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ANAIS

VI Congresso de Engenharia Civil


“Engenharia e sustentabilidade: caminhos para o futuro”
Realizado nos dias 15, 16 e 17 de maio de 2019

ORGANIZADORES

Prof. Dr. José Alberto Barroso Castañon


Profa. Dra. Maria Teresa Gomes Barbosa
Profa. Dra. Maria Aparecida Steinherz Hippert

Juiz de Fora
14 - 17 de maio de 2019
ANAIS
VI Congresso de Engenharia Civil
“Engenharia e sustentabilidade: caminhos para o futuro”
Realizado nos dias 15, 16 e 17 de maio de 2019

ORGANIZADORES

Prof. Dr. José Alberto Barroso Castañon


Profa. Dra. Maria Teresa Gomes Barbosa
Profa. Dra. Maria Aparecida Steinherz Hippert

Juiz de Fora
14 - 17 de maio de 2019
2019
Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio
sem a autorização por escrito dos organizadores.

ORGANIZADORES

Prof. Dr. José Alberto Barroso Castañon


Profa. Dra. Maria Teresa Gomes Barbosa
Profa. Dra. Maria Aparecida Steinherz Hippert

ANAIS: VI Congresso de Engenharia Civil / Prof. Dr. José Alberto Barroso Castañon, Profa.
Dra. Maria Teresa Gomes Barbosa, Profa. Dra. Maria Aparecida Steinherz Hippert - Juiz de
Fora : Templo, 2019. 1907 p.

ISBN: 978-85-98026-83-1

I. Engenharia Civil. 2. Castañon, José Alberto Barroso. II. Barbosa, Maria Teresa Gomes.
III. Hippert, Maria Aparecida Steinherz.

FORMATO Ebook: PDF


SUMÁRIO

ANÁLISE DE CUSTO-ÓTIMO DE MEDIDAS PARA A MELHORIA DEDESEMPENHO ENERGÉTICO NUM


EDIFÍCIO DE HABITAÇÃO SOCIALEM BRAGA, PORTUGAL ....................................................................... 11
ESTUDO DE APARELHOS DE APOIO DA PONTE RIO-NITERÓI .................................................................. 26
ANÁLISE DA FUNDAÇÃO EM RADIER – ASPECTOS RELEVANTES ............................................................. 46
ANÁLISE DO CONCRETO COM INCORPORAÇÃODE EPS EM SUBISTITUIÇÃO TOTAL DE SEU AGREGADO
GRAÚDO .................................................................................................................................................. 58
O PROCESSO DE PROJETO DE ARQUITETURA SOB A PERSPECTIVADO LEAN DESIGN – UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA DE LITERATURA ................................................................................................................. 67
POSTOS DE SAÚDE SUSTENTÁVEIS: SUGESTÕES DE ADEQUAÇÕES ASEREM FEITAS NOS SERVIÇOS DE
MANUTENÇÃO ........................................................................................................................................ 77
COMPARATIVO ENTRE ARGAMASSAS ADITIVADAS E MISTA:ANÁLISE DOS ADITIVOS INCORPORADOR
DE AR, RETENTOR DEÁGUA E PLASTIFICANTE......................................................................................... 90
REPAROS E REFORÇO DAS COLUNAS DO PALACETE BABILÔNIA NO COLÉGIOMILITAR DO RIO DE
JANEIRO ................................................................................................................................................... 102
UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (RCD)EM MISTURAS ASFÁLTICAS ............ 112
ANÁLISE COMPARATIVA DA SUSTENTABILIDADE DOS SISTEMASESTRUTURAIS EMPREGADOS NA
CONSTRUÇÃO CIVIL ................................................................................................................................. 125
REÚSO DE REJEITO DE MINÉRIO DE FERRO EM COMPÓSITOSCIMENTÍCIOS .......................................... 136
REFORÇO COM MANTA DE FIBRA DE CARBONO EM DIFERENTESLARGURAS: DESEMPENHO A FLEXÃO
DE CONCRETO COM ALTOTEOR DE FIBRAS DE AÇO CFRP .................................................................... 150
ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE ENCOSTA EM SOLOS RESIDUAL ............................................................ 169
DETECÇÃO DE PATOLOGIAS E PROPOSIÇÃO DE TERAPIAS PARA OEDIFÍCIO ENGENHEIRO ITAMAR
FRANCO ................................................................................................................................................. 184
GERAÇÃO DE RESÍDUOS DE CONCRETO EM CENTRAIS DOSADORASDA REGIÃO METROPOLITANA DE
BELO HORIZONTE .................................................................................................................................. 198
PANORAMA PRÁTICO-LEGISLATIVO DAS CAPITAIS DA REGIÃOSUDESTE QUANTO À GESTÃO DE
RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL(RCC) ............................................................................................... 209
CONTRIBUIÇÕES PARA A UTILIZAÇÃO DE ENERGIA GEOTÉRMICANO BRASIL ...................................... 223
CORRELAÇÃO ENTRE A VELOCIDADE DE PULSO ULTRASSÔNICO E CONDUTIVIDADE TÉRMICA EM
ARGAMASSAS ........................................................................................................................................ 238
ESTADO DA ARTE DO COEFICIENTE DE EMPUXO NO REPOUSO DESOLO SATURADO E NÃO SATURADO
– REVISÃO E PERSPECTIVAS................................................................................................................... 250
ANÁLISE DE TENDÊNCIA DE CHUVAS NO MUNICÍPIO DE JUIZ DEFORA – MG ...................................... 266
ANÁLISE DE TENDÊNCIA PARA EVENTOS EXTREMOS DEPRECIPITAÇÃO NO MUNICÍPIO DE JUIZ DE
FORA – MINAS GERAIS .......................................................................................................................... 280
ANÁLISE DE TENDÊNCIA DE PRECIPITAÇÃO DE TOTAIS SEMESTRAISE TRIMESTRAIS NO MUNICÍPIO DE
JUIZ DE FORA – MINAS GERAIS ............................................................................................................. 290
AVALIAÇÃO CRÍTICA DAS SOLUÇÕES EMPREGADAS NO REPARO DERECALQUES DIFERENCIAIS EM
EDIFICAÇÕES.......................................................................................................................................... 305
ANALISE CRÍTICA DOS ENSAIOS DE ESTAQUEIDADE DE SISTEMASDE VEDAÇÃO VERTICAL DA NBR
15.575/2013 .......................................................................................................................................... 317
MANUTENIBILIDADE NA NBR 15.575 - NORMA DE DESEMPENHO ...................................................... 330
AS PESQUISAS SOBRE A NORMA BRASILEIRA DE DESEMPENHO - NBR15575: UMA REVISÃO
SISTEMÁTICA DE LITERATURA ............................................................................................................... 343
MODERNIZAÇÃO E MANUTENÇÃO: PROPOSTA DE DIRETRIZES PARAUM USO MAIS SUSTENTÁVEL DAS
EDIFICAÇÕES.......................................................................................................................................... 357
ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE A INFLUÊNCIA DA ILUMINAÇÃO DOAMBIENTE CONSTRUÍDO NO
BEM-ESTAR DO INDIVÍDUO ................................................................................................................... 370
CONSTRUÇÃO DE ESCALA PARA AVALIAÇÃO DE BEM-ESTARDENTRO DO AMBIENTE CONSTRUÍDO .. 382
ESTUDO DO SISTEMA CONSTRUTIVO LIGHT STEEL FRAMING EMODELAGEM DE UMA CASA
GEMINADA EM SOFTWARE BIM ........................................................................................................... 394
AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA DE MATERIAIS EMPREGADOS NA ENVOLTÓRIADE EDIFICAÇÃO:
ESTUDO DE CASO DE GALPÃO INDUSTRIAL .......................................................................................... 406
ESTUDO EXPERIMENTAL DAS CARACTERÍSTICAS DO CONCRETOUTILIZADO NA CONFECÇÃO DE BLOCO
COM VIDRO TRITURADOCOMO AGREGADO MIÚDO............................................................................ 421
DESPLACAMENTO DE REVESTIMENTO CERÂMICO INTERNO NOSISTEMA CONSTRUTIVO PAREDE DE
CONCRETO MOLDADO IN LOCO ............................................................................................................ 438
RESÍDUO INDUSTRIAL ASFÁLTICO: UM ESTUDO DO POTENCIAL DEAPLICAÇÃO EM CONCRETO
ASFÁLTICO ............................................................................................................................................. 450
ESTUDO COMPARATIVO DA ADERÊNCIA DE ARGAMASSA COLANTEAPLICADA EM BLOCOS
ESTRUTURAIS DE CONCRETO E PAREDES DECONCRETO MOLDADAS IN LOCO .................................... 462
ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS ORGANIZACIONAISDAS EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO
CIVIL ....................................................................................................................................................... 475
REFLEXÕES NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL:ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO, MÉTODO
SHEWARTE LEAN PROCUREMENT ......................................................................................................... 490
ESTUDO COMPARATIVO DAS CARACTERÍSTICAS ORGANIZACIONAISE NÍVEL DE EFETIVIDADE
ESTRATÉGICA ENTRE OS SEGMENTOS DACONSTRUÇÃO CIVIL E INDÚSTRIA DE MANUFATURA ......... 500
INFLUÊNCIA DO USO DE ADITIVO REDUTOR DE ÁGUA NOCOMPORTAMENTO DE ARGAMASSAS COM
AGREGADO MIÚDORECICLADO CERÂMICO .......................................................................................... 514
O MÉTODO DA MATURIDADE PARA DETERMINAR RESISTÊNCIA ÀCOMPRESSÃO EM CONCRETOS:
REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................................................................... 527
SELEÇÃO DE LOCAL PARA A CONSTRUÇÃO DE ATERROSINDUSTRIAIS PERIGOSOS: UMA PROPOSTA
METODOLÓGICA.................................................................................................................................... 542
INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA NA ANÁLISE DEESTABILIDADE DE TALUDES DE SOLO
NÃO SATURADO .................................................................................................................................... 556
IDENTIFICAÇÃO DOS IMPACTOS DOS TELEACOPLAMENTO DASFRUTAS ORGÂNICAS CERTIFICADAS NO
BRASIL .................................................................................................................................................... 570
COMPACTAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE SOLO COM MISTURA DECINZA DE EUCALIPTO .................... 585
ANÁLISE DOS RESULTADOS TERMOGRÁFICOS EM FACHADAS ............................................................. 597
ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO RESÍDUO DE ROCHAS ORNAMENTAISNA RESISTIVIDADE ELÉTRICA
VOLUMÉTRICA DO CONCRETO .............................................................................................................. 610
PROPOSTA METODOLÓGICA PARA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DEGALERIAS URBANAS PARA
PEDESTRES ............................................................................................................................................. 620
INFLUÊNCIA DO CARREGAMENTO AXIAL NO ENSAIOESCLEROMÉTRICO DAS ESTRUTURAS................ 633
NOVAS TECNOLOGIAS UTILIZADAS PARA CONTROLE EMONITORAMENTO DA SEGURANÇA NO
CANTEIRO DE OBRAS. ............................................................................................................................ 645
O EMPREGO DA TERMOGRAFIA NO ESTUDO DA DEGRADAÇÃO DEFACHADA..................................... 657
VIABILIDADE TÉCNICA E DESEMPENHO TÉRMICO DE UM MODELODE HABITAÇÃO DE INTERESSE
SOCIAL CONSTRUÍDO COM ESCÓRIADE ACIARIA – A VILA SUSTENTÁVEL ............................................ 668
ESTUDO DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS NAS EDIFICAÇÕESEXISTENTES EM ÁREAS DE RISCO.
ESTUDO DE CASO: BAIRRO TRÊSMOINHOS/JUIZ DE FORA (MG) .......................................................... 683
ANÁLISE DA MASSA ESPECÍFICA E DO ÍNDICE DE VAZIOS DOCONCRETO UTILIZANDO O EPS E A PET
SUBSTITUINDOPARCIALMENTE PELO AGREGADO GRAÚDO ................................................................ 697
DESAFIOS E OPORTUNIDADES ACERCA DA GESTÃO DOS RESÍDUOSORGÂNICOS EM JUIZ DE FORA,
MG. ........................................................................................................................................................ 707
ANÁLISE COMPARATIVA DA PERMEABILIDADE DA PAVIMENTAÇÃOINTERTRAVADA DE CONCRETO,
UTILIZANDO AGREGADO GRAÚDOE AGREGADO MIÚDO ..................................................................... 721
APLICAÇÃO DE FERRAMENTA COMPUTACIONAL NA OTIMIZAÇÃO EMITIGAÇÃO DE CUSTOS NA
ROTEIRIZAÇÃO DA LOGÍSTICA DETRANSPORTE DE CARGAS ................................................................. 731
ESTUDO DE BARREIRAS IMPERMEABILIZANTES PARA CAMADA DECOBERTURA DE ATERROS DE
RESÍDUOS .............................................................................................................................................. 742
AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS QUE INFLUENCIAM ACONFIABILIDADE DE VIGAS PRÉ-FABRICADAS
PROTENDIDAS:TEORIA VERSUS PRÁTICA .............................................................................................. 757
INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA EM EDIFICAÇÕES ASSENTES SOBREFUNDAÇÕES RASAS DO TIPO
SAPATA .................................................................................................................................................. 769
GESTÃO DOS RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS NO MUNICÍPIO DEJUIZ DE FORA – MG....................... 781
PRODUÇÃO NACIONAL NO DESENVOLVIMENTO DE SISTEMASCONSTRUTIVOS VOLTADOS À
HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIALNO BRASIL ...................................................................................... 793
DESEMPENHO E QUALIDADE DAS EDIFICAÇÕES DO PROGRAMAMINHA CASA MINHA VIDA: UMA
REVISÃO SISTEMÁTICA DELITERATURA ................................................................................................. 806
CONTROLE TECNOLÓGICO DO CONCRETO DA LAJE DE TRANSIÇÃODE OBRA EM ALVENARIA
ESTRUTURAL QUE UTILIZA SISTEMA DEPROTENSÃO LEVE ................................................................... 816
GESTÃO DE ÁREAS COMUNS EM PROJETOS DE HABITAÇÃO DEBAIXA RENDA .................................... 829
AVALIAÇÃO DE SISTEMAS DE ILUMINAÇÃO EXTERNACONSIDERANDO A VISÃO MESÓPICA ............... 840
COMPARATIVA DE PAVIMENTOS ECOEFICINETES PARAPROPORCIONAR MAIOR SEGURANÇA A
USUÁRIOS DE CICLOVIA......................................................................................................................... 851
A IMPORTÂNCIA DO EMPREGO DE MATERIAIS RETARDANTESAO FOGO NAS GALERIAS COMERCIAS
DA CIDADE DE JUIZ DEFORA .................................................................................................................. 864
MECANISMOS DE DEGRADAÇÃO DAS ESTRUTUTRAS DE CONCRETOARMADO EXPOSTAS AO
AMBIENTE: RECUPERAÇÃO E REFORÇO DAESTRUTURA DA TORRE DA CTBM ..................................... 879
COMPORTAMENTO EM SERVIÇO DE PILARES DE CANTO DE CONCRETOARMADO ............................. 894
ANÁLISE TEÓRICA EXPERIMENTAL DA RESISTÊNCIA ÚLTIMA Á FLEXÃO DELAJES PROTENDIDAS ........ 902
DETERMINAÇÃO DE CURVA CARACTERÍSTICA DE SOLOS NÃOSATURADOS ......................................... 909
IMPORTÂNCIA DOS FATORES GEOLÓGICOS NA ESCOLHA DE UMAÁREA DE ATERRO SANITÁRIO....... 923
APLICATIVO EDUCACIONAL PARA CÁLCULO DE TREM-TIPO EMPONTES ............................................. 938
SEGURANÇA DE BARRAGEM DE REJEITO: UMA ANÁLISE DALEGISLAÇÃO BRASILEIRA ........................ 953
PREVISÃO DO COMPORTAMENTO DE ATERROS A PARTIR DAANÁLISE DOS PARÂMETROS DE
RESISTÊNCIA DOS RESÍDUOS ................................................................................................................. 967
VARIAÇÃO DOS PARÂMETROS LIMNOLÓGICOS NO RIBEIRÃOESPÍRITO SANTO, EM JUIZ DE FORA –
MG, AO LONGO DE 6 ANOS. .................................................................................................................. 981
RELAÇÃO POROSIDADE/CIMENTO COMO PARÂMETRO DE CONTROL NAESTABILIZAÇÃO DE UM SOLO
SILTOSO ................................................................................................................................................. 993
REUTILIZAÇÃO E RECICLAGEM DE RESÍDUOS GERADOS EMCANTEIROS DE OBRAS NA CONSTRUÇÃO
CIVIL ....................................................................................................................................................... 1004
O COMPROMETIMENTO DA VIDA ÚTIL DOS MATERIAIS ECOMPONENTES DECORRENTES DA
PRESENÇA DE UMIDADE NASEDIFICAÇÕES E DA FALTA DOS SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO ................ 1016
AVALIAÇÃO DE MICROESTRUTURA DE PASTAS CIMENTÍCIAS COM ADIÇÃO DEREJEITO DE MINÉRIO DE
FERRO DEPOSITADOS EM BARRAGEM DE LAMAS ................................................................................ 1027
O GERENCIAMENTO DE CUSTOS NA PERSPECTIVA DO MODELO BIM:UMA PROPOSTA DE
INTEGRAÇÃO COM O PMBOK ............................................................................................................... 1041
TEORIA DA SIMILITUDE: ANÁLISE DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃOEM CORPOS DE PROVA DE
CONCRETO............................................................................................................................................. 1055
CONCRETOS DE ALTA RESISTÊNCIA ECOEFICIENTES ............................................................................. 1066
A IMPORTÂNCIA DA IMPERMEABILIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL.................................................... 1076
SOLO SEDIMENTAR ESTABILIZADO COM CAL E CIMENTO: ESTUDOCOMPARATIVO DA INFLUÊNCIA
DOS VAZIOS E DA POROSIDADE NARESISTÊNCIA À TRAÇÃO ................................................................ 1084
A GESTÃO DE RISCOS COM O APLICATIVO ÁLEA PARA ODESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
NOS MUNICÍPIOS................................................................................................................................... 1096
DESENVOLVIMENTO DE UM ALGORITMO EM LINGUAGEM PYTHONPARA ANÁLISE DE ESTRUTURAS
UTILIZANDO O MÉTODO DOSDESLOCAMENTOS .................................................................................. 1106
COMPARAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO DEPERFIS DE AÇO FORMADOS A FRIO
SUBMETIDOS À COMPRESSÃO DEACORDO COM A NBR 14762:2010 .................................................. 1121
A IMPLANTAÇÃO DA NORMA DE DESEMPENHO EM EMPRESASCONSTRUTORAS – UMA ANÁLISE
BIBLIOMÉTRICA ..................................................................................................................................... 1136
EFEITO DOS ADITIVOS EXPANSOR E INCORPORADOR DE AR EMCONCRETOS LEVE DE
PREENCHIMENTO DE SEÇÕES MISTAS .................................................................................................. 1147
MÓDULO DE ELASTICIDADE DO CONCRETO: UM ESTUDO SEMIPROBABILÍSTICO E SEUS
DESDOBRAMENTOS............................................................................................................................... 1159
COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO ENTRE CONCRETOCONVENCIONAL E LEVE .................................... 1170
VIGA DE EULER-BERNOULLI: QUANTIFICAÇÃO DE INCERTEZASPARA OS PARÂMETROS DE RIGIDEZ E
MÉTODOS DE ELEMENTOSFINITOS ESTOCÁSTICOS .............................................................................. 1180
DIRETRIZES PARA GARANTIA DA SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIOAPLICADAS EM GALERIAS ............. 1192
OTIMIZAÇÃO DE SEÇÕES TRANSVERSAIS DE PILARES EMCONCRETO ARMADO VIA ALGORITMOS
GENÉTICOS ............................................................................................................................................ 1206
ÍNDICE DE AVALIAÇÃO DO GERENCIAMENTO DE RESÍDUOSSÓLIDOS IGR – MONITORAMENTO DA
COLETA SELETIVA SOLIDÁRIAEM UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA ......................................................... 1221
CONSTRUÇÃO DE UM PLUVIADOR DE AREIA PARA MOLDAGEM DECORPOS DE PROVA COM
DIFERENTES DENSIDADES E ÍNDICES DEVAZIOS.................................................................................... 1234
VIABILIDADE TÉCNICA DA UTILIZAÇÃO DE GABIÃO PREENCHIDOCOM CORPOS DE PROVA
CILÍNDRICOS DE CONCRETO (NBR5739/2007) COMO ESTRUTURA DE CONTENÇÃO ........................... 1246
A RELAÇÃO ENTRE AULAS EXPERIMENTAIS E O PROCESSO DECONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
OBSERVADOS NA DISCIPLINAELEMENTOS DE GEOLOGIA..................................................................... 1256
ADAPTAÇÃO DA METODOLOGIA GDE/UnB À TÚNEIS E ESTUDO DOTÚNEL REBOUÇAS ...................... 1270
ESTRUTURAS PRÉ-FABRICADAS DE CONCRETO PARA USOAGRÍCOLA .................................................. 1282
ANÁLISE DO PANORAMA DAS TRAVESSIAS EM PASSAGENS EM NÍVELFERROVIÁRIAS ........................ 1293
AVALIAÇÃO DE PATOLOGIAS ORIUNDAS POR UMIDADE EM UMAEDIFICAÇÃO NA REGIÃO SUDESTE
DE MINAS GERAIS .................................................................................................................................. 1308
IMPACTO DO USO DO BIM NA AVALIAÇÃO DE INTERFERÊNCIAS EMPROJETOS: UM ESTUDO DE CASO
............................................................................................................................................................... 1318
ANÁLISE DO MÉTODO NATM, SONDAGEM E INSTRUMENTAÇÃOASSOCIADOS A ESTABILIDADE DE
TÚNEIS. ESTUDO DE CASO:ESTAÇÃO PINHEIROS – METRÔ DE SÃO PAULO ......................................... 1328
RELAÇÃO ENTRE ACIDENTES EM ATERROS SANITÁRIOS EMONITORAMENTO .................................... 1338
IMPLANTAÇÃO DO BIM EM UMA EMPRESA DE PEQUENO PORTE –ESTUDO DE CASO EM UMA
EMPRESA JÚNIOR .................................................................................................................................. 1352
A CONSTRUÇÃO DE EDIFICAÇÕES EM ILHAS OCEÂNICAS:O CASO DA ILHA DA TRINDADE .................. 1362
AVALIAÇÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E QUALIDADE DA ÁGUANA BACIA DO CÓRREGO
MATIRUMBIDE, JUIZ DE FORA – MG ..................................................................................................... 1374
ANÁLISE DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM PAREDES DEGESSO ACARTONADO E ALVENARIA
INSTALADAS EM ÁREASMOLHÁVEIS ..................................................................................................... 1388
ESTUDO DO POTENCIAL DE APLICAÇÃO DE RESÍDUOS ORIUNDOS DASEPARAÇÃO DAS APARAS DA
CELULOSE NA PRODUÇÃO DE CONCRETOPOLIMÉRICO ........................................................................ 1400
ANÁLISE DE CONCRETOS DE ESCÓRIA DE ACIARIA CARBONATADOS ................................................... 1411
AVALIAÇÃO DA ERODIBILIDADE POR UMA NOVA VERSÃO DOEQUIPAMENTO DE INDERBITZEN EM
SOLO DA REGIÃO DE JUIZ DE FORA-MG ................................................................................................ 1423
PRODUÇÃO E AVALIAÇÃO DE TINTAS SUSTENTÁVEIS COM REJEITODE BARRAGEM DE MINÉRIO DE
FERRO .................................................................................................................................................... 1438
ANÁLISE DOS RISCOS DE ESCORREGAMENTOS E OCUPAÇÕES NAFAIXA DE DOMÍNIO DE UM TRECHO
FERROVIÁRIO EM JUIZ DE FORA (MG) ...................................................................................................1450
ARGAMASSAS MISTAS PRODUZIDAS COMESTÉRIL DE MINERAÇÃO DE QUARTZITO ........................... 1464
DESEMPENHO DE ARGAMASSAS COM ESCORIA DE FORNO PANELAEM SUBSTITUIÇÃO À CAL
HIDRATADA ........................................................................................................................................... 1476
PLACAS DE GESSO TERMOISOLANTES ADITIVADAS COM REJEITOSDE QUARTZITO E FIBRA DE VIDRO. 1488
ADERÊNCIA DE BARRAS DE AÇO EM CONCRETO AGREGADOS DE ESCÓRIA DE ACIARIA ..................... 1503
COMO A NÃO OBSERVAÇÃO DOS PRESSUPOSTOS DA ANOVA PODELEVAR A RESULTADOS
EQUIVOCADOS: UM ESTUDO DE CASO NAENGENHARIA CIVIL............................................................. 1515
ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA DOCONCRETO CONFECCIONADO COM
AGREGADO GRAÚDORECICLADO .......................................................................................................... 1527
PANORAMA DAS LEIS DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVANO BRASIL .................................... 1538
SIMULAÇÃO DE EDIFICAÇÕES EM CONTAINER PARA PESQUISA EM CONFORTO AMBIENTAL ............ 1548
ESTUDO DA LAMA VERMELHA NA FABRICAÇÃO DE GEOPOLÍMEROSSEM ADIÇÃO DE HIDRÓXIDO DE
SÓDIO .................................................................................................................................................... 1563
EVOLUÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: UMA ANÁLISECRÍTICA DOS SERVIÇOS DE ÁGUA E
ESGOTO COM BASE NAEXPERIÊNCIA DO SNIS ...................................................................................... 1574
EVOLUÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: UMA ANÁLISECRÍTICA DOS SERVIÇOS DE RESÍDUOS
SÓLIDOS COM BASE NAEXPERIÊNCIA DO SNIS ..................................................................................... 1588
ENSINO DE RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS POR MEIO DEAPLICAÇÕES COMPUTACIONAIS .................. 1600
ANÁLISE NÃO LINEAR FÍSICA DE TRELIÇAS PLANAS VIAMÉTODO ITERATIVO COM CONVERGÊNCIA
CÚBICA................................................................................................................................................... 1614
ATIVAÇÃO ALCALINA DO REJEITO DE BARRAGEM DE MINÉRIO DEFERRO PARA PRODUÇÃO DE
TIJOLOS .................................................................................................................................................. 1628
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO ATERRAMENTO DE RESÍDUOSSÓLIDOS URBANOS: UM RETRATO
PRELIMINAR DOGERENCIAMENTO EM MINAS GERAIS–BR. ................................................................. 1640
ELABORAÇÃO DE APLICATIVO PARA DIMENSIONAMENTO EMCONCRETO ARMADO DE VIGAS-PAREDE
BIAPOIADAS ........................................................................................................................................... 1650
LIGAÇÕES TUBULARES SUJEITAS ÀPLASTIFICAÇÃO DA FACE LATERAL DO BANZO ............................... 1663
ASPECTOS DA INFLUÊNCIA DE TRANSVERSINAS NOCOMPORTAMENTO DINÂMICO DE PONTES........ 1678
A PRÁTICA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL ATRAVÉS DAENGENHARIA PÚBLICA EM JUIZ DE FORA ... 1691
EXECUÇÃO DE OBRAS DE RETROFIT: UM ESTUDO DECASO NA CIDADE DO RIO DE JANEIROPARA O VI
CONGRESSO DE ENGENHARIA CIVIL...................................................................................................... 1704
VARIAÇÃO DE CALOR EM UMA PLACA: ANÁLISE EXPERIMENTAL ESIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS. 1719
REJEITOS DA INDÚSTRIA DE PRODUÇÃO DE ALUMÍNIO E MAGNÉSIOCOMO SUBSTITUINTE PARCIAL
DO CIMENTO PORTLAND PARAMITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA
EMISSÃODE CO2 .................................................................................................................................... 1729
DIRETRIZES DA MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL: ESTUDO DECASO DA REGIÃO METROPOLITANA
DO RIO DE JANEIRO ............................................................................................................................... 1741
TÉCNICAS MITIGADORAS PARA REDUZIR FREQUÊNCIA EINTENSIDADE DE INUNDAÇÕES................... 1756
ABSORTÂNCIA SOLAR DE ARGAMASSAS COLORIDAS PRODUZIDASCOM REJEITO DE MINÉRIO DE
FERRO .................................................................................................................................................... 1767
USO DE RESÍDUOS DA INDÚSTRIA DE PEDRAS ORNAMENTAIS COMOSUBSTITUIÇÃO AO AGREGADO
MIÚDO EM CONCRETOS EARGAMASSAS .............................................................................................. 1778
ANALISE ENTRE ADITIVOS SUPERPLASTIFICANTE E BIOPOLIMERODERIVADOS DA PROTEINA DO LEITE
BOVINO.................................................................................................................................................. 1788
AVALIAÇÃO DE SISTEMA DE TRANSPORTE EFICIENTE .......................................................................... 1802
ANÁLISE DE INDICADORES PARA AVALIAÇÃO DE BIKEABILITY EM NOVECIDADES BRASILEIRAS.......... 1817
CONSTRUÇOES EM MADEIRA LAMINADA CRUZADA: PROPOSTA DAUNIÃO DA MADEIRA COM LAJE DE
CONCRETO............................................................................................................................................. 1837
ACIDENTES COM ESTRUTURAS DEVIDO A FALHAS NA RESISTÊNCIAÀ PUNÇÃO .................................. 1843
REFORÇO DE BLOCOS DE FUNDAÇÃO - ANÁLISE POR MODELO DEBIELAS E TIRANTES ....................... 1851
ANÁLISE DAS DEFORMAÇÕES EM ESTRUTURAS DE PONTESATRAVÉS DO USO DE IMAGENS ............. 1860
REVISÃO DO MAPA DE PERIGO E RISCO DE ESCORREGAMENTO DOP.M.R.R DO 1º DISTRITO DE
PETRÓPOLIS CONSIDERANDO O NSPT DOSTERRENOS ......................................................................... 1870
PROPOSTA DE RECUPERAÇÃO ESTRUTURAL PARA OBRA DOPATRIMÔNIO MODERNO – ESTUDO DE
CASO ...................................................................................................................................................... 1884
UTILIZAÇÃO DE CONCRETO RECICLADO PARA REFORÇO DE SUBBASEDE PAVIMENTAÇÃO ................ 1894
ANÁLISE DE CUSTO-ÓTIMO DE MEDIDAS PARA A MELHORIA DE
DESEMPENHO ENERGÉTICO NUM EDIFÍCIO DE HABITAÇÃO SOCIAL
EM BRAGA, PORTUGAL

Ricardo Barbosa 1, Nelson Pinheiro 2, Manuela Almeida 3


1 Centre for Territory, Environment and Construction, Department of Civil Engineering, University of Minho, Campus
Azurém, Guimarães, Portugal, ricardobarbosa@civil.uminho.pt

2
BragaHabit, Braga, Portugal, nelsonpinheiro@bragahabit.pt; nelsonpinheiro85@gmail.com
3
Centre for Territory, Environment and Construction, Department of Civil Engineering, University of Minho, Campus
Azurém, Guimarães, Portugal, malmeida@civil.uminho.pt

Resumo: O consumo de energia associado aos edifícios existentes constitui um dos principais
desafios para o desenvolvimento sustentável das cidades. A melhoria de desempenho energético pode
ser obtido através de soluções implementadas na envolvente do edifício, mas estas devem ser
avaliadas considerando não só as poupanças energéticas que proporcionam, mas também o custo
global da solução em toda a sua vida útil. O artigo analisa medidas possíveis de serem implementadas
na envolvente de um edifício de habitação social em Braga, Portugal, utilizando a metodologia de
custo-ótimo.

Palavras-chave: Custo-ótimo, eficiência energética, reabilitação de edifícios

Abstract: Energy consumption associated with the existing building stock is one of the major
challenges that have to be tackled for sustainable development in cities. Improved energy
performance in existing buildings can be obtained through envelope renovation solutions, but these
should be evaluated considering not only potential energy savings, but also the global cost in the
whole building life cycle. The paper analyses several renovation solutions to be implemented in the
envelope of a social housing building in Braga, Portugal, using the cost-optimal methodology.

Keywords: Cost optimality, energy efficiency, building renovation


1. INTRODUÇÃO
Atualmente observa-se uma crescente consciencialização da sociedade, em particular nos países
desenvolvidos, no que diz respeito ao consumo de recursos naturais, com ênfase nos recursos
energéticos não renováveis.
A União Europeia (UE) definiu há cerca de uma década três objetivos primordiais para a política
energética, conhecidos por objetivos 20 20 20. Os objetivos visam atingir determinadas metas até
2020, tendo por base os dados de 1990 [1], nomeadamente a redução em 20% das emissões de gases
de efeito estufa (GEE), aumentar para 20% a parte da energia proveniente de fontes renováveis e
aumentar em 20% a eficiência energética. Para 2030 foram já traçadas metas mais ambiciosas como
a redução em 40% dos GEE, o aumento na utilização de energias renováveis para 27% do consumo
total e o aumento da eficiência energética em 27%. A UE também definiu a longo prazo uma meta
para o ano 2050 que consiste em reduzir entre 80% a 95% as emissões GEE. O protocolo de Kyoto
[2] é um dos exemplos dos esforços desenvolvidos a nível europeu pelos estados membros da União
Europeia no sentido de reduzir as emissões GEE. Outro exemplo mais recente é o do tratado de Paris
que rege as medidas de redução de emissão GEE a partir de 2020 [3].
As cidades, e em particular, os edifícios, constituem um desafio fundamental para o sucesso destes
objetivos. Os edifícios, a nível europeu, representam cerca de 40% da energia total consumida, e são
responsáveis por 36% do total das emissões GEE [1]. A reabilitação dos edifícios existentes em
detrimento da construção nova e da demolição possui assim uma elevada importância para o
desenvolvimento sustentável das cidades. A reabilitação tem o potencial de atenuar os impactos
ambientais, com a redução do consumo de energia, com a redução do uso de recursos naturais, com
a redução da produção de resíduos e com a redução da ocupação de novos espaços. Em Portugal, a
reabilitação não é ainda uma prática abrangente, estando ainda muito longe dos valores médios
europeus em termos de edifícios renovados por ano [4].
Para além disso, a maioria do edificado nacional existente foi construído antes de 1991 [4], ano em
que entrou em vigor o primeiro regulamento térmico a nível habitacional, havendo atualmente um
elevado potencial na reabilitação energética dos edifícios.
É fundamental que esta oportunidade na reabilitação seja aproveitada para a aplicação de soluções
otimizadas que permitam levar o edificado existente para níveis de edifícios com necessidades quase
nulas de energia (nZEB), conforme incentivado pelas diretivas europeias [5]. Por outro lado, para que
a reabilitação consiga ultrapassar as barreiras arquitetónicas e técnicas que impedem a sua adoção
generalizada, é essencial que as intervenções propostas tenham uma rentabilidade elevada [6].
Com o objetivo de atingir o nível nZEB nos edifícios, a Comissão Europeia estabeleceu uma
metodologia para a determinação de níveis ótimos de rentabilidade que tem por base o consumo de
energia primária e o custo global ao longo do ciclo de vida útil do edifício, de cada solução de
melhoria [7]. No estudo aqui apresentado, a metodologia de custo ótimo foi aplicada a um caso de
estudo na cidade de Braga, a um edifício de habitação social, com o objetivo de avaliar a rentabilidade
de medidas de melhoria aplicadas na envolvente do edifício no seu desempenho energético.

2. METODOLOGIA DE CUSTO-ÓTIMO
A base deste estudo é a análise comparativa de vários cenários de reabilitação térmica com a
reabilitação de referência. A reabilitação de referência consiste numa intervenção centrada em obras
de manutenção e conservação em que não há melhorias no desempenho energético do edifício.
A análise de custo-ótimo das medidas de melhoria propostas seguiu o estabelecido pelo Regulamento
Delegado (UE) Nº 244/2012 da Comissão Europeia de 16 janeiro de 2012 que complementa a
Diretiva 2010/31/EU do Parlamento Europeu e do Conselho relativa ao desempenho energético dos
edifícios [5][7]. Esta metodologia sugere uma comparação entre a rentabilidade das diferentes
medidas de melhoria em comparação com a reabilitação de referência, relacionando a energia
primária com os custos globais de cada solução construtiva em análise, tomando em consideração o
ciclo de vida do edifício [8]. O ciclo de vida do edifício foi considerado como sendo de 30 anos,
conforme descrito nos princípios gerais do Regulamento Delegado (UE) Nº 244/2012 [7].
Os resultados das medidas de melhoria propostas para a reabilitação são representados com recurso
a gráficos de forma a ser mais prático identificar a rentabilidade das várias medidas e da solução de
custo-ótimo. O eixo das ordenadas (y) apresenta os valores do custo global da reabilitação, já o eixo
das abscissas (x) está associado aos valores do consumo da energia primária não renovável, por cada
medida de melhoria estudada. São consideradas medidas com rentabilidade as que se localizam
abaixo da linha definida pela reabilitação de referência (Figura 1). O nível de custo-ótimo corresponde
à medida de melhoria que proporciona um desempenho energético do edifício pelo menor custo
global durante o ciclo de vida do edifício.

Figura 1 – Gráfico genérico da análise de custo-ótimo [9]


2.1. Metodologia para o cálculo das necessidades energéticas
O cálculo das necessidades energéticas obedeceu na íntegra ao Regulamento de Desempenho
Energético dos Edifícios de Habitação (REH) publicado através do Decreto-Lei nº118/2013,
respetivas alterações, portarias e despachos referidos no mesmo [10]. A energia despendida para a
climatização e para a preparação AQS (águas quentes sanitárias), foi quantificada com recurso à
aplicação informática REH, designada por “Folha de Cálculo de Avaliação do Comportamento
Térmico e de Desempenho de Edifícios”, disponibilizada pelo ITeCons [11]. Os fatores de conversão
usados entre a energia final e a energia primária foram os constantes no Despacho (extrato) nº 15793-
D/2013 [12].

2.2. Metodologia para a obtenção do custo global


O custo global de cada medida de melhoria ou conjunto de medidas foi obtido seguindo o indicado
no Regulamento Delegado (UE) Nº 244/2012 [7], através da equação 1, referente à perspetiva
privada, ou seja, na ótica do investidor. O custo global é composto pela soma de várias parcelas de
custos que refletem a consideração de toda a vida útil do edifício – investimento inicial e custos de
exploração e manutenção. A este custo global é aplicado uma taxa de desconto que reflete o grau de
risco do investimento para o futuro. Neste caso específico, foi considerada uma taxa de 6%.

𝐶𝑔 (𝜏) = 𝐶𝐼 + ∑ [∑ (𝐶𝑎,𝑖 (𝑗) ∗ 𝑅𝑑 (𝑖)) − 𝑉𝑓,𝜏 (𝑗)] (1)


𝑗 𝑖=1

Em que:
𝜏 - Período de cálculo
𝐶𝑔 (𝜏) - Custo global (relativo ao ano inicial 𝜏0 ) no período de cálculo
𝐶𝐼 - Custo de investimento inicial para a medida ou conjunto de medidas j
𝐶𝑎,𝑖 (𝑗) - Custo anual no ano i para a medida ou conjunto de medidas j
𝑅𝑑 (𝑖) - Fator de desconto para o ano i, com base na taxa de desconto r e p o número de anos
[(1/(1+r/100))p]
𝑉𝑓,𝜏 (𝑗) – Valor residual da medida ou conjunto de medidas j no final do período de cálculo
Os custos de cada medida de melhoria e respetivo custo das operações de manutenção foram obtidos
com recurso ao programa informático Gerador de Preços da CYPE [13].
O custo da energia elétrica e suas previsões da evolução foram obtidos tendo por base o observatório
europeu através da publicação “EU energy trends to 2030” [14] e também pelos valores previstos nos
cenários ”Roadmap 2050” da Fundação Europeia do Clima [15]. Já os custo do gás natural e sua
previsão de evolução foram os valores publicados na “Word Energy Outlook” da Agência
Internacional da Energia (IEA) [16].

3. CASO DE ESTUDO
O edifício caso de estudo está situado no Bairro Social das Enguardas. Sendo um edifício de habitação
social com visíveis patologias existentes ao nível da envolvente, existe a necessidade de reabilitação
de forma a colmatar as patologias construtivas existentes, aumentar o conforto, melhorar a
funcionalidade e a estética e também melhorar o seu desempenho energético de forma significativa,
de modo a ir ao encontro das necessidades atuais dos habitantes, no sentido de diminuir a pobreza
energética identificada neste tipo de bairros.
O Bairro Social das Enguardas fica localizado na freguesia de S. Victor, Concelho de Braga, e faz
parte do parque habitacional municipal da cidade de Braga. O bairro (Figura 2) é composto por 11
edifícios multifamiliares de habitação social e foi construído no ano de 1979, genericamente
composto por R/C e três andares. Os 11 edifícios abarcam 7 frações comerciais e 171 frações
destinadas exclusivamente a fins habitacionais, distribuídas em 24 apartamentos com dois quartos
(T2),127 apartamentos com três quartos (T3) e 20 apartamentos com quatro quartos (T4). As lojas
encontram-se a ser usadas em diversas atividades instaladas ao nível térreo. O bairro apresenta
características típicas de construção a custos controlados, com áreas dos compartimentos reduzidas e
materiais construtivos, nomeadamente os revestimentos, de baixa qualidade.

Figura 2 - Implantação e identificação do edificado

Todos os blocos habitacionais são servidos por mais de uma entrada que dá acesso direto à caixa de
escadas sem recurso a elevadores. O edifício alvo de estudo, Bloco C (Figura 3) é acedido por duas
entradas com acesso direto à caixa de escadas. Cada entrada é composta por 8 apartamentos, dois por
cada piso, totalizando 16 fogos.
O edifício (Figura 3) é composto por frações com três tipologias diferentes: 4 são apartamentos T2,
8 são apartamentos T3 e 4 são T4. O estudo foi centrado numa fração do último piso. O apartamento
T3 (Figura 4) é representativo da tipologia com o maior número de fogos no bairro. Para além disso,
será aquele que potencialmente poderá apresentar maiores necessidades energéticas, essencialmente
por 1) localizar-se junto à cobertura; 2) por conter a fachada lateral direita (parede de empena)
orientada a norte e 3) ter maior área de envolvente exterior. Esta conclusão teve como base estudos
já elaborados no âmbito da reabilitação energética em edifícios e condições semelhantes [17].

Figura 3 - Planta piso tipo do edifício (Bloco C), com o apartamento alvo de estudo assinalado

As soluções construtivas utilizadas neste bairro são apresentadas na Tabela 1 que contem informação
descriminada sobre os materiais utilizados na sua constituição e respetivas características relevantes
no âmbito da reabilitação em causa. Esta informação foi possível com recurso a visitas ao local com
execução de sondagens e confrontação com a documentação existente. As características dos
materiais, nomeadamente a massa volúmica e a condutibilidade térmica, foram obtidas com recurso
ao ITE 50, publicação do Laboratório Nacional de Engenharia Civil [18].

Tabela 1 – Características das soluções construtivas

Elemento da Espessura
Constituição U [W/(m².ºC)]
envolvente (m)
Cobertura (laje
0,15 betão armado COB=3,52
esteira)
betão celular
0,2 PE1=0,69
Paredes exteriores autoclavado
(fachadas) betão celular + betão
0,07 + 0,13 PE2=1,43
armado
Uwdn
Vãos gꞱ,vi gꞱ,Tp
[W/(m².ºC)]
Envidraçados
(madeira + vidro VE1=0,88 VE1=0,07 VE1=3,40
simples 4mm) VE2=0,88 VE2=0,88 VE2=5,10

Do ponto de vista estrutural, o edifício (Figura 5) foi construído com recurso à designada construção
em túnel, constituída por paredes e lajes maciças de betão, sem isolamento térmico. Do ponto de vista
de envolvente, a cobertura é inclinada, construída em duas águas com as vertentes revestidas a painel
sandwich, constituído por isolamento térmico e confinado em ambas as faces por chapa metálica
lacada. Os painéis são aplicados sobre vigotas pré-fabricadas de betão que têm a função de madres, e
estas são suportadas por alvenarias de blocos de cimento. O desvão da cobertura não é acessível, e
apresenta características de espaço não ventilado. A laje de esteira é em betão armado com 15 cm de
espessura, revestida pelo interior com reboco à base de gesso.

Figura 4 - Planta de apartamento tipo T3

Figura 5 - Fotografia do edifício em estudo (Bloco C)


Existem dois tipos de soluções construtivas para as paredes exteriores, uma simples e outra dupla. As
paredes simples constituem as fachadas principal e posterior, que estão orientadas a este e oeste,
respetivamente. As paredes duplas constituem as fachadas laterias. Na fração em análise, a fachada
lateral direita (parede da empena) está orientada a norte e a fachada lateral esquerda, com pequena
área, está orientada a sul.
A parede simples é constituída por blocos de betão celular autoclavado com espessura de 20 cm,
revestida pelo interior com reboco à base de gesso e pelo exterior com reboco à base de produtos
hidráulicos. A parede dupla é composta por dois panos, o pano exterior constituído por blocos de
betão celular autoclavado com espessura de 7 cm e o pano interior constituído por betão armado
(parede estrutural) com espessura de 13 cm. Esta parede é revestida pelo interior com reboco de gesso
e pelo exterior com reboco hidráulico.
Existem dois tipos de soluções construtivas para as paredes interiores, ambas simples. Uma
constituída em betão armado (parede estrutural) e a outra em blocos de betão celular autoclavado,
ambas revestidas com reboco à base de gesso. A parede utilizada para a envolvente interior é em
betão armado que separa o espaço interior da habitação da caixa de escadas.
Os vãos envidraçados exteriores são em caixilharia de madeira com folhas de correr ou giratórias,
sem classificação de permeabilidade ao ar. Os vidros são simples e incolores com 4 mm de espessura.
As proteções exteriores são de material PVC de cor branca, sem isolamento térmico no interior. Todos
os vãos envidraçados exteriores do apartamento têm proteção exterior, com exceção do vão da
cozinha.
O edifício em estudo apresenta dois tipos de pontes térmicas, as planas e as lineares. As pontes
térmicas planas identificadas na fração resumem-se às caixas de estores dos vãos envidraçados
exteriores, pois devido à utilização da construção em túnel não há pilares nem vigas. A caixa de estore
é composta por uma pala de betão pelo exterior e por tampa de madeira pelo interior, conduzindo a
um coeficiente de transmissão térmica (U) de 3.79 W/(m².ºC). As pontes térmicas lineares foram
caracterizadas com recurso a valores tabelados constantes no despacho nº 15793-K/2013 [19], pois
não existe nenhum isolamento térmico. Esta metodologia apresenta valores conservadores para os
coeficientes de transmissão térmica lineares.
A inércia térmica foi caracterizada e quantificada segundo disposto no REH, através do despacho nº
15793-K/2013 [19]. Os elementos construtivos foram distinguidos nos 3 tipos (EL1, EL2 e EL3)
conforme prevê o despacho. A massa volúmica foi obtida com recurso ao ITE 50 [18].
O coeficiente de redução de perdas (btr) traduz as perdas de calor por transmissão nos elementos
construtivos e foi analisado segundo o despacho nº15793-K/2013 [19] para as envolventes interiores
em contacto com os espaços não úteis (ENU). Os espaços não úteis (ENU) existentes na fração são a
caixa de escadas (btr 0.7) e o desvão da cobertura (btr 0.8).
A ventilação é realizada de forma natural, não havendo grelhas para o efeito, através da abertura de
janelas e da permeabilidade da envolvente exterior, através das caixas de estores que se considerou
com permeabilidade ao ar alta. A cozinha está munida de conduta de extração, equipada com exaustor
mecânico com filtros. O cálculo de ventilação foi realizado com recurso à folha de cálculo
disponibilizada pelo LNEC [20], conforme citado no despacho nº15793-K/2013 [19].
As águas quentes sanitárias (AQS) são obtidas com recurso a esquentador alimentado a gás natural,
com potência de 19.2 kW e eficiência nominal de 0.75, visto ser um equipamento antigo. Não existe
nenhum sistema de climatização, quer para aquecimento, quer para arrefecimento, considerando-se
assim os sistemas por defeito do REH.
O edifício localiza-se no município de Braga pertencendo à NUTS III do Cávado, correspondendo à
zona climática de inverno I2 e de verão V2. Os parâmetros climáticos foram obtidos a partir de valores
de referência da NUTS III e ajustados à altitude do local com 201 metros, de forma a obter-se os
requisitos de qualidade térmica da envolvente, segundo o despacho nº 15793-F/2013 [21].
3.1. Medidas de melhoria na reabilitação térmica
Neste estudo, para a envolvente exterior foram propostas medidas de melhoria de reabilitação
energética para as paredes exteriores (fachadas), para os vãos envidraçados (janelas) e para a laje de
esteira da cobertura, conforme listado na tabela 2.
Tabela 2 - Medidas de melhoria de reabilitação energética

Var. Cob. Pared. exteriores Vãos env. U [W/(m².ºC)] Var. Cob. Pared. exteriores Vãos env. U [W/(m².ºC)]

COB=3.52; PE1=0.69;
REF ------ Pintura Pintura PE2=1.43; VE1=3.40; 21 ------------- Iso.Int. EPS 90 mm -------------------- PE=0.32
VE2=5.10
1 ------ ETICS EPS 40mm ------ PE1=0.40; PE2=0.57 22 ------------- Iso.Int. EPS 120 mm -------------------- PE=0.24

2 ------ ETICS EPS 80mm ------ PE1=0.28; PE2=0.36 23 ------------- Iso.Int. PLMN 60mm -------------------- PE=0.48

3 ------ ETICS EPS 120mm ------ PE1=0.22; PE2=0.26 24 ------------- Int. PLMN 90mm -------------------- PE=0.33

4 ------ ETICS PLRV 40mm ------ PE1=0.40; PE2=0.57 25 ------------- Iso.Int. PLMN 120mm -------------------- PE=0.25

5 ------ ETICS PLRV 80mm ------ PE1=0.28; PE2=0.36 26 ------------- Iso.Int. Cortiça 60mm -------------------- PE=0.53

6 ------ ETICS PLRV 120mm ------ PE1=0.22; PE2=0.26 27 ------------- Iso.Int. Cortiça 90mm -------------------- PE=0.37

7 ------ ETICS Cortiça 40mm ------ PE1=0.41; PE2=0.59 28 ------------- Iso.Int. Cortiça 120mm -------------------- PE=0.28

8 ------ ETICS Cortiça 80mm ------ PE1=0.29; PE2=0.37 29 EPS 60mm ------------------ -------------------- COB=0.48

9 ------ ETICS Cortiça 120mm ------ PE1=0.22; PE2=0.27 30 EPS 90mm ------------------ -------------------- COB=0.33

10 ------ MORE-CONECT ------ PE1=0.13; PE2=0.14 31 EPS 120mm ------------------ -------------------- COB=0.26

11 ------ F.Vent. EPS 40 mm ------ PE1=0.37; PE2=0.50 32 PLMN 60mm ------------------ -------------------- COB=0.38

12 ------ F.Vent. EPS 80 mm ------ PE1=0.25; PE2=0.30 33 PLMN 90mm ------------------ -------------------- COB=0.32

13 ------ F.Vent. EPS 120 mm ------ PE1=0.19; PE2=0.22 34 PLMN 120mm ------------------ -------------------- COB=0.28

14 ------ F.Vent. PLMVP 40mm ------ PE1=0.39; PE2=0.57 35 PP 60mm ------------------ -------------------- COB=0.41

15 ------ F.Vent. PLMVP 80mm ------ PE1=0.27; PE2=0.33 36 PP 80mm ------------------ -------------------- COB=0.32

16 ------ F.Vent. PLMVP 120mm ------ PE1=0.21; PE2=0.24 37 PP 100mm ------------------ -------------------- COB=0.26

17 ------ F.Vent. Cortiça 40 mm ------ PE1=0.39; PE2=0.55 38 ------------- ------------------ PVC. +Vidro 2x Standard VE=2.70

18 ------ F.Vent. Cortiça 80 mm ------ PE1=0.27; PE2=0.34 39 ------------- ------------------ PVC. +Vidro 2x térmico VE=1.40

19 ------ F.Vent. Cortiça 120 mm ------ PE1=0.21; PE2=0.25 40 ------------- ------------------ ALUM. +Vidro 2x Standart VE=2.70

20 ------ Iso.Int. EPS 60 mm ------ PE=0.46 41 ------------- ------------------ ALUM. +Vidro 2x térmico VE=1.40

As medidas relativas às paredes exteriores são constituídas por 4 tipos de soluções construtivas -
sistema composto de isolamento térmico pelo exterior (ETICS), painel pré-fabricado aplicado pelo
exterior, fachada ventilada e isolamento térmico pelo interior. Cada solução construtiva concebida
para as paredes exteriores tem 3 variantes em relação ao tipo de isolamento e cada tipo de isolamento
tem 3 variantes ao nível da espessura. Os tipos de isolamento usados foram o poliestireno expandido
(EPS), placa de lã rocha vulcânica (PLRV) e cortiça expandida. O painel pré-fabricado analisado
neste estudo foi desenvolvido no âmbito do projeto de investigação internacional More-Connect na
Universidade do Minho e é composto por uma estrutura de madeira, revestimento em Coretech e
isolamento em poliuretano injetado, tendo no total 120mm de espessura. Esta solução preconiza ainda
a colocação de uma manta de lã rocha de 100mm entre o painel e a parede exterior existente[17].
As melhorias propostas para a cobertura referem-se à adição de isolamento térmico sobre a laje de
esteira. Neste elemento construtivo também foram analisadas 3 variantes relativas aos tipos de
isolamento e cada tipo de isolamento tem 3 variantes ao nível da espessura. Os tipos de isolamento
analisados foram o EPS, placa de lã mineral natural (PLMN) e o poliuretano projetado (PP).
Os vãos envidraçados foram avaliados com 4 variáveis, 2 constituídos com caixilharia em PVC e 2
constituídos em caixilharia de alumínio. Cada de tipo de caixilharia foi analisado com vidro duplo
standard e com vidro duplo térmico. Todos os envidraçados contêm proteções exteriores em alumínio
termolacado de cor branca com isolamento térmico no interior.
O coeficiente de transmissão térmica (U) foi obtido analiticamente, recorrendo aos parâmetros
térmicos constantes na publicação ITE 50 do Laboratório Nacional de Engenharia Civil [18],
nomeadamente, resistências superficiais, massa volúmica e a condutibilidade térmica.

4. RESULTADOS
Por forma a manter os níveis de conforto definidos na regulamentação portuguesa (entre 18 ºC e 25
ºC), o apartamento de tipologia T3, nas suas características atuais, com uma taxa de renovação de ar
calculada de 0,92 rph, apresenta necessidades nominais anuais de energia útil para aquecimento (Nic)
de 266.43 kWh/m².ano e necessidades nominais anuais de energia útil para arrefecimento de 4.59
kWh/m².ano. Para a preparação de águas quentes sanitárias (AQS) a uma temperatura de 45ºC
necessita de consumir 2377 kWh/ano.
A habitação com 63 m2 de área útil tem necessidades nominais anuais globais de energia primária de
621.80 kWh/m².ano, correspondente à classe energética F (menos eficiente) com um custo global
anual de 1126€/m². Esta classe energética deve-se sobretudo ao consumo de energia relacionada com
a estação de aquecimento, que é bastante superior aos valores de referência. Por outro lado, verificam-
se consumos energéticos na estação de arrefecimento abaixo dos valores de referência (a perda de
energia noturna pela envolvente é suficiente para arrefecer os espaços interiores), mas com menos
expressão nos valores globais de energia primária necessária.

A Figura 6 mostra os resultados obtidos para o caso de estudo, analisadas as paredes exteriores
(fachadas) com 4 tipos de soluções construtivas, conforme anteriormente descrito. Para as paredes
exteriores foram testadas 28 variáveis isoladamente. Observando o gráfico constata-se a existência
de 4 tipos de soluções construtivas como soluções rentáveis (abaixo da linha referência). Praticamente
todas as variantes ETICS, com exceção da cortiça com espessura 120mm, apresentam-se como
soluções com rentabilidade. A mesma situação é verificada para o isolamento interior, com todas as
variantes a serem apresentadas como rentáveis com exceção da cortiça com espessura de 60mm. A
fachada ventilada apresenta menos variáveis rentáveis. Os cálculos indicam que, para o isolamento
com cortiça, nenhuma espessura é rentável, e que para os isolamentos EPS e PLMN, as menores
espessuras consideradas também não se encontram abaixo da linha de referência. Da análise efetuada,
a solução de custo-ótimo é o painel pré-fabricado More-Connect, com o custo global anual de
1029€/m² e um valor de energia primária não renovável (EPNR) de 525 kWh/m².ano. Muito próximo
da solução de custo-ótimo apresenta-se a variável ETICS com isolamento EPS de 80 mm de espessura
com o custo global anual de 1063€/m² e de EPNR de 543 kWh/m².ano. Esta melhoria aplicada
isoladamente representa uma diminuição de 10% a 15% nas necessidades nominais anuais globais de
energia primária.

Figura 6 – Resultados da análise de custo-ótimo (paredes exteriores)

A Figura 7 mostra os resultados obtidos para o caso de estudo, analisada a laje de esteira da cobertura
com 3 tipos de isolamento, conforme anteriormente descrito. Para a laje de esteira foram testadas 9
variáveis isoladamente.

Figura 7 - Resultados da análise de custo-ótimo (laje esteira)


Observando o gráfico constata-se que todas as variáveis constituem soluções com rentabilidade
(abaixo da linha referência) e muito próximas. De destacar que a solução de custo-ótimo é PLMN de
140mm de espessura, com o custo global anual de 752€/m² e de EPNR de 334 kWh/m².ano. Esta
melhoria aplicada isoladamente representa uma diminuição de 43% a 46% nas necessidades nominais
anuais globais de energia primária, dependendo da espessura considerada.

A Figura 8 mostra os resultados obtidos para o caso de estudo, analisados os vãos envidraçados,
conforme anteriormente descrito. Para os vãos envidraçados foram testadas 4 variáveis isoladamente.
Da análise efetuada, constata-se que nenhuma das variáveis são soluções de reabilitação com
rentabilidade, encontrando-se acima da linha de referência. De destacar que a solução que apresenta
o melhor custo é a caixilharia PVC com envidraçado térmico, com o custo global anual de 1166€/m²
e de EPNR de 604 kWh/m².ano. Esta melhoria aplicada isoladamente representa uma diminuição de
0.4% a 3% na dependência das necessidades nominais anuais globais de energia primária.

A Figura 9 mostra todos os resultados obtidos aplicados ao caso de estudo para 41 variáveis analisadas
isoladamente. Destacam-se 3 grandes grupos de variáveis associados às soluções construtivas
aplicadas à cobertura (laje esteira), às paredes exteriores e aos vãos envidraçados que representam
uma diminuição de EPNR de cerca de 46%, 15% e 3%, respetivamente.

Figura 8 - Resultados da análise de custo-ótimo (vãos envidraçados)

Após análise das medidas aplicadas isoladamente, criaram-se 6 pacotes de reabilitação com as
melhores soluções relativamente à rentabilidade, incluindo as soluções de custo-ótimo, dos 3 grandes
grupos de variáveis. Para as paredes exteriores foram escolhidas o painel pré-fabricado More-
Connect, o ETICS com EPS de espessuras 80mm e 120 mm. Para a laje de esteira da cobertura foi
escolhido a PLMN de espessuras 120 mm e 140 mm. Para o vão envidraçado foi escolhida a
caixilharia de PVC com vidro duplo térmico. Não houve modificação relativamente aos sistemas de
climatização e águas quentes sanitárias selecionados.
A Figura 10 mostra 4 grandes grupos de variáveis associados aos pacotes de reabilitação e às soluções
construtivas aplicadas isoladamente. Observando a figura, verifica-se que os pacotes conduzem a uma
diminuição de 70% na EPNR e 56% do custo global anual. De referir que o pacote solução custo-
ótimo é constituído pelo painel More-Connect nas paredes exteriores, pela PLMN de 140 mm na
cobertura e pelo vão envidraçado PVC com vidro duplo térmico que representa um custo global anual
de 638€/m² e EPNR de 183 kWh/m².ano.

Figura 9 - Resultados da análise de custo-ótimo (medidas isoladas)


Figura 10 - Resultados da análise de custo-ótimo (pacotes reabilitação)

5. CONCLUSÃO

A rentabilidade de soluções de renovação aplicadas a um edifício de habitação social em Braga foi


avaliada neste estudo, com recurso a uma metodologia de determinação de custo-ótimo. Como
resultado do estudo, foi possível identificar as soluções de custo-ótimo para a renovação do edifício
utilizado como caso de estudo. A solução que apresenta a rentabilidade ótima para os vãos
envidraçados é a caixilharia PVC com vidro duplo térmico e proteção solar. No caso das paredes
exteriores verificou-se que a solução de custo-ótimo é o painel prefabricado More-Connect e para a
cobertura é o isolamento de placa de lã mineral com espessura de 140mm. Destas medidas, a que
conduz à redução mais significativa em termos de energia primária é o isolamento na cobertura que
pode chegar aos 46% de redução. Verifica-se ainda que as medidas associadas em pacotes de
reabilitação aplicados neste caso de estudo representam, num período de 30 anos, uma diminuição de
70% da EPNR e 56% do custo global anual, respetivamente de 621 kWh/m².ano para 183 kWh/m².ano
e de 1126€/m² para 638€/m², quando comparados com a reabilitação de referência. Os gases com
efeito de estufa, resultantes do consumo energético, lançados para a atmosfera acompanham a redução
com a EPNR, na ordem dos 70%.

As reduções calculadas neste estudo indicam que é possível alcançar melhorias significativas no
desempenho energético com soluções com rentabilidade muito elevada. Estes resultados sugerem
ainda que este tipo de soluções podem contribuir significativamente para que o edificado existente
atinja os requisitos nZEB definidos na legislação europeia, nomeadamente quando combinados com
sistemas de climatização com eficiência elevada e produção de energia renovável.

REFERÊNCIAS
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[8] M. Ferreira, M. Almeida, and A. Rodrigues, “Cost optimality and net-zero energy in the renovation of
Portuguese residential building stock – Rainha Dona Leonor neighbourhood case study,” Int. J. Sustain. Build.
Technol. Urban Dev., vol. 5, no. 4, pp. 306–317, 2014.
[9] M. Almeida and M. Ferreira, “Cost effective energy and carbon emissions optimization in building renovation
({Annex} 56),” Energy Build., vol. 152, no. Supplement C, pp. 718–738, 2017.
[10] Ministério da Economia e Emprego, “Decreto-Lei n.o 118/2013 - Regulamento de Desempenho Energético dos
Edifícios de Habitação (REH),” Diário da República, 1.a série — N.o 159, pp. 4988–5005, 2013.
[11] ITeCons, “Folha de Cálculo de Avaliação do Comportamento Térmico e de Desempenho de Edifícios, de
acordo com o REH (Decreto Lei no118/2013 de 20 de Agosto),” Instituto de Investigação e Desenvolvimento
Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade, 2017. .
[12] Ministério Da Economia e do Emprego, “Despacho n.o 15793-D/2013,” Diário da Répuplica, no. 13, p. 35088,
2013.
[13] S. A. CYPE Ingenieros, “Gerador de Preços. Portugal,” 2018. .
[14] P. Capros, L. Mantzos, N. Tasios, A. De Vita, and N. Kouvaritakis, EU energy trends to 2030 - UPDATE 2009.
2010.
[15] European Commission, “Roadmap 2050,” Policy, no. April, pp. 1–9, 2012.
[16] IEA and OECD, “World Energy Outlook 2011,” IEA Publ., p. 577, 2011.
[17] P. Catarina and F. Castro, “Caracterização e Otimização do Desempenho dos Módulos de Reabilitação
Energética da Fachada do Edifício Eng. Mota Pinto em Gaia,” 2016.
[18] C. Santos and L. Matias, Coeficientes de Transmissão Térmica de Elementos da Envolvente dos Edifícios ITE
50, LNEC. Lisboa: Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), 2006.
[19] Ministério Da Economia e do Emprego, “Despacho n.o 15793-K/2013, de 3 de dezembro,” Diário da
Républica, vol. 2.a série, no. 234, pp. 58–87, 2013.
[20] Laboratório Nacional de Engenharia Civil, “Aplicação LNEC Ventilação REH e RECS,” 2018. .
[21] Ministério do Ambiente Ordenamento do Território e Energia, “Despacho no 15793-F -Zonamento Climático,”
Diário da Républica, vol. 2.a série, no. 234, pp. 26–31, 2013.
ESTUDO DE APARELHOS DE APOIO DA PONTE RIO-NITERÓI

STUDY OF SUPPORT APPLIANCES OF THE RIO-NITERÓI BRIDGE

Juliana da Silva Costa 1, Emil de Souza Sánchez Filho 2


1
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil, julianacosta.eng@gmail.com
2
Universidade Federal Fluminense, Niterói, Brasil, emilsanchez@uol.com.br

Resumo. Este trabalho mostra os principais aparelhos de apoio de elastômero. Apresenta o


dimensionamento desses elementos estruturais submetidos à força de compressão, à força horizontal
e à rotação, utilizando as metodologias internacionais, francesa, S.E.T.R.A/1974 e alemã, DIN 4141-
14/1986. Realiza-se um breve relato sobre a Ponte Rio-Niterói, o formato de sua estrutura e de seus
aparelhos de neoprene fretados, bem como os valores das cargas atuantes à que estão submetidos.
Analisa um novo aparelho de apoio de elastômero fretado, dimensionado com as prescrições da
S.E.T.R.A/1974 e da DIN 4141-14/1986, considerando-se os valores de carga apresentados por Pfeil
(1975) e as dimensões comerciais de aparelhos de apoios da empresa NEOPREX. São abordadas as
condições existentes na Ponte Rio-Niterói apresentadas num relatório técnico divulgado pela ANTT
(2015) a partir de ensaios de compressão simples em aparelhos em verdadeira grandeza e em corpos
de prova. Com esses resultados faz-se a análise das deformações específicas dos aparelhos ensaiados
pela ANTT, aplicando-se o Método de Grubbs que constatou dois dados espúrios na verificação das
dimensões desses aparelhos, concluindo-se a partir das deformações específicas normais e com o do
módulo de elasticidade que foram dimensionados com excesso de rigidez.

Palavras-chave: Aparelhos de apoio de elastômero fretados, Normalização, Ponte Rio-Niterói.

Abstract. This paper addresses with the types of pads elastomers. It presents the design of these
structural elements submitted to the compression force, the horizontal force and the rotation, using
the international methodologies, French, S.E.T.R.A / 1974 and German, DIN 4141-14 / 1986. A brief
disclosure about the Rio-Niterói Bridge, the format of its structure and its neoprene pads, as well as
the values of the active loads to which they are submitted. It analyzes a new elastomeric pad, sized
according to the requirements of SETRA / 1974 and DIN 4141-14 / 1986, considering the load values
presented by Pfeil (1975) and the commercial dimensions of the NEOPREX. The conditions existing
in the Rio-Niterói Bridge are presented in a technical report published by ANTT (2015) from simple
compression tests on pads in true magnitude and on test bodies. With these results the analysis of the
specific deformations of the devices tested by the ANTT is applied, applying the Grubbs Method that
verified two spurious data in the verification of the dimensions of these devices, concluding from the
normal specific deformations and with the module of elasticity that were dimensioned with excess
stiffness.

Keywords: Elastomeric pads; Normalization; Rio-Niteroi bridge.


1. INTRODUÇÃO
Este artigo apresenta os principais aparelhos de apoios de elastômero, assim como seu
dimensionamento devido à compressão, à solicitação horizontal e à rotação, utilizando-se as normas
francesa, S.E.T.R.A/1974, e a alemã, DIN 4141-14/1986. A partir dos valores dos carregamentos para
a Ponte Rio-Niterói apresentados por Pfeil (1975) é desenvolvido um dimensionamento de aparelho
de apoio com as dimensões comerciais da empresa NEOPREX fundamentado nas metodologias
supracitadas. Com os dados do relatório técnico divulgado pela ANTT, em 2015, realiza-se a análise
das deformações específicas, utilizando-se o Método de Grubbs para a verificação da ocorrência de
dados espúrios.

2. APARELHOS DE APOIO DE ELASTÔMERO


Os aparelhos de apoios são elementos de ligação estrutural utilizados para distribuir de forma
uniforme as ações da superestrutura sobre a mesoestrutura. Essas ações advêm de cargas de tráfego,
movimentos longitudinais de retração do próprio material da superestrutura, efeitos de variações de
temperatura e deslocamentos provenientes das cargas permanentes ou móveis. A escolha do aparelho
de apoio a ser utilizado, após seu dimensionamento, decorre do tipo de material que o compõe e no
grau de liberdade de suas articulações. Atualmente o mais indicado é o aparelho de apoio de
elastômero (DNIT 091/2006 – ES [1]), o qual se caracteriza por uma borracha sintética à base de
policloropreno (neoprene), pois tem maior durabilidade.
2.1. Tipos de aparelhos de apoio de elastômero
A evolução dos aparelhos de apoio ocorreu após a descoberta pela empresa norte-americana Du Pont
do polímero policloropreno, um elastômero sintético com características semelhantes às da borracha
natural. Atualmente tem-se os aparelhos de elastômero simples o qual permite tensões de compressão
baixas (VIVAN, 2015 [2]) e são utilizados em edificações e pré-fabricados leves.
Há o aparelho de elastômero fretado que são elementos de ligação estrutural reforçados com chapas
de aço, revestidos ou não com politetrafluoretileno (PTFE – teflon). A presença da chapa de aço
impede o escoamento lateral da borracha sob compressão, o que ocorria nos aparelhos de elastômero
simples. Essa restrição resulta em tração na chapa de aço e em compressão no neoprene, originando
o nome fretado. Os aparelhos de apoio de elastômero fretado com abas são utilizados em construções
com inclinações variáveis, superelevações e em locais onde há diferença de cotas entre os apoios.
Esses elementos são fabricados conforme especificação de projeto e as abas são utilizadas como
forma para preenchimento com grout ou resina epóxi a fim de se obter o nivelamento dos locais onde
serão assentados. Há os aparelhos de apoio de elastômero deslizantes que são indicados quando se
deseja permitir o deslizamento da superestrutura sem gerar grandes solicitações na mesoestrutura.
Outra indicação se dá quando não é possível dimensionar o aparelho de apoio devido à altura
necessária de elastômero para assimilar as deformações a que estão submetidas.
2.2. Dimensionamentos dos aparelhos de apoio de elastômero
Para um funcionamento satisfatório desses elementos de ligação o dimensionamento deve ser baseado
nas exigências das normas técnicas vigentes, assim como em métodos consagrados pelo uso. No
Brasil não há uma norma que aborde o dimensionamento dos aparelhos de apoio. A NBR 19783/2015
é utilizada apenas como controle de qualidade estabelecendo as premissas para aceitação ou rejeição
e prescrevendo os métodos de ensaios de compressão, distorção e deslizamento dos aparelhos de
apoio de elastômero fretado.
O dimensionamento é baseado na limitação das tensões cisalhantes a que os aparelhos estão
submetidos e deve ser elaborado no Estado Limite Último (ELU), estando de acordo com a NBR
6118/2014, que regulamenta os projetos de estruturas de concreto (VIVIAN, 2015). As tensões
tangenciais nos aparelhos de apoio surgem devidos às forças de compressão apresentando recalques
verticais, às forças horizontais deformando as camadas de elastômero individualmente e às rotações
a que estão impostas. Na distribuição da tensão cisalhante quando o aparelho é submetido à
compressão (Figura 1) verifica-se que esta é máxima nos extremos de cada camada de elastômero e
no meio dos lados maiores do aparelho de apoio em planta.

Figura 1 – Distribuição da tensão cisalhante devido à compressão


(Crédito da figura [3])
Segundo a norma francesa, S.E.T.R.A/1974, a verificação da tensão cisalhante devido à compressão
pode ser definida de acordo com as seguintes fórmulas:
𝑁 (1)
𝜎𝑚 =
𝑎∗𝑏
𝑎∗𝑏 (2)
𝛽=
2𝑡 (𝑎 + 𝑏)
1,5 𝜎𝑚 (3)
𝜏𝑁 =
𝛽
onde
𝜎𝑚 – tensão média de compressão;
𝑁 – solicitação normal;
𝑎 – dimensão na direção longitudinal (mm);
𝑏 – dimensão na direção transversal (mm);
𝑡 – espessura da camada de neoprene (mm);
𝜏𝑁 – tensão cisalhante devido à compressão.
A DIN 4141-14/1986 apresenta a seguinte verificação:
𝑎 3 𝑎 2 𝑎 𝑡 𝑃 (4)
𝜏𝑃 = [7,2058 ( ) − 9,7613 ( ) + 4,1055 ( ) + 3] ( ) ( )
𝑏 𝑏 𝑏 𝑎 𝑏∗𝑎
onde
𝜏𝑃 – tensão cisalhante devido à força de compressão;
𝑃 – solicitação de compressão no aparelho de apoio.
Para um aparelho submetido à solicitação horizontal, verifica-se que a distribuição da tensão
cisalhante é uniforme com deslocamento (Figura 2).

Figura 2 – Distribuição da tensão cisalhante devido à solicitação horizontal


(Crédito da figura [3 - 4])
A norma francesa, S.E.T.R.A/1974, estabelece a seguinte verificação:
𝜏𝑑 𝐻𝑒 𝐻𝑑 2𝐻𝑒 + 𝐻𝑑 (5)
𝜏𝐻,𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 𝜏𝑒 + = + =
2 𝑎∗𝑏 2∗𝑎∗𝑏 𝑎∗𝑏
onde
𝜏𝐻,𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 – tensão cisalhante total devido à solicitação horizontal;
𝐻𝑒 , 𝐻𝑑 – solicitações horizontais estáticas e dinâmicas, respectivamente;
𝜏𝑒 , 𝜏𝑑 – tensões cisalhantes estáticas e dinâmicas, respectivamente, devidas à 𝐻𝑒 e 𝐻𝑑 .
A DIN 4141-14/1986, define a tensão cisalhante devido à solicitação horizontal como:
𝐻 𝛿 (6)
𝜏𝐻 = + ∗𝐺
𝑏∗𝑎 𝑛∗𝑡
onde
𝜏𝐻 – tensão cisalhante devido à solicitação horizontal;
𝐻 – solicitação horizontal devido à frenagem e à aceleração;
𝛿 – deslocamento horizontal;
𝑛 – número de camadas de neoprene;
𝐺 – módulo de cisalhamento do neoprene.
A última verificação da tensão cisalhante é devido à rotação. A Figura 3 apresenta a distribuição
normal e cisalhante de um aparelho de apoio fretado submetido a essa condição.

Figura 3 – Distribuição da tensão cisalhante e normal devido à rotação


(Crédito da figura [3 - 4])
Pela norma francesa, S.E.T.R.A/1974, tem-se:
𝐺 𝑎 2𝛼 (7)
𝜏𝛼 = ( )
2 𝑡 𝑛
onde
𝜏𝛼 – tensão cisalhante devido à rotação;
𝛼 – rotação imposta aos aparelhos de apoio.
Para a norma alemã, DIN 4141-14/1986, a tensão cisalhante devido à rotação é definida como:
𝑎 3 𝑎 2 𝑎 (8)
𝜏𝛼 = [−0,0872 ( ) + 0,1551 ( ) − 0,1048 ( )
𝑏 𝑏 𝑏
𝑎 2 𝛼𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙
+ 0,1666] 3𝐺 ( ) ( )
𝑡 𝑛
onde
𝜏𝛼 – tensão cisalhante devido à rotação;
𝛼𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 – rotação do aparelho de apoio (rd).
Para ambas as normas as tensões normais de compressão devem ser limitadas estando entre 10
MPa e 15 MPa. A norma francesa define que a tensão cisalhante total deve ser menor ou igual a
cinco vezes o módulo de cisalhamento dos aparelhos de elastômeros, assim:
𝜏 = 𝜏𝑁 + 𝜏𝐻,𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 + 𝜏𝛼 = ≤ 5𝐺 𝑀𝑃𝑎 (9)
A norma alemã define que a tensão cisalhante total deve ser menor que 5 MPa, tal que:
𝜏 = 𝜏𝐻 + 𝜏𝛼 + 𝜏𝑃 < 5 𝑀𝑃𝑎 (10)

3. APARELHOS DE APOIO DA PONTE RIO-NITERÓI


A Ponte Presidente Costa e Silva ou Ponte Rio-Niterói faz parte da rodovia federal litorânea, BR-
101, ligando as cidades do Rio de Janeiro e Niterói. Com 13.290 m de extensão incluindo-se os
trechos em terra, essa ponte apresenta 3.250 aparelhos de apoio (PFEIL, 1975 [5]). A superestrutura
principal da ponte, localizada nos vãos de acesso sobre o mar com cerca de 8.000 m, é constituída
por aduelas protendidas, montadas com auxílio de resina epóxi. Sua seção transversal é formada por
duas vigas-caixão, cada uma com 6,86 m de largura e 6,34 m de espaço das duas abas das aduelas,
Figura 4 (PFEIL, 1975).

Figura 4 – Seção transversal da superestrutura da Ponte Rio-Niterói


(Crédito da figura [5])
As vigas estão apoiadas sobre aparelhos de neoprene fretados com uma lâmina de teflon permitindo
o deslizamento. Esses elementos de base retangular têm dimensões externas de 706 mm x 706 mm x
64 mm (dimensões de cálculo 700 mm x 700 mm x 48 mm). Cada aduela está posicionada sobre
quatro almofadas de elastômero e sua reação máxima é de 24.000 kN, sendo a tensão de compressão:
24.000 ∗ 103
𝜎= = 12,24 𝑀𝑃𝑎
4 ∗ 700 ∗ 700
Os pilares retangulares estão dispostos em pares, são ocos, suportando as reações das vigas-caixão.
Suas dimensões externas transversalmente são iguais às da viga-caixão, 6,86 m, e longitudinalmente
a sua dimensão é variável dando a forma de um tronco de pirâmide ao pilar. No topo do pilar há uma
parte maciça onde são aplicadas as cargas concentradas dos aparelhos de apoio, distribuindo-as para
as paredes. Os pilares estão engastados nos blocos cuja função é transferir as cargas para as fundações.
A altura desses blocos varia de 2 m a 2,50 m nos vãos de acesso sobre o mar, e 5 m no vão central,
(Figura 5). Pfeil (1975) apresentou as cargas atuantes num bloco de dez tubulões localizado no acesso
sobre o mar, na fase construtiva e na fase final da obra. Portanto, para se obter a carga sobre os
aparelhos de apoio basta subtrair a carga total do final da construção pelos valores do bloco e do pilar
na mesma fase (Tabela 1), assim:
𝑃𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 66.500 − (9.300 + 5.000)
𝑃𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 = 52.200 𝑘𝑁

Figura 5 – Pilares dos vãos de acesso sobre o mar da Ponte Rio-Niterói


(Crédito da figura [5])
Tabela 1 – Cargas atuantes em fase construtiva e fase final da obra
Carga Fase construtiva (kN) Fase final (kN)
Bloco 9.300 9.300
Pilar 5.000 5.000
Superestrutura 35.000 44.000
Carga móvel – 8.200
Total 49.300 66.500
No topo do pilar tem-se dois aparelhos de apoio formados por duas almofadas de neoprene fretado
(700 mm x 700 mm x 48 mm) sobre um calço de concreto, totalizando quatro almofadas. Cada
aparelho tem a dimensão em planta de 1400 mm x 700 mm e corresponde à alma das vigas-caixão da
superestrutura (Figura 6).

Figura 6 – Aparelhos de apoio de neoprene fretado sobre os pilares da Ponte Rio-Niterói


(Crédito da figura [5])
3.1. Dimensionamento de aparelhos de apoio para a Ponte Rio-Niterói
Para uma avaliação entre os dimensionamentos de aparelhos de apoio especificados pelas
metodologias S.E.T.R.A/1974 e DIN 4141-14/1986 são analisados os valores de cargas
disponibilizados por Pfeil (1975). Em cada topo de pilar encontram-se dois aparelhos de apoio, e
utilizando-se o valor total da carga sobre os aparelhos, conforme Pfeil (1975), onde 𝑃𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 =
52.200 𝑘𝑁, tem-se:
52.200
𝑃𝑎𝑙𝑚𝑜𝑓𝑎𝑑𝑎 = = 13.050 𝑘𝑁
4
Para a escolha do aparelho de apoio o dimensionamento contará com as dimensões comerciais da
empresa NEOPREX, utilizando-se um aparelho cujas dimensões em planta são 700 mm x 800
mm, como são utilizadas duas almofadas uma ao lado da outra a dimensão final é 700 mm x 1600
mm. As tabelas 2, 3, 4, 5, 6 e 7 apresentam as verificações segundo as normas mencionadas .
Tabela 2 – Verificação segundo a S.E.T.R.A/1974 da tensão cisalhante devido à compressão
Verificação da tensão cisalhante devido à compressão
Dados iniciais
a (mm) 700 Dimensão longitudinal
b (mm) 1600 Dimensão transversal
t (mm) 15 Espessura da camada de neoprene
Metodologia
Solicitação (N) 13.050*10 3 Solicitação de compressão aplicada
S.E.T.R.A/1974
Verificação
𝜎𝑚 (MPa) 11,65 Tensão média de compressão
𝛽 16,23
𝜏𝑁 (MPa) 1,08 Tensão cisalhante
Tabela 3 – Verificação segundo a DIN 4141-14/1986 da tensão cisalhante devido à compressão
Verificação da tensão cisalhante devido à compressão
Dados iniciais
a (mm) 700 Dimensão longitudinal
b (mm) 1600 Dimensão transversal
Metodologia
t (mm) 15 Espessura da camada de neoprene
DIN 4141-14/1986
Solicitação (N) 13.050*10 3 Solicitação de compressão aplicada
Verificação
𝜏𝑃 (MPa) 0,88 Tensão cisalhante
Tabela 4 – Verificação segundo a S.E.T.R.A/1974 da tensão cisalhante devido à solicitação horizontal
Verificação da tensão cisalhante devido à solicitação horizontal
Dados iniciais
a (mm) 700 Dimensão longitudinal
Metodologia b (mm) 1600 Dimensão transversal
S.E.T.R.A/1974 He (N) 672*10 3 Solicitação horizontal estática
Verificação
𝜏ℎ,𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 (MPa) 1,20 Tensão cisalhante
Tabela 5 – Verificação segundo a DIN 4141-14/1986 da tensão cisalhante devido à solicitação horizontal
Verificação da tensão cisalhante devido à solicitação horizontal
Dados iniciais
a (mm) 700 Dimensão longitudinal
b (mm) 1600 Dimensão transversal
n 4 Número de camadas de neoprene
Metodologia t (mm) 15 Espessura da camada de neoprene
DIN 4141-14/1986 H (N) 672*10 3 Solicitação horizontal estática
δ (mm) 10 Deslocamento horizontal
G (MPa) 1 Módulo de cisalhamento do neoprene
Verificação
𝜏ℎ (MPa) 0,77 Tensão cisalhante
Tabela 6 – Verificação segundo a S.E.T.R.A/1974 da tensão cisalhante devido à rotação
Verificação da tensão cisalhante devido à rotação
Dados iniciais
G (MPa) 1 Módulo de cisalhamento do neoprene
a (mm) 700 Dimensão longitudinal
Metodologia α (rad) 2*10 3 Rotação
S.E.T.R.A/1974 t (mm) 15 Espessura da camada de neoprene
n 4 Número de camadas de neoprene
Verificação
𝜏𝛼 (MPa) 0,54 Tensão cisalhante
Tabela 7 – Verificação segundo a DIN 4141-14/1986 da tensão cisalhante devido à rotação
Verificação da tensão cisalhante devido à rotação
Dados iniciais
G (MPa) 1 Módulo de cisalhamento do neoprene
a (mm) 700 Dimensão longitudinal
b (mm) 1600 Dimensão transversal
Metodologia
α (rad) 2*10 3 Rotação
DIN 4141-14/1986
t (mm) 15 Espessura da camada de neoprene
n 4 Número de camadas de neoprene
Verificação
𝜏𝛼 (MPa) 0,47 Tensão cisalhante

As tabelas 8 e 9 mostram a limitação da tensão cisalhante total segundo as normas S.E.T.R.A/1974 e


DIN 4141-14/1986, respectivamente.
Tabela 8 – Limitação da tensão cisalhante total segundo a S.E.T.R.A/1974
Limitação da tensão cisalhante total (S.E.T.R.A/1974)
𝜏 = 1,08 + 1,20 + 0,54 ≤ 5 ∗ 1
𝜏 = 𝜏ℎ + 𝜏ℎ,𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 + 𝜏𝛼 ≤ 5G
𝜏 = 2,82 MPa ≤ 5 MPa ok!
Tabela 9 – Limitação da tensão cisalhante total segundo a DIN 4141-14/1986
Limitação da tensão cisalhante total (DIN 4141-14/1986)
𝜏 = 0,77 + 0,47 + 0,88 ≤ 5
𝜏 = 𝜏𝑝 + 𝜏ℎ + 𝜏𝛼 ≤ 5
𝜏 = 2,12 MPa ≤ 5 MPa ok!
3.2. Deformações dos aparelhos de apoio da Ponte Rio-Niterói
Após a realização do ensaio de compressão nos aparelhos de apoio da Ponte Rio -Niterói, cujos
resultados foram apresentados em um relatório técnico divulgado pela ANTT em 2015 [6], foi
verificada a variação das suas dimensões. Os lados A e C correspondem as faces de maior
dimensão dos aparelhos e os lados B e D, as de menor dimensão (Figura 7).

Figura 7 – Nomenclatura das dimensões dos aparelhos de apoios


(Crédito da figura [6])
As dimensões foram averiguadas antes e após a finalização do ensaio. De acordo com o relatório
apresentado pela ANTT (2015) nem todos os aparelhos atingiram a tensão de 60 MPa, pois antes
de alcançarem essa magnitude tiveram suas chapas de aço ou camadas de neoprene rompidas, ou
algum agravamento que impossibilitou a continuação do ensaio. Com essas dimensões e com os
valores das forças relativas à tensão de 15 MPa, tensão com a qual os aparelhos de apoio da Ponte
Rio-Niterói foram dimensionados, foi realizada a verificação das deformações específicas
experimentais e teóricas, nos eixos x, y e z (Figura 8).

Figura 8 – Eixos cartesianos para as análises das deformações específicas

• Deformações específicas para o primeiro aparelho de apoio do eixo 136


O ensaio com o primeiro aparelho de apoio do eixo 136 (700 mm x 700 mm x 55 mm) foi realizado
até 40 MPa, onde as fissuras existentes na face A ficaram mais acentuadas. A Tabela 10 apresenta
as dimensões antes e após o ensaio de compressão. A fim de averiguar a presença de valores
extremos na medição foi utilizado o Método de Grubbs ou Teste de Valor Extremo, para os valores
da altura medidos antes e depois do ensaio. Esses resultados podem ser decorrentes de erros de cálculo
ou, nesse caso, medição, ou uma anotação precipitada do operador. Com os valores encontrados faz-
se uma análise com o nível de significância 𝛼. Sendo o valor da resistência característica do concreto
à compressão 𝑓𝑐𝑘 um valor que representa 95% de confiança (CARVALHO, 2016 [7]), o nível de
significância 𝛼 utilizado é de 5%.
Para o primeiro aparelho de apoio ensaiado do eixo 136 a Tabela 11 mostra os valores obtidos pelo
Método de Grubbs.
Tabela 10 – Dimensões verificadas do primeiro aparelho de apoio ensaiado do eixo 136
Lados Antes do ensaio (cm) Depois do ensaio (cm)
A 70,90 71,00
B 70,40 71,00
Primeiro aparelho de
C 71,90 72,50
apoio ensaiado do eixo
D 71,00 71,70
136
Altura 5,23* 5,09**
* (5,123 + 5,240 + 5,025 + 5,547) / 4 ≅ 5,23
** (4,926 + 5,050 + 4,869 + 5,510) / 4 ≅ 5,09
Tabela 11 – Verificação pelo Método de Grubbs para o primeiro aparelho de apoio ensaiado do eixo 136
Antes do ensaio (cm) Depois do ensaio (cm)
Média dos valores 𝑥̅ = 5,23 𝑥̅ = 5,09
Desvio padrão 𝑠 = 0,23 𝑠 = 0,29
𝑃𝑎𝑟𝑎 5,025 → 𝑍 = 0,92 𝑃𝑎𝑟𝑎 4,869 → 𝑍 = 0,56
Método de Grubbs
𝑃𝑎𝑟𝑎 5,547 → 𝑍 = 1,38 𝑃𝑎𝑟𝑎 5,51 → 𝑍 = 1,45
O valor crítico para quatro amostras em 5% de nível de significância é 1,462. Portanto, todos os
valores serão considerados para o cálculo das deformações específicas. Para as deformações
específicas experimentais obteve-se a média dos lados A e C, e B e D, Tabela 12, antes e depois do
ensaio para se adotar um valor padrão.
Tabela 12 – Média das dimensões do primeiro aparelho de apoio ensaiado do eixo 136
Primeiro aparelho de Lados Média antes do ensaio (cm) Média depois do ensaio (cm)
apoio ensaiado do AeC 71,40 71,75
eixo 136 BeD 70,70 71,35
Para as deformações específicas nas direções x, y e z, tem-se:
∆𝐿 𝐿 − 𝐿0 (11)
𝜀= =
𝐿0 𝐿0
onde:
𝐿 – dimensão após o ensaio;
𝐿0 – dimensão antes de ensaio.
Assim:
71,35 − 70,70
𝜀𝑥 = = 0,92%
70,70
71,75 − 71,40
𝜀𝑦 = = 0,49%
71,40
5,09 − 5,23
𝜀𝑧 = = −2,68%
5,23
Com a magnitude de 𝜀𝑧 e com a última tensão no aparelho igual a 40 MPa tem-se:
𝜎𝑧 (12)
𝐸=
𝜀𝑧
−40
𝐸= = 1,49 𝐺𝑃𝑎
−0,0268
onde
𝐸 – módulo de elasticidade;
𝜎𝑧 – tensão normal de compressão na direção z;
𝜀𝑧 – deformação específica na direção z.
Sendo o coeficiente de Poisson particular para cada material, no caso isotrópico, e que em uma
compressão encurta na direção da força e se expande lateralmente (HIBBELER, 2006 [8]), tem-se:
−𝜀𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑣𝑒𝑟𝑠𝑎𝑙 (13)
𝜈=
𝜀𝑙𝑜𝑛𝑔𝑖𝑡𝑢𝑑𝑖𝑛𝑎𝑙
onde
𝜈 – coeficiente de Poisson;
𝜀𝑡𝑟𝑎𝑛𝑠𝑣𝑒𝑟𝑠𝑎𝑙 – deformação específica transversal;
𝜀𝑙𝑜𝑛𝑔𝑖𝑡𝑢𝑑𝑖𝑛𝑎𝑙 – deformação específica longitudinal.
−0,00919
𝜈= = 0,34
−0,0268
Com as deformações específicas experimentais tem-se as deformações específicas teóricas para a
tensão de compressão de 15 MPa, tensão para qual os aparelhos foram dimensionados. Como o valor
do módulo de elasticidade para a camada de neoprene é 𝐸 = 4 𝑀𝑃𝑎 (SÁNCHEZ FILHO, 2014 [9]),
segue-se de acordo com Mason (1977):
𝑎 2 (14)
𝐸𝑖 = 𝑘4 ∗ 𝐸 ∗ ( )
𝑑
0,0049 𝑠𝑒 𝑎 ≅ 𝑏
𝑘4 = {
0,066 𝑠𝑒 𝑏 → ∞
onde
𝐸𝑖 – módulo de elasticidade aparente de uma camada de neoprene fretada;
𝑎 – dimensão na direção longitudinal;
𝑑 – espessura total do aparelho de apoio.
Assim:
700 2
𝐸𝑖 = 0,0049 ∗ 4 ∗ ( ) = 3,17 ∗ 10−3 𝐺𝑃𝑎
55
Como o aparelho do eixo 136 é composto por quatro camadas de neoprene tem-se:
𝐸𝑖 = 3,17 ∗ 4 = 1,27 ∗ 10−2 𝐺𝑃𝑎
Para a Lei de Hooke generalizada, com 𝜎𝑥 = 𝜎𝑦 = 0, escreve-se:
1 𝜈𝜎𝑧 (15)
𝜀𝑥 = [𝜎𝑥 − 𝜈(𝜎𝑧 + 𝜎𝑦 )] = −
𝐸 𝐸
1 𝜈𝜎𝑧 (16)
𝜀𝑦 = [𝜎𝑦 − 𝜈(𝜎𝑥 + 𝜎𝑧 )] = −
𝐸 𝐸
1 𝜎𝑧 (17)
𝜀𝑧 = [𝜎𝑧 − 𝜈(𝜎𝑥 + 𝜎𝑦 )] =
𝐸 𝐸
onde
𝜎𝑥 – tensão normal na direção x;
𝜎𝑦 – tensão normal na direção y.
Os aparelhos estudados foram submetidos apenas a tensão de compressão, sendo as tensões 𝜎𝑥 e 𝜎𝑦
nulas, portanto, 𝜀𝑥 = 𝜀𝑦 :
0,34 ∗ (−15)
𝜀𝑥 = 𝜀𝑦 = − = 40,6%
12,70
−15
𝜀𝑧 = = −118,1%
12,70
• Deformações para o segundo aparelho ensaiado de apoio do eixo 136
O ensaio com o segundo aparelho de apoio do eixo 136 (700 mm x 700 mm x 55 mm) foi realizado
até 50 MPa, onde os bojamentos que se encontravam nas faces A e B se acentuaram e houve o
rompimento da chapa de aço. A Tabela 13 apresenta as dimensões antes e após o ensaio de
compressão.
Tabela 13 – Dimensões verificadas do segundo aparelho de apoio ensaiado do eixo 136
Lados Antes do ensaio (cm) Depois do ensaio (cm)
A 71,40 72,00
B 71,40 72,00
Segundo aparelho de
C 72,00 72,20
apoio ensaiado do eixo
D 70,50 71,80
136
Altura 5,88* 6,04**
* (5,974 + 5,528 + 6,141 + 5,895) / 4 ≅ 5,88
** (5,763 + 5,568 + 7,160 + 5,684) / 4 ≅ 6,04

A Tabela 14 mostra as verificações das dimensões pelo Método de Grubbs.


Tabela 14 – Verificação pelo Método de Grubbs para o segundo aparelho de apoio ensaiado do eixo 136
Antes do ensaio (cm) Depois do ensaio (cm)
Média dos valores 𝑥̅ = 5,88 𝑥̅ = 6,04
Desvio padrão 𝑠 = 0,26 𝑠 = 0,75
𝑃𝑎𝑟𝑎 5,528 → 𝑍 = 1,38 𝑃𝑎𝑟𝑎 5,568 → 𝑍 = 0,64
Método de Grubbs
𝑃𝑎𝑟𝑎 6,141 → 𝑍 = 0,99 𝑃𝑎𝑟𝑎 7,160 → 𝑍 = 1,49
Valor crítico 1,462
O valor 7,160 cm medido após a realização do ensaio de compressão está incorreto, pois o Método
de Grubbs mostra que esse é um valor espúrio, ou seja, seu resultado pelo método está acima do valor
crítico para um nível de significância de 5%.
A Tabela 15 apresenta a média dos lados A e C, B e D e da altura antes e depois, porém, sem o valor
espúrio 7,160 cm. A partir desses valores obtém-se o módulo de elasticidade do aparelho, o
coeficiente de Poisson e as deformações específicas experimentais (Tabela 16).
Tabela 15 – Média das dimensões do segundo aparelho de apoio ensaiado do eixo 136
Lados Média antes do ensaio (cm) Média depois do ensaio (cm)
Segundo aparelho de
AeC 71,70 72,10
apoio ensaiado do
BeD 70,95 71,90
eixo 136
Altura 5,88 5,67
Tabela 16 – Deformações específicas experimentais do segundo aparelho de apoio ensaiado do eixo 136
Parâmetros Magnitudes
𝜎𝑧 (𝑀𝑃𝑎) 50
𝐸 (𝐺𝑃𝑎) 1,4
𝜈 0,37
Deformações 𝜀𝑥 1,34
específicas 𝜀𝑦 0,56
experimentais (%) 𝜀𝑧 -3,57

As deformações específicas teóricas calculadas para 15 MPa, e o módulo de elasticidade do aparelho


antes de ser submetido ao ensaio de compressão são apresentados na Tabela 17.
Tabela 17 – Deformações específicas teóricas do segundo aparelho de apoio ensaiado do eixo 136
Parâmetros Magnitudes
𝜎𝑧 (𝑀𝑃𝑎) 15
𝐸 (𝐺𝑃𝑎) 1,27*10-2
𝜈 0,37
Deformações 𝜀𝑥 44,3
específicas 𝜀𝑦 44,3
teóricas (%) 𝜀𝑧 -118,1

• Deformações específicas para o primeiro aparelho de apoio ensaiado do eixo 335-R2


O ensaio com o primeiro aparelho de apoio do eixo 335-R2 (710 mm x 240 mm x 55 mm) foi realizado
até 48 MPa, quando houve rompimento vertical na face C.
A Tabela 18 apresenta as dimensões antes e após o ensaio de compressão.
Tabela 18 – Dimensões verificadas do primeiro aparelho de apoio ensaiado do eixo 335-R2
Lados Antes do ensaio (cm) Depois do ensaio (cm)
A 71,70 72,20
B 23,80 24,00
Primeiro aparelho de
C 71,80 72,40
apoio ensaiado do eixo
D 23,90 24,20
335-R2
Altura 5,21* 5,04**
* (5,20 + 5,24 + 5,19 + 5,20) / 4 ≅ 5,21
** (5,144 + 4,990 + 5,075 + 4,945) / 4 ≅ 5,04
A Tabela 19 mostra as verificações das dimensões pelo Método de Grubbs.
Tabela 19 – Verificação pelo Método de Grubbs para o primeiro aparelho de apoio ensaiado do eixo 335-R2
Antes do ensaio (cm) Depois do ensaio (cm)
Média dos valores 𝑥̅ = 5,21 𝑥̅ = 5,04
Desvio padrão 𝑠 = 0,02 𝑠 = 0,09
𝑃𝑎𝑟𝑎 5,19 → 𝑍 = 0,79 𝑃𝑎𝑟𝑎 4,945 → 𝑍 = 1,06
Método de Grubbs
𝑃𝑎𝑟𝑎 5,24 → 𝑍 = 1,47 𝑃𝑎𝑟𝑎 5,144 → 𝑍 = 1,19
Valor crítico 1,462
A Tabela 20 apresenta a média dos lados A e C, B e D e da altura antes e depois, porém sem o outlier
5,24 cm.
Tabela 20 – Média das dimensões do primeiro aparelho de apoio ensaiado do eixo 335-R2
Lados Média antes do ensaio (cm) Média depois do ensaio (cm)
Primeiro aparelho de
AeC 71,75 72,30
apoio ensaiado do
BeD 23,85 24,10
eixo 335-R2
Altura 5,20 5,04

Com esses valores obtém-se o módulo de elasticidade do aparelho, o coeficiente de Poisson e as


deformações específicas experimentais (Tabela 21).
Tabela 21 – Deformações específicas experimentais do primeiro aparelho de apoio ensaiado do eixo 335-R2
Parâmetros Magnitudes
𝜎𝑧 (𝑀𝑃𝑎) 48
𝐸 (𝐺𝑃𝑎) 1,56
𝜈 0,34
Deformações 𝜀𝑥 1,04
específicas 𝜀𝑦 0,76
experimentais (%) 𝜀𝑧 -3,08

As deformações específicas teóricas calculadas para 15 MPa e o módulo de elasticidade do aparelho


antes de ser submetido ao ensaio de compressão são apresentados na Tabela 22.
Tabela 22 – Deformações específicas teóricas do primeiro aparelho de apoio ensaiado do eixo 335-R2
Parâmetros Magnitudes
𝜎𝑧 (𝑀𝑃𝑎) 15
𝐸 (𝐺𝑃𝑎) 1,76*10-1
𝜈 0,34
Deformações 𝜀𝑥 2,87
específicas 𝜀𝑦 2,87
teóricas (%) 𝜀𝑧 -8,52

• Deformações específicas para o segundo aparelho de apoio do eixo 335-R2


O ensaio com o segundo aparelho de apoio do eixo 335-R2 (710 mm x 240 mm x 55 mm) foi realizado
até 50 MPa, e se manteve a situação encontrada no ensaio em 45 MPa, como rasgamento da anomalia
existente da face C e bojamentos nas faces B e D. A Tabela 23 apresenta as dimensões antes e após
o ensaio de compressão.
Tabela 23 – Dimensões verificadas do segundo aparelho de apoio ensaiado do eixo 335-R2
Lados Antes do ensaio (cm) Depois do ensaio (cm)
A 71,40 71,50
B 23,50 23,50
Segundo aparelho de
C 71,40 71,60
apoio ensaiado do eixo
D 23,50 23,60
335-R2
Altura 5,17* 4,91**
* (5,19 + 5,13 + 5,15 + 5,20) / 4 ≅ 5,17
** (4,779 + 4,907 + 4,993 + 4,950) / 4 ≅ 4,91
A Tabela 24 mostra as verificações das dimensões pelo Método de Grubbs.
Tabela 24 – Verificação pelo Método de Grubbs para o segundo aparelho de apoio ensaiado do eixo 335-R2
Antes do ensaio (cm) Depois do ensaio (cm)
Média dos valores 𝑥̅ = 5,17 𝑥̅ = 4,91
Desvio padrão 𝑠 = 0,03 𝑠 = 0,09
𝑃𝑎𝑟𝑎 5,13 → 𝑍 = 1,13 𝑃𝑎𝑟𝑎 4,779 → 𝑍 = 1,39
Método de Grubbs
𝑃𝑎𝑟𝑎 5,20 → 𝑍 = 0,98 𝑃𝑎𝑟𝑎 4,95 → 𝑍 = 0,46
Valor crítico 1,462
A partir do valor crítico verifica-se que não há valor espúrio. Portanto, todos os valores medidos antes
e depois do ensaio foram considerados para o cálculo das deformações específicas. A Tabela 25
apresenta a média dos lados A e C, e B e D, antes e depois do ensaio.
Tabela 25 – Média das dimensões do segundo aparelho de apoio ensaiado do eixo 335-R2
Segundo aparelho de Lados Média antes do ensaio (cm) Média depois do ensaio (cm)
apoio ensaiado do AeC 71,40 71,55
eixo 335-R2 BeD 23,50 23,55
Com esses valores obtém-se o módulo de elasticidade do aparelho, o coeficiente de Poisson e as
deformações específicas experimentais (Tabela 26).
Tabela 26 – Deformações específicas experimentais do segundo aparelho de apoio ensaiado do eixo 335-R2
Parâmetros Magnitudes
𝜎𝑧 (𝑀𝑃𝑎) 50
𝐸 (𝐺𝑃𝑎) 9,94*10-1
𝜈 0,04
Deformações 𝜀𝑥 0,21
específicas 𝜀𝑦 0,21
experimentais (%) 𝜀𝑧 -5,03

As deformações específicas teóricas calculadas para 15 MPa e o módulo de elasticidade do aparelho


antes de ser submetido ao ensaio de compressão são apresentados na Tabela 27.
Tabela 27 – Deformações específicas teóricas do segundo aparelho de apoio ensaiado do eixo 335-R2
Parâmetros Magnitudes
𝜎𝑧 (𝑀𝑃𝑎) 15
𝐸 (𝐺𝑃𝑎) 1,76*10-1
𝜈 0,04
Deformações 𝜀𝑥 0,36
específicas 𝜀𝑦 0,36
teóricas (%) 𝜀𝑧 -8,52

• Deformações específicas para o aparelho de apoio ensaiado da perimetral


O ensaio com o aparelho de apoio da perimetral (480 mm x 250 mm x 50 mm) foi realizado até 60
MPa, havendo apenas bojamento em todas as faces na tensão de 25 MPa e mantendo-se essa situação
não alterada até o final do ensaio. A Tabela 28 apresenta as dimensões antes e após o ensaio de
compressão.
Tabela 28 – Dimensões verificadas do aparelho de apoio ensaiado da perimetral
Lados Antes do ensaio (cm) Depois do ensaio (cm)
A 48,50 49,40
B 25,50 26,40
Aparelho de apoio C 48,40 49,70
ensaiado da perimetral D 25,10 25,90
Altura 4,14* 3,94**
* (4,207 + 4,284 + 4,015 + 4,051) / 4 ≅ 4,14
** (4,051 + 3,828 + 4,010 + 3,870) / 4 ≅ 3,94

A Tabela 29 mostra as verificações das dimensões pelo Método de Grubbs.


Tabela 29 – Verificação pelo Método de Grubbs para o aparelho de apoio ensaiado da perimetral
Antes do ensaio (cm) Depois do ensaio (cm)
Média dos valores 𝑥̅ = 4,14 𝑥̅ = 3,94
Desvio padrão 𝑠 = 0,13 𝑠 = 0,11
𝑃𝑎𝑟𝑎 4,015 → 𝑍 = 0,97 𝑃𝑎𝑟𝑎 3,828 → 𝑍 = 1,04
Método de Grubbs
𝑃𝑎𝑟𝑎 4,284 → 𝑍 = 1,14 𝑃𝑎𝑟𝑎 4,051 → 𝑍 = 1,03
Valor crítico 1,462
A partir do valor crítico percebe-se que não há valor espúrio. Portanto, todos os valores medidos antes
e depois do ensaio foram considerados para o cálculo das deformações específicas.
A Tabela 30 apresenta a média dos lados A e C, e B e D, antes e depois do ensaio.
Tabela 30 – Média das dimensões do aparelho de apoio ensaiado da perimetral
Aparelho de apoio Lados Média antes do ensaio (cm) Média depois do ensaio (cm)
ensaiado da AeC 48,45 49,55
perimetral BeD 25,30 26,15
Com esses valores obtém-se o módulo de elasticidade do aparelho, o coeficiente de Poisson e as
deformações específicas experimentais (Tabela 31).
Tabela 31 – Deformações específicas experimentais do aparelho de apoio da perimetral
Parâmetros Magnitudes
𝜎𝑧 (𝑀𝑃𝑎) 60
𝐸 (𝐺𝑃𝑎) 1,24
𝜈 0,47
Deformações 𝜀𝑥 3,36
específicas 𝜀𝑦 2,27
experimentais (%) 𝜀𝑧 -4,83

As deformações específicas teóricas calculadas para 15 MPa, e o módulo de elasticidade do aparelho


antes de ser submetido ao ensaio de compressão são apresentados na Tabela 32.
Tabela 32 – Deformações específicas teóricas do aparelho de apoio ensaiado da perimetral
Parâmetros Magnitudes
𝜎𝑧 (𝑀𝑃𝑎) 15
𝐸 (𝐺𝑃𝑎) 9,73*10-2
𝜈 0,47
Deformações 𝜀𝑥 7,24
específicas 𝜀𝑦 7,24
teóricas (%) 𝜀𝑧 -15,41

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os resultados obtidos conclui-se que o critério para escolha da metodologia utilizada para o
dimensionamento de aparelhos de apoio de elastômero fretado é de livre escolha do engenheiro
projetista. Os resultados apresentados mostram que em todas as verificações o aparelho proposto para
a Ponte Rio-Niterói teve bom desempenho. É importante destacar também que em todas as
verificações segundo à S.E.T.R.A/1974 geraram valores mais altos que as da DIN 4141-14/1986, daí
conclui-se que a norma francesa como a mais criteriosa (Tabela 33).
Tabela 33 – Verificações da tensão cisalhante do aparelho proposto
Aparelho proposto
Verificação da tensão cisalhante S.E.T.R.A/1974 DIN 4141-14/1986 Diferença percentual
Devido à força de compressão 1,08 MPa 0,88 MPa 81,48%
Devido à força horizontal 1,20 MPa 0,77 MPa 64,17%
Devido à rotação 0,54 MPa 0,47 MPa 87,04%
Em relação aos resultados das deformações específicas normais apresentadas foi realizada
comparando-se essas deformações específicas para a tensão de 15 MPa (que foi estabelecida para o
projeto dos aparelhos de apoio da Ponte Rio-Niterói) e a última tensão com a qual os aparelhos foram
submetidos no ensaio de compressão divulgado pela ANTT (2015).
Conforme analisado pelo Método de Grubbs os aparelhos de apoio ensaiados dos eixos 136 (segundo
aparelho) e 335-R2 (primeiro aparelho) tiveram uma de suas dimensões aferidas de forma incorreta.
Esse erro fica comprovado por haver em cada um desses aparelhos um valor espúrio, ou seja, um
valor atípico que está afastado dos demais valores verificados. Para o segundo aparelho do eixo 136
verifica-se esse erro pela média de suas dimensões. O valor final encontrado após uma tensão de
compressão de 50 MPa foi de 6,04 cm, sendo que a média da altura inicial do aparelho era de 5,88
cm. Um valor completamente contraditório, visto que ao se submeter um corpo a um ensaio de
compressão, onde a carga é aplicada de forma uniforme, a altura dele, evidentemente, deve diminuir.
Em relação ao módulo de elasticidade dos aparelhos todos os valores encontrados nos ensaios foram
superiores que os valores para os quais os aparelhos foram dimensionados. Isso mostra que a
formulação, equação 14, é muito conservativa tornando o aparelho mais rígido. Outra resposta
também seria o módulo de elasticidade para cada camada de neoprene muito baixo, 𝐸 = 4 𝑀𝑃𝑎.
A fim de confirmar a teoria de que os aparelhos de apoio da Ponte Rio-Niterói são mais rígidos do
que o esperado no seu dimensionamento foi realizada uma verificação da variação percentual de cada
elemento estrutural (Tabela 34).
Sendo a variação percentual negativa tem-se uma taxa percentual de decrescimento. O que confirma
que a deformação específica normal para a qual os aparelhos foram dimensionados está muito acima
do necessário para manter um bom desempenho. Ressalta-se que esses aparelhos têm mais de 40 anos
de serviço, e o excesso de rigidez garantiu o desempenho adequado de sua função: transmissão de
solicitações entre a superestrutura e a mesoestrutura. Verifica-se que para os dois aparelhos de apoio
do eixo 136 os valores das deformações teóricas estão muito superiores aos dos demais aparelhos.
𝑎 2
Isso é devido ao valor adotado para 𝑘4 na equação 14 (𝐸𝑖 = [𝑘4 ∗ 𝐸 ∗ (𝑑) ] 4), onde 𝑘4 =
0,0049 𝑠𝑒 𝑎 ≅ 𝑏
{ . Para os aparelhos do eixo 136 foi utilizado 𝑘4 = 0,0049, pois em planta a
0,066 𝑠𝑒 𝑏 → ∞
dimensão longitudinal é igual a transversal. Para os aparelhos do eixo 335-R2 e para o da perimetral,
𝑘4 = 0,066, pois esses têm dimensão em planta retangular. Contudo, afim de verificar o exposto e
utilizando-se para o aparelho de apoio da perimetral 𝑘4 = 0,0049, pois suas dimensões nas direções
longitudinal e transversal não são muito diferentes (480 mm x 250 mm), tem-se os valores mostrados
na Tabela 35.
Tabela 34 – Variação percentual da deformação específica dos aparelhos de apoio ensaiados
Deformação específica (%)
Aparelhos de apoio
𝜀𝑍 (teórico)* 𝜀𝑍 (experimental)** Variação percentual
1º aparelho do eixo 136 -118,1 -2,68 -98
2º aparelho do eixo 136 -118,1 -3,57 -97
1º aparelho do eixo 335-R2 -8,52 -3,08 -64
2º aparelho do eixo 335-R2 -8,52 -5,03 -41
Aparelho da perimetral -15,41 -4,83 -69
Tabela 35 – Módulo de elasticidade teórico para o aparelho de apoio da perimetral
Módulo de elasticidade teórico
Para 𝑘4 = 0,066 𝐸𝑖 = 9,73 ∗ 10−2 𝐺𝑃𝑎
Para 𝑘4 = 0,0049 𝐸𝑖 = 7,23 ∗ 10−3 𝐺𝑃𝑎

Com a tensão de 15 MPa e 𝐸𝑖 = 7,23 ∗ 10−3 𝐺𝑃𝑎, tem-se uma deformação específica muito elevada,
𝜀𝑧 = −207,6%. Isso monstra que os valores para o parâmetro 𝑘4 tem grande influência sobre a
deformação específica de um aparelho de apoio de neoprene. Esse parâmetro é teórico, sendo
publicado no Brasil por Mason (1977), mas foi obtido por Topallof (1964).

5. REFERÊNCIAS
[1] DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. DNIT 091: Tratamento de
aparelhos de apoio: concreto, Neoprene e metálicos – Especificação de Serviço. Rio de Janeiro, 2006.
[2] VIVAN, Milton Emílio. Aparelhos de apoio estruturais. Revista Concreto & Construções. São Paulo, 2015.
Disponível <http://www.ibracon.org.br/publicacoes/revistas_ibracon/rev_construcao/pdf/Revista_Concreto_77.pdf>.
Acesso em 27 de fevereiro de 2018.
[3] MILLER, C. P.; BARBOSA, L. R.; PESSANHA, M. C. R. Dimensionamento estrutural de uma ponte em concreto
armado. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Estadual de Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos
Goytacazes, 2005.
[4] PFEIL, Walter. Pontes em Concreto Armado: Mesoestrutura, Infraestrutura, Apoio. Vol. 2, 3ª ed. Rio de Janeiro:
Editora LTC, 1983.
[5] PFEIL, Walter. Ponte Presidente Costa e Silva: Métodos Construtivos. Rio de Janeiro: LTC, 1975.
[6] AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES TERRESTRES: Atualização da Pesquisa de Condições Específicas
dos Aparelhos de Apoio Elastoméricos da Ponte Rio-Niterói. Disponível
em<http://portal.antt.gov.br/index.php/content/view/12845/PONTE.html?naoincluirheader>. Acesso em: 06/04/2018.
[7] CARVALHO, Roberto Chust; FILHO, Jasson Rodrigues de Figueiredo. Cálculo e Detalhamento de Estrutura
Usuais de Concreto Armado. 4ª ed. São Carlos. EdUFSCar, 2016.
[8] HIBBELER, R. C. Resistência dos Materiais. 5ª ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.
[9] SÁNCHEZ FILHO, Emil de Souza. Aparelhos de apoio. Notas de aula. Rio de Janeiro, 2014.
ANÁLISE DA FUNDAÇÃO EM RADIER – ASPECTOS RELEVANTES

Raft foundations analysis – relevant aspects

Irani Pereira dos Santos Vilela1, Emil de Souza Sánchez Filho 2


1
Engenheira civil M.Sc.UFF, Niterói, Brasil, irani@sciens.com.br
2
Professor D.Sc. UFF, Niterói, Brasil, emilsanchez@uol.com.br

Resumo. A NBR 6122:2010 menciona apenas brevemente o dimensionamento de radier,


direcionando o projetista para a NBR 6118:2014, ou para as normas estrangeiras, tais como as ACI
360R:06. Atualmente a fundação em radier está associada a projetos de interesse social. Este trabalho
tem como objetivo analisar os parâmetros primordiais para uma completa análise desse tipo de
fundação, tais como as tensões no solo, o módulo de reação vertical do solo, a magnitude dos
carregamentos e deslocamentos, e a complexidade da superestrutura. A partir do modelo de Winkler,
este trabalho apresenta o parâmetro básico para o exame dos deslocamentos no radier: o módulo de
reação vertical do solo 𝜅, sendo o mesmo introduzido nesta análise por meio de expressões empíricas,
tabelas e correlações. A utilização correta da magnitude do módulo de reação vertical do solo leva a
dimensionamentos menos conservativos e, consequentemente, a menores custos. As prescrições da
NBR 6118:2014 e do ACI 318:2011 aplicáveis ao radier protendido são apresentadas neste artigo.

Palavras-chave: fundação em radier, módulo de reação do solo, concreto protendido.

Abstract. NBR 6122:2010 briefly mentions the mat foundation design, just enough to direct the
designer to the NBR 6118:2014, or to other international codes, like the ACI 360R-06. Currently, in
Brasil, the mat foundation is associated with projects of social interests. The purpose of this paper is
to analyze the primordial parameters to run a complete analysis of the raft foundation, including the
soil stress, the modulus of subgrade reaction, the magnitude of both loads and settlements, and the
superstructure complexity. Based on the Winkler model this paper analyses the following basic
parameters for analysis and design of raft foundation settlements: the modulus of vertical subgrade
reaction through empiric expressions, tables, and correlation. The correct choice of the modulus of
subgrade reaction results in less conservative and less expensive designs. NBR 6118:2014 and the
ACI 318:2011 prescriptions to the prestressed mat foundation are also shown in this paper.

Keywords: mat, raft, reaction modulus, prestressed concrete.

1. INTRODUÇÃO
O uso do sistema radier é bastante antigo. Esse sistema é encontrado em fundações de aquedutos da
Roma Antiga, por exemplo. No século XVII, durante período do rei Luís XIV, L’aqueduc de Retz,
que trouxe água ao castelo St-Germain-en-Laye, foi executado com fundação em radier. Entretanto,
as teorias de análise desse tipo de fundação datam do século XIX (ALBINO, 2017). A grande
contribuição para a análise do radier foi proposta por Emil Winkler (1867), por meio do seu modelo
conhecido como Solo de Winkler, que admite que a reação do solo é proporcional aos deslocamentos,
por meio de uma constante de proporcionalidade 𝜅.
Define-se radier como uma fundação superficial de grandes dimensões que recebe os carregamentos
e os transmite ao solo ou à rocha (NBR6122:2010). É possível analisar a fundação em radier como
um elemento rígido. Nesse tipo de análise, os recalques são mínimos e as pressões do solo são
uniformes em toda a área do radier. Porém, há recalques diferenciais que causam variações nas
pressões do solo e nas tensões de flexão na placa.

2. MÓDULO DE REAÇÃO VERTICAL DO SOLO


Em geral, nas análises da fundação em radier, adota-se um valor médio constante para o valor de 𝜅.
O ensaio de placa (NBR 6489:1984) permite obter o módulo de reação do solo por meio da curva
pressão x deslocamento. Outras opções para se obter o módulo de reação do solo são: tabelas, cálculo
do recalque direto, correlações, e expressões empíricas.
O conceito do módulo de reação considera que o comportamento do solo atende à hipótese de
Winkler:
q
κ= (1)
w
onde
κ=módulo de reação vertical;
𝑞 =carga aplicada;
𝑤 =deslocamento.
Expressões empíricas são propostas para estimar o valor do módulo de reação vertical do solo.
Algumas dessas expressões são apresentadas abaixo:
Autor Módulo de reação do solo
E 11
PERLOFF (1975) κ= (𝑘𝑁/𝑚³) (2)
1−ν I B
BOWLES (1997) κ = 36q (lb⁄ft³) (3)

12 EB E 1
VÉSIC (1961) κ = 0,65 (𝑘𝑁⁄𝑚³) (4)
EI 1 − ν B
onde
E = módulo de deformabilidade do solo;
E = módulo de Young do material da fundação;
𝜈 = coeficiente de Poisson;
I = fator de forma do radier e de sua rigidez (Tabela 1);
I = momento de inércia da fundação;
q = tensão admissível em kips/𝑓𝑡 ;
B = menor dimensão da fundação.
Tabela 1 – Valores do coeficiente de forma Is. VELLOSO e LOPES (2014).
Flexível
Rígido
Forma Centro Borda Média
Círculo 1,00 0,64 0,85 0,79
Quadrado 1,12 0,56 0,95 0,99
Retângulo L/B=1,5 1,36 0,67 1,15
2,0 1,52 0,76 1,30
3,0 1,78 0,88 1,52
5,0 2,10 1,05 1,83
10 2,53 1,26 2,25
100 4,00 2,00 3,7
1000 5,47 2,75 5,15
10000 6,90 3,50 6,60

Na ausência de valores experimentais, usar tabelas para determinar o valor do módulo de reação do
solo.

Tabela 2* – Valores de 𝜅 para solos não coesivos. Adaptada de GUPTA (1997).

Compacidade Módulo de reação do solo 𝜿 (kgf/cm3)


SPT (N) Solo Seco ou Saturado Solo Submerso
Fofo < 10 1,5 0,9
Medianamente Compacto 10 - 30 1,5 – 4,7 0,9 – 2,9
Compacto > 30 4,7 – 18 2,9 – 10,8

Tabela 3* – Valores de 𝛋 para solos coesivos. Adaptada de GUPTA (1997).

Coesão Resistência não confinada à coesão (kgf/cm2) Módulo de reação do solo (kgf/cm3)
Rija 1–2 2,7

Muito Rija 2–4 2,7 – 5,4

Dura >4 5,4 – 10,8

*Valores acima aplicam-se a uma placa 30 cm X 30 cm ou viga com 30 cm de largura.

Tabela 4 – Valores de 𝜿 em, kN⁄𝒎𝟑 adaptada por VELLOSO e LOPES (2014).


Argilas Rija Muito rija Dura
𝑞 (kN⁄𝑚 ) 100 – 200 200 – 400 400
faixa de valores 160 – 320 320 – 640 640
Valor proposto 240 480 960

Areias Fofa Medianamente compacta Compacta


Faixa de valores 60 – 190 190 – 960 960 – 320
Areia acima N.A. 130 420 1600
Areia submersa 80 260 960
Tabela 5 – Valores módulo de reação vertical. Adaptada de MORAES (1976).
Tipo de solo 𝜅(kN/m3) 10
turfa leve – solo pantanoso 5 a 10
turfa pesada – solo pantanoso 10 a 15
areia fina de praia 10 a 15
aterro de silte, de areia e cascalho 10 a 20
argila molhada 20 a 30
argila úmida 40 a 50
argila seca 60 a 80
argila seca endurecida 100
silte compactado com areia e pedra 80 a 100
silte compactado com areia e muita pedra 100 a 120
cascalho miúdo com areia fina 80 a 120
cascalho médio com areia fina 100 a 120
cascalho grosso com areia grossa 120 a 150
cascalho grosso com pouca areia 150 a 200
cascalho grosso com pouca areia compactada 200 a 250

Os trabalhos de SCOTT (1981) e BAROUNIS (2013) correlacionam os valores de 𝜅 com o Standard


Penetration Test (NSPT) e com a resistência do Cone Penetration Test (CPT).
SCOTT (1981) propõe a correlação de 𝜅 com o NSPT para solos granulares:

κSPT( , ) = 1,8N60 (5)

onde
𝜅SPT( , ) = módulo de reação do solo corrigido para placa de 300mm em MN/mm3;
𝑁60 = NSPT corrigido para levar em conta a energia dissipada do martelo.

0,72NSPT (6)
Brasil: N60 =
0,60

BAROUNIS (2013) propõe uma correlação entre 𝜅 e o CPT .

𝜅CPT = 100𝑞 (7)


𝜅CPT( = 0,12𝜅CPT
, ) (8)
𝐿
(𝐵 + 0,5)
𝜅FCPT = 𝜅CPT( , ) (9)
𝐿
1,5(𝐵 )
onde
κCPT = módulo de reação do solo em MN/m3;
q = resistência não drenada do solo em MPa;
κCPT( , ) = módulo de reação do solo corrigido para placa de 300 mm em MN/m3;
κFCPT = módulo de reação do solo da fundação em MN/m3;
B, L = respectivamente largura e comprimento da fundação em m.
BAROUNIS e ARMAOS (2016) comparam os resultados obtidos por correlações do módulo de
reação do solo com o CPT e SPT para solos granulares em Cristhchurch, Nova Zelândia. A conclusão
dos autores é que ambas as correlações, CPT e NSPT, resultam em valores para o módulo de reação
do solo na faixa proposta por BOWLES (1997), sendo que a correlação com o CPT resultou em
recalques diferenciais de 9% a 12% maiores que a correlação com o SPT. Porém, os momentos de
flexão foram menores na correlação com o CPT com uma faixa menor de variação entre 19% e 23%.
O estudo de ALMEIDA (2001) correlaciona o módulo de reação do solo ((𝜅) com o índice de suporte
Califórnia, por meio da expressão resultante do ajuste da curva, curva esta obtida a partir do ábaco
apresentado no ACI-360R-06, que relaciona CBR com o tipo de solo classificado segundo a ASTM
D2487-00. A Tabela 6 mostra a faixa de variação do CBR para os solos classificados segundo a
ASTM D2487-00. A Figura 1 mostra a curva sugerida por ALMEIDA e ARCARO (2001), que gera
a expressão para o módulo de reação do solo em função do CBR.
Tabela 6 – Faixa de variação do CBR de acordo com o tipo de solo. adaptada de ACI360R-06 e ASTM D2487-00.
Solo Mín. CBR Máx. CBR
OH 2 5
CH 2 5
MH 2,5 8
OL 2 8
ML 3 15
CL 3 15
SC 10 20
SU 10 20
SP 15 25
SM 20 40
SW 20 40
GC 20 40
GU 25 50
GP 35 60
GM 40 80
GW 60 80

onde
G = pedregulho
S = areia
M = silte
C = argila
W = bem graduado
P = mal graduado
U = uniformemente graduado
L = baixa a média compressibilidade
H = alta compressibilidade
O = orgânico

Figura 1 – Curva de ajuste dos valores de 𝜿 em função do CBR. Fonte: ALMEIDA (2001).

A curva gera as expressões (10) e (11) para os valores do módulo de reação do solo em função do
CBR.
ALMEIDA (2001) κ = 2,495(ln 𝐶𝐵𝑅) + 89,78(ln 𝐶𝐵𝑅) − 35,06 (𝑝𝑜𝑢𝑛𝑑𝑠 ⁄𝑖𝑛 ) (10)
ALMEIDA e κ = 0,06906(ln 𝐶𝐵𝑅) + 2,485(ln 𝐶𝐵𝑅)
(11)
ARCARO (2003) − 0,9705 (𝑘𝑔𝑓⁄𝑐𝑚 )

BOWLES (1997) propõe uma correlação entre o módulo de reação do solo e a tensão admissível:
𝜅 = 36𝑞 (12)
onde
𝑞 = tensão admissível em kips/ft2.
Na análise das expressões, tabelas e correlações, para determinar o módulo de reação do solo,
observa-se que este não é um fator intrínseco ao solo. Esse parâmetro depende, além de tipo de solo
e sua rigidez, do formato da fundação, das relações entre as rigidezes da fundação e a superestrutura.
Esses fatores influenciam os valores do módulo de reação vertical do solo em diferentes regiões do
radier. Na preparação deste estudo, observou-se que a variação nos valores do módulo de reação do
solo em uma mesma fundação só será significativa em estruturas de grandes dimensões e sensíveis a
recalques (VILELA, 2016).
3. PARÂMETROS DE PROJETO
Para um bom desempenho de qualquer elemento de concreto, o que inclui a fundação radier, é
necessária a atenção a todos os aspectos relacionados com a tecnologia do concreto. O objetivo é
obter um concreto que atenda às especificações de projeto. Essas especificações normativas adotadas
nos projetos vão além da resistência do concreto à compressão.

3.1. Classe de agressividade e qualidade do concreto


A rigor, para estabelecer a durabilidade e o desempenho do concreto, requeridos em projeto, deverão
ser feitos ensaios que indiquem os parâmetros mínimos necessários. Na falta desses ensaios, adotam-
se as prescrições da NBR 6118/2014 para assegurar a qualidade do concreto. O risco de deterioração
está relacionado à classe de agressividade a que o concreto é exposto (Tabela 7). Valores mínimos de
resistência à compressão e o fator água/cimento são prescritos em função da classe de agressividade.
A Tabela 8 reproduz a tabela 7.1 da NBR 6118/2014.
Tabela 7 – Classe de agressividade ambiental (CAA). Fonte: Tabela 6.1 NBR 6118/2014

Tabela 8 – Correspondência entre a classe de agressividade e a qualidade do concreto. Fonte: NBR 6118/2014

A NBR 6118/2014 faz prescrições para o cobrimento em função da classe de agressividade,


conforme demonstrado na Tabela 9.
Tabela 9 – Correspondência entre a classe de agressividade e o cobrimento nominal. Fonte: NBR 6118/2014

3.2. Módulo de Elasticidade e resistências do concreto


O módulo de elasticidade do concreto tem influência direta nas deformações. A NBR 8522/2017
estabelece o método de ensaio para o módulo de elasticidade do projeto. Na falta de ensaios, pode-se
adotar a prescrição da NBR 6118/2014 para concretos de 20 a 50 MPa de resistência à compressão.
𝐸 = 5600𝛼 𝑓 (13)
𝐸 =𝐸 (14)
,
𝐸 =𝛼 = 0,8 + ≤ 1,0 (15)
onde
𝛼 = Parâmetro em função da natureza do agregado que influencia o módulo de elasticidade;
𝐸 = Módulo de elasticidade inicial do concreto;
𝐸 = Módulo de deformação secante do concreto.
O módulo de elasticidade e fck em MPa.
Para tensões de compressão menores que 0,5fc e tensões de tração menores que fct, o coeficiente de
Poisson (𝜈) a NBR 6118/2014 pode ser igual a 0,2 e o módulo de elasticidade transversal Gc igual a
Ecs/4.

𝑓 , = 0,3𝑓 (16)
onde
𝑓 , = resistência média à tração do concreto em MPa;
𝑓 = resistência característica à compressão do concreto em MPa.
3.3. Cordoalhas e armadura passiva
Além dos parâmetros supracitados, um bom desempenho da fundação em radier requer que todas as
prescrições normativas sejam observadas. Para os fios e cordoalhas do concreto protendido, as NBRs
7482 e 7483/2008 reúnem as recomendações a serem adotadas. Para o concreto armado, as
prescrições estão na NBR 7480/2008. Para o radier protendido, as cordoalhas mais usadas são as de
½", baixa relaxação e tensão última de ruptura (fpu) de 1860 MPa, enquanto no concreto armado, o
aço usual é o CA-50 com 500 MPa de resistência característica ao escoamento. Na prática, os sistemas
protendidos com aderência posterior e sem aderência se mostram mais vantajosos e competitivos.
Porém, essa escolha deverá ser posterior às análises das condições de flexibilidade, layout e
segurança.
Quanto ao uso de uma armadura mínima, de acordo com a NBR 6118/2014, pode-se afirmar que no
radier em concreto armado é necessária uma armadura mínima de flexão. Porém, a falta de uma
normativa específica para radier impede o consenso sobre essa prescrição, no caso do radier
protendido. O PTI DC10.1-08 estabelece condições em que essa armadura mínima de flexão pode ser
dispensada. Existe a necessidade de colocação de uma armadura construtiva e outra de fretagem nas
ancoragens passivas e ativas.

3.4. Outros parâmetros


O fator de forma é definido pela razão entre o perímetro do radier e sua área. O PTI (post-tension
institute) recomenda que o fator de forma não exceda o valor 24. Caso seja necessária a correção,
segundo o PTI, algumas medidas devem ser tomadas. Entre elas está a modificação da projeção em
planta da fundação, se for possível dividir a fundação em duas que serão analisadas e dimensionadas
em separado. Outra opção seria a introdução de vigas para enrijecimento e o reforçar do solo para
diminuir a retração ou a expansão do mesmo. O uso de uma malha adicional de armadura passiva
pode ser necessário.
Em relação ao fator de forma, a FPA (Foundation Performance Association) questiona o limite de 24
para esse fator. Segundo a FPA, esse limite conduz a resultados imprecisos, visto que este se baseia
no dimensionamento de áreas retangulares muito extensas, e contradiz a prescrição do próprio PTI,
na seção 6.3 do manual Design of post-tensioned slabs-on-grade. A FPA recomenda que o PTI
justifique quais critérios foram adotados para se chegar ao valor limite de 24, ou indique um
procedimento diferente para ser adotado pelo projetista numa planta de radier específica, por
exemplo, uma análise por meio do método dos elementos finitos. Albino (2017) recomenda levar em
conta os efeitos da torção na análise desses casos.
A implementação de nervuras no radier tem o efeito de enrijecimento. Albino (2017) recomenda que
o espaçamento entre elas não ultrapasse 4,5 m e não seja inferior a 1,8 m, mantendo uma relação entre
o maior e o menor espaçamento de 1,5. A altura da nervura influencia diretamente na capacidade do
momento resistente, da força cortante e nos deslocamentos. Se a opção for a adoção de nervuras com
alturas diferentes, Albino (2017) recomenda que a relação entre as alturas não seja maior que 1,2.
Quanto à largura, recomenda-se que esta esteja no intervalo entre 15 e 35 cm.
Não menos importante na análise da fundação em radier é a correta caracterização do solo e o
entendimento de sua estrutura, especialmente nos casos em que se tratar de solo fino. Esses solos têm
um comportamento peculiar na presença de água, sendo os índices LL (limite de liquidez) e IP (índice
de plasticidade) essenciais para a compreensão do comportamento mecânico do solo.
Alguns solos têm comportamento expansivo em presença de água, sendo importante verificar o grau
médio de expansão e a atividade do solo. Por exemplo, sabe-se que as argilas ilitas têm atividade
muito menor do que as montmorilonitas. Assim, o PTI DC10.1-08 (2008) recomenda que, na presença
de solos expansivos, sejam verificadas as situações de levantamento do centro e das bordas da placa,
visto que para cada uma dessas premissas o comportamento estrutural da placa irá mudar. Para o
levantamento do centro, o radier se torna uma viga contínua sobre base elástica com as extremidades
em balanço, ao passo que o levantamento das bordas torna a placa uma viga bi-apoiada com as
extremidades apoiadas no solo. Na presença de solos expansivos, a recomendação é usar o radier
nervurado. Pode-se também optar pela substituição da camada expansiva por um solo já estabilizado.
É necessário um estudo de viabilidade antes da escolha dessa opção.
Solos colapsíveis, quando não saturados, são porosos, com grande índice de vazios. Porém, quando
ocorre a infiltração d’água, esses solos têm grandes recalques repentinos que, mesmo mantendo a
pressão aplicada, levam ao colapso da estrutura do solo. A NBR 6122/2010 não recomenda a
instalação de fundações superficiais nesse tipo de solo. Porém, BOWLES (1997) sugere uma
expressão (17) empírica para verificar o potencial de colapso em um solo.
𝛾 = 17,3 − 0,186(𝐿𝐿 − 16) (17)
onde
𝛾 = peso específico com solo seco (kN/m3);
𝐿𝐿 = limite de liquedez (%).
Quando 𝛾 in situ é menor do que a expressão (17) o solo é potencialmente colapsível e a opção
do radier protendido deve ser avaliada com cuidado, levando-se em conta o grau de colapso de cada
solo. Uma forma de viabilizar o emprego do radier protendido nesses solos é usar métodos de
melhoria do solo, com estabilização ou compactação, com o objetivo de reduzir o recalque de colapso,
podendo viabilizar a solução em radier protendido.
A manta retardadora de vapor é uma manta colocada sob a base do radier para evitar que a água e o
vapor gerados durante a execução do radier percole. Essa água pode gerar patologias que
influenciaram diretamente na durabilidade da fundação. A manta retardadora de vapor deve ser
especificada de acordo com a ASTM E 145-11, (ALBINO, 2017).

4. CONCLUSÕES
A fundação em radier exige atenção a muitos aspectos, desde análise e dimensionamento, montagem,
concretagem e pós-concretagem. Além disso, não se pode desprezar a importância do conhecimento
do solo. Uma campanha mínima de sondagem, nos moldes das prescrições da NBR 6484/2001 e NBR
8036/1983, para identificar a presença de solo expansível ou colapsível é de extrema necessidade,
visto que toda a análise poderá ser alterada na presença desses solos. A escolha adequada dos
parâmetros e o atendimento às prescrições normativas são imprescindíveis. Quando escolhida uma
normativa internacional para a análise do radier, é preciso verificar se tal normativa se adequa às
condições nacionais de solo e projeto, deixando claro qual foi a normativa escolhida.
Nesse trabalho, ficou demonstrado que muitos dos tópicos relacionados com o radier ainda não estão
claramente normatizados. Concluiu-se que as normativas do Brasil precisam sanar as lacunas
relacionadas ao tema radier. Além disso, é necessária a publicação de uma normativa nacional para a
fundação em radier.

REFERÊNCIAS
[1] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE – ACI. Design of Slabs on Grade (ACI 360R-06), 2006.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6122: projeto e execução de fundações.
Rio de Janeiro, 2010.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6118: projeto de estrutura de concreto –
procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
[4] AMERICAN CONCRETE INSTITUTE – ACI. Building code requirements of structural concrete (ACI 318-11),
2011.
[5] ALBINO, F.S. Radier simples, armado e protendido – teoria e prática. Campinas, 2017.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6489: prova de carga direta sobre
terreno de fundação. Rio de Janeiro, 1984.
[7] VELLOSO, D.A; LOPES, F.R. Fundações Volume 1: Critérios de projeto – Investigação de subsolo –
fundações superficiais. 2 ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2014.
[8] MORAES, M.C. Estruturas de fundações. 3 ed. São Paulo: Editora McGraw Hill, 1976
[9] GUPTA, S.C. Raft foundations design and analysis with a practical approach. New Delhi, New Age
International (P) Limited, Publishers, 1997.
[10] SCOTT, R; Foundation analysis. Prentice-Hall civil engineering an engineering mechanics series. Spectrum
Book, S-642, New Jersey, 1981.
[11] BAROUNIS, N; SAUL, G; LALLY, D.; Estimation of vertical subgrade reaction from CPT investigations:
Application in Christchurch. Proceedings. 19th NZGS. Geotechnical Symposium, Queenstown, 2013.
[12] BOWLES, J. E.; Foundation analysis and design. 5th ed. Singapore: McGraw-Hill, 1997.
[13] ALMEIDA, L.C. Laje sobre solo para fundação de residência. Dissertação de mestrado apresentada à comissão
de pós-graduação da Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas como parte dos
requisitos para obtenção do título de mestre em Engenharia Civil na área de engenharia de estruturas. Campinas,
2001.
[14] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS – ASTM. Standard practice for classifications of
soils of engineering purposes (ASTM D2487-00), 2000.
[15] BAROUNIS, N; ARMAOS, P.; Sensitive analysis of the vertical modulus of subgrade reaction, as estimated from
CPT for the design of foundations and comparison with values from SPT for a site in Christchurch. NZEE, Annual
Technical Conference, Christchurch, 2016.
[16] ALMEIDA, L.C., ARCARO, V.F. Laje sobre solos para fundação ou Pisos. V Simpósio EPUSP sobre
Estruturas de Concreto. São Paulo, 2003.
[17] VILELA, I.P.S., Análise de Radiers de Concreto Estrutural. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense, Escola de Engenharia, como requisito parcial
para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil. Niterói, 2016.
[18] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 8522: determinação dos módulos
estáticos de elasticidade e deformação à compressão. Rio de Janeiro, 2017.
[19] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 7482: fios de aço para estruturas de
concreto protendido – especificação. Rio de Janeiro, 2008.
[20] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 7483: cordoalhas de aço para estruturas
de concreto protendido – especificação. Rio de Janeiro, 2008.
[21] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 7480: aço destinado para armadura de
estruturas de concreto armado – especificação. Rio de Janeiro, 2008.
[22] POST TENSION INSTITUTE. PTI DC10.1-08: Design of post-tensioned slabs-on-ground. 3rd. edition, 2008.
[23] FOUNDATION PERFORMANCE ASSOCIATION - Structural Committee. FPA-SC-14-0: Comments on the
post-tensioning institute's "Design of post-tensioned slabs-on-ground" 3rd edition. Houston, 2006.
[24] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM E 145-11: standard specification for plastic
water vapor retarders used in contact with soil or granular fill under concrete slabs. West Conshohocken, 2011.
[25] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6484: solo – sondagens de simples
reconhecimento com SPT – método de ensaio. Rio de Janeiro, 2001.
[26] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 8036: programação de sondagens de
simples reconhecimento dos solos para construção de edifícios. Rio de Janeiro, 1983.
Análise do concreto com incorporação de EPS em substituição total de
seu agregado graúdo

Analysis of concrete with incorporation of EPS in total replacement of its aggregate


Ana Mônica Ferreira Alves 1, Ingridy Da Conceição Moreschi2, Rosa Vania Donna Tomazini3,
Roberta Rodrigues Da Silva4, Solimar Tomazini Bottecchia5
1,2,3,4 Graduado em engenharia civil na faculdade Pitágoras- Campus Guarapari, Espírito Santo, Brasil
5 Graduado em Engenharia de Agrimensura e Cartografia

Resumo: Com o crescimento do ramo da construção civil, a atenção voltou-se para o meio
ambiente e a escassez dos recursos naturais movimentando a sociedade a procurar meios de
crescimento sustentável. Com isso, o estudo da engenharia tem buscado o desenvolvimento técnicas
e metodologias para construção de estruturas, tentando conciliar qualidade, custo e sustentabilidade.
Assim, este trabalho foi elaborado com intuito de analisar o comportamento do concreto ao
substituir o agregado graúdo por poliestireno expandido (EPS) na confecção de concreto leve,
disponibilizando uma opção para utilizar estes resíduos e verificar a resistência à compressão. O
concreto leve se apresenta como material eficiente, entre suas vantagens para a construção civil
destaca- se a redução dos esforços nas estruturas. Foram definidos dois traços diferentes de mistura,
confeccionados seis corpos de prova que foram submetidos a ensaio de compressão axial conforme
a norma 5739 (ABNT, 2007). Os resultados das resistências a compressão se mostraram diferentes
de um traço para o outro, sendo do traço T-1 o corpo de prova 1, 0,53 Mpa, o corpo de prova 2
obteve 0,57 Mpa, o corpo de prova 3, 0,65 Mpa e do traço T-2 o corpo de prova 1, 0,49 Mpa, o
corpo de prova 2, 0,81 Mpa, o corpo de prova 3, 1,07 Mpa.

Palavras-chave: Concreto leve, Construção civil, sustentabilidade.

Abstract: With the growth of the construction industry, attention was focused on the environment
and the scarcity of natural resources, driving society to seek sustainable growth. With this, the
engineering study has sought the development of new techniques and methodologies for building
structures, trying to reconcile quality, cost and sustainability. Thus, this work was elaborated with
the purpose of analyzing the behavior of the concrete by replacing the expanded aggregate with
expanded polystyrene (EPS) in the confection of light concrete, providing an option to use these
residues and verify the compressive strength. Lightweight concrete presents itself as an efficient
material, among its advantages for civil construction stands out the reduction of efforts in the
structures. Two different mixing traces were defined, six specimens were prepared and submitted to
axial compression tests according to standard 5739 (ABNT, 2007). The results of the compressive
strengths showed to be different from one trace to the other, being from the T-1 trace the test body
1, 0.53 MPa, the test body 2 obtained 0.57 MPa, the test body 3, 0.65 MPa and the T-2 trace the test
body 1, 0.49 MPa, the test body 2, 0.81 MPa, the test body 3, 1.07 MPa.

Keywords: Lightweight concrete, Construction, sustainability.


1. INTRODUÇÃO
O enorme crescimento populacional e a acentuada industrialização fazem, ao passar dos tempos,
aumentarem a exploração dos recursos naturais de forma errada, para produção dos mais diversos
tipos de materiais. Nesse contexto a indústria da construção civil vem gerando impactos negativos
diretos ou indiretos para o meio ambiente, saúde, bem-estar da população, condições sanitárias,
atividades sociais e econômicas no meio. Isso ocorre em todas as etapas do processo construtivo:
extração da matéria-prima, produção de materiais, construção, utilização e demolição. (PIOVESAN
JUNIOR, 2007).

A Resolução nº 307/02 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) estabelece que


resíduos da construção civil não podem ser dispostos em aterros de resíduos domiciliares, em áreas
de “ bota fora”, em encostas, corpos d`água, lotes vagos e em áreas protegidas por Lei. Reduzir,
reutilizar e reciclar resíduos vem se tornando práticas fundamentais a serem estudadas e
implantadas nos canteiros de obras já que a preocupação com o gerenciamento de RCC vem se
consolidando como uma prática importante. (SILVA, 2015).

A construção civil utiliza grande quantidade de materiais e por isso tem bom potencial para
reutilizar resíduos em seus processos, como exemplo a reutilização de Poliestireno Expandido
(EPS) para a confecção de concreto leve. Usualmente, a designação de concreto leve é utilizada
para identificar concretos com estrutura porosa, geralmente à base de ligantes hidráulicos, com
massa específica inferior à dos concretos tradicionais (ROSSIGNOLO, 2003). De acordo com a
NBR 12655 (ABNT, 2006), o concreto leve é definido como o concreto endurecido que, quando
seco em estufa, apresenta massa específica entre 0,8 e 2,0 g/cm³. O concreto leve se mostra um
material eficaz e entre suas vantagens ressalta-se a redução nos esforços na estrutura e na
infraestrutura das edificações, a economia com fôrmas e cimbramentos, pela redução das
solicitações, bem como a diminuição dos custos com transporte e montagem de construções pré-
fabricadas, pela redução no peso dos materiais manuseados e aumento da produtividade (CATÓIA,
2012).

Entre os materiais utilizados como agregados leve para a confecção do concreto leve, está o
Poliestireno Expandido (EPS), conhecido popularmente como isopor, com massa específica inferior
a 0,030 g/cm³, tem sido utilizado para produzir concretos com massa específica entre 600 g/cm³ e
1.800 g/cm³, e resistências à compressão entre 4 MPa e 12 MPa, dependendo do tamanho, da
quantidade de EPS e de sua finalidade, (GANESH BABU; SARADHI BADU, 2002;). O
poliestireno expandido destaca-se por ser um material isolante térmico, de baixa densidade,
resistente, fácil de manusear e de baixo custo.

Neste artigo foi executado ensaio laboratorial e análise do comportamento do concreto com a adição
de pérolas de EPS, verificando as propriedades físicas e mecânicas do traço realizado.
2. OBJETIVOS
O intuito deste trabalho é analisar o comportamento do concreto quando substituído o seu agregado
graúdo, a brita, por poliestireno expandido através de ensaio de compressão axial e também
possibilitar a reciclagem do EPS na produção do concreto leve.

3. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento deste trabalho, foram realizados ensaios em laboratório com dois traços
diferentes, sendo estes, divididas em duas etapas:

• Definição dos traços, que contemplou um estudo detalhado sobre o melhor traço a ser
utilizado na produção do concreto leve para que o mesmo desenvolvesse baixo peso
específico e uma resistência considerável.

• Desenvolvimento do ensaio conforme as normas da Norma ABNT. Sendo esta etapa


dividida em: Confecção do concreto leve, moldagem dos corpos de prova, realização de
testes de resistências do concreto, e, comparação dos resultados obtidos entre as resistências
do concreto com seu rompimento em diferentes idades.

3.1 Definição dos traços


Para as preparações dos concretos leves com a utilização de agregados de EPS foram escolhidos os
seguintes traços:

Tabela 1: Composição da mistura

Traço EPS Cimento


Areia (litros) Água (litros) Cola (litros)
(Kg)

T-1
0,05 gramas 2,0 0,6 1,2 0, 0056

T-2
7 litros 2.5 0.75 0,805 0,007

3.2 ENSAIOS
O ensaio foi realizado em outubro de 2017, no Laboratório de engenharia civil da faculdade
Pitágoras campus Guarapari, onde foram produzidos seis corpos de prova cilíndricos, com
dimensões de 10 cm de diâmetro por 20 cm de altura, conforme recomendações da NBR 5738
(ABNT, 2003).
3.2.1 Preparação do concreto leve:
O traço inicialmente adotado foi o T-1 indicado na tabela 1, onde foi substituído o agregado graúdo
pelas perolas de EPS totalmente. A preparação do concreto consistiu em dissolver inicialmente a
cola em água nas proporções definidas no traço. Em seguida, colocou-se o EPS na betoneira em
movimento e misturou o adesivo dissolvido em água, após essa mistura, foi adicionado um pouco
de cimento. Logo após o cimento começou a fixar-se no EPS, então o restante de cimento, água e
areia foi adicionado alternadamente. Observou- se que a massa adquiriu a pega ideal, a betoneira foi
desligada e encheram-se os três corpos de provas.
Na segunda preparação do concreto leve utilizou-se o traço T-2 nas proporções mostradas na tabela
1, seguindo o mesmo processo de preparação do traço T-1. Neste processo foram confeccionados
três corpos de prova. Passadas 24 horas os corpos de prova foram levados para câmara úmida.

Figura 1: Separação dos materiais Figura 2: Pesagem do isopor

3.2.2 Resistência à Compressão Axial


Os corpos de prova foram submetidos ao ensaio de compressão axial em diferentes idades. Sendo o
traço T-1 e T-2 com sete, quatorze e vinte e oito dias. Este ensaio foi realizado de acordo com a
5739 (ABNT, 2007) e utilizou-se uma prensa com capacidade de 100 t. Os corpos-de-prova foram
posicionados verticalmente sobre o prato inferior da prensa, de maneira que seu eixo coincidisse
com o eixo da máquina, a fim de serem submetidos aos esforços de compressão. O acionamento da
prensa propiciou uma aplicação de força contínua e só cessou após a ocorrência de queda da
mesma, indicando a ruptura do corpo-de-prova.
Figura 3: Corpos de prova dos traços T-1 Figura 4: Corpos de prova do traço T-2

Figura 5: Corpo de prova submetido ao ensaio Figura 6: Painel da prensa utilizada para ensaio

3.3 CARACTERIZAÇÕES DOS MATERIAIS UTILIZADOS PARA PRODUÇÃO DO


CONCRETO LEVE
3.3.1 Poliestireno Expandido (EPS)
Utilizou-se placas de isopor onde foram separadas perola por perola de EPS manualmente,
garantindo a granulometria de 5 mm fornecida pelo fabricante.

3.3.2 Agregado Miúdo (areia)


A análise granulométrica e outras especificações estão indicadas na Tabela 2.

Tabela 2: Composição granulométrica do agregado miúdo

Origem Indeterminado

Tipo Areia Fina

Massa da Amostra Ensaiada 600


(g)

Módulo de Finura (MF) 2,69

Dimensão Máxima 4,8


Característica (DMC) (mm)

Classificação Zona 3 (Areia Média)

3.3.3 Aditivo cola branca (PVA)


O poliestireno expandido por ser um material muito leve, necessita receber um aditivo como a cola
branca PVA misturado em água, para aumentar o seu peso específico proporcionando uma melhor
aderência ao cimento.

3.3.4 Cimento
As especificações estão indicadas na Tabela 3.
Tabela 3: Especificações do cimento

Origem/Fabricante Mizu cimentos especiais / Brasil

Marca Mizu

Tipo Cimento potland resistente a sulfatos

Classe CP III 40- RS

Menor relação água/cimento = maior economia.


Microestrutura mais compacta = menor incidência de fissuras.
Menor permeabilidade, protegendo melhor a armadura.
Características
Maior resistência ao ataque de sulfatos. (RS)
Baixo calor de hidratação.

4. RESULTADOS

4.1 RESISTÊNCIAS A COMPRESSÃO AXIAL


No gráfico da Figura 7, estão apresentadas as resistências obtidas à compressão axial aos 7, 14, e 28
dias de idade do traço T-1 e T-2 propostos em laboratório, após o rompimento dos corpos de prova.
Analisando o gráfico pode- se observar que as resistências á compressão axial dos corpos de prova
com adição de pérolas de poliestireno expandido de T-1 e T-2 obtiveram um aumento com o passar
das idades. O maior valor obtido de resistência a compressão axial do traço T-1 foi de 0,65 Mpa,
correspondente ao corpo de prova 3 rompido aos 28 dias.
No gráfico da Figura 7 também é possível observar que a maior resistência adquirida do traço T-2
foi de 1,07 Mpa do corpo de prova 3, rompido aos 28 dias.
De acordo com a NBR 6136 (ABNT, 2007) a resistência mínima admitida para resistência a
compressão axial dos blocos de vedação é de 2 MPa. Assim, considerando a NBR 6136 (ABNT,
2007), os corpos de provas ensaiados obtiveram uma resistência a compressão axial inferior ao
mínimo estabelecido pela norma.
Figura 7: Resistência a compressão axial aos 21 dias

5. CONCLUSÕES

A produção de concreto leve utilizando resíduos de EPS, para originar elementos construtivos é
considerada relativamente simples, o que não trará grandes dificuldades na fabricação desses
elementos a serem utilizados na construção civil em larga escala.
Esses elementos trarão vantagens para a construção civil, visto que o custo e o tempo de execução
das construções serão reduzidos, além de diminuir os problemas ambientais causados pela
destinação final de resíduos de EPS, que sendo um material de demorado tempo de decomposição e
de alto custo de reciclagem, poderá contribuir para as ações de desenvolvimento sustentável.
Com base nos experimentos e nos resultados dos ensaios realizados, concluiu-se que a resistência à
compressão é uma propriedade que sofre influência com a substituição do agregado graúdo pelo
poliestireno expandido (EPS). Levando em consideração a NBR 6136 (ABNT, 2007), os corpos de
provas produzidos não atenderam a resistência mínima de compressão axial exigida de 2 MPA, não
se enquadrando na classe dos blocos sem função estrutural usados como elementos em alvenarias.
Portanto, para obter uma resistência a compressão axial mais elevada é necessária a realização de
novos testes com a variação dos traços, a fim de poder utilizar o concreto leve como aliado a
construção civil para diminuir os esforços nas estruturas e contribuir para a sustentabilidade.

6. AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Faculdade Pitágoras - Campus Guarapari pela possibilidade de utilização dos
equipamentos e materiais o que possibilitou a realização dos ensaios e posteriormente a elaboração
deste artigo científico.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] AMIANTI, M.; BOTARO, VRii. Concreto impregnado com polímero (CIP): uso e aplicação do EPS reciclado
para redução da permeabilidade de superfícies de concreto. Revista Matéria, v. 13, n. 4, p. 664-673, 2008.

[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 5738: Moldagem e cura de corpos de
prova de concreto cilíndricos ou prismáticos. Rio de Janeiro, 2003.

[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739: Concreto – Ensaio de compressão de
corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2007. 9p.

[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6136: Bloco vazado de concreto simples para
alvenaria estrutural. Rio de Janeiro, 2007a.
.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12655: concreto de cimento Portland: preparo,
controle e recebimento: procedimento. Rio de Janeiro, 2006a.

[6] CATÓIA, T. Concreto Ultraleve® estrutural com pérolas de EPS: caracterização do material e estudo de sua
aplicação em lajes. 2012. Tese (Doutorado) – Escola de Engenharia de São Carlos, São Carlos, 2012.

[7] GANESH BABU, K.; SARADHI BABU, D. Behaviour of Lightweight Expanded Polystyrene Concrete
Containing Sílica Fume. Cement and Concrete Research, v. 2249, p. 1-8, 2002

[8] ISOFERES. Disponível em :http://www.isoferes.com.br/imagens/A RQUIVOS%20PDF%20SI TE/COMCRETO


%20LEVE.pdf. Acesso em : 20 de dez. 2017.

[9] PIOVESAN JUNIOR, G. T. A. Avaliação dos resíduos da construção civil (RCC) gerados no município de
Santa Maria. 2007. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Universidade Federal de Santa Maria, Centro de
TECNOLOGIA, Santa Maria – RS, 2007.

[10] Resolução nº. 307, de 05/07/2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos
da construção civil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, nº. 136, 17/07/2002. Seção 1, p.
95 – 96.

[11] ROSSIGNOLO, J. A. Concreto Leve de Alto Desempenho Modificado Com SB Para Pré-Fabricados
Esbeltos: dosagem, produção, propriedades e microestrutura. São Carlos, 2003. 211 f. Tese (Doutorado em Ciência
e Engenharia de Materiais) – Escola de Engenharia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.

[12] SILVA, Klênnia. Análise das dificuldades da prática de gerenciamento dos resíduos da construção civil em
obras de pequeno porte. MBA – Gerenciamento de Obras, Tecnogias e Qualidade na Construção Civil. Instituto de
Pós-Graduação – IPOG. Salvador, BA, 12 de março de 2015.
O PROCESSO DE PROJETO DE ARQUITETURA SOB A PERSPECTIVA
DO LEAN DESIGN – UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA
The design process of architecture under the lean design perspective – A systematic
review of literature

Sheila Faria 1, Maria Aparecida Steinherz Hippert


1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil,, e-mail: sheilarquiteta@gmail.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG, Brasil, e-mail: aparecida.hippert@ufjf.edu.br

Resumo: O setor da construção civil, já há algumas décadas, vem atravessando períodos de


turbulência, levando as empresas deste setor a procurarem alternativas que agreguem produtividade
e qualidade ao ambiente construído. De forma a se adaptar a essa demanda, observa-se, cada vez
mais, a busca por ferramentas que tornem seu processo de produção mais eficiente e dinâmico e,
consequentemente, mais competitivo. É observado, portanto, a implementação da gestão de
projetos, o que vem requerendo continuamente o desenvolvimento e aperfeiçoamento de
ferramentas que garantam a solução de vários problemas e obstáculos mapeados ao longo de todo o
processo de projeto. Neste sentido, é apresentado o Lean Design como ferramenta com potencial de
melhorias neste processo. A adaptação dos princípios da produção enxuta em processos de
construção originou o Lean construction ou construção enxuta e em processos de projeto, o
processo de projeto enxuto, também chamado por Lean Design. Este se ocupa em gerenciar a
complexidade do processo de projeto com o objetivo de reduzir o desperdício e alavancar as
atividades que agregam valor. O fluxo de trabalho sob a perspectiva de conceitos do Lean Design
tem o potencial de promover melhorias no processo de projeto, reduzindo erros e aumentando sua
confiabilidade. Este trabalho tem por objetivo identificar e mapear o cenário das publicações no
cenário científico do conceito ligado ao Lean. A abordagem metodológica aplicada apoia-se na
Revisão Sistemática de Literatura que consiste em identificar, selecionar e avaliar, de modo crítico,
através de métodos sistemáticos os estudos relevantes ao trabalho, respondendo de forma clara a
questão motivadora da pesquisa. Têm-se como resultado, a partir da Revisão Sistemática de
Literatura, a identificação das linhas de pesquisas realizadas a fim de evitar abordagens infrutíferas,
assim como a identificação e mapeamento das possibilidades de avanço no processo de projeto a
partir de uma alternativa de visualização de todo o processo. O trabalho visa contribuir na
divulgação do tema, bem como engrossar as linhas de pesquisa da questão proposta pela pesquisa
de forma a fornecer arcabouço complementar a futuros pesquisadores que se proponham a explorar
o assunto.

Palavras-chave: Gestão, Lean Design, processo de projeto.

Abstract: The civil construction sector, for some decades, has been going through periods of
turbulence, leading companies in this sector to look for alternatives that add productivity and
quality to the built environment. In order to adapt to this demand, the search for tools that make its
production process more efficient and dynamic and consequently more competitive is observed.
Therefore, the implementation of project management is observed, which has continuously required
the development and improvement of tools that guarantee the solution of various problems and
obstacles mapped throughout the entire project process. In this sense, Lean Design is presented as a
tool with potential for improvements in this process. The adaptation of the principles of lean
production in construction processes originated Lean construction or lean construction and in design
processes, the lean design process, also called Lean Design. It takes care of managing the
complexity of the design process with the aim of reducing waste and leveraging activities that add
value. The workflow from the perspective of Lean Design concepts has the potential to drive
improvements in the design process, reducing errors and increasing reliability. This paper aims to
identify and map the literature scenario in the scientific context of the Lean concept. The applied
methodological approach is based on the Systematic Review of Literature, which consists of
critically identifying, selecting and evaluating systematically the studies relevant to the work,
answering in a clear way the motivating question of the research. As a result, from the Systematic
Review of Literature, the identification of the lines of research carried out in order to avoid fruitless
approaches, as well as the identification and mapping of the possibilities of advancement in the
design process from an alternative of visualization of the entire process. The paper aims to
contribute to the dissemination of the theme, as well as to broaden the lines of research of the
question proposed by the research in order to provide a complementary framework to future
researchers who intend to explore the subject.

Keywords: Management, Lean Design, project process.

1. INTRODUÇÃO
O vínculo e conexão das atividades indispensáveis ao desenvolvimento de projeto de edifícios
relacionam múltiplas ações combinadas entre pessoas, tecnologia, situações e decisões, o que torna
o produto final desse processo ainda mais singular e complexo (EMUZE; SAURIN, 2016).
Com intuito de contribuir para a melhoria dos processos de projeto estudaram-se diretrizes para
modelos de processos à luz da produção enxuta e da gestão da qualidade (TZORTZOPOULOS,
1999). Dantas Filho (2016) e Franco (2016) apontam o estudo de Tzortzopoulos (1999) como um
trabalho de importância fundamental, tratando-se de referência para outros trabalhos que foram
realizados nos anos posteriores.
Segundo Tzortzopoulos (1999), o modelo do processo de projeto se apoia numa visão holística para
o seu desenvolvimento, onde são definidas as principais atividades a serem desenvolvidas e suas
relações, os papéis e responsabilidades de todos os stakeholders envolvidos, o fluxo principal de
informações e instrumentos de retroalimentação dentro do processo. Sua fundamentação teórica se
desenvolve a partir de proposta de melhorias no processo de projeto baseada na mentalidade enxuta,
cuja abordagem possibilita que muitos dos problemas usuais do mesmo possam ser adequadamente
identificados, através da análise das conversões e dos fluxos envolvidos no processo. Dessa forma,
Dantas Filho (2016) e Franco (2016) apresentam estudos onde elaboram diretrizes, recomendações
e modelos de processo de projeto de arquitetura sob a perspectiva do Lean Design, agregando outras
informações da mentalidade enxuta no processo enxuto, porém sob viés diferente de Tzortzopoulos
(1999). Este conceito é ligado à filosofia do Lean Construction, que tem por objetivo a busca por
qualidade, eficiência e produtividade na construção civil. Koskela (2000) revela que as pesquisas,
inicialmente, envolvendo o Lean Construction eram focada na fase de produção física e,
posteriormente, as discussões abrangeram a fase de design, originando assim o Processo de Projeto
Enxuto, ou, comumente, conhecido como Lean Design.
Tilley (2005) ratifica o alto potencial de melhoria do Lean Design na maneira como o processo de
projeto é gerenciado, aumentando o valor para o usuário final e minimizando o desperdício no processo
de construção. Embora o gerenciamento de processo de projetos enxutos pareça ser válido, é necessário
que seja adaptado ao contexto do projeto a fim de alcançar o valor desejado para todos os interessados
(EL REIFI; EMMITT, 2013).
Franco e Picchi (2016) revelam que estudos exploratórios mostraram que alguns princípios do Lean
Design vêm sendo aplicados em empresas de construção e de projeto de arquitetura, entretanto,
pesquisas anteriores já vinham examinando a relação entre Lean Construction e programas de melhoria
de desempenho, onde identificaram dois caminhos para estruturar um programa de melhoria: focado nos
resultados ou focado nos processos.
Aziz e Hafez (2013) esclarecem que quando se foca nos resultados se tem uma habilidade limitada em
resolver problemas sistêmicos. Enquanto que quando se foca em processos são enfatizados as
interdependências entre participantes e os próprios processos, o que permite uma resolução mais
eficiente de problemas sistêmicos.
Diante da importância e potencial de melhoria para a área da Arquitetura, Engenharia e Construção do
Lean Design, observa-se a relevância em conhecer a quantos anda sua discussão no meio científico.
Deste modo, este trabalho tem por objetivo traçar um mapeamento da produção científica relacionada ao
Lean Design de forma a possibilitar conhecer o panorama desta área de conhecimento, o que também
contribui para divulgação do tema na comunidade científica, assim como fundamentar novos estudos.

2. ABORDAGEM METODOLÓGICA

O artigo se apoiou na Revisão Sistemática de Literatura (RSL), que busca responder de forma clara
e objetiva a questão motivadora da pesquisa que é: Quanto e como está sendo discutido o Lean
Design?
Apresenta questão específica, com fontes definidas, explícitas estratégias de busca e seleção
baseada em critérios aplicados uniformemente (GALVÃO; PEREIRA, 2014). Sua avaliação deve
ser criteriosa e reprodutível. Possui síntese quantitativa com inferências baseadas nos resultados da
pesquisa. Configura-se basicamente em três etapas: planejamento, realização e divulgação ou
comunicação da revisão, esclarece Randolph (2009) como esquematizado pela figura 1.
O processo de identificação dos estudos deve ser uma busca tão ampla quanto o possível, nesse
sentido diversas fontes devem ser utilizadas para reduzir a possibilidade de viés (RANDOLPH,
2009). Esta pesquisa limita-se a análise quantitativa dos resultados, não possuindo, portanto viés de
análise qualitativa da amostra encontrada. A triagem dos trabalhos se baseia nos protocolos
estabelecidos na tabela 1. Ressalta-se que este estudo é parte integrante de uma pesquisa maior que
abrange outras áreas de conhecimento envolvidas na dissertação de mestrado em andamento da
primeira autora, cujo foco central é processo de projeto de ambientes de saúde sob a perspectiva do
Lean.
Quando na realização da RSL, foram identificados, inicialmente, 104 estudos distribuídos nas
seguintes bases de dados: PubMed, Web of Science, Banco de Teses, Periódicos Capes, Scopus e
Google Acadêmico. Ressalta-se que os valores encontrados na base “Google Acadêmico” não
foram contabilizados para análise, uma vez que se considerou apenas visualizar numericamente o
alcance do termo “Lean Design”. Os bancos de dados foram selecionados com base em sua
confiabilidade no meio acadêmico científicos. Na fase 1 de seleção, foram analisados apenas os
títulos que apresentaram relação com a temática central desta pesquisa, contudo, títulos que
pudessem gerar dúvidas quanto ao seu conteúdo foram incluídos para posterior análise.

Figura 1 – Representação esquemática das etapas de uma RSL

Fonte: Autores, 2018

Tabela 1 – Critérios Seleção Revisão Sistemática de Literatura


Característica Descrição
Foco Estudos com temática central: Lean Design
Palavra-chave Lean Design
Base de dados Web of Science, Scopus, Banco de Teses, Periódicos Capes,
Google Acadêmico
Recorte temporal Nenhum
Duplicidade Observar possível duplicidade de estudos esntre bases
Disponibilidade O estudo deve estar integralmente disponível para leitura
Fonte: Autores, 2018

A segunda fase se apoiou na seleção dos estudos a partir da leitura de seus resumos. Estes deveriam
apresentar direta conexão com a área de conhecimento pesquisada: o processo de projeto sob a
perspectiva do Lean Design, além de observar possível duplicidade entre as bases de dados, bem
como acesso integral ao seu texto. Os estudos que não se encaixaram nos critérios seletivos
implicaram em seu descarte (Tabela 2). Importante destacar que a partir da leitura analítica da
amostra foram subtraídas as publicações que, mesmo atendendo aos critérios adotados no protocolo
da etapa de busca das fontes, não abordaram o Lean Design como assunto principal. Utilizaram-se
como instrumentos de representação tabelas e gráficos.
Tabela 2 – Mapeamento quantitativo dos estudos segundo critérios de exclusão
Fases Quantitativo
Busca inicial 104
Fase 1 – Exclusão por título 67
Fase 2 – Exclusão por resumo 26
Disponibilidade 03
Duplicidade 06
Total 17
Fonte: Autores, 2018

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Ao todo foram subtraídos 87 itens dos 104 coletados, que não se enquadraram no protocolo
estabelecido pela RSL. É relevante ratificar que foram desconsideradas publicações que abordavam
o Lean Design no corpo do texto, mas que não apresentavam o termo como questão central. Por
isso, este trabalho objetiva mostrar o quanto e como vem sendo discutido a área de conhecimento
em questão, com a reserva de não contemplar integralmente todas as publicações consonantes com
o tema. A amostra totalizou o número de 17 trabalhos que apresentaram aderência ao escopo de
planejamento e critérios de inclusão estabelecidos por esta RSL caracterizados em 10 artigos de
congresso, 06 artigos de periódicos e 1 dissertação de mestrado distribuídas ao longo dos anos de
2004 à 2017 (Tabela 3).
Tabela 3 – Mapeamento quantitativo: Tipo de Publicação x Autores

Tipo de Publicação Autores


CSSEPCSÉNYI et al (2004); DANTAS FILHO et al
(2017); FOSSE, BALLARD (2016); KHAN,
TZORTZOPOULOS (2016); EL REIFI, EMMITT,
Artigo de Congresso RUIKAR (2014); EL REIFI, EMMITT, RUIKAR
(10) (2013); LEE, TOMMELEIN, BALLARD (2010);
HAMZEH, BALLARD, TOMMELEIN (2009);
CARNEIRO, VIEIRA, NETO (2012); ZHANG,
TZORTZOPOULOS, KAGIOIGLOU (2016)
SMITH, I (2016); SMITH, I. (2016); SALGIN,
Artigo de Periódico ARROYO, BALLARD (2016); MAZLUM,
(06) PEKERIÇLI (2016); KO, CHUNG (2014);
ARAYICI et al (2010)
Dissertação de Mestrado (01) FRANCO (2016)

Fonte: Autores, 2018

Em análise quanto ao número de publicações e seu recorte temporal, a linha do tempo demonstra
que o tema vem aumentando gradativamente, com ênfase no ano de 2016, onde se concentra grande
parte dos trabalhos, o que pode evidenciar aumento de interesse pelo tema, contudo os números
totais evidenciam a pouca quantidade de pesquisa na área. Em paralelo, quando se observam os
números de 2016, pode-se concluir a existência de esforço para publicações, indicando maturidade
do conhecimento na área (Gráfico 1).
Gráfico 1 – N° de publicações x Ano

Fonte: Autores, 2018

Quando da análise autorais dos trabalhos, observou-se a participação de 37 autores. Destes, exceto
Gleen Ballard, Iris Tommelein, Patrícia Tzortzopoulos e Mike Kagioglou participaram em mais de
um estudo (Gráfico 2). Destaca-se que boa parte das pesquisas analisadas contém mais de um autor.
Quanto à análise de trabalhos referenciados nos estudos da amostra apresentada, encontrados pela
amostra desta RSL, revelam-se entre os mais citados, os autores Gleen Ballard, J. Womack, Allen
Ward, J. K. Liker e J. M. Morgan, o que os caracterizam como autores representativos dentro desta
área de conhecimento.
Gráfico 2 – Autores x N° de publicações

Fonte: Autores, 2018


Entre as palavras chaves que mais apresentaram número de ocorrências, observa-se a incidência de
termos que se relacionam a ferramentas que subsidiam a filosofia Lean, como exemplo: Sistema
Last Planner, Tecnologia BIM, Práticas de Briefing, além dos descritores Lean Design e Lean
Production, mais objetivos em relação aos seus estudos. Revelam-se ainda, outros termos como
Fluxo de valor, Eficiência, Qualidade do projeto e Desperdício que possuem forte ligação aos
conceitos da mentalidade enxuta. Com isso, foi possível concluir que a amostra se configura com
indicação de ênfase de pesquisa na análise de ferramentas que viabilizam a aplicação da filosofia
Lean no contexto prático do processo.
Também foi possível visualizar, de maneira significativa através da Tabela 4, em números
absolutos, a quantidade de trabalhos publicados sobre o Lean Design em relação às fontes de
publicações da amostra desta RSL. As fontes se concentram particularmente em congressos,
notadamente o IGLC (Internacional Group for Lean Construction), grupo internacional de
pesquisadores para discutir assuntos voltados ao Lean criado em 1994 e que é realizado anualmente.
Os números apresentados poderiam caracterizá-lo como destaque em fonte de publicação em
relação ao tema proposto.
Quanto às abordagens metodológicas (Gráfico 3), conclui-se que há um equilíbrio entre os métodos
de Estudo de caso, Revisão de literatura e Pesquisa-Ação, contudo, sobressai-se com 28%, o Estudo
de Caso, o que pode indicar a presença de investigações de um fenômeno contemporâneo dentro de
um contexto real, esclarece Gil (2010) e Yin (2005).
Tabela 4 – N° de Publicações x Instituições
Fontes (Instituições) Nº de Ocorrências
ASCE – American Society of Civil Engineers. 01
Automation in Construction 01
ENEGEP - XXIV Encontro Nac. de Eng. de Produção 01
METU JFA 01
Revista Ingeniería de Construcción 01
UNICAMP 01
BMJ Quality Improvement Reports 02
IGLC – International Group for Lean Construction 09
TOTAL 17

Fonte: Autores, 2018


Gráfico 3 – Metodologias aplicadas

Fonte: Autores, 2018


4. CONCLUSÃO
Este trabalho apresentou o levantamento inicial da produção científica sobre Lean Design a partir
das bases de dados indicadas, considerando o panorama mundial. Por meio da amostra encontrada,
observou-se baixa produção científica no tema, o que evidencia que o mesmo é pouco explorado e
possui potencial de crescimento.
Reuniu-se 17 estudos apresentando publicações apenas a partir de 2004, configurados no intervalo
temporal de 2004 à 2017. O maior número de publicações concentrou-se em artigos de congresso,
com destaque ao IGLC. No estudo das palavras chaves identificou-se um universo com forte
tendência a pesquisa de ferramentas associadas à filosofia Lean e que auxiliam sua aplicação.
Também foi possível revelar os autores mais ativos e representativos na área de estudo.
Porém, esta pesquisa, não alcançou possíveis desdobramentos do Lean Design ou evolução em
novos termos. Cabe ressaltar a possibilidade de usar outras bases de dados que se configurem mais
assertivas quanto ao tema proposto e, por isso, conclui-se que os bancos de dados se configuraram
como fatores limitadores do panorama do tema desta pesquisa.
Como sugestão para trabalhos futuros, aconselha-se refinar a pesquisa através da escolha de mais
termos durante a busca, análise de mais bases de dados e estudo mais efetivo sobre a evolução do
Lean Design, captando seus desdobramentos, além de considerar outros temas relacionados ao
processo de projeto.
Esta pesquisa contribui de modo a fornecer base referencial quanto aos estudos desenvolvidos a
cerca do tema aos pesquisadores que por ventura se interessem pela área de conhecimento, onde foi
possível mapear principais abordagens metodológicas aplicadas, principais autores e referenciais
teóricos, além de traçar uma linha cronológica das publicações ao longo do tempo. Diante disso, é
possível visualizar a importância de compreender o comportamento do cenário de publicações sobre
o Lean Design, o que pode propiciar momentos de discussão e troca de conhecimento.

REFERÊNCIAS
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POSTOS DE SAÚDE SUSTENTÁVEIS: SUGESTÕES DE ADEQUAÇÕES A
SEREM FEITAS NOS SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO

Sustainable health centers: suggestions to be made at maintenance services

Laura Ferreira Velasco 1, Maria Teresa Barbosa 2


1
Graduanda em Engenharia Civil, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, Email:
laura.velasco@engenharia.ufjf.br
2
Professora Dra., Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, Email: teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br

Resumo: Sendo a sustentabilidade definida como a capacidade e o compromisso de interação com


o meio ambiente sem comprometer os recursos naturais e, tornando-se esse conceito cada vez mais
difundido no cenário mundial atual por sua necessidade de implementação, cabe ao setor da
construção civil aplicá-lo às suas edificações. Por ser um conceito que vem sendo consolidado nos
projetos de engenharia nas últimas décadas, este estudo tem como principal objetivo apresentar
meios de inserir a sustentabilidade em serviços de manutenção de edifícios que foram projetados e
construídos em épocas nas quais a responsabilidade social com o meio ambiente não era de tal
forma preconizada. A priori, é efetuado um levantamento das manifestações patológicas mais
recorrentes nos postos de saúde localizados na cidade de Juiz de Fora (MG). Posteriormente, inicia-
se uma revisão bibliográfica acerca da aplicação da sustentabilidade na construção civil para, então,
apresentar soluções a serem implementadas pelos órgãos públicos, a fim de adequar as edificações
ao conceito de desenvolvimento sustentável assegurando o cumprimento das dimensões ambiental,
social, econômica e institucional que governam os empreendimentos da atualidade. Espera-se que
este trabalho contribua para os avanços científicos e tecnológicos no ramo da construção civil,
favorecendo o desenvolvimento do setor em prol do green building, para, assim, cooperar para o
bem-estar da sociedade atual e das gerações futuras.

Palavras-chave: construção verde, manutenção de edifícios, sustentabilidade.

Abstract: Since sustainability is defined as the ability and commitment to interact with the
environment without compromising natural resources, and as this concept is becoming widespread
in the current world scenario due to its need for implementation, it is up to the construction sector to
apply it to its edifications. As a concept that has been consolidated in engineering projects in the
last decades, this study has as main objective to introduce the qualities of sustainability in building
maintenance services that were designed and built in times when social responsibility with the
environment was so recommended. Firstly, a survey of the most recurrent pathological
manifestations is carried out at health centers located in the city of Juiz de Fora (MG).
Subsequently, a bibliographic review on the application of sustainability in construction begins, and
then presents solutions to be implemented by public agencies, in order to adapt the buildings to the
concept of sustainable development, guaranteeing compliance with the environmental, social and
economic and institutional dimensions that govern the current buildings. The hope is that this
assignment contributes to the scientific and technological advances at the construction fields,
favoring the development of the sector in favor of green building, so as to cooperate to the good of
the current society and the future generations.

Keywords: green building, building maintenance, sustainability.

