INTRODUÇÃO
Este artigo tem o objetivo de contribuir para a gestão condominial de áreas comuns nos
condomínios habitacionais para pessoas de baixa renda. Para atingir seu objetivo, conceitos como
áreas comuns, gestão condominial, trabalho social e autogestão serão visitados para tentar
compreender as possibilidades existentes através de uma revisão de literatura em produções que
articulem questão dos conflitos existentes nestas áreas a possibilidades de uma gestão mais
eficiente.
Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) realizado no ano de
2015, mostra que os investimentos de quase 4 bilhões de reais do Ministério das Cidades, não foram
suficientes para acabar com o déficit habitacional no pais, mesmo tendo resultado nos últimos nove
anos, na contratação de 5,1 milhões de unidades habitacionais, sendo entregues 3,7 milhões até
março de 2015.
Já os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) [1], realizada em 2017 mostram um aumento
de 1,4% no número de invasões entre os anos de 2016 e 2017.
A partir da análise das pesquisas é possível identificar, segundo Santos e Moretti[2], algumas das
razões que levam a população de baixa renda a buscar na informalidade ou mesmo ilegalidade sua
habitação.
Essa percepção esta ligada ao fato que os projetos habitacionais para atendê-los nem sempre
condizem com suas possibilidades e necessidades. Os investimentos relacionados à oferta pública
de terra urbanizada e as demais alternativas de ação do Poder Público, sempre estiveram aquém das
necessidades desse público.
Para Santos e Moretti[2] do ponto de vista do Poder Público, os conjuntos habitacionais
representam o maior investimento governamental para tentar resolver o problema da habitação de
interesse social dos últimos 50 anos. Do ponto de vista da indústria da Construção civil,
representam a retomada de investimentos, associados a uma proposta de empreendimentos de baixo
custo, com modelos padronizados e distantes dos centros urbanizados.
Neste sentido, Santos e Moretti [2] destacam a pobreza de tipologias empregadas nestas construções
e que os benefícios sociais oriundos desta proposta, ainda não foram traduzidos pois em alguns
casos algumas dessas opções como o uso de terrenos longe dos equipamentos públicos como
escolas, hospitais, comercio, lazer etc., contribuem para reforçar os processos de segregação sócio-
espacial.
A padronização das construções destinadas ao público de baixa e o elevado número de residências
em um único projeto tem caracterizado as edificações contemporâneas. Esse processo pode ser
observado desde as fases do processo de projeto quando, por exemplo, se opta por excluir do
projeto equipamentos como os elevadores sob o argumento que os mesmos elevam o custo final da
obra e pode causar problemas de conflitos para a gestão condominial ou entre os moradores.
Segundo Santos e Moretti [2] os moradores desses condomínios na maioria das vezes não possuem
nenhum tipo de parentesco ou mesmo vínculo social. São pessoas estranhas umas as outras tendo
que dividir o mesmo espaço e que de alguma forma precisam se comunicar para garantir a
sociabilidade. Contudo, este processo não é tão fácil quando se observa os diferentes contextos
sociais e interesses que envolvem o uso das áreas comuns.
Na visão de Santos e Moretti [2] estes conflitos registrados nas áreas comuns podem resultar desde
situações de violências até a quebra do contrato originando evasão dos moradores ou mesmo o uso
desses espaços para práticas criminosas. É neste momento que se apresenta o conceito de um novo
modelo gestão para as áreas comuns. Para Sousa [3], o ambiente construtivo assim como a
sociedade, do ponto de vista econômico e social esta em constante modificação em função da
celeridade de processos construtivos que estão surgindo em países e épocas diversas. Esse processo
evolutivo prescinde ao uso de inovações no ambiente construtivo. Estas novações devem acontecer
no âmbito operacional que envolve planejamento, elaboração de projetos e execução - passando
pelos canteiros de obra, descarte adequado os resíduos, uso de materiais mais eficientes e menos
poluentes, até a esfera administrativa e gerencial no pós uso das edificações. As ramificações,
encontros e desencontros entre procura e a oferta por moradias no Brasil são objetos constantes de
debate que adquirem novos contornos, possibilidades e relevância ao longo do tempo. Contudo, é
importante a constatação que este ainda é um processo lento. Este artigo é uma oportunidade de
fazer o debate sobre a gestão de áreas comuns a partir da análise dos conflitos relacionados à
sustentabilidade das áreas comuns no pós- ocupação.
2. METODOLOGIA
No trabalho, foi implementada uma metodologia de caráter exploratório que consiste numa revisão
bibliográfica seguida da análise crítica dos fatores que podem contribuir tanto para acentuar os
conflitos em áreas comuns nos projetos de habitação para o público de baixa renda quanto os fatores
que podem contribuir para solucionar estes problemas. Este estudo está organizado a partir da
análise dos seguintes conceitos: Áreas comuns nos condomínios; Gestão de áreas comuns;
Autogestão de áreas comuns; Trabalho social.
A compreensão dada em função do exposto coloca o trabalho social, como uma forma de
intervenção interdisciplinar, onde o objetivo é atuar em diversas dimensões como a social,
econômica, ambiental e política. É justamente sobre estas dimensões que o agente executor do
Trabalho Social, o Técnico Social, não possui controle. Pelo documento, pode-se observar que para
atender ao direito de moradia e o direito à cidade dos beneficiários de programas habitacionais as
obras representam apenas um ponto as dimensões ou mesmo julgar que uma tem maior valor que
outra.
O objetivo do trabalho Social é promover emancipação das pessoas e estimular a participação e a
tomadas de decisões por meio de processos decisórios dentro da intervenção executada, que devem
ser ocupados pelo público beneficiário, em um exercício de democracia direta.
Para Reis [17], é fundamental se contemplar além das obras as intervenções físicas, o fornecimento
de equipamentos públicos de segurança, transporte, lazer, e políticas públicas além de um novo um
serviço de apoio técnico, que promova o acesso adequado da população a essas intervenções. É
reconhecidamente necessária, portanto, uma mediação qualificada, que seja participativa e
promotora dos direitos e da melhoria das condições de vida da população beneficiária
Este estudo considera que é possível realizar uma gestão compartilhada das áreas comuns nos
projetos de habitação para baixa renda envolvendo em alguns casos o sindico e o conselho de
moradores. Essa abordagem pode ser mais eficaz se considerar-se a complexidade de atores
envolvidos, os diferentes contextos e a importância que essas “áreas comuns “ tem na vida dessas
pessoas. Por isso, a autogestão pode ser um caminho interessante na construção de diálogos com os
diferentes sujeitos locais e pode ser promovam a participação dos moradores e a tomada de decisões
coletivas no sentido de que ao exercerem sua cidadania, os moradores possam fazer escolhas que
atendem a todos.
Partindo destas abordagens a gestão condominial em projetos de habitação de baixa renda deve
primar pelo exercício da cidadania e da autogestão como forma de intervir e mediar as relações de
conflito no espaço comum.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos dilemas enfrentados no âmbito da habitação no Brasil, além do déficit em si, diz respeito à
sustentabilidade desses espaços após a entrega das moradias. Este é um problema que tende a
crescer quando se utilizam por parte das empresas construtoras ou do Poder Público, os mesmos
critérios e tipologias para atender a uma demanda com características diferentes.
No âmbito dos projetos de habitação para atender famílias de baixa renda, a indústria da construção
civil tem fomentado a padronização e o elevado número de moradias. Com uma concentração maior
de pessoas em espaços cada vez mais reduzidos e longe dos principais serviços públicos como
bancos, escolas, hospitais e comercio, as chances de que nestes espaços existam conflitos são
enormes.
Vindos de diferentes dimensões, os conflitos em áreas comuns não se originam apenas de um fator
como o excesso de moradores ou ausência de vínculos sociais, mas de um conjunto de fatores
relacionados que quando não resolvidos podem conduzir ao aumento dos casos de violência, uso
indevido das áreas para praticas criminosas e por fim a evasão das famílias que por sua vez tendem
a retornar ás estatísticas de falta de moradia.
Essa situação pode ser agravada quando há uma tentativa de reproduzir na gestão o modelo
verticalizado e padronizado que caracteriza a construção civil na atualidade e se delega apenas ao
sindico a missão de garantir a harmonia, excluindo o papel importante que os moradores possuem
tanto na identificação quanto na proposição de soluções.
Os conflitos originados nas áreas comuns podem ter ligação com a falta de relação dos moradores
com os espaços e equipamentos existentes, ou seja, é possível que em alguns casos os moradores
nunca tenham tido acesso a uma experiência de uso coletivo do espaço. Os conflitos podem surgir
também pela falta de uso, excesso de uso ou uso inadequado dessas áreas ou de outras formas dada
a natureza especifica dos moradores.
Por isso, o ideal é que primeiro, os projetos habitacionais destinados a estes púbico, contemplem
áreas comuns versáteis, que atendam as expectativas dos moradores e de alguma forma possam
sofrer intervenções permanentes ou passageiras e segundo, que na resolução de conflitos, se
considere a existência de órgãos participativos.
Nesta busca por metodologias de gestão mais horizontalizadas, participativas e menos burocráticas,
a autogestão pode contribuir para a criação de mecanismos de fortalecimento da participação dos
moradores na gestão das áreas comuns, sobretudo no sentido de configurá-lo como um espaço de
convivência harmônica
REFERÊNCIAS
[1] IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Disponível em WWW.IBGE.GOV.BR acesso em
22 de setembro de 2018.
[2] SANCHES, D. MORETTI, R. Gestão condominial da habitação social. São Paulo. 2013 1Disponível em
http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.153/4661 Acesso em 18 de agosto de 2018.
[3] MEDVEDOVSKI, N. S. Gestão de espaços coletivos em HIS – a negação das necessidades básicas dos usuários e a
qualidade do cotidiano e do habitat. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE QUALIDADE DO PROJETO NO
AMBIENTE CONSTRUÍDO – SBQP, 2009, São Carlos. Anais... São Carlos: SBQP, 2009. Disponível em:
http://www.aptor.com.br/sbqp/arquivos/sbqpcd/artigos/pdfs/111_121_PALEST_206. pdf. Acesso em: 13 ag.2018.
[4] MARQUES, L. Miron. Minha Casa Minha Vida: análise da percepção de valor sobre as áreas comuns. Porto
Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e
Regional, Dissertação de Mestrado, 2015.
[5] NAVAZINAS. Vladimir. Arquitetura possível: Os espaços comuns nas habitações de interesse social de São
Paulo. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo. São Paulo, 2007.
[6] BRASIL. MINISTÉRIO DAS CIDADES. SECRETARIA NACIONAL DE HABITAÇÃO. Déficit habitacional no
Brasil 2008. Brasilia: Ministério das Cidades, 2014
[7] SANTOS, V. Laira. COSTA, Solange Maria Gayoso. Habitação de Interesse Social no Brasil e a Exclusão do
Direito à Cidade. Sociedade em Debate. 2017
[8] COLLINA et al Projetando espaços e serviços. A projeto experimental para dormitórios estudantis: Experiências
coletivas, vidas conectadas e lugares vinculados. ServDes2018 - Service Design Proof of Concept Politecnico di
Milano.June 2018
[9] SCHWARTZ, Rosely Benevides. Revolucionando o Condomínio. 14ª Edição. São Paulo: Saraiva.2013
[10] DICIONÁRIO. Aurelio. Mini dicionário da língua Portuguesa. 4. edição revista e ampliada do mini dicionário
Aurélio, 7ª impressão. Rio de Janeiro. 2002.
[11] FERREIRA, Isabela de Mattos. As intervenções no espaço da cidade. In: Design transversal e as práticas de
ressignificação para a cidadania no espaço público. Tese de doutorado – Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, Departamento de Artes e Design Rio de Janeiro, 2017.
[12] CANÇADO, A. C.; TENÓRIO, F. G.; PEREIRA, J. R. Gestão social: reflexões teóricas e conceituais. Cadernos
EBAPE.BR, v. 9. 2011.Disponvel em http://www.spell.org.br/documentos/ver/1466/gestao-social--reflexoes-
teoricas-e-conceituais- Acesso em 28 de ag.2018.
[13] FARIA, José Henrique de. Relações de poder e formas de gestão. Curitiba : Criar, 1985
[14] ALBUQUERQUE, Paulo P. Autogestão. In: CATTANI, Antônio (Org.). A outra economia. Porto Alegre: Veraz,
2003.
[15] BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Tradução Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
[16] REIS, Gabriel Drumond.Santos, H.E. “O trabalho de gestores condominiais em um condomínio do programa
Minha Casa Minha Vida”, Revista Contribuciones a lasCienciasSociales, (julio-septiembre 2017). Ed. línea
disponível em http://www.eumed.net/rev/cccss/2017/03/condominio-casa-
minha.htmlhttp://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1703condominio-casa-minha acesso em 10 de set.2008.
AVALIAÇÃO DE SISTEMAS DE ILUMINAÇÃO EXTERNA
CONSIDERANDO A VISÃO MESÓPICA
Belayne Zanini Marchi1, Maria Teresa Gomes Barbosa2, Cristiano Gomes Casagrande 3
1 Engenheira Civil, Mestranda em Ambiente Construído PROAC-UFJF, Juiz de Fora, Brasil, belaynez@hotmail.com
2
Professora Dra., Faculdade de Engenharia Civil/UFJF, Juiz de Fora, Brasil, teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br
3
Professor Dr., Faculdade de Engenharia Elétrica/UFJF, Juiz de Fora, Brasil, cristiano.casagrande@ufjf.edu.br
Resumo: A luz é uma fonte de energia extremamente indispensável para a realização de inúmeras
tarefas, além de propiciar aos mais diversos meios de transporte uma locomoção segura pelas
avenidas, túneis, vias, estradas, assim como o tráfego de pessoas em ruas, praças, jardins, passarelas.
Um ambiente bem iluminado requer não apenas ter luz suficiente, mas também, deve proporcionar
conforto visual, segurança e eficiência. Quando não é possível mais aproveitar a luz natural, por
diversos fatores, principalmente ao anoitecer, é necessário utilizar fontes de luz artificiais que
consequentemente requerem um consumo de energia, custo econômico e em especial impacto
ambiental. Assim, o uso eficiente da energia elétrica é um tema importante e essencial para o
desenvolvimento sustentável; minimizando o desperdício de energia favorece-se a preservação do
meio ambiente. Junto a isso, ao se considerar a percepção da luz pelo olho humano, observa-se
respostas visuais distintas, o que acarreta diferentes regimes de operação visual e curvas de
sensibilidade espectral. Quando se tem altos níveis de luminância (ambiente muito bem iluminado),
a sensibilidade da visão humana responde ao regime fotópico. Opostamente, quando a luminância é
muito baixa, ou seja, um ambiente com iluminação mínima, tem-se o regime escotópico. Visto que a
fotometria clássica se baseia na sensibilidade da visão sob o regime fotópico, e que em ambientes
externos de iluminação é comum deparar-se com condições intermediárias, conhecidas como
mesópicas, é essencial fazer uma correção das grandezas fotométricas medidas com equipamentos
convencionais, a fim de que o nível de iluminação esteja realmente condizente com a verdadeira
sensação de claridade. Dessa forma, ao ajustar o nível de iluminância nos projetos de iluminação em
vias públicas, estamos reduzindo a demanda de energia e custos. Assim, junto aos conceitos que
norteiam uma construção sustentável, pode-se mencionar a questão da eficiência energética como um
dos motivadores centrais para este estudo, que tem como objetivo principal comparar projetos de
iluminação convencionais em vias públicas, com projetos que priorizam a fotometria mesópica, a fim
de demonstrar se há economia de energia e a real eficiência sobre o sistema de iluminação pública.
Para isso, será utilizado o software de simulação Dialux em um condomínio fictício onde se
concentrarão os estudos.
Abstract: The Light is a source of energy that is extremely indispensable for the accomplishment of
numerous tasks, as well as providing a wide variety of means of transportation to the streets, tunnels,
roads, walkways A well lit environment requires not only sufficient light, but also, it should provide
visual comfort, safety and efficiency. When it is no longer possible to enjoy natural light, due to
several factors, especially at dusk, it is necessary to use artificial light sources that consequently
require energy consumption, economic cost and especially environmental impact. Thus, the efficient
use of electricity is an important and essential theme for sustainable development; minimizing the
waste of energy favors the preservation of the environment. In addition, considering the perception
of light by the human eye, different visual responses are observed, which leads to different visual
operation regimes and spectral sensitivity curves. When you have high levels of luminance (very well
lit environment), the sensitivity of human vision responds to the photopic regime. Opposite, when the
luminance is very low, that is, an environment with minimum illumination, we have the scotopic
regime. Since classical photometry is based on the sensitivity of vision under the photopic regime,
and it is common in outdoor lighting conditions to encounter intermediate conditions, known as
mesopic, it is essential to make a correction of the photometric quantities measured with conventional
equipment, so that the level of illumination is really consistent with the true sense of clarity. In this
way, by adjusting the luminance level in lighting projects on public roads, we are reducing energy
demand and costs. Thus, along with the concepts that guide sustainable construction, we can mention
the issue of energy efficiency as one of the central motivators for this study, whose main objective is
to compare conventional lighting projects in public roads, with projects that prioritize the mesopic
photometry , in order to demonstrate whether there is energy savings and actual efficiency over the
public lighting system. For this, the Dialux simulation software will be used in a fictional
condominium where the studies will be concentrated.
1. INTRODUÇÃO
A humanidade necessita de energia para tudo o que faz, desde a simples tarefa de se locomover, ou
fazer uma lâmpada se acender. Quando se necessita utilizar fontes de luzes artificiais,
consequentemente, exige-se um consumo de energia, que reflete diretamente em impactos
econômicos e ambientais. A estimativa atual, é que de toda a energia elétrica produzida no mundo,
30% aproximadamente seja utilizada para a produção de iluminação artificial. Além disso, segundo
a Agência Internacional de Energia [1], entre 2015 a 2040, a necessidade de utilização de energia no
mundo deverá crescer um terço. Dados muito preocupantes, uma vez que 81% da energia consumida
mundialmente provém de três fontes não renováveis como petróleo, carvão mineral e gás [2].
Nesse ritmo crescente de evolução, cada vez mais se desenvolvem produtos eficientes, como o LED
(lighting emitting diodes), que aparece como um grande avanço tecnológico no momento, e vem
ganhando espaço nas aplicações de iluminação em geral. Tudo isso devido a suas características de
elevada eficácia luminosa, elevado índice de reprodução de cor, elevada resistência mecânica e longa
vida útil (podendo chegar até 100.000 horas) [4]. Além disso, os LEDs não contêm gases tóxicos em
seu interior como os que estão presentes nas lâmpadas de descarga em alta pressão, e assim agridem
menos o meio ambiente.
Adicionalmente, todos os benefícios do LED podem ser ainda mais eficientes em comparação com
outras fontes de iluminação, ao considerar que o olho humano tem diferentes respostas visuais para
vários tipos de ambiente e níveis de luminosidade. Portanto, a percepção do indivíduo sobre o
ambiente é de fundamental importância na elaboração de um projeto de iluminação, dispondo de luz
suficiente para iluminar todo ambiente, porém sem dispor mais que o necessário e, portanto,
desperdiçar energia.
Quando se tem altos níveis de luminância (ambiente muito bem iluminado), a sensibilidade da visão
humana responde ao regime fotópico. Opostamente, quando a luminância é muito baixa, ou um
ambiente com iluminação mínima, tem-se o regime escotópico. No entanto, toda fotometria clássica
está baseada na sensibilidade da visão sob o regime fotópico, e em muitas vezes, em ambientes
externos de iluminação podemos trabalhar com condições intermediárias (mesópicas). Assim,
corrigindo a grandeza fotométrica, existe a possibilidade de reduzir o consumo de energia para
iluminar um ambiente que não esteja sob o regime visual da fotometria fotópica, garantindo que o
nível de iluminação realmente seja condizente com a verdadeira sensação de claridade.
2. VISÃO MESÓPICA
O olho humano faz parte de um sistema óptico complexo, e que responde de formas diferentes
conforme a luz ambiente. É um órgão sofisticado, capaz de gravar e processar imagens através da
incidência de luz e transformá-la em sinais elétricos que são enviados ao cérebro, sendo constituído
por células sensoriais, nervos, músculos, grupo de lentes e fluidos lacrimais [5]. A íris controla a
passagem de luz para dentro do olho, alterando o tamanho da pupila, que pode dilatar ou reduzir de
acordo com a incidência de luz. Ao atravessar a pupila, os raios luminosos atingem a retina, onde a
imagem é formada. A retina possui células fotossensíveis que captam os estímulos luminosos,
denominadas cones e bastonetes. Os cones, concentrados na região central da retina, são menos
sensíveis à luz, porém permitem a percepção das cores. Os bastonetes, apesar de serem mais sensíveis
à luz, não reconhecem cores, mas dão a percepção de claro e escuro.
É importante notar que o olho humano se comporta de maneiras distintas de acordo com as condições
de luminosidade. Assim, as células fotorreceptoras responderão de acordo com o ambiente de
iluminação, sempre uma sendo predominante à outra. Quanto maior for a incidência de luz, mais
contraída se encontrará a pupila, permitindo que a luz passe de forma mais centralizada, como um
feixe de luz focalizado na região central da retina. Como os cones estão concentrados na região central
do olho, eles vão predominar, permitindo diferenciação e boa definição das cores. Assim, em
ambientes de intensa luminosidade, a sensibilidade do olho está na visão fotópica. Já com a redução
da incidência de luz, o efeito é o contrário, ocorre a dilatação da pupila, o que permite que a luz passe
de forma mais ampla, atingindo toda retina. Dessa forma, os bastonetes serão predominantes sobre
os cones, dando sensação de claridade, contraste, mas sem percepção de cor, ou visão escotópica [6]
[7].
Portanto, ambientes com alto e baixo nível de iluminação podem ser definidos em regime de operação
fotópico e escotópico respectivamente. Em uma faixa intermediária, encontra-se a visão mesópica,
um estágio de transição entre a visão fotópica e escotópica. Nesse regime, o sistema visual combina
sinais entre cones e bastonetes e essas interações podem modificar a experiência perceptiva e alterar
quase todos os aspectos do processamento visual, incluindo a detecção visual, observado na maioria
dos ambientes noturnos de iluminação de tráfego e trânsito. [8]
Seria então necessário fazer uma adaptação da fotometria convencional, onde a condição mesópica
fosse considerada. Contudo, o uso desses modelos é bastante complexo. Como mencionado
anteriormente, cada fonte luminosa tem um nível de emissão e sensibilidade espectral, sendo essencial
fazer uma adaptação fotométrica para cada nível da condição mesópica diferente. Ademais, mesmo
se fosse viável fazer a correção, nessa faixa entre escotópico e fotópico, existem múltiplos valores de
luminância, o que resultaria em múltiplos sistemas de adaptação de grandezas, o que dificultaria a
interpretação dos resultados. Além disso, para fazer a medição fotométrica, se utilizam equipamentos
que são calibrados para a visão fotópica, o que resultaria em mais correções nos resultados das
medições.
Entende-se, portanto, que pela alta complexidade em usar modelos mesópicos, busca-se outras
soluções para contornar essas dificuldades, propor modelos mais simplificados. Porém, até mesmo
modelos mais simplificados, exigem a determinação do fator S/P, que é definido como a razão entre
o fluxo luminoso de uma fonte de luz escotópica, e o fluxo luminoso de eficácia espectral fotópica.
A relação S/P é necessária para todos os sistemas que fazem a conversão de luminância, e necessitam
corrigir as grandezas fotométricas, tanto para se alcançar o sistema mesópico ou se aproximar da
região escotópica, sendo, portanto, componente fundamental para que as adaptações sejam possíveis.
No entanto, a obtenção do fator S/P é bastante complicada, os equipamentos de medição fotométricos
são muitos sofisticados e onerosos, de difícil acesso, disponíveis geralmente em laboratórios de
pesquisa avançada, como a esfera integradora ou goniofotômetro [11]. Além disso, a relação S/P pode
variar bastante de acordo com o tipo de lâmpada, do fabricante, da potência e temperatura de cor.
Entretanto [12], utilizando parâmetros disponibilizados pelos fabricantes de lâmpadas nos catálogos
ou em suas embalagens, como a temperatura de cor correlatada (TCC) e do índice de reprodução de
cor (IRC), propõe uma equação que fornece a relação S/P, eliminando então a necessidade de se
recorrer a equipamentos especiais. Essa equação, é aplicável a qualquer tipo de lâmpada, e
correlaciona S/P em função da TCC e do IRC da fonte de luz:
A CIE 191:2010, propõe um método, que faz uma adaptação a partir de multiplicadores estabelecidos,
conforme a tabela 1, selecionados de acordo com a luminância do ambiente e a relação S/P calculadas
pela expressão acima, utilizados para fazer a conversão de unidades fotópicas para diferentes
condições mesópicas.
Tabela 1 – Fatores de correção percentuais para luminância efetiva
LUMINÂNCIA FOTÓPICA (cd/m²)
S/P 0,01 0,03 0,1 0,3 0,5 1 1,5 2 3 5
0,25 -75% -52% -29% -18% -14% -9% -6% -5% -2% 0%
0,45 -55% -34% -21% -13% -10% -6% -4% -3% -2% 0%
0,65 -31% -20% -13% -8% -6% -4% -3% -2% -1% 0%
0,85 -12% -8% -5% -3% -3% -2% -1% -1% 0% 0%
1,05 4% 3% 2% 1% 1% 1% 0% 0% 0% 0%
1,25 18% 13% 8% 5% 4% 3% 2% 1% 1% 0%
1,45 32% 22% 15% 9% 7% 5% 3% 3% 1% 0%
1,65 45% 32% 21% 13% 10% 7% 5% 4% 2% 0%
1,85 57% 40% 27% 17% 13% 9% 6% 5% 3% 0%
2,05 69% 49% 32% 21% 16% 11% 8% 6% 3% 0%
2,25 80% 57% 38% 24% 19% 12% 9% 7% 4% 0%
2,45 91% 65% 43% 28% 22% 14% 10% 8% 4% 0%
2,65 101% 73% 49% 31% 24% 16% 12% 9% 5% 0%
Assim, através da tabela acima, é possível adaptar as grandezas de acordo com cada condição
mesópica através dos fatores percentuais de correção.
A norma ABNT NBR 5101, de 2012, é a principal norma brasileira referente aos requisitos do sistema
de IP no Brasil. Ela fixa os requisitos mínimos necessários para a iluminação de vias públicas, os
quais são destinados a propiciar segurança aos tráfegos de pedestres e veículos. De acordo com a
classificação do fluxo e do tipo de via, ela pertencerá a uma determinada classificação de iluminação.
Para o caso fictício, como a via é de tráfego leve e sendo uma via local, é pertencente a classe de
iluminação V5, com iluminância média mínima de 5 lux e fator de uniformidade mínimo de 0,2 e
uma luminância média mínima de 0,5 cd/m2. Vide tabela 2
5. DISCUSSÕES E RESULTADOS
Nas duas primeiras simulações, usando a fotometria clássica, os resultados foram:
HPS - Luminância fotópica de 0,64 cd/m2, iluminância média de 8,8 lux e eficácia luminosa
aproximada 107 lm/W;
LED - Luminância fotópica de 0,56 cd/m2, iluminância média de 7,5 lux e eficácia luminosa
aproximada 125 lm/W;
Em ambas as simulações a norma foi atendida. Para a adaptação na fotometria utilizando o sistema
mesópico, utilizou-se os parâmetros disponibilizados pelos fabricantes das lâmpadas, para calcular o
valor S/P mencionado anteriormente (fig 2), sendo 0,621 para as lâmpadas de vapor de sódio e 1,543
para as luminárias LED.
Com o fator S/P calculado, e a luminância observada, é possível usar o fator de correção na tabela da
CIE. No entanto, tanto o fator o S/P (0,621 e 1,543), como a luminância calculada (0,64 e 0,56 cd/m2)
não estão disponíveis diretamente na tabela, portanto, os multiplicadores de correção foram obtidos
por meio de interpolação dos valores disponíveis na tabela. Vide fig. 3:
25
22
20
0,5 16
1
15
INTERPOLAÇÃO 10 14
FATOR DE CORREÇÃO (%)
10 11
8,3
4 7
5
3
0 -2
-6 -3
-5
-9 -6,3
-10 -10
-15 -14
-20
0 0,25 0,5 0,75 1 1,25 1,5 1,75 2 2,25 2,5 2,75
FATOR S/P
Com os valores do fator de correção interpolados, a segunda simulação foi realizada de forma
semelhante ao projeto anterior (fotometria clássica), porém alterando os valores dos fluxos luminosos
originais para os valores com a correção. Na luminária de vapor de sódio, o fluxo luminoso passou
de 10.700 para 10.026 lm com a correção, e quando simulado no software, a iluminância média
passou de 8,8 para 8,2 lux, um percentual de 6,8% a menos. Ao mesmo tempo, na luminária LED, o
fator de correção do fluxo luminoso passou de 5.500 para 5.957 lm, e na nova simulação a iluminância
média foi de 7,5 lux para 8,1 lux, um percentual de 8% a mais.
Portanto, ao se comparar o fluxo luminoso efetivo, e o corrigido para condições mesópicas, é possível
perceber que quando a tecnologia empregada são as luminárias de vapor de sódio, há uma redução
dos níveis de iluminância, Por sua vez, ao se aplicar a correção mesópica no projeto com luminárias
LED, visualiza-se um aumento dos níveis de iluminância na via pública. Vide a tabela comparativa
(tabela 4).
Tabela 4 – Comparação entre método tradicional e visão mesópica
Fotópica
5.500 7,5 125 0,56
(convencional)
LED
8,3%
(44 W) Mesópica
5.957 8,1 135,4 -
(efetiva)
Portanto, o uso de grandezas fotométricas, além de permitir uma melhor eficiência na iluminação,
também pode melhorar a eficiência energética do sistema elétrico. Quando se opta por uma tecnologia
mais satisfatória para a iluminação pública, isso reflete diretamente em um custo menor na conta de
energia elétrica. Isso acontece porque consegue-se reduzir o fluxo luminoso da lâmpada mantendo a
mesma iluminância da condição fotópica clássica, usada na condição mesópica. Assim,
consequentemente pode-se reduzir a potência da luminária por dimerização (diminuição do fluxo
luminoso da lâmpada para a iluminância adequada). Outra opção seria a substituição por lâmpadas
de potência menor, mas desde que possuam o fluxo luminoso efetivo (mesópico) equivalente.
Como conclusão direta dos resultados deste trabalho, é perceptível que ações de conservação de
energia podem ser implantadas, através das variáveis tecnológicas existentes. A substituição por
luminárias LED por exemplo, pode ser inserida no planejamento energético nacional em diferentes
níveis, através de políticas públicas. Como demonstrado nos resultados do trabalho, existem ganhos
reais da inserção do sistema mesópico em projetos de iluminação pública, que é onde se tem regiões
de baixa luminosidade.
Finalmente, vale a pena observar que a produção de energia elétrica no Brasil vem cada vez mais
necessitando atender uma crescente demanda de consumo dos usuários, o que aumenta os custos na
geração de energia elétrica. Só a iluminação pública é responsável por aproximadamente 8,2% do
consumo total de energia elétrica produzida no Brasil [2]. Assim sendo, quanto mais ações de
incentivo forem viabilizadas para a diminuição e mudança nos hábitos de consumo, ou incentivo no
uso de tecnologias que consomem energia de forma mais racional, contribui-se para uma melhor
eficiência energética.
Em resumo, considerando que a parcela que a iluminação pública ocupa no consumo total de energia
elétrica seja uma parte bastante relevante, e que é de suma importância não só para a economia dos
gastos públicos do país, mas também para a redução do consumo de recursos ambientais em nível
mundial, se adequar a essa nova tecnologia é um desafio que o país pode enfrentar na busca de um
ambiente construído mais sustentável.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a CAPES pelo apoio financeira para execução da pesquisa e a Universidade
Federal de Juiz de Fora, pela disponibilização dos laboratórios de estudo e equipamentos.
REFERÊNCIAS
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[2] EPE - EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA, Balance, Brazilian Energy. Balanço Energético Nacional. 2017.
[3] ELETROBRAS PROCEL. Gestão Energética Municipal. Guia técnico PROCEL GEM. Eletrobras/Ibam, Rio de
Janeiro, 2017.
[4] A. LAUBSCH; M. SABATHIL; J. BAUR; M. PETER; B. HAHN. “High-Power and High-Efficiency InGaN-Based
Light Emitters.” IEEE Transactions on Electronic Devices. Vol. 57, no. 1, pp 79 – 87, January, 2010.
[5] HELENE, O., & HELENE, A. F. Alguns aspectos da óptica do olho humano. Revista Brasileira de Ensino de
Física, 2011
[6] NOGUEIRA, F. J., SILVA, E. S., BRAGA, M. F., CAMPOS, M. F. C., CASAGRANDE, C. G., BRAGA, H. A. C.
“Retrofit Envolvendo Luminárias LED no Sistema de Iluminação Pública: Estudo de Caso da Universidade Federal
de Juiz de Fora”. XII Conferência Latino-Americana de Iluminação LUXAMÉRICA 2014. Juiz de Fora, 2014.
[7] T. MAGGI; M. A. DALLA COSTA; C.A. FURLANETTO; A.S. DOS SANTOS; M. TOSS. Estudo do Fluxo
Luminoso Necessário para Luminárias de Iluminação Pública de LEDs. XIX Congresso Brasileiro de Automática
Campina Grande – Paraiba, Setembro de. 2012
[8] C. R. B. S. RODRIGUES. Contribuições ao Uso de Diodos Emissores de Luz em Iluminação Pública. Tese de
Doutorado. Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, 2012
[9] CIE 191 - Recommended System for Mesopic Photometry Based on Visual Performance, 2010.
[10] R. HARROLD; D. MANNIE. A compendium of materials from the IESNA lighting handbook. IESNA Lighting
Ready Reaference, 9th edition. New York. 2003
[11] POIKONEN, T., MANNINEN, P., KÄRHÄ, P., IKONEN, E. “Multifunctional integrating sphere setup for luminous
flux measurements of light emitting diodes”. Review of Scientific Instruments, Vol. 81, Number 2, pp. 23102-1 -
23102-7, 2010.
[12] CASAGRANDE, Cristiano Gomes. Desafios da iluminação pública no Brasil e nova técnica de projetos
luminotécnicos fundamentada na fotometria mesópica. Tese de doutorado, Universidade Federal de Juiz de Fora.
2016.
Ludmilla Araújo Barbosa de CASTRO1, Belayne Zanini MARCHI2, Maria Teresa Gomes
BARBOSA3
1
Programa de Pós Graduação em Ambiente Construído/UFJF, Juiz de Fora, Brasil,ludmilla.castro@engenharia.ufjf.br
2
Programa de Pós Graduação em Ambiente Construído/UFJF, Juiz de Fora, Brasil, belaynez@hotmail.com
3
Programa de Pós Graduação em Ambiente Construído/UFJF, Juiz de Fora, Brasil, teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br
Resumo: A utilização da bicicleta, como meio de transporte, tem sido um dos diversos temas
recorrentes do século XXI relacionado à mobilidade urbana. Atualmente a sociedade enfrenta
inúmeros desafios relacionados à sustentabilidade, à economia e à mobilidade; portanto, o uso da
bicicleta se apresenta como fator chave na melhoria da qualidade de vida da população por ser um
meio de transporte autônomo, inclusivo e saudável, que é capaz de contemplar curtas e longas
distâncias. A infraestrutura cicloviária deve ter características amigáveis ao ciclista, fazendo que
suas viagens sejam cômodas e diretas, em um ambiente atrativo e seguro. Dentre os requisitos
principais em termos de infraestrutura, os pavimentos devem apresentar, dentre outras
características, coesão no acabamento, durabilidade, drenagem adequada e uniformidade da
superfície. Desta forma, o presente artigo objetivo, através de uma revisão da literatura, efetuar uma
análise comparativa, no que se refere ao desempenho e durabilidade dos pavimentos ecoeficientes
aplicáveis ao revestimento de ciclovias, destacando-se, ainda, as manifestações patológicas
recorrentes que possam comprometer a durabilidade da ciclovia e a segurança dos ciclistas, bem
como o custo de reparo a fim de prolongar a vida útil do sistema. Portanto esse trabalho auxilia na
escolha do tipo de pavimento que atenda as necessidades de viagens dos ciclistas.
Abstract: The use of the bicycle as a means of transportation has been one of several recurring
themes of the 21st century related to urban mobility. Today society faces numerous challenges
related to sustainability, economy and mobility; therefore, the use of the bicycle is a key factor in
improving the quality of life of the population because it is an autonomous, inclusive and healthy
means of transportation that is able to contemplate short and long distances. Cycle infrastructure
should have cyclist-friendly features, making traveling comfortable and straightforward in an
attractive and safe environment. Among the main requirements in terms of infrastructure, the
pavements must present, among other characteristics, cohesion in the finish, durability, adequate
drainage and uniformity of the surface. In this way, the present article aims, through a review of the
literature, to carry out a comparative analysis, regarding the performance and durability of eco-
efficient pavements applicable to the lining of bicycle lanes, also highlighting the recurrent
pathological manifestations that could compromise the durability of the bicycle lane and the safety
of cyclists, as well as the cost of repair in order to extend the life of the system. Therefore this work
assists in the choice of the type of pavement that meets the travel needs of cyclists.
Keywords: Eco-efficient materials, user safety, sustainability.
1. INTRODUÇÃO
Pode-se considerar a mobilidade urbana como sendo os deslocamentos de pessoas e cargas no
espaço urbano de uma cidade, aglomeração urbana e/ou metrópole [1] gerando uma significativa
influência no cotidiano das cidades e influenciando a qualidade de vida dos seus habitantes. Neste
contexto a gestão da mobilidade urbana tem potencialidade para lançar ações e reflexos em direção
a novos modelos baseado em concepções sustentáveis [2].
No Brasil uma cultura predominantemente voltada para automóvel como opção para circulação,
instituiu um cenário com atuais níveis de congestionamentos e impactos danosos ao meio ambiente
causados pelos elevados índices de Dióxido de Carbono lançado na atmosfera. Em paralelo ao uso
racional do automóvel e o investimento em transporte coletivo deve haver fomento ao uso de
transportes alternativos como a bicicleta para melhorar a qualidade de vida [3].
A bicicleta é o meio de transporte que apresenta menor consumo de energia primária sendo ideal
para deslocamentos urbanos de curtas distâncias. Seus benefícios são consideráveis tanto para
comunidade quanto para seus usuários [3]. Andar de bicicleta traz muitos benefícios, tanto pontuais
quanto globais e todos muito visíveis e eficientes, podemos citar como alguns desses benefícios:
transporte com emissão zero de CO2, mobilidade urbana eficiente um carro ocupa o espaço de
várias bicicletas evitando congestionamentos é também gastos com o recapeamento asfáltico,
condicionamento físico e mental, diminuição dos gasto com saúde pública e experimentação da
cidade em outro nível de percepção.
Todavia, mesmo a bicicleta sendo um transporte não poluente, de baixo custo de manutenção e
ainda contribuir para saúde do usuário, apenas 7,2% no Brasil usam esse utilitário como meio de
transporte de acordo com Sistema de Indicadores de Percepção Social sobre mobilidade urbana,
divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada [4]. Nesse caso podemos notar a cultura a
prevalência da cultura automotiva e ainda ressaltar que na maioria das vezes as cidades não
possuem infraestrutura adequada para a circulação segura e confortável do seu usuário [5]
Dessa forma, efetuou-se uma revisão bibliográfica acerca do tema, com base na ciclovia e no
desenvolvimento sustentável que possibilitaram apresentar os aspectos, perspectivas e
oportunidades de consolidação do uso de modo sustentável. A pesquisa efetuou uma análise
comparativa, no que se refere ao desempenho e durabilidade dos pavimentos ecoeficientes
aplicáveis ao revestimento de ciclovias, destacando-se, ainda, as manifestações patológicas
recorrentes que possam comprometer a durabilidade da ciclovia e a segurança dos ciclistas, bem
como o custo de reparo a fim de prolongar a vida útil do sistema.
Segundo [9], existe elementos básicos de projetos cicloviários, são ciclorotas, ciclofaixas e
ciclovias. As ciclorotas são vias de menos tráfego de carros e trânsito pouco intenso, com
velocidade de no máximo 30 km/h, que podem ser sinalizado ou não. Caso haja sinalização, ela é
feita por um emblema de bicicleta branco pintado no asfalto. Nesse caso não existe qualquer
proteção especial para os ciclistas, eles trafegam, preferencialmente, pela pista à direita, juntamente
com os veículos automotores [6]. Apesar de ser uma tipologia utilizada em cidades de pequeno
porte no Brasil, não será utilizada no escopo desse artigo.
As ciclofaixas consistiu uma faixa pintada no chão, sem segregação do resto dos veículos que
circulam na via, possuem a cor vermelha e a sinalização delas pode ser feita com “tartarugas” e
“olhos de gato” afixados ao chão. Embora não haja um bloqueio físico não é permitido aos carros e
ônibus trafegar na mesma, quanto ao fluxo e/ou velocidade dos automóveis oferecerem riscos
moderados ou limitação à circulação do ciclista funcionando i para vias com limite de 40km/h [9].
Ainda temos o conceito de ciclovia que corresponde a uma faixa segregada da via de circulação de
veículos motorizados e dos pedestres sendo segregada por espaços verdes e canteiros, grades e
muros, ou mesmo com o meio-fio podendo ser isoladas fisicamente do trânsito. A ciclovia é
indicada para avenidas e vias expressas, com velocidade de 50 km/h ou mais, pois protege o ciclista
do tráfego rápido e intenso. A separação é importante também para proteção contra abertura de
portas de veículos [6].
As ciclovias oferecem opções mais seguras e são melhores do que as ciclofaixas. Por manter o
ciclista separado do tráfego motorizado, o risco de conflito entre os grupos se minimiza. As
Ciclorrotas também podem ser chamadas de Ciclo Rede são rotas de uma certa área própria para
ciclistas, mas também pensada para pedestres de modo a ambos deslocarem com segurança e
tranquilidade afastados de vias de tráfego intenso, e locais perigosos [3].
Tendo como base toda a teoria supracitada é possível dar início à análise de alguns pavimentos que
podem ser utilizados nas ciclovias e ciclofaixas de forma a aumentar a segurança do usuário da via.
3. METODOLOGIA CIENTÍFICA
A partir dos conhecimentos adquiridos até este ponto é coerente exemplificar de que forma cada
pavimento pode ser aplicado para garantir, além da segurança dos ciclistas em suas viagens, altos
indicadores de sustentabilidade. Desta forma, esse trabalho se propõe a desenvolver uma análise
comparative dos tipos de pavimentos que podem ser utilizados em ciclovias e ciclofaixas sendo
imprescindível identificar vantagens e desvantagens de cada tipo utilizado.
4.PAVIMENTOS SUSTENTÁVEIS
Segundo Nagem, et.al. (2013), os revestimentos que utilizam concreto fotocatalíticos possuem
maior resistência à deformação permanente, ao desgaste, estão menos sujeito à variação térmica
além de possuírem alto desempenho e durabilidade [12].
Muitas cidades Brasileiras, que ainda não possuem uma estrutura cicloviária podem optar por
elaborar um projeto utilizando blocos de concreto fotocatalítico como uma estratégia para
minimizar o efeito dessa poluição oriunda dos veículos automotores. Essa tecnologia fundamenta-se
nos processos oxidativos avançados (POA), através de um processo químico de fotocatálise
heterogênea que incorpora dióxido de titânio (TiO2) ao cimento Portland a fim de elaborar
materiais com propriedades fotocatalíticas que são eficientes na degradação de poluentes
atmosféricos como os óxidos de nitrogênio (NOx) [12]. A forma como ocorre o processo pode ser
vista na figura 3, a seguir:
Fig. 3-Bloco de concreto Fotocatalítico
Os blocos de concreto fotocatalíticos podem ser fabricados com diversos pigmentos, com formatos
variados fazendo com que aplicação seja atrativa para pavimentação de calçadas e ciclovias, e ruas
com baixo e médio volume de tráfego. Além do mais, estes materiais podem ainda capacitar a
produção de superfícies não-deslizantes, importantes para reduzir os acidentes que ocorrem devido
à combinação de chuva e óleos absorvidos pelas superfícies dos pavimentos, o que torna oportuna a
utilização deste material para os projetos de ciclovias [13].
Inúmeras pesquisas relacionadas à captura de energia solar por meio de tecnologias inseridas ao
pavimento tem sido feita em todo o mundo. Investigações realizadas no instituto coreano - Korea
Institute- verificam possibilidade de captar a energia solar incidente nos pavimentos utilizando
células solares inseridas na estrutura [14]. Os pavimentos solares são compostos por painés de três
camadas, sendo a superior constituída de vidro texturizado de alta resistência, a intermediária para
coleta de energia e, por último, a placa que distribui toda captação de luz solar armazenada [15].
Apesar de muitos serem os pontos positivos dos painéis solares, alguns questionamentos sobre sua
durabilidade são questionáveis como, por exemplo, a segurança para o usuário (apesar de
texturizada a placa pode não responder à frenagem). Outra desvantagem está relacionada a
manutenção constante, uma vez que necessita de uma superfície livre de sujeira e óleo para uma a
produção de energia [14]. Exemplo de ciclovia que implementou o uso de placas fotovoltaicas é a
SolarRoad, em Amsterdam, que com apenas 1 ano de uso gerou aproximadamente 3000 kW/h/m²
de energia, superando o limite esperado de 70 kW/h/m² inicialmente estabelecido em laboratório.
Esyr tipo de pavimento pode ser verificado na figura 4, a seguir:
Fig. 4- Solar Road em Amsterdan
Apesar dos custos de geração desse tipo de energia sejam desconhecidos, é muito provável que a
eletricidade produzida pela SolaRoad seja relativamente cara, especialmente devido a pequena
escala [16]. Porém a energia produzida em períodos em há maior radiação solar pode ser
armazenada e utilizada de forma a iluminar as próprias ciclovias em períodos de pouca ou nenhuma
radiação solar, uma vez que um dos fatores que comprometem a segurança do ciclista está
diretamente associado a iluminação da via.
DRENAGEM
SERVIÇO DE
MANUTENÇÃO
• FISSURAS
SEGURANÇA DO USUÁRIO
INDICADOR DE • TRINCAS
•
DESLOCAMENTO DAS JUNTAS •
COLMATAÇÃO EM DRENOS •
FALHAS E QUEBRAS (ENTRE) PEÇAS •
ENVELHECIMENTO DAS PLACAS •
DESLOCAMENTO DAS JUNTAS
DESGRADAÇÃO • ABERTURAS
• DEFORMAÇÕES
DURABILIDADE
CONFORTO
AMBIENTAL
SUSTENTABILIDADE
INDICADORES DE
ECONÔMICO
SOCIAL
Legenda
PERIODIZADO INSUFICIENTE
Analisando, então a tabela 04, constata-se que as rodovias fotovoltáica, fotocatalítica, geopolímero
e de concreto são as que possuem maior durabilidade e vida útil. Porém é necessário que se faça
uma análise pormenorizada com relação aos outros elementos da tabela.
O pavimento drenante atende adequadamente a todos os indicadores de sustentabilidade, além de
alta oferecer conforto ao rolamento Outra qualidade a seu favor é o preço, possui baixo custo para
comprar, instalar e realizar a manutenção. Entretanto, é necessário que haja manutenção constante
para evitar a colmatação dos poros, que pode reduzir e até mesmo eliminar a capacidade drenante
do pavimento.
O pavimento fotocatalitico é atualmente um dos métodos mais estudados para o combate da
poluição do ar em grandes cidades, característica que o faz atender o indicador ambiental de
sustentabilidade. Outro ponto positivo com relação a este pavimento está relacionado a sua
capacidade auto limpante. Porém, apresenta insuficiencia nos indicadores de sustentabilidade
economicos e sociais, além de necessitar periodicamente de manutenção.
Com relação ao pavimento fotovoltaico, apesar dos pontos positivos dos painéis solares,há alguns
questionamentos sobre sua durabilidade pois a agressividade ambiental a qual o painel está inserido;
pode causar quebra das placas, comprometendo assim a segurança do usuário. Outra desvantagem
está no seu alto custo de implantação.
O pavimento geopolímero apresenta alta durabilidade com vida útil, necessita de pouca
manutenção, possui baixo custo e atende adequadamente o requisto de sustentabilidade ambiental
por utilizar polímeros em substituição ao cimento Portland que é altamente poluente, Outra grande
vantagem está relacionado a baixa absorção de calor por esse tipo de pavimento.
6. CONCLUSÃO
REFERENCIAS
[1] I. N. Pazzini, “O GESTOR PÚBLICO E A RELEVÂNCIA AMBIENTAL DA IMPLANTAÇÃO DE
BIODIGESTORES NA ZONA RURAL DOS MUNICÍPIOS: O CASO DE,” Curitiba, 2013.
[7] J. P. Amaral, D. Guth, M. Maciel, and Et.al, A bicicleta no Brasil 2015. 2015.
[12] N. F. Nagem, ““Geopolímero a partir de resíduos oriundos da indústria de alumínio para reutilização e
coprocessamento,” Bolo Horizonte, 2013.
[13] J. V. S. de Melo, G. Triches, J. Vilhena, and R. Knabben, “Pavimento de blocos de concreto fotocatalítico |
Téchne,” edição 172, 2011. [Online]. Disponível: http://techne17.pini.com.br/engenharia-civil/172/pavimento-
de-blocos-de-concreto-fotocatalitico-285876-1.aspx. [acesso: 25-Sep-2018].
[16] R. van Rooij, “Dutch solar bike path SolaRoad successful,” Clean Technica, Dutch, 2017.
[19] F. Pacheco-Torgal, J. P. Castro-Gomes, and S. Jalali, “Adhesion characterization of tungsten mine waste
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[20] V. Živica, M. T. Palou, and M. Križma, “Geopolymer Cements and Their Properties: A Review,” Build.
Res. J., vol. 61, no. 2, pp. 85–100, Mar. 2015.
A IMPORTÂNCIA DO EMPREGO DE MATERIAIS RETARDANTES
AO FOGO NAS GALERIAS COMERCIAS DA CIDADE DE JUIZ DE
FORA
The use important of lower ignition building materials in commercial galeries in Juiz
de Fora city.
Abstract: This model has the purpose of presenting the format of the complete articles, submitted
to the scientific committee of the VI Congress of Civil Engineering - CONENGE6. The standard for
submission shall be unique and shall comply with the editorial instructions of this document. Full
papers must have a minimum of 10 pages and a maximum of 15 pages, including all its elements.
The abstract should not exceed 400 words and be in English, necessarily.
Para que ocorra um incêndio são necessários quatro elementos, comumente denominado por
“Tetraedro do Fogo”, a saber: calor, combustível, comburente e reação em cadeia. No entanto,
consideráveis quantidades de materiais combustíveis, para queimar, não necessitam do calor de uma
chama (aproximados valores entre 500°C e 1000°C) mas, dependendo do ponto de ignição, basta o
contato com metais ou outros materiais aquecidos para que atinjam a ignição. Como exemplo,
podemos citar que a gasolina atinge sua ignição a 280°C e basta aproximar um ferro aquecido a
400°C (sem chama) que é o suficiente para causar uma explosão. O Cel. Orlando Secco (1982) já
dizia que as causas de um incêndio podem ser classificadas em três tipos:
Causas Humanas: culposas e criminosas; Causas Naturais; Causas Acidentais: elétricas,
mecânicas e químicas.
A cidade de Juiz de Fora tem como característica marcante a concentração do elevado número de
galerias comerciais no centro da cidade. As mesmas são formadas por corredores de largura variada
que atravessam ou apenas cortam o quarteirão, compostas por lojas no pavimento térreo, que
possibilita uma concentração de comércios e circulação de pessoas pelo interior das quadras. A
grande maioria das galerias possui mais de um pavimento, formada por mais de uma edificação,
podendo ser de quatro tipos: somente comercial composta de uma edificação; somente comercial
composta de mais de uma edificação; mista (comércio e residência) composta de uma edificação e
mista (comércio e residência) composta de mais de uma edificação.
A falta de afastamento entre as edificações, a variabilidade dos tipos construtivos e das alturas, a
diversificação do comércio, presença de imóveis tombados e generalização inadaptável das
legislações dos bombeiros às características do centro de Juiz de Fora, impedem que os imóveis da
área central, principalmente que contemplam as galerias comerciais, tenham aprovação de projetos
de prevenção e combate a incêndio. Tais projetos visam proporcionar condições de segurança
contra incêndio e pânico aos ocupantes da edificação, minimizar os riscos de propagação do fogo,
proporcionar meios de controle e extinção do incêndio e garantir as intervenções de socorro e
urgência.
O objetivo deste trabalho é apontar as características das galerias mistas, na região de estudo, com
mais de 5 (pavimentos), na área compreendida entre as avenidas: Barão do Rio Branco, Presidente
Itamar Franco e Francisco Bernardino, também conhecida pelo Corpo de Bombeiros como
“Triângulo do fogo central” (Figura 1) e apresentar uma proposta passível de implementação para
assegurar a segurança dos usuários e mitigar as consequências de um incêndio.
Figura 1 –Delimitação da área estudada. Fonte: Adaptada do google mapas de 7/7/2016.
2. PREVENÇÃO DE INCÊNDIO
De acordo com a Lei Estadual nº 14.130/2001 e Decreto Estadual nº 44.746/2008, toda edificação
destinada ao uso coletivo (seja residencial, comercial, industrial, etc.) deve ser regularizada junto ao
Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais - CBMMG. Como forma de certificar a segurança da
edificação regularizada, o CBMMG criou o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB),
documento emitido após a verificação das medidas de segurança instaladas em conformidade com o
Projeto de Segurança Contra Incêndio e Pânico (PSCIP) - composto pela documentação que contém
informações sobre edificações ou áreas de risco e o respectivo projeto técnico contendo as medidas
de segurança contra incêndio e pânico, que deve ser apresentada no CBMMG para avaliação em
análise técnica - visando garantir à população a segurança mínima contra o sinistro. [2]
Atualmente, o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais usufrui de 41 Instruções Técnicas (IT),
sendo que a 30 e a 36 estão suspensas. Tais instruções são elaboradas com o objetivo de normalizar
medidas e procedimentos de segurança, prevenção e proteção contra incêndio e pânico nas
edificações e áreas de risco. Cabe ressaltar que incêndio é definido como o fogo sem controle. [3]
Nenhum incêndio é passível de ser totalmente evitável. Cabe a nós garantirmos que, quando de sua
ocorrência, o mesmo seja passível de extinção de forma rápida e segura. Existem duas formas de
proteção contra um incêndio: a ativa e a passiva. A forma ativa caracteriza-se pela aplicação de
medidas como acessibilidade ao lote (afastamentos) e ao edifício (janelas e outras aberturas), rotas
de fuga (corredores, passagens e escadas), compartimentação, entre outros. A forma passiva pela
instalação de dispositivos como extintores, hidrantes, chuveiros automáticos (sprinklers), sistemas
de iluminação de emergência, alarme, entre outros.
Existem três formas de propagação do calor de forma individual ou combinadas: condução,
convecção e irradiação. Ele é transferido dos corpos de maior temperatura para os de menor até o
equilíbrio de suas energias, sendo a causa direta da queima de material e de outras formas de danos
pessoais onde incluem desidratação, insolação, fadiga e problemas para o aparelho respiratório,
além de queimaduras que podem levar até a morte. [5]
Considerando a geografia da cidade de Juiz de Fora, é quase impossível a aplicação de medidas
ativas nas edificações da região central, local de maior concentração de comércio e fluxo de
pessoas, onde encontra-se uma grande quantidade de galerias comerciais que atravessam grandes
quarteirões.
Devido as galerias centrais englobarem mais de uma classificação de edificação e áreas de risco
quanto à ocupação, conforme Tabela 01 do Decreto Estadual nº 44.746/2008, priorizamos aqui as
galerias que comportam edificações classificadas de Média a Alta Altura, conforme a Tabela 02 do
mesmo decreto, devido a grande quantidade mínima de medidas de segurança contra incêndio que
são exigidas para aprovação de projeto e posterior liberação do AVCB. Para o corpo de bombeiros,
uma edificação de média altura é aquela que possui mais de doze metros, medindo do piso do térreo
até o piso do último pavimento, ou seja, consideramos edificações com mais de cinco pavimentos.
Cabe ressaltar que as galerias são formadas por várias edificações e, todas aquelas que possuem no
mínimo uma galeria com cinco pavimentos, foi considerada neste estudo.
Situada na Zona da Mata em Minas Gerais, originou-se a partir da abertura do caminho novo,
estrada criada em 1707 para o transporte do ouro da região de Vila Rica (Ouro Preto). Ao longo da
margem da estrada, diversos povoados foram surgindo estimulados pelo movimento das tropas que
ali transitavam rumo ao porto do Rio de Janeiro. A elevação à cidade ocorreu em 1865, quando foi
adotada a denominação de Juiz de Fora. O IBGE estima que a população de Juiz de Fora em 2018 é
de 564.310 pessoas. Considerando a população flutuante, podemos considerar que este valor
ultrapassa os 700.000. A cidade ocupa a quarta posição no ranking das mais populosas do estado,
atrás de Contagem (658.580), Uberlândia (676.613) e a capital Belo Horizonte (2.523.794). O
município é o 37° no ranking nacional e o 17° entre aqueles que não são capitais, mas que possuem
mais de 500 mil habitantes. (https://diarioregionaljf.com.br/2017/08/30/ibge-afirma-que-juiz-de-
fora-e-a-quarta-cidade-mais-populosa-do-estado/). Aberta em 1853, a Rua Halfeld é considerada a
Rua central de ligação entre as demais vias de grande fluxo de pessoas na região central. Em 15 de
novembro de 1975 foi inaugurada a principal alteração na Rua Halfeld: O Calçadão, que
transformou a parte central da rua em área exclusiva para pedestres. A região do centro, de acordo
com a classificação do Plano Diretor de Juiz de Fora, possui 06 Unidades de Planejamento,
englobando 24 bairros. Simboliza o “coração” da cidade, apresenta grandes concentrações de
população e de atividades e é marcado pela heterogeneidade tanto em termos demográficos quanto
sob a ótica do nível de renda e de funções.
Na Área Central, compreendida pelo triângulo maior formado pelas Avenidas Barão do Rio Branco,
Presidente Itamar Franco e Francisco Bernardino, incorporando as Praças Antônio Carlos e Dr. João
Penido (Praça da Estação), o Parque Halfeld e os seus entornos, está concentrada a maior
diversidade de atividades urbanas, sejam elas comerciais, culturais, prestadoras de serviços,
residenciais ou institucionais. A saturação desta área, sobretudo quanto ao tráfego veicular, a
excessiva verticalização concentrada, o conflito entre o patrimônio histórico e a renovação urbana,
são pontos fundamentais a serem estudados, com vistas, acima de tudo, à prevenção de sinistros. De
acordo com informações fornecidas pelo Departamento de Cadastro Imobiliário Municipal da
Secretaria de Atividades Urbanas da Prefeitura de Juiz de Fora na data de 20/11/ 2014, na área aqui
trabalhada, existe um total de 767 lotes com 14.410 imóveis, sendo estes classificados de acordo
com as tabelas 1.1 e 1.2:
Tabela 1.1 Quantidade de imóveis de acordo com o Tabela 1.2 Quantidade de imóveis de acordo com o tipo
destino o qual são utilizados. [Fonte: Departamento de de utilização. [Fonte: Departamento de Cadastro
Cadastro Imobiliário Municipal da SAU-PJF] Imobiliário Municipal da SAU-PJF]
4. GALERIAS COMERCIAIS
Não foram encontradas definições claras do que seria considerada uma galeria comercial nem para
Prefeitura no Código de Obras da cidade e na Lei de Uso e Ocupação do Solo, nem para os
Bombeiros em suas Instruções Técnicas e normatizações e nem no dicionário. As definições de
galeria, travessa, beco, servidão ou uma via de passagem se sobrepõe e se contradizem em todas as
referências. Assim como na arquitetura, todos possuem suas próprias definições do que seria uma
galeria comercial. O arquiteto Frederico Braida conceitua as galerias como “passagens que servem
para ligar uma rua à outra através de um edifício, geralmente ladeada por lojas comerciais”1. Braida
(2011, p.17) emprega o termo passagem em seu trabalho, definindo-o como “local por onde
caminham os pedestres”. Sendo assim, para efeito desta pesquisa a fim de organizarmos as
características levantadas, consideraremos Galerias Comerciais como:
Com a missão de permitir o maior fluxo de pessoas entre as quadras da região central, que possuem
dimensões em torno de sessenta metros de largura por oitenta de comprimento, aumentar o número
de lojas permitindo a circulação das pessoas entre vitrines e permitir o acesso dos moradores em
edificações no interior do quarteirão, a partir da década de 1920, as galerias comerciais, com
destaque para o primeiro exemplar delas a Galeria Pio X – precursora desta nova tipologia em todo
o estado de Minas Gerais e para duas outras galerias resultantes de um espaço residual nas laterais
de um grande teatro (Theatro Central), a tipologia urbana e arquitetônica que se inseriria na cidade
tinha a função de elementos transitórios entre ruas e trazia para Juiz de Fora a característica
tipológica de transgressão de quadra. O princípio da galeria é permitir maiores áreas exclusivas para
pedestres quando o volume do trânsito no centro tornou-se pesado. A Figura 02 aponta o
posicionamento aproximado de cada galeria levantada neste trabalho onde as vermelhas são aquelas
com mais de cinco pavimentos.
Cabe ressaltar que, priorizando a questão do risco de incêndio, os edifícios que apresentam: um
corredor de passagem no primeiro pavimento, composto de estabelecimentos comerciais no térreo,
residenciais ou de prestação de serviço nos demais, com uma ou mais saídas para a via pública, que
contém a portaria de entrada da edificação com acesso por dentro deste corredor de passagem e
permite a circulação pública livre no pavimento térreo, também foram considerados relevantes para
esta pesquisa por conter características similares às galerias. Apesar de se tratarem de unidades
autônomas, independentes e com apenas um condomínio, seus posicionamentos nas grandes
quadras sem afastamentos laterais nem isolamento de compartimento, também dificultam a
liberação do AVCB. Devido à edificação permitir o acesso livre da população no primeiro
pavimento para alcançar o comércio e salas de serviço em seu interior, fica aqui entendido como a
presença de pessoas estranhas – não familiarizadas com o local – que desconhecem a dinâmica de
funcionamento do prédio, suas rotas de fuga e seus equipamentos de combate a incêndio,
equiparando-se aos riscos encontrados nas galerias comerciais.
As galerias comerciais de Juiz de Fora não possuem um padrão pré-elaborado que possamos
considerar. A característica específica de todas elas é a presença de lojas comerciais no pavimento
térreo e abertas ao público no período diurno. As demais características levantadas que variam entre
elas foram:
Tabela1.3 Características físicas utilizadas para classificar as galerias comerciais de Juiz de Fora.
A categoria das lojas vai desde o pequeno comércio até grandes centrais atacadistas, de “pronta-
entrega”. Devido a largura das quadradas favorecer a construção de grandes lojas com mais de
200m² algumas dessas áreas foram utilizadas para abertura de pequenos “camelôs” formando um ou
dois corredores dentro delas. Os “camelôs” aqui chamados, são pequenos espaços entorno de 5m²,
separados por divisórias de madeira ou PVC, sem cobertura individual, os quais utilizam toda
iluminação e ventilação em conjunto. Tais categorias foram aqui também consideradas como
galerias comerciais por apresentarem tal formação já a alguns anos na cidade, ser frequente a
abertura/aproveitamento de grandes lojas com esse tipo de formação e por apresentarem os riscos
iguais ou até maiores do que as galerias comerciais tradicionais. Cabe ressaltar que este tipo de
aproveitamento de loja sendo transformado em galeria também foi identificado em São Paulo, Rio
de Janeiro e Belo Horizonte, ou seja, demonstra a importância de uma Norma mínima de segurança
para estabelecimentos com essas características no Brasil.
Quem tem um mínimo de conhecimento técnico sobre Prevenção e Combate a Incêndio basta andar
pelas galerias que identificará os riscos que são proporcionados pela falta de instrução, consciência
e fiscalização no comércio central. Como a maioria das lojas possui seus depósitos no 2º pavimento
ou em mezaninos, pilhas de caixas de papelão e plásticos são amontoadas em condições precárias
nas sobrelojas. A presença de várias lanchonetes também potencializa o risco de incêndios por
utilização de gás de cozinha e óleos quentes. A grande maioria das lojas atualmente possui ar-
condicionado, ventiladores mais potentes, cafeteiras elétricas e até micro-ondas. Devido às
edificações serem datadas com mais de trinta anos de idade, diversos incêndios já ocorreram
causados por curtos-circuitos por falta de manutenção ou sobrecarga da rede. A manutenção das
instalações elétricas não acompanhou o rápido crescimento da utilização de materiais elétricos
assim como as condições precárias e “temporárias” que formam verdadeiros „gatilhos‟ nas
instalações potencializando o risco de sinistros como exemplificado na Figura 2.
O Decreto n°46.595 de 10/09/2014 em seu ART 3º, XXXVI, define: “- risco: exposição ao perigo e
a probabilidade da ocorrência de um sinistro;”. De acordo com a Tabela 4 do mesmo decreto -
Classificação do Risco Quanto à Segurança Contra Incêndio e Pânico – consideramos que as
quadras da área central de Juiz de Fora e, consequentemente as galerias pertencentes a elas, são
classificadas com o RISCO ALTO: “Edificação ou área de risco que não possui compartimentação,
isolamento de risco ou sistema eficaz automático de combate a incêndio, permitindo em caso de
incêndio, a possibilidade de propagação deste para outras divisões e/ou níveis...”
Figura 2 - Teto de uma loja localizada na Rua Barão de
São João Nepomuceno. Durante a reforma ficaram
expostas as condições precárias e inadequadas das
instalações elétricas, e próximas ao isolamento de espuma
(material inflamável). Esta situação é inadequada e
comumente encoberta por forros de gesso ou PVC. [acervo
próprio – data: 03/05/2015]
Mas não adianta equipar o local com dispositivos de combate a incêndio ou rotas de fuga se não
houver a correta orientação, o correto treinamento e sinalização adequados. A grande maioria da
população não sabe utilizar um extintor de incêndio e nem mesmo os próprios funcionários das
lojas sabem onde os mesmos ficam localizados. Assim como é necessária a manutenção periódica
de todos os dispositivos de alarme, iluminação e combate a incêndio.
A Instrução Técnica 05 determina critérios para isolar externamente os riscos de propagação do
incêndio por radiação de calor, convecção de gases quentes e transmissão de chama, para evitar que
o incêndio proveniente de uma edificação se propague para outra, ou retardar a propagação
permitindo a evacuação do público até a chegada dos bombeiros. Esta Instrução Técnica aplica-se a
todas as edificações, independentemente de sua ocupação, altura, número de pavimentos, volume,
área total e área específica de pavimento, para considerar-se uma edificação como risco isolado em
relação à (s) outra (s) adjacente (s) na mesma propriedade. O tipo de propagação e o consequente
tipo de isolamento a ser adotado dependem do arranjo físico das edificações que, por sua vez,
determinam os tipos de propagações. No centro de Juiz de Fora, as situações tipicamente
encontradas são:
a) Propagação do fogo entre duas b) Propagação do fogo entre O recomendado seria que as
edificações geminadas, pelas edificações geminadas, por meio da edificações que não possuem
aberturas localizadas em suas cobertura de uma edificação de espaçamento entre si mas sim que
fachadas e/ou pelas coberturas das menor altura e a fachada de outra
mesmas, por transmissão direta de edificação, por transferência de fossem separadas por parede corta-
chamas e convecção de gases energia. fogo entre as edificações contíguas
quentes. (Figura 5).
A Instrução Técnica 02 do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais tem como pré-requisito para
liberação do AVCB que a edificação em análise tenha uma distância de segurança entre as
adjacentes conforme os critérios na IT (isolada), ou, que a edificação seja compartimentada. A
distância mínima de segurança é o afastamento entre uma face exposta da edificação ou de um local
compartimentado à divisão do lote, ao eixo da rua ou a uma linha imaginária entre duas edificações
ou áreas compartimentadas do mesmo lote, medida perpendicularmente à face exposta da
edificação. Compartimentar é separar um ou mais locais da edificação por intermédio de paredes
resistentes ao fogo, portas, selos e “dampers” corta fogo. A compartimentação tem como
características básicas a vedação térmica e a estanqueidade à fumaça, onde o elemento construtivo
estrutural e de vedação possui resistência mecânica à variação térmica no tempo requerido de
resistência ao fogo – TRRF, determinado pela norma correspondente, impedindo a passagem de
calor ou fumaça, conferida à edificação em relação às suas divisões internas como na figura 5.
A Instrução Técnica 05 no item 2.3 afirma que “as edificações situadas no mesmo lote que não
atenderem às exigências de isolamento de risco serão consideradas como uma única edificação para
o dimensionamento das medidas de proteção previstas no Regulamento de Segurança Contra
Incêndio e Pânico nas edificações e áreas de risco do Estado de Minas Gerais”. Tal exigência
impede o corpo de bombeiros de aprovar qualquer projeto apresentado sem que a edificação seja
considerada compartimentada pois nenhuma edificação nos quarteirões centrais que contém galerias
comerciais são isoladas. Sendo assim, como exemplo dos quarteirões entre as ruas Halfeld,
Marechal Deodoro e Mister Morre, seria necessário que todos os 36 e 46 imóveis apresentassem o
PSCIP e fossem aprovados de uma só vez por quadra. Outra dificuldade encontrada pelos
bombeiros, excluindo a questão da falta de isolamento, é de quem cobrar o projeto dentro da
galeria. A maioria das galerias são formadas por mais de uma edificação e, a área de comércio da
galeria muitas vezes possui um condomínio diferente da área residencial, causando conflitos em
quem vai arcar com os custos. Devido a galeria ser uma via de circulação pública, os condomínios
alegam que a Prefeitura é quem deve arcar com as custas do projeto e instalação dos equipamentos.
A falta de legislação sobre prevenção e combate a incêndio que estipulem as condições mínimas de
segurança nos estabelecimentos das galerias comerciais, unidas a flutuação constate dos tipos de
comércio devido a crise econômica e variação imobiliária, propiciam uma desorganização dos
ambientes facilitando as instalações precárias e clandestinas que colocam em risco o local e seu
entorno. Atualmente, assim como desde anos atrás, o efetivo do corpo de bombeiros é insuficiente
para que hajam vistorias anuais nos estabelecimentos comerciais em uma cidade de tal porte.
Mesmo que haja uma vistoria a cada três ou cinco anos, uma loja que hoje abre como sapataria, em
dois anos ou menos pode passar a funcionar um restaurante. Assim, faz-se necessário que sejam
estipuladas condições mínimas de segurança antes da instalação de qualquer tipo de comércio no
centro, previamente autorizadas pelo corpo de bombeiros.
5. METODOLOGIA DE PESQUISA
Para efeito desta pesquisa, das 61 galerias identificadas no centro, prioriza-se o estudo daquelas
acima de 5 (cinco) pavimentos onde 29 (vinte e nove) galerias foram assim classificadas, mapeadas
e suas características levantadas a fim de se identificar aspectos comuns, particularidades e,
posteriormente, ser feita a análise dos dados e como eles influenciam na dificuldade de
aplicabilidade das Normas em Projetos de Prevenção e Combate a Incêndio - PPCI - gerando risco à
população. De acordo com os estudos feitos em campo e conclusão das análises, correções e
propostas de melhorias utilizando materiais retardantes do fogo como forma passiva de combate a
incêndio foram apresentadas visando à mitigação dos riscos.
Cumpre esclarecer que os estudos efetuados em campo e as análises, possibilitam apresentar
propostas de melhorias e correções visando à mitigação dos riscos e não a garantia de que um
sinistro nunca irá acontecer. Nesse sentido, foram coletadas as seguintes informações acerca das 29
galerias estudadas:
1) Dados Gerais: consiste na identificação: Nome (incluindo Lei e decreto de denominação);
Endereço; Coordenada geográfica; Largura; Comprimento de entrada até o ponto mais
distante; Número de pavimentos e composição dos mesmos (serviço/residência); Número de
estabelecimentos comerciais.
2) Dados Construtivos: Tipo de cobertura: telhado, laje, descoberta ou mista.
3) Dados Preventivos: Número de rotas de fuga; AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de
Bombeiros); Hidrantes; Sinalização de emergência; Iluminação de emergência; Extintores;
Escada de emergência; Sprinklers; Brigadistas.
6. RESULTADOS E ANÁLISES
Devido às condições inviáveis de adaptação estrutural das edificações que compõem as galerias,
medidas passivas devem ser adotadas a fim de minimizar os riscos de ocorrência de incêndio e as
consequências caso venham a ocorrer.
- As áreas de uso comum e principalmente as rotas de fuga devem utilizar materiais retardantes do
fogo como tintas intumescentes, revestimentos e argamassas apropriadas, evitar carpetes, cortinas e
forros que costumam ser altamente inflamáveis. No caso da utilização destes materiais, aplicar
tintas ou verniz antichamas nos mesmos, assim como nas paredes e pisos;
- As áreas de uso comum e principalmente as rotas de fuga também devem ser dotadas de piso ante
derrapante e retardante de chamas e iluminação e sinalização adequados.
- Nos casos em que as edificações não possuem escadas com dimensões e características mínimas
que garantem uma evacuação segura da edificação, recomenda-se um estudo específico de cada
propriedade a fim de analisar a possibilidade de criar uma saída de emergência para outra edificação
adjacente, seja por porta, escada, vão ou passagem.
- Devem ocorrer periódicas vistorias técnica nas instalações elétricas, que devem ser efetuadas a
cada, no máximo, 3 anos, mediante acompanhamento, projeto e laudo de um profissional habilitado.
Um estudo do número de instalações, equipamentos e voltagem máximos permitidos nas lojas e nas
dependências das edificações devem ser pré-estabelecidos para cada edificação assim como a
utilização de cabeamento com maior TRRF.
- Orientação e treinamento de todos os funcionários do comércio nas galerias;
- Para edificações antigas que não suportam a instalação de uma caixa d`água para reserva de
incêndio, deve-se analisar a possibilidade de instalação de hidrantes de recalque junto a CESAMA
(companhia de água e saneamento local).
8. CONCLUSÃO
O crescimento da cidade de Juiz de Fora, assim como em todo Brasil, não foi acompanhado pela
atualização das legislações de prevenção e combate a incêndios. A modernização dos aparelhos
eletrônicos, o dinamismo do comércio central e o aumento populacional exigem que medidas
preventivas adequadas às condições atuais e visando as futuras, sejam tomadas em caráter urgente.
Assim como nas edificações tombadas, é necessária a criação de uma instrução técnica, decreto ou
lei que sejam passíveis de aplicação nas galerias comerciais não só de Juiz de Fora, mas todas que
contenham suas características físicas. Apesar da importância da utilização de materiais retardantes
do fogo como forma compensatória de mitigação de risco de incêndio nas edificações, nota-se a
deficiência do mercado em disponibilizar produtos com garantia, preço e certificação de qualidade.
A precária procura destes produtos não incentivam os comerciantes a desenvolverem novos
materiais o que encarece em muito a sua aquisição.
De nada adianta você equipar um local se não houver um treinamento da população tanto residente
quanto temporária. Os funcionários do prédio ou condomínio são as pessoas mais adequadas e
essenciais a terem um treinamento de combate primário e evacuação, pois são as pessoas que
conhecem a rotina do local e os moradores podendo identificar e ajudar os idosos, crianças e
deficientes numa situação de sinistro.
Conclui-se então que, as galerias comerciais de Juiz de Fora são verdadeiros corredores de
passagem de pedestres entre edificações, que atravessam quarteirões, com variadas características
físicas que proporcionam um aumento do risco da ocorrência de incêndio e que necessita de uma
importância ímpar de atenção para que medidas mitigadoras de ocorrência de incêndio sejam
adotadas visando a preservação do patrimônio e proteção da vida.
REFERÊNCIAS
[1] SECCO, CEL. ORLANDO. Manual de Prevenção e Combate de Incêndio, ABPA, São Paulo,
v. 3, p. 218, 1982.
[2] QUAGLIO. JENIFER PUNGIRUM, A Pré Disposição a Incendio no Centro de Juiz de Fora.
UJFJ, p. 50, 2015.
[3] MINAS GERAIS. Decreto nº 44.270, de 31 de março de 2006 – Regulamenta a Lei n°14.130,
de 19 de dezembro de 2001, que dispõe sobre a prevenção contra incêndio e pânico no
Estado e dá outras providências. Disponível em http://www.bombeiros.mg.gov.br/.
MECANISMOS DE DEGRADAÇÃO DAS ESTRUTUTRAS DE CONCRETO
ARMADO EXPOSTAS AO AMBIENTE: RECUPERAÇÃO E REFORÇO DA
ESTRUTURA DA TORRE DA CTBM
Eng. Jéssica Ferreira Gonçalves 1, Antônio Eduardo Polisseni, D. Sc. 2, Maurício Leonardo
Aguilar Molina, D. Sc ³, Eng. Victor Hugo Castañon de Mattor Júnior, M. Sc. ⁴
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, jessica.ferreira2012@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, aepolisseni@gmail.com
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mauricio.aguilar@engenharia.ufjf.br
⁴ Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, vhcmj@oi.com.br
Resumo: As estruturas de concreto armado sofrem cada vez mais com diversas manifestações
patológicas quando estão expostas ao meio ambiente, ficando suscetíveis a vários agentes que
podem degradá-las e até mesmo levá-las ao colapso. O presente artigo apresenta, de forma a
conscientizar os profissionais da área, as possíveis origens e causas dos diversos mecanismos de
degradação que podem atacar as estruturas de concreto armado frente a exposição ao meio
ambiente, assim como apresenta suas respectivas manifestações patológicas, caracterizando-as e
identificando-as conforme suas causas. É apresentado também uma solução para recuperação e
reforço de uma estrutura de concreto armado, sendo apresentado no estudo de caso, o qual trata da
estrutura da torre de concreto armado que sustenta um reservatório metálico de água e que está
localizada no estacionamento do atual Centro Cultural e Mercado Municipal Bernardo
Mascarenhas, antiga Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas (CTBM). Assim, foi proposto um
projeto contemplando a recuperação da camada de concreto e das armaduras degradadas e o reforço
da estrutura da torre utilizando fibra de carbono. Essa proposta de recuperação e reforço da estrutura
da torre, estimada em mais de R$ 135 mil reais, foi elaborada por se tratar de um elemento do
patrimônio histórico cultural da cidade de Juiz de Fora, apresentando à impossibilidade da sua
demolição e encontrando-se em estado bastante avançado de degradação das armaduras por
corrosão, resultado das mudanças do meio ambiente de exposição no decorrer dos anos. As
conclusões obtidas nesse artigo foram positivas e apresentam uma ampla visão sobre os diversos
mecanismos de degradação aos quais as estruturas de concreto armado estão suscetíveis, além de
demonstrar solução de recuperação e reforço de estruturas de concreto armado, podendo essas
estruturas serem ou não demolidas.
1. INTRODUÇÃO
As estruturas de concreto armado são amplamente utilizadas em diferentes tipos de construções
devido ao seu fácil acesso e utilização. São soluções econômicas cujos materiais constituintes
possuem características favoráveis como a trabalhabilidade, durabilidade e resistência a altos
esforços mecânicos. Dessa forma o concreto armado tem sido muito procurado e definido como
escolha principal para fins estruturais (CARVALHAIS et al, 2017 apud MARTINS e FIORITI,
2016).
O concreto armado é uma técnica construtiva que vem sendo empregada, desde o final do século
XIX, em diversos tipos de edificações como pontes, prédios residenciais e comerciais, casas,
viadutos, obras hidráulicas entre outras, e que inicialmente era empregada em apenas tubulações
hidráulicas e embarcações, tendo sido inventada em meados desse mesmo século na região europeia
(SANTOS, 2006).
Apesar dos pontos positivos para o emprego dessa técnica construtiva, é importante ressaltar que
como tudo na vida, ela possui características desfavoráveis. As estruturas de concreto armado
sofrem com a ocorrência de manifestações patológicas com o decorrer do seu envelhecimento,
podendo causar de pequenos à grandes problemas. Mas por serem estruturas constituídas de
concreto e este material ter sido considerado por muitos anos como altamente resistente e com uma
durabilidade eterna, não havia grande preocupação no início quanto a estas manifestações, pois até
então aparentava ser uma ocorrência normal. A atenção para essas ocorrências teve um apogeu
quando estas manifestações passaram a surgir cada vez mais cedo, degradando as estruturas antes
mesmo que estas chegassem em uma idade mais avançada e resultando na redução da sua vida útil.
Com menos de 20 anos de uso, muitas dessas estruturas passaram a precisar de ações corretivas
generalizadas por apresentarem-se degradadas em tão pouco tempo (ANDRADE, 2005).
Assim como alguns outros países o Brasil encontra-se ainda em evolução e mesmo já existindo
algumas normas técnicas, métodos e estratégias para o aumento da durabilidade, desempenho e vida
útil do concreto armado, é necessário conscientizar profissionais e proprietários dos problemas que
podem e vão enfrentar: as manifestações patológicas frente as condições de exposição ao ambiente.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Para se evitar altos níveis de deterioração, saber proceder frente as suas ocorrências e garantir a
durabilidade dos reparos exigidos é de extrema importância conhecer as causas das degradações
estruturais (SOUZA e RIPPER,1998).
Dividindo as causas de degradação em função da sua natureza, pode-se citar as quatro causas
principais responsáveis pela redução da durabilidade do concreto armado. São elas:
o Causas mecânicas;
o Causas físicas;
o Causas químicas;
o Causa eletroquímica.
Pode existir um ou mais agentes atuantes para todos os tipos das causas da deterioração. Esses
agentes interagem com o concreto e com o aço através dos mecanismos de degradação e reduzem,
gradativamente, o desempenho dos elementos estruturais. A água é um dos agentes contribuinte na
deterioração das estruturas e deve receber grande atenção. Pois seu papel é de agravamento em
quase todos os mecanismos de degradação do concreto armado (ANDRADE, 2005).
A seguir é representado um resumo, Tabela 2.6, que está dividida entre as quatro principais causas
de degradação do concreto armado e torna possível uma breve análise dos respectivos mecanismos
de deterioração, suas manifestações patológicas e os locais diretamente afetados.
Tabela 1 – Resumo das causas, mecanismos e sintomas da deterioração do concreto armado adaptado de
SANTOS, 2012 apud ANDRADE e SILVA, 2005).
CAUSA DA MANIFESTAÇÕES
MECANISMOS DE DEGRADAÇÃO LOCAL AFETADO
DETERIORAÇÃO PATOLÓGICAS
CHOQUES E IMPACTOS
RECALQUE DIFERENCIAL DAS FUNDAÇÕES Fissuração e lascamento
MECÂNICA do concreto; possível Concreto + armadura
ACIDENTES IMPREVISÍVEIS perda de armadura
ABRASÃO
ATRITO Desgaste supercial do
DESGASTE SUPERFICIAL EROSÃO Concreto
concreto
CAVITAÇÃO
Fissuração e
CRISTALIZAÇÃO DE SAIS NOS POROS DO CONCRETO escamamento do Concreto
concreto
RETRAÇÃO HIDRÁULICA ASSENTAMENTO PLÁSTICO
Fissuração do concreto Concreto
DO CONCRETO FRESCO RETRAÇÃO PLÁSTICA
FÍSICA RETRAÇÃO TÉRMICA
GRADIENTE TÉRMICO Fissuração do concreto Concreto
DILATAÇÃO TÉRMICA
Fissuração e
desagregação do
concreto; desidratação
AÇÃO DO FOGO (INCÊNDIO) da pasta de cimento; Concreto + armadura
expansão dos
agregados e ruptura e
colapso da armadura
REAÇÃO ÁLCALI-AGREGADO Expansão e fissuração
Concreto
HIDRATAÇÃO DOS ÓXIDOS DO CIMENTO MgO E CaO do concreto
Decomposição química
da pasta; despassivação
do aço; expansão,
ATAQUE POR SULFATOS fissuração, Concreto
desintegração, perda de
resistência e de massa
do concreto
Decomposição química,
dissolução e lixiviação;
ou decomposição Concreto
ATAQUE POR ÁCIDOS química, expansão, (HCl ataca ambos -
fissuração e concreto e aço)
desagregação do
QUÍMICA concreto
Decomposição química,
dissolução e lixiviação
ÁGUA PURA da pasta de cimento; Concreto
eflorescência, estalactite
e estalagmite
Redução progressiva do
pH do concreto e Inicialmente o
CARBONATAÇÃO despassivação do aço, concreto,
abrindo caminho para a posteriormente o aço
corrosão do aço
Despassivação do aço;
posteriormente, Inicialmente o aço,
ATAQUE POR CLORETOS corrosão das armaduras posteriormente o
(processo concreto
eletroquímico)
Deterioração e perda de
seção do aço; perda de Inicialmente o aço,
ELETROQUÍMICA CORROSÃO aderênciaaço-concreto; posteriormente o
expansão, fissuração e concreto
lascamento do concreto
3. ESTUDO DE CASO: PILARES DO RESERVATÓRIO DA CTBM
A torre que sustenta o reservatório de água está localizada no estacionamento do Centro Cultural
Bernardo Mascarenhas (CTBM) e é representada na Figura 1. O reservatório elevado é feito de uma
caixa de aço e que leva a escrita CTBM. A torre é enrijecida com tirantes metálicos e composta por
seis pilares de seção transversal octogonal de concreto armado, os quais encontram-se em estágio de
deterioração bastante avançado. Sua altura é estimada em 12 m, a seção transversal de cada pilar
possui 15 cm de lado, representando uma área aproximada de 1087 cm². A Figura 2 representa um
croqui com vista em planta dos 6 pilares e dos tirantes metálicos. Os detalhes e distâncias entre
eixos dos pilares são representadas em planta.
Fig. 1 - CTBM: Vista parcial do reservatório elevado (AUTOR, 2018).
Fig. 4 – CTBM: Detalhe das eflorescências e mancha marrom avermelhada proveniente da corrosão (AUTOR,
2018).
Fig. 5 – CTBM: Detalhe das fissuras provenientes do destacamento do concreto provenientes da corrosão
(AUTOR, 2018).
Para o estado de conservação atual da estrutura da torre, uma solução viável seria a sua demolição e
possivelmente uma nova construção da mesma. Porém, a proposta de recuperação e reforço da
estrutura da torre tornou-se a única alternativa possível para o restabelecimento da condição da
estabilidade da torre e para manter suas características originais, independente do seu custo, tendo
em vista que a estrutura faz parte de um patrimônio histórico da cidade.
Essa proposta de recuperação e reforço foi formulada em função da não disponibilidade do projeto
estrutural da torre. Os procedimentos que serão apresentadas neste estudo de caso estão
representados no fluxograma da Figura 6.
RECUPERAÇÃO
RECONSTRUÇÃO
DA CAMADA DE
REMOÇÃO DA LIMPEZA E CONCRETO
LIMPEZA COM CAMADA DE PASSIVAÇÃO DA • PROFUNDIDADE <= 300
HIDROJATEAMENTO CONCRETO ARMADURA
mm: ARGAMASSA
POLIMÉRICA
• PROFUNDIDADE >= 300
mm : ARGAMASSA
T IXOTRÓPICA
REFORÇO
Fig. 6 – Fluxograma dos procedimentos propostos para recuperação e reforço da estrutura da torre (AUTOR,
2018).
Para retirar toda essa camada degradada remanescente será utilizado uma talhadeira e/ou ponteiro
para retirar as camadas mais superficiais e até mesmo um martelete elétrico para camadas
degradadas mais profundamente. Durante os procedimentos de recuperação, para se definir a
profundidade de carbonatação, será aplicado o indicador de pH a base de fenolftaleína na superfície
do concreto.
Nas armaduras já expostas e também nas armaduras que ficarão expostas após a remoção da
camada degradada de concreto, deverão ser executados os procedimentos para preparar a superfície
dessas armaduras de forma a retirar toda a camada de corrosão incrustada, partículas soltas e
qualquer outro material indesejável. Esses procedimentos poderão ser feitos com o uso de lixa de
ferro ou escova com cerdas de aço.
Após esse preparo da superfície das armaduras elas estarão limpas e prontas para receberem a
camada passivadora constituída de argamassa cimentícia inibidora de corrosão, protegendo toda a
armadura de modo a evitar possíveis problemas futuros, como novamente a corrosão.
Após o tratamento de passivação das armaduras, o concreto deverá ser reconstituído. Essa
reconstituição poderá ser feita de duas formas: com argamassa polimérica aditivada com inibidor de
corrosão e /ou com argamassa tixotrópica, o graute.
ii. Argamassa tixotrópica: também conhecida como graute, será utilizada quando a espessura
da camada a ser reconstituída for maior que 3,0 cm. Apresenta vantagens como a dispensa
do uso das fôrmas, podendo ser aplicada manualmente em superfícies verticais e
horizontais, aderência e trabalhabilidade. Porém, caso haja necessidade será montada fôrma
com objetivo de confinar o graute lançado na região do pilar.
3.5.5. Reforço da estrutura da torre através do sistema de fibras de carbono (CFRP)
Os sistemas com reforço de fibras de carbono (CFRP) vem sendo muito utilizados em estruturas de
concreto armado. Sua utilização é devida a ampla área de aplicação e às suas diversas vantagens,
sendo os compósitos da fibra de carbono utilizados em vigas e lajes para absorver os esforços de
tração e em pilares para proporcionar o efeito de confinamento. Os sistemas são aplicados nas
estruturas em casos de aumento da sobrecarga atuante na estrutura devido à mudança de utilização,
erros de dimensionamento, falhas na execução e mudanças no sistema estrutural.
Para atender a todas as necessidades, no mercado existem dois tipos de sistemas com reforços de
fibras de carbono, a manta de fibra de carbono e as lâminas de fibra de carbono. A manta de fibra de
carbono é aplicada em áreas que necessitam de um reforço de alta resistência à tração para reforço
de componentes estruturais em concreto armado e alvenaria, para restringir a abertura de fissuras e
gerar um confinamento de pilares e vigas. Esse é o sistema proposto para reforçar a estrutura da
torre da CTBM,
Esse sistema com aplicação de uma camada de manta de fibra de carbono, proposto como solução
para reforçar a estrutura da torre de concreto armado, será realizada após toda a preparação do
substrato. A manta de fibra de carbono unidirecional, representada pela Figura 7, apresenta
resistência a tração, pequena seção transversal, baixa espessura, fácil aplicação, baixo peso próprio
e utilização otimizada das propriedades mecânicas.
Fig. 8– Detalhe das camadas do sistema de reforço com manta de fibra de carbono (POLISSENI, 2018).
Figura Erro! Nenhum texto com o estilo especificado foi encontrado no documento..9 – Detalhe das
camadas do sistema de reforço com manta de fibra de carbono (POLISSENI, 2018).
Como estimativa de preço da recuperação e reforço da estrutura da torre é apresentada a Tabela 3.1.
O preço de cada procedimento é especificado para as respectivas quantidades estimadas de camada
material da estrutura da torre a ser reconstituída e reforçada.
A estimativa de preço da Tabela 1 foi realizada por uma empresa especializada em serviços de
recuperação e reforço de estruturas de concreto armado com finalidade de nortear a grandeza
monetária dos serviços. Chama-se atenção que os preços apresentados nessa tabela contemplam:
materiais, equipamentos, encargos sociais, lucro e taxas, como a taxa de risco que correspondente a
12,5 % do valor do preço total.
Tabela 2 – Estimativa de preço dos procedimentos para reforço e recuperação da estrutura da torre (AUTOR,
2018)
QUANTIDADE QUANTIDADE CUSTO PARCIAL
CUSTO UNITÁRIO
PROCEDIMENTO UNIDADE UNITÁRIA TOTAL PARA DO
POR PILAR
POR PILAR 6 PILARES PROCEDIMENTO
HIDROJATEAMENTO m² 14,40 86,40 R$ 2.033,33 R$ 12.200,00
CAMADA REMOVIDA Profundidade <= 3,0 cm 0,36 2,18 R$ 1.925,00
m³ R$ 16.500,00
DE CONCRETO Profundidade > 3,0 cm 0,16 0,94 R$ 825,00
LIMPEZA E PASSIVAÇÃO DAS ARMADURAS m 38,40 230,40 R$ 1.433,33 R$ 8.600,00
CAMADA Profundidade <= 3,0 cm 0,36 2,18 R$ 2.426,67
RECONSTITUÍDA DE m³ R$ 20.800,00
CONCRETO Profundidade > 3,0 cm 0,16 0,94 R$ 1.040,00
MANTA DE FIBRA DE CARBONO (CFRP) m² 14,40 86,40 R$ 9.416,67 R$ 56.500,00
ARMAGAMASSA POLIMÉRICA DE FIBRA DE CARBONO m² 14,40 86,40 R$ 2.500,00 R$ 15.000,00
BARRAS METÁLICAS DE CONTRAVENTAMENTO:
Vb R$ 3.000,00
LIMPEZA E PINTURA
LIMPEZA DA OBRA Vb R$ 2.500,00
CUSTO TOTAL R$ 135.100,00
NOTA TÉCNICA: Considerações de estimativa de quantidades de serviços realizados por empresa especializada em recuperação e reforço de
estruturas de concreto armado
40% do volume de concreto que corresponde a 3,12m³ que deverão ser removidos e reconstituídos. Desses 40% (3,12 m³) do volume de concreto, 70%
1
(2,18m³) é referente a recuperação do concreto com espessura <=3,00 cm e 30 % para espessura > 3,00 cm.
4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O trabalho apresentou os diversos mecanismos de degradação das estruturas de concreto armado
frente a exposição ao meio ambiente, assim como suas respectivas manifestações patológicas.
Destacou-se a importância de se conhecer as possíveis origens desses mecanismos de degradação,
suas possíveis causas, a influência na durabilidade, na vida útil e no desempenho das estruturas.
Todo esse conhecimento é de extrema importância para a boa formação acadêmica e atuação
profissional de um engenheiro civil.
Foi realizado também um estudo de caso propondo uma forma de recuperação e reforço da estrutura
da torre do CTBM, a qual encontra-se bastante degradada pela corrosão de armadura em função da
carbonatação do concreto ao longo do tempo. O trabalho de pesquisa que contempla o estudo de
caso de recuperação e reforço da estrutura da torre, levou em consideração que simplesmente não
era um serviço técnico de engenharia, uma vez que a torre faz parte de um conjunto arquitetônico
do Centro Cultural e Mercado Municipal Bernardo Mascarenhas, que pertence ao patrimônio
histórico da cidade de Juiz de Fora.
Dessa forma, o trabalho tem o intuito de mostrar que as estruturas de concreto armado degradadas
por mecanismos de degradação frente a exposição ao ambiente podem ser recuperadas. Porém, foi
ressaltado ainda que a melhor forma de se evitar o trabalho de recuperação e reforço de uma
estrutura de concreto armado é prevenir os problemas futuros. Assim, menos gasto e trabalho serão
necessários. Neste caso, por se tratar de um patrimônio histórico, o preço de recuperação e reforço
da estrutura da torre torna-se irrelevante, uma vez que ao preservar a estabilidade da estrutura, a
cidade continuará contando com as características originais do complexo arquitetônico.
Também, as conclusões baseadas na literatura revisada nesse trabalho são inúmeras e nos ensinam
que: ao iniciar as etapas de concepção dos projetos e execução da obra, alguns cuidados baseados
em prescrições normativas podem ser de extrema importância para aumentar a durabilidade da
estrutura de concreto armado. Dessa forma, consultar as normas como a NBR 6118, NBR 12655,
NBR 15575, etc. são imprescindíveis para obtenção de um resultado de qualidade evitando as não
conformidades. Saber determinar e especificar o ambiente para a qual a obra será projetada, seguir
as recomendações prescritas nas normas para dosar um concreto e especificar seu cobrimento de
acordo com esse meio ambiente em questão, são ações que devem ser tomadas sempre pelos
profissionais envolvidos no empreendimento.
Da mesma forma, o usuário também é responsável pela vida útil de todo o empreendimento, uma
vez que as manutenções e cuidados, previstos em projetos e manuais, devem ser realizados pelos
mesmos.
REFERÊNCIAS
[1] ANDRADE, Tibério. Tópicos sobre Durabilidade do Concreto. In: ISAIA, Geraldo Cechella. Concreto: ensino,
pesquisa e realizações. São Paulo: IBRACON, 2005. 1v. Cap.25, p.753-792.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Concreto de cimento Portland – Preparo, controle,
recebimento e aceitação – Procedimento – NBR 12655. 2015.
[5] BOGLIOLO, L.; BRASILEIRO FILHO, G. Patologia. 6. ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2000. xiv, 1328 p.
[6] CARVALHAIS, C. A.; OLIVEIRA, A. M. de; RIBEIRO, C. C.; BAMBERG, P.; RIBEIRO, S. E. C. Impacto do
custo de recuperação das manifestações patológicas em estruturas de concreto armado. In CONGRESSO BRASILEIRO
DO CONCRETO, 59., 2017, Bento Gonçalves. Anais... Bento Gonçalves/RS, 2017. p. 2-3.
[7] Centro Cultural Bernardo Mascarenhas. Prefeitura de Juiz de Fora. Disponível em:
<https://www.pjf.mg.gov.br/administracao_indireta/funalfa/ccbm/historico.php>. Acesso em: 12 jul. 2018.
[8] CORRÊA, L; NOVELLI, M. D. PatoArteGeral. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP, jul. 2000.
Disponível em: <http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoartegeral2.htm>. Acesso em: 05 mar. 2018.
[9] HELENE, P. R. L. Corrosão em armaduras para concreto armado. Monografia. São Paulo: Pini, 1986, 46 p.
[10] HELENE, P. R. L. Manual prático para reparo e reforço de estruturas de concreto. São Paulo: Pini, 1992. 119
p.
[11] MEDEIROS, M. H. F. de; ANDRADE, J. J. de O; HELENE, P. Durabilidade e Vida Útil das Estruturas de
Concreto. IBRACON, 2011, cap. 22.
[13] MOTA, J.M.F.; BARBOSA, F. R.; COSTA e SILVA, A. J.; FRANCO, A. P. G.; Carvalho, J.R. Corrosão de
armaduras em estruturas de concreto armado devido ao ataque de íons cloreto. In CONGRESSO BRASILEIRO DO
CONCRETO, 54, 2012, Maceió. Anais... Maceió/AL, 2012. p. 2-13.
[14] NEVILLE, A. M. Propriedades do concreto. 2ª ed. São Paulo: PINI, 1997. 828p.
[15] SANTOS, A. Revisão realça NBR 6118 como referência internacional. Cimento Itambé, Ponta Grossa, nov. 2013.
Disponível em: < http://www.cimentoitambe.com.br/revisao-realca-nbr-6118-como-referencia-internacional/>. Acesso
em: 15 jan. 2018.
[16] SANTOS, M.R.G dos. Deterioração das estruturas de concreto Armado – Estudo de Caso. Trabalho de
conclusão de curso. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2012, 109 p.
[17] SILVA, F. B. da. Patologia das construções: uma especialidade na engenharia civil. Téchne, São Paulo, n. 174, set.
2011. Disponível em: < http://techne17.pini.com.br/engenharia-civil/174/patologia-das-construcoes-uma-especialidade-
na-engenharia-civil-285892-1.aspx>. Acesso em: 05 mar. 2018.
[18] SOUZA, V. C.; RIPPER, T. Patologia, recuperação e reforço de estruturas de concreto. São Paulo: Pini, 1998.
255 p.
[19] TRINDADE, D. dos S. da. Patologia em estrutura de concreto armado. Trabalho de conclusão de curso. Santa
Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 2015, 88 p.
COMPORTAMENTO EM SERVIÇO DE PILARES DE CANTO DE CONCRETO
ARMADO
Behavior in service of reinforced concrete corner pillar
RESUMO
Este trabalho apresenta uma comparação entre os deslocamentos calculados e medidos
em ensaio de um pilar de canto de concreto armado, submetido a carregamento de curta
duração. O pilar ensaiado faz parte do primeiro projeto habitacional pré-fabricado
desenvolvido pela Precon Engenharia. O pilar tinha seção transversal quadrada e foi
submetido a forças de compressão excêntricas. Os deslocamentos transversais, na seção
média do pilar, foram medidos no ensaio e estimados através de um modelo matemático
rigoroso, proposto por Pereira et. al (2013) [2]. A análise comparativa revelou que, para o
caso estudado, os deslocamentos em serviço, obtidos com a formulação teórica adotada,
apresentou boa correlação com os deslocamentos medidos. A deformação do pilar
depende da rigidez efetiva do pilar, bem como do processo executivo assim como das
propriedades mecânicas médias dos materiais, principalmente do módulo de elasticidade
e da resistência à tração do concreto no instante da realização do ensaio. Em face da
variabilidade desses parâmetros, existe uma grande variabilidade das deformações reais.
Não se pode esperar, portanto, grande precisão nas previsões de deslocamentos dadas
por processos analíticos, mas boa correlação foi observada na comparação entre os
descolamentos calculados e os medidos para cargas menores ou iguais às de serviço.
1. INTRODUÇÃO
A NBR 6118:2014 – Projeto de Estruturas de Concreto – [1] é a norma que rege o
dimensionamento de estruturas de concreto armado. Sabe-se que existe imprecisão nos
deslocamentos determinados utilizando-se a equação de Branson, mesmo no caso de
carregamentos de curta duração.
2. O MODELO NUMÉRICO
No desenvolvimento do modelo numérico as seguintes considerações foram feitas:
Tanto o concreto quanto o aço foram considerados trabalhando no regime elástico, pois a
análise foi feita considerando-se condições de serviço. Foram utilizadas as prescrições da
NBR-6118:2014 [1] para determinação das propriedades mecânicas e reológicas do
concreto.
2.1. FORMULAÇÃO
O pilar foi dividido em diversas seções, cada uma delas subdivididas em elementos.
Esses elementos podiam possuir diferentes geometrias e propriedades mecânicas, bem
como histórias de carregamento diferentes. Foi considerado que, em um instante genérico
de tempo tu+1, a deformação total de um elemento era dada por:
(1)
(2)
Pela equação (2) pode ser verificado que cada elemento pode ser de diferente material e
possuir história de carregamento diferente em cada intervalo de tempo. É importante
salientar que o coeficiente de fluência somente foi considerado até o instante de tempo
(u), pois era nulo. Com a deformação de cada elemento definida, a curvatura da seção foi
calculada.
(3)
Com tal incremento de tensão, a tensão final, em cada elemento no instante tu+1, podia ser
obtida por:
(4)
Essa tensão final, em cada passo da análise, foi comparada com a resistência limite do
material. No caso de concreto tracionado, esse limite foi definido pela resistência a tração
fctm. Se essa tensão resistente fosse excedida, sua contribuição era negligenciada. Para
elementos de aço, a tensão máxima era igual a tensão de escoamento.
A força axial e o momento fletor em cada seção transversal foram determinados por:
(5)
(6)
O equilíbrio entre os esforços internos e externos, em cada seção transversal do pilar, era
dado por:
NR = NEXT (7)
MR = MEXT (8)
(9)
(10)
(11)
Como o pilar foi discretizado em diversos elementos de barra a equação acima era
substituída por:
(12)
3. METODOLOGIA DO ENSAIO
Nas extremidades do pilar, foram concretados dois consoles para aplicação das cargas,
conforme indicado nas Figs. 1, 2 e 3.
O pilar foi fabricado com concreto de resistência característica à compressão (fck) igual a
30 MPa, e armado com quatro barras longitudinais de 12,5 mm de diâmetro de aço CA-
50, com estribos de 5 mm espaçados a cada 12 cm.
O pilar foi ensaiado dentro de uma gaiola metálica composta de quatro perfis I,
interligados nas extremidades, de maneira a proteger os operadores dos equipamentos
de qualquer possível acidente durante os ensaios.
Foram aplicadas cargas colineares, nas extremidades do pilar, por meio de macaco
hidráulico dotado de célula de carga axial para monitoramento da força aplicada em uma
das extremidades, conforme Figs. 3 e 4.
Um relógio comparador foi posicionado no meio do vão, junto à borda inferior do pilar,
para medição dos deslocamentos transversais, conforme indicado nas Figs. 2 e 3. As
propriedades mecânicas do concreto foram determinadas na idade de execução do
ensaio.
Figura 3: Vista geral do ensaio. Carga aplicada com excentricidade de 11,7 cm.
Figura 4: Apoio passivo (a esquerda) e ativo (a direita).
A análise dos resultados acima revela que, para o caso estudado, o modelo adotado
prevê, em média, deslocamentos menores em 36% do que aqueles medidos nos ensaios.
Para níveis de carregamento mais baixos pode-se observar uma melhor correlação entre
os valores dos deslocamentos previstos e medidos no ensaio, pois para cargas mais
baixas todo o pilar trabalha no Estádio I, não ocorrendo fissuração em nenhuma região do
pilar.
6. CONCLUSÕES
A análise comparativa desenvolvida revelou que, para o caso estudado, os
deslocamentos em serviço, obtidos com a formulação teórica adotada, apresentou boa
correlação com os deslocamentos medidos. O coeficiente de variação foi de 24%. Vale
lembrar que a deformação do pilar depende da rigidez efetiva das seções, ou seja, da
forma do pilar, da distribuição das armaduras, da existência e distribuição das fissuras,
das propriedades mecânicas do concreto e aço, e da contribuição do concreto entre
fissuras, contribuição, essa, não considerada no modelo teórico. A deformação real
depende também do processo executivo assim como das reais propriedades dos
materiais, principalmente do módulo de elasticidade e da resistência à tração do concreto
no instante da realização do ensaio.
Em face da grande variabilidade dos parâmetros citados, existe uma grande variabilidade
das deformações reais, como previsto pela NBR 6118:2014 [1]. Não se pode esperar,
portanto, grande precisão nas previsões de deslocamentos dadas por processos
analíticos.
7. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à UFMG, à FAPEMIG e à PRECON INDUSTRIAL pelo apoio
financeiro e de infraestrutura para a realização do trabalho.
8. REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (2014). NBR 6118: Projeto de Estruturas de
Concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
[2] PEREIRA, S.S.R., CALIXTO, J.M., BORTONE, T.P. Numerical analysis of prestressed hollow core slabs
under long term loading. Ibracon Structures and Materials Journal, v. 6, n. 4, p. 613-622, 2013.
ANÁLISE TEÓRICA EXPERIMENTAL DA RESISTÊNCIA ÚLTIMA Á FLEXÃO DE
LAJES PROTENDIDAS
Theoretical experimental analysis of the ultimate strength of prestressed hollow core slabs
Abstract: This paper presents the results of the ultimate flexural strength test of three
prestressed hollow core slabs with 10 meters long and 26 cm of thickness, without
capping, subjected to uniformly distributed loads. At the age of 30 days the slabs were
loaded with a uniformly distributed load corresponding to 1/3 of the failure load. This
loading was maintained until the age of 140 days, when the slabs were taken to rupture.
The model proposed by Pereira et al. (e.g. [2]), which determines the evolution of the loss
of protension in a rigorous manner, was used to determine the real tension in prestressed
steel at the moment of rupture. In the determination of the ultimate strength, the strain x
deflection diagram recommended by NBR 6118:2014 (e.g. [1]) was adopted for the
concrete and for the steel of the stress the strain x deformation diagram was determined
according to the information contained in the manufacturer's catalog. In order to compare
the results of tests Mens with the theoretical values obtained through the numerical model
Mmodelo, the average of the ratio between these values was obtained (Mens / Mmodelo) = 1.11,
with standard deviation s = 0.0047 and coefficient of variation CV = (0.0047/1.11)*100 =
0.42%. From these results it can be concluded that there was great uniformity in the
structural behavior of the three specimens, attesting to the good quality control in their
manufacture. The results also prove that the mathematical model adopted by NBR
6118:2014 (e.g. [1]) to estimate the ultimate flexural strength produced good results. It
should be noted that different results should not be expected, since the equations
recommended by NBR 6118:2014 (e.g. [1]) remain the same for more than four decades.
1. INTRODUÇÃO
Esse trabalho tem como objetivo apresentar os resultados de resistência última à flexão
de três lajes protendidas com quatro cordoalhas de 12,7 mm e seis cordoalhas 11,1 mm
CP 190 RB executadas com concreto fck 35 MPa. O carregamento consistiu do peso
próprio estrutural e de cargas uniformemente distribuídas, aplicadas através de sacaria.
As lajes foram submetidas a carregamento variável desde a idade de 30 dias até a idade
de 160 dias, quando foram levadas á ruptura. Os exemplares são denominados A1, A2 e
A3, compondo a denominada série A. Os ensaios foram realizados nas instalações da
Precon Industrial S.A.
2. O MODELO NUMÉRICO
Com a finalidade de avaliar as prescrições da norma brasileira NBR 6118:2014 (e.g. [1]),
a resistência última á flexão das lajes foram avaliadas através de formulação proposta por
MARTINS et al. (e.g. [3]) e comparadas com as obtidas nos ensaios. O modelo teórico
adotado considera as deformações diferidas do concreto e aço, embora se saiba de sua
pequena influência no cômputo da resistência última. Para isso inicialmente são
determinadas as perdas imediatas e as perdas diferidas da força de protensão e as
deformações de retração e fluência no concreto, considerando o histórico do
carregamento até a data em que se quer avaliar a capacidade resistente da seção. O
cômputo das deformações na seção transversal é feito de acordo com modelo proposto
por PEREIRA et al. (e.g. [2]). Para determinação teórica da resistência última das lajes
cada seção transversal é subdividida em elementos de concreto paralelos ao eixo de
flexão e considerando-se as diversas cordoalhas em suas reais posições e afetadas dos
respectivos pré-alongamentos. Considera-se o diagrama parábola retângulo do concreto
preconizados pela NBR 6118:2014 (e.g. [1]), conforme Fig. 1, e o diagrama tensão x
deformação do aço fornecido pelo fabricante, conforme Fig. 2
Fig. 1 – Diagrama Tensão x Deformação do concreto
n p
MR = c (i ) d c(i ) Ac (i ) + p (i ) d p(i ) Ap(i )
i =1 i =1
(2)
No caso de flexão simples, como é o caso aqui tratado, o equilíbrio se dará quando for
obtida força normal resistente nula. O processo iterativo é repetido até que se obtenha
igualdade entre a força normal resistente e solicitante. O momento resistente último é
então calculado computando-se a parcela de momento fletor resistido por cada elemento
que compõe a seção, em função do estado de tensões atuante. Para o cálculo de tensões
são consideradas as deformações diferidas do aço e concreto.
3. METODOLOGIA DO ENSAIO
As lajes possuíam 250 cm de largura, 26 cm de altura e cinco alvéolos de 19,6 cm de
diâmetro, conforme Figs. 3 e 4. O comprimento das lajes era de 10 m, vencendo um vão
de 9,9 m. Em todas as lajes a armadura de protensão era composta de quatro cordoalhas
de 12,7 mm e seis cordoalhas de 11,1 mm (3x5,0) CP 190RB, sem capeamento,
posicionadas com o CG a 4,5 cm do fundo. Um relógio comparador foi posicionado no
centro do vão para medição da evolução das flechas ao longo do tempo, embora o foco
desse trabalho seja apresentar apenas a resistência última á flexão das lajes, que foram
levadas a ruptura no final do ensaio.
O concreto das lajes foi produzido usando cimento tipo CP-V ARI e agregado graúdo tipo
calcário. Para avaliação da resistência a compressão do concreto foram realizados
ensaios de esclerometria na idade de execução dos ensaios. Todas as três lajes foram
concretadas em um mesmo dia, fazendo parte da mesma pista de protensão e
posteriormente transferidas para uma área aberta na Precon Engenharia, em Pedro
Leopoldo, MG, onde os ensaios foram realizados. Até a idade de 30 dias o único
carregamento atuante foi o peso próprio, que consistia de uma carga de 5,39 kN m-1. Nas
idades de 30, 31, 32 e 33 dias foram acrescentadas cargas de 1,5 kN m-1, utilizando-se
sacos de argamassa, mantendo-se a partir daí carregamento constante até a idade de
160 dias. Os deslocamentos verticais no ponto médio do vão foram medidos com relógios
comparadores. Nessa idade, cada uma das lajes foi levada á ruptura, chegando-se nos
valores de momentos de ruptura indicados na Tabela 2. Todos os exemplares, após os
acréscimos de carga e medições de deslocamentos, foram mantidos cobertos por lona de
forma a proteger os exemplares da insolação diária e evitar que uma possível chuva
durante o período de ensaio alterasse a carga aplicada. Neste artigo apresentam-se
apenas os resultados da carga de ruptura dessas lajes.
Fig. 5 – Carregamento parcial da laje A1. Atrás de A1 vê-se carregamento que provocou a ruptura de
A2
Fig. 6 – Ruptura das lajes A1, A2 e A3
A ruptura ocorreu na seção média do vão por esmagamento do concreto. As cargas que
provocaram a ruptura das lajes, bem como o momento atuante na seção média do vão,
estão indicadas na Tabela 2.
4. ANÁLISE COMPARATIVA
A tabela 2 apresenta os resultados encontrados. Para o cálculo da resistência última
segundo o modelo numérico foi adotado fck de 40,6 MPa, obtido de ensaios de
esclerometria realizado na data de ruptura das lajes. Os coeficientes de minoração de
resistência e majoração de esforços foram feitos iguais a um. Não foi considerado o efeito
Rusch em função da idade do concreto na data de realização do ensaio.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo geral desse trabalho foi apresentar os resultados de ensaios de três lajes
protendidas submetidas à flexão. Houve grande uniformidade no comportamento
estrutural dos três exemplares ensaiados e as resistências últimas obtidas foram em
média 26% maiores que as previstas segundo a NBR 6118:2014 (e.g. [1]). A análise dos
resultados revela que, para os casos estudados, a norma brasileira NBR 6118:2014 (e.g.
[1]) tem viés conservador para determinação de resistência última á flexão desse tipo de
elemento estrutural.
6. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à UFMG, à FAPEMIG e a PRECON Industrial pelo apoio
financeiro e de infraestrutura para a realização do trabalho.
7. REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de Estruturas de Concreto –
Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
[2] PEREIRA, S.S.R., CALIXTO, J.M., BORTONE, T.P. Numerical analysis of prestressed hollow core slabs
under long term loading. Ibracon Structures and Materials Journal, v. 6, n. 4, p. 613-622, 2013.
[3] MARTINS, P.C.R., FAIRBERN, E. M. R., PEREIRA, S.S.R. Programação Não Linear aplicada ao
dimensionamento de armaduras passivas adicionais em estado limite último, de seções transversais em
concreto estrutural de geometria qualquer, submetidas a flexão normal composta. XXVIII, Jornadas Sul
Americanas de Engenharia Estrutural, p. 1497-1504, 1999.
[4] MATEUS, G. R., LUNA, H. P. L. Programação não linear. V Escola de Computação. Belo Horizonte, 10
a 18 de Julho, 1986, 289 p.
DETERMINAÇÃO DE CURVA CARACTERÍSTICA DE SOLOS NÃO
SATURADOS
Fernanda Ferreira da Silva 1 , Thiago Celeiro Nascimento 1 , Tatiana Tavares Rodriguez 1, Mário
Vicente Riccio Filho 1
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, ferreira.fernanda@engenharia.ufjf.br
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, thiago.nascimento@engenharia.ufjf.br
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, tatiana.rodriguez@ufjf.edu.br
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mvrf1000@g mail.co m
Resumo: O estudo de solos não saturados é de extrema importância, pois naturalmente, este
comportamento é o mais comum entre os maciços terrosos visto que dificilmente os solos apresentam-
se saturados em sua condição natural. Entretanto, para compreensão desse tema, é preciso mensurar
o fenômeno da sucção, que é um estado de tensão que expressa a propriedade do solo em reter ou
adsorver água, sabendo que o módulo da sucção é inversamente proporcional ao teor de umidade do
solo. A análise do comportamento do fenômeno da sucção em um dado solo é indispensável, pois
esta exerce participação nas tensões que resultarão na resistência ao cisalhamento, impactando na
estabilidade de taludes formados pelo mesmo. Neste contexto, o objetivo do presente trabalho é
determinar a curva característica dos solos analisados, que exprime graficamente a relação entre teor
de umidade (gravimétrico ou volumétrico) e tensões de sucção (mátrica ou total). Para tanto, foram
coletadas amostras indeformadas dos substratos terrosos de interesse, a saber: uma argila silto-arenosa
(Solo I) e uma areia siltosa (Solo Amarelo). Estes foram moldados conforme normatização para
realização do ensaio do papel filtro, que consiste na determinação da sucção do solo a partir do teor
umidade de círculos de papéis, que foram devidamente equalizados com os corpos de provas
ensaiados. O papel-filtro utilizado foi o Whatman® n°42, que apresenta equação padronizada para o
cálculo da sucção. Após tratamento dos dados obtidos no experimento, foi possível traçar a curva de
sucção de cada solo estudado, e observou-se que a argila silto-arenosa apresenta uma curva
característica mais aberta, isto é, apresenta maiores valores de sucção (valor de entrada de ar de 2000
kPa), enquanto que areia siltosa apresenta menores valores de sucção (valor de entrada de ar de 200
kPa). Frente ao experimento pode-se verificar, então, que o tipo de solo é fator determinante no
formato da curva característica, pois este está diretamente relacionado à forma e intensidade com a
qual acontece o fenômeno da sucção no meio.
Abstract: The study of unsaturated soils is of extreme importance, since, of course, this behavior is
the most common among the earthy massifs, since soils are seldom saturated in their natural
condition. However, to understand this theme, it is necessary to measure the suction phenomenon,
which is a state of tension that expresses the soil property in retaining or adsorbing water, knowing
that the suction modulus is inversely proportional to the moisture content of the soil. The analysis of
the behavior of the suction phenomenon in a given soil is indispensable because it exerts a
participation in the tensions that will result in the shear strength, impacting the stability of slopes
formed by the same. In this context, the objective of the present work is to determine the characteristic
curve of the analyzed soils, which graphically expresses the relationship between moisture content
(gravimetric or volumetric) and suction voltages (total or total). For this, undisturbed samples of the
soil substrates of interest were collected, namely: a silt-sandy clay (Soil I) and a silty sand (Soil
Yellow). These were molded according to standardization for the paper filter test, which consists of
determining the soil suction from the moisture content of paper circles, which were duly equalized
with the test specimens tested. The filter paper used was Whatman® No. 42, which has a standardized
equation for calculating suction. After treatment of the data obtained in the experiment, it was possible
to draw the suction curve of each soil studied, and it was observed that silt-sandy clay presents a more
open characteristic curve, that is, it presents higher suction values (input value of air of 2000 kPa),
while silt sand presents lower suction values (air inlet value of 200 kPa). Therefore, it is possible to
verify that the soil type is a determining factor in the shape of the characteristic curve, since it is
directly related to the shape and intensity with which the suction phenomenon occurs on this
environment.
1. INTRODUÇÃO
Solo não saturado é assim denominado por possuir característica trifásica, ou seja, ser formado por
partículas sólidas e apresentar os interstícios entre estas ocupados por ar e água. O estudo dos solos
não saturados é de suma importância – por possuírem ocorrência representativa na litosfera e grande
aplicabilidade geotécnica-, e um tanto complexo, visto que vários fatores alteram o seu
comportamento, como as interações físico-químicas que ocorrem no sistema, sua mineralogia e
estrutura.
Diversas são as aplicações geotécnicas do conhecimento dos solos não saturados, visto que este
possibilita, para esta categoria de solo [1]:
a) Análise do transporte de contaminantes e fluxo de gases;
b) Estudo de solos colapsíveis e expansivos, bem como de recalques com bolhas de ar oclusas;
c) Verificação da resistência ao cisalhamento e estabilidade de taludes;
d) Barreiras capilares em coberturas evapotranspirativas;
e) Dimensionamento de barragens de terra, fundações e estruturas de pavimento.
Nos solos não saturados, os comportamentos mecânico e hidráulico - como a capilaridade -dependem
do grau de saturação no qual o material se encontra [2]. A relação entre o volume de vazios e o volume
de água contido nos mesmos também interfere no fenômeno da sucção.
A sucção, juntamente com a capilaridade, é responsável pela propriedade de retenção de água de
determinado solo. Enquanto a capilaridade está relacionada ao comportamento físico entre as 3 fases
do sistema, a sucção representa as forças de adsorção provenientes da mineralogia do mesmo [1].
Esta se divide em duas parcelas, denominadas sucção osmótica e sucção matricial [3].
A parcela osmótica é definida como a energia adicional que é necessária para se remover uma
molécula de água do solo, devido à presença de íons dissolvidos no fluido presente nos vazios. Já a
parcela matricial diz respeito às forças de adsorção, ou então o efeito capilar [1].
Sabe-se que para solos saturados, a resistência ao cisalhamento é dada pela equação 1, que é uma
aproximação linear da envoltória de Mohr Coulomb, obtida pelo ensaio triaxial. Nela notam-se os
parâmetros de resistência c’, referente à parcela de resistência devida à coesão do solo, e Ф’, referente
ao ângulo de atrito interno do mesmo.
= cʹ + σn tg Φʹ (1)
Quando o maciço não está sujeito ao fenômeno da sucção, esta equação é ótima aproximação para
estudo das tensões no solo; entretanto, em solos não saturados, onde ocorrem tensões superficiais e
interações físico-químicas entre moléculas de água, ar e partículas sólidas, faz-se necessária a adição
de outros parâmetros que contabilizarão o acréscimo de resistência fornecendo uma análise mais
realística. Então, para análise de resistência ao cisalhamento de solos não saturados, a equação mais
adequada é expressa pelas equações 2 e 3.
= c + (σn – ua) tg Φʹ (2)
Onde:
c = cʹ + (ua – uw) tg Φb (3)
2. OBJETIVO
O presente trabalho possui como objetivo a determinação da curva característica de solos não
saturados localizados em regiões propicias a essa formação sujeitos a movimentos de massa e
processos erosivos. Neste trabalho são apresentados os estudos feitos com dois solos da cidade de
Juiz de Fora obtidos do campus da UFJF e que apresentam diferentes granulometrias.
3. MÉTODOS
Ao final da moldagem do corpo de prova, pesa-se o anel de PVC com o solo que será utilizado no
ensaio (Mmsu). A diferença entre Mmsu e Mm fornece o valor da massa de solo úmida contida no anel
de PVC. A partir dessa informação e do teor de umidade inicial (Wi), é possível determinar a massa
específica seca do solo (d). Com o valor da massa específica dos sólidos (s) determinada pelo
método de ensaio ME093 do DNER [10], podem ser determinados o índice de vazios (e), a umidade
de saturação gravimétrica (Wsat ) e a umidade de saturação volumétrica (s) para o corpo de prova.
O ensaio de papel filtro pode ser realizado partindo do corpo de prova seco ou do corpo de prova
saturado. No caso deste trabalho, partiu-se do corpo de prova úmido, porém com umidade inicial que
estava abaixo da umidade de saturação.
Para a determinação da sucção mátrica, é necessário o contato direto do papel filtro com a superfície
do solo contido no anel. Então, os 3 círculos de papel filtro são posicionados nas bandas inferior e
superior da amostra (Figura 3). É ideal que o diâmetro dos círculos de papel seja igual ao diâmetro
do anel, pois, desta forma, toda a amostra contida estará em contato com o papel. Isto melhora a
precisão dos resultados obtidos.
Com os papéis filtro devidamente posicionados nas faces da amostra, envolve-se o conjunto em
plástico filme e em papel alumínio, como mostra a Figura 3, armazenando o conjunto em câmara
úmida durante 21 dias. Esse período é necessário para que ocorra a equalização da umidade do sistema
(papéis filtro - amostra de solo).
Figura 3 - Papéis-filtro cortados, posicionamento dos papéis -filtro, colocação do papel filme, corpo de prova
finalizado com papel alumínio.
Após a equalização, procede-se à determinação do teor de umidade dos papéis. Para tanto, retira-se
os envoltórios do conjunto; pesa-se o círculo intermediário posicionado em uma das bandas da
amostra. É adequado colocá-lo dentro de um plástico zipado de massa conhecida (M p ), como os que
compõem a Figura 4a, para que não haja perda de umidade do papel durante a pesagem. Obtém-se a
massa do envelope plástico com o papel filtro úmido (Mppu). Este procedimento deve ser realizado
tanto para a banda superior quanto para a inferior. A Figura 4c mostra o papel sendo inserido no
plástico para medição da pesagem.
Em seguida, os papéis são colocados em cápsula limpa e seca e levados à estufa para que haja
evaporação total da água contida nos mesmos, conforme Figura 4d. Após 24 horas, pesa-se o papel
filtro seco com o cuidado de colocá-lo no mesmo plástico zipado e obtém-se a massa Mpps.
Figura 4 - Plásticos zipados, pesagem do plástico zipado, inserção do papel filtro úmido, colocação do papel filtro
em cápsula de alumínio para secagem em estufa.
O teor de umidade de cada papel filtro (wp) é determinado pela Equação (4).
Onde:
Mppu = massa do envelope plástico com o papel filtro úmido
Mpps = massa do envelope plástico com o papel filtro seco
Mp = massa do envelope plástico para acondicionamento do papel
A partir do valor médio de umidade dos papéis filtros superior e inferior, é possível determinar a
sucção do papel filtro (Sp) pela Equação (5). Considerando que houve equalização, o valor
encontrado para sucção do papel filtro (Sp) é igual à sucção mátrica do solo (S) para o teor de umidade
inicial do solo (wi) determinado na moldagem e demais teores de umidade a que o solo se encontra
ao longo do ensaio.
Essas duas informações fornecem um par ordenado na curva SUCÇÃO x TEOR DE UMIDADE do
solo analisado. A partir da obtenção do primeiro ponto, repete-se o procedimento de ensaio para
diferentes teores de umidade de forma a obter a quantidade de pontos necessários para plotagem
satisfatória do gráfico.
𝑚
1
𝜃 = 𝜃𝑠 [ 𝜓
] (6)
ln[ 𝑒 + ( )𝑛
𝑎
Onde :
e = 2,718
𝜃𝑠 = umidade volumétrica de saturação;
𝜃= umidade volumétrica em função da sucção;
𝜓= sucção mátrica;
a, m, n = parâmetros da curva obtidos através dos dados experimentais.
O ponto denominado 𝝍𝒑 , a inclinação denominada s e o par ordenado formado por (𝝍𝒊 ,Ɵ 𝒊 )
correspondem, respectivamente, ao ponto onde a reta tangente intercepta o eixo das abscissas, ao
coeficiente angular desta reta e às coordenadas do ponto de inflexão da curva característica. Estes
dados são extraídos graficamente, como é visto na figura 5.
Figura 5 - Obtenção de 𝝍𝒊 , Ɵ 𝒊 , s e 𝝍𝒑
𝜃𝑠 (8)
𝑚 = 3,67ln( )
𝜃𝑖
1,31𝑚+1 (9)
𝑛= 𝑠𝜓𝑖
𝑚𝜃𝑠
4. RESULTADOS
4.1. Granulometria
O solo denominado neste documento como Solo I foi estudado por Cardoso [12] e apresenta 20% de
areia, 30% de silte e 50% de argila (Figura 6), sendo uma argila silto-arenosa.
Figura 6 - Curva granulométrica do Solo I.
O Solo Vermelho (Figura 7), estudado por Nery [13], apresenta 43% de areia, 27% de silte e 30% de
argila, sendo uma areia argilo-siltosa. O Solo Amarelo (Figura 8) mostrou 15% de pedregulho, 48%
de areia, 27% de silte e 10% de argila, sendo areia siltosa com pedregulho e argila.
Figura 7 - Curva granulométrica do Solo Vermelho. Figura 8 - Curva granulométrica do Solo Amarelo.
A Tabela 1 apresenta a massa específica dos sólidos (s), a massa específica seca do solo (d), o
índice de vazios (e), a umidade de saturação gravimétrica (wsat) e a umidade de saturação volumétrica
(s) para os solos estudados.
Tabela 4 - Dados obtidos pelo ensaio do papel filtro para o solo Amarelo.
Por fim, foram determinadas as curvas características para o Solo I, o Solo Vermelho e o Solo
Amarelo, apresentadas nas figuras 9, 10 e 11, respectivamente.
60
VEA
50
Modelo 1 Fredlund e
Xing (1994)
Umidade Volumétrica (%)
40 Pontos Experimentais
30
20
10
Saturação Residual
0
1 10 100 1000 10000 100000 1000000
Sucção (kPa)
60
Modelo 1 Fredlund e
VEA
50 Xing (1994)
Pontos Experimentais
Umidade Volumétrica (%)
40
30
20
10
Saturação Residual
0
1 10 100 1000 10000 100000 1000000
Sucção (kPa)
VEA Modelo 1
50 Fredlund e Xing
Umidade Volumétrica (%)
(1994)
40 Pontos
Experimentais
30
20
10
Saturação Residual
0
1 10 100 1000 10000 100000 1000000
Sucção (kPa)
5. DISCUSSÕES
Os resultados mostraram que houve diferença nas curvas características em função da granulometria
dos solos. O Solo I que apresenta 20% de areia, 30% de silte e 50% de argila (Figura 5), sendo uma
argila silto-arenosa, gerou curva característica com valores mais elevados de sucção mátrica, sendo o
valor de entrada de ar (VEA) de cerca de 2000kPa. O Solo Vermelho que apresenta 43% de areia,
27% de silte e 30% de argila, sendo uma areia argilo-siltosa, apresentou curva com valor de entrada
de ar (VEA) de 150 kPa. O solo Amarelo mostrou 15% de pedregulho, 48% de areia, 27% de silte e
10% de argila, sendo areia argilo-siltosa com pedregulho, tendo valor de entrada de ar VEA de VAR
200 kPa.
Importante ressaltar que as curvas características dos solos Vermelho e Amarelo poderiam ter sido
melhor definidas caso os ensaios tivessem partido de corpos de prova com umidades mais elevadas,
o que facilitariam a definição dos parâmetros ψp , ψi eƟ i . Além disso, o ajuste poderia ser melhor caso
tivessem sido feitos mais pontos experimentais para cada solo. Como consequência, a determinação
do VEA pode também ter sido prejudicada pelo ajuste feito com poucos pontos nos solos Vermelho
e Amarelo.
6. CONCLUSÕES
O ensaio de papel filtro é um método simples, porém necessita muito cuidado para ser executado,
principalmente no que diz respeito ao controle de umidade dos corpos de prova.
O tempo de equalização necessário para o ensaio pode dificultar a obtenção da quantidade de pontos
experimentais. Portanto, sugere-se que sejam moldados vários corpos de prova de um mesmo solo e
levados a condições de umidades diferentes para que todos os pontos possam ser obtidos em 21 dias,
que é o tempo de equalização indicado por Nacinovic [8]. Ressalta-se no entanto a necessidade de se
estudar este tempo para diferentes solos.
A equação de ajuste proposta Fredlund e Xing mostrou-se de fácil aplicação, mas é dependente da
qualidade e quantidade dos pontos experimentais.
Por fim, foi observado, como esperado, que o solo argiloso (Solo I) obteve valor de entrada de ar
(VEA) maior do que os solos arenosos (Solo Vermelho e Solo Amarelo).
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à UFJF pela bolsa de iniciação científica PIBIC/CNPQ/UFJF nas Ações
Afirmativas, que possibilitaram o estudo e pesquisa do tema deste artigo. Agradecem, também, ao
laboratorista Lázaro Lopes, pelo auxílio prestado.
REFERÊNCIAS
[1] CARVALHO, J. C. de et al. Propriedades químicas, mineralógicas e estruturais de solos naturais e compactados .
In: Solos não Saturados no Contexto Geotécnico. São Paulo: ABMS, 2015, 763 p. Disponível em <
https://www.abms.com.br/links/bibliotecavirtual/livros/Solos_nao_saturados_no_contexto_geotecnico_2015.pdf >. p.
39-74.
[2] FERNANDES, A.L.O. Determinação da curva característica de solos não saturados pela técnica do papel filtro.
Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2016. 68p.
[3] MARINHO, F. A. M. Soil Suction Measurement in soils and porous materials Unsaturated Soils in Engineering
Practice. Course Notes, Pre-Conference Short Courses, ASCE, Denver, Colorado, 2000.
[4] D’ANGELO, R.G. Análise numérica de infiltração em camada de cobertura de aterro sanitário. Trabalho de
conclusão de curso, Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro , 2016. 89 p.
[5] RODRIGUEZ, T. T. Estudo da resistência à tração de solos saturados e não saturados. Projeto de Pesquisa. Juiz
de Fora: UFJF, 2017. 7p.
[6] DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM – DNER. PRO002: Coleta de amostras
indeformadas de solos. 1994. 12p.
[7] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS– ASTM. D 5298 – 9403: Standard Test Method for
Measurement of Soil Potential (Suction) Using Filter Paper. Rio de Janeiro, 2009. 8 p.
[8] NACINOVIC, M. G. G. Estudo de erosão pela análise de sucção e escoamento
superficial na bacia do córrego Sujo (Teresópolis, RJ). Dissertação de
Mestrado. UFRJ. Rio de Janeiro – RJ, 2009. 180 p.
[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6457: Amostras de solo – Preparação para
ensaios de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 2016. 8 p.
[10] DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM – DNER. ME093: Densidade real dos grãos.
1994. 4p.
[11] FREDLUND, D.G; XING, A. Equations for the soil-water characteristic curve. Can. Geotech Journal, v. 31, p.
521-532, 1994.
[12] CARDOSO, I.M. Determinação dos Parâmetros de Resistência de Solos Saturados Aplicados à Estabilidade
de Taludes. Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2018, 87p.
[13] NERY, D.L.L. Avaliação da Erodibilidade dos Solos de uma Voçoroca Localizada na Universidade Federal de
Juiz de Fora. Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2017, 80p.
IMPORTÂNCIA DOS FATORES GEOLÓGICOS NA ESCOLHA DE UMA
ÁREA DE ATERRO SANITÁRIO
The Importance of Geological Factors for the choice of a Sanitary Landfill Site
Nicolas da Rocha Pires 1, Fernanda Ferreira da Silva 2, João Víctor Franco Domingues 3, Julia
Righi de Almeida 4
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, nicolas.pires@engenharia.ufjf.br
2 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, ferreira.fernanda@engenharia.ufjf.br
3 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, joao.franco@engenharia.ufjf.br
4 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, julia.righi@ufjf.edu.br
Abstract: Noticing the population expansion and technological innovations focused on consumer
goods, an issue not so relevant before began to be the focus of several areas of science: the
destination of garbage produced on a global scale. The contamination of soils by leachate is one of
the major problems in the Engineering of Landfills and it is the scope of Geology to study the
properties of a soil or rock that will serve as the basis for the construction of a landfill, being the
analysis of hydrogeological factors fundamental for the choice of disposal area. The objective of the
present work is to evaluate the importance of the geological-geotechnical studies of the sites where
it is desired to build a sanitary landfill. The study has its methodology based on bibliographical
review, checking standards and the analysis of real situations in which the geological and
geotechnical properties of the sites were determinant in the percolation levels of pollutants. Criteria
such as minimum distance of water bodies, groundwater and soil permeability are regulated and
monitored by responsible bodies, and if they are not met, may make the work unfeasible. The
favorable points that a land can present for the implantation of landfills are a deep aquifer, clayey
substrate and adsorption of metals by the soil. Negative points include the proximity of water
bodies, water table close to the surface and areas liable to floods, such as marshes, mangroves and
swamps. From the geological point of view, one must avoid porous and permeable rocks, such as
sedimentary rocks; rocks that present structural elements such as fractures, which compromise the
safety of the landfill and increase the risk of contamination due to possible infiltrations; and very
coarse-grained soils such as sand and gravel. This work aims to emphasize that the study of
alternatives of sites that take into account that the geological profile constitutes an important
planning tool. Thus, it is concluded that the understanding of the geomorphological processes can
help in the decision making regarding the choice of the appropriate area for the implantation of a
sanitary landfill, therefore avoiding damages to the environment and human health.
1. INTRODUÇÃO
Um dos maiores problemas da atualidade diz respeito ao descarte do lixo produzido em escala
global, devido ao seu impacto na qualidade ambiental e na saúde pública. Essa temática só piora a
medida que, a cada dia, a população urbana e a geração per capita de resíduos aumentam, enquanto
a área para sua disposição diminui.
Não é rara - tampouco recente - a prática de dispor o lixo produzido sobre corpos terrosos. Durante
muito tempo acreditava-se que não obstante suas propriedades físicas e químicas, como
permeabilidade, absorção, capilaridade, entre outras, os solos possuíam grande capacidade de
autodepuração, além de permanecerem inertes em contato com substâncias que são inerentes aos
resíduos ou então produzidas naturalmente no processo de decomposição destes. Entretanto, no fim
da década de 70, observaram-se grandes impactos ambientais, como contaminações de lençóis
subterrâneos, que possuíam forte relação com a poluição do solo, dada pela percolação do lixiviado,
e pelas interações entre solo e contaminante[1].
Após investigações, concluiu-se que, assim como o ar e a água, o solo não só se constitui como via
transportadora de poluentes, como também pode ser contaminado por estes. Frente a esta premissa,
a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6938/1981) considera que a preservação de recursos
naturais e a qualidade dos solos configuram dever ambiental[1].
A partir de então, novas diretrizes foram tomadas para que o descarte de lixo causasse o menor
impacto ambiental quanto fosse possível, visto que as atividades industriais, juntamente com o
despejo inadequado de resíduos representavam as principais causas de contaminação de solos,
fomentados pelo comportamento compulsivo do consumidor contemporâneo e do setor industrial,
que produz em larga escala para suprir a demanda do mercado, gerando grande quantidade de
rejeito[1]. Resultante desta necessidade surgiram os aterros sanitários, que nada mais são do que
técnicas eficientes para que a disposição de resíduos sólidos em maciços ou substratos terrosos
tragam o menor impacto ambiental possível tanto para o corpo receptor, como para todos os
sistemas ao entorno, preservando assim os recursos naturais, a saúde pública e o bem estar da
população vizinha.
Além disso, nas cidades brasileiras, o destino final dos resíduos sólidos urbanos ainda é feito de
maneira inadequada Observa-se que os vazadouros a céu aberto (lixões) constituem o destino final
de 18% dos municípios brasileiros, 22,9% são destinados a aterros controlados e 59,1% têm como
destino final um aterro sanitário[2].
O aterro sanitário é tido como a forma de disposição final mais ambientalmente adequada, de modo
a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, de acordo com a Política Nacional dos
Resíduos Sólidos (PNRS, 2010). Para Marques (2011)[3], a seleção de uma área adequada para a
implantação de aterros é de grande importância para a redução dos impactos ambientais, financeiros
e sociais relacionados à disposição final dos resíduos sólidos.
Neste contexto, o objetivo do artigo é analisar os parâmetros favoráveis que um terreno pode
apresentar para a implantação de um aterro sanitário.
2. METODOLOGIA
Como supracitado, o presente trabalho tem como objetivo o estudo e análise de casos em que
fatores geológico-geotécnicos influenciaram na execução e operação de aterros ao redor do mundo.
Para que o estudo fosse realizado de forma ordenada, adotou-se a sumarização do assunto por meio
de revisão bibliográfica, artifício imprescindível para formulações de trabalhos científicos.
Outro cenário onde a revisão literária desempenha respeitável função é nos estudos de casos onde
existe a temática, mas não se identifica ainda o problema, devido, geralmente, à recenticidade dos
estudos do assunto em voga. Através da sumarização e estruturação que uma sólida revisão propicia
é possível identificar pontos que já foram objetos de pesquisa, bem como os que ainda precisam ser
investigados, através dos indícios e recomendações de autores[4].
A Geotecnia de aterros é um vasto campo de estudo; contudo, ainda é uma ciência recente no
Brasil. Os vazadouros a céu aberto só foram proibidos no fim da década de 70[5]. Constata-se então,
que há uma necessidade de que os campos de pesquisas no que tange tanto a concepção como a
execução e operação de aterros de resíduos sólidos agrupem todos os conhecimentos teóricos
coordenadamente para que as técnicas elaboradas a partir dos estudos bibliográficos resultem em
processos mais otimizados quanto for possível.
3. ESTUDOS DE CASO
Com base no histórico dos projetos de execução e gerenciamento dos aterros sanitários que são
referência mundial em qualidade e gestão, pode-se afirmar que é necessário um vasto estudo
multidisciplinar para que a escolha da área destinada a receber o depósito acarrete os menores
impactos possíveis, tanto no processo de locação e execução da obra, como durante a deposição dos
resíduos (vida útil da construção). Para tanto, o sistema precisa ser socioeconomicamente viável,
logisticamente acessível, e, sobretudo, atender às legislações e normas no que tange ao escopo
ambiental, que se tornam tanto mais rigorosas quanto maior a complexidade da composição dos
detritos. Nota-se, então, que um dos maiores desafios para a concepção de um aterro é o
zoneamento para a sua implantação.
● Escoamento Superficial: fluxo da parcela da água de chuva que não percola o maciço, o
escoamento é função de outros aspectos, como por exemplo, a capacidade de infiltração (que por
sua vez está ligado à permeabilidade do substrato), tipo de cobertura vegetal, declividade e dados
meteorológicos[6]. As áreas mais adequadas para implantação de aterros são as que possuem alto
coeficiente de escoamento associada à baixa taxa de infiltração, o que dificultará a formação de
áreas alagadas[7].
● Distância de Corpos d’Água: é necessário assegurar uma distância mínima da área de
implantação do aterro a corpos hídricos, para que o nível ou curso da água não atinja a área de
resíduos caso ocorra cheias ou inundações. Calijuri et al. (2002)[8] recomendam distâncias de raio
superior a 700 m.
● Distância de Rodovias: os aterros devem estar longe das rodovias a ponto de não causarem
poluição visual, e respeitarem os limites das faixas de domínio da mesma, conforme normas de
especificação; entretanto, devem estar próximos a ponto de o transporte dos resíduos não serem
demasiadamente onerosos. Calijuri et al. (2002)[8] recomendam distâncias inferiores a 700 m.
A norma brasileira que trata dos critérios para implantação e execução de aterros de resíduos não
perigosos é a ABNT NBR 13896[9], vigente desde junho de 1997. Nela são especificados padrões
que devem ser seguidos para a instituição de um sistema de deposição de resíduos em determinada
área, como por exemplo, aceitação da instalação pela vizinhança; necessidade da disposição de
camadas de materiais artificiais ou naturais que reduzam drasticamente ou impeça a infiltração de
percolados no maciço; medição periódica da concentração e vazão dos gases gerados na operação;
maximização da vida útil e minimização de manutenções. Além disso, é necessário que requisitos
básicos de segurança de caráter hidrogeotécnico sejam atendidos, dentre os quais destacam-se:
Buscando exemplificar os fatores supracitados, 3 aterros serão tomados como base: o aterro de
Pilligo nos arredores de Canberra[11], o aterro de West Belconnen, na região de North Canberra e
Belconnen[11] e, por último, o aterro de Cuiabá no estado de Mato Grosso[10]. Em cada um dos três
pode ser vista a maneira que o solo de base de um aterro influencia a necessidade de preparo prévio
do sítio, ou ainda, a observação e monitoração posteriores ao início do uso do mesmo. [P1] Comentário: A ordem descrita
nesse parágrafo deve ser igual a que
aparece em seguida:
3.3.1. Aterro de Pilligo 1º pilligo,
2º West belconnen
O aterro de Pilligo é o mais antigo dentre eles. Construído em meados dos anos 60, era o principal 3º cuiabá
destino do lixo doméstico gerado pela cidade de Canberra até 1978. O projeto do aterro em quase
toda a sua integridade foi feito antes de haver entendimento da importância de fatores geológicos no
momento de escolha de uma área a qual será dada este fim. Sob uma visão geológica, sabe-se que
grande parte da região era composta de trincheiras e poços arenosos profundos, os quais foram
cobertos na execução do aterro. O aterro está em uma região de taludes e depósitos de origem eólica
e coluvial até o Rio Molongo no Oeste; no seu limite Leste, uma cadeia de cumes baixos; ao Norte,
está o Aeroporto de Canberra no Vale Majura onde fica o Córrego de Woolshed e ao sul, colinas
baixas de afloramento de rochas vulcânicas[12]. O leito rochoso abaixo consiste em blocos de rochas
sedimentares que apresentavam falhas estruturais como lamito calcáreo, siltito e Ashstone (rocha
composta de cinzas vulcânicas de diâmetro reduzido) e tufos de uma rocha vulcânica chamada
Dacito, como pode ser visto na Figura 1.
Como já dito anteriormente e também no trabalho de Ferreira et al. (2018)[13], quando se trata de
aterros sanitários o maior dano que se maneja evitar é a contaminação do solo de corpos d’água
próximos pelo lixiviado. Cada um destes três que foram citados tiveram que lidar de alguma
maneira com a permeabilidade do estrato de solo que servia como base.
O aterro de Pilligo era considerado uma iminência ao desastre, com seu solo altamente permeável,
leito rochoso fraturado e total despreparo prévio do solo por falta de conhecimento da época. A
percolação de água se daria facilmente, portanto, no ano de 1979 foram feitos ensaios através de 19
escavações no solo, donde 12 furos apresentaram água subterrânea e então foram utilizados
equipamentos para determinar e monitorar a extensão dos poluentes, como pode ser visto na Figura
2. Os ensaios e estudos feitos por Jacobson e Evans (1981)[11] determinaram que quando o solo é
submetido ao regime de chuvas e próximo a total saturação, inicia-se a produção de chorume e a
recarga do aquífero, consequentemente, a infiltração ocorre em um fluxo constante até o lençol
freático.
Na época, a qualidade de água era testada a cada 6 meses. Para água subterrânea natural, os níveis
aceitáveis de COD (Carbono orgânico dissolvido) eram de 1-5 mg/L e de 10-20 mg/L para água
represadas. Em três dos pontos de controle, a poluição era evidente nos aquíferos superficiais
atingindo valores superiores a 10 mg/L de COD. Somado a estes em um ponto que monitorava o
aquífero que permeava rochas fraturadas se encontrou também níveis fora do padrão de poluentes.
Análises químicas foram feitas e o total de sólidos dissolvidos no lixiviado variava de 9000 a 14000
mg/L, enquanto em águas subterrâneas levemente poluídas variava de 400 a 900 mg/L e em águas
aparentemente não contaminadas; de 100 a 300 mg/L. A Demanda química de oxigênio,
condutividade elétrica eram correspondentemente altas e o pH do chorume era ácido, variando de
5,1 a 5,3.
Até o momento em que o artigo de Jacobson e Evans foi publicado, não havia tido nenhuma coleta
da água subterrânea vizinha e nenhuma contaminação no Rio Molongo. Contudo, monitoramentos
ainda eram requeridos, pois, o plano futuro de uso do local era na criação de edifícios de atividades
recreacionais, ainda que o aterro apresentasse recalque diferencial e o aparecimento de fissuras de 5
centímetros de largura e 30 metros de comprimento.
Atualmente, onde antes havia o aterro de Pilligo, há uma usina de reciclagem de rejeitos e resíduos
de materiais de construção civil, a Canberra Concrete Recyclers, vide Figura 3.
O aterro de West Belconnen (Figura 4) foi planejado em 1971 e iniciou suas operações em 1976.
Diferente de Pilligo, a geologia local teve peso na escolha das operações a serem feitas no terreno.
Composto de rochas vulcânicas e sedimentares do Siluriano como visto na Figura 2, há a presença
de água subterrânea em um aquífero que permeia rochas fraturadas, porém confinadas por uma
camada de argila sobreposta[11]. O risco de contaminação do aquífero foi considerado de grande
importância e para evitar tal acidente usou-se na época uma técnica em que os resíduos sólidos eram
depositados em trincheiras e selados com uma argila de baixa permeabilidade para evitar a
infiltração de lixiviado. Além disso, a água superficial que corria nas proximidades foi desviada
para os arredores e todo o chorume produzido era tratado no local em processo de decomposição
anaeróbica e oxidação.
Fig. 4- Perfil do Aterro Sanitário de West Belconnen adaptado de Jacobson e Evans (1981)[11].
O nível d'água indica um fluxo a região sudoeste e a superfície potenciométrica fica entre 1 e 2
metros podendo chegar a 2,5 dependendo de flutuações sazonais. A qualidade de água também foi
medida através de COD e estava entre 1 e 3 mg/L em amostras de água subterrânea e de 8 a 20 em
amostras de águas represadas. Nos 4 anos de operação até a publicação do artigo de Jacobson e
Evans (1981), nenhuma poluição do aquífero havia sido detectada.
Havia até mesmo um plano de criação de uma área específica para rejeitos perigosos na região
sudeste do aterro, pois diversos metros de argila acima de pórfiro intemperizado e proximamente
justapostos compunham o solo do local. O aquífero na rocha era confinado e o lençol freático se
localizava entre 11 e 14 metros abaixo da superfície. Após uma bateria de testes, descobriu-se que
os poluentes demorariam em torno de 21 anos para percorrer um quilômetro através da rocha e que
na infiltração testada através de pigmentos aplicados, avaliou-se que esses pigmentos não chegaram
aos poços de monitoramento.
O aterro cessou seu funcionamento em 2002, servindo apenas como aterro de emergência desde
então. No local, funcionava até 2018 uma empresa coleta de materiais recicláveis (Figura 5), porém
como já planejado desde 2015, a empresa Ginninderry vai utilizar o local em no seu plano de
desenvolvimento de casas. O foco principal da empresa é transformá-lo em uma área com objetivo
sustentável, como uma fazenda urbana, um parque ecológico, um parque de geração de energia
renovável ou ainda, espaços de convívio da comunidade como áreas de recreação.
Fig. 5- Aterro Sanitário de West Belconnen em 2018 (Retirado do Google Maps).
Apresenta-se em sua geologia, a noroeste, filitos que se mostram como pouco permeáveis cobertos
por cascalhos de quartzo (variando de centímetros a metros) e laterita, com fraturas preenchidas por
quartzo em alguns pontos. Já a sudeste, a região era composta de metarenitos que apresentavam alta
concentração de falhas preenchidas por quartzo (Figura 7), sendo então mais permeável e suscetível
a infiltração de lixiviado. O nível de água está em torno de 16m de profundidade[10]. Além destes
dados, nota-se que próximo ao aterro havia um antigo lixão desativado.
Os ensaios usados são de origem geofísica, sendo um o GPR enquanto o outro era um método
eletromagnético indutivo. De acordo com os autores, o primeiro é mais recomendado para se obter
dados da profundidade de contaminação e o segundo; da variação de intensidade dessa
contaminação.
Os resultados, por eles obtidos, mostram que a contaminação gerada pelas anomalias de
condutividade calculadas era maior que o esperado nas proximidades das lagoas de chorume e nas
laterais sul e norte do aterro impermeabilizado.
Este último causou a impressão de que a camada de impermeabilização de base não estaria surtindo
o efeito desejado, permitindo a percolação de lixiviado. Uma subunidade em específico era a mais
preocupante, pois seu substrato de metarenito (rocha com altos índices de permeabilidade e
porosidade) fraturado se mostrava um risco. Em oposição, a subunidade 6, uma área de filitos
apresentava valores bem menores, ainda que seja uma área onde não havia sido depositado nenhum
tipo de resíduo até o momento do estudo de Laureano e Shiraiwa (2008)[10].
Tomando uma avaliação mais recente do aterro, Rohlfs (2016)[14] avaliou o nível de contaminação
das áreas vizinhas. Os valores de concentração foram baixos, mas ainda assim, a autora destaca que
o fato de estes valores não serem maiores que os previstos pela legislação no momento do estudo,
não garante que os mesmos não podem aumentar, principalmente conhecendo a geologia e a
hidromorfologia local. A região é um divisor de águas e apresenta rochas fraturadas e, portanto
mais permeáveis, como o metarenito. Em adição a estes fatores, Rohlfs (2016)[14] ainda afirma que
pode ser observado na etapa de campo que o lixiviado estava escoando em volume palpável, sem
grandes impedimentos através de sulcos e erosões no local.
4. CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objetivo avaliar a importância do estudo dos fatores geológicos-
geotécnicos em regiões onde se planeja implantar um aterro sanitário, exemplificando situações
reais nas quais essas propriedades foram determinantes para auxiliar a tomada de decisão a respeito
da escolha da área adequada.
Como procedimento metodológico, foi realizada uma revisão bibliográfica a respeito de temas que
ressaltassem a importância dos conhecimentos geotécnicos e geológicos de uma área sobre a qual
deseja-se construir um aterro sanitário.
Foram escolhidos para estudos dois aterros na Austrália e um aterro no Brasil, pela similaridade do
clima e da topografia entre eles, visando uma maior aplicabilidade ao assunto tratado. Esse estudo
de casos identifica fatores que influenciam na implantação e um aterro sanitário, como: declividade,
escoamento superficial, distância de corpos d’água e distância de rodovias.
O aterro sanitário de Pilligo, na Austrália, possui um solo altamente permeável, com leito rochoso
fraturado, o que contribuiu para a percolação de água da chuva e a contaminação do subsolo. O
aterro de West Belconnen, também na Austrália, é composto por rochas vulcânicas e sedimentares,
com a presença de água subterrânea em um aquífero que permeava as rochas fraturadas, confinadas
por uma camada de argila, com baixo risco de contaminação. Já o aterro de Cuiabá, no Brasil, se
localiza em uma província geomorfológica constituída de rochas metamórficas, com um solo argilo-
siltoso de baixa permeabilidade, com áreas que apresentam alta concentração de falhas, sendo estas,
portanto, mais permeáveis.
Atenta-se que para que haja uma regulamentação a respeito dos procedimentos que devem ser
seguidos para a implantação e execução de aterros, a norma brasileira ABNT NBR 13896[9] -
Aterros de resíduos não perigosos - Critérios para projeto, implantação e operação -, especifica
padrões que devem ser seguidos para a instituição de um sistema de disposição de resíduos em uma
determinada área.
Assim sendo, o presente estudo permitiu compreender que as propriedades geológico-geotécnicas
contribuem ativamente no processo de escolha de uma área de implantação de aterro, uma vez que
relacionam parâmetros importantes, como o nível de percolação de agentes contaminantes,
evitando, portanto, danos ao meio-ambiente e à saúde humana. Sendo necessário ainda, que esta
área atenda à legislação vigente e às necessidades da população.
REFERÊNCIAS
[1] ALMEIDA, J. R. de.Proposta de Índice de Avaliação de Aterros de Resíduos desativados a partir do potencial
poluidor do lixiviado. 2017. Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPE/Programa de Engenharia Civil, 2017.
[2] ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Brasil produz mais
lixo, mas não avança em coleta seletiva. 2017. Disponível em: <http://abrelpe.org.br/brasil-produz-mais-lixo-mas-
nao-avanca-em-coleta-seletiva/>. Acesso em: 03 nov. 2018
[3] MARQUES, Marília Daher. Seleção de área para implantação de aterro sanitário simplificado: estudo de caso para o
município de Guapó-GO. 2011. 77 f. Dissertação (Mestrado em Engenharias) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia,
2011.
[4] ECHER, I. C.; A Revisão de Literatura na Construção do Trabalho Científico. R. Gaúcha Enferm., Porto
Alegre, v. 22, n. 2 p. 5-25, jul. 2001.
[5] ANDRADE, R. M. de; FERREIRA, J.A. A Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil frente às questões da
Globalização. REDE – Revista Eletrônica do Prodema, Fortaleza, v. 6, n.1, p. 7-22, mar. 2011.
[6] MOREIRA, M. A. A.; LORANDI, R.; MORAES, M. E. B. de; Caracterização de Áreas Preferenciais para a
Instalação de Aterros Sanitários no Município de Descalvado (SP), Na Escala 1:50.000. Revista Brasileira de
Cartografia n. 60/02, p. 177-194, agosto 2008.
[7] LEITE, J. C. Metodologia para elaboração da carta de susceptibilidade à contaminação e poluição das águas
superficiais. 1995. Dissertação (Mestrado em Geotecnia) – Departamento de Geotecnia, Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo. São Carlos. 1995. 192p.
[8] CALIJURI, M. L.; MELO, A. L. O.; LORENTEZ, J. F. Identificação de áreas para implantação de aterros
sanitários com uso de análise estratégica de decisão. Informática Pública v.4:, n. 2, p. 231-250. 2002.
[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13896: Aterros de resíduos não perigosos -
Critérios para projeto, implantação e operação. Rio de Janeiro, 1997.
[10] LAUREANO, A. T., SHIRAIWA, S. Ensaios geofísicos no aterro sanitário de Cuiabá-MT. Revista Brasileira de
Geofísica, v. 26, n. 2, p. 173-180, 2008
[11] JACOBSON, G., EVANS, W. R. Geological Factors in the development of sanitary landfill sites in the Australian
Capital Territory. BMR Journal of Australian Geology & Geophysics, n.6, p. 31-41, 1981.
[12] EVANS, W. R., JACOBSON, G., BENNETT, D. G. Geological and geophysical investigation of the Pilligo
Landfill Site, ACT. Department of National Development - Bureau of Mineral Resources, Geology and
Geophysics, 1980
[13] SILVA, F. F., DOMINGUES, J. V. F., PIRES, N. R. A Importância dos Estudos Geológicos-Geotécnicos na
Implantação de Aterros Sanitários. 6° Fórum Ambiental de Juiz de Fora, 2018.
[14] ROHLFS, D. B. Tese de Doutorado em Saúde Coletiva: Aplicabilidade de metodologia de avaliação de risco à
saúde humana em área de disposição de resíduos sólidos: Estudo de Caso do Aterro Sanitário de Cuiabá/ MT. UFRJ,
2016.
[15] FERNANDES, M. C., GARCIA, F. O., CATEN, B. T. Relatório do Campo de Geofísica no Aterro Sanitário de
Cuiabá. ICET/UFMT, 2006.
APLICATIVO EDUCACIONAL PARA CÁLCULO DE TREM-TIPO EM
PONTES
Abstract: The use of computational tools in the teaching and learning process has been shown to be
more and more indispensable in universities. Technology allied to education enables greater
interaction and use of resources, increasing the quality and performance of learning. The main
objective of this work is the development of an online app for the determination of the longitudinal
traffic load on bridges. The development was based on the last version NBR 7188/1984 and the
current NBR 7188/2013, through the calculation of the line of transversal influence, for educational
purposes. As a computational language, JavaScript programming was adopted due to its
characteristics such as interpreted language, functions included in HTML pages and platform
independence. As a result, we obtained an application available for free on a web platform, aiming
at greater accessibility, interactivity and mobility in the educational field, with the presentation of
the results in a didactic and intuitive way.
2. OBJETIVO
Com o intuito de demonstrar os efeitos do tráfego de veículos sobre as estruturas de pontes, através
do cálculo do trem-tipo positivo e negativo, ressaltando as situações mais críticas de esforços sobre
a estrutura a partir da posição do transporte, desenvolveu-se um programa em linguagem
JavaScript. O aplicativo foi programado com uma das linguagens mais utilizadas no mundo,
garantindo maior interatividade do usuário na web. Utiliza-se no mesmo, valores de carga e
características dos veículos parametrizados segundo NBR 7188.
A partir da escolha da classe estrutural informada pelo usuário, porém, restringida pelas classes da
NBR 7188:1984 [4] (12, 30 e 45) e da NBR 7188:2013 [3] (TB-240 e TB-450), as características
dos veículos (distância entre os vãos, largura das rodas, comprimento e largura) e cargas moveis
atuantes na estrutura (cargas por eixo, carga de multidão e carga permanente), são determinadas por
norma para o cálculo das linhas de influência. A mesma é calculada segundo Princípio de Müller –
Breslau, sendo a partir de sua análise, definidos valores extremos dos esforços cortante e momento
fletor.
A fim de que o processo de aprendizagem de estrutura de pontes se torne mais interativo e inovador,
o proposito do aplicativo é o envolvimento de seu usuário à diversas aplicações didáticas, de forma
a estimular a inovação e o avanço tecnológico no desenvolvimento de modelos de trem-tipo para
cálculo de estruturas de pontes. Disponibilizado de forma gratuita e online, além de fácil
mobilidade, facilitando o acesso de seus usuários.
3. FUNDAMENTAÇÃO
Conforme determinado pela NBR 7188:1984 [4] as considerações sobre carga móvel em pontes
rodoviárias foram realizadas de acordo com a norma NB-6 [7] (conforme Tabela 1). A norma
admite três classes estruturais para cálculo do trem- tipo de pontes, classe 45 com peso total de 450
kN, sendo 75 kN em cada roda dianteira e traseira (conforme Fig. 2). Classe 30, que possui peso
total de 300 kN, sendo 50 kN provenientes de cada roda traseira e dianteira. Ambas as classes 45 e
30 possuem carga de multidão de 5 kN/ m² e uma carga de multidão no passeio de 3 kN/m²,
formadas a partir de um veículo de 6 rodas, desconsiderando o impacto. Já a classe 12 é formada
por um veículo de 4 rodas, com peso total de 120 kN, sendo 20 kN em cada roda dianteira e 40 kN
em cada roda traseira, carga de multidão de 4 kN/ m² igualmente majoradas e uma carga de
multidão no passeio igual as demais classes.
Tabela 1 - Cargas dos veículos segundo NBR 7188:1984[4].
A norma vigente NBR 7188:2013 [3] foi revisada e atualizada devido ao aumento da densidade de
trafego, magnitude das ações acidentais e anomalias observadas em pontes e viadutos (elementos
estruturais adjacentes as juntas de dilatação) [8]. Ela autoriza a utilização da TB-450 (igual a classe
45 da versão anterior da norma) e TB-240 (em obras em estradas vicinais municipais de uma faixa e
obras particulares) para o cálculo do trem-tipo, sendo o comprimento do veículo de 6 m e largura de
3m, com 3 eixos de carga afastados entre si a 1,5 m (conforme Fig. 2), desconsiderando as classes
30 e 12. Na configuração TB-240, definido por um veículo tipo de 240kN, com seis rodas, carga P
por roda de 40 kN, e carga de multidão de 4 kN/ m², nas dimensões da Fig.2.
A carga móvel assume posição qualquer em toda a pista rodoviária com as rodas na posição mais
desfavorável, inclusive acostamento (conforme Fig. 3) e faixas de segurança. Já a carga distribuída
deve ser aplicada na posição mais desfavorável, independente das faixas rodoviárias (NBR
7188:2013 [3]).
Consideração esta que também pode ser verificada [12] conforme Fig.5, para a situação da geração
do trem-tipo longitudinal positivo, com sua respectiva linha de influência.
.
Fig. 5 – Determinação do trem- tipo da longarina [12].
A figura anterior evidencia que o posicionamento do veículo na situação mais desfavorável, faz
com que a longarina receba o valor da carga total veículo com o impacto. Através da linha de
influência da figura anterior, é possível notar uma região negativa, o que segundo Buchaim [12]
implica na existência de um trem- tipo negativo, sendo sua maior importância, a consideração da
fadiga dos materiais. O trem- tipo negativo assim como o positivo, pode ser obtido pela
multiplicação das cargas moveis pelas ordenadas ou pelas áreas correspondentes na referida linha,
conforme menciona Longo [6], em 1979.
4. METODOLOGIA
Visando fins didáticos o estudo foi realizado de forma parametrizada, utilizando uma estrutura de
ponte sobre duas longarinas, com balanço nas extremidades, e seção transversal conforme Fig. 6,
sendo o vão principal, comprimento do passeio e acostamento determinados pelo usuário, com
possibilidade de escolha do veículo tipo, de acordo com a NBR 7188:1984 [4] (12,30 e 45) e da
NBR 7188:2013 [3] (TB-240 e TB-450).
A posição dos veículos foi considerada para a situação mais crítica conforme sugerida pela norma
[4], as rodas encostando no acostamento e com as características dos veículos (conforme tabela 3).
As cargas moveis atuantes na estrutura foram determinadas, através da escolha da classe estrutural.
Tabela 3 – Valores característicos para os veículos segundo NBR 7188: 1984 [13].
As solicitações provenientes do trem-tipo são calculadas segundo uma sequência lógica (segundo
Fig.7), através de um programa computacional em linguagem JavaScript, onde primeiramente na
entrada de dados, solicita-se a escolha da classe da estrutura, classe 45, 30, 24 ou 12, sendo a partir
dessa escolha, definido os valores de carga de veículo e multidão atuantes. Em seguida, requer-se a
inserção do comprimento da passarela (confirme Fig.6), comprimento do acostamento e
comprimento do vão, em por fim, calcula-se a linha de influência de reações de apoio segundo o
Princípio de Müller-Breslau. De acordo com a classe escolhida e os dados inseridos pelo usuário, o
programa solicita o trem-tipo desejado, e a partir da mesma obtém-se o trem-tipo segundo a NBR
7188, para veículos com as rodas encostada no acostamento.
ENTRADA DE
DADOS
Cálculo da linha de
influência
ESCOLHA DO
TREM- TIPO
RESULTADO
NUMÉRICO/
GRÁFICO
Fig. 7 – Ordem lógica de desenvolvimento de cálculo.
O fluxograma da Fig.7 finaliza com a determinação de dois trem-tipo para cada classe estrutural. A
posição do veículo em relação a longarina V1 gera um trem-tipo positivo e outro negativo, sendo o
mesmo obtido pela multiplicação das cargas moveis pelas ordenadas ou pelas áreas correspondentes
na referida posição determinada pelo diagrama da linha de influência [13].
Salienta-se, que segundo a NBR 7188:1984 [4], permitia-se homogeneizar a configuração do trem-
tipo longitudinal conforme Fig.8. Tal informação não consta mais na NBR 7188:2013[3], logo, o
trem-tipo gerado no cálculo da ferramenta desenvolvida, segue a abordagem convencional.
Para validação, dois problemas de referências bibliográficas clássicas foram testados. O primeiro
um exemplo numérico do autor Marchetti [10], em 2008 e o segundo do autor Araujo [14], em
2013.
5. RESULTADOS
Na primeira etapa o programa solicita que o usuário escolha a classe de sua estrutura, conforme
determinações da norma NBR 7188, sendo as possíveis escolhas de acordo com a NBR 7188:1984
[4] (12,30 e 45) e da NBR 7188:2013 [3] (TB-240 e TB-450).
Após escolher a classe, requisita-se as características geométricas da estrutura, comprimento do
tabuleiro (passeios, vão entre longarinas e balanços) considerando valores parametrizados. De modo
padronizado a dimensão da barreira New Jersey é considerada com largura de 0,40 m, como
também, todo modelo de cálculo da ponte é para uma faixa longitudinal de 1 m (valor unitário) de
comprimento, sendo o número de vigas longitudinais (longarina) restrita a apenas duas. As
características do veículo e cargas são determinadas segundo a classe indicada na NBR 7188,
versões de 1984 e 2013 (Fig. 9). Todas as unidades estão de acordo com o S.I. (Sistema
Internacional de Unidades), sendo os comprimentos em metros, cargas concentradas kN, e cargas
distribuídas kN/m².
A posição do trem-tipo foi considera na situação mais crítica conforme sugerido pela NBR 7188
conforme Fig. 10.
Para melhor exemplificar foram resolvidos dois exercícios retirados da bibliografia, de forma a
validar o programa desenvolvido, demonstrando assim sua eficácia.
Segundo Marchetti [10], em 2008, no cálculo das ações das cargas móveis, o preparo do trem-tipo
relativo a um elemento considerado, trata-se de determinar o conjunto de cargas concentradas e
distribuídas que servirão para carregar as linhas de influência relativas. Dessa forma, adotando a
ponte, conforme Fig. 12, classe 45 e dados fornecidos pelo exercício, calculou-se o trem – tipo pelo
programa computacional.
Fig. 12 – Cargas atuantes na ponte a partir da posição do veículo sobre a mesma [10].
Comparando-se o resultado obtido (trem-tipo de reações de apoio positivo) pelo programa
computacional (Fig.14) e o desenvolvido por cálculos manuais conforme demonstrados por
Marchetti [10], em 2008 em seu livro (Fig. 13), consta-se que ambos apresentaram o mesmo
desfecho, comprovando a competência da ferramenta, evidenciando sua didática e funcionalidade
para os usuários. Além do cálculo do trem- tipo positivo, o aplicativo calcula o trem-tipo negativo,
demonstrado na Fig. 15.
Fig. 13 – Trem-tipo positivo obtido por calculos manuais [10].
Fig. 16 – Linha de Influência gerada a partir das cargas atuantes na ponte, conforme posição do veículo sobre a
mesma [14].
Por fim, após a apresentação e comparação dos resultados, comprova-se a eficácia da ferramenta
computacional desenvolvida para cálculo de trem-tipo positivo e negativo. Os resultados
apresentados pelo programa tiveram uma boa precisão quando comparados com os extraídos das
referências, sendo alguns idênticos aos mesmo (conforme mostra Tabela 4), o que valida seus
resultados, atingindo assim, de forma satisfatória o objetivo desse trabalho. Os resultados que
apresentaram divergência, validação 02 (segundo Tabela 4), se justifica quanto a aproximação
numérica utilizada pelo autor, com apenas uma casa decimal.
6. CONCLUSÃO
As pontes são consideradas grandes obras de arte, de suma importância para a infraestrutura de um
país, além de servir como principal meio de deslocamento em rodovias brasileiras, o que torna seu
estudo ainda mais imprescindível, fascinante e inspirador.
Este trabalho demonstrou o desenvolvimento e determinação do trem-tipo positivo e negativo com
o auxílio de uma ferramenta computacional. Através do cálculo da linha de influência de reações de
apoio, dois exemplos validaram o programa desenvolvido, sendo ambos da classe 45, resultando
valores significativos para o trem-tipo gerado, demonstrando a grande aplicação do mesmo no viés
educacional.
Na atualidade tem se tornado cada vez mais indispensável a tecnologia aliada a educação, de forma
a otimizar o tempo de cálculo visto que, seus processos podem se tornar complexos, sucedendo
cálculos manuais por computacionais. Assim, o aplicativo desenvolvido tem o intuído de designar
maiores analises e concepção de problemas relacionados a estrutura de pontes, a partir do cálculo do
trem-tipo positivo e negativo gerados, explorando e consolidando diferentes habilidades através da
aplicação dos conceitos de estruturas.
REFERÊNCIAS
[1] OLIVEIRA, R., Informática Educativa. 8 ed. São Paulo: Papiros, 1997.
[2] PFEIL, W., Pontes em Concreto Armado. 1. ed. Rio de Janeiro: Livros técnicos e científicos, 1979.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7188: Carga móvel rodoviária e de pedestres
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[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7188: Carga móvel em ponte rodoviária e
passarela de pedestre, 1984. Rio de Janeiro, 1984.
[5] SOUZA, J.C., ANTUNES, H.M., Cargas Moveis em Estruturas lineares. 3. ed. São Paulo: Departamento de
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[6] LONGO, H.I., Esforços máximos em pontes tipo grelha. Tese de mestrado. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 1979.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NB- 6: Carga móvel em ponte rodoviária e passarela
de pedestre,1982. Rio de Janeiro, 1982.
[8] TIMERMAN J., BEIER M., CONSIDERAÇÕES SOBRE A REVISÃO DA ABNT NBR 7188 “Carga Móvel
Rodoviária e de Pedestres em Pontes, Viadutos, Passarelas e outras estruturas. Associação Brasileira de
Engenharia e Consultoria Estrutural. São Paulo, SP, 2012.
[9] TIMERMAN, J., Modelos de dimensionamento, normalização e métodos de avaliação de pontes e viadutos.
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[10] MARCHETTI, O., Pontes de Concreto Armado. 1. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2008.
[11] SÜSSEKIND, J.C., Curso de análise estrutural. 2. Ed. Porto Alegre: Globo, 1977.
[12] BUCHAIM, R., Exemplo de Análise de Tabuleiro com duas Vigas. Notas de aula do Departamento de
Estruturas, Pontes, UEL Centro de Tecnologia e Urbanismo. Londrina, 2007.
[13] RUSCHI, L.A., Realização do trem- tipo à luz das cargas reais nas rodovias brasileiras. Tese de doutorado.
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, 2006.
[14] ARAUJO, D.L., Projeto de ponte em concreto armado com duas longarina. Goiás: Editora UFG, 2013.
SEGURANÇA DE BARRAGEM DE REJEITO: UMA ANÁLISE DA
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
Tailing dam safety: an analysis of brazilian legislation
Abstract: Considering the potential of the Brazilian soil, the mining industry has an extremely
important role in the country’s economy; this fact makes necessary the presence of a great number
of tailing dams. The historic of problems involving this kind of work in Brazil is hugely
threatening; the outcome of these accidents surpass the engineering aspects and hit systematically
the environment, the society and the economy. Although technological advancements and
researches in this area enable the operation and the construction of dams with a nice safety level, in
reality what is seen are lacking projects, improper supervision during the set up and maintenance
and, hence, a lack of monitoring after the end of the operational time of the dam. Another fact that
contributes for these disasters is the absence of proper inspection, often caused by the scarcity of
professionals qualified for the role. In light of the problem and its causes there is the need to rate the
evolution of the Brazilian law related to tailing dams, with the aim to propose improvements to
increase the safety of the works. With this in mind, the purpose of this essay is to verify the relation
between legislation flaws and the high number of these accidents. In front of the uncountable
deficiencies, it is unlikely that tailing dams disasters will not happen again, since failures remain,
mainly because of the lack of professionalism of the ones involved. However, it is important to keep
proposing and complementing ideas that can decrease the problem: the law must progress in the
pursuit of safer dams and punish effectively the responsible ones for the accidents. At the same
time, it is necessary to implement a form of control made by trained professionals and promote
investments that can boost researches in the area. To reach this aim it is necessary to study the
historic of tailing dam accidents and the law updates about them, showing the urge of legislation
changes. To sum up, the building method of tailing dams is often not suitable, although the law
allows it.
1. INTRODUÇÃO
A indústria da mineração tem um papel extremamente importante para a economia brasileira, tendo
sido responsável por 4,2% do PIB de 2016 [1]. Isto ocorre em função do potencial do solo
brasileiro, que se apresenta em configurações bem diversificada e rica. A forte presença da
atividade extrativista gera alguns impactos, dentre eles a necessidade de construir barragens para
conter os rejeitos da mineração. Define-se como rejeitos, resíduos resultantes de processos de
beneficiamento, a que são submetidos os minérios, visando extrair os elementos de interesse
econômico [2].
De acordo com o Relatório de Segurança de Barragens da ANA (2015) com dados computados até
setembro de 2014, o Brasil possui cerca de 663 barragens de contenção de rejeitos [3]. Estes
números se mostram extremamente preocupantes já que os acidentes envolvendo este tipo de obra
tem sido relativamente frequente e causam graves impactos socioambientais.
Em 1986, a barragem de Fernandinho em Itabirito (MG) rompeu causando a morte de sete pessoas;
em 2001 um acidente envolvendo a barragem da mineração Rio Verde, em Nova Lima (MG),
deixou cinco operários mortos além do assoreamento do Rio Taquaras causado pelos rejeitos. Dois
anos depois, em Cataguases (MG), a barragem da indústria Cataguases de Papel Ltda rompeu,
liberando lixívia negra (sobra industrial da produção de celulose) no Rio Pomba. O acidente afetou
três estados e 600 mil pessoas ficaram sem água. Em 2007, mais uma vez em Minas Gerais, agora
em Miraí, a barragem da mineradora Rio Pomba Cataguases se rompeu, atingindo bairros de Miraí
e Muriaé, deixando inúmeros moradores desalojados. Posteriormente, em 2014, a barragem de
Herculano em Itabirito se rompeu, tirando a vida de três pessoas [5].
Os aspectos técnicos sobre o assunto como infiltração, liquefação e estabilidade da fundação são
bem compreendidos e controlados pelos profissionais de engenharia há algumas décadas [6]. Os
aspectos ambientais também se tornaram essenciais, o potencial de dano ambiental e os mecanismos
de transporte de contaminantes passaram a ser um fator relevante nos projetos de barragens a partir
da década de 1980.
Outro fator que foi observado ao longo dos anos, foi a necessidade de monitorar as barragens a
longo prazo, ou seja, é preciso acompanhar a obra em todas as suas fases: construção, operação e
após finalizado o tempo de operação da barragem.
Todavia, mesmo diante de todas essas informações e do avanço das técnicas de engenharia que
possibilitam construir e operar barragens cada vez mais seguras, as falhas persistem e levam ao
histórico trágico de acidentes na área. A falta de aplicação do conhecimento desenvolvido, projetos
deficientes, supervisão inadequada na fase de construção, falhas na manutenção da obra e em alguns
casos o abandono da barragem após a sua inativação são as grandes causas do problema abordado.
Ultrapassando os aspetos técnicos responsáveis pelos acidentes, pode-se citar as questões que
envolvem a legislação acerca do assunto. A Política Nacional de Segurança de Barragens (lei nº
12.334/2010) cria regras para a acumulação de água, de resíduos industriais e a disposição final ou
temporária de rejeitos [7]. Após a criação da lei, diversas alterações já foram feitas, entretanto, o
que se observa é que a legislação ainda é falha e existe um grave problema de fiscalização na
aplicação dessas leis.
2. METODOLOGIA
A pesquisa abordada é de revisão bibliográfica com intuito de sintetizar as diversas informações
existente sobre o assunto. Por um lado, há uma escassez de material de pesquisa, uma vez que o
assunto só ganhou grande notoriedade após o “desastre de Mariana”; poucas pesquisas foram
realizadas sobre os acidentes que antecederam o rompimento da barragem de Fundão. Em relação a
legislação, existe uma necessidade de interpretar, analisar o texto, apontar falhas e propor medidas
para solucioná-las com intuito de obter barragens mais seguras, diminuindo o número e a gravidade
dos acidentes. Em função da quantidade relativamente baixa de textos científicos publicados, foram
utilizadas diversas obras literárias disponíveis relacionadas ao assunto. Assim, usou-se matérias
jornalísticas, reportagens e laudos técnicos, legislação brasileira e mineira sobre barragens de
rejeitos.
3. LEGISLAÇÃO
É necessário que a barragem apresente pelo menos uma das seguintes características para estar
inserida nessa política: Altura do maciço, contada do ponto mais baixo da fundação à crista, maior
ou igual a quinze metros; capacidade total do reservatório maior ou igual a três milhões de metros
cúbicos; reservatório que contenha resíduos perigosos conforme normas técnicas aplicáveis;
Categoria de dano potencial associado, médio ou alto, em termos econômicos, sociais, ambientais
ou de perda de vidas humanas [3].
Um dos elementos de maior destaque nessa regulamentação são os sete instrumentos da PNSB:
Sistema de classificação de barragens por Categoria de Risco e por Dano Potencial Associado;
Plano de Segurança de Barragem; Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens;
Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente; Cadastro Técnico Federal de Atividades
e Instrumentos de Defesa Ambiental; Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente
Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais e Relatório de Segurança de Barragens. Esses
instrumentos são fundamentais para atingir os diversos objetivos dessa legislação, dentre eles:
Garantir a observância de padrões de segurança de barragens de maneira a reduzir a possibilidade
de acidente e suas consequências; e fomentar a cultura de segurança de barragens e gestão de riscos
[3].
A Lei prevê que os empreendedores das barragens são os responsáveis legais pela segurança das
estruturas, cabendo a eles e aos responsáveis técnicos por eles contratados o compromisso de
desenvolver e implementar o Plano de Segurança da Barragem, de acordo com metodologias e
procedimentos adequados para garantir as condições de segurança necessárias, compreendendo
ainda, no caso de grandes estruturas, o monitoramento quanto a ocorrência de sismos (antes exigido
para hidrelétrica), devendo também, manter atualizadas as informações relativas às suas barragens
junto à entidade fiscalizadora [8].
Também em 2012, outra resolução do CNRH, 143, de 10 de julho, estabeleceu critérios gerais de
classificação de barragens por categoria de risco, dano potencial associado e pelo volume do
reservatório, em atendimento ao art. 7° da Lei n° 12.334, de 20 de setembro de 2010. Quanto à
categoria de risco, as barragens serão classificadas de acordo com aspectos da própria barragem que
possam influenciar na possibilidade de ocorrência de acidente, levando-se em conta os critérios
gerais como estado de conservação, características técnicas e o plano de segurança de barragens. O
dano potencial associado é o dano que pode ocorrer devido a rompimento, vazamento, infiltração no
solo ou mau funcionamento de uma barragem, independentemente da sua probabilidade de
ocorrência, podendo ser graduado de acordo com as perdas de vidas humanas e impactos sociais,
econômicos e ambientais. Em relação ao volume do reservatório, as barragens para disposição de
rejeito mineral e/ou resíduo industrial são classificadas como: muito pequena, pequena, média,
grande e muito grande de acordo om seus respectivos volumes [10].
Um dado preocupante apontado pela ANA diz respeito à regularização das barragens e aos
investimentos em segurança. Foi apurado, que cerca de 12.590 (54,9%) dos empreendimentos
possuem algum tipo de ato de autorização (outorga, concessão, autorização, licença, entre outros),
portanto, os demais não estão regularizados; e que apenas 5% dos valores considerados necessários
para segurança de barragens foram aplicados pelos empreendedores [12].
Não há um banco de registros de acidentes e incidentes para consulta pública anterior a 2010. No
entanto, é evidenciado o número de registro de eventos envolvendo barragens, destacados no ano de
2008. Segundo o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (2010), nesse ano foram registrados 14
acidentes ambientais envolvendo barragens de distintos usos. A ANA registrou para a mesma
época, um total de 381 acidente/incidentes, com 27 óbitos. Uma das principais causas registradas
foram as cheias superior a capacidade do vertedouro das barragens [12].
O objetivo deste projeto é proibir a construção de barragens que possam implicar em riscos à
segurança das populações e do meio ambiente. A ele foram anexadas diversas outras propostas que
tratavam do mesmo assunto. Entre elas, o projeto de lei 3695, surgido a partir de uma iniciativa da
população, com o apoio da Associação Mineira do Ministério Público. Este projeto foi protocolado
na Assembleia, em 2016, com cerca de 56 mil assinaturas em uma campanha chamada “Mar de
lama nunca mais” [13].
Porém, existem importantes diferenças entre o projeto 3676, que segue tramitando, e o 3695, que se
tornou apenas um anexo. Alguns pontos deixam claras as diferenças entre as duas propostas e
podem ser observados na tabela 1 a seguir [13].
PL 3695 PL 3676
Licenciamento *Exige licenciamento ambiental *Exige licenciamento ambiental
de três fases para barragens de três fases para apenas
independentemente do porte alguns tipos de barragens.
e potencial poluidor.
Localização *Veda expressamente a instalação *Proíbe a instalação de barragem em cuja
de barragem que identifique área a jusante seja identificada alguma
comunidade na zona de auto-salvamento forma povoamento, reservatório
– região do vale imediatamente ou manancial de água potável.
a jusante de uma barragem
Audiência pública *Obriga a realização em todas as *Obriga a realização apenas em
comunidades afetadas, comunidades afetadas diretamente.
de forma direta ou indireta.
Tecnologia *Proíbe a instalação de barragens de rejeito *Proíbe a instalação de barragem
sempre que houver alternativa técnica de rejeitos pelo método de alteamento
Disponível a montante
4. SEGURANÇA DE BARRAGENS
Três métodos construtivos podem ser utilizados para a concepção de barragens de rejeito alteadas
com o próprio rejeito: método de alteamento à montante, método de alteamento à jusante e método
da linha de centro. Em todos os casos é construído um dique de partida com material de empréstimo
e com o passar do tempo são feitos os alteamentos. Os rejeitos são lançados ao longo da crista do
dique por ciclones ou por séries de pequenas tubulações, para que haja uma formação uniforme da
praia. Os três métodos se diferenciam de acordo com a direção do alteamento em relação ao dique
inicial [15].
O método de montante é bastante antigo, simples e econômico quando comparado com os outros
métodos de construção de barragens. O início da execução deste tipo de barragem se dá a partir da
construção de um dique de partida, em geral, feito de material argiloso ou enrocamento
compactado. Posteriormente, o rejeito é lançado por canhões em direção a montante da linha de
simetria do dique (Figura 1), formando a praia de deposição, que se tornará a fundação e poderá
fornecer material de construção para o próximo alteamento. Este processo ocorre de forma
sucessiva até que a cota final de projeto seja atingida [16].
Figura 1- Método de montante [17].
Se, por um lado, o método à montante apresenta como vantagens a simplicidade e o baixo custo de
construção, por outro está associado à maioria das rupturas em barragens de rejeitos. Rupturas por
percolação e erosão (piping) também são possíveis quando a distância entre o lago de decantação e
o talude de jusante da barragem não for suficientemente grande, propiciando a ocorrência de
gradientes hidráulicos elevados [18].
Esse problema pode ser evitado através de ângulos suaves na praia de deposição e segregação e
sedimentação de partículas mais grossas junto à face de montante [16]. Sistemas de drenagem e
filtros (por exemplo tapetes drenantes) evitam aumentos excessivos de poropressões e controlam a
poluição da água subterrânea, quando for o caso. Cabe lembrar que com esse método construtivo
existe uma dificuldade na implantação de um sistema interno de drenagem eficiente para controlar o
nível d’água dentro da barragem, constituindo um problema adicional com reflexos na estabilidade
da estrutura [16].
A principal desvantagem desde método é o custo de sua implantação, devido ao grande volume de
aterro que necessita e a grande área que sua construção ocupa [18]. Consequentemente tem-se um
alto custo envolvido na execução destas estruturas. Nesse sentido, a insuficiência de rejeito
granular, principalmente nas fases iniciais de operação, pode implicar a necessidade de execução de
um dique de partida mais elevado ou utilização de materiais alternativos provenientes de áreas de
empréstimo ou do estéril da mina.
Este método é uma solução intermediária entre os dois métodos apresentados anteriormente,
possuindo uma estabilidade maior que a barragem alteada somente com o método à montante,
porém não requerendo um volume de materiais tão significativo como no alteamento somente com
o método à jusante (Figura 3) [19].
Neste método, torna-se possível a utilização de zonas de drenagem internas em todas as fases de
alteamento, o que possibilita o controle da linha de saturação e promove uma dissipação de
poropressões, tornando o método apropriado para utilização inclusive em áreas de alta sismicidade
[16]. A Tabela 2 a seguir apresenta uma comparação entre os métodos construtivos de alteamento
de barragens de rejeitos.
Tabela 2- Comparação entre os métodos construtivos [20].
Método Vantagens Desvantagens Observações
*Melhor aproveitamento de área *Maior risco de ruptura por *Diques geralmente construídos
*Menor custo Piping com o rejeito escavado na periferia
Montante *Rápida construção * Dificuldade de implementação do lago
de sistema de drenagem eficiente
*Menor probabilidade de ruptura *Custo mais elevado. *O alteamento pode ser realizado
Interna *Menor aproveitamento da área com o próprio rejeito. No entanto
Jusante *Abatimento da linha freática, disponível. é mais comum o uso de materiais
uma vez que há sistema de drenagem. provenientes de áreas de empréstimo.
*Economia de espaço físico *Maior risco de ruptura por piping *Caso particular do método à jusante.
*Menor volume de material *Possibilidade de ocorrência de
Linha de centro Compactado fissuras no corpo da barragem.
*Boa drenagem interna
Durante o projeto, usa-se instrumentos para determinar propriedades do solo e das rochas e alguns
parâmetros geotécnicos como resistência e permeabilidade. Na construção, os instrumentos podem
alertar sobre mudanças no comportamento da barragem e dessa forma é possível buscar soluções
mais eficientes para os problemas apresentados. Outra vantagem da instrumentação no período
construtivo é a possibilidade de realizar revisões no projeto e se necessário fazer alterações ainda na
fase inicial, sem causar grandes prejuízos futuramente. Na fase do enchimento do reservatório, a
instrumentação também pode ajudar a identificar riscos e assim evitar acidentes. Por fim, no
período de operação, os instrumentos auxiliam a verificar se a barragem está apresentando
desempenho adequado e permitem avaliar o comportamento solo e da estrutura da barragem [21].
Instrumentar uma barragem de forma adequada a fim de proporcionar altos níveis de segurança
requer um plano de instrumentação minucioso, onde estará descrita as justificativas dos
instrumentos adotados, seleção dos equipamentos e o projeto de instrumentação. Dessa maneira, é
possível afirmar que o investimento feito, será, de fato, revertido em maior segurança da obra.
5. SEGURANÇA DE BARRAGENS EM MINAS GERAIS
De acordo com a Agência Nacional de Mineração (ANM, 2016), 44% das barragens de Mineração
do país concentram-se no Estado de Minas Gerais (MG), seguido por São Paulo com 13%, e Pará
com 11% [12].
Não existe um consenso sobre o número de barragens no Estado. A FEAM-MG, lista um total de
439 barragens construídas no estado, no ano de 2016. Já o RSB da ANA (2017) consta o cadastro
de um total de 325 barragens [12]. Essa divergência mostra que não há uma comunicação adequada
entre as instituições estaduais e federais. A criação de um banco de dados único com informações
atualizadas seria de grande importância para consultas relativas ao assunto.
6. CONCLUSÃO
Todos os agentes envolvidos devem buscar incansavelmente por barragens cada vez mais seguras,
uma vez que podem ser atingidos de forma implacável caso ocorra algum acidente. Para a empresa
responsável pela barragem, acidentes podem significar multas elevadas e grandes prejuízos; em
relação ao meio ambiente, pode haver contaminação, assoreamento e danos a flora e a fauna; quanto
a população residente próxima a barragem, um desastre pode levar a morte de muitas pessoas,
destruição de localidades, doenças e prejuízos econômicos.
Para minimizar esses danos, o ideal seria que na área a jusante das barragens, não houvesse
ocupação humana ou manancial, entretanto, transformar isso em realidade depende de políticas
públicas eficientes, humanas e bem desenvolvidas capazes de levar a população dessas áreas para
outros locais assegurando qualidade de vida para essas pessoas. Em contrapartida é preciso ter uma
fiscalização atuante para impedir a construção de novas barragens nas proximidades de
comunidades.
Em relação aos projetos de segurança, devem ser feitas revisões minuciosas com o passar do tempo.
Mudanças podem ser necessárias de acordo com alterações não previstas e com o envelhecimento e
deterioração das estruturas.
Quanto a legislação, sabe-se que o Brasil já avançou neste quesito: as diversas alterações na
legislação apresentadas demonstram isto, entretanto, ainda há muito o que ser feito. A possibilidade
de ainda se construir barragens de rejeito com alteamento a montante é preocupante, uma vez que
este método apresenta problemas e não garante bons níveis de segurança quanto o método de
jusante e o de linha de centro.
Outro problema associado à legislação é a ineficiência dos órgãos fiscalizadores. Estes, muitas
vezes, não conseguem fazer cumprir os termos estabelecidos pela lei, isso se dá tanto por
negligência dos envolvidos nas inspeções quanto por falta de profissionais capacitados para realizar
a fiscalização. No caso do acidente de Mariana, por exemplo, o Tribunal de Contas da União
afirmou que “quanto ao processo de fiscalização das barragens a cargo do DNPM, chegou-se à
conclusão que a atuação da autarquia é frágil, deficiente e carente de uma coordenação adequada, não
atendendo, em consequência, aos objetivos da Política Nacional de Segurança de Barragens"[22].
Dessa maneira, fica clara a necessidade de empenho do poder público para garantir barragens
efetivamente seguras e comprometimento dos profissionais em utilizar todo o conhecimento
disponível e desenvolver tecnologias para se ter cada vez menos acidentes. Além disso, cabe a
população reivindicar ao Estado o desenvolvimento de leis mais efetivas, fiscalizações eficientes e
punição aos não cumpridores da legislação vigente.
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[5] Minas já sofreu com outros rompimentos de barragem. O tempo. Disponível em :< https://www.otempo. com.br/
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[10] BRASIL. Resolução no 143, de 10 de julho de 2012. Conselho Nacional De Recursos Hídricos. disponível em:
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[11] BRASIL. Portaria nº 70.389, de 17 de maio de 2017. Departamento Nacional de Produção Mineral. Disponível
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[13] Legislação vigente sobre barragens de rejeito. Lei.a. Disponível em: <http://blog.leia.org.br/entenda-a-legislacao-
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[21] MACHADO, W. G. L. Monitoramento de barragens de contenção de rejeitos da mineração. 2007. 155p.
Escola Politécnica da USP, São Paulo, SP. Disponível em: <file:///C:/Users/User/Downloads/Dissertacao
WillianGladstoneMachado.pdf>. Acesso em: 17 out. 2018.
[22] Fiscalização de barragens foi frágil e deficiente, avalia TCU sobre Mariana. G1. Disponível em:
<http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em-mariana/noticia/2016/09/fiscalizacao-de-barragens-foi-
fragil-e-deficiente-avalia-tcu-sobre-mariana.html >. Acesso em: 2 nov. 2018.
PREVISÃO DO COMPORTAMENTO DE ATERROS A PARTIR DA
ANÁLISE DOS PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA DOS RESÍDUOS
Abstract: The increase in waste generation is a reality that is reflected in the difficulty of finding
suitable areas for the correct disposal of the same, which has led engineers and technicians to
consider ways to increase the life of landfills. For this to be possible, stability assessments of
massifs are required to prevent future accidents. In this work, analyzes of the variation of the safety
factors of landfills of three different types of residues were performed: predominantly organic,
reinforced with fibers and industrial. For these evaluations, variations in the piezometric line and
the resistance parameters of the material were considered. The safety factors were obtained from the
stability analyzes performed in GeoStudio 2018 software and the parameters used were defined
based on the literature. From the analysis of the residues with predominance of organic material, it
was verified that the higher the piezometric line, the lower the stability of the massif, since the
safety factor ranged from 0.288 to 2.088 depending on the height of this line. In addition, it was
observed that with the addition of material with cohesive characteristics there was an increase in the
safety factor from 0.666 to 1.663. With the analysis of fiber reinforced residues, it has been found
that the addition of fibrous material to the matrix is advantageous to some extent, from which the
safety factor begins to decrease. In the analysis carried out with an increase of 10% of fiber, the
safety factor found was of 1.141 and with the addition of 20% it was of 1.028, leading to the
conclusion that one must pay attention to the ideal amount of fiber to be added. Another aspect
observed was that safety factors obtained with data from Brazilian landfills were lower than those
obtained with data from European landfills, showing that special care is needed when importing
certain parameters for projects in Brazil. In addition, the results showed that older waste also tends
to be more stable. With the results obtained in the analysis of industrial waste it was observed that
with the increase of the piezometric line there was a considerable reduction in the safety factor,
from 1.223 to 0.243. Therefore, it is concluded that it is necessary that the internal drainage system
be efficient, since even without slurry generation, as in the case of industrial landfills, in places with
high rainfall rates, more favorable positions of the piezometric line may occur, causing a the
stability of the massif.
1. INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização
Com o avanço da industrialização, problemas ambientais associados à área geotécnica foram
surgindo. Como exemplos, temos as contaminações de solo por substâncias químicas, a necessidade
crescente de áreas apropriadas para disposição dos mais diversos tipos de resíduos e a disposição de
rejeitos de mineração. No entanto, nem todas as respostas e soluções foram encontradas nos
conhecimentos clássicos da engenharia geotécnica, havendo a necessidade da pesquisa e
desenvolvimento de novas técnicas, apoiadas na geotecnia, para fazer frente aos novos desafios,
surgindo assim, a geotecnia ambiental. Nas últimas décadas, esse novo ramo da ciência geotécnica
vem sendo desafiado a responder questões que afetam a vida moderna. Exemplo disso é a questão
da destinação final dos resíduos sólidos urbanos (RSU), cuja geração aumenta cada vez mais, o que
cria a necessidade de soluções cada vez mais pautadas em técnicas refinadas, visando causar o
menor impacto ambiental possível, preservar a saúde pública e reduzir custos associados (IZZO e
NAGALLI, 2013).
A escolha do local adequado para receber um aterro sanitário depende de várias características que
devem ser levadas em consideração, tais como a distância do centro populacional mais próximo,
distância de cursos d’água, profundidade do lençol freático, área que atenda à vida útil desejada,
etc. Logo, são poucos os terrenos que se enquadram nas exigências feitas em norma, e por esse
motivo o aumento na verticalização dos maciços tem sido uma saída para a otimização do plano de
ocupação da área e aumento da vida útil do aterro.
O aumento na verticalização tem como consequência um crescimento no número de acidentes
geotécnicos, que podem ocorrer por causas naturais, projetos inadequados, ausência ou ineficiência
de sistemas de drenagem de líquidos e gases, problemas construtivos e operacionais e inexistência
de programas de monitoramento ambiental e geotécnico (BATISTA, 2010). A falta de
conhecimento sobre o material depositado traz uma certa insegurança em relação a estabilidade do
maciço, já que não é costume ensaiar o material recebido.
1.2. Revisão bibliográfica
1.2.1. Formas de disposição de resíduos
Parte da população não se importa com o que vai acontecer com o seu lixo, desde que não fique em
suas casas. Essa atitude se dá pela falta de conhecimento dos problemas causados por ele. A
quantidade de lixo produzido está intimamente ligada ao poder aquisitivo da sociedade, que vem
aumentando no Brasil. Este aumento tem trazido graves consequências, já que a utilização de
métodos como reciclagem e compostagem ainda é pouco efetiva e a disposição final de forma
inadequada ainda é uma realidade.
Os aterros sanitários devem ser utilizados para a disposição de rejeitos, materiais que já esgotaram
todas as possibilidades de reaproveitamento e reciclagem. Compostagem, reciclagem e incineração
são métodos de tratamento que precedem a disposição final, as quais têm como finalidade reduzir o
volume de resíduos e transformá-los em materiais inertes ou estáveis. As três formas de disposição
final de resíduos mais utilizadas são: lixão ou vazadouro, aterro controlado e aterro sanitário. O
aterro industrial tem como finalidade a destinação de resíduos provenientes de indústrias.
Segundo Borgatto (2006), lixão ou vazadouro é uma forma inadequada de disposição, que consiste
no simples depósito do lixo sobre o solo sem nenhuma técnica nem proteção ao meio ambiente ou a
saúde pública. Aterro controlado é uma forma de disposição em que alguns princípios de
engenharia são utilizados, tais como confinamento dos resíduos, cobertura final, captação de gases,
recirculação de chorume e impedimento da circulação de pessoas.
De acordo com a Norma da ABNT, NBR 8419/1992, aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos é
definido como:
Técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo,
sem causar danos à saúde pública e à sua segurança,
minimizando os impactos ambientais, método este que
utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos
sólidos a menor área possível e reduzi-los ao menor volume
permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na
conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos
menores, se necessário.
O aterro industrial é utilizado como destinação final de resíduos produzidos pelas indústrias, o qual
utiliza de rigorosas técnicas nacionais e internacionais para que a disposição seja realizada de forma
controlada e correta, sem acarretar danos à saúde pública e minimizar os danos ambientais. Um
cuidado especial que se deve tomar na operação é o controle dos resíduos a serem dispostos, pois só
podem ser dispostos resíduos quimicamente compatíveis, ou seja, aqueles que não reagem entre si,
nem com as águas de chuva infiltradas (PINTO, 2011).
1.2.2. Acidentes em aterros
A ocorrência de acidentes em aterros de resíduos se dá pela sua inadequada disposição, falta de
monitoramento das células, problemas nos sistemas de drenagem, aumento da sobrecarga, falta de
informações sobre as características do resíduo depositado, entre outros. Além disso, a demanda por
maiores volumes tem levado a ampliações dos maciços, através de um aumento na altura das
células.
Como muitas obras de engenharia, os principais avanços no que diz respeito a estabilidade de
aterros sanitários só ocorrem após acidentes, muitas vezes, graves. Um bom exemplo disso é que os
critérios de projeto vigentes atualmente no Brasil foram estabelecidos após estudos feitos depois de
um acidente no Aterro Bandeirantes, em 24 de junho de 1991 (BENVENUTO, 2012).
Na região sudeste, o primeiro aterro sanitário licenciado foi o Aterro Bandeirantes, que começou
sua operação em 01 de setembro de 1979, com previsão de encerramento para junho de 2006. No
ano 2000 já haviam sidos depositados 24.250.000 toneladas de resíduos, sendo que a capacidade
total do aterro era de 30.000.000 toneladas (AZEVEDO, 2004). Em 1991 ocorreu uma ruptura na
qual 65.000 m³ de resíduos depositados escorregaram para a Rodovia dos Bandeirantes. Foi esse
acidente que impulsionou os estudos relativos a estabilidade e monitoramento geotécnico de
maciços de resíduos (COSTA, 2017). A Figura 1 mostra uma imagem de antes e depois do
escorregamento.
2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é avaliar o comportamento de aterros de três diferentes tipos de resíduos:
predominantemente orgânicos, reforçados com fibra e industriais, a partir dos resultados de fatores
de segurança obtidos. Para tanto, serão apresentadas simulações utilizando o software GeoStudio
2018.
3. METODOLOGIA
As metodologias de pesquisa aplicadas ao trabalho foram bibliográfica, desenvolvida com base em
material científico como artigos, dissertações de mestrado, teses de doutorado e normas técnicas, e
experimental, utilizando a modelagem computacional para realizar simulações por meio do software
GeoStudio 2018.
4. RESULTADOS
Nas simulações mostradas abaixo levou-se em consideração a composição dos resíduos e a
influência da linha piezométrica. Foi adotada uma única geometria para todas as simulações, com a
finalidade de facilitar as comparações e discussões. A geometria escolhida teve como referência o
trabalho de Suzuki (2012).
4.1. Resíduos com predominância de material orgânico
Em países desenvolvidos existe uma predominância de materiais plásticos e fibrosos nos resíduos,
já que a utilização de produtos industrializados é maior e o incentivo a processos como
compostagem e incineração também são maiores. Dessa forma, os materiais que realmente são
depositados nos aterros sanitários praticamente não geram chorume, que é um líquido com grande
potencial poluidor e que causa instabilidade no maciço.
Do total de 220 mil toneladas de resíduos gerados diariamente no Brasil, considera-se que 58% seja
orgânico, o que significa que o país produz cerca de 128 mil toneladas/dia de resíduos compostáveis
(MAHLER, 2012). Esse tipo de resíduo contribui com grande parte da geração de chorume, o que
deve ser levado em consideração ao analisar a estabilidade dos aterros. Os parâmetros utilizados
para esse tipo de resíduo foram extraídos do trabalho de Ribeiro (2007), no qual é feita a
determinação de parâmetros de resistência (coesão e ângulo de atrito) de resíduos sólidos urbanos
coletados na cidade de Viçosa – MG, por meio de retroanálises de testes em laboratório. Foram
realizados dois ensaios de prova de carga confinados para a obtenção dos parâmetros. Após a
montagem do equipamento de carga, realizou-se a compactação dos RSU para alcançar os pesos
específicos de 7 e 5 kN/m³. Os valores de coesão foram escolhidos de forma arbitrária, para
possibilitar o cálculo do ângulo de atrito utilizando as cargas de ruptura obtidas nos ensaios
(RIBEIRO, 2007). Na Tabela 1 estão os dados utilizados na simulação.
Tabela 1 - Parâmetros de resistência de resíduos com predominância de material orgânico (modificado de RIBEIRO, 2007).
1 7 20 30,17
2 7 40 28,66
3 5 40 23,13
Para todas as análises apresentadas abaixo, foram utilizadas a mesma geometria e as mesmas
posições de linha piezométrica mostrados nas Figuras 4, 5 e 6.
4.1.2. Simulações – Análise 2
Comparando os dados de entrada das simulações mostradas na Tabela 3 com os obtidos na
Análise 1, pode-se observar que o peso específico permaneceu o mesmo, a coesão dobrou de valor e
o ângulo de atrito teve uma pequena redução. A princípio já é possível observar que os fatores de
segurança obtidos nessa Análise são bem maiores que os da Análise 1, sendo garantida a
estabilidade mesmo quando a linha piezométrica está no limite máximo. Como a maior diferença
entre essas Análises está na coesão, podemos concluir que esse aumento reflete em uma maior
estabilidade no maciço. Dessa forma, a mistura de um material com característica coesiva ao
resíduo pode ser uma opção caso seja necessário um aumento na estabilidade do talude.
Tabela 3 - Fatores de segurança encontrados (AUTORAS, 2018).
SIMULAÇÃO ϒ (kN/m³) C (kN/m²) ϕ (º) FS
4 7 40 28,66 2,696
5 7 40 28,66 1,663
6 7 40 28,66 0,489
4.1.3. Simulações – Análise 3
Comparando as características dos resíduos utilizadas nas simulações mostradas na Tabela 4 com as
utilizadas na Análise 2, tem-se uma redução do peso especifico juntamente com uma redução do
ângulo de atrito. A coesão utilizada nas duas Análises é igual. Os fatores de segurança encontrados
são bem altos e maiores que os da Análise 2, sendo que nas três posições da linha piezométrica o
maciço se encontra estável. Conclui-se, portanto, que aumentar a coesão juntamente com a redução
do peso específico garante ao resíduo uma maior estabilidade.
Tabela 4 - Fatores de segurança encontrados (AUTORAS, 2018).
SIMULAÇÃO ϒ (kN/m³) C (kN/m²) ϕ (º) FS
7 5 40 23,13 3,324
8 5 40 23,13 3,583
9 5 40 23,13 0,855
5. CONCLUSÕES
O objetivo principal deste artigo foi prever o comportamento de maciços de resíduos sólidos a partir
da alteração da linha piezométrica e de seus parâmetros de resistência. Para tal previsão foram
avaliados os fatores de segurança obtidos nas simulações feitas no software GeoStudio 2018. A
partir disso serão apresentadas algumas considerações finais e conclusões obtidas:
Com os resultados obtidos nas simulações foi possível concluir que quanto mais alta a linha
piezométrica, menor é o fator de segurança, ou seja, menos estável é o maciço. No caso de
resíduos com presença de material orgânico deve-se atentar para a quantidade de chorume
produzido em seu interior, pois esse eleva a linha piezométrica.
A influência da coesão do resíduo na estabilidade também merece atenção já que o aumento
na coesão reflete em maior estabilidade do maciço. Logo, a mistura de materiais com
características coesivas aos resíduos pode ser uma opção caso seja necessário um aumento
da estabilidade.
Apenas a análise 3 apresentou um resultado desconforme. Deste modo, acredita-se que seja
relevante um estudo futuro sobre a influência da poropressão juntamente com a redução do
peso específico, chegando a uma relação mais precisa desses parâmetros na estabilidade do
maciço.
A utilização de parâmetros importados é uma realidade no Brasil. Essa é uma prática
arriscada, pois a composição do lixo varia de acordo com as características da sociedade e
clima da região. Logo, a determinação dos parâmetros dos resíduos que serão depositados é
de suma importância para a obtenção de projetos adequados à realidade.
A idade do resíduo também influencia na sua estabilidade. Quanto mais velho for o mesmo,
maior será a estabilidade apresentada pelo maciço, devido ao aumento no grau de
compactação e a diminuição na produção do chorume.
A partir da análise dos resíduos reforçados com fibra, foi possível observar que o acréscimo
de fibras na massa de resíduo reflete em um aumento de sua estabilidade a partir do aumento
do ângulo de atrito. Porém, há um limite para isso, a partir do qual o fator de segurança
começa a diminuir.
A linha piezométrica na posição máxima é muito improvável de ocorrer na realidade. Essa
posição foi escolhida para que fosse possível avaliar o comportamento do maciço mesmo em
uma condição extremamente desfavorável. Avaliar esse extremo se justifica, pois problemas
na drenagem, grande quantidade de material orgânico e altos índices pluviométricos podem
levar a uma aumento da linha piezométrica.
Em aterros industrias não há geração de chorume, porém caso o índice pluviométrico da
região seja elevado, a drenagem do aterro seja ineficiente e não haja cobertura adequada dos
resíduos com manta ou algum tipo de grama, poderá haver entrada de água em excesso,
facilitando ainda existência de erosões no talude. Foi possível observar que o aumento da
linha piezométrica em um aterro industrial levou a uma redução considerável no fator de
segurança. Fica claro que nestes casos é fundamental uma avaliação mais detalhada do
maciço através do monitoramento com piezômetros, o que poderia auxiliar na melhor
compreensão de seu comportamento em termos de estabilidade.
REFERÊNCIAS
[1] IZZO, R. L. S. ; NAGALLI, A. - O desafio da geotecnia frente às questões ambientais. In: GeoSul 2013. Criciúma,
2013,19 p.
[2] BATISTA, H. E. – Desenvolvimento de diretrizes para monitoramento geotécnico e plano de
contingência/emergência em aterros sanitários. Belo Horizonte: UFMG, 2010, 146 p. Dissertação de Mestrado em
Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídrico. Disponível em:
<http://www.smarh.eng.ufmg.br/defesas/455M.PDF>. Acesso em: 21 nov. 2017.
[3] BORGATTO, A. V. A. – Estudo do efeito fibra e da morfologia na estabilidade de aterros de resíduos sólidos
urbanos. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006, 157 p. Dissertação de Mestrado Ciências em Engenharia Civil. Disponível
em: < http://www.getres.ufrj.br/pdf/BORGATTO_AVA_06_t_M_int.pdf>. Acesso em 06 fev. 2018.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT NBR 8419: Apresentação de projetos de
aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. Rio de Janeiro, 1992, 7 p.
[5] PINTO, D. P. S. – Contribuição à avaliação de aterros de resíduos industriais. Rio de Janeiro: UFRJ, 2011, 145 p.
Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil.
[6] BENVENUTO, C. – Estabilidade geotécnica de aterros sanitários. In: I seminário sobre Geomecânica dos Resíduos
Sólidos Urbanos, 2012, 31p. Disponível em: <http://www.fec.unicamp.br/~sgrsu/arquivos/Clovis.pdf>. Acesso em
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[7] AZEVEDO, M. A. – Avaliação do risco a saúde da população vizinha as áreas de disposição final de resíduos
sólidos urbanos: o aterro sanitário como cenário de dispisição ambiental. São Carlos: USP, 2004, 263 p. Tese de
Doutorado em Engenharia Hdráulica e Saneamento. Disponível em: <
file:///C:/Users/patyo/Google%20Drive/UFJF/Mat%C3%A9rias%20atuais/TCC/Material%20de%20consulda/Teses/
Tese_Azevedo_MonicaA.pdf>. Acesso em: 17 fev. 2018.
[8] COSTA, E. F. – Monitoramento geotécnico e ambiental de aterrros sanitários. Juiz de Fora: UFJF, 2017, 71 p.
Trabalho Final de Curso de Engenharia Civil.
[9] MARTINS, H. L. – Avaliação da resistência de resíduos sólidos urbanos por meio de ensaios de cisalhamento direto
em equipamento de grandes dimensões. Belo Horizonte: UFMG, 2006, 116 p. Dissertação de Mestrado em
Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos.
[10] SCHULER, A. R. – Análise do comportamento de um aterro municipal de resíduos sólidos urbanos instrumentado.
Rio de Janeiro: UFRJ, 2010, 152 p. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil. Disponível em: <
http://www.getres.ufrj.br/pdf/SCHULER_AR_10_t_M_.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2018.
[11] CARVALHO, M. de F. – Comportamento mecânico de resíduos sólidos urbanos. São Carlos: USP, 1999, 300 p.
Tese de Doutorado em Geotecnia.
[12] CARDIM, R. D. – Estudo da resistência de resíduos sólidos urbanos por meio de ensaios de cisalhamento direto de
grandes dimensões. Brasília: UnB, 2008, 91 p. Dissertação de Mestrado em Geotecnia.
[13] OLIVEIRA, D. A. F. – Estabilidade de taludes de maciços de resíduos sólidos urbanos. Brasília: UnB, 2002, 154 p.
Dissertação de Mestrado em Geotecnia. Disponível em: <http://www.geotecnia.unb.br/downloads/dissertacoes/095-
2002.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2017.
[14] SUZUKI, D. K. – Verticalização de aterros sanitários por meio de reforço com geogrelhas e diques periféricos
alteados pelo método de montante. São Paulo: USP, 2012, 165 p. Dissertação de Mestrado em Engenharia
Geotécnica.
[15] MAHLER, C. F. - Lixo Urbano: o que você precisa saber sobre o assunto. 1 ed. Rio de Janeiro: Ed. Revan:
FAPERJ, 2012, 192 p.
[16] FUCALE, S. P. Influência dos componenetes de reforço na resistência de resíduos sólidos urbanos. Recife: UFPE,
2005, 216 p. Tese de Doutorado em Engenharia Civil. Disponível em: <
http://livros01.livrosgratis.com.br/cp028574.pdf>. Acesso em 28 mar. 2018.
[17] OLIVEIRA, D. A. F. – Estabilidade de taludes de maciços de resíduos sólidos urbanos. Brasília: UnB, 2002, 154 p.
Dissertação de Mestrado em Geotecnia. Disponível em: <http://www.geotecnia.unb.br/downloads/dissertacoes/095-
2002.pdf>. Acesso em: 21 nov. 2017.
[18] RIBEIRO, A. G. C. – Determinação de parâmetros de resistência de resíduos sólidos urbanos por meio de retro-
análises de testes em laboratório. Viçosa: UFV, 2007, 100 p. Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil.
[19] RIGHI, J. A. Acervo Pessoal. Juiz de Fora, 2018.
VARIAÇÃO DOS PARÂMETROS LIMNOLÓGICOS NO RIBEIRÃO
ESPÍRITO SANTO, EM JUIZ DE FORA – MG, AO LONGO DE 6 ANOS.
Emília Marques Brovini ¹, Nathália da Silva Resende ², Simone Jaqueline Cardoso 3, Maria Helena
Rodrigues Gomes 4, Renata de Oliveira Pereira 5
1 Universidade Federal de Juiz de Fora; Departamento de Engenharia Ambiental e Sanitária, Juiz de Fora, Brasil,
emilia.brovini@engenharia.ufjf.br
2 Universidade Federal de Juiz de Fora; Departamento de Biologia, Juiz de Fora, Brasil, natsresende@hotmail.com
3 Universidade Federal de Juiz de Fora; Departamento de Zoologia, Juiz de Fora, Brasil, simone.jcardoso@gmail.com
4 Universidade Federal de Juiz de Fora; Departamento de Engenharia Ambiental e Sanitária, Juiz de Fora, Brasil,
mariahelena.gomes@ufjf.edu.br
5 Universidade Federal de Juiz de Fora; Departamento de Engenharia Ambiental e Sanitária, Juiz de Fora, Brasil,
renata.pereira@ufjf.edu.br
Resumo: A crise hídrica brasileira tem se tornado cada vez mais intensa nos últimos anos. Tal fato
se deve, principalmente, à interferência na bacia hidrográfica e à poluição antrópica. Neste estudo,
foi avaliada a conformidade da qualidade das águas do ribeirão Espírito Santo de acordo com a
legislação vigente. Foram monitorados em 3 pontos amostrais no ribeirão Espírito Santo entre os
anos de 2013 a 2018. O ribeirão Espírito Santo está situado na região noroeste do município de Juiz
de Fora - MG e é responsável por abastecer cerca de 40% da cidade. É afluente pela margem direita
da bacia do rio Paraibuna, fazendo parte, portanto, da bacia do rio Paraíba do Sul. Além disso, o
mesmo possui pontos com alta susceptibilidade à degradação da qualidade das águas, devido a sua
passagem pelo Distrito Industrial de Juiz de Fora. Os parâmetros limnológicos analisados foram:
pH, sólidos totais, sólidos dissolvidos totais (SDT), salinidade, turbidez, cor aparente,
condutividade, resistividade, temperatura da água, demanda bioquímica de oxigênio (DBO5,20),
demanda química de oxigênio (DQO), oxigênio dissolvido, nitrogênio total e fósforo total. A
Análise de Componentes Principais (PCA) explicou 70,33% da distribuição total dos dados
amostrados, sendo SDT, condutividade, salinidade, DBO5,20, DQO, oxigênio dissolvido e pH as
variáveis de maior importância na ordenação dos parâmetros. Observou-se que não houve
agrupamento de pontos por localização, indicando que não há uma forte correlação espacial. No
entanto, alguns pontos se agruparam por período de coleta, demonstrando que a relação com o fator
sazonal é mais forte. Os pontos 1 e 2 foram mais homogêneos entre si e apresentaram uma
distribuição de dados semelhantes. O ponto 3, no entanto, apresentou uma distribuição de dados
mais heterogênea. A partir da comparação dos parâmetros limnológicos com os limites estipulados
pela Resolução CONAMA 357/2005, o ponto 3 apresentou um maior número de dados em
desconformidade com a legislação. Os parâmetros DBO5,20 e fósforo total excederam o permitido
na maioria das coletas, sendo 14,3% e 87,5% as respectivas porcentagens de atendimento. Sendo
assim, aponta-se a continuação do monitoramento, uma vez que se trata de um importante recurso
hídrico para o município e região.
1. INTRODUÇÃO
Um dos objetivos assegurados pela Lei 9.433, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos
(PNRH) é o de “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em
padrões de qualidade adequados aos respectivos usos” (Art. 2°, Cap. II, Tit. I). Atualmente, os
padrões de qualidade da água estão sendo afetados, em demasia, pelas atividades antrópicas
desenvolvidas no entorno de uma bacia hidrográfica [1- 2]. Em detrimento dessa atividade, ocorre a
poluição e degradação de trechos em recursos hídricos superficiais que deveriam ser preservados a
partir de padrões mínimos estipulados, baseados nas composições químicas e microbiológicas
aceitáveis [3].
É nesse cenário que está inserida a importância do monitoramento da qualidade da água em cursos
d’água superficiais, sendo um fator crucial para o desenvolvimento de políticas públicas que ajudem
a subsidiar uma adequada gestão a uma bacia hidrográfica [4].
Dentro desse contexto, é relevante destacar que o acompanhamento de processos físicos, químicos e
biológicos em pequenas bacias hidrográficas subsidia pesquisas relacionadas às mudanças do ciclo
hidrológico de uma região, devido as suas características serem, por vezes, homogêneas [5]. Além
do mais, estudos focados em pequenas bacias centralizam os problemas principais e são mais fáceis
de obterem a participação social [6].
No rol de pequenas bacias que estão em estado de degradação antrópica, encontra-se a bacia
hidrográfica do ribeirão Espírito Santo. A mesma é afluente pela margem esquerda do rio
Paraibuna, o maior afluente em volume de água da grande bacia do rio Paraíba do Sul [7 - 8]. O
ribeirão Espírito Santo encontra-se a noroeste da cidade de Juiz de Fora e o seu principal uso é o
abastecimento de aproximadamente de 40% da população do município. Em segundo lugar, tem-se
o uso para consumo industrial e em terceiro é utilizada para a irrigação de pequenas culturas e de
atividades agropecuárias [7]. Demonstrando sua relevância para o município de Juiz de Fora e
região.
2. OBJETIVO
Avaliar qualidade da água do ribeirão Espírito Santo quanto a sua conformidade com a legislação
vigente no período de 2013 a 2018.
3. MÉTODOS
A bacia hidrográfica do ribeirão Espírito Santo (BHRES) está situada entre as coordenadas
21°44’41” a 21°44’48” Sul e 43°26’30” a 43°37’46” Oeste [9]. Possui como principais afluentes o
Córrego Gouveia e o Córrego Vermelho, pela margem esquerda, e os córregos Barreiro e Penido,
pela margem direita. Além disso, possui 17 km de extensão e tem uma área de 147,8 km², sendo a
maioria desta situada em ambiente rural [7]. Sendo assim, deste valor 98,24% da sua área é ocupada
por pastagens, silvicultura e mata [9].
A área em que se encontram os pontos estudados no decorrer dessa pesquisa representa o local do
ribeirão com maiores porcentagens de áreas construídas, solo exposto, eucalipto e pastagem,
indicando uma menor porcentagem de florestas. Além disso, de uma maneira geral, o local possui
alta susceptibilidade à erosão superficial [9].
Os trechos estudados estão situados em áreas estratégicas da BHRES. O primeiro ponto está
localizado após uma extensa área residencial e é predominantemente rural. O segundo ponto está
situado à jusante da captação de água da Estação de Tratamento de Água (ETA) Walfrido Machado
Mendonça e o terceiro ponto transpassa o distrito industrial da cidade e recebe o lançamento de
efluentes industriais e sanitários (Figura 1).
O ribeirão, da sua nascente até ser captado pela ETA é enquadrado na classe 1, já, da captação até a
sua foz, é enquadrado na classe 2. Fato esse que classifica o ponto 1 de acordo com a classe 1 e os
pontos 2 e 3 na classe 2 [10].
Fig. 1 – Localização dos pontos de amostragem na BHRES. Fonte: [11].
As coletas foram realizadas em datas e períodos diferentes, para abranger uma maior variação
temporal (Tabela 1). Os procedimentos de coleta e posterior preservação da amostra para as análises
de qualidade da água foram feitos seguindo a NBR 9897 e a NBR 9898 [12]. Destaca-se que, após
uma análise da normal climatológica para o município de Juiz de Fora [13], os meses com menores
índices pluviométricos são os de maio, junho, julho, agosto e setembro. Sendo assim, as coletas
foram distribuídas em períodos de seca (4 coletas) e períodos chuvosos (7 coletas) para contemplar
uma melhor distribuição das variáveis ambientais analisadas.
Tabela 1 – Datas das coletas.
1ª coleta 09/06/2013 7ª coleta 30/03/2015
2ª coleta 01/09/2013 8ª coleta 13/05/2016
3ª coleta 21/10/2013 9ª coleta 13/10/2016
4ª coleta 16/12/2013 10ª coleta 05/07/2017
5ª coleta 19/01/2014 11ª coleta 28/02/2018
6ª coleta 20/03/2014 - -
Após serem analisados, os parâmetros de qualidade da água foram comparados aos limites
estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005 [15] e pela Deliberação Normativa conjunta
COPAM/CERH 01/2008 [16].
Uma análise de componentes principais (PCA) foi realizada com o objetivo de explorar como as
amostras se relacionam às variáveis ambientais do ribeirão Espírito Santo. Por meio da PCA, é
possível determinar se existem gradientes espaciais e temporais para os parâmetros observados. A
análise foi realizada a partir do software RStudio v. 3.5.1 (R Core team 2018).
4. RESULTADOS
Pela Figura 3 pode-se perceber que, no ponto 2, apenas dois dos parâmetros analisados estão em
desconformidade com a legislação vigente. Ressalta-se que 40% dos valores de DBO5,20 e 22,5%
fósforo total estão acima dos limites estipulados pela norma e que, as demais variáveis encontram-
se 100% em conformidade.
Fig. 3 – Frequência relativa dos parâmetros em conformidade com a legislação no ponto 2, em todas as coletas.
No ponto 3, observa-se que o parâmetro DBO5,20 apresenta 85,7% dos valores encontrados acima
dos limites impostos pela normalização vigente. Ressalta-se ainda a desconformidade do parâmetro
fósforo total em 22% e dos SDT em 27 % ao passo que os demais parâmetros analisados estão em
conformidade com a legislação em todas as coletas (Figura 4).
Fig. 4 – Frequência relativa dos parâmetros em conformidade com a legislação no ponto 3, em todas as coletas.
Observa-se pela Figura 5 a distribuição referente ao atendimento aos padrões de cada ponto na
época seca e chuvosa. Revela-se que, os parâmetros em desconformidade apresentam diferentes
porcentagens nas diferentes épocas estudadas. Como mencionado, os parâmetros que estão fora dos
limites estipulados foram fósforo total, DBO5,20, turbidez e, apenas no último ponto os SDT.
Fig. 5 – Frequência relativa dos parâmetros em conformidade com a legislação separados em época seca e
chuvosa em todos os pontos.
A PCA explicou 70,33% da distribuição total de dados (eixo 1 e 2). Não houve agrupamento por
pontos, porém houve agrupamentos em determinadas coletas (3ª, 4ª e 5ª coleta), todas na época de
chuva . O ponto 1 e 2 foram mais semelhantes entre si e o ponto 3 se mostrou mais heterogêneo. As
variáveis mais explicativas que apresentaram correlação positiva no eixo 1 foram SDT, salinidade,
condutividade, temperatura, DQO, DBO5,20 e ST. No eixo 2, as variáveis que mais explicaram a
distribuição dos dados foram pH e OD. É importante salientar que no eixo 2, houve maior
correlação negativa com as variáveis, sendo Turb, Cor, Temp, NT e ST as mais relevantes (Figura
6).
0.0 0.5 1.0 1.5
OD
pH
CondSal
SD
DQODBO
PC2
Res
Temp ST
NT
FT Cor
-1.0
Turb
-2.0
-2 -1 0 1 2 3 4
PC1
Fig. 6 – Análise de Componentes Principais (PCA). O primeiro eixo explicou 40,07% e o segundo 27,27% da
distribuição dos dados. Sendo as variáveis oxigênio dissolvido (OD); potencial hidrogeniônico (pH);
condutividade (Cond); salinidade (Sal); sólidos dissolvidos totais (SD); demanda bioquímica de oxigênio (DBO);
demanda química de oxigênio (DQO); sólidos totais (ST); cor aparente (Cor); turbidez (Turb);
temperatura(Temp); nitrogênio total (NT); fósforo total (FT); resistividade (Res) representadas pelas respectivas
siglas.
5. DISCUSSÃO
O parâmetro turbidez ficou abaixo dos padrões estipulados pela legislação no ponto 1 nas 4ª e 11ª
coletas, sendo estas realizadas em dois períodos chuvosos. Pela Figura 5 pode-se perceber que o
parâmetro ultrapassou os limites em 50% das coletas analisadas no período chuvoso ao passo que o
mesmo se manteve dentro dos padrões em todas as coletas no período seco. Fato esse que
possivelmente está ligado a extrapolação deste parâmetro no ponto 1, ocasionado pelo carreamento
do solo da região. Em um estudo realizado para descobrir a avaliação do desempenho de uma ETA,
foi observado que o valor da água afluente à estação obteve picos de turbidez nos dias de maior
intensidade pluviométrica [17].
Pode-se observar também, os valores de fósforo total que estão em desconformidade com a
legislação. Tal parâmetro, dentre outras fontes, pode ser encontrado em fertilizantes utilizados para
agricultura. Como o ponto 1 é predominantemente rural, a utilização de fertilizantes no local é
provavelmente uma fonte de contaminação deste parâmetro nas águas do ribeirão Espírito Santo,
contudo há residências próximas que podem efetuar o lançamento de efluentes não tratados no
mesmo, fato este que não é influenciado pela chuva. Além disso, pela Figura 5 percebe-se que o
fósforo apresentou uma porcentagem maior em desconformidade na época seca do que quando
comparada à época chuvosa. Isso se deve possivelmente à diluição do parâmetro nas águas do corpo
hídrico. Já a desconformidade do parâmetro DBO5,20 pode estar relacionado ao carreamento de
fezes de gado da região, sendo prioritária talvez ao lançamento de efluentes residenciais visto que o
parâmetro mantém a porcentagem de atendimento em ambas as estações (chuva e seca). Uma
pesquisa relacionada a efluentes bovinos constatou que o mesmo apresenta valores de DBO5,20 na
ordem de 66 mg/L [18]. Sendo assim, tal valor, quando diluído no corpo hídrico, pode contribuir
significativamente para o aumento deste parâmetro na água.
O ponto 2, apesar de não ter extrapolado os valores de turbidez em nenhuma coleta, apresentou um
pico na 11ª análise, caracterizada por ser feita, como mencionado acima, em época de chuva. Este
mesmo ponto, apesar de se encontrar a jusante da captação de ETA para a cidade, apresenta
despejos de origem sanitária no local. Fato esse que, devido às características do efluente doméstico
lançado, possivelmente implica em alterações dos valores de fósforo total e DBO5,20, os dois únicos
parâmetros que estão em desconformidade à legislação nesse ponto. Destaca-se ainda que o ponto 2
possui suas águas enquadradas na classe 2 e o ponto 1 na classe 1. O aumento da conformidade dos
parâmetros de qualidade da água é devido a menor restrição das variáveis ambientais na classe 2.
Sendo assim, não houve uma melhora do ponto 1 para o ponto 2, pelo contrário, as variáveis
ambientais possuem valores maiores do que quando comparadas àquelas obtidas no ponto 1.
Pode-se inferir também, pela Figura 5, que a distribuição sazonal dos dados relativos às diferentes
épocas do ano no ponto 3 não indicam uma correlação com os índices pluviométricos. Sendo assim,
compreende-se que o último ponto analisado não é afetado diretamente pelos índices pluviométricos
como os demais pontos dessa pesquisa.
Como mencionado acima, os valores padrões no ponto 2 e 3 são menos restritivos do que no ponto
1. Deixa-se claro que o ponto 3 possui parâmetros com maiores valores do que o ponto 2, e este
com maiores valores do que o ponto 1. Fato esse que está possivelmente ligado as ocupações e usos
referentes a cada local, que impactam diretamente nas poluições pontuais e difusas que ocorrem na
água e que interferem diretamente nos parâmetros físico-químicos do corpo receptor.
5.2. Análise de Componentes Principais
A ausência de agrupamentos por pontos indica que não houve correlação espacial. Todavia, os
agrupamentos da 3ª, 4ª e 5ª coleta, indicam que o fator temporal/sazonal foi mais forte que o
espacial para caracterizar o sistema. Além disso, como já era esperado, o ponto 3 é o ponto que
mais se distingue dos outros, estando majoritariamente relacionado com parâmetros característicos
da entrada de efluentes no sistema (DBO5,20, DQO, Turb, FT e NT), como discutido no tópico
anterior.
6. CONCLUSÃO
Os parâmetros mais explicativos e que apresentaram uma correlação positiva são os SDT,
salinidade, condutividade, temperatura, DQO, DBO5,20 e ST. Os três primeiros afetados pelo teor de
íons dissolvidos presentes na água e a DQO e DBO5,20 indicando principalmente o teor de matéria
orgânica presente no ambiente.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
[1] CENTENO, L. N., CECCONELO, S. T., GUEDES, H. A. S., LEANDRO, D., MORAES, P. Monitoramento da
qualidade da água do arroio São Lourenço/RS. Revista de Ciência e Inovação do IF Farroupilha, S.I., p. 67-76, 2016.
[2] AMORIM, D. G., CAVALCANTE, P. R. S., SOARES, L. S., AMORIN, P. E. C. Enquadramento e avaliação do
índice de qualidade da água dos igarapés Rabo de Porco e Precuá, localizados na área da Refinaria Premium I,
município de Bacabeira (MA). Revista Engenharia Sanitária e Ambiental, S.I., p. 1-9, 2017.
[3] FERREIRA, S. F., QUEIROZ, T. M., SILVA, T. V., ANDRADE, A. C. O. À margem do rio e da sociedade: a
qualidade da água em uma comunidade quilombola no estado de Mato Grosso. Revista Sáude, n. 3, p. 822-828, 2017.
[4] LEITÃO, V. S., CUBA, R. M. F., SANTOS, L. P. S., NETO, A. S. S. Utilização do índice de qualidade de água
(IQA) para monitoramento da qualidade de água em uma área de preservação ambiental. Revista Eletrônica em
Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental, n. 3, p. 794-803, 2015.
[5] CARAVALHO, W. M., VIEIRA, E. O., ROCHA, J. M. J., PEREIRA, A. K. S., CARMO, T. V. B. Caracterização
fisiográfica da bacia hidrográfica do córrego do Malheiro, no município de Sabará – MG. Revista Irriga, n. 3, p. 398-
412, 2009.
[6] FREITAS, L. M. Qualidade da água em sub-bacias com diferentes usos do solo na bacia hidrográfica do rio
São João. Dissertação de mestrado, Ponta Grossa, 2016.
[7] CESAMA. Companhia de Saneamento Municipal. Mananciais: Ribeirão Espírito Santo. Juiz de Fora.
Disponível em: http://www.cesama.com.br/?pagina=resanto. Acesso em: 23 set. 2018.
[8] SOARES, R., MACHADO, W. T. V., CAMPOS, D. V. B., MONTEIRO M. I. C., FREIRE, A. S., SANTELLI, R.
E. Avaliação da Aplicabilidade de Índices de Poluição Aquática: Estudo de Caso no Rio Paraibuna (Juiz de Fora, MG,
Brasil). Revista Virtual de Química, v. 8, n. 6, p. 2105-2122, 2016.
[9] PINTO, V. G., LIMA, R. N. S., RIBEIRO, C. B. M., MACHADO, P. J. O. Diagnóstico físico-ambiental como
subsídio a identificação de área vulneráveis à erosão na bacia hidrográfica do Ribeirão do Espírito Santo, Juiz de Fora
(MG), Brasil. Revista Ambiente e Água, n. 4, p. 632-646, 2014.
[10] MINAS GERAIS. Deliberação Normativa Conjunta COPAM/CERH-MG nº 16, de 24 de setembro de 1996.
Dispõe sobre o enquadramento das águas estaduais da bacia do rio Paraibuna. Minas Gerais, 1996.
[11] BROVINI, E. M., RESENDE, N. S., SILVA, I. R., PEREIRA, R. O., GOMES, M. H. R., CARDOSO, S. J.
Avaliação temporal da comunidade fitoplanctônica e características limnológicas do ribeirão Espírito Santo, em
Juiz de Fora –MG. 3° Simpósio de Recursos Hídricos da Bacia do Rio Paraiba do Sul, Juiz de Fora, 2018.
[12] INMET. Instituto Nacional de Meteorologia. Gráficos Climatológicos. Disponível em:
http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=clima/graficosClimaticos. Acesso em: 21 out. 2018.
[13] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9898: Preservação e técnicas de amostragem de
efluentes e corpos hídricos receptores. Rio de Janeiro, 1987.
[14] APHA; AWWA; WEF. Standard methods for the examination of water and wastewater. 22º ed. Washington:
APHA, 2012.
[15] BRASIL. Resolução CONAMA Nº 357 de 17 março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e
diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de
efluentes, e dá outras providências. Brasília, 2005.
[16] MINAS GERAIS. Deliberação Normativa Conjunta COPAM/CERH-MG nº 01, de 05 de maio de 2008.
Dispõe sobre a classificação dos corpos d’água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece
as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Minas Gerais, 2008.
[17] ALMEIDA, M. C., SILVA, M. M., PAULA, M. Avaliação do desempenho de uma estação de tratamento de água
em relação à turbidez, cor e pH da água. Revista Eletrônica de Gestão e Tecnologias Ambientais, n. 1, p. 25- 40,
2017.
[18] CAVALLINI, G. S., SILVA, W. P., GONZAGA, M. F. Desinfecção de efluente final de abatedouro de bovinos
com ácido peracético para fins de reúso. Revista Desafios, n. 4, p. 41-50, 2017.
[19] VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. v. 1, e. 4, p. 92, Belo
Horizonte, 2014.
RELAÇÃO POROSIDADE/CIMENTO COMO PARÂMETRO DE CONTROL NA
ESTABILIZAÇÃO DE UM SOLO SILTOSO
2. PROGRAMA EXPERIMENTAL
O programa experimental foi dividido em duas etapas: a primeira foi a realização dos ensaios de
caracterização do solo e do cimento: granulometria do solo de acordo à norma americana ASTM D2487
[9], limites de Atterberg do solo de acordo às normas brasileiras NBR 7180 [10] e NBR 6459-84 [11] , a
massa especifica real dos grãos do solo de acordo à norma ASTM D854 [12], massa especifica real dos
grãos do cimento de acordo à norma brasileira NBR 6474 [13] e as propriedades de compactação do solo e
das misturas solo-cimento nas três energias (normal, intermediária e modificada) de acordo à norma
brasileira NBR 7182 [14]; e a segunda etapa, consistiu-se na moldagem, cura e rompimento dos corpos de
prova solo-cimento submetidos a ensaios de compressão simples e tração por compressão diametral.
2.1. Materiais
No presente trabalho foram utilizados três materiais: solo, cimento Portland CP V e água destilada. A
amostra de solo foi coletada na zona oeste da cidade de Curitiba (Brasil) na municipalidade de São José
dos Pinhais de maneira manual em estado deformado, evitando uma possível contaminação e em quantidade
suficiente para a realização de todos os ensaios. O solo foi coletado em um talude rodoviário a 2.5 m de
profundidade. Segundo o Sistema Unificado de Classificação de Solos, o solo é classificado como um silte
elástico arenoso (MH). Quanto a caracterização física do solo, o material apresentou uma pequena variação
nos percentuais de cada tipo de componente, na qual a porcentagem de areia média alcançou 12%; enquanto
a areia fina chegou em 18%; para o silte se obteve 60% e completando a fração fina, o percentual de argila
foi de 5%, sendo a porcentagem de silte, compreendia na fração de (0.002 mm < diâmetro < 0.075 mm)
compõe a maior parcela do solo. Os resultados dos ensaios de caracterização física do solo são apresentados
na Tabela 1.
O cimento foi fornecido por um produtor local. A Tabela 2 apresenta as propriedades físico-químicas do
cimento. As propriedades químicas foram fornecidas pelo produtor e as físicas foram calculadas no
laboratório. De acordo à Tabela 2 o cimento CP V tem uma massa específica de 3.11.
Tabela 1 – Propriedades físicas do solo
Propriedades Valor
Limite de liquides, % 50.82
Limite de plasticidade, % 35.96
Índice de plasticidade, % 14.86
Densidade real dos grãos 2.62
Areia grossa (0.6 mm<diâmetro<2 mm), % 5
Areia média (0.2 mm< diâmetro <0.6 mm), % 12
Areia fina (0.06 mm< diâmetro <0.2 mm), % 18
Silte (0.002 mm < diâmetro <0.06 mm), % 60
Argila (diâmetro < 0.002 mm), % 5
Diâmetro efetivo (D10), mm 0.003
Diâmetro médio (D50), mm 0.038
Coeficiente de uniformidade (Cu) 8.33
Coeficiente de curvatura (Cc) 1.33
Classificação (SUCS) MH
Color Amarelo
Tabela 2- Propriedades físico-químicas do cimento
Propriedade Valor
% MgO 4.11
% SO3 2.99
% CaO 60.73
% Resíduo insolúvel 0.77
Resistência aos 28 dias (MPa) 53
% Finura 0.04
GsC 3.11
Para a realização de todos os ensaios de caracterização do solo, das misturas solo-cimento e para a
moldagem de corpos de prova foi usada água destilada a 24±3°C para evitar reações não desejadas e limitar
o número de variáveis no estudo.
PR
qu = (1)
AT
Onde PR é a carga de ruptura no pico da curva tensão-deformação axial e AT é a área da seção transversal
corrigida do corpo de prova. Para a realização dos ensaios de tração foi usada uma prensa automática com
capacidade de 30 kN. Adota-se a resistência à tração (qt) de acordo com a seguinte expressão, quando, no
ensaio a curva tensão-deformação axial, alcança-se um pico máximo:
2PR
qt = (2)
πDH
γd C
Civ = ( ( )) /Gsc
1+c/100 100 (3)
Onde γd é o peso específico seco aparente da mistura, C é o teor de cimento e Gsc é a densidade dos grãos
do cimento. O teor volumétrico de aumenta com o aumento do teor de cimento, enquanto que a relação
porosidade/teor volumétrico diminui. Para as misturas, a relação η/Civ varia de 10.1-13.6; 12.7-17.1; 17.5-
23.5 e de 28.5-38.2 para 9, 7, 5 e 3% de cimento, respectivamente, tanto para qu como para qt. Em média,
o range de η/Civ para cada teor de cimento é de 3.6; 4.5; 6.3 e 10.5 para 9, 7, 5 e 3%, respectivamente. Ou
seja, o range cresce com a diminuição da quantidade de cimento no corpo de prova, e, o quando o range
diminui fornece os maiores valores de resistência mecânica. Pode-se observar nas Figura 2(a)-2(b) que
existe uma tendência potencial de qu e qt dependente de η/Civ para todos os teores de cimento. A Figura 2
mostra que comparando a redução de 20 pontos porcentuais de η/Civ se obtém que, por exemplo, se se reduz
a relação vazios/cimento de uma mistura de η/Civ=35 a η/Civ=15 aumenta a sua resistência qu em 1230 kPa
e sua resistência qt em 210 kPa.
Consoli et al. [7] sugere que uma melhor tendência dos pontos experimentais de resistência à compressão
simples de misturas solo-cimento pode ser obtida se o valor de Civ é ajustado a um exponente entre 0.01 e
1.00 dentro da faixa da relação η/Civ específica estudada. Desta maneira, os valores reportados na Figura 2
foram ajustados a um exponente decimal entre 0.01 e 1.00 sendo o exponente de 0.45 o qual forneceu o
melhor coeficiente de determinação para o cimento empregado. Assim, os valores de qu e qt dependendo
da relação η/Civ0.45 para os cimentos são apresentados na Figura 2.
3500 600
3000 SE SE
500
IE IE
2500
ME 400
ME
qu (kPa)
2000
qt (kPa)
300
1500
200
1000
500 100
0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Cimento (%) Cimento (%)
(a) (b)
3500 600
C=3% C=3%
3000 500
C=5% C=5%
2500 C=7% C=7%
400
C=9% C=9%
2000
qt (kPa)
qu (kPa)
300
1500
200
1000
500 100
0 0
35 37 39 41 43 45 47 49 35 37 39 41 43 45 47 49
η (%) η (%)
(c) (d)
Figura 1- Efeitos da adição de cimento na resistência das misturas solo-cimento (a) Influência do teor de cimento sobre
qu. (b) Influência do teor de cimento sobre qt. (c) Influência da porosidade sobre qu. (d) Influência da porosidade sobre
qt.
𝜂 −2.00
𝑞𝑢 = 679129 [ ] (𝑅 2 = 0.97) (4)
(𝐶𝑖𝑣 )0.45
𝜂 −2.00
𝑞𝑡 = 99757 [ ] (𝑅 2 = 0.88) (5)
(𝐶𝑖𝑣 )0.45
𝜂 −𝐵
Pode-se observar que a Equação 4 e 5 segue a forma: 𝑞𝑢 = 𝐴 [𝐶 𝐶 ] . Baseado nos estudos feitos por
𝑖𝑣
Consoli et al. [7] o valor de B e C depende do tipo de solo. Consegue-se obter um mesmo comportamento
dos resultados de compressão simples e tração com o uso da relação η/Civ0.45. A relação η/CivC é capaz de
fornecer uma tendência única da resistência do solo siltoso experimentado no presente trabalho cimentado
artificialmente com um cimento de alta resistência inicial. Para Rios et al. [15] e Mola-Abasi et al. [24]a
relação η/Civ demonstra ser um ótimo parâmetro de ajuste para descrever o comportamento à compressão
não confinada de solos estabilizados com cimento.
3500 600
3000 a) 500
b)
2500
qu= 679129(η/Civ0.45)-2.00 400
qt= 99757(η/Civ0.45)-2.00
qu (kPa)
qt (kPa)
2000
(R2=0.97) 300 (R2=0.88)
1500
200
1000
500 100
0 0
15 20 25 30 35 40 45 50 15 20 25 30 35 40 45 50
η/Civ 0.45 η/Civ 0.45
Figura 2- Efeitos da relação porosidade/teor volumétrico de cimento sobre a resistência mecânica das misturas solo-
cimento: (a) sobre a compressão simples (b) sobre a tração indireta
Outra forma de representar um crescimento único da resistência qu e qt dos três tipos de solos é mediante a
normalização (divisão) das resistências. Segundo Consoli et al. [7]a normalização é obtida dividindo a
Equação 4 ou 5 por um valor específico arbitrário de resistência à compressão simples e à tração,
correspondente a um valor de um dado ajustado de porosidade, η/CivC =Ω, que leva a:
-B
qu qt A(η/Civ C ) -B
ou = -B
=(Ω)B (η/Civ C )
η η A(Ω) (1(6)
qu ( C =Ω) qt ( C =Ω)
Civ Civ
O valor de Ω pode ser escolhido da faixa de η/Civ C média reportados para tração e para compressão. Para o
presente trabalho foi escolhido o 27.5. Assim, com o valor de = 27.5, a Equação (6) se converte em:
qu qt -B
ou = A(η/Civ C )
η η (7)
qu ( C =27.5) qt ( C =27.5)
Civ Civ
4
UCS- 7 days
qu e qt dividido por qu-norm ou qt-norm em η/Civ0.45=27.5
STS- 7 days
3.5
2.5
qu/qu-norm(η/Civ0.45=27.5) ou
qt/qt-norm(η/Civ0.45=27.5)=756.25(η/Civ0.45)-2.00
2 (R2=0.92)
1.5
0.5
0
15 20 25 30 35 40 45 50
η/Civ0.45
Figura 3- Normalização da compressão simples (qu) e da tração indireta (qt) [para toda a gama de η/Civ0.45] dividindo por
qu e qt em η/Civ0.45=35 considerando todas as misturas solo-cimento usando 7 dias de cura e diferentes energias de
compactação.
Cada valor real de qt e qu deve ser divido pela sua respectiva resistência de normalização resultante de valor
específico de η/Civ C=27.5 e calculado com as expressões que seguem a forma da Equação (4) e (5). Quando
cada valor experimental de resistência é dividido pela sua respectiva resistência de normalização é obtido
um valor quociente. Os valores quocientes de compressão e tração indireta das misturas estudadas formam
uma mesma tendência potencial descrita pela Equação (8) e mostrada na Figura 3 junto com a normalização
das resistências. Assim, a Equação (7) converte-se e, uma equação única que descreve o comportamento de
qt e qu:
qu qt -2.00
ou = 756.25(η/Civ 0.45 )
η η (8)
qu ( C =27.5) qt ( C =27.5)
Civ Civ
Uma relação empírica entre a compressão e a tração pode ser calculada em termos das Equações (4)-(5) das
amostras solo-cimento. Esta relação pode ser chamada de ξ=qt/qu, e é independente da relação η⁄(Civ )0.45 .
Desta maneira, as Equações que descrevem o crescimento de qu e qt em função de η⁄(Civ )0.45 (Ver Figuras
2a-2b) podem ser expressas como uma relação direta de qt/qu para o solo utilizado. A relação qt/qu assegura
uma constante decimal, a qual é calculada na Equação (9). De forma geral, ξ obtém um valor de 0.15.
Assim, qt demonstra ser uma porcentagem de 15% do valor de qu para o silte amarelo estudado.
−2.00
𝜂
99757 [ ]
𝑞𝑡 (𝐶𝑖𝑣 )0.45
= −2.00 = 0.15 (9)
𝑞𝑢 𝜂
679129 [ ]
(𝐶𝑖𝑣 )0.45
3. CONCLUSÕES
A presente pesquisa (solo siltoso), ao tipo de cimento usado, aos teores de cimento (3-9%) e o tempo de
cura de 28 dias a que foram submetidos os corpos de prova além das análises dos resultados, as seguintes
conclusões são abordadas:
1. A resistência à compressão simples dos corpos de prova de misturas solo-cimento aumentou com o
acréscimo do teor de cimento e com o aumento do peso específico seco de moldagem. Além disso, uma
tendência linear foi a melhor forma de representar o crescimento de qu com a variação do teor de cimento
de 3 a 9%. Por outra parte, a diminuição da porosidade das amostras também fez aumentar qu.
2. A relação porosidade/teor volumétrico de cimento (η/Civ) demonstrou ser um parâmetro eficiente para
estudar o comportamento mecânico das misturas como foi reportado em estudos prévios. Um exponente de
0.45 sobre o teor volumétrico de cimento (η/Civ0.45) forneceu melhor ajuste das amostras ensaiadas à
compressão simples. Além disso uma relação tração/compressão de 0.15 foi calculada.
AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer o apoio da CAPES, CNPq e Fundação Araucária do Paraná.
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REUTILIZAÇÃO E RECICLAGEM DE RESÍDUOS GERADOS EM
CANTEIROS DE OBRAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL
1
UFJF, Juiz de Fora, Brasil, mattossilane@gmail.com
2 UFJF, Juiz de Fora, Brasil, aparecida.hippert@ufjf.edu.br
Resumo: A sustentabilidade é um tema muito discutido no setor da construção civil, por ser uma
indústria que gera muitos impactos ao meio ambiente, sendo um grande desafio aliar esse tema ao
desenvolvimento e inovações tecnológicas. A construção civil é uma grande geradora de resíduos
sólidos, tanto no processo de construção, quanto na reforma e na demolição das edificações, sendo
estes muitas vezes dispostos de forma inadequadas, causando assim inúmeros problemas ambientais
e sociais. O controle da geração desses resíduos, bem como a forma correta de descarta-lo tem sido
motivo de preocupação, sendo abordado em normas e em programas do Governo Federal, como o
caso do PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat), onde no
Regimento Geral SiAc, aborda como objetivo da qualidade a inclusão da sustentabilidade em
canteiros de obra, contemplando entre outros a redução da geração de resíduos, a criação de
indicador de geração de resíduos ao final da obra e um plano de Gerenciamento de Resíduos em
consonância com a Política Nacional de Resíduos Sólidos e a Resolução Conama 307/2002 e
legislações estaduais e municipais aplicáveis. O objetivo do artigo é mostrar formas de reutilização
dos resíduos gerados em obras de construção civil, não sendo considerado o solo, associando ao
processo dos 3R (Reduzir, Reutilizar, Reciclar). A partir desse objetivo será realizado um trabalho
de revisão bibliográfica abordando temas como resíduos de construção civil, os 3R e formas de
reutilização desses resíduos, afim de controlar seu descarte de forma adequada. Espera-se que o
artigo traga contribuições tanto para a comunidade científica, quanto para as construtoras, que
podem enxergar nesses estudo formas para dar um destino mais adequados aos resíduos gerados e
inerentes ao processo construtivo, contribuindo assim para a evolução da indústria de forma mais
sustentável.
1. INTRODUÇÃO
De acordo com Oliveira [1] nos processo de construção, reforma e demolição, a indústria da
construção civil, acaba por gerar um grande volume de resíduos sólidos, que são geralmente
considerados inúteis e dessa forma, são descartados e muitas vezes de forma inadequada.
A geração dos Resíduos da Construção Civil – RCC deve-se, em grande parte, às perdas de
materiais de construção nas obras, seja pelo desperdício e falta de controle durante o processo de
execução dos serviços, seja por perda de materiais decorrentes de danos no recebimento, transporte
e até no armazenamento incorreto, pela baixa qualidade dos materiais adquiridos, ou até mesmo
devido à técnica escolhida para a construção e também para a demolição. [2]
À medida que o setor da construção civil cresce, consequentemente cresce a geração de resíduos,
contribuindo para o aparecimento de bota-foras de entulhos clandestinos, em periferias das cidades,
lotes vagos e até em anéis rodoviários, causando poluição dos espaços públicos, comprometendo o
meio ambiente, a vida útil de aterros sanitários, a degradação da paisagem urbana [3], além do
assoreamento de córregos e rios, entupimento de redes de drenagem e a proliferação de vetores
causadores de doenças. [1]
Oliveira [1] aponta que apesar dos problemas causados pela grande geração de resíduos na indústria
da construção civil, especificamente aqueles compostos de concretos, argamassas e elementos
cerâmicos, estes materiais tem um grande potencial e utilidade na engenharia, podendo os mesmos
voltarem à cadeia produtiva através de processo de reciclagem e reutilização, gerando materiais
com qualidade comparáveis àqueles fabricados tradicionalmente, sendo uma importante alternativa
ao uso em aterros, por exemplo.
Em cidades brasileiras de médio e grande porte 40 a 70% de todos os resíduos sólidos gerados são
provenientes de construções, sendo que a forma incorreta de destinação traz prejuízos econômicos,
sociais e ambientais [4] a redução das perdas e dos desperdícios é um fator muito importante para a
sobrevivência bem como para adequação ao mercado das construtoras. [2].
A reciclagem de RCC, processo que leva a novos rumos no que diz respeito a exploração dos
recursos, direção de investimentos e até mesmo a orientação do desenvolvimento tecnológico, é
uma tentativa de aproximar o conceito de desenvolvimento sustentável, tendo potencial na
substituição de matéria-prima convencional que são usadas na construção civil [2].
A NBR 15575, [5], criada no ano de 2013, preconiza que durante a construção deverá ser
implantado um sistema de gestão de resíduos no canteiro de obras, buscando minimizar sua geração
e possibilitar sua segregação de maneira adequada, facilitando dessa forma seu reuso, reciclagem ou
até mesmo a disposição em locais específicos.
O PBQP-H (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat) instrumento do Governo
federal que tem como metas principais: a melhoria da qualidade das habitações e a modernização
produtiva, em seu Regimento SIAC (Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de
Serviços e Obras) é outro exemplo de documento que fala sobre a gestão de resíduos, neste caso,
estabelecendo que a empresa deve determinar indicadores para a sua gestão. Estabelece ainda que o
PQO (Plano de Qualidade da Obra) deve apresentar o plano de Gerenciamento de Resíduos da
Construção Civil, em consonância com a Política Nacional de Resíduos Sólidos [6] , resolução do
Conama 307/2002 [7] e ainda com as legislações estaduais e municipais aplicáveis.
Diante do que foi exposto, este artigo se desenvolve a partir de uma discussão sobre as melhores
formas de se reutilizar os resíduos gerados na construção civil, sem causar grandes impactos ao
meio ambientes, buscando para isso fazer uma revisão bibliográfica sobre o assunto.
O objetivo geral deste trabalho é contribuir com engenheiros, arquitetos e demais profissionais da
construção civil, com informações das melhores práticas para se gerenciar os resíduos gerados nas
obras, sem levar em consideração o solo. Para se atingir o objetivo proposto, foram realizados
estudos e pesquisas em artigos ,periódicos, normas, teses, com base em assuntos relacionados à
sustentabilidade, construções sustentáveis, resíduos de construção e demolição e gestão de resíduos
em obras e melhores práticas.
Pesquisadores
Materiais Média
S ouza Pinto S oilbeman
Areia 44 39 44 42,33
Cimento 56 33 83 57,33
Cal 36 102 - 69
Concreto 9 1 13 7,67
Aço 11 26 19 18,67
Blocos e tijolos 13 13 52 26
Os RCC’s são considerados como um dos maiores degradadores do meio ambiente, tanto pelo
volume gerado quanto pelo tratamento que é dado a esses resíduos e sua disposição final de forma e
em locais inadequados [10]. Pinto [11] e Costa [12] relatam que no Brasil, estimativas apontam que
o RCC representa de 41% a 70% da massa de resíduos sólidos urbanos, mostrando que as atividades
de construção civil, podem ser consideradas como as maiores produtoras de resíduos.
De acordo com Brum [3] a falta de medidas gerenciais em relação ao RCC provoca impactos nos
centros urbanos, e na natureza. Os reflexos negativos da geração de resíduos atinge os três pilares
da sustentabilidade, que são: ambiental, social e econômico.
• Ambiental: contaminação dos solos, rios e lençóis freáticos [4].
• Social: disposição inadequada de resíduos, muitas vezes dispostos em terrenos baldios,
margens de rios etc. realça a degradação da qualidade de vida urbana [3].
• Econômica: impacto percebido pelo aumento de gastos por parte da Administração Pública
em itens como saúde, limpeza e a remoção de tais dejetos para locais adequados [3]
A responsabilidade de destinar corretamente os resíduos, que historicamente são depositados em
locais ilegais, sempre foi da administração pública [11]. No ano de 2002, a Resolução número 307
do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama [13], determinou que o gerador passaria a ser o
responsável pelo gerenciamento desses resíduos, representando um avanço legal e técnico,
estabelecendo aos geradores as responsabilidades, tais como a segregação dos resíduos em
diferentes classes e o seu encaminhamento para reciclagem e disposição final adequada.
Os RCC estão sujeitos à legislação federal referente aos resíduos sólidos, à legislação específica de
âmbito estadual e municipal, bem como às normas técnicas brasileiras [7] incluindo regras para
gerenciar sua coleta, transporte e disposição adequada. [3]
3.1. Legislação
Fig. 1 – Gráfico da composição dos resíduos de Construção no Brasil ( adaptado de Blumenschein [2])
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O COMPROMETIMENTO DA VIDA ÚTIL DOS MATERIAIS E
COMPONENTES DECORRENTES DA PRESENÇA DE UMIDADE NAS
EDIFICAÇÕES E DA FALTA DOS SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO
Resumo: A indústria da construção civil, tem vivido uma evolução no que diz respeito a novas
tecnologias, novos processos construtivos, novos materiais de construção e ainda aumento dos
padrões de qualidade, tanto dos processos construtivos, quanto dos materiais utilizados nas
edificações, além disso tem focado no controle da produção de resíduos sólidos e na durabilidade. A
durabilidade é um conceito que está intimamente ligado à vida útil, que pode ser alcançado dentro
do esperado quando a edificação passa pelo correto processo de manutenção preventiva, serviços
estes que são programados antecipadamente e de baixo custo que visam o ganho de durabilidade
das edificações. Os itens como durabilidade, manutenabilidade e vida útil são assegurados por
normas pertinentes como a NBR 15575:2013 – Desempenho de Edificações Habitacionais, que tem
o intuito de melhorar a qualidade das construções habitacionais. O objetivo principal do artigo é
correlacionar durabilidade, vida útil e manifestações patológicas decorrentes da presença de
umidade em edificações, sejam essas acidentais ou ascensionais, devido a erros construtivos,
especificações inadequadas de materiais e ainda a falta de manutenção preventiva.
Partindo desse objetivo será realizado um trabalho de revisão bibliográfica acerca de umidade de
edificações, manifestações patológicas decorrentes dessas e sobre as medidas preventivas que
buscam minimizar custos com os serviços de manutenção e ainda asseguram a vida útil das
edificações. Espera-se que o artigo contribua para a comunidade científica mostrando como a
manutenção e a boa escolha de materiais pode ajudar a aumentar a vida útil das edificações, inserida
ao conceito de construção sustentável.
Abstract: The construction industry has been evolving in terms of new technologies, new
construction processes, new building materials and increased quality standards, both of the building
processes and materials used in the buildings, and has focused on in the control of solid waste
production and durability. Durability is a concept that is intimately linked to the useful life, which
can be achieved within the expected when the building goes through the correct process of
preventive maintenance, these services that are programmed in advance and low cost that aim the
gain of durability of the buildings. Durability, maintenance and shelf life are ensured by pertinent
standards such as NBR 15575: 2013 - Housing Construction Performance, which aims to improve
the quality of housing construction. The main objective of the article is to correlate durability, shelf
life and pathological manifestations due to the presence of humidity in buildings, whether
accidental or accidental, due to constructive errors, inadequate specifications of materials and also
the lack of preventive maintenance.
Based on this objective will be carried out a work of bibliographical review about the humidity of
buildings, pathological manifestations arising from them and about preventive measures that seek to
minimize costs with maintenance services and still ensure the useful life of buildings. The article is
expected to contribute to the building community by showing how maintenance and good choice of
materials can help increase the useful life of buildings, which is part of the concept of sustainable
construction.
1. INFORMAÇÕES BÁSICAS
O homem sempre teve uma grande preocupação com sua habitação, desde à época em que moram
em cavernas, e dentre as preocupações, estava as questões de umidade. O homem percebe que ao se
abrigar das chuvas, animais e do frio nestes locais, havia uma umidade me seu interior que ascendia
do solo, penetrava as paredes e tronava a vida insalubre dentro daquele ambiente. [1]
Dessa forma, o homem começa a sentir necessidade de aprimorar seus métodos construtivos para
isolar o máximo que pudesse suas habitações. Pode-se dizer que a água, o calor e a abrasão foram e
ainda são um dos principais desgastes e depreciação das construções, sendo que a água, deve ter
uma atenção redobrada, já que a mesma além de ter um alto poder de penetração nas edificações,
essa pode acontecer vinda de origens diferentes. [1]
Vê-se atualmente um grande número de edificações, relativamente novas apresentando diversos
tipos de patologias, esse fato pode ser dado ao avanço tecnológico no setor de técnicas e materiais
de construção. O uso de materiais inadequados, imperícia na execução, ausência de planejamento da
obra, excesso de cargas, incompatibilidade de materiais, agentes climáticos associados à falta de
manutenção levam as edificações a apresentarem níveis de degradação superiores aos desejados.
[2], [3].
Os fatores citados acima, comprometem a qualidade e a durabilidade das edificações, afetando
diretamente sua vida útil, seu desempenho, além do comprometimento na estética, segurança. [2],
[3]. O desempenho da edificação pode ser definido como o seu comportamento em uso, ou seja,
características que proporcionam condições mínimas de habitabilidade (como conforto térmico e
acústico, higiene, segurança etc.) necessárias para que um ou mais indivíduos possam utilizar a
edificação durante um período de tempo[4], [5], e pode ser mensurado quantitativamente segundo a
Norma Brasileira 15575-1 de 2003. [6]
Segundo a NBR 15575-1/2013 [6], a umidade acelera os mecanismos de deterioração das
edificações, acarretando a perda das condições de habitabilidade e higiênicas do ambiente, por isso
a estanqueidade da umidade proveniente do solo e da utilização da edificação habitacional, devem
ser consideradas em projeto. Além do mais a impermeabilização é de extrema importância para as
construções, pois, aumentam a vida útil da edificação.[1]
O objetivo geral deste trabalho é contribuir com engenheiros, arquitetos, e demais profissionais da
área de construção civil, com informações que levem ao entendimento das patologias ocasionadas
pela umidade nas edificações, de modo a evitá‐las e, não sendo possível, ser uma base para buscar
uma forma de saná‐las, além de indicar as origens da umidade nas edificações e a natureza dos
problemas ocasionados; citar as principais patologias decorrentes. Para isso foram realizadas
pesquisas em materiais específicos e artigos especializados na área de forma a embasar a elaboração
deste artigo. Por fim foi elaborada uma tabela correlacionando durabilidade, vida útil e
manifestações patológicas que podem influenciar a qualidade da edificação.
Tendo conhecimento sobre a forma como a água se insere na edificação é possível identificar como
age e que tipo de manifestações patológicas geram.
Paredes (descolamento de
Eflorescência argamassa, descoloramento da
pintura)
Criptoflorescência Paredes
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AVALIAÇÃO DE MICROESTRUTURA DE PASTAS CIMENTÍCIAS COM ADIÇÃO DE
REJEITO DE MINÉRIO DE FERRO DEPOSITADOS EM BARRAGEM DE LAMAS .
Micro- structure analysis of cement slurries whit addition os iron ore tailling
deposited in muds dam.
Nara L.B. de CASTRO 1, Laura LAGE 2, White José dos SANTOS 3, Carlos Augusto de
Souza OLIVEIRA 4
Resumo: O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de minério de ferro na atualidade, como
consequência o setor da mineração é apontado como um dos principais geradores de resíduos. Esta
exploração é responsável por gerar uma quantidade cada vez maior de resíduos, criando um passivo
ambiental pela construção e manutenção de barragens de lama nas quais são depositados os resíduos
de minério de ferro, estas, ocupam uma área considerável, necessária para sua operação, além do
elevado impacto social causado nas comunidades. No presente momento, a busca por soluções
inovadoras, ligadas a sustentabilidade e ao consumo enorme de recursos naturais, demandam o
melhor conhecimento dos materiais que utilizam aproveitamento de resíduo. Nessa conjuntura, este
trabalho apresenta a análise microestrutural de pastas cimentícias fabricadas com adição parcial de
resíduo de minério de ferro (RMF) em relação massa de cimento Portland. Foram estudas pastas
com teores de adição de 10%, 20%, 30% e 40% de RMF. As mesmas foram analisadas para idades
de 7 e 28 dias. A técnica de instrumentação utilizada nas análises microestruturais foi a de
Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), aliada a técnicas de caracterização do resíduo de
minério de ferro como, fluorescência de raios X (FRX) e difração de raios X (DRX), densidade dos
grãos e granulometria. As análises sinalizaram indícios de que o uso do RMF na forma de adição
seria tecnicamente viável. Porém, observam-se algumas anomalias da microestrutura que podem
indicar algum efeito deletério da adição do RMF às pastas cimentícias como, diminuição de
trabalhabilidade e demanda excessiva de água para hidratação da pasta.
Abstract: Brazil is one of the world's largest producers of iron ore today, as a consequence the
mining sector is considered as one of the main waste generators. This exploration is responsible for
generating an increasing amount of waste, creating an environmental liability for the construction
and maintenance of mud dams in which the iron ore wastes occupy a considerable area, necessary
for its operation, besides social impact on communities. At the present time, the search for
innovative solutions, linked to sustainability and the enormous consumption of natural resources,
demand the best knowledge of the materials that use waste recovery. In this context, this work
presents the microstructural analysis of cementitious pastes made with partial addition of iron ore
residue (RMF) in relation to Portland cement mass. It was studied slurries with addition contents of
10%, 20%, 30% and 40% of RMF. They were analyzed for ages 7 and 28 days. The instrumentation
technique used in the microstructural analyzes was the Scanning Electron Microscopy (SEM)
technique, together with the characterization of the iron ore residue, as well as X-ray fluorescence
(XRF) and X-ray diffraction (XRD). grains and granulometry. The analyzes indicated that the use
of RMF in the form of addition would be technically feasible. However, some anomalies of the
microstructure can be observed that may indicate some deleterious effect of the addition of the
RMF to the cementitious pastes as, decrease of workability and excessive water demand for
hydration of the pulp.
1. INTRODUÇÃO
Dados da United States Geological Survey (USGS, 2014) mostram que a produção de minério de
ferro do Brasil foi estimada, em 2013, em 398 milhões de toneladas o que equivale cerca de 13,5%
do total mundial. Além disso Galvão (2011) afirma que o minério de ferro é um dos principais
commodities que o Brasil exporta e as empresas com sedes brasileiras obtiveram recordes na
produção, contribuindo para um aumento do valor das exportações.
Como consequência da produção de matéria prima a geração de rejeitos é inevitável. Estes resíduos
são produzidos em grande volume e em consequência várias regiões enfrentam problemas
relacionados aos impactos ambientais desse beneficiamento (ROESER, 2007). Está prescrito na
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que alocar os rejeitos em barragens não deve ser
considerado como último artifício de acomodação dos mesmos, e ainda como alternativa provisória.
Porém, dados da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM, 2016), é observado, apenas em
Minas Gerais, 737 barragens de rejeito de mineração. Segundo os autores Silva, Viana e Cavalcante
(2012), na mineração, grandes volumes e massas de material são extraídos e movimentados, e a
quantidade de resíduos gerada pela atividade depende do processo utilizado para a extração do
minério, da concentração do mineral na rocha matriz e da localização da jazida.
Figura 1- Fluxograma típico do tratamento de minério de ferro
Fonte: Luz,2010
As operações realizadas para etapa de beneficiamento do produto podem ser destacadas como
cominuição, peneiramento, concentração mineral, filtragem, secagem e por fim disposição do
rejeito.
O reaproveitamento dos resíduos da mineração é um fator importante, tanto no âmbito ambiental,
quanto no que se diz respeito ao emprego de materiais sustentáveis na construção civil. Suzuki
(2017) afirma que as maiores dificuldades encontradas são as viabilidades econômica e técnica para
essa troca e o desempenho nem sempre similar, quando utilizado o produto reciclado em
comparação ao natural. Visando dirimir esse volume audacioso de barragens, Neto (2007) defende
que existem técnicas para gerenciar os resíduos e devem partir de um planejamento integrado, para
que haja minimização de ações e majoração de reciclagem e reaproveitamento. Para gerenciar os
resíduos, deve-se dar ênfase na redução na fonte, visando a reutilização e reciclagem.
Atrelado a essa necessidade atual de desenvolvimento de materiais sustentáveis, viu-se a
importância de entender o comportamento desses novos métodos. Para tal, uma das metodologias é
a análise microestrutural, que vem sendo incentivada pois, de acordo com Custódio (2015), estudar
o comportamento desse novo produtor, sendo possível prever e otimizar propriedades da pasta,
além de ser possível prever patologias. Mehta e Monteiro (2008), complementam que a análise
microscópica pode ser considerada um ensaio não- destrutivo e eficiente. Varela (2017) define pasta
como a mistura com proporções adequadas de água e cimento e/ou aglomerante. A Associação
Brasileira de Cimento Portland (ABCP) afirma que a mesma pode ser classificada quanto ao seu
estado, sendo eles, fresco ou endurecido. Um dos itens para obtenção da pasta, é o aglomerante, o
mais utilizado é o cimento Portland, e pode ser definido como um material pulverulento, rico em
sílica e cal e que apresenta propriedades aglutinantes. Ao ser misturado com a água, forma uma
pasta com consistência plástica, reage quimicamente, endurece e adquire resistência mecânica
(SCANDIUZZI e ANDRIOLO, 1986).
Na análise do resíduo do minério de ferro, Varela (2017) define por granulometria, a distribuição,
em porcentagem, dos diversos tamanhos de grãos. “A composição granulométrica tem grande
influência nas propriedades das argamassas e concretos.” (MEHTA e MONTEIRO, 2008). Se
tratando da análise química do RMF, Glocker e Schreiber (1928) a espectrometria de fluorescência
de raios-X é uma técnica não destrutiva que permite identificar os elementos presentes em uma
amostra (análise qualitativa) assim como estabelecer a proporção (concentração) em que cada
elemento se encontra presente na amostra. A microscopia eletrônica de varredura é utilizada em
várias áreas do conhecimento, incluindo a mineralogia. O uso desta técnica vem se tornando mais
freqüente por fornecer informações de detalhe, com aumentos de até 300.000 vezes (Duarte, et al.,
2003). As propriedades, por exemplo as mecânicas, tem sua origem na microestrutura e essas
podem ser modificadas fazendo certas alterações na microestrutura do material.
2. OBJETIVOS
Este trabalho avaliou a influência do resíduo de RMF em adição parcial ao cimento Portland,
avaliando sua caracterização, assim como confeccionando pastas, e avaliando-as quanto a sua
microestrutura. O conteúdo abaixo retrata sobre a metodologia usada para o desenvolvimento.
O RMF utilizado neste trabalho tem origem de Sarzedo (MG), cidade situada na região
metropolitana de Belo Horizonte. O RMF foi coletado e disponibilizado por uma empresa que atua
no segmento de exploração e beneficiamento mineral. A amostra foi retirada de forma
representativa seguindo as orientações da norma da NBR 9604 (ABNT, 2016), com auxílio de uma
carregadeira, sendo obtidas em diferentes pontos da barragem de rejeito. Em seguida as amostras
foram conduzidas até o Laboratório de Materiais de Construção Civil (LMCC) da Unifei – Campus
de Itabira. As amostras se encontravam convenientemente embaladas e identificadas , conforme
orientações da norma NBR 6457 (ABNT, 1986).
Primeiramente, foi feita a caracterização do material no seu estado natural, fazendo parte do
planejamento da pesquisa, conhecer as propriedades e características do mesmo. Para isso, foi
retirada uma amostra representativa do montante, após o processo de quarteamento em laboratório .
As mesmas foram caracterizadas quanto a granulometria, densidade dos grãos e mineralogia.
A análise mineralógica das amostras de rejeito (RMF) foi determinada pela técnica de Eflorescência
de raios X. Esse teste foi realizado pela empresa SGS Geosol Laboratório Ltda, localizada na cidade
de Vespasiano (MG). Foram analisadas três amostras do RMF.
Na avaliação da granulometria do RMF foram adotadas as recomendações da norma NBR 7181
(ABNT, 1984) complete, seguindo as etapas de peneiramento grosso, peneiramento fino e
sedimentação.
Após uma análise visual do resíduo foi constatado que o mesmo não apresentava material de
diâmetro de partículas superiores à abertura 4,8mm. Então, na etapa de peneiramento grosso optou-
se por usar apenas as peneiras de aberturas 4,8mm e 2,0mm, sendo que nas demais não haveria
retenção do material. Já na etapa de peneiramento fino, empregou-se todo o jogo de peneiras de
acordo com a norma NBR 7181 (ABNT, 1984), que foram elas: 1,2 mm, 0,6 mm, 0,42 mm, 0,3
mm, 0,15 mm, 0,075 mm e fundo .
De acordo com os ensaios realizados, constatou-se que o material apresentava elevado diâmetro dos
grãos e não se encontrava na granulometria almejada para o desenvolvimento da pesquisa. Com
isso, procedeu-se a moagem do material, para se obter uma maior superfície específica. Ressalta-se
que essa pesquisa visa pesquisar o comportamento reológico do RMF com elevada finura, como
adição ao cimento Portland.
Para cominuição foi utilizado o moinho de Bolas, com dimensões 380 x 420 mm, volume de 47
litros, carregado com 67 esferas metálicas de 30,53 mm de diâmetros em média. A cada
procedimento foi colocado no equipamento uma quantidade de 4,5kg de RMF. Por meio de um
programador digital do equipamento foi possível controlar o número de rotações durante o processo
de moagem, sendo adotadas 16.000 rotações, como tentativa de maximizar o material fino.
Utilizou-se como processo de moagem o moinho de bolas, rotacionados a 2.000, 4.000, 6.000,
8.000, 10.000,12.000, 14.000 e 16.000 rotações, sempre intercalado com peneiramento para análise.
Entre os dois últimos ciclos o material se estabilizou quanto a porcentagem de finos, portanto,
trabalhou-se com o RMF proveniente da moagem de 14.000 rotações. Com isso, aproximadamente
66% do material foi incorporado aos processos de confecção de pastas.
Do material cominuído, foram coletadas novamente amostras para a realização dos ensaios de
granulometria e densidade grãos, segundo as metodologias anteriormente citadas. Após a passagem
pela peneira 015 mm (#100) esse material foi empregado na produção das pastas.
Para a produção das pastas foi realizada a adição em porcentagens proporcionais em massa, de
resíduo em relação ao cimento Portland. Foram adotados os teores de adição de 10%, 20%, 30% e
40% de RMF, em relação a massa do cimento.
A relação água/aglomerante empregada na pasta foi 0,50. Foi adotada a seguinte representação
gráfica para os traços, sendo o primeiro índice o cimento Portland, o segundo índice a adição de
RMF e o Terceiro a relação água/aglomerante. Foram considerados como aglomerantes o cimento
Portland e o RMF, passante na peneira de abertura 0,15 mm (#100).
O cimento Portland empregado na fabricação das pastas foi o cimento Portland de alta resistência
Inicial. A escolha do cimento Portland CPV - ARI, do fabricante InterCement Brasil S/A se deu
pois, de acordo com os dados do mesmo é constituído basicamente de clínquer Portland finamente
moído e gesso. Portanto, por característica de elevada finura (baixo teor de adições minerais) esse
cimento foi adotado no estudo para facilita o entendimento da influência do RMF na reologia das
pastas e análise das microestruturas geradas.
Após o preparo das pastas, as mesmas foram colocadas em moldes até a etapa de desforma. Adotou-
se como moldes em oito copos plásticos com capacidade volumétrica de 50 ml cada. Para cada teor
de adição de RMF moldou-se dois corpos de prova (moldes).
Figura 3 Moldagem dos corpos de prova
Fonte: O autor,2018
Para análise das microestrutura foram examinados fragmentos da amostra das pastas com adição de
10%, 20%, 30% e 40% de RMF em relação ao cimento. O equipamento utilizado foi utilizado o
Microscópio Eletrônico de Varredura Bruker Xflash Detector 410 –M. As amostras foram dispostas
em suportes metálicos e fixadas com fita adesiva. Em seguida, foram metalizadas com ouro
paladium para conferir propriedade de condutividade a amostras de RMF. Posteriormente, já
disposto em condição de vácuo, através do detector de elétrons secundários foi possível visualizar
as amostras nos aumentos de 100, 1.000 e 10.000 vezes, tanto no SE e BSE. Essas ampliações
permitiram para observar a estrutura superficial a amostra.
4. RESULTADOS
O elevado teor de ferro justifica o resultado da densidade dos grãos obtida.O método de DRX
permitiu-se avaliar que o RMF é um material composto principalmente por Fe, Si, Ca e Al,
apresentando a composição de Fe2O3 – 59,1%, SiO2–25,6%, CaO– 3,85% , Al2O3 - 3,13%.
As análises e os dados encontrados neste trabalho, corroboram com os obtidos na análise química e
na densidade dos grãos do RMF.
As micrografias das pastas de argamassas estudadas, nas idades de 7 e 28 dias, geraram-se imagens
obtidas por elétrons secundários (SE) e retroespalhados (BSE). Na Figura 02, destacam-se imagens
dos elétrons secundários de 28 dias, com aumento de 100 vezes. As pastas apresentam estrutura
densa e compacta. Entretanto, dispersos na microestrutura das pastas, encontram regiões com a
presença de vazios, com morfologia arredondada, típicos de bolhas de ar incorporadas que foram
incorporadas às pastas durante o processo de moldagem dos corpos de prova.
Figura 02 SE - 28 DIAS – AUMENTO: 100 X ( pasta 10%, 20%, 30% e 40% de adição de RMF-
esquerda para direita.
Nos traços P10% e P20% vê-se uma estrutura porosa e com etringitas, destacada de vermelho.
Enquanto na com percentual de adição de P40% a amostra está mais densa, com menos etringitas e
maior aglomerado de C-S-H, que se encontra destacado em azul.
Apesar disto, a presença de fase cristalina de C-S-H se encontra identificada em todas as pastas,
independente do teor de utilização do RMF e da idade de análise, aspecto importante por se tratar dá
principal fase proveniente da hidratação do cimento Portland. Nessa pesquisa com a técnica de
MEV empregada não foi possível identificar qual tipo de fase C-S-H foram spredominantemente
formada ou se o RMF influenciou nos seus mecanismos de formação.
A relação água/aglomerante, influencia diretamente na resistência mecânica da pasta, porém pouco
se observou a formação de fissuras durante a aplicação da microscopia.
Observou-se que houve um descolamento da matriz. Apesar do RMF ser acrescido a massa de
cimento, ele possui características diferentes. E nessa etapa ele se comportou como agregado, que
pode ser justificado porque há presença de alguns grãos
A elevada relação água/aglomerante está intimamente ligada aos efeitos deletérios da pasta. Pois
agrava o aparecimento de poros, acarretando mais retrações, originando as fissuras. Em
consequência, é percebível uma maior permeabilidade.
5. CONCLUSÕES
Fisicamente pode-se observar que a lama oriunda da barragem de Sarzedo, Minas Gerais, após ser
beneficiada em laboratório, possui alta dureza do material. Isso pode ser constatado pois apesar de
todos os processos de moagens, foi possível implementar como adição a pasta de cimento apenas
66% da amostra.
A análise química mostra que o RMF apresenta elevado teor de hematita, resultando então numa
alta densidade. Além disso, após cada processo para aumento da superfície de contato do RMF, sua
densidade dos grãos aumentou. Isso aconteceu pois quanto maior o percentual de finos, mais vazios
aquela amostra ocupa em um dado volume. O volume e a densidade são parâmetros inversamente
proporcionais.
O RMF cominuído e peneirado se comportou como efeito filler, ou seja, fechando os poros, então
quando maior o percentual de RMF implementado a pasta, espera-se melhor características
mecânica. Seguindo o raciocínio de que, menor quantidade de poros, menor permeabilidade e maior
durabilidade.
O traço P40% possui melhores características morfológicas e químicas, isso porque as partículas
finas da sílica ativa e hematita ocupam os vazios deixando a pasta mais densa, por isso quanto mais
RMF incorporado, menos poroso é a pasta. A fase cristalina de silicato de cálcio hidrato (C-S-H) é
importante pois influencia de modo positivo e direto nas propriedades mecânicas, é considerado o
composto mais importante na resistência da pasta.
Em contrapartida, o traço P10% apresentam maior volume de etringitas, que são os agulhamentos e
é considerado a parte frágil da pasta. As agulhas intertravam entre si e prejudicam a
trabalhabilidade.
O uso do RMF na forma como foi estudado sinaliza ser tecnicamente viável e ambientalmente
correto, porém necessita de estudos mais aprofundados.
Como sugestão de trabalhos futuros sugere-se diminuir a relação água/aglomerante da pasta e
observar o que acontece na sua morfologia. Implementar essa pasta estudada em argamassas ou
concretos. Além disso, executar ensaios relacionados a durabilidade deste material.
6. REFERENCIAS
.
O GERENCIAMENTO DE CUSTOS NA PERSPECTIVA DO MODELO BIM:
UMA PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO COM O PMBOK
Cost Management on the BIM’s Perspective: A Proposal of Integration with
PMBOK.
José Aravena-Reyes1, Laila Machado2
1
Universidade Federal de Juiz Fora, Juiz de Fora, Brasil, jose.aravena@ufjf.edu.br
2
Universidade Salgado de Oliveira, Juiz de Fora, Brasil, laila.machado@engenharia.ufjf.br
Resumo: O BIM (Building Information Model/Modelling) está se tornando a cada dia mais
relevante para o setor da construção civil e tal fato tem atraído preocupações em relação às formas
de integração dos sistemas e práticas existentes da construção civil neste novo contexto. Por outro
lado, as demandas específicas do atual momento de crise econômica que vive o Brasil apontam para
a necessidade de melhorias nos processos produtivos mediante a incorporação de uma gestão
eficiente, o que por sua vez pode ser alcançado adotando as diretrizes do PMBOK (Project
Management Body of Knowledge). Aparentemente, a integração de ambas as abordagens pode
parecer uma ótima opção, porém, é necessário conhecer as possibilidades reais e o alcance dessa
integração. Nesse sentido, este artigo pretende discutir as formas que pode tomar uma integração
entre o Gerenciamento de Projetos e os parâmetros do Modelo BIM – IFC, especificamente no
âmbito do gerenciamento de custos. A partir da análise crítica das informações coletadas na
pesquisa bibliográfica, foi possível perceber a necessidade de relacionar os aspectos organizacionais
e operacionais de ambas as abordagens mediante um módulo específico (plug-in) que permita
manter em uma única unidade lógica as informações disponíveis do Modelo BIM, no formato IFC,
e os procedimentos de gerenciamento desses dados a partir das diretrizes do PMBOK. Para
subsidiar o projeto desta unidade lógica foram analisados diferentes aspectos que existem no
Modelo BIM relativos ao gerenciamento e para aqueles que não foram encontrados nesse modelo,
foi proposto um domínio de interface com tais elementos externos. Como parte da pesquisa, os
diversos elementos e entidades constituintes do modelo BIM são identificados e relacionados às
diversas práticas e recomendações do guia PMBOK, de modo a propor uma estrutura de dados
integrada e um conjunto de funções associadas a eles. Como o modelo BIM não esgota todas as
recomendações e diretrizes do PMBOK, uma organização dos dados que faltam é sugerida para fins
de complementar o modelo de integração. Finalmente se conclui que, embora o BIM seja um
modelo com muitas funções que suportam o gerenciamento de custos, alguma extensão deve ser
considerar para abranger a totalidade das diretrizes PMBOK, o que torna a integração completa,
embora viável, um trabalho extremamente complexo e oneroso.
Abstract: BIM (Building Information Modeling / Modeling) is becoming more and more relevant
for the construction industry, and this fact has attracted concerns about the integration of existing
civil construction systems and practices in this new context. On the other hand, the specific
demands of the current economic crisis in Brazil point to the need for improvements in productive
processes through the incorporation of efficient management, which in turn can be achieved by
adopting the PMBoK (Project Management Body of Knowledge). It seems that the integration of
both approaches may seem like a great option, but it is necessary to know the real possibilities and
the scope of this integration. In this sense, this article intends to discuss the forms that can take an
integration between the Project Management and the parameters of the Model BIM - IFC,
specifically in the scope of the management of costs. From the critical analysis of the information
collected in the bibliographic research, it was possible to perceive the need to relate the
organizational and operational aspects of both approaches through a specific module (plug-in) that
allows to keep in a single logical unit the available information of the Model BIM, in the IFC
format, and the procedures for managing this data from the PMBOK guidelines. To support the
design of this logical unit we analyzed different aspects that exist in the Model BIM regarding the
management and including and for those that were not found in this model, we proposed an
interface domain with such external elements. As part of the research, the various elements and
entities in the BIM model are identified and related to the various practices and recommendations
of the PMBOK guide, in order to propose an integrated data structure and a set of functions
associated with them. Because the BIM model does not exhaust all PMBOK recommendations and
guidelines, a missing data organization is suggested to complement the integration model. Finally,
it is concluded that, although BIM is a model with many functions that support cost management,
some extension should be considered to encompass the entire PMBOK guidelines, which makes
integration, although feasible, extremely complex and costly
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o setor da construção no Brasil tem sofrido com a crise econômica e política que
afeta o país. Tal crise se caracteriza por uma baixa nos investimentos públicos no setor e uma perda
do poder aquisitivo de grande parte da população. Nesse cenário, o setor de Engenharia e
Construção Civil se vê obrigado a “fazer mais com menos”. Caracterizado como o setor de menor
produtividade, alguns empreendedores do ramo da construção têm vivenciado a necessidade de
procurar por alternativas que objetivem ganhos de produtividade e competitividade num cenário
altamente desfavorável. Mas como muitos especialistas dizem, crises são também oportunidades
para crescer. Nessa direção se considera inevitável a adoção de técnicas e métodos de gestão nos
mais diversos aspectos da cadeia produtiva da construção. Desde o projeto até a relação da
organização com os fornecedores de insumos devem agora ser vistos desde a perspectiva da
eficiência dos processos e da economia e eliminação das esperas desnecessárias, dos resíduos ou
das perdas indesejadas.
Por outro lado, com o avanço das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC), uma
nova camada de racionalidade é colocada sobre a maior parte dos processos produtivos, fato que
também está afetando o setor da construção civil. Começando pela digitalização de uma enorme
quantidade de processos que antes eram realizados mediante procedimentos demorados e
burocráticos, as TDIC pretendem otimizar diversos aspectos do ciclo produtivo, seja pelo
mapeamento direto das suas variáveis em modelos computacionais (inclusive inteligentes) ou pela
automação de muitas das tarefas que forma parte dele. Esta nova perspectiva automatizante se abre
principalmente em função da parametrização a que foram submetidos os objetos da construção civil,
fato que permite a representação computacional da quase totalidade dos aspectos do processo
produtivo da construção civil e, portanto, da manipulação eficiente das variáveis dos seus processos.
O melhor exemplo dessa nova forma de abordar o processo de projeto e construção de obras civis
pode se encontrar na especificação do modelo do edifício elaborado no BIM (Building Information
Model), modelo este que representa parametricamente todos os elementos geométricos, físicos,
econômicos e de produção do edifício. A perspectiva desenvolvida dentro do modelo BIM
privilegia muitos aspectos que favorecem o rápido desenvolvimento integrado de projetos mediante
o uso de um único modelo de dados que representa um edifício, o qual pode ser acessado de
diversos lugares e por diversos profissionais graças às qualidades interoperativas que o inspiram.
Dessa forma, mais do que uma simples atualização de software para o projeto do edifício, o que o
BIM promove é uma nova prática; uma espécie de paradigma produtivo que se funda em outra
maneira de projetar e construir. Como parte das novas práticas, surge a necessidade de uma
integração maior entre todos os aspectos projetuais e produtivos do edifício. Tal integração é
realizada sobre uma infraestrutura técnica computacional que permite a manipulação das
informações e geradas tanto do processo projetual quanto do processo produtivo, o que envolve em
última instância, o uso de técnicas de gestão para a construção do edifício.
Como técnicas de gestão se encontram todas as técnicas, métodos e ferramentas de gerenciamento
que podem ser utilizadas para dar agilidade e eficiência aos processos produtivos. Desde uma
análise de linha de balanço até o uso de princípios de produção enxuta exigem o uso de uma
racionalidade gerencial que também se encontra hoje em dia, modelos ou guias que orientam sobre
as melhores práticas que devem ser adotadas. Dentre esses guias está o famoso PMBOK (Project
Management Body of Knowledge) que serve também para orientar o gerenciamento de
empreendimentos de edifícios utilizando as melhores práticas relatadas por especialistas do mundo
inteiro.
Nesse sentido, para que engenheiros possam lidar melhor com as dificuldades presentes e com as
constantes críticas de falta de produtividade do setor, esses devem se tornar gestores preparados
para as novas demandas. O que se propõe neste estudo é que seria relevante, para enfrentar esse
quadro de limitações e para aumentar a eficiência dos processos produtivos, a adoção conjunta de
abordagens para o Gerenciamento de Projetos (como o PMBOK) e de modelos paramétricos de
representação do edifício (como o modelo BIM), pois ambas, nos seus respectivos domínios,
acrescentam ganhos substanciais em função do aumento de precisão dos projetos e da possibilidade
de antecipar nesse estágio inicial, os problemas de execução das obras. (NAKAMURA, 2015).
Porém, ainda nessas condições de adoção conjunta de ambas as abordagens, as equipes de projeto
se deparam com dois modelos altamente complexos que operam sobre o mesmo objeto físico e
computacional (o edifício e sua representação), o que leva em termos práticos a pensar a
compatibilidade desses dois modelos com o intuído de avaliar a real capacidade de integração de
ambos e as abordagens para que os ganhos de produtividade obtidos no processo de projeto se
estendam ao processo de construção.
O objetivo deste trabalho é identificar a base de infraestrutura computacional que existe em um
modelo paramétrico (BIM) para efeitos de gerenciamento de empreendimentos (segundo o
PMBoK). Tal necessidade se justifica pela complexidade de ambas as abordagens, as quais, para
uma real e eficiente inserção nos processos produtivos devem conciliar suas particulares
perspectivas e encontrar os pontos de contato e troca de informações. O uso do PMBOK (Guia do
Conhecimento em Gerenciamento de Projetos) como guia de boas práticas vem ganhando espaço no
ambiente organizacional e se torna um modelo interessante para ser integrado com o Modelo BIM.
Por sua parte, o BIM apresenta uma dimensão de trabalho colaborativa que visa superar os
obstáculos de um processo de projeto caracterizado pela fragmentação, pouca integração de agentes,
pouca comunicação e principalmente, resistência ao planejamento e à gestão (MANZIONE, 2013).
Diante disso, este trabalho se submerge nas características de ambas as abordagens para saber onde
seus modelos possuem compatibilidade plena e onde é necessário propor outros elementos externos
que possam auxiliar na troca das informações. Sugere-se que a potencialização de resultados no
setor da construção possa ser alcançada a partir da integração entre as ferramentas gerenciais
embasadas no PMBOK e a implantação adequada do BIM, uma vez que BIM e PMBOK adotam
conceitos similares de colaboração e trabalho compartilhado.
Como a tarefa de entrar na selva conceitual de ambos os modelos é muito ampla e complexa, neste
trabalho optou-se por reduzir o universo de análise e focar em um aspecto que pode ser de enorme
valia para os momentos atuais: o gerenciamento de custos. Desta forma, para encontrar alguns
pontos de contato existentes e outros onde devem se alçar pontes para auxiliar a integração, o
presente artigo propõe, de modo exploratório, um esquema inicial para a integração entre BIM e
PMBOK, especificamente na área de Gerenciamento de Custos.
O modelo BIM-IFC organiza os seus componentes de forma hierárquica, isto é, num ordenamento
onde os componentes de menor hierarquia herdam informações de propriedades e comportamentos
daqueles de maior hierarquia na sua linhagem topológica. Como parte do modelo, essas hierarquias
e sua organização é representada mediante uma linguagem específica chamada EXPRESS na qual
são definidos alguns componentes chamados de entidades (entity), que incluem outros componentes
chamados de tipos (types) alguns dos quais, tais como como paredes e pisos, formam a parte física
do objeto edifício, enquanto outros tipos são componentes de gerenciamento que se relacionam com
os tipos físicos do edifício para extrair ou inserir informações. A maior parte dessas entidades/tipos
podem dar origem a outras subentidades ou subtipos mais elaborados e especializados e que
definem novas classes de objetos que herdam as propriedades das suas entidades ou tipos de
origem. (CATELANI, 2016).
Do outro lado do modelo de integração proposto aqui se encontra o PMBOK que, com o objetivo de
estabelecer as melhores práticas em projetos, entendidos estes como empreendimentos temporais
para os quais se requer esforço na sua realização, aborda os diversos aspectos do gerenciamento na
forma de processos. O guia propõe a execução integrada de 47 processos que serviriam de norte
para gerenciar os empreendimentos, organizando a sua aplicação segundo áreas disciplinares ao
longo do ciclo de vida desses (ver figura 3).
Fig. 3 – Diagrama geral do PMBOK
Fonte: O Autor
4. CONCLUSÕES
O desenvolvimento do presente estudo permitiu analisar cuidadosamente as diretrizes sugeridas
pelo PMBOK para Gerenciamento de Custos, assim como os elementos e entidades do Modelo
BIM, no formato padronizado e universal IFC, relacionados com Gerenciamento de Projetos.
Diante disso, foi possível avaliar e propor a integração entre o modelo de informações do edifício e
as diretrizes de Gerenciamento de Custos.
De um modo geral, o Modelo BIM não é capaz de fornecer suporte a todas as diretrizes sugeridas,
sendo necessária a criação de um Domínio de Elementos Externos, que envolve recursos humanos
especializados, arquivos e dados externos ao modelo. A solução proposta para esse problema é que
os dados sejam reunidos e organizados com as informações disponíveis no modelo através da
implementação de um plug-in que possa colocar em um arquivo de dados IFC de um dado edifício
aquilo que faz parte do modelo BIM e em outro arquivo auxiliar, os dados que não fazem parte,
sendo de responsabilidade do plug-in a correta instanciação dos parâmetros físicos, econômicos e de
gestão de cada edifício.
Dada a complexidade do modelo de gerenciamento se considera que o esforço de propor um
modelo de integração para cada processo sugerido pelo PMBOK é grande e deve ser previamente
bem avaliado.
Nesse sentido, a pesquisa foi de grande valia pois permitiu identificar no Modelo BIM muitas
ferramentas gerenciais, que por si só, já são de grande importância para avanços no setor da
construção, além de mostrar como essas ferramentas podem servir para seguir diretrizes gerenciais
ou dar suporte a elas. Mesmo que o modelo proposto não tenha atingido a completa integração, o
nível de detalhe alcançado constitui-se do ponto de partida para uma proposta avançada.
5. REFERÊNCIAS
Cichinelli, G. C. (05 de 2009). Como orçar com BIM. Fonte: Construção Mercado:
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Carlos Felipe de Azevedo1, Marcela Aguiar Nogueira 2, José Maria Franco de Carvalho3,
Humberto Dias Andrade4, Ricardo André Fiorotti Peixoto5
1 Mestrando, Ouro Preto, Brasil, deazevedocf@gmail.com
2 Graduanda, Ouro Preto, Brasil, marcelaanogueira@outlook.com
3 Doutorando, Ouro Preto, Brasil, jmfcarvalhoii@gmail.com
4 M. Sc., Ouro Preto, Brasil, andrade.hdias@gmail.com
5 D. Sc., Ouro Preto, Brasil, ricardofiorotti@yahoo.com.br
Abstract: The compressive strength of concrete is the most basic and important property used in the
design of reinforced concrete structures. The use of concrete compression strength information
becomes a problem because of differences in the size and shape of the specimens used. Models that
seek to bring experiment and theory together have long been used. Using the dimensional analysis
and Buckingham's Pi Theorem, one can determine the Pi terms needed to establish the similarity
between two physical processes or systems. In this way, it is possible to identify variables that are
potentially harmful to the accuracy of the model and to apply correction factors to them. With respect
to the Brazilian Technical Standards, specifically to ABNT NBR 5738: 2015, the smallest dimension
referenced and authorized for tests on cylindrical specimens for concrete is Ø100x200 mm
(DIAMETERxHEIGHT). However, this probe size requires a considerable amount of material in
some situations; a factor that becomes harmful when dealing with new raw materials. Usually, the
available volume of material to be tested is limited. From this, alternative ways are sought to perform
experiments that present material savings and facilities for the execution of tests involving cylindrical
specimens. The present study investigates the behavior of test specimens of reduced dimensions for
different compositions of concrete mixes from a dimensional analysis through Similitude Theory and
statistical analyzes such as analysis of variance, Tukey test, and t-test. The study correlates the results
of compressive strength of the minimum standard model established by Brazilian code to a cylindrical
model reduced of 50x100 mm. The results indicated that the operating conditions and design criteria
for reduced specimens, using dimensional analysis in a simplified way, were adequate for the
determination of the mechanical behavior of the concrete for classes C25 and C35; however, the
existing distortion considerably affected the reduced specimens for class C15 regarding the results of
compressive strength.
1. INTRODUÇÃO
Sempre que possível, avaliar limites mínimos e possíveis modificações são estudos de relevante
interesse para a Engenharia. Para o estudo em questão, trabalhar com espécimes reduzidos pode
representar uma redução no volume das amostras de 8 vezes, considerando moldes Ø50x100mm,
comparativamente ao tamanho mínimo estabelecido para corpos-de-prova cilíndricos de concreto,
Ø100x200 mm. Aspectos relacionados a facilidades operacionais e segurança, bem como economia
de recursos, energia e tempo para realização dos ensaios à compressão e tração também devem ser
considerados.
Alguns trabalhos comparativos vêm sendo feitos desde o começo do século XX até os dias atuais
[2,3,4,5]. Em sua maioria, os estudos destacam a influência das dimensões dos corpos de prova, seus
formatos, adições e agregados utilizados nos resultados finais de resistência à compressão. Existem
também outros fatores que podem ser levados em consideração, como taxa de deformação no ensaio,
comportamento de falha do elemento, condições de cura e energia de fratura dos espécimes; porém,
nesse trabalho a análise será preponderante sobre as dimensões físicas e agregados graúdos dos corpos
de prova.
A respeito da forma dos agregados, partículas com uma alta razão de área superficial por volume
são indesejáveis para o concreto pois influenciam negativamente na trabalhabilidade da mistura. É o
caso de partículas escamosas, por exemplo; que afetam a durabilidade do concreto por tenderem a ser
orientadas em um plano, formando bolsas de água e ar por baixo das partículas de agregado. A
presença de partículas mais alongadas em excesso de 10 a 15 % da massa do agregado graúdo é
geralmente considerada indesejável, embora não haja limites estabelecidos [6].
Existe um critério de conformidade estabelecido pela norma [19] que visa limitar a dimensão
básica do corpo de prova em relação à dimensão nominal máxima do agregado graúdo do concreto.
Isso indica que a graduação dos agregados é um fator relevante, pois existe um fenômeno chamado
“wall effect” (ou efeito parede), o qual indica que a quantidade de argamassa necessária para
preencher o espaço entre os agregados de concreto pode ser menor do que a quantidade de argamassa
necessária para preencher o espaço entre agregados e a parede do corpo de prova, o que influenciaria
o desempenho desse espécime [7].
Diversos estudos foram realizados nas últimas décadas com o intuito de estabelecer relações entre
a resistência à compressão e a dimensão máxima do agregado. Alguns deles [8,9] indicam pouco
efeito, outros [10, 11] indicam proporcionalidade, mas a tendência recente é de uma relação
inversamente proporcional [7, 12].
Há um leque de trabalhos relativos à influência das dimensões e formas dos corpos de prova em
relação à resistência mecânica do concreto. Estudos mais recentes são inclinados para uma tendência
de que corpos-de-prova de dimensões maiores possuem menores resistências medidas [13, 14, 7]. Os
autores têm feito essa justificativa baseando-se, além do fenômeno efeito de parede, no fato de que
espécimes maiores possuem maior chance de possuírem irregularidades e heterogeneidade em relação
a corpos menores.
No contexto da Engenharia, é comum a prática de buscar modelos (objetos reduzidos) em
relação a protótipos (objetos de tamanho real), por razões de economia. Os princípios que envolvem
projeto, construção, operação e interpretação de resultados no que diz respeito a esses modelos
reduzidos corresponde à teoria da similitude. Essa teoria inclui assumir condições sob as quais o
comportamento de dois corpos possa ser similar, e técnicas para predizer resultados de forma precisa
no modelo em relação ao protótipo [15].
Desde o começo do século XX, existe uma série de trabalhos desenvolvidos aplicando essa
teoria, envolvendo temas como análise dimensional, casos de estudo aeroespaciais, equações
diferenciais, métodos energéticos, análise de estruturas impactadas, efeitos de escala em compósitos
e outros. Atualmente, há uma disponibilidade vasta de tecnologias para o desenvolvimento de projetos
e trabalhos complexos em relação a um século atrás, mas mesmo assim, experimentos em modelos
de escala reduzida continuam sendo uma opção a ser considerada, por engenheiros, como uma das
ferramentas de projeto das mais viáveis e valiosas [16, 17].
Quando um sistema é complexo o bastante de forma que não se pode formular um modelo
matemático que preveja seu comportamento, mesmo fazendo algumas presunções, um trabalho
experimental extenso pode ser necessário até que o sistema ganhe confiabilidade necessária e
performance desejada [18, 19]. Através da aplicação da análise dimensional à teoria da similitude,
obtém-se apenas resultados qualitativos, mas quando se alia com os procedimentos experimentais,
ela pode oferecer resultados quantitativos e equações de predição acuradas [15].
Em suma, a teoria da similitude propõe fixar previamente parâmetros de estudo e estabelecer
relações por meio de equações, para que possam ser obtidos diversos coeficientes como resultados
das análises. Os próprios coeficientes, com auxílio de ferramentas estatísticas, permitirão a avaliação
da consistência das relações entre parâmetros e fornecerão uma base para futuras correções a respeito
do estudo.
2. OBJETIVO
Investigar o comportamento de corpos de prova de dimensões reduzidas para diferentes
composições de traços de concreto a partir de uma análise dimensional via Teoria da Similitude e
análises estatísticas.
3. MÉTODOS
O cimento utilizado foi um CP III 40 RS da marca cauê. O agregado miúdo foi uma areia natural
quartzoza, de granulometria dentro da faixa utilizável de acordo com a norma [21], proveniente de
rio dos Peixes, Ponte Nova, MG. Como agregado graúdo, foi utilizada rocha gnáissica britada, da
faixa granulométrica 9,5/25, em conformidade com a [21], e obtido junto à empresa Martins Lanna,
Contagem, MG. Os agregados foram caracterizados no Laboratório de Materiais de Construção Civil
da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e mantidos estocados em recipientes plásticos
hermeticamente fechados no pátio do mesmo laboratório.
Os corpos de prova foram moldados conforme a norma [19], sendo adensados com a utilização
de mesa vibratória em tempos de 30 s (corpos de prova Ø100×200 mm) e 15 s (corpos de prova
Ø50×100 mm). Após desmoldagem com 1 dia de idade, os corpos de prova foram mantidos em
câmara úmida até a data do rompimento.
4. RESULTADOS
Após 28 dias, 25 amostras reduzidas (Ø50x100 mm) e padrão (Ø100x200 mm) foram ensaiadas
à compressão simples, para cada classe. Vale ressaltar que apenas uma faixa granulométrica de
agregados foi utilizada. O coeficiente αda é equivalente a α3 (Eq. 5). A seguir, as figuras a seguir
apresentam os gráficos dos fatores de predição por distorção separados em diferentes classes.
Fig. 1 - Gráfico Fator de distorção (da) x Fator de predição para classe C15
Fig. 2 - Gráfico Fator de distorção (da) x Fator de predição para classe C25
Fig. 3 - Gráfico Fator de distorção (da) x Fator de predição para classe C35
Fig. 4 - Gráfico Fator de distorção (da) x Fator de predição para as médias das classes C15, C25 e C35
5. DISCUSSÃO
De forma a verificar a diferença entre médias populacionais dentro de cada grupo amostral, pode
ser aplicado o Teste t de Student. Assim, verifica-se a rejeição ou não da hipótese nula entre os valores
de resistência à compressão de modelo em relação ao protótipo. A Tabela 3 apresenta os resultados
do Teste t para duas médias. Observa-se que apenas a classe C15 teve seus resultados rejeitados de
acordo com o teste realizado, portanto há diferenças significativas entre as médias dos valores de
resistência à compressão para corpos de prova cilíndricos de Ø100x200 mm em relação a corpos de
prova de Ø50x100 mm.
Tabela 3 - Resultados do Teste t de Student para duas médias, relativo às classes C15, C25 e C35 para tamanhos de
espécimes cilíndricos Ø100x200 mm e Ø50x100 mm
Teste t para duas médias
Classe de Dimensão do Número de Média Desvio Padrão
t calculado valor p Intervalo de confiança Resultado
concreto espécime amostras (MPa) (MPa)
6. CONCLUSÃO
A distorção existente afetou consideravelmente os corpos de prova reduzidos para a classe C15,
no que diz respeito aos resultados de resistência à compressão simples. Já para as classes C25 e C35,
não houveram efeitos consideráveis de distorção.
A modelagem desenvolvida demonstrou ser adequada para determinar o comportamento
mecânico do concreto relativo às classes C25 e C35. Destaca-se que essa modelagem pode ser
aplicada somente a formatos cilíndricos de corpos de prova solicitados à compressão simples.
Formatos e aplicações de cargas diferentes implicam em novas distorções e, consequentemente,
resultados que divergem da realidade.
A Teoria da Similitude constitui-se de importante e poderosa ferramenta no tocante dos trabalhos
de engenharia e permite um amplo leque de modelagens e análises comparativas.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.
REFERÊNCIAS
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[21] ABNT. NBR 7211: Agregados para concreto-Especificação. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Normas
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[24] TORRES, A. F.; ROSMAN, C. E. Método para dosagem racional do concreto. São Paulo: ABCP, 1953.
CONCRETOS DE ALTA RESISTÊNCIA ECOEFICIENTES
Resumo: A alta produção de minério de ferro no Brasil, apesar de todos os benefícios, gera uma
quantidade considerável de resíduos que traz transtornos a ser alocada no meio. Ao mesmo passo,
temos a construção civil, cuja demanda por recursos naturais é alta e apresenta necessidade por
alternativas. Este estudo, a fim de atenuar tanto os impactos causados pelo armazenamento de
rejeitos de minério de ferro quanto os atrelados à produção de materiais para construção civil,
propõe a produção de concretos ecoeficientes de alta resistência com substituição parcial de
Cimento Portland por finos de rejeito de minério de ferro. Fez-se a caracterização física do rejeito
bem como sua moagem objetivando-se obter dois finos de diferentes granulometrias. Os finos
obtidos pela moagem apresentaram duas dimensões características diferentes, uma delas maior e
outra menor comparada a do cimento Portland utilizado (CP-V). A areia foi peneirada e quatro de
suas frações foram separadas (2,26 mm; 1,18 mm; 150 μm; 300 μm) e utilizadas em mesma
proporção. A mistura dos microconcretos respeitou o traço 1:2 (cimento:areia) e as substituições do
Cimento Portland por finos foram gradativas, de 10% a 60%. Além dos finos de rejeito, Cimento
Portland e areia, utilizou-se aditivo superplastificante para compor as matrizes. Os protótipos foram
testados mecanicamente e apresentaram comportamento satisfatório para compressão e tração na
flexão. Foi feito também teste de avaliação de sustentabilidade, que determinou que o desempenho
de todos os traços com substituição ultrapassou o valor encontrado pelo traço referência neste
parâmetro. Os desempenhos mecânicos atrelados aos de sustentabilidade justificam a relevância do
estudo, possibilitando em estudos futuros consumir grande volume de rejeitos ao produzir tais
concretos de alta resistência em escala industrial.
Abstract: The high production of iron ore in Brazil, despite all the benefits, generates a
considerable amount of waste that causes problems when placed in the environment At the same
time, civil construction demands for high quantities of natural resources and asks for alternative
materials. This study, in order to mitigate both the impacts caused by the storage of iron ore tailings
and those related to the production of civil construction materials, proposes the production of high-
strength eco-efficient concrete with partial replacement of Portland cement by iron ore tailing fines.
Physical characterization was made of the reject as well as its milling aiming to obtain two fines of
different granulometries. The fines obtained by grinding presented two different characteristic
dimensions, one larger and one smaller compared to the Portland cement used (CP-V). The sand
was sieved and four of its fractions were separated (2.26 mm, 1.18 mm, 150 μm, 300 μm) and used
in the same proportion. The microconcrete mixture followed the 1: 2 trace (cement: sand) and
Portland cement substitutions by fines were gradual, from 10% to 60%. In addition to the fines of
tailings, Portland Cement and sand, a superplasticizer additive was used to compose the matrices.
The prototypes were mechanically tested and presented satisfactory behavior for compression and
flexion traction. A sustainability assessment test was also performed, which determined that the
performance of all traces with substitution exceeded the value found by the reference prototype in
this parameter. The mechanical performances linked to sustainability justify the relevance of the
study and allow, with further studies, to consume large volume of tailings when producing such
high strength concretes on industrial scale.
1. INTRODUÇÃO
O Brasil se encontra como um dos maiores produtores de minério de ferro no cenário mundial e é
de grande destaque a participação da mineração no Produto Interno Bruto brasileiro [1]. Tal
atividade além de gerar riquezas minerais, ainda beneficia a população com geração de empregos e
investimentos no país.
Não se pode negar, porém, que esta atividade traz consigo grandes impactos causados pela geração
de rejeitos no beneficiamento do minério extraído. O problema aumenta ainda mais com as
condições de depósito, muitas vezes em barragens de rejeitos.
Ao mesmo passo, a indústria da construção civil apresenta hoje o maior consumo de bens minerais
para suprir a demanda por matéria-prima [1] e busca por alternativas sustentáveis de substituição
destes materiais.
Motivados por estes entraves, estudos já foram realizados para possibilitar a incorporação de
rejeitos de minério de ferro em substituição de materiais convencionais, incorporações estas
abrangendo substituição de agregados convencionais em matrizes cimentícias por exemplo [2].
Este estudo, visando otimizar o consumo de resíduos minerais e mitigar a exploração de matéria-
prima destinada à construção civil, propõe utilização de finos de rejeito de minério de ferro como
substituição parcial de Cimento Portland para produção de matrizes coesas, resistentes e com
consideráveis percentuais de rejeito.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Materiais
Para realização desta pesquisa foi utilizada amostra de rejeito de minério de ferro (IOT) proveniente
de uma mina localizada na região do Quadrilátero Ferrífero, estado de Minas Gerais.
O Cimento Portland (CP) utilizado no estudo foi o CPV-ARI, especificado pela norma NBR 5733
[3], devido à sua composição (95-100% de clínquer, 0-5% de calcário). A composição deste CP,
ausente em materiais cimentantes suplementares, permite avaliar o comportamento das adições sem
que haja grande interferência.
Para a produção dos protótipos de microconcreto, utilizou-se uma areia natural quartzosa de rio
(Rio dos Peixes, Ponte Nova-MG) e também um aditivo superplastificante (SP) à base de
policarboxilato (POwerflow4000, McBauchemie).
3.2 Caracterização e preparação dos materiais utilizados
Antes de ser utilizada, a areia natural foi peneirada e apenas o material passante na peneira #8 (2,36
mm) foi empregado. Após o peneiramento, quatro frações da areia foram separadas: retida na
peneira #16 (1,18 mm); retida na peneira #30 (600 μm); retida na peneira #50 (300μm); e retida na
peneira #100 (150 μm).
A massa específica da matéria-prima de rejeitos de minério de ferro foi determinada para amostras
cominuídas durante três horas no moinho de bolas Marconi (MA500, 10,36L, jarro e esferas de aço
inox) através da metodologia ASTM C188 [4] (Método do frasco de Le Chatelier). O tamanhos das
partículas desta matéria-prima foi determinado utilizando o método de peneiramento ASTM C136
[5] e a técnica de difração a laser (Bettersize2000).
Foram produzidos dois finos com diferentes faixas granulométricas a partir da moagem da mesma
matéria-prima de rejeito de minério de ferro visando melhorar o empacotamento destes fillers com o
cimento ao serem adicionados à matriz.
Em função do desempenho da moagem dos materiais foi definida a dimensão máxima
característica D50 (50% das partículas apresentando diâmetro inferior à faixa D). Para atingir o
empacotamento desejado, o fino de granulometria mais grossa (FG) deve ter uma dimensão máxima
característica maior que a apresentada pelo cimento, enquanto isso, o mais refinado (FR) deve
apresentar tal dimensão ainda menor que a do cimento.
A produção do fino de granulometria mais grossa se deu através de moagem por rota seca em um
moinho de bolas Marconi MA500 com jarro e esferas de aço inox por 30 minutos. As
especificações do moinho e configurações de moagem se encontram na Tabela 1.
Característica Valor
Volume do jarro, cm³ 10 367
Volume útil, cm³ 3 422
Volume de material por ciclo, cm³ 1 740
Velocidade de rotação, rpm 200
Bolas de aço inox (quantidade / diâmetro, mm) (7 / 22), (17 / 28), (34 / 31),
(11 / 38), (16 / 41)
Já o material mais refinado foi produzido em um moinho de bolas planetário de alta eficiência
Retsch PM100 com jarro e esferas de YZrO2 (250cm3 de volume do jarro, 99 esferas de 10mm de
diâmetro e 191 esferas de 5mm de diâmetro). Moagem feita por via seca e com velocidade
rotacional de 400 rpm por 45 min, o volume de material utilizado foi fixado em 80 ml por ciclo. Tal
material foi previamente moído no moinho de bolas Marconi MA 500 por 180 min antes de passar
pelo processo acima.
3.3 Dosagem dos microconcretos
Projetou-se um microconcreto de referência com boa performance de empacotamento garantida
pela distribuição granulométrica dos agregados miúdos. A mistura foi composta pelas quatro
frações de areia separadas (em quantidades iguais) e respeitando a proporção 1:2 (cimento:areia)
por ser simples e com desempenho de empacotamento muito eficiente ao estudo. Não foi utilizado
agregado graúdo.
Baseando-se na mistura referência, foram produzidas seis argamassas substituindo o teor de
cimento gradativamente (de 10% a 60%) em volume pelos finos de rejeito de minério de ferro. A
Tabela 2 abaixo apresenta as proporções em volume dos materiais constituintes das argamassas
projetadas.
Objetivando definir a relação água/finos ótima para se chegar ao máximo empacotamento, foi
empregada uma metodologia experimental baseada na proposta de Wong e Kwan [6] que determina
a condição de máximo empacotamento aplicada a produção de concretos.
3.4 Testes mecânicos dos microconcretos
As misturas foram produzidas no misturador padrão Fortest VC 370 e moldadas 6 amostras
prismáticas (40x40x160 mm) para cada traço. A compactação consistiu em: adensamento da
argamassa em três camadas de forma a preencher o molde totalmente; para cada camada foram
aplicados 30 golpes com o soquete padrão prescrito na NBR 7215 [7]; em seguida, foi executado
adensamento complementar em mesa vibratória por 30s. Os corpos de prova foram desmoldados
com idade de 1 dia e, posteriormente, foram mantidos em câmara úmida Equilam SS600UM (98 ±
2% de umidade relativa, 40ºC) até o dia do ensaio mecânico.
Os testes de resistência à compressão e flexão foram realizados nas idades de 7 e 28 dias sendo
testadas três amostras prismáticas para cada idade pela máquina de ensaios universal EMIC DL
20000 (célula de carga 20kN e taxas de aplicação de carga 50N/s (flexão) e 500 N/s (compressão)).
Os ensaios foram baseados nas normas ASTM C348 [8], ASTM C349 [9] e NBR 13279 [10].
3.5 Avaliação da sustentabilidade
Para cada traço estudado foi calculada a intensidade do ligante (bi) de acordo com o proposto por
Damineli [11]. Para isso, utilizou-se a Equação 1, onde b é o consumo total de material aglutinante
em kg/m³ (neste trabalho, apenas o Cimento Portland) e p é o desempenho alcançado (considerou-se
a resistência à compressão aos 28 dias).
b
bi (1)
p
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Caracterização de materiais e dosagens
Foi determinada massa específica de 3,527 g/cm3 para o rejeito de minério de ferro. Por ser elevada
em relação a do Cimento Portland utilizado (3,04 g/cm3), justifica matrizes mais densas ao
substituir este aglomerante pelos finos de rejeito. Tal característica, inclusive, garante bons
resultados de resistência a compressão dos microconcretos.
Quanto a dimensão característica e o fator de forma, temos os resultados explícitos na Tabela 3 a
seguir.
Tabela 3: Dimensão característica e fator de forma dos finos de rejeito em comparação com o Cimento Portland
utilizado
Dimensão
Material Característica Fator de forma
D50
FG 40,25 2,7
CP 10,95 1,1
FR 4,691 1,1
O fator de forma dos finos mais grosseiros apresentado na Tabela 3, apesar da maior dimensão
máxima característica deste material, causa um aumento no fator água/finos durante a preparação
das misturas com substituição. Entretanto, esse fator diminui com a melhora do empacotamento dos
finos com o aglomerante. A Tabela 4 a seguir demonstra a relação água/finos ótima referente ao
máximo empacotamento determinado para cada mistura.
Vê-se que apesar do fator de forma lamelar dos finos grosseiros e da alta superfície específica dos
finos mais refinados (por análise da granulometria) ainda há diminuição da relação água/finos nas
misturas com substituição utilizando as duas frações quando comparadas ao traço de referência.
Fato este atrelado à organização ótima das partículas.
4.2 Desempenho mecânico dos microconcretos
Resultados favoráveis foram encontrados nos ensaios de resistência à compressão e flexão como
pode ser observado na Figura 2 abaixo.
O melhor resultado encontrado para resistência a compressão foi da amostra 0-8-2 que mesmo com
20% de substituição superou a resistência obtida pelo microconcreto referência. Logo em seguida,
temos os traços 0-9-1 e 2-7-1 que se mostraram muito eficientes e com baixa redução de resistência
em relação à referência. Considerando o elevadíssimo teor de adição dos protótipos que
apresentaram pior resultado no ensaio, ainda tem-se potencial associado a sua utilização.
É possível constatar também, principalmente pelo comportamento do microconcreto 0-8-2, que o
rejeito utilizado possui potencial cimentante suplementar já que garantiu maior resistência à mistura
ao ser adicionado, substituindo 10% de cimento em relação à referência.
Fig. 3: Resultados do ensaio mecânico de tração na flexão em 7 e 28 dias
5. CONCLUSÃO
O processo de moagem para obtenção de materiais com diferente granulometria foi muito eficiente
ao produzir os finos utilizados, um com grau de finura maior e outro com grau de finura menor que
o do cimento Portland estudado. Este procedimento foi de suma importância para otimizar a
obtenção do empacotamento dos fillers com o cimento Portland de modo a diminuir a relação
água/finos dos concretos produzidos e aumentar a densidade da matriz.
O alto grau de empacotamento, relação água/finos ótima e densidade elevada da matriz levaram
juntos ao bom comportamento mecânico das misturas produzidas, sendo possível a uma delas (0-8-
2) atingir resultados mecânicos superiores ao microconcreto de referência.
Partindo do objetivo de consumir rejeitos produzindo concretos de alta resistência, tem-se
resultados de alto desempenho quanto à avaliação de sustentabilidade, principalmente nos
microconcretos com maior percentual de substituição. Estes excelentes resultados de ecoeficiência
aliados à alta resistência à compressão encontrada para os protótipos demonstram o grande
potencial de estudo, ampliando assim, a viabilidade de aplicação à produção industrial e os
benefícios tanto à industria de mineração quanto à de contrução em paralelo ao meio ambiente.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq
REFERÊNCIAS
[1] IBRAM. Instituto Brasileiro de Mineração. Informações sobre a economia mineral brasileira 2015. Disponível em:
http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00005836.pdf. Acesso em: 20 out. 18.
[2] Fontes, W. C., A. C. P. P. Pereira, P. A. Chibli, L. A. C. Bastos, G. J. Brigolini, e R. A. F. Peixoto. 2013.
“Utilização de Rejeito de Barragem de Minério de Ferro como Agregado Reciclado para Argamassas.” X SIMPÓSIO
BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DAS ARMAGASSAS.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5733: Cimento Portland de alta resistência inicial
- Especificações. Rio de Janeiro, 1991.
[4] ASTM. ASTM C 188: standard test method for density of hydraulic cement [S.l.]: American Society for Testing
and Materials, 2016.
[5] ASTM. ASTM C 136: standard test method for sieve analysis of fine and coarse aggregates [S.l.]: American
Society for Testing and Materials, 2014.
[6] KWAN, A. K. H.; WONG, H. H. C. Packing density of cementitious materials: part 2 - packing and flow of OPC +
PFA + CSF. Materiais and Structures, v. 41, p. 773-784, 2008.
[7] ABNT. NBR 7215: Cimento Portland – Determinação da resistência à compressão. Rio de Janeiro: Associação
Brasileira de Normas Técnicas, 1996.
[8] ASTM. ASTM C 348: Standard Test Method for Flexural Strength of Hydraulic-Cement Mortars [S.l.]: American
Society for Testing and Materials, 2014.
[9] ASTM. ASTM C 349: Standard Test Method for Compressive Strenght of Hydraulic-Cement Mortars (Using
Portions of Prisms Bronken in Flexure) [S.l.]: American Society for Testing and Materials, 2014.
[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13279: Argamassa para assentamento e
revestimento de paredes e tetos – Determinação da resistência à tração na flexão e à compressão. Rio de Janeiro, 2005.
[11] DAMINELI, B. L. CONCEITOS PARA FORMULAÇÃO DE CONCRETOS COM BAIXO São Paulo:
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2013.
A IMPORTÂNCIA DA IMPERMEABILIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Resumo: Impermeabilização é uma técnica que torna algo impermeável, ou seja, se trata da
aplicação de determinados produtos com a função de proteger as localidades de uma edificação
contra patologias causadas por intempéries ou falhas. É de extrema importância em todas as etapas
da construção, pois garante uma vida útil duradoura e com qualidade na residência. Este artigo tem
como objetivo apresentar as diversas técnicas de impermeabilização e quais são as mais
convenientes, aplicar o conhecimento que foi obtido no decorrer das informações descritas neste
artigo, atingindo então uma edificação impermeável, que evite futuras patologias que geram
incômodo ao(s) futuro(s) morador(es) da edificação.
Abstract: Proofing is a technique that makes something waterproof, namely, it comes to the
application of certain products to protect localities of a building against diseases caused by bad
weather or failures. It is of utmost importance at all stages of construction, as it ensures a durable
and high quality life in residence. This article aims to present the various techniques of
waterproofing and which ate the most convenient, apply the knowledge that was obtained in the
course of the information described in this article, reaching so waterproof construction, to avoid
future pathologies that cause nuisance to the residents of he building futures.
1. INTRODUÇÃO
Impermeabilização é a ação de tornar algo impermeável, ou seja, perder a capacidade de
absorção de água. Consiste na aplicação de determinados produtos com a finalidade de proteger as
áreas contra as ações de água, para não gerar infiltração afetando a casa tanto internamente quanto
externamente. Portanto, a impermeabilização tem um intuito de proteger a edificação de diversos
problemas patológicos que podem surgir com a infiltração de ações de água, integradas ao oxigênio
e outros componentes agressivos da atmosfera.
A impermeabilização tem o início desde o projeto, pois é nele que será decidido qual o tipo de
sistema impermeabilizante para cada área da edificação. Deve-se avaliar método de execução e
construtivo, produtividade para se escolher o material adequado para determinada área da
edificação. É uma das etapas mais importantes da construção, porém, na maioria das vezes essa
etapa não recebe a devida importância por falta de informação ou por maiores custos em materiais
impermeáveis. Essa desinformação pode afetar a edificação durante sua utilização, diminuindo sua
vida útil, e o custo do reparo, caso surja algum tipo de patologia, fica maior do que o custo que seria
gasto em materiais impermeáveis durante a construção.
Contudo, deve ser destacado que, é de extrema importância avaliar e adequar à impermeabilização
conforme as necessidades que o projeto da edificação necessita, utilizando os recursos técnicos
precisos para executar a obra com qualidade. É válido ressaltar que a impermeabilização é como
qualquer outro processo da obra é necessária mão de obra e materiais de qualidade, ou seja, não
basta somente possuir as etapas se não as realizar corretamente e com precaução. A seguir, será
explicada detalhadamente a impermeabilização como um todo e como a falta dela pode desvalorizar
uma edificação por completa.
2. IMPORTÂNCIA DA IMPERMEABILIZAÇÃO
Impermeabilização é uma técnica que torna algo impermeável, ou seja, trata-se da aplicação de
determinados produtos com a função de proteger as localidades de uma edificação contra patologias
causadas por intempéries.
Além de possibilitar a devida funcionalidade e prolongar a vida útil da edificação, a
impermeabilização na construção civil, tem a função de proteger a edificação contra patologias
indesejadas que muitas vezes acontecem nas obras, por exemplo, a infiltração de água, ou aos
componentes agressivos da atmosfera, sendo que a maioria dos materiais utilizados em construções
possui um processo de degradação e deterioração, quando expostas às intempéries da atmosfera.
Como dito, a falta de impermeabilização está sendo um dos principais problemas nas construções.
Isso ocorre por conta do desinteresse do responsável pela obra para a execução da mesma. Em
consequência, surgiram muitos casos de infiltração de água, dando início em diversos problemas
patológicos, dentre eles, corrosão de armaduras, fissuras, degradação do concreto e da argamassa,
eflorescência e empolamento e bolhas nas pinturas, gerando altos custos para solucionar devido
problema.
Muitos profissionais da área de construção civil, não utilizam meios de impermeabilização devido
ao custo dos materiais para realizá-la, porém, pesquisas apontam que, realizar os processos de
impermeabilização desde o projeto, há mesmo pouco influência no custo total da obra, caso não
ocorra a mesma desde o início e surja algum problema futuro na edificação, o gasto para a
recuperação e manutenção passa a se tornar muito maior do que se a impermeabilização estivesse
sido realizada desde o início e durante execução da obra, pelo fato de prejuízos com os materiais
que foram atingidos pelo problema e principalmente as consequências e desagrados que
determinada patologia apresenta.
Logo, é muito importante de acordo com as necessidades, avaliar e adequar a impermeabilização de
determinado projeto da edificação, utilizando os recursos técnicos precisos para executar a obra
com qualidade. A impermeabilização é como qualquer outro processo da obra, não basta possuir
apenas as etapas se não as realizar corretamente com mão de obra e materiais de qualidade.
3. ESCOLHA DA IMPERMEABILIZAÇÃO
A escolha do sistema de impermeabilização deve selecionada conforme as necessidades de cada
local. Estas necessidades variam com o contato como sol, frequência de umidade, exposição a
cargas, pressão hidrostática, movimentação da base e extensão da aplicação. As principais diretrizes
para uma boa impermeabilização precisam de: requisitos de desempenho, racionalização
construtiva, adequar a obra ao sistema de impermeabilização, custo compatível e principalmente a
durabilidade do sistema.
A impermeabilização é constituída por várias camadas, então é preciso considerar o custo de ambas
para sua utilização e manutenção, caso for necessário. É preciso considerar devidos parâmetros,
como por exemplo, facilidade de execução, método construtivo e produtividade para a escolha dos
impermeabilizantes relacionados às características de cada obra.
Os sistemas impermeabilizantes estão relacionados à especificação que o projetista deverá
determinar, avaliando todas as áreas que serão impermeabilizadas. Essa determinação especificada
segue algumas restrições: sistema mais apropriado para determinada situação, material
impermeabilizante, resistência do material escolhido, método construtivo e exposição à chuva.
4. PROJETO DE IMPERMEABILIZAÇÃO
A impermeabilização é uma das etapas do projeto que se for realizada corretamente possibilita a
determinada edificação um bom e duradouro rendimento no seu período de utilidade. A mesma
deve ser especificada como qualquer outro projeto da construção, como por exemplo: projeto
arquitetônico, elétrico, hidráulico, entre outros, pois a presença da impermeabilização na obra pode
fazer com que ocorram algumas mudanças na construção.
Neste projeto, é necessário relatar todos os detalhes avaliados para cada necessidade desta obra,
incluindo desde os materiais até sua forma de execução.
Segundo a norma NBR9574, é preciso conter neste projeto: memorial descritivo e justificativo,
especificação dos materiais, desenhos e detalhes específicos, planilha de quantidade de serviços e
estimativa de custo total.
Para adquirir todos estes detalhes, é preciso uma avaliação completa do local para que possa atender
todas as necessidades que o mesmo apresenta e qual será a melhor alternativa para solucioná-lo,
juntamente com o responsável por projetar a obra.
Mas, na maioria das vezes, este projeto de impermeabilização não é realizado no início da obra e os
responsáveis pela impermeabilização são acionados pouco antes da finalização da obra ou até
mesmo quando os problemas já se transformaram em grandes riscos.
Para a realização do projeto, é preciso determinar alguns conceitos. Estes conceitos estão
basicamente ligados com a necessidade de cada ponto da obra, no qual mostra os futuros problemas
que poderão surgir caso seja feito a impermeabilização. É válido destacar: o posicionamento da
camada de impermeabilizantes; de que modo serão distribuídos os impermeabilizantes em cada área
da construção; a espessura da alvenaria necessária para a proteção já incluindo a regularização;
cuidados para a execução dos rodapés; desníveis para a laje e também a listagem dos pontos críticos
dos outros projetos que podem comprometer a impermeabilização, justificando as supostas
alterações no projeto.
É obrigatório seguir todas as recomendações descritas durante a execução da obra e a verificação
dos locais que receberão a impermeabilização estão sendo feitos corretamente, por exemplo, as
estruturas, paredes, lajes e principalmente quanto aos materiais impermeabilizantes, se estão sendo
aplicados corretamente e são de boa qualidade.
As principais vantagens da impermeabilização podem ser classificadas por: unificação de
orçamentos, definição das etapas de execução de serviços, antecipação dos possíveis problemas
patológicos e prevenção, facilidade durante a fiscalização e compatibilidade de todos os projetos da
obra.
Em algumas obras a impermeabilização pode ser bem executada, mas podem existir falhas na
concretagem ou até na má colocação do revestimento, comprometendo então, toda a área que foi
impermeabilizada sendo necessária a reconstrução de determinada área. Quando isto ocorre, não é
possível evitar patologias, pois a impermeabilização está exposta às intempéries.
A umidade é uma das principais preocupações nas edificações, é a que mais acontece na construção
civil. A mesma gera manchas, goteiras, mofo, ferrugem, apodrecimento, eflorescências, entre
outros, que conforme o tempo e vida útil da edificação deterioram os materiais afetando diretamente
a obra.
6. RESULTADOS ESPERADOS
No decorrer desta pesquisa, foi detalhado como acrescentar a impermeabilização nas obras da
engenharia civil. Nos dias atuais, percebemos que ocorrem muitas falhas na construção, por conta
da falta de proteção, seja ela nas fundações, estruturas, paredes, lajes, entre outros. Uma edificação
realizada sem nenhuma proteção, ao decorrer do tempo gera patologias (falhas/problemas), sendo
elas, trincas, infiltrações, umidades, perca de resistência, desmoronamentos, entre outros, e muito
incômodo e gastos ainda maiores a quem utiliza a edificação, pois será necessário uma reforma no
local afetado. O material que foi danificado por essas patologias deve ser imediatamente retirado e
substituído por novos materiais junto com impermealizantes escolhidos pelo responsável técnico da
obra. Por isso, é recomendado que seja feito um projeto de impermeabilização antes de dar o início
a determinada obra, pois ela estará totalmente protegida e não haverá futuras preocupações, desde
que todas as etapas sejam realizadas de fato como está descrito no projeto.
Este projeto deve ser feito através do projeto arquitetônico da edificação, para avaliar quais são os
pontos críticos que deverão receber essa proteção. Sendo assim, se deve seguir os dados descritos,
cumprindo as necessidades de cada local, juntamente com o andamento da obra.
A impermeabilização na construção resulta em uma edificação protegida e qualificada durante sua
utilização, evitando diversos problemas patológicos desagradáveis ao morador. Embora a
impermeabilização seja uma das etapas mais importantes da contrução, ela ainda não é executada
como deveria, por isso ocorre com muita frequência na construção civil problemas por falta dela.
REFERÊNCIAS
ARANTES, Y. k. Monografia apresentada no curso de especificação em Engenharia Civil. 67 p, 2007.
Ebah, disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAASD8AK/impermeabilizacao?part=6
Acesso em: 06, março de 2018.
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento da Arquitetura Fórum da Construção, disponível em:
http://www.forumdaconstrucao.com.br/conteudo.php?a=20&Cod=163 Acesso em: 08, março de 2018.
MELLO, L. S. L. Trabalho de conclusão de curso. 54 p, 2005.
Portal Metálica Construção Civil, disponível em: http://wwwo.metalica.com.br/sistemas-de-impermeabilizacao-na-
construcao-civil - Acesso em: 10, março de 2018.
RIGHI, G. V. Estudos dos sistemas de impermeabilização: patologias, prevenções e correções análise de casos. 95
p, 2009.
SILVA, A. Apostila Universidade Católica de Pernambuco. 9 p, 2004.
SOARES, F. Projeto de Graduação. 127 p, 2014.
SOLO SEDIMENTAR ESTABILIZADO COM CAL E CIMENTO: ESTUDO
COMPARATIVO DA INFLUÊNCIA DOS VAZIOS E DA POROSIDADE NA
RESISTÊNCIA À TRAÇÃO
Sedimentary soil stabilized with lime and cement: comparative study of influence of
voids and porosity on splitting tensile strength
Jair BALDOVINO*1, Ronaldo IZZO2, Mirian PEREIRA3, Eduardo ROCHA4 e Felipe PERRETTO5
1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, yaderbal@hotmail.com
2
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, izzo@utfpr.edu.br
3
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, miriandayane@gmail.com
4
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, eduardog.rocha@hotmail.com
5
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, fperretto@utfpr.edu.br
Abstract: The present article evaluates the development of splitting tensile strength (qt) of a silty
soil of the Guabirotuba Formation of Curitiba/BR artificially cemented for 28 days. For this, two
binders were used: lime and cement. The lime used was hydrated dolomitic type and the cement
was of high initial strength, added in percentages of 3, 5, 7 and 9% in reference to the dry mass of
the soil. 50 mm diameter and 100 mm high specimens were molded with different lime (L)
contents, different cement contents (C), different porosities (η), different apparent specific dry
weights (γd), molding moisture (ω) between 20 and 23% and subjected to split tensile tests under
saturation conditions. The ratio of voids/lime (η/Liv) and voids/cement (η/Civ) represented by the
porosity/volumetric ratio of binder (η/Biv) was used to evaluate the development of qt in addition to
variables such as L, C and η and its influence on qt. The results demonstrate increased strength with
increasing lime and cement content and decreasing voids (i.e., higher dry unit weight and lower η).
In terms of addition, the soil-cement blend developed greater tensile strength than the soil-lime
mixture by 15%. Finally, a dosing equation for qt of the soil studied and mixed with lime and
cement was calculated using the η/Biv ratio adjusted to an exponent of 0.18 for lime and of 0.40 for
the cement obtaining an acceptance of 95% and an average error of 4%.
1. INTRODUÇÃO
Os solos de granulometria fina às vezes apresentam problemas quando são empregados para
construção de camadas de pavimentos, fundações superficiais e proteção de encostas e taludes, o
que se converte em um transtorno quando, em cidades como Curitiba-sul do Brasil, a maioria dos
solos da formação geológica local (Guabirotuba) são de granulometria fina, expansivos, e de baixa
capacidade de carga. Por este motivo, a maioria dos solos dessa região não podem ser empregados
para o desenvolvimento da infraestrutura física da cidade, o que é um imbróglio para os
construtores e para a economia da cidade já que se deve trazer materiais de outros locais da região
aumentando o orçamento das obras civis. O tratamento destes solos com o uso de agentes
cimentantes, vem sendo uma técnica bastante empregada na engenharia geotecnia porque melhora o
solo para as condições de uso mencionadas anteriormente. Recentemente Baldovino et al. [1]
estudou os efeitos da adição de cal hidratada em um solo siltoso da região metropolitana de Curitiba
em diferentes tempos de cura, conseguindo obter resistência à compressão simples máxima de 1300
kPa com 9% de adição de cal depois de 90 dias de cura na energia de compactação normal.
Contudo, na maioria das vezes não é possível esperar tanto tempo para liberar a utilização de obras
de engenharia como pavimentos e por isso é indispensável dispor de agentes cimentantes adicionais
como o cimento que possam proporcionar resistências altas em menor tempo. Mesmo que a cal seja
economicamente mais viável que o cimento, as vezes diminuir o tempo de ganho de uma resistência
desejada pode equilibrar os custos de construção. Assim, este estudo tem como objetivo comparar a
resistência à tração desenvolvida por um solo sedimentar estabilizado com cal e cimento. Além
disso, a influência dos vazios e da porosidade são avaliadas em termos dos teores volumétricos de
cal e cimento sobre qt.
2. PROGRAMA EXPERIMENTAL
O programa experimental foi dividido em duas etapas: a primeira foi a realização dos ensaios de
caracterização do solo, da cal e do cimento: granulometria do solo de acordo à norma americana
ASTM D2487 [2], limites de Atterberg do solo de acordo às normas brasileiras NBR 7180 [3] e
NBR 6459-84 [4], a massa especifica real dos grãos do solo de acordo à norma ASTM D854 [5] e a
massa especifica real dos grãos dos tipos de cimento e da cal de acordo à norma brasileira NBR
16605 [6]; e a segunda, consistiu-se na moldagem, cura e rompimento dos corpos de prova solo-cal
e solo-cimento submetidos a ensaios de tração por compressão diametral.
2.1. Materiais
Um solo siltoso da Formação Guabirotuba, cal hidratada dolomítica, cimento de alta resistência
inicial (ARI) CP V e água destilada foram os materiais utilizados na pesquisa. A amostra de solo foi
coletada no município Fazenda Rio Grande, próximo da cidade de Curitiba (Brasil), de maneira
manual em estado deformado, evitando uma possível contaminação e em quantidade suficiente para
a realização de todos os ensaios. A cal hidratada dolomítica usada é produzida no município
Almirante Tamandaré (Paraná) e foi fornecida por um produtor local. Por último, O cimento CPV
foi fornecido pelo Laboratório de Materiais da UTFPR.
A Figura 1 mostra a curva granulométrica do solo e a Tabela 1 apresenta as propriedades físicas do
mesmo. O solo é maiormente formado por silte (57.6%) e areia fina (25.9%). Segundo o Sistema
Unificado de Classificação de Solos, o solo é classificado como um silte arenoso (MH) com índice
de plasticidade médio de 21.3%. A Tabela 2 apresenta a composição química do solo determinada
com Fluorescência de Raios-X, o solo tem alta presença de sílica e alumina, componentes essenciais
para estabilização química e geo-polimerização.
A Tabela 3 mostra as propriedades físicas e químicas do cimento. As propriedades químicas foram
fornecidas pelo produtor e as físicas foram calculadas no laboratório. De acordo à Tabela 3 o
cimento CP V tem uma massa específica (Gsc) de 3.11.
A Tabela 4 apresenta as propriedades da cal. A cal tem uma densidade especifica (GsL) de 2.39 e uma porcentagem de finos
de 91% passantes pelo diametro 0.002 mm.
100
90
80
Porcentagem passante (%)
70
60
50
40
30
20
10
0
0.001 0.01 0.1 1 10 100
Tamanho dos grãos (mm)
Fig. 1- Curva granulométrica do solo
SiO2 53.12
Al2O3 24.30
Fe2O3 10.46
CaO 0.03
MgO 0.28
K2O 0.39
Na2O 0.02
TiO2 1.37
MnO 0.17
P2O5 0.22
Perda ao fogo 9.64
2PR
qt = (1)
πDH
A Figura 2 apresenta os efeitos da adição de cimento e da porosidade inicial de moldagem (η) das
misturas solo-cimento na resistência à tração depois de 28 dias de cura. Nota-se, primeiramente, um
acréscimo no valor da tensão devido ao aumento da quantidade de cimento adicionada. O valor da
tração aumenta quando aumenta também o valor da densidade de moldagem. Da mesma maneira, a
Figura 3 mostra os resultados da tração indireta das misturas solo-cal influenciadas pela quantidade
de cal (Fig. 3a) e pela porosidade inicial de moldagem (Fig. 3b).
Comparando os efeitos da adição do teor de cal/cimento e da densidade de moldagem em qt (Figs.
2a e 3a), nota-se que as misturas solo-cimento alcançaram maiores resistências com a adição de
menor quantidade de aglomerante. Este resultado pode ser claramente visto para o ponto de
moldagem de d=15.10 kN/m3 onde a mistura solo-cal (A2) alcança valores qt de 300 kPa para
L=9% enquanto para a mistura solo-cimento nessas mesmas condições de moldagem (A1) alcança
valores em resistência de 550 kPa, sendo um aumento de 83% no valor de qt.
Para a mistura solo-cimento uma diminuição de 7 pontos porcentuais (Fig.3b) significou um
aumento de 200 kPa em qt e para a mistura solo-cal essa mesma diminuição nos vazios significou
um aumento de 190 kPa. Assim, o aumento na resistência à tração das misturas esteve determinado
principalmente pelo tipo de aglomerante utilizado enquanto a diminuição da porosidade
proporcionou uma maior capacidade de distribuição de tensões no interior dos corpos de prova, de
mesmo modo que a maior capacidade de mobilização do atrito nas porosidades mais baixas também
contribui para o ganho de resistência à tração do material. Assim, independentemente da quantidade
de cal ou cimento utilizada, a redução na porosidade do material promove ganhos consideráveis de
resistência à tração por compressão diametral [14]. A melhor maneira de representar os valores de
tração influenciados pela quantidade de cal/cimento e porosidade foi a través de uma curva de
regressão linear como visto nas Figs. 2-3. Essa regressão significar que o ganho de resistência
devido ao aumento de aglomerante ou diminuição dos vazios (independente da densidade) é sempre
proporcional.
700 700
C=9%
600 A1 600
C=7%
500
A2
A3 a) 500
b) C=5%
A4 C=3%
400 400
qt (kPa)
qu (kPa)
300 300
200 200
100 100
0 0
2 3 4 5 6 7 8 9 10 43 45 47 49 51 53
Cimento, C (%) Porosidade, η (%)
Fig. 2- (a)Influência do teor de cimento na resistência à tração por compressão diametral (qt). (b)Influência da porosidade
inicial dos corpos de prova solo-cimento na resistência à tração por compressão diametral (qt) aos 28 dias de cura.
700
700 L=3%
600
L=5%
600 A1
a) b) L=7%
500
500 A2 L=9%
400
qt (kPa)
A3
qt (kPa)
400
300 300
200 200
100
100
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0
38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
Teor de cal, L (%)
η (%)
Fig. 3- (a)Influência do teor de cal na resistência à tração por compressão diametral (qt). (b)Influência da porosidade inicial
dos corpos de prova solo-cal na resistência à tração por compressão diametral (qt) aos 28 dias de cura.
η -1.32
𝑞𝑡 =5173.8 [ ] (𝑅 2 = 0.80) (2)
(𝐿iv )1
η -0.95
𝑞𝑡 =4620.8 [ ] (𝑅 2 = 0.83) (3)
(𝐶iv )1
A relação η/Biv é definida em relação aos vazios da mistura solo-aglomerante e do volume de
aglomerante utilizado na mistura nas condições iniciais de moldagem definidos previamente na
Tabela 5. Calcula-se a porosidade como uma condição inicial da matriz solo-cimento/solo-cal em
um peso específico seco γd pré-estabelecido e um teor de umidade desejado. Assim, a resistência
mecânica da matriz solo-aglomerante pode dar-se como uma relação direta da porosidade dos
corpos de prova assim como também como uma função do inverso do teor volumétrico de
aglomerante (1/Biv), assim como foi demostrado em estudos prévios [15-16].
O teor volumétrico do aglomerante pode tomar o nome de teor volumétrico de cimento (Civ) e cal
(Liv), quando pertinente. As Eqs. 2-3 obtiveram ajustes de 0.80 e 0.83, respectivamente. Assim, a
relação η/Biv não foi totalmente compatível e não tiveram uma relação direta. Para encontrar uma
relação direta e compatível entre η e Biv como uma razão matemática, e, converter as duas variáveis
em uma dependência para qt, o valor de Biv se deve ajustar a um expoente entre 0.01 e 1.00 com
variações de 0.01 tal e como é feito na literatura atual [8,15]. Desta maneira, o valor de B que
melhor se ajustou aos valores de qt para o presente programa experimental foi de 0.20.O valor de
0.20 significa que a influência da porosidade (η) e dos vazios da mistura solo-aglomerante exerce
maior atuação na resistência à tração indireta qt, do que o teor volumétrico de aglomerante, de tal
forma que um aumento na porosidade necessita de um incremento proporcionalmente maior no teor
de aglomerante, a fim de compensar o aumento dos vazios devido à falta de compactação e manter a
resistência constante [17]. Assim, a Figura 5 apresenta a influência da relação porosidade/teor
volumétrico de aglomerante (ajustado em 0.20) sobre a resistência qt para ambas misturas, solo-cal
e solo-cimento. Usando o expoente de 0.20 as Eqs. 2-3 passaram a ter ajustes de R2=0.95 e erro
porcentual absoluto médio (mean absolute percentage error-MAPE) como visto nas Eqs. 4-5:
η -4.82
6
𝑞𝑡 =4440•10 [ ] (𝑅 2 = 0.95) (4)
(𝐿iv )0.20
η -4.06
𝑞𝑡 =910•106 [ ] (𝑅 2 = 0.95) (5)
(𝐶iv )0.20
600
Solo-cal
qt= 5173.8 (η/Liv)-1.32 (R2=0.80)
500
(MAPE=22%)
400 Solo-cimento
qt= 4620.8·106 (η/Civ)-0.95 (R2=0.83)
qt- kPa
300
(MAPE=20.5%)
200
100
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Porosidade/aglomerante (η/Biv)
Fig. 4- Influência da relação porosidade/aglomerante na resistência à tração por compressão diametral das misturas solo-
cal/solo-cimento aos 28 dias de cura
600
500
Solo-cal
qt= 4440·106 (η/Liv0.20)-4.82 (R2=0.95)
400
MAPE=4.2%
qt- kPa
300
Solo-cimento
200 qt= 910·106 (η/Civ0.20)-4.06 (R2=0.95)
MAPE=3.9%
100
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Porosidade/aglomerante- ajustado em 0.20 (η/Biv0.20)
Fig. 5 - Influência da relação porosidade/aglomerante ajustado em um expoente de 0.20 na resistência à tração por
compressão diametral das misturas solo-cal/solo-cimento aos 28 dias de cura
As Eqs. 4-5 representam o crescimento potencial da resistência das misturas solo-cal e solo-
cimento, respectivamente. Estas equações podem tomar-se como funções para dosar qualquer
mistura estabilizada dentre os limites de moldagem estabelecidos na Tabela 5.
3.5
Solo-cal
3
Solo-cimento
2.5
qt- kPa
1.5
1
qt/qt-normalizado em η/Biv0.20= 910·106 (η/Biv0.20)-4.06
0
0 10 20 30 40 50
Porosidade/aglomerante-ajustado em 0.20 (η/Biv0.20)
Fig. 6- Normalização da resistência à tração por compressão diametral (qt) [para toda a faixa de η/B iv0.20] dividida qt em
η/Biv0.20 =35 considerando a resistência do solo siltoso tratado com cimento e cal, usando 28 dias de cura e teores de umidade
de moldagem mostrados na Tabela 5.
Usa-se a normalização (divisão) das resistências para encontrar uma equação capaz de estimar qt em
função de η/Biv normalizado em uma tendência potencial única usando as Eqs. 4-5. Segundo [18],
para encontrar uma equação de estimativa de solos siltosos/argilosos estabilizados com cimento e
cal com o uso da relação η/Biv, primeiro se deve determinar todas as resistências de normalização
com o uso de um valor particular de η/Biv B = ∆ para cada variável das quais dependem as
resistências (neste caso, o tipo de aglomerante utilizado). O valor particular de ∆ para normalizar
pode ser escolhido do range reportado na presente pesquisa entre 27 e 50 (Ver Figura 5). Assim,
para o presente trabalho foi escolhido o valor de η/Civ 0.20 = ∆ =35. O número ∆ =35 é substituído
nas Equações que controlam qt (Eqs.4-5) para calcular as resistências de normalização para cada
tipo de aglomerante. As resistências de normalização para qt-normalizado em 35 são 160 e 490 kPa para
solo-cal e solo-cimento, respectivamente. Depois de realizar o cálculo das resistências de
normalização, devem-se normalizar as resistências sobre os valores reportados de tração indireta,
que resulta em dividir o valor de resistência à tração de cada corpo de prova pelo valor da
resistência de normalização correspondente. Esta divisão fornece uma relação entre qt experimental
e qt-normalizado em 35 como mostrado na Figura 6.
A Figura 6 também mostra que em condições normalizadas, a resistência à tração também tem um
comportamento potencial crescente com o aumento da quantidade de cal/cimento ou com o
aumento da densidade de compactação das amostras e que segue a forma da seguinte equação:
η -4.35
𝑞𝑡 /𝑞𝑡−𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑜 𝑒𝑚( 𝜂 =4.5•106 [ ] (𝑅 2 = 0.95) (6)
𝐵𝑖𝑣^0.20
=35) (𝐵iv )0.20
A Eq. 6 tem um erro de 4% dos valores estimados sob os valores experimentais. Dá-se essa alta
aceitação dos resultados devido ao valor de 0.20 que fornece maiores ajustes aos valores de tração
dependente do índice porosidade/teor de aglomerante como visto nas Eqs. 4-5 que passaram de ter
erros de aceitação de 20% (Ver Eqs. 2-3 e Figura 4) a erro médio de 4% (Figs. 5-6).
3. CONCLUSÕES
De acordo à metodologia, apresentação e análise dos resultados as seguintes conclusões podem ser
ofertadas:
- Tanto as misturas solo-cimento e solo-cal tiveram um aumento na resistência à tração indireta com
o aumento da quantidade de aglomerante adicionado e com o aumento da densidade de moldagem
durante a compactação das amostras.
-Em termos de vazios, a porosidade teve a mesma influencia tanto para solo-cal como para solo-
cimento pelo que a tração se viu principalmente influenciada pelo tipo de aglomerante (cal ou
cimento), sendo que as maiores resistências foram desenvolvidas pelo cimento devido a seu alto
conteúdo de óxido de cálcio.
-A relação porosidade/teor volumétrico de aglomerante mostrou-se um índice eficaz para estimar a
resistência à tração de todas as misturas quando ajustado a um expoente de 0.20.
-A relação porosidade/teor volumétrico de aglomerante ajustado em 0.20 permitiu obter coeficientes
de determinação maiores a 0.90 e erros de aceitação de 4% das equações que controlaram a
resistência das misturas solo-cal e solo-cimento.
AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer o apoio da CAPES, CNPq e Fundação Araucária do Paraná.
REFERÊNCIAS
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plasticidade, Rio de Janeiro, Brazil ,1984.
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[8] BALDOVINO JA, MOREIRA EB, IZZO RL DOS S, ROSE JL. Empirical Relationships with Unconfined
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[18] CONSOLI NC, VAZ FERREIRA PM, TANG CS, VELOSO MARQUES SF, FESTUGATO L, CORTE MB.
A unique relationship determining strength of silty/clayey soils – Portland cement mixes. Soils Found
2016;56:1082–8.
A GESTÃO DE RISCOS COM O APLICATIVO ÁLEA PARA O
DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NOS MUNICÍPIOS
Jordan H. de Souza1, Gislaine dos Santos2, Marcelo C. Renhe3, Ana C. M. M. de Toledo4, Bruno E.
de O. Brugnara5
1
Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Brasil, jordan.souza@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Brasil, gislaine.santos@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Brasil, marcelo.caniato@gmail.com
4
Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Brasil,carolina.marini@engenharia.ufjf.br
5
Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Brasil, bruno.brugnara@engenharia.ufjf.br
Resumo: Uma gestão de riscos abrangente deve compreender a percepção e análise do perigo, a
divulgação da informação, além do suporte gerencial. A análise de riscos geotécnicos compreende
estimativas da probabilidade de ocorrência de instabilização, assim como suas consequências e
prejuízos. Afim de mitigar danos em decorrência de inundações, a gestão do risco hidrológico atua
na redução da exposição, da vulnerabilidade e da ameaça. São reconhecidas como áreas suscetíveis,
aquelas passíveis de serem atingidas por fenômenos ou processos naturais e/ou induzidos que
causem efeito adverso. Nesse sentido, este trabalho almeja desenvolver um Modelo de Gestão de
Riscos baseado em modelagem matemática com dados georreferenciados e propiciar ações de
Políticas Públicas no âmbito da Proteção e Defesa Civil. Inicialmente foram realizadas práticas em
geoprocessamento, além da atualização da ficha de caracterização de riscos do Instituto de
Pesquisas Tecnológicas (IPT) proposta em 2007 e adaptação do cálculo do Índice de Unidade de
Resposta (IUR) desenvolvido em 2015. A partir desse estudo, foi desenvolvido um Modelo de
Gestão de Riscos por meio de um sistema de informações que possui uma base de dados
georreferenciada e está em fase de aplicação. O sistema Álea possui informações dos
condicionantes físicos e antrópicos relacionados ao risco geotécnico necessários à análise in loco,
visando a prevenção, preparação, assistência nas comunidades afetadas e auxiliando as equipes a
obter dados mais precisos em menor tempo. Um curso na modalidade à distância, com intuito de
capacitar gestores públicos e inserir o aplicativo na comunidade foi estruturado. O Álea se apresenta
como uma ferramenta que integra e aprimora as principais funcionalidades de um modelo de gestão
de riscos a partir de uma estrutura de banco de dados e informações que possibilitam ações de
Proteção e Defesa Civil e tomadas de decisões das autoridades competentes, auxiliando a redução
de perdas humanas e materiais. Os dados armazenados na plataforma podem ser usados pelas
coordenadorias municipais de Proteção e Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, para a
manutenção e criação de políticas públicas relacionadas à gestão de riscos, como por exemplo,
evitar a ocupação de áreas de risco, monitorar as já habitadas e ser um recurso de alerta e alarme.
Abstract: A comprehensive risk management should include the hazard perception and analysis,
information dissemination, and management support. The geotechnical risk analysis includes
estimates of the probability of instabilization occurrence, as well as its consequences and losses. In
order to mitigate flood damage, the hydrological risk management acts to reduce the exposure, the
vulnerability and the threat. Are recognized as susceptible areas those likely to being affected by
natural and/or induced phenomena or processes that cause adverse effects. In this sense, this work
aims to develop a Risk Management Model based on mathematical modeling with georeferenced
data and to provide public policy actions in the scope of Civil Protection and Defense. Initially,
geoprocessing practices were carried out, as well as the updating of the risk characterization form of
the Instituto de Pesquisa e Tecnologia (IPT) proposed in 2007 and adaptation of the Índice de
Unidade de Resposta (IUR) calculation developed in 2015. Based on this study, a Risk Management
Model was developed through an information system that has a georeferenced database and is in the
application phase. The Álea system has information on the physical and anthropic constraints
related to the geotechnical risk necessary for on-site analysis, aiming at prevention, preparation,
assistance in affected communities and helping teams to obtain more accurate data in a shorter time.
A course in the distance modality, in order to train public managers and insert the application in the
community was structured. Álea presents itself as a tool that integrates and enhances the main
functionalities of a risk management model based on a database structure and information that
enables Civil Protection and Defense actions and decisions making by the competent authorities,
helping to reduce human and material losses. The data stored on the platform can be used by
municipal coordinators of Civil Protection and Defense, Fire Brigade, Military Police, for the
maintenance and creation of public policies related to risk management, such as avoiding
occupancy of risk areas, monitor the already inhabited ones and be an alert and alarm feature.
1. INTRODUÇÃO
A urbanização consiste no processo de transformação do espaço geográfico qualquer em um local
de práticas coletivas que caracterizam a vida em uma cidade. Do ponto de vista estratégico, o mais
interessante para países que passam por um intenso processo de urbanização é o desenvolvimento
de um planejamento que norteie a ocupação desses novos ambientes de tal forma que a sociedade
que ali se estabeleça, desfrute de conforto e segurança. Porém, levando em conta a ineficiência das
políticas públicas e a desorganização do Estado, essa estratégia não se aplicou no Brasil (assim
como em outros países subdesenvolvidos) e o processo foi se desenvolvendo de forma caótica e
desordenada, durante décadas e até mesmo séculos.
Nesse ambiente passível de problemas, uma vez carente de um direcionamento de infraestrutura ou
até mesmo de informações acerca das áreas ocupadas, surge a necessidade de se propor mecanismos
que, ainda que paliativos, sejam capazes de fornecer a segurança e bem estar requisitados pela
população.
Como ferramenta de identificação e controle das áreas de risco, surge a gestão de riscos geotécnicos
e hidrológicos. E com a missão de mitigar consequências, eliminar situações de perigo e auxiliar a
comunidade a conviver com os riscos a partir da elaboração e operação de planos preventivos, o
projeto de se criar um modelo de gestão mais eficiente se faz necessário e urgente. É nesse cenário
de otimização e busca pela melhor forma possível de atender a sociedade, que surge a proposta de
integração da tecnologia com modelos já existentes.
Na descrição do modelo de gerenciamento das áreas de risco feito atualmente no Brasil, se faz
fundamental o projeto proporcionado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que desde
2007, tem sua base pautada no preenchimento manual de fichas de caracterização que classificam o
local avaliado (em conformidade com os riscos: R1-Baixo ou sem risco, R2-Médio, R3-Alto, R4-
Muito Alto). Essa caracterização é hoje o principal registro dos aspectos relacionados à ocorrência
de desastres naturais de origem geotécnica e, portanto, uma grande ferramenta para gerir o risco do
qual a população do local está exposta.
Segunda a Lei 12.608/2012, Art. 20, é dever dos Municípios adotar as medidas necessárias à
redução dos riscos de desastre. Trabalhando com esse viés, os órgãos de Proteção e Defesa Civil,
juntamente com os batalhões do Corpo de Bombeiros, se colocam à disposição neste processo de
gerenciamento de riscos. Segundo o ciclo de ações do órgão de Proteção e defesa Civil, Figura 1, o
plano converge de forma análoga com o plano de ação do Corpo de Bombeiros Militar de Minas
Gerais.