1. INTRODUÇÃO
A indústria da construção civil é uma das maiores devastadoras do meio ambiente. Além de ser uma
consumidora em potencial dos recursos naturais e energia, os resíduos gerados por esse setor são
altamente poluentes, existindo nas formas sólida, líquida e gasosa e, assim, gerando impactos
ambientais de grande escala. Ademais, o setor da construção caracteriza-se por ampla ocupação do
espaço e alteração dos aspectos naturais do ambiente (MARTINS, 2016). Segundo o Ministério do
Meio Ambiente, da massa total de resíduos sólidos urbanos, cerca de 50 a 70% são gerados pela
construção civil.
Diversas fases do setor em questão interagem diretamente com o meio ambiente, desde a remoção
da vegetação no terreno e serviços de terraplanagem, obtenção dos materiais de construção, até a
geração de resíduos decorrente das etapas de execução.
Segundo a World Wind Fund for Nature (WWF), na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, criada pela Organização das Nações Unidas, surgiu o conceito de
desenvolvimento sustentável, sendo entendido como o desenvolvimento que sustenta as
necessidades da geração atual sem interferir na capacidade de suprir as necessidades das gerações
futuras. Essa definição surgiu frente à percepção da problemática social e ambiental fundamentada
em um modelo de desenvolvimento que, até então, baseava-se em um elevado consumo de recursos
naturais e consequente degradação do meio ambiente (WWF, 1983).
Portanto, dentro desse conceito, é necessário estudar formas de reduzir ou até mesmo extinguir as
perturbações ambientais causadas pela construção civil, através de práticas sustentáveis nos serviços
oferecidos pelo setor, a fim de garantir a sustentabilidade do processo de evolução da indústria da
construção.
A partir dessa definição e da necessidade de implantação em edificações, surge o conceito de green
building, ou “construção verde”, que objetiva que as construções consumam o mínimo possível dos
recursos naturais, utilizando-se de técnicas e materiais que as tornem parte do meio ambiente no
qual estão inseridas, ao invés de transtorná-lo (KRUGER e SEVILLE, 2016).
Sendo assim, uma das sugestões de adequações a serem feitas em edificações é a inserção da
sustentabilidade nos serviços de manutenção. Dessa forma, torna-se possível conformar uma
construção ao conceito de sustentabilidade.
Atualmente, muitas cidades têm adotado como meta o desenvolvimento sustentável. A cidade de
Juiz de Fora, por exemplo, situada no estado de Minas Gerais, conta com vários projetos que
incluem a sustentabilidade em sua forma de execução e manutenção, a fim de proporcionar aos seus
habitantes uma melhor qualidade de vida, visando o conforto das futuras gerações.
Partindo desse princípio, torna-se necessário atentar-se às Unidades de Atendimento Primário à
Saúde (UAPS) da cidade, estabelecimentos destinados à resolução de problemas de saúde de
gravidade baixa a intermediária, a fim de reduzir filas em hospitais. Ocorre que essas unidades, em
sua maioria, funcionam em edificações não apropriadas para esse tipo de utilização, resultando em
alto índice de manifestações patológicas.
Portanto, este trabalho, em parceria com o Programa de Educação Tutorial do curso de Engenharia
Civil da Universidade Federal de Juiz de Fora, busca colaborar para a inserção da sustentabilidade
na cidade, através de estudos de caso das UAPS que nela se contêm, a fim de buscar alternativas
sustentáveis a serem implantadas nos serviços de manutenção desses estabelecimentos, de acordo
com os tipos de patologias que neles se manifestam.

2. UNIDADES DE SAÚDE NA CIDADE DE JUIZ DE FORA (MG)


2.1. Considerações iniciais
Juiz de Fora é um município localizado no sudeste do estado de Minas Gerais, que conta com área
territorial de aproximadamente 1500 quilômetros quadrados, segundo censo realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2017. Com uma população aproximada de 565 mil
habitantes, a cidade conta com 63 Unidades de Atenção Primária à Saúde (UAPS), de acordo com a
Secretaria de Saúde do Município (PDAPS, 2014).
As UAPS são locais de atendimento a problemas de saúde mais comuns, de caracterização primária,
vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS). Com o objetivo de diminuir as filas em hospitais e
prontos-socorros, essas unidades formam uma rede de saúde de forma a organizar a assistência
fornecida por unidades de atenção básica e hospitalar.
Nesse sentido, é importante atentar-se à problemática dessas unidades do ponto de vista da
funcionalidade das edificações que as recebem, que, por alto índice de utilização e circulação de
pessoas, acabam desenvolvendo manifestações patológicas corriqueiramente.
No caso específico dos postos de saúde localizados na cidade de Juiz de Fora/MG, a maioria
funciona em locais adaptados, geralmente residências, que não foram projetados com o propósito de
atender às necessidades de uma UAPS (BARBOSA, 2009). Sendo assim, esses locais tornam-se
propícios a diversas manifestações patológicas que necessitam de reparos e manutenções, para
então manterem sua capacidade funcional. A fim de reduzir os impactos ambientais e contribuir
para o bem-estar social, propõe-se que tais reparos sejam feitos de forma sustentável, adequando as
edificações ao conceito de sustentabilidade.
Ladeira (2011) realizou um levantamento das principais manifestações patológicas ocorrentes em
15 das 63 UAPS de Juiz de Fora, que foram estudadas e quantificadas. As unidades de saúde
analisadas localizam-se, em sua maioria, na periferia da cidade, e estão ilustradas na figura 1.
Fig. 1 – Disposição das UAPS de Juiz de Fora. Adaptado de Ladeira, 2011.
Legenda:
1 – UAPS São Pedro 9 – UAPS Parque Guarani
2 – UAPS Santos Dumont 10 – UAPS Furtado de Meneses
3 – UAPS Milho Branco 11 – UAPS Nossa Senhora das Graças
4 – UAPS Jóquei Clube II 12 – UAPS Jóquei Clube I
5 – UAPS Grama 13 – UAPS Jardim Natal
6 – UAPS Esplanada 14 – UAPS Barreira do Triunfo
7 – UAPS Alto Grajaú 15 – UAPS São Benedito
8 – UAPS Monte Castelo
2.2. Levantamento das manifestações patológicas ocorrentes nas unidades de saúde de Juiz de
Fora

Dentre as principais manifestações patológicas constadas no levantamento realizado por Ladeira


(2011), destacam-se umidade, falhas de revestimentos, fissuras e defeitos em portas e janelas,
conforme apresentado no quadro 1 e ilustrada nas figuras 3, 4, 5 e 6.
Quadro 1 – Levantamento das incidências patológicas nas UAPS de Juiz de Fora
Manifestação patológica Decorrência Ocorrência
Ascensional 10
Acidental 18
Umidade Condensação 2
Externa 15
Total 45
Descolamento 14
Empolamento 14
Falhas de revestimento Desgaste do piso 6
Deterioração 29
Total 63
Retração 19
Higroscópica 4
Movimentação térmica 12
Fissuras
Recalque 14
Acidental 6
Total 55
Deterioração 11
Defeitos em portas e janelas Vidros quebrados 8
Total 19
Fonte: Adaptado de LADEIRA, 2016.

Fig. 2 – Incidência patológica nas UAPS de Juiz de Fora


Fig. 3 – índice de ocorrência de manifestações patológicas oriundas de umidade

Fig. 4 – índice de ocorrência de manifestações patológicas oriundas de falhas de revestimento

Fig. 5 – índice de ocorrência de manifestações patológicas oriundas de fissuras


Fig. 6 – índice de ocorrência de defeitos em portas e janelas

Portanto, dos principais tipos de manifestações patológicas encontradas, concluiu-se que as mais
relevantes são causadas por falhas de revestimento e fissuras, já que essas representam o maior
percentual de incidência em todas as UAPS analisadas, conforme mostra a figura 2.

3. MANUTENÇÃO SUSTENTÁVEL
Segundo a NBR 5674/12, a manutenção de edifícios é definida como um conjunto de
procedimentos que visam conservar ou recuperar a funcionalidade de uma edificação, bem como de
todas as suas partes constituintes, de forma a atender as necessidades e a segurança de seus
usuários.
Dentre os tipos de manutenção existentes, pode-se citar:
i) manutenção preventiva, realizada periodicamente com o objetivo de reduzir a probabilidade de
ocorrência de alguma falha;
ii) manutenção corretiva, que visa recuperar a funcionalidade de um ambiente após a ocorrência de
algum erro;
iii) manutenção preditiva, que controla o ambiente através de supervisão e técnicas de análise, para
reduzir as manutenções preventiva e corretiva (ABNT, 1994).
Sendo a sustentabilidade a palavra de ordem em diversos setores na atualidade, inclusive na
construção civil, é importante que esse conceito seja implementado também nos serviços de
manutenção de edifícios.
Nesse contexto, foi desenvolvido pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, organizada pela ONU em 1987, o conceito de sustentabilidade como sendo a
capacidade e, mais ainda, a responsabilidade, de interagir com o meio ambiente prezando pela
manutenção dos recursos naturais. A preocupação com o meio em que se vive está ligada à
melhoria da qualidade de vida, tanto para as gerações atuais quanto para as futuras. Além disso, é de
fundamental importância a mudança de hábitos na construção civil em prol da implantação de
edificações sustentáveis, haja vista os incalculáveis danos ao meio ambiente causados pelo setor,
tornando-se primordial aplicar esse conceito nas edificações.
Um dos maiores desafios desse processo é o fato de que muitas das construções existentes hoje
foram idealizadas e projetadas em épocas em que esse conceito não era largamente difundido.
Sendo assim, uma das soluções viáveis é a inserção da sustentabilidade nos serviços de manutenção
dessas edificações, que devem ser realizados periodicamente, solucionando o problema das
manifestações patológicas e mantendo tais construções aptas para utilização.
Ao inserir a sustentabilidade nesses serviços, torna-se imprescindível o cumprimento dos pilares
que regem tal conceito: social, econômico, ambiental e institucional. Espera-se que uma construção
sustentável zele pelo conforto dos usuários e pela responsabilidade com as futuras gerações; seja
economicamente viável e rentável; preocupe-se com o meio no qual está inserido, tanto em sua
concepção quanto nas formas de utilização; e cuide do patrimônio histórico no qual está inserido, a
fim de manter e preservar a memória institucional (ELKINGTON apud AMARAL e BOECHAT,
2012).
Para que uma construção seja considerada sustentável, algumas diretrizes são consideradas
essenciais, como: eficiência energética, uso adequado e reaproveitamento da água, utilização dos
recursos naturais presentes no entorno, uso de materiais e técnicas ambientalmente corretas, gestão
dos resíduos sólidos, conforto e qualidade interna dos ambientes, acessibilidade e integração dos
transportes de massa e/ou alternativos ao contexto do projeto. (MOTTA, 2011).
Segundo Strapasson (2011), um conceito importante que passou a ser aplicado em projetos
construtivos a partir do século XX foi a flexibilidade. Considerar uma construção como flexível
significa dizer que a mesma é apta para receber possíveis modificações que visem melhorar e/ou
alterar sua utilização, sem que haja mudanças excessivas na quantidade de recursos necessários à
sua funcionalidade, aumentando, assim, a vida útil da edificação.
Sendo assim, uma construção flexível tem larga importância na aplicação dos serviços de
manutenção, pois permite que sejam realizados de forma organizada e com gastos otimizados. Além
disso, a flexibilidade também garante benefícios do ponto de vista ambiental, visto que aumenta a
durabilidade das edificações e permite a inserção da sustentabilidade em edificações antigas, através
de serviços de manutenção, que são facilitados por esse conceito.
Portanto, torna-se possível aprimorar uma edificação através de serviços de correção que não
apenas visem manter e prolongar seu ciclo de vida, como também a readaptem de forma a
minimizar os impactos ambientais, classificando-se como manutenção sustentável e inteligente,
pois reduz o consumo de recursos naturais, garantindo benefícios para as gerações atuais e futuras.

4. DIRETRIZES SUSTENTÁVEIS PARA OS SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO NAS


UNIDADES DE SAÚDE DE JUIZ DE FORA
A partir do conhecimento das manifestações patológicas que atingem os postos de saúde de Juiz de
Fora e, tendo em vista que muitas delas estão ligadas à escolha dos materiais utilizados, serão
sugeridas adequações a serem feitas nesses empreendimentos de forma a garantir que a manutenção
do espaço seja feita de forma sustentável. Tecnologias recentes concatenadas à preocupação com o
meio ambiente têm levado ao desenvolvimento de novas técnicas de fabricação dos materiais de
construção. Sendo assim, algumas alternativas serão apresentadas de acordo com cada tipo de
patologia apresentada nesse estudo de caso, bem como suas características e funções.
4.1. Soluções sustentáveis para falhas de revestimento
Segundo Ladeira (2011), as falhas de revestimento encontradas nos postos de saúde de Juiz de Fora
foram causadas principalmente por erros na escolha dos materiais, na execução da obra e na
utilização da edificação. Portanto, sugere-se que sejam feitos reparos utilizando materiais que
prezem pela sustentabilidade, tanto em sua forma de obtenção quando em suas funcionalidades, que
seguem listados a seguir.
4.1.1. Cimento Ecológico
Tradicionalmente, o cimento é fabricado a partir do clínquer e adições (escória, pozolana, filler).
Ocorre que a produção do clínquer é extremamente poluente devido à elevada emissão CO2 durante
o aquecimento de pedra calcária. Esse fato motivou pesquisadores brasileiros da Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo (Poli-USP) a desenvolverem o denominado cimento ecológico.
A nova tecnologia permite aumentar a produção do cimento, reduzindo a emissão de gases
poluentes na atmosfera, sendo, assim, uma alternativa sustentável para utilização em obras civis.
Segundo a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP, 2013), a estratégia
utilizada pelos pesquisadores foi diminuir a quantidade de clínquer utilizada na produção do
cimento e compensá-lo com um maior teor de pó de calcário, também conhecido como filler, essa
adição permite, também, que seja necessária uma menor quantidade de água para produção de
concreto e argamassa, reduzindo, assim, o consumo desse recurso natural.
Dessa forma, sugere-se que os reparos nos revestimentos dos postos de saúde de Juiz de Fora sejam
realizados utilizando argamassa produzida com cimento ecológico, promovendo a sustentabilidade
e permitindo a ampliação dos horizontes do setor da construção civil do município no que diz
respeito à viabilidade ambiental dos materiais empregados.
4.1.2. Blocos intertravados de concreto
Os blocos intertravados são alternativas para revestimento do tipo pavimentação, utilizados em
calçadas, estacionamentos, áreas externas, etc. É importante atentar-se a essas áreas, visto que elas
possibilitam a circulação de pessoas e veículos.
De acordo com a Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), são muitas as vantagens
ambientais promovidas pela utilização dos pisos intertravados. Como o nome já sugere, os blocos
são aplicados sobre uma camada de assentamento de areia e fixados uns aos outros por encaixe,
sendo sua geometria capaz de travá-los entre si, conforme mostra a figura 7, dispensando o processo
de cura e, consequentemente, reduzindo o consumo de água (ABCP, s.d.). Deve-se considerar,
inclusive, a facilidade dos serviços de manutenção bem como, a economia energética já que a
coloração clara do material possibilita a reflexão de até 30% dos raios solares reduzindo o consumo
de energia pública, por exemplo.
Diante disso, recomenda-se a implantação desse material nas áreas externas dos postos de saúde em
questão, resolvendo o problema das falhas de revestimento de pavimentação e assegurando maior
responsabilidade com o meio ambiente por parte dos órgãos públicos.
Fig. 7 – aplicação dos blocos intertravados de concreto. Fonte: Hometeka

4.1.3. Tintas ecológicas


Segundo estudo realizado por Uemoto e Agopyan (2002) as tinhas convencionais geralmente
utilizadas na construção civil possuem altos teores de componentes orgânicos voláteis (COV).
Durante o processo de aplicação e secagem das tintas, esses componentes são emitidos à atmosfera,
provocando a formação de ozônio e, consequentemente, elevados danos ao meio ambiente e à saúde
humana.
Nesse contexto, a 14 anos, pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV) desenvolvem
um projeto chamado “Cores da Terra”, que visa à fabricação de tintas utilizando pigmentos
provenientes do solo. Logo, as “tintas de solo” são uma ótima opção para reverter esse quadro,
possuem baixo custo, sua produção é independente tecnologicamente, são ecologicamente
sustentáveis por terem sua funcionalidade pautada em princípios da bioarquitetura e da
agroecologia. (FINEP, 2016).
A implementação das tintas ecológicas nas unidades de saúde de Juiz de Fora se torna viável por
promover o uso de materiais que não agridem o meio ambiente e valorizar as pesquisas realizadas
em universidades federais da região do sudeste mineiro.
4.2. Soluções sustentáveis para fissuras na estrutura
As fissuras são patologias da construção civil que podem ser decorrentes de diversas causas. Elas
podem afetar a estética, a durabilidade e o comportamento estrutural de uma edificação. No caso
particular das unidades de saúde estudadas, essas patologias foram causadas principalmente por
retração, recalque e movimentação térmica.
As fissuras podem ser classificadas em ativas: quando estão susceptíveis a sofrer aumento de
tamanho, seja em largura ou em comprimento e passivas: quando não há risco de avanço da
abertura. Para cada um desses tipos, existe uma forma de tratamento adequada.
Para tratamento de fissuras passivas, recomenda-se a aplicação de selantes plásticos, como resinas,
a fim de cobrir toda a abertura (SANTOS et al, 2013). Entretanto, deve-se ter atenção e consciência
ambiental ao escolher qual será o material utilizado para tal serviço. Segundo Andrade (2016), é
fundamental conhecer o teor de sólidos contido nesses materiais. Toda resina adesiva é composta
por resina, pigmentos e aditivos, materiais reativos que permanecem nos revestimentos após a cura,
e, também, por diluentes, thinners e solventes, componentes não reativos que podem evaporar
durante a aplicação e secagem, também chamados de COVs, que acarretam em perda de material e
danos ao meio ambiente pela formação de ozônio.
Já para fissuras ativas, o tratamento adequado é realizado através da aplicação de uma tela metálica
na região de fissuração que deve ser preenchida com argamassa de revestimento. Nesse caso,
sugere-se que a argamassa utilizada seja produzida com cimento ecológico, que consta explicitado
no item 4.1.1.
4.3. Soluções sustentáveis para presença de umidade
Nos edifícios examinados, foram encontrados casos de umidade ascensional, proveniente da água
presente no solo, que ascende por capilaridade; acidental, causada por falhas no sistema hidráulico
da edificação; e externa, nas superfícies que tenham contato direto com chuva, umidade do ar e
áreas frias.
Além de comprometer a estética do ambiente, a presença de água também fomenta o aparecimento
de fungos, reduzindo a vida útil da estrutura e tornando o ambiente insalubre, o que se torna ainda
mais agravante quando se trata de uma edificação destinada a serviços de saúde.
A forma mais comum de combater os problemas de umidade é através da aplicação de
impermeabilizantes, que podem aparecem em forma de argamassas, mantas asfálticas, membranas e
fissuras (Karklis, s.d.). O processo de impermeabilização pode ser feito de forma sustentável a partir
da escolha de produtos que abordem esse conceito em seu processo de fabricação e uso. Segundo a
Associação Brasileira das Empresas de Impermeabilização do Estado do Rio de Janeiro (AEI),
ainda não existem especificações de materiais na área da construção que caracterizem um produto
impermeabilizante como material sustentável, mas é possível inferir se esse conceito é aplicado no
produto a partir de suas formas de obtenção, seu processo de fabricação, aplicação e seus efeitos na
construção civil. (AEI, 2015).
4.4. Soluções sustentáveis para defeitos em portas e janelas
Os defeitos em portas e janelas encontrados nesse estudo de caso foram decorrentes do uso da
edificação. O longo tempo de instalação pode acarretar a deterioração e danificação das esquadrias.
Nesses casos, costuma-se fazer a substituição das portas e janelas danificadas e, sendo assim,
sugere-se que sejam substituídas por outras unidades fabricadas com material sustentável.
O policloreto de vinila (PVC) é um dos materiais polímeros mais utilizados na atualidade.
Fabricado a partir do sal marinho, matéria-prima natural considerada inesgotável, esse material
apresenta vantagens como: boa impermeabilização, leveza, boas resistências mecânica e química,
isolamento elétrico, entre outras. Deve-se considerar que na atualidade esse polímero emprega
studos foram realizados e a indústria do PVC encarou o desafio da ecologia e começou a utilizar
processos de produção mais sustentáveis (FONSECA, 2004).
Atualmente, o PVC é fabricado com menor índice de emissão de gases poluentes. Ademais, hoje o
material é totalmente reciclável, além de oferecer isolamento térmico e acústico às edificações.
Dentre as demais vantagens, ainda pode-se citar a durabilidade e a resistência à oxidação.
Portanto, sugere-se que sejam feitas substituições das esquadrias nos postos de saúde por portas e
janelas de PVC, a fim de contribuir com o meio ambiente e tornar o espaço mais sustentável.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sustentabilidade vem tomando espaço em diversos setores da economia devido à importância de
sua aplicação. Os impactos ambientais pelos quais o planeta tem passado e suas consequências
trazem à reflexão o futuro que precisa ser construído enquanto ainda há tempo. Como um dos
setores que mais poluem e geram danos ao meio ambiente, a construção civil tem a
responsabilidade de inserir a sustentabilidade em seus modos de construção tanto quanto possível, a
fim de amenizar e compensar os impactos gerados.
Uma das formas de se inserir a sustentabilidade na indústria da construção é adequar os serviços de
manutenção de forma que não agridam o meio ambiente. A manutenção sustentável se torna
importante devido ao fato de que boa parte das edificações não tiveram esse conceito implementado
durante sua construção e, portanto, os serviços de correção se configuram como uma forma de
torná-las menos agressoras à saúde ambiental.
Com essa motivação, um estudo foi realizado a fim de contribuir para a melhoria do setor da
construção civil em obras públicas destinadas à saúde no município de Juiz de Fora, no que diz
respeito à sua relação e responsabilidade com o meio ambiente. Nesse sentido, após o levantamento
das manifestações patológicas encontradas no campo amostral de 15 unidades de saúde, foram
sugeridas soluções sustentáveis a serem inseridas nos serviços de manutenção desses
estabelecimentos, objetivando, além do compromisso com o meio ambiente, um maior conforto
para a população que deles se beneficia diariamente.
Finalmente, ressalta-se que todas as soluções propostas possuem viabilidade de implementação,
mas esse processo compete aos órgãos públicos do município. Vale salientar que é de extrema
importância que as sugestões sejam analisadas e ponderadas com responsabilidade por parte dos
encarregados, visto que não só trariam melhorias na área ambiental, como também seriam
configuradas como investimentos na salubridade de locais públicos e consequente conforto da
população.

REFERÊNCIAS
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Curso. Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, 2016.
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dos Planos de Gestão de Resíduos Sólidos. Brasília, 2011. p 29-34.
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de setembro de 2018.
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Cengage, 2016.
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saúde localizados na cidade de Juiz de Fora. In: X Congreso Latinoamericano de Patología y XII Congreso de
Calidad en la Construcción, 2009, Valparaíso. Anais... Valparaíso: CONPAT, 2009.
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Pesquisa de Iniciação Científica. Graduação em Engenharia Civil Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de
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[15] Tudo sobre pisos intertravados de concreto: preços, paginações, dicas e mais. Disponível em:
<https://www.hometeka.com.br/aprenda/descubra-tudo-sobre-pisos-intertravados-de-concreto-precos-paginacoes-e-
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<http://www.temsustentavel.com.br/impermeabilizantes-solucao-sustentavel/>. Acesso em 2 de novembro de 2018.
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Construção Civil. Disponível em: <http://aei.org.br/impermeabilizacao-na-construcao-civil/>. Acesso em 2 de
novembro de 2018.
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UFSC, 2004. Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/87452/204419.pdf?sequence=1&isAllowed=y>.
Acesso em 2 de novembro de 2018.
COMPARATIVO ENTRE ARGAMASSAS ADITIVADAS E MISTA:
ANÁLISE DOS ADITIVOS INCORPORADOR DE AR, RETENTOR DE
ÁGUA E PLASTIFICANTE

Comparative study between mortar with additive and mortar with hydraulic lime:
Analysis of air entraining agent, water retainer and plasticizer

Alessandra Tolentino SOUZA*1, Catharina de Almeida CARVALHAIS1,


White José dos SANTOS 1

* Autor para correspondência: alessandratsouza@gmail.com


1
Universidade Federal de Minas Gerais/Departamento de Materiais de Construção, Minas Gerais, Brasil.

Resumo: A argamassa mista composta por cimento Portland, cal e areia natural é amplamente
utilizada, por apresentar propriedades que garantem características mais satisfatórias ao
revestimento argamassado. No entanto, o trabalho com a cal deve ser minucioso, pois quando a cal
não é de boa qualidade ou o tempo de carbonatação para a finalização não é respeitado, a eficiência
do revestimento é prejudicada. Assim, atualmente, busca-se substituir a cal por aditivos disponíveis
no mercado que possuem características semelhantes a ela, como a aderência e a trabalhabilidade.
No entanto, pouco se conhece a respeito da influência destes sobre os revestimentos. Diante disso,
buscou-se estudar os efeitos de três aditivos, retentores de água, incorporadores de ar e
plastificantes, individualmente, comumente utilizados em argamassas. Para o desenvolvimento do
estudo, foram moldados um traço com cal e três traços com aditivos, sendo que a utilização do
aditivo foi a máxima recomendada pelo fabricante. A seguir foram realizados ensaios de flow table,
retenção de água, densidade no estado fresco, porosidade aberta e resistência de aderência à tração.
Nos resultados observou-se que: as consistências dos traços foram semelhantes, sendo que nenhum
deles ficou dentro do limite pré-estabelecido para a metodologia (260 ± 15 mm) e que o traço com
retentor de água teve uma consistência muito mais elevada. A retenção de água mais elevada foi do
traço de argamassa mista e a argamassa com retentor apresentou a menor retenção de água, sendo
que todos ficaram acima de 85%; A maior densidade no estado fresco foi da argamassa mista
diminuindo respectivamente no traço com plastificante, retentor de água e incorporador de ar. A
menor porosidade foi da argamassa com incorporador de ar seguida pela argamassa com
plastificante, sendo que a argamassa mista apresentou a maior porosidade. A argamassa mista
obteve o maior valor de aderência seguida pela argamassa com retentor de água, as outras
argamassas não atingiram o limite estabelecido para revestimentos externos. Conclui-se que antes
de analisar as propriedades é importante estabelecer no projeto os limites aceitáveis das
características do composto anteriormente à sua utilização, mas de forma geral observou-se que
quando os aditivos são utilizados de forma separada eles não possuem propriedades semelhantes a
argamassa mista e não seriam satisfatórios para substituí-la.
Palavras-chave: Argamassa mista, Argamassa aditivada, Revestimento argamassado.

Abstract: The mortar mixed with hydraulic lime, composed by Portland cement, hydraulic lime
and natural sand is widely used in Brazil because it ensures satisfactory characteristics to mortar
coating. However, working with hydraulic lime must be rigorous, because when the hydraulic lime
is not good or the lime carbonation time is not respected to do the finishing, the efficiency of the
mortar is compromised. Therefore, engineers intend to substitute the hydraulic lime for additive
present in the market that have similar properties with the hydraulic lime, such as workability and
adherence. Then, this study intended to analyze the effect of three different chemical additive,
individually, commonly used in mortar coating: water retainer, entraining agent and plasticizer. To
develop this study, one sample with hydraulic and three samples with additive, being the dosage of
additive, the maximum recommended by the supplier, were made. The properties tested were water
retention, density in the fresh state, open porosity and adherence resistance. The results presented
that none of the samples prepared had the workability between the limit pre-established for the
methodology (260 ± 15 mm) and the sample with water retainer had the highest workability. The
highest water retention presented was the one of the mortar with hydraulic lime and the mortar with
water retainer presented the lowest value, but all the values were higher than 85%. The mortar with
hydraulic lime presented the highest density in fresh state, decreasing respectively in the mortar
with plasticizer, water retainer and entraining agent. The mortar with entraining agent had the
lowest open porosity followed by the mortar with plasticizer; the mortar with hydraulic lime
presented the highest value. The highest values of adherence were obtained by the mortar with
hydraulic lime followed by the mortar with water retainer; the others mortars did not achieved the
limit for external mortar coating. This study concluded that before analyzing the properties, it is
important to establish the acceptable projects limits for the mortar characteristics and it was
possible to observe that when the additive was used individually in the mortar, the mortar with
additive did not have similar properties with the mortar with hydraulic lime and the substitution
would not be satisfactory.

Keywords: Mortar with hydraulic lime, mortar with chemical additive, mortar coating.

1. INTRODUÇÃO
A argamassa mista composta por cimento Portland, cal e areia natural é comumente aplicada na
construção civil, por apresentar propriedades plastificantes, resistência à penetração de água,
flexibilidade para absorver pequenos deslocamentos, propriedades retentoras de água, melhora de
adesão dos elementos e reconstrução autógena de fissuras [1] e [2], que asseguram particularidades
mais satisfatórias ao revestimento argamassado. Entretanto, o desempenho dessa está relacionado a
diversos fatores como a natureza mineralógica e granulométrica do agregado [3], estrutura porosa
da argamassa [4], resistência mecânica originária dos agregados utilizados [5], quantidade de água
na mistura [6] e acabamento final [7]. Além de que ao se utilizar a cal, o trabalho deve ser
minucioso, pois quando a cal não é de boa qualidade ou o tempo de carbonatação para a finalização
não é respeitado, a eficiência do revestimento é prejudicada.
Atualmente, estudos sobre a durabilidade e a vida útil de edifícios têm sido recorrentes, devido ao
crescimento de problemas na construção civil com o aparecimento de diversas patologias [8]. Neste
contexto, o revestimento argamassado deve ser levado em consideração, já que é uma etapa de
elevado custo e responsável pela performance das fachadas. O principal fator de degradação de
revestimentos argamassados, contendo cal, é a sua elevada capacidade de absorção, facilitando a
entrada de agentes agressores como a água, sais e sulfatos. Assim, busca-se substituir a cal por
aditivos disponíveis no mercado que possuem características semelhantes à ela, como a aderência e
a trabalhabilidade, de forma a evitar possíveis problemas com o uso da cal e facilitar o controle das
propriedades.
Para a substituição dessa, indústrias de argamassas pré-fabricadas têm utilizado aditivos retentores
de água, plastificantes e incorporadores de ar nas argamassas, de forma a melhorar suas
características mecânicas e de durabilidade, no estado fresco e endurecido. O uso dos aditivos
retentores de água busca melhorar a capacidade de retenção de água das argamassas de
revestimento e assentamento, aumentar a coesão e a aderência, além de melhorar a trabalhabilidade
e o processo de hidratação do cimento [9], [10], [11], [12] e [13]. Aditivos plastificantes aprimoram
as propriedades mecânicas e de impermeabilização do revestimento, diminuem a porosidade e
reduzem a absorção por capilaridade e por imersão [14], [15] e [16]. Aditivos incorporadores de ar,
por sua vez, reduzem a relação água/cimento da argamassa e melhoram a consistência e a coesão da
mistura [17] e [18].
A incorporação dos aditivos na argamassa, visando a substituição de cal, ainda não é comum na
construção civil, sendo necessário estudar as propriedades mecânicas e de durabilidade dos
revestimentos argamassados com aditivos. Assim, buscou-se estudar individualmente os efeitos de
três aditivos, a saber: retentor de água, incorporador de ar e plastificante, comumente utilizados em
argamassas.

2. OBJETIVOS
O objetivo geral do presente estudo é estabelecer a viabilidade da substituição da cal por
determinado aditivo: retentor de água, incorporador de ar ou plastificante. Sendo que para atingir
este objetivo serão analisadas propriedades no estado fresco: densidade e retenção de água e no
estado endurecido: porosidade aberta e resistência de aderência à tração.

3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1. Materiais
Neste estudo, utilizou-se cal aditivada CHI, Cimento Portland CPII-F 32, areia natural lavada fina,
aditivo incorporador de ar à base de resinas naturais, plastificante à base de lignosulfonato e retentor
de água à base de polímero acrílico. A água utilizada na mistura foi proveniente do abastecimento
público, conforme aprovação no estabelecido pela NBR 15900-1 [19].

3.2. Análise dos materiais


A cal CHI foi escolhida por ser a mais utilizada no mercado e por ter a menor concentração de
óxidos não hidratados (próximo de 0%). O cimento CPII-F-32 é um cimento adequado para a
adoção em argamassas de revestimento, por proporcionar um bom acabamento, pega normal e não
possuir elementos reativos que possam afetar a sua análise, sendo o filer um material inerte.
Os aditivos utilizados, todos em estado líquido, foram adicionados previamente, e individualmente,
em parte da água para melhorar a dispersão. As respectivas densidades e dosagens máximas e
mínimas estabelecidas pelo fabricante do retentor de água, plastificante e incorporador de ar estão
na Tabela 1. A areia utilizada foi uma areia natural lavada proveniente de leito de rio, de origem
quartzosa, possui diâmetro máximo de 2,4mm, módulo de finura de 1,99. É um agregado bem
graduado conforme a Figura 1 e encontra-se na zona utilizável inferior. A massa unitária solta e a
massa específica da areia são, respectivamente, 1,282 g/cm³ e 2,584 g/cm³.

Tabela 1 - Características dos aditivos utilizados.


Dosagem recomendada (% em relação a
Densidade (g/cm³)
massa de cimento)
Incorporador de ar (I) 1,00 0,02 a 0,5

Plastificante (P) 1,18 0,2 a 1,0

Retentor de água (R) 1,00 0,2 a 1,5

Figura 1 – Curva granulométrica do agregado miúdo.

3.3. Metodologia
O traço da argamassa aditivada foi estabelecido conforme metodologia de [20], levando em
consideração a massa unitária do agregado. Sendo, 1:1:4,5 em volume ou 1:0,5:3,3 em massa.
Visando comparar uma mesma argamassa com cal e uma argamassa sem cal, mas com aditivo
tentou-se manter uma mesma proporção dos materiais, porém, eliminando a cal. Assim, o traço das
argamassas aditivadas estabelecido foi 1:5 em volume ou 1:3,8 em massa, sendo que foram dosados
três traços aditivados e cada um apresentou concentração máxima estabelecida pelo fabricante em
relação a massa de cimento.
O ensaio de Flow Table foi realizado conforme a NBR 13276 [21] e foi utilizado para dosar a
quantidade de água para manter uma consistência pré-determinada de 260 ± 15mm na etapa de
ajuste. Após o ajuste, os corpos de prova dos ensaios foram todos moldados com a quantidade de
água pré-determinada, verificando novamente a consistência. O ensaio de densidade no estado
fresco foi realizado conforme a NBR 13278 [22] e o ensaio de retenção de água foi estabelecido
conforme a norma brasileira NBR 13277 [23]. Os corpos de prova foram curados em condição de
laboratório por 28 dias e foram realizados: o ensaio de porosidade aberta conforme NBR 9778 [24]
e o ensaio de resistência de aderência à tração conforme a NBR 13528 [25].

4. RESULTADOS
4.1. Flow Table
Depois de realizado os ajustes através do flow table, sendo que nesta fase as argamassas foram
misturas em um argamassadeira de eixo vertical, realizou-se a dosagem mistura para execução dos
ensaios, sendo realizado novamente o flow table para verificar a consistência dos compostos. A
Figura 2 apresenta os resultados obtidos de flow table para as argamassas com Cal (Cal), aditivo
Plastificante (P), aditivo retentor de água (R) e aditivo Incorporador de ar (I) e as respectivas
proporções de água/cimento adotadas no ajuste. É possível observar que os resultados aumentaram
a sua variabilidade em relação a condição inicial, saindo do limite pré-estabelecido de 260 ± 15 mm
do ajuste dos traços. Observou-se que a argamassa com retentor de água apresentou o maior
espalhamento, cerca de 34% maior que a argamassa mista, e a argamassa mista apresentou o menor
espalhamento. De acordo com a demanda de água para dosar cada traço, observou-se que os traços
com cal e com retentor de água demandaram mais água, 1,07 e 1,08 a/c respectivamente, devido a
suas características, sendo a cal o elevado teor de finos e o retentor o aprisionamento de parte de
água de amassamento para posterior liberação. Sendo assim, viu-se que a maior demanda de água
do retentor favoreceu um maior espalhamento e o elevado teor de finos da cal, apesar da elevada
demanda de água, contribuiu para um aumento da viscosidade da mistura. Contudo, visualmente, no
momento de aplicação das argamassas o pedreiro considerou todas adequadas para aplicação, logo
com trabalhabilidade (consistência + coesão) adequada. Ainda, é possível observar através do maior
espalhamento obtido (228 mm) e da menor demanda de água (a/c = 0,97) necessária em
comparação com o plastificante, que o incorporador de ar plastificou mais a mistura do que o
aditivo plastificante utilizado, cerca de 7% a mais com 1% a menos de água.
Figura 2 - Resultados de consistência pelo método Flow Table.

4.2. Densidade no estado fresco


De acordo com a Figura 3, pode-se observar que a maior densidade no estado fresco foi a da
argamassa mista, 24% mais elevada que a menor densidade, devido a maior concentração de finos
essa argamassa apresenta-se de forma mais compacta nas primeiras idades, aumentando o valor
desta propriedade. Tem-se ainda, que este elevado teor de finos necessita de uma maior
concentração de água para a mesma consistência ajustada inicialmente, como observado na Figura
2, por isso do resultado mais elevado entre as quatro amostras.

Figura 3 – Resultados de densidade no estado fresco.

A queda da densidade no estado fresco está intimamente associada a incorporação de ar na mistura,


sendo os compostos mais leves aqueles com maior concentração de ar incorporado. Por isso, a
argamassa com somente incorporador de ar apresentou-se como a mais leve, a com retentor de água
intermediária, 13% mais pesada que a argamassa I, e a com plastificante a mais pesada entre as três
argamassas aditivadas, cerca de 19% mais pesada que a argamassa com incorporador de ar. O
aditivo incorporador de ar como o próprio nome sugere age incorporando ar na mistura, contudo os
aditivos retentor e plastificante também possuem efeitos de incorporação de ar na mistura [9] e [26],
sendo essa incorporação mais significativa no polímero utilizado como retentor, por isso apresentou
a segunda menor densidade.
Apesar dessa ligeira variação de densidade, para a NBR 13281 [27], que classifica as argamassas de
revestimento, as argamassas aditivadas possuiriam média densidade (D2-D4) e a argamassa mista
alta densidade (D6) no estado fresco. De acordo com [28], baixa densidade da argamassa pode ser
um fator importante, devido ao menor esforço de aplicação e a menor probabilidade de
escorrimento devido ao peso próprio do revestimento.
4.3. Retenção de Água
Os resultados de retenção de água das amostras encontram-se na Figura 4, observa-se que a
argamassa mista possui elevada retenção de água, conforme estabelecido por [29], cerca de 8%
maior que o menor resultado apresentado. O aditivo plastificante obteve a maior retenção entre os
três aditivos estudados, 7% maior que a argamassa R e 2% maior que a argamassa I, ficando o mais
próximo da retenção da argamassa mista, apenas 1% inferior. O aditivo retentor de água obteve a
menor retenção entre as amostras (85%), valor considerado como retenção normal [30], resultado
este que não era esperado visto que devido as propriedades do aditivo esperava-se obter o maior
resultado entre as amostras [31].
Salienta-se que a propriedade de retenção de água das argamassas é extremamente importante.
Sendo que, se a argamassa perder muita água por sucção ou evaporação, não terá água suficiente
para reagir com os compostos de hidratação e consequentemente terá uma aderência deficitária [32].
Contudo, valores de retenção superiores a 96% também podem ser prejudiciais a aderência, visto
que o substrato será incapaz de puxar a água [33].

Figura 4 - Resultados de retenção de água no estado fresco.


4.4. Porosidade Aberta
Na Figura 5 estão representados os resultados obtidos para o ensaio de porosidade aberta das
amostras estudadas. A maior porosidade aberta apresentada foi da argamassa mista, 6% maior que o
menor resultado, depois da argamassa com retentor de água, 4% maior que I, a argamassa com
plastificante, 3% maior que I, e por último a argamassa com incorporador de ar.
De acordo com o ensaio estabelecido pela NBR 9778 [24], onde mede-se a porosidade de um corpo
de prova através da imersão em água em um determinado período, é possível medir a porosidade
aberta, ou seja, aquela porosidade superficial, ou em que os poros do interior estão conectados com
os poros da superfície. Os poros não conectados, não capazes de preencher-se com água, não são
aferidos por esta análise.
Os plastificantes são conhecidos por reduzir cerca de 7% da água de amassamento da mistura [34],
com isso a água não reagida que resulta posteriormente em poros na estrutura deveria ser a menor
dos aditivos estudados. Contudo, o aditivo incorporador de ar, apesar de incorporar ar, ele estabiliza
as bolhas de ar incorporado e favorece a impermeabilidade dos poros ao ar e a água [35]. Associa-
se, então, o uso do incorporador de ar a melhor dispersão e não conexão entre os poros e como
consequência o menor resultado de porosidade aberta apresentado.
A argamassa com retentor de água apesar de apresentar uma incorporação de ar intermediária, não
deve ter apresentado uma boa estabilização dos seus poros, resultando na porosidade aberta mais
elevada entre as argamassas aditivadas, além de que, como observado na Figura 2, foi a argamassa
aditivada que demandou a maior quantidade de água, que posteriormente pode gerar poros na
estrutura. A argamassa mista apresentou a maior porosidade aberta entre todas as amostras, associa-
se esse resultado a maior evaporação de água, necessária para estabelecer a consistência desse
composto, com isso, após evaporar, esses poros permaneceram conectados com a superfície,
apresentando a maior porosidade aberta, semelhante a situação da argamassa com retentor de água.

Figura 5 - Resultados da porosidade aberta.


4.5. Resistência de Aderência à Tração
Os resultados de resistência de aderência à tração obtidos para as argamassas estão presentes na
Figura 6. As argamassas aditivadas apresentaram resultados inferiores de aderência em relação à
argamassa mista, a argamassa mista apresentou um resultado 350% mais elevado em comparação
com o menor resultado das argamassas aditivadas. A argamassa com somente incorporador de ar foi
o pior resultado apresentado, possivelmente devido a geração de vazios na interface do revestimento
com o substrato. Tem-se ainda que, o uso de incorporador de ar em concentrações elevadas pode
tornar a superfície do revestimento frágil e pulverulenta o que acarreta em resultados inferiores de
aderência [35]. Com isso, esta argamassa não seria adequada nem para utilização em ambientes
internos que necessitam de aderência maior ou igual a 0,2 MPa [36].

Figura 6 – Resultados da resistência de aderência à tração.

A argamassa com somente plastificante também não obteve aderência satisfatória, apesar de
apresentar um resultado cerca de 50% mais elevado quando comparado com a argamassa I. Pois,
conforme apresentado no estudo de SOUZA, RICCIO, et al. [37], os revestimentos que continham
somente plastificante reduzem a quantidade de água do constituinte, e com a perda de água por
evaporação para o meio ambiente ou sucção pelo substrato, tornam-se deficitárias da água de
hidratação, necessária para a reação dos compostos responsáveis pela ancoragem mecânica. Sendo
assim, a argamassa com plastificante apresentada neste estudo seria adequada somente para
aplicação em ambientes internos, que são menos solicitados.
A argamassa com retentor de água conseguiu resultados superiores a 0,3 MPa, sendo cerca de 110%
mais elevada que a argamassa I, podendo ser utilizada tanto em revestimento interno quanto externo
[36]. Entre os três aditivos, o retentor de água foi o que conseguiu manter a água necessária para as
reações que favorecem a aderência, apesar do resultado baixo apresentado ne retenção no estado
fresco (Figura 4). Contudo, observou-se que a substituição da cal por qualquer um dos três aditivos
estudados, quando utilizados individualmente, não é favorável para a aderência, e a queda de
resultado é expressiva, principalmente para os casos do incorporador de ar e do plastificante,
comumente utilizados no comercio nacional. Uma possível substituição poderia ser feita da cal pelo
retentor de água, contudo os resultados foram muito próximos do limite inferior de norma, o que
não seria recomendado.

5. CONCLUSÃO
De acordo com os resultados, foi possível observar que: a argamassa com cal possui a maior
densidade no estado fresco, a maior retenção de água, a maior porosidade aberta e a maior
resistência de aderência à tração. Sendo que para sua utilização, a maior densidade e a maior
porosidade aberta são desfavoráveis. Quando se compara a argamassa mista com as argamassas
aditivadas, o uso dos aditivos, de forma isolada, acarretou na redução de todas as propriedades
estudadas. Apesar da argamassa dosada com retentor apresentar indício de melhor durabilidade,
menor porosidade aberta, que a argamassa mista, seu resultado de aderência ficou muito próximo do
limite inferior estabelecido para revestimentos externos.
De forma geral, este estudo conclui que a substituição da cal pela argamassa com incorporador de
ar, ou com aditivo plastificante, ou com retentor de água não é satisfatória. Como a propriedade de
resistência de aderência à tração é extremamente importante para revestimentos argamassados,
deve-se buscar dosagens em que os resultados atendam os limites de norma.

REFERÊNCIAS
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ISSN 2251-8843.
REPAROS E REFORÇO DAS COLUNAS DO PALACETE BABILÔNIA NO COLÉGIO
MILITAR DO RIO DE JANEIRO
Repair and reinforcement of the columns from Palacete Babilônia at Colégio Militar do Rio
de Janeiro

Emil de Souza SÁNCHEZ Filho, D. Sc.1, Amaro Francisco Codá dos SANTOS, D. Sc.*2,
Júlio Jerônimo HOLTZ Silva Filho, D. Sc.3, Noêmia Lúcia BARRADAS Fernandes, M. Sc.4

* Autor para correspondência: coda.engenharia@uol.com.br


1 Professor Titular da Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil
2 Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ, Rio de
Janeiro, Brasil
3 Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
4 Arquiteta no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, Rio de Janeiro, Brasil

RESUMO
Este trabalho apresenta as diversas etapas de avalição, reparo e reforço das colunas de
alvenaria em tijolos maciços do Palácio Babilônia. São descritas e ilustradas as patologias
que ocorreram nesses elementos estruturais, cujas configurações possibilitaram o
diagnóstico de suas origens. Explica também as fases pré-intervenção com a execução
de escoramento metálico e moldagem dos capitéis das colunas. Descreve as diversas
fases de reparo e reforço estrutural: preparo das superfícies, injeção de resina epóxi,
colocação de armadura adicional, execução de proteção catódica e revestimento em grout
tixotrópico, e colocação de novos capitéis. As intervenções não alteram a arquitetura do
Palacete Babilônia.

Palavras-chave: obras históricas, patologias em colunas, reforço estrutural.

Abstract: this paper presents the different steps necessary for the repair of the Palacete
Babilônia, such as evaluation, repair and reinforcement of it masonry columns. The
pathologies encountered on those columns are described and illustrated and, through its
correct analyses, allowed the correct diagnosis and treatment. It presents the phases
before intervention such as shoring and modeling the columns capitals. The diferents
phases of repair and reinforcement are also described: surface preparation, epoxydic resin
injection, steel rebar reinforcement, cathodic protection, thixotropic grout protection layer
and new capitals addition. The cited interventions didn’t alter the original architecture.

Keywords: historical buildings, masonry columns pathologies, reinforcement.


1. INTRODUÇÃO

Este artigo visa apresentar as patologias encontradas nas colunas do Palacete Babilônia
situado no Colégio Militar do Rio de Janeiro, abrangendo o diagnóstico e as terapias
adotadas para a sua recuperação e reforço estrutural, pois o imóvel estava em péssimo
estado de conservação.
O nome do palacete é devido à sua situação geográfica, pois situa-se próximo à pedra da
Babilônia. Construído entre os anos de 1837 e 1838 por Antônio Alves da Silva Pinto, foi
propriedade de Jerônimo José de Mesquita, o Barão de Mesquita, filho do Conde de
Bomfim. Também pertenceu à Baronesa de Itacurussá, Dona Jerônima Mesquita, filha do
mencionado Barão. O estilo das fachadas do Palacete Babilônia é neoclássico, com um
pórtico na entrada juntamente com escadaria, e tem cúpula adornada com relógio circular.
Internamente sua decoração é exuberante, típica das construções similares edificadas à
época do Império (Figura 1).
Este artigo descreve os diversos serviços executados para a recuperação e reforço
estrutural das colunas externas do Palacete Babilônia, situado no Colégio Militar do Rio
de Janeiro. O ambiente agressivo, nível IV da NBR 6118:2014, deteriorou as armaduras
longitudinais e transversais das colunas dessa edificação, a qual não teve qualquer tipo
de manutenção durante a sua existência. Quando esses elementos estruturais foram
escarificados constatou-se que as colunas eram apenas aparentes, pois os núcleos eram
formados por alvenaria de tijolos cerâmicos maciços envolvidos por um anel de concreto
armado, cujas armaduras eram mínimas e estavam corroídas. Foram providenciados
escoramentos para resistir aos carregamentos do telhado e aliviar as forças atuantes nas
colunas, e assim possibilitar a execução das diversas intervenções: reparos, injeções e
reforço das armaduras. Os diversos trabalhos executados não modificaram a arquitetura
do imóvel que é tombado pelo IPHAN.
Figura 1 – Fachada principal do Palacete Babilônia.

2. ESCORAMENTOS DAS COLUNAS

Toda a estrutura inspecionada foi inicialmente escorada porque não havia nenhum projeto
estrutural que pudesse fornecer informações que possibilitassem avaliar a sua resistência.
A Figura 2 mostra as localizações das colunas constantes das plantas elaboradas pela
empresa Souza Dutra Engenharia Ltda.
A Figura 3 mostra o escoramento metálico executado com escoras tubulares verticais
ajustáveis, emendadas por luvas (pé-direito alto) e contraventadas por tubos horizontais
em duas direções ortogonais. No topo foram postos forcados para os devidos ajustes nas
alturas dos escoramentos, e nas bases das escoras foram colocados plásticos bolha e
folhas de compensado. Nas interfaces das escoras com as lajes utilizou-se espuma de
média densidade para proteção dos elementos do teto.
Figura 2 – Plantas com as locações das colunas da fachada principal e da fachada
lateral.

3. PATOLOGIAS DAS COLUNAS

As patologias nas colunas foram criteriosamente levantadas e mapeadas de modo a


possibilitar um diagnóstico correto das causas que originaram esses danos. Não foram
realizados ensaios não destrutivos para apuração das resistências desses elementos
estruturais.
As colunas apresentavam trincas longitudinais que estavam ocasionando desprendimento
dos cobrimentos das armaduras. A inspeção dessas camadas mostrou que os seus
núcleos eram formados por tijolos cerâmicos maciços, e haviam trincas longitudinais
sobre a camada de cobrimento (Figura 4).

Figura 3 – Planta de situação do escoramento da estrutura da entrada lateral e foto do escoramento


da estrutura da entrada principal.

4. REPAROS DAS COLUNAS E VIGAS


Para executar o reparo das colunas foi necessário remover os capiteis, porque era
necessário acrescentar armaduras principais que teriam que penetrar pelo menos 5 cm na
viga do pórtico. Além disso ficavam a 5 cm antes do intradorso da viga. Confeccionou-se
um molde para possibilitar a execução de novos capitéis a serem colocados sobre as
colunas após a realização dos diversos serviços (Figura 5). Foram deixadas esperas
(pinos) para a fixar os novos capitéis. Quando os capitéis foram retirados com a finalidade
de solidarizar a armadura principal da coluna com a viga, constatou-se que também havia
corrosão nas armaduras da viga (não haviam fissuras aparentes quando da inspeção para
elaboração do diagnóstico).
As barras da armadura principal deveriam começar a 5 cm da pedra e terminar com 5 cm
no interior da viga, mas antes foi necessário utilizar uma escova de cerdas de aço as
armaduras que estavam com agressão apenas superficial, e depois lavar com jato de
água (Figura 6). A seguir aplicou-se com um pincel uma camada de inibidor de corrosão a
base de zinco sobre toda a área da armadura existente, nas quais também foram
colocadas pastilhas Z (proteção catódica), evitando-se manchar o concreto.
A fixação de novas barras longitudinais foi executada por meio da aplicação de resina
Sikadur 32 nas armaduras (adesivo epóxi de alta resistência), de modo a aderir o
concreto ao aço, e garantir a perfeita ancoragem dos vergalhões. Após essas etapas as
colunas foram revestidas com grout tixotrópico de alta resistência para proteção das
armaduras. As seções das colunas foram recompostas, pois haviam sido diminuídas
quando da remoção do cobrimento original, e foram colocados estribos adicionais (Figura
7).
a) Tipologia das trincas. b) Trinca com grande abertura.

c) Núcleo composto de tijolos d) Detalhe de uma trinca


maciços e detalhe dos bicos de longitudinal.
injeção.

Figura 4 – Trincas nas colunas da entrada principal.


a) Capitel original. b) Remoção do capitel original.

Figura 5 – Capitéis sobre as colunas.

Figura 6 – Detalhes das armaduras transversal e longitudinal das colunas.


a) Remoção de todo o revestimento b) Limpeza e tratamento das barras
original expondo a trinca com toda com inibidro de corrosão à base de
sua profundidade, e higienização zinco, aplicação de três camadas de
mecânica por meio de escovamacia e silicato de etil a 10% sobre os tijolos
aspirador de pó, execução de por pincelamento, colcoação de
rejuntes com argamassa de ciemnto pastilhas Z, e colcoação das
e arreia. aramduras longitudinal e transversal.
c) Injeção por gravidade com resina d) Revestimento com grout
epóxi, tixotrópico.

Figura 7 – Execução dos reparos e revestimento das colunas.

Figura 8 – Coluna após os reparos e reforço.

Os procedimentos de reparo das vigas foi o mesmo adotado para as colunas (escovar,
escarear, aplicar pintura a base de zinco), mas a função do grout tixotrópico aumentar a
seção transversal e garantir o cobrimento das armaduras. Um novo capitel foi executado e
implantado após a viga ser reparada.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os demais serviços executados no Palacete Babilônia não são relatados neste texto, e
foram executados em diversas outras etapas da obra.
Os prazos das diversas etapas foram cumpridos e a obra foi executada sem adulterar a
arquitetura original, em total concordância com as exigências do IPHAN.
Os reforços das colunas aumentaram a sua capacidade resistente, e foram executados de
conformidade com as prescrições da NBR 6118:2014.

Referências

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UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (RCD)
EM MISTURAS ASFÁLTICAS

Use of Construction and Demolition Waste (CDW) in Asphalt Mix

Marcos Lamha ROCHA 1, Geraldo Luciano de Oliveira MARQUES 2


1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, marcos.lamha@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, geraldo.marques@ufjf.edu.br

Resumo: A Indústria da Construção Civil hoje é um dos mais importantes setores de desenvolvimento
econômico e social do país, sendo responsável por 13,5% de todo o PIB brasileiro. Mas ao mesmo
tempo atua como uma grande geradora de subprodutos e consumidora de recursos naturais. Nos
últimos anos, com o alto crescimento da urbanização, o setor da Construção Civil passou a gerar cada
vez mais resíduos de construção e demolição (RCD), atingindo níveis preocupantes. Portanto, torna-
se relevante a reutilização desses no contexto brasileiro, especialmente em grandes centros urbanos.
Faz-se necessário então estudos em relação aos agregados de RCD, para utilização em serviços de
pavimentação, em especial na confecção de misturas asfálticas. O uso desses agregados em
revestimentos asfálticos por mistura, pode ser a quente (CBUQ) ou a frio (PMF). Neste trabalho foi
estudado o uso em mistura asfáltica do tipo Pré-Misturado a Frio, que consiste de mistura de agregado
mineral, material de enchimento (Filler) e emulsão asfáltica, espalhada e comprimida a frio (DNER,
1997). Assim, esse trabalho consiste em analisar a aplicabilidade dos resíduos de construção e
demolição (RCD) provindos de obras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), como
agregados alternativos em misturas PMF com emulsão catiônica convencional em substituição parcial
ou total aos agregados convencionais utilizados nestas misturas (britas e areias), de acordo com os
padrões das normas brasileiras, especialmente aqueles ditados pelo DNIT.

Palavras-chave: misturas asfálticas, pavimentação, RCD.

Abstract: The Construction Industry today is one of the most important sectors of economic and
social development in the country, accounting for 13.5% of all Brazilian GDP. But at the same time
it acts as a great generator of by-products and consumer of natural resources. In recent years, with the
high growth of urbanization, the Construction sector has been generating more and more construction
and demolition waste (CDW), reaching levels of concern. Therefore, it is relevant to reuse these in
the Brazilian context, especially in large urban centers. Studies are therefore required in relation to
RCD aggregates for use in paving services, especially in the manufacture of asphalt mixtures. The
use of these aggregates in asphalt coatings by mixing may be hot (MAH) or cold (MIC). In this work
the use of asphalt mixtures of the Pre-Mixed to Cold type, which consists of mixing of mineral ag-
gregate, filler and asphalt emulsion, spread and cold compressed (DNER, 1997) was studied. Thus,
this work consists of analyzing the applicability of construction and demolition residues (CDW) from
works of the Federal University of Juiz de Fora (UFJF), as alternative aggregates in PMF blends with
conventional cationic emulsion in partial or total replacement to conventional aggregates used in these
mixtures (brittle and sand), according to the Brazilian standards, especially those dictated by DNIT.

Keywords: asphalt mix, paving, CDW.


1. INTRODUÇÃO
A construção civil é uma das mais importantes atividades para o desenvolvimento social e econômico,
sendo geradora de grande quantidade de subproduto. Segundo [1], essa atividade é responsável por
produzir cerca de 60% de todo o resíduo sólido urbano gerado, tornando-se assim uma das grandes
responsáveis pelo acúmulo de resíduos nas cidades.
Essa grande quantidade de resíduos acumulados traz à tona a necessidade de alternativas de
gerenciamento desse catalisador de efeitos ambientais. No atual contexto de grande desenvolvimento
mundial, o reuso desses tipos de materiais tornou-se grande alvo de estudo, devido à importância não
só no desenvolvimento sustentável, mas também na melhoria da qualidade das obras [2].
Do ponto de vista de engenharia, os resíduos de construção e demolição (RCD) são materiais nobres,
pois apresentam-se resistentes e com baixas expansões. Essas características apontam o seu grande
potencial de reciclagem como agregados para pavimentação [3].
Com o intuito de regulamentar e incentivar o emprego do agregado reciclado em pavimentação, em
2004 a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) elaborou a norma NBR 15115, a
“Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil – Execução de camadas de
pavimentação – Procedimentos”.
Sendo assim, esse trabalho teve como objetivo analisar a aplicabilidade dos resíduos de construção e
demolição (RCD) provindos de obras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), como agrega-
dos alternativos em misturas asfálticas do tipo Pré-misturado a frio (PMF) com emulsão catiônica
convencional.

2. RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO


São muitas as definições acerca do tema RCD, e essas se divergem tanto na abrangência das frações
presentes, como também nas atividades geradoras dessas frações [4]. Dentre essas definições, o
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), através da Resolução 307, de 5 de julho de 2002
[5], enuncia como “os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras da
construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos...”.
No Brasil, a busca por alternativas sobre o reaproveitamento e reciclagem desses RCDs ainda são
recentes, e aplicadas ainda de forma incorreta e em apenas alguns municípios. Estas práticas não
acompanham a geração de resíduos, sendo o país se sentido cada vez mais obrigado a buscar
alternativas diferentes das que estão presentes. A Tabela 1 apresenta a quantidade total de RCD
coletados no Brasil em 2016:
Tabela 1- Quantidade de RCDs coletados no Brasil em 2016 [6]
Região População Total (hab.) RCD Coletado (t/dia) Índice (Kg/hab/dia)
Norte 17.261.983 4.720 0,266
Nordeste 56.978.972 24.387 0,428
Centro-Oeste 15.660.998 13.813 0,882
Sudeste 86.344.130 63.981 0,741
Sul 29.433.099 16.718 0,568
BRASIL 206.031.667 123.619 0,600
Segundo [7], os RCDs têm uma composição que dependem muita de qual foi a fonte que os originou
e em qual momentos esses foram obtidos para reutilização. Como a construção civil é composta por
diferentes componentes, seus resíduos acabam se tornando conjuntos de materiais muito diferentes
[8], em seu estudo, analisou a composição do entulho provindo de um canteiro de obras brasileiro,
colocando todos os materiais presentes e suas respectivas porcentagens. Através da tabela 2, onde são
apresentados esses valores, percebe-se um material básico de boa qualidade.
Tabela 2 - Composição média dos resíduos de construção [8]
Elemento %
Argamassas 44,2
Concreto 21,1
Material cerâmico 20,8
Rochas e solos 17,7
Cerâmica polida 2,5
Outros 0,5

Devido à escassez dos recursos naturais, às rigorosas legislações ambientais e os altos cultos
econômicos e sociais causados pelos desperdícios de materiais, faz-se necessário no atual contexto,
a procura de novos materiais para uso de construção de pavimentos [9].
Segundo [10], todas as estruturas que compõe um pavimento rodoviário podem ser constituídas com
materiais reutilizados ou reciclados. Entre essas camadas, destacam-se o revestimento, a base e sub-
base.

3. PRÉ-MISTURADO À FRIO
O [11] define PMF como sendo uma mistura executada à temperatura ambiente, em usina apropriada,
composta de agregado mineral graduado, material de enchimento (filler) e emulsão asfáltica, para
espalhamento e compressão a frio. Podendo ser usado como revestimentos de ruas e estradas de baixo
volume de tráfego, ou ainda como camada intermediária e em operações de manutenção e
conservação. No Brasil é maior empregada em serviços rotineiros, como “tapa-burcacos”.
Dentre as misturas a frio do tipo PMF, essas variam com relação a distribuição granulométrica de
seus agregados, resultando em: misturais mais abertas, com elevado volume de vazio e resultando em
um material bastante drenante; e densos, com graduação contínua e com baixo índice de vazios [12].
Segundo [13], as principais vantagens da utilização do PMF quando comprados com as misturas a
quente estão ligadas a utilização de equipamento simples, alta produtividade, menor custo,
trabalhabilidade à temperatura ambiente e elevada capacidade de suportar às grandes deflexões das
camadas subjacentes. Como desvantagem, há maior desgaste ao uso e envelhecimento acelerado,
apresenta valores inferiores de resistência e limitações para aplicações em rodovias de alto tráfego.
Segundo Roso (2007, apud [14]), os reparos superficiais de pavimentos podem ser executados com
misturas usinados à frio, pois os resultados de trincamento por fadiga apresentam melhor desempenho
paras as misturas à frio do que à quente com alto volume de vazios.
A norma [11] contém os procedimentos para fabricação e aplicação de PMF, com emulsão asfáltica
catiônica convencional, para construção de camadas de pavimentos flexíveis. Além dos requisitos
necessários aos materiais e ensaios dos serviços.

4. MATERIAIS E MÉTODOS
O desenvolvimento da pesquisa seguiu o procedimento envolvendo as seguintes etapas:
a) Caracterização dos materiais: nessa etapa, fez-se a caracterização dos RCDs através dos en-
saios de granulometria, massa específica, absorção, abrasão “Los angeles”, índice de forma,
durabilidade e adesividade. A emulsão asfáltica já veio com caracterização do fornecedor.
b) Montagem das misturas de agregados: para o estudo, escolheu-se duas faixas para serem tra-
balhadas: a faixa C da especificação de serviço [11] e faixa XII de [15]. A partir dessas, variou-
se a porcentagem de agregados e montou-se corpos-de-prova formados apenas com esses (es-
queletos minerais), afim de se enquadrarem nas faixas.
c) Dosagem das misturas asfálticas: para a definição do teor de projeto de ligante, aplicou-se o
método Marshall, e com os resultados, obteve-se um teor para cada faixa. Resolveu-se fazer
duas dosagens, pelo fato da primeira ter apresentado dificuldade de mistura.
d) Propriedades mecânicas das misturas asfálticas: Com o teor de projeto já definido, montou-se
corpos de prova e avaliou-se algumas propriedades mecânicas, através de ensaios como resis-
tência à tração por compressão diametral, módulo de resiliência e fadiga.
4.1. Caracterização dos Materiais
O trabalho referente faz um estudo com relação a aplicabilidade de RCD em misturas asfálticas para
uso em revestimento. Para se obter um pavimento bem projetado, é necessário que esse proporcione
ao usuário conforto e segurança, além de garantir uma boa vida útil.
Para que se cumpra esse objetivo, é de suma importância fazer um estudo e análise dos materiais
empregados nos revestimentos asfálticos, assim como suas características mecânicas. Feito isso, fica
mais fácil e preciso o dimensionamento posterior do revestimento e pavimento.
O RCD utilizado na pesquisa e na qual foi feita sua aplicabilidade em misturas asfálticas, foi fornecido
pela Pró-Reitoria de Infraestrutura (PROINFA) da Universidade Federal de Juiz de Fora, advindo de
obras de demolição do próprio Campus. Os resíduos foram levados para o pátio da PROINFA, com
o objetivo de se realizar a triagem. O entulho coletado era composto por diversos materiais, como
argamassa, concreto, tijolos, cerâmica, vidro, plástico, etc.
Com os entulhos já separados, deu-se início ao processo de britagem do mesmo, em um triturador de
mandíbula, afim de obterem frações menores daquelas já obtidas e para a retirada do aço junto ao
concreto. Após isso, utilizou-se de 3 frações diferentes: uma acima de 3/8'” (9,5mm), uma entre a
peneira de 3/8” e a Nº 10 (2mm) e outra passante na peneira nº 10, com o objetivo de separar em
parcelas menores os materiais e facilitar os ensaios. Desse processo resultou-se em três tipos de
materiais, denominados neste trabalho de:
a) Brita 1
b) Brita Ø
c) Pó de Pedra
A figura 1, abaixo, ilustra os passos do entulho no local da demolição até a chegada ao Laboratório:
Figura 1 - Etapas do processo de produção do RCD.

Para o uso dos agregados e do ligante asfáltico em misturas asfálticas faz-se necessário conhecer suas
propriedades tecnológicas e de caracterização, então realizou-se os seguintes ensaios e procedimentos
representados na tabela 3 a seguir:
Tabela 3 - Ensaios de Caracterização dos materiais
Material
Agregado graúdo Agregado miúdo Ligante Asfáltico
Análise Granulométrica [16] Análise Granulométrica [16] Viscosidade Saybolt (NBR 14491)
Massa Específica Real e Aparente Massa Específica Real e Aparente Peneiração (NBR 143939)
[17] [17]
Absorção [18] Absorção [18] Sedimentação (NBR 6570)
Abrasão ‘Los Angeles’ [19] Carga da Partícula (NBR 6567)
Índice de Forma [20] Resíduo Seco (NBR 14367)
Durabilidade [21] pH (NBR 6229)
Adesividade a ligante betuminoso
[22]

4.2. Projeto de Mistura de Agregados


Para esse trabalho, usou-se duas faixas para a granulometria das misturas: a faixa C da norma [11], e
faixa XII do livro “Pré-misturado à frio” do (quadro III.20, [15]), ilustradas na figura 2 abaixo:
Figura 2 - Especificações granulométricas do PMF. a) [11]; b) Faixa XII, quadro III.20, [15].

Para facilitar o enquadramento do RCD nas faixas solicitadas, utilizou-se do recurso da ferramenta
computacional Microsoft Excel. Nela, colocou-se a distribuição granulométrica de cada material
(Brita 1, Brita 0 e Pó de Pedra) e variou-se a porcentagem de cada um desses na mistura para que se
enquadrassem nos limites das faixas (Método das Tentativas).
Após ter a porcentagem de cada um dos agregados, separam-se quantidades suficientes de materiais
de acordo com as peneiras especificadas. Depois de cada material separado em cada peneira,
montaram-se 24 esqueletos minerais com aproximadamente 1,1Kg cada, formados pelas
granulometrias especificadas. Resolveu-se por chamar a faixa C do [11] de Primeira Mistura, e a
Faixa XII do livro [15] de Segunda Mistura.
4.3. Dosagem das Misturas Asfálticas
A dosagem de uma mistura asfáltica consiste na metodologia da escolha de um teor de projeto de
ligante, a partir de uma curva granulométrica predefinida. Esse teor de projeto de ligante asfáltico
varia de acordo com o método de dosagem, e sendo função de parâmetros como energia de
compactação, tipo de mistura, temperatura, etc [23].
Para o trabalho proposto, fez-se uso da Norma [24], Mistura a frio – Ensaio Marshall. Primeiramente,
adotou-se 5 teores de asfalto, variando em 1% na primeira mistura, e para uma segunda mistura
adotou-se 3 teores de emulsão, variando em 2%.
Para cada CP, mediu-se: altura, diâmetro, massa seca, massa úmida e massa imersa. Com os valores
obteve-se a massa específica aparente compactada (Gmb) e massa específica máxima teórica (DMT).
Por seguinte, calculou-se o volume de vazios (Vv), vazios dos agregados minerais (VAM) e relação
betume/vazio (RBV).
Com os valores da porcentagem de vazios, estabilidade e fluência de cada CP, traçou-se curvas e
comparou-se com os limites estabelecidos pela [11], optando-se por um teor de projeto para cada
mistura.
4.4. Propriedades Mecânicas
Para as misturas asfálticas, foram determinadas as propriedades mecânicas das mesmas para analisar
se seus resultados atendem as especificações. Para isso, foram realizados os ensaios de resistência à
tração por compressão diametral, ensaio de fadiga e módulo de resiliência, com 3 corpos-de-prova
para cada ensaio e o resultado final foi a média desses. Os ensaios realizados e suas respectivas
normas são representados na tabela 4, a seguir:
Tabela 4 - Ensaios mecânicos para as misturas asfálticas
Ensaio Norma
Resistência a Tração por Compressão Diametral [25]
Ensaio de Fadiga -
Módulo de Resiliência [26]

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. Caracterização dos Agregados
As respectivas granulometrias dos agregados empregados na composição das misturas asfálticas
consideradas na dosagem Marhsall estão apresentadas na Figura 3, e a Tabela 5 reúne os demais
índices físicos característicos desses materiais.

Figura 3 - Curvas Granulométricas dos Agregados de RCD usados na pesquisa.


Tabela 5 -Resultados dos índices físicos dos agregados
Valores
Índice Físico
Brita 1 Brita 0 Pó de Pedra
Massa Específica real (g/cm³) 2,632 2,610 2,225
Massa Específica aparente (g/cm³) 2,314 2,241 2,021
Absorção (%) 4,839 6,276 7,116
Abrasão ‘Los Angeles’ (%) 38,8 44,1 -
Índice de Forma 0,88 0,79 -
Durabilidade (%) 5,87 4,91 -
Adesividade ao ligante betuminoso Satisfatória Satisfatória
Os agregados apresentaram propriedades adequadas para a utilização em misturas asfálticas do tipo
PMF, em conformidade com a especificação de serviço [11].
Segundo a norma, os agregados graúdos deveriam apresentar valores de abrasão igual ou inferior a
40, admitindo-se agregados com valores maiores, no caso de em emprego anterior terem apresentado
desempenho satisfatório, índice de forma superior a 0,5, durabilidade inferior a 12% e adesividade
satisfatória, sendo assim os valore encontrados estão dentro dos limites.
4.2. Caracterização do Ligante
No trabalho em questão foi utilizado a Emulsão asfáltica catiônica de ruptura lenta (tipo: RL-1C
denso), fornecido pela Stratura Asfaltos S/A. Os valores de caracterização foram apresentados pelo
fornecedor, e estão descritos na tabela 6.
Tabela 6: Características do Ligante Asfáltico RL-1C
Características Método Especificação Análise fábrica
Viscosidade Saybolt Furol, 50 ºC, em s NBR 14491 70 máx. 25
Peneiração, em % peso NBR 14393 0,1 máx. 0
Sedimentação, 5 dias (%) NBR 6570 5 máx. 0,5
Carga da partícula NBR 6567 Positiva Positiva
Resíduo seco NBR 14376 60 mín. 61,50
pH NBR 6299 6,5 máx. 2,8
Os valores obtidos entregues pela fornecedora estão de acordo com a Norma [27], mostrando que as
Emulsões Asfálticas podem ser utilizadas em misturas do tipo pré-misturado a frio para pavimentação
asfáltica.
4.3. Projeto de Mistura de Agregados
O projeto de mistura de agregados das misturas asfálticas tem como objetivo a montagem do
esqueleto mineral a fim de se enquadrarem nas faixas desejadas. Utilizou-se então da ferramenta
Microsoft Excel e através do método das tentativas, onde se variava a porcentagem de cada material,
para a mistura final se enquadrar nas faixas. Na tabela 7, estão descritas as misturas de agregados
utilizadas:
Tabela 7 - Mistura de agregados paras as duas misturas
Misturas
Mistura 1 Mistura 2
Brita 1 45% 5%
Brita 0 45% 50%
Pó de Pedra 10% 45%

4.4. Dosagem das Misturas Asfálticas


Como teor inicial optou-se por 10% de emulsão, e utilizou-se ±2% para os outros corpos de provas.
Para cada teor, montaram-se 3 CPs e foram feitos ensaios volumétricos e mecânicos para encontrar-
se o teor de projeto.
Após as primeiras dosagens, percebeu-se nos corpos de provas dificuldade na mistura, pois se
encontraram muito secas e com pouco ligante, devido ao fato do resíduo de construção e demolição
utilizado ser altamente absorsivo. Então como outra tentativa, resolveu-se aplicar o Método Marshall
novamente, mas com teores maiores de ligante na mistura.
Optou-se então por partir do teor de 13%, e variar esse em ±2%, com 3 CPs para cada teor e aplicar
a metodologia Marshall para obter o teor de projeto. As tabelas 8 e 9, mostram os valores obtidos
para todos as dosagens e misturas.
Tabela 8 - Parâmetros da primeira mistura
Primeira Dosagem Segunda Dosagem
Teor de Emulsão (%) 8,0 9,0 10,0 11,0 12,0 11,0 13,0 15,0
Teor de asfalto (%) 4,8 5,4 6,0 6,6 7,2 6,6 7,8 9,0
Vv (%) 15,46 13,96 12,90 11,78 12,76 21,34 22,37 19,88
RBV (%) 38,44 43,89 48,59 53,58 53,02 36,13 38,08 44,85
VAM (%) 25,08 24,88 25,08 25,23 27,15 33,34 36,13 36,00
Gmb 2,044 2,062 2,070 2,079 2,039 1,854 1,799 1,827
DMT 2,418 2,397 2,377 2,357 2,337 2,357 2,318 2,280
E (Kgf) 260,5 379,6 340,6 257,1 119,2 265,5 376,8 309,7
f (mm) 4,25 3,25 4 3,50 4,50 4,00 5,50 5,00

Tabela 9 - Parâmetros da segunda mistura


Primeira Dosagem Segunda Dosagem
Teor de Emulsão (%) 8,0 9,0 10,0 11,0 12,0 11,0 13,0 15,0
Teor de asfalto (%) 4,8 5,4 6,0 6,6 7,2 6,6 7,8 9,0
Vv (%) 21,54 19,93 18,31 17,90 17,79 24,62 17,94 19,18
RBV (%) 29,32 33,77 38,59 41,21 43,27 32,00 44,80 45,88
VAM (%) 30,47 30,09 29,73 30,42 31,35 36,11 32,48 35,43
Gmb 1,897 1,919 1,941 1,935 1,921 1,776 1,902 1,843
DMT 2,418 2,397 2,377 2,357 2,337 2,357 2,318 2,280
E (Kgf) 231,4 234,2 251,3 137,0 101,2 323,3 393,3 340,3
f (mm) 4,25 3,25 4 4,25 5,25 4,25 5,5 5,5

A Norma [11] especifica apenas três quesitos: a porcentagem de vazios, a estabilidade mínima e a
fluência, com os respectivos valores mínimos descritos na tabela 3. Analisando-se essas
especificações e os gráficos em função do teor de emulsão, obteve-se os seguintes teores de ligante
asfáltico para as misturas, descritos na tabela 10.

Tabela 10: Valores de teores ótimos para as misturas


Mistura Faixa Teor de Ligante
Primeira C [11] 9%
Segunda Tab. XII [15] 10%
Primeira C [11] 11%
Segunda Tab. XII [15] 11%

4.5. Propriedades Mecânicas das Misturas Asfálticas


4.5.1. Resistência à Tração por Compressão Diametral e Módulo de Resiliência
A Tabela 11 apresenta os resultados dos ensaios de resistência à tração por compressão diametral (RT)
e módulo de resiliência (MR) realizados sobre os corpos de prova.
Tabela 11 - Valores de RT e Módulo das misturas asfálticas
Mistura Faixa Teor de RT Médio Desvio MR Médio Desvio
Ligante (MPa) Padrão (MPa) Padrão
Primeira C [11] 9% 0,52 0,6571 860,0 322,589
Segunda Tab. XII [15] 10% 0,30 0,0723 802,3 256,890
Primeira C [11] 11% 0,29 0,0458 1392,6 306,245
Segunda Tab. XII [15] 11% 0,25 0,0377 940,3 137,124

Os valores obtidos de RT no trabalho são menores a outros valores encontrados na literatura. [28], [9]
e [29] obtiveram, respectivamente 0,63 MPa, 0,86 Mpa e 0,44 MPa. Os valores inferiores, podem ser
justificados pelo tipo de mistura, a frio com a quente, quando comparado com os dois primeiros
trabalhos, que também usaram RCD, e com o último trabalho, em que se usou o PMF, mas com
agregados convencionais.
No Brasil, atualmente não existe padronização nas normas brasileiras quanto aos limites dos valores
de módulo de resiliência em misturas asfálticas. Comparando os valores obtidos com o de outras
pesquisas, os resultados se mostraram inferiores a demais literaturas. [9] e [28] que usaram misturas
com RCD a quente, acharam valores de 2858 MPa e 6000 MPa, respectivamente, e [29], com misturas
a frio com agregados convencionais com valor de 1616 MPa para o módulo, e como no caso do ensaio
de resistência à tração, se justificando ao fato de se tratar de misturas a frio e com o uso de RCD.
4.5.2. Ensaio de Fadiga
A expressão da vida de fadiga para as misturas é do tipo N = k1 x ∆𝜎 −𝑛1 e estão representadas na
Figura 4, em um gráfico log-log. Nas abscissas estão representadas as diferenças de tensões (Δσ), e
nas ordenadas, o número de solicitações até a ruptura (N).

Figura 4 -Curvas de Fadiga das misturas asfálticas

A partir da regressão dos dados de ensaio que compõem a curva de fadiga para cada mistura, obteve-
se os parâmetros (constantes) de fadiga, k1 e n1. Os resultados desses valores dos ensaios estão
descritos na tabela 12.
Tabela 12 - Constantes experimentais das curvas de fadiga das misturas
Mistura Faixa Teor de Ligante k1 n1
Primeira C [11] 9% 80,701 -1,906
Segunda Tab. XII [15] 10% 318,79 -0,461
Primeira C [11] 11% 466,37 -1,038
Segunda Tab. XII [15] 11% 98,158 -1,732

Com os resultados, pode-se observar que a primeira mistura apresentou uma resistência ao
trincamento por fadiga superior ao da segunda mistura. Isto pode ser justificado pela granulometria,
observando que uma mistura mais densa apresenta valores superiores de vida de fadiga comparadas
a misturas abertas.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A caracterização do agregado de RCD possibilitou analisar que o material reciclado apresenta valores
um pouco inferiores de massa específica do que agregados naturais. Além disso, observaram-se
valores elevados de absorção do material reciclado, quando comparados com os convencionais,
devendo-se ao fato de apresentar materiais em sua constituição (tijolos e concreto) que conduzem a
maior absorção.
No que se refere aos ensaios de Abrasão “Los Angeles” e Índice de Forma, os agregados de RCD
apresentaram resultados satisfatórios com as exigências da norma com relação aos agregados, e
resultados próximos a de outras pesquisas e literaturas. A adesividade apresentou valores diferentes,
quando comparados com outros trabalhos, por se tratar de um material altamente absorsivo.
A primeira dosagem do RCD apresentou teores de projeto de 9% e 10%, valores superiores aos teores
usados em misturas com agregados convencionais. As porcentagens inferiores usadas nas primeiras
dosagens apresentarem dificuldades na hora de misturar, pelo alto teor absorvido dos RCDs. Então
ao aumentar os teores de ligante no ensaio Marshall, a segunda dosagem resultou em valores de 11%
para as duas misturas no teor de projeto.
As misturas produzidas com RCD na pesquisa apresentaram valores inferiores de resistência à tração
por compressão diametral e módulo de resiliência, quando comparados a outros trabalhos, que se
utilizaram de outros agregados e misturas. O resultado inferior é justificado pelo fato da pesquisa
utilizar de misturas a frio e agregados de resíduos, apresentando resultados inferiores ao valor mínimo
indicado para misturas a quente do tipo concreto asfáltico.
Os ensaios de vida de fadiga dos agregados reciclados apresentaram-se satisfatórios, devendo-se ao
fato do melhor entrosamento entre as partículas de maior cubicidade, do maior teor de ligante usado
(comparado com misturas convencionais) e ao alto teor absorsivo do resíduo reciclado. Embora
apresente valores inferiores de resistência a fadiga do que em outras pesquisas, os resultados
apresentaram-se adequados para o fim que a mistura teria.
Em suma, com os resultados obtidos pelos ensaios, pode-se concluir que os resíduos da construção e
demolição utilizados nessa pesquisa podem ser aplicados em misturas asfálticas do tipo PMF a fim
de serem alternativas em revestimentos de pavimento. Esse bom desempenho das misturas com RCD
está ligado diretamente à origem do resíduo utilizado, que possuía boa quantidade de concreto de
cimento Portland e argamassa.
REFERÊNCIAS
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Horizonte, 2008.
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de resíduos de construção e demolição. 18 ENACOR, Foz do Iguaçu, Rio de Janeiro, 2015.
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base e sub-base de pavimentos. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, 2007.
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Doutorado. Universidade de São Paulo, 2001.
[5] CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente (2002). Resolução Nº 307, de 5 de julho de 2002. Ministério das
Cidades, Secretaria Nacional de Habitação. Publicada no Diário Oficial da União em 17/07/2002.
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Sólidos no Brasil, 2016.
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argamassas e concretos. São Paulo, p. 4, 1997.
[8] LOVATO, P. S.; Verificação dos parâmetros de controle de agregados reciclados de resíduos de construção e demolição
para utilização em concreto, 2007.
[9] QUIÑONES, F. S.; Aplicabilidade de resíduos reciclados da construção e demolição como agregados em misturas
asfálticas. Universidade do Brasília, 2014.
[10] PETKOVIC, G., ENGELSEN, J. C., HAOYA, A. O., BREEDVELD, G.; Environmental impact from the use of
recycled materials in road construction: method for decision-making in Norway. Resources. Conversation and
Recycling, 42: p 249-264, 2004.
[11] DNIT. Pavimentação asfáltica – Pré-misturado a frio com emulsão catiônica convencional. Especificação de serviço,
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[12] BROCHADO, M. M. L.; Estudo da viabilidade do asfalto pré-misturado a frio em rodovias de médio e baixo tráfego,
2015.
[13] ABEDA – Associação brasileira de Empresas distribuidoras de asfalto. Manual básico de emulsões asfálticas.
Soluções para pavimentar sua cidade. 1. Ed. Rio de Janeiro: ABEDA, 2001.
[14] GUIMARÃES, A. C. R.; LOURES, R. C. B. A.; Utilização de misturas asfálticas usinadas à frio como alternativa
técnica, econômica e ambiental às misturas usinadas a quente. XXIX Anpet, Ouro Preto, 2015.
[15] SANTANA, H.; Manual de pré-misturados a frio. IBP, 1993.
[16] DNDER - Agregados – análise granulométrica. Método de Ensaio, 083/98. Rio de Janeiro: 1998.
[17] DNIT. Agregado graúdo – determinação da densidade real. Rio de Janeiro, 1995
[18] DNER. Agregados – determinação da absorção e da densidade de agregado graúdo. Rio de Janeiro, RJ, 1998.
[19] DNER. Agregados–determinação da abrasão “Los Angeles”, 035/98. Rio de Janeiro, RJ.
[20] DNER - Agregados-Índice de Forma de Agregado, 086/94. Método de Ensaio, Rio de Janeiro, RJ.
[21] DNER - Agregado–avaliação da durabilidade pelo emprego de soluções de sulfato de sódio ou de magnésio,
089/94. Rio de Janeiro, 1994.
[22] DNER. Agregado graúdo – adesividade a ligante betuminoso, 078/94. Rio de Janeiro, RJ.
[23] BERNUCCI, L. B. et al.; Pavimentação asfáltica: formação básica para engenheiros. Rio de Janeiro: Petrobrás:
ABEDA, v. 504, 2006.
[24] DNER. Mistura betuminosa a frio, com emulsão asfáltica – ensaio Marshall. Método de Ensaio, 107/94. Rio de
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[25] DNER. Pavimentação Flexíveis – Misturas betuminosas – Determinação da resistência à tração por compressão
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[26] DNIT. Pavimentação - Solos - Determinação do módulo de resiliência – Método de ensaio, 134/2010. Rio de Janeiro,
2010.
[27] DNER - Emulsões asfálticas catiônicas, 369/97. Rio de Janeiro, 1997.
[28] SILVA, C. A. R.; Estudo do agregado reciclado de construção civil em misturas betuminosas para vias urbanas, 2009.
[29] SILVA, T. K. et al.; Dosagem de Misturas Betuminosas a frio e seu estudo sob efeitos de cargas estáticas e repetidas,
2015.

.
ANÁLISE COMPARATIVA DA SUSTENTABILIDADE DOS SISTEMAS
ESTRUTURAIS EMPREGADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Comparative analysis of the sustainability of structural systems employed in civil


construction

Talita Pedrosa NOGUEIRA¹, Maria Teresa BARBOSA²

1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, talita.nogueira@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br

Resumo: O ramo da construção civil gera impactos significativos ao meio ambiente, seja pela
demanda excessiva de matéria prima e energia, seja devido ao grande volume de resíduos sólidos
descartados. Tendo em vista essa problemática, o conceito de construção sustentável foi
estabelecido e cresce significativamente ao decorrer do tempo, impactando não só a vida dos
engenheiros, mas também dos empresários e das grandes construtoras. Essa concepção, por sua vez,
incorpora, além dos aspectos ambientais (o emprego de materiais sustentáveis, o uso de energia
limpa na construção, dentre outros), os sociais e econômicos, a fim de promover melhor qualidade
de vida aos indivíduos e à sociedade. Assim sendo, o presente trabalho busca promover um estudo
comparativo da sustentabilidade dos sistemas estruturais empregados na construção civil, levando
em conta a análise do ciclo de vida. A fim de que a pesquisa seja realizada de forma eficaz e
forneça bons resultados, será realizada uma revisão bibliográfica com o intuito de propiciar maior
conhecimento dos diversos sistemas estruturais que podem ser empregados em um projeto, além de
esclarecer o conceito de sustentabilidade e sua aplicação na área. Ademais, um levantamento dos
principais indicadores do desenvolvimento sustentável aplicáveis à análise da sustentabilidade dos
sistemas estruturais também se faz necessário e, portanto, imprescindível para realização desta
pesquisa. Espera-se que este trabalho possa auxiliar a elaboração de projetos estruturais que visem
maior desempenho e menor impacto à sociedade e ao meio ambiente, o que será alcançado a partir
de um estudo dos diversos métodos construtivos e aplicabilidade em cada caso específico.

Palavras-chave: ACV, projeto estrutural, sustentabilidade.

Abstract: The area of civil construction generates significant impacts on the environment, either by
the excessive demand of raw materials and energy or by the large volume of solid residues
discarded. In attention to this problematic, the concept of sustainable construction was established
and grows significantly with time, impacting as much the engineers and entrepreneurs’ life as the
large builders’. This concept, in itself, incorporates, besides the environmental aspects (the use of
sustainable materials and clean energy, for example), the social and economic ones, with the finality
of promoting a better quality of life to the individuals and to society. Thereby, the present article
craves to promote a comparative study of the sustainability of the structural systems employed at
civil construction, utilizing the life cycle assessment. Aiming to accomplish research of an effective
way and to give good results, it will promote a bibliographic revision to propitiate the biggest
knowledge of the several structural systems that can be used in design, besides clarify the concept
of sustainability and its application on the area. Moreover, it is necessary and indispensable to this
article to make a survey about the mainly indicators of sustainable development applicable to the
analysis of the sustainability of the structural systems and, because of this, it will also be made here.
It is hoped that this research can help with the elaboration of structural projects that aim at a better
performance and the smallest impact to the society and to the environment, what will be reached
starting by a study of the several constructive methods and their applicability to each specific case.

Keywords: LCA, structural project, sustainability.

1. INTRODUÇÃO
Com o passar dos anos, a preocupação pelo meio ambiente e pelo impacto que a sociedade
gera sobre ele cresceu substancialmente. Com isso, o ramo da engenharia civil também foi afetado,
uma vez que, segundo (MONICH, 2010), a construção civil é responsável pela maior parte do
consumo de energia e das emissões atmosféricas no mundo, sendo a fabricação dos materiais de
construção uma das principais fontes de gases poluentes neste setor. Sendo assim, em vista de
solucionar este problema, surgiu o conceito de construção sustentável e formas de aplicá-lo à área.
Embora seja empregado desde o início da década de 1970, é amplamente reconhecido na área
da Avaliação da Sustentabilidade da Construção que o ACV (análise do ciclo de vida) é um método
preferencial na avaliação da pressão ambiental causada pelos materiais, elementos construtivos e
pela totalidade do ciclo de vida de um edifício (BRAGANÇA, 2011). Por esta razão, o presente
estudo foi baseado nesse procedimento, levando em consideração a variante Cradle-to-Gate (“do
berço ao portão”), mais usual entre as pesquisas. Vale ressaltar, ainda, que devido ao alto grau de
complexibilidade em promover um reconhecimento local do impacto ambiental gerado pelos
materiais analisados, os dados foram coletados a partir de uma revisão bibliográfica em livros e
trabalhos já publicados.
Tem-se, portanto, que este artigo visa promover um estudo comparativo da sustentabilidade
dos sistemas estruturais empregados na construção civil, levando em conta a análise do ciclo de
vida (ACV). Dentro desse método, serão avaliados, para cada sistema distinto, os materiais que
mais contribuem para a emissão de CO2 na atmosfera e a quantidade de energia incorporada em
cada um. Ao final, espera-se obter uma relação entre os diversos métodos construtivos, no que tange
à sustentabilidade, a fim de propor melhorias e mudanças que potencializem os aspectos ambientais,
econômicos e sociais da estrutura.

2. MÉTODOS
Para que seja possível contrastar os diversos métodos construtivos, antes se faz necessário
conhecer cada um deles. Dessa forma, será apresentado, a seguir, um panorama geral de cada
sistema, explicitando os materiais utilizados para seu emprego, suas principais características, suas
vantagens e desvantagens e os componentes mais expressivos para análise do ciclo de vida. A partir
dos dados obtidos no último parâmetro listado anteriormente, será feito um levantamento da
quantidade de gás carbono (CO2) emitido à atmosfera e a quantidade de energia incorporada (EI)
necessária para sua utilização de tais materiais. Por fim, após esclarecer o conceito de
sustentabilidade e seu emprego no presente trabalho, todos os sistemas serão classificados, para que
seja possível a comparação.

2.1. Concreto armado


Apesar de existirem diversos tipos de sistemas estruturais, o concreto armado ainda é um dos
mais conhecidos e mais empregado nos projetos. Esse fato se dá, muitas vezes, devido as suas
principais características: o método permite a construção de geometrias de qualquer forma e não
possui restrição em relação à dimensão da obra. Para sua execução, é utilizado aço, cimento,
agregado graúdo, agregado miúdo e água, podendo ser acrescido à massa aditivos e/ou adições.
Esses materiais, inclusive, representam uma vantagem, tendo em vista que estão presentes em todas
as regiões do país e sua aquisição é rápida e direta. Além desta, executar estruturas em concreto
armado gera outros benefícios, já que ele apresenta boa resistência ao fogo, não necessita de mão de
obra altamente qualificada, possui alta resistência ao choque, vibrações, compressão e à tração,
além de boa impermeabilidade, são duráveis e demandam baixo custo para manutenção. Em
contrapartida, podemos destacar algumas desvantagens, tais como: necessitam de formas e
escoramento durante a concretagem, possui elevado peso próprio, apresenta alta probabilidade de
aparecimento de fissuras com o tempo, gera grande quantidade de resíduos, precisam passar pelo
procedimento de cura e despendem elevado tempo para execução.

2.2. Alvenaria estrutural


Embora o método já exista no Brasil desde meados da década de 80, apenas nos últimos anos
ela se tornou mais expressiva. Vale ressaltar que nesse tipo de construção, feita por meio de blocos,
os quais podem ser de concreto (cimento, agregado graúdo, agregado miúdo e água) ou de
cerâmica, a estrutura e a vedação do edifício são executadas simultaneamente e as vigas e/ou pilares
são dispensados. Essas características, por sua vez, trazem algumas vantagens ao sistema. São elas:
demandam baixo tempo de execução, geram baixa quantidade de resíduos, dispensam o uso do aço
e possibilitam tanto maior organização no canteiro de obras quanto instalação de tubulações sem
quebras ou furos na estrutura. Entretanto, algumas desvantagens são intrínsecas à utilização de
alvenaria estrutural, já que há necessidade de mão de obra qualificada, o projeto arquitetônico fica
restrito devido às dimensões dos blocos, a troca de posição das paredes não é permitida e o limite de
pavimentos a serem construídos sem a utilização de aço é de até quatro andares.

2.3. Steel frame


Composto por aço galvanizado e painéis de drywall, o sistema construtivo é reconhecido por
ser industrializado e altamente racionalizado, sendo normalmente utilizadas as fundações
superficiais do tipo radier. Dessa forma, algumas vantagens são evidenciadas, tais como limpeza do
canteiro de obra, por gerar quase nenhuma produção de resíduo; baixo tempo de execução; baixo
peso específico do material; maior controle de qualidade; bom isolamento térmico e acústico e
facilidade de manutenção e reciclagem. Em contrapartida, não se pode ultrapassar o limite de cinco
pavimentos, é preciso dispor de mão de obra qualificada para realização do serviço, o projeto exige
planejamento minucioso para evitar patologias e não é indicado para construções com grandes vãos
ou com pé direito muito alto.

2.4. Wood frame


Semelhante ao Steel frame, esse sistema também é reconhecido por ser industrializado e
altamente racionalizado, porém sua matéria prima é a madeira, e não mais o aço. Suas vantagens
são parecidas com as supracitadas, ou seja, o método gera pouco desperdício de material, possibilita
a instalação de tubulações sem quebras ou furos na estrutura, demanda baixo tempo de execução,
promove maior controle de qualidade e possui bom isolamento térmico e acústico. Como
desvantagem, temos a limitação de vãos e acessos de grande porte, a manutenção com menores
intervalos de tempo, a necessidade de mão de obra adequada para execução e a baixa produtividade.

2.5. Estrutura metálica


Durante muito tempo, o uso de estruturas metálicas não foi a preferência dos brasileiros.
Entretanto, com o passar dos anos, as vantagens que esta técnica oferece levou muitos engenheiros
a optarem por construir em aço, matéria prima utilizada neste método. Bem como no Steel frame e
no Wood frame, nesse caso também estamos lidando com um sistema construtivo industrializado e
altamente racionalizado, que consegue vencer grandes vãos. Todavia, diferentemente dos demais,
não há limites de pavimentos a serem construídos, pelo contrário, o uso desse procedimento é mais
indicado para execução de grandes construções. Sendo assim, é possível destacar, dentro dos
atrativos que o sistema oferece, a alta resistência do aço, o baixo tempo de execução, a maior área
útil na edificação, a racionalização de materiais e mão de obra, a organização do canteiro de obras, a
precisão construtiva, o baixo peso específico e a flexibilidade de reformas. Em contrapartida, ao
escolher esse método construtivo, será preciso lidar também com o alto custo de implantação, a
necessidade de mão de obra especializada e a necessidade de tratamento anti-chama, já que o
sistema, por si só, não supre as demandas exigidas pelo corpo de bombeiros.
A Tabela 1, mostrada a seguir, representa alguns dos principais parâmetros utilizados para a
caracterização dos sistemas construtivos supracitados.
Sistema Construtivo
Parâmetros Concreto Alvenaria Steel Wood Estrutura
armado estrutural1 frame frame metálica

Adaptabilidade
Flexibilidade
Industrialização
Qualificação da mão de obra
Relevância do tempo de execução
Organização/ limpeza do canteiro
de obras
Relevância na geração de resíduos
Isolamento térmico e acústico
Baixo peso específico
¹Até quatro pavimentos.
Tabela 1 – principais parâmetros dos sistemas construtivos.

Após ter ciência dos métodos construtivos que serão abordados neste artigo, é preciso
esclarecer o conceito de sustentabilidade e entender o que significa a análise do ciclo de vida de
determinado componente, assuntos abordados adiante.
Durante muitos anos, a humanidade extraiu matéria prima do meio ambiente de forma
desordenada e sem grandes preocupações com o impacto que este ato geraria ao futuro. Com o
ramo da construção civil, portanto, não foi diferente. Além disso, deve-se destacar que, atrelada à
extração descontrolada de recursos, está a emissão de gases poluentes à atmosfera e o consumo de
energia para a fabricação dos materiais. Com o passar do tempo, porém, o conjunto desses fatores
despertou nas pessoas a necessidade de tomar providências, a qual contribuiu para a criação e
difusão do conceito de desenvolvimento sustentável, definido pelo relatório Our common future
como sendo aquele que "permite satisfazer as necessidades do presente sem comprometer as
possibilidades das gerações futuras satisfazerem as suas".
Ao abordar a área de construção civil, o desenvolvimento sustentável torna-se ainda mais
específico. Sendo assim, emprega-se um novo conceito: o de construção sustentável. Este, por sua
vez, se compromete com “a criação e manutenção responsáveis de um ambiente construído
saudável, baseado na utilização eficiente de recursos e no projeto baseado em princípios
ecológicos” (Kibert, 2008). Nesse âmbito, uma das formas encontradas para implementar o conceito
foi através da Análise do Ciclo de Vida (AVC) do produto (ou conjunto de produtos) utilizado na
execução da edificação.
Por definição, a ACV “inclui o ciclo de vida completo do produto, processo ou atividade, ou
seja, a extração e o processamento de matérias-primas, a fabricação, o transporte e a distribuição, a
utilização, a manutenção, a reciclagem, a reutilização e a deposição final” (SETAC, 1993). Todavia,
aplicar o método de forma a abranger todas as suas especificações torna-se inviável e impraticável
neste artigo, tanto por demandar uma quantidade de dados elevada quanto por necessitar de um
gasto de tempo significativo para sua elaboração. À vista disso, será feito uma simplificação para
este estudo, recorrente entre demais pesquisas desse mesmo gênero, que se baseia em considerar
apenas dois parâmetros influenciadores na AVC: o volume de gás carbono (CO2) emitido à
atmosfera e o montante de energia incorporada (EI) durante o processo de fabricação do produto a
ser analisado (no caso, os materiais mais expressivos em cada sistema construtivo abordado).
Uma vez entendido os conceitos supracitados, torna-se possível comparar os diferentes
métodos. Porém, antes de qualquer coisa, deve-se salientar que no Brasil não há referências
suficientes para coleta de dados, por isso serão usadas bibliografias de outros países. Ao fazer isso,
as informações passam a não refletir exatamente a nossa realidade, já que os métodos de fabricação
de um material, seu transporte e o impacto ambiental gerado por ele pode variar em diferentes
localidades. Isto, contudo, não impactará de forma significativa na pesquisa, pois os sistemas serão
comparados a partir de uma mesma base de dados e segundo o mesmo critério.
Para uma análise completa do ciclo de vida de um material em relação à energia incorporada e
ao CO2 embutido a ele é preciso levar em consideração uma condição de contorno conhecida como
Cradle-to-Grave, que significa “do berço ao túmulo”. Como o próprio nome já sugere, nela é
contabilizado tanto a energia quanto o CO2 emitido desde a extração da matéria prima necessária
para a fabricação do material – “berço” – (incluindo o combustível utilizado nesta etapa) até o final
da vida útil do produto – “túmulo”. Neste caso, portanto, estaria incluso, além da extração, a
fabricação do item, o transporte, a energia para a fabricação de equipamentos de capital, o
aquecimento e iluminação da fábrica, a manutenção, a eliminação, etc.
Devido ao alto grau de complexibilidade embutido nesse tipo de investigação, frequentemente
é adotado o chamado Cradle-to-Gate, “do berço ao portão”, para contabilizar esses valores a certo
material. Nesse estudo, levam-se em consideração apenas as etapas iniciais citadas no caso anterior,
isto é, desde o início da extração da matéria prima até à porta da fábrica. Por último, tem-se o
Cradle-to-Cradle, o qual é considerado uma variante do primeiro método apresentado aqui, uma
vez que contabiliza todas as etapas desta situação, acrescida do processo de reciclagem – dado
como última fase do ciclo de vida do produto. Um resumo esquemático dessas variantes é
apresentado na figura 1 que se segue.
Figura 1: Representação esquemática das fases do ciclo de vida incluídas em cada variante da ACV.
Fonte: adaptado de BRAGANÇA, 2011.

Para fins práticos, é usual adotar o Cradle-to-Gate como variante da análise do ciclo de vida
de um material, dado que a demanda por informações não é tão extensa e os resultados são
satisfatórios. Por esta razão, o presente artigo utiliza este parâmetro para coleta de dados.

3. RESULTADOS E ANÁLISES

3.1. Energia Incorporada


De acordo com o Inventory of Carbon & Energy (ICE, 2008), a energia embutida é o total de
energia primária consumida (com liberação de carbono) durante o ciclo de vida de um material de
construção, incluindo a extração, fabricação e transporte do material. Dessa forma, foram coletados
dados dessa energia em relação aos materiais analisados em cada sistema construtivo estudado. Os
resultados estão mostrados no gráfico a seguir, figura 2.

GRÁFICO 1: Energia incorporada nos materiais analisados (MJ/kg)

Figura 2: energia incorporada nos materiais.


Fonte: TAVARES (2006), MONICH (2010), ICE (2008)
Como se espera, a energia incorporada ao aço é substancialmente maior do que as demais.
Isto se deve, principalmente, ao processo de fabricação do material, já que a redução do minério
para separação do metal de interesse dos demais componentes é feito a altas temperaturas, exigindo
um elevado consumo de energia.

3.2. Emissão de CO2


Nos tempos atuais, há uma grande preocupação entre os países com as emissões de CO2 à
atmosfera, principalmente por ser um fator agravante do efeito estufa e do aquecimento global.
Tendo em vista que o ramo da construção civil contribui com uma parcela significativa no total de
emissão desse gás, a inclusão de tal parâmetro na ACV faz-se essencial.
Uma análise criteriosa do ciclo de vida dos materiais de construção civil exige que se saiba,
dentre outros aspectos, quais tipos de combustível foram usados para a produção do mesmo. Isso
porque, dependendo do recurso adotado, a emissão de CO2 pode ser maior ou menor, o que gera
diferentes impactos ao meio ambiente. Todavia, como a bibliografia consultada não traz essa
especificação, o cálculo de emissão de CO2 a partir da queima do combustível vai ser baseado em
uma média das diferentes fontes energéticas disponíveis. Os resultados obtidos estão explicitados na
figura 3, a seguir.

Emissão de CO2 (kg CO2/kg)

Figura 3: Emissão de CO2 para cada material.


Fonte: ICE (2008), BRANCO (2017), MONICH (2010)

A partir da análise dos dados acima citados (vide Figura 2 e 3 e Tabela 1) verifica-se:
i. Primeiramente, devemos destacar a tecnologia do steel frame e da estrutura metálica, que
apesar de terem sido consideradas como sustentáveis ao longo dos anos, quando analisamos a
energia incorporada para produção de seus componentes e a emissão de CO2 durante o processo,
esta afirmativa deixa de ser totalmente verdade. Sendo assim, ao tomarmos como referência apenas
o primeiro gráfico, percebemos que os maiores consumidores de energia são, justamente, o aço
comum e o aço galvanizado – este, por sua vez, sobressai seu valor em relação ao anterior por sofrer
o processo de galvanização, que requer a manutenção de zinco fundido.
Em contrapartida, tais sistemas permitem o reaproveitamento do aço, o qual, quando
reciclado, consome apenas 24% do total de energia necessária para sua produção primária. Além
disso, sua escória pode ser usada para a produção do cimento, reduzindo a geração de resíduos e,
consequentemente, seu impacto ambiental. Isso justifica, portanto, o porquê do material ser
considerado sustentável.
ii. Ainda se tratando de estruturas metálicas, outro material chama atenção em relação à
emissão de CO2: as placas de gesso acartonado. A princípio, a fabricação dessas placas é
semelhante à do gesso comum: o minério gipsita é moído e o pó é submetido a altas temperaturas,
pelo processo de calcinação, virando gesso comum. A este produto são acrescentados aditivos e
água, a fim de que se obtenha uma pasta, a qual é lançada entre duas folhas de papel cartão especial,
por meio de laminação contínua. Feito isso, promove-se a reação do gesso com a água, responsável
pelo endurecimento da pasta. Após cortado, o material é submetido à secagem e cura, retomando a
sua formação rochosa original. Por ser um procedimento altamente industrializado, há grande
consumo de combustível nas diversas etapas supracitadas, as quais justificam o elevado grau de
emissão de CO2 para fabricação do item.
iii. Partindo agora para análise da madeira, é importante destacar que no Brasil o seu uso para
construção completa de uma edificação ainda não é muito difundido, porém esse material está
presente na maioria – se não em todas – as edificações brasileiras, seja nas portas, nas janelas, no
piso ou mesmo nos móveis. Por ser um material natural e renovável, que tem a capacidade de filtrar
o ar poluído quando ainda não foi cortado, seu uso na construção civil pode ser considerado
sustentável. Entretanto, para que esta condição seja satisfeita, é necessário que a madeira seja
certificada, isto é, que respeite os princípios e critérios do FSC (Forest Stewardship Council – em
português, Conselho de Manejo Florestal), organização não governamental criada com a finalidade
de promover o manejo cuidadoso e não predatório das florestas. Por fim, deve-se salientar que uma
madeira certificada extrapola as condições necessárias para a obtenção de uma madeira legal, uma
vez que no primeiro caso são levados em consideração, além das leis ambientais, aspectos sociais e
econômicos que visem a garantir o bom uso dos recursos naturais, a segurança e o bem-estar das
partes interessadas.
iv. Um fato curioso ocorre quando analisamos os dados referentes ao concreto: apesar do
cimento ser considerado um dos “vilões” da construção civil, o material apresentou bons resultados
na análise. De fato, o cimento causa grande impacto ambiental, pois além do uso de combustíveis
fósseis para geração de energia térmica, durante a produção do clínquer ocorrem emissões
adicionais pela calcinação de calcário. Dessa forma, fazendo um comparativo apenas entre esses
dois produtos – cimento e concreto – chega-se ao resultado mostrado na tabela abaixo:

Produto EE (MJ/kg) CO2 (kg CO2/kg)


Cimento 4,6 0,83
Concreto 0,95 0,13

Tabela 2: comparativo entre cimento e concreto.


Fonte: MONICH, 2010.
A partir desta tabela, percebemos que o impacto causado pelo concreto como um todo
representa apenas 18% do impacto gerado exclusivamente pelo cimento em relação à energia
incorporada, e apenas 14% em relação à emissão de CO2. Isso ocorre porque na mistura de concreto
incorpora-se, além do cimento, a areia, a brita e a água, materiais de baixo impacto ambiental. Além
disso, ao analisar o sistema construtivo baseado no concreto armado devemos ter ciência de que o
aço também está presente e, portanto, é necessário somar sua contribuição.

4. CONCLUSÃO
Após estudo dos resultados percebemos que para realizar a análise do ciclo de vida de dado
objeto, de forma completa, é preciso levantar um número muito grande de dados. Portanto,
usualmente se faz uma análise simplificada, a qual também garante bons resultados. Baseado nisso,
observamos que não há um sistema construtivo ideal a se adotar em um projeto, já que muitas
variáveis estão envolvidas nessa escolha. Apesar disso, alguns oferecem mais vantagens do que
outros, como é o caso do aço, que embora gere considerável impacto quando produzido pela
primeira vez, seu reaproveitamento reduz substancialmente o consumo de energia e emissão de
CO2, garantindo bons resultados. O mesmo acontece quando analisamos o sistema do wood frame:
além de ter um produto natural como base, por ser um processo que não exige tanto refinamento de
materiais, mostra-se como uma boa opção.
Por último, vale ressaltar que embora o concreto armado tenha obtido bons resultados pelos
gráficos analisados, isso não significa que o sistema seja uma escolha sustentável, já que além da
elevada geração de resíduos, não considerada nessa análise, os materiais usados não podem ser
reaproveitados, sendo, portanto, rejeitados após sua vida útil. Além disso, em sua composição
encontra-se o cimento, com grande potencial poluidor, principalmente pela produção do clínquer.
Uma alternativa para esse problema é substituir o cimento convencional pelo cimento LC3, que
consiste basicamente em uma mistura de calcário e argila calcinada para substituição parcial do
clínquer, se apresentando como uma possibilidade bastante viável justificada pelos custos
relacionados, pela disponibilidade de matérias-primas e pelos resultados obtidos em diversos
estudos realizados (LOUZEIRO, 2018).

REFERÊNCIAS
BARBOSA, M. T.. Reconhecimento da sustentabilidade da construção: estudo de caso: Faculdade de Engenharia da
UFJF. In: ELECS: Encontro Latino-Americano e Europeu sobre Edificações e Comunidades Sustentáveis, 2017,
São Leopoldo – RS.

BRAGANÇA, L.; MATEUS, R.. Avaliação do ciclo de vida dos edifícios: impacte ambiental de soluções
construtivas. 1ª edição. Portugal: Multicomp, setembro de 2011.

BRANCO, A. S. J. et al. Energia e emissões de CO2 de sistema de vedação vertical em drywall. REEC: Revista
Eletrônica de Engenharia Civil, volume 14, nº 2, 18 – 27, julho de 2018 – dezembro 2018.
BRUNTLAND, G. (1987) Our Common Future. Report of the World Commission on Environment and Development,
Oxford University Press, Oxford (1987).

FSC Brasil. PROGRAMA DE MANEJO FLORESTAL: Levando inovação para o Manejo Florestal. Disponível em:
<https://br.fsc.org/pt-br/polticas-e-padres/reas-de-programas/programa-de-manejo-florestal>. Acesso em 30 de outubro
de 2018.

LOUZEIRO, R.M. Gustavo; REGO, H.S. João; LIRA, S. M. M. Júlia. Avaliação do Ciclo de Vida do Cimento: Análise
do Gasto Energético do Cimento LC3 em Comparação ao Cimento Portland CP-I. In: CBC 2018: 60º Congresso
Brasileiro do Concreto, 2018, Foz do Iguaçu – PR.

MONICH, C.R.; TAVARES, S. F.. Energia e CO2 embutidos na fabricação dos materiais de construção: panorama atual
no Brasil e exterior. In: ENTAC: XIII Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, 2010, Canela –
RS.

SETAC (1993) Society of Environmental Toxicology and Chemistry – Guidelines for Life-Cycle Assessment: A code of
Practice, Bruxelas, Bélgica.

TAVARES, S. F.. Metodologia de análise do ciclo de vida energético de edificações residenciais brasileiras. 2006.
Tese. 225. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC, Florianópolis, 2006.

TORGAL, F.P.; JALALI, S.. A sustentabilidade dos materiais de construção. TecMinho, novembro de 2010.
REÚSO DE REJEITO DE MINÉRIO DE FERRO EM COMPÓSITOS
CIMENTÍCIOS

Reuse of iron ore tailing in cement compounds

Bruna Silva Almada1, Alex Sovat Cancio 2, Marlo Souza Duarte 3, Nara Linhares de Castro 4,
White José dos Santos 5

* Autor para correspondênica: bruna.almada93@gmail.com


1,2,3,4,5
Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, Brasil

Resumo: O mercado de minério de ferro é um dos maiores responsáveis pela demanda de ferro na
siderurgia e representa grande importância na economia brasileira. O crescente desenvolvimento do
setor levou a um aumento da geração de resíduo de minério de ferro (RMF). Nesse contexto, este
estudo visa avaliar as perspectivas para reaproveitamento do RMF como adição à matriz de
compósitos cimentícios, no teor de 40%. Foram avaliadas propriedades no estado fresco e endurecido,
estudando-se pastas e argamassas. Os resultados indicam um aumento na demanda de água e do
coeficiente de capilaridade devido à finura do material, causando refinamento da estrutura dos poros.
Com o aumento da permeabilidade de fluidos a resistividade elétrica foi reduzida. Entretanto,
observou-se um aumento na resistência à compressão e no módulo de elasticidade dinâmico,
propriedade também influenciada pela elevada massa específica do resíduo. De forma geral, o
desempenho mecânico de pastas e argamassas utilizando 40% de adição de RMF mostrou-se superior
à composição de referência, podendo ser uma solução técnica e eficiente para produção de materiais
destinados à construção civil, contribuindo para a diminuição do volume do rejeito e fomentando uma
destinação ecoeficiente dos rejeitos armazenados em barragens.
Palavras-chave: Resíduo de mineração, substituição de cimento, rejeito de minério de ferro.

Abstract: The iron ore market is one of the main responsible for iron demand in the steel industry
and represents great importance in the Brazilian economy. The growing development of the sector
has led to an increase in the generation of iron ore residue (RMF). In this context, this study aims to
evaluate the prospects for reuse of RMF as an addition to the cement composites matrix, in the 40%
content. Fresh and hardened properties were evaluated by studying pastes and mortars. The results
indicate an increase in the water demand and the capillary coefficient due to the fineness of the
material, causing refinement of the pore structure. With the increase of the fluid permeability the
electrical resistivity was reduced. However, an increase in compressive strength and dynamic
modulus of elasticity was observed, a property also influenced by the high specific mass of the
residue. In general, the mechanical performance of pastes and mortars using 40% addition of RMF
was superior to the reference composition, being a technical and efficient solution for the production
of materials destined to the civil construction, contributing to the decrease of the volume of the reject
and promote eco-efficient disposal of tailings stored in dams.

Keywords: Mining residue, cement replacement, iron ore tailings.


1. INTRODUÇÃO
No Brasil, a indústria extrativa mineral tem participação fundamental no Produto Interno Bruto
(PIB), representando 1,4% de todo o PIB nacional. Esta atividade faz com que o país ocupe posição
de destaque como o terceiro maior produtor mundial de minério de ferro, atrás da China e Austrália,
respectivamente [1]. O minério de ferro corresponde por 63,8% das exportações minerais, com
produção de mais de 430 milhões de toneladas somente no ano de 2017 [2]. O estado de Minas Gerais
é responsável por 68,5% do volume desta produção, possuindo 435 barragens destinadas à mineração
[3]. Calcula-se que cada tonelada de minério extraído gere 400 kg de resíduos no processo de
beneficiamento [4]. Entretanto, apesar do resíduo da mineração de ferro ser um problema devido ao
grande volume gerado, existem alternativas para seu aproveitamento.
Os resíduos de minério de ferro são subprodutos gerados no processo de beneficiamento do
minério e, em geral, apresentam elevada superfície específica e composição química com altos teores
de dióxido de silício, óxido de alumínio e óxido de ferro [5, 6, 7, 8]. Em razão da sua granulometria
e composição química indicarem potencial como matéria prima para produtos destinados à construção
civil [9], esse resíduo vem sendo alvo de estudos para aproveitamento com finalidades distintas.
Segundo [10], o RMF tem se mostrado viável para produção de matrizes cimentícias técnica,
econômica e ambientalmente, podendo ser utilizado na confecção de argamassas [8, 11, 12], em
materiais cerâmicos [9, 13], em infraestrutura rodoviária [14, 15, 16], concreto [17, 18, 19], concreto
de ultra-alto desempenho [20] e em pigmento para tintas [21].
Diante das questões ambientais envolvidas, o volume expressivo de resíduo e da sua viabilidade
de utilização em materiais da construção civil, este trabalho busca avaliar o comportamento de pastas
e argamassas contendo 40% de RMF como adição à matriz, sob os aspectos de resistência e
durabilidade.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
O trabalho foi dividido em quatro etapas: preparação dos resíduos, caracterização dos materiais,
análise das propriedades das pastas e argamassas no estado fresco e, posteriormente, no estado
endurecido.
O resíduo de minério de ferro estudado foi coletado de uma barragem de rejeito de Sarzedo, cidade
pertencente ao Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais e possuía características semelhantes às das
areias, percebendo-se grãos visivelmente maiores, predominantes em toda a amostra. Para os
objetivos deste estudo, foi necessário submeter o RMF ao processo de cominuição, reduzindo sua
granulometria até que suas partículas possuíssem dimensões próximas às do cimento, sendo inferiores
a 75 µm. O moinho utilizado neste procedimento foi o do Laboratório de Minas da UFMG, fabricado
pela PAVITEST – Contenco Indústria e Comércio LTDA. A moagem foi feita via seca por 15
minutos, com uma amostra de 5 kg, no moinho contendo 42 barras de aço, com peso médio
aproximado de 1,4 kg por barra.
O resíduo foi caracterizado quanto a composição granulométrica, por granulometria à laser, massa
específica por picnômetro à hélio, composição química por fluorescência de raios-X (FRX) e
mineralógica por difração de raios-X (DRX). A FRX foi realizada pela empresa SGS Geosol,
localizada na cidade de Vespasiano-MG, com limite de detecção de 0,01% e método de referência
analítica CLA70C, para determinação de óxido de ferro (II) – FeO (silicato) volumétrico. A perda ao
fogo foi realizada por calcinação da amostra a 405⁰ C e/ou 1000⁰ C, utilizando o método PHY01E:
LOI (Loss on ignition) e, na quantificação por RFX, utilizou-se o método XRF79C: fusão com
tetraborato de lítio. Para a DRX o equipamento utilizado foi o Difratômetro de raios-X, para amostra
em pó, PHILIPS (PANALYTICAL), sistema X’Pert-APD, controlador PW 3710/31, gerador PW
1830/40, goniômetro PW 3020/00, existente no Laboratório de Raios-X do Departamento de
Engenharia de Minas da UFMG.
Nas fases seguintes, foram moldadas pastas e argamassas, contendo somente cimento (REF), e
contendo a adição de 40% de resíduo (RMF), conforme dosagens indicadas na Tabela 1, avaliando-
se as propriedades no estado fresco e endurecido, de acordo com ensaios apresentados na Tabela 2.
Os ensaios foram realizados no Laboratório de Concreto, Laboratório de Síntese de Materiais e
Ensaios Químicos e Laboratório de Caracterização de Materiais de Construção Civil e Mecânica da
UFMG. Os corpos de prova submetidos aos ensaios para avaliação do desempenho das propriedades
mecânicas e de durabilidade foram moldados conforme [22], sendo o adensamento realizado em mesa
vibratória, até exsudação de cada camada. A cura foi realizada em câmara úmida por 28 dias.

Tabela 1 - Consumo de materiais das pastas e argamassas (kg/m³)

Cimento Resíduo Areia Água a/f r/c a/c


Pastas
REF a/c 0,345 1.525,64 0,00 - 526,35 0,345
0,40 0,345
RMF a/c 0,345 1.338,28 535,31 - 461,71 0,246
REF a/c 0,416 1.376,53 - - 572,64 0,416
0,40 0,416
RMF a/c 0,416 1.222,16 488,862 - 508,42 0,297
Argamassas
REF 509,08 - 1.527,25 254,54 0,500
0,40 0,500
RMF 486,36 194,55 1.459,09 243,18 0,357
Nota: a/f – relação água finos; r/c – relação resíduo cimento; a/c – relação água cimento

Tabela 2 - Programa experimental

Ensaio Norma
Pastas
Consistência normal ABNT NBR 16606:2017 [25]
Flow table ABNT NBR 13276:2005 [26]
Resistência à compressão ABNT NBR 7215:1997 [27]
Argamassas
Flow Table ABNT NBR 13276:2005 [26]
Resistência à compressão ABNT NBR 5739:2018 [28]
ABNT NBR 9779:2012 [29]
Absorção de água por capilaridade
ABNT NBR 15259:2005 [30]
Absorção de água por imersão e porosidade ABNT NBR 9778:2005 [31]
Módulo de elasticidade dinâmico ASTM C215:2008 [32]
Resistividade elétrica ABNT NBR 9204:2012 [33]
Foi utilizado cimento Portland CPI, por não conter adições, permitindo uma melhor avaliação da
influência do RMF como substituinte do cimento. O cimento foi caracterizado conforme sua massa
específica, pelo método de picnometria a gás hélio, obtendo-se como resultado 3,221 g/cm³. A
composição química foi determinada pela análise quantitativa por fluorescência de raio-X – EDS,
apresentada posteriormente. Na confecção das argamassas, foi utilizada areia normal, fornecida pelo
Instituito de Pesquisa e Tecnologia de São Paulo, composta por quatro frações de areia (nº 16, nº 30,
nº 50 e nº 100) igualmente proporcionadas. Essa areia é utilizada como material de referência para
ensaios físico-mecânicos de cimento Portland e suas propriedades atendem à norma [23], que
estabelece os critérios da areia normal para utilização para ensaios de cimento. A água utilizada é
proveniente da rede pública de abastecimento disponibilizada pela Companhia de Saneamento de
Minas Gerais – COPASA, em Belo Horizonte, se adequando à norma [24], que estabelece limites de
composição das substâncias.
Para o estudo com as pastas, foi realizado, inicialmente, o ensaio de consistência normal com a
pasta de referência, e com a pasta contendo RMF, buscando verificar a demanda de água dos materiais
secos. Como esse resultado foi diferente, foram moldadas pastas nos dois fatores água/cimento
obtidos. O índice de consistência das pastas foi realizado em molde de tronco de cone, com dimensões
49,15 x 30,80 x 18,15 mm (Bxbxh) e das argamassas, utilizou-se o molde padrão da norma [26]. A
resistência à compressão das pastas foi determinada a partir do rompimento de corpos de prova
prismáticos (5x5x5) cm, em máquina de ensaios universal, modelo Instron 5582, de carga máxima de
100 kN e velocidade de carregamento de 0,5 mm/min. Já para as argamassas, foram utilizados corpos
de prova cilíndricos (5x10) cm, rompidos em prensa automatizada EMIC, modelo DL2000, de carga
máxima de 200t e velocidade de carregamento de (0,45 ±0,15) MPa/s. A absorção por capilaridade e
por imersão foram realizadas seguindo os procedimentos das normas, indicadas na Tabela 2. A
porosidade teórica foi calculada, considerando o Teorema de Arquimedes, utilizando os dados obtidos
no ensaio de absorção por imersão e considerando somente os materiais secos para a massa específica
da argamassa.
O módulo de elasticidade dinâmico foi determinado pelo método de frequência ressonante forçada
no modo longitudinal em corpos de prova cilíndricos (10x20) cm, seguindo as recomendações da
norma [32] e as adaptações na equação de [34]. Foi utilizado o equipamento Erudite MKII Ressonante
Frequency Test System para aferição da frequência ressonante. A frequência de condução é variada
até a resposta da amostra medida atingir uma amplitude máxima, que é o considerada a frequência de
ressonância do material. O módulo de elasticidade dinâmico pode ser obtido levando-se em conta as
dimensões e densidade do corpo de prova, além da frequência de vibração, conforme modelo
matemático descrito por [34].
A resistividade elétrica é a medida de resistência à passagem de corrente elétrica e está associada
à possibilidade de corrosão de armaduras. Para o ensaio, foram utilizados corpos de prova cilíndricos
de (10x20) cm, que ficaram em imersão completa por 24 horas para saturação, realizando-se leituras
de corrente elétrica contínua, aplicada através de diferença de potencial entre dois eletrodos
localizados nas superfícies de base e topo dos corpos de prova. Para isso, utilizou-se o equipamento
Gerador de Função Digital FG -8102 da Politerm, considerando a geometria do material e a Lei de
Ohm.
3. RESULTADOS

3.1 Caracterização do RMF

O RMF apresentou massa específica de 4,359 kg/dm³ enquanto o cimento obteve o valor de 3,221
kg/dm³, logo percebe-se que se trata de um material 35% mais pesado que cimento. Deste modo, o
uso deste material como agregado ou cimento convergiria para redução de possíveis utilização,
devido ao aumento de peso do material. Espera-se que, ao ser adicionado à matriz de argamassas,
permita um uso maximizado para fins estruturais. Aliado a isto, tem-se os valores da composição
química (Tabela 3) e mineralógica (Figura 1), que demonstram não possui elementos contaminantes
ou que pudessem convergir para alguma reação deletéria nos compósitos cimentícios, como reação
álcali-sílica [35].
Tabela 3 - Composição química do RMF e do cimento.
Amostra FeO SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO TiO2 P2O5 Na2O K 2O MnO LOI
RMF 0,49 25,6 3,13 59,1 3,85 0,23 0,14 0,16 <0,1 0,38 0,23 6,12
CPI - 19,9 4,34 2,38 63,3 2,68 0,23 0,18 0,17 0,98 0,05 2,29

Figura 1 - Difratograma de raios-X do RMF

Para o resíduo utilizado neste trabalho, percebe-se ainda alto teor de ferro, o que se justifica devido
ao processo simplificado de beneficiamento pelo qual o minério extraído da lavra foi submetido. Pela
difração de Raios-X, observa-se uma maior quantidade de Ferro (Fe) e Oxigênio (O), média
quantidade de Sílica (Si), baixa quantidade de Alumínio (Al) e Fósforo (P) e traços de Manganês
(Mn), Tálio (Ti), Cloro (Cl), Enxofre (S), Magnésio (Mg) e Sódio (Na) na amostra de RMF analisada,
semelhante ao resultado de Fluorescência de Raios-X. Também percebe-se a presença predominante
de Quartzo - SiO₂, Hematita - Fe₂O₃, Goethita - FeO(OH) e Gibbsita - Al(OH)₃. Constata-se vários
picos demonstrando a elevada cristalinidade do resíduo de mineração e possivelmente, pouca
probabilidade de uma eventual reação deste material com os materiais presentes nos compósitos
cimentícios. Quanto à composição química do cimento CPI utilizado, o ensaio de Fluorescência de
raios-X demostra que o material se encontra dentro da norma referência [36], apresentando mais de
95% de clínquer e sulfatos de cálcio, com óxido de magnésio inferior a 2% em massa. A perda ao
fogo dos dois materiais possui valores próximos, logo a presença do RMF tende a não gerar grandes
comprometimentos ao comportamento do microconcreto em situações de incêndio.

O resultado da granulometria, apresentado na Figura 2, mostra que o resíduo tem partículas de


dimensões inferiores à 33µm, com D₉₀ = 13,240 µm, D₅₀ = 2,980 µm e D₁₀ = 0,530 µm.

100
90
80
% Passante acumulado

70
60
50
40
30
20
10
0
0 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30 33
Diâmetro das partículas (µm)

Figura 2 - Curva granulométrica do cimento e do RMF

3.2 Avaliação das pastas e argamassas no estado fresco

Os resultados para a consistência normal mostraram que a pasta de referência demandou um fator
água/cimento (a/c) de 0,345, enquanto que a pasta contendo RMF demandou 0,416. Observa-se,
portanto, um aumento de 20,5% na quantidade de água da pasta, que é resultado do aumento da área
superficial das partículas, devido à inserção do resíduo na mistura.

Na Figura 3, são apresentados os resultados para o índice de consistência das pastas e das
argamassas avaliadas. Observa-se que o incremento na quantidade de água promoveu um maior
espalhamento das pastas, como já era esperado. Entretanto, esse espalhamento não seguiu a mesma
proporção do aumento de água, variando 23,70% na pasta de referência e 29,60% na pasta contendo
RMF, o que indica que a diferença granulométrica e área superficial específica dos resíduos
influenciou esta propriedade, conforme observado por [17, 20]. Destaca-se que a forma dos grãos do
resíduo também influencia as propriedades de argamassas no estado fresco. Conforme visto em [20,
37], as partículas do RMF geralmente possuem formas angulares e superfície rugosas. As pastas
contendo RMF obtiveram índices de consistência inferiores às pastas de referência, sendo 20,00%
para o fator a/c 0,345 e 16,16% para a/c 0,416. Esse resultado pode ser atribuído à finura do material e
à maior densidade do RMF em relação ao cimento, conforme visto nos estudos de [6, 11]. De forma
semelhante, houve uma redução de 20,23% no espalhamento das argamassas.

12,0 35 20
a/c - 0,345 a/c - 0,416 18
Índice de Consistência

10,0 30

Índice de Consistência
16
25 14
8,0

Δ a/f (%)
20 12
(cm)

(cm)
6,0 10
15 8
4,0 6
10
4
2,0 5 2
0,0 0 0
REF RMF REF RMF

(a) (b)
Figura 3 - Resultado do índice de consistência (flow table) das (a) pastas e das (b) argamassas

3.2 Avaliação das pastas e argamassas no estado endurecido

Alguns indicadores de durabilidade como coeficiente de capilaridade, porosidade e absorção de


água por imersão das argamassas são apresentados na Figura 4 e na Figura 5.

30,0 7,8
Cc P aberta P total Ai
Coeficiente de Capilaridade

Absorção por imersão (%)

7,6
25,0
(10-² g/dm² min1/2) e

7,4
Porosidade (%)

20,0
7,2
15,0 7,0
6,8
10,0
6,6
5,0
6,4
0,0 6,2
REF RMF

Figura 4 - Resultado do coeficiente de capilaridade, porosidade e absorção de água por imersão das argamassas.
0,45 2,5
0,40

Variação (10-2g/cm²)
Capilaridade (g/cm²)

0,35 2,0
Absorção por

0,30
1,5
0,25
0,20
1,0
0,15
REF RMF Variação
0,10 0,5
0,05
0,00 0,0
0 720 1440 2160 2880 3600 4320
Tempo (min)

Figura 5 - Resultado da absorção de água por capilaridade e resistividade elétrica das argamassas .

Figura 6 - Porosidade das argamassas.

Percebe-se que houve um aumento do coeficiente de capilaridade em 15,47% com a adição de


RMF, que está associado à absorção de água por capilaridade nos minutos iniciais, conforme
verificado na variação da taxa de absorção, indicada na Figura 5. Correlacionando esse resultado com
as porosidades aberta e fechada, que reduziram 4,59 e 5,25%, respectivamente, percebe-se que houve
um refinamento da estrutura dos poros promovendo um melhor empacotamento dos grãos. Resultado
compatível com estudo de [37], o que pode garantir maior durabilidade das argamassas [16]. Já a
variação entre as porosidades aberta e fechada, tanto na argamassa de referência como na argamassa
contendo RMF, fica em torno de 39%, indicando pouca diferença na quantidade de poros abertos,
sendo mais significativa a dimensão destes. Isso pode ser percebido através da Figura 6, foto com
lupa da estrutura interna dos corpos de prova, na qual fica claro o refinamento dos poros da argamassa
com RMF. Nos pontos 1 e 2, da argamassa de referência, são identificados poros de maior
profundidade, ou seja, uma interconexão, que contribui para a permeabilidade de fluidos. Entretanto,
esses vazios são maiores e mais irregulares, o que dificulta a absorção por capilaridade, tornando-a
também mais lenta. Há também uma distribuição não uniforme de poros, de forma circular e
dimensões médias de 0,90 mm, além da presença de poucos poros menores. Já para a argamassa
contendo resíduo, os pontos 3, 4 e 5, indicam os poros conectados, mas verifica-se que são de menores
dimensões, facilitando a absorção por capilaridade, assim como observado no resultado do ensaio. É
possível constatar ainda que a distribuição dos poros é mais homogênea e os estes têm tamanho
aproximado de 0,55 mm.

A Figura 7 apresenta os resultados da resistividade elétrica. [38] afirma que a resistividade está
fundamentalmente relacionada à permeabilidade de fluidos e à difusividade de íons através dos poros
do material. Segundo [39], a resistividade é altamente sensível a diversos fatores da composição dos
concretos como relação água/aglomerante, consumo e tipo de cimento, o tipo de agregado e adições
minerais e aditivos, pois os mesmos promovem alterações no tamanho e distribuição dos poros, teor
de umidade interna, pH, entre outras. Como houve aumento do coeficiente de capilaridade e
refinamento da estrutura dos poros, a permeabilidade do material foi aumentada, observando uma
redução da resistividade elétrica no valor similar (15,47%). Destaca-se ainda o elevado teor de óxido
de ferro (59,1%) do resíduo, que contribui elevando a condutividade e, consequentemente, reduzindo
a resistividade elétrica.

45
40
Resistividade Elétrica

35
30
(Ohm.m)

25
20
15
10
5
0
REF RMF

Figura 7 – (a) Resultado da resistividade elétrica das argamassas.

As propriedades mecânicas das argamassas e pastas podem ser vistas na Figura 8. Observa-se que
a pasta de referência no teor a/f de 0,416 resultou em uma resistência à compressão superior (39,06%)
à do teor a/f de 0,345, o que não era esperado. Esse resultado pode estar atribuído a falhas na
moldagem, gerando corpos de prova com faces não paralelas e superfícies irregulares, acarretando
concentração de tensão durante a execução do ensaio. Isso corrobora com as rupturas, ocorridas
próximas às faces laterais das amostras, conforme ilustra a Figura 9. Essa situação ocorreu na maioria
dos corpos de prova também devido à grande sensibilidade do equipamento, sendo mais evidente
para a pasta de referência.

Avaliando-se a presença do resíduo, houve um aumento de 80,06% na resistência à compressão


no fator a/c de 0,345. Contudo, no fator água cimento maior, observa-se uma queda de 5,78%.
Considerando o erro do ensaio, esses últimos resultados são considerados estatisticamente iguais.
Diante disto, pode-se afirmar que a adição de 40% de RMF não altera significativamente esta
propriedade.
70 60
a/c - 0,345 a/c - 0,416
Resistência à Compressão

Ed fc
60 50

fc (MPa) e Ed (GPa)
50
40
(MPa)

40
30
30
20
20

10 10

0 0
REF RMF REF RMF

(a) (b)
Figura 8 - Resultado da resistência à compressão (fc) e módulo de elasticidade dinâmico (Ed) das (a) pastas e das (b)
argamassas.

(a) (b)
Figura 9 - (a) Execução do ensaio de resistência à compressão (b) corpos de prova rompidos

Já na resistência à compressão da argamassa contendo RMF, constatou-se um aumento de 22,88%,


devido ao efeito fíler e melhor empacotamento promovido pela adição mineral, confirmando os
resultados observados na porosidade aberta e fechada, em conformidade com os estudos realizados
por [6, 37]. Resultado semelhante foi encontrado no módulo de elasticidade dinâmico, sendo
observado um aumento de 21,41% com a adição do RMF. Sendo esta propriedade também
influenciada pela massa especifica do resíduo [8]. Destaca-se ainda a influência do tipo de cimento
na composição da argamassa. [40], utilizando o cimento CPV ARI, obteve, para a mesma
composição, uma resistência à compressão de aproximadamente 44 MPa, sendo, portanto, 8,90%
menor que o resultado obtido neste trabalho com o cimento do tipo CPI.

Na figura 7, observa-se a microestrutura da pasta contendo RMF, onde percebe-se uma região de
“afastamento” de uma partícula da pasta que pode estar atribuída a absorção de água do RMF
ocasionando um aumento no volume da mesma e contribuindo com a formação da portlandita
(Ca(OH)2). Uma outra hipótese levantada seria a da presença de algum componente no resíduo de
minério de ferro que possa reagir de forma expansiva nas primeiras idades, afastando a matriz e
gerando a formação da portlandita na zona de transição. Ambas as hipóteses necessitariam de estudos
mais aprofundados para conclusões mais elucidativas.

A composição química, referente a área demarcada em vermelho, através da análise do RMF pelo
método de EDS, sendo composta principalmente por 42,7% de Ca (cálcio), 29,5% de Fe (ferro),
12,2% de Si (silício), dentre outros, e que difere do EDS realizado em outros pontos da pasta com
adição de RMF, que não apresentou concentração elevada de Ferro. Acredita-se que este seja uma
partícula de resíduo recoberta pela pasta de cimento o que causaria o elevado valor de cálcio, contudo
não se identifica qualquer estrutura que corrobora com o cimento recobrindo. O comportamento
observado neste trabalho difere das observações, por exemplo, de [41], que realizou estudos com
materiais cerâmicos com adição de resíduo de minério de ferro, onde pela análise de MEV, na região
onde encontravam-se uma quantidade excessiva de resíduo de minério de ferro, percebia-se “defeitos”
na estrutura que podem estar atribuídos à presença dos aglomerados de hematita, estes defeitos
dificultariam a consolidação das partículas e como consequência, poderia ocorrer um decréscimo da
resistência mecânica do material estudado.

(a) (b)
Figura 10 - Microestrutura das pastas próximo às partículas de RMF.
3. CONCLUSÃO

Neste trabalho, buscou-se avaliar o comportamento de pastas e argamassas contendo adição de


40% de resíduo de minério de ferro e, à partir dos resultados, foi possível observar que, de forma
geral, o resíduo melhora o desempenho das argamassas no que diz respeito às propriedades mecânicas
e de durabilidade, embora tenha reduzido a trabalhabilidade. Essa redução, está associada à sua
elevada massa específica e finura, demandando maior quantidade de água para atingir a mesma
consistência da pasta de referência e diminuindo o espalhamento no flow table. Constatou-se que o
RMF atuou como fíler, proporcionando um melhor empacotamento dos grãos, o que refinou a
estrutura dos poros e levou à uma mistura mais compacta. Desta forma, a distribuição de poros foi
mais homogênea e de menores dimensões nas pastas contendo o RMF. Esse resultado indica um
melhor desempenho em relação à durabilidade do material, podendo ser um indicador de maior
resistência à sulfatos e à difusibilidade de íons cloreto. Embora tenha sido observado um aumento no
coeficiente de capilaridade, a longo prazo, pode-se concluir que a taxa de absorção é semelhante à da
argamassa de referência. Além disso, a inserção do resíduo também leva a uma menor absorção final.
Devido à essa menor porosidade e ao teor de ferro do resíduo, houve um ganho de resistência e
elevação do módulo de elasticidade. Entretanto, mesmo com menor porosidade, houve uma queda na
resistividade elétrica, pois essa propriedade é muito sensível à diversos fatores, incluindo a presença
de materiais condutores, como é o caso do ferro. Este trabalho mostra a viabilidade técnica para o uso
do RMF como adição em matrizes cimentícias, podendo ser uma solução eficiente para produção de
materiais destinados à construção civil, contribuindo para a diminuição do volume do rejeito e
fomentando uma destinação ecoeficiente dos rejeitos armazenados em barragens.

4. AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio da UFMG e dos órgãos de fomento CAPES, FAPEMIG e CNPQ para
realização desta pesquisa.

REFERÊNCIAS
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http://www.ief.mg.gov.br/images/FEAM/Barragens/Invent%C3%A1rio_de_Barragens_2017.pdf, acessado em 27 de
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– Determinação da absorção de água por capilaridade, Rio de Janeiro, 2012.
[23] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT NBR 7214: Areia normal para ensaio de cimento
- Especificação, Rio de Janeiro, 2015.
[24] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT NBR 15900-1: Água para amassamento do
concreto, Parte 1 – Requisitos, Rio de Janeiro, 2009.
[25] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT NBR 16606: Cimento Portland – Determinação
da pasta de consistência normal, Rio de Janeiro, 2017.
[26] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT NBR 13276: Argamassa para assentamento e
revestimento de paredes e tetos – Determinação do índice de consistência, Rio de Janeiro, 2016.
[27] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT NBR 7215: Cimento Portland – Determinação
da resistência à compressão, Rio de Janeiro, 1997.
[28] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT NBR 5739: Concreto – Ensaio de compressão de
corpos de prova cilíndricos, Rio de Janeiro, 2018.
[29] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT NBR 9779: Argamassa e concreto endurecidos
– Determinação da absorção de água por capilaridade, Rio de Janeiro, 2012.
[30] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT NBR 15259: Argamassa para assentamento e
revestimento de paredes e tetos – Determinação da absorção de água por capilaridade e do coeficiente de capilaridade,
Rio de Janeiro, 2005.
[31] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT NBR 9778: Argamassa e concreto endurecidos
– Determinação da absorção de água, índice de vazios e massa específica, Rio de Janeiro, 2005.
[32] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM C215: Standard Test Method for fundamental
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[33] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT NBR 9204: Concreto endurecido – Determinação
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REFORÇO COM MANTA DE FIBRA DE CARBONO EM DIFERENTES
LARGURAS: DESEMPENHO A FLEXÃO DE CONCRETO COM ALTO
TEOR DE FIBRAS DE AÇO CFRP
Reinforcement in different width: Flexural performance of concrete reinforced
with steel fibers

Jorge Luiz ALVES JUNIOR1, Amaro Francisco Codá dos SANTOS, D. Sc.2
1 Engenheiro Civil pelo CEFET/RJ, Mestrando IME, Rio de Janeiro, Brasil
2 Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – CEFET/RJ, Rio de
Janeiro, Brasil

Resumo: o envelhecimento das estruturas em concreto armado sem a devida


manutenção, seu mal-uso, ou mesmo falhas no projeto e execução, geram diversas
manifestações patológicas que podem reduzir a capacidade portante. Desde os anos
1970, o emprego de fibras diversas (como fibras de aço, polietileno ou vidro) na massa de
concreto para redução de certos comportamentos indesejados, tais como a fissuração, ou
como compósitos, para aplicação em concreto endurecido, é pesquisada e sua utilização
cada vez mais disseminada. Já as fibras de carbono, nas diversas apresentações
existentes no mercado (quer como tecido ou laminados), são amplamente utilizadas como
reforço estrutural, pois apresentam como vantagem, em comparação aos métodos
tradicionais utilizados para este fim (chapas metálicas ou aumento da seção da peça com
inclusão de barras de aço complementares), maior flexibilidade e conformação às peças
estruturais, menor peso, altas resistências iniciais e, especialmente, aumento mínimo de
seção da peça a reforçar. Sua principal desvantagem é o preço elevado do material e
baixa resistência do polímero ao fogo. Neste trabalho, buscou-se estudar a resistência à
tração na flexão de corpos de prova de concreto na forma prismática com incorporação de
diferentes percentuais de fibra de aço em sua massa (92,7 kg/m³ e 25,0 kg/m³) e posterior
aplicação de tecido de fibra de carbono com diversas larguras em relação à base destes
prismas, bem como uma análise do ganho de resistência em relação ao custo do tecido
de fibra de carbono. Foram realizados ensaios de tração na flexão com três e quatro
pontos nestes corpos de prova prismáticos. Os mesmos foram reforçados com tecido de
fibra de carbono no trecho tracionado. Realizaram-se também ensaios de compressão
axial em corpos de prova cilíndricos e ensaios de ar incorporado. Os resultados obtidos
mostram que ocorre aumento de resistência à tração na flexão dos corpos de prova
prismáticos à medida que se incrementa a largura de fibra aplicada. Notou-se que a
largura de polímero reforçado com fibras de carbono cujo desempenho econômico foi
considerado mais adequado, quando comparado ao ganho de resistência, foi aquele que
cobriu 60% da base destes corpos de prova prismáticos. Além destes, observou-se
também uma perda na resistência à compressão dos corpos de prova cilíndricos com
fibras de aço incorporadas ao concreto.

Palavras-chave: fibras, carbono, aço, reforço.


Abstract: Reinforced concrete structures aging without the correct maintenance, its
misuse, flaw at design or execution, creates several pathologies that can reduce the
structures support capacity. Since 1970’s, the use of diverse fibers (such as steel,
polyethylene or glass fibers) in the concrete mix to reduce unwanted behaviors, such as
cracking, or as composites to be use on hardened concrete are researched and their use
more disseminate. In the other hand, Carbon Fibers on their diverse forms (plates or
fabric), are widely spread as structural reinforcement, because they present as advantage,
compared to the traditional reinforcement methods, higher flexibility and easier application
on structural elements, lighter, high initial resistance and minimum increase of section
size. The main disadvantage is the high cost of carbon fibers. This paper intent to stud the
behavior of prismatic concrete pieces reinforced with high content of steel fibers and, after,
carbon fiber fabric. Tests to measure its flexural strength were made with three points and
axial compression on cylindrical test specimens. The results obtained show the increase of
flexural strength resistance with different sizes of carbon fiber fabric. A comparison of
resistance gains and cost of the solution was, also analyzed.

Keywords: fibers, carbon, steel, reinforcement.

1. INTRODUÇÃO

O concreto armado é uma das soluções estruturais mais adotadas no mundo. Tal deve-se
a excelente interação entre ambos elementos, aço e concreto, a durabilidade destas
construções, baixo custo e facilidade de execução. Diversos estudos apontam que após a
água, o cimento Portland é o material mais consumido no planeta.
Contudo, estruturas de concreto armado não possuem vida útil ilimitada, tampouco estão
imunes à ação de elementos deletérios ou mal-uso. A falta de programas de manutenção
que visem combater ou prevenir o ataque de agentes nocivos aos componentes do
concreto armado, usos não previstos das estruturas, acidentes, falhas de projeto ou
execução demandam a utilização de técnicas de reparo ou reforço destas estruturas.
Fissuras, por exemplo, são imensamente nocivas às estruturas de concreto armado, pois
tornam-se canal de fácil entrada para gases e águas nocivas que geram corrosão nas
armaduras. Tal processo corrosivo agravará a fissuração, pois o aço carbono, ao ser
oxidado, aumenta significativamente de volume (até sete vezes), expelindo parte do
cobrimento do concreto, gerando um ciclo que culmina com a total corrosão das barras de
aço e a consequente perda de sua função estrutural [1].
Um dos fatores fundamentais para atingir-se e, até mesmo, superar a vida útil estimada
(pela NBR 15575:2013, a vida útil mínima das edificações será de cinquenta anos) de
uma estrutura é a manutenção preventiva. Este sistema de manutenção deve ser
elaborado de modo a garantir um bom desempenho, através de manutenções preventivas
periódicas, com o acompanhamento e cumprimento do planejamento, previsto no
programa de manutenção preventiva [2].
Desta forma, surge o conceito de Vida Útil Estrutural. Esta Vida Útil Estrutural está
associada às condições de segurança e de utilização da estrutura, nomeadamente
garantindo que não ocorram situações de colapso, deformações excessivas, entre outros.
Assim, a Vida Útil Estrutural depende essencialmente da evolução das ações, dos
materiais e manutenções preventivas e corretivas ao longo da vida da construção [3].
Construções duráveis, portanto, são aquelas nas quais desde a concepção do projeto,
sua construção e uso foram ponderados fatores como agressividade ambiental, uso a que
se destinam, vida útil, entre outros conceitos.

1.1 Recuperação e reforço estrutural


Quando os cuidados necessários à manutenção da vida útil do concreto armado não são
dispensados em qualquer uma das fases (projeto, construção ou utilização), na ocorrência
de acidentes ou má utilização, ocorre o surgimento de patologias.
Estas patologias demandam algum tipo de intervenção para que se resguarde a
segurança da construção e dos usuários. Desta forma, após o devido diagnóstico, será
necessária uma recuperação estrutural, na qual será reestabelecida a capacidade
portante do elemento estrutural, ou um reforço estrutural, no qual se fará um incremento
da capacidade portante do elemento estrutural, seu comportamento em operação ou
estabilidade.

1.2 Pesquisa e utilização de fibras diversas


Nos anos de 1970, deu-se início às pesquisas para utilização de fibras diversas
incorporadas ao concreto fresco. A utilização destas fibras tem por meta incorporar
melhorias em certas características indesejadas do concreto, como fissuração e retração.
O desenvolvimento do concreto reforçado com fibras de aço começou por volta do início
dos anos 1960 e as fibras poliméricas começaram a ter um uso comercial em finais dos
anos 1970. O uso de fibras de vidro teve um grande crescimento nos anos 1980 e as
fibras de carbono atraíram grande interesse de aplicação no início da década de 1990 [4].

1.3 Conceito e tipos de fibras


Classificam-se como fibras os materiais, independentemente de forma, origem ou
características, descontínuos cujo comprimento exceda em muitas vezes a maior
dimensão de sua seção transversal [5].
Estas fibras podem ser produzidas com bases naturais ou sintéticas. Dentre aquelas
utilizadas para reforço do concreto, há diversas pesquisas utilizando fibras de diferentes
origens.
Nas pesquisas envolvendo fibras naturais citam-se como exemplo fibras de bambu e
sisal, entre outras, muitas vezes com materiais reaproveitados ou rejeitos de outras
indústrias que não a construção civil. Já entre as sintéticas há uma diversidade ainda
maior como, por exemplo, fibras de poliéster, polipropileno, nylon, entre outras. Algumas
destas são utilizadas não para reforço da matriz de concreto endurecido, mas para
melhoria na trabalhabilidade do concreto no estado fresco.
1.4 Fibras de carbono
Fibras de carbono são materiais altamente promissores, baseado na força das ligações
carbono-carbono e na leveza do átomo de carbono [6].
A última geração de fibras de carbono é baseada no piche como matéria prima. O piche é
uma matéria prima muito barata quando comparado ao Rayon e a PAN (matérias primas
de primeira e segunda geração das fibras de carbono). Fibras de carbono com alta
resistência e módulo são obtidas a partir do piche que tenha sido primeiramente
convertido em cristal líquido [6].
De acordo com Machado [7], as fibras de carbono resultam do processo de carbonização
de fibras de polímeros, como o poliacrilonitril, sendo suas características mecânicas
diretamente dependentes da estrutura molecular obtida. Dependendo do tipo de
tratamento da fibra básica que inclui carbonização, grafitização e oxidação, é possível
fabricar fibras de carbono com diversas configurações de resistência e algumas delas
podem chegar a ser várias vezes mais resistentes que o aço. A produção destas fibras
exige exposição ao ar das fibras base, seguida de processamento a altas temperaturas
(da ordem de 1000°C a 1500°C para as fibras de carbono). Esta característica confere à
fibra resistência à tração da ordem de 3500 MPa com uma deformação específica de
1,5%.
A matriz dos compósitos reforçados com fibras é responsável pela união das fibras que
compõem o compósito, atuando como o meio pelo qual as solicitações externas são
transmitidas e distribuídas para as fibras. Apenas uma parcela muito pequena desta
solicitação é absorvida pela matriz. As resinas sintéticas estão entre os materiais mais
empregados na recuperação e no reforço de estruturas. Estas resinas são formadas por
monômeros, que ao reagirem com catalisadores formam polímeros de cadeias de grande
extensão. As características destes polímeros variam de acordo com o monômero e o
catalisador utilizados, e com as proporções destes para a formação dos polímeros [7].
Assim, os polímeros reforçados com fibras de carbono (PRFC) possuem inúmeras
vantagens quando comparados aos reforços tradicionais, conforme o Quadro 1. Contudo,
possuem, como qualquer material, algumas desvantagens. Destas, destaca-se o alto
custo dos compósitos de fibra de carbono (laminados, mantas ou tecidos).

Quadro 1 – Vantagens e Desvantagens PRFC [8]


Polímeros Reforçados com Fibras de Carbono (PRFC)
Vantagens: Desvantagens:
• Resistência à corrosão • Sensibilidade à radiação ultravioleta
• Alta resistência à tração (sete vezes superior ao • Sensibilidade do adesivo às altas
aço) temperaturas
• Baixo peso específico • Indução à ruina frágil pela redução
da ductilidade da peça
• Flexibilidade • Elevado custo do PRFC
• Produção em qualquer comprimento
• Manutenção da seção original da peça
• Liberação rápida com cura do adesivo em até
quarenta e oito horas
No trabalho de Sánchez Filho et al. [9], os autores apresentam um estudo de caso de
recuperação estrutural em uma laje de teto e vigamento de uma garagem na cidade do
Rio de Janeiro. Foi escolhida como técnica de recuperação e reforço dos elementos
estruturais a utilização de PRFC, pois qualquer outra técnica diminuiria sobremaneira o pé
direito do referido pavimento, o que impossibilitaria que se continuasse a utilizar o
pavimento como garagem, já que o pé direito já era bastante reduzido.

1.5 Fibras de aço


O concreto caracteriza-se por ser um material de matriz cimentícia. Nele, ocorrem
processos de fissuração. Estes processos causam vários problemas que abrangem desde
questões estruturais até patológicas do material [10].

Fig.1 - Reforço com PRFC em vigas e lajes de teto de garagem no Rio de Janeiro [9]
Em nível mesoscópico o concreto possui duas fases que podem ser distinguidas
facilmente, a dos agregados graúdos que são distribuídos em meio contínuo formado por
uma pasta de argamassa. Em nível microscópico o concreto, já não apresenta somente
duas fases, mas sim três. A terceira fase recebe o nome de zona de transição. Esta
região representa uma área interfacial entre as partículas de agregado graúdo e a pasta.
Sendo uma camada delgada tipicamente de 10 a 50 µm de espessura ao redor do
agregado graúdo, a zona de transição é geralmente a mais fraca entre todos os
componentes do concreto e, consequentemente, exerce uma influência muito maior sobre
o comportamento mecânico dele. Além disso, cada uma das fases é de natureza
multifásica das quais cada partícula de agregado pode conter vários minerais, e também
microfissuras e vazios [10], como se observa na Figura 2.
Fig.2 - Microestrutura do concreto [10].
Portanto, a utilização de fibras de aço incorporadas à matriz cimentícia funciona como
ponte para transmissão das tensões que ocorrem no interior da matriz cimentícia. Desta
forma, estas fibras de aço podem ajudar a controlar o processo de fissuração, além de
conferirem ao concreto reforçado com fibras de aço (CRFA) uma resistência residual pós-
fissuração. Os teores comercialmente utilizados variam de 20 a 40 quilos de fibras de aço
por metro cúbico de concreto, variando por tipos de fibra, fabricantes e resistências pós-
fissuração desejadas.
A normatização das fibras de aço no Brasil foi criada no ano de 2007 através da NBR
15530:2007 [11], “Fibras de aço para concreto – Especificação”. Nela foram estabelecidas
os tipos de fibras de aço, suas características e ensaios específicos. Os diferentes tipos
de fibra e sua nomenclatura encontram-se na Figura 3.

Fig. 3: Tipos de Fibras [11].


Ferrari [7] observa que, na prática de engenharia, nota-se que as estruturas a serem
reforçadas não costumam apresentar condições técnicas adequadas para aplicação das
técnicas de reforço, o que demanda recuperação estrutural prévia, como exemplificado na
Figura 4.
Fig. 4 - Aplicação de material de reparo em vigas (adaptado de Helene, 1992) [7].

2. MOTIVAÇÃO DO TRABALHO

Considerando que o desprendimento prematuro é uma das principais limitações da


técnica de reforço externo com PRFC e que este desprendimento pode ser gerado pelo
surgimento de grandes fissuras no banzo tracionado da viga, incorporou-se diferentes
teores de fibras de aço ao concreto fresco.
Com este procedimento, buscava-se criar um CRFA que pudesse funcionar como
substrato de transição em vigas de concreto armado, nas quais fosse recuperado o banzo
tracionado, como exemplificado na Figura 3, supondo-se que o substrato de transição
pudesse controlar a fissuração do concreto de maneira a melhor explorar as propriedades
resistentes do reforço de PRFC e da viga reforçada como um todo [7].

2.1 Escolha dos materiais

2.1.1 Fibras de Aço


Observando a orientação do trabalho de Figueiredo [12], este autor afirma que, pela
análise dos fatores de eficiência, quanto mais direcionadas as fibras estiverem em relação
ao sentido da tensão principal de tração, melhor será o desempenho do compósito.
Assim, o autor recomenda a utilização de fibras com comprimento igual ou superior ao
dobro da dimensão máxima característica do agregado graúdo utilizado no concreto.
Portanto, utilizou-se uma fibra de aço com 60 mm de comprimento, do tipo AI, diâmetro de
0,75mm e fator de forma (λ) igual a 80.
Este tipo de fibra provém de arames de aço com baixo teor de carbono trefilados a frio,
com ancoragem nas extremidades e limite de resistência à tração do aço de 1000 MPa.
As fibras de aço foram testadas quanto ao dobramento, dimensões e defeitos, estando a
caixa com 20 kg em condições de uso, conforme previsto na NBR 15530:2007 [11].

2.1.2 Cimento e Agregados


Utilizou-se na confecção dos corpos de prova cimento do tipo CP III – RS – 40 MPa. Este
cimento resulta da mistura de clínquer de cimento Portland comum com escória de alto-
forno e apresenta resistência à sulfatos (teor de escória granulada de alto-forno entre 60 e
70%).
Este cimento possui como vantagem um desprendimento mais lento de calor de
hidratação o que resulta em menor fissuração. Contudo, apresenta como desvantagem
um endurecimento mais lento e maior tempo de cura.
A areia e brita utilizadas foram aquelas encontradas comumente na cidade do Rio de
Janeiro: areia lavada e brita de origem granítica. Para evitar que o pó de pedra interferisse
na trabalhabilidade do concreto, a brita 0 foi lavada e deixada ao tempo para diminuição
da umidade resultante da lavagem durante 48 horas. A areia lavada foi peneirada.
Para segunda etapa de ensaios, para melhoria nas características do concreto, utilizou-se
areia artificial, melhorando o empacotamento dos grãos do concreto.

2.1.3 Plastificantes
Não foi utilizado qualquer tipo de plastificante na primeira etapa de ensaios (concreto com
92,7 kg/m³ de fibras). Esta escolha resultou em grande dificuldade na mistura, moldagem
do concreto nas formas dos corpos de prova e adensamento. Os corpos de prova
resultantes, portanto, apresentaram grande porosidade e ninhos de concretagem.
Para o concreto com 25,0 kg/m³ de fibras de aço, utilizou-se um plastificante
multifuncional retardador de pega.

2.1.4 Manta de Fibra de Carbono


Utilizou-se manta de fibras de carbono unidirecional, com as características
descritas no Quadro 2:

Quadro 2 - Características da manta de fibra de carbono


Gramatura (g/m²) 300,0
Espessura (mm) 0,116
Resistência máxima à tração (MPa) 4900,0
Módulo de Elasticidade (GPa) 230,0
Alongamento na ruptura (%) 2,1

2.2 Traço do Concreto


Para o cálculo do traço do concreto utilizou-se método prescrito pelo Instituto Brasileiro do
Concreto (IBRACON), para um concreto com resistência à compressão aos vinte e oito
dias (fc28) de 40 MPa. O traço em massa utilizado encontra-se descrito nas Tabela 1.
Tabela 1 - Traço do concreto
Ensaio Cimento Areia Areia Agregado Agregado Fator A/C
Natural Artificial Graúdo até Graúdo até
9,5mm 12,5mm
1 1,0 - 1,1 1,1 1,1 0,43
2 1,0 0,87 0,88 1,04 1,06 0,43
A água utilizada na preparação do concreto foi aquela fornecida pela concessionária da
cidade do Rio de Janeiro com pH neutro.

3. ROTEIRO EXPERIMENTAL
Os corpos de prova cilíndricos foram moldados com diâmetro de 15,0cm e altura de 30,0
cm para o ensaio 1 e 10cm de diâmetro e 20cm de altura para o ensaio 2. Utilizaram-se
moldes em PVC nos quais aplicou-se desmoldante à base de óleo mineral na diluição de
1:10 em água, mesma diluição recomendada pelo fabricante para formas de madeira
plastificada, para os ensaios 1 e 2. Para os ensaios 2, utilizou-se moldes padronizados
em aço. As quantidades de materiais utilizadas em cada ensaio encontram-se
discriminadas nas Tabelas 3 e 4.
Moldaram-se um total de dezenove corpos de prova cilíndricos com o concreto reforçado
com fibras de aço para o ensaio 1 e, para o ensaio 2, moldaram-se um total de dezoito
corpos de prova cilíndricos divididos da seguinte forma: 6 corpos de prova sem
plastificante e sem fibras de aço, chamados de série T3; 6 corpos de prova com
plastificante e sem fibras de aço, chamados de série T2; 6 corpos de prova com
plastificante e fibras de aço, chamados de série T1.
Para o ensaio 1 os corpos de prova prismáticos foram moldados em formas de madeira
compensada e plastificada, totalmente estanques nas dimensões de 10 x 10 x 30 cm³.
Foram utilizados dezoito moldes prismáticos. Nos moldes aplicou-se o mesmo
desmoldante na diluição de 1:10 em água. Não houve dificuldade na desforma dos corpos
de prova.
Para o ensaio 2 foram moldados seis corpos de prova prismáticos para realização dos
ensaios de tração na flexão com quatro pontos nas dimensões de 15 x 15 x 50 cm.
Utilizou-se formas metálicas padronizadas, nas quais aplicou-se desmoldante. Não houve
dificuldade na desforma dos corpos de prova.
Tabela 3 - Quantidades de materiais utilizados no concreto do ensaio 1
Cimento
CPIII-40-RS Areia Brita 0 Brita 1 Água Fibra de aço
(kg) (kg) (kg) corrigida
(kg)
Umidade Peso corrigido Peso Teor de Fibras
80,9 média (%) (kg) 88,9 88,9 33,2 (kg) (kg/m³)
1,8 90,5 *15,3 92,7
*4% em massa

Tabela 4 - Quantidades de materiais utilizados no concreto do ensaio 2


Traço Cimento Areia Areia Brita 0 Brita 1 Água Aditivo Fibras
CP III – natural artificial (kg) (kg) (l) plastificante de Aço
40 RS (kg) (kg) (ml) (kg)
(kg)
T1 35,36 30,70 31,20 36,80 37,60 15,20 141,0 2,0
T2 8,84 7,70 7,80 9,20 9,40 3,80 35,0 -
T3 8,84 7,70 7,80 9,20 9,40 3,80 - -
Para o ensaio 1 foram adicionados à betoneira os agregados, cimento e fibras de aço. A
quantidade total de fibras foi adicionada paulatinamente para facilitar a dispersão. Após,
adicionou-se toda a água. A mistura, pelo baixo Fator Água Cimento e pela não utilização
de aditivo plastificante, resultou muito difícil de ser trabalhada. Recomenda-se não
prescindir de aditivos plastificantes. Após a adição da água, betonou-se a mistura por 10
minutos.
Para medição da plasticidade, utilizou-se o ensaio de abatimento de tronco de cone
(Slump Test). Todo o material de ensaio foi previamente umedecido e a placa de base
apoiada sobre piso previamente nivelado. O abatimento medido foi de apenas 2,0 cm.
A título de verificação, betonou-se pequena quantidade de concreto sem fibras e com
mesmo traço utilizado anteriormente. Após realização de ensaio de abatimento de tronco
de cone, verificou-se que o mesmo concreto sem fibras apresentou um abatimento de 2,5
cm, demonstrando melhor trabalhabilidade.
Desta forma, como já descrito por diversos autores, o abatimento do tronco de cone não
representa uma boa medida da trabalhabilidade do concreto adicionado de fibras. Arif [13]
sugere o ensaio de VeBe, considerado mais apropriado para avaliar a trabalhabilidade do
CRFA. O ensaio de VeBe é o tempo necessário para uma determinada massa de
concreto se consolidar por vibração em um molde de fôrma cilíndrica sob uma massa
adicional. Este teste é sensível à mobilidade e fluidez de concreto reforçado com fibras e
é particularmente útil para mistura que parece ser rígida e dura quando avaliada pelo
tronco de cone.
Para o ensaio 2, na medição da plasticidade, utilizou-se o ensaio de abatimento de tronco
de cone (Slump Test). Todo o material de ensaio foi previamente umedecido e a placa de
base apoiada sobre piso nivelado. Os abatimentos medidos para os traços T1, T2 e T3,
foram, respectivamente, 7, 12 e 1cm. A umidade local durante os ensaios variou entre 66
e 70% e a temperatura manteve-se constante em 21,9° C. Para o adensamento dos
corpos de prova utilizou-se vibrador de agulha.
Observando-se os traços T1, T2 e T3, nota-se que o concreto sem fibras de aço e sem
plastificante, traço T3, apresentou abatimento de 1,0cm, tornando-o de baixíssima
trabalhabilidade. Desta forma, como observado na primeira série de ensaios, a utilização
de um fator água cimento muito baixa sem a utilização de plastificantes é prejudicial ao
concreto. Nota-se também que a adição das fibras de aço reduziu o abatimento de tronco
de cone de 12,0 cm para 7,0 cm, comprovando que a inclusão das fibras de aço aumenta
a área de molhagem reduzindo, consequentemente, a trabalhabilidade do concreto
adicionado de fibras de aço.
Para o adensamento dos corpos de prova no ensaio 1, utilizou-se compactação manual.
Observe-se que este adensamento teve de ser bastante vigoroso com 25 golpes do por
camada de 5 cm.
Para o ensaio 2 utilizou-se adensamento mecânico, através de vibrador de agulha imerso
no concreto já lançado nos corpos de prova.
Para o ensaio 1 aguardou-se 4 horas para o endurecimento dos corpos de prova. Após
estas quatro horas, os corpos de prova foram cobertos com mantas de tecido de algodão
úmidas durante 12 horas. Estes tecidos foram umedecidos a cada 6 horas para
manutenção da saturação do concreto em cura.
Após 16 horas da moldagem, os corpos de prova foram totalmente imersos em água
durante 15 dias. Após estes primeiros 16 dias, os corpos de prova foram mantidos em
temperatura entre 24 e 26° C em local fechado.
Após 62 dias, os corpos de prova prismáticos foram preparados para aplicação do
polímero reforçado com fibra de carbono (PRFC).
Esta preparação consistiu na preparação da superfície de trabalho, medição e corte da
manta de fibra de carbono e marcação do terço médio dos corpos de prova, conforme
registrado nas Figuras .
A manta de fibra de carbono utilizada foi cortada em tiras de 4 x 30 cm, 5 x 30 cm e 6 x 30
cm. Os dezoito corpos de prova prismáticos foram divididos da seguinte forma: 6 prismas
sem reforço com PRFC (série T0), 3 prismas com reforço de PRFC nas dimensões de 4 x
30cm (série T04), 3 prismas com reforço de PRFC nas dimensões de 5 x 30cm (série
T05), 3 prismas com reforço de PRFC nas dimensões de 6 x 30cm (T06) e 3 prismas com
reforço de PRFC de 10 x 30cm (T10) compostos por duas tiras de 5 x 30 cm, haja vista a
largura máxima de fibra disponível ser de 6 cm.
A superfície onde foi aplicada a manta de fibra de carbono foi lixada até a exposição dos
agregados graúdos 48 horas antes e limpa com esponja úmida para retirada de qualquer
material pulverulento que pudesse diminuir a aderência da resina à matriz de concreto.
Todo o material utilizado foi protegido de materiais oleosos, úmidos ou pulverulentos. Esta
medida visou impedir a contaminação do material de trabalho com qualquer outro material
que pudesse diminuir a aderência entre os elementos do reforço.
A resina epóxi utilizada era bicomponente e, para sua homogenização, utilizou-se mistura
manual durante três minutos, conforme especificado pelo fabricante.
A metodologia de impregnação das fibras de carbono foi por via úmida, ou seja, a manta
de fibra de carbono foi submersa na resina e aplicada sobre os corpos de prova
prismáticos.
As tiras de manta de fibra de carbono impregnadas com a resina foram aplicadas sobre
os prismas. Para garantir a total aderência das fibras ao concreto, utilizou-se rolo plástico
para expulsão de bolhas de ar e garantir a menor distância possível entre as fibras e o
concreto, evitando-se também a formação de camada muito espesta de resina entre as
fibras de carbono e o concreto. Desta maneira, a resistência à tração das fibras de
carbono foi mais bem aproveitada. Aguardou-se um período de 24 horas para aplicação
de nova camada de resina epóxi.
Os corpos de prova, primáticos e cilíndricos, foram enviados ao laboratório de ensaios
responsável pelos testes de carga e rompidos após 30 dias da aplicação de PRFC nos
corpos de provas prismáticos. Desta forma, toda a capacidade resistente do polímero foi
solicitada.
Para o ensaio 2, Os corpos de prova, cilíndricos e prismáticos, foram mantidos em
câmara úmida por 28 dias. Nesta idade, os corpos de prova cilíndricos foram rompidos e
os corpos de prova prismáticos foram retirados da câmara úmida a fim de receberem a
manta de fibra de carbono.
Após 48 horas, iniciou-se a preparação dos corpos de prova prismáticos afim de se evitar
prejuízo ao processo de colagem, tendo em vista que a resina epóxi não deve ser
aplicada em superfície úmida.
Assim, os corpos de prova prismáticos foram desbastados com a utilização de disco de
desbaste diamantado acoplado à esmerilhadeira até exposição dos agregados graúdos.
Após, os corpos de prova foram limpos com acetona industrial para retirada de quaisquer
pulverulentos e gorduras.
Os seis corpos de prova prismáticos foram divididos da seguinte forma: 2 prismas sem
reforço de PRFC (série T00), 2 prismas com reforço de PRFC nas dimensões de 9 x 50
cm (série T60) e 2 prismas com reforço de PRFC de 15 x 50 cm (T100).
O procedimento utilizado para composição do reforço com PRFC gerou emendas na
direção do eixo longitudinal dos prismas, ou seja, na direção paralela à maior dimensão
do prisma, o que não influenciou os resultados obtidos, baseado nas recomendações do
ACI 440.2R-08.
As resinas epóxis utilizadas eram bicomponente e, para sua homogeneização, utilizou-se
mistura manual durante três minutos, conforme especificado pelo fabricante.
A metodologia de impregnação das fibras de carbono foi por via seca, ou seja, aplicou-se
a resina nos corpos de prova e, após, aplicou-se a manta de fibra de carbono sobre os
corpos de prova prismáticos.
Para garantir a total aderência das fibras ao concreto, utilizou-se rolo plástico para
expulsão de bolhas de ar e garantir a menor distância possível entre as fibras e o
concreto, evitando-se também a formação de camada muito espesta de resina entre as
fibras de carbono e o concreto. Desta maneira, a resistência à tração das fibras de
carbono foi mais bem aproveitada. Aguardou-se um período de 24 horas para aplicação
de nova camada de resina epóxi para impregnação das fibras.
Os corpos de prova primáticos foram rompidos após sete dias da aplicação da camada de
resina de impregnação nos corpos de prova prismáticos. Desta forma, toda a capacidade
resistente do polímero foi solicitada.
O modo de aplicação das mantas de fibra de carbono na base dos prismas está
exemplificada na Figura 5.
Fig. 5 - Modelo de largura do PRFC aplicado aos corpos de prova prismáticos

4. RESULTADOS

4.1 Ensaios de compressão axial dos corpos de prova cilíndricos


Os corpos de prova cilíndricos do ensaio 1 foram ensaiados à compressão axial e
apresentaram os resultados apresentados na Tabela 5. Note-se que os resultados de
quatro corpos de prova cilíndricos foram descartados, pois, após preparação para o
ensaio (decapagem), seu diâmetro ficou abaixo da dimensão mínima prevista em norma.
A resistência média a compressão foi de 34,0 MPa, ou seja, abaixo do traço
teórico inicial de 40,0 MPa. Desta forma, a utilização de altos teores de fibras de aço pode
afetar negativamente a resistência à compressão do concreto reforçado com fibras de
aço, conforme já observado em alguns trabalhos.
Tabela 5 - Resistência à compressão dos corpos de prova cilíndricos ensaio 1
Resistência
Ensaio 1
(MPa)
Média 33,2
Desv.
Pad. 5,3
Os corpos de prova cilíndricos foram ensaiados à compressão axial e apresentaram os
resultados da Tabela 6.
A resistência média a compressão da série T1, com fibras de aço incorporadas ao
concreto e plastificante, foi de 48,0 MPa, ou seja, 20% acima do traço teórico inicial de
40,0 MPa.
A resistência média a compressão da série T2, sem fibras de aço incorporadas ao
concreto, mas com plastificante, foi de 42,9 MPa, ou seja, acima do traço teórico inicial de
40,0 MPa, mas inferior ao concreto adicionado de fibras.
A resistência média a compressão da série T3, sem fibras de aço incorporadas ao
concreto e sem plastificante, foi de 44,8 MPa, ou seja, acima do traço teórico inicial de
40,0 MPa.
Tabela 6 - Resistência à compressão dos corpos de prova cilíndricos ensaio 2
Média (MPa) Desvio Padrão
Série Resistência (MPa)
(MPa)
T1 47,7 48,0 1,5

T2 47,4 42,9 1,0

T3 49,5 44,8 2,2

Desta forma, a utilização do teor de 25,0 kg/m³ de fibras de aço incorporadas ao concreto
com utilização de plastificante, série T1, aumentou a resistência à compressão aos 28
dias em 11,89%, quando comparada ao concreto sem fibras, mas com plastificante, série
T2. Assim, observa-se que, diferentemente do Ensaio 1, a adição de fibras de aço
aumentou à resistência à compressão. Observou-se que na literatura à divergências
sobre o efeito das fibras de aço sobre o fc médio.
Quando comparados os resultados do concreto sem fibras de aço e sem plastificante,
série T3, ao concreto sem fibras de aço, mas com plastificante, série T2, observa-se que
houve uma queda na resistência à compressão média na ordem de 4,43%.
Dado que o fc médio para a série T1, concreto com o uso de fibras de aço e plastificante,
foi de 48,0 MPa, Desta forma, pode-se estimar a resistência à tração deste concreto em
4,8 MPa, ou seja, 1/10 da resistência à compressão obtida.

4.2 Ensaios de tração na flexão dos corpos de prova prismáticos


Utilizando-se prensa universal, realizaram-se ensaios de tração na flexão com três pontos
nos corpos de prova prismáticos reforçados com PRFC no ensaio 1 e com quatro pontos
no ensaio 2. Os resultados dos ensaios encontram-se detalhado nas Tabelas 7 e 8.
A partir destes ensaios, foi possível observar, como já esperado, um aumento da
resistência à tração na flexão dos prismas reforçados com PRFC quanto maior fosse o
percentual de PRFC aplicado ao banzo tracionado quando comparada a largura da base
do prisma. Ou seja, quanto mais larga a manta de fibra de carbono aplicada, maior a
resistência à tração na flexão.
Tabelas 7 e 8 - Resultados dos Ensaios de Tração à Flexão ensaio 1 e 2, respectivamente
T0 T04 T05 T06 T10
Fct (MPa) Fct (MPa) Fct (MPa) Fct (MPa) Fct (MPa)
1 10,08 14,47 15,35 24,55 24,33
2 15,35 13,24 25,43 25,56 17,76
3 10,00 21,92 14,03 22,58 13,24
4 10,52 - - - -
5 10,61 - - - -
6 10,87 - - - -
Média= 11,24 16,54 18,27 24,23 18,44
Desvio-Padrão= 1,86 3,84 5,09 1,24 4,55

Desvio
Média
Série CP Fct (MPa) Padrão
(MPa)
(MPa)

1 5,36
T00 – Sem PRFC 5,47 0,16
2 5,58

T60 – 60% da 1 14,59


13,78 1,15
base com PRFC 2 12,97

T100 – 100% da 1 19,07


15,92 4,46
base com PRFC 2 12,76

Contudo, para os prismas cujos reforços de PRFC do ensaio 1 que cobriam toda a base
dos mesmos (100% da base), houve um aumento menor que os reforçados em 50 e 60%
da base, quando comparadas as resistências mínimas, menor que o reforçado em 60%
da base, comparando-se as médias, e menor que 50 e 60%, quando comparados os
valores máximos. Estes resultados são facilmente observados na Figura 7.
Para o ensaio 2, foi possível observar, como já esperado, um aumento da resistência à
tração na flexão dos prismas reforçados com PRFC quanto maior fosse o percentual de
PRFC aplicado ao banzo tracionado quando comparada a largura da base do prisma. Ou
seja, quanto mais larga a manta de fibra de carbono aplicada, maior a resistência à tração
na flexão. Estes resultados estão descritos na Figura 8.
Fig. 7 - Curvas de aumento da resistência em função da largura de PRFC, ensaio 1

Fig. 8 - Curvas de aumento da resistência em função da largura de PRFC, ensaio 2

5. COMPARAÇÃO DOS CUSTOS E INCREMENTO NA RESISTÊNCIA À TRAÇÃO NA


FLEXÃO
Após a análise dos resultados, observou-se que o aumento das larguras da manta de
fibra de carbono não promoveu um acréscimo linear da resistência à tração na flexão em
ambos os ensaios.
Observando-se que o maior custo nos reforços com fibras de carbono encontra-se
exatamente na quantidade de fibra utilizada, passou-se à observação da relação entre
incremento de resistência e custo da solução proposta. Passou-se a observar, utilizando-
se as resistências mínimas, o acréscimo de resistência desenvolvido quando se
comparando os prismas reforçados com fibras de aço sem nenhuma aplicação de fibra de
carbono e cada série de prismas reforçados com diferentes larguras de PRFC.
Desta forma, chamou-se de incremento de resistência a relação entre a resistência
mínima de uma séria Tn e a série de referência T00, sem reforço de PRFC. Após,
passou-se a analisar o custo por metro quadrado de cada solução com o chamado
incremento de resistência.
Através de pesquisa de preços com fornecedores de soluções de reforços, onde o termo
solução contempla não só a manta de fibra de carbono, mas as resinas necessárias ao
processo de colagem das mantas, obteve-se um custo médio por metro quadrado de
manta aplicada de 265,39 R$/m² (referente a janeiro de 2016).
Para cada solução, comparando-se unicamente a quantidade de manta de fibra de
carbono utilizada (justifica-se pelo alto custo da fibra e também porque o acréscimo nas
quantidades de outros materiais é proporcional à quantidade de fibra de carbono utilizada)
obteve-se a quantidade de fibra a ser utilizada por metro e, consequentemente, a área de
manta aplicada por metro. Este procedimento está demonstrado nas Tabelas 9 e 10.
Tabelas 9 e 10 - Comparação resistências e custos da solução para ensaio 1 e 2, respectivamente
Custo da
Área de Fibra de Incremento de
Solução Mínimos (MPa) Solução
Carbono (m²/m) Resistência
(R$/m²)
(Tn/T0)
T0 10,00 0,000 1,0 0,00
T04 13,24 0,040 1,3 10,62
T05 14,03 0,050 1,4 13,27
T06 22,58 0,060 2,3 15,92
T10 13,24 0,100 1,3 26,54

Custo da
Fct Médio Área de Fibra de
Solução Incremento de Solução
(MPa) Carbono (m²/m)
Resistência (R$/m²)
(Tn/T0)
T0 5,47 - 1,0 0,00
T60 13,78 0,09 2,5 23,88
T100 15,92 0,15 2,9 39,81

Desta forma, obteve-se a relação incremento custo demonstrada na Figuras 9 e 10. Com
estes gráficos, observou-se que utilizando-se um reforço em 60% da largura do prisma,
obteve-se a melhor relação custo/resistência.
Fig. 9 e 10 - Custos em comparação ao incremento de resistência

6. CONCLUSÕES
Neste trabalho foi possível observar a importância da utilização de fibras em conjunto com
o concreto, suas vantagens e desvantagens. Notou-se também que há necessidade de
maior incentivo à pesquisa e normatização do uso das diversas fibras para que as
mesmas possam ser agregadas à rotina das construções do país, dentro das
características adequadas a cada uma delas.
A grande dependência dos PRFC quanto ao preparo adequado dos materiais, domínio
das técnicas e treinamento da mão de obra demanda que a academia dissemine o
conhecimento, especialmente, propondo normas para utilização e dimensionamento dos
PRFC, normatização de materiais e verificação da qualidade do material aplicado.
Utilizando-se um total de 92,7kg/m³ de fibras de aço incorporadas ao concreto e sem uso
de aditivo plastificante, a resistência à compressão aos 28 dias foi de 34,0 MPa. Para uma
utilização de 25,0 kg/m³ de fibras de aço incorporadas ao concreto e com o uso de aditivo
plastificante esta resistência à compressão aos 28 dias foi de 48,0 MPa. Desta forma, o
teor de 25 kg de fibras de aço por metro cúbico de concreto mostrou-se melhor que um
teor de 92,7 kg/m³. Note-se que os resultados dos ensaios apresentaram menor
dispersão, o concreto resultante apresentou aspecto menos poroso e com menores falhas
de concretagem. Desta forma, a durabilidade do concreto dosado no segundo traço será
maior que o primeiro.
Quanto à tração na flexão, o concreto reforçado com PRFC em 60% da base tracionada
dos prismas apresentou melhores resultados quando comparado à aplicação em 100% da
base dos prismas, comparando custo vs. Incremento de resistência.
Para o concreto com 92,7 kg/m³ de fibras de aço incorporadas ao concreto e 60% da base
tracionada dos prismas reforçados com PRFC obteve-se uma resistência média à tração
na flexão de 24,55 MPa.
Para o concreto com 25,0 kg/m³ de fibras de aço incorporadas ao concreto e 60% da base
tracionada dos prismas reforçados com PRFC obteve-se uma resistência média à tração
na flexão de 13,78 MPa.
Assim, o uso de 3,71 vezes mais fibras de aço incorporadas ao concreto resultou um
aumento na resistência à tração na flexão de 78,16%.
Quanto ao custo, em ambos teores de fibras de aço incorporados ao concreto (92,7 kg/m³
e 25,0 kg/m³) com o reforço em PRFC em 60% da largura da base tracionada dos prismas
mostrou-se mais econômica que o reforço cobrindo 100% da largura dos prismas: para o
teor de 92,7 kg/m³ de fibras de aço incorporadas ao concreto, a utilização de 100% de
PRFC, observando-se a relação custo/incremento de resistência, mostrou-se 129,1%
mais cara que a mesma relação para 60% de PRFC; para o teor de 25,0 kg/m³ de fibras
de aço incorporadas ao concreto, a utilização de 100% de PRFC, observando-se a
relação custo/incremento de resistência, mostrou-se 43,8% mais cara que a mesma
relação para 60% de PRFC.
Desta forma, conclui-se que a utilização de 60% de PRFC, com um teor de fibras de aço
incorporadas ao concreto de 25 kg/m³, para recuperação e reforço de vigas de concreto
armado é a mais vantajosa.