Desde o ano de 2016, o projeto de extensão em interface com a pesquisa, intitulado “Modelo de
Gestão de Riscos Geotécnicos em Cenários Urbanos”, tem possibilitado a realização de atividades e
estudos relacionados ao ciclo de ações de Proteção e Defesa Civil. Nesse cenário nasce o aplicativo
Álea, integrando tecnologia e mapeamento de zonas de risco, atuando como uma ferramenta de
auxílio às autoridades para redução de perdas humanas e materiais.
2. OBJETIVO
Apresentar um estudo de uma gestão de riscos por meio do aplicativo Álea, para proporcionar o
desenvolvimento de políticas públicas voltadas à prevenção e mitigação de desastres em cenários
urbanos, e apresentar informações para caracterização dos condicionantes de riscos.
3. MÉTODOS
O banco de dados criado dentro do aplicativo abriga todas as informações dos condicionantes
físicos e antrópicos de risco geotécnico necessárias à análise in loco, visando a prevenção,
preparação, resposta, mitigação e recuperação nas comunidades afetadas. Os mapas base do
aplicativo são os de declividade, curvas de nível, relevo sombreado e susceptibilidade à
escorregamento Shalstab. Os dados armazenados na plataforma poderão ser usados pelos órgãos
públicos de Proteção e Defesa Civil para a manutenção e criação de políticas públicas relacionadas
à gestão de riscos, como por exemplo, evitar a ocupação de áreas de risco, monitorar as já
habitadas, ser um recurso auxiliar em um sistema de alerta e alarme.
Visando transformar a ferramenta idealizada no meio acadêmico em recurso prático para a
comunidade e órgãos responsáveis, principalmente na elaboração de políticas públicas, viu-se
necessário a elaboração de um mecanismo de capacitação para a utilização do aplicativo. Assim,
surge a concepção do curso “Mapeamento de áreas de risco com o aplicativo Álea”, elaborado na
modalidade de ensino a distância, para familiarizar os profissionais que atuam na área de Proteção e
Defesa Civil com o programa, incentivando o uso do aplicativo e fornecendo o conhecimento
necessário para utilização do aplicativo e preenchimento das fichas de caracterização. O curso
orientou os participantes segundo o fluxograma da Figura 3:
Fig. 3 - Orientação para os alunos do curso (SOUZA, 2018)
Dessa forma, pode-se dizer que o desenvolvimento do projeto teve uma etapa de identificação do
problema, que consistiu na necessidade de otimizar o processo de mapeamento da áreas de risco;
uma segunda etapa de desenvolvimento de uma proposta de ferramenta para melhorar o trabalho
dos órgãos envolvidos; e , por fim, a proposição de um método de tornar essa ferramenta aplicável,
que materializou-se com a criação do curso à distância. A Figura 4 trata-se de um fluxograma que
resume o desenvolvimento da metodologia do projeto:
O aplicativo Álea, assim como as etapas de sua elaboração, pode contribuir para o desenvolvimento
de um modelo de gestão de riscos e, por conseguinte, para elaboração de políticas públicas em
municípios. Os primeiros resultados das atividades desenvolvidas envolvem o formulário eletrônico
com as fichas de caracterização, as bases cartográficas e a possibilidade de vincular informações e
registros fotográficos no Álea. O estudo também fomentou discussões sobre a temática de riscos, ao
promover um seminário e oferecer um curso de capacitação, com auxílio do Centro de Educação a
Distância (CEAD). Avaliando os cursistas, chegamos à distribuição geográfica por estado exposta
na Figura 5:
5. CONCLUSÃO
O Álea é um aplicativo de apoio às atividades de campo, que agiliza e aprimora tal processo,
destacando-se assim, como ferramenta para gestão de riscos geotécnicos e hidrológicos em cenários
urbanos. Os dados armazenados na plataforma podem ser usados pelas coordenadorias municipais,
Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, dentre outros órgãos que desempenham ações relacionadas à
Proteção e Defesa Civil, para a manutenção e criação de políticas públicas relacionadas à gestão de
riscos, como por exemplo, evitar a ocupação de áreas sujeitas à deslizamento de encostas ou
inundações, monitorar as já habitadas, e constituir até mesmo um recurso auxiliar em sistemas de
alerta e alarme.
Os cursos de capacitação oferecidos à comunidade representam um marco no avanço em prevenção
e mitigação de riscos, pautando-se na união e diálogo entre a comunidade e órgãos públicos, além
de melhor instruir profissionais da área e instigar a percepção de risco dos cursistas.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora por tornar
possível o projeto de Extensão em Interface com a Pesquisa, ao Corpo de Bombeiros Militar de
Minas Gerais e a todos os professores envolvidos em etapas do projeto, pela contribuição e apoio às
ações desenvolvidas.
REFERÊNCIAS
[1] BRASIL. Lei n° 12.608 de 10 de abril de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC.
Brasília, 2012a.
[2] BRASIL. Ministério da Integração Nacional.Capacitação Básica em Proteção e Defesa Civil 5ª edição.
SEDEC/Universidade Federal de Santa Catarina –UFSC, 2014 .
[3] DIETRICH W, MONTGOMERY D. R. SHALSTAB: a digital terrain model for mapping shallow landslide
potential. National Council of the Paper Industry for Air and Stream Improvement (NCASI) Technical Report: 26
p., 1998.
[4] MINISTÉRIO DAS CIDADES. Mapeamento de riscos em encostas e margens de rios. Brasília, 2007, 176 p.
[5] NASA. ASTER - Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection Radiometer. Disponível em:
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[6] SOUZA, J. H. Mapeamento de risco com o aplicativo Álea. -- Juiz de Fora: NASFE 2018. 84 p.
DESENVOLVIMENTO DE UM ALGORITMO EM LINGUAGEM PYTHON
PARA ANÁLISE DE ESTRUTURAS UTILIZANDO O MÉTODO DOS
DESLOCAMENTOS
Abstract: The structural analysis represents an essential knowledge for the formation of an
engineering student and can be applied in the most diverse types of constructive systems,
constituting a primordial stage of design, where it is necessary to define the structure in question the
calculation of internal forces, displacements, support reactions, etc. During the graduate course in
civil engineering these concepts are developed with the aid of the displacement method which is the
same formulation used in commercial programs of structural analysis, in possession of this
knowledge was developed a simple and free algorithm, implemented in PYTHON language, which
performs linear static analysis of beams and plane frames modeled with bar elements under the
influence of static loads, for different geometric sections and modulus of elasticity. With this
proposal, the user has contact with the results of stiffness matrices of the elements, rotation
matrices, stiffness matrix of the global structure, etc. In addition to monitoring the development of
the method, not only entering input data and receiving results, as with closed programs, it is
believed that it is of great interest for learning to use and understand the steps followed according to
the displacement method applied in this algorithm. In order to validate the proposed algorithm, the
results of the efforts and support reactions obtained are then compared with theoretical results and a
modeling in the already consolidated SAP2000 commercial program, the proposed work presented
exactly the same results and it shows a simple and precise tool for application and development of
concepts, and accept modifications to the most diverse user needs, without the need for robust
programs.
1. INTRODUÇÃO
Segundo Martha (2010) a análise estrutural é a fase do projeto estrutural em que é feita a
idealização do comportamento da estrutura. Esse comportamento pode ser descrito com a
determinação pelos campos de tensões, deformações e deslocamentos na estrutura. De uma maneira
geral, a análise estrutural tem como objetivo determinar esforços internos e externos (cargas e
reações de apoio), e tensões, além dos deslocamentos e correspondentes deformações da estrutura
que está sendo projetada. Ou seja, é de grande interesse do engenheiro determinar previamente
quais serão as solicitações para um determinado carregamento e de posse desses resultados
dimensionar corretamente e estrutura e os materiais a ser empregados na edificação.
A análise estrutural como outros tantos problemas de engenharia pode ser entendida como a procura
por uma solução numérica de um problema matemático, e sabe-se que soluções numéricas, ou
aproximadas, para problemas de natureza continua descritos por modelos matemáticos através de
equações representam uma classe de solução conveniente para a Engenharia (MILLMAN;
AIVAZIS, 2011).
Grande parte das estruturas reais podem ser idealizadas por um esquema de pórticos planos
chamados de modelos analíticos, com o intuito de facilitar o trabalho e gerar bons resultados,
exemplos importantes relacionados a engenharia civil que são resolvidos dessa forma são edifícios,
pontes e torres (Hibbeler, 1984). Define-se pórtico plano como um típico modelo estrutural
reticulado formado por barras, interligadas por nós e sujeitas a cargas no mesmo plano. Como dito,
o dimensionamento estrutural está interligado a determinação das tensões internas das barras. Sabe-
se que a tensão interna resultante em uma seção transversal de um membro de pórtico plano
depende do momento fletor, esforço cortante e da força axial (Sussekind, 1981) então uma rápida e
correta determinação dessas grandezas é de suma importância no dimensionamento de estruturas.
Nesse trabalho serão determinadas com o auxílio de um algoritmo todas essas grandezas de
interesse para qualquer organização de barras em forma de pórtico plano, para qualquer
carregamento, definindo assim uma ferramenta de fácil uso e aberta para eventuais alterações ou
verificações de algum passo dos cálculos.
2. MÉTODOS
A lei de Hooke (equação 1) garante que em um regime elástico linear as deformações (x) em uma
barra serão diretamente proporcionais as forças aplicadas (F), de acordo com um parâmetro de
rigidez k, constante.
F k * x (1)
Como dito, as estruturas planas em estudo são formadas por elementos de barra no plano, esse tipo
de elemento é constituído por dois nós com três graus de liberdade por nó e estão esquematizados
na figura 2a. Esses, são: deslocamento axial, deslocamento transversal e rotação.
A rigidez à flexão de uma barra é calculada por E*I (produto entre o módulo de elasticidade e a
inércia) e a rigidez axial E*A (produto entre o módulo de elasticidade e a área), considerando a
deformação axial da barra na análise. Os possíveis deslocamentos em cada nó da barra são:
translação u(x) e rotação em v(x). Dessa forma, cada barra possui seis graus de liberdade, que estão
apontados na figura 2b. A relação entre deslocamentos e forças é então determinada a seguir,
resultando na matriz de rigidez para esse tipo de elemento.
Figura 1 - Deslocamento axial e transversal de um elemento de barra
Figura 2- Graus de liberdade do elemento de barra no referencial local (a) e global (b)
Para Clough & Penzien (1975) a formulação das equações de movimento é uma das fases mais
importantes no procedimento de análise dinâmico-estrutural e, em muitos casos, a mais difícil.
Nesse trabalho foi aplicado o princípio da energia para determinação das equações de rigidez do
elemento de barra.
A aproximação do deslocamento em qualquer distância x da barra então pode ser calculado com o
auxílio das funções de interpolação adotadas da seguinte forma. Para o deslocamento axial (equação
1) e para o deslocamento transversal (equação 2).
u u1
u~( x) u1 2 x (2)
L
v~( x) a0 a1 x a2 x 2 a3 x 3 (3)
v~( x 0) v1 a0 v1 (4)
v~' ( x 0) 1 a1 1 (5)
v~( x L) v2 v1 1 L a2 L2 a3 L3 v2 (6)
3v2 v1 21 2
a2 (8)
L2 L
2v1 v2 1 2
a3 (9)
L3 L2
Sabe-se que a energia de deformação especifica é calcula a partir das deformações com a seguinte
expressão. Essa abordagem é conhecida como formulação por energia.
L
1
U E 2 dAdx (11)
0 A
2
L
EA ~ 2 EI ~ 2
U (u , x ) (v, xx ) dx (12)
0
2 2
U
EA
2L L
u 2 u1 2 2EI3 L2 12 1 2 22 3v1 v2 2 3Lv1 v2 1 2 (13)
Com essa formulação qualquer coeficiente de rigidez associado a flexão de uma barra pode ser
calculado com a expressão 14, obtida com a consideração de que a condição de equilíbrio para um
sistema exige que a primeira variação de energia total do sistema seja igual a zero (Zienkiewicz,
1968).
2U
K (ei , j ) (14)
ui u j
Então, aplicando a equação 13 na expressão 14 pode-se obter os coeficientes de rigidez que formam
a matriz de rigidez do elemento escrita em um sistema de coordenadas locais que representa o
referencial do elemento, e está indicada a seguir.
EA / L 0 0 EA / L 0 0
0 3
12 EI / L 6 EI / L2 0 12 EI / L 6 EI / L
3 2
0 6 EI / L2 4 EI / L 0 6 EI / L2 2 EI / L
K (ei , j ) (15)
EA / L 0 0 EA / L 0 0
0 12 EI / L 6 EI / L2
3
0 12 EI / L3 6 EI / L2
0 6 EI / L2 6 EI / L2 4 EI / L
2 EI / L 0
Para uma análise de pórticos planos em barras com inclinações quaisquer funcionar é necessário
utilizar os conceitos de referencial local e global e as mudanças entre esses dois universos com a
chamada matriz de rotação.
A matriz de rotação para um elemento com seis graus de liberdade esta apresentada na equação 16,
onde os termos não exibidos são todos nulos.
cos sen 0
sen cos 0
0 0 1
R
0
(16)
cos sen
sen cos 0
1
0 0
Em uma estrutura plana, após transformar a matriz de rigidez de membros individuais do sistema de
coordenadas local para global é preciso de realizar a montagem da matriz de rigidez global de
acordo com as conexões dos elementos. Esse procedimento está descrito a seguir.
Para determinar as posições dos elementos de uma matriz de elemento na matriz de estrutura,
identifica-se o número do grau de liberdade da estrutura, no referencial global da estrutura. Um
elemento formado pelos nós 1 e 3, por exemplo será adicionado na matriz de rigidez da estrutura
nos correspondentes gruas de liberdade, e se outro elemento tem ligação no nó 3 esse coeficiente
será somado e assim respectivamente para toda a estrutura. Esse procedimento pode ser observado
na figura 3, onde cada x corresponde a um coeficiente de rigidez da matriz (15).
Figura 3- Montagem da matriz de rigidez de uma estrutura no referencial global
2.5. O Algoritmo
Este item tem como objetivo comentar toda a fase de implementações computacionais da análise
estática linear de pórticos planos de forma que o leitor seja capaz de compreender a aplicação da
teoria de método dos deslocamentos por meio dos mecanismos computacionais de programação. O
código foi desenvolvido em linguagem PYTHON, uma linguagem de programação de sintaxe
simples, gratuita e direta com ferramentas de cálculos e bibliotecas envolvendo matrizes muito
eficientes.
O intuito é formular um algoritmo universal onde qualquer pórtico plano possa ser estudado,
alterando as propriedades do material bem como a organização das barras de treliças e/ou barras de
pórtico com as mais diversas inclinações sujeitas a cargas distribuídas ou concentradas em duas
direções.
A figura 4 exibe o fluxograma da análise linear, apontando os passos seguidos na análise estrutural
como método dos deslocamentos implementados no algoritmo.
Figura 4 – Fluxograma de análise linear de estruturas
A etapa de pré-processamento consiste no usuário informar ao algoritmo qual será a estrutura a ser
analisada. Para facilitar esse processo foi criado uma leitura de dados a partir de um arquivo do tipo
texto (com extensão .txt) chamado de arquivo de entrada. A leitura é feita por linhas e todas as
linhas que iniciam com o caractere # não serão lidas, ou seja, são comentários que facilitam o
entendimento. Na figura 5 em (a) está reproduzido o arquivo de entrada utilizado como exemplo,
em (b) está esquematizada a estrutura que esse arquivo de entrada representa, onde os números
dentro de retângulos é a numeração de cada elemento e os números sem bordas é a numeração de
cada nó e em (c) a estrutura exemplo modelada no programa FTOOL.
(a) (b) (c)
Figura 5 - Estrutura exemplo: Arquivo de entrada, numeração dos nós e modelagem no Ftool
Para o perfeito funcionamento do algoritmo o arquivo de entrada deve ser montado no padrão
apresentado onde o primeiro número é o número de nós do pórtico a ser analisado, depois o número
de elementos, tipo de características, número de elementos de pórticos, módulo de elasticidade, área
e inércia da seção transversal, o número de cada nó e as coordenadas x, y, e por fim as informações
de cada elemento na seguinte ordem: número do elemento, número do primeiro e do segundo nó
(conectividades) e a carga distribuída. Para o caso de cargas concentradas a leitura da posição e da
magnitude é feita dentro do próprio algoritmo e para o caso de elementos de treliça, como o último
elemento do exemplo da Figura 5(a), só é necessário informar as conectividades.
Como dito a matriz de rigidez para qualquer elemento deve ter a forma da equação 15, para
comprovar isso foi escolhido um elemento qualquer da estrutura exemplo, utilizamos aqui para
exemplificar o elemento 5, mas qualquer outro elemento a equação da matriz de rigidez é mantida.
O resultado do cálculo dessa matriz utilizando o algoritmo está exposto na figura 6. Os dados de
entrada necessários são o módulo de elasticidade e as propriedades geométricas, dados como a
seguir.
Como dito a matriz de rotação para qualquer elemento deve ter a forma da equação 16, para
comprovar isso foi retirado do algoritmo a matriz de rotação do elemento 7 e 9 e observa-se que os
valores são coerentes.
A resposta para reações de apoio obtidas no algoritmo é apresentada na forma de um vetor com o
número de linhas igual ao número de graus de liberdade da estrutura, onde cada valor de reação de
apoio esta na posição do grau de liberdade referente ao impedimento. Como por exemplo a primeira
posição do vetor de reações de apoio corresponde ao grau de liberdade 1 (direção x) do nó 1. A
comparação com os resultados do Ftool é apresentada a seguir na figura 9.
Figura 9 – Vetor com as Reações de Apoio e Diagrama de Esforço Normal
A resposta para esforços obtidas no algoritmo é apresentada na forma de uma matriz com seis linhas
(número de graus de liberdade por elemento) e número de colunas igual ao número de elementos,
ou seja para cada coluna representa um elemento, assim a primeira coluna retrata os esforços no
elemento 1, e cada linha dessa coluna é um grau de liberdade. O esforço normal está sempre na
primeira linha (para o primeiro nó) e na quarta linha (para o segundo nó) em cada elemento. O
esforço cortante está sempre na segunda linha e na quinta e por fim o momento fletor estará na
terceira linha e na última. Os resultados de esforços obtidos no Ftool estão apresentados na figuras 9
(Normal) e 11 (Cortante e momento fletor), esses valores podem ser comparados com a matriz de
esforços obtida com o algoritmo na figura 10 a seguir.
3.4 Deslocamentos
4. DISCUSSÃO
A abordagem proposta para análise linear de estruturas planas possui vantagens quando comparada
com outras ferramentas como compreensão e contato com todos as etapas de cálculo e possibilidade
de estudo das mais diversas formas e tipos de pórticos planos, com elementos de barras ou treliças.
Quando confrontado com os programas comerciais já consolidados possui desvantagens, como falta
de visualização gráfica do modelo da estrutura e sua deformada, porém uma vez que o usuário
conhece os passos do método dos deslocamentos o algoritmo garante uma aplicação poderosa, com
resultados exatos além de exercitar a aplicação de toda a teoria envolvida, ao contrário dos
programas comerciais onde só se insere dados e recebe resultados.
5. CONCLUSÃO
Como forma de validação foram comparados os resultados de um pórtico plano com diferentes tipos
de características geométricas das barras, inclinações de elementos, carregamentos e tipos de
vinculações ou apoios, calculados com o algoritmo implementado, o FTOOL e o SAP200. Como
esperado as reações de apoio, deslocamentos nodais e esforços internos nos elementos foram
praticamente idênticos comprovando o validade e precisão do código proposto e garantindo a
validade do algoritmo para qualquer estrutura plana desejada.
Por fim pode-se afirmar que o uso de uma ferramenta desse tipo configura um importante aliado no
processo de aprendizado conceitos de análise estrutural, uma vez que o usuário tem contato com
todas as etapas de cálculo.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
[1] CLOUGH, RAY W., PENZIEN, JOSEPH. Structural dynamics. New York: McGrowHill Inc, 1975.
[2] DIAS, R. P. Formulação do método dos elementos finitos para a análise elástica linear de pórticos planos.
Trabalho de Conclusão De Curso (Engenharia Civil) - Universidade Federal do Paraná, 2014.
[3] HIBBELER, RUSSELL C., KIANG, TAN. Structural analysis. Prentice Hall, 1984.
[4] KASSIMALI, ASLAM. Matrix Analysis of Structures SI Version. Cengage Learning, 2012.
[5] MARTHA, LUIZ. Análise de estruturas: conceitos e métodos básicos. Elsevier Brasil, 2010.
[6] SUSSEKIND, J. C. Curso de análise estrutural. 6. ed. Porto Alegre-Rio de Janeiro: Editora Globo, 1981.
[7] ZIENKIEWICZ, O. C.; CHEUNG, Y. K. The finite element method in structural and continuum mechanics:
numerical solution of problems in structural and continuum mechanics. London: McGraw-Hill, 1968.
COMPARAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO DE
PERFIS DE AÇO FORMADOS A FRIO SUBMETIDOS À COMPRESSÃO DE
ACORDO COM A NBR 14762:2010
Resumo: A norma brasileira NBR 14762 (ABNT, 2010) aborda informações fundamentais de
dimensionamento de perfis de aço formados a frio, conhecidos como PFF, para as seções mais
usuais encontradas no mercado. Dessa forma nesse trabalho foi desenvolvido um algoritmo que
automatiza o dimensionamento de colunas de aço formados a frio submetidas a compressão
centrada, de acordo com os dois métodos apresentados na norma (o método clássico, já validado e
semelhante ao dimensionamento de perfis de aço laminados e o método da rigidez direta (MRD),
que é um procedimento mais recente incorporado nas normas e se difere dos demais pela sua
simplicidade, facilidade e flexibilidade no dimensionamento dos PFF passando pela determinação
das tensões críticas de flambagem elástica (global, local e distorcional) do perfil. Nesse trabalho
como exemplo foram calculadas, com as duas diferentes abordagens e comparadas, as cargas
críticas e resistência à compressão de 20 perfis do tipo U enrijecido, cujas dimensões são
encontradas em tabelas de fabricantes. O método da resistência direta garante que após
determinadas as forças críticas de flambagem elástica da seção (local, global e distorcional) e o
carregamento que ocorre o escoamento da seção, a resistência do perfil pode ser diretamente
determinada. Nesse trabalho foi utilizado como ferramenta auxiliar para o cálculo numérico de
determinação das forças críticas de flambagem o programa livre e gratuito GBTul. E por fim a
comprovação de que o método da resistência direta apresentado no Anexo C da norma é a uma
ferramenta simples e de bons resultados na determinação da resistência à compressão de colunas.
Portanto, a utilização do algoritmo proposto torna eficaz, segura e precisa a determinação da
resistência de cálculo dos elementos de perfis de aço formado a frio, desta maneira, tornando mais
confiável e econômico o trabalho do engenheiro projetista.
Abstract: The Brazilian standard NBR 14762 (ABNT, 2010) addresses key design information for
cold formed steel profiles, such as PFF, for the most usual dimensions found in the market. In this
way, an algorithm was developed that automates the design of cold formed steel columns subjected
to centered compression, according to the two methods presented in the standard (the classic
method, already validated and similar to the dimensioning of rolled steel profiles and the direct
stiffness method (MRD), which is a more recent procedure incorporated in the standards and differs
from the others for its simplicity, ease and flexibility in the design of the PFF by determining the
critical elastic buckling stresses (global, local and distortional) of the profile. In this work as an
example, the critical loads and compressive strength of 20 stiffened U-profiles were calculated with
the two different approaches and compared, whose dimensions are found in manufacturer's tables.
The direct resistance method ensures that after determined the critical forces of elastic buckling of
the section (local, global and distortional) and loading that occurs the flow of the section, the
strength of the profile can be directly determined. In this work was used as an auxiliary tool for
numerical calculation of determination of critical forces of buckling the free and free GBTul
program. Finally, the proof that the direct resistance method presented in attachment C of the
standard is a simple and good tool in determining the resistance to compression of columns.
Therefore, the use of the proposed algorithm makes the calculation resistance of the cold formed
steel elements effective, safe and precise, in this way, making the work of the designer engineer
more reliable and economical.
1. INTRODUÇÃO
Os perfis formados a frio (PFF) são uma interessante opção para a construção civil uma vez que
possuem um processo de fácil fabricação, resultando em peças leves e baratas. Em geral são consti-
tuídos por seções abertas de paredes delgadas de chapas finas de aço laminadas à frio ou a quente,
que são posteriormente dobradas resultando em elevadas relações largura/espessura dos elementos
(CHODRAUI, 2006).
Devido a forma de fabricação os perfis formados à frio quando aplicados como colunas geram es-
truturas leves e esbeltas, isso pode ser uma vantagem do ponto de vista estático, porém um proble-
ma do ponto de vista estrutural uma vez que colunas esbeltas submetidas à compressão possibilitam
a ocorrência de fenômenos de instabilidade global (onde a peça toda sofre flambagem), ou local
(problema de instabilidade da chapa) ou distorção da seção transversal (SCHAFER, 2001). Esses
são os chamados modos de flambagem e a NBR indica diretrizes para dimensionamento de perfis
de aço formados à frio na compressão evitando a ocorrências desses fenômenos, isolados ou combi-
nados.
A Norma ABNT NBR 6355:2012 – “Perfis Estruturais de Aço Formados a Frio - Padronização”
estabelece os requisitos exigíveis para perfis estruturais de aço formados a frio, com seção
transversal aberta, determinando dimensões e propriedades geométricas de perfis usuais no mercado.
Nesse trabalho foram tomados como exemplo 20 desses perfis, suas dimensões estão indicadas na
tabela 1 e as propriedades geométricas necessárias para o dimensionamento estão na tabelas 2.
Como dito, as propriedades geométricas utilizados nos cálculos foram obtidas por norma, e a
terminologia empregada segue essa norma, portanto, alguns símbolos e seus respectivos
significados precisam ser definidos, são eles:
A - área da seção
E - módulo de elasticidade: E = 200 GPa
fy - limite de escoamento: fy = 345 MPa
-coeficiente de Poisson: = 0.3
Ix, Iy - momentos de inércia da seção bruta em relação aos eixos principais x e y, respectivamente
rx, ry - raio de giração da seção bruta em relação ao eixo principal x e y, respectivamente
Xg, Yg - centro de massa
x0 - distância do centro de torção ao centróide, na direção do eixo x
r0 - raio de giração polar da seção bruta em relação ao centro de torção r0 rx2 ry2 x02
0,5
Em 1759, Euler propôs uma equação para o cálculo da força normal crítica de flambagem elástica
de barras submetidas à compressão. Segundo GARCIA (2016) a carga crítica ou ponto crítico que
ocorre a flambagem, depende das dimensões da seção da barra, do tipo de vinculação e do
comprimento livre. E sabe-se que encontrar a carga critica está diretamente relacionado com a
estabilidade da estrutura e seu equilíbrio.
Dessa forma pode-se afirmar que a carga critica indica um ponto de transição entre o equilíbrio
estável e instável da estrutura. A carga crítica de Euler PE calculada com a equação (1) representa a
menor carga que gera uma mudança no estado de equilíbrio da coluna idealizada (IYENGAR,
1986).
2 EI
PE
L2 (1)
Um perfil monossimetrico do tipo U enrijecido pode sofrer flambagem global por flexão, em torno
do eixo perpendicular ao de simetria, de acordo com a formulação de flambagem elástica proposta
por Euler (Equação 1) ou por flexo-torção (flexão em torno do eixo de simetria e rotação em torno
do centro de torção). A flambagem por flexo-torção ocorre quando uma coluna ao ser carregada
com uma força de compressão no centro de gravidade da seção, para o caso do perfil U enrijecido o
centro de torção e o centro de gravidade estão localizados em pontos diferentes o que gera
deslocamentos em forma de flexão e torção, neste caso diz que essa barra sofreu flambagem por
flexo-torção.
A instabilidade distorcional está relacionada com a distorção da seção transversal, ou seja, com a
flexão de um ou mais elementos acompanhada pelo deslocamento das arestas que ligam esses
elementos, ao contrário da flambagem local onde as arestas não se deslocam (HANCOCK, 2003),
um esquema de seções do tipo U enrijecido nesses modos de flambagem pode ser observado na
figura 2. As principais teorias já consolidadas para análise de instabilidade distorcional são o
Método dos Elementos Finitos (MEF), o Método das Faixas Finitas (MFF) e a Teoria Generalizada
de Viga (GBT) – desenvolvido por Silvestre & Camotim (2004), (BEBIANO et. al, 2010)
N c ,Sd N c, Rd
(2)
0,5
20 Af
Para 0 1,5 : 0,658 , onde 0 y (4)
Ne
0,877
Para 0 1,5 : (5)
20
Para perfis monossimétricos, como é o caso do tipo U enrijecido, no problema de compressão axial
a norma NBR 14762:2010 indica que a força axial de flambagem global elástica Ne é o menor valor
entre os obtidos em a) e b).
a) Força axial de flambagem global elástica por flexão em relação ao eixo principal y:
2 EI y
N ey
K L
y y
2
(6)
b) Força axial de flambagem global elástica por flexo-torção:
N exz
N ex N ez
1 1
4 N ex N ez 1 x0 r0
2
2 1 x0 r0
2
N ex N ez 2
(7)
Onde:
Força axial de flambagem global elástica por flexão em relação ao eixo principal x:
2 EI x
N ex
K x Lx 2 (8)
Força axial de flambagem global elástica por torção:
1 2 EC w
N ez 2
GJ
r0 K z Lz 2
(9)
3.1.1 Método da seção efetiva para cálculo da área efetiva (Aef)
0,15 1
Aef A1 0,8 0,8 para p 0,776 (11)
p p
Af y
0,5
2E
p N l kl
121 2 bw t
, onde 2
A (12)
Nl
0,5
0,25 1 Af y
dist 1 1, 2 1, 2 para dist 0,561 onde dist (16)
dist dist dist
N
N dist é a força axial de flambagem elástica obtida com uma análise de estabilidade elástica.
3.4. GBTul
O programa GBTul desenvolvido no Instituto Superior Técnico de Lisboa (2000) realiza a análises
de flambagem elástica de perfis de aço formados a frio a partir do método GBT (Generalised Beam
Theory). É disponível gratuitamente no site do grupo de pesquisa e é uma poderosa ferramenta na
obtenção de tensões de flambagem elástica para barras de perfis formados a frio.
A figura 2 apresenta um típico resultado de análise de estabilidade elástica de um perfil U enrijecido
que é um gráfico relacionando o comprimento do perfil e sua carga crítica. Nota-se que o primeiro
ramo do gráfico é referente a flambagem local e o segundo ramo corresponde ao modo distorcional,
e por fim o terceiro ramo corresponde a flambagem global. Os valores mínimos serão então
multiplicados pela tensão de escoamento do material resultando nas tensões de flambagem elástica
de cada modo. Esse tipo de gráfico é conhecido na literatura como “Curva de assinatura” e é o que
será retirado como resultado no programa GBTul para cálculo da resistência dos perfis.
Figura 2 - Exemplo de curva de assinatura para perfil U enrijecido. Fonte GARCIA (2015)
As tensões críticas são obtidas nos pontos de mínimo da curva dado pelo programa para cada modo
(local Nl, distorcional Ndist e global Ne), estes resultados para as seções de estudo estão indicados na
tabela 3. O programa divide os modos de flambagem em números onde, os primeiros quatro modos
representam os modos globais caracterizados pelo movimento de corpo rígido da seção, os modos 5
e 6 são distorcionais e todos os outros são modos locais de placa. Esses resultados representam a
carga critica em cada modo, ou seja, a partir dessa determinada carga a coluna entram em instabili-
dade.
Tabela 3 – Forças axiais de compressão obtidas com o GBtul (Valores em kN)
3.5. O Algoritmo
De posse dos resultados da tabela 3 é possível calcular a resistência à compressão de cada perfil
pelo método da resistência direta e comparar com o cálculo realizado utilizando as indicações da
norma, para automatizar todos esses cálculos foi implementado um algoritmo na linguagem de pro-
gramação gratuita Python, definindo assim um algoritmo de sintaxe simples e direta e por fim estão
a comparação entre todos os resultados. A parte principal do algoritmo está reproduzida a seguir,
para funcionar uma leitura de propriedades geométricas da seção é feita inicialmente.
4. RESULTADOS
Na tabela 4 estão apresentados os resultados de força axial de flambagem global em todas as dire-
ções, para os 20 perfis exemplos, utilizando as duas propostas de cálculo automatizadas com o algo-
ritmo e a diferença entre os resultados. Pode-se observar que em nenhum caso a diferença foi maior
que 1,42%.
A tabela 5 apresenta a diferença percentual entre os valores de força axial de compressão resistente
de cálculo. O principal objetivo aqui é comparar o método de resistência direta como o método pro-
posto pela norma, pode-se observar que para os 20 tipos de perfis escolhidos como exemplo a dife-
rença nunca foi maior que 1%.
Tabela 5 - Força axial de compressão resistente
Seção 1 Seção 2 Seção 3 Seção 4 Seção 5 Seção 6 Seção 7 Seção 8 Seção 9 Seção 10
Norma 205,67 523,77 119,19 260,17 121,72 217,26 491,53 192,73 115,66 251,22
MRD 206,69 526,73 119,93 260,61 122,03 217,61 491,54 193,48 116,10 251,31
% 0,49% 0,56% 0,62% 0,17% 0,26% 0,16% 0,00% 0,39% 0,38% 0,04%
Seção 11 Seção 12 Seção 13 Seção 14 Seção 15 Seção 16 Seção 17 Seção 18 Seção 19 Seção 20
Norma 107,94 175,90 97,26 150,75 41,04 87,23 36,90 105,73 34,94 15,72
MRD 108,19 175,91 97,93 150,97 41,17 87,70 37,02 106,18 34,95 15,87
% 0,23% 0,01% 0,68% 0,15% 0,32% 0,54% 0,32% 0,42% 0,00% 0,95%
Na figura 3 estão apresentados os três modos de flambagem de colunas, observa-se que para com-
primento que foi desenvolvido o trabalho (L = 100cm) a seção 10 desenvolve um modo local e a
seção 20 um modo global, como indicado nas contas, como nenhum perfil exibe flambagem distor-
cional nesse comprimento a seção 20 com L = 24cm foi exemplifica na figura com a identificação
desse modo de flambagem. A curva de assinatura (comprimento do perfil por carga crítica) para o
perfil 20 também está reproduzida e confirma o aspecto esperado com a literatura quando compara-
da com a figura 2, onde o primeiro mínimo da curva é a carga critica do modo local, o segundo a
carga do modo distorcional e por fim o modo global.
Figura 3 – Modos de Flambagem e curva de assinatura do perfil 20, ambos obtidos com o GBTUL
5. DISCUSSÃO
A abordagem proposta para análise se mostrou eficiente uma vez que a comparação entre os resul-
tados obtidos com o algoritmo e com o programa já consolidado se mostraram precisamente iguais,
então pode-se afirmar que está validado e que outros variados tipos de perfis podem ser estudados e
calculados com o algoritmo. Com base nas diferenças percentuais das tabelas 4 e 5 pode-se afirmar
que o método da resistência direta é uma proposta rápida e fornece estimativas bastante precisas no
caso da compressão de colunas.
Para os perfis adotados como exemplo, observando a tabela 3, tem-se que os perfil 14, 16, 18, 19 e
20 em um comprimento de coluna de 100 cm, apresentam força crítica em um modo de flambagem
global e então pode-se afirmar que a coluna formada com esses perfis apresentarão problemas de
flambagem global principalmente, se forem submetidas a cargas superiores as encontradas para Ne
na tabela 3. Todos os outros perfis apresentaram cargas críticas locais, e portanto sofrerão proble-
mas de flambagem local.
6. CONCLUSÕES
O trabalho teve como objetivo apresentar um algoritmo que automatiza a determinação de resistên-
cia à compressão de perfis de aço formados a frio segundo as duas recomendações da norma brasi-
leira ABNT-NBR 14762/10 e comparar os dois métodos de dimensionamento. O método da resis-
tência direta (MRD), é considerado como um método alternativo para dimensionamento de colunas
sob compressão, consiste em um procedimento simples e confiável para determinar a resistência
última e está presente no ANEXO C da norma, porém é um método que depende de resultados de
análise de estabilidade elástica, que só são obtidos com o auxílio de programas prontos e já estão
consolidados na literatura, um deles e o utilizado nesse trabalho é o GBTul.
Pode-se observar com 20 exemplos de seções que a utilização do algoritmo e a aplicação do MRD
propiciou a realização dos cálculos de dimensionamento corretamente, uma vez que o erro encon-
trados entre os resultados com as duas abordagens foi irrelevante.
AGRADECIMENTOS
[7] JAVARONI, C.E. Estruturas de aço: dimensionamento de perfis formados a frio. 1a Ed. Elsevier Editora Ltda,
2015.
[8] IYENGAR, N. G. R. Structural stability of columns and plates. Affiliated East-West Press, 1986.
[9] SCHAFER, B. W. Thin-walled column design considering local, distortional and euler buckling. Proceedings:
Structural Stability Research Council – Annual Technical Session and Meeting, 2001.
[10] SILVESTRE, N.; CAMOTIM, D. Towards an Efficient Design Against Distortional Buckling: Formulae for C
and Z-Section Cold-Formed Steel Members. Proceedings of Structural Stability Research Council (SSRC) 2004
Annual Stability Conference, Long Beach, pp. 239- 263, March 24-27, 2004.
[11] SCHAFER, B. W.; PEKÖZ, T. Computational modeling of cold-formed steel: characterizing geometric imper-
fections and residual stresses. Journal of Constructional Steel Research, v.47, p.193-210, January, 1998.
A IMPLANTAÇÃO DA NORMA DE DESEMPENHO EM EMPRESAS
CONSTRUTORAS – UMA ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA
Resumo: Normas de desempenho são estabelecidas buscando atender às exigências dos usuários e,
no caso da ABNT NBR 15575 – Edificações Habitacionais – Desempenho, em vigor desde julho de
2013, essas exigências se referem a sistemas que compõem edificações habitacionais,
independentemente dos seus materiais constituintes e do sistema construtivo utilizado. O foco da
Norma está no comportamento em uso da edificação e não na prescrição de como os sistemas são
construídos. Em pesquisa recente sobre o processo de implementação da ABNT NBR 15575, a
importância da publicação da norma para o setor da construção foi ratificada por 69% dos
entrevistados. Por outro lado, 58% dos construtores reclamam que há desconhecimento ou
desinteresse dos projetistas sobre a norma de desempenho. Esses resultados indicam que a adesão à
norma, apesar de ser vista como importante, é um processo em andamento. O objetivo deste artigo é
fazer um levantamento sobre as publicações a respeito da implantação da ABNT NBR 15575 em
empresas construtoras. A metodologia utilizada foi a análise bibliométrica. Tendo em vista que a
Norma entrou em vigor em 19/07/2013, e que as discussões começaram alguns anos antes, a
pesquisa foi limitada a uma janela de tempo de até 10 anos de publicação. A base de dados
inicialmente utilizada foi a do portal Periódicos CAPES. Os descritores "Desempenho", "NBR
15575", "Implantação" e "Construtora" foram inseridos em várias etapas e combinações distintas,
com o número de resultados tabulado em cada etapa. Foi feita uma análise do material encontrado
em cada uma destas etapas: primeiro pelos “títulos” dos trabalhos; em seguida, pelos “resumos”; e,
finalmente, pela pertinência ao tema. Foram selecionados artigos que apresentassem: estudo(s) de
caso ou metodologia de implantação da Norma, além de dificuldades esperadas para a adoção pelas
empresas. Com base nos artigos selecionados, foi observada baixíssima ocorrência de artigos de
estudos de casos ou metodologia de implantação da Norma de Desempenho nas empresas. Tendo
em vista a escassez de trabalhos que analisem a implantação da Norma de Desempenho em
empresas construtoras, pode-se esperar que trabalhos com esta temática trarão uma grande
contribuição para a discussão sobre o tema.
Abstract: Performance standards are established in order to meet users' requirements and,
regarding ABNT NBR 15575 – Housing Constructions – Performance, in use since July 2013, these
requirements refer to systems that make up housing constructions, regardless of their constituent
materials and the construction system used. The focus of the Standard is on the behavior in use of
the building and not on the prescription of how the systems are constructed. In a recent survey on
the implementation process of ABNT NBR 15575, the importance of the publication of the standard
for the construction sector was ratified by 69% of respondents. On the other hand, 58% of the
manufacturers complain that there is lack of knowledge or lack of interest of the designers on the
performance standard. These results indicate that adherence to the standard, despite being seen as
important, is an ongoing process. The objective of this article is to make a survey about the
publications regarding the implementation of ABNT NBR 15575 in construction companies. The
methodology used was a bibliometric analysis. Given that the Standard has been adopted since
7/19/2013, and the discussions began a few years earlier, the research was limited to a time window
of up to 10 years of publication. The database used was Periódicos CAPES portal. The descriptors
"Performance", "NBR 15575", " Implantation" and "Builder" were inserted in several distinct steps
and combinations, with the number of results tabulated in each step. The material found in each of
these stages was analyzed: firstly by the "titles" of the works; then by the "abstracts"; and finally, by
relevance to the theme. Were selected articles that presented: case study (s) or methodology of
implementation of the Standard, in addition to expected difficulties for adoption by companies.
Based on the selected articles, there was a very low occurrence of case study articles or
methodology of implementation of the Performance Standard in companies. Considering the
scarcity of studies that analyze the implementation of the Performance Standard in construction
companies, it can be expected that studies with this theme will make a great contribution to the
discussion on the subject.
1. INTRODUÇÃO
A palavra desempenho é utilizada de maneira coloquial por toda a sociedade, e normalmente está
associada a um nível de desempenho desejado comparado a um desempenho entregue. Na
construção civil, o conceito de desempenho está consolidado há muito tempo, e uma das definições
mais aceitas pelo meio acadêmico é a que afirma que a abordagem de desempenho é, acima de tudo,
a prática de se pensar em termos de fins e não de meios, com os requisitos que a construção deve
atender, e não com a forma como esta deve ser construída [1] [2].
Normas de desempenho são estabelecidas buscando atender às exigências dos usuários e, no caso da
ABNT NBR 15575, em vigor desde julho de 2013, essas exigências se referem a sistemas que
compõem edificações habitacionais, independentemente dos seus materiais constituintes e do
sistema construtivo utilizado. O foco da Norma está no comportamento em uso da edificação e não
na prescrição de como os sistemas são construídos [3].
Segundo o Guia orientativo para atendimento à norma ABNT NBR 15575/2013:
Ao contrário das normas tradicionais, que prescrevem características dos produtos com
base na consagração do uso, normas de desempenho definem as propriedades necessárias
dos diferentes elementos da construção, independentemente do material constituinte. No
primeiro caso, deve-se utilizar o produto em atendimento às suas características. No
segundo, deve-se desenvolver e aplicar o produto para que atenda às necessidades da
construção. [4]
A CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), com o apoio do SENAI (Serviço Nacional
de Aprendizagem Industrial), promoveu recentemente uma pesquisa sobre o processo de
implementação dos requisitos da ABNT NBR 15575. O objetivo era levantar um panorama geral da
indústria da construção em relação ao tema, após 3 anos de publicação da norma. Os dados foram
levantados junto a 145 representantes de empresas construtoras, incorporadoras, projetistas e
fabricantes do setor, com cargo de gerência ou direção em 18 unidades federativas do Brasil.
Alguns dos resultados foram [5]:
A importância da publicação da norma para o setor da construção foi ratificada por 69% dos
pesquisados;
Entre os impactos gerados, na visão dos construtores, 27% consideram que é impossível
atender a norma integralmente; 78% deles avaliam que haverá necessidade de atender a
normas técnicas anteriormente desconhecidas, 70% especificação por características de
desempenho e 54% contratações de consultorias específicas.
Quanto às dificuldades de atendimento à norma, 58% dos construtores reclamam que há
desconhecimento ou desinteresse dos projetistas sobre a norma de desempenho.
Esses resultados indicam que a adesão à norma, apesar de ser vista como importante, é um processo
em andamento.
Por isso, o objetivo deste artigo é fazer um levantamento sobre as publicações a respeito da
implantação da Norma de Desempenho em empresas construtoras por meio de uma bibliometria em
bases de dados selecionadas.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
A palavra desempenho é utilizada de forma coloquial por toda a sociedade, e possui um significado
bastante amplo, desde o desempenho de determinado produto (seja ele um carro ou um computador,
por exemplo) ao desempenho de um esportista, passando até mesmo pelo desempenho de um
funcionário na execução de suas atribuições. O consumidor, espectador ou gerente, nestes
exemplos, define um desempenho desejado (mesmo que informalmente), e o comparam ao
desempenho entregue. Este conceito também é aplicado ao setor da construção civil. O edifício é
um produto que deve apresentar determinadas características que o capacitem a cumprir objetivos e
funções para os quais foi projetado, quando submetido a determinadas condições de exposição e
uso, de forma a atender às necessidades dos usuários ao longo do seu ciclo de vida [1].
Em vigor no país desde julho de 2013, a norma NBR 15575 foi redigida segundo modelos
internacionais de normalização de desempenho: para cada necessidade do usuário e condição de
exposição, há uma sequência de Requisitos de Desempenho, Critérios de Desempenho e respectivos
Métodos de Avaliação. O conjunto normativo é composto de seis partes, organizadas por elementos
da construção: Parte 1: Requisitos gerais; Parte 2: Requisitos para os sistemas estruturais; Parte 3:
Requisitos para os sistemas de pisos; Parte 4: Requisitos para os sistemas de vedações verticais
internas e externas; Parte 5: Requisitos para os sistemas de coberturas; e Parte 6: Requisitos para os
sistemas hidrossanitários. Para cada parte, há uma sequência de exigências relativas à segurança
(desempenho mecânico, segurança contra incêndio, segurança no uso e operação), habitabilidade
(estanqueidade, desempenho térmico e acústico, desempenho lumínico, saúde, higiene e qualidade
do ar, funcionalidade e acessibilidade, conforto tátil) e sustentabilidade (durabilidade,
manutenibilidade e adequação ambiental) [6].
Uma das responsabilidades de um pesquisador é conhecer a literatura em sua área de pesquisa. E o
melhor caminho para adquirir esse conhecimento é por meio de uma revisão de literatura. Esse
processo não deve ser entendido como meramente um resumo exaustivo de pesquisas anteriores,
mas também a capacidade do pesquisador de escrever uma revisão minuciosa e sofisticada,
utilizando-se de uma ampla gama de habilidades e conhecimentos [7]. De acordo com Randolph
(tradução nossa) [8]: “sem estabelecer o estado das pesquisas anteriores, é impossível determinar
como a nova pesquisa avança em relação a elas”.
São relativamente poucos os trabalhos que analisam como as empresas vem desenvolvendo seus
empreendimentos tendo em vista o desempenho. Entre os principais desafios que as empresas têm
enfrentado na implementação da norma estão a falta de conhecimento sobre o tema, a pouca
valorização que o mercado dá ao processo de projeto, a dificuldade na contratação de projetistas
qualificados e a escassez de informações técnicas a respeito de materiais e sistemas construtivos.
Levando-se isso em conta, abre-se um interessante campo para pesquisas sobre atendimento à
norma nas empresas construtoras brasileiras [9].
3. METODOLOGIA
Os trabalhos selecionados foram então arquivados e catalogados. Esta medida foi útil para evitar a
redundância de arquivos, tendo em vista que um mesmo artigo poderia aparecer em mais de uma
combinação de palavras-chave.
Depois de catalogados, cada trabalho foi analisado a partir de seu conteúdo. O resultado desta
análise gerou outra etapa de preenchimento do catálogo, com as seguintes informações: título,
autores, palavras-chave, objetivo do estudo, metodologia, resumo dos resultados alcançados e
observações sobre o artigo.
4. RESULTADOS E ANÁLISES
Os resultados de cada etapa da pesquisa podem ser observados na tabela 01.
Houve muitas ocorrências com palavras-chave mais genéricas, utilizadas individualmente na
primeira etapa, tais como "Construtora" e "Desempenho". No entanto, quando se começa a associar
os descritores, percebe-se uma redução significativa de resultados, indicando que há poucos estudos
sobre implantação da norma nas empresas.
Tabela 1 – Resultados de cada etapa de pesquisa
Selecionados Selecionados
Termo(s) de pesquisa Etapa Resultados
por título por resumo
Desempenho 1ª 32028 - -
Implantação 1ª 11517 - -
Construtora 1ª 499 - -
NBR 15575 1ª 57 6 1
Desempenho + Construtora 2ª 99 3 0
Ao final do processo, foi selecionado somente um artigo que se encaixava no objetivo da pesquisa,
que era encontrar literatura sobre implantação da NBR 15575 em empresa construtora. O trabalho
tem como título "Avaliação da aplicação da norma de desempenho: estudo de caso em cinco
empreendimentos". Seu objetivo era avaliar o desempenho de edificações habitacionais de
Chapecó/SC por meio de um checklist da norma de desempenho desenvolvido e proposto por uma
das autoras. Este questionário foi aplicado em 05 empreendimentos de 05 construtoras, sendo uma
obra de cada empresa, em diferentes estágios de execução. O atendimento a cada critério da norma
era avaliado por meio de preenchimento em campo apropriado do formulário, utilizando-se uma de
três abreviaturas: C – Conforme, quando apresentado o documento de comprovação de acordo com
o checklist e respeitando a descrição do critério; NC – Não conforme, quando não era apresentado o
documento; e NA – Não se aplica, caso a obra não possuísse o método construtivo indicado, não
estivesse na fase de execução a qual o requisito indicasse ou não fornecesse os materiais que
estavam especificados. Como resultado, os autores concluíram que as obras avaliadas não estavam
atendendo à norma de desempenho como deveriam, mesmo considerando que foram estudadas
obras e empresas de diferentes padrões. Constatou-se que todas apresentaram um nível de
atendimento muito abaixo do esperado, não alcançando nem mesmo o desempenho mínimo exigido
pela norma [12].
O artigo propõe uma ferramenta simples de avaliação do grau de implantação da norma em obras
prontas ou em andamento. Por outro lado, não fornece subsídios para empresa atuar corretivamente
caso constate que seu atendimento esteja aquém do esperado. Tampouco sugere ferramentas de
planejamento ou de técnicas de implantação para as construtoras que queiram implantar a NBR
15575 em seus empreendimentos.
Devido ao resultado insignificante de trabalhos selecionados, partiu-se para uma segunda etapa de
pesquisa, ampliando-se a base de dados e incluindo-se também o Catálogo de Teses e Dissertações
da CAPES.
A busca por trabalhos relacionados à Norma de Desempenho no Catálogo de Teses e Dissertações
da CAPES foi realizada pelo projeto de pesquisa de Iniciação Científica da Universidade Federal de
Juiz de Fora [13]. O grupo de pesquisa estratificou os trabalhos por temas: conforto acústico,
conforto térmico, segurança estrutural etc. Alguns trabalhos (no total, 16 dissertações) não se
enquadravam diretamente nesta classificação e foram alocados em uma categoria de "Tema Geral",
conforme tabela 02.
Os trabalhos levantados por aquele grupo foram então selecionados para esta pesquisa pelos
mesmos critérios adotados com artigos de periódicos: primeiramente pela leitura dos títulos, depois
pelos resumos e, finalmente, pelo conteúdo. Os resultados desta seleção estão na tabela 03.
A dissertação de Okamoto [14] tem como objetivo identificar influências da NBR 15575 sobre o
processo de projeto de edificações residenciais e propor ações de melhoria em uma empresa
incorporadora e construtora utilizada como estudo de caso. A metodologia envolveu análise crítica
de referencial bibliográfico, pesquisa de campo em empresas e proposição de modelo. A autora
destaca nas considerações finais que encontrou dificuldades práticas no atendimento das exigências
normativas nas empresas estudadas. Nelas, o comportamento de seus produtos em uso e operação
não é, muitas vezes, conhecido, demonstrando uma falta de cultura em avaliações de pós-entrega e
pós-ocupação. Destacou também um despreparo geral das empresas entrevistadas quanto à
compreensão de normas baseadas em desempenho, que não indicam de que forma torna-se possível
atingir o resultado esperado para os produtos finais. E finalmente conclui que o desempenho da
edificação é dependente da qualidade do processo de projeto, sendo necessário que cada agente
cumpra com as suas responsabilidades.
A pesquisa de Silva [15] tem como objetivo analisar a vida útil estimada das edificações, a partir do
desgaste dos sistemas construtivos, após a entrada em operação e uso, sob a ótica do desempenho
conforme NBR 15575. A metodologia utilizada foi exploratória e descritiva, por meio de pesquisa
documental, bibliográfica e por amostragem; o banco de dados utilizado é procedente do setor de
assistência técnica pós-obra de uma empresa construtora. A pesquisa consistiu no estudo da norma e
da relação que os parâmetros nela definidos têm com os problemas patológicos constatados através
da assistência técnica pós-obra de 8 (oito) empreendimentos. Com isso, a autora analisou a taxa de
falhas nos empreendimentos e aplicou o método dos fatores para determinação a vida útil estimada
(VUE) de cada edificação. Entre as conclusões, constatou-se uma redução média de 20% da vida
útil de referência (VUR), significando que a previsão inicial da VUP poderá não ser cumprida. O
estudo identificou também que as anomalias constatadas refletem a utilização de materiais e/ou
componentes inadequados ou mau instalados, ressaltando a responsabilidade solidária dos
fornecedores de materiais.
Tabela 2 – Dissertações de tema geral
O trabalho de Silva Júnior [16] aborda o uso do BIM no desenvolvimento de projetos de arquitetura
aplicando conceitos de desempenho e tem como foco projetos de arquitetura de edificações
habitacionais, sem especificação de área ou padrão de acabamento. O estudo seguiu o método
baseado na pesquisa construtiva (constructive research) ou design science research e considera a
possibilidade de identificar e informar aproximadamente um terço dos requisitos impostos pela
NBR 15575 com o uso do projeto em BIM. Entre os resultados obtidos, o autor destaca como a
utilização de uma biblioteca de componentes com informações padronizadas de desempenho
térmico para a adequação de paredes externas e coberturas podem otimizar o trabalho do projetista
na transcrição dos dados de transmitância e capacidade térmica no projeto da edificação.
5. CONCLUSÃO
Com base nos artigos e dissertações selecionados, foi observada baixíssima ocorrência de trabalhos
de estudos de casos ou metodologia de implantação da Norma de Desempenho nas empresas:
apenas 01 artigo e 03 dissertações. Ainda assim, os trabalhos selecionados apenas avaliam o grau de
implantação da norma ou estudam o impacto de sua aplicação a determinados processos, tais como
projetos ou pós-entrega, mas não indicam métodos ou técnicas para as empresas adotarem a norma
em toda a sua extensão. Pelos resultados encontrados, é possível perceber que o mercado, mesmo
após 5 anos de publicação da Norma, ainda não a tenha adotado com a rapidez esperada dada a sua
importância.
É possível que o número de empresas aderentes à norma aumente a médio prazo, considerando-se
as exigências ao cumprimento da NBR 15575 introduzidas no regimento do SiAC PBQP-H em
2017 e ratificadas e expandidas no regimento de 2018.
Tendo em vista a escassez de artigos em periódicos que analisem a implantação da Norma de
Desempenho em empresas construtoras, pode-se concluir que trabalhos com esta temática trarão
uma grande contribuição para a discussão sobre o tema.
REFERÊNCIAS
[1] BORGES, Carlos Alberto de Moraes. O conceito de desempenho de edificações e a sua importância para o setor
da construção civil no Brasil. 2008. Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia. Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde-25092008-
094741/pt-br.php>. Acesso em: 24 set. 2017.
[2] GIBSON, E.J., Coord. Working with the performance approach in building. Rotterdam. CIB W060. 1982. (CIB
State of the Art Report n. 64). Disponível em: <http://www.irbnet.de/daten/iconda/CIB_DC23969.pdf>. Acesso em:
26 mai. 2018.
[3] ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edificações Habitacionais –
Desempenho. São Paulo, 2013.
[4] CBIC. Desempenho de edificações habitacionais. Guia orientativo para atendimento à norma ABNT NBR
15575/2013. Brasília, abr. 2013. Disponível em:
<http://cbic.org.br/sites/default/files/Guia_norma_Desempenho_v2.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2017.
[5] CBIC. Pesquisa setorial. Norma de desempenho: panorama atual e desafios futuros. Resumo executivo. Abr.
2016. Disponível em: <https://cbic.org.br/wp-content/uploads/2018/03/Panorama.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2017.
[6] CBIC. Desempenho de edificações habitacionais. Guia orientativo para atendimento à norma ABNT NBR
15575/2013. Brasília, abr. 2013. Disponível em:
<http://cbic.org.br/sites/default/files/Guia_norma_Desempenho_v2.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2017.
[7] BOOTE, David N.; BEILE, Penny. Scholars Before Researchers: On the Centrality of the Dissertation Literature
Review in Research Preparation. Educational Researcher, v. 4, n. 6, p. 3-15, 01 ago. 2005. Disponível em:
<http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.3102/0013189X034006003>. Acesso em: 16 set. 2018.
[8] RANDOLPH, Justus. A Guide to Writing the Dissertation Literature Review. Practical Assessment, Research &
Evaluation, v. 14, n. 13, 01 ago. 2005. Disponível em: <http://pareonline.net/getvn.asp?v=14&n=13>. Acesso em:
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[9] COTTA, Ana Cláudia. Contribuição ao estudo dos impactos da NBR 15575:2013 no processo de gestão de
projetos em empresas construtoras de pequeno e médio porte. Dissertação apresentada para obtenção do título
de Mestre em Construção Civil, Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte,
2017. Disponível em: <http://hdl.handle.net/1843/BUBD-AQ4HBB>. Acesso em: 18 set. 2018.
[10] PRITCHARD, Alan. Statistical bibliography or bibliometrics? Journal of Documentation, v. 24, n. 4, p. 348-349,
1969. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/profile/Alan_Pritchard/publication/236031787_Statistical_Bibliography_or_Bibliom
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[11] CHUEKE, Gabriel Vouga; AMATUCCI, Marcos. O que é bibliometria? Uma introdução ao Fórum. Revista
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https://doi.org/10.18568/1980-4865.1021-5>. Acesso em: 22 out. 2018.
[12] COSTELLA, Marcelo Fabiano et al. Avaliação da aplicação da norma de desempenho: estudo de caso em cinco
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[13] HIPPERT, Maria Aparecida Steinherz et al. Resultados preliminares do projeto de pesquisa de Iniciação
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[14] OKAMOTO, Patricia Seiko. Os impactos da norma brasileira de desempenho sobre o processo de projeto de
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[15] SILVA, Nina Celeste Macário Simões da. Análise da vida útil estimada das edificações baseada na norma de
desempenho (ABNT NBR 15.575:2013). 2016. 116 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-graduação em
Engenharia Civil, Universidade Católica de Pernambuco, Recife, 2016. Disponível em:
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[16] SILVA JÚNIOR, Mauro Augusto. Parâmetros de desempenho incorporados em projetos de arquitetura com o
uso de aplicativo de modelagem BIM. 2016. 130 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestrado em Habitação:
Planejamento e Tecnologia, Instituto de Pesquisa Tecnológicas do Estado de São Paulo, São Paulo, 2016.
Disponível em:
<https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/trabalhoConclusao/viewTrabalhoConclusao.jsf?popu
p=true&id_trabalho=4004185>. Acesso em: 23 out. 2018.
EFEITO DOS ADITIVOS EXPANSOR E INCORPORADOR DE AR EM
CONCRETOS LEVE DE PREENCHIMENTO DE SEÇÕES MISTAS
Juliana Fadini Natalli 1, Humberto Dias Andrade 2, Karine de Jesus Santos 3, Guilherme Jorge
Brigolini 4, Ricardo André Fiorotti Peixoto 5
1
M.S.c, Ouro Preto, Brasil, juliananatalli24@gmail.com
2
Mestrando, Ouro Preto, Brasil, andrade.hdias@gmail.com
3
Graduanda, Ouro Preto, Brasil, karine718@hotmail.com
4
Professor Associado, Ouro Preto, Brasil, guilhermebrigolini@gmail.com
4
Professor Associado, Ouro Preto, Brasil, ricardofiorotti@yahoo.com.br
Palavras-chave: concreto leve, aditivo expansor, aditivo incorporador de ar, pilar misto preenchido,
aderência, efeito de confinamento.
Abstract: The construction industry has been demanding the development of more efficient building
techniques and systems. Meeting this demand, the use of concrete-filled steel tube has been growing
due to the advantages offered by these structures, such as speed of execution, high resistance and
ductility. In this type of pillar, the concrete inside the pipe minimizes the problems of global and local
buckling of the steel profile. While the metal profile works as a cross-sectional reinforcement wich
restricts lateral expansion of the concrete core, providing an improvement in the section strength due
to the confinement effect. This effect together with the adhesion at the interface of the mixed section
guarantees the structural benefits verified in the concrete filled steel tube. Thus, this study analyzes
the adhesion and the confinement effect on tubular profiles of three types of concrete: convencional
(CSA); with addition of expansive agent (CEX) and with the addition of a new air-entraining
admixtures based on LAS - Linear Alkyl Benzene Sodium Sulfonate (CLAS). The models were
submitted to compressive strength tests with load applied to the mixed section and the results obtained
were compared with the results of compressive strength of 10 x 20 specimens (diameter x height) of
the concretes executed. From the results, it was verified that the CEX and the CLAS had the highest
degrees of confinement in the mixed section, contributing to a greater steel-concrete
compatibilization. Thus, the technical feasibility of the use of these additives in cementitious matrixes
to fill mixed sections was verified.
1. INTRODUÇÃO
Os pilares mistos preenchidos, sujeitos a força predominante de compressão, são elementos
resultantes da utilização de um tubo de aço preenchido com concreto de qualidade estrutural [1]. A
associação aço-concreto nesse tipo de elemento tornou-se uma forma de potencializar as vantagens
desses dois materiais, proporcionando uma melhor solução estrutural.
Nesses tipos de pilares, o concreto é confinado pelo tubo resultando em um estado tri-axial de
compressão o que proporciona aumento da resistência e da ductilidade do material de preenchimento
[2], [3]. Por outro lado, o núcleo de concreto minimiza os problemas de deformação por flambagem
global e local do perfil de aço [4], [5]. Esses benefícios estruturais, aliados com a facilidade de
construção e redução de custos [6], [7], justificam a ampla utilização dessas estruturas em edifícios
altos, pontes de várias tipologias, torres e sistemas de contraventamento [8], [9], [10].
No entanto, para que esses benefícios sejam conferidos, é necessário que ocorra uma interação aço-
concreto, manifestada principalmente em tensões de aderência e de confinamento. A aderência é a
propriedade responsável pela transferência de tensões cisalhantes na interface da seção por meio da
adesão, atrito e mecanismos mecânicos [11], [12]. O confinamento, um dos efeitos mais relevantes
no estudo de pilares mistos preenchidos, é caracterizado pela restrição do tubo de aço à expansão do
núcleo de concreto [13], [14]. Além do aumento da capacidade resistente da seção, o confinamento
oferecido pelo tubo de aço melhora a ductilidade do concreto, que em condições normais apresentaria
comportamento frágil e ruptura brusca [15], [16], [17].
Estudos mostram que o uso de concreto leve como preenchimento de tubos de aço na composição de
pilares, além de proporcionar redução do peso próprio da estrutura, economia de tempo e custo da
construção [18], [19] é capaz de favorecer a interação aço-concreto no elemento misto [20], [21],
[22]. O menor módulo de elasticidade desse tipo de concreto, devido à estrutura interna porosa de
seus agregados, é responsável por sua maior deformação e expansão radial, a qual mobiliza tensões
de aderência e de confinamento [10].
A limitação das deformações de contração do concreto, provocada por diversos fenômenos, tais como
retração por secagem e retração autógena [23], é de importância prática para a indústria, já que
considerando certos usos estruturais, o encolhimento do material pode causar rachaduras e redução
de sua durabilidade [24]. Em seções mistas, esse fenômeno, além de reduzir a durabilidade do
concreto de preenchimento, empobrece o vínculo na interface da seção, pois provoca a separação
entre os dois materiais [25]. Dessa forma, o uso de aditivos expansores é uma alternativa para
aumentar parâmetros de compatibilização aço-concreto em seções mistas [26]. A expansão da matriz
de preenchimento provocada pela adição de agente expansor, induz uma pré-tensão de confinamento
nas paredes do tubo de aço, melhorando o desempenho de interligação aço-concreto [27], [23] [28].
Os três tipos de agentes expansivos descritos na literatura são classificados como à base de
sulfoaluminato de cálcio, que induzem a formação de etringita, à base de óxido de cálcio, que
etimulam a cristalização da portlandita e aquele cujo princípio ativo é a hidratação do MgO [29], [30],
[31]. A pressão de cristalização gerada pela supersaturação dos cristais quando os agentes são
adicionados ao concreto resulta em uma expansão significativa no estado endurecido que compensa
o encolhimento subsequente [24].
Os aditivos incorpordores de ar são surfactantes, que impedem que as bolhas de ar presentes no
concreto durante o processo de mistura, se aglutinem, se rompam e emerjam à superficie [32], [33].
O uso desses aditivos possibilitam a melhora da trabalhabilidade e da coesão da matriz, e redução de
seu módulo de elasticidade [34]. Neste estudo, o incorporador de ar utilizado foi o LAS (Liner Alquil
Benzeno Sulfonato de Sódio), princípio ativo dos detergentes lava-louças com concentração de 5 a
25% de surfactante. De acordo com Mendes et al., (2017) [33], o produto alternativo é capaz de criar
um sistema eficiente que garante a manutenção do teor de ar incorporado do estado fresco para o
estado endurecido, melhorando a trabalhabilidade e reduzindo a massa específica do concreto.
Este estudo propõe o entendimento do uso de aditivos expansor e incorporador de ar em concreto leve
de preenchimento, visando o aumento da interação aço concreto e melhor desempenho estrutural
dessas seções mistas quando submetidas a cargas axiais.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Materiais
Neste trabalho foi utilizado cimento Portland pozolânico CPIV-32RS, com massa específica de 3,01
g/cm3 e resistência à compressão aos 28 dias equivalente a 32,4 MPa NBR 7215 [35]. O uso desse
cimento é justificado pelo melhor desempenho dos aditivos expansores nesse tipo de aglomerante
[23]. O agregado miúdo utilizado foi a areia natural de rio e os agregados graúdos foram a argila
expandida em duas graduações: 6-15 mm e 15-22 mm (Figura 1). As características físicas dos
agregados são especificados na Tabela 1.
Fig. 1 – Agregados leves nacionais: (a) graduação 6-15 mm; (b) graduação 22-15 mm.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
40
(MPa)
30
20
21,00
20,96
10
12,07
0
CSA CEX CLAS
40
30
(MPa)
46,53
43,13
42,24
20
10
0
PCA PCEX PCLAS
𝑁𝑢
SI = (1)
𝐴𝑠 𝑓𝑦 + 0,85𝐴𝑐 𝑓𝑐𝑘
Na expressão:
𝑁𝑢 é a resistência à compressão da seção mista (N);
𝐴𝑠 é a área da seção transversal de aço (mm²);
𝑓𝑦 é a tensão de escoamento do aço (MPa);
𝐴𝑐 é a área da seção transversal do concreto (mm²);
𝑓𝑐𝑘 é a resistência à compressão do concreto (MPa).
O mecanismo de falha típico de todos os tubos de aço dos protótipos mistos ensaiados foi a
plastificação, como se observa na Figura 5.
3. CONCLUSÃO
Diante dos resultados apresentados, constata-se que o aditivo expansor do tipo sulfoaluminato de
cálcio não afeta significativamente a resistência mecânica das matrizes cimentícias. No entanto, o
aditivo incorporador de ar alternativo (LAS), proporciona redução dessa propriedade mecânica pelo
fato de provocar aumento da porosidade da matriz.
A adição de agente expansor e de incorporador de ar nos concretos leves de preenchimento
fortaleceram o vínculo na interface aço-concreto
dos perfis mistos contribuindo para a transferência de tensões de cisalhamento e
compatibilidade de deformações entre os materiais da seção. O efeito de confinamento foi bastante
pronunciado nos protótipos PCLAS, o suficiente para compensar a resistência reduzida do concreto
de preenchimento e contribuir para uma maior aderência e compatibilização aço-concreto na
interface.
Dessa forma, constata-se a viabilidade técnica da utilização desses aditivos em matrizes cimentícias
para preenchimento de seções mistas.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem as instituições FAPEMIG, CAPES, Fundação Gorceix, UFOP e CNPq pelo
apoio para a realização e apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e
colaboração do Grupo de Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS – CNPq.
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MÓDULO DE ELASTICIDADE DO CONCRETO: UM ESTUDO SEMI
PROBABILÍSTICO E SEUS DESDOBRAMENTOS
Ana Carolina Carius 1, Leonardo de Souza Corrêa 2, Vinícius Costa Furtado da Rosa 3,
Bruna Nogueira 4, Alex Justen Teixeira 5
1
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil, ana.carius@ucp.br
2
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil, leo.s.c@hotmail.com
3
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, vinicius.rosa@ucp.br
4
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, bru.nogueira02@gmail.com
5
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, alex.teixeira@ucp.br
Abstract: The present work aims to present a study of the compressive strength behavior of the
concrete, considering that the concrete is a composite material and, therefore, admits significant
variability and semi probabilistic behavior. From this conclusion, it is conjectured that the modulus
of elasticity of the concrete also has a semi probabilistic behavior, diverging from the norms ABNT
NBR 6118 (2014), which consider the modulus of elasticity from deterministic calculations. The
research methodology involved the selection of a concrete trait with characteristic strength (fck) of
40 MPa, with which tests were carried out to determine the tangential elasticity modulus (Eci), in
addition to tests that guarantee the value of the compressive strength indicated. The tests to obtain the
modulus of elasticity were performed according to ABNT NBR 8522 (2017). It was concluded that
as the modulus of elasticity of the concrete is influenced by the compressive strength, which obeys a
probabilistic distribution, and in this way, the calculation of the concrete modulus of elasticity of the
concrete must not be maintained deterministically.
Fig. 1 - Gráfico tensão X deformação para concreto, pasta de cimento e agregado. (NEVILLE, (1997)).
Neville (1997) justifica o comportamento não-linear da curva do concreto no gráfico tensão X
deformação pelo fato de que, mesmo antes de sofrer a aplicação de carga na compressão, o concreto
possui microfissuras, principalmente na zona de transição entre os agregados e a pasta de cimento.
Essas microfissuras evoluiriam inicialmente dentro da zona de transição com a aplicação da carga, se
tornando estáveis até 30% da resistência à compressão do concreto. Com solicitações acima de 70%
da resistência à compressão, as fissuras se propagariam através da pasta de cimento. Neville (1997)
destaca, ainda, que a retração autógena da pasta de cimento que o constitui não depende da ação de
cargas sobre ele. Desta forma ocorrem retrações e deformação do material como um todo.
A partir do comportamento apresentado pelo concreto para os ensaios de compressão, modificando a
relação tensão x deformação, o presente trabalho objetivou o estudo do módulo de elasticidade para
concreto convencional, tomando-se, como base, um traço de resistência a compressão de 40 MPa.
Foram confeccionados 47 corpos de prova cilíndricos, de acordo com a norma ABNT NBR 5738
(2014) e rompidos de acordo com a norma ABNT 5739 (2007). Utilizou-se o tempo de cura de 7, 14
e 28 dias para os ensaios de resistência à compressão e 60 dias para os ensaios de módulo de
elasticidade. Optamos pelo método tangencial para o cálculo do módulo de elasticidade.
Após a obtenção dos dados através dos ensaios laboratoriais, realizamos um levantamento estatístico
tanto para os valores referentes aos ensaios de resistência à compressão como para os ensaios para o
cálculo de elasticidade visando o entendimento, do ponto de vista estatístico, do comportamento tanto
da resistência à compressão quanto do módulo de elasticidade.
Concluímos que a resistência à compressão se comporta conforme uma distribuição gaussiana de
probabilidade e investigamos o comportamento do módulo de elasticidade, a fim de propor um
modelo probabilístico para o cálculo deste coeficiente. Pretendemos, ao final de todo o projeto, obter
um modelo que melhor descreva o módulo de elasticidade do ponto de vista probabilístico, divergindo
da norma brasileira, a qual considera o cálculo deste coeficiente de forma determinística.
2.OBJETIVOS
O presente trabalho objetivou, a partir da hipótese de que a resistência a compressão do concreto não
se comporta de forma determinística em função do mesmo não ser um material homogêneo regido
pela Lei de Hooke e avaliar a contribuição da distribuição probabilística da resistência à compressão
no cálculo do módulo de elasticidade. Conforme citado anteriormente, o estudo de variabilidade do
concreto, quando considerado adequadamente, pode contribuir, de forma significativa, na otimização
de usos de recursos naturais e materiais, conduzindo a projetos sustentáveis.
3. MÉTODOS
𝐸𝑐 = 1,05 ∙ 𝐸𝑐𝑚
EUROCODE 2/2004 0,3
28 0,5
{𝑠+[1−( ) ]}
𝑡
𝐸𝑐 (𝑡) = 1,05 ∙ (𝑒 ) ∙ 𝐸𝑐𝑚
Observa-se, no entanto, que de todas as propriedades do agregado graúdo, aquela que afeta o módulo
de elasticidade de forma significativa é a porosidade. De acordo METHA e MONTEIRO (2008), a
porosidade do agregado determina a sua rigidez e, desta forma, controla a capacidade do agregado de
restringir deformações da matriz da pasta de cimento, sendo a variação do módulo de elasticidade do
agregado diretamente proporcional ao aumento do módulo de elasticidade do concreto.
Assim como para os agregados graúdos, a porosidade desempenha um papel fundamental no módulo
de elasticidade da pasta de cimento endurecida. Esse fenômeno está diretamente atrelado à relação
água/cimento, teor de ar incorporado, adições minerais e grau de hidratação do cimento (MEHTA e
MONTEIRO, 2008). Os vários tipos de vazios na pasta de cimento são classificados como porosidade
gel e porosidade capilar. O volume da porosidade diminui durante a hidratação.
A zona de transição entre a matriz da pasta de cimento e o agregado é normalmente considerada como
a parte mais fraca do concreto de resistência normal. Para o concreto de alta resistência, a resistência
da argamassa e da zona de transição pode ser comparável com a resistência do agregado graúdo (DE
MARCHI, 2011).
MASO apud METHA e MONTEIRO (2008) descreve o comportamento do concreto a partir de seu
lançamento: primeiro forma-se um filme de água ao redor das partículas dos agregados graúdos,
podendo formar uma relação água/cimento mais elevada nas proximidades do agregado graúdo do
que na matriz da pasta de cimento. Os íons de cálcio, sulfato, hidroxila e aluminatos formados pela
dissolução dos compostos de sulfato de cálcio e de aluminato de cálcio, combinam-se para formar
etringita e hidróxido de cálcio. Devido à relação água/cimento elevada, estes produtos cristalinos
vizinhos ao agregado graúdo consistem de cristais relativamente grandes e, consequentemente,
formam uma estrutura mais porosa do que na matriz da pasta de cimento ou na matriz da argamassa.
3.2.2. Variabilidade Extrínseca
Entre os parâmetros influenciadores para o módulo de elasticidade relacionados aos corpos-de-prova,
encontram-se a forma e a dimensão da seção transversal, a relação entre o comprimento e essa
dimensão e a direção de concretagem (SHEHATA, 2005). Já os parâmetros relacionados ao
procedimento de ensaio estão o teor de umidade do corpo-de-prova, a velocidade de aplicação da
tensão, a restrição à deformação nas extremidades do corpo-de-prova causada pela placa de
carregamento, o comprimento ao longo do qual se mede a deformação, o diâmetro do prato
transmissor de carga e a rigidez da prensa.
De Marchi apud Montija (2007) sinaliza que o uso de uma fórmula que exige uma aproximação
matemática contribui para a interpretação do resultado de ensaio do módulo de deformação do
concreto. Desta forma, é necessário garantir que os limites do trecho retilíneo estejam bem definidos
e confiáveis. Também são citados pelo autor como fontes de variabilidade inerentes ao ensaio, a
velocidade de aplicação da carga, a definição do plano de carga e o tipo de instrumentação para a
medição das deformações.
Para os ensaios do módulo de elasticidade, segue-se as recomendações da norma ABNT NBR 8522
(2017). São indicados 5 corpos de prova cilíndricos, de forma que a altura do corpo de prova seja o
dobro do diâmetro do mesmo corpo de prova. O diâmetro deve ser dado de acordo com o tamanho
do agregado graúdo, de forma que o diâmetro seja, no mínimo, 4 vezes o tamanho máximo do
agregado graúdo. Primeiramente deve ser feito um ensaio de resistência à compressão para dois
corpos de prova, de acordo a ABNT NBR 5739 (2007). Este ensaio tem por objetivo determinar o
nível de carregamento a ser aplicado no ensaio de módulo.
A fim de determinar o módulo de elasticidade através da tangente inicial, posiciona-se o corpo de
prova corretamente em relação aos medidores que serão usados e aplica-se o carregamento até uma
tensão de 30% da resistência à compressão obtida no ensaio anterior (𝜎𝑏 ), a uma velocidade de 0,25
MPa/s, podendo-se variar esta velocidade em 0,05 MPa/s, tanto positivamente quanto negativamente.
Esse nível de carregamento deve ser mantido por 60 segundos e, em seguida, reduzido à mesma
velocidade do processo de carregamento até o nível de tensão básica (considerado 𝜎𝑎 =0,5 MPa, com
variação de 0,1 MPa, tanto positivamente quanto negativamente). Devem ser realizados mais ciclos
de carregamento adicionais, entre 𝜎𝑎 e 𝜎𝑏 , mantendo essas tensões por 60 segundos. Depois do
último ciclo de carga são medidas as deformações específicas.
Após o término das leituras de deformação, o corpo de prova deve ser carregado até a sua ruptura.
Se a resistência efetiva à compressão do corpo de prova diferir de fci em mais de 20 %, os resultados
do corpo de prova devem ser descartados.
O módulo de elasticidade, com tensão fixa 𝜎𝑎 , pode ser calculado pela seguinte equação
∆𝜎 𝜎𝑏 − 0,5 −3
𝐸𝑐𝑖 = 10−3 = 10
∆𝜀 𝜀𝑏 − 𝜀𝑎
onde
𝜎𝑏 é a tensão maior, em MPa (𝜎𝑏 = 0,3 𝑓𝑐𝑘 ) ou outra tensão especificada em projeto, de até 40 % de
𝑓𝑐𝑘 ;
0,5 é a tensão básica em MPa;
𝜀𝑏 é a deformação específica média, sob a tensão maior;
𝜀𝑎 é a deformação específica média, sob a tensão básica de 0,5 MPa.
50
Resistência à compressão (MPa)
4446
40 42414140 40 40 42
41
38 3938 3737 35 3738
3939 38 38 39
36
34 3433 35 3434
33 31 323133 32 32
30
20
10
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37
Identificação dos corpos de prova
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao CNPq pela bolsa PIBIC ao estudante Leonardo de Souza Corrêa e pela bolsa PIBIC-
EM a estudante Bruna Nogueira. A Universidade Católica de Petrópolis pela disponibilização do
Laboratório de Engenharia Civil para os experimentos.
REFERÊNCIAS
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COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO ENTRE CONCRETO
CONVENCIONAL E LEVE
Resumo:
O concreto é o material construtivo mais utilizado no mundo devido a sua viabilidade técnica e
econômica. A larga aplicação do material pode ser justificada pela sua capacidade de resistir a ação
da água sem deterioração, diferentemente da madeira e do aço. Além disso, os elementos estruturais
podem ser facilmente moldados em diversas formas e tamanhos, com baixo custo de transporte e
produção, devido à disponibilidade de matérias-primas. O intenso processo de industrialização da
construção civil nos últimos anos demanda a produção de concretos que otimizem os procedimentos
construtivos, sem comprometer a segurança estrutural. Nesse sentido, a utilização de agregados
leves em substituição aos agregados convencionais e o uso de aditivos incorporadores de ar
contribuíram para redução da massa específica de elementos de concreto. Há vantagens
consideráveis com a redução dessa propriedade, como a diminuição significativa do peso próprio da
estrutura, redução de gastos com materiais e com obras de fundações. Também contribui para uma
maior produtividade da construção, devido à facilidade de transporte do material. Dessa forma, este
estudo tem o objetivo de avaliar e caracterizar física e mecanicamente traços de três tipos de
concreto: convencional - produzido com brita gnáissica (CC), leve - produzido com argila
expandida (CL), e convencional com aditivo incorporador de ar (CAI). A partir dos resultados
verificou-se uma expressiva redução da massa específica do concreto leve, em comparação ao
convencional, sem perda significativa de sua resistência mecânica. Por outro lado, o uso de aditivo
incorporador de ar não contribuiu para uma considerável diminuição da massa específica, além de
ter provocado grande redução da resistência dessa matriz. O módulo de elasticidade do concreto
leve com agregados leves foi o menor observado, devido principalmente à estrutura porosa da argila
expandida. Assim, verificou-se a viabilidade técnica da utilização de concretos leves e a
necessidade de mais estudos sobre agentes incorporadores de ar na produção de concretos com
baixo peso próprio.
Palavras-chave: Concreto convencional, Concreto leve, Aditivo incorporador de ar.
Abstract:
The concrete is the most used construction material in the world due to its technical and economic
feasibility. The wide application of the material can be justified by its ability to withstand the action
of water without deterioration, unlike wood and steel. In addition, the structural elements can be
easily molded in various shapes and sizes, with low transportation and production costs due to the
availability of raw materials. The intense process of industrialization of the civil construction in the
last years demands the production of concretes that optimize the constructive procedures, without
compromising their structural security. Thus, the use of lightweight aggregates instead of
conventional aggregates and the use of air-entraining admixtures contribute to reduce the specific
mass of concrete elements. There are considerable advantages to the reduction of this property, such
as a significant reduction in the self weight of the structure and the lower expenses with materials
and foundations. It also contributes to a higher productivity of the construction, due to the ease of
transport of the material. Thus, this study aims to evaluate and characterize physically and
mechanically traces of three types of concrete: conventional - produced with gneiss gravel (CC),
light - produced with expanded clay (CL), and conventional with air-entraining admixture (CAI).
From the results, there was an expressive reduction of the specific mass of the lightweight concrete
in comparison to the conventional one, without significant loss of its mechanical resistance. On the
other hand, the use of air-entraining admixture did not contributed to a significant decrease of the
specific mass, besides causing a great reduction of the concrete’s resistance. The modulus of
elasticity of light concrete with light aggregates was the lowest observed, mainly due to the porous
structure of the expanded clay. Thus, it was observed the technical feasibility of the use of
lightweight concrete and the need for further studies on air entraining agents in the production of
low weight concrete.
Keywords: Conventional concrete, Lightweight concrete, Air-entraining admixtures.
1. INTRODUÇÃO
A construção civil exige, atualmente, técnicas e materiais cada vez mais eficientes, com aplicação
fácil e rápida, além de um produto final com custos menores, tornando-se necessário o
desenvolvimento rápido da tecnologia. O concreto vem apresentando um crescimento mundial
contínuo, tanto em relação a sua aplicação quanto no desenvolvimento de materiais com melhores
propriedades. Com a necessidade de produzir estruturas com menor peso próprio, vem sendo
desenvolvidos cada vez mais diferentes tipos de concretos que atendam a essa demanda,
denominados concretos leves.
Denominam-se por concretos convencionais as misturas endurecidas compostas por ligante
(cimento), agregados naturais (areia, brita, cascalho) e água, de massa específica entre 2000 e 2800
kg/m³ [1]. Identifica-se como concreto leve os concretos com massa específica inferior à do
concreto convencional, abaixo de 2000 kg/m³ [2].
O concreto leve é utilizado na engenharia como solução para a redução do peso próprio das
estruturas, visto que o material é de 20 a 30% mais leve que o concreto convencional [3]. Esse
concreto, além de promover redução do peso das peças estruturais, também é muito utilizado em
seções mistas e proporciona ganhos com relação à interação aço-concreto e aumento da capacidade
resistente do pilar misto [4][5][6][7].
Os concretos leves podem ser obtidos através da utilização de materiais alternativos aos
tradicionais, como a argila expandida e aditivos incorporadores de ar, que vêm permitindo o
desenvolvimento de matrizes cada vez mais leves.
A argila expandida, agregado de massa específica reduzida, pode ser utilizada em substituição ao
agregado convencional, dando origem ao concreto leve estrutural. O processo de fabricação faz com
esse agregado apresente uma estrutura interna porosa coberta por uma camada vitrificada, formato
arredondado e granulometria variada. Suas principais características são: leveza, isolamento
térmico, baixa densidade, isolamento acústico, durabilidade e resistência a altas temperaturas [8].
Os aditivos incorporadores de ar surfactantes são aditivos que alteram a tensão superficial capazes
de permitir que as bolhas de ar formadas na etapa de mistura do concreto se rompam. Essas espécies
químicas reduzem a tensão superficial das interfaces líquido-líquido, líquido-ar, sólido-líquido e
sólido-ar melhorando a capacidade de molhamento, de incorporação de ar e de lavabilidade [9].
Dessa forma, o presente trabalho pretende desenvolver e comparar o desempenho entre concretos
convencionais e com o uso de aditivos incorporadores de ar ou de agregados leves em concreto leve
de preenchimento, visando o uma redução do peso próprio e do módulo de elasticidade da matriz
cimentícia.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Materiais
Neste trabalho foram produzidos três tipos de concreto: concreto convencional (CC) com brita
gnáissica, concreto leve com argila expandida (CL) e concreto convencional aditivo incorporador
de ar (CAI). Foi utilizado cimento Portland de alto-forno CPIII-40RS, com resistência à compressão
aos três dias equivalente a 15 MPa. O agregado miúdo utilizado nos concretos convencionais foi a
areia natural de rio e os agregados graúdos utilizados no concreto leve foram substituídos pela
argila expandida em duas graduações, 6-15 mm e 15-22 mm (Figura 1). Para os concretos
convencionais foram utilizadas britas gnáissicas com dimensões máximas características de
12,5mm (brita 0) e 25mm (brita 1). As características físicas dos agregados são especificadas na
Tabela 1.
Fig.1–Agregados leves nacionais: (a) graduação 6-15 mm; (b) graduação 15-22 mm.
Tabela 1– Características físicas dos agregados.
Propriedade Areia Argila 1506 Argila 2215 Brita 0 Brita 1
Massa específica (g/cm³) 2,65 1,11 0,64 2,66 2,66
Massa unitária (g/cm³) 1,62 0,60 0,50 1,48 1,54
Módulo de finura 2,17 6,19 7,09 6,10 7,00
Dimensãomáximacaracterística (mm) 2,4 12,5 19,0 12,5 19,0
Teor de material pulverulento (%) 0,76 - - - -
O uso das duas graduações de argila expandida se justifica devido à equivalência de granulometria
entre a argila tipo 1506 e a brita 0 e a argila tipo 2215 e a brita 1. Na execução dos concretos CC e
CL foi empregado aditivo plastificante e na execução do CAI foi empregado aditivo incorporador
de ar.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4. CONCLUSÃO
A partir dos resultados obtidos nas análises e ensaios de caracterização dos diferentes tipos de
concreto, foi possível concluir que:
I. A utilização de argila expandida em substituição à brita, como agregado dos concretos
resulta em um concreto com menor massa específica, o que permite a obtenção de estruturas
mais leves;
II. A incorporação de ar ao concreto, a partir da utilização de aditivo incorporador de ar, reduz
a resistência do concreto devido ao aumento do índice de vazios;
III. A substituição da brita pela argila expandida nos concretos não resultou em redução
significativa da resistência à compressão do mesmo, tornando-se uma substituição vantajosa
devido à redução da massa específica;
IV. O aumento do índice de vazios causado pela aplicação de um aditivo incorporador de ar
aumenta, significativamente, a absorção de água do concreto. Aumento este, que também
pode ser observado ao se utilizar um agregado expansivo que tem maior capacidade de
absorção de água.
V. Em relação ao módulo de elasticidade, o valor deste sofre uma redução derivada tanto da
utilização de um agregado de superfície arredondada, que diminui a concentração de tensões
no concreto, quanto da incorporação de poros. Essa redução faz com que o concreto
desenvolvido seja bastante interessante ao uso como concreto de preenchimento em seções
mistas.
Dessa forma, verifica-se a viabilidade técnica da utilização de concretos leves e a necessidade de
mais estudos sobre agentes incorporadores de ar na produção de concretos com baixo peso próprio.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem as instituições FAPEMIG, CAPES, Fundação Gorceix, UFOP e CNPq pelo
apoio para a realização e apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e
colaboração do Grupo de Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS – CNPq.
REFERÊNCIAS
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VIGA DE EULER-BERNOULLI: QUANTIFICAÇÃO DE INCERTEZAS
PARA OS PARÂMETROS DE RIGIDEZ E MÉTODOS DE ELEMENTOS
FINITOS ESTOCÁSTICOS
Ana Carolina Carius 1, João Vitor Curioni de Miranda 2, Bruna Teixeira Silveira 3
1 Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil, ana.carius@ucp.br
2
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil, jvitorcurioni@hotmail.com
3
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil, bruna.silveira@ucp.br
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar a modelagem matemática e simulações
computacionais para o problema de flexão de uma viga de Euler-Bernoulli quando os parâmetros de
rigidez são considerados probabilísticos. A fim de garantir que as hipóteses para o problema sejam
satisfeitas, considerou-se que a viga é constituída de concreto, que é um material compósito e,
portanto, não se comporta de maneira homogênea. De acordo com a ABNT NBR 6118 (2014), que
estabelece parâmetros para a qualidade do concreto, discute-se o caráter probabilístico da resistência
à compressão para o concreto. Uma vez que o módulo de elasticidade é uma relação entre a tensão e
a deformação, espera-se que o mesmo não seja determinístico, diferentemente do que prevê a mesma
norma. A partir desta hipótese, este trabalho procurou estudar os efeitos do módulo de elasticidade
não determinístico na deflexão de uma viga de Euler-Bernoulli, a partir da linha elástica e do
momento fletor. Foi elaborado um código computacional em MATLAB a fim de simular a situação
proposta, através do Método de Elementos Finitos Estocásticos. Concluiu-se que as simulações
computacionais que levaram em consideração a hipótese probabilística proposta apresentaram
resultados sensivelmente diferentes dos resultados obtidos quando se considera o módulo de
elasticidade determinístico, como um valor constante, contribuindo para uma discussão mais ampla
a respeito das considerações probabilísticas em Análise Estrutural.
Abstract: The present work aims to present the mathematical modeling and computational
simulations for the flexural problem of an Euler-Bernoulli beam when rigidity parameters are
considered probabilistic. In order to ensure that the assumptions for the problem are satisfied, it was
considered that the beam consists of concrete, which is a composite material and therefore does not
behave homogeneously. According to ABNT NBR 6118 (2014), which establishes parameters for
concrete quality, the probabilistic character of the compressive strength for concrete is discussed.
Since the modulus of elasticity is a relationship between stress and strain, it is expected that it will
not be deterministic, unlike the same ABNT NBR 6118(2014). From this hypothesis, this work sought
to study the effects of the nondeterministic modulus of elasticity on the deflection of an Euler-
Bernoulli beam, from the elastic line and the bending moment. A computational code was developed
in MATLAB to simulate the proposed situation, using the Stochastic Finite Element Method. It was
concluded that the computational simulations that took into account the proposed probabilistic
hypothesis presented results significantly different from the results obtained when considering the
deterministic modulus of elasticity, as a constant value, contributing for a broader discussion of
probabilistic considerations in Structural Analysis.
Keywords: elasticity modulus, mathematical modelling, Stochastic Finite Element Method (SFEM),
probabilistic rigidity parameters.
1. INTRODUÇÃO
Estruturas apoiadas são amplamente utilizadas na engenharia civil, sobretudo na engenharia de
estruturas. A posição e o comportamento mecânico dos suportes são determinantes na resposta
mecânica do conjunto (HIDALGO, 2014). Devida à simplicidade geométrica, estruturas podem ser
adequadamente avaliadas utilizando-se modelos lineares. Nesse sentido, para efeitos de estudo,
destacam-se as vigas de Euler-Bernoulli, objeto de estudo deste trabalho e que são usadas, com maior
frequência, para efeitos acadêmicos, sobretudo em Análise Estrutural.
Com o avanço dos computadores domésticos, no início dos anos 1980, foi possível melhorar o acesso
aos cálculos que essas máquinas eram capazes de realizar e tornar esses resultados aplicáveis aos
problemas cotidianos (LÉVY, 1999). Nesse sentido, a engenharia não esteve a parte do
desenvolvimento promovido pela entrada dos microcomputadores no dia a dia da sociedade. A
Análise Estrutural, em particular, pode contar com ferramentas computacionais mais robustas para
solucionar problemas de cálculo de difícil resolução até então. Diversos softwares comerciais
passaram a atuar neste ramo como o TQS, SAP 2000, ABAQUS e ANSYS, entre outros.
As vigas, como elementos estruturais de suma importância para a Análise Estrutural, podem ser
classificadas de acordo com o modo como as mesmas são apoiadas. Dentre os principais tipos de
apoio, destacam-se: viga simplesmente apoiada, que é aquela suportada por um apoio fixo em uma
extremidade e um apoio móvel na outra extremidade; viga em balanço, que é engastada em uma
extremidade e livre na outra e viga apoiada com extremidade em balanço, que é a viga na qual uma
ou ambas as extremidades ultrapassam livremente os apoios (HIBBELER, 2010). Neste trabalho
considerou-se, por questões relacionadas aos experimentos laboratoriais que poderiam ser realizados
no laboratório da universidade, apenas as vigas simplesmente apoiadas como modelo.
O modelo matemático que descreve a linha elástica para uma viga bi apoiada inclui, em sua
formulação, a contribuição do módulo de elasticidade ou módulo de Young. Por definição, o módulo
de elasticidade é a razão entre a tensão aplicada sobre um corpo e a deformação específica sobre o
corpo. Para os materiais idealizados por Robert Hooke, verifica-se uma proporcionalidade entre a
força aplicada e a deformação verificada. No entanto, o concreto não mantém esta proporcionalidade,
variando-se o módulo de elasticidade de acordo com a carga aplicada (PACHECO et. al, 2014). Em
geral, o módulo de elasticidade é obtido através de métodos experimentais, uma vez que diversos
fatores afetam o valor para o mesmo, tais como: o tempo de cura do concreto, a temperatura da cura,
proporções da mistura e propriedades dos agregados, destacando-se a proporção água/cimento,
tamanho e forma do corpo de prova, entre outros (DIÓGENES et. al, 2011).
Um dos maiores desafios para a construção civil, atualmente, é a sustentabilidade. A intensidade de
uso de recursos naturais, nessa perspectiva, deve ser feita selecionando-se os materiais mais
adequados para cada necessidade. A otimização do uso de materiais e recursos só é possível com a
redução da variabilidade, como é percebida hoje para o controle da resistência à compressão, onde
trabalha-se com valores característicos, baseados na teoria de probabilidades (DE MARCHI, 2011).
Apesar de considerar para o parâmetro de resistência à compressão a variabilidade intrínseca do
concreto, não se considera tal variabilidade para o módulo de elasticidade. Entretanto, valores
determinísticos para o módulo de elasticidade nem sempre são confirmados pelo controle tecnológico
realizado em campo, fato que pode acarretar situações problemáticas nas obras. Nesse sentido
destaca-se a importância do controle de qualidade, pois irá fornecer os dados para análise e decisão
sobre o atendimento às especificações de projeto, de forma a garantir a otimização no uso de materiais
e recursos, gerando menores custos financeiros e ambientais, proporcionando sustentabilidade aos
projetos (DE MARCHI, 2011).
Baseados na hipótese de não consideração do módulo de elasticidade para o concreto como um
parâmetro determinístico, obtido através de fórmulas matemáticas pré-determinadas pela ABNT
NBR 6118 (2014), estudou-se a influência desta hipótese na formulação matemática para o problema
da viga de Euler-Bernoulli bi apoiada.
A fim de estudar o comportamento da linha elástica desta viga, considerando-se contribuições, no
modelo, das diferentes formas com as quais o módulo de elasticidade pode ser obtido, propôs-se a
seguinte equação diferencial de quarta ordem para o problema de deflexão de uma viga de
comprimento L, submetida a uma carga pontual, bi apoiada em suas extremidades:
Encontrar 𝑢 ∈ C4 (0,L) tal que
𝑑2 𝑑2 𝑢
[𝐸𝐼 (𝑑𝑥 2 )] = 𝑓(𝑥),
𝑑𝑥 2
onde 𝑓 representa o carregamento desta viga e 𝑢 representa a função que define a linha elástica para
a viga.
Observa-se que, caso os parâmetros de rigidez 𝐸𝐼 fossem considerados constantes, a equação
diferencial de quarta ordem seria resolvida analiticamente através de integrações sucessivas. No
entanto pretende-se, a partir da formulação acima, avaliar as soluções obtidas através de um método
de elementos finitos para (1).
A partir do estudo realizado por Hidalgo (2014) para uma viga de Euler- Bernoulli, apoiada em
fundação de Pasternak com o método de Galerkin estocástico, desenvolveu-se o método de Galerkin
estocástico aplicado ao problema de flexão de uma viga, considerando-se que os parâmetros de
rigidez não fossem constantes. Incluiu-se, na formulação parametrizada para o módulo de
elasticidade do concreto, valores experimentais obtidos através de experimentos laboratoriais no
Laboratório de Construção Civil da Universidade Católica de Petrópolis. A partir das simulações
realizadas, comparou-se os resultados clássicos da literatura, apresentados por Hibbeler (2010), com
os resultados das simulações numéricas, discutindo-se as diferenças e semelhanças entre eles.
Por fim, este trabalho está dividido da seguinte forma: na Seção 2 discute-se os objetivos do projeto.
Na Seção 3 descreve-se o método numérico aplicado ao problema (1) e apresenta-se a formulação
discreta para o problema ( 1 ). A Seção 4 apresenta os resultados numéricos obtidos a partir da
formulação discreta para o problema de flexão da viga proposta na Seção 3. Todos os experimentos
computacionais foram realizados em MATLAB. A Seção 5 discute as hipóteses para o problema, os
resultados computacionais, tanto positivos quanto negativos. A Seção 6, enfim, apresenta as
conclusões obtidas a partir dos resultados até o presente e aponta perspectivas futuras na mesma linha
de pesquisa para o problema em questão.
2.OBJETIVOS
O presente trabalho objetivou, a partir da hipótese de que o módulo de elasticidade do concreto não
se comporta de forma determinística em função do mesmo não ser um material homogêneo regido
pela Lei de Hooke, avaliar a contribuição do módulo de elasticidade, quando considerado
probabilístico, no estudo da linha elástica e do momento fletor de uma viga de Euler-Bernoulli bi
apoiada. Nesse sentido, foi realizada a dedução de um modelo computacional, baseado em elementos
finitos estocásticos para, a partir de simulações computacionais, se verificar que a inserção de
elementos probabilísticos à simulação computacional pode aproximar a solução, de forma
satisfatória, dos resultados reais, obtidos em obras. Conforme citado anteriormente, o estudo de
variabilidade, quando considerado adequadamente, pode contribuir, de forma significativa, na
otimização de usos de recursos naturais e materiais, conduzindo a projetos sustentáveis.
3. MÉTODOS
A hipótese H1 garante que, para qualquer evento elementar 𝜔 ∈ Ω, os parâmetros de rigidez são
estritamente positivos e limitados em probabilidade (BABUSKA e CHATZIPANTELIDIS, 2002).
Já a hipótese H2 garante que o carregamento externo f seja um processo estocástico com variância
finita.
𝑑2 𝑢 𝑑2𝑢
𝑄 = {𝑢(∙, 𝜔) ∈ 𝐻 2 (0, 𝐿)|𝑢(0, 𝜔) = 𝑢(𝐿, 𝜔) = 0 𝑒 | = | = 0}.
𝑑𝑥 2 (0,𝜔) 𝑑𝑥 2 (𝐿,𝜔)
Por outro lado, considere, para uma posição fixa 𝑥 ∈ (0, 𝐿) no domínio espacial,
Portanto o espaço de soluções teórico é dado pelo produto tensorial 𝐿2 (Ω, 𝐹, 𝑃) ⊗ 𝑄, o qual denota-
se por 𝑉. A partir da definição para o espaço de soluções 𝑉, define-se o produto tensorial entre 𝑔 ∈
𝐿2 (Ω, 𝐹, 𝑃) e 𝑤 ∈ 𝑄 como
𝑢 ≔ 𝑤 ∙ 𝑔,
ou seja, para a solução 𝑢, é possível separá-la em duas partes: uma dependente apenas da posição
espacial e outra dependente apenas do evento elementar. A partir desta definição, decorre uma
definição para o operador derivada diferente da definição usual.
𝑑𝛼 𝑤
𝐷𝛼 𝑢: ( 2 ) (𝑥) ∙ 𝑔(𝜔),
𝑑𝑥
no qual 𝛼 ∈ ℕ e 𝛼 ≤ 2.
Considerando o operador derivada definido acima, o produto interno no espaço 𝑉é
𝐿
(𝑢, 𝑣)𝑉 = ∫ ∫ (𝑢 ∙ 𝑣 + 𝐷𝑢 ∙ 𝐷𝑣 + 𝐷2 𝑢 ∙ 𝐷2 𝑣)(𝑥, 𝜔)𝑑𝑥𝑑𝑃(𝜔).
Ω 0
A fim de obter a formulação variacional para o problema ( 2 ), considera-se uma função teste 𝑣 ∈ 𝑉.
Multiplicando-se ambos os lados de ( 2 ) por 𝑣, integrando em [0, 𝐿] × Ω e aplicando integração por
partes, obtém-se a seguinte formulação variacional
𝐿
e (𝑓, 𝑣) = ∫Ω ∫0 (𝑓 ∙ 𝑣) 𝑑𝑥 𝑑𝑃(𝑤).
Uma vez que a hipótese H1 ocorre, é possível mostrar que a forma bilinear 𝑎 é contínua, simétrica e
coerciva, satisfazendo as hipóteses do Lema de Lax-Milgram para problemas elípticos estocásticos.
Sendo assim, a solução variacional para o problema ( 3 ) existe e é única. Além disso, esta solução é
equivalente à solução para o problema forte ( 2 ).
O primeiro passo para se obter uma solução, por método de elementos finitos, para um problema é
obter a formulação variacional para o problema forte e verificar a existência e a unicidade da
formulação. Como o Lema de Lax-Milgram garante a existência e unicidade de solução para o
problema ( 3 ), é necessário introduzir uma formulação para as incertezas nos parâmetros de rigidez.
No entanto, as informações para as incertezas dos parâmetros de rigidez são incompletas. Nesse
sentido assume-se, por hipótese, que o comportamento aleatório destes parâmetros pode ser
representado em um espaço de dimensão finita.
De acordo com Hidalgo (2014), a incerteza sobre um dado parâmetro do problema ( 2 ), denominado
genericamente por 𝜗: (0, 𝐿) × Ω → ℝ+ , será representada em termos de um conjunto finito de
variáveis aleatórias
A partir desta escolha, a incerteza nos parâmetros de rigidez da viga será modelada através de
processos estocásticos parametrizados (HIDALGO, 2014). Tais processos são expressos como
combinações lineares de funções determinísticas e variáveis aleatórias
𝜗(𝑥, 𝜔) = 𝜇𝜗 (𝑥) + ∑𝑁
𝑖=1 𝜑𝑖 (𝑥)𝜉𝑖 (𝜔), (5)
no qual 𝜇𝜗 (𝑥) é o valor esperado do processo estocástico 𝜗(∙,∙). As funções 𝜑𝑖 ∈ 𝐶0 (0, 𝐿) ∩ 𝐶 2 (0, 𝐿)
para todo 𝑖 ∈ {1, … , 𝑁} e 𝝃(𝜔) = {𝜉𝑖 (𝜔)}𝑁𝑖=1 é um vetor de variáveis aleatórias independentes. A
partir do lema de Doob-Dynkin, apresentado por Rao e Swift (2010) apud Hidalgo (2014), o processo
estocástico de deflexão da viga será função das variáveis aleatórias 𝝃(𝜔) = {𝜉𝑖 (𝜔)}𝑁 𝑖=1 , que
descrevem os parâmetros de entrada
3.3 O esquema de Askey – Wiener para obtenção dos polinômios para o espaço 𝑳𝟐 (Ω, 𝑭, 𝑷)
A fim de obter uma aproximação para o problema variacional ( 3 ), é necessária uma discretização,
de dimensão finita, para o espaço 𝐿2 (Ω, 𝐹, 𝑃). Os polinômios do esquema de Askey-Wiener formam
uma base para o subespaço denso no espaço das variáveis aleatórias com variância finita 𝐿2 (Ω, 𝐹, 𝑃)
(HIDALGO, 2014). O esquema de Askey-Wiener representa uma família de subespaços gerados por
polinômios ortogonais, que são soluções de equações diferenciais ordinárias. Os polinômios de
Hermite e Legendre são representantes deste tipo de polinômios.
Conforme descrito anteriormente, o método dos elementos finitos estocástico (MEFE) é uma
importante ferramenta para abordagem de problemas em mecânica os quais consideram incertezas
em suas formulações. Reddy (2006) apud Hidalgo (2014) procede à ortogonalização do resíduo sobre
o espaço 𝑉, de modo análogo ao método de Galerkin tradicional. Desta forma, o espaço de soluções
aproximadas é formado pelas funções teste 𝑁𝑗 (𝑥, 𝝃(𝜔)) que, ao ser utilizado na formulação
variacional ( 3 ) obtém-se a forma discretizada do mesmo
Encontrar {𝑢𝑖 }𝑀 𝑀
𝑖=1 ∈ ℝ tal que
∑𝑀
𝑖=1 𝑎(𝑁𝑖 , 𝑁𝑗 )𝑢𝑖 = 𝑓(𝑁𝑗 ), ∀𝑁𝑗 ∈ 𝑉𝑀 , (7)
no qual
𝑥
𝑎(𝑁𝑖 , 𝑁𝑗)= ∫Ω ∫𝑥 𝑒+1 𝐸𝐼𝐷2 𝑁𝑖 𝐷2 𝑁𝑗 (𝑥, 𝜔) 𝑑𝑥 𝑑𝑃(𝜔) (8)
𝑒
e
𝑥𝑒+1
𝑓(𝑁𝑗 ) = ∫ ∫ 𝑓𝑁𝑗 (𝑥, 𝜔)𝑑𝑥 𝑑𝑃(𝜔).
Ω 𝑥𝑒
A solução aproximada, pelo MEFE, no subespaço de dimensão finita 𝑉𝑀 através de ( 7 ), é dada por
𝑢𝑀 (𝑥, 𝜔) = ∑𝑀
𝑖=1 𝑢𝑖 𝑁𝑖 (𝑥, 𝝃(𝜔)), (9)
sendo 𝑁𝑖 (𝑥, 𝝃(𝜔)) = 𝜙𝑗 (𝑥)𝜓𝑘 (𝝃(𝜔)), onde 𝜙𝑗 para 𝑗 = {1,2,3,4} são os polinômios de Hermite na
variável posição 𝑥 e 𝜓𝑘 para 𝑘 = {1,2,3,4,5} são os polinômios de Legendre para o evento elementar
𝜔. O módulo de elasticidade foi modelado através de um processo estocástico parametrizado
𝑥 𝑥
𝐸(𝑥, 𝝃(𝜔)) = 𝜇𝐸 + √3𝜎𝐸 ∑𝑁 𝑛=1 [𝜉2𝑛−1 (𝜔)𝑐𝑜𝑠 (𝑛𝐿 ) + 𝜉2𝑛 (𝜔)𝑠𝑒𝑛 (𝑛𝐿 )] ( 10 )
o qual é descrito por quatro variáveis uniformes e independentes (HIDALGO, 2014). 𝜇𝐸 é a média
aritmética para o módulo de elasticidade e 𝜎𝐸 é o desvio padrão para o módulo de elasticidade. A
obtenção da base de aproximação por polinômios foi realizada através do esquema de Askey-Wiener
e, de acordo com essa teoria, para variáveis aleatórias uniformes, os polinômios utilizados são os
polinômios de Legendre. A utilização dos polinômios de Hermite ocorre em função da forma bilinear
𝑎 dada por ( 3 ). Esses polinômios também são utilizados no método de Galerkin tradicional.
4. RESULTADOS
Esta seção relaciona os resultados obtidos para o problema ( 1 ) quando aproximado pelo Método de
Elementos Finitos Estocásticos (MEFE). Para os experimentos numéricos foi utilizado o software
MATLAB, uma vez que os softwares comerciais não modelam a situação descrita, do ponto de vista
numérico, pela Seção 3. Em todas as simulações foi proposta uma viga bi apoiada, de comprimento
𝐿
𝐿 = 20 m. A carga considerada foi pontual, colocada no centro da viga, isto é, em 2 = 10 m,
correspondente a 1000 N. O vetor randômico 𝝃(𝜔) foi gerado através da função rand do MATLAB.
O vetor randômico para o módulo de elasticidade (10) possui 1000 componentes. Os polinômios de
Legendre considerados foram 𝜓1 = 1, 𝜓2 = 𝜉2 , 𝜓3 = 𝜉3 , 𝜓4 = 𝜉4 e 𝜓5 = 𝜉5 , para os experimentos
e novamente o vetor randômico foi gerado através da função rand. Comparou-se os resultados
numéricos obtidos com a solução exata quando se considera o módulo de elasticidade constante e a
solução ocorre a partir de integrações sucessivas. (HIBBELER, 2010). Para os valores da média e do
desvio padrão necessários em ( 10 ), realizou-se ensaios laboratoriais no Laboratório de Engenharia
Civil da Universidade Católica de Petrópolis com concreto de fck de 40 MPa, uma vez que Hidalgo
(2014) realizou as simulações computacionais tomando como base vigas de aço, cujo comportamento
do módulo de elasticidade não se assemelha ao concreto. A variabilidade do módulo de elasticidade
para o aço é bem inferior quando comparada à variabilidade do concreto. Tais ensaios seguiram o
padrão estabelecido pela norma ABNT NBR 8522 (2008), de forma tangencial. Os valores
referenciais obtidos a partir dos ensaios estão na Tabela 1.
Fig. 2 – Comparação entre o momento fletor aproximado por MEFE e o momento fletor exato.
A Figura 3 apresenta a linha elástica através da simulação por MEFE para os mesmos dados e a Figura
4 apresenta o momento fletor aproximado para a linha elástica da Figura 3. Observa-se que as figuras
são diferentes quando comparadas com os resultados nas Figuras 1 e 2.
Fig. 3 – Comparação para a linha elástica obtida por MEFE e a solução exata.
Fig. 4 – Momento fletor por MEFE correspondente à linha elástica da simulação na Figura 3.
A Seção 4 apresenta duas simulações, para o mesmo código computacional em MATLAB, usando-
se o mesmo processador, para o problema ( 1 ) através do Método de Elementos Finitos Estocásticos
(MEFE) descrito na Seção 3. Observa-se que os resultados são substancialmente distintos. Para cada
experimento, a diferença se dá, unicamente, na função rand do MATLAB que, a cada processamento
do código gera valores diferentes. Outra questão que se pode levantar relaciona-se com a
aproximação para a linha elástica não acompanhar, uniformemente, a aproximação para o momento
fletor. Ou seja, quando os dados aproximam a linha elástica satisfatoriamente, o mesmo não ocorre
para o momento fletor. A partir dos resultados apresentados, é imprescindível o cálculo dos
momentos estatísticos, tanto para a linha elástica como para o momento fletor. Os momentos
estatísticos envolvem o cálculo da esperança matemática e da variância. Acredita-se que, ao utilizar
valores “em média” nos nós dos elementos para compor a solução aproximada que descreve a linha
elástica e o momento fletor, as soluções geradas serão menos discrepantes quando comparadas aos
resultados expostos na Seção 4.
Outra discussão cabível relaciona-se aos resultados para a flexão de uma viga quando ensaiada em
laboratório. Uma vez que o objetivo do projeto é avaliar o impacto das contribuições probabilísticas
para o módulo de elasticidade em Análise Estrutural, é necessária a comparação em testes
laboratoriais para um concreto de 40 MPa, a fim de verificar a coesão entre os resultados
computacionais e experimentais.
6. CONCLUSÃO
A partir das hipóteses aventadas para o problema de deflexão da viga, foram realizados experimentos
computacionais em MATLAB, nos quais se considerou o módulo de elasticidade como um processo
estatístico e, em virtude da parametrização escolhida para o módulo de elasticidade, foram utilizados
valores médio e desvio padrão para o módulo de elasticidade a partir de experimentos laboratoriais
realizados na própria universidade com concreto.
Como perspectivas futuras para este trabalho, destaca-se a necessidade de cálculo dos momentos
estatísticos para os resultados computacionais que gerarão a linha elástica e o momento fletor. Além
disso, serão confrontados ensaios laboratoriais com mini vigas em concreto quando submetidas a uma
carga pontual central, conforme as hipóteses das simulações computacionais, a fim de verificar se as
simulações numéricas se aproximam dos resultados experimentais obtidos para o problema proposto.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Universidade Católica de Petrópolis pela bolsa PIBIC ao estudante João Vitor Curioni
de Miranda. Ao estudante Leonardo de Souza Corrêa pela obtenção dos dados experimentais,
juntamente com o laboratorista Alex Justen Teixeira e o professor Vinícius Costa Furtado Rosa.
REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto –
Procedimento – NBR 6118. Rio de Janeiro, 2014.
[2] HIDALGO, F.L.C. Quantificação da incerteza do problema de flexão estocástica de uma viga de Euler-
Bernoulli, apoiada em fundação de Pasternak, utilizando o método estocástico de Galerkin e o método de
elementos finitos estocástico. Dissertação (Mestrado). Curitiba: Universidade Tecnológica Federal do Paraná. 2014,
83 p.
[3] LÉVY, P. Cibercultura, Editora 34, São Paulo, 1999.
[4] HIBELLER, R.C., Resistência dos materiais. Editora Pearson, São Paulo, 2010.
[5] PACHECO, J.; BILESKY, P.; MORAES, T.R.; GRANDO, F.; HELENE, P., Considerações sobre o módulo de
elasticidade do concreto, Anais do 560 Congresso Brasileiro do Concreto, Natal: Rio Grande do Norte, 2014.
[6] DIÓGENES, H. J. F.; COSSOLINO, L. C.; PEREIRA, A. H. A.; EL DEBS M.K.; EL DEBS, A. L. H. C.,
Determinação do módulo de elasticidade do concreto a partir da resposta acústica, Revista Ibracon de Estruturas e
Materiais, v. 4, n. 5, p. 803-813, 2011.
[7] DE MARCHI, R. D. Estudo sobre a variabilidade do modulo de deformação do concreto associada a fatores
intrínsecos à produção do material. Dissertação (Mestrado). São Paulo: Universidade de São Paulo, 2011. 121 p.
[8] BABUSKA, I.; TEMPONE, R.; ZOURARIS, G.E.. Galerkin finite element approximations of stochastic elliptic
partial differential equations. Society for Industrial and Applied Mathematics, v.42, n.2, p. 800-825, 2004.
[9] BABUSKA, I.; CHATZIPANTELIDIS, P.. On solving elliptic stochastic partial differential equations. Computer
Methods in Applied Mechanics and Engineering, v. 191, n. 37-38, p.4093-4122, 2002.
[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 8522: Determinação do módulo estático de
elasticidade à compressão - NBR 8522. Rio de Janeiro, 2008.
[11] FISH, J.; BELYTSCHKO, T.. Um Primeiro Curso em Elementos Finitos. Livros Técnicos e Científicos Editora
S.A., Rio de Janeiro, 2009.
DIRETRIZES PARA GARANTIA DA SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO
APLICADAS EM GALERIAS
Abstract: Fire safety is a series of measures taken to reduce the consequences caused by fire,
including ignition prevention, effects and development. Fire prevention policies are applied during
the construction of buildings and even after their completion, and it is essential to comply with the
standards. In the central area of the city of Juiz de Fora, in Minas Gerais, the presence of several
galleries stands out, being only commercial, or commercial and residential, and due to the age of
some of the constructions it is verified its presence in heritage listed buildings regions, as well as
several restrictions on fire prevention, its risks and compliance with legislation. In this way, this
document is an analysis of the survey of the twenty-seven galleries located in the “heart” of the
commercial center of the city, focusing on commercials and residential buildings up to five storeys,
in order to study if all the buildings are of accordance with the standard and propose complementary
protective measures to ensure the safety of users for the accident. And, finally, to present a proposal
of change based on the current normalization to facilitate the issuance of the Inspection Order of the
Fire Department.
3. METODOLOGIA
5 litros 2
Espuma
10 litros 1
Água Pressurizada ou 1
10 litros
Água Gás 2
1 quilo 4
2 quilos 3
Gás Carbônico (CO2)
4 quilos 2
6 quilos 1
1 quilos 3
Pó Químico Seco 2 quilos 2
4 quilos 1
a.3) Instalação em locais de fácil visualização, acesso e onde haja de preferência, menos
probabilidade de o fogo bloquear acesso;
a.4) Os extintores não deverão ter sua parte superior a mais de 1,60 metros acima do piso.
Os baldes não deverão ter seus rebordos a menos de 0,60 metros nem a mais de 1,50
metros acima do poso
b) Sinalizadores e iluminação de emergência: o objetivo é instruir as pessoas para diminuir o
tempo de evacuação para entrada do Corpo de Bombeiros e por isso, devem ser instalados
de forma inteligente, seguindo as rotas de fuga projetadas para cada edifício.
c) Hidrantes internos: para edifícios com mais de 750 m² de área construída, é necessário
realizar a instalação de hidrantes internos em cada pavimento.
d) Sprinklers: que auxiliariam muito no combate contra incêndios, e é de extrema importância
para a prevenção no alastramento da chama até a chegada do Corpo de bombeiros, que pode
ser demorada e com isso o fogo pode ser temporariamente contido. Por isto, sua instalação
deve ser realizada seguindo um projeto de incêndios.
Além de todas as medidas ativas para prevenção, outra medida importante é diminuir a quantidade
de brigada destreinada no local. Apenas 4% das galerias possuem um responsável capacitado para
agir em ambiente com incêndio, e por isto, a intuito é aumentar esta estatística incentivando os
proprietários a pagar por um curso de treinamento próprio junto ao Corpo de Bombeiros,
principalmente para que este responsável pela segurança tenha capacidade de agir e reagir em
situações adversas, auxiliando nas evacuações e até mesmo no combate contra incêndio com
extintores, auxiliando a chegada dos bombeiros antes que a chama aumente de intensidade.
Para os trabalhadores ou residentes, uma forma prática e fácil é a utilização de cartilhas de
orientação como no exemplo da Figura 7. As cartilhas de prevenção são importantes para locais
com cozinhas, central GLP, fábricas, bares e restaurantes, estas devem conter formas de evitar que o
fogo se alastre, como uso de material devido, manutenção de equipamentos em dia, limpeza,
cuidados com equipamentos elétricos, entre outros.
Fig. 7 – Cartilha de prevenção a ser fixada em todos os estabelecimentos, escritórios e residências
Já para cartilhas em caso de incêndio, exemplo na Figura 8, esta deve conter um passo a passo de
como proceder nestas situações, mostrando inicialmente o motivo e significado da sinalização e
iluminação de emergência, localização das escadas de emergência e rotas de fuga do local,
informação sobre circulação e como se comportar, além também de como manusear o extintor e até
mesmo contato com os Bombeiros.
Fig. 8 – Cartilha de fuga e combate a ser fixada em bares, restaurantes e fábricas. Adaptado de CORPO DE
BOMBEIROS, 2011
5. CONCLUSÃO
Finalmente, a inclusão de medidas de proteção e combate ao incêndio e, principalmente, de meios
que permitam o rápido abandono dos ambientes em chamas deve ser conscientemente analisada
pelo projetista, em conjunto com o proprietário, levando em conta as condições específicas da obra,
tais como porte da edificação, número de usuários e tipo de utilização, além das exigências do poder
público, das recomendações das normas técnicas para o projeto e da especificação de equipamentos
(SILVA, 2012). Ademais, todas estas medidas devem ser realizadas com auxílio do Corpo de
Bombeiros, auxiliando na execução do projeto e também na facilitação na obtenção do AVCB
(Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros).
REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14432: Exigências de resistência ao fogo
elementos construtivos de edificações - procedimento. Rio de Janeiro: [s.n.].
[2] BERTOLINI, L. Materiais de Construção. [s.l.] Oficina de Textos, 2009.
[3] BOMBEIRO MILITAR MG. IT 08: Saídas de Emergência em Edificações. 2a ed. [s.l: s.n.].
[4] BUCHANAN, A. H. Structural Design for Fire Safety. [s.l.] Wiley, 2015.
[5] CARVALHO, G. O. M. As Galerias de Juiz de Fora: Urbanismo da Área Central. [s.l.] PUC-Campinas,
2006.
[6] CLARETO, S. M.; TERRA, M. F. Nos labirintos das galerias: um estudo de espacialidades urbanas em
galerias da região central de Juiz de Fora (MG). [s.l.] UFJF, 2006.
[7] COLCHETE FILHO, A.; BRAIDA, F.; CARDOSO, C. F. Cidade e comércio: relações em Juiz de Fora, Minas
Gerais. Oculum Ensaios, v. 11, n. 1, p. 155–165, 2014.
[8] CORPO DE BOMBEIROS. Cartilha de Orientações Básicas: Noções de Prevenção contra Incêndios. 5.
ed. São Paulo: [s.n.].
[9] HARPER, C. A. Handbook of Building Materials for Fire Protection. 1. ed. [s.l.] McGraw-Hill, 2004.
[10] HELENE, P. Materiais de Construção. Patologia, Reabilitação e Prevenção. 1. ed. [s.l.] Oficina de Textos,
2013.
[11] IBGE. Dados IBGE Município de Juiz de Fora. Disponível em: <cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/juiz-de-
fora/panorama>.
[12] NORMA REGULAMENTADORA. NR 23: Proteção contra incêndios. [s.l: s.n.].
[13] PJF. Bens Imóveis Tombados. Disponível em:
<https://www.pjf.mg.gov.br/administracao_indireta/funalfa/patrimonio/arquivos/imoveis_tombados_300317.p
df>.
[14] SILVA, V. P. Projeto de Estruturas de Concreto em Situação de Incêndio Conforme ABNT NBR
15200:2012. [s.l.] Blucher, 2012.
[15] XIN, J.; HUANG, C. Fire risk analysis of residential buildings based on scenario clusters and its application in
fire risk management. Fire Safety Journal, v. 62, p. 72–78, 1 nov. 2013.
OTIMIZAÇÃO DE SEÇÕES TRANSVERSAIS DE PILARES EM
CONCRETO ARMADO VIA ALGORITMOS GENÉTICOS
Resumo: O dimensionamento atual de uma estrutura de concreto armado é resultado de uma série de
iterações realizadas pelo projetista, que predefine dimensões para cada elemento estrutural (pilar,
viga, laje, etc.), e posteriormente realiza os cálculos necessários até encontrar uma melhor solução.
Este processo é dependente principalmente dos valores inicialmente atribuídos e, assim, é função
direta do conhecimento e experiência do profissional. Dessa maneira, como está sujeito a
interpretações subjetivas, os resultados obtidos podem não se caracterizar como os melhores em
questão de custo, utilização e aproveitamento dos materiais. Por isto, se mostra necessária a
otimização do dimensionamento estrutural, com o objetivo de se encontrar o menor custo de uma
estrutura; em especial, visto as grandes ordens de grandeza que ocorrem, para as cargas atuantes em
pilares de concreto armado que influenciam a ocorrência de seções transversais com dimensões
robustas e nada otimizadas. Com isto, o presente trabalho possui o objetivo de usar um algoritmo
genético, que consiga obter a solução ótima na forma de seção transversal de um pilar com a
minimização do seu custo de construção. Será de caráter importante a definição das dimensões como
base e altura, assim como as armaduras do elemento estrutural em questão, resultando por fim no
consumo necessário de concreto, aço e madeira. O problema de otimização deverá seguir as
prescrições existentes em normas, principalmente as da ABNT NBR 6118:2014 [1], atendendo aos
estados limites último e de serviço, como também a valores mínimos referentes às suas dimensões.
A partir destas restrições, o algoritmo genético define os valores ótimos para as variáveis do projeto
(dimensões, armaduras, linha neutra, etc.), de modo que a função objetivo represente o menor custo
possível do conjunto e, de fato, seja uma solução global. Por fim, para se demonstrar o potencial do
método computacional, o resultado final obtido será comparado com outro resultante de um método
distinto; e, então, poderá ser observado se a aplicação do algoritmo é viável. Espera-se que os
resultados obtidos neste trabalho possam ser replicados e utilizados por projetistas envolvidos neste
tema.
Abstract: The sizing of reinforced concrete structure is the result of a large number of iterations made
by the designer, who defines the dimensions for the structure elements (columns, beams, slabs, etc.)
and then fulfill all necessary verifications to achieve a better solution. This process is mainly
dependent of the initial values and, thus, is related with the professional’s knowledge and experience.
In this case, the results are influence by subjective interpretations and the sizing could not be the best
in terms of cost and performance. Therefore, it is necessary to optimize structure designs with the
purpose to acquire the lowest cost for them; in particular, for reinforced concrete columns which have
robust and not optimized dimensions. This work has the objective of using a genetic algorithm that
acquire the optimal solution of a cross-sectional area of reinforced concrete column with the
minimization of its cost. It will be important to define dimensions as base and height, likewise the
steel reinforcement, in order to obtain the necessary consumption of concrete, steel and wood. The
optimization problem should satisfy not only the requirements presents in NBR 6118:2014 [1] in its
methods of sizing but also the minimum values relatives to the cross-sectional area. Through these
constraints, the genetic algorithm defines the optimal values for project variables (dimensions, steel
reinforcements, neutral line, etc.); in order to the objective function refer to the lowest possible cost.
Finally, to demonstrate the potential of the computational method, its result will be compared with a
distinction one and then it can be analyzed if the application of the algorithm is feasible. It is hoped
that results acquired in this work could be replicated and used for designers with interest for the
problem.
1. INTRODUÇÃO
O método tradicional de dimensionamento estrutural adotado atualmente, é um processo dependente
dos conhecimentos e experiências anteriores do projetista. Esta forma de cálculo é realizada pela
predefinição das dimensões do elemento, seguido pelo dimensionamento nos estados limites último
e de serviço, assim como pelas verificações de acordo com as respectivas normas vigentes. O projeto
estrutural possui, então, um caráter subjetivo, propiciando a adoção de parâmetros que,
eventualmente, podem não ser os melhores para determinada situação.
Com o término do projeto técnico e a transição para a execução da construção, pode-se obter um
produto final (entende-se a construção como um todo ou o elemento isolado) com custo elevado e/ou
maior do que outra solução mais viável, visto uma má utilização dos materiais em função de seus
quantitativos e aproveitamento de suas capacidades. Estruturas como vigas e pilares podem, assim,
possuir dimensões exageradas e não compatíveis com um rendimento ótimo, resultado da alta carga
que devem suportar. Desta maneira, um dimensionamento com estas características gera perdas
econômicas, maior índice de desperdício no canteiro de obras, além de impactar ainda mais o meio
ambiente.
É nesta perspectiva que pode-se utilizar métodos de otimização que buscam configurações ótimas
para os dados existentes em determinado projeto e baseiam-se em análises matemáticas e/ou
computacionais capazes de minimizar os custos de construção e melhorar o desempenho. Estes
métodos possuem aplicações já consolidadas na engenharia estrutural assim como o representado nos
trabalhos desenvolvidos por Chaves [2], Bordignon e Kripka [3], Picinini [4] e Sias e Alves [5].
A aplicação de um processo de otimização pode ser feita a problemas dos mais simples aos mais
complexos, com formulações e raciocínios distintos, mas que em sua generalidade tendem a um único
objetivo: encontrar a melhor solução. As abordagens podem se caracterizar como determinísticas,
pela aplicação de cálculos matemáticos mais elaborados, como também por probabilísticas, que
utilizam métodos estocásticos e muito se baseiam em fenômenos da natureza, como os algoritmos
genéticos, colônias de formigas e colônias de abelhas [6] [7].
Os algoritmos genéticos (AG) se mostram como ferramenta muito utilizada nos estudos e aplicações
aos processos de otimização, apresentando referências e embasamento teórico nos conceitos da
seleção natural [8]. Sua utilização é abrangente, já sendo desenvolvidos códigos nas mais variadas
linguagens de programação.
Portanto, a utilização de um método de otimização como o AG e a sua aplicação ao dimensionamento
estrutural pode se mostrar como forma de aprimorar as imperfeições dos cálculos tradicionais. Este
processo deve ser analisado e estudado com o futuro potencial de implementação de modo definitivo
nos cálculos de projeto técnicos.
O artigo é organizado da seguinte forma: na Seção 2 são apresentados os objetivos deste trabalho. Na
Seção 3 a Metodologia usada. Na Seção 4 e 5 são apresentados e analisados os Resultados. E,
finalmente, na Seção 6 estão as Conclusões e trabalhos futuros.
2. OBJETIVOS
O presente trabalho possui por objetivo apresentar a otimização da seção transversal de um pilar de
concreto armado com a utilização de um algoritmo genético. O método probabilístico em questão
deverá obter a melhor solução do problema com a minimização dos custos de construção do elemento
estrutural.
A aplicação do AG, também é tema de estudo, uma vez que será utilizado o código do Professor
Kalyanmoy Deb [9] com associação à modelagem proposta para o problema.
3. METODOLOGIA
3.1. Otimização
A otimização estrutural possui grande potencial de ser aplicada às situações encontradas no campo
da engenharia. Ela pode ser utilizada principalmente em situações em que se deseja otimizar
dimensões como comprimentos e diâmetros (sizing optimization), na busca por uma melhor forma da
estrutura (shape optimization) e na topologia destas (topology optimization). É a procura pela
maximização e/ou minimização das características do elemento, de forma que, por exemplo, este
sustente as cargas incidentes e possua menor peso e/ou menores deformações, tornando-se mais
eficiente [10].
De forma genérica, o problema de otimização possui três principais elementos que podem ser
observados e que se relacionam intrinsicamente e de forma dependente na modelagem do mesmo.
Estes são a função objetivo, as variáveis de projeto e as restrições.
As variáveis de projeto são os parâmetros utilizados que representam as características reais do
problema, que variam ao decorrer da sua resolução e que devem possuir valores que indiquem a
melhor solução. O conjunto das variáveis de um problema se caracterizam como uma configuração
ou solução e devem ser analisados conforme sua validade de aplicação [11].
A função objetivo representa o ponto central do problema e deverá sempre ser minimizada ou
maximizada, sendo dependente das variáveis de projeto. Portanto, retorna o valor referente a uma
solução, que será de fato a melhor, caso o resultado da função seja o mínimo (ou o máximo) possível
em comparação com os demais valores [11].
Por último, as restrições são os limites impostos aos problemas de otimização e às suas soluções,
representando um caminho ou condições que não podem ser assumidas na interpretação do problema.
São dependentes das variáveis de projeto e delimitam os valores que estas podem assumir,
restringindo, assim, a busca pela melhor solução. Elas devem ser atendidas no decorrer do problema
de otimização, resultando em uma solução viável, ou seja, que possui suas variáveis com valores
aceitáveis e respeitando as restrições. Podem se apresentar de duas maneiras, como relações de
desigualdades ou de igualdade, sendo denominadas de ativas quando se encontram com valores
exatos (com resultados respeitando a igualdade) [11].
Desse modo, um problema de otimização pode ser enunciado de forma genérica por Arora [11]:
𝑚𝑖𝑛𝑖𝑚𝑖𝑧𝑒 (𝑜𝑢 𝑚𝑎𝑥𝑖𝑚𝑖𝑧𝑒) 𝑓(𝑥) (1)
𝑠𝑢𝑏𝑚𝑒𝑡𝑖𝑑𝑜 𝑎 𝑔𝑖 (𝑥) ≤ 0 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑖 = 1, … , 𝑚 (2)
ℎ𝑖 (𝑥) = 0 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑖 = 1, … , 𝑙 (3)
𝑥 ∈ 𝑋 ⊂ ℝ𝑛 (4)
𝑋 = {𝑥 ∈ ℝ𝑛 ∶ 𝑥𝑖𝐿 ≤ 𝑥𝑖 ≤ 𝑥𝑖𝑈 , 𝑖 = 1, 2, … , 𝑛} (5)
Onde:
(1) – Representa a função objetivo;
(2) – São as restrições de desigualdade;
(3) – São as restrições de igualdade;
(4) – Representa as variáveis de projeto e seus limites.
(5) – Representa o espaço de busca de cada variável.
3.2. Algoritmo Genético
Na década de 70 foram iniciados estudos por Holland [12] sobre métodos de buscas computacionais
baseados na seleção natural de Darwin [8], implementando conceitos originados nas áreas biológicas
sobre adaptação, genética e população.
Os algoritmos criados, interpretam o conjunto de soluções como uma população de indivíduos que
possuem suas características transcritas em um cromossomo e a partir deste realizam avaliações e
escolhas dos que são mais aptos a gerar uma nova população e sobreviver. Destaca-se neste processo
a existência de uma função aptidão que guia a análise de cada indivíduo, além de operadores
genéticos, como os de recombinação (crossovers) e mutações, que permitem a troca das informações
presentes nos cromossomos, gerando indivíduos melhores e mais aptos [13].
A interpretação genética pelo AG é feita de modo que as características particulares de cada
cromossomo são na verdade identificadas como variáveis. Dessa maneira, os operadores genéticos
atuam sobre estas informações como o descrito a seguir:
- Crossover: após a seleção dos indivíduos de uma população, são definidos, usualmente,
pares de cromossomos que terão seu material genético utilizados como base para a formação de um
novo par. Cada cromossomo tem suas informações divididas em duas ou mais partes e em mesmas
posições, possibilitando a permutação entre cada intervalo [14].
- Mutação: ocorre com a mudança aleatória em uma ou mais informações do cromossomo de
um indivíduo [14]. Este tipo de operador não permite uma convergência prematura do algoritmo e
ocorre em taxas inferiores ao do crossover.
De forma genérica, os Algoritmos Genéticos geracionais podem ser representados da seguinte
maneira por meio de um pseudo-código [13]:
Algoritmo genético genérico
Inicialize a população
Avalie indivíduos na população
Repita
Selecione indivíduos para reprodução
Aplique operadores de recombinação e mutação
Avalie indivíduos na população
Selecione indivíduos para sobreviver
Até critério de parada satisfeito
Fim
A população é inicialmente gerada de forma pseudo-aleatória e representa a cada iteração uma
geração composta pelos indivíduos. Em seguida é realizada a avaliação baseada na aptidão, e caso
selecionados para reprodução, os indivíduos passam pelos operadores genéticos de crossover e/ou
mutação para a formação de uma nova população. Estes procedimentos são então repetidos
continuamente até que o critério de parada estabelecido seja atingido e o algoritmo termine sua
execução. Podem ser adotados para o término do AG um número máximo de gerações, um máximo
de avaliações realizadas ou o caso de estagnação da solução.
O AG utilizado como método de otimização [9] é estruturado na linguagem de programação C. Para
a sua execução são estabelecidos critérios para a modelagem do problema, como a necessidade de
que as restrições sejam escritas na forma de desigualdades maiores ou iguais a zero, da semente que
atua na definição das populações pseudo-aleatórias iniciais, além de outros parâmetros que são
escolhidos pelo usuário e influenciam no processo evolucionário. Ele será configurado para a
utilização de uma codificação real ou binária das variáveis e usa o crossover denominado de SBX e
uma mutação do tipo polinomial [15]. Para o tratamento das restrições foi adotado uma estratégia
proposta por Deb [16].
3.3. Pilares de Concreto Armado
Os pilares de concreto armado são elementos estruturais utilizados na construção em geral e possuem
seu alinhamento na vertical, com preponderância de cargas de compressão [1]. Em uma estrutura
usual, este recebe cargas de lajes e vigas e as transmite para as fundações, resultando em altas
grandezas decorrentes de peso próprio dos elementos e de cargas de uso da edificação [17]. São
caracterizados por possuir, em sua maioria, seção transversal retangular, porém também podendo
apresentá-la de forma circular ou vazada.
O dimensionamento de pilares deve seguir o recomendado pela ABNT na NBR 6118 – Projeto de
Estruturas de Concreto – Procedimento [1], ao abordar os cálculos de Estado Limite Último (ELU) e
as verificações de Estado Limite de Serviço (ELS). Os critérios de resistência dos materiais devem
ser atendidos para as solicitações existentes (forças solicitantes menores ou iguais às de resistência)
prevendo para a estrutura um arranjo de barras longitudinais e transversais mínimos. Caso esta
restrição não seja atendida e os esforços solicitantes existam em grau maior que os resistentes, ocorre
a ruptura da estrutura com a deformação do concreto e/ou aço atingindo seus valores limites [17].
Para a simplificação deste cálculo no dimensionamento de estruturas no ELU são adotadas hipóteses
básicas e simplificações pela NBR 6118 [1] e que também são citadas por Sias e Alves [5],
destacando-se as seguintes:
- A armadura passiva e o concreto ao possuírem aderência entre si, possuem deformações
iguais.
- As tensões de tração do concreto devem ser desprezadas no dimensionamento no ELU.
- As tensões existentes no concreto podem ser aproximadas por um diagrama em formato de
retângulo, com valor máximo de 0.85 fcd.
- Utilização de diagramas de tensão-deformação para a definição de tensão nas barras de aço
(Fig. 2).
- Distribuições de deformação na seção transversal apresentadas por meio de domínios de
deformações (Fig. 3).
Fig. 1 – Tensão - deformação para o concreto (Fonte: adaptado de NBR 6118 [1]).
Fig. 2 – Tensão - deformação para o aço (Fonte: adaptado de NBR 6118 [1]).
Fig. 3 – Distribuição dos domínios no ELU (Fonte: adaptado de NBR 6118 [1]).
Como visto nas figuras 1, 2 e 3, a tensão do concreto 𝜎𝐶 e do aço 𝜎𝑠 são dependentes da deformação
do elemento estrutural. Para o primeiro, a tensão varia até o ponto de início da deformação plástica
de encurtamento e partir deste mantêm-se constante com o valor máximo até o ponto de deformação
de encurtamento em que se têm ruptura do concreto. Para o segundo, a tensão também é função da
deformação até o ponto de escoamento do aço, a partir do qual seu valor é constante até a ruptura [1].
Para o concreto, os valores referentes à Fig. 1, são mostrados a seguir [1]:
𝑓𝑐𝑘
- 𝑓𝑐𝑑 = (6)
𝛾𝑓
- 𝑓𝑐𝑘 ≤ 50 𝑀𝑃𝑎:
𝜀𝑐2 = 2,0 ‰
𝜀𝑐𝑢 = 3,5 ‰
- 𝑓𝑐𝑘 > 50 𝑀𝑃𝑎:
𝜀𝑐2 = 2,0 ‰ + 0,085 ‰ . (𝑓𝑐𝑘 − 50 )0,53 (7)
𝜀𝑐𝑢 = 2,6 ‰ + 35 ‰ . [(90 − 𝑓𝑐𝑘 )⁄100]4 (8)
- 𝜎𝑠 = 𝐸𝑠 . 𝜀𝑠 (10)
Como a determinação dos esforços resistentes é função das deformações existentes nos componentes
da estrutura, torna-se necessário descobrir como é feita a distribuição destas na seção transversal. Por
meio da definição dos domínios obtêm-se as deformações no ELU com correlações com a posição da
Linha Neutra na seção transversal e da altura útil (distância do centro de gravidade da armadura
longitudinal à seção mais comprimida de concreto) [17].
Os domínios se dividem em 6 grupos e caracterizam duas maneiras de rupturas. Os domínios 1,2 e 3
possuem sua ruptura de modo dúctil com o escoamento da armadura e colapso desta por deformação
excessiva. Por outro lado, os domínios 4, 4a e 5 rompem de forma frágil com o concreto atingindo
sua deformação limite e a armadura sem atingir o escoamento ou encurtando [17]. A partir desta
divisão e das particularidades de cada domínio, pode-se concluir que um pilar de concreto armado
pode ser dimensionado para aqueles em que ocorra esforços de compressão, ou seja, para aos
domínios 3, 4, 4a e 5 [18].
3.3.1 Formulação do Problema
Será adotado para a formulação do problema de otimização da seção transversal de um pilar de
concreto armado, a abordagem realizada por Chaves [2]. O processo de otimização adotado em [2]
usa um método determinístico via multiplicadores de Lagrange e das condições de Kuhn-Tucker [11].
Os valores encontrados pela autora serão comparados com os determinados pelo Algoritmo Genético
[9] usado neste artigo.
A autora adota para o dimensionamento do pilar, uma seção transversal retangular com 4 barras fixas
posicionadas nos cantos e de forma simétrica, considerando o aço CA50 e o mesmo diâmetro para as
barras. Esta configuração e as variáveis utilizadas no projeto são representadas na Fig. 4.
Onde:
- 𝑐1 = 𝐶𝐶
- 𝑐2 = 𝜌𝑆 . 𝐶𝑆
- 𝑐3 = 2 . 𝐶𝐹
- 𝐹 → função custo para o pilar, por unidade de comprimento.
- 𝐶𝐶 → custo do concreto, por unidade de volume.
- 𝐶𝑆 → custo da armadura, por unidade de massa.
- 𝐶𝐹 → custo da fôrma, por unidade de área.
- 𝜌𝑆 → massa específica do aço.
As restrições adotadas foram resultado de cálculos de equilíbrio da seção transversal, entre os
esforços resistentes e os solicitantes, como também pelo uso de equações de compatibilidade do
domínio 5 para a definição das tensões (Eq. 12 e 13). As demais restrições são originadas de condições
de garantia do domínio 5 (Eq. 14) e dos limites laterais das variáveis (Eq. 15, 16 e 17).
𝑥3 𝑥4 − 𝑥2 + 𝑑 ′
0,85 . 𝑓𝑐𝑑 . 𝑥1 . 𝑥2 + (294 + 𝑓𝑦𝑑 ) − 𝑁𝑑 = 0 (12)
2 7 𝑥4 − 3 𝑥2
𝑥3 𝑥4 − 𝑥2 + 𝑑 ′
(𝑥2 − 2 𝑑 ′ ) . (𝑓𝑦𝑑 − 294 + 𝑓𝑦𝑑 ) − 𝑀𝑑 = 0 (13)
4 7 𝑥4 − 3 𝑥2
1,25 . 𝑥2 − 𝑥4 ≤ 0 (14)
20 ≤ 𝑥1 ≤ 40 𝑐𝑚 (15)
20 ≤ 𝑥2 ≤ 40 𝑐𝑚 (16)
0,8 % ≤ 𝜌 ≤ 3 % (17)
Onde:
- 𝑑′ → distância do centro da armadura até a face da seção.
- 𝑁𝑑 → esforço normal solicitante.
- 𝑀𝑑 → momento solicitante, produto entre o esforço normal e a excentricidade considerada.
- 𝜌 → taxa geométrica de armadura no concreto. Razão entre a área da armadura longitudinal
e a área da seção transversal do pilar.
De forma geral, o problema de otimização pode ser escrito na formatação padrão e usual:
Min: 𝐹(𝑥) = 𝑐1 . (𝑥1 . 𝑥2 ) + 𝑐2 . 𝑥3 + 𝑐3 . (𝑥1 + 𝑥2 ) (11)
s.a:
𝑥3 𝑥4 − 𝑥2 + 𝑑 ′ (12)
0,85 . 𝑓𝑐𝑑 . 𝑥1 . 𝑥2 + (294 + 𝑓𝑦𝑑 ) − 𝑁𝑑 = 0
2 7 𝑥4 − 3 𝑥2
𝑥3 𝑥4 − 𝑥2 + 𝑑 ′ (13)
(𝑥2 − 2 𝑑 ′ ) . (𝑓𝑦𝑑 − 294 + 𝑓𝑦𝑑 ) − 𝑀𝑑 = 0
4 7 𝑥4 − 3 𝑥2
1,25 . 𝑥2 − 𝑥4 ≤ 0 (14)
4. RESULTADOS
O Algoritmo Genético (AG) foi executado utilizando os parâmetros de Chaves [2] para as variáveis
de projeto, para ser possível a posterior comparação dos dados finais obtidos com os da autora. Os
valores de força normal solicitante iniciam com 250 kN e variam até limite de 3000 kN, enquanto o
momento solicitante é definido pelo valor adotado para a excentricidade (1,2 ou 3 cm), dessa maneira,
sendo o produto entre esta e a força normal.
Foram definidos valores padrões para os parâmetros de entrada do AG conforme indicado na Tabela
1. Foram analisadas duas situações diferentes para a execução do algoritmo, onde se variam,
principalmente, as taxas de crossover e mutação, além do tamanho da população e do número de
gerações. A seguir são representados estes dados e os resultados obtidos com as execuções do AG:
4.1. Dados de Entrada
- 𝐶𝐶 = 228,39 𝑅$/𝑚³
- 𝐶𝑆 = 2,73 𝑅$/𝑘𝑔
- 𝐶𝐹 = 31,58 𝑅$/𝑚²
- 𝑓𝑐𝑘 = 35 𝑀𝑃𝑎
- 𝑓𝑦𝑑 = 500 𝑀𝑃𝑎
- 𝜌𝑆 = 7,85 𝑥 10−3 𝑘𝑔/𝑐𝑚³
Tabela 2 – Resultados obtidos com o Algoritmo Genético usado neste artigo para uma excentricidade de 1 cm.
Tabela 3 – Resultados obtidos por Chaves [2] para uma excentricidade de 1 cm.
4.3. Resultados para excentricidade de 2 cm
As Tabelas 4 e 5 mostram os resultados obtidos pelo Algoritmo Genético usado neste artigo e por
Chaves [2], respectivamente, para uma excentricidade de 2 cm.
Tabela 4 – Resultados obtidos com o Algoritmo Genético usado neste artigo para uma excentricidade de 2 cm.
Tabela 5 – Resultados obtidos por Chaves [2] para uma excentricidade de 2 cm.
4.4. Resultados para excentricidade de 3 cm
As Tabelas 6 e 7 mostram os resultados obtidos pelo Algoritmo Genético usado neste artigo e por
Chaves [2], respectivamente, para uma excentricidade de 3 cm.
Tabela 6 – Resultados obtidos com o Algoritmo Genético usado neste artigo para uma excentricidade de 3 cm.
Tabela 7 – Resultados obtidos por Chaves [2] para uma excentricidade de 3 cm.
AGRADECIMENTOS
O segundo autor agradece o apoio recebido do CNPq (306186/2017-9), FAPEMIG (TEC PPM
528/11, TEC PPM 388/14..
REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de Estruturas de Concreto –
Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
[2] CHAVES, I. A. Otimização de pilares de concreto armado mediante uniformização do índice de confiabilidade.
São Carlos: EdUSP, 2004.178 p.
[3] BORDIGNON, R.; KRIPKA, M. Dimensionamento otimizado da seção transversal de pilares em concreto armado
submetidos à flexocompressão. Revista Sul-Americana de Engenharia Estrutural, Passo Fundo, v.10, n.1, p. 26-46,
jan/jun. 2013.
[4] PICININI, F. B. Otimização de vigas em concreto armado por meio do algoritmo genético. Juiz de Fora: EdUFJF,
2017. 56 p.
[5] SIAS, F. M.; ALVES, E. C. Dimensionamento ótimo de pilares de concreto armado. Revista Eletrônica de
Engenharia Civil, Vitória, vol. 9, n. 3, p. 16-31, 2014. Disponível em: <http://revistas.ufg.br/index.php/reec/index>.
Acesso em: 17 out. 2018.
[6] MEDEIROS, G. F.; KRIPKA, M. Algumas aplicações de métodos heurísticos na otimização de estruturas. Revista
CIATEC, Passo Fundo, v. 4, p. 19-32, 2012.
[7] YANG, Xin-She. Engineering optimization: an introduction with metaheuristic applications. John Wiley & Sons,
2010.
[8] DARWIN, C. On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or the Preservation of Favoured Races
in the Struggle for Life. Londres, 1859. 502 p.
[9] DEB, K. Single-objective GA code in C (for Windows and Linux). Rga.tar. Disponível em:
<https://www.egr.msu.edu/~kdeb/codes.shtml>.
[10] CHRISTENSEN, P. W.; KLARBRING, A. An Introduction to Structural Optimization. Waterloo, 2009. 211p.
[11] ARORA, J. S. Introduction to Optimum Design. Iowa, 2012. 880 p.
[12] HOLLAND, J. H. Adaptation in Natural and Artificial Systems: An Introductory Analysis with Applications
to Biology, Control, and Artificial Intelligence. 1992.
[13] LEMONGE, A. C. de C. Aplicação de Algoritmos Genéticos em Otimização Estrutural. Rio de Janeiro:
EdCOPPE/UFRJ, 1999. 218 p.
[14] GOLDBERG, D. E. Genetic Algorithms in Search, Optimization and Machine Learning. 1989. 412 p.
[15] DEB, K.; AGRAWAL, R. B. Simulated Binary Crossover for Continuos Search Space. Complex Systems, p. 115-
148, 1995.
[16] DEB, K.. An efficient constraint handling method for genetic algorithms. Computer methods in applied mechanics
and engineering, v. 186, n. 2-4, p. 311-338, 2000.
[17] CARVALHO, R. C.; FIGUEIREDO FILHO, J. R. de. Cálculo e Detalhamento de Estruturas Usuais de Concreto
Armado Segundo a NBR 6118:2014. São Carlos: EdUFSCar, 2014. 415 p.
[18] SIAS, F. M. Dimensionamento Ótimo de Pilares de Concreto Armado. Vitória, Ed:UFES, 2014. 153 p.
ÍNDICE DE AVALIAÇÃO DO GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS
SÓLIDOS IGR – MONITORAMENTO DA COLETA SELETIVA SOLIDÁRIA
EM UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA
Solid Waste Management Evaluation Index IGR - Monitoring the Selective Solidary
Collection in a Public University
Mariana Medina da Fonseca 1, Thais Girardi Carpanez 2, Fernanda Deister Moreira 3, Samuel
Rodrigues Castro 4
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil, mariana.medina@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil, tgcarpanez@gmail.com
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil, fernanda.deister@engenharia.ufjf.br
4 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil, samuel.castro@ufjf.edu.br
Abstract: The generation of solid waste have been increasing in the national and international
scenario caused mainly for the population and consumption growth. The universities are an example
of large generators of solid waste so they should show management responsibility that includes the
academic community awareness. From the Presidential Decree 5940/06 and the principles of Public
Administration Environmental Agenda (A3P), it is instituted the Selective Solidarity Collection
through the Government aiming to implement the selective collection in public sectors that can
donate waste for collectors associations. In view of this, this study aims to propose an evaluation
index for waste management quality for monitoring the implementation of Selective Solidary
Collection (CSS) according to A3P with a practical application on an academic unit of a public
university in Brazil. For the index creation, the method Pressure-State-Impact-Response (PEIR) was
used, that is recognized worldwide, and Functional Evaluation Matrix as a multicriteria tool in
which was measured the variables inserted on the system, assigning weight to them. Thus,
qualitative indicators were created to each dimension of PEIR, attributing values to each possible
response of the indicator and doing this, it was possible to compile everything in one result, the
Solid Waste Management Evaluation Index -IGR. The index validation was held in the Engineering
and Architecture Faculty of Federal University of Juiz de Fora (UFJF). It was verified that the result
was not entirely satisfactory once only 50% of students chosen as sample said they try to do your
part to contribute to the CSS program, destinating your waste properly. 43 garbage cans were
checked at the faculty and only 37% have waste segregation to separate wet waste and dry waste. It
was observed that even with the implementation of CSS the management is not satisfactory as the
academic community is not totally involved. It is expected that due to the results presented in this
study it will be possible to guide decision making and evaluate and monitoring the actions
efficiency and sufficiency so it will the reference to other institutions considering adaptations that
converge with the specificities of each scenario and give supported by continuous improvement.
1. INTRODUÇÃO
Faculdades e núcleos universitários podem ser assemelhados a pequenos núcleos urbanos em
relação à geração de resíduos sólidos, visto que desenvolvem atividades de ensino, extensão,
pesquisa e outras atividades referentes à sua operação, como restaurantes, cantinas e locais de
convivência. (Tauchen & Brandli, 2006). A sensibilização de toda a comunidade acadêmica,
incluindo professores, alunos e funcionários, é primordial no adequado gerenciamento dos resíduos
sólidos gerados tendo em vista a minimização dos impactos no meio ambiente e na saúde pública.
(Furiam & Gunther, 2006).
Em 1999, o Ministério do Meio Ambiente elaborou a Agenda Ambiental na Administração Pública
(A3P), buscando a revisão dos padrões de produção e consumo, e a adoção de novos referenciais de
sustentabilidade ambiental nas instituições da administração pública. Dentre os principais objetivos
de tal instrumento, cita-se a promoção do uso racional dos recursos naturais, a redução de gastos
institucionais, a contribuição para revisão dos padrões de produção e consumo para a adoção de
novos referenciais de sustentabilidade no âmbito da administração pública, a redução do impacto
socioambiental negativo direto e indireto causado pela execução das atividades de caráter
administrativo e operacional, e a contribuição para a melhoria da qualidade de vida (MMA, 2009).
Notada sua responsabilidade, é indispensável que as universidades desenvolvam atividades
sustentáveis, envolvendo os diferentes atores, indo de encontro com a responsabilidade
compartilhada e a hierarquia no gerenciamento de resíduos preconizados pela Lei 12.305/2010, a
qual institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e
instrumentos bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de
resíduos sólidos, incluídos os perigosos, e às responsabilidades dos geradores e do poder público
(BRASIL,2010).
O Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) é um instrumento de implementação da
Política Nacional dos Resíduos Sólidos e contribui para um maior controle da destinação dos
resíduos (BRASÍLIA, 2014). Seu objetivo é contribuir para a redução da geração de resíduos
sólidos, orientando o correto acondicionamento, armazenamento, coleta, transporte, tratamento e
destinação final. O PGRS deve identificar as gerações e cada tipo de resíduo, assim como verificar
os possíveis pontos de desperdícios, promovendo a redução da geração ou possibilidade de
reutilização de resíduos segregados adequadamente (CURITIBA, 2004).
A correta segregação dos resíduos é fundamental para que seja eficaz a implementação do PGRS.
Sendo assim, é indispensável a colaboração de todos os envolvidos, fazendo a segregação na fonte,
o acondicionamento correto e a precisa identificação de cada resíduo gerado, para que não haja
contaminação cruzada, incremento da fração de resíduos perigosos e, consequentemente, maior
ônus na gestão – social, ambiental e economicamente.
Instituída pelo Decreto Presidencial 5940 de 25 de outubro de 2006 e a Lei N° 11.445 de 5 de
janeiro de 2007, a Coleta Seletiva Solidária visa implementar a coleta seletiva em órgãos públicos
da administração federal, concedendo a doação dos resíduos para catadores, devidamente
organizados em associações ou cooperativas. É uma ação do Governo Federal, fiscalizada pelo
Comitê Interministerial de Inclusão Social dos Catadores de Materiais Recicláveis e tem o objetivo
de gerar renda e inclusão social destes profissionais, construindo uma nova cultura institucional
para um novo modelo de gestão de resíduos. É uma ação somada aos princípios e metas
estabelecidos pela A3P.
Em 30 de setembro de 2016, o campus da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), instaurou a
Comissão de Coleta Seletiva Solidária, pela Portaria 1135 de 2016, em atendimento ao Decreto
5960 de 26 de outubro de 2006. Tal comissão, de acordo com a Portaria 1135/2016, tem atribuições,
tais como: gerenciar o processo de seleção das associações e/ou cooperativas de catadores de
materiais recicláveis e implantar, supervisionar a separação dos resíduos recicláveis descartados,
bem como a destinação final dada pela associação e/ou cooperativa selecionada.
Diante do exposto, o presente trabalho tem por objetivo propor índice de avaliação na qualidade do
gerenciamento de resíduos – IGR – com a aplicação prática em unidade acadêmica de uma
Instituição de Ensino Superior, pública, para o monitoramento das ações de implementação da
Coleta Seletiva Solidária de acordo com a A3P.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Os indicadores ambientais têm sidos criados e desenvolvidos durante anos para o monitoramento e
análise das condições ambientais (SILVA et al, 2012). Dentre as metodologias de elaboração de
indicadores mais utilizados, nacional e internacionalmente, destaca-se o Modelo de Pressão-Estado-
Resposta (PER), desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OECD) em 1993 com o objetivo de estruturar trabalhos sobre as políticas e relatórios ambientais.
A evolução desse modelo se deu, em 2007, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA), que introduziu a dimensão “I” – “Impacto”, sendo então, representado pela
sigla PEIR (Pressão-Estado-Impacto-Resposta) (SILVA et al, 2012; VASCONCELOS et al, 2014).
O detalhamento de tais dimensões é apresentado no Quadro 1.
Para mensurar as variáveis, empregou-se a técnica da Matriz de Avaliação Funcional, que implica
na comparação de cada função com as demais, determinando, a cada momento, sua necessidade e
importância (Csillag, 1995 apud Monteiro, 2006). A metodologia sofreu algumas adaptações, sendo
utilizada uma ponderação de um a quatro, sendo elas:
✓ 4 pontos: função muito mais importante ou necessária que a outra;
✓ 3 pontos: função mais importante ou necessária que a outra;
✓ 2 pontos: função pouco mais importante ou necessária que a outra;
✓ 1 ponto: função de igual importância ou necessidade que a outra.
A partir das metodologias apresentadas, foi possível a elaboração do Índice de Gerenciamento de
Resíduos Sólidos – (IGR) que utilizou o modelo PEIR como base para escolha dos parâmetros a
serem avaliados, e a Matriz de Avaliação Funcional como ferramenta comparativa multicritério,
com a qual foram mensuradas as variáveis inseridas no sistema, atribuindo pesos às mesmas. Para a
validação do índice, realizou a aplicação do mesmo em unidade acadêmica da Universidade Federa
de Juiz de Fora – UFJF.
Área de estudo e gestão de resíduos
A UFJF foi criada em 1960 e dispões de uma área de 1.234.193,80 m², segundo informações de seu
Plano de Desenvolvimento Institucional. A UFJF está localizada na cidade de Juiz de Fora,
principal município da Zona da Mata Mineira, no estado de Minas Gerais. Circulam em seu
campus, diariamente, cerca de 20 mil alunos, sem contar os cerca de três mil estudantes da
educação a distância, apresentando 93 opções de cursos de graduação, 36 de mestrado e 17 de
doutorado (UFJF, 2018). Destaca-se que o campus é meio de conexão entre bairros do município,
contando com uma população flutuante considerável que utiliza seu espaço físico, ainda, para a
realização de atividades esportivas e de lazer.
O gerenciamento dos resíduos no campus da UFJF é realizado pela Coordenação de
Sustentabilidade, que realiza ações em prol do correto manejo e destinação ambientalmente
adequada. Os resíduos químicos e biológicos são armazenados pelas unidades que contam com 59
laboratórios, lotados em 9 unidades do campus. Tais resíduos, em função de sua periculosidade, são
classificados, rotulados, recolhidos e enviados para incineração, que ocorre semestralmente (UFJF,
2018). Para os resíduos de serviços de saúde, o armazenamento é de responsabilidade das unidades
geradoras e, posteriormente, são recolhidos, duas vezes na semana, por empresa especializada e
licenciada para o transporte e correta destinação. Destaca-se o recolhimento e destinação
ambientalmente adequada de lâmpadas, pilhas, além da coleta seletiva de toners e papel.
A Faculdade de Engenharia (FE), criada em 1914, localiza-se no campus sede da UFJF, sendo uma
de suas 20 unidades acadêmicas, que concentra 10 cursos de graduação e 2 programas de pós-
graduação, contando com o fluxo constante de 141 docentes e cerca de 5000 discentes, além de 88
técnicos administrativos e terceirizados. O estudo se deu em tal unidade acadêmica em agosto de
2018.
2. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Seguindo o modelo PEIR, definiu-se indicadores quantitativos e qualitativos para cada uma das
quatro dimensões (Pressão-Estado-Impacto-Resposta), sendo atribuídos duas ou três possibilidades
de respostas, de acordo com o observado nas unidades acadêmicas e deliberado por representantes
da Coordenação de Sustentabilidade, Comissão da Coleta Seletiva Solidária, docentes e discentes.
A Matriz de Avaliação funcional, apresentada no Anexo I, subsidiou a atribuição de pesos (Pv) às
variáveis da matriz Pressão-Estado-Impacto e Reposta, que somados totalizam 100%. Os
indicadores também foram ponderados com pesos iguais (Pi) entre eles, totalizando 100% dentro de
cada variável, multiplicando Pv por Pi é possível obter o peso (p) de cada indicador em relação ao
total do índice. O IGR poderá ser calculado para cada unidade acadêmica e/ou, ainda, para a
Instituição atribuindo-se uma variável de controle (tamanho), a partir do valor médio dos índices
obtidos para as unidades. A cada resposta atribui-se uma nota de 0 a 1, onde 1 corresponde a
situações de atendimento integral ao indicador; 0,5 corresponde a situações onde apenas 50% a 80%
do indicador é atendido; e 0 corresponde a situações onde o indicador não é atendido ou há
insuficiência no grau de adesão.
O cálculo do índice foi realizado de acordo com a equação (1):
IGR=∑(p*N) (1)
Onde:
IGR = Índice de Gerenciamento de Resíduos Sólidos;
p = Pv * Pi
Pv = Peso das variáveis;
Pi = Peso dos indicadores dentro das variáveis;
N = Nota obtida pelo no indicador correspondente.
Para validação do índice, o IGR foi aplicado na avaliação de gerenciamento dos resíduos da
Faculdade de Engenharia e Arquitetura da UFJF. Os Quadros 2, 3, 4 e 5 apresentam as dimensões
do IGR, juntamente com os resultados obtidos em sua aplicação.
Na dimensão “Pressão” (quadro 2), para analisar a conscientização da comunidade acadêmica,
aplicou-se um questionário a 128 pessoas que frequentam os prédios da Faculdade de Engenharia,
contemplando professores, funcionários, alunos da engenharia ou alunos de outros cursos que usam
as dependências da Faculdade, principalmente em horário de almoço, devido à proximidade com o
Restaurante Universitário. Foram realizadas duas perguntas sobre a CSS no campus e verificou-se
que, 50% dos entrevistados tinham ciência do Programa de CSS institucional e disseram fazer sua
parte, contribuindo com o Programa e destinando seus resíduos da maneira correta. Dos
entrevistados, 32% não conheciam ou não sabiam opinar sobre as ações da Coordenação de
Sustentabilidade da UFJF em concordância com a A3P e a CSS.
Na mesma dimensão, a variável “Gestão dos resíduos” foi respondida de acordo com informações
contidas no site da Coordenação de Sustentabilidade, observando que Universidade possui Gestão
dos Resíduos Especiais, não há desvio dos resíduos e a disposição final dos resíduos comuns é em
aterro sanitário licenciado, uma vez que não há mais lixões na cidade de Juiz de Fora.
Quadro 2: IGR - Dimensão P
Dimensão P - Pressão
Variável Indicador Resposta p Nota N p*N
Consientização da Mais de 80 % sabe do Programa de Coleta Solídária e faz a sua parte 1,0
Conscientização De 50 a 80 % sabe do Programa de Coleta Solídária e faz a sua parte 16,67% 0,5 0,5 0,083
comunidade acadêmica
Menos de 50 % sabe do Programa de Coleta Solídária e faz a sua parte 0,0
Gestão de Resíduos Sólidos Presença 1,0
4,76% 1,0 0,048
Especiais Ausência 0,0
Gestão dos Desvio inadequado dos Ausência 1,0
resíduos 4,76% 1,0 0,048
resíduos Presença 0,0
Disposição final dos Não 1,0
4,76% 1,0 0,048
resíduos em lixões Sim 0,0
Resultado parcial 30,95% 4,0 3,5 0,226
Para a análise da dimensão “Estado” (quadro 3), verificou-se que a faculdade apresenta uma
unidade de armazenamento adequada para o armazenamento dos resíduos. A variável
“acondicionamento” foi analisada por vistoria realizada na Faculdade, que possibilitou verificar
características de cada um dos coletores. Dessa forma, observou-se que a quantidade de coletores na
faculdade é suficiente. Foram encontrados 43 coletores de vários tipos, sendo que 35% deles
garantem estanqueidade, 84% possuem tamanho adequado1, 77% são fáceis de manusear, 72% são
resistentes e 51% estão identificados. A Faculdade apresentou lixeiras de segregação de resíduos
seco e úmido (37%), sendo todas elas implantadas pelo Programa de CSS (figura 2). A existência de
equipamentos de segregação adicional de resíduos secos (por exemplo: plástico, papel, vidro e
metal) é praticamente nula. Das 43 lixeiras amostradas, apenas 4 delas (9%) continham
identificação adequada e, mesmo assim, não eram utilizadas para a correta segregação na fonte.
1 O tamanho do coletor foi analisado de acordo com a demanda do local em que ele estava inserido.
Figura 2: Lixeiras do Programa de Coleta Seletiva Solidária.
Na variável “Destinação dos resíduos”, segundo dados obtidos pelo site da Coordenação de
Sustentabilidade (UFJF, 2018), os resíduos recicláveis recolhidos em cada unidade são destinados
para cooperativas e associações de catadores locais, a Associação de Catadores de Juiz de Fora
(ASCAJUF) e a Associação Lixo Certo (ALICER), contempladas mediante edital público de
chamamento para a coleta de tais resíduos no período de 2016 a 2018. O recolhimento do lixo
comum é responsabilidade do Departamento Municipal de Limpeza Urbana da Prefeitura de Juiz de
Fora - DEMLURB, que encaminha os resíduos para o Aterro Sanitário da cidade.
Devido à presença do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, há uma maior divulgação de
assuntos na temática ambiental na Faculdade de Engenharia. São realizados, tantos pelos segmentos
pertencentes à UFJF, quando pelos alunos do curso, eventos e palestras na tentativa de implementar
maior conscientização ambiental na comunidade do campus. A CSS, realizada pela UFJF, é uma
prática ambiental que visa menor geração de rejeitos, com o máximo de reaproveitamento, dentro
da hierarquia preconizada pela PNRS – reduzir, reutilizar, reciclar, tratar e dispor.
São realizados treinamentos e capacitações com os funcionários da limpeza do campus para o
correto manejo e segregação nos pontos de armazenamento, contudo, percebe-se que tais ações são
incipientes e podem apresentar maior eficiência quando pautadas em planejamento específico e
assertivo, subsidiadas por indicadores que evidenciem fragilidades e pontos de melhoria.
Quadro 3: IGR - Dimensão E
Dimensão E - Estado
Variável Indicador Resposta p Nota N p*N
Armazenamento Galpão para Presença 1,0
2,38% 1,0 0,024
interno dos resíduos armazenamento dos Ausência 0,0
Mais de 80% dos coletores garantem estanqueidade 1,0
Estanqueidade do coletor De 50 a 80% dos coletores garantem estanqueidade 1,04% 0,5 0,0 0,000
Menos de 50% dos coletores garantem estanqueidade 0,0
Mais de 80% dos coletores têm tamanho adequado 1,0
Tamanho do coletor De 50 a 80% dos coletores têm tamanho adequado 1,04% 0,5 1,0 0,010
Menos de 50% dos coletores têm tamanho adequado 0,0
Mais de 80% dos coletores são fáceis de manusear 1,0
Operacionabilidade do
De 50 a 80% dos coletores são fáceis de manusear 1,04% 0,5 0,5 0,005
coletor
Menos de 50% dos coletores são faceis de manusear 0,0
Mais de 80% dos coletores são resistentes 1,0
Resistência do coletor De 50 a 80% dos coletores são resistente 1,04% 0,5 0,5 0,005
Acondicionamento
Menos de 50% dos coletores são resistentes 0,0
dos resíduos
Mais de 80% dos coletores são identificados 1,0
Identificação dos coletores De 50 a 80% dos coletores são identificados 1,04% 0,5 0,5 0,005
Menos de 50% dos coletores são identificados 0,0
Suficiente 1,0
Quantidade de coletores 1,04% 1,0 0,010
Insuficiente 0,0
Existe em mais de 80% da unidade avaliada 1,0
Equipamento segregação
Existe em 50 a 80% da unidade avaliada 1,04% 0,5 0,0 0,000
seco e úmido
Existe em menos de 50% da unidade avaliada 0,0
Existe em mais de 80% unidade avaliada 1,0
Equipamento de segregação
Existe em 50 a 80% da unidade avaliada 1,04% 0,5 0,0 0,000
adicional de resíduos secos
Existe em menos de 50% da unidade avaliada 0,0
Destinação dos recicláveis Sim 1,0
5,95% 1,0 0,060
recuperados para Não 0,0
Destinação dos Destinação dos orgânicos Sim 1,0
5,95% 0,0 0,000
resíduos recuperados para unidades Não 0,0
Destinação final Sim 1,0
5,95% 1,0 0,060
ambientalmente adequada Não 0,0
Projetos de educação Presença 1,0
5,56% 1,0 0,056
ambiental Ausência 0,0
Educação Eventos e/ou palestras com Presença 1,0
5,56% 1,0 0,056
ambiental a temática ambiental Ausência 0,0
Capacitação e treinamento Presença 1,0
5,56% 1,0 0,056
com os funcionários da Ausência 0,0
Resultado parcial 45,24% 15,0 9,5 0,346
Na dimensão “Impacto” (quadro 4), foi observado utilização inadequada do espaço destinado aos
resíduos, uma vez que estes são depositados muitas vezes de forma errada, inviabilizando o
propósito da reciclagem. Em época de muita chuva há alagamento do corredor que dá acesso aos
galpões, dos cursos de Arquitetura e demais Engenharias, e ao RU, entretanto esse alagamento não
ocorre pela presença de lixo, mas sim por erro no projeto de drenagem, dessa forma, esta variável
recebeu nota 1, referente a ausência de alagamentos em função do lixo.
A poluição visual foi observada. Não existem políticas ambientais eficientes para a conscientização
da comunidade que circula no Campus, gerando uma deposição inadequada dos resíduos, além de
uma limpeza falha, com o consequente acúmulo nas lixeiras.
Quadro 4: IGR - Dimensão I
Dimensão I - Impacto
Variável Indicador Resposta p Nota N p*N
Utilização inadequada do Ausência 1,0
espaço destinado ao 0,79% 0,0 0,000
Presença 0,0
gerenciamento de resíduos
Espaço físico Ausência 1,0
Alagamento das vias 0,79% 1,0 0,008
Presença 0,0
Ausência 1,0
Poluição visual 0,79% 0,0 0,000
Presença 0,0
Resultado parcial 2,38% 3,0 1,0 0,008
Para a última dimensão “Resposta” (quadro 5), a presença da CSS foi averiguada. Os resultados
indicam que as ações são incipientes e carecem de ser intensificadas em termos da divulgação de
práticas ambientais, para que assim funcione as campanhas propostas. É interessante que UFJF
apresente ferramentas para que as pessoas que a circulam possam fazer o destino correto.
Através destas informações foi possível calcular o IGR para a faculdade. A nota obtida foi de 0,67,
com classificação C. Tal resultado indica que o gerenciamento dos resíduos na Faculdade de
Engenharia, em termos da implementação e efetividade da CSS, ainda é incipiente, necessitando ser
incrementada e de melhorias.
Nota-se que o modelo PEIR foi desenvolvido com a adição da dimensão I no modelo PER criado
pela OECD, à vista disso, outro ponto importante a ser analisado está na aplicação de pesos as
dimensões do PEIR. Observa-se que a nova dimensão I obteve um peso consideravelmente inferior
(2,38%) em relação as outras, justificando sua menor importância no modelo.
4. CONCLUSÃO
Diante do apresentado, destaca-se que o índice proposto poderá servir na avaliação do
gerenciamento de resíduos em instituições de diferentes setores, com adaptações que venham de
encontro com as especificidades de cada cenário, de forma prática e ágil. Destaca-se que o IGR é
instrumento proposto e de base comparativa, aplicado em Instituições de Ensino Superior, que pode
ser adotado na análise de diferentes unidades acadêmicas ou, ainda, na avaliação do gerenciamento
adotado em diferentes instituições. A adoção de uma metodologia de monitoramento com
avaliações periódicas é intrínseca a uma gestão de qualidade com vistas à melhoria contínua. Pela
construção de uma série temporal e uma base de dados robusta, possibilita-se consolidar
informações que dão suporte a tomada de decisões, avaliação da eficiência de medidas de controle,
além da proposição de ações assertivas, sendo o que se pretende estabelecer com tal metodologia no
cenário estudado.
Com a aplicação do IGR na Faculdade de Engenharia, conclui-se que tal gerenciamento é
incipiente, com fragilidades que podem merecem atenção. A falta de políticas de comunicação e
educação ambiental com fins de conscientização ambiental e mobilização da comunidade
acadêmica compromete a eficiência da Coleta Seletiva Solidária. Dessa forma, se faz necessário,
além de novas propostas e ações assertivas, maior envolvimento da comunidade acadêmica em
ações integradas, para que estas funcionem com excelência. É preciso mais do que criar
instrumentos, infraestrutura e aplicação de políticas ambientais, é imprescindível o engajamento de
todos para que estas funcionem.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Tauchen, J.; Brandli, L. L. A gestão ambiental em instituições de ensino superior: modelo para implantação em
campus universitário. Gestão & Produção, São Carlos, v.13, n.3, p.503-515, 2006.
[2] Furiam, S.M.; Gunther, W.R. Avaliação da educação ambiental no gerenciamento de resíduos sólidos no campus da
universidade Estadual de Feira de Santana. Sitientibus, Feira de Santana, n.35, p.7-27, jul./dez. 2006.
[3] MMA. Ministério do Meio Ambiente. Cartilha A3P - Agenda Ambiental da Administração Pública, 5° edição.
Brasília, 2009.
[4] Brasil. Casa Civil. Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Brasília: Casa Civil,2010.
[5] Brasília. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental - Plano de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos - Instrumento de Responsabilidade Socioambiental na Administração Pública.
Brasília, 2014.
[6] Curitiba. Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Termo de referência para a elaboração de planos de
gerenciamento de resíduos sólidos - PGRS. Curitiba, 2004. 8p.
[7] Silva, S.S.F.; Santos, J.G.; Cândido, G.A.; Ramalho, A.M.C. Indicador de Sustentabilidade Pressão –Estado –
Impacto – Resposta no Diagnóstico do Cenário Sócio Ambiental resultante dos Resíduos Sólidos Urbanos em Cuité,
PB. REUNIR – Revista de Administração, Contabilidade e Sustentabilidade – Vol. 2, nº 3 – Edição Especial Rio +20,
p.76-93, 2012.
[8] Vasconcelos, A.C.F.; Oliveira, J.R.M.; Santos, J.E.A.; Nunes, E.R.; Freitas, G.C. Pressão Estado Impacto Resposta:
um estudo em curtumes artesanais na Paraíba. EMGEMA – Encontro Internacional sobre Gestão Empresarial e Meio
Ambiente, 2014.
[9] CSILLAG, J. M., 1995. Análise do valor: metodologia do valor: engenharia do valor, gerenciamento do valor,
redução de custos, racionalização administrativa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, pp. 58 – 73;
[10] MONTEIRO, A. E. Índice de qualidade de aterros industriais-IQRI. Dissertação de mestrado. Departamento de
Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
[11] UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora. Apresentação. Disponível em:
http://www.ufjf.br/ufjf/sobre/apresentacao/; Acesso em: 20 abril 2018
[12] UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora. Coordenação de Sustentabilidade. Disponível em:
http://www.ufjf.br/sustentabilidade/; Acesso em: 10 agosto 2018.
[13] SELUR. Sindicato das Empresa de Limpeza Urbana no Estado de São Paulo. Índice de Sustentabilidade da
Limpeza Urbana. Edição 2017. São Paulo, 2017.
ANEXO I - Matriz de Avaliação Funcional
B C D E F G H I Soma %
A A 3 A 3 AD 1 AE 1 F 2 A 3 AH 1A 2 14 16,667
B B 4 BD 1 BE 1 F 2 B 3 BH 1 B 2 12 14,286
C CD 1 E 3 F 3 CG 1 H 3 I 2 2 2,381
D DE 1 FD 1 DG 1 DH 1 I 2 7 8,333
E E 2 E 3 EH 1 E 3 15 17,857
F F 3 FH 1 F 2 14 16,667
G H 2 I 2 2 2,381
H H 2 12 14,286
I 6 7,143
Variável % 84 100
A Conscientização 16,67
B Gestão dos resíduos 14,29
C Armazenamento interno dos resíduos 2,38
D Acondicionamento dos resíduos 8,33
E Destinação dos resíduos 17,86
F Educação ambiental 16,67
G Espaço físico 2,38
H Resultados 14,29
I Melhoria contínua 7,14
Construction of a sand pluviator for molding of test specimens with different densities
and voids content
Abstract: Due to the difficulty by doing sample of granulated soil without changing the sample
structure, it is recovered through laboratory reconstitution. The lack of a tool able to do the
reproduction in the soil mechanics laboraty at Fedral University of Juiz de Fora showed the need to
build a pluviator. The equipment controls relative density, apparent specific weight and void ratio,
creating a relation between the nozzle filler diameter wich limits the velocity of fall of soil and the
mentioned properties. The pluviator is based on Miura and Toki’s (1982) work and is constituted by
an array of fillers done with paper card, a series of sifters and a structure for sustenance made of
wood and hardware. After the construction of equipment, there were tests with dry sandy soil,
generating the pluviation in the soil air at a pattern under the sleeves. Right after the calibration of
equipment, curves about the relation between the filler crevice and dry apparent specific weight,
between the filler crevice and the relative density and between the filler crevice and the pore sample
indication were generated. The apparatus important for application in several studies which
involves non-coesive soil, like tests about shear stress and permeability. This work is product of a
research developed by the authors in partnership with the tutorial education program of the Civil
Engineering (PET-UFJF) course from Federal University of Juiz de Fora.
1. INTRODUÇÃO
Diferente dos solos coesivos, os solos granulares são aqueles em que a maior parte da sua
resistência ao cisalhamento se deve ao seu ângulo de atrito, medido no ensaio de cisalhamento dire-
to, por exemplo, relacionando as tensões normal e cisalhante máxima no estado de ruptura. Devido
à baixa coesão desses solos, nota-se uma dificuldade de trabalhar com amostras indeformadas em
laboratório e, consequentemente, de estudar as características geotécnicas dos solos granulares
(MARTINS e FILHO, s.d.).
A textura dos solos é estudada pela análise granulométrica, a qual permite classificar seus
componentes sólidos em classes de acordo com os seus diâmetros. Já a estrutura se baseia no arran-
jo das partículas sólidas e dos espaços vazios. Portanto, a manutenção do segundo é impossível na
amostragem de solos arenosos, como o objeto de estudo desse trabalho (ROSA, 2010).
A partir daí, notou-se a necessidade de reconstituir a estrutura dos solos em laboratório para
realização de ensaios que necessitassem de amostras indeformadas, como de cisalhamento direto e
permeabilidade. Com essa demanda, em 1982, Seiichi Miura e Shosuke Toki, da universidade japo-
nesa de Hokkaido, criaram um método de preparação de amostras de areia capaz de controlar as
densidades e os índices de vazios desses corpos de prova, através do peneiramento múltiplo (méto-
do MSP).
Ao se perceber a necessidade de um equipamento que fizesse o controle de densidades e
índices de vazios para a reestruturação de solos arenosos nos laboratórios da Univerdade Federal de
Juiz de Fora, foi proposta a construção de um pluviador de areia como atividade de pesquisa do
Programa de Educação Tutorial do curso de Engenharia Civil da universidade.
Tendo a construção do pluviador em vista, utilizou-se como modelo uma versão simplifica-
da do equipamento presente no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de
Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE/UFRJ. Com o projeto idealizado,
deu-se início a construção do aparelho e, posteriormente, a sua calibração.
3. PLUVIADOR COPPE/UFRJ
Com a mesma ideia de controlar a densidade e os índices de vazios de amostras de solos
granulares, os pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de
Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE/UFRJ idealizaram uma versão
simplificada do sistema de pluviação. Essa versão se diferencia da anterior por possuir apenas 4
peneiras, sendo a primeira de abertura de 2 mm e as outras três inferiores de 4,76 mm. A figura 2 é
uma foto tirada no Laboratório de Mecânica dos Solos da COPPE/UFRJ. Inspirada nessa variante
construiu-se o pluviador da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Fig. 2 – Pluviador da COPPE/UFRJ
4. PLUVIADOR UFJF
A partir da revisão bibliográfica, a construção do pluviador se tornou possível. Após confec-
cionar o projeto, foi adquirido o material necessário: duas bases de madeira de 30 x 30 cm, furadas
com o diâmetro das peneiras; 12 folhas papel cartão para a confecção dos funis; 4 barras rosqueadas
de 1 m de comprimento para sustentação; molde de madeira com as dimensões do corpo de prova
utilizado no ensaio de cisalhamento direto; duas mãos-francesas para fixação na parede. Utilizou-se,
também, a mesma sequência de peneiras do pluviador da COPPE/UFRJ. As figuras 3 e 4 apresen-
tam, respectivamente, o projeto do pluviador da UFJF e o mesmo depois de instalado.
Diâmetro de abertura
das peneiras
5. PROGRAMA DE ENSAIOS
* Quando houve acumulo de areia sobre a primeira peneira (abertura 2.0mm, Figura 3) a pluviação foi interrompida.
6. CARACTERIZAÇÃO DA AREIA
Após o preparo da amostra inicial de 120,3 g, realizou-se o peneiramento fino do solo, visto
que esse é arenoso. Utilizou-se as peneiras de aberturas, em milímetros, de 1,200; 0,840; 0,600;
0,300; 0,150; 0,074. A tabela 2 apresenta os resultados do ensaio de granulometria.
Massa retida
Peneira (mm) Massa retida (g) Massa passante (g) Massa passante (%)
acumulada (g)
Observação: o material passante na peneira de abertura de 0,074 mm foi descartado, tendo em vista o interesse apenas
em partículas acima desse diâmetro.
100
90
80
70
60
% Passante
50
40
30
20
10
0
0,010 0,100 1,000 10,000
Diâmetro (mm)
(𝑑30 )² (0,33)²
𝐶𝐶 = = = 1,4 (2)
𝑑60 𝑥 𝑑10 0,45 𝑥 0,17
Com os valores acima, classifica-se o solo como muito uniforme e bem graduado.
Portanto, é de interesse o peso específico dos grãos à 20ºC e, para isso, necessita-se de uma
correção. Considerando D20 a densidade relativa do solo à 20ºC, k20 a razão entre a densidade rela-
tiva da água à temperatura T e a densidade relativa da água à 20ºC e w,20 o peso específico da água
à 20ºC, podemos calcular o peso específico dos grãos (Gs) à 20ºC:
Dessa forma, o peso específico dos grãos obtido foi de Gs = 2,65 gf cm-3.
7. RESULTADOS
𝐺𝑠
𝑒= −1 (7)
𝛾𝑑
𝑒𝑚𝑎𝑥 − 𝑒
𝐷𝑟 = (8)
𝑒𝑚𝑎𝑥 − 𝑒𝑚𝑖𝑛
Onde: d = peso específico aparente seco; Ps = peso de solo seco; Vt = volume total (volume do
molde); Gs = peso específico dos grãos; Dr = densidade relativa; emáx = índice de vazios máximo;
emín = índice de vazios mínimo.
A Tabela 4 apresenta os resultados da calibração do pluviador para a areia utilizada.
* Foram efetuadas três pluviações para a determinação de cada parâmetro apresentado na tabela.
Observações:
- Os ensaios P35, P40, P45, P50, P55 e P60 não puderam ser realizados, pois a alta velocidade de
queda da areia fez com que o material ficasse retido na peneira superior, condicionando os parâme-
tros calculados à mesma situação, em todos os casos.
A partir dos resultados acima, foram construídos três gráficos, as chamadas curvas de cali-
bração. As Figuras 5, 6 e 7 apresentam os resultados para peso específico aparente seco do solo,
índice de vazios e densidade relativa.
2,32
Peso específico aparente do solo seco
2,30
2,28
2,26
(gf cm-3)
2,24
2,22
2,20
2,18
2,16
0 5 10 15 20 25 30 35
Abertura do funil (mm)
Fig. 5 – Curva de calibração: variação do peso específico aparente do solo seco com a abertura do funil
0,22
0,21
0,2
Índices de vazios
0,19
0,18
0,17
0,16
0,15
0,14
0 5 10 15 20 25 30 35
Abertura do funil (mm)
85
80
75
70
65
60
55
0 5 10 15 20 25 30 35
Abertura do funil (mm)
8. CONCLUSÕES
O método de reconstituição de amostras de solos não coesivos realizada pelo pluviador
construído se mostrou útil para as demandas das pesquisas realizadas pelos autores e de fácil opera-
ção e repetibilidade, visto que foram realizados três ensaios com cada funil e esses tiveram resulta-
dos coerentes entre si. Garantindo que o solo tenha grãos na faixa entre 0,074 e 0,84 mm, corpos de
provas com densidades relativas entre 56,8 a 99,6% podem ser preparados pelo pluviador UFJF,
levando em consideração a areia estudada. Para areias mais finas é possível aumentar este intervalo.
O pluviador pode ser utilizado para moldagem de corpos de prova de areias destinados à
ensaios do tipo cisalhamento direto, triaxial e permeabilidade, por exemplo.
9. REFERÊNCIAS
[1] MARTINS, I. S. M., FILHO, W. L. O., Preparação de amostras reconstituídas de materiais gra-
nulares para ensaios triaxiais em laboratório. Relatório interno da COPPE/UFRJ, não datado.
[2] ROSA, S. F., Propriedades físicas e químicas de um solo arenoso sob o cultivo de Eucalyp-
tus spp., Santa Maria, 2010.
[3] MIURA, S., TOKI, S., A sample preparation method and its effect on static and cyclic defor-
mation-strength properties of sand. Soils and Foundations, v. 22, n. 1, p. 61-77, 1982.
[4] DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. ME 051: Solos – análise
granulométrica. Rio de Janeiro, 1994.
[5] DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. ME 093: Solos – determi-
nação da densidade real. Rio de Janeiro, 1994.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12004: Solo – determinação
do índice de vazios máximo de solos não coesivos. Rio de Janeiro, 1990.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12051: Solo – determinação
do índice de vazios mínimo de solos não coesivos. Rio de Janeiro, 1991.
VIABILIDADE TÉCNICA DA UTILIZAÇÃO DE GABIÃO PREENCHIDO
COM CORPOS DE PROVA CILÍNDRICOS DE CONCRETO (NBR
5739/2007) COMO ESTRUTURA DE CONTENÇÃO
Technical feasibility of using gabion filled with concrete cylindrical specimens (NBR
5739/2007) as a containment structure
Ricardo Leme de Calais1, Luciane Sandrini Dias2, Caroline Accorsi Politt3, Mayara de Oliveira4,
Raul Olavo Ballarini da Silva5
1
Centro Universitário de Jaguariúna, Jaguariúna, Brasil, ricardocalais@gmail.com
2
Centro Universitário de Jaguariúna, Jaguariúna, Brasil, lusdias74@gmail.com
3
Centro Universitário de Jaguariúna, Jaguariúna, Brasil, caroline.accorsi@gmail.com
4
Centro Universitário de Jaguariúna, Jaguariúna, Brasil, maaoliveira08@gmail.com
5
Centro Universitário de Jaguariúna, Jaguariúna, Brasil, raul.olavo@gmail.com
Resumo: Desde a pré-história o homem utiliza objetos encontrados na natureza para suas
construções. Talvez o fato mais interessante seja a dependência desses materiais após milhares de
anos, para fins de habitação, tanto nas cavernas do passado, como nos materiais de construção das
casas modernas. Com o desenvolvimento da vida em sociedade, criação das cidades e posterior
ligação entre elas, o homem começou a não mais se adaptar ao relevo. Assim, surgiram as
contenções de encostas, estabilizando solos de diferentes níveis, agindo em favor da segurança e
exploração de áreas cultiváveis. Nesta época, surgiram os primeiros muros de contenção,
principalmente confeccionados de madeira e rochas. A evolução deste muro é o que hoje
conhecemos como muro de arrimo. Dentre vários tipos de contenção, o gabião é muito utilizado
atualmente, devido ao baixo impacto ambiental, baixa ou não-necessidade do uso de máquinas na
sua construção, boa permeabilidade, fácil modelagem e adaptabilidade ao perfil do solo e também
baixo custo de fabricação e manutenção. Assim como o homem evoluiu ao longo das gerações, seus
métodos construtivos o acompanharam. Uma das maiores tecnologias desenvolvidas, aperfeiçoadas
e aplicadas foi a “descoberta” do cimento e preparação de sua pasta com areia, pedra e
posteriormente aço, gerando uma estrutura sólida e extremamente resistente. A criação e
desenvolvimento do concreto armado deram possibilidade ao homem de imaginar e desenvolver
construções cada vez maiores e mais ousadas tecnicamente. Por medida de segurança, foram
normatizados certos aspectos de cada um dos materiais utilizados em sua confecção. No caso do
concreto, há uma norma específica para o teste de resistência à compressão (NBR 5739/2007),
realizado em corpos de prova (CP) moldados de acordo com a NBR 5738/2015, onde, para cada
lote de concreto, são retiradas, pelo menos seis amostras. Com o aumento do número de
construções e necessidade desses testes, esses CP têm se tornado um passivo ambiental, gerando um
grande volume nas escassas usinas de reciclagem. Após essa constatação, buscamos na literatura
uma solução ambiental mais rápida e barata para o reaproveitamento dos CP, onde somente foram
encontrados exemplos amadores de utilização em demarcação de canteiros de flores, hortas e
projetos paisagísticos, não aproveitando toda a resistência e robustez do concreto ainda existente.
Buscamos, assim, apresentar uma nova utilização para tais CP, quando fissurados, reutilizando-os
como material para preenchimento de muros de contenção por gravidade.
Palavras-chave: Corpos de Prova, Estrutura de Contenção, Gabião.
Abstract: Since prehistoric times the man uses objects found in nature for their constructions.
Perhaps the most interesting is the dependency of these materials after thousands of years, for
housing purposes, both in the caves of the past, as in building materials of the modern houses. With
the development of life in society, creation of cities and greater connection between them, the man
began to no longer adapt to the topography. Thus, the contentions of slopes by stabilizing soils of
different levels, acting in favour of safety and exploitation of cultivable areas. This time, the first
walls, mainly made of wood and rocks. The evolution of this wall is what we now know as
retaining wall. Among various types of containment, the gabion is widely used nowadays, due to
the low environmental impact, low or non-necessity of using machines in your construction, good
permeability, easy modeling and adaptability to the soil profile and also low cost manufacture and
maintenance. As well as man evolved over the generations, their construction methods followed
him. One of the greatest technologies developed, improved and applied was the "discovery" of
cement and preparation of your folder with sand, stone and later steel, generating a solid structure
and extremely resistant. The creation and development of reinforced concrete gave possibility to
man to imagine and develop increasingly larger constructions and bolder technically. For safety
reasons, were regulated certain aspects of each of the materials used in your cooking. In the case of
concrete, there is a specific rule to the test of resistance to compression (NBR 5739/2007),
performed on specimens (CP) framed in accordance with the NBR 5738/2015, where, for each
batch of concrete, are withdrawn, at least six samples. With the increase in the number of buildings
and need of these tests, these CP have become environmental liabilities, generating a large volume
in the scarce plants for recycling. After this realization, we seek in the literature a environmental
solution faster and cheaper for the reuse of the CP, where only amateur use examples were found in
demarcation of flowerbeds, vegetable gardens and landscaped projects, no taking advantage of all
resistance and robustness of concrete that still exists. We seek, therefore, to introduce a new use for
such CP when cracked, reusing them as material for filling of walls by gravity.
Keywords: concrete cylindrical specimens, containment structure, gabion.
1. INTRODUÇÃO
O homem utiliza desde a pré-história objetos encontrados na natureza como ferramentas e
materiais para suas construções, entre eles, minerais e rochas encontrados em abundância. Talvez o
fato mais interessante seja a dependência desses materiais, mesmo após milhares de anos, para fins
de habitação, tanto nas cavernas, do passado, como nos materiais de construção de nossas casas
modernas.
Com a transição de sociedades nômades para comunidades fixas, o ser humano teve que
aprender a cultivar a terra e construir moradias e benfeitorias duradouras. Com vida em
comunidade, a criação das cidades e a posterior ligação entre elas, o homem começou a tratar o
relevo do seu entorno como matéria prima para suas construções e lavouras. E para estabilizar solos
de diferentes níveis, surgiram as contenções de encostas e barrancos, agindo assim em favor da
segurança das pessoas, da conservação de estradas e do aumento de áreas cultiváveis.
Deste modo, surgiram os primeiros muros de contenção, principalmente os confeccionados a
partir da madeira (com baixa durabilidade) e rochas. A evolução deste muro de contenção é o que
hoje conhecemos como muro de arrimo. Dentre os vários tipos de estruturas de contenção, o gabião
é muito utilizado atualmente, devido ao baixo impacto ambiental, a baixa ou não-necessidade do
uso de máquinas na sua construção, sua boa permeabilidade, fácil modelagem e adaptabilidade ao
perfil do solo e também baixo custo de fabricação e manutenção das estruturas.
Conforme o homem evoluiu ao longo das gerações, seu conhecimento técnico, passado por
gerações e posteriormente estudado e aprimorado pelos estudiosos o acompanharam. Com o
desenvolvimento de novas tecnologias e descoberta e desenvolvimento de materiais, suas
construções passaram a ter caráter permanente, o que gerou a possibilidade destes almejarem
conforto e segurança duradoura. Uma dessas tecnologias desenvolvidas, aperfeiçoadas e
amplamente estudada é a “descoberta” do cimento e a preparação de sua pasta com areia e pedra e
posteriormente a adição do aço, gerando uma estrutura sólida e extremamente resistente.
A criação e o desenvolvimento do concreto armado deram ao homem a possibilidade de
imaginar e desenvolver construções cada vez maiores e ousadas tecnicamente. Assim, por medida
de segurança, foram normatizados certos aspectos de cada um dos materiais utilizados em sua
composição. No caso do concreto, há uma norma específica para o teste de resistência à compressão
(NBR 5739/2007), realizado em corpos de prova moldados de acordo com a NBR 5738/2015,
sendo que, para cada lote de concreto, são retiradas, pelo menos, seis amostras para os testes.
Com o intuito de se facilitar as execuções de tais testes existem no mercado vários
laboratórios auditados pelo INMETRO, aptos para a realização do mesmo. Com o aumento do
número de construções legais e a necessidade desses testes para comprovação da resistência do
concreto, esses corpos de prova têm se tornado um passivo ambiental, gerando um grande volume
nas escassas usinas de reciclagem de materiais oriundos da construção civil e, consequentemente, o
aumento de parte do custo da obra no descarte seu adequado.
Após a tal constatação, foram realizadas buscas na literatura de alguma solução ambiental
mais rápida e barata para o reaproveitamento dos corpos de prova, porém, somente foram
encontrados exemplos amadores de utilização em demarcação de canteiros de flores, hortas e
projetos paisagísticos, não aproveitando adequadamente toda a resistência e robustez do concreto
ainda existente no corpo de prova.
Busca-se, assim, apresentar um modo de reutilização para tais corpos de prova, quando
fissurados, reutilizando-os como material de preenchimento em muros de contenção por gravidade.
1.1 Estruturas de contenção
As estruturas de contenção são elementos indispensáveis de várias obras e projetos de
engenharia. De acordo com Loturco (2004), as estruturas de contenção, independente do seu
método, têm o mesmo princípio de funcionamento. Todas elas promovem, ativa ou passivamente,
resistência à ruptura e ao deslocamento de terra, ocasionados pelo corte.
Para obter sucesso na escolha de estrutura de contenção mais adequada a ser executada em
determinada situação, é necessário um prévio estudo do local, pois é o estudo que verifica a
estabilidade do terreno. É fundamental que se obtenha dados como a formação do terreno, a
situação e as características atuais (LOTURCO, 2004).
De acordo com Pinto (2006), a Mecânica dos Solos, que estuda o comportamento dos solos
quando tensões são aplicadas, no caso das fundações, ou aliviadas, no caso de escavações, constitui
uma ciência de engenharia, na qual o engenheiro civil se baseia para o desenvolvimento de seus
projetos.
Segundo Terzaghi (1943, p.1), a Mecânica dos Solos é a aplicação das leis da mecânica e da
hidráulica aos problemas de engenharia relacionados com os sedimentos e outras acumulações não
consolidadas de partículas sólidas produzidas pela desintegração mecânica e química das rochas,
independentemente do fato de conterem ou não elementos constituídos por substâncias orgânicas.
Os problemas que se apresentam no projeto e execução das fundações e obras de terra
podem ser distinguidos em dois tipos: os que se referem à deformações do solo, que abrangem o
estudo de recalques das obras, e os que consideram a ruptura de uma massa de solo, que envolvem
as questões relativas à capacidade de carga do solo, estabilidade de maciços terrosos e empuxos de
terra (CAPUTO, 1988, p. 11).
Caputo (1988, p. 4) ainda afirma que o requisito prévio para o projeto de qualquer obra é o
conhecimento da formação geológica local, bem como o estudo das rochas, solos, minerais que o
compõem e também a influência da presença da água sob ou sobre a superfície da crosta terrestre.
A ruptura de um solo é, geralmente, um fenômeno de cisalhamento, que acontece quando
uma sapata de fundação é carregada até a ruptura ou também quando ocorre o escorregamento de
um talude, por exemplo (PINTO, 2006, p. 260).
Deslizamento é um termo que foi designado para descrever o movimento de descida do solo,
de rochas e material orgânico, sob o efeito da gravidade, e também a formação geológica resultante
de tal movimento (HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008, p. 6).
Segundo Highland e Bobrowsky (2008, p. 13), escorregamento é um dos tipos de
deslizamento, e pode ser definido como o movimento de uma massa de solo ou rocha, em declive,
que ocorre sobre superfícies em ruptura ou sobre zonas relativamente finas com intensa deformação
por cisalhamento.
As medidas de correção comumente utilizadas para um escorregamento e que, quando
possível, reduzirão consideravelmente o risco, incluem um retaludamento apropriado e a construção
adequada de taludes. A construção de muros de arrimo na sua base pode ser suficiente para diminuir
ou desviar o movimento do solo (HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008, p. 14).
Segundo Onodera (2005, p. 28), as estruturas de contenção são obras cuja finalidade é conter
maciços de solos. Quando são construídas em centros urbanos ou até mesmo em área de lazer, elas
devem integrar-se ao máximo no meio em que se encontram, tanto do ponto de vista ambiental
como paisagístico.
1.2 Contenção em gabião
Segundo Moliterno1 (1980, apud Onodera, 2005), “o gabião foi utilizado durante muito
tempo como solução para desvio dos cursos dos rios e fechamentos das ensecadeiras nas obras de
construção de barragens”.
1
MOLITERNO, A. Caderno de muros de arrimo. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1980. 104 p.
Seu emprego têm se diversificado, encontrando aceitação na execução, não somente de
muros de arrimo, mas também em revestimento de canais, proteção de margens de rios, e em obras
de emergência para contenção de encostas (ONODERA, 2005, p. 28).
1.3 Histórico
Segundo Camuzzi2 (1978, apud Onodera, 2005, p. 28) e Maccaferri (p. 9), a palavra gabião
deriva do italiano “gabbione”, que quer dizer “gaiolão”. Os gabiões foram empregados pela
primeira vez no final do século XIX. Desde então, sua utilização passou a tornar-se crescente e, a
cada dia, os campos de utilização são mais amplos.
No Brasil, este tipo de estrutura de contenção começou a ser utilizado no início dos anos 70,
e hoje em dia está presente em diversas obras, em todas as regiões do país.
1.4 Principais vantagens de muros em gabião
Uma das mais importantes características do gabião é a sua permeabilidade, trata-se de uma
estrutura totalmente permeável, autodrenante, facilitando o saneamento do terreno, por permitir o
fluxo das águas de percolação, proporcionando, assim, um alívio por completo das pressões
hidrostáticas sobre a estrutura (FINOTTI et al., 2013, p. 23; ONODERA, 2005, p. 35).
Segundo Onodera (2005, p. 35), os muros de gabião também apresentam extrema
flexibilidade, o que permite que a estrutura se adapte aos movimentos do terreno, acompanhando o
recalque ou acomodações, sem comprometer sua estabilidade e eficiência estrutural. Finotti et al.
(2013, p. 22 e 23) acrescentam que essas deformações permitem a prévia visualização de qualquer
problema antes de um colapso, permitindo, dessa forma, possíveis intervenções para a recuperação
da estrutura, minimizando gastos e evitando acidentes.
Finotti (2013, p. 22) e Onodera (2005, p. 36) afirmam ainda que outra importante vantagem
dos muros de gabião é a sua elevada resistência aos esforços de tração e empuxo do terreno, pois
eles são calculados como uma estrutura monolítica. A malha do tipo hexagonal de dupla torção
proporciona uma distribuição mais uniforme dos esforços, seu revestimento assegura a durabilidade
por muitos anos e impede o desfiamento da tela.
Segundo Finotti (2013, p. 23), esse tipo de estrutura de contenção é economicamente mais
viável, devido aos seus custos diretos e indiretos serem mais baixos, comparando com outros tipos
de soluções com as mesmas resistências estruturais.
Os muros de gabião são estruturas práticas e versáteis, pois podem ser construídos sob
qualquer condição ambiental, com a utilização ou não de maquinário, inclusive em locais de difícil
acesso. Além disso, para a construção desse tipo de contenção não é exigida mão de obra
especializada (FINOTTI, 2013, p. 23).
Dentre as afirmações de Finotti (2013, p. 23) ainda é possível destacar uma importantíssima
vantagem dos muros de gabião, seu baixo impacto ambiental. Devido à sua composição, o gabião
não interpõe obstáculo impermeável para as águas de infiltração e percolação, interferindo o
mínimo possível na fauna e flora local. Além disso, é possível a integração da estrutura com o meio
ambiente, ao permitir o crescimento de plantas ou gramíneas na sua superfície.
2
CAMUZZI FILHO, D. Gabiões Profer. São Bernardo do Campo, 1978.
2 OBJETIVO
Para o reaproveitamento proposto dos corpos de provas, foi idealizado o feitio de uma
estrutura do tipo gabião caixa, preenchida com tais corpos de prova de concreto fissurados.
3 MÉTODOS
Existem na região de Campinas, vários laboratórios de controle tecnológico de concreto, que
realizam o serviço de verificação da capacidade de carga do mesmo para vários empreendimentos e
construtoras de modo terceirizado. De acordo com a NBR 5739/2007, os corpos de prova possuem
dimensões padronizadas, sendo a mais usual nos laboratórios o CP cilíndrico de 0,20 m x 0,10 m de
diâmetro.
Conforme a ocorrência de construções na cidade e região e época do ano, ocorre a sobra de
uma enorme quantidade de peças testadas a serem descartadas. Com a implementação da Política
Nacional dos Resíduos Sólidos (lei 12305/2010), tornou-se responsabilidade, tanto da empresa
contratante como do laboratório de testes, a destinação final adequada destes corpos de prova.
Gerando um ônus extra para as construtoras, que arcam com o custo do teste, onde já está embutido
o custo da destinação final das peças testadas.
Mesmo com esta obrigação legal quanto à disposição final, os laboratórios de teste doam
certas quantidades desse material para quem interessar. Existe alguma variedade de projetos
paisagísticos e de jardinagem que utilizam estes artefatos como suporte para a terra dos canteiros
e/ou demarcação de trilhas e caminhos. Isso gera um lucro extra para os laboratórios, que recebem
dos seus clientes o montante designado à destinação adequada. Frisamos que tal prática de doação
dos corpos testados não apresenta problemas ao meio ambiente, desde que sejam utilizados para tais
projetos e não descartados aos montes em locais não específicos.
No modelo aqui proposto, de uso desses corpos de prova como material de preenchimento
de gabiões, a empresa executora do gabião é quem arcará com o custo de retirada, armazenagem e
transporte de tais objetos até o local da obra da estrutura de contenção. Isso gerará uma economia
para o contratante do teste e/ou para o laboratório executor do mesmo, além da executora do gabião,
que não terá necessidade de comprar as rochas para o preenchimento da estrutura. Devido às
variações no ritmo das construções durante o ano e até mesmo em épocas de crise no setor da
construção civil, tais testes podem ser realizados em menor ritmo, gerando uma demanda de um
local para armazenar certa quantidade desses corpos de prova. Tal necessidade não ocasionaria
maiores problemas, uma vez que podem ser armazenados em locais expostos às intempéries e ser
facilmente movimentados com o auxílio de um trator munido de pá carregadeira.
Foi encontrada no mercado uma grande variedade de modelos e tamanhos de gabiões caixas
para comercialização, porém, nem todos passíveis de serem preenchidos com os corpos de provas
fissurados. Isto devido à sua dimensão, que inviabilizaria a disposição mais adequada de acordo
com o estudo realizado para posicioná-los. Os gabiões caixa utilizados devem ser sempre múltiplos
de 0,20m, devido às dimensões normatizadas do material de preenchimento.
4 RESULTADOS
4.1 Posicionamento dos corpos de prova
Com o intuito de se obter um melhor aproveitamento dos materiais, visando a economia de
insumos e mão de obra na confecção da estrutura, foi realizada uma análise no software AutoCAD,
da melhor disposição dos corpos de prova. Assim, foi possível comprovar que a forma mais prática
de encaixe dentro da estrutura do gabião caixa seria na posição vertical (facilitando o encaixe dos
blocos, por sua superfície aplainada e dispensando a necessidade de escoramento da face frontal do
gabião) e que o encaixe destes seria de forma intercalada, fazendo com que em cada camada
houvesse linhas com 10 e 9 blocos. Essa situação seria preferível a outra onde os corpos de prova
estivessem encaixados de modo alinhado dentro do gabião caixa (figuras 1 e 2).
De acordo com amostragem realizada nesses corpos de prova, foi possível estimar um peso
médio destes, que é de 3,8 Kg e seu volume, que é de 0,00157 m³. Com o auxílio da modelagem,
foram calculados os dados da Tabela 1, onde são comparados os resultados de cada tipo de
modelagem para uma estrutura de 1m³ e que serviu de base para a escolha do modelo adotado.
5 CONCLUSÃO
Comparando-se os dados obtidos na modelagem computacional e os dados da tabela 1,
pode-se verificar que, intercalando os corpos de prova no preenchimento do gabião, obtemos um
maior número de peças encaixadas, gerando uma estrutura mais pesada, com uma menor
porcentagem de vazios por metro cúbico, estes são fatores de grande importância em muros de
contenção por gravidade. Tais índices superam até mesmo o modelo construtivo tradicional. Sendo
possível, num estudo futuro, otimizar as dimensões da tela de suporte da estrutura, gerando a
necessidade de menores volumes dessas estruturas para suportar cargas semelhantes.
Mesmo com a necessidade de verificar os corpos de prova na hora da montagem da
estrutura, separando blocos rompidos ou muitos fissurados, é possível também considerar uma
otimização da mão de obra necessária para a confecção da estrutura, uma vez que o encaixe dos
corpos cilíndricos seria facilitado ante o encaixe manual das rochas britadas. As superfícies
aplainadas e paralelas desses corpos facilita o suporte entre elas e o faceamento da estrutura,
eliminando a necessidade de escoramento de face para uniformizar e obter uma boa aparência na
estrutura.
Além do ganho ambiental pelo reaproveitamento dos corpos de prova, haveria também a
redução do custo das matérias primas para a confecção do gabião, já que esses corpos são
descartados pelos laboratórios, sendo necessário somente um local de armazenagem onde haja um
estoque suficiente para as obras vindouras. A atividade de transporte e armazenamento desses
corpos de prova não gerariam novos custos à prestadora do serviço, uma vez que a economia na
aquisição da rocha britada e no transporte da quantidade necessária com uma pequena folga
operacional, em substituição à necessidade de quantidades com mais de 50% do volume necessário
no modelo tradicional, supriria tais custos.
7 REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739: Concreto - Ensaios de
compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2007. 9 p.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5738: Concreto Procedimento
para moldagem e cura de corpos de prova. Rio de Janeiro, 2015. 9 p.
[3] LOTURCO, B. Contenções: talude seguro. Revista Téchne, São Paulo, 83ª ed., fev. 2004.
Disponível em: <http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/83/artigo286273-1.aspx>. Acesso em
27 de abril de 2017.
[4] PINTO, C. S. Curso básico de mecânica dos solos. 3ª ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006.
363 p.
[5] TERZAGHI, K. Theoretical soil mechanics. New York: John Wiley & Sons, 1943. 526 p.
[6] CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações: fundamentos. 6ª ed. Rio de Janeiro:
LTC, 1988. 244 p.
[7] HIGHLAND, L. M.; BOBROWSKY, P. The landslide handbook – A guide to understanding
landslides. U.S. Geological Survey, Reston, Virginia, 2008. 176 p.
[8] ONODERA, L. T. O uso de gabiões como estrutura de contenção. 2005. 92 f. Trabalho de
conclusão de curso (Bacharelado em Engenharia Civil) – Universidade Anhembi Morumbi, São
Paulo.
[9] MOLITERNO, A. Caderno de muros de arrimo. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1980. 104
p.
[10] CAMUZZI FILHO, D. Gabiões Profer. São Bernardo do Campo, 1978.
[11] MACCAFERRI. Obras de contenção: manual técnico. Maccaferri do Brasil Ltda, Rio de
Janeiro.
[12] FINOTTI, G. B. S. et. al. Estruturas de contenção em gabiões para estabilidade de
encostas em processos erosivos. 2013. 130 f. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em
Engenharia Civil) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia.
[13] BRASIL. Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a política nacional de resíduos
sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=636>. Acesso em:
02 de novembro de 2017.
A RELAÇÃO ENTRE AULAS EXPERIMENTAIS E O PROCESSO DE
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO OBSERVADOS NA DISCIPLINA
ELEMENTOS DE GEOLOGIA
João Víctor Franco Domingues1 , Fernanda Ferreira da Silva2 , Nicolas da Rocha Pires3 , Júlia
Righi de Almeida4
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, joao.franco@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, ferreira.fernanda@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, nicolas.pires@engenharia.ufjf.br
4
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, julia.righi@ufjf.edu.br
To the student of Civil Engineering, the knowledge of Geology is fundamental, since it is an important
tool for geotechnical solutions which are part of the graduate professional‘s responsibility. The
didactic amelioration and the improvement of the academic performance in this science are constant
worries of all the faculty members. A quality learning in the Geology context implies on bringing up
matters on the earth system, aiming afterward, the experimental activities which will solve these
problems[1]. One can understand by experimental activities the investigations that the student tend to
develop facing the adverse questions presented, assisted by resources such as the teaching guided by
experimentation and related to the daily routine which will grab the attention of the student, coming
out as a significant experience and the consolidation of the scientific concepts in a practical way.
More than that, they bring applicability to those concepts, providing to the student the perception of
the course’s relevance, noticing that plenty of the activities are close to ordinary facts to the Civil
Engineer. Thus, the goal of this paperwork is to analyze the importance of practical classes in the
teaching of the course Elements of Geology so that the undergraduate consolidate the knowledge
acquired in the course and to apply it, may it be in the following courses of the Transportation and
Geotechnics Department or in its daily life, after the graduation, while being part of the market.
Moreover, a case study will be presented in which the revitalization of the collection of minerals and
rocks that belong to the Laboratory of Geotechnics of the Engineering School of UFJF (LaGetec)
awakened greater interests in the students and made it easier to learn the subject. To do so, the data
gathered through researches done with students who answered the survey about their performance
were handled by statistical analysis in order to comprehend the advances obtained from the new
employed methodology. After the analysis, it was observed that the teaching with practical classes in
the laboratory eased the comprehension of theoretical subjects and drove the student to a greater,
correlated and scientific knowledge, corroborating the qualification of professionals more able to
solve problems of Civil Engineering that involve subjects addressed in Geology.
1. INTRODUÇÃO
Com a evolução das mídias tecnológicas e a popularização do acesso às mesmas, uma nova maneira
de adquirir conhecimento começou a se desenvolver. O acesso através de meio digital se tornou um
dos pilares do comportamento humano. Seja para expor suas opiniões, aprender ou ensinar, vê-se
uma geração crescendo em meio a esta miríade de informações de tão fácil acesso. Tal fato levado à
academia cria a necessidade de repensar a maneira em que esta repassa o conhecimento, em princíp io
na graduação, e como pode adaptar o ensino aos novos alunos já acostumados a aprender através de
fontes que não professores e livros.
O ensino é entendido como uma mescla da postura que um docente tem ao transmitir saberes sob
cunho disciplinar e, também, fazer possível alguém aprender algo, o que é tido como uma visão
pedagógica e engloba a necessidade de pluralidade por parte do professor. O ensino atual, então, tem
de requerer uma dupla transitividade (sujeitos que ensinam e aprendem) e a mediação (sujeitos que
aprendem sob a mediação de quem ensina) entre discentes e mestres[2]. Contudo, existe uma dualidade
muitas vezes vista em sala, na qual a oposição de um professor em detrimento das capacidades do
aluno resulta em má compreensão de assunto e até mesmo rejeição por parte do corpo estudantil a
determinados temas[3].
O ensino da Geotecnia, por focar em um público já maduro, tem de se tornar mais tangível ao mesmo,
e sob essa perspectiva, uma teoria de ensino que serve como fundação para essa proposta é a
Andragogia. Schuch e Silva (2018)[4] apresentam como principais pontos dessa teoria a ideia de que
o aluno precisa de autonomia para se desenvolver e que, além disso, a experiência prévia do aprendiz
e a incorporação de tarefas e discussão dos temas relacionados à vida cotidiana são importantes para
consolidação do aprendizado. Aprendizado este que deve ser centralizado na solução de problemas.
A Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) pode ser uma alternativa na hora de se apresentar o
conhecimento, e seus pilares são a centralização do aluno no ensino, a cooperação do trabalho em
equipe e o professor como tutor[5]. Essa metodologia guia, também, a maneira com que este trabalho
foi conduzido, trazendo uma nova roupagem ao ensino de Elementos de Geologia na Universidade
Federal de Juiz de Fora. Além do embasamento teórico em sala de aula, as aulas práticas em
laboratório e os exercícios baseados em problemas da Engenharia fazem do aprendizado de Geologia
para Engenharia Civil uma maneira de entrar em contato com situações reais, objetos de estudos que
muitas vezes são abordados de maneira teórica mas agora podem ser vistos, tocados e sentidos,
ultrapassando a barreira que antigamente separava essas duas facetas: o prático e o teórico.
2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é analisar a importância das aulas práticas no ensino da disciplina Elementos
de Geologia, para que o graduando consolide o conhecimento adquirido na disciplina e saiba aplicá -
lo, tanto em cadeiras subsequentes da ênfase em Transportes e Geotecnia, como em seu cotidiano.
Para alcançá-lo de maneira funcional e ordenada, foram estipulados os seguintes objetivos
específicos: estudo de caso da revitalização do laboratório de Geotecnia da Universidade Federal de
Juiz de Fora; execução de atividades experimentais que simulem problemas com os quais um
engenheiro geotécnico pode se deparar ao longo de sua carreira; investigação qualitativa sobre a
assimilação da disciplina por parte dos alunos através de relatos e depoimentos dos mesmos;
integração dos monitores ao ensino da geologia a fim de prepará-los para novas metodologias de
disseminação do conhecimento e a criação de um portal de notícias e informações sobre Geologia e
Geotecnia.
3. METODOLOGIA
Partindo-se do objetivo de tornar a aprendizagem dos alunos mais interessante por meio das aulas
práticas, e, visando motivar os estudantes ao relacionar o tema estudado com o exercício da profissão
e com a solução de problemas reais, foram desenvolvidas atividades direcionadas ao referido público.
Neste artigo, utilizou-se de dois artifícios para fazer as relações entre as aulas experimentais e o
processo de construção do conhecimento na disciplina: revisão bibliográfica e aulas práticas em
laboratório.
3.1. Revisão Bibliográfica
Ao realizar uma abordagem de pesquisa qualitativa a respeito de temas relacionados aos princíp ios
da andragogia, aplicados em diferentes áreas, procurou-se escolher um caminho para refletir sobre
um novo método de ensino, que neste caso, serviu como base para a mudança na rotina das aulas de
Elementos de Geologia.
3.1.1. A Andragogia:
Apesar de o termo andragogia ter sido utilizado pela primeira vez no século XIX pelo alemão Eugen
Rosenback, foi em meados do século XX que o mesmo ganhou significado científico. Desta época,
destaca-se o trabalho de Malcom Knowles, pesquisador e educador estadunidense. Considerado o pai
da andragogia, ele a define como a arte e a ciência destinada a auxiliar os adultos a aprender e a
compreender o processo de aprendizagem dos adultos[6].
Os processos cognitivos de um adulto e de uma criança diferem demasiadamente. Logo, constata-se
que os métodos e processos de ensino precisam estar adequados à faixa etária do aprendiz; nem todos
os princípios da pedagogia atendem às demandas de aprendizagem de um aluno amadurecido [6].
Em crianças, observa-se o que se chama de efeito esponja, onde o aprendiz, indiscriminadamente,
absorve todas as informações que o professor lhe fornece. Este fenômeno não ocorre com alunos de
maior idade, visto que este consolida conhecimentos de forma muito mais autônoma [7]. A andragogia
então estuda como se dá o fenômeno de aprendizado em adultos, e formula métodos de ensino que
atendam às demandas deste processo.
“Adultos são capazes de criticar e analisar situações, fazer paralelos com as experiências já vividas,
aceitar ou não as informações que chegam” (Santos, 2006, p. 1) [6]. O indivíduo maduro aprende de
forma muito mais seletiva, absorvendo apenas informações que ele julga úteis para seu
desenvolvimento intelectual, ou ascensão social/profissional; em outras palavras, o conhecime nto
precisa ter finalidade específica (para que aprender). Portanto, atividades que provocam a
aplicabilidade do que foi aprendido em situações similares ao cotidiano são uma ferramenta eficiente
de fixação de conceitos[6].
Visto que este aluno tem maior independência no processo de aprendizado, o professor também
diverge do modelo de educador tradicional da pedagogia; aqui, ele deixa de ser o detentor das
informações e passa a ser o facilitador do acesso a estas, mediando as discussões que consolidarão
novos conceitos a serem assimilados. Logo, o ensino passa a ser cooperativo e horizontal, e é
primordial que cada aluno se sinta à vontade para compartilhar suas experiências vividas, que
corroborarão para a produção coletiva do conhecimento [6].
Aplicar a andragogia integralmente no ensino de jovens é um tanto complexo, visto que alunos da
graduação em sua maioria ainda não chegaram à fase adulta. Entretanto, a aplicação de alguns
princípios desta ciência pode tornar o processo de aprendizagem muito mais interessante para o jovem
estudante, e ajudá-lo a atingir a maturidade cognitiva, onde ele será capaz de assimilar informaçõ es
de maneira independente[6].
Adultos guardam apenas 10% do que ouviram, após 72h, mas são capazes de lembrar 85% daquilo
que ouvem, vêm e fazem, decorrido o mesmo prazo[8] [9]. Então, atividades experimentais tornam-se
grandes aliadas do aprendizado. Para isso, os laboratórios são indispensáveis, pois configura m
ambientes em que o aluno tem contato com instrumentos e materiais adequados para execução de
tarefas ou atividades práticas que lhe são propostas.
3.1.2. Experiências de sucesso
Percebeu-se através da literatura consultada, a necessidade de ser adotada uma metodologia de ensino
que vai além do modelo enraizado na cultura brasileira, de aulas expositivas. Neste caso, a realização
das aulas práticas propicia um maior conhecimento, bem como a reflexão sobre o tema estudado. Os
princípios da andragogia sugerem que o aluno necessita perceber a aplicabilidade do ensino na sua
futura profissão, e ainda, que se deve pensar na troca de experiências entre os atores deste processo
educacional, propiciando a interação entre eles, sob um clima de segurança e respeito[4]
Os artigos de Neto e Oliveira (2018)[10], Schuch e Silva (2018)[4], Carvalho, Jesus, Mascarenha e Porto
(2018)[11] e Oliveira, Albuquerque e Oliveira (2018)[12], publicados no XIX Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano são claros
exemplos da necessidade de inovação da forma com que se pensa em educação, seja ela focada em
preparar o aluno para as situações reais, para o mercado de trabalho ou até mesmo fora da academia,
envolvendo alunos de ensino fundamental que já podem compreender, ainda que superficialmente, o
comportamento de um solo.
Oliveira, Albuquerque e Oliveira. (2018)[12] apresentam experiências realizadas ao tentar remodelar a
maneira com que se ensinava Geotecnia para os alunos do curso de Arquitetura, trazendo uma nova
perspectiva para o entendimento da Mecânica dos Solos. O professor de Engenharia que ministra va
o curso dividiu-o em duas partes: embasamento teórico e análise de um perfil geotécnico, e
posteriormente desenvolveu um modelo de sapata. O conceito de ABP (Aprendizagem Baseada em
Problemas) é um dos fatores que regem essa mudança na forma em que se passa o conhecimento.
Outro exemplo é o trabalho de Carvalho, Jesus, Mascarenha e Porto (2018) [11], no qual a professora
apresenta diversas maneiras de se explicar propriedades do solo para alunos de ensino fundamenta l
através de ensaios simples com materiais como copos de plástico e que podem ser traduzidos para o
contexto da graduação, se relacionados à explicação teórica dos conceitos. Ou seja, adaptando a
mensagem ao ouvinte.
3.2. Revitalização do Laboratório de Geotecnia da Faculdade de Engenharia da UFJF
Para estimular o processo de aprendizagem na disciplina Elementos de Geologia, era necessário um
lugar que pudesse servir como base para a realização das aulas práticas. Para isso, o Laboratório de
Geotecnia da Faculdade de Engenharia da UFJF (LaGetec) foi revitalizado. As Figuras 1 (A e B)
mostram, respectivamente, o laboratório antes e depois do processo de revitalização.
A
Com a construção da planilha, foi idealizada uma nova mudança, desta vez, nas caixas que continha m
as amostras. Isso porque os minerais e rochas, que possuíam tamanhos e formas variados, eram
mantidos em uma caixa de papelão com um formato padrão, que se desgastava facilmente na presença
de água ou mesmo com a ação do tempo e não comportava exemplares maiores.
Como solução, foi escolhido o plástico como material para a confecção de novos recipientes, por
possuir características que atendiam à utilização no laboratório sem comprometer sua qualidade. Na
Figura 3 percebe-se as diferenças entre o antigo e o atual modelo de recipientes.
Fig. 3 – Antigo recipiente que comportava as amostras do laboratório em comparação com o atual
As etiquetas dos novos recipientes foram geradas automaticamente por meio do recurso “mala-dire ta ”
do pacote Office, sendo impressas em papel fotográfico adesivo em impressora a laser.
3.3. Aulas Práticas e Aplicação de Atividades e Questionários
Durante o primeiro semestre letivo de 2018 algumas aulas foram lecionadas no laboratório, como
mostra a Figura 4, com o objetivo de fazer com que os alunos adquirissem um maior interesse naquele
que era o objeto de estudo da disciplina.
Para a fixação do conteúdo foram propostas atividades conforme mostra a Figura 5, em que após
leitura prévia do material disponibilizado e revisão dada em aula, os alunos eram desafiados a
identificar exemplares de minerais e rochas e correlacioná- los a conceitos apresentados na disciplina.
Fig. 4 – Realização de aula prática no laboratório lecionada com ajuda dos monitores da disciplina
O site tem como público alvo os jovens estudantes das áreas onde o conhecimento da Geotecnia se
faz importante ou indispensável. Sem perder a credibilidade, busca-se, de maneira simples e
interativa, transmitir conteúdos sólidos de forma a facilitar a fixação dos conceitos e diversas
aplicações sobre os materiais geológicos. Os posts são publicados em média 2 vezes por semana e
classificados nas categorias Engenharia Ambiental, Engenharia Civil, Rochas, Solos e Minerais,
facilitando a busca do usuário, caso ele pesquise por um assunto específico. Além de poder ser
acessado pelo link https://www.portalgeosaber.com/, o conteúdo também é divulgado pela rede social
Facebook®, na página Portal Geosaber, como mostra a figura 8. Os posts do site também são
compartilhados com os alunos das disciplinas Elementos de Geologia e Geologia Ambiental, sendo
uma forma de fixação de conhecimento em uma plataforma amplamente utilizada pelos estudantes.
AGRADECIMENTOS
Os autores deste artigo agradecem à todos aqueles que colaboraram para a revitalização do
laboratório: Professor Marcio Marangon, Técnico Wagner Barbosa e alunos e alunas que fizera m
parte do grupo de pesquisa da professora Júlia Righi de Almeida no ano de 2018.
REFERÊNCIAS
[1] FONSECA, P., BARREIRAS, S., VASCONCELOS, C. Trabalho Experimental no Ensino da Geologia:
Aplicações da Investigação na Sala de Aula. Enseñanza de las Ciencias, 2005.
[2] ROLDÃO, M. C.. Função Docente: natureza e construção do conhecimento profissional. Revista Brasileira de
Educação. Rio de Janeiro, v.12, n.34, p.94-181, 2007.
[3] CRUZ, G. B., ANDRÉ, M. E. D. A. Ensino de Didática: Um Estudo Sobre Concepções e Práticas de
Professores Formadores. Educação em Revista, v.30, n.4, p.181-203, 2014.
[4] SCHUCH, F. S., SILVA, F. K. Os Conceitos da Andragogia Aplicados ao Ensino da Geotecnia Visando a
Retenção do Aprendiz. XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e
Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG, 2018.
[5] SOUZA, S. C., DOURADO, L. Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP): Um Método de Aprendizag em
Inovador para o Ensino Educati vo. HOLOS, Ano 31, v. 5, p. 182-200, 2015.
[6] SANTOS, C. C. R.. Andragogia: Aprendendo a ensinar adultos . 9 p. Disponível em: <
https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos10/402_ArtigoAndragogia.pdf >. Acesso em: nov. 2018.
[7] CAVANCANTI, R. de A.; GAYO, M. A. F. da S. Andragogia na educação universitária. Conceitos. Disponível
em: <www.adufpb.org.br/publica/conceitos/11/art05.pdf>. Acesso em: 03 nov. 2018.
[8] TEIXEIRA, G. Andragogia: A aprendizagem nos adultos . Disponível em:
<http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=1&texto=5>. Acesso em: out. 2018.
[9] GOECKS, R. Educação de adultos: Uma abordagem andragógica. Disponível em:
<http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=1&texto=4>. Ac esso em: out. 2018.
[10] NETO, A. O. C., OLIVEIRA, K. C. M. Diálogo entre um Professor e uma Estudante: Relato da Aplicação
de uma Nova Metodologia de Ensino-Aprendizagem. XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG, 2018.
[11] CARVALHO, J. C., JESUS, A. S., MASCARENHA, M. M. A., PORTO, F. M. R., LUZ, M. P. O que, Onde e
Como Ensinar o Conteúdo Geotécnico. XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG, 2018.
[12] OLIVEIRA, P., ABUQUERQUE, L. L. C., OLIVEIRA, J. T. R. Elaboração De Perfis Geotécnicos E
Fundações Em Modelos Reduzidos Como Vivência Da Disciplina De Solos Para O Curso De Arquitetura. XIX
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG, 2018.
ADAPTAÇÃO DA METODOLOGIA GDE/UnB À TÚNEIS E ESTUDO DO
TÚNEL REBOUÇAS
Resumo: Neste trabalho objetivou-se desenvolver uma metodologia de inspeção visual para
aplicação em túneis. Para tal, baseou-se na metodologia GDE/UnB, originalmente desenvolvida
para edificações e modificada, posteriormente, para pontes e viadutos, o que evidencia seu potencial
de adaptação. A pesquisa se inicia contextualizando a importância dos túneis para a cidade do Rio
de Janeiro que permitem a conexão de toda a metrópole ao mesmo tempo em que reduzem,
consideravelmente, as viagens. Em seguida, apresenta-se uma análise dos elementos importantes
dos túneis, bem como das patologias associadas a cada um desses elementos. Dessa maneira, se
torna possível chegar a uma equação para quantificação dos resultados. Por meio de análise
estatística, decide-se que a aplicação teste da metodologia seja realizada no túnel Rebouças,
elemento de grande relevância para a mobilidade no Rio de Janeiro. Os resultados provenientes da
aplicação do método proposto indicam alto grau de deterioração na estrutura e, consequentemente,
intervenção em no máximo, um ano. Tais dados são condizentes com a situação atual da estrutura,
tanto na condição em que se encontra quanto em simulação após a intervenção.
Abstract: In this work we aimed to develop a visual inspection methodology for quantification of
pathologies in tunnel structures. For this, it was based on the GDE/UnB methodology, originally
developed for buildings and later modified for bridges and viaducts, which shows its potential for
adaptation. The research begins by contextualizing the importance of the tunnels to the city of Rio
de Janeiro that allow the connection of the entire metropolis while at the same time considerably
reducing travel. Next, an analysis of the important elements of the tunnels, as well as the
pathologies associated to each of these elements, is presented. In this way, it becomes possible to
arrive at an equation to quantify the results. Through statistical analysis, it is decided that the test
application of the methodology is performed in the Rebouças tunnel, an element of great relevance
for mobility in Rio de Janeiro. The results from the application of the proposed method indicate a
high degree of deterioration in the structure and, consequently, an intervention in a maximum of
one year. Such data are consistent with the current situation of the structure, both in the condition in
which it is found and in simulation after the intervention.
2. OBJETIVO
Adaptar a metodologia GDE/UnB para aplicação em túneis, permitindo uma análise quantitativa do
estado de conservação destas OAE (Obras de Arte Especiais).
3. MÉTODOS
(1)
(2)
(3)
(4)
Estado aceitável.
Baixo 0 – 15
Manutenção preventiva.
Definir prazo e natureza de nova inspeção.
Médio 15 – 50
Planejar intervenção em longo prazo (máximo 2 anos).
Definir prazo para inspeção especializada.
Alto 50 – 80
Planejar intervenção em médio prazo (máximo 1 ano).
Definir prazo para inspeção especializada rigorosa.
Sofrível 80 – 100
Planejar intervenção em curto prazo (máximo 6 meses).
Inspeção especializada imediata e medidas emergenciais (alívio
Crítico > 100 de cargas, escoramento, etc).
Planejar intervenção imediata.
Devido a estrutura única que os túneis possuem foi necessário alterar valores de parâmetros da
metodologia, a começar pelo fator de relevância estrutural (Fr) – Tabela 13.
Tabela 13 – Valores de Fr propostos.
Família Fr
Famílias n
Pista de rolamento 3
Guarda rodas 11
Revestimento arquitetônico 5
Junta de dilatação 3
Vigas secundárias 13
Lajes secundárias 12
Pilares 15
Vigas principais 14
Lajes principais 12
Revestimento estrutural 8
Ao adotar-se um número muito grande de elementos para cada família (m → ∞), chega-se a um
valor limite para Gdf:
(5)
(6)
3.3 Determinação do tamanho da amostra
Devido a diversidade dos túneis na cidade do Rio de Janeiro, foi realizada uma análise para
determinação do espaço amostral adequado para realização do estudo, a partir da equação [12]:
(7)
Para tal, considerou-se como universo um comprimento total (N) de 19030m, desvio padrão
máximo de 95% (z = 1,96), erro máximo (e) de 5% e uma proporção (p) de 71% (relação entre o
comprimento total dos túneis elegíveis a aplicação da metodologia e o universo), obtendo-se uma
amostra de 311,24m.
O estudo no túnel Rebouças deu-se no período de outubro de 2016 a março de 2018, em veículo
automotor (carro e ônibus). Devido a má iluminação no interior do túnel não foi possível fazer um
registro fotográfico das inspeções.
4. RESULTADOS
Os cálculos foram realizados com auxílio de planilha eletrônica, sendo os resultados individuais
apresentados nas tabelas 15, 16 e 17, e os resultados totais agrupados nas tabelas 18 e 19.
Tabela 15 – Resultados para pista de rolamento.
Elemento Patologia Fp Fi D
Pista de Rolamento – G1 ZS Descontinuidade 5 1 4
Pista de Rolamento – G1 ZS Desgaste superficial 5 3 40
Pista de Rolamento – G1 ZS Desgaste da sinalização 5 3 40
Pista de Rolamento – G2 ZS Descontinuidade 5 1 4
Pista de Rolamento – G2 ZS Desgaste superficial 5 3 40
Pista de Rolamento – G2 ZS Desgaste da sinalização 5 3 40
Pista de Rolamento – G1 ZN Descontinuidade 5 1 4
Pista de Rolamento – G1 ZN Desgaste superficial 5 3 40
Pista de Rolamento – G1 ZN Desgaste da sinalização 5 3 40
Pista de Rolamento – G2 ZN Descontinuidade 5 1 4
Pista de Rolamento – G2 ZN Desgaste superficial 5 3 40
Pista de Rolamento – G2 ZN Desgaste da sinalização 5 3 40
Elemento Patologia Fp Fi D
Guarda rodas – G1 ZS Corrosão de armaduras 5 4 100
Guarda rodas – G1 ZS Desplacamento 3 4 60
Guarda rodas – G1 ZS Eflorescência 2 2 3,2
Guarda rodas – G1 ZS Manchas 3 4 60
Guarda rodas – G2 ZS Corrosão de armaduras 5 4 100
Guarda rodas – G2 ZS Desplacamento 3 4 60
Guarda rodas – G2 ZS Eflorescência 2 2 3,2
Guarda rodas – G2 ZS Manchas 3 4 60
Guarda rodas – G1 ZN Corrosão de armaduras 5 4 100
Guarda rodas – G1 ZN Desplacamento 3 4 60
Guarda rodas – G1 ZN Eflorescência 2 2 3,2
Guarda rodas – G1 ZN Manchas 3 4 60
Guarda rodas – G2 ZN Corrosão de armaduras 5 4 100
Guarda rodas – G2 ZN Desplacamento 3 4 60
Guarda rodas – G2 ZN Eflorescência 2 2 3,2
Guarda rodas – G2 ZN Manchas 3 4 60
Elemento Patologia Fp Fi D
Revestimento estrutural – G1 ZS Desplacamento 3 1 2,4
Revestimento estrutural – G1 ZS Eflorescência 2 3 16
Revestimento estrutural – G1 ZS Manchas 2 4 40
Revestimento estrutural – G1 ZS Infiltração de água 3 3 24
Revestimento estrutural – G2 ZS Desplacamento 3 1 2,4
Revestimento estrutural – G2 ZS Eflorescência 2 3 16
Revestimento estrutural – G2 ZS Manchas 2 4 40
Revestimento estrutural – G2 ZS Infiltração de água 3 3 24
Revestimento estrutural – G1 ZN Desplacamento 3 1 2,4
Revestimento estrutural – G1 ZN Eflorescência 2 3 16
Revestimento estrutural – G1 ZN Manchas 2 4 40
Revestimento estrutural – G1 ZN Infiltração de água 3 3 24
Revestimento estrutural – G2 ZN Desplacamento 3 1 2,4
Revestimento estrutural – G2 ZN Eflorescência 2 3 16
Revestimento estrutural – G2 ZN Manchas 2 4 40
Revestimento estrutural – G2 ZN Infiltração de água 3 3 24
Família Gdf Fr K Gd
Pista de rolamento 80,63 1 80,63
Guarda rodas 205,31 1 205,31 70,28
Revestimento estrutural 80,14 3 240,43
O valor de Gd encontrado (70,28) classifica a estrutura como alto grau de deterioração, sendo
recomendado que haja intervenção em, no máximo, 1 ano.
5. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
O trabalho apresentou uma proposta inovadora de aplicação da metodologia GDE/UnB a túneis,
obtendo resultados considerados satisfatórios por cumprir o objetivo inicialmente definido. Os
valores de deterioração encontrados foram elevados, o que era esperado, devido a infiltração
constante de água, observada ser mais intensa no encontro entre os diversos módulos que compõe a
estrutura, devido à falta de tratamento das juntas entre os mesmos.
Foi observado também manifestações de eflorescências, concentradas principalmente próximo as
juntas, porém, não restritas a elas. Quando ocorrem em outros locais, indicam percolação de
material carbonatado através da rede porosa do concreto [13]. O processo de carbonatação é
alimentado devido ao depósito constante de óxidos de carbono oriundos da exaustão dos veículos,
formando manchas escuras nas paredes de toda a extensão do túnel.
Os guarda rodas apresentam elevado desgaste devido a colisão de veículos e ausência de reparos,
sendo possível observar marcas que comprovem estes impactos, se fazendo necessária a
recuperação completa dos mesmos. O pavimento, em geral, apresenta-se em boas condições,
necessitando de manutenção da sinalização.
É interessante notar que ao simular uma situação pós-intervenção, onde seriam realizadas a limpeza
com jateamento de água nas paredes do túnel, tratamento das juntas entre placas e recomposição
dos guarda rodas, o resultado reprocessado da metodologia cairia para um estado aceitável, sendo
indicada somente a manutenção periódica que toda estrutura deveria receber.
REFERÊNCIAS
[1] O GLOBO. Rio, cidade dos túneis. Jornal O Globo, 2015. Disponivel em: <infograficos.oglobo.globo.com/rio/rio-
cidade-dos-tuneis.html>. Acesso em: 20 de outubro de 2017.
[2] COMITÊ BRASILEIRO DE TÚNEIS. Túneis do Brasil. São Paulo: DBA, 2006.
[3] VEJA RIO. Túnel Rebouças completa 50 anos em 2017. Veja Rio, 2017. Disponivel em:
<https://vejario.abril.com.br/cidades/tunel-reboucas-completa-50-anos-em-2017/>. Acesso em: 5 de abril de 2018.
[4] O GLOBO. Túneis Santa Bárbara e Rebouças, criados na década de 60, unem zonas Norte e Sul. Acervo O
Globo, 2017. Disponivel em: <http://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/tuneis-santa-barbara-reboucascriados-
na-decada-de-60-unem-zonas-norte-sul-20760020>. Acesso em: 5 de abril de 2018.
[5] ESTADÃO. Carros levam 30% dos passageiros, mas respondem por 73% das emissões em SP.
Sustentabilidade Estadão, 2017. Disponivel em: <http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,carros-
transportam-30-dospassageiros-mas-respondem-por-73-das-emissoes-em-sp,70001806416>. Acesso em: 5 de abril
de 2018.
[6] CASTRO, Eliane Kraus de. Desenvolvimento de metodologia para manutenção de estruturas de concreto
armado. Universidade de Brasília. Brasília. 1994.
[7] KLEIN, D. et al. Critérios adotados na vistoria de obras de arte. XXV Jornadas Sul-Americanas de Engenharia
Estrutural. Porto Alegre: [s.n.]. 1991. p. 185-196.
[8] TUUTTI, Kyösti. Corrosion of steel in concrete. Swedish Cement and Concrete Research Institute. Estocolmo.
1982.
[9] EUQUERES, Priscilla. Metodologia de inspeção em estruturas de pontes de concreto armado. Universidade
Federal de Goiás. Goiânia. 2011.
[10] VERLY, Rogério Calazans. Avaliação de metodologias de inspeção como instrumento de priorização de
intervenções em obras de arte especiais. Universidade de Brasília. Brasília. 2015.
[11] FONSECA, Régis Pamponet da. A estrutura do instituto central de ciências: aspectos históricos, científicos e
tecnológicos de projeto, execução, intervenções e proposta de manutenção. Universidade de Brasília. Brasília. 2007.
[12] OCHOA, Carlos. Qual é o tamanho da amostra que eu preciso?. Netquest, 2013. Disponivel em:
<https://www.netquest.com/blog/br/blog/br/qual-e-o-tamanho-deamostra-que-preciso>. Acesso em: 4 de março de
2018.
[13] SANTOS, Amaro Francisco Codá dos. Análise do concreto dos blocos de fundação da ponte Rio-Niterói.
Universidade Federal Fluminense. Niterói. 2018.
ESTRUTURAS PRÉ-FABRICADAS DE CONCRETO PARA USO
AGRÍCOLA
1. INTRODUÇÃO
Desde o início da exploração comercial pós-descobrimento, a agricultura no Brasil sofreu inúmeras
modificações em sua estrutura. A partir da década de 1960, desenvolveu-se tanto que ganhou papel
de destaque na economia do país. Segundo Kageyama (2004) a modernização pela qual passou a
agricultura fez com que as diferenças antes gritantes entre campo e cidade fossem minimizadas.
Dessa forma o ambiente rural também passou a significar evolução tecnológica e
multifuncionalidade (NAVARRO, 2001). Tanto que passou a utilizar-se, entre outras, de técnicas
da engenharia, entre elas a civil para aprimorar-se.
Muitos pesquisadores e institutos de pesquisa enxergaram essa evolução e começaram a se destacar
pela relevância dos seus estudos e investigações, procurando auxiliar a agricultura brasileira, de
modo a propor bases técnicas necessárias ao seu desenvolvimento. Isso, sempre se levando em
conta a realidade do homem do campo, uma vez que o desempenho da produção depende da
observância das recomendações técnicas e sua aplicabilidade. A teoria, nesse caso tem que aliar-se a
prática.
Na agricultura, por exemplo, é necessário analisar o perfil agro socioeconômico dos agricultores e
da agricultura praticada naquela área em questão. A aplicação das técnicas e o teste de novos
procedimentos e métodos inéditos de investigação vão variar tanto de região para região como
depender do tipo de cultura escolhido. Assim, o grande desafio é descobrir a melhor combinação
entre as pesquisas, as melhores técnicas e os menores custos de implantação.
1.1 Agricultura no brasil: cenário
Para entender a agricultura e as mudanças que aconteceram no espaço geográfico brasileiro, é
necessário situar qual era o cenário no Brasil nos anos de 1920, período antecessor à Revolução de
1930. Até essa época, o sistema produtivo adotado no Brasil era baseado em um modelo primário-
exportador, em que todas as fases de desenvolvimento tinham como premissa um único produto, o
qual era destinado à exportação. Podemos exemplificar os casos do pau-brasil, do açúcar, do couro
e do café (FURTADO, 1959). A base econômica era representada por um produto produzido ou
extraído do setor primário, nomeado agricultura de extrativismo, que tivesse muita aceitação no
mercado externo.
O grande problema do modelo adotado era que, quando o principal produto de exportação entrava
em baixa, influenciava diretamente na economia do País, acentuando a crise econômica (FAUSTO,
1997). Impactando imediatamente a capacidade de importação de mercadorias importantes ao
abastecimento do mercado interno. Nesse contexto, o crescimento econômico era totalmente
dependente do desempenho verificado no setor que produzia para o mercado externo.
A realidade desse sistema é que se era obrigado a conviver com instabilidades constantes e ficava
cada vez mais evidente a fragilidade econômica, o que evidenciava os casos de crises, como a do
café, que foi o principal produto a partir de meados de 1850 até a década de 1930. A crise do café
acentuou-se em toda a década de 20, naquele momento, todo mercado interno era movimentado
através da comercialização de produtos ligados ao mundo do café.
A partir do governo de Getúlio Vargas, a política extrativista deu lugar ao desenvolvimento do
Capitalismo, através dos investimentos e incentivos à consolidação das indústrias e à consolidação
do mercado consumidor. Nesse contexto, além de diminuir o tempo entre as regiões através dos
diversos meios de transporte e, consequentemente, integrar os centros comerciais, os povoados e os
produtores, era necessário garantir o abastecimento de alimentos e matérias-primas para a
população e fábricas concentradas na região sudeste. Logo, era necessário estabelecer e constituir
um mercado consumidor de produtos industrializados.
1.2 Era da modernização da agricultura
Essas relações se estabeleceram no Brasil até meados da década de 60. No período, o êxodo rural
era a principal causa dos fracassos dos projetos rurais, dando espaço aos grandes latifúndios,
incentivados pelas isenções fiscais e crédito facilitado proposto pelo Governo Federal.
Com isso, entra em cena a criação dos centros de pesquisa, dos órgãos específicos para apoiar a
agricultura latifundiária, e assim sendo, inicia-se a era da modernização na Agricultura Brasileira,
também conhecida como “Revolução Verde”. De acordo com Almeida (1977) essa época
representou muito mais que uma modernização nas estruturas físicas, mas uma revolução na
maneira de se pensar a agricultura.
Nessas circunstâncias, deu-se lugar a uma nova fase de produção e o aumento de projetos,
executados também por empresas particulares e os vários programas criados de desenvolvimento
Industrial, proporcionando novas pesquisas e tecnologias, que vêm sendo aplicadas e utilizadas até
os dias de hoje.
Inclusive, o governo celebrou convênios de infraestrutura rural para a execução de projetos, abrindo
frentes para a Engenharia Civil, tais como: centros comunitários, abatedouros, centros de
comercialização, estradas vicinais, entre muitos outros.
2 OBJETIVOS
Conhecer e entender a historia da introdução, a aplicabilidade e a possibilidade de nichos de
mercado para a atuação na área de engenharia civil, aplicado à agricultura.
3 MÉTODOS
3.1 Concreto simples
O concreto é um material formado pela mistura de cimento, água, agregado miúdo (areia) e
agregado graúdo (pedra ou brita), e ar. A fim de melhorar suas propriedades, podem ser anexados
elementos como cinza volante, pozolanas, sílica ativa e aditivos químicos (FUSCO, 1976; p.298).
As estruturas feitas de concreto estão cada vez mais presentes no Brasil e no mundo. Isso se
justifica por alguns motivos centrais. O primeiro deles é a abundância dos materiais que o compõem
(cimento, agregados e água). O segundo se relaciona com sua forte estrutura quando comparado a
outros materiais, como a madeira, por exemplo, que é mais suscetível às intempéries ambientais.
Por fim seu fácil uso e aplicação em diferenciados tipos de construção.
A grande questão é que o concreto é um material com altíssima resistência às tensões de
compressão, porém, baixa resistência à tração (cerca de 10 % da sua resistência à compressão).
Dessa forma, é muito importante a união do concreto com um material que lhe forneça essa segunda
característica. É justamente dessa necessidade que surge o concreto armado, que vai unir o concreto
a estruturas de aço (LEONHARDT, 1982; p305).
3.2 Concreto armado: conceito e aplicações
Esse concreto é definido, de acordo com Leonhardt (1982) como sendo todas as estruturas que em
seu interior apresentam armações de aço e concreto. O conceito básico do que é concreto armado é:
Concreto armado = concreto simples + armadura + aderência
As barras de aço existentes embutidas nas peças de concreto existem para suprir as deficiências do
concreto a esforço de tração. Com a utilização do aço na estrutura, obtém-se uma maior resistência.
Dessa forma ele é indispensável em estruturas de concreto, uma vez que os esforços exercidos sobre
elas são muito altos. São exemplos de estruturas de concreto que recebem maior esforço: vigas,
lajes, pilares, sapatas e estacas.
Para dar início à execução dessas estruturas de concreto, primeiramente, é necessário que as
mesmas sejam projetadas por um engenheiro civil especialista, mais conhecido no mercado como
“engenheiro calculista”.
É a partir de análises e estudos de projetos feitos por ele, que serão determinados os tipos de
estruturas e o diâmetro das armaduras de aço que serão utilizados em cada construção, bem como os
espaçamentos das barras de aço e o dimensionamento das peças de concreto a serem produzidas.
Assim, no projeto de execução, estarão discriminadas todas as informações necessárias para a
construção das estruturas.
3.3 Concreto armado e os silos
Na amplitude da construção civil, o concreto armado pode ser utilizado como elemento estrutural.
No caso da aplicação na agricultura, pode ser tomado como um dos inúmeros exemplos, o
armazenamento em silos. Estes são construídos no sentido vertical e utilizados para estocagem de
grãos.
Foram criados como forma de estimular os agricultores a terem uma maior rentabilidade econômica
e boa qualidade de seus insumos (SAFARIAN; HARRIS, 1985; 01 p.). Os silos são construídos na
posição vertical em formato cilíndrico, com saída de escoamento em formato cônico na sua base. Aí
nota-se que engenharia civil e agricultura podem andar de mãos dadas.
Com a construção de silos de concreto armado em suas fazendas ou cooperativas próximas, os
produtores poderão economizar em fretes, que antes eram destinados a silos de maior distância e
guardar sua produção para venda numa época mais rentável, de forma segura e garantindo a
continuidade da qualidade de seus produtos.
Nos silos convencionais (metálicos) ocorrem algumas desvantagens, de acordo com Safarian e
Harris (1985), apesar da sua construção ter maior agilidade, por serem de chapas de aço, os silos
convencionais têm uma perda de temperatura significativa, teor de umidade alta e até mesmo
presença de pragas e/ou roedores. Essas desvantagens vão afetar diretamente na qualidade dos
grãos, podendo assim diminuir sua durabilidade.
Já os silos de concreto armado possuem ótimos resultados como isolantes, podem ser facilmente
moldados e requerem menos manutenção que outros materiais (SAFARIAN; HARRIS, 1985; 01
p.).
Mas ainda assim, os silos de concreto armado são mais pesados e pode ocorrer alguma entrada de
umidade devido a fissuras causadas pelos esforços exercidos em suas paredes internas pelos grãos
armazenados (SAFARIAN; HARRIS, 1985; 01 p.). Porém esse problema pode ser facilmente
resolvido fazendo com que ele não afete a qualidades dos insumos armazenados.
3.4 Concreto pré-moldado para uso agrícola
Levando-se em conta parte das vantagens construtivas apresentadas anteriormente e com o intuito
de baixar o custo de fabricação, algumas empresas especializadas criaram uma linha de artefatos de
concreto específicos para uso em atividades agrícolas fabricados em série. Alem de adaptar os
artefatos já comumente utilizados nas cidades, que por sua versatilidade servem também para o uso
em propriedades rurais.
Dentre os de uso comum, podemos citar (PEC FORMAS, 2018):
● Manilhas: usadas principalmente em drenagens e passagens de água (Fig.1);
Figura 1 - Manilha de concreto
● Anéis de poço: utilizados para a contenção dos próprios poços e construção de fossas
sépticas (Fig.2);
Figura 5 - Canaleta
Quanto aos artefatos de uso propriamente agrícola, podemos citar (CURRAIS ITABIRA, 2017
):
● Currais: todo confeccionado em placas e mourões de concreto (Fig.6);
Figura 6 - Curral de concreto
● Cochos: para sal ou rações (Fig.7);
4 DISCUSSÃO
A partir dessa análise, verificou-se que existe uma demanda para uma grande variedade de artefatos
de concreto no setor agropecuário, no entanto, como a maioria dos agricultores é de pequeno porte
(agricultura familiar), o custo inicial das peças ainda pesa na escolha do final, uma vez que o
produtor prefere construir suas estruturas e acessórios pertinentes em madeira, material mais barato
e fácil de ser encontrado e transportado.
Outro ponto a que se verificou, foi a falta de concorrência de fábricas de acessórios para
bovinocultura. Hoje o mercado é dominado por um só fabricante (no caso dos currais) localizado
em Cachoeiro do Itapemirim - ES, o que torna oneroso até mesmo o frete desse produto até o
mercado consumidor, sem falar que esse fabricante possui somente projetos para grandes
propriedades, com um alto número de animais, inviabilizando o acesso aos pequenos produtores.
No caso de cochos, bebedouros e mata-burros, existem vários pequenos fabricantes, alguns até que
“adaptam” estruturas no formato de canaletas para serem vendidas como cocho, porém pela imagem
captada pela internet, atesta-se a falta qualidade no acabamento do produto. Galpões de estrutura
pré-fabricada dificilmente são vistos nas propriedades rurais. Nelas encontramos comumente
barracões com estrutura de madeira e, poucas vezes, de estrutura metálica (que não proporciona o
mesmo conforto térmico que o concreto).
Já no caso dos silos, que são estruturas para armazenar grãos e insumos, são mais comumente
encontrados fabricados em estrutura metálica (SAFARIAN; HARRIS, 1985; 01 p.). Há no Brasil
toda uma grande gama de universidades trabalhando com pesquisas na utilização de estruturas de
concreto para tal fim. Entretanto, as estruturas de concreto não se mostraram adaptáveis a toda a
gama de grãos, sementes, rações e insumos armazenados na agricultura.
5 CONCLUSÕES
Após levantamento, pode-se concluir que o concreto, apesar de relativamente novo na relação
homem-natureza, apresenta-se como uma peça chave, podendo ter várias aplicações que resultam na
melhoria tanto da vida do homem do campo quanto na produtividade de seu trabalho e durabilidade
de seus equipamentos.
Atesta-se também que o trabalho, tanto na produção quanto no desenvolvimento de novas técnicas
de uso e tecnologias de construção e aplicação de artefatos de concreto, vislumbra uma promissora
carreira futura no ramo da engenharia civil, seja na área de pesquisa e desenvolvimento ou no
empreendedorismo.
Para uma maior amplitude na utilização desses artefatos é necessária a criação de uma linha de
crédito governamental assim como maior investimento na divulgação para que tais produtos sejam
acessíveis aos pequenos produtores.
Essa mesma linha deveria proporcionar recursos à pesquisa de novas tecnologias construtivas e
modernização das fábricas, para que disponibilizem produtos de melhor qualidade a um preço mais
acessível. Há também a necessidade de maior divulgação de cartilhas educativas, a exemplo essas
da ABCP, que, mesmo sendo de distribuição gratuita, não atingem o público alvo de modo efetivo.
REFERÊNCIAS
[1] KAGEYAMA, A. et. al. O novo padrão agrícola brasileiro: do complexo rural aos complexos
agroindustriais. ln: DELGADO, G.; GASQUES, J.G.; VILLA VERDE, CM. Agricultura e
políticas públicas. Brasília: IPEA, 1990. 113-223 p.
[2] NAVARRO, Z. Desenvolvimento rural No Brasil: os limites do passado e os caminhos do
futuro. Estudos Avançados, v. 15, n. 43, 2001. 83-100 p.
[3] FURTADO, C. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1959.
[4] FAUSTO, B. Revolução de 1930: Historiografia e História. São Paulo: Ed. Companhia das
Letras, 1997.
[5] ALMEIDA, J. Da ideologia do progresso à ideia de desenvolvimento (rural) sustentável. In:
Almeida, J. e Navarro, Z. Reconstruindo a agricultura: ideias e ideais na perspectiva do
desenvolvimento rural sustentável. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1997, 33-55 p.
[6] FUSCO, P.B. Estruturas de Concreto - Fundamentos do Projeto Estrutural. São Paulo, Ed.
USP e McGraw-Hill, 1976, 298 p.
[7] LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto – Princípios básicos do
dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 1. Rio de Janeiro, Ed. Interciência,
1982, 305 p.
[8] SAFARIAN, S.S.; HARRIS, E. C. Design and constructions of silos and bunkers. New York:
Van Nostrad Reinhold, 1985.
[9] PEC FORMAS: catálogo técnico geral. Disponível em: <http://www.pecformas.com.br>.
Acesso em 02 de novembro de 2016.
[10] CURRAIS ITABIRA: manual técnico. Disponível em: <http://www.curraisitabira.com.br>.
Acesso em 02 de novembro de 2016.
[11] ABCP. Guia de Construções Rurais a base de cimento, Fascículo 1, 2 e 3. Disponível em:
<http://www.abcp.org.br/cms/download/>. Acesso em 02 de novembro de 2016.
ANÁLISE DO PANORAMA DAS TRAVESSIAS EM PASSAGENS EM NÍVEL
FERROVIÁRIAS
Abstract: An interface between road and rail modes on the same level is called Level Crossings
(LC). These are the variables from the road point of view, since there are traffic disruptions,
reduced cruising speed, investments in signaling equipment and entrance for mobility. In relation to
a railroad, such as the LC merit attention for great efforts bottlenecks, once again the speed of the
modal, in addition to the high index of hits or emergency stops. This study includes exploratory
research on changes in the most varied levels, decision rules on safety, the occurrence of accidents,
the causes of accidents, actions to reduce the number of accidents and the use of new technologies,
comparing a reality Brazilian with one European. The data are commented for a reduction in the
number of occurrences in a country of the region, a Brazilian reality is subject to international
reality. This title can be justified by years of non-modal road investment to the detriment of the
railway sector and to one of the main behaviors of society. However, there may have been a
reduction in the number of failures since 1997 in Brazil, although it has been significant, there is
still much to be improved. It was also observed that a more particular solution is the suppression of
LC, it is not always possible due to scarce resources. Through this reality, it is necessary that the
measures adopted are alternatives, from educational campaigns to the use of new technologies, but
there is no consensus on which solution is best.
1. INTRODUÇÃO
De acordo com os dados da Confederação Nacional de Transportes (CNT, 2017), o Brasil possui
30.576 km de vias férreas com 12.289 passagens em nível (PN), ou seja, existem em média 4 PN
para cada 10 km de vias férreas. Estas por sua vez são classificadas de acordo com vários
indicadores relacionados a segurança e ao tráfego, sendo as de piores índices consideradas como
críticas, e a partir das últimas, são identificadas aquelas que necessitam de prioridade nos
investimentos doravante denominadas prioritárias. Em 2017, eram 2.659 PN consideradas críticas e
276 prioritárias.
Segundo ILCAD (2017a), existem aproximadamente 600 mil PN nos países analisados, destas 114
mil se encontram nos países da União Europeia (UE). Estima-se a existência de 5 PN para cada
10km de via férrea na Europa. Desde 2010 a UE vem reduzindo o número de acidentes, sobretudo
nas PN.
As séries históricas de acidentes na malha ferroviária brasileira demonstram que o número de
acidentes reduziu bruscamente em relação ao período da Rede Ferroviária Federal Sociedade
Anônima (RFFSA), entretanto, ainda se encontra muito elevado quando comparado com os países
desenvolvidos, nomeadamente com a UE.
As conferências organizadas e pesquisas sobre o tema mostram que a solução seria a supressão de
todas as PN. Entretanto, na falta de recursos financeiros para eliminar todas as PN, há de se buscar
outros meios para redução de acidentes nestes pontos através de campanhas de sensibilização ou
emprego de novas tecnologias.
2. OBJETIVOS
O presente artigo tem como objetivo fazer uma comparação entre a realidade brasileira e européia
quanto as PN nos aspectos relacionados à segurança, estatísticas, causas dos acidentes e o emprego
de novas tecnologias que poderiam ser usadas ou adaptadas para a realidade nacional, inclusive no
que diz respeito à melhoria dos aspectos de segurança nos cruzamentos rodoferroviário.
3. PANORAMA EUROPEU
Em 2015, o número total de acidentes significativos ocorridos nas 21 companhias europeias, alvo
do estudo “Safety Database Activity Report 2016” foi de 1624, apontando uma queda de 31%
quando comparados a 2006. Estes acidentes resultaram num total de 1512 vítimas entre
funcionários, passageiros e outros, com 857 óbitos (UIC, 2016).
Nesta pesquisa estão agrupadas algumas informações relativas aos acidentes ocorridos nas empresas
gestoras de redes ferroviárias: ADIF (Espanha), CFL (Luxemburgo), CFR SA (Romênia), DB AG
(Alemanha), Eurotunnel (França e Reino Unido), HZ (Croácia), Infrabel (Bélgica), JBV (Noruega),
MÁV (Hungria), Network Rail (Reino Unido), ÖBB (Austria), PKP (Polônia), PRORAIL
(Holanda), REFER (Portugal), RFF/SCNF (França), SŽ (Eslovênia), RFI (Itália), SBB CFF FFS
(Suíça), SŽDC (República Tcheca), Trafikverket (Suécia) e ŽSR (Eslováquia) totalizando em
aproximadamente 228 mil km de malha ferroviária.
Tabela 1 - Distribuição dos acidentes ocorridos nas vias ferroviárias da Europa de acordo com as definições da UIC em
2015 (UIC, 2016 adaptado pelo autor)
Os dados indicam que o número de mortos e vítimas sofreu uma redução respectivamente, de 31% e
38% em relação a 2006. Os atropelamentos nas vias férreas em 2006 representavam 63,8% do total
de acidentes, em 2015 este percentual diminuiu para 56,3%. Entretanto, ainda é o tipo de acidente
mais recorrente. Por sua vez, os acidentes registrados nas PN representaram 27,3% do total de
acidentes em 2006 e em 2015 representam 24,5% como demonstra a Tabela 1. (UIC, 2016)
Ainda de acordo com o relatório, as colisões de trens com obstáculos representaram 23,4% dos
acidentes, sendo que 16,0% se localizam em PN. Por sua vez, os atropelamentos nas PN
representaram 8,5% do total de acidentes.
Nota-se que o estudo utilizou dois critérios de classificação dos acidentes, denominados “UIC” (1ª
Coluna) e “Safety Directive” (3ª Coluna) da Tabela 1. Para esta análise foram usados ambos,
sempre procurando adotar o que melhor retratasse o assunto em questão, como por exemplo, o
segundo critério foi adotado para análise dos acidentes ocorridos em PN.
A análise dos acidentes efetuada no relatório “UIC Safety Report 2016” identifica que, de um total
de 1512 vítimas em 2015, a maioria eram outros (nem passageiros e nem funcionários), como
demonstra a Tabela 2.
Tabela 2 - Número de Vítimas registradas em 2015, segundo o Banco de Dados do Relatório de Atividades da UIC.
(UIC, 2016 adaptado)
Este percentual de outros registrados confirma a evidência dos anos anteriores de que a interação
entre o sistema ferroviário com o seu meio envolvente provoca um número mais elevado de vítimas
quando comparado com o número causado apenas por falhas dos sistemas internos de segurança
ferroviários (UIC, 2016).
Neste mesmo relatório, os outros totalizam 94,3% das mortes registradas em acidentes, sendo que
os 5,7% restantes se dividem entre (2,56%) passageiros e os (3,14%) funcionários das companhias
ferroviárias.
A maioria dos acidentes registrados nas vias férreas foram atropelamentos, não somente nas PN em
particular, porém em toda a rede ferroviária como pode ser observado na Tabela 3. Conforme UIC
(2016) foram registrados 969 acidentes desta natureza, de um total de 1624, ocasionando 671
mortos e 317 feridos graves. O número de mortes referente a este tipo de acidente corresponde a
78,3% do total, sendo que o número de feridos graves corresponde a uma percentagem de 48,4%.
Tabela 3 – Número absolutos e relativos por tipo de acidentes em 2015 (UIC 2016 adaptado).
Os acidentes que envolvem colisão de trens com obstáculos representam apenas 7,4% do total
conforme demostra a Tabela 4. As diferenças percentuais e absolutas entre as Tabela 3 eTabela 4 é
devido aos diferentes critérios utilizados para a classificação de cada evento.
Ainda segundo UIC (2016), verifica-se que durante o ano de 2015, 58% dos acidentes registrados
foram atropelamentos na rede em geral, excluindo as PN. Dos 915 acidentes registrados nas
condições descritas, resultaram 591 mortos e 341 feridos graves. Os mortos neste tipo equivalem a
69,0% do número total de mortos registrados nas vias férreas, e os feridos graves equivalem a
52,1% do total.
Os atropelamentos em conjunto com os acidentes em PN contabilizam 1367 sendo 80,8% do total.
Contudo, estes foram responsáveis por 841 mortos e 588 feridos graves, ou seja, 98,1% das
fatalidades e 89,8% dos feridos, logo são considerados os acidentes de maior gravidade e
consequências.
Este mesmo estudo aponta o transporte ferroviário como um dos meios de transporte mais seguros
atualmente. No entanto, as linhas férreas não deixam de ser uma fonte de perigo para os condutores
dos veículos e pedestres que utilizam as PN. Os acidentes neste local são responsáveis por um
número significativo de mortes nas ferrovias europeias, sendo estas consideradas a zona mais
problemática de uma ferrovia.
Tabela 4 - Vítimas por tipo de acidente. (UIC, 2016 adaptado)
Funcionários
Funcionários
Passageiros
Passageiros
Tipo de acidente - 2015 (Critérios: “Safety
Outros
Outros
Qtd. %
Directive”)
Número de mortos
% em % em Mortos
Acidentes
Funcionários
Acidentes
Passageiros
Ainda de acordo com UIC (2016), enquanto que os fatores econômicos excluem presentemente a
possibilidade de separação total entre as vias rodoviárias e as vias férreas, o desenvolvimento de
uma estratégia regional acordada para a Europa poderia facilitar a atribuição de papéis e
responsabilidades, a definição de ações e compromissos a serem executados em matéria de
segurança em PN.
A 9ª Conferência Mundial de PN que ocorreu entre os dias 02 de Julho de 2017 em Quebec,
demonstrou que a maior percentagem de todos os acidentes que envolvem a rede ferroviária são
causados por outros (condutores e pedestres), e estes acontecem regularmente nos cruzamentos
entre estrada e via férrea (ILCAD, 2017a).
Enquanto os mortos em acidentes nas passagens de nível representam apenas 1% dos acidentes
rodoviários, no modal ferroviários este número era em torno de 29% em todo território europeu no
ano de 2012 (ILCAD, 2017b).
Tal fato demonstra um maior impacto dos acidentes em PN no modal ferroviário e mostra a
discrepância nos percentuais de acidentes entre os dois modais. Nota-se que 79,9% dos acidentes
tiveram causas externas conforme descrito na Tabela 6, sendo que 47,0% foram por pessoas que
invadiram a faixa de domínio e 24,3% dos acidentes ocorrem em PN. Em 59,4% há o atropelamento
de outros, sendo esta a maior causa de mortes e feridos nos acidentes ferroviários na Europa.
Tabela 6 - Causas de acidentes no ano de 2015 (UIC, 2016 adaptado)
4. PANORAMA NACIONAL
De acordo com a Confederação Nacional dos Transportes (CNT, 2017), o Brasil atualmente possui
12289 PN (Gráfico 1) em uma malha ferroviária de 30.576 km, sendo 2.659 consideradas críticas e
276 prioritárias, tendo estes números apresentado estabilidade desde 2010.
Através dos Gráfico 1 e 2 percebe-se que houve um crescimento entre 2006 e 2007. Considerando
apenas o período de 2010 até 2017, tem-se uma estabilização no número de PN no país. O Brasil
possui em média 0,4 passagens de nível por km de linha férrea. Atualmente, 21,6% do total são
consideradas críticas (CNT, 2017).
Gráfico 1 - Número de PN no Brasil. (CNT adaptado)
Em 2006, existia no país 10755 PN sendo 885 consideradas críticas (CNT, 2005) conforme Gráfico
2. Se compararmos o número de PN com o ano seguinte (2007) houve acréscimo de 14,26% que
não pode ser explicado por aumento substancial da rede ferroviária. Embora não há maiores
informações sobre o motivo desta grande variação, provavelmente até 2006 não eram
contabilizados dados de todas as concessionárias, ocasionando um dado não fidedigno com a
realidade.
Outra crítica em relação aos dados disponibilizados é a estabilidade desde 2010. Embora os
investimentos fiquem muito inferor às necessidades, no período em questão ocorreram supressões
de PN, por exemplo, na cidade de Juiz de Fora (MG), bem como inauguração do tramo central da
Ferrovia Norte-Sul, fatos que desencadeariam alterações no total de PN.
Segundo Carmo & Campos (2009), as PN são classificadas como críticas seguindo os seguintes
critérios e fatores como a segurança na passagem em nível, localização da PN, risco provocado pelo
trânsito de pessoas, sinalização deficiente ou inadequada, avaliação de estatísticas de acidentes
ocorridos no local e irregularidades.
Segundo ANTT (2014), existia uma previsão da malha ferroviária brasileira evoluir de 28746 km
para 48732 km em 2023 resultando em um aumento do tráfego ferroviário.
Os dados da Figura demonstram que em 2013 foram registrados 864 acidentes em ferrovias no
país. Em 2012 foram 952, nota-se que desde 1997 os acidentes reduziram em 77%. Contudo, se
consideramos o período entre 2006 e 2013 houve uma estabilização neste número apresentando um
crescimento de 23 casos comparado a 2006.
Para efeitos de acidentes ferroviários no Brasil, é utilizada a definição proposta na Resolução 1431
de 26 de Abril de 2006 (ANTT, 2006) a qual “Estabelece procedimentos para a comunicação de
acidentes ferroviários à ANTT pelas concessionárias e empresas públicas de transporte ferroviário”.
Logo, o artigo 2º da Resolução considera “acidente ferroviário a ocorrência que, com a participação
direta de veículo ferroviário, provocar danos a este, a pessoas, a outros veículos, a instalações, a
obras-de-arte, à via permanente, ao meio ambiente e, desde que ocorra paralisação do tráfego, a
animais.” (ANTT, 2006).
5. NOVAS TECNOLOGIAS EM PN
Vários fatores podem contribuir para ocorrências de acidentes em PN como físicos, relacionados à
área do cruzamento, operacionais do tráfego rodoviário e ferroviário; e comportamentais,
relacionados à maneira que motoristas e pedestres reagem às condições encontradas.
Conferências sobre o tema mostram que a única maneira realmente eficaz para diminuir o número
de acidentes é a supressão de todas as PN. Entretanto, nem sempre há recursos disponíveis para isto,
portanto, deve-se educar os usuários de passagens de nível, com destaque para os riscos e torná-las
conscientes das possíveis consequências se agirem com imprudência. Finalmente, quando a
educação falha ou não é suficiente, o próximo passo é adotar técnicas de engenharia para garantir a
segurança (ILCAD, 2017a).
Em relação a fatores comportamentais, envolvendo motoristas e pedestres, são necessárias medidas
de médio e longo prazo visando conscientização dos mesmos quanto aos riscos envolvidos em
travessias rodoferroviárias.
Atualmente, as empresas gestoras ferroviárias ao redor do mundo vêm desenvolvendo técnicas para
a redução de riscos nas PN.
5.1. CCTV (Circuito Fechado de Televisão)
Em um sistema de duplas meias barreiras convencional, o sistema abaixa uma barreira de cada lado,
e só passados alguns segundos descem as outras, permitindo que os veículos que estejam em plena
passagem possam concluir a travessia. O problema é que muitos condutores ao ver as primeiras
cancelas em baixo, arriscam e tentam fazer o tal ziguezague, não contando que, antes de saírem da
PN se encontram as segundas barreiras fechadas, permanecendo presos na área de cruzamento.
Para evitar esta situação, uma alternativa é o uso do CCTV. O operador na central nota pelo CCTV
a presença de um obstáculo e aciona o levantamento das meias barreiras de saída para que o veículo
possa evadir. Embora este sistema necessite de intervenção humana, de acordo com REFER (2014)
ao ser aplicado em Portugal se mostrou muito eficaz.
5.2. Sistemas de Detecção de Obstáculos para as PN
Os sistemas de detecção de obstáculos nas PN foram desenvolvidos com o intuito de prevenir a
colisão de um trem com qualquer objeto que se encontre numa PN. Este sistema detecta um objeto,
como por exemplo, um carro, dentro da área de cruzamento de uma PN, e notifica a ocorrência à
tripulação de um trem quando da sua aproximação a esse cruzamento (HISAMITSU et al, 2008).
Ainda de acordo Hisamitsu, o aumento da conscientização da segurança ferroviária levou várias
empresas a instalarem sistemas mais avançados do que aqueles que têm sido utilizados
convencionalmente. Para evitar a ocorrência de acidentes, o sistema de detecção de obstáculos é
instalado nas PN mais problemáticas, ou com maior volume de tráfego.
O Sistema de Radar Laser 3-D emite um laser através de pulsações contra um objeto, e efetua uma
medição do tempo de regresso do laser refletido até ao radar (time-of-flight method) de modo a que
seja possível o cálculo da distância até ao objeto (HISAMITSU et al, 2008).
Ainda conforme Hisamitsu, este Scanner da área permite a medição das coordenadas 3-D de
qualquer objeto que se encontre nesse espaço, coordenadas essas que são devolvidas como
informação através da reflexão do laser de volta ao Radar. Todas as coordenadas que foram
superiores à superfície da estrada são extraídas, e pontos distribuídos nas suas proximidades são
reconhecidos como um grupo de pontos. Os dados sobre esses grupos de pontos são processados
para o cálculo das posições e tamanhos dos objetos.
Executando repetidamente este processo de medição Laser 3-D, torna-se possível reconhecer e
identificar os diferentes tipos de objetos que forem encontrados na área da PN. Além disso, torna-se
possível calcular também a velocidade de deslocamento dos mesmos, bem como a direção do
movimento. Para tal, bastará somente calcular a alteração temporal dos grupos de pontos desde a
sua posição inicial sempre que as suas coordenadas sofrerem alguma alteração (HISAMITSU et al,
2008).
O sistema funciona com a colocação de duplas meias barreiras na faixa de rodagem da PN,
garantido que o fechamento das barreiras das saídas apenas acontecerá com a comprovação de que
não existe nenhum objeto na PN, comprovação esta feita com recurso ao SDO. Este sistema é muito
semelhante ao CCTV, porém é mais seguro pois as ações são executadas de forma automatizadas,
dispensando qualquer intervenção humana.
Por fim, o funcionamento das duplas meias barreiras (MB) com Sistema de Detecção de Obstáculos
(SDO) seguem as seguintes etapas:
1. Início dos sinais sonoros; 2. Sinal vermelho intermitente; 3. Início do fechamento das MB de
entrada; 4. Início do SDO; 5. Início do fechamento das MB de saída, caso não seja detectado
nenhum objeto/obstáculo e depois de comprovado o fechamento das MB de entrada; 5a) Caso seja
detectado um objeto/obstáculo as MB de saída não fecham, permitindo a sua saída da PN.
Simultaneamente são fechados os sinais de proteção à PN, informando ao trem da existência de um
obstáculo na via; 6. Com fim da passagem do veículo ferroviário, são levantadas as 4 MB e
desligado os sinais sonoros e luminosos.
5.3. Guarnecimento a Distância
Para uma PN que tenha pouco tráfego rodoviário, encontraram-se soluções alternativas que
permitam a sua adequação aos quesitos de segurança com um investimento mínimo. Nesse
pressuposto, existe uma solução de PN permanentemente fechada, em que a sua abertura e
fechamento, a pedido do usuário, é efetuada por comando operado à distância por agente
responsável pela segurança.
O veículo ao se aproximar da PN a encontrará fechada. Nela se encontra um dispositivo para qual o
usuário irá solicitar a abertura da mesma. Na ausência de tráfego ferroviário, o agente responsável
irá abrir a PN para que o veículo atravesse e volta a fechá-la após constatar via CCTV que o veículo
saiu do cruzamento.
5.4. GPS (Sistema de Posicionamento Global)
Vários sistemas com o uso de GPS estão em estudo ou sendo testados. Um destes, de viés mais
educativo, necessita da colocação de um aparelho GPS nas locomotivas. Ao se aproximar de uma
determinada PN, o aparelho transmite as coordenadas via satélites que repassam estas informações
para qualquer veículo rodoviário que estiver se aproximando daquela PN alertando-o para a
passagem do trem.
5.5. Sistema de aviso 2º Trem
Um problema muito recorrente em sistemas de transporte ferroviário de passageiros é o "segundo
trem vindo". Este fenômeno dá-se em cruzamentos de via dupla, quando um trem se aproxima da
PN e poucos segundos depois há a passagem de outro em sentido contrário.
O equipamento da PN é ativado indicando a aproximação e passagem do 1º trem, e após completar
a sua passagem, os dispositivos são novamente acionados por um segundo trem. Esta situação é
muito confusa e potencialmente perigosa para motoristas (quando não há barreiras físicas) e
pedestres. Muitos usuários (pedestres principalmente) ao constatar o término do 1º trem, iniciam a
travessia e na metade do percurso são surpreendidos por um trem em sentido contrário. Na maioria
dos casos, a primeiro trem encobre o segundo impedindo que o mesmo seja detectado visualmente
por parte dos pedestres. O mesmo pode acontecer para uma PN sem barreira, o motorista ao término
do primeiro trem inicia a travessia e são surpreendido pelo segundo trem em sentido contrário.
Em Los Angeles, um projeto piloto foi realizado para investigar o uso de um sinal de alerta ativado
pelo segundo trem como um meio de reduzir o risco adicional para os pedestres. O projeto foi
implantado na linha Azul do VLT, considerada a mais perigosa da cidade. A via ferroviária é
composta de quatro linhas sendo duas exclusivas para carga da Union Pacific e duas para o VLT.
Através da análise dos vídeos de antes e depois da implantação do aviso, o projeto piloto confirmou
que o sinal de alerta foi eficaz na redução de comportamentos de risco por parte dos pedestres. No
geral, o número de pessoas que atravessam a PN em menos de 15 segundos na frente de um
segundo trem se aproximando foi reduzido em 14% após o sinal de alerta instalado. O número de
pedestres que atravessaram as PN em seis segundos ou menos antes de um segundo trem foi
reduzida em aproximadamente 32%. O número de pessoas que atravessam as PN em 4 segundos ou
menos na frente de um segundo trem foi reduzido por 73%. Por ser uma medida exclusivamente
educativa, a queda deste comportamento foi considerada impressionante.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora os dados apontem para uma redução do número de acidentes no país, a realidade brasileira
em relação às PN está aquém da realidade européia. Este atraso pode ser justificado por anos de
investimento no modal rodoviário em detrimento oo ferroviário e a fatores comportamentais da
sociedade.
O número de acidentes vem diminuindo desde 1997 no Brasil, entretanto as melhorias foram pouco
significativas a partir de 2006. Tal fato exige atenção por parte de concessionárias, governo e
sociedade uma vez que todas são afetadas negativamente pelas consequências dos acidentes.
Observou-se, também, que embora a solução mais adequada seja a supressão das PN, nem sempre
esta é possível devido à escassez de recursos. Diante disso, deve se adotar medidas alternativas
desde campanhas educativas até o uso de novas tecnologias como o SDO. Há divergências entre os
especialistas e empresas estrangeiras sobre qual a melhor medida a se aplicar, ou seja, alguns
defendem mais campanhas de sensibilização, enquanto outros acreditam que seria melhor o
emprego de novas tecnologias.
O país necessita de um Cadastro Nacional de Acidentes Ferroviários através da compilação dos
dados de todas as concessionárias de forma a ter uma base de dados ampla e pública. Este deve
conter informações como à causa dos acidentes, localização, número de feridos e mortos
semelhante ao relatório “Safety Database Activity Report, 2015” realizado pela UIC ou ao relatório
“Acidentes por quilômetros”, elaborado pelo DNIT para acidentes na malha rodoviária que
facilitaria nas pesquisas e direcionamento dos investimentos.
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[9] REFER, Rede Ferroviária Nacional. Implementação de duplas meias barreiras na PN 24,988 do Sabugo Linha do
Oeste. 2014 Disponível em: http://www.refer.pt/passagensdenivel/referencias/acontecimentos.html. Acessado em
Julho de 2017..
[10] HISAMITSU, Y., SEKINOMOTO, K., NAGATA, K., UEHARA, M., & OTA, E. 2008. 3-D Laser Radar Level
Crossing Obstacle Detection System. IHI Engineering Review, 41(2).
AVALIAÇÃO DE PATOLOGIAS ORIUNDAS POR UMIDADE EM UMA
EDIFICAÇÃO NA REGIÃO SUDESTE DE MINAS GERAIS
Abstract: The Brazilian population deficit in 2010 was approximately 6 million housing units,
according to the National Housing System. To mitigate this problem, the Federal Government
created the My Home My Life Program (PMCMV) in March 2009, with the aim of building
1,000,000 housing units, with the launch of phase 02 and 03 of PMCMV in 2011 and 2016 Due to
the great incentive given by the State and the short space of time for construction, together with the
demand for housing, units with a high incidence of constructive vices were built. This study aimed
to identify the cause of the most representative pathology in a building in the southeast region of
Minas Gerais, composed of 440 dwellings, arranged in 22 blocks of 5 stories from photographic
reports of the construction of the building, in 2016. The main causes identified were the lack of
basement waterproofing, generating ascending humidity problems, water penetration through the
frames, due to lack of longitudinal extension of the windows, lack of window sealing, absence of
external inclination of the windows, absence of drippings and the absence of poles and counter-
veins, which generated cracks and consequently water infiltration. Stains were identified in the
bathrooms, due to problems in the execution of the hydraulic installations (pipes and connections)
and in the connections and observed stains in the ceiling, having as possible causes the incorrect
installation of ruffles and the non-support of the rainfall through the gutters. It can be concluded
from this study that the problems occurred due to failures in the execution phase and of projects,
observed in questions already described. It can be suggested that some of them would be mitigated
by the presence of better-qualified workers and the reduction of unnecessary cost by the
construction companies, which generates the use of inadequate materials and inadequacies in the
projects.
1. INTRODUÇÃO
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2014) descreve que o Brasil possui um
déficit habitacional de cerca de 6 milhões de domicílios, sendo assim, é necessário a elaboração de
políticas públicas para tentar solucionar tal problema e isso fez com que o Governo Federal tivesse
a iniciativa de criar um financiamento de moradia para famílias de baixa renda.
A primeira política nacional de habitação foi criada em 1946, conhecida como Fundação da Casa
Popular, porém possuía falha nas regras de financiamento e faltavam recursos. Em 1964, o governo
deu inicio a um novo modelo de política habitacional, o Banco Nacional de Habitação (BNH) e
elaborou um sistema de financiamento que utilizava o Fundo de Garantia de Tempo de Serviço
(FGTS), a captação de alguns recursos específicos e o Sistema Brasileiro de Poupança e
Empréstimo (SBPE).
Em 1994 o Governo Federal lança os programas Morar Município e Habitar Brasil que contava com
o auxilio de recursos do Imposto Provisório sobre Movimentações Financeiras (IPMF) e do
Orçamento Geral da União (OGU). Porém os investimentos realizados não foram suficientes.
No Governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) a SEPURB se transformou em Secretaria Especial
de Desenvolvimento Urbano (SEDU) e não trouxe nenhuma mudança significativa, o
desenvolvimento urbano e as áreas de habitação continuam sem o apoio financeiro e sem nenhuma
gestão em âmbito federal.
Foram elaboradas novas linhas de financiamento, porém surgiram significativas restrições para
empréstimos habitacionais, o FGTS foi impedido de ser utilizado e uma alta restrição dos recursos
do Orçamento Geral da União (OGU). Nesse momento dois programas de financiamento do setor
privado puderam ofertar novas unidades habitacionais, como o Programa de Carta de Crédito e o
Programa de Arrendamento Residencial.
Em 2003, com o governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi criado o ministério das
cidades que fica encarregado das Políticas de Desenvolvimento Urbano e a Política Setorial de
Habitação. Essa Política de Habitação não só constrói moradias, mas também a infraestrutura,
transporte coletivo, saneamento básico, além de serviços sociais e urbanos.
A implantação do Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC) permite o investimento em
diferentes áreas de infraestrutura, porém os setores mais privilegiados foram o de habitação e
saneamento, e está sob a responsabilidade do setor publico.
Em março de 2009, o Programa Minha Casa Minha Vida é apresentado e consiste basicamente em
atingir a classe social mais baixa com o incentivo de financiamentos habitacionais e com o objetivo
de reduzir o déficit habitacional. O PMCMV disponibiliza o Programa Nacional de Habitação
Urbana (PNHU).
O PMCMV é proposto para famílias com renda mensal de ate dez salários mínimos, porém as
famílias com renda de ate seis salários mínimos, tem direito a subsídios adicionais para o
pagamento do imóvel, o restante das famílias que ganham entre seis e dez salários mínimos
mensais, contam com recursos do FGTS para condições especiais de financiamento.
Mesmo que o Programa não seja suficiente para eliminar o déficit habitacional por completo, é
reconhecido por ser o primeiro programa habitacional coordenado pelo governo federal, gerenciado
pela Caixa, que tem se destacado por ser um excelente parceiro na gestão e execução de políticas
habitacionais.
A acirrada competição no mercado imobiliário, o cenário de crise no Brasil, além dos curtos prazos
exigidos pelos clientes, podem ser grandes responsáveis para uma queda na qualidade das
construções.
As patologias aparentes podem causar certos desconfortos aos moradores, desde apenas danos
estético ate a preocupações com danos mais sérios que possam comprometer ao bem estar dos
moradores. Algumas patologias são mais comuns como: trincas, fissuras, rachaduras e infiltrações.
2. OBJETIVO
Partindo deste ponto, esta pesquisa faz uma avaliação das patologias existentes nas edificações do
Programa Minha Casa Minha Vida. Este estudo busca informações através de análises das
reclamações dos proprietários e será observada, neste caso, qual a origem das ocorrências.
Assim sendo, como objetivo, este trabalho apresenta um estudo dos vícios construtivos das
edificações do programa Minha Casa Minha Vida - faixa 01, na região sudeste de Minas Gerais.
3. MÉTODO
Nesta pesquisa serão abordadas patologias encontradas nas construções do PMCMV, entre elas
podemos citar problemas com: instalação hidráulica, fissuras, acabamentos, infiltração, esquadrias,
coberturas. Sendo essas as mais recorrentes.
Para este estudo foi analisado uma obra do Programa Minha Casa Minha Vida – Faixa 1 que possui
440 unidades habitacionais distribuídas em 22 blocos de 5 andares.
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
4.3. Garantias
A Cartilha de direitos e deveres da Caixa estabelece que “a responsabilidade dos vícios construtivos
é da construtora e não da CAIXA”. Sendo assim o proprietário deverá entrar em contato com a
construtora, caso não obtenha nenhuma solução deverá entrar em contato com a CAIXA, PROCON,
advogado ou defensoria pública.
A CAIXA informa que a construtora é responsável por garantias previstas em contrato, mas a falta
de manutenção e mau uso das instalações e equipamentos pode acarretar a perda da cobertura.
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Grande problema comum nas obras é a umidade ascendente. O imóvel apresenta manchas na parte
inferior ocasionada pela falta de impermeabilização eficaz. Verifica-se a umidade ascendente na
parte interior da parede com a presença de bolor e empolamento do revestimento na área afetada.
Uma das patologias mais recorrentes apresentadas foram ás patologias provenientes das esquadrias.
No empreendimento observam-se problemas relacionados a janelas no interior e exterior. Algumas
janelas não apresentam vergas e contra-vergas, aparecimento de fissuras inclinadas nas
extremidades das janelas, fato que ocorreu devido à ausência de vergas e contra-vergas.
As infiltrações na parte interna da edificação, abaixo das janelas, são oriundas da má vedação e de
falta de inclinação do peitoril para a face externa da alvenaria que causa o acúmulo de água no
peitoril. No caso dessa patologia a mão de obra esta diretamente ligada, pois é preciso a instalação
dessas esquadrias de forma correta, além da inclinação do peitoril necessária. Tanto o declínio
quanto o prolongamento longitudinal do peitoril são serviços que demandam cuidados.
É preciso que se tenha atenção na instalação do peitoril quanto ao caimento necessário para que a
água proveniente da chuva não fique empoçada. É recomendável que se instale um peitoril de
ardósia ou granito (material que não possua alta porosidade), que tenha o acabamento semi-boleado,
com 5 cm a mais na lateral para dentro da alvenaria.
As próximas patologias são oriundas de instalações hidráulico-sanitárias, os problemas foram
identificados a partir de “manchas na alvenaria”. Além de mão de obra que precisa ser alertada
sobre manuseio correto das tubulações e forma adequada de executar a fixação dos tubos, evitando
o aperto excessivo. Se for preciso verificar a norma NBR 5626, norma que regulamenta essas
instalações.
O aperto excessivo dessas tubulações podem ocasionar fissuras que permitem que a água escape e
infiltre nas alvenarias, causando transtornos aos moradores. Esse problema é causado pela mão de
obra não qualificada que pode acabar lesando as tubulações.
Outro ponto que precisa ser observado durante a execução é a qualidade dos materiais empregados
na instalação. É preciso que se tenha uma atenção especial com relação às juntas, pois são lugares
em que o vazamento é mais fácil de acontecer.
Umidade descendente encontrada na edificação por falta de rufos ou rufos mal colocados e
problemas nos telhados. Os rufos aparentemente são mal instalados o que causa infiltração da água
na edificação. Essa má instalação se dá pela desqualificação da mão de obra.
Verificou-se que no centro do telhado existe uma calha para a captação da chuva (estas calhas
precisam tem uma inclinação para levar a água ate os condutores) que em períodos com grande
incidência de chuva pode não estar dando vazão. É possível ver também que os condutores verticais
estão internos e, como visto anteriormente, quando acontecem vazamentos os danos são muito
maiores.
6. CONCLUSÃO
O Programa Minha Casa Minha Vida foi de grande ajuda em relação aos problemas do déficit
habitacional brasileiro, foi grande o número de contemplados pelo programa. No ano de 2009 a
2012 foram contratadas 1.728.555.
Além disso, o programa auxiliou no aumento de empregos, além de ajudar a população com
moradia também deu oportunidade para alguns trabalhadores. O PMCMV gerou em média 864 mil
empregos diretos e indiretos por ano. Na região sudeste de Minas Gerais foram gerados 66.796
empregos diretos ou indiretos com 301 empreendimentos entregues.
Com o boom da construção civil decorrente da implantação do PMCMV, faltou mão de obra,
principalmente a qualificada, o que refletiu diretamente na qualidade das construções. Além do
tempo de execução cada vez menor.
Com relação às patologias encontradas verificamos uma serie de melhorias que podem ser adotadas
para que evitem possíveis problemas e prejuízos.
A umidade ascendente presenciada pode ser solucionada com uma impermeabilização de qualidade
e da forma correta.
Nas patologias relacionadas às instalações hidráulicas verifica-se que o grande problema é na
execução. As empresas colocam um valor fixo nas moradias e a partir disso procuram encaixar
valores muito pequenos para que exista a margem de lucro, porém com essa redução de custo pode
implicar a falta de mão de obra qualificada para serviços específicos, provocando a baixa na
qualidade do serviço e da edificação.
Desde já sabe-se que esses problemas não serão solucionados de forma absoluta, porém com uma
medida de prevenção eficaz poderá diminuir, significativamente, gastos e prejuízos de ambas as
partes.
REFERÊNCIAS
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______. NBR 15575-4-2013: Edificações Habitacionais – Desempenho. Parte 4: Sistemas de vedações verticais
internas e externas. Rio de Janeiro, 2007.
______. NBR 5626-1998: Instalação predial de água fria. Rio de Janeiro, 2007.
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democracia brasileira. – São Paulo: Instituto Pólis, 2006. 124p.
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<http://blogs.pini.com.br/posts/normas-tecnicas-pericias/aprenda-a-distinguir-vicios-dos-defeitos-nas-relacoes-de-
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materiais, a execução, a utilização; a manutenção e a deterioração. 2º Congresso Nacional da Construção, 7p. 2004.
Mariana Reis Pereira 1, Mauricio Leonardo Aguilar Molina 2, Antônio Eduardo Polisseni 3
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mariana.reis@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mauricio.aguilar@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, aepolisseni@gmail.com
Abstract: BIM is a new paradigm in the AECO sector, providing a context of policies, methodologies
and technologies that allow the integration of the whole life cycle of a building. It is a platform that
allows, in addition to the geometric representation of projects, the development of a parametric model
with a large amount of non-geometric information. Despite its evident advantages, the insertion of
BIM still faces some difficulties in the AECO sector due to the resistance of the professionals. Many
design problems could be solved through the adoption of BIM principles and tools. In terms of
compatibility, the advantages of BIM become evident as it is possible to detect interferences that
would be difficult to find in a 2D CAD model. This work presents the analysis of a BIM modeling
over a project in progress, originally developed in CAD, in order to show the advantages of
compatibilization in the BIM molds, as well as the detection of interferences in the execution of the
work. The analysis showed the existence of problems in the original project detected only in the
execution of the work. It was possible to notice that the detected problems were not informed to the
project team with the consequent loss of information to compose the building databook.
2. ALVENARIA ESTRUTURAL
A alvenaria estrutural é um sistema construtivo que faz uso de componentes manuseáveis (blocos ou
tijolos), ligados entre si por argamassa, de forma tal que, ao final da execução, o conjunto monolítico
gerado tenha não só a função de vedação, mas também a de suportar a estrutura e resistir aos esforços
solicitados, podendo esta ser armada ou não.
Segundo Kalil [4], a Alvenaria Estrutural deve ser vista não apenas como um conjunto de paredes
que tem o objetivo de resistir ao seu peso próprio e a cargas externas à estrutura. O bom projeto a
entende como um processo construtivo racionalizado e econômico, uma vez que, durante o
planejamento da obra, é preciso que o arquiteto e o engenheiro responsáveis estejam em sintonia para
que seja possível obter uma estrutura econômica e que suporte os esforços previstos. Além disso, é
necessário atender aos critérios da Norma NBR 15575 [1], sem que haja um prejuízo noutras funções,
como isolamento termo acústico, instalações hidráulicas e elétricas ou estética.
A execução de um projeto em alvenaria estrutural exige mão-de-obra qualificada pois, afinal,
qualquer erro durante a execução pode significar o comprometimento da estrutura. Isso faz com que
este método construtivo evite desperdício de materiais e reduza o uso de revestimentos, uma vez que
a qualidade dos materiais empregados e a execução são controlados. Além disso, este processo possui
uma característica modular, o que por si só já significaria – em tese – economia de tempo e materiais
devido à adequação das dimensões da estrutura com as da unidade básica – neste caso os blocos ou
tijolos estruturais.
Assim, a Alvenaria Estrutural é uma escolha recorrente em muitos empreendimentos pois, afinal, sua
rápida execução e economia de materiais faz com que sua utilização seja viável em edifícios com
andares com um padrão de repetição.
3. ESTUDO DE CASO
O empreendimento analisado neste trabalho é um edifício composto por cinquenta e seis
apartamentos, financiado pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo. Ele é composto por
onze andares, sendo os três primeiros de estacionamento e construídos em estrutura convencional de
concreto armado e fechamento em alvenaria de vedação. A partir do quarto andar, inicia-se a
construção dos apartamentos em alvenaria estrutural. Entre o terceiro e o quarto andar foi construída
uma laje de transição em protensão leve, como pode ser visto na Figura 1. Como a obra está planejada
para acabar em junho de 2019, é possível ir acompanhando sua construção e verificar se as
observações feitas sobre o projeto condizem com a realidade.
3.3 Compatibilização
A compatibilização foi realizada no software Autodesk Navisworks. Em uma primeira análise, foi
possível verificar que os blocos estruturais estavam invadindo as janelas e que as mesmas estavam,
muitas vezes, deslocadas em relação a abertura apresentada no projeto estrutural. Isto pode ser visto
na Figura 10.
Figura 10 – Interferência entre projeto estrutural e arquitetônico (Fonte: Autores)
Ao estudar as interferências, foram descobertas divergências entre o pé direito apresentado no projeto
arquitetônico – 1,72m, e o do projeto estrutural – 1,70m. Esta divergência de 2cm, pode parecer
desprezível em um primeiro momento, mas, considerando que a altura dos andares é cumulativa, no
final do 10º andar a variação chega a alcançar 12cm – uma diferença significativa.
A divergência entre as medidas pode ser vista na Figura 11. Para corrigir esta interferência, o pé-
direito do projeto arquitetônico foi ajustado ao do projeto estrutural, pois a obra está sendo executada
de acordo com o projeto estrutural.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após concluída a modelagem dos projetos em software BIM, percebe-se com clareza que um projeto
desenhado e compatibilizado nos moldes 2D tradicionais deixa passar muitos detalhes e
interferências, as que seriam facilmente percebidas se a modelagem fosse feita desde o início com
software BIM.
Adicionalmente, percebe-se como um grande problema o fato de que muitas dessas interferências
costumam ser resolvidas na própria obra, sem que haja um retorno ao escritório, o que faz com que
os projetos não sejam atualizados e sua qualidade não chegue a melhorar.
Por fim, fica evidente a necessidade de investimento na capacitação de profissionais nas novas
tecnologias, o qual contribuirá decisivamente para a qualidade dos projetos, com a consequente
diminuição de custos com retrabalho, tão comum dentro do setor AECO.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] ABNT ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edificações Habitacionais –
Desempenho. Rio de Janeiro. 2013.
[2] AMARAL, R.D.C.; PINA FILHO, A.C., A evolução do CAD e sua aplicação em projetos de Engenharia. Simpósio
de Mecânica Computacional - São João Del Rei: 2010.
[3] EASTMAN, C.; TEICHOLZ, P.; SACKS, R.; LISTON, K. BIM HANDBOOK: A guide to Building Information
Modeling for owners, managers, designers, engineers, and contractors. Hoboken, Nova Jérsei, EUA: John Wiley
& Sons, 2. ed., 2011.
[4] KALIL, S. M. B. Alvenaria Estrutural. PUCRS. 2004.
[5] NUNES, G.H. e LEÃO, M. Estudo comparativo de ferramentas de projetos entre o CAD tradicional e a
modelagem BIM. Revista de Engenharia Civil. Disponível em http://www.civil.uminho.pt/revista. Acesso em 30 set
2018.
ANÁLISE DO MÉTODO NATM, SONDAGEM E INSTRUMENTAÇÃO
ASSOCIADOS A ESTABILIDADE DE TÚNEIS. ESTUDO DE CASO:
ESTAÇÃO PINHEIROS – METRÔ DE SÃO PAULO
Resumo: Na cidade de São Paulo, o sistema de transporte metroviário possui uma grande e
crescente demanda populacional o que torna necessário novas obras de expansão das linhas do
Metrô. Nas obras subterrâneas, o NATM (New Austrian Tunneling Method) é um método
construtivo para escavações que tem sido amplamente utilizado devido a sua flexibilidade para
aplicação em diferentes tipos de solos. Trata-se de um método observacional que necessita de um
controlo rigoroso do seu desempenho através de instrumentação adequada para revisão e otimização
do projeto. No ano de 2007, a obra na estação Pinheiros da linha 4 Amarela do Metrô de São Paulo
entrou em colapso devido ao desmoronamento do túnel-estação, ocasionando 7 mortes além de
grande repercussão na mídia atraindo até mesmo olhares internacionais. A busca por respostas que
justificassem o acidente originou documentos de carácter investigativo que percorreram desde o
projeto executivo até as práticas de execução em campo. Neste artigo, apresenta-se uma análise das
prováveis causas do acidente, baseado no Relatório Técnico Final nº 99642205 realizado pelo IPT
(Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e em laudos periciais elaborados pelo britânico Nicholas
Barton, além de uma revisão bibliográfica dos temas envolvidos.
Abstract: In Sao Paulo city, the subway transportation system has a huge population demand and
studies show this demand is going to grow even more. For this reason, Metro (sponsored by the
government) is responsible for construction projects to expand the existents lines and create new
ones. NATM is a recognized method applied to undergrounding constructions around the world and
known as a flexible tool that can be used in many types of soil modelling many different shapes. It’s
a observational method and requires a stringent control in order to achieve a successful undertaking
without any human and material risks. In 2007, during the expanding construction of Yellow Line
4, Pinheiros station collapsed killing 7 people besides dramatic repercussion in the international
media. In order to investigate the accident’s causes, specialists elaborated many official documents.
This article analyze the Final Technical Report nº 99642205 elaborated by IPT and Forensic
Reports by Nicholas Barton in order to discuss about the possible collapses’ causes.
A alta densidade populacional e o grande número de veículos particulares nos centros urbanos são
elementos que ferem a eficiência da mobilidade urbana, pois geram problemas de
congestionamentos diários e de acidentes recorrentes que interferem diretamente na produtividade e
bem-estar dos trabalhadores. Assim, é essencial o investimento em transportes coletivos eficientes
que atendam a grande demanda de pessoas e que sejam compatíveis com o pequeno espaço físico
disponível para tais implementações. Para grandes capitais, como a cidade de São Paulo, as malhas
metroviárias se tornam boas alternativas devido ao grande potencial de alcance em número de
passageiros e linha territorial, embora tenham custos de investimentos mais caros como pode ser
observado na Figura 1.
Figura 1 - Relação entre desempenho dos sistemas de transporte e o custo de investimento [1]
O sistema de transporte metroviário em São Paulo operado pela Companhia Metropolitana atende
em média 4 milhões de pessoas por dia, motivo pelo qual o investimento em melhorias das linhas já
existentes e a expansão dessas malhas é de suma importância para a adequada mobilidade dos
habitantes e trabalhadores da grande cidade.
Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Transportes [1] mostra que o sistema
metroviário possui infraestrutura muito específica por se tratar de uma obra subterrânea, e, em
decorrência de condições geológicas desfavoráveis ou de grandes interferências urbanas, necessita
de eficiente projeto de engenharia para obtenção de êxito na expansão da malha de oferta. Para
elaboração desses projetos, destaca-se o método NATM (New Austrian Tunneling Method) como
uma evolução de técnicas, construção e monitoramento de túneis que se caracteriza pela sua enorme
flexibilidade por se adaptar a várias condições do maciço ao longo do túnel antes e durante a
escavação, além de permitir as mais diversas formas e dimensões.
Com estimativa de atender 600 mil pessoas diariamente, a Companhia do Metropolitano de São
Paulo (Metrô) firmou em 2003 um contrato com o Consórcio Via Amarela (CVA) para a construção
da linha 4 amarela do Metrô no modelo de licitação conhecido como Preço Global. Em 12 de
janeiro de 2007, o poço de escavação da Estação Pinheiros entrou em colapso pelo desabamento das
paredes do rebaixo do túnel-estação sentido Faria Lima (Figura 2), causando 7 mortes, além de
imóveis interditados, condenados e demolidos pela Defesa Civil. Após o acidente, foi firmado um
Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que descrevia sobre os procedimentos de investigação e
reparação da área lesada com a colaboração de vários órgãos, entre eles: Ministério Público do
Estado de São Paulo, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Polícia Civil e o Consórcio Via
Amarela (CVA). Desse acordo, surgem o relatório técnico do IPT nº 99.642-205 de 2008 e os
laudos periciais do perito internacional Nicholas Barton, solicitados pelo Metrô e CVA
respectivamente.
3. INFORMAÇÕES COLETADAS
3.1 Relatório Técnico IPT
Como resultado dos estudos feitos, o IPT aponta três principais aspectos que, em conjunto,
culminaram para o desabamento do túnel-estação da Estação Pinheiros. Dentre esses, cabe destacar
as falhas no projeto e na execução da obra. No contexto de projeto, o IPT afirma que o modelo
geomecânico consolidado para os cálculos de estabilidade do túnel era muito simplificado,
contrariando a realidade do maciço que apresentava muita heterogeneidade e condições geológicas
bem desfavoráveis. Pode-se citar ainda que, nas modelagens, o maciço foi considerado como
drenado, embora o mesmo possuísse carga hidráulica. Já o processo construtivo apresentou muitos
desvios significativos, em campo, do projeto executivo do túnel, tendo como principais: inversão do
sentido e aumento da taxa de avanço na escavação; aumento da altura da bancada; alteração na
sequência dos planos de fogo; e número reduzido de enfilagens. Segundo o IPT, essas mudanças de
projeto não passavam por uma verificação de risco (ciclo aprovação) através de interpretações e
análises dos dados de instrumentação para possíveis adequações ou correções, gerando um fator de
risco para a obra.
Na análise da instrumentação do túnel-estação sentido Faria Lima, a magnitude dos deslocamentos
foi elevada se comparada com a prevista em projeto, possuindo um aumento de velocidade nos
recalques internos do túnel de até 2 mm/dia. Essas constatações de aumento nos deslocamentos
eram observadas independentemente da localização das frentes de escavação, conforme Figura 3.
Figura 3 - Instrumentação e leituras aceleradas do túnel [3]
O relatório também aponta uma deficiência do plano integrado de gestão que não garantiu a
quantidade de tirantes de uso esporádico, previstos em campo, quando solicitadas pela ICE
(Instrução Complementar de Execução) do dia 11 de janeiro para a possível retomada de
estabilidade do túnel. Sobre o perfil geológico definido no projeto, o IPT nega haver discordâncias
no modelo geológico-geotécnico do maciço. Afirma que o modelo definido desde a fase pré-
licitatória do contrato é o mesmo revelado pelo estudo dos escombros do acidente, não procedendo
qualquer hipótese de sobrecarga geológica no maciço.
Com essa sobrecarga extrapolando fatores de segurança aplicados ao projeto, Barton afirma que
nenhum suporte ou revestimento temporário seriam capazes de conter a estrutura de rocha não
prevista e qualquer tempo de análise para interpretação de tais deformações seriam insuficientes
para adequação do sistema de suporte e revestimento. As paredes próximas aos rebaixos foram as
primeiras a colapsar devido à alta carga não detectada da rocha pouco alterada, desencadeando o
desabamento de todo conjunto maciço-estrutura, conforme figuras 5 e 6.
Barton também cita a falha do Metrô e do CVA por não efetivarem um plano de evacuação
emergencial, tanto para os trabalhadores quanto para os pedestres que circulavam na região.
4. ANÁLISES
4.1 A escolha do método NATM como sistema construtivo
O método NATM, embora mais barato se comparado com outras técnicas de escavação, se mostra
muito satisfatório em escavações subterrâneas devido a sua ampla aplicabilidade em vários tipos de
solos, assim como as várias possibilidades de dimensões, sistemas de revestimentos e de um
flexível cronograma físico por permitir a abertura de várias frentes de escavação. Além disso, a
engenharia possui muitas ferramentas tecnológicas para que esse método seja implantado de forma
eficiente, compreendendo um empreendimento bem-sucedido.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sucesso e acidentes estão atrelados em grandes empreendimentos de engenharia. Enquanto as
tecnologias avançam, os profissionais devem buscar sempre uma correta perspectiva e
aprimoramento de aprendizagem das técnicas empregadas. E sobre o acidente da estação Pinheiros
em São Paulo é possível extrair muito aprendizado acerca do método de escavação empregado e
suas boas práticas, das aplicações das sondagens inclinadas para modelagem geológica e do
processo de gerenciamento de risco de obras.
Como abordado neste artigo, o NATM é um método de escavação muito versátil e apresenta muitas
vantagens na sua aplicabilidade em variados tipos de solos, configurando uma boa opção para a
construção subterrânea da linha 4 Amarela do Metrô e suas frentes de trabalho na estação Pinheiros.
Porém, por se tratar de um método observacional, faz-se imprescindível a prática do monitoramento
através de instrumentação adequada, que visa a compatibilização das condições reais da escavação
com as condições esperadas, eliminando assim qualquer comportamento que ofereça risco à
segurança do empreendimento.
Para o auxílio desse monitoramento, documentos que contemplem valores de deformações e
recalques máximos devem estar constantemente sob consulta e avaliação, pelos engenheiros
responsáveis pela execução da obra, para a correta interpretação dos esforços limites e condições
desfavoráveis de confinamento no qual o maciço está inserido. Ainda sobre a compatibilização das
condições reais com as esperadas, a realização de sondagens complementares inclinadas poderia
auxiliar na compreensão da resistência do maciço e na detecção da rocha pouco alterada acima da
abóbada do túnel.
Por fim, aliando as sondagens complementares em campo e o correto monitoramento, o
gerenciamento de risco da obra assume papel essencial no bom andamento da execução do
empreendimento, através da revalidação constante do projeto construtivo e acionamento rápido do
plano de respostas para condições desfavoráveis à segurança da obra.
REFERÊNCIAS
Laura de Paula Soares 1, Sarah Kirchmaier Fayer 2, Nathália Delage Soares 3, Júlia Righi de
Almeida 4
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, laurapsoares18@gmail.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, sarah.kirchmaier@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, nathaliadelage@gmail.com
4
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, julia.righi@ufjf.edu.br
Resumo: Diante do cenário brasileiro de disposição final de resíduos, percebe-se um grave atraso
em relação aos países desenvolvidos, visto que muitas cidades ainda depositam resíduos sólidos em
aterros controlados e lixões. O aterro sanitário, única forma de disposição final ambientalmente
adequada, é considerado uma estrutura recente no país e neste contexto ainda depara-se com
obstáculos como a carência de referências de êxito em outras obras e a falta de monitoramento
ambiental e geotécnico, que ainda não é um fator consolidado na maioria dos aterros sanitários.
Perante o exposto, este trabalho tem como objetivo discutir a relação entre acidentes em aterros
sanitários ocorridos no Brasil e a falta de monitoramento dessas estruturas. Acidentes envolvendo
aterros de resíduos não são raros e pelo menos 10 (dez) dessas estruturas se romperam desde a
década de 90, causando diversos impactos ambientais e sociais, com dezenas de mortes. Tanto o
Aterro Bandeirantes, em São Paulo, quanto o Aterro Salvaterra, em Juiz de Fora, sofreram rupturas
que provocaram deslizamentos consideráveis (65.000 m³ e 70.000 m³ de resíduos, respectivamente).
Como é muito comum na Engenharia, pode-se dizer que muitos avanços em relação à previsão do
comportamento dos aterros sanitários ocorreram após esses incidentes. Conclui-se através do estudo
realizado que o monitoramento deveria estar presente desde a fase de projeto até após o
encerramento das operações, de forma a contribuir para a atenuação de impactos ambientais gerados
por essas unidades. Além da falta de monitoramento das células de um aterro sanitário, outros
fatores contribuem de forma decisiva para a ocorrência de acidentes nessas estruturas. São eles: a
ineficiência nos sistemas de drenagem, o aumento da sobrecarga, a ausência de informações sobre
as características do resíduo presente no maciço e a crescente demanda por maiores volumes de
aterro.
Abstract: Given the Brazilian scenario of final waste disposal, there is a serious delay in relation to
the developed countries, since many cities still deposit solid waste in controlled landfills and
dumps. The sanitary landfill - the only form of sound final disposal that is environmentally correct -
is considered a recent structure in the country and in this context it still faces obstacles such as the
lack of references to success in other works and the lack of environmental and geotechnical
monitoring that has not yet is a consolidated factor in most landfills.
ch
Therefore, this paper aims to discuss the relationship between accidents in sanitary landfills in
Brazil and the lack of monitoring of these structures. Accidents involving waste landfills are not
uncommon and at least 10 of these structures have had accidents since the 1990s, causing a number
of environmental and social impacts, with dozens of deaths. Both sanitary landfill of
―Bandeirantes‖, in São Paulo, and sanitary landfill of Salvaterra, in Juiz de Fora, suffered ruptures
that caused considerable landslides (65,000 m³ and 70,000 m³ of waste, respectively). As is very
common in engineering, it can be said that many advances in predicting the behavior of landfills
occurred after these incidents. It was concluded through the study that monitoring should be present
from the design phase until after the closure of the operations, in order to contribute to the
mitigation of the environmental impacts generated by these units. Besides the lack of monitoring of
the cells of a landfill, other factors contribute decisively to the occurrence of accidents in these
structures. These are: inefficiency in drainage systems, increased overload, lack of information on
the characteristics of the residue present in the massif and the increasing demand for larger volume
1. INTRODUÇÃO
Com a urbanização e o alto crescimento populacional nas últimas décadas, a quantidade de resíduos
sólidos urbanos (RSU) gerada aumentou de forma impactante. O lixo produzido por sete bilhões de
pessoas corresponde a 1,4 bilhão de toneladas por ano de RSU, sendo a maior parte gerada pelos
países mais desenvolvidos. O volume de lixo gerado atualmente é três vezes maior que o
crescimento populacional, sendo um grande desafio alcançar uma gestão eficiente dos RSU, que
são, em sua maioria, descartados de forma inadequada [1].
O Brasil possui quase 3 mil lixões em 1.600 cidades e as áreas de disposição são escolhidas
aleatoriamente, sem nenhum monitoramento e controle dos impactos ambientais [2]. O descarte
inadequado desses resíduos tem como consequência a contaminação do solo, da água e do ar, além
dos riscos à saúde da população. O panorama brasileiro de descarte de resíduos tende a piorar, a
julgar que o despejo inadequado de lixo teve um aumento de 3% de 2016 para 2017 [2]. Apesar de
alguns aterros controlados realizarem cobertura dos resíduos e drenagem de efluentes, o que mitiga
algumas dessas consequências, na maioria dos casos há um comprometimento da qualidade das
águas subterrâneas, já que não dispõem de sistemas de tratamento de chorume e gás.
A forma de disposição de resíduos avaliada como correta é o aterro sanitário, que, em suma,
consiste na disposição do lixo em área impermeabilizada e conta com recobrimento e compactação
do lixo com camadas sucessivas de solo. Define-se aterro sanitário como: ―Técnica de disposição de
resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando
os impactos ambientais. Método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos
sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma
camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se necessário.‖
[3]
impactos ao meio ambiente a partir desses eventos podem ser irreversíveis. Deslizamentos de
maciços de resíduos são comuns e foram relatados vários casos na última década. A partir desse
aporte teórico, o artigo analisará como a falta de monitoramento se relacionou com a ocorrência dos
acidentes do aterro de Salvaterra em Juiz de Fora e de Bandeirantes em São Paulo.
2. METODOLOGIA
Esse estudo foi feito por meio de revisão bibliográfica, com consulta aos principais casos de aterros
de resíduos em que a falta de monitoramento gerou acidentes a partir da ruptura do maciço de lixo.
Os tópicos 2.1 e 2.2 foram referenciados do guia do profissional em treinamento de Resíduos
Sólidos – Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitários [4].
2.1. Licenciamento
A primeira etapa do projeto de um aterro é a escolha da área de implantação. Essa escolha está
diretamente ligada ao desempenho do aterro e é uma das partes mais difíceis no processo, uma vez
que para ser considerada adequada, a área deve atender à alguns requisitos, como: localização fora
de áreas de restrição ambientais, distância mínima de habitações e cursos d’água, declividade
apropriada, solos menos permeáveis e profundidade do lençol freático.
Depois de escolhida a área, a próxima etapa é cumprir com a legislação ambiental do local. O
licenciamento ambiental conta com três etapas: licença prévia (LP), licença de instalação (LI) e
licença de operação (LO).
A LI concede a liberação para realizar estudos de impactos ambientais que o aterro causará. O
estudo em questão é o EIA, Estudo de Impacto Ambiental, e, a partir dele, apresenta-se um
relatório, o RIMA. Caso o EIA seja aprovado, ainda pode ser exigida uma audiência pública. A LI
permite que a obra de implantação do aterro tenha seu início, desde que seja conforme foi detalhada
no projeto. Se a LI for obtida, inicia-se a implantação do empreendimento. Já a LO autoriza as
atividades do aterro após fiscalização do cumprimento das licenças anteriores, é concedida dentro
de prazos de validade sendo possível um cancelamento da mesma, caso não forem cumpridas as
normas vigentes.
Os aterros sanitários devem ser constantemente monitorados a partir do momento que já estão em
operação. Os possíveis impactos causados pelo mau uso de um aterro podem ser adversos, sendo
assim, é de fundamental importância que o monitoramento seja realizado corretamente. Esse
processo é divido em monitoramento ambiental e monitoramento geotécnico.
Qualidade das águas subterrâneas: regido pela NBR 15495-1 (ABNT, 2007) [5], tem como
finalidade examinar como se encontram os sistemas de drenagem e impermeabilização e
identificar mudanças na qualidade da água. Esse monitoramento é feito por análise
laboratorial de amostras de água coletadas em poços a jusante do aterro.
Qualidade das águas superficiais: são coletadas amostras de água do sistema de drenagem
pluvial e estas são analisadas em laboratório com base na Resolução CONAMA No 357 de
2005 [6]. O objetivo é detectar mudanças nos cursos d’água e examinar a contaminação das
águas pluviais.
Qualidade do ar: esse quesito tem como finalidade avaliar a qualidade do ar no entorno do
aterro para evitar proliferação de doenças. É realizado a partir de equipamentos de avaliação
da qualidade do ar, monitorando os níveis de partículas totais e inaláveis em suspensão
designados pela NBR 13412 (ABNT, 1995) [7] e NBR 9547 (ABNT, 1997) [8]. Esses
aparelhos são instalados em pontos na direção preferencial dos ventos e o monitoramento é
realizado com periodicidade prevista em cronograma.
Poluição sonora, ruídos ou pressão sonora: consta em monitorar os níveis de ruídos gerados
em um aterro sanitário para evitar efeitos negativos sobre os seres humanos que residem ao
entorno. Os parâmetros para este monitoramento vão de acordo com a NBR 12179 (NB 101)
[9], e os ruídos não poderão ultrapassar os limites da Norma NBR 10152 (ABNT, 2017)
[10] e conforme Resolução do CONAMA No 01 [11].
Líquidos lixiviados: por análises em laboratório de diversos parâmetros, como DBO, DQO,
sólidos, metais pesados, entre outros com base na Resolução CONAMA No 430 de 2011
[12]. Ocorre a avaliação da qualidade e quantidade de lixiviados antes de serem lançados em
corpos d´água. Com isso, consegue-se estimar a eficiência do sistema de tratamento. As
amostras são recolhidas na entrada e na saída do sistema.
O monitoramento ambiental e geotécnico no Brasil é realizado apenas nos aterros de grande porte, e
mesmo assim, existe uma variação de procedimentos de um aterro para outro. Como as obras de
aterros são estruturas recentes, as referências sobre monitoramento na literatura são escassas. Tanto
o monitoramento ambiental quanto o geotécnico devem ser previstos já no projeto do aterro, a fim
de garantir a estabilidade do maciço e prever o comportamento do mesmo. É importante ressaltar
que não existem normas nem critérios consagrados para regulamentar a instrumentação desses
monitoramentos [13].
2.3.1. Histórico
O município de Juiz de Fora, onde se localiza o aterro Salvaterra, enfrentou diversos problemas em
relação à gestão dos RSU. Até dezembro de 1998, o lixo urbano produzido era descartado em uma
gleba no município de Matias Barbosa, também em Minas Gerais. Após várias interpelações
judiciais, o local foi interditado e deu-se inicio à vida útil do aterro Salvaterra. O aterro localiza-se
nas margens da rodovia BR040 em uma gleba de aproximadamente 40 hectares que dista 11 km do
centro urbano do município. A gleba se divide em duas vertentes, a esquerda e a direita (Figura 1),
sendo a primeira onde se iniciou as operações do aterro, recebendo todo tipo de resíduo, inclusive
hospitalares e industriais [14].
Na época em que foi implantado o aterro Salvaterra, havia um plano diretor que alegava que o sítio
da Igrejinha, também localizado em Juiz de Fora, seria mais adequado para a instalação do aterro
naquele momento. Porém, o DEMLURB (Departamento Municipal de Limpeza Urbana) ignorou
esse plano e seguiu com a implantação do aterro no sítio de Salvaterra. O local era totalmente
impróprio para receber tal fim: situava-se a 300 m de núcleos habitacionais e comerciais,
apresentava declividade maior que 30%, estava localizado em área de bacia de Rio Classe 1 e o
lençol freático estava a apenas 2 metros de profundidade. Além disso, é uma área de proteção
permanente e se localiza às margens de uma rodovia, próximo à curva do trevo de acesso a Juiz de
Fora, estando parte do maciço dentro da faixa de domínio do DNER (Departamento Nacional de
Estradas de Rodagem). O aeroporto Francisco de Assis se localizava a 3,5 km do aterro, e como as
aves dos locais eram espantadas com fogos de artifícios, comprometia o funcionamento do
aeroporto. Mesmo com todos estes riscos, seguiu-se com a implantação do aterro[15].
ch
2.3.2. Acidente
Os impactos causados por esse acidente foram diversos, como o impedimento da passagem de
cursos d’água e nascentes, exposição de resíduos gerando odor, presença de moscas e aves, perda da
conformação geométrica, contaminação do solo por metais pesados, ecossistemas afetados e
comprometimento de utilização da área [14];[15]. Uma análise de água feita no córrego Salvaterra
pela proprietária da fazenda Santa Cruz em março de 2007, mostra altos índices de DBO e
nitrogênio amoniacal, acima dos estabelecidos pela norma, além de significante perda de qualidade
da água do córrego em questão. O deslizamento ocorrido em 2004 fez com que o maciço deslizado
ficasse retido na divisa do aterro com a reserva ali presente e depois foi carregado para dentro da
fazenda Santa Cruz [15].
ch
Após o acidente no aterro Salvaterra (Figura 2 e Figura 3), foi iniciada uma obra de emergência na
vertente direita, que teria vida útil de apenas 24 meses e receberia somente resíduos de origem
urbana e domiciliar. A obra foi iniciada em primeiro de abril de 2005 e a vertente entrou em
operação dia trinta de maio de 2005. Essa vertente possuía manta de impermeabilização, cobertura
diária de resíduos, drenos e valas de chorume. O percolado da vertente direita e da vertente
esquerda são direcionados para uma estação de tratamento em Barbosa Lage, pela CESAMA
(Companhia de Saneamento Municipal). Além disso, as vertentes apresentam marcos superficiais
para acompanhar a movimentação de taludes e platôs, inspeção e acompanhamento visual de trincas
e poços para monitorar os lençóis subterrâneos [15].
Fora todos os impactos ambientais e sociais, o gasto com o aterro foi muito maior do que seria caso
o DEMLURB tivesse seguido o plano diretor e implantado o aterro no sítio de Igrejinha. Os gastos
totais com o aterro de Salvaterra foram de R$ 17.797.640,00 com uma vida útil de oito anos. Já os
gastos previstos para o aterro em Igrejinha seriam de R$ 19.500.000,00 (Tabela 1), porém com uma
vida útil estimada de 20 anos [15].
2.4.1. Histórico
O aterro de Bandeirantes, localizado no km 26 da rodovia dos Bandeirantes (Figura 4), em São
Paulo, foi o primeiro aterro sanitário da região Sudeste. O mesmo foi licenciado e operado desde
1986 possuindo 140 hectares, além de ser constituído por cinco áreas operacionais: AS-1, AS-2,
AS-3, AS-4 e AS-5. Durante seus 28 anos de atividade recebeu o depósito de aproximadamente 35
milhões de toneladas de lixo proveniente da cidade de São Paulo. Devido a carência de locais
adequados para a disposição dos RSU, o aterro de Bandeirantes chegou a alcançar mais de 100
metros de altura [17].
ch
2.4.2. Acidente
Em 1991, ocorreu um deslizamento no sub-aterro AS-1 (Figuras 5 e 6) de 65.000 metros cúbicos de
volume de lixo por uma distância de 250 m [19]. Análises da ruptura do sub-aterro demonstraram
que o fator deflagrador foi a elevação das pressões neutras (poropressão) devido ao acúmulo de
chorume, uma vez que não existia ou era ineficiente a rede de drenagem de percolados.
3. CONCLUSÃO
O presente artigo tem como objetivo relacionar a falta de monitoramento ambiental e geotécnico de
aterros sanitários com a ocorrência dos dois acidentes em questão. Por meio de uma revisão
bibliográfica, verificaram-se falhas no planejamento e no monitoramento, que culminaram nos
deslizamentos ocorridos nos aterros de resíduos de Juiz de Fora - MG e São Paulo - SP.
Em ambos os casos estudados, constatou-se que as áreas escolhida não eram adequadas para receber
os aterros. Segundo NBR 13896 [20], para uma área ser caracterizada como adequada para
implantação de um aterro, deve- se contar com: minimização do impacto ambiental causado pelo
aterro, maximização da aceitação pela população, área de acordo com o zoneamento da região e
longa vida útil, necessitando do mínimo de obras para início da operação. Além disso, a NBR
13896 [20] também sugere que o terreno apresente: topografia com declividade superior a 1% e
inferior a 30%, coeficiente de permeabilidade inferior a 10-6 cm/s, distância mínima de 200 m de
qualquer coleção hídrica ou curso de água (essa distância pode ser alterada a critério do Órgão de
Controle Ambiental) e distância mínima de núcleos populacionais superior a 500 metros.
Segundo a NBR 13896 [20], o sistema de drenagem adequado para coleta do líquido percolado
(chorume) de um aterro deve ser: ―instalado imediatamente acima da impermeabilização,
ch
Ao se tratar de estabilidade de aterros sanitários, também é importante ressaltar que com o crescente
aumento da geração de resíduos, os maciços vêm atingindo alturas cada vez maiores e sendo
submetidos a sobrecargas. Sendo assim, a geometria conferida aos aterros torna-se desfavorável e
pode ser também considerado um fator deflagrador dos acidentes.
Além da falta de planejamento e monitoramento, vale ressaltar que no Brasil ainda se utiliza de
parâmetros europeus para alguns cálculos de projetos de aterro sanitários. Porém, a realidade
brasileira é muito distante da europeia. No Brasil, cerca de 50 a 60% do que chega nos aterros são
matéria orgânica [24], já na Europa esse índice é bem menor. O grau de decomposição da matéria
orgânica é um importante parâmetro para manutenção e estabilidade dos aterros sanitários, uma vez
que quanto maior o volume de matéria orgânica, maior a quantidade de chorume e de gases
produzidos, sendo estes os maiores responsáveis pela instabilidade do maciço. A quantidade de
material orgânico também influencia no teor de umidade, na permeabilidade, na resistência ao
cisalhamento e no peso específico [25].
Por fim, vale ressaltar que no Brasil a grande preocupação deveria ser com o controle da quantidade
e qualidade dos resíduos que chegam ao aterro, pois caso a quantidade de matéria orgânica fosse
reduzida, não haveria necessidade de constante e tão rigoroso monitoramento. Para tal fim, é de
extrema importância o incentivo à reciclagem, à compostagem e uma base educacional que combata
a cultura do desperdício.
REFERÊNCIAS
[1] ALMEIDA, J. R. de. Destinação final de resíduos sólidos no Brasil: desafios e oportunidades. In: Fórum Ambiental
e Florestal, 6, 2018. Juiz de Fora.
[2] Ainda o problema dos lixões. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 16 out. 2018. Disponível em:
<https://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,ainda-o-problema-dos-lixoes,70002548659 >. Acesso em: 17 out. 2018.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8419: Apresentação de projetos de aterros
sanitários de resíduos sólidos urbanos -Procedimento. Rio de Janeiro, 1992.
[4] LANGE, L. C.; SIMÕES, G. F. Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitários. Belo Horizonte,
2008.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15495-1:Poços de monitoramento de águas
subterrâneas em aquíferos granulados. Rio de Janeiro, 1995.
ch
[6] CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n. 357, de 05 de Julho de 2002. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=307. Acesso em: 21 de outubro de 2018.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13412: Material particulado em suspensão na
atmosfera - Determinação da concentração de partículas inaláveis pelo método do amostrador de grande volume
acoplado a um separador inercial de partículas - Método de ensaio. Rio de Janeiro, 1992.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9547: Material particulado em suspensão no ar
ambiente - Determinação da concentração total pelo método do amostrador de grande volume. Rio de Janeiro, 1997.
[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12179: Tratamento acústico em recintos fechados
- Procedimento. Rio de Janeiro, 1992.
[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10152: Acústica — Níveis de pressão sonora
em ambientes internos a edificações. Rio de Janeiro, 2017.
[11] CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n. 01, de 23 de Janeiro de 1986. Disponível em:
http://www2.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html. Acesso em: 21 de outubro de 2018.
[12] CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n. 430, de 13 de Maio de 2011. Disponível em:
http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646. Acesso em: 21 de outubro de 2018.
[13] ALMEIDA, J. R. de. Proposta de índice de avaliação de aterros de resíduos desativados a partir do potencial
poluidor do lixiviado. Tese (Doutorado). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.
[14] TEIXEIRA, G.P.; FRANÇA, R. A.; LACERDA, G.B.M. Metodologia de operação de aterro sanitário no
município de Juiz de Fora – MG. In: Seminário Nacional de Resíduos Sólidos, 8., 2012, Espírito Santo.
[15] VALE, C.S. Planejamento e sustentabilidade: o caso da disposição final dos resíduos sólidos na cidade de Juiz de
Fora. ANAP Brasill, v.3, n.3, p. 67 – 82, jul. 2010.
[16] BENVENUTO, C. Monitoramento de Aterros Sanitários. In: Workshop Resíduos Urbanos: Desafios para a
administração pública. 2016. 82 slides. Disponível em: http://www.ablp.org.br/pdf/Clovis-Benvenuto.pdf. Acesso em:
21 out. 2018
[17] CARVALHO, M. F. Comportamento mecânico de resíduos sólidos urbanos. Tese (Doutorado). São Carlos:
Escola de Engenharia da Universidade de São Carlos, São Carlos, 1999.
[20] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13896: Aterros de resíduos não perigosos -
Critérios para projeto, implantação e operação. Rio de Janeiro, 1997.
[21] OLIVEIRA, D. A. F. Estabilidade de taludes de maciços de resíduos sólidos urbanos. Dissertação (Mestrado).
Brasília: Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília, Brasília, 2002.
[22] REMÉDIO, F. H . Análise de estabilidade de taludes de aterros de resíduos urbanos utilizando parâmetros
geotécnicos de propostas bibliográficas e correlações com Nspt. Dissertação (Mestrado). Rio Claro: Instituto de
geociências e ciências exatas da Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2014.
ch
[23] CATAPRETA, C. A. A.; SIMÕES, G. F. Monitoramento ambiental e geotécnico de aterros sanitários. In:
Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental, 7., 2016, Campina Grande.
[24] IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Apenas 13% dos resíduos sólidos urbanos
no país vão para reciclagem, 2017. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=art icle&id=29296>. Acesso em 21 out.
2018.
[25] SHIMAZAKI, L. R. Análise de estabilidade de aterros de resíduos sólidos antigos. Dissertação (Monografia).
São Carlos: Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, São Carlos, 2017.
IMPLANTAÇÃO DO BIM EM UMA EMPRESA DE PEQUENO PORTE –
ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA JÚNIOR
Abstract: BIM has been consolidating in Brazil due to different incentives and government policies.
The creation of the Brazilian Chamber of BIM, the launch of the BIM BR Strategy and the
encouragement of instances such as the state government of Santa Catarina, Caixa Econômica
Federal, BNDES and the Brazilian Army allow us to perceive the importance of the movement in
Brazil, with the consequent demand for professionals with BIM competencies. Considering that it is
in higher education institutions that are trained the professionals who will develop engineering
projects, it is perceived the need for a change in the way these competences are approached. Junior
companies constitute a space of great relevance for students to begin to be involved in the
development of real professional projects, together with their management. In this context, PORTE
Jr., the junior company of the faculties of Engineering and Architecture and Urbanism of the Federal
University of Juiz de Fora, as a result of its objectives for the year 2018, decided to implement BIM
in its processes, policies and project tools. For the creation of the BIM Implementation Plan, the
adoption of the PMBOK concepts was defined, in order to allow the professional management of
projects. This work presents the new work plan of the company, defined from existing practices and
modifying aspects of the design and workflow of the projects. To this end a partnership was
established with the Group of Studies and Practices in BIM of the Faculty of Engineering of UFJF.
The plan foresees the adoption of "Design for X (DfX)" – a set of technical guidelines that can be
applied during the project design stage of a building to optimize a specific aspect of its design:
manageability. Thus, the work plan for the junior company provides for the implementation of BIM
in a context of "Design for Manageability".
1. INTRODUÇÃO
O setor da Arquitetura, Engenharia, Construção e Operações – AECO – passa por mudanças
significativas com a adoção do BIM – Building Information Modeling – um conjunto de tecnologias
de projeto e processos produtivos que possibilita a geração e gestão de dados de construção ao longo
do ciclo de vida de um empreendimento, envolvendo a coordenação entre as diferentes disciplinas do
projeto [1].
2. OBJETIVOS
A implantação do BIM em uma empresa, independente do seu porte, vai muito além da simples
aquisição e utilização de softwares; ela requer uma mudança geral em todo o processo de projeto.
Segundo Ferreira (2017), quando se pensa na adoção do BIM para a elaboração de projetos, pretende-
se alcançar a eficiência através da interoperabilidade, bom gerenciamento de informações e
sustentabilidade.
Desta forma, este trabalho tem como objetivo apresentar as etapas utilizadas durante a criação do
Plano de Implantação BIM que permitirá que a empresa júnior saia do nível 0 e alcance, inicialmente,
o nível 1 de maturidade BIM. Para tal serão seguidas práticas de gerenciamento de projetos descritas
no PMBOK em sua sexta edição [4], dentre elas o Design for X, no contexto do Design para a
Gerenciabilidade.
3. REVISÃO DA LITERATURA
Uma forma de implantar e analisar as áreas de um projeto sob a ótica BIM é através das suas
dimensões. A edificação passa por um ciclo de vida que, no BIM, envolve sete dimensões:
Modelagem (3D), Planejamento (4D), Orçamento (5D), Sustentabilidade (6D) e Gestão da Operação
(7D). Essas dimensões são inseridas de forma sequencial no ciclo de vida da edificação como
mostradas na imagem abaixo.
4.3. Softwares
A adoção do BIM implica na adoção de softwares que estejam alinhados com características como a
geração de um modelo do projeto que contenha informações e parâmetros e a interoperabilidade entre
plataformas. Existe hoje em dia uma oferta considerável de softwares BIM com foco em aspectos
distintos, tornando necessária a etapa de análise dos softwares antes de fazer a escolha de quais serão
utilizados. Apesar de utilizar softwares BIM para a modelagem da arquitetura e estrutura, a PORTE
Jr. encontra-se no nível 0 de maturidade BIM pelos seguintes fatores observados:
● utilização de softwares de desenho auxiliado pelo computador;
● utilização de softwares de projeto de instalações que não permitem a visualização de um
modelo, impedindo a compatibilização dos mesmos com os modelos arquitetônico e
estrutural;
● ausência de um software que realize de forma otimizada o processo de compatibilização.
5. RESULTADOS
Durante o início do processo de implantação, alguns testes de softwares foram feitos para que se
pudesse tomar a decisão de qual se adequaria melhor à realidade da PORTE Jr. Inicialmente, devido
à maior familiaridade com a PORTE Jr., foi utilizado o software Autodesk Revit para o projeto
arquitetônico. Para os projetos de instalações encontra-se em teste o software QiBuilder da AltoQi,
visto que possui total adequação às normas nacionais e executa o dimensionamento de forma precisa,
bem como as demais etapas do projeto. Para o projeto estrutural vem sendo utilizado o software
Eberick, também da empresa AltoQi.
Durante as etapas da elaboração do Plano de Implantação BIM e as etapas já executadas dessa
implantação, percebeu-se como desafio a resistência à mudança por parte dos membros. Essa
resistência se dá, dentre outros motivos, pelo completo desconhecimento dos benefícios que a
metodologia traz e pelo fato de ser necessário o estudo para que se tenha o domínio do novo processo.
Para mitigar essa resistência, foram feitas palestras explicativas, reuniões demonstrativas e
flexibilização do estudo através da utilização de videoaulas.
Os resultados do processo de implantação do BIM na PORTE Jr. ainda são pouco expressivos. Porém,
de acordo com um projeto de instalações elétricas já executado, percebeu-se que o tempo de execução
foi similar, sendo que neste primeiro projeto existia o estudo da ferramenta ocorrendo em paralelo.
Portanto, a expectativa para próximos projetos é de que seja possível executá-los em menor tempo e
com maior qualidade.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A elaboração de um Plano de Implantação BIM constitui um desafio devido às diversas
peculiaridades existentes quando se trata de uma empresa júnior, como no caso da PORTE Jr. A alta
rotatividade dos seus membros, que não podem se dedicar integralmente ao processo devido à sua
condição discente, a habitual incompatibilidade de horários para treinamentos, a necessidade de
destinar recursos financeiros para outras áreas e a mudança na mentalidade de projeto da PORTE Jr.
são algumas dessas peculiaridades.
Há ainda as barreiras culturais, decorrentes de um currículo que, no caso da UFJF, ainda não incorpora
o BIM como parte das competências do egresso [7]. Nesse sentido, as iniciativas em esferas
governamentais desempenham um papel fundamental na promoção daquilo que, embora amplamente
como algo “futurístico”, já é realidade que se expande com rapidez.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a contribuição dos integrantes da PORTE Jr. e do GEBIM.
REFERÊNCIAS
[1] EASTMAN, C. et. al. Manual de BIM: um guia de modelagem da informação da construção para arquitetos,
engenheiros, gerentes, construtores e incorporadores. Bookman, 2014.
[2] FERREIRA, J.B.P., Análise do cenário de implantação do BIM em obras e projetos de arquitetura,
engenharia, construção e operação no governo brasileiro e estrangeiro. Belo Horizonte: UFMG, 2017.
Disponível em: <http://pos.demc.ufmg.br/novocecc/trabalhos/pg4/170.pdf>. Acesso em 23 out. 2018.
[3] MASOTTI, L.F.C., Análise da implementação e do impacto do BIM no Brasil. Florianópolis: UFSC, 2014.
Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/127335/TCC%20-%20Luis%20Felipe%20Cardoso%20Mas
otti%20-%20BIM.pdf>. Acesso em 23 out. 2018.
[5] ALMEIDA, R.C.G., Impacto do uso do BIM na elaboração de projetos as built de sistemas prediais
hidrossanitários. Goiânia: UFG, 2016. Disponível em:
<https://www.eec.ufg.br/up/140/o/IMPACTO_DO_USO_DO_BIM_NA_ELABORA%C3%87%C3%83O_DE_PR
OJETOS_AS_BUILT_DE_SISTEMAS_PREDIAIS_HIDROSSANIT%C3%81RIOS.pdf>. Acesso em 23 out.
2018.
[6] EVANS, J.H., “Basic Design Concepts”, J. American Society of Naval Engineers, 1959.
[7] AGUILAR, M.; AZEVEDO, W. O Ensino/Aprendizado do BIM no curso de Engenharia Civil da UFJF. In:
ENCONTRO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA CONSTRUÇÃO,
7. 2015, Recife. Anais... Porto Alegre: ANTAC, 2015.
A CONSTRUÇÃO DE EDIFICAÇÕES EM ILHAS OCEÂNICAS:
O CASO DA ILHA DA TRINDADE
Mestrado Profissional em Engenharia Urbana e Ambiental, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil,
romanel@puc-rio.br
Resumo: Construir em ilhas oceânicas ou locais de difícil acesso exige o prévio conhecimento das
restrições impostas pelas dificuldades de transporte. Neste trabalho o objetivo é descrever um
sistema construtivo adequado à logística de transporte de materiais para execução de edificação na
Ilha da Trindade, situada a 1200 km de distância da costa do Espírito Santo. É apresentada uma
análise da transportabilidade dos materiais para os seguintes sistemas construtivos: tijolos
cerâmicos, blocos de concreto, painéis de madeira e painéis de PVC – concreto, este último
empregado na construção da Estação Científica da Ilha da Trindade em 2011. Nesta pesquisa, o
tempo de transporte dos materiais do navio para a ilha é o principal fator para avaliação do critério
de sustentabilidade do sistema construtivo, pois a permanência de navio junto à ilha, e as operações
de transporte de materiais, geram considerável intervenção humana no meio ambiente e ecossistema
local. Os resultados das análises mostram que o sistema construtivo constituído por painéis de PVC
é o mais adequado à logística de transporte de materiais para produção da edificação na ilha da
Trindade, pois são leves, resistentes, fáceis e rápidos de serem transportados.
Abstract: Building in ocean islands or in hard-to-reach places requires prior knowledge of the
constraints imposed by transportation difficulties. In this work the objective is to describe a
constructive system adequate to the logistics of transporting material construction to the Trindade
Island, located 1200 km away from the coast of the state of Espírito Santo. An analysis of the
transportability of materials is presented for the following constructive systems: ceramic bricks,
concrete blocks, wood panels and PVC - concrete panels, the latter used in the construction of the
Trindade Island Science Station in 2011. In this research, the time for transporting the materials
from the ship to the island is the main factor for evaluation of the sustainability criterion of the
construction system, since the permanence of a ship near the island and the operations for material
transport generate considerable human intervention in the environment and local ecosystem. The
results of the analyses show that the constructive system made up of PVC panels is the most
appropriate for the transportation of materials for the production of the building in the Trindade
Island, since they are light, resistant, easy and fast to be transported.
A Ilha da Trindade é a maior ilha oceânica brasileira, do arquipélago Trindade e Martin Vaz,
localizada na extremidade oriental da cadeia de montanhas submarinas Vitória-Trindade, distante
cerca 1200 km da costa da cidade de Vitória – ES. A ilha tem 8,2 km2 de área, com topografia
acidentada constituída por várias elevações, a máxima das quais com aproximadamente 600m de
altitude em relação ao nível do mar. A ilha abriga fauna marinha diversificada, cercada por recifes
de algas calcárias, sendo considerada área de preservação ambiental.
Para assegurar a efetiva posse desta fração do território nacional, a Marinha do Brasil mantém, na
parte menos acidentada da ilha, um posto oceanográfico (POIT – Posto Oceanográfico da Ilha da
Trindade – Fig. 1) com área construída total de 2000m2 distribuídos em casa de comando,
alojamento para militares, oficinas, posto de saúde, estação meteorológica, estação científica e
estação de rádio. A ocupação da ilha da Trindade e de outras ilhas oceânicas passou a ter
importância estratégica nacional quando áreas circundando ilhas oceânicas passaram a fazer parte
da Zona Econômica Exclusiva que garante ao país os direitos de exploração de recursos do mar e do
subsolo adjacentes. Em associação com as grandes dimensões da Amazônia Verde, de seus recursos
naturais e biodiversidade, a área de 4,5 milhões de km2 ao longo da costa brasileira sob jurisdição e
soberania nacional é também denominada Amazônia Azul.
A ilha da Trindade é assolada por forte arrebentação de ondas, não dispondo de qualquer tipo de
atracadouro para navios, exceto uma rampa de concreto que serve para receber pequenas
embarcações. Para transbordo de materiais e pessoal do navio, que fica ancorado a 300m da
arrebentação das ondas, os únicos meios de transporte são balsas, helicóptero e botes infláveis
(cabritas) – Fig. 2.
Figura 2 – Transporte de materiais do navio para a ilha por meio de helicóptero, balsa e botes.
Fonte: DOCM [1]
4. PRÉ-FABRICAÇÃO
A possibilidade de utilização de tecnologias que permitam o uso de materiais pré-fabricados é um
aspecto relevante a ser considerado em relação à logística de transporte de materiais para locais de
difícil acesso. Elementos pré-fabricados, constituídos por materiais leves com dimensões e
características que permitam seu fácil manuseio e movimentação, sem a necessidade de
equipamentos especiais como guinchos, guindastes e tratores, são mais adequados para construção
em locais com restrição de acesso. Materiais pré-fabricados não só proporcionam uma diminuição
dos prazos de execução, como também racionalizam as quantidades a serem transportadas,
minimizam os resíduos de construção, permitem operações prévias de montagem e desmontagem,
como também possibilitam o treinamento da equipe de construção na elaboração de um plano
estratégico para embalagem, transporte e remontagem dos elementos pré-fabricados no menor
tempo possível (Tab. 3).
5. TEMPO DE TRANSPORTE
O fator tempo de transporte dos materiais do navio para a ilha é um dos principais aspectos para
avaliação dos sistemas construtivos, pois a permanência do navio junto à ilha e as operações de
transporte geram considerável intervenção humana no meio ambiente e ecossistema local. Quanto
maior o prazo de transbordo, maior o tempo de permanência da embarcação, com aumento do
número de pessoas, consumo de combustíveis, energia, água e demais recursos da ilha e, em
consequência, maior o impacto causado ao meio ambiente.
Para possibilitar uma estimativa do impacto ambiental causado pelo transporte de materiais para a
ilha da Trindade, a Tab. 4 apresenta uma síntese da duração e do número de viagens necessárias em
cada meio de transporte disponível, considerando o navio ancorado a 300m de distância da
arrebentação das ondas. Para resguardar a segurança da tripulação, as operações de transbordo só
foram realizadas no período diurno, com duração máxima entre 10 a 12 horas.
Notas:
1. helicóptero Esquilo versão militar da Marinha do Brasil. Pesos: vazio: 1045 kg; máximo na decolagem: 1950 kg.
Fonte: DOCM [1] e Aviação Naval Brasileira. Disponível em: www.helibras.com.br/
2. barco inflável Zodiac MILPRTM da MB (ComForSup), capacidade de carga 1250kg ou 10 pessoas . Fonte: DOCM
[1] e Zodiac. Disponível em: www.zodiacmilpro.com/
3. balsa cabrita, construída pelo AMRJ – Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, capacidade de carga 500kg ou 6
pessoas. Fonte: DOCM [1]
4. segundo a Marinha do Brasil os navios que servem de apoio para abastecimento do POIT, consomem em média cerca
de 13 a 15 toneladas/por dia de óleo combustível. Fonte: www.naviosbrasileiros.com.br
5. segundo a Helibrás, fabricante dos modelos de helicópteros tipo Esquilo (UH12/13) utilizados pela Marinha do
Brasil, o consumo médio de querosene de aviação é de 120 a 150 litros por hora de vôo. Fonte: www.helibras.com.br
6. Yamaha Motores do Brasil, fabricante de motores de popa de 25 HP e 50 HP / 4 tempos, normalmente utilizados na
propulsão dos barcos infláveis tipo Zodiac, com consumo médio de 9 e 18L de gasolina por hora. Fonte: www.boat-
fuel-economy.com
7. na operação do cabrestante de içamento da cabrita localizado na rampa do POIT, o equipamento é um gerador com
potência de 75kVA. O consumo médio do gerador é 10 a 17 L de diesel por hora. Fonte: www.cumminspower.com.br.
Tabela 5 - Definição de ecomateriais [6]
A escolha de um material que participe ativamente da
Material absorvente de CO2 mitigação do aquecimento global é a melhor opção que
a construção pode dar ao meio ambiente.
Utilização de matérias-primas que a natureza oferece
Material sustentável de maneira inesgotável.
O destino de um material reciclável encontra-se na
Material reciclável reutilização, não acaba no aterro.
Evita-se a poluição e o consumo de energia para uma
Material reciclado nova fabricação do mesmo material, reduzindo a
quantidade de resíduos.
Quanto mais matérias-primas são necessárias para
Pureza de composição fabricar um material, mais complicada se torna a sua
separação e reciclagem.
Além dos custos energéticos iniciais (extração,
transporte, fabricação…), é importante compreender a
Energia incorporada dependência energética do material ao longo do seu
ciclo de vida (inércia térmica, manutenção, desgastes).
Apenas para projetos de pequena escala se justifica a
utilização de um material artesanal que exija muita
Grau de industrialização mão-de-obra e a utilização intensiva de recursos (água
e energia). Em todos os demais projetos deve-se
utilizar materiais industriais com consumo controlado
de recursos.
Evitar o uso de produtos que possam afetar a saúde do
Materiais saudáveis fabricante, do usuário e do trabalhador no processo de
reciclagem, principalmente em relação a partículas
tóxicas ou cancerígenas.
Materiais com baixa manutenção favorecem o conforto
Exigências de manutenção do usuário e diminuem a utilização de pinturas,
lubrificantes e vernizes.
Materiais com certificação Poucos materiais têm certificação que garanta uma
ecológica adequada utilização dos recursos; os que a possuem
merecem um tratamento privilegiado.
Com o objetivo de verificar quais dos materiais considerados para a construção da ECIT da Ilha da
Trindade que reúnem as melhores características de sustentabilidade, foram atribuídos fatores de
ponderação, para cada uma das propriedades listadas na Tab. 5, variando em uma escala entre 1
(péssimo) a 5 (excelente). Os resultados estão mostrados na Tab. 6, de onde pode se concluir que o
PVC é o material que possuiu a maior pontuação sob ponto de vista ecológico.
Com relação à sustentabilidade há que se considerar que no sistema construtivo PVC – concreto, o
painéis de PVC servem de formas que são preenchidas com concreto ou argamassa, transformando-
se em paredes estruturais de vedação interna ou externa da edificação. Quanto ao sistema
construtivo com painéis de madeira, este deve ser substituído por alvenaria em áreas molhadas
(cozinhas e banheiros). Logo, ambos os sistemas com painéis de madeira e PVC- concreto
necessitam empregar razoável quantidade de cimento, areia e tijolos, o que faz com que a pontuação
média recebida da Tab. 6 não seja representativa do sistema construtivo em si, mas apenas de
materiais isoladamente (madeira e PVC).
Tabela 6 - Estimativa da carga ecológica dos principais materiais construtivos na Ilha da Trindade
8. CONCLUSÃO
A Ilha da Trindade apresenta dificuldades de acesso que tornam as atividades de construção mais
complicadas do que no continente, principalmente em relação à logística de transporte de materiais
e de pessoal.
Para conhecer qual o sistema construtivo mais adequado, foi importante investigar, avaliar e
comparar as principais características de transportabilidade dos materiais do navio para a ilha
(pequenas embarcações ou helicóptero). O fator tempo de transporte foi um dos principais aspectos
para seleção do sistema construtivo, pois a permanência do navio junto à ilha e as operações de
transporte produzem considerável intervenção humana no meio ambiente e ecossistema local.
Quanto maior o prazo de transbordo, maior o impacto ambiental.
Sistemas construtivos em alvenarias empregam grandes variedades e quantidades de materiais
(tijolos cerâmicos ou blocos de concreto, cimento, areia, saibro, pedra etc.), com altos valores de
peso por unidade de área construída. Para serem transportados, estes materiais necessitam de
embalagem e demandam longos tempos de transporte. Paredes de alvenarias também não permitem
pré-montagem e desmontagem.
O sistema constituído por PVC utiliza grandes quantidades e variedades de formas, individualmente
leves e fáceis de serem transportadas, enquanto que o sistema baseado em madeira maciça emprega
pequenas quantidades de painéis, porém individualmente mais pesados e difíceis de serem
movimentados. As formas de PVC necessitam estruturação com concreto e os painéis de madeira
requerem substituição por alvenaria em áreas molhadas (cozinha e banheiros). Tanto os painéis de
madeira quanto os de PVC são compostos por elementos pré-fabricados que permitem pré-
montagem, desmontagem e transporte, sem necessidade de embalagens especiais.
No aspecto de sustentabilidade, o sistema construtivo baseado em painéis de PVC obteve uma
avaliação ligeiramente superior aos painéis de madeira, tendo em vista que o PVC foi o material
com maior conceito atribuído na classificação de ecomateriais (Tab. 6).
REFERÊNCIAS
[1] DOCM – Diretoria de Obras Civis da Marinha. Construção da Estação Científica da Ilha da Trindade (ECIT).
Relatórios de fiscalização, 2011.
[2] ALVAREZ, C.E. Metodologia para construção em áreas de difícil acesso e de interesse ambiental – aplicabilidade
na Antártica e nas ilhas oceânicas brasileiras. Tese de Doutorado, Faculdade de Arquitetura da Universidade de São
Paulo, 186p., 2003.
[3] ROYAL DO BRASIL TECHNOLOGIES S.A. O futuro é PVC! Disponível em: www.royalbrasil.com.br/. acesso
em 31 de março 2014.
[4] SANTOS, M.C.D. Análise do sistema construtivo concreto – PVC em relação à logística de transporte para
construção da Estação Científica da Ilha da Trindade (ECIT). Dissertação de Mestrado Profissional,
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 109p., 2015.
[5] ARAUJO, M.A. A Moderna Construção Sustentável. Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica
(IDHE). Disponível em https://www.aecweb.com.br/cont/a/a-moderna-construcao-sustentavel_589, acesso em 20 de
outubro de 2018.
[6] ARNAL, I.P. Generación S - una nueva generación de materiales sustenibles. Barcelona, Catalunha, Ed Ignasi
Perez Arnal, 2008.
AVALIAÇÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E QUALIDADE DA ÁGUA
NA BACIA DO CÓRREGO MATIRUMBIDE, JUIZ DE FORA – MG
Evaluation of land use and occupancy and water quality in the Matirumbide River,
Juiz de Fora – MG
Felipe Souza Freitas ¹, Samuel Rodrigues Castro ², Edgard Henrique Oliveira Dias ³
Resumo: A falta de planejamento urbano gera inúmeros impactos ambientais, como a poluição de
corpos hídricos, que se dá, principalmente, devido ao lançamento indevido de efluentes domésticos
e industriais. Desta forma, é importante a realização de estudos em áreas que vêm sofrendo pressões
ambientais com o intuito de poder elaborar e efetuar medidas que possam minimizar impactos no
local. A cidade de Juiz de Fora, MG, apresenta áreas que vêm sendo degradadas por ações
antrópicas. Uma delas é a área de estudo desta pesquisa, a Bacia do Córrego Matirumbide, que
apresenta sérios problemas ligados a deslizamentos de terra e à qualidade do curso hídrico. O
presente trabalho teve como objetivo fazer uma avaliação do impacto do uso e ocupação do solo
sobre a qualidade da água. Para isso, foram coletadas amostras de água em três pontos distintos do
Córrego Matirumbide: alto (P1), médio (P2) e baixo (P3) curso. Foram realizados cinco eventos de
coletas, entre os meses de agosto e novembro de 2017. Os parâmetros físico-químicos definidos
para análise e comparação foram: pH, oxigênio dissolvido (OD) nitrogênio amoniacal, fósforo total,
turbidez, cor aparente, DQO e DBO. Através de imagem do satélite Sentinel-2 (06/09/2017) para a
análise de uso e ocupação do solo, foram classificadas áreas de mata, vegetação rasteira e urbana.
Segundo metodologia de referência adotada na avaliação da qualidade entre o resultado da
classificação com as áreas de treinamento de validação, o resultado pode ser classificado como
excelente, com o valor de coeficiente Kappa de 0,87. Observou-se grande influência do uso e
ocupação do solo sobre a qualidade da água no Córrego Matirumbide, sendo boa a qualidade da
água no ponto P1, com indicativo de pouca influência antrópica, e qualidade relativamente inferior
nos pontos P2 e P3, sujeitos a elevada influência antrópica, no Córrego Matirumbide.
Abstract: The lack of urban planning leads to numerous environmental impacts, for instance the
pollution of water bodies, which is related to the discharge of untreated domestic and industrial
effluents. Therefore, it is important to conduct studies in areas that are under environmental
pressure in order to design and implement measures that can minimize the impact on these sites.
The city of Juiz de Fora, MG, has areas that have been degraded by anthropic actions. One of these
is the area of study of this research, the Matirumbide River catchment, which presents serious
problems related to landslides and water quality of the river. The Matirumbide River catchment
contributes, among others, to the formation of the Paraibuna River catchment, located in the
municipality of Juiz de Fora, MG. The present work aimed at evaluating the impact of the land-use
and occupancy on the quality of the water. For this, water samples were collected at three distinct
points of the Matirumbide River: high (P1), medium (P2) and low (P3) course. Five sampling
events were performed between August and November 2017. The physic-chemical parameters
defined for analysis and comparison were: pH; dissolved oxygen (OD); ammoniacal nitrogen; total
phosphorus; turbidity; apparent colour; COD; and BOD. From the image of the Sentinel-2 satellite
(06/09/2017) of the catchment, three classes were determined for land-use and occupancy: forest;
grassland; and urban. The result of the land-use and occupancy method used was considered as
excellent, with a Kappa coefficient value of 0.87. It was observed a great influence of the land-use
and occupancy on the water quality of the Matirumbide River: good water quality in sampling point
P1, with relatively low anthropic influence; and deteriorated water quality in sampling points P2
and P3, with considerable anthropic influence.
1. INTRODUÇÃO
O processo de crescimento urbano desordenado, aliado a um crescimento populacional igualmente
desregrado, são capazes de provocar mudanças drásticas em paisagens e ecossistemas, podendo
acarretar alterações significativas na dinâmica ambiental de várias localidades. Sobretudo, a má
gestão do uso do solo, aliada ao crescimento da população e à expansão industrial observada nas
últimas décadas, tem provocado o decréscimo da qualidade da água de rios, lagos e reservatórios
[1]. Segundo [2], isso pode ser causado por processos naturais, tais como chuva, erosão e transporte
de sedimentos; ou ainda, como consequência da ação humana, como: urbanização, industrialização
e agricultura.
Os resíduos sólidos e efluentes líquidos sem tratamento lançados de forma arbitrária em recursos
hídricos são os maiores causadores de impactos em meios urbanos. Por consequência, a avaliação
físico-química e microbiológica das águas pode ser usada para medir os efeitos que as atividades
humanas têm sobre o ambiente [3]. O esgoto polui as águas, alterando suas características físico-
químicas e biológicas [4], enquanto que resíduos sólidos podem atrair vetores e promovem poluição
visual das margens do ambiente aquático.
O uso e a ocupação do solo podem interferir na qualidade das águas superficiais e subterrâneas, e
também nos ecossistemas aquáticos dentro de uma bacia hidrográfica. Nesse contexto, o
sensoriamento remoto constitui-se em uma técnica fundamental para a manutenção de registros do
uso da terra ao longo do tempo, pois permite detectar as constantes alterações provocadas pela ação
do homem e o comportamento dinâmico do meio ambiente [5]. Segundo [6], o processo de
levantamento e caracterização do uso do solo pode ser facilitado pela utilização de imagens de
satélites, que podem apresentar custo relativamente baixo, eficiência e fornecer informações
diversas em caráter espacial, úteis para tomada de decisões sobre planejamento ambiental e
ordenamento territorial.
O presente estudo teve por objetivo comparar a qualidade da água em três pontos distintos do
Córrego Matirumbide (P1, P2 e P3), da montante à jusante, relacionando os resultados com análises
de uso e ocupação do solo.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Área de Estudo
A bacia do Córrego Matirumbide está localizada entre as coordenadas 43º21’30” e 43º20’30” W e
21º44’30” e 21º42’30” S, dentro do perímetro urbano do município de Juiz de Fora, estado de
Minas Gerais. A área localiza-se na zona leste da cidade e abrange nove regiões urbanas. A bacia
apresenta uma área de aproximadamente 442 ha.