REFERÊNCIAS
[1] Santos, A. F. C. dos, Junior, J. L. A., Nascimento, L. H. A. do, “Estado geral dos postes cilíndricos em concreto
armado na cidade do Rio de Janeiro”, MT 06, IV CIRMARE, Rio de Janeiro, 2015.
[2] Tutikian, B., Pacheco, M., “Inspeção, diagnóstico e prognóstico na construção civil – Boletim Técnico nº 1”. CONPAT
2013, ALCONPAT, México, 2013, pág. 4.
[3] Branco, F et al. – “Vida Útil na Construção Civil – Boletim Técnico nº 4”. CONPAT 2013, ALCONPAT, México,
2013, pág. 5.
[4] Li, V.C., 2002, apud Sousa, M. L. Q. P. de, “Comportamento à flexão de vigas de betão reforçado com fibras de
aço”, Mestrado Integrado em Engenharia Civil - 2013/2014 – Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2014, pág. 4.
[5] Sousa, M. L. Q. P. de, “Comportamento à flexão de vigas de betão reforçado com fibras de aço”, Mestrado
Integrado em Engenharia Civil - 2013/2014 – Departamento de Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2014, pág. 4.
[6] Taylor apud Beber, A. J., “Comportamento estrutural de vigas de concreto armado reforçadas com compósitos de
fibra de carbono”, Tese, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Porto alegre, julho de 2003, págs. 20 a 40.
[7] Machado, M. G., “Estudo experimental da ductilidade de vigas em concreto armado reforçadas à flexão utilizando
compósitos com tecido de fibras de carbono”, Dissertação, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da
PUC-Rio, Rio de Janeiro, julho de 2004., págs. 18 a 65.
[8] Ferrari, V. J., “Reforço à flexão de vigas de concreto armado com manta de polímero com fibras de carbono (prfc)
aderido a substrato de transição constituído por compósito cimentício de alto desempenho”, Tese, Escola de
Engenharia de São Carlos, USP, São Carlos, 2007, págs. 24 a 153.
[9] Sánchez Filho, E. S., Santos, A. F. C. dos, Santos, M. F. S. F. dos, “Patologias e reforço em lajes e vigas de
concreto armado com compósitos de fibra de carbono”, MT 07, IV CIRMARE, Rio de Janeiro, 2015.
[10] Pereira Junior, W. M., “Análise numérica de estruturas de concreto com fibras utilizando mecânica do dano”,
Dissertação, Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Estruturas e Construção Civil, Escola de Engenharia
Civil, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2014, págs. 21 a 103.
[11] Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), “NBR 15530:2007 – Fibras de aço para concreto –
Especificação”, Rio de Janeiro, 2007.
[12] Figueiredo, A. D. de, “Concreto com fibras de aço”, Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, Departamento
de Engenharia de Construção Civil, EPUSP, USP, São Paulo, 2000, págs. 2 a 20.
[13] Arif, M. A., “Avaliação da medida de tenacidade do concreto reforçado com fibras de aço”. Dissertação, Mestrado
em Engenharia Civil, Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2014, págs.
50 a 135.
ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE ENCOSTA EM SOLOS RESIDUAL

Slope stability analysis in residual soil

Isabella Novais Silva 1, Tatiana Tavares Rodriguez 2, Jordan Henrique de Souza 3, Jonathan do
Amaral Braz 4, Sabrina Medeiros Penasso 5
1Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, isabella.novais@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, tatiana.rodriguez.ttr@gmail.com
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, jordan.souza@engenharia.ufjf.br
4
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, jonathan.amaral@engenharia.ufjf.br
5
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, sabrina.penasso@engenharia.ufjf.br

Resumo: Encostas, de forma geral, são superfícies suscetíveis a instabilidades que podem ter como
consequência movimentos de massa. Determinadas atividades antrópicas, como ocupações
inadequadas ou alterações na geometria da encosta, podem ser fatores catalisadores desses
fenômenos. Dessa forma, o objetivo do presente trabalho é analisar a estabilidade de uma encosta
localizada no bairro Santa Luzia, em Juiz de Fora (MG). Segundo a Prefeitura de Juiz de Fora, o
local de estudo apresenta um grande número de edificações e carece de planejamento que garanta a
segurança dos moradores. Como consequência, segundo a Defesa Civil, a região tem sofrido com
movimentos de massa desde a década de 1990. Para a análise de estabilidade, foram coletadas
amostras deformadas para ensaios de caracterização física e indeformadas para ensaios de
cisalhamento direto – com cargas variando de 25 a 200 kPa para o solo residual maduro e de 25 a
400 kPa para os solos residuais jovens. Após os ensaios, verificou-se que tanto o solo residual
maduro quanto os solos residuais jovens foram classificados como areias siltosas. Quanto aos
parâmetros de resistência, o solo residual maduro apresentou os valores de 24,6 kPa para intercepto
coesivo e de 34,2º para ângulo de atrito. Por sua vez, os solos residuais jovens apresentaram 45,1
kPa de intercepto coesivo e 34,6º de ângulo de atrito. Por fim, os fatores de segurança da encosta
foram obtidos por meio do software Slope/W do pacote GeoStudio 2018, considerando as seguintes
situações: geometria natural, presença de sobrecarga e execução de cortes no talude. Para todos os
casos, os fatores de segurança encontrados foram valores acima de 1,5, como é recomendado por
norma e, portanto, conclui-se que a encosta se encontra em situação de estabilidade.

Palavras-chave: Estabilidade de encostas, Interferência Antrópica, Solo residual.

Abstract: Slopes are inclined surfaces that are generally susceptible to instabilities, which could
lead to landslides. Certain human activities, such as unplanned occupations or change in slope
geometry, could be responsible for triggering these movements. The objective of this study is to
analyse the stability of a slope located in the Santa Luzia neighbourhood, in the city of Juiz de Fora
(MG). According to the City Hall of Juiz de Fora, the place of study is densely populated and lack
of an urban plan that guarantees the locals’ safety. Consequently, the city’s Civil Defence reports
that the region has been experiencing landslides since the 1990s decade. In order to analyse the
slope stability, disturbed samples were collected for physical characterization tests and undisturbed
samples were collected for direct shear tests, which had normal stresses ranging from 25 to 200 kPa
in the mature residual soil and 25 to 400 kPa in the young residual soil. Both mature and young
residual soils were classified as silty sand. The shear strength parameters are as follow: for the
mature residual soil – a cohesion of 24,6 kPa and a friction angle of 34,2º; and for the young
residual soil – a cohesion of 45,1 kPa and a friction angle of 34,6º. The slope’s factors of safety
were obtained with the assistance of the Slope/W Software from GeoStudio 2018 and the following
situations were considered: natural slope geometry, surcharge presence and execution of cuts. The
factors of safety are above 1.5 in all analysed situations, as recommended by the Brazilian Slope
Stability Standard, meaning the slope is stable in the studied section.

Keywords: Slope stability, Anthropic interference, Residual soil.

1. INTRODUÇÃO
Taludes são definidos como superfícies inclinadas compostas por solo ou rocha. Podem ser de
origem natural – sendo, então, chamados de encostas – ou de origem artificial – sendo classificados
como taludes de corte ou de aterro. Naturalmente, estão suscetíveis a instabilidades, geralmente
associadas ao aumento de sobrecarga ou à diminuição de sua resistência. Determinadas
intervenções antrópicas, como ocupações inadequadas ou alterações na geometria do talude, são
fatores que podem contribuir para uma condição de instabilidade, podendo desencadear processos
de movimentos de massa [1].
Notícias de desastres relacionados a esse fenômeno são divulgadas com frequência nos veículos
midiáticos, especialmente no período de chuvas. Visto isso, a Defesa Civil de Juiz de Fora realizou
um mapeamento de áreas de risco em que foram identificadas 713 regiões suscetíveis a desastres
naturais; dessas, 639 são áreas com risco de escorregamento, sendo 393 de alto risco [2].
Há diversas classificações de tipos de movimentos de massa. A classificação proposta por Varnes
[3] é a mais adotada internacionalmente e divide-se em quedas, tombamentos, escorregamentos
(rotacional ou translacional), expansões laterais, corridas/escoamentos e complexos (combinação de
diferentes movimentos). No Brasil, a NBR 11682 da ABNT [4] traz a terminologia dos tipos
básicos de movimento de massa que ocorrem devido a problemas de instabilidade de encostas, tais
como: queda/rolamento, tombamento, escorregamento e escoamento.
Pode-se analisar a estabilidade de um talude por meio do fator de segurança que consiste na relação
entre a tensão de cisalhamento máxima a que o solo resiste e a tensão de cisalhamento atuante sobre
ele. A NBR 11682 [4] sugere diferentes valores de fator de segurança mínimo para que o talude seja
considerável estável. Tal valor depende do nível de segurança contra danos materiais e ambientais,
e do nível de segurança contra danos a vidas humanas, como apresentado pela Tabela 1.
Tabela 1 – Fatores de segurança mínimos para deslizamentos (ABNT, 2009).

O local de estudo é um talude situado no bairro Santa Luzia, na região sul de Juiz de Fora. É
delimitado pela Rua José Orozimbo de Oliveira e pela Rua Aurora Tôrres. Segundo dados da
Prefeitura de Juiz de Fora [5], o bairro possui 13.732 habitantes em uma área de 1,244 km², sendo
considerado densamente povoado. Além disso, apresenta regiões consideravelmente acidentadas,
muitas vezes com ocupações inadequadas e infraestrutura urbana precária. A Figura 1 apresenta
uma imagem em vista superior da região em que se encontra a encosta.

Fig. 1 – Localização da encosta no bairro Santa Luzia [6].


Considerando-se, portanto, que o talude está localizado em uma área de risco e próximo de regiões
em que houve escorregamentos, surge a necessidade de avaliar a estabilidade da encosta em
questão.
2. OBJETIVO
O principal objetivo deste trabalho é realizar a análise de estabilidade de uma seção da encosta
localizada na porção final da Rua José Orozimbo de Oliveira, no bairro Santa Luzia, em Juiz de
Fora; visando identificar a condição de estabilidade atual do solo residual do maciço.
Para alcançar o objetivo principal serão determinados, como objetivo secundário, os parâmetros de
resistência do solo, assim como suas características físicas.

3. MÉTODOS
3.1. Materiais
Para a realização do estudo, foram utilizados levantamentos planialtimétricos e boletim de
sondagem da região, disponibilizado pela Prefeitura de Juiz de Fora. A Figura 2 apresenta, em
planta, o ponto da região em que foi executada a sondagem, bem como as seções disponíveis. A
seção estudada, denominada ST ESTUDADA, foi escolhida observando os pontos de maior
declividade e maior proximidade da sondagem realizada.

Fig. 2 – Localização da sondagem e da seção estudada. Escala 1:625 [7].


A Figura 3 apresenta a seção estudada em corte transversal, enquanto a Figura 4 apresenta o boletim
de sondagem. Nota-se pelas informações apresentadas que a encosta é composta por uma argila
arenosa marrom e por um silte arenoso de cores variegadas (amarelo e rosa).

Fig. 3 – Corte transversal da seção estudada. Escala 1:500 [7].


Fig. 4 – Boletim de sondagem [8].
3.2. Caracterização física
As amostras indeformadas foram coletadas através da escavação com anéis metálicos de 6 cm de
diâmetro e 2 cm de altura, enquanto as amostras deformadas foram coletadas com base na PRO003
do DNER [9]. O preparo das amostras foi feito de acordo com a NBR 6457 da ABNT [10].
Os ensaios de caracterização física executados foram de análise granulométrica, seguindo a NBR
7181 da ABNT [11]. Além disso, para cada um dos solos, executou-se o mesmo procedimento sem
o uso de solução defloculante.
Executou-se, também, ensaio para a obtenção da massa específica dos sólidos, com base na ME093
do DNER [12]. Entretanto, foram usados picnômetros de 250 e 500 ml, preenchidos com cerca de
30 e 60 g, respectivamente. Consequentemente, o tempo de fervura e de banho foram maiores que
os previstos em norma.
Por fim, foram realizados os ensaios de limite de plasticidade e de limite de liquidez, seguindo as
recomendações da NBR 6459 da ABNT [13] e da NBR 7180 da ABNT [14], respectivamente.
3.3. Cisalhamento direto
O ensaio de cisalhamento direto foi feito com base na D3080 da ASTM [15] em condição
embebida, dividida em três etapas: saturação, adensamento e cisalhamento. Para garantir a
eficiência dos processos, foi adotado um tempo mínimo de 24 horas para as etapas de saturação e de
adensamento. Os dados de deslocamentos foram coletados pelo software CDREV, desenvolvido
pelo Engenheiro Ricardo Gil, da COPPE/UFRJ.
3.4. Análise de estabilidade
A análise de estabilidade foi feita pelo software Slope/W do pacote GeoStudio 2018. O método
adotado foi de Morgenstern-Price, a direção do movimento foi da esquerda para a direita e a análise
foi feita no modo Entrada e Saída.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. Caracterização física
O solo variegado amarelo apresentou teor de umidade higroscópica de 20,03% e massa específica
de 2,80 g/cm³. Quanto à análise granulométrica, para a situação com defloculante, o solo apresentou
as frações de 58% de areia, 31% de silte e 11% de argila – sendo classificado como uma areia
siltosa; para a situação sem defloculante, o solo apresentou as frações de 60% de areia, 39% de silte
a 1% de argila – sendo classificado como uma areia siltosa. A Figura 5 apresenta as curvas
granulométricas para os ensaios com e sem defloculante.
Curva Granulométrica
100

90

80

Porcentagem Retida (%)


Porcentagem que Passa (%)

70

60

50

40

30

20

10
Amarelo SD
0
Amarelo CD
0,001 0,01 0,1 1 10 100

Diâmetro dos Grãos (mm)

Fig. 5 – Curva granulométrica do solo variegado amarelo com e sem defloculante.


O solo variegado rosa apresentou teor de umidade higroscópica de 26,70% e massa específica de
2,99 g/cm³. Quanto à análise granulométrica, para a situação com defloculante, o solo apresentou as
frações de 51% de areia, 38% de silte e 11% de argila – sendo classificado como uma areia siltosa;
para a situação sem defloculante, o solo apresentou as frações de 55% de areia e 45% de silte –
mantendo a classificação de areia siltosa. A Figura 6 apresenta as curvas granulométricas para os
ensaios com e sem defloculante.
Curva Granulométrica
100

90

80

Porcentagem Retida (%)


Porcentagem que Passa (%)

70

60

50

40

30

20

10
Rosa SD
0
Rosa CD
0,001 0,01 0,1 1 10 100

Diâmetro dos Grãos (mm)

Fig. 6 – Curva granulométrica do solo variegado rosa com e sem defloculante.


Por fim, o solo marrom apresentou teor de umidade higroscópica de 7,65% e massa específica de
2,81 g/cm³. Quanto à análise granulométrica, para a situação com defloculante, o solo apresentou as
frações de 51% de areia, 39% de silte e 10% de argila – sendo classificado como uma areia siltosa;
para a situação sem defloculante, o solo apresentou as frações de 49% de areia e 51% de silte –
sendo classificado, portanto, como silte arenoso. A Figura 7 apresenta as curvas granulométricas
para o ensaio com e sem defloculante.
Curva Granulométrica
100

90

80
Porcentagem que Passa (%)

Porcentagem Retida (%)


70

60

50

40

30

20

10
Marrom SD
0
Marrom CD
0,001 0,01 0,1 1 10 100

Diâmetro dos Grãos (mm)

Fig. 7 – Curva granulométrica do solo marrom com e sem defloculante.


Os resultados de limite de plasticidade e limite de liquidez são apresentados na Tabela 2.
Tabela 2 – Limites de consistência [7].

Solo Amarelo Solo Rosa Solo Marrom


LL (%) 34 42 39
LP (%) 25 32 22
IP (%) 9 10 17
4.2. Cisalhamento direto
Para o solo variegado amarelo foram cisalhados três corpos de prova sob as tensões normais de 25,
50 e 100 kPa. Os parâmetros de resistência encontrados foram intercepto coesivo (c’) de 36,6 kPa e
ângulo de atrito (φ) de 40,7º. A Figura 8 apresenta a aproximação linear da envoltória de resistência
resultante dos ensaios.
Fig. 8 – Aproximação linear da envoltória de resistência do solo variegado amarelo [7].
Para o solo variegado rosa, por sua vez, foram cisalhados cinco corpos de prova, sob as tensões de
25, 50, 100, 200 e 400 kPa. Os parâmetros obtidos foram um intercepto coesivo (c’) de 45,08 kPa e
um ângulo de atrito (φ) de 34,6º. A Figura 9 apresenta a aproximação linear da envoltória de
resistência.

Fig. 9 – Aproximação linear da envoltória de resistência do solo variegado rosa [7].


Por fim, para o solo marrom foram cisalhados quatro corpos de prova, sob as tensões de 25, 50, 100
e 200 kPa. Como resultado, encontrou-se um intercepto coesivo (c’) de 24,6 kPa e um ângulo de
atrito (φ) de 34,2º. A Figura 10 apresenta a aproximação linear da envoltória obtida com os ensaios.

Fig. 10 – Aproximação linear da envoltória de resistência do solo marrom [7].

4.3. Análise de estabilidade


Por terem sidos realizados mais ensaios de cisalhamento no solo rosa, este foi escolhido para
representar o solo variegado. Assim, com os parâmetros de peso específico, intercepto coesivo e
ângulo de atrito dos solos marrom e rosa, foram feitas análises de diversas situações da encosta. A
primeira, mostrada pela Figura 11, analisa a seção sem considerar quaisquer sobrecargas. O fator de
segurança obtido para tal situação foi de 3,03.
Fig. 11 – Análise de estabilidade desconsiderando-se as sobrecargas existentes [7].
Para a situação atual, indicada pela Figura 14, onde as intervenções antrópicas geraram sobrecarga
no topo do talude e corte no pé do talude com ângulo de 90º, o fator de segurança caiu para 2,56.

Fig. 12 – Análise de estabilidade considerando as sobrecargas e um corte de 90º [7].


5. CONCLUSÕES
Foram encontrados na região dois solos residuais – um solo residual maduro de coloração marrom e
um solo residual jovem de coloração variegada. Feitas as análises, concluiu-se que tanto o solo
residual maduro quanto o solo residual jovem são classificados como areia siltosa, diferente da
identificação expedita apontada no boletim de sondagem.
Determinados os parâmetros de resistência do solo, foi analisado o efeito das alterações da encosta
– sobrecarga e corte em sua base. Os fatores de segurança obtidos foram maiores que o valor de 1,5
exigido por norma, indicando que estes condicionantes não são suficientes para gerar instabilidade
nesta encosta. Sugere-se também a avaliação da influência de acúmulo de água no terreno
decorrente de drenagem natural ou de rompimento de tubulação de água ou esgoto.
Vale ressaltar, por fim, que o estudo de outras seções é fortemente recomendado, bem como a
realização de pelo menos três sondagens por seção e amostragem conforme a norma de estabilidade
para cada camada de solo identificada nas seções.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Universidade Federal de Juiz de Fora pelas bolsas BIC E VIC/UFJF de
iniciação científica concedidas ao projeto de título “Resistência ao Cisalhamento em Solos de
Encostas em Área de Risco Urbana”, coordenado pela autora Tatiana Tavares Rodriguez.

REFERÊNCIAS
[1] GERSCOVICH, D. M. S. Estabilidade de taludes. Ed. 2013. São Paulo: Oficina de Textos, 2012, 166p.
[2] G1. Defesa Civil em Juiz de Fora realiza mapeamento inédito de áreas de risco. 07 out. 2016. Disponível em: <
http://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/2016/10/defesa-civil-em-juiz-de-fora-realiza-mapeamento-inedito-de-
areas-de-risco.html>. Acesso em: 08 mar. 2018.
[3] VARNES, D. J. Slope Movement types and processes. In: TRANSPORTATION RESEARCH BOARD.
Landslides: Analysis and Control. Washington (EUA): Transportation Research Board, n. 176, 1978, cap 2, 23 p.
[4] ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR11682: Estabilidade de encostas. Rio de
Janeiro, 2009, 38 p.
[5] PJF. Mapas de JF – Região Sul. 2003. Disponível em: <https://pjf.mg.gov.br/cidade/mapas/mapa_sul.php>. Acesso
em: 10 mar. 2018.
[6] GOOGLE MAPS. Rua José Orozimbro de Oliveira, 350, Juiz de Fora – Stateof Minas Gerais. Disponível em: <
https://www.google.com.br/maps/place/R.+Jos%C3%A9+Orozimbo+de+Oliveira,+350+-
+Alto+Sta+Luzia,+Juiz+de+Fora+-+MG,+36030-210/@-21.790965,-
43.3451384,525m/data=!3m2!1e3!4b1!4m5!3m4!1s0x989b3b7918018b:0x92b269c5b23c27e9!8m2!3d-21.790965!4d-
43.343571>. Acesso em: 10 mar. 2018.
[7] SILVA, I. N. Análise de estabilidade de encosta em solo residual no bairro Santa Luzia, Juiz de Fora. Trabalho
Final de Curso. Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, 2018, 76p.
[8] PJF. Relatório de sondagem S7 – Santa Luzia. Secretaria de obras. Juiz de Fora, 2014, 5 p. CD-ROM.
[9] DNER – DEPARTAMENTO DE ESTRADAS E RODAGEM. PRO 003: Coleta de amostras deformadas de
solos. [s.l.], 1994, 4 p.
[10] ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR6457: Amostras de solo – Preparação
para ensaios de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 2016, 12p.
[11] ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR7181: Solo – Análise granulométrica.
Rio de Janeiro, 2016, 16p
[12] DNER – DEPARTAMENTO DE ESTRADAS E RODAGEM. ME093: Solos – Determinação da densidade
real. [s.l.], 1994, 4p.
[13] ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR6459: Solo – Determinação do limite
de liquidez. Rio de Janeiro, 2016, 9p.
[14] ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR7180: Solo – Determinação do limite
de plasticidade. Rio de Janeiro, 2016, 7 p.
[15] ASTM – AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D3080: Direct shear test of soils under
consolidated drained conditions. United States, 1998, 6 p.
DETECÇÃO DE PATOLOGIAS E PROPOSIÇÃO DE TERAPIAS PARA O
EDIFÍCIO ENGENHEIRO ITAMAR FRANCO

Detection of Pathologies and Proposition of Therapies for the Engenheiro Itamar


Franco Building

Adilson Campos de PAULA JUNIOR 1, Marcos Lamha ROCHA 2, Thaís Mayra de OLIVEIRA 3
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, cpjunior.adilson@gmail.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, marcoslr94@gmail.com
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, thaismayra@yahoo.com.br

Resumo: Toda edificação apresenta um ciclo de vida útil determinado, essencialmente, por fatores
associados ao nível de agressividade ambiental e aos processos construtivos empregados. Este
panorama pode ser favorecido a partir da adoção de certas práticas que compreendem o
desenvolvimento eficiente do projeto, a racionalização da construção e, sobretudo, a realização de
manutenção periódica. Entretanto, mesmo com a evolução tecnológica que o setor da construção civil
tem apresentado nas últimas décadas, seja mediante o surgimento de novas técnicas construtivas ou
pelo uso de materiais de construção de melhor qualidade, ainda são identificadas diversas
manifestações patológicas em construções relativamente recentes. Portanto, além do oneroso
consumo de recursos financeiros em reparações evitáveis, o desempenho dessas edificações é
comprometido. Neste contexto, o objetivo do presente estudo envolve a identificação e análise das
manifestações patológicas presentes no Edifício Engenheiro Itamar Franco, localizado na Faculdade
de Engenharia da UFJF, concluído em 2011, bem como estabelecer suas origens e propor
procedimentos viáveis de reparo e recuperação dos pontos de degradação. A metodologia adotada
consiste na obtenção do diagnóstico patológico elaborado a partir de visitas realizadas ao prédio, que
permitiram a composição do relatório fotográfico e o levantamento dos dados pertinentes à edificação.
Com base nas vistorias executadas, as relações de causa e efeito que caracterizam o mecanismo de
deterioração foram estabelecidas, colaborando para uma abordagem mais precisa acerca de cada
patologia e de suas respectivas terapias. Associou-se o surgimento das manifestações patológicas
encontradas, principalmente, aos erros construtivos comumente observados em obras públicas, seja
por divergências entre a construtora e o setor contratante, por fiscalização insuficiente ou pela
economia exacerbada por parte da empresa contratada. Portanto, haja vista os processos de
degradação acelerados do edifício em detrimento ao seu pouco tempo de ocupação, pode-se concluir
que grande parte das patologias são provenientes de projeto ou execução inadequados, dados pela
ausência de planejamento e contenção de recursos básicos na elaboração e construção da edificação.
Palavras-chave: diagnóstico, patologia, terapia.
Abstract: Every building has a life cycle determined, essentially, by factors associated with the level
of environmental aggressiveness and the construction processes employed. This panorama can be
favored from the adoption of certain practices that include the efficient development of the project,
the rationalization of the construction and, above all, the accomplishment of periodic maintenance.
However, even with the technological evolution that the construction industry has presented in the
last decades, whether through the emergence of new construction techniques or the use of better
quality building materials, several pathological manifestations are still identified in relatively recent
constructions. Therefore, in addition to the costly consumption of financial resources in avoidable
repairs, the performance of these buildings is compromised. In this context, the objective of the
present study involves the identification and analysis of the pathological manifestations present in the
Engenheiro Itamar Franco Building, located at the Faculty of Engineering of UFJF, completed in
2011, as well as establishing its origins and proposing viable procedures for repair and recovery of
points of degradation. The methodology adopted consists of obtaining a pathological diagnosis based
on visits to the building, which allowed the composition of the photographic report and the collection
of data pertinent to the building. Based on the surveys performed, the cause and effect relationships
that characterize the mechanism of deterioration have been established, collaborating for a more
precise approach to each pathology and their respective therapies. It was associated with the
appearance of pathological manifestations found, mainly, to the constructive errors commonly
observed in public works, either due to divergences between the contractor and the contractor,
insufficient inspection or the exacerbated economy by the contracted company. Therefore,
considering the accelerated degradation processes of the building over its short occupation time, it
can be concluded that most of the pathologies come from inadequate design or execution, given the
lack of planning and containment of basic resources in the elaboration and construction of the
edification.
Keywords: diagnosis, pathology, therapy.

1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o Brasil tem sido cenário de um grande avanço no setor da construção civil, o que
se reflete na demanda por novas edificações habitacionais, promovendo um grande salto científico e
tecnológico na área. Mas mesmo com esse avanço, de novas técnicas construtivas e do aprimoramento
de materiais e componentes, um grande número de manifestações patológicas ainda está presente nos
mais variados tipos de edificações [1].
Segundo [2], “Patologia das construções” pode ser entendida como a ciência que estuda as origens,
as causas, os mecanismos de ocorrência, além das próprias manifestações e consequências deletérias
associadas a uma edificação que não demonstra mais o desempenho estabelecido. Toda construção
está sujeita ao surgimento de diversas manifestações patológicas. Dentre as principais, podem ser
citadas: o destacamento ou deslocamento de revestimentos, irregularidades relacionadas à umidade
bem como a presença de rachaduras, trincas, fissuras e bolhas nos acabamentos. A ocorrência desses
problemas está ligada, essencialmente, à idade da construção, às técnicas construtivas e materiais
utilizados, ao nível e controle de qualidade implantado e ao clima [3].
Para minimizar a incidência de problemas patológicos deve-se haver maior controle de qualidade nas
etapas de projeto (concepção, execução e utilização). De acordo com [4], as chances de futuras
patologias e erros construtivos reduzem-se consideravelmente quando se conhece os problemas ou
defeitos que uma construção pode vir a apresentar e suas respectivas causas.
As patologias, em si, não têm suas origens concentradas em fatores isolados, mas sofrem interferência
de uma série de variáveis, que podem ser agrupadas conforme a causa que gerou tal problema, os
sintomas, ou a etapa construtiva na qual ocorrem, além de apontar para erros no sistema de controle
e qualidade das atividades construtivas [5]. Diante deste contexto de patologias em edificações, [6]
aponta que, atualmente, metade das edificações apresentam problemas em sua construção. As obras
públicas seguem a mesma tendência, devendo, portanto, apresentar programas de atividades quanto
à manutenção, visando obter condições adequadas de desempenho, durabilidade e estabilidade das
edificações, com serviços preventivos e corretivos [7].
O presente estudo tem como objetivo a identificação e análise das manifestações patológicas
presentes no Edifício Engenheiro Itamar Franco, localizado na Faculdade de Engenharia da
Universidade Federal de Juiz de Fora, concluído em 2011. Determinou-se, ainda, as possíveis causas
dessas patologias, considerando-se o pouco tempo de serviço do prédio, além de propor
procedimentos viáveis de reparo e recuperação dos pontos afetados por problemas patológicos.

2. MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS
Uma edificação, seja ela pública ou privada, é naturalmente suscetível à presença de patologias com
o passar dos anos. Contudo, como esse fato afeta diretamente a durabilidade dos materiais e
componentes construtivos, a sua vida útil é comprometida. Ademais, essas manifestações patológicas,
além do prejuízo estético, representam um aumento potencial dos riscos associados à saúde e
segurança dos usuários do espaço.
Os erros que comprometem as condições de desempenho e durabilidade das edificações, diretamente
relacionados às patologias, podem despontar desde o início do processo construtivo. Seja a partir de
inadequações na elaboração do projeto, adoção de materiais de baixa qualidade ou por falhas na
execução da obra.
Conhecer a respeito das patologias permite identificar com maior precisão as eventuais causas e
adotar a intervenção mais apropriada a cada circunstância. Diante dessa problemática, este trabalho
apresenta uma breve abordagem acerca das manifestações patológicas mais recorrentes na edificação
estudada.
2.1. Trincas e Fissuras
[8] define trinca como a ruptura da estrutura de uma placa, dividindo-a em ao menos duas partes.
Podem ser identificadas por danificar a integridade superficial do corpo da placa. Já as fissuras,
segundo [9], são caracterizadas como pequenas aberturas limitadas a 1 mm de espessura que surgem
na superfície de uma estrutura, sem resultar no seu rompimento.
As fissuras estão presentes em toda a extensão do prédio estudado: no encontro entre a alvenaria e
vigas ou pilares de concreto, causadas pela formação de gradiente térmico, definido como a diferença
de coeficientes térmicos na interface entre materiais; nas paredes, provocadas pela retração do
emboço; em guarda-corpos e sob janelas, devido ao assentamento inadequado das placas de granito
sobre as estruturas; e, finalmente, nos forros de gessos das salas.
Já as trincas foram identificadas principalmente na área externa ao edifício, entre a parede e o passeio,
provocadas por recalques diferenciais, e nas marquises, causadas, assim como boa parte das fissuras
encontradas, por gradiente térmico. Também foram encontradas trincas diagonais nos degraus das
escadas, graças à concentração de tensões não planejadas. Patologias dessa natureza estão
normalmente associadas à presença de infiltração, eflorescência, do acúmulo de limo e da eventual
corrosão de armadura exposta, que surgem em ambientes onde não se preveniu o contato constante
com a água.
2.2. Umidade
Problemas relativos à umidade representam um dos principais transtornos enfrentados em uma
edificação durante sua vida útil. São inúmeros os fatores que a tornam bastante frequente: clima,
idade da construção, materiais e técnicas empregadas durante a construção, entre outros.
Normalmente, as patologias relacionadas à presença de água surgem a partir de outras manifestações
patológicas, intensificando a problemática no local [10].
Além das patologias referentes à presença de trincas e fissuras, foram encontrados muitos outros
pontos danificados pela água. Manchas de umidades eram comumente localizadas nos corredores,
nos degraus das escadas, nas paredes adjacentes aos banheiros e às salas, em razão, principalmente,
à umidade ascensional (no pavimento térreo), às infiltrações oriundas dos pavimentos superiores e à
ausência de caimento de água adequado. Esse panorama acaba sendo responsável pela inevitável
deterioração do revestimento, que envolve a aplicação de massa niveladora e pintura.
2.3. Deterioração e Desplacamento de revestimento
Os concretos, atualmente, vêm sendo dosados com quantidades significativas de aditivos para
otimizar certas propriedades do material. Após a concretagem utilizando formas plastificadas, uma
película de nata de cimento e aditivo pode se formar nas faces do elemento estrutural em questão,
prejudicando a aderência entre o concreto e o emboço, o que justifica o desplacamento de
revestimento ocorrido em determinados pontos da edificação.
Este panorama é potencializado, ainda, pela ausência de pingadeiras e de chapins (também
conhecidos como chapéus de muro) apropriados, indicando mais uma deficiência de projeto e
execução. Basicamente, as patologias encontradas se relacionam, de modo que a presença de uma
patologia leva ao surgimento de outra. Neste contexto, a negligência quanto à execução ou
manutenção preventiva da edificação que é responsável por uma manifestação patológica específica
torna-se causadora dos problemas posteriores a ela associados.

3. ESTUDO DE CASO
O estudo de caso do trabalho em questão busca descrever a edificação na qual foi realizada o
levantamento das manifestações patológicas além de caracterizar a metodologia adotada no
desenvolvimento da pesquisa.
3.1. Descrição da Edificação
Como o presente trabalho visa associar os problemas patológicos detectados em uma edificação
pública às suas possíveis causas e eventuais terapias, é necessário conhecer efetivamente o objeto de
estudo: Trata-se do Edifício Engenheiro Itamar Franco, destinado aos cursos de Engenharia e
Arquitetura da Universidade Federal de Juiz de Fora. A edificação teve sua conclusão em 2011,
quando suas instalações começaram a atender à faculdade. Sua arquitetura é simples, sendo composto
de três pavimentos de aproximadamente 1000 m² cada. Apresenta, além da entrada principal, acesso
ao antigo prédio da Engenharia e a um estacionamento construído posteriormente para atender o
aumento da demanda por vagas na faculdade. Há, ainda, quatro auditórios anexos ao prédio principal,
sendo dois maiores de 240 m² e dois menores de apenas 112 m².
Possui fachada frontal voltada para o sudeste e sua estrutura é constituída, basicamente, por concreto
armado com vedação composta por blocos cerâmicos. Sua cobertura consta de telhas termoacústicas,
bem como os anfiteatros. Cada pavimento contém quatro banheiros, sendo dois masculinos e dois
femininos, além de oito salas de aula. No centro da edificação encontra-se um espaço aberto, cuja
área é de 220 m², sendo esta gramada. Conta ainda com um elevador, o qual permanece desabilitado
até o fim da elaboração deste estudo. Abaixo, as figuras 1 e 2 apresentam a fachada do prédio e a
planta baixa do primeiro pavimento, respectivamente.

Fig. 1 - Fachada do Edifício Engenheiro Itamar Franco

Fig. 2 – Esboço da planta baixa do primeiro pavimento


3.2. Metodologia
Para a realização da perícia na edificação estudada adotou-se a metodologia apresentada por [11],
representada basicamente por três etapas:
1. Levantamento de Subsídios: Consiste em acumular e organizar as informações necessárias e
suficientes para o entendimento dos fenômenos, as quais podem ser obtidas através de vistorias
no local, levantamento da história dos problemas e ensaios complementares.
2. Diagnóstico da Situação: Entendimento dos fenômenos a partir da identificação das múltiplas
relações entre causa e efeito, buscando-se a concepção dos motivos de maneira efetiva.
3. Definição da Conduta: Prescrever o trabalho a ser executado para resolver o problema, incluindo
a definição sobre o meio e a previsão das consequências em termos de desempenho final.
Inicialmente se faz um prognóstico da situação com suas tendências de evolução futura, para
depois avaliar alternativas viáveis de intervenção.
Acerca do levantamento dos subsídios, realizaram-se, entre agosto e setembro de 2017, vistorias
técnicas com o intuito de identificar possíveis manifestações patológicas nos diversos componentes
do edifício. Obteve-se, portanto, por meio de registros fotográficos das áreas do local, uma gama de
informações relevantes quanto às patologias encontradas, organizadas posteriormente em planilhas.
Após as vistorias e coletas das informações, e com base em referências teóricas extraídas da literatura,
foi possível detectar inicialmente o tipo de patologia que se manifestou em cada área estudada. De
posse dessas informações, procedeu-se à identificação das terapias concernentes a cada patologia,
sejam suas aplicações definitivas ou paliativas.

4. AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO DAS PATOLOGIAS DA EDIFICAÇÃO


Para efetuar a avaliação e diagnóstico das patologias dividiu-se o prédio em setores: fachadas externa
e interna, corredores, escadas de acesso entre os andares, salas e anfiteatros. As anomalias
encontradas, além de afetar esteticamente a edificação, contribuem para a degradação da estrutura,
comprometendo sua vida útil, o que representa uma ameaça à saúde dos usuários. Neste sentido, com
o intuito de restaurar, recuperar e garantir o perfeito funcionamento dos elementos construtivos do
edifício, são apresentadas as patologias identificadas com suas respectivas medidas corretivas.
4.1. Fachadas externas
Nas fachadas externas e passeios verificaram-se diversas trincas, apresentadas na figura 3 a seguir.
Seu surgimento foi provocado por recalques diferencias propiciados, por sua vez, pela execução de
passeio sem ligação estrutural à viga baldrame da fundação (armadura de espera) e apoiado em solo
provavelmente não compactado.

Fig. 3 – Trincas entre a fachada e o passeio e no passeio externo, respectivamente


Para a correção do problema de forma definitiva é necessária a demolição do passeio existente e
posterior criação de uma armadura de ligação ao baldrame a partir de furos na viga. Após a limpeza,
colmatação e colagem das barras com resina epóxi, realiza-se a compactação do solo, forrando-o com
lona plástica. Por fim, procede-se à montagem de armadura em tela e à concretagem do novo passeio.
Uma terapia alternativa (esta, entretanto, de modo paliativo) envolve, primeiramente, a abertura de
uma junta retilínea e uniforme com o auxílio de serra mármore, seguida da aplicação de selador
acrílico, visando o isolamento das partículas desagregadas. E finalmente, o preenchimento com
mastique de poliuretano, utilizando-se de um limitador de profundidade com mangueira plástica.
Fissuras por gradiente térmico (diferença entre os coeficientes térmicos dos materiais envolvidos no
preenchimento de alvenaria sobre viga) correspondem a outro tipo de patologia muito encontrada por
toda a estrutura. Frequentemente associada à posterior infiltração de água e lixiviação (transporte de
cal hidratada), ilustrada na figura 4, o tratamento dessa manifestação patológica compreende a
abertura da fissura com ferramenta pontiaguda seguida da aplicação de selador acrílico (ou fundo
preparador, caso o emboço esteja muito deteriorado) com o intuito de isolar as partículas soltas. Para
finalizar, aplica-se massa acrílica própria ao tratamento de fissuras sobre tela de reforço, executando
novo revestimento na parede.

Fig. 4 – Infiltração e lixiviação em marquise de uma das entradas dos anfiteatros


Ainda na fachada externa, perceberam-se pontos onde o revestimento havia descolado sobre a manta
impermeabilizante, gerando trincas horizontais ao longo dos beirais posicionados acima das janelas
das salas. Essa condição é apresentada na figura 5, a qual exibe, também, um tipo de patologia
bastante presente na edificação: o transporte de sujeira acumulada acima dessas marquises.

Fig. 5 – Trinca horizontal e acúmulo de sujeira e limo em marquise da fachada externa


A solução encontrada para eliminar as trincas longitudinais implica na retirada do revestimento
deteriorado, colocando-se uma tela tipo “pinteiro”, recoberta por novo emboço e revestimento
texturizado. Este artifício é aplicado com o intuito de auxiliar na transferência dos esforços de tração.
Já quanto ao carreamento de sujeira, para solucionar tal problema, sugere-se a execução de
pingadeiras na parte superior dos beirais e uma limpeza das superfícies afetadas com uma escova de
cerdas duras e solução de hipoclorito de sódio.
Ademais, notou-se a presença de uma trinca na parte superior da marquise, com posterior incidência
de infiltrações, que resultaram na deterioração acelerada de sua estrutura, onde ocorreu
desplacamento de emboço (Figura 6). A abertura da trinca deve-se, possivelmente, a movimentações
diferenciais da parte engastada da marquise junto à parte unida à alvenaria da parede adjacente.

Fig. 6 – Deterioração de marquise e trinca em sua parte superior


A terapia recomendada, nesse caso, envolve a retirada das partes deterioradas da marquise com
posterior reconstituição da estrutura: eliminação da marquise unida à parede adjacente seguida de
uma recomposição para tamponamento de irregularidades, sucedendo-se à aplicação de novo emboço,
nova pintura e execução correta de pingadeira, esta colada com mastique de poliuretano. Finalmente,
deve-se executar nova impermeabilização na parte superior da marquise com manta asfáltica ou
argamassa polimérica flexível.
4.2 Fachada Interna
A deterioração e o desplacamento de revestimento representam os fenômenos detectados com maior
frequência por toda a fachada interna (e também em alguns pontos da externa). Associada sobretudo
à falta de aderência entre o revestimento de argamassa e o substrato, essa patologia pode ser
potencializada pela ausência de pingadeiras e de chapins apropriados (Figura 7).

Fig. 7 – Deterioração e desplacamento de revestimento


Como causa principal, na hipótese de revestimento sobre concreto estrutural, caracteriza-se a
formação de uma película de nata de cimento e aditivo nas faces do compósito. Esse fato deve-se,
possivelmente, à utilização de quantidades significativas de aditivo em sua dosagem, juntamente à
aplicação de formas plastificadas na concretagem.
Procede-se, então, após a retirada da parte deteriorada, ao lixamento do concreto com equipamento
apropriado, com posterior execução de chapisco, emboço e novo revestimento texturizado. Já em
situações onde o revestimento foi aplicado sobre alvenaria, deve-se regularizar e recompor a estrutura
danificada com a aplicação de massa e pintura.
4.2. Corredores
Nos corredores que dão acesso às salas de aula do pavimento térreo, encontraram-se múltiplos pontos
com presença de umidade ascensional, responsável pela deterioração do revestimento na massa e
pintura das paredes (Figura 8). Patologias dessa categoria seriam evitadas por meio da
impermeabilização adequada dos baldrames sob as paredes.
Contudo, para a correção de maneira paliativa, o revestimento deteriorado deve ser retirado,
aplicando-se uma fina camada de emboço com função de tamponamento de irregularidades da
alvenaria. Em seguida, prossegue-se à aplicação de impermeabilizante à base de argamassa
polimérica e, por fim, à execução de novo emboço seguido de aplicação de massa (se necessário) e
pintura.

Fig. 8 – Umidade ascensional nos corredores


4.3. Anfiteatros
Na parte externa dos anfiteatros percebeu-se a presença de patologias análogas às encontradas no
edifício principal, às quais descreveram-se suas respectivas terapias. Com destaque para as fissuras
por retração do emboço com consequente penetração de água pluvial e lixiviação, umidade
ascensional com deterioração do revestimento texturizado e fissuras causadas possivelmente por
constantes variações de temperatura (formação de gradiente térmico). Os anfiteatros apresentaram,
também, infiltração pelo telhado com posterior deterioração do forro de gesso e da estrutura que o
sustenta (Figura 9), causadas, possivelmente, por caimento ou trespasse insuficiente das telhas.

Fig. 9 – Deterioração do forro de gesso nos anfiteatros


Quanto ao tratamento, deve-se primeiramente realizar uma avaliação criteriosa do telhado para se
descobrir qual o verdadeiro agente responsável pelas infiltrações, para então colocar-se em prática
uma ação corretiva eficiente.
Ainda nos anfiteatros, notou-se o descolamento de piso emborrachado (Figura 10) devido à aplicação
de produtos de má qualidade no assentamento do material aliada à própria ação da umidade,
proveniente de infiltrações ou mesmo por efeito de capilaridade. A solução consiste na retirada de
todo o piso deteriorado e correção do problema de umidade (execução de drenos e impermeabilização
nos locais apropriados), preparando-se a superfície para a aplicação de novo piso a partir do emprego
de materiais adequados ao seu assentamento.

Fig. 10 – Descolamento de piso emborrachado nos anfiteatros


4.4. Lajes Impermeabilizadas
Acima das entradas do edifício foram construídas lajes como extensão do segundo pavimento. Essa
região, desprovida de cobertura, onde ocorreu a deterioração da camada de contrapiso aplicada sobre
a manta impermeabilizante (Figura 11), evidencia, além de possíveis falhas na execução e emprego
de materiais de baixa qualidade, eventuais erros na própria concepção do projeto.
A correção desse problema envolve, primeiramente, a colocação de ralo do tipo “abacaxi” e,
posteriormente, a execução de modo apropriado de novo contrapiso sobre a manta asfáltica.

Fig. 11 – Deterioração das lajes impermeabilizadas


4.5. Elevador
No elevador, onde detectou-se uma provável intervenção paliativa antecedente, ilustrada na figura 12,
cabe a finalização do reparo de maneira adequada, com emassamento e pintura.

Fig. 12 – Manchas no entorno da porta do elevador


4.6. Escadas
Nas escadas evidencia-se, principalmente, a existência de manchas de umidade e de deterioração no
revestimento (Figura 13), ocasionados pela infiltração de água através do piso dos banheiros
adjacentes e pelo acúmulo de água no piso do corredor por ausência de caimento apropriado.

Fig. 13 – Manchas e deterioração do revestimento nas escadas


Como terapia recomendada, nesse caso, sugere-se: retirar o piso e ao menos duas fiadas de azulejo,
assim como a camada de emboço que provavelmente está deteriorada sob as peças; regularizar o
contrapiso, adicionando o caimento adequado; aplicar manta asfáltica ou argamassa polimérica com
reforço de tela de poliéster nos cantos; e, finalmente, assentar novos pisos e azulejos.
4.7. Juntas
A má execução das juntas de dilatação, ilustrada na figura 14, consistiu em uma das patologias mais
notáveis no edifício, evidenciada pela falta de aderência do material aplicado, seja por má qualidade
ou por especificação errônea, além da respectiva aplicação incorreta do emboço. Como correção
adequada, primeiramente deve-se remover todo o emboço no entorno da área afetada, aplicando-se,
em seguida, selador acrílico com a finalidade de isolar as partículas soltas; por fim, procede-se à
execução de novo emboço, colocando-se cantoneiras de alumínio nas quinas das duas faces da junta,
preenchendo o espaço com mastique de poliuretano.

Fig. 14 – Fissuras nas juntas de dilatação


4.8. Salas
Nas salas de aulas, as fissuras configuraram-se como as patologias mais presentes, como mostra a
figura 15. Identificadas no forro de gesso, causadas por ausência de tabica, e sob as janelas, por
retração do emboço ou por falhas no assentamento das pedras. A terapia preconizada para tais fissuras,
constitui-se, basicamente, de execução de tabica e colmatação com posterior aplicação de novo
revestimento, respectivamente.

Fig. 15 – Fissuras no forro de gesso e sob as janelas das salas

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Observa-se, a partir dos levantamentos realizados, que as fachadas representam os locais de maior
incidência de manifestações patológicas. Dentre as quais, destaca-se o surgimento de fissuras,
presentes por toda a extensão do prédio, seja por formação de gradiente térmico ou por falhas na
transferência de tensões na interface entre materiais.
Vale ressaltar, ainda, a presença de diversos pontos apresentando destacamento de argamassa de
revestimento do substrato, além dos problemas acerca da umidade. Geralmente, essas anomalias se
relacionam intrinsecamente à falta de qualificação da mão-de-obra e às consequentes falhas na
execução do projeto, aliadas à escolha inadequada de materiais. A ausência de um planejamento
adequado associada à deficiência quanto à manutenção preventiva e corretiva acarretam patologias
de naturezas variadas, com recorrência em todos os setores do edifício.
O quadro patológico encontrado no objeto deste estudo refere-se a uma edificação com projetos
desprovidos de detalhes construtivos e com prazos inadequados ou inexequíveis. Este panorama
elucida a aceleração do processo natural de ocorrência das patologias, que incidem normalmente a
longo prazo, muito comum em obras públicas, onde são frequentes divergências entre a construtora
e o órgão beneficiado, que por sua vez peca em relação à fiscalização da construção.
Deste modo, evidencia-se que as edificações públicas de maneira geral não são projetadas nem
executadas com enfoque na durabilidade, haja vista que a vida útil mínima das estruturas de concreto
no Brasil, segundo a norma de desempenho NBR 15575 [12] deve ser igual ou superior a 50 anos, e
a construção avaliada na presente pesquisa apresentava diversos problemas patológicas já nos
primeiros anos de idade.
Ademais, grande parte das anomalias abordadas apresentam possibilidade de tratamento efetivo.
Entretanto, é necessário que cada procedimento seja adotado de forma rápida e precisa, com a
finalidade de mitigar a problemática e evitar com que o risco à população evolua.
Portanto, conclui-se que o conhecimento acerca das patologias, suas causas e mecanismos de
propagação permite a identificação de possíveis riscos à saúde e segurança dos usuários. Neste
contexto, torna-se evidente a necessidade do desenvolvimento de políticas públicas de preservação
predial, até mesmo quanto ao fator econômico, uma vez que eventuais reparos, reformas ou até
mesmo a construção de novas estruturas representam um gasto muito maior junto à entidade pública,
quando da não adequação de projeto e execução das edificações.

REFERÊNCIAS
[1] KLAMT, R. A.; PINHEIRO, L. P. Análise de Manifestações Patológicas em Edificações da Cidade de Rodeio
Bonito/RS–Estudo de Caso. RECeT-Revista de Engenharia, Computação e Tecnologia, v. 1, n. 1, 2017.
[2] PEREZ, A. R. Umidade nas Edificações: recomendações para a prevenção de penetração de água pelas fachadas.
Tecnologia de Edificações, São Paulo. Pini, IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo,
Coletânea de trabalhos da Div. de Edificações do IPT, 1985.
[3] CAMPOS, L. T.; SILVA, M. R. C.; CORDEIRO, L. N. P.; PAES, I. N. L. Estudo de Caso: Manifestações Patológicas
em Fachadas de Edificações Antigas em Belém–PA. PATORREB, 2018.
[4] VERÇOZA, E. J. Patologia das Edificações. Porto Alegre, Ed. Sagra, 1991.
[5] OLIVEIRA, D. F. Levantamento de Causas de Patologias na Construção Civil. Trabalho de conclusão de curso,
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Rio de Janeiro, 2013.
[6] FIGUEIREDO, E. P. Mecanismo de Transporte de Fluidos no Concreto. In: ISAIA, G. C. Concreto, Ensino, Pesquisa
e Realizações. São Paulo: IBRACON, 2005.
[7] LADEIRA, R. V. M. Unidade de atenção primária a saúde x patologias: realidade e perspectivas. Monografia
(Graduação em Engenharia Civil) – Curso de Graduação em Engenharia Civil, UFJF, Juiz de Fora, 2011.
[8] THOMAZ, E. Trincas em edifícios: causas, prevenção e recuperação. 2. ed. São Paulo: Pini, 2013.
[9] BARRETO, L.; RAMOS, J. L. M.; BERENGUER, R. A.; CARNEIRO, F. L.; NASCIMENTO, E. C.; MONTEIRO,
E. C. B. Análises das manifestações patológicas em estruturas de concreto armado de sub-estações de energia elétrica
(subestação Joairam). In: 2º Congresso brasileiro de patologia das construções (CBPAT-2016), 2016, Belém - PA.
Anais... Belém-PA, 2016.
[10] JONOV, C. M. P.; NASCIMENTO, N. O.; SILVA, A. P. Avaliação de danos às edificações causados por
inundações e obtenção dos custos de recuperação. Ambiente Construído, v. 13, n. 1, p. 75-94, 2013.
[11] LICHTENSTEIN, N. B. Patologia das construções: procedimento para diagnóstico e recuperação. Boletim técnico
06/86. São Paulo: Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 1986.
[12] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edifícios Habitacionais: Desempenho.
Rio de Janeiro, 2013.
GERAÇÃO DE RESÍDUOS DE CONCRETO EM CENTRAIS DOSADORAS
DA REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE

Production of concrete waste in concrete batching plants of the metropolitan region


of Belo Horizonte

Juliana Vieira MARTINS 1, Silvia Pereira FREIRE 2, Rodolfo Rabelo NEVES 3, White José dos
SANTOS 4
1
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, julianavmartins@outlook.com.br
2
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, sil.freire09@gmail.com
3
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, rodolforabelon@gmail.com
4
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, whitejsantos@gmail.com

Resumo: A elevada geração de resíduo de concreto dosada em central é uma preocupação mundial.
Diferentes tipos de resíduos de concreto são produzidos em uma central dosadora. Estudos foram
realizados a fim de reduzir a geração, como os aditivos estabilizadores de hidratação e centrais de
reciclagem, ou o de viabilizar o seu aproveitamento em compósitos cimentícios ou na produção de
cimento. O objetivo desse trabalho é verificar o cenário atual das principais concreteiras da região
metropolitana de Belo Horizonte no que diz respeito ao tratamento e destinação dos resíduos
gerados pelo processo de produção do concreto. Foram realizadas visitas a nove centrais onde foi
aplicado um questionário para obter informações a respeito da produção do concreto, além do
armazenamento e destinação do resíduo. Observou-se a variação nos materiais utilizados em função
dos diferentes traços produzidos. Todas as centrais possuem tanques de decantação que recebem a
água de lavagem dos caminhões-misturadores, podendo ou não receber também os traços
devolvidos à concreteira e outros diferentes resíduos de concreto. A fase líquida presente nos
tanques é totalmente aproveitada em todas as centrais, porém, a fase decantada, chamada de lama
residual, é enviada a baias onde fica armazenada até ser transportada para sua destinação final.
Diferentes destinações foram encontradas, sendo que, aproximadamente 38% do resíduo é enviado
a aterros. O volume de geração de lama residual em relação ao volume de concreto produzido
variou de 0,2 a 7,5%. Conclui-se que, apesar dos vários estudos relacionados ao seu
aproveitamento, ainda não foi encontrada uma solução que possibilite o aproveitamento ou a não
geração do resíduo na prática.

Palavras-chave: Central dosadora de concreto, lama residual de concreto usinado (LRCU), resíduo
de construção civil, gestão de resíduos sólidos.

Abstract: The high ready-mixed concrete waste’s generation is a worldwide concern. Different
types of concrete residues are produced in batching plants. Studies have been carried out in order to
reduce generation, such as hydration stabilizing additives and recycling plants or to enable their use
in cement composites or in cement production. This study aims to verify the current scenario of
main concrete batching plants in Belo Horizonte’s metropolitan area in relation to the treatment and
destination of waste generated by the concrete production process. Visits were made to nine
different batching plants where questions about the concrete production, storage and destination of
the waste were made. It was observed the variation of materials used in function to different
concrete mix design produced. All the plants have decantation tanks that receive the washing water
from the mixer trucks, and may or may not also receive concrete mixtures that returned to the
concrete batching plant and also other different concrete wastes. The liquid phase present in the
tanks is totally utilized in all the plants, however, the decanted phase which is called residual mud,
is sent to bays where it is stored until it is transported to its final destination. Different destinations
were found, and approximately 38% of the waste is sent to landfills. The volume of residual sludge
generation in relation to produced concrete volume ranged from 0.2 to 7.5%. It is concluded that,
despite the several studies related to its use, a solution has not yet been found that allows the use or
non-generation of this residue.

Keywords: Ready-mixed concrete batching plants, Concrete slurry waste (CSW), building waste,
solid waste management.

1. INTRODUÇÃO
No Brasil, em 2017, o consumo aparente de cimento foi de 54,2 milhões de toneladas, considerando
as vendas no mercado interno e importação [1]. Ainda esse ano, 17% do consumo total de cimento
foi absorvido por concreteiras [2]. Uma pesquisa realizada pela Associação brasileira de cimento
Portland (ABCP) [3], estimou que 51 milhões de m³ de concreto dosado em central foram
produzidos em 2012. A produção desse concreto, somados os vinte países membros da European
ready mixed concrete organization (ERMCO) foi de 366,1 milhões de m³, enquanto apenas nos
Estados Unidos a produção foi de 265 milhões de m³ [4].
O volume de resíduo de concreto dosado em central é variável, sendo estimados percentuais de 1 a
4% na Europa e 9% no Brasil [5]. Com base nessas estimativas, em 2012 no Brasil,
aproximadamente 4,6 milhões de m³ de resíduo podem ter sido gerados e nos membros da ERMCO,
em 2016, até 14,6 milhões de m³. Ou seja, 19,2 milhões de m³ desse resíduo pode ser gerado em um
ano, considerando apenas 22 dos 193 paises que compõe a ONU [6]
Diferentes tipos de resíduos de concreto fresco podem ser gerados em uma central dosadora. Um
deles é o concreto devolvido, que retorna das obras sem ser descarregado [6serifou]. Outro tipo é o
resíduo proveniente dos tanques de decantação cujo principal componente é a água de lavagem dos
caminhões betoneira [5][8][9][10]. A pasta de cimento que sobra após a passagem do concreto
residual por máquina recicladora é outro tipo de resíduo que pode ser gerado [11] [12].
Algumas alternativas podem ser adotadas dentro das concreteiras a fim de reduzir o resíduo gerado
no processo produtivo. As centrais de reciclagem são equipamentos que separam a pasta de cimento
dos agregados, que podem ser utilizados nos traços posteriores [13]. Outra alternativa é a utilização
de aditivo estabilizador de hidratação (AEH), que ao ser incorporado à água de lavagem dos
caminhões betoneira, estabiliza a hidratação do cimento até a produção do próximo traço. Essa nova
mistura poderá ser feita no dia posterior ou após um final de semana ou um final de semana
prolongado. Os teores de aditivo serão variáveis de acordo com o tempo de estabilização [14].
Diferentes estudos foram realizados visando o aproveitamento esses concretos residuais em
misturas de materiais cimentícios. Em substituição aos agregados em concretos [6][11][7][8][10] e
blocos de concreto [15], ao fíler e areia em argamassas [9] e também em substituição ao clínquer no
cimento Portland [16]. Entretanto, poucos estudos avaliaram a atual situação da gestão dos resíduos
de concreto nas centrais dosadoras. Esse estudo é importante para verificar se os trabalhos
realizados anteriormente foram suficientes para minimizar a geração ou viabilizar o seu
aproveitamento, reduzindo assim sua destinação para aterros.
O objetivo desse trabalho é verificar o cenário atual da geração de resíduos de concreto em centrais
dosadoras da região metropolitana de belo horizonte. Para que o objetivo geral seja alcançado, será
realizada uma pesquisa de como e quais os traços estão sendo produzidos em maior volume, além
dos materiais utilizados nas misturas. Será também averiguado como o resíduo está sendo gerado e
sua destinação.

2. MÉTODOS
Foram realizadas visitas a nove concreteiras na região metropolitana de Belo Horizonte onde foi
aplicado um questionário e coletado material (LRCU e fíler calcário) para caracterização. O
questionário aplicado, cujos tópicos analisados estão listados na Tabela 1, foi aplicado para obter
informações a respeito da produção do concreto e do resíduo e sobre o armazenamento e destinação
da água e da lama dos tanques de decantação.

Tabela 1 - Itens do questionário aplicado

Análise Item analisado


 Produção mensal de concreto e argamassa em m³;
Produção
 Principais traços produzidos;
dos traços
 Materiais utilizados para a produção dos traços.
 Volume de água utilizado na lavagem dos caminhões;
 Quantidade de caminhões;
 Frequência de lavagem dos caminhões;
Geração do
 Geração do resíduo nos tanques de decantação;
Resíduo
 Utilização de aditivo estabilizador de hidratação (AEH);
 Tratamento e destinação do resíduo (água e lama);
 Quantidade de lama gerada mensalmente.

3. RESULTADOS

3.1 Processo de produção dos traços


A produção do concreto e argamassa nas centrais dosadoras ocorre basicamente da seguinte forma:
os agregados que chegam à concreteira são estocados em baias, onde há um constante controle de
umidade para correção da relação água/cimento. De acordo com a programação de produção da
central, os agregados são enviados às linhas de estoque, que posteriormente serão pesados para
dosagem. O cimento é armazenado em silos e os aditivos em tanques, prontos para serem pesados
para dosagem.
Os materiais são pesados e liberados nos pontos de carga juntamente com a água, que é dosada em
menor quantidade do que a estipulada no traço e posteriormente é redosada manualmente no
caminhão betoneira. De uma central para outra pode haver variação no nível de automação, nos
tipos de materiais utilizados, nos traços produzidos etc. O processo básico de produção está de
acordo com o que foi demonstrado por Silva [8] e está ilustrado forma esquemática na Erro! Fonte
de referência não encontrada..
Na Tabela 2 estão especificados os materiais que são utilizados para a produção dos traços nas
centrais visitadas. Percebe-se que os agregados graúdos utilizados foram britas 0 e 1 de gnaisse e
calcário e os agregados miúdos, areia natural de rio e artificiais de gnaisse e calcário, variando em
relação à região em que a central está localizada e aos tipos de traços produzidos. Em algumas
centrais é utilizado o fíler e pó calcários para produção de concretos auto-adensáveis formulados
principalmente para concretagem de paredes de concreto. Os aditivos plastificantes e polifuncionais
são os mais utilizados para produção de concreto estrutural e os superplastificantes em concreto
auto-adensável. Outros aditivos são adicionados para produção de argamassa. As adições também
são utilizadas em casos específicos por algumas centrais.

3.2 Processo de geração do resíduo

Durante a fase de produção dos traços, são gerados diferentes tipos de resíduos, provenientes dos
processos listados abaixo e estão resumidos na Fig. 2:
Tabela 2 - Materiais utilizados para produção dos traços nas CDC's visitadas.

CDC Produção Graúdo Miúdo Cimento Adições Aditivos


• Concretos 20 • Brita 0 e 1
1 • Natural • CP II E 40 Variadas • Polifuncional
Mpa Gnaisse
• Concretos 20 a
30 MPa • Brita 1
2 • Artif. Gnaisse • CPV Ari RS Não • Plastificante
• Argamassas Gnaisse
variadas
• Concretos 20 e • Brita 0 e 1 • CPV Ari
3 • Natural Não • Plastificante
25 Mpa Calcária • CPIII 40 RS
• Plastificante
• Concretos 20 • Brita 0 e 1 • Natural Fibra de
4 • CPV Ari RS • Mid Range
Mpa Calcária • Artif. Calcária polipropileno
• Impermeabilizante
• Concretos 20 a • Brita 0 e 1 • Natural • Polifuncional
5 • CPV Ari Não
30 Mpa Calcária • Artif. Calcária • Superplastificante
• Concretos 20 a
• Pó calcário
30 MPa • Brita 0 e 1 • Natural • CPV Ari RS
6 • Outras de acordo • Polifuncional
• Argamassa Calcária • Artif. Calcária • CPIII 32
com o cliente
contrapiso
• Concretos
• Brita 0 e 1 • Pó calcário
acima de 25MPa • Natural • CPV Ari RS
7 Gnaisse e • Outras de acordo Variados
• Argamassas • Artif. Gnaisse • Outros
Calcária com o cliente
variadas*
• Concreto 15 a
30MPa • Britas 0 e 1 • Natural • Polifuncional
8 • CPV Ari RS • Pó calcário
• Argamassa Gnaisse • Artif. Gnaisse • Superplastificante
contrapiso
• Concreto 20 a
• Britas 0 e 1 e
30MPa • Plastificante
9 pedrisco • Artif. Gnaisse • CPV Ari RS • Fíler calcário
• Argamassa • Superplastificante
Gnaisse
contrapiso
• lavagem interna dos balões dos caminhões betoneira;
• devolução do traço excedente ou que ultrapassou o prazo limite para utilização;
• escoamento de parte da água dosagem no ponto de carga;
• escoamento da água de redosagem;
• lavagem do pátio;
• corpos de prova rompidos;
• lavagem externa dos caminhões betoneira.

Fig. 1 - Produção de traços em uma CDC.


Água de lavagem (AL)

lavagem interna do balão dos caminhões e pátio, concreto


devolvido, etc.

Tanques de decantação

Fase Líquida Fase Sólida

Água Residual de Concreto Lama residual de concreto


Usinado (ARCU) usinado (LRCU)

Caixa d'água reutilizável Baias de resíduos

Reaproveitamento em
atividades da concreteira Aterro
(dosagem do concreto, ou
limpeza interna dos balões, Reaproveitamento
limpeza do pátio, etc.)

Fig. 2 - Geração do resíduo de concreto gerado em Centrais de Concreto Usinado.

Os resíduos contaminados por óleo devem ser separados dos resíduos de concreto, tratados e
destinados da forma correta. O resíduo de concreto, que é depositado nos tanques de decantação é
variável, geralmente provenientes dos cinco primeiros itens ou de parte deles. O objeto de estudo
deste trabalho é o resíduo sedimentado nos tanques de decantação sendo chamado de lama residual
de concreto usinado (LRCU).

A produção mensal das CDC’s visitadas variou de 2.500 a mais de 10.000 m³ e para atender a essas
demandas possuem de 7 a 45 caminhões betoneira, cuja lavagem interna dos balões é realizada ao
final do dia ou, em dias de menor produção, a lavagem é feita sempre que o caminhão ficará parado
por mais tempo. Observou-se que os resíduos coletados nas baias possuíam diferentes formas de
geração, podendo ser provenientes da lavagem dos caminhões, do pátio de operações, do concreto
que retorna das obras e da dosagem do concreto. Houve variação também na frequência de coleta
do resíduo para envio às baias de armazenamento, conforme demonstrado no Tabela 3.
Tabela 3 - Tipo de geração do resíduo nas CDC's visitadas.

CDC Forma de geração Retirada bate lastro


• Lavagem interna dos balões
1 Diariamente
• Lavagem do pátio
• Lavagem interna dos balões
2 • Dosagem do concreto Diariamente
• Lavagem do patio
• Lavagem interna dos balões
• Dosagem do concreto
3 2 vezes por semana
• Lavagem do pátio
• Concreto devolvido (pouco)
• Lavagem interna dos balões
4 Diariamente
• Dosagem do concreto
• Lavagem interna dos balões
5 • Dosagem do concreto Diariamente
• Lavagem do patio
• Lavagem interna dos balões
• Dosagem do concreto
6 3 vezes por semana
• Lavagem do pátio
• Concreto devolvido (> parte)
• Lavagem interna dos balões
• Dosagem do concreto
7 Diariamente
• Lavagem do pátio
• Concreto devolvido (> parte)
• Lavagem interna dos balões
8 • Dosagem do concreto Diariamente
• Lavagem do patio
• Lavagem interna dos balões
• Dosagem do concreto
9 Diariamente
• Lavagem do pátio
• Concreto devolvido

As centrais 7 e 6 depositam o concreto que retorna das obras (devolvido) diretamente nas baias de
armazenagem. As centrais 3 e 9 depositam esse resíduo nos tanques de decantação. Pode-se
perceber (Fig. 3) que algumas centrais estão reciclando a LRCU gerada para reaterro de valas, como
bica corrida, por meio do aditivo estabilizador de hidratação (AEH) ou através de máquina
recicladora. Porém a maior destinação das LRCU’s ainda são os aterros sanitários. Esse resultado
concorda com o que foi observado por Serifou et al. [7], que afirmam que a pratica atual de
gerenciamento desse resíduo é sua utilização em estradas ou seu descarte em aterros sanitários.

A reutilização como bica corrida e sub-base para pavimentação é realizada por empresas
terceirizadas que recolhem o resíduo das centrais sem custo. É uma alternativa benéfica para as
CDC’s, uma vez que eliminam o gasto com o transporte e descarte da LRCU.

Fig. 3 - Destinações para as LRCU's das centrais visitadas.


O concreto que retorna das obras sem ser utilizado é aproveitado nas centrais 1, 2, 4, 5 e 8 na
produção de blocos (Fig. 4) que são utilizados na própria central, como, por exemplo, na construção
de baias para armazenamento de materiais ou que são vendidos para diversas finalidades não
estruturais.

Fig. 4 – Bloco de concreto produzido com o resíduo


Foi questionado às CDC’s qual o motivo da não utilização do AEH, uma vez que pesquisas
demonstraram bons resultados, portanto uma opção para a não geração do resíduo. Algumas
centrais utilizaram e interromperam o uso, pois para a sua utilização seria necessário um controle
muito rigoroso dos teores incorporados para não retardar a pega dos concretos no dia posterior. As
CDC’s que fazem uso do aditivo ainda geram resíduo, pois não utilizam dependendo dos primeiros
traços do dia que serão produzidos, como, por exemplo, em concretos para paredes de concreto e
em grandes concretagens. Esta realidade não condiz com o estudo de Souza [17], que afirma que a
utilização do AEH é uma pratica crescente entre as concreteiras e que a sua utilização proporciona
benefícios financeiros às centrais produtoras de concreto.
A máquina recicladora era utilizada apenas em uma das centrais visitadas, porém, no dia da visita
apresentava-se com defeito. Observou-se que ainda não foi adotada por grande parte das
concreteiras devido à alta frequência de manutenções, que são onerosas, ao gasto excessivo de
energia, ao alto custo do investimento e ao espaço necessário no pátio, muitas vezes indisponível.
Foram realizadas inúmeras tentativas de visita em outra CDC da região que utiliza a máquina
recicladora, porém estava em manutenção e quando voltou a funcionar iniciou o período chuvoso.
Segundo o responsável pela central, não é possível utilizar o equipamento com o resíduo com alto
teor de umidade.
Pelo gráfico ilustrado na Fig. 5 percebe-se que o volume de LRCU gerada variou de 0,2 a 7,5% em
volume. Essa variação se deve ao fato de algumas centrais reutilizarem parte do resíduo antes de
enviar para as baias utilizando AEH, maquinas recicladoras ou aproveitando o concreto devolvido.
Esses percentuais ultrapassam os limites de perda, de 1 a 4%, estimados para a Europa e estão de
acordo com a estimativa para o Brasil, de até 9% (CORREIA et al., 2009) [6] ou quando se faz o
uso de instalações de reciclagem, esse valor é estimado em 0,8% (XUAN et al., 2016)[12].
Fig. 5 – Percentual, em volume, de LRCU produzidas nas centrais visitadas.

Em todas as centrais a ARCU era aproveitada principalmente para produção de novos traços, mas
também foi observada sua utilização em atividades variadas das CDC’s como lavagem interna dos
balões dos caminhões, molhagem de agregados, lavagem do pátio de operações, etc. A água do
último tanque de decantação é bombeada para caixas d’água de água reciclada. Em alguns casos é
misturada à água potável e em outros é aproveitada sem essa mistura. A quantidade de tanques de
decantação varia de uma central para outra. No caso das centrais visitadas essa quantidade variou de
3 a 11.

3. CONCLUSÃO
Observou-se variação nos materiais utilizados em função dos diferentes traços produzidos. Todas as
centrais possuem tanques de decantação que recebem a água de lavagem dos caminhões-
misturadores, podendo ou não receber também os traços devolvidos à concreteira e outros diferentes
resíduos de concreto. A fase líquida presente nos tanques é totalmente aproveitada em todas as
centrais, porém, a fase decantada, chamada de lama residual, é enviada a baias onde fica
armazenada até ser transportada para sua destinação final.
Diferentes destinações foram encontradas, sendo que, aproximadamente 38% do resíduo são
enviados a aterros. O volume de geração de lama residual em relação ao volume de concreto
produzido variou de 0,2 a 7,5%. Conclui-se que, apesar dos vários estudos relacionados ao seu
aproveitamento, ainda não foi encontrada uma solução que possibilite o aproveitamento ou a não
geração do resíduo na prática.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao apoio da Universidade Federal de Minas Gerais e aos órgãos de fomento: CAPES,
FAPEMIG e CNPQ.
REFERÊNCIAS
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2017, 2017. Disponível em: http://snic.org.br/numeros-resultados-preliminares-ver.php?id=20. Acessado em:
28/09/2018.
[2] SINDICATO NACIONAL DA INDÚSTRIA DO CIMENTO (SNIC). Perfil da distribuição do cimento por
regiões e estados, 2017. Disponível em: http://snic.org.br/assets/pdf/numeros/1537281273.pdf. Acessado em:
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[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND - ABCP. Pesquisa inédita e exclusiva revela cenário
do mercado brasileiro de concreto, 2013. Disponível em: <http:// www.abcp.org.br/cms/imprensa/noticias>
Acessado em: 29/09/2018.
[4] European Ready Mixed Concrete Organization (ERMCO). Ready-Mixed Concrete Industry Statistics: Year 2016,
2017. Disponível em: http://ermco.eu/new/wp-content/uploads/2018/07/ERMCO-Statistics-2016-18.02.04.pdf.
Acessado em: 29/09/2018.
[5] CORREIA, S. L. et al. Assessment of the recycling potential of fresh concrete waste using a factorial design of
experiments. Waste management, v. 29, n. 11, p. 2886-2891, Joinville, 2009.
[6] NACOES UNIDAS NO BRASIL ONUBR. Paises membros da ONU. Disponível em:
<https://nacoesunidas.org/conheca/paises-membros/> Acessado em: 16/10/2018.
[7] SÉRIFOU, Mamery et al. A study of concrete made with fine and coarse aggregates recycled from fresh concrete
waste. Journal of Construction Engineering, v. 2013, França, 2013.
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concreto. 83 f. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo,
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efficiency for ready-mix concrete plants. Waste Management, v. 56, p. 337-351, 2016.
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hidratação. 92 f. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Construção Civil) – Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2011.
[15] KOU, Shi-cong; ZHAN, Bao-jian; POON, Chi-sun. Properties of partition wall blocks prepared with fresh
concrete wastes. Construction and Building Materials, v. 36, p. 566-571, Hong Kong , 2012.
[16] SCHOON, Joris, BUYSSER, Klaartje De, DRIESSCHE, Isabel Van, BELIE, Nele De. Feasibility Study of the Use
of Concrete Sludge As Alternative Raw Material for Portland Clinker Production. Journal of Materials in Civil
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[17] SOUZA, Aline Ferreira de. Otimização do uso de aditivo estabilizador de hidratação do cimento em água de
lavagem dos caminhões-betoneira para produção de concreto. 182 f. Dissertação (Pós-Graduação em
Engenharia Civil) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2007.
PANORAMA PRÁTICO-LEGISLATIVO DAS CAPITAIS DA REGIÃO
SUDESTE QUANTO À GESTÃO DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL
(RCC)

Practical-legislative overview of the capitals of the Southeast region in the


management of civil construction waste (CCW)

Yuri Mariano Carvalho 1, Vivian Gemiliano Pinto 2


1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, yuri.mariano@engenharia.ufjf.br
2
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais – Campus Juiz de Fora, Juiz de Fora,
Brasil, vivian.pinto@ifsudestemg.edu.br

Resumo:
O setor da construção civil é um dos que mais geram resíduos sólidos no país, os quais são
raramente reaproveitados e causam grandes impactos ao meio ambiente. Sob este foco, o objetivo
da pesquisa realizada foi analisar se a legislação e os planos de gestão de resíduos sólidos vigentes
nas capitais da região Sudeste contemplam à questão do gerenciamento dos resíduos de construção
civil (RCC) como proposto pela Resolução nº 307/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) e pela Lei nº 12.305/2010, que configura a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), bem como levantar dados acerca do cumprimento dessas leis e planos de gestão nos
municípios estudados. Os métodos adotados para a realização desse trabalho condizem com o
estudo de referencial bibliográfico sobre a gestão dos RCC, tais como as legislações pertinentes a
nível nacional, estadual e municipal sobre o tema, os planos de gestão de resíduos sólidos dos
municípios observados, além de trabalhos atuais que tiveram como foco os RCC em tais capitais.
Foi possível identificar que os planos para gestão de RCC nas capitais da região Sudeste focam
mais em reciclagem e deposição correta dos resíduos do que em ações educativas visando a não
geração de entulho em obras, o que perpetua a indústria da construção civil como grande geradora
de resíduos. Neste contexto, os autores propõem adequações aos planos e aos mecanismos legais
vigentes nas capitais em estudo de forma a abarcar a questão da não geração de resíduos. E, ainda,
que as instituições formadoras de profissionais para a indústria da construção civil, do nível básico,
técnico e superior valorizem a temática da sustentabilidade em suas grades curriculares.

Palavras-chave: resíduos de construção civil, indústria da construção civil, marcos legais


brasileiros, sustentabilidade.

Abstract: The civil construction sector is one of the ones that generate the most solid waste in the
country, which is rarely reused and causes great impacts on the environment. Under this focus, the
objective of this research was to analyze whether the legislation and solid waste management plans
in the capitals of the Southeast region address the issue of the management of civil construction
waste (CCW) as proposed by Resolution nº 307/2002 of the Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) and Lei nº 12.305/2010, which establishes the Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), as well as collect data on compliance with these laws and management plans in the
municipalities studied. The methods adopted to carry out this work are consistent with the study of
bibliographic reference on the management of CCW, such as the pertinent national, state and
municipal legislation on the subject, the solid waste management plans of the cities observed,
besides current publications about CCW in such capitals. It was possible to identify that the CCW
management plans in the capitals of the Southeast region focus more on recycling and correct
disposal of waste than on educational actions aimed at not generating rubble in works, which
perpetuates the construction industry as a major generator of waste. In this context, the authors
propose adjustments to the legal plans and to the mechanisms in force in the capitals under study to
cover the issue of non-generation of waste. And, also, that institutions that train professionals for
the civil construction industry, at the basic, technical and higher levels, value the sustainability
theme in their curricular grades.

Keywords: civil construction waste, civil construction industry, brazilian legal framework,
sustainability.

1. INTRODUÇÃO
Com a proximidade da virada para o terceiro milênio, as Nações Unidas definiram a partir da
Agenda Global, assinada por 179 países em 1992, inclusive o Brasil, medidas a serem adotadas
paulatinamente visando uma melhor configuração para o desenvolvimento mundial, primando por
um melhor relacionamento entre o homem e o ambiente em que ele se insere. Buscando internalizar
as aspirações de desenvolvimento sustentável na realidade nacional, o governo brasileiro formulou
e promulgou em 2002 a Agenda 21 Brasileira, a qual expõe os desafios a serem superados nos
âmbitos econômico, político e social para que o país passe a desenvolver-se de forma sustentável
[1].
Tendo como primeiro objetivo a abolição da cultura do desperdício, visando uma economia
ambientalmente correta, pode-se elencar dentre as ações prioritárias expostas na Agenda a
recomendação pela formulação de leis que gerissem a questão dos resíduos sólidos no país, com
enfoque para a redução e reaproveitamento destes [1]. Seguindo essa linha, em julho do mesmo ano
o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) publicou em formato de resolução
generalidades e procedimentos referentes à gestão dos resíduos da construção civil (RCC),
costumeiramente chamados entulho de obras, definidos como aqueles advindos de processos
construtivos ou de manutenção, assim como resíduos de demolição e movimentação de terra. O
mesmo instrumento legal abrangeu aspectos tais como definições acerca do tema, classificação dos
resíduos (referente à possibilidade de reciclagem e risco à saúde), e gestão destes por parte dos
geradores e da esfera pública [2].
No que tange à nivelação da preferência para o manejo de RCC, o CONAMA apresentou como
objetivo prioritário a não geração de resíduos e, secundariamente, a redução, a reutilização, a
reciclagem a e a destinação final dos resíduos [2], como indicado na Figura 1. O modelo hierárquico
proposto dialoga com as proposições de outros autores [3–5], além de primar pela diminuição do
impacto descomunal implicado pela construção civil no meio ambiente, visto que este setor
consome cerca de 40% das matérias-primas exploradas no mundo atual [6].
Fig. 1 – Modelo geral para gestão de RCC

Já em 2010, formalizando a questão do gerenciamento de resíduos sólidos, é validada a Lei nº


12.305, que dá forma à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e expande o arcabouço
legislativo em cima do tema, introduzindo diretrizes, metas e instrumentos a serem adotados para o
gerenciamento de resíduos sólidos pelos poderes públicos e pelos geradores, bem como os recursos
econômicos cabíveis [7].
Mesmo com cerca de 54,8% dos municípios brasileiros possuindo um Plano Integrado de Resíduos
Sólidos [8], a realidade nacional no âmbito da construção civil é deveras diferente do projetado pelo
CONAMA e pela PNRS, sendo marcada pela grande geração de entulho em obras [9, 10], pelos
baixos níveis de reuso, reaproveitamento e reciclagem [9, 11, 12] e pela deposição incorreta dos
resíduos [11–14].
Quanto aos materiais utilizados hodiernamente na construção civil, vale salientar que seu impacto
no ambiente é traçado desde sua extração na natureza e posterior processamento e transporte até o
momento de sua real utilização em uma obra, visto a produção de entulho e a incorreta destinação
final dos resíduos, como apontado por Rose e Stegmann [15]. Os mesmos autores destacam,
também, que o processo de reciclagem vigente no mundo atual não é capaz de capitalizar o real
valor dos componentes, sendo mais utilitária a reutilização, o reaproveitamento e as técnicas de
upcycling (forma de reciclagem que preza por transformar resíduos descartados em produtos de
melhor qualidade).
Existem, no entanto, inúmeras barreiras quanto à adoção de melhores práticas para gestão de
resíduos na construção civil na sociedade contemporânea, tais como questões sociais, ambientais e
econômicas. Em vista disso, optou-se por organizar os tipos de barreiras e definições quanto as
mesmas no Quadro 1, que segue:
Tipo de barreira Exemplificação
A preocupação com o déficit habitacional por parte de governos e setores
privados da economia em detrimento de questões ambientais acaba por alavancar
a falta de educação e consciência ambiental, inclusive no meio técnico-
Ambiental
universitário, incitando a construção desenfreada [16]. Já o processamento dos
RCC voltados à reciclagem implica várias vezes em novos impactos ambientais
[17, 18].
Costumeiramente, o setor construtivo opta pelos ganhos a curto prazo,
desprezando práticas sustentáveis de gestão do entulho devido ao alto custo
Financeiro
despendido tanto no processo de segregação quanto no de reciclagem dos
resíduos [16, 18].
Entraves de cunho institucional estão relacionados à falta de coordenação entre
agências governamentais quanto à regulação de questões sobre os RCC, à
Institucional ausência de órgãos públicos ou privados para a gestão desses materiais [16, 18], à
falta de comprometimento profissional quanto ao design de obras de construção
civil e à não aplicação de melhores práticas construtivas [16, 18, 19].
O não cumprimento/inexistência de leis e de regulamentos quanto a uma melhor
gestão de RCC, devido tanto à dificuldade na aplicação dos recursos legais quanto
Legal
à ausência de fiscalização, acabam por perpetuar o atual cenário de degrado
ambiental [16, 18].
Além da comum falta de consciência ambiental por parte de clientes e
trabalhadores da construção civil, a produção de resíduos já é considerada um
Sociocultural fator irreversível. Para que a gestão de RCC seja encarada de nova forma pelos
profissionais da área seriam necessários maiores incentivos e recursos de apoio
em cima do tema [16, 18].
A falta de espaço no canteiro de obras para a segregação dos RCC e para a
aplicação de maquinário de baixo nível de geração de entulho somada à
Técnico
inexperiência dos trabalhadores quanto à gestão dos resíduos contribuem para a
manutenção da produção de RCC nos níveis atuais [16, 18, 19].
Quadro 1 - Barreiras contra a adoção de melhores práticas de gestão de RCC

Mesmo com o alavancar da preocupação a nível nacional sobre a gestão de resíduos sólidos, é
comum que tal manejo sustentável seja encarado como uma ação corretiva para o momento
presente, sendo que em realidade a gestão de RCC deve ser uma medida educativa, para que
empresas e órgãos responsáveis exerçam suas funções da forma mais sustentável possível [20].
Como é consenso em vários autores [16, 19, 21, 22] uma das medidas de cunho técnico mais
eficazes para uma melhor gestão do RCC é a capacitação dos funcionários envolvidos na
construção. Udawatta, Zuo, Chiveralls e Zillante [22] apontam ainda que incentivos financeiros,
como redução de impostos, e a dedicação de maior atenção às etapas de projeção, supervisão da
execução e gerenciamento da obra são elementos a serem encorajados para uma melhor gestão dos
RCC. Visto o cenário ainda manufatureiro da construção civil no Brasil, a profissionalização
daqueles que trabalham em obras, seja nos projetos ou na execução em si, poderia culminar em
menor geração de resíduos e melhor segregação do que fosse posteriormente gerado, visando a
correta destinação.
Nessa conjuntura, buscou-se no presente trabalho comparar as leis e os planos adotados nas capitais
da região Sudeste relacionados à gestão de resíduos da construção civil (RCC) com a Resolução nº
307/2002 do CONAMA e a Lei nº 12.305/2010, verificando o direcionamento das legislações
municipais e o nível de incorporação das premissas preconizadas pelos documentos federais.
Considerou-se ainda, estudos de caso nessas capitais e outras fontes de dados, identificando-se o
grau de intervenção do poder público nas questões relativas à gestão de RCC.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
O desenvolvimento do presente trabalho deu-se por meio de estudos de caráter bibliográfico sobre a
temática dos RCC, tendo como principal fonte de informações os elementos legislativos a nível
nacional, estadual e municipal acerca da gestão desse tipo de resíduos. Concomitante a esse aspecto,
foram também trabalhados os planos municipais das capitais da região Sudeste que tratam sobre o
tema, assim como os relatórios disponibilizados pelas prefeituras em meio online e estudos de caso
realizados por outros estudiosos sobre as mesmas cidades. Para corroborar a discussão, levantou-se,
ainda, trabalhos nacionais e internacionais sobre a gestão de resíduos gerados na construção civil,
focando nos aspectos principais da sua gestão, ou seja, não geração, reuso e reciclagem, objetivando
elencar soluções viáveis para os problemas enfrentados pelas capitais brasileiras estudadas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente [23], somente os estados do Rio de Janeiro e de
São Paulo apresentavam Plano Estadual de Resíduos Sólidos na região Sudeste, estando em
elaboração os planos referentes a Minas Gerais e Espírito Santo.
No entanto, as quatro unidades federativas já possuem leis estaduais que tratam sobre uma Política
Estadual de Resíduos Sólidos, o que contrasta com a realidade observada. São elas a lei nº
4.191/2003 do Rio de Janeiro [24], a lei nº 12.300/2006 de São Paulo [25], a lei nº 18.031/2009 de
Minas Gerais [26] e a lei nº 9.264/2009 do Espírito Santo [27], as quais apresentam generalidades
semelhantes quanto às diretrizes e aos instrumentos para a gestão de resíduos sólidos.
Os resíduos provindos da construção civil aparecem efetivamente somente na legislação estadual de
São Paulo, onde são enquadrados como uma das categorias de resíduos sólidos, além de serem
definidos os responsáveis pelo seu gerenciamento [25]. Na lei estadual capixaba é citado
unicamente que os resíduos da construção civil, assim como os demais, são geridos por um órgão
gestor específico, o Comitê Gestor de Resíduos Sólidos (COGERES) [27].
Já no âmbito das capitais da região, são visíveis certas divergências quanto ao tratamento dado às
exigências advindas da resolução nº 307/2002 do CONAMA acerca da gestão de resíduos da
construção civil (RCC). É apontado na resolução como instrumento para a gestão de RCC o Plano
Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PIGRCC), a ser formulado por
municípios e pelo Distrito Federal. Como consta no art. 6º, deverá integrar o PIGRCC [2]:
• Diretrizes quanto a formulação de planos de gerenciamento pelo município e pelos
geradores de RCC, em vista de possibilitar o exercício da responsabilidade por todos;
• Cadastramento de áreas destinadas a alocar temporariamente pequenos volumes a serem
triados e, posteriormente, destinados a áreas de beneficiamento e disposição final de
resíduos;
• Processos de licenciamento para áreas de beneficiamento e disposição final de resíduos e
proibição de locação de resíduos em áreas não licenciadas;
• Incentivo à reciclagem e à reutilização de materiais provindos de resíduos da construção
civil;
• Ações de orientação, fiscalização e controle dos agentes envolvidos, tais como critérios para
cadastramento de transportadores; e
• Práticas educativas almejando a redução dos RCC e uma melhor segregação destes por parte
da população.
A PNRS [6], por sua vez, reafirma a necessidade de planos de gestão de resíduos sólidos para
municípios, recomendando as soluções consorciadas intermunicipais e a sujeição das empresas de
construção civil à elaboração de planos de gerenciamento de resíduos sólidos. No entanto, os
tópicos referentes a essas questões são vagos e não expõe objetivamente parâmetros e/ou
mecanismos a serem adotados de maneira a sofisticar a logística de RCC no país.
Tendo tais premissas em foco, serão expostos os marcos legais relativos à gestão de resíduos da
construção civil nas quatro capitais da região Sudeste, Belo Horizonte/MG, São Paulo/SP,
Vitória/ES e Rio de Janeiro/RJ, buscando relacionar a legislação e os planos municipais pertinentes
com o que é preconizado a nível federal, bem como sua validade.

3.1. Caso de Belo Horizonte/MG


Segundo Leite, Damasceno, Reis e Alvim [20], desde a década de 1980 o poder público de Belo
Horizonte vem desenvolvendo meios e mecanismos para o tratamento integrado de resíduos no
município. Atualmente, no que diz respeito aos resíduos provenientes da construção civil, a lei
municipal em vigor é a nº 10.522/2012, que trata sobre a gestão de RCC e de resíduos volumosos,
sendo estes últimos caracterizados por material de grande porte não removido pela coleta pública
regular, como móveis e eletrodomésticos inutilizados [28].
A gestão desses tipos de resíduos dá-se pelo Sistema de Gestão Sustentável de Resíduos da
Construção Civil e Resíduos Volumosos (SGRCC), conjunto de serviços e estruturas físicas
voltadas à receptação, reciclagem, triagem e correta deposição dos materiais trabalhados, e é
regulado pelo Plano Municipal de Gerenciamento Integrado de Resíduos da Construção Civil e
Resíduos Volumosos (PMRCC).
Como consta no art. 10 da lei supracitada, o PMRCC poderia ser inserido no Plano Municipal de
Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS), o que ocorreu, como pode ser visto na versão
final do PMGIRS-BH. Em consonância com o preconizado em lei, na capital mineira têm-se, entre
infraestrutura pública e privada, 32 Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPV)
(voltada ao pequeno gerador), duas Estações de Reciclagem de Entulho (ERE) (a qual recebe
somente RCC recicláveis de grandes geradores) e uma unidade mista: Área de Triagem e
Transbordo de Resíduos da Construção Civil e Resíduos Volumosos (ATT) e Aterro de Inertes [29].
Todavia, Leite, Damasceno, Reis e Alvim [20] e Ramos, Pinto e Melo [30] apontam que, mesmo
com a demonstração de preocupação com a gestão de RCC por seguimentos da sociedade e
instituições do ramo da construção civil na região metropolitana de Belo Horizonte, a gestão de
resíduos ainda é precária, havendo maior necessidade de recursos técnicos e econômicos pelos
órgãos municipais, além de maior cooperação entre produtores e geradores de RCC. O próprio
PMGIRS belo-horizontino dialoga com esse apontamento, pois expõe a necessidade de uma maior
articulação entre órgãos estaduais e municipais e setores da iniciativa privada para viabilizar melhor
infraestrutura para a gestão dos resíduos gerados [29].
A proposta adotada, que conta com a participação das cidades que compõe a Região Metropolitana
de Belo Horizonte, deu-se através do Plano Metropolitano de Gestão Integrada de Resíduos da
Construção Civil e Volumosos (RCCV), o qual divide o território em cinco microrregiões, estando
a capital mineira no centro, e determina a criação de novas unidades para recebimento, reciclagem,
triagem e locação final dos resíduos. Devido ao posicionamento e à geração de RCCV muito
superior à das demais cidades, Belo Horizonte acaba por ser favorecida pela infraestrutura dos
municípios vizinhos [29].
Com relação às metas estabelecidas no Plano, pode-se afirmar que elas satisfazem de modo eficaz
as exigências do CONAMA, apresentando, inclusive, ações a serem adotadas para seu
cumprimento. São elas [29]:
• Estimular a criação de soluções a nível metropolitano e municipal para gestão e
gerenciamento dos RCCV;
• Articular os diversos atores implicados na gestão e no gerenciamento, tais quais poder
público e geradores;
• Readaptação da legislação vigente;
• Implantação de sistema que permita a rastreabilidade do fluxo de RCCV;
• Promoção da redução da geração de RCCV em obras públicas e privadas;
• Eliminar as áreas clandestinas e irregulares de locação de RCCV;
• Estimular a reutilização e a reciclagem dos resíduos;
• Incentivo ao uso do agregado reciclado.

3.2. Caso do Rio de Janeiro/RJ


Com a promulgação da resolução nº 307 do CONAMA em 2002, o poder público do município do
Rio de Janeiro veio publicando decretos, leis e resoluções que começaram a moldar, mesmo que
paulatinamente, o caminho para a instituição de um plano municipal para a gestão de resíduos
sólidos [31]. Já em 2008, a Lei Municipal nº 4.969 expressa a obrigatoriedade por parte dos grandes
geradores de resíduos de possuir um Projeto de Gerenciamento de RCC em vista de obter licença
municipal para sua obra [32].
O Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS) da cidade do Rio de
Janeiro só foi concretizado em 2013 por meio do Decreto Municipal nº 37.775, sendo atualizado em
2016 pelo Decreto nº 42.605, visto a obrigatoriedade de atualizações a cada quatro anos, como
previsto em lei [31].
No entanto, não se encontra entre os objetivos listados no PMGIRS carioca um tópico que remeta à
não geração de resíduos ou à redução de geração destes, havendo alusão somente à diminuição do
volume de rejeitos direcionados a aterros devido a práticas de reutilização, reciclagem e
recuperação de resíduos sólidos urbanos [33], o que constitui uma clara fuga ao preconizado pelo
CONAMA e pelo PNRS.
Já quanto ao arcabouço prático-legal desenvolvido pelos órgãos competentes para a gestão de
resíduos da construção civil, o PMGIRS aponta que os Planos de Gerenciamento de RCC por parte
dos geradores de resíduos deverão estar adequados às exigências previstas nas leis da cidade e
privilegiar alternativas de reaproveitamento e de reciclagem de entulho da obra no próprio canteiro
ou em unidades de beneficiamento licenciadas pela Prefeitura. O PMGIRS também indica como
diretriz a inserção de entidades ambientalmente credenciadas para um melhor aproveitamento dos
resíduos gerados, como universidades e ONGs, e especifica investimentos na construção de novo
centro para tratamento de RCC [33].
Novamente, percebe-se um maior enfoque para o beneficiamento dos RCC gerados em detrimento
da não geração de resíduos. Tal faceta pró-reciclagem pode ser encarada como uma tentativa de
fomentar a economia, analisados os incentivos fiscais e decretos municipais quanto a utilização de
materiais advindos da reciclagem expostos no Plano [33].
Mesmo com o forte incentivo à prática da reciclagem, ainda se observa no Rio de Janeiro intensa
produção de RCC em construções, demolições e reparos, aliados à segregação de resíduos,
inviabilizando a coleta e a destinação adequada pelos órgãos responsáveis [31, 34].

3.3. Caso de São Paulo/SP


O Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS) da cidade de São Paulo, consolidado em
2014 [35], foi elaborado em 2012 e revisto por colegiado criado pelo Decreto Municipal nº
53.924/2013, tendo em vista a necessidade de atualizar o Plano quanto às legislações cabíveis a
nível nacional [36]. Antes do advento do PGIRS, a Lei nº 13.478 dispunha, em 2002, sobre o
sistema de limpeza da capital paulista, atentando para a gestão dos resíduos sólidos [37]. Era
delimitado, quanto aos RCC, o teto de 50 quilogramas de entulho para que os resíduos fossem
coletados pelo sistema público de limpeza; acima desse valor tornava-se obrigação do proprietário
tomar providências quanto à destinação.
Apresentando diretrizes mais amplas quanto a gestão de resíduos, o PGIRS indica como
procedimentos gerais a serem adotados a maior segregação dos resíduos, visando a reciclagem e o
reaproveitamento, e uma maior variedade de locais legalizados para destinação e beneficiamento
deles, como Ecopontos para RCC [36].
Tais diretrizes foram formuladas tendo em vista os milhares de pontos viciados onde ocorrem as
deposições de entulho de obras, os quais correspondem a cerca de 75% dos RCC coletados pelo
município, levando a baixos níveis de recuperação desses resíduos [36]. Segundo Klein e Dias [38,
39], a questão econômica é a que mais influencia os pequenos geradores a descartarem de forma
ilícita seus resíduos de construção, sendo sugerido pelos mesmos uma precificação dos serviços de
coleta de forma a não comprometer a renda dos pequenos geradores e baseada em questões
socioambientais.
No que tange às práticas a serem adotadas para uma melhor gestão dos resíduos advindos da
construção civil, o PGIRS enfoca e apresenta como Meta de Governo a questão da reciclagem e
valorização máxima dos resíduos, o que deveria ser acompanhado por ações mais eficazes de
segregação do material a ser retrabalhado. Esse posicionamento é devido principalmente ao grande
volume de material reciclável presente no entulho da construção civil paulista (cerca de 98%).
Outras proposições estão relacionadas aos espaços de descarte ilegal de resíduos, visando sua
extinção, à fiscalização eletrônica dos veículos transportadores de RCC, para um melhor controle de
fluxos, e à verificação dos Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), propondo ênfase
à coleta seletiva [36].
O PGIRS paulista, no entanto, mantém-se firmemente arraigado à ideia de corrigir os erros
costumeiros quanto à deposição e ao reaproveitamento de resíduos a curto prazo, havendo pouca
informação quanto aos métodos educativos que devam ser empregados para fomentar a consciência
ambiental na população para que tais erros não se repitam. A Autoridade Municipal de Limpeza
Urbana (AMLURB), responsável pela gestão de resíduos e limpeza urbana da cidade de São Paulo,
é apontada como um fator em potencial para a manutenção da deposição irregular de RCC, visto o
precário controle que exerce sobre a maior metrópole brasileira [38]. Schneider e Philippi Jr. [40]
afirmam algo semelhante em estudos realizados entre 1993 e 2002, onde elencam a falta de
interesse e a incapacidade governamental em gerir recursos e planejar ações como os fatores chaves
para a problemática dos RCC na cidade. Percebe-se, portanto, que a morosidade quanto a gestão de
RCC em São Paulo é uma realidade antiga e já denunciada, porém persistem os mesmos entraves
técnico-administrativos para a sua solução.

3.4. Caso de Vitória/ES


Diferentemente das outras capitais, Vitória não possui uma lei ou decreto específico que discorra
sobre a temática da gestão de resíduos sólidos. Os variados tipos de resíduos são tratados de forma
generalizada dentro do escopo legislativo municipal sobre limpeza e saneamento urbano, como é
visível na listagem de leis vitorienses referentes ao manejo de resíduos sólidos exposta no Plano
Municipal de Saneamento Básico (PMSB) da cidade [41]. Tal fato está diretamente relacionado a
inexistência de um plano específico para o gerenciamento de RCC, estando a gestão destes resíduos
generalizada no PMSB.
A gestão dos resíduos de construção civil na cidade é exposta em tópicos específicos dos vários
relatórios do PMSB. No Relatório do Produto 6 é apresentado o método vigente de coleta de
resíduos inertes e de RCC públicos em Vitória, o qual consiste em mutirões de limpeza que atuam
em pontos de disposição irregular de entulho de acordo com a demanda. Também é apresentada a
questão das estações de bota-fora, terrenos públicos receptadores temporários de RCC, que acabam
por atuar como ponto de disposição irregular de resíduos diversos, devido à deficiência na
organização do espaço e à ausência de funcionários no local [41].
Mesmo com cerca de 98% do entulho da construção civil produzido em Vitória passível de
reutilização e reciclagem (cenário semelhante ao da capital paulista), a segregação dos resíduos não
é um fato comum, dado os métodos de coleta e destinação dos resíduos, o que dificulta e encarece a
reciclagem e o reuso desses [41].
Na tentativa de remodelar esse cenário, o PMSB indica uma série de medidas a serem adotadas em
prol de uma melhor eficiência dos serviços de limpeza e gestão de resíduos no município e em vista
de satisfazerem à legislação federal. Dentre as que se encaixam para a questão dos RCC, a de maior
relevância é que trata da elaboração e implantação do Plano Municipal de Gestão de Resíduos da
Construção Civil, visando uma melhor gestão quanto aos RCC produzidos no município. Outras
ações listadas são [42]:
• Monitoramento da geração de resíduos no município para manutenção de quadro de
projeções, permitindo melhor controle por parte dos gestores responsáveis;
• Elaboração e implantação de plano de divulgação da coleta pública domiciliar, atentando
para horários de coletas e correta separação dos materiais;
• Fazer valer a obrigação de Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos para liberação de
licenças de obras;
• Reestruturação das Estações de Bota-Fora, dando-lhes os meios físicos e operacionais
mínimos para sua manutenção (cercamento, regras e horários de funcionamento,
funcionários fixos e afins);
• Cadastro, regulação, fiscalização e monitoramento da atividade das empresas de coleta e
transporte de resíduos da construção civil;
• Incentivo ao uso de materiais e agregados reciclados nas obras do município.
Somente tais ações, no entanto, são insuficientes para atender às diretrizes do CONAMA e às do
PNRS, visto aparentar não haver preocupação com os objetivos centrais da questão sustentável, que
são a não geração de resíduos, a redução da geração destes e sua reutilização. Essa irregularidade no
PMSB reflete diretamente nos canteiros de obra capixabas, visto não haver controle de perdas ou
reutilização do material gerado, por mais que as construtoras que atuam no município estejam a
aplicar paulatinamente princípios de sustentabilidade em suas obras [43].

4. CONCLUSÃO
Torna-se claro, a partir do exposto, que nenhuma das capitais estudadas segue plenamente o que é
preconizado a nível federal quanto a gestão de RCC, fato devido, principalmente, à morosidade do
poder público em fazer valer o aparato legislativo pertinente.
A premência pela não geração e redução da geração de resíduos em obras e reformas é encontrada
somente no plano de gestão de RCC belo-horizontino, o que figura a capital mineira como a que
melhor se atem ao que é preconizado pelo CONAMA e pela PNRS, por mais que ainda sejam
necessários maiores investimentos e melhores práticas para manejo dos RCC produzidos no
município. Rio de Janeiro e São Paulo, por sua vez, prezam majoritariamente pela questão da
reciclagem e do reaproveitamento dos resíduos de construção civil. O PIGRCC de Vitória, por fim,
ainda está em processo de elaboração, sendo necessária a reformulação da legislação vigente para
melhor atender à problemática dos RCC no município.
É perceptível nas legislações e nos planos municipais que tratam sobre a gestão de resíduos nas
capitais da região Sudeste, portanto, a manutenção de uma visão corretiva, ou seja, mais voltada a
melhores procedimentos de destinação e tratamento do entulho gerado em obras no momento
presente em detrimento de um posicionamento mais ambiental-educativo, que estimule a adoção de
práticas, técnicas e novas tecnologias que induzam à não geração ou à geração mínima de RCC.
Por mais que a reciclagem e o reaproveitamento dos RCC sejam práticas de grande interesse para
determinados setores da economia, o impacto ambiental gerado pelo transporte e pelo
processamento dos resíduos são fatores a serem considerados, o que reafirma a necessidade da
promoção de práticas construtivas mais enxutas no cenário nacional.
Logo, compete aos órgãos governamentais cabíveis das capitais estudadas fiscalizar e fazer valer as
legislações e o planejamento vigentes sobre o assunto, reformulando-os para que acatem à questão
da não geração e redução da geração de resíduos da construção civil. Para tal, recomenda-se a
convocação de corpo técnico-administrativo especializado para que sejam realizadas as corretas
alterações e aplicadas as melhores medidas para uma gestão mais sustentável dos RCC. Às
instituições formadoras de profissionais do ramo da construção civil concerne o incentivo ao ensino
e à pesquisa de temáticas relativas à projeção e gerenciamento de obras mais ambientalmente
viáveis, primando pela sustentabilidade.

REFERÊNCIAS
[1] COMISSÃO DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DA AGENDA 21 NACIONAL.
Agenda 21 Brasileira – Ações Prioritárias. 2. ed. Brasília/DF: Ministério do Meio Ambiente, 2004.

[2] BRASIL. Resolução CONAMA n. 307, de 05 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para
a gestão dos resíduos da construção civil. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 2002.

[3] YUAN, H. Key indicators for assessing the effectiveness of waste management in construction projects. Ecological
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[4] OYENUGA, A.; BHAMIDIMARRI R. Upcycling ideas for Sustainable Construction and Demolition Waste
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[5] EL-HAGGAR, S. CURRENT PRACTICE AND FUTURE SUSTAINABILITY. In: Sustainable Industrial Design
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[6] KEELER, M.; BURKE, B. A Eficiência dos Recursos Naturais e o Uso de Recursos Naturais em Edificações. In:
KEELER, M., B. BURKE (eds.). Projeto de Edificações Sustentáveis. 1a ed, Bookman, p. 168–182, 2010. ISBN 978-
85-7780-710-9.

[7] BRASIL. Lei no 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no
9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, 2010.

[8] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Perfil dos municípios brasileiros: 2017. Rio de
Janeiro/RJ: IBGE, 2018.

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[10] SILVA, Á. S. da et al. Gestão de resíduos sólidos na construção civil : Estudo de caso em duas empresas na Cidade
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[11] FERREIRA, A. C. A.; COSTA, F. M. V. da; DIAS, I. D. C. T.; SANTOS, S. Gestão de Resíduos Sólidos na
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[19] CHRISTMANN, S. S.; RODRIGUES, P. C. DESPERDÍCIO DE MATERIAIS EM OBRAS DO MUNICÍPIO DE


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[20] LEITE, I. C. de A.; DAMASCENO, J. L. C.; REIS, A. M. dos; ALVIM, M. Gestão de resíduos na construção civil:
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[21] PASCHOALIN FILHO, J. A.; BEZERRA, P. R. L.; OLIVEIRA, L. R. G. J.; FARIA, A. C. de. Gerenciamento de
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[23] BRASIL. Planos Estaduais de Resíduos Sólidos. Ministério do Meio Ambiente [online], 2018. Disponível em:
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Acesso em 11 aug. 2018.

[24] RIO DE JANEIRO (ESTADO). Lei no 4.191, de 30 de setembro de 2003. Dispõe sobre a Política Estadual de
Resíduos Sólidos e dá outras providências. Republicada no D.O. - P.II., 2003. Disponível em: <
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[25] SÃO PAULO (ESTADO). Lei no 12.300, de 16 de março de 2006. Institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos
e define princípios e diretrizes. Assesoria Técnico-Legislativa, 2006.

[26] MINAS GERAIS. Lei no 18.031, de 12 de janeiro de 2009. Dispõe sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos.
Diário do Executivo - ‘Minas Gerais’, 2009.

[27] ESPÍRITO SANTO. Lei no 9.264, de 15 de julho de 2009. Institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos e dá
outras providências correlatas. Diário Oficial do Estado do Espírito Santo, 2009.

[28] BELO HORIZONTE. Lei no 10.522, de 24 de agosto de 2012. Institui o Sistema de Gestão Sustentável de
Resíduos da Construção Civil e Resíduos Volumosos - SGRCC - e o Plano Municipal de Gerenciamento Integrado de
Resíduos da Construção Civil e Resíduos Volumosos - PMRCC, e... Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, 2012.

[29] BELO HORIZONTE. Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Belo Horizonte (PMGIRS
– BH). Produto 5 – PMGIRS-BH VERSÃO FINAL. Belo Horizonte/MG: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte,
2017.

[30] RAMOS, M. A.; PINTO, A. C. dos P.; MELO, A. A. de O. O Gerenciamento dos Resíduos Sólidos da Construção
Civil e de Demolição no Município de Belo Horizonte. Revista Gestão & Sustentabilidade Ambiental [online]. 2013,
v. 2, n. 2, p. 45. doi:10.19177/rgsa.v2e2201345-68.

[31] CARVALHO, G. M. de. Levantamento dos resíduos gerados pela construção civil na cidade do Rio de
Janeiro (Tese de Conclusão de Curso). Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 99 p., 2017.

[32] RIO DE JANEIRO (MUNICÍPIO). Lei no 4.696 de 3 de dezembro de 2008. Dispõe sobre objetivos, instrumentos,
princípios e diretrizes para a gestão integrada de resíduos sólidos no Município do Rio de Janeiro e dá outras
providências. Rio de Janeiro/RJ: Câmara Municipal do Rio de Janeiro, 2008.

[33] RIO DE JANEIRO (MUNICÍPIO). Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos – PMGIRS da
Cidade do Rio de Janeiro (2017-2020). Rio de Janeiro/RJ: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 2016.

[34] SCHUELER, A. S. de; KZURE, H.; RACCA, G. B. Como estão os resíduos urbanos nas favelas cariocas? urbe.
Revista Brasileira de Gestão Urbana [online], v. 10, n. 1, p. 213–230, 2018. doi:10.1590/2175-3369.010.001.ao15.

[35] COMITÊ INTERSETORIAL PARA A POLÍTICA MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS. Plano de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos da Cidade de São Paulo [online], 456 p., 2014. Disponível em:
<http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/servicos/arquivos/PGIRS-2014.pdf>. Acesso em 12 aug.
2018.

[36] SÃO PAULO (MUNICÍPIO). Decreto no 54.991, de 2 de abril de 2014. Aprova as alterações e consolida o Plano
de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Município de São Paulo (2014/2033). São Paulo/SP: Diário Oficial,
Cidade de São Paulo, 2014.

[37] SÃO PAULO (MUNICÍPIO). Lei no 13.478, de 30 de dezembro de 2002. Dispõe sobre a organização do sistema
de limpeza urbana do município de São Paulo; cria e estrutura seu órgão regulador; autoriza o poder público a delegar a
execução dos serviços públicos mediante concessão ou.... São Paulo/SP: Secretaria de Governo Municipal, 2002.

[38] KLEIN, F. B.; GONÇALVES-DIAS, S. L. F. Os resíduos da construção civil e os limites das políticas públicas de
prevenção à deposição irregular no Município de São Paulo. In: ENGEMA - Encontro Internacional sobre Gestão
Empresarial e Meio Ambiente. Anais... p. 1-16, 2016.

[39] KLEIN, F.B.; GONÇALVES-DIAS, S. L. F. A deposição irregular de resíduos da construção civil no município de
São Paulo: um estudo a partir dos instrumentos de políticas públicas ambientais. Desenvolvimento e Meio Ambiente
[online], v. 40, p. 483–506, 2017. doi:10.5380/dma.v40i0.47703.
[40] SCHNEIDER, D. M.; PHILIPPI JR., A. Gestão pública de resíduos da construçao civil no município de São Paulo.
Ambiente Construído [online], v. 4, n. 4, p. 21–32, 2004. ISSN 1678-8621. Disponível em:
<seer.ufrgs.br/ambienteconstruido/article/view/3571>. Acesso em 12 aug. 2018.

[41] VITÓRIA. Plano Municipal de Saneamento Básico de Vitória – ES (PMSB). Relatório do Produto 6: Resumo
do Plano Municipal de Saneamento Básico. Vitória/ES: Prefeitura Municipal de Vitória, Secretaria Municipal de
Obras – SEMOB, 2015.

[42] VITÓRIA. Plano Municipal de Saneamento Básico de Vitória – ES (PMSB). Relatório do Produto 3:
Prognóstico e alternativas para dos serviços de saneamento básico. Objetivos e metas. Vitória/ES: Prefeitura
Municipal de Vitória, Secretaria Municipal de Obras – SEMOB, 2015.

[43] NASCIMENTO, P.; JESUS, L. A. N. de. Avaliação da sustentabilidade em canteiros de obras: um estudo na
Grande Vitória - ES. Revista de Engenharia Civil IMED [online], v. 3, n. 2, p. 54–70., 2016.Disponível em:
<http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/1531/1/Dissertacao_Juliana_Gehlen.pdf>. Acesso em 12. aug. 2018.
CONTRIBUIÇÕES PARA A UTILIZAÇÃO DE ENERGIA GEOTÉRMICA
NO BRASIL

Adriana Coelho Vieira1, Brunno Daibert Andrès2, Luis M. Ferreira Gomes3, Peter Kallberg4
1
UFJF – UBI, Juiz de Fora, Brasil, adriana.vieira@engenharia.ufjf.br
2
UFJF – UBI, Juiz de Fora, Brasil, brunno.daibert@engenharia.ufjf.br
3
UBI, Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal, lmfg@ubi.pt
4
Sylvander Trading Lda, Estocolmo, Suécia, peter.kallberg@sylvander.pt

Resumo: Existe um cenário estabelecido em que a necessidade de se aumentar a participação das


fontes de energia renováveis na composição da matriz energética mundial para fomentar um
desenvolvimento económico e social sustentável, em estrito respeito ao meio ambiente, bem como
de elemento atenuante para as alterações climáticas, confronta-se com a pressão da demanda pelos
usos de recursos naturais gerada pelo inerente crescimento da população mundial. Nesse âmbito e
no intuito de melhor satisfazer o binómio do desenvolvimento económico social e proteção do meio
ambiente, resta enaltecida aquela fonte de energia devida ao calor proveniente do interior da terra, a
geotermia. Para além de ser renovável, limpa e possuir restritos impactos ambientais, a energia
geotérmica apresenta uma taxa de disponibilidade ao dispor durante 24 horas por dia
(ininterruptamente) ao longo de todo o ano. Nessa essência, o presente trabalho depois de uma
breve referencia sobre a necessidade de energias renováveis, apresenta alguns aspetos básicos
concetuais e técnicos sobre a energia geotérmica, para numa fase seguinte se dedicar ao potencial
geotérmico do Brasil, com apresentação sintética das pricipais utilizações. No fim, tecem-se
algumas considerações finais no sentido de se incentivar e incrementar a exploração e utilizaçao da
energia geotérmica no Brasil.

Palavras-chave: energia renovável, geotermia, eletricidade, usos geotérmicos diretos, Brasil

Abstract: Into the perspective to increase the renewable energy sources in the composition of the
global energy matrix for sustainable economic and social development, in strict respect for the
environment, as well as a mitigating element for climate change, is confronted with the pressure of
demand by resources generated by the growth of the world population. In this context and in order
to improve the economic and social in balance with the environment, come to light the source of
energy due to the heat coming from the interior of the earth, geothermic energy. In addition, beyond
the fact to being renewable, clean and with restricted environmental impacts, it has a maximum
energy availability rate of up to 24 hours a day (uninterrupted) throughout the year. In this essay,
the present work, after a brief reference on the need for renewable energies, presents some basic
conceptual and technical aspects about geothermal energy, in a next phase to focus on the
geothermal potential of Brazil, with a synthetic presentation of the main uses. In the end, some final
considerations are made in order to encourage and increase the exploration and utilization of
geothermal energy in Brazil.

Keywords: renewable energy, geothermal energy, electricity, direct geothermal uses, Brazil.
1. INTRODUÇÃO
Mesmo em um cenário de baixa fertilidade, a presente taxa de crescimento da população mundial
(Tabela 1) permite estimar que no ano de 2050 existirão 9,8 mil milhões de pessoas [1], o que
orienta para não haver qualquer tendência de diminuição ou manutenção na atual demanda por
energia para atender a todas as necessidades dessas pessoas.
Tabela 1 - Perspetiva da evolução da população nas várias regiões do mundo ao longo do tempo [1]
População (Milhões)
Região
2017 2030 2050 2100
Mundo 7 550 8 551 9 772 11 184
África 1 256 1 704 2 528 4 468
Ásia 4 504 4 947 5 257 4 780
Europa 742 739 716 653
América Latina e Caraíbas 646 718 780 712
América do Norte 361 395 435 499
Oceania 41 48 57 72

Em adição, de forma conjunta à necessidade crescente por energia para atender à população
mundial, existe também importante questão da necessidade de redução da emissão de gases que
causam o chamado “efeito estufa”. Os temas têm sido alvo de discussão nos meios acadêmico e
científico há várias décadas, mas ganharam repercussão mundial e contorno de cooperação entre as
diversas nações a partir da Cimeira do Verão de 1992, também chamada “Eco-92” ou “Rio 92”,
realizada na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. A cimeira produziu como resultado o documento
intitulado de “Agenda 21” no qual cada país participante se comprometeu a refletir e envolver todos
os setores de sua sociedade no estudo de soluções para os problemas resultantes das alterações
climáticas e socioambientais nele expressos. Nesse âmbito houve consenso no que tange à
necessidade da diminuição na emissão de gases com efeito estufa e, para tal efeito, não se poderia
ter um desenvolvimento sustentável sem o uso de fontes de energia renováveis. Nesse sentido, ficou
estabelecido o objetivo de cada país formular programas nacionais para o desenvolvimento de
energias renováveis em vários setores: solar, hídrico, eólico, geotérmico e de biomassa [2].
De qualquer modo enfatiza-se que mesmo as fontes de energia renováveis sendo em sua maioria
consideradas limpas ou que não causam poluição ambiental, é facto que não se pode dizer que
deixem de causar quaisquer impactos ao meio ambiente. Por exemplo, uma central hidroelétrica
quando de sua implementação e operação, por vezes demanda a constituição de grande reservatório
e extenso troço de rio com caudal reduzido afetando os ecossistemas existentes em nível de macro e
micro-habitat. Uma segunda observação deve ser colocada no sentido de que quanto mais fiável e
constante é a disponibilização da energia, maior é a segurança de uma sociedade na sua utilização
para fomento de seu desenvolvimento e menor é a dependência de fontes complementares. Essa
segunda consideração é devida em virtude de a maioria das fontes possuir “gargalos” que afetam
sua pronta disponibilidade e que podem ser, por exemplo, devido a fatores hidrológicos sazonais no
caso de aproveitamentos hidráulicos ou intermitência dos ventos no caso de eólicas.
Das fontes de energia anteriormente mencionadas, a geotérmica é uma das que mais se destaca por
conseguir colidir com os interesses da proteção ao meio ambiente (limpa e renovável) e prover
fiabilidade no sentido da disponibilidade da energia necessária a servir como alicerce para o
desenvolvimento económico e social, pois podem funcionar 24 horas por dia sem problemas de
intermitência.

2. ASPETOS CONCETUAIS E TÉCNICOS


Preliminarmente e de maneira sucinta pode-se indicar que a energia geotérmica é aquela extraída a
partir da energia térmica do interior do planeta. Para aquela energia ser extraída tem que estar
presente num fluido, e por isso há vantagem em explorar sistemas aquíferos com águas subterrâneas
naturalmente quentes, que por vezes, tem grandes temperaturas.
Segundo HAMZA [3], o calor interno da Terra é uma das principais fontes de energia ao alcance
da sociedade moderna. As estimativas atuais indicam que o fluxo de calor geotérmico equivale a
cerca de cem vezes o consumo energético global anual. Salienta-se que cerca de 99% da massa da
Terra tem temperatura superior a 1000°C e menos que 0,1% está mais fria que 100°C. O centro da
Terra terá temperaturas entre 7300 e 8000°C, e a fronteira núcleo-manto terá 4000°C, ou mais [4].
Verifica-se, em termos médios, na crosta continental a temperatura aumenta em profundidade, cerca
0,033ºC/m [5]. Se aquele gradiente se verificar num local onde se esteja a efetuar uma sondagem,
serão de esperar, por exemplo, aos 100m um acréscimo de 3ºC, aos 1000m um acréscimo de 33ºC e
aos 5000m um acréscimo de 165ºC. De qualquer modo, salienta-se que há muitos lugares onde o
gradiente geotérmico é superior àquele valor [6]. Portanto, à partida há muita energia disponivel;
será mesmo uma questão de efectuar perfurações, para a conseguir ir buscar. De qualquer modo
salienta-se que há ainda muitos lugares, como acontece no Brasil, que mesmo à superficie ocorrem
nascentes de água quente com grande caudal.
A geotermia pode ser analisada sob vários pontos de vista: energético, natural (geológico),
terapêutico (termalismo), turístico, cultural, económico e ainda ambiental. É sob o ponto de vista
energético que interessa ao presente trabalho.
A geotermia sob o ponto de vista energético pode ser organizada em três grandes grupos,
dependendo da temperatura, T, do fluido de base que transporta o calor, de acordo com o seguinte:
i) a Alta Entalpia (T >100ºC), com a possibilidade de produção de energia eléctrica; ii) a Baixa
Entalpia (20ºC<T<100ºC), com a possibilidade de aproveitamentos vários, normalmente em
cascata, com o uso direto do calor da água; e a Muito Baixa Entalpia (T < 20ºC), com o uso da
“bomba de calor” em especial na climatização de edifícios, quer em aquecimento quer em
arrefecimento do interior de edifícios.
O limite de temperatura entre a Baixa e a Alta Entalpia, ainda há poucos anos era considerado na
temperatura de 150ºC, no entanto registou-se aquela fronteira, pois já está consolidada a tecnologia
com turbinas do tipo Organic-Rankine-Cycle (ORC), que permite produzir eletricidade por volta de
100ºC. A situação mais corrente para produzir eletricidade usa o fluido a partir de captações
instaladas em reservatórios de água muito quente ou vapor de água. Aspetos clássicos sobre a
produção de eletricidade a partir de fontes geotérmicas poderão observar-se na vasta bibliografia
sobre o assunto, nomeadamente nos artigos do tópico “Power Generation“ do último congresso
mundial de geotermia que ocorreu em 2015 na Autrália, merecendo referencia por exemplo os
trabalhos de BERTANI [7] , HUANG [8] e LI, WANG, ZHU, FU e HU [9].
Entretanto com uma tecnologia avançada em que usa uma solução “plug and play” que inclui
permutadores de calor, bombas, turbinas e conversores/inversores, entende-se ser promissora pois
segundo os elementos disponíveis é possível produzir eletricidade a partir de água quente desde
70ºC [10]. A Figura 1 apresenta as componentes principais e esquemas de princípio, daquele
sistema, sendo de salientar que se necessita no essencial de apenas três conexões: uma fonte de
calor (pode ser um furo de água subterrânea com água disponível a temperaturas superiores a 70ºC),
uma fonte de refrigeração (por exemplo, uma torre de resfriamento ou água de um rio, lago ou mar)
e um cabo de alimentação para a sua placa principal. É uma solução compacta, e opera a baixa
pressão (2,5 bar). O design modular faz com que seja facilmente escalável a partir de 150 kW de
potência e até vários megawatts para instalações maiores. O sistema pode ser adaptado para
capacidade máxima enquanto o design modular garante eficiência ideal, mesmo com carga parcial.
Os módulos são automaticamente ligados ou desligados para combinar a energia térmica de entrada
quando houver flutuação na fonte de calor. Podem desta maneira ser implementadas centrais
geotérmicas compactas e modulares. Esta tecnologia é já usada comercialmente com sucesso em
por exemplo América do Norte, Japão, Suécia e na Islândia (o pais mais avançado de energia
geotermia).
Ainda no âmbito da produção de eletricidade, há as situações de quando os maciços rochosos sendo
secos, mas tendo gradientes geotérmicos favoráveis, pode usar-se a tecnologia do tipo HDR (Hot
Dry Rock). Estes são aproveitamentos geotérmicos em “reservatórios de rocha quente e seca“, onde
inicialmente não havendo água, mas sendo injetada por um furo a profundidades elevadas (4 a 5km)
e recuperada por outro, pode levar a aproveitamentos interessantes no domínio da alta entalpia. Um
importante exemplo em curso, desde 1987, ocorre em Soultz-sous-Forêts na Alsácia, no ‘graben’ do
Reno (Figura 2). Em 2001, começou a ser construída uma estação piloto com três furos de cerca de
5000m, sendo um de injeção e dois de produção [11].
Em relação ao uso direto de energia geotérmica, com tempetaruras entre 20 e 100ºC, é um dos mais
antigos, mais versáteis e também a forma mais comum de utilização de energia geotérmica.
Elementos históricos sobre aplicações geotérmicas em uso directo estão bem documentados para
mais de duas dezenas de países em “Stories from a Heat Earth – Our Geothermal Heritage [12],
com referências sobre utilizações geotérmica desde há mais de 2000 anos. Elementos recentes sobre
o ponto de situação em termos mundiais foram apresentados por LUND e BOYD [13]; na Figura 3
apresenta-se os diferentes usos diretos e sua distribuição em termos percentuais, sendo de referir
que são as aplicações em banhos e natação (Termas, Balneoterapia, Espaços aqualúdicos, Piscinas)
que ocorrem em maior percentagem. Neste tipo de usos diretos, ocorrem os designados
aproveitamentos em cascata, ou seja, retira-se o calor da água inicial, para ser transferido em várias
fases e em diferentes aplicações. Um exemplo, é o que se passa nas Termas de São Pedro do Sul
(Portugal), cujo esquema de princípio é apresentado na Figura 4, em que a água termal inicialmente
a 67ºC, perde energia em permutador água termal x água normal, e vai ser usada no termalismo;
entretanto aquela energia transferida para um fluido (água normal) em circuito fechado, fica a cerca
de 60ºC, aquece o ambiente do interior de edifícios, e no seguimento, já menos quente (cerca de
50ºC) aquece as águas sanitárias desses mesmos edifícios, para ficar com cerca de 40ºC e regressar
à origem, iniciando novo ciclo.
a)

b)

Água geotérmica: Água qualquer


T = 70-120ºC T = 0-35ºC

c)

Figura 1 - Componentes principais e esquemas de princípio de sistemas “plug and play” que permitem produzir eletricidade a
partir de água quente disponível a temperaturas desde 70ºC [7]
i)

ii)

Circulação de água termal:


(1) - Extração de água quente por dois poços de
produção;
(2) - Superfície de transferência através de um
permutador de calor (a) de água quente do
circuito primário (b) e em vapor num circuito
secundário (c) que conduzido para uma turbina
(d) produz eletricidade;
(3) - Reinjeção da água refrigerada até 5000 m de
profundidade pelo poço central;
(4) - Circulação de água nas fraturas e
reaquecimento em contacto com a rocha quente
(200ºC).
iii)

Figura 2 - Central Geotérmica de Soultz-sous-Forêts na Alsácia, do tipo HDR (Hot Dry Rock): i) sua localização; ii)) imagem real
da Central Geotérmica; iii) esquema de princípio da estação piloto da central geotérmica [11]
Aquecimento de ambiente

Aquecimento de estufas

Aquacultura

Secagem de Produtos Agrícolas

Usos Industriais

Banhos e Natação

Resfriamento / derretimento da neve

Outras

Figura 3 - Diferentes usos diretos em aproveitamentos geotérmicos no mundo em 2015 (sem bombas de calor geotérmicas) [13]

Figura 4 - Esquema de princípio dos sistemas exploração/produção de energia geotérmica no Polo das Termas de São Pedro do Sul
(Portugal) e em particular no Hotel do Parque [14]

Nesta fase é de referir os sistemas de trigeração, que a partir de fontes de água quente natural, com
temperaturas muito inferiores a 100ºC, consegue-se climatizar em frio, usando refrigeradores de
adsorção, que são ativados termicamente e, portanto, têm um consumo de eletricidade
insignificante. A refrigeração por adsorção é uma alternativa de climatização muito económica e
ecológica. Sobre a situação de usar máquinas de refrigeração termicamente ativadas com energia
geotérmica, para fins de climatização em frio pode ser consultada em ANASTASIOUA et al. [15].
O uso da geotermia de muito baixa temperatura (T < 20ºC), é conhecido tradicionalmente pelo uso
de bombas de calor geotérmicas (BCG) e mais recentemente também por Geotermia Superficial
(GS). A utilização de GS, como tecnologia, baseia-se no facto da temperatura do solo ser constante
(cerca de 13ºC a 17ºC dependendo da região e da profundidade). Captando-se essa temperatura
constante do solo, para um fluido a circular numa conduta, que evolui até à bomba de calor (Figura
5). A bomba de calor tem como missão receber aquela temperatura e função do objetivo aumenta-a
ou diminui-a, para que um outro fluido evolua até ao local de consumo, em aquecimento ou
arrefecimento. Pode considerar-se que estes sistemas são constituídos, basicamente, por três
principais componentes: a captação (solo), a bomba de calor, e a emissão (aproveitamento). A
captação pode ser de várias maneiras, como se mostra na Figura 5; podem usar-se sistemas de tubos
geralmente de polietileno colocados na horizontal, na vertical, ou até em fundações de edifícios
quer em estacas, quer até associadas a sapatas contínuas de grandes muros de suporte, usando um
fluido que pode ser água glicolada ou um fluido frigorígeno que circula continuamente em circuito
fechado; a captação pode ainda ser de água subterrânea, e esta ser usada diretamente a circular no
tubos até à bomba de calor e depois de transferir o seu calor, ser reinjetada no sistema aquífero.
A terceira componente, a emissão, permite a produção de águas quentes sanitárias, e no caso de
climatização em aquecimento pode ser assegurado através da instalação de piso radiante,
radiadores, e ventilo-convectores; no caso de climatização em arrefecimento devem-se usar os
ventiloconvectores devido a eventuais condensações.

i)

iv)
ii)

v)

iii)

Figura 5 - Esquemas de princípio dos sistemas exploração/produção de energia geotérmica no âmbito da Geotermia Superficial
(com T < 20ºC) para climatizar edifícios (aquecer e/ou arrefecer) e aquecimento de águas sanitárias: i) esquema de principio geral,
evidenciando a bomba de calor ao centro, o sistema de captação de calor do solo à esquerda e o sistema de transferência de energia
para o local de consumo à direita; ii) a v) sistemas de captação de calor do solo [16]
3. ENERGIA GEOTÉRMICA NO BRASIL

3.1. Elementos sobre o Potencial Geotérmico


O histórico de investigações geotérmicas no Brasil iniciou-se com a descoberta da lagoa de
Pirapetinga, no Município de Caldas Novas (Goiás), por Sebastião Marinho, em 1545. O ribeirão
das Caldas Velhas, hoje no Município de Rio Quente, também em Goiás, foi descoberto em 1722
por outro bandeirante, Bartolomeu Bueno da Silha. No entanto, as investigações sistemáticas sobre
a natureza científica dessas e de outras fontes geotérmicas no País foram iniciadas somente após a
década de 1960, mas grande parte dos dados geotérmicos foram obtidos nas últimas três décadas
como parte de projetos de pesquisas geofísicas e de exploração de recursos minerais realizados por
empresas estatais, universidades e institutos de pesquisa. Podem-se citar os dados coletados, por
exemplo, pela Petrobras, Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), Universidade de
São Paulo (USP), Universidade da Bahia, pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE),
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo e Observatório Nacional [3].
No Brasil as águas quentes são encontradas em vários estados, mas as mais divulgadas atualmente
[17] são as de Goiás localizadas no município de Caldas Nova e as que estão na “Pousada do Rio
Quente”. Segundo a pesquisa do médico Ruy Camargo [17] é a região Centro-Oeste a que mais
possui Nascentes de temperatura superior a 38ºC; em Goiás três localidades possuem várias fontes,
sendo que só na da Lagoa de Pirapitinga, Caldas Nova, há 9 fontes de 40 a 57ºC; já em Mato
Grosso o referido autor aponta 5 localidades; outros estados como Bahia, Minas Gerais, Pará,
Paraná, Pernambuco e Santa Catarina possuem águas com temperaturas superiores a 38ºC.
Segundo DORO [17], o Código de Águas Minerais Brasileiro (Dec.-Lei 7.841 de 8 de agosto de
1945) apresenta a classificação das águas minerais, quanto à temperatura (T), de acordo com o
seguinte: I) Fontes Frias se T< 25ºC; II - Fontes Hipotermais, se 25 < T < 33ºC; III - Fontes
Mesotermais, se 33 < T 36ºC; IV - Fontes Isotermais, se 36 < T < 38ºC (temperatura do corpo
humano); V – Fontes Hipertermais, se T>38ºC. Estes elementos de nascentes com temperaturas
modestas, ligadas à partida mais ao termalismo, têm muito interesse pois não só podem permitir as
várias aplicações geotérmicas diretas, na indústria em vários setores, como a produção de águas
quentes sanitárias e a trigeração em zonas turísticas, mas também porque nesses locais onde
ocorrem, essas águas podem ser captadas a grandes profundidades e aumentar a temperatura das
mesmas, viabilizando até a produção de eletricidade.
Recentes trabalhos que merecem referência sobre aspetos de geotermia no Brasil, foram
apresentados no Congresso Mundial de Geotermia, que decorreu em 2015 na Austrália, por
HAMZA e VIEIRA [18] e VIEIRA, GUIMARÃES e HAMZA [19]. Segundo HAMZA e VIEIRA
[18] há trabalhos de autores anteriores a identificar nascentes termais em cerca de 400 locais no
Brasil, com temperaturas na faixa de 30 a 50ºC. Em muitos casos, a análise química das águas
daquelas nascentes indicam que partes de fluidos nas nascentes são uma mistura de água com
origem em reservatórios profundos com outras águas mais superficiais.
Na Figura 6 apresenta-se a localização dos principais sistemas de nascentes termais do Brasil e
relação com as suas principais unidades geológicas e aplicações. Na Tabela 2 apresentam-se as
caraterísticas fundamentais em termos de sensibilidade energética como o caudal, temperatura e
ainda a potência térmica dos principais casos do Brasil, segundo HAMZA e VIEIRA [18].
Evidenciam-se as singularidades de ocorrerem casos com caudais espetaculares pelos seus elevados
valores.
Nesta fase, sobre o potencial geotérmico do Brasil, merecem referência os estudos muito avançados
que têm vindo a ser desenvolvidos há alguns anos e que levaram à publicação dos mapas
apresentados na Figura 7, que apresentam as temperaturas excessivas estimadas de recursos
geotérmicos a profundidades de 3 km e 6 km, mostrando que há locais com muito potencial para a
exploração de energia geotérmica em produção de eletricidade. Em relação à produção de
eletricidade é de mencionar ainda que as ilhas Brasileiras atlânticas de Fernando de Noronha e
Trindade apresentam elevado potencial para produção de eletricidade.

Paleozoic

Grupo de Nascentes

BRT - Balneares, Recreação e Turismo


PSI - Potencial para aquecimento de
ambiente e uso industrial
TDB - Termas e águas de Engarrafamento

Figura 6 - Localizações dos principais sistemas de nascentes termais no Brasil e relação com as suas pricipais unidades geológicas e
aplicações [18]
Tabela 2 - Caracteristicas das principais sistemas de Nascentes Termais do Brasil [18]
Localidade Coordenadas Caudal Temperatura Potência
Latitude Longitude (L/s) (ºC) (MWt)
Cachoeira Dourada 18.4920 49.4750 139 40 6
Caldas Novas 17.7478 48.6258 333 57 35
Itajá 19.1333 51.6000 400 38 15
Rio Quente 17.7478 48.6258 1667 42 70
General Carneiro 15.7000 52.7667 152 46 10
Águas do Veré 25.8833 52.9167 694 38 23
Piratuba 27.4200 51.7720 194 38 7
Cornélio Procópio 23.1747 53.6469 14 39 2
Araçatuba 21.2090 50.4330 417 48 31
Fernandópolis 22.8400 50.2460 14 48 2
Jales 20.2667 50.5500 14 59 2
Paraguaçu Paulista 22.4130 50.5760 14 61 2
Presidente Epitácio 21.7630 52.1160 28 78 6
Presidente Prudente 22.1260 51.3890 56 63 8
São José do Rio Preto 20.8156 49.3858 28 45 2
Taubaté 23.0250 45.5586 28 48 2
Total 223

Figura 7 - Distribuições de temperaturas excessivas de recursos geotérmicos a profundidades de 3 km (painel esquerdo) e 6 km


(painel direito) [18]

3.2. Utilizações de Energia Geotérmica no Brasil


Sobre a utilização de energia geotérmica na produção de eletricidade é uma situação que atualmente
não acontece no Brasil, no entanto com o avanço da tecnologia e os estudos minuciosos já bastante
avançados disponíveis, entende-se que será para muito breve essa realidade. Será uma questão do
governo brasileiro em especial criar incentivos financeiros, com apoio até, eventualmente de fundos
internacionais, devido há necessidade de minorar os problemas globais ambientais pela necessidade
do planeta mudar de paradigma em relação ao uso excessivo de combustíveis fósseis. Esses apoios
financeiros, devem ser numa fase inicial canalizados para prospeções mecânicas de grande
profundidade associadas a estudos sobre modelos geohidráulicos concetuais, em especial nas zonas
onde já há nascentes termais.
Sobre o uso direto, segundo VIEIRA, GUIMARÃES e HAMZA, em 2015 [19], o Laboratório
Geotérmico do Observatório Nacional Brasileiro compilou informações sobre os principais sistemas
geotérmicos explorados comercialmente no Brasil. Os usos foram organizados nos seguintes
grupos: BRT – Balneares, Recreação e Turismo; ii) PSI - Potencial para aquecimento ambiental e
uso industrial; iii) TDB - Termas e águas de Engarrafamento. Os vários locais considerados são
discriminados na Figura 6 e os principais são listados com suas caraterísticas e potencial térmico na
Tabela 2. Enfatiza-se que a concentração de nascentes termais é relativamente alta nas partes sul e
central do Brasil, em comparação com as partes do norte. Na referida Figura 6, são também
salientados os locais de uso industrial de água termal.
Os sistemas de nascentes termais pertencentes ao grupo BRT têm uma potência térmica total
estimada em 16 MWt e um uso anual de energia de cerca de 189 TJ[19]; as localidades dessas
nascentes termais tornaram-se atrações turísticas populares nas últimas décadas; atualmente esses
zonas do Grupo BRT de pequena escala são visitadas por cerca de 1,5 milhão de turistas por ano.
Isso, por sua vez, estimula considerável atividade económica local. As aplicações nesses espaços
aqualúdicos e centros turísticos é no entretenimento e na prática de programas para revitalizar o
corpo em ambiente relaxante.
Sistemas do grupo PSI têm uma capacidade térmica total estimada de 343 MWt e um consumo
anual de energia de cerca de 6.291 TJ [19]; atualmente os recursos térmicos nesses locais estão
sendo usados quase exclusivamente para banhos e recreação, apesar de seu considerável potencial
para aquecimento ambiental e uso industrial. Salienta-se que o uso industrial da água termal tem
sido tentado apenas em algumas localidades. Na cidade de Taubaté, na água geotérmica do sudeste
paulista a 48ºC, foi utilizada, durante as décadas de 1970 e 1980, para processamento industrial de
madeira (pré-aquecimento antes de descascar). Em Cornélio Procópio no Estado do Paraná, a água
geotérmica a 50ºC é bombeada de um furo com 950 metros e utilizada, desde 1980, como água pré-
aquecida para caldeiras, na produção industrial de café solúvel.
Os sistemas do grupo TDB têm uma capacidade térmica total estimada de 3 MWt e um consumo
anual de energia de cerca de 56 TJ [19]; a exploração de água mineral não térmica para fins
terapêuticos é bastante difundida. Segundo estimativas recentes, receitas geradas pela indústria de
água mineral constituem um componente significativo da economia em muitos municípios.
Sobre o uso de trigeração, par afazer arrefecimento ambiental no interior de edifícios, a partir de
água geotérmica quentes, não há nenhuma informação que isso aconteça no Brasil, no entanto
entende-se ser uma área de muito interesse a explorar no futuro, em especial nas zonas onde
ocorrem muitos hotéis e centros termais e aqualúdicos, desde que se disponibilize água termal
quente a temperaturas superiores a 70ºC; será uma questão uma vez mais de se investir em
prospeção mecânica de modo a captar água a profundidades adequadas.
Sobre o uso de Geotermia Superficial ou de Bombas de Calor, esta tecnologia apresenta-se ainda
incipiente no Brasil [20]. Há expectativas para que nos próximos anos a utilização deste tipo de
tecnologia se torne comum em condomínios brasileiros [21]. Entende-se que deva ser dada
particular atenção ao uso da mesma no domínio do resfriamento do interior de edifícios.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para atender à crescente demanda energética pressionada pelo aumento da população mundial e na
busca do desenvolvimento socioeconómico em estrito e concomitante respeito ao meio ambiente, a
energia geotermica é uma das que mais se destaca frente as demais energias renováveis por
conseguir colidir com os interesses da proteção ao meio ambiente (limpa e renovável) e prover
fiabilidade no sentido da disponibilidade da energia necessária a servir como alicerce para o
desenvolvimento económico social (pode funcionar 24 horas por dia sem problemas de
intermitência).
Conforme identificado existem várias tecnologias já desenvolvidas que suportam a exploração
dessa fonte energética em várias utilizações, desde a produção de eletricidade mesmo quando a
temperataura do fluido geotérmico é inferior a 100ºC, a aproveitamentos vários com usos
diretos/indiretos em cascata, podendo numa primeira fase, por exemplo com temperaturas na ordem
dos 70ºC, climatizar edificios, mesmo em refrigeraçao usando os sistemas de trigeração, a
aquecimentos de águas sanitárias, já com temperaturas na ordem dos 50ºC, e de seguida usos em
balneoteria/termalismo e até outros mais a jusante com aquecimento em estufas (agrícolas,
aquacultura, hidroponia entre outros); por fim, enfatiza-se a existencia de tecnologia de sistemas de
geotermia de muito baixa temperatura (inferior a 20ºC), também ditos de Geotermia Superficial ou
sistemas de Bombas de Calor, que mesmo em terrenos secos, com circulação de fluidos em tubos no
solo na horizontal, na vertical ou até associados a fundações de edificios, permitem oferecer grandes
contributos na poupança de energia para climatizar o interior de edificios, mesmo em refrigeraçao
usando termoventiloconvectores, e contribuindo ainda para aquecimento das águas sanitárias.
O Brasil tem imenso potencial, sendo a prova disso a particularidade de que as nascentes
geotérmicas são as principais atrações do público no Brasil, pois contribuem para o turismo local e
regional, como são o caso de Caldas Novas (Goiás), Rio Quente (Goiás), Foz do Iguaçu (Paraná),
Barra das Garças (Mato Grosso), Termas de Piratuba (Santa Catarina), Araxá (Minas Gerais),
Olímpia, Águas de Lindóia (São Paulo), Águas de São Pedro (São Paulo), Nova Prata (Rio Grande
do Sul), Águas Mornas (Santa Catarina) de entre outros. São locais que já atraem turismo de todo o
mundo, e essa atração irá continuar a crescer sem nenhuma dúvida.
Naquelas áreas e em imensas outras pelo extenso Brasil, em especial há imenso potencial de
aumentar a temperatura daqueles sistemas de nascentes termais, com captações profundas,
potenciando os aproveitamentos em cascata, de modo a beneficiarem os vários setores em
simultâneo, ou seja, não só os hotéis e edifícios urbanos próximos com a sua climatização, o
aquecimento das suas águas sanitárias, a balneoterapia, e ainda várias eventuais industrias que tirem
partido dos níveis de temperaturas mais baixas. Será uma questão de haver apoios financeiros quer
pelos próprios privados, governo do Brasil, ou até instituições internacionais, visto o interesse
mundial de tais lugares e os contributos para o meio ambiente global na minimização do uso de
energias fósseis.
Aqueles apoios devem ir no sentido não só de novas captações, com sondagens mecânicas
profundas, como ainda na implementação das tecnologias de aproveitamentos geotérmicos no
sentido de a sociedade criar contacto com estes sistemas que afinal a maioria deles já são de uso
corrente em alguns países do mundo.
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8p. 2017.
CORRELAÇÃO ENTRE
NTRE A VELOCIDADE DE PULSO ULTRASSÔNICO E
CONDUTIVIDADE
ONDUTIVIDADE TÉRMICA EM ARGAMASSAS

Correlation
relation between ultrasonic pulse velocity and thermal conductivity of cement
cement-
based composites
Júlia Castro Mendes 1, Rodrigo Rony Barreto2, Laís Cristina Barbosa Costa 3, Guilherme Jorge
Brigolini Silva4, Ricardo André Fiorotti Peixoto5
1
Universidade Federal de Ouro Preto
Preto, Ouro Preto, Brasil, julia.mendes@ufop.edu.br
2
Universidade Federal de Ouro Preto
Preto, Ouro Preto, Brasil, rodrigobarretoo@outlook.com
3
Universidade Federal de Ouro Preto
Preto, Ouro Preto, Brasil, lais.cristina.costa@gmail.com
4
Universidade Federal de Ouro Preto
Preto, Ouro Preto, Brasil, guilhermebrigolini@ufop.edu.br
5
Universidade Federal de Ouro Preto
Preto, Ouro Preto, Brasil, fiorotti.ricardo@gmail.com

Resumo: Ao longo dos últimos anos, o setor da engenharia civil vem buscando adotar medidas
sustentáveis; através, por exemplo, da seleção e uso de materiais com reduzida condutividade
térmica nos sistemas de vedação. Esta propriedade é diretamente relacionada com a composição das
matrizes cimentícias,, juntamente com seu sistema de poros. Paralelamente, esses mesmos fatores
influenciam a velocidade de pulso ultrassônico (VPU) das matrizes.. Neste sentido, o presente
trabalho avalia a correlação entre a condutividade térmica e VPU. Para este propósito,
propósito foram
analisados três traços de argamassas com areia natural de rio, cimento e cal hidratada (1:3, 1:1:6 e
1:2:9); com três dosagens de aditivo incorporador de ar (0%, 0.05% e 0.5%). Um coeficiente de
determinação satisfatório (R² > 0,
0,9) foi obtido entre a condutividade térmica e a velocidade de pulso
ultrassônico das argamassas. A principal vantagem deste método é a velocidade de medição e
portabilidade do equipamento. Isso permitiria uma rápida avaliação in situ da cond
condutividade térmica
das alvenarias das edificações.

Palavras-chave: velocidade de pulso ultrassônico; condutividade térmica; matrizes cimentícias;


sistema de vedação; sistema de poros.

Abstract: On the past few years


years,, the civil engineering sector has sought to adopt sustainable
attitudes; for example,selecting
selecting and using materials with reduced thermal conductivity in the
building envelope. This property is directly related with the composition of cement-based
composites along with their pore system. In parallel, these same factors influence the ultrasonic
pulse velocity (UPV). In this sense, the present work evaluates the correlation between thermal
conductivity and UPV. For this purpose, we investigated three mortar mi mixes with cement and
hydrated lime (1:3, 1:1:6 and 1:2:9); one type of aggregate (river sand); and three dosages of air
air-
entraining admixture (0%, 0.05% and 0.5%). A satisfactory determination coefficient (R² > 0.9) was
obtained between thermal conductivity and UPV of the mortar. The main advantage of this method
is the speed of measurement and portability of the equipment. This would allow a quick in situ
assessment of the thermal conductivity of building envelopes.

Keywords: ultrasonic pulse velocity, thermal conductivity; cement-based


based composites; building
envelope; pore system.
1 INTRODUÇÃO
A escolha adequada dos materiais é um critério essencial para garantir o desempenho de uma
edificação. Este fator é responsável por aspectos como conforto, durabili
durabilidade
dade e estética, valorizando
a edificação. Além disso, os materiais desempenham um papel fundamental em relação a
sustentabilidade, pois influenciarão na necessidade de aquecimento/resfriamento artificial do
ambiente interno durante todo o ciclo de vida da edificação. Atualmente, as propriedades térmicas
dos materiais de construção são cada vez mais exigidas devido à intensificação do detalhamento do
projeto, ao uso de softwares de simulação energética, à fiscalização das regulamentações contra
incêndios e ao desenvolvimento de novos materiais.
Sabemos que a condutividade térmica das matrizes cimentícias está relacionada a sua morfologia
(principalmente ao seu sistema de poros) bem como a sua composição [1][2][3][4]. Esta
propriedade é inversamente proporcional a porosidade, e consequentemente, está diretamente
relacionada a massaa específica aparente [5][6]. Isto ocorre devido à baixa condutividade térmica do
ar (0.025 W/m·K a temperatura ambiente e livre de convecção
convecção) [7] e ao fenômeno de espalhamento
de fônons[8][9]. De acordo com Smith, et al al. [9], a condutividade térmica de materiais cerâmicos
porosos depende:: (i) a condutividade térmica intríns
intrínseca da fase sólida e (ii) da resistência térmica
devido ao espalhamento de fôno
fônonss nas interfaces (limites). Assim, o tipo de material na fase sólida
e as características microestruturais são fatores importantes para a condutividade térmica resultante
dos compósitos.
ompósitos. Por isso, a distribuição de tamanhos e volumes, a orientação e a interconexão dos
poros são relevantes para a condutividade térmica final da matriz [1][9][6]..
Em geral, as caracterizações físicas e mecânicas de pastas, argamassas e concretos são encontrados
na literatura com relativa facilidade, diferentemente de suas propriedades térmicas. Devido ao alto
custo e limitações técnicas, poucos laboratórios possuem o equipamento necessário e pessoal
treinado para investigar essas propriedades. Assim, o desenvolvimento de métodos rápidos, baratos
e reprodutíveis para avaliar as propriedades térmicas de materiais de construção contribuiria para o
desenvolvimento de novos os materiais e técnicas.
Simultaneamente, a Velocidade de Pulso Ultrassônico (VPU) é um método popular para testes não-não
destrutivos em matrizes cimentícias, devido a sua simplicidade e relação custo
custo-benefício. Diversos
pesquisadores, profissionais e normas em todo o mundo sugerem a VPU para a avaliação de
matrizes cimentícias no tocante à módulo de elasticidade dinâmico, defeitos, homogeneidade e
mudanças nas propriedades com o tempo [10].
A VPU em uma matriz cimentícia é controlada principalmente pelo módulo m de elasticidade e
densidade do material e não pela sua resistência [11]. Reflexão e refração ocorrem quando os pulsos
de ondas interagem com interfaces de materiais com dife diferentes
rentes propriedades acústicas (por
exemplo,, pasta de cimento e ar) [11]. Estes fenômenos, causados pela presença de descontinuidades
geométricas, permitem sua detecção e avaliação. Assim, visto que tanto a VPU quanto a
condutividade térmica podem estar relacionadas à densidade e sistema de poros [12][13][11], a
VPU é um método promissor para estimar indiretamente a condutividade térmica dos materiais.
É importante notar que vários fatores afetam a VPU em matrizes cimentícias;
cimentícias por exemplo: tipo de
cimento e tipo de agregado, relação água/agregados
água/agregados,, fator água/cimento, temperatura e saturação do
concreto [14]. A influência do agregado não pode ser negligenciada [15]. [15] Nem a presença de
misturas [16]. Portanto, o presente trabalho avalia a correlação entre a condutividade térmica e a
velocidade de pulso ultrassônico (VPU).

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Materiais
Para a preparação das argamassas, foram utilizados os seguintes materiais: cimento Portland CPV-
ARI; cal hidratada; agregados miúdos; água potável e um aditivo incorporador de ar (AIA) à base
de Linear Alquil Benzeno Sulf
ulfonato de Sódio (LAS). Os agregados miúdos consistem em areia de
rio natural. As amostras foram coletadas de forma representativa, de acordo com as prescrições
normativas da NBR 10007 [17]
[17]. Antes da mistura, o agregado miúdo foii peneirado na malha # 4
(4,75 mm) e seco em estufa a 105°C.
O cimento Portland de alta resistência inicial foi escolhido por apresentar o menor teor de aditivos
minerais entre os demais tipos de cimento brasileiros. De acordo com a Norma NBR 5733 [18], em
vigor durante o período de realização dos ensaios, este produto contém 95% - 100% de clínquer e
gesso e apenas 0% - 5% filler calcário inerte
inerte. Cal hidratada tipo CH-I foi adotadadevido
adotad ao seu alto
nível de pureza [19]. Finalmente
Finalmente, o AIA baseado em LAS, avaliado em um trabalho anterior [20],
consiste em uma associação de sulfactantes aniônicos entre 6 e 10%10%:: LAS; Linear Alquil Benzeno
Sulfonato de Trietanolamina e Lauril Éter Sulfato de Sódio
Sódio[21]. Duas concentrações de AIA foram
utilizadas: 0,05% e 0,5%, além da argamassa de referência (0%).

2.2 Caracterização dos Agregados


A Fig. 1 mostra a distribuição granulométrica da areia do rio utilizada no presente trabalho. A
distribuição granulométrica foi obtida por peneiramento convencional [22] e difração a laser (na
fração <0,075mm), utilizando um analisador de tamanho de partículas BETTERSIZE 2000
2000.

0%
10%
Porcentagem acumulada

20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
0,001 0,01 0,1 1
Diâmetro das partículas (mm)
Fig. 1 – Distribuição granulométrica do agregado miúdo por peneiramento e difração a laser
A caracterização química foi realizada por fluorescência de raios X (FRX). Observa-se que a areia
do rio compreende principalmente óxidos de silício (59,6%) e alumínio (31,3%). Finalmente, o
módulo de finura [22] e a massa específica aparente e específica do agregado [23] são mostrados na
Tabela1.
Tabela1 – Propriedades físicas dos agregados
Areia de Rio
Massa Específica (g/cm³) 2.65
Massa Específica Aparente (g/cm³) 1.58
Módulo de Finura 0.61

2.3 Preparação das Misturas


Três tipos comuns de argamassa foram produzidas, dois com cimento e cal, traços
traço 1: 1: 6 e 1: 2: 9
(cimento: cal: agregado miúdo); e um sem cal, para fins de comparação, volume de traço 1:3 1:
(cimento: agregado fino).
As argamassas foram produzidas em uma argamassadeira convencional [24]. [24 O procedimento de
mistura inclui 1 minin em baixa velocidade, seguido por 30 s em velocidade alta alta. A relação
água/cimento foi definida como a necessária para que a mistura atinja uma fluidez de 260 ± 10 mm.
A Fig. 2 apresenta os resultados para as relações água/ligantes (a/l) e água/cimento (a/c).
5
Relação água/ligantes (kg/kg)

Relação a/l Relação a/c


4
3,20

2,80

3 2,40
2,05

1,90

1,69
1,60

1,48
1,42

1,31

1,27

2
1,11
1,06
1,06

0,90
0,90

0,78
0,78

0
0.05%

0.05%

0.05%
0.5%

0.5%

0.5%
0%

0%

0%

Fig. 2–Relações
Relações água/ligantes (a/l) e água/cimento (a/c) das argamassas produ
produzidas
zidas com agregado natural com
0%, 0,05% e 0,5% de teor de AIA.

Para cada mistura, foram moldados 4 corpos de prova em forma de placa,, de dimensões 300 × 300
× 50 mm. A cura foi realizada em câmara úmida por 28 dias; temperatura 25 ± 2 ° C e umidade
relativa de 90% ± 5%.
2.4 Caracterização Térmica das Argamassas
A condutividade térmica foi obtida com um medidor de fluxo de calor (HFM) tipo Lambda HFM
436, fabricado pela NETZSCH. Antes do teste, os corpos de prova foram secos
seco em estufa a 80 °C e
pesados a cada 24h até a perda de massa não exceder 0,5% em dois intervalos subsequentes. Este
procedimento procurou nivelar o conteúdo de água livre de todas as placas para o nível mais baixo
possível. O valor final da condutividade térmica foi dado pela média da
dass 4 placas na temperatura
média de 20 °C e diferença de temperatura
temperaturade 10 °C.

2.5 Caracterização Física das Argamassas


No estado endurecido, para determinar a massa específica aparente, o volume foi obtido pela
medição dos corpos de prova com um paquímetro e a massa com balança de precisão. O volume
final foi dado pela média de oito medidas nos quatro lados das placas.
A velocidade de pulso ultrassônico foi obtida usando um aparelho Proceq TICO.
TICO Os transdutores
produzem pulsos de 54 kHz. Uma vez que os corpos dee prova permitiram dado uma maior precisão
[25][26], a VPU foi obtida usando medições diretas longitudinais (Fig. 3).
). O centro de cada placa
foi avaliado, uma vez que esta é a localização medida pelo equipamento HFM HFM. Uma base de
borracha de 20 mm de espessura foi colocada abaixo das pla
placas
cas para evitar o contato
co com a base de
granito. O meio de acoplamento utilizado foi vaselina.

Fig. 3 – Teste de VPU

3 RESULTADOS E DISCUSS
DISCUSSÕES

3.1 Condutividade Térmica


A Fig. 4 apresenta os resultados de condutividade térmica para argamassas com agrega
agregado natural e
teores variáveis de AIA.. A estabilização dos poros promovida pelo AIA aumenta a porosidade total
e afeta a estrutura
rutura dos poros das argamassas [20]. O aumento na porosidade total levou a uma
redução na condutividade térmica, uma relação bem conhecida [27][4][5][6]
[6].
Da mesma forma, o crescente teor de cal promove uma redução da condutividade térmica total para
as argamassas. Este fato é provavelmente devido à alta retenção de água e ao fator a/l promovido
por este ligante aéreo fino. Uma quantidade significativa da água demandada não reagirá dentro das
argamassas, ficando apenas retida pela cal. Depois, esta água irá evaporar lentamente, contribuindo
para a formação de poros e para o refinamento do sistema de poros [28][29]
[29][30].

1,4
1,26
1,13
Condutividade Térmica

1,2
0,98 0,94
1,0
0,82 0,79
0,75
(W/mK)

0,8
0,58 0,55
0,6
0,4
0,2
0,0
0% 0.05% 0.5% 0% 0.05% 0.5% 0% 0.05% 0.5%

Fig. 4– Condutividade térmica de argamassas produzidas com agregado natural com teor de AIA de 0%, 0,05%
e 0,5%.

3.2 Média de VPU e Morfologia


A Fig. 5 apresenta os resultados médios de VPU e massa específica aparente para cada traço de
argamassa. Observa-se
se que a massa específica aparente diminui ligeiramente de argamassas sem
AIA (0%) para aquelas com 0,05% de AIA; por outro lado, há uma diferença pronunciada quando o
conteúdo da AIA é aumentado para 0,5%.
Média VPU Massa específica aparente
3000 2200
Massa específica aparente

2500 2000

2000 1800
VPU(m/s)

(kg/m³)

1500 1600

1000 1400

500 1200

0 1000
0% 0.05% 0.5% 0% 0.05% 0.5% 0% 0.05% 0.5%

Fig. 5 – Média de VPU,, variação média de VPU dentro dos corpos de prova e massa específica aparente média de
argamassas produzidas com agregado natural com teor de AIA de 0%, 0,05% e 0,5%.
Esta redução deve-sese provavelmente aos efeitos do AIA, reduzindo a tensão superficial da água e
estabilizando oss poros do estado fresco ao endurecido [20][31][32]. Além disso, o crescente teor de
cal promove a retenção de água, o que contribui para uma porosidade aumentada e refinada
[33][28][30], como notado nos resultados de condutividade térmica. A diminuição da massa
específica aparente foi mais significativa dentro dos traços de argamassaa (1:3, 1:1:6 e 1:2:9) do que
entre elas. Por sua vez, a VPU apresentou uma diferença mais expressiva entre as misturas de
argamassa e para teor de AIA de 0,5%.
A tendência da VPU se origina do aumento da reflexão e refração que ocorrem quando as ondas
sonoras
oras interagem com as interfaces argamassa / ar [25][11]. Quanto mais interfaces (ou seja,
poros) existem e quanto menor a rigidez da amostra, maior será o tempo de trânsito dos pulsos
ultrassônicos [34][10]. Esses fenômenos explicam o decréscimo da VPU com conteúdo de AIA
(0,5%) e também entre as misturas de argamassa. Uma relação semelhante entre porosidade e VPU
foi observada por Lafhaj, et al.
al.[35] e Lafhaj & Goueygou [36]para
para argamassas,
argamassas e por Punurai, et
al.[37] para pastas de cimento.
É perceptível que para argamassas com 0,05% de AI AIA, a VPU foi semelhante ou menor do que para
as 0% de AIA, apesar de apresentarem,
presentarem, em média, 5% menor densidade aparente. Isso pode ser um
efeito da concentração mais baixa de AIA. De acordo com um trabalho anterior [20] e apoiado por
Łaźniewska-Piekarczyk[38],, Du &Folliard, [32]e Ramachandran [39], o baixo teor de AIA leva a
um refinamento do sistema de poros, evit evitando
ando que os vazios de ar se difundam para bolhas
circundantes maiores. Além disso, a melhoria na capacidade de trabalho promovida pelo AIA leva a
uma redução darelação a/c. Esses dois fatores culminaram em uma matriz mais porosa (como
mostrado pela sua massa sa específica aparente), mas seu sistema de poros refinados não afetou
significativamente sua rigidez (mantendo assim valores semelhantes de VPU).
VPU

3.3 Condutividade Térmica versus Massa Específica Aparente


A Fig. 6 mostra a relação entre a condutividade térmica e a massa específica aparente das
argamassas.. Essas correlações estão de acordo com o relatado na literatura (R> 0,8 ou R²
<0,95)[40][41][42].
1,4
1,2
Condutividade Térmica

R² = 0,80
1,0
(W/mK)

0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
0 500 1000 1500 2000 2500
Massa específica aparente (kg/m³)
Fig. 6 – Relação entre condutividade térmica e massa específica das argamassas

3.4 Condutividade Térmica versus Velocidade de pulso ultrassônico


Quanto à correlação entre a condutividade térmica e a VPU, a Fig. 7 apresenta os resultados
obtidos. Foi
oi observado um coeficiente de determinaç
determinação
ão ligeiramente baixo (R² = 0,76).

1,4
1,2 R² = 0,76
Condutividade Térmica

1,0
(W/mK)

0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
VPU (m/s)
Fig. 7 - Relação entre a condutividade térmica e a velocidade de pulso ultrassônico (VPU) de argamassa

Esta situação mudou quando as argamassasforam


foram então avaliadas de acordo com o seu teor de AIA,
visto na Fig. 8. Ao dividir as argamassas com nenhum e baixo teor de AIA (0% e 0,05%) daquelas
com um conteúdo de AIA relativamente alto (0,5%), o coeficiente de determinação aumentou para
0,92 e 0,93, respectivamente.
ctivamente. Os coeficientes de determinação maiores que 0,9 são geralmente
aceitos como indicadores de que uma propriedade pode ser suficientemente bem predita pela outra.
1,4
0% e 0.05% AIA 0.5% AIA R² = 0,92
Condutividade Térmica

1,2
1,0
(W/mK)

0,8
0,6
0,4 R² = 0,93

0,2
0,0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
VPU(m/s)
Fig. 8 - Relação entre condutividade térmica e Velocidade de pulso ultrassônico (VPU) de argamassas
produzidas com agregado natural com 0% e 0,05% de AIA e com 0,5% de AIA.
Sabe-se
se que um alto teor de AIA aumenta o número de vazios com diâmetros maiores juntamente
com a porosidade total [20][38]
[38][39].. Poros maiores e maior porosidade total geram uma matriz
menos uniforme, o que significa que os pulsos ultrassônicos
sônicos devem percorrer caminhos mais longos
e mais variados [34][10]. Nesse caso, as alterações promov
promovidas
idas pelo teor de 0,5% de AIA
AI na
estrutura dos poros das argamassas foram tão significativas que não puderam ser comparadas às
demais.
Além disso, deve-se se notar que, enquanto o teste de condutividade térmica com o equipamento HFM
levou 2-3h por amostra, o ensaio de ultrassom requer apenas alguns minutos. Esta é uma vantagem
importante do método. Portanto, embora os resultados atuais sejam baseados em correlações de
escala
ala laboratorial, a leveza e a flexibilidade do equipamento de VPU permitem que ele seja usado
in situ também. Isso exigirá curvas de calibração específicas, mas é uma alternativa promissora.

4 CONCLUSÃO
Em resumo, foi encontrada uma relação linear com um coeficiente de determinação satisfatório
(R²> 0,9) entre a condutividade térmica e a VPU para a argamassa.. Esse resultado é válido para
compostos com componentes e estrutura de matriz semelhantes. Foi observado
ervado que esta estrutura
dos poros do compósito influencia fortemente a VPU, bem como eles influenciam a condutividade
térmica. Esta é provavelmente a razão pela qual uma melhor correlação foi encontrada entre a VPU
e a condutividade térmica do que entre a VPU e a massa específica aparente (que avalia somente a
porosidade total).
A principal vantagem deste método é a velocidade de medição e portabilidade do equipamento. No
entanto, semelhante a outras propriedades que estão correlacionadas com a VPU (por exemplo,
resistência à compressão e homogeneidade
homogeneidade), ), esta técnica deve ser usada em conjunto com uma
curva de calibração para alcançar uma precisão significativa. Sabendo da sua eficácia, é agora
possível estudar melhor a relação entre a VPU e a condutividadee térmica em pastas de cimento e
concretos.. Além disso, técnicas e curvas de calibração para medições indiretas podem ser
desenvolvidas para sistemas de vedação convencionais. Isso permitiria uma rápida avaliação in situ
da condutividade térmica das alvena
alvenarias das edificações.
Agora é possível que pesquisador
pesquisadores com materiais semelhantes aos aqui estudados
estudado avaliem suas
condutividades térmicas dentro das curvas apresentadas. Além disso, os desenvolvedores de
matrizes cimentícias podem reduzir o tempo e o custo necessários para o teste de várias amostras
usando o método VPU.. Como a VPU é um método comparativo, é possível usar testes de
condutividade
dade térmica para algumas amostras principais e usar a VPU para interpolar os outros.

5 AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer as instituições FAPEMIG, CAPES, UFOP e CNPq pelo apoio
financeiro para a realização e apresentação dessa pesquisa. També Também somos gratos pela
infraestrutura e colaboração do Grupo de Pesquisa em Resíduos Sólidos – RECICLOS – CNPq.
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ESTADO DA ARTE DO COEFICIENTE DE EMPUXO NO REPOUSO DE
SOLO SATURADO E NÃO SATURADO – REVISÃO E PERSPECTIVAS

State of the Art of Coefficient of Earth Pressure at Rest of Soil Saturated and
Unsaturated — Review and Perspectives

Lorena Gomes Abrantes 1, Guilherme Batista da Silva 2, Cláudio Fernando Mahler 3


1 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, lorenagomesabrantes@hotmail.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, batista.guilherme@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, cfmahler@gmail.com

Resumo: Para o conhecimento do estado de tensão natural do solo, expresso pelo coeficiente de
empuxo no repouso ( K 0 ), emprega-se a realização de ensaios de laboratório em amostras
indeformadas. A importância da determinação desse parâmetro para solos residuais e coluvionares
diz respeito à aplicação em obras de engenharia que envolvam empuxo de terra e fundações. Surgiram
muitos métodos para a determinação do coeficiente de empuxo no repouso ( K 0 ): correlações
empíricas, ensaios de laboratório e ensaios in situ. Existem correlações na literatura para a
determinação de K 0 que provém de pesquisas desenvolvidas considerando solos sedimentares,
tipicamente de regiões temperadas ou frias. Todavia, ao tratar-se de solos residuais e coluvionares,
típicos de regiões de clima tropical, não é condizente utilizar essas correlações, visto que o K 0 é
afetado por vários fatores, tais como a sucção, grau de intemperismo, processo de laterização, entre
outros que também afetam solos sedimentares saturados. Dessa forma, ensaios de laboratório e de
campo são essenciais para a determinação e avaliação do K 0 . Esta revisão abrange alguns dos
principais métodos para a determinação do coeficiente de empuxo no repouso desses solos nas
condições saturado e não saturado. Além disso, o presente estudo incluiu dados de ensaios mais
recentes para a determinação de K 0 em solo residual e coluvionar, apresentando as principais
características peculiares desses solos - bem como os impactos gerados pela sucção e o intemperismo
no valor do K 0 , além dos equipamentos desenvolvidos para esses estudos, abrangendo desde os
primeiros instrumentos até os mais modernos. Por fim, almeja-se que esta revisão sirva como material
de auxílio e estímulo para profissionais que projetam obras que envolvam empuxo de terra para a
avaliação dos impactos gerados pela variação do coeficiente de empuxo no repouso nas obras de
engenharia e no meio científico.

Palavras-chave: coeficiente de empuxo no repouso, solo não saturado, sucção.

Abstract: For the knowledge of the natural stress state of the soil, expressed by the coefficient of
earth pressure at rest (K 0 ), a laboratory test is used in undisturbed samples. The importance of the
determination of this parameter for colluvium soils relates to the application in engineering works
that involve buoyancy of earth and foundations. Many methods were used to determine the earth
pressure at rest (K 0 ): empirical correlations, laboratory tests and in situ tests. There are correlations
in the literature for determination K 0 that comes from researches developed considering sedimentary
soils, typically from temperate or cold regions. In dealing with residual and colluvium soils, typical
of tropical regions, it is not appropriate to use these correlations, since K 0 is affected by several factors,
such as degree of weathering, laterization processes and suction, among others that also affect
saturated sedimentary soils. In this way, laboratory and field tests are essential for the determination
and evaluation of K 0 . This revision covers some of the main methods for the determination the
coefficient of earth pressure at rest in this soils of saturated soils and unsaturated conditions. In
addition, the present study included data from more recent trials for the determination of K 0 in
residual and colluvium, presenting the main peculiar characteristics of these soils - as well as the
impacts generated by suction and weathering in the K 0 , beyond the equipment developed for these
studies, ranging from the first instruments to the most modern ones. Finally, it is hoped that this
review will serve as a source of aid and encouragement for professionals who design works involving
ground thrust for the evaluation of the impacts generated by the variation of the lateral thrust
coefficient in engineering works and in the scientific environment.

Keywords: Coefficient of earth pressure at rest, unsaturated soils, suction.

1. INTRODUÇÃO
Devido à grande necessidade na engenharia em prever o comportamento de tensão-deformação dos
solos sob carregamento torna importante conhecer o estado de tensão in situ que ocorre inicialmente
no solo (VAUGHAN e KWAN, 1984). O coeficiente de empuxo no repouso é definido como a razão
entre tensões efetivas horizontais e verticais. Assim, é um parâmetro que expressa o estado natural
atuando no solo. A determinação desse valor deve, portanto, ser uma prática comum em engenharia.

Em geral, a tensão efetiva vertical é facilmente estimada. No entanto, a determinação da tensão


horizontal em solos vem sendo um problema há muitos anos para a engenharia. Ao longo dos anos,
alguns equipamentos foram desenvolvidos e ensaios laboratoriais vêm sendo realizados no Brasil em
solos residuais e coluvionares em que a determinação direta da tensão horizontal é uma das grandes
vantagens.

Os solos residuais, bem como os solos coluvionares, típicos do território brasileiro, diferentemente
dos solos sedimentares, apresentam um comportamento in situ particular, uma vez que condicionantes
do meio físico, fatores geológicos e geotécnicos, entre outros, como clima, relevo e vegetação afetam
as suas propriedades. Visto isso, utilizar de correlações para o coeficiente de empuxo no repouso (K 0 )
obtido para solos sedimentares, tipicamente das regiões temperadas ou frias não é condizente, sendo
essencial a sua determinação em laboratório ou em campo para cada tipo de solo residual e coluvionar.

Dentro desse contexto, compreender o comportamento, em termos de engenharia, desses solos


representa um desafio particular para a geotecnia brasileira. A compreensão de duas variáveis torna-
se primordial para essa finalidade: o intemperismo, que modifica continuamente a estrutura do solo,
e o fato de que este encontra-se, na maioria das vezes, em condição de não saturação.

2. OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa é estudar o coeficiente de empuxo no repouso (K 0 ) de solo saturado e não
saturado, apresentar os principais ensaios de laboratório e campo que permitem a sua determinação,
exemplificar os fatores que afetam tal parâmetro, bem apresentar a sua faixa de variação em estudos
mais recentes, com o intuito a contribuir para a melhor compreensão do comportamento desse solo
típico do território brasileiro em termos de propriedades de engenharia à pesquisadores e projetistas
de obras de terra.

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

3.1. Coeficiente de Empuxo no Repouso (𝑲𝟎 )

O conceito de coeficiente de empuxo no repouso (K 0 ) foi introduzido dentro da mecânica dos solos
clássica por Donath (1891), como sendo a razão entre a pressão horizontal 𝜎ℎ e a pressão vertical 𝜎𝑣
atuantes em um solo decorrentes de um carregamento vertical sob a condição de deformação lateral
nula (Brooker e Ireland, 1965):

𝜎ℎ
𝐾0 = (1)
𝜎𝑣

A definição do coeficiente de empuxo no repouso através dessa formulação assume que a tensão
horizontal in situ é igual em todas as direções. Considerar que o solo está submetido a um estado
hidrostático de tensões in situ só é válido para solos que não sofreram deformações horizontais e
terrenos horizontais ou tensões tectônicas na sua história geológica.

Posteriormente, estudos foram realizados por Bishop e, a Equação (1) foi modificada para expressar
o K 0 em termos de tensões efetivas, e assim, englobar o papel fundamental exercido pela poropressão
no comportamento dos solos:
σ′h 𝜎ℎ − 𝑢
K0 = = (2)
σ′v 𝜎𝑣 − 𝑢

Bishop utilizou a expressão 𝜎′ = (𝜎 − 𝑢𝑎 )−𝜒(𝑢𝑎 − 𝑢𝑤 ), onde 𝑢𝑎 é a pressão de ar, 𝑢𝑤 é a pressão de


água, χ é um parâmetro que depende do material, 𝜎𝑣 é a tensão vertical total e 𝜎ℎ é a tensão
horizontal total, que é a proposta do autor para definir tensões efetivas em solos não saturados, na
formulação consagrada no meio geotécnico do coeficiente de empuxo no repouso. A formulação de
K 0 relaciona a tensão efetiva horizontal e a tensão efetiva vertical calculadas pela formulação de
Bishop (1959), como:
𝜎′ℎ
𝐾0 = (3)
𝜎′𝑣

De acordo com os resultados de ensaios de laboratório em argila realizados por Brooker e Ireland
(1965) e apresentados na Figura 1, a definição do coeficiente de empuxo no repouso apresentada por
Bishop mostrou ser mais adequada ao comportamento de solos normalmente adensados, onde devido
à linearidade da curva de tensão efetiva vertical versus tensão efetiva horizontal, obtêm-se um valor
único de K 0 na primeira reta de carregamento independentemente do nível de tensões atuante.
Entretanto, notaram que o K 0 obtido em um determinado nível de tensões era maior durante o
descarregamento, onde há o pré-adensamento do solo, do que na fase de carregamento, onde o solo
encontra-se normalmente adensado.
Figura 1- Relação entre tensões verticais e radiais (BROOKER e IRELAND, 1965).