Pelo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, a região da bacia do
Córrego Matirumbide apresentou cerca de 40 mil habitantes [7]. Após percorrer aproximadamente 4
km a partir de sua nascente, o Córrego Matirumbide deságua no Rio Paraibuna, um dos principais
formadores da bacia hidrográfica do Paraibuna, onde se situa o município de Juiz de Fora. Segundo
a Deliberação Normativa COPAM nº 16, de 24 de setembro de 1996 [8], esse curso é enquadrado
como Classe 2, sendo que suas águas podem ser destinadas ao consumo humano, após tratamento.
A Figura 1 apresenta a localização da bacia do Córrego Matirumbide, sua delimitação, e os corpos
hídricos principais.
P2 P3
Fig. 2 – Localização e ilustração da coleta de amostras de água nos pontos amostrais P1, P2 e P3 na bacia do
Córrego Matirumbide.
A coleta de amostras foram realizadas nas datas 10/08, 05/09, 05/10, 05/11 e 29/11 do ano de 2017
utilizando-se garrafas plásticas previamente limpas e esterilizadas. Logo após a coletadas, as
amostras foram acondicionadas em recipientes térmicos (4 ± 2ºC) e encaminhadas para o
Laboratório de Qualidade Ambiental (LAQUA) do Departamento de Engenharia Sanitária e
Ambiental (ESA) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para realização das análises
laboratoriais. Foram analisados os seguintes parâmetros: oxigênio dissolvido; pH; fósforo;
nitrogênio amoniacal; turbidez; cor aparente; DQO; e DBO5,20. As análises laboratoriais foram
realizadas de acordo com o [10], segundo métodos apresentados na Tabela 1.
Tabela 1- Métodos utilizados para a determinação da qualidade das amostras segundo o Standard Methods for
the Examination of Water and Wastewater (APHA, 2012).
Parâmetros Código do Método
Oxigênio dissolvido (OD) 4500- O G– Método do Eletrodo de Membrana
pH 2310.B – Método Pontenciométrico
Fósforo Total 4500- P D – Método do Cloreto Estanoso
Nitrogênio amoniacal 4500.B – Método Titulométrico com Ác. Sulfúrico
Turbidez 2130.B – Método Nefolométrico
Cor aparente 2120.B – Método Colorimétrico
DQO 5220.D – Método Colorimétrico de refluxo fechado
DBO5,20 5210.D – Método Respirométrico
Fig. 3 - Valores de turbidez nos pontos P1, P2 e P3 do Fig. 4 - Valores de cor nos pontos P1, P2 e P3 do
Córrego Matirumbide nos cinco eventos de coleta. Córrego Matirumbide nos cinco eventos de coleta.
Antes de analisar os dados apresentados na Figura 4, é importante enfatizar que a cor determinada
nesta pesquisa foi a cor aparente. Portanto a comparação dos resultados do presente trabalho com a
DN Conjunta COPAM/CERH nº 01/2008 [11] não é possível, pois esta aborda cor verdadeira. No
entanto, cabe uma breve discussão a respeito da diferença de valores encontrado entre o ponto P1 e
os demais pontos (P2 e P3). Enquanto no P1 níveis de cor aparente não ultrapassaram valores
máximos de 30 mg Pt/L, nos pontos P2 e P3 este parâmetro apresentou valores acima de 150 mg
Pt/L. Cabe lembrar que a cor aparente sofre influência da presença de sólidos em suspensão além
dos sólidos dissolvidos. Desta forma, os resultados encontrados podem ser explicados pela ação da
influência antrópica nesta região, já que o descarte indevido de efluentes ao longo do córrego pode
ter contribuído para esses valores elevados nos pontos P2 e P3.
Fig. 7 - Valores de DBO nos pontos P1, P2 e P3 do Fig. 8 - Relação DQO/DBO nos pontos P2 e P3 do
Córrego Matirumbide nos cinco eventos de coleta. Córrego Matirumbide nos cinco eventos de coleta.
Fig. 9 - Valores de pH nos pontos P1, P2 e P3 do Córrego Matirumbide nos cinco eventos de coleta
A partir dos dados obtidos de nitrogênio amoniacal observado na Figura 10, pode-se perceber
valores altos de nitrogênio amoniacal nos pontos P2 (49 a 55 mg/L N-NH3) e P3 (27 a 45 mg/L N-
NH3). No ponto P1, as concentrações não ultrapassaram 0,1 mg/L N-NH3. Vale ressaltar que os
esgotos sanitários apresentam, normalmente, concentrações de nitrogênio total que variam de 20 a
85 mg/L N-NH3, sendo de 8 a 35 mg/L N-NH3 na forma de nitrogênio orgânico e de 12 a 50 mg/L
N-NH3 na forma de nitrogênio amoniacal [14]. Desta forma, pode-se deduzir que esses altos valores
de nitrogênio amoniacal nos pontos P2 e P3 podem ser associados ao despejo inadequado de
efluentes sanitários no córrego Matirumbide, resultando em uma degradação do mesmo.
A presença de nitrogênio amoniacal pode estar ligada a descargas domésticas, assim como dejetos
animais e fertilizantes químicos [12]. Neste contexto, a DN Conjunta COPAM/CERH nº 01/2008
[11] estabelece para os corpos hídricos Classe 2, um padrão de nitrogênio amoniacal variando de
acordo com o pH da água onde quanto maior o pH menor deve ser a quantidade de mg/L de N-NH3.
Correlacionando os valores obtidos de pH (Figura 9) com os de nitrogênio amoniacal (Figura 10) e
comparando com a legislação supracitada, constata-se que apenas o ponto P1 atende a legislação
pois ele se encaixa dentro do padrão exigido para Classe 2 no qual para valores de pH abaixo de 7,5
o padrão por mg/L de N-NH3 deve ser de 3,7.
Mediante os valores obtidos e apresentados na Figura 11, as concentrações de fósforo no ponto P1
não ultrapassaram 0,04 mg/L P-PO4³-, enquanto nos pontos P2 e P3 valores oscilaram entre 0,15 e
0,38 mg/L P-PO4³-. Os pontos P2 e P3 tiveram valores máximos que ultrapassaram 0,3 e 0,2 mg/L
P-PO4³-, respectivamente. Em todos os eventos de coleta, as concentrações de P nos pontos P2 e P3
ultrapassaram o definido pela DN Conjunta COPAM/CERH 01/2008, que estabelece limite de
fósforo total de 0,1 mg/L P-PO4³- para ambiente lótico e tributários de ambientes intermediários.
Fig. 10 - Valores de nitrogênio amoniacal nos pontos Fig. 11 - Valores de fósforo total nos pontos P1, P2 e P3
P1, P2 e P3 do Córrego Matirumbide nos cinco eventos do Córrego Matirumbide nos cinco eventos de coleta.
de coleta.
5. CONCLUSÃO
A forma na qual o ser humano usa e ocupa o solo está intrinsicamente ligada com a qualidade dos
cursos hídricos presente no local onde ele vive. Quanto a relação do uso e ocupação do solo da
bacia com a qualidade da água encontrada na bacia, cabe ressaltar que a influência antrópica pode
ter impactado negativamente o Córrego Matirumbide. A montante, onde se localiza o ponto P1 e
também onde possui maior área verde, os parâmetros analisados se encontraram dentro da DN
Conjunta COPAM/CERH 01/2008 [11], enquanto que nos demais pontos P2 e P3 já se pode
observar valores discrepantes ao estabelecido pela legislação estadual para corpos hídricos de
Classe 2, podendo ser relacionados com o aumento da área urbana ao longo da bacia do Córrego
Matirumbide.
Sabe-se que no município de Juiz de Fora, a despoluição do Rio Paraibuna começou em meados de
2013 com objetivo de captar e tratar os esgotos lançados no Rio Paraibuna e em cinco córregos
afluentes dele. Um dos córregos contemplados no projeto para que houvesse esta obra era o Córrego
Matirumbide. No entanto, apesar de alguns trechos estarem próximos de serem concluídos, as obras
nem sequer iniciaram na região do córrego, fato explicado pela dificuldade encontrada na logística
de atuar na área. Como visto neste trabalho, é perceptível a possível contaminação do Córrego
Matirumbide como consequência dos lançamentos indevidos de efluentes domésticos e industriais.
Além disto, percebeu-se que, naturalmente, o corpo hídrico em alguns momentos consegue
minimizar o impacto dos efluentes lançados devidos a afluentes que ainda não se encontram
tomados por áreas com elevada urbanização. Por fim, cabe ressaltar a importância de realizar ações
com o objetivo em educar a população local para tentar minimizar o impacto causado pelo
gerenciamento inadequado de resíduos sólidos nas regiões do entorno do córrego e, de fato,
começar a se pensar melhor na implantação de obras de infraestrutura de coleta e tratamento dos
esgotos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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quality: a case study. Ecological Modelling, v. 220, n. 6, p. 888-895, 2009.
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MUÑOZ, S. I. (2013). Water quality of the Ribeirão Preto Stream, a water course under anthropogenic
influence in the southeast of Brazil. Environmental Monitoring Assessment, v. 185, p. 1.151-1.161.
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Total Environment, v. 327, n. 2, p. 175-184, 2004.
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satélite CBERS. Engenharia Agrícola, 21(4):28-35 (2006).
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imagem de sensoriamento remoto. Campinas, MAPA, 2001. 12p. (2001).
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Brasília: Imprensa Nacional/ Diário Oficial da União, n. 211, Seção 1, p. 110.
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enquadramento das águas estaduais da bacia do rio Paraibuna.
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Fora-MG, 2008, 108 p.
[10] APHA, 2012. Standard Methods For The Examination Of Water And Wastewater, 22 nd Ed.: American
Public Health Association, American Water Works Association, Water Environment Federation. Washington , DC.
[11] MINAS GERAIS (Estado). Deliberação Normativa Conjunta COPAM/CERH-MG no 01, de 05 de Maio de
2008. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como
estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências.
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quality of Caeté River estuary, Brazilian, Amazon. An. Acad. Bras. Ciênc. 2010.
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abordagem orientada a objetos. 2006.
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estudo de caso pontual em bacia hidrográfica do oeste do Paraná. Revista Floresta e Ambiente, Seropédica,
v.19, v.1, jan./mar. 2012.
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Water quality assessment of the Sinos river, southern Brazil. Brazilian Journal of Biology, [s.l.], v.70, n.4,
p.1185-1193, 2010.
[19] INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA - INMET. Gráficos das condições registradas. Disponível
em: <http://www.inmet.gov.br/sim/abre_graficos.php>. Acesso em: 30 mar. 2018.
ANÁLISE DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM PAREDES DE
GESSO ACARTONADO E ALVENARIA INSTALADAS EM ÁREAS
MOLHÁVEIS
Abstract: The dry constructions present as characteristic the absence of water in the process of
assembling the building. This constructive method makes possible, through the industrialization of
its components, faster constructions, which are usually structured in steel or wood. An alternative
for internal compartmentalization of environments, without the structural function, is by means of
seals with gypsum plasterboard and metallic profiles. This constructive system is mainly used in
commercial buildings, such as offices or industrial buildings. This technology is used in internal
fences of masonry buildings, however the component is sensitive to water action, and greater care is
required in environments with a high moisture content. Due to the application in the commercial
sector and mainly in the hotel sector, it is common to use gypsum plasterboard in wettable
environments. Thus, the dichotomy between these environments and the sealing component can be
considered. Because it is a less usual technology, there are few studies about the problems that
occur in these panels, from constructive failures that allow the appearance of pathological
manifestations in these interface areas between dry and wet conditions. Thus, this research aims to
present and analyze the pathological problems that occur in wettable environments of hotel
networks built with walls of masonry or gypsum plasterboard. To this end, it was proposed field
studies involving hotels in the region of São Carlos that use these techniques of fences, for
cataloging and categorizing the faults in these environments and identifying their causes and
mitigating recovery processes.
1. INTRODUÇÃO
Com relação ao estudo das manifestações patológicas que ocorrem nas edificações, o SindusCon-SP
em um levantamento realizado com 78 empreendimentos com idades entre zero e cinco anos,
localizados na cidade de São Paulo, identificou maior incidência de problemas nos sistemas
hidrossanitário e gás. Além, para o IBAPE, os problemas oriundos a ação da umidade,
principalmente os ocasionados pela ausência de impermeabilização, é a principal causa de
deterioração da edificação. Novamente, em outra pesquisa, liderada pelo Secovi-SP, mostrou em
uma avalição com 52 edifícios que os vícios mais frequentes ocorrem no sistema hidrossanitário
[1].
Essa ocorrência significativa de problemas que acontecem nos sistemas prediais, enfatiza a
gravidade da ação da umidade nos ambientes, principalmente os considerados molháveis, como é o
caso de banheiros, cozinhas e áreas de serviço. Nos sistemas construtivos a seco a situação é ainda
mais preocupante, pois o material utilizado no fechamento vertical interno, as chapas de gesso
acartonado, possui propriedades e características antagônicas à presença de água [2].
Por ser uma técnica construtiva menos usual no pais, há ausência de estudos na área patológica,
com o emprego de outros materiais de fechamento além da tradicional alvenaria. Essas edificações,
que possuem vedação industrializada, precisam, ainda, de diagnóstico quanto às manifestações
patológicas que ocorrem nesses ambientes molháveis [3]. Diante disto modo, o objetivo deste
trabalho consistiu em identificar e analisar as manifestações patológicas que ocorrem em ambientes
molháveis de hotéis construídos com vedações internas tanto em alvenaria quanto em drywall.
Para isso, este trabalho foi desenvolvido através de uma metodologia, que fora dividida em duas
etapas. A primeira etapa constituiu em uma revisão bibliográfica das recomendações técnicas
propostas pela literatura e as manifestações patológicas que ocorrem em ambientes molháveis. Na
etapa subsequente, foram realizados estudos de campo em hotéis na região de São Carlos-SP, de
modo a identificar e analisar os problemas e as processos de recuperação adotados pelo setor de
manutenção responsável, por intermédio da aplicação de formulários elaborados pelos autores.
2. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento desta pesquisa, foi proposta uma metodologia bibliográfica e com estudos
de campo, que foram realizados em hotéis na região de São Carlos-SP. As informações foram
coletadas através da aplicação de três formulário, direcionados ao responsável pelo setor de
manutenção de sete estudos de campo. O primeiro formulário teve o intuito de apresentar
informações gerais e características físico-construtivas do empreendimento. Já, o segundo
formulário, com base em outros estudos patológicos, buscou expor e identificar as manifestações
patológicas que ocorrem nos ambientes molháveis dos hotéis que possuem o sistema de vedação em
alvenaria ou drywall. Por fim, o último formulário objetivou apresentar as características da equipe
de manutenção, as dificuldades e procedimentos básicos enfrentados. Na Figura 01 é apresentado o
fluxograma da metodologia desta pesquisa.
Revisão Bibliográfica
Tabulação de dados
3. ANÁLISES E RESULTADOS
Para melhor visualização das informações obtidas a partir dos formulários, aplicados nos sete
empreendimentos em análise, os resultados foram divididos em tópicos, sendo eles: a caracterização
do empreendimento e da equipe de manutenção, as manifestações patológicas que ocorrem e os
processos de recuperação adotados. Todos os formulários foram respondidos por um responsável
pelo setor de manutenção do hotel. A aplicação deles correu por meio de entrevistas para os
empreendimentos 02, 03, 05, 06 e 07, que duraram em média de 30 minutos. Já nos hotéis 01 e 04,
os formulários foram respondidos pelo próprio participante, por preferência.
Ilustração
Ilustração
No que tange ao sistema de vedação interna, os Hotéis 01, 02 e 03 possuem paredes internas
compostas por chapas de gesso acartonado nos quartos e corredores, e uma parede em alvenaria no
banheiro, que faz divisa com o banheiro de outro quarto. Já os Hotéis 04, 05 e 07 possuem
fechamento vertical composto integralmente por alvenaria. No Hotel 06 foi utilizado o sistema
drywall somente para corredores e shafts, sendo as demais paredes dos pavimentos-tipos
construídas em alvenaria.
Entre as descrições dos ambientes, todos possuem áreas molháveis comuns, como cozinhas,
banheiros coletivos e individuais, e área de serviço. Ainda, os Hotel 03 e 06 possuem áreas para
piscina, porém em locais abertos, sendo o primeiro na cobertura e o segundo no térreo. Com relação
aos banheiros individuais, observou-se diferentes padrões estéticos. Em todos os empreendimentos,
notou-se uma variedade nos designs dos banheiros, com diferentes tipos de layouts, que variam
conforme o tipo de quarto escolhido, como é apresentado na Figura 02.
Com relação aos revestimentos das paredes, somente nos hotéis com drywal (01, 02 e 03) não
apresentaram o revestimento total das chapas com placas cerâmicas, e sim parcial, executado
apenas na área interna do box. Já nos demais hotéis, o banheiro é inteiramente revestido. Na Figura
03 é ilustrado a situação mencionada com os banheiros dos Hotéis 02 e 06, respectivamente.
Características
Participantes Tempo de Total
Idade Cargo Nível de escolaridade
serviço Equipe
Hotel 01 32 anos Auxiliar de manutenção Ensino superior incompleto 2,5 anos 1
Hotel 02 38 anos Coordenador de manutenção Ensino Técnico 3 anos 4
Hotel 03 38 anos Coordenador de manutenção Ensino Técnico 3 anos 4
Hotel 04 45 anos Manutencionista Ensino médio 2 meses 1
Hotel 05 29 anos Gerente geral Ensino superior 4 anos 1
Hotel 06 40 anos Gerente de manutenção Ensino superior incompleto 10 anos 1
Hotel 07 33 anos Manutencionista Ensino Técnico 2 anos 1
Figura 04 – (a,b) Manchas de umidade em drywal no Hotel 02 / (c) Manchas área de serviço Hotel 06.
Outro problema comum, trata-se de danos que ocorrem próximos aos rodapés em ambientes
molháveis, devido ao fácil contato com a água no momento da higienização. Em geral, os hotéis
com drywall (01, 02 e 03) foram os que mais apresentaram problemas em paredes quando sujeitas a
ação da umidade. Esse fato pode ser justificado devido a sensibilidade das chapas de gesso
acartonado perante a presença de água. Ainda o hotel que menos apresentou danos é também o
participante que possui o menor tempo de serviço, e, consequentemente, menos vivencia de
ocorrências de falhas.
Apesar de ser um assunto pouco divulgado, os materiais da construção civil também possuem
validade, sendo necessária a manutenção e reposição periódica. Isso contempla inclusive os pisos,
argamassas colante e rejuntes. A exemplo disto, em uma ocorrência no Hotel 06, em alguns
cômodos os azulejos trincaram e descolaram das paredes, que apesar de estarem assentados a alguns
anos, sofreram rompimento brusco e repentinos das placas, conforme é ilustrado na Figura 06 (a,b).
Além das cerâmicas, outra ocorrência registrada no mesmo hotel, trata-se de remoção total e
substituição do rejuntamento existente da cozinha, (b), que devido à ação de produtos, se deteriorou.
Hotéis
Problema patológico
Hotel 01 Hotel 02 Hotel 03 Hotel 04 Hotel 05 Hotel 06 Hotel 07
Instalação fora de esquadro X
Problemas nas fechaduras X X X X
Manchas de umidade próximas X X X X X
Descolamento da pintura ao X X X
redor
Fissuras próximas às janelas X X X
Fissuras próximas ás portas X X
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a CAPES no desenvolvimento deste trabalho, através da concessão de bolsa
de pesquisa, e aos profissionais dos hotéis que viabilizaram esse estudo.
REFERÊNCIAS
[1] BLANCO, M. Danos Construtivos: Como atender as reclamações dos compradores de imóveis dentro do prazo de
garantia. Revista Construção Mercado. São Paulo, 72. ed., 2007.
[2] TANIGUTI. E. K. Método construtivo de vedação vertical interna de chapas de gesso acartonado. 1999. 293 p.
Dissertação (Mestrado) – Departamento de Engenharia de Construção Civil, Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo, São Paulo, 1999.
[3] SILVA, N. C. N. Paredes internas de chapas de gesso acartonado empregadas em edifícios habitacionais:
avaliação em uso. 2002. 281 p. Trabalho Final (Mestrado Profissional em Habitação) – Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo, São Paulo, 2002.
[4] CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO. Esquadrias para edificações, desempenho e
aplicações: orientações para especificação, aquisição, instalação e manutenção. Brasília: CBIC/SENAI, 2017.
ESTUDO DO POTENCIAL DE APLICAÇÃO DE RESÍDUOS ORIUNDOS DA
SEPARAÇÃO DAS APARAS DA CELULOSE NA PRODUÇÃO DE CONCRETO
POLIMÉRICO
Abstract: Sustainability and studies about the reuse of different types of waste are being discussed
even more in the last years. Above many others, industrial waste has a great potential to be reused
in construction segment. In this sustainability area, studies prove that polymer concretes are great
alternatives in order to compound rigid concrete parts with high resistance values. This article uses
industrial waste and resin as components of polymer concrete to perform specific tests in order to
verify the viability of this new sustainable product as such as you great performance in resistance.
As a result, the concrete samples did not work as expected. There was an unforeseen reaction
between the resin and aggregate discomposing the concrete drying process.
Normalmente, dentro da construção civil, os concretos com bases poliméricas, utilizam com
maior frequência resinas do tipo epóxi e a poliéster, sendo esta a mais economicamente viável
(CZARNECKI et al.,1999).
O uso de polímeros e resinas na construção civil teve início como uma alternativa às falhas
que ocorriam nas estruturas, como por exemplo trincas e rachaduras, eram utilizadas “injeções” de
resina epóxi com catalisadores para fazer o fechamento do modelo estrutural, além de bloquear a
entrada de água que causaria danos maiores se em contato com o aço.
Muitas das falhas que ocorrem nas estruturas de concretos, derivam-se da alta porosidade
apresentada em seu estado endurecido, fato este que pode ser ocasionado desde a sua fabricação até
a sua aplicação onde não é realizado o correto adensamento.
Além da cura rápida, outras vantagens podem ser atribuídas ao concreto polímero, sendo
uma das mais importantes a baixa permeabilidade, devido a propriedade das resinas de preencher
melhor os vazios das estruturas, o que proporciona uma taxa menor de manutenção das peças onde
for utilizado.
Muitas são as aplicações possíveis do concreto polímero, até mesmo para a produção de
bases para máquinas industriais. Isso se deve, principalmente, ao seu alto poder de amortecimento
de vibração, o que torna a estrutura mais durável, resistente, e, principalmente, o ambiente menos
ruidoso, agregando qualidade ao trabalho dos operários. Podem-se citar, entre outras aplicações, os
blocos resistentes para pisos, devido sua alta resistência ao impacto, resistência química, e baixa
permeabilidade, proporcionando grande resistência ao tráfego pesado, aos agentes químicos e à
água (TONET apud ORAK, 2000; BIGNOZZI et al., 2000).
Nos Estados Unidos, por exemplo, o concreto polímero está sendo utilizado em
pavimentações, pontes e indústrias petroquímicas. Já no Canada e Japão, o PC vem sendo aplicado
nas construções subterrâneas e em pavimentações. Na Europa, destina-se, principalmente, para a
produção de estruturas pré-moldadas, reservatórios, tubulações e revestimentos para as indústrias
químicas e de alimentos. (TONET, 2009).
É importante lembrar que a impregnação parcial não tem a finalidade específica de aumentar
a resistência na peça, mesmo que isso ocorra com a adição de polímeros no concreto, se o objetivo
principal for a melhora nesta característica mecânica, deve-se trabalhar com a impregnação total e
com avaliações laboratoriais de carga para chegar no alvo desejado.
A impregnação parcial vem se mostrando eficaz quando aplicada em camadas acima das
peças de concreto, exercendo uma proteção em formato de capa prevenindo a entrada de íons como
Cl e SO4, que são dentre outros os responsáveis por causar corrosão de armaduras.
Polímeros podem se apresentar como termorrígidos (ou termofixos, quando a rigidez não se
altera com a temperatura) ou termoplásticos (quando em presença de altas temperaturas amolecem e
se fundem).
Termorrígidos quando moldados não podem ser fundidos novamente, pois não aceitam
novas moldagens, possuem cadeias articuladas, deformam menos e possuem boas propriedades
estruturais. Quando em altas temperaturas são decompostos antes de ocorrer fusão, o que os torna
inviáveis a reciclagem.
Termoplásticos são polímeros que apresentam alta viscosidade quando em contato com altas
temperaturas, ou seja, podem ser moldados mais facilmente, são sintéticos e possuem propriedades
que permitem se remodelar e se estruturar mais de uma vez. São altamente recicláveis.
Os polímeros apresentam-se mais leves que outros materiais e possuem uma melhor
trabalhabilidade, podendo assim ser usado em maior quantidade, dispondo de menor tempo e
melhorando em grandes proporções as características de resistência dos produtos onde são usados.
Podem em alguns casos, ao se usar polímeros, serem utilizados aditivos que vão melhorar
características como flexibilidade e ductilidade dos materiais poliméricos, geralmente se
apresentam em forma liquida e baixas pressões de vapor.
Segundo ANDRADE (2007), o processo de adicionar aditivos ao concreto é necessário para
modificar as suas propriedades físicas, químicas e mecânicas em um nível superior ao que é
possível por meio de alterações na sua estrutura molecular fundamental.
São também comumente usados aditivos estabilizadores, que atuam na estrutura polimérica
retardando possíveis degradações por meio de oxidação ou exposição à radiação ultravioleta.
Dentro da construção civil buscam-se polímeros que apresentem características ligadas a
massa específica, estabilidade dimensional, comportamento mecânico, resistência ao impacto,
permeabilidade a gases e vapores, inflamabilidade e propriedades térmicas e elétricas. (MENDES,
2010).
Hoje, a sociedade impõe ao indivíduo necessidades de consumo cujos resíduos de produção
e usos passam a ser um problema (NAGALI, 2015). É relevante destacar que o consumo foi
acelerado em momentos históricos, dentre eles, provavelmente o mais relevante, a revolução
industrial, cujas características fizeram com que as indústrias ganhassem força e aumento de
produção, funcionários passaram a ser setorizados e suas funções bem definidas, o que majorou a
geração de produtos / resíduos.
Segundo a NBR 10004 (2004), resíduo sólido é definido como qualquer forma de matéria ou
substância (no estado solido ou semissólido) que resulte de atividades industriais, domésticas,
hospitalares, comerciais, agrícolas, de serviços, de varrição e de outras atividades da comunidade
capaz de causar poluição ou contaminação ambiental.
Em termos de alcance imediato, resíduos sólidos são gerados a todo momento pela população
mundial em quase todas suas atividades. Com a industrialização alimentar por exemplo, no mundo
moderno, é quase impossível se alimentar e não gerar resíduo inorgânico, em sua maioria
constituídos de papel e/ou plásticos.
A PNRS, Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída através da lei 12.305/2010 previu
a elaboração do Plano Nacional de Resíduos Sólidos num amplo processo de mobilização e
participação social, ou seja, passa a ser aplicado o conceito de responsabilidade compartilhada onde
toda a sociedade passa a ser responsável por gerir seus resíduos de uma forma mais ideal.
Seguindo essa diretriz de sustentabilidade, a construção civil abriu seus campos de estudo e
exploração, para que deixe de ser conhecida somente como uma grande geradora de resíduos
sólidos, e passe a ser também um setor onde surgem novas e eficazes alternativas para a utilização
de tais compostos.
Devido aos recursos explorados e os materiais utilizados, a área da construção civil afeta
sistematicamente o ambiente em que está inserida. É evidente que ao serem estudados novos
materiais e novas técnicas, estas matérias primas ainda serão utilizadas, o que os estudos do setor
vem promovendo é uma diminuição nas perdas, na exploração e na quantidade de resíduos que se
acumulam muitas vezes sem qualquer tratamento ou destinação correta.
As quantidades de alguns elementos diminuíram, mesmo com variações nos últimos três
anos de estudo, nota-se que a exploração ainda é alta, assim como o impacto causado pela
exploração.
Hoje, a sociedade impõe ao indivíduo necessidades de consumo cujos resíduos de produção
e usos passam a ser um problema (NAGALI, 2015). É relevante destacar que o consumo foi
acelerado em momentos históricos, dentre eles, provavelmente o mais relevante, a revolução
industrial, cujas características fizeram com que as indústrias ganhassem força e aumento de
produção, funcionários passaram a ser setorizados e suas funções bem definidas, o que majorou a
geração de produtos / resíduos.
Segundo a NBR 10004 (2004), resíduo sólido é definido como qualquer forma de matéria ou
substância (no estado solido ou semissólido) que resulte de atividades industriais, domésticas,
hospitalares, comerciais, agrícolas, de serviços, de varrição e de outras atividades da comunidade
capaz de causar poluição ou contaminação ambiental.
Em termos de alcance imediato, resíduos sólidos são gerados a todo momento pela população
mundial em quase todas suas atividades. Com a industrialização alimentar por exemplo, no mundo
moderno, é quase impossível se alimentar e não gerar resíduo inorgânico, em sua maioria
constituídos de papel e/ou plásticos.
A PNRS, Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída através da lei 12.305/2010 previu
a elaboração do Plano Nacional de Resíduos Sólidos num amplo processo de mobilização e
participação social, ou seja, passa a ser aplicado o conceito de responsabilidade compartilhada onde
toda a sociedade passa a ser responsável por gerir seus resíduos de uma forma mais ideal.
Seguindo essa diretriz de sustentabilidade, a construção civil abriu seus campos de estudo e
exploração, para que deixe de ser conhecida somente como uma grande geradora de resíduos
sólidos, e passe a ser também um setor onde surgem novas e eficazes alternativas para a utilização
de tais compostos.
Devido aos recursos explorados e os materiais utilizados, a área da construção civil afeta
sistematicamente o ambiente em que está inserida. É evidente que ao serem estudados novos
materiais e novas técnicas, estas matérias primas ainda serão utilizadas, o que os estudos do setor
vem promovendo é uma diminuição nas perdas, na exploração e na quantidade de resíduos que se
acumulam muitas vezes sem qualquer tratamento ou destinação correta.
As quantidades de alguns elementos diminuíram, mesmo com variações nos últimos três
anos de estudo, nota-se que a exploração ainda é alta, assim como o impacto causado pela
exploração.
Quando falamos em resíduos da celulose ....
Segundo a Bracelpa – Associação Brasileira de Celulose e Papel, o segmento praticamente dobrou o
volume de celulose produzida na última década. Em 2008, o setor teve uma grande conquista:
alcançou o posto de quarto produtor mundial de celulose – atrás apenas de Estados Unidos, Canadá
e China.
Os resíduos provenientes das indústrias de papel, possuem alto teor de substâncias orgânicas, o que
lhe confere a propriedade de ser reaproveitado quase que em sua totalidade.
Frente a toda essa produção de resíduo, espera-se uma disposição desses materiais de forma correta
e limpa. Uma das soluções sócio ambientais-financeiras almejadas pela construção civil é a
utilização desses rejeitos em argamassas e concretos com o objetivo de reduzir custos e incentivar a
construção de artefatos para a construção civil (MARQUES, SILVA et al, 2014).
A NBR 1004 (2004) classifica os resíduos de celulose como sendo de classe II (não perigosos), não
inertes, que podem possuir características como biodegradabilidade, combustibilidade ou
solubilidade em água.
Segundo Velasco et al. (2014) de uma forma geral, a maioria dos resíduos sólidos minerais gerados
pela indústria de celulose podem ter uma ou diversas aplicações na construção civil. Essas
aplicações vão desde a fabricação de cimento e argamassas até a utilização em blocos de concreto,
estruturas, pavimentos de estradas, etc. Constata-se nas publicações técnico-científicas, um
incremento de estudos que visam obter alternativas para a substituição total do agregado natural,
visto a escassez crescente de oferta e do decorrente aumento de preço dos agregados convencionais
no mercado.
Durante a produção de misturas com utilização de agregados reciclados alguns
procedimentos específicos devem ser realizados, em função da influência das características desses
agregados nas propriedades dos concretos. Esses procedimentos estão relacionados ao método de
compensação da taxa de absorção de água do agregado reciclado e ao tempo e sequência de mistura
desses concretos. A metodologia, a ser aplicada, deve ser escolhida de forma a garantir a menor
influência de algumas características do material reciclado nas propriedades dos concretos, de modo
a garantir sua viabilidade técnica (SANTOS,2016).
Ainda segundo Santos (2016), para a produção de concreto reciclado existem, também,
formas variadas da ordem de mistura dos materiais na betoneira (MALTA, 2012). A mistura do
concreto é um processo complexo, e muitos fatores influenciam a sua qualidade. Estes fatores
incluem a sequência de colocação dos materiais no misturador, tempo de mistura e tipo de
misturador. Uma mistura eficiente influência no comportamento e nas propriedades do concreto,
uma vez que, distribuem melhor as partículas de cimento, água e agregado (OYANADEL, 2009;
CORDEIRO, 2013).
A trabalhabilidade dos concretos reciclados é significativamente influenciada pela alta taxa
de absorção de água, textura áspera, superfície rugosa e formato irregular dos grãos dos agregados
originados da reciclagem. De modo geral, concretos reciclados apresentam necessidade de maior
conteúdo de água para atingir uma trabalhabilidade adequada, quando esta é medida pelo ensaio de
abatimento do tronco de cone (SANTOS apud SANTIAGO et al., 2009; LEITE et al., 2013;
ZAHARIEVA et al., 2003).
Apesar do interesse de alguns autores em definir um método de dosagem específico para o
concreto de reciclagem, observa-se que ainda não existe consenso a respeito da metodologia mais
adequada para ser utilizada.
Segundo dados fornecidos pela empresa parceira desta pesquisa, os resíduos fornecidos
estão classificados segundo a norma 10004 (2004) da ABNT como não inertes-classe II, contendo
plásticos, fios de corda, tecidos e impurezas metálicas.
Este resíduo, em suas amostras, possui potencial quanto a reutilização e incorporação em
peças de concreto pois se apresenta em forma de fibras. Devido essa característica, surgiu grande
interesse de incorporação ao concreto, pois em elementos estruturais é inevitável utilizar reforços no
composto, já que esta medida evita a ruptura brusca do material e pode-se diminuir o número e a
área total de fissuras ao longo da peça. (CHODOUNSKY; VIECILI, 2007). O incremento de micro
e macro fibras é uma alternativa que possibilita amenizar a aparição destas manifestações
patológicas (QUININO, 2015).
Desenvolvido para melhorar a resistência à tração, durabilidade, dureza e ductibilidade das
estruturas, o CRF (concreto reforçado com fibras) é facilmente encontrado em revestimentos de
túneis, em radiers, pisos industriais, lajes e até em vigas (JAMERAN et al. 2015).
Segundo Quinino (2015), a inserção de filamentos em matrizes cimentícias é eficiente
quando se considera a distribuição uniforme das fibras pela pasta de cimento, o fator de forma e o
teor ótimo de adição das mesmas. Sendo estes parâmetros atendidos, os compósitos são mais
deformáveis, possuem maior tenacidade e, consequentemente, maior módulo de elasticidade.
(CHRIST, 2014).
É necessário lembrar que somente o uso de fibras não faz com que o concreto se torne imune
ao aparecimento de trincas. Assim como qualquer elemento da construção civil é necessário estar
atendo a todo o processo de escolha dos componentes que devem ter qualidade verificada, a
execução bem realizada e a cura feita corretamente.
Todas essas etapas quando em junção com as fibras permitem explorar o máximo potencial
do concreto.
As fibras além de auxiliar no reforço do concreto contra as ações de tração, conferem
também uma melhora na permeabilidade dos elementos em que foram aplicadas.
Um fator importante a ser dito é a dificuldade que a incorporação de fibras pode causar na
trabalhabilidade do concreto, seja ele simples ou polimérico.
Devido a sua heterogeneidade não se pode concluir sua exata caracterização, cada amostra
possui uma composição própria já que é remanescente de um grupo de materiais diversos, como
caixas de papelão, panfletos, entre outros, que acabam sendo acompanhados de diversas impurezas.
Nas amostras recolhidas puderem ser constatados como material improprio partes de
tubulações, cd’s, cartões plásticos, fraldas e pedaços de lona.
Por se apresentar de forma irregular em tamanho e texturas, foi necessária uma criteriosa
seleção de aproveitamento das amostras disponíveis. Em um segundo momento foi tomada a
decisão de regularizar o máximo possível as amostras, para que o resíduo pudesse ser inserido de
forma mais eficiente na mistura de concreto. Essa seleção e regularização do material foi feito de
forma manual.
O traço utilizado na primeira fase do trabalho foi determinado a partir de estudos anteriores
que utilizaram os mesmos agregados desta pesquisa.
Dentre cinco opções fornecidas por Carvalho (2014), o traço escolhido neste estudo foi o de
resistência 20 MPa por esta ser a resistência estrutural mínima conforme indica a NBR 6118
(ABNT, 2014), conforme a tabela 1 indica.
CLASSE CIMENTO AREIA DE AREIA BRITA BRITA FATOR ÁGUA ADITIVO RESINA
CONCRETO BRITAGEM NATURAL 0 1 CIMENTO % %
20 1 0,924 2,772 1,200 2,800 0,65 0,65 13
Fonte: CARVALHO (2014)
O traço foi calculado para a moldagem de seis fôrmas cilíndricas (de dimensões 5
centímetros de raio e 20 centímetros de altura) e duas fôrmas de vigas com 15 cm de largura e
comprimento e 50 centímetros de altura.
CLASSE CIMENTO AREIA DE AREIA BRITA BRITA FATOR ÁGUA ADITIVO RESINA
CONCRETO BRITAGEM NATURAL 0 1 CIMENTO % %
20 1 0,924 2,772 1,200 2,800 0,00 0,65 0,70
Fonte: autora (2018)
Completados quatro dias após a moldagem, deu-se início a desforma dos corpos de prova.
Ao retirar a fôrma, percebeu-se que o concreto não havia passado pelo processo de endurecimento
como esperado. Na figura 16 pode-se perceber que a consistência pouco mudou quando comparada
com o dia de moldagem.
Após 16 dias, todos os cp’s foram desformados, e como pode ser confirmado nas figuras
19,20 e 21 o aspecto inicial ainda prevaleceu, não permitindo que os mesmos pudessem ser
ensaiados quanto a sua resistência e absorção.
A desforma do segundo traço foi marcada para quatro dias após a moldagem. Ao retirar o cp da
câmara úmida, inclusive nos dias que antecederam a retirada, notou-se uma camada de resina saindo
da base da fôrma em quantidade significativa.
Em primeira análise, antes de retirar o corpo de prova da fôrma, notou-se que o mesmo estava
muito instável e apresentava textura gelatinosa. Esta situação permaneceu durante todo o processo
de análise do cp e não foi notado nenhum indício de cura do concreto nos 2 meses seguintes.
O estudo teve como finalidade o reaproveitamento de resíduos sólidos devido ao alto volume em
que se apresenta diariamente. Atrelada a essa ideia, o uso do concreto polimérico devido aos bons
resultados que vem apresentando em diversos estudos anteriores.
O primeiro obstáculo encontrado foi o impedimento pleno acerca da resina disponibilizada pela
empresa interessada no estudo, pois, segundo informações no decorrer da pesquisa, o segredo
industrial, já que a resina faz parte da produção de um produto sob patente, não permitiria mais
informações, como marca, porcentagens de cada composto, etc.
Sendo assim, a eficácia do traço pode ter sido gravemente afetada, já que quantidades, porcentagens
e outras informações tornam-se essenciais ao bom desenvolvimento de uma pesquisa que envolve a
criação de novos produtos.
Um segundo ponto relevante, que dificultou o trabalho, foi o tempo disponível para a continuidade
desta análise. Como a pesquisa não conseguiu chegar ao ponto exato que explique o motivo da
resina impedir o endurecimento do concreto, novos traços e novas incorporações devem ser feitas
para que se possa chegar a um resultado ideal.
REFERÊNCIAS
ANÁLISE DE CONCRETOS DE ESCÓRIA DE ACIARIA CARBONATADOS
RESUMO
Segundo o Instituto Aço Brasil, a indústria siderúrgica brasileira é um dos componentes de maior
destaque na economia do país. Durante o processo siderúrgico, são gerados materiais residuais, dos
quais destaca-se a escória de aciaria (EA), gerada na produção do aço. Em 2015, o total de
subprodutos e resíduos gerados foi de 19,8 milhões de toneladas, dos quais 28% foram EA que ainda
possuem destinações pouco nobre. Diante desse fato, a indústria da construção vem contribuindo na
implementação do uso da escória como constituinte parcial da elaboração do concreto. Para que o uso
seja de fato eficaz, faz-se necessário uma análise de desempenho, em especial de durabilidade. Deste
modo, o presente projeto tem por objetivo investigar o efeito da carbonatação na velocidade de pulso
ultrassônico de concretos com substituição total da areia (agregado miúdo) e brita (agregado graúdo)
por escória LD, devidamente beneficiada. O processo de carbonatação do concreto ocorre quando a
matriz cimentícia entra em contato com o CO2 do ar, na presença de água os hidróxidos do concreto
são convertidos em carbonatos. Essa reação química acarreta uma acentuada queda no pH do
concreto, com consequente redução na proteção das armaduras. Assim, para avaliar a durabilidade
dos concretos de escória, inicialmente será feito o beneficiamento da EA e a sua caracterização
química e física. Em seguida, serão confeccionados concretos com agregados convencionais e de EA,
onde serão realizados ensaios acelerados de carbonatação, através de câmara específica. Por fim,
serão realizados os ensaios de velocidade de pulso ultrassônico e profundidade de carbonatação.
Concretos produzidos com EA tiveram profundidades de carbonatação significativamente inferiores
aos convencionais, o que indica a viabilidade técnica dessas matrizes frente a ambientes agressivos.
ABSTRACT
According to the Brazilian Steel Institute, the Brazilian steel industry is one of the most prominent
components of the country's economy. During the steelmaking process, residual materials are
generated, of which steel slag (EA), generated in the production of steel, stands out. In 2015, the total
by-products and waste generated was 19.8 million tons, of which 28% were EA, which still have very
poor destinations. Faced with this fact, the construction industry has been contributing in the
implementation of the use of slag as a partial constituent of the elaboration of concrete. In order for
the use to be effective, it is necessary to analyze performance, especially durability. Thus, the present
project aims to investigate the effect of carbonation on the ultrasonic pulse velocity of concrete with
total replacement of sand (aggregate) and gravel (aggregate) by LD slag, properly benefited. The
concrete carbonation process occurs when the cementitious matrix comes into contact with the CO2
of the air, in the presence of water the hydroxides of the concrete are converted into carbonates. This
chemical reaction causes a marked decrease in the pH of the concrete, with consequent reduction in
the protection of the reinforcement. Thus, to evaluate the durability of slag concretes, it will initially
be made the beneficiation of EA and its chemical and physical characterization. Then, concrete will
be made with conventional and EA aggregates, where accelerated carbonation tests will be carried
out through a specific chamber. Finally, the tests of ultrasonic pulse velocity and carbonation depth
will be performed. Concretes produced with EA had significantly lower carbonation depths than
conventional ones, which indicates the technical viability of these matrices against aggressive
environments.
1. INTRODUÇÃO
A construção civil é o setor com maior consumo de recursos naturais no mundo, seguido por setores
da indústria do cimento, siderurgia, alumínio, química, ferro-liga e papel/celulose [1, 2, 3]. Visto isso,
tem-se a necessidade de reduzir a quantidade de resíduos sólidos. O estudo da possibilidade do
aproveitamento de resíduos nos diversos segmentos da construção civil é de grande importância,
sabendo que, o Brasil é o 9º produtor de aço bruto a nível mundial, totalizando em 2017 uma produção
de 31,3 milhões de toneladas de aço produzido [4].
Na produção do aço são geradas dois tipos de escória, cada uma oriunda de um processo, sendo eles;
fornos conversores Linz – Donawitz (BOFS), ou de Arco Elétrico (EAF).Segundo IAB [3] a geração
de resíduos em toda a cadeia produtiva do aço, gera 600 kg/ton de aço. Considera-se que, para cada
tonelada de aço produzidos são gerados 150 kg de escória de aciaria [4].
Muitos trabalhos acerca da viabilidade da utilização de escória de aciaria em compósitos à base de
cimento vêm sendo estudados. Os resultados indicam que processos como estabilização e separação
magnética são eficientes na neutralização de agentes deletérios [5]. Materiais tecnicamente
competentes foram produzidos e relatados na literatura, destacando o uso de escórias de aciaria na
substituição total ou parcial de agregados naturais em compósitos à base de cimento, incluindo
concreto estrutural [6, 5, 7, 8, 9, 10, 2, 11]. A viabilidade econômica do processamento e uso de
escória de aciaria como agregados para construção civil e pesada também foi demonstrada [12].
A durabilidade das estruturas de concreto armado está relacionada com a integridade das armaduras
frente aos ataques dos agentes agressivos do meio. A corrosão do aço, como efeito da despassivação
da armadura induzida pela carbonatação do concreto é um fator preocupante. [13]. A durabilidade do
concreto está intimamente relacionada com sua porosidade, de maneira geral, concretos menos
porosos são mais duráveis [14].
A carbonatação se expressa de forma mais efetiva em ambientes urbanos ou industriais, onde verifica-
se maior exposição do concreto a níveis mais elevados de CO2. O dióxido de carbono penetra pelos
poros do concreto e reage com a água disponível na estrutura, formando-se o ácido carbônico
(H2CO3). O ácido carbônico reage com a pasta de cimento hidratada, particularmente com o
hidróxido de cálcio (Ca(OH)2), e resulta em água e carbonato de cálcio (CaCO3). Em um taxa mais
baixa, há também reação com CSH [15] [16].
O concreto possui comumente o pH entre 12,6 e 13,5, mas, em função do processo de carbonatação,
esses valores se reduzem para uma faixa de pH 8,5. A carbonatação ocorre da superfície externa da
estrutura para o interior da mesma, segundo uma frente de carbonatação [17, 14, 18, 19].
Além da despassivação das armaduras, [16, 20], os danos causados são vários, como fissuração do
concreto, destacamento do cobrimento do aço, redução da seção da armadura e perda de aderência
desta com o concreto.
A carbonatação é ainda função de fatores como condições ambientais (altas concentrações de CO2),
dosagem do concreto (altas relação de água / cimento resultam em concretos porosos e, portanto,
aumentam as chances de difusão de CO2 nos poros), lançamento e adensamento (se o concreto tiver
baixa permeabilidade (compacto), dificultará a entrada de agentes agressivos) e cura (o concreto mal
curado possui microfissuras que o enfraquecem).
Alguns estudos de carbonatação para concretos com adição de escória vem sendo desenvolvidos [21,
22], porém comportamentos equivalentes aos de concretos convencionais vem sendo reportados [23].
No entanto, a maioria dos estudos tratam de concretos com substituição parcial de agregados naturais
por agregados de escória de aciaria, no que se difere desse estudo, onde todo agregado natural é
substituído integralmente por agregados de escória de aciaria. Concretos produzidos com a
substituição integral de agregados naturais por agregados de escória de aciaria produziram matrizes
com baixa permeabilidade e adequada resistência mecânica [7].
2. OBJETIVOS
3. METODOLOGIA
O estudo foi realizado com Escória de Aciaria LD fornecida pela empresa ArceloMittal no
Laboratório de Materiais de Construção Civil da UFOP. Para comparação dos resultados, foram
produzidos concretos de referência (areia de rio e brita de gnaisse). Para melhor entender o processo
de carbonatação, foram produzidos para ambos os tratamentos, concretos com e sem aditivo
superplastificante.
3.1 Materiais e métodos
Para os modelos experimentais propostos, utilizou-se cimento Portland CP V - ARI RS. O material
foi recebido no Laboratório de Materiais de Construção Civil da UFOP em containers de papelão
com volume aproximado de 20 litros. Após recebimento, o material foi acondicionado em embalagens
plásticas hermeticamente fechadas.
A caracterização do cimento é apresentada na Tabela 1. Toda caracterização foi disponibilizada pela
empresa Cimentos Nacional, que cordialmente forneceu o cimento utilizado na presente pesquisa.
Ensaio Valor
Resíduo Insolúvel 1,00 %
Perda ao fogo 3,93 %
Índice de finura 0,10 %
Resíduo na peneira #325 1,00 %
Água de consistência normal 29,50 %
Expansibilidade à quente 0,00 mm
Área Específica (Blaine) 4,64 cm2/g
Massa Específica 3,01 g/cm3
Tempos de pega (167 – 226) min
Resistência a compressão (1, 3, 7 e 28) (24,1 – 37,5 – 46,3 – 55,2) MPa
Fonte: Cimentos Nacional.
Para determinação dos parâmetros de interesse, os agregados utilizados para a produção das matrizes
de cimento Portland foram obtidos de amostras de escórias de aciaria geradas pela siderurgia no
Brasil. O material utilizado foi recebido no Laboratório de Materiais de Construção Civil – UFOP,
com granulometria na faixa (4,75 – 12,5) mm, e mantido em pátio descoberto por 36 meses, exposto
às intempéries durante esse período.
O material recebido passou pelo processo de separação magnética utilizando rolo (HF CC, Inbrás®),
para retirada da fração magnética, e submetido ao processo de separação gravimétrica, afim de obter
a curva granulométrica de Brita Zero (4,75 – 12,5) mm, estipulada pela NBR 7211 [24].
Os agregados miúdos utilizados para produção das matrizes resultam do processo de cominuição das
escórias em britador de mandíbulas (BB 200, Retsch®), afim de se obter um material com
granulometria inferior 4,8 mm. A seguir, o material foi submetido a processo de separação magnética
utilizando rolo magnético (HF CC, Inbrás®) para a retirada da fração magnética presente no material
processado. Finalmente o material passou pelo processo de segregação gravimétrica por
peneiramento, os materiais obtidos estão em conformidade com limites indicados pela NBR 7211
[24]. Os agregados utilizados nos concretos convencionais (areia de rio e Brita de gnaisse), também
estão de acordo com as curvas granulométricas recomendadas pela NBR 7211.
O modelo experimental proposto contempla tratamentos com aditivos superplastificantes (MC –
POWERFLOW 1180, MC – Bauchemie®), e modelos sem aditivos, tanto para concretos produzidos
integralmente com escória de aciaria, como para aqueles produzidos com agregados naturais. O
aditivo utilizado é de 3ª geração, e foi selecionado visando redução do consumo de água, melhor
estabilidade e trabalhabilidade da mistura, visto que, a escória de aciaria possui elevada massa
específica, o que pode acarretar segregação.
A caracterização química da escória utilizada foi realizada por Fluorescência de Raio-X com o
equipamento Epsilon3X ® PANalytical. A preparação dos materiais para a realização da análise
química consistiu em cominuição em moinho de esferas por 3 horas (MA 500, Marconi®) seguida
de moagem de alta energia (PM100®, Retsch) para obtenção de um material com partículas inferiores
a 0,15mm (Tabela 2).
As misturas foram projetadas de acordo como método ABCP - Software Especialista para Dosagens
de Misturas Cimentícias, Soares [25]. O método escolhido, se justifica pelo fato de considerar todas as
especificidades dos agregados, visto que, a escória não é um agregado considerado convencional. Foi
considerada classe C25 (25 MPa) de resistência à compressão aos 28 dias de idade. A consistência
foi determinada pelo abatimento de tronco de cone conforme NBR 10342 [26], e fixada em 80 ± 10
mm para todos os traços mostrados na Tabela 3.
Aditivo
Concreto Traço Fator a/c
Superplastificante
BOF25 1 : 2,02 : 2,90 - 0,48
BOF25A 1 : 3,33 : 2,90 1% 0,48
REF25 1 : 1,17 : 2,05 - 0,48
REF25A 1 : 2,48 : 2,52 1% 0,48
A resistência a compressão foi determinada como referência para os tratamentos propostos, para idade
de 28 dias após cura em câmara úmida. Os corpos-de-prova foram capeados com enxofre e solicitados
axialmente em uma prensa servo-controlada DL 20000-EMIC, célula de carga com capacidade de
200 kN e taxa de incremento de tensão de 0,3 MPa/s.
A velocidade de pulso ultrassônico foi determinada utilizando-se ultrassom modelo TICO da marca
PROCEQ, com pulsos ultrassônicos de 54 kHz. O equipamento emite ondas ultrassônicas nos corpos-
de-prova de concreto, sendo que, quanto mais densa for a matriz, maior será a velocidade do pulso e
menor o tempo gasto para que o pulso ultrassônico saia de um transdutor e chegue ao outro.
A base e o topo dos corpos-de-prova com 28 dias de idade, foram polidos e recobertos por uma
camada de vaselina para garantir e homogeneizar o contato entre as superfícies e o transdutor.
4. RESULTADOS
50
Resistência à compressão (MPa)
40
30
20
10
31,20
34,93
41,00
44,00
0
REF REF - A EAF EAF - A
C 25
Concretos produzidos com escória de aciaria apresentam resultados para resistência à compressão
melhores quando comparados aos concretos produzidos com agregados convencionais [27] [28]. Em
seu estudo, Monosi, Ruello, & Sani [29] encontrou melhora de 66% para resistência a compressão
concretos com substituição de agregado natural por agregado de escória de aciaria.
Os concretos aditivados apresentaram valores de resistência à compressão superiores aos valores
encontrados para os não aditivados. Ao utilizar o aditivo superplastificante, reduziu-se a quantidade
de cimento e água, para que o fator água/cimento, fosse mantido. Mesmo com a redução da
quantidade de cimento nos concretos produzidos com a adição de aditivo superplastificante, os
mesmos apresentaram resultados de resistência à compressão aos 28 dias superiores. Isso ocorre
devido a melhor dispersão das partículas de cimento na matriz, quando aditivada, acarretando em
maior formação de produtos de hidratação ao longo da mesma [30, 31].
Os estudos de Pang, Zhou, & Xu, [32] e Özbay, Erdemir, & Ibrahim Durmus, [33] também relatam
aumento de resistência em concretos produzidos com escória na faixa de 15% a 44% a medida em
que se aumenta a porcentagem de substituição do agregado convencional por escória e a idade do
mesmo.
Outro fator que contribui diretamente para o ganho de resistência a compressão dos concretos de
escória, é a forma dos agregados. O agregado com formato cúbico melhora a interação com a matriz
cimentícia. Além disso, a resistência do agregado de escória de aciaria é maior do que o convencional
[32]. A Figura 2 mostra a forma dos agregados utilizados.
4.2 Carbonatação
Os resultados de carbonatação obtidos para os concretos produzidos com escória de aciaria foram
melhores quando comparados aos concretos fabricados com agregados convencionais, mostrados na
Tabela 3. Qiang, Peiyu, Jianwei, & Bo [34] apontam em seu estudo, que concretos com substituição
parcial (até 45%) de agregado natural por escória de aciaria, com 3 ou mais dias cura, apresentam boa
resistência à carbonatação.
Tabela 3 - Carbonatação.
Classe de
REF BOF
Resistência
C25 27,0 mm 10,0 mm
C25 ADT 23,5 mm 9,0 mm
No entanto não existe um consenso na literatura quanto a eficácia de escória de aciaria na redução à
carbonatação. Santamaría A. , et. all [35] expôs corpos de prova de concreto convencional e
fabricados com agregados de escória à ambientes agressivos. Ambos tiveram resultados similares
quando aplicados ao indicador de fenolftaleína, não indicando vantagens ao se utilizar a escória de
aciaria [36].
Ao comparar os resultados dos concretos aditivados e não aditivados, percebe-se que os concretos
aditivados mostram uma redução de 13% para o concreto de referência. O concreto BOF por sua vez,
apresentaram aumento dos 10%. As imagens geradas através do teste colorimétrico, são apresentadas
na Figura 3 a seguir.
3,00 3,00
2,50 2,50
(km/s)
2,00 2,00
1,50 1,50
1,00 1,00
0,50 0,50
0,00 0,00
REF REF - A EAF EAF - A
UPV Carbonatação
5. CONCLUSÃO
O aumento considerável na resistência à compressão dos corpos de prova produzidos com agregados
de escória BOF é perceptível, quando comparado aos concretos convencionais. Todos os traços de
escória apresentaram melhor desempenho no teste de carbonatação acelerada. Os concretos de escória
apresentaram desempenho, em média, 80% melhores que os concretos convencionais.
Ao analisar os resultados para os concretos aditivados, percebe-se a influência que o aditivo
proporciona na matriz. Destacando-se a profundidade de carbonatação, observa-se que todos os
valores de carbonatação para os concretos aditivados foram melhores quando comparados aos sem
aditivo. Este fato, evidencia o efeito do mesmo nas matrizes cimentícias, que ao ser utilizado, melhora
a dispersão das partículas de cimento, ocasionando em maior formação de produtos de hidratação ao
longo da matriz, tendo como resultado maior coesão do produto final.
Ao analisar a velocidade pulso ultrassônico em correlação com a carbonatação, consegue-se perceber
que quanto maior a velocidade, menor a carbonatação, ou seja, quanto menos vazios o concreto
apresenta, maior será a velocidade do pulso e menor a carbonatação.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS – CNPq.
REFERÊNCIAS
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electric steelmaking slags. Construction and Building Materials, p. 94-111, 2018.
AVALIAÇÃO DA ERODIBILIDADE POR UMA NOVA VERSÃO DO
EQUIPAMENTO DE INDERBITZEN EM SOLO DA REGIÃO DE JUIZ DE
FORA-MG
Evaluation of a soil`s erodibility in Juiz de Fora-MG` region by a new version of
Inderbitzen equipment
Ana Maria Stephan 1
1
UFJF, Juiz de Fora, Brasil, ana.stephan@ufjf.edu.br
Resumo: O presente trabalho traz um estudo da perda de solo por erosão hídrica em dois locais
densamente povoados da cidade de Juiz de Fora-MG, que apresentam importantes feições erosivas.
Medir a erosão, não é fácil, pois as chuvas e enchentes variam muito, e um único acontecimento
extraordinário pode produzir grandes danos em um pequeno espaço de tempo. Com o objetivo de
avaliar as perdas de solo tomou-se como parâmetro principal a erodibilidade, definida como a
quantidade de material que é removido por unidade de área; ela quem determina a resistência do
solo à ação erosiva da chuva. As diferenças relacionadas às propriedades dos solos fazem com que
alguns destes sejam mais erodidos que outros, ainda que variáveis como chuvas, declividades,
cobertura vegetal e práticas de manejo sejam as mesmas. Para avaliar de forma indireta a
erodibilidade dos solos em estudo, realizou-se vários ensaios convencionais de laboratório obtendo-
se as suas propriedades geotécnicas, e de forma direta utilizou-se de uma nova versão do
equipamento de Inderbitzen. Foram confeccionadas três rampas com diferentes orifícios para
inserção dos corpos de prova, com o objetivo de verificar o efeito da forma e tamanho da amostra
nos resultados de perda de solo. Por esse motivo, durante o programa de ensaios realizados
manteve-se constante a vazão e a declividade das rampas. A partir dos resultados, pode-se concluir
que mudanças na forma e no tamanho do orifício da rampa no equipamento Inderbitzen
influenciaram na determinação da erodibilidade dos solos. Além disso, os solos das áreas estudadas
não apresentaram resistência à erosão laminar, o que justifica as grandes erosões, que, com o
decorrer do tempo, vêm aumentando gradativamente.
Abstract: The present work presents a study the soil loss by water erosion in two densely populated
areas in the city of Juiz de Fora, MG, which have important erosional features. Measuring erosion is
not easy, as rains and floods vary greatly, and one single extraordinary event can produce large
losses of soil in a short time. In order to evaluate soil losses, erodibility was defined as the amount
of material that is removed per unit area; it determines the soil's resistance to the erosive action of
rainfall. Differences related to soil properties make some of them more eroded than others, although
variables such as rainfall, slopes, vegetation cover and management practices are the same. In order
to indirectly evaluate the erodibility of the soils under study, several conventional laboratory tests
were carried out, obtaining their geotechnical properties, and a new version of the Inderbitzen
equipment was used directly. Three ramps were prepared with different holes for insertion of the
specimens, in order to verify the effect of the shape and size of the samples in soil loss results. For
this reason, during the testing program conducted, the flow and slope of the ramps was kept
constant. From the results, one can be concluded that changes in form and size of role in the ramp in
the Inderbitzen equipment influenced the determination of erodibility the soil. Furthermore, the
soils of the areas studied showed no resistance to extensive erosion, which explains the large
erosions that, over time, have been gradually increasing.
1. INTRODUÇÃO
O processo da erosão é entendido como um ciclo de alteração, desagregação, transporte e
sedimentação dos constituintes do solo, subsolo e rocha. Ele acontece devido à atuação de fatores
naturais (ventos, a água, as ondas, a gravidade e as mudanças climáticas, etc.) e antrópicos
(desmatamentos, cortes de estradas, ocupação desordenada das encostas, técnicas agrícolas etc.).
Independentemente do processo erosivo, o importante é entender como que este é gerado, uma vez
que sua gravidade depende de fatores como tipo de solo, propriedades físicas, declividades das
encostas etc.
Ao longo dos anos esse fenômeno vem trazendo prejuízos, pois, além de causar o assoreamento dos
cursos d’água, vem degradando áreas urbanas ou em processo de urbanização.
A erosão está presente nos mais diversos locais, em especial nas regiões de clima tropical ou
subtropical úmido, com altos índices pluviométricos, nas quais se inclui grande parte do território
brasileiro.
Em Juiz de Fora - MG existe uma extensão muito grande de áreas com alto risco de erosão e
escorregamentos situadas principalmente a sul, oeste e sudoeste da área urbana, regiões onde se
encontra maior densidade populacional, causando danos ambientais, sociais, culturais e financeiros.
A erosão urbana é um dos expressivos passivos ambientais em Juiz de Fora, sendo caracterizada por
um tipo de erosão acelerada, pois, além da atuação antrópica, apresenta extrema fragilidade do meio
físico.
Foram considerados como principais aspectos das áreas a serem pesquisadas: localização, condições
climáticas, tipos de solo e vegetação e características geotécnicas das áreas afetadas pelos processos
de desgaste superficial do solo, recaindo sobre duas encostas localizadas em regiões densamente
povoadas da cidade de Juiz de Fora - MG.
A erodibilidade dos solos locais, foco principal deste artigo, é um parâmetro que estima a perda de
solo em uma determinada área em função do tempo de escoamento (processo de erosão hídrica pelo
fluxo superficial).
As propriedades que contribuem mais significativamente para explicar a variação da perda de solo
são: textura, estrutura, densidade, teor de matéria orgânica e grau de saturação dos solos, além da
forma da encosta.
2. OBJETIVOS
Investigar os fatores determinantes para a ocorrência dos processos erosivos em dois taludes
localizados na cidade de Juiz de Fora-MG;
Avaliar a erodibilidade de forma indireta, baseada nas propriedades geotécnicas dos solos, e
direta por meio de ensaios de Inderbitzen em uma nova versão;
Verificar o efeito da forma e tamanho das amostras;
Fazer uma análise entre os resultados destes ensaios com as áreas avaliadas.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1. Erosão do solo: definições
A erosão é um processo mecânico que age em superfície e profundidade, em certos tipos de solo e
sob determinadas condições físicas, podendo-se tornar críticas pela ação catalisadora do homem. É
um fenômeno que, com intensidades diferentes e em consequências variadas, causa perdas de solo e
de seus nutrientes. O agente de erosão dos solos mais importante é a água.
A erosão hídrica é provocada pela ação da chuva sobre o solo. Do volume total precipitado, parte é
interceptada pela vegetação, enquanto o restante atinge a superfície do solo, provocando o seu
umedecimento e reduzindo suas forças coesivas. Com a continuidade da ação da chuva, ocorre a
desintegração dos agregados em partículas menores. A quantidade de solo desestruturado aumenta
com a intensidade da precipitação, a velocidade e o tamanho das gotas.
A água da chuva exercerá maior ou menor ação erosiva sobre o solo, dependendo de uma série de
fatores, entre os quais podem-se destacar: as condições topográficas ou de relevo (comprimento da
encosta, declividade, área do terreno etc.), as características do solo (textura, estrutura,
profundidade do solo e subsolo, permeabilidade etc.) e o tipo de cobertura (mata, pastagens, e etc.).
Esse tipo de erosão envolve três fases: desagregação (causada pelo impacto das gotas de chuva e da
tensão cisalhante hídrica provocada pela passagem do escoamento superficial), transporte (causado
pela ação do escoamento superficial) e deposição das partículas.
Guerra et al. (1999) afirmam que a erosão dos solos pela água é responsável por 56% da degradação
dos solos do mundo.
3.2. Formas de erosão hídrica
As principais formas de erosão hídrica são: erosão por salpicamento (“splash erosion”), erosão
laminar ou superficial (“interrill”), erosão em ravinas ou sulcos (“rill”), voçorocas ou gargantas e
erosão interna (“piping”).
Segundo Ellison (1994), a erosão por salpicamento corresponde à ação da energia da gota d’água da
chuva com a superfície do solo, lançando partículas de solo ao ar (“splash”) para baixo e para cima,
em declives com mais de 10%, sem influência do vento. O volume de partículas no sentido do
declive é três vezes superior ao volume para cima. A altura desses fragmentos pode chegar a 60 cm
ou mais, e eles podem se deslocar por mais de 150 cm. Estas partículas podem seguir dois
caminhos: manter-se livres na superfície do solo e ser transportadas quando da ocorrência de fluxo
superficial (Figura 1).
Além de ocasionar a liberação de partículas, o impacto das gotas tende também a compactar o solo,
ocasionando o selamento de sua superfície e, consequentemente, reduzindo a capacidade de
infiltração da água.
gota de chuva
gota de chuva
splash
"splash
(a) (b)
(a) partículas mantidas livre na superfície do solo; (b) partículas transportadas quando da ocorrência de fluxo
superficial.
Fig. 1 - Situações de transporte de fragmentos de solo por salpicamento
A erosão laminar (“interrill”) ocorre pela combinação do “splash” com o movimento da água no
declive. De acordo com Magalhães (2001), caracteriza-se pelo desgaste e arraste uniforme e suave
em toda a extensão da área sujeita ao processo erosivo. A matéria orgânica e as partículas de argila
são as primeiras porções do solo a se desprenderem, sendo as partes mais ricas e com maior
quantidade de nutrientes para as plantas. Apesar da dificuldade de ser observada, ela pode ser
constatada pelo decréscimo de produção das culturas e pelo aparecimento de raízes ou mesmo
marcas no caule das plantas, onde o solo tenha sido arrastado.
A erosão em ravinas ou sulcos (“rill”) ocorre quando a água superficial atinge pequenas depressões,
ganha velocidade e profundidade e começa a transportar sedimentos, formando canais com traçados
bem definidos. A cada ano esses canais se aprofundam, e a falta de cobertura vegetal e de drenagem
adequada pode fazer com que cheguem a atingir até alguns metros de profundidade.
A erosão interna (“piping”), geralmente surge em consequência do aumento da taxa de infiltração
ou do gradiente hidráulico e corresponde à formação de canais de fluxo no interior do maciço de
solo. A ruptura hidráulica causada pelas forças de percolação ocorre nos locais de descarga, onde o
gradiente atinge o valor crítico e condições de liquefação, arrastando partículas de solo e permitindo
a abertura de pequenos orifícios, pelos quais o fluxo passa a se concentrar, criando assim pequenas
cavidades.
A erosão depende fundamentalmente das relações entre a capacidade erosiva da chuva (erosividade)
por intermédio dos fluxos superficiais e subsuperficiais, da suscetibilidade dos materiais a serem
erodidos (erodibilidade) e da vegetação. Verifica-se, então, uma associação entre chuva, vegetação,
topografia, solo e erosão.
3.3. Estudo da erodibilidade do solo
A erodibilidade de um solo pode ser caracterizada pelos fatores: chuva; propriedades físicas e
químicas; características das encostas (forma, tamanho e declividade); e natureza da cobertura
vegetal, na qual se incluem os efeitos espaciais, que podem impedir ou não os efeitos da energia
cinética das chuvas. Com o tempo, essas propriedades podem ser alteradas e, consequentemente, a
erodibilidade de um solo pode mudar.
Uma forma comum de se avaliar a erodibilidade é procurar correlacioná-la com propriedades
geotécnicas do solo simples de serem determinadas, como análise granulométrica, índices físicos,
coeficiente de permeabilidade, parâmetros de resistência ao cisalhamento etc., além de ensaios de
caracterização química e mineralógica do solo e ensaios para a composição química da água.
Para avaliação direta da erodibilidade em laboratório, alguns equipamentos foram desenvolvidos,
entre os quais os ensaios de Inderbitzen.
4. METODOLOGIA
4.1. Áreas em estudo
As áreas escolhidas para este estudo estão localizadas nas porções oeste (Bairro Jardim Caiçaras) e
leste (Bairro Bom Jardim), por apresentarem processos de desgaste superficial do solo.
De acordo com o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) de Juiz de Fora - MG, a
vegetação original (Floresta Estacional Semidecidual, condicionada pela dupla estacionalidade
climática), expansão da Mata Atlântica, é praticamente inexistente.
Em razão da ocupação humana e do uso da terra, os desmatamentos ocasionaram a substituição das
florestas por pastagens e capoeiras (mata de baixa altura), que constituem hoje a paisagem
dominante da área, em torno de 70%.
O Bairro Jardim Caiçaras está localizado em uma região comumente identificada como Cidade Alta
e, conforme classificação geológica está inserido em área de ocorrência do “Gnaisse Piedade”.
Trata-se de um bairro residencial composto por casas tipo “populares”. Após as fases de corte e
aterro e implantação das moradias, as encostas não receberam qualquer tipo de sistema de drenagem
e vegetação; portanto, os solos ficaram desprotegidos, sendo tomados por imensas erosões, cujo
crescimento vem se acelerando nos períodos de chuva (Figura 2).
O Bairro Bom Jardim faz parte de uma via de acesso de 2,5 km (rua Diva Garcia) que liga os
bairros Vitorino Braga, Três Moinhos, Bom Jardim e Linhares. O traçado dela é paralelo ao
Córrego do Yung. Sua formação geológica se classifica como “Complexo Juiz de Fora”. Na Figura
3 verifica-se um processo acelerado de desgaste do solo que vem se formando nas encostas, ao
longo da via.
Fig. 3 - Processos erosivos existentes nas encostas, junto à via de acesso. Bairro Bom Jardim
4.2. Metodologia usada na coleta das amostras e nos ensaios
Em conformidade com a NBR 9604/86foram coletadas amostras de solo em pontos de média
vertente em talude das duas áreas estudadas. Os locais escolhidos seguiram a ideia de analisar a
susceptibilidade dos solos à erosão hídrica pelo fluxo superficial (Figura 4).
Fig. 8 - Pesagem dos corpos de prova fixados no Fig. 9 - Vista superior do conjunto amostrador fixado
conjunto amostrador na rampa hidráulica
Os sedimentos carreados foram coletados (Figura 10) em intervalos de tempo predefinidos (1, 3, 5,
9, 15 e 30 minutos), com o objetivo de obter dados para a plotagem dos gráficos dados em função
do tempo (em minutos) x perda solo seco acumulado por área da amostra (g/cm2).
Os recipientes com material coletado eram colocados em repouso para sedimentação. Em seguida,
todo o material depositado era transferido para pequenas cápsulas, e encaminhadas à estufa para
secagem durante 24 horas. Posteriormente, o solo obtido era destorroado, pesado e transferido para
um conjunto de peneiras (#4, #10, #40, #100 e #200), sendo pesado o material retido em cada uma
delas (Figura 11).
Figura 10 - Coleta de sedimentos
Figura 11 - Cápsulas contendo material carreado seco e a transferência de solo seco para o conjunto de peneiras
5. RESULTADOS
Na Tabela 1 encontraram-se os resultados dos ensaios de limites de consistência, das análises
granulométricas, bem como a classificação dos solos estudados correspondente ao par de valores IP
e LL na Carta de Plasticidade.
Tabela 1 - Limites de consistência, análise granulométrica e classificação dos solos segundo a Carta de Plasticidade
Procedência Limites de Consistência (%) Análise granulométrica (%) Carta de
da Amostra Areia Silte Argila Plasticidade
LL LP IP
Jardim Caiçaras 61,95 31,34 30,61 25 37 38 CH
Bom Jardim 41,79 21,03 20,76 46 34 20 CL
CH – argila de alta compressibilidade; CL – argila de baixa compressibilidade.
Observa-se que as partículas erodidas nos solos estudados têm diâmetro equivalente menor que 2,00
mm, pois durante o peneiramento nas análises granulométricas verifica-se que 100% do material
seco passam na peneira dez (# 10).
Analisando os índices de plasticidade, segundo os critérios adotados neste estudo os solos são
classificados como tendo boa resistência à erosão, uma vez que na correlação proposta pelo DNER
(1979), citada por Fragassi (2001) e Mendes (2006), o IP superou a média, que é 17%, mas o LP foi
inferior a 32%.
Nos estudos realizados por Santos e Castro (1967) apenas os solos do Bairro Bom Jardim são
apontados como fortemente erodíveis; já do Bairro Jardim Caiçaras apresentou boa resistência à
erosão.
Em função das curvas granulométricas, de acordo com a classificação de Meireles (1967) e Bastos
(1999), para todas as áreas os solos são considerados como pouco erodíveis, pois o percentual que
passa na peneira 200 é maior que o proposto por eles, ou seja, 40% e 55%, respectivamente.
Obedecendo à classificação proposta por Gray e Sotir (1996) no que diz respeito à medida da
erodibilidade, no sentido do solo mais erodível para o menos erodível tem-se Bairro Bom Jardim
(CL) Jardim Caiçaras (CH).
A parcela de argila encontrada para o Bairro Bom Jardim foi inferior a 35%, daí não seria
considerados erodível, segundo Eltz et al. (2001). Já o percentual encontrado para o Bairro Jardim
Caiçaras ultrapassou esse valor e seria caracterizado como erodível.
Como os solos apresentaram pouca quantidade de argila e elevada porcentagem de areia fina e silte,
segundo Fragassi (2001), são considerados erodíveis. Em contrapartida, o critério do DNER (1979),
apontado por este mesmo autor, classifica esses solos com boa a regular resistência à erosão, pois o
percentual de solo passante na peneira 40 foi superior a 49% e inferior a 96%.
Quanto aos critérios adotados por Santos (2001), através da relação entre erodibilidade, IP (índice
de plasticidade) e Cu (coeficiente de uniformidade), os solos em estudo são caracterizados com boa
resistência à erosão, pois possuem IP > 15; quanto ao Cu não se aplica, pois na curva
granulométrica não se consegue determinar o diâmetro correspondente à porcentagem que passou
de 10%.
Quanto aos critérios baseados nos índices físicos a Tabela2 apresenta os valores médios obtidos
para teor de umidade (w), peso específico aparente natural (Nat), peso específico aparente seco (d),
peso específico dos sólidos (s), índices de vazios (e) e grau de saturação (S).
Tabela 2 - Índices Físicos
Procedência w (Nat) (d) s E S
da Amostra (%) (kN/m³) (kN/m³) (kN/m³) (%)
Jardim Caiçaras 28,90 16,10 12,40 28,30 1,28 44,0
Bom Jardim 20,70 16,10 13,40 26,85 1,00 50,0
Em razão de os valores obtidos para índices de vazios ultrapassarem a 0,7 os solos são classificados
como solos facilmente erodíveis (BASTOS, 1999).
De acordo com Fácio (1991), o solo do Bairro Jardim Caiçaras seria o mais erodível, por ser o de
menor grau de saturação (S).
Por outro lado, de acordo com Mendes (2006), considerando o peso específico dos sólidos (s)
como um fator controlador dos processos erosivos, o solo do Bairro Jardim Caiçaras estaria mais
compacto e seria o menos erodível. No entanto, observa-se que essa proposta é inadequada porque,
apesar de ter o maior s, este solo é o que possui o maior índice de vazios, portanto, não é o mais
compacto.
Para analisar a resistência ao cisalhamento dos solos foram realizados ensaios de cisalhamento
direto e triaxial, com os resultados apontados nas Tabelas 3 e 4.
Tabela 3 - Parâmetros de resistência obtidos nos ensaios de cisalhamento direto
Os solos dos bairros Jardim Caiçaras e Bom Jardim tiveram maiores perdas nas rampas de orifício
quadrado com 93,0 mm de lado.
Segundo Fragassi (2001), os solos das áreas em estudo mostraram comportamento de regular a ruim
frente à erosão, porque apresentam velocidade de erosão entre 0,8 e 25,0 g/cm2/hora. Os resultados
estão apresentados na Tabela 6.
Tabela 6 - Perda de solo total acumulada por unidade de área do corpo de prova (g/cm2) por tempo de ensaio (horas)
7. CONCLUSÕES
As principais conclusões obtidas são que:
O equipamento desenvolvido mostrou-se válido, tendo sido capaz de aplicar vazões maiores que
0,5 l/min e inclinações menores que 900.
As três rampas funcionaram igualmente bem, e a metodologia do ensaio, desde a moldagem dos
corpos de prova e a proteção que eles tinham no início do ensaio, até que a vazão fosse
adequadamente imposta, foi apropriada.
Os critérios baseados nos índices de plasticidade apontam apenas os solos do Bairro Bom Jardim
como fortemente erodíveis, segundo Santos e Castro (1967); os demais continuaram a apresentar
boa resistência à erosão. Com relação à curva granulométrica, as metodologias mencionadas
apontam, em sua maioriao outo solo como pouco erodível.
De acordo com a classificação pela carta de plasticidade, proposta por Gray e Sotir (1996), o
solo do Jardim Caiçaras (CH) seria menos erodível seguido do Bairro Bom Jardim (CL).
Os índices físicos indicam os solos dos bairros Jardim Caiçaras e Bom Jardim como solos
facilmente erodíveis.
Em todos os ensaios Inderbitzen, a maior quantidade de perda de solo ocorria nos 15 minutos
iniciais.
Observou-se nesses ensaios que mudanças na forma e no tamanho do orifício da rampa
influenciaram nas perdas de solo.
Era de se esperar que as perdas de solo na rampa de menor largura fossem maiores, uma vez que
a tensão de cisalhamento hidráulica nessa rampa é maior.
Portanto, para correlacionar a erodibilidade dos solos com suas características físicas e geotécnicas
é necessário que se crie um banco de dados a partir de uma maior área amostral, abrangendo uma
extensão maior da bacia em estudo, conhecendo-se a classe predominante desses solos para que se
formule um modelo-padrão.
Apesar disso, podem-se considerar como representativas as áreas envolvidas, que vêm se
degradando através dos tempos.
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) pela oportunidade em apresentar este trabalho e à
Universidade Federal de Viçosa (UFV) pelo apoio no decorrer das pesquisas.
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PRODUÇÃO E AVALIAÇÃO DE TINTAS SUSTENTÁVEIS COM REJEITO
DE BARRAGEM DE MINÉRIO DE FERRO
Production and evaluation of sustainable paintings produced with iron ore tailing
José Lucas Barros Galvão1, Humberto Dias Andrade2, Karine de Jesus Santos3, Júlia Castro
Mendes4, Ricardo André Fiorotti Peixoto5
1
Graduado, Ouro Preto, Brasil, lucasbgalvao91@hotmail.com
2
M.S.c, Ouro Preto, Brasil, andrade.hdias@gmail.com
3
Graduanda, Ouro Preto, Brasil, karine.js@aluno.ufop.edu.br
4
Doutoranda, Ouro Preto, Brasil, jcmendes.eng@gmail.com
5
Professor Associado, Ouro Preto, Brasil, fiorotti.ricardo@gmail.com
Resumo: Os rejeitos de barragens de minérios de ferro (RBMF) são materiais finos e cristalinos que
não apresentam características perigosas. Seu impacto ambiental está diretamente relacionado à sua
disposição final, na forma de barragens. O desastre ocorrido em Minas Gerais no ano de 2015 revela
o real passivo ambiental, social e econômico que esse resíduo representa. Assim, o presente trabalho
busca utilizar o RBMF como pigmento na produção de tintas de solo produzidas in loco, aqui
denominadas Tintas Sustentáveis. Na produção dessas tintas foram utilizados quatro ligantes
diferentes: resina poliacetato de vinila (PVA), resina acrílica, cal e cimento. Esses ligantes eram
misturados com o RBMF e água em diferentes proporções, onde o teor máximo de aglomerante é
50%. Para efeito de comparação, foram estudadas tintas comerciais Látex e Acrílica. Todas as tintas
foram testadas quanto a variabilidade da cor, resistência à abrasão, durabilidade às intempéries no
ambiente externo e custo. As tintas sustentáveis com RBMF são esteticamente satisfatórias com baixo
custo para produção. Frente às intempéries, a tinta sustentável com ligante PVA teve a melhor
performance com desempenho superior às de referência, com seu resultado representando menos de
25% da variação de cor da tinta Látex. Assim, esses materiais demonstraram alternativas viáveis para
pintura interna e externa, com o potencial de aplicação principalmente em construções de interesse
social.
Abstract: The tailings dams of iron ores (RBMF) are thin and crystalline materials that do not exhibit
hazardous characteristics. Your environmental impact is directly related to your disposal, in the form
of dams. The disaster occurred in the State of Minas Gerais in the year 2015 reveals the real
environmental, social and economic liabilities that this residue represents. Thus, the present work
search using RBMF as pigment in paint production of soil produced the spot, here called Sustainable
Paints. In the production of these paints were used four different ligands: poliacetato chloride resin
(PVA), acrylic resin, lime and cement. These binders were mixed with the water in different
proportions and RBMF, where the maximum content of binder is 50%. For comparison, commercial
paints were studied Latex and acrylic. All the paints were tested as the variability of color, resistance
to abrasion, weather durability in the external environment and cost. Sustainable RBMF inks are
aesthetically satisfactory with low cost for production. Weather front, the sustainable paint with PVA
Binder had the best performance with superior performance to benchmarks, with your result
representing less than 25% of the variation in color of Latex paint. So, these materials have
demonstrated viable alternatives to internal and external painting, with the potential for application
mainly in construction of social interest.
Keywords: first, second, third, fourth (minimum of three and maximum of six).
1. INTRODUÇÃO
Tinta é uma composição líquida, geralmente viscosa, constituída de um ou mais pigmentos dispersos
em um aglomerante líquido que, após o processo de cura forma um filme aderente ao substrato com
finalidade de proteção e embelezamento da superfície [1]. Sua composição é resultado da mistura de
diversas substâncias, pigmentos, aditivos, solventes, água e veículo. Os componentes sólidos das
tintas (responsáveis pela pigmentação), geralmente se encontram misturados aos voláteis, que, após
processo de cura se evaporam, formando uma película sólida.
Dentre os tipos de tintas produzidas no Brasil, as imobiliárias representam 83,3% do volume total de
produção (1.279 bilhões de litros), e 79,7% do faturamento do mercado brasileiro nesse setor (2.352
bilhões de dólares) [2]. Segundo Góis [3], “no processo de fabricação das tintas imobiliárias,
destacam-se como matérias-primas os minerais não metabólicos e os produtos derivados de petróleo,
recursos não renováveis, e água. Além disso, nesse processo ocorre emissão de efluentes líquidos e
gasosos [..] como os Compostos Orgânicos Voláteis – COVs, uma classe de contaminantes derivados
do petróleo”. A emissão de COV’s coloca em risco à saúde dos usuários e dos trabalhadores durante
a pintura, e causa a redução da qualidade do ar presente no interior das edificações. Entre as
consequências ao meio ambiente, destacam-se; poluição atmosférica e a formação do ozônio
troposférico (responsável pela névoa fotoquímica urbana) [4].
Como alternativa para a redução da emissão de COV’s através de tintas, surgem a produção de Tintas
de Solos. Estas, utilizam dos pigmentos do solo e são a base de água; sendo consideradas sustentáveis,
pois não geram resíduos ou produtos tóxicos à saúde e ao meio ambiente. A pigmentação e cobertura
da Tinta Solo é resultado da coloração e dimensão de rochas e minerais; sendo os solos mais finos os
com melhores resultados. Assim, Rejeitos das Barragens de Minério de Ferro (RBMF), tornam-se
uma boa alternativa para produção desse tipo de tinta, por se tratar de um material com grande parte
de partículas finas (fração silte-argila <0,075mm). [5]
Além disso, essa é uma importante solução quanto aos crescentes volumes de rejeitos da mineração,
muitas vezes armazenados em barragens, que ocasionam vários impactos ambientais. Considerando
a necessidade de redução dos imensuráveis impactos socioambientais causados pelas tintas industriais
e pelos rejeitos da mineração, este trabalho busca desenvolver uma tinta para a construção civil
utilizando RBMF.
2. OBJETIVOS
3. METODOLOGIA
O estudo foi realizado com Rejeito de Barragem de Minério de Ferro (RBMF) no Laboratório de
Materiais de Construção Civil da UFOP. Para comparação dos resultados, foram utilizadas duas tintas
comercialmente disponíveis: Suvinil Fosco Completo Acrílico Premium (denominada Comercial
Acrílica - Cor "Petit Gâteau") e Suvinil Clássica Max (denominada Comercial Látex - Cor "Petit
Gâteau"). O custo de cada traço foi calculado levando em consideração a cotação dos insumos na
cidade de Ouro Preto- MG.
O procedimento para mistura dos materiais e adotado em todos os traços foi: distribuir inicialmente
50% da quantidade de água no misturador juntamente com 100% da quantidade de RBMF e deixar
em agitação durante 30 segundos na velocidade lenta. Logo após isso, foi colocado o restante dos
materiais, e novamente misturado por 1 minuto e 30 segundos em velocidade lenta. A tinta produzida
foi disposta em um recipiente limpo e seco; para análise visual da sua textura, trabalhabilidade e
incorporação de ar.
Foram utilizadas placas de PVC (18,5×13 cm) para se testar os resultados dos 17 traços da tinta. As
placas foram selecionadas de acordo com a coloração e aderência homogêneas, simulando também
situação desfavoráveis de aderência superfície/tinta. Os testes realizados nas placas de PVC foram:
Variabilidade de Cor, Escuridade. Resistência à Abrasão e Custo.
Como análise de resultados, os traços foram comparados com tintas comerciais de cores semelhantes,
do tipo Látex e Acrílica, que passaram pelos mesmos testes e procedimentos da Tinta de RBMF.
Sendo que, os 5 melhores resultados das tintas na superfície de PVC foram testados em placas
cimentícias de revestimento em ambientes interno e externo sujeitos as intempéries.
Após pintura de cada placa, foi realizada a captura da sua imagem, com a finalidade de se realizar o
teste de Variabilidade de Cor, que busca avaliar homogeneidade da cobertura da tinta. Para realização
deste teste, foi utilizado o software Adobe PhotoShop®, no qual para cada imagem gerada foi feita a
análise do sistema RGB (abreviatura do sistema de cores formado por Vermelho - Red, Verde - Green
e Azul - Blue) da imagem. Uma das representações mais usuais para esse sistema de cores é a
utilização da escala de 0 a 255. Assim, cada cor possui um determinado valor de R, G e B variando
de 0 a 255 (exemplos na Tabela 2).
Para cada três traços de cores em R, G e B, foram coletados e calculados os valores de desvio padrão
do conjunto. Sendo que, quanto maior o desvio padrão de uma cor, menor sua homogeneidade. A
Figura 1, apresenta o Histograma da cor vermelha no Traço 14 com desvio padrão de 4,41. Já na
Figura 2, temos a o Histograma da cor vermelha no Traço 10, com desvio padrão de 2,85.
Posteriormente ao teste de variabilidade de cor, foi realizado o Teste de Escuridade, que buscou
avaliar o poder de pigmentação dos traços, analisados. O resultado foi encontrado através da
metodologia de diferença de cores Delta-E, no qual o Delta-E é um número único que representa a
diferença de distância euclidiana entre os aspectos Vermelho, Verde e Azul de um RGB (Mokrzycki
& Tatol, 2011). Esse é o método adotado pela Comissão Internacional de Iluminação (CIE) pois
melhor representa a percepção de cores dos seres humanos (COLORMINE, 2016).
Utilizando o Software Delta-E Calculator® foi possível calcular o Delta-E a Escuridade de cada traço.
O cálculo realizado no programa se deu através da análise (em cinco pontos de uma imagem) da
diferença da cor da tinta produzida em relação a cor branca (cor semelhante a do substrato de PVC).
A Figura 3 apresenta o resultado do Teste de Escuridade do Traço 1.
4. RESULTADOS
Fig. 8 - Resultados da Variação de Cor das placas após 6 meses às intempéries internas e externas
A menor Variação de Cor foi do Traço PVA (Figura 5) com ΔE igual a 2,8. Sendo assim, esta é a
melhor opção de pintura para ambientes internos e externos pois sua oscilação de cor foi
consideravelmente pequena. Esse resultado superou o desempenho nos testes das tintas comerciais,
possuindo qualidade superior para uso.
Figura 9 - Traço PVA após 6 meses, à esquerda exposta no ambiente externo e à direita interno
4.5 Custos
O Gráfico 4 apresenta o custo por quilograma para a produção e o custo do quilograma das tintas
comerciais. O custo de cada traço foi calculado levando em consideração a cotação dos insumos na
cidade de Ouro Preto- MG. Observando os resultados, pode-se perceber que as tintas comerciais
foram as com custo mais elevado. Já a tinta sustentável de custo mais elevado foi o Traço 4, sendo
352,5% mais barata que as tintas comerciais. A de menor valor foi do Traço 14, que é 23.225% mais
econômica (financeiramente) que as tintas comerciais.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.
REFERÊNCIAS
[2] ABRAFATI. Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas, 2016. [Online]. Available:
https://www.abrafati.com.br/indicadores-do-mercado/numeros-do-setor/.
[3] L. GÓIS. Tintas da terra: O uso dos pigmentos naturais para uma pintura sustentável. Universidade Federal
de São João Del-Rei, 2016.
[4] K. L. I. P. &. A. V. UEMOTO. Construção e Meio Ambiente- Impacto ambiental das tintas imobiliárias. 7ª
ed., Porto Alegre: Habitare, 2006.
[6] ABNT. NBR NM 238: Agregados- Determinação da composição granulométrica,” Associação Brasileira de
Normas Técnicas, Rio de janeiro, 2003.
[7] ABNT. NBR 15078: Tintas para Construção Civil - Determinação de resistência à abrasão úmida sem pasta.,”
Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de janeiro, 2004.
ANÁLISE DOS RISCOS DE ESCORREGAMENTOS E OCUPAÇÕES NA
FAIXA DE DOMÍNIO DE UM TRECHO FERROVIÁRIO EM JUIZ DE
FORA (MG)
Kelly Ferreira Berini 1, Gislaine dos Santos 2, Jordan Henrique de Souza 3, Ana Maria Stephan 4
1UFJF, Juiz de Fora, Brasil, kelly.berini@engenharia.ufjf.br
2 UFJF, Juiz de Fora, Brasil, gislaine.santos@engenharia.ufjf.br
3 UFJF, Juiz de Fora, Brasil, jordan.souza@ufjf.edu.br
4 UFJF, Juiz de Fora, Brasil, ana.stephan@ufjf.edu.br
Resumo: Este estudo apresenta uma análise de como está sendo utilizada a faixa de domínio, de um
trecho de ferrovia pertencente à concessionária MRS Logística, localizada na cidade de Juiz de Fora
– Minas Gerais (MG). Esta faixa é determinada por lei como uma área não edificada e que deve ser
utilizada apenas para estruturas relacionadas à ferrovia, como estações, oficinas e pátios, bem como
para suas futuras expansões. O presente estudo consiste em avaliar uma faixa de 15 metros para
cada lado, contados a partir do eixo da ferrovia, conforme prescreve a Lei nº 10.932 de 2004, em
uma extensão de 50 quilômetros que passa pelo município, abrangendo vários bairros. A partir da
utilização do software de geoprocessamento QGis® foram gerados mapas e gráficos, para cada
quilômetro de via, dos quais obteve-se dados referentes aos parâmetros físicos, tais como,
declividade, altimetria, áreas com risco de escorregamento por meio da metodologia Shalstab, uso e
ocupação do solo e localização de imóveis. Após essas informações foi possível verificar que existe,
em grande parte dessa área pertencente a faixa de domínio, edificações comerciais e residenciais
além de pontos susceptíveis a escorregamento de terra. Portanto, pode-se concluir que tais faixas
não vêm sendo respeitadas conforme preceitua a lei, e que há novas áreas na iminência de
escorregamentos, o que pode vir trazer sérios danos para as edificações e pessoas locadas nesse
entorno, como também para a concessionária responsável pela via férrea.
Abstract: This study presents an analysis of how the wayside is being used, of a railway segment
belonging to the MRS Logística concessionaire, located in the city of Juiz de Fora – Minas Gerais
(MG). This track is determined by law as an unbuilt area and should only be used for railroad-
related structures such as stations, workshops and patios, as well as for future expansions. The
present study consists of evaluating a range of 15 meters for each side, counted from the axis of the
railroad, as prescribed by Law No. 10,932 of 2004, in an extension of 50 kilometers passing through
the county, covering several neighborhoods. From the use of the QGis ® Geoprocessing software,
maps and graphs were generated for each kilometer of pathway, from which data were obtained
referring to physical parameters, such as, slope, altimeter, areas with risk of slipping through of
Shalstab methodology, land use and occupation and real estate localization. After this information it
was possible to verify that there is, in a large part of this area belonging to the wayside, commercial
and residential buildings in addition to points susceptible to landslides. Therefore, it can be
concluded that such tracks have not been respected as preceded by the law, and that there are new
areas on the imminence of slips, which can bring serious damage to the buildings and people
located in this environment, as well as to the Concessionaire responsible for the railroad.
1. INTRODUÇÃO
A ferrovia é um elemento que interfere na paisagem e no funcionamento de uma cidade. Muitas
cidades no mundo e em especial no Brasil tiveram sua evolução de forma conjunta com a
implantação e desenvolvimento da linha férrea. Juiz de Fora é uma dessas cidades, que tem sua
história e seu crescimento intimamente ligado à ferrovia, por isso estudar esse elemento se faz tão
importante.
A via férrea que atravessa a cidade pertence à concessionária MRS Logística S.A, que opera trens
de carga em uma malha ferroviária de 1643 km nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São
Paulo.
Apesar da ferrovia ter chegado primeiro na cidade, com o crescimento desta, houve uma ocupação
desordenada do entorno e consequentemente da sua faixa de domínio.
Esta faixa trata-se de um trecho de segurança da via férrea e por isso deve permanecer como uma
área não edificada. Em Juiz de Fora, há muitas edificações desrespeitando esses limites ficando
assim sujeitas aos riscos causados por essa ocupação indevida. Acidentes, ruídos, vibrações,
escorregamento de terra são alguns dos problemas para as construções que estão dentro desta faixa.
Ter o conhecimento sobre áreas e edificações que se encontram em risco é importante para que haja
conscientização em manter esses trechos desocupados, assim como elaborar projetos para um
melhor planejamento dessas áreas, visando à segurança da população da região.
A partir dessa justificativa foi feito um estudo, utilizando-se das ferramentas de Sensoriamento
Remoto e Geoprocessamento, que possibilitou a obtenção de imagens que mostram como estão
sendo utilizadas determinadas áreas no entorno da via férrea que passa por dentro da cidade de Juiz
de Fora.
2. OBJETIVOS
Analisar a faixa de domínio da ferrovia inserida na cidade de Juiz de Fora-MG, em uma extensão de
50 quilômetros, caracterizando esse trecho sobre seus aspectos físicos para fins de identificação de
áreas mais susceptíveis a escorregamentos e de uso e ocupação do solo.
3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1. Faixa de Domínio
Segundo FTC (2015), “A faixa de domínio da ferrovia é o terreno com pequena largura em relação
à extensão, necessária para a instalação das vias férreas e demais estruturas exigidas pela operação
como: Estações, Oficinas e Pátios, bem como às futuras expansões da ferrovia”.
O item III, do Art. 4, da Lei nº 6.766, de 1979, alterada pela Lei nº 10.932, de 2004 reza: “ao longo
das águas correntes e dormentes e das faixas de domínio público das rodovias e ferrovias, será
obrigatória a reserva de uma faixa não-edificável de 15 (quinze) metros de cada lado, salvo maiores
exigências da legislação específica”.
A invasão da faixa de domínio gera problemas tanto para a empresa ferroviária quanto para as
edificações e pessoas locadas dentro desse trecho.
De acordo com Soares (2016) alguns desses problemas são: risco de acidentes; prejuízo ao
desempenho operacional das ferrovias - em virtude da redução da velocidade média de 40 km/h
para 5 km/h nas áreas urbanas; roubos de carga e vandalismo e dificuldade de captação de cargas de
alto valor agregado.
3.2. Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento
O Sensoriamento Remoto é uma ferramenta que possibilita a obtenção de informações sobre um
objeto (alvo), área ou fenômeno na superfície terrestre por meio da análise de dados adquiridos por
um dispositivo, o sensor, que não está em contato direto com o alvo (LILLESAND & KIEFER,
1994).
Já o Geoprocessamento, tem como objetivo tornar as coordenadas conhecidas num dado sistema de
referência por meio da obtenção das coordenadas pertencentes ao conjunto no qual se pretende
georreferenciar, seja a partir de pontos da imagem ou da própria imagem a ser georreferenciada;
estes pontos, chamados pontos de controle, são locais que oferecem uma feição física perfeitamente
identificável, tais como intersecções de estradas e de rios, represas, pistas de aeroportos, edifícios
proeminentes, topos de montanha, entre outros (SILVA, 2011).
3.3. QGis®
O QGIS é um Sistema de Informação Geográfica (SIG) de Código Aberto iniciado em 2002 e
licenciado segundo a Licença Pública Geral GNU. O QGIS é um projeto oficial da Open Source
Geospatial Foundation (OSGeo). Funciona em Linux, Unix, Mac OSX, Windows e Android e
suporta inúmeros formatos de vetores, rasters e bases de dados e funcionalidades (QGIS, 2018).
3.4. Metodologia Shalstab
As análises de susceptibilidade a escorregamentos são referidas muitas vezes na literatura como
estudos de previsão de áreas instáveis devido aos escorregamentos (TOMINAGA, 2007). Com o
desenvolvimento dos SIGs houve um aumento na produção de estudos sobre metodologias de
avaliação de perigos e de previsão de áreas instáveis (VAN WESTEN, 2004 apud TOMINAGA,
2007).
A metodologia Shalstab combina um modelo hidrológico com o modelo de estabilidade do talude
infinito, definindo um padrão de equilíbrio baseado na saturação do solo e sua analogia com a área
de contribuição a montante e com a transmissividade do solo (DIETRICH et al, 1998).
4. METODOLOGIA
Vetorização da área de
estudo no QGis®
Mapa de altimetria
Utilização da
ferramenta Buffer
Mapa de declividade
Mapa de
susceptibilidade a
Geração dos mapas escorregamento
Elaboração de tabelas
Mapa de localização dos
e gráficos
imóveis
5. DESENVOLVIMENTO
5.1. Estudo de Caso
O trecho de ferrovia em estudo está localizado na cidade de Juiz de Fora – MG, pertencente à
concessionária MRS Logística S.A. A MRS é uma operadora que administra uma malha ferroviária
de 1643 km (quilômetros) abrangendo os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Foi
criada em 1996, quando o governo transferiu à iniciativa privada a gestão do sistema ferroviário
nacional. A ferrovia em questão é utilizada para transporte de cargas como minérios, produtos
siderúrgicos acabados, cimento, bauxita, produtos agrícolas, containers, entre outros (MRS
LOGÍSTICA, 2017).
O presente estudo aborda um trecho da via situado na região do município de Juiz de Fora, com 50
km de extensão (Km 251 ao Km 300) conforme Figura 2. As análises foram feitas a cada
quilômetro considerando uma faixa de 15,0 m para cada lado do eixo da ferrovia, totalizando 30,0
m de faixa de domínio.
Imagens de Satélite
Quick Bird
6. RESULTADOS
Será apresentado um detalhe dos mapas gerados para cada parâmetro, destacando de uma forma
geral uma mesma área para todos. Os gráficos obtidos a partir dos mapas serão mostrados e
discutidos em sequência, explicando as classificações adotadas.
7. CONCLUSÕES
Os parâmetros declividade, altimetria e susceptibilidade a escorregamento do solo mostraram
informações físicas da área delimitada pela faixa de domínio da ferrovia em Juiz de Fora – MG
enquanto os parâmetros de uso do solo e localização dos imóveis mostraram os riscos presentes em
alguns trechos.
É possível inferir que, apesar da maioria das áreas serem de baixo risco a susceptibilidade de
escorregamentos, existem algumas delas apresentando um alto risco, sendo, portanto necessário
acompanhá-las, pois, de acordo com o mapa de uso do solo, há presenças de edificações bem
próximas a elas.
Percebe-se que ao longo da faixa de domínio muitos trechos estão ocupados, ou seja, em uma
extensa área definida por lei como não edificável, é possível observar existência de edificações
comerciais e residenciais.
A análise realizada nesse estudo evidencia a necessidade de proteger e respeitar a área de segurança
da faixa de domínio mostrando os riscos existentes em sua ocupação, destacando áreas de grande
invasão e também de pontos de alto risco de susceptibilidade a escorregamento. Mesmo que não
existam edificações em alguns desses trechos existe um risco grande de novos escorregamentos, que
podem levar a acidentes.
É importante que essas áreas sejam monitoradas para garantia de segurança da população local e
para minimizar os prejuízos para a via.
Conclui-se, portanto, por meio dessas análises, que as políticas públicas devem atuar dentro dos
preceitos legais para coibirem as ocupações nestes locais e não somente por um atendimento legal
de não ocupação, mas por serem áreas com possibilidade de escorregamento podendo contribuir
para agravar esta instabilidade.
AGRADECIMENTOS
Obrigado a todos que contribuíram para a realização desse estudo e posterior elaboração desse
artigo.
REFERÊNCIAS
[1] BRASIL. Lei nº 6766 de 19 de dezembro de 1979. Parcelamento do Solo Urbano e Outras Providências.
[2] DIETRICH W.; MONTGOMERY D. R. Shalstab: a digital terrain model for mapping shallow landslide potential.
National Council of the Paper Industry for Air and Stream Improvement (NCASI) Technical Report: 26 p., 1998.
[3] FERROVIA TEREZA CRISTINA (FTC). Faixa de Domínio Legislação e Normas: Autorização para Obras na
Faixa de Domínio da Ferrovia. Tubarão/SC, 2015. Disponível em: <http://ftc.com.br/faixa-de-dominio> Acesso em: 15
de novembro de 2017.
[4] FERROVIA TEREZA CRISTINA (FTC). Faixa de Domínio Legislação e Normas: Autorização para Obras na
Faixa de Domínio da Ferrovia. Tubarão/SC, 2015. Disponível em: <http://ftc.com.br/faixa-de-dominio> Acesso em: 15
de novembro de 2017.
[5] LILLESAND, T.M. and KIEFER, R.W. Remote sensing and image interpretation, 3rd Ed., John Wiley and Sons,
Inc.: Toronto. 1994.
[6] MGTV PANORAMA. Deslizamento de terra causa acidente com trem em Juiz de Fora. Publicado em: 15/01/2011.
Disponível em: < http://.ceivap. org.br / downloads2011/eventos/17-01-11%20Deslizamento.pdf > Acesso em: 15
março 2018.
[7] MRS LOGÍSTICA. Quem somos. Disponível em: < https://www.com.br /empresa / quem- somos/>. Acesso em: 27
abr 2017.
[8] QGIS. Sobre o QGis. Disponível em: < https://www.qgis.org /pt_BR /site /about /índex .html > Acesso em: 25 abril
2018.
[9] SILVA, J. X. da; ZAIDAN, R. T. Geoprocessamento & Meio Ambiente. Ed Bertrand Brasil LTDA, 2011. 328p.
[10] SOARES, A. Produto 8: Parâmetros Indicadores de Intervenções em Áreas Urbanas. Diretoria de Infra Estrutura
Rodoviária (DNIT). Brasília/DF, 2016, 61p. Disponível em: <http://www.dnit.gov.br/ferrovias/instrucoes-e-
procedimentos/ parametros-indicadores-de-intervencoes-em-areas-urbanas-pn/parametros-indicadores-de-intervencoes-
em-areas-urbanas.pdf/view>. Acesso em: 15 de novembro de 2017.
[11] TOMINAGA, L. K. ; Avaliação de metodologias de análise de risco a escorregamentos: Aplicação de um
ensaio em Ubatuba, SP. Tese de doutorado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007, 220p.
Diego Haltiery dos SANTOS1, Gabriela Andrade FERREIRA1, Aline Santana FIGUEIREDO1,
Marina Altoé CAETANO1, Ricardo André Fiorotti PEIXOTO1
Resumo: O setor da construção civil é responsável por consumir uma quantidade elevada de recursos
naturais não renováveis. O crescimento acelerado desse mercado impacta diretamente no aumento da
demanda desses recursos, bem como no aumento de seus custos e na redução de suas reservas na
natureza. Dessa necessidade, ocorre cada vez mais a busca por melhores soluções ambientais e sociais,
sendo que a aplicação de resíduos de outras indústrias se torna uma opção desejável. Deste modo,
este trabalho pretende apresentar uma alternativa para a utilização do estéril da mineração de quartzito
na região central de Minas Gerais para produção de argamassas de assentamento e revestimento de
alvenarias. A adoção deste material como agregado miúdo em substituição total ao agregado natural
poderá não só diminuir o impacto ambiental das minerações como também possibilitar a valorização
deste material para uso na construção civil. Neste contexto, é necessário verificar a viabilidade técnica
dessas argamassas propostas por meio da realização de ensaios laboratoriais procedidos de acordo
com normatizações brasileiras e internacionais. Para caracterização do estéril de quartzito friável
foram realizadas análises físicas, químicas, microestruturais e ambientais. Os traços utilizados foram
1:1:6 (cimento:cal:agregado miúdo) e 1:2:9 (cimento:cal:agregado miúdo) para a produção de
argamassas de revestimento e assentamento, respectivamente, obedecendo sempre uma proporção de
1:3 (aglomerantes: agregados) e utilizando como agregados uma areia natural de rio e duas amostras
de quartzito friável provenientes de jazidas distintas da mesma mineradora. Em sequência, as
argamassas foram submetidas a ensaios nos estados fresco e endurecido para classificação de suas
propriedades, comparando os resultados obtidos com os diferentes tipos de agregados.
Abstract: The construction industry is responsible for consuming a large amount of non-renewable
natural resources. The accelerated growth of this market directly impacts on the increase of the
demand of these resources, as well as on the increase of its costs and the reduction of its reserves in
nature. From this need, there is an increasing search for better environmental and social solutions,
and the application of waste from other industries becomes a desirable option. In this way, this work
intends to present an alternative for the use of the barren of the quartzite mining in the central region
of Minas Gerais for the production of mortars for laying and masonry coating. The adoption of this
material as fine aggregate in total substitution to the natural aggregate may not only reduce the
environmental impact of mining but also allow the valuation of this material for use in civil
construction. In this context, it is necessary to verify the technical feasibility of these proposed
mortars by laboratory tests carried out in accordance with Brazilian and international regulations. To
characterize the friable quartzite sterile, were performed physical, chemical, microstructural and
environmental analysis. The admixtures used were 1:1:6 (cement: lime: fine aggregate) and 1:2:9
(cement: lime: fine aggregate) for the production of coating and laying mortars respectively, always
following a ratio of 1:3 (binder: aggregates) and using as aggregates a natural river sand and two
samples of friable quartzite from different deposits of the same miner. Then, the mortars were
submitted to tests in the fresh and hardened states to classify their properties, comparing the results
obtained with the different types of aggregates.
1. INTRODUÇÃO
Os agregados normalmente utilizados para produção de argamassas são areias de sílica naturais, ex-
traídas de leitos de rios, encostas ou resultantes de subprodutos da exploração e britagem de rochas.
A construção civil é um dos setores que mais causam impactos ambientais, tanto na retirada de recur-
sos naturais para a sua utilização na construção quanto no descarte de resíduos de obras. De acordo
com o Anuário ANEPAC 2012 [1], a construção civil é responsável pelo consumo entre 15% e 50%
dos recursos naturais extraídos, 40% da energia consumida e 16% da água potável.
Muitos resíduos têm sido estudados com o intuito de contribuir com a redução dos impactos ambien-
tais associados à obtenção de agregados naturais para produção de matrizes cimentícias, como arga-
massas e concretos. Podem ser citados autores que utilizaram rejeito de barragem de minério de ferro
como matéria prima para infraestrutura rodoviária [2]; que substituíram agregados naturais por rejeito
de minério de ferro para produção de argamassas [3]; que estudaram o comportamento de blocos e
prismas produzidos com escória de aciaria elétrica em substituição aos agregados naturais através de
modelagem[4]; que estudaram o uso de manta cerâmica para fabricação de argamassas [5]; que utili-
zaram escória de aciaria para fabricação de argamassas[6] e que estudaram a produção de concretos
utilizando escória de aciaria como agregados [7].
O uso de resíduos, além das vantagens de sustentabilidade, pode também proporcionar diminuição
energética da exploração, redução dos custos com transporte e custos de manutenção dos resíduos
configurando-se em uma oportunidade técnica (quando garantidas as propriedades de interesse), am-
biental e econômica. Embora o quartzito friável não seja um resíduo, pois não sofreu nenhum pro-
cesso industrial, este material apresenta potencialidade para substituir os agregados naturais nas ati-
vidades da construção civil, promovendo os mesmos benefícios do uso dos resíduos sólidos.
Na região metropolitana de Belo Horizonte está localizada uma jazida de quartzito friável que apre-
senta potencial para abastecer toda a região. Este material, se empregado como agregado miúdo, que
poderia substituir as areias convencionalmente usadas nas construções, que estão cada vez mais es-
cassas devido a elevada extração e por se tratar de um recurso não renovável. O quartzito friável é
um material que apresenta, por definição, elevado teor de sílica na forma de quartzo, assim como a
areia de rio; normalmente utilizada para produção de argamassas.
2. METODOLOGIA E RESULTADOS
Para caracterização física dos materiais a serem utilizados para a produção das argamassas foram
realizados ensaios de composição granulométrica de acordo com a NBR NM 248 [8], teor de material
pulverulento em atendimento aos requisitos da NBR NM 46 [9] e teor de impurezas orgânica em
atendimento aos requisitos da NBR NM 49 [10].
Para argamassas de revestimento e assentamento, respectivamente, adotou-se os traços de dosagem
1:1:6 (cimento: cal: agregado) e 1:2:9 (cimento: cal: agregado), em volume, numa proporção aglo-
merante: agregado de 1:3. Foram utilizados cimento CPII-F 32 e cal hidratada CHI como aglomeran-
tes para todas as dosagens e como agregados a areia natural (AN), produzindo traços de referência, e
a de quartzito proveniente das duas jazidas (Q1 e Q2). O traço da dosagem das argamassas, bem como
as nomenclaturas adotadas, encontra-se detalhado na Tabela 2, apresentada a seguir.
Tabela 2 - Dosagem das argamassas
Tipo Sigla Traço Materiais
TNR 1:1:6 cimento : cal : areia natural
Argamassa de
TQ1R 1:1:6 cimento : cal : areia de quartzito 1
revestimento
TQ2R 1:1:6 cimento : cal : areia de quartzito 2
TNA 1:2:9 cimento : cal : areia natural
Argamassa de
TQ1A 1:2:9 cimento : cal : areia de quartzito 1
assentamento
TQ2A 1:2:9 cimento : cal : areia de quartzito 2
As argamassas quando endurecidas foram submetidas a ensaios para avaliação de suas propriedades
químicas. Desta forma, as amostras foram comuinuídas em moinho de alta energia que contém um
jarro e pequenas esferas de aço, sendo então procedidos os ensaios de fluorescência de raios X (FRX)
e difração de raios X (DRX).
As amostras também foram caracterizadas no quesito ambiental. O procedimento para obtenção de
extrato lixiviado [18], visa classificar o resíduo sólido como classe I - perigoso ou classe II - não
perigoso em função da sua capacidade de transferir suas substâncias orgânicas e inorgânicas no ele-
mento extrator por meio de dissolução. A metodologia utilizada para obtenção de extrato solubilizado,
[19], visa diferenciar o resíduo sólido como classe II A - não inertes ou classe II B - inertes. A carac-
terização morfológica foi realizada por meio de microscopia óptica com ampliação de até 450 vezes.
Após aplicados os protocolos de processamento para obtenção dos agregados miúdos, a dimensão
máxima característica dos materiais foi de 2,4 mm, logo podemos os associar a "areia média".
Quanto ao teor de material pulverulento o quartzito apresentou valores excessivos de materiais finos.
Estes valores reduzem substancialmente de modo que o material Q1A apresenta o menor teor de
materiais nos (1,24%), seguido do Q2A (4,20%) e AN (5,12%). Uma grande quantidade material
pulverulento pode prejudicar a hidratação do cimento pois, devido a finura das partículas e sua ele-
vada área superficial, demandam mais água de amassamento e diminuindo a resistência [20].
A análise qualitativa para presença de matérias orgânicas nos agregados miúdos indicou para o agre-
gado natural apresentou pequena quantidade de impureza enquanto as amostras provenientes do quar-
tzito friável praticamente não indicaram presença de impurezas, portanto não apresentam quantidade
suficiente para provocar patologias na argamassa.
O teor de água/aglomerante (a/a) para produção das argamassas de assentamento e revestimento foi
dosado para obtenção de um índice de consistência de aproximadamente 260,0 mm, sendo este um
valor de referência recomendado por norma, e desenvolvidos com o agregado natural e com os agre-
gados de quartzito friável. Os fatores água/aglomerante foram 0,72 para TNR, 0,78 para TQ1R e
TQ2R, 0,70 para TNA e 0,80 para TQ1A e TQ2A. A quantidade de água necessária para produção
das argamassas foram idênticas para os agregados de quartzito que, comparativamente, necessitam
de mais água que o agregado AN. Estes resultados sugerem um maior teor de finos nos agregados
Q1A e Q2A.
O índice de consistência obtido com cada uma das argamassas foram 262,2 mm para TNR, 261,0 mm
para TQ1R, 257,0 mm para TQ2R, 260,0 mm para TNA, 262,9 mm para TQ1A e 258,7 mm para
TQ2A. Esse resultado sugere que o aumento no teor de cal, nas argamassas de assentamento, pode
ter contribuído para a formação de argamassas mais plásticas. Embora a proporção de aglomeran-
tes/agregados permaneça 1:3, em ambas as argamassas, a incorporação de maior teor de cal aumenta
a quantidade de partículas mais nas na argamassa, que irão demandar maior quantidade de água, e
também facilitar a sua fluidez.
A retenção de água nas argamassas foi de 91,95% para TNR, 90,65% para TQ1R, 93,44% para TQ2R,
93,24% para TNA, 91,47% para TQ1A e 93,51% para TQ2A.Todas as argamassas receberam a
mesma classificação, U5, conforme os limites estabelecidos na NBR 13281 [21] exceto a argamassa
TQ1R que foi classificada como U4. Estes resultados indicam alta capacidade de retenção de água
das argamassas. Como esperado o aumento no teor de cal como aglomerante permitiu maior retenção
de água nas argamassas de assentamento. Agregados que apresentam maiores teores de partículas
finas podem ser alternativas para aumentar a retenção de água nas argamassas pois elas auxiliam no
confinamento ou aprisionamento do líquido [22]. Comparando os materiais, as argamassas de assen-
tamento e de revestimento apresentaram maior retenção de água para os traços produzidos com o
agregado Q2A, seguido do agregado AN sendo o agregado Q1A o que apresentou os menores valores.
Este resultado condizente com os valores obtidos para o ensaio de teor de material pulverulento.
O resultado para o ensaio de densidade de massa no estado fresco foi 1546,9 kg/m³ para TNR, 1532,1
kg/cm³ para TQ1R, 1576,9 kg/m³ para TQ2R, 1438,6 kg/m³ para TNA, 1555,4 kg/m³ para TQ1A,
1537,3 kg/m³ para TQ2A. As argamassas de assentamento e revestimento produzidas com o agregado
AN e com os agregados Q1A e Q2A apresentaram valores próximos em torno de 1500 kg/m³ exceto
para o traço TNA cujo resultado foi, aproximadamente, 1440 kg/m³. O aumento na relação cal/ci-
mento diminui a densidade da argamassa e aumenta o consumo de água [23]. Martins [24] apresenta
resultados para a densidade de massa de argamassas dosadas em volume com proporção de 1:1:6
como sendo, aproximadamente, 1950 kg/m³.
A Figura 1, apresentada a seguir, mostra os resultados para absorção de água por capilaridade dos
corpos de prova nos tempos de 10 e 90 minutos. A Figura 2 mostra o coeficiente de capilaridade das
argamassas.
revestimento e o TQ1A para as argamassas de assentamento. Este resultado pode estar associado ao
maior teor de partículas nas que preencheram os poros produzindo uma matriz mais resistente. O
valor encontrado para resistência a compressão das argamassas é apresentado na Figura 4, a seguir.
O agregado natural e composto basicamente por sílica (SiO2), alumina (Al2O3), óxido de ferro (Fe2O3)
e óxido de potássio (K2O) sendo este último em menor quantidade. As amostras de quartzito friável
apresentaram predominância por sílica e óxido de potássio. Quando no estado bruto a amostra Q1B
tem aproximadamente 93,4% de SiO2 e 4,9% de K2O, enquanto a amostra Q2B apresenta teores de
83,0% e 14,30% para os mesmos elementos. Percebe-se que qualquer das frações, no estado bruto ou
após o peneiramento, os agregados de quartzito apresentam teores de sílica superiores ao agregado
natural, sendo o agregado Q1A com maior teor de sílica e com considerável teor de óxido de potássio
enquanto o agregado Q2 eleva o teor de óxido de potássio reduzindo a sílica. Na difração de raios X
foram encontrados os resultados mostrados na Figura 5, apresentada a seguir.
No quesito de análise ambiental as argamassas TQ1R e TQ2R foram classificadas como resíduo
classe IIB - não perigoso e inerte. O resultado indica a presença de teores de potássio e alumínio em
limites superiores aos normativos. Da mesma forma espera-se que as argamassas de assentamento
apresentem mesma a classificação obtida para as argamassas de revestimento. A argamassa de reves-
timento produzida com o agregado AN obteve mesma classificação (resíduo classe IIB).
3. CONCLUSÃO
Os agregados de quartzito friável, quando no estado bruto, não apresenta características desejáveis
para aplicação como agregados na produção de argamassas com excesso de partículas nas (menores
que 0,075 mm), o que demonstra a necessidade de um processo de beneficiamento antes de sua apli-
cação como agregado.
Os materiais AN, Q1A e Q2A apresentam módulo de finura dentro dos limites ótimos (2,20 ≤ MF ≤
2,90) e mesma dimensão máxima característica (DMC = 2,4mm). O AN apresentou distribuição den-
tro faixa que descreve o limite utilizável e os agregados Q1A e Q2A dentro da faixa que descrevem
o limite ótimo. Quanto ao teor de material pulverulento, após o processo de beneficiamento, os agre-
gados Q1A e Q2A apresentaram teores inferiores aqueles obtidos para AN e dentro dos limites nor-
mativos (inferior a 5%). Os agregados AN, Q1A e Q2A não apresentaram impurezas orgânicas em
quantidade suficientes significativas.
As argamassas produzidas com AN, Q1A e Q2a apresentam mesma trabalhabilidade e um mesmo
consumo de água para fluidez determinada independente do agregado utilizado. O aumento no teor
de cal como aglomerante permitiu maior retenção de água nas argamassas de assentamento, classifi-
cando-as como argamassas como alto potencial de retenção de água (maior de 90%). A densidade de
massa obtida para as argamassas de assentamento e revestimento, no estado fresco, variaram de
1438,6 kg/m³ a 1576,9 kg/m³ que as classifica como argamassas do tipo 3.
A densidade de massa, no estado endurecido, encontra-se entre 1329,5 kg/m³ a 1377,2 kg/m³ o que
permite classificá-las como argamassas do tipo 3. Todas as argamassas em relação ao coeficiente de
capilaridade podem ser classificadas como do tipo 6, exceto a argamassa TNR que é classificada
como tipo 4. O resultado obtido para a resistência à tração na flexão, para todos os tratamentos, foi
inferior a 1,5 MPa o que classifica todas as argamassas como do tipo 1. Observa-se que os valores
para resistência à tração foram superiores para as argamassas de revestimento. Os resultados obtidos
para a resistência a compressão, para os tratamentos TNR (2,09 MPa), TQ1R (2,59 MPa) e TQ2R
(2,78 MPa) classificam estes tratamentos como argamassas do tipo 2. Os resultados obtidos para a
resistência a compressão, para os tratamentos TNA (0,94 MPa), TQ1A (1,22 MPa) e TQ2A (1,02
MPa) classificam estes tratamentos como argamassas do tipo 1.
Os resultados obtidos para expansibilidade pelo método acelerado por exposição à solução de NaOH
mostrou serem os agregados Q1A e Q2A inertes, o mesmo comportamento pode ser observado para
AN, em análise comparativa, sendo todos os valores inferiores a 0,10% aos 30 dias, estabilidade
relacionada aos altos teores de sílica.
A análise química por FRX apontou a presença de teores de potássio sob a forma de óxidos de 5,64%
para Q1A e 16,07% para Q2A, o que justifica a estabilidade dimensional e a integridade dos corpos
de prova submetidos a determinação de expansibilidade pelo método acelerado.
As argamassas de revestimento TQ1R e TQ2R apresentam matrizes, morfologicamente idênticas, e
menos porosas comparativamente a TNR. A argamassa TQ1A apresenta estrutura menos porosa que
as argamassas TNA e TQ2A; sendo a matriz de TQ1A influenciada pelo maior teor de materiais finos.
Todas as argamassas produzidas foram classificadas como classe II-B, não perigoso e inerte. A utili-
zação dos agregados Q1A e Q2A não alteram a classificação ambiental das argamassas comparativa-
mente aquelas produzidas com AN.
Uma análise econômica preliminar indica viabilidade para substituição dos agregados AN por agre-
gados Q1A e Q2A. A utilização de Q1A e Q2A em substituição a AN significa uma redução de 34,4%
nos custos de produção dessas argamassas.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e apresen-
tação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de Pesquisa
em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.
REFERÊNCIAS
[1] ANEPAC, “Anuário ANEPAC 2012,” Associação Nacional das Entidades de Produtores de Agregados
para Construção Civil, São Paulo , 2012.
[2] L. Barros, “Utilização de rejeito de barragem de minério de ferro como matéria prima para infrasestrutura
rodoviária,” Universidade Federal de Ouro Preto (Dissertação de Mestrado), Ouro Preto, 2013.
[3] W. C. Fontes, “Rejeito de barragem de minério de ferro como agregado reciclado para argamassas de
revestimento e assentamento,” Universidade Federal de Ouro Preto (Dissetação de Mestrado), Ouro
Preto, 2013.
[4] R. Januzzi, “Modelagem do comportamento mecânico de blocos e prismas produzidos com escória de
aciaria elétrica para alvenaria estrutural,” Universide Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2014.
[5] R. A. F. Peixoto, D. Diniz e J. R. Oliveira, “Caracterização do resíduo de manta cerâmica usada para
isolamento térmico e sua utilização na fabricação de argamassa,” Revista da Escola de Minas, vol. 1, pp.
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[8] ABNT, “NBR NM 248 (2003) - Determinação da composição granulométrica,” Associação Brasileira
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[9] ABNT, “NBR NM 46 (2003) - Determinação do material fino que passa através da peneira de 0,075 mm
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[10] ABNT, “NBR NM 49 (2001) - Agregado fino - Determinação de impurezas orgânicas,” Associação
Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2001.
[11] ABNT, “NBR 13276 (2005) - Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos - Preparo
da mistura e determinação do índice de consistência,” Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio
de Janeiro, 2005c.
[12] ABNT, “NBR 13277 (2005) - Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos -
Determinação da retenção de água,” Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2005d.
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[14] ABNT, “NBR 15259 (2005) - Armagassas para assentamento e revestimento de paredes e tetos -
Determinação da absorção de água por capilaridade e do coeficiente de capilaridade,” Associação
Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2005b.
[15] ABNT, “NBR 13280 (2005) - Armagassas para assentamento e revestimento de paredes e tetos -
Determinação da densidade de massa aparente no estado endurecido,” Associação Brasileira de Normas
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[16] ABNT, “NBR 13279 (2005) - Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos -
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[17] ABNT, “NBR 15577-4 (2009) - Agregados - Reatividade álcali-agregado Parte 4: Determinação da
expensão em barras de argamassa pelo método acelerado,” Associação Brasileira de Normas Técnicas,
Rio de Janeiro, 2009.
[18] ABNT, “NBR 10004 - Resíduos sólidos - Classificação,” Associação Brasileira de Normas Técnicas,
Rio de Janeiro, 2004a.
[19] ABNT, “NBR 10006 (2004) - Procedimento para obtenção de extrato solubilizado de resíduos sólidos,”
Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2004b.
[21] ABNT, “NBR 13281 (2005) - Revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgânicas —
Requesitos,” Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, 2005g.
[23] N. G. Silva, “Argamassa de revestimento de cimento, cal e areia britada de rocha calcária,” Universidade
Federal do Paraná (Dissertação de Mestrado), Curitiba, 2006.
[24] A. Martins Neto e J. Djanikian, “Aspectos de desempenho da argamassa dosada em central,” Escola
Politécnica da USP (Boletim Técnico), São Paulo, 1999.
[25] C. de Freitas, “Argamassas de revestimento com agregados miúdos de britagem da região metropolitana
de Curitiba: propriedades no estado fresco e endurecido,” Universidade Federal do Paraná (Dissertação
de Mestrado), Curitiba, 2010.
[26] ABNT, “NBR 15577-1 (2008) - Reatividade álcali-agregado - Parte 1: Guia para avaliação da reatividade
potencial e medidas preventivas para uso de agregados em concreto,” Associação Brasileira de Normas
Técnicas, Rio de Janeiro, 2008.
DESEMPENHO DE ARGAMASSAS COM ESCORIA DE FORNO PANELA
EM SUBSTITUIÇÃO À CAL HIDRATADA
Ana Luiza Borges Marinho1, Laís Cristina Barbosa Costa2, Arthur Silva Santana Castro3, Ricardo
André Fiorotti Peixoto4, Fernando da Silva Souza5
Resumo:
A construção civil é um dos setores da economia brasileira com maior consumo de matérias-primas.
Dessa forma, a utilização de coprodutos e resíduos de diversas indústrias, como insumos em
elementos da construção civil tem o potencial de mitigar os impactos ambientais de ambos os setores.
Dentre estes resíduos está a escória de forno panela, gerada durante refino secundário do aço. Esse
subproduto é composto majoritariamente por óxido de cálcio, assim como a cal hidratada que é
empregada na fabricação de argamassas, com a finalidade de melhorar diversas propriedades da
matriz. Dessa forma, o objetivo desse estudo é avaliar a performance de argamassas produzidas com
a escória de forno panela em substituição total à cal hidratada. Inicialmente, o resíduo foi
caracterizado física e quimicamente, sendo analisado quanto a todas as exigências normativas de uma
cal para argamassas. Para esse fim, foram produzidas argamassas mistas para assentamento e
revestimento com cimento Portland e um ligante secundário, sendo elas: sustentáveis, com
aglomerante de escória de forno panela, e de referência, com cal hidratada. Além de estudar essas
misturas quanto a sua performance mecânica, as mesmas foram avaliadas quanto às propriedades
físicas mais relevantes para a fabricação de argamassas, como retenção e absorção de água e
densidade. As argamassas sustentáveis demandaram menos água para atingir a mesma
trabalhabilidade que a de referência e apresentaram um comportamento mecânico similar. Além
disso, foram observadas reduções na absorção de água no estado endurecido. Assim, foi comprovada
a viabilidade da utilização desse material como ligante em argamassas de revestimento e
assentamento.
Palavras-chave: Escória de forno panela, Argamassa, Aglomerantes.
Abstract:
The civil construction is one of the Brazilian sectors with one of the highest raw materials
consumption rate. In this sense the use of byproducts and residues coming from various industries as
inputs in civil construction elements has the potential of mitigating the environmental impacts from
both sectors. Amongst these residues is the ladle furnace slag, which is generated during steel
secondary refining. This byproduct is mainly composed by calcium oxide, the same way as the
hydrated lime which is used to produce mortars, aiming to enhance various properties of the matrix.
Thus, the goal of this study is to assess the performance of mortars produced with ladle furnace slag
in full replacement of the hydrated lime. Initially, the residue was characterized physically and
chemically and was then analyzed according to Brazilian standards for limes used in mortars. In this
sense, coating and laying mortars were produced using Portland cement and a secondary binder,
being: sustainable, with ladle furnace slag, and reference, with hydrated lime mortar for comparison
purposes. Besides studying these mixtures’ mechanical performance, we evaluated them for the most
relevant physical properties for the production of mortars, as water retention, water absorption, and
density. The sustainable mortars demanded less water to attain the same workability as conventional
mortars, and they presented a mechanical behavior similar to the reference. In addition, water
absorption in the hardened state was lower. This study then verifies the feasibility of using this residue
as a binder for coating and laying mortars.
Keyword: Ladle furnace slag, mortar, binder.
1. INTRODUÇÃO
O segmento da construção civil no Brasil é um dos maiores consumidores de matérias primas naturais,
contribuindo, assim, de forma considerável para a degradação do meio ambiente. Calcário, agregados,
argilas são algumas das fontes principais de grande parte dos materiais utilizados em larga escala nos
canteiros de obra. O consumo de água e energia também é grande quando leva-se em consideração o
processo de beneficiamento destes insumos. É também importante citar que a geração de resíduos se
torna um aspecto significativo quando se avalia todo o processo. Pensando na indústria da siderurgia,
a geração de resíduos é constante e em grande escala, sendo ela, também, responsável por elevado
impacto no meio ambiente. Nos processos pirometalúrgicos, além da fase líquida constituída pelo
banho metálico, está quase sempre presente uma fase líquida de natureza não-metálica, denominada
escória [1].
Devido à pressão do mercado, a construção civil demanda a cada ano materiais de construção e
técnicas mais eficientes. No Brasil, a utilização de argamassas de assentamento e revestimento à base
de cal hidratada é comum devido ao método construtivo de vedação em alvenarias amplamente
difundido no país. Isto ocorre, principalmente, em habitações de média e baixa renda, onde os
conglomerados à base de cimento e agregados minerais perfazem 20% do custo médio das obras [2].
As propriedades das argamassas, tanto de assentamento quanto de revestimentos de alvenarias, são
essenciais para a qualidade e durabilidade das obras em que são utilizadas [3].
Tendo isso em vista, a engenharia deve se aproximar das reais necessidades humanas, principalmente
porque a indústria da construção civil é protagonista no cenário atual de poluição ambiental [4]. Dessa
forma, a substituição de materiais, tendo como foco a reciclagem de resíduos, se faz cada vez mais
necessária e presente nos dias atuais. Assim, o presente trabalho objetiva estudar a produção de um
aglomerante sustentável: a viabilidade técnica do uso escória de forno panela processada (EFPP) em
substituição à cal hidratada para argamassas de revestimento e assentamento.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Materiais
A cal hidratada ou aérea utilizada no experimento foi a cal hidratada CHI, tipo cálcica, utilizada
devido à elevada pureza do material. As propriedades físicas da cal utilizada, disponibilizadas pelo
fabricante, podem ser visualizadas na Tabela 1, apresentada abaixo.
Parâmetro Resultado
O cimento CP II Z-32, segundo prescrições normativas estabelecidas pela NBR:11578 [5], foi
utilizado como um dos aglomerantes na produção das argamassas. O CPII-Z-32 foi utilizado pois
leva em sua composição até 10% de material carbonático e de 6 a 14% de pozolana, material que
proporciona uma maior impermeabilidade ao concreto e à argamassa, que por consequência garante
uma maior durabilidade. As propriedades químicas, físicas e mecânicas do cimento, disponibilizado
pelo fabricante, podem ser visualizadas na Tabela 2.
Tabela 2 - Propriedades físicas, químicas e mecânicas do cimento
Parâmetro Resultado
3 dias 22,89
Resistência à
compressão (MPa)
7 dias 29,39
28 dias 34,94
A areia utilizada como agregado miúdo foi extraída no município de Ponte Nova, Minas Gerais,
advinda do Rio Piranga. A amostra utilizada possui partículas com diâmetro inferior a 4,75 mm,
obtidas por processo de peneiramento. A areia foi seca em estufa a fim de não adicionar umidade na
mistura. A massa unitária da areia utilizada é de 1407 kg/m3.
O aglomerante ecológico utilizado no experimento foi a escória de forno panela processada (EFPP),
obtida da escória de forno panela bruta (EFPB), oriundo de usinas siderúrgicas da região sudeste do
país.
2.2. Métodos
O programa experimental constituiu em inicialmente em processar a EFPB a fim de produzir o
aglomerante ecológico. O material foi processado para retirada de constituintes metálicos em rolo
magnético INBRAS (HF CC ϕ12” X12”) até que a fração metálica retida no cone fosse inferior à 1%
da massa inicial da amostra.
Com o objetivo de produzir materiais idênticos granulometricamente aos aglomerantes convencionais
e a fim de produzir um aglomerante que possa substituir as cales nas argamassas mistas, a EFPB após
separação magnética foi separada em frações granulométricas de interesse, através de peneiramento.
Utilizou-se o material retido nas peneiras de n° 30, 50, 100, 200 e o material moído passante na
peneira de n°200. A porcentagem de cada fração utilizada encontra-se detalhada na Tabela 3.
Com o objetivo de se produzir aglomerantes com partículas com tamanhos médios idênticos, moeu-
se a fração de EFP com diâmetro menor que 0,075 mm em moinho de bolas, dando origem à EFPP.
Para a moagem, utilizou-se jarros e corpos moedores em aço inox. Estabeleceu-se tempo de moagem
padrão de 10 minutos no moinho de baixa eficiência (MARCONI MA500).
Tabela 3- Distribuição granulométrica da EFPP
EFPP
Peneira
(%)
Para a caracterização física dos aglomerantes, cimento, cal hidratada e EFPP, foram realizados os
ensaios de massa específica e massa unitária de acordo com as normas NBR NM 23:2000 [6] e NBR
NM 45:2006 [7], respectivamente. O resultado condiz à média de 6 determinações para cada ensaio
e cada material.
Para as amostras de EFPP e cal hidratada foram realizados ensaios de difração de raios X (DRX) para
a determinação das suas respectivas composições mineralógicas e ensaios de fluorescência de raios
X (FRX) para a determinação de suas respectivas composições químicas. Os equipamentos utilizados
foram, respectivamente, o modelo Empyrean, da marca Panalytical com radiação CuKa, tensão de 45
KV, corrente de 40 mA, com passo angular de 0,02 e tempo por passo de 20 segundos, com ângulo
2𝜃 percorrido entre 4 – 80o; e o Rayny EDX 720, da marca Shimadzu. Foram utilizadas frações
granulométricas abaixo de 0.075 mm para a caracterização química e mineralógica de todos os
aglomerantes, conforme recomendações dos equipamentos.
A fim de caracterizar o tipo de cal ao qual a EFPP mais se aproxima, foi realizada a avaliação de
índice de hidraulicidade. O índice de hidraulicidade correlaciona teores de sílica, ferro e alumina em
relação aos teores de cálcio e magnésio. Cales hidráulicas podem apresentar hidraulicidade entre 0,1
< i < 0,5; variando de fracamente hidráulica a muito hidráulica e as cales hidratadas, caracterizadas
como cales aéreas, variando entre 0 e 0,1, conforme demonstrado por [8]. O processo de
endurecimento das argamassas pode ser definido como função da hidraulicidade do ligante. O índice
de hidraulicidade foi obtido através das análises de FRX e é dado pela Equação 1:
Para avaliação da substituição da cal hidratada pela EFPP, analisou-se as exigências da NBR
7175:2003 [9], que fixa as características da cal hidratada destinada a ser empregada na produção de
argamassas na construção civil. Dessa maneira, a cal hidratada e a EFPP foram avaliadas de acordo
com os parâmetros indicados na Tabela 4.
Tabela 4 - Ensaios realizados com a cal hidratada e EFPP
Ensaio Norma Limites NBR 7175 para CHI
Após a produção das argamassas, as mesmas foram ensaiadas nos estados fresco para retenção de
água e densidade de massa. Em sequência, as argamassas foram caracterizadas no estado endurecido,
sendo avaliadas quanto a absorção de água, resistência à compressão, resistência à tração na flexão,
módulo de elasticidade dinâmico e densidade de massa. A Tabela 6 a seguir mostra a relação dos
ensaios realizados. Em todas as análises, foi realizada cura ao ar, mais próxima das condições de
aplicação que as argamassas estão expostas. Os corpos de prova foram submetidos a condições de
umidade relativa de 65±5% e temperatura e 20±5°C.
Tabela 6 - Ensaios executados com argamassas nos estados fresco e endurecido
Todos os ensaios foram realizados com corpos de prova aos 28 dias de idade. Na determinação da
resistência à compressão e a tração na flexão, para cada tipo de traço foram rompidos 4 corpos de
prova. O equipamento utilizado para o ensaio de resistência à compressão foi a prensa EMIC, modelo
DL 20000, e a célula de carga de capacidade de 200 kN; e o mesmo equipamento foi utilizado para o
ensaio de resistência à tração na flexão, mas com célula de carga com capacidade de 20 kN. O ensaio
para a determinação do módulo de elasticidade dinâmico foi conduzido pelo método ultrassônico,
sendo realizado utilizando 4 corpos de prova cilíndricos para cada tipo de argamassa. O equipamento
utilizado foi o modelo Tico da fabricante PROCEQ, de 54 kHz de frequência.
3. RESUTALDOS E DISCUSSÕES
3.1. Caracterização física dos materiais
Os resultados obtidos na caracterização física dos materiais são apresentados na Tabela 7.
Tabela 7 - Resultados da caracterização física
EFPP Cal hidratada
Os resultados obtidos da massa unitária e da massa específica para EFPP são maiores em relação aos
demais tratamentos, o que pode ter relação com a composição mineralógica de cada um dos materiais,
como será visto à frente, como também com seus vazios e poros permeáveis. De acordo com [21], a
massa especifica está diretamente relacionada à distribuição granulométrica, superfície especifica e
materiais constituintes.
3.2. Caracterização química e mineralógica dos materiais
As análises de fluorescência de raios X apresentaram resultados mostrados na Tabela 8 a seguir.
Tabela 8 - Resultados do FRX
Cal
Óxido EFPP
Hidratada
K2O 0,5%
MgO 6,2%
TiO2 0,4%
MnO 0,5%
A partir dos resultados obtidos da FRX, observa-se que a EFPP é composta principalmente por óxido
de cálcio (CaO), sílica (SiO2) e óxido de magnésio (MgO). A cal hidratada possui em quase sua
totalidade óxido de cálcio (CaO).
Conforme apresentado na Tabela 8, os resultados obtidos de FRX, compõem o índice de
hidraulicidade para os respectivos materiais (Equação 1). O resultado para o índice de hidraulicidade
foi de 0,42 para a EFPP e 0,03 para a cal hidratada. Sendo o resíduo classificado, assim, como material
muito hidráulico. A hidraulicidade para a cal hidratada, como era de se esperar, reafirma
características de aglomerante aéreo para o material.
A seguir, na Tabela 9, indica-se os principais compostos cristalinos identificados por DRX nas
amostras, por meio da técnica de refinamento de Rietveld.
Tabela 9 - Composição mineralógica da cal hidratada e EFPP
Quantidade (%)
Componentes Fórmulas
EFPP Cal hidratada
Resistência à compressão
5,08 2,23 3,78 1,93
(MPa)
Módulo de elasticidade
9,87 8,05 7,58 5,39
dinâmico (GPa)
Os resultados apontam que argamassas a base de EFPP são mais densas quando comparadas com as
convencionais, o que se deve à característica dos elementos que compõem esse material, conforme
mostrado anteriormente pelas análises de FRX.
Em geral, as argamassas de revestimento e assentamento à base de cal hidratada apresentaram maior
absorção de água, o que pode significar maior permeabilidade, o que é coerente com a menor
resistência à compressão. Os traços compostos com a EFPP apresentaram melhor comportamento à
compressão, cerca de 30% maior, quando comparados à cal hidratada, provavelmente em função
também do melhor envolvimento dos grãos pelos produtos de hidratação do cimento e da EFPP.
No geral, os traços compostos com a EFPP apresentaram módulo de elasticidade superior, fato
esperado devido ao desempenho mecânico à compressão e tração na flexão ligeiramente superiores
quando comparados com as argamassas com cal hidratada. Os resultados obtidos estão em
concordância como os achados de [23].
4. CONCLUSÃO
A escória de forno panela processada (EFPP) apresentou, fisicamente, valores superiores ao da cal
hidratada, quando avaliada em relação à massa específica e massa unitária. Em relação às exigências
normativas da NBR 7175:2003 [9], a EFPP atende aos requisitos. As argamassas produzidas com
EFPP apresentaram resultados satisfatórios e, em alguns casos, como resistência à compressão,
superiores aos das argamassas com cal hidratada nas avaliações referentes aos estados fresco e
endurecido. Concluiu-se também que embora a quantidade de água necessária para a produção das
argamassas sustentáveis foi menor, sua trabalhabilidade foi equivalente à das argamassas de
referência.
Os resultados obtidos permitiram avaliar que a EFPP utilizada como aglomerante em argamassas de
revestimento e assentamento é uma alternativa tecnicamente adequada. Existe ainda as vantagens da
diminuição dos impactos ambientais provenientes da indústria siderúrgica e da redução do consumo
de recursos naturais pelo setor da construção civil.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.
REFERÊNCIAS
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TÉCNICAS, Rio de Janeiro, 2003.
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NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro, 2000.
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[12] ABNT, “NBR 9206: Cal hidratada para argamassas - Determinação da plasticidade,” ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro, 2003.
[13] ABNT, “NBR 9207: Cal hidratada para argamassas - Determinação da capacidade de incorporação de areia no
plastômetro de Voss,” ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro, 2000.
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de água,” ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro, 2005.
[16] ABNT, “NBR 13278: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos - Determinação da densidade
de massa e do teor de ar incorporado,” ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro,
2005.
[17] ABNT, “NBR 15259: Argamassa de assentamento e revestimento para paredes e tetos - Determinação da absorção
de água por capilaridade e do coeficiente de capilaridade,” ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, Rio de Janeiro, 2005.
[18] ABNT, “NBR 13279: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos - Determinação da resistência
à tração na flexão e à compressão,” ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro,
2005.
[19] ABNT , “NBR NM 58: Concreto endurecido - Determinação da velocidade de propagação ultrassônica,”
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS , Rio de Janeiro, 2003.
[20] ABNT, “NBR 13280: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos - Determinanção da
densidade de massa aparente no estado endurecido,” ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
Rio de Janeiro, 2005.
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Federal do Paraná, 2006.
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partir de curvas granulométricas - Tese (Doutorado), São Paulo: Escola Politécnica, Universade de São Paulo, 1999.
[23] N. G. SILVA e V. C. CAMPITELI, Correlação entre módulo de elasticidade dinâmico e resistências mecânicas de
argamassas de cimento, cal e areia., Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, 2008, pp. 21-35.
Rosana Márcia de Resende Mol 1, Aline Santana Figueiredo 1, Keoma Defáveri do Carmo e
Silva1, Junio Oliveira dos Santos Batista 1, Ricardo André Fiorotti Peixoto 1
1 Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil, alinesantanafigueiredo@gmail.com
Resumo: O uso de placas de revestimento de gesso (conhecidas como drywall) tem se tornado cada
vez mais comum, visto que estas apresentam diversas vantagens como rapidez e facilidade na
instalação, regularidade dimensional e superfície lisa. Além disso, bom isolamento térmico e
acústico, resistência à umidade e ao fogo com grande durabilidade em ambientes internos (paredes,
forros e revestimentos). A atividade industrial da construção civil é grande consumidora de matérias
primas e, recentemente, a questão ambiental tem ganhado cada vez mais importância neste setor. A
utilização de materiais reciclados ou reaproveitados é cada vez mais necessária e cria atrativos para
o desenvolvimento e valoração dos produtos desta indústria, promovendo ganhos a todos
envolvidos. Desta forma, este projeto propõe o desenvolvimento de um material compósito
termicamente eficiente e resistente ao fogo para alvenarias modulares, produzidos com rejeitos da
indústria da mineração de ferro e quartzito. Os rejeitos da mineração de ferro são as fibras de vidro,
empregadas como elemento construtivo e portante para estruturas de apoio. Os rejeitos da
mineração de quartzito são os quartzitos friáveis, camadas superiores que compõem os inservíveis
desta atividade mineradora. O material compósito proposto possui como matriz uma argamassa de
gesso comercial e areia de argila expandida, aditivada com os resíduos e moldados sob a forma de
placas, a exemplo das placas de gesso comercialmente disponíveis. Todos os materiais utilizados
para construção das placas foram caracterizados segundo suas propriedades físicas, químicas e
morfológicas. As placas foram submetidas a um programa experimental para determinação de suas
propriedades mecânicas, isolamento térmico e resistência ao fogo comparativamente às placas de
gesso de referência. Os resultados obtidos indicaram desempenho semelhante para as placas
aditivadas com resíduos em relação às convencionais, mostrando que tais adições podem não só
produzir peças mais econômicas como mais eficientes ambientalmente.
Abstract: The use of plasterboard (known as drywall) has become increasingly common, as these
have several advantages such as speed and ease of installation, dimensional regularity and smooth
surface. In addition, good thermal and acoustic insulation, resistance to humidity and fire with great
durability in internal environments (walls, linings and coatings). The industrial construction
industry is a major consumer of raw materials, and recently the environmental issue has gained
increasing importance in this sector. The use of recycled or reused materials is increasingly
necessary and creates attractions for the development and valuation of the products of this industry,
promoting gains to all involved. Thus, this project proposes the development of a thermally efficient
and fire resistant composite material for modular masonry, produced with tailings from the iron and
quartzite mining industry. The tailings of iron mining are glass fibers, used as a constructive
element for supporting structures. The tailings of quartzite mining are the friable quartzites, upper
layers that make up the unserviceable ones of this mining activity. The proposed composite material
has a commercial plaster mortar and expanded clay sand, added with the residues and molded in the
form of slabs, such as commercially available plasterboard. All the materials used to construct the
plates were characterized according to their physical, chemical and morphological properties. The
plates were submitted to an experimental program to determine their mechanical properties, thermal
insulation and fire resistance compared to reference gypsum boards. The results obtained indicated
similar performance for the waste additive plates compared to conventional ones, showing that such
additions may not only produce more economical but more environmentally efficient parts.
1. INTRODUÇÃO
Com a produção de resíduos sólidos pelas indústrias, gera-se um problema ambiental no que se
refere ao seu descarte e armazenamento, tornando-se assim essencial a busca de formas para sua
reutilização. A indústria da construção civil é canteiro fértil para aplicação de novos materiais
desenvolvidos de forma sustentável, a partir da reciclagem e reutilização de rejeitos industriais.
Casos de sucesso são relatados pela literatura, como matrizes cimentícias produzidas com rejeitos
de siderurgia - escórias de aciaria e com rejeitos de mineração de ferro [1] [2].
Por outro lado, a atividade mineradora de ferro e quartzito são juntas, responsáveis pela geração de
milhões de toneladas de rejeito por ano. A produção de minério de ferro no Brasil foi estimada em
398 milhões de toneladas em 2013, sendo que para cada tonelada de minério de ferro processado
tem-se cerca de 0,4 toneladas de rejeitos [3]. A produção brasileira de rochas ornamentais teria
somado 9,3 milhões de toneladas em 2012, no caso específico do quartzito, estima-se que a
produção brasileira esteja por volta de 600.000 toneladas, sendo a grande maioria em Minas Gerais
[4].
No processo de extração do quartzito, é gerado um grande volume de resíduos, que são divididos
em finos e granulados, sendo esses últimos de dimensão maior que 1 mm, oriundos da etapa de
lavra e desplacamento, nas quais se enquadram os quartzitos friáveis, provenientes da remoção da
camada de estéril. Para esse tipo de rejeito a disposição realizada é o empilhamento [5]. Além das
grandes áreas destinadas a essas pilhas, impactos ao ambiente são gerados no sentido da
preservação da fauna e flora local assim como nascentes, cursos d’água e poluição atmosférica.
Em outro contexto, o sistema Drywall é o mais utilizado para construção de alvenarias e divisórias
na Europa e Estados Unidos, visto que é constituído por placas de gesso com alta resistência
mecânica, térmica e acústica com alto padrão de qualidade. Esse sistema permite ainda, maior
racionalização de operações e custos e da obra como um todo, permitem rapidez de execução, obras
leves, limpas e sem desperdício de materiais, além de oferecer excelente acabamento.
Para melhoria das propriedades de isolamento acústico e térmico, optou-se pelo uso da argila
expandida. As argilas expandidas são compostas por argilominerais, que quando submetidos a altas
temperaturas (1100°C), se expandem, formando em seu interior uma estrutura micro porosa,
produzindo elevada porosidade e taxa de absorção de água, bem como baixa massa específica
aparente, que é uma característica comum dos isolantes térmicos, implicando na redução do peso
das peças. Em relação aos rejeitos de fibra de vidro, optou-se pela incorporação destes,
primeiramente, pelo fato da possibilidade de seu reaproveitamento e visando melhorar
características como tração na flexão, isolamento térmico e resistência a altas temperaturas.
No Brasil, a instalação de fábricas de chapas de gesso para drywall, iniciada em meados dos anos
90, representou um esforço pioneiro visando à modernização da construção civil brasileira,
tradicionalmente caracterizada pelo uso de métodos artesanais, com baixa produtividade, elevados
níveis de desperdício e reduzida valorização da mão de obra. O mercado respondeu positivamente a
essa iniciativa, ainda assim, no que diz respeito à utilização desse sistema construtivo, o Brasil
ocupa posição bastante modesta no cenário internacional.
Pensando em desenvolver placas de gesso para produção de alvenarias tipo drywall, contribuindo
para redução dos impactos da exploração de gipsita e para os processos de construção civil, e, ainda
criando alternativa para destinação técnica e ambientalmente adequada para a mineração de ferro e
quartzito, o objetivo desse estudo é desenvolver placas de gesso aditivadas com rejeitos da
mineração de ferro e de quartzito, que possam apresentar propriedades físicas, mecânicas,
isolamento térmico e resistência ao fogo adequadas, comparativamente às placas de gesso
disponíveis atualmente no mercado.
Desta forma, procedeu-se a caracterização química, física e morfológica dos rejeitos utilizados na
composição das placas, determinação das proporções do rejeito de quartzito e fibras de vidro nas
dosagens e obtenção das propriedades físicas, mecânicas, termo isolantes e de resistência ao fogo
das placas produzidas.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Materiais
O trabalho buscou uma finalidade para o rejeito de quartzito, assim, baseado na literatura existente
sobre o assunto e na composição das placas comerciais foram decididos que os materiais utilizados
seriam gesso, rejeito de quartzito, argila expandida e fibras de vidro.
O gesso utilizado como aglomerante para a produção das placas foi adquirido do comércio em Belo
Horizonte - MG, marca Gesso Padrão, com especificações indicadas pelo fabricante segundo sua
composição química: sulfato de cálcio hemidratado – CaSO4.0,5H2O, impurezas: (< 2%) carbonato
de cálcio, carbonato de magnésio e sais solúveis.
O rejeito de quartzito foi utilizado, neste trabalho, em substituição a parte do gesso na composição
de placas do tipo drywall, sendo este um estéril de rocha de quartzito de uma mineradora localizada
na região metropolitana de Belo Horizonte. Utilizou-se neste trabalho amostras de quartzito
provenientes da mesma jazida. As amostras foram coletadas de forma representativa, conforme
prescrições da NBR 10007 [6] com o auxílio de máquinas de escavação em diferentes pontos de
coleta e enviadas ao Laboratório de Materiais de Construção Civil da Escola de Minas/UFOP em
bombonas plásticas, lacradas e devidamente identificadas. O quartzito usado foi separado
granulometricamente previamente. Santos 2015, produziu argamassas mistas com este estéril de
mineração utilizando frações de dimensões maiores que 0,075 mm. Neste trabalho, então, foi
utilizada a fração inferior a 0,075 mm, que foi seca em estufa por 24 horas a uma temperatura de
aproximadamente 105°C tanto para a caracterização quanto para produção das matrizes.
A argila expandida utilizada como adição na composição das dosagens para a produção das placas
foi doada pela empresa CINEXPAN. As amostras foram segregadas gravimetricamente, sendo
utilizada a faixa entre 1,18 mm e 2,36 mm. Para adição, a argila expandida foi saturada e adicionada
à composição na condição saturada superfície seca.
O rejeito de fibra de vidro utilizado como adição na composição das dosagens para a produção das
placas foi coletado do pátio de rejeito da VALE complexo Tubarão, em Vitória, ES. O rejeito bruto
foi cominuído em trituradores tipo SHREDDER, pela empresa TECSCAN, em Contagem - MG e
estocados em células devidamente lacradas. O material triturado foi segregado granulometricamente
em peneiras e em seguida foi submetido a um novo ciclo de cominuição em um moinho de facas
adaptado. Após este processamento, o material foi classificado para que todo ele apresentasse
dimensões entre 0,075mm e 0,3 mm.
2.2. Métodos
Procedeu-se a caracterização do rejeito de quartzito através de granulometria a laser, utilizando-se
um granulômetro a laser da marca Bettersize, modelo 2000, que aplica um modelo ótico em seus
softwares de análise, baseado na teoria da difração de Fraunhofer; e fluorescência de raios-X com
espectrômetro da marca Panalytical, modelo Epsilon 3x. As dosagens adotadas para a produção dos
compósitos foram:
Tabela 1 - Dosagens
Dosagem Gesso Quartzito Argila Expandida Fibra de vidro
TR 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%
TC 69,5% 20,0% 10,0% 0,5%
Cada material passou por um processo de beneficiamento adequado às condições de uso, que foram
explicitadas na apresentação dos materiais. A avaliação das propriedades físicas e de desempenho
mecânico das placas foi realizada através da determinação da capacidade de absorção de água, de
acordo com a NBR 14717 [7]; resistência à compressão, de acordo com a NBR 12129 [8] e
resistência à ruptura na flexão, de acordo com a NBR 14717 [7]. As propriedades térmicas foram
verificadas através de ensaio de condutividade térmica, utilizando-se procedimentos normalizados
pela NBR 15220 [9] e utilizando para a determinação da condutividade térmica o equipamento
NETZSCH HFM 436 Lambda. Procedeu-se a análise termogravimétrica, para determinação da
perda de massa, com analisador termogravimétrico da marca Shimadzu, modelo DTG – 60H.
Avaliou-se a resistência ao fogo das placas através de ensaio em forno tipo mufla adaptado com
capacidade de temperatura máxima de 1200°C, marca SP Labor, modelo SP 1200, no CEFET-MG
Campus I, Belo Horizonte, MG Para a realização do MEV pós ensaio, o equipamento utilizado foi
um microscópio eletrônico da marca HITACHI, modelo TM3000, com capacidade de ampliação de
até 30.000 vezes.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
grãos de argila expandida, que possuem uma estrutura porosa e bem menos coesa que o gesso puro
endurecido. No entanto, a NBR 13207 [11] que define as exigências físicas e mecânicas para o
gesso para construção civil estabelece que a resistência à compressão deve ser maior que 8,4 MPa,
logo, todos os corpos de prova ensaiados apresentaram desempenho muito satisfatório.
Analisando a imagem nota-se que praticamente não há presença de água livre na amostra da placa
de gesso, visto que não houve perda de massa por volta dos 40ºC, o que é um evento comum em
análises térmicas nesse material. Na temperatura de 100ºC inicia-se a perda de massa relacionada à
perda da água de cristalização existente no gesso, evento esse caracterizado por um expressivo pico
endotérmico. Sua completa finalização ocorre na temperatura de aproximadamente 230ºC, marcada
pela base do pico da curva e esse evento leva a fase anidro III. Essa fase também é conhecida como
anidrita ativa, um produto solúvel, instável e ávido por água, que pode absorver umidade
atmosférica e passar à forma de hemidrato novamente [13].
Um pico exotérmico é observado a 375°C e é característica do hemidrato. A reação exotérmica
representa uma modificação da estrutura da forma hexagonal para a forma ortorrômbica [14], e
ocorre a transição da fase anidro III para anidro II [15]. A partir dos 650ºC nota-se um pequeno
deslocamento na linha de base da curva TGA e também que a curva DTA começa a apresentar
“ruídos”, característica comum ao escape de produtos voláteis. Em seu trabalho, Mélinge [15]
obteve comportamento semelhante e, atribuiu o evento à perda de massa associada, provavelmente,
ao escape de CO2 do CaCO3, contido inicialmente no gesso como impureza. Entre as temperaturas
de 700 e 900ºC forma-se um produto inerte, e a partir dos 900ºC ocorre a dissociação do sulfato de
cálcio com formação do CaO livre [13].
A Figura 7, apresentada a seguir, ilustra o comportamento dos compósitos, segundo gradiente
térmico imposto pela análise térmica.
no gráfico. A sílica sofre pequenas perdas de massa sem nenhum passo individual detectado até
1000ºC [16]. Em torno de 650ºC é detectada uma nova reação que leva a perda de massa associada,
provavelmente, ao escape de CO2 do CaCO3, contido inicialmente no gesso como impureza [15].
Na literatura são descritos vários processos de obtenção da mulita, que se trata de uma estrutura
cerâmica constituída por alumina e sílica, e de acordo com ele, a mulita pode ser formada por
decomposição térmica em temperaturas aproximadas de 1000ºC, caracterizando assim o final da
curva [21].
Na Figura 9 são mostradas as placas do compósito e gesso após o ensaio. Ambas apresentaram
rachaduras em direções preferenciais e secundárias, no entanto a placa do compósito apresentou
menor quantidade de trincas de forma generalizada além de menos escurecimento nas regiões das
extremidades da abertura do forno, apresentando um aspecto bem menos degradado. Esse fato deve-
se à redução do teor de gesso na matriz e aumento dos teores dos óxidos de sílica e alumina. Esses
resultados comprovam que a inserção do rejeito de quartzito contribuiu de forma positiva para
melhoria da estabilidade da matriz, como também os rejeitos de fibra de vidro que contribuíram na
contenção da fissuração.
matriz. A Figura 11 trata-se do gesso, com ampliação de 1000 vezes. São observados os cristais
formados no processo de hidratação, alguns pequenos poros comuns a estrutura e nenhuma
mudança é notada após o aquecimento.
Fig. 11 - MEV placas de gesso. a) pré ensaio, b) pós ensaio.
A Figura 12, a seguir, mostra a matriz do compósito antes e após o aquecimento com ampliação de
500 vezes. Na imagem pré-aquecimento pode ser vista a interface entre um grão de argila expandida
e os cristais do gesso. No pós-aquecimento são observados grãos do quartzito em meio aos cristais
do gesso, ainda bem aderidos uns aos outros.
Fig. 12 - MEV placas de compósito. a) pré ensaio, b) pós ensaio.
Ainda sobre o compósito após o ensaio, a Figura 13 ilustra dois fatos observados. Alguns autores
afirmam que a adição de fibras de vidro e argila expandida aumentam a resistência das placas
quando expostas a altas temperaturas [20]. Sabe-se que as composições das argilas expandidas
podem sofrer algumas variações, no entanto, a adição deste componente na placa não produziu
resultados positivos em relação à resistência a altas temperaturas. O que se observou é que houve
uma variação volumétrica nos grãos de argila expandida, que induziram a um fendilhamento
generalizado nas matrizes, conforme pode se observar na Figura 13.a, com ampliação de 50 vezes,
apresentada. Acredita-se que o dano relacionado só não se apresentou mais efetivo em função da
presença dos rejeitos de fibras de vidro que contribuíram para uma maior estabilidade da matriz,
mostrando que o uso desse rejeito triturado continua atuando como um agente conectante na matriz
quando danificada, conforme observado da figura 13.b, com ampliação de 500 vezes apresentada a
seguir.
Fig. 13 - MEV placas de compósito, detalhes. a) AE, b) FV.
4. CONCLUSÃO
O presente trabalho demonstrou que a inserção de rejeitos de mineração, o quartzito friável e fibras
de vidro, em matrizes de gesso é viável, visto que as propriedades avaliadas nos compósitos
produzidos foram, de uma forma geral, semelhantes à do gesso. A presença dos resíduos de fibras
de vidro indicou resultados satisfatórios, como visto nos resultados do ensaio de ruptura na flexão e
dureza superficial, em que os corpos de prova ensaiados apresentaram apenas pequenas fissuras
após sofrerem as respectivas ações dos ensaios, diferentemente das placas de gesso que se
desintegraram no processo. Acredita-se que as fibras de vidro também contribuíram para redução
nos valores da condutividade térmica, assim como a presença da argila expandida, que de forma
geral, levou a corpos de provas com massas ligeiramente inferiores, mas que por outro lado, elevou
os valores obtidos para a absorção de água como também, contribuiu para redução das resistências a
esforços mecânicos devido a uma possível zona de fragilidade de ligação entre seus grãos e a
matriz. As análises térmicas mostraram que ao final do aquecimento o compósito apresentou uma
perda de massa pouco menor que o gesso, e como visto nas imagens de microscopia para a
definição do traço, as amostras com as adições apresentaram-se em melhores condições e menos
calcinadas ao final do ensaio. O ensaio de resistência ao fogo comprovou a eficiência da inserção
dos rejeitos de fibras de vidro na matriz, agindo como elemento de ligação entre possíveis partes
fissuradas, quanto a argila expandida, sua variação volumétrica teve influência negativa na
performance da matriz. Esse ensaio também mostrou que o rejeito de quartzito teve comportamento
estável perante ao aquecimento, sendo possível sua inserção nas matrizes sem prejuízo à sua
qualidade além de promover um fim nobre ao resíduo.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.
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[18] ASTM, “ASTM E119: Standard Teste Methods for Fire Tests of Building Construction and Materials,”
United States, 2000.
[19] L. F. Vilches, C. Leiva, J. Vale e C. F. Pereira, “Insulating capacity of fly ash pastes used for passive
protection against fire,” Cement & Concrete Composites, pp. 776-781, 2005.
[20] H. Javangula e Q. Lineberry, “Comparative studies on fire-rated and standard gypsum wallboard,” J
Therm Anal Calorim, pp. 1417-1433, 2014.
ADERÊNCIA DE BARRAS DE AÇO EM CONCRETO
CONCRETOS PRODUZIDOS COM
AGREGADOS DE ESCÓRIA DE ACIARIA
Bonding capacity between steel bars and concrete produced with steel slag
aggregates in steel
Resumo:Em 2017, foram gerados dos pela indústria siderúrgica 20,9 milhões de toneladas de resíduos e
coprodutos no Brasil, dentre
entre esses se destaca a escória de aciaria.. Dessa forma, a reciclagem da
escória como agregado para a produção de concretos tem o potencial de reduzir o impacto da
construção civil, que é uma grande consumidora de matéria prima. Entretanto, seu uso em conjunto
com o aço foi pouco estudado, mesmo considerando-se
considerando se que no Brasil o concreto armado é
amplamente utilizado como sistema construtivo. Assim, a proposta deste trabalho é investigar a
aderência entre barras de aço tipo CA em concretos,classe
concretos C20, produzidos a partir da substituição
total dos agregados naturais por agregados artificiais, obtidos do pós-processamento
pós processamento de escória de
aciaria. Os mesmos foram submetidos
submetid a ensaios de caracterização
terização física, nos estados fresco e
endurecido. Por meio desses ensaios, foi possível verificar que os concretos de escória e os
concretos convencionais possuem propriedades mecânicas similares para a mesma classe de
resistência. Para
ra a avaliação da aderência das barras nos concretos fabricados, foram produzidos
modelos utilizando três diâmetros diferentes de barra (8mm, 10mm e 12.5mm) que foram
submetidos ao teste de arrancamento, segundo metodologia Pull-Out
Pull test - Rilem RC6. Obser
Observou-se
que os concretos de escória apresentaram aderência aço-concretoaço concreto próxima aos concretos
convencionais. Também foi observado que a aderência é maior para barras de diâmetros maiores.
Esse estudo mostra, então, o forte potencial do concreto com escória de aciaria para uso em funções
estruturais.
Palavras-chave:aderência aço-concreto;
concreto; arrancamento; escória de aciaria.
Keywords: steel-concrete
concrete adhesion; pull-out; steel slag.
1. INTRODUÇÃO
O setor da construção civil tem um enorme impacto no meio ambiente, visto que suas atividades
levam a um grande nde consumo de matérias-primas,
matérias as quais,as cadeias produtivas apresentam
significativo consumo de energia e recursos. Destaca-se se a fabricação de elementos estruturais de
concreto, onde atividades extrativas são extremamente exigidas,
exigidas, seja na fabricação do cimento
Portland ou para obtenção dos agregados. Observa-se
Observa que em 2015 a construção civil consumiu
mais de 700 milhões de agregados, apenas no Brasil[1].
Brasil Dessa forma, a utilização de resíduos e
coprodutos na produção de matrizes de cimento Portland é uma vertente crescente, devido ao
potencial de reduzir o impacto
cto de dois setores diferentes ao mesmo tempo.
Assim, destaca-se
se a indústria siderúrgica a qual possui importante posição na economia brasileira
tendo produzido em 2017 cerca de 34,4 milhões de toneladas de aço bruto[2].. Da mesma forma,
essa produtividade implica em uma substancial geração de resíduos e subprodutos, sendo que para
cada tonelada de aço bruto produzido são obtidos como consequência 607kg de resíduo, desses 27%
é representado pela escória de aciaria [2]. Por isso, nos últimos anos diversos estudos se dedicaram
d
a incorporar esse resíduo em matrizes cimentícias, principalmente como agregados.
San-José,, Vegas, Arribas e Marcos[3]e
Marcos Monosi, Ruello e Sani[4]estudaram
estudaram concretos com
substituição
ão total de agregados graúdos por escória de aciaria, além de incorporação parcial desse
material em fração de areia, ambos observaram uma resistência à compressão superior aos
convencionais. Outros
tros estudos observaram
observ ram que a incorporação de escória de aciaria como agregado
também auxiliaa na melhora do desempenho do concreto a tração e aumenta sua rigidez [5,4,3].Esse
material também foi estudado como agregado em concretos combinado a adições minerais, a fim de
produzir concretos de alto desempenho
desempenho[6].
Apesar de concreto armado ser um dos sistemas estruturais mais utilizados, na literatura ainda não
foi abordado a interação mecânica dos compósitos produzidos a partir desse resíduo com barras de
aço. O fenômeno da aderência concreto
concreto-aço
aço é fundamental para que o compósito se comporte de
forma uniforme e que os materiais atuem com solidariedade.Sabe-se
solidariedade.Sabe se que a aderência ocorre devido
a adesão, ao atrito e aderência mecânica. Estudos comprovaram que quanto maior a resistência à
compressão maior será o fenômeno de aderência entre concreto-aço[7].
concreto
Por isso, especula-se
se que concretos produzidos com agregados de escória de aciaria possuíram uma
boa interação concreto-aço,
aço, devido as boas propriedades mecânicas desse material. Destaca
Destaca-se que
na literatura os concretos armados (fabricados com escória de aciaria) foram avaliados apenas
quanto a problemas de durabilidade, como corrosão por cloretos [8,9]. Assim, o presente trabalho
objetiva estudar a aderência de barras de aço
a tipo CA50 em concretos fabricados com substituição
total de agregados naturais por agregados de escórias de aciaria através do ensaio de arrancamento
Pull-out. Esse trabalho se apresenta como uma continuidade ao estudo apresentado por Souza et
al[10],, tendo sido executado uma nova bateria de corpos de prova e avançando as análises com o
ensaio de aderência.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Materiais
Os concretos da classe C20 estudados nesse trabalho foram fabricados com dois tipos de agregados:
naturais; e de escória de aciaria. Os agregados naturais foram escolhidos a fim de produzir traços de
referência com finalidade comparativa. A fração areia para ra os agregados naturais é proveniente do
Rio do Peixe, em Ponte Nova (Minas Gerais), enquanto que os agregados graúdos são de gnaisse,
extraídoss na região de Ouro Preto (Minas Gerais).
Para a produção dos agregados de escória de aciaria foi utilizado um resíduo proveniente de uma
usina siderúrgica em Minas Gerais, que funciona de acordo com a metodologia integrada Linz Linz-
Donawitz. Esse material foi estabilizado, para hidratação dos óxidos livres, em pátios abertos por
um período de um ano. O resíduo foi recebido em frações de areia (0 (0-4,8mm)
4,8mm) e brita 00 (4,8
(4,8-
9,5mm). A escória bruta foi utilizada como agregado graúdo sem necessidade de processamentos,
por já se enquadrar nos limites da NBR 7211[11].
72 No entanto, foram necessário
necessários ajustes na fração
areia da escória para se enquadrar as prescrições normativas.
Para os concretos de ambos os tipos de agregados foi escolhido o cimento Portland CP V ARI como
aglomerante,devido
,devido a sua composição com baixa incorporação de adições minerais, a NBR 5733
determina teores inferiores a 5% de adição de filler calcário[12].De
calcário De acordo com informações
apresentadas pelo fabricante, esse cimento possui massa específica de 3,07g/cm³ e área superficial
de 1,69m²/g. Além disso, na fabricação dos concretos foi utilizada água proveniente do sistema de
abastecimento de Ouro Preto.
Para o ensaio de arrancamento, foram utilizados também barras de aço CA50 de três dimensões
diferentes: 8mm; 10mm; e 12,5mm. Essas barras possuem resistência característica de 500MPa e
todas estão em conformidade com os parâmetros de massa linear.
2.1. Métodos
O programa experimental desse estudo dividiu-se
dividiu se em três momentos distintos
distintos. Inicialmente foi
procedido a caracterização dos
os materiais abordados na pesquisa: escória de aciaria, agregados em
geral e as barras de aço. Munidos dessas informações,
informações foram produzidos e moldados os concretos,
para ser realizada a sua caracterização.
caracterização. Por fim, foi realizado o teste de arrancamento a fim de
avaliar a aderência aço-concreto.
concreto.
As barras de aço utilizadas no estudo também foram caracterizadas de acordo com sua suas
propriedades elastomecânicas, sendo realizados ensaios de tensão máxima e tensão de escoamento
de acordo com a NBR 7480 [19]..
(a) (b)
Fig. 1 - (a) Bloco de concreto com a barra de aço posicionado na prensa para sser
er ensaiado (b) Barra preparada
indicando trecho não aderente.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
2.1. Caracterização dos Materiais
Inicialmente é apresentada a composição química da escória de aciaria, Tabela 3. Nota-se que os
principais componentes desse material são, em ordem, CaO, Fe2O3 e SiO2. As partículas de CaO e
Fe2O3 contribuem para a instabilidade volumétrica da escória de aciaria, visto que
q a sua hidratação
forma produtos expansivos [26 26].. No entanto, esse resíduo foi submetido a um processo de
intemperização de um ano, o que indica que esses compostos se apresentam devidamente
hidratados.
Tabela 3- FRX da escória de aciaria
Composto Teor
SiO2 15,2%
CaO 39,3%
Fe2O3 34,6%
MgO 2,0%
MnO 3,3
Al2O3 1,9%
SO3 1,7%
Cr2O3 1,1%
Outros 0,9%
A Fig. 2 apresenta as curvas granulométricas dos agregados miúdos e graúdos utilizados na pesquisa,
naturais e de escória de aciaria. As regiões em destaque no gráfico são as eespecificações para
granulometria
lometria de agregados definidos pela NBR 7211 [11].. Para os agregados miúdos, observa
observa-se
que todos estão enquadrados nas zonas previstas em norma (ótima e utilizável). Destaca
Destaca-se que com
a separação gravimétrica
métrica realizada na areia de escória (areia LD) foi possível construir uma
distribuição dos grãos praticamente toda inserida na zona ótima de norma. Indicando que o
beneficiamento previsto nesse trabalho foi efetivo em construir um agregado cujo diâmetro das
partículas se enquadra nas exigências de norma.
Com relação aos resultados da granulometria dos agregados graúdos, ambos se encontram dentro
dos limites estabelecidos pela NBR 7211 [11].. No entanto, o agregado de escória de aciaria (brita
LD) se posiciona no limite superior da norma, com grãos menores. Enquanto que o agregado
natural (brita Nat) possui uma curva compatível com o limite inferior da zona prevista em norma.
Apesar de grãos menores indicarem uma menor superposição dos agregados com relação a barra de
aço, promovendo assim uma redução na aderência, esse tamanho de grão também influenciará na
tensão aderente através da demanda de água [27].. Assim, não é possível afirmar apenas pela
granulometria qual terá melhor contribuição a interação aço-concreto.
aço
Fig. 2 –Distribuição
Distribuição granulométrica dos agregados utilizados na fabricação dos concretos
Os demais resultados da caracterização física dos agregados são apresentados na Tabela 4. Observa-
se que os agregados de escória de aciaria apresentam massa específica
específica superior aos convencionais
convencionais,
esse resultado era previsto devido aos altos teores de CaO, SiO2 e Fe2O3, que são compostos de
elevada massa [28].. Todos os teores de material pulverulento atendem as prescrições normativas da
NBR 7211. Quanto a absorção de água, observa-se
observa se que as escórias apresentam resultados superiores
provavelmente devido a sua morfologia.
Tabela 4- Ensaios de caracterização física dos agregados
Ensaio Areia Nat Areia LD Brita Nat Brita LD
Massa Específica 2,63 g/cm³ 3,14 g/cm³ 2,71 g/cm³ 3,37 g/cm³
Massa Unitária 1,44 g/cm³ 1,58 g/cm³ 1,42 g/cm³ 1,77 g/cm³
Material Pulverulento 0,58 % 5,51 % 2,04 % 0,11 %
Absorção de água 0,75 % 7,41 % 1,23 % 2,06 %
DMC 4,8 mm 2,4 mm 12,5 mm 9,5 mm
Módulo de Finura 2,60 2,42 6,18 5,84
Quanto à caracterização das barras de aço, a Fig. 3 apresenta os resultados de tensão de escoamento
e tensão máxima para cada diâmetro utilizado. O valor característico de tensão de escoamento das
barras CA50 é 500MPa, dessa forma observa-se
observa se que todas apresentaram resultados superiores. Com
relação a tensão
o máxima, a NBR 7480 estabelece que seu valor tem que ser maior do que 1,08y, 1,08
onde y é a tensão de escoamento [19].. Dessa forma, os limites para as barras de 8mm, 10mm e
12,5mm, respectivamente, seriam: 655,2
655,2 MPa; 610,2 MPa; e 602,64 MPa. Assim, observa observa-se que
todas estavam dentro das exigências normativas.
Fig. 3 - Resultados de tensão de escoamento e tensão máxima das barras de aço CA50
Após o período de cura de 28 dias, os concretos foram classificados quanto as suas propriedades no
estado endurecido. A Fig. 4 apresenta as propriedades físicas dos concretos
concretos fabricados, no estado
endurecido. Nota-sese que o C_LD segue a tendência observada no estado fresco com resultados de
massa específica superiores ao convencional, cerca de 8,2%. Com relação a absorção de água e
índice de vazios, esperava-se
se resultados
resultados superiores nos concretos produzidos com escória de aciaria,
pois foi necessário um maior fator água/cimento para obter trabalhabilidades semelhantes. Ambos
os resultados apresentaram aumentos equivalentes, sendo o índice de vazios 28,9% superior ao
convencional,
encional, enquanto que a absorção de água é 26,6%.
Fig. 4 - Caracterização física do concreto no estado endurecido
As informações relativas às propriedades mecânicas dos concretos são apresentadas na Tabela 6.
Nota-se que ambos os traços possuíram fck superior ao dimensionado, sendo o do convencional
28,6 MPa e o de escória de aciaria30,2 MPa. Apesar dos agregados de escória de aciaria terem
contribuído
tribuído para a melhora de ambos os parâmetros mecânicos apresentados, percebe
percebe-se que sua
influência foi maior quando se avalia a resistência a tração diametral. Os concretos do tipo C_LD
foram 22,6% superior aos convencionais. Nesse sentido, observa-se ainda nda que a razão entre a
resistência à tração e à compressão dos concretos de escória de aciaria é mais próxim
próxima do valor
encontrado na literatura de 10%. A explicação para a melhor performance mecânica está
relacionada a uma menor zona de transição de interface
interface entre os agregados de escória de aciaria e a
argamassa e também ao intertravamento
intertravament promovido pela superfície rugosa do agregado [3,29].
Essas características permitem uma melhora nas propriedades mecânicas.
Tabela 6– Resultados das propriedades mecânicas dos concretos
Resistência à Compressão Resistência à Tração
Razão R. Tração/Compressão
28 dias 28 dias
C_AN 35,2MPa 3,1MPa 8,8%
C_LD 36,8MPa 3,8MPa 10,3%
Os resultados do ensaio de Pull--out test é apresentado na Fig. 5. A partir desse gráfico nota-se, que
de forma geral, os concretos com escória de aciaria tiveram resultados superiores de tensão de
aderência quando comparado aos de referência. Além disso, em ambos os casos se percebe uma
tendência de aumentar a tensão de aderência à medida que o diâmetro aumenta. Os concretos de
escória de aciaria tiveram resultados de resistência à compressão superiores aos de referência em
4,55%, enquanto que a tensão de aderência aumentou 50%, 38,8% e 25% para as barras de 8mm,
10mm e 12,5mmm, respectivamente.
respectivamente Percebe-sese que o aumento da resistência influencia
influ mais os
concretos com barras de aço de diâmetros menores. A aderência é um fenômeno que depende da
colaboração entre o aço e o concreto, atuando de forma conjunta.
conjunta Assim, os melhore
melhores resultados de
resistência
ência a tração diametral permitem que a solidariedade entre os materiais cresça, gerando
melhores resultados.
(a) (b)
Fig. 5 - Resultados do ensaio de Pull
Pull-out (a) C_AN (b) C_LD
3. CONCLUSÃO
O presente trabalho estudou a viabilidade técnica da utilização de concretos produzidos com
agregados de escória de aciaria para fabricação de estruturas de concreto armado. Foi observado
que com a incorporação do resíduo ocorreu uma elevação da massa específica, devido
principalmente a composição química do material, rica em SiO, CaO e Fe2O3. Além disso, esses
concretos se mostraram menos trabalháveis demandando um maior fator água/cimento, que teve
como consequência um aumento na absorção de água e no índice de vazios indicando maior
porosidade nesses concretos.
No entanto, isso não interferiu nas propriedades mecânicas dessas matrizes. Os concretos fabricados
com escória de aciaria apresentaram resultados superiores de resistência a compressão e à tração
diametral. Isso se deve principalmente
princi à superfície rugosa dos grãos que permite maior
intertravamento entre a matriz. Além disso, a razão entre a resistência a tração diametral e à
compressão dos concretos com escória de aciaria aumentou.