A relação entre a tensão efetiva horizontal e a tensão efetiva vertical é fortemente dependente da
deformação lateral. Durante a deposição de solos em camadas horizontais, geralmente não há a
deformação lateral do maciço, uma vez que as dimensões horizontais são consideradas infinitas com
relação à dimensão vertical, então, diz-se que, durante a deposição, o solo encontra-se sob um estado
de tensões no repouso e o coeficiente de empuxo no repouso é definido para deformação lateral nula.

A fim de englobar o comportamento de solos pré-adensados na formulação do K 0 , Andrawes e El-


Sohby (1973) definiram tal parâmetro como (Equação 4): a razão entre o aumento de tensão principal
menor efetiva e o aumento da tensão principal maior efetiva, com restrição das deformações na
direção das tensões principais menores.
∆𝜎′ℎ
𝐾0 = (4)
∆𝜎′𝑣

Além das formulações apresentadas, a Equação 5, proposta pelos pesquisadores Fredlund e Rahardjo
(1993), mostra a definição do K 0 para solos não saturados.
(𝜎ℎ − 𝑢𝑎 )
K0 = (5)
(𝜎𝑣 − 𝑢𝑎 )

Surgiram muitos métodos para a determinação do coeficiente de empuxo no repouso. Esses métodos
foram classificados por Hamouche et al. (1995) em três categorias: correlações empíricas, ensaios de
laboratório e ensaios in situ.

3.2. Correlações Empíricas


Após Donath (1891), o próximo estudo experimental relevante de K 0 foi realizado por Terzaghi
(1920) com o Método da Fita de Atrito introduzido pelo pesquisador, em que chegou-se a um valor
de 0,42 de K 0 para uma areia grossa. Modificações no equipamento foram efetuadas e novos ensaios
foram realizados por Terzaghi em 1925, agora com uma argila residual amarela e uma argila marinha
azul e encontrados valores de K 0 na ordem de 0,7. Em 1923, Terzaghi apresentou uma equação para
a determinação de K 0 em função do ângulo de atrito interno mobilizado (∅′ 0):

1− sin φ’0
𝐾0 = 1+ sin φ’0 (6)

Em 1943, Terzaghi define o coeficiente de empuxo no repouso como sendo a relação entre a tensão
principal horizontal e a tensão principal vertical na condição do maciço em repouso, que depende do
tipo de solo, da história de tensões e da origem geológica (TERZAGHI, 1943).

Jaky (1944) propôs uma das mais conhecidas correlações para a determinação de K 0 em termos do
ângulo de atrito interno (∅′ ), a Equação 7. Para tal evidência, Jaky (1944) analisou um talude de solo
granular com inclinação igual ao ângulo de repouso (maior inclinação com a horizontal na qual o
maciço permanece em equilíbrio) e admitiu que este ângulo é igual ao ângulo de atrito interno (∅′ ).
Ao se tratar de solos sedimentares ou normalmente adensados, nos quais o ângulo de atrito no
repouso é igual ao ângulo de atrito a volume constante (∅′ cv), esta hipótese assumida se torna
razoável (MESRI e HAYAT, 1993).
2
1+ sin φ’
𝐾0 = (1 − sin φ’) 3
(7)
1+sin φ’

Em 1948, Jaky simplificou a Equação 7 por:


𝐾0 = (1 − sin φ’) (8)

Esta equação é muito utilizada, pois apresenta boas estimativas de K 0 (MESRI e HAYAT, 1993).

Diversas correlações empíricas surgiram na literatura a fim de relacionar o valor de K 0 e o ângulo de


atrito interno. A Figura 1 apresenta um resumo das principais correlações encontradas na literatura
que levam em consideração este parâmetro.
Tabela 1 - Correlações para o coeficiente de empuxo no repouso em termos do ângulo de atrito interno.

Autor (ano) Correlação Observações

Jack (1948) K o = 1 − sen ∅′ ∅′ = ângulo de atrito efetivo

Fraser (1957) K o = 0,9 − sen ∅′ ∅′ = ângulo de atrito efetivo

Rowe (1957) Ko ∅′ = ângulo de atrito efetivo


1,15 (∅′ − 9°)
= tan2 (45° − )
2

Kedzi (1962) 1 − sen ∅′ ∅′ = ângulo de atrito efetivo


K o = (1 − sin ∅′ ) ( )
1 + sen ∅′

Hendron (1963) √5 √5 ′
∅′ = ângulo de atrito efetivo
1 1 + 8 − 3 8 sen ∅
Ko = [ ]
2 √5 √5
1+ +3 sen ∅′
8 8

Brooker e Ireland K o = 0,95 − sen ∅′ ∅′ = ângulo de atrito efetivo


(1965)

Schmidt (1967) K o = 1 − 1,2 sen ∅′ ∅′ = ângulo de atrito efetivo

Saglamer (1975) K o = 0,97 (1 − 0,94 sen ∅′ ) ∅′ = ângulo de atrito efetivo

Matsouka e 1 ∅′ = ângulo de atrito efetivo


Ko = ( )
Sakakibara (1987) 1 + 2sen ∅′

Burland e Federico 1 − sen (0,64 ∅′ ) ∅′ = ângulo de atrito efetivo


(1999) Ko = ( )
1 + sen (0,64 ∅′ )

Aziz et al (2011) 1 − sen2 ∅′ ∅′ = ângulo de atrito efetivo


Ko = ( )
1 + sen2 ∅′

Diversos outros estudos foram realizados com o intuito de correlacionar o K 0 com o limite de liquidez,
índice de plasticidade, fração argila, coeficiente de uniformidade, índice de vazios, porosidade,
densidade embora não comprovada a aplicação em todos os tipos de solo (FJODOROV e
MALYSHEV, 1959; ALPAN, 1967; MASSARSCH, 1979; FLAVIGNY, 1980; KÈDZI, 1975; HOLTZ
E KOVACS, 1981; SHERIF e ISHIBASHI, 1981). A Tabela 2 apresenta um resumo das principais
correlações encontradas na literatura que levam em consideração este parâmetro.
Tabela 2 - Correlações para o coeficiente de empuxo no repouso em termos de porosidade, plasticidade e
densidade.

Autor (ano) Correlação Observações

Kenney (1959) K o = 0,19 + 0,233 log Ip Ip = índice de


plasticidade

Brooker e Ireland K o = 0,4 + 0,007 Ip 0 ≤ Ip ≤ 30 Ip = índice de


(1965) plasticidade
K o = 0,68 + 0,001 (Ip − 40) 40 < Ip
≤ 80

Alpan (1967) K o = 0,15 + 0,233 log Ip Ip = índice de


plasticidade

Kédzi (1975) K o = 0,04 + 0,75e e = índice de vazios

Massarsch (1979) Ip Ip = índice de


K o = 0,44 + 0,42
100 plasticidade

Flavigny (1980) K o = 0,42 + 0,004 Ip Ip = índice de


plasticidade

Holtz e Kovacs K o = 0,44 + 0,0042 Ip Ip = índice de


(1981) plasticidade

Sherif M. A., γd Ip = índice de


Fang. Sherif R.I. K o = (1 − sen ∅′ ) + 5,5 ( − 1) plasticidade
γd (mín)
(1984)

O efeito da história de tensões foi inicialmente avaliado por Brooker e Ireland (1965). Os autores
observaram a linearidade da curva tensão efetiva vertical versus tensão efetiva horizontal durante o
primeiro carregamento e obtiveram valores superiores de K 0 na curva de descarregamento. Em 1982,
Mayne e Kulhawy identificaram a mesma tendência.
Szepesházi (1994) apontou como explicações para a linearidade da curva K 0 durante o primeiro
carregamento e, maiores valores de K 0 na curva de descarregamento que o solo é anisotrópico e tem
comportamento inelástico e não linear.
Schmidt (1966) encontrou uma relação aproximadamente linear do K 0 em função do OCR ao plotar
valores conhecidos de K 0 e OCR de diversos materiais em escala logarítmica.
K 0R = K 0 OCRα (9)

Onde:
K 0R = coeficiente de empuxo no repouso durante o recarregamento;
K 0 = coeficiente de empuxo no repouso na condição normalmente adensada;
𝑂𝐶𝑅 = razão de sobreadensamento;
𝑎 = parâmetro que depende do tipo de material e independe da história de tensões.

Diversas outras formulações do K 0 em função do efeito de sobreadensamento foram propostas. A


Tabela 3 apresenta um resumo das principais correlações encontradas na literatura em termos da
história de tensões.

Tabela 3 - Correlações para o coeficiente de empuxo no repouso em termos da história de tensões.

Autor (ano) Correlação Observações

Alpan (1967) K o (OC) = K o (NC)OCRn n = constante, em regra entre 0,4 e 0,5


OCR = razão de pré-adensamento

Sherif e Koch (1970) K o R = λ + α (OCR − 1) λ e α dependem das propriedades do solo


OCR = razão de pré-adensamento

Wroth (1972) v′ OCR = razão de pré-adensamento


K o R = K o OCR + (1
1 − v′ Solos levemente sobreadensados
− OCR)

Wroth (1975) 3m=[


1−Ko

1−Ko R
] OCR = razão de pré-adensamento
1+2Ko 1+2Ko R
Solo fortemente sobreadensados;
m=f(Ip)

Schmertmann (1975) K o R = (1 − sen ∅′ ) OCRm OCR = razão de pré-adensamento


m = 0,42 (areias)

Mayne e Kulhawy K o = (1 − sen ∅′ ) OCRsen ∅ OCR = razão de pré-adensamento
(1982)
Solos pré-adensados durante o
descarregamento

3.3. Ensaios de Laboratório


Os métodos de laboratório para a determinação do coeficiente do empuxo lateral no repouso
compreendem os ensaios com alguma medição direta: testes triaxias (paredes flexíveis) e os testes
edométricos (paredes rígidas). As técnicas de determinação do K 0 em laboratório requerem um
equipamento que permita a compressão do corpo de prova enquanto as deformações laterais são
completamente impedidas (TING et al., 1994).

Os ensaios triaxiais conhecidos como de parede flexível, são aqueles em que uma membrana de
borracha confina a amostra, (membrana látex), apresentando como vantagens a ausência de atrito
entre o solo e a sua parede de confinamento, e o controle das suas pressões laterais e axiais, enquanto
a deformação lateral é mantida através de um monitoramento da deformação radial. Além disso, a
mensuração das tensões laterais é possível se um fluido celular confinante incompressível e uma
célula triaxial rígida forem usados, como por exemplo, Ting et al (1994), Bishop e Henkel (1957). As
desvantagens estão relacionadas em manter uma tensão radial nula em todo o altura da amostra
quando o ensaio é baseado em medição de deformação radial (TING et al., 1994).

Os testes de parede rígida compreendem aqueles em que a borda lateral rígida confina a amostra,
como no caso de testes edométricos. Nestes testes, o requisito de deformação lateral nula é
tipicamente obedecido. Como apontado por Ting et al (1994), a principal desvantagem de tais ensaios
é a medida da tensão horizontal devido à ocorrência de atrito lateral entre a amostra e a parede de
confinamento rígida do anel edométrico.

(a) Ensaios Triaxiais:


O ensaio triaxial K 0 é semelhante ao ensaio triaxial convencional, todavia deve apresentar
adapatações que permitam manter as condições de deformação lateral nula. Pela literatura técnica
internacional existem três tipos principais de células triaxiais para o ensaio K 0 , cujas características
estão apresentadas abaixo (TING et al., 1994):
• Prensa triaxial do tipo nulo:
O desafio desta técnica consiste em manter a condição de deformação lateral nula. Essa condição
pode ser atingida ao controlar a pressão da célula no momento em que o corpo de prova é submetido
a compressão em conjunto com a utilização de extensômetros elétricos em contato com o corpo de
prova.

Os ensaios K 0 realizados em prensas triaxiais são muito versáteis, uma vez que é possível ter o
controle independente das tensões axial e lateral e das poropressões.

• Volume controlado:

Ao adensar um corpo de prova se solo saturado no equipamento triaxial, a variação volumétrica do


corpo de prova corresponde ao volume de água expedido (∆𝑉). Esta variação pode ser observada ao
conectar uma bureta ao sistema de drenagem do corpo de prova ou mesmo um medidor de variação
volumétrica (MVV) já utilizado nas prensas mais modernas. Entretanto, para manter a condição de
deformação lateral nula, a área do corpo de prova deve ser constante, sendo toda a variação de
volume produto da área transversal do corpo de prova pela deformação axial (∆𝑉=∆ℎ.A), medida
através de um extensômetro elétrico ou de um LVDT.
• Célula rígida:

Uma célula extremamente rígida é utilizada para confinar a pressão do fluido que envolve o corpo
de prova que encontra-se isolado por uma membrana flexível. O pistão de carregamento possui o
mesmo diâmetro do corpo de prova, o que permite garantir a condição de deformação lateral nula,
uma vez que a variação de volume do corpo de prova será igual ao volume ocupado pelo pistão. A
pressão desenvolvida no fluido pode ser medida por um transdutor de pressão e é igual a pressão
lateral total que ocorre no corpo de prova.
(b) Ensaios Edométricos:
O ensaio edométrico para a determinação de K 0 é semelhante ao ensaio de adensamento
edométrico convencional, entretanto, sua célula requer um sistema que permita a medição da
tensão horizontal. Pela literatura técnica científica, existem três principais tipos de células
edométricas para a determinação de K 0 , cujas características estão apresentadas abaixo (TING et
al., 1994).

• Anel confinante semirrígido:

O anel padrão do ensaio edométrico convencional (ensaio de adensamento) é substituído por um


anel de paredes delgadas que permite a deformação circular. Esta deformação circular
desenvolvida é conhecida a partir de um sistema de medição acoplado ao anel. A relação tensão
lateral versus deformação circular pode ser obtida através do módulo de elasticidade do anel, pela
teoria dos reservatórios de pressão constituídos por paredes delgadas ou por meio da calibração do
anel previamente por meio da aplicação de tensões internas conhecidas e a medição da deformação
circular correspondente. O ensaio é desenvolvido conforme o ensaio edométrico convencional e o
K 0 é determinado por meio da relação entre as tensões lateral e vertical nas fases de carregamento
e descarregamento do corpo de prova.

• Anel confinante tipo nulo:


Assim como na técnica de anel semirrígido, é utilizado um anel de paredes delgadas no lugar do
anel de paredes espessas do ensaio de adensamento convencional. Contudo, nesta configuração de
equipamento, tem-se a presença de uma câmara em forma de anel que envolve o anel confinante.
Quando a tensão lateral aumenta devido à aplicação do carregamento vertical no corpo de prova,
as deformações laterais originadas são registrados pelos extensômetros elétricos acoplados ao anel
confinante. Dessa forma, é introduzida uma contra-pressão na câmara de magnitude tal que
permita manter a leitura do extensômetro elétrico em seu valor inicial (descarregado ou nulo),
garantindo assim, a condição de deformação lateral nula. O valor da contra-pressão é igual à tensão
lateral do solo.

• Arcos semi-rígidos:
O problema de atrito lateral entre as paredes e o corpo de prova pode ser diminuído ao confinar o
corpo de prova com uma série de arcos semi-rígidos de deformação calibrada e separados por
pequenos espaços anelares. A fim de que não haja a saída de material do corpo de prova por estes
espaços, o corpo de prova é revestido por uma membrana flexível. Esta técnica de ensaio permite
a determinação da tensão lateral em vários pontos ao longo da altura do corpo de prova, porém são
necessárias deformações laterais para que isso aconteça.

3.5. Ensaios de Campo


Os métodos para a medição do coeficiente de empuxo no repouso através de ensaios de campo
compreendem os ensaios que envolvem medição direta da tensão total. Por outro lado, apresetam
alguns inconvenientes, tal como a perturbação do solo durante a amostragem, que ocasiona a
mudança do estado de tensões in situ do solo, podendo ser minimizados ao tomar-se cuidados no
momento da introdução da célula de medição no solo.

Para cada tipo de solo são utilizados métodos específicos de medição in situ do K 0 do solo. Sendo
assim, em argilas moles (K 0 <1) são empregados os métodos de células de pressão total, fratura
hidráulica e pressiômetro, tanto em argilas rijas (K 0 >1) quanto em areias são recomendados o uso
de pressiômetros, preferencialmente os auto-perfurantes, já em rochas brandas os ensaios de
fratura hidráulica. A seguir são detalhados os métodos de medição de K 0 in situ para os solos
abordados acima:

a) Células de pressão total: esse tipo de equipamento é responsável pela medição direta de tensão
horizontal total, sendo necessárias estimativas ou medições da poropressão e da tensão vertical
total. Usualmente é empregada a célula de Glotzl, tendo versões mais atualizadas produzidas por
Tavenas et al., (1975) e Massarsch et al., (1975).

b) Fratura hidráulica: o ensaio consiste em impor a abertura de uma fissura no solo ao realizar o
bombeamento de água dentro do piezômetro até que a pressão de água gere a abertura dessa fissura.
No instante após a abertura da fissura, interrompe-se o bombeamento, com o tempo a pressão vai
reduzindo e o fluxo de percolação é monitorado até que a pressão torne-se tão pequena que gere o
fechamento da fissura. Sabe-se que a tensão que leva ao fechamento da fissura, ocorre no plano de
atuação da menor tensão vertical total in situ, ou seja, da tensão horizontal total.
c) Pressiômetro: o método do pressiômetro que consiste na introdução de sondas pressiométricas
no solo pode ser realizado por meio do pressiômetro clássico, bem como do pressiômetro auto-
perfurante, a depender do tipo de solo a ser ensaiado.

3.6. Solos Residuais


Os solos residuais são solos resultantes do processo de alteração da rocha mãe a partir do processo
de intemperismo e decomposição da rocha in situ sem haver transporte do material formado
(BRIGHT, 1997). As propriedades e comportamento dos solos residuais se diferenciam dos solos
transportados, uma vez que esses solos apresentam características únicas relacionadas ao seu
ambiente de desenvolvimento e a sua composição (VAUGHAN et al., 1988).

Os solos residuais apresentam características geotécnicas completamente distintas observadas nos


solos transportados. Os fatores genéticos e de estado mais impactantes no comportamento
mecânico dos solos residuais citados por Bressani (2004) são: rocha de origem, grau de
intemperismo, a decomposição de óxidos da micro-estrutura, a evolução pedológica, o índice de
vazios e a granulometria.

O intemperismo é uma propriedade de grande importância para a engenharia de fundações e de


demais obras de terra, visto que exerce grande influência em propriedades de resistência ao
cisalhamento, compressibilidade, permeabilidade e deformabilidade, sendo que a magnitude
dessas modificações depende do nível de alteração da estrutura do solo, ou seja, do grau de
intemperismo (CHANDLER, 1969).

O conhecimento da origem dos solos residuais e dos fatores que afetam a sua resistência é essencial
para compreender o seu comportamento em termos de tensão-deformação. A Tabela 4 mostra as
principais características presentes nos solos residuais que são peculiaridades desse tipo de solo.

Tabela 4 - Comparação entre as características dos solos residuais e transportados (BRENNER et al., 1997).

Durante o processo de formação dos solos residuais (intemperismo), os mesmos podem sofrer um
ligeiro desconfinamento vertical devido à perda de massa e à transferência de diversos minerais
entre os horizontes do solo. Isto significa uma alteração progressiva do estado de tensões in situ.
Dessa forma, é praticamente desprezível o efeito da história de tensões nos solos residuais durante
o seu processo de formação (VAUGHAN, 1988).

De acordo com Brenner et al., (1997), a cimentação, é caracterizada como uma “coesão aparente”,
sendo uma característica peculiar que atua como uma componente de resistência, conferindo maior
resistência ao cisalhamento dos solos residuais tropicais. Segundo Vaughan (1988), as causas para
o desenvolvimento da cimentação são: aparecimento de ligações durante o processo de alteração
química dos minerais; solução e nova precipitação de agentes cimentantes, tais como os silicatos,
e cimentação por meio da deposição de carbonatos, óxidos/hidróxidos de ferro, matriz orgânica,
dentre outros.

Em relação as estruturas reliquiares e descontinuidades, sabe-se que a resistência global do maciço


é governada tanto pela frequência quanto pela orientação das estruturas reliquiares em relação à
direção de aplicação das tensões e pela resistência peculiar dessas estuturas. Dessa forma, ao longo
dos planos das estruturas requiliares, os solos residuais irão apresentar menor resistência ao
cisalhamento ao comparar-se com os demais planos (COWLAND e CARBRAU, 1988; IRFAN e
WOODS, 1988; LO et al., 1988).

Outras propriedades peculiares desses solos, tais como a anisotropia, a heterogeneidade do solo e
outras propriedades, como a cimentação, dificultam a elaboração de um modelo conceitual que
generalize o seu comportamento. Como consequência, os solos residuais conferem respostas
distintas e extremamente difíceis de se prever frente às solicitações. O comportamento
anisotrópico desses solos se deve a herança da rocha matriz, principalmente, ao tratar-se de solos
originados de rochas metamórficas, onde a mica presente pode originar superfícies mais frágeis e
de cisalhamento (MENDES, 2008).

Os aspectos mineralógicos e químicos dos solos residuais apresentam grande diferença em relação
aos solos sedimentares. A mineralogia é responsável por conferir aos solos residuais características
de expansibilidade ou não, dentre outras propriedades mecânicas do solo. Além disso, a
composição dos minerais primários e elementos químicos presentes no mesmo em conjunto com
as condições climáticas, o regime e a intensidade de chuva, relevo, microorganismos e drenagem
irão definir os argilominerais e a cor do solo (SALOMÃO e ANTUNES, 1997 apud FUTAI, 2002).

3.7. Ensaios de laboratório em solos residuais e coluvionares

Os ensaios na prensa com sucção controlada realizados por Daylac (2004) relataram uma variação
média de K 0 de 0,20 a 0,24, no carregamento, para um solo residual jovem do câmpus da PUC-Rio.
Daylac (2004) mostrou a influência da sucção e do intemperismo nos seus estudos, e concluíram
que o aumento da sucção afeta o K 0 , reduzindo-o, e maiores valores de K 0 são encontrados em solos
menos intemperizados.

Os ensaios realizados por Alvim (2017) em solo residual gnaissico no equipamento de sucção
controlada desenvolvido por Daylac (1994) com sucções de 10, 40 e 100 kPa também mostraram a
influência do grau de intemperismo e da sucção no coeficiente de empuxo no repouso. Os valores
de K 0 obtidos por Alvim (2017) variaram de 0,60 a 0,65 no solo residual jovem, de 0,54 a 0,64 no
solo residual de transição e de 0,53 a 0,61 no solo residual maduro. Em geral, os resultados
mostraram uma diminuição do coeficiente de empuxo do repouso com o aumento da sucção e
maiores valores de K 0 no solo residual jovem, uma vez que o K 0 decresce ao longo do processo de
intemperismo.
Torres e Colmenares (2017) realizaram ensaios para a determinação do K 0 em um solo não saturado
colapsível formado por caulim e areia e chegaram a conclusões que o processo de intemperismo
influencia o desenvolvimento de uma microestrutura cimentada, que aumenta a rigidez.
Delcourt (2018), encontrou um K 0 de 0,43 ao ensaiar um colúvio saturado de um local do Rio de
Janeiro. Por outro lado, Abrantes (2019) obteve K 0 de 0,36 ao realizar ensaios C K 0 em solo
coluvionar saturado proveniente da encosta do câmpus da PUC-Rio.

Abrantes (2019) também realizou ensaios em um equipamento de sucção controlada similar ao de


Alvim (2017) em um solo coluvionar não saturado proveniente da encosta do câmpus da PUC-Rio,
com sucções de 10, 40 e 100 kPa e obteve valores médios de K 0 de 0,19 a 0,24. As principais
conclusões obtidas foram: encontrou-se maiores valores de K 0 na fase de descarregamento, ao
comparar com os valores de coeficiente de empuxo no repouso obtidos na fase de carregamento,
assim como identificado por Brooker e Ireland (1965) e Mayne e Kulhawy (1982), a influência da
sucção, no sentido de redução do K 0 com o aumento da sucção, e a influência do nível de tensão,
no sentido de reduzir o K 0 com o aumento da tensão líquida (σv − 𝑢𝑎 ).

4. CONCLUSÃO

No Brasil, a ocorrência de solos residuais é comum em grande parte da sua extensão territorial. Os
resultados compilados nesta revisão confirmam a variação do coeficiente de empuxo no repouso
nos solos residuais, bem como a influência do intemperismo e do grau de saturação nesse parâmetro.
Apesar do número de publicações sobre o coeficiente de empuxo no repouso no Brasil vir
aumentando constantemente, é fundamental estimular o desenvolvimento de novos estudos que
contemplem os diversos tipos de solos residuais e coluvionares, ao mesmo tempo que metodologias
são implementadas e novos métodos são determinados. Além disso, também é crucial a realização
de ensaios de laboratório e de campo de forma a obter um banco de dados que contribuam para a
melhor compreensão desses solos típicos de ocorrência no território brasileiro.

REFERÊNCIAS

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saturado e não saturado. Dissertação de Mestrado, DEC, PUC – Rio, Rio de Janeiro, 2019.
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1, p. 43-59, 1984.
ANÁLISE DE TENDÊNCIA DE CHUVAS NO MUNICÍPIO DE JUIZ DE
FORA – MG

Analysis of Trends in the Rainfall in the Municipality of Juiz de Fora – Minas Gerais
Guilherme Batista da Silva 1, Lorena Gomes Abrantes 2, Maria Helena Rodrigues Gomes 3
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, batista.guilherme@engenharia.ufjf.br
2
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, lorenagomesabrantes@hotmail.com
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mariahelena.gomes@ufjf.edu.br

Resumo: Dificuldades no planejamento de atividades norteadas pela precipitação, evaporação e


vazão ocorrem em razão da aleatoriedade dos processos hidrológicos, já que suas caracterizações ao
longo do espaço e tempo são dependentes da evolução dos principais elementos meteorológicos como
umidade do ar, vento, insolação, temperatura do ar, radiação solar, entre outros. Dessa forma, são
utilizados instrumentos para o tratamento da aleatoriedade baseados na estatística que são aplicados
para o conhecimento das tendências dos fatores do ciclo hidrológico, para planejar empreendimentos.
Considerando que o aumento populacional gera demandas diretas, seja pela necessidade de transporte,
alimentação, irrigação, abastecimento urbano ou para geração de energia elétrica, pesquisas que sejam
capazes de descrever o comportamento histórico dos recursos hídricos tornam-se mais relevantes no
contexto contemporâneo, mostrando a necessidade de políticas de gestão elaboradas e aplicadas para
conservação e uso sustentável deste recurso. Diante do atual cenário de especulações e incertezas
quanto aos impactos causados pelas mudanças climáticas em séries hidrológicas, esse trabalho visa a
contribuir com a análise de tendências do regime de chuvas no município de Juiz de Fora – MG, ao
detectar eventuais tendências de precipitação na localidade, utilizando um conjunto de testes
estatísticos, paramétricos e não paramétricos. Para essa análise de tendências foram utilizadas 4
estações pluviométricas com, pelo menos, 30 anos de registros cada uma. A partir desses dados
coletados, foi obtido um conjunto de séries de precipitação de totais anuais. Os dados coletados
passaram por um processo de análise visual por meio da construção de gráficos e posterior análise de
testes estatísticos para detecção de tendências através do software TREND. Os resultados obtidos não
evidenciaram, para as séries de totais anuais, tendências significativas para o regime de chuvas da
cidade de Juiz de Fora, ratificando a hipótese prévia de estacionariedade de totais anuais. Esses
resultados foram corroborados e certificados pela análise gráfica dos dados.

Palavras-chave: chuvas, séries temporais, testes estatísticos.

Abstract: Difficulties in the planning of activities guided by precipitation, evaporation and flow
occur due to the randomness of the hydrological processes, since their characterizations along the
space and time are dependent on the evolution of the main meteorological elements such as humidity
of the air, wind, insolation, temperature of the air, solar radiation, among others. In this way,
statistical-based instruments for the treatment of randomness are used and they are applied to the
knowledge of the trends of the factors of the hydrological cycle, to plan projects. Considering that
increase of the population generates direct demands, whether due to transportation, food, irrigation,
urban supply or electric power generation, researches that are capable of describing the historical
behavior of water resources become more relevant in the contemporary context, showing the need for
management policies developed and applied for the conservation and sustainable use of this resource.
Given the current scenario of speculation and uncertainties regarding the impacts caused by climate
change in hydrological series, this work aims to contribute to the analysis of trends in the rainfall
regime in the city of Juiz de Fora - MG, by detecting possible precipitation trends in the locality, using
a set of statistica tests, parametric and non-parametric. For this trend analysis, four rainfall stations
with at least 30 years of records were used. From these collected data, a set of annual total
precipitation series was obtained. The data collected underwent a process of visual analysis through
the construction of graphs and subsequent analysis of statistical tests for trend detection through
TREND software. The results obtained did not show significant trends for the rainfall regime of the
city of Juiz de Fora for the series of annual totals, confirming the previous hypothesis of seasonality
of annual totals. These results were corroborated and certified by the graphical analysis of the data.

Keywords: rainfall, time series, statistical tests.

1. INTRODUÇÃO
Considerando que o aumento populacional gera demandas diretas, seja pela necessidade de transporte,
alimentação, irrigação, abastecimento urbano ou para geração de energia elétrica, pesquisas que sejam
capazes de descrever o comportamento histórico dos recursos hídricos tornam-se mais relevantes no
contexto contemporâneo, mostrando a necessidade de políticas de gestão elaboradas e aplicadas para
conservação e uso sustentável deste recurso [1].
Dificuldades no planejamento de atividades norteadas pela precipitação, evaporação e vazão ocorrem
em razão da aleatoriedade dos processos hidrológicos, já que suas caracterizações ao longo do espaço
e tempo são dependentes da evolução dos principais elementos meteorológicos como umidade do ar,
vento, insolação, temperatura do ar, radiação solar, entre outros. Dessa forma, utilizam-se de
instrumentos para o tratamento da aleatoriedade baseados na estatística, a qual é vastamente aplicada
para o conhecimento das tendências dos fatores do ciclo hidrológico, para planejar empreendimentos
[1].
Diante do atual cenário de especulações e incertezas quanto aos impactos causados pelas mudanças
climáticas em séries hidrológicas, o presente trabalho visa contribuir com a análise de tendências do
regime de chuvas no município de Juiz de Fora - MG, utilizando um conjunto de técnicas estatísticas.
Observa-se com crescente frequência o aparecimento de estudos e técnicas diversas que têm como
objetivo determinar a possível existência de evidências de mudanças em séries hidrológicas temporais.
Esses estudos, em sua grande maioria, englobam em geral séries pluviométricas de valores médios,
máximos e mínimos.
A escolha de séries pluviométricas de totais anuais da cidade de Juiz de Fora é justificada, em especial,
pela ausência de estudos de tendências no regime de chuvas da região. Além do mais, trata-se de uma
cidade que, aparentemente, demonstra estar sendo afetada por eventos extremos de chuva cada vez
mais frequentes, requerendo um maior aprofundamento de estudos dessa natureza.

2. OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa é estudar as séries de precipitação registradas na cidade de Juiz de Fora -
MG, por meio da análise de séries de totais anuais, as quais são consideradas mais representativas
que as demais séries (mensais, semestrais, entre outras), de forma a identificar possíveis tendências
no regime pluviométrico por meio da utilização de técnicas estatísticas.

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

3.1. Vertentes dos Estudos de Mudanças Climáticas


Mesmo sendo comumente veiculada nos meios de difusão de informações, a noção de que o aumento
global da temperatura esteja relacionado às mudanças do clima no planeta, como sugere, em especial,
o Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC), existe outra perspectiva defendida por
eminentes cientistas de diversas partes do mundo, que torna o assunto inconclusivo no meio científico
[2].
A vertente defendida e que tem como líder o IPCC é que as atividades antrópicas, por meio da queima
de combustível fóssil, contribuem significativamente para o aquecimento global que tende a aumentar
nas próximas décadas resultando em temperaturas mais rigorosas no planeta [2].
Por outro lado, cada vez pesquisadores e especialistas em clima defendem a ideia de que ciclos
climáticos de resfriamento e aquecimento transcorrem há centenas de milhões de anos e que o planeta
estaria no momento iniciando uma nova fase de caimento da temperatura global [2].

3.2. Séries Temporais Hidrológicas

3.2.1 Caracterização dos Fenômenos e Processos Hidrológicos


Os fenômenos hidrológicos são caracterizados pelos mecanismos de armazenamento e transporte que
atuam nas diferentes fases do ciclo da água na Terra, em especial, nas áreas continentais. Tais
fenômenos são manifestados com notável variabilidade ao longo do tempo e do espaço devido a
variações, muitas irregulares e algumas regulares, aos climas regional e global, assim como as
particularidades locais e regionais, sob aspectos meteorológicos, entre outros. Todas as formas de
circulação da água no ambiente representam os processos hidrológicos, tendo como exemplos:
precipitação, evaporação, transpiração, interceptação, escoamento superficial e infiltração Dentre
outras formas, os processos relacionados ao ciclo hidrológico podem ser classificados, segundo o tipo
de variáveis utilizadas na modelagem, em determinísticos ou estocásticos apesar de, em geral, sejam
uma combinação de ambos [5].
Quase todos os processos hidrológicos são considerados estocásticos ou governados por leis de
probabilidades, por conterem pelo menos uma variável aleatória com uma dada distribuição de
probabilidade, as quais se superpõem a regularidades eventualmente explicitáveis. São considerados
processos hidrológicos estocásticos a precipitação, a evapotranspiração, os escoamentos superficial e
subsuperficial, entre outros. Já os processos denominados determinísticos são aqueles que resultam
da aplicação direta de leis da Física, Química ou Biologia e nos quais são negligenciados os conceitos
de probabilidade durante a construção do modelo [5].
As variáveis hidrológicas reproduzem as variações temporais e/ou espaciais dos fenômenos do ciclo
da água. São exemplos de variáveis hidrológicas: vazão máxima diária anual, vazão mínima de sete
dias de duração, período de retorno de 10 anos com intervalo anual e sazonal (períodos seco e chuvoso
do ano), vazão média de longo período, volumes de regularização em reservatórios, entre outros [5,6].
3.2.2 Conceito de Séries Hidrológicas
Séries temporais são conjuntos de observações sobre uma variável, ordenados no tempo, e registrados
em períodos regulares. Dessa forma, as séries temporais registram a variabilidade das variáveis
hidrológicas e hidrometeorológicas, reunindo as observações ou medições daquela variável. Os
intervalos de tempo entre os registros sucessivos de uma série temporal são equidistantes, em geral,
mas são possíveis de ocorrer séries temporais com registros que possuam intervalos irregulares [5,7].
São exemplos de séries temporais: precipitação máxima anual, temperaturas máximas e mínimas
diárias em uma cidade, vendas mensais de uma empresa, gráfico de controle de um processo
produtivo, entre outros. O pressuposto fundamental que direciona a análise de séries temporais é a
admissão da existência de um sistema causal, mais ou menos constante, que se relaciona com o tempo
de forma que tenha exercido influência sobre os dados no passado e pode continuar a fazê-lo no futuro.
Este sistema causal comumente cria padrões não aleatórios que podem ser detectados mediante
processo estatístico ou em um gráfico da série temporal. A análise de séries temporais tem como
objetivo perceber padrões não aleatórios na série temporal de uma variável de interesse, de modo que
a observação deste comportamento passado pode permitir efetuar previsões sobre o futuro, orientando
a tomada de decisões [7].

3.2.3 Dados Hidrológicos


Uma rede de estações de monitoramento é projetada para dar a melhor representação possível de um
estado de campo meteorológico que varia continuamente no tempo e no espaço [8]. É constituída por
um conjunto de instalações, intituladas estações ou postos, situadas em pontos específicos em uma
localidade, cuja finalidade é a coleta sistemática de dados básicos (pluviométricos, fluviométricos,
entre outros) em intervalos de tempo pré-estabelecidos, permitindo a quantificação das diversas fases
do ciclo hidrológico, das suas variabilidades e inter-relações [5].
Os dados hidrológicos contêm erros que se classificam, além das fontes de erros mencionados, em:
erros sistemáticos, erros acidentais e erros grosseiros. Os primeiros são de causa conhecida, em geral,
podendo ser corrigidos por meio de técnicas especiais de observação ou por cálculos matemáticos.
São oriundos das deficiências do observador, do instrumento e do método usado, caracterizando-se
por ocorrem sempre num mesmo sentido e perpetuar valores semelhantes após medidas sucessivas
[9].
Os erros acidentais originam de causas desconhecidas e geralmente incontroláveis. Via de regra, são
erros pequenos, mas inevitáveis e presentes em quaisquer observações causando discrepâncias que
não relacionam conformidade matemática alguma. A influência desses erros nas observações é
aleatória, de modo que somente possa ser tratado com base na teoria da probabilidade. São
caracterizados por apresentarem ao acaso quaisquer que sejam os métodos, os observadores e os
instrumentos [9].

Destaca-se duas possíveis causas principais para o surgimento de erros grosseiros, sendo elas: erros
grosseiros nas medidas e erros grosseiros oriundos por modelo matemática equivocado. A detecção
de erros grosseiros em observações pode ser fácil (no caso de erros grandes, por exemplo) ou difícil
(no caso de erros irrelevantes, por exemplo), sendo feita muitas vezes somente com uso de teste
estatístico que justifique ou rejeite uma observação suspeita [5].
Dessa forma, a possibilidade de existência de erros grosseiros (outliers) cresce proporcionalmente à
quantidade dessas observações e inversamente proporcional à qualidade dos equipamentos e técnicas
utilizadas num conjunto de observações [9].

3.3. Análise Preliminar dos Dados Hidrológicos


Os dados de uma estação pluviométrica geralmente são projetados sob a forma de uma folha resumo,
em que se tem explicitados totais diários para cada ano de observação e as alturas pluviométricas
anuais e mensais [2].
Devido a possíveis falhas nas observações, contendo erros de medidas, ou mesmo à existência de
períodos sem informações, torna-se necessário submeter os dados a uma análise antes de serem
avaliados [10].
Tendo-se como finalidade trabalhar com séries contínuas, faz-se necessário preencher os períodos
sem informação, sendo possível recorrer-se ao preenchimento de falhas a partir de análise de
regressão. Utiliza-se também um estudo de consistência dos dados sob uma visão regional,
comparando o grau de homogeneidade dos dados disponíveis em uma estação relativa às observações
registradas em estações vizinhas [2,11].
Para encontrar e corrigir erros sistemáticos que possam estar presentes nas séries pluviométricas ou
para preencher períodos com falhas nas observações, algumas técnicas podem ser utilizadas. Existem
atualmente muitos métodos de preenchimento de falhas. Muitas vezes o preenchimento de falhas
numa série de dados não se faz necessário, porém isso varia segundo o objetivo do trabalho realizado,
tamanho das falhas e tipo de dados [2, 12]. As técnicas citadas na literatura para preenchimentos de
falhas nas séries hidrológicas são: Regressão Linear Múltipla (RLM), Ponderação Regional (PR),
Método de Ponderação Regional com base em Regressões Lineares, Interpolação do Inverso da
Distância (IID), Método da Razão Normal (MRN), Método Tradicional do Reino Unido (UK) e
Média Aritmética Simples (MA).

3.3.1 Análise de Consistência de Séries Pluviométricas


É uma prática comum adotar no Brasil para avaliação da consistência dos dados de chuva o Método
de Dupla Massa, desenvolvido pelo United States Geological Survey (USGS, 1960), o qual é válido
apenas para séries mensais e anuais [11].
Os valores acumulados anuais (ou mensais) da estação X são comparados por este método com os
valores acumulados da estação de referência, a qual é comumente a média de diversos postos vizinhos.
Se os valores do posto a consistir são proporcionais aos observados na estação de referência, os pontos
devem alinhar-se segundo uma única reta, sendo que a declividade da reta determina o fator de
proporcionalidade entre ambas as séries. Uma eventual alteração no regime de precipitação do posto
a consistir é evidenciada pela mudança de declividade na reta em um determinado ponto, sugerindo
que observações pluviométricas da estação podem ter sido afetadas por alguma inconsistência
sistemática [2].

3.4 Análise Exploratória dos Dados


A detecção de tendências em longas séries temporais é um problema recorrente na análise de dados
hidrológicos. A fim de detectar tendências graduais ou abruptas em séries hidrológicas, pode-se
melhor fazê-lo, inicialmente, de modo visual [2].
Mesmo havendo muitos testes para a avaliação da significância estatística de uma tendência,
considera-se indispensável a análise gráfica exploratória das séries temporais, previamente à
aplicação de tais testes. Além de ajudar no desenvolvimento de hipóteses a respeito da natureza das
tendências, que devem estar sujeitas a testes formais de significância, a visualização gráfica dos dados
pode fornecer importantes indicações a respeito das possíveis causas das tendências suspeitadas [13].
A avaliação visual dos dados descrita acima é parte de um conjunto de técnicas conhecido como
"Exploratory Data Analysis - EDA" com tradução da terminologia da língua inglesa para o idioma
português como Análise Exploratória dos Dados [2].

3.5 Tendência em Séries Temporais

3.5.1 Testes de Tendência


Por conterem componentes aleatórios os quais se superpõem a regularidades eventualmente
explicitáveis, quase todos os processos hidrológicos são considerados estocásticos ou governados por
leis de probabilidades [5].
A fim de se compreender o impacto que o homem pode gerar sobre a natureza, fazem-se importantes
os estudos de tendências em séries temporais. Atividades antrópicas como o desmatamento, a
urbanização, emissões de gases de efeito estufa e mudanças na prática agrícola podem alterar
importantes aspectos do ciclo hidrológico, sendo que os maiores problemas nos sistemas de recursos
hídricos são relativos às cheias ou às estiagens, de modo que é grande a importância de se estudar
mudanças nas características de extremos hidrológicos [14].
As séries hidrológicas podem sofrer alterações de diferentes maneiras, sendo elas: gradualmente
(tendência), de forma abrupta (presença de saltos), ou por formas mais complexas. As alterações
podem ser notadas em valores médios, na variabilidade (variância, extremos, persistência) ou na
distribuição dentro de anos (na mudança de sazonalidade, por exemplo). Comumente, mudanças que
ocorrem lentamente, como a urbanização, o desmatamento e as mudanças climáticas são
acompanhadas por alterações hidrológicas graduais [5].
A detecção de tendências e outras formas de não estacionariedade em séries hidrológicas podem
ocorrer por diversas abordagens, sendo que a decisão por qual abordagem adotar implica na
necessidade de saber que os procedimentos de teste são válidos (em outras palavras, os dados atendem
aos pressupostos dos testes necessários) e quais procedimentos são mais úteis [14].
Nos testes paramétricos, tidos como mais rigorosos, os valores da variável estudada devem ter
distribuição normal ou aproximação normal [15].
O teste de hipóteses paramétrico faz inferências acerca da natureza de população baseado nas
observações de uma amostra extraída desta população. Testes paramétricos são aplicados se os dados
amostrais, por premissa, tiverem sido extraídos de uma população normal ou de qualquer outra
população, cujo modelo distributivo é conhecido ou previamente especificado. Os testes paramétricos
são conhecidos como testes “t” por fazer uso da distribuição t-Student [5, 15].
Não há exigências nos testes não paramétricos, também conhecidos como testes de distribuição livres,
quanto ao conhecimento da distribuição da variável estudada. Exemplos desses testes são a média e
a variância, por não dependerem de parâmetros populacionais [15].

3.5.2 Testes de Hipóteses


Os testes de hipóteses, úteis na tomada de decisões acerca da forma ou do valor de um certo parâmetro,
são procedimentos usuais da inferência estatística de uma distribuição de probabilidades, da qual é
conhecida apenas uma amostra de observações. A formulação de uma hipótese, na forma de uma
declaração conjectural sobre o comportamento probabilístico da população, caracteriza tais testes [5].
Nessa premissa de base, estão implícitas as hipóteses de estacionariedade, independência,
aleatoriedade e homogeneidade, as quais, pelas características distributivas das variáveis hidrológicas
e pelo tamanho comum de suas amostras, podem ser testadas somente com a utilização dos testes
não-paramétricos [5].

3.5.2.1 Teste da Hipótese de Aleatoriedade


O termo “aleatoriedade” significa, no contexto dos fenômenos do ciclo da água, que as flutuações de
uma determinada variável hidrológica originam-se de causas naturais [5].

3.5.2.2 Teste da Hipótese da Independência

O termo “independência” significa que nenhuma observação presente na amostra pode influenciar a
ocorrência, ou a não ocorrência, de qualquer outra observação seguinte. Mesmo que uma série seja
considerada aleatória, as observações que a constituem podem não ser independentes [5].

3.5.2.3 Teste da Hipótese de Homogeneidade

Homogeneidade em séries hidrológicas significa que as estatísticas da série hidrológica não se alteram
com o tempo. Essa hipótese serve como base para a avaliação dos processos hidrológicos em diversos
estudos de recursos hídricos [16].

3.5.2.4 Teste da Hipótese de Estacionariedade

Estacionariedade está relacionada à invariância das observações amostrais, segundo a cronologia de


suas ocorrências, excluídas as flutuações aleatórias. Dentre as não-estacionariedades estão inclusos
os ciclos, os "saltos" e as tendências, no decorrer do tempo [5].
Sendo paramétrico ou não-paramétrico, faz-se necessário decidir por testes que sejam adequados para
uma situação específica. Alguns testes são muito bons em detectar um tipo muito particular de
mudança. Caso não se conheça o padrão de variabilidade, é sensato que se apliquem testes diferentes
[14].

3.6 Métodos Estatísticos para Detecção de Mudanças em Séries Hidrológicas


Com o intuito de avaliar o grau de significância de possíveis mudanças ou tendências observadas
graficamente, podem as mesmas serem verificadas por meio de testes estatísticos, após a análise
exploratória dos dados. Baseada em uma declaração conjectural acerca do comportamento
probabilístico da população da variável hidrológica em análise, a formulação de uma hipótese ocorre
por meio de tais testes estatísticos [5].
São definidas duas hipóteses, usualmente: a hipótese nula, indicada por H0, e a hipótese alternativa,
descrita como H1. A hipótese H0 pode ser, por exemplo, a declaração conjectural de que não há
tendência na média dos totais anuais de uma série de precipitação de 60 anos de registro. E a hipótese
H1 seria contrária a H0, isto é, determina uma tendência negativa ou positiva na média da série. A
não rejeição ou rejeição da hipótese formulada previamente dependerá do confronto entre a conjectura
e a realidade física, baseando-se em uma certa probabilidade ou nível de significância α [2].
O nível de significância α mensura se o teste estatístico é muito diferente da gama de valores que
deveriam ocorrer tipicamente sob a hipótese nula. Ou seja, α expressa a probabilidade de H0 ser
incorretamente rejeitado, sendo este erro conhecido como erro do Tipo I. Outro tipo de erro ocorre se
H0 é aceita, quando H1 é verdadeira. Nesta ocasião, o erro é denominado do Tipo II (β). Um teste
que possui baixa probabilidade de erro Tipo II é dito poderoso. Nesse sentido, é importante destacar
que os testes mais poderosos devem ser preferidos na análise estatística [17].
Para a detecção de tendências (mudanças) em uma direção pré-especificada, o valor crítico do teste é
definido em α. Por outro lado, para detecção de tendências (mudanças) em qualquer direção, o valor
crítico do teste estatístico é definido em α/2 (teste bilateral) [18].
Desde que as suposições sugeridas em cada teste sejam satisfeitas, para a maior parte dos métodos
estatísticos tradicionais, os valores críticos dos testes estatísticos para diferentes níveis de
significância podem ser calculados a partir de fórmulas ou obtidos em tabelas [2].
A fim de facilitar o estudo estatístico de tendências em séries hidrológicas, pesquisadores australianos
desenvolveram o software denominado TREND para o processamento dos testes estatísticos
mencionados anteriormente. O software TREND utilizado nesse trabalho atendeu de forma eficaz os
anseios almejados e proporcionou dados coerentes com a realidade do município estudado.

4. ESTUDO DE CASO
O município de Juiz de Fora está localizado na latitude de 21°45’51” sul e longitude 43°20’59”’ oeste,
na região sudeste do Estado de Minas Gerais. De acordo com o censo demográfico de 2010, realizado
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a cidade dispõe de uma população
estimada em quinhentos e vinte mil habitantes.
Considerando as características climáticas da região, Juiz de Fora está inserida nas classificações de
Köppen tipo Cwa, ou seja, um clima mesotérmico com verões quentes e estação chuvosa também no
verão. Este clima pode também ser definido, genericamente, como Tropical de Altitude, por
corresponder a um tipo tropical influenciado pelos fatores altimétricos, em vista do relevo local
apresentar altitudes médias entre 700 e 900 m, que contribuem para a amenização das temperaturas.
Com relação ao regime de chuvas, pode ser considerada uma região chuvosa, com precipitação média
anual em torno de 1500 mm. O clima de Juiz de Fora apresenta duas estações bem definidas: uma,
que vai de outubro a abril, com temperaturas mais elevadas e maiores precipitações pluviométricas,
e outra de maio a setembro, mais fria e com menor presença de chuvas.
Uma das características do verão local, além dos elevados índices de calor e umidade, é a presença
de chuvas de tipo convectivo, típicas de final da tarde e início da noite, acompanhadas de elevadas e
concentradas precipitações pluviométricas. Com relação à distribuição dos deslocamentos de massas
de ar, os dados mostram a presença marcante de ventos do quadrante norte. Esta característica, aliada
à existência de uma depressão alongada ao longo do fundo de vale do Rio Paraibuna, com direção
aproximadamente coincidente, forma um corredor preferencial de deslocamento de massas de ar que
se dirigem para o centro urbano da cidade, localizado ao sul.

5. METODOLOGIA
No estudo de tendências a partir de testes estatísticos, foi analisado um conjunto de quatro séries
hidrológicas, com registros de 67 anos, 73 anos, 34 anos e 31 anos, obtido por meio dos dados mensais
coletados no Sistema de Informações Hidrológicas da Agência Nacional de Águas (ANA) - Hidroweb
originando séries de totais anuais correspondentes.
O critério que norteou a seleção dos registros de precipitação total anual para a cidade de Juiz de Fora
foi séries com, pelo menos, 30 anos de registros – exigido pela Organização Meteorológica Mundial
(OMM) a fim de caracterizar o clima de uma determinada região, além de ambas se encontrarem
distribuídas homogeneamente em relação ao município de Juiz de Fora [20].
Utilizou-se para as estações pluviométricas o método de reamostragem (resampling) de 1000 réplicas
para o cálculo dos valores críticos das estatísticas de teste. Nessa perspectiva, foram processados, no
software TREND, todos os testes estatísticos disponíveis no mesmo para as 4 estações selecionadas
na cidade de Juiz de Fora, conforme mostra a Figura 1.

Figura 1 - Representação das 4 estações selecionadas para a cidade de Juiz de Fora.


Ao final do processamento dos testes estatísticos contidos no programa TREND, não foram
evidenciadas tendências ou mudanças abruptas significativas nas séries de totais anuais de
precipitação da cidade de Juiz de Fora. Juntamente com a análise gráfica dos dados, foram aplicados
testes de hipótese para identificação de tendências nas séries mencionadas. Para tanto, foi adotada a
abordagem estatística tradicional e foi considerado um nível de significância α de 0,05. Para a análise
dos testes estatísticos, foi utilizado o software TREND.

6. RESULTADOS
Com a aplicação dos testes: Mann-Kendal, Spermann-Rho e Regressão Linear, não foram detectadas
tendências (significâncias estatísticas em α=0,05) para as estações 02143012, 02143015 e 02143020,
como pode-se perceber nas Tabela 1,
Tabela 2 e Tabela 4. Para a estação 02143016, somente o teste de regressão linear apresentou tendência
significativa, como pode-se observar, após uma análise minuciosa, na Tabela 3.
Com relação às mudanças abruptas, após aplicação dos testes: Cusum, Cumulative Deviation,
Worsley Likelihood, Rank Sum e Student’s t, duas estações apresentaram significância estatística
para somente um teste cada uma, tendo a estação 02143012 mostrado significância para o teste t-
Student (Tabela 1) e a estação 02143020 para o teste Cumulative Deviation (Tabela 4).
Para os testes de correlação serial aplicados: Median Crossing, Turning Point, Rank Difference e Auto
Correlation, apenas as estações 02143012 e 02143020 indicaram significância nos testes de
independência, tendo a estação 02143012 apresentado significância para o teste Turning Point, como
mostrado na Tabela 1, e a estação 02143020 para os testes Median Crossing, Rank Difference e Auto
Correlation, como pode-se observar na Tabela 4. Dessa forma, os resultados para esta última estação
(02143020) devem ser analisados com muita cautela, pois as tendências verificadas nesta estação
podem ter sido influenciadas pela autocorrelação dos dados.
Portanto, após realizado o processamento dos testes estatísticos contidos no programa TREND, não
foram evidenciadas tendências ou mudanças abruptas significativas nas séries de totais anuais de
precipitação da cidade de Juiz de Fora.

Tabela 1 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais anuais de
precipitação da estação 02143012.
(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;
(*)S: significância estatística em α=0,05
Tabela 2 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais anuais de
precipitação da estação 02143015.

(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;


(*)S: significância estatística em α=0,05

Tabela 3 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais anuais de
precipitação da estação 02143016.

(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;


(*)S: significância estatística em α=0,05
Tabela 4 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais anuais de
precipitação da estação 02143020.

(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;


(*)S: significância estatística em α=0,05

6. CONCLUSÃO
Após o processamento dos dados no software TREND e a análise gráfica das séries temporais,
verificou-se que, em termos anuais, o regime de chuvas da cidade de Juiz de Fora não mostra nenhuma
evidência de tendências significativas em suas séries, ratificando a hipótese prévia de
estacionariedade dos totais anuais.
É importante ressaltar que os resultados obtidos pelos testes estatísticos não devem ser interpretados
como provas de presença ou ausência de tendências/mudanças abruptas nos dados. De qualquer forma,
essa ferramenta estatística demonstra ser de muita relevância na análise de tendências de séries
temporais, servindo como instrumento complementar à análise gráfica dos dados. Além disso, na
análise estatística das séries de precipitação anual da região, não foram evidenciadas tendências
significativas.
Tendo tudo isso em vista, a análise desenvolvida neste trabalho ajudou a compreender um pouco
melhor o comportamento do regime de chuvas na cidade de Juiz de Fora, em meio a especulações e
inconclusões quanto aos impactos das mudanças climáticas em séries hidrológicas. Apesar de
diversos noticiários e pesquisas científicas apontarem que as catástrofes naturais observadas
atualmente, como tempestades e enchentes, estão associadas às alterações do clima, tais informações
devem ser julgadas com maior ponderação.
É notório que outros fatores, não de menor importância, além das mudanças globais do clima, podem
intensificar os fenômenos relacionados, em especial, ao regime de chuvas. Outros desafios globais,
tais como elevação do nível de vida, crescimento populacional, urbanização e ocupação de obras de
infraestrutura em regiões críticas (margens de rios, por exemplo) também devem ser vistos como
fatores que afetam fortemente os recursos hídricos. Portanto, associar eventos climáticos extremos
apenas às mudanças climáticas, dissociando-os de outros fatores, como os citados anteriormente, não
é sensato.

REFERÊNCIAS
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– MT. XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, Brasília, 2015.
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Horizonte a partir de métodos estatísticos e modelos climáticos. Dissertação (Mestrado em Recursos Hídricos).
Curso de Pós Graduação em Saneamento, Meio ambiente e Recursos Hídricos, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 193 p, 2009.
[3] MOLION, L. C. B. Desmistificando o aquecimento global. Instituto de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal
de Alagoas, 2008.
[4] CHAPMAN, P. Sorry to ruin the fun, but an ice age cometh. The Australian – Online Newspaper of the Year, 2008.
[5] NAGHETTINI, M. C.; PINTO, E. J. A. Hidrologia Estatística. 1ª ed, Belo Horizonte: CPRM – Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais – Superintendência Regional de Belo Horizonte, 561 p, 2007.
[6] EUCLYDIES, H.P. et al. O “Atlas Digital das Águas de Minas” comoferramenta para o planejamento e gestão dos
recursos hídricos. Artigo, Ruralminas/UFV, Belo Horizonte, 2005.
[7] REIS, M.M. Análise de séries temporais. Notas de aula da disiplina INE 7001 – Estatística para administradores
I. Universidade Federal de Santa Catarina, Campus universitário Trindade, 2018.
[8] KAMEL, H. F., SLIMANI, M., CUDENNEC, C. “A comparison of three geostatistical procedures for rainfall network
optimization”. In: International Renewable Energy Congress, November 5-7, Sousse, Tunisia, 2010.
[9] GONÇALVES, R. P. et al. Identificação de erros grosseiros utilizando Teste Quiquadrado e Teste Tau, II Simpósio
Brasileiro de Geomática, V Colóquio Brasileiro de Ciências Geodésicas, 24-27 de julho, Presidente Prudente – São
Paulo, 2007.
[10] TUCCI, C. E. M. Hidrologia: Ciência e Aplicação. 2ª ed, Porto Alegre: Editora Universidade/ UFRGS: ABRH,
943 p, 2001.
[11] TUCCI, C. E. M. Inundações Urbanas. 1ª ed, ABRH; RHAMA, 389 pp, 2007.
[12] RIHBANE, F. E. C, GAIO, D. C, SANCHES, L. artigo apresentado, XVII Congresso Brasileiro de Meteorologia.
Estudo da variabilidade em séries históricas para preenchimento de falhas, Gramado, RS, 2012.
[13] GRAYSON, R. B.; ARGENT, R. M.; NATHAN, R. J.; MCMAHON, T. A.; MEIN, R. Hydrological Recipes:
Estimation Techniques in Australian Hydrology. Australia: Cooperative Research Centre for Catchment
Hydrology, 125 p, 1996.
[14] QUEIROZ, M. A.; Avaliação de tendências em séries de precipitação diária máxima anual na faixa central do Estado
de Minas Gerais. Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e
Recursos Hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, Belo Horizonte, 2013.
[15] GAMA, J.A.S; Estudo e Aplicação dos Testes de Hipóteses Paramétricos e Não Paramétricos em Amostras da
Estação Fluviométrica Três Maria (MG) da bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, VII CONNEPI (Congresso
Norte-Nordeste de Pesquisa e Inovação), Palmas-Tocantins, 2012.
[16] TUCCI, C. E. M. Hidrologia: Ciência e Aplicação. Organizado por Carlos E.M. Tucci. 3ª ed, Porto Alegre: Editora
UFRGS/ABRH, 2002.
[17] KUNDZEWICZ, Z. W.; ROBSON, A. Detecting Trend and Other Changes in Hydrological Data. Geneva: World
Climate Programme-Water, World Climate Programme Date and Monitoring, WCDMP-45, WMO/TD n. 1013,
158 p, 2000.
[18] CHIEW, F.; SIRIWARDENA, L. Trend User Guide. Australia: CRC for Catchment Hydrology, 29 p, 2005.
[19] ANA. Agência Nacional de Águas. Inventário das Estações Pluviométricas. Superintendência de Administração
da Rede Hidrometeorológica, 488 p, 2006.
[20] NUNES, A. A; PINTO, E. J.A; BAPTISTA, M. B. Análise de tendência para eventos extremos de precipitação na
região metropolitana de Belo Horizonte, XXI Simpósio de Recursos Hídricos, Brasília, 2015.
ANÁLISE DE TENDÊNCIA PARA EVENTOS EXTREMOS DE
PRECIPITAÇÃO NO MUNICÍPIO DE JUIZ DE FORA – MINAS GERAIS

Trend Analysis for Extreme Events of Precipitation in the Municipality of Juiz de


Fora – Minas Gerais

Lorena Gomes Abrantes1, Guilherme Batista da Silva2, Maria Helena Rodrigues Gomes3
1
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, lorenagomesabrantes@hotmail.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, batista.guilherme@engenharia.ufjf.br
32
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mariahelena.gomes@ufjf.edu.br

Resumo: Eventos climáticos extremos têm emergido como uma das principais manifestações de
mudança climática, sendo que a adaptação e minimização dos impactos decorrentes passam pelo
estudo da magnitude e frequência de suas ocorrências. Os estudos de tendências em séries temporais
são importantes devido à necessidade de se compreender o impacto que o homem pode ter sobre os
recursos naturais. Atividades antrópicas como a urbanização, o desmatamento, emissões de gases de
efeito estufa e mudanças na prática agrícola podem alterar importantes aspectos do ciclo hidrológico,
sendo que os maiores problemas nos sistemas de recursos hídricos são relativos às cheias ou às
estiagens, de modo que é grande a importância de se estudar mudanças nas características de extremos
hidrológicos. Levando em consideração a importância do conhecimento da intensidade e da
frequência de ocorrência de eventos extremos em centros urbanos, como na cidade de Juiz de Fora -
MG, objetivou-se com o presente trabalho analisar os eventos diários de chuva com potencialidade
em causar alagamentos na cidade de Juiz de Fora e, a partir da indicação de um valor de referência,
avaliar a existência de tendência nas séries de picos de chuva acima do limite inicial indicado,
utilizando testes estatísticos. A primeira etapa do trabalho consistiu na busca dos eventos de
alagamento ocorridos na cidade, analisando-se, também, dados de precipitação, correspondentes aos
dias de ocorrência dos alagamentos, a fim de estabelecer um princípio indicativo a partir do qual um
evento pode vir a acarretar impactos. Foi realizada a construção das séries de precipitações de quatro
estações contemplando o número anual de dias chuvosos acima do limiar e aplicados testes
estatísticos a partir do software TREND com objetivo de avaliar a presença de tendências. Esse
trabalho permitiu o registro de 17 alagamentos e a estimação de precipitações em um limiar de 30
mm. Verificou-se que uma estação apresentou tendência positiva significativa, mas a mesma indicou
correlação serial entre os dados, devendo os mesmos serem analisados com maior cautela, e uma
outra estação apresentou mudança na média, indicando que os anos mais recentes apresentam maior
quantidade de eventos extremos. Os resultados são indicativos de que o pressuposto de
estacionariedade de séries de máximos de precipitação são corroborados por outros trabalhos
análogos para o mesmo local de estudo, no caso, a cidade de Juiz de Fora. Informações desta natureza
são essenciais nos processos de tomada de decisão dentro da perspectiva de gestão de risco.

Palavras-chave: alagamentos, mudanças climáticas, testes estatísticos.

Abstract: Extreme climatic events have emerged as one of the main manifestations of climate change,
and the adaptation and minimization of the resulting impacts go through the study of the magnitude
and frequency of their occurrences. Studies of trends in time series are important because of the need
to understand the impact man can have on natural resources. Anthropogenic activities such as
urbanization, deforestation, greenhouse gas emissions and changes in agricultural practice can alter
important aspects of the hydrological cycle, with major problems in water systems being related to
floods or droughts, so that the importance of studying changes in the characteristics of hydrological
extremes. Taking into account the importance of knowledge of the intensity and frequency of extreme
events occurring in urban centers, such as in the city of Juiz de Fora, MG, the objective of this study
was to analyze daily rainfall events with potential to cause flooding in city of Juiz de Fora and, based
on the indication of a reference value, to evaluate the existence of trend in the series of peaks above
the indicated initial limit, using statistical tests. The first stage of the work consisted in the search of
flood events in the city, also analyzing precipitation data, corresponding to the days of occurrence of
floods, in order to establish an indicative principle from which an event can come to impacts. The
construction of the four - station precipitation series was carried out, considering the annual number
of rainy days above the threshold and statistical tests were applied from the TREND software to
evaluate the presence of trends. This work allowed the registration of 17 floods and the estimation of
precipitations in a threshold of 30 mm. It was verified that a station presented a positive positive trend,
but it indicated a serial correlation between the data, and they should be analyzed with greater caution,
and another station presented a change in the mean, indicating that the most recent years present a
greater amount of events extremes. The results are indicative that the assumption of stationarity of
series of precipitation maxima is corroborated by other similar works for the same place of study, in
the case, the city of Juiz de Fora. Information of this nature is essential in decision-making processes
from the perspective of risk management.

Keywords: floods, climate change, statistical tests.

1. INTRODUÇÃO
Um dos temas que vem ocupando o meio científico e acadêmico nas últimas duas décadas está
relacionado à identificação de evidências científicas que expliquem as mudanças do clima em nível
mundial. Isso ocorre porque estudar as alterações climáticas ocorridas no passado possibilita
compreender melhor as variabilidades inferidas no presente, além de subsidiar elementos para melhor
averiguação do comportamento do clima futuro. Este último aspecto pode ser melhor compreendido
ao efetuar projeções geradas por modelos climáticos que levam em consideração diferentes aspectos
socioeconômicos, como uso da terra, concentrações de Gases de Efeito Estufa (GEE), dentre outros
fatores [1, 2].

Eventos climáticos extremos têm emergido como uma das principais manifestações de mudança
climática em diversas regiões do mundo. Os eventos extremos são geralmente definidos por valores
atipicamente elevados ou baixos considerando um intervalo de observações [3].

Intensos debates relativos a possíveis mudanças climáticas vêm acontecendo, assim como se observa,
com frequência, o desenvolvimento de estudos e técnicas diversas com o intuito de evidenciar
eventuais tendências na ocorrência de eventos climáticos extremos.
Levando em consideração a importância do conhecimento da intensidade e da frequência de
ocorrência de eventos extremos em centros urbanos, como na cidade de Juiz de Fora - MG, faz-se
necessário analisar os eventos diários de chuva com potencialidade em causar alagamentos na cidade
de Juiz de Fora e, a partir da indicação de um valor de referência, avaliar a existência de tendência
nas séries de picos de chuva acima do limite inicial indicado, por meio de testes estatísticos.
2. OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa é estudar séries de precipitação registradas na cidade de Juiz de Fora - MG
por meio da análise de séries de máximos mensais, de forma a identificar possíveis tendências no
regime pluviométrico por meio da utilização de técnicas estatísticas.

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
3.4 Análise Exploratória dos Dados
A detecção de tendências em longas séries temporais é um problema recorrente na análise de dados
hidrológicos. A fim de detectar tendências graduais ou abruptas em séries hidrológicas, pode-se
melhor fazê-lo, inicialmente, de modo visual [4].
Mesmo havendo muitos testes para a avaliação da significância estatística de uma tendência,
considera-se indispensável a análise gráfica exploratória das séries temporais, previamente à
aplicação de tais testes. Além de ajudar no desenvolvimento de hipóteses a respeito da natureza das
tendências, que devem estar sujeitas a testes formais de significância, a visualização gráfica dos dados
pode fornecer importantes indicações a respeito das possíveis causas das tendências suspeitadas [5].
A avaliação visual dos dados descrita acima é parte de um conjunto de técnicas conhecido como
"Exploratory Data Analysis - EDA" com tradução da terminologia da língua inglesa para o idioma
português como Análise Exploratória dos Dados [4].
3.5.2 Testes de Hipóteses
Além dos métodos de estimação de parâmetros e de construção de intervalos de confiança, os testes
de hipóteses são procedimentos usuais da inferência estatística, úteis na tomada de decisões que dizem
respeito à forma ou ao valor de um certo parâmetro, de uma distribuição de probabilidades, da qual é
conhecida apenas uma amostra de observações. Tais testes envolvem a formulação de uma hipótese,
na forma de uma declaração conjectural sobre o comportamento probabilístico da população [6].
Nessa premissa de base, estão implícitas as hipóteses de aleatoriedade, independência,
homogeneidade e estacionariedade, as quais, pelas características distributivas das variáveis
hidrológicas e pelo tamanho típico de suas amostras, podem ser testadas apenas com o emprego dos
testes não-paramétricos. Os testes descritos a seguir são alguns dos procedimentos não-paramétricos
que possuem maior utilidade na hidrologia estatística [6].
3.5.2.1 Teste da Hipótese de Aleatoriedade

No contexto dos fenômenos do ciclo da água, o termo “aleatoriedade” significa, em sua essência, que
as flutuações de uma determinada variável hidrológica decorrem de causas naturais [6].
3.5.2.2 Teste da Hipótese da Independência

O termo “independência” significa, essencialmente, que nenhuma observação presente na amostra


pode influenciar a ocorrência, ou a não ocorrência, de qualquer outra observação seguinte. Ainda que
uma série seja considerada aleatória, as observações que a constituem podem não ser independentes.
No contexto de variáveis hidrológicas, os armazenamentos naturais de uma bacia hidrográfica, por
exemplo, podem determinar a ocorrência de vazões de menor porte, na sequência de vazões reduzidas,
ou, contrariamente, de vazões de maior porte, na sequência de vazões elevadas. A dependência, nesse
caso, varia com o intervalo de tempo que separa as observações consecutivas da série hidrológica:
forte, para vazões médias diárias, e fraca ou nenhuma, para vazões médias (mínimas ou máximas)
anuais [6].
3.5.2.3 Teste da Hipótese de Homogeneidade

A avaliação dos processos hidrológicos em diferentes estudos de recursos hídricos baseia-se na


homogeneidade das séries hidrológicas, ou seja, as estatísticas da série hidrológica não se alteram
com o tempo [7].
3.5.2.4 Teste da Hipótese de Estacionariedade
O termo “estacionariedade” refere-se ao fato que, excluídas as flutuações aleatórias, as observações
amostrais são invariantes, relativamente à cronologia de suas ocorrências. Os tipos de não-
estacionariedades incluem tendências, "saltos" e ciclos, ao longo do tempo [6].
Sendo paramétrico ou não-paramétrico, faz-se necessário escolher testes que sejam apropriados para
uma situação particular. Alguns testes são muito bons em detectar um tipo muito específico de
mudança. Caso não se conheça o padrão de variabilidade, é sensato que se apliquem testes diferentes
[8].

4. ESTUDO DE CASO
O município de Juiz de Fora está localizado na latitude de 21°45’51” sul e longitude 43°20’59”’ oeste,
na região sudeste do Estado de Minas Gerais. De acordo com o censo demográfico de 2010, realizado
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a cidade dispõe de uma população
estimada em quinhentos e vinte mil habitantes.
Considerando as características climáticas da região, Juiz de Fora está inserida nas classificações de
Köppen tipo Cwa, ou seja, um clima mesotérmico com verões quentes e estação chuvosa também no
verão. Este clima pode também ser definido, genericamente, como Tropical de Altitude, por
corresponder a um tipo tropical influenciado pelos fatores altimétricos, em vista do relevo local
apresentar altitudes médias entre 700 e 900 m, que contribuem para a amenização das temperaturas.
Com relação ao regime de chuvas, pode ser considerada uma região chuvosa, com precipitação média
anual em torno de 1500 mm. O clima de Juiz de Fora apresenta duas estações bem definidas: uma,
que vai de outubro a abril, com temperaturas mais elevadas e maiores precipitações pluviométricas,
e outra de maio a setembro, mais fria e com menor presença de chuvas.

5. METODOLOGIA
A primeira etapa do trabalho consistiu na busca dos eventos de alagamento ocorridos na cidade,
analisando-se, também, dados de precipitação, correspondentes aos dias de ocorrência dos
alagamentos, a fim de estabelecer um princípio indicativo a partir do qual um evento pode vir a
acarretar impactos. Foi realizada a construção das séries de precipitações de quatro estações (Tabela
1) contemplando o número anual de dias chuvosos acima do limiar e aplicados testes estatísticos a
partir do software TREND com objetivo de avaliar a presença de tendências.
Tabela 1– Localização das estações selecionadas para a cidade de Juiz de Fora [9].

Município: Juiz de Fora UF: MG Código Municipal: 17367000


Entidade: Agência Nacional das Águas (ANA)

Estação Nome da Estação Latitude Longitude Altitude


2143012 Juiz de Fora 21º45'00''S 43º20'00"O 676,00 m
2143015 Fazenda São José 21º55'00"S 43º22'00"O 488,00 m
2143016 Torreões 21º52'09"S 43º33'20"O 442,00 m
2143020 Chapéu D'uvas 21º35'36"S 43º30'19"O 702,00 m

No estudo de tendências a partir de testes estatísticos, foi analisado um conjunto de quatro séries
hidrológicas, com registros de 67 anos, 73 anos, 34 anos e 31 anos, obtido por meio dos dados mensais
coletados no Sistema de Informações Hidrológicas da Agência Nacional de Águas (ANA) - Hidroweb
originando séries de totais anuais correspondentes.
O critério que norteou a seleção dos registros de precipitação de total anual para a cidade de Juiz de
Fora foi séries com, pelo menos, 30 anos de registros – exigido pela Organização Meteorológica
Mundial (OMM) a fim de caracterizar o clima de uma determinada região, além de ambas se
encontrarem distribuídas homogeneamente em relação ao município de Juiz de Fora [10].
Utilizou-se para as estações pluviométricas o método de reamostragem (resampling) de 1000 réplicas
para o cálculo dos valores críticos das estatísticas de teste. Nessa perspectiva, foram processados, no
software TREND, todos os testes estatísticos disponíveis no mesmo para as 4 estações selecionadas
na cidade de Juiz de Fora, conforme mostra a Figura 1.
Figura 1 - Representação das 4 estações selecionadas para a cidade de Juiz de Fora.

Foram utilizados os seguintes testes para a obtenção dos resultados:

-testes para tendências: são testes que verificam a significância de mudanças graduais na série de
dados. Exemplos: Mann-Kendall (não paramétrico),teste de Spearman ou Spearman’s Rho (não
paramétrico) e teste dos coeficientes de Regressão Linear (paramétrico);
- testes para mudanças abruptas: são testes que verificam a significância da mudança da média ou
mediana da amostra a partir de um ponto da série, seja ele conhecido ou não. Exemplos: soma
acumulada não paramétrica ou Distribution-Free CUSUM (não paramétrico), desvio acumulado ou
Cumulative Deviation (paramétrico), teste da razão de verossimilhança de Worsley ou Worsley
Likelihood Ratio (paramétrico), soma das ordens ou Rank-Sum (não paramétrico) e o teste
convencional de Student (paramétrico);
- testes para verificação da independência: são testes que buscam verificar se existe correlação serial
entre os dados da amostra. Exemplos: cruzamento da mediana ou Median Crossing (não paramétrico),
inflexões ou Turning Points (não paramétrico), diferença de ordem ou Rank Difference (não
paramétrico) e Autocorrelação (paramétrico).

Ao final do processamento dos testes estatísticos contidos no programa TREND, não foram
evidenciadas tendências ou mudanças abruptas significativas nas séries de totais anuais de
precipitação da cidade de Juiz de Fora. Juntamente com a análise gráfica dos dados, foram aplicados
testes de hipótese para identificação de tendências nas séries mencionadas. Para tanto, foi adotada a
abordagem estatística tradicional e foi considerado um nível de significância α de 0,05. Para a análise
dos testes estatísticos, foi utilizado o software TREND.

6. RESULTADOS
Com a aplicação dos testes: Mann-Kendal, Spermann-Rho e Regressão Linear, não foram detectadas
tendências (significâncias estatísticas em α=0,05) para as estações 02143012, 02143015 e 02143020,
como pode-se perceber nas Tabela 2, Tabela 3, Tabela 5. Para a estação 02143016, ambos os métodos
apresentaram tendência significativa, como pode-se observar na Tabela 4.
Com relação às mudanças abruptas, após aplicação dos testes: Cusum, Cumulative Deviation,
Worsley Likelihood, Rank Sum e Student’s t, duas estações apresentaram significância estatística,
tendo a estação 02143012 mostrado significância para os testes Rank Sum e t-Student (Tabela 2) e a
estação 02143016 para todos os testes mencionados (Tabela 4).
Para os testes de correlação serial aplicados: Median Crossing, Turning Point, Rank Difference e Auto
Correlation, apenas as estações 02143016 e 02143020 indicaram significância nos testes de
independência, tendo a estação 02143020 apresentado significância para o teste Auto Correlation
(Tabela 5) e estação 02143016 para todos quatro testes citados acima, como pode ser visto na Tabela
4.
Dessa forma, os resultados para esta última estação (02143020) devem ser analisados com cautela,
pois as tendências verificadas nesta estação podem ter sido influenciadas pela autocorrelação dos
dados e, os resultados obtidos para a estação 02143016 devem ser desconsiderados, visto que essa
estação apresentou muitas incongruências em seus valores, sendo mais notável por meio da correlação
serial, em que entre todos os resultados possuem significância estatística para os quatro testes para
verificação da independência (Median Crossing, Turning Point, Rank Difference e Auto Correlation).
Portanto, após realizado o processamento dos testes estatísticos contidos no programa TREND, não
foram evidenciadas tendências ou mudanças abruptas significativas, em maior parte, desconsiderando
os resultados da estação 02143016, nas séries de máximos mensais de precipitação na cidade de Juiz
de Fora.
Tabela 2 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os máximos mensais de
precipitação da estação 02143012.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall 1,563 1,96 1,948 NS
Spearman's Rho 1,886 1,96 2,026 NS
Linear regression 1,807 1,979 1,97 NS
Cusum 11 18,448 21 NS
Cumulative deviation 1,266 1,297 1,286 NS
Worsley likelihood 2,58 3,157 4,156 NS
Rank Sum -2,606 1,96 2,055 S
Student's t -2,314 1,979 2,035 S
Median Crossing 0,961 1,96 1,848 NS
Turning Point -1,289 1,96 2,87 NS
Rank Difference -1,833 1,96 1,957 NS
Auto Correlation 0,132 1,96 1,881 NS

(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;


(*)S: significância estatística em α=0,05

Tabela 3 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os máximos mensais de
precipitação da estação 02143015.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall -1,492 1,96 1,918 NS
Spearman's Rho -1,191 1,96 2,021 NS
Linear regression -1,71 1,979 2,055 NS
Cusum 11 18,398 21 NS
Cumulative deviation 1,005 1,296 1,331 NS
Worsley likelihood 2,306 3,157 3,588 NS
Rank Sum 0,881 1,96 2,061 NS
Student's t 1,166 1,979 1,979 NS
Median Crossing 0,148 1,96 1,927 NS
Turning Point -1,703 1,96 2,584 NS
Rank Difference 0,564 1,96 1,957 NS
Auto Correlation -0,417 1,96 1,942 NS

(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;


(*)S: significância estatística em α=0,05
Tabela 4 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os máximos mensais de
precipitação da estação 02143016.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall 4,667 1,96 1,889 S
Spearman's Rho 4,981 1,96 2,095 S
Linear regression 5,339 1,974 2,03 S
Cusum 41 26,511 29 S
Cumulative deviation 2,846 1,312 1,308 S
Worsley likelihood 7,837 3,153 3,703 S
Rank Sum -3,393 1,96 2,13 S
Student's t -3,731 1,974 2,081 S
Median Crossing 3,75 1,96 1,901 S
Turning Point -3,781 1,96 2,805 S
Rank Difference -4,775 1,96 1,886 S
Auto Correlation 3,695 1,96 2,011 S

(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;


(*)S: significância estatística em α=0,05

Tabela 5 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os máximos mensais de
precipitação da estação 02143020.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall -1,471 1,96 1,933 NS
Spearman's Rho -1,128 1,96 2,123 NS
Linear regression -1,794 1,975 1,914 NS
Cusum 13 25,84 33 NS
Cumulative deviation 1,249 1,31 1,311 NS
Worsley likelihood 3,212 3,153 3,619 NS
Rank Sum 1,026 1,96 2,103 NS
Student's t 1,519 1,975 1,876 NS
Median Crossing 1,265 1,96 2,003 NS
Turning Point -2,419 1,96 2,67 NS
Rank Difference -1,879 1,96 1,945 NS
Auto Correlation 2,364 1,96 1,963 S

(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;


(*)S: significância estatística em α=0,05

7. CONCLUSÃO
Esse trabalho permitiu o registro de 17 alagamentos e a estimação de precipitações em um limiar de
30 mm. Verificou-se que uma estação apresentou tendência positiva significativa, mas a mesma
indicou correlação serial entre os dados, devendo os mesmos serem analisados com maior cautela
(sendo recomendável o descarte de seus dados, visto as demasiadas incongruências em seus valores),
e uma outra estação apresentou mudança na média, indicando que os anos mais recentes apresentam
maior quantidade de eventos extremos. Os resultados são indicativos de que o pressuposto de
estacionariedade de séries de máximos de precipitação são corroborados por outros trabalhos
análogos para o mesmo local de estudo, no caso, a cidade de Juiz de Fora. Informações desta natureza
são essenciais nos processos de tomada de decisão dentro da perspectiva de gestão de risco.
É importante ressaltar que os resultados obtidos pelos testes estatísticos não devem ser interpretados
como provas de presença ou ausência de tendências/mudanças abruptas nos dados. De qualquer forma,
essa ferramenta estatística demonstra ser de muita relevância na análise de tendências de séries
temporais, servindo como instrumento complementar à análise gráfica dos dados. Além disso, na
análise estatística das séries de precipitação anual da região, não foram evidenciadas tendências
significativas.

REFERÊNCIAS
[1] MARENGO, J.A. Mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre a biodiversidade: caracterização do clima atual e
definição das alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do século XXI. Ministério do Meio Ambiente,
Secretaria de Biodiversidade e Florestas. 2ª ed, Brasília: MMA, v.26, 212p, 2007.
[2] MARENGO, J.A.; TOMASELLA, J.; NOBRE, C.A. Mudanças climáticas e recursos hídricos. In: Bicudo, C.E.de
M., Tundisi, J.G., Scheuenstuhl, M.C.B. (eds.). Águas do Brasil: análises estratégicas. Capítulo 12, 224p. 2010.
[3] IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change). Summary for policymakers. In: C. B. FIELD, V. BARROS, T.
F. STOCKER, D. QIN, D. J. DOKKEN, K. L. EBI, et al. (Eds.). Managing the risks of extreme events and disasters
to advance climate change adaptation. A special report of working groups I and II of the Intergovernmental Panel
on Climate Change. Cambridge, UK, and New York, NY, USA: Cambridge University Press, pp. 3-21, 2012.
[4] ALEXANDRE, G. R. Estudo para identificação de tendências do regime pluvial na região metropolitana de Belo
Horizonte a partir de métodos estatísticos e modelos climáticos. Dissertação (Mestrado em Recursos Hídricos).
Curso de Pós Graduação em Saneamento, Meio ambiente e Recursos Hídricos, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 193 p, 2009.
[5] GRAYSON, R.B., ARGENT, R.M., NATHAN, R.J., MCMAHON, T.A., MEIN, R. Hydrological Recipes: Estimation
Techniques in Australian Hydrology. Cooperative Research Centre for Catchment Hydrology, Australia, 125 pp.
1996.
[6] NAGHETTINI, M. C., PINTO, E. J. A. Hidrologia Estatística. 1ª ed, Belo Horizonte: CPRM – Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais – Superintendência Regional de Belo Horizonte, 561 p, 2007.
[7] TUCCI, C. E. M. Hidrologia: Ciência e Aplicação. Organizado por Carlos E.M. Tucci. 3ª ed, Porto Alegre: Editora
UFRGS/ABRH, 2002.
[8] QUEIROZ, M. A. Avaliação de tendências em séries de precipitação diária máxima anual na faixa central do
Estado de Minas Gerais. Dissertação de mestrado, Programa de Pós-Graduação em Saneamento, Meio Ambiente e
Recursos Hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG, Belo Horizonte, 2013.
[9] ANA. Agência Nacional de Águas. Inventário das Estações Pluviométricas. Superintendência de Administração da
Rede Hidrometeorológica, 488 p, 2006.
[10] NUNES, A. A., PINTO, E. J. A., BAPTISTA, M. B. Análise de tendência para eventos extremos de precipitação na
região metropolitana de Belo Horizonte. XXI Simpósio de Recursos Hídricos, Brasília, 2015.
ANÁLISE DE TENDÊNCIA DE PRECIPITAÇÃO DE TOTAIS SEMESTRAIS
E TRIMESTRAIS NO MUNICÍPIO DE JUIZ DE FORA – MINAS GERAIS

Trend Analysis of Precipitation of Total Half-Yearly and Quarterly in the Municipality


of Juiz de Fora – Minas Gerais

Lorena Gomes Abrantes1, Guilherme Batista da Silva2, Maria Helena Rodrigues Gomes3
1 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, lorenagomesabrantes@hotmail.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, batista.guilherme@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mariahelena.gomes@ufjf.edu.br

Resumo: O estudo de mudanças em séries temporais de dados hidrológicos é de grande importância


no gerenciamento dos recursos hídricos pelos gestores locais. Em geral, o sistema de recursos hídricos
é projetado considerando a estacionariedade da sequência de dados hidrológicos de vazão ou de
precipitação. Entretanto, tal suposição não pode ser verificada quando há a presença de aspectos de
mudanças climáticas, mudança de cobertura vegetal e variabilidade. Nesses casos, os projetos
baseados na estacionariedade dos eventos hidrológicos devem ser revisados com a finalidade de
avaliar os possíveis impactos no sistema hídrico local. Por outro lado, é bastante difícil detectar
mudanças nas séries temporais de dados hidrológicos inerentes às mudanças climáticas, devido a forte
variabilidade natural, sobretudo das vazões, que por vezes está associada ao uso do solo na bacia.
Para essa análise de tendências foram utilizadas 4 estações pluviométricas com, pelo menos, 30 anos
de registros cada uma. A partir desses dados coletados, foram obtidos conjuntos de séries de
precipitação de totais semestrais e trimestrais. Os dados coletados passaram por um processo de
análise visual por meio da construção de gráficos temporais e posterior análise de testes estatísticos
para detecção de tendências através do software TREND. A análise dos resultados obtidos a partir
dos métodos estatísticos verificou-se que, em termos de totais semestrais e trimestrais, o regime de
chuvas da cidade de Juiz de Fora não mostra nenhuma evidência de tendência significativa,
ratificando a hipótese prévia de estacionariedade tanto no total semestral quanto no total trimestral.
Esses resultados foram corroborados pela análise gráfica dos dados realizada em paralelo.

Palavras-chave: chuvas, séries históricas, testes estatísticos.

Abstract: The study of changes in time series of hydrological data is of great importance in the
management of water resources by local managers. In general, the water resources system is designed
considering the stationarity of the hydrological flow or precipitation data sequence. However, this
assumption can not be verified when there are aspects of climate change, change of vegetation cover
and climatic variability. In such cases, projects based on the stationarity of hydrological events should
be reviewed in order to evaluate the possible impacts on the local water system. On the other hand, it
is quite difficult to detect changes in the temporal series of hydrological data inherent to climate
change due to the strong natural variability, especially of the flows, which is sometimes associated to
the use of the soil in the basin. For this trend analysis, four rainfall stations with at least 30 years of
records were used. From these collected data, sets of precipitation series of semiannual and quarterly
totals were obtained. The data collected underwent a process of visual analysis through the
construction of temporal graphs and later analysis of statistical tests for trend detection through
TREND software. The analysis of the results obtained from the statistical methods showed that, in
terms of semiannual and quarterly totals, the rainfall regime of the city of Juiz de Fora shows no
evidence of a significant trend, ratifying the previous hypothesis of stationarity in both total half-
yearly. These results were corroborated by the graphical analysis of the data performed in parallel.

Keywords: rainfall, historical series, statistical tests.

1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, diversas séries hidrológicas não tem sido estacionárias devido a fatores como a
variabilidade climática, por exemplo. Quando as estatísticas de uma série não alteram com o tempo
e suas amostras são representativas, a mesma é chamada de série estacionária [1]. Muitas questões
tem sido levantadas quanto à adequação de métodos estatísticos convencionais para a previsão de
recursos hídricos regionais de longo prazo de modo a evidenciar não estacionariedade de alguns
registros hidrológicos longos existentes [3].

2. OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa é estudar séries de precipitação registradas na cidade de Juiz de Fora - MG
por meio da análise de séries de totais semestrais e trimestrais, de forma a identificar possíveis
tendências no regime pluviométrico por meio da utilização de técnicas estatísticas.

3. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Os testes de hipóteses são procedimentos usuais da inferência estatística, os quais envolvem a
formulação de uma hipótese, na forma de uma declaração conjectural sobre o comportamento
probabilístico da população, estando implícitas as hipóteses de aleatoriedade, independência,
homogeneidade e estacionariedade, testadas apenas por meio de testes não-paramétricos [4].
Os testes de hipóteses são classificados em: paramétricos e não paramétricos. Os testes paramétricos
tem seus dados amostrais extraídos de uma distribuição, cujo modelo é supostamente conhecido ou
anteriormente especificado e os testes não paramétricos são aqueles que não necessitam da
especificação prévia da distribuição da população da qual foram extraídos os dados amostrais [5].

4. ESTUDO DE CASO

O município de Juiz de Fora está localizado na latitude de 21°45’51” sul e longitude 43°20’59”’ oeste,
na região sudeste do Estado de Minas Gerais. De acordo com o censo demográfico de 2010, realizado
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a cidade dispõe de uma população
estimada em quinhentos e vinte mil habitantes. Considerando as características climáticas da região,
Juiz de Fora está inserida nas classificações de Köppen tipo Cwa, ou seja, um clima mesotérmico
com verões quentes e estação chuvosa também no verão. Este clima pode também ser definido,
genericamente, como Tropical de Altitude, por corresponder a um tipo tropical influenciado pelos
fatores altimétricos, em vista do relevo local apresentar altitudes médias entre 700 e 900 m, que
contribuem para a amenização das temperaturas. Com relação ao regime de chuvas, pode ser
considerada uma região chuvosa, com precipitação média anual em torno de 1500 mm.
5. METODOLOGIA

No estudo de tendências a partir de testes estatísticos, foi analisado um conjunto de quatro séries
hidrológicas, com registros de 67 anos, 73 anos, 34 anos e 31 anos, obtido por meio dos dados mensais
coletados no Sistema de Informações Hidrológicas da Agência Nacional de Águas (ANA) - Hidroweb
originando séries de totais anuais correspondentes. Utilizou-se para as estações pluviométricas o
método de reamostragem (resampling) de 1000 réplicas para o cálculo dos valores críticos das
estatísticas de teste. Nessa perspectiva, foram processados, no software TREND, todos os testes
estatísticos disponíveis no mesmo para as 4 estações selecionadas na cidade de Juiz de Fora, conforme
mostra a Figura 1.

Figura 1 - Representação das 4 estações selecionadas para a cidade de Juiz de Fora.

Foram utilizados os seguintes testes para a obtenção dos resultados:

- testes para tendências: Mann-Kendall (não paramétrico), ou Spearman’s Rho (não paramétrico) e
teste dos coeficientes de Regressão Linear (paramétrico).
- testes para mudanças abruptas usados: soma acumulada não paramétrica ou Distribution-Free
CUSUM (não paramétrico), Cumulative Deviation (paramétrico), ou Worsley Likelihood Ratio
(paramétrico), Rank-Sum (não paramétrico) e o teste convencional de Student (paramétrico).
- testes para verificação da independência: Median Crossing (não paramétrico), Turning Points (não
paramétrico), Rank Difference (não paramétrico) e Autocorrelação (paramétrico).
O teste de Mann Kendall testa a possível existência de uma tendência na série de dados. Os n valores
da série temporal (x1, x2, x3, xn) são reorganizados de acordo com a sua ordem de classificação (R1,
R2, R3, Rn) (ordem crescente dos valores), sendo que a estatística de teste S é:

(1)
Em que:
• sgn(x) = 1 para x > 0; • sgn(x) = 0 para x = 0; • sgn(x) = -1 para x < 0.
Se a hipótese nula (H0) é verdadeira, então S é aproximadamente normalmente distribuída com 𝜇 =
0 𝑒:

(2)
A estatística de teste é, portanto:

(3)
Os valores críticos da estatística de teste para vários níveis de significância podem ser obtidos a partir
de tabelas de probabilidade normal. Um valor positivo de S indica tendência positiva nos dados e
vice-versa.
O método de Spearman’s Rho é baseado em classificaçõees que determinam se a correlação entre
duas variáveis é significativa. Assim como no teste de Mann-Kendall, os N valores da série temporal
são colocados de acordo com a sua ordem de classificação. A estatística de teste ρs é o coeficiente de
correlação, que é obtido da mesma maneira que um coeficiente de correlação de uma amostra usual
é obtido, com a diferença que são usados os ranks da amostra (ordens de classificação):

(4)

Onde:

(5)

(6)
(7)
E xi (rank original), yi (rank da ordem crescente dos dados), 𝑥̅ e y referem-se às médias dos ranks xi
e yi, respectivamente. Para grande amostras, o valor 𝜌𝑠√𝑛 − 1 é, aproximadamente, normalmente
distribuído com média de 0 e variância de 1. Os valores críticos da estatística de teste para vários
níveis de significância podem ser obtidos a partir de tabelas de probabilidade normal.
O teste de regressão linear assume que os dados são normalmente distribuídos e os erros (desvios da
tendência) são independentes, seguindo a mesma distribuição normal com média zero. Ele testa a
possível existência de uma tendência linear, examinando a relação entre o tempo (x) e a variável de
interesse (y). O gradiente de regressão é estimado por:

(8)

Com xi sendo o rank original, yi a variável de interesse e 𝑥̅ e 𝑦 referem-se às médias dos ranks xi e yi,
respectivamente. O intercepto é estimado como:

(9)

A estatística de teste S é:

(10)
Onde:

(11)
A estatística de teste S segue uma distribuição de Student’s t com n-2 graus de liberdade, sendo n o
tamanho da amostra, sob a hipótese nula (H0). Os valores críticos da estatística de teste para vários
níveis de significância podem ser obtidos a partir de tabelas de probabilidade normal.
O método Distribution Free Cusum testa se as medianas em duas partes de um registro de dados são
diferentes (para um tempo de mudança desconhecido). Dada uma série de dados (x1, x2, x3,..., xn), a
estatística de teste é definida como:

(12)
Onde:
• sgn(x) = 1 para x > 0; • sgn(x) = 0 para x = 0; • sgn(x) = -1 para x < 0; • xmediana = o valor
mediano do conjunto de dados xi.
A distribuição de Vk segue a Kolmogorov-Smirnov com estatística de teste dada por:

(13)
Os valores críticos de 𝑚á𝑥𝑥|𝑉𝑘 | são dados por:

• 𝛼 = 0,10 → 1,22 ∙ √𝑛; • 𝛼 = 0,05 → 1,36 ∙ √𝑛; • 𝛼 = 0,01 → 1,63 ∙ √𝑛.

Um valor negativo de Vk indica que a parte posterior do registro de dados tem mediana maior que a
parte anterior e vice-versa.
O método Cumulative Deviation testa se as médias em duas partes de um registro de dados são
diferentes (para um tempo de mudança desconhecido), assumindo que os dados são normalmente
distribuídos. O propósito deste teste é detectar uma mudança na média de uma série de dados depois
de m observações:

• 𝐸(𝑥𝑖) = 𝜇 𝑖 = 1, 2, 3,…, 𝑚; • 𝐸(𝑥𝑖) = 𝜇 + Δ 𝑖 = 𝑚 + 1, 𝑚 + 2,…, 𝑛;

Onde μ é a média antes da mudança e Δ é a mudança na média.


Os desvios cumulativos da média são calculados como:

(14)

(15)
E os Rescaled Adjusted Partial Sums (RAPS) são obtidas dividindo o 𝑆𝑘∗ pelo valor do desvio padrão
da amostra:

(16)

(17)

A estatística de teste Q é dada por:

(18)
E é calculado para cada ano, no qual o maior valor indica o ponto de mudança. Um valor negativo de
𝑆𝑘∗ indica que a parte posterior do registro de dados tem média maior que a parte anterior e vice-
versa. Os valores críticos de 𝑄/√𝑛 são dados na Tabela 1 a seguir.

Tabela 1 – Valores críticos de níveis de significância de 𝑄/√𝑛 [7].

O método Worsley Likehood Ratio testa se as médias em duas partes de um registro de dados são
diferentes (para um tempo de mudança desconhecido), assumindo que os dados são normalmente
distribuídos. Ele é similar ao teste Cumulative Deviation, mas os pesos dos valores de 𝑆𝑘 ∗ dependem
da posição deles na série temporal.

(19)

(20)
A estatística de teste W é:

(21)

Onde:
(22)
Um valor negativo de W indica que a parte posterior do registro de dados tem média maior que a parte
anterior e vice-versa. Os valores críticos de 𝑊 são dados na Tabela 2 que se segue.
Tabela 2 – Valores críticos de níveis de significância de W [7].

O teste Rank-Sum é um método que testa se as medianas em dois períodos são diferentes. Para
computar o teste estatístico, os dados devem ser ordenados de acordo com sua ordem de classificação
de 1 a N (ordem crescente dos dados), sendo N o tamanho da amostra, dividindo a série em dois
grupos (para um tempo de mudança conhecido). No caso de valores iguais, deve ser usada a média
das ordens de classificação. A estatística S é computada como a soma dos ranks de observações do
menor grupo (o número de observações no menor grupo é denotado como n e o número de
observações no maior grupo é designado por m). Em seguida, a média e o desvio-padrão de S sob H0
são calculados a partir das seguintes equações:

(23)

(24)
A estatística de teste Zrs é computada a partir das seguintes condições:
• 𝑍𝑟s= (𝑆 − 0,5 − 𝜇) se 𝑆 > 𝜇; • 𝑍𝑟s= 0 se 𝑆 = 𝜇; • 𝑍𝑟s= (𝑆 + 0,5 − 𝜇) se 𝑆 < 𝜇.

Zrs é, aproximadamente, normalmente distribuído e os valores críticos da estatística de teste para


vários níveis de significância podem ser obtidos a partir de tabelas de probabilidade normal.
O método de Student testa se as médias em dois períodos são diferentes. O teste assume que os dados
seguem uma distribuição normal e que tempo de mudança da série é conhecido. Dessa forma, são
criados dois grupos (dois períodos) a partir deste ponto de mudança. A estatística de teste do teste de
Student é dada por:

(25)
Onde 𝑥̅ e 𝑦 (com barra em cima de x e de y) são as médias do primeiro e do segundo período,
respectivamente, e m e n são o número de observações no primeiro e no segundo períodos,
respectivamente, e S é o desvio padrão da amostra. Os valores críticos da estatística de teste para
vários níveis de significância podem ser obtidos a partir de tabelas de probabilidade do teste de
Student.
No teste Median Crossing, os valores da série temporal de tamanho n são substituídos por 0 se xi <
xmediana e por 1 se xi > xmediana. Se os dados da série temporal forem independentes, então m (o
número de vezes que 0 é seguido por 1 ou 1 é seguido por 0) é aproximadamente normalmente
distribuído com:

(26)

(27)
A estatística de teste z é, portanto:

(28)
Os valores críticos da estatística de teste para vários níveis de significância podem ser obtidos a partir
de tabelas de probabilidade normal.
No teste Turning Points, os valores da série temporal de tamanho n são fixados em 1 se xi-1 < xi >
xi+1 ou xi-1 > xi < xi+1, caso contrário eles são fixados como 0. Os valores críticos da estatística de
teste para vários níveis de significância podem ser obtidos a partir de tabelas de probabilidade normal.
O número de vezes que o número 1 aparece (m*) é, aproximadamente, normalmente distribuído com:

(29)

(30)
A estatística de teste z é, portanto:

(31)
No teste Rank Difference, os valores da série temporal de tamanho n são substituídos pelas ordens de
classificação deles, começando de 1 até n (ordem crescente). A estatística U é a soma dos valores
absolutos das diferenças entre as sucessivas ordens de classificação (ranks), que é expressa por:

(32)

Para valores de n muito grandes, U é normalmente distribuído com:

(33)
(34)
A estatística de teste z é, portanto:

(35)
Os valores críticos da estatística de teste para vários níveis de significância podem ser obtidos a partir
de tabelas de probabilidade normal.
Para o teste de Autocorrelação, o coeficiente de autocorrelação é calculado como:

(36)
com xi sendo a variável de interesse e 𝑥̅ a média da amostra. Se os dados da série temporal forem
independentes, então os valores da esperança e da variância de r1 são dados por:

(37)

(38)
A estatística de teste z é, portanto:

(39)
Os valores críticos da estatística de teste para vários níveis de significância podem ser obtidos a partir
de tabelas de probabilidade normal.
Ao final do processamento dos testes estatísticos contidos no programa TREND, não foram
evidenciadas tendências ou mudanças abruptas significativas nas séries de totais anuais de
precipitação da cidade de Juiz de Fora. Juntamente com a análise gráfica dos dados, foram aplicados
testes de hipótese para identificação de tendências nas séries mencionadas. Para tanto, foi adotada a
abordagem estatística tradicional e foi considerado um nível de significância α de 0,05. Para a análise
dos testes estatísticos, foi utilizado o software TREND.

6. RESULTADOS
Com a aplicação dos testes: Mann-Kendal, Spermann-Rho e Regressão Linear, não foram detectadas
tendências (significâncias estatísticas em α=0,05) para nenhuma das quatro estações tanto para totais
semestrais quanto trimestrais de precipitação, como pode-se perceber nas Tabela 3, Tabela 4, Tabela
5 e Tabela 6.
Com relação às mudanças abruptas, após aplicação dos testes: Cusum, Cumulative Deviation,
Worsley Likelihood, Rank Sum e Student’s t, duas estações apresentaram significância estatística
para totais semestrais, sendo elas as estações 02143016 e 02143020, tendo a estação 02143016
mostrado significância estatística para os testes Cumulative Deviation e Worsley Likehood (Tabela 5)
e a estação 02143020 para o teste Cumulative Deviation (Tabela 6). Para os totais trimestrais,
referentes aos testes para mudanças abruptas, apenas a estação 02143016 apresentou significância
para o teste Worsley Likehood.
Para os testes de correlação serial aplicados: Median Crossing, Turning Point, Rank Difference e Auto
Correlation, nenhuma estação indicaram significância nos testes de independência para os totais
semestrais de precipitação, mas para os totais trimestrais de precipitação, todas as quatro estações
apresentaram significância para somente o teste Turning Point, como mostrado nas Tabela 7, Tabela
8, Tabela 9 e Tabela 10. Dessa forma, os resultados para os totais trimestrais de precipitação para
ambas as estações devem ser analisados com cautela, pois os resultados obtidos nestas estações
podem ter sido influenciados por autocorrelação dos dados - apesar de não ter havido constatação de
tendências para as estações em análise
Portanto, após realizado o processamento dos testes estatísticos contidos no programa TREND, não
foram evidenciadas tendências ou mudanças abruptas significativas nas séries de totais anuais de
precipitação da cidade de Juiz de Fora.

Tabela 3 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais semestrais de
precipitação da estação 02143012.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall 1,317 1,96 2,014 NS
Spearman's Rho 1,382 1,96 1,952 NS
Linear regression 1,305 1,999 1,945 NS
Cusum 10 11,049 11 NS
Cumulative deviation 1,074 1,276 1,283 NS
Worsley likelihood 2,221 3,16 3,915 NS
Rank Sum -1,757 1,96 2,013 NS
Student's t -1,931 1,998 2,006 NS
Median Crossing 0,868 1,96 2,109 NS
Turning Point 1,283 1,96 1,974 NS
Rank Difference 0,446 1,96 1,928 NS
Auto Correlation -1,142 1,96 1,909 NS

(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;


(*)S: significância estatística em α=0,05
Tabela 4 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais semestrais de
precipitação da estação 02143015.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall 0 1,96 1,925 NS
Spearman's Rho 0,155 1,96 2,016 NS
Linear regression -0,165 2 2,055 NS
Cusum 5 10,709 10 NS
Cumulative deviation 0,453 1,275 1,31 NS
Worsley likelihood 1,007 3,16 3,335 NS
Rank Sum -0,746 1,96 2,055 NS
Student's t -0,616 2 1,913 NS
Median Crossing 0,384 1,96 1,921 NS
Turning Point 0 1,96 2,14 NS
Rank Difference 0,457 1,96 1,998 NS
Auto Correlation -1,578 1,96 1,878 NS

(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;


(*)S: significância estatística em α=0,05

Tabela 5 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais semestrais de
precipitação da estação 02143015.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall 1,25 1,96 1,932 NS
Spearman's Rho 1,288 1,96 2,001 NS
Linear regression 1,868 1,98 2,189 NS
Cusum 8 15,918 16 NS
Cumulative deviation 1,32 1,293 1,291 S
Worsley likelihood 3,383 3,158 3,282 S
Rank Sum -0,704 1,96 1,939 NS
Student's t -1,23 1,98 1,904 NS
Median Crossing 0,686 1,96 1,886 NS
Turning Point 1,02 1,96 2,244 NS
Rank Difference -0,266 1,96 1,883 NS
Auto Correlation 1,93 1,96 1,998 NS

(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;


(*)S: significância estatística em α=0,05
Tabela 6 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais semestrais de
precipitação da estação 02143020.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall -0,742 1,96 2,006 NS
Spearman's Rho -0,899 1,96 1,906 NS
Linear regression -1,153 1,98 1,881 NS
Cusum 7 15,743 16 NS
Cumulative deviation 1,426 1,293 1,31 S
Worsley likelihood 2,942 3,158 3,344 NS
Rank Sum 1,486 1,96 2,065 NS
Student's t 1,709 1,98 1,913 NS
Median Crossing 0,78 1,96 1,994 NS
Turning Point 0,619 1,96 2,269 NS
Rank Difference -1,007 1,96 1,999 NS
Auto Correlation 1,452 1,96 1,866 NS

(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;


(*)S: significância estatística em α=0,05

Tabela 7 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais trimestrais de
precipitação da estação 02143012.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall 0,85 1,96 2,041 NS
Spearman's Rho 0,94 1,96 1,857 NS
Linear regression 0,752 1,98 1,956 NS
Cusum 4 15,743 15 NS
Cumulative deviation 0,645 1,293 1,287 NS
Worsley likelihood 1,291 3,158 3,592 NS
Rank Sum -1,023 1,96 1,869 NS
Student's t -1,264 1,98 2,009 NS
Median Crossing 0,087 1,96 1,994 NS
Turning Point -4,126 1,96 2,269 S
Rank Difference 0,575 1,96 2,049 NS
Auto Correlation 0,031 1,96 2,015 NS

(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;


(*)S: significância estatística em α=0,05
Tabela 8 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais trimestrais de
precipitação da estação 02143015.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall 0,115 1,96 1,983 NS
Spearman's Rho 0,124 1,96 1,953 NS
Linear regression -0,372 1,98 2,064 NS
Cusum 2 15,205 15 NS
Cumulative deviation 0,434 1,292 1,286 NS
Worsley likelihood 1,1 3,158 3,215 NS
Rank Sum 0,141 1,96 1,958 NS
Student's t 0,141 1,98 2,006 NS
Median Crossing 0 1,96 1,976 NS
Turning Point -4,274 1,96 2,137 S
Rank Difference 0,508 1,96 1,853 NS
Auto Correlation -0,288 1,96 1,893 NS

(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;


(*)S: significância estatística em α=0,05

Tabela 9 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais trimestrais de
precipitação da estação 02143016.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall 1,192 1,96 2,046 NS
Spearman's Rho 1,202 1,96 2,035 NS
Linear regression 1,169 1,976 1,972 NS
Cusum 8 23,2 23 NS
Cumulative deviation 0,74 1,305 1,329 NS
Worsley likelihood 3,43 3,155 3,149 S
Rank Sum -0,876 1,96 1,994 NS
Student's t -0,851 1,976 2,032 NS
Median Crossing 0,117 1,96 1,997 NS
Turning Point -5,532 1,96 2,046 S
Rank Difference -0,254 1,96 1,993 NS
Auto Correlation -0,034 1,96 1,909 NS

(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;


(*)S: significância estatística em α=0,05
Tabela 10 - Resultados dos testes estatísticos com nível de significância α=0,05 para os totais trimestrais de
precipitação da estação 02143020.
Teste estatístico Valor do teste estatístico Valores críticos (quadro estatístico) Valores críticos (reamostragem) Resultados
a=0.05 a=0.05
Mann-Kendall -0,472 1,96 2,021 NS
Spearman's Rho -0,395 1,96 2,024 NS
Linear regression -0,565 1,977 1,911 NS
Cusum 6 22,43 22 NS
Cumulative deviation 0,822 1,303 1,306 NS
Worsley likelihood 1,66 3,155 3,267 NS
Rank Sum 0,684 1,96 1,965 NS
Student's t 0,769 1,977 2,08 NS
Median Crossing 0,547 1,96 1,883 NS
Turning Point -6,493 1,96 2,164 S
Rank Difference -0,224 1,96 1,998 NS
Auto Correlation 0,765 1,96 1,96 NS

(*) NS: nenhuma significância estatística em α=0,05;


(*)S: significância estatística em α=0,05

7. CONCLUSÃO
Após o processamento dos dados no software TREND e a análise gráfica das séries temporais,
verificou-se que, em termos anuais, o regime de chuvas da cidade de Juiz de Fora não mostra nenhuma
evidência de tendências significativas em suas séries, ratificando a hipótese prévia de
estacionariedade dos totais semestrais e trimestrais.

REFERÊNCIAS
[1] MILLY, P. C. D., BETANCOURT, J., FALKENMARK, M., HIRSCH, R. M., KUNDZEWICZ, Z. W.,
LETTENMAIER, D. P., STOUFFER, R. J. Stationarity is dead: whither water management, Science, 319, 573–574,
2008.
[2] TUCCI, C. E. M. Hidrologia: Ciência e Aplicação. Organizado por Carlos E.M. Tucci. 3ª ed. Porto Alegre: Editora
UFRGS/ABRH, 2002.
[3] COULIBALY, P., BALDWIN, C. K. Nonstationary hydrological time series forecasting using nonlinear dynamic
methods. Journal of Hydrology, v. 307, n. 1-4, p. 164-174, 2005.
[4] NAGHETTINI, M. C., PINTO, E. J. A. Hidrologia Estatística. 1ª ed, Belo Horizonte: CPRM – Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais – Superintendência Regional de Belo Horizonte, 561 p, 2007.
[5] PINTO, N.L.S.; HOLTZ, A.C.T.; MARTINS, J.A; GOMIDE, F.L.S. Hidrologia Básica. Editora Edgard Blucher Ltda.
São Paulo-SP. 278p, 1976.
[6] ANA. Agência Nacional de Águas. Inventário das Estações Pluviométricas. Superintendência de Administração da
Rede Hidrometeorológica, 488 p, 2006.
[7] CHIEW, F., SIRIWARDENA, L. Trend User Guide. Australia: CRC for Catchment Hydrology, 29 p, 2005.
AVALIAÇÃO CRÍTICA DAS SOLUÇÕES EMPREGADAS NO REPARO DE
RECALQUES DIFERENCIAIS EM EDIFICAÇÕES

Analysis of the procedures used in the repair of differential settlement of foundations

Gustavo. NOVATO 1, Maria Teresa. BARBOSA 2


1
Graduando em Engenharia Civil/ Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil,
Email:gustavo.novato@engenharia.ufjf.br
2
Professora Dra., Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, Email: teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br

Resumo: Uma fundação é o elemento que promove a interação solo-estrutura, através da


transferência das cargas das edificações para o terreno. Este processo pode ser comprometido com o
passar do tempo devido a ocorrência de diversos fatores, entre eles o recalque diferencial,
culminando em danos estéticos, de utilização ou estruturais, que comprometem a segurança da
edificação e do usuário. As manifestações patológicas causadas por recalque diferencial têm origem
problemas de projeto, execução ou utilização da estrutura. Além de comprometer a segurança da
edificação, tais manifestações patológicas podem culminar em transtornos judiciais e em grandes
prejuízos financeiros. Este trabalho tem por objetivo principal correlacionar as técnicas de reparo de
fundação que mais se adequam ao tipo de solo local e seu respectivo custo de execução. Para isso,
será feita uma revisão bibliográfica sobre recalque de fundações, suas possíveis causas e
manifestações patológicas decorrentes, dos diferentes tipos de fundação, tipos de solo e a
apresentação de diversos procedimentos utilizados no reparo. Por fim, espera-se que este trabalho
possa contribuir para futuras intervenções disponibilizando dados e informações que auxiliem na
escolha da técnica de reparo a ser utilizada.

Palavras-chave: Custo de reparo, Técnicas de intervenção, Segurança estrutural.

Abstract: Foundation is the element that promotes the soil-structure interaction, through the
transfer of buildings loads to the ground. This process can be compromised in its life cycle by
several factors, among them the differential settlement, culminating in architectural, functional and
use damages that compromise the building and user safety. The pathological manifestations
resulting from differential settlements has its origin in project problems, execution or utilization of
the structure. In addition to compromising the building safety, such pathological manifestations can
culminate in judicial troubles and big financial losses. This paper has as main objective to correlate
the most appropriate techniques and procedures to be employed in the repair with the type of local
soil and its respective cost of execution. For this, it will be done a bibliographical review of the
possible causes of downslope movements, their principles and pathological manifestations, the
different types of foundations, types of soil and the presentation of several procedures used in the
repair. In the end, it is helped that this work may contribute to future interventions by providing
data and information that will help in choosing the repair technique to be used.

Keywords: Cost of repair, Intervention’s technique, Structural Safety.


1. INTRODUÇÃO
O surgimento de manifestações patológicas ocasionadas em função de recalque diferencial de
fundações tem como origem problemas de projeto, execução ou utilização da estrutura, além da
insuficiência ou completa ausência de estudos de investigação do solo local. Isso leva à perda de
desempenho do elemento de fundação na transferência das cargas do edifício ao terreno,
culminando em danos arquitetônicos, funcionais e em casos mais graves, comprometendo a
segurança estrutural da edificação (MILITITSKY et al., 2008).
Uma fundação adequada é aquela que apresenta conveniente fator de segurança à ruptura e
recalques compatíveis com o funcionamento do elemento suportado e, ainda, todas as fundações
sob carga apresentam recalques, pois os solos são materiais deformáveis que apresentam variações
de volume sob carregamento resultando em deslocamentos das fundações (MILITITSKY et al.,
2008). Nesse contexto, Rebelo (2008) define recalque como a deformação que ocorre no solo
quando este é submetido a cargas, provocando movimentação na fundação das edificações que,
dependendo da intensidade, resulta em sérios danos à superestrutura.
Observa-se que usualmente as manifestações patológicas nas fundações são negligenciadas durante
a vida útil de uma edificação e só são estudadas quando se tornam um problema de grande
dimensão, de modo a colocar em risco a segurança estrutural. Tal comportamento pode culminar em
transtornos judiciais envolvendo obras vizinhas, construtora e proprietário, e até mesmo em
desastres de grande repercussão, que poderiam ser evitados no caso de um projeto adequado de
fundações ou de monitoramento de recalques e aplicação rápida de técnicas de reparo (SILVA
JÚNIOR, 2008).
Do exposto, verifica-se a importância da realização de estudos sobre o tema abordado, de forma a
enriquecer conhecimentos acadêmicos e promover maior interação entre teoria e prática. O presente
trabalho se desenvolveu a partir de revisão bibliográfica básica sobre fundações e recalque de solo,
fundamentais para o entendimento do problema e suas possíveis soluções, e descrição de técnicas
de reparo de fundação, a fim de auxiliar na escolha da mais adequada à cada caso.
O presente trabalho tem por objetivo principal apresentar as técnicas de reparo de fundações sujeitas
a recalque diferencial e correlaciona-las ao tipo de solo e custo de execução. Em segundo plano,
pretende-se estudar as possíveis causas de recalque de fundações e as manifestações patológicas
decorrentes, bem como apresentar os tipos de fundações e tipos de solos.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Tipos de solos

É fundamental que o engenheiro civil tenha conhecimento das características físicas do solo para
escolha adequada do tipo de fundação e seu correto dimensionamento, para evitar imprevistos
durante a etapa de execução, que resulte em prejuízo financeiros ou acidentes. E é, principalmente,
a partir da sondagem a percussão (SPT) que as condições naturais do solo são levantadas e
determina-se a resistência do mesmo. No presente trabalho, por simplificação, os solos serão
tratados como moles ou resistentes. Por solos moles compreendem-se argilas com valores de spt ≤ 5
e também solos compressíveis, como as areias fofas. Solos resistentes são considerados aqueles
com maiores valores de spt, como argilas rijas, duras ou areias compactas ou muito compactas. Os
valores de referência para tal designação estão apresentados na Tabela 1, a partir da resistência à
penetração determinada na sondagem à percussão.
Tabela 1 - Resistência à penetração e respectivas designações

Solo Índice de resistência à penetração (N) Designação

≤4 Fofa(o)
5a8 Pouco compacta(o)
Areias e siltes
9 a 18 Medianamente compacta(o)
arenosos
19 a 40 Compacta(o)
> 40 Muito compacta(o)
≤2 Muito mole
3a5 Mole
Argilas e siltes
6 a 10 Média(o)
argilosos
11 a 19 Rija(o)
> 19 Dura(o)

Fonte: NBR 6484, ABNT (2001)

2.2. Tipos de fundações


Fundação é o elemento estrutural que tem por finalidade a transferência das cargas da estrutura para
as camadas resistentes do solo, em uma tensão menor que sua capacidade de carga, servindo de
interação entre o solo e a estrutura. (MILITITSKY et al., 2008).
Segundo Velloso (1998), a escolha do tipo de fundação deve se dar em função da intensidade do
carregamento e da profundidade da camada resistente de solo, tendo como base a solução que
apresenta menor custo e menor prazo de execução. A Tabela 2 apresenta resumidamente os diversos
tipos de infraestrutura adotada nas edificações.
2.3. Recalque de fundação
É um fenômeno que ocorre em todo tipo de obra, sendo necessário a definição de um limite,
chamado recalque admissível, que considera o bom desempenho da estrutura e a sua segurança. De
acordo com Rebello (2008), existem três tipos de deformações que o solo pode sofrer por recalque:
deformação elástica, deformação por escoamento lateral e deformação por adensamento.

A deformação elástica, também denominada recalque imediato, é observada em qualquer material


submetido à situação de carregamento, ou seja, ocorre no momento de aplicação da carga, sendo
maior em solo não coesivos. A deformação por escoamento lateral consiste no deslocamento do
solo de uma zona mais solicitada para outra menos solicitada, o movimento ocorre do centro para as
laterais e verificado de maneira mais acentuada em solo não coesivos sob fundações superficiais. E,
finalmente, a deformação por adensamento é a mais importante e a que pode causar os problemas
mais comuns de recalque de fundações (REBELLO, 2008). O processo de adensamento consiste no
fechamento dos vazios do solo, em decorrência da expulsão da água devido à pressão que as cargas
da estrutura exercem na fundação e é típico de solos argiloso, que apresentam a drenagem lenta.
Tabela 2 - Tipos de fundação e sua indicação aos diferentes tipos de solos

Tipo de Fundação Definição Indicação Observações


Bloco Executado em concreto armado simples sem a Construções de pequeno porte Opção para solos com camadas iniciais resistentes
presença de armadura, sendo que o mesmo
resiste as tensões de tração
Sapata Executado em concreto armado, no qual as Construções de pequeno à médio porte, Opção para solos com camadas iniciais resistentes
tensões de tração serão resistidas pela armadura de acordo com a capacidade de carga do
solo
Superficiais

Sapata Sapata sujeita à ação de uma carga distribuída Receber ações de elementos alongados Opção para solos com camadas iniciais resistentes
Corrida linearmente ou de pilares ao longo de um mesmo com carregamento uniforme, como
alinhamento muros ou paredes
Sapata Sapata comum a mais de um pilar Recurso usado quando há pouco espaço, Opção para solos com camadas iniciais resistentes
Associada ou falta desse, para execução de sapatas
isoladas

Radier Laje em concreto armado, sobre o solo, que Usado no caso de mais de 50% das Opção para solos com baixa resistência; tem
abrange parte ou todos os pilares de uma sapatas apresentarem interferência e rápida execução
estrutura, distribuindo os carregamentos quando se visa uniformizar recalques

Estaca Executada inteiramente por equipamentos ou Cada tipo de estaca tem uma indicação, Escavada - não é indicada para solos moles, com
ferramentas, sem a descida de pessoas; pode ser considerando vibração, atrito com solo e risco de desmoronamento
pré-moldada ou moldada in loco. A transmissão capacidade de carga do mesmo,
das cargas ocorre pela ponta e/ou pela superfície profundidade, obras de recuperação, Cravada - indicada principalmente para solos
Profundas

lateral acesso de equipamentos arenosos, para garantia de atrito lateral

Tubulão Elemento escavado manualmente ou por Terrenos de difícil acesso para máquinas Não é indicado para solos moles, com risco de
equipamentos, que pelo menos em sua etapa e equipamentos, que necessitam de desmoronamento
final, há descida de operário para execução da fundação profunda
base alargada, que transfere as cargas ao solo

Fonte: NBR 6118, ABNT (2010)


Contudo, o recalque do solo pode ter sua ocorrência não somente de suas características naturais,
como apresentado anteriormente. Diversos agentes externos podem ser motivadores desse
fenômeno e, geralmente, será uma combinação que provoca o recalque. Dentre as diversas causas
existentes, destacam-se a sobreposição do bulbo de pressões, deficiência na investigação
geotécnica, alteração da função da edificação, fundação sobre aterros, rebaixamento do nível
freático, efeito Tschebotarioff, influência da vegetação, solos colapsíveis, solos expansivos e
infiltração, conforme ilustrado na Tabela 3.

Tabela 3 - Resumo das possíveis causas de recalque de fundação.

Causas Descrição
Sobreposição do bulbo de Ocorre quando bulbos de pressão de edificações vizinhas se sobrepõem, alterando as
pressões tensões na massa de solo

Deficiência na investigação Pode ser por ausência de sondagem, número insuficiente de furos, profundidade de
geotécnica investigação insuficiente, resultando em um perfil de solo incoerente com a realidade
local, induzindo um projeto errado de fundação
Alteração da função do Situação comum nos centros urbanos, onde as edificações sofrem adaptações alterando
edifício a sobrecarga, como por exemplo a adição de novos pavimentos, mezaninos, ou
mudança no uso

Fundação sobre aterros Situação indesejável, por ser fonte recorrente de problemas; o recalque pode ser
consequência de deformações no próprio aterro, quando o mesmo é mal executado ou
por deformações no solo natural abaixo do aterro
Rebaixamento do lençol Procedimento adotado para execução de fundações ou construções subterrâneas, que
freático reduz a pressão neutra e aumentando a pressão efetiva. Assim sendo, a pressão sobre o
solo aumenta, mesmo sem acréscimo de carga sobre a fundação

Efeito Tschebotarioff Movimentação transversal em camada compressível de solo, causada por cargas
verticais assimétricas, provocadas por aterro ou escavação

Influência da Vegetação A presença de vegetação pode provocar variações na umidade do solo local, que
provocam mudanças volumétricas no terreno e possivelmente, movimentação de
fundações

Solos colapsíveis Solos que em contato com a água têm sua estrutura destruída

Solos expansivos Solos que em contato com a água apresentam um aumento de volume; nesse caso,
pode ocorrer levantamento da fundação e diminuição da resistência desse solo

Infiltração Pode provocar o carreamento do solo abaixo das fundações, afetando a interação solo-
estrutura

Fonte: Milititsky et al., 2008

A ocorrência de recalque diferencial em uma edificação provoca danos de diferentes magnitudes,


que podem ser classificados em danos arquitetônicos, com prejuízo somente estético; danos de
utilização, como emperramento de esquadrias e desconforto emocional aos usuários, quando o
quadro de patologias provoca sensação de insegurança e também, danos estruturais, quando a
situação se agrava ao máximo e a estrutura apresenta risco de entrar em colapso.

3. TÉCNICAS DE REFORÇO DE FUNDAÇÃO E MELHORIAS DE SOLO


Quando as fundações de um edifício não são capazes de absorver as cargas para as quais estão
sendo solicitadas, seja por erro de projeto ou execução, seja por aumento no valor do carregamento,
torna-se necessário intervir no sistema solo-fundação-estrutura, a fim de adequar seu desempenho e
garantir a segurança da edificação. Essa intervenção usualmente se caracteriza pelo reforço da
fundação ou por melhoramento do solo (GOTLIEB, 1998).

3.1 Reforço de fundação

Os reforços de fundação podem ser de diversos tipos e para as mais diferentes situações dentre eles
os reforços provisórios que são indicados para reformas ou em casos onde haverá uma sobrecarga
atuando por um determinando intervalo de tempo e os permanentes, que são indicados quando há
problemas estruturais ou de recalque na edificação, ou quando haverá um aumento na sobrecarga da
edificação de modo permanente; escoramento auxiliar para execução de reforço, que é usado para
reduzir o carregamento atuante em uma fundação que será reforçada permanentemente (GOTLIEB,
1998). Na sequência, são apresentadas técnicas de reforço de fundação.

i) Enrijecimento da estrutura: A implantação de elemento estruturais capazes de promover o


travamento da estrutura é uma solução para minimizar o problema do recalque diferencial,
por aumentar a rigidez da mesma e uniformizar os recalques totais. O enrijecimento da
estrutura pode ser alcançado por meio da execução de vigas de rigidez ligando as fundações
ou com a instalação de peças, metálicas por exemplo, fazendo o travamento fundação-pilar-
viga (GOTLIEB, 1998). A viga de rigidez, também chamada de viga de travamento,
funciona de modo que se um ponto da fundação sofrer recalque, ele tende a arrastar também
os demais pontos que estão interligados pela viga, diminuindo as diferenças de recalque. A
eficácia desta solução depende das cargas, do espaçamento dos pilares e, principalmente, da
altura da viga (REBELLO, 2008). Já o travamento nos pavimentos do edifício, ainda
segundo Rebello (2008), é uma solução muito eficiente para alcançar uniformidade dos
recalques, mas por diversas vezes inviável devido a restrições arquitetônicas.

ii) Aumento da área de apoio: O aumento da área de apoio é indicado quando há um aumento
das cargas ou por ter sido adotado um valor de tensão admissível do solo inadequado e é
uma técnica aplicável no caso de fundações onde a transferência das cargas da edificação
para o solo ocorrem pela base, caso dos blocos, sapatas e tubulões. Constitui-se na
ampliação da seção em planta da sapata ou da base do tubulão, efetuada por meio de um
“enxerto”. Este, em geral é caracterizado pelo chumbamento de ferragens na peça existente,
apicoamento de suas superfícies e o uso de resinas colantes, bem como traços especiais de
novo concreto a ser aplicado que, por exemplo, garanta uma forte retração para a melhor
ligação entre o concreto antigo e o novo (GOTLIEB, 1998).
iii) Estaca Mega: Também chamada de estaca de reação ou estaca prensada, esse tipo de
reforço tem como principal característica o seu processo de cravação, feito com macaco
hidráulico. Essa técnica consiste na instalação de pequenos elementos de estacas vazadas
(com 0,50 a 1,00 metro de comprimento), cravadas superpostas até a profundidade
requerida, a partir do emprego do macaco hidráulico. O mesmo reagirá contra uma
plataforma de sobrecarga, chamada cargueira, ou então contra a estrutura ou contra a própria
fundação a ser reforçada. Quanto ao processo de execução, em alguns casos torna-se
necessária a construção de uma viga de concreto armado sob as paredes para o reforço da
alvenaria que pode não suportar os esforços gerados pelos macacos hidráulicos. Além disso,
para as estacas de concreto armado, é usual a colocação de barras de aço no círculo vazado e
o seu preenchimento com concreto, a fim de promover uma ligação entre os diversos
segmentos da estrutura (GOTLIEB, 1998). Quanto as estacas metálicas, a NBR 6122 da
ABNT (2010) indica que as emendas dos diversos segmentos sejam feitas por solda ou
rosca.

iv) Estaca Raiz: A NBR 6122 da ABNT (2010) define a estaca raiz como “uma estaca moldada
in loco, em que a perfuração é revestida integralmente, em solo, por meio de segmentos de
tubos metálicos (revestimentos) que vão sendo rosqueados à medida em que a perfuração é
executada”. Desenvolvida a partir da década de 1950 na Itália, a estaca raiz foi concebida
para uso em reforço de fundações e obras de contenção, tendo posteriormente, seu uso
ampliado para opção de fundação profunda, sendo amplamente utilizada nos dias atuais,
principalmente em terrenos com presença de matacões ou em que existam fundações de
obras antigas. A característica principal que a torna apta a esse tipo de solo e também para
reforço é a capacidade de perfurar materiais rochosos e estruturas de concreto, além de não
produzir vibração e de ser executada com equipamento de pequena altura (ALONSO, 1998).
Também denominada de estaca injetada, outra característica que a difere das demais estacas
é a possibilidade de execução com grandes inclinações (entre 0 e 90 graus). O processo de
execução inicia-se com a perfuração do solo, através de tubo de revestimento rotativos com
auxílio de circulação de água. Esses tubos são rosqueáveis e vão sendo emendados à medida
em que a perfuração avança, até se chegar na cota desejada. Terminada a perfuração, é feita
a instalação da armadura. Observa-se que esse tipo de estaca pode trabalhar à compressão e
também à tração, devendo a armadura ser dimensionada de acordo com o tipo de solicitação.
Em seguida é feito o preenchimento da estaca com argamassa. O tubo de injeção é
introduzido até o fundo da perfuração, e a injeção acontece de baixo para cima. Por fim, se
procede a retirada do tubo de revestimento, através de macacos hidráulicos. Durante essa
etapa, golpes de ar comprimido são aplicados na estaca, com objetivo de garantir a
integridade da mesma. Assim, são golpes de baixa pressão (inferiores a 0,50 Mpa). Isso
provoca um rebaixamento no nível da argamassa, que deve então, ser completada antes de
um novo golpe de ar. Esse procedimento é repetido até a retirada total do tubo (ALONSO,
1998).

v) Microestacas: A NBR 6122 (ABNT, 2010) define microestaca como uma estaca moldada in
loco, executada através de perfuração rotativa com tubos metálicos (revestimento) ou
rotopercussiva por dentro dos tubos, no caso de matacão ou rocha. Esta estaca é armada e
injetada, com calda de cimento ou argamassa, através de tubo “manchete”, visando
aumentar a resistência do atrito lateral. As microestacas são executadas com tecnologia de
tirantes injetados em múltiplos estágios a partir do auxílio de tubo-manchete de válvulas
múltiplas, que impedem o retorno da calda de cimento. Em cada estágio, utiliza-se pressão
que garanta a abertura das “manchetes” e posterior injeção. Ao contrário das estacas-raiz,
usam-se altas pressões de injeção (ALONSO, 1998). Para baratear o custo das microestacas,
pode-se substituir o tubo de aço por PVC rígido, mas neste caso é obrigatório o uso de
armadura, pois o PVC não tem função estrutural. O procedimento de execução de uma
microestaca compreende basicamente em cinco etapas consecutivas, a saber: perfuração
auxiliada por circulação de água; instalação de tubo-manchete; execução de “bainha”;
injeção de calda de cimento e vedação do tubo manchete (ALONSO, 1998). A utilização de
microestacas é competitiva quando, por exemplo, em presença de interferências naturais,
tais como lâmina de rocha, matacões, solo concrecionado ou artificiais, tais como entulhos,
concreto e alvenarias. Sua aplicação é importante para situações onde se tem proximidade de
estruturas sensíveis à vibração e ruído ou restrições em planta, altura (pé-direito reduzido)
(AZEVEDO e RICHTER, 1998).

vi) Estaca injetada autoperfurante: É uma técnica que tem se popularizado devido simplicidade
de execução, com fácil instalação e controle de execução, uma vez que utiliza de
equipamentos simples, apresentando assim uma menor relação custo/carga dentre as estacas
injetadas. Além disso, pode ser executada com grandes inclinações e o seu processo de
perfuração pode atingir grandes profundidades em terrenos de baixa resistência, conferindo
maior parcela de transmissão de carga ao solo por atrito lateral (SILVA, 2017). A estaca
injetada autoperfurante é uma estaca de pequeno diâmetro moldada in loco, a qual consiste
em perfurar o solo com altíssima velocidade por rotação e pull down, com injeção
simultânea de calda de cimento, utilizando-se um tubo de aço de alta resistência e com ponta
cortante, considerado a armação principal da estaca (ZULUAGA, 2015). Ainda segundo
Zuluaga (2015), esse tipo de estaca é ideal para situações de solos argilosos moles. Silva
(2015) comparou as estacas injetadas convencionais raiz e microestaca com a estaca
autoperfurante em relação à capacidade de carga a tração, em um solo residual de gnaisse na
região de Belo Horizonte e concluiu que essa técnica reúne vantagens e elimina
desvantagens das estacas injetadas convencionais, pois além de alcançar maior capacidade
de carga possui uma produtividade superior, sendo indicada para execução em solos com
ausência de rochas.

vii) Acréscimo de novas fundações: Consiste no aumento no número de apoios na edificação,


com execução de sapatas, tubulões ou estacas adicionais, visando a redução das cargas
atuantes nas fundações originais através de uma redistribuição dos esforços nos novos
elementos de fundação. Essa técnica é indicada para quando há um aumento da sobrecarga
do edifício, quando a tensão admissível do solo tenha sido mal definida, ou ainda quando a
fundação apresenta problemas estruturais (GOTLIEB, 1998). A escolha do tipo da nova
fundação a ser executada como reforço na edificação problemática deve levar em conta a
profundidade da camada resistente de solo, a presença de água e o processo de cravação, que
pode induzir vibrações e fragilizar ainda mais a estrutura existente.
3.2 Melhorias de solo

O processo de reforço de solo consiste em se introduzir no maciço elementos que possuam elevada
resistência à tração (fitas metálicas, mantas geotêxteis, malhas de aço) ou compressão (calda de
cimento). (ABRAMENTO et al., 1998).

São técnicas utilizadas com intuito de aumentar a capacidade de carga de um solo, para evitar
problemas de recalques futuros num projeto de construção e também como reforço de solo sob
edificações já existentes, que estejam sofrendo processo de recalque. O melhoramento de solo pode
ser o reforço final em si ou ser executado para permitir a execução de um reforço de fundação. São
descritos em seguida, algumas técnicas de melhoramento de solo.

i) Jet Grouting: O jet grouting é uma tecnologia de estabilização de solos realizada sem
escavação prévia, através de jateamento sob grande impacto, causado por bombeamento do
líquido sob pressão de 200 a 500 vezes a pressão atmosférica, desagregando a estrutura do
terreno natural e misturando calda de cimento com partículas de solo desagregado, de modo
a transformar o maciço terroso de baixa propriedade em maciço tratado, com melhor
resistência e menor permeabilidade (ABRAMENTO et al., 1998; MARCOS, 2011). Essa
técnica aplica-se, em princípio, em qualquer tipo de solo, sem restrições granulométricas, ou
origem geológica, ou presença de água, assim como as colunas podem ser feitas em
quaisquer direções desde o vertical até o horizontal, tratando os níveis estritamente
necessários (ABRAMENTO et al., 1998).

ii) Congelamento de Solo: O congelamento de solo aparece como solução para obras nas quais
não há estabilidade adequada do terreno durante o processo de construção e também em
situações onde se deseja parar o processo de recalque para execução de uma obra de reforço
de fundação. É uma técnica que se encontra numa fase bastante avançada em países onde há
predominância de temperaturas baixas, mas é aplicável também em países de clima quente,
onde o congelamento é feito artificialmente (MARCOS, 2011). Essa técnica considerada
ainda hoje como inovadora foi desenvolvida e utilizada na Alemanha em 1883, para abertura
de poços em solos de minas de carvão. No Brasil, seu uso mais marcante foi em São Paulo,
no edifício da Companhia Paulista de Seguros, onde o solo foi congelado para perfuração de
tubulões. O método tem como ponto positivo ser uma eficiente barreira contra água, com
impermeabilização perto de 100%, fornecendo alta capacidade de carga e sendo uma
solução menos impactante ao ambiente na zona que se pretende estabilizar (MARCOS,
2011). O procedimento executivo consiste em se enterrar no solo tubos de congelamento
com diferentes espaçamentos, pelos quais passam o material de refrigeração, normalmente
salmoura ou nitrogênio líquido. O refrigerante então passa através dos tubos, que absorvem
o calor do solo envolvente à medida que o material circula. Dessa forma, o processo
transforma água intersticial in situ em gelo.

iii) Carregamento sobre o terreno adjacente: Nos casos de recalques consideráveis e que há
necessidade de estabilização do terreno para evitar o colapso de uma estrutura, uma possível
solução é o carregamento do terreno adjacente à construção, em um dos lados, a fim de parar
ou desacelerar o movimento lateral do solo e o consequente deslocamento da estrutura. Esse
carregamento pode ser feito de diversas formas, desde solo compactado a peças de algum
metal pesado, como chumbo. Essa técnica consiste em uma medida provisória para
estabilização do recalque da fundação, até que algum reforço seja executado. Pode ser
destacado seu uso nas obras de reforço na Torre de Pisa, na Itália.

A Tabela 4 apresenta um quadro comparativo com objetivo de correlacionar as técnicas aqui


apresentadas com o tipo de solo local e o custo de execução.

Tabela 4 - Quadro comparativo entre técnicas reparo.

Tipo de Solo Procedimento mais Custo Observações


adequado
Solo Mole Jet Grouting Alto O alto custo está associado aos equipamentos e mão-
de-obra qualificada
Congelamento do solo Alto O alto custo está associado aos equipamentos
utilizados para manter o solo congelado e o gasto de
energia necessário para tal
Carregamento sobre o terreno Baixo Baixo custo devido a simplicidade da técnica
adjacente
Estaca mega Alto O alto custo está associado aos equipamentos e mão-
de-obra especializada, mas torna-se competitiva devido
à facilidade de acesso e a adequação a diversas
situações
Estaca autoperfurante Alto O alto custo está associado aos equipamentos e mão-
de-obra qualificada
Solo Acréscimo de novas Baixo/Médio O custo estaria associado ao tipo de fundação
Resistente fundações e aumento de área acrescido, por exemplo, no caso de sapatas ou
tubulões, seria baixo custo, por serem fundações que
não demandam equipamentos específicos ou mão-de-
obra qualificada.
O fator decisivo nessa escolha seria a exequibilidades
das fundações, relacionado com a resistência do solo e
as cargas atuantes e à possibilidade das escavações ou
processo de cravação fragilizarem as fundações
problemáticas

NOVATO, Estaca raiz e microestacas Alto O custo dessa técnica é alto devido ao tipo de
20Solo com equipamento utilizado, de alta tecnologia e demanda
presença de mão-de-obra especializada. É um tipo de reforço
matacões indicado para as mais diversas situações, mas torna-se
competitivo em solos com presença de rochas ou
concreto proveniente de antigas obras

Fonte: Autores

5. CONCLUSÃO

Salienta-se que patologia de fundações é, ainda hoje, uma área que não é extensivamente estudada,
principalmente quando comparada com outras dentro da engenharia civil. O presente trabalho
abordou teorias básicas sobre fundações, tipos de solos e processo de recalque nos solos, como
fundamentação teórica para entendimento dos problemas em fundações e apresentou técnicas de
reparo a fim de correlacioná-las com a adequada utilização.

Ressalta-se que o melhor é garantir um empreendimento de qualidade desde o início, nas fases de
projeto e execução de forma a evitar transtornos e prejuízos financeiros oriundos da necessidade de
reforço das fundações da edificação.

Como forma de prevenção ao recalque de fundações, antes do início da obra, conclui-se que deve
ser elaborado um bom projeto de engenharia, dando devida importância a etapa de investigação
geotécnica e análise de solo, respeitando as exigências normativas e sob acompanhamento de
profissional capacitado, a fim de evitar erros na execução da sondagem. Como forma de minimizar
o risco de falsos resultados, pode ser sugerido investigações complementares do solo, com um
número de sondagens superior ao mínimo determinado em norma.

A execução da obra deve ser realizada seguindo as considerações previstas em projeto, uma vez que
erros de construção podem alterar a forma que os esforços da estrutura atuam no solo.
Mas na ocorrência das manifestações patológicas que sugerem recalque de fundações, é
fundamental que seja feito o controle das movimentações ao longo do tempo, para previsão do
comportamento futuro da edificação, garantindo segurança da estrutura até a execução de
procedimentos de reparo.

Verifica-se a existência de diferentes técnicas de reparo e que em diversos casos, pode existir mais
de uma solução para o mesmo problema. O que deve nortear a escolha é a oferta de mercado na
região e o custo de execução da técnica, que geralmente apresenta custo elevado, bem como o
conhecimento do solo local.

REFERÊNCIAS
[1] MILITITSKY, J.; CONSOLI, N. C. e SCHNAID, F. Patologia das Fundações. 2. ed. São Paulo: Oficina de Textos,
2008. 207 p.
[2] REBELLO, Y. C. P. Fundações: guia prático de projeto, execução e dimensionamento. 4. ed. São Paulo: Zigurate,
2008. 240 p.
[3] SILVA JUNIOR, F. C. da. Uma revisão sobre as manifestações patológicas mais frequentes em fundações de
concreto de edificações. 2008. 90 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Engenharia Civil),
Departamento de Tecnologia da Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de Santana, 2008.
[4] ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6484: Solo – Sondagens de simples
reconhecimentos com SPT – Métodos de ensaio. Rio de Janeiro, 2001.
[5] VELLOSO, D.; LOPES, F. L. Concepção de Obras de Fundações. In: HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J.
L.; FROTA, R. G. Q.; CARVALHO, C. S. e NIYAMA, S. Fundações: Teoria e Prática. 2. ed. São Paulo: Pini,
1998. Cap. 12. p. 471 – 482.
[6] GOTLIEB, M. Reforço de Fundações Convencionais. In: HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J. L.; FROTA,
R. G. Q.; CARVALHO, C. S. e NIYAMA, S. Fundações: Teoria e Prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998. Cap. 12.
p. 471 – 482.
[7] ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122: Projeto e execução de fundações.
Rio de Janeiro, 2010.
[8] ALONSO, U. R. Estacas Injetadas. In: HACHICH, W.; FALCONI, F. F.; SAES, J. L.; FROTA, R. G. Q.;
CARVALHO, C. S. e NIYAMA, S. Fundações: Teoria e Prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998. Cap. 9. p. 361 –
372.
[9] AZEVEDO, C. P. B.; RICHTER, C. M. B. Microestacas Injetadas. Revista Fundações e Obras Geotécnicas. São
Paulo: Editora Rudder. p. 64 – 61. Disponível em: < http://brasecol.com.br/wp-content/uploads/2015/06/Em-
Foco.pdf>. Acessado em: 11 de agosto de 2017.
[10] SILVA, R. R. C. da. Verificação do desempenho das estacas injetadas autoperfurantes executadas em solos
arenosos para construção de uma usina eólica. REEC – Revista Eletrônica de Engenharia Civil. v. 13, n. 2,
2017. Disponível em: <https://www.revistas.ufg.br/reec/article/view/45095>. Acesso em: 12 de agosto de 2017.
[11] ZULUAGA, F. A. Estimativa da capacidade de carga e recalque de fundações tipo Alluvial Anker no solo do
Distrito Federal. 2015. 141 p. Dissertação (Mestrado em Geotecnia), Departamento de Engenharia Civil e
Ambiental, Faculdade de Tecnologia – UnB, Brasília/DF, 2015.
[12] SILVA, R. R. C. da. Confronto de estacas injetadas: análise do comportamento a tração em solo residual da
região mineira. In: SEFE Seminário de Engenharia e Fundações Especiais, 2015, São Paulo – SP. SEFE 8, 2015,
v. 8. Disponível em < http://acquacon.com.br/sefe8/pt/pdf/12h45-pap018851-rodrigo-rogerio-23-06-poster2.pdf>.
Acessado em: 12 de agosto de 2017.
[13] ABRAMENTO, M.; KOSHIMA, A.; ZIRLIS, A. C. Reforço do Terreno. In: HACHICH, W.; FALCONI, F. F.;
SAES, J. L.; FROTA, R. G. Q.; CARVALHO, C. S. e NIYAMA, S. Fundações: Teoria e Prática. 2. ed. São
Paulo: Pini, 1998. Cap. 18. p. 641 – 690.
[14] MARCOS, A. P. P. Estabilização Temporária de Areias por Congelamento. 2011. 115 p. Dissertação
(Mestrado em Engenharia Civil), Universidade de Aveiro, Aveiro, 2011.
ANALISE CRÍTICA DOS ENSAIOS DE ESTAQUEIDADE DE SISTEMAS
DE VEDAÇÃO VERTICAL DA NBR 15.575/2013

Critical analysis of vertical sealing system tests from the Brazilian Standard NBR
15.575/2013.

Matheus Pereira Mendes 1, Vitor Dias Lopes Nunes2, Maria Teresa Gomes Barbosa 3
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, matheus.mendes@engenharia.ufjf.br
² Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, dias.vitor36@gmail.com
³ Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br

Resumo: Em 2013, foi publicado a norma de desempenho NBR 15.575, sendo o primeiro
documento nacional a considerar o comportamento em uso da edificação, o que causou uma
mudança nos paradigmas da construção civil. Atualmente é importante que os projetistas levem em
conta o desempenho como um dos parâmetros, visto que têm sido crescentes as preocupações a
respeito da durabilidade e sustentabilidade das edificações. A norma define requisitos gerais de
segurança, habitabilidade, sustentabilidade e nível de desempenho de habitações. No intuito de
alcançar algumas das premissas preconizadas no documento, deve-se garantir a estanqueidade dos
sistemas verticais de vedação, já que limitar sua penetração da água é uma tarefa fundamental para
prevenir manifestações patológicas, aumentar a eficiência energética e reduzir os custos de
manutenção dos edifícios. Os critérios de estanqueidade dos sistemas de vedação vertical são
apresentados em dois parâmetros: infiltração de água em fachadas e umidades decorrentes da
ocupação e uso do imóvel, obtidos por meio de ensaios in situ de permeabilidade e estanqueidade.
Sabe-se, no entanto, que os agentes da construção civil vêm apresentando impasses relacionados
aos ensaios e procedimentos descritos na norma, visto que são apresentados, muitas das vezes, de
forma complexa ou com carência de informações para reproduzi-los fielmente. Diante desse
pressuposto, o presente trabalho tem como objetivo a análise crítica dos ensaios para os requisitos
de Estanqueidade nos Sistemas de Vedação Vertical Internos e Externos, representados na Parte 4
da ABNT NBR 15.575/2013 nos anexos C e D. Para alcançar este fim, foi feito uma revisão
bibliografia de estudos que abordaram estes ensaios. Além disso, foi realizado uma análise
comparativa entre as normatizações mais significantes do mundo, para contextualizar a norma
brasileira num cenário internacional. Os resultados apontam uma carência de especificações e
padronizações nos ensaios, o que levam a imprecisões nos resultados. Conclui-se que agentes
envolvidos na normatização devem adequar o documento para que seus ensaios possam ser
realizados de forma padronizada e sistemática, de modo que seja evitado variações em cada
operação, e que seja retratado da melhor forma possível as condições reais que o sistema de
vedação estará exposto.

Palavras-chave: desempenho, estanqueidade, sistema de vedação vertical.

Abstract: In 2013, the Brazilian performance standard NBR 15.575 was published, being the first
national document to consider the behavior in use of buildings, which has caused a change in the
paradigms of the civil construction. Nowadays it is important that designers consider the
performance in the design process, as the concerns about the durability and sustainability have been
increasing. The standard defines general requirements of safety, habitability, sustainability and
performance level. In order to achieve some of the criteria recommended in the document,
watertightness of vertical sealing systems must be analyze, as limiting water penetration is a
fundamental task to prevent construction defects, increase energy efficiency and reduce buildings
maintenance costs. The watertightness requirement of vertical sealing systems are presented in two
parameters: water infiltration in façades and dampness due to occupation and use of the habitation,
obtained through experimental tests of permeability and watertightness. It is known, however, that
civil construction agents have presented obstacles related to the experimental tests and procedures
described in the Brazilian standard, as they are often presented in a complex way or with a lack of
information to reproduce them faithfully. Therefore, the aim of this work is the critical analysis of
the experimental tests for the requirements of Watertighness in Internal and External Vertical
Sealing Systems, represented in Part 4 of ABNT NBR 15.575/2013, Attachment C and D. To
achieve this goal, a bibliographical review of studies that utilized the tests was carried out.
Furthermore, a comparative analysis was done between the most significant standards in the world
to contextualize the Brazilian standard in an international scenario. The results show a lack of
specifications and standardizations in the tests, which lead to impressions in the results. It is
concluded that agents involved in the Brazilian standard should adjust the document so that their
experimental tests can be performed in a systematic way, so that variations in each operation are
avoided and that the real environmental conditions are simulated.

Keywords: performance, watertightness, vertical sealing system.

1. INTRODUÇÃO
No Brasil, a maior parte dos projetos de edificações não consideravam o desempenho como
parâmetro a ser seguido [1]. Era evidente a necessidade de premissas para se alcançar uma melhora
da qualidade da indústria da construção civil, caracterizada por um alto tradicionalismo e baixa
industrialização. O cenário começou mudar a partir de 2008, com a publicação da norma brasileira
ABNT NBR 15.575 Edificações Habitacionais – Desempenho, submetida a uma revisão e
republicada em 2013 [2]. Sua publicação representou um impasse na construção civil visto que até
então, não existia uma norma técnica vigente em território nacional que considerava o
comportamento em uso da edificação.
Atualmente é importante que os projetos de edifícios levem em conta o desempenho como um dos
parâmetros, ora na fase de concepção, ora na fase do programa das exigências de projeto. Para
Oliveira e Mitidieri Filho [1], a prática é necessária, visto que têm sido crescentes as preocupações a
respeito da durabilidade e sustentabilidade das edificações. Diante disso, os agentes da indústria da
construção civil estão investindo mais esforços para transmitir informações com foco no
desempenho dos produtos [3].
A norma NBR 15.575 [2], conhecida como Norma de Desempenho, define os requisitos gerais
preconizados em cada sistema das edificações habitacionais. São divididos em quatro exigências,
sendo elas a segurança, sustentabilidade, nível de desempenho e habitabilidade, foco deste estudo.
Cada exigência possui subdivisões e no caso da habilidade são elas: desempenho térmico, acústico e
lumínico; saúde, higiene e qualidade do ar; funcionalidade e acessibilidade; conforto tátil e
antropodinâmico; e por fim, estanqueidade.
A estanqueidade nada mais é que uma “propriedade de um elemento (ou de um conjunto de
componentes) de impedir a penetração ou passagem de fluidos através de si” [2]. Para as
edificações, sua importância se dá devido a aceleração dos mecanismos de deterioração causados
pela exposição dos elementos construtivos à água proveniente das chuvas, solo ou da fase de uso.
Responsáveis por parte da estanqueidade e consideradas como envoltória da edificação, as vedações
verticais acabam servindo de anteparo para os agentes agressivos do ambiente externo, como a
água, prejudicando sua durabilidade. Deste modo, pode-se perceber com facilidade nos centros
urbanos, a deterioração e aparência prejudicada destes elementos construtivos [4].
A norma NBR 15.575 [2], especificamente na Parte 4, aborda os parâmetros de estanqueidade dos
sistemas verticais de vedação externa e interna dividindo-os em duas partes: infiltração de água nos
sistemas de vedação externa (fachadas), e umidades decorrentes da ocupação e uso do imóvel nos
sistemas de vedação internos e externos. Para análise do cumprimento dessas premissas, são
disponíveis dois ensaios, representados no anexo C (Estanqueidade à água) e D (Permeabilidade à
água) respectivamente.
Sabe-se, no entanto, que os agentes da construção civil vêm apresentando impasses relacionados à
norma de desempenho devido a diversos fatores, a saber [5]–[7]:
i) A norma faz referência de muitas outras normas nacionais e internacionais, o que a faz
completa, porém, dificulta o acesso dos usuários a todos os documentos citados;
ii) Os agentes da indústria da construção civil carecem de informações acerca de produtos
de fornecedores e fabricantes, o que dificulta a análise do desempenho do produto final;
iii) Não há uma plataforma que esclareça ou conecte os agentes do setor para facilitar a troca
de informações;
iv) Não existe um roteiro de implantação;
v) Não há um órgão fiscalizador das premissas preconizadas na norma;
vi) Quanto aos métodos de avaliação e ensaios, foco deste trabalho, a norma os apresenta,
muitas das vezes, de forma complexa ou com carência de informações para executá-los
in situ.
Diante desse pressuposto, o presente trabalho tem como objetivo a análise crítica dos ensaios para
os requisitos de Estanqueidade nos sistemas de vedação internos e externos, representados na Parte
4 da norma nos anexos C e D [2]. Além disso, será feita uma análise comparativa entre as
normatizações mais significantes do mundo, para contextualizar a norma brasileira num cenário
internacional. Espera-se que este trabalho possa contribuir com sugestões de melhorias dos ensaios
para cumprimento de requisitos prescritos na norma.
2. ESTANQUEIDADE E A NORMA DE DESEMPENHO
O sistema de vedação vertical funciona como uma barreira que previne que a água entre no edifício,
seja por chuvas, vapor d’água no ar, umidade do solo, dentre outros. A desqualificação de mão de
obra, erro nas especificações de materiais e até mesmo falhas na execução e projeto, como fissuras,
por exemplo, podem facilitar a presença de umidade indejesável nas edificações [8].
Segundo Nappi [9] a umidade em paredes é responsável pelos problemas mais frequentes nas
edificações, resultando numa insalubridade e uma degradação dos materiais compostos da
alvenaria. As consequências da umidade nos sistemas de vedação vertical são diversas como o
aparecimento de fungos e bolores, lixiviação, eflorescência, redução de seção dos materiais e além
disso, sabe-se que á água diminui a resistência térmica de sistemas de revestimento, diminuindo
ainda mais seu desempenho térmico. Diante disso, limitar a penetração da água nos sistemas de
vedações verticais é uma tarefa fundamental para prevenir manifestações patológicas, aumentar a
eficiência energética e reduzir os custos de manutenção dos edifícios [10]–[12].
Para Polisseni [13] a estanqueidade é “a propriedade dos materiais, componentes ou elementos da
edificação de não permitirem a penetração da água”. A perda de estanqueidade geralmente está
associada à uma umidade nos elementos de vedação que são levados a uma deterioração (física,
biologia e química), através da permeabilidade.
A permeabilidade é definida como a capacidades de permitir ou não a entrada de água no material,
que na maioria dos casos é poroso. Esta propriedade depende diretamente de algumas características
do revestimento, como o índice de vazios, técnica de execução, espessura, presença de fissuras,
dentre outros. Embora seja ideal que o sistema de vedação vertical seja estanque à água, a passagem
de vapor é recomenda já que reduz os riscos da umidade de condensação interna nos períodos de
inverno [14].
Para Chew [15], durante uma tempestade, os cinco principais mecanismos por trás da penetração da
umidade são:
a) forças capilares;
b) forças cinéticas;
c) diferencial de pressão;
d) gravidade;
e) tensão superficial.
Destes, apenas forças cinéticas e pressão diferencial são relacionados a água. As demais são
característica das propriedades do material. Cabe aos ensaios então, tentar simular todos esses
meios de penetração de água.
A norma de desempenho trata da estanqueidade como uma das exigências da habitabilidade, uma
vez que a presença de água nas moradias causa insalubridade e pode influenciar no conforto térmico
[2]. A exigência é avaliada por dois requisitos:
i) infiltração de água nos sistemas de vedações verticais externas: estanqueidade da fachada à
água de chuva ou outras fontes;
ii) umidade no sistema de vedações verticais decorrente da ocupação do imóvel: não permitir
permeabilidade de água entre as faces internas ou externas, quando em contato com áreas molhadas
e molháveis.
Para avaliação dos dois requisitos, a normatização oferece dois ensaios apresentados de forma
descritiva em seu anexo. O primeiro ensaio consiste em submeter a face externa de um exemplar do
SVV Externa, com dimensões de 105 x 135 cm e espessura variável, à uma vazão 3 L/m²min por 7
horas, sob uma pressão pneumática, para que seja avaliado a soma das áreas das manchas de água
na face oposta àquela que está sendo aplicada a vazão. Já o segundo, consiste em sujeitar um trecho
da face interna ou externa à presença de água em uma bureta, mantendo a pressão constante, por
meio de uma câmara fixada na parede, e assim é medido o volume de água que infiltra na parede,
devendo ser inferior a 3 cm² num período de 24 horas.
Os ensaios propostos pela norma NBR 15.575/2013 são fundamentais para o conhecimento do
desempenho dos sistemas que compões as edificações, e com seus resultados é possível criar uma
base de dados que pode realimentar o processo para escolha e especificações de materiais e
sistemas. Sabe-se, no entanto, que atualmente são poucas as empresas que realizam de fato os
ensaios para verificação dos requisitos e que esta pratica está bastante distante da realidade da
construção civil no Brasil [16].
Borges [17] afirma que a indústria da construção civil pode vir a utilizar os métodos de avaliação de
desempenho, seja para sanar os conflitos entre os agentes das edificações – incorporador, construtor
e usuário – ou para especificar o comportamento em uso de sistemas que serão empregados. Para
que isto ocorra, no entanto, é necessário que os agentes da construção civil tenham domínio de todo
conteúdo da norma de desempenho assim como a mão de obra, que deve ser cada vez mais
capacitada
Cabe mencionar que, além de serem pouco utilizados, os ensaios se apresentam de maneira
simplificada dificultando sua realização por meio das empresas e de pesquisadores. São poucas as
pesquisas que realizam os experimentos, mas todas elas enfrentaram impasses na sua realização
devido a diversos fatores, como a falta de padronização de equipamentos e carência de
especificações [16], [18]–[22]. Ademais, se tratando de normatizações internacionais, pouca
atenção tem sido dada à correlação entre os testes de estanqueidade disponíveis mundialmente e os
fatores que contribuem para a penetração da água [15], [23], [24].
Diante disso, o foco deste trabalho é na análise crítica dos ensaios de estanqueidade da norma de
desempenho, para que sejam mostrados os obstáculos encontrados em sua execução e a sua
correlação com as normas internacionais mais significantes, para que possam ser encontrados
pontos de melhorias e soluções.
3. METODOLOGIA
No trabalho, foi implementada uma metodologia de caráter exploratório que consiste numa revisão
bibliográfica seguida da análise crítica de pesquisas que realizaram os ensaios de estanqueidade
presentes na norma NBR 15.575. Cabe ressaltar que a maioria dos trabalhos encontrados são da
região sul do país, onde se concentram a maioria dos trabalhos dedicados à norma de desempenho,
o que dificulta uma heterogeneização das amostras estudadas.
A pesquisa será dividida em duas etapas. A primeira etapa será feita uma revisão bibliográfica de
estudos de pesquisadores que realizaram os ensaios de estanqueidade, mostrando os obstáculos que
têm sido encontrados na sua execução, para que então possa ser proposto sugestões de melhorias. Já
a segunda etapa visa fazer uma análise comparativa para mostrar a relação da norma brasileira
perante a normas internacionais no intuito de que algumas sugestões sejam adaptadas à nossa
realidade. Foram selecionadas as cinco normatizações mais utilizadas no mundo que possuem
versões na língua inglesa e portuguesa. Cada documento foi analisado e foram extraídas as
seguintes informações a respeito do ensaio:
a) Nome;
b) Pressão utilizada;
c) Fluxo de água e tipo (se superficial ou por aspersão);
d) Duração do experimento;
e) Meios de percolação de água que são simulados segundo Chew [15];
f) Vantagens e Desvantagens;
4. ANÁLISES E RESULTADOS

4.1. Análise crítica dos ensaios de estanqueidade da norma de desempenho


Uma revisão bibliográfica foi realizada e os resultados podem ser vistos na Tabela 1.
A primeira pesquisa foi realizada por Rodrigues (2010) [21], no qual estava vigente a primeira
versão da NBR 15.575 (2008). No estudo, foi realizado o ensaio de estanqueidade do Anexo D, o
qual tem aplicação in situ. A norma recomendava que, durante a aplicação de água sobre a parede,
fossem feitas anotações acerca do volume infiltrado somente após 30 minutos. No entanto, na
maioria dos ensaios realizados a água permeava em tempo inferior a meia hora, sendo que o volume
deveria ser medido em 24 horas, não podendo ser superior a 3 cm². Como solução, Rodrigues
(2010)[21] teve que fazer anotações a cada 30 segundos. Além disso, manifestou-se sobre a falta de
especificações e padronizações dos ensaios da normatização, principalmente no que tange a bureta.
A norma especifica o volume de água que deve conter a bureta, mas não especifica suas dimensões,
o que pode implicar numa diferença da coluna de água e pressão, influenciando nos resultados do
ensaio. Tais problemas não foram corrigidos na revisão da norma em 2013.
A segunda pesquisa, também na versão antiga da norma, foi realizada por Grochot (2012)[18]. A
autora realizou ambos ensaios presentes na normatização, somado a outro não normatizado. Foi
apontado na pesquisa que a norma deveria ser recomendada a qualquer sistema de vedação vertical
e não necessariamente paredes de alvenaria, já que é a única normatização que existe para este fim
em território nacional. Além disso, foi relatado a falta de especificações quanto ao ambiente de
ensaio, que pode ser o laboratório ou in situ, já que o calor e a falta de umidade aceleram o processo
de secagem da argamassa, influenciando a leitura das manchas de umidade no corpo de prova. No
ensaio do Anexo D foram encontrados problemas para leitura da bureta, já que a percolação de água
era quase que instantânea, problema encontrado por outros autores [21][19]. A autora também
apontou a falta de especificações no ensaio, principalmente em relação as dimensões da bureta.
Ademais, apontou uma carência da norma de mencionar a haste que suportava a caixa prismática na
qual a água era inserida e das válvulas de entrada de água e saída de ar. Em relação ao anexo C, a
autora trata da falta de especificações quanto a ambientação do laboratório. Os obstáculos
apontados pela autora não foram corrigidos na norma revisada em 2013.
O terceiro estudo foi uma tese de doutorado realizada por Lorenzi (2013)[16]. A autora realizou
proposições de avanço nas metodologias de ensaios experimentais da NBR 15.575/2013. Como
crítica ao ensaio do Anexo C, a autora cita como a inspeção visual das manchas de umidade nos
corpos de prova é imprecisa e falha, sem contar que não há uma metodologia normatizada para este
fim. Sabe-se no entanto, que Sathler et al.[25] criou uma proposição para análise por processamento
de imagem digital que solucionaria esta lacuna na normatização.
Tabela 1 – Críticas dos ensaios da NBR 15.575 e soluções e melhorias (Fonte: Os autores, 2018)

O quarto estudo foi realizado por Neves (2015) [19], no qual foi realizado o ensaio D em paredes
sem revestimento, com revestimento de um lado e revestidas totalmente. Semelhante a outros
autores [18][21], o autor cita a permeabilidade quase que instantânea da água na parede,
impossibilitando a leitura da bureta e obtenção de resultados.
A quinta pesquisa foi feita por Pierozan Junior em Florianópolis em 2015 [20], no qual os ensaios
dos anexos C e D foram realizados em paredes de tijolos de concreto. O autor encontrou o mesmo
problema relatado anteriormente, que é a rapidez com que a água escoa pela parede,
impossibilitando a leitura da bureta em 24 horas, visto que está já não continha mais água,
caracterizando o sistema de vedação como falho [18], [19][21]. Cabe ressaltar, que os ensaios são
realizados com a parede sem revestimento de argamassa, e que este, juntamente com a pintura, tem
influência significante relacionada a estanqueidade.
Por fim, o último estudo foi realizado por Sathler em 2018 em Viçosa, como parte de uma
dissertação de mestrado que teve como objetivo fornecer um detalhamento executivo da câmara de
estanqueidade, além de fornecer um programa computacional para mensuração da área da mancha
de umidade. [22]. Dentre os problemas citados pela autora, destacam-se a falta de especificações
para a realização e construção dos instrumentos. A autora cita que devido ao alto peso da caixa de
umidade, era necessária sua fixação na parede por parafusos, os quais eram responsáveis por
vazamentos na câmara.
4.2. Análise crítica dos ensaios de estanqueidade da norma de desempenho
Para contextualizar os ensaios da norma brasileira num recorte internacional, uma análise
comparativa foi feita com as normatizações mais significativas e utilizadas do mundo.
A primeira normatização analisada é a norte-americana ASTM E514:2011, que apresenta um teste
de laboratório para determinação da resistência à penetração de água em paredes de alvenaria. A
norma simula uma chuva conduzida pelo vento em condições mais severas que as naturais, que só
seriam possíveis de ocorrer em uma localização dos Estados Unidos. A taxa de pulverização de
água aplicada é de 2.3 L/(m².min), e se nenhuma diferença de pressão for especificada, a amostra
deve ser testada com pressão de 500 Pa, constantes por pelo menos 4 horas. A norma brasileira
NBR 15.575/2013 não especifica as condições ambientais do laboratório e dos corpos de prova, já
na estadunidense, define que as amostras de paredes de alvenaria devem ser armazenadas por 7 dias
em condições especificadas em laboratório antes do ensaio. Além disso, apresenta um item sobre os
perigos que os operadores dos ensaios estão sujeitos. No entanto, a ASTM E514:2011 não
proporciona um critério de aceitação como a norma brasileira, mas especifica os resultados que
devem ser registados durante o teste [15], [23], [26].
A segunda normatização é a versão in situ da norma norte-americana, isto é, a ASTM C1601. Para
avaliação da penetração de água no SVV, submete-se o corpo de prova às mesmas condições de
vazão e pressão de sua versão de laboratório (2.3 L/(m².min) e 500 Pa). Como o ensaio é realizado
no campo, a norma fornece cálculos para adaptações da vazão e da pressão para simular a realidade
ambiental do local escolhido. A norma brasileira também oferece este recurso para diferenciação de
pressão por regiões do Brasil, no entanto, a vazão permanece a mesma independentemente do local
[27].
O terceiro documento normativo analisado é o europeu EN 12865. É considerada uma das
poucas normatizações que simula todos os meios de percolação de água em vedações verticais
segundo Chew [15]. A maioria dos ensaios de outras normatizações simula as condições reais que o
SVV está sujeito através de mecanismos de diferença de pressão (que simula ventos), gravidade,
capilaridade e tensão superficial. Enquanto que a EM 12865, simula também a energia cinética,
alcançada através de um sistema que cria uma película de água que percorre a superfície do corpo
de prova, além da própria pulverização. Além disso, diferente de todas as demais, a norma adota
uma pressão que não é constante, e sim pulsante, aumentando gradativamente em 150 Pa, e se
reduzindo a 0 Pa em ciclos de 15 segundos; o que simula fielmente à ventos dirigidos. Utiliza-se
uma vazão de aspersão de 1,5 L/ (m².min) e de escorrimento superficial de 1,2 L/(m.min). O tempo
de ensaio também é reduzido, sendo no mínimo 30 minutos [28]. No entanto, segundo Bossche,
Lacasse e Janssens [23], são poucas as pesquisas dedicadas a essa normatização.
A quarta normatização estudada é a britânica BS 4315-2. A norma especifica métodos de teste para
medir a resistência à penetração de água de estruturas de parede permeáveis sem juntas abertas sob
pressão de ar estática. São dados três métodos para registrar a penetração de água através da parede:
registrando por fotografia o aumento da área de umidade, registrando a mudança no peso da
amostra do corpo de prova, e a quantidade de vazamento através da amostra. É a única das
normatizações que não aplica fluxo de água constante. No ensaio, água é pulverizada por 1 min a
intervalos de meia hora a uma taxa de 0,5 L/(m².min), com uma diferença de pressão constante de
250 Pa, e é aplicada para um período contínuo de 6 h/dia durante um número de dias consecutivos
[29][30].
A quinta norma apresentada é a de Singapura, país referência em pesquisa e tecnologia no sudeste
asiático. A norma apresenta uma forma simplificada de mensurar a percolação de água nas juntas de
paredes de alvenaria, pois sabe-se que nas juntas é onde se há mais percolação do líquido [18], [22],
[31]. O ensaio compreende em um dispositivo de ventoinha conectado a uma câmara longitudinal
de 1 m com três furos. A água é fornecida aos bocais a 1 L/min e então aplica-se uma pressão de
240 Pa na câmara sob parede. Este teste se destaca devido à sua fácil execução por focar somente
nas juntas. No entanto, se mostra insatisfatório já que não representa todo o sistema (juntas e
blocos)[15].
Por fim, tem-se os ensaios do anexo da norma brasileira de desempenho NBR 15.575/2013. Os
ensaios se mostram bastante conservadores quanto o assunto é a vazão de água pulverizada, sendo a
maior dentre os demais. Isto é um ponto positivo, visto que retratariam uma situação extrema de
chuva. No entanto, no que diz respeito às pressões, o ensaio é o menor dentre as normatizações.
Diferente da normatização europeia, a brasileira, assim como as demais, não simula a entrada de
água no sistema de vedação por energia cinética. Os ensaios da NBR 15.575 carecem de mais
informações quanto aos seus equipamentos, aparatos e sua condições de exposição no ambiente;
problemas que são enfrentados na sua execução, como visto acima. Dentre as normais
internacionais, é uma das poucas que possui um critério de aceitação e que possui uma versão para
laboratório e outra para ensaios in situ[2].
Os resultados da análise comparativa dos ensaios preconizados pelas sete normatizações são
exibidos na Tabela 2.
Tabela 2 - Análise comparativa da norma brasileira com as internacionais (Fonte: Os autores, 2018)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do que foi apresentado pode-se encontrar um problema comum enfrentado a todos os
estudos que fizeram a realização dos ensaios de estanqueidade presentes na norma NBR 15.575, que
é a falta de especificação e de padronização de seus materiais e instrumentos. Este fato é
responsável por aumentar a dificuldade de execução e por resultar num alto grau de variabilidade de
resultados, já que cada pesquisador adequa suas lacunas e carências do modo que lhes parecer
correto. Este problema era presente na primeira versão da norma de desempenho e como pode-se
perceber, os problemas ainda persistem.
Os ensaios da norma de desempenho não mencionam em nenhum momento quais as especificações
do ambiente em que devem ser realizados os ensaios, apenas a condição de pressão. Além disso,
não mencionam qual o tipo de sistema de vedação vertical que lhe é recomendável. Sabe-se que a
NBR 15.575 é a única normatização que contém um ensaio de estanqueidade para sistema de
vedação em território nacional, então, este ensaio deveria aceitar qualquer tipo de parede, como de
concreto, steel frame, madeira, dentre outras.
Os ensaios devem retratar, da melhor forma possível, as condições reais que o sistema de vedação
estará exposto, simulando todos os métodos de entrada de água nos revestimentos. Há uma norma
internacional que retrata todos estes meios, a britânica, e esta deveria ser analisada e adaptada às
condições brasileiras.
Em resumo, pode-se citar algumas soluções de melhorias e correções de problemas nos ensaios da
norma brasileira, dentre elas:
a) Considerar documentos de outros países, como a norma americana, que possui
requisitos das condições ambientais do experimento e fatores de adequação para
temperaturas e umidades diferentes;
b) Tentar reproduzir todos os meios de percolação de água no revestimento, assim como
faz a norma britânica;
c) Especificar qual tipo de sistema de vedação é ideal para aquele tipo de ensaio;
d) Especificar e padronizar os equipamentos e materiais para evitar variabilidades;
e) Aprimorar a metodologia, incluindo métodos mais precisos de verificação de
aceitação, como a leitura da mancha de umidade por método computacional.
Espera-se que esta pesquisa contribua na disseminação do conhecimento a respeito da norma de
desempenho para os agentes da construção difícil e que forneça diretrizes de melhorias para os
ensaios de estanqueidade. Vale ressaltar que há pesquisas que, assim como esta, apresentam
soluções e sugestões para correções de outros requisitos da norma, e que estas deveriam sempre
realimentar o sistema de revisão das normatizações brasileiras.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos a CAPES pelo apoio à pesquisa.

REFERÊNCIAS
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Brasileira De Desempenho: Análise Aplicada Para As Vedações Verticais. Gestão & Tecnologia de Projetos,
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MANUTENIBILIDADE NA NBR 15.575 - NORMA DE DESEMPENHO

Maintenance and maintainability from the NBR 15.575 - Performance

Matheus Pereira Mendes1, Vitor Dias Lopes Nunes2, Maria Aparecida Steinherz Hippert3
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, matheus.mendes@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, dias.vitor36@gmail.com
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, aparecida.hippert@ufjf.edu.br

Resumo: Atualmente os agentes da indústria da construção civil e a academia têm investido


esforços para transmitir informações acerca do desempenho dos materiais e sistemas, visto que têm
sido crescentes as preocupações a respeito da sustentabilidade das edificações. Sabe-se, além disso,
que a indústria da construção civil deve sempre buscar o desenvolvimento sustentável, devido a sua
significante importância socioeconômica e seu alto potencial de gerar impactos ambientais. A
norma de desempenho para edificações habitacionais NBR 15.575/2013 representou uma grande
mudança no setor da construção, visto que até então não existia uma norma técnica nacional que
considerava o comportamento em uso da edificação. Para efeitos do documento, é apresentada uma
lista geral de exigências dos usuários, sendo elas a segurança, habitabilidade e sustentabilidade. No
que tange a sustentabilidade, são apresentadas algumas premissas para seu cumprimento: impacto
ambiental; durabilidade; e manutenibilidade, definida como a capacidade do edifício e de seus
sistemas de permitir ou favorecer as inspeções prediais e manutenção. Sabe-se que a manutenção é
o conjunto de atividades realizadas para conservar ou recuperar a capacidade funcional de uma
edificação; atividade preconizada pela norma de manutenção NBR 5674, revisada e atualizada em
2012. No entanto, a manutenção das edificações tem sido frequentemente deixada de lado, atraindo
pouco reconhecimento da sua importância. Nesse contexto, torna-se necessário pensar na edificação
como um sistema que abrange fases que perduram após sua entrega física. Diante disso, o presente
trabalho tem como objetivo a análise do requisito de manutenibilidade por parte de empresas do
setor, as quais estão dispostas nas normas NBR 15.575/2013 Edificações Habitacionais -
Desempenho. Isto será alcançado através de uma revisão bibliográfica bem como da análise de
dados obtidos de estudos de casos de pesquisas já realizadas no contexto nacional. Espera-se que
esse trabalho contribua com diretrizes para disseminação do conhecimento a respeito da norma de
desempenho junto aos agentes da construção civil, para que cada vez mais a manutenibilidade e
manutenção sejam consideradas na prática.

Palavras-chave: Desempenho, manutenção, manutenibilidade.

Abstract: Currently, construction industry agents and the academy have invested in information on
the performance of materials, as more concerns have been increasing about the sustainability of
buildings. It is also known that the construction industry must always seek sustainable development,
due to its socioeconomic importance and its high potential to generate environmental impacts. The
Brazilian Performance Standard for Residential Buildings NBR 15.575/2013 represented a
significant change in the construction sector, as there was no national standard document that
considered the behavior in use of the buildings. In the document, a general list of user requirements
is presented, such as safety, habitability and sustainability. Regarding to sustainability, some needs
are presented: environmental impact; durability; and maintainability, defined as the ability of the
building and its systems to permit building inspections and maintenance. It is known that
maintenance is the set of activities carried out to conserve or restore the functional capacity of a
building; an activity recommended by the Maintenance Standard NBR 5674, revised and updated in
2012. However, the maintenance of buildings has often been disregarded, resulting in little
recognition of their importance. In this context, it becomes necessary to think of edification as a
system that works beyond its construction. Therefore, the present paper aims to analyze the
requirements of maintainability and maintenance by construction companies, according to the
Brazilian Standard NBR 15.575/2013 Residential Buildings - Performance. This objective will be
achieved through a bibliographical review and data obtained from case studies of national
researches. It is expected that this paper contributes with guidelines for dissemination of knowledge
about the Brazilian Performance Standard among construction agents, so the maintainability could
be always considered in practice.

Keywords: Performance, maintainability, maintenance.

1. INTRODUÇÃO
Cada vez mais, procura-se alcançar um desenvolvimento sustentável na indústria da construção
civil, devido a sua significante importância socioeconômica e seu alto potencial de ocorrência
impactos ambientais. A este setor cabe considerar a qualidade de processos e produtos, assim como
a redução dos impactos ambientais. Neste contexto, a expansão dos debates acerca da
sustentabilidade da construção civil tem se refletido numa ferramenta fomentadora do
desenvolvimento das empresas do setor.
A durabilidade e sustentabilidade estão relacionadas ao desempenho e qualidade das edificações, e
sabe-se que estas preocupações tem aumentado entre os agentes da construção civil devido ao
crescimento do mercado e à baixa qualidade dos empreendimentos habitacionais [1]–[3]. Neste
contexto, surge a Norma Brasileira de Desempenho NBR 15.5575/2013 [4], que estabelece critérios
de desempenho ao comportamento em uso de edificações habitacionais. Para isso, o documento
preconiza formas qualitativas (requisitos), quantitativas (critérios), premissas e métodos de
avaliação. A normatização elaborada visa melhorar a qualidade da habitação, considerando a
necessidade dos seus usuários além de incentivar e orientar o desenvolvimento de novas tecnologias
no setor [4].
A norma NBR 15.575 [4] apresenta uma lista geral de exigências dos usuários que servem de
referência para a definição dos requisitos e critérios, sendo elas: a segurança, a habitabilidade e a
sustentabilidade. Correspondente a sustentabilidade, a normatização lista dois fatores: a
manutenibilidade e a durabilidade. A durabilidade é a capacidade da edificação de cumprir seu
desempenho ao longo do tempo, sob condições específicas na fase de uso. Já a manutenibilidade é a
facilidade de um sistema construtivo de ser mantido ou recolocado à sua capacidade funcional
quando a manutenção é executada.
O desempenho está relacionado com a manutenção, uma vez que são necessárias intervenções na
fase de uso para que a edificação cumpra sua capacidade funcional por toda vida útil [5]. A NBR
15.575/2013 [4] e a NBR 5674/2012 [6] definem a manutenção como sendo as atividades que são
realizadas ao longo da vida da edificação para manter, conservar, ou recuperar sua performance e
capacidade funcional, no intuito de sempre atender as necessidades e segurança dos usuários.
Com os custos crescentes de novas construções, a manutenção predial se tornou ainda mais
importante [7]. Cada vez mais, as empresas estão começando a aceitar que a manutenção deve ser
planejada e gerenciada de forma tão eficiente quanto qualquer outra atividade. Para esta fase, são
requeridas metodologias de gestão complexas, já que devem ser encontradas a origem de falhas e
suas previsões de ocorrência, de forma a restringir a repetição de problemas construtivos, com
consequências diretas na qualidade do produto [8].
A carência da gestão da manutenção conduz a situações desfavoráveis ao funcionamento da
edificação e de seus sistemas, resultando no não cumprimento das exigências do usuário, e em
alguns casos, colocando em risco sua própria integridade, assim como a do edifício [9]. Nesse
contexto, torna-se necessário pensar na edificação como um sistema que abrange fases que
perduram após sua entrega física.
Diante do que foi apresentado, o presente trabalho tem como objetivo a análise das premissas da
manutenibilidade por parte de empresas construtoras, as quais estão dispostas nas normas NBR
15.575/2013 Edificações Habitacionais – Desempenho. Espera-se que esse trabalho contribua para
disseminação do conhecimento a respeito da norma de desempenho junto aos agentes da construção
civil e à academia, para que cada vez mais a manutenibilidade seja considerada na prática.