Essa melhora nas propriedades mecânicas levou a resultados mais expressivos de tensão de
aderência. Esse fenômeno depende principalmente da maior solidariedade entre os materiais,
resultando em uma melhor interação entre aço-concreto.
aço Observou-se
se que quanto maior o diâmetro
da barra de aço, maior será a tensão de aderência. Além disso, o aumento das resistências
influenciou mais a tensão de aderência de barras de diâmetros menores. De forma geral, percebe
percebe-se
a viabilidade técnica mecânica da utilização de concretos de escória de aciaria junto a barras de aço,
apresentando um bom comportamento mecânico e bons resultados de aderência.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.
REFERÊNCIAS
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Produtores de Agregados para Construção, 2015.
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[16] ABNT, NBR NM 46: Agregados - Determinação do material fino que passa através da peneira 75 micrometro,
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[17] ABNT, NBR NM 30: Agregado miúdo - Determinação da absorção de água.. Rio de Janeiro: Associação
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[18] ABNT, NBR NM 248: Agregados - Determinação da composição granulométrica.. Rio de Janeiro: Associação
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[19] ABNT, NBR 7480: Aço destinado a armaduras para estruturas de concreto armado - Especificação. Rio de
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[20] ABNT, NBR NM 67: Concreto - Determinação da consistência pelo abatimento do tronco de cone.
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[21] ABNT, NBR 9833: Concreto fresco - Determinação da massa específica e do teor de ar pelo método
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[22] ABNT, NBR 9778: Argamassa e concreto endurecidos - Determinação da absorção de água, índice de vazios e
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[28] M.J. Silva et al., "Feasibility Study of Steel Slag Aggregates in Precast Concrete Pavers," ACI MATERIALS
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446, 2016.
How not to observe the ANOVA assumptions can lead to wrong results: a case study
in civil engineering
Daniel Martins Papini Mota1, Octávio Alcântara Torres², Gleidson da Silva Santos³
1
Professor Mestre no Centro Universitário Una Barreiro, Belo Horizonte, Brasil, daniel.papini@prof.una.br
2
Professor Mestre no Centro Universitário Una Barreiro, Belo Horizonte, Brasil, octavio.torres@prof.una.br
3
Aluno de graduação no Centro Universitário Una Barreiro, Belo Horizonte, Brasil, gleidson.santos@outlook.com.br
Abstract: The present paper discusses the applicability of the Kruskal-Wallis non-parametric
statistical test as an alternative to the parametric ANOVA test in situations where there is a violation
of assumptions, especially the assumption of homoscedasticity (constant variance of experimental
errors). Thus the guiding question of this study is: How can nonobservance of ANOVA
assumptions lead to misleading results when performing mean comparison studies? The
methodology used for the study was the bibliographic review of ANOVA and Kruskal-Wallis
statistical techniques and, by way of example, a case study was carried out. For the study of the case
the real data of an axial compression test of the concrete were used in which the test pieces were
treated with three different methodologies of regularization of their faces. In this experiment the
response variable was the axial compressive strength of the concrete, the factor was the type of
treatment used to regularize the faces of the specimens that had three levels (Neoprene, Retífica,
Retífica + Neoprene). The experiment consisted of 30 replicates, totaling 90 tests that were carried
out in a random manner and by the same operator, with the objective of eliminating the effects
condicion of possible noise factors. The results of the experiment were treated in Minitab 18
statistical software. (ANOVA), as well as the verification of the assumptions (homoscedasticity,
normality, constant variance and independence of residues). It was identified the breakdown of the
homoscedasticity assumption, indicating that at least one of the groups (Neoprene, Retífica, Retífica
+ Neoprene) presented different variability of the other groups. Then the non-parametric Kruskal-
Wallis technique was applied, which is indicated for this type of situation. It was observed that the
use of the ANOVA technique would lead to the erroneous conclusion that the specimens
regularized by grinding exhibit lower axial compression strength than those specimens regularized
by grinding + Neoprene. The use of the kruskal-wallis technique leads to the conclusion that there
are no statistically significant differences between the specimens. Thus, it was demonstrated that, in
the case of the experiment studied in this study, the non-observation of ANOVA statistical
assumptions could lead the researcher to erroneous conclusions regarding the comparison of means.
1. INTRODUÇÃO
O concreto é definido como uma mistura de aglomerantes, agregados, água e aditivos em
proporções adequadas, os quais tendem dar forma a estrutura e resistir aos esforços de compressão
quando se solidificam. O concreto pode ser considerado como um dos produtos mais consumidos
pela população, isto é, a taxa de consumo do concreto é dada por 2.700 kg/habitante de concreto. O
custo dele na utilização em obras corresponde a um percentual entre 20% a 30% do custo global da
obra [18].
O controle tecnológico através dos ensaios de resistência à compressão axial é uma garantia de uma
avaliação segura do comportamento mecânico do concreto utilizado nas estruturas. Ao realizar o
ensaio de compressão, deve-se ter cautela, pois o mesmo sofre interferências: no calor final causado
pela velocidade do carregamento, pela calibração errada do equipamento, pela faixa nominal do
manômetro, pela cura do concreto e pela forma de regularização das faces para o ensaio, o qual é
objeto de estudo desse trabalho [12].
A realização do controle tecnológico do concreto, na execução de estruturas de concreto armado,
além de garantir a qualidade do produto recebido em obra, trata-se de uma orientação normatizada
segundo normas e procedimentos de programas de gestão da qualidade tais como: NBR 6118 [7],
PBQP-H [11], NBR NM 33 [2], NBR NM 67 [3], NBR 5738:2015 e no ensaio de resistência à
compressão axial [5].
A regularização das faces dos corpos de prova é necessária para a realização de alguns ensaios, pois
a mesma deve garantir, que a carga axial de ensaio, seja distribuída de forma homogênea em todas
as faces (superior e inferior). Nos dias atuais, existem três metodologias aplicadas em laboratórios
de controle tecnológico, sendo elas: a retífica mecânica, o chapéu de neoprene e a retífica mecânica
em conjunto com o chapéu de neoprene. A primeira tem o objetivo de regularizar as faces retirando
uma camada que varia de 1 a 3 mm nas faces superior e inferior do corpo-de-prova [4]. O segundo,
trata-se de uma chapa de aço em formato de chapéu cilíndrico onde se acopla uma borra de
neoprene de aproximadamente 5 mm de espessura [1]. E o terceiro, tem como objetivo diminuir o
desvio padrão entre amostras gêmeas (moldadas da mesma amostra) [5].
Como é possível encontrar uma variação considerável de resultados de ensaios de uma mesma
amostragem utilizando os três métodos citados acima, existe a necessidade de estudar,
estatisticamente, o resultado dessa variação, já que, a metodologia escolhida para regularização das
faces, possui um papel importante no resultado final do ensaio à compressão axial dos corpos de
prova de concreto.
2. OBJETIVO
O objetivo desse trabalho é discutir aplicabilidade do teste estatístico não paramétrico de Kruskal-
Wallis como uma alternativa ao teste paramétrico ANOVA em situações em que ocorre violação
dos pressupostos. Para isso, foram utilizados dados de um experimento conduzido para avaliar o
efeito do fator tipo de tratamento aplicado para regularização das faces dos corpos de prova,
envolvidos no ensaio de compressão.
3. MÉTODOS
Ao analisar a qualidade dos produtos geralmente estamos interessados em mensurar alguma
característica importante deste produto, chamada característica de qualidade. Dizemos que um
produto tem qualidade se esta característica de qualidade do produto estiver próxima ao valor
nominal estabelecido e com uma variabilidade dentro dos limites especificados pelo cliente, ou seja,
tem qualidade quando há conformidade com as especificações. Quando falamos em melhoria da
qualidade de um produto nosso objetivo, via de regra, é fazer com que esta característica de
qualidade se aproxime cada vez mais do valor nominal e também, reduzir a variabilidade o máximo
possível [17].
Entretanto, para alcançar o objetivo de melhorar a qualidade do produto se faz necessário entender
bem o processo produtivo, identificar quais são os fatores que influenciam o processo, quais destes
fatores podem ser controlados e quais não podem ser controlados, identificar, dentre os fatores
controláveis, quais são os que exercem maior influência sobre a característica de qualidade do
produto a ser melhorada e, por fim, criar um modelo que permita entender a relação entre os fatores
e a característica de qualidade [16].
Uma ferramenta estatística que pode ser muito útil para estudos de melhoria da qualidade de
produtos e processos é o Design Of Experiments DOE, ou, Planejamento de Experimentos. “Um
experimento é um procedimento no qual alterações propositais são feitas nas variáveis de entrada de
um processo ou sistema, de modo que se possa avaliar as possíveis alterações sofridas pela variável
resposta, como também as razões destas alterações.” [12]. Nesta definição, as variáveis de entrada
correspondem aos fatores, ou causas, enquanto a variável resposta corresponde ao efeito deste
processo, ou a característica de qualidade estudada.
Para a realização de um experimento planejado é recomendado que sejam realizadas as seguintes
etapas: Identificação dos objetivos do experimento, Seleção da variável resposta, Escolha dos
fatores a serem analisados e seus níveis, Planejamento do procedimento experimental, Realização
do experimento, Análise de dados, Interpretação dos resultados e Elaboração do relatório
[21].Todas estas etapas são extremamente importantes para o sucesso de um estudo e devem ser
realizadas com muita objetividade e precisão. O presente estudo discute os métodos a serem
utilizados na etapa de Análise de dados, apresentando a técnica estatística que é mais utilizada nesta
etapa, a Análise de Variância (ANOVA) bem como os seus pressupostos e também, a técnica
estatística de Kruskal-Wallis, que é a técnica estatística não paramétrica indicada para as situações
em que há quebra de um ou mais pressupostos da ANOVA.
3.3 Kruskal-Wallis
A técnica proposta por Kruskal-Wallis é utilizada para comparar medianas de diversas populações,
portanto, ela testa a hipótese nula de que as k amostras provêm da mesma população ou de
populações idênticas com a mesma mediana e, a hipótese alternativa é de que ao menos uma das k
amostras difere das demais. Para aplicação da técnica os dados são organizados de maneira
semelhante à técnica da ANOVA, entretanto, os valores são substituídos por seus postos, ou seja,
todos os dados, de todas as k amostras, são colocados juntos e organizados através de postos em
uma única série (o menor valor é substituído pelo posto 1, e assim sucessivamente até que o maior
valor seja substituído pelo posto N) [20].
Isto feito, calcula-se a soma dos postos, bem como a média dos postos, em cada uma das k
amostras. Desse modo, se as amostras são da mesma população, ou de populações idênticas, os
postos médios devem ser próximos, enquanto que se as amostras vêm de populações com medianas
diferentes os postos médios devem diferir. Assim, a estatística de Kruskal-Wallis pode ser obtida
pela equação abaixo:
12
𝐾𝑊 = ∑𝑘𝑗=1 𝑛𝑗 (𝑅̅𝑗 − 𝑅̅ )2 , (2)
𝑁(𝑁+1)
4. RESULTADOS
O estudo seguiu inicialmente as prescrições de Normas Brasileiras ABNT para amostragem,
moldagem, cura e ensaio à compressão axial dos corpos de prova de concreto. Foi realizado com
apoio da Concreteira Concreto Campeão, que forneceu o concreto traço 25 MPa, Slump 16 ± 2,
brita 0, de onde foram moldadas 90 amostras. Aos 28 dias da data de moldagem, foram separados
30 corpos-de-prova para o ensaio utilizando apenas o neoprene, outros 30 corpos-de-prova foram
separados para ensaio utilizando o neoprene mais a retífica (desgaste mecânico) e os 30 finais foram
submetidos apenas a retífica
Após a realização dos ensaios de compressão os dados coletados foram tabulados no software
estatístico Minitab 18. Pode ser observado, que neste experimento, os corpos de prova tratados com
Retífica + Neoprene apresentaram maior resistência a compressão média: 30,340 Fck (MPa) e
menor desvio-padrão 1,423 Fck(MPa), enquanto que aqueles tratados apenas com retífica
apresentaram menor resistência a compressão média: 29,066 Fck(MPa) e maior desvio-padrão
2,287 Fck(MPa), conforme pode ser observado na tabela 2:
Tabela 2: Estatísticas descritivas da resistência a compressão dos corpos de prova por tipo de tratamento aplicado na superfície do
corpo de prova
Variável Tratamento N Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
Fck(MPa) Neoprene 30 29,580 1,542 26,663 33,764
Retífica 30 29,066 2,287 24,789 32,507
Retífica + Neoprene 30 30,340 1,423 28,165 33,807
Fonte: elaborado pelos autores
Para comparar os grupos e verificar se a diferença observada na amostra pode ser considerada
estatisticamente significativa realizou-se os testes de hipóteses estatísticos pertinentes. Para
verificar a adequabilidade da aplicação da ANOVA realizou-se o teste de igualdade de variâncias de
Levene, onde as hipóteses testadas foram: H0: Todas as variâncias são iguais e H1: No mínimo uma
variância é diferente. A estatística do teste foi de 4,49 (p-valor = 0,014), indicando que, ao nível de
5% de significância, ao menos uma variância é diferente. A figura 1 abaixo permite perceber que o
grupo Retífica + Neoprene apresentou variância estatisticamente menor que a variância do grupo
Retífica, uma vez que os intervalos não se sobrepõem.
Figura 1: Teste para igualdade de variâncias entre os grupos de tratamentos
Comparações Múltiplas
Valor-p 0,025
Neoprene Teste de Levene
Valor-p 0,014
Tratamento
Retífica
Retífica + Neoprene
5. DISCUSSÃO
Os resultados apresentados na seção anterior indicam que a não observação de apenas um dos
pressupostos da ANOVA, neste experimento, poderiam levar o pesquisador a uma conclusão
precipitada e inválida do ponto de vista metodológico. É importante destacar que todos os demais
pressupostos exigidos pela técnica foram satisfeitos, ou seja, os resíduos apresentaram distribuição
normal, com variância constante e média igual a zero e independentes, ainda assim, o resultado
obtido foi muito discrepante do resultado obtido quando se aplicou a técnica estatística adequada
para a situação, o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis.
6. CONCLUSÃO
Através do tratamento aplicado para regularização das faces dos corpos de prova no ensaio de
compressão, foi possível inferir a aplicabilidade dos tratamentos estatísticos em situações que
ocorrem violação dos pressupostos. Neste trabalho, a não observação dos pressupostos estatísticos
da ANOVA poderia levar o pesquisador a conclusões equivocadas no que diz respeito à
comparação de médias.
Em relação aos resultados coletados dos ensaios de compressão axial, entende-se que a margem de
erro dos resultados de para a metodologia retífica mecânica é superior as demais metodologias,
sendo que a metodologia retífica somada ao uso do neoprene considerada a mais confiável. Porém,
não há comprovação estatística de que exista diferença entre os dois tipos de tratamento. Sobre a
variabilidade dos resultados apresentados pela metodologia retífica, cabe uma análise e comparação
mais aprofundada a fim de verificar possíveis ajustes mecânicos no equipamento de desgaste
mecânico.
Assim, pode-se concluir que, faz-se necessário a observação da adequabilidade das técnicas
estatísticas para as diversas pesquisas da área da engenharia civil, de maneira a garantir a qualidade
e a confiabilidade dos resultados.
REFERÊNCIAS
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Unbonded Caps in Determination of Compressive Strength of Hardened Concreto Cylinders. 1 ed.
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úmidas e tanques para cura de corpos-de-prova – Elaboração. Rio de Janeiro; 2006.
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Procedimento – Elaboração. Rio de Janeiro; 2014.
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Preparo, controle e recebimento - Procedimento – Elaboração. Rio de Janeiro, 2006.
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medição – Guia para expressão de incerteza de medição – Elaboração. 2008ª.
[10] BEZERRA, Augusto C. da Silva. Influência das variáveis de ensaios nos resultados de resistência à
compressão de concretos: Uma análise experimental e computacional. Dissertação de pós graduação da Escola
de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2007.
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Brasília: MCid, Secretaria Nacional de Habitação, 2005. 131p.
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[14] DAHER, César Henrique Sato. Dosagem do concreto convencional. 1 Edição. Curitiba: Instituto Idd, Faculdade e
Pós graduação, 2008. 82 p.
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[17] MONTGOMERY, D.C.; Introdução ao Controle Estatístico da Qualidade. Tradução de Ana Maria Lima de
Farias e Vera Regina Lima de Farias e Flores. 7ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016.
[18] PINHEIRO, Libânio M.; MUZARDO, Cassiane D.; SANTOS, Sandro P. Fundamentos do concreto e projetos de
edifícios. Escola de Engenharia de São Carlos – Departamento de Engenharia de Estruturas da Universidade
Federal de São Paulo. São Paulo, 2007.
[19] RIBEIRO, J. L.; CATEN, C. T. Controle estatístico do processo. Porto Alegre, 1998. Apostila do Curso de Pós–
Graduação em Engenharia de Produção.
[20] SIEGEL, S.; CASTELLAN JR, N.J.; Estatística não-paramétrica para ciências do comportamento. Tradução
de Sara Ianda Correa Carmona. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
[21] WERKEMA, M.C.C.; AGUIAR, S.; Planejamento e análise de experimentos: como identificar as principais
variáveis influentes em um processo. Belo Horizonte: Fundação Cristiano Ottoni, 1996.
ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA DO
CONCRETO CONFECCIONADO COM AGREGADO GRAÚDO
RECICLADO
Analysis of the evolution of the electrical resistivity of the concrete made with
recycled coarse aggregate
AZZI, Sarah Silva*1; LAGE, Eduardo Brandão Diniz²; SOEIRO, Joaquim Martins³; CHAHUD,
Eduardo4; AGUILAR, Maria Teresa Paulino5
1
Mestranda de Materiais de Construção da UFMG, Belo Horizonte; Brasil
2
Coordenador e Professor da Faculdade Pitágoras, Itabira/MG
³Esp. em Eng. Diagnóstica, INBEC, Serra-ES
4
Professor titular da UFMG, Belo Horizonte; Brasil
5
Professor titular da UFMG, Belo Horizonte; Brasil
1. INTRODUÇÃO
O concreto reciclado surgiu como uma alternativa para minimização do impacto ambiental associado
ao uso de agregados naturais. Segundo [1] o emprego de agregados reciclados nos países europeus
tem origem no período pós-guerra, na década de 40 do século XX, uma vez que a Europa continha
grandes quantidades de escombros e resíduos sólidos provenientes dos bombardeios, que passaram a
ser utilizados como materiais de reconstrução, com bons resultados. Porém a utilização do agregado
reciclado como constituinte do concreto, nas construções civis, depende de alguns fatores como o
tipo de aplicação e a finalidade da obra, o método de dosagem, as taxas de substituição do agregado
natural pelo reciclado e as propriedades inerentes aos resíduos utilizados [2].
Os agregados reciclados possuem um desempenho que funciona da mesma forma que o concreto
reciclado, sendo que, caso o primeiro tenha suas propriedades afetadas por sua porosidade, o segundo,
também terá. O comportamento dos concretos reciclados são determinados por aspectos
característicos dos agregados empregados, como a presença de impurezas, grau de porosidade dos
agregados e as suas diferentes composições [3].
Segundo [4] a proveniência dos agregados reciclados e a etapa construtiva em que se encontravam,
influenciam diretamente nas propriedades dos concretos reciclados, como por exemplo a presença de
cerâmicos, geralmente de resistência reduzida e elevada porosidade, pode aumentar o consumo de
água, e reduzir a consistência e a resistência mecânica. O módulo de elasticidade, a massa unitária e
a estabilidade dimensional do concreto, estão diretamente associados e dependem da densidade e
resistência do agregado [5].
O uso de agregados reciclados, como material de construção, tende a aumentar a retração de secagem,
a fluência, a taxa de carbonatação e a absorção de água, e diminuem a resistência à compressão e a
resistência ao congelamento e ao descongelamento do concreto comparado ao concreto convencional.
Porém com a adequada execução da mistura e aditivos minerais, os inconvenientes podem ser
sanados[6].
Santos et al [7]realizaram ensaios para caracterizar os agregados reciclados e naturais e avaliar, as
propriedades de concretos com a substituição de 20% dos agregados convencionais por resíduos da
construção civil, em três condições (areia, brita 0 e brita 1) (convencionais e oriundos de RCC). Foram
realizados ensaios de absorção de água por capilaridade e por imersão, porosidade e densidade. Os
resultados desses ensaios confirmaram o potencial de utilização dos agregados reciclados e a
importância de se avaliar as características dos materiais e suas propriedades para que seja
identificada a melhor utilização do agregado como constituinte do concreto.
Existem estudos da literatura sobre a durabilidade de concretos com agregados reciclados, eles são
desenvolvidos pela avaliação dos concretos reciclados pela medição da resistência à compressão,
modulo de elasticidade, espectrometria, densidade e por ensaios de absorção. No entanto poucos são
os estudos encontrados sobre a resistividade elétrica desses compósitos cimentícios.
De acordo com [8], o interesse em conhecer a resistividade elétrica é muito importante do ponto de
vista da corrosão da armadura. [5], apontam que o teor de oxigênio disponível na atmosfera e a
resistividade elétrica são responsáveis por controlar a taxa de corrosão da armadura, após, destruída
a camada passivadora do elemento estrutural. É importante ressaltar a necessidade dos concretos
estruturais possuírem a capacidade de impedir à penetração de agentes agressivos visando reduzir
possíveis efeitos causados ao concreto e as armaduras [9].
Andrade [10] explica que a resistividade elétrica está intrinsicamente ligada à porosidade e
conectividade entre os poros do concreto saturado. Quando o concreto não está saturado, essa medida
de resistividade serve como medida de grau de saturação. Para [11], a variável que mais interfere na
medição de resistividade elétrica é o teor de umidade do concreto, visto que, com a diminuição da
umidade, há uma diminuição do teor de solução nos poros, consequentemente, diminuição do
eletrólito responsável pela transmissão de corrente elétrica que passa pelo concreto, logo ocorre,
aumento da resistividade elétrica do concreto.
A resistividade elétrica é responsável pelo controle de fluxo de íons numa solução aquosa nos poros
do concreto, sendo muito sensível a variação de umidade de equilíbrio e a variação de temperatura.
O aumento da temperatura e da umidade contribuem para a diminuição da resistividade elétrica do
concreto [12]. Lencioni [13], classifica o ensaio como não destrutivo, e que permite analisar a
resistência do concreto à penetração de íons cloretos, efeitos de condições de cura na matriz do
concreto e o processo de desenvolvimento da hidratação das matrizes cimentícias com adições
minerais.
As medidas de resistividade elétrica podem ser utilizadas na investigação de propriedades do concreto
tanto em laboratório, quanto no monitoramento in loco de estruturas de concreto. Então se torna
importante analisar a resistividade elétrica do concreto reciclável como parâmetro de durabilidade
desses materiais. Neste contexto, este trabalho investiga a durabilidade do concreto reciclável por
meio da resistividade elétrica volumétrica e superficial, pela resistência a compressão e pelo modulo
de elasticidade.
2. METODOLOGIA
Para o estudo da influência do agregado reciclado na resistividade elétrica foram confeccionados
concretos com agregados naturais e com agregados graúdos obtidos da moagem de corpos de prova
de concretos. Os ensaios foram realizados no Laboratório de Caracterização de Materiais de
Construção Civil e Mecânica e no Laboratório de Concreto, ambos pertencentes à UFMG.
Primeiramente, foi confeccionado um concreto convencional (concreto de referência) utilizando
cimento CPIII, areia silicosa de rio de diâmetro médio de 2,36mm (areia média), brita gnaisse de
diâmetro 19mm (brita 1) e água potável. O traço característico adotado foi de 1:1,3:2,1 e relação água
cimento de 0,46, obtendo-se um slump de 7+1 cm e projetando-se um concreto de 20MPa. Também
foram produzidos concretos de forma similar, apenas substituindo-se 20% em peso do agregado
graúdo natural por agregado obtido da moagem e peneiramento de corpos de prova de concreto. Os
corpos de prova foram moldados de acordo com a NBR 12655 (ABNT, 2015) [14], sendo produzidos
24 espécimes de tamanhos 100x200mm que foram submetidos ao processo de cura por submersão
em água durante os 28 dias.
Nas idades de 7, 14,21 e 28 dias os corpos de prova foram submetidos a ensaios de resistividade
elétrica volumétrica e superficial e caracterizados quanto à resistência à compressão e modulo de
elasticidade.
A resistividade elétrica volumétrica, de norma NBR 9204 (ABNT, 2012) [15], foi determinada no
equipamento desenvolvido no Laboratório de Caracterização de Materiais de Construção Civil e
Mecânica (Figura 1). Nos ensaios foram adotados os seguintes parâmetros: corpo de prova saturado,
frequência de 40 Hz e utilização de lã de aço para maximizar o contato entre a superfície do corpo de
prova e os eletrodos de cobre [16]. Foram realizadas medições em 12 corpos de prova do concreto de
referência e 12 corpos de prova de concreto reciclado
A resistência à compressão dos concretos com e sem substituição do agregado graúdo, aos 7, 14, 21
e 28 dias, foi determinada em uma prensa hidráulica da EMIC e realizada segundo a norma NBR-
5739 (ABNT, 2007) [19]. Foram realizados medições com uma amostragem de três corpos de prova
por ensaio. O ensaio de módulo de elasticidade dos concretos foi determinado pelo método de
frequência ressonante forçada utilizando o equipamento Erudite MKII da C.N.S. Eletronics LTDA,
após 7, 14, 21 e 28 dias de cura. Foram realizadas três medições para cada corpo de prova aplicando-
se vibrações com frequência na faixa de 5.000–15.000 Hz e voltagem de 0,5v, considerando constante
de amortecimento superiores a 15.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na Tabela 1 e Figuras 3 e 4 são apresentados os resultados do ensaio de resistência à compressão e
módulo de elasticidade do concreto de referência e do concreto com agregado reciclado.
Tabela 1– Resistencia à compressão e módulo de elasticidade do concreto.
Resistência Mecânica (MPa) Módulo de elasticidade (GPa)
Concreto Desvio Concreto Desvio Concreto Desvio Concreto Desvio
Dia
Convencional Padrão Reciclável Padrão Convencional Padrão Reciclável Padrão
7 16,75 0,79 18,11 1,59 29,34 3,14 28,46 3,61
14 20,61 0,80 22,57 2,02 30,57 0,79 31,80 0,69
21 20,98 0,72 22,14 1,24 31,11 0,63 36,80 3,63
28 22,42 1,37 24,29 0,42 37,65 4,56 40,67 3,92
Considerando que o concreto foi projetado para uma resistência à compressão de 20 MPa, verifica-
se que os valores obtidos são adequados: 24 MPa para o concreto reciclável e 22,5 MPa para o
concreto convencional. A homogeneidade dos corpos de prova pode ser avaliada pelos resultados da
resistência à compressão no que se refere ao desvio padrão, cujo valor máximo é 9%, valor este
considerado razoável. A linearidade dos dados é em torno de 0,8, indicando um crescimento
monotônico da resistência mecânica à compressão com a idade do concreto. Como relatado na
literatura [20] [21], considerando os desvios padrões das medidas, é possível observar que o uso de
até 20% de agregado reciclado em substituição ao natural não influência nos valores da resistência à
compressão do concreto.
50
45
40
y = 0,2588x + 17,247
35 R² = 0,7983
30
22,57 24,29
25 22,14
MPa
18,11
20 20,98 22,42
15 20,61
16,75 y = 0,2484x + 15,841
10
R² = 0,8577
5
0
0 7 14 21 28 35
Dias
Concreto Convencional Concreto Reciclável
Linear (Concreto Convencional) Linear (Concreto Reciclável)
28,46
20 y = 0,3639x + 25,798
R² = 0,7775
15
10
5
0
0 7 14 21 28 35
Dias
Concreto Convencional Concreto Reciclável
Linear (Concreto Convencional) Linear (Concreto Reciclável)
117,96 157,95
130 139,13
110 y = 4,1834x + 51,178
90 75,40 116,21 R² = 0,9646
70
50 74,12
0 7 14 21 28 35
Dias
Res. Elét. Vol. Conc. de Refer. Res. Elét. Vol. Conc. Recicl.
Linear (Res. Elét. Vol. Conc. de Refer.) Linear (Res. Elét. Vol. Conc. Recicl.)
250 236,92
y = 3,9271x + 126,91 213,92
230
R² = 0,993 235,17
210
177,67
190 211,42
158,47
170 y = 3,8086x + 129,59
150 177,42 R² = 0,9847
ohm.m
156,53
130
110
90
70
50
0 7 14 21 28 35
Dias
Res. Elét. Super. Conc. de Refer. Res. Elét. Super. Conc. Recicl.
Linear (Res. Elét. Super. Conc. de Refer.) Linear (Res. Elét. Super. Conc. Recicl.)
Resistividade Indicação da
Volumétrica do probabilidade
concreto de corrosão
> 200 ohm.m Desprezível
100 a 200 ohm.m Baixa
50 a 100 ohm.m Alta
< 50 ohm.m Muito Alta
Fonte: CEB 192/1989 apud HOPPE, 2005.
Resistividade Indicação da
superficial do probabilidade
concreto de corrosão
> 1000 ohm.m Desprezível
500 a 1000 ohm.m Baixa
100 a 500 ohm.m Alta
< 100 ohm.m Muito Alta
Fonte: POLDER, 2000.
4. CONCLUSÃO
O uso de 20% de agregado reciclável em substituição ao agregado natural no concreto não influência
nos resultados da resistência à compressão do compósito cimentício, como relatado na literatura por
[22]. O agregado graúdo reciclado consegue exercer a mesma função do agregado graúdo natural e
desempenhar no concreto as mesmas características, necessárias para mantê-lo com as suas
propriedades mecânicas.
Os dados também indicam que o resultado do módulo de elasticidade obtido por frequência
ressonante, aos 28 dias, não é alterado pela substituição de 20% do agregado natural por agregado
reciclado no concreto. O módulo de elasticidade apresenta crescimento monotônico com a evolução
da idade do concreto, ao longo dos 28 dias, considerando o concreto convencional ou o reciclado
A resistividade elétrica superficial e volumétrica apresenta, crescimento linear com a idade de cura,
tanto para o concreto de referência quanto para o concreto reciclado. Porém a resistividade
volumétrica, aos 7 dias, possui resultados que correspondem a uma diferença de 52% em relação a
resistividade superficial, para um mesmo concreto, e 34% de diferença aos 14, 21 e 28 dias.
O uso do agregado reciclado (20%) não influência nas medições das resistividades elétricas. Uma vez
que nas análises das resistividades elétricas volumétrica e superficial o concreto reciclável obteve
resultados aproximados do concreto convencional, ao longo dos 28 dias de ensaio.
Concreto com agregado reciclado (20%) apresenta baixo risco de corrosão das armaduras, de acordo
com as medições da resistividade elétrica volumétrica e superficial e a Tabela 3, tanto para o concreto
convencional quanto para o concreto reciclável. Considerando os resultados obtidos para a
resistividade elétrica, o uso de agregado reciclado não altera o risco de corrosão das armaduras, o que
indicaria seu uso, quanto a este requisito, em concretos para fins estruturais.
Portanto de acordo com os resultados analisados é possível confirmar que o incremento de resíduos
de concreto com o teor de 20%, não afeta o comportamento do concreto em relação ao de referência,
indicando que poderão ser utilizados sem qualquer restrição quanto à resistência e à durabilidade e
com um maior controle de qualidade do material.
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pp 603-611
PANORAMA DAS LEIS DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA
NO BRASIL
Abstract: The domestic consumption of water and the impermeability of the soil brought problems
such as lack of supply and flooding. The rainwater harvesting presents as a solution to reduce the
consumption of drinking water, as well as to mitigate the effects of flooding. In some municipalities
in the state of São Paulo, they proposed legislation for the new buildings to implement a system
for the utilization of rainwater and retention in the lot, also encouraging the rational use of water.
The objective of this work is the survey of the municipal laws for the use of rainwater, aiming to
discuss important parameters for law enforcement to implement the rainwater harvesting system. A
bibliographical research was carried out of the existing legislations; raising important design
parameters. As a result of the analysis of the legislation, it was verified that of the five of the nine
parameters highlighted, such as sizing and abstraction, were cited in the legislations researched; it
was also observed that many times in a superficial way, the other four, such as water quality,
filtration, were little mentioned or not commented. Considering that the utilization of rainwater is a
solution for the reduction of the use of drinking water, mainly for use as sanitary basins or irrigation
of gardens, it was verified that the municipal legislations have to be revised, since many do not
present technical design or specifications that allow the use of adequate water. Another problem is
also the application of these legislations, where they establish specific criteria making it
impracticable for a wide application.
1. INTRODUÇÃO
O aproveitamento da água de chuva é utilizado desde da antiguidade, [1] é relatado que em locais
como Grécia, Itália, Egito já era utilizado desde de antes do ano de 3.000 a.C., sendo até mesmo
como a principal fonte de água.
Com o crescimento das cidades e a grande concentração urbana, as cidades começam a apresentar a
ocorrência de enchentes urbanas e grande demanda de água. Para diminuir esses problemas, na
Europa e América do Norte nos anos 70, implementaram técnicas alternativas ou compensatórias de
drenagem, técnicas essas que por meio de infiltração e armazenamento buscam reduzir o tempo e a
quantidade de água chuva que vai para as áreas impermeabilizadas, reduzindo assim o risco de
inundações [2].
É possível aproveitar a água de chuva para a diminuição do uso de água potável; controle de
enchentes; drenagem pluvial das cidades; entre outros. No Japão, a coleta de água de chuva
acontece por que os reservatórios de abastecimento de água ficam longe das cidades e também por
que as cidades têm grandes áreas superficiais pavimentada impedindo a infiltração da água no solo
[3]. O aproveitamento da água de chuva surge como fonte alternativa para o uso que não há
necessidade de água tradada [4].
O aproveitamento da água de chuva é um importante meio para suprir a demanda de água crescente
das cidades, citando como exemplo países como Estados Unidos, Alemanha entre outros onde o
consumo de água nas residências foi diminuído em 30% com a utilização do aproveitamento da
água de chuva [5].
Há benefícios para o uso da água de chuva, tanto social, econômico e ambientais, tais como [6]:
Fonte alternativa limpa, independente e ampla;
Tecnologia simples;
Redução do volume de água comprada, ou do uso de água potável;
Redução os custos de construção para novas redes de abastecimento;
Redução o risco de inundações, devido a modificação no tempo de escoamento da
chuva ao sistema de drenagem urbana.
No âmbito nacional, o abastecimento de água para as cidades ainda tem enfoque nos recursos
hídricos e subterrâneos, ocorrendo o uso de fontes alternativas, água da chuva em situações em que
há baixa disponibilidade hídrica. Mas com o incentivo das legislações de nosso país, o uso de fontes
alternativas, como exemplo água de chuva e águas cinzas, está em crescente, fazendo com que
novos projetos, tanto residencial, comercial ou industrial, tenha a obrigatoriedade de contemplar o
aproveitamento de água de chuva [7].
Neste cenário, algumas cidades brasileiras começam a propor legislações exigindo ou incentivando
a captação, retenção e uso de água de chuva, também medidas para a racionalização de água vêm
sendo adotadas e implantadas na sociedade, como a implantação de novas teorias e tecnologias que
resultem em mudança de comportamento da sociedade, promovendo o uso sustentável da água.
Nos municípios brasileiros que estão em processo de implementação, ou revisão do Plano Diretor,
propõem diretrizes para os novos empreendimentos, para que seja prevista a construção de sistema
para o controle do aumento das vazões gerado pela impermeabilização. Os Planos Diretores
sugerem que sejam instalados, entre outras estruturas, reservatórios de retenção temporário das
águas da chuva
Cidades como Curitiba [8] e Campinas – SP[9] propuseram legislações [8,9] ou programas para a
conservação e uso racional da água nas edificações. Estas legislações estão complementando o
Plano Diretor das cidades, com a inclusão do sistema de captação e uso de água pluvial para
minimizar o uso de água potável nas edificações.
As legislações quando pesquisadas podem se apresentar de diferentes tipos de nomenclaturas
aplicáveis, sendo algumas como:
Lei: são as leis típicas, ou as mais comuns, aprovadas pela maioria dos parlamentares da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal presentes durante a votação.
Lei complementar: diferem das leis por exigirem o voto da maioria dos parlamentares que
compõe a Câmara dos Deputados e o Senado Federal para serem aprovadas. Devem ser
adotadas para regulamentar assuntos específicos, quando expressamente determinado na
Constituição da República.
Resolução: ato administrativo normativo emitido por autoridade superior, com a finalidade
de disciplinar matéria de sua competência específica. As resoluções não podem produzir
efeitos externos, tampouco contrariar os regulamentos e os regimentos, mas sim explicá-los
Projeto de lei: conjunto de normas que deve se submeter à tramitação no legislativo com o
objetivo de se efetivar através de uma lei. No Brasil, um projeto de lei pode ter sua tramitação
iniciada tanto na Câmara dos Deputados como no Senado Federal
Estas nomenclaturas, pressupõe à uma hierarquia conforme a Figura 1 a seguir.
2. METODOLOGIA
3. RESULTADOS
Como resultado da revisão sistemática das legislações obteve-se 24 legislações municipais, sendo
estas localizadas mais na região sudeste do Brasil e do tipo Lei, com relação ao ano as legislações
variaram entre os anos de 2002 a 2016, sendo apresentado os dados mais detalhados no Quadro 1 e
Figuras 2 e 3.
Já com relação aos parâmetros, foram levantados nove quando comparado as legislações entre elas
e a norma como apresentado na Quadro 1.
Quadro 1 – Legislações e parâmetros
Uso de água de chuva
Qualidade da água
Dimensionamento
Descarte inicial
Aplicação das
Tratamento
legislações
Condução
Filtragem
Captação
Tipo N° Cidade
Qualidade da água
Dimensionamento
Descarte inicial
Aplicação das
Tratamento
legislações
Condução
Filtragem
Captação
Tipo N° Cidade
Resolução 18 Londrina - PR D D S D D - S S -
Lei 6801 Petrópolis -RJ S D S D - - - - -
Lei 6110 Bauru - SP - S S - D - - - -
Lei 5279 Rio de Janeiro - RJ S D S D - - - - -
Balneário Camboriú
Lei 3533 S S - - D - - - -
- SC
Lei Complementar 865 Araraquara - SP S D S D D - - - -
Lei 17729 São Carlos - SP S D S D D - - - -
D – Citado de forma detalhada
S – Citado de forma simples
- – Não é atendido
É importante fazer a definição dos usos da água de chuva, pois, dessa forma é possível definir o
com mais precisão o volume de utilização, demanda, fazendo com que o dimensionamento do
reservatório seja mais preciso também.
Aplicação das legislações: neste parâmetro era descrito o critério para a aplicação do
sistema de aproveitamento de água de chuva, como apresentado no Quadro 4.
Quadro 4 – Critério de aplicação
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentre os nove parâmetros levantados e analisados nas legislações, apenas três deles:
dimensionamento, uso e critério de aplicação, estão apresentados nas legislações de forma
detalhada, os demais, quando citados no texto, são de forma simples.
Sobre os parâmetros citados de forma detalhada pode-se concluir que no dimensionamento há
diferenças entre as variáveis das legislações e algumas dessas variáveis são apresentadas como
constantes, exemplo, os índices pluviométricos no qual para o cálculo do volume do reservatório
das cidades de São Paulo – SP e Niterói - RJ seja igual na equação, o volume de chuva das cidades
são diferentes necessitando ser levando em conta para ter um dimensionamento preciso. Para o
Critério de aplicação a apresentação é de forma específica, deixando muito limitado o tipo de
empreendimento que pode ter o sistema de aproveitamento de água de chuva.
O uso de água de chuva deveria ser trabalhado juntamente com os parâmetros de tratamento e
qualidade da água de forma que as legislações fizessem a definição da qualidade de água para cada
tipo de uso que deve ter e consequentemente qual o tipo de tratamento.
As legislações, são propostas por vereadores, que podem ou não ter o conhecimento técnico sobre o
assunto, daí algumas diferenças com a normalização, visto que norma é elaborada por um corpo
técnico especializado no assunto. No entanto, a legislação possui a obrigação de ser cumprida, e a
norma só se torna obrigatória quando citada no texto de uma legislação.
Denota-se a que as legislações, necessitam passar por uma revisão em seu texto de forma abordar os
parâmetros levantada, ou mesmo incluir em seu texto a citação da norma de aproveitamento de água
de chuva NBR 15527 (ABNT, 2007).
O sistema de aproveitamento de água de chuva, deve ser incorporado em legislações nos vários
âmbitos visando tanto na parte sustentável do uso água de chuva nas edificações, como também, na
parte de drenagem urbana das cidades.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à CAPES pelo financiamento da pesquisa realizada e também ao PPGECiv da UFSCar
pelo apoio em todas as etapas da pesquisa.
REFERÊNCIAS
[1] KRISHNA, H. J.; PHILIPS, A.; POPE, T.. Rainwater Harvesting and Stormwater Recycling ASLA (American
Society Landscape Architects) Annual Meering, 2002.
[2] BAPTISTA, M. B.; NASCIMENTO, N. O.; BARRAUD, S.; Técnicas compensatórias em drenagem urbana.
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[7] SENADO FEDERAL. Projeto de lei n. 324, de 2015. Institui obrigatoriedade para as novas construções,
residenciais, comerciais, e industriais, público ou privado, a inclusão no projeto técnico da obra, item referente a
captação de água da chuva e seu reuso não potável e dá outras providências. Brasília, DF, 2015.
[8] CURITIBA, Lei n. 10785 de 18 de setembro de 2003. Cria no município de Curitiba, o programa de conservação e
uso racional da água nas edificações - PURAE.
[9] CAMPINAS, Lei n. 12474 de 16 de janeiro de 2006. Cria o programa municipal de conservação, uso racional e
reutilização de água em edificações e dá outras providências.
[10] ARARAQUARA, Lei Complementar n. 865 de 28 de maio de 2015. Cria o sistema de captação e
aproveitamento de água de chuva, institui a sua obrigatoriedade nos imóveis localizados no município e dá outras
providências.
[11] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15527: Água de chuva – Aproveitamento de
coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis – Requisitos. Rio de Janeiro, 2007.
[12] BALNEÁRIO CAMBORIU, Lei n. 3533 de 26 de dezembro de 2012. Dispõe sobre o controle do desperdício de
água potável distribuída pela rede pública municipal institui o programa municipal de conservação e uso racional da
água em edificações, cria concurso de economia de água nas escolas da rede municipal e dá outras providências.
[13] BAURU, Lei n. 6110 de 25 de agosto de 2011. Cria o programa municipal de uso racional e reuso de água em
edificações e dá outras providências.
[14] BELO HORIZONTE, Projeto de Lei n. 1381 de 13 de novembro de 2014. Estabelece a política municipal de
captação, armazenamento e aproveitamento de águas pluviais e define normas gerais para sua promoção.
[15] CHAPECÓ, Lei n. 324 de 10 de março de 2008. Dispõe sobre a obrigatoriedade de instalação de reservatório e
valas de infiltração para aproveitamento da água da chuva em edificações e dá outras providências.
[16] FLORIANÓPOLIS, Lei n. 8080 de 09 de dezembro de 2009. Institui programa municipal de conservação, uso
racional e reuso da água em edificações e dá outras providências.
[17] FOZ DO IGUAÇU, Lei n. 3461 de 30 de junho de 2008. Dispõe sobre a obrigatoriedade de reservatórios e
captadores de água de chuva nos postos de combustíveis e estabelecimentos de lavagem de veículos e dá outras
providências.
[18] GOIÂNIA, Lei n. 10785 de 18 de setembro de 2006. Torna obrigatório a execução de reservatório para as águas
coletadas por coberturas e pavimentos nos lotes, edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a
500m².
[19] GUARULHOS, Lei n. 6511 de 09 de junho de 2009. Institui o programa municipal de uso racional da água
potável e dá outras providências.
[20] LONDRINA, Resolução n. 18 de 31 de agosto de 2009. Estabelece o programa racional de uso da água.
[21] MANAUS, Lei n. 1192 de 31 de dezembro de 2007. Cria, no município de Manaus, o programa de tratamento e
uso racional das águas nas edificações - Pro - Águas.
[22] NITERÓI, Lei n. 2626 de 30 de dezembro de 2008. Dispõe sobre a instalação de sistemas de aquecimento solar
de águas e do aproveitamento de águas pluviais na construção pública e privada no município de Niterói e cria a
comissão municipal de sustentabilidade urbana.
[23] PETRÓPOLIS, Lei n. 6801 17 de dezembro de 2010. Institui, no município de Petrópolis, o programa de uso e
reuso racional da água- pura, para utilização em condomínios, clubes, entidades, conjuntos habitacionais e demais
imóveis residenciais e comerciais.
[24] PONTA GROSSA, Lei n. 8718 de 21 de dezembro de 2006. Institui no município de Ponta Grossa, o programa
de captação, armazenagem, conservação e uso racional da água pluvial nas edificações urbanas.
[25] PORTO ALEGRE, Lei n. 10506 de 05 de agosto de 2008. Institui o programa de conservação, uso racional e
reaproveitamento das águas.
[26] RECIFE, Lei n. 17081 de 12 de janeiro de 2005. Cria no município do Recife o programa de conservação e uso
racional da água nas edificações.
[27] RIO DE JANEIRO, Lei n. 5279 de 27 de junho de2011. Cria no município do Rio de Janeiro o programa de
conservação e uso racional da água nas edificações.
[28] SÃO CARLOS, Lei n. 17729 de 10 de fevereiro de 2016. Cria o sistema de captação e aproveitamento de água de
chuva e institui a sua obrigatoriedade nos imóveis localizados no município e dá outras providências.
[29] SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, Lei n. 10290 de 24 de dezembro de 2008. Cria no município o programa
permanente de gestão das águas superficiais (PGAS) da bacia hidrográfica do Rio Preto, e dá outras providências.
[30] SÃO PAULO, Lei n. 13276 de 04 de janeiro de 2002. Torna obrigatório a execução de reservatório para as águas
coletadas por coberturas e pavimentos nos lotes, edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a
500m².
[31] SÃO PAULO, Lei n. 14018 de 28 de janeiro de 2003. Institui o programa municipal de conservação e uso
racional da água em edificações e dá outras providencias.
Simulação de edificações em container para pesquisa em conforto ambiental
Daniele Abe Ribeiro1, André José Ribeiro Guimarães 2, Cintia Akemi Tamura 3, Eduardo Krüger
4, Rodrigo José de Almeida Torres Filho 5
1
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, Curitiba, Brasil, ribeirod@alunos.utfpr.edu.br
2
Universidade Federal do Paraná - UFPR, Curitiba, Brasil, andrejrg@gmail.com
3
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, Curitiba, Brasil, cintiatamura@gmail.com
4
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, Curitiba, Brasil, ekruger@utfpr.edu.br
5
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, Curitiba, Brasil, rodrigotorresfilho@yahoo.com.br
Resumo: Simulações de edificações (BS) podem orientar e apoiar a tomada de decisões durante as
fases de projetos. A BS pode ser uma ferramenta essencial na concepção de edificações mais
sustentáveis e avaliação do desempenho térmico de novas tecnologias de construção, como
residências e escritórios feitos com containers. A grande disponibilidade destas estruturas dada sua
vida útil relativamente curta em atividades de transporte e armazenagem, juntamente com suas
formas e tamanhos padronizados e modulares, bem como seu baixo custo, tornam esta tecnologia de
edificação uma opção sustentável atraente a ser explorada no setor de construção. No entanto,
apesar da envoltória da estrutura ser feita de aço resistente a intempéries, ainda há ceticismo quanto
ao desempenho térmico atingido, e se este pode ser adequadamente resolvido com isolamento
térmico. Assim, o objetivo do trabalho é comparar resultados de simulação com medições de
temperatura em escala real de duas pequenas estruturas de contêiner, a fim de validar o modelo
gerado para simulações subseqüentes em outras zonas climáticas. Os dois módulos foram
concebidos como ambientes de escritório para subsidiar estudos de conforto ambiental. Ambos
apresentam as mesmas características e dimensões de envoltória ( 244 cm × 300 cm com altura de
289 cm), tendo aproximadamente 13,5 m³ de volume interno. Cada módulo está assentado sobre
uma plataforma giratória que permite rotação de 360 graus para testes de desempenho de diferentes
orientações solares da fachada envidraçada (WWR de 0,2, vidro simples). A localização é
subtropical úmida com clima Cfb, conforme classificação de Köppen-Geiger (verão ameno, período
de geada severa, sem estação seca). A primeira etapa do estudo compreendeu a mineração de dados,
para identificar a produção acadêmica que trata de testes de desempenho de edifícios de
contêineres, materiais de isolamento de envoltória usados em tais edifícios, bem como modelos e
metodologias de BS empregados nesses estudos. A análise bibliométrica associada às técnicas de
mineração de texto e mapeamento de palavras-chave foi realizada utilizando os repositórios Web of
Science e Scopus. Os resultados desta etapa auxiliaram a definição de métodos e procedimentos de
análise para a segunda etapa, que consistiu no uso do EnergyPlus 8.7.0 como uma ferramenta de
simulação. A calibração do modelo foi baseada nas temperaturas do ar interno, as quais foram
previamente monitoradas com sensores de temperatura a 110 cm de altura. As comparações entre os
resultados da simulação e os dados medidos permitiram verificar a consistência do modelo.
1. INTRODUÇÃO
Containers são artefatos de aço resistentes à corrosão, com grande espaço interno para a
acomodação de cargas e com geometria que facilita seu empilhamento e armazenamento. Foram
criados em 1937 por Malcom Mclean, que os concebeu com o intuito de diminuir desperdícios de
tempo e recursos financeiros ao se carregar navios (BUCHMEIER et al., 2010). Os materiais,
dimensões e propriedades técnicas esperadas de um container são descritos pela Norma ISO 668
(ISO, 1995). Quanto à sua definição, o Artigo 4º do Decreto nº 80.145 de 15 de Agosto de 1977,
que dispõe sobre transporte de mercadorias em unidades de carga, define um container como
“um recipiente construído de material resistente, destinado a propiciar o transporte de mercadorias
com segurança, inviolabilidade e rapidez, dotado de dispositivos de segurança aduaneira e devendo
atender às condições técnicas e de segurança previstas pela legislação nacional e pelas convenções
internacionais ratificadas pelo Brasil” (BRASIL, 1977, p.2).
Conforme Milaneze et al. (2012), o transporte marítimo é o setor que mais utiliza containers, sendo
também o principal responsável por seu descarte. Embora sejam confeccionados com material
durável e resistente (aço corten), seu tempo de vida útil é estimado em aproximadamente dez anos.
Após este período, tornam-se impróprios para este fim e seu uso é descontinuado (MILANEZE et
al., 2012).
Costa e Souza (2015), no entanto, afirmam que há uma subutilização destes elementos devido a
diversos fatores, como a inviabilidade financeira do envio dos containers vazios de volta aos portos
de origem. Conforme os autores, isto provoca a “inutilidade forçada” dos containers, resultando em
seu abandono e descarte em zonas portuárias, “gerando pilhas de caixas de aço como montanhas de
lixo esquecidos, que apesar de serem biodegradáveis permanecem durante anos no meio ambiente”
(COSTA; SOUZA, 2015, p.2).
Considerando-se que atualmente cerca de 90% das mercadorias em todo o mundo são transportadas
com o uso de containers (KRONENBURG, 2008), soluções que promovam sua reutilização têm
papel fundamental na redução de seu negativo impacto ambiental.
Uma das formas de reutilização de containers descartados pelo setor de transporte marítimo é a sua
aplicação na construção civil. De acordo com Nunes e Júnior (2018), estes artefatos têm sido
tradicionalmente reutilizados na composição de espaços utilitários de canteiro de obras, como
almoxarifados, depósitos, refeitórios e guarda-volumes, entre outros. Entre as vantagens da
utilização de containers na construção civil, Paula e Tibúrcio (2012) citam o baixo custo, sua
resistência estrutural, a viabilização de futuros deslocamentos, e a facilidade de expansão da área
útil construída, devido à modularidade. Ademais, os espaços construídos com a utilização de
containers podem ser facilmente modificados conforme demanda, possibilitando a associação de
seu uso a diversas estruturas e tipologias, podendo ser utilizado juntamente com outros materiais
como madeira, aço, concreto e vidro (PAULA; TIBÚRCIO, 2012). Desta forma, as vantagens
obtidas com a construção com containers expandiram as possibilidades de aplicações, como a
concepção de ambientes de uso comercial e residencial.
A utilização de containers como opção de moradia surgiu na China por volta de 1990, como solução
de baixo custo. Seguiu sendo difundida na Europa no início dos anos 2000, ainda com o apelo de
construção de custos reduzidos, porém também com o grande foco na redução de tempo de
execução do projeto (FOSSOUX; CHEVRIOT, 2013).
No Brasil, o uso de containers na construção civil tem experimentado aumento significativo na
última década. Como exemplos, Carbonari (2015) cita diversos exemplos de construções comerciais
desta natureza localizados no sul do país, como lojas (Container Store – 2008-1015), restaurantes
(Chicken Pollos – 2014; Madero Container – 2015; Taishi Sushi – 2013) e escritórios (Escritório
M2K – 2012), entre outros.
Quanto aos requisitos a serem contemplados em um projeto arquitetônico com containers, Garrido
(2011) elenca treze pontos: (1) Assegurar um design bioclimático adequado e eficaz; (2) Melhoria
do comportamento térmico e acústico; (3) Prover isolamento na parte externa do envelope
arquitetônico; (4) Aproveitar a enorme inércia térmica do container1; (5) Garantir respirabilidade e
ventilação natural; (6) Assegurar a impermeabilização e evitar a condensação; (7) Fornecer
acabamentos interiores saudáveis, ecológicos e facilmente substituíveis; (8) Assegurar o contrapeso
1
O tipo de container utilizado na construção da CBBC só possui a camada de aço corten, logo, não tem inércia térmica.
eletromagnético e eliminar o efeito “gaiola de Faraday”; (9) Garantir a recuperação, reparo e
reutilização de componentes; (10) Otimizar, tanto quanto possível, recursos e materiais; (11)
Diminuir as emissões tanto quanto possível; (12) Reduzir o desperdício tanto quanto possível; (13)
Diminuir o consumo de energia tanto quanto possível.
A análise das recomendações permite a identificação de dois focos ao se tratar de construções com
containers. Observa-se que, do total de recomendações, as seis primeiras estão diretamente
relacionadas à aplicação de estratégias que visem a garantia do conforto ambiental, com ênfase no
desempenho térmico. As demais recomendações, por sua vez, estão em sua grande maioria
relacionadas à garantia do consumo e manejo sustentáveis de recursos.
Neste contexto, com o intuito de aprimorar técnicas projetuais e orientar a especificação de
materiais construtivos e de acabamento, a utilização de simulações do desempenho térmico de
construções tem demonstrado grande utilidade. Ainda que os resultados de simulações não possam
substituir medições físicas, é amplamente reconhecido que predizer e avaliar o futuro
comportamento de uma edificação é muito mais eficiente e econômico do que resolver os
problemas quando o edifício já está na fase de utilização (HENSEN; LAMBERTS, 2011). Neste
trabalho, utilizou-se o software EnergyPlus 8.7.0 para a realização de simulações de desempenho
térmico de construções em containers.
Conforme Hensen e Lamberts (2011), simulações computacionais de desempenho de edificações
são multidisciplinares, orientadas à resolução de problemas. São normalmente baseadas em
métodos numéricos que visam oferecer uma solução aproximada a um modelo realístico em
complexidade no mundo real.
Assim, a realização de simulações de desempenho térmico de edificações pode contribuir no
processo de tomada de decisão acerca da escolha de materiais estruturais e de acabamento,
orientação de aberturas, entre outros parâmetros projetuais. Desta forma, viabiliza-se a seleção e
aplicação de materiais e técnicas mais adequadas de acordo com as condições climáticas do sítio
onde a edificação se encontra. Aguirre et al. (2008) frisam a importância da flexibilização do
ambiente construído com containers, levando-se em consideração as condições bioclimáticas de
cada região, requisito frequentemente ignorado em projetos.
2. OBJETIVO
3. METODOLOGIA
Esta seção descreve a metodologia adotada para a realização do trabalho. Inicia com o levantamento
realizado por meio da técnica de mineração de dados para determinação do estado da arte de
estudos que utilizam simulações de desempenho térmico em containers, bem como principais
tendências. A seguir, apresenta os procedimentos adotados no monitoramento térmico da CBBC, e
na realização de simulações de desempenho térmico com o software EnergyPlus 8.7.0.
3.1. Mineração de textos
Faro, Giordano e Spampinato (2011) definem mineração de dados como o processo utilizado para a
extração de conhecimento não explícito de textos, tornando a apresentação final lógica e concisa.
Seu objetivo é descobrir informações previamente não conhecidas, por meio da aplicação de um
procedimento de processamento automatizado de um banco de dados textuais (FARO;
GIORDANO; SPAMPINATO, 2011).
Para Gajzler (2010), o processo de mineração pode ser resumido em quatro fases: (1) transformação
do banco de dados textuais; documentos são reconfigurados para um formato texto, sendo retirados
e/ou substituídos símbolos desnecessários; (2) “tokenização”, ou separação de palavras, que
conforme Weiss et al.(2010), consiste na divisão de um texto contínuo em palavras distintas; nesta
etapa remove-se caracteres comuns em textos, que isoladamente não trazem informação relevante,
como símbolos, números, separações silábicas, entre outros; (3) “stemming” ou “lemmatization”
(WEISS et al., 2010) fase onde cada “token” é convertido para uma forma padrão, reduzindo seu
número pelo agrupamento de termos que se referem a um termo em comum, com a extração de
sufixos e prefixos que formam cada token; trata-se de uma “normalização linguística, onde formas
variantes de um termo são reduzidas a uma forma comum, o stem”, conforme Soares, Prati e
Monardi (2008, p. 4); e (4) matriz de frequências, que Fan et al. (2006) descrevem como o estágio
onde os stems são categorizados, associados às respectivas frequências de ocorrência nos textos que
compõem o banco de dados, possibilitando a realização de inferências acerca de suas proximidades,
distâncias, sinônimos e termos relacionados.
Destaca-se que a ocorrência de palavras em determinada sequência pode conter mais informações
que palavras isoladas, fato que demanda como etapa final a elaboração do procedimento
denominado “n-grama”, que estabelece a frequência da ocorrência de palavras unidas a outras, seja
de forma adjacente ou mesmo distante (SOARES; PRATI; MONARD, 2008).
Os procedimentos adotados para a execução da mineração de textos são apresentados no Quadro 1,
e descritos subsequentemente.
Quadro 1 – Procedimento para execução da Mineração de Texto
Etapa Objetivos Materiais
1 – Formação do banco de Formação do banco inicial de dados, com o resgate de artigos a partir da Bases de dados Scopus e
dados string "shipping container*" AND (building* OR construct* OR home Web of Science
OR hous*) nos campos Title, Abstract e Keywords
2 – Seleção dos artigos Remoção de artigos duplicados, sem Abstract e sem ano EndNote®X6 / Rotina
PHP criada pelos autores
3 – Conversão de artigos Preparação e conversão dos artigos, da extensão criada pelo EndNote Rotina PHP criada pelos
X6 (.xml) pata o formato de texto (.txt) autores
4 – Mineração de Texto Identificação e agrupamento dos termos encontrados nos arquivos após PreText 2
conversão
5 – Pré-análise dos resultados Identificação e retirada de stems naturalmente encontrados em artigos EndNote®X6
científicos, como 'results', 'research', 'study', 'paper'
Para a etapa 1, as fontes primárias consultadas para a formação do banco de dados da pesquisa
foram os repositórios online Scopus e Web of Science. Scopus é o maior banco mundial de dados
de resumos e citações de trabalhos científicos revisados por pares. Possui ferramentas de busca para
acompanhar, analisar, visualizar, classificar e refinar resultados de buscas. Composto por mais de
20.000 títulos e mais de 5.000 editores em todo mundo, resulta em aproximadamente 55 milhões de
registros (ELSEVIER, 2015). O Web of Science, por sua vez, possui registros de um período de 110
anos, tornando-o a mais relevante base de dados em número de registros e diversidade de
conteúdos, oferecendo a oportunidade de encontrar material relacionado a 55 diferentes disciplinas
(THOMSON REUTERS, 2015).
A escolha destes repositórios, consultados em 22/10/2018, atenderam aos seguintes critérios: (1)
seleção por conveniência; acesso disponível nas instituições às quais os autores são vinculados; (2)
todas possuem somente artigos revisados por pares; (3) a busca foi realizada utilizando a seguinte
string: "shipping container*" AND (building* OR construct* OR home OR hous*), nos campos
Title, Abstract e Keywords2. Esta foi definida após a realização de testes com várias combinações de
termos apontados pela literatura científica como elementos chave dentro do escopo da pesquisa.
Estes também foram os que ofereceram um maior número de retornos nas buscas preliminares,
sendo adotados como os mais representativos para os objetivos desta; (4) não foi aplicada nenhuma
restrição ao período avaliado, ou seja, os artigos resgatados poderiam ser de qualquer ano.
O levantamento, conduzido conforme os critérios descritos retornou um total de 359 artigos, sendo
256 da Scopus e 103 da Web of Science. A seguir, esta coleção passou pela etapa 2 de seleção de
artigos. Procedeu-se à remoção de documentos duplicados feita no EndNote ®X6, que resultou na
identificação e exclusão de 56 documentos, reduzindo a coleção inicial de 359 para 303 artigos.
Excluíram-se também os arquivos sem informação de ano e/ou autor, que diminuiu a amostra total
para 276 artigos. Na etapa 3, a rotina PHP utilizada no processo de preparação e conversão da
extensão dos artigos da extensão .xml para .txt identificou mais um artigo duplicado, o que resultou
em uma coleção com 275 artigos válidos para a execução da mineração de textos. Na etapa 5,
executaram-se a mineração de texto e a pré-análise dos dados, momento em que foram excluídos
stems cuja ocorrência é notoriamente conhecida em produções científicas, mas que não trazem
informações relevantes para estudos bibliométricos, como result, data, method, popul3, entre outros.
Como resultado da mineração de textos, o software PreText 2 gerou quatro listas de termos, sendo a
primeira com os stems mais recorrentes em todos os artigos analisados, e as demais relativas às
análises 2-grama, 3-grama e 4-grama, ou seja, expressões compostas por dois, três e quatro termos,
respectivamente. Nas análises n-grama, foi alta a frequência de expressões referentes a nomes de
instituições acadêmicas e do próprio assunto estudado, que também foram retiradas das análises.
Para viabilização da mineração, dado o grande volume de stems produzidos, estabeleceu-se como
critérios de seleção para análise até 20 stems de cada série grama, cuja ocorrência fosse registrada
ao menos em 5 artigos distintos.
2
Título, Abstract e Palavras chave.
3
resultados, dados, método, população.
Curitiba, no campus da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). A planta padrão dos
módulos e a vista geral da CBBC são apresentadas nas Figuras 1 e 2.
Figura 1. Planta esquemática de um módulo da Figura 2. Vista geral dos dois módulos da CBBC –
CBBC módulo experimental (ME) e módulo controle (MC)
4
Observa-se que, enquanto a transmitância térmica da envoltória atendeu ao recomendado em norma, a capacidade térmica ficou pouco abaixo do
requerido. Isto se deu devido à necessidade de garantir massa térmica sem alterar o padrão típico de construções em container e às restrições
orçamentárias enfrentadas ao longo da construção da CBBC, o que condicionou a composição da envoltória a doações de materiais.
Figura 3. Sensor HOBO Figura 4. Acondicionamento do sensor Figura 5. Localização do conjunto
(RH/Temp H08) no interior do tubo protetor suporte mais sensores no interior
do Módulo Controle (MC)
Fig. 6 – Planta esquemática em corte com posição das aberturas dos módulos da CBBC
3.4. Simulação de desempenho térmico - CBBC
Foram usados os programas IDFEditor, Weather Statistics and Conversions (WSC) e EP-Launch do
EnergyPlus 8.7.0 para a simulação da temperatura do ar no interior da CBBC. A simulação foi
realizada seguindo as sete etapas apresentadas na sequência.
(1) Foram inseridas no IDF Editor as coordenadas da envoltória da CBBC, assim como as aberturas
de janela e porta, além das propriedades térmicas dos elementos construtivos, como descrito na
Tabela 2.
(2) Ainda no IDF Editor, na seção Building, foi inserido Suburbs no campo Terrain, dado que a
localização do campus Ecoville está em região menos adensada. As demais configurações-padrão
foram mantidas.
(3) Foi baixada a base de dados horária do INMET da estação automática de Curitiba, de
01/01/2018 até o final do mês de Agosto, contendo dados de: temperatura de bulbo seco,
temperatura de ponto de orvalho, umidade relativa, pressão atmosférica, radiação global horizontal,
velocidade e direção do vento e precipitação. Os dados foram devidamente tratados, sendo a hora
no format UTC ajustada para a local e as unidades das variáveis convertidas para as do arquivo
climático padrão.
(4) Foi gerado o arquivo climático para a simulação com base no arquivo padrão da estação do
INMET que contém o ano climático com as normais do ano de 2008.
(5) Com o WSC, o arquivo climático foi convertido para a extensão .epw.
(6) Foi selecionada como saída a Mean Zone Air Temperature para ser comparada com os dados
medidos pelos sensores instalados nas câmaras.
(7) Foram simuladas no EP-Launch as duas configurações da CBBC, uma com a fachada
envidraçada a norte e outra a sul, ambas com o arquivo climático gerado com os dados de 2018.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados estão na Tabela 4, que apresenta os stems, a frequência (fi) de cada um, e a
quantidade (n) de resumos em que cada stem ocorre para a amostra de 275 artigos.
Na tabela 1-grama, além dos termos da string de busca, observa-se que apenas alguns stems
aparecem na análise 2-grama, e que alguns aparecem em mais de uma combinação, como cost e
energy. Assim, para o estudo, foi considerada mais relevante a análise 2-grama, por mostrar como
os termos se conectam, indicando que as pesquisas relacionadas à sustentabilidade de containers
não são numerosas e que não parece existir muitos casos de simulação de desempenho térmico em
construções que sirvam para abrigar pessoas (visto que alguns estudos focam em construção de data
centers, por exemplo).
Segundo Berardi (2013), a sustentabilidade das construções é analisada na maioria das vezes
somente sob a ótica da eficiência energética e da redução de gases de efeito estufa, sendo assim,
acaba-se dando ênfase apenas aos parâmetros ambientais. Através da análise 2-grama é possível
perceber que este é o foco das pesquisas que envolvem a sustentabilidade do uso de containers,
sendo que os termos relacionados à sustentabilidade aparecem como "descarte de resíduos"
(wast_disposal), "consumo de energia" (energy_consumption), "resíduo radioativo"
(radioact_wast), "ciclo de vida" (lif_cycle), "resíduo sólido" (solid_wast) e "eficiência energética"
(energy_efficiency). O radical "meio ambiente" (environment) aparece na análise 1-grama, porém o
radical referente a "sustentável" (sustainabl) e "sustentabilidade" (sustaintability) aprecem somente
nas posições 136 (fi =35 e n=23) e 451 (fi =14 e n=11), respectivamente.
A análise 3-grama resultou em apenas 5 stems que atenderam os critérios, todavia, considera-se que
nenhum seja relevante para esta análise, pois não se relaciona com termos associados à
sustentabilidade. A análise 4-grama não retornou resultado dentro dos critérios estabelecidos.
Tabela 4 - Stems, frequência e número de quantidades de publicações para os N-Grama
1-Gram 2-Gram 3-Gram
stems fi n % stems fi n % stems fi n %
contain 868 275 100.00 shipping_contain 497 275 100.00 finit_element_analys 9 8 2.91
shipping 545 275 100.00 finit_element 20 13 4.73 shipping_contain_building 9 7 2.55
design 251 97 35.27 freight_transportation 17 13 4.73 modul_dat_cent 9 6 2.18
building 161 91 33.09 low_cost 17 12 4.36 shipping_contain_hous 9 5 1.82
construction 195 90 32.73 modul_construction 20 11 4.00 cost_benefit_analys 7 5 1.82
modul 154 53 19.27 full_scal 14 11 4.00
cost 118 48 17.45 united_stat 18 10 3.64
energy 196 45 16.36 wast_disposal 16 10 3.64
model 105 45 16.36 energy_consumption 12 10 3.64
performanc 88 45 16.36 dat_cent 44 8 2.91
transport 87 45 16.36 cost_effect 17 8 2.91
materials 75 41 14.91 contain_hous 15 8 2.91
hous 69 40 14.55 radioact_wast 13 8 2.91
impact 153 39 14.18 larg_scal 10 8 2.91
development 63 37 13.45 lif_cycle 24 7 2.55
environment 47 36 13.09 solid_wast 20 7 2.55
air 101 35 12.73 debr_impact 20 7 2.55
products 49 35 12.73 contain_building 11 7 2.55
temperatur 56 34 12.36 energy_efficiency 10 7 2.55
industry 49 33 12.00 supply_chain 9 7 2.55
4.2. Comparativos entre o resultados de Tar registrados na CBBC e simulados pelo EnergyPlus
Os gráficos com as temperaturas do ar (Tar - °C) obtidas pelo INMET, pelo monitoramento no
interior dos módulos MC e ME, bem como os valores gerados a partir das simulações realizadas
com o EnergyPlus são apresentados nas Figura 7 e 8.
Fig. 7 – Comparativo entre Tar (°C) medidas no interior do Módulo Controle (MC) e simulados
Fig. 8 – Comparativo entre Tar (°C) medidas no interior do Módulo Experimental (ME) e simulados
Observa-se na Figura 7, que no MC da CBBC (fachada Norte), salvo um curto período de tempo, a
temperatura medida permaneceu sempre superior à temperatura do ar externa, e que a temperatura
simulada segue a mesma tendência. Este fato indica que a alta inércia térmica da envoltória dificulta
as trocas térmicas com o exterior, ao mesmo tempo em que a fachada de vidro de pouca espessura
permite entrada significativa de radiação, intensificando os picos de temperatura durante o período
de insolação direta. Também é possível observar que o modelo, apesar de apresentar maiores erros
ao calcular os picos de temperatura, representa de forma satisfatória as curvas de ganho e perda de
calor, acompanhando as oscilações dos dados medidos. O atraso térmico não é muito aparente nesta
situação.
Na figura 8 pode-se verificar que em todo o período analisado a temperatura simulada sempre
excede a medida, porém com uma variação bem menor do que na situação de fachada norte. Nesta
configuração também é possível identificar o atraso térmico e a redução da amplitude térmica
causados devido à inércia térmica da envoltória da CBBC. O fato da janela não ter recebido
insolação, por estar voltada para o sul e se tratar de situação de inverno, não gerou ganho de calor
por esta fonte no ME.
Fig. 9 – Médias de Tar (°C) medidas no interior do Módulo Controle (MC – fachada Norte), Módulo
Experimental (ME – fachada Sul), simuladas e registradas pelo INMET
A Figura 9 mostra que a diferença entre a média das temperaturas simulada e medida para o MC é
de 0,4°C, e entre o simulado e o ME de 1°C, sendo que em ambas as situações a média das
temperaturas medidas é menor do que as simuladas, apesar de haver maior variabilidade na
distribuição dos dados medidos. Na situação de fachada a norte, as diferenças entre as temperaturas
máxima e mínima variam 12,8°C e 7,7°C, para os dados medidos e simulados, respectivamente. Na
situação de fachada a sul existe menor variação, sendo de 7,5°C para os dados medidos e 6,2°C para
os simulados, para mesma condição de diferença de 12,8°C entre as temperaturas máxima e mínima
do ar externo (INMET). Se comparadas as situações de fachada norte e sul, as temperaturas
mínimas, tanto medidas quanto simuladas, quando não iguais, ficaram muito próximas, enquanto
que para as máximas houve diferença de 5,3°C entre os dados medidos e de 2°C para os simulados.
A diferença entre as temperaturas médias medidas entre fachada norte e sul foi de 1,7°C para os
dados medidos e 1,1°C para os simulados, evidenciando a influência da orientação da fachada
envidraçada nos ganhos de calor.
A estação do INMET se situa cerca de 12km do local de estudo e existe variação de temperatura
entre as localidades. Portanto, em estudos futuros, há previsão do uso de estação meteorológica no
local para o monitoramento de variáveis climáticas, visando à coleta de dados mais refinados para
controle.
A correlação entre os dados simulados e medidos para ambas as configurações, fachada Norte e Sul
são apresentadas nas Figuras 10 e 11.
A correlação entre os dados simulados e medidos na fachada Norte apresenta maior dispersão nos
dados, sendo esta maior quanto maior a temperatura registrada. Todavia, como visto nas Figuras 7 e
10, a maior variação entre os dados simulados e medidos se dá durante os picos de temperatura,
sendo que nas demais condições as curvas apresentam comportamentos semelhantes, sendo isto
indicado pelo coeficiente de correlação (R²) igual a 0,8061. Já no caso da fachada Sul, como é
possível verificar na Figura 8, existe menos dispersão entre os dados, resultando em um R² de
0,9799. Embora a correlação seja alta para ME, ainda existe discrepância entre os valores mais
baixos de temperatura: enquanto os valores mais altos simulados correspondam aos medidos, os
valores mais baixos são superiores aos medidos.
Fig. 10 - MC - Correlação entre dados simulados e medidos Fig. 11 - ME - Correlação entre dados simulados e medidos
4. CONCLUSÕES
A mineração de texto permitiu verificar que apesar de o número de construções em container estar
crescendo, que o número de pesquisas relacionadas ao tema ainda não é muito expressivo. Ainda,
na análise 2-grama observou-se que a abordagem orientada à sustentabilidade de ambientes
construídos em containers está focada somente na base ambiental do tripé, com ênfase para o
desempenho energético dessas construções e seu reuso visando à redução de resíduos.
Na avaliação do modelo usando o EnergyPlus, verificou-se que a partir da análise dos resultados
das simulações é possível fazer predições do comportamento térmico da CBBC, em especial em
situações onde não haja radiação direta entrando por aberturas, pois o modelo apresentou valores
estatisticamente significativos para o coeficiente de correlação. Desta forma, considerando o
objetivo do estudo de fornecer diretrizes para a replicação da CBBC em outras zonas bioclimáticas,
o modelo se mostrou consistente com a realidade.
Como limitação ao estudo, cita-se a impossibilidade da coleta de dados climáticos locais. Para os
próximos estudos, é previsto o registro in loco destes dados, o que contribuirá com a maior acurácia
do método proposto, ao se reduzir as incertezas inerentes à simulação.
Ainda, salienta-se que a configuração com a persiana de PVC fechada também será testada e
validada em estudos futuros, assim como situações de condições climáticas diferentes, auxiliando o
ajuste fino do modelo.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES e ao CNPq pela concessão de bolsas de mestrado, doutorado e pós-
doutorado que viabilizaram a produção da pesquisa.
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ESTUDO DA LAMA VERMELHA NA FABRICAÇÃO DE GEOPOLÍMEROS
SEM ADIÇÃO DE HIDRÓXIDO DE SÓDIO
Study of red mud in the production of geopolymer without sodium hydroxide addition
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização do programa experimental desse estudo, foi utilizado uma lama vermelha
proveniente de uma empresa produtora de alumínio localizada na cidade de Ouro Preto, no estado
de Minas Gerais. Destaca-se que o resíduo foi recebido com um alto teor de umidade.
Para cada traço foram moldados três corpos de prova 4x4x16 cm. Afim de acelerar a
geopolimerização, utilizou-se cura térmica na estufa a 100°C, onde o material ficou por 24h. O
processo de cura dos corpos de prova seguiu com os corpos de prova ficando expostos a umidade e
temperatura ambiente por 7 dias. Uma placa de vidro foi posicionada acima dos corpos de prova
para evitar perda de umidade do material antes do seu endurecimento.
Após os 7 dias de cura, as amostras LV00 e LV0A foram submetidas à ensaios de resistência à
compressão e tração à flexão utilizando uma prensa hidráulica modelo EMIC DL20000, de acordo
com o protocolo estabelecido pela NBR 13279 [15]. É recomendado que os corpos de prova de
geopolímero tenham resistência à compressão mínima de 2MPa para não comprometer a amostra ao
manipulá-la [16].
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
ID Amostras (μm)
D90 73.08 μm
D50 12.36 μm
D10 1.18 μm
A lama vermelha apresentou o pH de 11,14. A norma brasileira NBR 10004 [17] classifica como
material corrosivo aqueles que apresentam pH superior a 12,5 ou inferior a 2, dessa forma, apesar
da lama vermelha ter apresentado valor próximo ao limite, a mesma não é classificada como resíduo
sólido corrosivo. Quanto a composição química da lama vermelha, a mesma é apresentada na Tabela
3. Onde, foi constatado que os óxidos de alumínio, ferro e silício representam 87% da composição
total do resíduo. Nesse material a razão SiO2/Al2O3 é de 0,24, um valor relativamente baixo. Foi
observado na lama vermelha cerca de 5% de Na2O, o que provavelmente ocorreu devido ao
processo Bayer elevando a concentração de NaOH do material.
4. CONCLUSÃO
O presente trabalho visou analisar os processos de geopolimerização, e avaliar o potencial de
utilização da lama vermelha para a produção de materiais aglomerantes, estudando suas
características e propriedades. O diferencial desta pesquisa foi a utilização do rejeito sem solução
ativadora, aproveitando do NaOH já existente na lama vermelha obtidos pelo processo Bayer. Com
base nos estudos, nas análises e nos resultados obtidos conclui-se que:
• Os teores de umidade utilizados influenciaram na moldagem e nos resultados obtidos. As
amostras com maior teor de umidade (LV0A) apresentaram uma maior retração e desplacamento
comparadas às amostras in natura (LV00), com menor teor de umidade.
• O pH apresentado pela lama vermelha encontrou-se abaixo dos valores definidos pela norma
que classifica materiais corrosivos.
• Quanto a caracterização da lama vermelha, a fluorescência de raios- x apresentou resultados
esperados , apesar da composição química variar de acordo com a rocha de origem. Além disso,
confirmou-se que a lama vermelha é constituída por partículas muito finas e as fases encontradas na
difração de raios-x contribuem para a geopolimerização.
• O geopolímero produzido com a lama vermelha possui boas propriedades mecânicas e pode
ser aplicado como blocos de cerâmicas, uma vez que apresentam resistências superiores exigidas
por norma para fabricação de blocos cerâmicos. Destaca-se que o geopolímero necessita de uma
temperatura na cura 10 vezes menores do que as convencionais para produzir essa resistência.
• Além de contribuir para a diminuição de lagoas de deposição de lama vermelha, a
possibilidade de utilização desses geopolímeros na construção civil envolve um processo de
produção mais sustentável e apresenta melhores propriedades do que os materiais convencionais,
como o descrito acima.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.
REFERÊNCIAS
[2] ABAL; CNI. Encontro da Indústria para a sustentabilidade. A Sustentabilidade da indústria brasileira do
alumínio. Disponível em: http://www.abal.org.br/downloads/abal-rio20.pdf. Acessado em outubro de 2018.
[3] HIND, R. A., BHARGAVA, S. K., GROCOTT, S. C., “The surface chemistry of Bayer process solids: a
review”, Colloids and surfaces A: Physicochemical and engineering aspects, n. 146, pp.359-374, 1999.
[4] FREITAS, A. FISPQ Hidróxido de Sódio – Perigos, cuidados e EPIs. Disponível em https://cmcenter.com.br/pt-
br/fispq/fispq-hidroxido-de-sodio/.Acessado em outubro de 2018.
[5] TONIOLO, N. et al., 2018. Novel geopolymers incorporating red mud and waste glass cullet. Materials Letters,
Volume 219, pp. 152-154.
[6] BINNEMANS K., JONES P. T., BLANPAIN B., VAN GERVEN T., YANG Y., WALTON A., BUCHERT M.
Recycling of Rare Earths: a critical review. Journal of Cleaner Production 51 I-22, Editora Elsevier, 2013.
[7] TANG, W., Wang, Z., Liu, Y. & Cui, H., 2018. Influence of red mud on fresh and hardened properties of self-
compacting concrete. Construction and Building Materials, Volume 178, pp. 288-300.
[8] ZHANG, H. et al., 2018. Performance enhancement of porous asphalt pavement using red mud as alternative
filler. Construction and Building Materials, Volume 160, pp. 707-713.
[9] WANG, W., Chen, W., Liu, H. & Han, C., 2018.Recycling of waste red mud for production of ceramic floor tile
with high strength and lightweight. Journal of Alloys and Compounds, Volume 748, pp. 876-881.
[10] BITENCOURT, C. S.; TEIDER, B. H.; GALLO, J. B.; PANDOLFELLI, V. C. A geopolimerização como técnica
para a aplicação do resíduo de bauxita. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ce/v58n345/05.pdf. Acessado em
outubro de 2018.
[11] SOUZA, R. D. Z. Estudo da Influência do ativador alcalino nas propriedades mecânicas do geopolímero.
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao cursode graduação em Engenharia de Materiais da Universidade do
Vale do paraíba, 2012.
[12] ZHANG, M. et al., 2014. Synthesis factors affecting mechanical properties, microstructure, and chemical
composition of red mud-fly ash based geopolymers. Fuel, Volume 134, pp. 315 - 325.
[13] HU, W. et al., 2018. Mechanical and microstructural characterization of geopolymers derived from red mud
and fly ashes. Journal of Cleaner Production. Volume 186, pp. 799 - 806.
[15] ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13279:2005 – Argamassapara assentamento de
paredes e tetos – Determinação da resistência à tração na flexão e à compressão.
[16] NAGEM, N. F., MANSUR, H. S. Geopolímero a partir de resíduos oriundos da indústria de alumínio para
reutilização de coprocessamento. Abril de 2013. Tese de doutorado apresentada o Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Metalúrgica e de Minas da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte
– MG, 2013.
[17] ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10004:2004 – Resíduos sólidos – Classificação.
[18] ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15270-1:2005-Componentes cerâmicos. Parte 1:
Blocos cerâmicos para alvenaria de vedação – Terminologia de requisitos.
EVOLUÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: UMA ANÁLISE
CRÍTICA DOS SERVIÇOS DE ÁGUA E ESGOTO COM BASE NA
EXPERIÊNCIA DO SNIS
2. OBJETIVO
3. METODOLOGIA
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A fim de promover a melhor compreensão dos gráficos Box Plot que serão apresentados ao longo
desse estudo, a figura 1 representa os símbolos relacionados ao gráfico. O retângulo central
representa a zona aonde estão contidos 50% dos dados, já os valores máximos e mínimos são
representados valores extremos da distribuição. Além disso existem os quartis, sendo que o
primeiro quartil representa 25% da amostra e o terceiro quartil representa 75% da amostra. [7]
80
60
IN055 (%)
40
20
0
CO NE N SE S
100
80
60
IN055 (%)
40
20
0
CO NE N SE S
100
80
60
IN049 (%)
40
20
-20
-40
CO NE N SE S
100
80
60
IN049 (%)
40
20
0
CO NE N SE S
Além disso, através dos gráficos box plot é possível observar que apesar das medianas não excedem
os 200 L.hab-¹.d-¹, existem em todas as regiões municípios com valores extremamente elevados.
Esses valores podem ser considerados outliers, e optou-se por representa-los para efeito de análise
crítica, como pode ser observado nas figuras 7 e 8. Além disso, o consumo médio per capita elevado
pode ser justificado pois em alguns casos, devido a um precário controle operacional realizado
pelos prestadores de serviços, a macromedição e micromedição não são efetivamente computadas,
mas sim superestimadas [4]. Vale ressaltar, que em determinados municípios, existe um fluxo de
turistas considerável, aumentando o consumo de água sem aumentar a população residente do
mesmo. Na figura 7 são representados os consumos médios percapita de todas as regiões brasileiras
no ano de 2012, já na figura 8 são apresentados os consumos médios per capita no ano de 2016,
observa-se que houve uma diminuição considerável de outliers em todas as regiões em 2016.
1600
1400
1200
IN022 (L/hab.d)
1000
800
600
400
200
0
CO NE N SE S
600
500
400
IN022 (L/hab.d)
300
200
100
0
CO NE N SE S
240
220
200
180
160
140
IN015 (%)
120
100
80
60
40
20
0
CO NE N SE S
100
80
60
IN015 (%)
40
20
0
CO NE N SE S
9000
8000
7000
6000
IN021 (m/lig)
5000
4000
3000
2000
1000
0
CO NE N SE S
400
IN021 (m/lig)
300
200
100
0
CO NE N SE S
140
120
100
IN046 (%)
80
60
40
20
CO NE N SE S
120
100
80
IN046 (%)
60
40
20
0
CO NE N SE S
5. CONCLUSÃO
Percebe-se que o cenário atual brasileiro apresenta um avanço considerável relacionado aos
indicadores apresentados. Verifica-se ainda que a situação dos serviços de abastecimento de água
encontra-se em melhor situação quando comparado aos serviços de esgotamento sanitário. As
regiões Norte e Nordeste apresentam os piores resultados em todas as análises realizadas, o que
comprova a necessidade de investimentos do Governo Federal nessas regiões do país.
Ademais, apesar da metodologia do SNIS envolver uma análise criteriosa dos dados fornecidos ao
sistema, ressalta-se que é de extrema importância analisar cuidadosamente a série histórica
existente, visto que as informações são disponibilizadas diretamente pelos prestadores de serviços,
impossibilitando a conferência da veracidade das informações.
Por fim, acredita-se que ferramentas de análise estatística dos dados do SNIS possam auxiliar
avaliações das condições sanitárias do país, subsidiando tomadas de decisão e melhoria dos serviços
prestados.
6. REFERÊNCIAS
[1] BRASIL, Lei no. 11.445/2007, de 05 de janeiro de 2007. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 05 jan.2007.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11445.htm>
Acesso em: 05 de julho de 2018
[2] BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental – SNSA. Sistema
Nacional de Informações sobre Saneamento: Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2016.
Brasília: SNSA/MCIDADES, 2018. 220 p.: il.
Disponível em: <http://www.snis.gov.br/diagnostico-agua-e-esgotos>
Acesso em: 25 de setembro de 2018
[3] Guias práticos: técnicas de operação em sistemas de abastecimento de água / organização, Airton
Sampaio Gomes. - Brasília: SNSA, 2007. 5 v.
Disponível em: < http://www.pmss.gov.br/index.php/biblioteca-virtual/programa-nacional-combate-ao-
desperdicio-agua-pncda>
Acesso: 25 de setembro de 2018
[4] BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Plano Nacional de
Saneamento Básico (PLANSAB): mais saúde com qualidade de vida e cidadania. Brasília: Ministério
das Cidades, 173p, 2013.
Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/processos/AECBF8E2/Plansab_Versao_Conselhos_Naciona
is_020520131.pdf> Acesso em: 04 de outubro de 2018
[5] STATSOFT. STATISTICA (data analysis software system), version 8.0. 2007.
Disponível em: <www.statsoft.com>
[7] Capela,M.V.; Capela, J.V.M. Elaboração de gráficos Box-Plot em Planilhas de Cálculo. In:
Congresso de Matemática Aplicada e Computacional da Região Sudeste. Anais..., n.p.
Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/267296938_Elaboracao_de_Graficos_Box-
Plot_em_Planilhas_de_Calculo?enrichId=rgreq-7431c0b432230ba4f36ffb2d9b683735-
XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2NzI5NjkzODtBUzoxNzQ5ODE0NzY1MjgxMjhAMTQxODczMDI0MzE
yNw%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf>
Acesso: 10 de outubro de 2018
EVOLUÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: UMA ANÁLISE
CRÍTICA DOS SERVIÇOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS COM BASE NA
EXPERIÊNCIA DO SNIS
Resumo: Saneamento básico agrega serviços e instalações operacionais em seu conceito, visando à
universalização do abastecimento de água, coleta de esgoto, resíduos sólidos, limpeza urbana,
drenagem urbana e manuseio da água pluvial. Diante disso, foi desenvolvido o Sistema de
informações sobre o saneamento, SNIS, sob gestão do Ministério das Cidades, que é responsável
por recolher dos prestadores de serviços as informações referentes aos serviços de Água e Esgotos,
Resíduos Sólidos Urbanos (RS) e Drenagem e Manejo das Águas Pluviais Urbanas. Através do
Web SNIS é disponibilizado o banco de dados Série Histórica. O estudo teve como objetivo, aplicar
testes estatísticos na análise do cenário evolutivo do saneamento no Brasil (2012-2016), enfatizando
serviços de gerenciamento de resíduos sólidos; além de explorar dados evidenciando pontos de
melhoria, obstáculos e tendências nos indicadores, que poderão nortear e fundamentar a gestão e
gerenciamento do saneamento no país. Foram observados indicadores e informações contidas nos
diagnósticos anuais do manejo de resíduos sólidos, com foco em: despesa per capita com manejo de
RS em relação à população urbana; taxa de cobertura do serviço de coleta domiciliar direta da
população urbana do município; massa coletada per capita em relação à população urbana; taxa de
resíduos sólidos da construção civil coletada pela prefeitura em relação à quantidade total coletada;
taxa de recuperação de materiais recicláveis em relação à quantidade total coletada e taxa de
resíduos de serviços de saúde coletada em relação à quantidade total coletada. Com base em
resultados de testes de aderência, realizou-se testes de hipóteses de comparação simples e de
comparações múltiplas, sendo adotado um nível de 95% de confiança. A partir da elaboração de
gráficos e da análise dos testes estatísticos, foi possível comparar os dados e evidenciar deficiências
e padrões nas ações de gerenciamento de resíduos nas macrorregiões do Brasil. A cobertura de
coleta domiciliar tem se mantido em taxas elevadas, igual a 98,6 da população urbana para os anos
de 2014, 2015 e 2016, porém, há um déficit de atendimento a aproximadamente 2,7 milhões de
habitantes das cidades brasileiras, sendo 65,8% destes, moradores das regiões Norte e Nordeste.
Evidenciou-se, ainda, incremento nas despesas referentes ao manejo de RSU em cidades litorâneas,
visto que, no geral, são cidades pouco populosas com população flutuante considerável que
contribui na geração de resíduos. Acredita-se que a verificação destas informações seja pertinente
para avaliações das condições sanitárias do país, subsidiando o gerenciamento e tomada de decisão.
1. INTRODUÇÃO
2. OBJETIVO
3. MÉTODOS
3.1.1 Teste
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir das análises estatísticas, obtivemos gráficos que, juntamente com os resultados dos testes
utilizados, facilitaram a visualização dos resultados alcançados. A Figura 1 a seguir ilustra a
legenda sobre a interpretação dos elementos do gráfico Box Plot. Este tipo de gráfico apresenta a
caixa com 50% dos valores, o mínimo exibindo o menor valor encontrado e o máximo, que
representa o quarto quartil, sendo cada quartil formado por 25% dos valores obtidos nas amostras
[7].
4.1. Despesa per capita com manejo de RSU em relação à população urbana (IN006)
O Gráfico 1 a seguir representa na abscissa o indicador IN006 referente à despesa per capita com
manejo de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) apresentado em R$/habitante. De acordo com o Brasil
[8] com a base de dados de 2016, nesta edição, o indicador em estudo contou com a colaboração de
3.545 municípios.
3000
2500
IN006 (R$/hab.)
2000
1500
1000
AB C AB A BC
500
0
CO N NE S SE
REGIÕES
Gráfico 1 – Indicador IN006 com a presença de Fernando de Noronha no ano de 2016. Fonte: Autoria Própria
O cálculo deste indicador é feito através do somatório das despesas com serviços de manejo de
resíduos sólidos urbanos, dividido pela população urbana do município. E, segundo o IBGE [9],
Fernando de Noronha apresentava em 2016 uma população estimada de 2.974 habitantes e de
acordo com Brasil [10] 91 mil turistas visitaram o município no mesmo ano, o que justifica
resultados tão elevados.
Esse fato foi observado no Gráfico 2 quando a ilha foi retirada do banco de dados, o máximo
continuou sendo liderado por cidades litorâneas, desta vez, guiado por Guamaré – RN. Entretanto,
este padrão não foi notado no ano de 2012, onde o indicador foi liderado por Floriano Peixoto – RS.
900
800
IN006 (R$/hab.)
700
600
500
400
300
200
100
0
CO N NE S SE
REGIÕES
Gráfico 2 – Indicador IN006 sem a presença de Fernando de Noronha no ano de 2016. Fonte: Autoria Própria
4.2. Taxa de cobertura do serviço de coleta domiciliar direta (porta-a-porta) da população urbana
do município (IN014).
A PNSB estabelece a formulação de planos de saneamento básico sob direção do Ministério das
Cidades. O Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB) foi elaborado a partir de três
principais estudos, sendo eles: “Pacto pelo Saneamento Básico: mais saúde, qualidade de vida e
cidadania”, “Panorama do Saneamento Básico no Brasil” e “Consulta Pública” que permitiu
discussões que levaram ao seu aval [11].
Segundo Brasil [8], este indicador passou a entrar na computação dos dados a partir de 2012, com o
intuito de auxiliar a verificação do progresso de uma das metas do PLANSAB. Através de um
indicador nomeado como “percentual de domicílios urbanos atendidos por coleta direta de resíduos
sólidos”.
Ademais, estes indicadores possuem inconsistências em suas equiparidades, uma vez que o da
PLANSAB reconhece a coleta realizada três vezes por semana nos municípios urbanos e do SNIS, a
coleta efetuada uma vez na semana, atendendo a população urbana [8].
Os Gráficos 3 e 4 ilustram o indicador em estudo nas cinco regiões do Brasil nos anos de 2012 e
2016. Em ambos há a presença dos dados majoritariamente aproximados da totalidade (100%),
tendo como exceção alguns municípios que não responderam ou que não realizam coleta porta-a-
porta, apresentando resultados de 0% e outros valores médios encontrados nas regiões Norte e
Nordeste.
120
100
80
IN014 (%)
60
40
20 A B B A A
0
CO N NE S SE
REGIÕES
Gráfico 3 – Indicador IN014 no ano de 2016. Fonte: Autoria Própria
120
100
80
IN014 (%)
60
40
20
0
CO NE N SE S
REGIÕES
Gráfico 4 – Indicador IN014 no ano de 2012. Fonte: Autoria Própria
4.3. Massa coletada (RDO + RPU) per capita em relação à população urbana (IN021).
Este indicador é apresentado em kg/hab/dia, a partir dele é possível verificar que novamente no
Gráfico 5 a região nordeste apresenta o ponto de máximo elevado se tratando de uma cidade
litorânea turística denominada Jijoca de Jericoacoara.
Isto acontece, devido ao fato do cálculo necessário para encontrar os valores ser realizado através da
divisão entre o somatório da massa coletada de resíduos domiciliares orgânicos e resíduos públicos
urbanos, a estimativa de população realizada pela plataforma e os dias do ano. Como mostrado na
Fig. 2 seguir:
Fig. 2 – Fórmula para o cálculo do IN021. Fonte: Glossário de Indicadores - Resíduos Sólidos [8].
5,5
4,5
IN021 (kg/hab/dia)
3,5
2,5
A B A B B
1,5
0,5
-0,5
CO N NE S SE
REGIÕES
Gráfico 5 – Indicador IN021 no ano de 2016. Fonte: Autoria Própria
Também é possível analisar através do Gráfico 6, que as medianas regionais encontram-se em
faixas próximas e estagnadas, pois em 2012 foram observados resultados mantidos a esta média,
dando destaque apenas para a cidade de Alcinópolis – MS apresentando 11,23kg/hab/dia.
O município de Alcinópolis possuía em 2012, população estimada segundo o IBGE [12] de 4.704
habitantes. A hipótese para este resultado exorbitante surgiu a partir do Plano de Gestão Integrada
de Resíduos Sólidos para a Sub-Bacia do Rio Taquari no qual o município e outros dez estão
inseridos.
Segundo PGIRS [13] para o cálculo da estimativa de coleta de RSD são necessários outros
elementos, sendo que o município não contempla o controle da geração per capita de RSD, o que
acaba prejudicando a precisão da estimativa do parâmetro. Após esta etapa, utilizaram para a
aproximação do volume de RSD coletados, peso específico aparente determinado a partir de
ensaios. Para o ano de 2012 foi estimado o volume de 0,94 t/dia para Alcinópolis, o que leva a crer
que realmente houve erro ao transcrever os valores para a plataforma SNIS.
O Brasil [14] apresenta no escopo do diagnóstico que o munícipio foi retirado do tratamento dos
dados para a elaboração do mapa do IN021 com a justificativa de que o valor mencionado teria
excedido o valor máximo do aplicativo de 4kg/hab./dia.
12
10
IN021 (kg/hab/dia)
8
6
4
2
0
CO NE N SE S
REGIÕES
Gráfico 6 – Indicador IN021 no ano de 2012. Fonte: Autoria Própria
4.4. Taxa de resíduos sólidos da construção civil (RCC) coletada pela prefeitura em relação à
quantidade total coletada (IN026).
Se tratando deste indicador, o ano de 2012 foi constatado através do Gráfico 7 um outlier em
Guararapes – SP, apresentando o valor de 2977,36%. Em 2016 não foram contemplados valores
discrepantes como em 2012 (Gráfico 8) e, o município de Guararapes não apresentou resposta.
3000
2500
IN026 (%)
2000
1500
1000
500
0
CO NE N SE S
REGIÕES
Gráfico 7 – Indicador IN026 no ano de 2012. Fonte: Autoria Própria
350
300
250
IN026 (%)
200
150
100
AB C B B A
50
0
CO N NE S SE
REGIÕES
Gráfico 8 – Indicador IN026 no ano de 2016. Fonte: Autoria Própria
4.5. Taxa de recuperação de materiais recicláveis (exceto matéria orgânica e rejeitos) em relação
à quantidade total (RDO + RPU) coletada (IN031).
A partir deste critério, foi notada uma deficiência na Região Nordeste nos anos de 2012 e que
perdurou por 2016, apresentando baixos percentuais em relação às demais localidades do país como
pode ser observado nos Gráficos 9 e 10 a seguir.
120
100
80
IN031 (%)
60
40
20
0
CO NE N SE S
REGIÕES
Gráfico 9 – Indicador IN031 no ano de 2012. Fonte: Autoria Própria
70
60
50
IN031 (%)
40
30
20
BC BC C A B
10
0
CO N NE S SE
REGIÕES
Gráfico 10 – Indicador IN031 no ano de 2016. Fonte: Autoria Própria
Com a análise temporal da taxa de recuperação de materiais recicláveis tratada no Gráfico 11, é
indispensável salientar a evolução do indicador e o crescimento nos anos mais atuais. A reciclagem
no Brasil ganha espaço e se apresenta como forma de negócio, uma vez que gera lucro e renda com
os seus materiais. Vale destacar também que no cenário atual do país existem muitos catadores
autônomos, o que dificulta a precisão do impacto desta atividade [15].
6
IN031 (%)
3
0
2012 2013 2014 2015 2016
Anos
80
60
40
20
0
CO NE N SE S
REGIÕES
Gráfico 12 – Indicador IN037 no ano de 2012. Fonte: Autoria Própria
3,5
3,0
2,5
IN037 (%)
2,0
1,5
1,0
B AB A A B
0,5
0,0
CO N NE S SE
REGIÕES
Gráfico 13 – Indicador IN037 no ano de 2016. Fonte: Autoria Própria
A série temporal do IN037 ilustrada no Gráfico 14 abaixo evidencia o decaimento do indicador com
o decorrer dos anos.
0,235
0,23
0,225
0,22
IN037 (%) 0,215
0,21
0,205
0,2
0,195
0,19
0,185
2012 2013 2014 2015 2016
Anos
5. CONCLUSÃO
Contudo, apesar dos indicadores apresentarem em sua maioria avanço no cenário de resíduos
sólidos, principalmente por elaborações de Planos de Gerenciamentos de Resíduos Sólidos, vale
salientar que o país ainda é carente da difusão dessas informações, métodos de tratamento e de
correta disposição dos rejeitos.
Para isto, a educação ambiental tem um papel importante e é relacionado diretamente ao aumento
da taxa de recuperação de materiais recicláveis (exceto matéria orgânica e rejeitos). Uma vez que
indica o local correto de armazenagem, os materiais passíveis de serem reciclados e até mesmo a
conscientização sobre o recolhimento dos resíduos pelas prefeituras ou empresas terceirizadas.
A coleta porta-a-porta também de suma importante e vale salientar que no IN014 são consideradas
apenas as coletas diretas, mas que ainda em lugares de condições deficientes de infraestrutura
urbana, são oferecidas à população caçambas estacionárias. Diferenciando a qualidade e
disponibilidade na prestação deste serviço.
Ademais, o Brasil vem elevando sua geração per capita de resíduos sólidos, isto ocorre devido ao
aumento do poder aquisitivo da população. Caso não haja a destinação correta e a utilização de
artifícios de pré-tratamento e recuperação enérgica, logo menos as áreas de disposição estão
saturadas.
REFERÊNCIAS
[1] BRASIL. Lei N. 11.445, de 05 de Janeiro de 2007: Estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico,
cria o Comitê Interministerial de Saneamento Básico, altera a Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979, a Lei nº 8.036,
de 11 de maio de 1990, a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, e a Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, e revoga a
Lei nº 6.528, de 11 de maio de 1978. Brasil, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2007/Lei/L11445.htm>. Acesso em: 15 out. 2018.
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[4] BRASIL. SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE SANEAMENTO. (Org.). Aplicação web Série
Histórica. 2015. Disponível em: <http://www.snis.gov.br/aplicacao-web-serie-historica>.
[5] STATSOFT. STATISTICA (data analysis software system), version 8.0. 2007. Disponível em:
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[6] BARBOZA, J. V. S.; LEISMANN, E. L.; JOHAN, J. A. Sustentabilidade na Visão de Gestores de Micro e Pequenas
Empresa na Região do Paraná. Revista da Micro e Pequena Empresa, v. 9, n. 2, p. 17-29, 2015.
[7] MEDRI, Dr. Waldir. ANÁLISE EXPLORATÓRIA DE DADOS. 2011. 82 f. - Curso de Estatística,
Departamento de Estatística, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011. Disponível em:
<http://www.uel.br/pos/estatisticaquantitativa/textos_didaticos/especializacao_estatistica.pdf>. Acesso em: 24 out.
2018.
[8] Brasil. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental – SNSA Sistema Nacional de
Informações sobre Saneamento: Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos – 2016. – Brasília:
MCIDADES.SNSA, 2018.
[9] BRASIL. IBGE. . Estimativas populacionais para os municípios e para as Unidades da Federação brasileiros
em 01.07.2016. Disponível em:
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[10] BRASIL. Brasil. Ministério do Turismo. Fernando de Noronha registra alta no fluxo turístico em
2016: Destino de celebridades no fim do ano, arquipélago tem taxa média de ocupação de 91% e prevê resultados
positivos em 2017. 2017. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/ultimas-noticias/7397-fernando-de-noronha-
registra-alta-no-fluxo-tur%C3%ADstico-em-2016.html>. Acesso em: 05 nov. 2018.
[11] BRASIL. (2014) Plano nacional de saneamento básico. Brasília: Ministério das Cidades, 220 p. Disponível em:
<http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNSA/PlanSaB/plansab_texto_editado_para_download.pdf>.
Acesso em: 19 out. 2018.
[12] BRASIL. IBGE. Estimativas populacionais para os municípios brasileiros em 01.07.2012. Disponível em: <
https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2012/estimativa_dou.shtm>. Acesso em: 05 nov. 2018.
[14] Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento:
diagnóstico do manejo de resíduos sólidos urbanos – 2012. Brasília: MCIDADES.SNSA, 2014.
[15] CAMPOS, Heliana Kátia Tavares. Renda e evolução da geração per capita de resíduos sólidos no Brasil. Eng
Sanit Ambient, Brasília, v. 17, n. 2, p.171-180, Não é um mês valido! 2012. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/esa/v17n2/a06v17n2>. Acesso em: 15 out. 2018.
ENSINO DE RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS POR MEIO DE
APLICAÇÕES COMPUTACIONAIS
Abstract: The present study discusses the implementation of the use of computational tools applied
to the field of Civil Engineering in the discipline of Strength of Materials. The search for different
means in the determination of axial stresses and normal stresses, allows comparison of results. The
methodology consists of solving contextualized engineering problems involving concentrated,
distributed, and thermal loads, applications in isostatic and hyperstatic structures for the calculation
of displacements and stresses. We used analytical, classical theories for the Strength of Materials, and
software for comparison; Ftool by direct stiffness method; SAP 2000 by the finite element method.
The importance of this work is justified by the correlation of these methods, both by the analytical
use, both by the use of computational tools, in the resolution of didactic examples. The same problem
is solved with different techniques and in a sequential way, in order to increase the understanding of
the discipline, and to enable a better understanding and discernment for the correct analyzes of the
results provided. It is also justified, from a general case, by the introduction in the use of modeling
software, to solve engineering problems, in which the real physical system is studied by a virtual
model created.
2. OBJETIVO
Discutir a aplicação das ferramentas computacionais no campo do ensino da disciplina de Resistência
dos Materiais através de comparação da resolução clássica de exercícios, com soluções via softwares
de modelagem.
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As análises de problemas da engenharia partem de princípios em que o sistema real, complexo, deve
ser idealizado. São feitas representações do problema real, tal que o objetivo seja considerar os
aspectos mais dominantes; ou também, desprezar efeitos não importantes, para uma possível análise
matemática. Com base nisso, adotam-se hipóteses. Entretanto, essas hipóteses podem carregar dois
erros: erros de modelagem e erros de discretização. Os erros de modelagem são reduzidos
aumentando a fidelidade do modelo; e os erros de discretização são reduzidos com refinamento de
modelagem (aumento de elementos discretos). Vale salientar, que embora os erros de discretização
forem tão pequenos podendo eles ser desprezíveis, a realidade nunca será perfeitamente idealizada,
como comenta Cook, Malkus, Pleasha e Witt [2].
Um exemplo de modelagem e discretização, está esquematizado pela Fig. 1. Primeiramente, através
de modelagem, considera-se o solo como um apoio rígido (desconsiderando a deformação
proveniente do recalque). Segundo, considera-se a carga atuante na estrutura como uniforme, aplicada
em uma certa área aproximada, para que então seja representada uma carga pontual (carga P – Fig.
1), e unidirecional (para baixo – Fig. 1), nos cálculos. Define-se também, uma forma aproximada da
estrutura, dividida em três partes, com constantes áreas transversais equivalentes. Assume-se uma
distribuição linear de tensões e deformações e ignora-se a não linearidade do material (supondo
material elástico). Por fim, desconsidera-se o peso da estrutura [2].
A estrutura, portanto, a partir das simplificações impostas, pôde-se ser matematicamente exequível.
Fig. 1 – Esquema de modelagem e discretização [2]
Pela Resistência dos Materiais, sempre válidos os conceitos da Lei de Hooke, princípio de Saint-
Venant, isotropia, e continuidade, a variação de comprimento (L) de uma determinada peça (de
módulo de elasticidade E, área transversal A) por uma carga aplicada (P), é dada por [3]:
𝑃.𝐿
𝛿 = 𝐸.𝐴 (1)
Pelo método da rigidez direta, os problemas são conduzidos com de uso de análise matricial. Tal
método é aplicável para estruturas reticuladas [4], em que são atendidos dois conjuntos de
formulações: compatibilidade dos deslocamentos, e equilíbrio de forças. Através dessa relação é
possível obter um conjunto de equações expresso em termos de deslocamentos [5]. Esse processo é
iterativo, sendo possível sua programação através de linguagens computacionais, o que confere sua
aplicação por meio de softwares.
Pelo método dos elementos finitos, a discretização de estruturas não obrigatoriamente reticuladas,
mas contínuas e em domínios mais complexos, por meio de um número finito de elementos [6]. Tais
elementos, que mantêm as propriedades do meio que os originou, são posteriormente descritos por
equações diferenciais e resolvidos por modelos matemáticos aproximados [7]. Resolve-se um
problema complexo, através de uma sequência de problemas mais simples, e que quando agrupados,
conduzem à solução inicial real [8].
4. METODOLOGIA
Mediante apresentação de cinco exemplos de exercícios que constam nas principais bibliografias de
Resistência dos Materiais, e um exercício-base, será estabelecido uma comparação entre os
métodos propostos, divididos respectivamente entre as categorias: Resolução via Resistência dos
Materiais (RM), via Ftool e via SAP 2000 (MEF) em um quadro-resumo, que apresenta as resoluções
e as respostas.
Exercício 01: A haste ABCD é feita de Alumínio, com E = 70GPa. Determine, para as cargas
indicadas, desprezando o peso próprio: o deslocamento da seção B e o deslocamento da seção D [9].
Exercício 02: Duas barras maciças cilíndricas AC e CD, ambas de mesma liga de alumínio (E =
70GPa), são soldadas juntas em C e submetidas ao carregamento indicado. Determinar a deformação
total da barra composta ACD e o deslocamento do ponto C [9].
Exercício 05: Uma barra composta de duas porções cilíndricas AB e BC é engastada em ambas as
extremidades. A porção AB é de aço (E = 200GPa; α = 11,7.10-6 °C-1) e a porção BC é de latão (E =
105GPa; α = 20,9. 10-6 °C-1). Sabendo que a barra está inicialmente sem tensão, determinar: As
tensões normais induzidas nas porções AB e BC, por uma elevação de temperatura de 50°C e a
correspondente deflexão no ponto B.
5. RESULTADOS
O quadro 3 apresenta as três soluções (RM, via software MEF, e via Ftool) para o exercício 1.
RESOLUÇÃO VIA RM
Equilíbrio global da estrutura:
∑𝐹𝑦 = 0
𝐹𝐴 + 100 − 75 − 50 = 0
𝐹𝐴 = 25𝑘𝑁 (↑)
125000.1250 50000.1500
𝛿𝐷 = 0,78125 + + = 5,714𝑚𝑚(↓)
70000.800 70000.500
RESOLUÇÃO VIA SOFTWARE MEF RESOLUÇÃO VIA FTOOL
O quadro 4 apresenta as três soluções (RM, via software MEF, e via Ftool) para o exercício 2.
RESOLUÇÃO VIA RM
Equilíbrio global da estrutura:
∑𝐹𝑥 = 0
∑𝐹𝑥 = 90 − 65 − 65 + 40 = 0
Diagrama de esforços normais, com base no equilíbrio local de cada seção:
O quadro 5 apresenta as três soluções (RM, via software MEF, e via Ftool) para o exercício 3.
RESOLUÇÃO VIA RM
Pelo método da superposição, considera-se a barra engastada no ponto A livre para deformar em D. Diante
disso, aplica-se o equilíbrio global e calcula-se o deslocamento relativo ao ponto D:
∑𝐹𝑥 = 0
𝐹𝐴 − 125 + 100 = 0 ∴ 𝐹𝐴 = 25𝑘𝑁 (→)
𝑃𝐴𝐵 . 𝐿𝐴𝐵 𝑃𝐵𝐶 . 𝐿𝐵𝐶 𝑃𝐶𝐷 . 𝐿𝐶𝐷
𝛿𝐼 = + +
𝐸𝐴𝐵 . 𝐴𝐴𝐵 𝐸𝐵𝐶 . 𝐴𝐵𝐶 𝐸𝐶𝐷 . 𝐴𝐶𝐷
−25000.1200 100000.1800 0.900
𝛿𝐼 = + + = 2,400𝑚𝑚 (→)
73100.800 103000.600 200000.500
Considera-se a barra somente sob ação de uma força de compressão em D (FD), desconhecida, e calcula-se seu o
deslocamento:
𝑃𝐴𝐵 . 𝐿𝐴𝐵 𝑃𝐵𝐶 . 𝐿𝐵𝐶 𝑃𝐶𝐷 . 𝐿𝐶𝐷
𝛿𝐼𝐼 = + +
𝐸𝐴𝐵 . 𝐴𝐴𝐵 𝐸𝐵𝐶 . 𝐴𝐵𝐶 𝐸𝐶𝐷 . 𝐴𝐶𝐷
−𝐹𝐷 . 1200 −𝐹𝐷 . 1800 −𝐹𝐷 . 900
𝛿𝐼𝐼 = + + = −5,865. 10−5 𝐹𝐷 (←)
73100.800 103000.600 200000.500
Aplica-se, por fim, a condição de contorno, que estabelece que a soma dos deslocamentos em ambas as
hipóteses resolutivas tem que ser igual a zero:
𝛿𝐼 + 𝛿𝐼𝐼 = 0
2,40 + −5,865. 10−5 𝐹𝐷 = 0 ∴ 𝐹𝐷 = 40923,470𝑁
𝐹𝐷 = 40,923𝑘𝑁 (←)
Portanto, para a haste AB (alumínio):
65923
𝜎𝐴𝐵 = = 82,404𝑀𝑃𝑎 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜)
800
haste BC (bronze):
59077
𝜎𝐵𝐶 = = 98,462𝑀𝑃𝑎 (𝑡𝑟𝑎çã𝑜)
600
haste CD (aço):
40923
𝜎𝐶𝐷 = = 81,846𝑀𝑃𝑎 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜)
500
RESOLUÇÃO VIA SOFTWARE RESOLUÇÃO VIA FTOOL
O quadro 6 apresenta as três soluções (RM, via software MEF, e via Ftool) para o exercício 4.
RESOLUÇÃO VIA RM
Cálculo da dilatação térmica, considerando a estrutura livre em D:
𝛿𝑇 = 𝛼. 𝐿.△ 𝑇
𝛿𝐼 = (𝛼. 𝐿.△ 𝑇)𝐴𝐵 + (𝛼. 𝐿.△ 𝑇)𝐵𝐶 + (𝛼. 𝐿.△ 𝑇)𝐶𝐷
𝛿𝐼 = (23. 10−6 . 1200. (40 − 20))𝐴𝐵 + (17. 10−6 . 1800. (40 − 20))𝐵𝐶 + (17. 10−6 . 900. (40 − 20))𝐶𝐷
𝛿𝐼 = 1,470𝑚𝑚 (→)
Considera-se a que barra está sujeita a uma força de compressão em D (−𝐹𝐷 ), desconhecida, e calcula-se o seu
deslocamento provocado:
Aplica-se, por fim, a condição de contorno, que estipula que a soma dos deslocamentos nas duas hipóteses é
igual a zero:
𝛿𝐼 + 𝛿𝐼𝐼 = 0
1,470 − 1,382. 10−6 𝐹𝐷 = 0 ∴ 𝐹𝐷 = 1063675,832𝑁
𝐹𝐷 = 1063,675𝑘𝑁 (←)
Portanto, para a haste AB (alumínio):
1063675,832
𝜎𝐴𝐵 = = 15,0479𝑀𝑃𝑎 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜)
𝜋(300)2
4
Haste BC (bronze):
1063675,832
𝜎𝐵𝐶 = = 33,858𝑀𝑃𝑎 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜)
𝜋(200)2
4
Haste CD (aço):
1063675,832
𝜎𝐶𝐷 = = 135,431𝑀𝑃𝑎 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜)
𝜋(100)2
4
RESOLUÇÃO VIA SOFTWARE MEF RESOLUÇÃO VIA FTOOL
O quadro 5 apresenta as três soluções (RM, via software MEF, e via Ftool) para o exercício 5.
RESOLUÇÃO VIA RM
Cálculo da dilatação térmica, considerando a estrutura livre em C:
𝛿𝑇 = 𝛼. 𝐿.△ 𝑇
𝛿𝐼 = (𝛼. 𝐿.△ 𝑇)𝐴𝐵 + (𝛼. 𝐿.△ 𝑇)𝐵𝐶
𝛿𝐼 = (11,7. 10−6 . 250.50)𝐴𝐵 + (20,9. 10−6 . 300.50)𝐵𝐶
𝛿𝐼 = 0,460𝑚𝑚 (↓)
Por fim, calcula-se a deflexão do ponto B, pela soma dos efeitos da dilatação e pela força de compressão em C:
𝑃𝐴𝐵 . 𝐿𝐴𝐵
𝛿𝐵 = + (𝛼. 𝐿.△ 𝑇)𝐴𝐵
𝐸𝐴𝐵 . 𝐴𝐴𝐵
−142679,901.250
𝛿𝐵 = + (11,7. 10−6 . 250.50)𝐴𝐵
𝜋(30)2
200000.
4
𝛿𝐵 = −0,106𝑚𝑚 (↑)
RESOLUÇÃO VIA SOFTWARE MEF RESOLUÇÃO VIA FTOOL
O quadro 6 apresenta as três soluções (RM, via software MEF, e via Ftool) para o exercício 6.
RESOLUÇÃO VIA RM
Equilíbrio global da estrutura:
∑𝐹𝑦 = 0
5 5
−350 − 750 − 750 + 10 ( ) + (20 + 40) ( ) + 𝐹𝐴 = 0
2 2
𝐹𝐴 = 1675𝑘𝑁 (↑)
Diagrama de esforços normais da estrutura, com base no equilíbrio local estabelecido nas
seções:
5 10
𝑃3 . 𝐿3 𝑃2 . 𝐿2 𝑃1 . 𝐿1 𝑃(𝑥)𝑑𝑥 𝑃(𝑥)𝑑𝑥
𝛿3 = + + +∫ +∫
𝐸3 . 𝐴3 𝐸2 . 𝐴2 𝐸1 . 𝐴1 0 𝐸. 𝐴 𝑆𝑂𝐿𝑂1 5 𝐸. 𝐴 𝑆𝑂𝐿𝑂2
10000
(−1875000 + 0,002𝑦 2 )
+∫ 𝑑𝑦
5000 25000.3000 𝑆𝑂𝐿𝑂2
𝛿3 = −246,5𝑚𝑚 (↓)
RESOLUÇÃO VIA SOFTWARE MEF RESOLUÇÃO VIA FTOOL
6. CONCLUSÃO
Diante do que foi apresentado neste estudo, é importante salientar alguns pontos: a implementação
de recursos computacionais no ensino e na aprendizagem da Resistência dos Materiais só se faz válida
e efetiva se o aluno dominar os métodos e teorias que regem tal disciplina. De nada se torna útil a
utilização de softwares se o usuário não for capaz de inserir dados de entradas (input) e a metodologia
pela qual o software se baseia. Além disso, impreterivelmente, para o mesmo usuário, a capacidade
de interpretar as respostas (output) e conclusões obtidas pelo software. A implementação de
ferramentas digitais tem por objetivo antecipar o contato do futuro profissional com métodos que
poderão fazer parte de seu cotidiano em sua profissão. A melhoria da relação usuário-software se
justifica por uma maior eficiência na utilização de cada método computacional escolhido.
Vale salientar que, através da abordagem de três formas resolutivas distintas, foi possível perceber as
nuances de cada uma delas: a resolução via RM é vital para que se entenda os processos teóricos,
pelos quais os softwares posteriores são em parte modelados. Também, o uso do software Ftool faz-
se muito útil no que diz respeito a estruturas reticuladas planas, para a obtenção de esforços e
deslocamentos. Por fim, o software SAP 2000, que apresenta uma estrutura muito robusta em
possibilidades de cálculo, e obtém, assim como o Ftool, esforços e deslocamentos. Portanto,
promoveu-se aqui a tentativa de abordagem de um ensino mais efetivo, ilustrado, e didático, a uma
possível nova visão do aluno tanto para reconhecer os princípios da Resistência dos Materiais, quanto
para a inserção no âmbito de programas computacionais.
REFERÊNCIAS
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Campinas, 1999.
[2] COOK, Robert D. et al. Concepts and applications of finite element analysis. New York: Wiley, 1974.
[3] HIBBELER, R. C. Resistência dos Materiais, 5a ed., Pearson Education do Brasil, 2004
[4] MARTHA, L. F. Método da Rigidez Direta para Modelos Estruturais Lineares e Elásticos. Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, 1999.
[5] KUMMER, F. D. Análise de Pórticos Espaciais Pelo Método da Rigidez: Considerações dos Efeitos da
Deformação por Corte. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2014.
[6] GIACCHINI, B. L. Uma breve introdução ao Método dos Elementos Finitos. Universidade Federal de Minas
Gerais, 2012.
[7] LOTTI, R. S., et al. Aplicabilidade científica do método dos elementos finitos. R Dental Press Ortodontia
Ortopedia Facial, 2006.
[8] DIAS, F, T. et al (2010). Método dos elementos finitos: técnicas de simulação numérica em engenharia. Lidel,
Lisboa, Portugal.
[9] BEER, F. P., et al. Mecânica dos Materiais, 5ª ed., AMGH Editora Ltda., Porto Alegre, 2011.
ANÁLISE NÃO LINEAR FÍSICA DE TRELIÇAS PLANAS VIA
MÉTODO ITERATIVO COM CONVERGÊNCIA CÚBICA
Physical non-linear analysis of the space trusses by iterative methods with cubic
convergence
RESUMO: As treliças metálicas são estruturas que têm sido utilizadas de forma extensiva e confiável
para superar grandes vãos e suportar carregamentos elevados com reduzido peso próprio. São
compostas por elementos lineares, geralmente construídas em madeira ou aço. Em alguns casos,
durante a análise destas estruturas, deseja-se conhecer o carregamento de colapso e sua trajetória de
equilíbrio (curva carga aplicada versus deslocamento). Na atualidade, as treliças têm sido usadas
numa grande variedade de aplicações práticas da engenharia, com estruturas mais complexas devido
ao advento de novos materiais com alta resistência. Com isto, têm-se produzido estruturas mais
econômicas devido a redução do consumo de material e o consequentemente o custo global. As
análises não lineares das estruturas surgem diante da necessidade de torná-las mais realísticas, sendo
possível com o aparecimento dos computadores e uso análise matricial. A análise não linear por muito
tempo baseou-se em técnicas numéricas de convergência quadrática, com bom desempenho
computacional, como o método de Newton-Raphson padrão e modificado. Devido ao avanço e a
complexidade das estruturas buscou-se métodos iterativos com melhor eficiência, mas que se
mantivesse o uso de derivadas de primeira ordem. Diante deste contexto, o método de Potra-Pták
surge como um eficiente método iterativo, possuindo convergência cúbica com derivada de primeira
ordem. Assim, o desenvolvimento de técnicas com baixo custo computacional é um dos principais
temas de pesquisas dentro da engenharia estrutural. O presente trabalho tem o intuito de comparar o
os métodos de solução de Newton -Raphson padrão e modificado com o de Potra–Pták. O algoritmo,
desenvolvido na Linguagem Fortan90 e baseado no Método dos Elementos Finitos, são aplicados em
problemas de treliças metálicas com não linearidade física. Os resultados evidenciaram uma tendência
de que o método de Potra–Pták necessita de um menor número de iterações, devido a sua
característica de diminuir o erro cubicamente ao longo do processo incremental iterativo, mostrando-
se eficiente para análises não lineares.
Palavras chave: Análise Não Linear Física, Newton – Raphson, Potra – Pták.
ABSTRACT: Steel trusses have been extensively used for structures designed to overcome large
gaps and to bear high loads with low self-weight. These structures are composed by linear elements
usually in wood or steel. In some cases, during the analysis of these structures, it is desired to know
the collapse load and its path following. Currently, plane trusses are used in many engineering
practical applications as more complex structures due to new materials with a higher resistance. Then,
more economical structures are being produced due to the reducing of the materials demand and
consequently the global cost, presenting a non-linear behavior in the relation stress versus
deformation. Nonlinear analysis of structures arise from the need to make them more realistic, being
possible with the advent of computers and matrix analysis. The non-linear analysis for a long time
was based on numerical techniques of the quadratic convergence with good computational
performance, such as the Newton-Raphson method. Due to the advancement and complexity of the
structures, iterative methods with better efficiency have been searched, but maintaining the use of
first-order derivatives. In this context, the Potra-Pták method appears as an efficient iterative method,
with cubic convergence and first order derivative. Thus, the development of techniques with low
computational cost is one of the main research topics in structural engineering. The current work aim
is compare the Newton-Raphson, Modified Newton-Raphson and Potra-Pták solution methods. In
order to analyze the methods performance, steel trusses problems with physical non-linearity are
analyzed by algorithms using Finite Element Methods developed in Fortran90. The both Newton-
Raphson methods are largely used in non-linear analysis and have quadratics convergence, and the
Potra-Pták is a new method that has cubic convergence. Due to this, it is expected that the Potra-Pták
become an advantageous method comparing to other iterative methods.
Keywords: Newton – Raphson, Potra – Pták, Physical Non-Linear Analysis, Plane Truss.
1. INTRODUÇÃO
A análise linear pressupõe que exista uma relação linear entre a carga aplicada e o deslocamento.
Essa hipótese só se verifica em casos onde o comportamento do material tenha uma resposta elástica
linear com pequenos deslocamentos. Quando a carga atuante na estrutura ultrapassa o valor da carga
de escoamento, desde que a estrutura não tenha ruptura frágil, a deformação passa a ter um parcela
elástica e outra plástica, sendo esta última permanente no material definindo o regime plástico. Na
análise estrutural considerando a plasticidade do material os deslocamentos não são pequenos.
As treliças surgiram como um sistema estrutural mais econômico para vencer vãos maiores e suportar
cargas mais pesadas quando comparadas com as vigas. A treliça ideal é uma estrutura reticulada, que
possui todas as extremidades rotuladas e cujas cargas são aplicadas somente nos nós. A configuração
da ligação de uma treliça ideal faz com que os eixos dos montantes e diagonais coincidam com o eixo
dos banzos. Este tipo de ligação entre os elementos criará sempre pequenas restrições à rotação
relativa das barras nos nós, com o aparecimento de pequenos momentos, mas, esses efeitos são
desprezados no dimensionamento de treliças planas ideais. Portanto, este tipo de sistema estrutural
não apresenta momentos fletores e esforços cortantes como forças internas, existindo apenas os
esforços normais [1][2]. Na análise estrutural de treliças submetidas à grandes esforços externos é
necessário considerar o comportamento não linear. A resposta dessa análise, geralmente chamada de
trajetória de equilíbrio, é constituída por um conjunto de pontos que representam uma configuração
de equilíbrio da estrutura [3].
Durante o processo de análise estrutural que considera o comportamento não linear do material,
baseado no Método de Elementos Finitos, surgem equações não lineares que só podem ser resolvidas
com o uso de técnicas iterativas. Devido ao aumento da complexidade das estruturas e das análises,
tem-se buscado na matemática métodos iterativos com uma melhor capacidade de convergência para
a solução dessas equações. O método de Newton-Raphson, ainda é uma técnica bastante utilizada em
análises numéricas para solucionar problemas estruturais que tenham comportamento não linear
devido a sua convergência quadrática com o uso de derivadas de primeira ordem [4].
Até a década de 80, os métodos iterativos que possuíam convergência cúbica exigiam o uso de
derivadas de segunda ordem ou superior, fazendo com que seu uso fosse restrito devido ao seu alto
custo computacional. Diante deste contexto, o método iterativo de Potra-Pták mostra-se como um
eficiente método iterativo para ultrapassar essas desvantagens.
De acordo com [5], o método de Potra-Pták possui taxa de convergência cúbica usando somente
derivadas de primeira ordem, configurando uma vantagem em relação aos outros métodos com
convergência de mesma ordem ou superior. Por ser um método recente dentro da matemática
aplicada, ainda é pouco explorado na engenharia para análises não lineares de estruturas. Outro fator
que contribui para a pouca popularização do método é que o procedimento de Newton-Raphson é
bastante consagrado dentro de todas as aplicações que necessitam de uma solução via método
incremental iterativo.
O método iterativo de Potra-Pták é mais barato do que qualquer método clássico de convergência
cúbica que requer avaliação da derivada segunda. De acordo com [6], o conhecido método de
Newton-Raphson requer uma avaliação da função e uma avaliação da derivada primeira por cada
iteração para atingir a taxa de convergência quadrática e o índice de eficiência 21/ 2 1.4142 ,
enquanto que o método de Potra-Pták consiste em duas avaliações da função e uma avaliação da
primeira derivada, fornecendo um método de convergência cúbica e o índice de eficiência
31/3 1.4422
Recentes trabalhos utilizaram tal método para solucionar os sistemas de equações não lineares em
análises estruturais. Os autores [7] [8] [9] fizeram diferentes tipos de análises em treliças planas e
espaciais com não linearidade geométrica usando o método de Potra-Pták associado a técnica de
comprimento de arco linear, proposto por [10] [11]. Diante deste contexto, pretende-se desenvolver
um código computacional para análise de treliças planas com não linearidade física usando o método
de Potra-Pták acoplado técnica de continuação do comprimento de arco e com incremento de carga
baseado na técnica do parâmetro de rigidez generalizado (GSP), proposto por [12].
U V 1 dV u
T iT
Fi (1)
2V i
A partir deste funcional de energia para a treliça ideal aplica-se o princípio da estacionariedade,
𝛿𝜋 = 0.
1 T
dV u i F i
T
(2)
2V i
Considerando que todos os deslocamentos estão ao longo do eixo X , sendo estes função de ui e u j ,
é possível escrever u ( x ) da seguinte forma:
u( x) N1 ( x)ui N2 ( x)u j (3)
As funções de forma, Ni ( x) ,considerando um elemento linear com dois nós são dadas por:
x L
N1 ( x) (4)
L
x
N 2 ( x) (5)
L
No elemento de treliça, a deformação axial é dada por:
du
(6)
dx
e o campo de deformações é definido do seguinte modo:
Bui (7)
dN1 dN 2
ui uj (7)
dx dx
e em forma matricial:
dN dN 2 ui
1
dx u j
(8)
dx
A matriz B da equação 7 é chamada de matriz gradiente que contém as derivadas das funções de
forma, armazenadas da seguinte forma:
dN dN 2
B 1
dx
(9)
dx
Considerando uma relação constitutiva apropriada ao modelo do material com sua matriz 𝐷 que
representa a matriz de constantes elásticas, tem-se:
D (9)
A equação matricial que define o equilíbrio estático da estrutura em todo domínio é dada por:
Ku F (10)
Em ambos os trechos adota-se a lei constitutiva da equação 9, cuja matriz D é obtida por:
d
D (12)
d
O campo de deformação varia linearmente em função do comprimento:
du
d (13)
L
Durante um processo incremental, tem-se que em algum estágio após o escoamento inicial o
acréscimo de tensão 𝑑𝜎 é acompanhado de um acréscimo de deformação 𝑑𝜀. Portanto, a
deformação passa ser decomposta em uma parcela elástica e outra plástica.
d d e d p (14)
e na fase plástica:
E
d E 1 d (19)
EH
O parâmetro de carga e o vetor de deslocamentos u em cada passo de carga são atualizados por:
k k 1 k (22)
u k u k 1 u k (23)
Substituindo a equação (22) na (21) e isolando 𝛿𝑢(𝑘) , chega-se à equação proposta por [13]:
u k ugk k urk (24)
Sendo: 𝛿𝜆𝑘 o incremento da força que deve ser obtido dentro de cada ciclo iterativo, 𝛿𝑢𝑔𝑘 e 𝛿𝑢𝑟𝑘 são
incrementos, ao longo do ciclo iterativo, obtidos, respectivamente, pelas equações:
k 1
ugk K 1 g k 1 (25)
k 1
urk K 1 Fr (26)
u u k 1 u k (28)
Até aqui foram descritas as equações necessárias para análise não linear via método iterativo de
Newton-Raphson associado a técnica do comprimento de arco. O resumo do algoritmo está
apresentado na Tabela 1.
De acordo com [6], o método iterativo de Potra-Pták pode ser descrito como dois passos, equações
29 e 30, que solucionam um problema não linear.
f ( xn )
yn xn (29)
f '( xn )
f ( xn ) f ( yn )
xn 1 xn (30)
f '( xn )
O esquema iterativo para análise não linear via método de Potra-Pták necessita das seguintes
equações:
K k 1 u k t t Fi k t t F1k t t F2k (31)
t t
F1k 1k Fr g u k 1 (32)
t t
F2k 2k Fr g y k (33)
y k u k 1 ygk (34)
K 1
ygk K 1 t t
F1k (35)
K 1
ugk K 1 t t
F2k (36)
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A treliça apresentada na Fig. 3 foi analisada por [15] para análise não linear física com a mesma
relação constitutiva apresentada neste artigo. Os elementos da treliça possuem módulo de elasticidade
longitudinal E=20500 kN/cm2 , tensão de escoamento 𝜎𝑒 =34,5 kN/cm2 , área da seção transversal
A=12,51 cm2 e comprimento L = 200 cm. A carga P = 1.050 kN foi aplicada no nó 4 na direção
vertical, sentido de cima para baixo.
O esforço normal para que a barra vertical entre em processo plástico é dado por:
eA (39)
Pe
2 2
O esforço de ruptura Pr é obtido quando as duas barras inclinadas atingirem a carga de escoamento:
Pr 1 2 e A (40)
1200
Carga Aplicada (kN)
1000
800
Newto-
600 Raphson
Padrão
400
Téorico
200
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8
v(cm) Nó 4
Fig. 4 Curva carga aplicada versus deslocamento via Newton-Raphson Padrão
1200
Carga Aplicada (kN)
1000
800
Newto-
600 Raphson
Modificado
400
Téorico
200
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8
v(cm) Nó 4
Fig. 5 Curva carga aplicada versus deslocamento via Newton-Raphson Modificado
1200
Carga Aplicada (kN)
1000
800
Potra-
600 Pták
Téorico
400
200
0
0 0,2 0,4 0,6 0,8
v(cm) Nó 4
Fig. 5 Curva carga aplicada versus deslocamento via Potra-Pták
Percebe-se que os três métodos tiveram sua implementação validada, uma vez que o traçado da
trajetória passou por todos os pontos teóricos. Neste exemplo não houve um menor número de
incrementos para o método de Potra-Pták como observado em [8][9] devido ao fato de que os pontos
de equilíbrio convergiam nas primeiras iterações e ausência de pontos limites de carga e
deslocamento.
A Tabela 3 apresenta o número de iterações para cada método iterativo com os dois incrementos de
carga.
Tabela 3 - Comparação entre os métodos iterativos para análise não linear
P 10.5kN P 105kN
Método iterativo
Incrementos Iterações Incrementos Iterações
Newton-Raphson
Padrão 100 198 34 66
Newton-Raphson
Modificado 100 226 34 74
Ao analisar os resultados percebe-se que para se obter a resposta estrutural com o método de Potra-
Pták é necessário um menor número de iterações acumuladas até que se alcance a convergência,
quando comparado com os métodos de Newton-Raphson padrão e Newton-Raphson modificado. Este
fato faz com que seja menor a quantidade de vezes em que os sistemas lineares são solucionados no
passo de carga, além da redução da atualização da matriz de rigidez e do vetor de força internas,
fazendo com que o custo computacional com o uso deste método seja menor. Outro fator associado
ao menor número de iterações do método de Potra-Pták deve-se à sua convergência cúbica, ou seja,
o erro diminui cubicamente a cada iteração enquanto o método de Newton-Raphson o erro diminui
quadraticamente, ambos utilizando derivadas de primeira ordem.
4. CONCLUSÕES
O presente trabalho apresentou um algoritmo para análise de treliças planas com não linearidade física
via método de Potra-Pták acoplado a técnica de comprimento de arco. A análise estrutural
considerando a reserva de rigidez do elemento gera uma maior utilização da sua capacidade resistente,
aumentando a economia e garantindo a segurança.
Dentro da análise não linear de estruturas várias operações matemáticas são requeridas até traçar a
curva carga aplicada versus deslocamento. Devido ao comportamento não linear do material, é gerado
um sistema de equações não lineares baseado no método de Elementos Finitos, necessitando de um
método iterativo eficiente para solucionar o problema. O processo de solução é o passo mais custoso
para o computador. Os resultados numéricos evidenciam o melhor desempenho do método de Potra-
Pták, no problema estudado, em comparação com as análises feitas com os esquemas iterativos de
Newton-Raphson Padrão e Newton- Raphson Modificado, quanto ao número de iterações acumuladas
até a convergência para a solução.
5. REFERÊNCIAS
[1] MARTHA, L. F. Análises de Estruturas: Conceitos e Métodos Básicos. Elsevier, 2010.
[2] SORIANO, H. L. Análise de Estruturas: Formulação Matricial e Implementação Computacional. Ciência
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[3] LACERDA, E. G. M., MACIEL, D. N., SCUDELARI, A. C. Geometrically Static Analysis of Trusses Using the Arc-
Length Method and the Positional Formulation of Finite Element Method. In: Proceedings of the XXXVIII Iberian
Latin-American Congress on Computational Methods in Engineering, 2014.
[4] BATHE, K.J. Finite Element Procedures. New Jersey, Prentice-Hall, 1996.
[5] POTRA, F. A., PTÁK, V. Nondiscrete Induction and Iterative Processes. Research Notes in Mathematics, 1984.
[6]SOLEYMANI, F., SHARMA, R.; LI, X., TOHIDI, E. An Optimized Derivative-Free Form of the Potra-Pták Method.
Mathematical and Computer Modelling, v.56, p.97-104, 2012.
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de Arco, In: Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia, 2017.
[8] SOUZA, L. A. F., CASTELANI, E. V., SHIRABAYASHI, W. V. I.; MACHADO, R. D. Métodos Iterativos de
Terceira e Quarta Ordem Associados à Técnica de Comprimento de Arco Linear. Ciência & Engenharia (Science &
Engineering Journal), v.26, n.1, p. 39-49, 2017.
[9] SOUZA, L. A. F., CASTELANI, E. V., SHIRABAYASHI, W. V. I., ALIANO FILHO, A., MACHADO, R. D.
Trusses Nonlinear Problems Solution Whit Numerical Methods of Cubic Convergence order. Tendências em
Matemática e Computacional, v.19, n.1, pp.161-179, 2018.
[10] RIKS, E. The Application of Newton's Methods to the Problems Elastic Stability. Journal of Applied Mechanics,
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[11] RIKS, E. An Incremental Approach to the Solution of Snapping and Buckling Problems. International Journal of
Solids and Structures, v. 15, n. 7, pp. 529-551, 1979.
[12] YANG, Y.B. E KUO, S.B. Theory & Analysis of Nonlinear Framed Structures, Prentice Hall, 1994.
[13] REIS, A., CAMOTIM, D. Estabilidade estrutural. Lisboa: McGraw-Hill, 2000.
[14] CRISFIELD, M. A. A Consistent Corotational Formulation for Non-Linear, Three-Dimensional, Beam-Elements.
Computer Methods in Applied Mechanics and Engineering, v. 81, n.2, p. 131-150, 1990.
[15] LEITE, N.F. Uma formulação Teórica Consistente para Análise Não Linear de Estruturas Treliçadas
Espaciais, Dissertação de Mestrado, Departamento de Engenharia de Estruturas, Belo Horizonte, MG, Brasil, 2000.
ATIVAÇÃO ALCALINA DO REJEITO DE BARRAGEM DE MINÉRIO DE
FERRO PARA PRODUÇÃO DE TIJOLOS
Fernanda Pereira da Fonseca Eloi1, Gabriela Andrade Ferreira 2, Keoma Defáveri do Carmo e
Silva 3, Ricardo André Fiorotti Peixoto4, Guilherme Jorge Brigolini Silva5
1 Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, fernanda.eloi@aluno.ufop.edu.br
2
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, gabiandradeferreira@yahoo.com.br
3
Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, keomadc@hotmail.com
4
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, fiorotti.ricardo@gmail.com
5
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, guilhermebrigolini@ufop.edu.br
Resumo: Atualmente, o Brasil é um dos três maiores países extratores e produtores de minério de
ferro no mundo. Deposita-se, comumente, os rejeitos desta produção em barragens e estes se tornam
um problema quando não têm destinação útil. Por outra parte, a construção civil é um dos maiores
responsáveis pelo consumo de recursos naturais, já que envolve uma grande escala de utilização de
insumos e execução de obras. Setenta e cinco por cento do que é extraído do meio ambiente no Brasil
dirige-se a este setor. Amplamente utilizados na construção civil, os tijolos podem representar uma
agressão ao meio ambiente, devido ao processo da extração de argila. Estuda-se então, a criação de
compósitos que utilizem rejeitos na substituição total ou parcial dos materiais convencionais, como
alternativa de mitigação destes impactos. Uma destas alternativas é a utilização do rejeito de barragem
de minério de ferro para produção de tijolos, que se baseia no processo de ativação alcalina: uma
reação de sólidos, geralmente compostos por óxido de silício e de alumínio, com uma solução básica
de ativação formada por hidróxidos alcalinos ou silicatos alcalinos. Formam-se assim, compostos
inorgânicos capazes de atingir resistências elevadas. Na caracterização dos materiais deste trabalho,
foi possível observar que a área superficial do rejeito de barragem de minério de ferro aumentou 17%
quando moído por duas horas, em comparação com o rejeito sujeito a apenas uma hora de moagem.
Porém, para o rejeito moído por 3 horas, nota-se uma tendência à estabilização da área superficial
específica. Todos os corpos de prova produzidos atenderam aos requisitos da norma brasileira para
tijolos maciços cerâmicos para alvenaria, NBR 7170, no que diz respeito aos valores máximos
requeridos para resistência à compressão. A maioria dos fragmentos de corpos de prova submetidos
ao ensaio de absorção de água atendeu aos requisitos da norma para blocos cerâmicos de vedação,
porém alguns fragmentos se dissolveram. Para a viabilidade da utilização dos tijolos produzidos com
rejeito de barragem de minério de ferro, julga-se necessário um estudo que logre o ajuste da relação
líquido/sólido e da concentração adequada desta solução alcalina.
2. MATERIAIS
Utilizou-se, neste trabalho, para a produção dos corpos de prova: rejeito de barragem de minério de
ferro, soluções de hidróxido de sódio e areia de rio.
O rejeito de barragem de minério de ferro (RBMF) utilizado neste trabalho é proveniente de uma
barragem que possui cerca de 2Mm³ de volume disponível e está localizada no município de Ouro
Preto, Minas Gerais, Brasil. A secagem do RBMF foi realizada em duas etapas: à temperatura ambi-
ente por um período de 2 a 7 dias e em estufa a 100º por 24h. Posteriormente, foi estocado em
recipientes hermeticamente fechados.
Como agente do processo de ativação alcalina, optou-se pela utilização da solução de hidróxido de
sódio (NaOH), a partir resultados apresentados por autores no processo de ativação alcalina [17].
Também, devido à facilidade de aquisição no mercado. As soluções foram produzidas em laboratório,
com água destilada e hidróxido de sódio em escamas e em pérolas de grau de pureza 98%, em três
diferentes concentrações: 8M, 10M e 12M (mol/l).
2.1. Areia
Utilizou-se a areia proveniente do rio município de Ponte Nova, Minas Gerais. A secagem foi reali-
zada em estufa a 100º por 24h. Posteriormente, foi separada através de peneirador mecânico em qua-
tro frações segundo [18]: passante na malha 150µm, passante na malha 300µm, passante na malha
600µm e passante na malha 1,2mm. A areia foi armazenada em recipientes hermeticamente fechados.
2. MÉTODOS
O processo de moagem do RBMF foi realizado no moinho de bolas de baixa energia (moinho hori-
zontal) (Marconi MA 500 ®) por três intervalos de tempo diferentes: 1 hora (RBMF-1), 2 horas
(RBMF-2) e 3 horas (RBMF-3).
2.2. Caracterização do RBMF
Seguiu-se, para a realização deste ensaio, o Protocolo Reciclos #9 “Método de Blaine [19]. Três
amostras de RBMF foram ensaiadas: RBMF-1, RBMF-2 e RBMF-3, utilizando-se o permeabilímetro
de Blaine.
A partir do estudo de resultados obtidos na literatura, decidiu-se por utilizar nos traços os tempos de
moagem de 1h, 2h e 3h e as soluções de hidróxido de sódio com concentrações de 8M, 10M e 12M.
Para a cura, definiu-se ser realizada em estufa a 100º C, por 7 dias. Para a relação líquido/sólido,
após revisão da literatura, decidiu-se por utilizar o valor igual a 0,27 [17]. Para a relação RBMF/areia,
foram testados três diferentes traços, e a partir de uma análise tátil-visual, optou-se pela relação 1:0,5.
Assim, foram moldados nove traços, que são a combinação dos três diferentes tempos de moagem
com as três diferentes concentrações de soluções de NaOH. As relações líquido/sólido e RBMF/areia
foram mantidas em todos os traços.
xyz,
onde:
Na moldagem dos corpos de prova utilizou-se moldes para corpos de prova prismáticos de dimensões
igual a (40x40x160) mm. A mistura foi realizada em uma argamassadeira de mesa (FORTEST, VC
370 ®). O procedimento é descrito nos tópicos a seguir:
4. Adição das quatros frações de areia (já homogeneizadas manualmente) por 30 segundos, com a
argamassadeira em velocidade baixa;
7. Cobrimento dos moldes com placa de vidro e cura em estufa a 100º C, por 7 dias.
No estado endurecido, conforme [22], foi determinada a resistência à tração na flexão dos corpos de
prova com idade de 7 dias. Submeteu-se ao ensaio, três corpos de prova de cada traço. O ensaio foi
realizado na prensa (Emic DL20000 ®), situada no Laboratório de Materiais de Construção Civil da
Universidade Federal de Ouro Preto, com velocidade de 50N/s.
No estado endurecido, conforme [22], foi determinada a resistência à compressão dos corpos de prova
com idade de 7 dias. Submeteu-se ao ensaio, três corpos de prova de cada traço. O ensaio foi realizado
na prensa (Emic DL20000 ®), situada no Laboratório de Materiais de Construção Civil da Universi-
dade Federal de Ouro Preto, com velocidade de 50N/s.
1. Pesagem da massa inicial (Ms) de três fragmentos dos corpos de prova após o rompimento;
2. Imersão completa dos fragmentos dos corpos de prova em água por 24h;
3. Retirada dos fragmentos da água, secagem superficial e pesagem da massa saturada com superfície
seca (Msat) dos fragmentos.
Assim, foi possível avaliar a resistência e absorção de água de cada fragmento, sendo:
𝑀𝑠𝑎𝑡 −𝑀𝑠
𝐴𝑏𝑠𝑜𝑟çã𝑜 𝑑𝑒 á𝑔𝑢𝑎(%) = 𝑥100 (1)
𝑀𝑠
Tomou-se por fim, a média dos três fragmentos ensaiados como resultado final.
De acordo com [24] “Componentes Cerâmicos. Parte 1: Blocos cerâmicos para alvenaria de
vedação – Terminologia e resquisitos”, o índice de absorção de água de blocos cerâmicos de
vedação em obras de alvenaria de vedação não deve ser inferior a 8% nem superior a 22%.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Pelo Gráfico 1, é possível observar que a área superficial específica do RBMF cresce 17,66% entre a
primeira e a segunda hora de moagem. Porém, após a segunda hora de moagem, a área superficial
específica cresce apenas 0,01%.
430,00
Área Superficial Específica (g/cm³)
390,00
370,00
350,00
344,65
330,00
310,00
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5
Tempo de moagem (h)
A moagem do material é responsável por diminuir o tamanho de cada partícula, aumentando assim,
a área superficial específica e, consequentemente, a superfície de contato. Desta forma, a reação quí-
mica é facilitada, tornando-se mais provável a obtenção de maiores valores de resistência. Os resul-
tados obtidos demonstram a eficácia da segunda hora de moagem para tornar o rejeito mais propenso
à reação, porém a partir da terceira hora de moagem nota-se que a área superficial específica caminha
para uma estabilização.
O Gráfico 2 apresenta os valores médios de resistência à tração na flexão referentes a cada traço, con-
forme [22].
14 12,38
11,14
12 10,26 10,15 10,62
Resistência (MPa)
10
7,06
6,97
8 6,53 8M
6 10M
4
12M
4
0
RBMF-1 RBMF-2 RBMF-3
É possível perceber que, em geral, os corpos de prova de 10M e 12M obtiveram maiores valores de
resistência à tração na flexão quando comparados aos corpos de prova de 8M. Para os diferentes
tempos de moagem, os corpos de prova de 12M obtiveram maior resistência à tração na flexão.
Para [26], quando se aumenta a concentração de álcalis, a razão NaO2/SiO2 também aumenta. Con-
sequentemente, aumenta-se o pH e assim o desenvolvimento de fase amorfa é favorecido. Desta
forma, a formação do gel na ativação alcalina é mais eficaz.
Observa-se ainda que, o traço 1211 possui o melhor desempenho quanto a resistência à tração na
flexão e também um dos menores desvios padrões de todos os traços ensaiados, o que indica uma boa
execução do processo de moldagem.
No Gráfico 3, tem-se os valores médios de resistência à tração na flexão referentes a cada traço, con-
forme [22].
70 65,41
60 56,06 56,39
Resistência à compressão
50 45,3
39 44,29
40 32,91 8M
(MPa)
32,29
30 25,78 10M
12M
20
10
0
RBMF-1 RBMF-2 RBMF-3
Os piores resultados tanto para resistência à tração na flexão quanto para a resistência à compressão
são verificados no traço, o que pode advir de uma possível inadequação do processo de moldagem ou
de homogeneização, o que não garante que a quantidade de Si e Al seja sempre a mesma em uma
certa quantidade de material, alterando as propriedades do produto final.
A NBR 7170/83 “Tijolo maciço cerâmico para alvenaria” discrimina os tijolos em três categorias
quanto à resistência à compressão, conforme a Tabela 1 [26]:
Tabela 1 - Valores de resistência à compressão requeridos para tijolos
Categoria Resistência à compressão (MPa)
A 1,5
B 2,5
C 4,0
Nota-se que todos os traços ensaiados neste trabalho atendem ao mínimo requerido por todas as ca-
tegorias. O traço 1021 obteve o menor valor de resistência à compressão dos ensaios e é ainda 6,5
vezes maior que o máximo requerido pela norma (categoria C). O maior valor de resistência foi obtido
no traço 1211 e é, aproximadamente, 16 vezes maior que o requerido pela categoria C.
Assim, vê-se que não é conveniente o contato com água aos corpos de prova de traços de RBMF-1.
Percebe-se ainda que, em geral, os corpos de prova de RBMF-3 apresentaram melhor comportamento
em relação à absorção de água. Conforme visto no subitem 2.5, a área superficial específica do RBMF-
1 é menor que as dos rejeitos moídos por mais tempo, e consequentemente, a reatividade do mesmo
também tende a ser menor. Assim, pode ser que a reação de ativação alcalina não tenha se completado
nos traços de RBMF-1, fazendo-se obter uma estrutura menos coesa, o que pode ter propiciado a
dissolução dos fragmentos. Contrariamente, nos fragmentos de corpo de prova de RBMF-2 e RBMF-
3, os quais obtiveram uma área superficial específica similar, pode ter ocorrido um melhor desenvol-
vimento da reação de ativação alcalina, formando uma estrutura mais coesa, obtendo-se então uma
menor porcentagem de absorção de água.
4. CONCLUSÃO
Neste trabalho, observou-se que o processo de moagem do RBMF aumentou em cerca de 17% a área
superficial do rejeito da primeira hora para a segunda hora de moagem. Porém, da segunda para a
terceira hora de moagem, a área superficial caminha para uma estabilização. Os resultados obtidos
demonstram a eficácia da segunda hora de moagem para tornar o rejeito mais propenso à reação.
Pelas imagens dos corpos de prova antes do rompimento, é possível verificar que eles apresentam,
visualmente, diferenças entre si. Alguns possuem a superfície mais lisa, outros se mostram mais
coesos, etc. Considerando que o procedimento de moldagem não segue um processo normalizado,
pode-se inferir que o processo de moldagem possa ter sido falho, o que explica as variações das
características visuais até mesmo de corpos de prova de mesmo traço.
Os resultados de resistência à tração na flexão e à compressão são positivos. Todos os corpos de prova
ensaiados para resistência à compressão, atendem, com exorbitância, aos máximos valores requeridos
pela NBR 7170/05. Entretanto, alguns corpos de prova apresentam valores elevados de desvio padrão.
Apesar de todos os fragmentos de corpos de prova dos traços de RBMF-1 terem derretido após o
ensaio de absorção de água, a maioria dos corpos de prova de RBMF-3 atendeu aos requisitos da
norma para blocos cerâmicos de vedação.
Portanto, para a viabilidade da utilização da lama de barragem de minério de ferro na produção de
tijolos para alvenaria convencional, torna-se necessário um estudo que logre o ajuste da relação
líquido/sólido e da concentração adequada desta solução alcalina. É interessante também, o estudo de
um processo de moldagem e adensamento adequado para este tipo de material que pode ter causado
variações dos resultados.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e apresen-
tação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de Pesquisa
em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.
REFERÊNCIAS
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Disponível em: <https://tecnicoemineracao.com.br/minerio-de-ferro-no-brasil/, 2016>.
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Construção Civil. Acesso em outubro de 2018. Disponível em: <https://www.aecweb.com.br/cont/n/os-verdadeiros-
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Ceramic Product Development and Comercialization, 2008.
[17] VASSALO, Érica Antunes de Souza. Obtenção De Geopolímero A Partir De Metacaulim Ativado. 2013. 103 f.
Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013.
[18] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7215: Cimento Portland - Determinação da
Resistência à Compressão. Rio de Janeiro, 1996.
[19] SILVA, G. J., SOUZA, F. S., & MAGALHÃES, M. Protocolo Reciclos #9 - Método de Blaine. Ouro Preto, 2017.
[20] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 23: Cimento Portland e Outros Materiais Em
Pó - Determinação da Massa Específica. Rio de Janeiro, 2001.
[21] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9776: Agregados - Determinação da massa
específica de agregados miúdos por meio do frasco Chapman. Rio de Janeiro, 1987.
[22] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13279: Argamassa para assentamento e
revestimento de paredes e tetos - Determinação de resistência à tração na flexão e compressão. Rio de Janeiro, 2005.
[23] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9778: Argamassa e Concreto Endurecidos -
Determinação da absorção de água por Imersão - Índice de Vazios e Massa Específica. Rio de Janeiro, 1987.
[24] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15720: Blocos Para Alvenaria Estrutural e
Vedação. Rio de Janeiro, 2005
[25] NATH, S. Microstructural And Morphological Evolution Of Fly Ash Based Geopolymers. Construction and
Building Materials, 756-765, 2016.
[26] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7170: Tijolo maciço cerâmico para alvenaria. Rio
de Janeiro, 1983.
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO ATERRAMENTO DE RESÍDUOS
SÓLIDOS URBANOS: UM RETRATO PRELIMINAR DO
GERENCIAMENTO EM MINAS GERAIS–BR.
Pedro Fagundes¹, Samuel Castro¹*, João Paulo Borges², Fernanda Castro², Gilson Carvalho³
1. INTRODUÇÃO
O crescimento populacional, associado ao processo de urbanização dos centros urbanos, resulta no
aumento da geração de resíduos sólidos urbanos, comumente, gerando problemas relacionados à
destinação final ambientalmente correta, conforme os termos da legislação vigente e aplicável.
Assim, registra-se que diversos resíduos são descartados de forma inadequada, resultando em gastos
financeiros e contaminação do meio ambiente, o que acarreta riscos à saúde pública. Do mesmo
modo, percebe-se que dentre as políticas públicas ambientais que tangem os resíduos sólidos, o
aterro sanitário é uma das soluções viáveis para minimizar os problemas relacionados a esses
resíduos, assim como uma alternativa de destinação final ambientalmente correta, sobretudo com
amparo em princípios de engenharia, de planejamento e de políticas públicas socioambientais [1].
Evidencia-se um número crescente na proposição de índices ambientais, que provêm uma descrição
condensada de estados ambientais multidimensionais, agregando variáveis/indicadores em um
estimador único, subsidiando a tomada de decisão e gerenciamento, de forma mais assertiva, por
proporcionar uma visão geral informativa e integrada.
Os indicadores de sustentabilidade são instrumentos que apontam problemáticas existentes no
espaço urbano onde é possível identificar as variáveis que influenciam o meio para fins de
planejamento de ações e respostas, para os atuais e futuros impactos ambientais. Assim, os índices
de sustentabilidade são capazes de orientar, avaliar e monitorar o desempenho rumo à
sustentabilidade [2].
Nessa tendência, o Brasil tem adotado índices com vistas ao monitoramento e melhorias no
saneamento básico, dentre eles: o Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana (ISLU) e o Índice
de Qualidade de Aterros de Resíduos (IQR).
O IQR, desenvolvido pela Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (CETESB), permite
avaliar as condições gerais do sistema de destinação final de resíduos, desde a escolha do local, até
suas condições técnicas operacionais [3], apresentando como produto final uma nota que varia de
zero (0) a dez (10), onde: se o valor se encontra na faixa de 0,0 a 7,0, o sistema está na condição
inadequada; e se o sistema está na faixa de 7,1 a 10,0, está em condição adequada [4].
O ISLU foi criado com o objetivo de medir a aderência dos municípios em relação ao cumprimento
das metas e diretrizes estabelecidas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei nº
12.305, de 2 de agosto de 2010 [5]. Assim, o município é avaliado de acordo com uma pontuação
que varia de zero (0) a um (1), onde quanto mais próximo de 1, maior é a aderência do município à
PNRS [6].
Desta maneira, destaca-se a importância de estudos voltados para a avalição de sistemas de
aterramento sanitário através da correlação de indicadores de sustentabilidade.
2. OBJETIVO
O presente estudo teve como objetivo calcular o IQR na avaliação de sistemas de aterramento
sanitário de dois municípios mineiros, X e Y, a fim de evidenciar os diferentes cenários de
disposição final e aprimorar mecanismos de controle sanitário ambiental, correlacionando os
resultados com o ISLU dos municípios em questão.
3. METODOLOGIA
Para concepção do estudo foram avaliadas duas áreas de disposição de resíduos em diferentes
municípios do estado de Minas Gerais, sendo o Município X de grande porte com 564.310
habitantes [7], e o Município Y de pequeno porte com 67.540 [7], localizados, respectivamente, na
região da Zona da Mata Mineira, e na região Oeste do estado, e distantes cerca de 360 km entre si.
Na Figura 1, encontra-se a localização aproximada dos municípios.
Os dados de toneladas de resíduos sólidos urbanos coletados, material reciclado recolhido, material
reciclado recuperado, e taxa de cobertura do serviço de coleta dos resíduos domiciliares em relação
à população total do município, foram obtidos no Sistema Nacional de Informações Sobre
Saneamento (SNIS) para o ano de 2016.
A avaliação do índice de qualidade dos resíduos para os municípios em estudo, foi realizada
utilizando a metodologia proposta pela CETESB [4], que leva em consideração os seguintes itens:
estrutura de apoio; frente de trabalho; taludes e bermas; superfície superior; estrutura de proteção
ambiental; características da área; dentre outros. As informações para o cálculo do IQR foram
coletadas através da inspeção das unidades de disposição final de resíduos.
Por fim, o ISLU, para os diferentes municípios, foi obtido através do Índice de Sustentabilidade da
Limpeza Urbana para os Municípios Brasileiros 2017[6]. Ressalta-se, ainda, que o cálculo desse
índice é efetuado considerando-se quatro dimensões: Dimensão E (engajamento do município), com
peso de 33,3%; Dimensão R (recuperação dos resíduos coletados), com peso de 22,2%; Dimensão S
(sustentabilidade financeira), com peso de 22,4%; e Dimensão I (impacto ambiental), com peso de
22,1% [6].
Com base nos dados levantados, foi possível realizar uma análise crítica dos cenários estudados,
com indicativo do gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos no estado, considerando diferentes
regiões e municípios de portes distintos.
3. RESSULTADOS E DISCUSSÕES
Segundo dados do SNIS (2016), foram coletados, respectivamente, 278.183,3 toneladas e 13.159
toneladas, de resíduos sólidos urbanos nos Municípios X e Y para o ano de 2016, sendo esses,
encaminhados para áreas de disposição final ambientalmente adequados, que para ambos os casos,
configura-se como aterro sanitário.
Como resultado da vistoria realizada nessas áreas de disposição de resíduos sólidos urbanos, foi
calculado um IQR de 9,8 para o Município X, e 9,5 para o Município Y, estando, portanto, ambos
municípios em condições adequadas. Ressalta-se também, que os aterros sanitários em estudo
operam sem recebimento de resíduos industrias. Na Figura 2, encontra-se a porcentagem do
atendimento das áreas de disposição, às dimensões estabelecidas pela metodologia da CETESB [4]
para o cálculo do IQR, considerando o grau de atendimento de cada município objeto do estudo.
78%
50%
Município X Município Y
Assim, percebe-se que o Município X atendeu na sua integridade à maioria dos itens avaliados na
elaboração do IQR, com exceção do item “Características da Área”, onde, verificou-se que o aterro
possui proximidade de corpos de água inferior a 200 m. Dessa forma, percebe-se que os corpos
hídricos em torno dessa área de disposição estão mais susceptíveis a contaminação por descargas,
não planejadas, de chorume, que segundo Hamada (1997), possui alta concentração de matéria
orgânica, reduzida biodegradabilidade, presença de substâncias recalcitrantes e metais pesados.
Destaca-se, conforme apresentado na Figura 3, que o resultado observado para tal equipamento de
disposição final de resíduos pode ser notado visualmente e que tal aterro possui sistema de captação
e recuperação energética do biogás, com capacidade quantitativa de geração diária de energia com
capacidade de abastecer uma cidade de 60.000 habitantes.
Já o Município Y, não atendeu integralmente os quesitos dos itens “Estrutura de Apoio” e
“Estrutura de Proteção Ambiental”. Em relação a este, verificou-se que a área de disposição não
possui isolamento visual, ou o isolamento é insuficiente, resultando em poluição visual e possível
dispersão de particulado, conforme pode ser observado na Figura 4. Destaca-se, ainda, que o aterro
não possui, ou apresenta de forma insuficiente, drenagem provisória de águas pluviais. Dessa
forma, registra-se uma deficiência operacional dessa área de aterramento relacionada à ausência da
drenagem provisória de águas pluviais, que acompanha a evolução da frente de trabalho, e tem o
objetivo de redirecionar o volume precipitado sobre a massa de resíduos, diminuindo, portanto, a
geração de lixiviado [9].
Contudo, percebe-se que ambos municípios possuem IQR superior a 8,7, IQR médio do Estado de
São Paulo para o ano de 2017 [4], região que já possui esta metodologia consolidada.
Segundo o relatório do Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana [6], ambos municípios
tiveram ISLU rebaixados no ano de 2017. O Município X, que em 2016 tinha um ISLU de 0,702,
obteve em 2017, 0,698. A depreciação do ISLU, pode ser entendida através da queda de 2,5% da
Dimensão S (sustentabilidade financeira), mesmo com um acréscimo de 0,6% na Dimensão E
(engajamento do município). As demais dimensões se mantiveram. Contudo, o Município X
apresenta um ISLU superior à 0,671, valor médio para a Região Sudeste do Brasil, para o ano de
2017 [6].
O Município Y, que em 2016 tinha um ISLU de 0,701, obteve em 2017, 0,651, estando abaixo do
valor médio encontrado para a Região Sudeste brasileira. Essa queda, pode ser entendida através da
diminuição de 29,3% da Dimensão S (sustentabilidade financeira), e 44,8% da Dimensão R
(recuperação dos resíduos coletados). As demais dimensões se mantiveram.
Portanto, foi possível verificar que ambos Municípios tiveram uma depreciação no indicador que
avalia o grau de autonomia dos municípios para a prestação de serviços de limpeza urbana
(Dimensão S). Ainda segundo o relatório do Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana [6], os
municípios que não possuem arrecadação específica para essa prestação de serviço, tendem a
comprometer o seu orçamento com a manutenção dos mesmos, estando mais vulneráveis a fatores
políticos, econômicos ou sociais, que venham a impactar o montante financeiro sob sua gestão.
Contudo, entende-se como sustentabilidade financeira, a utilização dos recursos disponíveis de
forma racional, atendendo as necessidades atuais, e se importando com as que estão por vir, ou seja,
aplicar a sustentabilidade financeira significa saber controlar o orçamento e usar os recursos
disponíveis com segurança para a formação de reservas de emergência, aplicação em investimentos
e planejamento [2]. Assim, além da baixa arrecadação, os municípios podem estar apresentando
uma gestão ineficiente dos recursos disponíveis.
A Dimensão E, é calculada a partir do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e da
Porcentagem da População Atendida pelos Serviços de Limpeza Urbana, sobretudo, com relação à
cobertura de coleta de resíduos [2]. Assim, como ponto positivo, destaca-se o incremento da
aderência do Município X a tal Dimensão. Segundo dados do SNIS (2016), esse município possuía
uma taxa 99,65% de cobertura do serviço de coleta dos resíduos domiciliares em relação à
população total do município. Apesar do Município Y não apresentar alteração na Dimensão E,
destaca-se que, também segundo o SNIS, 91,34% da população era atendida pelo serviço de coleta
dos resíduos domiciliares.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos departamentos de limpeza urbana e gestores dos aterros sanitários dos
municípios objetos do estudo por fornecerem informações e viabilizarem visitas técnicas essenciais
ao desenvolvimento do trabalho.
REFERÊNCIAS
[1] LIMA, P. G.; TAMARINDO, U. G. F.; FORTI, J. C.; BRAGA JUNIOR, S.S. Avaliação de um Aterro Sanitário
por meio do Índice de Qualidade de Resíduos Sólidos. Brazilian Journal of Biosystems Engineering, v. 11(1), p.
88-106, 2017.
[2] LOPES, A. Q. M.; FERREIRA, I. F.; NETO, J. A. F.; ARAÚJO, L. A.; SANTOS, R. R.; JÚNIOR, I. M. P. Índice
de Sustentabilidade da Limpeza Urbana. Cadernos de Graduação - Ciências Exatas e Tecnológicas, v.4, n.3, p.
51-66, mai. 2018.
[3] SILVA, C.; SchoenhalS, M.; CORNELI, V. M. Aplicação do Índice de Qualidade de Aterros de Resíduos da
Cetesb na Área de Disposição de Resíduos Sólidos Urbanos de Peabirú - Pr. Acesso em: out 2018. Disponível
em: <http://cac-php.unioeste.br/eventos/senama/anais/PDF/ARTIGOS/51_1269887725_ARTIGO.pdf>.
[4] COMPANHIA DE SANEAMENTO DO ESTADO DE SÃO PAULO – CETESB. Inventário Estadual de
Resíduos Sólidos Urbanos. São Paulo, 2018.
[5] BRASIL. Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei
no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 3 de ago. 2010.
[6] SINDICATO DAS EMPRESAS DE LIMPEZA URBANA – SELUR. Índice de Sustentabilidade da Limpeza
Urbana para os Municípios Brasileiros. 2.ed. Brasília, 2017.
[7] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Cidades. Disponível em:<
https://cidades.ibge.gov.br/>. Acesso em: out. 2018.
[8] HAMADA, J. Estimativas de Geração e Caracterização do Chorume em Aterros Sanitários. 19° Congresso
Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 1997, Foz do Iguaçu. Anais. Rio de Janeiro: ABES – Associação
Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, 1997.
[9] CARVALHO, E. T. A. Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos: Estudo de Caso para o Município de
Andrelândia – MG. Juiz de Fora: UFJF, 2015.
[10] SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE SANEAMENTO – SNIS. Diagnóstico do Manejo de
Resíduos Sólidos Urbanos – 2016. Brasília, mar. 2018.
[11] ARÉAS, G. (2016). Apenas 0,23% do Lixo é Reciclado em Juiz de Fora . Tribuna de Minas, Juiz de Fora, 28
ago.
[12] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLOCA E RESÍDUOS ESPECIAIS –
ABRELPE. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2017. Disponível
em:<https://belasites.com.br/clientes/abrelpe/site/wp-
content/uploads/2018/09/SITE_grappa_panoramaAbrelpe_ago_v4.pdf>. Acesso em: out. 2018.
[13] SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE SANEAMENTO – SNIS. Série Histórica – Resíduos
Sólidos. 2016. Disponível em: <http://app3.cidades.gov.br/serieHistorica/>. Acesso: out. 2018.
ELABORAÇÃO DE APLICATIVO PARA DIMENSIONAMENTO EM
CONCRETO ARMADO DE VIGAS-PAREDE BIAPOIADAS
Abstract: Due to geometric discontinuities and specific condition of load applications, reinforced
concretes may present regions that do not behave according to Bernoulli’s Hypothesis. In these
situations, after the bending, the deformations do not distribute linearly in relation to the neutral line
in a cross section, and the hypotheses used in the slender pieces dimensioning cannot be adopted.
Thus, it is necessary to use alternative dimensioning methods, such as the Strut and ties method.
The objective of this work is to present the VP Strut application conceived by the authors, which
uses a model of strut and ties in the dimensioning of simple supported deep beams of reinforced
concrete, checking the necessary safety requirements and detailing the beam. The language used is
the Visual Basic, aimed at applications, using free softwares that can generate an executable file of
this application. The results are consistent with those of the literature, as well as providing the
precise detailing of the deep beams required for the construction of this structure.
1. INTRODUÇÃO
Estruturas convencionais de concreto armado podem ser dimensionadas considerando que as
deformações se distribuem de forma linear em relação a linha neutra, sendo possível, assim,
elaborar equações de equilíbrio na seção (Método Seccional) da peça e realizar a quantificação da
área de aço necessária. A consideração de que as deformações se distribuem de tal forma é chamada
de Hipótese de Bernoulli, e se mantém válida em todos os estágios de carregamento. Dessa forma,
as seções planas da estrutura se manterão planas após a flexão. A Figura 1 ilustra a distribuição das
deformações que ocorre na seção. A hipótese é comprovada em ensaios de estruturas e não possui
formulação matemática.
Porém, existem algumas regiões onde a Hipótese de Bernoulli não é válida, pois as deformações
não mais se distribuem de forma linear. Nesses casos, o dimensionamento convencional não é mais
possível. Isto ocorre em zonas onde há descontinuidades geométricas, como mudança de seção e
abertura de furos em vigas, e descontinuidades estáticas, como em pontos com cargas concentradas.
Em situações como estas, pode-se recorrer a métodos alternativos de dimensionamento, que
consideram as perturbações existentes nos campos de tensões e podem prever, de forma mais
adequada, a quantidade e distribuição da armadura necessária para suportar as tensões ocorridas na
estrutura de concreto armado. O método das bielas e tirantes é um dos exemplos de alternativas
existentes que permitem tal dimensionamento.
2. VIGAS-PAREDE
Uma viga de grande altura, biapoiada e isostática é considerada como viga-parede quando a relação
entre o vão teórico l e a altura h for menor que 2, sendo o vão teórico a distância entre os eixos do
apoio [2]. A Figura 2 exemplifica o modelo descrito.
Porém, o valor adotado para a largura da base b não deve ser inferior a um mínimo de 15 cm,
admitindo-se redução deste limite até um mínimo de 10 cm somente para casos em que seja
garantido o alojamento das armaduras e suas interferências com as armaduras de outros elementos
estruturais, respeitando os espaçamentos e cobrimentos estabelecidos [2]. Ademais, esta redução
deve garantir o correto lançamento e vibração do concreto, de acordo com a ABNT NBR 14931 [3].
2.1. Detalhamento
A ABNT [2] prescreve que a armadura longitudinal As do tirante deve ser distribuída numa faixa
hdist na ordem de 0,15h. Deve ser levada de apoio a apoio, sem interrupção, e ancorada sem a
utilização de ganchos verticais, sendo recomendado a utilização de laços ou grampos no plano
horizontal.
Na mesma norma também é prescrita a adição de armadura em malha, sendo os valores mínimos
dados pela Equação 3:
As ,vert = As ,hor = 0,075 %.b (3)
Onde:
As,vert - armadura vertical da malha;
As,hor - armadura horizontal da malha.
Ressalta-se, porém, que é conveniente realizar a comparação entre a armadura vertical da malha
com a armadura de suspensão (se necessária), e a armadura horizontal da malha com a armadura de
pele, adotando sempre o maior dos valores para cada plano [1].
Figura 3 - Trajetória das tensões principais e modelo de bielas e tirantes adotado [4]
Figura 6 - Modelo de bielas e tirantes utilizado pelo aplicativo VP Strut (Adaptado de [4])
Para o dimensionamento, utiliza-se o braço de alavanca Z para o cálculo da área de aço através da
Equação 4:
Md
As = (4)
Z . f yd
Em que:
O valor do braço de alavanca pode ser obtido conforme Araújo (2014) [6]:
f cd 3 = 0,72 . v 2 . f cd (13)
Em que:
f ck
= 1− , sendo fck a resistência característica a compressão do concreto, em MPa;
250
f ck
= , sendo o coeficiente de ponderação da resistência do concreto.
c
É possível observar através da Figura 8 que o ângulo θ entre biela e plano horizontal influencia
diretamente nas dimensões do nó. Seu cálculo é realizado conforme as Equações 8 e 9.
4. VPSTRUT
Mesmo com o acelerado desenvolvimento das ferramentas computacionais, dificilmente um
software será capaz de atender a todas as demandas dos projetos de estruturas sem que os
engenheiros modifiquem o código original. Com o intuito de contribuir com a área acadêmica e
profissional no que tange a elaboração de projetos, além de estimular o desenvolvimento interfaces
e códigos computacionais voltados aos projetos de estruturas de concreto armado, foi desenvolvido
o aplicativo VP Strut, disponibilizado gratuitamente pelos autores.
4.1. Interface
O aplicativo é composto por quatro abas intuitivas e que devem ser selecionadas consecutivamente
pelo usuário. Na primeira aba “Dados de Entrada” são inseridos todos os dados necessários ao
cálculo da viga-parede, como as suas dimensões, dimensões dos apoios, carregamentos atuantes e
resistência dos materiais a serem utilizados. Inseridas todas as informações, deve-se pressionar o
botão “calcular”.
Na aba “Análise”, o aplicativo realiza o cálculo das cargas atuantes e das forças do modelo de bielas
e tirantes. São exibidas informações sobre a viga em questão, como lefet, relação l/h, modelo de viga,
ângulo do modelo e braço de alavanca Z. Também nesta aba, é realizada a análise da tensão de
compressão no nó do modelo, onde a mensagem da verificação é emitida.
Na aba seguinte, “Detalhamento”, pressiona-se o botão “Detalhar”, exibindo assim as informações
das armaduras longitudinais calculadas, comparando-a com a armadura mínima (As,mín) e sendo
adotado o maior valor entre os dois valores. O usuário seleciona um diâmetro comercial de sua
preferência e então é gerado o detalhamento. O processo se repete para as demais armaduras. No
campo “ancoragem” é feita a análise da ancoragem das barras nos apoios, ao qual é emitida uma
mensagem informando se é possível ancorar com trecho reto ou se deverá ser utilizado gancho,
sendo que, para esta situação, o aplicativo não realiza o detalhamento. Quando o apoio possui
largura de ancoragem menor que a mínima, também é emitida uma mensagem de aviso.
A Figura 9 exemplifica a aba “Dados de “Entrada, enquanto a Figura exemplifica a aba “Análise”.
▪ A relação l/h deve ser maior que 1,0 e menor que 2,0;
▪ A largura da base da viga deve ser maior que 15cm;
▪ O carregamento deve ser uniformemente distribuído, superior ou inferior;
▪ A viga deve ser biapoiada;
▪ Segundo Araújo [6], devido a não linearidade na distribuição das tensões, o momento de
fissuração na viga-parede é menor do que nas vigas esbeltas. Com isso, a taxa de armadura
longitudinal mínima também será menor. No aplicativo, porém, é adotado o valor de armadura
mínima para as vigas esbeltas;
▪ É necessário realizar o detalhamento dos ganchos ou laços de ancoragem, quando preciso;
▪ Devem ser analisados os espaçamentos para o detalhamento proposto, fazendo as adequações
necessárias;
▪ É necessário observar a influência do esforço cortante na estrutura, não contemplado pelo
modelo;
▪ O aplicativo não realiza as verificações do Estado Limite de Serviço.
Apesar de obedecer aos critérios normativos da ABNT [2] [3], qualquer dimensionamento deve ser
realizado por profissional capacitado, eximindo-se seus autores de qualquer inaplicabilidade dos
resultados encontrados.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O modelo de bielas e tirantes mostrou-se eficiente no cálculo dos esforços principais atuantes em
vigas-parede. As divergências encontradas entre os resultados do Software comercial e o do VP
Strut são esperadas não apenas pelo rigor técnico ao se comparar os modelos de cálculos, como
também pela função que devem cumprir. Enquanto o comercial, obtido a custo considerável, deve
produzir um resultado exequível, confiável o VP Strut é uma ferramenta que ainda não deve ser
utilizada como única referência para dimensionamento estrutural, sendo um auxiliar na tomada de
decisões do engenheiro ou no aperfeiçoamento acadêmico.
Os autores idealizam o aprimoramento do aplicativo, implementando novos casos de carregamento,
geometria, condições de apoio e o desenvolvimento de um painel gráfico mostrando o detalhamento
real, tal como ocorre nos softwares usuais de concreto armado. Entretanto, consideram que esta
primeira versão é um importante passo para a difusão do conhecimento em engenharia estrutural e
modelagem computacional.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à UFJF pelo apoio à pesquisa.
REFERÊNCIAS
[1] SOUZA, R. A. Concreto estrutural: Análise e dimensionamento de elementos com descontinuidades. 2004. Tese
(Doutorado). Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações. São Paulo: Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, 2004.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118 (2014). Projeto de estruturas de concreto
– Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14931 (2004). Execução de estruturas de con-
creto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2004.
[4] WIGHT, J. K.; MACGREGOR, J. G. Reinforced concrete mechanics and desing. 6. ed. Editora Pearson, 2012.
[5] SILVA, R.C.; GIONGO, J.S. Modelos de bielas e tirantes aplicados a estruturas de concreto armado. São
Carlos: EESC-USP, 2000.
[6] ARAÚJO, J. M. Curso de concreto armado. 4. ed. Rio Grande: Dunas, 2014. v. 4.
[7] SCHLAICH, J.; SCHÄFER, K. Design and detailing of structural concrete using strut-and-tie models. London:
The Structural Engineer, v. 69, n. 06, p. 113-125, Mar. 1991.
[8] THOMAZ, E. C. S. Viga Parede. 2003. Notas de aula – Parte 1. Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia,
2003.
LIGAÇÕES TUBULARES SUJEITAS À
PLASTIFICAÇÃO DA FACE LATERAL DO BANZO
João Batista Silva Neto1, Daniel José Rocha Pereira2, Arlene Maria Cunha Sarmanho3,
Messias Júnio Lopes Guerra4, Luiza Gabriela Vasconcelos Alves5
1
Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil, joaobatista011@gmail.com
2
Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil, daniel.pereira@ufop.edu.br
3
Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil, arlene.sarmanho@gmail.com
4
Instituto Federal de Minas Gerais, Campus Santa Luzia, Minas Gerais, Brasil, junioguerra@hotmail.com
5
Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil, lluizavasconcellos@gmail.com
Resumo: As estruturas tubulares possuem características que permitem sua utilização em diversos
sistemas estruturais na construção civil. Ligações entre esses perfis exigem atenção, por poder
apresentar um ponto de vulnerabilidade em uma estrutura. Portanto, o estudo aprofundado do
comportamento estrutural de ligações é primordial para o desenvolvimento de prescrições
normativas e execução de projetos. Atualmente, as prescrições internacionais e nacionais preveem a
utilização de ligações entre banzos e montantes compostos por seções transversais circulares,
retangulares ou quadradas, com limitações de geometria impostas a partir da relação entre
dimensões do banzo e do montante. Neste trabalho, ligações soldadas do tipo “T”, compostas por
perfis compactos e esbeltos, sujeitas à ocorrência da plastificação da face lateral do banzo devido à
alta relação entre diâmetro do montante e largura do banzo, tiveram seus valores de capacidade
resistente de cálculo analisados e comparados. Estes valores foram obtidos por meio de modelos
numéricos desenvolvidos em um software de elementos finitos, com a formulação normativa
brasileira presente na NBR 16239 (2013). Trabalhos desenvolvidos anteriormente já demonstravam
a necessidade de uma formulação normativa mais adequada para os perfis fora das condições de
validade da norma, como os considerados esbeltos, ou seja, de paredes finas. Observou-se que as
resistências numéricas e teóricas apresentaram boas correlações. Porém, para os perfis mais
esbeltos, as atuais equações normativas não se mostraram adequadas, o que era esperado dado que
as condições de validade não foram atendidas.