2. MANUTENÇÃO E MANUTENIBILIDADE
A norma de desempenho foi publicada buscando atender às necessidades dos usuários, que em
alguns casos eram negligenciadas, e melhorar a qualidade da habitação, já que preconiza premissas
para se alcançar um desempenho mínimo ao longo de toda a vida da edificação. A publicação do
documento representou um impasse na construção civil, visto que não existia uma norma que
considerava o comportamento em uso da edificação [10].
Em geral, o desempenho pode ser entendido como o comportamento em uso de uma edificação. A
fase de uso tem grande significância, porque, além de ser a maior fase do ciclo de vida da
edificação, é responsável por fornecer uma qualidade de vida ao usuário. Para Borges [1], o desafio
é que este comportamento cumpra as necessidades dos usuários por toda vida útil da edificação,
considerando as diferenças socioeconômicas e técnicas de cada país e empreendimento.
Cada vez mais, procura-se construir edificações mais duráveis já que esta é uma exigência
econômica do usuário e implica no custo global do bem imóvel [4]. Sabe-se, no entanto, que a
edificação vai perdendo seu desempenho com o passar do tempo, sendo necessárias intervenções
para que sejam cumpridos seus requisitos de desempenho: as manutenções. No entanto,
historicamente a manutenção tem sido vista como um "mal necessário", uma carga de custos
inevitável para os projetos. A função da manutenção é maximizar ou manter o valor dos ativos, mas
em tempos de má economia, suas operações estão sujeitas à redução [7].
O conceito de manutenção supera a ideia de se pensar no processo de construção limitado até a fase
de entrega da obra [6] e foi desenvolvido a partir de outras indústrias. Na construção civil,
atualmente, as intervenções são balizadas pelo cumprimento dos requisitos da norma NBR
5674/2012, que tem objetivo de preservar as características das edificações e prevenir a perda de
desempenho da degradação dos seus sistemas. Esta última está diretamente ligada à NBR
15575/2013, especificamente o requisito manutenibilidade.
Todos os elementos e sistemas das edificações requerem inspeções regulares. Diante disso, é
fundamental que estejam disponíveis informações para realizar as atividades de inspeção e que os
projetistas dominem o conhecimento das normas técnicas e de todas suas respectivas premissas
[11]. Além disso, é necessário que a manutenção seja encarada como um processo que deve ser
gerenciado e de caráter estratégico, para que haja uma manutenção eficiente, disponível, confiável,
de baixo custo e de alta qualidade [12].
Para Siqueira [13] a gestão das atividades de manutenção é caracterizada como complexa, já que
são necessários o tratamento aprofundado da origem de manifestações patológicas, técnicas
preditivas e atitudes proativas, de formas a evitar erros humanos e a reaparição de problemas,
garantindo a qualidade do produto. Além disso, fatores como o aumento de novas tecnologias e da
complexidade dos projetos tem resultado em uma crescente dificuldade em se gerenciar a fase de
uso da edificação, sendo necessárias a sistematização e padronização de seus processos para
melhorar sua gestão.
Para realização do programa de manutenção da edificação é fundamental que se tenha alcançado a
manutenibilidade; definida pela norma como a capacidade dos sistemas da edificação de favorecer
as inspeções assim como as intervenções de manutenção, que são previstas no programa de
manutenção e no manual de operação, uso e manutenção [4]. Os requisitos exigidos pela norma são
apresentados na Tabela 1.
Mais da metade dos requisitos de manutenibilidade fazem referência ao manual do proprietário, que
é preconizado pela norma NBR 14037 - Manual de operação, uso e manutenção das edificações
[14]. O objetivo deste documento é fornecer informações aos usuários a respeito das características
da edificação, descrever os procedimentos e intervenções para que o desempenho dos sistemas
perdure por toda vida útil, e prevenir a ocorrência de falhas e manifestações patológicas decorrentes
do mal-uso. No entanto, alguns estudos mostram que o entendimento e conhecimento sobre o
manual ainda não estão disseminados entre os agentes da construção civil por diversos motivos,
como, por exemplo:
a) alguns manuais não mostram informações claras e didáticas sobre a manutenção dos seus
sistemas [15];
b) poucas empresas desenvolvem o manual [16];
c) os incorporadores e construtores não possuíam sequer um exemplar da NBR 14.037 [16];
d) os manuais são focados mais sob uma perspectiva de proteção ao incorporador ou construtor
do que no fornecimento de garantias e responsabilidades [17];
e) ausência de um programa de manutenção contundente, visto os critérios da NBR 5674 [5];
f) os agentes fazem o manual sem seguir as premissas da NBR 14.037, já que apresentam
deficiências em itens fundamentais como prazos de garantia, definições étnicas, informações sobre
o empreendimento, dentre outras [18];
g) pouco conteúdo bibliográfico sobre o tema [19].
Tabela 1: Requisitos de manutenibilidade da NBR 15.575/2013 (Fonte: ABNT, 2013)

CRITÉRIO MÉTODO DE AVALIAÇÃO

• Análise de projeto: o projeto deve ser


Facilidade ou meios de acesso: o
adequadamente planejado, de modo a
edifício e seus sistemas devem
possibilitar os meios que favoreçam as
favorecer as condições de acesso para
inspeções prediais e a manutenção.
inspeção predial através da instalação
GENERALIDADES • A incorporadora ou construtora deve
de suportes para fixação de andaimes,
fornecer ao usuário um manual que atenda à
balancins ou outro meio que
ABNT NBR 14037:2011.
possibilite a realização da
• A gestão da manutenção deve atender à
manutenção.
NBR5674:2012.

Manual de uso, operação e


• Verificação do atendimento dos processos de
ESTRUTURA manutenção
manutenção especificados
(MU) do sistema estrutural
Manual de uso, operação e
VEDAÇÕES • Análise do manual de uso, operação e
manutenção
VERTICAIS manutenção das edificações.
dos sistemas de vedação vertical.
Manual de uso, operação e • Análise do manual de uso, operação e
COBERTURAS
manutenção do sistema de coberturas manutenção das edificações.
Manual de uso, operação e
manutenção das instalações
hidrossanitárias: especificar as • Análise do manual de uso, operação e
condições de uso, operação e manutenção das edificações.
manutenção, incluindo o "Como
INSTALAÇÕES Construído".
HIDROSANITÁRIAS
Devem ser previstos dispositivos de
inspeção em tubulações de esgoto e
• Verificação do projeto ou inspeção em
águas pluviais nas condições
protótipo.
prescritas nas ABNT NBR 8160 e
10844.

Segundo Zanotto et al. [17] o critério de manutenibilidade deve ser sempre atrelado ao de
durabilidade, já que é exposto desta maneira na norma de desempenho. Para os autores, os
requisitos são apresentados de forma insatisfatória na norma de desempenho, já que estão
relacionados a facilidade de acesso ou análise de documentos (como o manual do proprietário), sem
haver parâmetros para medir a qualidade destas informações. Neste mesmo estudo, os autores
avaliaram as premissas para se alcançar a manutenibilidade em cada fase do processo de um
empreendimento. Para atender esses requisitos na fase de planejamento, devem ser considerados os
impactos ambientais e riscos que o empreendimento pode apresentar. No estudo preliminar, deve-se
fornecer nos projetos condições suficientes para a realização de futuras inspeções e operações de
manutenção. No anteprojeto, é necessário que se faça uma análise do custo ao longo da vida útil de
materiais e elementos da edificação. No projeto executivo, deve-se fazer a correta especificação de
materiais, de modo a dar preferência àqueles que apresentam maior durabilidade com menores
gastos de manutenção. Na execução, deve-se elaborar o Manual de uso, operação e manutenção,
seguindo as premissas especificadas na norma ABNT NBR 14037/2011. Por fim, no uso, é
fundamental que se cumpra o programa de manutenção proposto no manual. Os requisitos são
especificados na Tabela 2.
Tabela 2: Critério de manutenibilidade no processo de projeto (Fonte: Adaptado de Zanotto et al., 2015)

• Mapeamento e análise de riscos e das condições


Planejamento do ambientais que podem impactar a manutenibilidade
Empreendimento dos sistemas, materiais e componentes da
edificação.
• Análise do projeto com objetivo de verificar
espaços e acessos visando a facilidade de
manutenção em coberturas, reservatórios, sistemas
Estudo Preliminar de vedações, dentre outras.
• Especificação da vida útil de projeto (VUP) para
materiais e sistemas conforme critérios da
NBR15575:2013.
• Análise de custos ao longo da vida útil na
Anteprojeto especificação de materiais, componentes, sistemas e
equipamentos da edificação.
• Especificação de materiais considerando sua vida
útil sob as condições de exposição, bem como seus
Projeto Executivo programas de manutenção.
•Escolha de equipamentos e materiais com menores
custos de manutenção.
• Elaboração do Manual do Usuário
Acompanhamento • Elaboração do Projeto as built.
de Obra • Acompanhamento da execução conforme
premissas de projeto
Acompanhamento
• Elaboração do Manual do Usuário e inspeções
de Uso

Ademais, sabe-se que a norma NBR 15575/2013 apresenta 155 critérios de avaliação de
desempenho, e que apenas 6 destes estão relacionados diretamente com a manutenibilidade,
distribuídos entre os sistemas da edificação [20]. Mesmo assim, pesquisas mostram que as
construtoras e incorporadoras apresentam dificuldades em seu cumprimento [3], [5], [10], [17],
[20].

3. METODOLOGIA
A metodologia empregada neste trabalho tem caráter exploratório e consiste numa revisão
bibliográfica no contexto nacional baseada nos estudos dos últimos 10 anos, que compreende o
período da primeira publicação da norma de desempenho (2008) até o presente momento (2018). As
referências foram buscadas em plataformas de trabalhos científicos, sendo elas: Periódicos Capes,
Google Acadêmico, Catálogo de Teses & Dissertações Capes e o repositório de universidades como
o da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a qual realiza diversos estudos a respeito desta
normatização. Além disso, foram coletadas 17 amostras de 5 estudos de casos de pesquisas já
existentes com empresas no setor de edificações; nas quais foram utilizados métodos
observacionais, que para Gil [21] é o método mais utilizado para estudo de caso com foco na análise
de dados qualitativos. Cabe ressaltar que as pesquisas relacionadas ao critério de manutenibilidade
são mínimas, sendo mais frequentes no sul do país, especificamente no estado do Rio Grande do
Sul, dificultando então a representatividade da amostra para o contexto nacional.
A primeira pesquisa, realizada por Mattos Júnior (2015)[5], utilizou como estudo de caso cinco
manuais de empresas que trabalham com o Programa Minha Casa Minha Vida para a primeira faixa
de renda na cidade de Juiz de Fora (MG). Cabe ressaltar que, no momento que os projetos das
edificações e os manuais foram analisados, os critérios da norma de desempenho ainda não eram
vigorados, no entanto, já havia sido publicada sua versão de 2008. O autor coletou os dados através
da análise dos manuais de uso, operação e manutenção cedidos pelos mesmos ou pela Gerência de
Desenvolvimento Urbano da cidade. As cinco empresas serão denominadas como A, B, C, D e E.
O segundo trabalho analisado foi realizado por Ferreira (2015)[22] na cidade de Juiz de Fora, Minas
Gerais. Na pesquisa foram utilizadas cinco empresas de edificações como estudo de caso, quatro
delas que trabalham com edificações residenciais de médio a alto porte e uma que trabalha com
projetos para o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV). No momento da coleta de dados nas
amostras, a norma de desempenho ainda não era vigente, no entanto já havia sido publicada sua
versão de 2008. Os dados deste trabalho foram coletados através de entrevista com seus diretores
e/ou engenheiros responsáveis. Os estudos de caso serão denominados como F, G, H, I, e J.
A terceira pesquisa foi realizada por Souza, Kern e Tutikian (2016) [20]. Os autores utilizaram um
único estudo de caso na cidade de Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, caracterizado como um
edifício habitacional de padrão alto que foi projetado com o objetivo de atender o nível superior da
norma de desempenho NBR 15.575/2013. Na pesquisa, o empreendimento será referido como K.
O quarto trabalho, realizado por Costella et al. [10], foi a aplicação de um checklist de critérios da
norma de desempenho em cinco empreendimentos, dois de padrão alto, um de padrão médio, e dois
de padrão baixo (um do PMCMV). Os empreendimentos são localizados na cidade de Chapecó
(RS) e são representados neste estudo com as letras L, M, N, O e P. O checklist é composto de cada
requisito da norma, seu método de avaliação, o seu responsável e sua comprovação.
Por fim, o último estudo de caso levantado foi realizado por Honório e Maurício Filho [23] e será
aqui chamado de empreendimento Q. Na pesquisa foi aplicado um checklist da norma de
desempenho para verificar suas conformidades num empreendimento na cidade de Tubarão, no
estado de Santa Cataria. A verificação foi feita através da análise dos projetos assim como dos
manuais de proprietário.
Os dados foram analisados de acordo com o cumprimento ou não do requisito normativo, sendo
adotados a letra S para os conformes, N para os não conformes, e P para parcialmente conformes.
Para transformação de dados qualitativos em quantitativos, foi atribuída uma escala de 1 a 0 para
cara requisito cumprido, sendo 1 para os conformes, 0,5 para os parcialmente conformes, e 0 para
os não conformes.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados gerais das conformidades nos 17 empreendimentos dos 5 estudos de caso analisados
são mostrados na Tabela 3.
Tabela 3: Conformidades das 17 amostras.
Inst. Vigência
Empreen- Generali- Sistemas Vedações
Coberturas Hidrosani- Local/Ano da
dimento dades Estruturais Verticais
tárias norma
A S S S S P
B N N S S S
C S N S S S Juiz de Fora (MG), 2015 Não
D N N S S P
E N N N N P
F S N N N P
G S S S S S
H S S S S S Juiz de Fora (MG), 2015 Não
I N S N N S
J N S N N S
K N S S S S N. Hamburgo (RS), 2016 Sim
L N N S S S
M S S S S S
N N N S S N Chapecó (RS), 2017 Sim
O N S S N S
P N N N N S
Q N N N N P Tubarão (SC), 2017 Sim
Legenda: Conforme = S Não Conforme = N Parcialmente conforme = C
Como pode ser observado nas amostras, a exigência de manutenibilidade não era inserida por
completo nos processos da construção civil. Após sua primeira publicação em 2008, antes de entrar
em vigência, a porcentagem média de conformidade das amostras era de 60% (Figura 1). Após
2013, que a norma passou a ser vigorada, a porcentagem média caiu para 53%, mostrando que neste
conjunto de amostras, a entrada em vigor não teve efeito significativo. No entanto, cabe ressaltar
que esta amostragem não é suficiente para representar o todo, já que se espera que, com a
publicação da norma, a porcentagem de conformidade tenha aumentado. De modo geral, nota-se
uma grande negligência na conformidade dos indicadores, e em alguns casos é cumprido apenas um
deles (Empreendimentos P e Q). Nesta coletânea de estudos de caso, apenas três empreendimentos
mostravam conformidade total do requisito, os de letra G, H e M; observado na Figura 2.

Figura 1 - Conformidade das amostras antes e depois da vigência da norma em 2013.


Atendimento à manutenibilidade das amostras
120%
100% 100% 100%
100% 90%
80% 80%
80%
60% 60% 60%
60% 50%
40% 40% 40%
40% 30%
20%
20% 10% 10%

0%
A B C D E F G H I J K L M N O P Q

Figura 2: Conformidade das amostras.


Fazendo uma análise entre os sistemas, percebe-se que o item de menor conformidade é o de
generalidades, com apenas 35%, que nada mais é que a facilidade para acessar o edifício e seus
sistemas para que a inspeção predial ocorra, através da fixação de andaimes, balancins, dentre
outros. Para Resende [24] é necessário a previsão desses elementos na fase de projeto, considerando
suas cargas, ancoragens e suporte para garantir uma estabilidade e segurança aos operários no
momento da operação ou inspeção. Em relação aos itens de maior conformidade, pode-se citar os
sistemas hidrosanitários: apesar de ser o único sistema a possuir dois critérios de avaliação de
manutenibilidade, foi o mais conforme com os critérios da norma de desempenho, sendo 79 % dos
casos analisados. As observações podem ser vistas na Figura 3.
Conformidade com as premissas de
manutenibilidade por sistema nas amostras

79%
65%
59%
47%
35%

Figura 3: Conformidade da manutenibilidade por sistemas.


A Tabela 4 mostra outras informações a respeito dos empreendimentos utilizados na revisão
bibliográfica e a Figura 4 mostra uma análise feita relacionando o padrão construtivo dos estudos de
casos com suas respectivas porcentagens de atendimento ao critério de manutenibilidade. Como
pode ser observado, o cumprimento do requisito normativo aumenta com o padrão do
empreendimento. Isto acontece devido à maior exigência dos usuários que ocupam os edifícios com
padrão mais luxuoso, os quais geralmente exigem uma qualidade de vida e de habitabilidade maior.
Na figura, os empreendimentos de padrão construtivo baixo apresentavam 47% de conformidade, já
os de padrão alto atingiram 90%.
Tabela 4: Informações sobre as amostras.
Vigência
Ano da % de
Amostra Local da Padrão
análise Conformidade
norma
A Baixo 90%
B Baixo 60%
Juiz de Fora
C 2015 Não Baixo 80%
(MG)
D Baixo 50%
E Baixo 10%
F Médio 30%
G Médio 100%
Juiz de Fora
H 2015 Não Médio 100%
(MG)
I Médio 40%
J Baixo 40%
N. Hamburgo
K 2016 Sim Alto 80%
(RS)
L Baixo 60%
M Alto 100%
N Chapecó (RS) 2017 Sim Médio 40%
O Médio 60%
P Baixo 20%
Q Tubarão (SC) 2017 Sim Baixo 10%

Padrão do empreendimento e % de
Conformidade
90%

62%
47%

Baixo Médio Alto

Figura 4: Porcentagem de conformidade de acordo com o padrão das amostras.


3. CONCLUSÃO
De acordo com o que foi observado no trabalho, é possível concluir que as empresas de construção
civil ainda não dominam os conteúdos normativos relacionados a manutenibilidade preconizados na
NBR 15.575/2013, observação a qual, foi encontrada também em Santos [19]. Verifica-se que o
critério de manutenibilidade proposto na normatização está totalmente relacionado ao fornecimento
de informações aos usuários pelos manuais de uso, operação e manutenção. No entanto, este manual
acaba sendo utilizado mais para proteção do incorporador do que pelo próprio usuário, assim como
mostrado em Zanotto et al. [17].
As 7 amostras coletadas após a norma entrar vigor apresentaram mais da metade de conformidade
de requisitos, no entanto, a normatização já havia sido publicada a 5 anos atrás, diante disso,
esperava-se um melhor entendimento por meio dos agentes da construção civil. Ademais, verificou-
se que com o aumento do padrão do empreendimento, há um maior atendimento do requisito de
manutenibilidade e dos processos de manutenção. Esta análise pode ser explicada pela alta
exigência dos usuários que vivem em habitações mais luxuosas, já que possuem uma qualidade de
habitabilidade maior.
Apesar dos 10 anos de sua publicação e 5 anos de vigência, há poucos estudos sobre a exigência de
manutenibilidade da norma de desempenho, principalmente os que fazem uso de estudos de caso.
Além disso, dentre estes poucos, a maioria das pesquisas se concentram na região sul do país,
dificultando uma análise espacial por todo território nacional. Pode-se dizer então, que este estudo
contribuiu com diretrizes para disseminação do conhecimento da NBR 15.575/2013, para que cada
vez mais a manutenibilidade seja considerada na prática.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos a CAPES pelo apoio à pesquisa.

REFERÊNCIAS
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setor da construção civil no Brasil. São Paulo: Departamento de Engenharia de Construção Civil, Escola
Politécnica, USP, 2008. (Boletim Técnico, n. 515).
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Brasileira De Desempenho: Análise Aplicada Para As Vedações Verticais. Gestão & Tecnologia de Projetos, v.
7, n. 1, p. 90–100, 30 maio 2012.
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de Janeiro, 2013.
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2015. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal de Juiz
de Fora (UFJF), Juiz de Fora, 2015.
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para o sistema de gestão de manutenção. Rio de Janeiro , 2012.
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Architechtural Engineering, v. 10, n. September, p. 80–87, 2004.
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social : estudo de caso no programa de arrendamento residencial. Porto Alegre (RS), 2012. Tese (Doutorado) –
Programa de Pós-graduação em Engenharia civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre (RS),
2012.
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gerenciamento de facilidades em edificações produtivas. São Paulo, 2013. Dissertação (Mestrado) – Programa
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empreendimentos. Revista de Engenharia Civil IMED, v. 4, p. 55–74, 2017.
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de manuais de uso , operação e manutenção das edificações — Requisitos para elaboração e apresentaçãodos
conteúdos. Rio de Janeiro, 2011.
[15] SANTOS, A. DE O. S.; SCHMITT, C. M. Estudo Exploratório Sobre O Conteúdo De Manuais De Operação , Uso
E Manutenção De Edificações Desenvolvidos Por Empresas Do Rio Grande Do Sul E Expectativas Dos Usuários.
In: I CONFERÊNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL, São Paulo, 2004.
Anais...São Paulo (SP): 2004
[16] MICHELIN, L. A. C. Manual de operação, uso e manutenção das edificações residenciais
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Trabalho de Conclusão (Mestrado Profissionalizante) – Programa de Mestrado Profissionalizante em Engenharia
Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre (RS), 2005.
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Habitacional. Sibragec Elagec 2015. São Carlos, 2015. Anais...São Carlos (SP): ANTAC, 2013.
[18] POHLMANN, T. K. Análise e critérios de elaboração de manuais de uso, operação e manutenção de
edificações. Santa Cruz do Sul (RS), 2017. Trabalho de Conclusão (Graduação) – Graduação em Engenharia
Civil, Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul (RS), 2017.
[19] SANTOS, F. M. Á. DOS. Impactos da aplicação da ABNT NBR 15.575/2013 nas empresas de edificações.
Juiz de Fora (MG), 2017. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil,
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Juiz de Fora, 2017.
[20] SOUZA, J. L. P. DE; KERN, A. P.; TUTIKIAN, B. F. Análise quantiqualitativa da Norma de Desempenho (NBR
No 15.575/2013) e principais desafios da implementação do nível superior em edificação residencial de
multipavimentos. Gestão & Tecnologia de Projetos, v. 13, n. 1, p. 127–144, 2018.
[21] GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 2008.
[22] FERREIRA, K. L. Impactos da Nova Norma de Desempenho e Diretrizes para a sua Aplicação nas Pequenas
Empresas de Construção Civil. Relatório (Iniciação Científica) – Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de
Fora, 2015.
[23] HONÓRIO, R. B.; MAURÍCIO FILHO, S. Análise de um projeto residencial multifamiliar às exigências
estabelecidas pela NBR 15575/2013: estudo de caso. Tubarão (SC), 2017. Trabalho de Conclusão (Graduação) –
Graduação em Engenharia Civil, Universidade do Sul de Santa Catarina, Tubarão, 2017.
[24] RESENDE, M. M. Manutenção preventiva de revestimentos de fachada de edifícios: limpeza de revestimentos
cerâmicos. São Paulo, 2004. Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo,
2004.
AS PESQUISAS SOBRE A NORMA BRASILEIRA DE DESEMPENHO - NBR
15575: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE LITERATURA

The research about the brazilian standard of performance - NBR 15575: a systematic
review of literature

Vitor Dias Lopes Nunes 1, Matheus Pereira Mendes2, Aldo Ribeiro de Carvalho3, Diana Fiori
Rubim4, Maria Aparecida Steinherz Hippert5

1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, dias.vitor36@gmail.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, matheusmendes.ad@hotmail.com
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, aldo.carvalho@engenharia.ufjf.br
4
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, diana.rubim@engenharia.ufjf.br
5
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, aparecida.hippert@ufjf.edu.br

Resumo: A aplicação do conceito de desempenho na construção civil depende de vários fatores, e


no Brasil, um aspecto ainda em discussão é a implementação da ABNT NBR 15575:2013 –
Edificações Habitacionais – Desempenho. A norma envolve aspectos abrangentes e complexos,
englobando diversas áreas de conhecimento, sendo necessárias algumas premissas, como: a
qualificação e o engajamento de profissionais e da cadeia fornecedora; o desenvolvimento de
pesquisas; e a conscientização e exigência dos consumidores. A discussão sobre o tema qualidade e
desempenho acontece há mais de uma década, mas somente agora encontra-se ambiente propício
para o seu encaminhamento, com o crescimento do mercado da construção civil e o
amadurecimento da cadeia produtiva. A ABNT NBR 15575:2013 estabelece o conceito de
desempenho por meio da definição de requisitos (qualitativos), critérios (quantitativos ou
premissas) e métodos de avaliação, possíveis de serem mensurados, que se aplicam as edificações
habitacionais, independente de materiais ou sistema construtivo, baseados nas necessidades do
usuário. A norma de desempenho teve a sua primeira versão publicada em 12 de maio de 2008, com
o documento ABNT NBR 15575 – Edifícios Habitacionais de até cinco pavimentos – Desempenho,
com uma carência de dois anos para discussão pública dos textos base com toda a cadeia produtiva
da construção civil. Porém, em função do grande impacto da publicação da norma e a complexidade
do assunto abordado, o prazo foi prorrogado para março de 2012, e em seguida para julho de 2013,
quando a normal oficialmente entrou em vigor. Esses anos de discussão representaram avanços
significativos tanto na qualificação e aprimoramento de seu conteúdo, quanto no envolvimento e
resolução consensual dos agentes interessados e na adequação à realidade do país, levando em conta
o seu estágio técnico e de desenvolvimento socioeconômico. Diante disso, este trabalho visa fazer
uma pesquisa exploratória para caracterizar os estudos relacionados a norma de desempenho. Para
isso, foi realizada uma revisão sistemática de literatura, considerando o período de 2008 a 2018,
buscando os artigos, teses e dissertações na base de dados Periódicos CAPES e Catálogo de Teses e
Dissertações da CAPES. A análise dos dados se deu através da identificação dos autores,
instituições, tema, metodologia, palavras chaves e ano de publicação. O trabalho identificou as
pesquisas relacionadas a ABNT NBR 15575:2013, e estabeleceu o panorama quantitativo dos
estudos acadêmicos a respeito da norma de desempenho.

Palavras-chave: Desempenho, NBR 15575, Revisão Sistemática de literatura (RSL).

Abstract: The application of the concept of performance in construction depends on several factors,
and in Brazil, one aspect under discussion is the implementation of ABNT NBR 15575: 2013 -
Housing Buildings - Performance. The standard includes extremely comprehensive and complex
aspects, encompassing several areas of knowledge and requires: the qualification and engagement
of professionals and the supply chain; the development of research; and consumer awareness and
demand. The discussion on quality and performance has been carried out for more than a decade,
but only nowadays it is possible its development, with the growth of the construction market and
the improvement of the production chain. The ABNT NBR 15575: 2013 establishes the concept of
performance through the definition of requirements (qualitative), criteria (quantitative or premises)
and evaluation methods, which can be measured, that apply to housing, regardless of materials or
construction system, based on the user needs. The performance standard had its first version
published on May 12, 2008, with document ABNT NBR 15575 - Housing Buildings up to five
floors - Performance, with a period of two years for public discussion of the base texts with the
entire production chain construction. However, due to the great impact of the publication of the
Brazilian standard and the complexity of the subject approached, the deadline was extended to
March 2012, and then to July 2013, when the Brazilian standard officially came into validity. These
years of discussion represented significant advances both in the qualification and improvement of
its content and in the involvement of the interested parties and in the adaptation to the reality of the
country, including its technical and socioeconomic development stage. In this context, this work
aims to do an exploratory research to characterize the studies related to the performance standard.
For this, a systematic review of the literature was carried out, considering the period of 2008 to
2018, searching papers, theses and dissertations in the CAPES Periódicos website and the Thesis
and Dissertation Catalog. The analysis of the data was done through the identification of the
authors, institutions, theme, methodology, key words and year of publication. The work identified
the research related to ABNT NBR 15575: 2013, in order to establish the academic state of art
regarding the performance standard and to indicate new directions for future investigations.

Keywords: Performance, NBR 1555, Systematic review.

1. INTRODUÇÃO
A palavra desempenho é utilizada informalmente por toda a sociedade, normalmente associada a
um nível de qualidade desejado quando comparado ao nível a ser entregue. Na construção civil,
esse conceito está ligado a prática de se pensar em termos de fins e não de meios, de forma a definir
os requisitos que a construção deve atender, e não a forma com a qual deve ser construída [1].
O conceito de desempenho vem sendo estudado desde a década de 60, contudo até o final da década
de 80 estava voltado para o contexto conceitual. A partir da década de 90, iniciou-se a aplicação do
conceito para a concepção e execução de construções [1], [2].
A exemplo disso, temos Países Europeus, como Dinamarca, Holanda, Espanha e Reino Unido, que
em 1992 iniciaram ações e programas para avaliar o desempenho do consumo de energia das
edificações [3]. No Brasil, o conceito de desempenho evoluiu a partir da década de 80,
principalmente devido aos trabalhos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) para o Banco
Nacional da Habitação, e depois para a Caixa Econômica Federal. No ano de 2000, a Caixa
Econômica Federal financiou, um projeto para a criação de um sistema de avaliação de sistemas
construtivos inovadores baseado no conceito de desempenho. Este projeto resultou na publicação do
conjunto de normas ABNT NBR 15575: 2013 – Edifícios Habitacionais – Desempenho [3], [4].
A ABNT NBR 1575:2013 envolve aspectos extremamente abrangentes e complexos, englobando
diversas áreas de conhecimento, sendo necessárias algumas premissas, dentre elas: a qualificação e
o engajamento de profissionais e da cadeia fornecedora; o desenvolvimento de pesquisas; e a
conscientização e exigência dos consumidores [2], [5].
Neste contexto, verifica-se a necessidade de avaliar os estudos da norma de desempenho ABNT
NBR 15575:2013 visando compreender como o assunto vem sendo tratado atualmente. Para tanto,
foi realizada uma Revisão Sistemática de Literatura (RSL) fazendo uma análise bibliométrica das
publicações disponíveis nas bases de dados abrangidas pelo Portal Periódicos CAPES e no Catálogo
de Teses e Dissertações da CAPES. A contribuição deste trabalho é identificar as pesquisas
relacionadas a norma de desempenho e estabelecer um panorama quantitativo acadêmico do campo
de estudo.

2. NORMA DE DESEMPENHO – NBR 15575


A norma de desempenho teve a sua primeira versão publicada em 12 de maio de 2008, com o
documento ABNT NBR 15575:2010 – Edifícios Habitacionais de até cinco pavimentos –
Desempenho, com uma carência de dois anos para discussão pública dos textos base com toda a
cadeia produtiva da construção civil. Porém, em função do grande impacto da publicação da norma
o prazo foi prorrogado para março de 2012, e em seguida para julho de 2013, quando a norma
oficialmente entrou em vigor [2]. Esta contempla um conceito amplo e complexo, e por isso,
segundo as palavras do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), Sr.
Paulo Simão “por dois anos, o trabalho de revisão contou com participação jamais vista em
Comissões de Estudos de normas técnicas do Brasil, com a presença de mais de 120 participantes”
[4].
A ABNT NBR 15575:2013 procura estabelecer o conceito de desempenho por meio da definição de
requisitos (qualitativos), critérios (quantitativos ou premissas) e métodos de avaliação, sempre
considerando a mensuração clara do seu cumprimento [6]. Borges e Sabbatinni [1] declaram que é
um grande desafio a tradução das necessidades dos usuários em requisitos e critérios para que
possam ser mensurados de maneira objetiva, dentro de determinadas condições de exposição e uso,
e que sejam viáveis técnica e economicamente dentro da realidade de cada sociedade, região ou
país. Isso porque as exigências do usuário são variáveis, crescentes e subjetivas, o que torna sua
definição muito difícil e complexa.
Tendo isso em vista, Silva et al. [7] afirmam que o uso da metodologia de análise de desempenho
requer um grande esforço de diferentes agentes da construção civil, uma vez que exige o
envolvimento de várias áreas do conhecimento. Além disso, o conjunto normativo da construção
civil, principalmente no Brasil, é prescritivo, ou seja, especifica os meios e não os fins que se deseja
atingir, o que, de certa forma, contraria o conceito de desempenho. Portanto, a norma de
desempenho pode ser considerada como um complemento às normas prescritivas e representou um
impasse na construção civil, devido à dificuldade da sua aplicação [1], [6], [7].
Sinteticamente a norma ABNT NBR 15575:2013 estabelece uma série de incumbências para
empresas incorporadoras, construtoras, projetistas, usuários e outras partes interessadas. Otero e
Sposto [5] declaram que a norma torna as empresas e os projetistas aptos a: identificar as condições
físicas da obra e os requisitos dos usuários com relação ao desempenho da edificação; gerenciar a
contratação de profissionais e empresas; controlar e manter indicações do cumprimento dos
requisitos de desempenho (projetos, materiais e execução de serviços); e a preparar manuais de uso,
operação e manutenção.
A ABNT NBR 15575:2013 define os critérios mínimos de desempenho para cada sistema da
edificação, além de determinar as intervenções necessárias para que seja atingido vida útil mínima
das construções. A norma é constituída das seguintes partes: (i) Requisitos gerais; (ii) Requisitos
para os sistemas estruturais; (iii) Requisitos para os sistemas de pisos; (iv) Requisitos para os
sistemas de vedações verticais internas e externas; (v) Requisitos para os sistemas de coberturas; e
(vi) Requisitos para os sistemas hidrossanitários [6].
Cada uma das seis partes da norma é dividida em critérios, que têm como base as necessidades dos
usuários para a fase de uso da edificação: (i) segurança (segurança estrutural, segurança contra fogo
e segurança no uso e na operação); (ii) habitabilidade (estanqueidade, desempenho térmico,
desempenho acústico, desempenho lumínico, saúde, higiene e qualidade do ar, funcionalidade e
acessibilidade, conforto tátil e antropodinâmico); e (iii) sustentabilidade (durabilidade,
manutenibilidade e impacto ambiental) [6].

3. METODOLOGIA
A revisão sistemática de literatura (RSL) é pautada em um rigor metodológico e em um fluxo de
etapas, de forma a traçar uma avaliação crítica dos estudos empregando critérios objetivos e
reprodutíveis de seleção e qualificação da amostra de pesquisas consideradas relevantes. Assim, a
RSL se divide basicamente em duas etapas: (i) identificação e seleção dos artigos, e (ii) análise
sistemática do conteúdo.
Cabe ressaltar que, como passo inicial, antes da RSL de fato, foi realizada uma revisão narrativa de
literatura. Tal revisão, que ocorre por processos não metódicos e se dá por conhecimentos e
investigações extra base de dados, contribuiu principalmente para a aproximação inicial ao tema.
Buscando traçar o panorama do tema abordado, foram planejadas questões a serem respondidas a
partir da investigação na literatura. Tais questões são apresentadas a seguir:
1. Como os estudos sobre a norma se distribuem ao longo do tempo?
2. Qual os principais temas abordados?
3. Quais os métodos utilizados na pesquisa?
4. Quem são os autores?
5. Quais Instituições têm mais estudado sobre a norma?
Uma vez que a ABNT NBR 15575 é uma norma brasileira, espera-se que as pesquisas
desenvolvidas sobre o tema sejam desenvolvidas em universidades brasileiras, e publicadas em
periódicos nacionais. Portanto, a identificação dos arquivos (artigos, teses e dissertações) foi feita
nos seguintes bancos de dados: (i) periódicos CAPES, principal biblioteca virtual no Brasil, que
reúne e disponibiliza às Instituições de Ensino e Pesquisa no país, com acesso gratuito a mais de 38
mil publicações periódicas, internacionais e nacionais, e a diversas bases de dados cobrindo todas as
áreas do conhecimento; e (ii) no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES, que apresenta os
arquivos completos das teses e dissertações brasileiras, informados diretamente à CAPES pelos
programas de pós-graduação, que se responsabilizam pela veracidade dos dados.
O termo de busca utilizado na pesquisa foi: “NBR 15575” OR “NBR 15575”. Ele foi definido após
a observação da diferenciação do termo com ponto e sem ponto, e exibição de grande quantidade de
resultados não relacionado com a norma de desempenho sem a utilização das aspas, surgindo
arquivos envolvendo os termos NBR ou 15575. O recorte temporal considerado foi de 2008 a 2018,
devido a 2008 ser o ano de início do período que a norma ficou aberta à discussão.
Após delimitado os termos de busca, foi definido que todos os trabalhos devem apresentar acesso
integral aos textos. Assim, caso o acesso ao arquivo não fosse possível, de imediato já seria
excluído. Após a coleta dos trabalhos, foi realizado a análise inicial do título, que deveria conter
NBR 15575 em todas as suas possibilidades (com ponto, sem ponto, com “NBR” ou sem ou, ainda,
“Norma de desempenho”) ou temas e termos referentes às exigências dos usuários presentes na
Norma, ou seja:
 Desempenho Estrutural
 Segurança contra incêndio
 Segurança no uso e na operação
 Estanqueidade
 Desempenho Térmico
 Desempenho Acústico
 Desempenho Lumínico
 Durabilidade e Manutenibilidade
 Saúde
 Higiene e Qualidade do Ar
 Funcionalidade e Acessibilidade
 Conforto Tátil e Antropodinâmico
 Adequação Ambiental e
 Tema Geral (este último considera os trabalhos que tratam a NBR 15575 de maneira mais
ampla como aplicabilidade da mesma, incumbências dos intervenientes, etc.)
Em seguida foi realizada a análise dos resumos. Nesta etapa os trabalhos devem ter relação direta
com o tema pesquisado (NBR 15575) sendo excluído aqueles que não discutem ou apenas citam a
norma. Por fim, de cada trabalho foram retirados os dados necessários par responder as perguntas já
citadas: Título, Ano de publicação, Tipo de publicação, Autores, Orientador (a) (no caso de teses e
dissertações), Instituição de Ensino, Palavras chave, Tema e Metodologia. Vale lembrar que, no
caso de artigos com múltiplos autores a Instituição de Ensino foi considerada apenas uma vez, salvo
em caso de cooperação institucional.
Os trabalhos foram classificados em temas de acordo com os requisitos dos usuários presente na
norma, caso abordasse, mas fora dos requisitos, foram classificados como tema geral. Além disso,
as palavras chave foram reproduzidas fielmente, de forma que termos semelhantes foram
diferenciados apesar de indicarem a mesma coisa, como por exemplo: “NBR 15575”; “NBR
15575”; “ABNT NBR 15575”; e outras variações.
A identificação e seleção dos trabalhos foi realizada no dia 31/08/2018 para as duas bases de dados.
As etapas seguintes deram continuidade a partir dos arquivos disponíveis nesta data.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A seguir são apresentados os resultados obtidos nas duas bases de dados utilizadas, Portal
Periódicos CAPES e Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES.

4.1 Portal Periódicos CAPES


A busca gerou 70 resultados, dos quais 61 estavam disponíveis em sua versão completa. Após a
leitura dos títulos foram descartados 6 artigos, e a análise dos resumos resultou na exclusão de 28
publicações. A amostra finalizou com 27 trabalhos, como pode ser observado na Figura 1. Todos os
resultados acessados foram artigos de periódicos, nacionais e internacionais.

Figura 1: Evolução da amostra - Periódicos CAPES


A análise dos dados indica que a maioria das publicações se concentram em 2015, 2016 e 2017,
como pode ser observado na Figura 2.
Figura 2: Número de publicações ao longo do tempo
Os temas mais discutidos nos artigos foram desempenho térmico e desempenho acústico,
representando cerca de 48% dos trabalhos (Figura 3). Observa-se, também, que apesar de grande
quantidade de requisitos presente na norma, apenas 7 foram abordados nas publicações em
periódicos.

Figura 3: Temas abordados nas publicações em periódicos


A palavra-chave mais utilizada foi Social Housing, apesar de poucos artigos estarem escritos em
língua inglesa. Dentre as palavras-chave mais utilizadas (Figura 4) a maioria se relaciona com
eficiência térmica e acústica, o que corrobora com os temas mais abordado. Vale ressaltar que
houve um número muito grande palavras-chave que foram observadas apenas uma vez, e não estão
representadas no gráfico da Figura 4.
Figura 4: Palavras-chave mais utilizadas
As publicações da amostra, em geral, se concentram em uma abordagem mais prática, como
observado na Figura 5. A metodologia de pesquisa mais utilizada nos trabalhos foi o estudo de caso,
seguida pela simulação computacional. A opção da utilização de estudo de caso é devido ao fato do
conceito de desempenho e da norma ainda serem recentes no mercado brasileiro, e recomenda-se tal
processo investigativo ao pesquisar um fenômeno contemporâneo [8].

Figura 5: Metodologias mais utilizadas


Ao analisar os autores das publicações, observa-se que não há um nome de grande referência, uma
vez que os o número de publicações está bem distribuído entre os autores, como pode ser observado
na figura 6. Autores com apenas 1 publicação não estão representados no gráfico.
Figura 6: Autores que mais publicam em periódicos
Por outro lado, ao verificar o número de publicações em relação a Instituições, a Universidade do
Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS) se destaca, apresentando um grande número de publicações
(Figura 7). Observa-se, também, que a maioria das publicações são originárias da região sul e
sudeste do país.

Figura 7: Instituições de ensino que mais publicam em periódicos

4.2 Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES.


A busca na base de dados gerou 154 arquivos, como pode ser observado na Figura 8, no entanto,
muitos arquivos não estavam disponíveis, principalmente os mais antigos. Assim, 103 arquivos
foram baixados, apenas 3 títulos foram eliminados e após análise do resumo foram excluídos 6
trabalhos. Resultando em uma amostra de 94 arquivos.

Figura 8: Evolução da amostra - catálogo da CAPES (Fonte: Os autores, 2018)


A análise dos dados mostra um número de titulação maior em 2014, logo após a norma ser
oficializada, e em seguida 2016 e 2017 (Figura 9). Além disso, as titulações de doutorado houveram
redução nos últimos anos, enquanto as de mestrado mantiveram um patamar.

Figura 9: Titulações ao longo do tempo


Em relação ao tema, assim como no caso dos artigos de periódicos, os mais tratados são
desempenho térmico, com 41 trabalhos, e desempenho acústico, com 20 (Figura 10). Ou seja, cerca
de 65% dos trabalhos analisados discutem um dos dois temas.
Figura 10: Número de trabalhos por tema
Essa predominância da eficiência térmica e acústica também pode ser analisado a partir das palavras
chaves mais reconhecidas. Na Figura 11 percebe-se que o termo “Desempenho Térmico” é o mais
citado, seguido por “Desempenho”, “NBR 15575”, “Norma de desempenho”. Vale ressaltar que
houve um grande número de palavras-chave que apresentam menos repetições.

Figura 11: Palavras chave mais utilizadas


A Simulação computacional, além de aparecer entre as palavras-chaves mais citadas, é a
metodologia mais utilizada nos trabalhos, seguida de pesquisa experimental e estudo de caso
(Figura 12). Esses resultados se opõem com os resultados encontrados nos artigos de periódicos,
uma vez que utilizam mais da metodologia de estudo de caso. Entretanto, ainda prevalece a
utilização de metodologias mais práticas.
Figura 12: Metodologia dos trabalhos
No que diz respeito às orientações, têm-se destaque para Dinara Xavier da Paixão (UFSM) e Luiz
Alkimin de Lacerda (UFPA), como pode ser observado na Figura 13. Esses professores, apesar de
terem maior número de orientações não apareceram como destaque de publicações em artigos em
periódicos. Outros professores foram encontrados com orientação de 1 trabalho, mas não estão
representados no gráfico.

Figura 13: Professores que mais orientaram trabalhos


Analisando a Figura 14, percebe-se que a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o Instituto
de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (ITP) e a Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG) são as instituições de ensino que mais apresentam publicações de teses e dissertações
relacionadas a norma de desempenho. Apesar de forneceram um grande número de títulos, as
Instituições não apresentam um número significativo de publicações de artigos em periódicos.
Figura 14: Instituições com maior número de titulações

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou analisar os estudos da academia relacionados a norma de desempenho
ABNT NBR 15575. Foi realizada uma Revisão Sistemática de Literatura (RSL) buscando traçar um
panorama quantitativo das publicações disponíveis nas bases de dados do Portal Periódicos CAPES
e no Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES.
No portal de periódicos foram encontrados 70 resultados, totalizando em uma amostra final de 27
artigos. A maioria dos trabalhos foram eliminados na fase de análise do resumo. Enquanto isso, no
catálogo de teses e dissertações foram identificados 154 resultados, sucedendo uma amostra final de
94 trabalhos. Neste caso, as publicações foram excluídas devido à ausência do texto completo na
base de dados.
As distribuições dos trabalhos ao longo do tempo mostraram um crescimento após a norma entrar
oficialmente em vigor. Mas, nos últimos anos houve uma estabilização dos estudos.
Além disso, apesar da NBR 15575 apresentar uma grande quantidade de requisitos, os estudos estão
concentrados nas áreas de desempenho térmico e desempenho acústico, com aproximadamente 50%
dos trabalhos abordando esses temas. Por outro lado, os temas relacionados à sustentabilidade
foram poucos estudados, ainda que a própria norma declare dificuldades de determinação de
critérios e requisitos em relação ao impacto ambiental, tendo em vista a necessidade de maiores
estudos.
Revela-se, por meio dos resultados da RSL, que há uma tendência à exploração do conteúdo da
norma através de métodos práticos ─ simulação computacional, pesquisa experimental e estudos de
caso ─ em detrimento de estudos teóricos. As simulações são mais utilizadas devido à grande
quantidade de estudos relacionados a eficiência energética e acústica.
Um fato interessante a se considerar, é que o número de publicações de teses e dissertações das
Instituições de Ensino não está diretamente relacionado com o número de publicações em artigos de
periódicos. A UNISINOS, por exemplo, tem um maior número de publicações em periódicos, mas
encontra-se em quinto lugar em número de titulações.
Por fim, os resultados desse artigo permitem estabelecer um panorama quantitativo de como e quais
temas estão sendo estudados relacionados a norma de desempenho. As questões relacionadas a
habitabilidade são as mais discutidas, enquanto as de sustentabilidade e segurança são pouco
estudadas quando relacionadas a ABNT NBR 15575.

AGREDCIMENTOS
Os autores agradecem a UFJF pelo incentivo à pesquisa.

REFERÊNCIA
[1] BORGES, Carlos A. de Moraes; SABBATINI, Fernando H. O Conceito de desempenho de edificações e a sua
importância para o setor da construção civil no Brasil. Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, 2008.
[2] KERN, Andrea Parisi; SILVA, Adriana; KAZMIERCZAK, Claudio de Souza. O Processo De Implantação De
Normas De Desempenho Na Construção: Um Comparativo Entre A Espanha (CTE) E Brasil (NBR 15575/2013).
Gestão & Tecnologia de Projetos, [s.l.], v. 9, n. 1, p.89-101, 31 ago. 2014. Universidade de São Paulo Sistema
Integrado de Bibliotecas - SIBiUSP. http://dx.doi.org/10.11606/gtp.v9i1.89989.
[3] BOSCH, M. et al. Final architecture diploma projects in the analysis of the UPC buildings energy performance.
WIT Transactions on Ecology and the Environment, v. 93, p. 541–547, 2006.
[4] CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO (CBIC). 2013. Desempenho de edificações
habitacionais: guia orientativo para atendimento à norma ABNT NBR 15575/2013. Fortaleza, Gadioli Cipolla
Comunicação, 311 p.
[5] OTERO, J. A.; SPOSTO, R. M. Incorporadoras E Construtoras a Partir De Processos De Sistemas De Gestão Da
Qualidade. XV Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, n. 1, p. 1247–1256, 2014.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 15575: Edificações habitacionais -
Desempenho. Rio de Janeiro, 2013.
[7] SILVA, A. T. et al. Novas exigências decorrentes de programas de certificação ambiental de prédios e de normas de
desempenho na construção. Arquitetura Revista, v. 10, n. 2, p. 105–114, 2015.
[8] YIN. R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3 ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
MODERNIZAÇÃO E MANUTENÇÃO: PROPOSTA DE DIRETRIZES PARA
UM USO MAIS SUSTENTÁVEL DAS EDIFICAÇÕES

Modernization and Maintenance: Proposed Guidelines For More Sustainable Use Of


Buildings

Vitor Dias Lopes Nunes 1, Matheus Pereira Mendes2, Maria Teresa Gomes Barbosa3

1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, dias.vitor36@gmail.com


2 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, matheusmendes.ad@hotmail.com
3 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br

Resumo: O atual cenário da construção civil é caracterizado por pressões direcionadas a


diminuição de impactos ambientais e a melhoria de desempenho do ambiente construído. A
sustentabilidade tem sido pauta de discussão no setor da construção civil durante as últimas
décadas, especialmente na esfera acadêmica. O setor se caracteriza como um dos que mais
consomem recursos naturais, desde a produção dos insumos utilizados até a execução da obra,
operação durante a vida útil da edificação e demolição da edificação. Estimasse que, no Brasil, a
indústria da construção civil apropria-se de cerca de 75% do que é extraído do meio ambiente e gera
50% do total de resíduos produzidos nas cidades, sem contar que aproximadamente 40% da energia
mundial sejam consumidas pelos edifícios. Além disso, a construção civil é responsável pelo
consumo de uma grande quantidade de água potável, sendo, em áreas urbanizadas cerca de 50% da
água fornecida à região. A publicação da norma ABNT NBR 15575:2013 trouxe para o mercado
brasileiro o conceito de desempenho, que pode ser considerada uma boa oportunidade para a
melhoria da qualidade das habitações brasileiras e representa um avanço nos aspectos ambientais e
de atendimento aos usuários. Entretanto, a norma aplica-se apenas para projetos iniciados após a sua
publicação, não contemplando as edificações já construídas. Portanto, os serviços de manutenção
das construções, que buscam a recuperação e o prolongamento da sua vida útil, devem ser utilizados
para a adequação do desempenho da edificação, incorporando, inclusive, fatores sustentáveis. Desse
modo, o objetivo deste trabalho é buscar, analisar e apresentar estratégias, materiais e métodos que
atendam os critérios de sustentabilidade e que sejam passíveis de inserção durante os serviços de
manutenção da edificação, de modo a tornar o seu uso mais sustentável. Para tanto, foi realizada
uma revisão bibliográfica dos conceitos de desenvolvimento sustentável na construção civil e
manutenção predial, fazendo uma correlação entre os dois assuntos; e um levantamento de possíveis
procedimentos a serem utilizados na situação descrita. Obteve-se como resultado uma maior
exploração sobre o tema e apresentação de produtos e procedimentos que tornarão a edificação mais
sustentável.

Palavras-chave: Edifício Sustentável, Manutenção, Sustentabilidade.


Abstract: The current scenario of civil construction is characterized by pressures aimed at reducing
environmental impacts and improving the performance of the built environment. Sustainability has
been a subject of discussion in the construction industry during the last decades, especially in the
academic sphere. The sector is characterized as one of the most consuming natural resources, from
the production of the inputs used to the execution of the work, operation during the useful life of the
building and demolition of the structure. Steem that in Brazil, the construction industry appropriates
about 75% of what is extracted from the environment and generates 50% of the total waste
produced in the cities. And more, estimate that approximately 40% of the world's energy is
consumed by buildings. In addition, the construction industry is responsible for the consumption of
a large amount of drinking water, being in urban areas about 50% of the potable water supplied to
the region. The publication of the standard ABNT NBR 15575: 2013 brought to the Brazilian
market the concept of performance, which can be considered as a good opportunity to improve the
quality of Brazilian housing and represents a breakthrough in environmental aspects and user
service. However, the brazilian standard applies only to projects started after its publication, not
including buildings already built. Therefore, building maintenance services, which aims to recover
and extend their useful life, should be used for the adequacy of the building performance,
incorporating sustainable factors, in order to make their use more sustainable. Thus, the objective of
this work is to search, analyze and show strategies, materials and methods that meet with
sustainability criteria and that can be inserted during the maintenance services of the building. For
that, a bibliographic review of the concepts of sustainable development in the civil construction and
building maintenance was done, making a correlation between the two subjects; and a survey of
possible procedures to be used in the described situation. This resulted in a greater exploration of
the theme and presentation of products and procedures that will make building more sustainable.

Keywords: Sustainable Building, Maintenance, Sustainability.

1. INTRODUÇÃO
O atual cenário da construção civil é caracterizado por pressões direcionadas a diminuição de
impactos ambientais, sociais e econômicos e a melhoria de desempenho do ambiente construído [1].
O setor se caracteriza como um dos que mais consomem recursos naturais, desde a produção dos
insumos utilizados até a execução da obra, operação − durante a vida útil da edificação − e
demolição [2].
Os números atribuídos ao setor destacam a importância de discutir sustentabilidade na construção
civil. Segundo o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) [3] com dados de 2012, a
construção civil mundial consume um terço dos recursos naturais; emitem um terço dos gases
estufa; demanda 40% da energia; consume 12% da água potável; produz 40% dos resíduos sólidos
urbanos; é responsável por 10% do PIB global e emprega 10% da mão de obra mundial. Já na
escala urbana, os dados do CBCS mostram que as cidades produzem 50% dos resíduos; consumem
75% dos recursos naturais; e cerca de dois terços da energia mundial é consumida no ambiente
urbano.
A partir desses dados, é possível observar que a construção civil possui grande potencial de redução
de impactos com a adoção de práticas de conservação e uso racional dos recursos. O CBCS [2]
estima que seja possível reduzir entre 30% e 40% o consumo de energia e de água durante o uso e
operação do edifício e que a racionalidade e eficiência no consumo de recursos pode traduzir em
redução de gastos, com vantagens para a sociedade.
Campos [4] afirma que uma das maneiras de minimizar o impacto ambiental das cidades é fazer
frente a urbanização dispersa e o esvaziamento das áreas e prédios antigos, de modo que se possa
reabilitar essas áreas e aproveitar sua infraestrutura, sistema de transporte e urbanização. Rogers [5]
acredita que devemos investir no conceito de cidade compacta, e justifica declarando que “as
cidades densas, através de um planejamento integrado, podem ser pensadas tendo em vista um
aumento de sua eficiência energética, menor consumo de recursos, menor nível de poluição e, além
disso, evitando sua expansão sobre a área rural.”.
Nesse sentido, os serviços de manutenção das construções, que buscam o reparo e/ou recuperação e
o prolongamento da sua vida útil, devem ser utilizados para a adequação do desempenho das
edificações, incorporando, inclusive, fatores sustentáveis. Recentemente, a norma ABNT NBR
15575:2013 [6] fortaleceu o conceito de desempenho no mercado brasileiro, podendo ser
considerada uma oportunidade na melhoria da qualidade das habitações brasileiras e representando
um avanço nos aspectos ambientais, sociais, econômicos e de atendimento as necessidades dos
usuários.
A norma [6] determina o conceito de vida útil da edificação, como a “[...] capacidade da edificação
ou de seus sistemas de desempenhar suas funções, ao longo do tempo e sob condições de uso e
manutenção especificadas.”. Assim, ela preconiza que toda edificação deve passar por um processo
de manutenção, sendo previsto e planejado. Entretanto, a normatização aplica-se apenas para
projetos “novos”, não contemplando as edificações já construídas e desconsiderando os serviços de
manutenção nessas ultimas.
Desse modo, o objetivo deste trabalho é analisar e apresentar estratégias, materiais e métodos que
atendam os critérios de sustentabilidade e que sejam passíveis de inserção durante os serviços de
manutenção e modernização da edificação. Para tanto, foi realizada uma revisão bibliográfica dos
conceitos de desenvolvimento sustentável na construção civil e manutenção predial, fazendo uma
correlação entre os dois e gerando maior aproximação com o tema; para então propor possíveis
procedimentos a serem utilizados na situação descrita.

2. MANUTENÇÃO
As edificações têm um valor social fundamental, uma vez que são o suporte físico, direto ou
indireto, para a realização de todas as atividades produtivas. Além disso, diferente de produtos
comuns, elas são construídas para atender seus usuários por muitos anos, devendo sempre
apresentar condições adequadas para o uso. É inviável economicamente e inaceitável
ambientalmente considerar as edificações como produtos descartáveis, passíveis de substituição
quando seu desempenho não se torna mais adequado [7]. Isso exige que as edificações passem por
um processo de manutenção e modernização, para que elas se mantenham em condições adequadas
para atender as exigências dos usuários.
A ABNT NBR 15575:2013 [6] define manutenção como sendo “conjunto de atividades a serem
realizadas ao longo da vida total da edificação para conservar ou recuperar a sua capacidade
funcional e de seus sistemas constituintes de atender as necessidades e segurança dos seus
usuários.”, ou seja, é um processo para recuperar ou conservar a sua capacidade funcional e dos
sistemas da edificação, a fim prolongar ou atingir a vida útil de projeto – período de tempo estimado
que um sistema é projetado para atender aos requisitos de desempenho estabelecidos na norma.
Como mostrado na Figura 1, o desempenho de uma edificação reduz ao longo do tempo, sendo
necessária a realização de manutenções periódicas para mantê-la num nível de desempenho acima
do requerido, até atingir a vida útil de projeto. No caso de ausência de manutenção, a edificação irá
se desgastar com maior rapidez, tendo sua vida útil reduzida.

Figura 1: Desempenho da edificação ao longo da sua vida útil (Fonte: Adaptado de ABNT NBR 15575 [6])
A maneira pela qual é feita a intervenção nos sistema, instalações e equipamentos caracteriza os
vários tipos de manutenção. Temos então a manutenção preventiva, preditiva e a corretiva.

2.1 Manutenção preventiva


Kardec e Nascif [8] definem manutenção preventiva como “[...] atuação realizada de forma a
reduzir ou evitar a falha ou queda no desempenho, obedecendo a um plano previamente elaborado,
baseado em intervalos definidos de tempo.”.
A proposta da normatização brasileira [6-7] é que desde o início do projeto sejam feitas indicações
das medidas de inspeção e manutenção preventiva, de modo a assegurar a vida útil de projeto e
garantir a funcionalidade da obra. Segundo Viana [9], um plano de manutenção preventiva é
baseado em um conjunto de atividades, que são regularmente executadas com o objetivo de manter
o sistema e seus componentes em seu melhor estado operacional. E deve considerar projetos,
memoriais, orientação dos fornecedores e manual de uso, operação e manutenção [7].
A manutenção preventiva proporciona um conhecimento prévio das ações a serem tomadas,
permitindo o gerenciamento das atividades e recursos, de modo a se tornar mais conveniente e
aumentando a simplicidade das tarefas [8].
Rocha [10] declara que nas edificações os trabalhos programados de manutenção preventiva
consistem, na maioria dos casos, em inspeções e verificações que, apesar de aparentemente simples,
podem evitar altos custos de reforma. E em outros casos, são realizados serviços de limpeza,
utilizando produtos e equipamentos adequados, aumentam seguramente a vida de sistemas e
materiais de acabamentos.

2.2 Manutenção preditiva


Viana [9] descreve que a manutenção preditiva objetiva a acompanhar os componentes da
edificação, seja por monitoramento, por medições ou por controle estatístico e tentam realizar um
prognostico da possibilidade da ocorrência da falha. Kardec e Nascif [8] definem manutenção
preditiva como atividade“[...] realizada com base na modificação de parâmetros de condição ou
desempenho, cujo acompanhamento obedece a uma sistemática.”. É também conhecida como
Manutenção sob Condição ou Manutenção com Base no Estado do Equipamento. Utiliza-se
técnicas de monitoramento, e quando necessário é realizado uma ação de correção através de uma
manutenção corretiva planejada.

2.3 Manutenção corretiva


A manutenção corretiva atua quando o sistema ou equipamento apresenta uma falha ou um
desempenho diferente do esperado. Portanto, a sua principal função é corrigir ou restaurar as
condições do item para executar as condições requeridas [8].
Sendo assim, a manutenção corretiva pode ser não planejada ─ também chamada de emergencial ─
ou planejada. A manutenção planejada é realizada quando o sistema se aproxima de um
desempenho menor que o esperado, ou por uma decisão gerencial. Um trabalho planejado, tem mais
chance de ser mais barato, rápido e seguro. Por outro lado, a manutenção não planejada é realizada
apenas após a ocorrência de uma falha, ou após o sistema alcançar um desempenho insatisfatório.
A manutenção corretiva, ao contrário da preventiva, pode ter um custo muito alto. Em muitos casos,
há prédios em estado de degradação que necessitam de grandes reformas, cujos custos ultrapassam
os valores que seriam investidos técnicas preventivas ao longo do tempo [10].

3. SUSTENTABILIDADE
O conceito de sustentabilidade é derivado do debate sobre o desenvolvimento sustentável que
ocorreu ao longo do tempo. O marco inicial dessa discussão é a Conferência Internacional das
Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (United Nations Conference on the Human
Environment), realizada em 1972 em Estocolmo [11].
Em 1987, a Comissão Mundial sobre Ambiente e Desenvolvimento (WCED) publicou o relatório
Our common future (Nosso futuro comum), também conhecido como relatório Brundtland. Neste
relatório foi declarado que o uso excessivo dos recursos naturais era um processo que provocaria o
colapso dos ecossistemas. Dessa forma, ele propunha a busca de soluções como uma tarefa comum
a toda humanidade [11], [12].
Em 1992 no Rio de Janeiro foi realizada a Cúpula da Terra, também conhecida como Eco’92 ou
Rio’92, segunda conferencia ambiental realizada pela ONU. Neste evento foram discutidos planos
de ações para preservar os recursos do planeta e possíveis maneiras de eliminar as diferenças entre
os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. Como resultado, foi aprovado a Agenda 21,
documento com 2500 recomendações de estratégias de conservação do planeta e metas de
exploração sustentável dos recursos naturais que não impeçam o desenvolvimento de nenhum país.
Após 20 anos, em 2012, a Rio+20 reafirmou e renovou o compromisso político com o
desenvolvimento sustentável [12],[13].
Após essa larga discussão, muitas são as definições encontradas para sustentabilidade, no entanto, a
maioria dos especialistas concordam que a sustentabilidade implica na produção de bens com
menor carga ambiental, de forma que se preserve o meio ambiente de degenerações futuras [14].
A Câmara da Industria da Construção, por exemplo, definiu no seu Guia de Sustentabilidade na
Construção o termo sustentabilidade como a integração dos fatores “[...] econômicos, sociais,
culturais e ambientais da sociedade humana com a preocupação principal de preservá-los, para que
os limites do planeta e a habilidade e a capacidade das gerações futuras não sejam comprometidas.”
[11]. Agopyan e John [15] complementam declarando que o desafio é o desenvolvimento
econômico, atendendo às expectativas da sociedade e mantendo o ambiente sadio.
De Castro e Loura [16] elencam que as principais preocupações ligadas à sustentabilidade
envolvem as questões:
a) Ambientais: expressada pela preocupação com diversos fatores ao longo de todo ciclo de
vida da edificação, contemplados ou não pelas normas, voltadas pelo custo em uso,
incluindo geração de resíduos, desperdício, poluição; a durabilidade, reutilização,
intensidade energética, intensidade material; custo de manutenção e operação, uso,
eficiência o consumo de água, e eliminação de resíduos, etc;
b) Sociais: indo além das exigências das normas, estabelecendo uma preocupação com as
condições de trabalho saúde e segurança dos trabalhadores e ocupantes pós obra;
c) Econômicas: no nível da sociedade, incluindo o questionamento sobre o impacto no
mercado de trabalho, na comunidade ou no trânsito.
Portando, torna-se necessário a adoção de estratégias de gestão e práticas de negócios integrando os
fatores sociais, econômicos e ambientais, principalmente na construção civil, pois essa indústria
está vinculada à: uma grande cadeia produtiva, normas técnicas, códigos de obras, planos diretores
e políticas públicas. Além disso, o setor é também responsável pelo consumo de parte significativa
de energia e água e por geração de poluentes [12], [13].
O guia de sustentabilidade da construção da Câmara da Industria da Construção (CIC) [11] fez uma
análise dos principais sistemas de avaliação de sustentabilidade e certificação, chegando à
conclusão que a maior parte dos sistemas não considera diversos aspectos sociais relevantes. Por
outro lado, quanto aos aspectos ambientais de sustentabilidade ligados a construção sustentável,
destacam-se:
 Qualidade da implantação.
 Gestão do uso da água.
 Gestão do uso de energia.
 Gestão de materiais e (redução de) resíduos.
 Prevenção de poluição.
 Gestão ambiental (do processo).
 Gestão da qualidade do ambiente interno.
 Qualidade dos serviços.
 Desempenho econômico
Além disso, o guia da CIC [11] declara que uma das pré-condições para empreendimentos
sustentáveis é a busca constante pela inovação, utilizando novas tecnologias quando possíveis e
adequado. E caso inviável buscar soluções criativas, mas sempre respeitando o contexto. Portanto,
no caso de edificações já construídas é necessário a modernização de suas instalações para a
incorporação de aspectos sustentáveis e inovadores.

4. MODERNIZAÇÃO E SUSTENTABILIDADE
Manegat [18] declara que há grandes benefícios nas construções sustentáveis, que podem ser
classificados em:
a) Estratégicos (evitam riscos e danos ambientais, além de aumentarem o valor do imóvel);
b) Operacionais (garantem a economia de custos e consumos);
c) Econômicos (tornam os empreendimentos mais atraentes, o que garante um maior valor
agregado, além de reduzirem os custos de operação e manutenção).
Corroborando, Maran [19] afirma que após a compreensão do que é desenvolvimento sustentável e
seus benefícios, a manutenção dos edifícios passa de um mal necessário para um meio de
gerenciamento do ciclo de vida dos ativos. E que a modernização da edificação e elevação do seu
desempenho proporcionam um ambiente de qualidade, que beneficia a saúde, satisfação e
produtividade do usuário. Portanto, a manutenção do sistema prediais é fundamental para manter a
sustentabilidade da edificação ao longo de toda a sua vida útil.
Barbosa e Almeida [13] declaram que a sustentabilidade envolve vários fatores, sendo os mais
importantes os que estão relacionados à redução do consumo de materiais não renováveis, água,
energia, da produção e emissões de poluentes e maior controle de resíduos. Assim, a seguir são
apresentadas estratégias, materiais e métodos relacionados a redução do consumo de água e energia
que sejam passíveis de inserção durante uma manutenção e modernização da edificação.

4.2 Consumo de água


Sabe-se que a água é um recurso escasso e finito, de fundamental importância para a existência e
sobrevivência humana. Com isso, tem-se como objetivos: reduzir a quantidade de água extraída das
fontes de suprimento, o consumo e as perdas de água; aumentar a eficiência do uso e a reciclagem
da água; e evitar a poluição da água.
O PROSAB [20] fez uma quantificação do consumo de água em ambiente residencial. A pesquisa
indiciou um consumo de 35% da água devido ao lavatório e chuveiro, 29% para o tanque e a
máquina de lavar roupas, 21% bacia sanitária e 15% da cozinha. A distribuição do consumo por
rede hidrossinátiras, conforme ilustrado na Figura 2.
Figura 2: Distribuição do consumo das pelas hidrossanitárias em uma residência unifamiliar (Fonte: adaptado de
PROSAB [20])
A partir disso faz-se uma análise de possíveis produtos possíveis de serem adotadas para reduzir o
consumo de água residencial, observado na Tabela 1. Vale lembra no estudo apresentado pelo
PROSAB [20], o vaso sanitário já apresentava uma bacia acoplada, gerando um consumo de 31
L/pessoa.dia, e no caso de válvula de descarga esse consumo pode chegar a 69 L/pessoa.dia. Além
disso, segundo o mesmo estudo, em 77% dos casos poderia ser utilizada a meia descarga. Ressalta-
se que há no mercado a descarga a vácuo, que utiliza cerca de 1,2 litros de água por acionamento,
entretanto, o seu custo de implementação é muito alto, sendo, portanto, descartado nesse estudo.
Tabela 1: Produtos recomendados para redução do consumo de água
Produto Consumo Produto Econômico Consumo Economia Referência
Banheiro

Bacia Sanitária single 6L Bacia sanitária Dual flush 3 L/6 L 38,5%


[20]
Ducha 15 L/min 3L/min 80%
Chuveiro c/ arejadores e restritores [21]
de vazão
Chuveiro Elétrico 5 L/min 3 L/min 40%
[21]
Torneira com Arejador,
Torneira comum 6 L/min 3 L/min 50%
pulverizador, redutor de vazão [20]
Cozinha
Torneira com Arejador,
Torneira comum 6 L/min 3 L/min 50%
pulverizador, redutor de vazão [20]
Área de serviço
Torneira com Arejador,
Torneira comum 6 L/min 3 L/min 50%
pulverizador, redutor de vazão [20]
Máquina de lavar roupas 10-12 L/Kg Máquina eficiente (modelo mais 5,8 L/kg de
42%
(média) de roupa eficiente) roupa [22]

Além disso, para reduzir e otimizar ainda mais o consumo de agua recomenda-se um sistema de
reaproveitamento das águas fluviais e reciclagem de água já utilizada. As águas da chuva são
coletadas em áreas impermeáveis (calhas, áreas de estacionamento, coberturas das moradias, entre
outros locais). Em residências consumo dessas águas é direcionado à limpeza, como descargas de
vaso sanitário, lavagem de roupa, lavagem de automóveis, quintal, regas de jardim. Para que a água
armazenada da chuva possa ser utilizada é recomendável que se tenha um filtro para separar a
matéria orgânica como folhas e galhos ou quaisquer outros resíduos sólidos que possam estar na
área de coleta da água ou que possam vir junto com os ventos e a chuva, melhorando a qualidade da
água, aumentando, inclusive, a vida útil do reservatório. A água é, então, encaminhada para um
reservatório de proteção e acumulação, também chamada de cisterna. O PROSAB [20] recomenda
além do recolhimento de águas pluviais a reutilização das águas provenientes de chuveiros,
máquinas de lavar roupa e tanques, a água cinza, para fins não nobres. A água é recolhida dos
aparelhos, e é encaminhada para o sistema de águas cinzas em um reservatório inferior, que é, em
seguida, encaminhada à um reservatório superior para reutilização. Portanto, o sistema de
distribuição e disposição de água é representado de acordo com a Figura 3.

Figura 3: Distribuição de águas e efluentes residencial (Fonte: Adaptado de PROSAB [20].


Observa-se, então, que as águas negras representam 36% dos efluentes gerados na residência e, as
águas cinza reaproveitáveis, 64%. Hespanhol [23] declara que com a utilização do aproveitamento
das águas, tanto de águas pluviais quanto de águas cinzas, é possível reduzir em até 80% os gastos
com o abastecimento de água em edificações.

4.2 Consumo de Energia


A principal fonte geradora de energia elétrica no Brasil são as usinas hidroelétricas, que podem ser
consideradas um meio de geração de energia renovável. Entretanto, quando se considera os fatores
sustentáveis, ela não se torna a melhor opção, uma vez que as hidroelétricas inundam grandes áreas
para o seu funcionamento. Schaeffer et al. [24] informam que em 2007 hidroeletricidade
respondiam por cerca de 85% da geração de energia elétrica no país.
No Brasil, o consumo de energia elétrica nas edificações residenciais, comerciais, e públicas,
corresponde a aproximadamente 50% do total da eletricidade consumida no país [25]. Surge,
portanto, a preocupação em utilizar ao máximo a energia gerada através de fontes com baixo
impacto ambiental, como a força dos ventos e a energia solar. Isso contribui para que edificação se
adeque nos preceitos de uma construção correta ao meio ambiente. Mas, para que o edifício se torne
mais sustentável é necessário que se diminua o seu consumo energético. Vale ressaltar que as fontes
renováveis de energia estão diretamente relacionadas com a região em que se encontra, e energia
eólica, por exemplo, normalmente tem um desempenho melhor nas áreas costeiras.
Uma maneira de reduzir o consumo enérgico de uma edificação é a utilização de aparelhos mais
eficientes. No sistema de iluminação, por exemplo, pode-se utilizar lâmpadas de LED ou
florescente compactada; sensores de presença; e sistema de gerenciamento do consumo de energia
por controle digital. A substituição de uma lâmpada tubular florescente por uma de LED pode
proporcionar uma economia acima de 35% no consumo de energia elétrica, e resultar em um
serviço de iluminação do ambiente melhor que o anterior [25].
Temos também os elevadores, que estão presente em grande parte das edificações, e representa um
elemento importante de circulação de carga e de pessoas. Logo, devido à sua grande utilização,
costumam apresentar uma parcela significativa do consumo energético de um prédio. É importante
analisar esse sistema, verificando as possibilidades de aumento da eficiência energética.
Segundo o CEPEL [25] a revitalização dos sistemas de grande porte de uma edificação pode ser
alcançada por meio da substituição das máquinas e equipamentos não eficientes, como por exemplo
bomba de água, compressores, ventiladores etc.
A arquitetura também é um importante fator que pode contribuir para reduzir o consumo de energia
de uma edificação. O material utilizado nas coberturas e nas paredes, por exemplo, podem diminuir
os efeitos da radiação solar. Recomenda-se a utilização de materiais com alta capacidade de
isolamento térmico, podendo se utilizar de forros, poliestireno expandido, lã de vidro, espumas,
mantas e etc.
As janelas e portas permitem maior ou menor incidência de luz e calor. A circulação de ar na
edificação pode remover o calor e amenizar a temperatura do ambiente interno. Para amenizar os
efeitos do calor externo, são utilizadas películas bloqueadoras solares nos vidros ou instalados
dispositivos externos como toldos ou brises, que bloqueiam o sol direto, mas não a luz indireta. A
utilização desses elementos evita a entrada do calor externo, e diminuir a temperatura interna, em
consequência acaba diminuindo as temperaturas de resfriamento necessária para a obtenção de um
ambiente confortável, demandando menos do sistema de climatização.
Os sistemas geradores de energia de baixo impacto ambiental também podem ser utilizados como
alternativa sustentável. Um sistema de energia fotovoltaico, por exemplo, é um sistema capaz de
gerar energia elétrica através da radiação solar. Esse sistema permite que o consumidor doméstico
gere energia elétrica a partir da energia solar, podendo, inclusive, disponibilizar o excedente para a
rede de distribuição de sua localidade. O sistema de Geração Fotovoltaico é de simples instalação e
não exige grandes adaptações nas residências [26]. Segundo a ANEEL (Agência Nacional de
Energia Elétrica) [27], a geração distribuída em micro e mini centrais geradoras são inovações para
o setor energético do país, aliando economia financeira, consciência socioambiental e
sustentabilidade.
A energia solar, também pode ser utilizada em um sistema de aquecimento de água. Um sistema
eficaz de aquecimento solar de água funciona a partir do exercício de quatro funções básicas: a
captação da energia solar, a transferência desta energia para a água aquecida, o armazenamento
eficiente da água quente e o controle do seu funcionamento [25]. Neste caso o PROSAB [20]
recomenda a utilização de misturadores termostáticos, que garante o fornecimento de água pré-
misturada. Neste sistema é regulada a temperatura desejada e o equipamento faz a mistura segundo
a disponibilidade de água quente e fria existente na tubulação. Caso haja alguma oscilação na
temperatura de entrada da água quente e fria no dispositivo, o mesmo faz o balanceamento da
mistura, garantindo o fornecimento da água sempre à mesma temperatura. Dessa forma, evita-se o
desperdício de água até que seja feita a mistura adequada pelo usuário.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com os estudos realizados foi possível analisar a relação entre a sustentabilidade e manutenção das
edificações. Após a compreensão do que é desenvolvimento sustentável e seus benefícios, a
manutenção dos edifícios passa a fazer parte do gerenciamento do ciclo de vida dos ativos. E que a
modernização da edificação aumenta o seu desempenho e proporciona um ambiente de qualidade,
que beneficia a saúde, satisfação e produtividade do usuário.
Percebeu-se, portanto, que a adoção de estratégias, materiais e métodos que sejam passíveis de
inserção durante os serviços de manutenção e modernização da edificação, fazem com que o
edifício se torne mais sustentável. Logo, a manutenção do sistema prediais é fundamental para
manter a sustentabilidade da edificação ao longo de toda a sua vida útil.
A economia de água se dá a partir das escolhas corretas de materiais hidráulicos e do
reaproveitamento de águas pluviais e das águas cinzas para os consumos não nobres dentro da
edificação. A adoção de medidas simples, como a instalação de arejadores e redutores de vazão em
torneiras e chuveiros, pode gerar uma economia de até 80% em relação a aparelhos similares, e
sistema de reaproveitamento de água pode reduzir em 64% o volume destinado ao sistema de
esgoto sanitário.
No que se refere ao consumo energético a arquitetura influencia permitindo uma ventilação
apropriada e redução do calor interno da edificação, fazendo uso de brises, ventilação cruzada e
escolhendo o tipo material de vedação, reduzindo o uso de equipamento que possibilitam a
refrigeração do ambiente para gerar as condições adequadas de conforto aos usuários. A troca de
equipamentos poucos eficiente, por outros mais modernos pode gerar uma grande economia de
energia, principalmente para sistemas grande e com alto índice de utilização. Além disso, tem-se a
possibilidade de utilização de novas métodos de geradores de energia de baixo impacto ambiental,
como é o caso da energia solar.
As diretrizes apresentadas neste influenciam diretamente nos aspectos ambientais, socais e
econômicos da edificação. A redução do impacto ambiental se dá a partir da adoção de práticas de
conservação e de uso racional dos recursos naturais. Já o fator econômico ganha destaque quando se
considera a diluição dos custos de implementação dos sistemas ao longo de vida útil. O social é
atingido a partir da melhoria da qualidade do ambiente construído e desempenho das edificações.
Assim destaca-se como diretrizes:
 Troca de aparelhos hidrossanitários
 Implantação de sistema de recolhimento de agua pluviais
 Implantação de sistema de reutilização de agua cinzas
 Troca de aparelhos e sistemas elétricos por mais novos e mais eficientes
 Utilização de materiais para a redução do calor interno da edificação
 Aproveitamento de mecanismos arquitetônicos para melhora do ambiente interno
 Utilização de sistema gerador de energia de baixo impacto ambiental
 Uso de novas tecnologias a favor da economia de agua e energia
Por fim, a manutenção da edificação e de seus sistemas é fundamental para garantir a sua
durabilidade, devendo sempre optar pelas manutenções preditiva e preventiva, evitando a correção
somente após a falha. Assim é possível reduzir o custo do ciclo de vida da edificação, aumentar a
sua vida útil e reduzir o impacto ambiental, além de garantir o conforto do usuário.

REFERENCIAS
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desempenho na construção. Arquitetura Revista, v. 10, n. 2, p. 105–114, 2015.
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[26] RELLA, R. Energia Fotovoltaica no Brasil. Revista de Iniciação Científica, v. 15, n. 1, p. 28–38, 16 nov. 2017.
[27] RESOLUÇÃO NORMATIVA, Nº. 482. Agência Nacional de Energia Elétrica-ANEEL, 2012.
ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE A INFLUÊNCIA DA ILUMINAÇÃO DO
AMBIENTE CONSTRUÍDO NO BEM-ESTAR DO INDIVÍDUO.

Exploratory study on the influence of lighting of the built environment in the well-
being of the individual.
Ana Paula Bonini Penteado 1, Alfredo Iarozinski Neto², Ana Carolina Bonini Penteado3
1 UniversidadeTecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, anapaula_bpenteado@hotmail.com
2Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, alfredo.iarozinski@gmail.com
3 Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, anacarolina_penteado@hotmail.com

Resumo: O ser humano quando percebe o mundo, o faz simultaneamente por meio de todos os seus
sentidos. Essa percepção do mundo ocorre em especial através da visão, da audição, do olfato e do
tato. Quando o indivíduo experiencia o ambiente construído, há o envolvimento dos sentidos para
que, se conheça e reconheça os elementos presentes no espaço e, dessa maneira, ocorra a interação
do indivíduo com o ambiente. Sendo assim, a percepção do indivíduo passa a ter um peso
determinante no bem-estar do usuário em relação ao ambiente construído. É através da visão que os
indivíduos constroem as relações, entre outros, de distância, de cor, de textura e de luz. Baseando-se
nesse fato, o presente trabalho tem por objetivo avaliar como a percepção associada à visão,
influencia o bem-estar psicológico do indivíduo. Para isso, foram utilizadas variações de iluminação
natural presentes no ambiente construído. Dessa maneira, foi elaborado um experimento composto
por imagens e questionário. Foram apresentadas aos respondentes três imagens que representam o
mesmo ambiente construído, sendo que a primeira foi considerada a imagem de referência. Nas
demais imagens foram apresentados o mesmo ambiente com as alterações referentes à alta e baixa
incidência de iluminação natural. O questionário foi desenvolvido com base na escala PANAS
(Positive and Negative Affect Schedule), que permite mensurar o bem-estar por meio de sentimentos
associados a afetos positivos e negativos. O método consistiu em expor as imagens a um grupo de
indivíduos e, em seguida, solicitar para que estes preenchessem o questionário contendo vinte
sentimentos relacionados aos afetos. Ao observar as imagens, os respondentes associaram sua
percepção do ambiente aos sentimentos relacionados. Os resultados mostraram que a sensação de
bem-estar dos indivíduos está diretamente associada à percepção de iluminação natural do ambiente
construído. O contrário, também se mostrou verdadeiro, ou seja, a redução da percepção de
iluminação natural causou um aumento significativo dos sentimentos com viés negativo.

Palavras-chave: Ambiente construído, iluminação, percepção.

Abstract: When the human being perceives the world, he does so simultaneously through all the
senses. This perception of the world occurs in particular through the vision, hearing, smell and
touch. When the individual experiences the built environment, there is the involvement of the
senses in order to know and recognize the elements present in space and, in this way, the interaction
of the individual with the environment. Thus, the perception of the individual has a determining
influence on the well-being of the user in relation to the built environment. It is through the sight
that the individuals construct relations, among others, of distance, color, texture and light. Based on
this fact, the present study aims to assess how perception associated with the sight influences the
individual's psychological well-being. For this, variations of natural lighting were used in the built
environment. In this way, an experiment was elaborated with images and questionnaire. The three
images representing the same build environment were presented to the respondents, and the first
one was considered the reference image. In the other images, the features with the alterations
related to the high and low incidence of illumination natural, were presented. The questionnaire was
developed based on the PANAS (Positive and Negative Affect Schedule) scale, which allows to
measure well-being through feelings associated with positive and negative affects. The method
consisted in exposing the images to a group of individuals and then asking them to complete the
questionnaire containing twenty feelings related to the affection. While looking at the images, the
respondents associated their perception of the environment with related feelings. The results
showed that the sense of well-being of the individuals is directly associated to the perception of
natural light of the built environment. On the contrary, it was also true, that reducing the perception
of natural light caused a significant increase of feelings with negative bias.

Keywords: Built environment, lighting, perception.

1. INTRODUÇÃO

As condições internas dos ambientes influenciam o bem-estar, a saúde, o desempenho e também a


produtividade dos indivíduos ali presentes. Cada vez mais, as pessoas passam a maior parte do seu
tempo nos ambientes internos, e dessa forma tanto o percebem quanto interagem com ele. Para
Rheingantz (2000) [1] a qualidade do lugar, além de ser um fator de influência sobre o bem-estar
humano, pode determinar as preferências e as expectativas do usuário.
Segundo Abrantes (2004) [2] quando ocorre a interação com o ambiente, o indivíduo o experimenta
a partir de seus julgamentos, análises e emoções. A interação de cada indivíduo é passível de
diferentes interpretações e percepções, pois cada um percebe e experiencia o ambiente de acordo
com as suas referências.
Tudo que o homem é e realiza, de acordo com Hall (2005) [3], está diretamente associado à sua
experiência com o espaço construído, inclusive o sentido conferido ao ambiente é uma síntese de
muitos estímulos sensoriais, associados à sua cultura. É através dos sentidos, (visão, audição,
paladar, tato e equilíbrio), que é a base fisiológica de todos os seres humanos, que a cultura fornece
estrutura e significado.
Para Rheingantz e Faria (2000) [4], a forma como o ambiente construído influencia o
comportamento das pessoas permite considerar o estudo da percepção e do comportamento
ambiental, que são fundamentais para se compreender as inter-relações ambiente x homem.
Para Okamoto (2002) [5], é através dos estímulos provocados pelo ambiente que o comportamento
humano é conduzido por uma resposta à percepção. Apesar de não ter consciência, o indivíduo tem
a sensação do ambiente pelos estímulos desse meio. É diante do grande número de estímulos, que a
mente seletiva seleciona os aspectos de interesse, ou aqueles que tenham chamado a atenção. Nessa
etapa que ocorre a percepção (imagem) e a consciência (pensamento, sentimento), resultando em
uma resposta que irá conduzir a um comportamento. Dessa forma, pode-se considerar que a
percepção é a resposta aos estímulos provenientes do meio, captados através dos sentidos humanos.
Norman (2008) [6] afirma que atividades que oferecem afeto positivo, normalmente estão atreladas
a condições que incluem lugares aquecidos e iluminados, calor, proteção, sons tranquilizadores; e as
relativas com afeto negativo, estão relacionadas com altura, sons altos, escuridão, frio ou calor
extremos, sabores amargos, entre outros.
Para Kowaltowski, Prata, Pina e Camargo (2000) [7], o elemento da arquitetura que mais influencia
o bem-estar do homem, os ambientes e também afetam seu comportamento, é o conforto ambiental,
nos seus aspectos acústicos, visual, térmicos e de funcionalidade. Dessa forma, não se pode ver a
arquitetura como um meio modificador do comportamento humano, a ponto de transformar a
personalidade de indivíduos, mas ela pode influenciar a percepção e a cognição de espaços e com
isto proporcionar a satisfação do uso.
Para Lamberts et al. Apud Pais (2011) [8] o conforto visual é relacionado com um grupo de
condições do ambiente de forma que o indivíduo possa desenvolver as tarefas visuais com o
máximo de precisão visual e acuidade, utilizando o menor esforço e assim com menor riscos de
acidentes e de prejuízo a visão.
O conforto visual para Frontczak e Wargocki (2010) [9] é caracterizado entre outras condições pela
distribuição de iluminância, iluminância e sua uniformidade e pela quantidade de luz do dia
presente no ambiente.
Segundo Pais (2011) [8] a iluminação natural pode ser tanto proporcionada pela existência de
janelas ou superfícies envidraçadas, que podem ser instaladas tanto nas paredes quanto nos tetos dos
ambientes.
A iluminação natural é muito importante para o indivíduo inserido no ambiente construído, pois
influencia na saúde, no bem-estar e na produtividade. Por ser uma característica de projeto
importante para o indivíduo e que deve ser levada em consideração ao se projetar o espaço, a
influência da iluminação natural na percepção do indivíduo é o objeto de estudo deste presente
trabalho.

2. OBJETIVO
Como cada ambiente é percebido por seus usuários de maneiras distintas, o objetivo deste trabalho é
avaliar como a percepção associada à visão, influencia o bem-estar psicológico do indivíduo.
Sendo o aspecto visual um dos que influenciam o bem-estar do indivíduo, além de impactar no
conforto, na percepção e também no humor do indivíduo, buscamos identificar como a iluminação
natural e sua variação de intensidade no ambiente construído impactam no indivíduo e seus efeitos
na percepção de bem-estar psicológico do indivíduo. Neste trabalho, a “percepção de conforto
psicológico” é entendida como a variação dos sentimentos positivos ou negativos em um indivíduo
quando este está em contato com determinado ambiente.

3. MÉTODOS
Para a concretização do objetivo da pesquisa foi utilizado o Método Experimental como
procedimento principal, permitindo assim, a obtenção de dados primários de forma sistematizada. O
desenvolvimento deste estudo foi elaborado seguindo algumas etapas, apresentadas na Figura 1.
Problema
Como a percepção do ambiente, associada à
visão, influencia o bem-estar do indivíduo?

Referencial teórico Planejamento do experimento


• Escolha da escala;
• Identificação das escalas; • Representação das características de iluminação do ambiente
• Método de pesquisa (imagens);
• Elaboração do questionário.

Realização do Teste Piloto

Aplicação do experimento
• Escolha da amostra;
• Coleta dos dados

Revisão bibliográfica Análise Discriminante


• Análise dos resultados; • M de Box e Ficher;
• Discussão • Matrix de estruturas
• Discriminação

Avaliação da escala PANAS como meio de mensuração


de bem-estar em relação a iluminação do ambiente
construído
Fig. 1 - Etapas de pesquisa

Para a definição dos sentimentos e como seriam avaliados no experimento, surgiu a necessidade do
uso de um modelo que propusesse os sentimentos que expressassem o “conforto psicológico”. Entre
os modelos analisados, o PANAS (Positive and Negative Affect Schedule) se mostrou mais
adequado aos objetivos propostos. Este modelo foi utilizado em estudos relacionados ao ambiente
construído (KNEZ, 1995 [10]; KNEZ e KERS, 2000 [11]; GALÁN-DÍAZ, 2011[12]), pois os
sentimentos contidos e o estilo dele são de fácil compreensão para o entrevistado.
O modelo PANAS foi desenvolvido por Watson, Clark e Tellegen (1988) apud Galinha e Ribeiro
(2005) [13 ab] para a avaliação das emoções em função de sua ocorrência. Dessa forma, os
indivíduos recebem um questionário contendo adjetivos e descrevem cada sentimento, ou seja, cada
palavra é relacionada ao seu sentimento correspondente (GONÇALVES; DORES, BENEVUTO,
2012) [14]. Para o modelo PANAS, os sentimentos específicos são considerados como
combinações de duas dimensões básicas. Dessa forma, o modelo apresenta forma circular de afeto,
apresentando 8 eixos, onde duas dimensões se cruzam, resultando em diâmetros perpendiculares de
um círculo.
Para o estudo foram selecionados vinte sentimentos dos contidos no modelo PANAS e que foram os
sentimentos que os respondentes do experimento classificariam de acordo com a intensidade. Para
isso os sentimentos foram adaptados no modelo para o experimento, apresentado na Figura 2.
Fig. 2 - PANAS para o experimento – adaptado de Galinha e Ribeiro (2005)
Após a definição da escala e dos sentimentos que seriam utilizados, foi elaborado o experimento,
composto por questionário e por cinco imagens.
Na primeira parte do experimento, o respondente preencheu um formulário contendo perguntas
sobre os dados pessoais, tais como idade, gênero e orientação profissional, para dessa forma
identificarmos o perfil da amostra.
Na segunda parte foi entregue aos respondentes três questionários, sendo um para cada imagem.
Para cada imagem apresentada, o respondente preenchia a intensidade do sentimento ao observar a
imagem do ambiente. Para isso foram utilizadas vinte emoções, baseadas no Modelo PANAS
(Positive and Negative Affect Schedule). Dessa forma, foi apresentada ao respondente uma lista com
as vinte emoções intercaladas entre afetos positivos e negativos. A intensidade associada a cada
sentimento foi baseada no modelo Likert de sete pontos, variando de -3 a 3, sendo -3 discordava
totalmente e 3 concordava totalmente.
Foram apresentadas aos participantes do experimento três imagens geradas em programa de 3D,
sendo todas do mesmo ambiente e sempre no mesmo ângulo. A primeira imagem apresentada foi a
imagem de referência do experimento, sendo a base das outras imagens apresentadas para os
entrevistados (Figura 3). Nessa imagem não foram contempladas as características específicas a
serem estudadas. Optou-se pela imagem de referência para que o entrevistado pudesse notar as
variações dentro de um mesmo ambiente construído.
Fig. 3 – Imagem de referência
Em seguida foi mostrada aos respondentes a imagem referente a iluminação natural com alta
incidência. Para isso, foi aumentado o tamanho da janela em relação à imagem de referência e,
consequentemente, a integração com a área externa e a quantidade de luz natural que entrava no
ambiente foi maior, como mostra a Figura 4 (a). Para contrapor com a alta incidência de iluminação
natural a Figura 4(b) refere-se à baixa incidência de iluminação natural presente no ambiente. Para
isso foi reduzido o tamanho da janela, deixando-o bem menor do que comumente utiliza-se nas
construções. O tamanho reduzido foi proposital, pois a intenção foi enfatizar a questão de um
ambiente com janela pequena e pouca presença de iluminação natural.

(a) (b)

Fig. 4 – Imagem com alta incidência (a) e com baixa incidência de iluminação natural (b)

Cada uma das imagens foi exibida durante o período de 10 a 20 segundos e, em seguida, solicitou-
se que o entrevistado preenchesse ao formulário. Ao término de cada preenchimento, passava-se
para a imagem seguinte. Sendo assim, através do estímulo visual, e observando características
percebidas através da visão quando inseridos nos ambientes construídos, os participantes deveriam
assinalar as percepções/emoções que sentiam ao observar as imagens.
Para a realização do experimento, foi escolhida a amostra por conveniência, abrangendo estudantes
dos últimos períodos dos cursos de Engenharia Civil e de Arquitetura e Urbanismo de uma
Universidade. Os experimentos foram realizados em sala de aula, projetando-se a imagem para os
estudantes e contou com um total de 120 participantes.
4. RESULTADOS
Em relação ao perfil dos entrevistados, constatou-se que 83% dos entrevistados têm idade menor de
25 anos. Dos restantes, 14% encontram-se na faixa dos 25 a 40 anos de idade e 3% têm entre 41 e
55 anos. Quanto ao gênero de entrevistados, 58% são do gênero feminino e 42% pertencem ao
gênero masculino. E quanto à orientação profissional, 57% da amostra são estudantes do curso de
Engenharia Civil e 43% dos entrevistados pertencem ao curso de Arquitetura e Urbanismo.
Para análise dos dados foi escolhida a análise discriminante. A análise discriminante é uma técnica
estatística multivariada de análise de dados cujo principal objetivo é a identificação das variáveis
que melhor discriminam dois ou mais grupos (HAIR Jr. et al.,2005) [15].
A análise discriminante permite ainda, verificar se existem ou não diferenças significativas entre
duas situações relativamente às variáveis dependentes, nesse caso os sentimentos. É necessário que
as variáveis dependentes sejam qualitativas (tipo de característica testada) e as variáveis
independentes sejam quantitativas (intensidade de sentimento) (MAROCO, 2003) [16].
Considerando que o problema da presente análise consiste em obter uma combinação da intensidade
de sentimentos do Modelo PANAS com poder de discriminação entre as diferentes características
testadas, que são o ambiente de referência e os ambientes com iluminação natural com alta e baixa
intensidade, essa técnica estatística auxilia na identificação de quais variáveis, neste caso os
sentimentos, conseguem melhor diferenciar essas três situações.

3.1 Testes de validação da análise discriminante


O primeiro teste objetiva verificar a igualdade das matrizes de variância e covariância entre os
grupos, utilizando o teste M de Box como mostra a Tabela 1. O resultado mostra que a hipótese de
igualdade foi aceita, pois a significância encontrada foi 0,000, valor inferior ao arbitrário 0,05.

Tabela 1- Teste M de Box

Fonte: SPSS (2018)

O teste de igualdade de médias de grupo (Tabela 2) mostra o potencial de cada variável para
distinguir os três grupos (características do ambiente). Os fatores que apresentam uma menor
probabilidade de erro de tipo I, correspondendo a 5% (α<0,05), passam na hipótese de igualdade
das matrizes de variância e covariância, sendo estes significantes na diferenciação ente os grupos
(MAROCO, 2003 [16]; HAIR JR. et al, 2005 [15]). A tabela 2 mostra ainda que todos os
sentimentos obtiveram o valor da significância (Sig.) menor que 0,05, e, portanto, todos os
sentimentos podem ser utilizados para avaliar a diferença entre as 3 situações.
O Lambda de Wilks, que varia de 0 a 1, nesse caso, testa a existência de diferenças de médias entre
os grupos para cada variável. Quanto mais próximo de 0 maior é a diferença. Os valores dos
sentimentos do Lambda de Wilks mais próximos de um (1) são os que possuem menor poder de
discriminação (X6 – “Culpado” com 0,953; “orgulhoso” com 0,881; X14 – “Com remorso” com
0,966, X17 – “Determinado” com 0,916 e X18 “Trêmulo” com 0,956). Isso significa que são
sentimentos inadequados para a avaliação do ambiente construído. Já sentimentos tais como X1-
“Interessado” e X5 - “Agradavelmente surpreendido” são altamente sensíveis as variações das
características dos ambientes testados. Isso mostra a necessidade de aprofundamento no estudo dos
sentimentos do modelo PANAS que poderão refletir melhor a variação dos sentimentos em relação
as variações das características do ambiente construído.

Tabela 2 - Testes de igualdade de médias de grupo

Fonte: SPSS (2018)

A Tabela 3 apresenta o Lambda de Wilks que testa a significância das funções discriminantes. A
estatística de Wilks é uma medida inversa do grau de diferenciação entre os grupos, quanto menor o
seu valor, maior o grau de diferenciação. O maior valor do Lambda do Wilks é 1, o que representa
baixa diferenciação entre os grupos (BELFIORE et al., 2005 [17]).
Tabela 3 - Lambda de Wilks

Fonte: SPSS (2018)

Convém verificar o poder discriminatório da matriz de classificação, para certificar-se de que não
existem problemas em relação às premissas das variáveis e se os elementos da amostra estão
corretamente classificados. Para tal, foi aplicado o cross-validation, um teste estatístico do SPSS
que consiste em comparar a variável reclassificada com seu valor original, obtendo-se um
percentual de casos “corretamente classificados”. Este percentual pode ser visualizado na Tabela 4.
Neste caso, o teste resultou em 78,6% dos casos foram corretamente classificados. Este resultado
mostra que é possível estabelecer uma discriminação importante com base nos diferentes
sentimentos percebidos pelos participantes do experimento em relação às três situações
representadas nas imagens.
Tabela 4 - Resultados da classificação

a. 78,6% de casos agrupados originais classificados corretamente.

Fonte: SPSS 2018

3.2 Análise discriminante


A Tabela 5 apresenta informações relativas à função discriminante onde, quanto mais afastado de
1,000 for o Autovalor, maior é a variação entre os grupos explicados pela função discriminante. Os
dados da tabela mostram que a primeira função é a que tem maior poder de discriminação entre as
três situações associadas a cada uma das imagens.
Tabela 5. Resumo de funções discriminantes canônicas

a. As primeiras 2 funções discriminantes canônicas foram usadas na análise.


Fonte: SPSS (2018)

Na tabela 5 é possível verificar o autovalor da função 1 é 2,043 que corresponde a 85,1% da


variância de diferença entre as imagens, ou seja, a função 1 explica 85,1% da variância dos
sentimentos. Além disso, como o resultado do autovalor apresenta valor afastado de 1,000, a
variação entre os grupos explicadas pela função discriminante é alta.
A matriz de estrutura, apresentada da Tabela 6, auxilia na interpretação da contribuição que cada
sentimento (variável) forneceu para cada função discriminante. As variáveis (sentimentos)
apresentam-se em ordem decrescente de importância na discriminação. Segundo Hair Jr. et al.
(2009) [15] o sinal não afeta a ordenação, simplesmente indica uma relação positiva ou negativa
com a variável dependente. Na análise discriminante, são consideradas substantivas as variáveis
com cargas discriminantes de ±0,40 ou mais.
O coeficiente atribuído a cada variável maximiza a distinção entre as situações representadas pelas
imagens, ou seja, quanto maior o coeficiente de determinada variável (sentimento), maior será sua
contribuição na discriminação entre as situações representas pelas imagens. Pode-se então afirmar
que, os sentimentos que apresentam maior poder discriminatório entre as três situações são: X1-
“Interessado” (0,734), X5 – “Agradavelmente surpreendido’ (0,711), X3 – “Animado” (0,668) e X2
– “Perturbado” (-0,617). Os sentimentos que menos distinguem as três situações são: X18 –
“Trêmulo” (-0,143), X6 – “Culpado” (-0,127) e X14 – “Com remorsos” (-0,116).
Tabela 6. Matriz de estruturas

Fonte: SPSS 2018

6. CONCLUSÃO
A partir da análise dos dados, conclui-se que o modelo PANAS pode ser usado como base de uma
escala para medir a variação dos sentimentos dos indivíduos em relação às variações das
características do ambiente construído.
O fato de uma janela maior aumentar a incidência de iluminação natural no ambiente, tornando-o
mais agradável e proporcionando conforto ao indivíduo que irá utilizar esse ambiente, pôde ser
observado e comprovado, através dos resultados obtidos com a aplicação do experimento.
A redução de sentimentos negativos, nessa característica de projeto, mostra claramente que, quando
expostos aos ambientes com elevada intensidade de iluminação natural, o indivíduo tende a ficar
mais satisfeito com o local e dessa maneira aumentar os níveis de sentimentos positivos
Quando avaliada a iluminação com menor incidência, o resultado dessa característica foi o oposto
do resultado obtido na imagem anterior, cuja janela era grande e a luz natural apresentava maior
incidência. Esse fato pode ter ocorrido também em virtude do tamanho da janela, visto que as
pessoas tendem a sentir-se melhor em ambientes com janelas grandes. Diante do resultado, observa-
se que as pessoas não se sentem bem quando em ambientes com pouca incidência de luz natural e
com janela pequena.
REFERÊNCIAS
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Avaliação de Edifícios de Escritório. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção). Rio de Janeiro: CPPE/UFRJ,
2000.
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PROARQ/FAU/UFRJ, 2004.
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[4] RHEINGANTZ, Paulo Afonso; FARIA, José Ricardo. Cognição e comportamento ambiental no ambiente de
escritório. Anais do NUTAU’2004. São Paulo: FAUUSP, 2000.
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arquitetura e na comunicação. São Paulo: Editora Mackenzie, 2002.
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Rocco, 2008.
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Faccin. Ambiente construído e comportamento humano: necessidade de uma metodologia. In: ENTAC 2000,
Encontro Nacional de Tecnologia no Ambiente Construído, Anais. 26-28 de abril, Salvador, 2000.
[8] PAIS, Aida Maria Garcia. Condições de Iluminação em Ambiente de Escritório: Influência no conforto visual.
Dissertação (Ergonomia na Segurança no Trabalho) Faculdade de Motricidade Humana. Universidade Técnica de
Lisboa, 2011.
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comfort in indoor environments. Building and Environment 46(4):922-937, April 2011
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emotion, attention and perspective-taking. Tese (Doutorado em Psicologia) The Robert Gordon University. Outubro
2011.
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Psicológica (2005), 2 (XXIII): 209-216 – Portugal, 2005.
[13 b] GALINHA, Iolanda Costa; RIBEIRO, José Luis Pais. Contribuição para o estudo da versão portuguesa da
Positive and Negative Affect Schedule (PANAS) II – Estudo psicométrico. In: Análise Psicológica (2005), 2 (XXIII):
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[15] HAIR Jr, J.F.; ANDERSON, R.E.; TATHAM, R.L.; BLACK, W.C. Análise Multivariada de Dados. 5 ed. Porto
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[17] BELFIORE, P. P.; FÁVERO, L. P. L.; ANGELO, C. F. DE. Análise multivariada para avaliação do
comportamento de grupos supermercadistas brasileiros. Revista Administração em Diálogo - RAD, v. 7, n. 1, p.
53–75, 11 maio 2005. 4.
CONSTRUÇÃO DE ESCALA PARA AVALIAÇÃO DE BEM-ESTAR
DENTRO DO AMBIENTE CONSTRUÍDO

Construction of a scale for well-being assessment within the built environment

Ana Carolina Bonini Penteado1, Alfredo Iarozinski Neto 2, Ana Paula Bonini Penteado 3
1
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, anacarolina_penteado@hotmail.com
2
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, alfredo.iarozinski@gmail.com
3
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, anapaula_bpenteado@hotmail.com

Resumo: A influência que os espaços exercem sobre o bem-estar dos seres humanos é significativa,
visto que ambientes mal projetados geram um impacto negativo na qualidade de vida de seus
usuários. O entendimento acerca de como as pessoas percebem os ambientes é necessário para o
desenvolvimento de instrumentos capazes de avaliar a percepção e o bem-estar dentro do ambiente
construído. Neste âmbito, o objetivo desse trabalho é a construção e validação de uma escala de
bem-estar relacionada ao ambiente construído interno. Realizou-se um experimento composto pela
aplicação de um questionário de 48 sentimentos derivados da escala PANAS (Escala de Afeto
Positivo e Negativo) a fim de determinar quais sentimentos são sensíveis à variação das
características do ambiente construído e que são percebidos com maior intensidade pelos
indivíduos. O questionário foi aplicado em estudantes dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura
e Urbanismo de uma universidade, nos meses de outubro e novembro de 2017. Foram avaliados
cinco ambientes de características projetuais distintas. A partir da aplicação do experimento,
concluiu-se que, a percepção do indivíduo está adequada ao modelo preconizado pela escala
PANAS, pois houve a tendência de agrupamento e de aderência dos sentimentos por meio dos eixos
estabelecidos pelo modelo. Verificou-se também que a representação de uma escala de bem-estar
associada ao ambiente construído não pode conter um número menor que dez dimensões de
sentimentos. Ademais, pôde-se perceber a inviabilidade do desenvolvimento de uma escala global,
que seja capaz de avaliar casos do ambiente construído pertencente a segmentos distintos, dada a
complexidade e diversidade do ambiente construído.

Palavras-chave: ambiente construído, escala, percepção.

Abstract: The influence that spaces exert on the well-being of human beings is of extreme
importance, since poorly designed environments have a negative impact on the quality of life of
their users. The understanding of how people perceive environments is fundamental, making it
necessary to develop instruments capable of assessing perception and well-being within the built
environment. In this context, the aim of this work is the construction and validation of a scale of
well-being related to the internal built environment. An experiment was carried out using a
questionnaire of 48 feelings derived from the PANAS scale (Positive and Negative Affect Scale) in
order to determine which feelings are sensitive to the variation of the characteristics of the
constructed environment and that are perceived with greater intensity by the individuals. The
questionnaire was applied to students of the courses of Civil Engineering and Architecture and
Urbanism of a university, in the months of October and November of 2017. Five environments of
distinct design characteristics were evaluated. From the application of the experiment, it was
concluded that, the perception of the individual is adequate to the model recommended by the
PANAS scale, because there was a trend of grouping and adherence of the feelings through the axes
established by the model. It has also been found that the representation of a scale of well-being
associated with the built environment can not contain a number smaller than ten dimensions of
feelings. In addition, it was possible to perceive the impossibility of the development of a global
scale, which is capable of evaluating cases of the constructed environment belonging to distinct
segments, given the complexity and diversity of the built environment.

Keywords: built environment, scale, perception.

1. INTRODUÇÃO
O ambiente construído é um meio de comunicação não verbal qualificado para promover pistas
sobre comportamento humano (REIS e LAY, 2006) [1]. Evans et al. (2003) [2] afirmam que a
moradia reflete tanto interiormente como externamente o que as pessoas são, o que realizam e o que
defendem. A ligação entre o ambiente construído e o comportamento humano está estreitamente
ligada aos arranjos sociais e culturais de uma época e, as condições geradas no ambiente são
capazes de alterar o modo de vida das pessoas, renovando-se diante das necessidades do usuário,
criando assim uma associação recíproca entre ambiente e homem (ORNSTEIN, 1995 [3]; SOBRAL
et al., 2015[4]).
Há um próspero interesse em avaliações ambientais e pode-se encontrar um grande número de
ferramentas para esse tipo de avaliação, com foco no uso de energia em edifícios, clima interno,
materiais de construção, entre outros aspectos, dentre eles o viés psicológico (FORSBERG;
MALMBORG, 2004 [5]). É relevante para a qualidade de projetos o entendimento sobre a
importância da abordagem perceptiva e cognitiva em sua avaliação, visto que espaços urbanos que
demonstram um desempenho satisfatório são resultado de avaliações envolvendo seus usuários
(REIS; LAY, 2006 [1]).
Projetos devem se ajustar mediante a criação das formas e do detalhamento do ambiente construído
para abrigar a relação entre o ambiente e o comportamento humano e contribuir com melhorias.
Deve-se haver a preocupação com o estudo da interação entre indivíduos e as suas condições físicas
(GIFFORD, 1997 [6]).
Segundo Sobral et al.(2015) [4], a importância do ambiente físico em que as pessoas realizam suas
atividades diárias e a influência que os espaços têm sobre o comportamento humano é
incontestável. Ambientes mal projetados acabam gerando uma influência negativa na segurança e
qualidade de vida de seus usuários. Neste cenário, o entendimento a cerca de como as pessoas
“sentem” espaços, é primordial para a relação pessoa-ambiente e seus efeitos. Assim, torna-se
necessário propor ferramentas que avaliem percepções do ambiente construído e que demonstrem
que os dados obtidos são confiáveis e que podem ser adaptados às características particulares dos
usuários.
Mesmo com a importância de se estudar o bem-estar, os modelos teóricos e empíricos sobre o
fenômeno são escassos, pois as principais pesquisas na área referem-se ao bem-estar geral,
principalmente nos campos da saúde e do trabalho. O avanço do conhecimento acerca de um
fenômeno depende da existência de instrumentos de medida válidos e confiáveis (PASCHOAL;
TAMAYO, 2008 [7]).

1.1. Percepção do usuário dentro do ambiente construído


A medida que inclui percepção, satisfação e desapontamento sobre ambientes está profundamente
ligada aos aspectos psicossociais de uma pessoa. Os fatores ambientais podem influenciar
diretamente o humor individual e as atribuições sobre os efeitos do meio ambiente sobre o
desempenho (MARCHAND et al., 2014 [8]; MOHIT et al., 2010 [9]).
Para que se possa propor uma ocupação física de um ambiente faz-se necessário identificar as
atitudes comportamentais e suas influências dentro do ambiente, além de se levar em consideração
as necessidades daqueles que irão utilizar o ambiente (COSTA; VILLAROUCO, 2016 [10]).
Para Rheingantz e Farias (2004) [11], a influência do ambiente construído no comportamento das
pessoas viabiliza considerar o estudo da percepção e do comportamento ambiental fundamental para
a compreensão das inter-relações entre homem e ambiente.
A percepção acerca do ambiente é influenciada por necessidades individuais, modos, memórias,
experiências e valores. Seu conteúdo é provido do ambiente físico e social e, nessa base, os recursos
definidos anteriormente no processo de decisão de compra provavelmente serão importantes, ou
seja, aspectos da qualidade do serviço, preço e qualidade do produto/construção (FORSYTHE,
2007 [12]).

1.2. Avaliação emocional


De acordo com Diener e Lucas (2000) [13], inúmeros estudos têm demonstrado que as emoções têm
uma forte influência sobre a experiência geral de bem-estar. As emoções são acompanhadas por
uma gama de reações fisiológicas, que podem ser medidas usando uma variedade de técnicas,
(DESMET, 2002 [14]; DAMASIO, 1999 [15]).
Segundo Sacharin et al. (2012) [16], as emoções são parte essencial das interações entre pessoas,
objetos e ambientes e a avaliação das reações emocionais é um fator importante. Sendo assim,
esforçar-se para compreender como melhorar essas interações pode ajudar a projetar experiências
positivas do consumidor.
Para Andreto (2005) [17], as experiências vivenciadas pelos indivíduos, suas emoções, suas
condições intelectuais e sua motivação, isto é, a totalidade de seus repertórios psicológicos
influencia nos processos de percepção do espaço, e dessa forma sua avaliação se faz necessária.

1.3. Escalas psicológicas de bem-estar

O campo de estudo relacionado ao bem-estar subjetivo dispõe suas bases em estudos empíricos,
principalmente por medidas de autorrelato. Sendo assim, diferentes instrumentos foram
desenvolvidos para avaliar de que maneira as pessoas percebem e avaliam o ambiente ao seu redor
(DIENER, 1984 [18], LUCAS et al.,1999 [19]).

Segundo Bedin e Sarriera (2014) [20], os estudos relacionados ao bem-estar subjetivo no Brasil são
efetuados com o uso de diversas medidas. Porém, as mais utilizadas são o Questionário de Saúde
Geral, QSG (BORGES; ARGOLO, 2002 [21]; PASQUALI et al., 1994 [22]; SARRIERA et al.,
1996 [23]), a Satisfaction With Life Scale, SWLS (GOUVEIA et al., 2009 [24]; SARRIERA et al,
2012 [25]; ZANON et al., 2013[26]) e medidas multidimensionais de bem-estar (BUENO et al.,
2010 [27]; GIACOMONI; HUTZ, 2008 [28]). Além disso, uma das escalas mais utilizadas em
pesquisas nacionais referentes ao aspecto afetivo do bem-estar é a Escala de Afetos Positivos e
Negativos (PANAS).

2. OBJETIVOS
A proposta desta pesquisa é fundamentada na necessidade de desenvolvimento de escalas
psicológicas voltadas para a avaliação do ambiente construído, a fim de que projetos sejam capazes
de considerar conceitos ligados à percepção que os indivíduos têm sobre o espaço, centrando-se nas
emoções evocadas dos mesmos dentro do ambiente.
Para Desmet (2002)[14], o desenvolvimento de projetos deve contemplar os aspectos relacionados à
percepção dos usuários e atendam às expectativas e às necessidades dos mesmos.
O estudo visa testar a aderência de uma escala que avalia o bem-estar relacionado às variações das
características do ambiente construído interno, levando em consideração aspectos relacionados à
percepção e à emoção, a fim de colocar em prática o ideal de projetar seguindo esses fatores.

3. MÉTODOS
Com relação aos métodos e procedimentos de pesquisa utilizados, visto que esta é uma pesquisa
aplicada exploratória, foram seguidas as etapas de pesquisa, apresentadas na Figura 1.

Fig. 1 - Etapas de pesquisa


A fim de realizar a construção de uma escala psicológica específica para a avaliação do ambiente
construído, foi necessário escolher uma escala base, a fim de adaptá-la e realizar sua subsequente
validação e ajuste. Após a seleção das treze escalas psicológicas mais utilizadas para a mensuração
e avaliação do bem-estar subjetivo, disponíveis na literatura, verificou-se que a escala PANAS
melhor atendeu aos critérios e que se mostrou mais adequada ao propósito da pesquisa, visto que a
mesma é a mais abrangente em termos de sentimentos, é a mais genérica, pois permite a aplicação
do bem-estar em pesquisas com idosos (VICENTE et al., 2014 [29]; ERBACHER et al., 2012 [30]);
ambientes naturais (MCMAHAN; ESTES, 2015 [31]); ambientes escolares (MARCHAND et al.,
2014 [32]), sendo também aplicada em pesquisas de ambiente construído (PENTEADO, 2015 [33];
GALÁN-DÍAZ, 2011 [34]; KNEZ; KERS, 2001 [35]).
A escala PANAS (Positive and Negative Affect Schedule) foi desenvolvida como a
operacionalização das dimensões ortogonais do afeto positivo e afeto negativo que emergiu das
análises de Watson e Tellegen (1985) [36]. O modelo circular consiste em 20 itens, 10 para a escala
de afeto positivo e 10 para a escala de afeto negativo.
Além dos eixos principais correspondentes à dimensão do afeto há os eixos secundários, sendo eles:
prazer-desprazer e forte e fraco-empenho (EKKEKAKIS, 2012 [37]), tal como visto na Figura 2:

Fig. 2 – Escala PANAS


Os seres humanos são capazes de distinguir muitas emoções distintas. Porém deve-se questionar se
todas essas emoções podem ser evocadas dentro do ambiente construído. Dessa maneira, na
primeira parte do experimento, foram coletadas 174 respostas. A amostra foi por conveniência, pois
foram aplicadas em sala de aula, sendo um total de 85 estudantes de Arquitetura e Urbanismo e 89
alunos de Engenharia Civil em uma universidade do sul do Brasil.
Os participantes foram instruídos a descrever cinco sentimentos relacionados ao bem-estar e outros
cinco sentimentos relacionados ao mal-estar que ocorrem quando se encontram em um ambiente
construído interno, com base em suas lembranças. O objetivo principal foi a verificação da
possibilidade de outros sentimentos, que não constam na escala PANAS, serem associados ao
ambiente construído pelos respondentes, independentes de estímulos particulares. Além disso, era
necessário verificar se os sentimentos de PANAS eram recorrentes aos respondentes nessa
associação.
A coleta foi realizada em seis turmas distintas entre os meses de agosto e setembro de 2017, um
total de 158 sentimentos foi compilado, sendo 95 referentes ao bem-estar e 63 referentes ao mal-
estar. A partir da seleção, os novos sentimentos foram dispostos em forma de uma octante, seguindo o
modelo de PANAS, com a distribuição dos 48 sentimentos mais recorrentes em oito eixos, tal como
mostra a Figura 3:

Fig. 3 – Nova seleção de sentimentos


A segunda etapa do experimento compreendeu na avaliação de um grupo de cinco ambientes
internos (Figura 4), selecionados dentro da própria universidade. Dentro de cada um dos ambientes,
os entrevistados respondiam a um questionário sobre sua percepção, pela ocorrência dos 48
sentimentos em relação ao ambiente.

Fig. 4 – Ambientes avaliados

Buscou-se avaliar ambientes que contemplassem características projetuais diversas, a fim de tornar
cada ambiente único em sua avaliação. O objetivo principal foi verificar quais eram os sentimentos
sensíveis às mudanças projetuais de cada ambiente. Para as respostas dos entrevistados foi utilizada
a escala Likert de sete pontos, aos quais o entrevistado preencheu de -3 a 3, sendo -3 “discordo
totalmente” e 3 “concordo totalmente”.
Foram realizadas 143 entrevistas, sendo a amostra por conveniência, em estudantes de Arquitetura e
Urbanismo e de Engenharia Civil da mesma universidade.

4. RESULTADOS
Para obtenção dos resultados, uma análise fatorial foi elaborada, buscando identificar de forma
objetiva, um menor número de novas variáveis alternativas que não são correlacionadas e que sejam
capazes de condensar as informações essenciais das variáveis originais localizando os fatores ou
variáveis latentes (MINGOTI, 2005 [38]).
A utilização da análise fatorial nesse trabalho objetiva analisar como as variáveis se agrupam e se
estão relacionadas ao modelo de PANAS, na medida em que há variações das características dos
ambientes observados. As ferramentas de apoio utilizadas na transformação dos dados e nas
análises estatísticas foram o aplicativo Microsoft Excel 2010 e o software Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS), versão 22.

A fim de explorar o número mínimo de fatores pelo qual as variáveis se agrupam, foi realizada uma
análise fatorial sem a fixação do número de fatores e dessa maneira, observou-se que as 48
variáveis listadas podem ser agrupadas em no mínimo dez fatores. Ou seja, a escala não pode ser
representada com um número menor que dez dimensões de sentimentos.

Porém, nesse estudo optou-se pelo número de fatores fixado em 16, a fim de obter os dois
sentimentos mais representativos para cada um dos oito eixos propostos por PANAS, a partir da
percepção dos respondentes dentro dos cinco ambientes distintos.
A matriz anti-imagem dos dados realizados com fatores livres teve a maior parte de seus valores da
diagonal inferiores a 0,500, o que significa que as variáveis não podem ser agregadas, ou seja, os
sentimentos não podem ser agrupados e reduzidos em outros sentimentos. Sendo assim, para a
elaboração da escala não se utilizou a agregação das variáveis. Para tanto foram feitas as análises
fatoriais com 16 fatores fixados e selecionaram-se os sentimentos mais representativos para cada
um dos oito eixos.

Dessa maneira, examinaram-se quais as variáveis que possuíam os maiores coeficientes de


correlação, visto que quanto maior o coeficiente, mais forte é a correlação. A partir da ordenação
dos coeficientes, utilizou-se do critério da soma, a fim de identificar os dois sentimentos mais
relevantes para a construção da escala de sentimentos em ambiente construído. Um resumo dos
sentimentos mais significativos foi realizado na Tabela 1:
Eixo Sentimento Ambiente 1 Ambiente 2 Ambiente 3 Ambiente 4 Ambiente 5 Total
Energia 0 0,792 0,491 0,846 0,649 2,778
Realização 0,679 0 0,590 0,464 0,565 2,298
Empolgação 0,471 0,634 0,535 0,450 0 2,09
Afeto Positivo Alto
Entusiasmo 0,479 0,540 0,507 0 0,390 1,916
Motivação 0 0,567 0 0,542 0 1,109
Disposição 0,52 0 0 0 0,415 0,935
Cansaço 0,698 0,649 0,794 0,770 0,780 3,691
Sonolência 0,86 0,792 0,819 0,528 0,651 3,65
Letargia 0,687 0,857 0 0,590 0,838 2,972
Afeto Positivo Baixo
Preguiça 0,61 0,703 0,637 0,805 0 2,755
Tédio 0 0 0,496 0 0 0,496
Desânimo 0 0 0 0,000 0,441 0,441
Ansiedade 0,711 0 0,819 0,723 0,838 3,091
Nervosismo 0,571 0,445 0,548 0,612 0,464 2,64
Medo 0,571 0,485 0,481 0 0,688 2,225
Afeto Negativo Alto
Estresse 0 0,462 0,625 0,629 0 1,716
Angústia 0,641 0 0 0,618 0 1,259
Irritação 0 0,549 0 0 0,509 1,058
Despreocupação 0,906 0,795 0,568 0,851 0,663 3,783
Segurança 0,522 0,653 0,823 0,824 0,636 3,458
Liberdade 0 0 0,804 0,614 0,699 2,117
Afeto Negativo Baixo
Calma 0,672 0,496 0 0 0,750 1,918
Aconchego 0 0 0,635 0,605 0 1,24
Relaxamento 0,402 0,503 0 0 0 0,905
Satisfação 0,576 0,533 0,599 0,460 0,646 2,814
Empatia 0,788 0,91 0 0,410 0,494 2,602
Harmonia 0,590 0,524 0 0,702 0,432 2,248
Prazer
Prazer 0 0,434 0,480 0 0,649 1,563
Alegria 0 0 0,676 0,634 0 1,31
Felicidade 0,519 0 0,590 0 0 1,109
Nojo 0,845 0,666 0,665 0,780 0,739 3,695
Solidão 0,603 0,470 0,807 0,758 0 2,638
Depressão 0,644 0,552 0,792 0,541 0 2,529
Desprazer
Melancolia 0 0,779 0 0,639 0,529 1,947
Tristeza 0 0 0,538 0 0,470 1,008
Impaciência 0,451 0 0 0 0,492 0,943
Surpresa 0,912 0,924 0,570 0,735 0,845 3,986
Espanto 0,731 0,813 0,792 0,762 0,789 3,887
Intensidade 0,731 0 0,863 0 0,915 2,509
Forte Empenho
Estímulo 0 0,593 0 0,827 0,685 2,105
Atividade 0 0,601 0 0,802 0 1,403
Ânimo 0,600 0 0,557 0 0 1,157
Privacidade 0,863 0,833 0,845 0,740 0,827 4,108
Passividade 0,834 0 0,811 0,412 0,852 2,909
Inatividade 0,732 0,852 0,505 0 0,801 2,89
Baixo Empenho
Paciência 0,739 0 0,797 0,332 0 1,868
Serenidade 0 0,849 0 0,818 0 1,667
Tranquilidade 0 0,752 0 0 0,600 1,352

Tabela 1 – Sentimentos mais significativos


A escala (Figura 5) baseou-se na escolha dos dois sentimentos que foram mais representativos em cada
eixo, a partir da análise do coeficiente de correlação.

Fig. 5 – Escala com sentimentos mais significativos

O eixo Afeto Positivo Alto pôde ser descrito nos sentimentos Energia e Realização, já o eixo Afeto
Positivo Baixo, com os sentimentos de Sonolência e Cansaço. Representando o eixo Afeto Negativo
Alto, os sentimentos Ansiedade e Nervosismo e para o eixo Afeto Negativo Baixo, Despreocupação
e Segurança.
Relativamente ao eixo Prazer, os sentimentos mais representativos foram: Satisfação e Empatia; o
eixo Desprazer: Nojo e Solidão. Já o eixo Forte Empenho pôde ser representado pelos sentimentos
Espanto e Surpresa; e o eixo Baixo Empenho, pelos sentimentos de Privacidade e Passividade.

5. CONCLUSÃO
O presente estudo se propôs a desenvolver uma forma de medir o bem-estar relacionado ao
ambiente construído interno. Dessa forma, os sentimentos mais sensíveis às variações das
características do ambiente construído e que foram percebidos com maior intensidade pelos
indivíduos foram analisados.
Identificados os modelos de medida de bem-estar, avaliaram-se as possibilidades de seus usos em
relação ao ambiente construído. Foi considerada a mais apropriada dentre as escalas capazes de
medir o bem-estar, a escala PANAS, sendo utilizada em alguns dos estudos selecionados (GALÁN-
DÍAZ, 2011 [34]; KNEZ; KERS, 2001[35]; ALBUQUERQUE; TRÓCCOLI, 2004 [39]).
Por meio da análise fatorial, confirmou-se a adequação do modelo por ela preconizado, verificando-
se a tendência de agrupamentos e de aderência dos sentimentos por meio dos eixos estabelecidos
pelo modelo.
A análise fatorial, também verificou que uma escala de bem-estar associada ao ambiente construído
não pode ser representada com um número menor que dez fatores de sentimentos.
Outra conclusão encontrada nessa pesquisa foi a impossibilidade do desenvolvimento de uma escala
global, capaz de promover a avaliação do ambiente construído se pertencente a segmentos distintos,
dada a complexidade e diversidade do ambiente construído, tais como ambientes comerciais, ambientes
de trabalho e domésticos.

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ESTUDO DO SISTEMA CONSTRUTIVO LIGHT STEEL FRAMING E
MODELAGEM DE UMA CASA GEMINADA EM SOFTWARE BIM

Study of the Light Steel Framing construction system and modeling of a semi-
detached house in BIM software

Eng. Laender Coelho Braga 1, Antônio Eduardo Polisseni, D.Sc. 2, Mauricio Leonardo Aguilar
Molina, D.Sc. 3
1Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, laendercoelho@gmail.com
2 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, aepolisseni@gmail.com
3 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mauricio.aguilar@engenharia.ufjf.br

Resumo: Como consequência do crescimento populacional e dos avanços tecnológicos, o mercado


da construção civil mundial tem buscado novas técnicas construtivas mais eficientes. Uma dessas
técnicas é a construção em Light Steel Framing (LSF), que consiste na união de perfis de aço
galvanizado formados a frio, compondo um esqueleto estrutural da edificação. Este método
construtivo é comumente utilizado nos Estados Unidos e em países da Europa. Entretanto, no Brasil
ainda é pouco conhecido e existe um grande receio do usuário quanto à sua qualidade e durabilidade,
além do receio de migrar da construção tradicional em alvenaria para um sistema inovador ainda
pouco conhecido. O Building Information Modeling (BIM) ou, em Português, Modelagem de
Informações da Construção, constitui uma nova forma de desenvolver projetos construtivos que
também vêm tentando conquistar seu espaço no mercado brasileiro. O BIM possibilita a otimizar a
coordenação entre as diferentes disciplinas de projeto, bem como a comunicação entre as partes
interessadas e a extração de informações precisas. Neste trabalho serão apresentados o sistema
construtivo LSF e o BIM a partir de um exemplo de modelagem de uma Casa Geminada, que foi
projetada originalmente em software CAD e, posteriormente, modelada em software BIM. O trabalho
finaliza identificando as dificuldades, limitações e interferências vivenciadas com uso de software
CAD, e como tais dificuldades foram minimizadas quando o modelo foi migrado para o BIM.

Palavras-chave: Building Information Modeling, Light Steel Framing, modelagem.

Abstract: As a consequence of population growth and technological advances, the global


construction market has been looking for new and more efficient building techniques. One of those
techniques is the Light Steel Framing (LSF) construction, which consists of joining cold formed
galvanized steel profiles, composing a structural skeleton of the building. This constructive method
is commonly used in the United States and in European countries. However, in Brazil it is still
unknown and there is a great fear of the user as to its quality and durability, as well as the fear of
migrating from traditional masonry construction to an innovative system still unknown. Building
Information Modeling (BIM) is a new way of developing constructive projects that have also been
trying to gain space in the Brazilian market. BIM makes it possible to optimize the coordination
between the different design disciplines, as well as the communication between the interested parties
and the extraction of accurate information. In this work, the LSF and the BIM will be presented from
a modeling example of a semi-detached house, which was originally designed in CAD software and
later modeled in BIM software. The work ends by identifying the difficulties, limitations and
interferences experienced with the use of CAD software, and how these difficulties were minimized
when the model was migrated to BIM.

Keywords: Building Information Modeling, Light Steel Framing, modeling.

1. INTRODUÇÃO
Como consequência do crescimento populacional e dos avanços tecnológicos, o mercado da
construção civil mundial tem buscado novas técnicas construtivas mais eficientes, visando o aumento
da produtividade, diminuição do desperdício e atendimento de uma demanda crescente. O uso do aço
na construção tem sido uma alternativa para atender estes objetivos, porém, esta técnica construtiva
exige conhecimento e grande atenção no planejamento e interação de cada uma de suas etapas, desde
a concepção do projeto até a montagem e término da edificação [1].
O Steel Framing é um dos sistemas construtivos que tem o aço como matéria-prima, compondo um
esqueleto estrutural ou não estrutural da edificação a partir da união de perfis formados a frio de aço
galvanizado. Estes elementos ligados entre si adquirem função de resistir às cargas solicitadas e de
dar forma à construção. Além disso, podem compor vigas secundárias, vigas de piso, tesouras de
telhado e outros componentes, como mostra a Figura 1 [2]. Usualmente pode também ser chamado
de Light Steel Framing (LSF), na qual o termo “Light” se refere a uma construção leve, enxuta. O
LSF tem como característica principal ser um sistema construtivo a seco, pois a presença de água nas
etapas construtivas é quase nula. Este recurso é utilizado apenas durante as etapas de concretagem da
fundação e assentamento de revestimentos cerâmicos [3].

Figura 1 – Componentes do sistema LSF de uma casa.


Fonte: Revista Téchne Ed. 147, 2009.
Apesar do Brasil ser um dos maiores produtores mundiais de aço, o emprego de estruturas LSF em
edificações vem apresentando uma baixa adesão, predominando o método construtivo tradicional [4].
Inicialmente, o sistema foi trazido pela iniciativa privada a fim de atender as necessidades de
edificações residenciais de alto padrão, mas hoje em dia já existem empresas que incentivam a
construção de suas edificações com este método construtivo [3].
A utilização crescente de sistemas construtivos industrializados como o LSF, juntamente com o
avanço tecnológico na área da computação torna possível que os projetos sejam construídos
virtualmente, interligando-os e facilitando a fabricação de seus elementos. A possibilidade de se criar
um modelo único, com todas as informações interligadas do projeto arquitetônico, estrutural, elétrico
e hidráulico é um dos benefícios de se projetar com o auxílio de softwares BIM [3].
Na cidade de Juiz de Fora - MG, existem pelo menos duas construtoras que tem o foco na construção
em LSF. Uma destas foi consultada e foram encontrados algumas divergências entre projetos e
aplicação prática na construção de uma casa geminada na cidade de Matias Barbosa. A possível causa
destas divergências foi a não compatibilização dos projetos em BIM, o que poderia ter reduzido gastos
e tempo durante a fase construtiva.
Dentro deste contexto, torna-se importante a identificação das divergências em projetos LSF e a
reprodução do modelo virtual em softwares BIM.
O estudo do sistema construtivo LSF foi o tema escolhido para este trabalho pelo fato de ser um
sistema construtivo pouco conhecido, tanto no meio acadêmico como no mercado de trabalho. Nos
Estados Unidos e em países da Europa, este sistema construtivo é bastante difundido, entretanto, no
Brasil ainda vêm tentando conquistar o seu espaço. Ainda há um receio significativo por parte dos
clientes de abdicarem da construção tradicional em alvenaria para utilização apenas de perfis de aço,
gerando dúvidas quanto à capacidade de resistir os esforços e cargas.

2. OBJETIVOS
O objetivo deste trabalho é fazer um estudo do método construtivo LSF, pouco conhecido no Brasil
e também pouco abordado em cursos de graduação. Após o estudo completo de todo o processo
construtivo em LSF foi feita uma modelagem virtual, com uso de softwares que utilizam a plataforma
BIM, de uma casa geminada construída em LSF na cidade de Matias Barbosa. Essa modelagem tem
como finalidade extrair quantitativos de projeto, bem como identificar e reduzir as interferências e
divergências que ocorrem na prática entre projeto arquitetônico, estrutural, elétrico, hidráulico, entre
outros.

3. METODOLOGIA
O presente trabalho envolve uma revisão bibliográfica baseada em manuais, livros, artigos e
dissertações a respeito do método construtivo estudado e de um estudo de caso, com base na
modelagem de um projeto real em LSF.
No que se refere à revisão bibliográfica, foram coletadas informações a partir das bibliografias e
foram criados tópicos explicando todos os processos construtivos do LSF, como por exemplo etapas
de: fundação, estrutura, cobertura, fechamentos, instalações elétricas e hidráulicas, tratamento
térmico e acústico, entre outros. Além disso, um tópico foi destinado ao conceito de Building
Information Modeling, interoperabilidade, suas vantagens e limitações.
Para o estudo de caso, foram utilizados os projetos (arquitetônico, estrutural, elétrico e hidráulico)
fornecidos pela construtora responsável para auxiliar na modelagem da casa geminada. A modelagem
virtual foi feita utilizando o software Revit, da empresa Autodesk, que é um dos principais softwares
que utilizam a tecnologia BIM. Os projetos foram reproduzidos e modelados no software, sendo
possível a análise qualitativa completa da construção, bem como a verificação de interferências e
erros de projeto.
Além disso, foram realizados encontros semanais e visitas técnicas com o engenheiro responsável da
construtora, que possibilitou a troca de conhecimentos a respeito do LSF e soluções de dúvidas que
surgiram. Todo o processo de modelagem e alterações no projeto também foram avaliados e
aprovados pelo engenheiro responsável.

4. BUILDING INFORMATION MODELING


O BIM tem um princípio de trabalho que integra arquitetos, engenheiros e construtores na elaboração
de um modelo virtual preciso, gerando uma base de dados composta tanto por informações
topológicas como informações necessárias para orçamento, cálculo energético e previsão das fases
da construção, entre outras atividades [5].
Um modelo BIM pode ser utilizado para diversos propósitos, como por exemplo: visualização e
renderização 3D; desenhos para fabricação; análise dos requisitos legais do projeto; estimativa de
custos; sequenciamento da construção; detecção de interferência; análises de simulações e conflito; e
gestão e operação das edificações [6].
A utilização do BIM traz benefícios desde a fase de concepção do empreendimento até a operação,
possibilitando uma visualização mais precisa do projeto, correções automáticas das mudanças feitas,
geração automática dos desenhos 2D, compatibilização das diversas disciplinas do projeto, extração
automática dos quantitativos, sincronização com o planejamento e melhor gerenciamento e operação
das edificações [7].
A plataforma BIM foi criada como uma ferramenta para melhorar a qualidade dos projetos [8]. Sendo
assim, é importante que o BIM seja aplicado de maneira global, evitando erros de projetos e
orçamentos que são comuns na área da construção civil, e evoluindo no aperfeiçoamento do processo
de produção como um todo [9].
O BIM também possibilita a integração das várias disciplinas de projeto em um único modelo, como
por exemplo as disciplinas de Arquitetura, Estrutural, Mecânica, Elétrica e Hidráulica. Sendo assim,
com o compartilhamento dessas informações em um mesmo modelo, é possível compatibilizar os
projetos e em casos de interferências, é possível buscar soluções de forma integrada entre os diferentes
profissionais responsáveis pelos projetos [10].

4.1. Interoperabilidade
É importante ressaltar que o BIM não é um software específico. Seu conceito envolve uma nova
forma de processamento de projetos e geralmente é essencial a utilização de vários softwares
integrados entre si para obter um resultado final. Não existe um software único que consiga armazenar
todas as informações da edificação necessárias para a criação de um modelo BIM unificado [10].
O conceito de interoperabilidade se refere à capacidade de comunicação entre os diversos softwares
BIM. A interoperabilidade é a capacidade de trocar informações entre as aplicações, suavizando
fluxos de trabalho e algumas vezes facilitando a automação [11]. A interoperabilidade também é
sinônimo da capacidade de sistemas de múltiplas informações coexistirem, interagirem e
compreenderem um ao outro durante a comunicação [12].
Buscando evitar a incompatibilização entre os arquivos utilizados entre os diferentes escritórios, a
International Aliance of Interoperability (IAI) desenvolveu o formato IFC, padronizando a troca de
dados entre os vários softwares BIM existentes a partir de um único arquivo, como mostra a Figura
2. O IFC descreve os objetos utilizados no contexto do ciclo de vida da edificação, o modo como a
informação deve ser compartilhada e armazenada e o modo como os objetos estão interligados. Trata-
se de um modelo aberto e planejado para poder operar em qualquer aplicativo [10].

Figura 2 - Processo Tradicional versus Processo BIM.


Fonte: Ferreira (2016) adaptado de Pries (2010)

5. A CASA GEMINADA EM LIGHT STEEL FRAMING


O objeto de estudo deste trabalho é o projeto de uma casa geminada, já construída utilizando o método
construtivo LSF, como mostra a Figura 3, tendo como objetivo identificar as alterações feitas durante
a construção e implementar essas modificações na plataforma BIM, visando a criação de um as-built
para futuros empreendimentos com mesma tipologia e terreno.
A supra-estrutura da casa geminada é toda construída em LSF, utilizando os perfis de aço
galvanizados formados a frio que em conjunto formam os painéis, de acordo com a Figura 4. Apenas
a infra-estrutura, ou seja, a fundação, foi feita utilizando concreto na forma de radier. A cobertura
também foi construída em LSF, utilizando os perfis de aço para formarem treliças, caibros e terças
que estruturam o telhado. Entre o pavimento térreo e a cobertura não foram executadas vigas de piso
(com exceção do cômodo da caixa d’água), apenas fitas de contraventamento que auxiliam a estrutura
juntamente com as treliças.
Figura 3 - Foto da Casa Geminada.
Fonte: Autor

Figura 4 - Foto da montagem da estrutura em LSF.


Fonte: Engenheiro Responsável.
Durante a execução da obra, foram necessárias algumas mudanças nos projetos para melhor
adequação do sistema no canteiro de obra. A maioria das mudanças foram feitas nos projetos
hidráulicos, elétricos e de telefone. Estas mudanças não haviam sido incluídas em novas revisões dos
projetos, ficando apenas no plano da execução.
Como a construtora responsável tem intenções de reproduzir a construção da casa geminada em outras
localidades, foram realizadas por meio deste trabalho as alterações dos projetos no software
AutoCAD, facilitando as futuras execuções do as-built.
Após a realização das modificações de projeto no software AutoCAD, visando a composição do as-
built, iniciou-se a importação das plantas em 2D para o software Revit, para obtenção da modelagem
em 3D.
A partir de então, foram sendo posicionados elementos por elementos (perfis de aço), como mostra a
Figura 5, até a composição de toda a estrutura em LSF da Casa Geminada, incluindo as treliças, terças
e caibros do telhado. Como as casas geminadas são idênticas, foi modelado apenas a estrutura da Casa
1, e posteriormente foi utilizado o recurso de espelhar todos os elementos, finalizando o modelo 3D
estrutural como mostra a Figura 6.

Figura 5 - Modelo 3D do painel da Fachada


Fonte: Autor.
Figura 6 - Modelo 3D da Casa Geminada.
Fonte: Autor.

Com a modelagem 3D da casa geminada pronta, se deu início à inserção das tubulações hidráulicas a
partir dos projetos hidráulicos modificados no AutoCAD. As tubulações utilizadas foram tubos de
PVC para esgoto e água pluvial, e tubos PEX para as instalações de água fria e água quente.

6. INTERFERÊNCIAS E ERROS DE PROJETO


Nos projetos da Casa Geminada em estudo foram encontrados algumas divergências que poderiam
ter sido solucionadas com a utilização do BIM, apresentando uma visualização e interligação de todos
os elementos em 3D, e não apenas diversas plantas isoladas em 2D.
Uma destas divergências encontradas se diz respeito à representação da tubulação de água pluvial na
entrada das casas, mostrada na Figura 7. No desenho em CAD, a tubulação é representada apenas por
uma linha na diagonal, aparentemente formando um ângulo de 45°, ligando o tubo de queda à Caixa
de Passagem Pluvial.
Entretanto, durante a modelagem das tubulações Hidráulicas no Revit, foi notado que não era possível
estabelecer um ângulo de 45° entre os elementos, sendo de suma importância que as tubulações
formem este ângulo para utilização da peça Junção Y 45. O ângulo máximo que poderia ser
estabelecido para encontro das duas tubulações seria 32°, como mostra a Figura 8, não sendo possível
a execução com esta angulação. Assim, foi criado um caminho alternativo para o encontro das duas
tubulações de água pluvial, unidas por uma Junção Simples 100x75.
Figura 7 - Representação das tubulações de água pluvial em CAD
Fonte: Autor.

Figura 8 - Representação das tubulações de água pluvial em BIM


Fonte: Autor.
Outras interferências também foram observadas na passagem das tubulações pelo telhado, onde há
grande concentração de perfis de aço, como mostra a Figura 9, onde a tubulação de água pluvial
coincide com uma terça do telhado.

Figura 9 - Interferência da tubulação com os perfis do telhado


Fonte: Autor.
Estas interferências podem ser observadas e ajustadas facilmente utilizando a plataforma BIM, o que
não ocorre na representação em 2D das plantas em CAD. A correção destas interferências evita erros
de execução e sana dúvidas que poderiam existir no canteiro de obra, com isso, evita também a perda
de tempo, mantendo a produtividade contínua, e evita gastos não previstos no orçamento da obra.

7. CONCLUSÕES
Ao longo do desenvolvimento deste trabalho, foi possível aprender sobre o método construtivo Light
Steel Framing, que até então era desconhecido por grande parte do meio acadêmico. O LSF é pouco
comentado nas salas de aula e não há uma disciplina que ensine a dimensioná-lo, ou que destaque
suas etapas construtivas. Com isso, o medo do desconhecido também influencia a sociedade leiga,
que acaba optando pela construção tradicional em alvenaria e que tem receio de construir utilizando
perfis de aço. Portanto, este trabalho é importante para difundir este novo método construtivo no meio
acadêmio e quebrar os preconceitos e receios quando a este tipo de edificação.
Durante a realização do trabalho foi possível fazer visitas à Casa Geminada em estudo e interpretar
os seus projetos reais, como por exemplo projetos estruturais, hidráulicos, elétricos e telefônicos. Esta
ligação entre a teoria e a prática foi de extrema importância para facilitar o entendimento do estudo
de caso.
Além disso, o trabalho trouxe também conceitos de BIM e suas aplicações, que ainda é pouco
conhecido no meio acadêmico e muitos discentes acabam não tendo a oportunidade de ter contato
com a plataforma. Com o conhecimento e disciplina aprendidos durante a graduação, foi possível
aprender a utilizar um dos mais conhecidos softwares BIM: o Revit; e aplicar suas funções a favor da
realização deste trabalho. Consequentemente, foi possível adquirir conhecimentos e poder expandi-
los para a sociedade e para o meio profissional.
Como conclusão, pôde-se observar que o software Revit é uma excelente escolha para extração de
quantitativos de projetos, o que facilita e agiliza muito o trabalho no canteiro de obra. Os quantitativos
podem ser feitos até mesmo antes do início da obra, facilitando a realização de orçamentos e compras
de material, e reduzindo o tempo gasto analisando os projetos, bem como o desperdício de material.
Outra vantagem observada na modelagem da construção e seus componentes em 3D é a verificação
e correção de interferências antes da montagem no canteiro de obra. A correção das interferências
facilita e agiliza o processo construtivo, não havendo perda de tempo com as tentativas de resolução
dos problemas no canteiro de obra.

REFERÊNCIAS
[1] CRASTO, R. C. M. Arquitetura e tecnologia em sistemas construtivos industrializados: Light Steel Framing.
Dissertação de Mestrado. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto, 2005.
[2] SANTIAGO, A. K.; FREITAS, A. M. S.; CASTRO, R. C. M. Manual de construção em aço Steel Framing:
Arquitetura. Instituto Aço brasil. 2. ed. 2012.
[3] CAMPOS, P. F. Light Steel Framing: uso em construções habitacionais empregando a modelagem virtual
como processo de projeto e planejamento. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Universidade de São Paulo,
2014.
[4] CRASTO, R. C. M.; FREITAS, A. M. S.; Construções em Light Steel Frame. Téchne, Ed. 112, 2006.
[5] MENEZES, G.L.B.B. Breve histórico de implantação da plataforma BIM. “Cadernos de Arquitetura E
Urbanismo”. Disponível em:
<http://periodicos.pucminas.br/index.php/Arquiteturaeurbanismo/article/view/P.23161752.2011v18n22p152>.
Acesso em 10 maio de 2016.
[6] AZHAR, S. Building Information Modeling – BIM: Trends, Benefits, Risks, and Challenges for the AEC
Industry, ASCE Journal of Leadership and Management in Engineering, v. 11, n. 3, p. 241-252, 2011.
[7] EASTMAN, C.; TEICHOLZ, P.; SACKS, R.; LISTON, K. Manual de BIM: um guia de modelagem da
informação da construção para arquitetos, engenheiros, gerentes, construtores e incorporadores. Porto
Alegre: Ed Bookman, 2014, 500 p.
[8] HIPPERT, M. A. S.; ARAÚJO, T. T., BIM e a Qualidade do Projeto: um Estudo de Caso em uma Pequena
Empresa de Projeto. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO, 13.,
Canela. Anais... Canela: ENTAC, 2010, 10p.
[9] CARNEIRO, T. M.; LINS, D. M. O., BARROS NETO, J. P. Building Information Modeling: Análise da Produção
Científica nos anos de 2010 e 2011. In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE
CONSTRUÍDO, 14., Juiz de Fora. Anais... Juiz de Fora: ENTAC, 2012.
[10] FERREIRA, B. R. Elaboração de um projeto de edificação de habitação de interesse social sob a ótica do
BIM. Trabalho de Conclusão de Curso. Juiz de fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, 2016.
[11] EASTMAN, C.; TEICHOLZ, P.; SACKS, R.; LISTON, K. BIM Handbook: A Guide to Building Information
Modeling for Owners, Managers, Designers, Engineers and Contractors. [S.l.]: Wiley Publishing, 2008. ISBN
0470185287, 9780470185285.
[12] CHEN, D.; DACLIN, N. et al. Framework for enterprise interoperability. In: Proc. of IFAC Workshop EI2N.
[S.l.: s.n.], 2006. p. 77–88.
AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA DE MATERIAIS EMPREGADOS NA ENVOLTÓRIA
DE EDIFICAÇÃO: ESTUDO DE CASO DE GALPÃO INDUSTRIAL

Evaluation of the life cycle of materials employed in the building envoltory: case study of
industrial shed

Roberta Paulina Tertolino da SILVA *1, Maria Teresa Gomes BARBOSA2,


* Autor para correspondência: roberta.silva@arquitetura.ufjf.br
1,2
Programa de Pós-graduação em ambiente construído – PROAC- UFJF,Juiz de Fora, MG, Brasil

Resumo: Nos últimos tempos tem-se discutido a sustentabilidade, os impactos ambientais e


desperdícios de recursos naturais, principalmente no setor da construção civil que apresenta uma
gestão falha na maioria das empresas. Ele representa uma parcela importante na economia mundial,
já que consiste numa grande consumidora de energia incorporada (EI) e emissão de CO2 nas etapas
de extração, fabricação, uso e manutenção, desconstrução ou desmontagem e deposição final dos
produtos empregados. Logo, todos os materiais aplicados na construção civil apresentam impactos
ambientais em escala maior ou menor, com isso o profissional habilitado é capaz de optar pelo que
têm menor impacto ambiental, além de poder escolher por técnicas menos agressivas. Diante deste
cenário, este trabalho tem como objetivo análise do ciclo de vida (ACV) dos materiais empregados
na envoltória da construção, avaliando sua energia incorporada (EI) e sua emissão de CO2 para o
caso empregado em galpões industriais. O estudo se focará em dois galpões que apresentam 285m²
e 220m² de área construída, empregado o método tradicional de construção e localizam-se em
regiões próxima a área central da cidade de Juiz de Fora, MG, onde no entorno encontra-se outros
construções com prestação de serviços. Salienta-se que o clima da região é tropical de altitude, com
temperaturas médias anuais entre 18ºC a 22ºC, possui duas estações bem definidas. A pesquisa
consiste em um estudo de caso, de natureza qualitativa, sendo realizadas observações in loco e
coleta de dados dos materiais empregados nas fachadas, para o desenvolvimento de análise dos
elementos construtivos. E, finalmente, concluiu-se que a escolha adequada dos componentes
construtivos tendem a contribuir para a redução de emissão de poluentes onde sugere-se diretrizes
nas seleção de materiais buscando a especificação dos com menor impacto e assegurando a
sustentabilidade.

Palavras-chave: Avaliação do ciclo de vida, sustentabilidade da construção, galpão.

Abstract: In recent times, sustainability, environmental impacts and waste of natural resources
have been discussed, especially in the construction sector, which presents a flawed management in
most companies. It represents an important part of the world economy, since it consists of a large
consumption of incorporated energy (EI) and emission of CO2 in the stages of extraction,
manufacture, use and maintenance, deconstruction or disassembly and final disposal of the products
used. Therefore, all materials applied in construction have environmental impacts on a larger or
smaller scale, so the qualified professional is able to opt for the ones that have a lower
environmental impact, besides being able to choose less aggressive techniques. In this scenario, the
objective of this work is to analyze the life cycle (LCA) of the materials used in the construction
envelope, evaluating its incorporated energy (EI) and its CO2 emission for the case used in
industrial warehouses. The study will focus on two sheds that have 285sqm and 220sqm of built
area, used the traditional method of construction and are located in regions near the central area of
the city of Juiz de Fora, MG, where in the surroundings are other constructions with provision of
services. It should be noted that the climate of the region is tropical at altitude, with average annual
temperatures between 18ºC to 22ºC, has two well defined seasons. The research consists of a case
study, of a qualitative nature, being carried out in situ observations and data collection of the
materials used in the façades, for the development of analysis of the constructive elements. And
finally, it was concluded that the proper choice of the construction components tend to contribute to
the reduction of pollutant emission where it is suggested guidelines in the selection of materials in
order to specify the ones with the least impact and ensuring sustainability.

Keywords: Life cycle assessment, sustainability of the construction, shed.

1. INTRODUÇÃO
Nos últimos tempos tem-se discutido a sustentabilidade, os impactos ambientais e desperdícios de
recursos naturais derivada da atividade humana, principalmente no setor da construção civil que
apresenta gestão falha na maioria das empresas. Segundo Guia PMBOK, PMI [1] os custos de
falhas ou custos de má qualidade podem ser internos ou externos, e estão associados a não
conformidade dos produtos, entregas ou serviços em relação às necessidades ou expectativas das
partes interessadas.
A sustentabilidade está vinculada a vários fatores que compõe o espaço, a cultura, o ambiente, o
político, o social e o econômico, sendo o setor da construção civil um grande consumidor de
recursos naturais e para isso deve ser avaliado o modo como utilizam esses elementos [2].
O setor da construção civil, conforme Souza et al. [3], se “caracteriza como um dos que mais
utilizam recursos naturais e dos que mais geram desperdícios desnecessários e impactos ao
ambiente, desde a produção dos insumos utilizados até a execução da obra e sua operação”.
Desta forma, é importante à busca de estratégias que possam minimizar as falhas e preservar os
recursos naturais. Conforme Lordsleem Jr e Neves [4], nos últimos anos as construtoras vêm
adotado métodos construtivos com maior racionalização e implementação da gestão da qualidade.
No Brasil, segundo dados do Balanço Energético Nacional [5], os setores que mais utilizaram a
energia, foram às indústrias 33,3% e de transporte com 32,5% representando 65,8% do consumo de
energia do país. No caso da emissão de CO2, o transporte corresponde a 45,8%, outros setores com
31% (inclui os setores agropecuários, serviços, energético, elétrico e as emissões fugitivas) e a
indústria com 18,9%. Desta forma, os dois setores (industrial e transporte) são o que mais
contribuem em comparação ao residencial e de serviço.
O setor industrial na parte de consumo de insumos naturais é um dos grandes consumidores
energéticos e com amplas potencialidades de provocar danos ao meio ambiente, podendo ser no
processo produtivo ou na fabricação de produtos poluentes, na qual a destinação final é inadequada
[6]. Sendo assim, torna-se importante promover a conscientização ambiental nas indústrias e nos
profissionais envolvidos; para que haja redução da energia total nos edifícios é importante que na
fase da concepção do projeto apresente itens para redução da energia operacional, nas escolhas dos
materiais construtivos recicláveis e sistemas que facilite à desmontagem dos elementos [7]. O uso
de materiais reciclados vem surgindo no setor da construção civil, criando eco-produtos com
eficiência e compromisso ambiental [8].
A escolha dos materiais empregados na obra torna-a mais sustentável, deve-se levar em
consideração a forma de aquisição da matéria-prima, desde a origem ao destino final, sendo a
seleção analisada e comparada de forma criteriosa. Uma das ferramentas utilizadas para a
verificação dos materiais é a análise do Ciclo de Vida (ACV), é um processo complexo que envolve
um número elevado de variáveis, pois poderão ser analisados impactos referentes à energia
consumida, consumo de água, a emissão de CO2, matéria-prima, processo produtivo, etc [9].
A energia incorporada, conforme Pires [10], é definida como, sendo o total de energia consumida na
extração de matérias-primas, nos seus processos de transformação, no transporte, bem como, da
energia envolvida no processo construtivo. Assim, a emissão de CO2 está entrelaçada a esses
processos envolvendo todo o ciclo de vida do material.
Para obter melhor análise do ACV serão levantados alguns dos itens apresentados acima, a fim de
contribui na escolha de materiais mais sustentáveis para a construção ou que apresente um menor
impacto.
Diante deste cenário, este trabalho tem como objetivo análise do ciclo de vida (ACV) dos materiais
empregados na envoltória da construção, avaliando sua energia incorporada (EI) e sua emissão de
CO2 para o caso empregado em galpões industriais. Para isso, foi realizada uma pesquisa
bibliografia, para coleta de valores referente à EI e emissão de CO2, em fontes nacionais e
internacionais dos materiais que foram empregados na construção do objeto de estudo. Além disso,
foi contextualizada a importância da avaliação do ciclo de vida, bancos de dados presentes no
mundo e no Brasil. E, por fim, esta pesquisa fornece diretrizes na seleção de materiais adequada
para construção que apresentem menor impacto ambiental nas emissões de poluentes.

2. ANÁLISE DO CICLO DE VIDA

2.1 - Importância da análise do ciclo de vida


De acordo com a ABNT - NBR ISO 14040 [11], a definição da avaliação do ciclo de vida se refere
à compilação e avaliação das entradas, das saídas e dos impactos ambientais potenciais de um
sistema de produto ao longo do seu ciclo de vida. A respeito das categorias gerais de impactos
ambientais que necessitam ser consideradas incluem o uso de recursos, a saúde humana e as
consequências ecológicas.
Em vista a preocupação ambiental algumas empresas adotam no seu processo produtivo a avaliação
de seu produto, esse procedimento por ser realizado pela avaliação do ciclo de vida que avalia do
início ao fim de sua vida útil ou em etapas isoladas. A Figura 1 ilustra as etapas do ciclo de vida,
que poderá ser de um produto, serviço ou processo.
Fig. 1- Etapa do ciclo de vida de um produto
Fonte: Elaboração própria (2018)

Para avaliação do ciclo de vida cada pesquisador adota uma forma de análise, na qual poderá ser por
elemento ou conjunto desses elementos, sendo assim, Caldas e Sposto [12], por exemplo aplicaram
o ACV nos blocos de concreto e blocos cerâmicos estruturais realizando um levantamento das
fábricas que produz o material e a distância percorrida para entrega-lo na obra, com isso calculou-se
as emissões de CO2 da indústria e do transporte rodoviário, ao fim os autores geram uma proposta
de matriz de mensuração da importância do transporte.
Sposto et al. [13], analisaram a energia incorporada e as emissões de CO2 de fachadas de light steel
framing para edificação, eles consideraram as fases do ciclo de vida referentes à indústria e ao
transporte de materiais para cinco regiões do Brasil, tendo como resultado a comparação do sistema
construtivo convencional com o light steel framing, na qual o primeiro apresentou valores maiores
para energia incorporada total e emissão de CO2 total.
Barbosa et al. [14], através da ferramenta ACV identificaram os aspectos mínimos da energia
incorporada e emissão de CO2 em duas edificações construídas em décadas diferentes, os autores
realizaram uma análise comparativa da evolução da sustentabilidade na construção civil e
concluíram que os avanços tecnológicos e sistemas construtivos, não contribuíram com a atual
proposta para a construção sustentável. Apesar das emissões específicas terem diminuído, porém o
processo produtivo cresce e consequentemente a energia incorporada será maior, assim como o
sistema de transporte diferente.
Neste contexto, é importante a definição dos parâmetros a serem estudados estabelecendo a unidade
funcional a utilizar, após o estabelecimento do que será avaliado deverá elaborar o inventário do
ciclo de vida do material e por último, avaliação e interpretação dos impactos ambientais que o
produto gera [15].
Portanto é necessário estabelecer critérios para avaliação do ciclo de vida, se será avaliado uma
unidade funcional ou um conjunto de elementos, e em qual etapa do processo “do berço ao túmulo”,
ou será segmentado, além disso, dados do inventário do ciclo de vida devem ser analisado de forma
cuidadosa para evitar coleta de informação que não tragam resultados confiáveis.
2.2 – Por que o Brasil não apresenta base de dados?
No Brasil a avaliação do ciclo de vida se inicia em 1994, onde Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) cria o Grupo de Apoio à Normalização Ambiental (Gana), Subcomitê de ACV,
para acompanhar e analisar os trabalhos do Comitê Técnico 207 (TC 207), gestão ambiental da
ISO54. Em 1998, o Gana finaliza suas atividades e em 1999 a ABNT cria o comitê ABNT/CB-38
(Comitê Brasileiro de Gestão Ambiental) para continuar com as discussões das normas
internacionais da série 14000 e suas similares nacionais [16]. Segundo Willers et al. [17], a AVC
começa a ganhar força a partir de eventos para difundir o assunto.
Em 2002 foi fundada a Associação Brasileira de Ciclo de Vida, ABCV, a qual vem
se dedicando à disseminação e consolidação da ACV no Brasil, principalmente pela
promoção de conferências, destacando-se três delas. A primeira ocorreu em 2007, em São
Paulo: a segunda edição da Conferência Internacional sobre Avaliação do Ciclo de Vida,
CILCA, agora denominada Conferência Internacional sobre Análise do Ciclo de Vida na
América Latina. A ABCV também vem promovendo o Congresso Brasileiro sobre Gestão
do Ciclo de Vida de Produtos e Serviços, CBGCV, com duas edições, em 2008 e 2010.
Evento bianual, apesar de recente, ele já pode ser considerado o principal evento nacional
dedicado ao tema ACV. Entretanto, ainda encontra-se em fase de consolidação, o que pode
ser verificado pelo número de trabalhos apresentados nas duas primeiras edições (44 e 55,
respectivamente), os quais não são, necessariamente, relacionados a ACV qualitativas. A
terceira edição do Congresso ocorre em setembro de 2012.

No meio acadêmico o assunto vem crescendo no decorrer dos anos, com números de publicações de
artigos, teses e dissertações, além de grupos de pesquisas que trazem essa temática. Entretanto no
Brasil a base de dados ainda apresenta em desenvolvimento, mas existe um grande esforço do
Conselho Brasileiro de Construção Sustentável para aprimoramento. Conforme Barbosa Júnior et
al. [18], as empresas brasileiras tem dificuldade em aplicar a metodologia de ACV, por apresentar
falta de pessoas capacitadas, de bancos de dados com informações de insumos, de incentivos
governamentais, além disso, quando se aplica os dados internacionais, esses não levam em
considerações as especificações regionais e locais na análise do impacto.

2.3 - Bancos de dados existentes no mundo


Existem bancos de dados disponíveis de forma gratuita ou para comercialização, sendo esse último,
informações mais completas. A título de comparação destes bancos, na tabela abaixo específica de
modo geral, o que compõe o banco de dados, conforme Lima, [16], Ribeiro, [19], Campolina et al.
[20] e Lovón-Canchumani et al. [21] existem outros software para obter informações do AVC.
Conforme mostrada na tabela 1 apenas alguns bancos de dados, dentre eles o da Suíça atende parte
da Europa e apresenta um conjunto maior de dados em comparação ao outros. Dentre os bancos de
dado a pesquisa irá utilizar a Inventory of Carbon & Energy (ICE), por ser uma plataforma aberta
possibilitando a consulta, além disso, será adotado também fontes de dados nacionais a fim de se
efetuar uma análise comparativa e que possa auxiliar a elaboração de proposta a ser aplicada na
especificação dos materiais empregados na envoltória de galpão industrial.
Tabela 1- Exemplo de alguns bancos de dados sobre ACV
Inventory of Carbon &
Ecoinventb GaBic IBOd
Energy (ICE)a
Origem Reino Unido Suíça Alemanha Áustria
Tipo de
Aberto Comercial Comercial Aberto com restrições
Mercado
Versão
Grátis Não apresenta Por 30 dias Grátis
gratuita
Engloba a etapa do
Engloba energia,
processo, material,
Tintas e preparações agricultura, transporte, Engloba materiais de
transporte e insumos
Banco de químicas; Metais e biocombustíveis e construção, eletrônicos,
energéticos, bem como
dados semimetais; Vidro e biomateriais, produtos plásticos, agricultura,
as emissões para o ar,
cerâmica; Plásticos; Pap químicos materiais de etc.
solo, água e resíduos
el e cartão; Madeira construção, etc
devem ser determinados

Contêm mais de 14.700 Contêm mais de 12.000


Número de
conjuntos de dados de perfis prontos para uso Contêm mais de 500
conjuntos Contêm mais de 400 LCI do Life Cycle Inventor
Fonte:a https://ghgprotocol.org/Third-Party-Databases/Bath-ICE
b
https://www.ecoinvent.org/
c
http://www.gabi-software.com/brazil/software/gabi-software/
d
https://www.ibo.at/materialoekologie/lebenszyklusanalysen/ibo-richtwerte-fuer-baumaterialien/

3. ESTUDO DE CASO: GALPÃO INDUSTRIAL

A pesquisa foi elaborada com base no estudo de dois modelos de galpão industrial, com
características distintas no emprego dos materiais e no sistema de construção; localizados na cidade
de Juiz de Fora. O foco do estudo é realizar uma análise comparativa dos materiais empregados na
envoltória da edificação e avaliar o que apresente menor impacto ambiental, através da EI e emissão
de CO2.

3.1 – Caracterização dos objetos de estudo


O primeiro objeto de estudo, é Galpão 1, localiza-se ao lado da linha férrea e construído entre
edificações comerciais, conforme ilustrado na Figura 2, possui aproximadamente 17 anos com área
construída de 285 m², e é destinado ao mercado de retifica de motores, a especificação dos materiais
encontra-se na tabela 2.
O segundo Galpão 2, possui área construída de 220m² e tem aproximadamente 18 anos, a edificação
também esta entre duas edificações, sendo uma comerciais e outra residencial, localiza-se próximo
a linha férrea, conforme ilustrado na Figura 3, a especificação dos materiais encontra-se na tabela 2.
Fig. 2 – Mapa de localização - Galpão 1
Fonte: Elaboração própria (2018)

Fig. 3 – Mapa de localização - Galpão 2


Fonte: Elaboração própria (2018)

Tabela 2 - Especificação dos materiais da envoltória


Galpão 1 Galpão 2
O Galpão 1, localiza-se ao lado da linha férrea e O Galpão 2, possui área construída de
construído entre edificações comerciais, possui aproximadamente 220m², a edificação também
aproximadamente 17 anos e área construída de esta entre duas edificações comerciais, e
285m². localiza-se próximo a linha férrea.
Térreo e mezanino, em estrutura de concreto Térreo, estrutura mista (concreto armado e viga
armado. metálica).
Alvenaria: blocos de concreto, 20 cm de Alvenaria: blocos de concreto, 20 cm de
Fachada espessura. espessura.
frontal Acabamento: reboco (argamassa), chapisco de Acabamento: reboco (argamassa) e pintura.
brita 0 em meia altura e pintura.
Fachada Alvenaria: tijolo cerâmico, 10 cm de espessura.
Alvenaria: blocos de concreto, 20 cm de
lateral Fechamento: metade em telha de alumínio e
espessura.
esquerda placa de concreto.
Fachada Alvenaria: blocos de concreto, 20 cm de Alvenaria: blocos de concreto, 20 cm de
lateral direita espessura. espessura.
Fachada Alvenaria: blocos de concreto, 20 cm de Fechamento: de placa de concreto e telha de
posterior espessura. alumínio.
Acabamento: reboco (argamassa), chapisco de
brita 0.
Janelas: basculante com vidros transparentes e
estrutura de ferro.
Esquadrias Portão: de aço
Janela: de aço de enrolar
Portão: de aço de enrolar
Cobertura Telha de alumínio e telha de fibra. Telha de alumínio
Estrutura do
Estrutura de aço Estrutura de aço
telhado
Fonte: Elaboração própria (2018)

4. METODOLOGIA

Considerando os dois objetos de estudo conforme o levantamento dos materiais, a tabela 3,


representa a EI e a emissão de CO2, dos materiais empregados nos galpões, sendo apresentados
dados retirados de literatura nacional.
Tabela 3 – Materiais empregados na fachada – dados nacionais (Barbosa et al., [14]; Tavares, [22]; Rossi [23]

Galpão 1 Galpão 2
Emissão de CO2 Emissão de CO2
EI (MJ/kg) EI (MJ/kg)
(kgCO2/kg) (kgCO2/kg)
Tijolo cerâmico furado - - 2,630 0,1195
Bloco de cimento furado 1,080 0,000327 1,080 0,000327
Placa de concreto - - 3,10 -
Argamassa (cimento, cal e
1,446 0,012 1,446 0,012
areia)
Revestimento de Brita 0 13,5 1,2 - -
Tinta PVA látex 65,00 - 65,00 -
Telha metálica
210,00 - 210,00
(alumínio)
Telha de fibra 6,00 - - -
Estrutura metálica (aço) 33,80 - 33,80 -
Vidro plano 18,50 - - -
Esquadria de aço (janela) 33,80 - - -
Esquadria de ferro (janela) 32,80 - - -
Esquadria de aço (porta) 33,80 - - -
Esquadria de ferro (porta) - - 32,80
TOTAL 449,726 1,212 349,85 0,131
Fonte: Elaboração própria (2018)
A tabela 4 apresenta os valores da quantidade de energia embutida e emissão de CO2, obtidos a
partir do banco de dados da Inventory of Carbon & Energy (ICE) version 2.0 de 2011.
Tabela 4 – Materiais empregados na fachada – dado internacional
Galpão 1 Galpão 2
Emissão de CO2 Emissão de CO2
EI (MJ/kg) EI (MJ/kg)
(kgCO2/kg) (kgCO2/kg)
Tijolo cerâmico furado - - 3,00 0,23
Bloco de cimento furado 0,67 0,073 0,67 0,073
Placa de concreto - - 4,5 0,73
Argamassa (cimento, cal e
1,03 0,145 1,03 0,145
areia)
Revestimento de Brita 0 0,083 0,0048 - -
Tinta PVA látex 70,00 2,42 70,00 2,42
Telha metálica (alumínio) 155,00 8,24 155 8,24
Telha de fibra 37,00 2,70 - -
Estrutura metálica (aço) 20,10 1,37 20,10 1,37
Vidro plano 15,00 0,86 - -
Esquadria de aço (janela) 20,10 1,37 - -
Esquadria de ferro (janela) 25,00 1,91 - -
Esquadria de aço (porta) 20,10 1,37 - -
Esquadria de ferro (porta) - - 25,00 1,91
TOTAL 364,08 20,52 279,30 14,38
Fonte: Elaboração própria (2018)
Conforme apresentado na tabela todos os dados foram preenchidos conforme informações do banco
de dados do ICE, onde apresenta vários tipos de materiais. Vale ressaltar que alguns resultados
apresenta-se quase o mesmo valor de dados nacionais, como por exemplo, o tijolo cerâmico e o
vidro, e outros com valores bem diferentes como telha metálica, ferro e aço.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com o levantamento dos materiais empregados nas fachadas dos objetos de estudos,
foram obtidas as quantidades de EI e de emissão de CO2 emitido por cada material durante seu
processo produtivo. Com isso, as figuras 4 e 5 apresentam os resultados dos dados nacionais da EI e
emissão de CO2 respectivamente para o Galpão 1 e 2, visto que para a energia incorporado todos os
materiais foram completados. Já para a emissão de CO2 não encontrou valores para a maioria dos
elementos na literatura nacional. Desta forma, a análise do resultado fica prejudicada levando a uma
avaliação incompleta.
Para o caso do Galpão 1, a fachada frontal constituída por maior quantidade de materiais se destaca
das outras e a maior energia incorporada esta presente na tinta, esse material no setor industrial
corresponde ao químico que representa 1.900 (103tep1) de consumo elétrico, conforme o BEN [24],
no total representa 12%. As fachadas laterais esquerda e direita por ser constituída por um elemento
não dados expressivo para avaliação, além disso, está entre edificações. A fachada posterior o
material que destaca-se é o ferro, onde no setor industrial para o ferro-gusa e aço contribuiu em
2016 com 5,9% do consumo final por setor [24].
Com relação à emissão de CO2, mostrado na figura 4, apenas o revestimento de brita apresenta
maior quantidade de emissão de poluentes, esta ocorrência deve-se ao processo de extração do
material até a destinação final, sendo as seguintes etapas: extração o uso de explosivo gera poeiras,
materiais particulares e gases; transporte da extração ao beneficiamento utilização de equipamentos
e caminhão que consume diesel; beneficiamento nesta fase a emprego de vários equipamentos que
consume energia e ou algum tipo de combustível; armazenamento contribuição com poeira;

1
Tonelada equivalente de petróleo
transporte do beneficiamento aos caminhões, a brita é transportada por carregadeiras e caminhões
ambos consumem diesel; transporte aos centros consumidores; uso e disposição final [23].
Logo, para ter uma avaliação completa da emissão de CO2 na questão, de qual material contribui
mais para o lançamento de poluentes, seria necessário obter os valores de todos os elementos que
estão nas fachadas. No entanto no Brasil ainda não existe um banco de dados que possa coletar
essas informações, por conta disso, busca-se nas literaturas, mas o número de dados não contempla
muitos materiais ou alguns ainda utilizam de fontes internacionais, o que não condiz com o contexto
nacional.

Fig. 4 - Materiais empregados nas fachadas


Fonte: Elaboração própria (2018)

No caso para o galpão 2, apesar da fachada frontal proporcionar mais materiais, o que se destaca
são os fechamentos de alumínio na fachada lateral direita e fachada posterior, ou seja, maior EI no
material o que leva a maior consumo de energia elétrica.
O setor industrial apresentou um consumo 16.793 103tep de eletricidade, deste total de mineração e
pelotização teve 1.016 103tep e os não ferrosos e outros da metalurgia com 2.331 103tep, com isso o
alumínio se encaixa nesses dois processos levando um gasto de 20% do total de energia [24].
Fig. 5 - Materiais empregados nas fachadas
Fonte: Elaboração própria (2018)
A respeito dos dados internacional foi possível avaliar todos os materiais, com isso é possível notar
diferenças grandes entre os dados nacionais x internacional, no caso, o revestimento de brita tanto a
EI e a emissão de CO2 mostra uma diferença de 13,41 MJ/kg e 1,19 kgCO2/kg. O material mais
próximo dos valores é o tijolo cerâmico furado, cuja o resultado em ambos os casos de aproximam.
Além disso, para a energia incorporada referente à tinta, para as duas fontes de dados a diferença é
de 5,0 MJ/kg, ou seja, o valor não apresenta tão discrepante.
Fig. 6 - Materiais empregados nas fachadas
Fonte: Elaboração própria (2018)

Fig. 7 - Materiais empregados nas fachadas


Fonte: Elaboração própria (2018)

Com relação aos dois dados de informações para a EI, conforme a figura 8, temos no Galpão 1 e
Galpão 2 uma diferença de 22% referente ao resultado Total Nacional e 23% para o Total do ICE.
Comparando o Galpão 2 com resultados do Total de ICE x Total Nacional tem-se 20% e para o
Galpão 1 tem-se 19%. Com isso, as diferenças apresentadas entre as fontes de dados não apresenta-
se grande.
No entanto para a emissão de CO2 os valores são bem diferentes como mostra a figura 9, as barras
demonstram resultados expressivos, isso por causa, da literatura nacional não encontrar informações
o que gerou dados incompletos em comparação com a base de dado internacional. Assim para o
Galpão 1 apresenta 94% em comparação com o Total de ICE e Total Nacional e para o Galpão 2
tem-se 99% na comparação dos dois resultados.
Fig.8 - Materiais empregados nas fachadas
Fonte: Elaboração própria (2018)

Fig. 9 - Materiais empregados nas fachadas


Fonte: Elaboração própria (2018)

Vale destacar que a literatura internacional adota valores para os materiais conforme a sua religião,
os tipos de fonte de energia e tipo de fabricações, que no caso, para o Brasil são elementos que
diferencial do contexto do país.

6. CONCLUSÃO

Foi realizado levantamentos de materiais empregados na envoltória de dois galpões para avaliação
da energia incorporada (EI) e emissão de CO2 conforme a base de dados de referência de literatura
nacional e internacional da Inventory of Carbon & Energy (ICE) version 2.0. Assim, o estudo
realizou uma comparação das informações das duas bases de dados, buscando analisar o grau de
diferença e informações que elas possuem.
Conclui-se que alguns materiais apresentam maior impacto ambiental, pois o EI tem taxa alta isso é
devido ao gasto de energia no processo produtivo.
A limitação do trabalho é obter informações nacionais, pois o número de dissertações e teses com o
tema de ACV vem aumentando no decorrer do tempo, porém ainda não há uma base de dados com
os resultados concentrado, isso dificulta a análise, pois nem todos os materiais são possíveis de
encontrar.
E por fim, recomenda-se para futuros trabalhos que seja analisado o quanto de EI e emissão de CO2
cada galpão apresenta, para isso, é necessário o levantamento quantitativo dos materiais e trabalhar
com a composição unitária de acordo com o TCPO, pois assim será possível quantificar todos os
elementos. Além disso, apesar dos esforços que o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável
tem apresentado, é importante que tenhamos uma base de dados consolidada para que desta forma
os pesquisadores ou profissionais possam coletar informações e poder escolher materiais que
tenham menor impacto ambiental.

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ESTUDO EXPERIMENTAL DAS CARACTERÍSTICAS DO CONCRETO
UTILIZADO NA CONFECÇÃO DE BLOCO COM VIDRO TRITURADO
COMO AGREGADO MIÚDO
Experimental study on the features of concrete made
with crushed glass as fine aggregate for blocks manufacture

Armando Preizal FERREIRA*1, M. Sc. UFF; Emil de Souza SÁNCHEZ FILHO1 D. Sc.;
Cláudia Valéria Gávio COURA2 D. Sc.;Sérgio KITAMURA2 D. Sc.
* preizal@uol.com.br
1
Universidade Federal Fluminense, RJ, Brasil
2
Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais, MG, Brasil;

RESUMO

Este trabalho apresenta os resultados de ensaios realizados com concretos utilizados na fabricação
de blocos fabricados com vidro temperado e vidro laminado, moído, ou agregado miúdo de vidro
triturado (AMVT) em substituição integral ao pó de pedra, isto é, agregado miúdo natural (AMN).
Avalia as propriedades mecânicas do concreto endurecido utilizado na confecção desses blocos. O
concreto foi ensaiado à compressão axial, tração à compressão diametral, tração à flexão, retração
hidráulica, módulo de elasticidade, coeficiente de Poisson, absorção de água por imersão e por
sucção capilar, e velocidade de propagação de ondas ultrassônicas. Nos ensaios de resistência à
compressão axial, tração à compressão diametral, tração à flexão, retração hidráulica, módulo de
elasticidade, e coeficiente de Poisson as curvas de correlação paralela indicam que: (a) a troca dos
agregados altera a resistência de um valor constante, (b) as resistências do concreto com agregado
miúdo natural e com vidro triturado aumentam efetivamente com o passar do tempo; (c) o uso do
vidro triturado não afeta o comportamento de aumento da resistência do concreto. Nos ensaios de
absorção de água o comportamento foi muito semelhante ao previamente descrito, ocorrendo um
ligeiro aumento da absorção no concreto com agregado de vidro triturado. Na propagação da
velocidade de ondas ultrassônicas o aumento de velocidade foi mais acentuado no concreto com
agregado miúdo natural.

Palavras-chave: agregado alternativo, pó de pedra, rejeito de vidro.

ABSTRACT

This paper presents the results of tests of concrete prepared with tempered glass, crushed laminated
glass, or the small aggregate of crushed glass, as full substitutes for the stone powder, or small
natural aggregate. It evaluates the mechanical properties of the cured concrete used in the
production of blocks. The concrete was tested for axial strength, diametrical tensile strength, flexure
tensile strength, hydraulic shrinkage, elasticity module, Poisson's coefficient, water sorptivity, and
ultrasound waves propagation speed. The correlation curve on the tests on axial strength,
diametrical tensile strength, flexure tensile strength, hydraulic shrinkage, elasticity module, and
Poisson's coefficient indicate that (a) the substitution of the aggregate alters the strength of a
constant value, (b) the strengths of concrete made with small natural aggregate and with crushed
glass increase along the time passing, and (c) that the use of crushed glass does not affect the
increase of concrete strength. The results of the tests on water sorptivity were highly similar to the
previously described results, with a slight increase of sorptivity on the case of the concrete made of
small aggregate of crushed glass. The ultrasound propagation speed was higher on the concrete
made of small natural aggregate.

Keywords: alternative aggregate, fine gravel, glass waste.

Introdução
O programa experimental desenvolvido buscou avaliar a substituição do agregado miúdo natural
(pó de pedra) por agregado miúdo de vidro triturado no concreto para a produção de blocos, quando
solicitadas à compressão axial, tração à compressão diametral, tração à flexão, retração hidráulica,
módulo de elasticidade, coeficiente de Poisson, absorção de água por imersão e por sucção capilar,
e velocidade de propagação de ondas ultrassônicas.

1. Características dos materiais


O vidro é um material 100% reciclável e largamente utilizado. Suas propriedades mecânicas
incluem elevados valores de resistência à compressão, à tração e ao desgaste. Mais de 70% de sua
matéria é constituída por sílica ( ), o que lhe confere boas propriedades pozolânicas,
caracterizando-o como potencial constituinte para o concreto.

2. Propriedades físicas
O vidro tem densidades muito variáveis. Considera-se aceitável a densidade de 2,5, que dá massa de
2,5 kg/dm³ por mm de espessura para vidros planos. A dureza superficial do vidro, determinada
pela escala de MOHS, é de 6,5. O vidro é dezesseis vezes mais resistente à abrasão do que o
granito. Seu coeficiente de condutibilidade térmica é de K = 0,79 Kcal/hm ºC, em média. O calor
específico do vidro é C = 0,19 Kcal/kg ºC a C = 0,20 Kcal/kg ºC, de 5 a 10 vezes maior do que o da
água (PETRUCCI, 2007).
6
O coeficiente de dilatação térmica do vidro é de á = 8,6 x 10 . Em termos de resistência química, o
vidro é praticamente inalterável na água, que dissolve em quantidades muito pequenas os álcalis
nele contidos.

3. Propriedades mecânicas
O vidro é um material perfeitamente elástico, pois nunca apresenta deformação permanente. É,
porém, frágil. Se submetido a uma flexão crescente, rompe sem apresentar sinais precursores. Seu
módulo de elasticidade é de 60 GPa a 80 GPa. O coeficiente de Poisson do vidro é de 0,22, ao passo
que, no concreto, esse coeficiente varia de 0,11 a 0,21. A NBR 6118:2014 admite que o =0,20. O
índice de resistência do vidro à tração varia de 3 MPa a 70 MPa, a depender da duração da carga
(em cargas permanentes, a resistência à tração diminui em cerca de 40%); do índice de umidade
(redução de até 20%); da temperatura; do grau de polimento da superfície; do corte e estado dos
bordos; e dos componentes e suas proporções.
A resistência do vidro à compressão é muito elevada, de cerca de 1000 MPa. Em termos práticos,
isso significa que para quebrar um cubo de 1 cm de lado, a força necessária será da ordem de 100
kN. A resistência do vidro à ruptura por flexão é 40 MPa para vidro recozido, e 120 MPa a 200
MPa para vidro temperado, a depender da espessura, da manufatura dos bordos e tipo de fabrico.
As propriedades físicas e mecânicas acima caracterizadas são relevantes para melhor compreensão
da utilização do vidro como alternativa na substituição do AMN (BARROS, 2010).

4. O vidro como agregado miúdo no concreto – AMVT


O resíduo de vidro utilizado nesta pesquisa é do tipo de segurança: vidro laminado e vidro
temperado, ambos utilizados em automóveis. O vidro laminado é composto por placas de vidro
unidas por camadas intermediárias de polivinil butiral (PVB). Em caso de quebra, os estilhaços
ficam presos nessa camada intermediária. O vidro temperado é obtido por meio do processo de
têmpera, que compreende o aquecimento da matéria prima a cerca de 700°C, e subsequente
resfriamento por jatos de ar. O choque térmico produz no vidro ainda sob pressão tensões que se
distribuem uniformemente sobre sua inteira superfície, tornando-o mais resistente à compressão. A
resistência típica do vidro comum é de cerca de 40 MPa, a tensão do vidro temperado é de cerca de
100 MPa. Logo, a resistência efetiva do vidro temperado será de 140 MPa.
AMN – Agregado miúdo natural: O pó de pedra é um material de origem mineral, dividido em
grânulos, composto basicamente de (dióxido de silício), com diâmetro variando de 0,063 mm
a 2,0 mm. Forma-se por processos industriais de britagem. Os agregados exercem grande influência
nas propriedades do concreto e são materiais granulosos provenientes de rochas estáveis, sendo
classificados em miúdos e graúdos. Os agregados miúdos são representados pela areia e os graúdos,
pelas britas.
AG – Agregados graúdos: a NBR 7211:2009 fixa as características exigidas para os agregados
graúdos como aqueles que passem por peneira de 75 mm e fiquem retidos na peneira de 4,75 mm. O
agregado graúdo utilizado em blocos de concreto é a chamado brita zero, cuja granulometria varia
de 4,8 mm a 9,5 mm. O concreto dos blocos e dos corpos de prova utilizou agregados nas seguintes
granulometrias: pó de pedra de 0 a 5 mm, brita 00 de 3 a 5 mm, e brita 0 de 5 a 12 mm.
Água: a água utilizada na produção dos blocos de concreto da fábrica foi coletada de poço artesiano
localizado na região da pedreira, bastante distante de áreas de contaminação.
Cimento: foi utilizado o cimento CPV ARI PLUS, da HOLCIM do Brasil S.A.
Aditivo: para melhorar o acabamento, aumentar a resistência, e reduzir a fissuração, a
permeabilidade e a água foi usado o aditivo MasterCast 610, da Basf.

5. Programa experimental
Cuidou-se para que a granulometria do agregado miúdo de vidro triturado AMVT fosse semelhante
a granulometria do agregado miúdo natural AMN. A composição dos traços incluiu cimento, areia
artificial (pó de pedra), areia grossa, brita 00 (pedrisco), brita 0 em quilos, e um litro de aditivo
Rheomix 610. Deu-se início à produção dos blocos.
Para 4 MPa 74:458:140:105 ou 1:6,19:1,89:1,42 ou 1:9,50
Para 6 MPa 101:447:136:102 ou 1:4,43:1,35:1,01 ou 1:6,78
Para 8 MPa 123:435:133:100 ou 1:3,54:1,08:0,81 ou 1:5,43
Para 10 MPa 158:419:128:96 ou 1:2,65:0,81:0,61 ou 1:4,07
Foram utilizadas as seguintes quantidades de água e fatores água/cimento:
Para 4 MPa 74 kg de cimento e 64,66 litros de água – a/c = 0,87
Para 6 MPa 101 kg de cimento e 59,69 litros de água – a/c = 0,59
Para 8 MPa 123 kg de cimento e 64,66 litros de água – a/c = 0,52
Para 10 MPa 158 kg de cimento e 59,69 litros de água – a/c = 0,37
O agregado miúdo natural teve módulo de finura de 2,41, massa específica real de 2,66 kg/dm³, e
massa específica aparente seca de 1,51 kg/dm³. O agregado miúdo de vidro triturado, teve módulo
de finura de 2,06, massa específica real de 2,54 kg/dm³, e massa específica aparente seca de 1,35
kg/dm³.

6. Os ensaios
Nos ensaios foram utilizados concretos nas resistências 4 MPa, 6 MPa, 8 MPa e 10 MPa. Os
ensaios foram realizados no Laboratório de Materiais de Construção do Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais, Campus Juiz de Fora (COURA, 2009)
e (KITAMURA, 2011). Ensaiaram-se três corpos de prova para cada resistência, num total de doze
com a utilização do agregado AMN, e doze com AMVT. Os corpos de prova cilíndricos utilizados
foram produzidos com pó de pedra como AMN e também com AMVT.
As principais características estudadas foram: resistência à compressão; resistência à tração por
compressão diametral; resistência à flexão; módulo de elasticidade e coeficiente de Poisson. Assim
como as seguintes propriedades: absorção de água por imersão; absorção de água por capilaridade;
retração hidráulica e velocidade de propagação das ondas ultrassônicas. Estes ensaios são
detalhados na Nova Normalização Brasileira para a Alvenaria Estrutural (SANCHEZ, 2013).

7. Corpos de prova de concreto


Os corpos de prova cilíndricos e prismáticos foram moldados em conformidade com a NBR
5738:2004 e a emenda NBR 5738:2008, que prescrevem os procedimentos para a moldagem e a
cura de corpos de prova. Foram todos concretados no mesmo dia e após decorrido os tempos de
cura ensaiados nas idades de 7,14, 21 e 28 dias.
Para os ensaios de compressão axial, tração por compressão, módulo de deformação, coeficiente de
Poisson, absorção por imersão, absorção por sucção capilar foi utilizado o corpo de prova cilíndrico
de 10 cm x 20 cm.
Nos ensaios do módulo de deformação e coeficiente de Poisson foi empregado o corpo de prova
cilíndrico de 15 cm x 30 cm; nos ensaios de velocidade ultrassônica, compressão de bloco e prisma
foi aplicado como corpo de prova, o bloco de concreto de 14 cm x 19 cm x 29 cm.
A cura dos corpos de prova cilíndricos foi executada de acordo com a norma NBR 5738:2004, por
submersão em tanque e em câmara úmida, quando já capeados e aguardando o ensaio.

8. Resistência à compressão axial


Os ensaios foram realizados em conformidade com a norma NBR 5739:2007 que prescreve o
método de ensaio para determinar a resistência à compressão de corpos de prova cilíndrico.
Utilizou-se corpos de prova de 10 cm x 20 cm. Os corpos de prova foram ensaiados nas idades de 7,
14, 21 e 28 dias. A força de ensaio foi aplicada continuamente e sem choque, com velocidade de
carregamento de (0,45 ± 0,15) MPa/s, sendo a força de ruptura lida em kgf e transformada em MPa.

9.1 Resistência à compressão axial – 4 MPa


Na resistência estimada de 4 MPa, a verificação da resistência à compressão axial empregou 24
corpos de prova. O coeficiente de variação apresentou valor mínimo de 4,84%, e máximo de
20,82%. Pelo Teste de Grubbs, verificou-se 1,15 como valor mais elevado, considerando-se que
1,15 é o valor crítico a cada três ensaios. No diagrama de dispersão (Figura 1) se analisa a
correlação entre os valores da resistência à compressão axial estimada de 4 MPa, obtidas nos
ensaios dos corpos de provas de concreto com relação às idades de 7, 14, 21 e 28 dias.
O coeficiente de correlação linear de Pearson indica um forte grau de correlação entre a resistência
à compressão axial dos corpos de prova de concreto em relação ao tempo. A inclinação da reta de
regressão da ordem de 0,07% para o corpo de prova de concreto fabricado com AMN é
praticamente igual à inclinação para o corpo de prova de concreto fabricado com AMVT, indica que
a troca do agregado miúdo de pó de pedra por vidro triturado altera a resistência de um valor
constante.

Figura 1 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a resistência estimada de 4


MPa à compressão axial dos corpos de prova cilíndricos com AMN e AMVT.

9.2 Resistência à compressão axial – 6 MPa


Na resistência estimada de 6 MPa, a verificação da resistência à compressão axial empregou 24
corpos de prova. O coeficiente de variação apresentou valor mínimo de 1,39%, e máximo de
19,82%. Pelo Teste de Grubbs, verificou-se 1,14 como valor mais elevado.
No diagrama de dispersão (Figura 2) se analisa a correlação entre os valores da resistência à
compressão axial estimada de 6 MPa, obtidas nos ensaios dos corpos de provas de concreto com
relação às idades de 7, 14, 21 e 28 dias.
O coeficiente de correlação linear de Pearson indica um forte grau de correlação entre a resistência
à compressão axial dos corpos de prova de concreto fabricado com AMN e a resistência à
compressão axial dos corpos de prova de concreto fabricado com AMVT. A inclinação da reta de
regressão, que é da ordem de 0,5% para o corpo de prova de concreto fabricado com AMN e de
0,7% para o corpo de prova de concreto fabricado com AMVT, indica que a resistência do concreto
com AMVT é cerca de 0,2% menor que a resistência do concreto com AMN nos corpos de prova
cilíndricos.
Figura 2 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a resistência estimada de 6
MPa à compressão axial dos corpos de prova cilíndricos com AMN e AMVT.

9.3 Resistência à compressão axial – 8 MPa


Na resistência estimada de 8 MPa, a verificação da resistência à compressão axial empregou 24
corpos de prova. O coeficiente de variação apresentou valor mínimo de 4,02%, e máximo de
11,66%. Pelo Teste de Grubbs, verificou-se 1,15 como valor mais elevado.
No diagrama de dispersão (Figura 3) se analisa a correlação entre os valores da resistência à
compressão axial estimada de 8 MPa, obtidas nos ensaios dos corpos de provas de concreto com
relação às idades de 7, 14, 21 e 28 dias.
O coeficiente de correlação linear de Pearson indica um forte grau de correlação entre a resistência
à compressão axial dos corpos de prova de concreto fabricado com AMN e a resistência à
compressão axial dos corpos de prova de concreto fabricado com AMVT. A inclinação da reta de
regressão, que é da ordem de 0,7% para o corpo de prova de concreto fabricado com AMN e de
0,6% para o corpo de prova de concreto fabricado com AMVT, indica que a resistência do concreto
com AMVT é cerca de 0,1% menor que a resistência do concreto com AMN nos corpos de prova
cilíndricos.

Figura 3 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a resistência estimada de 8


MPa à compressão axial dos corpos de prova cilíndricos com AMN e AMVT.

9.4 Resistência à compressão axial – 10 MPa


Na resistência estimada de 10 MPa, a verificação da resistência à compressão axial empregou 24
corpos de prova. O coeficiente de variação apresentou valor mínimo de 3,52%, e máximo de
12,13%. Pelo Teste de Grubbs, verificou-se 1,15 como valor mais elevado. No diagrama de
dispersão (Figura 4) se analisa a correlação entre os valores da resistência à compressão axial
estimada de 10 MPa, obtidas nos ensaios dos corpos de provas de concreto com relação às idades de
7, 14, 21 e 28 dias.
O coeficiente de correlação linear de Pearson indica um forte grau de correlação entre a resistência
à compressão axial dos corpos de prova de concreto fabricado com AMN e a resistência à
compressão axial dos corpos de prova de concreto fabricado com AMVT. A inclinação da reta de
regressão que é da ordem de 0,4% para o corpo de prova de concreto fabricado com AMN e de
0,7% para o corpo de prova de concreto fabricado com AMVT, indica que a resistência do concreto
com AMVT é cerca de 0,3% menor que a resistência do concreto com AMN nos corpos de prova
cilíndricos.
Figura 4 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a resistência estimada de
10 MPa à compressão axial dos corpos de prova cilíndricos com AMN e AMVT.

9. Resistência à tração por compressão diametral


Os ensaios foram realizados em conformidade com a norma NBR 7222:2011, que prescreve o
método de ensaio para a determinação da resistência à tração por compressão diametral de corpos
de prova cilíndricos. Foram utilizados os corpos de prova 10 cm x 20 cm.
Os corpos de prova foram ensaiados nas idades de 7, 14, 21 e 28 dias. A força de ensaio foi aplicada
continuamente e sem choque, com velocidade de carregamento de (0,05 ± 0,02) MPa/s, até a
ruptura do corpo de prova, sendo a força de ruptura lida em kgf e transformada em KN.
O resultado das resistências à tração por compressão diametral é a média dos resultados obtidos
com três corpos de prova ensaiados na mesma idade.
A aplicação de duas forças concentradas e diametralmente opostas de compressão em um cilindro,
gera, ao longo do diâmetro solicitado, tensões de tração uniformes perpendiculares a este diâmetro.
Esse ensaio é adotado pela ASTM C 496, BS 1881-117 e ISO 4108.

10.1 Resistência à tração por compressão diametral – 4 MPa


Na resistência estimada de 4 MPa a verificação da resistência à tração por compressão diametral
empregou 24 corpos de prova. O coeficiente apresentou valor mínimo de 4,82%, e máximo de
22,93%. Pelo Teste de Grubbs, verificou-se 1,14 como valor mais elevado, considerando-se que
1,15 é o valor crítico a cada três ensaios. No diagrama de dispersão (Figura 5) se analisa a
correlação entre os valores da resistência à tração por compressão diametral estimada de 4 MPa,
obtidas nos ensaios dos corpos de provas de concreto com relação às idades de 7, 14, 21 e 28 dias.
O coeficiente de correlação linear de Pearson indica um forte grau de correlação entre a resistência
à tração por compressão diametral dos corpos de prova de concreto fabricado com AMN e a
resistência à tração por compressão diametral dos corpos de prova de concreto fabricado com
AMVT. A inclinação da reta de regressão que é da ordem de 0,009% para o corpo de prova de
concreto fabricado com AMN e de 0,0087% para o corpo de prova de concreto fabricado com
AMVT, indica que a resistência do concreto com AMVT é cerca de 0,0009% menor que a
resistência do concreto com AMN nos corpos de prova cilíndricos.
Figura 5 – Coeficiente de correlação linear de Pearson para a resistência estimada de 4 MPa à
compressão diametral dos corpos de prova cilíndricos com AMN e AMVT.

10.2Resistência à tração por compressão diametral – 6 MPa


Na resistência estimada de 6 MPa a verificação da resistência à tração por compressão diametral
empregou 24 corpos de prova. O coeficiente de variação apresentou valor mínimo de 4,82%, e
máximo de 22,93%. Pelo Teste de Grubbs, verificou-se 1,14 como valor mais elevado. No
diagrama de dispersão (Figura 6) se analisa a correlação entre os valores da resistência à tração por
compressão diametral estimada de 6 MPa, obtidas nos ensaios dos corpos de provas de concreto
com relação às idades de 7, 14, 21 e 28 dias. O coeficiente de correlação linear de Pearson indica
um forte grau de correlação entre a resistência à tração por compressão diametral dos corpos de
prova de concreto fabricado com AMN e a resistência à tração por compressão diametral dos corpos
de prova de concreto fabricado com AMVT. A inclinação da reta de regressão que é da ordem de
0,0054% para o corpo de prova de concreto fabricado com AMN e de 0,0049% para o corpo de
prova de concreto fabricado com AMVT, indica que a resistência do concreto com AMVT indica
crescimento de resistências semelhantes.

Figura 6 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a resistência estimada de 6


MPa à tração por compressão diametral dos corpos de prova cilíndricos com AMN e AMVT.

10.3 Resistência à tração por compressão diametral – 8 MPa


Na resistência estimada de 8 MPa a verificação da resistência à tração por compressão diametral
empregou 24 corpos de prova. O coeficiente de variação apresentou valor mínimo de 4,82%, e
máximo de 22,93%. Pelo Teste de Grubbs, verificou-se 1,14 como valor mais elevado. No
diagrama de dispersão (Figura 7) se analisa a correlação entre os valores da resistência à tração por
compressão diametral estimada de 4 MPa, obtidas nos ensaios dos corpos de provas de concreto
com relação às idades de 7, 14, 21 e 28 dias. O coeficiente de correlação linear de Pearson indica
um forte grau de correlação entre a resistência à tração por compressão diametral dos corpos de
prova de concreto fabricado com AMN e a resistência à compressão axial dos corpos de prova de
concreto fabricado com AMVT. A inclinação da reta de regressão que é da ordem de 0,006% para o
corpo de prova de concreto fabricado com AMN e de 0,0054% para o corpo de prova de concreto
fabricado com AMVT, indica que a resistência do concreto com AMVT indica crescimento de
resistências semelhantes.

Figura 7 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a resistência estimada de 8


MPa à tração por compressão diametral dos corpos de prova cilíndricos com AMN e AMVT.

10.4 Resistência à tração por compressão diametral – 10 MPa


Na resistência estimada de 10 MPa a verificação da resistência à tração por compressão diametral
empregou 24 corpos de prova. O coeficiente de variação apresentou valor mínimo de 8,57%, e
máximo de 21,11%. Pelo Teste de Grubbs, verificou-se 1,14 como valor mais elevado.
No diagrama de dispersão (Figura 8) se analisa a correlação entre os valores da resistência à tração
por compressão diametral estimada de 10 MPa, obtidas nos ensaios dos corpos de provas de
concreto com relação às idades de 7, 14, 21 e 28 dias.

Figura 8 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a resistência estimada de


10 MPa à compressão diametral dos corpos de prova cilíndricos com AMN e AMVT.

O coeficiente de correlação linear de Pearson indica um forte grau de correlação entre a resistência
à tração por compressão diametral dos corpos de prova de concreto fabricado com AMN e a
resistência à tração por compressão diametral dos corpos de prova de concreto fabricado com
AMVT. A inclinação da reta de regressão que é da ordem de 0,0093% para o corpo de prova de
concreto fabricado com AMN e de,0,0067% para o corpo de prova de concreto fabricado com
AMVT, indica que a resistência do concreto com AMVT é inferior mas não muito inferior ao
concreto com AMN.

10. Retração hidráulica


Os ensaios foram realizados em conformidade com a norma NM 131:97 que prescreve o método de
ensaio para determinação da retração hidráulica do concreto. Foi utilizado um relógio comparador
digital da marca Mitutoyo com precisão de 0,001 mm para a determinação da redução volumétrica
ocorrida no concreto. Em cada corpo de prova de 10 cm x 10 cm x 30 cm foram fixadas três hastes
de ferro criando assim dois intervalos para as respectivas medições. Dessa forma, cada corpo de
prova gerou duas medidas. Para cada resistência em concreto com AMN e AMVT foram ensaiados
três corpos de prova, o que resultou em seis medições para cada situação mencionada. A frequência
de medidas obedeceu ao seguinte critério: leituras a 1, 7, 14, 21 e 28 dias. A retração do concreto se
deve à pasta de cimento, então, quanto maior o consumo de agregado, menor será a retração e
menor a probabilidade de fissuração com o aumento da vida útil da estrutura.

11.1 Retração hidráulica – 4 MPa


Na resistência estimada de 4 MPa a verificação dos índices de retração hidráulica empregou três
corpos de prova com AMN, e três com AMVT, tendo sido realizadas duas medições em cada corpo
de prova. O coeficiente de variação se manteve abaixo dos 25%, resultando em 5,03% como valor
mínimo, e 19,58% como valor máximo. Pelo Teste de Grubbs verificou-se 1,71 como valor mais
elevado, considerando-se que para ensaios com seis amostras o valor crítico é de 1,89
No diagrama de dispersão (Figura 9) se analisa a correlação entre os valores da retração hidráulica
estimada de 4 MPa, obtidas nos ensaios dos corpos de provas de concreto com relação às idades de
7, 14, 21 e 28 dias. Para a retração e o tempo em escala logarítmica as curvas se sobrepõem.

Figura 9 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a retração hidráulica na


resistência estimada de 4 MPa dos corpos de prova prismáticos com AMN e AMVT.

11.2 Retração hidráulica – 6 MPa


Na resistência estimada de 6 MPa a verificação dos índices de retração hidráulica empregou três
corpos de prova com AMN, e três com AMVT, tendo sido realizadas duas medições em cada corpo
de prova. O coeficiente de variação resultou em 0,79% como valor mínimo, e 18,44% como valor
máximo. Pelo Teste de Grubbs verificou-se 1,68 como valor mais elevado. No diagrama de
dispersão (Figura 10) se analisa a correlação entre os valores da retração hidráulica estimada de 6
MPa, obtidas nos ensaios dos corpos de provas de concreto com relação às idades de 7, 14, 21 e 28
dias. Para a retração e o tempo em escala logarítmica as curvas se sobrepõem.
Figura 10 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a retração hidráulica na
resistência estimada de 6 MPa dos corpos de prova prismáticos com AMN e AMVT.

11.3 Retração hidráulica – 8 MPa


Na resistência estimada de 8 MPa a verificação dos índices de retração hidráulica empregou três
corpos de prova com AMN, e três com AMVT, tendo sido realizadas duas medições em cada corpo
de prova. O coeficiente de variação resultou em 0,66% como valor mínimo, e 24,73% como valor
máximo. Pelo Teste de Grubbs verificou-se 1,77 como valor mais elevado. No diagrama de
dispersão (Figura 11) se analisa a correlação entre os valores da resistência à tração por compressão
diametral estimada de 8 MPa, obtidas nos ensaios dos corpos de provas de concreto com relação às
idades de 7, 14, 21 e 28 dias. Para a retração e o tempo em escala logarítmica as curvas se
sobrepõem.

Figura 11 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a retração hidráulica nas
resistências estimadas de 8 MPa dos corpos de prova prismáticos com AMN e AMVT.

11.4 Retração hidráulica – 10 MPa


Na resistência estimada de 10 MPa a verificação dos índices de retração hidráulica empregou três
corpos de prova com AMN, e três com AMVT, tendo sido realizadas duas medições em cada corpo
de prova. O coeficiente de variação resultou em 6,22% como valor mínimo, e 18,62% como valor
máximo. Pelo Teste de Grubbs verificou-se 1,73 como valor mais elevado. No diagrama de
dispersão (Figura 12) se analisa a correlação entre os valores da resistência à tração por compressão
diametral estimada de 10 MPa, obtidas nos ensaios dos corpos de provas de concreto com relação às
idades de 7, 14, 21 e 28 dias. Para a retração e o tempo em escala logarítmica as curvas se
sobrepõem.
Figura 12 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a retração hidráulica na
resistência estimada de 10 MPa dos corpos de prova prismáticos com AMN e AMVT.

11. Resistência à tração na flexão


Os ensaios foram realizados em conformidade com a norma NBR 12142:2010 que prescreve o
método de ensaio para a determinação da resistência à tração de corpos de prova prismáticos. Os
corpos de prova utilizados foram de 15 cm x 15 cm x 50 cm carregados continuamente, e sem
choques, com crescimento constante a uma velocidade de 0,9 a 1,2 MPa/minuto até a ruptura. A
distância entre cutelos de suporte foi de 150 mm.
De acordo com os 24 corpos de prova utilizados nesses ensaios o coeficiente de variação indicou o
valor mínimo de 2,95% e o máximo de 20,35%. O valor mais alto correspondeu à mesma marca
estipulada a cada três ensaios, que é relativa ao valor crítico de 1,15, segundo o Teste de Grubbs.
No diagrama de dispersão (Figura 13) se analisa a correlação entre os valores das resistências à
tração na flexão nos ensaios dos corpos de prova de concreto com relação às resistências de
referência.

Figura 13 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a resistência à tração na


flexão dos corpos de prova prismáticos com AMN e AMVT aos 28 dias.

O coeficiente de correlação linear de Pearson indica um forte grau de correlação entre a resistência
à tração por flexão dos corpos de prova de concreto fabricado com AMN e a resistência à tração por
flexão dos corpos de prova de concreto fabricado com AMVT. A inclinação da reta de regressão,
que é da ordem de 0,07% para o corpo de prova de concreto fabricado com AMN e de 0,067% para
o corpo de prova de concreto fabricado com AMVT, indica que a resistência à tração por flexão do
concreto com AMVT é cerca de 0,003% menor que a resistência à tração por flexão do corpo de
prova de concreto com AMN.
12. Módulo de elasticidade
Os ensaios foram realizados em conformidade com a norma NBR 8522:2008 que prescreve o
método de ensaio para determinação do módulo estático de elasticidade à compressão de corpos de
prova cilíndricos. Os corpos de prova empregados foram de 15 cm por 30 cm. Antes da realização
do ensaio de três corpos de prova para a determinação do módulo de elasticidade, dois corpos de
prova do mesmo concreto foram ensaiados para obter a resistência à compressão. O módulo de
elasticidade foi determinado sob carregamento estático à compressão axial simples, aplicando-se
um carregamento crescente à velocidade de (0,45 ± 0,15) MPa/s, até que fosse alcançada uma
tensão de aproximadamente 30% da resistência à compressão do concreto Nesses ensaios o
coeficiente de variação apresentou o valor mínimo de 2,18% e o máximo de 12,92%. Foram
utilizados 24 corpos de prova. Aplicando-se o Teste de Grubbs o valor mais alto identificado foi de
1,15, que corresponde ao mesmo valor crítico determinado a cada três ensaios. No diagrama de
dispersão (Figura 14) se analisa a correlação entre os valores dos módulos de elasticidade nos
ensaios dos corpos de prova de concreto com relação às resistências de referência. O coeficiente de
correlação linear de Pearson indica um forte grau de correlação entre o módulo de elasticidade dos
corpos de prova de concreto fabricado com AMN e o módulo de elasticidade dos corpos de prova
de concreto fabricado com AMVT. A inclinação da reta de regressão que é da ordem de 36% para o
corpo de prova de concreto fabricado com AMN e de 27% para o corpo de prova de concreto
fabricado com AMVT, indica que o módulo de elasticidade do concreto com AMVT é cerca de 9%
menor que o módulo de elasticidade do corpo de prova de concreto com AMN.

Figura 14 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para o módulo de elasticidade


dos corpos de prova cilíndricos com AMN e AMVT aos 28 dias.

13. Coeficiente de Poisson


Os corpos de prova cilíndricos foram de 15 cm x 30 cm. O coeficiente de variação nesses ensaios
mostrou o valor mínimo de 3,94% e máximo de 21,82%, a partir da análise dos 24 corpos de prova.
Os resultados do Teste de Grubbs corroboram o valor mais alto encontrado que foi 1,15, isto é, o
mesmo fixado para o valor crítico em ensaios com três amostras.
No diagrama de dispersão (Figura 15) se analisa a correlação entre os valores dos coeficientes de
Poisson nos ensaios dos corpos de prova de concreto com relação às resistências de referência.
O coeficiente de correlação linear de Pearson indica um forte grau de correlação entre o coeficiente
de Poisson dos corpos de prova de concreto fabricado com AMN e o coeficiente de Poisson dos
corpos de prova de concreto fabricado com AMVT. A inclinação da reta de regressão que é da
ordem de 0,012%, para o corpo de prova de concreto fabricado com AMN e de 0,015% para o
corpo de prova de concreto fabricado com AMVT, indica que o coeficiente de Poisson do concreto
com AMVT é cerca de 0,003% menor que o coeficiente de Poisson do corpo de prova de concreto
com AMN.

Figura 15 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para o coeficiente de Poisson


dos corpos de prova cilíndricos com AMN e AMVT aos 28 dias.

14. Absorção de água por imersão


Os ensaios foram realizados em conformidade com a norma NBR 9778:2009 que prescreve o
método de ensaio para a determinação da absorção de água por imersão. Os corpos de prova
utilizados foram de 10 cm x 20 cm, que atendem a quantidade mínima de material a ser ensaiada.
Examinando-se os 24 corpos de prova foi identificado no coeficiente de variação o valor mínimo de
0,43% e máximo de 9,79%, sem que houvesse resultado além de 25%. De acordo com o Teste de
Grubbs o valor mais alto foi de 1,15, o mesmo valor crítico determinado para cada três ensaios. No
diagrama de dispersão (Figura 16) se analisa a correlação entre os valores das absorções de água por
imersão obtidos nos ensaios dos corpos de prova de concreto com relação às resistências de
referência. O coeficiente de correlação linear de Pearson indica um forte grau de correlação entre a
absorção de água por imersão dos corpos de prova de concreto fabricado com AMN e a absorção de
água por imersão dos corpos de prova de concreto fabricado com AMVT. A inclinação da reta de
regressão que é da ordem de 61% para o corpo de prova de concreto fabricado com AMVT e de
69% para o corpo de prova de concreto fabricado com AMN, indica que a absorção de água por
imersão do concreto com AMN é cerca de 8% menor que a absorção de água por imersão do corpo
de prova de concreto com AMVT.

Figura 16 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a absorção de água por
imersão nos corpos de prova cilíndricos com AMN e AMVT aos 28 dias.
15. Absorção de água por sucção capilar
Os ensaios foram realizados em conformidade com a norma NBR 9779:2012, que prescreve o
método de ensaio de determinação da absorção de água por capilaridade. Foram utilizados corpos
de prova de 10 cm x 20 cm que atendem a quantidade mínima de material a ser ensaiada. Nesses
ensaios compostos por 24 corpos de prova, o coeficiente de variação apresentou o valor mínimo de
0,52% e o máximo de 15,56%. Aplicado o Teste de Grubbs, onde para ensaios com três amostras o
valor crítico é de 1,15, o valor mais alto observado foi de 1,14. No diagrama de dispersão (Figura
17) se analisa a correlação entre os valores das absorções de água por sucção capilar obtidas nos
ensaios dos corpos de prova de concreto com relação às resistências de referência. O coeficiente de
correlação linear de Pearson indica um forte grau de correlação entre a absorção de água por sucção
capilar dos corpos de prova de concreto fabricado com AMN e a absorção de água por sucção
capilar dos corpos de prova de concreto fabricado com AMVT. A inclinação da reta de regressão,
que é da ordem de 13% para o corpo de prova de concreto fabricado com AMVT e de 18% para o
corpo de prova de concreto fabricado com AMN, indica que a absorção de água por sucção capilar
do concreto com AMN é cerca de 5% menor que a absorção de água por sucção capilar do corpo de
prova de concreto com AMVT.

Figura 17 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a absorção de água por
sucção capilar nos corpos de prova cilíndricos com AMN e AMVT aos 28 dias.

16. Velocidade de propagação de ondas ultrassônicas


Os ensaios foram realizados em conformidade com a norma NBR 8802 :2013, que prescreve o
método de ensaio de determinação da velocidade de propagação de onda ultrassônica. Como corpos
de prova foram empregados os blocos de concreto de 14 cm x 19 cm x 29 cm na idade de 64 dias.
Para avaliar a homogeneidade do concreto e detectar eventuais falhas internas de concretagem, bem
como a profundidade de fissuras, dentre outras imperfeições, é frequentemente empregado o
método de ensaio não destrutivo da velocidade de propagação de ondas ultrassônicas; representa a
busca da distância percorrida por uma vibração ou distúrbio durante um intervalo de tempo. Foram
utilizados como corpos de prova blocos de concreto com as dimensões de 14 cm x 19 cm x 29 cm,
na idade de 64 dias; esses ensaios foram executados no Laboratório de Ensaios Físicos do Instituto
Politécnico do Rio de Janeiro (IPRJ – UERJ) em Nova Friburgo. No ensaio o equipamento
empregado foi o PUNDIT (Portable Ultrasonic Non Destrutive Digital Indicating Test) com
transdutores na frequência de 54 kHz de ondas compressão, diâmetro de 50 mm. O procedimento
adotado está prescrito na NBR 8808:2013, sendo empregada o tipo de transmissão denominada
direta, a saber: a posição dos transdutores no corpo de prova nas faces opostas, ao longo da altura
dos blocos, na região da mísula. Imediatamente após a moldagem os corpos de prova foram
estocados em câmara úmida, tomando-se o cuidado de proteger a superfície exposta até a idade do
ensaio, ou seja, 64 dias de idade. Nesses ensaios foram utilizados 24 corpos de prova o coeficiente
de variação comprovou os valores mínimo de 0,43% e o máximo de 8,42%. Segundo o Teste de
Grubbs o valor mais alto encontrado foi de 1,15, o mesmo observado no valor crítico de ensaios
com três amostras. No diagrama de dispersão (Figura 18) se analisa a correlação entre os valores
das velocidades de propagação de ondas ultrassônicas obtidas nos ensaios dos blocos de concreto
com relação às resistências de referência. O coeficiente de correlação linear de Pearson indica um
forte grau de correlação entre a velocidade de propagação de ondas ultrassônicas do bloco de
concreto fabricado com AMN e a velocidade de propagação de ondas ultrassônicas do bloco
fabricado com AMVT. A inclinação da reta de regressão que é da ordem de 83,65% para o bloco de
concreto fabricado com AMN e de 222,65% para o bloco de concreto fabricado com AMVT, parece
indicar que a velocidade de propagação de ondas ultrassônicas do concreto com AMVT é maior
para as resistências de 4 MPa e 6 MPa em relação ao concreto com AMN e menor em relação as
resistências estimadas de 8 MPa e 10 MPa em relação ao concreto com AMN. Cânovas (1988)
propõem o índice de qualidade do concreto com agregado graúdo (diâmetro de 19,25 a 32 mm)
conforme mostra a Tabela 1. No concreto com AMN foi constatado um crescimento da velocidade
de propagação das ondas ultrassônicas, para 4 MPa e 6 MPa abaixo de 3000 m/s, caracterizando um
concreto de má qualidade, e para 8 MPa e 10 MPa acima de 3600 m/s, indicando um concreto bom.
O concreto com AMVT apresentou um crescimento da velocidade de propagação das ondas
ultrassônicas para 4 MPa e 6 MPa acima de 3000 m/s, caracterizando um concreto aceitável, para 8
MPa acima de 3600 m/s, indicando um concreto bom e para 10 MPa abaixo de 3600 m/s, indicando
um concreto aceitável. Comparando-se o aumento das velocidades de propagação de ondas
ultrassônicas nos concretos com AMN e AMVT, foi observado que para as resistências de 4 e 6
MPa as velocidades são maiores no AMVT que no AMN. Para as resistências de 8 e 10 MPa as
velocidades são menores no AMVT que no AMN. Cânovas (1988) salienta a dificuldade de se obter
uma relação entre velocidade de propagação e resistência, em se tradando de concretos diferentes.

Figura 18 – Correlação e coeficiente de correlação linear de Pearson para a velocidade de


propagação de ondas ultrassônica nos blocos de concreto com AMN e AMVT aos 64 dias.

Tabela 1 – Velocidade de propagação de ondas ultrassônicas x qualidade do concreto


Velocidade de Propagação Linear (m/s) Qualidade do concreto armado
> 4.500 Excelente
3.600 a 4.000 Bom
3.000 a 3.600 Aceitável
2.100 a 3.000 Má
< 2.100 Muito má
17. Conclusões
Com base nos ensaios e resultados foi possível observar que a resistência à compressão axial, tração
à compressão diametral, tração à flexão, retração hidráulica, módulo de elasticidade, e coeficiente
de Poisson as curvas de correlação paralela indicam que: (a) a troca dos agregados altera a
resistência de um valor constante, (b) as resistências do concreto com agregado miúdo natural e
com vidro triturado aumentam efetivamente com o passar do tempo; (c) o uso do vidro triturado não
afeta o comportamento de aumento da resistência do concreto. Nos ensaios de absorção de água o
comportamento foi muito semelhante ao previamente descrito, ocorrendo um ligeiro aumento da
absorção no concreto com agregado de vidro triturado. Na propagação da velocidade de ondas
ultrassônicas o aumento de velocidade foi mais acentuado no concreto com agregado miúdo natural.
Com o atual crescimento da aplicação de vidro temperado e laminado, o reaproveitamento dos
resíduos gerados durante a fabricação e utilização é de grande relevância, considerando-se que
sendo utilizado na produção de concreto para blocos produziu resultados bastante satisfatórios
quando da substituição total do agregado miúdo natural AMN por agregado miúdo de vidro
triturado AMVT.

18. Referências bibliográficas


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Normas Técnicas.
BARROS, C. Apostila de vidros. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-
Grandense, Campus Pelotas, 2010.
CÁNOVAS, M. F. Patologia e Terapia do concreto armando. São Paulo: Editora Pini, 1988.
COURA C.V.G. Análise experimental sobre a substituição do agregado miúdo por mármore
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Interciência, 2013.
DESPLACAMENTO DE REVESTIMENTO CERÂMICO INTERNO NO
SISTEMA CONSTRUTIVO PAREDE DE CONCRETO MOLDADO IN LOCO

Internal ceramic coating detach from in site molded concrete wall

Patrícia Vasconcelos de Oliveira 1, Rodolfo Rabelo Neves2, Guilherme Augusto Martins Moreira3,
White José dos Santos4, Antônio Neves de Carvalho Júnior5
1
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, eng.patriciavasconcelos@gmail.com
2
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, rodolforabelon@gmail.com
3
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, guilhermemoreirabh@gmail.com
4
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, whitejsantos@gmail.com
5
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, anjunior@demc.ufmg.br

Resumo: O desplacamento cerâmico em revestimento interno tem sido um transtorno para o setor da
construção civil nos últimos anos. A ocorrência da manifestação patológica interfere no custo e prazo
da obra, além de prejudicar a credibilidade das construtoras. O destacamento das placas cerâmicas
ocorre devido à falta de aderência entre as camadas de revestimento e o substrato. Essa falta de
aderência está relacionada a uma série de fatores, como por exemplo o tipo de argamassa colante
utilizada, a execução do tratamento do substrato e o método utilizado para executar o revestimento.
Na literatura existem diversas pesquisas focadas em apresentar soluções para falta de aderência da
argamassa colante em diversos substratos utilizados na construção civil. Porém, não existem estudos
relacionados com as novas tecnologias construtivas empregadas no canteiro de obras, como por
exemplo, a parede de concreto moldado in loco. Diante desse cenário, este estudo aborda as hipóteses
que causam a falta de aderência da argamassa colante e a parede de concreto, sistema construtivo que
está cada vez mais presente nas execuções de obras no Brasil e em diversos países América Latina.
Foi analisado, a partir de pesquisas literárias, que o grau de porosidade do substrato influencia
diretamente na aderência mecânica do revestimento, uma vez que na maioria das situações, a
ancoragem da argamassa colante acontece através da migração da pasta aglomerante para o interior
dos poros do concreto. Já o grau de rugosidade da superfície potencializa a aderência química, por
aumentar a área de contato na interface do revestimento e substrato. Dessa forma, esta pesquisa
apresenta boas práticas para execução de tratamento superficial da parede de concreto, que é um
substrato considerado pouco poroso, além de possuir desmoldante impregnado em sua superfície,
produto que é imprescindível para garantir melhor execução do serviço de desforma da estrutura, mas
que prejudica de forma considerável a aderência. Para melhores resultados práticos, esta pesquisa
aborda um estudo de caso dos métodos utilizados para execução do revestimento cerâmico interno
em uma obra de parede de concreto. Pode-se verificar, a partir de resultados obtidos no teste de
arrancamento, que o tratamento da base realizado com jato de água em alta pressão e lavagem com
escova de aço, associados com a aplicação da cerâmica com dupla camada de argamassa colante tipo
II, resulta em revestimentos com bons valores de resistência à aderência e com menor probabilidade
de ocorrência do desplacamento cerâmico.

Palavras-chave: Aderência, parede de concreto, revestimento cerâmico.


Abstract: Ceramic tile detachment in internal walls has been an inconvenience to building
construction industry currently. The occurrence of this problem interferes in the cost and construction
schedule, in addition to undermining the constructor’s credibility. The detachment of ceramic tiles
occurs due to the lack of adhesion between the coating layers and the substrate. This low adhesion is
related to a number of factors, such as the type of adhesive mortar used, the base’s treatment and the
bonding method. In the literature there are several researches focused on presenting solutions for
improving adhesive mortar’s adhesion in usual substrates of civil construction. However, there are
no studies related to new constructive technologies employed on the construction site such as concrete
wall castes in place. This construction method is increasingly present in construction sites in Brazil
and in many others Latin American’ countries. Therefore, this study approaches some hypotheses
about the adhesion of adhesive mortar and concrete walls molded in site. From literary research was
verified that the substrate’s porosity directly influences mortar’s mechanical adhesion, since in most
situations the anchoring of adhesive mortar occurs through the migration of cement paste into the
pores of the concrete. The surface roughness improves the chemical adhesion by increasing the
contact area of mortar and substrate. Thus, this research presents recommendations for base’s
treatment, which is a low porous substrate, besides having a release agent impregnated on its surface,
a product that is essential to ensure formwork’ withdrawal, but which might considerably impair
adherence. Also, there is a case study of ceramic tile bonding methods used in internal walls. It could
be verified from the pull-off test that base’s cleaning made with high-pressure water jet or with steel
brush associated with an application of adhesive mortar in two layers results in coatings with good
values of pull-off strength and less probability of ceramic tile detachment.

Keywords: Adhesion, concrete wall castes in place, ceramic tile.

1. INTRODUÇÃO
O destacamento de placas cerâmicas em paredes internas tem sido um dos problemas técnicos mais
graves vividos pelo setor da construção civil. A manifestação tem ocorrido em quase todo o território
nacional nos últimos anos e em 81,4% dos casos, o problema surgiu até o segundo ano após a
aplicação [1].
A propriedade responsável pela fixação entre as camadas de revestimento cerâmico (chapisco,
emboço, argamassa colante e cerâmica) e os diversos substratos é denominada como aderência. Para
a verificação da aderência não se pode avaliar somente as propriedades dos materiais constituintes,
mas sim a interação entre as diversas camadas [2]. O mecanismo da aderência está diretamente ligado
ao tipo e teor de umidade do substrato e o tipo de argamassa aplicada [3].
Em diversos estudos, como por exemplo, FIORITO (2009); CANDIA e FRANCO (1998), os
pesquisadores concluíram que a execução do chapisco é essencial para alcançar um bom mecanismo
de aderência entre a argamassa e a base de concreto. Entretanto, atualmente no setor da construção
civil, tem sido cada vez mais incorporado o sistema construtivo parede de concreto moldado in loco,
principalmente após a publicação da ABNT NBR 16055-2012. Segundo SANTO JR (2017),
representante da Associação Brasileira de Cimento Portland em Goiás, o sistema construtivo responde
por 52% das unidades em construção e no projeto do Programa Minha Casa Minha Vida.
O sistema caracteriza-se por construir empreendimentos em larga escala em um curto prazo de tempo
e os revestimentos são executados diretamente na estrutura [7]. As placas cerâmicas, por exemplo,
são aplicadas com argamassa colante sem necessidade de execução de chapisco e emboço, como
praticado em outros métodos construtivos. Porém é necessário seguir alguns critérios com o objetivo
de evitar o desplacamento cerâmico.
Em substratos de concreto é necessário que a estrutura possua 28 dias de idade para que os
revestimentos sejam devidamente aplicados. Além disso é necessário que a película do desmoldante,
se for utilizado, seja totalmente eliminada com uso da escova de aço, detergente e água seguindo-se
a uma operação de apicoamento [8].
Diante desse cenário, essa pesquisa tem como objetivo verificar a aderência da argamassa colante
aplicada na parede de concreto, com o objetivo de investigar os materiais e as formas de execução
mais eficientes que possam atender os requisitos de resistência de aderência à tração propostos pela
ABNT NBR 13749-2013.

2. CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA DE REVESTIMENTO


O serviço de assentamento do revestimento cerâmico em um substrato qualquer é realizado com uma
camada intermediária de argamassa colante, que na maioria das vezes é industrializada. A utilização
de argamassa industrializada aumenta a qualidade e desempenho do material, isso porque a dosagem
de materiais e aditivos é rigorosamente realizada pela indústria, o que pode ser ineficiente na
argamassa rodada no canteiro de obras.
Essa camada intermediária, por ficar em contato com duas interfaces diferentes (substrato/argamassa
e argamassa/placa cerâmica) conforme exemplificado na figura 1, precisa apresentar uma boa
aderência para que o sistema de revestimento cerâmico, como um todo, manifeste o desempenho
desejado [9].

Figura 1- Sistema de aderência do revestimento cerâmico. (COSTA, 2006)


2.1. Argamassa colante industrializada
As argamassas colantes são produtos composto de areia natural ou artificial, ligantes (cimento) e
aditivos químicos que atuam como um adesivo para assentamento de revestimentos em pisos e
paredes [10]. A NBR 14081-1/2012, acrescenta nessa definição que a argamassa colante
industrializada é um produto no estado seco que quando misturado com água forma uma massa
viscosa, plástica e aderente. As argamassas colantes, de acordo com a mesma norma podem ser
classificadas em ACI, ACII, ACIII e as do tipo E e D.
Conforme representado na tabela 1 a composição das argamassas colantes se diferencia nas
quantidades de cimento, areia fina, celulósico e polímero [12].

Tabela 1- Composição das argamassas colantes. (VITORINO, 2013)


Matérias Tipos de argamassas colantes
primas AC I AC II AC III
Cimento 20% 23% 28%
Areia fina 79,80% 75,77% 69,92%
Celulósico 0,20% 0,23% 0,28%
Polímero 0,00% 1,00% 1,80%

São utilizados éteres de celulose MHEC (metil-hidroxietil-celulose) e/ou MHPC (metil-


hidroxipropil-celulose) na formulação da argamassa ACI, como aditivos que promovem a retenção
de água, aumentam a viscosidade e contribuem na resistência de aderência [10].
A composição da ACII é semelhante à ACI, porém nesse tipo de argamassa é acrescentado compostos
poliméricos, que auxiliam na adesividade da argamassa e propiciam dessa forma, uma melhor
resistência à aderência. Já a argamassa tipo III, apresenta maior quantidade de polímeros adicionados
em sua composição, o que confere maior capacidade adesiva, em comparação com as do tipo I e II.

2.2. Desempenho e aderência do revestimento


A aderência é a propriedade responsável pela fixação entre as camadas de revestimento cerâmico e
os substratos. Essa propriedade apresenta capacidade de absorver tensões normais e tangenciais à
superfície de interface argamassa/base. A capacidade de aderência da interface base-argamassa
depende de vários fatores tanto do substrato, quanto da argamassa [13].
A NBR 13528 (ABNT 2010) preconiza que a aderência não é uma propriedade exclusiva da
argamassa, mas sim da interação entre as camadas de revestimento, sendo necessário dessa forma,
conhecer as características do substrato utilizado no sistema. A aderência pode ser classificada como
mecânica obtida pelo engaste entre o substrato e a argamassa colante, ou química alcançada por meio
de forças eletrostáticas de Van Der Walls [14].

2.2.1. Aderência Mecânica


Carasek (1996) afirma que a aderência mecânica é um fenômeno caracterizado pela entrada da pasta
de cimento nos poros do substrato e que ao hidratar-se, formam hidróxidos e silicatos que promovem
a ancoragem do revestimento. A autora constatou através de análise realizada com o microscópio
eletrônico de varredura (MEV) que o intertravamento de cristais de etringita nos poros do substrato
é o principal fenômeno responsável pela resistência de aderência. Dessa forma, pode-se concluir que
as características do subtrato, principalmente o seu grau de porosidade, causa grande influência na
aderência do sistema de revestimento.

Figura 2 - Fotomicrografia (MEV) na interface bloco cerâmico e argamassa com a presença de etringita. CARVALHO
JR (2005)

2.2.2. Aderência química


A aderência química, ao contrário da mecânica, acontece através de uniões químicas entre argamassa
e o substrato, que são conduzidas por forças intermoleculares na interface. Esse processo de ligação
é regido pelas forças de Van Der Walls [17].
Na situação representada na figura 3, o substrato por ser pouco poroso, não permite a entrada da pasta
de cimento em seu interior e a aderência ocorre através dessa colagem/adesividade na interface. A
aderência química ocorre devido à presença de aditivos poliméricos presentes nas argamassas
colantes.

Figura 3 – Fotomicrografia (MEV) da interface piso e argamassa colante (sistema de assentamento de piso sobre piso).
PEREIRA, SILVA e COSTA (2013)
2.2.3. Ensaios de resistência a aderência
A NBR 13754 (ABNT 1996) especifica que ao conferir o serviço de revestimento, julgar que as placas
cerâmicas não estão aderidas à base (teste de percussão apresentar som cavo) é necessário realizar o
ensaio de arrancamento para comprovar o desempenho do sistema. Esse teste, segundo a NBR 13754
(ABNT 1996) consiste em determinar a tensão de aderência de um revestimento cerâmico, pela
aplicação de uma força simples normal aplicado em uma pastilha metálica que é colada na cerâmica.
Os resultados da resistência de aderência à tração obtidos precisam ser iguais ou superiores ao valor
de 0,3 MPa, conforme demonstrado na tabela 2, que foi reproduzida da norma.
Tabela 2 - Limites de resistência de aderência à tração (Ra). NBR 13749 (2013)
Local Acabamento Ra
Pintura ou base para reboco ≥ 0,20
Interna
Cerâmica ou laminado ≥ 0,30
Parede
Pintura ou base para reboco ≥ 0,30
Externa
Cerâmica ≥ 0,30
Teto ≥ 0,20

Ao realizar o teste de arrancamento a ruptura pode ocorrer aleatoriamente entre qualquer interface
(ruptura adesiva) ou no interior de uma das camadas (ruptura coesiva) (ABNT - NBR 13754-1996).
A identificação do local onde ocorre a ruptura é importante para diagnosticar qual a camada ou
interface apresenta menor resistência no revestimento.

2.3. Aspectos do substrato de concreto que interferem na aderência da argamassa

2.3.1. Porosidade e absorção de água

A porosidade e a absorção de água do substrato são propriedades estritamente relacionadas, uma vez
que a migração de água para o interior da base é realizada pelos poros existentes na superfície. As
características superficiais do substrato, assim com a sua porosidade influem diretamente no
transporte de água da argamassa no estado fresco para o substrato poroso. Essas características dos
poros são: o diâmetro, volume, distribuição e interconectividade. A falta dessas particularidades na
superfície do concreto influencia diretamente na resistência de aderência do sistema de revestimento
[20].

2.3.2. Rugosidade

As rugosidades são pontos de ancoragem da argamassa empregada em um substrato, que quando são
rugosos possuem maior área de contato com a argamassa, aumentando assim a resistência de
aderência. Ao contrário, uma vez que os substratos apresentarem superfícies lisas, os valores de
aderência são menores, sendo necessária assim a preparação da superfície com o objetivo de torná-la
rugosa e aumentar a área de contato com a argamassa [21].
Uma vez que os substratos apresentem a superfície pouco rugosa, é necessário executar o tratamento
superficial, com o objetivo de criar irregularidades na base, promovendo dessa forma maior área de
contato com a argamassa, potencializando a aderência do sistema de revestimento ROMERO (2010).
Essa rugosidade superficial do concreto pode ser criada de diversas formas de execução, tais como o
lixamento, escovação, apicoamento, projeção de partículas abrasivas, utilização de retardador de
pega, entre outros.

2.3.3. Resistência

Existe uma relação inversa entre a resistência e a porosidade de um sólido, sendo que a quantidade
de vazio capilar depende da quantidade de água adicionada na mistura e do grau de hidratação do
cimento. Entende-se então, que o aumento do grau de hidratação do cimento e diminuição do fator
água/cimento, implica em uma redução de porosidade capilar. Logo, quanto maior a resistência do
concreto, menor será a sua porosidade e consequentemente maior será a dificuldade de ancoragem
mecânica da argamassa em seu interior, diminuindo assim a aderência dos revestimentos aplicados
em sua superfície [23].
BECKER e ANDRADE (2017) fizeram um estudo sobre a aplicação de vários tipos de chapiscos em
concretos com resistências distintas e realizaram o teste de aderência. Os resultados encontrados estão
ilustrados no gráfico 1, onde está evidenciado que à medida que a resistência do concreto aumenta, a
resistência de aderência da argamassa e absorção de água diminuem. Ressalta-se que o concreto
utilizado no sistema construtivo paredes de concreto moldadas in loco, atinge resistências em torno
de 25 à 35 MPa aos 28 dias.

Gráfico 1 – Relação entre resistência de aderência, resistência do concreto e sua absorção. BECKER e ANDRADE
(2017)

2.3.4. Impregnação do desmoldante na base

O uso de desmoldante na parede de concreto é fundamental para que o serviço de desforma aconteça
facilmente, além de aumentar a vida útil das placas e garantir o ciclo de concretagem ocorra
regularmente. O desmoldante cria uma película fina e oleosa entre as formas e o concreto, que
impossibilita a ancoragem entre ambos. Contudo, essa película de óleo, após a desforma, fica
impregnada na superfície do concreto, fazendo com que o desmoldante presente na superfície e nos
poros exerça função hidrofugante, diminuindo a aderência da argamassa que como já visto
anteriormente, se dá na maioria das vezes pela sua ancoragem nos poros do substrato.
A remoção do desmoldante “pode ser feita de maneira mecânica - jato de areia seca ou úmida, jato
de água quente em alta pressão, química - escovamento com água e detergente, o que requer lavagem
posterior com água ou ar em alta pressão - ou com o próprio apicoamento do concreto”[25]. O autor
completa afirmando que outras boas práticas para a remoção da película de desmoldante é a escovação
da superfície do concreto com uma escova de aço e a lavagem com água pressurizada ou água
combinada com algum tipo de abrasão, como escovas de cerdas de náilon. O tratamento da superfície
não consiste apenas em realizar a limpeza do desmoldante impregnado, mas também proporcionar
rugosidade ideal na superfície e garantir a abertura dos poros do concreto para que haja perfeita
aderência com o revestimento posterior [26].

3. MÉTODOS

A metodologia utilizada para efetivação desta pesquisa foi um estudo de caso realizado em uma obra
de parede de concreto moldado in loco, localizada na cidade de Contagem/MG. Foram verificadas
as práticas realizadas na obra quanto ao preparo do substrato, os materiais utilizados e os
procedimentos adotados na execução do serviço de revestimento cerâmico interno.

Ao final, foi realizado o ensaio de arrancamento do revestimento para verificação da propriedade de


aderência do sistema. O ensaio foi realizado conforme preconizações da NBR 13754 (ABNT, 1996),
a qual normatiza a análise de aderência à tração de revestimentos de paredes internas com placas
cerâmicas e com utilização de argamassa colante. O procedimento consiste em aplicar uma força
simples normal em uma pastilha metálica que é colada na cerâmica. Essa pastilha é posicionada de
modo que o seu centro coincida com o cruzamento das juntas perpendiculares e seus lados paralelos
às juntas da cerâmica. Após a secagem da cola, deve-se cortar o revestimento cerâmico até atingir o
substrato, usando a pastilha como guia. A força normal foi aplicada com auxílio de um macaco
hidráulico equipado com um manômetro. Foram retirados 6 corpos de prova e para certificar que o
revestimento está com boa aderência, pelo menos 4 destes devem ser iguais ou maiores que 0,3 MPa.

4. RESULTADOS

4.1. Execução do tratamento superficial e aplicação do revestimento cerâmico


Antes de realizar o tratamento da base, nota-se que a parede apresenta superfície com aspecto pouco
poroso, com rebarbas de concreto no encontro das placas, além de furos de ancoragem da forma.
Dessa forma, é realizado um serviço de regularização da superfície, que consiste em retirar os resíduos
de concreto e realizar o fechamento dos pontos de ancoragem com argamassa ACII. Para aumentar a
rugosidade superficial e retirar o desmoldante impregnado na parede, a equipe utiliza de modo manual
a escova de aço e água com alta pressão para lavar o substrato. Esse tratamento da base acontece
geralmente 7 dias antes da execução do revestimento cerâmico.
(a) (b)

Figura 4 – Aspecto da parede: (a) sem tratamento superficial (b) com tratamento superficial.

Contata-se que o tratamento superficial aumentou o grau de porosidade da superfície. Isso ocorre
devido a capacidade da escova de aço em remover a nata do concreto que estava cobrindo os poros
presentes na base. Observa-se também, que as manchas escuras provenientes do resíduo de
desmoldante diminuíram após a lavagem da parede.

A placa cerâmica (25x35 cm) é aplicada com dupla colagem de argamassa colante tipo II. A
argamassa é aplicada na parede em pequenos panos com a parte lisa da desempenadeira e
posteriormente são realizados frisos na horizontal com a parte dentada (8x8x8 mm). No tardoz da
cerâmica a argamassa é aplicada com a parte dentada, de modo que os frisos da placa se cruzem com
os frisos da parede. Em seguida o pedreiro pressiona e arrasta a cerâmica para que os cordões da
argamassa sejam totalmente desfeitos, aumentando dessa forma a área de contato nas interfaces.

4.2. Ensaio de resistência de aderência à tração

Os resultados obtidos das seis amostras retiradas do revestimento cerâmico aos 28 dias são
relacionados a seguir.
Tabela 3 - Resultados do ensaio de arrancamento
N° CP Resistência de Local do
Local de ruptura
aderência (MPa) ensaio
90% interface argamassa colante com parede de
1 0,40 cozinha
concreto 10% na argamassa
90% interface argamassa colante com parede de
2 0,39 cozinha
concreto 10% na argamassa
80% interface da cerâmica com argamassa colante
3 0,65 cozinha
20% na argamassa
100% interface da cerâmica com argamassa
4 0,43 banheiro
colante
100% interface argamassa colante com parede de
5 0,41 banheiro
concreto
100% interface argamassa colante com parede de
6 0,48 banheiro
concreto
Figura 5 – Aspecto dos corpos de prova ensaiados

Conforme exposto na tabela 3, pode-se analisar que todas as seis amostras apresentaram resultados
acima de 0,30 MPa aos 28 dias, que é o valor de aderência mínimo estabelecido por norma. É possível
analisar também que o local da ruptura foi predominante de forma adesiva, na interface da argamassa
colante e parede de concreto. Conclui-se que o procedimento como a obra executa o preparo da base
e o assentamento das placas cerâmicas é viável para alcançar revestimentos com desempenho
satisfatório e duráveis.

5. CONCLUSÃO
A partir de estudos realizados durante essa pesquisa, pode-se verificar que o desempenho de um
revestimento não está associado somente à um fator principal, mas sim da interação de diversos
aspectos que precisam ser analisados desde a concepção do serviço. Os fatores responsáveis pela
durabilidade do revestimento cerâmico são as características da argamassa colante, o aspecto do
substrato quanto a sua porosidade, resistência e rugosidade, o tipo de tratamento superficial aplicado
na base, além das boas práticas executadas durante o serviço de assentamento cerâmico. A interação
de todos esses fatores supracitados, torna possível a execução de revestimentos com bom desempenho
em obas executadas com parede de concreto moldado in loco.

Pode-se analisar através do estudo de caso, que o tratamento da base realizado manualmente com
escova de aço e lavagem com água pressurizada, é suficiente para criar uma superfície apta para aderir
o revestimento na parede de concreto. Além disso, é necessário fazer o assentamento das placas
cerâmicas com dupla colagem e aplicá-las com argamassa colante industrializada tipo II. Com essa
união de procedimentos, observou-se que podem ser atingidas resistências de aderência com valores
em média de 0,46 MPa, resultado 65% acima do valor mínimo recomendado por norma.

Com essas informações obtidas é possível considerar que os efeitos da manifestação patológica do
desplacamento cerâmico ocorridas em obras de parede de concreto, podem ser minimizados através
dos cuidados com a execução do serviço, escolha do tipo de tratamento de base e tipo de argamassa.
Dessa forma é possível executar revestimentos com desempenho satisfatório em obras de parede de
concreto, além de cumprir requisitos como custo, prazo, qualidade e satisfação dos clientes.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao apoio da Universidade Federal de Minas Gerais e aos órgãos de fomento:
CAPES, FAPEMIG e CNPQ.

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RESÍDUO INDUSTRIAL ASFÁLTICO: UM ESTUDO DO POTENCIAL DE
APLICAÇÃO EM CONCRETO ASFÁLTICO

Asphaltic industrial residue: a study of the potential application in asphalt concrete

Larissa Lobato Guerra 1, Thaís Mayra de Oliveira 2, Geraldo Luciano de Oliveira Marques3
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, larissalobatog@gmail.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, thaismayra@yahoo.com.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, geraldo.marques@ufjf.edu.br

Resumo: Com a questão ambiental cada vez mais em enfoque e o aumento de restrições impostas
pelas legislações, há a necessidade de buscar alternativas sustentáveis de construção. Acrescido a
isso, há a exigência da indústria da construção por materiais duráveis e de custo reduzido, tornando
viável a utilização de resíduos industriais como forma de substituição ou composição de misturas.
Verificou-se, então, a possibilidade de aplicação de um resíduo asfáltico, proveniente de cortes de
telhas, fornecido por uma indústria privada, para incrementar misturas de concreto asfáltico
utilizadas na pavimentação. Buscou-se analisar a influência desse material no possível ganho de
propriedades mecânicas para a pavimentação, ao mesmo tempo em que visa reduzir o volume de
resíduos industriais descartados no meio ambiente. Para tanto, a metodologia consistiu,
inicialmente, em definir os agregados a serem utilizados na mistura e caracterizá-los. Seguiu-se para
a determinação da composição granulométrica do esqueleto mineral a fim de atender a faixa de
concreto asfáltico desejada no projeto (faixa b do DNIT). Utilizou-se o método de tentativas para
essa etapa. Em seguida, foram experimentados quatro teores de asfalto para a mistura de agregados
definida, utilizando a metodologia de dosagem Superpave. Através da análise de parâmetros de
importância em relação aos vazios e densidade da mistura, escolheu-se o teor de projeto de 4,9%.
Moldaram-se, então, novos corpos de prova com o teor de projeto e foram acrescentadas as fibras
provenientes do corte das telhas em três diferentes porcentagens. Moldaram-se também corpos de
prova sem fibras. Com a moldagem feita, realizaram-se os ensaios de módulo de resiliência e
resistência à tração por compressão diametral para análise dos resultados. Ao final, concluiu-se que
as misturas com inclusões apresentavam valores menores de módulo de resiliência e resistência à
tração que as sem inclusões. Entretanto, os valores são aceitáveis e compatíveis com os valores das
misturas convencionais e dos padrões exigidos pelas normas vigentes para concreto asfáltico.
Assim, através de mais ensaios para obtenção de outros parâmetros mecânicos, bem como ensaios
com fibras de outras geometrias, pode-se analisar a possibilidade da aplicação prática desse
material. Dessa forma, espera-se que essa pesquisa estimule o desenvolvimento de mais estudos na
área por ser uma iniciativa diferenciada quanto ao reaproveitamento de resíduos na pavimentação e
por mostrar o amplo campo de estudos ainda possíveis de serem realizados para gerar uma melhor
destinação dos mesmos resíduos.
Palavras-chave: concreto asfáltico, dosagem, resíduo industrial asfáltico.
Abstract: With the environmental issue increasingly in focus and the increasing restrictions
imposed by legislation, it is necessary searching sustainable construction alternatives. In addition,
the construction industry demands durable and cost-effective materials, making it possible to use
industrial waste as a substitute or mixture composition. Then, the possibility of applying asphaltic
residue from roof tiles cuts provided by a private industry to increase the asphalt concrete mixtures
used in the paving was verified. The aim was to analyze the influence of this material on the
possible gain of mechanical properties for paving, while at the same time aiming to reduce the
volume of industrial waste disposed of in the environment. For this, the methodology consisted,
initially, in defining the aggregates to be used in the mixture and to characterize them. It was
followed for the determination of the granulometric composition of the mineral skeleton in order to
meet the desired asphalt concrete strip in the project (track b of the DNIT). The trial method was
used for this step. Then, four asphalt contents were tested for the defined aggregate mixture using
the Superpave dosage methodology. Through the analysis of parameters of importance in relation to
voids and density of the mixture, the design content of 4.9% was chosen. New specimens were then
molded with the design content and the fibers from the cut of the roof tiles were added in three
different percentages. Fiber-free test bodies were also molded. With the molding done, the tests of
resilient modulus and tensile strength by diametral compression were performed to analyze the
results. At the end, it was concluded that the blends with inclusions presented smaller values of
resilient modulus and tensile strength than those without inclusions. However, the values are
acceptable and compatible with the values of the conventional mixtures and the pattern required by
the current standards for asphalt concrete. Thus, through further tests to obtain other mechanical
parameters, as well as tests with fibers of other geometries, the possibility of the practical
application of this material can be analyzed. Therefore, it is expected that this research will
stimulate the development of more studies in the area because it is a differentiated initiative
regarding the reuse of residues in the pavement and for showing the wide field of studies still
possible to be carried out to generate a better destination of the same residues.
Keywords: asphalt concrete, dosage, asphaltic industrial residue.

1. INTRODUÇÃO
O ser humano, desde os seus primórdios, gera uma grande quantidade de resíduos, tanto através de
desperdícios, tanto através de entulho. Observa-se que, com o crescimento urbano, esse fenômeno
tem ganhado maiores proporções. Segundo dados do Banco Mundial, são gerados,
aproximadamente, 1,3 bilhões de toneladas de resíduos sólidos por ano e os maiores responsáveis
pelo volume crescente são os países em desenvolvimento. [1]
Os resíduos sólidos são definidos como aqueles que “resultam de atividades de origem industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição”. [2] A incorreta destinação
desses pode acarretar em diversos problemas para o meio ambiente, como “a contaminação do solo
e das águas superficiais e subterrâneas, oferecendo abrigo e condições favoráveis ao
desenvolvimento de agentes patogênicos e animais sinantrópicos [...]”. [3]
Visto o problema causado pela incorreta destinação dos resíduos sólidos em geral, foi sancionada
em 2010 a Lei nº 12.305, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Essa determina que
os geradores de resíduo industrial, entre outros, estão sujeitos à elaboração do plano de
gerenciamento de resíduos sólidos. [4]
A partir de então, colocou-se em evidência a alternativa de reaproveitamento dos resíduos da
construção civil e dos resíduos industriais principalmente em obras, como na construção civil e
pavimentação. Nesse sentido, aumentou-se a busca por resíduos que apresentam potencial de gerar
um produto final de qualidade. Ao incluí-los em uma mistura, ao mesmo tempo em que diminuem o
impacto ambiental e os gastos com destinação adequada, eles otimizam o uso das matérias primas,
reduzindo também esse tipo de gasto. Iniciativas como essa têm conquistado espaço recentemente,
apesar de não haver ainda muitos estudos na área de resíduos sólidos industriais para produção de
concreto asfáltico.
Visto essa lacuna na área de pesquisas, bem como o possível fornecimento de resíduos industriais
asfálticos por parte de uma empresa, percebeu-se a oportunidade da realização desse estudo. Com
isso, buscou-se notar de que forma esses resíduos sólidos poderiam melhorar propriedades de
pavimentos ao serem inseridos na mistura à quente de agregados e concreto asfáltico de petróleo.

2. OBJETIVO
O objetivo desta pesquisa é analisar a potencialidade de aplicação de um resíduo industrial asfáltico,
proveniente de cortes de telhas, como componente na produção de misturas de concreto asfáltico.
Será observada a influência que essas fibras vegetais trazem ao desempenho das misturas asfálticas,
atuando no intertravamento dos agregados normalmente utilizados e os possíveis ganhos nas
propriedades mecânicas dessas misturas. Neste estudo, será avaliado o comportamento das novas
misturas, por meio dos principais ensaios que caracterizam a tecnologia específica da área de
aplicação (pavimento).

3. MÉTODOS
Para analisar o efeito do resíduo industrial no concreto asfáltico, foi necessário, inicialmente, definir
a mistura asfáltica a ser estudada sem a inclusão a fim de determinar o esqueleto mineral e teor de
asfalto de projeto. Após isso, a inclusão foi acrescentada, e, então, foram moldados novos corpos de
prova para serem submetidos aos ensaios finais e análise de resultados.
3.1. Caracterização e estudo da mistura
Inicialmente, os materiais foram ensaiados a fim de ter a caracterização de cada conforme a tabela
1. Os materiais usados na composição da mistura foram: pó de pedra (areia artificial), brita 0 e
brita1. Foram calculadas as massas específicas reais do agregado miúdo e dos agregados graúdos.
[5], [6] Em seguida, foram calculadas as massas específicas aparentes dos mesmos. [7], [8] Para o
material pulverulento, considerou-se o material retido na peneira de 0,075mm para o agregado
miúdo e na peneira de 1,2mm para os graúdos. [9]
Tabela 1- Caracterização dos materiais

Caracterização dos Materiais


Pó de Pedra Brita 0 Brita 1
Massa específica real (g/cm³) 2,729 2,738 2,718
Massa específica aparente (g/cm³) 2,677 2,679 2,687
Material pulverulento (%) 13,86 0,3 0,27
Em seguida, os materiais foram caracterizados granulometricamente de acordo com a faixa desejada
definida no projeto (faixa B para Concreto Asfáltico do DNIT). [10] Utilizou-se o método de
mistura por tentativas para atender as especificações exigidas para a faixa em questão. Obteve-se
então uma porcentagem adequada para a mistura que consiste em: 25% de brita 1, 28% de brita 0 e
47% de pó de pedra conforme mostrado na figura 1.

Figura 1 - Método de mistura por tentativas com valores escolhidos e composição granulométrica
3.2. Confecção dos corpos de prova
Com o traço do esqueleto mineral definido, houve a confecção das misturas de agregados para os
corpos de prova (CPs) através dos valores retidos na peneira conforme a tabela 2, totalizando
1150,0 g cada.
Tabela 2 - Determinação dos valores retidos por peneira para confecção dos CPs
Confecção dos CPs traço 25-28-47
Peneiras Mistura Peso CP (g): Peso do CP
Polegadas mm % % Retido % 1150,0 acumulado
Passante Acumado Retido
1” 25,40 100,0 0,0 0,0 - -
¾” 19,10 95,6 4,4 4,4 Entre 25 e 19 mm 50,8 50,8
3/8” 9,50 71,0 29,0 24,5 Entre 19 e 9,5 mm 282,2 332,9
Nº 4 4,80 47,2 52,8 23,9 Entre 9,5 e 4,8 mm 274,7 607,7
Nº 10 2,00 32,5 67,5 14,7 Entre 4,8 e 2 mm 168,9 776,6
Nº 200 0,07 3,0 97,0 29,5 Entre 2,0 e 338,8 1115,4
0,075mm
Fundo - 0,0 100,0 3,0 Entre 0,075 mm e 34,6 1150,0
fundo

3.3. Dosagem da mistura


Para a mistura com o Concreto Asfáltico de Petróleo (CAP) tipo 50/70, experimentaram-se quatro
teores de asfalto: 4,5%; 5,0%; 5,5%; 6,0% e foi utilizada a dosagem Superpave. Para tanto, foram
moldados 2 CPs para cada teor, totalizando 8 CPs.
É importante ressaltar que os ensaios não consistiram totalmente na metodologia Superpave, uma
vez que a composição granulométrica e o esqueleto mineral da mistura já haviam sido definidos
previamente.
3.4. Mistura
Após manter os agregados na estufa à temperatura de 170 ºC, foi realizada a mistura dos mesmos
com cada teor de asfalto à temperatura de 155 ºC. Em seguida, as misturas foram armazenadas na
estufa à temperatura de 143 ºC por duas horas para simular o envelhecimento do asfalto a curto
prazo. Com isso, cada mistura sofreu a compactação a 143 ºC, obtendo, assim, corpos de prova
cilíndricos mantidos à temperatura ambiente.
Todos os valores de temperatura de mistura e compactação foram definidos a partir da Curva de
Viscosidade Saybolt Furol do Ligante Asfáltico CAP 50/70 mostrada na figura 2.

Figura 2 - Curva Viscosidade x Temperatura para CAP 50/70


3.5. Caracterização dos Corpos de Prova
Após o esfriamento dos corpos de provas, prosseguiu-se para a caracterização dos mesmos. Houve a
medição de quatro alturas em pontos diametralmente opostos em cada um deles e obteve-se a altura
média, assim como o diâmetro fixo de 10 cm, conforme a tabela 3. Foram determinados o peso
seco, o peso imerso (por balança hidrostática) e o peso úmido e, assim, a densidade aparente. [11]
Tabela 3 - Determinação da densidade aparente

Densidade Aparente
Nº Teor de Determinação da Altura Média Peso
do Asfalto (cm) Diamêtro Peso Peso Úmido Densidade
CP (%) H1 H2 H3 H4 Hmed (cm) Seco (g) Imerso (g) (g) Aparente
1 4,5 6,51 6,51 6,51 6,5 6,51 10 1192,2 704,6 1203,2 2,391
2 4,5 6,4 6,45 6,44 6,42 6,43 10 1194,2 708,9 1201,7 2,423
3 5 6,43 6,43 6,45 6,45 6,44 10 1205,4 717 1211,2 2,439
4 5 5,88 5,89 5,9 5,93 5,90 10 1103,2 658,3 1107,2 2,458
5 5,5 6,48 6,51 6,49 6,5 6,50 10 1215,8 723,6 1221,1 2,444
6 5,5 6,42 6,42 6,41 6,41 6,42 10 1213 725 1219,3 2,454
7 6 6,46 6,45 6,51 6,46 6,47 10 1184 702,3 1188,8 2,434
8 6 6,27 6,28 6,3 6,28 6,28 10 1196,1 714,4 1202,1 2,453
Outro parâmetro utilizado no estudo do teor de projeto é a densidade máxima medida (DMM) dos
corpos de prova moldados. Foram ensaiados, então, um CP de 4,5% de teor de asfalto e outro de
6,0%. Utilizaram-se, no ensaio, o picnômetro, a mesa vibratória e a bomba de vácuo. [12] Com isso,
as DMMs foram:
− 4,5%: DMM= 2,556 g/cm³;
− 6,0%: DMM= 2,502 g/cm³.
A dosagem realizada busca definir o teor de ligante de projeto, ainda sem a presença de inclusões.
Assim, a partir da caracterização das amostras, dos pesos (seco, úmido e imerso), da interpolação
para obtenção da densidade máxima medida para cada teor, bem como os valores da massa
específica real e aparente definidos na tabela 1, foi possível determinar parâmetros da mistura: o
teor de vazios (figura 3), a relação betume vazios (figura 4), a densidade aparente dos agregados
(tabela 3), a densidade aparente da mistura asfáltica (figura 5), e a porcentagem de vazios do
agregado mineral (figura 6). Com tais parâmetros, definiu-se o teor ótimo de asfalto para a mistura
como 4,9% conforme figura 3.

Figura 3 - Teor de vazios (Va) x teor de ligante (Pb)

Figura 4 - Relação betume vazios (RBV) x teor de ligante (Pb)


Figura 5 - Densidade aparente da mistura (DAM) x teor de ligante (Pb)

Figura 6 - Vazios do Agregado Mineral (VAM) x teor de ligante (Pb)


3.6. Corpos de prova com a inclusão
Em seguida, com o teor definido em 4,9%, moldaram-se novos CPs com o traço inicial do esqueleto
mineral, totalizando 1150,0g, e acrescentando a eles os resíduos de telha previamente picados.
Assim, foram moldados: 3 CPs sem resíduos; 3 CPs com 0,5% de resíduos (6g); 3 CPs com 1,0%
(12g); 3 CPs com 2% (24g). Eles foram submetidos ao mesmo processo de mistura descrito
anteriormente a partir da Curva de Viscosidade Saybolt Furol. Obtiveram-se, assim, as densidades
aparentes da tabela 4. [11]
Tabela 4 - Determinação da densidade aparente da mistura

Densidade Aparente
Nº Teor de Teor de Determinação da Altura Média Peso Peso Peso
do Asfalto Resíduo (cm) Diamêtro Seco Imerso Úmido Densidade
CP (%) (%) H1 H2 H3 H4 Hmed (cm) (g) (g) (g) Aparente
1 4,9 0 6,49 6,5 6,48 6,47 6,49 10 1204,1 716,5 1209,3 2,443
2 4,9 0 6,44 6,46 6,46 6,45 6,45 10 1199,3 710,2 1202,6 2,436
3 4,9 0 6,38 6,37 6,3 6,34 6,35 10 1195,6 711,4 1198,9 2,453
4 4,9 0,5 6,66 6,59 6,64 6,71 6,65 10 1204,3 707,3 1211,6 2,388
5 4,9 0,5 6,53 6,59 6,54 6,52 6,55 10 1201,4 710,2 1206,8 2,419
6 4,9 0,5 6,65 6,65 6,63 6,68 6,65 10 1207,9 710 1217,8 2,379
7 4,9 1 6,85 6,88 6,85 6,86 6,86 10 1240,8 723,3 1249,8 2,357
8 4,9 1 6,85 6,86 6,81 6,81 6,83 10 1211,9 704,2 1219,8 2,350
9 4,9 1 6,71 6,71 6,72 6,74 6,72 10 1216,7 712,4 1224,5 2,376
10 4,9 2 6,92 6,88 6,9 7 6,93 10 1218,1 699,9 1234,5 2,279
11 4,9 2 6,96 7,08 6,99 7 7,01 10 1227,9 709,4 1241,2 2,309
12 4,9 2 7,12 7,07 7,07 7,15 7,10 10 1228 704,4 1242 2,284
4. RESULTADOS
Foram realizados posteriormente à moldagem dos novos CPs, os ensaios de Módulo de Resiliência
e Resistência à Tração por Compressão Diametral, nessa ordem. [13], [14] Esses ensaios servem
como base para a determinação da aplicação prática do resíduo na mistura de concreto asfáltico. Os
resultados estão apresentados nas tabelas 5 e 6.
Tabela 5 - Módulos de Resiliência

Módulo de Resiliência
Módulo de
Teor de Módulo de
CP Altura Diâmetro Resiliência
Resíduo Resiliência
n° (cm) (cm) Médio
(%) (MPa)
(MPa)
CP01 6,49 10,00 0,0 8020
CP02 6,45 10,00 0,0 8778 8299
CP03 6,35 10,00 0,0 8099
CP04 6,65 10,00 0,5 7915
CP05 6,55 10,00 0,5 7182 7675
CP06 6,65 10,00 0,5 7928
CP07 6,86 10,00 1,0 6874
CP08 6,83 10,00 1,0 6307 6885
CP09 6,72 10,00 1,0 7474
CP10 6,93 10,00 2,0 4996
CP11 7,01 10,00 2,0 4269 4740
CP12 7,10 10,00 2,0 4954

Tabela 6 - Resistências à Tração por Compressão Diametral

Resistência à tração por compressão diametral


Resistência
Teor de Resistência
CP Altura Diâmetro à tração
Resíduo à tração
n° (cm) (cm) Médio
(%) (MPa)
(MPa)
CP01 6,49 10,00 0,0 1,86
CP02 6,45 10,00 0,0 1,96 1,96
CP03 6,35 10,00 0,0 2,04
CP04 6,65 10,00 0,5 1,86
CP05 6,55 10,00 0,5 1,89 1,81
CP06 6,65 10,00 0,5 1,68
CP07 6,86 10,00 1,0 1,72
CP08 6,83 10,00 1,0 1,64 1,69
CP09 6,72 10,00 1,0 1,71
CP10 6,93 10,00 2,0 1,19
CP11 7,01 10,00 2,0 1,22 1,22
CP12 7,10 10,00 2,0 1,24
5. DISCUSSÃO
A partir das tabelas 5 e 6, pode-se observar que os valores de Módulo de Resiliência e Resistência a
Tração decrescem com o acréscimo de resíduos. Quanto ao primeiro ensaio, não há um valor
mínimo exigido por norma apesar de se esperar que ele atenda ao intervalo de 4000 a 8000 MPa.
Quanto ao segundo ensaio, a resistência à tração deve ser maior que 0,65 MPa. [14] Assim, as
misturas usadas apresentam valores aceitáveis e estão dentro dos padrões exigidos pelas normas
vigentes para concreto asfáltico ao variar o teor de resíduo entre 0 e 2,0%.
Não há estudos semelhantes a esse para comparação de resultados. Assim, são necessários mais
ensaios para obter outros parâmetros mecânicos, assim como ensaios com resíduos de outras
geometrias (comprimentos e larguras).

6. CONCLUSÃO
Para a mistura em estudo, foram obtidos 8299 MPa de Módulo de Resiliência e 1,96 MPa de
Resistência à Tração por Compressão Diametral sem a aplicação de resíduos. Ao aplicá-los, os
valores sofreram decréscimo e variaram de 7675 MPa a 4740 MPa para o Módulo de Resiliência e
de 1,81 MPa a 1,22 MPa para Resistência à Tração no intervalo de 0,5% a 2,0% de resíduos. É
notável que esses valores atendem as normas de concreto asfáltico e, assim, há a possibilidade de
uma possível aplicação prática dessa inclusão, visto que ela não causa dano à mistura. Essa
aplicação geraria a redução do volume de resíduos a ser descartado pela indústria e do impacto
ambiental gerado por um resíduo com asfalto em sua constituição. Entretanto, deve ser ressaltada a
importância de mais estudos envolvendo tais inclusões para que, então, seja analisada a aplicação
das mesmas na construção de pavimentos de concreto asfáltico.

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determinação do material fino que passa através da peneira 75um, por lavagem. Rio de Janeiro,
2003, 6p.
[10] DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. 031:
Pavimentos flexíveis – Concreto asfáltico – Especificação de serviço. Rio de Janeiro, 2006, 14p.
[11] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. D 2726-00: Standard Test
Method for Bulk Specific Gravity and Density of Non-Absorptive
Compacted Bituminous Mixtures. Pensilvânia, EUA, 2000.
[12] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15619: Misturas Asfálticas –
Determinação da densidade máxima teórica e da massa específica máxima teórica em amostras não
compactadas. Rio de Janeiro, 2016, 7p.
[13] DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. ME 135:
Pavimentação asfáltica – Misturas asfálticas – Determinação do módulo de resiliência – Método de
ensaio. Rio de Janeiro, 2017, 13p.
[14] DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRANSPORTES. ME 136:
Pavimentação asfáltica – Misturas asfálticas – Determinação da resistência à tração por compressão
diametral – Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2017, 9p.
ESTUDO COMPARATIVO DA ADERÊNCIA DE ARGAMASSA COLANTE
APLICADA EM BLOCOS ESTRUTURAIS DE CONCRETO E PAREDES DE
CONCRETO MOLDADAS IN LOCO

Adhesive mortar’s adherence on structural concrete blocks and in site molded


concrete walls, a comparative study

Rodolfo Rabelo Neves 1, Patrícia Vasconcelos de Oliveira 2, Guilherme Augusto Martins Moreira3,
Beatriz Menezes Santos4, Antônio Neves de Carvalho Júnior5
1 Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, rodolforabelon@gmail.com
2
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, eng.patriciavasconcelos@gmail.com
3
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, guilhermemoreirabh@gmail.com
4
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, beatriz.menesan@gmail.com
5
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, antonio@demc.ufmg.br

Resumo: O assentamento de revestimento cerâmico sem a utilização de emboço necessita


considerar as peculiaridades dos substratos onde será aplicado. O substrato blocos de concreto
utilizado em alvenaria estrutural e o substrato parede de concreto moldada in loco possuem
diferentes aspectos que podem contribuir, ou não, para o bom desempenho do sistema de
revestimento. O objetivo do presente trabalho é realizar um estudo comparativo destes substratos
em relação à sua influência na aderência do revestimento, apontando características de cada um que
influenciam na aderência do mesmo. Os dados analisados foram obtidos por meio de ensaios de
resistência de aderência à tração. Realizaram-se testes de arrancamento cerâmico em ambos os
substratos, avaliando-se o desempenho para diferentes técnicas de execução e tipos de argamassa
colante. A variação nos resultados encontrados ocorreu, especialmente, em virtude do procedimento
executivo. A combinação de fatores como não rompimento dos cordões da argamassa e método de
colagem mostraram-se como os responsáveis pelo baixo desempenho dos corpos de prova que não
atingiram os requisitos normativos para resistência de aderência à tração. Após análise dos
resultados concluiu-se que o assentamento da cerâmica diretamente sobre os blocos de concreto da
alvenaria estrutural apresentou melhores resultados do que aqueles aplicados sobre as paredes de
concreto. Observou-se, ainda, que ambos os substratos permitiram que os requisitos normativos
fossem atendidos para as condições de ensaio utilizadas neste estudo.

Palavras-chave: Aderência, revestimento cerâmico, substratos porosos, parede de concreto, bloco


de concreto.

Abstract: Laying ceramic tile without the use of plaster mortar needs to consider substrates’
peculiarities where it will be applied. The substrate concrete blocks used in structural masonry and
in site molded concrete walls’ substrate have different aspects that may or not contribute to coating
system’s performance. This study’s objective is to perform a comparative study of these substrates
in relation to their influence on adhesive mortar’s adhesion, pointing out characteristics of each one
that may influence that. The data analyzed were obtained by pull-off strength tests. Ceramic pull-off
tests were carried out on both substrates, evaluating the performance for different execution
techniques and types of adhesive mortar. Results’ variations occurred due to the executive
procedure, especially. The combination of factors such as non-breaking of mortar cords and
bonding method were shown to be responsible for poor performance of specimens that did not
achieve normative requirements for pull-off strength. After analyzing results, it was concluded that
laying ceramics tiles directly on concrete blocks of structural masonry presented better results than
those applied on the concrete walls. It was also observed that both substrates allowed normative
requirements to be met for the executive procedure utilized for this study.

Keywords: Adhesion, ceramic tile, porous subtracts, concrete wall castes in place, concrete blocks.

1. INTRODUÇÃO
A industrialização da construção civil tem levado à procura de métodos construtivos mais
racionalizados e que permitam a mecanização do projeto para a construção em série [1]. Neste
contexto, os sistemas construtivos “Parede de concretos moldada in loco” e “Alvenaria estrutural”,
são soluções amplamente utilizadas.
O sistema construtivo “Paredes de concreto” é um método de construção racionalizado que oferece
produtividade, qualidade e economia de escala. A moldagem in loco dos elementos estruturais e de
vedação é a principal característica desse sistema construtivo [2]. No geral, este sistema construtivo
possui paredes e lajes com espessura de 10 cm. A resistência característica à compressão do
concreto, aos 28 dias, é de 25 MPa e a resistência mínima do concreto na desenforma, a 15 horas, é
de 1,8 MPa. A consistência especificada para o concreto é de 22 ± 2 cm (slump test) [3]. O concreto
autoadensável tem sido um dos mais utilizados neste tipo de obra [2].
Segundo Neville e Brooks (2010), há uma relação água/cimento mínima necessária à hidratação
completa do cimento que é de aproximadamente 0,36, em massa. Abaixo desse valor não há espaço
suficiente para a acomodação de todos os produtos de hidratação. Ainda de acordo com estes
autores, há, também, uma relação entre a porosidade e o fator a/c. O aumento desde fator propicia o
aumento da porosidade e, também, a redução da resistência à compressão do concreto (Lei de
Abrams). Assim, para as paredes de concreto moldadas in loco, a utilização de concretos
autoadensáveis e a utilização de aditivos superplastificantes propiciam concretos pouco porosos.
No sistema construtivo “Alvenaria estrutural” é um método racionalizado de construção que se
constitui de um conjunto de peças justapostas coladas em sua interface, por uma argamassa
apropriada, formando um elemento vertical coeso. Os principais componentes empregados na
execução de edifícios de alvenaria estrutural são os tijolos ou blocos (que podem ser de concreto ou
cerâmicos), a argamassa, o graute e a armação. É comum, também, a presença de elementos pré-
fabricados como vergas, contravergas, coxins, etc.[5].
Segundo a American Society for Testing and Materials – ASTM C67, a absorção inicial dos blocos
de concreto corresponde à capacidade de sucção do bloco, sendo um indicador importante para
definir o potencial de aderência do bloco com uma argamassa com retenção adequada. Segundo
essa norma, os blocos de concreto devem apresentar uma taxa de absorção inicial de sucção em
torno de 0,265g/cm2/min. Já de acordo com a NBR 6136:2007, os blocos vazados de concreto
devem atender aos limites de absorção de  10% para aqueles que utilizam agregado normal, e, para
aqueles que utilizam agregado leve, a absorção média deves ser  13% e a absorção individual 
16%.
A absorção é influenciada pela porosidade dos blocos sendo mais alta para blocos mais porosos.
Assim é importante que se encontre o ponto de equilíbrio entre porosidade e absorção, uma vez que
a absorção na quantidade certa favorece a penetração dos aglomerantes que ao endurecer tornam
monolítico o conjunto blocos, argamassa, revestimento. Entretanto, quando a absorção é muito alta,
esta pode comprometer as reações químicas necessárias ao endurecimento. Assim, para se garantir o
equilíbrio é importante utilizar uma argamassa com características de retenção adequada [7].
A aderência da argamassa ao substrato pode ocorrer por sistemas mecânicos e químicos. O sistema
mecânico de aderência envolve o transporte de fluidos e dos finos da argamassa para a interface da
argamassa/base seguido da hidratação dos materiais cimentícios [8]. A pasta aglomerante ou a
própria argamassa penetram nos poros e cavidades da base precipitando produtos da hidratação do
cimento e da cal. Com a cura, esses precipitados intercapilares passam a exercer funções de
ancoragem da argamassa à base [9]. Já no sistema químico a aderência advém de forças covalentes
ou forças de Van der Waals desenvolvidas entre o substrato e os produtos da hidratação do cimento
[10].
O objetivo geral deste trabalho é avaliar a resistência de aderência das argamassas de revestimento
aplicadas sobre paredes de concreto e sobre blocos de concreto de alvenaria estrutural, a fim de se
realizar um comparativo dos valores de aderência alcançados nestes substratos.

2. PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL

2.1. Materiais
Para a realização dos ensaios foram utilizadas argamassas colantes do tipo II (ACII) e do tipo III
(ACIII). Trata-se de argamassas industrializada com características de adesividade que permitem
absorver os esforços existentes em revestimentos de pisos e paredes internos e externos sujeitos a
ciclos de variação termoigrométrica e a ação do vento. A argamassa do tipo III: apresenta aderência
superior em relação à argamassa do tipo II [11].

2.2. Método
Todos os ensaios abordados neste estudo foram realizados em obra. A metodologia para realização
deste estudo contemplou a realização de ensaios de arrancamento cerâmico para determinação de
resistência de aderência à tração, conforme a NBR 13.754:1996. Os procedimentos descritos por
esta norma serão descritos a seguir.
O ensaio de determinação de resistência de aderência à tração foi realizado com a utilização de
macaco hidráulico provido de manômetro. Os corpos de prova possuem dimensões máximas
100mm de lado, seção quadrada. Para a realização dos ensaios foram definidos seis corpos de
prova, para cada situação.
Deve-se estender a argamassa colante com o lado liso da desempenadeira, apertando-a de encontro
à base, formando uma camada uniforme de cerca 3 mm a 4 mm de espessura. Sabendo-se que os
corpos de prova possuem seção quadrada de 100mm de lado, a desempenadeira indicada é com
dentes 6 mm x 6 mm x 6 mm. A seguir, aplicar o lado denteado, formando cordões.
Cada placa cerâmica, seca e limpa, deve ser aplicada sobre os cordões de argamassa colante
ligeiramente fora de posição. Em seguida, pressiona-se, arrastando a placa cerâmica
perpendicularmente aos cordões at8 sua posição final. Atingida esta posição, procede-se com a
aplicação de vibrações manuais de grande frequência, transmitidas pelas pontas dos dedos,
procurando obter a maior acomodação possível, que pode ser constatada quando a argamassa
colante fluir nas bordas da placa cerâmica.
Cola-se uma pastilha metálica no revestimento cerâmico com a utilização de cola à base de resina
epoxídica. Utiliza-se uma pastilha metálica com 100 mm de lado, não deformável, que possui, em
seu centro, dispositivo que permita acoplamento do equipamento de tração.
Após a colagem da pastilha no revestimento cerâmico e secagem da cola, deve-se cortar o
revestimento utilizando o contorno da pastilha como guia para o disco.
Procede-se para a realização do ensaio no qual se deve acoplar o equipamento à pastilha metálica e,
em seguida, aplicar a carga de maneira gradual, sem interrupções, sendo a taxa de carregamento de
250 (± 50) N/s. O esforço de tração deve ser aplicado perpendicularmente ao corpo-de-prova até
ocorrer a ruptura.
Em seguida, deve-se analisar o corpo de prova para verificar se há alguma falha de colagem da
pastilha. Caso alguma falha desta natureza tenha ocorrido, o resultado é rejeitado e um novo
arrancamento deverá ser realizado.
A ruptura tendo ocorrido sem falhas na colagem da pastilha no corpo de provas, deve-se proceder
para a análise da forma de ruptura do corpo-de-prova. A ruptura poderá ocorre, aleatoriamente, das
seguintes maneiras:
 Ruptura do substrato (S);
 Ruptura na interface argamassa e substrato (S/A);
 Ruptura na camada de argamassa colante (A);
 Ruptura na interface argamassa e placa cerâmica (A/P);
 Ruptura da placa cerâmica (P);
 Falha na colagem da peça metálica (F).
A avaliação dos resultados deste estudo também foi feita com base nos requisitos da NBR
13.754:1996. Consideradas seis determinações da resistência de aderência, após a cura de 28 dias da
argamassa colante utilizada no assentamento, será considerado aprovado aquele revestimento que,
em pelo menos quatro valores do ensaio de arrancamento, foram verificadas resistências de
aderência à tração iguais ou maiores que 0,3 MPa.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em todos os ensaios realizados nas obras de “Parede de Concreto” pressupôs-se que todos os
revestimentos haviam sido assentados utilizando-se dupla colagem. Esta técnica de assentamento de
peças cerâmicas consiste no espalhamento de duas camadas de argamassa colante, uma no tardoz da
peça, outra na superfície da base suporte do revestimento, com o objetivo de maximizar a aderência.

Todos os revestimentos foram executados utilizando-se argamassa ACIII aplicada diretamente


sobre o substrato parede de concreto, não existindo as camadas de emboço ou reboco. O Gráfico 1
apresenta os resultados de resistência de aderência à tração para os seis corpos de prova, em cada
um dos ensaios para o substrato “parede de concreto”.

1 0,77
Resistência de aderência à

0,8

0,55
tração (MPa)

0,48
0,5

0,5

0,45
0,6
0,38

0,38

0,37
0,36

0,36

0,34
0,34

0,34

0,32

0,31

0,31
0,27

0,27
0,3

0,3

0,3
0,3
0,4
0,24

0,23
0,18

0,16

0,15

0,15
0,14
0,13

0,12
0,06

0,1
0,2
0,04

0,03
0
1 2 3 4 5 6
Corpo de prova
ENSAIO 01 ENSAIO 02 ENSAIO 03 ENSAIO 04 ENSAIO 05 ENSAIO 06

Gráfico. 1 – Resultados do ensaio de arrancamento cerâmico no substrato “parede de concreto”

Observa-se no Gráfico 1 que 21 dos 36 corpos de prova ensaiados atingiram o valor mínimo de
resistência de aderência à tração exigido pela NBR 13.754:1996, que é de 0,3 MPa.

Considerando este critério foi elaborado o Gráfico 2 que permite visualizar as médias das
resistências de aderência obtidas nos ensaios a fim de se verificar como estes ensaios se
comportaram em relação à norma supracitadas.

0,50
Resistência de aderência à tração

0,40
0,40 0,35
0,31 0,33
NBR 13.574
0,30 0,24
0,3 MPa
(Mpa)

0,20
0,12
0,10

0,00
ENSAIO 01 ENSAIO 02 ENSAIO 03 ENSAIO 04 ENSAIO 05 ENSAIO 06
Média NBR 13.574

Gráfico. 2 – Médias de resistência de aderência em relação à normatização existente - substrato “parede de


concreto”

O Ensaio 01 teve três corpos de prova que não atingiram a resistência de aderência à tração
requisitada pela norma. Todos os corpos-de-prova reprovados neste ensaio tiveram rompimento na
interface cerâmica com argamassa colante (Figura 1 (a)).
Observa-se no Ensaio 02, que mesmo aqueles resultados que não atingiram os 0,3 MPa de
resistência de aderência à tração ainda obtiveram valores de aderência próximos ao mínimo exigido
pela norma. O mesmo comportamento se observou no Ensaio 04 e no Ensaio 06.

Em relação ao Ensaio 03, três corpos-de-prova foram reprovados. Para este ensaio o rompimento
destes se deu na interface cerâmica com argamassa colante para um corpo-de-prova (pior resultado)
e na interface da argamassa colante com a parede de concreto para outros dois (Figura 1 (c)).

O Ensaio 05 foi o que apresentou os resultados mais críticos, não tendo nenhum corpo-de-prova que
atingiu os requisitos de desempenho mínimos estabelecidos pela normatização brasileira. As
interfaces de ruptura são apresentadas na Figura 1 (e). Em relação ao corpo-de-prova 01 (CP 01),
apesar de se poder observar que houve a dupla colagem, também está evidente que não houve o
rompimento dos cordões da argamassa colante, evidenciando mais uma falha na execução. Para este
CP o rompimento se deu, majoritariamente, na interface da argamassa colante com a parede de
concreto. O CP 02 teve rompimento total na interface da argamassa colante com a parede de
concreto. O CP 03 também se rompeu na interface da cerâmica com a argamassa colante, podendo-
se verificar, também, a existência de cordões de argamassa que não foram rompidos. Em relação ao
CP 04, novamente nota-se que há a presença de cordões de argamassa não rompidos em toda a
superfície da cerâmica, sendo que o rompimento se deu na interface da argamassa colante com a
parede de concreto. O CP 05 teve rompimento total na interface da cerâmica com a argamassa
colante. Por fim, o CP 06 rompeu-se, majoritariamente, na interface da cerâmica com a argamassa
colante, podendo-se, também, verificar a existência de cordões de argamassa colante que não foram
rompidos.
Figura. 1 – Rupturas dos corpos de prova - substrato “parede de concreto” . (a) Ensaio 1, (b) Ensaio 2, (c) Ensaio
3, (d) Ensaio 4, (e) Ensaio 5 e (f) Ensaio 6
Com relação aos comportamentos dos rompimentos, observa-se que a maior parte se deu na
interface cerâmica/argamassa colante. Conforme foi possível observar durante a realização dos
ensaios houve falhas de execução que influenciaram no desempenho do sistema de revestimento, a
saber: execução de colagem simples ao invés de colagem dupla e; não rompimento dos cordões de
argamassa colante (ver Figura 1).
Em se tratando do tipo de colagem, embora tivesse sido informado, a priori, que se tratava de
colagem dupla, pôde-se observar após os arrancamentos em dois dos ensaios que nem todos os
corpos-de-prova foram assentados dessa maneira. Entretanto, o ensaio que apresentou os piores
resultados (Ensaio 05), foi realizado com dupla colagem. Isso pode ser um indicador que este não
seja o problema que leva às maiores perdas de resistência de aderência.
O outro problema verificado, o não rompimento dos cordões de argamassa, pode indicar duas falhas
de execução. A primeira delas se refere ao não atendimento dos limites de tempo em aberto para
argamassas. Conforme um estudo publicado por GOMES (2013), a perda de resistência de
aderência de placas assentadas depois de excedido o tempo em aberto está relacionado com a
formação de uma película superficial que interfere na adesão da argamassa colante. A segunda falha
pode estar relacionada à inexperiência do operário, que não se atentou para a necessidade de
rompimento dos cordões. O mesmo deveria ter pressionado e arrastado perpendicularmente a placa
cerâmica, até sua posição final, e, em seguida, deveria ter aplicado vibrações manuais de grande
frequência (transmitidas pela ponta dos dedos), a fim de se garantir o rompimento de todos os
cordões de argamassa e melhor acomodação da placa.
A não observância destes procedimentos executivos pode ter sido um dos fatores responsáveis pelo
mau desempenho dos revestimentos.
Ainda em relação ao comportamento dos rompimentos, o segundo mais frequente foi o rompimento
na interface argamassa colante com revestimento. A aderência das argamassas no substrato pode ter
sido comprometida pela existência de camadas superficiais de desmoldante, utilizado nas formas
metálicas. Isto pode ter representado uma barreira para ancoragem do revestimento à base.
Uma pesquisa realizada por Carasek et al. (2001) mostrou que em relação à aderência da argamassa
no substrato concreto, o processo de descolamento da argamassa apresenta um comportamento
heterogêneo. Os autores puderam observar que, em um mesmo pano de revestimento aplicado sobre
estrutura de concreto, havia regiões com boa aderência e outras totalmente descoladas, às quais
chamaram de bolsões de descolamento. Ainda segundo esta pesquisa, estes bolsões ficaram
caracterizados por apresentar alta variabilidade dos resultados de resistência de aderência. Em
relação a esta variabilidade, os autores observaram que o desmoldante quando aplicado sobre a
superfície da fôrma de concreto tende a concentrar-se em regiões localizadas, provavelmente devido
a algum efeito físico entre o líquido e a superfície da fôrma. Assim, o óleo desmoldante se espalha
de maneira heterogênea na fôrma, sendo que o concreto também se mostrou de igual modo
heterogêneo quanto à concentração de desmoldante em sua superfície. Esta concentração
diferenciada afeta a homogeneidade de sucção do substrato no tocante à sua área superficial e, com
isto, tem-se explicada em grande parte a ocorrência dos “bolsões” de descolamento, pelo menos em
uma primeira instância de avaliação.
Além da presença do óleo desmoldante, outra característica das obras de Parede de Concreto que
podem ter contribuído para que alguns corpos-de-prova não atingissem a resistência de aderência
mínima é a menor porosidade do substrato.
Os resultados da pesquisa descrita nos parágrafos anteriores podem contribuir para a constatação de
quais são os fatores que influenciam na aderência da argamassa colante ao substrato parede de
concreto. Além dos problemas executivos, já mencionados, a falta de preparação da base e remoção
do óleo desmoldante podem ser fatores que contribuem para falhas na aderência.
Entretanto, como se pôde observar nos ensaios aprovados, a aplicação do revestimento cerâmico
diretamente sobre o substrato parede de concreto é viável, sendo necessário tomar os cuidados
relativos à preparação da base e execução do revestimento cerâmico para se garantir o cumprimento
das exigências normativas.

Nos ensaios realizados nas obras alvenaria de blocos de concreto foram utilizados dois tipos de
argamassa, ACII e ACIII, e houve a utilização de técnica de colagem simples e de colagem dupla.
Os ensaios foram realizados utilizando-se argamassa colante aplicada diretamente sobre o substrato
bloco de concreto, não existindo as camadas de emboço ou reboco. O Gráfico 3 apresenta os
resultados de resistência de aderência à tração para os seis corpos de prova, em cada um dos ensaios
para o substrato “bloco de concreto”.

1
Resistência de aderência à

0,8
0,62
0,61

0,59

0,59

0,58
0,56

0,56
0,6
0,54

0,53
tração (MPa)

0,48

0,48
0,46

0,5
0,5
0,5

0,6
0,43
0,42

0,42

0,42
0,41

0,31

0,31
0,28

0,28
0,27
0,25

0,4
0,23
0,23
0,22

0,21
0,16
0,2

0,15

0,11

0,2
0,03

0
1 2 3 4 5 6
Corpo de prova
ENSAIO 01 ENSAIO 02 ENSAIO 03 ENSAIO 04 ENSAIO 05 ENSAIO 06

Gráfico.3 – Resultados do ensaio de arrancamento cerâmico no substrato “bloco de concreto”

Observa-se no Gráfico 3 que, considerando os requisitos da NBR 13.754:1996, cujo valor exigido
para a resistência de aderência à tração é de 0,3 MPa, grande parte dos corpos de prova conseguiu
atender o valor de resistência ao arrancamento exigido.
Considerando o critério de resistência de aderência à tração da norma, foi elaborado o Gráfico 4 que
permite visualizar as médias das resistências de aderência obtidas nos ensaios a fim de se verificar
como estes se comportam em relação ao requisito normativos.
Resistência de aderência à tração

0,50
0,43 0,43
0,43 0,38
0,40 0,36
0,32 NBR 13.574
0,30
(Mpa)

0,3 MPa
0,20

0,10

0,00
ENSAIO 01 ENSAIO 02 ENSAIO 03 ENSAIO 04 ENSAIO 05 ENSAIO 06
Média NBR 13.574

Gráfico.4 – Médias de resistência de aderência em relação à normatização existente - substrato “bloco de


concreto”

O Ensaio 01 foi realizado com argamassa ACII (dupla camada) e apresentou dois resultados de
resistência de aderência à tração abaixo do mínimo. Para estes corpos de prova a ruptura se deu na
superfície da cerâmica. Neste caso de ruptura, a falha se devido à imperfeição na colagem da
pastilha. Para estes casos, a NBR 13754:1996 diz que o resultado deverá ser desprezado se menor
que 0,3 MPa, o que aconteceu.

Os Ensaios 02 e 03 também realizados com a utilização de ACII, sendo que no Ensaio 02 utilizou-
se camada única de colagem e no Ensaio 03, colagem dupla. Nos Ensaios 05 e 06, foi utilizada a
argamassa colante ACIII, sendo o Ensaio 05 realizado com colagem dupla e o Ensaio 06, colagem
simples. Para estes ensaios o mesmo padrão de ruptura que ocorreu no Ensaio 01 se repetiu. Em
todos os corpos-de-prova que não atingiram a aderência mínima de norma, a ruptura se deu na
interface cola/placa cerâmica. Assim como já descrito, os resultados do arrancamento destes corpos-
de-prova foram desprezados.

O Ensaio 04 foi realizado com a utilização de argamassa ACII e foi utilizada colagem única da
cerâmica. Conforme se pode observar na Figura 1 (d), os corpos-de-prova que não tiveram bom
desempenho foram aqueles onde se verificou que os cordões de argamassa não haviam sido
completamente desfeitos.

É interessante observar que apesar de se ter utilizado argamassa ACIII nos Ensaios 05 e 06, os
resultados de aderência à tração obtidos não se diferem muito daqueles outros ensaios nos quais se
utilizou argamassa colante ACII. Conforme já apresentado neste trabalho, a superfície do bloco de
concreto é bastante porosa, e isso propicia uma melhor ancoragem mecânica da argamassa ao
substrato.
Além disso, a utilização de colagem única nos Ensaios 02 e 06 foi suficiente para garantir que estes
ensaios fossem aprovados de acordo com os requisitos da NBR 13754:1996.

Figura. 1 – Rupturas dos corpos de prova - substrato “bloco de concreto”. (a) Ensaio 1, (b) Ensaio 2, (c) Ensaio 3,
(d) Ensaio 4, (e) Ensaio 5 e (f) Ensaio 6

Assim como já dito, é de suma importância que as boas práticas de execução do revestimento sejam
respeitadas. O não rompimento dos cordões pode ter ocorrido, novamente, ou por não respeitar o
tempo em aberto ou devido à falha de assentamento por parte do operário.

Os bons resultados obtidos para os ensaios de revestimentos aplicados diretamente sobre os blocos
de concreto podem ser explicados pelo fato de os blocos de concreto possuírem uma maior
rugosidade superficial e uma textura que favorece o intertravamento da própria argamassa, além de
permitir uma melhor penetração da pasta aglomerante no interior do bloco, causando a ancoragem
[14].

O assentamento cerâmico diretamente sobre os blocos de concreto, conforme demonstrado pelos


ensaios acima, é viável se forem respeitadas boas práticas de execução. Os ensaios tratados neste
trabalho demonstram bons resultados de aderência, tanto para a utilização de argamassa colante
ACII quanto para ACIII.

Ao se analisar os resultados médios do desempenho dos ensaios para ambos os sistemas, a


argamassa colante aplicada diretamente sobre o bloco de concreto obteve melhores resultados do
que aquela aplicada sobre a parede de concreto. O Gráfico 5 traz um resumo das resistências de
aderência à tração médias para cada um dos ensaios de cada sistema construtivo.
0,50
0,45 0,43 0,43 0,43
Resistência de Aderência à
0,40
0,40 0,38
Tração Média (MPa)

0,35 0,36
0,35 0,31 0,33 0,32
0,30
0,24
0,25
0,20
0,15 0,12
0,10
0,05
-
Ensaio 01 Ensaio 02 Ensaio 03 Ensaio 04 Ensaio 05 Ensaio 06

Parede de concreto Alvenaria Estrutural

Gráfico.5 – Médias de resistência de aderência à tração – Parede de Concreto x Bloco de Concreto

Conforme é possível observar no Gráfico 5, todos os ensaios referentes a argamassas colantes


aplicadas sobre o bloco de concreto obtiveram resultados satisfatórios ( 0,3 MPa) considerando a
média das resistências de aderência. Os ensaios referentes a argamassas aplicadas sobre parede de
concreto que não obtiveram as médias das resistências satisfatórias, Ensaios 03 e 05, são justamente
aqueles nos quais se puderam observar falhas de execução.

Se formos observar a média geral de resistência de aderência para ambos os sistemas construtivos, a
média manteve-se próxima ao mínimo estabelecido pela norma, que é 0,3 MPa (NBR 13754:1996).
A parede de concreto, apesar de ter obtido uma média pouco abaixo do mínimo estabelecido pela
norma, merece atenção especial. Como se observou nos Ensaios 01, 03 e 05 este substrato pode
apresentar resultados de resistência de aderência muito inferiores ao estabelecido por norma, sendo
necessários cuidados durante a execução do sistema de revestimento para evita-los. O Gráfico 6, faz
um comparativo dos resultados médios de aderência por sistema construtivo.

0,50
Aderência (MPa)
Resistência de

0,39
0,40
0,29
0,30

0,20

0,10

0,00

Parede de concreto Alvenaria Estrutural

Gráfico.6 – Médias de resistência de aderência à tração por sistema construtivo

Em relação às interfaces de ruptura houve uma diferença significativa entre “parede de concreto” e
os blocos de concreto. O Gráfico 7 permite observar, de modo geral, como se deram as rupturas
para os sistemas construtivos tratados neste trabalho. Em 44% dos corpos de prova referentes à
“parede de concreto” o rompimento se deu na interface argamassa com o substrato. Em segundo
lugar, com 36%, se deram as rupturas na interface da cerâmica com a argamassa colante. Estes
resultados podem ser consequência da menor porosidade do substrato “parede de concreto” e,
também, pela presença do óleo desmoldante que pode ser um fator inibidor de aderência.
Entretanto, aconselha-se realizar estudos específicos mais aprofundados para se certificar quanto a
estas suposições.

100%

80% 72%

60%
44%
36%
40%
20%
20% 11% 8% 7%
0% 2%
0%

Parede de Concreto Alvenaria de bloco de concreto

Gráfico.7 – Interfaces de ruptura por sistema construtivo

Já em relação ao substrato “blocos de concreto”, 72% das rupturas se deram na interface da


cola com a placa cerâmica. Isto indica que pode ter ocorrido um problema de colagem das placas
cerâmicas na pastilha metálica. Todavia, mesmo que possa ter ocorrido este problema, o mesmo não
afetou os resultados gerais dos ensaios uma vez que dos seis ensaios realizados, cinco foram
aprovados de acordo com os critérios da NBR 13754: 1996.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A aderência de argamassas possui diversos fatores que podem influenciar no bom desempenho do
sistema de revestimento. Desde condições ambientais, método executivo e experiência do
funcionário que irá assentar a cerâmica, até mesmo devido às propriedades do próprio material,
como porosidade, absorção e rugosidade superficial.
A realização dos ensaios permitiu perceber que tanto as cerâmicas aplicadas diretamente sobre
paredes de concreto moldadas in loco quanto aquelas aplicadas sobre os blocos de concreto da
alvenaria estrutural podem apresentar bom desempenho, considerando as condições de execução
utilizadas neste estudo. Propriedades da argamassa colante, como o tempo em aberto, e cuidados
durante o assentamento do revestimento necessitam ser respeitadas para que se garanta que a
mesma desempenhará corretamente sua função.
Em se tratando do sistema Parede de Concreto, observou-se que os bons resultados no ensaio de
aderência do revestimento cerâmico à tração estavam associados à utilização de dupla camada de
argamassa colante e à correta execução do serviço (rompimento dos cordões de argamassa, por
exemplo). Outros fatores como preparo da base não puderam ser observados com clareza, o que
impede que o mesmo seja indicado como um fator influente nos resultados que não atingiram a
resistência de aderência mínima exigida pela norma brasileira.
Já para o revestimento aplicado diretamente sobre os blocos de concreto da alvenaria estrutural,
obtiveram-se melhores resultados nos testes de resistência aderência à tração. A rugosidade dos
blocos de concreto e sua alta porosidade podem ter sido os fatores de maior relevância para o bom
desempenho nos ensaios.
Considerando os ensaios realizados, pode-se concluir que o desempenho do substrato bloco de
concreto em termos de resistência de aderência à tração foi superior àquele registrado para o
substrato parede de concreto.

REFERÊNCIAS
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1.
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<http://techne17.pini.com.br/engenharia-civil/167/paredes-de-concreto-armado-moldadas-in-loco-286799-1.aspx>.
Acesso em: 07/11/2017.
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revestimentos de argamassa. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DAS ARGAMASSSAS, IV, 2001,
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para assentamento de placas cerâmicas. Rio de Janeiro, 2012.

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[13] GOMES, V. L. L. Efeito da adição de diatomita no comportamento reológico e mecânico de argamassas


colantes. 139p. Tese de Doutorado (Engenharia Mecânica). – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal,
2013.

[14] MALAGONI, M. A., SCARTEZINI, V. Análise dos resultados de resistência de aderência em revestimentos
de argamassa. Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2013.
ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS ORGANIZACIONAIS
DAS EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL

Analysis of the evolution of the organizational characteristics of civil construction


companies

Felipe Teixeira 1, Rodrigo Gonçalves Fisch 2, Alfredo Iarozinski Neto3


1 UTFPR, Paraná, Brasil, flp_teixeira@hotmail.com
2
UTFPR, Paraná, Brasil, fisch.rodrigo@gmail.com
3
UTFPR, Paraná, Brasil, alfredo.iarozinski@gmail.com

Resumo: A maneira como uma empresa organiza-se está diretamente atrelada a sua
eficiência e a sua capacidade de manter-se competitiva durante períodos de crise econômica.
Devido à importância da estrutura organizacional no desempenho das empresas, o presente estudo
tem como objetivo analisar a evolução das características organizacionais das empresas de
construção face às variações econômicas ocorridas no período de 2010 a 2016. O método para a
realização deste estudo foi o Survey, permitindo a obtenção de dados primários de forma
sistematizada. Foram realizadas quatro coletas de dados pelo grupo de pesquisa “Núcleo de
Inovação de Gestão da Construção” (NIGEC), da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, nos
anos de 2010, 2012, 2014 e 2016. No total, foram aplicados 362 questionários em empresas de
construção civil que atuam em Curitiba e região. Os dados foram analisados por intermédio da
estatística descritiva e da análise inferencial não paramétrica. Os resultados mostram, de forma
geral, que as empresas pesquisadas apresentam características consolidadas, permanecendo
imutáveis apesar das grandes variações econômicas ocorridas no período. Entre estas
características, podem-se destacar as estruturas predominantemente centralizadas, a preocupação
permanente com a redução de custos e a atuação em um mercado classificado como imprevisível.
Outras características são diretamente afetadas pelas variações econômicas. Especialmente em
momentos ditos de crise econômica, as empresas tendem a aumentar os níveis de treinamento, a
investir em tecnologias e equipamentos e a estimular a autonomia de seus funcionários. Assim, de
forma geral, as características organizacionais mostram um setor com uma gestão tradicional e
atrasada, mas que em momentos de dificuldades buscam alternativas de modernização para superar
as deficiências e aumentar a competitividade.

Palavras-chave: Características organizacionais, evolução, empresas de construção civil, gestão da


construção.

Abstract: The way a company organizes itself is directly related to its efficiency and capacity of
remaining competitive during periods of economic crisis. In the face of the importance of
organizational structure in business performance, this study aims to analyze the evolution of the
organizational characteristics of construction companies with regard to the economic environment
variations that took place between 2010 and 2016. The method for conducting this study was the
Survey, allowing primary data to be obtained in a systematized way. Four data collections were
performed by the "Núcleo de Inovação de Gestão da Construção" (Nucleus of Innovation in
Construction Management) - NIGEC, from the Universidade Tecnológica Federal do Paraná, in the
years 2010, 2012, 2014 and 2016. In total, 362 surveys were applied to civil construction companies
that operate in Curitiba and region. The data was analyzed by means of descriptive statistics, non-
parametric inferential analysis, and discriminant analysis. The results show, in general, that those
companies researched display consolidated characteristics, remaining unchanged in spite of the
large economic variations during the period. Among the characteristics, the ones that stand out are
the predominantly centralized structures, the ongoing concern in regards to cost reduction, and
activity in a market classified as unpredictable. Other characteristics are directly affected by
economic variations. Especially in such times of economic crisis, companies tend to increase the
levels of training, to invest in technology and equipment, and to encourage the autonomy of its
employees. Thus, in general, the organizational characteristics show a sector with a traditional and
outdated management, but that in moments of hardship seeks modernization alternatives in order to
overcome deficiencies and increase competitiveness.

Keywords: Organizational characteristics. Evolution. Civil construction companies. Construction


management.

1. INTRODUÇÃO
A importância do setor da construção civil no mundo é notória, sobretudo pela sua influência sobre
a economia. Este setor é um dos maiores empregadores industriais em vários países, responsável
por 7% dos postos. Esta cadeia de produção representa cerca de 9% do PIB mundial (HORTA e
CAMANHO, 2014).
No Brasil, a construção civil desempenha um papel importante no contexto econômico. Conforme
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE (2015), no ano de 2014, a
participação do setor da construção civil foi de 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.
O setor abriga desde indústrias nas quais são utilizadas tecnologias de ponta e capital intensivo,
como a de cimento, siderurgia e química, até milhares de microempresas de serviços, sendo a maior
parte dessas com baixo conteúdo tecnológico (SOARES et al., 2016).
O setor da construção civil é frequentemente criticado por suas deficiências em relação à eficácia de
suas estratégias (HÅKANSSON; JAHRE, 2005) e ineficiência da sua gestão (RAZAK BIN
IBRAHIM et al., 2010). As empresas da construção civil possuem características organizacionais
variadas. Desta forma, a compreensão do seu funcionamento, assim como de todo o setor da
construção é necessária para identificar deficiência e orientar possíveis melhorias e oportunidades.
Portanto, o objetivo deste trabalho é analisar a evolução das características organizacionais das
empresas da construção civil.
As configurações organizacionais têm sido objeto de estudos desenvolvidos com o propósito de
ampliar o conhecimento acerca dos elementos determinantes do desempenho organizacional
(MINTZBERG, 2003). Uma estrutura organizacional pode ser definida pela delimitação da
atividade, pela escolha dos critérios de departamentalização, pela definição do grau de
formalização, pela decisão quanto à amplitude de controle e cadeia de comando, pela determinação
do nível de descentralização da autoridade, pelo sistema de comunicação, entre outros
(VASCONCELLOS; HEMSLEY, 2002; PELLICER et al., 2014).
Para efeito deste trabalho, a investigação foi delimitada às características organizacionais de
empresas da construção civil, localizadas em Curitiba e região metropolitana, no Estado do Paraná,
através de coletas de dados realizadas nos anos de 2010, 2012, 2014 e 2016.

2. OBJETIVO
O objetivo principal deste artigo é analisar a evolução das características organizacionais das
empresas da construção civil, de diferentes ramos de atuação, localizadas na Região Metropolitana
de Curitiba, no Estado do Paraná.

3. ESTUDOS ORGANIZACIONAIS
Cunha et al. (2007) definem organização como um conjunto de indivíduos que trabalham de forma
coordenada para atingir objetivos comuns. Estas organizações possuem como características
impessoalidade, hierarquia, objetivos, eficiência e fronteira.
Mintzberg (1983) define estrutura organizacional como simplesmente a soma das maneiras pelas
quais o trabalho é dividido em tarefas e como é realizada a coordenação entre essas tarefas. Daft
(2008) corrobora com Mitznberg (1983) e afirma que é imprescindível a assimilação de alguns
conceitos para que seja possível o desenvolvimento de estudos sobre estruturas organizacionais.
No decorrer dos anos, vários autores procuraram identificar os fatores componentes e
condicionantes das estruturas organizacional, apresentados, respectivamente no Quadro 1 e Quadro
2.
Quadro 1 – Fatores componentes da estrutura organizacional.

Autores Fatores componentes da estrutura organizacional

Especialização do trabalho.
Formalização do comportamento.
Mintzberg (1983) Treinamento e doutrinação.
Agrupamento e tamanho das unidades.
Sistemas de planejamento e controle.
Dispositivos de ligação.
Descentralização vertical e horizontal.
A análise de uma estrutura organizacional deve ser realizada com base
nos aspectos de definição de atividade, escolha dos critérios de
Vasconcellos e Hemsley departamentalização, definição quanto ao nível de centralização,
(1989) amplitude de controle e níveis hierárquicos, além do nível de
descentralização da autoridade, sistemas de comunicação e definição
quanto ao grau de formalização (citado por Perrotti (2004) e Alves
(2010)).
A estrutura organizacional atende a três funções básicas. A primeira
objetiva realizar produtos organizacionais e atingir metas. A segunda
destina-se a minimizar a influência das variações individuais sobre uma
Hall (2004) organização. Por fim, as estruturas são os contextos em que o poder é
exercido, as decisões são tomadas e as atividades são executadas. Tais
estruturas devem levar em conta, além do grau de centralização ou
descentralização, a formalização e a complexidade do negócio, ao que
se chamam de funções da organização.
Fonte: Autores (2018)
Fatores como nível de departamentalização, especialização do trabalho, níveis hierárquicos,
centralização e descentralização e controle sob os funcionários são amplamente citados pelos
autores acima como os principais componentes da estrutura organizacional.
Quadro 2 – Fatores condicionantes da estrutura organizacional.

Autores Fatores condicionantes da estrutura organizacional

Considera como fatores condicionantes o grau de diversificação de


Maximiano (2000)
produtos e clientes, a ênfase nos planos e objetivos e a alocação de
recursos.
Adota o tamanho da organização, a estratégia, a tecnologia e o ambiente
Robbins (2002)
como fatores condicionantes.

As estruturas organizacionais, assim como a divisão do trabalho, as


Mintzberg (2003) formas de coordenação, formalização e descentralização, variam de
acordo com alguns fatores situacionais como ambiente, tamanho da
organização, tecnologia ou processos produtivos utilizados.
Apresenta um modelo contendo os principais fatores condicionantes da
Ozaki (2003)
estrutura organizacional: ambiente externo, fator humano, fator
tecnológico e objetivos.
Fonte: Autores (2018)
Os principais fatores condicionantes da estrutura organizacional, de acordo com os autores
citados acima, são o fator humano, fator externo, fator estratégia e fator tecnologia.

3.1 Estudos organizacionais relacionados ao setor da construção


Durante os anos 1990 e início dos anos 2000 houve um aumento das pesquisas relacionadas às
características das organizações. O trabalho de Handa e Adas (1996) buscou examinar a eficácia
organizacional de empresas de construção do Canadá. Segundo os autores, as variáveis mais
significativas para prever o nível de eficiência organizacional são o nível de integração entre os
processos e a flexibilidade na realização das tarefas.
Uma recente pesquisa realizada por Oyewobi et al. (2016) examinou a relação entre ambiente,
características organizacionais, estratégias competitivas e desempenho, através de um estudo
quantitativo em 72 grandes empresas de construção da África do Sul. Os resultados revelam que as
características organizacionais têm uma influência direta no desempenho organizacional.
Em relação a pesquisas nacionais, Alencar (2015) apresentou uma análise das principais
características organizacionais das empresas do setor da construção civil que atuam em Curitiba e
região. Foram coletados dados de 125 empresas no período entre novembro de 2013 e julho de
2014. Verificou-se que o conservadorismo se mostra presente na estrutura das empresas, com altos
níveis de centralização e hierarquização.
A análise da literatura disponível relacionada ao tema de estudo, apresentada acima, permite
observar a relação existente entre as variáveis organizacionais e o desempenho das empresas de
construção civil.
4. ESTRATÍGIA DE PESQUISA
Esta pesquisa teve como base metodológica o Survey aliado à análise descritiva.

Figura 1 – Etapas de pesquisa

Problema
Como evoluíram as principais características
organizacionais das empresas de construção civil?

Estado da Arte Planejamento do Survey


• Definição das necessidades de informação;
• Identificação das variáveis;
Referencial teórico • Definição da população alvo e amostra;
• Definição das variáveis e do
• Seleção do método para coleta dos dados;
constructo
• Desenvolvimento do instrumento de coleta de dados.

Coleta de dados
• Consulta de questionário s anteriores;
• Aplicação de novos questionário;
• Compilação dos dados;

Revisão da literatura Análise Descritiva


acerca do tema • Boxplot
• Comparação dos • Teste
resultados

Retrato da evolução das características organizacionais das


empresas de construção civil

Fonte: Autores (2018)


Para definir os dados que serão coletados acerca do tema pesquisa, foram analisadas as obras
associados às características organizacionais dos seguintes autores: Woodward (1965), Vasconcelos
e Hemsley (2002), Mintzberg (2003), Hall (2004) Bowditch e Buono (2012).
No Quadro 3 são apresentadas as variáveis consideradas nesta pesquisa. O primeiro grupo de
variáveis é formado pelas variáveis independentes, que segundo Lakatos e Marconi (2006), são
aquelas que exercem influência sobre outra variável, determinando ou afetando o resultado
observado na segunda, com regularidade e precisão. Neste grupo, o “valor” das variáveis é o
resultado de uma escolha feita por aqueles que possuem poder dentro das empresas. O segundo
grupo representa as variáveis dependentes, definidas por Lakatos e Marconi (2006) como
fenômenos ou fatores explicados ou identificados por serem influenciados ou determinados pela
variável independente. Este grupo é formado por características que, supostamente, são resultado de
uma configuração organizacional anteriormente definida.

Quadro 3 – Variáveis relacionadas às características da organização


Grupo Fator Variável
- Nível de centralização da estrutura organizacional
Estrutura
- Nível de hierarquização
- Estilo de gestão da empresa.
Variáveis Forma de Gestão
independentes - Nível de controle exercido sobre os funcionários

- Diferenciação de seus empreendimentos, produtos e


Estratégia serviços em relação aos seus concorrentes.
- Posição em relação à redução de custos

Relações humanas - Nível de interação entre os funcionários


Resultado da - Alinhamento das características dos empreendimentos
estratégia em relação à estratégia.
Variáveis
dependentes - Protagonismo em relação a seguir as tendências de
mercado ou antecipar-se as mudanças
Flexibilidade
- Tempo de resposta da empresa as demandas de
mercado
Fonte: Autores (2018)
A definição da população alvo desta pesquisa foi formada por empresas com atividades vinculadas
à construção civil, localizadas em Curitiba e região metropolitana, ou seja, constroem edifícios,
obras de infraestrutura ou prestam serviços especializados para a construção civil.
A mensuração quantitativa destas características foi realizada através da adoção de uma escala de
diferencial semântico. A escala adotada é composta por sete graus, postos entre duas frases
descritivas ou adjetivos, com os termos mais negativos dispostos à esquerda e os mais positivos à
direita.
Em função da forma de mensuração, o emprego de escalas acrescenta um caráter subjetivo às
análises (SAMARTINI, 2006). Portanto, os resultados finais obtidos devem ser analisados como
tendências e não como valores absolutos.
Os dados utilizados no presente estudo foram coletados através do grupo de pesquisa “Núcleo de
Inovação de Gestão da Construção” (NIGEC) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná. As
coletas foram realizadas através de questionários respondidos por alunos de cursos de pós-
graduação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), que integram o quadro
funcional de empresas de construção civil. Foram realizadas coletas em 2010, 2012, 2014 e 2016. A
opção em utilizar estas quatro bases de dados foi por caracterizarem momentos distintos da encomia
brasileira e, por consequência, do mercado da construção civil.
Para caracterizar o momento econômico nos anos em que as amostras foram coletadas foram
utilizados quatro indicadores econômicos, o produto interno bruto (PIB), a taxa de crescimento da
construção civil, a taxa de desemprego no país e a receita de vendas de materiais de construção
apresentados no Quadro 4.
Quadro 4 – Indicadores econômicos
Ano da coleta 2010 2012 2014 2016
PIB 7,5% 1,9% 0,1% -3,6%
Tx. Cres. Construção 13,1% 3,2% -2,1% -4,4%
Receita de vendas 12,2% 11% 9,2% -6,7%
Tx. Desemprego 6,7% 7,3% 6,8% 11,3%

Fonte: Autores (2018)


O ano de 2010 foi marcado pela retomada do crescimento econômico, após uma momentânea
interrupção por conta da crise internacional em 2009. O ano de 2012, o setor da construção civil
teve crescimento na casa de 3%, uma redução de 7 pontos percentuais em relação a 2010, conforme
Quadro 4, início da retração econômica do país. A partir de 2014 a indústria brasileira presenciou
uma forte retração da demanda, a taxa de crescimento da construção civil atingiu valores negativos,
retraindo 2,1% em relação ao ano anterior, conforme dados do Quadro 2. A recessão econômica
continuou no ano de 2016, com uma retração de 3,6% no PIB e de 4,4% na taxa de crescimento da
construção civil.
A amostra do ano de 2010 é composta por 80 empresas, a de 2012 é composta por 90 empresas, a
de 2014 é composta por 87 empresas e a de 2016 é composta por 60 empresas, totalizando 317
empresas contatadas.

4.1 Procedimento de análise dos dados


As técnicas utilizadas para a análise dos dados deste estudo foram a análise inferencial não-
paramétrica e a estatística descritiva.
A estatística não-paramétrica representa um conjunto de ferramentas de uso mais apropriado em
pesquisas onde não se conhece bem a distribuição e os parâmetros da amostra. Ela não requer a
suposição de que a população está distribuída em forma de curva-normal (LEVIN e RUBIN, 2004).
Neste estudo utilizou-se o teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis, que segundo Levin e Rubin
(2004), é aplicado quando estão em comparação três ou mais grupos de independentes e a variável
deve ser de mensuração ordinal. Este teste indica se há diferença significativa entre os grupos. O
teste avalia uma hipótese nula, que consiste na igualdade dos grupos testados, com um determinado
nível de significância, se a hipótese nula for aceita os grupos não diferem, se a hipótese nula for
rejeitada os grupos possuem diferenças significativas.
A estatística descritiva permite organizar, descrever, analisar e interpretar dados resultantes de uma
pesquisa por meio de quadros, gráficos e indicadores numéricos (MAROCO, 2003; MORAIS,
2005). Hout (2002) define estatística descritiva como o conjunto de técnicas e de regras que
resumem as informações coletadas sobre uma amostra ou população, sem distorção ou perda de
informação.
Os dados desta pesquisa são apresentados através de gráficos boxplots, que são utilizados para
analisar a mediana e a tendência central de um conjunto de dados.
Nesta pesquisa foram testadas as diferenças das amostras de 2010, 2012, 2014 e 2016 para cada
variável. Foi atribuído um nível de significância de 5%, o que significa que o nível de confiança é
de 95%.

De acordo com Levin e Rubin (2004), não existe um nível de significância padrão a ser utilizado,
porém um elevado número de pesquisas tem utilizado 5% por ser um nível tão alto que raramente
aceitaria erroneamente a hipótese.
5 ANÁLISE DOS RESULTADOSAnálise das variáveis independentes
O grupo das variáveis independentes é formado por características organizacionais que são fixadas
por decisão de cada empresa. Ele é subdividido em estrutura, forma de gestão, formação de pessoal
e a estratégia
5.1.1 Análise das variáveis relacionadas à estrutura
O teste de Kruskal-Wallis foi utilizado para verificar se todas as amostras possuem funções de
distribuição iguais ou se pelo menos duas possuem distribuições diferentes, conforme Quadro 5.
Quadro 5 – Teste de Kruskal-Wallis – Fator estrutura

Hipótese Nula Teste Significância Decisão

A distribuição do Nível de Teste de Kruskal-


Aceitar a hipótese
centralização é a mesma entre as quatro Wallis de Amostras 0,826
nula
coletas Independentes

A distribuição do Nível de Teste de Kruskal-


Rejeitar a hipótese
hierarquização é a mesma entre as Wallis de Amostras 0,000
nula
quatro coletas Independentes

O nível de significância é 0,05


Fonte: Autores (2017)
A aceitação da hipótese nula em relação à variável nível de centralização, utilizando 95% de
probabilidade, permite afirmar que não existem diferenças significativas entre as quatro amostras,
visto que a significância para esta variável atingiu o valor de 0,826, ou seja, está variável não se
alterou entre 2010 e 2016. Em relação ao nível de hierarquização, a hipótese nula foi rejeitada, o
que significa que existem diferenças entre as amostras coletadas entre 2010 e 2016, ou seja, houve
mudanças nos níveis de hierarquização das empresas pesquisadas.
O nível de centralização da estrutura organizacional é apresentado no gráfico (a) da Figura 2. A
análise desta figura permite verificar que, em todos os momentos das coletas, as empresas da
construção possuem um elevado nível de centralização. É possível observar que os valores das
medianas permanecem o mesmo, há apenas uma diferença na dispersão dos dados, principalmente
em 2012 e 2014. Outra variável relacionada ao fator estrutura é em relação ao nível de
hierarquização da empresa, apresentado no gráfico (b) da Figura 2. É possível observar que as
medianas relacionadas aos dados de 2014 e 2016 possuem valores maiores na escala, 5 e 6
respectivamente, demostrando o aumento no nível de hierarquização nos anos de queda do
crescimento das empresas
(a) (b)

Figura 2 – Gráficos boxplot das variáveis de estrutura


Fonte: Autores (18)
5.1.2 Análise das variáveis relacionadas à forma de gestão
O fator estrutura é composto pela variável “estilo de gestão” busca avaliar se a empresa possui
características autocráticas ou democráticas, valor 1 e 7 na escala, respectivamente e pela variável
“nível de controle sob os funcionários” que varia de 1 (nenhum controle) a 7 (controle intensivo).
Uma vez realizado o teste de Kruskal-Wallis para as quatro amostras, foi observado que, para 95%
de probabilidade, tanto a variável estilo de gestão quanto a variável nível de controle sobre os
funcionários não apresentam variações relevantes de suas médias, pois em ambos os casos a
significância foi maior que o nível estipulado de 0,05 (Quadro 6).
Quadro 6 – Teste de Kruskal-Wallis – Fator forma de gestão

Hipótese Nula Teste Significância Decisão


Teste de Kruskal-
A distribuição do Estilo de Gestão é
Wallis de Amostras 0,126 Aceitar a hipótese nula
a mesma entre as quatro coletas
Independentes
A distribuição do Nível de controle Teste de Kruskal-
sob os funcionários é a mesma entre Wallis de Amostras 0,079 Aceitar a hipótese nula
as quatro coletas Independentes
O nível de significância é 0,05
Fonte: Autor (2018)
A aceitação da hipótese nula em relação às variáveis do fator forma de gestão permite afirmar que
as quatro amostras não se alteraram no decorrer dos anos, ou seja, podemos considerar para este
fator uma amostra única. Isto significa que o estilo de gestão e o nível de controle sobre os
funcionários não se alteraram com as variações econômicas do setor.
(a) (b)

Figura 3 – Gráficos boxplot das variáveis da forma de gestão


Fonte: Autores (2018)
Apesar da variação na distribuição no ano de 2016, é possível observar na Figura 3 (b) que, em
todas as coletas, o valor da mediana é 5, apontando que as empresas tendem a controlar, mesmo que
sem muita intensidade, as atividades dos funcionários.
5.1.3 Análise das variáveis relacionadas à estratégia
As variáveis “preocupação com a diferenciação dos empreendimentos” e “posição em relação à
redução de custos”, que compõem o fator estratégia, estão diretamente ligadas ao posicionamento
estratégico da empresa.
Através do teste de Kruskal-Wallis, apresentado no Quadro 7, observa-se que a variável
preocupação com a diferenciação dos empreendimentos apresentou grande variação na distribuição
entre as amostras, diferente da variável posição em relação à redução de custos onde a hipótese nula
foi aceita, indicando que a distribuição é a mesma entre as quatro coletas.
Quadro 7 – Teste de Kruskal-Wallis – Fator estratégia
Hipótese Nula Teste Significância Decisão

A distribuição da Preocupação com


Teste de Kruskal-
a diferenciação dos Rejeitar a hipótese
Wallis de Amostras 0,000
empreendimentos é a mesma entre nula
Independentes
as quatro coletas

A distribuição da Posição em Teste de Kruskal-


relação à redução de custos é a Wallis de Amostras 0,105 Aceitar a hipótese nula
mesma entre as quatro coletas Independentes
O nível de significância é 0,05
Fonte: Autores (2017)
Os resultados do teste de Kruskal-Wallis indicam que as empresas da construção alteraram o nível
de preocupação com a diferenciação dos empreendimentos entre os anos analisados, ao contrário do
posicionamento em relação à redução de custos, que se manteve sem alterações.
Á analise das medianas, através da Figura 4, permite observar o ápice da variável “preocupação
com a diferenciação dos empreendimentos”, representada no gráfico (a) na coleta de 2014, onde a
mediana foi 6 na escala. Já em relação à variável “posição em relação à redução de custos”,
representada no gráfico (b), fica evidente a concentração dos dados nos valores maiores da escala,
com a mediana em todas as coletas entre 5 e 7 e a distribuição das respostas entre 4 e 7.
(a) (b)

Figura 4 – Gráficos boxplot das variáveis da estratégia


Fonte: Autores (2018)
É possível que a variável “preocupação com a diferenciação dos empreendimentos” tenha
atingido o maior valor na escala devido ao aumento da competitividade entre as empresas
concorrentes. Já à variável “posição em relação à redução de custos” demostra uma preocupação
constante das empresas de construção, independente do momento econômico.

5.2 Análise das variáveis dependentes


O grupo das variáveis dependentes é formado por características organizacionais às quais ocorrem
em consequência de decisões tomadas pela empresa em relação ao seu modo de se organizar e
funcionar. Essas variáveis foram subdivididas em relações humanas, resultado da estratégia e
flexibilidade.
5.2.1 Análise da variável relacionada a relações humanas
O fator relações humanas é composto pela variável “nível de interação dos funcionários” que
analisa a quantidade de informações formais e informais trocadas entre os funcionários, variado de
1 (sem troca de informações) a 7 (intensa troca de informações).
A realização do teste de Kruskal-Wallis, apresentado no Quadro 8, confirma a pouca variação no
nível da interação dos funcionários, apresentada anteriormente.
Quadro 81 – Teste de Kruskal-Wallis – Fator relações humanas

Hipótese Nula Teste Significância Decisão


A distribuição do Nível de interação Teste de Kruskal-
Aceitar a hipótese
dos funcionários é a mesma entre as Wallis de Amostras 0,297
nula
quatro coletas Independentes
O nível de significância é 0,05
Fonte: Autores (2018)
A aceitação da hipótese nula no teste de Kruskal-Wallis (p = 0,297 > 0,05) permite concluir que,
com uma significação de 5%, as quatro amostras coletadas não apresentaram diferenças
significativas.
A análise das medianas, através da Figura 5, mostra que não houve variação da mediana nas 4
coletas analisadas, apontando que a interação dos funcionários não é impactada pelas variações do
momento econômico.

Figura 5 – Gráfico boxplot da variável de relações humanas


Fonte: Autores (2018)
A não variação das medianas da variável “nível de interação dos funcionários” demostra que,
independente do momento econômico, essa é uma característica dos trabalhadores da construção
civil, possivelmente pelo dinamismo das atividades que compões o setor.

5.2.2 Análise da variável relacionada ao resultado da estratégia


O fator resultado da estratégia é composto pela variável “alinhamento das características dos
empreendimentos realizados com a estratégia adotada pela empresa”. O teste de de Kruskal-Wallis,
apresentada no Quadro 9, rejeita a hipótese nula e permite concluir que existem diferenças
significativas no alinhamento das características dos empreendimentos com a estratégia entre as
quatro coletas.
Quadro 92 – Teste de Kruskal-Wallis – Fator estratégia

Hipótese Nula Teste Significância Decisão


A distribuição do Alinhamento das
Teste de Kruskal-
características dos empreend. com a Rejeitar a
Wallis de Amostras 0,029
estratégia é a mesma entre as quatro hipótese nula
Independentes
coletas
O nível de significância é 0,05
Fonte: Autores (2018)
É possível observar, através da análise das medianas, na Figura 6, que a coleta do ano de 2010
apresentou valor 4 na escala, indicando um menor alinhamento dos empreendimentos com a
estratégia. O maior valor da mediana, entre as quatro coletas, foi no ano de 2016, momento de crise
econômica, quando as empresas buscaram alinhar seus empreendimentos com a estratégia adotada.
Figura 6 – Gráfico boxplot da variável de resultado da estratégia
Fonte: Autores (2018)

5.2.3 Análise das variáveis relacionadas à flexibilidade


As variáveis utilizadas para analisar a flexibilidade da organização são o “protagonismo em relação
ao mercado” e o “tempo de resposta da empresa às demandas do mercado”.
A aceitação da hipótese nula no teste de Kruskal-Wallis para as duas variáveis, Quadro 10, permite
concluir que não existem diferenças significativas tanto no protagonismo em relação a seguir as
tendências de mercado (p=0,503 > 0,05) quanto no tempo de resposta às demandas do mercado
(p=0,104 > 0,05).
Quadro 10 – Teste de Kruskal-Wallis – Fator flexibilidade

Hipótese Nula Teste Significância Decisão


A distribuição do Protagonismo em relação Teste de Kruskal-
Aceitar a
ao mercado é a mesma entre as quatro Wallis de Amostras 0,503
hipótese nula
coletas Independentes
A distribuição do Tempo de resposta as Teste de Kruskal-
Aceitar a
demandas do mercado é a mesma entre as Wallis de Amostras 0,104
hipótese nula
quatro coletas Independentes
O nível de significância é 0,05
Fonte: Autores (2018)
A análise da variável “protagonismo em relação ao mercado”, apresentada no gráfico (a) da Figura
7, mostra a grande incidência de respostas entre os valores 4 e 5 da escala, indicando que, em todas
as coletas, as empresas seguem as tendências do mercado e estão preocupadas em anteciparem-se às
mudanças. Já em relação ao tempo de resposta da empresa às demandas do mercado, que pode ser
por novos produtos, tecnologias diferenciadas, certificações e outros. A partir do gráfico (b) da
Figura 7 é possível observar que as empresas da construção civil tendem a responder as demandas
do mercado com um tempo médio, com as medianas mantendo-se entre 4 e 5 na escala,
demostrando que esta variável não sofreu alterações com as mudanças econômicas ocorridas nos
períodos das coletas.
(a) (b)

Figura 7 – Gráficos boxplot das variáveis de flexibilidade


Fonte: Autores (2018)

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho busca contribuir para que as organizações possam adequar suas características
organizacionais e realizar um planejamento estratégico observando a evolução destas variáveis em
relação às alterações do cenário econômico. Em relação às variáveis independentes, é possível
concluir que as empresas pesquisadas se apresentam centralizadas, independente do momento
econômico, isso aponta que a centralização é uma característica das empresas de construção. A
análise das variáveis dependentes permite concluir que as empresas não alteram suas características
em relação à flexibilidade e à relação de seus funcionários e durante variações econômicas,
apontando essas características, assim como a centralização, como peculiar das empresas da
construção civil. Diante das evidencias constatadas neste estudo, conclui-se de forma geral que as
empresas do setor da construção civil da região de Curitiba, Estado do Paraná, possuem estruturas
predominantemente centralizadas, porém com grande capacidade de flexibilidade e busca por
aperfeiçoamento de seus funcionários.

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REFLEXÕES NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL:
ADMINISTRAÇÃO DA PRODUÇÃO, MÉTODO SHEWART
E LEAN PROCUREMENT
Reflections in the Civil Construction Industry:Production Administration,
Shewart and Lean Procurement

Ana Celia Vidolin*1, Cezar Augusto Romano2

¹Mestranda UTFPR PPGEC, Curitiba/Paraná,ana.vidolin@uol.com.br


2
Professor UTFPR PPGEC, Curitiba/Paraná, Cezar Augusto Romano caromano@utfpr.edu.br

Resumo: O cenário das inovações tecnológicas e o incremento da concorrência requerem das


organizações aprimoramento de seus processos produtivos. Apesar das diferenças entre os distintos
tipos de organizações, elas têm semelhantes áreas como comercial, contábeis, gestão de pessoas,
compras e produção. E esse cenário não é dessemelhante para as organizações que atuam na
indústria da construção civil que vivem em ambientes cada vez mais acirrados. O presente artigo
busca estudar as relações e contribuições do planejamento e controle da produção na construção
civil, com a aplicação do processo de compras enxuto e a validação dessas atividades com a
ferramenta de Shewart. Para concretizar o objetivo deste trabalho utilizou-se uma pesquisa aplicada,
exploratória e qualitativa. O adequado planejamento e controle da produção, somado a compra que
atende as demandas técnicas, no momento, quantidade, especificações corretas e com qualidade
corrobora no processo produtivo para manutenção da qualidade e eliminação dos desperdícios,
tornando o processo produtivo mais enxuto, proporcionando maior produtividade nas atividades
(operacionais e gerenciais) e maior competitividade à organização. A prática do lean procurement
possibilita condições para se ter um processo produtivo que agrega valor e elimina as fontes de
perdas com o incremento da efetividade. A gestão da administração da produção, alinhada com
ações de lean procurement vem a dar robustez ao lean construction. Desta forma alavanca os
resultados da organização e a prática da melhoria continua em seus processos.

Palavras-chave: planejamento e controle da produção, método Shewart, lean procurement.

Abstract: The scenario of technological innovations and increased competition require


organizations to improve their production processes. Despite the differences between different types
of organizations, they have similar areas such as commercial, accounting, people management,
purchasing and production. And this scenario is not dissimilar to the organizations that work in the
construction industry that live in increasingly fierce environments. This article aims to study the
relationships and contributions of planning and production control in civil construction, applying
the lean purchasing process and validating these activities with the Shewart tool. To achieve the
objective of this work, an applied, exploratory and qualitative research was used. The adequate
production planning and control, in addition to the purchase that meets the technical demands, at the
moment, quantity, correct specifications and with quality corroborates in the production process for
quality maintenance and waste elimination, making the production process leaner, in the activities
(operational and managerial) and greater competitiveness to the organization. The practice of lean
procurement enables conditions to have a productive process that adds value and eliminates the
sources of losses with increasing effectiveness. The management of production management,
aligned with lean procurement actions, strengthens lean construction. In this way, it leverages the
results of the organization and the practice of continuous improvement in its processes.

Keywords: planning and production control, Shewart method, lean procurement

1. INTRODUÇÃO
A dinâmica do mercado da construção civil demanda das empresas atuantes no segmento análises
pertinentes a administração da produção aplicados na construção civil. A administração da
produção comporta a estratégia necessária para a boa administração da produção civil. Com a
gestão da produção da construção civil, alcança-se a efetividade, o consumo consciente dos
materiais, a gestão do tempo e principalmente o atingimento das metas da organização, redução de
custos, produto de qualidade para o cliente e o aumento dos lucros.
Outro fator que contribui no incremento da gestão é a prática do processo de compras enxuto,
também conhecido como lean procurement. Tradicionalmente a atividade de compras tinha a
responsabilidade de prover a aquisição da compra de materiais e serviços no momento requerido,
com o menor custo e maior qualidade para atender as demandas do cliente. Todavia essa atividade
assumiu dimensões de responsabilidade do incremento do fluxo de informações e materiais ao
longo da cadeia de suprimentos como um todo. Logo, a melhor prática na gestão da atividade de
comprar distancia-se do restrito perímetro da negociação contratual, e orienta-se pelo
estabelecimento de fundamentos operacionais demandados, envolvendo a atividade da compra
estratégica como pesquisa de mercado, avaliação de vendedor e integração na cadeia de
suprimentos. Ainda no perímetro de compras, aspectos como nível de inventário, itens críticos no
atendimento das demandas produtivas tem relações com a performance financeira da organização;
além de poder garantir a competitividade. Para completar o viés de análise em termos da construção
civil perpassando a administração da produção e a prática do lean procurement, há a ferramenta
Shewart ou Método PDCA. Esse método auxilia na tratativa de uma atividade, planejamento, ação,
checagem e avaliação. Qualquer atividade que for submetida a essa sequência de ações iniciando
com planejamento adequado a demanda, a execução feita orientada em concordância com o prévio
planejamento, a verificação da atividade feita, e ajuste conforme necessidade existir, terá uma
efetividade de destaque.
O ambiente da indústria da construção civil competitivo que se tornou, clientes demandando níveis
de satisfação mais elevados, requer o emprego de métodos e técnicas que aportem qualidade na
gestão da organização. À vista desses elementos, cabe nos investigar sob quais perspectivas as
contribuições do planejamento e controle da produção na construção em conjunto com boas práticas
da compra enxuta assessorados pelo método Shewart podem cooperar de forma segura para a
efetividade e competitividade da organização da construção civil.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Administração da Produção


Toda organização visa dirimir riscos, maximizar lucros; e a tomada de decisão traz consequências
que afetam a organização. Assim sendo; estratégia de produção “consiste na definição e um
conjunto de políticas, no âmbito da função de produção, que dá sustento à posição competitiva da
unidade de negócios da empresa”. (TUBINO, 2009, p.39).
Já para Gaither e Frazier (2002, p.5), a administração da produção “é a administração do sistema de
produção de uma organização, que trasforma os insumos·em produtos e serviços na da
organização”.
Slack, Brandon-Jones e Johnston (2013, p.6) contribuem que a administração da produção é do
gerenciamento os recursos que geram e entregam produtos e serviços. Os autores contribuem que “a
administração da produção usa recursos para criar apropriadamente outputs que atendam às
necessidades de mercado”. Os autores reiteram que o objetivo da administração da produção seja o
mesmo em todas as organizações.
E Côrrea e Côrrea (2017, p.4, p.5) definem a gestão de produção e operações como o
“gerenciamento estratégicos dos recursos escassos […], de sua interação e dos processos que
produzem e entregam bens e serviços, visando atender a ncessidades e/ou desejos de qualidade,
tempo e custo de seus clientes”.
Tubino (2009) destaca que a estratégia de produção deve ser norteada pelos processos de
desempenho e política para áreas diversas na tomada de decisão do sistema produtivo. Como
processos para desempenho aceitável para as demandas do planejamento estratégico, a ação de
produzir com custo inferior que os demais no mercado, com qualidade superior; credibilidade e
agilidade na entrega; capacidade de reação as ocorrências não aguardadas e a prática respeitosa e a
condição ética na negociação perante a sociedade, são elementos para atenção da organização. Em
complemento, Tubino (2009) elenca áreas de decisão e seus respectivos detalhamentos (tabela 1):

Tabela 1 Detalhamento áreas de decisão

Planejamento e
Capacidade de Integração Recursos
Instalações Tecnologia Organização Qualidade Controle da Novos Produtos
Produção Vertical Humanos
Produção
qual localização definir seu nível, estabelecer determinar precisar esturtura caracterizar como atribuir definir sistemas com qual
Detalhamento

geográfica, como atingir e equipamentos e produção interna organizacional, recrutar, responsabilidades de PCP, política frequência lançar e
tamanho, volume, como promover sistemas, grau de da empresa,o que nível de selecionar, , tipos de de compras e desenvolver
mix de automoção, comprará de centralização, contratar, controles, normas estoques, nível de produtos e qual a
produção,grau de flexibilidade, como terceiros e formas de desenvolver, e ferramentas de informatização relação entre
especialização, atualizar e difundir estabelecer comunicação e avaliar, motivar e decisão, padrões das informações, produtos e
arranjo físico e política com controles de remunerar a mão e formas de definir ritmo de processos
forma de fornecedores atividades de obra comparação produção e
manutençaão controles

Fonte: Tubino (2009, p.40) modificado

Côrrea e Côrrea (2017) afirmam que a gestão de operações consiste na coordenação dos recursos e
processos para a entrega ao cliente do produto. Todavia, a estratégia de operações está relacionada
com “o processo global da função de produção do negócio como um todo” (Côrrea e Côrrea, 2017,
p.35); que envolvem as interfaces do negócio, dar sustentação a área produtiva alinhada com as
mudanças, e não menos importante a criação de competências para a organização e geração de
vantagens competitivas. Para Tubino (2000), os diferentes tipos de sistemas de produção servem de
arcabouço para a compreensão da complexidade dos produtos, tipos de operações requisitadas e
natureza dos produtos.
Já Chiavenato (2014, p.18) contribui que a gestão da produção requer planejamento para alcançar a
eficiência e a eficácia. Eficiência “é a utilização adequada dos recursos empresariais [...] reside em
fazer as coisas corretamente”; e eficácia está ligada “aos objetivos que a empresa pretende alcançar
com suas operações”. A tabela 2 apresenta as características pertinentes à eficiência e eficácia:

Tabela 2 – Características da eficiência e da eficácia


Eficiência Eficácia
Relacionada com os meios Relacionada com os fins
Relacionada com métodos e processos Relacionada com resultados a alcançar
Busca a melhor aplicação dos recursos Busca o melhor alcance dos objetivos
Busca a execução correta da tarefa Busca a tarefa mais importante para o resutado
Exemplo: resolver metas, fazer corretamente as coisas; jogar futebol com Exemplos:atingir metas; conquistar resultados;marcar gols e ganhar a
arte partida
Fonte: Slack, Brandon-Jones, Johnston 2013, p.6 (modificado)

Para uma organização é importante ter eficiência e eficácia unidas, pois é a excelência da
organização que é destaque nessa condição. Assim a fig. 1 concatena o alcance dos objetivos com a
utilização dos recursos, com grau de variação de baixo até alto graus. As combinações desses duas
premissas tem condições da organização ser: (i) nem eficaz, nem eficiente; (ii) ser eficaz mas não
eficiente; (iii) ser eficiente mas não eficaz e a (iv) condição que dá excelência para a empresa ser
eficiente e eficaz. (Chiavenato, 2014).

Baixo Utilização dos recursos Alta

Alto Eficaz, mas não eficiente: Eficaz e eficiente:

atinge objetivos, mas alguns objetivos são atingidos e


recursos são desperdiçados recursos são bem utilizados
Alcance dos objetivos

Alta produtividade e
elevado desempenho

Nem eficaz nem eficiente: Eficiente, mas não eficaz:

objetivos não atingidos: recursos são bem


recursos desperdiçados no aplicados, mas os objetivos
processo não são alcançados

Desempenho precário Desempenho precário

Baixo

Fig. 1 – Relação eficiência e eficácia Chiavenato 2014, p.19

Segundo Guerrini e Sacomano apud Abenge a ausência de ênfase em produção civil tem levado o
país a perdas na competitividade no setor por não ter conhecimento técnico, lógico-analítico e
humanístico. Dentre os elementos do conhecimento técnico são elencados a elaboração de custos, a
administração da produção, a gestão da produtividade e da qualidade. Para os autores os tempos não
produtivos ao longo do processo produtivo, comprometem a eficácia na execução da obra.
2.2. Lean Procurement
Womack et al (2007), conceberam a caracterização do termo lean ao analisar a indústria
automobilística no mundo com base no Sistema Toyota de Produção, que resulta na eliminação dos
desperdícios, ganhos em produtividade e qualidade. Os referidos autores apresentam o conceito de
“enxuto”, sob a forma de lean production. O objetivo é orientar as organizações e de seus
interessados de como gerir uma produção diversificada, com pequenos lotes, tempo menor de
produção, flexibilidade, qualidade e custo reduzido, para melhor atender seu cliente.
Pascal (2008) corrobora que o Sistema Toyota de Produção (STP) ou produção lean visa produzir
mais com menos recursos de tempo, material, máquinas, espaço, empenho humano, material; e
atender as expectativas do cliente. Para que se produza mais com menos, a premissa é a redução de
desperdícios. O Sistema Toyota de Produção baseia-se em 80% na revogação das perdas, 15% no
sistema produtivo e 5% com o kanban. Nessa linha de raciocínio, a Toyota aplica o princípio do
“não custo”, ou seja, se alguma matéria prima ou componente tem seu preço elevado, a empresa não
aumenta seu preço de revenda para o cliente; e sim a forma de aumentar o lucro é subtrair do preço
de venda o custo, obtendo então o lucro. (Shingo, 1996).
Na esteira do tratamento lean, toda atividade humana que absorve recursos, mas não produz valor é
desperdício, e são situações como retrabalho, produção de itens não solicitados, excesso de itens em
inventário, etapas desnecessárias no processo, movimentação de funcionários, transporte de
mercadorias de uma lado para outro sem demanda, funcionários trabalhando com baixa
produtividade, aguardando os itens dos estágios produtivos prévios porque as atividades anteriores
não foram coordenadas a tempo hábil; e produtos e serviços que não atendem as demandas do
cliente, são todas consideradas como desperdício. (WOMACK et al, 2007).
Em complemento, Shingo (1996) advoga para que uma empresa mantenha ou aumente seus lucros,
faz-se necessário a redução dos custos; toda organização pode eliminar as perdas ou muda, e nas
organizações há dois tipos de operações, conforme a tabela 3:
Tabela 3 – Tipos de operações
Operações que agregam valor Operações que não agregam valor
atividades que modificam a matéria prima, atividades que não agregam valor, como procurar
transformando-a seja na qualidade ou na forma, documentos não arquivados, deslocar-se para buscar
aumentando seu valor material

Fonte: Os Autores 2018

Wilson e Roy (2009) completam que lean procurement tem definições distintas entre as
organizações; podendo ser considerada como filosofia, cultura de trabalho, técnica, conceito de
gestão, valor, ou uma metodologia. Entretanto existe um denominador comum entre todas as
organizações, a contínua aprendizagem nem sempre de livre vontade dentro das organizações.
Qualquer organização exige comprometimento, disciplina, confiabilidade e apoio dos fornecedores
da rede de suprimentos para ter sucesso. As organizações que implementam a aquisição lean
seguem suas próprias maneiras, implicando que não há dois sistemas de aquisição lean exatamente
iguais; pois cada empresa tem suas questões específicas.
Para Liker (2004), o lean pode ser aplicado de maneira eficiente em todos os processos de negócios,
incluindo o procurement; bem com os relacionamentos com fornecedores que são de grande
importância para o êxito do negócio. O referido autor complementa que o lean é aplicado nas
atividades da organização e que os princípios, métodos e ferramentas são geralmente os mesmos
entretanto em certa medida diferem. No entanto, o lean é tão importante nos processos de apoio
administrativo, como a compra, ou produtivo.
A compra de em pequenos lotes com fornecedores com entregas em quantidades certas, em horário
e local acordados é distinta da compra tradicional. A relação entre o comprador e fornecedor é uma
orientação de longo prazo, trazendo a confiança e compromisso para a relação entre as empresas; ao
contrário das compras tradicionais que as considerações de preços dominam. O comprador pode em
um sistema enxuto incluir o uso de embalagens reutilizáveis, tipo padrão, reduzindo geração de
resíduos e fomentando a partilha de informações com fornecedores para um arranjoo mais amplo na
cadeia de suprimentos. (Wilson e Roy, 2009)

2.3. Método Shewartt


O ciclo de melhoria contínua ou Ciclo PDCA, visa o “identificar e organizar as atividades de um
processo de solução de problemas de forma a garantir, de maneira eficaz, o desenvolvimento de
uma atividade planejada” (Lobo, 2010, p.39); e Campos (2004, p.33) admite que uma organização
necessita ter um método de controle de suas atividades; e esse método é o Ciclo PDCA, que
representa “um método para a prática do controle”.
O método Shewart analisa o processo desde a sua fase de planejamento até o resultado obtido em
busca de melhoria contínua, utilizando a estatística e gráficos de fácil aplicação (Carvalho; Paladini,
2005). Já Marshall Junior et al. (2003, p.78) cooperam em afirmar que o ciclo PDCA “é um método
gerencial para a promoção da melhoria contínua e reflete, em suas quatro fases, a base da filosofia
do melhoramento contínuo. Praticando-as de forma cíclica e ininterrupta na organização,
consolidando a padronização de práticas”. Nesse contexto Vieira (2014, p.24), também admite que
“o ciclo PDCA é um método gerencial de tomada de decisões para garantir o alcance das metas
necessárias à sobrevivência de uma organização”; e é largamente empregado na busca da melhoria
contínua para o êxito dos negócios. Shewhart apud Garvin (1992) observa que há sempre variação
no processo de produção, e que essa variação podia ser entendida utilizando as estatísticas do
processo; dessa forma seria possível definir as oscilações aceitáveis que não causariam problema
aos produtos.
Campos (2004) corrobora que o Ciclo PDCA tem quatro fases: planejamento; execução; verificação
e atuação corretiva. Para o planejamento definem-se itens de controle e metas e formas para atingi-
las; a execução é responsável pelas práticas; de posse dos dados, compara-se com as metas, e essas
ações compõem a verificação; e por último os desvios identificados são tratados com ações
corretivas.
Conforme Aguiar (2006), a organização tem na sua rotina a atenção voltada para a produção de
bens e serviços em conforme acordado. Assim “gerenciar pelo PDCA de manutenção da qualidade
é fazer produzir de acordo com os procedimentos operacionais padrão (POP) da empresa” (Aguiar,
2006, p.27). Outra importante contribuição diz respeito a adaptação da terminologia por alguns
estudiosos, na substituição do P (planejamento) pelo S (standard); assim tem-se o ciclo PDCA para
SDCA; alternância de melhorias contínua e radical, sustentadas por momentos de manutenção.
(MARSHALL JUNIOR et al. 2003)
E Lélis (2012) contribui que o objetivo é que a empresa sempre esteja em processo de melhoria e de
revisão de seus processos, logo a melhora constante do desempenho da empresa por meio das etapas
sequenciais do ciclo.
Em se tratando do caso da aplicação como manutenção, o processo tem repetição e “consta
essencialmente do cumprimento de procedimentos padrão de operação” (Campos, 2004, p.35);
nesse caso os itens que balizam o controle são qualidade, quantidade, custo. A aplicação do Ciclo
PDCA enquanto manutenção diz respeito a um processo que é repetitivo e o plano tem uma meta
“que é uma faixa aceitável de valores e de um método que compreende os “procedimentos padrão
de operação” (Campos, 2004, p.35). E se tratando da aplicação como melhoria do nível de controle,
o processo não se repete, o plano tem uma meta de valor definido e um método que é composto por
meios para atingir as metas. Ao empregar-se o Ciclo PDCA na análise de um problema, coloca-se
em prática uma metodologia com estruturação, que evita a tomada de decisão sem fundamentação,
evitando custos. O Ciclo PDCA conduz a abordagem correta dos problemas, melhoria contínua
padronizada e geração de oportunidades.
De acordo com Campos (2004), todas as organizações empregam o Ciclo PDCA em suas
atividades, à nível de operadores, ou enfoque de manutenção, pois padrões devem ser atingidos.
Entretanto, à medida que posições de trabalho mais altas dentro da hierarquia são atingidas, aplica-
se o Ciclo PDCA com viés de melhoria; assim há junção de processos de manutenção e melhorias
nos processos existentes. Dessa união de técnicas há melhores definições, um momento de
manutenção, a busca de novas melhorias, sempre definindo novos padrões, novos controles. O
gerenciamento da melhoria, responsabilidade da alta direção está relacionado com nível estratégico,
com foco na eficácia organizacional; e o gerenciamento da rotina está sob responsabilidade dos
colaboradores e busca a eficiência da organização, empregando “obediência aos padrões de
trabalho, para evitar alterações ou mudanças que possam comprometer os níveis de qualidade
estabelecidos” (MARSHALL JUNRIOR et al., 2003, p.82).

3. METODOLOGIA
Para a concretização do objetivo do trabalho de reflexão à cerca dos elementos que compoem o
substrato das relações entre a administração da produção, método Shewart e lean procuremen
contou com a realização de uma pesquisa aplicada, exploratória e qualitativa.
Para Oliveira (2010, p.60), a abordagem qualitativa, “facilita a apresentação de resenhas, descrição
detalhada dos fatos e fenômenos observados”, e surge quando as informações sobre um
determinado assunto não podem ser quantificadas, fazendo-se necessário a interpretação
(TRIVIÑOS, 1987).
Tratando dos procedimentos, empregou-se a pesquisa bibliográfica preparada a partir do
levantamento de referências teóricas já analisadas e publicadas nos meios físicos e/ou eletrônicos.
A análise de dados que fundamentou a pesquisa refere-se a pesquisa bibliográfica, qualitativa com
base em informações que não podem ser quantificadas;logo aplica-se a interpretação. O artigo teve
como fonte bibliografias publicadas em bases de dados técnicos científicos, com indexações de
periódicos de artigos, teses, livros, trabalhos de congressos.
Para a coletênea do material bibliográfico foram estabelecidas palavras chaves que melhor retratam
o tema abordado. Após pesquisa exploratória por meio de sondagem dos trabalhos com maior
número de citações no Google Acadêmico, as palavras chave escolhidas foram: “lean
procurement”, “administração da produção”, “método Shewart”. A escolha do Google Acadêmico
deu-se por ter alto grau de acessibilidade e volume amplo de periódicos científicos.
Dando sequência na pesquisa, consultou-se o “Portal de Periódicos CAPES” para acesso da base
Web of Science do ISI (Institute for Scientific Information). A base Web of Science foi adotada por
apresentar volume de expressão de periódicos de relevância à respeito do tema abordado. Para
garantir a qualidade dos resultados da pesquisa foram empregada palavras chaves pertinentes ao
tema, com procedimento estruturado e uma análise sistematizada.
Desta maneira, o composta da análise dos dados deu-se em dois momentos específicos: o primeiro a
análise dos documentos técnicos, e o segundo a interpretação. Ao longo das apreciações dos temas,
foi possível elaborar raciocínios a respeito das relações entre esses temas e seus reflexos, relações
de causa e efeito em termos da gestão da indústria da construção civil.

4.RESULTADOS
Após as reflexões que a pesquisa nos conduziu, tem-se que a administração da produção é
responsável pela transformação de insumos em produtos e ou serviços ou outputs de uma forma
geral em uma organização. Na organização os recursos materiais, humanos, tecnológicos,
temporais, financeiros dentre outros necessitam de gerenciamento pois são escassos. A adequada
interação dos processos que geram e oferecem bens e serviços aos clientes, busca atender a
demandas ou anseios por qualidade, tempo e custo dos clientes. No que tange a estratégia de
produção o desempenho deve ser orientado segundo uma política produtiva, que contemple a
própria capacidade produtiva, os recursos humanos, a estrutura da organização, criação de novos
produtos para que a empresa de construção civil possa estruturar-se e dispor de uma estratégia
empresarial e ter uma postura de vantagem competitiva. .
Ainda no escopo da produção pode-se concatenar com a administração da produção com a compra
enxuta ou lean procurement, que visa a aquisição de insumos em pequenos lotes e o relacionamento
entre comprador e fornecedor é orientada aos relacionamentos de longo prazo, alicerçada na
confiança e comprometimento entre as partes. A aquisição em pequenos lotes evita o desperdício de
materiais no que tange recursos físicos, financeiros, de mão de obra, de espaço para disposição,
além de dirimir perdas, quebras e danos generalizados.
Em complemento da gestão da administração da produção, seja da compra enxuta, o método
Shewart pode ser aplicado desde a fase de planejamento até a conclusão do produto, alicerçado na
melhoria continua dos processos, assegurando a sobrevivência da organização e êxito da
organização. O Método Shewart baseia-se no planejamento, execução, verificação e atuação
corretiva; definindo-se itens de controle e metas para as práticas; ações verificadas e os pontos de
desvios são abordados com ações corretivas.
Com a observação da administração da produção, compra enxuta e método Shewart percebe-se que
há áreas de sobreposição entre aqueles, e que existe uma complementariedade que uma área pode
aportar à outra, resultando em resultados mais assertivos, com operações que agregam valor ao
produto final, mais eficiência, mais eficácia, menos perdas, mais qualidade e atendimento das
expectativas do cliente.
Fig. 2 – Proposta de Relações Intrínsecas na Indústria da Construção Civil.
Fonte: Os Autores 2018

A fig 2 apresenta uma proposta de relações intrínsecas envolvendo administração da produção, lean
procurement e Método Shewart para a indústria da construção civil.

5. CONCLUSÃO
Mediante o presente estudo analisou-se os aspectos conferidos pela administração da produção
alinhados com o lean procurement sendo sustentados pela prática do método Shewart. Pode conferir
à organização atuante na indústria da construção civil. Gerar competências para a organização,
prepara-la para as mudanças, render vantagens competitivas são algumas das benesses que a
administração da produção traz para a organização. A forma de incremento do lucro com a redução
dos desperdícios, eliminação de desperdícios, ganhos em produtividade, o comprometimento e a
disciplina e a criação de um relacionamento de confiança entre comprador e fornecedor são algumas
das vantagens que o lean procurement capacita da organização. O método Shewart é uma forma de
controlar as atividades, imprimindo a melhoria contínua, fomentando a geração de procedimentos
operacionais padrão e a correta abordagem dos problemas, contribui significativamente para a
organização. Esses são elementos direcionadores para a organização ter eficiência e eficácia em seu
processos, demonstrando assim que um processo de planejamento preparado, aufere a organização
um melhor posicionamento estratégico e uma postura no mercado mais competitiva face aos seus
concorrentes. Desta forma a organização da indústria da construção civil atinge a excelência em
seus processos demonstrando ter qualidade em sua gestão organizacional.

REFERÊNCIAS
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abordagem estratégica.São Paulo: Atlas,2017.
[5]-TUBINO, D. F. Manual de planejamento e controle da produção. São Paulo:Atlas, 2000.
[6]-CHIAVENATO, I. Gestão da Produção: uma abordagem introdutória. Barueri:Manole, 2014
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http://www.abenge.org.br/cobenge/arquivos/20/st/q/q062.pdf. Acesso em 22 out 2018
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Serviços Ltda, 2004.
[10]-CARVALHO, M. M.; PALADINI, E.P..(Org.) Gestão da Qualidade: teorias e casos. Rio de Janeiro: Elsevier,
2005.
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McGraw-Hill, 2004.
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enterprises. Journal of Manufacturing Technology Management,2009, Vol. 20 Issue: 6,817-833,
https://doi.org/10.1108/17410380910975096.Disponível em:
https://www.emeraldinsight.com/doi/abs/10.1108/17410380910975096. Acesso em 20/out 2018.
[21]-OLIVEIRA, M. M. Como fazer pesquisa qualitativa. 3.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2010.
[22]-TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São
Paulo: Atlas, 1987.
ESTUDO COMPARATIVO DAS CARACTERÍSTICAS ORGANIZACIONAIS
E NÍVEL DE EFETIVIDADE ESTRATÉGICA ENTRE OS SEGMENTOS DA
CONSTRUÇÃO CIVIL E INDÚSTRIA DE MANUFATURA

Comparative study of organizational characteristics and level of strategic


effectiveness between the civil construction and manufacturing industry segments

Rodrigo Gonçalves Fisch1, Felipe Teixeira2, Alfredo Iarozinski Neto3


1 UTFPR, Paraná, Brasil, fisch.rodrigo@gmail.com
2
UTFPR, Paraná, Brasil, flp_teixeira@hotmail.com
3
UTFPR, Paraná, Brasil, alfredo.iarozinski@gmail.com

Resumo: Diante do contexto econômico global, dois modelos de organizações que merecem
destaque por sua importância econômica e social no país: a indústria da construção civil e a
indústria de manufatura. Contudo existem particularidades que distinguem estes dois segmentos.
Enquanto a maioria das indústrias passam por um processo intenso de transformação, buscando
agilidade e eliminando o desperdício, indispensáveis para a sobrevivência, a construção civil ainda
está tímida nesta transformação. Nesse sentido foi desenvolvida uma pesquisa aplicada, descritiva e
de natureza quantitativa com o objetivo de comparar as características organizacionais e estratégicas
entre os segmentos da indústria da construção civil e da indústria da manufatura e identificar quais
destas características apresentam diferenças, ou eventualmente afinidade. A comparação entre
processos e características são benéficas para contribuir no desenvolvimento e crescimento das
empresas, com o propósito de otimizar os recursos através da profissionalização e padronização dos
processos. A metodologia adotada foi o Método Survey. O levantamento dos dados ocorreu por
meio da aplicação de questionários. Utilizou-se a análise discriminante para avaliar os dados
obtidos. Observou-se que ambos os segmentos apresentaram preocupações semelhantes para a
maioria das características, porém algumas com intensidades diferentes que permitem inferir ser
consequência do segmento de atuação. Este artigo utilizou como estrutura uma dissertação de
Mestrado [1].

Palavras-chave: construção civil, indústria de manufatura, características organizacionais, análise


multivariada.

Abstract: Given the global economic context, two models of organization that deserve to be
highlighted for their economic and social importance in the country: the construction industry and
the manufacturing industry. However there are particularities that distinguish these two segments.
While most industries go through an intense process of transformation, seeking agility and
eliminating wastage, indispensable for survival, construction is still timid in this transformation. In
this sense, an applied, descriptive and quantitative research was developed with the purpose of
comparing the organizational and strategic characteristics between the segments of the civil
construction industry and the manufacturing industry and to identify which of these characteristics
present differences, or possibly affinity. The comparison between processes and characteristics are
beneficial to contribute to the development and growth of companies, with the purpose of
optimizing resources through professionalization and standardization of processes. The
methodology adopted was the Survey Method. The data were collected through the application of
questionnaires. The discriminant analysis was used to evaluate the data obtained. It was observed
that both segments had similar concerns for most of the characteristics, but some with different
intensities that allow inferring to be a consequence of the segment of performance.

Keywords: civil construction, manufacturing industry, organizational characteristics, multivariate


analysis.