Palavras-chave: Estruturas metálicas, ligações tubulares, seções esbeltas.
Abstract: Hollow steel structures have properties that allow its use in a wide range of
constructions. Connections between these members demand attention, since it can become a
vulnerability spot on a structure. Therefore, the intensified study of the structural behavior of
connections is capital to the development of normative prescriptions and the correct execution of
projects. Nowadays, international and national prescriptions predict the use of joints between
circular, rectangular or square hollow section chords and braces, provided that a range of validity,
considering the geometric relations between dimensions of chords and braces, is obeyed. In this
work, welded T-joints formed by compact and thin-walled sections, subjected to chord side wall
failure due to its high brace-to-chord ratio, were analyzed. The joints resistances were obtained and
compared. The values were obtained through numerical models, developed in a commercially
available software that uses the finite elements method, and through the Brazilian design
prescriptions of NBR 16239 (2013). Previous studies had shown the necessity of adaptations to the
design prescriptions in order to consider sections that are not recommended in current the range of
validities, such as the thin-walled sections. It was observed that the numerical and theoretical joint
resistances results showed a good correlation, even though that, for thin-walled sections, the results
obtained through design prescriptions showed higher dispersion, what was expected, since the
geometric properties of these models are not in accordance with the range of validity recommended.
Keywords: Hollow steel sections, tubular joints, thin-walled sections.
1 INTRODUÇÃO
1.3 Objetivo
Neste trabalho, são utilizados dois tipos de análise: uma avaliação teórica por meio de
dimensionamento e uma análise numérica, com objetivo de avaliar a resistência de ligações
tubulares soldadas do tipo “T” compostas por perfis compactos e esbeltos, sujeitas à ocorrência da
plastificação da face lateral do banzo devido à alta relação entre diâmetro do montante e largura do
banzo. As ligações possuem seção retangular no banzo e circular no montante. Os resultados das
avaliações numéricas, realizadas no software comercial ANSYS [15], são utilizados na verificação
da capacidade resistente das ligações. Posteriormente, esses resultados são comparados com os
resultados obtidos a partir da norma brasileira vigente de tubos de aço, a NBR 16239 [11].
2 METODOLOGIA
2.1 Tipologia e Geometria das ligações
Existem diversas tipologias de ligações entre perfis tubulares que dependerão basicamente do
modelo da treliça estudada. Sua classificação geralmente é baseada na forma da ligação e o tipo de
carregamento.
Em relação à forma, as ligações podem ser classificadas de diversas maneiras, como por exemplo:
“T”, “X”, “Y”, “N”, “K” e “KT”. Na Fig. 2 é possível observar algumas das diferentes tipologias
possíveis.
Tabela 1: Modos de falha em ligações soldadas composta por banzo em perfis retangulares e montantes/diagonais por
perfis circulares ou retangulares [11].
Fig. 3: Nomenclatura das ligações compostas por perfis tubulares circulares e retangulares.
Dois parâmetros relacionados à geometria do perfil servirão de base para as análises apresentadas
adiante, os parâmetros e 2 :
d1
= (1)
b0
b0
2 = (2)
t0
2.4 Dimensionamento
50
b0
E
d1 d1 E t 0 0, 05
0, 4 0,8 0, 05 fy
b0 t1 fy
h
0,5 0 2, 0
b0
Vale destacar que a ligação “T” é um tipo especial da ligação tipo “Y” em que o montante apresenta
um ângulo de 90° em relação à face superior do banzo. A força axial resistente de cálculo para o
Modo B pode ser determinada a partir da equação:
f y t 0 ( 2, 2h1 + 11t 0 )
N1,Rd = (3)
a1
Para diagonais e montantes de perfil circular, multiplica-se as forças axiais resistentes acima por
( 4 ). Ressalta-se que o valor do coeficiente de ponderação de resistência (γa1), utilizado pela
norma brasileira é de 1,10, e que, neste trabalho, não foram realizadas análises envolvendo
carregamento no banzo.
Destaca-se que foi utilizado um diagrama bilinear para representação do comportamento estrutural
do modelo computacional, considerando o módulo de elasticidade e um módulo tangente no regime
plástico.
2.5.4 Aplicação das condições de contorno
A condição de apoio adotada para os perfis foi a bi-engastada. Assim, nas duas extremidades do
banzo, realizou-se o acoplamento de todos os nós, restringindo todos os graus de liberdade de tal
forma represente um engaste. Trabalhos semelhantes anteriores, como o de Nunes [2], que realizou
estudo de ligações “T”, porém com foco no modo de falha A, demonstraram que a condição de
apoio adotada não interfere de forma significativa nos resultados da resistência da ligação.
2.5.5 Geração da Malha
A malha foi gerada de forma que o seu arranjo e dimensões possibilitassem o refinamento nas
regiões de concentração de tensões, ou seja, na região de união entre o montante e o banzo das
ligações. Na Fig. 4, pode-se observar o refinamento na região da ligação.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para se estudar a adequação da norma aos modelos numéricos propostos, realizou-se uma
verificação das condições de validade da NBR 16239 [11] para a ligação do tipo “T”. Na Tabela 3,
são expostos os parâmetros geométricos de cada modelo, e é descrito se atendem ou não às
condições de validade mostrados na Tabela 2.
A análise não-linear dos modelos numéricos realizados pelo software ANSYS [15] é feita pelo
método Newton-Raphson, o qual trabalha com interações de forma a encontrar soluções com boas
precisões e convergência. Devido a isso, a aplicação de deslocamento é realizada por meio de
incremento a cada intervalo (substep). Para se ter uma comparação qualitativa do efeito da carga
aplicada em cada modelo, tem-se representado na Fig. 7 a deformação da parede lateral sofrida por
eles, com seus correspondentes substeps, quando submetidos à um mesmo deslocamento vertical.
Na Fig. 7 é possível observar a diminuição da plastificação da parede lateral do banzo à medida que
se tem o aumento da espessura do banzo. Observa-se ainda que, quando a espessura do montante
ficou menor que a do banzo, tem-se a ocorrência da sua plastificação e falha, ou seja, o Modo de
falha F torna-se dominante. Isto é maior evidenciado na Fig. 6, obtida no último substep da análise.
Fig. 7: Deformação dos modelos numéricos quando submetidos à uma mesma imposição de deslocamento.
Além disso, é visível na Fig. 6 que o ponto de máxima deformação na parede lateral do banzo
ocorreu, em sua maioria, a um valor correspondente próximo à 5/8 da sua altura total, conforme
demonstrado na Fig. 8. Para os modelos 7 e 8, que possuem maiores espessuras, verificou-se que
esse deslocamento máximo ocorreu na metade da seção.
Em relação à distribuição de tensões é possível observar a partir da Fig. 10 que há uma maior
concentração, como esperado, na região da ligação. Essa tensão é ao longo do carregamento,
distribuída para as faces laterais do banzo.
Fig. 10: Distribuição de tensões von Mises ao longo do perfil.
Na Fig. 11, pode-se observar como se deu a variação do deslocamento da face lateral do banzo, em
seu ponto máximo, de acordo com a carga imposta. A partir dele, é possível obter uma estimativa da
resistência das ligações através do método dos estados limites, considerando a deformação de 3%
da face lateral do banzo. Além disso é possível observar que o modelo 9 (6,00mm) apresentou um
comportamento totalmente diferenciado, já que seu modo de falha está relacionado com a
plastificação do montante, ou seja, Modo F.
Fig. 11: Gráfico de carga por deslocamento no ponto de máxima deformação da face lateral do banzo.
Na Tabela 4 é apresentado uma comparação entre os valores de resistência de cálculo obtidos no
modelo numérico (Nnum) e a partir das formulações normativas da NBR 16239 [11] (N1,Rd). O
modelo 9 tem sua força resistente suprimida por não ter apresentado o modo de falha B como
dominante.
Tabela 4: Resistências teóricas e numéricas
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise dos resultados, notou-se que todos os modelos numéricos analisados, exceto o
modelo 9, apresentaram como modo de falha da ligação a plastificação da face lateral do banzo na
região da ligação, ou seja, o Modo B.
Observa-se também que, à medida que a relação entre a espessura do banzo e a do montante (t0/t1)
ou (h0/b0) se aproxima de 1 ou o ultrapassa, para o perfil de seção estudada, o modo de falha B
deixa de ser influente e a falha passa a ocorrer no montante. Tal fenômeno demonstra o ganho de
rigidez do banzo e a insuficiência do montante para transmitir a solicitação imposta.
Notou-se que para perfil de mesma seção, a resistência da ligação tem acréscimos com o aumento
da espessura do banzo. O parâmetro γ, portanto, tem relação proporcional à resistência, já que como
as tensões tendem a ser distribuídas para as paredes laterais do banzo, uma maior espessura deste,
fará com que se tenha maior capacidade e resistência para receber esta solicitação.
Além disso, observa-se que as resistências numéricas e teóricas apresentaram, em geral, boas
correlações, mesmo apresentando condições de validade fora das proposições da NBR 16239 [11].
Isso demonstra a possível expansão da abrangência da norma para outras faixas de esbeltez ainda
não contempladas nas suas formulações. Porém ressalta-se que, para os perfis mais esbeltos, a
equação normativa resultou em valores mais altos de capacidade resistente do que o modelo
numérico. Tal fato pode resultar em dimensionamentos contra a segurança estrutural das
edificações, mostrando a necessidade de maiores estudos nessa área dominante.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES, CNPq e FAPEMIG e UFOP pelo apoio e financiamento do
desenvolvimento da pesquisa.
REFERÊNCIAS
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Projeto de estruturas de edificações com perfis tubulares de aço, 1st ed. Belo Horizonte: Ed. do Autor, 2016.
[2] G. V. Nunes, Estudo paramétrico de ligações tipo “T”, “K” e “KT” compostas por perfis tubulares de seção
retangular e circular. Dissertação de Mestrado. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto, 2012.
[3] M. J. L. Guerra, Estudo de ligações tipo “T” com perfis tubulares de seção composta de paredes esbeltas.
Dissertação de Mestrado. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto, 2017.
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Dissertação de Mestrado Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2015.
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vol. 108, no. ST9, pp. 2081–2098, 1982.
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of Structural Engineering, vol. 117, no. 8, pp. 2258–2277, Aug. 1991.
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joints,” Tubular Structures VI, pp. 341–347, 1994.
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section joints,” Proceedings of the Institution of Civil Engineers - Structures and Buildings, vol. 163, no. 6, pp.
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[9] G. J. Van Der Vegte, J. Wardenier, and R. S. Puthli, “FE analysis for welded hollow-section joints and bolted
joints,” Proceedings of the Institution of Civil Engineers - Structures and Buildings, vol. 163, no. 6, pp. 427–
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Commitee for Standardization), 2005.
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Dissertação de Mestrado. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto, 2008.
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of Constructional Steel Research, vol. 53, no. 2, pp. 149–165, 2000.
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Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Siderurgia e Centro Brasileiro da Construção em aço, 2008.
ASPECTOS DA INFLUÊNCIA DE TRANSVERSINAS NO
COMPORTAMENTO DINÂMICO DE PONTES
Abstract: Studies show the importance of crossbeam elements in bridges and viaducts built by
precast beams, increasing the rigidity of the board and contributing to the distribution of mobile loads.
On the other hand, because of the high difficulty of being molded locally, both in terms of material
consumption and the demand for more labor, many engineers have chosen not to use these elements
in their works. With this, the structure becomes more deformable and should be analyzed more
carefully. In terms of efforts, the effects of these design options on the slabs and struts of the structure
are already shown, but not the influence on their dynamic behavior. In this scenario, the present work
consists of the comparison of the results obtained for the dynamic behavior of reinforced concrete
bridges with 10, 20 and 30 m length and four bi-supported longitudinal struts, considering two
conditions: transverse linked to the slab and without crossbeam. The natural frequencies, besides the
maximum displacement and Dynamic Amplification Factor (DAF), are verified by virtue of the
passage of the vehicle in the superstructure. To this end, bark, grid and single-line models of the
structures are designed, using SAP2000 and a traffic simulation program.
Araújo et al. [2] realizou uma avaliação comparativa entre os valores de momentos fletores a serem
utilizados em projetos de pontes rodoviárias com longarinas protendidas pré-moldadas obtidos com
e sem o uso de transversina intermediária. O objetivo principal foi verificar a influência desses
elementos nos valores dos momentos nas longarinas. Utilizando modelo de grelha na modelagem, a
presença da transversina intermediária reduziu os esforços tanto na longarina extrema quanto na
longarina central. O mesmo não ocorreu com o modelo sólido, no qual se observou que a redução do
momento na viga externa foi acompanhada por aumento desse esforço na viga central.
Judice et al. [1] avaliou a distribuição de cargas em pontes e viadutos com e sem transversinas
internas. Foram analisados modelos em elementos finitos, baseados em tabuleiros reais com seção
transversal em vigas múltiplas e os resultados obtidos foram comparados com os propostos na
literatura técnica. Concluiu-se que as situações com e sem transversina, em termos de carga na
longarina, a existência da transversina teve pouca influência.
Em 2010, Judice et al. [3] em continuação ao estudou anterior desenvolveu modelos computacionais
com a representação de lajes, longarinas e transversinas com elementos finitos do tipo casca. Os
resultados foram comparados com aqueles obtidos por modelos de menor complexidade e com
valores propostos na literatura técnica. Os Modelos 3D e Casca foram os que melhor representaram
o comportamento da estrutura, pois capturam o funcionamento conjunto de todas as partes da mesma.
O modelo 3D, entretanto, foi considerado pelos autores o mais complexo em termos da interpretação
de resultados.
Fulgêncio, de Paula e Azevedo [4] realizaram um estudo comparativo para distribuição de
solicitações e valores de deformações em uma ponte rodoviária de concreto armado com e sem o
emprego de vigas transversinas no travamento da estrutura. Foi observado que o uso de vigas
transversinas proporcionou menores valores de deformações na ponte em estudo. Por meio da análise
estrutural realizada com o auxílio do programa SAP 2000, percebeu-se que com o aumento do número
de transversinas na ponte, maior foi o acréscimo de rigidez na estrutura gerando assim uma menor
deformação da mesma. Observou-se também uma maior distribuição das solicitações com a presença
das transversinas, tanto da carga permanente quanto da carga variável.
Cavalcante e Barboza [5] realizaram um estudo numérico no programa SAP 2000 para pontes de
vigas pré-moldadas e moldadas in loco para diferentes quantidades de transversinas, além de variar
as ligações do tabuleiro com os pilares intermediários como flexíveis e monolíticas. Concluiu-se que
o uso de transversinas intermediárias aumentou os deslocamentos verticais no tabuleiro, mas reduziu
os deslocamentos relativos entre longarinas a partir da redistribuição de esforços, enquanto os
esforços de tração nas longarinas foram reduzidos, nos pilares não houve variações nos
deslocamentos, mas ocorreu redução dos esforços devido à ação do vento.
1.2. Objetivos
Fundamentado no cenário supracitado, o presente trabalho apresenta a comparação de resultados
obtidos para o comportamento dinâmico de pontes de concreto armado com quatro longarinas
biapoiadas considerando duas condições: transversinas ligadas à laje e sem transversinas. Verifica-se
as alterações em termos de frequências naturais, além do deslocamento máximo e Fator de
Amplificação Dinâmica (FAD) em virtude da passagem do veículo na superestrutura. Para cumprir
com os objetivos, são concebidos três tipos de modelos: em elementos de casca, de onde obtém-se as
características dinâmicas, modelo de grelha ajustado, do qual são obtidos frequências e modos de
vibração para a criação do último, o unifilar, utilizado na determinação dos deslocamentos dinâmicos
máximos. As análises são realizadas com auxílio do programa comercial SAP 2000, fundamentado
no Método dos Elementos Finitos, e da ferramenta IVPE, desenvolvida na COPPE [6], que simula a
interação veículo-pavimento-estrutura.
A estrutura base consiste em uma ponte rodoviária constituída por quatro longarinas pré-fabricadas,
biapoiadas e igualmente distribuídas. São estudados três modelos com largura do tabuleiro constante
igual a 12,0 m e vãos de 10, 20 e 30 m, denominados, respectivamente, LB-10, LB-20 e LB-30. Foram
adotadas duas transversinas de extremidade e uma transversina intermediária em todos os casos
analisados. Na seção transversal das pontes admite-se duas proteções do tipo barreira NEW JERSEY
em cada extremidade com 0,40 m cada, totalizando 11,20 m de largura possível para tráfego de
veículos.
Os elementos da estrutura são fabricados em concreto com resistência característica fck = 40 MPa.
Pela NBR6118 (2014), o módulo de elasticidade longitudinal é Ecs = 32 GPa e o coeficiente de
Poisson, 𝜈 = 0,2. Na análise dinâmica, a taxa de amortecimento (𝜉) para todos os primeiros modos
de vibração das estruturas foi considerada igual a 2,5%, tomando como base o trabalho de Araújo [8].
Ressalta-se a exceção para as simulações considerando veículos trafegando a 1,0 km/h, ver seção 2.4,
nas quais considerou-se 𝜉 = 25%, a fim de diminuir o efeito dinâmico e obter uma resposta estática.
A Fig. 1 apresenta a seção genérica do caso em estudo e a Tabela 1 as dimensões dos modelos, ambos
com unidade em centímetros.
Fig. 1 – Corte transversal genérico das pontes
A primeira etapa da modelagem das pontes consiste na elaboração de modelos em elementos de casca
para a análise estática e de vibrações livres, os quais são utilizados no ajuste dos modelos de grelha.
Este é o modelo mais completo empregado para fins deste estudo, onde os componentes estruturais
são representados em sua linha média. A conexão entre o topo das vigas longarinas e transversinas
com a laje do tabuleiro é viabilizada por meio do uso de elementos de ligação, que possuem elevada
rigidez e massa nula.
Os componentes da estrutura foram discretizados para se obter elementos retangulares com todas as
dimensões não excedendo 0,30 m. Além disso, optou-se por uma malha “mais quadrada” possível,
de sorte a evitar a distorção dos elementos durante a análise. Para as condições de contorno, foram
impedidas as translações das três direções nos pontos onde existem apoios. A Fig. 2 mostra o modelo
de casca para estrutura LB-20, com transversinas.
Fig. 2 – Modelo de casca 3D da ponte LB-20
2.3. Descrição do modelo de grelha
A partir do modelo em elementos de casca descrito na seção 2.2, ajusta-se um modelo de grelha por
meio da comparação direta das formas modais de flexão e torção da estrutura, bem como suas
frequências naturais e deslocamentos devido a cargas estáticas sendo ainda comparadas as massas
globais dos dois modelos. O modelo ajustado de grelha é utilizado para a obtenção dos autovalores e
autovetores da estrutura que serão utilizados para a criação do modelo unifilar. O modelo de grelha é
constituído de elementos de barras tridimensionais cada uma com doze graus de liberdade sendo seis
de translação e seis de rotação para representar os componentes da ponte. Esses elementos são mais
fáceis de serem implementados e processados matematicamente do que os modelos com elementos
em casca. No entanto, muitas das características da estrutura não podem ser representadas
perfeitamente nesse tipo de modelo devido à característica unidimensional de seus elementos. As
representações da rigidez da laje em seu próprio plano e da posição excêntrica do apoio em relação
ao eixo das longarinas são feitas por elementos de rigidez [7]. A Figura 3 mostra o modelo de grelha
para estrutura LB-20, com transversinas.
O modelo unifilar é uma modelagem simplificada, onde a estrutura da ponte é representada com
elementos de barra alinhados ao eixo longitudinal da obra, construído a partir das formas modais de
vibração, de flexão vertical e torção, de um modelo de grelha tridimensional da estrutura [8]. O
modelo de grelha é ajustado a um modelo de casca em termos de rigidez e características dinâmicas
[7]. Esta sequência foi utilizada na análise de todas as estruturas neste trabalho, portanto para cada
estrutura foram feitos três modelos matemático-numéricos distintos.
Já a modelagem do veículo é feita por um sistema plano de massas e molas associadas com vários
graus de liberdade [8]. Rossigali [9] mostra que o veículo com maior frequência de passagem nas
rodovias brasileiras é o caminhão de três eixos (3C) classificado como: monolítico com conexão tipo
reboque, eixo dianteiro isolado com dois pneumáticos e eixos traseiros em tandem duplo. Sendo
assim, esse será o veículo considerado neste trabalho.
Para o método unifilar, o veículo de três eixos é representado por um modelo mecânico plano
composto por uma massa suspensa, que representa o corpo do veículo e a carga nele transportada,
apoiada em três massas não suspensas, que compreendem os conjuntos eixo-roda-pneu, Fig. 4. A
ligação entre essas massas é feita por meio das suspensões formadas pelo conjunto mola-amortecedor
e por fim as massas não suspensas se apoiam no pavimento da estrutura através do conjunto mola-
amortecedor equivalentes aos pneus. O modelo matemático é composto pelos seguintes graus de
liberdade: deslocamento vertical e rotacional da massa suspensa como corpo rígido e deslocamentos
verticais das três massas não suspensas, resultando em cinco graus de liberdade (5 GL).
Os modos de flexão e torção do modelo unifilar foram obtidos de maneira análoga à apresentada em
Araújo [8]. O modelo unifilar com seus autovetores, por sua vez, é excitado com um veículo
trafegando em condições pré-determinadas, com as características da estrutura, do pavimento e do
veículo. Essa mesma sequência de modelagem foi utilizada por Melo [6], Mota [7] e Araújo [8].
A análise dinâmica da interação veículo-pavimento-estrutura será feita a partir do programa IVPE v5,
que utiliza um modelo simplificado unifilar com elementos de barra alinhados, construído a partir de
formas modais de vibração de flexão vertical e torção, de um modelo de grelha tridimensional
calibrado da estrutura. O programa que será utilizado neste trabalho encontra-se validado
experimentalmente para veículo do tipo 3C, Mota [7].
2.5. Modelo analítico-numérico unifilar da iteração veículo-pavimento-estrutura
Conforme descrito na seção 2.4, a análise da interação veículo-pavimento-estrutura realizada pelo
programa IPVE utiliza elementos de barra de um modelo unifilar, onde se consideram os modos de
flexão vertical e torção transversal das pontes. Os modos são obtidos de um modelo de grelha da
estrutura, que por sua vez são ajustados de um modelo de casca em termos de rigidez e características
dinâmicas [8]. Os modos de flexão vertical (∅𝑖𝑗 ) são calculados pela média das amplitudes modais
extraídas do modelo 3D e os modos de torção pela rotação da seção transversal (𝛼𝑖𝑗 ) obtida pela
relação entre as amplitudes verticais, conforme apresentado nas equações (1), (2) e Fig. 6. Os valores
obtidos são então normalizados.
Modos de flexão
∅𝑣1 + ∅𝑣2 (1)
∅𝑖𝑗 =
2
Modos de torção
∅ 𝑇1 − ∅ 𝑇2 (2)
𝛼𝑖𝑗 =
𝑒
Fig. 6 – Representação dos modos de flexão vertical (a) torção (b) [8]
Para caracterização das irregularidades do pavimento que irão gerar as excitações ao veículo, adota-
se funções de densidade espectral obtidas experimentalmente. Neste trabalho utiliza-se um espectro
de rugosidade do pavimento ajustado de Honda et al [11], equação (3).
−𝛽 (3)
𝑆(𝜔𝑘 ) = 𝛼̅ ∙ 𝜔𝑘
As estruturas analisadas foram modeladas por elementos de casca, a partir do qual, foi possível
determinar as frequências naturais e modos de vibração para cada caso. Buscou-se comparar os
valores das frequências de forma a verificar as possíveis diferenças nos casos com e sem transversina.
Serão avaliados em cada estrutura os dois primeiros modos de flexão vertical e torção. Os resultados
de vibração livre do modelo de casca serão ainda utilizados no ajuste do modelo de grelha. A Tabela
2 mostra os valores para as pontes em análise.
Tabela 2 – Frequências naturais dos modelos em casca analisados
Frequências (Hz)
Estruturas
LB-10 LB-20 LB-30
Com Sem Com Sem Com Sem
Modos
Transv. Transv. Transv. Transv. Transv. Transv.
1º Flexão 24,88 26,85 9,57 9,98 5,14 5,44
2º Flexão 34,86 39,43 18,95 18,86 10,80 11,34
1º Torção 23,93 27,24 9,51 9,88 5,21 5,50
2º Torção 34,95 42,29 19,05 14,43 13,14 14,84
A Fig. 7 mostra a relação entre os valores das frequências naturais nas estruturas sem e com
transversina. Em todas as estruturas, a frequência natural das pontes sem transversina é maior que
nos modelos com transversina. Este fato pode ser explicado uma vez que, nas pontes sem transversina,
a massa total é menor, ocorrendo redução da contribuição da mesma no peso da estrutura. Fica
evidenciado também que, a redução da rigidez das pontes pela ausência da transversina, para os casos
da flexão vertical e torção, não contribui de forma significativa nas frequências naturais, sendo estas
maiores nas pontes sem transversinas.
Fig. 7 – Relação entre as frequências naturais dos modelos, em casca, Sem e Com transversina
Como forma de melhor representar as pontes a partir do modelo de grelha, adota-se o processo de
ajuste que visa aproximar o comportamento dinâmico e estático deste modelo com o de casca 3D.
Para isso, são incluídos além das longarinas e transversinas, elementos longitudinais que representam
a rigidez da laje e transversina e montantes que representam a altura das longarinas no apoio, Fig. 3.
O ajuste é realizado determinando seções fictícias para estes elementos de forma a se obter resultados
próximos ao modelo de casca.
Para os componentes longitudinais utilizou-se elementos quadrados, sendo necessário, portanto, a
obtenção da dimensão de seu lado. Para os montantes, com seção retangular, fixou-se a largura,
equivalente a razão entre a área e a altura do perfil, logo o ajuste é responsável por determinar a altura
da seção transversal. As propriedades desses elementos são iguais à do concreto, no entanto, atribui-
lhes valor de massa nulo.
O ajuste foi feito comparando as frequências naturais de flexão e torção até o segundo modo. Foram
também determinados os deslocamentos máximos na longarina 1 devido a uma carga pontual de
100kN aplicada sobre a mesma, considerando também o peso próprio. Os resultados, obtidos pelo
programa SAP2000, estão apresentados na Tabela 3.
Tabela 3 – Resultado do ajuste do modelo de grelha 3D
Deslocamento (m) Frequências (Hz)
Estrutura Modelo
Peso Próprio C. Pontual 1º Flexão 2º Flexão 1º Torção 2º Torção
LB-10 Com Casca 0,0005 0,0003 24,88 34,86 23,92 34,95
Transv. Grelha 0,0005 0,0003 24,80 36,91 25,52 45,27
LB-10 Sem Casca 0,0004 0,0003 26,85 39,43 27,24 42,29
Transv. Grelha 0,0004 0,0003 27,59 41,33 28,03 36,83
LB-20 Com Casca 0,0034 0,0009 9,57 18,95 9,51 19,05
Transv. Grelha 0,0037 0,0011 9,13 19,65 9,51 23,43
LB-20 Sem Casca 0,0032 0,0010 9,98 18,86 9,88 14,43
Transv. Grelha 0,0031 0,0012 9,57 20,13 9,60 16,91
LB-30 Com Casca 0,0120 0,0180 5,14 10,80 5,21 13,14
Transv. Grelha 0,0121 0,0190 5,12 11,12 5,51 14,20
LB-30 Sem Casca 0,0108 0,0021 5,44 11,34 5,50 14,84
Transv. Grelha 0,0120 0,0022 5,53 12,00 5,71 14,40
As velocidades dos veículos trafegando sobre as estruturas variam de 20km/h a 120km/h, aumentando
com intervalo de 20km/h. Além dos deslocamentos, obteve-se os Fatores de Amplificação Dinâmica
(FAD’s), determinados comparando os deslocamentos máximos obtidos para cada velocidade com o
resultante da passagem do veículo a 1km/h, adotado neste trabalho como a resposta estática. Em todos
os casos, considera-se a contribuição dos dois primeiros modos de flexão e de torção, portanto, quatro
modos no total. A Tabela 5 apresenta os deslocamentos máximos das pontes para cada velocidade
analisada.
Tabela 5 – Deslocamentos máximos para as pontes Com e Sem transversinas devido à passagem do veículo 3C
Deslocamentos (m)
Estrutura
V=1km/h V=20km/h V=40km/h V=60km/h V=80km/h V=100km/h V=120km/h
Com 0.000434 0.000449 0.000488 0.000471 0.000408 0.000444 0.000514
LB-10
Sem 0.000417 0.000429 0.000446 0.000451 0.000393 0.000426 0.000486
Com 0.001769 0.001969 0.001972 0.002061 0.001904 0.001818 0.001582
LB-20
Sem 0.001858 0.002067 0.002131 0.002207 0.002067 0.001882 0.001600
Com 0.005214 0.005281 0.005770 0.005477 0.005760 0.006234 0.005896
LB-30
Sem 0.003957 0.004020 0.004379 0.004122 0.004276 0.004724 0.004596
A Fig. 8 apresenta a relação entre os deslocamentos máximos das pontes com e sem transversina para
cada velocidade analisada.
Fig. 8 – Relação entre os deslocamentos máximos para as pontes Com e Sem transversinas devido à passagem do
veículo 3C
Note-se que os deslocamentos das pontes LB-10 e LB-30 são sempre maiores nos casos com
transversina. O mesmo não acontece nas pontes LB-20, onde os maiores deslocamentos ocorrem nas
estruturas sem transversina. Para as duas condições de transversinas, a maior variação é evidenciada
na ponte LB-30, com 30% de diferença. Nas demais estruturas, essa variação não ultrapassou 10%.
A Tabela 6 apresenta os FAD’s calculados para cada situação e a máxima amplificação dentre as
velocidades avaliadas.
Tabela 6 – FAD’s para as pontes Com e Sem transversinas
FADs
Estrutura
V=20km/h V=40km/h V=60km/h V=80km/h V=100km/h V=120km/h Máximo
Com 1.035 1.126 1.086 0.940 1.024 1.186 1.186
LB-10
Sem 1.029 1.072 1.081 0.944 1.022 1.166 1.166
Com 1.114 1.115 1.166 1.076 1.028 0.895 1.166
LB-20
Sem 1.112 1.147 1.188 1.112 1.013 0.861 1.188
Com 1.013 1.107 1.050 1.105 1.196 1.131 1.196
LB-30
Sem 1.016 1.106 1.042 1.080 1.194 1.161 1.194
Tal como ocorre com os deslocamentos, o máximo FAD no caso de estrutura sem transversina é
maior que na ponte com transversina apenas no modelo LB-20, conforme apresentado na Fig. 9.
Apesar disso, em todas as situações, os FAD’s máximos são próximos nos dois casos.
4. CONCLUSÕES
A modelagem tridimensional das pontes utilizando elementos de casca é a que melhor representa a
estrutura, por reproduzir o funcionamento global de cada componente analisado. No entanto, a própria
literatura mostra que os resultados obtidos são de difícil compreensão, tornando-se conveniente a
análise a partir de outros modelos, como o caso do modelo de grelha e unifilar. Por este fato, utiliza-
se o modelo de casca das estruturas no ajuste do modelo de grelha de forma a se obter respostas
estáticas e dinâmicas próximas nos dois casos.
Os elementos de transversinas que compõem a superestrutura têm a principal função de elevar a
rigidez transversal do tabuleiro e melhorar a distribuição das cargas móveis. O presente trabalho
avaliou o papel deste elemento estrutural em relação ao funcionamento dinâmico em modelos de
pontes, tendo em vista a tendência de suspensão destes em projetos. Para isso, fez-se a comparação
entre as frequências naturais e modos de vibração de pontes biapoiadas com vãos de 10, 20 e 30m.
Além disso, calculou-se os deslocamentos dinâmicos máximos devido a passagem do veículo 3C
padrão.
Em todas as estruturas analisadas, a frequência natural das pontes sem transversinas é maior que nos
modelos com transversina. Isso porque, neste último, a massa total é maior, sendo a principal
responsável por esta característica nos exemplos estudados. Além disso, a redução da rigidez das
pontes pela ausência da transversina não contribuiu significativamente com as frequências naturais,
já que estas ficaram maiores nas pontes sem transversinas. Isto é, a perda de rigidez com a ausência
de transversinas é menor que a perda de massa, logo as frequências fundamentais são maiores.
Obteve-se os deslocamentos máximos para as pontes analisadas e não se verifica nenhuma tendência
de situação crítica no que diz respeito às estruturas com e sem transversinas. Isto, pois para os modelos
LB-10 e LB-30 os deslocamentos foram maiores nas pontes com transversina, ocorrendo o inverso
para a ponte LB-20. Ao se comparar os FAD’s, que são o principal indicativo da contribuição do
efeito dinâmico na estrutura, percebe-se que, da mesma forma que para os deslocamentos, não existe
uma tendência. Apesar disso, pode-se concluir que, ao analisar os FAD’s máximos, os valores
mantiveram-se próximos nos casos com e sem transversina. Portanto, em termos de comportamento
dinâmico devido à interação veículo-pavimento-estrutura, a existência ou não da transversina tem
pouca influência.
REFERÊNCIAS
[1] JUDICE, F. M. S., PERLINGEIRO, M.S.P.L., DIAZ, B. E. e SOUZA LIMA, S. Avaliação da distribuição
transversal de cargas em tabuleiros de pontes sem transversinas internas. In: 50º Congresso Brasileiro de
Concreto. 16 p. Salvador, 2008.
[2] ARAUJO, M. C., CAI, S. C. S., TEIXEIRA, P. W. G. N. e NEIVA, V. M. Distribuição transversal de cargas em
ponte de concreto protendido pré-moldada: avaliação da influência das transversinas com uso de
procedimentos da NBR 6118/2003, do LaDOTD e de modelos de elementos finitos sólidos. In: 1º Encontro
Nacional de Pesquisa-Projeto-Produção em Concreto Pré-moldado. 12 p. São Carlos, 2005.
[3] JUDICE, F. M. S., PERLINGEIRO, M.S.P.L., DIAZ, B. E. e SOUZA LIMA, S. Avaliação da Distribuição de
Cargas em Tabuleiros de Pontes sem Transversinas Internas – 2ª Parte. In: III Congresso Brasileiro de Pontes e
Estruturas, Rio de Janeiro, Brasil, 2010
[4] FULGÊNCIO, J.P.T.O.R.; DE PAULA, F.A.; AZEVEDO, C.P.B. Análise do Uso de Transversinas em Pontes de
Concreto Armado. In: VII Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas, Rio de Janeiro, Brasil, 2014.
[5] CAVALCANTE, G. H. F., BARBOZA, A. S. R. Análise da influência de transversinas no comportamento
estrutural de pontes em vigas pré-moldadas e moldadas “in loco”. In: IX Congresso Brasileiro de Pontes e
Estruturas, Rio de Janeiro, Brasil, 2016.
[6] MELO, E. S. Interação dinâmica veículo-estrutura em pequenas pontes rodoviárias. Dissertação de M.Sc.,
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2007.
[7] MOTA, H. C. Esforços extremos em pontes para modelo de cargas móveis no Brasil. Dissertação de M.Sc.,
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2017.
[8] ARAÚJO, A. O. Modelos analítico-numéricos para interação dinâmica veículo-pavimento-estrutura de ponte
rodoviária. Dissertação de M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2014.
[9] ROSSIGALI, C. E. Atualização do Modelos de Cargas Móveis para Pontes Rodoviárias de Pequenos Vãos no
Brasil. Tese de D.Sc. COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2013.
[10] MENDONÇA, R. F. Geração de Dados para Modelo Dinâmico de Cargas Móveis em Pontes. Dissertação de
M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2009.
[11] HONDA, H., KAJIKAWA, Y., KOBORI, T. Spectra of Road Surface Roughness on Bridges. In: Journal of the
Structural Division, v. 108, ST 9, p. 1956-66, 1982.
A PRÁTICA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL ATRAVÉS DA
ENGENHARIA PÚBLICA EM JUIZ DE FORA
Resumo: Desde a época colonial, a desigualdade social é a realidade que persiste no país, muito por
conta dos grandes avanços econômicos, também desiguais, obtidos ao longo dos séculos. Frente a
isso, ações que transformam este quadro demandam esforço de segmentos como o Estado, a
sociedade e a comunidade acadêmica. O Núcleo de Atendimento Social da Faculdade de
Engenharia (NASFE) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) é um projeto universitário
extensionista que tem como objetivo a prática da engenharia em prol da melhora na qualidade de
vida de comunidades carentes, por meio da oferta de serviços gratuitos de assessoria a projetos.
Dentro do conceito de sustentabilidade, se encaixa no pilar da equidade social, visando minimizar
as desigualdades. Com orientação de professores e parceria com outros órgãos, alunos do 2º ao 10º
período dos cursos de Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Engenharia Ambiental e Sanitária,
Arquitetura e Urbanismo, Artes e Design, e Serviço Social da UFJF ofertam tais serviços. O núcleo
possui uma estrutura de setores: Atendimento, Gestão de Pessoas, Qualidade e Infraestrutura,
Comunicação, Projetos e uma atividade complementar nomeada NASFE-Educação. Organização e
abertura das solicitações, capacitação e motivação dos colaboradores acadêmicos, análise, melhoria
e suporte dos procedimentos, publicações externas e internas, desenvolvimento, acompanhamento e
entrega de projetos e, por fim a promoção e prevenção de desastres naturais por meio do
aprendizado de crianças do ensino fundamental e comunidade escolar, quanto aos riscos
socioambientais, são as principais atividades de cada setor, respectivamente. Entre 2017 e 2018
foram realizados 100 atendimentos, divididos em projetos de usucapião, projetos proletários,
regularizações e projetos arquitetônicos, mapeamentos de áreas de risco e vistorias técnicas. Assim,
mesmo com o quadro reduzidos de alunos e professores frente à alta demanda da sociedade por
atendimento de engenharia gratuita, obteve-se uma produtividade satisfatória, além de permitir, para
os colaboradores acadêmicos, uma visão prática da responsabilidade social de suas futuras
profissões ao longo de um processo, por vezes, complexo e dinâmico.
Abstract: Since colonial times, social inequality is the reality that persists in the country, largely
because of the great economic progresses, also unequal, obtained over the centuries. Considering
this fact, actions that transform this framework demand effort from segments such as the State,
society and the academic community. The Social Assistance Nucleus of the Faculty of Engineering
(NASFE) of the Federal University of Juiz de Fora (UFJF) is a university extensionist project
whose objective is the engineering practice in favor of improving the quality of life of poor
communities, through offering free advisory services to projects. Within the conception of
sustainability, it fits into the social equity pillar, in order to minimize inequalities. With guidance
from teachers and partnership with other institutions, students from the 2nd to 10th period of Civil
Engineering, Electrical Engineering, Environmental and Sanitary Engineering, Architecture and
Urbanism, Arts and Design, and Social Service of UFJF offer such services. The core has a
structure of sectors: Attendance, People Management, Quality and Infrastructure, Communication,
Projects and NASFE-Education. Organization and opening of requests, training and motivation of
academic collaborators, analysis, improvement and support of procedures, external and internal
publications, development, follow-up and delivery of projects and, finally, promotion and
prevention of natural disasters through children's learning of the elementary school and school
community, regarding socio-environmental risks, are the main activities of each sector,
respectively. Between 2017 and 2018, 100 visits were carried out, adverse possession, proletarian
projects, regularizations and architectural projects, mapping of risk areas and technical surveys.
Thus, even with the reduced number of students and teachers facing the high demand of the society
for free engineering service, a satisfactory productivity was obtained, besides allowing, for the
academic collaborators, a practical vision of the social responsibility of their future professions to
the process, sometimes complex and dynamic.
INTRODUÇÃO
O índice de desigualdade social em nosso país sempre foi muito alarmante, mesmo sendo muito rico
em recursos naturais e com um PIB entre os 10 maiores do mundo. Segundo consta no Relatório de
Desenvolvimento Humano [1], elaborado pelas Nações Unidas e lançado em março de 2017, o
Brasil aparece em décimo lugar num índice que indica a disparidade de renda. Frente à este cenário,
iniciativas formadas a partir do tripé Estado-Sociedade-Comunidade acadêmica surgem como uma
oportunidade de minimizar o cenário desigual, onde todos seus atores saem ganhando: a
comunidade acadêmica com laboratórios onde pode explorar a aplicação dos conhecimentos
teóricos e técnicos desenvolvidos em sala de aula e com ações práticas; o Estado recebe retorno
indireto de seu investimento em educação, através da melhoria em áreas necessitadas e pouco
exploradas do território; e a sociedade, neste caso por meio dos cidadãos principalmente menos
favorecidos, entra para o hall de dignidade previsto para todos, por meio de direitos e deveres até
então suprimidos.
O Núcleo de Atendimento Social da Faculdade de Engenharia, conhecido como NASFE, foi criado
a partir da resolução 01/2008 do Conselho de Unidade da Faculdade de Engenharia da UFJF, com o
objetivo de prestar para a sociedade, serviços de assessoria técnica de forma gratuita nas áreas de
competência dos cursos sediados na faculdade de engenharia. O Núcleo antecede, em alguns meses,
a Lei Nº 11.888/2008 que “assegura às famílias de baixa renda assistência técnica pública e gratuita
para o projeto e a construção de habitação de interesse social” [2], a ser realizada por profissionais
das áreas de engenharia, arquitetura e urbanismo garantindo o direito à moradia digna, previsto no
artigo 6º da Constituição Federal [3]. De acordo com o regimento interno do núcleo, e em
consonância com a lei supracitada, os solicitantes podem ser pessoas físicas com renda familiar
mensal menor ou igual a três salários mínimos, advindos de pequenas comunidades, sociedades pró-
melhoramentos de bairros e organizações sociais.
Desde sua reestruturação em 2016, o NASFE almeja se tornar referência como agente
transformador que influencia positivamente a vida nas comunidades por meio da engenharia e
arquitetura públicas, e tem como valores o aprendizado contínuo de sua equipe, responsabilidade
social com visão ética e humanística, em atendimento às demandas da sociedade [4]. Conforme é
definido o tripé indissociável entre ensino, pesquisa e extensão, definido oficialmente logo após a
constituição de 1988 a partir do pensamento da inter-relação entre universidade e sociedade, o
NASFE vai de encontro com os objetivos traçados anteriormente, de “maior diálogo com distintos
setores da sociedade, [...] e a articulação com demandas sociais e pesquisa” [5].
A dinâmica das ações partem de uma hierarquia onde os docentes agem como moderadores do
processo de produção do conhecimento cuja finalidade é estimular o aprendizado do colaborador
acadêmico na realização de tarefas de pesquisa, análise e síntese da informação, caracterizando o
método de Aprendizagem Baseada em Problema - ABP [6]. Segundo Barrel [7], neste método, a
busca do conhecimento ocorre por meio de questionamento e investigação para responder aos
problemas identificados. No caso específico do núcleo, os problemas são reais e advindos de
núcleos familiares de baixa renda inseridos num contexto de vulnerabilidade social.
Tendo em vista que a cidade de Juiz de Fora tem recorrentes problemas relacionados a desastres
naturais, o projeto de extensão NASFE - Núcleo de Atendimento Social da Faculdade de
Engenharia, da Universidade Federal de Juiz de Fora, viu a necessidade da criação de um Programa
educacional denominado NASFE-Educação voltado para esse tema que ainda tem pouca
visibilidade, e que conta com a parceria do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, da Defesa Civil
de Juiz de Fora e do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DEMLURB) de Juiz de Fora,
onde busca instruir a população para que problemas ambientais possam ser evitados, melhorando a
qualidade de vida da população.
Se tratando da aplicação destes projetos no âmbito universitário, o artigo 43 da Lei 9394/96 que
trata das Diretrizes e Bases da educação superior entende que o objetivo das universidades é o de:
Assim, a atuação do Núcleo é enriquecedora uma vez que concorda com a ideia de que a “formação
do engenheiro [...] tem um custo social que deve ser resgatado através de uma atuação consciente
perante a sociedade.”[9].
Em uma análise comparativa com outras ações que envolvem o tripé ensino-pesquisa-extensão, o
NASFE tem semelhanças e diferenças de atividades, dadas também as diversas metodologias
adotadas. Quando comparado com o HABITAT, projeto do Consultório Móvel de Arquitetura da
Universidade Federal de Viçosa, com relação a referida ação, pode-se destacar as semelhanças na
elaboração de projetos, orientações técnicas para famílias de baixa renda, e este vir antes da criação
da Lei Nº 11.888/2008 de assistência técnica, embora também tenha esta como cerne das diretrizes
de atuação. Se tratando das ações que diferem, é possível notar que no projeto da UFV, os
estudantes acompanham a execução da obra, reforma ou ampliação, além de todo o processo de
construção da moradia popular [10]:
“[O projeto HABITAT] possibilita que os profissionais acompanhem o processo de
autoconstrução da moradia popular, evitando o desperdício de materiais, a
insegurança, o desconforto, a insalubridade, conferindo qualidade ao processo
construtivo e a melhoria do estoque existente. Desta maneira, enquadra a
autoconstrução nas políticas habitacionais, retirando aos poucos, o seu caráter
informal. Estas mudanças podem substituir os principais atores sociais envolvidos
nas políticas habitacionais, tirando o foco das empresas construtoras e colocando-o
no próprio usuário.”
Outro ponto que difere, é a pluralidade dos alunos e futuros profissionais envolvidos. Embora o
NASFE seja um projeto da Faculdade de Engenharia, este contempla, como dito anteriormente,
alunos de 8 cursos, criando maior interdisciplinaridade ao longo do processo. O HABITAT, em
essência, envolve discentes e docentes apenas do curso de Arquitetura e Urbanismo.
Além do Projeto HABITAT da UFV, outra ação extensionista é a do Escritório de Engenharia
Pública da Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS [11]. As ações na resolução de
questões de regularização fundiária e a própria estruturação interna dos colaboradores (docentes,
estagiários e professores coordenadores) são pontos comuns entre ambas ações. Além destas, o
serviço do escritório é voltado para a população carente e as diretrizes são organizadas
conceitualmente baseadas na lei de assistência técnica, como no NASFE. Enquanto o núcleo
trabalha a partir de demandas individuais de famílias em condições econômicas não favoráveis, o
Escritório de Engenharia Pública da UEFS dá prioridade à realização de projetos de equipamentos
comunitários, e só depois às unidades habitacionais. Outro ponto é o convênio entre Universidade e
a Companhia de Energia Elétrica da Bahia - COELBA da região e que unem conhecimento e força
de trabalho em prol da conscientização do uso racional de energia elétrica na habitação.
O exercício de comparação entre ações extensionistas de Universidades do país se torna importante
para compreender o processo e torná-lo mais eficaz ao longo do tempo. É possível compreender a
importância da parceria com empresas particulares ou públicas no que diz respeito à disseminação
de conhecimento bem como ao trabalho desenvolvido em equipe, amplificados com agentes de
diferentes locais de atuação. A importância da criação de uma lei que regulamenta a assistência
técnica também se torna imprescindível no trabalho inter-relacional das universidades junto à
sociedade. Por fim, esta comparação mostra diferentes possibilidades de aplicação do conhecimento
científico em benefício da parcela menos abastada do país, indo desde ações unifamiliares,
passando por diferentes questões técnicas - que vão desde a regularização fundiária a análises de
desempenho energético - até ações de benefício comunitário, não criando barreiras para a
diminuição da desigualdade e distribuição de renda.
Partindo do conceito de desenvolvimento sustentável que, desde a Conferência de Estocolmo na
década de 70 vem sendo difundido como importante ferramenta para a manutenção sustentável dos
recursos naturais, humanos e econômicos, conforme apresentado por Jacobi [12], e da estruturação
a partir de três pilares fundamentais, segundo o LASSU [13] compreende-se a importância de
projetos voltados à sociedade e à minimização das desigualdades geradas pelo sistema político-
econômico-social em curso.
Dentre os três pilares que dão sustentação ao conceito, o primeiro trata da prudência ecológica, que
abrange questões do impacto ambiental gerado por determinadas condutas, destacando a
necessidade de pensar no pequeno, médio e longo prazo. Sendo assim, é de responsabilidade da
iniciativa privada, do Estado e/ou da sociedade, considerar formas de amenizar impactos e
compensar aqueles que são inevitáveis. O segundo pilar é relacionado a viabilidade econômica,
onde o “interesse de evolução da mesma não deve sobrepor o ecossistema em que é inserida”, ou
seja, não é benéfico que se adquira lucro em cima de uma situação de devastação. O último dos
pilares é o da equidade social, que diz respeito ao chamado “capital humano” e que está ligado à
sociedade, ao empreendimento e ao impacto causado no entorno. Refere-se a problemas gerais
enfrentados pela comunidade, como educação, violência e lazer, todos relacionados à desigualdade
social. Relacionando-o à vivência empresarial, é necessário entender que este é um pilar que não
trata apenas de benefícios a funcionários por exemplo, mas que deve-se proporcionar um ambiente
capaz de encorajar as relações de trabalho legítimas e saudáveis, além de favorecer o
desenvolvimento pessoal e coletivo dos direta ou indiretamente envolvidos. [14]
OBJETIVO
O presente artigo visa expor o impacto do projeto de extensão na vida de famílias carentes através
da engenharia pública na cidade de Juiz de Fora, paralelo a uma estruturação coerente e eficaz de
discentes em busca de prática profissional e como o envolvimento nas atividades extensionistas são
capazes de despertar uma consciência social em todos os envolvidos. Nesse sentido busca-se
identificar as principais demandas de serviços da sociedade junto ao NASFE e apresentar as
metodologias de atendimento, atividades realizadas e estruturação interna do núcleo.
MÉTODOS
O NASFE, além da assistência técnica prevista em lei, parte das diretrizes curriculares instituídas
pelo Ministério da Educação, dos cursos abrangidos, no que diz respeito o atendimento aos
objetivos de formação, para determinar suas atividades, tornando-se assim, parte importante no
processo de aprendizado e preparação dos seus alunos para o trabalho na sociedade. No artigo 4º da
Resolução CNE/CES nº 11, de 11 de março de 2002, são apresentados os objetivos da formação do
profissional de engenharia, e é possível destacar os itens IV, VIII, IX e X, que tratam,
respectivamente, da supervisão, planejamento e elaboração de projetos; comunicação eficiente;
atuação em equipes multidisciplinares e; compreensão e aplicação da ética e responsabilidade
profissionais [15], por estarem especialmente alinhados às atividades do núcleo de trabalho em
equipe, visitas de campo junto aos solicitantes, setorização interna e desenvolvimento de projetos.
Fig. 1 - Nova identidade visual do NASFE, adotada a partir de 2017. Fonte: José Recker (2017)
Para marcar a mudança da estruturação do núcleo, em 2017 foi realizado o desenvolvimento de uma
nova identidade visual, com logotipo e símbolo modernizados, contando com cores que
carregassem os valores da essência do NASFE, bem como um estudo com nova família tipográfica,
visando melhor legibilidade do conjunto (Fig. 1).
O núcleo apresenta como missão a promoção de atendimento técnico de qualidade em engenharia e
arquitetura para as comunidades em situação de vulnerabilidade social, considerando a necessidade
dos discentes que buscam atividades de aplicação prática e vivência dos assuntos abordados na
universidade, desenvolvendo nos acadêmicos as habilidades e competências da prática e ética
profissional e de sua função social por meio da orientação e acompanhamento dos professores. É
estruturado por meio de um docente na coordenação e um na vice-coordenação, docentes
orientadores vinculados, docentes colaboradores externos e discentes dos cursos de Arquitetura e
Urbanismo, Artes e Design, Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Engenharia Ambiental e
Sanitária e Serviço Social da UFJF. Os estudantes são envolvidos diretamente com os projetos
desde a fase de atendimento até a entrega final, sempre com o acompanhamento e supervisão dos
professores orientadores, trazendo a oportunidade da prática interdisciplinar a fim de promover a
inclusão diante do conhecimento. Há também uma parceria com a Defesa Civil, o Corpo de
Bombeiros, o DEMLURB - Departamento Municipal de Limpeza Urbana e, por fim, o NPJ -
Núcleo de Práticas Jurídicas na UFJF, onde este atua na orientação interdisciplinar nos casos que
envolvem questões jurídicas, como as ações de usucapião e orientações técnicas nas temáticas de
projetos arquitetônicos e perícias de engenharia. O núcleo está organizado em cinco setores: Gestão
de Pessoas, Qualidade e Infraestrutura, Atendimento, Projetos, Comunicação; e três diferentes
atuações: supervisor, assessor e colaborador acadêmico, considerando o perfil, a área de formação e
interesse de atuação de cada discente.
A fim de otimizar o processo interno de atendimento no NASFE em 2017 foi implantado o
SisNasfe, um sistema online em linguagem PHP para organizar e estruturar o banco de dados dos
atendimentos e das informações gerenciais dos usuários. Neste sistema é possível cadastrar os dados
pessoais para o atendimento, inserir os documentos digitalizados do solicitante, criar rotas para
visitas, ter acesso a imagens do Google Maps e Google Street View dos locais, inserir fotos
realizadas na visita para geração do relatório fotográfico, registrar informações dadas ao solicitante
durante todo o período de atendimento no sistema, alocar a documentação desenvolvida, que conta
com plantas, desenhos, memoriais descritivos, planilhas de cálculo de fração ideal, bem como os
relatórios internos e externos do projeto.
Assim, cada colaborador é um usuário no sistema pelo qual realiza seu cadastro inserindo dados
pessoais e horário de trabalho, sendo arquivados no sistema informações sobre a equipe, os
solicitantes e os casos atendidos. Por meio da parceria com o Núcleo de Práticas Jurídicas da UFJF,
do Projeto de Extensão Moradia Legal e da divulgação externa dessas ações, o solicitante se dirige
ao NASFE para que o processo de atendimento (Fig. 2) seja iniciado em períodos de cadastramento
de novas solicitações.
Fig. 2 - Fluxograma do processo de projetos no NASFE. Fonte: Os autores (2018)
O primeiro passo é o cadastramento dos dados no sistema e o recolhimento da documentação
comprobatória, fazendo-se então, uma verificação dos mesmos para que sejam inseridos
corretamente na Solicitação de Atendimento - SA dentro do Sistema SisNasfe (Fig. 3).
Fig. 6 e 7 - Memorial descritivo e Planta de Situação de uma solicitação do NASFE. Fonte: SisNasfe (2018)
Após a visita os dados coletados são organizados no sistema e então inicia-se o processo de
elaboração projetual. Os colaboradores acadêmicos se organizam e executam as representações
gráficas necessárias no tempo estipulado pelos professores orientadores e supervisores acadêmicos,
sempre contando com as orientações dadas pelos docentes colaboradores internos e externos.
Esse processo é feito por meio de croquis, medições e registro fotográfico conforme necessidade de
cada projeto. As atividades realizadas sob supervisão do professor orientador envolvem aplicações
práticas de conteúdos teóricos vistos em sala de aula e com possibilidade de desenvolver pesquisas-
ação, ao proporcionar a participação e envolvimento do aluno nas tarefas para levar consigo uma
série de conhecimentos que serão o substrato para a realização da sua análise reflexiva sobre a
realidade, e este sair da sua zona de conforto de mero pesquisador e adentrar no campo prático da
realidade. Nesse sentido o discente tem possibilidade de colocar em prática a metodologia junto
com o levantamento de dados e a análise dos mesmos [16].
Os projetos e relatórios são verificados quanto à técnica e a padronização antes da entrega ao
solicitante. Conforme previsto em norma [17], a vistoria é a “constatação de um fato, mediante
exame circunstanciado e descrição minuciosa dos elementos que o constituem” e “em caso de
necessidade de obras de engenharia (construção, reforma, demolição) as mesmas deverão ser
acompanhadas por profissional de engenharia habilitado, com emissão de ART – Anotação de
Responsabilidade Técnica no Conselho Regional de Engenharia – CREA. A ART é regulamentada
pela Lei Federal nº 6496 de 7 dez 1977 [18]; e definida como um “documento expedido após
realização de vistoria técnica e nos termos que dispõe o artigo 5º, incisos XXXIII e XXXIV, alínea
b da Constituição Federal”.
Dentre os projetos desenvolvidos, o que tem maior demanda é o projeto para processo de usucapião
e ocorre quando o proprietário requer judicialmente a propriedade de um terreno que não tem
registro em seu nome. Além deste, também são prestados serviços como elaboração de projeto
elétrico, projeto para regularização arquitetônica, projetos arquitetônicos de adaptação para fins de
acessibilidade e vistoria técnica em geral, o que traz ao acadêmico a oportunidade de lidar com
casos reais da sociedade, despertando maior consciência para a situação de desigualdade social,
destacando a importância de ações públicas de Engenharia.
Tendo em vista que o núcleo atende cidadãos em situação de vulnerabilidade social, a maioria das
construções visitadas em campo e que serão retratadas no projeto, são precárias e não planejadas,
dessa forma, o discente aprende a fazer representações gráficas em casos mais complexos de
compreensão e interpretação do que os ideais que são tratados em sala de aula.
Para desenvolver os projetos atendidos pelo NASFE, os membros, ao ingressarem no núcleo,
passam por capacitações internas que visam desenvolver as habilidades necessárias que resultarão
em projetos mais rápidos e com maior qualidade.
A partir da configuração de um núcleo com discentes e docentes multidisciplinares e
multiprofissionais foi incorporado o NASFE-Educação para promover ações junto a escolas da rede
pública de ensino para fins de orientação e conscientização de crianças nas questões ambientais.
Trata-se da busca de solução de problemas pautado na interação social e na oportunidade de
provocar cooperação grupal e no desenvolvimento de habilidades interpessoais.
Encontros mensais são realizados com as crianças do ensino fundamental, que tem como finalidade
despertar o interesse dos alunos em relação ao tema abordado e, assim, se faz necessária
inicialmente uma apresentação da equipe prosseguida de atividades teóricas e práticas cujo intuito é
o de identificar, conhecer e divulgar as causas dos desastres ambientais. Assim são abordados temas
envolvendo a ação antrópica, enchentes, incêndios florestais e deslizamentos de terra, nas
proximidades da escola e também nos locais onde residem as crianças. Os envolvidos na ação
propõem atividades interativas divididas por etapas, com metas a serem cumpridas pelas crianças
(Fig. 8 e 9).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A gestão organizacional setorizada, iniciada em 2017, bem como o desenvolvimento de atividades
ligadas ao núcleo tem possibilitado uma atuação mais ampla junto à sociedade, sendo visível a
partir do aumento dos atendimentos ocorridos e das novas ações do NASFE-Educação.
Gráfico 1 - Tipologias de Solicitação no NASFE, desde 2017. Fonte: Dos autores (2018)
CONCLUSÃO
Por meio do presente trabalho, foi possível compreender a maior demanda que a população de Juiz
de Fora teve em relação à regularização fundiária, que é o projeto de Usucapião. O projeto
extensionista da Universidade promove uma série de impactos positivos, desde o impulso para que
ocorra mudanças significativas na questão das desigualdades sociais, até o benefício dos alunos no
âmbito profissional, dando aos acadêmicos a oportunidade de aprimorar seus conhecimentos tanto
teóricos quanto práticos e ainda despertar a consciência social em cada um que se envolve com o
projeto. Com o NASFE, a interdisciplinaridade entre discentes e docentes potencializa as trocas e
aprendizados, em campo e dentro do núcleo promovendo o diálogo e a troca de saberes. Por outra
vertente, a da educação ambiental, é fundamental compreender o poder que a formação e
conscientização das ações e reações antrópicas geram no meio. Por fim, destaca-se a importância de
se promover a engenharia e arquitetura públicas em ações similares, indo de encontro à equidade
em busca de uma sociedade mais sustentável e igualitária.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora por tornar
possível o projeto de Extensão, à Faculdade de Engenharia e ao Núcleo de Práticas Jurídicas da
Faculdade de Direito da UFJF, ao Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, à Defesa Civil de
Juiz de Fora, ao Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Juiz de Fora, à Escola Municipal
Professor Augusto Gotardelo, à todos os professores envolvidos em etapas do projeto, pela
contribuição e apoio às ações desenvolvidas, e aos estudantes que compõem a equipe e a história do
NASFE.
REFERÊNCIAS
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Desenvolvimento Humano (RDH) 2016: Desenvolvimento humano para todos. 2017. Disponível em:
<http://www.br.undp.org/content/dam/brazil/docs/RelatoriosDesenvolvimento/undp-br-2016-human-development-
report-2017.pdf>. Acesso em: 03 ago. 2018.
[2] BRASIL. Constituição (2008). Lei nº 11888, de 24 de dezembro de 2008. Brasília, DF, Disponível em:
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[3] Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.
BRASIL. Constituição (1988).
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Perspectiva, Florianópolis, v. 33, n. 3, p. 1229-1256, abr. 2016. ISSN 2175-795X. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/2175-795X.2015v33n3p1229>. Acesso em: 18 out. 2018.
[6] BARRETT, T.; MOORE, S. New Approaches to Problem-Based Learning. Revitalising your practice in higher
education. New York: Routledge, 2011.
[7] BARELL, J. Problem-Based Learning. An Inquiry Approach. Thousand Oaks: Corwin Press. 2007.
[8] BRASIL. Constituição (1996). Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília, DF, 20 dez. 1996. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 15 jul. 2018.
[9] BAZZO, Walter Antonio; TEIXEIRA, Luiz Antônio do Vale. Introdução à engenharia. 4. ed. Florianópolis:
UFSC, 2013.
[10] CARVALHO, Aline Werneck Barbosa de et al. A assistência técnica gratuita para o projeto de habitação de
interesse social: uma experiência de aproximação entre pesquisa, ensino e extensão: EIXO 3 – Interfaces entre
universidade e sociedade através do projeto: ensino, pesquisa e extensão.. 2013. Disponível em:
<http://projedata.grupoprojetar.ufrn.br/dspace/bitstream/123456789/1811/1/E3011.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2018.
[11] CERQUEIRA, Eufrosina de Azevêdo; ALVES, Gerinaldo Costa. Relato sobre a produção técnica do escritório
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p.73-78, jul. 2011. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/extensao/article/view/32139/20434>. Acesso em: 20 jul.
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[12] JACOBI, Pedro. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, [S.I.], n. 118, p.189-
205, mar. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/%0D/cp/n118/16834.pdf>. Acesso em: 19 jul. 2018.
[13] LASSU - LABORATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE (São Paulo). Pilares da Sustentabilidade, 25 out. 2016.
Disponível em: <http://www.lassu.usp.br/sustentabilidade/pilares-da-sustentabilidade/>. Acesso em: 14 ago. 2018.
[14] COLOMBO, Luiz Antonio. Entenda os três pilares da sustentabilidade. 2014. Disponível em:
<https://www.teraambiental.com.br/blog-da-tera-ambiental/entenda-os-tres-pilares-da-sustentabilidadee>. Acesso em:
07 ago. 2018.
[15] BRASIL. Resolução no CNE/CES 11/2002, de 11 de março de 2002. Institui as diretrizes curriculares do curso
de graduação em engenharia. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES112002.pdf>. Acesso
em: 14 de ago. 2018.
[16] THIOLLENT, M.; SOARES, V.M.S. The subject of interdisciplinarity in the production engineering.
International Conference on Education Engineering. Rio de Janeiro: ICEE, ago. 1998. CD-ROM.
[17] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13752: Perícias de engenharia na construção
civil. Rio de Janeiro: Moderna, 1996.
[18] BRASIL. Constituição (1977). Lei nº 6496, de 7 de dezembro de 1977. Brasília, DF, 7 dez. 1977. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6496.htm>. Acesso em: 15 ago. 2018.
EXECUÇÃO DE OBRAS DE RETROFIT: UM ESTUDO DE
CASO NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
PARA O VI CONGRESSO DE ENGENHARIA CIVIL
Resumo: As construções com mais tempo de vida, precisam de reformas constantes para que sua
aparência e até mesmo a sua estabilidade se mantenham de forma satisfatória, com o desempenho
adequado. Os imóveis sofrem pelo tempo com a deterioração dos materiais e sistemas prediais. Não
é difícil encontrar imóveis que estão em estado de abandono, alguns destes imóveis por serem
antigos e geralmente estarem sem utilização, passam por reformas que além de corrigirem as
patologias da construção, dão um novo destino a este imóvel, transformando-o em outro tipo de
empreendimento. O retrofit trabalha com este conceito, não é somente uma reforma, mas tem como
finalidade recolocar o imóvel em uma outra forma de utilização. Este trabalho tem como objetivo
documentar a execução de um retrofit, apresentando as dificuldades e características encontradas
durante as atividades de obra. A obra foi escolhida por ter em seu corpo técnico, o autor deste
trabalho. O local em análise abrigava uma lavanderia de grande porte, atualmente sendo reformado
para abrigar uma escola de ensino fundamental. Para este estudo, o autor acompanhou o processo
desde a aquisição do imóvel pela empresa até a inauguração da escola. Verificou-se que o
detalhamento de projeto, principalmente o arquitetônico, é de fundamental importância para
direcionar os trabalhos na obra. Os sistemas prediais de instalações, em especial os de hidráulica,
são os que mais sofrem mudanças de projeto em virtude dos intervenientes e incompatibilidades que
aparecem durante a execução.
Abstract: Longer life buildings need constant retrofits so their appearance and even stability
remain satisfactorily, with proper performance. Real estate suffer from weather with deterioration of
building materials and systems. It is not difficult to find properties that are in a state of
abandonment, some of these properties because they are old and generally are without use, they
undergo reforms that besides correcting the pathologies of the construction, give a new destiny to
this property, transforming it into another type development. The retrofit works with this concept, it
is not only a renovation, but its purpose is to reposition the property in another form of use. This
work aims to document the execution of a retrofit, presenting the difficulties and characteristics
found during the work activities. The work was chosen for having in its technical staff, the author of
this work. The site under analysis housed a large laundry, currently being renovated to house a
primary school. For this study, the author followed the process from the acquisition of the property
by the company until the inauguration of the school. It was verified that the design detail, especially
the architectural one, is of fundamental importance to direct the work in the work. Building
systems, especially those of hydraulics, are the ones that suffer the most from design changes due to
the intervenients and incompatibilities that appear during the execution.
1. INTRODUÇÃO
O Setor da construção civil vem crescendo a cada dia, inovando em técnicas de construção e no
planejamento das obras visando o aumento da competitividade, melhoria da qualidade, redução de
prazos e redução de custos na construção e na manutenção.
Existe uma enorme responsabilidade do profissional de engenharia e arquitetura, uma vez que deles
partem os projetos das edificações e a analise das etapas envolvidas (HELENE-TERZZIAN, 1992).
O trabalho conjunto na construção civil é de fundamental importância. Para que se possa obter uma
melhor qualidade nos projetos e obras visando à racionalização da construção, a redução de etapas
de trabalho, o menor desperdício, o aumento da produtividade e, consequentemente, uma maior
lucratividade, é fundamental que na fase de projetos haja um trabalho conjunto entre projetistas e
construtores, na busca de melhores resultados (FLORES,2006).
Para que a execução de uma obra seja bem sucedia, a mesma transcorre por diversas etapas extensas
e complexas, partindo de um projeto sólido que envolva os principais desafios e soluções que
devem ser tratados, chegando à construção e na entrega da obra finalizada.
O objetivo deste trabalho é documentar atividades de execução de uma obra de retrofit.
1.1 - Metodologia
O trabalho se inicia com uma pesquisa bibliográfica através da revisão da literatura nacional sobre
os assuntos retrofit, reformas e algumas patologias que as construções sofrem com o abandono.
Também foram pesquisados trabalhos pertinentes à manutenção de edificações e métodos
construtivos. Posteriormente será mostrado um estudo de caso dentro do escopo de trabalho do
próprio autor. De posse dos dados e após o estudo, fez-se um apanhado sobre as técnicas de
execução aplicadas no retrofit e utilizando das informações colhidas, foi possível tecer uma análise
sobre este tipo de execução de obra.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
‘2.1 - Retrofit
Segundo Barrientos (2004), retrofit é a conjunção dos termos “retro”, oriunda do latim, que
significa movimentar-se para trás e de “fit”, do inglês, que significa adaptação, ajuste. Inicialmente
o termo foi incorporado no vocabulário da indústria aeronáutica nos Estados Unidos e Europa no
final da década de 90, ele era mais utilizado em relação à modernização dos equipamentos de
aeronaves. Da mesma forma, na Construção Civil o termo tem sua aplicação mais recorrente quanto
o foco principal é a modernização de sistemas de condicionamento de ar, instalações elétricas, de
lógica e dados, etc. O termo em inglês retrofit vem ganhando cada vez mais espaço e cada vez está
mais em alta. Os arquitetos e engenheiros tem se deparado com mais frequência com este termo,
pois a diferença dele com a reforma, é que o retrofit busca estender a vida útil de um equipamento
ou imóvel, dando a ele outras funcionalidades que normalmente ele não teria. Uma reforma busca
dar acabamento e corrigir algumas patologias que as construções acabam sendo submetidas com o
passar dos anos, mantendo as funcionalidades do imóvel sendo as mesmas do projeto inicial.
O retrofit surgiu e foi desenvolvido na Europa, onde ocupa importância cada vez maior, por causa
da grande quantidade de edifícios e construções antigas e históricas. Esta prática também ganhou
um lugar diferenciado nos Estados Unidos. Essas práticas nestes países foram tomando maior vulto,
pois a rígida legislação não permitiu que o rico acervo arquitetônico fosse substituído, o que
preserva o patrimônio histórico ao mesmo tempo em que permite a utilização adequada do imóvel.
Uma grande motivação é a revitalização de antigos edifícios, que estende a sua vida útil usando
tecnologias modernas em sistemas prediais e materiais atuais, tomando cuidado para compatibilizar
com as restrições urbanas e ocupacionais atuais, isso, sem falar da preservação do patrimônio
histórico, sobretudo o arquitetônico. Desta forma o patrimônio histórico, o partido arquitetônico e
estrutural é preservado, permitindo a utilização adequada do imóvel. Já bastante rotineira na
Europa, esta modalidade construtiva de reformas e reabilitações chega a 50% das obras e em países
como a Itália e a França, este índice aumenta para 60% (MORAES E QUELHAS, 2012).
De acordo com Rocha; Qualharini (2001), a idéia em foco diz respeito ao processo de modernização
e atualização de edificações, tornando-as contemporâneas, valorizando edifícios antigos, estendendo
a sua vida útil, seu conforto e funcionalidade através da incorporação de avanços tecnológicos e da
utilização de materiais de última geração. Como o envelhecimento das edificações leva a
degradação de seu entorno e, consequentemente, há o objetivo central da melhoria da qualidade de
vida, fica criada a necessidade de reabilitação do ambiente urbano. A capacidade regenerativa de
um edifício ou de uma microrregião, só pode ser determinada após um processo de avaliação de
certa complexidade, é o que chamamos de diagnóstico para um retrofit (BARRIENTOS, 2004).
3. ESTUDO DE CASO
3.1 – Caracterização do Estudo de Caso
O estudo de caso foi originado de uma obra onde o próprio autor atuou como estagiário. O imóvel
localizado na área metropolitana do Rio de Janeiro era utilizado como lavanderia para as forças
armadas no estado, estava desativado há mais de trinta anos, apresentava então, inúmeras
patologias. O projeto foi elaborado por arquitetos contratados de acordo com a demanda do grupo
investidor. A empresa responsável pelo projeto de arquitetura e paisagismo tem tradição em
desenvolver projetos de arquitetura, reformas, retrofit, design de interiores e de móveis.
A escolha pela realização do retrofit foi devido a impossibilidade de demolição da estrutura já
existente, pois se tratava de uma concessão de uso e um prédio de propriedade de terceiros. A obra
como um todo durou quatorze semanas. O galpão possuía poucas salas que eram utilizadas pela
parte administrativa da lavanderia, dois vestiários e um grande pátio onde ficavam as maquinas que
executavam os serviços de lavanderia. O escritório da empresa responsável pelo projeto de
arquitetura manteve o aspecto industrial que a edificação apresentava.
Na medida em que a estrutura metálica iria avançando, a alvenaria iria sendo executada nos trechos
que estavam sendo concluídos. Na imagem acima, podemos notar o primeiro pilar em estrutura
metálica e que foi alinhado acompanhando a parede que já existia no pátio de maquinas da
lavanderia. Este lado foi o escolhido como sendo o primeiro lado a ser executado, pois era
exatamente o lado que havia a parede que seria utilizada e por possuir as maquinas de menor porte,
que mesmo assim, demandou bastante tempo e esforço da equipe em removê-las para um lugar que
não fosse incomodar onde pudesse aguardar o momento em que a aeronáutica pudesse recolher
junto às outras maquinas de grande porte.
Nota-se através da imagem a seguir como foi à execução da estrutura como um todo juntamente
com a alvenaria. Note que o pátio com a maior quantidade de maquinas pesadas e de maiores
dimensões continua lá, mesmo com o decorrer da obra, o que causa dificuldades de locomoção de
material e mão de obra no canteiro, sem contar que proporciona um ambiente de trabalho poluído
visualmente e com acumulo se sujeira. Perceba também o alinhamento dos pilares com a parede que
já existia e das vigas alinhadas com a laje do primeiro pavimento
Instalações
A tubulação de toda a fábrica estava comprometida, pois ela foi feita com barbarás, que são
tubulações antigas feitas em ferro e que são suscetíveis a corrosão e ferrugem, onde os mesmos já
estavam completamente obstruídos com muita ferrugem e sujeiras. A solução foi à instalação de um
novo sistema de água e esgoto em todo edifício. A imagem a seguir mostra um dos banheiros após a
escavação do piso para a troca de todo o encanamento por tubos mais modernos e de maior
diâmetro que comportará a demanda do colégio que é bem maior que de uma empresa. Ainda sobre
a imagem a seguir, é possível observar também que as baias onde serão instaladas as louças
sanitárias, já existem um início de corte na parede onde o encanamento de água que alimentava as
antigas caixas dos vasos sanitários, receberá um acréscimo de encanamento a fim de possibilitar a
alimentação hidráulica dos novos vasos sanitários com caixas acopladas.
A troca do encanamento, a retirada das máquinas, a abertura dos vãos na parede que já existia e
alguns outros fatores, fizeram com que uma reparação no revestimento do pátio e no banheiro fosse
necessária. O revestimento encontrado nos banheiros da lavanderia eram diferentes comparados ao
revestimento encontrado no pátio das maquinas. Os banheiros eram revestidos com cerâmica,
enquanto o pátio havia sido revestido com argamassa. Este piso do pátio de maquinas era
constituído de uma argamassa chamada de Granitina. A Granitina é um tipo de revestimento
argamassado de alta resistência que permite um alto fluxo contínuo e possui uma resistência
mecânica de alto desempenho
Fachada
O revestimento de concreto queimado, só poderia ser colocado após a retirada de uma pequena
camada do emboço que cobria a fachada para dar aderência ao cimento. Como as dimensões da
fachada eram extensas e a sua trabalhabilidade exigiria a montagem e movimentação de andaimes,
o trabalho seria demorado e deveria ser realizado com perfeição e exatidão, pois se tratava do cartão
de visita da edificação.
Embora esta maneira de revestimento proporcione um maior trabalho e exija mais detalhes e horas
de serviço, sua execução precisa torna a edificação praticamente livre de reparos na fachada, visto
que sua vida útil é bem extensa e não é constituída de pequenas partes que podem se soltar com a
ação das intempéries e também não necessitam de pinturas, pois sua tonalidade é a própria
coloração vem do cimento
Instalações Elétricas
Com relação às manutenções que forma executadas, podemos destacar: troca do óleo dos dois
transformadores, troca de todos os fusíveis de proteção, troca do medidor de consumo de energia,
pintura da alvenaria do interior e exterior da subestação, pintura dos componentes condutores nos
novos padrões, troca de todos os conectores mecânicos, troca da chave magnética e a substituição
do cabeamento primário
Os cabeamentos que ainda eram de material rígido (já em desuso) estava totalmente ressecado e
com muitas partes com o condutor aparente. Foi necessário remover o pouco de cabeamento que
restou para que então fosse possível a instalação de novos cabos e tomadas já nos padrões mais
atuais
Outro fato que nos deu um trabalho extra foi executar um aumento no número de caixas de tomada,
pois como a edificação já era bastante antiga, não havia tantos equipamentos eletrônicos naquela
época como existem hoje, portanto nas salas que foram reaproveitadas, tivemos que abrir valas nas
paredes para colocar conduítes e mais tomadas, pois embora as caixas estivessem em boas
condições, não seriam suficientes para atender o labor diário que precisamos hoje. Este fato foi
bastante observado nas salas administrativas que permaneceram praticamente inalteradas em
relação as suas configurações anteriores.
Como as salas de aula não existiam, precisávamos enfrentar o problema de levar energia elétrica a
cada uma delas e deixar provimentos necessários para atender as salas que serão construídas na
segunda etapa da obra. Com isso houve a preocupação de não deteriorar o piso que era revestido
com granitina e que estava em bom estado necessitando apenas de alguns pontos de manutenção.
Desta forma a solução adotada foi efetuar uma cava para colocar eletrodutos capazes de abastecer
todas as salas já existentes e as que ainda iriam ser construídas em volta de toda a edificação,
deixando toda a alimentação elétrica das salas pelo subterrâneo exterior da edificação, onde o piso
era revestido simplesmente com concreto.
Foi preciso alugar um martelete rompedor para efetuar a escavação. Após três dias de trabalho
rompendo e escavando, a valeta estaria pronta para receber os eletrodutos. A caixa de disjuntores
que era utilizada na lavanderia foi reaproveitada no colégio, sendo que remanejada para a área
externa junto à fachada lateral, distante dos alunos e de fácil acesso aos funcionários do colégio, ale
da proximidade com a passagem dos novos eletrodutos.
Cobertura
O pátio livre e desimpedido proporcionou a opção de trabalhar com torre de andaime com rodinhas,
o que tornou a mobilidade dentro da uma excelente vantagem no reparo do forro to teto que possuía
algumas placas defeituosas ou faltantes. O forro da edificação original foi feito de madeira
aglomerada, que nada mais é que serragem prensada com cola. É um tipo de madeira que não
possui nenhuma resistência a umidade, estufando e se desintegrando quando em contato com água.
Algumas telhas haviam se deslocado, pois o parafuso de fixação havia enferrujado e saído da
posição, o que causou a entrada de água no forro e a quebra de algumas placas do forro. Todos os
parafusos do telhado foram substituídos por novos parafusos feitos de aço galvanizado. O telhado é
de telha de amianto, algumas destas telhas e duas cumieras tiveram que ser substituídas e foram
trocadas por telhas de fibrocimento, que é um material semelhante, porém não tem amianto que é
nocivo ao homem.
As novas placas de madeira para o forro do teto foram encomendadas de MDF, que são madeiras
com boa resistência e que são amigas do meio ambiente. Essas placas foram cortadas sob medidas e
fixadas através de pequenos caibros de madeira que deram acabamento em formato de moldura.
Após a troca de todas as placas quebradas ou defeituosas, houve a pintura de todo o forro através de
tinta acrílica. Abaixo nós temos imagens que mostram os problemas que foram encontrados no
forro e a manutenção sendo executada
Área Externa
A liberação do pátio onde as máquinas impossibilitavam o trabalho no teto foi de grande ajuda e
importância para o decorrer do trabalho, assim como a liberação do pátio descoberto que já
acumulava uma grande quantidade de máquinas que fora trazida durante a execução dos serviços. O
pátio descoberto era revestido de concreto, que por muitos anos sem uso e abandonado já estava
repleto de vegetação. Árvores de pequeno porte além de grande quantidade de capim e outras
vegetações impediam a entrada de veículos pelo portão de garagem o que também impedia um bom
desempenho da obra. O revestimento de concreto do pátio externo já estava completamente
deteriorado devido à formação desta vegetação e pela cava que foi executada pala a passagem do
novo cabeamento. Foi necessário que toda a área externa fosse concretada novamente para corrigir
esses problemas e para proporcionar um novo piso de forma regular e que não apresentasse risco de
utilização dos pedestres e dos veículos que fossem utilizar deste pátio como estacionamento.
Revestimento Argamassado do Pátio
O piso do pátio interno era de um revestimento argamassado a base de granitina e cimento. Este tipo
de revestimento é capaz de suportar um alto fluxo contínuo de pessoas e cargas elevadas de pressão
sem apresentar deformações ou fissuras. Este revestimento é feito por profissionais capacitados e
pode ser desenvolvido in loco. Foi contratada uma empresa especializada em revestimento de alta
resistência para reparar o piso acidentado e realizar uma nova aplicação deste revestimento nos
banheiros, visto que praticamente todo o piso teve que ser removido para a troca da tubulação
hidráulica antiga.
Este tipo de revestimento necessita da utilização de máquinas que fazem uma regularização e
acabamento na superfície do revestimento através do atrito de uma lixa especifica ou pedras de
esmeril.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta apresentada pela empresa responsável pelo projeto de arquitetura foi seguida e as
especificações do projeto de arquitetura foram compridas.
A execução de um projeto que contenha o máximo de informações detalhadas é de extrema
importância para a execução do retrofit. Devido à construção estar abandonada há muitos anos,
algumas patologias ou problemas que pudessem resultar em contratempos podem passar por
despercebido e não serem detectadas a ponte de ser colocadas no projeto executivo. Contar com
profissionais empenhados em catalogar e coletar informações acerca da construção é um fator muito
importante para uma execução segura e uma entrega de resultados de qualidade.
Muitas dificuldades e soluções encontradas puderam ser sanadas utilizando serviços e técnicas que
Grosso (2015) descreveu como sendo necessárias para a execução de um retrofit. Estes serviços e
técnicas executados no estudo de caso mostram, de maneira bem clara, as diferenças principais
entre uma obra de retrofit e uma obra de reforma. Para que seja possível efetuar uma análise
comparativa, de forma mais clara e objetiva, e confrontar com as afirmações de Grosso (2015)
segue abaixo um quadro que mostra as sete etapas para a realização de uma obra de retrofit e os
serviços que foram executados no estudo de caso.
É importante que o profissional se mantenha atento às verbas disponíveis, para tanto é essencial ter
um orçamento detalhado, com o preço dos itens muito bem pesquisados. Para isso tenha sempre um
projeto de arquitetura executivo feito por um bom profissional. Assim, alguns cuidados garantem
maior tranquilidade.
REFERÊNCIAS
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VARIAÇÃO DE CALOR EM UMA PLACA: ANÁLISE EXPERIMENTAL E
SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS
Abstract: The present work aimed at discussing the problem of temperature variation in two -
dimensional structures from a computational and experimental point of view. The partial differential
equation governing this problem depends only on spatial variables. The formulation of the problem
for materials that behave homogeneously, for example metals such as steel or titanium is simple and,
from the method of Separation of Variables for partial differential equations, it is possible to obtain
an analytical solution for this problem. The purpose of this work was to analyze the construction of
this analytical solution and verify the implementation of this solution from the computational point
of view, through the GeMA application. This software uses Finite Element Method to obtain
approximate solutions. In order to evaluate the discrepancy between the computational results from
the GeMA and the experimental results, a script of laboratory experiments was elaborated using plates
of steel and titanium, being verified different values for the temperatures along the plates, one since
for this type of experiment, there are no ABNT standards that guide the measurements, as well as the
minimum amount of data to validate the laboratory experiment. Finally, we compared the
experimental results and the computational results, obtaining absolute and relative errors compatible,
which indicated the need for laboratory tests to understand the variation of temperature along
homogeneous plates, since the simulations of the GeMA were able to validate the experimental results.
1. INTRODUÇÃO
O processo de transferência de calor é amplamente estudado em diversas áreas da engenharia,
destacando-se a importância deste estudo, sobretudo, na engenharia civil e na engenharia mecânica.
Sempre que há um gradiente de temperatura no interior de um sistema ou quando há contato entre
dois sistemas com temperaturas diferentes, há um processo de transferência do calor. Este trabalho
concentrou-se no estudo de transferência do calor através do processo de condução, representado, em
sua forma estacionária, pela Equação de Laplace
∆𝑢 = 0, (1)
cujo domínio é um retângulo.
A Equação de Laplace apareceu, pela primeira vez, em um artigo de Euler sobre hidrodinâmica em
1752. A equação ficou com o nome de Laplace em honra a Pierre-Simon Laplace (1749-1827) que,
a partir de 1782, estudou extensivamente suas soluções enquanto investigava a atração gravitacional
entre corpos no espaço. A Equação de Laplace é figura conhecida em muitos problemas da Física
Matemática, como, por exemplo, no estudo de campos eletrostáticos, na função potencial elétrico em
um meio dielétrico sem cargas elétricas e, para interesse deste trabalho, na representação temperatura
no estado estacionário (IÓRIO, 2010).
Devido ao caráter histórico do problema apresentado neste trabalho, muito investigou-se, até o
presente, a respeito do papel das soluções analíticas encontradas para a Equação de Laplace no
contexto do problema de condução do calor, sobretudo do ponto de vista matemático, uma vez que a
Equação de Laplace possui solução analítica através do método de Separação de Variáveis para
Equações Diferenciais Parciais (EDP’s).
Desta forma, este trabalho consiste na análise computacional da variação de calor em uma placa
retangular, objetivando a verificar se a Equação de Laplace pode, de fato, ser utilizada para determinar
o valor da temperatura em pontos distribuídos de um objeto retangular. A questão da análise de calor
é problema recorrente em diversas áreas na engenharia, podendo ser aplicada na determinação do
valor da temperatura em um ponto de uma caldeira, de um motor ou outro objeto de estudo. Entretanto,
quantificar o valor dessa temperatura em um material e selecionar os parâmetros necessários para sua
determinação são processos altamente complexos. Uma possível solução seria a determinação de
valores verossimilhantes por meio de uma análise computacional.
O trabalho buscou comparar valores computacionais para a temperatura em uma placa retangular com
valores reais obtidos de forma experimental em laboratório. A fim de garantir as duas análises citadas
anteriormente, utilizou-se o software computacional GeMA, desenvolvido no Tecgraf, laboratório
computacional da Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Simulou-
se a condução do calor em placas retangulares de diferentes materiais: aço e titânio.
Após a obtenção dos resultados computacionais para o problema em questão, foram realizados
diversos experimentos laboratoriais envolvendo placas retangulares de aço e titânio. Não há, na
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), normas específicas para esse tipo de
experimento. Por fim, as temperaturas foram registradas em dois pontos diferentes das placas, que
eram idênticas, porém de materiais distintos e comparou-se esses resultados com os resultados
computacionais obtidos através do GeMA.
2. OBJETIVOS
Este trabalho objetivou avaliar o fenômeno do transporte do calor em uma placa retangular constituída
por materiais que se comportam de maneira homogênea quando submetidos à uma fonte de calor.
Analisou-se a transferência do calor, de forma estacionária, através de simulações numéricas e
experimentos laboratoriais. Ao final de ambos os processos, comparou-se a temperatura da placa em
cada par ordenado (x,y) sob as duas perspectivas, utilizando-se, como materiais experimentais, o aço
e o titânio. Nesse sentido, o trabalho conseguiu verificar se a modelagem matemática, em conjunto
com as simulações computacionais, foi capaz de reproduzir os resultados experimentais e, portanto,
gerar resultados confiáveis para problemas reais.
3. MÉTODOS
Nesta seção descreve-se as duas metodologias de pesquisa que foram utilizadas durante o trabalho:
modelagem matemática e simulações computacionais e os experimentos laboratoriais, simulando
situações reais de transferência de calor em placas retangulares de diferentes materiais.
Dividindo essas equações pelo produto XY e considerando a definição para a função 𝜃, obtém-se
1 𝑑2 𝑌 1 𝑑 2 𝑋.
∙ = −𝑋 ∙
𝑌 𝑑𝑥 𝑑𝑥
É possível mostrar que a solução para esta equação é
𝜃(𝑥, 𝑦) = [𝐶1 cos 𝜆𝑥 + 𝐶2 cos 𝜆𝑥] ∗ [𝐶3 𝑒 −𝜆𝑦 + 𝐶4 𝑒 𝜆𝑦 ] (5)
Impondo-se as condições de contorno ( 3 ), é possível determinar os valores para as constantes
presentes na solução ( 5 ), assim como o valor para 𝜆.
Logo, a solução para o problema ( 4 ), com as condições de contorno ( 3 ), é dada por
2 (−1) 𝑛+1 +1 𝑛∗𝜋∗𝑥 𝑠𝑒𝑛ℎ(𝑛∗𝜋∗𝑦), (6)
𝜃(𝑥, 𝑦) = ∗ ∑∞
𝑛=1 ∗ 𝑠𝑒𝑛 ( )∗ 𝑙
𝜋 𝑛 𝑙 𝑠𝑒𝑛ℎ(𝑛∗𝜋∗𝑏)
𝑙
onde 𝑤 é a largura da placa e ℎ é a altura da placa. A solução 𝑢, Equação de calor de Lewis descrita
por ( 7 ) é analítica, permitindo-se que se calcule o valor da temperatura para cada par ordenado
(𝑥, 𝑦). No entanto, em função das funções hiperbólicas que estão presentes nesta solução, o cálculo
manual não é tão simples. A fim de se obter a distribuição de temperatura no domínio bidimensional
Ω, foram realizadas simulações computacionais.
4. RESULTADOS
Primeiramente, apresentam-se os resultados computacionais obtidos a partir da inserção de dados no
programa GeMA. Os dados serão inseridos no programa baseando-se no maior calor obtido na fonte
em cada material durante a parte experimental, para o estabelecimento de um parâmetro para
comparação. Os maiores valores de temperatura obtidos nas fontes foram após cinco minutos de cada
teste laboratorial. Para a simulação no GeMA, tem-se a fonte como parâmetro inicial para temperatura
superior, enquanto para outras temperaturas, lateral e inferior, será adotado o valor da temperatura
ambiente. A simulação é feita sendo necessário colocar no programa os valores de temperatura
superior, lateral e inferior, o tamanho da placa, que neste trabalho é uma placa de metal de 2 polegadas
(5,1 cm) x 1 polegada (2,54 cm), e a condutividade térmica de cada material (k).
Para fazer a comparação com a parte teórica desenvolvida e a veracidade entre a modelagem
matemática, simulações computacionais e experimentos laboratoriais, foi realizada uma experiência
no Laboratório de Materiais Mecânicos na Universidade Católica de Petrópolis (UCP). O
experimento foi conduzido da seguinte forma: através de uma resistência elétrica em contato com
uma placa, que funcionou como fonte de calor, realizou-se a transferência de calor por condução
pelos grãos que compõem o material. Com um termômetro, aferiu-se os valores da temperatura em
dois pontos distintos da placa.
4.1. Resultados Teóricos
Para o Titânio:
O material para a primeira simulação foi o Titânio que possui, como propriedade específica, a
condutividade térmica (k) com valor de k = 21,9 W/mC. A temperatura da fonte na simulação foi de
T fonte = 130 °C. Colocando esse valor de temperatura para a fonte, obtemos gráfico na Figura 2,
levando em consideração a temperatura lateral como a temperatura ambiente, sendo nesta simulação
o valor utilizado de T ambiente/lateral = 22°C.
Para o aço:
O material para a segunda simulação foi o Aço que possui, como propriedade, a condutividade
térmica (k) com valor de k = 50,2 W/mC. A temperatura da fonte na simulação foi de T fonte =
125 °C. Colocando esse valor de temperatura para a fonte, obtemos gráfico na Figura 3, levando em
consideração a temperatura lateral como a temperatura ambiente, sendo nesta simulação o valor
utilizado de T ambiente/lateral = 22°C.
Fig. 2 – Placa de Aço gerada no GeMA.
Titânio
(x;y) em milímetros 0 min. 5 min.
Fonte 23,5 °C 132,3 °C
(12,7;30) 23,5 °C 30,2 °C
(12,7;15) 23,5 °C 26,3 °C
Aço
(x;y) em milímetros 0 min. 5 min.
Fonte 20,5 °C 126,0 °C
(12,7;30) 21,8 °C 29,4 °C
(12,7;15) 21,8 °C 22,6 °C
5. DISCUSSÃO
A obtenção dos valores obtidos pela simulação teórica e os experimentos laboratoriais, possibilita o
estabelecimento de uma comparação entre eles, expressa nas tabelas 3 e 4:
Tabela 3 - Comparação dos valores obtidos em laboratório e computacional para a placa de Titânio.
Titânio – Comparação
T. ambiente 21,80 °C
(x;y) em milímetros Temperatura em laboratório Temperatura computacional
Fonte 132,30 132,30
(12,7;30) 30,20 31,40
(12,7;15) 26,30 23,27
Tabela 4 - Comparação dos valores obtidos em laboratório e computacional para a placa de Aço.
Aço – Comparação
T. ambiente. 21,70 °C
(x;y) em milímetros Temperatura em laboratório Temperatura computacional
Fonte 126,00 °C 126,00 °C
(12,7;30) 29,40 °C 29,58 °C
(12,7;15) 22,60 °C 21,80 °C
Então, mesmo com pequenas diferenças, pode-se perceber que as variações de temperatura nas placas
tanto de titânio quanto nas de aço se dão de uma forma bem aproximada, tanto na simulação
computacional quanto na parte prática.
A partir dessa análise pode-se dizer que para materiais homogêneos apenas a simulação
computacional é necessária. Os valores do programa GeMA se aproximam dos valores reais. Portanto,
não é necessário fazer medições práticas, com a peça no seu ambiente de atuação, para obter os
valores da variação de temperatura em um material exposto a troca de calor com uma fonte quente.
6. CONCLUSÃO
Levando em consideração os valores analisados, tanto na parte teórica quanto na parte prática deste
trabalho, é possível verificar que os valores se comparam. Haja vista que o programa GeMA é para
cálculo de variação de temperatura em placa, os valores determinados pela simulação no programa
condizem com os valores obtidos em laboratório. Há um pequeno erro de aproximação devido a
fatores físicos, como a interferência do calor por convecção e radiação (convecção e radiação foram
desprezados neste, já que a intenção era o cálculo por condução), a umidade do ar, densidade do ar e
pressão atmosférica e outros valores que não são levados em conta nesse trabalho. A variação devido
a esses fatores é pequena comparado aos valores altos de temperatura gerados na fonte.
A Equação de calor (Lewis) que determina a temperatura em cada ponto de uma estrutura é analisada
no programa da plataforma GeMA e determina a variação em uma placa de aço e titânio. Como os
resultados obtidos no estudo em laboratório condizem com os valores (bem próximos) do programa,
a análise desses pôde permitir que são condizentes. Portanto, a Equação de calor e o programa são
ótimas aproximações para valores reais. Tal fato é de suma importância na engenharia, visto que
permite a obtenção de valores de temperatura em estruturas sem o uso de termômetro ou outra
medição no objeto físico em estudo. Nesse contexto, somente o uso de uma simulação computacional
se torna suficiente, uma vez que permite avaliar o valor da temperatura em cada ponto do corpo ou
analisar a variação de temperatura nesse, a partir da informação acerca de fatores básicos, como a
temperatura em torno do objeto e a condutividade térmica do material.
Com o intuito de comprovar a eficiência da equação e do programa, este trabalho analisou uma placa
retangular.
Por fim, propõe-se, para estudos futuros, a análise dos fatores físicos e como eles podem interferir na
comparação entre os valores real e teórico, e assim, chegar em um valor teórico mais próximo ainda
do real.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Universidade Católica de Petrópolis por fornecer seu laboratório para os
experimentos. Ao Matheus Fernandes de Andrade e Michel Mouawad de Queiroz pelo auxílio na
realização dos experimentos do trabalho. À professora Bruna Teixeira Silveira pela ajuda com o
programa GeMA.
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REJEITOS DA INDÚSTRIA DE PRODUÇÃO DE ALUMÍNIO E MAGNÉSIO
COMO SUBSTITUINTE PARCIAL DO CIMENTO PORTLAND PARA
MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA EMISSÃO
DE CO2
Resumo: O cimento Portland é um dos materiais mais utilizados na construção Civil, portanto,
melhorias quanto ao custo, qualidade e eficiência são importantes. A indústria de construção civil é
caracterizada como uma indústria anti-ambiental devido às grandes emissões de CO 2. Em particular,
rejeitos industriais podem promover a diminuição da emissão com a substituição parcial do cimento
Portland. Partindo desse princípio, vários materiais estão sendo estudados com o objetivo de substituir
parcialmente o cimento Portland. O presente trabalho tem como finalidade verificar a possibilidade
de uso dos resíduos provenientes da fabricação do magnésio metálico e do refino da bauxita como
materiais cimentícios suplementares adicionados ao cimento Portland. A pesquisa visa obter um
cimento que apresente propriedades mecânicas favoráveis e reduzir os danos ambientais causados
pela destinação dos rejeitos e pela diminuição na emissão de CO2. A caracterização do material
estudado foi realizada por meio de granulometria a laser e difração de raios X (DRX). A lama
vermelha foi calcinada a 900C. A moldagem das argamassas, para confecção dos corpos de prova
que foram submetidos aos ensaios, foi feita com a substituição em massa do cimento Portland pela
mistura dos resíduos. Testes como resistência à compressão, resistência à flexão e absorção de água
foram realizados para determinar o índice de desempenho do cimento Portland e com adição de
rejeitos. O resultado da resistência mecânica por compressão foi de 43,57 MPa, acima do valor
estabelecido em norma (30 MPa), e o resultado por flexão apresentou uma resistência de 5,89 MPa,
maior que 10% do valor de referência. Por meio dos resultados tornou-se possível perceber as
melhorias obtidas com a incorporação da mistura de rejeitos ao cimento Portland.
Abstract: Portland cement is one of the materials most used in civil construction, so improvements
in cost, quality and efficiency are important. The civil construction industry is characterized as an
anti-environmental industry due to large CO2 emissions. In particular, industrial waste can promote
the reduction of emissions with the partial replacement of Portland cement. Based on this principle,
several materials are being studied with the aim of partially replacing Portland cement. The present
work aims to verify the possibility of using the residues coming from the manufacture of metallic
magnesium and the refining of bauxite as additional cementitious materials added to the Portland
cement. The research aims at obtaining a cement that presents favorable mechanical properties and
reduce the environmental damages caused by the destination of the waste and the decrease in CO 2
emission. The characterization of the studied material was performed by means of laser granulometry
and X-ray diffraction (XRD). The red mud was calcined at 900 ° C. The molding of the mortars, for
the preparation of the test specimens that were submitted to the tests, was done with the mass
replacement of the Portland cement by mixing the residues. Tests such as compressive strength,
flexural strength and water absorption were performed to determine the performance of Portland
cement and with the addition of tailings. The result of the mechanical strength by compression was
43.57 MPa, above the standard value (30 MPa), and the bending result showed a resistance of 5.89
MPa, greater than 10% of the reference value. By means of the results it was possible to perceive the
improvements obtained with the incorporation of the tailings mixture to the Portland cement.
1. INTRODUÇÃO
Desde o inicio do acompanhamento e registro das temperaturas da superfície da terra (1880), após o
ano de 2001 ocorreram as 15 maiores temperaturas registradas. O ano de 2015 foi o que apresentou
a maior temperatura média de todos os tempos [1].
Os maiores índices de emissões de CO2 aproximadamente a metade, ocorreram entre os anos de 1750
e 2011, justificadas pelo aumento da população e crescimento econômico. As emissões por
combustão de combustíveis fósseis e processos industriais corresponde a 78% do total. Estima-se que
a produção de cimento é responsável por cerca de 5 a 7% das emissões globais de CO 2, considerada
uma das grandes emissoras de dióxido de carbono. E a maior demanda por concreto está diretamente
relacionada com o aumento da população e desenvolvimento tecnológico [2]. Devido às imprecisões
nas previsões quanto ao desenvolvimento social, econômico e tecnológico, é relevante um
planejamento para redução de emissões de gases, tendo por consequência menor gasto energético [3].
Caracterizada como uma indústria anti-ambiental, devido às grandes emissões de CO2, a indústria de
construção civil emite CO2 em praticamente todo o seu processo produtivo desde a fase da produção
do cimento, como na fabricação de agregados, adições e aditivos. Os principais processos que
ocorrem na produção do concreto e seus constituintes devem ser definidos para uma avaliação
ambiental ampla. Em geral, para uma tonelada de clínquer de cimento Portland 0,87 toneladas de CO2
é liberada para a atmosfera. No entanto, esse valor pode variar de acordo com a localização, a
tecnologia e a eficiência da produção [4-5].
Algumas alternativas com o objetivo de reduzir as emissões de CO 2 pelas industrias cimentícias são
estudadas e aprimoradas. As com maiores potenciais têm sido a mudança no combustível utilizado
no processo de calcinação, isto é, o emprego de combustíveis com menor teor de carbono. A adsorção
química de CO2, a otimização do processo de obtenção do clínquer na moagem e conversões
eficientes de um processo úmido para seco são opções para minimizar as emissões de CO2. Outra
alternativa em destaque é a adição de materiais cimentícios suplementares (MCS) ao cimento,
escorias de alto forno, cinza volante e sílica ativa. Esta alternativa possui menor custo e vantagens
ambientais, pois utiliza de subprodutos e/ou rejeitos industriais [6].
A demanda por cimento cresce exponencialmente com o passar do tempo, deste modo estudos e
desenvolvimento de soluções tecnológicas ou técnicas capazes de minimizar as emissões de CO 2, que
contribuem diretamente com o efeito estufa estão cada vez mais presentes [7].
Julie Armengaud et al. [8] mostraram que a utilização de materiais cimentícios suplementares,
metacaulim, sílica e escoria granulada de alto forno como substituintes ao clínquer, no concreto
projetado a seco é favorável. Os resultados de resistência a compressão foram satisfatórios a maioria
dos corpos de prova apresentaram resistência maior que 45MPa (padrão norma europeia EN 206/CN)
aos 28dias. A mistura de concreto a seco contendo grandes quantidades de MCS mostra ser tão
durável quanto a qualquer concreto feito com cimento Portland comum.
Pesquisas com tufos vulcânicos, depositados no norte da Jordânia, para utilização como MCS tiveram
resultados positivos. A composição química dos tufos está diretamente ligada ao seu desempenho,
pois pode ser qualificado como material pozolânico natural uma vez que apresenta mais de 70% em
peso dos compostos SiO2 , Al2O3 e Fe2O3. O ensaio de resistência a compressão mostrou que em
idades mais avançadas (56 e 90 dias), o cimento substituído parcialmente pelos tufos produziram
resultados semelhantes ou até superiores aos obtidos com o cimento Portland puro. As respostas no
estudo obtidas apontam para o potencial confiável de uso do tufos [9].
Os MCS mais comuns (escorias de alto forno, cinzas) não estão conseguindo abastecer o mercado o
que gera um aumento no seu preço. Por conseguinte, faz necessário aprimorar e selecionar novos
materiais cimentícios suplementares que atendam a indústria e contribuam tanto nas questões
econômicas e ambientais. Quando adicionados ao cimento Portland, os MCS devem apresentar
atividade hidráulica e/ou pozolânica, essa combinação tem uma influência positiva a longo prazo nas
propriedades do concreto endurecido [11].
2. OBJETIVO
A classificação do cimento Portland pode ser feita de acordo com o percentual de gesso, escoria,
material pozolânico e material carbonático presente no cimento. O cimento Portland pode ser
classificado como comuns, compostos, alto-forno e pozolânicos. O cimento comum é aquele sem
nenhuma adição além de gesso, e por meio desses se faz possível o desenvolvimento de outros tipos,
já a denominação composto é dada ao cimento comum com adições. É intitulado como cimentos
portland de alto forno e pozolânicos, o cimento composto por frações de escorias granuladas de alto
forno e materiais pozolânicos, respectivamente [12].
A obtenção do alumínio ocorre pelo processo Bayer que consiste na cominuição da bauxita, seguido
de tratamento térmico em solução a quente de hidróxido de sódio (NaOH) e licor de cal a -175C,
submetido a um ataque de alta pressão e alta temperatura. O que resulta na conversão da alumina
hidratada em solução de aluminato de sódio, enquanto as impurezas permanecem no estado solido. O
resíduo do processo Bayer é a lama vermelha que tem propriedades alcalinas, sua composição varia
de acordo com a fonte de bauxita. Seus principais constituintes são Fe2O3 , Al2O3 , SiO2, TiO2, Na2O
e CaO e poucas frações, traços (como óxidos) de V, Ga, Cr, P, Mn, Cu, Cd, Ni, Zn, Pb, Mg, Zr, Hf,
Nb, U, Th, K, Ba, Sr, terras raras [14-17].
Os rejeitos utilizados (lama vermelha e mistura exaurida) foram caracterizados pelos ensaios de
difração de raios X (drx) e granulometria a laser. os testes foram realizados com substituição em de
25% em massa do cimento portland pelos rejeitos, 12,5% da lama vermelha e 12,5% mistura exaurida.
após a confecção dos corpos de prova foi realizado ensaios de compressão, flexão e absorção de água.
Os corpos de prova foram moldados utilizando as normas estabelecidas pela ABNT, que são descritas
ao longo do trabalho como referência para os ensaios realizados. O processo de moldagem foi
realizado no Laboratório de Mecânica dos Pavimentos e Tecnologia dos Materiais - CEFET-MG.
A lama vermelha proveniente da barragem Maravilhas, localizada na cidade de Ouro Preto em Minas
Gerais, inicialmente foi submetida ao processo de homogeneização (quarteamento). Em seguida, o
material foi levado ao forno a temperatura de 100C por 24 horas para que toda umidade residual
fosse eliminada. Após a secagem, a lama vermelha passou por um processo de moagem, realizada no
moinho de bolas planetário de alto desempenho da marca FRITSCH, modelo Pulverisette 5. A
velocidade do moinho foi de 300 RPM por 20 min, para que fosse possível atingir a granulometria
inferior a 45m, estabelecida na norma NBR 5752 [18]. Utilizou-se 12 esferas de moagem de 20mm
de diâmetro, em cada vasilhame de 500mL. A lama vermelha moída, passou por
um processo de calcinação no forno da marca Magno, potência 5,5kW, e dimensões 40cm x 20cm x
20 cm, a uma temperatura de 900C por uma hora, com base no trabalho de Daniel Véras Ribeiro
[19].
A mistura exaurida foi fornecida pela empresa Rima Industrial S.A, utilizada como recebida, sem a
necessidade de processamento, uma vez que o material possui características como granulometria
fina, material seco e calcinado.
Para o processo de moldagem dos corpos de prova foi usado os rejeitos, cimento Portland CPV-ARI
(cimento comum), areia normalizada classificada em quatro frações granulométricas retidas nas
peneiras n100 (0,169mm), n50 (0,297mm), n30 (0,59mm) e n16 (1,19mm) em proporções iguais
e água fornecida pela empresa de saneamento da cidade de Belo Horizonte (COPASA). A moldagem
dos CPs foi iniciada após a caracterização das amostras dos rejeitos utilizados. Para o estudo da
eficácia do processo de substituição parcial do cimento Portland, foram moldados corpos de prova de
referência, isto é, corpos de prova preparados apenas com o cimento Portland, areia e água em seguida
foram feitos os CPs com a substituição parcial do cimento.
A moldagem dos CPs foi realizada utilizando moldes cilíndricos de aço com diâmetro de 50mm e
altura de 100 mm, e formas prismáticas de aço, com altura de 40 mm, comprimento de 160 mm e
largura de 40 mm (Figura 1).
A preparação da argamassa para a moldagem iniciou-se com a pesagem de todo o material necessário
para o seu preparo. A proporção de material utilizado para os corpos de prova de foi, para cada uma
parte de cimento Portland CPV-ARI, 3 partes de areia normalizada e 0,48 partes de água. Já a
composição dos os corpos de prova com substituição parcial, seguiu a mesma
composição variando apenas a massa do cimento, que foi substituída na proporção de 25% em peso
pelos rejeitos (12,5% ME e 12,5% LV), valores embasados na norma NBR 5752 [18].
O processo para obtenção da argamassa se dá pela mistura dos materiais, que em sequência é colocada
nos moldes, obtendo os CPs (Figura 2) e assim que secos (após 24hs) passam pelo processo de cura
por 28 dias, para que possam ser ensaiados. Todo o processo citado foi realizado conforme a norma
NBR 7215 [18].
Os ensaios mecânicos realizados foram o de flexão e tração para medir a resistência mecânica dos
CPs após 28 dias após a cura dos corpos de prova conforme a NBR 13279 [20]. Os ensaios foram
realizados utilizando o equipamento Universal de Ensaios da marca EMIC, com capacidade para 300
KN, e os softwares TESC e Vmaq, do Laboratório de Mecânica dos Pavimentos e Tecnologia dos
Materiais - CEFET-MG. Os resultados obtidos foram analisados estatisticamente usando o método
T-student.
O ensaio de absorção foi realizado conforme a NBR 9778 [21]. Pra realizar o ensaio foi utilizada uma
balança hidrostática, com um cesto acoplado para comportar a amostra durante a pesagem, interligado
a um recipiente contendo água. O forno a temperatura de 100C por 24 horas foi utilizado para fazer
a secagem dos CPs em análise.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
1200
- Calcio-olivine
1000
- Periclase
800
Intensidade
600
400
200
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
2 Theta
600
- Quatzo
- Goethita
- Hematita
400
Intensidade
200
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
2 Theta
Figura 4 – DRX da lama vermelha
Ao analisar o DRX da mistura exaurida percebe-se a presença do mineral Cálcio – olivine, que
segundo Zadov [22] é o polimorfismo de estruturas de do Ca2SiO4, que pode ser apresentada de forma
natural γ-Ca2SiO4, ou de forma sintética, proveniente principalmente dos processos de calcinação de
minerais. Observa-se também a presença de periclase ou periclásio, mineral de óxido de magnésio
(MgO), que é esperado por se trata de um rejeito proveniente de uma indústria de magnésio metálico.
A presença de quartzo no DRX da lama vermelha deve-se ao dióxido de silício e as fases Gothita e
Hematita por apresentar F2O3 em sua composição.
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Referência
MCS
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Resistência à flexão (MPa)
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A analise estatística t-student para o ensaio de flexão teve como resultado p= 0,4271 deste modo há
uma variação significativa, pois está abaixo de 0,5. O desempenho de resistência a flexão dos corpos
de prova com substituição parcial pelo MCS foram 13% maior em relação aos CPs de referência, uma
resposta favorável.
4.3.3 Absorção de água e índice de vazios presentes
O ensaio de absorção de água foi realizado de acordo com a norma NBR 9778 [21], os resultados
obtidos por meio da fórmula estabelecida pela norma para imersão podem ser observados na Figura
7. Ao observar os dados obtidos há uma variação na quantidade de água absorvida, os corpos de prova
com MCS absorveram aproximadamente de 12,6 % de água a mais, em relação aos corpos
de prova de referência. A justificativa para essa maior absorção é a maior presença de poros geradas
possivelmente pela interferência da granulometria das partículas.
Referência
9 MCS
8
Absorção de água (%)
B
4
5. CONCLUSÃO
Os ensaios realizados mostram que a substituição parcial do cimento Portland pelos dois rejeitos em
estudo apresentaram resultados satisfatórios. A composição mineralógica dos rejeitos indica que eles
podem oferecer efeito pozolânico e a sua granulometria fina promove o efeito filer.
Os primeiros testes realizados com a substituição dos rejeitos no cimento Portland mostram resultados
que indicam que são materiais elegíveis para substituição, pois quando submetidos aos testes de
compressão os valores foram menores que a referência, contudo maiores que o estabelecido por
norma. Já quanto o teste de flexão os CPs com o percentual de cimento substituído, obtiveram maior
resistência à flexão.
A substituição parcial do cimento Portland não compromete as propriedades mecânicas e promoverá
a diminuição da emissão de CO2 e gasto energético na produção do cimento, além de promover a
destinação aos rejeitos.
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abatement cost. Journal of Cleaner Production, v. 112, part 5, 2016, p.. 4041-4052.
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[20] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND. (ABNT). NBR 13279: argamassa para assentamento
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[21] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS(ABNT). NBR 9778: argamassa e concreto
endurecidos: determinação da absorção de água, índice de vazios e massa específica. Rio de Janeiro, RJ, 2005.
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especificação. Rio de Janeiro,1992.
DIRETRIZES DA MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL: ESTUDO DE
CASO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO
Abstract: Current urban structures, especially in developing countries, were benefited by the use of
private cars and road transportation without considering aspects of sustainability. Negative impact
of this development can already be seen today. Sustainable mobility deals with traditional aspects of
urban planning from a different point of view: people-centered, it enables deceleration of
movements and a global comprehension of city form. From this perspective, the objective of the
present work was to compare the historical formation of the Metropolitan Region of Rio de Janeiro
Transportation System to the proposals present in the current Urban Transport System Development
Plan (PDTU-RMRJ). Historical points reveal that the transport system development process was
deeply connected to the strategies of investments in infrastructure. In this context, the portion of
population distributed at the most distant points from the commercial center and lacking of efficient
mobility infrastructure did not have their interests attended as a priority. Besides that, the
improvements that were implemented have not been aligned to recent research on sustainable urban
mobility around the world. PDTU-RMRJ lists different points that have the opportunity of
improvement, such as overlapping services, underused systems, and lack of integration between
modes of transport. In this sense, the document offers different proposals including the
implementations of BRT corridors, subway lines, qualification and improvement of the existing
railway system and promotion of integration between different modes. Promoting sustainable
mobility lead to gains that conduce to the reduction of intrinsic social cost in the transport system.
Quantification of these gains helps to develop urban planning strategies. However, it is important to
consider the economic constraints imposed in recent years and public-private partnership can help
in the accomplishment of proposals not yet implemented. Thus, it is possible to take into account
the interests of the population portion that needs the most an efficient transportation system,
prioritizing modals that have a lower economic, social and environmental impact for society in the
present and future generations.
1. INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização
Estatísticas usualmente aceitas dizem que nos dias atuais, sobretudo nos países em
desenvolvimento, as estruturas urbanas se beneficiam do uso de automóveis particulares e ônibus
como uma das principais formas de deslocamento de seus habitantes. No Brasil, tais estruturas se
desenvolveram de forma a estimular o deslocamento viário e, ao longo dos últimos 50 anos, foram
constituídas a partir de fatores como expansão das cidades gerada pelo crescimento populacional,
migração da população rural para as áreas urbanas, apoio do mercado imobiliário e políticas
públicas de incentivo ao rodoviarismo [1]. Porém, é importante ponderar que na ocasião em que
estas estratégias foram elaboradas, o número de carros nas ruas e a parcela da população motorizada
não eram os mesmos, da mesma forma que os impactos gerados por este tipo de estrutura ainda não
eram perceptíveis e a preocupação com o meio ambiente tinha proporções menores. O conceito de
mobilidade sustentável ainda não havia sido construído e é possível supor que, por falta de
informações a respeito do tema, as soluções apresentadas fossem as mais apropriadas para a época.
Todavia, os impactos gerados por estas estruturas já podem ser vistos hoje. Vasconcellos (2008)
afirma que os problemas de saúde decorrentes de poluição têm aumentado exponencialmente nos
países em desenvolvimento. Além disso, em função do aumento da circulação de veículos
motorizados e do espalhamento das cidades, houve um crescimento significativo do consumo de
recursos naturais como solo e energia. O autor ainda chama atenção para os custos desses consumos
e impactos, assim como para a distribuição dos seus efeitos sobre as pessoas [2].
Diante deste cenário, ocorre uma mudança de paradigma em que se tornam imprescindíveis as
estratégias voltadas para a Mobilidade Urbana Sustentável no momento da definição de diretrizes
para as cidades. Em 2003, surge a definição de desenvolvimento sustentável como sendo aquele que
tem como motivação a consciência do dever de cada geração para com os seus sucessores, sendo “o
desenvolvimento que satisfaz as necessidades da atual geração sem comprometer a capacidade das
futuras gerações de satisfazerem as suas próprias necessidades” [3]. No contexto do planejamento
urbano, o desenvolvimento sustentável incentiva a criação de cidades compactas através da criação
de multicentralidades e uso do solo misto, em oposição ao planejamento modernista que estimula a
separação dos usos e das funções urbanas, incentivando o espraiamento urbano. A ausência desta
perspectiva voltada para a mobilidade sustentável gera cidades com grandes congestionamentos,
emissão de gases que favorecem o efeito estufa, meios de transporte de massa superlotados e
deslocamentos de grande distância e longa duração. Segundo Alves (2006), "[...] investir em
infraestruturas rodoviárias para resolver os problemas do congestionamento tem o mesmo efeito que
desapertar o cinto para tentar reduzir a obesidade" [4].
A abordagem tradicional, sob a ótica do planejamento de transportes, trata de questões como o foco
no tráfego de automóveis, a visão de ruas simplesmente enquanto vias e a priorização do transporte
motorizado. Por sua vez, o planejamento sob o ponto de vista da mobilidade urbana sustentável tem
com o foco as pessoas, estejam elas em veículos ou a pé, permitindo a desaceleração dos
movimentos e a percepção de cidade como um todo, baseado na gestão do sistema através de
análises multicriteriais que incluem parâmetros ambientais e sociais e a criação de uma
multimodalidade hierárquica com pedestres e ciclistas no topo [5]. A mobilidade pode alcançar a
visão de sustentabilidade por dois diferentes caminhos: o primeiro trata de adequar a oferta de
transporte ao contexto socioeconômico, levando em conta medidas que se integrem ao
desenvolvimento urbano e à igualdade social relacionada aos deslocamentos, enquanto o segundo
está mais ligado à qualidade ambiental do sistema, considerando a tecnologia e o modal a ser
utilizado [6]. Ambos estão conectados e são capazes de gerar impactos nos usuários dos sistemas de
transportes.
1.2. Boas práticas
Existem na literatura diversos estudos que desenvolveram boas práticas de planejamento orientado
para a mobilidade sustentável. Um dos principais se chama TransLand (Integration of Transport and
Land Use Planning de 2000) e foi desenvolvido pela Comunidade Europeia, tendo como objetivo a
promoção do planejamento integrado entre transporte urbano e uso do solo sob o aspecto da
sustentabilidade. Por meio da análise de exemplos de sucesso, conclusões de pesquisas conduzidas
anteriormente, condições institucionais e as barreiras para implantação de políticas integradas, o
estudo buscou ter uma visão de futuro e propor melhores práticas de planejamento, assim como
indicar áreas prioritárias de pesquisas a serem conduzidas pela Comunidade Europeia no futuro
(TransLand, 2000) [7]. Concluiu-se que é necessário identificar uma organização espacial das
atividades otimizada, adensando-as e assim ocupando o menor espaço possível. Então definir
soluções de transporte viáveis do ponto de vista social, ambiental e econômico [7]. Outros estudos,
como o conceito Móbile (COPPE/UFRJ) que buscou adaptar à realidade brasileira experiências de
sucesso como as da Comunidade Europeia e assim definir estratégias para a mobilidade sustentável
[8]. O norte-americano TOD (Transit Oriented Development) busca reduzir as distâncias entre os
locais de origem e destino das viagens diárias, de forma a minimizar a necessidade pelo transporte
motorizado. Finalmente, o TOD Standard se baseia nas experiências de diferentes países para
propor uma metodologia de avaliação dos projetos de planejamento de transporte nas cidades [9].
2. OBJETIVO
O objetivo do presente trabalho foi de comparar a formação histórica do Sistema de Transportes da
Região Metropolitana do Rio de Janeiro com as propostas do atual Plano de Desenvolvimento do
Sistema de Transporte Urbano (PDTU-RMRJ).
3. METODOLOGIA
Para a obtenção do objetivo proposto, foram desenvolvidas as seguintes etapas. Realização de
pesquisa bibliográfica para aprofundamento dos conceitos de desenvolvimento e mobilidade urbana
sustentável. Tais conceitos são apresentados na introdução de forma a contextualizar o tema, além
de apresentar boas práticas existentes na literatura. Em seguida, foi levantado o histórico do sistema
de transportes da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, onde se buscou citar acontecimentos
relevantes para a construção do cenário existente hoje e assim compreendê-lo melhor. A partir daí, é
apresentado o diagnóstico deste sistema de transportes realizado pelo atual PDTU-RMRJ e as suas
propostas para a rede de 2016, a rede futura mínima e a rede futura desejável. Finalmente, nas
considerações finais é feito um paralelo entre as propostas do PDTU-RMRJ e as decisões tomadas
ao longo da história e as compara às boas práticas sugeridas na literatura.
Silva (1992, apud DUTTON, 2012) [10] aponta que outros fatores também favoreceram o aumento
significativo do número de passageiros nas três primeiras décadas do século XX, como a construção
do viaduto sobre o Canal do Mangue em 1907, o acréscimo de linhas entre Engenho de Dentro e
Madureira e a duplicação dos ramais de Santa Cruz até Campo Grande. Este crescimento tanto nos
bondes, como nos trens, se intensificou na década de 1920 até se estabilizar nos anos 50. Desde que
as linhas se eletrificaram em 1937, até 1945, o número de usuários saltou de 32 para 137 milhões
por ano. Além da eletrificação, acredita-se que outros fatores importantes influenciaram este
crescimento acelerado tais quais o subsídio nas tarifas dos trens urbanos, muito aplicado na época, e
a ocupação por migrantes vindos do Nordeste em áreas da Baixada Fluminense, como o município
de Nova Iguaçu. Porém, apesar do aumento considerável no número de passageiros, o número de
composições não se alterou, permanecendo com as mesmas 60 de 10 anos antes. Sendo assim, a
falta de investimento e de preparo para a crescente demanda gerou a deterioração do sistema como
um todo que apresentava diversos problemas, como a degradação das composições pela sobrecarga
aplicada, superlotação, atrasos, panes, descarrilamentos, quedas de energia, entre outros [10].
Em 1930, a Prefeitura distingue, através do Plano Agache, os bairros populares (que se
encontravam em comunicação rápida, mas insuficiente pelas vias férreas, com as oficinas do porto e
das indústrias) dos bairros da Zona Sul e da Zona Norte. Este plano previa então a promoção da
integração dos trabalhadores com as oficinas através de uma reestruturação ferroviária e uma
integração com um sistema metropolitano. Na década de 50 surge a "febre viária", em que o poder
público investe no setor rodoviário visando privilegiar os ônibus, as lotações e o carro individual.
Neste período, os bondes começam a experimentar a sua decadência, até serem extintos em 1964
[10]. Pela facilidade de implantação, além de ter um bom alcance em locais onde os bondes ou trens
não chegavam, os ônibus elétricos, e posteriormente os veículos movidos a diesel, tiveram o seu uso
privilegiado em relação aos outros a partir da década de 1960.
4.4. Os meios alternativos ao transporte viário
As barcas e o metrô tiveram um papel importante na mobilidade da cidade como opção frente aos
ônibus e automóveis que ocupavam a cidade na segunda metade do século XX. Protagonista
durante anos no transporte de cargas, veículos e passageiros entre as cidades do Rio de Janeiro e
Niterói, as barcas se tornaram um meio de locomoção popular e eficiente para a população que se
desloca entre estas duas cidades, além de utilizar uma via natural da cidade: a Baía da Guanabara.
Inaugurado em 1979, o metrô surge como alternativa que não apresenta congestionamentos,
ecologicamente limpa, mas que tem a sua implantação dificultada pelos altos custos. O trecho
inicial contava com cinco estações (Praça Onze, Central, Presidente Vargas, Cinelândia e Glória)
em um trajeto de 4,3 km e se expandiu ao longo da década de 80 em direção a Botafogo e à Tijuca.
A linha 2 teve a sua operação comercial iniciada em 1984, passando por estações como Maracanã,
São Cristóvão, Maria da Graça e Del Castilho, chegando até Vicente de Carvalho em 1996. No final
da década de 1990, o metrô chega até Copacabana, ao mesmo tempo em que a linha 2 se expande
até a estação da Pavuna, se aproximando da Baixada Fluminense [11]. Em 2009, em meio ao
anúncio da realização dos grandes eventos de proporção mundial que aconteceriam na cidade
(Jornada Mundial da Juventude em 2013, Copa do Mundo em 2014 e Jogos Olímpicos em 2016) é
inaugurada a estação General Osório, a primeira no bairro de Ipanema.
Tabela 2 - Projetos integrantes da Rede 2016, adicionados à rede 2012 (Fonte: adaptado de Consórcio PDTU-RMRJ [12])
Modo Projeto
Metroviário Linha 1: Saens Peña - Uruguai
Metroviário Linha 4: General Osório - Jardim Oceânico
Ferroviário e hidroviário Melhorias operacionais
BRT TransOeste: Jardim Oceânico - Alvorada
BRT TransOlímpica: Recreio - Magalhães Bastos - Deodoro
BRT TransOceânica: Charitas - Itacoatiara
BRT TransBrasil: Deodoro - Av. Pres. Vargas
VLT VLT Carioca – Linha 1: Santos Dumont - Rodoviária
VLT VLT Carioca – Linha 2: Praça XV - Rodoviária
Ônibus - BRS Corredores na Capital
Rodoviário Arco Metropolitano: Magé - Itaguaí
Segundo o documento do PDTU-RMRJ, a Rede 2016 tem grande vantagem sobre a Rede 2012,
pois concretizaria ligações transversais que vêm sendo cogitadas há muitos anos. Contudo, ao
considerar as alocações de demanda sobre a oferta, mostrou alguns pontos fracos que precisam de
tratamento para adequar o nível de serviço [12]. Os sistemas de BRT apresentam trechos saturados
nos horários de pico. O corredor TransCarioca indica saturação potencial e com aumento acelerado.
O BRT TransBrasil mostra elevada quantidade potencial de usuários por hora nos trechos mais
próximos do centro expandido da Capital (delimitado pelas vias Francisco Bicalho, Paulo de
Frontin, Estácio de Sá, e Beira Mar). A integração no Jardim Oceânico entre a Linha 4 do metrô
com o BRT gera desconforto para o deslocamento, diminuindo a quantidade potencial de
passageiros em ambas as redes. O traçado linear da rede metroviária apresenta sobrecargas que
restringem o crescimento do número de usuários. A rede de ônibus municipal e intermunicipal foi
otimizada, todavia continua sendo tratada de forma isolada dos demais modos, levando a uma
menor eficácia geral do sistema [12].
Além de tratar do macroplanejamento de transportes, o PDTU-RMRJ também apresentou projetos
básicos para nove estações de integração: Madureira, Olaria, Vicente de Carvalho, Deodoro,
Engenho de Dentro, Campo Grande, Santa Cruz e Pavuna na Capital, além da estação de Nova
Iguaçu. Estes projetos são uma resposta aos problemas destacados a respeito da qualidade dos
terminais e pontos de integração intermodal. Foram escolhidos em função dos deslocamentos para
os Jogos Olímpicos de 2016 e pela alta prioridade levantada nas redes de transportes propostas.
Estes projetos também buscaram minimizar o efeito barreira imposto pela linha férrea e o metrô,
além de melhorar a eficiência deste conjunto de transportes através da integração modal. Sendo
assim, eles viabilizam a circulação dos usuários através de mezaninos, promovem a acessibilidade
por meio de rampas, propõem adequações no espaço público entre outras ações específicas para o
incentivo ao uso dos transportes públicos na RMRJ [12].
5.5.2 Rede futura mínima 2021
Para a concepção da rede futura mínima com o horizonte de 2021, o consórcio que elaborou o
PDTU-RMRJ fez uso de um processo consultivo a especialistas e instituições diversas, em que cada
um, de forma independente, sugeria um conjunto de projetos estratégicos. A partir daí foi aplicado
um método de análise multicriterial para selecionar os diferentes projetos que compuseram rede
básica futura da RMRJ [12]. Estes projetos estão apresentados na Tabela 3.
Tabela 3 - Projetos integrantes da Rede Futura Mínima (horizonte 2021, complementando a Rede 2016) (Fonte: adaptado de
Consórcio PDTU-RMRJ [12])
N° Modo Projeto
6 Metroviário Linha 2: Estácio – Carioca – Praça XV
7 Metroviário Linha 4: Jardim Oceânico - Alvorada
8 Metroviário Linha 3: Araribóia – Guaxindiba
9 BRS Via Light: Av. Brasil – Nova Iguaçu
10 BRS Arco Metropolitano
11 BRT RJ104: Terminal João Goulart – Manilha
12 BRS Ilha do Governador: Terminal Guanabara (AIRJ) - Cocotá
13 BRS Campo Grande: Park Shopping – Cesário de Melo
14 BRS RJ106: Tribobó – Terinal Maricá
15 BRS Campo Grande: Cesário de Melo – Av. Brasil
16 BRS Campo Grande: Magarça – Park Shopping
17 BRS Campo Grande: Santa Eugênia – Cesário de Melo
18 BRS Campo Grande: Mato Alto – Park Shopping
19 BRS TransBaixada1: D. de Caxias – S. J de Meriti – N. Iguaçu
20 BRS TransBaixada2: Av. Brasil – Via Light – N. Iguaçu
21 BRS TransBaixada3: N. Iguaçu – Belford Roxo – D. de Caxias
Esta rede futura mínima adiciona à rede base 2016 um novo corredor de BRT, ligando o terminal
João Goulart, em Niterói, até Manilha, em São Gonçalo, e ampliação do sistema metroviário,
incluindo a parte terrestre da Linha 3 que liga a Praça Araribóia, em Niterói até Guaxindiba, em São
Gonçalo [12]. Outros trechos de ampliação do sistema de metrô que não foram contemplados na
rede mínima ficaram como recomendação para a rede futura desejável, em um horizonte pós-2021.
De acordo com o documento, uma série de corredores de BRT originalmente propostos
demonstraram, através de simulações computacionais, demandas abaixo das requeridas para
justificar a sua implantação. Estes corredores poderão comportar sistemas de BRS em conjunto a
um projeto de otimização das linhas de ônibus municipais e intermunicipais. Trata-se de um
processo gradual, tal qual o projeto de extensão da linha 2 (Estácio – Carioca – Praça XV), pois
depende de diferentes fases de execução e da disponibilização de recursos [12]. A Figura 1 ilustra
estas implantações no mapa da RMRJ.
O papel desta rede é de contribuir para que os deslocamentos na RMRJ ocorram de forma mais
estruturada, integrada e racional. Ela promove maior integração intermodal, buscando implantar,
gradativamente e a longo prazo, um sistema de transportes mais robusto e flexível. Contudo, ao
considerar as demandas projetadas e as características urbanas e socioeconômicas da Região
Metropolitana, o documento destaca que esta rede ainda não será ideal, uma vez que a participação
dos transportes coletivos no total de viagens motorizadas não muda de forma substancial em relação
ao que existe hoje. É por esta razão que novas ligações e integrações são agrupadas em uma rede
futura desejável.
5.5.3 Rede futura desejável pós-2021
A rede futura desejável complementa a rede futura mínima uma vez que responde às demandas
futuras estimadas pela modelagem matemática do PDTU-RMRJ, indicadas pelas tendências de
mobilidade (matrizes futura), sem considerar possíveis mudanças induzidas no uso do solo [12]. É
certo que tal implantação não seria possível no horizonte 2021, em função da quantidade e do custo
dos projetos. Neste cenário, são adicionados à rede futura mínima, cinco trechos metroviários e três
ferroviários [12].
A rede desejável tem uma visão de longo prazo, com vistas a ser implantada de forma gradual sobre
as redes pré-existentes [12]. Podem ser destacadas importantes ligações metroviárias, como o
fechamento do anel da Linha 1 e o túnel subaquático da Linha 3 que irá conectar o Leste
Metropolitano através de um sistema estruturalmente mais completo. Além disso, apesar de
discreta, uma ampliação da malha ferroviária também está prevista, atendendo à população das
regiões periféricas (Tabela 4 e Figura 2) [12]. O estabelecimento desta rede trará novas
possibilidades de deslocamentos e também contribuirá para a formação de novas centralidades e
para o reordenamento do uso do solo. Além disso, também irá auxiliar na atenuação dos
congestionamentos em vias já saturadas, reduzir os tempos de viagem e as deseconomias urbanas
[12].
Tabela 4 - Projetos integrantes da Rede Futura Desejável (horizonte pós-2021 acréscimo à Rede Futura Mínima) (Fonte: adaptado
de Consórcio PDTU-RMRJ [12])
N° Modo Projeto
22 Metroviário Linha 3: Praça XV – Araribóia (túnel subaquático)
23 Metroviário Linha 6: Alvorada – Fundão
24 Metroviário Uruguai – Méier – Del Castilho
25 Metroviário Linha 1: Uruguai – Gávea (fechamento do anel)
26 Metroviário Linha 4: Gávea – Jardim Botânico – Botafogo - Centro
27 Ferroviário D. de Caxias – Honório Gurgel - Deodoro
28 Ferroviário N. Iguaçu – Belford Roxo – Gramacho – São Bento
29 Ferroviário Santa Cruz – Itaguaí
Fig. 2 – Rede Futura Desejável (horizonte pós-2021) (Fonte: adaptado de Consórcio PDTU-RMRJ [12])
6. CONCLUSÃO
Como dito anteriormente, o planejamento orientado pela mobilidade urbana sustentável tem como o
foco as pessoas e a percepção da cidade como um todo. Intervenções que levaram ao
desenvolvimento do Centro do Rio de Janeiro estiveram na origem do surgimento do subúrbio
carioca. A parcela da população que migrou para aquelas regiões não encontrou ali soluções de
emprego, de infraestrutura ou de serviços, aumentando a importância do transporte público. A
história do desenvolvimento dos transportes na RMRJ indica que o seu espaço urbano foi
construído a partir da orientação de setores específicos, como o setor imobiliário e não
necessariamente das necessidades da maior parte da população. O traçado da malha ferroviária, ao
ser concebido no final do século XIX, não era prioritariamente direcionado ao serviço de
passageiros e nem servia às unidades industriais ou a seus trabalhadores. Mesmo com o aumento
considerável do número de passageiros no sistema ferroviário na primeira metade do século XX, a
falta de investimentos e de preparo para a alta demanda levou à sua degradação. Tal cenário abriu
caminho para a priorização quase que exclusiva do poder público ao setor rodoviário. Modais como
o ônibus que deveriam ter a função de alimentadores, tornaram-se eixos estruturantes. No período
dos dez anos anteriores ao PDTU-RMRJ, os investimentos se concentraram em eixos com alta
densidade de fluxo, importante para a mobilidade urbana, porém sem a elaboração de políticas de
uso do solo integrado no sentido de reduzir a necessidade de mobilidade. Mesmo com
investimentos em melhorias e adoção de medidas nas políticas tarifárias, é grande a distância entre a
oferta e os desejos e necessidades de mobilidade da população. Este descontentamento, aliado às
políticas de incentivo ao uso de veículos particulares, elevou a quantidade de congestionamentos em
função da sobrecarga no sistema viário.
As propostas do PDTU-RMRJ passam por uma rede básica 2016 que se apresentou como um
grande avanço com relação à rede de referência de 2012, com uma discreta expansão do sistema
metroviário e a implantação de corredores de BRT que podem se tornar eixos estruturais para a
futura implantação de modais sobre trilhos. Porém, permaneceram procedimentos operacionais e
institucionais que precisam avançar. A rede futura mínima, com um horizonte 2021, tem o intuito
de estruturar, integrar e racionalizar os deslocamentos na RMRJ, promovendo maior integração
intermodal. Entretanto, ela ainda não é ideal já que não muda de forma significativa a participação
dos transportes coletivos no total de viagens motorizadas. Desta forma, o documento propõe a rede
futura desejável pós-2021 que oferece novas possibilidades de deslocamento e pretende contribuir
para a formação de novas centralidades e para o reordenamento do uso do solo, atenuando
congestionamentos em vias saturadas, reduzindo os tempos de viagens e as deseconomias urbanas.
O documento apresenta um trabalho robusto de análise do contexto socioeconômico da RMRJ,
buscando adequar a oferta de transporte a esta realidade através de sugestões para as políticas
tarifarias e de integração intermodal. Na questão institucional levanta a necessidade de criação de
um órgão Metropolitano para o planejamento e a tomada de decisões integrados dos transportes dos
municípios da Região. Ademais, promove a melhoria da qualidade ambiental do sistema ao propor,
a longo prazo, a ampliação mais significativa do sistema metroviário e de investimentos para
requalificação ferroviária. Por outro lado, é possível observar que o PDTU-RMRJ busca criar eixos
estruturantes que são indutores de desenvolvimento em áreas ainda de baixa densidade, sobretudo
pela necessidade de conectar pontos que serviram de local para a realização dos Jogos Olímpicos de
2016. O planejamento elaborado fala pouco de áreas já estruturadas, de alta densidade e em vias de
degradação, como é o caso da Zona Norte e do Centro (uma exceção foi a revitalização da Zona
Portuária). As boas práticas de mobilidade sustentável indicam que é necessário otimizar a
organização espacial das atividades, adensando-as e assim ocupando o menor espaço possível.
Também é importante reduzir as distâncias entre origem e destino das viagens diárias. As escolhas
do poder público por alguns destes locais de realização do Jogos foram questionadas por preterir
opções mais sustentáveis e priorizar interesses de alguns setores específicos, como o imobiliário.
Tais decisões já puderam ser observadas da mesma forma ao longo da história do sistema de
transportes na região, assim como a priorização do modal rodoviário em detrimento do transporte
sobre trilhos e as consequências são conhecidas. Por esta razão é importante compreender como se
deu este estabelecimento e evitar que os aspectos negativos se repitam.
A quantificação dos ganhos relativos à redução das deseconomias e do custo social gerados pela
promoção da mobilidade urbana sustentável é um desafio para futuros trabalhos e pesquisas no
sentido de dar subsídios a estratégias de planejamento urbano e atrair investimentos para sua
execução. Importante se faz considerar as restrições econômicas impostas nos últimos anos e assim
avaliar a viabilidade de parcerias público-privadas para auxiliar na concretização de propostas ainda
não realizadas por falta de verba. Desta forma pretende-se trazer os interesses da parcela da
população que mais necessita de um sistema de transportes eficiente para as estratégias de
mobilidade urbana na RMRJ.
REFERÊNCIAS
[1] PEREIRA FILHO, A. J. O Planejamento da Infra-estrutura de Transporte e o desenvolvimento Urbano das
Cidades Brasileiras no Século XXI. Rio de Janeiro. Escola Superior de Guerra. 26 páginas (TE-97, DALMOB,
tema L6), 1997.
[2] VASCONCELLOS, E. A. Transporte e meio ambiente - conceitos e informações para análise de impactos. São
Paulo: Annablume, 2008.
[3] PLUME. Synthesis Report on Urban Sustainability and its Appraisal, PLUME- Planning for Urban Mobility in
Europe, 2003.
[4] ALVES M. Mobilidade e acessibilidade: conceitos e novas práticas - Revista Indústria e Ambiente, 2006.
[5] BANISTER, D. The sustainable mobility paradigm. Transport Studies Unit, Oxford University Center for the
Environment, Oxford, UK. Transport Policy. New Developments in Urban Transportation Planning.Vol. 15, Issue 2,
p. 73-80, disponível online emwww.sciencedirect.comemnovembro de 2007.Publicação de março de 2008.
[6] CAMPOS V.B.G. Uma Visão da Mobilidade Urbana Sustentável. Revistas dos Transportes Públicos, 2006.
[7] TRANSLAND. Integration of Transport and Land Use Planning – Transport Research Laboratory, 2000
[8] LENTINO, I. Análise Multicriterial de Proposta de Gestão da Mobilidade para Grandes Empreendimentos
Urbanos. Tese M.Sc. COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, 2005.
[9] CURTIS, C., RENNE, J. L., BERTOLINI, L. Transit Oriented Development: Making It Happen. Routledge,
2009.
[10] DUTTON, R. B. Estratégias e táticas nos trens da Supervia. Dissertação (Mestrado) – Departamento de
Ciências Sociais, PUC-Rio, 2012.
[11] METRÔ RIO. Como tudo começou. Disponível em:
<https://www.metrorio.com.br/Empresa/Historia?p_interna=1> Acessado em 08 de Outubro de 2016.
[12] CONSÓRCIO PDTU. Secretaria de Transportes do Estado do Rio de Janeiro – Plano Diretor de Transportes
Urbanos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, 2015.
TÉCNICAS MITIGADORAS PARA REDUZIR FREQUÊNCIA E
INTENSIDADE DE INUNDAÇÕES
Clarissa Rosa Vieira Della Justina 1, Jader Lugon Junior 2, Maria Inês Paes Ferreira 3, Pedro
Paulo Gomes Watts Rodrigues 4
1 Instituto Federal Fluminense, Macaé, Brasil, cla.rvieira@gmail.com
2
Instituto Federal Fluminense, Macaé, Brasil, jlugonjr@gmail.com
3
Instituto Federal Fluminense, Macaé, Brasil, ines_paes@yahoo.com.br
4
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Nova Friburgo, Brasil, pwatts@iprj.uerj.br
Abstract: The extinct National Department of Works and Sanitation (DNOS), carried out works of
retilinization of the fluvial channels in the coastal regions of the state of Rio de Janeiro between the
decades of 1940 and 1980. The main purpose of this type of work was to reduce the time of flow
from a river to the ocean, and consequently the reduction of flood occurrence along the river, and
the proliferation of vectors during times of more intense rains. They are works that have given
several negative consequences, among others, the loss of sinuosity of the canal and the
modifications in the drainage pattern. From the bibliographic review method, this research sought to
identify the types of measures used for flood mitigation. We consulted in technical literature and in
journals by digital means in the databases of Capes, Cielo and Scopus. As a result, structural
measures, characterized by traditional engineering works, and non-structural measures,
characterized by laws and programs of environmental awareness and education, were identified. It
has been observed that in the past 20 years in countries such as the United States, England,
Germany, and more recently in China, studies on mitigating works have revealed the search for
more natural solutions. The use of these materials characterizes the area of Bioengineering and
Biotechnics presenting good results in the contribution to increase the roughness of the channels. In
this way, they can cause a significant reduction of the flood wave in the watercourses and thus favor
the restoration of the natural habitat by being interfaced with the areas of hydrology, hydraulics,
sediment transport, river morphology, landscape, recreation, water quality, biology, among others,
and fluvial maintenance.
1. INTRODUÇÃO
Com a descoberta do petróleo por volta de 1974 na região da Bacia de Campos, e posteriormente
com a chegada da Petrobras em 1978, a região norte do estado do Rio de Janeiro passou a viver um
novo momento econômico. Além das culturas de cana-de-açúcar, café e agropecuária, as atividades
petrolíferas foram iniciadas e motivaram o acelerado crescimento demográfico seguido da
urbanização não planejada. Os centros urbanos desenvolveram-se próximos as margens dos rios,
expandindo-se entre praias e colinas suaves, e posteriormente cresceu a ocupação no interior em
direção as regiões serranas [1].
Foi entre as décadas de 1940 e 1980, que também o Departamento Nacional de Obras de
Saneamento (DNOS) realizou obras de drenagem na região, como as de retilinização de canais
fluviais e afluentes, e construção de novos canais com o objetivo de propiciar rápido escoamento
em direção ao oceano na ocorrência de chuvas intensas evitando a inundação das áreas mais baixas
dos municípios e aumentando a extensão das terras secas para as atividades agropecuárias [2].
Obras de retilinização dos traçados dos rios e córregos além de serem realizadas para minimizar os
efeitos locais das cheias, também objetivavam a criação de áreas para usos de agricultura,
agropecuária, urbanização, construção de estradas e ferrovias. Essas intervenções ao longo dos anos
passaram a transferir os efeitos de cheias para os trechos a jusantes. A tendência das inundações é
de procurar novas áreas para ocupar e gerar novas situações de perigo, e ocasionalmente, de risco ao
impactar áreas então habitadas [3].
A modificação de canais fluviais, altera a dinâmica dos rios e suas bacias hidrográficas. Trechos
retilinizados ocasionam o aumento da declividade do canal e da velocidade do fluxo [2]. Embora a
dinâmica fluvial em alguns casos, como por exemplo o do rio Macaé, tenha sido alterada como uma
solução para reduzir os desastres hidrológicos, as inundações no município de Macaé continuam a
ocorrer a jusante dos trechos retilinizados, cujas cheias têm apresentado maior intensidade e com
períodos de retorno cada vez mais próximos [4].
As inundações tratam-se de processos naturais que envolvem excesso de água no sistema (bacia
hidrográfica), associados a ocorrência de chuvas intensas, sendo assim, constituem os chamados
desastres hidrológicos. Podem ou não estarem relacionadas a problemas de drenagem urbana, e
terem suas consequências agravadas pela ação e ocupação antrópica, e pela frequência com que os
eventos tornem a ocorrer, limitadas no tempo (anual, ou a cada 10, 20, 50, 100 anos) e no espaço
(uma planície de inundação) [3].
Um desastre é a associação de fatores naturais e sociais, que dependendo das características físicas
de um evento específico, são fatores determinantes para a probabilidade de ocorrência de um
fenômeno. Condições sociais de vulnerabilidade regem a gravidade do impacto. Características
físicas e geomorfológicas da região, assim como o crescimento desordenado dos municípios,
ocupando áreas de várzeas, podem os colocar numa situação vulnerável ao evento de inundação [5].
A gestão do risco de cheias consiste em administrar a probabilidade de ocorrência dos desastres
hidrológicos, e procura minimizar e dar a devida atenção as suas consequências e impactos.
Gerenciar a existência dos riscos envolve a análise de questões socioeconômicas e ambientais. Na
ocorrência de um desastre, diferentes ações são tomadas para cada momento que compõe o ciclo de
um desastre. Estas ações são caracterizadas pelas atividades de prevenção, mitigação, preparação,
resposta e recuperação [3].
As atividades de mitigação ocorrem quando as atividades de prevenção se mostraram deficientes e
uma porção da cidade ficou exposta ao risco de um desastre hidrológico ocorrer na iminência de um
evento de inundação [3]. São definidas em medidas estruturais, caracterizadas pela a execução de
obras civis, e em medidas não estruturais, caracterizadas pelas leis, programas que regem a
conscientização, a educação ambiental, o controle do uso e ocupação do solo nos municípios, e
programas de coleta e tratamento de resíduos [6].
Mais comumente nos munícipios, o que se observa para conter as inundações é o uso de medidas
estruturais, obras de engenharia, como as obras de canalização e retardamento de fluxo, que podem
ser representadas por bacias de detenção e retenção, ou por obras de desvio de escoamento, como
túneis de derivação e canais [6], ou ainda, obras de recomposição de cobertura vegetal, controle de
erosão do solo, construção de contenções, docas, eclusas, entre outras, e barragens [7].
Países Desenvolvidos, que no passado utilizaram dessas obras tradicionais para conter os eventos de
inundação, têm-se resgatado recentemente a busca por alternativas que visem a contenção do fluxo
do rio na calha, objetivando a restauração e manutenção, e priorizando restabelecer as condições
naturais dos rios e córregos ou condições mais próximas dos originais, por meio do uso de técnicas
e materiais encontrados na natureza e que contribuam para a paisagem do local [2]; [7].
Trata-se do conceito de requalificação fluvial, que busca além da restauração e conservação dos
corpos hídricos, extinguir os processos convencionais de mitigação de inundações, impedindo ações
de degradação. Rios com as suas funções hidromorfológicas conservadas são menos suscetíveis aos
eventos de inundação sem controle e necessitam de menos procedimentos de manutenção ao longo
do tempo [3].
Vários são os materiais dispostos na natureza que podem ser utilizados. O desafio é encontra-los no
próprio local da intervenção, como os de origem natural viva, compostos por espécies vegetativas e
gramíneas, ou outros ainda de características inertes, aqueles compostos por revestimentos rugosos,
como seixos rolados, enrocamentos, troncos de árvores secas. Todos esses podem ser utilizados de
maneira associada entre eles ou ao uso de telas metálicas, arames, alvenaria de tijolos, entre outros
[6].
2. OBJETIVO
Sendo assim, a pesquisa foi motivada a localizar técnicas mitigadoras de engenharia, estudadas no
cenário nacional e internacional, associadas ao uso de materiais naturais e técnicas sustentáveis. São
soluções para projetos de requalificação fluvial, os quais, apresentaram resultados satisfatórios para
se alcançar redução da frequência e da intensidade de cheias urbanas na ocorrência de eventos de
inundações.
3. MÉTODO
A pesquisa foi desenvolvida pelo método de revisão bibliográfica, de caráter descritivo tendo suas
buscas para a fundamentação deste trabalho realizadas de acordo com a seguinte metodologia:
Literatura técnica em livros físicos, guias e/ou manuais digitais, e contato com autor: a busca foi
realizada por área temática relacionada a conceitos de engenharia hidráulica, ambiental e civil
aliados a gestão de risco de desastres hidrológicos e a obras de controle de inundações;
Base de dados científicos CAPES, e CIELO: a busca foi realizada por autores com temas comuns a
área de interesse da presente pesquisa, como modelagem computacional, avaliação e controle de
obras de bioengenharia, e gestão de risco de inundações. Procurou-se por experiências, relatos,
tanto no âmbito nacional quanto internacional;
Base de dados científicos SCOPUS: esta busca se concentrou apenas em identificar experiências
redigidas no idioma inglês. Foram realizadas 3 (três) pesquisas no Portal de Periódicos da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), disponível em:
www.periódicos.capes.gov.br, na área de acesso remoto via “comunidade acadêmica federada
(cafe). No campo de “Pesquisa avançada”, selecionou-se a base de dados Scopus, com diferentes
combinações de palavras-chave, sendo elas: roughness, manning, flood reduction, runoff e
“restoration river”; gabion, roughness e river; “river hydraulic model” and “technique
bioengineering”. A busca procurou por periódicos publicados entre os anos 2015 a maio de 2018.
4. RESULTADOS
Miguez, Di Gregório e Veról [3] discutem aspectos relacionados ao risco e a sua gestão diante dos
eventos de inundações, enxurradas e alagamentos. A obra foi desenvolvida por meio de revisão
bibliográfica e documental, na abordagem dos temas e conceitos, como: riscos hidrológicos,
exposição aos riscos, perigo, desastres naturais, assim como os mecanismos, atividades, os quais
compõem uma gestão integral de riscos de desastres. Aponta a requalificação fluvial como uma das
medidas de prevenção contra o risco de inundação e discutem a relação desse conceito com as
práticas adotadas em países como Itália, Alemanha, Reino Unido e Holanda, Estados Unidos,
Canadá e Austrália.
Barendrecht, Viglione e Blösch [8] analisaram diferentes estratégias adotadas em vários países, na
maioria europeus, para gerenciar o risco de inundação. O foco da pesquisa propôs um modelo de
gestão integrada com o risco de cheia.
Canholi [6] reúne de forma técnica e prática conceitos e medidas tradicionais de engenharia
sanitária e hidráulica, e apresenta novos conceitos para a contenção de enchentes, relatados através
de experiências e estudos de casos, de projetos desenvolvidos e obras executadas na região
metropolitana de São Paulo.
Chadwick, Morfett e Borthwick [7] abordam técnicas tradicionais de engenharia fluvial para o
alívio das cheias e argumentam o que vem a ser uma engenharia fluvial ambientalmente correta
relacionando com diversas áreas de outras ciências.
Fracassi [9] reuniu conceitos sobre morfologia fluvial e tipos de intervenção em rios e córregos para
se garantir estabilização, regularização, proteção contra a erosão e controle de inundações em
cursos d´água. Abordou as técnicas construtivas de Bioengenharia para compor estruturas como
muros de contenção, diques, espigões, com o uso de gabiões, que foram utilizados como soluções
em obras de estudos de casos nos Estados Unidos, na África do Sul, e na América do Sul.
Durlo e Sutili [10] apresentaram conceitos e características dos rios, processos fluviais, técnicas de
estabilidade de taludes, propriedades estruturais da vegetação, e experiências práticas com a
Bioengenharia e as biotécnicas. Estas foram usadas em um estudo de caso ocorrido em 2003 no
estado do Rio Grande Sul que visou analisar o custo, o quantitativo e desempenho da intervenção a
curto prazo.
Rauch, Sutili e Hörbinger [11] desenvolveram suas pesquisas de acompanhamento e monitoramento
de “novas” matas ciliares implantadas no ano de 2010 às margens do rio Pardinho no estado do Rio
Grande do Sul através de técnicas de bioengenharia de solo.
Ao todo, a pesquisa conseguiu reunir 31 (trinta e uma) fontes de dados bibliográficos para a
fundamentação do presente trabalho. Na figura 1 a seguir, é possível verificar a distribuição das
referências bibliográficas encontradas conforme as fontes buscadas:
Fundamentos de Hidráulica
[7], [13], [14], [19], [23]
Análise de resistência ao fluxo /
uso de matéria vegetativa /
rugosidade / [10], [12], [15], [18], [19], [20], [21], [24], [25], [26], [27], [28]
transporte de sedimentos
Modelagem Computacional /
Simulação Numérica [15], [18], [19], [20], [21], [26], [27]
Serviços Ecossistêmicos
[30], [33]
Aumento da capacidade de infiltração [18], [33], [35]
5. DISCUSSÃO
O risco pode ser definido pela probabilidade de alguma coisa desagradável e indesejada ocorrer ao
estar exposto a um perigo e as consequências advindas dessa ocorrência. E o perigo pode ser
definido como algo que apresenta um potencial específico para causar danos e ameaçar a existência
ou integridade de pessoas, propriedades, infraestruturas, sistemas econômicos e do meio ambiente
[3].
Muitas são as técnicas de engenharia utilizadas para se alcançar a redução da frequência e
intensidade de inundações.
6. CONCLUSÃO
Diante da pesquisa bibliográfica realizada, observa-se que muitos estudos, os mais recentes dos
últimos 3 (três) anos, têm-se voltado as pesquisas e experimentos no controle de inundações por
meio de processos mais naturais. Aliados as ferramentas computacionais, como os softwares de
simulações hidrológicas, entre eles, Mohid Land, Hec-Heras, WetSpa, parâmetros como, resistência
ao fluxo, uso de matéria vegetativa, rugosidade do canal, transporte de sedimentos, capacidade de
restauração ecológica do revestimento, uso de bioengenharia e biotécnicas, e requalificação fluvial,
estão sendo o foco das avaliações.
Verificou-se entre os autores, a necessidade de se desenvolver uma gestão de risco de inundação
integrada, principalmente voltada a atender em escala de bacia hidrográfica e a controlar o uso e a
ocupação da população sobre áreas de risco a fim de se diminuir o risco de exposição aos eventos
de inundação. Em regiões já urbanizadas, a delimitação de áreas de preservação permanente sobre
as planícies de inundação transformando-as em áreas de lazer para o uso recreacional da população,
como as de parques, pode contribuir para que essas áreas sejam preservadas de invasão para o uso
de moradia.
Observou-se que o uso da bioengenharia (uso de material vegetal vivo) e das biotécnicas (uso de
material inerte) podem ser importantes técnicas no processo de requalificação fluvial, no resgaste
das condições originais dos rios e córregos que no passado passaram por obras tradicionais de
drenagem como foi o caso de canais retilinizados (região norte fluminense), ou construção de
diques (baixada fluminense). São técnicas que podem contribuir para o aumento da rugosidade dos
canais, reduzindo a onda de cheia, além de facilmente se incorporarem a paisagem do local. Autores
como Arcement e Schneider [12], e Chow [13], já revelavam há muitos anos atrás, as
potencialidades da própria natureza na prevenção e combate aos eventos de inundações.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] SEA/INEA. Plano de Recursos Hídricos da Região Hidrográfica Macaé e das Ostras - Relatório de
Caracterização socioeconômica da Área de Estudo. 2012. Disponível em: <
http://cbhmacae.eco.br/site/Relatorios/RD-02%20-
%20Relat%C3%B3rio%20de%20Caracteriza%C3%A7%C3%A3o%20Socioecon%C3%B4mica%20da%20%C3
%81rea%20do%20Estudo.pdf> Acesso em 16.jul. 2018.
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ABSORTÂNCIA SOLAR DE ARGAMASSAS COLORIDAS PRODUZIDAS
COM REJEITO DE MINÉRIO DE FERRO
Solar absorptance of coloured coated mortars made with iron ore tailings
Resumo: O Estado de Minas Gerais é responsável por quase metade do valor gerado pela indústria
extrativa mineral (aproximadamente 44%, sem petróleo e gás natural). No entanto, essa atividade
gera milhares de toneladas por dia de diferentes resíduos líquidos, sólidos e lodos. Neste trabalho,
como objetivo principal pretendeu-se avaliar as propriedades mecânicas e térmicas de argamassas de
revestimento produzidas com rejeito de minério de ferro, (RMF) in natura e calcinado, como
substituto do cimento Portland. As argamassas foram produzidas com cimento (tipo CP IV 32), cal
hidratada (CH-I) e areia natural quartzosa, em traços 1:2:9 e 1:1:6. O RMF foi caracterizado por
ensaios de granulometria a laser e difração de raios x. As amostras de RMF foram usadas no estado
in natura (sem calcinação) e também calcinadas a 500 °C e 750 °C. Todas as amostras foram moídas
por 10 minutos para homogeneização. O cimento foi substituído por RMF nas seguintes
porcentagens: 0%, 10%, 20%, 40% e 60%. A relação água/aglomerante foi mantida fixa, no valor de
0,95 para todas as argamassas. Após a moldagem, a massa específica no estado fresco foi aferida.
Para o ensaio de resistência à compressão e à tração na flexão, foram moldados corpos de prova (CPs)
prismáticos de 40x40x160 mm. Todos os CPs permaneceram nos moldes por 48h e curaram em
ambiente de laboratório até a data de ensaio. Para a medição dos valores de absortância solar das
argamassas foram utilizadas quatro partes dos CPs que sobraram dos ensaios mecânicos. Os
resultados mostraram que as argamassas produzidas com RMF em substituição ao cimento Portland
apresentaram propriedades compatíveis com as argamassas de revestimento padrão e que a
absortância solar foi aumentada com o uso de RMF, o que pode afetar os ganhos térmicos das
edificações que utilizem esse produto como revestimento final.
Abstract: The State of Minas Gerais is responsible for almost half of the value generated by the
mining industry (approximately 44%, without oil and natural gas). However, this activity generates
thousands of tons per day of different liquid wastes, solids and sludge. In this work, the main objective
was to evaluate the mechanical and thermal properties of coating mortars produced with raw and
calcined iron ore tailing (IOT), as a substitute for Portland cement. The mortars were produced with
cement (CP IV 32), lime (CH-I) and natural quartz sand, in 1:2:9 and 1:1:6 rates. The IOT samples
were characterized by laser granulometry and x-ray diffraction. The IOT samples were used in the in
raw state (without calcination) and also calcined at 500 °C and 750 °C. All samples were ground for
10 minutes for homogenization. The cement was replaced by IOT in the following percentages: 0%,
10%, 20%, 40% and 60%. The water/binder ratio was kept fixed, in the amount of 0.95 for all mortars.
After molding, the specific gravity in the fresh state was measured. For the test of compressive
strength and flexural tensile strength, prismatic specimens of 40x40x160 mm were molded. All
specimens remained in the mold for 48 hours and cured in laboratory environment until the test date.
For the measurement of the solar absorptance values of the mortars, four parts of the specimens that
were left over from the mechanical tests were used. The results showed that mortar produced with
IOT in substitution of Portland cement had properties compatible with standard coating mortars and
that solar absorptance was increased with the use of IOT, which can affect the thermal gains of
buildings that use this product as final coating.
1. INTRODUÇÃO
A produção de minério de ferro no Brasil teve, no segundo semestre de 2016 um rendimento estimado
em R$ 47,1 bilhões, o que representa, aproximadamente, 12,8% em relação à produção mundial [1].
Esse setor absorve aproximadamente 13% do pessoal ocupado diretamente na indústria extrativa
mineral, com um contingente de 13 mil trabalhadores, e detém 296 concessões de lavra das 6.017
existentes no país [2].
O Estado de Minas Gerais é responsável por quase metade do valor gerado pela indústria extrativa
mineral (aproximadamente 44% em 2011, sem petróleo e gás natural) [3]. Entretanto, a extração de
minérios gera milhares de toneladas por dia de diversos resíduos líquidos, sólidos e lama. Para as
mineradoras, o armazenamento desses resíduos é dispendioso e gera um grande passivo ambiental.
A reciclagem de rejeitos minerais é uma opção sustentável, uma vez que este material pode ser
utilizado para substituir recursos naturais e não renováveis na indústria da construção civil.
Potencializar a utilização de rejeitos de mineiro de ferro (RMF) na construção apresenta-se como uma
das maneiras de se reduzir o consumo de matérias-primas e dar um melhor destino ao grande volume
gerado pelas empresas mineradoras.
Alguns trabalhos já empregaram o RMF como substituto da cal, do cimento e da areia na produção
de concretos e de argamassas [4-10], entre outros.
Como exemplo, Dubaj [11] fez um estudo comparativo entre os traços de argamassa de revestimento
na cidade de Porto Alegre evidenciando a importância desse material na construção civil. Ele justifica
o seu estudo no fato de que o uso de traços inadequados é responsável pelo surgimento de
manifestações patológicas que diminuem a vida útil dos componentes ou da edificação. O autor
concluiu que os traços 1:1:6 e 1:2:9 (cimento:cal:areia) são os mais utilizados e que cumprem
satisfatoriamente a função de revestimento.
Em outro trabalho, Franco et al. [7] avaliaram o emprego do RMF como agregado na produção de
concretos. Os traços com 5% e 10% de adição de RMF como fíler apresentaram melhor desempenho
mecânico. Fontes et al. [9] também estudaram a substituição do RMF pelos agregados e pela cal em
traços de argamassa com base 1:3 e obtiveram resultados relevantes na substituição do resíduo pela
cal. Contudo, os autores observaram que, para manter a mesma trabalhabilidade, houve um aumento
na quantidade de água utilizada nas argamassas com RMF.
As alvenarias e os revestimentos argamassados são técnicas construtivas que, na sua essência,
remontam à Idade Média. Com a invenção do cimento Portland, as argamassas evoluíram com
aumento na resistência e na aderência às bases onde eram aplicadas, já nas primeiras idades [12]. A
cal ainda continua sendo usada para melhorar a trabalhabilidade, a plasticidade e a retenção de água,
ainda que aumente a demanda de água de amassamento para uma dada consistência [13].
As argamassas de revestimento desempenham funções importantes na alvenaria, tais como:
estanqueidade à água, conforto térmico, isolamento acústico, resistência ao fogo, regularização da
base, aparência, decoração e proteção. As camadas argamassadas são responsáveis por,
aproximadamente, 30% do isolamento acústico e 50% do isolamento térmico de uma alvenaria
(blocos+revestimento). Por essa razão, as análises do desempenho térmico desses componentes são
tão relevantes [14-15]. Faz-se necessário avaliar, primeiramente, a absortância solar dos materiais de
revestimento das fachadas.
Materiais que apresentam baixas absortâncias e altas emissividades são conhecidos como materiais
refletivos ou frios. Esses materiais, quando usados como revestimento no envelope construtivo
permitem a redução de temperaturas superficiais nos edifícios, minimizando a necessidade de energia
para refrigeração em edificações artificialmente condicionadas e tornando mais confortáveis
edificações não condicionadas [16].
Por serem largamente utilizadas na construção civil, principalmente àquelas produzidas em obra,
buscou-se analisar argamassas de assentamento mistas com substituição do cimento pelo RMF. Como
objetivos específicos, tem-se: i) avaliar o comportamento mecânico das argamassas produzidas com
RMF por meio de ensaios normalizados; ii) avaliar a absortância solar das argamassas.
2. MÉTODOS
Para avaliar os objetivos propostos neste trabalho, procedeu-se a caracterização dos materiais
utilizados e a produção dos corpos de prova (CPs) das argamassas para os referidos ensaios.
2.1. Caracterização dos materiais
Para a produção das argamassas, utilizou-se cimento CP IV 32 (por ser o mais usado em argamassas
na cidade de Belo Horizonte, MG), cal hidratada e areia média no traço 1:2:9 e 1:1:6. A escolha dos
traços se deu pelo fato de serem os mais aplicados em obras de edificações como reboco interno
(1:2:9) e como reboco externo (1:1:6) [11-12].
O RMF foi utilizado em substituição parcial ao cimento. As amostras de RMF foram fornecidas pela
Vallourec Mineração que utiliza o sistema de peneiramento, ciclonagem e filtragem do rejeito para a
disposição em pilhas. A amostra foi coletada após o peneiramento e a ciclonagem.
Todas as amostras foram secas em estufa (por 24 h) e moídas, apenas para uniformização (por 10
minutos), em moinho planetário de alto desempenho, da marca FRITSCH, modelo Pulverisette 5,
composto por quatro recipientes de moagem, Os recipientes e as esferas utilizadas são compostos por
óxido de Zircônio, 94,2% ZrO2, com densidade de 5,7 g/cm³. A amostra foi recebida já calcinada a
500 °C e 750 °C (forno rotativo).
A determinação da distribuição granulométrica do RMF foi realizada por granulômetro a laser Cilas
1090 Laser Particle Size Analyzer. A mineralogia da amostra foi determinada por meio da técnica de
difração de raios x, realizada com equipamento SHIMADZU, modelo XRD-7000.
O agregado miúdo utilizado foi a areia média lavada disponível na cidade de Belo Horizonte. A cal
utilizada foi do tipo CH-I e o ensaio de finura (para controle) foi realizado de acordo com a NBR
7175 [17]. As amostras de areia foram caracterizadas quanto à granulometria [18], volume de vazios
e massa unitária [19] e massa específica [20].
2.2. Produção das argamassas
Para o estabelecimento dos ensaios, foi moldado um traço de referência com cimento Portland, cal e
areia no traço 1:2:9 e 1:1:6. Posteriormente, o cimento utilizado foi substituído, em massa, pelo RMF,
in natura e calcinado a 500 °C e 750 °C, em teores de 0%, 10%, 20%, 40% e 60% (Tabela 1). O fator
água/aglomerante de todas as argamassas foi fixado em 0,95 pois análises preliminares já atestaram
que o índice de consistência não variou em função da substituição do cimento por RMF [21].
Após a moldagem, a massa específica no estado fresco foi determinada, de acordo com a NBR 13276
[22]. Para o ensaio de resistência à tração na flexão e à compressão [23], foram moldados CPs
prismáticos de 40x40x160 mm. Todos os CPs permaneceram nos moldes por 48 h e, depois do
desmolde, curaram em ambiente de laboratório até a data de ensaio.
As medições da absortância solar foram realizadas nas partes rompidas dos corpos de prova que foram
usados no ensaio de resistência à flexão dos Grupos 1 e 2. Para tal, foi utilizado o Espectrômetro Alta
II (Figura 1).
Figura 1 – Espectrômetro usado na medição da absortância solar
Todos os CPs foram rompidos por meio do equipamento universal de ensaios da marca EMIC e os
softwares TESC e Vmaq. Os CPs prismáticos foram posicionados nos aparatos para ensaio e a carga
aplicada à razão de (50±10) N/s.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Em relação à caracterização do RMF, pode-se observar a estrutura predominantemente cristalina das
amostras (in natura e calcinada) na Figura 2.
Figura 2 - Difratogramas das amostras de RMF in natura (esq.) e calcinadas 500°C (centro) e 750°C (dir.).
Pela análise dos difratogramas, percebe-se a transformação da goethita (GO) em hematita (H) que
ocorre entre 200 °C e 300 °C [24]. Os picos de hematita se acentuam na medida em que a temperatura
de calcinação aumenta. Essa mudança pode ser a responsável pela alteração da coloração das
amostras, o que reflete na tonalidade das argamassas. Outra mudança observada é o desaparecimento
dos picos de caulinita (C) na amostra calcinada a 750 °C.
Na Figura 3, observa-se a mudança de tonalidade das argamassas à medida que se acrescenta o RMF
em substituição ao cimento Portland, o que é bastante desejável em produtos para acabamento/
revestimento. Uma argamassa com tonalidade pode dispensar o uso da camada de pintura e receber
apenas uma impermeabilização com hidrofugante (silicones à base de água).
Figura 3 - Coloração das argamassas do grupo IN NATURA (IN) com RMF em comparação com a argamassa
referência (esquerda).
Na Tabela 2, pode-se observar os resultados da caracterização da areia e da cal. Esses ensaios foram
necessários para obter um controle das características dos materiais convencionais utilizados nas
argamassas. Observa-se que a finura da cal (6,67%) está compatível com a norma correlata (< 10%).
Pela granulometria a laser, pode-se observar que a amostra de RMF in natura apresentou 90% das
partículas com diâmetro inferior a 36,31 μm, enquanto a amostra calcinada a 500 °C apresentou o
valor de 27,67 μm, e a amostra calcinada a 750 °C apresentou o valor de 35,79 μm, resultados muito
próximos.
Os valores de massa específica no estado fresco podem ser observados na Tabela 3. Os valores não
diferiram muito entre si e ficaram entre 1900 e 2000 g/cm3.
A calcinação do RMF e a substituição pelo cimento não alteraram significativamente a massa
específica das argamassas, excetuando-se uma leve tendência de que, nas argamassas produzidas com
RMF calcinado a 750 °C, os valores se apresentaram maiores que na argamassa de referência.
Os valores de resistência média à flexão e à compressão são apresentados nas Tabelas 4 e 5. Observa-
se uma tendência na diminuição da resistência à flexão e à compressão com o aumento do teor de
RMF nas argamassas e também com o aumento da temperatura de calcinação. Com a calcinação a
500 °C, obtem-se ganhos de resistência que não são observados na temperatura de 750 °C. Essa queda
acentuada pode ser por conta do desaparecimento da caulinita nesta temperatura. Ainda assim, as
argamassas com até 20% de RMF podem ser classificadas como P2 (resistência à compressão entre
1,5 e 3,0 MPa), com exceção do subgrupo IN NATURA, no G1 e como P3 (resistência à compressão
entre 2,5 e 4,5 MPa) no G2.
Tabela 3 - Argamassas – Massa específica – G1 e G2
massa específica estado fresco
Argamassas (g/cm3)
G1 – 1:2:9 G2 – 1:1:6
REF 1963,00 2003,30
IN-10 1961,40 2001,40
IN-20 1972,50 1999,90
IN-40 1967,90 2005,50
IN-60 1966,10 2012,80
500-10 1968,00 2005,00
500-20 1979,90 2001,80
500-40 2007,40 2004,90
500-60 1987,60 2005,40
750-10 1995,20 2013,90
750-20 2001,30 2022,40
750-40 1984,00 2011,10
750-60 1992,90 2018,20
Em relação aos valores de resistência à tração na flexão, as argamassas podem ser classificadas com
R1 (resistência à tração na flexão < 1,5 MPa) no G1. No G2, as argamassas com até 20% de RMF
podem se enquadrar na classificação R2 (resistência à tração na flexão entre 1,0 e 2,0 MPa). É
importante frisar que quase todas as argamassas, por esses critérios, puderam ser classificadas perante
à norma, ainda que se tenha observado a tendência de os melhores valores acontecerem nas
argamassas com até 20% de RMF em substituição ao cimento.
Tabela 4 - Argamassas – Resistência flexão e compressão – G1
Resistência à Resistência à
G1
flexão (MPa) compressão (MPa)
REF 0,99 2,30
IN-10 0,58 1,40
IN-20 0,58 1,16
IN-40 0,50 1,56
IN-60 0,44 1,17
500-10 0,92 2,34
500-20 0,80 2,14
500-40 0,65 1,60
500-60 0,62 1,61
750-10 0,64 1,76
750-20 0,75 1,79
750-40 0,44 1,33
750-60 0,50 1,01
Negrito: valores em destaque
Tabela 5 - Argamassas – Resistência flexão e compressão – G2
Resistência à Resistência à
G2
flexão (MPa) compressão (MPa)
REF 1,39 3,91
IN-10 1,21 3,27
IN-20 0,81 2,63
IN-40 0,85 2,02
IN-60 0,66 1,45
500-10 1,29 3,50
500-20 1,02 2,88
500-40 0,74 2,46
500-60 0,57 1,54
750-10 1,11 3,05
750-20 1,17 2,96
750-40 0,90 2,38
750-60 0,59 2,02
Negrito: valores em destaque
Para a medição dos valores de absortância solar das argamassas foram utilizadas quatro partes dos
CPs que sobraram dos ensaios mecânicos (Figura 4). Da esquerda para a direita, os primeiros quatro
CPs referem-se à argamassa de referência. As quatro colunas representam os quatro teores de
substituição, ou seja, da esquerda para a direita tem-se 10%, 20%, 40% e 60%. Em cada coluna, de
cima para baixo, há 4 quatro corpos de prova para cada temperatura de calcinação, na seguinte ordem:
in natura, 500 °C e 750 °C.
G1 – 1:2:9 G2 – 1:1:6
Argamassa
Absortância (α) Absortância (α)
REF 43,83 48,15
IN-10 39,24 47,73
IN-20 42,91 62,20
IN-40 42,94 63,65
IN-60 54,30 65,17
500-10 44,05 48,11
500-20 49,25 56,94
500-40 56,15 62,34
500-60 56,16 56,88
750-10 60,67 56,69
750-20 60,65 62,48
750-40 63,83 68,96
750-60 63,85 71,77
Com a calcinação do RMF em 750 °C, aumenta-se em quase 40% os valores da absortância solar.
Considerando que a argamassa com RMF poderia ser utilizada como revestimento final (reboco) e
ser utilizada em sua cor original (dispensando camadas de fundo preparador + tintas), esse aumento
pode, sim, ser uma fonte de ganho térmico. Quanto mais baixa é a absortância solar da superfície,
menor a temperatura do envelope construtivo [16].
CONCLUSÕES
Os resultados mostraram que:
• As argamassas produzidas com RMF em substituição ao cimento Portland apresentaram
propriedades compatíveis com as argamassas de revestimento padrão;
• A absortância solar das argamassas foi aumentada com o uso de RMF, o que pode afetar os ganhos
térmicos das edificações que utilizem esse produto como revestimento final de alvenarias (reboco)
sem camadas de acabamento posteriores;
AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer ao Laboratório de Mecânica dos Pavimentos e Materiais do
Departamento de Engenharia de Transportes do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas
Gerais.
REFERÊNCIAS
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Congresso Brasileiro do Concreto. Bento Gonçalves : IBRACON, 2017.
USO DE RESÍDUOS DA INDÚSTRIA DE PEDRAS ORNAMENTAIS COMO
SUBSTITUIÇÃO AO AGREGADO MIÚDO EM CONCRETOS E
ARGAMASSAS
Ana Flávia Ramos Cruz 1, Matheus Pereira Mendes 2, Lucas Machado Rocha 3, Cláudia Valéria
Gávio Coura 4
1 Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Brasil, ana.cruz@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Brasil, matheus.mendes@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Brasil, lucas.machado@engenharia.ufjf.br
4
Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (IFSudesteMG), Juiz de Fora, claudia.coura@ifsudestemg.edu.br
1. INTRODUÇÃO
Após a década de 1980, os resíduos da construção civil se transformaram em grandes problemas
devido ao aumento da população urbana, intensa industrialização e diversificação do consumo de
bens e serviços. Os problemas se caracterizavam pelo seu oneroso gerenciamento, contaminação
ambiental e escassez de depósitos causados pela intenção urbanização [1].
A gestão ambiental de resíduos sólidos foi debatida durante a ECO-92 com a definição da Agenda
21, conjuntos de medidas para conciliar crescimento econômico e social com a preservação do meio
ambiente. Assim, para que alcançasse o desenvolvimento sustentável na indústria da construção
civil, a reutilização e reciclagem de resíduos se fizeram necessárias, visto que o setor chega a
consumir até 75% dos recursos naturais do planeta, representando um grande impacto ambiental
[2].
A reutilização de resíduos industriais é de grande importância. Dentre alguns de seus benefícios,
pode-se citar: a redução de recursos naturais não renováveis e a preservação do meio ambiente; a
redução de áreas para deposição e descarte de resíduos; a redução do consumo do processo de
produção e redução da poluição; dentre outros [1]-[3].
Apesar da indústria da construção civil ser uma das maiores consumidoras de recursos naturais não-
renováveis, segundo Coura [4], ela também pode ser considerada uma das mais eficazes para
utilização de materiais reciclados. Em consequência disso, faz-se necessário o desenvolvimento de
tecnologias e processos construtivos que têm como objetivo minimizar a geração de resíduos.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais [5], a produção de rochas
ornamentais, amplamente empregadas como revestimento, é de aproximadamente 5,2 milhões de
toneladas/ano, dos quais 57% são os granitos e 17% o mármore. Desta quantidade anual, cerca de
30% do material se perde durante o processo de corte de chapas, e 25% no processo de
comercialização, gerando quase 400 mil toneladas de resíduo a ser descartado.
As sobras da indústria de rochas ornamentais são passíveis de serem utilizadas como material para a
produção de concretos, representando uma alternativa viável que substitui a areia como agregado
miúdo [6]. Além disso, a extração da areia natural compromete a biodiversidade, afeta o regime de
vazão dos rios, e sabe-se da dificuldade encontrada para obtenção deste material próximo à centros
urbanos, o que incrementa ainda mais o seu preço final.
Do ponto de vista econômico e produtivo, utilizar-se de um material categorizado como rejeito ou
resíduo e atribuir a este um novo valor comercial é extremamente positivo. A indústria de rochas
ornamentais passaria a ofertar um novo produto ao mercado da construção civil, sem exigir para tal
investimentos adicionais na aquisição, transporte e beneficiamento da matéria prima.
Diante deste contexto, este presente trabalho tem como objetivo a apresentação de uma revisão
bibliografia acerca da potencialidade do uso dos resíduos de pedras ornamentais como agregado
miúdo, especificamente o mármore e o granito, fazendo uma comparação entre o concreto com o
agregado reciclado e aquele com material usual.
2. METODOLOGIA
Este trabalho se divide em três etapas distintas. Na primeira etapa, para sua elaboração e obtenção
de resultados, é utilizado o método da pesquisa bibliográfica, entendida como o ato de indagar e de
buscar informações sobre determinado assunto, através de um levantamento realizado em base de
dados nacionais. Assim, as bases de dados escolhidas foram o Google Acadêmico e a Scientific
Electronic Library Online (SciELO), nas quais foi realizada a pesquisa bibliográfica com recorte
temporal dos últimos 10 anos, com estudos que aplicaram os resíduos da indústria de pedras
ornamentais – mármore e granito – na produção de concretos e argamassas, em substituição ao
agregado miúdo.