1. INTRODUÇÃO
Organização é um conjunto de pessoas que interagem através da divisão de trabalho para atingir um
propósito comum. As organizações são instrumentos sociais em que as pessoas unem esforços e
trabalham em conjunto para alcançar objetivos que isoladamente não alcançariam (CHIAVENATO,
2014 [2]).
Neste contexto, a indústria é um tipo de organização vital para o desenvolvimento econômico do
Brasil. Dentre os diferentes tipos de organizações, a indústria da construção civil e a indústria de
manufatura ou de transformação merecem destaque na sociedade. Mesmos não representando a
maior parcela da economia, juntas representam aproximadamente 22% do PIB brasileiro e
empregos formais no Brasil (FIESP, 2017 [3]).
Contudo, existem particularidades que distinguem estes dois segmentos. Enquanto a indústria da
manufatura é pautada por processos robustos e padronizados, que assegura maior produtividade,
produção de produtos com qualidade e a melhoria contínua dos processos (WIEMES;
BALBINOTTI, 2011 [4]), a construção civil é caracterizada por sua complexidade e
heterogeneidade, pela abrangência das atividades, tipo de empresas, tecnologias empregada ou pela
dispersão geográfica. É um segmento nômade que possui dependência mútua entre o produto e o
processo produtivo, com pouca utilização de tecnologias e produtos não padronizados (SOUTO,
2003 [5]).
Assim sendo, a busca por melhores práticas na indústria da construção civil é desejável para
alcançar um desempenho superior. A comparação das práticas de gestão é um instrumento para
melhorar a performance das empresas e conquistar vantagens em relação ao mercado, através de
mudanças e melhoras significativas dos processos, consequentemente no resultado da organização
(DAYCHOUM, 2016 [6]).
1.1. Contexto do Problema
A economia global apresenta uma nova ordem, onde as empresas disputam acirradamente numa
busca desenfreada por clientes, com o objetivo de ampliar a remuneração do capital. Neste sentido,
a competitividade é condição básica de sobrevivência, obrigando as empresas a adaptarem-se às
mudanças impostas pelo mercado (FRANCO, 2005 [7]).
O aumento de construtoras no mercado, somado a escassez de mão-de-obra qualificada do setor,
além da elevada competitividade, obriga as empresas adotarem estratégias de redução de custos,
maior produtividade e melhor qualidade. Isso exige as empresas buscarem por excelência em todos
os processos produtivos e de gestão organizacional (SALGADO et al., 2009 [8] apud FISCH;
RAU; IAROZINSKI NETO, 2015 [9]).
Visto a importância da estrutura organizacional na performance das organizações e a busca por
melhor compreender as características do setor da construção civil, este artigo propõe comparar
fatores determinantes das características organizacionais e do nível de efetividade estratégico
adotados entre as empresas do setor da construção civil e da indústria de manufatura.

2. OBJETIVOS
O objetivo principal deste trabalho é de comparar as características organizacionais e estratégicas
entre as empresas do setor da construção civil e da indústria de manufatura visando identificar as
diferenças mais significativas.

3. METODOLOGIA
Esta pesquisa pode ser classificada como de natureza aplicada, de objetivo descritivo e abordagem
quantitativa. O Método Survey foi escolhido e utilizado como instrumento principal, possibilitando
obter dados primários de forma sistematizada. Quanto ao tempo o estudo foi realizado em corte-
transversal e o procedimento técnico adotado foi observacional.
Survey é um dos métodos mais empregados em pesquisas quantitativas e pode ser enunciada através
da coleta de dados ou informações sobre características, ações ou opiniões de determinado grupo de
pessoas, indicado como representante de uma população alvo, por meio de um instrumento de
pesquisa pré-definido, normalmente um questionário. (PINSONNEAULT; KRAEMER, 1993 [10]
apud FREITAS et al., 2000 [11]).
O desenvolvimento desta pesquisa foi estruturado de acordo com as seguintes etapas:
 Formulação do problema de pesquisa;
 Pesquisa bibliográfica acerca do tema a ser estudado;
 Aprimoramento da ferramenta de coleta de dados;
 Coleta de dados em fontes apropriadas;
 Tratamento e análise dos dados por meio de análise discriminante.

Na Figura 1 são apresentados os principais estágios desta pesquisa:

Figura 1 – Etapas metodológicas


3.1. Planejamento da coleta de dados
De acordo com o exposto no Quadro 1, foram selecionadas 19 variáveis. Estas variáveis foram
agrupadas em sete grupos, divididos entre variáveis organizacionais e variáveis estratégicas.
Grupo Fator Variável
- Nível de centralização da estrutura organizacional.
Estrutura - Nível de formalização dos cargos e funções.
Organizacional - Nível de formalização das atividades e processos.
- Nível de hierarquização.
- Estilo de gestão da empresa.
Variáveis Modelo de Gestão - Grau de autonomia dos funcionários.
organizacionais - Nível de controle exercido sobre as atividades e funcionários.
Formação de - Média de horas de treinamento/ano.
pessoal - Nível de polivalência dos funcionários.

- Nível de cooperação entre os funcionários.


Relações humanas
- Nível de interação entre os funcionários (troca de informações).

- Faz análise de desempenho com base nas metas


- Uso de tecnologias diferenciadas
Estratégia da
- Posição da empresa em relação a redução de custos nas
organização atividades ou processos.
- Preocupação da empresa em relação a adoção de melhorias.

- Nível de conhecimento dos funcionários em relação as


Variáveis estratégicas
Resultado da estratégias de gestão adotadas pela empresa.
estratégia - Alinhamento das características dos empreendimentos, produtos
e serviços em relação a estratégia.
- Tempo de resposta da empresa as demandas de mercado.
Flexibilidade - Capacidade da empresa em se adaptar as mudanças do seu
mercado.

Quadro 1 – Variáveis relacionadas às características da organização


Os dados utilizados para elaboração deste estudo fazem parte do grupo de pesquisa da Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, NIGEC - Núcleo de Inovação e Gestão da Construção, abrangendo
características dos segmentos da construção civil e da indústria de manufatura.
Nesta pesquisa a população alvo abrangeu empresas situadas nos estados do Paraná, Santa Catarina
e São Paulo que atuam nos segmentos da construção civil e da indústria de manufatura.
Quanto ao tamanho adequado de uma amostra, segundo Hair et al. (2005) [12], é um procedimento
que depende de diversos fatores e é essencial visto que a análise multivariada é muito sensível a
proporção da amostra com o número de variáveis.
Utilizou-se a Equação 1 com base na estimativa da proporção populacional para definição do
tamanho da amostra. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) o
segmento da construção civil e industrial juntos representam aproximadamente 18% das empresas
ativas. Atribui-se o grau de confiança de 90% para definição do tamanho da amostra.
(1)

Onde:
n = número de empresas;
Zα/2 = valor crítico que corresponde ao grau de confiança desejado;
p = proporção populacional da categoria interessada;
q = proporção populacional de indivíduos que NÃO pertence à categoria interessada (q = 1 – p);
E = Margem de erro.
Arredondo o valor calculado, obtém-se o tamanho para amostra de 40 empresas. Foram totalizados
72 questionários válidos, desta forma atendeu a expectativa da pesquisa.
Referente ao método de amostragem existe duas grandes divisões segundo Maroco (2003) [13]:
probabilísticos e não probabilísticos. Por conveniência, optou-se pelo método de amostragem não
probabilístico em razão das características da população alvo. Este tipo de amostra envolve a
seleção de elementos de amostra que estejam mais disponíveis para tomar parte no estudo e que
podem oferecer as informações necessárias (MAROCO, 2003 [13]).
Os questionários desenvolvimento como instrumento de coleta de dados foram segmentados em três
partes, sendo elas:
 Parte 1 - Identificação do perfil da organização e do entrevistado;
 Parte 2 - Características do ambiente organizacional;
 Parte 3 - Características estratégicas.
Para mensuração e escalas de medida dos questionários, adotou-se uma escala ordinal com valores
de um até sete entre dois adjetivos ou frases antônimas como exposto no Quadro 2 que permite
escolher o valor que mais reproduz a opinião do respondente no intervalo apresentado. Segundo
Dalmoro e Vieira (2013) [14], uma escala com sete pontos permite melhor discriminação, ganho de
consistência interna e confiabilidade das informações, está dentro dos limites da habilidade humana
de distinção e se ajusta bem a estatísticas multivariadas.

Qual o nível de centralização da estrutura organizacional da


Centralizada 1 2 3 4 5 6 7 Descentralizada
empresa?
Qual o nível de formalização dos cargos e funções da Sem Totalmente
1 2 3 4 5 6 7
empresa? formalização formalizada

Sem Totalmente
Quadro
Qual o nível de formalização 2 - Modelo
das atividades de escala de
e processos? diferencial semântico
formalização
1 2 3 4 5 6 7
formalizada

Por fim, para análise dos dados coletados deste estudo aplicou-se as técnicas de análise
discriminante (ou análise multivariada) que procura identificar quais variáveis se diferenciam do
grupo e quais são necessárias para obter a melhor classificação dos elementos da amostra. Para esta
análise foi usado o software de análise estatística e tratamentos de dados Statistical Package for the
Social Sciences (SPSS).
4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
No total foram coletados 72 questionários, compreendidos no período de outubro de 2015 até junho
de 2017, sendo que a quantidade de empresas entre os segmentos foi igual: 36 de empresas da
Construção Civil e 36 da Indústria de Manufatura.
Com relação ao tipo de constituição, os resultados da amostra mostram que 63% das empresas são
do tipo Limitada, 21% S/A de capital aberto, 11% são S/A de capital fechado, 3% S/A de capital
misto e os 3% restantes são classificadas como outros.
A distribuição do porte das empresas avaliadas apresentou-se regular entre pequeno, médio e grande
porte, sendo este último ligeiramente mais expressivo com 39%, seguido por empresas de pequeno
porte representando 35% e empresas de médio porte com 26% da amostragem. Neste estudo, não
foram consideradas Microempresas por não existir uma amostra razoável entre os segmentos.
Com relação ao tipo de administração das organizações, mais da metade da amostra das empresas
que participaram deste estudo possuem uma administração profissional. Pouco mais de ¼ da
amostra possuem administração considerada familiar, 17% possuem administração mista e 3%
representam outras formas de administração.
4.1. Análise Discriminante
Análise discriminante é uma técnica multivariada que permite distinguir a existência ou não de
características significativas entre grupos, pois processa o tratamento de diversas variáveis
simultaneamente, mesmo quando não se conhece o modelo teórico das relações entre estas variáveis
(BAKKE; LEITE; SILVA, 2008 [15]).
O objetivo da análise discriminante neste estudo é identificar quais as características
organizacionais e estratégicas possuem maior poder de discriminação entre os grupos de empresas
do segmento da construção civil e do segmento da indústria de manufatura. Em outras palavras a
análise discriminante permite identificar quais variáveis possuem maior influência e
consequentemente afinidade com o segmento de atuação.
Desta forma identificaram-se os segmentos de atuação por números: Grupo 1 - Indústria de
manufatura e Grupo 2 - Construção Civil.
4.1.1. Testes de validação
Inicialmente fez se necessário realizar alguns testes para validação dos dados utilizados na análise
discriminante. Com o objetivo de obter maior precisão dos resultados, as variáveis foram agrupadas
em dois grupos: características estratégicas e características organizacionais. Os testes realizados
para validação dos dados foram:
Teste M de box: verifica a semelhança das matrizes de variância e covariância entre os segmentos.
Teste de igualdade de médias de grupo: consiste em realizar a análise prévia das variáveis
independentes. O teste de igualdade entre as médias expõe o potencial de cada variável em separar
cada segmento.
Lambda de Wilks: De acordo com Belfiore et al. (2005) [16], a estatística Lambda de Wilks varia
de 0 a 1 e oferece informações referentes às diferenças entre os grupos. O índice é obtido pela razão
da variação dentro dos grupos (variação não explicada) sobre a variação total e testa a existência de
diferenças de médias entre os grupos para cada variável. Quanto mais próximo de 0 maior é a
diferença, consequentemente quanto mais próximo de 1 o grau de diferenciação é baixo.
Cross-validation: teste de validação do SPSS conhecido como. Este teste relaciona a variável
reclassificada com seu valor original, fornecendo o percentual de casos corretamente classificados.
De acordo com o resultado dos testes, com relação às variáveis estratégicas, 72,5% das respostas
foram classificadas corretamente, ou seja, aproximadamente 51 dos elementos compõe o grupo de
casos usados para determinar funções discriminantes. Quanto às características organizacionais este
percentual foi 69,4%, correspondo próximo de 50 elementos. Este resultado indica que há uma
discriminação importante entre os grupos.
Teste Q de Press: verifica se o percentual de elementos classificados corretamente é satisfatório,
em que o valor calculado é comparado com valor tabelado da distribuição Qui-quadrado.
4.1.2. Análise discriminante das variáveis
A seguir são apresentadas as matrizes de classificação, que facilita a interpretação da importância
que cada variável possui na função discriminante. Esta análise corresponde as características da
construção civil e da indústria de manufatura, obtidas através do uso de escalas variando entre um e
sete. A relação negativa ou positiva da função não importa na ordenação, o sinal apenas representa a
relação com a variável dependente (HAIR, JR. et al., 2005 [12]). Quanto maior o coeficiente da
função, maior o poder de discriminação entre a construção civil e a indústria de manufatura.
A Tabela 1 apresenta a matriz referente às características organizacionais.
Tabela 1 – Matriz de classificação – Características Organizacionais
Característica Organizacional Função1
Nível de centralização 0,753
Nível de cooperação entre os funcionários -0,406
Estilo de gestão 0,384
Nível de polivalência dos funcionários -0,223
Nível de formalização de cargos e funções 0,163
Interação dos funcionários -0,120
Autonomia dos funcionários -0,110
Controle sobre as atividades e funcionários -0,083
Formalização das atividades e processos 0,077
Nível de hierarquização da empresa -0,039
Horas de Treinamento 0,000
Correlações entre grupos no conjunto entre variáveis discriminantes e funções discriminantes canônicas
padronizadas.
Variáveis ordenadas por tamanho absoluto de correlação na função.

Com relação às características organizacionais com maior predisposição discriminatória entre os


segmentos são: “Nível de centralização” (0,753), “Nível de cooperação entre os funcionários” (-
0,406), “Estilo de gestão” (0,384). Em outras palavras estas são as variáveis que mais divergem e
permitem julgar qual o segmento de atuação através destas.
A variável “Horas de Treinamento” (0,000) teve o menor coeficiente e consequentemente menor
poder de discriminação entre os grupos, ou seja, esta característica não é um diferencial entre os
segmentos de atuação.
As características estratégicas são apresentadas na Tabela 2.
Tabela 2 – Matriz de classificação – Características Estratégicas
Característica Estratégica Função1
Desempenho interno 0,559
Adoção de melhorias nos processos 0,397
Uso de tecnologias diferentes 0,294
Tempo de resposta as demandas de mercado 0,246
Alinhamento das características x estratégias -0,181
Tempo de adaptação as mudanças do mercado 0,142
Percepção dos funcionários a gestão -0,078
Redução de custos 0,010
Correlações entre grupos no conjunto entre variáveis discriminantes e funções discriminantes canônicas
padronizadas.
Variáveis ordenadas por tamanho absoluto de correlação na função.

As variáveis estratégicas que apresentaram maior capacidade discriminatória entre os segmentos


são: “Desempenho interno” (0,559), “Adoção de melhorias nos processos” (0,397), “Uso de
tecnologias diferentes” (0,294). Em suma, pode-se dizer que estas variáveis melhor definem qual é
o segmento de atuação.
Vale destacar a variável que “Redução de Custo” (0,010) foi que apresentou menor influência de
discriminação entre os grupos. Isto significa que independente do segmento de atuação, esta é uma
característica comum em todas as empresas.

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


5.1. Característica Organizacional
Sintetizando, quanto às variáveis relacionadas à estrutura organizacional constatou-se que para o
“nível de centralização” há uma concentração das respostas nos valores mais baixos da escala, ou
seja, a centralização é uma característica das empresas. Como visto na análise discriminante esta é
uma característica que possui intensidades diferentes de acordo com o segmento de atuação sendo
que o segmento da construção civil se apresentou mais centralizador que a indústria de manufatura.
A variável “nível de formalização de cargos e funções” também apresentou uma preocupação
comum dos segmentos em possuir formalização dos cargos e funções, esse resultado pode ser uma
consequência das obrigações quanto a Legislação Trabalhista que não admite desvio de função.
Quanto ao “nível de formalização das atividades e processos” identificou-se uma sútil diferença
entre os segmentos, porém não é possível presumir que seja influência da atuação da empresa. Com
relação ao “nível de hierarquização” ambos os segmentos possuem tendência hierarquizada da
estrutura, não permitindo inferir que esta característica seja influenciada pelo segmento de atuação.
Quanto as variáveis relacionadas à forma de gestão, observa-se que todas as três seguiram uma
mesma tendência independente do segmento de atuação das empresas avaliadas. Com relação ao
“estilo de gestão” tanto na indústria quanto na construção civil predomina o estilo autocrático,
embora mais acentuado na construção. Quanto ao “nível de controle sobre as atividades e
funcionários” e ao grau de “autonomia dos funcionários“, os dois segmentos avaliados
apresentaram médias semelhantes. Isso permite presumir que o estilo de gestão independe do
segmento de atuação, mas das pessoas que realizam a gestão que muitas vezes estão relacionadas
com a estrutura e cultura da empresa.
Referente às variáveis relacionadas à formação de pessoal constatou-se que a variável “quantidade
de horas de treinamento” é uma característica particular da empresa e não tem relação com o
segmento de atuação. Entretanto mesmo existindo igualdade nas medianas, verifica-se que não foi
apontado nenhum caso sem treinamento no setor industrial e o número de empresas com volume de
horas de treinamento superior a 12 dias no ano na indústria é o dobro da construção civil, ou seja,
uma preocupação maior por parte da indústria com a qualificação dos funcionários. Já quanto ao
“nível de polivalência dos funcionários” os números evidenciaram que no segmento da construção
civil apresentou um percentual de funcionários multitarefas maior que na manufatura,
eventualmente por ser uma característica do setor em que as atividades são mais manuais e
obrigando que os funcionários tenham habilidades para desenvolvê-las.
No que diz respeito às características associadas às relações humanas, observou-se que o “nível de
cooperação entre os funcionários” é maior na construção civil que na indústria. Essa interpretação
valida e indiretamente possui relação com o nível de polivalência dos funcionários que na
construção é mais acentuado por motivos mencionados anteriormente. Quanto ao “nível de
interação entre os funcionários” ambos os segmentos apresentaram mesma intensidade, que permite
concluir que esta característica não sofre influência do segmento.
A seguir com o objetivo de realizar uma comparação geral das características organizacionais
avaliadas, elaborou-se a Figura 2 a partir das médias da distribuição de cada variável dentro da
escala de respostas 1 a 7 com comentários quanto à influência ou não do segmento de atuação sobre
a característica avaliada. A partir da distribuição apresentada é possível observar que dentre as onze
características organizacionais avaliadas, as quatro destacadas em amarelo apresentaram influência
quanto à atuação da empresa. São elas: nível de centralização, estilo de gestão, nível de polivalência
dos funcionários e nível de cooperação entre os funcionários.

Figura 2 – Distribuição das médias - características organizacionais


5.2. Característica Estratégica
Quanto as características relacionadas a estratégia da empresa, conforme apresentado na análise
discriminante, com exceção da variável “redução de custo” que é uma preocupação comum em
qualquer empresa e qualquer segmento, as outras três variáveis relacionadas possuem alto poder de
discriminação influenciadas pelo segmento de atuação. O uso de “análise de desempenho com base
nas metas”, “uso de tecnologias diferenciadas” e “preocupação em relação a adoção de melhorias”
são características mais desenvolvidas na indústria de manufatura, talvez por possuir procedimentos
mais robustos, padronizados e estáveis com maior controle dos produtos e serviços.
Comparando os dois segmentos de atuação com relação ao resultado da estratégia é possível deduzir
que o “nível de conhecimento dos funcionários em relação às estratégias de gestão adotadas pela
empresa” apresentam distribuições semelhantes, ambos os segmentos apresentaram baixo
conhecimento dos funcionários em relação à estratégia da empresa. Quanto ao “alinhamento das
características do negócio com a estratégia da organização”, apesar de pequenas divergências nos
extremos da escala a mediana entre os segmentos foi a mesma. Sendo assim entende-se que
independente do segmento de atuação estas características não são impactadas.
Finalizando a análise quanto as características estratégicas relacionadas a flexibilidade da empresa a
variável “tempo de resposta às demandas de mercado” verificou-se um nível de distinção razoável
entre os segmentos, apresentando uma maior agilidade do segmento industrial. Na característica
“adaptação às mudanças de mercado” apresenta-se um resultado equivalente das empresas de
ambos os segmentos.
Assim como apresentado anteriormente para as características organizacionais, a Figura 3
representa a distribuição geral das médias para as características estratégicas para cada variável
avaliada. Dentre as variáveis estratégicas estudadas, as apresentaram influência do segmento de
atuação estão destacadas em verde: desempenho interno, uso de tecnologias diferentes, adoção de
melhorias nos processos e tempo de resposta as demandas de mercado.

Figura 3 – Distribuição das médias - características estratégicas


6. CONCLUSÕES
Este artigo se dispôs a comparar as características organizacionais e estratégicas entre os segmentos
da construção civil e da indústria da manufatura e identificar quais destas características apresentam
diferenças, ou eventualmente afinidade, de acordo com o setor de atuação.
Inicialmente elaborou-se uma pesquisa bibliográfica com relação aos conceitos e definições
relevantes ao tema, do mesmo modo foi feito um levantamento bibliográfico das pesquisas
publicadas relacionadas ao assunto desta pesquisa. Com base nisso, foi possível elaborar o
problema da pesquisa, a formulação da hipótese e a metodologia envolvendo survey.
Ao longo do estudo, observou-se que tanto com relação as características organizacionais quanto
para as características estratégicas, ambos segmentos apresentaram preocupações semelhantes para
a maioria das variáveis, porém algumas com intensidades diferentes que permitem inferir ser
consequência do segmento de atuação.
Iniciando a análise com relação as características organizacionais, ambos segmentos mostraram
conservadorismo quanto a estrutura organizacional, com gestão caracterizada por elevados níveis de
centralização, estrutura hierarquizada, preocupação com a formalização de cargos e funções,
atividades e processos. É importante salientar que o nível de centralização se apresentou como uma
característica que permite identificar e discriminar qual o segmento de atuação através desta
variável. A construção civil apresentou índices mais altos de centralização que a indústria de
manufatura. Esse resultado é coerente se analisar que o segmento industrial apresenta processos
mais formalizados e padronizados com relação à construção, propiciando a descentralização das
tarefas e decisões.
Com relação à forma de gestão, novamente existiu um comportamento similar entre os segmentos.
Tanto a construção quanto a indústria de manufatura apresentaram uma gestão autocrática. Essa
interpretação corrobora com a característica das empresas em possuir uma estrutura organizacional
centralizada conforme apresentado anteriormente. Quanto a autonomia e o nível de controle dos
funcionários, os dois segmentos mostraram-se resultado semelhante: baixo grau de autonomia e alto
grau de controle sobre as atividades dos funcionários. No segmento industrial esse estilo de maior
controle é compreensível visto que na maioria das vezes os processos são padronizados e possuem
rastreabilidades com o objetivo de atender padrões de qualidade. Na construção como visto antes
esse resultado talvez se explique pela falta de formalização das atividades exigindo maior controle
dos funcionários nas tarefas realizadas.
Quanto a formação de pessoal, a pesquisa constatou que existe pouco investimento na qualificação
dos colaboradores, pois tanto na construção civil quanto a indústria não existiu uma tendência
dentro da amostra avaliada, ou seja, a opção por realizar treinamento ao funcionário é uma
característica da cultura de cada empresa e não dependente do segmento de atuação. Isso é
confirmado pela análise discriminante que dentre as características organizacionais, esta não
apresentou poder de discriminação.
A variável nível de polivalência dos funcionários não apresentou tendência de resultado, porém os
números evidenciaram que este perfil é maior no setor da construção civil, talvez pela baixa
formalização nas atividades em que é comum os funcionários realizarem mais de uma atividade.
Porém importante ressaltar para que esta característica seja bem esclarecida para evitar
interpretações errôneas quanto a desvio ou acúmulo de funções por parte do funcionário. Neste
sentido observou-se uma sutil preocupação da indústria maior que a construção civil.
As variáveis referentes ao fator relações humanas, com relação ao nível de interação dos
funcionários não existiu distinção entre a construção e a indústria, ambos apresentaram resultados
equivalentes, ou seja, esta variável não é característica do segmento. Quanto ao nível de cooperação
entre funcionários, a construção civil mostrou-se mais favorável para este tipo de relação,
possibilitando caracterizar o segmento por esta variável. Talvez esse resultado possa ser uma
consequência da característica do processo construtivo e quanto ao nível de polivalência dos
funcionários que na construção civil apresentou ser mais significativo.
Seguindo com a análise para as características estratégicas, constatou-se que estas variáveis
apresentaram maior poder de discriminação, exceto a variável quanto a redução de custo, pois
entende-se que esta é uma preocupação de qualquer empresa independente do segmento de atuação.
As variáveis análise de desempenho com base nas metas, uso de tecnologias diferenciadas e
preocupação em relação a adoção de melhorias, como exposto nas análises, são características que
diferem de acordo com o setor e possuem mais consistência na indústria de manufatura. Permite-se
presumir que é consequência do tipo do método de fabricação deste segmento, que possui processos
mais controlados, padronizados e automatizados comparados com a construção civil.
Quanto ao resultado da estratégia, a variável nível de conhecimento dos funcionários em relação às
estratégias de gestão, demonstrou pouca disparidade dos dados entre os setores avaliados. Para
ambos os setores ficou explicito a necessidade de disseminar de forma mais clara e objetiva as
estratégias adotadas pela organização. Já os dados obtidos da variável quanto ao alinhamento das
características do negócio com a estratégia da organização, sugere que tanto a construção civil
quanto a indústria apresentam convergência no alinhamento com a estratégia e não permite
distinguir o segmento de atuação a partir desta variável.
A respeito da flexibilidade, conforme resultados apresentados, a indústria de manufatura apresenta-
se mais ágil e capaz no que diz respeito às características: tempo de resposta da empresa as
demandas de mercado e capacidade da empresa em se adaptar as mudanças do seu mercado. Porém
não é possível discriminar o segmento de atuação com relação a estas variáveis, apenas pode-se
presumir que as empresas da indústria de manufatura possuem um planejamento estratégico mais
eficiente para o cumprimento dos objetivos da organização.
Diante dos resultados apresentados, constatou-se que é possível deduzir qual o tipo de atuação da
empresa a partir de determinadas variáveis. Através da análise discriminante juntamente com os
detalhes da estatística descritiva possibilitou identificar algumas características que permitem inferir
qual segmento de atuação está relacionado. As características organizacionais mais significativas
quanto ao segmento de atuação da empresa são: nível de centralização, estilo de gestão, nível de
polivalência e cooperação entre os funcionários. Para as características estratégicas as variáveis são:
desempenho interno, adoção de melhoria, uso de tecnologias diferentes e tempo de resposta as
demandas de mercado.
Em geral, a comparação entre processos e características é benéfica para contribuir no
desenvolvimento e crescimento das empresas, que lutam pela sobrevivência num ambiente
altamente competitivo, associado a níveis de exigência cada vez maiores dos consumidores, que
obrigam as empresas reavaliar seus procedimentos com o propósito de otimizar os recursos através
da profissionalização e padronização dos processos.
Isto posto, com o propósito de contribuir para elevar o patamar da construção civil diante de outros
segmentos industriais, com base neste estudo destaca-se três aspectos que poderiam ser ponderados
prioritariamente para aumentar a performance da construção civil são:
A) com relação as características organizacionais, a construção civil mostrou-se mais autocrática
e centralizadora, que denotam uma estrutura organizacional mais conservadora e ultrapassada em
termos de gestão, caracterizando-se como um segmento atrasado em relação aos modelos que
preconizam as teorias organizacionais mais recentes. Para se aproximar dos modelos mais
modernos e avançados de administração, precisa evoluir com relação a estrutura organizacional.
B) quanto aos aspectos relacionados a cooperação e a polivalência entre funcionários, a
construção civil destacou-se, certamente resultado da necessidade imposta pelo processo
construtivo. Diferente dos processos de produção da manufatura, que em grande maioria são
padronizados e muitas vezes automatizados.
C) outra lacuna identificada foi quanto as características estratégicas da organização, tais como:
uso de indicadores para monitorar desempenho interno com base em metas, adoção de melhorias
nos processos, uso de novas tecnologias e estudo antecipado quanto as demandas do mercado. A
construção civil mostrou-se frágil com relação a processos de planejamento, estudo de mercado e
metodologias de trabalho com melhoria continua.

REFERÊNCIAS
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os segmentos da construção civil e da indústria de manufatura. 2017. Dissertação de Mestrado. Universidade
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INFLUÊNCIA DO USO DE ADITIVO REDUTOR DE ÁGUA NO
COMPORTAMENTO DE ARGAMASSAS COM AGREGADO MIÚDO
RECICLADO CERÂMICO

Influence of using water-reducing admixture on the behavior of mortars with ceramic


fine recycled aggregate
Gilberto Alves da Silva Neto 1, Juliano de Freitas Dutra 2, Adriana Guerra Gumieri 3,
White José dos Santos 4
1
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, gilbertoneto@ufmg.br
2
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, juliano_dutra_93@hotmail.com
3
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, adriana@demc.ufmg.br
4
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil, white.santos@demc.ufmg.br

Resumo: A indústria da construção civil possui grande responsabilidade em acompanhar e promover


crescimento econômico e social no mundo. Porém, esse setor é responsável pela grande extração de
recursos naturais não-renováveis e pela geração de um número significativo de resíduos. A destinação
final desse material vem causando grandes preocupações, impulsionando assim, constantes pesquisas
quanto ao reaproveitamento desse material em diversas áreas, inclusive, na própria cadeia da
construção. Na indústria da construção civil, o setor ceramista é um dos setores que descartam grandes
quantidades de resíduos, tanto na fabricação de produtos cerâmicos em si, quanto na utilização de
alguns materiais cerâmicos na execução das obras. Tais resíduos podem ser incorporados como
insumo no processo de fabricação de novos compósitos cimentícios, substituindo na maioria das
vezes à areia, buscando a diminuição da extração de recursos naturais, e, ao mesmo tempo, dando um
destino adequado para o resíduo gerado. No entanto, a elevada porosidade desses agregados
reciclados ainda é um problema que tem trazido efeitos negativos no desempenho mecânico e na
durabilidade do produto final. Alguns estudos, portanto, já vêm obtendo bons resultados ao utilizar
aditivos redutores de água em concretos e argamassas recicladas com agregados reciclados de
concreto. Portanto, o objetivo desse trabalho é analisar a influência do aditivo redutor de água no
comportamento de argamassas recicladas com substituição parcial do agregado miúdo natural (AMN)
pelo agregado miúdo reciclado (AMR, originado de resíduos de blocos cerâmicos de vedação e dmáx
= 4,8mm), ao manter-se constantes a relação água/cimento e a trabalhabilidade das misturas. Para tal
fim, adotou-se o teor de substituição, em massa, de 50%. As argamassas foram produzidas com o
cimento CPV-ARI, para um traço de 1:3:0,8 (cimento:agregado:água, em massa), e um teor de aditivo
de 2,0%, em relação à massa de cimento, para manter a mesma trabalhabilidade da argamassa de
referência. As argamassas no estado endurecido foram submetidas aos ensaios: de resistência à
compressão axial, que revelou uma melhora nessa propriedade com o uso do AMR, sobretudo quando
se adotou o superplastificante na mistura; de absorção de água por capilaridade, que apresentou uma
redução dessa propriedade ao se incorporar o AMR à mistura, tendo um comportamento semelhante
com e sem aditivo; e de absorção por imersão, que não apresentou uma alteração expressiva na
propriedade ao substituir 50% do AMN pelo AMR, mas que sofreu um acréscimo ao utilizar o
superplastificante na mistura, o que deve ser melhor investigado por ser contraditório.

Palavras-chave: aditivo redutor de água, argamassa, agregado miúdo reciclado, resíduo cerâmico.
Abstract: The civil construction industry has a great responsibility to accompany and promote
economic and social growth in the world. However, this sector is responsible for the large extraction
of non-renewable natural resources and the generation of a significant quantity of waste. The final
destination of this material has been causing great concern, promoting constant research on the reuse
of this material in several areas, including the civil construction chain itself. In the construction
industry, the ceramic sector is one of the sectors that discard large quantities of waste, both in the
manufacture of ceramic products, and in the use of some ceramic materials in the execution of works.
Such waste can be incorporated as an input in the process of manufacturing new cementitious
composites, mostly replacing the sand, seeking to reduce the extraction of natural resources, and, at
the same time, giving an adequate destination for the generated waste. However, the high porosity of
these recycled aggregates is still a problem that has brought about negative effects on the mechanical
performance and durability of the final product. Some studies, therefore, have already been successful
using water-reducing admixtures in recycled concrete and mortars with recycled concrete aggregates.
Therefore, the aim of this paper is to analyze the influence of the water-reducing admixture on the
behavior of recycled mortars with partial replacement of the fine natural aggregate (FNA) by the fine
recycled aggregate (FRA, originated from ceramic block waste and with dmax = 4,8mm), keeping
constant the water/cement ratio and the workability of the mixtures. Thus, the substitution content,
by mass, of 50% was adopted. The mortars were produced with CPV-ARI cement, and a proportion
of 1:3:0.8 (cement: aggregate: water, by mass), and an admixture content of 2.0%, relative to the mass
of cement, to maintain the same workability of the reference mortar. The mortars in the hardened
state were submitted to the following tests: compression strength, which showed an improvement in
this property with the use of FRA, especially when the superplasticizer was used in the mixture; water
absorption by capillarity, which presented a reduction of this property when incorporating the FRA
to the mixture, having a similar behavior with and without admixture; and absorption by immersion,
which did not show an expressive change in this property, when replacing 50% of the FNA by the
FRA, but which was increased when using the superplasticizer in the mixture, which should be better
investigated once it is contradictory.

Keywords: water-reducing admixture, mortar, fine recycled aggregate, ceramic waste.

1. INTRODUÇÃO
Acredita-se que a quantidade de resíduos de construção e demolição (RCD) gerados mundialmente e
no Brasil seja, respectivamente, de 3 bilhões e de 70 milhões de toneladas por ano, variando de acordo
com o índice de desenvolvimento humano [1, 2]. O mesmo, quando corretamente gerido, pode
ocasionar em benefícios econômicos e ambientais [1]. Os resíduos de construção e demolição
apresentam sua composição de forma bastante heterogênea [3] e um dos seus componentes principais
é o material cerâmico. Este, pode ser gerado pela própria indústria cerâmica, ou pelas atividades de
construção e demolição. Sua quantidade gerada, corresponde a 54% do total de RCD gerados, e isso
ilustra a importância do tratamento e recuperação desse tipo de resíduo [4].

Um dos componentes fundamentais para a produção de materiais cimentícios, é o agregado. O


mesmo, interfere diretamente nas propriedades que se quer alcançar [5]. Portanto, para utilização de
resíduos como agregado reciclado, é sempre ideal buscar uma curva que seja mais contínua e que se
assemelhe à curva dos agregados naturais, beneficiando, assim, o empacotamento da mistura. A
distribuição granulométrica do agregado natural e reciclado são comparáveis [6]. No entanto, quanto
ao agregado miúdo reciclado, no geral, eles apresentam uma granulometria mais grossa em relação
aos agregados naturais. E, mesmo apresentando características mais grossas, o material pode gerar
uma curva granulométrica adequada, quando combinada com os agregados naturais [7].

No que tange o uso de resíduos de materiais cerâmicos em substituição aos agregados naturais em
matrizes cimentícias, os resultados obtidos por alguns autores, mostram que o aumento nos
percentuais de agregado reciclado utilizados para produção de concretos, acarreta uma diminuição na
densidade da mistura e um aumento na absorção de água [6,7]. Esse aumento da absorção, pode ser
explicado devido à alta porosidade do bloco que originou esse agregado [6]. E, devido à essa alta
absorção de água, a durabilidade pode ser um dos pontos mais afetados conforme o teor de
substituição nas matrizes cimentícias [8].

A alta capacidade de absorção de água pode ocasionar uma queda na resistência à compressão dos
compósitos cimentícios [6]. Estudos apontam que com um acrescimento do teor de adição de resíduo
de material cerâmico, observou-se uma queda na ordem de 10 a 45% dessa propriedade [9]. Porém,
outros autores observaram que com 75% de substituição do agregado natural por agregados miúdos
reciclados, essa mesma propriedade foi pouco alterada [10]. Em contrapartida, também houve estudo
que apresentou um aumento na resistência, cerca de 11% quando um teor de 25% de agregados
cerâmicos reciclados foi introduzido na mistura [11, 12].

Uma alternativa, para melhorar os indicadores de durabilidade e resistência mecânica com a utilização
desses agregados reciclados, que vem sendo estudada, é a utilização de aditivos redutores de água nas
misturas. Em alguns estudos [13, 14], que utilizaram esses aditivos para confecção de concreto
reciclados, mostraram um efeito positivo no comportamento dessa material. Vale destacar, que as
ações dos aditivos plastificantes não se resumem a melhorar a trabalhabilidade das misturas, eles
ainda tendem à reduzir o volume de vazios em concretos, beneficiando assim o desempenho mecânico
desse material. A utilização desses aditivos é importante ser considerada quando se usa agregados
reciclados, pois há uma compensação da necessidade de adicionar água extra que seria absorvida por
esses agregados, para se manter a mesma trabalhabilidade dos concretos convencionais. Com uma
relação água/cimento reduzida, maior será a resistência e durabilidade desse material [14]. No
entanto, esses estudos que avaliaram o efeito dos aditivos redutores de água em concretos reciclados,
utilizaram agregados reciclados provenientes de resíduos de concretos, portanto, faz-se necessário
avaliar diferentes resíduos, como é o caso do resíduo cerâmico.

Assim, o presente trabalho busca avaliar o efeito da utilização de um aditivo superplastificante,


juntamente com a adição de agregado miúdo reciclado de material cerâmico em argamassa. Visando,
assim, melhorar alguns indicadores de durabilidade desse material, o comportamento mecânico, e ao
mesmo tempo, buscar uma alternativa para uma destinação adequada desse resíduo.

2. OBJETIVO
O objetivo deste presente trabalho foi analisar o efeito do aditivo redutor de água no comportamento
de argamassas com substituição parcial do agregado miúdo natural pelo agregado miúdo reciclado
cerâmico, ao manter-se constante a relação água/cimento e trabalhabilidade das misturas produzidas.
Para tal fim, fez-se necessário a análise da resistência à compressão e de parâmetros de durabilidade,
como a absorção de água por capilaridade e por imersão, e índice de vazios.

3. MÉTODOS

3.1. Materiais
O cimento utilizado para a produção das argamassas foi o CP V-ARI, de massa específica 3,07 g/cm³.
Utilizou-se este por ser um cimento de baixo teor de adições, o que garante uma melhor análise da
influência do resíduo cerâmico na substituição parcial do agregado miúdo natural.

Adotou-se como agregado miúdo natural (AMN) a areia lavada fina peneirada de dimensão máxima
característica de 4,8 mm, originada em Esmeralda e Inhaúma no estado de Minas Gerais. Como
agregado miúdo reciclado (AMR), foi utilizado resíduo oriundo de blocos cerâmicos, também com
dimensão máxima característica de 4,8 mm. Como a heterogeneidade e presença de contaminantes
nesses resíduos, são as principais dificuldades encontradas para realização de sua reciclagem [15],
podendo interferir nas propriedades físicas e mecânicas do agregado produzido, optou-se nesse estudo
por se produzir o AMR partindo de blocos cerâmicos novos de mesmo lote, para se obter um maior
controle do resíduo utilizado.

O processo de cominuição consistiu inicialmente numa etapa manual, na qual os blocos cerâmicos de
vedação de dimensões 14x19x29 cm e 5,55 Kg foram quebrados com auxílio de uma marreta para
geração do resíduo. Na sequência esse resíduo passou pelo britador de mandíbula e foi peneirado na
peneira de abertura de 4,8 mm, repetindo todo esse procedimento para as frações retidas na referida
peneira (1º Ciclo). Em seguida o resíduo que se manteve com dimensões maiores que 4,8 mm, passou
pelo moinho de rolos, seguindo o mesmo procedimento utilizado no 1º Ciclo.

A Tabela 1 apresenta as propriedades dos agregados miúdos, utilizados para a produção das
argamassas. Como se observa, tanto a massa unitária quanto a massa específica seca do agregado
reciclado cerâmico são menores (22,50% e 25,68%, respectivamente) do que as do agregado natural
dada a maior porosidade do resíduo cerâmico, como pode ser observado ao comparar Fig. 1 (b) e (d).

Tabela 1 - Propriedades físicas dos agregados miúdos utilizados


Propriedade Avaliada AMN AMR
Dimensão máxima característica (mm) [16] 4,8 4,8
Módulo de finura [16] 2,14 3,30
Seca 2,57 1,91
Massa específica (g/cm³) [17] Saturada superfície seca 2,69 2,27
Real 2,91 2,98
Massa unitária (kg/m³) [18] 1200 930
Material pulverulento (%) [19] 7,4 12,0
Absorção de água (%) [20] 4,4 16,0

No entanto, a massa específica real dos dois materiais, aquela que desconsidera os poros dos grãos,
deram equivalentes com uma diferença de 2,4%. Portanto, devido a essa equivalência, optou-se por
não fazer a correção da massa de material utilizada na produção das argamassas, inserindo a mesma
quantidade de AMR e AMN nas misturas. Constatou-se uma expressiva capacidade de absorção de
água do AMR de 16%, quase 4 vezes maior que a do AMN (4,4%), o que tem efeito sobretudo na
redução da relação água/cimento efetiva e consequentemente, na trabalhabilidade da mistura. Tanto
as massas específicas (seca, saturada superfície seca e real), quanto a absorção de água dos agregados
miúdos reciclados de bloco cerâmico foram semelhantes ao encontrado por outro estudo [7], que
trabalharam com o mesmo resíduo e com a dimensão máxima característica do AMR de 5 mm,
próximo à utilizada nessa presente pesquisa (4,8 mm). Percebe-se grande variabilidade entre os
materiais estudados, logo é importante avaliar estes parâmetros em relação ao comportamento das
argamassas tanto no estado fresco quanto no estado endurecido.

(a) (b)

(c) (d)

Fig. 1 – Imagem de microscopia digital dos agregados utilizados nas misturas (a) visão geral das diferentes
frações granulométricas do AMN (b) grãos do AMN de dimensão 4,8 mm (c) visão geral das diferentes frações
granulométricas do AMR (b) grãos do AMR de dimensão 4,8 mm
A Fig. 2 apresenta as curvas granulométricas dos agregados miúdos utilizados nessa pesquisa, bem
como as curvas dos limites determinados pela NBR 7211:2009 [21]. Pode-se observar que a curva
granulométrica do agregado miúdo natural (AMN) encontra-se mais próxima da zona utilizável
superior, enquanto a curva do agregado miúdo reciclado (AMR) se encontra mais próxima da zona
utilizável inferior. Além disso, verifica-se que as curvas desses dois agregados são bem distintas,
porém ambas podem ser classificadas como contínuas (bem distribuídas). Através das curvas
granulométricas apresentadas, pode-se constatar, ainda, que a combinação desses dois agregados, no
teor de 50%, gera uma curva que caracteriza uma granulometria melhor distribuída, se comparada ao
AMN e AMR individualmente, com módulo de finura igual a 2,72, o que a enquadra na zona ótima
(módulo de finura entre 2,20 e 2,90 [21]).

Fig. 2 – Curva granulométrica dos agregados miúdos e as curvas limites na NBR 7211:2009

Adotou-se, ainda, uma relação água/cimento de 0,8 que garantiu a argamassa de referência um índice
de consistência de 240 mm, atendendo ao limite de 250 ± 15 mm previamente estabelecido por ser
adequado para a produção desse material. Além disso, com o intuito de se corrigir a trabalhabilidade
da argamassa com AMR e devido à maior demanda de água, dada à alta capacidade de absorção de
água do resíduo cerâmico e teor de finos, adotou-se o aditivo superplastificante, a base de
policarboxilados Viscocrete 6010 SA, no teor de 2,0% em relação à massa de cimento.

3.2. Métodos
Para o conhecimento do comportamento das argamassas produzidas realizou-se inicialmente a
determinação do índice de consistência [22] dos três traços estabelecidos (Tabela 2): argamassas de
referência (REF), argamassa com resíduo cerâmico e sem aditivo (RSA) e argamassa com resíduo
cerâmico e com aditivo (RCA). Feito isso, preparou-se as argamassas por meio do método de mistura
da NBR 7215:1991 [23] e moldou-se 8 corpos de prova cilíndricos de 5x10 cm para cada traço, sendo
4 CPs para determinação da absorção de água por capilaridade [24], e absorção de água por imersão,
massa específica e índice de vazios [25], e outros 4 CPs para a determinação da resistência à
compressão [26]. Os corpos de prova foram mantidos em câmara úmida imergidos em água com cal
até as idades de ensaio.
Tabela 2 - Detalhamento dos traços adotados
Mistura Agregado Miúdo Relação a/c Aditivo
REF 100% AMN 0,8 -
50% AMN
RSA 0,8 -
50% AMR
50% AMN
RCA 0,8 2,0%
50% AMR

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados obtidos tanto no estado fresco quanto endurecido, a partir do programa experimental
realizado, encontram-se subdivididos nas seções seguintes.

4.1. Estado fresco


A Fig. 3 e Tabela 3 dispõem dos resultados da determinação do índice de consistência das argamassas
de três traços produzidos, sendo a primeira dispondo dos resultados visuais, enquanto a segunda
dispõe dos resultados numéricos.

(a) (b) (c)


Fig. 3 – Determinação do índice de consistência das argamassas produzidas (a) REF (b) RSA (c) RCA

Tabela 3 - Índice de consistência das argamassas produzidas


Mistura Índice de Consistência (mm)
REF 240
RSA -
RCA 260

A partir do observado na Fig. 3 e Tabela 3, a argamassa de referência mostrou-se trabalhável e com


exsudação pouco expressiva. Em relação a argamassa com 50% do AMR cerâmico e sem aditivo
redutor de água, a mesma apresentou-se bastante seca, não sendo possível determinar o índice de
consistência dessa mistura, e a mesma apresentou dificuldade para moldar os corpos de prova. Já em
relação a argamassa com 50% do AMR cerâmico, porém com aditivo superplastificante, o índice de
consistência enquadrou-se no limite pré-estabelecido, porém apresentou uma trabalhabilidade um
pouco maior que a da argamassa de referência.
A expressiva redução da trabalhabilidade, quando se substituiu 50% da areia natural pelo resíduo de
bloco cerâmico, está atrelada a elevada capacidade de absorção de água desse material (16,0%), que
reduz consideravelmente a relação a/c efetiva da mistura [27, 28], deixando-a seca e de difícil
manuseio. Tem-se ainda o elevado teor de material pulverulento do AMR (1,6 vezes maior que o do
AMN) que aumenta a demanda de água de amassamento.

4.2. Absorção de água por capilaridade


Na Fig. 4 constam as curvas da absorção de água por capilaridade em função do tempo, das três
argamassas produzidas e ensaiadas aos 18 dias.

1,6
1,4
Absorção por capilaridade

1,2
1,0
(g/cm²)

REF
0,8
0,6 RSA

0,4 RCA

0,2
0,0
0 720 1440 2160 2880 3600 4320
Tempo (min.)
Fig. 4 - Curva da absorção de água por capilaridade versus tempo

Foi possível observar que as argamassas com resíduo cerâmico, tanto a sem aditivo quanto a com
aditivo, apresentaram um comportamento bastante semelhante, com suas curvas quase sobrepostas.
Ambas apresentaram uma menor capacidade de absorção de água por capilaridade, quando
comparadas à argamassa de referência. Tal comportamento pode ser explicado pelo alto teor de
material pulverulento do agregado miúdo reciclado cerâmico (12,0%), bem como pela granulometria
mais contínua da composição com o agregado miúdo natural (50% AMN + 50% AMR) que
beneficiam o empacotamento da mistura [28] e assim a redução dos valores desta propriedade. O
material fino presente no AMR cerâmico tem a capacidade de preencher os poros, impedindo assim
que os mesmos se interconectem, e consequentemente, reduzindo a absorção de água por capilaridade
das argamassas recicladas. Esse comportamento foi diferente ao observado em demais estudos que
utilizaram esse resíduo [6, 7, 8], no entanto, outro estudo [6], constatou que a utilização de aditivos
plastificantes tem efeito benéfico em concretos reciclados, uma vez que se reduz a capacidade de
absorção de água dos mesmos.

4.3. Absorção de água por imersão, massa específica e índice de vazios


A Tabela 4, apresenta os resultados médios da absorção de água por imersão, índice de vazios e massa
específica real, juntamente com os respectivos desvios padrões e coeficientes de variação. Já na Fig.
5 consta o gráfico de barras com os resultados das referidas propriedades das argamassas ensaiadas
na idade de 24 dias.

Tabela 4 – Resultados médios da absorção de água por imersão, índice de vazios e massa específica real
Mistura
Propriedade
REF RSA RCA
Absorção de Água por Imersão
A ± SD (CV) 13,54 ± 0,49 (3,6) 14,19 ± 1,08 (7,6) 15,62 ± 1,67 (10,7)
% ± % (%)
Índice de Vazios
IV ± SD (CV) 25,0 ± 0,68 (2,7) 26,2 ± 1,52 (5,8) 27,9 ± 2,57 (9,2)
% ± % (%)
Massa Específica Real
ρ ± SD (CV) 2,47 ± 0,00 (0,1) 2,51 ± 0,01 (0,5) 2,48 ± 0,01 (0,2)
g/cm3 ± g/cm3 (%)
SD – Desvio Padrão; CV – Coeficiente de Variação

Fig. 5 - Resultados referentes à absorção de água e porosidade das misturas

Constata-se pela Fig. 5 e Tabela 4 que a presença de 50% de resíduo em substituição ao agregado
miúdo não promoveu um aumento expressivo na absorção de água por imersão e nem na porosidade
aberta (comparando REF com RSA). Este resultado se justifica pelo maior empacotamento das
partículas (Fig. 2) na mistura, o que promoveu após adensamento, um compósito mais denso e com
tendências de um material durável.

Comparando as argamassas recicladas, com e sem aditivo, pode-se notar um aumento da porosidade
(6%) e, consequentemente, da absorção de água por imersão (10%), o que contradiz o observado em
outro estudo [14], onde os autores afirmam uma tendência do aditivo superplastificante aumentar a
compacidade da mistura ao reduzir os poros da mesma. Portanto, tal comportamento contraditório
deve ser melhor estudado, para um melhor entendimento das possíveis causas influenciadoras. Em
relação à massa específica das argamassas no estado endurecido, não houve variação significativa
dessa propriedade nas três misturas, estando esta variando entre 2,47 e 2,51 g/cm³. Demonstrando
que apesar do material ser mais leve (massa especifica seca e maior porosidade) a melhor estruturação
das partículas impediu a redução desta propriedade.

4.4. Resistência à compressão


A Tabela 5 apresenta os resultados médios da resistência à compressão das argamassas produzidas,
juntamente com o desvio padrão e coeficiente de variação. Enquanto que na Fig. 6 apresenta a
resistência à compressão relativa comparando as argamassas recicladas (RSA e RCA) à argamassa
de referência (REF), ensaiadas na idade de 20 dias.

Tabela 5 – Resultados médios da resistência à compressão


Mistura
Propriedade
REF RSA RCA
Resistência à Compressão
σ ± SD (CV) 24,81 ± 2,32 (9,4) 32,42 ± 0,25 (0,8) 40,33 ±1,40 (3,4)
MPa ± MPa (%)
SD – Desvio Padrão; CV – Coeficiente de Variação

1,8 1,63
Resistência à Compressão

1,6
1,4 1,31
1,2 1,00
Relativa

1,0
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
REF RSA RCA
Misturas
Fig. 6 - Resistência à compressão relativa

Com os resultados obtidos, observou-se que com a substituição do AMN pelo AMR no teor de 50%
houve um ganho de 31% na resistência à compressão das argamassas, aumentando de 24,81 MPa
(REF) para 32,42 MPa (RSA), o aumento pode ser explicado pela redução da relação água/cimento
efetiva da mistura, dada à elevada capacidade de absorção de água do AMR [28] o que foi
visivelmente constatado pela perda total de trabalhabilidade da mistura. Tal resultado positivo para
as argamassas produzidas não foram condizentes com o obtido em demais estudos que trabalharam
com o AMR cerâmico [6, 8, 9]. Já nas argamassas recicladas, com a adição do aditivo
superplastificante, a resistência aumentou ainda mais, chegando à 40,33 MPa que corresponde à um
aumento de 63% em relação à argamassa de referência (REF) e 24% em relação a argamassa reciclada
sem aditivo (RSA). Esse aumento poderia ser explicado pela ação do aditivo utilizado, que além da
melhoria na trabalhabilidade, o superplastificante tende a reduzir os poros da mistura, proporcionando
assim uma melhoria no comportamento mecânico do material [14]. Porém, não se constatou essa
redução dos poros na mistura e sim um aumento, comparando as argamassas recicladas com a de
referência (item 4.3). No entanto, tais poros não se mostraram conectados, o que daria origem à
capilares, confirmado pela redução da absorção de água por capilaridade das argamassas recicladas
(item 4.2), o que é benéfico, portanto, para o desempenho mecânico das argamassas.

5. CONCLUSÃO
Algumas conclusões podem ser tiradas a partir da utilização do superplastificante utilizado,
juntamente com a substituição do AMN pelo AMR. Foi utilizado um índice de substituição de 50%,
e para fins de comparação, foram confeccionadas três diferentes misturas. Uma referência (REF),
sem resíduo e sem a adição de superplastificante. As outras duas amostras, continham teor de
substituição de 50%, porém uma denominada RSA, sem adição do superplastificante, e outra, RCA,
com adição do superplastificante. A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que:

 Foi observada uma redução da relação água/cimento efetiva e da trabalhabilidade das misturas,
quando substituiu 50% do AMN pelo AMR, devida a alta capacidade de absorção de água do
AMR em relação ao AMN;

 Os resultados obtidos com o teor de substituição de 50%, foram positivos devido ao melhor
empacotamento promovido pela combinação granulométrica do AMN com o AMR;

 A mistura RSA foi a única que apresentou característica de consistência seca, impossibilitando a
determinação do flow table da mesma, e uma maior dificuldade para se moldar os corpos de prova
com essa composição;

 As misturas RSA e RCA, apresentaram uma menor capacidade de absorção de água por
capilaridade, ao compará-las com a REF, destacando a influência do elevado teor de finos do AMR
e da combinação granulométrica do AMN e AMR, na melhoria do empacotamento das misturas;

 Observou-se um aumento de 6% da porosidade, e consequentemente, um aumento de 10% da


absorção de água por imersão, quando se comparou as misturas RSA e RCA. O que deve ser
melhor investigado, uma vez que autores afirmam uma tendência do aditivo superplastificante
aumentar a compacidade da mistura ao reduzir os poros da mesma. Acredita-se que o processo de
adensamento (apiloamento do soquete) pode ter incluído ar e este virado poros posteriormente.
Indica-se alterar o processo de adensamento de argamassas plásticas para vibração mecânica ou
similar ao realizado no processo de argamassa de revestimento;

 Com a substituição do AMN pelo AMR, observou-se um aumento de 31% e 63%,


respectivamente, na resistência à compressão, quando se comparou RSC e RCA com a mistura
REF.
Os resultados apresentados apontam indícios da possibilidade da utilização do superplastificante
juntamente com a substituição do agregado miúdo natural pelo agregado miúdo reciclado cerâmico,
para a produção de argamassas para fins estruturais. Porém, mais estudos são necessários para
entender melhor o comportamento das argamassas produzidas com esta combinação. É necessária
uma maior atenção em como o superplastificante pode afetar a durabilidade das argamassas
produzidas com AMR.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos o apoio da UFMG, bem como aos órgãos de fomento: CAPPES, FAPEMIG, CNPQ,
que contribuíram para o desenvolvimento dessa pesquisa.

REFERÊNCIAS
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concrete: A global perspective. Journal of Cleaner Production, v. 186, p. 262-281, 2018.
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Croatia: InTech, 2010. p. 197-214.
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Building Materials, v. 22, p. 886–893, 2008.
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específica e massa específica aparente, Rio de Janeiro, 2009.
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unitária e do volume de vazios. Rio de Janeiro, 2006.
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fino que passa através da peneira 75 μm, por lavagem. Rio de Janeiro, 2003.
[20] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR NM 52: agregado miúdo - Determinação da
absorção de água. Rio de Janeiro, 2001.
[21] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7211: agregados para concreto – Especificação.
Rio de Janeiro, 2009.
[22] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13276: argamassa para assentamento e
revestimento de paredes e tetos - Preparo da mistura e determinação do índice de consistência. Rio de Janeiro, 2016.
[23] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7215: cimento Portland - Determinação da
resistência à compressão. Rio de Janeiro, 1991.
[24] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9779: argamassa e concreto endurecidos -
Determinação da absorção de água por capilaridade. Rio de Janeiro, 2012.
[25] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9778: argamassa e concreto endurecidos -
Determinação da absorção de água, índice de vazios e massa específica. Rio de Janeiro, 2009.
[26] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739: concreto – ensaio de compressão de corpos
de prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2018.
[27] KHATIB, J. M. Properties of concrete incorporating fine recycled aggregate. Cement & Concrete Composites, v.
35, p. 763–769, 2005.
[28] SILVA NETO, G. A., LEITE, M. B., Study of the influence of the mortar fine recycled aggregate ratio and the
mixing sequence on the behavior of new mortars. Ambiente Construído, v.18, n.2, p. 53-69, 2018.
O MÉTODO DA MATURIDADE PARA DETERMINAR RESISTÊNCIA À
COMPRESSÃO EM CONCRETOS: REVISÃO DE LITERATURA

The Maturity Method to determine compressive strength in concretes: literature


review

Beatriz Menezes SANTOS1, Maria Teresa Paulino AGUILAR2, Eduardo CHAHUD3


1
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Minas Gerais, Brasil, beatriz.menesan@gmail.com
2
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Minas Gerais, Brasil, mtpaguilar@gmail.com
3
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, Minas Gerais, Brasil, echahud@gmail.com

Resumo: O conceito de maturidade em concretos produzidos com cimento Portland está


diretamente relacionado ao ganho de resistência à compressão. Este conceito busca relacionar o
efeito do tempo e o histórico de temperatura para estimar o desenvolvimento desta propriedade
mecânica durante o período de cura, quando a umidade está disponível para a hidratação do
cimento. O procedimento mais utilizado para a estimativa da maturidade de concretos é atualmente
preconizado pela ASTM C1074:2017, onde o concreto, monitorado in loco e submetido aos
cálculos definidos pela norma, apresentará resultados de resistência à compressão que possibilitem,
por exemplo, a retirada das formas sem a necessidade de resultados de ensaios destrutivos, uma
alternativa ao consolidado teste de rompimento de corpos de prova, determinado nacionalmente
pela ABNT NBR 5.739:2018. Neste estudo buscou-se apresentar a evolução histórica deste método,
partindo dos estudos de Nurse, Saul, Carino e Lew, dentre outros, bem como relatar recentes
resultados e incrementos ao método. Foi observada pouca literatura nacional acerca do tema, onde o
histórico da utilização deste método, na sua maioria, em obras de concreto massa e pré-moldados.
Apesar da pouca difusão deste método no Brasil, foi constatada a grande possibilidade de uso nas
diversas tipologias construtivas que utilizam concreto, pois que os registros encontrados na
literatura têm demonstrado resultados satisfatórios em concretos de tipologias semelhantes aos
nacionais. Concluiu-se ainda que, devido à característica de ensaio não destrutivo, o Método da
Maturidade é um importante contributo para a qualificação de concretos sem gerar desperdício de
material com a confecção de amostras que serão posteriormente descartadas como é protocolo atual
das diversas obras. Há ainda que ser mencionado o ganho de produtividade nos canteiros. Para
tanto, o sucesso do uso do Método da Maturidade é dependente de critérios de projeto e também do
rigoroso controle e conhecimento das propriedades dos materiais que constituirão o concreto a ser
utilizado, para que as leituras feitas em obra sejam corretamente equalizadas de forma a gerar
resultados confiáveis e em prol da segurança das edificações.

Palavras-chave: concreto, Método da Maturidade, resistência à compressão, energia de ativação.

Abstract: The concept of maturity in concretes produced with Portland cement is directly related to
the gain of strength. This concept seeks to relate the effect of time and temperature history to
estimate the development of this mechanical property during the curing period when moisture is
available for the hydration of the cement. The most used procedure for the estimation of concrete
maturity is currently recommended by ASTM C1074:2017, where the concrete, monitored locally
and submitted to the calculations defined by the standard, will present results of compressive
strength that allow, for example, without the need for destructive test results, an alternative to the
consolidated compressive strengh test, determined nationally by NBR 5.739:2018. This study aimed
to present the historical evolution of this method, starting from the studies of Nurse, Saul, Carino
and Lew, among others, as well as to report recent results and increments to the method. Little
national literature was observed on the subject, where the history of the use of this method, mostly
in concrete and precast concrete works. Despite the low diffusion of this method in Brazil, it was
verified the great possibility of use in the different constructive typologies that use concrete, since
the records found in the literature have shown satisfactory results in concrete of typologies similar
to the national ones. It was also concluded that, due to the non-destructive test characteristic, the
Maturity Method is an important contribution to the qualification of concrete without generating
waste of material with the preparation of samples that will be later discarded as is the current
protocol of the various works. There is still to be mentioned the productivity gain in the
construction sites. For this, the success of the use of the maturity method is dependent on the design
criteria and also the strict control and knowledge of the properties of the materials that will be the
concrete to be used, so that the readings made in the works are correctly equalized in order to
generate reliable results and for the safety of buildings.

Keywords: concrete, Maturity Method, compressive strength, activation energy.

1. INTRODUÇÃO
Prever o comportamento do concreto ao ser aplicado em estruturas tem sido tema constantemente
pesquisado em todo o mundo. Como resultado, vários procedimentos foram criados e deles vieram
normas técnicas, protocolos e práticas, tanto em laboratórios, quanto em canteiros de obras, que
objetivam padronizar e dar segurança à utilização do concreto de forma rastreável e com maior
controle.
Na busca por qualificar concretos quanto ao seu comportamento mecânico pode-se citar, por
exemplo, o ensaio de rompimento de corpos de prova cilíndricos à compressão em idades pré-
estabelecidas, normalizado nacionalmente pela ABNT NBR 5.739 [1]. Há também ensaios que
investigam a durabilidade dos concretos como o ensaio de resistividade elétrica [2, 3, 4], bem como
ensaios para determinação do módulo de elasticidade [5], dentre outros.
Embora existam várias formas de qualificar concretos, como os mencionados anteriormente, há
sempre o questionamento acerca de seus resultados in loco, pois que os corpos de prova nestes
ensaios são manipulados em condições de cura, em sua maioria, diferentes dos locais onde os
concretos são aplicados. Assim, de forma a dar maior exatidão aos resultados obtidos em
laboratórios e nas obras, foi desenvolvido o Método da Maturidade. Um outro influenciador do
desenvolvimento desse método foi o crescente número de acidentes por colapsos estruturais em
obras recém concretadas, principalmente nos Estados Unidos e Europa [6].
Este método engloba um conjunto de procedimentos a serem realizados em laboratório e in loco
com o concreto ainda em suas primeiras idades, de forma a prever o ganho de resistência à
compressão. Seu principal fator de mensuração é a evolução do calor de hidratação, específico a
cada tipo de concreto, e este é acompanhado em função do tempo de cura.
Para tanto, há inicialmente o processo laboratorial do concreto, onde argamassas e concretos de
características semelhantes ao concreto que será lançado na obra é ensaiado até que seja definido o
seu índice de maturidade [6-7] ou também, seu tempo equivalente [9]. Em um segundo momento,
nos canteiros de obra, termopares são inseridos no concreto durante o processo de preenchimento
das formas. Em períodos pré-estabelecidos em projeto, o calor gerado no interior da peça
concretada é medido com o auxílio de equipamentos (multímetros, por exemplo), conectados aos
termopares inseridos no concreto de forma a acompanhar a evolução do calor de hidratação [10,
11]. Estes resultados são tratados matematicamente e, então, é definido o momento em que aquela
peça adquiriu a resistência à compressão esperada.
Seus principais benefícios englobam a possibilidade de desforma de peças concretadas em idades
recentes, liberação de pavimentos, a possibilidade de aplicar uma nova camada de concretagem em
obras de concreto massa [6-7]. Como resultado desses processos há, também, o ganho de
produtividade, pois estes procedimentos podem ser feitos tão logo o concreto alcance a sua
maturidade, sem a necessidade de aguardar os rompimentos de corpos de prova a 7, 14 e 28 dias
como preconiza a ABNT NBR 5.739 [1].
O Método da Maturidade é atualmente normalizado pela ASTM C 1074 [7]. Contudo, até que esta
norma tivesse sido concretizada um longo caminho percorrido por pesquisadores como R.W. Nurse,
H.S. Saul, N.J. Carino, dentre outros, teve que ser percorrido. Nesta revisão poderão ser vistos
alguns dos trabalhos acerca da maturidade de concretos, bem como seus avanços, limitações e
resultados, pesquisas que levaram autores de vários países a testarem o método em seus concretos.
A respeito da grande difusão do método a nível internacional, uma pesquisa feita pelo
Departamento Norte Americano de Tráfego demonstrou que na grande maioria dos estados
pesquisados (32 de 44 estados) utilizar o Método da Maturidade para liberação de pavimentos era
prática comum [12]. Percebe-se uma grande oportunidade de uso na grande maioria das tipologias
construtivas que envolvam a necessidade de aferir o ganho de resistência à compressão em
concretos, pois nota-se na literatura publicada resultados positivos, inclusive resultados nacionais.
Dessa forma, objetivou-se com este estudo aprofundar o entendimento sobre o Método da
Maturidade, partindo do levantamento histórico de seu desenvolvimento, apresentando seus
principais avanços e aplicações. Além disso buscou-se avaliar a possibilidade de utilização deste
método em concretos nacionais por meio da verificação de estudos publicados, bem como pela
comparação de resultados internacionais que obtiveram sucesso na utilização do método e se os
materiais analisados nestas pesquisas se assemelham aos utilizados no Brasil.
Importante destacar que o Método da Maturidade faz parte do grupo de ensaios não destrutivos que
em muito contribuem para a não geração de resíduos e diminuição de custos operacionais quando
são comparados, por exemplo, com os ensaios de resistência à compressão via moldagem e
rompimento de corpos de prova como o estabelecido pela ABNT NBR 5.739 [1]. Dessa forma,
optar por ensaios não destrutivos é também uma forma de contribuir para a sustentabilidade do
planeta. Para tanto, estudos como este que se propõe auxiliam na difusão dos benefícios de utilizar
estes ensaios possibilitando a adesão de mais profissionais que optarão por estes testes.
2. METODOLOGIA
O presente artigo está inserido no campo da pesquisa qualitativa. Quanto à sua natureza trata-se de
uma revisão de literatura.
Este estudo é constituído de um levantamento bibliográfico acerca do desenvolvimento do método
da maturidade, evolução que culminou na norma técnica americana ASTM C 1074. Neste
levantamento busca-se analisar tanto a questão procedimental quanto os cálculos que foram
desenvolvidos com o passar dos anos. Como um dos objetivos deste trabalho é verificar a
viabilidade do uso do método da maturidade em concretos brasileiros, será também investigada a
existência de trabalhos nacionais publicados na literatura que abordem o tema, de forma a entender
o que há de evolução a nível nacional e o que ainda precisa ser desenvolvido.
De forma a nortear e facilitar a aquisição do aparato bibliográfico foi utilizada a metodologia
desenvolvida por Ensslin et al. [13] denominada ProKnow-C (Knowledge Development Process –
Construtivist). Para a seleção textos estudados foram premissas a autenticidade, a representatividade
junto à comunidade científica e a imparcialidade.

3. O MÉTODO DA MATURIDADE: CARACTERÍSTICAS E APLICABILIDADE


A ASTM C 1074 define maturidade como “a extensão do desenvolvimento de uma propriedade de
uma mistura cimentícia” [7]. Este conceito, se aplicado ao Método da Maturidade, indica o
momento pelo qual o concreto atinge a resistência à compressão esperada. Esta “maturidade” é
avaliada no concreto nas primeiras idades, contudo, definir o que seria considerado como primeiras
idades ainda não é consenso entre os pesquisadores [14]. Para melhor entendimento do método é
prudente considerar como primeiras idades o período que vai até 28 dias após a mistura do
concreto, pois, conforme apresentado na ASTM C 1074 [7], bem como no procedimento ASTM C
39 [15], esta é a data do último ensaio de verificação de ganho de resistência de projeto.
Os primeiros estudos acerca da maturidade do concreto datam das décadas de 40 e 50, na Inglaterra.
McIntosh [16], Nurse [17] e Saul [18] foram os primeiros pesquisadores a falar sobre esta temática.
Impulsionados inicialmente pelo desejo de prever a resistência do concreto curado a vapor,
estudaram os efeitos da variação de temperatura no concreto em relação ao tempo. Dessa forma,
surgiu o primeiro conceito de maturidade: “O concreto, da mesma mistura e na mesma maturidade
(calculado em temperatura-tempo), tem aproximadamente a mesma resistência, qualquer que seja a
combinação de temperatura e tempo para compensar essa maturidade” [18, tradução nossa].
Um importante ponto a ser destacado nestes primeiros estudos foi a relação não proporcional entre
o ganho de maturidade, o aumento da temperatura e o ganho da resistência. Foi constatado que, ao
se comparar concretos diferentes, para um mesmo índice de maturidade, os que possuem alto valor
de temperatura nas primeiras idades nem sempre apresentaram os maiores valores de resistência à
compressão em idades futuras, é o chamado “crossover efect” [6]. A Figura 1 mostra este efeito.
Fig. 1 – Resultados de um concreto submetido a duas temperaturas de cura distintas em relação ao
desenvolvimento de sua maturidade. Fonte: Adaptado de Carino e Lew [6].

Como pode ser observado, na Fig. 1, logo nas primeiras idades, a influência do gradiente térmico de
cura pode ocasionar resultados distintos na medição de maturidade, o que leva a concluir que o
método da maturidade somente pode ser utilizado com confiabilidade nas primeiras idades [6, 8,
19]. Outro ponto a ser considerado é que este efeito de cruzamento também é afetado pelo tipo de
mistura cimentícia, por apresentar desenvolvimento distinto quanto ao calor e taxa de hidratação
[20, 21], o que será explicado à frente (item 3.1.1).
Diante do exposto, e como o Método da Maturidade se trata de procedimentos que trarão dados a
um modelamento matemático com as características intrínsecas do concreto, em busca de um
resultado numérico que o qualificará, deve-se conhecer e estudar com cautela todas as variáveis
desse processo.

3.1. Parâmetros de avaliação do concreto em relação à sua maturidade


O desenvolvimento do Método da Maturidade se baseia na quantificação do calor de hidratação
(agente interno), na sua variabilidade no tempo e temperatura a qual é submetido (agente externo),
bem como da energia de ativação aparente do concreto (Ea). Para entender melhor o método é
necessário conhecer estes fatores, explanados brevemente a seguir.

3.1.1 Calor de hidratação


A variação da temperatura em concretos de pouca idade é um dos grandes indicadores do
desenvolvimento das propriedades bem como apresenta indício de performances esperadas como
endurecimento, ganho de resistência mecânica e durabilidade [11, 22]. As características de
hidratação podem ser definidas a partir de um grupo de parâmetros que incluem, basicamente, a
energia de ativação aparente e curvas de hidratação. Quanto maior este calor liberado, maior a
quantidade de reações dentro da matriz do concreto [11]. Barbosa et al. [23] complementam que
quanto maior a temperatura, mais acelerada é a taxa de hidratação.
Diversas pesquisas utilizam testes calorimétricos para aferir o desenvolvimento da hidratação,
podendo ser estes isotérmicos [10, 11, 24, 25] e semi-adiabáticos [18, 19, 21].
Schindler e Folliard [21] bem como Xu et al. [11] explicam que o desenvolvimento da hidratação
de concretos é variável e dependente da composição mineralógica dos materiais, do design da
mistura, da inclusão ou não de aditivos, materiais cimentícios suplementares, misturas químicas e a
presença ou não de polímeros. Ainda sobre a composição mineralógica é importante destacar a
influência dos compostos do clínquer. Por exemplo, cimentos com altas concentrações de C2S
tendem a ter endurecimento lento e também baixa liberação de calor se comparados a cimentos com
maior concentração de C3A [14].
Uma relação matemática pode ser usada para definir o grau de desenvolvimento da hidratação.
Alguns pesquisadores [11, 21, 22, 26] sugerem uma função exponencial para caracterizar a
hidratação do cimento com base nos dados do grau de hidratação em relação ao tempo. A relação
comumente usada é um modelo de três parâmetros definido na Eq. (1)

(1)

Em que:
- α (te) é igual ao grau de hidratação em idade equivalente;
- te é igual à idade equivalente (ver Eq. 4) [horas];
- τ é igual ao parâmetro do tempo de hidratação [horas];
- αu é o grau final de hidratação;
- β é igual ao parâmetro da forma de hidratação.

Segundo Xu et al. [11] αu, τ e β, advém de curvas de hidratação que caracterizam os materiais
cimentícios e, portanto, são específicos a cada tipo. Um alto valor de αu indica que aquele material
teve alta magnitude de liberação de calor. Em contrapartida, se o material teve alto valor de τ,
indica que ele tem a característica de hidratar-se mais vagarosamente. Além disso, altos valores de β
indicam que a taxa de hidratação fora expressiva. Poole et al. [22] complementam que mesmo que a
Eq. (1) seja uma formulação empírica para quantificar o grau de comportamento de hidratação do
concreto, na maioria dos casos, fornece uma estrutura razoável para modelos preditivos, porque αu,
τ e β podem ser todos calibrados com dados de teste.
Durante o desenvolvimento do Método da Maturidade o calor de hidratação é o principal fator de
mensuração, contudo, é de grande importância quantificar também a energia de ativação, que está
diretamente ligada ao design do concreto e influenciará o comportamento da hidratação.
3.1.2. Energia de ativação aparente do concreto
A energia de ativação dentro do Método da Maturidade pode ser figurada como a “identidade” do
concreto. Esta advém da química molecular. Foi proposta por Svante Arrhenius na última parte do
século dezenove para explicar que as reações químicas não ocorrem instantaneamente quanto
reagentes são colocados em contato [6, 27]. Arrhenius defendeu a ideia de que antes de um grande
estado de energia ser ativado, os reagentes têm que adquirir uma energia que seja maior do que a
barreira que tende a não reagir quimicamente [22, 28].
Brown e LeMay [27] explicam que em sistemas moleculares as partículas estão em movimento e a
energia é transferida entre elas quando elas colidem. A medida que o número de colisões aumenta
algumas moléculas adquirem energia suficiente para desencadear novas colisões. A partir daí a taxa
de reações aumenta e, por consequência, a temperatura aumenta. Em outras palavras, Poole et al.
[22] complementam que a teoria de Arrhenius é usada para capturar a sensibilidade à temperatura
de uma mistura particular, de modo que seu comportamento possa ser modelado sob diferentes
condições de temperatura.
É importante destacar que as proposições de Arrhenius partem de experimentos em sistemas de
fases homogêneas e o concreto, por ser um compósito multi fase, onde as reações de hidratação não
são uma simples reação, a energia de ativação de Arrhenius não pode ser aplicada diretamente à
cinética do concreto. Na verdade, o que se determina medindo o aumento da temperatura em função
do tempo, durante a hidratação dos grãos de cimento, pode ser chamada de energia de ativação
aparente (Ea) [22, 23, 28].
A obtenção da Ea do cimento pode ser realizada por meio de experimentos calorimétricos,
mecânicos ou medida diretamente a partir da evolução dos valores de água não evaporável [23]. Os
estudos acerca da determinação da energia de ativação em concretos foram iniciados com
experimentos isotérmicos por Carino em 1984 [28]. Estes, acrescidos de formulações matemáticas
desenvolvidos por outros pesquisadores compõem o Anexo A da ASTM C 1074 [7].
Nokken [19] realizou um levantamento sobre ensaios de determinação de calor de hidratação.
Constatou, a princípio, que diversos métodos foram utilizados: reológicos, calorimétricos,
mecânicos e elétricos. A grande variação da Ea também foi observada, partindo de 7,5 a 63 kJ/mol.
Apesar disso, satisfatoriamente a grande maioria resultava na faixa entre 30-45 kJ/mol, em
consonância à faixa de valores sugerida pela ASTM C 1074 [7]. Outra questão observada por
Nokken [19] em seu levantamento: as energias de ativação determinadas em idades precoces são
menores que 35 kJ/mol, enquanto àquelas determinadas em idades posteriores excedem 35 kJ/mol.
Além disso a autora constatou que a Ea é menor em cimentos Portland acrescidos de cinzas volantes
enquanto que a adição de escória apresenta resultados mais elevados.
Ainda sobre estes valores, é importante ressaltar uma importante contribuição ao Método da
Maturidade advinda pelos estudos de Freiesleben-Hansen e Pedersen em 1977. Os autores
apresentaram formulação genérica em função da temperatura do concreto (Tc), onde é considerado
um intervalo de -10 ºC a 80 ºC [9]:
a) para Tc > 20 ºC: Ea (Tc) = 33.500 J/mol
b) para Tc < 20 ºC: Ea (Tc) = 33.500 + 1.470 (20-Tc) J/mol
Estudos nacionais determinaram energia de ativação aparente dentro da faixa sugerida pela ASTM
C 1074 – 40 a 45 kJ/mol - em concretos utilizando cimentos CP V [29, 30, 31]. A título de
exemplo, a Tabela 1 apresenta os dados de Ea definidos pela pesquisa de Peres et al. [30]:

Tabela 1 – Valores de Energia de ativação aparente para cimentos nacionais


Cimento Valores de Ea (kJ/mol)
CP I - S 35,4
CP II – F 32 31,4
CP II – Z - 32 31,3
CP III 57,0
CP IV 50,4
CP - V 43,9
Fonte: Peres et al. [30].

Nota-se que a faixa média de resultados está próxima dos valores encontrados internacionalmente
[7, 11, 19, 21, 27]. Contudo, os autores [30] sugerem novos experimentos em condições de
temperaturas diferentes.

3.1.2.1 Determinação da energia de ativação: método experimental


De forma genérica, para a determinação da energia de ativação, segue-se o seguinte procedimento
[7, 22, 32, 33]:
a) cura de diferentes espécies de pasta de cimento em três temperaturas diferentes e constantes;
b) determina-se a resistência à compressão em intervalos regulares de tempo;
c) estabelece-se o valor de taxa constante para cada temperatura por meio de um relação idade-
resistência para cada resistência-data;
d) plota-se o logaritmo natural de taxa constante versus o inverso da temperatura de cura (em K);
e) determina-se o melhor ajuste à equação de Arrhenius (Eq. 2), de forma a identificar a variação
da taxa constante em relação à temperatura.
Carino e Tank [32] propuseram uma modulação matemática que pudesse representar a dependência
de temperatura em uma taxa constante de ganho de resistência à compressão (k). Esta pode ser
considerada uma adequação da equação de Arrhenius (Eq. 2), onde a Ea do concreto é inserida. Esta
equação, base do cálculo da energia de ativação, é posteriormente apresentada como na Eq. (3) [22,
19].

(2)

Em que:
- R é a constante de gases natural: 8,314 [J / mol / K];
- T - temperatura [K] na qual a reação ocorre;
- k - taxa de evolução de calor [W];
- A - constante de proporcionalidade;
Ea - energia de ativação [J / mol].

Portanto, a Ea pode ser determinada pela inclinação do logaritmo natural da mudança da constante
de taxa em relação ao inverso da temperatura, como dado na Eq. (3) [19]:

(3)

Em que:
- R é a constante de gases natural: 8,314 [J/mol/K];
- T = temperatura do concreto [°C].

Os parâmetros k e Ea podem ser determinados por várias formas:


a) pela tratativa linear (Eq. 2);
b) por assumir que a k segue uma função hiperbólica linear, onde o k é função da resistência à
compressão [7, 19];
c) por modelamento matemático hiperbólico parabólico [34];
d) pelo método exponencial, onde os resultados apresentados tanto em idades recentes do
concreto, quanto posteriores, têm sido assertivas [9, 6, 21].
A formulação matemática, bem como a metodologia experimental a que se trata as alíneas a-d, não
serão abordados em detalhes neste artigo.
É importante ressaltar que qualquer propriedade medida em temperaturas variadas pode ser usada
para determinar a Ea, no entanto, para utilizar os métodos hiperbólico linear, parabólico,
hiperbólico ou exponencial, são necessárias medições ao longo do tempo, a propriedade deve
aumentar monotonicamente (ou diminuir) com o tempo para um valor assintótico [19].
A partir do momento em que as propriedades que determinam a maturidade dos concretos são
conhecidas, passa-se para a aplicação do Método da Maturidade.

3.2 O Método da Maturidade: aplicação


A aplicação do Método da Maturidade em obras é precedida por um estudo laboratorial. Além da
determinação da energia de ativação, há a necessidade de se definir em laboratório o índice de
maturidade, ou tempo equivalente. Para tanto, a ASTM C 1074 apresenta o procedimento para
estabelecer esse índice [7].
Assim que o concreto é desenvolvido são feitos sete corpos de prova cilíndricos de (10x20) cm,
obedecendo aos critérios da ASTM C 39 [15], que serão monitorados quanto ao avanço de sua
temperatura em um tempo decorrido. A estas amostras são inseridos termopares que medirão a
temperatura interna do corpo de prova. As amostras são mantidas em cura úmida com temperatura
do laboratório controlada. As medidas de temperatura são colhidas constantemente e, a cada uma
hora, rompe-se um corpo de prova à compressão [6, 7].
De posse dos resultados são feitas análises gráficas que correlacionem tempo x temperatura x
resistência à compressão. A determinação da maturidade pode ser feita por dois métodos:
a) fator tempo-temperatura, ou equação de Nurse-Saul, também chamada de Função Maturidade
(Eq. 4), e;
b) tempo equivalente, função desenvolvida por Freiesleben-Hansen e Pedersen [9] (Eq. 5).
A ASTM C 1074 deixa à critério do realizador do ensaio a opção por qual via de cálculo usar.
Percebe-se, contudo, que os estudos mais recentes [19, 24, 36] têm preterido a Eq. (5) à equação de
Nurse-Saul por causa de sua limitação em idades mais avançadas devido ao efeito crossover
apresentado anteriormente na Fig. (1).

(4)

Em que:
- M é o índice de maturidade em ºC-horas ou ºC-dias;
- T é a temperatura média do concreto [ºC] durante um intervalo de tempo Δt;
- T0 é a temperatura de referência (sugerida pela ASTM C 1074 de -10º C);
- t é o tempo de aferição [dias ou horas];
- Δt é o intervalo de tempo [dias ou horas].

(5)

Em que:
- te(Tr) é igual a idade equivalente à temperatura de referência T r [horas/dias];
- Tc é igual à temperatura do concreto [ºC];
- Ea e R são como definidos anteriormente.

A base desta equação (5) é determinar o efeito da temperatura na taxa de reações químicas que
ocorrem durante o período de hidratação [9].
Após a determinação em laboratório do índice de maturidade, ou tempo equivalente, os projetos do
canteiro de obras virão com esta informação. Na fase de preparação para concretagem os
termopares são fixados às ferragens e concretados [7]. Ao término da concretagem inicia-se a
medição da evolução do calor gerado na peça estrutural (Fig. 2) [35]. Quando essa temperatura
atinge o índice determinado em projeto pode-se considerar que aquela peça estrutural atingiu a
resistência à compressão esperada.
Figura 2 – Leitura da temperatura do concreto em uma ponte recém concretada. Fonte: Engius [35].

Peres et al. [29] apresentam os resultados de um estudo de maturidade em vigas pré-moldadas. A


Fig. (3) apresenta a relação resistência (MPa) x maturidade (horas) para uma viga de concreto.
Nota-se que, por exemplo, próximo de 8 horas o concreto analisado adquiriu a resistência
aproximada de 14 MPa.

Fig. 3 – Curva resistência à compressão versus idade equivalente para uma viga pré-moldada. Fonte: Peres et al.
[29].

Ainda sobre este estudo, Peres et al. [30] demonstraram aplicabilidade satisfatória do método em
concretos pré-moldados, contudo foram constatadas variações nas curvas térmicas, que no caso da
pesquisa em referência, influenciou os resultados de maturidade em até 17%.
Outros estudos brasileiros sobre o Método da Maturidade e a energia aparente de ativação podem
ser encontrados. Salvador Filho [37] utilizou o Método da Maturidade para avaliar concretos de alto
desempenho (CAD) com diferentes concentrações de adição de sílica ativa. O autor concluiu que o
método proporcionou maior clareza quanto a obtenção das propriedades estudadas, contudo pondera
que para acompanhamento do desenvolvimento do CAD há a necessidade de ciclos térmicos que
extrapolem os limites do Método da Maturidade.
Estudos nacionais também avaliara o uso do Método da Maturidade em diferentes aplicações e
formulações do concreto: Santos [24] avaliou a influência do patamar de cura em concretos auto
adensáveis com diferentes adições minerais; Scoaris et al. [25], assim como Peres et al. [30],
avaliou pré-moldados de concreto, porém, desta vez, reforçados com fibras; Silva [38] verificou
concretos com adições de cinzas de casca de arroz; enquanto que Silva et al. [10] testou concretos
curados em gradientes térmicos superiores aos sugeridos pela ASTM C 1074 de forma a verificar a
possibilidade de aplicar o Método da Maturidade em regiões com climas mais quentes. Por fim,
Coelho [39] obteve resultados de maturidade como dados de entrada para o estudo de efeitos
termomecânicos em obras de concreto massa em barragens. Nestes estudos mencionados os
resultados foram conclusivos quanto à contribuição do Método da Maturidade para avaliar a
propriedade dos concretos estudados.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Avaliar a possibilidade do uso do Método da Maturidade em concretos nacionais foi um dos
objetivos desta pesquisa. Por isso optou-se, nesse final de revisão de literatura, por listar
pesquisadores brasileiros que obtiveram sucesso, comprovando a possibilidade de uso do método
neste país. Os estudos internacionais, relatados no decorrer desta pesquisa, apresentaram resultados
satisfatórios, salvo as limitações e desafios que foram progredindo à medida que novas pesquisas
eram desenvolvidas. Portanto, é de grande valia saber que nacionalmente também há a alternativa
de se optar por um método que priorize ensaios não destrutivos.
Há também o fato de que o acompanhamento in loco da evolução da temperatura na peça
concretada contribui para a produtividade, pois assim que o concreto atinge a resistência esperada
pode-se liberar a próxima etapa construtiva. Isso poderá acontecer em idades diferentes do que é
comumente feito nas obras brasileiras que, na maioria das vezes, seguem os tempos determinados
na NBR 5.739 (7, 14 e 28 dias).
Além disso, extingue-se a necessidade de gerar corpos de prova no canteiro a cada concretagem
para serem curados e rompidos à compressão nos tempos determinados, contribuindo para a
redução do desperdício de concreto, evitando que corpos de prova sejam descartados como resíduo.
Reduz também custos, pois não há a necessidade de gastos com ensaios laboratoriais pós
concretagem. Em obras de parede de concreto, por exemplo, onde há muitas vezes a necessidade da
criação de um laboratório de concreto exclusivo para a obra, esse custo seria suprimido.
As dificuldades a serem vencidas, que estão fora do escopo proposto por este trabalho, e são
impulsionadoras de estudos futuros, são:
a) avaliar os custos dos equipamentos de monitoramento, softwares e treinamento versus custos
dos procedimentos usuais;
b) há a necessidade de numerosos testes em obra, onde os resultados de maturidade do concreto,
devido à variabilidade climática das regiões brasileiras, poderão sofrer a influência dos
gradientes térmicos, diferentes das temperaturas controladas de laboratórios;
c) avaliar também a responsabilidade e influência de vícios construtivos, erros na concretagem,
tratamento dos dados e o seu efeito no resultado real se comparado ao laboratorial.
O resultado destes estudos poderia subsidiar o desenvolvimento de uma normalização nacional.
Importante salientar que o intuito de estudos como este não é incentivar o abandono de práticas
consolidadas de controle tecnológico do concreto, mas sim uma alternativa, não destrutiva, aos
ensaios vigentes.

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[35] ENGIUS. Case study: Insterstate 40 Bridge Reconstruction. Webbers Falls, Oklahoma. Disponível em:
<https://www.fl ir.com/globalassets/discover/instruments/concrete-curing/i-40-case-study.pdf>. Acesso em: 03 nov.
2018.

[36] PERES, L. D. P. Avaliação de propriedades mecânicas de peças pré-moldadas submetidas à cura térmica
pelo Método da Maturidade: estudo de caso. 2006. 165 p. Dissertação (mestrado em engenharia) – Faculdade de
Engenharia da Ilha Solteira, Universidade Estadual Paulista, 2006.

[37] SALVADOR FILHO, J. A. A. Cura térmica dos concretos de alto desempenho: análise das propriedades
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Universidade Estadual Paulista, 2001.

[38] SILVA, C. A. R. Aplicação do conceito de maturidade em concreto com adição de cinza de casca de arroz.
2004, 130 f. Dissertação (mestrado em Engenharia Civil) – Faculdade de Engenharia da Ilha Solteira, Universidade
Estadual Paulista, 2006.
SELEÇÃO DE LOCAL PARA A CONSTRUÇÃO DE ATERROS
INDUSTRIAIS PERIGOSOS: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA

Site selection for the construction of hazardous industrial landfills:


A methodological proposal

Raphaela Araújo de Aguiar 1, Fernanda Deister Moreira 2, Mariana Medina da Fonseca 3, Thais
Girardi Carpanez 4
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil, raphaela.aguiar@portejr.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil, fernanda.deister@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil, mariana.medina@engenharia.ufjf,br
4
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil, thais.carpanez@engenharia.ufjf.br

Resumo: Os aterros de resíduos perigosos são classificados como potencialmente poluidores


segundo a Deliberação Normativa Copam nº 217/2017, de Minas Gerais, atendendo, dessa forma,
as diretrizes estabelecidas pela Lei 6938/81 para seu licenciamento ambiental. A localização
inadequada da disposição final dos resíduos, em especial os perigosos, é um aspecto ambiental
importante, podendo comprometer a qualidade dos recursos ambientais em termos espaciais e
temporais. Deve ser feito um estudo prévio cuidadoso integrando informações técnicas, normativas
e legais que permitam efetuar uma análise espacial na área de interesse visando a seleção das áreas
prioritárias para a disposição final dos resíduos. Os estudos de seleção de local para aterros
industriais perigosos devem ser realizados em etapas sequenciais, incrementando o detalhamento
dos dados na medida que uma nova fase dos estudos seja iniciada. Assim, os dados e informações
de caracterização hidrográficos, geológicos, do bioma, do relevo e do clima, além dos critérios
estabelecidos por normas devem ser avaliados em grau crescente de análise. Logo, é possível
selecionar um conjunto de áreas para localização do empreendimento, visando a minimização dos
impactos negativos gerados. O trabalho tem objetivo de apresentar uma proposta de metodologia a
partir da definição de Áreas Potenciais e as Áreas Preliminares para a implantação do Aterro. Para
tal, utilizou-se de dados e informações técnicas e legais, as quais foram espacialmente trabalhadas;
destacando-se ferramentas de análise booleana, análise multicritério e software Vista S.A.G.A 2007
- LAGEOP/UFRJ. Ressalta-se a necessidade de se estabelecer diretrizes técnicas, visando a
definição dos critérios restritivos e ou seletivos, já que só a partir dessa divisão é possível gerar os
mapas que serão sobrepostos indicando, após a análise multicritério, as Áreas Potenciais a receber o
empreendimento. A partir dessa etapa, visando a seleção de Locais Candidatos, são feitos
levantamentos em campo para o detalhamento das características locais de cada Área Potencial e
escolha final do local de implantação. A seleção de um local de aterro industrial envolve, por
excelência, conhecimento técnico multidisciplinar que, por consequência, exige a atuação de uma
equipe composta por profissionais especializados em diferentes áreas.

Palavras-chave: Aterros industriais, resíduos perigosos, seleção de local.


Abstract: Landfills for industrial hazardous waste are classified as potentially polluters according
to the Minas Gerais State Normative Deliberation nº 217/2017 following the guidelines established
by Law 6938/81 for its environmental license. The inadequate final waste disposal, specially the
hazardous ones, is an important environmental aspect that can compromise, temporarily and
spatially, the natural resources quality. A previous meticulous study must be done integrating a
spatial analysis aiming the selection of priority areas for the waste final disposal. The studies of site
selection for this type of landfill must be done in sequential steps increasing the details as a new
step starts. Therefore, the data and reports of site characterization approaching hydrography,
geology, the biome, climate and relief must be evaluated in a increasing degree analysis. So, it is
possible to select a set of sites to locate the activity aiming to minimize the negative environmental
impacts. This paper has the objective to present a methodological proposal from Potential Sites and
Preliminary Sites to implement the Landfill. For such purpose, data and technical and legal
information were used; highlighting boolean analysis, multicriteria analysis and the software Vista
S.A.G.A 2007 - LAGEOP/UFRJ. It is important to set technical directions aiming to define
restrictive or selective criteria once, just from this division, it is possible to create maps that will be
overlapped and that will indicate, after the multicriteria analysis, the Potential Sites to receive the
activity. With the objective to the select the Candidate Sites, some field visiting are made to detail
each Potential Site and, then, to select the final site. The selection of an industrial landfill site
involves, by excellence, multidisciplinary technical knowledge that, consequently, requires the
performance of a team composed of professionals specialized in different areas.

Keywords: industrial landfill, hazardous waste, site selection.

1. INTRODUÇÃO
A produção de resíduos industriais e comerciais são fortemente influenciados pelo aumento
populacional, visto que com este, o consumo de bens e serviços cresce, incentivando a produção
industrial e, por conseguinte, o incremento dos resíduos provenientes dessas atividades (Gianinni,
2010).
Alguns resíduos industriais têm características tóxicas e de biodisponibilidade
potencialmente maior ao meio ambiente do que outros. Dessa forma, com o crescimento desses
resíduos e principalmente, em função de suas características, é necessário selecionar um local
adequado para sua disposição final, sem causar riscos ao meio ambiente. Assim, implementou-se
aterros diferenciados e específicos, como o aterro para resíduos perigosos, que atende a demanda
dos resíduos industriais perigosos. Além disso, qualquer que seja o tipo de resíduo industrial é
importante que tenha um eficiente sistema de drenagem pluvial e a impermeabilização do leito para
evitar a contaminação do solo e da água subterrânea (Monteiro, 2006).
Os aterros de resíduos perigosos são classificados como potencialmente poluidores, segundo
a Deliberação Normativa Copam nº 217, de Minas Gerais (BRASIL, 2017), atendendo, dessa
forma, a lei 6938/81 que estabelece, normas e critérios para o licenciamento de atividades
potencialmente poluidoras, esses aterros devem ser devidamente licenciados (BRASIL, 1981).
Devido a esse potencial poluidor considerável, exige-se estudos ambientais tanto previamente à
implantação quanto após a sua desativação.
Segundo Acioly (2016) a localização inadequada da disposição final dos resíduos é um
grave problema que pode comprometer os recursos ambientais. É necessária, então, a realização de
um estudo prévio, fundamentado em informações ambientais e de legislação que permitem efetuar
uma análise integrada da escolha final das áreas prioritárias para a disposição final dos resíduos
(GOMES, 2001). Esse estudo de seleção de local visa definir qual a melhor área para o aterro
industrial com objetivo de atender a critérios técnicos, legais e ambientais (Tavares & Carissimi,
2012).
Assim, a determinação da localização de um empreendimento deve ser feita de forma
detalhada, para que não ocorra impactos ambientais negativos relevantes que muitas vezes podem
ser custosos ou até mesmo irreversíveis, como a contaminação de solos e águas subterrâneas. Para a
análise da área do aterro industrial perigoso, deve ser feito um estudo sobre as características
hidrográficas, geológicas, do bioma, do relevo e do clima, além de análises aos critérios
estabelecidos por normas e aos levantados pela equipe. Desta maneira, é possível selecionar e
hierarquizar um conjunto de áreas para localização do empreendimento, visando a minimização dos
impactos gerados.
Para o estudo de seleção de local não há um termo de referência específico, contudo
existem metodologias que podem ser seguidas para otimizar este processo. Uma das metodologias
mais utilizadas é a seleção de local por estabelecimento de critérios de restrição e seleção, feita pela
equipe multidisciplinar com base em legislações e experiência prévia, com o auxílio de software de
geoprocessamento, através de análise booleana e análise multicritério para exclusão de áreas
inadequadas (Samizava et al., 2008).
Diante do exposto, o presente trabalho tem por objetivo propor uma metodologia de seleção
de local para um aterro industrial de resíduos perigosos a fim de contemplar os aspectos legais,
ambientais, econômicos e sociais a partir de uma avaliação multicritério.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Visando desenvolver uma metodologia para seleção de local para aterros industriais de
resíduos perigosos, utilizou-se como metodologia de apoio trabalhos que realizaram estudos de
seleção de local para aterros sanitários como Weber e Hasenack (2000), Born (2013), Lourenço et
al. (2015), Schmidt (2016) e Amaral e Lana (2017), utilizando o método de análise multicritério e
análise booleana.
A primeira etapa do trabalho consistiu em revisão bibliográfica e compreensão de normas e
legislações ambientais vigentes para resíduos sólidos perigosos e aterros industriais.
A segunda etapa consistiu no estabelecimento dos critérios, os quais foram classificados
como: restritivos, de seleção nível 1 e de seleção nível 2. Aplicou-se aos critérios restritivos a
análise booleana e aos critérios de seleção 1 a análise multicritério. Os critérios de seleção 2 são
observações que devem ser feitas para definir os locais candidatos, foram escolhidos baseados na
legislação e parâmetros ambientais.
A combinação desses, utilizando essas análises adaptadas dos trabalhos supracitados,
permite uma tomada de decisão mais acertada e embasada, uma vez que possibilita a avaliação de
áreas com maior adequabilidade para o uso dentro da região de interesse.
A terceira etapa foi a validação do método, através do uso do software Vista S.A.G.A 2007 -
LAGEOP/UFRJ, para o município de Juiz de Fora, Minas Gerais.
Esse processo de decisão é de natureza multicritério, ou seja, são considerados diversos
atributos relacionados ao projeto, implantação e operação do aterro na avaliação da seleção do local.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O processo de decisão para a escolha da área para receber um aterro industrial perigoso, foi
desenvolvido a fim de contemplar os aspectos legais, ambientais, econômicos e sociais com base na
avaliação de vários critérios e todas as etapas estão discriminadas na figura 1.

Fig. 1 - Metodologia criada para a seleção de local. Fonte: Autores, 2018.

Definição dos Critérios de restrição


A definição dos critérios de restrição foi realizada de acordo com a legislação federal e
estadual, bem como as normas relevantes para a escolha das áreas aptas a serem utilizadas para
disposição de resíduos industriais perigosos.
Foram levados em consideração, para um mesmo critério, recomendações normativas mais
restritivas mesmo que destinadas a outra classe de aterro. Esses critérios estão apresentados no
Quadro 1:

Quadro 1: Critérios de Restrição


Topografia
Esse critério é definido pela NBR 10.157 de 1987, que dispõe sobre critérios para projeto,
construção e operação de aterros perigosos. A norma estabelece que a declividade do
terreno não pode ser menor que 1% e nem maior que 20%.
Proximidade da Hidrografia
A NBR 10.157/1987 estabelece que a distância de uma coleção hídrica não pode ser menor
que 200 metros. É importante salientar que esse critério visa preservar a qualidade dos
recursos hídricos evitando a contaminação por lixiviados do aterro.

Vias de acesso
A distância das vias de acesso é um critério essencial para planejamento da logística do
aterro. Na falta de uma norma específica para aterros industriais, utilizou-se o critério
conforme a DN COPAM Nº118/2008, que estabelece os requisitos mínimos para a
localização da área de um depósito de resíduos sólidos urbanos. A distância de vias de
acesso não pode ser menor que 100 metros.

Unidades de conservação
A lei n° 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da
Natureza, estabelece que as Unidades de Conservação (UC), que são espaços territoriais
que possuem restrições quanto ao uso, são áreas inviáveis para a implantação de aterros
sanitários. Já que essa restrição é válida para aterros sanitários, foi considerada para aterros
industriais.

Distância de núcleos populacionais


O critério de distância de núcleos populacionais visa preservar a qualidade de vida da
população no entorno do aterro. A NBR 10.157/1987 estabelece que a localização do aterro
não pode estar a menos de 500 metros de um núcleo populacional.

A aplicação dos critérios de restrição é realizada através de uma análise booleana, onde são
combinados todos os mapas temáticos da área de interesse que contemplavam esses critérios e os
dados foram processados no software Vista S.A.G.A 2007.
Análise Booleana- Definição de áreas preliminares
A álgebra booleana consiste na combinação lógica de dados de entrada, gerando mapas
temáticos sobre diferentes critérios através de operadores condicionais. São utilizadas ferramentas
lógicas como AND (interseção), OR (união), NOT (negação) e XOR (exclusão). Para o estudo em
questão, adotou-se o operador NOT (A NÃO B), sendo A os critérios favoráveis e B os não
favoráveis, de forma que, a interação entre os dois critérios também será não favorável.
Esse método foi aplicado aos critérios de restrição, uma vez que a lógica booleana só pode
ser aplicada em análises que os critérios avaliados possuem o mesmo peso; como esses se referem a
condições legais, essa análise se torna válida.
Os resultados são expressos em forma binária, de modo que os critérios não favoráveis
recebem a nota 0 e os favoráveis nota 1.
Para a aplicação da análise booleana, são combinados todos os mapas temáticos da área de
interesse que contemplavam os critérios de restrição, conforme apresentado no Quadro 2 e os dados
processados no software Vista S.A.G.A 2007.
Quadro 2: Análise booleana aplicada às restrições legais para a escolha de áreas para a disposição dos resíduos
industriais perigosos
Valor Norma mais
Critérios restritivos
0 1 restritiva
<1%
Declividade entre 1 % e 20 % NBR 10.157/1987
> 20%
Proximidade à hidrografia < 200 m > 200 m NBR 10.157/1987
DN COPAM
Distância das vias de acesso < 100 m > 100 m
Nº118/2008
Unidades de Conservação (UC) Dentro Fora Lei n° 9.985/2000
Núcleos Populacionais < 500 m > 500 m NBR 10.157/1987

Definição dos Critérios de Seleção 1


Para a escolha dos critérios de seleção 1, levou-se em consideração a legislação estadual e
federal, a revisão bibliográfica, além de uma ampla análise para definição de critérios que possam
impactar a localização de um aterro industrial perigoso e seu eventual funcionamento.
Na determinação de cada critério foi observado seu valor ambiental perante o possível
impacto gerado, seja na fase de instalação ou de operação do aterro. As características dos critérios
propostos foram avaliadas aplicando a técnica fuzzy de pertinência, a qual, segundo WEBER e
HASENACK (2000), classificam os critérios num escore de aptidão, mantendo a área original de
análise. As funções utilizadas são apresentadas no Quadro 3, e os critérios de seleção estão
apresentados no Quadro 4.

Quadro 3: Funções utilizadas na escolha dos critérios de seleção 2


Função Descrição Gráfico Representativo

Sigmoidal Apresenta um crescimento gradativo, até


Crescente seu valor ideal e a partir deste, se torna
constante. Desta forma, as áreas mais
aptas estariam na curva.

Linear Simétrica A função se comporta com um


crescimento à partir do valor definido, até
o pico, sendo este o valor mais apto e
logo após, há um decréscimo contínuo,
conforme figura 13.
Sigmoidal A função expressa um crescimento
Simétrica inicial, a partir do valor estabelecido,
atingindo um valor máximo ideal,
apresentando, a partir deste um
decrescimento.

Fonte:Samizava, 2008 (modificado).

Quadro 4: Critérios de Seleção 1


Distância de Corpos Hídricos
Se tratando de um destino final de resíduos perigosos, é importante considerar a alta
possibilidade de contaminação á rios, por escoamento superficial e águas subterrâneas, por
infiltração. Dessa forma, além de considerar o limite estabelecido pela NBR 10.157/1987,
de 100 metros, foi estabelecido, como ideal, uma distância mínima bem maior, de 1000
metros. Ao analisar o comportamento do critério como Sigmoidal Crescente, conclui-se que
quanto maior a distância dos corpos hídricos, mais apto estará localização.

Distância de Núcleos Populacionais


Visando sempre o bem estar e a qualidade de vida da sociedade ao entorno, é importante
que o aterro industrial esteja a uma distância mínima destes núcleos populacionais, que de
acordo com a NBR 10.157/1987 é de 500 metros. Desta forma, caracterizou-se o
comportamento do critério como sigmoidal crescente pois a partir de certo ponto, não há
mais interferência na distância de núcleos populacionais uma vez que o aterro não visa
receber os resíduos sólidos urbanos.

Distâncias de Áreas Industriais


Levando em consideração que as áreas industriais estão localizadas em centros urbanos ou
apresentam uma grande população em seu entorno, é importante manter uma distância
mínima para não afetar a qualidade de vida de tal população. É interessante também que
estabeleça uma via próxima destas áreas industriais, para que o deslocamento até o aterro
não fiquei inviável. Após considerar tais fatores concluiu-se um comportamento linear
simétrico para o critério em questão.

Distâncias de Vias de Acesso


É de suma importância que o acesso ao aterro seja adequado para que o empreendimento se
torne possível, assim, suas vias devem apresentar uma distância ideal. Em análise ao
descrito acima, concluiu-se um comportamento sigmoidal simétrica. Desta maneira, há uma
maior aptidão às áreas que estão acima ao limite estabelecido pela DN COPAM
Nº118/2008, de 100 metros.
Declividade
Relacionada ao um maior gasto com material de empréstimo, além de poder favorecer
certos impactos ambientais, como a erosão gerada de um escoamento superficial, a
declividade se comporta como uma função sigmoidal simétrica. Assim, os valores mais
aptos são os quais apresentam uma taxa intermediária desta, dentro do intervalo
determinado pela NBR 10.157/1987, de 1% a 20%.

Uso e Ocupação do Solo


Em análise a este critério foi considerado o tipo de cobrimento ao solo da localização
pretendida, avaliando também a importância ambiental da vegetação e os possíveis
impactos ambientai gerados. Assim, a área mais apropriada para o empreendimento se
localizar, é a qual apresentar um menor impacto por supressão vegetal possível.

Análise Multicritério - Área Potencial


A análise multicritérios representa uma combinação lógica dos mapas gerados, referentes aos
critérios de seleção 1, através da padronização dos dados de entrada. Assim, se faz necessário uma
padronização dos dados de entrada, uma vez que as unidades dos valores dos diferentes critérios são
incompatíveis, o que inviabiliza a sua agregação, além de não possuírem o mesmo peso, o que torna
a metodologia booleana inadequada para esta situação.
O processo de padronização baseia-se em uma conversão dos valores dos dados originais em
escores uniformes de aptidão ao propósito desejado, ou seja, possibilita a transformação das
unidades das variáveis para uma base única de mensuração. Além disso, ela tem a finalidade de
hierarquizar internamente cada variável, descrevendo o modo como a aptidão a implantação do
aterro industrial perigoso pode variar espacialmente.
O software VISTA SAGA, permite uma padronização dos valores no intervalo de 0 (zero) a
10 (dez). A aplicação da escala comum de mensuração pode ser realizada por meio do método
Delphi. Essa técnica consiste na distribuição das notas a partir de sugestões dos membros do grupo
de analistas. Por mais que, inicialmente bastantes divergentes, após algumas rodadas de
argumentações, acabam por convergir a um valor de consenso entre todos (Marino, 2005).
Nesse sentido, optou-se por um intervalo menor de 6 (seis) a 10 (dez) e estabeleceu-se um
significado aos valores, a fim de padronizar o conceito da nota, facilitar a discussão e a chegada do
senso comum.
Os critérios foram subdivididos em intervalos de acordo com o comportamento gráfico,
esses variam conforme as funções Linear e Sigmoidal que são controladas por quatro pontos.
Após a definição dos intervalos foi aplicada a escala de mensuração e por meio da
metodologia Delphi foram definidas as notas de acordo com o comportamento gráfico de cada
critério.
Após a realização da padronização estabelecida, foram combinados todos os mapas
temáticos da área preliminar que contemplavam os critérios de seleção 1. Para o processamento dos
dados no software VISTA SAGA foram atribuídos pesos aos mapas de entrada. Para isso, os mapas
foram classificados em 3 esferas: social, econômica e ambiental.
Os mapas de Distância de Corpos Hídricos (M1) e Uso e Ocupação do Solo (M6) foram
considerados fatores ambientais (A), já os mapas de Declividade (M5), Distância das Vias de
Acesso (M4) e Distância de Áreas Industriais (M3) fatores econômicos (E). Por fim, o mapa de
Distância de Núcleos Populacionais (M2) foi avaliado como um fator social (S).
A criação da escala, apresentada no Quadro 5, se dá pela necessidade de uma padronização
dos dados de entrada.

Quadro 5: Escala comum de mensuração e conceitos


6 7 8 9 10
RUIM RUIM + MÉDIO BOM BOM+

APTIDÃO
Fonte: Autores, 2018.

A análise de cada critério, bem como as funções aplicadas a cada um deles, com seus pontos
de controles, estão representadas no Quadro 6. A nota referente ao uso e ocupação do solo por
apresentar seus valores em categorias, foi definida de acordo com o menor impacto ambiental
causado.

Quadro 6: Análise multicritério aplicada aos diferentes graus de aptidão por critério
Pontos do Gráfico
I Comportamento do
Faixa de
D Critério A B C D critério Nota
avaliação
Sigmoidal Crescente < 200 m 0
(Gorsevski, 2012) 200 - 600 m 7
Distância de 600 - 1000 m 9
M corpos 200 1000 1000 1000
1 hídricos
>1000 m 10

Sigmoidal Crescente < 500 m 0


(Autor, 2018) 500 - 600 m 6
Distância de 600 - 700 m 8
M
Núcleos 500 700 700 700
2
Populacionais
>700 m 10

Linear simétrica <500 m 0


(Autor, 2018) 500 - 1000 m 9
Distância de 1000 - 2000
M 10
Áreas 500 1000 2000 10000 m
3
Industriais
>2000 8
Sigmoidal Simétrica <100 0
(Samizava, 2008) 100 - 500 m 9
500 - 1000 m 10
M Distância das
100 500 1000 5000
4 vias de acesso
> 1000 7

Sigmoidal Simétrica 0-5 0


(Samizava, 5 - 10 10
2008) 10 - 20 7
M Declividade
1 5 10 20
5 (%)
>20 0

Solo Exposto 10
Capoeira 9
Uso e
M Vegetação
ocupação do - - 8
6 Rasteira
solo
Floresta
0
Natural
Fonte: Autores, 2018.

Para o processamento de dados fez-se necessário a determinação de pesos a fim de


estabelecer um equilíbrio entre as três esferas de forma que a tomada de decisão sobre a área para
alocação do aterro convirja com o desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, temos os valores
globais de cada esfera de: ambiental - A - 45 %; econômica - E - 30%; e social - S - 25%.
Considerando o elevado potencial poluidor do aterro ao que tange os corpos hídricos, devido
a possibilidade de contaminação dos rios por escoamento superficial ou do lençol freático por
lixiviado no solo, o mapa M1 recebeu o maior peso 30%.
O mapa de uso e ocupação do solo recebeu o peso de 15%, de forma a contrabalancear o
peso para equilíbrio da esfera ambiental com as demais. Mesmo levando em consideração os
aspectos presentes nesse mapa, é praticamente inevitável encontrar áreas superiores a 20 hectares
em Juiz de Fora que não haja a necessidade de intervenção em áreas de preservação permanente.
A distância de núcleos populacionais (M2), como único fator social a ser considerado,
recebeu o peso de 25%, de forma a levar em consideração a qualidade de vida da população no
entorno do empreendimento. Os mapas M3, M4 e M5 receberam pesos equilibrados 15%, 10% e
5%, respectivamente, esses representam aspectos importantes para a fase de operação do aterro. No
Quadro 7 estão apresentados os pesos de cada mapa.
Quadro 7: Pesos atribuídos aos mapas na sobreposição ponderada
Mapas Pesos (%)
A - Distância de Corpos Hídricos (M1) 30
S - Distância de Núcleos Populacionais (M2) 25
E - Distância de Áreas Industriais (M3) 15
E - Distância das Vias de Acesso (M4) 10
E - Declividade (M5) 5
A - Uso do Solo (M6) 15
Total (%) 100

Após o processamento dos dados, de acordo com as notas e os pesos determinados, obteve-
se como mapa de saída as áreas potenciais para implantação do aterro industrial perigoso. As áreas
que somaram as maiores pontuações são aquelas que representam a maior aptidão para implantação
do empreendimento.

Definição dos Critérios de Seleção 2


Os critérios de seleção 2 foram definidos de acordo com a legislação e com parâmetros
ambientais, sociais e econômicos e estão apresentados no Quadro 8.

Quadro 8: Critérios de Seleção 2


Profundidade do lençol freático
O nível do lençol freático é um importante fator, pois em caso de contaminação do solo,
quanto mais profundo o lençol, menos chance de contaminação das águas subterrâneas. A
NBR 10.157/87 pede que haja pelo menos 1,50 m de solo insaturado entre a superfície
inferior do aterro e o mais alto nível do lençol freático.

Geologia (tipo e permeabilidade do solo)


As informações sobre geologia são importantes na determinação da capacidade de
depuração do solo, da velocidade de infiltração, e da compactação do solo, dados
importantes caso haja contaminação do solo, quanto menor a permeabilidade, menor a
chance de contaminar as águas subterrâneas. Conforme a NBR 10.157/87, a permeabilidade
do solo não pode ser maior que 5 x 10-5 cm/s.

Áreas inundáveis
É necessário que o aterro não seja instalado em possíveis áreas de inundações, para não
comprometer sua estrutura nem espalhar a contaminação através da água. Segundo a NBR
10.157/87 o aterro não deve ser executado em áreas sujeitas a inundações, em períodos de
recorrência de 100 anos.

Distância de aeródromos
A distância de aeródromos com base na Portaria nº 249/GCS/2011 do Ministério da Defesa
não pode ser menor que 9 quilômetros na Zona da Mata Mineira, onde se insere a área de
interesse. Essa distância é definida para que a atração de animais e o odor dos aterros não
interfira no funcionamento de aeroportos.
Tamanho do terreno
Deve-se verificar o tamanho do terreno para saber sua vida útil do aterro. Por ser um
projeto complexo e de alto investimento, a NBR 10.157/87 recomenda que se estipule uma
vida útil mínima para o aterro de 10 anos.

Acesso ao terreno
O terreno deve ter acesso facilitado para a entrada e saída dos caminhões no aterro.

Locais Candidatos
A caracterização dos locais candidatos deverá ser feita a partir de levantamentos expeditos
em campo para reconhecimento de local e de características chave que são essenciais para a
definição do local de implantação do aterro.
A caracterização desses locais será realizada de 6 meses a 1 ano, e após essas definições,
elenca-se os locais candidatos e a partir disso fica a critério do empreendedor escolher o local de
implantação do aterro.
Durante a visita dos locais deve-se atentar para detectar falhas que inviabilizariam a
implantação do projeto. Feito isso, deve-se avaliar fatores geológicos, fisiográficos, ecológicos e
sócio-econômicos. Em geral, avalia-se qualidade das vias de acesso, aspectos socioeconômicos
como valor do loteamento, proximidade de locais arqueológicos ou de valor cultural, proximidade
de postos de saúde, direção predominante do vento, locais com menor necessidade de supressão
vegetal, etc. (Coastal & Environmental Services, 2015).

Proposta e Limitações observadas


Umas das limitações do método encontra-se na aquisição de informações sobre a área de
estudo, uma vez que o processamento dos dados é feito em um software matricial. Isso porque a
obtenção dos dados pode ocorrer em diversas fontes e o SAGA necessita que as bases de dados
entrem com uma matriz igual (mesmo número de linhas e colunas). Caso contrário, implicará em
uma dificuldade na correta sobreposição dos arquivos e na inexatidão do método.

4. CONCLUSÃO
No presente estudo pode-se observar o passo a passo para seleção de local de um aterro
industrial, a qual, envolve conhecimentos diversos e, por isso, deve-se enfatizar a necessidade de
uma equipe multidisciplinar. O conhecimento da equipe sobre a metodologia de sobreposição de
mapas é imprescindível para uma análise global da determinação do local. É necessário, também,
um conhecimento prévio dos critérios para determinar se esses são restritivos ou seletivos já que só
a partir dessa divisão é possível gerar os mapas que serão sobrepostos indicando, após a análise
multicritério, as áreas candidatas a receber o projeto.
A realização da escolha da localização para o empreendimento é um processo duradouro e
exige, em cada etapa, muitos debates e estudos de toda a equipe. É de sua importância esclarecer
que, apesar de as áreas aptas serem concluídas pelos especialistas, todos devem estar cientes que a
escolha final fica a critério do empreendedor.
REFERÊNCIAS
[1] GIANINNI, C. Gestão dos resíduos industriais e a qualidade de vida. IV Encontro de Engenharia de Produção
Agroindustrial. Campo Mourão-PR, 2010.
[2] MONTEIRO, A. E. Índice de qualidade de aterros industriais-IQRI. Dissertação de mestrado. Departamento de
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2017. Diário executivo de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2017.
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Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6938.htm>. Acesso em 18.04.18.
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Aprova a edição do PCA 3-2 que dispõe sobre o Plano Básico de Gerenciamento do Risco Aviário – PBGRA nos
aeródromos brasileiros. Disponível em: <http://www.cenipa.aer.mil.br/cenipa/Anexos/article/205/PCA_3-
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de%20Selecao%20do%20Local%20do%20Aterro%20Sanitario.pdf>. Acesso em: 09/06/2018
INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA NA ANÁLISE DE
ESTABILIDADE DE TALUDES DE SOLO NÃO SATURADO

Influence Of Resistance Parameters In The Stability Analysis Of Non-saturated Soils

Talita Bergamaschi 1, Tatiana Tavares Rodriguez 2

1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, talita.bergamaschi@engenharia.ufjf.br


2 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, tatiana.rodriguez.ttr@gmail.com

Resumo: Dentre as particularidades do solo não saturado, uma de notável importância é seu
comportamento quando se trata de resistência ao cisalhamento. A necessidade de um estudo relativo
a tal particularidade deste material se faz clara pelo grande número de acidentes que ocorre a cada
ano devido a movimentos de massa que se dão em função da variação de umidade do solo não
saturado que está presente em boa parte do território brasileiro. Neste trabalho foram feitas reanálises
de um talude que rompeu no ano de 2008 na rodovia BR-116, km 17, no estado do Rio de Janeiro,
cujas análises haviam sido feitas por La-Côrte[1]. Estas reanálises foram feitas considerando uma
escolha diferente da escolha do autor para os parâmetros de resistência dos dois solos existentes no
talude em questão. Segundo a teoria da envoltória estendida de Fredlund, Morgenstern e Widger [2],
foi calculada a coesão total do solo a partir de valores de teor de umidade volumétrica de La-Côrte e
Fernandes[3] e de curvas características de sucção definidas por Fernandes. As análises de
estabilidade e os fatores de segurança foram determinados através do software disponível em modo
gratuito. Foi possível verificar, a partir da comparação com análises anteriores de La-Côrte[1], que o
fator de segurança sofre grande influência dos níveis de sucção do solo. Foi ainda possível perceber
como ensaios de cisalhamento sem sucção controlada, como os realizados por La-Côrte[1], geram
envoltórias de resistência que não condizem com a realidade dos solos não saturados uma vez que os
pontos de ensaio não pertencem a mesma curva por terem níveis de sucção diferentes, de acordo com
a teoria da envoltória estendida de Fredlund, Morgenstern e Widger [2].

Palavras-chave: solo não saturado, sucção, estabilidade de taludes.

Abstract: When discussing the particularities of unsaturated soil, one of notable importance is its
behavior when it comes to shear strength. The need for a study related to this particularity of this
material is made clear by the large number of accidents that occur each year due to mass movements
that occur due to the variation of moisture of unsaturated soil that is present in a considerable part of
the brazilian territory. In this paper, re-analyzes of a slope that slipped in the year 2008 on the highway
BR-116, km 17, in the state of Rio de Janeiro, whose analyzes were made by La-Côrte[1]. These re-
analyzes were made considering a different choice of the author's choice for the resistance parameters
of the two soils in the slope in question. According to Fredlund, Morgenstern e Widger’s [2]extended
envelope theory , total soil cohesion was calculated from La-Côrte[1] and Fernandes [3] volumetric
moisture content values and characteristic curves defined by Fernandes[3]. Stability analyzes and
safety factors were determined using the free software available. It was possible to verify, from the
comparison with previous analyzes of La-Côrte[1], that the safety factor suffers great influence of the
soil suction levels. It was also possible to observe how shear tests without controlled suctioning, such
as those performed by La-Côrte[1], generate resistance sheaths that do not correspond to the reality
of unsaturated soils since the test points do not belong to the same curve because they have different
suction levels, according to Fredlund's extended envelope theory.
Keywords: non satured soils, suction, soil stability.

1. INTRODUÇÃO
Acidentes com movimentos de massa são muito comuns no Brasil, principalmente em períodos de
intensa precipitação. Um dos principais fatores que levam ao movimento de massa é a alteração das
condições de umidade em decorrência da infiltração por água da chuva no solo.
O Brasil é um país de maciços terrosos em regiões tropicais nos quais a condição de solo não saturado
é muito significativa. Dentre as várias peculiaridades do solo não saturado, uma de considerável
importância é a resistência ao cisalhamento do mesmo. O estudo dessa propriedade do solo tem sua
necessidade evidenciada pelo grande número de acidentes envolvendo movimentos de massa que
acontece a cada ano. O estudo da análise de estabilidade de taludes leva em conta a influência de
cortes em massas de terra, que estão sujeitos à ação da gravidade, e à variação do nível d’água nestes
taludes.
A análise da condição da estabilidade de um talude depende fortemente dos parâmetros de resistência
do solo. No caso dos solos não saturados, estes parâmetros são obtidos de ensaios especiais na
condição não saturada ou de ensaios na condição saturada, em conjunto com dados de sucção mátrica.

1.1 Solos Não Saturados


Solos saturados e não-saturados diferem um do outro basicamente por sua natureza e comportamento
para a engenharia [4]. Solos que foram escavados, compactados ou modificados de alguma forma
resultam em solos não saturados. Qualquer solo próximo à superfície do planeta em um clima
relativamente seco estará sujeito a uma pressão neutra negativa e estará possivelmente não-saturado.
Um solo não saturado é, portanto, comumente visto com 3 fases existentes: sólidos, água e ar. Para
que se defina uma fase independente, é necessário que sejam observáveis, para uma porção de solo,
diferentes propriedades para materiais contíguos e uma superfície delimitadora. É fácil perceber que
para um solo não saturado, que apresenta as fases sólido, água e ar, essas duas exigências são
observadas.
Nos solos não saturados, uma aplicação de tensão gera mudanças volumétricas instantâneas e essa
mudança é pequena ao longo do tempo; a pressão neutra gerada é muito pequena comparada à tensão
aplicada [4].
Várias situações na prática da engenharia envolvem este comportamento do solo não saturado: taludes
naturais sujeitos a mudanças climáticas podem apresentar comportamento de solo não saturado com
pressão neutra negativa em sua superfície de deslizamento de modo que este deslizamento ocorre
comumente devido à precipitação prolongada. Sabe-se que solos úmidos siltosos ou argilosos têm
uma maior estabilidade em posições inclinadas e que a falha de uma massa de solo se deve, entre
outros fatores ao tipo de solo, à profundidade de escavação e à intensidade de precipitação. As
escavações verticais ou quase verticais ocorrem acima do nível frático do solo, onde ocorre a poro-
pressão negativa. A escavação produz uma diminuição da pressão neutra, o que resulta num aumento
da resistência ao cisalhamento do solo. Com passar do tempo haverá um aumento da pressão neutra
nas paredes de solo, o que é a principal causa da instabilidade. As previsões associadas a este
problema exigem uma compreensão do comportamento do solo não-saturado [4].

1.2 Sucção
Solos não saturados apresentam ainda uma característica notável que é a sucção. Este parâmetro
exerce grande influência no comportamento mecânico do solo e em suas características de resistência.
Para que haja um entendimento do fenômeno de sucção de água nos solos deve ficar clara a ideia de
energia no solo. O estudo de energia referente à água em solos segue as regras básicas descritas na
física: a água se desloca de regiões com mais energia para regiões com menos energia [5].
A Equação 1 apresenta os principais potenciais a serem considerados no estudo do fluxo da água no
solo não saturado. Esta equação se assemelha à equação de Bernoulli desconsiderados fatores apenas
presentes em situações muito específicas.

ψtotal = ψz + ψm + ψosm (1)

Onde:
Ψtotal = Potencial total;
ψz = Potencial gravitacional;
ψm = Potencial matricial;
ψosm = Potencial osmótico.
Especificamente sobre o potencial matricial, este considera o efeito conjunto dos fenômenos de
capilaridade e de adsorção sobre a energia livre da água do solo.
O potencial capilar surge no solo como consequência de forças de atração entre moléculas do mesmo
fluido (coesão) e entre moléculas de fluido e sólido (adesão). Fenômenos de ascensão capilar ocorrem
em pequenos diâmetros, como é o caso do solo. O fenômeno da adsorção está relacionado à existência
de cargas superficiais não balanceadas na superfície do solo [5].
A curva característica de sucção ou curva de retenção da água do solo, como também é chamada, é
uma representação gráfica da relação entre a umidade gravitacional ou volumétrica e a sucção da água
intersticial [6]. A maioria dos processos ocorridos neste material pode ser analisada por tal curva [5].
A forma que a curva característica apresenta é função de fatores como a trajetória seguida durante o
ensaio, a geometria dos poros do solo, a ocorrência de ar ocluso e as variações volumétricas. A Figura
1 mostra exemplos de curva características em função da granulometria.
Figura 1 - Formas de curvas granulométricas de sucção dos solos devido à granulometria. Fonte: [7]

1.3 Estabilidade De Taludes

Segundo Das [8], talude é uma superfície de solo exposta que forma um ângulo com a horizontal.
Como esta superfície não é horizontal, estará sujeita à ação da gravidade que poderá levar esta massa
de solo à ruptura, ocorrendo um deslizamento da mesma.
Para analisar a estabilidade de um talude é necessário determinar seu fator de segurança Fs que é
geralmente definido como a razão entre o somatório dos esforços resistentes e o somatório dos
esforços atuantes, como mostra a Equação 2 [9].
Σesforços resistentes (2)
𝐹s =
Σesforços atuantes
No caso de Fs maior que 1, não há ruptura. Geralmente 1,5 é um valor razoável de Fs para o projeto
de um talude estável. Os esforços resistentes ou a resistência ao cisalhamento são determinados como
função da tensão normal efetiva. Therzaghi definiu a tensão normal efetiva σ’ para solos saturados
como na Equação 3.
onde:
σ ’= σ – uw (3)
σ = tensão normal total;
uw = pressão na água dos vazios do solo.
Dentre as diversas equações propostas para definir a tensão normal efetiva σ’ em solos não
saturados, a mais conhecida foi a de Bishop (Equação 4).
σ’=(σ – ua) – χ (ua – uw) (4)

onde:
ua = Pressão do ar no solo
uw = pressão do líquido no solo
χ = parâmetro dependente do tipo do solo e seu grau de saturação, variando entre 0 e 1.
A Equação (4) apresenta um coeficiente χ que não é uma característica fundamental do solo, o que
representa uma inconveniência. Fredlund então, não se preocupando em definir uma equação geral
de tensões efetivas, demonstrou que as variáveis de tensão (σ – ua), (σ – uw) e (ua – uw) são
suficientes para definir o estado de tensões do solo não saturado. Qualquer par dessas variáveis é
independente visto que (σ – ua) + (ua – uw) = (σ – uw).
Com base nestes conceitos, Fredlund propôs a Equação 5 para a tensão cisalhante de ruptura τf para
solos não saturados.

τf= c’+ (σn – ua) f tg Φ’+ (ua – uw) f tgΦb (5)

Na Equação 5, tem-se o acréscimo da parcela de resistência referente à sucção que representa um


aumento da parcela de coesão do solo gerando a coesão total (C), conforme Equação 6.

C = c’ + (ua - uw) tgΦb (6)


onde:
c’ e Φ’= parâmetros efetivos de resistência do solo saturado;
(σn – ua)f = tensão normal liquida atuante no plano de ruptura, na ruptura;
(ua – uw)f = sucção mátrica na ruptura;
Φ b = parâmetro que quantifica um aumento na resistência devido a um aumento na sucção.
Devido à dificuldade de se determinar o parâmetro χ de Bishop experimentalmente, a Equação 5 é a
mais utilizada, sendo que a menor dificuldade de obtenção do parâmetro Φb de Fredlund reforça este
uso.
Fredlund e Rahardjo [4] apresentaram uma descrição detalhada da envoltória de resistência para o
caso do solo não-saturado utilizando-se do espaço tridimensional. A essa envoltória foi dado o nome
de Envoltória de Ruptura Estendida de Mohr-Coulomb. O gráfico em três dimensões, representado
na Figura 2, tem como ordenada a tensão cisalhante (τf) e como abscissas a tensão normal líquida e
a sucção matricial definidas, respectivamente, como (σn – ua) e (ua – uw).
Figura 2- Envoltória de resistência de solos não saturados. Fonte: Fredlund, Morgenstern e Widger [2] apud
CARVALHO et al. [5]

Os parâmetros de resistência para o solo não saturado se assemelham aos do solo saturado. O
parâmetro c, o intercepto de coesão, constitui a coesão aparente e, assumindo-se Φb constante, sofre
aumento linear com o aumento da sucção. A coesão c pode ser vista como uma parcela de aumento
no valor da resistência do solo, daí pode-se dizer que a sucção contribui para o aumento da resistência.
O parâmetro Φb constitui um ângulo que indica a razão de aumento da resistência do solo não
saturado em relação à sucção [4]. Este parâmetro varia de acordo com o nível de sucção como mostra
o gráfico da Figura 3.

Figura 3 - Variação de Φb com o nível de sucção em solos brasileiros originários de biotita-gnaisse Fonte:
CAMPOS e CARRILLO [10] apud CARVALHO[5]

Conforme observado por Fredlund et al. [2] e Fredlund e Rahardjo [4], nota-se que para o solo
saturado, espera-se que Φb=Φ’. Desta forma, tem-se que envoltória estendida de resistência pode ser
linear ou curva e que, para valores elevados de sucção, o formato curvo é mais provável e Φb e Φʹ
não são constantes.
1.4 Ensaios

Existem vários métodos para determinar os parâmetros de resistência ao cisalhamento em laboratório


para corpos de prova de solo. Dentre eles, os mais utilizados são o ensaio de cisalhamento direto e o
ensaio triaxial.
No ensaio de cisalhamento direto o corpo de prova é colocado numa caixa metálica de base quadrada
ou circular onde são aplicadas tensão normal no topo da caixa e tensão cisalhante movendo-se a
metade superior da caixa sobre a metade inferior para provocar a ruptura no corpo de prova de solo
[8].
Apesar da fácil execução, o ensaio de cisalhamento direto apresenta limitações, visto que o plano de
ruptura é imposto pelo equipamento. Além disso, o ensaio de cisalhamento direto não permite um
controle da umidade do corpo de prova, e assim da sucção. [8].
O ensaio triaxial por sua vez, permite que se identifique o plano mais fraco da amostra de solo e os
parâmetros de resistência com mais confiabilidade. Porém, também para este ensaio, considerando o
equipamento convencional, não é possível realizar o controle de sucção. Ensaios com controle de
sucção, de forma geral, apresentam um alto custo de execução, o que talvez seja um dos principais
motivos para que sua realização não seja tão recorrente.
La-Côrte[1] realizou ensaios de cisalhamento direto sem controle de sucção em amostras não
saturadas em seu trabalho sobre o talude localizado às margens da rodovia BR 116/RJ, Km 17, que
rompeu no ano de 2008 após um longo período de chuva. A ruptura ocorreu no horizonte de solo que
é composto por um tálus-colúvio que envolve parcialmente uma camada de solo residual. As análises
de La-Côrte[1] e os resultados obtidos a partir destes ensaios serão apresentados e reanalisados neste
trabalho.
No que se trata de métodos para determinação da sucção, é válido citar o método do papel filtro.
Fernandes[3] utilizou este método para traçar as curvas características de sucção do talude da BR
116/RJ anteriormente estudado por La-Côrte. O método do papel filtro é de baixo custo, de simples
execução e permite a medição em um grande intervalo de tempo [11].
O método consiste em provocar uma transferência da água do solo para o papel-filtro até que ocorra
um equilíbrio. Este equilíbrio indica igualdade de sucções entre os materiais. Desta forma, tendo-se
ciência da umidade de cada material (papel filtro e solo), é possível traçar a curva característica de
sucção.
1.5 Caso De Estudo

La-Côrte[1] analisou a estabilidade do talude localizado às margens do Km 17 da rodovia BR116/RJ


levando em conta as situações da encosta antes e depois do corte da rodovia e a influência do nível
d’água nestas duas situações, objetivando definir o agente causador da ruptura como o corte da
rodovia ou a presença de água vinda da precipitação.
La-Côrte[1] realizou ensaios de caracterização física da amostra de solo do talude rompido. A
granulometria e a massa específica do solo foram definidas a partir da norma NBR 7181 [12] que
regulamenta o método de análise granulométrica de solos, realizada por peneiramento ou por
combinação de sedimentação e peneiramento, da NBR 6508 [13] que prescreve o método de
determinação da massa específica dos grãos de solo que passam na peneira de 4,8 mm por meio do
picnômetro e da NBR6457 [14] respectivamente. Os limites de consistência (limite de liquidez e
limite de plasticidade) foram definidos pelas normas NBR 6459 [15] e NBR 7180 [16]. O resultado
dos ensaios de granulometria realizados por La-Côrte[1] se encontram na Figura 4 e na Figura 5.

Figura 4 - Curva granulométrica do Solo Rosa. Figura 5 - Curva granulométrica do Solo Amarelo.
Fonte: La-Côrte[1] Fonte: La-Côrte[1]

De acordo com a granulometria, o solo Amarelo se caracteriza em uma argila arenosa com silte e o
solo Rosa em uma areia siltosa. Os ensaios de limite de consistência para o solo Amarelo indicaram
LL de 52,6% e LP de 25,2%, enquanto o solo Rosa mostrou-se não plástico.
La-Côrte[1] buscou avaliar a influência do nível d’água na estabilidade do talude. Para tanto, realizou
ensaios de cisalhamento direto para determinar os parâmetros de resistência, a partir de amostra
indeformada na condição saturada. Os valores obtidos constam da Tabela 1. Os valores médios de
massa específica seca do solo foram de 1,21 g/cm3 para o solo Rosa e de 1,49 g/cm3 para o solo
Amarelo.
Tabela 1 - Parâmetros de resistência do Solo Rosa e do Solo Amarelo. Fonte:[1]

Solo ρ C Φ’

Amarelo saturado 50,45 kPa 10,37°


1,97 g/cm³

Rosa saturado 1,74 g/cm³ 18,64 kPa 34,45°

Amarelo natural 75,83 kPa 58,10°


1,83 g/cm³

Rosa natural 16,51 kPa 39,34°


1,47 g/cm³
Em relação ao mesmo talude localizado na Km 17 da rodovia BR116/RJ, Fernandes[3] realizou
estudos com o objetivo de determinar as curvas características de sucção para os solos rosa e amarelo
através da técnica do papel filtro obtendo as seguintes curvas de sucção para o Solo Rosa e para o
Solo Amarelo a partir do teor de umidade volumétrico. As curvas obtidas estão na Figura 6 e na
Figura 7.

Figura 7 - Curva característica de sucção do Solo Figura 6 - Curva característica de Sucção do Solo
Rosa. Fonte: [3] Amarelo. Fonte: [3]

2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é mostrar, a partir de um estudo de caso de um talude rompido e já analisado
por Gabriel La-Côrte[1] em ensaios sem sucção controlada, a influência da escolha dos parâmetros
de resistência ao analisar a estabilidade do talude considerando sua condição de solo não saturado.

3. MÉTODOS
Para que fosse alcançado o objetivo deste trabalho, foram feitas reanálises do talude do Km 17 da
rodovia BR116/RJ a partir da teoria da envoltória estendida de Fredlund, Morgenstern e Widger [2]
(Figura 2), ou seja, de forma que o fenômeno de sucção fosse levado em conta ao analisar a
estabilidade do talude em função de seu fator de segurança.
Para que fosse feita a análise de estabilidade do talude em estudo, foi necessário determinar os
parâmetros c e Φ a serem utilizados no software. Os parâmetros saturados foram obtidos diretamente
da envoltória de ruptura na condição saturada determinada por La-Côrte[1] e constam da Tabela 7.
No caso dos parâmetros c e Φ para a condição natural do solo (não saturada), foi necessário determinar
a coesão total pela (Equação 6), visto que neste trabalho os parâmetros estão sendo determinados a
partir da envoltória de resistência estendida (Figura 2 e Equação 6). Para tanto, foi preciso definir o
valor de umidade natural dos solos.
A Tabela 2 apresenta o valor de coesão total (C) obtido para o Solo Amarelo, sendo este de 140,48
kPa determinado a partir do teor médio de umidade volumétrica de 21,37% medido por Fernandes[3].
Tabela 2 - Cálculo de Coesão total para o Solo Amarelo. Fonte: Autor

θ (%) SUCÇÃO (u-uw) Φ ' (°) Φb/Φ' Φ b (°) c' (kPa) Δ c (kPa) C (kPa)

21,37 3000 10,37 0,15 0,03 50,45 90,03 140,48

A Tabela 3 mostra o mesmo cálculo para o solo Rosa, sendo o de 115,10 kPa determinado a partir do
teor médio de umidade volumétrica de 23,75% medido por Fernandes[3].
Tabela 3- Cálculo de Coesão total para o Solo Rosa. Fonte: Autor

θ (%) SUCÇÃO (u-uw) Φ ' (°) Φb/Φ' Φ b (°) c' (kPa) Δ c (kPa) C (kPa)

23,75 800 34,45 0,2 6,89 18,64 555,35 115,10

O valor do ângulo Φ b utilizado para cálculo da coesão total para o Solo Rosa e Solo Amarelo foi
obtido a partir da Figura 3. Segundo Abrantes [17], a resistência ao cisalhamento diminui com o
aumento de Φb, visto que um aumento no valor de Φb diminui o valor da sucção. Desta forma, a
curva do colúvio vermelho foi escolhida para o Solo Rosa e a curva do colúvio típico foi escolhida
para o Solo Amarelo, pois as mesmas apresentam os maiores valores para Φb (sendo Φ’ constante),
o que resultou em uma análise da estabilidade do talude a favor da segurança.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com os valores de coesão total calculados para o Solo Rosa e para o Solo Amarelo e definido um
valor para fi b, foram refeitas análises de La-Côrte[1] pelo software.
Uma das análises de La-Côrte[1] considerou o talude na condição natural, sem existência de linha
piezométrica e parâmetros de resistência obtidos nos ensaios de cisalhamento direto na condição
natural e sem controle de sucção. O resultado da reanálise desta condição com parâmetros de
resistência em condição saturada obtidos por La-Côrte[1] como mostra a Tabela 1 se encontra na Figura
8, e indica o fator de segurança de 1,487.
Figura 8- Análise do talude com parâmetros de resistência na condição saturada obtidos por La-Côrte[1] sem
existêcnia de nível d’água. Fonte: Autor

A análise feita por La-Côrte[1] utilizou parâmetros de resistência da amostra natural. O resultado
para esta condição se encontra na Figura 9, e índica o fator de segurança 0,977.

Figura 9 - Análise do talude com parâmetros de resistência na condição natural obtidos por La-Côrte sem
existência de nível d'água. Fonte: Autor

A comparação destas duas análises mostra uma incoerência na análise de La-Côrte[1], visto que o
resultado esperado, considerando o acréscimo de coesão causado pela sucção, seria um fator de
segurança maior ao se utilizar de parâmetros de resistência em condição natural comparado ao fator
de segurança obtido na análise com parâmetros de amostra saturada.
Dessa forma, foi feita a reanálise do talude na condição natural considerando os valores de coesão
total para o Solo Rosa de 115,10 kPa e para o Solo Amarelo de 140,48 kPa obtidos pela Tabela 3 e
pela Tabela 2 a partir das umidades de Fernandes[3], obtendo um fator de segurança de 3,360 como
mostra a Figura 10.

Figura 10 - Fator de segurança considerando a sucção nos dois solos . Fonte: Autor

As análises realizadas mostram um aumento do fator de segurança ao se considerar a influência da


sucção e indicam que a escolha dos parâmetros de resistência tem grande influência no fator de
segurança e que os parâmetros de segurança obtidos a partir do ensaio de cisalhamento direto na
umidade natural e sem controle de sucção subestimam a resistência do solo.
Ao comparar os resultados obtidos com os de La-Côrte[1], deve-se atentar para o fato de que a
envoltória usada pelo autor foi obtida com corpos de prova de umidades diferentes, ou seja, sem
controle de sucção. Desta forma, os pontos que geraram tal envoltória não pertencem à mesma curva
por apresentarem valores de sucção diferentes. A Figura 11 e a Figura 12 mostram como foram traçadas
as envoltórias de La-Côrte [1].
Figura 11 - Envoltórias traçadas a partir de pontos de ensaio de diferentes umidades como no estudo de La-
Côrte[1]. Fonte: Autor

Figura 12 - Planificação das envoltórias traçadas por pontos de ensaio de diferentes umidades como no estudo de
La-Côrte [1]. Fonte: Autor

5. CONCLUSÃO

A análise dos resultados mostra que parâmetros de resistência obtidos para a condição natural do solo
a partir de uma envoltória gerada em um ensaio sem controle de sucção não são coerentes. Ao se
utilizar da teoria da envoltória estendida de Fredlund, Morgenstern e Widger [2], é possível obter um
valor de coesão total que representa melhor a realidade do solo não saturado e, portanto, um resultado
mais coerente quando está presente o solo não saturado.
Considerando que um dos principais motivos para que não seja feito o ensaio com controle de sucção
é o custo do mesmo, sugere-se que seja usado um método menos custoso como o do papel filtro para
gerar a curva característica de sucção para a amostra do solo. Assim é possível alcançar um resultado
mais coerente nas análises de estabilidade a partir do valor de coesão total calculado através da teoria
da envoltória estendida de Fredlund, Morgenstern e Widger [2], como demonstrado neste trabalho.

REFERÊNCIAS
[1] LA-CÔRTE, G. H. A.Influência do Nível Freático da Estabilidade de uma Encosta. Trabalho de conclusão de
curso, UFJF, Juiz de Fora, 2015, 60 p.
[2] FREDLUND, D. G.; MORGENSTERN, H.R.; WIDGER R.A. The shear strength of Unsaturated Soils. v. 15(3),
1978, p. 313-321.
[3] FERNANDES, A. O. Determinação da curva característica de solos não saturados pela técnica do papel filtro.
Trabalho Final de Curso. Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2016, p. 68.
[4] FREDLUND, D.G.; RAHARDJO, H. Soil Mechanics for Unsaturated Soils. Ed: John Wiley e Sons. United States
of America, New York, 1993, p. 517.
[5] CARVALHO, et al., Solos não saturados no contexto geotécnico. São Paulo: Associação Brasileira de Mecânica
dos Solos e Engenharia Geotécnica, 2015. 763p.
[6] VILAR, O. M. Solos não Saturados. In: 5º Simpósio Brasileiro de Solos Não Saturados, 2004, São Carlos. São
Paulo: USP, 2004. p.
[7] FREDLUND, D. G. e XING, A. (1994). Equations for the soil water characteristic curve. Can. Geotechnical
Journal, 31-4, 521-532.
[8] DAS, B. M. Fundamentos de Engenharia Geotécnica. São Paulo: Thomson Learning, 2007. 561p.
[9] GERSCOVICH, D. M. S.Estabilidade de taludes. Edição 2013. São Paulo: Oficina de Textos, 2012.166p.
[10] DE CAMPOS, T.M.P. & CARRILLO C.W. (1995). Direct shear testing on an unsaturated soil from Rio de
Janeiro. Unsaturated Soils, ed. Alonso and Delage, 1st Int. Conf. on Unsaturated Soils, Paris, Balkema, Vol. 1, pp. 31-
38.
[11] VIVIAN, J. B. Utilização do Método do Papel-filtro para a Determinação das Curvas Características de um
Solo Coluvionar Não Saturado Contaminado com Óleo Diesel. Dissertação de Mestrado. Escola de Engenharia.
UFRGS. Porto Alegre - RS, 2008, 102 p.
[12] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7181: Solo - Análise granulométrica. Rio de
Janeiro, 1988.
[13] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6508: Grãos de solos que passam na peneira de
4,8 mm - Determinação da massa específica. Rio de Janeiro, 1984.
[14] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6457: Amostras de solo - Preparação para
ensaios de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 1989.
[15] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6459: Solo – Determinação do Limite de
Liquidez. Rio de Janeiro, 2016 – Versão corrigida: 2017, 5 p.
[16] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7180: Solo – Determinação do Limite de
Plasticidade. Rio de Janeiro, 2016, 3 p.
[17] ABRANTES, L. G. Análise De Estabilidade Talude de Solo não Saturado – Campus UFJF. Trabalho de
conclusão de curso, UFJF, Juiz de Fora, 2016, 54p.
IDENTIFICAÇÃO DOS IMPACTOS DOS TELEACOPLAMENTO DAS
FRUTAS ORGÂNICAS CERTIFICADAS NO BRASIL

Identification of the impacts the telecoupling of certified organic fruits in Brazil


Elaine Nunes Jordan 1, Tatiana Maria Cecy Gadda 2
1 UTFPR, Curitiba, Brasil, elainenjordan@gmail.com
2
UTFPR, Curitiba, Brasil, tatianagadda@utfpr.edu.br

Resumo: De forma indireta, os produtos orgânicos oferecem atributos relacionados à proteção do


meio ambiente. Afinal estes produtos, em contraste com a agricultura convencional, não contem
agrotóxicos, adubos químicos, insumos geneticamente modificados ou aditivo sintético. Além
disso, apresentam um diferencial associado ao aspecto nutricional e sensorial. No Brasil o processo
de certificação das frutas orgânicas exige uma produção dentro dos padrões internacionais. Desta
forma, o sistema local de produção tem condição de também suprir uma demanda global. Este fato é
um facilitador da ligação entre locais distantes de produção e consumo. Esta relação entre escalas
espaciais e sistemas sociais é o que caracteriza uma situação de teleacoplamento. Argumenta-se que
entender as consequências desta situação para a proteção do meio ambiente e a segurança alimentar
é relevante para as políticas públicas. A grande parte da literatura sobre teleacoplamento costuma
analisar a fluxo de commodities entre países. Sob a luz dos atributos associados ao teleacoplamento
este estudo identifica os impactos ambientais do deslocamento das frutas orgânicas certificadas
dentro do Brasil em geral, e em especial, até o mercado consumidor da grande Curitiba. Os
impactos considerados estão relacionados com: (1) local de produção, (2) sazonalidade, (3)
transporte e (4) embalagem. A estrutura de teleacoplamento das frutas orgânicas comercializadas no
Mercado de orgânicos de Curitiba, integram vários elementos humanos e naturais, envolvidos em
uma diversidade de interações distantes. Ele fornece uma maneira de incorporar interconexões e
retorno para melhorar a economia, a política, fortalecer a importação e exportação das frutas
orgânicas, valorizando a questão cultural onde a agricultura orgânica deve prevalecer a tradicional,
a questão tecnológica, tanto o transporte quanto o armazenamento devem ser eficientes a longas
distâncias e o que tange a questão ecológica, aproveitar as boas condições climáticas para o cultivo
de frutas orgânicas na região. Identificar novos conhecimentos que não podem ser obtidos sem
considerar a interação sozinha e distante, compreender que o teleacoplamento é importante para
governar a sustentabilidade global e gerar retorno de todo o processo.

Palavras-chave: Brasil; Curitiba; Frutas orgânicas certificadas; Impactos ambientais;


Teleacoplamento.

Abstract: Indirectly, organic products offer attributes related to the protection of the environment.
After all, these products, in contrast to conventional agriculture, do not contain pesticides, chemical
fertilizers, genetically modified inputs or synthetic additives. In addition, they present a differential
associated with the nutritional and sensorial aspect. In Brazil the process of certification of organic
fruits requires a production within the international standards. In this way, the local production
system is also able to supply global demand. This fact is a facilitator of the connection between
distant places of production and consumption. This relationship between spatial scales and social
systems is what characterizes a situation of telecoupling. It is argued that understanding the
consequences of this situation for the protection of the environment and food security is relevant for
public policies. Much of the literature on telecoupling often analyzes the flow of commodities
between countries. Under the light of the attributes associated with telecoupling, this study
identifies the environmental impacts of certified organic fruit movement within Brazil in general,
and in particular, to the consumer market of Greater Curitiba. The impacts considered are related to:
(1) production site, (2) seasonality, (3) transportation, and (4) packaging. The telecoupling structure
of the organic fruits commercialized in the Organic Market of Curitiba, integrate several human and
natural elements, involved in a diversity of distant interactions. It provides a way to incorporate
interconnections and return to improve the economy, policy, strengthen the import and export of
organic fruit, valuing the cultural issue where organic agriculture should prevail the traditional, the
technological issue, both transport and storage should be efficient at long distances and what
concerns the ecological issue, take advantage of the good climatic conditions for the cultivation of
organic fruits in the region. Identifying new knowledge that can not be obtained without
considering the interaction alone and distant, understand that telecoupling is important to govern
global sustainability and generate feedback of the whole process.
Keywords: Brazil; Curitiba; Certified organics fruits; Environmental impacts; Telecoupling; Brazil.

1. INTRODUÇÃO
1.1. Teleacoplamento
Segundo Reid et al., (2010), nas últimas décadas, o mundo sofreu drásticas transformações e
ampliou as interações em longas distâncias. O teleacoplamento considera sistemas humanos e
naturais interligados, onde a interação ocorre dentro entre locais geográficos específicos e
possibilita evidenciar os impactos na sustentabilidade socioeconômica e ambiental. Para Levitt
(1983), os cientistas sociais tem estudado a globalização econômica ou interações socioeconômicas
entre sistemas humanos distantes, conforme figura 1B e 2B. Conforme mostra Liu et al. (2011), na
figura 1C e 2C que o teleacoplamento engloba interações socioeconômicas e ambientais entre
sistemas acoplados naturais e humanos distantes. A sustentabilidade pode ser melhor compreendida
quando diferentes tipos de interações são integrados em vários sistemas humanos e naturais
acoplados (Liu et al., 2016).
Figura 1A, 2A, 1B, 2B, 1C, 2C, – Definições de Teleconexão, Globalização, Teleaclopamento
Fonte: Adaptado: Glantz et al. 1991; (Fig, 1A ; 2A); Levitt 1983; (Fig. 1B; 2B); Liu et al. 2011; (Fig. 1C; 2C)

O teleacoplamento é composto por cinco componentes inter-relacionados: “sistemas”,


“fluxos”, “agentes”, “causas” e “efeitos” (Liu, et al. 2016).
“Sistemas” referem-se à interação entre o sistema humano e o natural acoplados. Nas
interações complexas, é fundamental caracterizar não só a composição do “Sistema” teleacoplado,
mas também as configurações temporais e espaciais para compreender melhor os “fluxos”, os
“agentes”, as “causas” e os “efeitos” (Liu et al. 2007b).
Os “fluxos” podem ser unidirecionais ou bidirecionais, seguir caminhos diretos entre os
sistemas de envio e de recepção, ou indireto entre os dois, passando por sistemas de
transbordamento. Estão relacionados a movimentos de material e energia (Liu et al. 2007b).
Os “agentes” formam relacionamentos uns com os outros para produzir “fluxos” que
moldam as conexões, as quais incluem entidades autônomas de tomada de decisão que facilitam ou
impedem os acoplamentos (Jackson e Watts 2002).
As “causas” de um teleacoplamento são definidas pelas mudanças de força relativas aos
fatores que influenciam a sua dinâmica e emergência e interagem com “efeitos” através de
mecanismos de retorno. A maioria das ligações podem ter mais de uma causa, sua origem pode
estar num sistema de envio, recepção ou repercussões (Laland et al. 2011).
Os “efeitos” podem facilitar ou dificultar a sustentabilidade ambiental e/ou socioeconômica
no que tange as consequências e os impactos do teleacoplamento e podem ocorrer em diferentes
escalas espaciais, organizacionais e temporais. Eles podem ocorrer nos sistemas de envio, recepção
e ou transbordamentos de diversas formas. Algumas pesquisas mostraram que o transporte de
alimentos e produtos pode ter enormes impactos no meio ambiente, conforme suas rotas, o consumo
de energia, as emissões de poluentes e as emissões de carbono (Liu et al., 2013).
Segundo Baird (2011), novas políticas devem ser implementadas e desenvolvidas para
fortalecer as economias locais e promover desenvolvimento transnacional pelos países, visando
reduzir a degradação ambiental e as desigualdades sociais. Para tanto estudos que evidenciem os
impactos socioambientais dos teleacoplamentos são necessários. A literatura tem se ocupado
principalmente em relacionar os impactos dos teleacoplamentos de commodities no meio
socioambiental. Contudo, produtos associados à sustentabilidade, como os produtos orgânicos,
ainda carecem de uma avaliação. Este artigo busca preencher esta lacuna de conhecimento trazendo
alguns impactos associados com a estrutura brasileira de teleacoplamento da agricultura orgânica.

1.2 Agricultura orgânica e a certificação

A agricultura orgânica surgiu na década de 60, a qual através da prática da agricultura


tradicional os produtores das comunidades rurais e aldeias, reconhecem que os compostos químicos
poderiam gerar consequências a saúde da população e ao meio ambiente, assim através de tentativas
e erros, deixam os melhores resultados para as futuras gerações. A agricultura alternativa surge nos
anos 70, com novas propostas e questionamentos sobre o sistema agrícola convencional, sendo que
em 1972 em Versalhes, na França, foi fundada a International Federation on Organic Agriculture
(IFOAM), primeira organização mundial criada para apoiar a agricultura alternativa, unindo mais de
750 organizações-membro em 116 países, gerando troca de informações entre entidades associadas,
novas técnicas, certificação, harmonização internacional, oferece uma garantia para o mercado de
produtos orgânicos. A primeira empresa certificadora de produtos orgânicos credenciada junto ao
IFOAM, desde de 1980, foi a Farm Verified Organic (FVO) dos EUA. Que segue suas atividades
em 11 países de quatro continentes, África, América, Ásia e Europa (IFOAM, 2001).
No Brasil o Instituto Biodinâmico (IBD) de Botucatu em São Paulo, criado em 1982 tem
como objetivo implementar o ensino, a pesquisa e certificar os produtos orgânicos, é a maior
certificadora da América Latina e a única certificadora brasileira de produtos orgânicos com
credenciamento IFOAM, (IBD, 2005).
Conforme IBD (2005), ainda na década de 80, em São Paulo foi criado o Centro de Pesquisa
em Agricultura Natural e a Associação Orgânica (AAO). Assim, surgiram várias associações,
produtores e consumidores interessados na agricultura orgânica moderna. Mais especificamente no
Paraná, o Instituto Verde Vida de Desenvolvimento Rural (IVV), seguindo as ideias do IBD, a
Associação Gurucaia de Londrina e a Associação de Agricultura Orgânica do Paraná (AOPA).
Segundo o IBD (2005), existem no Brasil 250 projetos certificados, com a participação de 2000
produtores, perfazendo 60.000 hectares de produção agroecológica.
Nas últimas duas décadas o segmento de orgânicos certificados cresceu 20% entre 1997 e
2001, reduzindo o êxodo rural, aumento na qualidade e na segurança alimentar do Brasil, (IFOAM,
2001).
Segundo o Censo Agrícola – IBGE, (2006), a distribuição geográfica das lavouras
permanentes, horticultura e floricultura certificadas como orgânicas no Brasil, aponta o Paraná em
primeiro lugar, quanto ao número de estabelecimentos relacionados a horticultura/floricultura, com
1300 na orgânica total e 217 orgânica certificada. E no caso das lavouras permanentes o Paraná
aparece em sétimo lugar, com 483 estabelecimentos na orgânica total e 79 na orgânica certificada.
A portaria interministerial Nº 1, de 3 de maio de 2016 institui o Plano Nacional de
Agroecologia e Produção Orgânica (PLANAPO) para o período 2016-2019, destinado a
implementar programas e ações indutoras da transição agroecológica, da produção orgânica e de
base agroecológica, que contribuam para o desenvolvimento sustentável e possibilitem a melhoria
de qualidade de vida da população e com a certificação a agricultura e o mercado de orgânicos tem
crescido rapidamente nos países desenvolvidos e deve expandir para as demais regiões, (Ministério
da Agricultura, 2017).

1.3 Agricultura orgânica no Brasil e no mundo

Segundo a FiBL e IFOAM, (2010), é observada uma rápida expansão do sistema orgânico,
sobretudo na Europa, EUA, Japão, Austrália e América do Sul. A figura 3, mostra a distribuição
continental da área orgânica por produtor.

Figura 3 – Distribuição Continental da área orgânica por produtor


Fonte: Adaptada, FiBL e IFOAM, 2010, elaboração: Inteligência – IPD orgânicos.
Os alimentos orgânicos ainda são pouco explorados, mesmo com o crescimento dos últimos
anos. A venda de orgânicos representa apenas uma pequena parcela de no máximo 4% do total de
alimentos vendidos. Como mostra a figura 4, cerca de 42 milhões de hectares de área são plantadas
com orgânicos no mundo, são manejados em aproximadamente 1.112,071 propriedades orgânicas,
conforme figura 3, distribuição Continental da área orgânica por produtor, o que representa 4,5% do
total das terras agrícolas do mundo, conforme figura 5, crescimento do setor orgânico entre 2011 e
2015 (FiBL e IFOAM, 2010).
Figura 4 – Área atual plantada com orgânicos Figura 5 – Crescimento do setor de orgânicos
Fonte: Adaptada FiBL, elaboração: Agronomic entre 2011 e 2015
Consulting Fonte: Adaptada Apex e USDA, elaboração:
Agronomic Consulting

No Brasil, conforme o Ministério da Agricultura (2017), no período entre 2013 a 2017, na


figura 6, a área de produção orgânica, cresceu 53%, e mostra que existem dois grupos de
produtores: 85% são de pequenos agricultores, ligados a associações, a agricultura familiar, a
cooperativas e aos grupos de movimentos sociais, já o segundo grupo com 15%, são os médios e
grandes produtores empresariais, privados, independentes, os dois grupos cresceram 45%, a parcela
mais significativa é de 70% e vem dos pequenos produtores com áreas de até 20 ha e médios
produtores com áreas de até 100 ha.

Figura 6 – Produção orgânica no Brasil


Fonte: Adaptada: Ministério da Agricultura, 2017.
O plantio de frutas orgânicas segundo o Instituto Biodinâmico (IBD, 2005), está distribuído
pelo Brasil em 16 estados da Federação. A certificação pelo IBD engloba todos os Estados das
Regiões Sudeste, Sul e Nordeste exceto o Estado de Alagoas. Na Região Nordeste sobressai-se o
Estado da Bahia, com 18 fruteiras certificadas. Na Região Sudeste, São Paulo e Minas Gerais,
respectivamente com 19 e 16 fruteiras certificadas. Na Região Sul, os Estados do Paraná e Santa
Catarina apresentam maior expressão para a diversificação da fruticultura orgânica.
E quanto ao número de unidades de produção orgânica o crescimento atingiu 59%,
caracterizando aumento do número de pequenas propriedades familiares nas regiões Sul e Nordeste
enquanto a prioridade para as grandes propriedades se intensifica no Centro-Oeste e Norte do País.
O setor de alimentos orgânicos tende a se fortalecer e no caso do estado do Paraná a agricultura
orgânica, que surgiu como alternativa, onde 86% das propriedades rurais tem área inferior a 50
hectares, hoje é considerada por muitos como uma necessidade, por isso, é importante incentivar
atividades que permitam obter maior rentabilidade por área, (IAPAR, 2007).

1.4 Agricultura orgânica no Paraná

Conforme Censo Agropecuário – IBGE (2006), o Paraná, através de Cooperativas


Agropecuárias, Sociedades e Sindicatos Rurais, destaca-se no desenvolvimento da agricultura
orgânica e tem reconhecimento internacional como grande produtor e exportador de alimentos, é
mais praticada em pequenas propriedades, com total de 82% de estabelecimentos de caráter
familiar, 28% da área de plantação são de agricultura familiar, reconhecidas pelo grande número de
assentamentos rurais, reservas indígenas e comunidades quilombolas, que praticam os princípios da
agroecologia.
O IAPAR, (2007), destaca que outra característica da atividade no Paraná é a organização da
sociedade civil. Além disso, o Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar
(CEDRAF) instituiu a Câmara Setorial de Agricultura Orgânica e Agroecologia, que, de forma
preferencial, associa entidades governamentais e da sociedade civil organizada, e tem por objetivo
propor ações voltadas ao desenvolvimento da agroecologia e da rede de produção orgânica,
constituindo-se em um espaço de caráter pluricultural, de debate acerca das questões mais
relevantes para o setor no Estado do Paraná.
Mesmo com a diversificação da economia estadual os negócios da agricultura têm sido
fundamentais para o estado do Paraná. Na Posição Nacional a Região Sul ocupa a primeira em
números de Unidades Produtivas Orgânicas (UPOs) cadastradas no CNAPO, com total de 5083
UPOs, totalizando 34,63%, Nordeste, 4584 UPOs, 31,23%, Sudeste 3088 UPOs, 21,03%, Norte
1290 UPOs, 8,79%, Centro-Oeste 632 UPOs, 4,31%, totalizando 14677 UPOs em todo o território
(Mapa, 2017).
Dos 26 estados, atualmente o Paraná (PR) ocupa a primeira colocação na quantidade de
Unidades Produtivas Orgânicas (UPOs) no ranking nacional, contando com 2068 produtores
cadastrados, o que representa 14,09% do total (Mapa, 2017).
As características que definem as condições edafoclimáticas do Paraná, permitem o cultivo
de mais de 30 espécies de frutas comerciais, opção importante para diversificação dos sistemas
produtivos. A banana, laranja, melancia, tangerina e uva, totalizam 88%, e pode chegar a 93,1%
com o abacate, caqui, maçã, maracujá e pêssego. A atividade envolve 30.000 fruticultores, em uma
área cultivada de 70,7 mil hectares, com produção de 1,7 milhões de toneladas e que movimenta 1,2
bilhões de reais por ano (Seab/Deral 2010/11).
As cinco grandes regiões do Paraná definidas pelo IBGE em 1989, são: Metropolitana e
Litoral, seus principais produtos orgânicos, frutas, hortaliças e plantas medicinais, Oeste, produtor
de café, hortaliças, leite, milho e suínos, Sudoeste produtor de aves, hortaliças, leite e soja, Norte e
Noroeste, se destacam na produção de açúcar mascavo, café frutas, hortaliças, mandioca, melado e
soja e o Centro Sul, produz, feijão, hortaliças, mate, mel e plantas medicinais, os principais agentes
de comercialização são: Associações de produtores; Empresas processadoras e distribuidoras;
Varejistas; Entidade de apoio e assessoria; Assentamentos; Associações de produtores e empresas;
Atacadistas e entidades de apoio e assessoria; Feiras e processadoras; ONGs e Prefeituras, (IAPAR,
2007).
A Região Metropolitana de Curitiba - RMC, Adrianópolis e Cerro Azul se destaca no plantio
de frutas juntamente com o litoral, com total de 25% comercializado, seguidos da região Norte e
Oeste do Paraná, com 50%, os 25% restantes provem de outros estados, tais como: Santa Catarina,
kiwi, maçã e maracujá, 15%; Rio Grande do Sul, Ecocitrus, 5% e São Paulo, laranja, manga e
tangerina morgote, 5%, o Noroeste também se destaca na produção de frutas orgânicas o qual tende
a se fortalecer, (IAPAR, 2007).

1.5 Agricultura orgânica em Curitiba e Região Metropolitana

No ano de 1981, Curitiba desponta na agricultura orgânica no Paraná, incentivada pelo 11o
Congresso de Agronomia, que visa a agricultura moderna, realizado em 1979 e pelo Primeiro
Encontro Nacional de Agricultura Alternativa (EBAA). Em 1981, foi criado para promover debates
sobre a temática o Grupo de Estudo de Agricultura Ecológica – GEAE, composto por estudantes e
professores do curso de Agronomia da Universidade Federal do Paraná – UFPR. No período entre
1983 e 1984 com intenção de aproximar produtores e consumidores, foi fundada a Cooperativa de
Consumidores e Produtores Integrais – COOPERA. Em 1985 os princípios filosóficos da
agricultura orgânica foram fortalecidos a partir do 1º Congresso Brasileiro de Agricultura
Biodinâmica, que permitiu unir diversos setores não governamentais com governamentais e de
produtores. A região de Curitiba a partir de 1989, se destaca no processo da agricultura orgânica,
com a 1ª banca de venda direta na Feira Verde de Produtos Orgânicos, ficava localizada no Lago da
Ordem. Em 1991, o GEAE criou o Instituto Verde Vida de Desenvolvimento Rural – IVV, visando
desenvolver políticas públicas e prestar assessoria técnica a projetos em agricultura orgânica no
Paraná. A Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento de Curitiba – SMAB, em 1995,
reúne cerca de 30 famílias de agricultores de diversos municípios da Região Metropolitana e destina
a Feira Verde, aos sábados pela manhã para dentro do Passeio Público, região central de Curitiba.
No período em 1997 e 1998, foi realizado em Curitiba o II Seminário Nacional da Agricultura
Orgânica, marco nacional da institucionalização, que através das instituições governamentais e
sociedade civil criam o Conselho Estadual de Agricultura Orgânica do Paraná – CEAO,
representado pela ASEMA, Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural -
EMATER, Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR, Secretaria do Estado e do Abastecimento -
SEAB e Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos - SEMA e entidades não
governamentais, são elas: Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia – AOPA,
Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural – ASSESSOAR, Associação dos Produtores
Orgânicos de Londrina – APOL, Centro Paranaense de Apoio ao Pequeno Agricultor – CAPA e a
empresa Terra Preservada (IAPAR, 2007).
Em 2005 a Feira Verde passou a ser Feira Orgânica e hoje funciona em 14 bairros de
Curitiba, nos períodos da manhã, tarde e noite em diferentes dias da semana, (IAPAR, 2007).
Além das Feiras Orgânicas, Curitiba como tantas outras regiões no Brasil conta com o
Mercado Municipal considerado ponto turístico importante da cidade, dispõe de alimentos e
serviços de qualidade e o Setor de Orgânicos.
2. MATERIAL E MÉTODOS

O método da pesquisa é quali- quantitativa, com estudo de caso, entrevista, bibliografia,


discussão teórica e levantamento quantitativo (questionário), com a busca exploratória de dados
secundários publicados e conversas com os produtores, realizada no Mercado Municipal de
Curitiba, piso superior Mercado de Orgânicos, nos 05 boxes de hortifrúti, são eles: Ceccon
Orgânicos (Box 507), Couve & Flor Vegetais Orgânicos (Boxes 509 e 510), Espaço Orgânico (Box
508), Kombitem Orgânicos (Box 506) e Sirius Orgânicos (Box 511).
As entrevistas informais abertas e dirigidas aconteceram no período de abril a julho de 2018,
com os permissionários, um questionário foi elaborado com questões relativas as frutas orgânicas
vendidas em cada box no mercado de orgânico, sua procedência a região de origem, as distâncias
percorridas entre estados e países, o tipo de transporte utilizado, embalagem e a sazonalidade. Na
figura 7, estão relacionadas as 20 frutas orgânicas vendidas em cada box, bem como os 10 estados
de onde se originam as frutas e mais os 3 países que também abastecem o mercado brasileiro.
BOX/ BOX BOX BOX BOX BOX
FRUTAS 506 507 508 509/510 511
Abacate SP PR - PR PR
Abacaxi PR - PB MT -
Amora - PR - - SP
Banana SC - SC SC PR, SC
Caqui PR PR - - -
Kiwi SP - - - -
Laranja SC PR SC, Itália - SP
Limão - PR MS MS Argentina
Mamão - - ES, PR, RS ES, PR, RS CE
Manga SP PR - PB, PR, SP CE
Maçã PR - PR, - SC
Argentina
Maracujá PR PR SP SP -
Melão - - - BA SP
Mirtilo - - - - SP
Morango PR PR - - SP
Nectarina - - - - Espanha
Pera SP - SP, - Argentina
Argentina
Pêssego - - - - Espanha
Ponkan PR - PR - -
Uva - - - - RS

Figura 7 – Frutas orgânicas e suas regiões de origem


Após identificar a procedência das frutas orgânicas, foram listadas as quilometragens as
quais as frutas percorrem entre os estados brasileiros e outros países. Na figura 8, seguem as
distâncias ilustradas visando o melhor entendimento do teleacoplamento. As distâncias apresentadas
tem como destino final a cidade de Curitiba, capital do Paraná.
Estado, país de Distâncias
origem/Curitiba (Km)
Santa Catarina (SC) 303
São Paulo (SP) 404
Rio Grande do Sul (RS) 1053
Mato Grosso do Sul (MS) 1215
Espírito Santo (ES) 1393
Mato Grosso (MT) 1506
Bahia (BA) 1784
Argentina 1823
Paraíba (PB) 3157
Ceara (CE) 3324
Espanha 8791
Itália 9883
Figura 8 – Distâncias percorridas pelas frutas orgânicas tendo como destino final a cidade de Curitiba.

As embalagens, como mostra a figura 9, são normalmente de papelão, com determinada


espessura para manter a segurança da fruta. As caixas plásticas retornáveis, quando manuseadas
com cuidado tem durabilidade de até 10 anos. As caixas de madeira, não são mais usadas no
transporte, as que aparecem na figura 9, estão sendo utilizadas apenas como apoio no próprio box.
As sacolas plásticas são utilizadas pelo consumidor, porém muitos consumidores adotam sacolas de
tecidos, ou suas próprias sacolas, visando a sustentabilidade do processo. Os proprietários dos
boxes desconhecem o valor real das embalagens, consideram apenas o preço final do produto.

Figura 9 – Embalagem – Caixa Plástica, Papelão, Sacola


Com as informações obtidas através de entrevistas, imagens e o questionário é possível fazer
as análises quanto o teleacoplamento das frutas orgânicas no que se refere a “sistemas”, “fluxos”,
“agentes”, “causas” e os “efeitos”.

3.RESULTADOS DO TELEACOPLAMENTO DAS FRUTAS ORGÂNICAS


CERTIFICADAS

A análise do teleacoplamento dos “sistemas”, “fluxos”, “agentes”, “causas” e “efeitos”, deve


partir das interações entre os sistemas humanos e naturais acoplados ao envio, o recebimento,
considerando as repercussões temporais e espaciais os transbordamentos, os relacionamentos entre
os agentes para produzir fluxos que moldem as conexões e interajam com efeitos através de
mecanismos de retorno.
Desta forma, seguem as análises realizadas quanto as 20 frutas orgânicas vendidas nos 05
boxes do mercado de orgânico (figura 7), juntamente com suas distâncias percorridas pelo Brasil e
outros países (figura 8), considerando que as mesmas são transportadas por avião, caminhões,
caminhonetes e os mais variados automóveis. A sazonalidade não foi relacionada em decorrência de
que as frutas são adquiridas durante todo o ano, sem a preocupação da época e sim conforme a
necessidade do consumidor.
Diante da informação relacionada nas figuras 7 e 8, as frutas orgânicas que aparecem sendo
comercializadas em quatro boxes, são: abacate, banana, laranja, limão, manga e maracuja. A laranja
é transportada de três estados (PR, SC e SP) e da Itália, o limão de dois estados (MS e PR) e da
Argentina e a manga de quatro estados (CE, PB, PR e SP), para Curitiba. Já o kiwi (SP), mirtilo
(SP), nectariana (Espanha), pêssego (Espanha) e uva (RS) aparecem sendo comercializados em
apenas um box. As demais frutas são comercializadas em até 3 boxes.
O Paraná se destaca entre os estados por comercializar 13 das 20 frutas, seguido de São
Paulo com 10 e Santa Catarina com apenas 3, os demais estados enviam para Curitiba 01 ou 02
frutas orgânicas.
Quanto aos países que abastecem o mercado brasileiro, direcionado para os 05 boxes no
Mercado municipal de Curitiba, a Argentina envia limão, maçã e pera, percorrendo 1823 Km até
Curitiba, da Espanha são 8791Km o deslocamento da nectarine e o pêssego e a laranja e recebida da
Itália percorrem 9883km até a chegada em Curitiba.
As distâncias percorridas pelas frutas necessitam de cuidados imprescindíveis no transporte
e armazenamento, desta forma os aviões, caminhões, automóveis que transportam deveriam ser
exclusivos de orgânicos, caso contrário o local de transporte precisa ter divisões que possibilitem a
separação dos orgânicos de outras cargas para que não aconteça a contaminação.
Quanto ao armazenamento, na maioria das vezes a fruta orgânica é transportada do produtor
diretamente para o box no mercado de orgânico em Curitiba, o vendedor desconhece os locais de
armazenamento.
As frutas orgânicas são compradas em caixas, quilogramas, unidades, a granel devem ter
uma identificação como placas indicando que estão em conformidade, todas são certificadas, a
quantidade vai depender da procura, exemplo os abacaxis que são trazidos da Paraíba, normalmente
são adquiridos entre 30 a 35 unidades por semana, visando atender os frequentadores do box, a
distância que a fruta percorre não parece ser a preocupação do vendedor e nem do consumidor.
O teleacoplamento de frutas orgânicas no Mercado de Orgânicos dentro do Mercado
Municipal de Curitiba, tem gerado impactos ambientais, conforme quadro 1, considerando que:
Quadro 1 – Teleacoplamento das frutas orgânicas no Mercado de Orgânicos dentro do Mercado
Municipal de Curitiba
Teleacoplamento Frutas Orgânicas Expansão Frutas Orgânicas
Desenvolvimento
Envia, recebe, transbordamento – Controle e cuidados no sistema,
Sistemas excesso de burocracia, inexistência de conhecer o que se planta, vende,
estatísticas oficiais compra e desperdiça
Material, investimento capital e Investimento em capital
tecnologia Mudanças nas políticas,
Informação, particularidades, preço e Promover divulgação e apoiar
Fluxo comércio investidores
Contra-fluxo, produção e receitas no Adaptar políticas públicas e produzir
deslocamento para diferentes fins
Feedbacks Melhorar a logística
Empresas brasileiras, lideranças, políticas Governo do Paraná
Agentes públicas, cooperativas, associações, Pequenos agricultores
agricultores locais, melhorar a Empresas Investidoras
comunicação Investir em divulgação do produto
Econômica – aumentar a demanda
Política – criar subsídios para os
agricultores, carência de insumos Diminuir impactos
Causas Tecnológica – aumentar o cultivo Facilitar a certificação
Meio Ambiente – apoiar produção
Cultural – conhecer processo em outros
estados
Meio Ambiente – solo mais produtivo, Uso adequado do solo
menos poluição e uso de fertilizantes Melhoria na qualidade de vida
Efeitos Sócioeconomico – aumento de renda, Alimentação saudável
diminuir deslocamento, diminuição de
compra em outros estados ou países.

As políticas públicas precisam ser revistas, o produtor carece de treinamento e apoio, as


frutas orgânicas certificadas precisam ser divulgadas e melhorados os seus insumos, possibilitando
acesso de toda comunidade.

4. CONCLUSÃO

Para analisar todo o processo de deslocamento das frutas orgânicas que são vendidas nos
cinco boxes do Mercado de Orgânico, piso superior do Mercado Municipal de Curitiba, as respostas
obtidas no questionário referente a quais frutas comprar e em que Estado ou país, esclarece que na
maioria das vezes a escolha da fruta parte do consumidor, o qual em decorrência de hábitos
adquiridos, visando a saúde e o seu bem-estar, escolhe frutas que estão fora de época local e cabe ao
proprietário do box a responsabilidade de assegurar a compra, assim a sazonalidade é desprezada.
Salienta o proprietário de um dos boxes, que as vezes comprar em São Paulo e até em outros
estados o valor fica mais barato que na Região Metropolitana de Curitiba.
O estudo utilizando a estrutura do teleacoplamento, foi adaptado para o Brasil, país em
desenvolvimento e com um produto diferenciado e específico que são as frutas orgânicas
certificadas, os impactos no local da produção, transporte, comércio, consumo, incluindo os tipos de
embalagens são avaliados para considerar os impactos ambientais e socioeconômicos.
A estrutura de teleacoplamento das frutas orgânicas comercializadas no Mercado de
orgânicos de Curitiba, fornece uma maneira analítica mais ampla para integrar interações
socioeconômicas e ambientais distantes que afetam a sustentabilidade local a níveis globais. As
frutas orgânicas, integram vários elementos humanos e naturais como: terra, água, clima, energia,
ar, seres humanos, envolvidos em uma diversidade de interações distantes. Ele fornece uma maneira
de incorporar interconexões e retorno para melhorar a economia, a política, fortalecer a importação
e exportação das frutas orgânicas, valorizando a questão cultural onde a agricultura orgânica deve
prevalecer a tradicional. Nos aspectos tecnológicos, tanto o transporte quanto o armazenamento
devem ser eficientes a longas distâncias e o que tange a questão ecológica, aproveitar as boas
condições climáticas para o cultivo de frutas orgânicas na região, entender que o teleacoplamento
acontecerá em diferentes escalas espaciais, organizacionais e temporais, identificar novos
conhecimentos que não podem ser obtidos sem considerar a interação sozinha e distante e
compreender que o teleacoplamento é importante para governar a sustentabilidade global e gerar
retorno de todo o processo.