Em sua segunda etapa, buscou-se desenvolver uma discussão dos resultados obtidos, apresentando,
portanto, uma abordagem sobre a viabilidade de inclusão desses resíduos na fabricação de concretos
e argamassas, suas vantagens e desvantagens. Por fim, em sua última etapa, o trabalho conta com as
considerações finais, obtidas a partir dos resultados encontrados.
3. RESULTADOS
Recentemente, o emprego de resíduos da indústria de rochas ornamentais na construção civil tem
sido amplamente estudado. Na década de 1990 pesquisadores desenvolveram seus trabalhos
utilizando o rejeito das pedras ornamentais em argamassas [7], tijolos de solo-cimento [8] e em
tijolos cerâmicos [9]-[11], onde foi constatada a viabilidade técnica da substituição. Logo depois, o
resíduo foi utilizado no concreto como adição e obteve-se êxito [12]. Além disso, a utilização dos
resíduos de rochas ornamentais, granito e mármore, como adição e filer no concreto tiveram sucesso
em variados experimentos [13]-[14].
Nos últimos 10 anos, são amplas, também, as pesquisas sobre o emprego de resíduos do
beneficiamento de rochas ornamentais como agregado miúdo na fabricação de concretos e
argamassas. A Tabela 1 apresenta um levantamento de pesquisas relevantes nacionalmente a serem
consideradas nesse trabalho.
Fazendo-se uma abordagem temporal, conforme a Tabela 1, observa-se que Gomes e Bacarji
(2008) [15] estudaram o módulo de deformação e a durabilidade de concretos produzidos com o
resíduo da indústria de rochas ornamentais em substituição ao agregado miúdo. Foram produzidas
diferentes dosagens, uma de referência e as demais com adição de 5%, 10%, 15% e 20% do resíduo
em substituição ao agregado miúdo. Os ensaios de módulo de deformação, absorção e índice de
vazios foram realizados. Nos ensaios de módulo de deformação, houve aumento dos valores em
relação à dosagem de referência, proporcionalmente ao aumento da quantidade de resíduos
adicionada. Em adições de 20%, porém, houve queda dos resultados obtidos. Os autores acreditam
que a quantidade de finos prejudicou a aderência pasta-agregado. Os valores encontrados nos
ensaios de absorção e índice de vazios, embora superiores, de forma geral, são muito semelhantes
aos de referência. A pesquisa concluiu a viabilidade o uso desses resíduos em concretos.
Barbosa et al. (2008) [6] efetuaram um estudo de caracterização e avaliação do emprego de rejeitos
de mármore triturado (RMT) e rocha gnaisse triturada (RGT), em substituição total do agregado
miúdo natural, para a produção de concretos. A dosagem de referência, com agregado miúdo
natural (AMN), foi um parâmetro comparativo para avaliação da viabilidade das duas outras
aplicações. Foram realizados ensaios de trabalhabilidade, densidade de massa, resistência à
compressão axial, absorção de água por imersão e módulo de deformação. A trabalhabilidade foi
avaliada pelo ensaio de abatimento de tronco de cone (slump test). O concreto com RMT teve maior
trabalhabilidade que os demais no estado fresco. Esse fato pode ser explicado pela baixa porosidade
e absorção dos grãos de RMT. A dosagem com RGT, porém, teve trabalhabilidade inferior à de
referência. Isso foi explicado pelas autoras como consequência da dificuldade de homogeneizar a
mistura devido ao elevado teor de material pulverulento dos RGT. Em relação à densidade de
massa, ambos tiveram valores superiores ao concreto com AMN. Isso é explicado pelo fato de o
RMT ser inerte e com baixa absorção de água e, consequentemente, menor perda de água. Os RGT,
por sua vez, têm essa característica por possuírem teor mais elevado de material pulverulento. Nos
ensaios de resistência à compressão axial, os dois concretos (com RMT e com RGT) apresentaram
valores superiores aos do concreto de referência, uma vez que, por terem maior densidade de massa,
tem menor teor de ar aprisionado. Nos ensaios de absorção por imersão, o concreto com RMT teve
valor inferior ao de referência, da ordem de 15%, enquanto que o RGT teve absorção muito superior
ao de referência (aproximadamente 25%). No ensaio de módulo de elasticidade, os resultados do
concreto com RMT foram bastante superiores aos do concreto de referência, uma vez que os AMN
têm partículas mais arredondadas e lisas, permitindo a formação de microfissuras entre o concreto e
a pasta. De modo geral, o resultado obtido pelas autoras foi de que o concreto com RMT tem
características superiores ao de referência, sendo, portanto, viável a utilização desse resíduo no
concreto.
Em 2009, Coura [4] também pesquisou a utilização de rejeitos de mármore triturado (RMT) em
substituição ao agregado miúdo natural (AMN). Em sua pesquisa, foram utilizadas dosagens com
areia natural de rios (mistura de referência), dosagens com substituição do AMN por RMT em 20%,
40%, 50%, 60% e 100%, dosagem com substituição do AMN por mistura de RMT na
granulometria ótima (segundo referência normativa) e dosagem com substituição do AMN por
agregado miúdo artificial. Foram ensaiadas várias propriedades em que o concreto com RMT se
destacou, como nos ensaios de resistência mecânica. Foi observada que quanto maior o teor de
adição de RMT em substituição ao AMN, maiores os valores de resistência, sendo todos superiores
aos valores do concreto de referência. A autora indica, ainda, a possibilidade de aumentar a
resistência dos concretos com RMT em aproximadamente 20%, já que é possível reduzir o fator
água/cimento, uma vez que sua trabalhabilidade é, também, superior à do concreto com AMN.
Outro ensaio realizado foi o de absorção de água por imersão, que indicou redução da absorção e do
índice de vazios com o aumento do percentual de substituição de AMN por RMT. A redução
também ocorreu na absorção por capilaridade. O módulo de elasticidade e coeficiente de Poisson
também foram avaliados para as diferentes dosagens. Foi observado que maiores são seus
resultados à medida que o aumenta-se o teor do RMT, indicando uma melhoria no travamento das
partículas dos agregados, graças à rugosidade dos grãos de RMT. O concreto com RMT, porém,
apresentou aumento de retração por secagem nas primeiras idades, estabilizando-se aos 40 dias. A
autora explica que isso acontece devido à maior concentração de material pulverulento que o AMN
e à sua baixa absorção de água, de modo que o agregado não absorve parte da água de
amassamento, ficando uma quantidade maior livre na mistura (água evaporável). Os concretos com
RMT apresentaram, também, maior velocidade de propagação de ondas que os concretos com
AMN. Outras propriedades foram avaliadas em sua pesquisa e podem ser consultadas na obra
original.
Tabela 1 - Pesquisas relevantes sobre o emprego de resíduos de mármore e granito como agregado miúdo.
Ano Título Autores
Influência da Mistura de Agregados Graúdos, Resíduo
2017 de Corte de Mármore e Granito e Metacaulim e SILVA, D. M.
Aditivos no Desempenho Mecânico do Concreto
Desempenho de durabilidade de concreto estrutural
GAMEIRO, F.; BRITO, J.;
2014 contendo agregados finos a partir de resíduos gerados
SUKVA; D. C.
pela indústria de extração de mármore *
Argamassas com substituição parcial do agregado SALES, A. T. C.; SÁ, B. R. C.;
2014
miúdo por pó de mármore SANTOS, D. G.
MATTA, V.R.P.;
Efeitos da adição do resíduo de corte de mármore e
APOLINÁRIO, E.C.A.;
2013 granito (RCMG) no desempenho de argamassas de
SANTOS, G. R.; RIBEIRO, D.
cimento Portland no estado endurecido
V.
Análise do efeito de adição de diferentes teores de pó BACARJI, E.; PEREZ, E.;
2013 de granito nas propriedades mecânicas do HAMER, L.; LIMA, M.;
microconcreto MARTINS, M.; NETO, T.
Argamassa com substituição de agregado natural por SANTOS, R. A.; LIRA, B. B.;
2012
resíduo de britagem de granito RIBEIRO, A. C. M.
2011 Argamassa de alto desempenho SANTOS, W. J.
Conforme visto na Tabela 2, uma série de vantagens do emprego desses resíduos como adição ou
substituição total do agregado miúdo podem ser verificadas em concretos e argamassas. Observa-se,
de forma geral, ganhos de trabalhabilidade, de resistência, de módulo de elasticidade e redução da
absorção de água por imersão. Essas já são propriedades muito significativas na qualidade de um
concreto e argamassa e devem ser consideradas.
Algumas desvantagens foram observadas, como o aumento da retração hidráulica nas primeiras
idades, conforme visto em Coura [4]. Esta, porém, estabiliza-se após 40 dias.
Os concretos elaborados com resíduo de granito triturado (RGT) por Barbosa et al. [6]
apresentaram redução de trabalhabilidade e aumento de absorção de água por imersão. Essas,
porém, não podem ser consideradas desvantagens da aplicação dos rejeitos de rochas ornamentais,
de um modo geral, uma vez que os concretos com RMT suprem essas falhas e apresentaram
comportamento técnico superior aos concretos de referência.
Matta et al. [20] relacionam a redução de porosidade de certas dosagens com adição de resíduo,
com o aumento de rigidez e possibilidade de geração de fissuras. Além disso, o ganho de densidade
também pode aumentar sua rigidez, dificultando a aplicação dessas argamassas em revestimentos.
Esse comportamento pode ser considerado uma desvantagem de aplicação e deve ser melhor
avaliado por novos ensaios em trabalhos futuros.
A absorção por sucção capilar não pode ser devidamente avaliada, uma vez que houve incoerência
entre os resultados de Coura [4] e Matta et al. [20]
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De forma geral, como visto nas pesquisas levantadas, o uso de resíduos de indústrias de produção
de mármore e granito como substituição total ou parcial do agregado miúdo em concretos e
argamassas se destaca em relação às propriedades que oferece ao concreto produzido. São inúmeros
os benefícios técnicos obtidos, como ganho de trabalhabilidade, resistência, módulo de elasticidade,
além de redução da absorção de água, que está muito relacionada à benefícios de estanqueidade e
durabilidade dos concretos que utilizam esse resíduo. Todos os autores pesquisados indicaram
viabilidade dessa utilização.
Além dos benefícios que configuram sua viabilidade técnica, o uso dessa categoria de resíduos pode
significar benefício econômico, uma vez que os custos desses materiais são inferiores ao da areia
natural, utilizada em concretos de referência, e benefício ambiental, já que é dada uma alternativa
de destinação ambientalmente correta para esses resíduos, além de reduzir a exploração de areia
natural de rios.
Algumas desvantagens foram apontadas em poucos trabalhos, como a redução da resistência à
tração, porém para sua real comprovação são necessários novos estudos e novas abordagens em
relação à utilização desses resíduos em concretos e argamassas.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
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Analysis in superplastifying and biopolimary additives derived from bovine milk protein
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Engenheira Civil, Mestranda em Ambiente Construído/ UFJF - Minas Gerais, Brasil,clarissajf@yahoo.com.br
2
Professora Dra., Faculdade de Engenharia/ UFJF - Minas Gerais, Brasil,teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br
3
Professor Doutor, Depto Ciências Exatas e Biotecnologia/ UFT- Tocantins, Brasil, nelson.luis@hotmail.com
RESUMO
ABSTRACT
The development and use materials are crucial to the growth of the country, so the research of new
materials has been the focus of studies in several areas. In this context have that chemical additives
for the concrete are indispensable for the current level of innovation of the construction, solutions
require the versatility of component products and, in this aspect, the additives are responsible for
modifying the characteristics of the systems, both in the fresh state and in the hardened state. In
anticipation of meeting this new demand, different types of synthetic additives have been developed
- plasticizers, retarders, accelerators, air incorporators, superplasticizers, among others - the most
consumed in the world are water reducing additives, its great success due to the versatility which
promote the mixtures into which they are inserted. In this context, it can be mentioned that most of
the additives used in the market are derived from synthetic polymers, but nowadays society is
looking for more sustainable forms of polymerization of substances that during their synthesis,
processing or degradation produce less environmental impact. The present study converged to
analyze the properties between the milk-derived biopolymer and the commercially available
additives applied in the production of the concrete as a facilitating agent, evaluating the impact of
the use of this material on concrete properties. Finally, we consider the technical, economic and
commercial feasibility of using the material as a sustainable alternative for future generations.
Considering the simplicity of production of the "sustainable additive" and the low cost, the reuse of
this waste makes the product feasible and allows the production of eco-friendly materials applicable
in the construction industry.
1. INTRODUÇÃO
A engenharia dos materiais obteve grandes avanços tecnológicos nos últimos anos
principalmente no setor de construção, pesquisas e desenvolvimento de novos materiais
multifuncionais e de alto desempenho. Em particular, essa tendência é marcada pelas novas
fronteiras da construção civil, onde faz-se necessário o uso de estruturas de concreto em situações
não convencionais, contudo atualmente o desenvolvimento desses materiais tendem a ser ecológico,
atendendo não somente às exigências de preservação do meio ambiente, como serem também
economicamente viáveis.
O concreto é o material de construção mais consumido no mundo, então encontra-se o
concreto na segunda posição ficando atrás apenas da água. Estima-se que o consumo anual per
capita de concreto seja em torno de três toneladas por pessoa no planeta [1]. Os aditivos químicos
para o concreto são elementos imprescindíveis ao atual patamar de inovação em que se encontra a
construção civil. A sofisticação que as soluções de engenharia vêm implementando exigem a
versatilidade de seus produtos componentes e, neste aspecto, os aditivos são responsáveis por
modificarem as características dos sistemas, tanto no estado fresco quanto no estado endurecido,
originando e inserindo no mercado novos materiais, como os concretos de alto desempenho [2]
Atualmente existem diferentes tipos de aditivos existentes – plastificantes, retardadores,
aceleradores, incorporadores de ar, superplastificante [3], entre outros – os mais consumidos no
mundo são os aditivos redutores de água, nos quais se incluem os aditivos plastificantes,
superplastificante e polifuncionais. Cerca de 800.000 toneladas desta classe de produto são
consumidas anualmente. Seu grande sucesso deve-se à versatilidade que promovem às misturas em
que são inseridos. Os aditivos superplastificante possibilitam grandes reduções nos teores de água
adicionados (até 30%) e/ou, no consumo de cimento Portland, quando dosados corretamente,
conferindo a estes materiais um importante papel em relação à sustentabilidade e economia na
produção dos concretos.[4] expõem que, ao longo dos anos, diferentes fórmulas foram
desenvolvidas para esta família de aditivos, iniciando-se com os precursores plastificantes de base
orgânica, os lignosulfonatos, passando pelos superplastificante de base polinaftaleno e melanina, e
chegando, enfim, ao patamar dos superplastificante com base policarboxilato éster, a última geração
de superplastificante já desenvolvida, sendo os mesmos objetos deste trabalho.
Todos os aditivos utilizados no mercado são derivados de polímeros, ou seja, são
macromoléculas constituídas por unidades menores (monômero) que se ligam entre si através de
ligações covalentes podendo o mesmo serem de naturais ou sintéticos. Porem nos dias atuais a
sociedade busca formas mais sustentáveis de polimerização de substancias que durante sua síntese,
processamento ou degradação produzem menor impacto ambiental que os polímeros convencionais,
ultimamente conhecidos como os biopolímeros, polímeros biodegradáveis e ainda polímeros verdes,
que se enquadram bem no conceito de sustentabilidade, que segundo a comissão mundial do meio-
ambiente e desenvolvimento diz que um desenvolvimento sustentável é aquele que atende às
necessidades do presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras de atenderem as suas
necessidades.[5].
O Brasil devido à grande dimensão territorial, atributos de clima, solo, diversidade
ambiental tem como principal atividade econômica a agropecuária, apresenta um enorme potencial
a ser explorado na área de biopolímero. Estima que os estudos com biopolímero nacionais, aliados a
competências complementares, permitirão a utilização racional, o aproveitamento comercial e a
ampliação das áreas de aplicação.
Independentemente do tamanho e capacidade poluidora da indústria, a legislação ambiental
determina que todas as empresas tratem e disponham de forma apropriada seus resíduos. A forma
mais racional e viável de fazer o controle ambiental é minimizar a geração dos resíduos pelo
controle dos processos e buscar alternativas de reciclagem e reutilização dos resíduos gerados
reduzindo ao máximo as despesas com tratamento e disposição final [6].
A utilização dos recursos naturais pelo homem continuamente é algo necessário para sua
subsistência, agora pensar nesse uso de forma equilibrada, sustentável, para não exaurirmos esses
recursos é algo que têm sucedido de forma lenta, a conscientização para um consumo que não
agrida o meio ambiente e aproveite ao máximo os benefícios das fontes naturais ainda está aquém
do desejável para civilizações ditas pós-modernas.
Em suma, apesar das divergências quando se fala sobre viabilidade econômica dos
biopolímero é preciso lançar um olhar futurista sobre essa produção em termos também de
economia de recursos naturais e não somente com relação aos lucros imediatistas; do ponto de vista
ambiental e social é perceptível que com um aumento do uso e por consequência da produção de
biopolímeros haverá maior geração de renda, o que pode estimular o mercado local e
recuperar/aproveitar fontes naturais por vezes ignorada ou ainda atribuir valor agregado a produtos
naturais, além de contribuir para manutenção de um ambiente saudável.
2.1 – Biopolímeros
Os biopolímeros são polímeros produzidos com base em matérias-primas de fontes
renováveis, como o milho, cana-de-açúcar, celulose, quitina, leite entre outras. As fontes renováveis
são assim conhecidas por possuírem um ciclo de vida mais curto comparado com fontes fósseis cujo
o tempo de degradação é longo. Devemos ressaltar que no momento atual onde a população
mundial busca um desenvolvimento sustentável alguns fatores ambientais e sócio-econômico estão
ampliando o interesse pelos biopolímeros, como os grandes impactos ambientais causados pelos
processos de extração e refino utilizados para produção dos polímeros provenientes do petróleo, a
escassez do petróleo e aumento do seu preço [7].
Posto que, não há nenhuma definição fixa para a palavra biopolímero, devido aos muitos
conceitos diferentes sobre o que é um biopolímero. Termos e expressões como biopolímeros, e
biodegradáveis são empregados como sinônimos algumas vezes; porém, cada um deles tem
significado único. Produtos biodegradável constituem materiais que se degrada devido à ação de
organismos vivos, como micróbios e fungos. Por outro lado, o biopolímeros pode ser definido como
um polímero manufaturado concebido a partir de uma fonte natural ou recurso renovável [8].
Sendo assim vale ressaltar a importância de se distinguir entre biopolímeros e
biodegradabilidade. Nesse contexto podemos ratificar que biopolímeros são biodegradáveis, no
entanto os polímeros biodegradáveis podem não ser biopolímeros, temos como exemplo os
polímeros como policaprolactona (PCL) utilizado para fabricação de protótipos, reparação de peças
plásticas e de artesanato, são biodegradáveis, porém derivados de petróleo [9].
A aplicabilidade dos polímeros é extensa, o que torna acentuado o avanço de estudos desses
materiais, para elaboração dos mesmos em escala maior, a partir de fontes naturais. Algum
polímero derivado de plantas possui grande utilidade para indústria a tabela 1 que relaciona os
biopolímeros orgânicos e suas diferentes aplicações em alguns casos até substitui os sintéticos.
Apesar de todas as vantagens, os biopolímero possuem algumas limitações técnicas que
tornam difícil sua processabilidade e seu uso como produto final. Muitos estudos se desenvolvem
nessa área para viabilizar os produtos, contudo a biodiversidade do planeta ainda e muito
subaproveitada afetando a busca por desenvolvimento sustentável de modo a contribuir para
melhoria da qualidade de vida.
Tabela 1 – Potencial substituição de polímeros provenientes de fontes fósseis por biopolímeros, adaptado de [7]
Biopolímeros
Polímeros Aplicações
AMIDO PLA PHB PHBHx
Embalagens de alimentos, cosméticos e
PVC (policarbonato de medicamentos; tubos e conexões, em esquadrias e
vinila) janelas; como “couro sintético” dentre outras Não Não Não
diversas aplicações. substitui substitui substitui Parcial
PEAD (polietileno de alta Embalagens de produtos de limpeza e produtos
densidade) químicos e na fabricação de autopeças Parcial Parcial Parcial Completa
PEBD (polietileno de baixa Não Não
Embalagens flexíveis para alimentos.
densidade) Parcial substitui substitui Completa
Fabricação de peças com dobradiças, autopeças,
PP (polipropileno) embalagens para alimentos, fibras e monofila
mentos, etc. Parcial Parcial Completa Completa
Produtos descartáveis, brinquedos, autopeças,
PS (poliestireno)
eletroeletrônicos. Parcial Parcial Parcial Parcial
Luminosos (propaganda), telhas transparentes,
PMMA (poli metil Não Não Não Não
lanternas de automóveis, , lentes de contato,
metacrilato) substitui substitui substitui substitui
dentaduras/próteses, entre outras.
Além dos aditivos classificados pela norma NBR 11768, existem outros chamados de
aditivos especiais, utilizados em casos mais específicos como: modificadores de viscosidade,
inibidores de corrosão, redutores de permeabilidade capilar, retentores de água, aceleradores para
concreto projetado, redutores de reação álcali-agregado, para preparação de concreto extrusado e
vibro-prensado, controladores de hidratação, expansores, redutores e compensadores de retração por
secagem [16].
No início os primeiros aditivos redutores de água nomeados plastificantes, apresentavam
uma capacidade de redução de água > 5% com relação ao concreto sem aditivo, contudo com o
avanço da tecnologia do concreto e as indústrias química surgiram a segunda geração de aditivos
redutores de água de alta eficiência, os superplastificante tipo I que permitem maior redução da
quantidade de água > 12%, e podem ser utilizados em dosagens mais elevadas sem comprometer
significativamente a hidratação do cimento [17] .
A última geração de aditivos superplastificante são os classificados de superplastificante tipo
II, oferecem altas taxas de redução de água > 20% e, dependendo da base química do aditivo e a
dosagem utilizada, oferecem grande manutenção de trabalhabilidade, sem o comprometimento de
pega e até favorecendo significativamente as resistências mecânicas, segue abaixo resumo das
gerações e suas composições (figura 1). [18-19].
Organograma 1 – Geração dos aditivos, adaptado de [5]
Outro importante aspecto a ser abordado sobre o uso dos aditivos nos últimos anos é a sua
relação com o desenvolvimento sustentável, aditivos além de possibilitarem reduções consideráveis
no consumo de cimento Portland e/ou água adicionada, quando utilizados com a finalidade de
aumento da resistência à compressão – com consecutiva redução na quantidade de água adicionada
- reduzem consideravelmente as seções mínimas portantes, reduzindo o volume total da estrutura e
dos materiais utilizados.
Precisamos criar uma visão futurista sobre esse produto, os aditivos contribuem para a
durabilidade do concreto, item muito importante que garante a extensão da vida útil do produto e
garante um desenvolvimento sustentável. A baixa relação água/cimento obtida com os aditivos
superplastificante contribuem com a durabilidade, e reduzindo a ocorrência de manutenções
inesperadas, tanto no estado fresco quanto no estado último endurecido [20-21].
Na obtenção de um concreto durável aos agentes e ambientes agressivos precisamos reduzir
a porosidade por meio da redução de água, visto com uma menor quantidade de água podemos
obter um concreto com menor permeabilidade de água e assim reduzir drasticamente a migração por
cloretos e a carbonatação do concreto, evitando o surgimento de manifestações patológicas.
Seguindo esse contexto, a pesquisa preconiza relacionar as propriedades do biopolímero
desenvolvido a partir do leite e os aditivos disponíveis na bibliografia de modo a identificar quais
propriedades dos aditivos esse biopolímero pode atender e qual seu potencial. Por fim, o presente
trabalho tem por objetivo geral analisar a viabilidade técnica, econômica e comercial do emprego de
materiais alternativos biodegradáveis para as futuras gerações.
A metodologia proposta consiste numa pesquisa exploratória através de levantamentos
bibliográficos e dados experimentais proporcionando uma análise da viabilidade do produto, com
vistas a torná-lo mais explícito e construir hipóteses, abordando analises e exemplos que estimulem
a compreensão. Uma vez estabelecida a base, o campo recém-explorado obteremos mais
informações através de uma investigação descritiva, definida como tentativas de explorar e explicar
ao fornecer informações adicionais sobre um assunto.
3. MÉTODOS
Biopolímero: obtido através do leite bovino impróprio para consumo humano, ou seja,
material de descarte das indústrias de lacticínio. O leite bovino possui em média: 3,5% de proteínas
+ 3,8% de gordura + 5,0% de lactose + 0,7% de minerais (cinzas) + 87% de água. Salienta-se que
os sólidos não gordurosos, que compreendem todos os elementos do leite menos a água e a gordura,
representam, em média, 8,9% do total no leite [23].
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nos estudos iniciais supomos que o soluto iria influenciar a viscosidade da pasta de cimento,
o tempo de pega, a reação de hidratação e poderia ser caracterizado com algumas características dos
aditivos comercialmente vendidos atualmente. Sendo assim, inicialmente, efetuou-se o ensaio para
determinar o índice de consistência normal da pasta de cimento que verifica duas importantes
características do cimento Portland: tempo de pega e estabilidade volumétrica devido à cal livre.
Sendo assim, fixou-se uma viscosidade padrão, denominada como consistência normal de
forma que as condições de ensaio, como, por exemplo, enchimento dos moldes fosse as melhores
possíveis[15] e que certificasse todos os ensaios nas mesmas condições.
No momento da moldagem da mistura homogeneizada pode se verificar uma alta
plasticidade e viscosidade da pasta em relação á pasta sem adição do biopolímero e observando
também o tempo de trabalhabilidade da pasta aditivada aumentou muito em relação à pasta não
aditivada. Tal fato proporciona ao material um ganho de tempo de aplicação em relação ao material
não aditivado, futuramente promovendo economia do material diante ao desperdício causado pelo
baixo tempo de aplicação.
O biopolímero desenvolveu uma fina casca brilhosa protetora dificultando a evaporação da
água da mistura contribuindo assim para melhor desempenho da reação de hidratação da pasta,
conforme ilustrado na Figura 2. Comprovou-se sua eficiência como produto tanto na produção da
pasta com consistência normal como, também, o produto de origem orgânica não ocasionou
formação de bolor ou mofo depois da reação com o produto cimenticios.
CPV -ARI c/ aditivo -1% 1,0 3,0 30,85 27,85 48,64 10,000 86,500 300 0,28
CPV -ARI c/ aditivo -
1,5% 1,5 4,5 46,27 41,77 34,72 10,000 86,500 300 0,28
CPV -ARI c/ aditivo -2% 2,0 6,0 61,70 55,70 20,79 17,000 93,500 300 0,31
CPV -ARI c/ aditivo -
2,5% 2,5 7,5 77,12 69,62 6,8 15,000 91,500 300 0,30
CPV -ARI sem aditivo 0,0 0,0 0,000 0,000 76,50 13,5 90,00 300 0,300
Tabela 4 – Fator água /cimento das amostras cimento com aditivo suspenso em soro.
Produto (g) Água (g) Fato
Liquido
Parte Redução Água Cimento r
Amostra Proteína Proteína Aditivo Total
liquida do 15% da adicional (g) A/C
Leite (%) leite (g) (g) (g)
Aditivo (g) água (g) (g) (%)
CPV -ARI c/
aditivo -1% 1,0 3,0 25,91 22,91 53,58 10,000 86,500 300 0,28
CPV -ARI c/
aditivo -1,5% 1,5 4,5 38,86 34,36 42,13 10,000 86,500 300 0,28
CPV -ARI c/
aditivo -2% 2,0 6,0 51,82 45,82 30,67 11,000 87,500 300 0,29
CPV -ARI c/
aditivo -2,5% 2,5 7,5 64,78 57,28 19,21 15,000 91,500 300 0,30
CPV -ARI
sem aditivo 0,0 0,0 0,000 0,000 76,50 13,5 90 300 0,30
Salienta-se que o estudo convergiu para análise das características e propriedades do novo
biopolimero visando identificar características compatíveis com os aditivos comercializados
atualmente, apontando os fenômenos relevantes que se sucedem à adição de água e o biopolímero
ao sistema de modo a poder classificar o biopolímero dentro de alguma classe de aditivo.
Existem no mercado uma infinidade de opções de produtos que podem ser adicionados no
concreto possuindo a função de modificar as propriedades físicas dos mesmos, portanto com
objetivo de caracterizar os aditivos realizamos um levantamento nos catálogos de aditivos no
mercado de modo a criar uma base para de comparação para o biopolímero proposto, primeiramente
avaliamos que o biopolímero possui potência se enquadrar dentro dos grupo dos aditivos
superplastificante, plastificantes e retardadores de pega, segue levantamento na tabela 5 abaixo:
4. CONCLUSÕES
Nessa pesquisa usamos o conceito de desenvolvimento sustentável em áreas distintas que
passaram a se integrar, ou seja, suprimos as necessidades da geração atual, sem comprometer a
capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. Criando essa multidisciplinaridade na
pesquisa podemos desenvolver uma composição proteica láctea modifica por reações de
polimerização capaz de influenciar nas propriedades do concreto.
A eficiência do agente de cura (material “autocura”) nas misturas cimentícias é um fator
importante, pois sua viabilidade e sua funcionalidade são fundamentais para a produção dos
produtos. A fim de reduzir o preço do agente de cura, a sua produção deve ser simples, em grande
escala e com pouca perda, minimizando o uso de procedimentos complexos, logo, o
reaproveitamento de rejeitos de diversos setores industriais viabiliza o produto além de possibilitar
a obtenção de materiais ecoeficentes aplicáveis na indústria da construção civil.
A relevância do efeito do polímero biodegradável nas misturas cimentícias é um fator
importante, pois sua viabilidade e sua funcionalidade são fundamentais para a produção dos
produtos para construção. Devido a sua simples produção temos um agente com custo baixo, logo, o
reaproveitamento de rejeitos de diversos setores industriais viabiliza o produto.
Do ponto de vista social é perceptível que com um aumento da utilização e, por
consequência, da produção do polímero biodegradável haverá maior geração de renda, o que pode
estimular o mercado local e recuperar/aproveitar fontes naturais por vezes ignoradas ou, ainda,
atribuir valor agregado a produtos naturais, além de contribuir para manutenção de um ambiente
saudável. A presente inovação gera um produto ecoeficiente, que busca minimizar os danos
ecológicos através do menor uso recursos, nesse contexto a tecnologia proporciona diminuição do
consumo de água na fabricação de produtos à base de cimento e o reaproveitamento do rejeito,
economicamente abandona perfil de descarte oneroso na indústria láctea para ser um insumo
econômico ativo.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES pelo apoio financeiro para execução da pesquisa e UFJF pela
disponibilização dos laboratórios de química e engenharia para realização do ensaio
REFERÊNCIAS
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AVALIAÇÃO DE SISTEMA DE TRANSPORTE EFICIENTE
Roberta Paulina Tertolino da SILVA *1, José Alberto Barroso CASTAÑON2, Cristiano Gomes
CASAGRANDE3.
* Autor para correspondência: roberta.silva@arquitetura.ufjf.br
1,2,3
Programa de Pós-graduação em ambiente construído – PROAC- UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil
Resumo: O setor de transporte é o que mais favorece o crescimento da emissão dos gases do efeito
estufa (GEE) e poluentes, levando a alterações climáticas e interferindo na qualidade de vida da
humanidade. No Brasil, conforme informações do Balanço Energético Nacional, os setores que
mais utilizaram a energia foram o industrial, representando 33,3%, e o de transportes, com 32,5%,
sendo que a contribuição da emissão de CO2 respectivamente desses setores atingiu 18,9% e 45,8%.
Diante desse contexto, as energias renováveis seriam uma solução para reduzir o uso de
combustíveis fósseis, substituindo-os total ou parcialmente. De acordo com a EPE, as fontes de
energias não renováveis são finitas e esgotáveis, apresentando uma reposição de longo prazo, o que
preconiza investimentos em energia renováveis. Neste cenário, os veículos automotores, que em
maior percentual, utilizam combustíveis fósseis, vêm apresentando forte tendência na mudança de
motorização. Com o desenvolvimento de motores elétricos e baterias de maior duração e eficiência,
e na utilização de biocombustível, contribui na diminuição considerável das emissões de poluentes.
Diante desta situação, este trabalho tem como objetivo uma revisão bibliográfica dos impactos
ambientais e análise da emissão de CO2 produzida por veículos elétricos (VE) e veículos elétricos
híbridos (VEH). Finalmente, conclui-se que há benefícios no aumento da frota do VE e VEH em
substituição aos carros antigos, principalmente nos centros urbanos, onde é maior a concentração de
poluentes.
Abstract: The transport sector is what favors the growth of greenhouse gas (GHG) emissions and
pollutants, leading to climate change and interfering with the quality of life of humanity. In Brazil,
according to information from the National Energy Balance, the sectors that used the most energy
were industrial, representing 33.3%, and the transportation sector, with 32.5%, and the contribution
of the CO2 emission respectively of these sectors reached 18.9% and 45.8%. Against this
background, renewable energy would be a solution to reduce the use of fossil fuels, replacing them
in whole or in part. According to the EPE, non-renewable energy sources are finite and exhaustible,
presenting a long-term replenishment, which advocates investments in renewable energy. In this
scenario, motor vehicles, which, in higher percentage, use fossil fuels, have been showing a strong
tendency in the change of motorization. With the development of electric motors and batteries of
longer duration and efficiency, and in the use of biofuel, it contributes in the considerable reduction
of the emissions of pollutants. In view of this situation, the objective of this work is to review the
literature on environmental impacts and analyze the emission of CO2 produced by electric vehicles
(VE) and hybrid electric vehicles (VEH). Finally, it is concluded that there are benefits in the
increase of the fleet of the VE and VEH in replacement of the old cars, mainly in the urban centers,
where the concentration of pollutants is greater.
1. INTRODUÇÃO
Nos últimos tempos tem-se discutido assuntos do aquecimento global, do impacto ambiental, a
sustentabilidade, o aumento da emissão do gás do efeito estufa, aumento no consumo de energia e
dentre outras questões que compromete a qualidade de vida da sociedade e da natureza.
No Brasil, segundo dados do Balanço Energético Nacional (BEN) [1], os setores que mais
utilizaram a energia foram o industrial, representando 33,3% e de transporte com 32,5%. No caso,
da emissão de CO2 o transporte corresponde a 45,8%, outros setores (inclui os setores de
agropecuário, serviços, energético, elétrico e as emissões fugitivas) com 31% e a indústria com
18,9%. Ainda, conforme o BEN o combustível fóssil tem maior representatividade em comparação
aos outros tipos de oferta interna de energia, com 36,5% de petróleo e derivados. Para o SEEG [2],
a emissão de GEE do setor de energia por fonte primária para a produção e o consumo de petróleo
correspondeu a 70% no ano de 2016.
A frota de veículos do Brasil segundo Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores
[3], do ano de 2000 a 2017 teve um aumento de 126%, o que caracterizou uma evolução da emissão
de CO2. Conforme levantamento do Balanço Energético Nacional [1], a taxa média de crescimento
anual de 2000 a 2017 representou 2,5% (Crescimento Emissões Totais - MtCO2eq).
Neste cenário, o crescimento da frota de veículos geram consequências para o meio ambiente e para
a sociedade, tais como: poluição, aquecimento global e esgotamento das reservas de petróleo, são
transtornos e preocupações para o homem [4].
Segundo Ornellas [5], o aumento da população juntamente com o consumo leva ao crescimento do
abastecimento de energia elétrica e matérias-primas acarretando a sérias repercussões, como o
colapso de recursos não renováveis, por exemplo, o petróleo e os minérios. Desta forma, na
tentativa de minimizar alguns impactos surge outra forma de obtenção de energia elétrica como a
eólica e solar fotovoltaica [6].
Para o setor automobilístico no Brasil o governo vem estabelecendo algumas medidas para melhoria
da qualidade e comercialização, através da Medida Provisória nº 843 de 2018, que estabelece
requisitos obrigatórios para a comercialização de veículos no país, com a instituição do Programa
Rota 2030 – Mobilidade e Logística e dispõe sobre o regime tributário de autopeças não produzidas.
Além disso, propõe corte do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) dos veículos elétricos e
híbridos, que neste caso, ficará entre 7% a 20% conforme o tipo de veículo. Para Associação
Brasileira do Veículo Elétrico é uma medida que poderá incentivar a utilização de VE no mercado
nacional. As metas principais do programa são: pesquisa e desenvolvimento, contrapartidas,
eficiência energética e etiquetagem [7], [8].
Por meio desses incentivos governamentais, poderá ter um aumento na frota de veículos elétricos
gerando uma demanda maior de energia nos anos seguintes. Como resultado, maior consumo
elétrico nas distribuidoras e investimentos nas fontes existentes. Uma medida para não
sobrecarregar o sistema seria a captação de novas fontes para o abastecimento [9].
Para o setor de transporte o uso da eletricidade seria uma alternativa em substituição aos
combustíveis atuais e os veículos híbridos uma opção de minimizar o uso dos combustíveis. Com
isso tem-se a possibilidade de duas formas para abastecimento e assim equilibrar o sistema. Além
disso, o uso de carro elétrico numa escala maior ao convencional teria benefícios ambientais [10].
Para Bravo, Meirelles, Giallonardo [11], no Brasil a infraestrutura apenas para VE é pequena ou
inexistente, com isso os veículos híbridos torna-se o mais utilizado. Assim, um veículo híbrido
plug-in que utiliza um motor de combustão interna (MCI) otimizado para o etanol mostra-se como
melhor alternativa para o mercado, pois causa uma redução expressiva nos níveis de emissões
reguladas e, principalmente, de gases de efeito estufa. A “configuração plug-in permite uma maior
exploração das fontes de energia elétrica brasileiras, altamente renováveis, além de possibilitar reduções
expressivas de emissões nos centros das grandes cidades, já que sua autonomia elétrica seria suficiente
para locomoção em trechos urbanos”. Os VEs reduz a emissão de poluentes, é mais confortável e
silencioso [12].
Diante do exposto, o veículo elétrico poderá contribuir na redução da poluição do ar, principalmente
em centros urbanos beneficiando a qualidade de vida da sociedade, porém depende do tipo de VE e
da fonte de geração da energia. Vários países com alta porcentagem de fontes renováveis têm o
potencial de reduzir o consumo de petróleo, as emissões e a exposição humana com mudança para a
mobilidade elétrica [13]. Desta forma, o Brasil tem potencial para adotar esse modal e ganhar na
diminuição dos poluentes. No entanto, os veículos elétricos híbridos (VEHs) poderão ser
implantados de forma mais rápido que os veículos totalmente elétricos, sendo uma forma de não
sobrecarregar o sistema de distribuição de eletricidade.
2. OBJETIVO
A pesquisa tem como objetivo revisão bibliográfica dos impactos ambientais e análise da emissão
de CO2 produzida por veículos elétricos (VEs) e veículos elétricos híbridos (VEHs).
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Portanto a comercialização dos carros elétricos ainda é pequena, mas a projeção em longo prazo
mostra-se crescente. Nos países desenvolvimentos a expansão desses veículos é maior devido às
oportunidades oferecidas, por exemplo, incentivos financeiros para a compra do VE, isenção de
taxas, incentivos governamentais, etc. No caso, do Brasil conforme mostra a figura 1, a partir de
2020 que começará a ter venda mais expressiva do VE, isso provavelmente com as consolidações
das medidas propostas pelo governo e com infraestrutura para atendimento a essa nova demanda.
1
International Energy Agency: Disponível em: https://www.iea.org/tcep/transport/evs/
tração, otimizando a operação do sistema. Além disso, o caminho de funcionamento configura-se de
forma diferenciada para os três sistemas, sendo linear ou com ramificações.
No Brasil, encontram-se mais esses tipos de veículos com dois motores, sendo um elétrico e um
movido à combustão interna. O sistema de abastecimento de combustível poderá ser gasolina,
biocombustível ou flex. Quando necessário o motor a combustão provoca o arranque no gerador
para carregar a bateria, dando suporte ao motor elétrico em determinadas ocasiões. O veículo
percorre inicialmente uma distância de 10 a 15 km, somente com eletricidade e, quando a bateria
acaba ou quando o mesmo atinge uma determinada velocidade, entra em funcionamento o motor de
combustão interna. Os veículos apresentam a frenagem regenerativa que converte a energia cinética
em elétrica para carregar a bateria. Até uma velocidade de 70 km/h, o veículo funciona com o motor
elétrico e após essa velocidade parte para o motor a combustão. Em comparação com veículos
convencionais, a redução de consumo de combustível é de 25% a 40% [18], [12].
Conforme estudo da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), os carros elétricos híbridos
(VEHs) e carros elétricos híbridos plug-in (VEHPs) tem projeção de aumento gradativo até 2030 na
frota brasileira e para o mundo em 2030 terá um solta de 35% para VEH e VEHP, conforme a figura
abaixo [12].
3.3. Combustíveis
Segundo dados do Relatório da Frota Circulante 2018 [19], do ano de 2009 a 2017 houve um
aumento na frota de veículos no Brasil de 45,3% para automóveis e de 45,8% para comerciais leves.
A maior parte dos veículos utilizam combustíveis a gasolina ou biocombustível, conforme a figura
8, no ano de 2017 os veículos flex representaram 62,7% e os veículos a gasolina 26,5%. No entanto,
se comparar a 10 anos anteriores a realidade mostra que o consumo de gasolina era maior. Por outro
lado a utilização do diesel praticamente se manteve com valor sem grandes alterações durante os
anos [19]. É percebido no gráfico que álcool vem caindo a cada ano, tendo uma diferença entre
2007 a 2017 de 8,8%.
Fig. 9 – Combustíveis da frota de veículos, referente ao ano de 2018 do mês de janeiro a agosto
Fonte: Elaboração própria, com base em DENATRAN (2018)
Portanto com a frota de veículos elétricos híbridos crescendo o quadro deverá mudar nos próximos
anos, neste caso, teremos a introdução da eletricidade e provavelmente o consumo do etanol irá
decair. Além disso, espera que a utilização de combustíveis derivados do petróleo seja substituídos
pelos de biocombustíveis.
3.4. Impactos
Os veículos puramente elétrico são vistos como uma alternativa para minimizar a emissões de
dióxido de carbono no setor de transporte mundial, mas vale ressaltar que dependendo da fonte de
energia do país a redução não será o mesmo, por exemplo, fonte a base de carvão mineral,
derivados de petróleo e gás natural, são elementos que aumentam a emissão de poluentes devido à
queima.
Segundo Simon [15], o aumento da frota de veículos elétricos pode apresentar algum risco no
sistema de distribuição nas centrais que não foram projetadas para a demanda estabelecida pelo
setor de transporte. A rede de distribuição para suporta o carregamento depende de diversos fatores,
não havendo um valor absoluto válido para qualquer configuração de rede.
De acordo com a pesquisa de Toshizaemom Noce [22], tem como hipótese uma frota de veículos
elétricos circulando de aproximadamente 110 mil veículos até 2025, com um consumo destinado ao
abastecimento da frota de veículos elétricos em torno de 352 GWh/ano ou 29,3 GWh/mês. Com
base na oferta interna de energia elétrica do Balanço Energético Nacional, o ano de 2016 teve um
consumo de 619.693 GWh, o impacto de uma frota de 110 mil veículos elétricos representaria um
consumo de 0,056% de toda a oferta nacional de energia.
O Brasil apresenta a matriz energética favorável, pois a maior parcela da energia consumida é
derivada de fontes renováveis, o que diferencia do mundo na qual a matriz energética primária é de
fonte não renovável, com utilização principal do petróleo. Conforme dados do EPE [6], o Brasil
apresenta 80,4% de energia renovável no ano de 2017, deste valor 65,2% representa a fonte
hidráulica e o mundo tem-se 22,8% no ano de 2015.
No setor de transporte os combustíveis fósseis são os que mais contribuem para o consumo de
energia, com destaques para, a gasolina e óleo diesel, ambos responsáveis por 73,4% da matriz de
consumo de energia.
Ainda analisando a figura 13 e comparando o período entre 1992 e 2012, o crescimento dos
automóveis e caminhões pesados continuou. Vale ressaltar que os ônibus rodoviários não
apresentaram alterações significativas. Desta forma, o que foi debatido na Eco-92 2 a respeito de
controlar as emissões de CO2 na atmosfera e a criação de parâmetros para a proteção da
biodiversidade, não teve evolução positiva neste período. Houve um aumento de 36% das emissões
de CO2 no mundo, sendo a expansão da frota de veículos um elemento que faz parte destes dados.
2
Da Eco-92 à Rio+20: Duas décadas de debate ambiental. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2012/06/120612_grafico_eco92_rio20_pai
Fig. 13 – Emissão de CO2 por categoria de veículos
Fonte: Adaptado de Lima [23]
Neste contexto, a mudança do setor de transporte, mediante aos VEs e VEHs seria uma alternativa
para ter menor impacto ambiental. No entanto, um dos componentes desses veículos pode gerar
degradação ambiental, no caso, as baterias automotivas de chumbo-ácido que contêm chumbo e ácido
sulfúrico, onde há normas ambientais que disciplinam seu recolhimento, descarte e eventual reciclagem.
Além disso, apresenta desvantagens como custo elevado e o curto ciclo de vida [14].
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao realizar a revisão bibliográfica a respeito dos veículos elétricos e veículos elétricos híbridos e o
impacto ambiental que poderá gerar, observou-se que há possibilidade de mudança na frota de
veículos nacionais. Alguns pontos importantes que se pode evidenciar nos VEs e VEHs em
comparação aos veículos convencionais são: redução da emissão de gases do efeito estufa, maior
eficiência no consumo de combustível e freios regenerativos para recarregar a bateria [12].
Além disso, o uso deste modal traz melhores condições ambientais, há também a possibilidade de
renovação da indústria automobilística, nas questões das novas tecnologias empregadas [10]. Mas
para ter êxito exige a superação de obstáculos, como logística, infraestrutura e custo [14].
Para que o mercado tenha uma alta na demanda desses veículos, principalmente o VE é preciso que
haja uma redução dos custos de produção, para os preços serem competitivos com os veículos
convencionais. No entanto, é preciso atender a outras questões como investimentos em
infraestruturas nas distribuidoras de energia elétrica para as demandas que poderão surgir no horário
de pico.
Segundo a pesquisa de Marcincin, Medvec e Moldrik [17], existe uma preocupação especial
referente às áreas com rede mais densa, bem como localidades entre cidades com uma carga
potencialmente maior da infraestrutura.
Ademais, as redes de estações de recargas (postos) deverão ser o suficiente para atender os veículos,
visto que, o tempo gasto para carga da bateria é maior que o tempo para colocar combustível, ou
seja, se o número de VE e VEH for maior e os locais de recarga não proporcional, será uma
possível desistência da utilização destes veículos, apesar de serem economicamente e
ambientalmente melhores que os convencionais. Ainda assim, é necessário que se tenha estações
em várias localidades, seja dentro dos centros urbanos no atendimento a rotas menores ou fora em
distâncias maiores.
Conforme Castro e Ferreira [14], os assuntos referente à energia e ao meio ambiente, aliadas ao
desenvolvimento tecnológico de componentes e à ação direta dos governos, têm elevado uma
inserção cada vez maior dos veículos elétricos nas vendas. Para os veículos elétricos híbridos com
maior difusão há a possibilidade da utilização do combustível bioetanol brasileiro, sendo melhor
alternativa se comparado aos combustíveis fósseis.
O que diferencia os carros convencionais para os híbridos e elétricos é o tempo da tecnologia, cujo
alto custo das baterias, a limitação de autonomia, custo final do produto são alguns itens que torna
tímido o seu crescimento. Apesar dessas desvantagens, tem-se o lado positivo na questão da
redução da dependência do petróleo e ao menor impacto ambiental, conforme for o tipo de energia
distribuída pelo país.
Com relação aos combustíveis espera-se que os dados para os próximos anos estejam diferente, com
resultados maiores para biocombustíveis. Os dois principais biocombustíveis líquidos utilizados no
Brasil são o etanol, extraído de cana-de-açúcar, utilizados nos veículos leves, e, mais recentemente,
o biodiesel, produzido a partir de óleos vegetais ou gorduras animais, utilizados, principalmente, em
ônibus e caminhões3.
Na questão da emissão de CO2 a cidade de São Paulo, por exemplo, se estivesse 6% da frota atual
substituída por veículos elétricos, evitaria a emissão de aproximadamente 490 mil toneladas de CO 2.
Assim a introdução de VEHs na frota circulante atual influenciaria direta e positivamente os problemas
decorrentes pela poluição, pois estes têm emissões significativamente menores do que os veículos
convencionais e podendo chegar a zero, no caso dos veículos puramente elétricos. Logo, os VEHs não
só trariam benefícios ao meio ambiente, à saúde e ao bem-estar da população, como também reduziriam
os gastos públicos [11].
Por fim, destaca-se a importância da introdução desses modais, principalmente em substituição aos
veículos antigos, já que os mesmo tem um consumo maior em combustíveis e emitem maiores
poluentes.
5. CONCLUSÃO
Veículos que se utilizam de energias renováveis é importante para minimizar o impacto ambiental e
a emissão de CO2, principalmente em grandes centros urbanos na qual a concentração de poluentes
são maiores e como consequência prejudica a saúde humana.
3
Governo do Brasil. Biocombustíveis. Disponível em:
http://www.brasil.gov.br/noticias/infraestrutura/2011/11/biocombustiveis
O Brasil apresenta uma matriz energética mais limpa em comparação ao mundo, ou seja, o uso
desses veículos não representa grandes impactos ambientais. Sendo assim, justifica adoção dos
veículos elétricos e veículos elétricos híbridos no transporte individual ou coletivo. Para ter
melhores resultados ambientais vale o incentivo do transporte coletivo, pois a emissão de CO 2 na
projeção para o ano de 2020 corresponde a 10% e os automóveis a 37%, ou seja, o índice é
favorável para o transporte coletivo.
Desta forma, vale o incentivo do poder público para a sociedade adotar esse tipo de modal, pois
geram benefícios para o meio ambiente onde o número de veículos individuais circulando será
menor e assim diminuiria mais a emissão de poluentes. Mas como essa realidade no Brasil ainda
não é praticada tem-se o aumento da frota de transporte individual seja pelas facilidades de compras
ou pela falta de qualidade nos transportes coletivos.
Portanto, é importante que haja incentivos governamentais para que a frota de veículos seja
substituída pelos VEs e VEHs, principalmente os carros antigos que poluem muito, segundo
levantamento do ANFAVEA os motores de carros com mais de 15 anos de uso é 28 vezes maior
que o carro novo, com menos de 6 mil quilômetros rodados. No entanto, é preciso política de
energia, investimentos em infraestruturas, preço final competitivo com veículos convencionais,
entre outros benefícios para o consumidor e os fabricantes de automóveis.
Por fim, é importante destacar que o desenvolvimento constante da tecnologia desses veículos, a
tendência é ter transporte coletivo e individual em maior número no país, e desta forma, as emissões
de poluentes se reduzirá e a qualidade de vida e saúde da sociedade se tornará melhor,
especialmente os que moram e trabalham nos centros urbanos.
REFERÊNCIAS
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<http://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-303/
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[6] EPE 2017 – Empresa de Pesquisa e Energética. Balanço energético nacional 2018. Relatório síntese – ano base
2017. Ministério de Minas de Energia. Rio de Janeiro, 2018.
[7] Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Disponível em: <http://www.abve.org.br/governo-anuncia-rota-
2030-e-corta-ipi-para-eletricos/> Acesso em: 01 out. 2018.
[8] MP 843 - Medida Provisória nº 843, de 2018. Publicação: DOU de 6 de julho de 2018. Ementa: Estabelece
requisitos obrigatórios para a comercialização de veículos no Brasil, institui o Programa Rota 2030 – Mobilidade e
Logística e dispõe sobre o regime tributário de autopeças não produzidas. Sumário Executivo de Medida
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Acesso em: 02 out. 2018.
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[11] BRAVO, D.M.; MEIRELLES, P.S.; GIALLONARDO, W.. Análise dos desafios para a difusão dos veículos
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[12] SILVA, E.P.B. Veículos Verdes. Revista CESVI – o carro e o maio ambiente, ano 16, n. 83 p. 6-8, 2013.
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[14] CASTRO, B.H.R.; FERREIRA, T.T.. Veículos elétricos: aspectos básicos, perspectivas e oportunidades.
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Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro - COPPE - Programa de Planejamento Energético. Rio de
Janeiro, 2013.
[16] BRAJTERMAN, O. Introdução de veículos elétricos e impactos sobre o setor energético brasileiro. Dissertação de
Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro - COPPE - Programa de Planejamento Energético. Rio de
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http://automotivebusiness.com.br/abinteligencia/pdf/R_Frota_Circulante_2018.pdf> Acesso em: 02 out. 2018.
[20] Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e biocombustível (ANP). Boletim Gerencial: Superintendência de
distribuição e logística. Abastecimento em números. Ano 13, n.58, 2018. Disponível em: <
http://www.anp.gov.br/publicacoes/boletins-anp/2394-boletim-abastecimento-em-numeros> Acesso em: 13 out.
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[21] E&E – Economia e Energia. O setor de transporte. Disponível em: < http://ecen.com/eee30/s_trnsp9.htm> Acesso
em: 03 out. 2018.
[22] NOCE, T. Estudo do funcionamento de veículos elétricos e contribuições ao seu aperfeiçoamento. Dissertação de
Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Mecânica. Belo Horizonte, 2009.
[23] LIMA, G.S de; CRUZ, N.T.da; REIS, M.de M.; AMORIM, J.C.C.; VASCONCELLOS, C.A.B.de. Metodologias
para estimativa da emissão de poluentes pelo transporte rodoviário. CT 3º trimestre de 2014. Disponível em: <
http://rmct.ime.eb.br/arquivos/RMCT_3_tri_2014/RMCT_199_E2B_13.pdf> Acesso em: 14 out. 2018.
ANÁLISE DE INDICADORES PARA AVALIAÇÃO DE BIKEABILITY EM NOVE
CIDADES BRASILEIRAS
Resumo: A utilização da bicicleta, como meio de transporte, tem sido um dos diversos temas
recorrentes do século XXI relacionado à mobilidade urbana. Atualmente a sociedade enfrenta
inúmeros desafios relacionados à forma de deslocamento e a bicicleta se apresenta como uma
ferramenta importante para a melhoria no transporte da grande massa populacional que se
concentra, cada vez mais, nas grandes cidades. O presente artigo objetiva, através de uma revisão da
literatura, apresentar uma análise de indicadores de bikeability, que nada mais é do que o
estabelecimento de instrumentos de análise sobre a aceitação da bicicleta na cidade como um meio
de transporte eficiente, seguro, rápido e inclusivo, sendo de fundamental importância para a
sociedade e para os órgãos governamentais. São vários os fatores que influem no uso da bicicleta,
os chamados indicadores de bikeability, como tamanho da ciclovia, relevo, clima, infraestrutura
cicloviária, segurança e conforto, cultura local entre outros. Como resultado, este trabalho apresenta
uma análise comparativa entre as cidades brasileiras estudadas e os indicadores de bikeability para
cada região.
Abstract: The use of the bicycle, as a means of transport, has been translated into the 21st century.
It is an important tool for updating the large population that is increasingly concentrated in large
cities. The present article aims, with a review of the literature, presents an analysis of indexes of
bikeability, which is nothing more than the establishment of instruments of analysis on the
acceptance of the bicycle in the city as an efficient, safe, fast and inclusive means of transport. In
addition, being of fundamental importance for the society and for the governmental organs. There
are several factors that influence bicycle use, such as bike lane size, relief, climate, cycling
conservation, safety and comfort, local culture among others. The expectation is, therefore, that the
work will be able to propose expanded actions for the public actions of an end of a cross application
in the Brazilian capitals.
1. INTRODUÇÃO
A Política Nacional de Mobilidade Urbana [1] define mobilidade urbana como a condição em que
se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no espaço urbano. A forma de deslocamento se dá
por dois modos de transporte, os motorizados e os não motorizados. Os motorizados incluem os di-
ferentes veículos, sejam eles individuais (moto, carro, etc) ou coletivos (ônibus, metrô, etc). Quanto
aos principais modos de transporte não motorizado, estão os modos a pé ou de bicicleta [2]
O número excessivo de carros, juntamente com a precariedade do transporte público, além da má
conservação das vias tornam o transporte um problema urbano. Nos últimos anos, o planejamento
de transporte no Brasil tem visto a necessidade de promover melhores condições para locomoção de
usuários dos modos não motorizados. Ademais, é crescente o uso da bicicleta como meio de trans-
porte e lazer no Brasil contemporâneo.
O ciclismo pode ser visto como uma solução potencialmente sustentável para melhorar mundial-
mente a saúde pública, incluindo a redução do tráfego e da poluição do ar. Inúmeras evidências de-
monstram que o ambiente construído está correlacionado com o comportamento do ciclista e o
quanto as regiões percorridas podem ser amigáveis a eles.
Em seu estudo César,2014, fez uma avaliação da ciclabilidade das cidades brasileiras. O crescente
número de ciclistas pedalando nas cidades brasileiras demanda um esforço dos governos locais para
elaborar ações a fim de tornar as cidades mais amigas da bicicleta. Porém, estas ações vêm sendo
realizadas sem um planejamento que garanta a prioridade necessária à mobilidade por bicicleta. Em
sua pesquisa foi avaliada o quanto as cidades brasileiras são amigas da bicicleta, e como resultado
apontou falta de infraestrura de qualidade, vias confortáveis e segurança [3].
Diante do exposto, este trabalho busca compreender os fatores que influenciam o uso da bicicleta, e
a partir deles elaborar uma análise de indicadores de avaliação de bikeability em nove cidades brasi-
leiras, distribuídas pelas diferentes regiões do país. As cidades foram escolhidas com base na posi-
ção geográfica. São elas: Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo no Sudeste, Brasília no Cen-
tro-oeste, Curitiba e Florianópolis no Sul, Fortaleza e Recife no Nordeste e Boa Vista no Norte.
2. BIKEABILITY NO MUNDO
4. OBJETIVO
O presente artigo tem como objetivo apresentar uma análise de índices de bikeability, que nada
mais é do que o estabelecimento de instrumentos de análise sobre a aceitação da bicicleta na cidade
como um meio de transporte eficiente, seguro, rápido e inclusivo. O uso e aceitação da bicicleta é
de fundamental importância para a sociedade e para os órgãos governamentais.
5. METODOLOGIA
Este trabalho refere-se a uma pesquisa qualitativa e exploratória, visto que tem como objetivo
compreender os fatores que influenciam o uso da bicicleta, e a partir deles elaborar uma análise de
indicadores para avaliação de bikeability em nove cidades brasileiras. A metodologia foi
desenvolvida através de uma revisão bibliográfica, em que foram consultados trabalhos acadêmicos,
periódicos, páginas na internet e leis para o embasamento teórico, baseado na conceituação e
contextualização do tema.
6. RESULTADOS E ANÁLISES
MOBILIDADE URBANA
RELEVO
CLIMA
SEGURIDADE PESSOAL
CONTINUIDADE
INFRAESTRUTURA
CICLOVIÁRIA
INTERMODALIDADE
SEGURANÇA E
CONFORTO
CULTURA LOCAL
Tabela 01- Análise comparativa de cidades com indicadores de bikeability
Legenda:
ADEQUADO NÃO POSSUI
RAZOÁVEL POSSUI
INADEQUADO
Analisando, então a tabela 01, constata-se que as cidades brasileiras apresentam graves deficiências
com relação à seguridade pessoal, como é o caso de Belo Horizonte,Curitiba, Fortaleza e Recife ou
com relação à cultura local.
O Brasil, como visto anteriormente, possui grande parte da sua infraestrutura voltada para atender à
demanda de transporte individual por automóveis, havendo pouquíssimo investimento em
transporte ativo.
A cidade de Recife e Rio de Janeiro são àquelas que possuem maiores problemas com relação a
utilização da bicicleta como meio de transporte uma vez que essas cidades possuem alto índice de
criminalidade, além de estarem em cidades litorâneas onde as bicicletas são comumente usadas para
lazer.
7. CONCLUSÃO
A análise dos dados da pesquisa revela a carência de uma política pública de proteção à mobilidade
por bicicleta no Brasil. As cidades destacadas necessitam de elementos básicos como pavimento,
limpeza, iluminação de qualidade, segurança e políticas específicas que promovam o uso da
bicicleta nos deslocamentos urbanos.
Pouco se vê, no Brasil, a existência de políticas sérias, verdadeiramente engajadas ao incentivo à
mobilidade por bicicleta. O aumento do número de ciclistas nas cidades Brasileiras surgiu de forma
tímida, pouco incentivada pelo poder público que continuam estimulando o uso do automóvel
particular como principal meio de transporte nas grandes e pequenas cidades.
É necessário que haja nas cidades uma rede cicloviária eficiente que conecte importantes destinos
da cidade, permitindo que o ciclista corte caminhos em uma rede interligada entre si e que permita a
integração modal com o transporte público. Ademais, é necessário que seja segura e cômoda, com o
pavimento de boa qualidade e iluminação noturna proporcionando viagens agradáveis a qualquer
hora do dia.
A bicicleta, com todos os seus atrativos relacionados à um transporte saudável, inclusivo,
econômico e autônomo, deve ser implantado e visto como verdadeiro modal de transporte sendo
imprescindível que o poder público compreenda e aja para promover sua inclusão para incrementar
a mobilidade urbana.
REFERÊNCIAS
[1] “LEI 12.587,” 13 march, 2012. [Online]. Available:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12587.htm.
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[2] M. Battiston, N. Olekszechen, and A. Debatin Neto, “Barreiras e
facilitadores no uso da bicicleta em deslocamentos diários: alternativas
para a mobilidade urbana,” Rev. Ciências Humanas, vol. 51, no. 1, p. 269,
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[3] Y. B. César, “Avaliação da ciclabilidade das cidades brasileiras,” p. 70,
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CONSTRUÇOES EM MADEIRA LAMINADA CRUZADA: PROPOSTA DA
UNIÃO DA MADEIRA COM LAJE DE CONCRETO
Constructions in crossed laminated wood: Proposal of the union of wood with concrete slave
Palavras Chave: Conexões de Madeira e Concreto, Sistema Construtivo Misto, Madeira Laminada
Colada Cruzada, Ligação madeira Laminada Colada Cruzada e laje de Concreto
Resumo. Este trabalho apresenta um sistema construtivo misto de concreto e Madeira Laminada
Colada Cruzada (CLT), enfatizando a ligação entre os elementos e propondo um conector metálico
solidarizado no concreto e CLT por meio de adesivo. Inicialmente, é apresentada a idéia geral do
sistema construtivo, seus elementos constituintes, suas ligações e, num segundo momento, é
apresentado o estudo de conectores de aço na ligação de painéis de CLT com laje pré-fabricada de
concreto. Hoje, a escassez cada vez mais acentuada das madeiras nativas é uma forte justificativa
para o uso de CLT. A madeira, além de ser renovável e reaproveitável quando usada de forma
correta e responsável, contribui de forma extraordinária para atenuar os impactos ambientais
causados pelas edificações. Nesse aspecto, o CLT, por se tratar de um produto fabricado a partir de
madeiras de reflorestamento, não representam uma ameaça às florestas nativas existentes no país e
em todo o mundo. Uma série de estudos independentes compararam o desempenho ambiental dos
edifícios de andares múltiplos construídos com CLT e com concreto e concluíram,
consistentemente, que edifícios de CLT tiveram baixa energia incorporada comparada com edifícios
de concreto e, mais ainda, desempenho superior em comparação com os de concreto e de aço no
que tange à destruição da camada de ozônio, potencial de aquecimento global, dentre outros
aspectos.
A montagem do sistema, ou seja, dos painéis CLT com lajes de concreto armado e painéis CLT
com CLT se mostra simples e de fácil execução.
Palavras Chave: Conexões de Madeira e Concreto, Sistema Construtivo Misto, Madeira Laminada
Colada Cruzada, Ligação madeira Laminada Colada Cruzada e laje de Concreto
Abstract: This work presents a mixed construction system of concrete and laminated laminated
wood (CLT), emphasizing the connection between the elements and proposing a metallic connector
solidified in the concrete and CLT by means of adhesive. Initially, the general idea of the
construction system, its constituent elements, its connections and, in a second moment, the study of
steel connectors in the connection of CLT panels with prefabricated concrete slab is presented.
Today, the increasing scarcity of native woods is a strong justification for the use of CLT. Wood,
besides being renewable and reusable when used in a correct and responsible way, contributes in an
extraordinary way to mitigate the environmental impacts caused by the buildings. In this regard, the
CLT, because it is a product made from reforestation woods, does not pose a threat to the native
forests existing in the country and around the world. A number of independent studies compared the
environmental performance of multi-storey buildings built with CLT and concrete and consistently
concluded that CLT buildings had low energy built in compared to concrete buildings and, even
more, superior performance compared to buildings concrete and steel related to the destruction of
the ozone layer, global warming potential, among other aspects.
The assembly of the system, ie the CLT panels with reinforced concrete slabs and CLT panels with
CLT is simple and easy to perform.
Keyword: Wood & Concrete Fittings, Mixed Construction System, Cross Laminated Laminated
Wood, Cross Laminated Link and Concrete Slab
1- INTRODUÇÃO
Em meio ao aquecimento Global, tema dos mais debatidos em todas as esferas de discussão de
políticas ambientais em todo o mundo, tem-se que pensar e colocar em prática proposições que
garantam o desenvolvimento do planeta de modo sustentável.
A madeira, por ser um excelente fixador de carbono, além de ser renovável e reaproveitável quando
usada de forma correta, contribui de forma extraordinária para atenuar os impactos ambientais
causados pelas edificações. Nesse aspecto, a madeira laminada cruzada (CLT), por se tratar de um
produto fabricado a partir de madeiras de reflorestamento tratadas, não representam uma ameaça às
florestas nativas existentes.
O Brasil, com seu imenso território continental cultivável, possui um enorme potencial madeireiro.
Suas extensas áreas de florestas tropicais, acrescidas as áreas de reflorestamento existentes e outras
em curso, levam a refletir sobre o seu aproveitamento e exploração de forma adequada e
responsável. Este poderoso potencial madeireiro aliado às tecnologias de produção de madeira
laminada colada desenvolvidas atualmente na Europa, tanto madeira laminada colada (MLC)
quanto madeira laminada colada cruzada (CLT), esta desenvolvida mais recentemente na Europa, a
partir de 1990, veio viabilizar a sua utilização em larga escala na construção civil. O CLT possui
inúmeras vantagens como sistema construtivo para edificações, inclusive de andares múltiplos,
lastreado no seu elevado desempenho estrutural e ambiental [1]. Uma série de estudos
independentes que compararam o desempenho ambiental dos edifícios de andares múltiplos
construídos com CLT e com concreto [2,3,4,5], concluíram, consistentemente, que os edifícios de
CLT tiveram baixa energia incorporada comparada com os edifícios de concreto e, mais ainda,
desempenho superior em comparação com os de concreto e de aço no que tange à destruição da
camada de ozônio, potencial de aquecimento global, dentre outros aspectos. Uma outra grande
vantagem do sistema é a velocidade e a eficiência com que os edifícios podem ser construídos [1].
A despeito de no Brasil a utilização do CLT ainda esteja em estágio embrionário, com a madeira
maciça ainda sendo usada em larga escala no país, suas vantagens com relação à madeira serrada
são relevantes, especialmente quanto à possibilidade de se produzir peças a partir de madeiras de
reflorestamento, praticamente sem limitações dimensionais, com aumentos de resistência e rigidez.
Atualmente, a escassez cada vez mais acentuada das madeiras nativas é uma forte justificativa para
o uso do CLT.
Por outro lado, a cultura do concreto armado, quer seja moldado no local ou pré-fabricado, já se
encontra consolidada no Brasil. O concreto armado, juntamente com o aço e o vidro,
transformaram-se em materiais suportes para o desenvolvimento da arquitetura moderna que tanto
marcou o cenário do mundo modernizado do século XX [6].
No Brasil, como em nenhum país desse mundo moderno, essa tecnologia se difundiu de forma
absoluta e hegemônica. É, sem sombra de dúvidas, o material estrutural mais utilizado nas
construções das cidades brasileiras.
A sociologia da ciência considera que os artefatos humanos são construções individuais e coletivas,
ligadas a grupos sociais e determinadas mais pelos interesses e recursos próprios desses grupos do
que por forças externas [7]. Isso significa decisivamente que, na difusão do concreto no país,
estiveram em jogo relações sociais mais complexas que, no âmbito deste trabalho, não interessa
entrar no mérito dessa discussão. Não serão apresentados aqui aspectos socioculturais envolvidos na
difusão do concreto. O que importa é que ele é tido como resultado natural de uma longa evolução:
o adobe do período colonial teria sido substituído pela alvenaria de tijolos do século XIX, para se
chegar finalmente ao concreto, signo de modernização, progresso e desenvolvimento [7]. A
trajetória da difusão do concreto no Brasil ocorre em sincronia com a ampliação da disponibilidade
dos materiais necessários à sua fabricação. A partir desse panorama é que acontece a consolidação e
utilização de forma hegemônica do concreto no Brasil.
O sistema construtivo em estruturas pré-fabricadas de concreto traz em seu próprio conceito o
desenvolvimento sustentável. Isto se deve, principalmente, à otimização do consumo de materiais
pela adoção de tecnologias e equipamentos avançadas, resultando na produção de elementos
resistentes e duráveis. Por outro lado, a organização do canteiro de obras propicia um local
favorável à produtividade, redução de desperdícios e utilização de mão de obra qualificada,
considerando que os materiais e os componentes podem ser facilmente reutilizados e reciclados
Projetar e estudar um conector adequado ao uso em um sistema construtivo que contemple a
utilização de painéis CLT com lajes maciças pré-fabricadas de concreto armado, parece um
caminho viável e com enorme potencial de uso no âmbito da construção de edificações no país.
Para que um sistema construtivo misto como este, inovador na medida em que utiliza lajes pré-
fabricadas de concreto conectadas com painéis verticais de CLT - diferentemente dos sistemas
utilizados na Europa, Estados Unidos, Canadá, que usam como laje um sistema misto de CLT
solidarizado com o concreto fundido no local - tenha de fato um desempenho satisfatório, torna-se
fundamental a projetação de elementos de ligação, ou seja, conectores que possam aliar uma
tecnologia já sedimentada no país com outra em desenvolvimento.
Pesquisas já foram realizadas sobre ligações de MLC utilizando-se elementos de ligação como
parafusos auto-atarraxantes, cantoneiras, conectores, etc. Os objetivos de tais estudos visam
abranger um universo de aplicações, tais como: ligações entre painéis CLT em variadas
configurações, entre painéis CLT e treliças metálicas, entre CLT e vigas metálicas de alma cheia,
fundações com painéis CLT, enfim, abordando uma grande parte dos sistemas construtivos pré-
fabricados existentes na construção civil. Nessas ligações, tanto de painéis CLT entre si como nas
ligações com estruturas metálicas, utilizam-se, na maioria das vezes, cantoneiras com parafusos
auto-atarraxantes (madeira), parafusos com porcas (estruturas metálicas) e também, em grande
parte, alumínio extrudado e conectores de chapa dobrada de formatos praticamente padronizados. O
material mais utilizado é o aço, em cantoneiras com ângulo de 90º com enrijecedor de estampa,
conforme mostrado nas figuras 1, 2, 3.
Figura 1. - Cantoneira para união de painéis Figura 2. - Tipos de cantoneiras Figura 3. - Conector para vigas
A desvantagem das ligações nas quais se utilizam essas cantoneiras, é que ficam expostas e
necessitam de uma altura de piso e de forro para escondê-las, como mostram as figuras 4 e 5 abaixo.
Figura 4. - Cantoneiras de teto Figura 5. - Cantoneira de piso Figura 6. - Conector oculto para viga
Existem conectores mais sofisticados, como o produzido pela Rotho Blaas, denominado Sistema de
Ligação X-Rad. Esse sistema exige a preparação do painel na fábrica para o implante dos
conectores. Sua instalação é relativamente simples com um bom resultado estético apesar de ser
externo e aparente, como mostram as 7 e 8.
Os conectores em cantoneira de chapa dobrada são muito eficientes nas ligações de madeira com
madeira. Porém, nas ligações com concreto armado, apresentam algumas limitações no que tange à
fixação com buchas e furação do concreto.
A confiabilidade do sistema de ligação depende das condições dos conectores, dos materiais
envolvidos, do deslizamento inicial e da rigidez à flexão eficaz do sistema. A rigidez de um sistema
de ligação é estimada utilizando o seu módulo de deslizamento, que quantifica a resistência
oferecida contra o deslocamento na superfície de contato entre o concreto e a madeira, quando uma
carga é aplicada à estrutura. Além da rigidez, a ductibilidade da ligação é também uma
característica de segurança importante de uma estrutura mista [8]. Em geral, deve-se afirmar que as
propriedades de resistência e rigidez das conexões mistas de madeira e concreto devem ser
avaliadas por ensaios. O EUROCODE 5, parte 2, contém poucas informações sobre o
comportamento e o projeto de conexões mistas de madeira e concreto. Sem o apoio de resultados
experimentais, o EC 5, sugere ter em conta um valor do módulo de deslizamento duplo do que o de
uma conexão semelhante de madeira com madeira. Isso não parece ser razoável. Os amplos
resultados experimentais [9,10,11,12] não concordam com a sugestão do EUROCODE 5. Também
é verdade que poucos autores propuseram equações simplificadas em conseqüência da dificuldades
de avaliar, através de ensaios, todos os parâmetros envolvidos.
Neste sentido, o objetivo deste trabalho é apresentar um sistema construtivo misto de concreto e
CLT, enfatizando a ligação entre os elementos e propondo um conector metálico solidarizado no
concreto e CLT por meio de adesivo, que deverá ser avaliado por ensaios num segundo momento.
Conexão com as bases de concreto: A base de concreto da fundação, deverá ser preparada para
receber a bainha com rosca interna, na posição de ancoragem, antes da concretagem. Na ancoragem
dos painéis de CLT com as bases de concreto da edificação deverão ser utilizados conectores
ligados nas bainhas com rosca interna. Os painéis deverão ser perfurados para a colocação dos
conectores e para acesso a porca de fixação, ver Fig.9. O furo para passagem do conector no painel
superior deverá ser oblongo para permitir ajustes na montagem do painel. Após montagem, esse
furo deverá ser preenchido com resina epoxi.
Conexão dos painéis com lajes de concreto armado pré-fabricado: Essas ligações serão efetivadas
por meio de conectores com bainha sem rosca interna. Os painéis serão preparados para fixação na
fábrica e as bainhas posicionadas na laje de acordo com o projeto antes da concretagem, Fig.10.
Conexão de painéis CLT/CLT: Essas ligações serão efetivadas por meio de conectores sem a
utilização de bainhas. Os painéis deverão ser preparados para fixação na fábrica, devendo ser
perfurados para a colocação dos conectores e para instalação e giro da porca de fixação. O furo para
passagem do conector nos painéis deverá ser oblongo para permitir ajustes na montagem. Após
montagem, esse furo deverá ser preenchido com resina epóxi. As conexões entre painéis CLT/CLT
poderão ser de topo, Fig.11, conexão em T, Fig.12 e conexão de canto, Fig. 13.
1- Base de concreto, 2- Laje de concreto pré-fabricada, 3- Painéis CLT, 1- Laje de Concreto, 2- Conector de cisalhamento, 3- Painéis CLT,
4- Argamassa de baixa contração para nivelamento, 5- Isolamento contra 4- Argamassa de baixa contração para nivelamento, 5- Isolamento contra
umidade, 6- Conector de cisalhamento, 7- Tampão em madeira umidade, 6- Tampão em madeira
Fig.9- Conexão com as bases de concreto Fig.10- Conexão com lajes de concreto pré-fabricado
1- Laje de concreto, 2- Conector de cisalhamento, 3- Painéis CLT, 1- Laje de Concreto, 2- Conector de cisalhamento, 3- Painéis CLT,
4- Argamassa de baixa contração para nivelamento, 5- Isolamento contra 4- Argamassa de baixa contração para nivelamento, 5- Isolamento contra
umidade, 6- Tampão em madeira, 7- ponto de junção entre painéis umidade, 6- Tampão em madeira
As conexões com a laje de cobertura poderão ocorrer de duas formas, dependendo da solução do
projeto de arquitetura, com platibanda e sem platibanda. Com platibanda essas ligações serão da
mesma maneira que a ligação de painéis com as lajes de piso, serão efetivadas através de
conectores com bainha sem rosca interna, Fig. 14. Sem platibanda serão adotados os mesmos
procedimentos que os da conexão com as bases de concreto. Serão utilizados conectores com
bainha de rosca interna.
1- Laje de concreto, 2- Conector de cisalhamento, 3- Painéis CLT, 1-Laje de concreto, 2- Conector de cisalhamento, 3- Painéis
4- Argamassa de baixa contração para nivelamento, 5- Isolamento contra CLT, 4- Argamassa de baixa contração para nivelamento, 5-
umidade, 6- Fechamento com tampão de madeira isolamento contra umidade, 6- Painéis CLT, 7- Tampão de
madeira, 8- Ripa de madeira, 9- Telha ondulada
Fig. 13- Conexão de canto
Fig. 14- Conexão com a laje de cobertura, com platibanda
Figura 15 - Estudos para conector Figura 16 - Estudos para conector Figura 17 - Estudos para conector
Com base nesses estudos, a adequabilidade a múltiplas aplicações, a forma, a facilidade de fixação,
o material, dentre outros parâmetros considerados, optou-se primeiramente, por um modelo que
apresentasse uma das extremidades auto-atarraxante, para fixação no painel inferior, e a outra
extremidade roscada com o uso de arruela com seção cilíndrica e porca sextavada, para fixação no
painel superior, como mostra a figura 16. A fim de propiciar uma junção rígida dos painéis com a
laje de concreto, de forma a evitar as perdas da força de tração no momento da fixação, foram
projetadas e fabricadas buchas metálicas que serão fixadas na laje no momento da concretagem
como mostra a figura 17.
Foram projetados, também, pinos guia para fixação e manutenção da bucha na posição final durante
o processo de concretagem da laje, como será mostrado mais adiante.Todos os elementos de ligação
serão fabricados em aço SAE 1045, a partir de barras sextavadas de 1/2 polegada, com diâmetros de
rosca de 10mm, para ligação dos painéis com painéis e painéis com a laje de concreto. Os
conectores são elementos fundamentais nas ligações entre materiais. Sua concepção desempenha
um papel crucial na distribuição das tensões na estrutura.
O Sistema Construtivo prevê a fabricação de três tipos de conectores, e dois tipos de buchas para
fixação:
Conector 1 - Para utilização nas ligações do painel com as bases de
concreto (Bucha com rosca interna) e painéis com a laje de cobertura
Conector 2 - Para utilização nas ligações de painéis CLT com CLT
Conector 3 - Para utilização nas ligações dos painéis com a laje
do pavimento e esta com o painel superior.
Bucha 1 - Para fixação nas lajes dos pavimentos, sem rosca interna
Bucha 2 - Para fixação nas bases de concreto da fundação e laje de cobertura, com rosca
interna
São apresentados a seguir os projetos dos conectores 2 e 3:
Figura 18 - Projeto do conector 2 para ligação de painel com painel Figura 19 - Modelo tridimensional do conector 2
Fonte: do autor
Figura 20 - Projeto do conector 3 para ligação de laje com painel CLT Figura 21 - Modelo tridimensional do conector 3,
Fonte: do autor
Para verificação do modelo, foram fabricados a bucha 1 com seu pino guia, figura 22, e os
conectores 2 e 3, conforme mostram as figuras de 18,19,20,21. Para distribuição das tensões de
torque na ligação do conector com a madeira, foi projetado e fabricado, também, um anel metálico
conforme podemos verificar na figura 23.
Figura 22 - Bucha 1 e pino guia Figura 23 - Conector 3 com anel de aço Figura 24 - Conector 3 painel com laje
Após análise dos protótipos do conector proposto, com rosca auto-atarraxante em uma extremidade
e rosca com arruela e porca na outra, verificou-se que, nesse projeto, a seção do conector variava
entre o 1º painel e o 2º painel. Essa variação de diâmetro iria conduzir a resultados diferentes com
relação à resistência aos esforços de cisalhamento e na determinação do módulo de deslizamento,
fato este indesejável.
Optou-se, então, por modificar o projeto original e adotar o mesmo sistema de fixação de um lado e
do outro da ligação, ou seja, rosca com porca e arruela e anel de aço nas duas extremidades do
conector. Pode-se verificar na figura 25.
Figura 25 - Segundo estudo para os conectores - Fonte: do autor
Figura 26 - Segundo projeto para o conector 1 - Fonte: do autor Figura 27 - Modelo tridimensional do segundo projeto para o conector 1
Figura 28 - Segundo projeto para o conector 2 - Fonte: do autor Figura 29 - Modelo tridimensional do segundo projeto para o conector 2
Figura 30 - Segundo projeto para o conector 3 - Fonte: do autor Figura 31 - Modelo tridimensional do segundo projeto para o conector 3
Como percebe-se nos projetos apresentados, as diferenças básicas entre os conectores são as
dimensões e comprimento de rosca. Será realizado, num segundo momento, um estudo teórico-
experimental para avaliar o comportamento da ligação entre os painéis CLT e a laje de concreto por
meio do conector de cisalhamento ora desenvolvido.
4. CONCLUSÃO
O projeto do conector e a fabricação de protótipos em escala real sinalizou para um resultado
bastante viável do ponto de vista de custo e espera-se, num segundo momento, comprovar a
eficiência dos conectores em ensaios laboratoriais. A montagem do sistema, ou seja, dos painéis
CLT com lajes de concreto armado e painéis CLT com CLT se apresenta simples e de fácil
execução.
Embora, como já foi dito anteriormente, o CLT possui inúmeras vantagens como sistema
construtivo para edificações, inclusive de andares múltiplos, lastreado no seu elevado desempenho
estrutural e ambiental e principalmente, com relação a baixa energia incorporada comparada com
os edifícios de concreto e, mais ainda, desempenho superior em comparação com os de concreto e
de aço no que tange à destruição da camada de ozônio, potencial de aquecimento global, dentre
outros aspectos. No Brasil, embora não exista ainda uma base científica que possa balizar com
realidade o nível de conhecimento dos profissionais que trabalham na área da engenharia e
construção civil sobre o sistema CLT, pode-se deduzir que o nível de conhecimento sobre essa
tecnologia é muito baixo. O número reduzido de pesquisas realizadas no país reflete o grau de
desconhecimento da comunidade acadêmica e, sobretudo, dos profissionais envolvidos no setor da
construção civil. O público em geral praticamente desconhece o sistema. Apesar de ser um dos
mais antigos produtos resultantes da colagem de lâminas, a MLC, assim como a CLT, ainda não
são materiais plenamente disponíveis para o emprego nas construções brasileiras, resultado da
pequena tradição no seu uso, elevado custo de adesivos e reduzido número de empresas envolvidas
em sua fabricação, que provocam um reflexo negativo no preço final do produto e, principalmente,
falta de tecnologia avançada para sua fabricação. Espera-se que essa realidade seja modificada com
a entrada de empresas no mercado e com a absorção de novas tecnologias de fabricação.
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[6] L. Benevolo, História da Arquitetura Moderna, São Paulo, Perspectiva, (1976)
[7] R.E. dos Santos, A Cultura do Concreto Armado no Brasil: Educação e Deseducação dos
Produtores do Espaço Construído, In: Anais do IV Congresso Brasileiro de História da Educação.
Goiânia: Universidade Católica de Goiânia, (2006)
[8] E.P. Carvalho, Influence of Test Specimen on Experimental Characterization of Timber-
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[9] A. Dias, Mechanical Behaviour of Timber–Concrete Joints. PhD thesis; 2005. ISBN 90-9019214-
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[10] N. Mascia, J. Soriano, Comportamento Mecânico de Ligações Flexíveis em Vigas Mistas de
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Composite Beams. Joints in Timber Structures. In: International RILEM symposium, Aicher S.,
Reinhardt H.-W., editors, Stuttgart, Germany, p. 291–300, (2000)
ACIDENTES COM ESTRUTURAS DEVIDO A FALHAS NA RESISTÊNCIA
À PUNÇÃO
Resumo: Nos últimos anos, a solução estrutural desenvolvida com lajes lisas tem crescido muito no
Brasil, de forma especial pelo uso das lajes lisas protendidas. Este tipo de solução resulta na
ocorrência da punção devido ao apoio direto das lajes sobre os pilares, sem vigas e geralmente sem
o uso dos capitéis. Embora bastante conhecida a forma de dimensionamento, de maneira especial
bastante clara nas recomendações da NBR 6118, muitos projetistas não utilizam estas verificações,
buscando economias adicionais, facilidade executiva e outros fatores que acabam resultando na
ocorrência de acidentes de considerável gravidade. Por outro lado, a crescente displicência na
execução, facilmente constatada em visitas à maioria das obras executadas nos últimos anos no
Brasil, ocasionam problemas no comportamento das estruturas à punção devido ao mal
posicionamento das armaduras nestas regiões, ou mesmo, à sua não colocação. Um terceiro fator
fundamental é a manutenção das estruturas, geralmente deixada em segundo plano, ou com
importância relativizada pela falta de profissionais adequadamente capacitados para sua detecção e
análise. Como resultado destas questões fundamentais na construção civil, projeto, execução e
manutenção (ou falta de), temos tido um número considerável de acidentes, cuja causa direta é
insuficiência das estruturas às tensões causadas pelo fenômeno da punção, quando na realidade a
causa efetiva é o dimensionamento inadequado, as falhas de execução ou a falta de manutenção. O
presente trabalho tem por objetivo discutir o problema à base da análise de problemas reais,
associado a avaliação da metodologia preconizada pela NBR 6118 e a outras normas internacionais
equivalentes, quanto a projeto e pela NBR 14931 devido à execução, de forma a permitir que os
usuários destas estruturas tenham a adequada confiança em sua utilização e que os engenheiros,
estejam adequadamente alertados para a importância de um problema real, porém de fácil solução.
Abstract: In the last years, the structural solution developed with flat slabs has grown a lot in
Brazil, especially by the use of the prestressed flat slabs. This type of solution results in the
occurrence of puncture due to the direct support of the slabs on the pillars, without beams and
generally without the use of capitals. Although well-known in the form of dimensioning, especially
quite clearly in the recommendations of the NBR 6118, many structural designers do not use these
verifications, aiming additional savings, ease of execution and other factors that end up in the
occurrence of accidents of considerable gravity. However, the increasing lack of diligence in the
execution, which is easily observed in visits to most of the buildings executed in the last years in
Brazil, causes problems in the behavior of the structures due to the misplaced positioning of the
reinforcement in these regions, or even their non-placement. A third fundamental factor is the
maintenance of the structures, usually left in the background, or with relative importance due to the
lack of adequately trained professionals for its detection and analysis. As a result of these
fundamental issues in construction, design, execution and maintenance (or lack of), we have had a
considerable number of accidents, whose direct cause is structures inadequacy to the tensions
caused by the puncture phenomenon, when in fact the actual cause is inadequate dimensioning,
execution failures or lack of maintenance. The objective of this paper is to discuss the problem
based on the analysis of real problems, associated with the evaluation of the methodology
recommended by NBR 6118 and other equivalent international standards, regarding the project and
NBR 14931 due to the execution, in order to allow the users of these structures have the appropriate
confidence in their use and that the engineers are adequately alerted to the importance of a real but
easily solved problem.
1. INTRODUÇÃO
A recente e contínua evolução na modelagem computacional das estruturas em concreto armado
tem permitido a elaboração de estruturas mais esbeltas e consequentemente mais econômicas. Este
fato é associado ao desenvolvimento da tecnologia do concreto que permite a obtenção de concretos
de resistência à compressão e demais características cada vez mais elevada, chamando atenção o
fato da liberação da NBR 6118 (ABNT, 2014) a partir de 2014 para concretos de até 90 MPa. Ainda
no caminho do desenvolvimento tecnológico, a facilidade de implantação da protensão nas
estruturas de concreto pelas técnicas das cordoalhas engraxadas, disponibilizada no Brasil a partir
do final dos anos 90 do século passado e popularizada a cerca de 10 anos atrás, complementa um
conjunto de procedimentos que se tornou muito comum nos dias atuais.
Este conjunto de evoluções, disponível a qualquer engenheiro, independentemente de seu
conhecimento e/ou experiência, pelo uso dos programas computacionais direcionados ao
dimensionamento e detalhamento de estruturas de concreto armado/protendido, tem ocasionado o
surgimento de estruturas vantajosas economicamente, mas de comportamento muitas vezes
indesejável e inadequado às verificações dos estados limites de serviço.
Tendo em vista que a constatação das inadequações ao estado limite de serviço na maioria das vezes
só aparece quando a estrutura entra em fase de “serviço”, a maioria das construtoras atribui os
problemas ao mau uso e a maioria dos usuários aceita esta situação e acaba arcando com custos
elevados de reforço estrutural, ou convive com um risco a cada dia mais elevado.
Dentro desta evolução, tornou-se muito comum e popular as estruturas em lajes lisas, protendidas
ou não, pela facilidade executiva, resultante da ausência das vigas, que permite em muitos casos
concretagens de mais de uma laje por semana, resultando em uma redução de custo nunca possível
na execução das estruturas constituintes da construção civil.
Estas estruturas, por sua vez, concentram tensões cisalhantes nas regiões em torno dos pilares,
exigindo verificações cuidadosas e armações detalhadas de forma elaborada, que resultam em
trabalho de execução acentuado. Muitos projetistas, entendendo tratar-se as exigências de normas
como excessivas, retiram estas armaduras indicadas pelos programas, ou reduzem as cargas a serem
efetivadas, sob a alegação de serem excessivas, de forma que os programas dimensionam sem a
necessidade destas armaduras (GAIOFATTO, 2017).
Naturalmente este fato é muito apreciado pelos construtores, que conseguem alcançar custos finais
extremamente baixos, deixando aos usuários as consequências da falta de responsabilidade de
inúmeros projetistas que visam apenas obter mais serviços por produzirem projetos de execução
mais econômica, sem lembrar, no entanto, que erros de projeto devem ser encontrados nas
verificações exigidas no capítulo 5 da NBR 6118 (ABNT, 2014) ou ainda, na responsabilidade dos
engenheiros ou arquitetos que assinam as ART ou RRT sem observar as falhas graves e/ou
aceitando a execução sem a devida revisão, deixando de observar as recomendações básicas da
NBR 14931 (ABNT, 2004).
2. OBJETIVO E METODOLOGIA
O objetivo principal deste trabalho é alertar os engenheiros projetistas da importância no
atendimento às normas técnicas, de forma especial no caso da punção, bem como, lembrar àqueles
responsáveis pela execução que além da verificação do projeto, devem ser cuidadosos na função de
garantir o adequado posicionamento das armaduras e uma adequada concretagem , além de, garantir
a construção e fornecimentos aos usuários de manuais técnicos completos e adequados à garantia de
regular e correta manutenção dos elementos estruturais e não estruturais cujos danos possam afetar
aos primeiros.
A metodologia do presente trabalho consiste no acompanhamento de acidente de grandes
proporções ocasionado pelo somatório dos erros aqui discutidos, demonstrando a importância do
atendimento às exigências prescritas pelas diversas normas técnicas que direcionam as atividades da
engenharia civil. Ainda o presente trabalho pretende mostrar os procedimentos adequados a serem
seguidos pelos profissionais que atuam na área de projetos, de execução e mesmo de
gerenciamento, de forma especial àqueles menos experientes, que necessitam passar pelas etapas de
aprendizado, minimizando ao máximo o risco de cometer erros que venham a ter consequências
graves.
Figura 1 – Demonstração do posicionamento das armaduras de punção segundo NBR 6118 (Fonte: ABNT, 2014).
Figura 2 - Acidente com lajes por ruptura à punção das lajes junto aos pilares (Fonte: Autores).
Deve ser considerado, que as normas brasileiras, de forma especial a NBR 6118 (ABNT, 2014) é
hoje reconhecida como possuindo padrão internacional, de forma que os cuidados tomados por esta
norma estão no mesmo patamar das normas americanas e europeias. Estudos comprovam, conforme
citado por Rabello, 2010, que os resultados obtidos no dimensionamento com o uso da norma
brasileira mencionada, segue parâmetros bastante semelhantes e equivalentes àqueles indicados
pelo ACI, pelo Euro Code 2 e pela British Standard, de forma, que nada justifica o não atendimento
às normas técnicas brasileiras.
4. PROBLEMAS EXECUTIVOS
Outro problema de elevada gravidade ocorre quando durante a concretagem, a armação de combate
à flexão, armadura negativa na zona sobre o pilar, afunda, ficando posicionada abaixo de sua
posição e, portanto, comprometendo a resistência da laje, que normalmente sobre uma fissura na
face superior, perdendo integridade consequentemente rigidez, comprometendo desta forma as
dimensões da biela comprimida e naturalmente eliminando a resistência à punção. Este erro, que
afeta o atendimento à NBR 14931 (ABNT, 2004) quanto à admissibilidade dos erros executivos, é
mais comum do que pode parecer, ocorrendo hoje na maioria das obras em execução.
Na maioria dos casos, este erro é resultante da ausência do engenheiro no local e durante a
concretagem. Sob o argumento de que o mestre tem muita experiência e que o engenheiro tem
muito trabalho burocrático a desempenhar, a obra corre à revelia e os erros se acumulam até à
ocorrência de acidentes. A foto abaixo mostra um caso de acidente onde as armaduras estavam
completamente fora de posição:
Figura 3 - Posicionamento da armadura negativa na face seccionada da laje junto ao pilar (Fonte: Autores).
Outro fator fundamental, para o caso da punção, é o inadequado adensamento do concreto lançado
na região sobre o pilar. Na maioria dos casos, o concreto é comprado e entregue em adequadas
condições, mas a falta de adensamento ou a má qualidade do adensamento pela falta de uso dos
vibradores ou por seu uso equivocado, não atendendo às especificações das normas NBR 14931
(ABNT, 2004) e NBR 12655 (ABNT, 2015) resultam em concreto muito poroso e mesmo com
resistência comprometida pela quantidade de vazios ocasionado pelo ar aprisionado não retirado de
forma devida. A redução da resistência à compressão e mesmo à tração do concreto na região sobre
os pilares, comprometem de forma importante a capacidade resistente da laje à punção, ou seja, à
perfuração da laje pelo pilar, comprometendo a segurança da estrutura.
5. QUESTÕES DE MANUTENÇÃO
A manutenção, ou a falta da mesma, é outro fator fundamental no comportamento das estruturas
sujeitas ao fenômeno da punção. Normalmente, a insuficiência da laje de concreto armado ou
protendido apresenta fissuras na parte superior da laje, de forma geral antes da ruptura, embora não
necessariamente com uma antecedência que permita solução do problema. Entretanto, fissuras por
mal posicionamento de armaduras à flexão também ocasionam fissuras na face superior das lajes,
que quando observadas permitem soluções prévias, com elevado potencial de solucionar problemas
ainda iniciais.
Desta forma, é fundamental que as estruturas sejam projetadas de forma a permitir inspeções,
conforme preconizado pela NBR 6118 (ABNT, 2014) em seu capítulo 5, bem como, que o
responsável pela execução da obra emita manual técnico, também em atendimento à mesma norma,
definindo intervalos de vistorias, onde estes pontos possam ser observados por profissional
adequadamente qualificado, de forma a evitar que pequenas fissuras, que funcionam como ponto de
acesso a agentes agressivos ao concreto e ao aço, permitam a propagação de patologias que venham
a comprometer a integridade da estrutura inicialmente e sua segurança a médio e longo prazo. A
norma europeia EN-1504 (NP, EN-1504, 2006) recomenda que a superfície dos elementos de
concreto armado que tenham dificuldade de ser inspecionada, seja protegida com material de
elevada resistência, evitando que o dano previsto se concretize.
Em muitos casos, deve-se tomar atenção especial com as impermeabilizações compostas por
materiais elásticos, como mantas asfálticas, por exemplo, que não permitem uma adequada
inspeção, escondendo sinais que podem evitar a ocorrência de tragédias, como constatado em
alguns casos práticos.
6. CONCLUSÕES
Conforme apresentado no presente trabalho, o problema ocasionado pela ocorrência da punção,
caracterizada pelas lajes planas em geral e pelas lisas (planas de espessura constante) em particular,
embora esteja perfeitamente definido quanto à metodologia projetual nas principais normas técnicas
do mundo, ainda é um problema fonte de muitos e graves acidentes da engenharia estrutural, devido
ao desconhecimento e/ou à teimosia de muitos engenheiros quanto à resistência da utilização das
armaduras de punção, de mais complexa execução, bem como, pela quantidade de falhas
executivas, ocasionadas pelo descaso quanto ao correto posicionamento das armaduras ou do
adensamento do concreto na região sobre o pilar.
A punção é um problema que quando não projetado ou executado adequadamente, apresenta
consequências geralmente muito graves, na maioria dos casos ocasionando rupturas bruscas, pela
falta de armação quando necessária, ou rupturas com avisos prévios quando armaduras são
insuficientes. Em ambos os casos, a tendência é a ocorrência da ruína estrutural com forte tendência
de ocorrência do denominado colapso progressivo, uma vez que quando um ponto de apoio rompe
por punção, as deformações do panos contíguos tendem a romper os apoios do perímetro, levando
toda a estrutura a desabar sobre a estrutura inferior, que também, na maioria das vezes não suporta o
impacto e tende a romper, provocando acidente de elevadas proporções.
Desta forma, fica bastante claro, que o simples atendimento às exigências definidas pelas normas
técnicas, seja aquela de projeto quanto aquela de execução, são medidas suficientes para a garantia
de adequada segurança e durabilidade das estruturas, definindo que as lajes lisas não se constituem
na causa do problema, mas sim a má conduta dos profissionais envolvidos, tanto com os projetos e
execução, quanto com a manutenção, neste último caso, muitas vezes admitindo situações de
impossível inspeção como sendo uma situação aceitável por falta de alternativa. Este fato não deve
ser aceito, exigindo-se a possibilidade de inspeção das áreas consideradas críticas para cada tipo de
fenômeno analisado na engenharia estrutural.
AGRADECIMENTOS
Agradecimento à equipe de trabalho da ENCOPETRO Engenharia Estrutural que nos ajuda a
encontrar as soluções dos problemas e a escrever estes artigos. Agradecimento aos colegas que
organizaram este evento, nos proporcionando a oportunidade de apresentação destas reflexões com
a finalidade de divulgação do conhecimento adquirido.
REFERÊNCIAS
[1] FIB – Federation International du Beton – Model Code – Suíça - 2010.
[2] NP-EN1504 – “Produtos e Sistemas para Protecção e Reparação de Estruturas de Betão Projeto de
Estruturas de Concreto” – Caparica - 2006
[3] ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 6118/14 – “Projeto de Estruturas de Concreto –
Procedimentos” - Rio de Janeiro – 2014.
[4] ______ - NBR 12655/15 – “Concreto de cimento Portland: Preparo, Controle, Recebimento e Aceitação” - Rio
de Janeiro – 2015.
[5] ______ - NBR 14931/04 – “Execução de Estruturas de Concreto – Procedimentos” – Rio de Janeiro – 2004
[6] ______ - NBR 8681/03 – “Ações e Segurança em estruturas” – Rio de Janeiro - 2003
[6] ______ - NBR 6120/80 – “Cargas em estruturas de edifícios – Procedimentos” – Rio de Janeiro – 1980
[7] Gaiofatto, RL. “Emprego de software para dimensionamento estrutural I e II”. Sohler, A. A. S.; Santos, S. B.
Projeto, Execução e Desempenho de Estruturas e Fundações. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda.,
2018. Cap. 6 e 7, p. 103-154.
[8] Appleton, J. “Estruturas de Betão” – Edições Orion – Lisboa - 2013
[9] Campos, J.C., “Elementos de Fundações em Concreto” – Oficina de Textos, São Paulo, 2015
[10] Gaiofatto, RL. "Os diversos tipos de Retração", 3º. Congresso de Engenharia - Juiz de Fora, 2008
[11] ACI – American Concrete Institute. “ACI 318-2014: Building Code Requirements for Structural Concrete”.
Farmington Hills, 2014.
[12] Euro Code 2 – EN 1992 Parte 1-1– “Projeto de Estruturas de Betão Armado – Regras gerais e regras para
edifícios” – LNEC – Lisboa – 2010
[13] Rabello, FT, “Análise Comparativa de Normas para Punção em Lajes de Concreto Armado” – Dissertação de
Mestrado – Universidade Federal de Santa Catarina, 2010.
REFORÇO DE BLOCOS DE FUNDAÇÃO - ANÁLISE POR MODELO DE
BIELAS E TIRANTES
1. INTRODUÇÃO
O reforço dos elementos de fundação, sejam eles sapatas ou blocos de coroamento de estacas,
individuais ou em conjunto, apresentam várias dificuldades inerente ao problema, entre elas, uma
das principais é a ligação entre o elemento original e novo volume, que normalmente o envolve, em
função da capacidade de transferir os esforços, originais e novos, que constituem o objetivo da
interferência no elemento estrutural.
Quando ocorre a necessidade de reforço destes elementos estruturais, o motivo geralmente é o
acréscimo da capacidade de carga do elemento de fundação ou a correção de uma incapacidade de
suporte original da estrutura, que pode ter causado danos ou não. Naturalmente, os reforços dos
elementos de fundação, seja composto por um aumento da área de transferência de cargas para o
solo, como é o caso das sapatas – fundação direta – ou do aumento do número de estacas,
envolvendo o acréscimo volumétrico do bloco de coroamento – fundações profundas, requer que o
elemento resultante apresente um comportamento homogêneo que permita um fluxo de tensões
regular e adequado à distribuições dos esforços conforme o conceito definido para o reforço.
Em muitos casos, as estacas originais, apresentam capacidade de carga inferior às novas estacas que
constituirão o elemento estrutural reforçado, resultando na necessidade fundamental da integridade
do bloco para a uniforme distribuição das cargas pelas inúmeras estacas, em função das capacidades
individuais das mesmas.
Aparentemente um problema simples de ser resolvido pelo encamisamento dos blocos de
coroamento, esta situação exige cuidados, muitas vezes relegados a segundo plano pelos projetistas
e engenheiros de execução, em especial aqueles menos experientes, que compromete a eficiência
dos resultados e mesmo a segurança da estrutura dependente deste aumento de capacidade de
suporte.
Este problema, apresentado e discutido em algumas poucas publicações, merece destaque no código
modelo publicado pela FIB em 2010, onde em seu capítulo 7 o problema é discutido (FIB-2010), de
forma especial quanto à determinação das tensões que ocorrem na superfície entre o concreto do
bloco original e aquela constituinte da nova região.
Desta forma, com base neste conjunto de recomendações, o presente trabalho apresenta o
desenvolvimento de uma solução apresentada em caso real, demonstrando a importância
indispensável das adequadas ligações, apesar de modelos numéricos demonstrarem por vezes a não
existência desta necessidade. No estudo que será apresentado, com base em um modelo elaborado à
base do modelo de bielas e tirantes, podem ser obtidas conclusões não apropriadas ao problema
efetivo, induzindo projetistas a conclusões errôneas, que podem levar a grandes acidentes.
2. OBJETIVO
Dentre os objetivos deste trabalho, o principal deles refere-se à demonstração da importância de
adequadas ligações entre elementos submetidos a processos de reforço estrutural denominados de
encamisamento, ou seja, quando elementos de concreto armado recebem novas camadas,
aumentando as dimensões geométricas do elementos estrutural, de forma que estas dimensões
permitem absorver e equilibrar as tensões ocasionadas pelos novos esforços de utilização a que a
estrutura será submetida em seu novo uso.
A pesquisa, referência do presente artigo, realizou análise de um reforço estrutural de um bloco de
coroamento de estacas, projetado com base em modelo tridimensional de bielas e tirantes,
inadequadamente aplicado ou interpretado, demonstrando que a partir de análises simplificadas,
realizadas com base nas recomendações do código modelo de 2010 (FIB-2010), reforçadas por
modelos em elementos finitos, fica demonstrado que o modelo original não apresentaria
comportamento adequado, colocando em elevado risco de ruína toda a estrutura do edifício a ser
reforçado.
Figura 1 - Detalhe do bloco antigo e do novo bloco obtido por encamisamento do anterior (Fonte: ENCOPETRO
2018).
A demanda pelas 12 estacas, se dá em especial pela introdução de momentos nas fundações, uma
vez que o projeto original desprezou os efeitos das cargas horizontais de vento. O acréscimo de
carga vertical refere-se apenas ao encamisamento de pilares e outros elementos estruturais afetados
pela insuficiência do dimensionamento original.
Em função dos fatos expostos, as novas estacas equilibram binários resultantes dos esforços
horizontais aplicados em edifício de grande altura e por este motivo necessitam um maior braço de
alavanca que permita a formação de momentos resistentes mais elevados, ampliando as dimensões
dos blocos originais substancialmente.
O presente trabalho pretende discutir apenas o reforço do bloco, não considerando o mérito do
acréscimo de estacas e nem das dimensões necessárias aos novos blocos.
De forma geral, o novo bloco concebido deve distribuir de maneira uniforme as cargas às inúmeras
estacas, de forma que as mesmas sejam solicitadas de forma adequada, conforme sua capacidade de
suporte.
Tendo em vista que o reforço ocorre com a estrutura existente, apenas com redução das cargas
acidentais devido à ausência das pessoas ausente, uma vez que o edifício estava pronto, incluindo
revestimentos, acabamento e mobiliário, as cargas atuantes nas estacas originais já representam
cerca de 70% de sua carga característica, ou seja, um carregamento elevado.
Desta forma, o projeto da ampliação do bloco deve garantir que, após a sua implementação, as
novas estacas sejam colocadas em carga de forma solidária com as existentes e que, os novos
carregamentos sejam distribuídos de forma homogênea, evitando a sobrecarga de qualquer estaca,
em especial, as originais, já muito carregadas.
Caso a situação acima não ocorra e as novas cargas, associadas às cargas de pessoas que ocorrerão
no futuro, não sejam adequadamente distribuídas, poderá ocorrer a ruptura das estacas antigas,
resultando em excesso de deformação das mesmas e transferência de um nível de tensões não
esperado para o novo bloco, que facilmente poderá atingir a sua ruptura e comprometer a segurança
de toda a estrutura.
O projeto elaborado de reforço estrutural, previu um envolvimento do bloco existente pelas faces
laterais e superior, sem qualquer armadura de ligação entre o novo elemento e o elemento original,
funcionando como uma capa rígida a ser vestida no bloco antigo. Esta solução foi justificada em
memorial descritivo, como tendo sido concebida com base em modelo tridimensional de bielas e
tirantes, uma vez que entre as superfícies dos concretos velho e novo haveria apenas a passagem das
bielas, ou seja, haveria apenas compressão.
Entretanto, uma avaliação do comportamento do bloco de forma geral, permitem verificar que estas
conclusões anteriores são incorretas e inadequadas. Analisando a situação real do comportamento
de um bloco já carregado, onde as estacas de suporte já apresentam deformações elásticas e mesmo
de fluência devido às cargas e ao tempo de atuação das mesmas, seguido do fato da implantação da
nova concretagem sobre estacas absolutamente descarregadas, recém cravadas ou implementadas, é
fácil concluir que ao serem aplicados novos carregamentos, considerando a absoluta rigidez do
novo bloco, as estacas descarregadas absorverão um adicional de cargas, conforme referencias
elementares da resistência dos materiais. Esta absorção de cargas diferenciada ocasionará
deformações iniciais nas novas estacas em relação a uma menor ou inexistente deformação das
estacas velhas. Esta diferença de deformações resultará na ocorrência de tensões cisalhantes entre os
dois concretos, tensões estas que deverão ser absorvidas apenas pelos pequenos dentes projetados.
Na realidade, os dentes não podem ser considerados suficientes, uma vez que a existência do
mesmo eleva apenas o coeficiente de atrito entre as superfícies e não a resistência dos elementos,
uma vez que em função de suas pequenas dimensões, os dentes não podem ser armados, ou seja, as
trações deverão ser equilibradas apenas pelo concreto, que claramente não tem capacidade de
suportar estes esforços.
O código Modelo da FIB (FIB, 2010) em seu capítulo 7, define a resistência ao cisalhamento entre
superfícies de concreto de diferentes idades não ligadas por armações. No texto referido, através da
equação 7.3.50 reproduzida abaixo, figura 4, é permitido estimar a tensão cisalhante resistente como
sendo a soma de duas parcelas, uma primeira representada por uma parcela (entre 0,5 e 0,025) da
tensão resistente de tração (fctd) e uma segunda representada por uma parcela da tensão normal (de
compressão) entre as duas superfícies de concreto. Neste segundo caso, se houver tração ou
compressão muito pequena o valor da parcela é zero. Ou seja, caso não haja uma compressão de
valor expressivo, a tensão cisalhante resistente tende a valores desprezíveis.
Figura 4 - Equação e tabela para a determinação de tensões cisalhantes resistentes sem armação (Fonte: Model
Code FIB 2010).
Esta primeira avaliação já denota que a solução apresentada é inadequada ao sistema, uma vez que
não é possível quantificar com absoluta precisão a resistência dos dentes, além de outros fatores,
pelo fato que estes dependem das propriedades do concreto velho, do concreto novo e sobretudo,
das condições de efetiva execução dos dentes, que necessitam ser cortados no concreto velho e
especialmente devido às suas pequenas dimensões (cerca de 20 mm) dificultam uma execução
precisa – tendem a quebrar as bordas comprometendo a formação de superfícies ortogonais.
Depende ainda das características de retração do concreto novo, que depende, de forma especial, de
uma relação água cimento com tendências de ser elevada, pela necessidade de uso de um concreto
de alta plasticidade devido às características e dificuldade de concretagem.
Este fato por si, já seria suficiente para denotar tratar-se de um projeto inadequado, entretanto, outro
fator fundamental deve ser considerado, ou seja, a elevada probabilidade de que ao se deformar, as
estacas novas o façam fora do prumo, ou seja, dependendo da rigidez da verticalidade da cravação
ou da maior deformabilidade do solo em um dos lados, caso as estacas se deformem na direção
horizontal em sentido oposto ao bloco original, ocorrerá tração entre as superfícies. Ou parâmetro a
ser considerado é a própria tendência de flexão do bloco resultante, formando tensões trativas em
sua região inferior, como pode ser demonstrado pelo modelo em elementos finitos apresentado na
figura 5 a seguir:
Figura 5 - Modelo em elementos finitos gerado no SAP 2000, mostrando tração na área azul (Fonte:
ENCOPETRO, 2017)
O modelo apresentado acima, claramente de maior precisão que o modelo de bielas e tirantes para o
caso em análise, mostra claramente que, sendo os modelos, reproduções simplificadas de casos
reais, os mesmos necessitam ser escolhidos com adequado cuidado, bem como, seus resultados
devem ser avaliados com entendimento efetivo de seu significado. A análise de um modelo
matemático requer profundo conhecimento do comportamento dos materiais utilizados, das
condições executivas e do comportamento e fluxo de cargas e tensões que deverão ser equilibrados
pelo elemento modelado.
O modelo tridimensional de bielas e tirantes, de forma geral é um modelo bastante simples, que
define com suficiente clareza e segurança os esforços principais dos elementos analisados, devido a
este fato, é um modelo considerado em diversas normatizações em todo o mundo, inclusive no
Brasil, entretanto, as regiões secundárias, necessitam ser analisadas de forma cuidadosa,
normalmente envolvendo posicionamento de armaduras mínimas, como ser considerado o exemplo
das vigas parede biapoiadas, onde aparentemente (vide figuras da NBR 6118) (ABNT, 2104) só
ocorrem tensões de tração na região inferior, entretanto, a própria norma exige a distribuição de
armaduras na horizontal e na vertical em toda a sua extensão. Este fato se deve à ocorrência de
campos de tensão não representados pelo modelo, mas que, não podem ser desprezados sob pena de
comprometimento de integridade e mesmo da segurança do elemento estrutural.
No caso em análise, uma situação de reforço de um bloco de coroamento por encamisamento, o
modelo tridimensional de bielas e tirantes não é recomendado, pois não consegue representar um
grande número de situações que comprometem a segurança do elemento estrutural, sendo assim
inadequado o seu uso.
Naturalmente que após as conclusões acima, a solução de reforço estrutural do bloco não foi
implementada, sendo substituída por outra solução em que a costura entre as superfícies de concreto
das diferentes idades foi adotada, de forma a garantir a integridade e adequada segurança dos
elementos estruturais envolvidos.
5. CONCLUSÕES
As reflexões apresentadas no presente trabalho indicam a importância da avaliação cuidadosa das
soluções propostas em qualquer das áreas da engenharia estrutural. Os modelos matemáticos, a cada
dia mais utilizados pelos programas de computador, constituem o caminho mais fácil e rápido para
os erros de interpretação de resultados e consequentemente para os erros executivos, que a cada dia
mais contribuem com o insucesso de muitas estruturas, que podem ter a ruína como seu destino
final ou a demanda por implantação de obras de recuperação e/ou reforço estrutural de elevados
custos como é o caso analisado.
A solução proposta no caso analisado, mostrou-se inadequada, deixando a estrutura em situação de
insuficiência estrutural, com elevado risco de ruína, o que não pode ser admitido na engenharia
estrutural. A interferência que resultou na implementação de armaduras de ligação foi fundamental
para o adequado comportamento da estrutura reforçada, submetida aos carregamentos previstos,
evitando a necessidade de reforço de uma estrutura reforçada.
A adequada análise do comportamento estrutural, mesmo em frente a resultados de modelos
matemáticos nos permite garantir a segurança e o adequado comportamento das estruturas
elaboradas em concreto armado, material ainda em fase de aprendizado, com elevado grau de
complexidade e de comportamento muitas vezes inesperado nos casos reais.
AGRADECIMENTOS
Agradecimento à equipe de trabalho da ENCOPETRO Engenharia Estrutural que nos ajuda a
encontrar as soluções dos problemas e a escrever estes artigos. Agradecimento aos colegas que
organizaram este evento, nos proporcionando a oportunidade de apresentação destas reflexões com
a finalidade de divulgação do conhecimento adquirido.
REFERÊNCIAS
[1] FIB – Federation International du Beton – Model Code – cap. 7 - 2010.
[2] NP-EN1504 – Produtos e Sistemas para Proteção e Reparação de Estruturas de Betão - Projeto de Estruturas
de Concreto – Caparica - 2006
[3] ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 6118/14 – Projeto de Estruturas de Concreto –
Procedimentos - Rio de Janeiro – 2014.
[4] ______ - NBR 6120/10 – Projeto e Execução de Fundações – Procedimentos - Rio de Janeiro – 2010.
[5] GAIOFATTO, RL. Emprego de software para dimensionamento estrutural I e II. In: Sohler, A. A. S.; Santos,
S. B. Projeto, Execução e Desempenho de Estruturas e Fundações. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna
Ltda., 2018. Cap. 6 e 7, p. 103-154.
[5] CAMPOS, J.C., Elementos de Fundações em Concreto – Oficina de Textos, São Paulo, 2015
[6] GAIOFATTO, RL. Os diversos tipos de Retração, 3º. Congresso de Engenharia - Juiz de Fora, 2008
ANÁLISE DAS DEFORMAÇÕES EM ESTRUTURAS DE PONTES
ATRAVÉS DO USO DE IMAGENS
Robson Luiz Gaiofatto*1, Luiz Araújo de Souza 2, Leonardo Correa 2, Victor Reis 2
Resumo: As pontes são estruturas de alto custo que, portanto, exigem adequada manutenção de
forma a garantir uma compatível vida útil. Quando não há a programação de manutenções e
intervenções nas pontes para evitar o desenvolvimento de patologias, estas acabam por provocar
transtorno e um custo social incalculável, vez que proporcionam a redução da capacidade de suporte
das estruturas, aumentando, consequentemente, suas deformações e deslocamentos. A fim de
minimizar estes danos, avaliações quanto ao comportamento da estrutura devem ser realizados com
adequada realidade, de forma a detectar precocemente danos que estejam ocorrendo e afetando o
comportamento da estrutura antes que estes danos venham a inviabilizar seu uso, ou mesmo a
causar acidentes e interrupções de utilização da estrutura. Desta forma, o presente estudo tem como
objetivo demonstrar os procedimentos e resultados obtidos com as análises das estruturas de três
pontes, localizadas nos municípios de Aracruz, Ibiraçu e Serra, no estado do Espírito Santo, através
da obtenção de imagens por câmeras fotográficas, posicionadas em pontos fixos externos à
estrutura, denominados Benchmark, sem qualquer interferência de vibrações ou deslocamentos
causados por elementos externos. Para viabilizar as análises, primeiramente foi feito o levantamento
geométrico das estruturas que tornou possível a identificação dos danos, verificação de falhas na
concretagem, fissuras, além da execução de ensaio esclerométrico, conforme a ABNT NBR
7584/12, para determinação da dureza superficial do concreto e posterior estimativa da resistência
do concreto existente nas estruturas. Tais pontes com sistemas construtivos diferenciados entre elas
encontram-se em atual funcionamento, porém, com claros danos em seus elementos de sustentação,
devido à ausência de um programa de manutenção. Desta forma, os deslocamentos monitorados e
analisados nas imagens foram obtidos através da passagem de um caminhão, denominado Tri-trem,
com capacidade máxima de carga de 74 tf + 5%, conforme especificação descrita na Resolução
104/98 da Lei 7.408/85 (conhecida como Lei da Balança), para melhor aproximação dos resultados.
Foram do mesmo modo obtidos os valores das acelerações das estruturas (vibrações), para possível
determinação da frequência natural, através da utilização de sistema captação de sinais de
vibrações. Desta forma, com a informações obtidas em campo, foram elaborados modelos
computacionais para determinar e comparar as condições de segurança e posterior comparação dos
resultados coletados pelas imagens com a passagem do caminhão. A realização destes ensaios e
análises possibilitou a determinação dos deslocamentos reais perante a solicitação que foi gerada
sobre as estruturas, mostrando-se bastante plausível e coerente, com a demonstração de valores
próximos dos esperados, de acordo com os modelos computacionais elaborados.
1. INTRODUÇÃO
Outro fator complicador para o comportamento das estruturas de pontes, é a alta incidência de
veículos com carregamentos acima do especificado em projeto. Este fato ocorre com grande
regularidade, de forma especial em estradas não federais, devido ao menor, ou nenhum, controle ou
fiscalização das cargas passantes. Estas cargas excessivas, tendem a fissurar a estrutura, reduzindo
sua rigidez e como consequência imediata ocasionando uma maior deformabilidade. Também o
estado de fissuração funciona como porta de entrada para agentes agressivos, de forma especial em
ambientes de elevada agressividade, comprometendo a integridade estrutural, ocasionando
acréscimo ainda maior das deformações.
Dentro deste aspecto, as estruturas com integridade comprometida, perdem rigidez, afetando sua
frequência natural, o que normalmente resulta em uma maior amplitude quando a estrutura é
submetida às frequências de excitação habituais. Este aumento de amplitude das respostas da
estrutura, ocasiona um acréscimo no estado de fissuração, comprometendo de forma crescente a
perda de rigidez.
Como pode ser observado, este processo é autoalimentado, comprometendo de forma drástica a
vida útil das estruturas.
Desta forma este trabalho busca propor métodos de maior simplicidade que permitam medir o
comportamento das estruturas sob a ação de cargas, reduzindo custos, margem de erros e
viabilizando o controle deste tipo de estrutura em um número muito maior de casos. A superposição
de fotografias de elevada resolução, através do uso de programas de editoração gráfica, é uma
técnica relativamente recente que permite substituir os extensômetros elétricos de resistência –
tecnologia em uso há cerca de 50 anos –, apresentando várias vantagens.
A obtenção das imagens segue regras que serão discutidas ao longo do presente texto e a análise
depende do levantamento geométrico da estrutura, incluindo mapeamento de danos, determinação
das características dos materiais constituintes e passagens repetidas de veículos com geometria e
cargas conhecidas por medições de suficiente precisão.
2. OBJETIVO
Este trabalho tem como objetivo aplicar uma nova metodologia na avaliação de estruturas reais de
pontes localizadas nos municípios de Aracruz e Ibiraçu, no estado do Espírito Santo, para um
veículo tri-trem, verificando o comportamento das estruturas através de ensaios de caracterização
dos materiais, inspeção de danos estruturais e medições de deformações sob a ação de cargas
conhecidas, visando a determinação do grau de segurança das estruturas. A motivação dos ensaios
foi relacionada à limitação de carga nas pontes, devido a processos de deterioração constatados que
impedem a passagem dos veículos analisados.
Em todos os casos as verificações incluíram valores limites estipulados pela chamada “Lei da
Balança” (BRASIL, 1985) e verificações com veículos reais, com cargas no limite verificado por
balanças devidamente aferidas.
Em função dos problemas expostos, na maioria dos casos reais, as deformações são medidas através
de extensômetros elétricos de resistência (EER) fixados à estrutura nos pontos que se espera ocorrer
a maior deformação. Esta técnica, já bastante arraigada nos costumes da engenharia nacional,
apresenta dificuldade de fixação – dependente em muitos casos de mão de obra não suficientemente
qualificada, devido à dificuldade de acesso (em muitos casos o operador trabalha pendurado em
cordas – rapel), a necessidade de equipamentos de ampliação, captação e tratamento de sinais
elétricos diminutos, além de outros procedimentos de execução difícil que comprometem uma
hipotética precisão dos resultados. Devido a estes fatores, regularmente o processo tende a acumular
erros e comprometer os resultados. O sistema descrito, geralmente apresenta precisão de medida da
ordem do milésimo do milímetro, ou seja, do micrometro, aparentemente muito elevada, mas
absolutamente desnecessária para as análises requeridas.
Dentro desta realidade, é bastante simples observar que uma estrutura de ponte exposta a condições
reais de utilização, por dezenas de anos exposta a ambientes de elevada agressividade, sem qualquer
proteção e/ou manutenção e ainda, submetida a carregamentos consideravelmente superiores
àqueles estipulados nos projetos, tende a sofrer danos significativos, com elevado risco de ruína.
Esta realidade leva à necessidade de uma análise de comportamento estrutural através de medições
de seu comportamento quando submetidas a cargas conhecidas, sem necessidade de grande precisão
quanto às leituras – precisão da ordem do centímetro é bastante satisfatória – que permita uma
adequada e segura avaliação de seu comportamento, sem a demanda de equipamento sofisticados e
custos excessivos, viabilizando a realização deste acompanhamento de forma mais habitual.
Como alternativa a estes métodos, o avanço da tecnologia nos permite atualmente, obter fotos com
elevado grau de resolução, que por sobreposição, quando avaliadas em programas de editoração
gráfica em computadores, resultam na obtenção de medidas de deformações de um determinado
elemento da estrutura com precisão da ordem do centésimo do centímetro, como visto, suficiente
aos objetivos previstos.
4. DESCRIÇÃO DA ESTRUTURA
Tendo em vista uma melhor apresentação do problema, será concentrada a descrição na estrutura
composta por um tabuleiro em concreto armado composto por uma laje com seção trapezoidal, com
extensão de 27,50 m, sendo um balanço de 5 m em cada extremidade e um vão central de 17,50 m,
com uma largura total de 10,9 m, sendo dois passeios de 1,35 m e uma caixa de pista de 8,20 m. O
tabuleiro é apoiado em quatro pilares de 50 x 80 cm sendo que a distância entre eixos dos pilares é
de 3,60 m na transversal e 17,50 m na longitudinal. A laje tem espessura de 45 cm na região central
e variável até 15 cm no extremo dos passeios. A faixa variável em cada lateral tem 3,25 m.
Nas duas cabeceiras existem lajes de transição com extensão de 2,0 m e largura integral da ponte
(10,90 m) apoiadas originalmente em aterro, como se mantem na cabeceira sul, do lado do Sesc
(lado Vitória), enquanto está parcialmente apoiada em enrocamento na cabeceira norte (lado
Aracruz).
Naquele período, uma ponte projetada como sendo de classe 30 tf, considerava um veículo tipo de 6
rodas com 5 tf por roda, associado a uma carga distribuída de 500 kgf/m2 nas áreas frontais e
posteriores.
Por outro lado, sabe-se que concretos com idade superior a 30 anos apresentavam um ganho de
resistência significativo a longas idades, normalmente sendo projetados com 15 ou 20 MPa, uma
vez que os cimentos utilizados àquela época eram mais ricos em C2S (Silicato bi cálcico) e mais
pobres em C3S (Silicato tri cálcico) do que os atuais. Assim sendo, é bastante natural que os ensaios
de esclerometria realizados na face inferior da laje e nas laterais dos pilares, durante as atuais
investigações, tenham apontado para resistência à compressão de 40 MPa. Os ensaios realizados
ocorreram em conformidade com a NBR 7582 (ABNT, 2012) com a utilização de esclerômetro tipo
Schimidt N/NR da Proceq AS Zurich.
Uma inspeção cuidadosa da estrutura em sua face inferior, efetuada a partir de barco, denotou que o
tabuleiro é uma estrutura com concreto de muito boa aparência, sem qualquer fissura estrutural,
danificado apenas por exposição de pequena quantidade de armaduras e uma pequena fissura
resultante da expansão das armaduras despassivadas.
Por outro lado, os pilares com comprimento de cerca de 4 m até o leito do canal, zona de desague
do Rio Laranjeiras no oceano Atlântico, apresenta desplacamento do concreto de cobrimento, com
exposição de suas armaduras compostas originalmente por 18 barras de 20 mm, posicionadas no
interior de sua seção de 50 x 80 cm, conforme distribuição mostrada a seguir. Uma inspeção
detalhada mostrou que as barras remanescentes, em sua maioria, podem ser consideradas a favor da
segurança com seção equivalente a uma barra de 10 mm:
Figura 3 - Detalhe da distribuição das armaduras no interior dos pilares, obtida por pacometria (Fonte: Autores,
2018).
5. MATERIAIS E MÉTODOS
O processo de avaliação da capacidade de suporte das pontes teve início pelo levantamento
geométrico detalhado de cada uma das estruturas, consistindo inicialmente na determinação e
localização de danos (fissuras, falhas de concretagem ou deformações), bem como da caracterização
do concreto existente por ensaios de esclerometria, com a utilização de esclerômetro tipo Schimidt
N/NR da Proceq AS Zurich, realizados em conformidade com a NBR 7584/12.
Também foram inspecionadas as armaduras principais quanto ao tipo (pequena abertura localizada e
posteriormente reparada com graute), quantidade e posição por pacometria. Foram constatados
vários estribos rompidos e barras longitudinais com comprometimento de seção superior a 50%.
Estes fatores foram considerados na construção dos modelos.
Com base nas informações obtidas, foi construído modelo numérico computacional, através do
programa SAP 2000 V.19.2.2 (análise não linear) (SAP 2000, 2018) e/ou outro software de análise
estrutural que se aplica de forma mais adequada (análise de tabuleiro via Eberick 2018), em especial
para a pequena ponte na região do SESC. Estes modelos foram avaliados sob a ação do trem tipo
definido para cada veículo conforme a norma de balanças, acima mencionada, sendo definida a
margem de segurança de cada estrutura para este tipo de carregamento.
Após determinação de adequada condição de segurança indicada no modelo computacional, foi
realizado ensaio de campo com a passagem do trem-tipo devidamente calibrado.
Para este ensaio, foi montado na região da ponte, porém fora de eventuais vibrações transmitidas
pela estrutura, sistema de aquisição de imagens calibrado para a ponte descarregada, que permitiu a
captação das deformações, com precisão de centésimo de centímetro (décimo do milímetro), que
foram geradas pela passagem do veículo tipo. Esta captação foi realizada pela passagem por pelo
menos três vezes, podendo ocorrer em velocidades variadas conforme as velocidades compatíveis
com a ponte.
As deformações registradas foram comparadas com aquelas esperadas conforme a modelagem
computacional, desde que dentro dos limites permitidos pela NBR 6118 (ABNT, 2014), de forma a
ser possível definir o grau de segurança da estrutura.
O sistema de aquisição de dados consistiu na filmagem da passagem do caminhão padrão, que
consistiu de um tri-trem carregado e pesado com 77 tf totais, através de câmara de elevada
resolução em 4K, com no mínimo 5 Mpixel. O caminhão com as cargas distribuídas conforme
esquema abaixo.
Figura 4 - Modelo de carga total atuante – carreta integralmente sobre a ponte (Fonte: Autores, 2018).
Figura 5 - Equipamento de aquisição de dados isolado da rodovia (Fonte: Autores, 2018).
6. RESULTADOS
Os resultados obtidos pela sobreposição das fotos permitiram verificar valores semelhantes aos
esperados nas modelagens, na maioria das vezes com margens de erro inferiores aos 10%, o que
pode ser considerado perfeitamente aceitável. Naturalmente deve ser considerado que na
modelagem foram consideradas propriedades dos materiais obtidas nos ensaios de caracterização,
bem como, na determinação dos momentos de inércia foram consideradas reduções compatíveis
com o grau de fissuramento da estrutura observado e mapeado no local. É importante ressaltar que
uma adequada modelagem permitirá a obtenção de resultados de mais elevada qualidade, evitando
erros que podem resultar em conclusões inadequadas e mesmo perigosas.
Neste aspecto, é fundamental observar que as análises permitiram concluir que a carreta analisada,
com cerca de 77 tf, distribuídos nos vários eixos, conforme demonstrado acima, não ocasionou
comportamento inadequado na estrutura, enquanto que o trem tipo de 45 tf, conforme estipulado na
NBR 7188 (ABNT, 2013), ocasionaria deformações muito superiores, em função da distribuição
das cargas, sendo, portanto, inaceitável a utilização da ponte para este carregamento. Aplicando-se
cargas inferiores no mesmo modelo do ter tipo definido na norma acima mencionada, o máximo
admissível para a estrutura analisada seria o uso de 27 tf, distribuídos em 6 rodas de 4,5 tf,
majoradas pelos mesmos critérios utilizados para o trem tipo de 45 tf. Desta forma a placa de
capacidade máxima de 23 tf existente no local é coerente, embora, esta carga seja limitada pela
forma da distribuição e não pelo seu valor absoluto.
Figura 6 - Compilação dos resultados através da sobreposição de imagens (Fonte: Autores, 2018).
O método foi aplicado em outras duas pontes, que deixam de ser descritas no presente trabalho, mas
que reforçam a qualidade dos resultados obtidos em presença dos valores esperados por modelos
matemáticos adequadamente aferidos e ajustados.
7. CONCLUSÕES
O trabalho desenvolvido, que relata uma experiência real, mostra a contínua necessidade de
aplicação de novas tecnologias que permitem avanços significativos nas atividades da Engenharia.
A utilização dos métodos de medição das deformações de uma estrutura com base na sobreposição
de imagens, associada a levantamentos de dados locais e desenvolvimento de modelos
adequadamente aferidos da estrutura, denota a qualidade dos resultados obtidos, com a utilização de
uma metodologia bastante mais simples e econômica do que o uso dos extensômetros elétricos de
resistência, de complexa instalação e mais suscetíveis a erros devido à dificuldade de leitura e
ajustes de sinais elétricos de pequena valoração.
Com base nesta metodologia é confiável afirmar a segurança da estrutura com base em uma análise
confiável do comportamento da estrutura, verificada efetivamente à carga máxima prevista, com
possibilidade de determinação dos coeficientes de segurança considerados adequados a cada
estrutura.
O método descrito, permite ser revisto e corrigido inúmeras vezes, em função de tratar-se da
captação de imagens que constituem um filme que não se perde, onde é possível observar na foto o
momento exato da passagem das cargas em cada posição adotada no modelo matemático
comparativo. Esta situação permite aferir o modelo matemático para várias situações de
carregamento e a partir do mesmo simular uma infinidade de outras situações de carregamento com
muito mais elevada precisão.
Finalmente, deve ser considerado que trata-se de uma tecnologia simples, hoje disponível para a
maioria dos engenheiros, com custo bastante reduzido em relação às forma anteriores e portanto, de
maior aplicabilidade.
AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS
[1] FIB – Federation International du Beton – Model Code – cap. 7 - 2010.
[2] ABNT -Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 6118/14 – Projeto de Estruturas de Concreto –
Procedimentos - Rio de Janeiro – 2014.
[3] ______ - NBR 6120 – Projeto e Execução de Fundações – Procedimentos - Rio de Janeiro – 2010.
[4] ______ - NBR 7188 – Cargas móvel rodoviária e de pedestres em pontes, viadutos, passarelas e outras
estruturas – Rio de Janeiro, 2013
[5] ______ - NBR 7187 – Projeto de Pontes em Concreto Armado e Concreto Protendido – Procedimentos – Rio
de Janeiro, 2003
[6] ______ - NBR 9452 – Vistoria de Pontes e Viadutos de Concreto – Procedimentos - Rio de Janeiro, 2012
[7] ______ - NBR 7584 – Concreto Endurecido – Avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão –
Método de Ensaio – Rio de Janeiro, 2012.
[8] Manual do SAP 2000 – V.20 – CSI Computers and Structures - EUA, 2017
[9] GAIOFATTO, RL. Os diversos tipos de Retração, 3º. Congresso de Engenharia - Juiz de Fora, 2008
[10] BRASIL. Lei n. 7.408, de 25 de nov. de 1985. Permite a tolerância de 5% (cinco por cento) na pesagem de
carga em veículos de transporte. Brasília, DF, nov. 1985.
REVISÃO DO MAPA DE PERIGO E RISCO DE ESCORREGAMENTO DO
P.M.R.R DO 1º DISTRITO DE PETRÓPOLIS CONSIDERANDO O NSPT DOS
TERRENOS
Revision of the danger map and slip risk of P.M.R.R of the 1st district of Petrópolis
considering the NSPT of the lands
Victor Reis de Jesus 1, Maria Bernadete Luciano Lopes 2, Leonardo de Souza Corrêa 3
1 ENCOPETRO Engenharia Estrutural, Petrópolis, Brasil, vrjeng@gmail.com
2
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil
3
Leonardo de Souza Corrêa, Petrópolis, Brasil, leo.s.c@hotmail.com
Com o desenvolvimento dos mapas, busca-se integrá-los para que sejam feitas as análises dos
resultados obtidos com a suscetibilidade e a vulnerabilidade de uma dada região, sendo assim
criados:
Mapa de Perigo ou Suscetibilidade;
Mapa de Risco ou Vulnerabilidade.
3. ÁREA DE ESTUDO
A Serra dos Órgãos, que localmente é também chamada e conhecida como Serra do Mar, tem como
característica a sua formação rochosa e suas escarpas abruptas, de maneira que os rios naturalmente
correm por entre os vales que foram formados ao longo do tempo, caracterizando o relevo da
Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro. Com isso, percebe-se que nos tempos de implantação
do Plano Koeller, ano de 1846, já existia a eminente preocupação com a forma de ocupação da
cidade, sendo que a ocupação era planejada para ser de forma tentacular, seguindo os rios da cidade,
sem prejudicar seu escoamento natural.
Fig.1- Imagem da Vila Imperial, planejada e realizada por JULIO FREDERICO KOELLER (1861).
Assim, a cidade de Petrópolis, na atualidade, apresenta como característica principal, as ocupações
das encostas e vales de forma irregular, tanto as moradias de alto padrão construtivo, quanto as de
péssimos padrões construtivos, que se instalaram em várzeas, encostas, zonas de depósito de tálus-
colúvio, todas as regiões sujeitas a enchentes e escorregamentos.
3.1. Equações
O município de Petrópolis localiza-se ao norte da cidade do Rio de Janeiro, cujas coordenadas
geográficas de longitudes são 43° 04’ – 43° 14’ W e latitudes 22° 33’ – 22° 35’ S, sendo sua
altitude média de 845 metros, abrangendo uma área de 811 km².
A cidade de Petrópolis que está distante 60 km ao norte da cidade do Rio de Janeiro, implantada
sobre a Serra do Mar e Serra dos Órgãos, tem como característica do relevo local a presença de
muitas encostas que variam sua inclinação de 5° a 60°, se mostrando bastante acidentada a área de
ocupação da cidade.
Segundo dados do IBGE (2010)[2] a cidade de Petrópolis tem 295.917 habitantes, com progressão
para o ano de 2016 de aproximadamente 298.142 habitantes, sendo que a maioria esmagadora da
população se encontra situada em áreas urbanas, com aproximadamente 97,5% da população total
(cerca de 288.519 habitantes).
Quanto ao tipo de clima, segundo a classificação climática proposta por NIMER (1989)[3], a área
de estudo apresenta o clima mesotérmico brando superúmido. A precipitação média anual é de
2.200 mm, com temperaturas inferiores a 18ºC no inverno (julho) e de 21ºC no verão (fevereiro) e a
umidade atmosférica varia em torno de 83% ao longo do ano.
A litologia da área de estudo é constituída predominantemente por rochas pertencentes ao complexo
granítico-gnáissico-migmatítico de idade Pré-Cambriana. Estas rochas encontram-se intensamente
seccionadas por fraturas e falhas de extensão regional, com forte reflexo na topografia, pois toda
região de abrangência destas unidades foi submetida a eventos tectônicos caracterizados durante o
período Pré-Cambriano (DRM, 1981; PENHA et al, 1981)[4].
Os estudos que aqui serão realizados estarão voltados para o 1º Distrito de Petrópolis, que possui a
maior concentração de casas e ocupações. Através dos dados obtidos no censo do IBGE (2010), a
população do 1º Distrito é de 188.644.
Segundo GUERRA et al. (2007)[5] a ocupação e implantação do município ocorreu sobre rochas
bastante falhadas e fraturas, características históricas da região, sobre encostas íngremes, possuindo
também em alguns pontos, perfis de solos bastante profundos.
4. ÁREA DE ESTUDO
Como ideia principal desta pesquisa, buscou-se analisar o que a resistência à penetração por golpes
nas sondagens à percussão poderia influenciar nas condicionantes de caracterização das áreas de
risco. Sendo assim, os boletins gerados por campanhas realizadas dentro do 1º Distrito, foram todos
reunidos, caracterizando a região em sua integralidade.
Foram reunidos exatamente 309 (trezentos e nove) relatórios de sondagem, sendo estes de
sondagens de simples reconhecimento à percussão ou até mesmo com sondagem mista. Tais
boletins foram cedidos pela empresa Theopratique Obras e Serviços de Engenharia e Arquitetura
Ltda., a qual forneceu todo tipo de acesso a materiais de estudo e apoio para elaboração desta
pesquisa.
Para a determinação das quantidades de boletins de sondagem para cada região e consequente
posicionamento geográfico dos mesmos foi utilizado o sistema de coordenadas Universal
Transversa de Mercator (UTM), sendo estas mais comumente utilizadas em georeferenciamento.
Para cada campanha de sondagem que foi realizada pela empresa, obteve-se uma coordenada
correspondente, sendo estas posicionadas no Google Earth Pro, de maneira que pudesse ser definida
a sua área de influência no entorno da prospecção.
Tabela 1 - Quadro de probabilidades associadas à característica interna dos solos prospectados. (VARANDA,2006).
DESCRIÇÃO - SOLOS
DESCRIÇÃO - SOLOS ARENOSOS OU SILTE PROBABILIDADE PROBABILIDA
ARGILOSOS OU SILTE
ARENOSOS (COMPACIDADE) DEDUZIDA DE DEDUZIDA
ARGILOSOS (CONSISTÊNCIA)
Fig.3- Teorema de Bayes com as condicionantes adotadas para ocorrência do evento ou não.
Tabela 2 - Valores de Probabilidade Inicial (frequência relativa) dos escorregamentos, adaptados para o 1º Distrito de
Petrópolis (OLIVEIRA, 2004)[6].
OCORRÊNCIA PROBABILIDAD
REGIÕES
ACIDENTES/REGIÃO E INICIAL P(H)
Alto da Serra 107 1,44 E-01
Bingen 118 1,59 E-01
Castelânea 18 2,42 E-02
Fig.4- Mapa de Suscetibilidade ou Perigo elaborado com a integração dos mapas e síntese de dados
probabilísticos.
5.1. Mapa de Risco
Para o mapa de risco, todos os pontos retratados demonstram quais as consequências que podem ser
geradas devido à má utilização, ocupação e qualquer condição suscetível que se encontra, sendo tais
consequências ligadas às vidas humanas em constante contato.
O MINISTÉRIO DAS CIDADES (2006)[7] afirma que o mapeamento de risco tem duas vertentes,
sendo estas: o zoneamento (ou setorização) dos riscos para as áreas que são retratadas à análise, ou
então, o cadastramento de risco das áreas para elaboração de um banco de dados. Mais comumente
utilizado o zoneamento, admite que as moradias na área em análise possuam um determinado grau
de risco, como exemplo, considera-se um risco muito alto. Mas, como se sabe, existem boas
edificações em meio a essas áreas, sendo assim, não se pode deixar que seja reduzido o risco para
tal localidade, determina-se deste modo uma generalização de risco.
A elaboração de tal mapa é realizada através da correlação entre os mapas de suscetibilidade e
vulnerabilidade.
Logo, foi elaborado um mapa de estado natural classificado este como Mapa de Padrões
Construtivos (ECOTEMA, 2001)[8].
Este mapa foi feito com base em um levantamento das condições de moradias dos habitantes nas
diversas áreas abrangentes do 1º Distrito de Petrópolis, demonstrando assim quais as características
e qualidade das moradias.
Tabela 5 - Probabilidade deduzida para classificação dos padrões construtivos (VARANDA, 2006).
PROBABILIDADE
PADRÃO CLASSES
DEDUZIDA
I 0,01
Alto
II 0,01
Médio a Alto III 0,1
Médio IV 0,1
Baixo V 0,5
Muito Baixo VI 0,7
Péssimo VII 0,9
Partindo da integração temática entre o Mapa de Perigo já incluído o novo parâmetro e o Mapa de
Padrões Construtivos, são gerados dados, probabilidades de ocorrência para tal evento.
Fig.5- Mapa de Padrões Construtivos – 1º Distrito de Petrópolis.
Tabela 6 - Demonstrativo do cálculo de risco individual para cada área onde se adota 0,6 de vulnerabilidade temporal.
PROABILIDADE
PROBABILIDADE DEDUZIDA DE RISCO
REGIÕES
MAPA DE PERIGO PADRÃO ANUAL
CONSTRUTIVO
Alto da Serra 6,07 E-03 0,9 5,46 E-03
Bingen 2,64 E-05 0,5 1,32 E-05
Castelànea 1,74 E-03 0,7 1,22 E-03
Centro 2,64 E-05 0,9 2,38 E-05
Estrada da Saudade 5,21 E-02 0,1 5,21 E-03
Floresta 2,38 E-04 0,1 2,38 E-05
Independência 2,31 E-02 0,9 2,08 E-02
Mosela 2,30 E-03 0,7 1,61 E-03
Quitandinha 1,12 E-03 0,5 5,60 E-04
Retiro 2,64 E-05 0,5 1,32 E-05
São Sebastião 1,12 E-02 0,9 1,00 E-02
Valparaíso 3,31 E-02 0,9 2,98 E-02
As cores na representação do Risco Anual indicam a condição de risco apresentada para a hipótese
estudada. Sendo risco muito alto (roxo), alto (azul escuro), médio (azul claro) e baixo (preto).
6. COMENTÁRIOS E CONCLUSÕES
Dentro da ideia de que foi feita a adição de um novo parâmetro ao PMRR, percebe-se que, para o
desenvolvimento deste estudo se faz necessária uma grande aglomeração de relatórios de
sondagens, pois os mesmos são executados em pequenas áreas (pontos), consequentemente precisa-
se de uma malha de campanhas executadas por toda a área a fim de proporcionar uma melhor
identificação das características do solo e também para ser possível a criação de um mapa de
sondagens. Ou seja, tais investigações devem compreender toda a área de estudo em quantidades
que possibilitem a criação de manchas circunscritas através da integração dos mapas com os demais
parâmetros empregados neste estudo.
Sendo assim, para tal estudo, foi verificado que, para as regiões em que não existe execução de
sondagens, há a necessidade de adotar o valor de probabilidade incerta (p=0,5) devido ao
desconhecimento do solo nestes pontos onde não foram feitas investigações, isto é, para se analisar
o que o novo parâmetro NSPT irá proporcionar de modificação, deve-se fazer a exclusão das áreas
desconhecidas, para que se torne possível perceber apenas o que foi alterado nas proximidades dos
furos de sondagem, tanto para o mapa de suscetibilidade (perigo) quanto para o mapa de
vulnerabilidade (risco).
Pode-se dizer então, que este método empregado na revisão do PMRR é um método que vai
possibilitar a atualização dos dados de perigo e, consequentemente, os de risco, visto que o novo
parâmetro será levado em conta no mapa de perigo e apenas nas áreas ocupadas, para ter uma
melhor condição de análise das informações.
O que se pode perceber após este farto estudo é que, devido às condições de sondagem que foram
analisadas nas áreas acima, tem-se que para algumas localidades, devido a suposição de os
escorregamentos ocorrerem em camadas rasas, até 4 (quatro) metros de profundidade, determinados
pontos em que os furos paralisaram recentemente devido a presença de blocos de rocha ou matacão,
sendo assim, a probabilidade foi reduzida, devido aos maiores índices de SPT[7], enquanto em
regiões de depósito, mais comumente encontradas em vales, com profundidades de camada de solo
depositado maiores, os SPT foram menores, ocasionando em uma probabilidade elevada e
consequente atenuação do perigo e posterior risco.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] VARANDA E. Mapeamento Quantitativo de Risco para o 1º Distrito de Petrópolis utilizando Sistemas de
Informações Geográficas. Dissertação (Mestrado em Ciências em Engenharia Civil) – COPPE,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
[6] OLIVEIRA, L. C. D. de Análise Quantitativa de Risco de Movimentos de Massa com Emprego de Estatística
Bayesiana. Tese (Doutorado em Ciências em Engenharia Civil) – COPPE, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.
Proposal for structural recovery for a modern heritage building – Case study
Abstract: In Brazil, there is still little research related to the restoration of the modern heritage,
mainly involving recovery of the apparent concrete structure. Since concrete technology has
advanced a lot in recent years, finding the right technique for each type of recovery is no easy task.
This article aims to demonstrate proposals for the recovery of a structure located in Petropolis city,
in the mountain region of Rio de Janeiro. The modernist example studied is the Raul de Leoni
Culture Center, built in 1977, with characteristics of Brutalism, a modernist line that made use of
orthogonal lines and planes in gross volumes of apparent concrete. The building has value, being
the only exemplary of its style in the set of built cultural heritage of the city. Like any buildings
owned by the government, it suffers from the action of weather, presenting pathologies associated
with its stylistic characteristics and others more specific, concerning the execution and location. The
41-year-old apparent concrete structure presents the usual problems of these structures, such as
corrosion points of the reinforcement, infiltration problems that cause carbonation of the concrete,
among others associated with issues of misuse and lack of maintenance. The objective of this paper
is to evaluate the existing pathologies, to discuss their causes and to understand practicable ways of
revitalizing and maintaining the building for a period of time compatible with its cultural
importance, especially when in the presence of all the others of a much higher age. The study is
based on surveys conducted locally, non-destructive testing, besides academic research in the
laboratories of the Catholic University of Petropolis.
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objeto a obra que constitui o centro cultural municipal de Petrópolis,
conhecido como Centro de Cultura Raul de Leoni. O objetivo principal é, a partir da identificação e
análise dos principais danos e suas causas, que ameaçam a integridade da edificação – consequentes
da falta de manutenção -, propor soluções adequadas para sua recuperação estrutural.
Para tal, fez-se necessária uma pesquisa histórica e análise multidisciplinar desta construção com a
finalidade de compreender integralmente suas condicionantes materiais – necessidade esta
enfatizada pelo fato de que se trata de componente arquitetônico do Conjunto Urbano-Paisagístico
tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico – IPHAN em Petrópolis, estado do Rio
de Janeiro.
Sendo assim, todas as indicações aqui propostas visam atender não só as normas técnicas vigentes
que balizam soluções de recuperação estrutural, mas também às diretrizes de procedimentos de
recuperação e conservação para bens tombados edificados do patrimônio cultural modernista.
Localizado na Praça Visconde de Mauá - Centro Histórico de Petrópolis – RJ -, foi construído entre
os anos de 1974 e 1977 - anterior à inclusão da Rua da Imperatriz e da referida Praça na 1ª extensão
do Conjunto Urbano-Paisagístico da Avenida Koeler, promovido pelo IPHAN em 1980.
Figura 1 - Praça Visconde de Mauá, Centro de Petrópolis-RJ. Destaca-se, à direita, o Centro de Cultura Raul de
Leoni (Fonte: FACHETTI, 2018.)
A edificação objeto de estudo possui estilo arquitetônico brutalista, desenvolvendo-se num grande
bloco horizontal em concreto armado aparente, criando contraste com o conjunto arquitetônico do
entorno imediato. Foi erguida com a finalidade de substituir o antigo e, à época, deteriorado prédio
da Biblioteca Municipal de Petrópolis (em estilo protoeclético) datado do fim da segunda metade do
século XIX. A nova edificação foi projetada para abrigar espaços além de uma biblioteca, sendo o
maior polo cultural do município e o maior centro cultural da Região Serrana (Azevedo, 2012, p. 8-
10).
Até 2016, foi sede da Fundação de Cultura e Turismo de Petrópolis, mas mantém-se casa da
Biblioteca Central Municipal Gabriela Mistral (que conta com140 mil exemplares, sendo a terceira
maior do Estado); sedia a Academia Brasileira de Poesia; possui quatro espaços destinados às artes
visuais – Galeria Aloísio Magalhães, Galeria Van Djik, Galeria Djanira e um espaço alternativo.
Também há nesta edificação o Teatro Afonso Arinos – localizado no 3º pavimento, com capacidade
de 150 lugares, foi por décadas o principal espaço de exibições de música e teatro da cidade. A Sala
Guiomar Novaes é utilizada para ensaios, apresentações de menor porte e oficinas; a Sala Sylvia
Orthof é destinada ao Ateliê de Cursos; o Cinema Humberto Mauro (de pequeno porte); e, adjacente
a este, uma sala multiuso, configurada há algum tempo como sala de aula tradicional, destinada a
cursos e palestras para a comunidade (Azevedo, 2012, p. 8-10).
De autoria dos arquitetos Césare Migliari e Edmundo Lustosa (AZEVEDO, 2012), não faz
quaisquer referências à volumetria, estilo, materiais ou sistema construtivo que caracterizavam o
prédio da antiga Biblioteca Municipal – o que demonstra claramente sua inserção tardia no nobre
trecho do Centro Histórico da cidade (e bem distante do risco de causar um falso histórico), vizinho
ao Museu Imperial, neoclássico, ao Palácio Amarelo e ao Centro de Capacitação Frei Memória,
ambos ecléticos.
O Centro Cultural tem proporções marcantes, formas retilíneas, que destacam os planos em
concreto armado aparente. Possui três acessos externos ao público, estando o principal elevado da
via, voltado para a Praça Visconde de Mauá e destacado por uma grande escadaria. Há outros dois
acessos térreos, caracterizados por esquadrias em estrutura metálica e vidro fumê, estando uma
adjacente à principal (também voltada para a referida praça) e a outra, abrindo-se diretamente para o
passeio de pedestres da Rua da Imperatriz. Este último é protegido por uma pérgola também
comporta por elementos em concreto armado de seção retangular. Além destes, há outros dois
acessos por escadas localizados nas extremidades da edificação, mas que permanecem inutilizados
há alguns anos.
A cromática utilizada na edificação, predominando os tons de cinza e marrom, provoca contraste
em relação aos demais elementos arquitetônicos do Centro Histórico de Petrópolis, contudo,
integra-se ao componente paisagístico do ambiente natural de mata preservada e montanhas, que
emolduram todo estre trecho da cidade.
Desde sua construção, o Centro apresenta detalhes construtivos que não obedecem ao projeto
original, apresentando falhas de execução apontados em documentos oficiais, apresentados ao
Prefeito Dr. Paulo A. Rattes, em 1976. Após sua inauguração, novas dependências foram instaladas
no prédio, como consta no Diário de Petrópolis do dia 13/05/1998.
No decurso do processo completo de construção, salas foram construídas sem padrões
arquitetônicos e parâmetros de conforto térmico e acústico, estando hoje inutilizadas por falta de
adequações para vivência dos usuários por longas horas. Havia a previsão de um teatro para três mil
expectadores, que seria anexo ao prédio existente (no trecho de terreno entre este e o Palácio
Amarelo, voltado para a Praça Visconde de Mauá) e interligado ao mesmo por uma passarela em
vidro (Azevedo, 2012, p. 8-10).
Portanto, este trabalho, além de propor soluções para mitigar as manifestações patológicas
estruturais encontradas, visando propor sua recuperação, embasará futuramente um projeto
completo de conservação e restauro para este bem cultural edificado.
Figura 2 - Fachada lateral do Centro de Cultura Raul de Leoni, mostrando inúmeras manchas derivadas dos
processos de umidades ascendente e descendente, como também sujidades de modo geral, causadas pela
drenagem inadequada e ações de intempéries (Fonte: FACHETTI ,2018).
Figura 3 - Ponto de estufamento do concreto, devido ao aumento de volume do aço interno, em processo de
corrosão (despassivação) (Fonte: FACHETTI, 2018).
Estes fatos associados a um cobrimento insuficiente de armadura - além das falhas executivas,
mesmo em função de valores reduzidos especificados pelas normas técnicas da época do projeto e
construção (ver NB-1, ABNT, 1960) - faz com que a perda de passividade da armadura ocorra em
tempo muito menor do que seria possível com o atual conhecimento da tecnologia do concreto.
Deve ser ainda considerado que o concreto poroso, com elevada quantidade de água em seu interior,
funciona como um eletrólito de alta qualidade para a passagem da corrente elétrica formada pela
diferença de potencial, ocasionada por zonas de diferentes valores de pH. O somatório de todos
estes processos resulta em um avanço acelerado do estado de deterioração, com consequente perda
de integridade da estrutura que, com o passar do tempo, sem as adequadas intervenções, certamente
atingirá um estado de comprometimento de sua segurança estrutural, em curto prazo.
A questão da segurança estrutural foi avaliada cuidadosamente, permitindo a conclusão de que em
função do sistema estrutural adotado, as caixas auto portantes, que sustentam a estrutura de forma
geral, apesar das armaduras expostas e fissuras originadas pelos processos de retração do concreto
(GAIOFATTO, 2008), a estrutura não apresenta comprometimento de sua estabilidade global,
entretanto, alguns elementos isolados apresentam elevado comprometimento de sua integridade e já
mostram sinais de aproximação do limite de capacidade portante, exigindo medidas de escoramento
emergenciais.
Como foi possível observar nas vistorias realizadas para a pesquisa na qual se baseia este trabalho,
os danos aparecem, em sua maioria, na parte externa, sendo o trecho inferior da estrutura aquele
mais comprometido, como mostra a figura 4. Este fato está associado à menor qualidade do
adensamento das paredes em sua parte inferior, à ascensão da água por capilaridade e à menor
proteção superficial. Nos trechos mais elevadas, bem como no interior do edifício, os danos são em
menor quantidade e resultantes, de forma geral: falhas de execução no cobrimento das armações; e à
carbonatação, que permite a ocorrência da corrosão pela perda da película passivante das barras de
aço no interior do concreto armado.
Figura 4 - Trecho inferior da fachada principal do prédio, próximo a um dos jardins, com vários pontos de
armadura exposta (Fonte: FACHETTI, 2018).
5. CONCLUSÃO
Mesmo que sejam sanados os danos estruturais, através de estudos aprofundados – que permitam
intervenções minimalistas, em acordo com todas as recomendações técnicas e teóricas que
embasam os melhores procedimentos de conservação e restauro de bens tombados edificados –,
estas não serão suficientes para evitar que a deterioração retorne, uma vez que a inadequada
utilização da edificação incentiva estes acontecimentos indesejados.
Desta forma, entende-se essencial que seja desenvolvido um projeto arquitetônico completo de
revitalização e requalificação do Centro de Cultura Raul de Leoni, voltado para a renovação de
todos os espaços – abertos ao público e/ou destinados a uso exclusivo da administração. A
valorização da arquitetura modernista brutalista é o fator norteador, seguidos da absoluta
necessidade de suprir as questões concernentes à acessibilidade universal ao máximo possível dos
espaços internos e externos.
Com base nesta revitalização, o projeto de recuperação estrutural poderá ser aplicado de forma
simplificada, quando unificado à implantação de intervenções arquitetônicas, de maneira que as
bases dos novos revestimentos sejam apropriadas e resistentes às agressividades ambientais e
antropológicas a que está sujeita a construção em análise.
Finalmente, deve ser frisado que a adequada e contínua manutenção das construções em geral e dos
bens históricos em particular é parte integrante da construção, e que, os órgãos responsáveis por
estes monumentos tenham a consciência da importância da continuidade das ações de restauração
através da implantação de um adequado plano de manutenção.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à equipe integrada de alunos e professores dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e
Engenharia Civil da Universidade Católica de Petrópolis, que continuamente nos acompanham e
ajudam com pesquisas e desenvolvimentos que incentivam a continuada busca por novos
conhecimentos e sua aplicação.
REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NB-1: Projeto e execução de estruturas de concreto
armado, Rio de Janeiro, 1960.
[2] ______ NBR 6118/14 – Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimentos - Rio de Janeiro – 2014.
[3] NP-EN1504 – Produtos e Sistemas para Protecção e Reparação de Estruturas de Betão Projeto de Estruturas
de Concreto – Caparica – 2006.
[4] AZEVEDO, Mariliza de. Centro de Cultura Raul de Leoni: maior centro cultural do interior do Estado
completa 35 anos. In: Petrópolis: A Revista da Cultura e do Turismo. Petrópolis, RJ. N.33. Fevereiro de 2012.
Disponível em: <https://issuu.com/domcriatividade/docs/revista_petr__polis_ed_33__-_fevere>. Acesso em: 07
nov. 2018.
[5] BASTOS, Maria Alice Junqueira; ZEIN, Ruth Verde. Brasil: arquitetura após 1950. São Paulo: Perspectiva, 2010.
[6] MEHTA, P. Kumar; Monteiro, Paulo J. M.. Concrete: Microstructure, Properties and Materials. 3 ed. New
York: McGraw-Hill, 2006.
[7] GAIOFATTO, R. L.; FACHETTI, A. K..; MACHADO, E. P. Análise dos danos que comprometem a
integridade do centro cultural Raul de Leoni. Anais do II Simpósio Científico do ICOMOS-Brasil – Belo
Horizonte, 2018.
[8] GAIOFATTO, R. L.; FACHETTI, A. K..; MACHADO, E. P. A restauração da catedral de Petrópolis. Anais do
16º. CINPAR – Porto – Portugal, 2016.
[9] GAIOFATTO, R. L. Os diversos tipos de Retração. 3º. Congresso de Engenharia - Juiz de Fora, 2008.
[10] ZEIN, Ruth Verde. Breve introdução à arquitetura da escola paulista brutalista. Arquitextos, São Paulo, ano
06, n. 069.01, Vitruvius, fev. 2006. Disponível em: <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.069/375>.
Acesso em: 07 nov. 2018.
UTILIZAÇÃO DE CONCRETO RECICLADO PARA REFORÇO DE SUB-
BASE DE PAVIMENTAÇÃO
Resumo: A pesquisa realizada tem como principal objetivo analisar os resultados do acréscimo de
diferentes porcentagens do agregado reciclado da construção civil, proveniente de corpos de prova
de concreto britados, no solo encontrado na Universidade Católica de Petrópolis com o intuito de
reforçá-lo para funcionar como sub-base de pavimentos. Foram realizados diversos ensaios
laboratoriais para definir as características físicas do solo e do agregado. Além disso, foi realizada a
análise da compactação de acordo com as porcentagens de agregado escolhidas, sendo elas 15%, 25%
e 50%, encontrando resultados para definir qual das opções se encaixaria de maneira mais ideal para
os fins buscados. Na sequência, utilizando a mistura com porcentagem ideal e umidade ótima de
compactação, foram iniciados os testes de expansão e Índice Suporte Califórnia. Com esses ensaios
foi possível determinar a absorção de água durante o período de 96 horas e se sua expansibilidade
estaria dentro dos padrões necessários para que a mistura atendesse à função exercida. Além disso,
com o Índice Suporte Califórnia, foi realizado o ensaio de penetração, definindo se a porcentagem
de CBR encontrada estaria dentro dos padrões normativos necessários. Os resultados obtidos e
métodos realizados estão de acordo com suas respectivas Normas Brasileiras Regulamentadoras
(NBR) e com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), desta forma, podem ser
considerados de extrema confiança e verossimilidade.
Abstract: This work aims at analyzing the results of the addition of different percentages of
construction recycled aggregate from crushed concrete specimen, to the soil found at Catholic
University of Petropolis, with the objective of reinforcing it to function as pavement subbase. Many
lab tests were carried out to define the physical characteristics of the soil as well as the ones of the
recycled aggregate. Besides, a soil compaction analysis was done, considering the chosen
percentages of aggregate as it follows: 15%, 25% and 50%. The results would define which option
would best suit the purposes of this study. Next, a mixture containing the ideal percentage and the
optimal compaction humidity was used to initiate the expansion and California Bearing Ratio tests.
With these tests it was possible to determine the water absorption in a period of 96 hours and to
verify whether the expansion was within the required standards to meet the desired objectives. The
California Bearing Ratio was used in the penetration test, defining if the percentage of CBR would
be according to the normative standards. All the results obtained as well as the performed methods
are in accordance with the Brazilian Regulatory Standards (NBR) and the Brazilian Association of
Technical Standards (ABNT). Hence, they all can be considered of extreme confidence and
authenticity.
Keywords: California Bearing Ratio, Pavement, subbase.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, muitas estradas e rodovias estão em péssimas condições. De acordo com o Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transporte, apenas 10,8% das rodovias federais não são asfaltadas.
Nas estradas estaduais essa porcentagem passa a ser de 43,7%. E, as rodovias municipais
apresentam a pior taxa, sendo de 92,2% não pavimentadas.
A falta dessa infraestrutura é um dos grandes problemas no país, pois além de causar milhares de
acidentes e consequentes mortes, ainda causa um prejuízo de bilhões de reais.
Algumas das principais causas da precariedade das rodovias são a falta de recursos, as falhas de
execução e descumprimentos de projetos.
Quando as vias apresentam ondulações, irregularidades e/ou buracos tornam-se perigosas,
aumentando os riscos de acidentes e diminuindo o conforto e segurança dos condutores, que por sua
vez é ainda menor quando há ocorrência de chuvas, deixando as vias ainda mais perigosas e
traiçoeiras.
Além disso, caso as vias sejam de difícil afluência ou estejam em más condições o desenvolvimento
local pode ser diretamente prejudicado, devido a complicações no transporte de cargas tanto para
fora quanto para dentro da cidade, fazendo com que seja menos frequente e de maior custo,
afetando o comércio e abastecimento de produtos de todos os gêneros.
Por estes e por outros motivos o estudo das estradas e rodovias, seus fluxos e suas condições é de
extrema importância e devemos sempre estar buscando maneiras de torná-los melhores e
economicamente mais viáveis.
Uma das maneiras de melhorar a condição de vias é realizando o reforço de pelo menos uma das
camadas de pavimentação em locais nos quais os solos não apresentam características físicas
favoráveis à pavimentação, tendendo a apresentar deformações conforme aplicado o carregamento
e/ou a absorção de água.
O reforço de sub-base de pavimentos, por exemplo, realizado com o acréscimo de agregado
reciclado da construção civil, também conhecido como concreto reciclado, além de melhorar a
qualidade da pavimentação das rodovias ainda torna possível reaproveitar um material que é
encontrado em abundância e na maioria das vezes não tem destino apropriado na etapa de descarte.
Solos muito deformáveis não reforçados, materiais de má qualidade, erros de projeto e execução
fazem com que as vias tornem-se perigosas e desconfortáveis, muitas vezes com ondulações
causadas pela movimentação das camadas de pavimentação que não foram preparadas e executadas
de forma correta, assim como grande quantidade de buracos na superfície resultante da erosão que
acontece de forma acelerada e precoce quando os materiais não são de boa qualidade e/ou o cálculo
do fluxo de tráfego e execução não foram corretos.
Tendo em vista os problemas demonstrados esta pesquisa visa identificar as modificações que
ocorrem no solo encontrado na Universidade Católica de Petrópolis quando acrescido de diferentes
porcentagens de agregado reciclado da construção civil, sendo este proveniente de corpos de prova
de concreto britados, com o intuito de reforçá-lo para exercer função de sub-base de pavimentos, de
forma que não aconteça movimentação ou deformação das camadas.
E, além disso, determinar se a mistura solo + agregado atende aos padrões da Associação Brasileira
de Normas Técnicas para os fins aqui almejados.
Como solução propõe-se acrescentar porcentagens de concreto reciclado no solo estudado às
proporções de 15%, 25% e 50%. Em seguida, analisar quais das porcentagens apresentam os
melhores resultados e se com eles é possível atingir o objetivo proposto, de maneira que o solo
estudado atenda aos requisitos necessários definidos por norma técnica para que exerça a função de
sub-base no processo de pavimentação.
2. MÉTODOS
Os ensaios conduzidos durante o período de pesquisas tiveram o objetivo de estabelecer e
identificar todas as características do solo e do material utilizado como agregado. Todos os ensaios
foram realizados de acordo com suas respectivas normas técnicas, seguindo de maneira rigorosa
cada detalhe, visando resultados confiáveis e verossímeis.
Para obtermos a caracterização do solo foram realizados os procedimentos listados abaixo.
Análise granulométrica;
Massa específica real dos grãos;
Umidade natural;
Umidade higroscópica;
Limite de plasticidade;
Limite de liquidez.
Além disso, foi realizada a compactação do solo puro e com diferentes quantidades do agregado
aqui escolhido para estudo, sendo elas 15%, 25% e 50%.
Por fim foi realizado o ensaio de Índice Suporte Califórnia com o objetivo de definir os critérios de
expansão e penetração da mistura solo + 15% de concreto reciclado, que foi ao longo dos testes a
proporção considerada mais vantajosa para os fins necessários, como foi possível observar de
acordo com os resultados.
2.1. Análise Granulométrica
Através da análise granulométrica do solo é possível observar as porcentagens de amostra que
passam através de cada peneira, determinando a porcentagem de cada tipo de material que compõe
o solo, sendo elas:
Areia grossa – amostra entre as peneiras #2 mm a #0,6 mm – 39,8%
Areia média – amostra entre as peneiras #0,6 mm a 0,2 mm – 36,22%
Areia fina – amostra entre as peneiras #0,2 mm a 0,05 mm – 15,31%
Pedregulho – amostra retida na peneira #2,36 mm – 5,1%
Silte e Argila – amostra entre a peneira #0,075 mm e o fundo – 3,57%
Desta forma, a granulometria do solo definiu que sua composição é de 91,33% de areia, 5,1% de
pedregulhos e somente 3,57% de uma mistura de silte e argila.
Além disso, temos a curva granulométrica traçada a partir dos resultados demonstrada na Figura 1.
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
-00
0,00001 0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10
Abertura (mm)
60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
-00
0,00001 0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10
Abertura (mm)
Tabela 2 - Análise dos Resultados para Determinação da Massa Específica Real dos Grãos do Concreto Reciclado
Concreto Reciclado
Temp. da Água ϒágua destilada ϒg
Ensaio P1 (g) P2 (g) P3 (g) P4 (g)
Destilada (ºC) (g/cm³) (g/cm³)
B 143 202 662 630 22 0,9978 2,18
Os resultados obtidos para a massa específica real dos grãos do solo e do concreto reciclado foram
satisfatórios, pois o concreto tem densidade inferior a dos grãos do solo, principalmente areias, que
tem no quartzo sua maior fonte (sílica – SiO2) apresentando densidade igual a 2650 kg/m³, enquan-
to o cimento apresenta densidade de 2200 kg/m³
2.3. Umidade Natural
A análise da umidade natural é de suma importância, pois é a partir dela que podemos identificar as
condições hídricas nas quais o material a ser trabalhado se encontra, sendo possível ter uma ideia
mais precisa da quantidade de água necessária para que o solo tenha uma melhor compactação.
Além disso, é um dos fatores decisivos na caracterização do solo, permitindo identificar as situações
nas quais seu uso é mais proveitoso e, quando não recomendável para os fins necessários, quais as
maneiras de torná-lo mais ideal.
Então, para determinar a umidade natural do solo e do concreto reciclado foram analisadas cinco
amostras de cada um dos materiais.
De acordo com as amostras analisadas, a umidade natural média encontrada para o solo foi de h =
23,95%. Enquanto a umidade natural média encontrada para o concreto reciclado foi de h = 1,87%.
Sendo esta consideravelmente menor do que a umidade natural média encontrada para o solo.
2.4. Umidade Higroscópica
Assim como para determinar a umidade natural foram analisadas cinco amostradas de solo e cinco
amostras de concreto reciclado.
Desta forma, a umidade higroscópica média encontrada para o solo foi de h = 19,67%. Enquanto a
umidade higroscópica média do solo foi de h = 0,559%, de acordo com a média retirada dos resul-
tados obtidos.
2.5. Limite de Plasticidade e Liquidez
O ensaio para determinar os limites de plasticidade e liquidez não puderam ser realizados para o
concreto reciclado devido às características físicas do material. Ou seja, independentemente da
quantidade de água adicionada o material não apresentou coesão entre as partículas. Além disso, é
um material não plástico, desta forma não sendo possível moldá-lo.
Já para o solo, de acordo com os resultados obtidos, foi realizada a média dos valores, determinando
LPmédio = 12,67%. Em seguida determina-se um intervalo de -/+5% e excluem-se todos os resul-
tados que não se encaixam em 12,03% ≤ h ≤13,30%. .
E então, o limite de plasticidade do solo é determinado a partir do inteiro mais próximo à média
encontrada. Desta forma, LPsolo = 13%.
Para determinar o limite de liquidez do solo foi realizado o Ensaio de Casagrande, com o qual de-
terminamos o limite de liquidez a partir do momento em que ocorre a junção dos bordos inferiores
quando aplicados 25 golpes. O limite de liquidez encontrado foi de LL = 18%.
Com os resultados encontrados nos ensaios anteriores é possível traçar o esquema de estados de
consistências demostrado na Figura 3.
Além disso, de acordo com a ABNT NBR 7182:2016, os parâmetros para determinar o nº de
camadas, nº de golpes por camada e tamanho do soquete, referentes à energia intermediária são
dados pela Tabela 4, retirada da ABNT NBR 7182:2016 – p.05.
Tabela 4 - Energia de Compactação (Cilíndro Pequeno)
O processo de compactação foi realizado para o solo puro e para as misturas de 85% de solo com 15%
de agregado reciclado, 75% de solo com 25% de agregado e por fim 50% de solo com 50% de
agregado.
Ao final dos ensaios foi possível determinar a curva de compactação do solo e de cada uma das
misturas.
Após traçadas todas as curvas de compactação foi possível perceber que a curva que mais
aproximou-se da ideal, mostrada na Figura 4, foi a curva de compactação referente à mistura de 75%
de solo com 15% de agregado.
Além disso, também foi possível perceber que ao adicionarmos uma maior porcentagem de
agregado além dos 15%, a tendência da curva de compactação da mistura seria aproximar-se cada
vez mais da curva de compactação inicial, ou seja, do solo puro. Para demonstrar essa tendência foi
traçado o gráfico representado pela Figura 5 e a mesma pode ser observada abaixo.
17,90 0%
17,70
17,50 15%
17,30
17,10 25%
16,90
16,70 50%
16,50
6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
h (%)
Os materiais a serem utilizados são então pesados e enumerados. Feito isso, o molde é fixado à sua
base metálica e o disco espaçador (15,00 cm ± 0,05 cm de diâmetro e de 6,35 cm ± 0,02 cm de
altura) é posicionado como fundo falso, tendo em sua parte superior uma folha cilíndrica para evitar
perdas de material que possa aderir-se à superfície do disco espaçador, de forma que a altura total de
solo obtida após a compactação seja de cerca de 12,5 cm.
Em seguida é dado início ao processo de compactação, aplicando 26 golpes em cada uma das cinco
camadas, utilizando o soquete grande.
Após a compactação o cilindro complementar é retirado, de forma a restar somente a parte com a
amostra compactada.
O material compactado é faceado com o auxílio de uma régua rígida biselada até que fique com a
altura exata do molde.
Com os corpos de prova prontos é dado início ao ensaio de expansão, no qual o disco espaçador de
cada um dos mesmos é retirado, os moldes são invertidos e fixados nos respectivos pratos-base
perfurados.
Em cada um dos corpos de prova devem ser adicionados os pesos anelares, nos espaços deixados
pelo disco espaçador, com massa superior a 4,536 kg juntamente com a haste de expansão.
Na haste de expansão é adaptado um extensômetro fixo ao tripé porta-extensômetro na borda
superior do cilindro. O extensômetro tem como função medir a expansão dos corpos de prova
ocorrida durante o período 96 horas de imersão em água. As medições devem ser realizadas no
intervalo de 24 em 24 horas.
Após o período de 96 horas e realizadas todas as medições, os corpos de prova devem ser retirados
da água e deixados durante 15 minutos para que parte da água absorvida possa escoar. Feito isso, os
moldes estão prontos para dar início ao ensaio de penetração.
Para o ensaio de penetração é necessário colocar os moldes, um a um, no prato da prensa com as
mesmas sobrecargas utilizadas no ensaio de expansão posicionadas no topo de cada corpo de prova.
Na sequência assenta-se o pistão de penetração no solo através de uma carga aplicada de
aproximadamente 45 KN, controlada pelo deslocamento do ponteiro do extensômetro do anel
dinamométrico.
Com os extensômetro do anel e o que mede a penetração do pistão no solo zerados, a manivela da
prensa deve ser acionada com velocidade de 1,27 mm/min. Após o início do acionamento da
manivela devem ser realizadas medições nos intervalos de 0,5, 1,0, 1,5, 2,0, 3,0, 4,0, 6,0, 8,0 e 10,0
minutos.
2.7.1. Ensaio de Expansão
Para os ensaios de expansão foram seguidos os procedimentos descritos acima de acordo com a
norma DNIT 172:2016 – ME, e, após realizadas as medições necessárias de 24 em 24 horas
durantes o período de 96 horas, foram obtidos os resultados demonstrados nas Tabelas 6, 7 e 8.
Tabela 6 – Resultados Molde 1 Tabela 7 – Resultados Molde 2 Tabela 8 – Resultados Molde 3
Apesar de terem sido obtidas porcentagens de expansão com diferenças significativas para cada um
dos moldes, nenhuma das amostras foi reutilizada e o material de cada molde partiu de uma mesma
amostra principal, com 15% de agregado e nas mesmas condições físicas.
A expansibilidade de um solo pode interferir diretamente na qualidade da pavimentação devido à
possibilidade de provocar manifestações patológicas irreparáveis.
De acordo com o Manual de Pavimentação – DNIT 719:2006 e com a ABNT NBR 15115:2004, o
valor de expansão categorizado para a função estrutural de sub-base deve ser ≤ 1%.
Neste caso, o solo aqui testado está fora dos padrões usuais utilizados para sub-base, pois apresenta
expansibilidade média de 3,43%, maior do que a permitida, sendo necessário projetar um reforço de
subleito para suprir as necessidades principalmente de recalque.
Além do reforço de subleito, caso o solo não atenda aos padrões exigidos, o mesmo ainda pode ser
estabilizado granulometricamente ou com a adição de cimento e/ou cal hidratada, sendo necessário
neste caso atender as diretrizes estabelecidas pela ABNT NBR 15115:2004.
2.7.2. Ensaio de Penetração
O ensaio de penetração foi realizado conforme descrito anteriormente no item 2.7., seguindo todos
os padrões da norma técnica para cada um dos três moldes e os padrões para as penetrações
principais, obtendo os resultados demonstrados nas Tabelas 9, 10 e 11 e seus respectivos gráficos,
demonstrados pelas Figuras 6, 7 e 8.
4. CONCLUSÃO
Com todos os estudos realizados foi concluído que o reforço sugerido não é suficiente para que o
solo utilizado atenda aos padrões normativos necessários para que possa exercer a função de sub-
base de pavimentos.
Isto porque durante o ensaio de expansão o solo apresentou grande tendência a se deformar e muita
capacidade de absorver água, características estas que não são nada atraentes quando o assunto é
pavimentação, pois desta forma ocorreria movimentação das camadas causando irregularidades nas
pistas, desconforto e risco aos condutores.
No entanto, acredito que se aplicados os princípios do estudo, de forma a utilizar concreto reciclado
com granulometria maior, todos os parâmetros necessários quanto à expansão e penetração seriam
atendidos, pois o material permitiria que a drenagem das camadas fosse mais eficiente, resolvendo
os problemas causados pelas características físicas do solo e da grande quantidade de resíduos
sólidos da construção civil, que ao invés de descartada seria aplicada de forma proveitosa e
econômica.
Além disso, foi possível constatar que não existem vantagens ao adicionarmos quantidades de
concreto reciclado, com a granulometria utilizada neste estudo, além dos 15%, devido às
características do agregado e do solo, pois quanto maior a porcentagem de agregado, acima de 15%,
mais as características apresentadas pelas misturas durante o ensaio aproximavam-se das
características do solo puro. Desta forma, acredito que os resultados dos testes de expansão e
penetração seriam ainda piores, continuando assim fora dos padrões normativos para camadas de
sub-base.
Outro motivo para que a porcentagem de agregado não seja muito alta é devido à falta de
praticidade para substituir tamanha quantidade de solo em obras de grande porte como as de
pavimentação, demandando muito material para abastecer toda quilometragem necessária.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a meus pais por sempre me incentivarem a alcançar meu melhor e à Univer-
sidade Católica de Petrópolis por disponibilizar o laboratório de Mecânica dos Solos e todo material
necessário para conclusão desta pesquisa. Sem vocês nada disso seria possível. Muito obrigada!
REFERÊNCIAS
[1] DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-ESTRUTURA DE TRANSPORTES. IPR 719: Manual de pavimenta-
ção. Rio de Janeiro, 2006.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15115: Agregados reciclados de resíduos sólidos
da construção civil – Execução de camadas de pavimentação – Pavimentação. Rio de Janeiro, 2004.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6457: Amostras de solo – Preparação para ensaios
de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 1986.
[4] CAPUTO, H. P., Mecânica dos Solos e Suas Aplicações – Fundamentos, Livros Técnicos e Científicos Editora
S.A., v.1, n.6, p. 172-188, 1988.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7182: Solo – Ensaios de compactação. Rio de
Janeiro, 2016.
[6] DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-ESTRUTURA DE TRANSPORTES. IPR 172: Solos – Determinação
do Índice Suporte Califórnia utilizando amostras não trabalhadas – Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2016.
Juiz de Fora
14 - 17 de maio de 2019