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COMPACTAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE SOLO COM MISTURA DE
CINZA DE EUCALIPTO

Characterization and compaction of soil mixture with ashes of eucalyptus splinter

José Augusto de Paula MELO 1, Isaque de Souza SILVA 1, Cátia de Paula MARTINS *1, Tatiana
Tavares RODRIGUEZ 1
* catia.martins@ufjf.edu.br
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, Brasil

Resumo: Atualmente, a geração de resíduos sólidos pelas empresas brasileiras tem sido uma grande
preocupação ambiental, tendo em vista que apenas uma pequena parcela possui tratamento e
destinação definida. Como exemplo, pode-se citar o resíduo produzido nas indústrias de papel e
celulose, que realizam a queima de cavacos de pinus e eucalipto para geração de energia no
processo de produção, sendo o produto final dessa queima uma cinza cuja aplicabilidade pode ser
variada dependo de suas características. Nesse contexto, tem-se por objetivo avaliar a possibilidade
de aplicação deste resíduo, proveniente da empresa Paraibuna Embalagens, em Juiz de Fora, através
de misturas com solo buscando a melhoria de suas propriedades para uma eventual aplicação em
aterros compactados. Para tanto, estão sendo realizadas uma série de análises, tanto da cinza quanto
do solo, a fim de se determinar os parâmetros necessários por meio de ensaios de caracterização
para cada um, como os ensaios de compactação com energia normal, de limites de consistência, de
Índice de Suporte Califórnia e de granulometria. Para o resíduo, especificamente, realizou-se
também as caracterizações químicas (espectrometria de fluorescência de raios-x) e mineralógicas
(difração de raios-x), para identificar as composições deste material. A partir das análises até então
realizadas, conclui-se que o resíduo tem, de acordo com a composição granulométrica, a
classificação de areia pedregulhosa com argila, contendo 41 a 65% da fração areia, e um limite de
liquidez de 63%, não sendo possível determinar o limite de plasticidade. Em sua composição
mineralógica, tem-se a presença de dolomita, hematita, quartzo e calcita; já na composição química,
há a predominância de óxido de silício (SiO2) e óxido de cálcio (CaO). Pelo ensaio de compactação,
obteve-se uma umidade ótima de 48% e peso específico seco máximo de 1,05 g/cm³. Para o solo,
tem-se como composição granulométrica a classificação de argila arenosa, limites de liquidez e
plasticidade de 57,7% e 31,1%, respectivamente, e, como parâmetros da compactação, uma
umidade ótima de 23,4% e peso específico seco máximo de 1,63 g/cm³. Realizaram-se três misturas
nas proporções de 5%, 15% e 25% de resíduo, sendo feitos ensaios de compactação na umidade
ótima do solo para avaliar a variação do peso específico. Os resultados mostraram uma diminuição
desse parâmetro, como o esperado, porém, não se obtiveram reduções bruscas, sendo esse um fato
positivo. No entanto, percebeu-se que aplicação em aterros compactados se torna mais viável para
menores quantidade de resíduo misturado ao solo.

Palavras-chave: Solo Compactado, Resíduos sólidos, Cinza de Cavaco de Eucalipto.


Abstract: Currently, solid waste generation by Brazilians companies has been a great
environmental concern, because only a small parcel has treatment and destination. As an example,
we can mention the waste produced in the pulp and paper industries, which burn pine and
eucalyptus splinter for energy generation in the production process, the final product of which is a
gray whose applicability may be varied depending on of its characteristics.
In this context, the objective is to evaluate the possibility of applying this residue, coming from the
Paraibuna Embalagens Company, in Juiz de Fora, through mixtures with soil seeking the
improvement of its properties for an eventual application in compacted landfills. Therefore, a series
of ash and soil tests are being carried out in order to determine the necessary parameters through
characterization tests for each one, such as compaction tests with normal energy, limits of
consistency, of California Bearing Ratio and granulometry. For the residue, specifically, the
chemical characterization (x-ray fluorescence spectrometry) and mineralogical characterization (x-
ray diffraction) were also performed to identify the compositions of this material. Based on the
analyzes carried out so far, it is concluded that according to the granulometric composition the
residue has the classification of pebble sand with clay, containing 41 to 65% of the sand fraction,
and a liquidity limit of 63%, not being possible to determine the plasticity limit. In its mineralogical
composition, we have the presence of dolomite, hematite, quartz and calcite; already in the
chemical composition, there is the predominance of silicon oxide (SiO2) and calcium oxide (CaO).
By the compaction test, an optimum moisture of 48% and a maximum dry specific weight of 1.05
g/cm³ were obtained. For the soil, the classification of sandy clay, liquidity and plasticity limits of
57.7% and 31.1%, respectively, and, as compaction parameters, an optimum moisture of 23.4% and
maximum specific dry weight of 1.63 g/cm³. Three mixtures were prepared in the proportions of
5%, 15% and 25% of the residue, being compaction tests in the optimal moisture of the soil to
evaluate the variation of the specific weight. The results showed a decrease of this parameter, as
expected, however, there were no sharp reductions, which is a positive fact. However, it has been
realized that application in compacted landfills becomes more feasible for smaller amount of
residue mixed to the soil.

Keywords: Compacted soils, Solid waste, Ashes of Eucalyptus Splinter

1. INTRODUÇÃO
No Brasil, a indústria é responsável por gerar cerca de 33 milhões de toneladas de resíduos sólidos
por ano, sendo que apenas 25% desse total possui um tratamento correto, de acordo com a
Associação Brasileira de Resíduos e Efluentes (Abetre). Os resíduos sólidos são definidos como
resíduos no estado sólido ou semissólido, que resultam de atividades de origem industrial,
doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição [1]. Atualmente, são inúmeros
os problemas ambientais, sociais e econômicos que o Brasil vem enfrentando. Nesse sentido, pensar
em alternativas para a reciclagem e reutilização desses resíduos é de suma importância para a
minimização de tais problemas, não só no ponto de vista ambiental, como também econômico.
Muitas são as possíveis soluções para a destinação de resíduos sólidos, sendo que, entre as
aplicações, a área da Engenharia Geotécnica pode ser diretamente beneficiada. Em se tratando da
geotecnia, percebe-se que a aplicação de resíduos sólidos ainda é pouco explorada; entretanto, o
desenvolvimento de estudos na área se torna necessário, visto que, atualmente, inúmeros são os
problemas – do ponto de vista geotécnico – em obras que não possuem soluções diretas e
econômicas. A busca por soluções nessa área se dá através da mistura de resíduos com o solo, a fim
de se avaliar as propriedades do solo antes e após a aplicação do resíduo. Nas pesquisas já
realizadas, enfatiza-se a capacidade do aumento de fertilidade que certos resíduos proporcionam,
porém, há casos em que se analisa a aplicação de resíduos para melhoria de características do solo,
como a resistência ao cisalhamento [2].
Um dos problemas geotécnicos que não possuem solução direta e econômica é a construção de
aterros compactados. Para que um aterro desempenhe um bom resultado, é necessário que as
características do material geológico sejam bem definidas e adequadas para tal uso. Nem sempre é
possível encontrar solos com boas características, sendo ideal a busca por outros materiais para a
realização de uma mistura. Define-se um bom composto como aquele cuja resistência aumenta ou,
pelo menos, não tenha grande alteração em relação ao solo separadamente. Além disso, para essas
obras, busca-se um material com pouca deformabilidade.
A indústria de papel e celulose realiza a queima de cavacos de pinus e eucalipto – visto que o
plantio dessas duas espécies é rápido – para geração de energia no processo de produção, sendo que
o produto final dessa queima é uma cinza cuja aplicabilidade pode ser variada dependendo de suas
características. Estudos realizados destacam o uso das cinzas de cavaco de eucalipto (CCE) na
construção civil por ser um material inerte e apresentar atividade pozolânica, sendo usada em
substituição parcial do cimento, em agricultura como redutor de pH do solo e em compósitos, em
que se misturam materiais distintos a fim de se obter um produto com características melhores para
determinada aplicação [3]. Em Juiz de Fora, a empresa Paraibuna Embalagens gera como resíduo a
CCE em seu processo de produção. Parte dessas cinzas são usadas por agricultores da região como
forma de adubo, porém, a maior parte delas não possui uma destinação final.

2. OBJETIVOS

A partir da caracterização e compactação de um solo e da cinza de cavaco de eucalipto, busca-se um


traço ideal para a mistura de ambos os materiais a fim de avaliar uma possível aplicação em aterros
compactados, configurando um estudo multidisciplinar, aliando as áreas de Geotecnia, Construção
Civil e Ambiental.

3. MÉTODOS

Previamente à realização dos ensaios, foram coletadas amostras deformadas tanto do solo quanto do
resíduo em estudo, ambos seguindo o procedimento PRO003 do DNER [4]. O solo foi retirado de
um talude da Pró-Reitoria de Infraestrutura (PROINFRA), com auxílio de paceta, e a cinza foi
coletada na empresa Paraibuna Embalagens, com auxílio de uma pá. Os materiais foram coletados
em Juiz de Fora, embalados, identificados e levados para laboratório para realização dos
procedimentos de preparo de amostras com secagem prévia até a umidade higroscópica, segundo a
NBR6457 da ABNT [5]. Na Figura 1 é possível observar o solo e o resíduo em seus locais de
coleta.
Fig. 1 - Locais onde as amostras de solo e resíduo foram coletadas

Após o preparo das amostras, foram realizados os ensaios de caracterização física do solo e do
resíduo. Seguindo a Norma ME093 do DNER [6], realizou-se o ensaio de determinação da
densidade relativa dos sólidos do resíduo. Por não se tratar de um solo comum e baseado numa
análise visual da amostra do resíduo, optou-se pela utilização de três picnômetros de 250 ml, com
30g de resíduo em cada um. A massa específica dos sólidos do resíduo foi, então, obtida pela média
dos resultados de cada picnômetro. Para o solo, não se julgou necessário a realização deste ensaio,
levando em conta que uma amostra do mesmo local de coleta foi estudada anteriormente por
Oliveira Júnior [7], sendo obtida a massa específica dos sólidos do mesmo. Essa situação se repetiu
para a caracterização granulométrica e para os limites de consistência.
Para a determinação da granulometria do resíduo, tomou-se como base a Norma NBR7181 da
ABNT [8] e alterou-se apenas a quantidade de material utilizada na sedimentação, com uma
redução de 50g (20g a menos que o indicado em norma para solos finos). Após a execução dos
peneiramentos e da sedimentação, determinou-se as porcentagens de cada partícula considerada e
plotou-se a curva granulométrica. Já para os limites de liquidez (LL) e plasticidade (LP), usou-se a
Norma NBR6459 da ABNT [9] para LL e a Norma NBR7180 da ABNT [10] para LP.
No ensaio de LL do resíduo, houve uma dificuldade na execução da ranhura com o cinzel devido à
movimentação do resíduo na concha (Fig. 2). Com isso, tornou-se necessária a formação da ranhura
em etapas, evitando que o problema acontecesse. Assim, determinou-se o número de golpes e a
umidade de pelo menos 5 pontos, utilizados para plotar o gráfico do limite de liquidez.
Fig. 2 - Amostra do resíduo movimentado na concha e resíduo com a ranhura feita para realização do ensaio

O ensaio de compactação das amostras seguiu a Norma NBR7182 da ABNT [11] no tópico de
“compactação com reuso de material, sobre amostras preparadas com secagem prévia até a umidade
higroscópica” com uso de energia normal em cilindro pequeno (Proctor), que possui massa e
volumes conhecidos. As figuras 3 e 4 mostram uma etapa da compactação e o aspecto do material
compactado, tanto para o solo quanto para o resíduo.
Após a compactação dos 5 pontos e determinados os teores de umidade em cada um, determinou-se
a massa específica seca e umidade para cada ponto de compactação e plotou-se o gráfico da curva
de compactação. A partir da curva é possível determinar a massa específica seca máxima e o teor de
umidade ótimo, definidos pelo ponto máximo da curva.

Fig. 3 - Compactação do solo e cilindro do solo compactado


Fig. 4 - Compactação do resíduo e cilindro do resíduo compactado

A difratometria de raios-X do resíduo foi realizada no Laboratório de Mineralogia do Departamento


de Solos da UFV, por meio de um difratômetro Rigaku D-Max, com monocromador de grafite
curvo para obtenção da radiação Co-K e tubo de cobalto, operando com potência de 45KV e
corrente de 30 mA. Para determinar a composição mineralógica da amostra, os difratogramas
obtidos tiveram os picos específicos comparados com aqueles presentes em tabelas encontradas na
literatura.
As composições químicas em função dos nove principais óxidos para o solo e o resíduo foram
determinadas no Laboratório de Química do Departamento de Solos da UFV, por meio da
espectrometria de fluorescência de raios-X, com ar atmosférico e colimador de 10 mm. O
equipamento utilizado foi da Marca Shimadzu Modelo EDX-720.
Após a realização de todos os ensaios supracitados, tomou-se como base os resultados obtidos
nesses procedimentos e definiu-se três porcentagens de misturas solo-CCE para estudar o
comportamento das mesmas e comparar com os dados encontrados anteriormente. Para isso,
amostras de solo e resíduo, já preparadas com secagem prévia até a umidade higroscópica, foram
misturadas em taxas de 95% de solo e 5% de resíduo e compactadas na umidade ótima encontrada
para o solo. O processo repetiu-se para 85% de solo e 15% de resíduo;75% de solo e 25% de
resíduo, compactando-se um corpo de prova para cada conjunto de taxas propostos.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Resíduo
O ensaio de densidade real dos grãos do resíduo teve como resultado o valor de 2,479. Quanto à
granulometria do resíduo, foram realizados ensaios com duas amostras para efeito de comparação.
Como o material apresentou partículas grosseiras, resultado de uma queima incompleta, fez-se um
corte na curva granulométrica referente a essas partículas, considerando que a porcentagem
passante a partir nas peneiras acima da abertura de 2 mm foi 100%. Sendo assim, obtiveram-se as
curvas representadas na Figura 5, que designaram uma composição de 80% de areia, 11% de silte e
9% de argila no resíduo.
Fig. 5 - Curva granulométrica do resíduo (AUTOR, 2018)

Dando prosseguimento à caracterização, encontrou-se limite de liquidez de 67%. O ensaio de limite


de plasticidade não foi possível ser realizado, fato que se explica pela própria composição
granulométrica do material.
A composição química das cinzas de cavaco de eucalipto em função dos nove principais óxidos
pela espectrometria de fluorescência dos raios-x é apresentada na Tabela , que mostra a
predominância dos óxidos de silício e cálcio, respectivamente. Em relação à composição
mineralógica, observaram-se pelo ensaio de difratograma de raios-x picos de dolomita, hematita,
calcita e quartzo, que são os principais minerais componentes (Figura 6).

Tabela 1 - Composição química por FRX do resíduo

Material SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO TiO2 K2 O P2O5 MnO


CCE 21,0078 6,8361 3,7508 11,9467 0,6118 0,5377 2,8317 0,901 0,723
Figura 6 - Difratograma de raios-x da amostra de CCE

Pelo ensaio de compactação do resíduo, encontrou-se uma massa específica seca máxima de 1,051
g/cm³ e umidade ótima 48,0%, a partir da curva apresentada na Fig. 7. Esses resultados comprovam
a presença de matéria orgânica no material, tendo em vista que a massa específica seca máxima foi
muito pequena e a quantidade de água necessária para atingi-la foi elevada em comparação a
ensaios com solos.

Fig. 7 - Curva de compactação do resíduo


4.2. Solo

Os resultados da caracterização do solo foram obtidos por Oliveira Júnior [7]. A massa específica
dos sólidos (ρs) do material é 2,82 g/cm³. Em relação à composição granulométrica, apresenta 1%
de pedregulho, 33% de areia, 5% de silte e 62% de argila, sendo caracterizado como argila arenosa,
sendo a curva granulométrica apresentada na Figura 8. Os limites de liquidez e plasticidade foram
de 57,7% e 31,1%, respectivamente.

Fig. 8 - Curva granulométrica do solo [7]

A composição química do solo em função dos nove principais óxidos pela espectrometria de
fluorescência dos raios-x é apresentada na Tabela 1, que mostra a predominância dos óxidos de
alumínio, silício e ferro , respectivamente.

Tabela 1 - Composição química por FRX do solo

Material SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO TiO2 K2O P 2O5 MnO
Solo 19,7606 23,5874 12,7175 0,0067 0,7788 1,6629 0,0225 0,00488 0,011

Quanto à composição mineralógica, o solo apresenta picos predominantes dos minerais caulinita,
quartzo e feldspato, além de alguns picos de Ilita e Mica para a fração areia [12].
Pelo ensaio de compactação do solo, obteve-se uma massa específica seca máxima de 1,63 g/cm³ e
umidade ótima 23,4%, a partir da curva apresentada na Fig. 9.
Fig. 9 - Curva de compactação do solo

4.3. Mistura
Com os resultados obtidos para os materiais estudados, observou-se que as propriedades do resíduo
são inferiores às do solo no quesito aplicação em aterros compactados. Com isso, para uma eventual
mistura, na teoria, as características do solo podem ser prejudicadas com a adição do resíduo.
Optou-se, então, por definir misturas em que as porcentagens do resíduo são menores, como 5, 15 e
25% e analisar os resultados da compactação de um único corpo de prova na umidade ótima obtida
para o solo. A Fig. 10 mostra a variação da massa específica seca da mistura em função da
porcentagem de resíduo.
1,65
Massa específica aparente seca (g/cm³)

S=90%
1,6

1,55

1,5 S=75%

1,45 S=70%

1,4 S=65%

1,35

1,3
0 5 10 15 20 25 30
Porcentagem de resíduo na mistura

Fig. 10 - Obtenção da massa específica seca das misturas pelo ensaio de compactação

Como esperado, tem-se que a massa específica seca do material resultante da mistura diminui
comparada à do solo (0% de resíduo), onde a mistura com 5% de resíduo é a que apresenta o
resultado mais favorável. Contudo, é necessário analisar que os graus de saturação apresentados no
gráfico para cada ponto de mistura compactada, dados pela fórmula da Equação 1.
𝑆×𝜌𝑠 ×𝜌𝑤
𝜌𝑑 = 𝑆×𝜌 (1)
𝑤 +𝜌𝑠 ×𝑤

Onde “ρd” é a massa específica seca, “S” é o grau de saturação, “ρs” a massa específica dos grãos,
“ρw” é a massa específica da água e “w” é a umidade do corpo de prova compactado.

O grau de saturação de cada mistura é apresentado ao lado de cada ponto, sendo que as três
propostas estão fora do limite indicado por Souza Pinto [13], que afirma que os pontos de umidade
ótima estão entre 80 e 90% de grau de saturação. Isso indica que os resultados obtidos ao se
compactar as misturas na umidade ótima do solo, não se encontram os valores de massa específica
seca máxima e umidade ótima da mistura. Esse fato explica o comportamento anormal da curva,
tendo em vista que se esperava que, quanto maior a porcentagem adicionada de resíduo, menor seria
a massa específica correspondente.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por se tratar de uma pesquisa em fase exploratória, foi possível realizar apenas algumas
considerações. Na análise dos resultados da caracterização do solo e da cinza de cavaco e eucalipto
e dos resultados apresentados na compactação das três misturas na umidade ótima do solo, observa-
se que a adição de resíduo altera as características do solo negativamente, fazendo com que a massa
específica aparente seca diminua. Entretanto, para o traço com 5% de resíduo, essa diminuição foi
menos acentuada, indicando que este pode ser um bom traço para a mistura em sua utilização em
aterros compactados. Sendo assim, pode-se observar que, mesmo em pequenas quantidades, é
viável a aplicação do resíduo em aterros compactados, aliando economia e sustentabilidade para as
obras de terra.
Ressalta-se que a pesquisa está sendo continuada visando uma análise mais detalhada desse novo
material obtido, através, por exemplo, da realização de ensaio completo de compactação a fim de se
determinar sua umidade ótima e massa específica aparente seca máxima.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à UFJF pela bolsa de iniciação científica PIBIC/CNPQ/UFJF nas Ações
Afirmativas, que possibilitaram o estudo e pesquisa do tema deste artigo. Agradecem, também, ao
laboratorista Lázaro Lopes, pelo auxílio prestado.

REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004: Resíduos sólidos - Classificação. Rio de
Janeiro, 2004, 71 p.
[2] BANDEIRA, F.O. Estudo da resistência ao cisalhamento de misturas de solo argiloso com resíduo de
borracha de pneus. Artigo Científico – Universidade Federal da Fronteira do Sul, Chapecó, RS, 2016.
[3] GONZALES, A. D. Caracterização e análise comparativa de cinzas provenientes da queima de biomassa.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2014.
[4] DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. PRO 003: Coleta de amostras deformadas de
solos. Rio de Janeiro, 1994, 4 p.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6457: Amostras de solo - Preparação para ensaios
de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 2016, 12 p.
[6] DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS E RODAGEM. ME 093: Solos – determinação da densidade
real. Rio de Janeiro, 1994, 4 p.
[7] OLIVEIRA JUNIOR, M. R. de. Estabilidade de talude do campus da UFJF. Relatório de iniciação cientifica –
Programa Jovens Talentos. Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2014, 34 p.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR7181: Solo - Análise granulométrica. Rio de
Janeiro, 2016 – Versão corrigida 2: 2018, 12 p.
[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6459: Solo – Determinação do Limite de
Liquidez. Rio de Janeiro, 2016 – Versão corrigida: 2017, 5 p.
[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7180: Solo – Determinação do Limite de
Plasticidade. Rio de Janeiro, 2016, 3 p.
[11] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7182: Solo - Ensaio de compactação. Rio de
Janeiro, 2016, 9 p.
[12] ROSA, J. P. e OLIVEIRA, M. S. Análise mineralógica de solos. Relatório de Pesquisa, Universidade Federal de
Juiz de Fora, MG, 2015. 32p.
[13] PINTO, C. de S. Curso Básico de Mecânica dos Solos. 3ª ed. São Paulo: Oficina de textos, 2011.
ANÁLISE DOS RESULTADOS TERMOGRÁFICOS EM FACHADAS

Analysis of thermographic results in facades

Vicente Junio de Oliveira Ross11, Ana Flavia Ramos Cruz2, Maria Teresa Gomes Barbosa3

1
Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Juiz de Fora, bolsista PROBIC/FAPEMIG, Juiz de Fora,
Brasil, Email: vicente.rosse@engenharia.ufjf.br
2
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ambiente Construído, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil,
Email:ana.cuz@engenharia.ufjf. br
3
Professora Dra., Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, Email: teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br

Resumo: O controle e monitoramento de manifestações patológicas em fachadas de edificações são


importantes formas de programar atividades de manutenção preventiva na construção civil. Nesse
contexto destacam-se os ensaios não destrutivos que permitem monitorar as edificações e estimar a
durabilidade e vida útil dos materiais e componentes, como por exemplo, a termografia. Essa
ferramenta é uma solução viável por se tratar de uma técnica rápida e relativamente barata,
comparada a outros métodos, consistindo no emprego de câmeras capazes de aferir a radiação
térmica de objetos, de forma a criar, através de softwares, os termogramas, ou seja, imagens que
ilustram a distribuição de calor dos componentes em inspeção. A análise dos dados obtidos por
inspeção termográfica é de fundamental importância, sendo realizada através da interpretação dos
dados e imagens adquiridos no processo de estudo individualizado de cada caso, devendo ser
realizada por profissional especializado. Contudo, há inexistência de normalização referente à
forma de se representar esses resultados, sendo possível representações diferenciadas. Esse trabalho
objetiva avaliar o uso da termografia como instrumento de investigação em edificações
habitacionais, frente às metodologias e tipologias de representação já desenvolvidas e apresentadas
nesse trabalho. O procedimento metodológico envolve avaliações qualitativas das manifestações
patológicas decorrentes da presença de umidade nas fachadas de condomínios residenciais
localizados na cidade de Juiz de Fora. Como resultados, espera-se ilustrar os danos mais recorrentes
no empreendimento de estudo qualitativamente, de modo que os dados obtidos possam servir para
elaboração de um mapa de danos que considere essa metodologia (uso da termografia) como forma
de investigação e auxílio no mapeamento, constituindo-se, assim, de um método rápido e efetivo na
interpretação dos dados e na identificação dos danos encontrados.

Palavras-chave: Patologias em fachadas, termografia, tipologias de representação.

Abstract: The control and monitoring of pathological manifestations in building façades are
important ways to program preventive maintenance in civil construction. In this context, the non-
destructive tests that theirs allow to following the buildings and estimate the durability and useful
life of the materials and components, such as thermography. This tool is a feasible solution because
it is a fast and relatively cheap technique. The tool consisting in the use of cameras capable of
measuring the thermal radiation of objects, in order to create, through software, the thermograms,
that is, images that illustrate the heat distribution of the components. The analysis of the data
obtained by thermographic inspection is fundamental, being performed through the interpretation of
data and images making in the process of individualized study of each case, and should be
performed by a specialized professional. However, there is no standardization regarding the way
these results are represented, and different representations are possible. This work aims to evaluate
the use of thermography as a research tool in building, considering the methodologies and
typologies of representation already developed and presented in this work. The methodological
procedure involves qualitative evaluations of the pathological manifestations resulting from the
presence of humidity in the façades of buildings located in the Juiz de Fora city. As results, it is
expected to illustrate the most recurrent damages in the study enterprise qualitatively, so that the
obtained data can be used to elaborate a map of damages that considers this methodology
(thermography) as a form of investigation and aid in the mapping, thus constituting a fast and
effective method in the interpretation of the data and in the identification of the damages found.

Keywords: Facade Pathology, Thermography, Representation Typology.

1. INTRODUÇÃO
O conceito de desempenho trazido pela NBR 15.575: Edificações Habitacionais – Desempenho,
ainda é muito recente e está causando grande impacto na forma de construir no país. Nos países
europeus este conceito já está mais amadurecido e está presente nas diversas fases da obra (do
projeto à manutenção).
A normalização brasileira, mais especificamente, a norma de desempenho, busca melhorar diversos
aspectos no que tange a melhoria da qualidade de uma edificação, dentre esses, destaca-se o
aumento da vida útil da edificação. O conceito de vida útil é definido, por esta, como sendo
“período de tempo em que um edifício e/ou sistema se prestam a atividades para os quais foram
projetados ou construídos[...]” [1]. Deve-se, inclusive, atender requisitos mínimos, sendo que a
vida útil não pode ser confundida com os prazos (legal e contratual) da obra.
Para que a vida útil seja melhor entendida, o conceito de durabilidade torna-se necessário, pois está
diretamente ligado às suas prerrogativas. Nesse contexto, a durabilidade é uma habilidade da
construção e seus componentes de resistirem as ações de agentes degradantes sendo que a questão
da função ou usabilidade de um dado componente também faz parte da durabilidade.[2,3]
Neste contexto, as fachadas possuem grande importância na proteção da edificação, já que delas
espera-se boa resposta aos diversos agentes danosos. A deterioração deste elemento decorre por
diversas formas de ataque, sejam elas físicas, químicas, mecânicas ou biológicas. Para garantia da
vida útil, prevenir a degradação decorrente da ação dos agentes desfavoráveis ao bom
funcionamento da fachada é tarefa de extrema importância, pois evita a ocorrência das
manifestações patológicas e consequentemente o comprometimento da vida útil de projeto (VUP).
Com isso, são necessários estudos, dentro do setor da construção civil, das diversas formas de
avaliar a durabilidade dos materiais. Um dos modelos que se destaca na previsão de vida útil é
baseado em inspeções. Esta metodologia permite avaliar como o material se comporta ao longo do
tempo. Salienta-se que além do auxílio na previsão da vida útil, a inspeção é eficiente no
acompanhamento do desempenho estabelecido pela normatização brasileira. Sendo assim, a
inspeção predial é uma atividade básica para se fazer um plano de gestão e, basicamente, resume-se
a uma sequência: realiza-se um “exame” visual da construção, posteriormente faz-se análise e
previsão, e em seguida são propostas ações corretivas, quando verificadas manifestações
patológicas e/ou anomalias. [4, 5]
A inspeção predial auxilia na prevenção de falhas, no acompanhamento de manifestações
patológicas, na detecção de anomalias e no registro da evolução dos problemas encontrados. Após a
realização da inspeção predial, faz-se necessário um registro de todas as observações feitas durante
esta atividade, ou seja, a elaboração de documentos, que descrevem o estado no qual a edificação se
encontra, comumente denominados Laudos e é neste documento que o mapa de danos se insere.
Ressalta-se que a inspeção predial não possui uma normatização, logo metodologias para fazê-la
são bastante discutidas no meio. Em geral, é tomada como base a NBR 9452 – vistorias de pontes e
viadutos de concreto – procedimento. Nela estão expostas três tipos de inspeções para pontes e
viadutos: cadastral, rotineira e especial. Elas consistem em, respectivamente, coletar as informações
para viabilizar as demais inspeções; manter o cadastro atualizado avaliando a evolução das falhas
apresentadas na etapa anterior; e fazer inspeção sempre que necessário. Para um bom
acompanhamento, deve ser levada em conta a periodicidade a ser feita e todas as complexidades de
cada edificação, tendo em vista que cada sistema construtivo possui suas peculiaridades, e, desse
modo, requerem uma atenção diferente em tempos diferentes. No entanto, dependendo do
tratamento gráfico usado nos documentos oriundos da inspeção, podem-se ter diversos impactos nos
resultados esperados.
O mapa de danos é classificado como uma representação gráfica, uma linguagem ilustrativa,
bidimensional e atemporal, que transmite informações e observações, devendo sempre estar isenta
de ambiguidades para o leitor [6]. Em resumo, o mapa de danos que mostra os danos presentes na
edificação, usando símbolos, linhas, manchas de cores ou texturas, fotografias, mapas com fichas
técnicas e índices, alcançado através da condensação das informações e observações verificadas na
inspeção predial. [7 -9]
Nesse contexto apresenta-se 7 (sete) diferentes tipos de mapas de danos a fim de ilustrar sua
aplicabilidade [9], conforme descrito a seguir:
 TIPO I: consiste em uma composição gráfica que utiliza como efeito diferenças de cores
para representar diferentes gravidades de danos na edificação, de modo que as regiões que
possuírem a mesma coloração, consequentemente se associa às mesmas categorias de
degradação, conforme ilustrado na Figura 1. Ressalta-se a necessidade da escolha das cores,
visto que elas podem sobressair umas as outras comprometendo a qualidade do mapa de
danos.
Fig.1. Mapa de danos com emprego de efeito de cores. Adaptado [10].

 TIPO II: esse modelo se baseia em fotografias dos danos e posterior localização na fachada,
usando para isso índices numéricos representados em um desenho esquemático da
construção [11]. Ressalta-se que as imagens presentes neste documento, vide figura 2, foram
muito pontuais, o que dificultou a visão geral e ampla da fachada, como também seu grau de
degradação.

 TIPO III: tem como base o uso de fotografias para registro da estrutura descrevendo
brevemente o estado de conservação no qual se encontrava a estrutura, sendo que alguns
pontos mais críticos são descritos de forma mais pontual, vide figura 3 [12]. De modo que a
representação possa ser comparada a uma ficha técnica. Salienta-se ainda, que, esse tipo de
representação é a descrição das manifestações patológicas que estão ocorrendo e o registro
fotográfico serve apenas para ilustra-las.
Fig. 2 – Mapa de danos construído a partir de fotos. Adaptado [11]

Fig. 3. Mapa de danos com uso de fotografias e descrição das manifestações patológicas. Adaptado[12].
 TIPO IV: produzido pela equipe do observatório de arquitetura e urbanismo da UFMS e
Arruda (2016)[13], este modelo foi usado como forma de representação um desenho
esquemático, com diferenciação de texturas e cores, de modo a representar as diferentes
características da fachada. Desta forma a representação gráfica mostra-se muito
diversificada e bastante eficiente na amostragem das diversidades presentes nas fachadas,
vide figura 4.

Fig. 4. Mapa de danos com representação esquemática em emprego de texturas e cores. Adaptado [13].

 TIPO V: resultado de um estudo sobre o sistema normativo de mapas de danos,este método


segue um padrão criado para classificar a gravidade dos danos com base em diagnostico
técnico, realizado no local. [14] Para isso, os autores do método valeram-se esquema
gráfico, com linhas, diferentes texturas e cores, onde cada dano recebeu uma codificação.
Ainda nesse aspecto, cada dano recebeu uma legenda a fim de esclarecê-lo. Cabe, ainda,
ressaltar que os danos mais prejudiciais, neste modelo, foram evidenciados com um maior
realce visual para chamar maior atenção do usuário. (vide Figura 5)

 TIPO VI: produzido pelo IPHAN em 2003 [15], este método foi usado um modelo gráfico
da edificação, representado por linhas, texturas e cores, que se assemelham muito ao modelo
de Tirello e Correa [14]. A escolha de identificação dos pontos é suscetível a cada autor,
podendo ele adotar a forma que colocará em maior evidencia a manifestação patológica
estudada, vide Figura 6.
Fig. 5. Mapa de danos
com classificação de gravidade. Adaptado [14].

Fig. 6. Mapa de danos IPHAN. Adaptado [15].


 TIPO VII: Este modelo tem como base o uso de recurso gráfico (com texturas, linhas
pontuais e cores) [8] em conjunto do uso do registro fotográfico (geral e localizado) da
edificação. Acompanhado de uma tabela que detalha códigos de elementos construtivos e
danos pontuais, assim como uma possível alternativa de correção.

Fig. 7. Mapa de danos com emprego de recurso fotográfico e gráfico. Adaptado [15].

Analisando as figuras 1 a 7 verifica-se que a representação dos danos é muito parecida, mesmo
considerando as peculiaridades de cada modelo o que de certa forma é positivo, visto que, dada as
complexidades e particularidades de cada edificação e manifestações patológicas analisadas, optar e
escolher o modelo mais adequado é essencial.
Auxiliando na inspeção indireta para mapeamento de danos, a termografia mostrou-se como uma
grande aliada. Bauer et al (2018)[16] classifica essa técnica como sendo simples de usar, já que,
resumidamente, a termografia se baseia na emissão de radiação térmica, de modo que cada corpo do
conjunto que compõe a vedação vertical (VV) emite calor de diferente forma, e essa diferença
auxilia na detecção de possíveis problemas que venham a acontecer ([17],[18]).
Para gerar as imagens térmicas é necessário apenas uma câmera térmica, esse fato já se mostra
economicamente viável. A câmera termográfica possui detectores para captação e conversão da
radiação infravermelha produzida pelos corpos. Deste modo, essa conversão baseia-se na
transformação do sinal infravermelho em sinal elétrico, produzindo assim os chamados
termogramas (imagens térmicas) [17]. Assim, o termograma auxilia na confecção dos mapas de
dano, por se tratar de uma metodologia para investigação indireta e instrumento de inspeção predial.
Assim, esse trabalho de mapeamento de danos, com o uso da termografia, torna-se menos
desgastante e mais seguro para o operador, além da vantagem de se enquadrar como um ensaio não
destrutivo (END).
Portanto, esse trabalho objetiva avaliar o uso da termografia como instrumento de investigação em
edificações habitacionais, frente às metodologias e tipologias de representação já desenvolvidas e
apresentadas nesse trabalho. O foco desta pesquisa foi a investigação de manifestações patológicas
pela presença de umidade nas fachadas de um empreendimento em estudo.

2. METODOLOGIA
Este estudo baseou-se na avaliação das fachas de um conjunto habitacional de caráter residencial,
em que os blocos são constituídos de 5 pavimentos tipo. Os apartamentos possuem dois quartos, um
banheiro, sala conjugada com cozinha, área de serviço. Possuem padrão de acabamento baixo e
fazem parte do programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal. Suas características
construtivas resumem-se a edificações construídas em alvenaria estrutural com revestimento
argamassado.
O objeto de estudo possui sua fachada principal voltada à posição sul, na cidade de Juiz de Fora
(zona da mata mineira), que possui clima tropical de altitude segundo classificação do Instituto
Nacional de Meteorologia (INMET), ou seja, verão com elevados índices de calor e umidade; a
temperatura média anual é de 20,1°C e uma pluviosidade média de 1504 mm; localiza-se numa
zona puramente residencial e de baixa agressividade ambiental.
Para o uso da câmera termográfica, adotou-se a metodologia de Cruz et al. (2018) [19] na captura
dos termogramas, possibilitando escolher os melhores ângulos de captura. As imagens foram feitas
com a câmera do modelo FLIR ONE: Thermal Imaging Camera for Apple. Para procedimento de
coleta, posicionou-se a câmera a uma distância de aproximadamente 10 metros em relação à
fachada e de 1,45 metros em relação ao piso. No que se refere a inclinação da câmera, adotou-se as
orientações fornecidas por [19], ou seja, procurar usar os ângulos no intervalo contido entre 0° e
20°, porém como trata-se de uma fachada de aproximadamente 14 metros de altura o uso destes não
foi sempre possível. Logo prosseguiu-se para analise amostral de 20% da fachada. Tendo em vista
que assim, conseguiria melhores resultados nos termogramas. Em seguida foi estudada a melhor
forma de representação destes dados, e sua adequação aos modelos citados anteriormente,
propondo, assim, um modelo de simples entendimento que pudesse explicitar as áreas degradas da
fachada devido presença de umidade.
Para o levantamento dos dados, vale salientar que a captura de imagens foi feita em um mesmo dia,
logo a variação climática é considerada desprezível. A temperatura média foi de 22ºC, a umidade
relativa estava em torno de 48% e vento de 14 km/h.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A figura 8 representa patologias presentes nas fachadas do empreendimento, objeto de estudo,
constatadas com auxílio da termografia, onde se verifica respectivamente: ocorrência de vazamento
de tubulação no banheiro e umidade ascensional.
(a) Vazamento banheiro (b) Umidade ascensional
Fig. 8. Manifestações patológicas pela presença de umidade. Fonte: os autores.

A figura 9 apresenta discordancia, visto coloração, na fachada argamassada da edificação


inidicando uma deficiencia na qualidade, oque proporcionará a ocorrência de fissuras e consequente
comprometimento de desempenho estanqueidade da edificação.

Fig. 9: Contrastes de coloração. Fonte: os autores.


Por meio da termografia é possível identificar a ocorrência de várias manifestações patológicas
associadas a diversos fatores, como: umidade ascensional, umidade de infiltração, fissuração,
descolamento, umidade acidental, entre outras formas de ocorrência de umidade na edificação que
podem comprometer a estanqueidade dos elementos de fachada [10].
Assim, observa-se que a presença de umidade pode ser percebida com o uso dessa técnica, de modo
que ela pode proporcionar recursos para que seja feito um mapeamento da área de estudo em
relação à deficiência de estanqueidade e demais anomalias presentes nas fachadas.
Desse modo, a termografia constitui-se de um método de investigação para elaboração de um mapa
de danos dos empreendimentos estudados. As formas de representação apresentadas, que envolvem
linguagem gráfica, textual e por imagens podem, muitas vezes, ser incompletas ou de difícil
obtenção de resultados. Para melhor observação da representação gráfica, este trabalho, sugere um
modelo, que se baseia nos modelos TIPO 4 E TIPO 6, como mostrado na figura 10. Neste modelo
pode-se observar as partes mais escuras do termograma destacadas, enfatizando assim, a presença
de água na região. Para confecção do mesmo, contou-se com o auxilio do software Autodesk
AutoCad, onde o termograma foi inserido e um esquema de linhas da fachada foi feito, e sobre o
esquema de linhas foi possível com o uso de hachuras e cores a separação da área degradada (vide
figura 4 (b)).

(a)– Termograma (b)- Esquema de linhas da fachada (c)–representação área degradada

Fig. 10. Modelo Proposto de mapa de danos. Fonte: os autores.

Com isso, pode-se dizer que a principal vantagem do uso da termografia como ferramenta de
investigação na etapa de mapeamento de danos é o fato de se tratar de um ensaio não destrutivo,
além de ser um método rápido e efetivo para interpretação de dados e identificação de danos, frente
aos demais métodos verificados na bibliografia. Porém, como desvantagem destaca-se o fato de que
a termogafia não deve ser empregada isoladamente nesse processo de investigação, de modo que
inspeções visuais e demais investigações em campo são imprescindíveis na obtenção de resultados
satisfatórios, que favoreçam a geração de um mapa de danos adequado à realidade encontrada no
empreendimento.

4. CONCLUSÕES
Conclui-se, portanto, que a termografia apresentou-se, de fato, como um recurso auxiliar e
determinante na inspeção e levantamento de danos nas fachadas do empreendimento estudado. Sua
principal vantagem em relação a outros métodos é a facilidade e rapidez de obtenção de resultados,
além de ser um ensaio não destrutivo. Porém, ela não dispensa análises visuais e demais métodos de
inspeção.
As imagens termográficas podem contribuir para elaboração de uma forma de representação
particular das ocorrências de anomalias, servindo como base para elaboração de um mapa de danos
completo e adaptado à realidade encontrada em campo. A partir dos mapas de danos obtidos com o
uso da termografia, pode-se avaliar, por exemplo, o grau de degradação dos elementos de fachada
de forma quantitativa, por meio da mensuração dos danos mapeados.
Desse modo, pesquisas como essa desenvolvida nesse trabalho são fundamentais na apresentação de
novos recursos que possam contribuir para o desenvolvimento de mapa de danos de fachadas de
edificações habitacionais, contribuindo, assim, com sua vida útil, desempenho e durabilidade.

5. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG pelo apoio financeiro para execução da pesquisa. (Projeto:
APQ-03068-17)

REFERÊNCIAS

[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. NBR 15.575: Edificações Habitacionais – Desempenho.
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Campo Grande, Brasil. Anais... Campo Grande, 2018. 12 p.
ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO RESÍDUO DE ROCHAS ORNAMENTAIS
NA RESISTIVIDADE ELÉTRICA VOLUMÉTRICA DO CONCRETO

The influence of ornamental rock waste on the bulk resistivity of concrete


ARAÚJO, Fabiana Madeira de1, COSTA, Josiane Moraes2, SAMPAIO, Glayson Barbosa3,
AGUILAR, Maria Teresa Paulino4, CHAHUD, Eduardo5
1
UFMG, Belo Horizonte, Brasil, fabianamadeira@gmail.com
2
UFMG, Belo Horizonte, Brasil,josianemoraescosta@gmail.com
3
UFMG, Belo Horizonte, Brasil,glaysongbs@gmail.com
4
UFMG, Belo Horizonte, Brasil, teresa@ufmg.br
5
UFMG, Belo Horizonte, Brasil, chahud@demc.ufmg.br

Resumo:
No beneficiamento de rochas ornamentais é gerado um resíduo chamado de lama de marmoraria ou
lama agressiva. O volume desse resíduo tem crescido devido ao aumento da exportação de rochas
processadas e, também, ao uso crescente dessas rochas no Brasil. Assim, o estudo do
reaproveitamento dessa lama é relevante, pois poderia contribuir para a redução do volume destinado
ao descarte, visto que a disposição inadequada acarreta danos ao meio ambiente. Este trabalho tem
por objetivo analisar a influência do uso do resíduo das rochas ornamentais na resistividade elétrica
volumétrica do concreto com cimento Portland. Trata-se de uma pesquisa experimental em que se
avaliou, inicialmente, concretos confeccionados com cimento CPV, areia média, brita 1 e relação
água/cimento de 0,53. Também foram confeccionados dois outros traços de concreto: em um se
adicionou 20% do volume de cimento em resíduo de lama, e o outro foi produzido com substituição
de 20% do volume de cimento por resíduo de lama de marmoraria, considerado a massa específica
do resíduo para equalização, sem alteração dos demais constituintes. Os corpos de prova foram
conservados sobre as mesmas condições de cura e submetidos a ensaios de resistividade elétrica
volumétrica e resistência à compressão aos 28 dias. Os resultados indicam que a adição do resíduo de
lama ao traço não influenciou na resistência à compressão. No entanto, os resultados da substituição
mostraram uma redução de 20% em relação ao traço de referência dessa propriedade. Quanto à
resistividade elétrica, os resultados sugerem que tanto a adição quanto a substituição por lama
diminuem a resistividade volumétrica do concreto em 20%.

Palavras-chave: Concreto, Resíduo de marmoraria, Resistividade elétrica volumétrica.

Abstract:
In the treatment of ornamental rocks a residue is generated called mud of mudflat or aggressive mud.
The volume of this residue has increased due to the increase in the export of processed rocks and also
to the increasing use of these rocks in Brazil. Thus, the study of the reuse of this sludge is relevant
because it could contribute to the reduction of the volume destined for disposal, since inadequate
disposal causes damage to the environment. This work aims to analyze the influence of the use of
ornamental rock residue on the volumetric electrical resistivity of concrete with Portland cement. It
is an experimental research that initially evaluated concretes made with CPV cement, medium sand,
gravel 1 and water / cement ratio of 0.53. Two other traces of concrete were also made: in one, 20%
of the cement volume was added to the sludge residue, and one was produced with a 20% substitution
of the cement volume for the sludge mud residue, considering the specific mass of the residue for
equalization, without alteration of the other constituents. The specimens were stored under the same
curing conditions and subjected to volumetric resistivity and compressive strength tests at 28 days.
The results indicate that the addition of the sludge residue to the trace did not influence the
compressive strength. However, the results of the substitution showed a reduction of 20% in relation
to the reference trait of this property. Regarding electrical resistivity, the results suggest that both
addition and mud substitution decrease the volumetric resistivity of concrete by 20%.

Keywords: Concrete, Marble residue, Electrical resistivity

1. INTRODUÇÃO
No beneficiamento de rochas ornamentais é gerado um resíduo chamado de lama de marmoraria.
Segundo a ABIROCHAS[1], em seu informe de 2018, as empresas de rochas ornamentais, nos últimos
anos, apresentam um crescimento no mercado nacional e internacional, e por consequência um
aumento da geração de resíduo. Trata-se de um resíduo não biodegradável, que ao ser descartado,
inadequadamente, compromete o meio ambiente [2-4]. O uso da lama de marmoraria na confecção
do concreto, em substituição parcial ao cimento ou agregados finos, colabora para um menor impacto
da construção civil no meio ambiente, visto que haverá descarte mais adequado e a redução no
consumo cimento e agregados finos naturais [5].
Diversos estudos analisaram os efeitos do uso da lama de marmoraria no concreto. Quanto às
propriedades mecânicas, os trabalhos de Rana, Kalla e Csetenyi (2015) [5] e Khodabakhshian, Brito,
Ghalehnovi e Shamsabadi , (2018) [4] observaram um aumento da resistência à compressão nos
espécimes com substituição do cimento por lama de marmoraria inferior a 10%. Porém, quando
aplicado um teor maior do resíduo os valores sofrem um decréscimo quando comparados com os
espécimes de referências, o trabalho de Turker, Erdogan e Erdogdu . (2002) [6] relaciona esta perda
de resistência à compressão a diluição de C2S e C3S, elementos esses, que geram o CSH no processo
de hidratação.
No que diz respeito à permeabilidade e absorção de água, estudos mostram que a inserção da lama de
marmoraria no concreto colaborou positivamente para estas propriedades, ressalta-se que os
resultados foram melhores para percentuais em torno de 20%[7-8]. Trabalhos, ainda, que a resistência
à penetração de cloretos e ataque de sulfato foram melhoradas pela incorporação de resíduos de
marmoraria no concreto[8-9]. Dietrich, Teles e Vieira (2016) [9] justificam esses resultados,
favoráveis a durabilidade do concreto, em função da redução do volume de poros e pela
descontinuidade dos poros da matriz.
Rodrigues, Brito e Sardinha (2015) relatam em seus estudos um decréscimo do módulo de
elasticidade com o aumento do teor de substituição do cimento pelo resíduo de marmoraria nos corpos
de prova. Seara-Paz et al., (2016) substitui o agregado miúdo pelo resíduo, e, também, os seus
resultados indicam um menor módulo de elasticidade. Nesse caso os autores afirmam que essas
reduções são devidas à interface mais fraca entre os materiais empregados e a pasta de cimento.
Neste trabalho, o emprego da lama de marmoraria é analisado quanto aos seus efeitos nas
propriedades físicas do concreto. Considerando o volume de resíduo produzido, o emprego desse
material em elementos da construção civil é uma alternativa benéfica para a sociedade e o meio
ambiente. Uma vez que, estudos indicam melhorias em determinadas propriedades como resistência
à compressão e permeabilidade. Não localizou-se nas literaturas consultadas a influência da adição
desse material na resistividade elétrica do concreto, este trabalho experimental propõe esta análise.

2. OBJETIVO
Este artigo tem como objetivo analisar a influência do resíduo de rochas ornamentais na resistividade
elétrica volumétrica do concreto.

3. RESISTIVIDADE ELÉTRICA VOLUMÉTRICA


A resistividade elétrica é um ensaio de aplicação direta e não destrutivo [12]. A análise desta
propriedade é relacionada a durabilidade do concreto no que se refere à classificá-lo como menos
favorável à penetração de agentes nocivos a estrutura, quanto maior for sua capacidade de resistir a
passagem da corrente [13-14].
A resistividade elétrica volumétrica é conhecida, também, como o método de dois eletrodos. Consiste
na aplicação de corrente através do eletrodo externo, e por meio do eletrodo interno é apurado a
diferença de potencial ocorrida. É uma medida de oposição do material a passagem da corrente. [15]

Figura 1: Método dos dois eletrodos. Araújo (2014)

4. MATERIAIS E MÉTODOS
Este trabalho trata-se de uma pesquisa experimental. Foram confeccionados corpos de prova de
concreto com adição do pó de lama de marmoraria (tipo 1) e com substituição parcial do cimento
(tipo 2) por esse material para comparar a influência com espécimes sem adição (tipo 0).

4.1 Materiais
Os materiais utilizados para a confecção dos corpos de provas foram:
 Resíduo de lama de marmoraria;
 Cimento Portland CPV Ari;
 Agregados miúdo de gnaisse;
 Agregados graúdo de gnaisse; e
 Água potável.
4.2 Métodos

4.2.1 Caracterização dos agregados


O agregado miúdo empregado no trabalho foi areia artificial de gnaisse. A caraterização desses
agregados foi realizada conforme as seguintes normas: NBR NM26:2001, NBR NM30:2001, NBR
NM45:2006, NBR NM46:2003, NBR NM49:2001, NBR NM52:2009, NBR NM248:2003, NBR
7211:2009, as informações estão na tabela 1 e no gráfico 1.
.
Tabela 1: Caracterização do agregado miúdo Gráfico 1: Gradação de agregados miúdos
Abertura
Número Peso retido (g) % retido % acumulado % retido acumulado
(mm) 100,00
3/8" 9,5 0,00 0,00 100,00 0,00
1/4" 6,3 0,00 0,00 100,00 0,00
90,00
4 4,8 1,00 0,13 99,87 0,13 80,00

% retido acumulado
8 2,4 122,03 16,34 83,53 16,47
16 1,2 172,32 23,07 60,46 39,54 70,00
30 0,6 128,14 17,16 43,30 56,70
50 0,3 100,24 13,42 29,88 70,12
60,00
100 0,15 111,07 14,87 15,01 84,99 50,00
200 0,075 75,54 10,11 4,90 95,10
Fundo 36,60 4,90 0,00 100,00 40,00
Soma 746,94
Módulo de finura = 2,68
30,00
Dimensão máxima: 4,80 mm 20,00
Massa úmida = 7,60 g
Massa seca = 7,50 g 10,00
Teor de umidade = 2,10 % 0,00
Teor de material pulvenulento = 4,90 %
Massa unitária seca = 1,55 kg/dm³ 10 1 0,1 0,01
Massa unitária = 1,33 kg/dm³
Massa específica = 2,62 g/cm³ Abertura da peneira (mm)
Umidade do material (%) = 1,87
Teor de argila em torrões = 0,20 %

O agregado graúdo empregado foi brita 1 de gnaisse. A caraterização dos agregados graúdos foi
realizado conforme as seguintes normas NBR NM26:2001, NBR NM45:2006, NBR NM53:2003,
NBR NM248:2003, NBR 7211:2009, NBR7251:1982, as informações constam na tabela 2 e no
gráfico 2.
Tabela 2: Caracterização do agregado graúdo Gráfico 2: Gradação de agregados graúdo
Abertura
Número Peso retido (g) % retido % acumulado % retido acumulado
(mm) 100,00
1 1/4" 32 0,00 0,00 100,00 0,00
1" 25 0,00 0,00 100,00 0,00
90,00
% retido acumulado

3/4" 19 44,12 4,26 95,74 4,26 80,00


1/2" 12,5 720,50 69,65 26,09 73,91
3/8" 9,5 225,88 21,84 4,25 95,75 70,00
1/4" 6,3 34,70 3,35 0,90 99,10
4 4,8 3,89 0,38 0,52 99,48
60,00
8 2,4 1,60 0,15 0,37 99,61 50,00
16 1,2 0,37 0,04 0,33 99,67
30 0,6 0,18 0,02 0,31 99,69 40,00
50 3 0,00 0,00 0,31 99,69 30,00
100 0,15 0,00 0,00 0,31 99,69
200 0,075 1,18 0,11 0,20 99,80 20,00
Fundo 2,05 0,20 0,00 100,00
Soma 1034,47
10,00
Módulo de finura = 6,98 0,00
Dimensão máxima: 19,00 mm
Massa úmida = 1036,00 g 100 10 1 0,1 0,01
Massa seca = 1034,50 g
Teor de umidade = 0,14 % Abertura da peneira (mm)
Massa unitária = 1,45 kg/dm³
Massa específica do agregado seco = 2,62 g/cm³
4.2.2 Caracterização do cimento
Foi utilizado o Cimento Portland de Alta Resistência Inicial, CP V-ARI, escolhido por conter menor
teor de adições ativas entre os disponíveis no mercado local. A caraterização do cimento foi
fornecimento pela fabricante, tabela 3, abaixo:
Tabela 3: Caracterização do Cimento CP V-ARI
Massa Específica 3,09 g/m³
Área Superficial Especifica - BET 1,450m²/g
Área Especifica - BET 4,906 cm²/g
#200 0,20%
Finura
#325 2,20%
Ínicio de pega 60 min
Fim de pega 196 min
Resistência à compressão (MPa)
1 dia 26,1
3 dias 37,4
7 dias 46,6
Fonte: Empresa Cauê – Intercement, 2018- Adapatdo

4.2.3 Preparação e caracterização do resíduo de lama de marmoraria


Na marmoraria, a lama é coletada e passa por um tratamento com a utilização do filtro prensa, no
qual ocorre a redução da quantidade de água na massa. Em seguida, no laboratório de Argamassa e
Concreto da UFMG, o material recolhido foi submetido a um processo de secagem na estufa à
temperatura de 110ºC por 24 horas. Por fim, o material é resfriado naturalmente para passar pelo
processo do destorroamento manual, resultando em um pó fino.
Figura 2: (a) Lama no tanque da marmoraria; (b) resíduo da lama em pó após a secagem; (c)
Processo de destorroamento do resíduo em pó

(a) (b) (c)

A massa especifica foi determinado por meio do equipamento Auto density e o módulo de finura pela
NBR 11579:2013.
Tabela 4: Caraterização do Pó de lama de marmoraria
Massa Específica 2,62 g/m³
Finura #200 0,20%
4.2.4 Dosagens e preparação dos corpos de prova
Foram confeccionados corpos de prova cilíndricos de concreto, 10 x 20 cm, de acordo com a NBR
5738:2015. O traço padrão estabelecido foi de 1: 2,04: 2,34, com relação água cimento de 0,53, para
uma resistência característica de 20MPa aos 28 dias.
A partir do traço de referência executou-se mais duas dosagens experimentais. Em uma adicionou
20% do volume de cimento determinado (T20%Ad), e na outra, substitui 20% do volume de cimento
pelo pó do resíduo de marmoraria (T20%Sb), mantendo todas as outras características, conforme
apresentado na tabela 5.
Tabela 5: Dosagens
Nomenclatura Adição Agregado Agregado
Descrição Cimento a/c
no artigo resíduo miúdo graúdo

Referência TRF 1,00 0 2,04 2,34 0,53

Adição de 20% do
resíduo no traço de T20%Ad 1,00 0,20 2,04 2,34 0,53
referência

Substituição de 20%
do cimento T20%Sb 0,80 0,20 2,04 2,34 0,53

Foram confeccionados 10 corpos de prova de cada dosagem, totalizando 30 corpos de prova, os quais
foram desenformado com 24 horas, identificados e submetidos ao mesmo processo de cura em
laboratório.

4.2.5 Ensaios
Os corpos de prova foram submetidos aos ensaios de resistência à compressão e resistividade elétrica
volumétrica aos 28 dias de idade.

4.2.5.1 Resistência à compressão


Para o ensaio de resistência à compressão aos 28 dias, foram utilizados 3 corpos de prova para
diferentes traços cada, de acordo com as especificações da norma NBR 5739 (ABNT, 2007).
Figura 3: Prensa Hidráulica

4.2.5.1 Resistividade elétrica volumétrica


O ensaio de resistividade elétrica volumétrica foi realizado no equipamento do laboratório de
Caracterização de Concreto da UFMG. O modelo desenvolvido é baseado no sistema de dois
eletrodos, e para contato dos eletrodos com a superfície do espécime ensaiado é usado esponja de lã
de aço úmida. Os corpos de prova para este ensaio estavam saturadas em água potável.

Figura 04: Aparelho do ensaio de resistividade elétrica volumétrica

5. MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 Resistência à compressão

Os resultados, apresentados no gráfico 3, indicam que a adição da lama de marmoraria no concreto


não alteração a resistência à compressão quando comparado a dosagem de referência. A dosagem na
qual se substituiu o cimento pela lama apresentou uma resistência à compressão reduzida em 20%.
Esse fenômeno obtido na dosagem TR20%Sb é relatado no trabalho do Turker et al. (2002).
Gráfico 3: Resultados de resistência à compressão
50,00
40,00 34,65 34,30
30,00 27,45
20,00
10,00
0,00
MPa

Referência Adição de 20% do resíduo Substituição do cimento em 20%

5.2 Resistividade Elétrica Volumétrica

Quanto aos valores de resistividade elétrica volumétrica, os valores do gráfico 4 indicam que tanto a
substituição quanto a adição da lama de marmoraria no concreto não aumentam a resistividade
elétrica do concreto. A dosagem com substituição apresentou menor valor de resistividade elétrica se
comparado a dosagem de referência e a dosagem com adição.
Gráfico 4: Resultados de resistividade elétrica volumétrica
50,00 45,51 43,10
40,00 38,65

30,00

20,00

10,00

0,00
Ohm.m

Referência Adição de 20% do resíduo Substituição do cimento em 20%

6. CONCLUSÃO
A influência da lama de marmoraria no concreto quanto à resistência à compressão e resistividade
elétrica volumétrica foi avaliada.
 Quanto à resistência à compressão, a adição da lama de marmoraria não impactou. Porém, a
substituição contribuiu para uma redução de 20% em relação ao concreto de referência.
 Quanto à resistividade elétrica volumétrica, a substituição do cimento pela lama de
marmoraria diminuiu em 15% os valores do concreto referência. A adição não afetou os
valores encontrados.
 Considerando que adição da lama de marmoraria não impactou a resistência a compressão e
a resistividade elétrica volumétrica, pode-se considerar o uso da adição no intuito de descartar
o resíduo de forma menos danosa ao meio ambiente. Observa-se ainda que, o acréscimo de
resíduo na produção do concreto colabora para um maior volume final de produto em relação
ao referência, fato que impacta na viabilidade econômica do uso do resíduo.

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– Determinação da massa unitária. Rio de Janeiro, Abril, 1982.
PROPOSTA METODOLÓGICA PARA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE
GALERIAS URBANAS PARA PEDESTRES

Methodological proposal for quality assessment or urban galleries for pedestrians

Pâmela Souza da Silva1, Paula Alvarenga P. Martins2, Raquel Rodrigues Bernardes3, José Alberto
Barroso Castañon
1
Universidade Federal de Juiz de Fora-Campus Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, pamela.souza@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora-Campus Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, paula.martins@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora-Campus Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, raquel.rodrigues@engenharia.ufjf.br

Resumo:
O espaço urbano é formado por elementos que devem seguir normas preestabelecidas para sua
implementação e, por certo, essas diretrizes são elaboradas pensando na funcionalidade e eficácia
do item em estudo. Porém, tão importante quanto o cumprimento das regras é a verificação do
desempenho desses elementos urbanísticos do ponto de vista dos usuários. Afinal, “os elementos
móveis de uma cidade e, em especial, as pessoas e suas atividades, são tão importantes quanto às
partes físicas estacionárias. Não somos meros observadores desse espetáculo, mas parte dele.”
(BRAIDA, 2011, p 19 apud LYNCH, 1999, p1-2). Entretanto, não existem métodos de avaliação
para galerias. Mediante a essa ausência e ao entendimento da relevância da opinião pública no que
diz respeito a elementos com que têm contato em seu cotidiano, surge a necessidade de criar
medidas para julgar o funcionamento das galerias, tanto de forma técnica, quanto de forma pessoal,
isto é, de acordo com o parecer dos transeuntes. O objetivo desse artigo é apresentar uma
ferramenta capaz de avaliar e qualificar galerias. Para isso foi tomado com base um método
avaliativo para calçadas: o Modelo Estimativo de Movimento de Pedestres Baseado em Sintaxe
Espacial, Medidas de Desempenho e Redes Neurais Artificiais, escrito por Zampieri. Foi feita uma
adaptação do método, de forma que se aplique para galerias, tirando algumas medidas, as quais não
eram adequadas e inserindo outras, para que seja um instrumento completo e aplicável. Para a
validação do método foram utilizados dois tipos de questionários, um para técnicos, no qual as
medidas de desempenho são avaliadas quantitativamente, e outro para os transeuntes, estabelecendo
comparações entre as medidas de desempenho.

Palavras-chave: Avaliação; galerias; medidas de desempenho.

Abstract: The urban space is formed by elements that must follow pre-established norms for its
implementation and, of course, these guidelines are elaborated with the functionality and
effectiveness of the item under study. However, as important as complying with the rules is the
verification of the performance of these urban elements from the point of view of the users. After
all, "the moving elements of a city, and especially people and their activities, are as important as the
physical stationary parts. We are not mere observers of this spectacle, but part of it. "(BRAIDA,
2011, p 19 apud LYNCH, 1999, p1-2). However, there are no evaluation methods for galleries.
Through this absence and the understanding of the relevance of public opinion with regard to
elements with which they have contact in their daily lives, there is a need to create measures to
judge the functioning of the galleries, both in a technical and personal way, this is, according to the
opinion of the passers-by. The objective of this article is to present a tool capable of evaluating and
qualifying galleries. For this, an evaluative method for sidewalks was used: the Estimating Model
of Pedestrian Movement Based on Spatial Syntax, Performance Measures and Artificial Neural
Networks, written by Zampieri. The method was adapted so that it applied to galleries, taking some
measures, which were not adequate and inserting others, to be a complete and applicable
instrument. For the validation of the method, two types of questionnaires were used, one for
technicians, in which the performance measures are evaluated quantitatively, and another for the
passers-by, establishing comparisons between performance measures.

Keywords: Assessment, galleries, performance measures.

1. INTRODUÇÃO

A composição do espaço urbano se dá através de elementos que obedecem a normas


preestabelecidas para sua implementação e conta com métodos que avaliam a funcionalidade dos
mesmos. Uma norma é um conjunto de regras que direcionam a execução de serviços das mais
diversas áreas. Já os métodos de avaliação são criados após a consumação do elemento e tem por
objetivo verificar a qualidade e efetividade de funcionamento dos projetos já efetuados, avaliando
critérios técnicos e pessoais.

As galerias são exemplos desses componentes urbanísticos e, assim como os demais, possuem
normas para serem implantadas. No entanto, não existem métodos avaliativos para galerias. Esse
trabalho de avaliação é de extrema importância e não pode ser desprezado. Mediante a ausência
desses critérios avaliativos, serão tomados como base estudos já realizados para o julgamento de
calçadas e, através deles será criado um novo método, que contará com parâmetros já existentes e
outros criados especificamente para galerias.

O alvo de estudo deste artigo são as galerias localizadas na região central de Juiz de Fora, cidade da
região sudeste do estado de Minas Gerais a qual, diferente das demais cidades da região, que tinham
como principal atividade a mineração, foi dominada pela indústria têxtil no início do século XX. A
instalação de indústrias no município se deu pelo fato de Juiz de Fora ser uma cidade de passagem.

A atribuição de lugar de passagem se deve ao fato de Juiz de Fora ter se


tornado, com a construção da Rodovia União Indústria o ponto terminal da
principal via de comunicação da província, entreposto comercial e pólo
econômico mais importante da Zona da Mata (BRAIDA, 2011).

Para entender o processo de formação das galerias de Juiz de Fora é importante analisar a Rua
Halfeld, da qual se originam as principais galerias da cidade. Essa rua, antes denominada Rua
Califórnia, é considerada o eixo estruturador da cidade, pois permite o fenômeno de centralização,
isto é, a concentração de comércio e do fluxo de pessoas em uma determinada área.

É nessa rua também que se situa o tão famoso “calçadão”, que consiste em uma parte da rua,
destinada exclusivamente para pedestres e foi inaugurado em 1975, no centro histórico e financeiro
da cidade. Essa estrutura certamente é favorável para criar um ambiente propício para o comércio e
o maior fluxo de pessoas, onde se encontram as mais diversas cenas cotidianas e demonstrações de
relações interpessoais.

A instalação de galerias nesse meio é de fato uma grande estratégia para o planejamento
urbanístico, mas o histórico da cidade revela que as primeiras galerias não obtiveram sucesso. Isso
veio acontecer na década de 1950, com a forte estagnação econômica da indústria tradicional, aliada
ao aumento de pequenas indústrias familiares de malharias, as quais as ocupariam com suas lojas de
revenda.

A partir daí essas estruturas foram evoluindo e se aperfeiçoando até chegar na situação que temos
atualmente, sendo as galerias ramificações que se convergem para a rua Halfeld, concentrando o
maior fluxo de pedestres.

2. OBJETIVOS

Levando em consideração a importância da opinião pública no que diz respeito a elementos


utilizados pela população, surge a necessidade da criação de um método avaliativo para galerias, o
qual inclua não apenas opiniões de profissionais capazes de julgar o desempenho das mesmas, mas
também o ponto de vista dos usuários para verificar a funcionalidade prática do elemento. O
objetivo deste trabalho é apresentar uma ferramenta capaz de avaliar e qualificar, tanto as galerias já
existentes, como as que ainda serão construídas.

2.1. Objetivo geral

De modo geral tem-se o intuito de criar uma ferramenta que possa ser aplicada em todas as
variedades e modalidades do elemento em estudo, podendo também ser utilizada em outras cidades
que não a que é base dessa pesquisa, lançando mão de algumas alterações que se devem a legislação
local.

2.2. Objetivos específicos

Através da ferramenta criada e das observações feitas em campo, propor melhorias para as galerias
já existentes, principalmente, em relação à acessibilidade, servindo, tanto a ferramenta quanto as
propostas de melhorias para galerias que possam vir a ser construídas.

3. METODOLOGIA

O processo da pesquisa é dividido em várias etapas com objetivos particulares. Deu-se início com a
busca de bibliografias a serem usadas como referência para elaboração do método. Posteriormente
foi feita a adaptação do método de avaliação de calçadas para galerias, excluindo algumas medidas
de desempenho e acrescentando outras, apropriando o método para o elemento estudado. Dessa
forma foram elaborados questionários de caráter técnico e pessoal, que futuramente serão aplicados
a profissionais e aos usuários.
Tendo em vista as bibliografias e artigos analisados referentes às avaliações de uso e qualidade de
calçadas e sabendo da importância da avaliação de outros elementos urbanísticos, com os quais os
moradores de toda cidade tem contato em seu cotidiano, o estudo da avaliação de galerias foi feito
através de um paralelo entre os critérios qualitativos desses dois elementos urbanos, aproveitando
alguns dos já apresentados para calçadas e acrescentando outros que se encaixam propriamente
para avaliação de galerias.

Para a elaboração do questionário, usou-se como base a ferramenta de avaliação de calçadas feita
por Zampieri (2006), que tem como material de análise a sintaxe espacial e a medida de
desempenho dos passeios. Apesar da existência de outros métodos avaliativos, não sendo o
objetivo deste trabalho discuti-los, segundo Castañon, Luchini, Almeida e Andrade, a metodologia
de Zampieri mostra-se mais adequada para as adaptações necessárias de avaliação das galerias, uma
vez que apresenta maleabilidade da estrutura da ferramenta, permitindo inserção, adaptação e
exclusão de atributos.

4. ADAPTAÇÃO DO MÉTODO

Como já relatado, a necessidade de um método para avaliação de galerias leva a uma adaptação da
metodologia usada para avaliar um elemento urbanístico de certa forma semelhante, que conta com
a retirada de algumas medidas de desempenho e a inserção de outras, para que a ferramenta seja
apropriada. O modelo escolhido como base foi o Modelo Estimativo de Movimento de Pedestres
Baseado em Sintaxe Espacial, Medidas de Desempenho e Redes Neurais Artificiais, escrito por
Zampieri.

4.1. Apresentação do Modelo Estimativo de Movimento de Pedestres Baseado em Sintaxe


Espacial, Medidas de Desempenho e Redes Neurais Artificiais

A proposta de Zampieri envolveu uma longa jornada de estudos sobre modelos urbanos e sintaxe
espacial. Além de apresentar um modelo final com medidas de desempenho bem especificadas, que
seriam os critérios de avaliação das calçadas, houve também uma grande pesquisa sobre o
movimento de pedestres e as redes neurais artificiais, uma tecnologia inovadora com muito
potencial na área de modelagem urbana.

Sua pesquisa consistiu em uma coleta de dados, começando na seleção de algumas calçadas, as
quais foram numeradas para serem estudadas. Foi feita uma contagem do fluxo de pedestres em
cada uma delas, em diferentes horários do dia, por alguns dias, a fim de classificá-las quanto ao
movimento.

Ademais, o autor faz uma análise do que chama de “atratores” , que são os componentes do espaço
urbano que atendem a demanda da população, a exemplo: moradia, supermercado, escolas,
comércio, entre outros. O comércio e a prestação de serviços surgem para atender a população que
se estabelece em determinado local e tudo isso é estudado fazendo um paralelo com a sintaxe
espacial.

Ao final desse longo trabalho e fazendo uma associação de todos esses conceitos, Zampieri chega às
medidas de desempenho que julga essenciais para a avaliação de uma calçada. Algumas alterações
foram definidas durante a elaboração das fichas de avaliação e foi escolhida como ideal a que
possui os critérios dispostos separadamente, sendo que cada um deles ainda é desmembrado em
algumas características. São eles:
● Atratividade
Esse critério engloba as características visuais e sociais do espaço estudado, além das características
visuais do entorno. Tem-se então uma preocupação com a estética e a sociabilização dos pedestres.
● Conforto
Já nesse parâmetro encontram-se as características da faixa de circulação, o acesso a portadores de
necessidades físico-motoras e a disposição do mobiliário urbano.
● Manutenção
Nessa medida de desempenho vê-se a preocupação com as características da adequação da
pavimentação, bem como sua condição física e a limpeza da mesma.
● Segurança
Trata-se aqui da possibilidade de conflito entre pedestres e veículos, as características das passagens
de uma calçada para outra por meio da faixa de segurança e de semáforos.
● Segurança pública
As questões relacionadas a policiamento local, co-presença local e visibilidade entre os diferentes
pontos do passeio são tratados nesse quesito de avaliação. percebe-se então uma preocupação com a
sensação de segurança que o local transmite para os usuários, seja pela presença de uma autoridade
responsável ou pela presença de outras pessoas.

Essas medidas foram dispostas em questionários, sendo um deles elaborado para julgamento
técnico, isto é, deve ser respondido por profissionais da área de urbanismo de forma a serem
avaliadas com notas de 0 a 5, em que 0 se trata da pior condição e 5 a nota máxima.

Além desse questionário técnico, um outro ainda foi elaborado, tendo como objetivo um fator de
ponderação dos critérios, que avalia qual das medidas já expostas são mais importantes para os
pedestres, ou seja, qual a característica que mais influencia o usuário na hora de decidir o caminho a
percorrer. Para isso o questionário a ser respondido pelos pedestres é feito de forma a relacionar
todos os critérios de avaliação entre si.

O cálculo da ponderação é obtido através das notas recebidas no questionário técnico, ponderado
pelo coeficiente de cada medida de desempenho atribuído pelos pedestres.

4.2. Alterações no método proposto por Zampieri

Em busca de tornar o método mais eficaz em sua aplicação para galerias, algumas adaptações foram
feitas na metodologia proposta por Zampieri (2006).

No critério de atratividade foi retirado o quesito que avalia as características visuais do entorno, que
observa as construções ao redor das calçadas, tendo em vista que os elementos avaliados nessa
subdivisão da medida de desempenho não se aplicam às galerias.

Para as características da faixa de circulação de pedestres, avaliada no critério conforto, foi adotado
coeficientes de avaliação buscando verificar as galerias quanto ao cumprimento da legislação
urbana, que no caso do presente trabalho se refere a legislação urbana de Juiz de Fora.

Esses coeficientes funcionarão da seguinte forma:


● Se existe norma e a galeria está de acordo com a normatização : 1,1;
● Se não existe norma:1;
● Se existe norma e a galeria não está de acordo com a normatização: 0,9.

Sendo assim, esse critério, diferente do abordado por Zampieri, somente será utilizado como
método de ponderação após a avaliação das demais medidas de desempenho.

Ainda no critério conforto foram adicionados, além dos cuidados com pedestres que possuem
deficiências físico-motoras, o quesito de avaliação quanto a existência de piso tátil para deficientes
visuais.

O critério segurança, que avalia a possibilidade de conflito entre pedestres e veículos, faixa de
segurança e a presença ou não de semáforos, foi retirado do presente método pelo fato, de em
galerias, não ter a presença desses itens.

Por fim, no critério segurança pública, o quesito que considera o policiamento local foi retirado,
tendo em vista que em algumas galerias há a presença de seguranças, sendo esse outro fator de
ponderação que foi adicionado à avaliação. Assim, esse critério será avaliado da seguinte maneira:
● Há a presença de segurança no local: 1,1
● Não há presença: 1
Os outros critérios avaliados nessa medida de desempenho foram mantidos.

5. QUESTIONÁRIOS

5.1. Definição da Amostra

Para determinar a amostra de questionários que serão aplicados, foi feito com a variável de interesse
uma proporção, ou seja, depois de coletado os dados e analisados os questionários, tem-se a
proporção de pessoas da amostra que preferem o quesito “x”, uma outra proporção de pessoas na
amostra que preferem o quesito “y” ou ainda ambos quesitos.

Então, o cálculo da amostra é da seguinte maneira:


NPQ
n= (1)
(N−1) D+ PQ

B2
D= (2)
z2

Onde:

n: tamanho da amostra, a quantidade de questionários a serem aplicados.

P: estimativa para a proporção obtida de pesquisas feitas anteriormente. Como aqui não há
esta informação será considerado P=0,5.

Q: o mesmo ocorre para Q, Q=1 para P=0,5.

B: é o erro máximo, ou seja, a disposição de erros nos resultados, a precisão da pesquisa. Foi
utilizado 5%. Ou seja, se em dos resultados finais obtêm que 40% das pessoas preferem o quesito x,
então na verdade de 35% a 45% das pessoas preferem x. Para um erro menor ainda, poderia-se usar
B=4%,3%, 2% ou 1%, mas quanto menor o valor de B maior será o valor de n.

z: reflete o nível de confiança da amostra. Será utilizado 95%, ou seja, há 0,95 de


probabilidade da amostra refletir os resultados obtidos. Consultando a tabela da distribuição normal
padrão, para o nível de confiança de 95%, temos z=1,96.

N: população total de Juiz de Fora. Nesta variável, foi considerado o senso do IBGE em
2010.

Como resultado, obteve-se:


(0,05)2
D= =0,00065077
(1,96)2
(516247)(0,5)(0,5)
n= =383,8746
(516246)(0,00065077)+(0,5)(0,5)

n≅ 384 questionários.

5.2. Resultados

5.2.1. Questionário técnico

Ao se fazer a correlação do método de Zampieri com as galerias do centro de Juiz de Fora, foi
possível desenvolver o questionário a ser respondido por técnicos capacitados.
Tabela 1- Fichas das medidas de desempenho. Fonte: original dos autores.
5.2.2. Questionário para o público

Tal questionário deverá ser feito em diferentes dias e horários e têm como objetivo saber quais
características das galerias são preferidas pelos transeuntes. Para tanto, foram comparadas cada
variável, uma a uma, em que a característica mais importante é a assinalada. Cada variável marcada
receberá 10 pontos, caso o transeunte tenha considerado ambas variáveis igualmente importantes,
será atribuído 5 pontos à cada.
Tabela 2- Formulário para identificar o grau de importância das medidas de desempenho. Fonte: original dos
autores.

De posse dos questionários respondidos, obtemos o coeficiente de ponderação. Para isto, basta
somar os valores de cada medida de desempenho separadamente e dividir pelo somatório total
destas, tal como demonstra Zampieri:
Tabela 3. Exemplo do cálculo de ponderação através do método da soma constante feito por Zampieri, adaptado
de Khisty(2004).
Fonte: ZAMPIERI (2006)

Assim sendo, é possível fazer uma análise vinculando os dois questionários, de modo que o
questionário aplicado aos caminhantes funcione como um peso a ser atribuído ao questionário
técnico. Para tanto, multiplica-se o coeficiente de ponderação de cada medida de desempenho pela
sua respectiva média alcançada na avaliação técnica. O somatório deste produto, será então, o nível
de serviço daquela galeria.

Como descrito por Zampieri, convém representar a base de indicadores de qualidade, da seguinte
maneira:

● ‘F’: galerias com nota de 0 a 0,9.


● ‘E’: galerias com nota de 1 a 1,9.
● ‘D’: galerias com nota de 2 a 2,9.
● ‘C’: galerias com nota de 3 a 3,9.
● ‘B’: galerias com nota de 4 a 4,9
● ‘A’: galerias com nota 5.

5.3. Galerias tomadas como base


Como alvo de aplicação dos questionários finais são sugeridas as galerias: Prefeito Álvaro
Braga, Bruno Barbosa, Pio X, Constança Valadares, João Beraldo, Hallack, Belford Arantes, Salzer,
Roberto Neves, Previdenciários, Hipólito Teixeira, Epaminondas, Azarias, Ali Halfed, Phintias e
Garden Shopping. Estas foram escolhidas de modo a obter uma maior variedade de características
para que todas as medidas de desempenho do método fossem aplicadas e discutidas.
Figura 1- Mapa com as galerias analisadas.

5.4. Coleta de dados

A fim de validar os dados obtidos com a aplicação dos questionários técnicos e pessoais foi
feita uma contagem do fluxo de transeuntes nas galerias listadas acima.
Foram contados os pedestres parados e em movimento para cada galeria. A contagem dos
pedestres foi feita em movimento por dois pesquisadores que partiram cada um de uma extremidade
da galeria, contando apenas os pedestres que estivessem de frente para ele.
Para avaliar a diferença de utilização do espaço, foram distinguidos os pedestres que
estavam em movimento dos que estavam parados, sendo estes os que estavam sentados,
conversando, olhando vitrines, etc. A coleta do fluxo foi realizada durante três dias em todas as
galerias.
Cada pesquisador utilizou uma ficha de avaliação que distinguia as categorias avaliadas
segundo o exemplo:

GALERIA XXX
DIA XX
PERÍODO MOVIMENTO PARADO
H M H M
8 às 10
10 às 12
12 às 14
14 às 16
16 às 18
Tabela 4: Exemplo da ficha de avaliação.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa foi desenvolvida com a intenção de elaborar um método adequado e eficaz
para a avaliação de galerias por meio de um método de avaliação de calçadas já existente. Através
de dois questionários, um de caráter técnico e um pessoal, foram expostas algumas medidas de
desempenho que julgam a qualidade e funcionalidade das galerias.

É importante lembrar que este trabalho trata-se de uma proposta metodológica e que ainda
em uma fase inicial, não foram aplicados os questionários aos técnicos e aos transeuntes, baseando-
se assim, na observação e vivência dos autores em torno do objeto de estudo.

AGRADECIMENTOS
Ao professor José Castañon por nos confiar um trabalho de tanta relevância, pelo
acolhimento no Núcleo de Ergonomia e Sustentabilidade em Transportes (NEST) e por toda
orientação.
Aos integrantes do núcleo pelos momentos de descontração e aprendizagem.
Aos nossos familiares e amigos pelo apoio e confiança durante o decorrer deste e de outros
trabalhos.

REFERÊNCIAS
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Buenos Aires. Juiz de fora: Funalfa, UFJF, 2011.
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ESCLEROMÉTRICO DAS ESTRUTURAS
Influence of axial loading in the structural structure test

Lucas Cardoso Pereira Carneiro*1, Gabriel Eduardo Ruela Cunha 2, Karoline Caetano da Silva3,
Ana Claudia de Mello Nascimento3.

1 Cardoso Reis Engenharia, Petrópolis, Brasil, eng.lucascpc@gmail.com


2 Ruela Soluções em Engenharia, Petrópolis, Brasil, gabriel.edu.cunha@gmail.com
3 Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil,

Resumo: Sendo o concreto um material heterogêneo e dependente de muitos fatores, como


lançamento, cura e adensamento, muitas vezes necessitamos avaliar a sua qualidade quanto a
resistência à compressão, módulo de elasticidade, aderência, entre outros. Esta necessidade de
avaliação se passa, na maioria das vezes, em estruturas antigas, onde são necessárias inspeções a
fim de verificar a integridade destas. Como opção para elucidar a questão da resistência de uma
estrutura, que não possui registro sobre as características do concreto, temos a análise da dureza
superficial, através do ensaio esclerométrico. O presente trabalho tem a finalidade de avaliar se o
carregamento da estrutura influência nos resultados da resistência superficial do concreto, nos
ensaios esclerométricos. Para estudar a possível ocorrência de alguma variação nos resultados da
esclerometria, em função do carregamento da estrutura, foram moldados corpos de prova de
concreto no tamanho 30 x 30 x 20 cm que, após 28 dias, recebeu porcentagens da carga de ruptura,
deste traço de concreto, na prensa e, simultaneamente, realizamos os ensaios esclerométricos nesses
corpos de prova, durante o carregamento. Também foram moldados corpos de prova cilíndricos,
com diâmetro 10 cm e altura 20 cm para se ter um valor de resistência como referência, carga de
ruptura. Os dados obtidos foram comparados com os resultados esclerométricos do corpo de prova
prismáticos descarregado, com finalidade de verificar a diferença entre estes valores.

Palavras-chave: Concreto, Ensaio, Esclerometria.

Abstract: Being a heterogeneous component and dependent on several factors, such as casting,
curing and dense, we often need to evaluate its quality as pressure, modulus of elasticity, adhesion,
among others. This review review, most often in old structures, is end of course inspections. As this
option to elucidate the structure of a surface structure, it is not able to perform a superficial analysis,
through the sclerometric test. The present work has the purpose of evaluating the structure of the
current in the results of the surface resistance of the concrete in the sclerometric tests. In order to
study a possible occurrence of some variation in the sclerometry results, as a function of the
modulus of molding, the concrete specimens were molded in size 30 x 30 x 20 cm which, after 28
days, received retraction of the load of rupture, of this concrete trace, in practice, simultaneously,
performing searches of scleromials in their specimens, during loading. Cylindrical specimens with a
diameter of 10 cm and a height of 20 cm were also molded for a force value as reference, bursting
load. The data were compared with the sclerometric results of the unloaded prismatic specimen, in
order to verify the difference between these values.
Keywords: Concrete, Testing, Sclerometry.

1 INTRODUÇÃO

1.1. – Problema analisado

Devido à falta de hábito dos profissionais da construção civil em criar um histórico contendo
projetos, controle tecnológico dos materiais utilizados, diário de obra e demais especificações sobre
o empreendimento, quando os proprietários do mesmo se deparam com alguma anomalia ou
necessidade de alteração estrutural, estes têm dificuldades em saber as características originais.
Com isso, necessita-se encontrar métodos que elucidem as características desta estrutura, para
diagnosticar a anomalia ou validar a modificação arquitetônica. Para esta avaliação o profissional
responsável recorre a diversas tecnologias dos ensaios não destrutivos, com intuito de evitar
maiores danos a estrutura e maior praticidade na realização dos ensaios. O ensaio da dureza
superficial é um dos ensaios mais populares no Brasil para a avaliação da resistência à compressão
do concreto, porém o mesmo possui fatores influenciadores que podem gerar resultados errôneos
em relação a real resistência do material, como o efeito parede, carbonatação, idade da estrutura,
presença de armadura, falhas de concretagem e outros. Dentre os fatores não avaliados, está a
influência do carregamento na peça ensaiada, que pode gerar uma avaliação errônea, visto que a
este carregamento tem fator influenciador, conforme indicado na NBR 7584 (ABNT, 2012).

2. OBJETIVO

O presente trabalho tem como objetivo avaliar se os resultados do ensaio de esclerometria em


estruturas que estejam descarregadas, sofrem influência em relação a estrutura que esteja sob
carregamento axial. Também será investigado se e de que forma o aumento deste carregamento
alterará os resultados finais do ensaio.

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Ensaios classificados como não destrutivos são os que não causam danos ou que causam pequenos
danos locais, que após a execução do ensaio podem ser reparados facilmente. Estes ensaios
aplicados em obras antigas, visam avaliar as condições e estado dos materiais aplicados,
correlacionando os resultados com a capacidade da estrutura de resistir as solicitações. Já em obras
novas, geralmente são utilizados para monitorar o ganho de resistência e sanar eventuais dúvidas
sobre a qualidade do concreto empregado.

O ensaio esclerométrico, tema deste artigo, se constitui em um ensaio não destrutivo que possibilita
medir a dureza superficial do concreto, fornecendo resultados para a determinação da qualidade do
concreto endurecido. Isto é possível, devido ao fato de podermos relacionar a resistência à
compressão do concreto com a dureza da superfície do elemento ensaiado, onde esta medida é
calculada através do rebote do martelo. Segundo Silva Filho e Helene (2011), é necessário avaliar
com cautela esta relação, pois, há vários fatores que influenciam no resultado como o tipo de
cimento e agregado empregados, a carbonatação, o tipo de superfície, idade do concreto, operação
do esclerômetro entre outros.

O ensaio se consiste basicamente em pressionar o martelo contra a superfície do concreto até que
determinada massa carregada pela mola seja liberada. Com isso, o êmbolo sofre um impacto contra
a superfície ensaiada e rebate uma distância, que é medida por um indicador de deslize (HELAL;
SOFI; MENDIS, 2015). A figura 1 mostra o desenho esquemático do esclerômetro.

Figura 1 - Esquema do Esclerômetro de Schmidt (MALHOTRA, 2004, p.4).

4. PROGRAMA EXPERIMENTAL
4.1 Formas
Para a moldagem dos prismas foram utilizadas formas de madeira (Figura 2) feitas no Centro de
Estruturas e Engenharia Civil (CEENC) da Universidade Católica de Petrópolis e suas dimensões
mostradas na figura 3. Os corpos de prova cilíndricos utilizados para a determinação das
características do concreto, foram moldados em formas metálicas com dimensões 10,0 × 20,0 cm.

4.2 Dosagem, preparo, moldagem e cura


4.2.1 Materiais
Materiais utilizados na confecção do traço:

• Cimento CP III 40-RS: 1


• Areia lavada – Média: 2,13
• Brita 1: 2,21
• Água: 0,45
• Fator a/c: 0,45
Figura 2 - Forma prismática (Acervo pessoal).

Figura 3 - Dimensões das formas prismáticas (Acervo pessoal).

4.2.2 Preparo
Foram moldados oito corpos de prova prismáticos em dois dias, utilizando o concreto
confeccionado no laboratório. Os materiais foram pesados em balança de precisão, separados em
sacolas plásticas após a retirada de suas embalagens originais. Após a pesagem estes foram
introduzidas em betoneira com a seguinte ordem e duração de mistura:

• Brita (100%) + Água (70%) - 5minutos


• Cimento (100%) – 5minutos
• Areia (100%) + Água (30%) – 10minutos

Após a homogeneização do material o procedimento se encerrou.


4.2.3 Moldagem
Foram moldados um total de 13 corpos de prova cilíndricos 10 × 20cm durante a concretagem dos 8
blocos, os quais, foram utilizados para determinar a resistência media do concreto fcm de cada lote.
Foi realizado o adensamento vibratório nas amostras, respeitando as prescrições da NBR
5738/2001.

4.2.4 Cura
A cura dos corpos de prova cilíndricos e prismáticos foram submersas em água, sendo iniciada 5
dias após a moldagem. A necessidade em aguardar este período para a iniciar a cura, foi devido aos
prismas se tornarem autoportantes e evitar danos a sua integridade durante o processo de desforma.

4.3 Ensaio
4.3.1 Ensaio esclerométrico com carregamento do prisma
Para a realização destes ensaios, utilizou-se uma prensa multitestes de 1000 kN do laboratório do
CEENC. Para determinar a dureza superficial do concreto, utilizou-se o esclerômetro de reflexão
HT – 225, figura 4, respeitando os procedimentos e recomendações prescritos na ABNT NBR
7584/12 - Concreto endurecido – Avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão –
método de ensaio. O carregamento utilizado para os ensaios de determinação da resistência
característica à compressão dos corpos de prova cilíndricos foi de 0,45 MPa/s, seguindo os
procedimentos recomendados pela NBR 5739 (ABNT/2007).

Figura 4 - Modelo do esclerômetro utilizado - HT-225 Concrete Test Hammer MC – Ref. 1305394.

4.3.2 Metodologia de ensaio


Antes do posicionamento do bloco prismático na prensa, a face da superfície a ser ensaiada foi
preparada, fazendo o polimento energético com o disco de carborundum através de movimentos
circulares. Toda a poeira e pó superficial foram removidas a seco. Após este procedimento,
realizamos a marcação dos pontos e da área para ser feito o ensaio esclerométrico, garantindo que
os pontos estariam com afastamento mínimo de 50 mm dos cantos e arestas do bloco e com sua
geometria uniformemente distribuídas na face do prisma em questão. A figura 5 mostra o preparo
da superfície do prisma para o início dos ensaios.
Figura 5 - Polimento energético da superfície do prisma.

Para o carregamento utilizado nos ensaios dos corpos de prova prismáticos, não há norma brasileira
específica para determinação dos parâmetros a serem adotados no ensaio proposto, logo, adotando-
se uma velocidade de 0,005 MPa/s, valor este de forma empírica, visto que, foi imposto a mesma
velocidade dos corpos de prova prismáticos, porém, para os prismáticos, ocorreu esmagamento de
forma brusca, fazendo com que a velocidade do carregamento fosse reduzida para que fosse
possível realizar o ensaio como previsto. Nas áreas de contato entre o bloco prismático e a prensa,
foram utilizadas três placas de borracha de 2 mm de espessura, em sua face superior e inferior, para
melhor distribuição da carga na peça, evitando que eventuais deformações e ou rugosidade das
amostras prejudicassem a veracidade dos resultados obtidos. Após o bloco ser posto e ajustado na
mesa da prensa, o ensaio esclerométrico sem o carregamento da peça era realizado para ter como
referência 0% de carga aplicada, após este procedimento iniciávamos o carregamento. O
carregamento foi feito progressivamente até atingir 20 % da carga de ruptura e mantido por 90
segundos para que fossem feitos os ensaios esclerométricos com esta carga. Tais cargas calculadas
com base na resistência media do concreto fcm, obtido com o rompimento dos corpos de prova
cilíndricos, levando em consideração a área do prisma. Ao final deste intervalo, o carregamento
prosseguia até atingir 30% da carga total de referência. Todos os corpos de prova foram carregados
até a ruptura.

5. RESULTADOS EXPERIMENTAIS

• Curva de correlação entre índice esclerométrico e resistência em MPa conforme “Appendix 2”


do manual do produto (Figura 6);
• Carbonatação considerada: 0,0 mm;
• Índice esclerométrico médio e coeficientes de correção calculados conforme manual do produto.
Figura 6 - Modelo do esclerômetro utilizado - HT-225 Concrete Test Hammer MC – Ref. 1305394.

O concreto utilizado possui resistência característica aos 28 dias de 20 MPa. Para todos lotes de
concreto foram os mesmos padrões de dosagem, mistura, moldagem e cura, conforme descrito em
4.2.

5.1. Resultado do ensaio à compressão dos corpos de prova cilíndricos

Tabela 1 – Resultado de resistência dos corpos de prova cilíndricos, 20×20, ensaiados à compressão.
N° CP Resistencia (MPa) Carga aplicada (kN)
1 18 143,0
2 18 144,2
3 19 119,0
4 16 127,3
5 16 124,1
6 16 127,8
7 17 134,9
8 16 126,5
9 17 134,3
10 16 128,6
11 16 122,1
12 15 121,5
13 17 134,2
5.2. Resultado do ensaio esclerométrico com compressão dos prismas

Tabela 2 – Indicação da taxa de variação do índice esclerométrico com o aumento dos carregamentos.
Resultado (índice
N° CP % de carga esclerométrico médio)
0% 22,8
1
20% 23,2
0% 23,9
20% 24,6
2
30% 25,4
40% 20,8
0% 23,8
20% 24,6
3
30% 18,9
40% 24,5
0% 23,9
20% 21,1
4
30% 17,3
40% 18,7
0% 22,9
20% 23,1
5
30% 23,1
40% 22,6
0% 23,6
6 20% 24,4
30% 24,6
0% 23,1
20% 23,9
7
30% 24,1
40% 22,1
0% 22,5
20% 22,6
8
30% 23,1
40% 21,4

Como fica explicito nas tabelas, os corpos de prova cúbicos não atingiram 100% de sua carga
prevista. Entendemos que pode ser por conta da diminuição da velocidade de carga para 0,005
MPa/s.
6. CONCLUSÕES

Após a análise dos resultados, observamos que possuem variações nos índices esclerométricos, mas
não podemos afirmar que esta variação é resultado exclusivo da aplicação de carga axial no corpo
de prova, podendo ser efeito de outros parâmetros como a heterogeneidade do traço de concreto.

Figura 7 – Gráfico Índice esclerométrico × Porcentagem de carga.

Outro ponto observado, conforme apresentado na figura 7, Índice Esclerométrico × Porcentagem de


carga, que há uma tendência de aumento nos índices esclerométricos nos carregamentos de 20% e
30% em relação aos resultados obtidos com prisma sem aplicação de carga, porém, acima destes
percentuais a tendência do índice esclerométrico é diminuir. Já a variação entre o carregamento de
30% para 40% teve uma tendência a diminuir o índice. Esta tendência se deve ao fato de que a
maioria dos prismas sofreram algum tipo de dano à sua integridade física, seja por rompimento de
algumas arestas ou por desplacamento pontual da superfície do concreto onde se executava o
ensaio.
Os resultados dos prismas CP 3 e CP 4 tiveram um comportamento diferenciado dos demais, pois
durante a execução do ensaio de esclerometria destes corpos de prova, os prismas se romperam
entre a fase de carregamento de 0% para 20% da carga total, descaracterizando estes dos demais
ensaios.
Analisando as taxas de variação entre os percentuais de carga × índice esclerométrico, temos uma
variação entre 0% e 13,1%. Nas taxas de variação de resistência, conforme ensaio esclerométrico e
porcentagem de carga, temos variações entre 0 e 16,13%. Considerando que este traço tem uma
média de 19 MPa, poderíamos ter uma variação de até 3,1 MPa.
Temos uma moda, na variação do índice esclerométrico, de 1,094% e, na variação de resistência em
MPa, de 0,0%. Isso demonstra que mesmo tendo variações nos resultados, a maior probabilidade é
que não tenhamos variações nos índices esclerométricos e nos resultados de compressão, gerados
pelo ensaio esclerômetro. Não sendo a carga um fator que traga grandes variações para esse caso
específico.
Tabela 3 – Indicação da taxa de variação do índice esclerométrico com o aumento dos carregamentos
N° CP % de carga Resultado % de carga Taxa de variação (I.E)
0% 22,8 0-20 0,87%
1
20% 23,2 0-30 0-40
0% 23,9 0-20 1,44% 3,04% 6,94%
20% 24,6 20-30 1,60% 8,37%
2
30% 25,4 30-40 9,96%
40% 20,8 0-30 0-40
0% 23,8 0-20 1,65% 11,48% 1,45%
20% 24,6 20-30 13,10% 0,20%
3
30% 18,9 30-40 12,90%
40% 24,5 20 0-30 0-40
0% 23,9 0 6,22% 16,02% 12,21%
20% 21,1 20 9,90% 6,03%
4
30% 17,3 30 3,89%
40% 18,7 0-30 0-40
0% 22,9 0-20 0,43% 0,43% 0,66%
20% 23,1 20-30 0,00% 1,09%
5
30% 23,1 30-40 1,09%
40% 22,6 0-30 0-40
0% 23,6 0-20 1,67% 2,07%
6 20% 24,4 20-30 0,41%
30% 24,6 0-30 0-40
0% 23,1 0-20 1,70% 2,12% 2,21%
20% 23,9 20-30 0,42% 3,91%
7
30% 24,1 30-40 4,33%
40% 22,1
0% 22,5 0-20 0,22% 1,32% 2,51%
20% 22,6 20-30 1,09% 2,73%
8
30% 23,1 30-40 3,82%
40% 21,4

Tabela 4 - Indicação da taxa de variação da resistência com o aumento dos carregamentos.


N° CP % de carga Resultado (MPa) % de carga Taxa de variação da resistência
0% 14 0-20 5,08%
1
20% 15,5 0-30 0-40
0% 16 0-20 3,03% 5,88% 10,34%
20% 17 20-30 2,86% 13,33%
2
30% 18 30-40 16,13%
40% 13 0-30 0-40
0% 15,5 0-20 3,13% 4,62% 4,62%
20% 16,5 20-30 1,49% 1,49%
3
30% 17 30-40 0,00%
40% 17 0-30 0-40
0% 12 0-20 0,00% 9,09% 9,09%
20% 12 20-30 9,09% 9,09%
4
30% 10 30-40 0,00%
40% 10 0-30 0-40
0% 14 0-20 0,00% 0,00% 0,00%
20% 14 20-30 0,00% 0,00%
5
30% 14 30-40 0,00%
40% 14 0-30 0-40
0% 16 0-20 0,00% 3,03%
6 20% 16 20-30 3,03%
30% 17 0-30 0-40
0% 14 0-20 6,67% 0,00% 0,00%
20% 16 20-30 6,67% 6,67%
7
30% 14 30-40 0,00%
40% 14 0-30 0-40
0% 14 0-20 0,00% 1,75% 0,00%
20% 14 20-30 1,75% 0,00%
8
30% 14,5 30-40 1,75%
40% 14

Fica entendido que esses valores servem exclusivamente para a resistência descrita e para o
equipamento, esclerômetro utilizado, sendo necessário criar mais parâmetros e com mais
exemplares para ser efetivamente utilizado em casos práticos. Inclusive, é necessário entender o
fenômeno que fez o corpo de prova cúbico não alcançar a resistência prevista, já que possuía a
mesma composição e método de cura dos corpos de prova cilíndricos.

7. REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12655: Concreto de cimento


Portland - Preparo, controle, recebimento e aceitação - Procedimento. Rio de Janeiro, 2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas de


concreto — Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7584: Concreto endurecido —


Avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão — Método de ensaio. Rio de
Janeiro, 2012.

Carmen, M. Perdrix, A. Manual para Diagnóstico de Obras Deterioradas por Corrosão de


Armadura. Tradução de Antônio Carmona; Paulo Helene. 1.ed São Paulo. Editora Pini, 1992.

HELAL, J.; SOFI, M.; MENDIS, P. Non-Destructive testing of concrete: A review of methods.
Electronic Journal of Structural Engineering, v. 14(1), p. 97-105, 2015.

MALHOTRA, V. M. Surface hardness methods. In MALHOTRA, V. M.; CARINO, N. J.


Handbook on nondestructive testing of concrete. 2. ed. CRC Press, p. 17-31, 2004.

Ollivier. J; Vichot. A. Durabilidade do Concreto. Bases científicas para a formulação de


concretos duráveis de acordo com o ambiente. Tradução de Oswaldo Cascudo e Helena Carasek.
1.ed São Paulo. Editora IBRACON, 2014.
SILVA FILHO, L. C. P.; HELENE, P. Análise de Estruturas de Concreto com Problemas de
Resistência e Fissuração. In: ISAIA, G. C. (Editor), Concreto: Ciência e Tecnologia.
IBRACON, São Paulo, 2011
NOVAS TECNOLOGIAS UTILIZADAS PARA CONTROLE E
MONITORAMENTO DA SEGURANÇA NO CANTEIRO DE OBRAS.
New technologies used to control and monitor safety at the construction site.
Ludmilla Araújo Barbosa de CASTRO1, Maria Aparecida Steinherz HIPPERT2
1
Programa de Pós Graduação em Ambiente Constrído, Juiz de Fora, Brasil,ludmilla.castro@engenharia.ufjf.br
2
Programa de Pós Graduação em Ambiente Constrído, Juiz de Fora, Brasil, aparecida.hippert@ufjf.edu.br

Resumo: A construção civil, por se tratar de um ramo de grande representatividade econômica no


Brasil, necessita que seus processos possuam eficiência e racionalidade em todas as fases
construtivas. No que tange a diretrizes administrativas, organizacionais e de planejamento, de forma
a garantir a segurança do grande número de prestadores de serviço no canteiro de obras. Na
indústria da construção civil, o investimento em materiais de qualidade, equipamentos de segurança
e treinamento de todos os funcionários dos setores envolvidos no processo de projeto é um fator
fundamental na gestão da qualidade do empreendimento. Sendo assim, esse trabalho se propõe a
fazer um estudo sobre o estado da arte das novas tecnologias disruptivas, ou seja, tecnologias que
estão mudando o status quo de diversos processos, que estão sendo desenvolvidos e utilizados no
setor da construção civil, principalmente no que tange à saúde e segurança dos operários no canteiro
de obras, a fim de contribuir com a implementação de medidas preventivas de controle da segurança
nos processos de projeto a fim de mitigar a ocorrência de altos índices de acidentes de trabalho no
País.

Palavras-chave: Controle de obra, equipamentos de segurança, gestão.

Abstract: Civil construction, because it is a branch of great economic representativeness in Brazil,


requires that its processes have efficiency and rationality in all the constructive phases, regarding
administrative, organizational and planning directives, to guarantee the security of the number of
service providers at the construction site. In the construction industry, investment in quality
materials, safety equipment and training of all employees in the sectors involved in the design
process is a key factor in the quality management of the enterprise. Thus, this work proposes to
study the state of the art of new disruptive technologies, that is, technologies that are changing the
status quo of various processes, which are being developed and used in the civil construction sector,
mainly in to the health and safety of workers at the construction site, in order to contribute to the
implementation of preventive measures to control safety in the design processes in order to mitigate
the occurrence of high rates of industrial accidents in Brazil.

Keywords: Construction control, safety equipment, management.

1. INTRODUÇÃO

O setor da construção civil tem sofrido constante mudança, o que demanda melhorias contínuas em
seu processo operacional e gerencial. Atualmente, no Brasil, o paradigma entre elevados índices de
desempenho das construções, atendimento dos requisitos normativos e a satisfação dos usuários
esbarram em um sistema administrativo moroso, burocrático e pouco eficiente [1] .
Frente a este contexto, é imprescindível a busca de novas tecnologias e metodologias de gestão que
visem a eficiência de seus processos e melhorias contínuas nas construções, a fim de reduzir
desperdícios e garantir o atendimento às exigências dos clientes. Portanto, a utilização de métodos
tradicionais de levantamento de campo, em que o gestor não possui o controle satisfatório de todo o
processo envolvido no processo construtivo não é mais suficiente [2].

Além do mais, a equipe de gerenciamento de campo deve assegurar que atividades e operações
sejam realizadas de maneira segura e saudável para todos os trabalhadores, atendendo aos
requisitos legais de saúde e segurança, estabelecidos pela Constituição Federal de 1988 e
regulamentado pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e Normas Regulamentadoras que
tratam de Segurança e Saúde Ocupacional [3].

Neste contexto, dispositivos móveis e tecnologias portáteis possibilitam coleta de dados de forma
mais eficiente, permitindo monitorar e analisar em tempo real as operações, apoiar o processo de
tomada de decisão baseado em fatos, incorporar processos de coleta, armazenamento, distribuição e
análise de informações [4].
A partir deste panorama, é coerente exemplificar de que forma, dentro do setor da construção civil,
novas tecnologias podem ser aplicadas para garantir a segurança dos operários no canteiro de obras.
O presente trabalho tem como principal objetivo identificar as novas tecnologias utilizadas para
controle e monitoramento da segurança no canteiro de obras.

2. SEGURANÇA E SAÚDE NO TRABALHO E ACIDENTES DE TRABALHO


Historicamente a relação trabalho-homem-acidente é encontrada desde os primórdios, em papiros
do Antigo Egito, a textos da civilização greco-romana. Ao longo dos anos médicos e higienistas se
ocuparam em observar as formas de trabalho em inúmeras atividades e chegaram a várias
descobertas importantes relacionadas à segurança do trabalho [5].
A segurança do trabalho é a ciência que estuda possíveis causas de acidentes durante a atividade
laboral e é um dos assuntos de maior destaque nas convenções publicadas pela Organização
Internacional do Trabalho - OIT. Dentre as convenções da OIT ratificadas pelo Brasil e utilizadas
como referências normativas aplicadas à Segurança e Saúde do Trabalho destacam-se as
Convenções de nº 19, de 1925; as de nº 42 e 45 de 1934 e 1935; e a de nº 155 de 1981 que
determinam, respectivamente: indenização por acidente do trabalho; indenização por enfermidade
profissional e as regras relativas à segurança e saúde dos trabalhadores no meio ambiente de
trabalho [6].
A Lei 8.213 de 24 de julho de 1991, no seu artigo 19, fornece a conceituação legal de acidente de
trabalho:
Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a
serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados
referidos no inciso VII do art. 11 desta lei, provocando lesão
corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou
redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.
Visando reduzir o alto índice de acidades relacionados à atividade laboral pelo mundo inúmeros
Países regulamentaram o exercício do trabalho, de forma a proporcionar maior segurança ao
trabalhador. No Brasil, somente no final do século XIX, mais precisamente em 1981, a partir da
publicação do decreto 1.313, surgem os primeiros dispositivos legais voltados à segurança e saúde
do empregado das indústrias têxteis [7].
A Constituição Federal de 1988 preconiza em seu artigo 196 que “a saúde é direito do todos e dever
do Estado”, em outras palavras entende-se que o trabalhador tem direito à “redução dos riscos
inerentes ao trabalho, através da obediência de normas de saúde, higiene e segurança”, com
observância de normas gerais da Organização Internacional do Trabalho (OIT), agência da
Organização das Nações Unidas (ONU) [7].
No que tange à segurança do trabalho no ramo da construção civil, o Decreto Legislativo nº 61 de
2006 aprova integralmente o texto da Convenção nº 167 e a Recomendação nº 175 emitidas pela
OIT, que trouxe ao país normas com o objetivo de proteger os trabalhadores da construção e
prevenir acidentes, promovendo mais saúde e segurança [8].
A Câmara Brasileira de Construção Civil (CBIC) verificou que entre os anos de 2013, 2014 e 2015
o segmento da construção civil representava 6,1% do Produto Interno Bruto Nacional (PIB)
empregando 8,58% da força de trabalho do Brasil [9].
Segundo dados constantes do Anuário Estatístico de Acidente de Trabalho, o ano de 2016, registou
um decréscimo de acidentes de 622.379 para 578.935, uma queda de 7% quando comparado aos
acidentes de trabalho do ano de 2015 [10]. Tal fato pode estar correlacionado à inserção de novas
tecnologias que possibilitam que métodos e processos construtivos proporcionem um ambiente de
trabalho mais seguro e saudável aos trabalhadores.

2.1. Regulamentação das Normas de Segurança do Trabalho na Indústria da Construção Civil


A Constituição da República Federativa do Brasil preconiza em seu Art. 7º, inciso XXII, que “São
direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social: redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e
segurança;”. [3].
Visando atender a regulamentação estabelecida pela Constituição Federal e buscando,
constantemente, situações de trabalho seguras e salutares a lei nº 6.514 de 22 de dezembro de 1977,
estabeleceu a redação dos artigos 154 a 201 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, relativas
à segurança e medicina do trabalho, que, por sua vez, vinculou ao Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE) a elaboração de normas complementares relativas a Segurança e Medicina do
Trabalho. Foi então que em junho de 1978, o MTE que aprovou a Portaria nº 3.214 regulamentando
as Normas Regulamentadoras pertinentes a Segurança e Medicina do Trabalho.
São ao todo 36 NR’s que objetivam assegurar a vida do trabalhador sujeito às condições, muitas
vezes perigosas ou insalubres, inerentes ao trabalho. Cita-se como exemplo os operários da
Construção Civil que estão expostos a inúmeros riscos de acidentes como: instalações provisórias, a
utilização inadequado de equipamento de proteção individual (EPI), jornadas de trabalho
prolongadas, serviço noturno, ausência de equipamento de proteção coletiva (EPC), falta de
habilidade do operário para execução de determinados serviços, inexistência ou ineficiência de
treinamentos [11].
Conforme Araújo (2002), a NR-18 trata sobre o PCMAT (Programa de Condições e Meio
Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção) que visa estabelecer diretrizes de ordem
administrativa, de planejamento e de organização, minimizando a periculosidade e os riscos de
ocorrerem acidentes de trabalho.
Em um mundo altamente globalizado, a ineficiência produtiva na Indústria da Construção pode
gerar inúmeros prejuízos que afetam diretamente a competitividade das organizações e a qualidade
de vida da população [12]. Dessa forma, processos construtivos e gerenciais focados no
aprimoramento de técnicas de gerenciamento de risco são essenciais para abolir ou minimizar o
número de acidentes relacionados ao trabalho.

2.2. Proteções coletivas e individuais


Seguindo a tentativa de contemplar todos os requisitos necessários estabelecidos em Norma para a
Segurança e Saúde do trabalhador, a NR-6 visa, por meio da utilização de Equipamentos de
Proteção Coletivo (EPC) e Equipamentos de Proteção Individual (EPI) eliminar ou neutralizar os
riscos à saúde do trabalhador. Segundo a Norma o EPC é um sistema passivo, que cumpre sua
função protetiva independente da ação ou vontade do trabalhador, e por este motivo deve ter
prioridade de implementação. Por sua vez, o EPI é um Sistema de proteção ativo que está associado
ao fator comportamental, dependendo de uma ação direta do empregado [7].
De acordo com a NR06, 1978, tem-se como Equipamento de Proteção Coletiva (EPC): sistema de
exaustão, enclausuramento, comando bimanual e cabo de segurança. Os EPI’s, como já dito
anteriormente, não possuem prioridade de implementação, sendo utilizado apenas no caso de
impossibilidade de aplicação de medidas de segurança de uso geral. Os EPI’s são dispositivos de
uso pessoal destinados a proteger a integridade física e a saúde do trabalhador reduzindo ou evitam
lesões que podem decorrer de acidentes. Há EPI’s específicos para as partes do corpo: Cabeça e
crânio, face, mãos e braços, pernas e pés, tronco.
Apesar de haver no mercado uma infinidade de equipamentos que assegurem o operário durante sua
atividade laboral é importante desenvolver sistemas gerenciais de apoio que afiram a regularidade e
a forma correta de seu uso.

3. METODOLOGIA CIENTÍFICA
O presente trabalho trabalho propõe desenvolver, através da revisão da literatura, uma análise das
Normas Regulamentadoras de Saúde e Segurança do Trabalho em consonância com artigos da
revista Téchne e artigos científicos do Periódico Capes que relacionam tecnologias na área, sendo
imprescindível identificar as tecnologias que estão quebrando essas barreiras e alavancando o
desenvolvimento da indústria da construção civil no mundo.

4. NOVAS TECNOLOGIAS APLICADAS PARA SEGURANÇA DOS OPERÁRIOS NO


CANTEIRO DE OBRAS:
O avanço da digitalização, combinado à tecnologia da internet e demais tecnologias orientadas ao
futuro culminam em um novo modelo na Indústria, denominada Indústria 4.0, ou a Quarta
Revolução Industrial, que inova o mercado trazendo novas tendências para a digitalização e a
automação. Porém, apesar de apresentar elevado ganho na produtividade e qualidade de
gerenciamento de sistemas ainda não obteve muita atenção na indústria da construção civil - e isso é
fundamentado pelo fato de que as implicações a longo prazo de um ambiente de manufatura em
crescente digitalização e automação ainda não são amplamente conhecidas [13].
Permeando o desconhecimento sobre as novas tecnologias que se encontram disponíveis para
auxiliar a indústria da Construção Civil está o próprio processo organizacional do canteiro de obras
que envolve inúmeros processos que dificultam a padronização, como a manipulação de objetos
pesados e de dimensões variadas, nível médio de industrialização e pré-fabricação, além de
envolver inúmeros profissionais de vários setores de gestão e produção. Além do mais, trabalhar em
canteiro de obras envolve execução de projeto em ambientes externos, expostos a intempéries, sob
efeito de sol, chuva, neve, ventos, poeiras, mudanças de temperatura, entre outros. [14].

4.1. Medidas Administrativas de Proteção


As medidas administrativas são consideradas as primeiras providências a serem tomadas pelos
gestores na área de segurança como forma de reduzir ou eliminar os riscos inerentes ao trabalho que
colocam em risco a integridade física e psicológica do trabalhador.
Conforne Mollo (2018), é possível identificar e gerenciar os riscos de segurança durante a
construção do projeto através de um sistema de gerenciamento de segurança SMS (safety
management systems). Segundo o autor o SMS pode ser descrito como um conjunto de canais ou
redes que prometem a gestão segura e eficaz da segurança nos locais de trabalho. A introdução do
procedimento de SMS associado a um adequado gerenciamento de construção durante a fase de
projeto, execução, operação ou manutenção ajudaria a eliminar e reduzir os fatores causadores de
acidentes, lesões e mortes nos canteiros de obras. Essa integração ajudaria a equipe de construção a
identificar possíveis riscos e fatores de risco durante a fase de projeto [15].
Os escâneres a laser, por exemplo, já apresentam diversas aplicações na construção civil. A
impressão 3D aplicada à construção civil tem o poder de transformar essa indústria, por reduzir
custos e desperdícios, aumentar a velocidade nas obras e a qualidade final, além de proporcionar
segurança aos trabalhadores, pois remove-os das funções manuais da construção no canteiro de
obras, onde usualmente estariam expostos a diversos riscos[16].
O mesmo se aplica para o uso de Drones na construção civil, pois, com a sua utilização, retira-se os
operários em inspeções de ambientes de difícil acesso em altura. Segundo Rodrigues (2017) a
utilização de tecnologias como os Sistemas Aéreos Não Tripulados- Unmanned Aerial Systems
(UASs) podem contribuir para o monitoramento das condições de trabalho nos canteiros de obras
através so alto potencial de visualização através dos recursos visuais (fotos e vídeos). Fornecendo
uma avaliação mais confiável do risco, proporcionando maior praticidade e precisão a um custo
mais baixo. [17].
Há ainda disponível no mercado alguns protótipos que possibilitam a simulação 4D e riscos no
canteiro de obras - com base em uma ferramenta on-line intitulada Safety in Design Risk Evaluator
(SliDeRulE) que pode ser traduzido como Segurança na Avaliação de Risco de Projeto, que
quantifica os riscos no nível do objeto em edifícios de vários andares, com um modelo de
informações de construção e um cronograma de construção. Para determinar o risco de segurança
absoluto associado a um design completo, o fator de risco cumulativo total para cada elemento
dentro do design é multiplicado pela quantidade total do elemento de design e, em seguida, os
produtos para todos os elementos de design são somados para obter o total risco para o design
completo [18].
Além do mais, existem outras soluções sendo desenvolvidas em todo o mundo especificamente com
o objetivo de melhorar as estatísticas de segurança e saúde dos trabalhadores da área. Um exemplo
é o desenvolvimento de uma tecnologia de coleta de dados que podem ajudar na gestão do uso de
equipamentos de proteção, seja ele coletivo ou individual [19].

4.2. Medidas de Proteção Coletiva e Individual


Os equipamentos de proteção coletiva são equipamentos e/ou procedimentos projetados e utilizados
para proteção de um grupo específico de trabalhadores
De acordo com Oliveira; Serra (2015) novas tecnologias como o RFID (Radio Frequency
Identification) podem ser utilizadas para controlar remotamente a forma de instalação e utilização
do EPC (Equipamento de Proteção Coletiva) para preservar a segurança dos operários dentro do
canteiro de obras. Para a realização do procedimento é necessário três componentes básicos: um
leitor equipado de transmissor com decodificador, uma Tag-etiqueta de radiofrequência
eletronicamente programada e um software de controle [20]. O processo de controle remoto
funciona da seguinte forma, o leitor RFID detecta a etiqueta anexada ao EPC e envia informações
relativas ao dispositivo de proteção ao software. De acordo com Barro-Torres et.al.,2012, em
termos de reconhecimento do uso de EPI, em alguns equipamentos são anexados Tag’s para que
possam ser detectados por leitores relevantes. No entanto, a detecção bem-sucedida também ocorre
quando o EPI está próximo do trabalhador e dos leitores, em vez de ser usado pelo trabalhador.
[21].
Neste ponto é importante recordar que a utilização do EPI deve ser o ultimo passo do processo
iniciado com as medidas administrativas de proteção do trabalhador e a utilização dos EPC’s. Se
mesmo tomando todas as medidas de precaução anteriormente citadas os riscos persistirem acima
dos limites toleráveis de segurança, o EPI deve ser utilizado.
De acordo com Forsyth, 2012, outros exemplos de novas tecnologias na área da construção civil são
os sensores vestíveis. Trata-se de dispositivos que podem ser instalados nas roupas, capacetes e
acessórios dos trabalhadores e maquinários. Estes sensores são capazes de detectar e alertar sobre
uma série de riscos e situações perigosas, como por exemplo relógios com sensores capazes de
detectar a temperatura corporal do usuário, alertando para casos de temperaturas elevadas a fim de
evitar a exaustão térmica, ou ainda sensores capazes de detectar níveis de substâncias tóxicas, como
monóxido de carbono, alertando o usuário para concentrações perigosas [22].
Os capacetes inteligentes da DAQRI, Smart Helmet, são capazes de, além da proteção do crânio,
exibir no campo de visão do usuário, por possuir uma barra de sensor na parte frontal, projeções 3D
com informações e detalhes da obra, compatibilizado com projeto em BIM (OESTERREICH;
TEUTEBERG, 2016). Por sua vez, a empresa LUMAGEAR está tornando qualquer capacete mais
seguro por incorporar um Halo Light (áurea de luz) ao redor do usuário. Este dispositivo é
possível pela colocação de fitas de LED ao redor da borda do EPI, permitindo que o trabalhador
veja em todas as direções e também o torne visível a outros operários e operadores de máquinas
volantes [23]. O smart Helmet pode ser visualizado na figura 01.
Fig. 1 - Smart Helmet

Para os olhos, como pode ser visto na figura 02, o smart glasses além de proteger contra
luminosidade intensa, partículas volantes e radiações infravermelha e violeta, permite ao usuário
acessar no seu campo de visão manuais, instruções ou suporte remoto a gestores para sanar
eventuais dúvidas de projeto [24].

Fig. 2 - Smart Glasses

Há grande problema relacionado à proteção auditiva. Grande parte dos operários que necessitam de
proteção auricular também precisam receber instruções por rádio ou outro meio de comunicação.
Desta forma protetores auriculares inteligentes intra-auriculares incorporam captação de voz de
dentro do canal auditivo. Tais sistemas usam ar ou condução óssea para captar a voz sem
comprometer o som com exposições ao ruído ambiente. Isso também permite que os trabalhadores
que são obrigados a usar outros equipamentos de proteção pessoal, como respiradores que podem
bloquear ou abafar microfones externos, se comuniquem com mais clareza e eficácia, especialmente
em situações perigosas [24].
Para proteção do tronco, a fim de evitar os riscos ergonômicos sofridos pela mão-de-obra durante a
atividade laboral algumas empresas como Ekson Bioniks, StrongArm Technologies (figura 03)
desenvolveram exoesqueletos e roupas auxiliares que utilizam contrapesos ou redistribuem cargas
para músculos mais fortes para que os trabalhadores possam erguer e transportar objetos ou usar
ferramentas pesadas por períodos mais longos de tempo, reduzindo fadiga e lesões sem
sobrecarregar o corpo [25].

Fig. 3 - Exoesqueleto

Para os membros superiores luvas de trabalho também estão recebendo atualizações para
acompanhar a tecnologia. A empresa Nanotips, introduziu um produto projetado para tornar as
luvas de trabalho mais favoráveis à tecnologia. O produto é uma solução líquida que torna
qualquer luva compatível com tela sensível ao toque pois imita o toque da pele humana,
permitindo ao usuário interagir com todos os dispositivos touchscreen, como pode ser visto na
figura 04. O produto é simples de usar - basta aplicar a solução líquida nas luvas e deixar secar. A
solução líquida pode ser aplicada em couro, borracha, tecidos e lã [26].
Fig. 04 - Nanotips
Nos membros inferiores, sapatos e botas estão entrando na era tecnológica, não apenas como fonte
de informação, mas como fonte de energia. As botas da SolePower ( figura 05) não são apenas
equipadas com GPS, acesso Wi-Fi, iluminação de segurança e sensores de movimento, elas são
dotadas de carregadores cinéticos para gerar eletricidade a cada passo do usuário além de estar
carregar sensores embutidos que vibram quando o trabalhador tentar levantar um objeto que exceda
os limites predefinidos [26].

Fig 5 - Bota Sole Power

O colete InZoneAlert usa rastreamento por GPS e comunicação de curto alcance como forma de
proteção do corpo inteiro. Ele envia um alerta ao trabalhador no momento em que algum perigo é
detectado. O colete também possui luzes LED, alto-falantes e vibrações para determinar qual
modo de comunicação é mais eficaz. A RMIT University em Melbourne, Austrália, também
desenvolveu um novo colete de segurança inteligente que usa sensores para medir a temperatura
corporal e a frequência cardíaca de um trabalhador da construção civil e envia os dados sem fio
para um aplicativo de smartphone que alertará instantaneamente os usuários sobre quaisquer
anomalias [26].
Desta forma, de acordo com as informações supracitadas é possível identificar diversas novas
tecnologias que podem ser utilizadas no canteiro de obras. Foram citados Equipamentos de
proteção coletiva como o sistema de gerenciamento de segurança SMS, impressão 3D que afastam
ativamente o operário de serviços considerados perigosos, simulações em 4D, além da tecnologia
RFID. Com relação aos equipamentos de proteção coletiva foram encontradas novas tecnologias
para proteção de cabeça, olhos, ouvidos, troncos, membros superiores, inferiores e corpo todo. Este
artigo não aborda proteção respiratória e queda de nível.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
As novas tecnologias envolvendo medidas administrativas e utilização de EPC’s e EPI’s mitigam a
ocorrência de acidentes e riscos que comprometem a saúde e a segurança dos operários no canteiro
de obras. O levantamento bibliográfico referenciando diversos autores fomentam essa ideia,
mostrando que, apesar de lenta, a indústria da construção civil está se adaptando ao novo momento
de aquecimento tecnológico sendo experienciado ao redor do mundo e trazendo muitas novidades
para a área.
As aplicações são diversas e podem resultar em grandes ganhos tanto para a indústria, que pode
reduzir custos habitualmente direcionados para remediação de acidentes e indenizações de
trabalhadores acidentados e observar aumentos de produtividade, qualidade e velocidade nas obras,
quanto principalmente para os próprios trabalhadores, que passam a experienciar um ambiente de
trabalho mais seguro, moderno e controlado.
Espera-se que este estudo de segurança no canteiro de obras possibilite uma visão ampla sobre as
novas oportunidades que estão surgindo na área da construção civil. Pretende-se ainda conscientizar
os profissionais da área quanto à importância do conhecimento e aceitação de novas tecnologias
enfatizando o conhecimento para fomentar a utilização das novas tendências que estão traçando o
rumo do futuro da construção civil no mundo.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
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PARA MONITORAR REQUISITOS DE SAÚDE E SEGURANÇA DE TRABALHO NO SISTEMA
PRODUTIVO DA CONSTRUÇÃO CIVIL Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento
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[4] R. Cerato, L. H. C. Moraes, C. H. Miranda, G. C. L. Leal, and E. Cardoza, “TECNOLOGIA DE


INFORMAÇÃO PARA MONITORAR REQUISITOS DE SAÚDE E SEGURANÇA DE TRABALHO
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[9] C. A. Silveira, M. L. do C. C. Robazzi, E. V. Walter, and M. H. P. Marziale, “Acidentes de trabalho na


construção civil identificados através de prontuários hospitalares,” Rem Rev. Esc. Minas, vol. 58, no. 1, pp.
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[10] “AEAT.” [Online]. Disponível: http://www.previdencia.gov.br/2018/04/anuario-acidentes-de-trabalho-


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[11] N. M. C. de Araújo, “PROPOSTA DE SISTEMA DE GESTÃO DA SEGURANÇA E SAÚDE NO


TRABALHO, BASEADO NA OHSAS 18001, PARA EMPRESAS CONSTRUTORAS DE
EDIFICAÇÕES VERTICAIS,” Paraíba, 2002.

[12] F. D. Vasconcelos, Revista brasileira de saúde ocupacional, vol. 36, no. 124. FUNDACENTRO, 2011.

[13] H. Lasi, P. Fettke, H.-G. Kemper, H.-G. Kemper, and M. Hoffmann, “Industrie 4.0,”
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[14] A. Haas, D. Scheglmann, T. Lazar, D. Gallwitz, and W. Wickner, “The GTPase Ypt7p of Saccharomyces
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EMBO J., vol. 14, no. 21, pp. 5258–70, Nov. 1995.

[15] L. G. Mollo, F. Emuze, and J. Smallwood, “Reducing Human Failure in Construction With the ‘Training
Within-Industry’ Method,” 2018, pp. 923–932.

[16] W. Gorman, “Building a 3D Printer : Motors and Controls,” p. 1705, 2016.

[17] R. Rodrigues, S. De Melo, D. Bastos Costa, J. S. Álvares, and J. Irizarry, “Applicability of unmanned aerial
system (UAS) for safety inspection on construction sites,” 2017.

[18] Z. Jin, D. Liu, J. A. Gambatese, and V. Dharmapalan, “RISK ASSESSMENT IN 4D BUILDING


INFORMATION MODELING FOR MULTISTORY BUILDINGS,” 2018. [Online]. Disponível:
https://www.researchgate.net/publication/326647854_RISK_ASSESSMENT_IN_4D_BUILDING_INFORMA
TION_MODELING_FOR_MULTISTORY_BUILDINGS. [Acesso: 22-Set-2018].

[19] A. M. Pedro and M. V. Cosme, “Administração do Departamento de Segurança e Medicina do Trabalho


em uma Empresa Prestadora de Serviços Área temática : Gestão de Pessoas,” pp. 19–41, 2011.

[20] V. H. M. Oliveira and S. M. . Serra, “CONTROLE DE RISCOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL POR MEIO
DE FERRAMENTAS DE ACOMPANHAMENTO REMOTO,” SÃO CARLOS sp, 2015.

[21] S. Barro-Torres, T. M. Fernández-Caramés, H. J. Pérez-Iglesias, and C. J. Escudero, “Real-time personal


protective equipment monitoring system,” 2012.

[22] D. A. Forsyth et al., “Computer Vision A MODERN APPROACH,” 2012.

[23] J. Lombardo, “New Technologies that Protect Construction Workers,” 2016. [Online]. Disponível:
https://www.forconstructionpros.com/business/construction-safety/article/12192047/new-technologies-that-
protect-construction-workers. [Acesso: 11-Out-2018].

[24] R. S. Bessette, “New Hearing Conservation Technology as Functional Enablers,” 2012. [Online].
Disponível: https://www.ehstoday.com/hearing-protection/balancing-act-new-hearing-conservation-technology-
functional-enablers. [acesso: 12-Out-2018].

[25] K. Jones, “How Technology is Improving Construction Site Safety,” 2017. [Online]. Disponível:
https://www.constructconnect.com/blog/construction-technology/how-technology-is-improving-construction-
sites-safety/. [Acesso: 12-Out-2018].

[26] HDI, “Wearables can improve construction site safety,” 2018. [Online]. Disponível:
https://www.hdi.global/int/en/newsroom/2018/solutions-services/wearables-can-improve-construction-site-
safety. [Acesso: 12-Out-2018].

]
O EMPREGO DA TERMOGRAFIA NO ESTUDO DA DEGRADAÇÃO DE
FACHADA

The use of thermography in the facade degradation reserach.

Vicente Junio de Oliveira Rosse1, Ana Flavia Ramos Cruz2 , Maria Teresa Gomes Barbos3

1
Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Juiz de Fora, bolsista PROBIC/FAPEMIG, Juiz de Fora,
Brasil, Email: vicente.rosse@engenharia.ufjf.br
2
Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ambiente Construído, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil,
Email:ana.cuz@engenharia.ufjf. br
3
Professora Dra., Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, Email: teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br

Resumo: A estanqueidade das fachadas das edificações é um dos indicadores do bom desempenho
das construções, tendo em vista que dela se espera boa resposta à ação dos agentes atmosféricos ao
longo do tempo. Quando a capacidade de impedir a absorção de água da fachada é insuficiente
torna-se um dos principais causadores de degradação, resultando em manifestações patológicas.
Este trabalho tem como objetivo estimar e avaliar a área degradada de fechamentos verticais
(fachada das edificações) empregando-se nesse estudo, no levantamento de dados, a termografia
(imagem termográfica) como ferramenta para o mapeamento de danos decorrente da presença de
umidade, bem como determinar o grau de degradação, através do Método de Mensuração da
Degradação. Nesse sentido efetuou-se uma minuciosa pesquisa bibliográfica sobre o emprego de
termogramas para a representação de danos na fachada. Em conjunto foi investigado métodos
aplicados na quantificação de danos em fechamentos verticais. Com isso obteve-se uma
metodologia adequada possível de ser associada às análises das imagens obtidas pela câmera
termográfica, decorrente da falta de estanqueidade nesses elementos que possibilitou a
quantificação (numérica) da degradação das fachadas quando do emprego da termografia nos
estudos de manifestações patológicas. Por fim este trabalho estabelece uma análise mais consistente
das informações obtidas em ensaios não destrutivos, bem como no monitoramento de manifestações
patológicas causados pela falta de estanqueidade das fachadas, através da representação destas por
meio de diferença de temperatura.

Palavras-chave: Estanqueidade, Grau de Degradação, Termografia.

Abstract: The watertightness of building façades is one of the indicators of the good performance
of the buildings because it is expected a good behavior of the façade against to the action of
atmospheric agents over time. When the façade cladding do not soak up water may its degradation
façades, i.e., pathological manifestations. This paper aims to estimate and evaluate the affected area
of the wall (building façades) employing the thermographic image for the mapping damages due to
the presence of water, as well as the Degradation Measurement Method (MMD) was applied. In this
sense a thorough bibliographical research was carried out on the use of thermograms for the
representation of façade damage. Together, we investigated tools applied in the quantification of
damages in vertical closures. The adopted procedure enabled an adapted methodology that allows
the images of the thermographic camera to identify and quantify (numerically) the degradation of
the façades, at the points where the lack of watertightness compromise their useful life. Finally,
finally, this research shows a consistent analysis of the information obtained in non - destructive
tests, as well as the monitoring of pathological manifestations caused by the lack of watertightness
of the façades, through the representation of these by means of temperature difference.

Keyowords: Watertightness, Degradation Degree, Thermography.

1. INTRODUÇÃO
As vedações verticais possuem grande importância na proteção da edificação, pelo fato de estarem
expostas às diversas ações climáticas. Dentre os diversos fatores danosos que atingem a fachada de
uma edificação, podem-se destacar as chuvas direcionadas; as variações de temperatura, que
ocorrem durante o dia e meses do ano; a radiação solar e o efeito dos ventos. Além do aspecto de
proteção, a fachada ainda tem papel importante na valorização do empreendimento, tendo em vista
que ela é a “cara” da edificação.
Tendo em vista seu papel de proteção e alta incidência de agentes degradantes, a fachada está
sujeita a grande ocorrência de patologias. Patologia é a situação na qual o edifício ou parte dele, em
um determinado período de tempo, começa a apresentar falhas ou mal desempenho das suas
funcionalidades. As manifestações patológicas nesses elementos causam além de danos à estrutura
um grande desconforto ao usuário e perda de estética da edificação. [1]
Cumpre esclarecer que este trabalho terá foco principal nos revestimentos argamassados,
vastamente usados como camada de proteção da estrutura e alvenaria de edificações e, neste
contexto, entende-se por argamassa “uma mistura homogênea de agregado(s) miúdo(s),
aglomerante(s) inorgânico(s) e água, contendo ou não aditivos ou adições, com propriedade de
aderência e endurecimento” [2].
As manifestações patológicas que atingem as vedações verticais de uma edificação revestidas com
argamassa, são em linhas gerais: fissuras (horizontais, mapeadas e geométricas), eflorescência,
bolor, vesículas, descolamentos (com pulverulência, com empolas pequenas, em placas duras e em
placas quebradiças). [3]
Visto que a infiltração de água, principalmente água de chuva, é um dos principais causadores de
patologia nos revestimentos argamassados, a normalização prescreve prevenções necessárias para
drenar corretamente a água incidente na fachada. Esta capacidade de impedir a penetração de água
no revestimento é denominada estanqueidade, o sistema de vedação vertical externo (SVVE) deve
“permanecer estanque e não apresentar infiltrações que proporcionem borrifamentos, escorrimentos
ou formação de gotas de água aderentes na face interna, podendo ocorrer pequenas manchas de
umidade” [4].
Verifica-se, então, que a falta de estanqueidade dos elementos construtivos como um dos principais
agentes deterioradores. Para garantia da vida útil, prevenir a ação deste agente desfavorável ao bom
funcionamento da fachada é tarefa de extrema importância, podendo evitar a ocorrência das
manifestações patológicas e, consequentemente, sua degradação e comprometimento da sua vida
útil de projeto (VUP).
Segundo a ISO 15686:2011 [5] degradação é considerada a mudança na composição (propriedades)
de um componente ou de um material usado, provocando a sua redução ou perda de função. Sendo
assim, a degradação pode ser expressa como um par ação-reação, podendo estar relacionada com
agentes ambientais ou com anomalias construtivas [6]. Para avaliação e determinação do grau de
degradação é necessário analisar a fundo as manifestações patológicas, tendo em vista que a
exposição aos agentes degradantes gera alterações nas características do elemento [7].
Nesse contexto, a termografia vem se destacando como grande aliada na detecção de falhas futuras;
sendo uma técnica simples, baseada no princípio da emissão de energia do material, representada
em imagens que são traduzidas em regiões de calor diferenciadas [8]. Resumidamente, este
instrumento faz com que seu operador analise, através da emissão de radiação térmica, as diferenças
de temperatura numa determinada área, auxiliando o mapeamento da deficiência de estanqueidade
([9], [10])
O uso da câmera termográfica é interessante por ser eficiente e enquadrar-se como ensaio não
destrutivo (END). A emissividade pode ser destacada como fator importante nas medidas
termográficas [11], a câmera termográfica possui detectores de infravermelho que convertem a
radiação em sinal elétrico, exibindo o resultado através de imagem térmica ou termograma com as
distribuições das temperaturas superficiais de um corpo, correspondendo cada cor a um
determinado intervalo de temperatura.[9]
Entretanto, a variação dos ângulos, no seu manuseio, causa grande distorção nos valores de
emissividade e, consequentemente, na qualidade dos termogramas gerados, sendo ideais para a
coleta de imagens os ângulos do intervalo entre 0° e 20°, pois estes mostram com melhor precisão, e
sem interferência de corpos celestes, as diferenças de temperatura do objeto em análise [12].
No que se refere às análises dos termogramas obtidos, existem muitas ferramentas passíveis de
serem empregadas e, nesse estudo, será avaliado o emprego do Método de Mensuração da
Degradação. (MMD) [13] a fim de se obter o grau de degradação que possibilitará o
acompanhamento qualitativo e quantitativo da incidência da umidade e seu comprometimento na
durabilidade dos revestimentos argamassados nos elementos verticais, bem como propor
intervenções preventivas e corretivas mais programadas.
Finalmente, este trabalho tem como objetivo, capturar da radiação térmica emitida pelos corpos,
usando a câmera termográfica, a avaliar as áreas afetadas da região de estudo, com base nos
termogramas gerados, quantificar o grau de degradação nos revestimentos argamassados, causado
pela estanqueidade deficiente.

2. METODOLOGIA
Este estudo baseou-se na avaliação das fachadas de em um edifício residencial, que possui 13
pavimentos tipo (composto por 8 apartamentos por andar) mais 3 andares de garagem, sendo 2
situados no subsolo, como mostrado na Figura 1. Os apartamentos possuem dois quartos, um
banheiro, sala conjugada com cozinha, área de serviço e sacada, com padrão de acabamento baixo e
fazem parte do Programa Minha Casa Minha Vida, do Governo Federal. Suas características
constritivas resumem-se a um edifício construído em estrutura de concreto armado e fechamento em
alvenaria cerâmica com revestimento argamassado, e possui uma idade aproximada de 5 anos.

Fig. 1: Fachada do edifício estudado. Fonte: os autores.

Salienta-se que a fachada principal está voltada à posição norte, na cidade de Juiz de Fora (zona da
mata mineira), que possui clima tropical de altitude segundo classificação do Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET), ou seja, verão com elevados índices de calor e umidade; a temperatura
média anual é de 20,1°C e uma pluviosidade média de 1504 mm. A Figura 2 mostra a localização
do empreendimento no mapa da cidade, que se localiza na região leste da cidade, numa zona
essencialmente residencial e de baixa agressividade ambiental.
Fig. 2: Regiões da cidade de Juiz de Fora e Bairro onde de localiza a edificação em. Fonte: adaptado do
google maps.
Adotaram-se os procedimentos descritos a seguir a fim de minimizar possíveis erros:
i) Inicialmente efetuou-se uma revisão bibliográfica acerca do uso da câmera termográfica,
para possibilitar na inspeção com boa identificação dos pontos mais críticos da obra,
tomando, também, como observação reclamação dos moradores sobre infiltrações nas
fachadas.
Adotou-se a metodologia baseada na captura dos termogramas [12], possibilitando escolher os
melhores ângulos de captura. As imagens foram feitas em sequência durante uma semana, e a
variação climática entre os dias de estudo pôde ser considerada desprezível, tendo em vista a baixa
variação térmica e de umidade, a temperatura média foi de 23°C e a umidade relativa estava em
torno de 26%.
Para realização das fotografias foi usada a câmera do modelo FLIR ONE: Thermal Imaging Camera
for Apple, que oferece uma série de filtros de contraste, que explicitam os pontos com diferença de
temperatura, fazendo um mapa da fachada como mostra a Figura 3.

ii) Salienta-se que a coleta de dados foi executada segundo os parâmetros descritos a seguir:
primeiro a coleta de dados foi realizada por andar; a câmara foi posicionada a uma distância
de 5 metros em relação à fachada e de 1,45 metros em relação ao piso. No que se refere a
inclinação da máquina, adotou-se as informações fornecidas por [12], ou seja, os ângulos
verticais entre 0° e 20°, tendo em vista que os autores analisaram as variações de ângulo e
verificaram que em angulações onde a câmera está com mais de 20° a coleta dos dados é
prejudicada pela emissividade de corpos celestes.
Fig. 3: Modelo de termograma usado. Fonte: os autores.

iii) Após o término da coleta de dados (fotos e termogramas), com o auxílio do software
Autodesk AutoCad, as imagens foram sobrepostas por um desenho esquemático como
mostrado na figura 4. A imagem ortogonalizada permitiu obter a área afetada com maior
precisão através das figuras formadas nas diferentes cores do termograma.

iv) Em seguida determinou-se o grau de degradação da área afetada adaptando-se o modelo


proposto por [13], obtendo-se o fator de dano (FD), que permite mensurar o grau de
degradação da amostra em relação ao todo. Desse modo o somatório da área das regiões
degradadas (que possui coloração escura) é dividida pela área total da amostra analisada
(figura total), conforme apresentado na equação 1.

(1)

Onde: FD = Fator de Dano;


AD = Área afetada de coloração mais escura dada no termograma;
AT = Área total da amostra.
Fig. 4: figura demonstrativa do auxílio do software AutoCad na obtenção do esquema 2D. Fonte: os
autores

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A figura 5 apresenta algumas imagens das regiões estudadas, onde se verifica nos termogramas
(coluna B) os contrastes das regiões afetadas pela presença de umidade; estes auxiliam a
visualização da mudança na temperatura, causado pela presença de água na vedação da fachada,
quando sua estanqueidade está comprometida.
Com o emprego dos termogramas elaborou-se, através do software AutoCad, como mostrado nas
Figuras 5 (coluna C) a área no qual o espectro possui coloração mais escura, ou seja, a área
degradada.
Observa-se uma diferença de emissividade mais intensa nas paredes onde há incidência direta de
chuva, vide figura 5 (I-B) e 5 (III-B); nessas regiões quando há deficiência do quesito estanqueidade
é eminente as manifestações patológicas. Em regiões de fachada dos cômodos de área molhada
(banheiro, cozinha e área de serviço) o contorno das áreas afetadas é ainda mais visível, como
podemos ver na figura 5 (II-B), mostrando que no local há infiltração interna do sistema hidráulico.
A câmera termográfica mostrou-se, então, grande parceira na detecção prematura dessas patologias.
Constata-se que mesmo em locais “escuros”, com pouca luminosidade natural, como mostrado na
figura 5 (III-A), onde a análise a olho nu é pouco efetiva, a câmera termográfica mostrou-se
eficiente para apontar a área de degradação do sistema de vedação, como mostra a figura 5 (III-B).
No estudo do Grau de Degradação, através do Método de Mensuração da Degradação (MMD)
(Santos et al (2018)) calculou-se o fator de dano das fachadas analisadas conforme apresentado na
equação (1); os resultados obtidos nas imagens da Figuras 5 estão apresentados na Tabela1gina.
A B C
Área estudada Termograma da área estudada Diagrama da área estudada

II

III

Fig. 5: Exemplos de áreas analisadas segundo a metodologia empregada. Fonte: os autores


Analisando a Tabela 1, verifica-se que a elevada presença de água nas paredes da edificação, em
alguns casos, acima da metade da área total estudada.
Tabela 1- Cálculo do fator de dano das amostras analisadas.
Fachada Àrea degradada Área total Fator de Dano

Exemplo 1 8,76 22,08 0,39


Exemplo 2 3,61 15,22 0,23
Exemplo 3 17,55 33,35 0,52

Cumpre esclarecer que a metodologia proposta mostrou-se adequada visto que em regiões onde
ocorreu uma manutenção corretiva ineficiente (vide Figura 6), ou seja, repintura, visualmente não
apresentava alterações na argamassa de revestimento e, através do emprego da câmera termográfica
foi possível visualizar diferença na emissão de radiação dos materiais e, consequentemente,
representar a área afetada.

Fig. 6: Região recentemente pintada. Fonte: os autores.

4. CONCLUSÕES
Conclui-se então que a câmera termográfica se mostrou com resultados satisfatórios quando
analisamos fachadas, bem como a metodologia adotada para avaliar o grau de degradação da área
estudada. Para bom resultado dos dados coletados, torna-se necessário tomar cuidado com objetos
que estejam mais quentes por perto (como, por exemplo, pessoas e carros), tendo em vista que estes
podem emitir uma radiação maior, que alterar a qualidade do termograma.
Ainda neste contexto, a metodologia de coleta é essencial para uma boa análise posterior. Salienta-
se que foi possível o uso dos melhores graus de inclinação, neste estudo, por peculiaridades da
edificação em questão. No caso de fachadas mais altas torna-se necessário o uso dos demais graus,
mesmo que estes comprometam a qualidade do termograma. Entretanto, quando o grau de
inclinação for muito elevado e a ortogonalização da imagem não for simples, recomenda-se além do
método apresentado por este trabalho, fazer um gradeamento como proposto por Silva (2014), o
qual seria necessário sobrepor uma malha de dimensões X e Y que ajudará na melhor mensuração
das áreas afetadas.
Entre as principais manifestações patológicas que apareceram no edifício estudado destacam-se
manchas, fissuração, destacamento do revestimento argamassado, e presença de matéria orgânica.
As regiões mais atingidas são as fachadas dos cômodos de área molhada, e as que recebem chuvas
direcionadas. Além dos efeitos climáticos, constatou-se uma falha de projeto, pelo fato de ter usado
uma argamassa de traço pobre. A termografia possibilitou a verificação dos pontos com maior dano,
o fator de degradação da fachada informou, então, o quão comprometida está a estrutura analisada.
Em resumo, apresenta-se uma forma mais simplificada de fazer essa análise, de modo que possa
fazer as ações preventivas, evitando futuros sinistros de comprometimento de estrutura, e causando
menos desconforto ao usuário da edificação.

5. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG pelo apoio financeiro para execução da pesquisa. (Projeto:
APQ-03068-17)

REFERÊNCIAS

[1] SABBATINI, F. H. Patologia das argamassas de revestimento – aspectos físicos, In: Simpósio Nacional de
Tecnologia da Construção, 3, São Paulo, Anais... São Paulo: EPUSP, p. 69-76. 1986.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. NBR 13529: Revestimento de paredes e tetos de
argamassa inorgânicas, Terminologia. Rio de Janeiro: ABNT, 1995.
[3] SILVA. C. S. C. C., CAMARINI. G. Patologias e Argamassas: Um Estudo em Habitações para Estudantes No Brasil.
4th INTERNATIONAL CONFERE ON STRUCTURAL DEFECTS AND REPAIR: 4° CINPAR, 2008 –
Universidade Aveiro. Portugal. 2008
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. NBR 15.575: Edificações Habitacionais – Desempenho.
4 ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2013.
[5]ISO 15686:2011, “buildings and constructed assets- Service life planning – Part 1: General Principles. Geneva:
International Organization for Standartdization.
[6] FLORES-COLEN, I. S., Metodologia de avaliação do desempenho em serviço de fachadas rebocadas na óptica da
manutenção predictiva. Tese de doutorado, Universidade técnica de Lisboa – Instituto Superior Técnico, 2009.
[7] SILVA, M. N. B., “Avaliação quantitativa da degradação e vida útil de revestimentos de fachada – aplicação ao caso
de Brasília, Tese de Doutorado, Universidade de Brasília, 2014.
[8] BAUER, E., AIDAR, L., MILHOMEM, P. Análise das possíveis variações nos termogramas provocadas por
alterações no ângulo de obtenção das imagens. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE PATOLOGIA DAS
CONSTRUÇÕES (CBPAT), 2018, Campo Grande. Anais 2018, p.1-10.
[9] SILVA. D. D. S., Diagnósticos de patologias em fachadas utilizando termografia, Universidade do Porto, 2012.
[10] CORTIZO, E. C. Avaliação da técnica de termografia infravermelha para identificação de estruturas ocultas e
diagnóstico de anomalias em edificações: ênfase em edificações do patrimônio histórico, 2007. Tese (Doutorado em
Engenharia Mecânica) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica, Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte, 2007.
[11] BARREIRA, E., FREITAS, S. S., FREITAS, V. P., DELGADO, J. M. P. Q., Sensibility Analysis of the Parameters
afecting infrared termal images for the evaluation of building pathologies. Defect and diffusion fórum vol 353
(2014) pp 23-27 online: 2014-05-21.
[12] CRUZ, A. F. R., ROSSE, V. J. O., BARBOSA, M. T. G., A importância do emprego da termografia na avaliação da
vida útil de fachadas. In SIMPOSIO INTERINSTITUCIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE
CONSTRUIDO (SINTAC), 2018, Juiz de Fora, 2018.
[13] SANTOS, D. G; MACÊDO, M. S. P. H; SOUZA. J. S; BAUER, E. Aplicação do método de mensuração da
degradação (MMD) na distribuição de ocorrências de danos de um edifício em Brasilia. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES (CBPAT), 2018, Campo Grande. Anais 2018, p.1-9.
VIABILIDADE TÉCNICA E DESEMPENHO TÉRMICO DE UM MODELO
DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL CONSTRUÍDO COM ESCÓRIA
DE ACIARIA – A VILA SUSTENTÁVEL

Technical Feasibility and Thermal Performance of a Social Housing Model produced


with steelmaking slag – The Sustainable Village.

Luiza Carvalho Franco, Laís Cristina Barbosa Costa, Luana Drago Kuster, Julia Castro Mendes,
Ricardo André Fiorotti Peixoto 1
1 Universidade Federal de Ouro Preto. Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil. E-mails: luizafranco@ymail.com;
lais.cristina.costa@gmail.com; luanadkuster@gmail.com; jcmendes.eng@gmail.com; ricardofiorotti@ufop.edu.br

Resumo: Um dos maiores desafios nos países em desenvolvimento é o déficit habitacional


significativo, que afeta principalmente as famílias de baixa renda. Este cenário está infelizmente
associado ao aumento da urbanização, à baixa qualidade de construção e ao consequente alto consumo
de energia. Nesse sentido, o presente trabalho divulga o projeto e avaliação térmica de casas
unifamiliares projetadas com princípios bioclimáticos a climas tropicais - o complexo Vila
Sustentável. O projeto arquitetônico de cada unidade de 2 quartos engloba medidas de acessibilidade
e estratégias bioclimáticas para eficiência energética, como: aberturas para ventilação cruzada natural,
orientação solar ideal, um novo sistema de aquecimento de água, design para efeito chaminé, entre
outros. O sistema de vedação incorpora uma abordagem inovadora - em todas as matrizes cimentícias
(concretos, argamassas e peças pré-moldadas) os agregados naturais foram completamente
substituídos por escória de aciaria, proveniente da fabricação de aço. Esses elementos de construção
foram caracterizados fisicamente e termicamente. Em seguida, o desempenho térmico deste projeto
foi avaliado por meio de uma simulação térmica utilizando o software EnergyPlus. Os resultados
indicaram que os elementos de construção produzidos com escória de aciaria apresentaram melhor
desempenho térmico que os convencionais. Nesse sentido, a Vila Sustentável é uma alternativa
promissora de habitação social para os países tropicais. Busca reduzir a privação social, melhorando
o conforto térmico dos ocupantes, bem como mitigar os impactos ambientais do depósito de resíduos
siderúrgicos.

Palavras-chave: Desempenho Térmico, Habitação de Interesse Social, Reuso de Escória de Aciaria,


Simulação Térmica, Arquitetura Bioclimática.

Abstract: One of the biggest challenges in developing countries is the significant housing shortage,
affecting mainly low-income families. This scenario is unfortunately associated with increased
urbanization, poor construction quality and consequent high energy consumption. In this sense, the
present work discloses the design and thermal evaluation of single-family houses designed with
bioclimatic principles for tropical climates - the Sustainable Village complex. The architectural layout
of each 2-bedroom unit includes accessibility measures and bioclimatic strategies for energy
efficiency, such as: openings for natural cross ventilation, ideal solar orientation, chimney design,
among others. Also, the envelope incorporates an innovative approach - in all cement matrices
(concretes, mortars and precast elements) the natural aggregates were completely replaced by
steelmaking slag. These building elements were physically and thermally characterized.
Subsequently, the thermal performance of this project was evaluated through a thermal simulation
software, EnergyPlus. The results indicated that the building elements produced with steel slag
presented better thermal performance than the conventional ones. In this sense, the Sustainable
Village is a promising alternative of social housing for tropical countries. It seeks to reduce social
deprivation by improving the thermal comfort of the occupants, as well as mitigating the
environmental impacts of the deposits of steel waste.

Keywords: Thermal Performance, Affordable Housing, Reuse of Steelmaking Slag, Thermal


Simulation, Bioclimatic Design.

1 INTRODUÇÃO
Em 2014, o déficit habitacional do Brasil correspondia a 6 milhões de moradias, das quais 84% são
de famílias de baixa renda [1]. Esses números representam a grave privação social sofrida pelas
famílias nos países em desenvolvimento, bem como sinalizam a crescente demanda por habitação
social de qualidade e economicamente viável [2].
Neste sentido, construir novas casas para resolver o déficit habitacional não é suficiente. É necessário
projetar as construções considerando o ciclo de vida do edifício, particularmente no tocante à
eficiência energética, à energia incorporada, à manutenção e à saúde dos ocupantes [3] [4]. Um dos
aspectos mais importantes em relação ao bom desempenho de um edifício é o seu balanço térmico
[5]. Nos Estados Unidos, equipamentos para aquecimento e resfriamento artificiais do ambiente são
responsáveis por 48% da energia consumida nas residências [6]. No Brasil, as residências são
responsáveis por 29% do consumo de energia elétrica [7].
Neste cenário, a arquitetura bioclimática é um conceito de design que harmoniza a construção com
as condições climáticas para melhorar a eficiência energética e o conforto térmico. Assim, um balanço
adequado entre ventilação, estratégias de aquecimento/resfriamento e incidência solar no sistema de
vedação permite a redução do consumo de energia [8]. O sistema de vedação, ou envelope, do edifício
é um dos sistemas mais críticos em relação à eficiência energética. [9] [10]. Os materiais desse sistema
separam e controlam o fluxo de energia entre os ambientes interno e externo de um edifício. E
argamassas e concretos são alguns dos materiais mais utilizados na construção de envelopes.
As propriedades térmicas de matrizes cimentícias são influenciadas por diversos fatores, por exemplo:
porosidade, tamanhos de poros, teor de umidade, relação a/c, tipos de aditivos, composição e
quantidade de agregados [11] [12]. O mundo consome 45 bilhões de toneladas de agregados a cada
ano [13]. Neste cenário, uma solução sustentável seria incorporar resíduos como materiais de
construção em substituição de agregados [14].
Em 2015, para cada tonelada de aço bruto fabricada no Brasil, 594 kg eram subprodutos; 28% destes
sendo escória de aciaria [15]. Processando adequadamente o resíduo, concretos, pré-moldados e
argamassas com agregados de escória podem atingir propriedades físicas e mecânicas equivalentes
ou superiores às convencionais [16] [17] [18] [19]. Eles também apresentam durabilidade adequada
frente agentes agressivos [20] [18] e sua viabilidade econômica foi investigada, obtendo resultados
promissores por Gonçalves et al. [21].
Portanto, visando disseminar a ideia de que é possível alcançar moradias de alta qualidade com
impacto ambiental reduzido, o presente trabalho avalia o desempenho térmico de um novo protótipo
de habitação social produzido com matrizes cimentícias sustentáveis. Os concretos, argamassas e
blocos de alvenaria são inteiramente fabricados com agregados (miúdo e graúdo) de escória de
aciaria. Nesse sentido, apresentamos inicialmente o projeto arquitetônico dessa habitação social,
elaborado com conceitos bioclimáticos para climas tropicais. Posteriormente, seu desempenho
térmico é avaliado em comparação com um modelo convencional com agregados naturais.

2 METODOLOGIA

2.1 Projeto da Vila Sustentável


Inicialmente, foi desenvolvido um novo conceito de habitação social adaptado para climas tropicais.
Destina-se a uma família de 1-4 ocupantes. Para o projeto, os critérios estabelecidos buscaram
associar aspectos de habitabilidade, sustentabilidade, acessibilidade e manutenção destes edifícios. O
projeto arquitetônico foi idealizado com princípios bioclimáticos relacionados ao conforto térmico de
futuros ocupantes com consumo mínimo de energia. As casas são feitas de alvenaria estrutural, um
dos métodos construtivos mais utilizados em habitações sociais brasileiras.
Este projeto engloba quatro casas organizadas em dois pares de unidades geminadas. O complexo é
chamado Vila Sustentável e está situado na cidade de Ouro Preto, Brasil. A Fig. 1 apresenta a visão
panorâmica do complexo habitacional.

Fig. 1 - Maquete virtual do complexo da Vila Sustentável

2.2 Materiais de Construção


O diferencial deste protótipo é que todos os agregados dos concretos, argamassas e blocos de
alvenaria são totalmente substituídos por escória de aciaria. Para fins de comparação, elementos com
agregados naturais também foram caracterizados. A ArcelorMittal Brasil forneceu a escória em
frações miúda e graúda dos processos de arco elétrico (AE) e Linz-Donawitz (LD).
A composição química média das escórias, obtida por fluorescência de raios-X (XRF), é mostrada na
Tabela 1. A Difração de raios X (XRD) indicou que os principais minerais constituintes são wustita,
calcita, brownmillerita e larnita. Nenhum composto químico nocivo foi observado. Quanto à análise
ambiental, as escórias de aciaria são classificadas pela NBR 10004 [22] como classe II-A, não
perigosas e não inertes. Portanto, elas não apresentam características perigosas como corrosividade,
reatividade, toxicidade, patogenicidade ou inflamabilidade.
Tabela 1 - Caracterização química das escórias de aciaria
Óxido CaO FeO SiO2 MgO MnO Al2O3 P2O5
AE-P 34.10% 33.00% 16.50% 7.30% 6.10% 3.20% 1.10%
LD-P 40.30% 28.30% 10.60% 8.50% 5.00% 3.10% 1.90%

O resíduo foi processado por separação magnética e intemperização para reduzir seu teor metálico e
a quantidade de óxidos expansivos. Suas características estão presentes na Tabela 2, juntamente com
as de agregados naturais para fins de comparação. Os agregados de escória de aciaria apresentam
maior massa específica e unitária devido à sua composição química. Após o processamento, o teor
metálico final foi inferior a 1% para todos os agregados, o que é considerado um valor adequado para
materiais de construção [19]. As escórias de aciaria LD e AE processadas são doravante denominadas
LD-P e AE-P, respectivamente.
Tabela 2 - Caracterização física dos agregados

Agregado Miúdo Agregado Graúdo


Propriedade
AE-P LD-P Areia Natural AE-P LD-P Brita de Gnaisse
Massa Unitária (g/cm³) 1.86 1.85 1.52 1.85 1.74 1.4
Massa Específica (g/cm³) 3.13 3.03 2.6 3.59 3.32 2.68
Diâmetro Máximo Característico (mm) 9.5 4.8 4.8 19 12.5 25
Módulo de Finura 3.82 2.5 2.5 6.1 6.0 7.2

As argamassas utilizaram cal hidratada e cimento Portland de alto forno (CP III), devido às suas
vantagens ambientais, baixo calor de hidratação e maior resistência para ambientes agressivos. Os
traços adotados foram de 1:1:6 (cimento: cal: agregado miúdo em volume) para as argamassas de
revestimento e 1:3 (cimento: agregado miúdo) para as de assentamento. O fator água/ligantes foi
determinado por um índice de consistência fixo de 260 ± 5 mm. O concreto moldado in loco, utilizado
para a fundação em radier e para as lajes, foi projetado para uma classe de resistência de 15 MPa.
Empregou também cimento Portland de alto forno (CP III).
Para os elementos pré-moldados (blocos de concreto e pavimentação), foi adotado cimento Portland
de alta resistência inicial (CPV), devido à necessidade de rápida desforma. Os blocos de alvenaria
pré-moldados foram projetados para resistência à compressão de 6 MPa. Sua resistência, propriedades
físicas e dimensões (14×19×29 cm) estão de acordo com a NBR 6136 [23].

2.3 Caracterização térmica dos materiais de construção


A simulação térmica requer a massa específica, o calor específico e a condutividade térmica dos
elementos do sistema de vedação. Os parâmetros dos materiais de construção convencionais foram
obtidos a partir de valores de referência da norma brasileira NBR 15220 [24]. Por sua vez, a
condutividade térmica e massa específica das matrizes cimentícias de escória de aciaria foram obtidas
experimentalmente.
A massa específica foi obtida por um picnômetro de hélio tipo Ultrapycnometer 1000 da
Quantachrome Instruments. O resultado é a média de 15 medidas à temperatura ambiente.
Finalmente, a condutividade térmica foi medida pelo método dos quadrupolos térmicos utilizando um
modelo de difusor térmico QuadruFlash 1200 da ProtoLab.
2.4 Simulação térmica
O desempenho térmico da habitação social foi determinado através de simulação computacional no
software EnergyPlus 8.6. Três simulações foram realizadas: uma com os elementos construtivos de
agregados de escória de aciaria LD-P; uma com escória de aciaria AE-P; e a terceira simulação com
agregados naturais, para referência. A Fig. 2 apresenta o modelo analisado.
A Tabela 3 apresenta os critérios de desempenho térmico estabelecidos pela norma brasileira NBR
15575 [5] para a zona bioclimática onde a Vila Sustentável será construída – Zona 3. Essa
metodologia não considera a presença de fontes internas de calor (por exemplo, ocupantes, lâmpadas,
equipamentos em geral), nem qualquer sistema de ventilação, procurando isolar os efeitos dos
elementos de construção. O nível de desempenho é calculado de acordo com as diferenças entre as
temperaturas de bulbo seco do ar interno e externo. Embora este método seja simplificado demais
para avaliar com precisão o conforto humano [25] ou o comportamento dos ocupantes [26], ele é
adequado para avaliar o desempenho dos nossos diferentes materiais.

Fig. 2 - Volumetria das unidades geminadas simuladas

Tabela 3 - Requerimentos normativos para desempenho térmico na Zona Bioclimática 3 (ABNT, 2013)

Nível de Desempenho Critérios de Inverno Critérios de Verão


Mínimo (M) Timin
≥ Te min
+ 3°C Timax ≤ Temax
Intermediário (I) Timin ≥ Temin + 5°C Timax ≤ Temax - 2°C
Superior (S) Timin ≥ Temin + 7°C Timax ≤ Temax - 4°C
Timin é a temperatura mínima do ar dentro da edificação (°C)
Temin é a temperatura mínima do ar fora da edificação (°C)
Timax é a temperatura máxima do ar dentro da edificação (°C)
Temax é a temperatura máxima do ar fora da edificação (°C)

Alguns dos parâmetros e hipóteses adotados na simulação, estabelecidos pela norma de desempenho
brasileira NBR 15575 [5], foram:
• O modelo no software foi orientado conforme a implantação real.
• A simulação utilizou o arquivo meteorológico para a cidade de Belo Horizonte, Brasil, uma
vez que os dados de Ouro Preto não estavam disponíveis. As cidades ficam a
aproximadamente 110 km de distância e pertencem à Zona Bioclimática 3.
• A simulação considerou as semanas mais quente e mais fria do ano, respectivamente, de 21 a
27 de novembro e de 28 de julho a 3 de agosto.
• Todos os cômodos foram simulados como zonas térmicas diferentes. No entanto, apenas os
resultados dos ambientes de permanência prolongada (quartos e sala) foram avaliados [5].
• O modelo "ZoneVentilation" foi adotado com módulo de ventilação natural e taxas específicas
de renovação de ar de acordo com as especificações da norma [5]. Foram considerados dois
parâmetros de ventilação: 1 ach e 5 ach (renovações de ar por hora).
• Por sua vez, o modelo “ZoneVentilation: WindandStackOpenArea” foi usado para simular o
efeito chaminé na sala de estar. O nível de pressão neutro foi adotado 0,25 m acima do topo
da casa.
• A janela responsável pelo efeito chaminé foi considerada aberta das 12:00 às 18:00, todos os
dias. No verão, uma fração de 0,5 foi aplicada, alterada para 0,1 no inverno.
• Em relação às condições de sombreamento, não foi considerada proteção contra a radiação
solar nas aberturas.
• A massa específica, o calor específico e a condutividade térmica das matrizes cimentícias
convencionais e outros materiais de construção (ex. madeira, piso cerâmico e vidros) foram
obtidos da NBR 15220 [24].
• A massa específica e a condutividade térmica experimentais das matrizes à base de escória
foram utilizadas. O calor específico foi adotado como o mesmo das argamassas e concretos
convencionais.
• A absortividade da radiação solar das superfícies expostas foi definida de acordo com a cor e
características das superfícies externas da fachada. As paredes são pintados de branco
(α = 0,3), enquanto a laje de concreto é pintada de cor escura (α = 0,7).

3 RESULTADOS

3.1 Projeto da Vila Sustentável


O modelo conceitual da habitação social compreende dois pares de casas geminadas, com 45,7 m²
cada. Cada casa tem 1 sala de estar, 1 cozinha, 1 banheiro, 2 quartos e 1 lavanderia ao ar livre. O
projeto arquitetônico concentrou as áreas úmidas em um único núcleo, visando facilidade de
construção e manutenção.
O sistema construtivo proposto para as casas é a alvenaria estrutural, um método racionalizado. Ao
utilizar este sistema, é possível reduzir o desperdício de material, otimizar o processo de execução e
aumentar a durabilidade do edifício [27]. O projeto arquitetônico, portanto, considerou as prescrições
de modulação de alvenaria, seguindo a dimensão dos blocos. A Tabela 4 apresenta detalhes do sistema
de construção em cada cômodo, detalhando o sistema de piso, parede e teto. A Fig. 3 mostra a planta
baixa e a seção transversal resultante.
Tabela 4 - Detalhes dos sistemas construtivos em cada cômodo

Sistema de Piso Sistema de Parede Sistema de Cobertura

A alvenaria* é pintada com tinta


colante com 4 mm de espessura
Radier de concreto de 20 cm de

Pérgula de concreto descoberta


assentado com uma argamassa

espessura; impermeabilizada e
azulejos cerâmica 20 × 20 cm,

coberto com um telhado verde


espessura; impermeabilizado;

Laje de concreto de 15 cm de

Laje de concreto de 15 cm de
espessura; impermeabilizada
revestido com piso cerâmico
tipo PEI5, atomizada, 31×31

A alvenaria* é revestida por


látex para interiores em cor
cm, em cor cinza claro. O
revestimento cerâmico é

branco gelo

cor branca
Cômodo

Corredor X X X
Sala de Estar X X X
Cozinha X X X
Banheiro X X X
Lavanderia X X X
Quarto X X X
Garagem X
* Alvenaria em blocos de concreto, 14×19×29×2,5 cm (largura x altura x comprimento x espessura), revestidos em
cada lado por chapisco e reboco (total 2,5 cm de espessura) e assentados com argamassa de espessura 1 cm.
** No interior, a laje é revestida com argamassa de revestimento e pintada com tinta látex branca, sem forro.

A possibilidade de ocupação por pessoas com baixa mobilidade (incapacidade física e idosos)
também foi prevista. Nesse sentido, todas as áreas de circulação, rampas e portas possuem espaço
suficiente para giro e dimensões adequadas para uma cadeira de rodas, conforme contemplado pela
norma brasileira NBR 9050 [28]. Além disso, o banheiro possui louça sanitária adaptada (tipo e
tamanho) e contém barras de apoio.
Buscando uso eficiente da luz natural e ventilação, foi estudada a implantação mais adequada da
habitação social. Parâmetros geométricos foram considerados de acordo com a trajetória solar ao
longo do ano na cidade de Ouro Preto, mostrada na Fig. 4.
A insolação de cada fachada foi estudada, buscando promover o melhor desempenho do edifício.
Neste sentido, as fachadas norte e sul foram mantidas sem aberturas e pintadas de branco devido ao
seu maior isolamento solar. A fachada norte foi escolhida para a instalação do sistema de tubulação
de aquecimento de água dentro da laje de concreto do telhado, pois tem a maior incidência solar na
maioria dos meses. A fachada sul é coberta por um telhado verde, formando um painel frio.
Em resumo, a orientação do edifício é definida no eixo norte-sul, e as aberturas estão concentradas
nas fachadas leste e oeste. Esta configuração permite a utilização do edifício por períodos mais longos
sem iluminação artificial. Devido à insolação da tarde, um brise e vegetação são propostos na fachada
oeste para reduzir o ganho excessivo de calor.
O telhado verde tem o objetivo de controlar o gradiente térmico dentro da habitação. Localiza-se
sobre os quartos e compreende: uma membrana impermeável, barreira de raiz, camada de drenagem,
substrato e manto de vegetação. O telhado verde tem uma espessura total de 15 cm (10 cm de solo
sobre 5 cm de camadas de impermeabilização e drenagem).

a)

b)
Fig. 3 – Planta Baixa (a) e Seção Transversal (b) da Vila Sustentável

Fig. 4 - Comportamento da trajetória solar


A direção predominante do vento na região foi investigada para permitir a livre circulação do ar
natural, mostrada na Fig. 5a. A direção predominante do vento é o eixo noroeste-sudeste, com uma
velocidade média entre 5,0 e 5,5 m/s. [29]. A partir destes dados, foi tomada a decisão de colocar as
aberturas nos lados opostos da casa na direção predominante, o que permitiu a maximização da
ventilação natural.

a)

b)
Fig. 5 - Ventilação da habitação: a) ventilação cruzada natural; b) efeito chaminé
Além disso, uma janela localizada na parede superior da sala gera um efeito chaminé, mostrado na
Fig. 5b. Os dois sistemas de telhado diferentes e a radiação solar originam um gradiente térmico entre
a laje de concreto quente (fachada norte) e o telhado verde fresco (fachada sul), promovendo a
ventilação natural. No inverno, esta janela alta está prevista para ser fechada na maior parte do dia,
criando um ambiente quente devido à transferência de calor pela laje quente. Simultaneamente, o
telhado verde cria uma camada de isolamento térmico evitando a dispersão de calor pelo telhado.

3.2 Caracterização térmica dos materiais de construção


A Tabela 5 apresenta as propriedades térmicas dos materiais de construção. Ela mostra os parâmetros
medidos (massa específica e condutividade térmica) e os valores adotados das normas (calor
específico e propriedades dos agregados naturais). É perceptível que todos os concretos e argamassas
com escória de aciaria apresentaram uma condutividade térmica significativamente menor do que
suas contrapartes convencionais, apesar de serem mais pesados. A maior densidade dos blocos,
concretos e argamassas AE-P e LD-P é o resultado da maior massa específica desses agregados
reciclados, que, por sua vez, é devido à sua composição química. Observações semelhantes foram
feitas por outros autores [16] [20] [19].
Tabela 5 - Propriedades térmicas dos elementos da construção

Massa Específica Condutividade térmica Calor Específico


Elemento da Construção Especificação
(kg/m³) (W/(m.K)) (kJ/(kg.K))
Agregados Naturais 2400.0 1.75
Blocos de Alvenaria de
AE-P 2722.7 0.59 1.00
Concreto
LD-P 3029.9 0.69
Agregados Naturais 2400.0 1.75
Concreto Moldado In
AE-P 2520.9 0.42 1.00
Loco
LD-P 2506.4 0.54
Agregados Naturais 2100.0 1.15
Argamassa de
AE-P 2125.5 0.48 1.00
Revestimento
LD-P 2213.9 0.49

No tocante à condutividade térmica, o menor valor obtido para as matrizes de escória é provavelmente
um resultado da composição química das escórias e da forma das partículas. Os minerais presentes
na escória apresentam menor condutividade térmica que os de agregados naturais comuns [12].
Simultaneamente, a maior porosidade e a forma angular da escória promovem um aumento no teor
de vazios dentro da matriz [30]. Um aumento na porosidade total e uma diminuição nos tamanhos
dos poros levam a uma redução na condutividade térmica, uma relação bem conhecida para materiais
cerâmicos [31]. Esta tendência deve-se à relativamente baixa conduvidade térmica do ar (0,025
W/m·K à temperatura ambiente e livre de convecção) [24] e ao aumento do número de interfaces
geradas quando esses poros são menores [31].

3.3 Simulação térmica


A Fig. 6 apresenta as semanas modeladas. Quanto à variação de temperatura, observa-se que em
ambas as estações o quarto apresenta um comportamento mais estável em comparação às condições
da sala e do ambiente externo. Além do isolamento promovido pelos materiais do envelope, esta
tendência é provavelmente um resultado da capacidade térmica do telhado verde acima do quarto
[32].
Inversamente, a temperatura na sala de estar tende a flutuar mais de acordo com os valores externos,
especialmente nas horas entre as 12:00 e as 18:00. Este é o período em que a janela superior,
responsável pelo efeito chaminé, é aberta. O efeito chaminé foi projetado neste projeto como uma
maneira de melhorar o conforto térmico do ocupante durante o verão tropical. A simulação confirma
sua operação - as taxas de troca de ar aumentam significativamente durante as horas programadas,
diretamente proporcionais à temperatura e à velocidade do vento ao ar livre. Portanto, este esquema
de ventilação natural é capaz de promover conforto passivamente aos usuários do edifício, um dos
desafios da habitação social no Brasil [33] [3].
A Tabela 6 mostra o resumo dos resultados de todas as simulações. Percebe-se inicialmente que todas
as temperaturas internas no verão estão de acordo com os requisitos mínimos da NBR 15575 [5]. No
inverno, apenas a temperatura da sala de estar com 5 ach modelada com agregados naturais não estava
em conformidade com as especificações mínimas (Tabela 3) por uma margem estreita. Também pode
ser observado que para todas as simulações no verão e no inverno, os resultados para uma taxa de
ventilação mais alta (5 ach) não foram tão satisfatórios quanto aqueles com menor taxa de ventilação
(1 ach). Isso é provavelmente devido à contribuição da transferência de calor por convecção, que é
maior para 5 ach e, portanto, tende a equilibrar as temperaturas internas com as externas. Entretanto,
a ventilação interna observada é definitivamente maior para essa simulação.

Fig. 6 – Exemplo de resultados para ventilação e temperatura do ar nas semanas mais quente e mais fria do ano
(LD-P; 1 renovação de ar por hora).
Em todos os casos, a diferença de temperatura entre o quarto e o ambiente externo era maior do que
a diferença em relação à sala de estar. Esta é uma combinação dos efeitos de isolamento térmico do
telhado verde modelado no quarto, bem como do efeito chaminé criado propositadamente na sala de
estar, o que aumenta significativamente a convecção na última.
Tabela 6 – Resumo dos resultados de todas as simulações: temperaturas externas (T e), temperaturas internas (Ti)
e níveis de desempenho

Inverno Verão
Cômodo

Material 1 ach 5 ach 1 ach 5 ach


Temin min min
Temax max max
Ti Desemp. Ti Desemp. Ti Desemp. Ti Desemp.
Agregado Natural 14.20 I 12.86 M 26.42 S 27.57 I
Quarto

AE-P 14.96 I 13.33 M 26.74 S 28.05 I


LD-P 14.91 I 13.32 M 26.57 S 27.94 I
9.09 31.51
Agregado Natural 13.19 M 12.08 NC 30.98 M 31.01 M
Sala

AE-P 14.20 I 12.62 M 30.87 M 30.89 M


LD-P 14.12 I 12.59 M 30.86 M 30.88 M
Níveis de Desempenho: M: Mínimo; I: Intermediário; S: Superior; NC: Não-Conforme

Neste sentido, comparando os materiais do envelope, é possível observar que as matrizes cimentícias
com escória de aciaria apresentaram melhor desempenho térmico que aquelas com agregados
naturais. Entre os compósitos reciclados, aqueles com AE-P apresentaram um melhor resultado
durante a semana de verão, enquanto os materiais LD-P tiveram desempenho semelhante ou melhor
na semana de inverno. A diferença de temperatura entre os compósitos com escória e aqueles com
agregados naturais é menor entre os meses de verão (0,12 - 0,33 °C), mas atinge 1,01 °C na sala de
estar no inverno (AE-P, 1 ach). Este resultado positivo é função da menor condutividade térmica e
maior densidade dos materiais estudados.
O desempenho térmico potencialmente melhorado do envelope leva a um maior conforto térmico dos
ocupantes com menor necessidade de condicionamento artificial. Por sua vez, esse efeito pode
aumentar a saúde, a produtividade e o bem-estar dos moradores, reduzindo a privação social sofrida
pelas famílias de baixa renda em ambientes termicamente estressantes [34]. As conseqüências não
são apenas sociais, mas também econômicas e ambientais, dado o uso mais racional dos recursos por
meio de menor consumo de energia e do reaproveitamento de resíduos [4] [14].

4 CONCLUSÃO
O presente trabalho descreveu o projeto e avaliação térmica de uma casa unifamiliar adaptada com
princípios bioclimáticos a climas tropicais, a Vila Sustentável. O projeto arquitetônico de cada
unidade de 2 quartos inclui medidas de acessibilidade, instalações hidráulicas otimizadas e um
sistema de construção racionalizado, baseado em alvenaria estrutural. As estratégias passivas de
eficiência energética incluem aberturas para ventilação cruzada natural, orientação solar ideal,
aquecimento de água embutido, efeito chaminé e uma escolha adequada de materiais para o envelope
do edifício.
O sistema de vedação do edifício também incorpora uma abordagem inovadora: a substituição total
de agregados naturais por escória processada em todas as matrizes cimentícias - concretos,
argamassas e blocos de alvenaria. Através de uma simulação térmica do edifício, observou-se que
todos os testes com AE-P e LD-P alcançaram pelo menos o nível mínimo de desempenho térmico, de
acordo com o padrão brasileiro [5]. Além disso, os modelos com escória de aciaria apresentaram
melhores resultados de temperatura do que aqueles com agregados naturais.
As simulações térmicas também atestaram a eficácia do efeito chaminé projetado na sala de estar,
promovendo ventilação sem consumo de energia. Nesse sentido, a Vila Sustentável é uma alternativa
promissora para habitação social para países tropicais. O modelo proposto busca reduzir a privação
social, melhorando o conforto térmico dos ocupantes, bem como mitigar os impactos ambientais do
depósito de escórias siderúrgicas.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.

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ESTUDO DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS NAS EDIFICAÇÕES
EXISTENTES EM ÁREAS DE RISCO. ESTUDO DE CASO: BAIRRO TRÊS
MOINHOS/JUIZ DE FORA (MG)
Study of Pathological Manifestations in the Existing Buildings at Risk Areas. Case
Study: Neighborhood of Três Moinhos/Juiz de Fora (MG)

Ariel N. OLIVEIRA1, Igor MAGALHÃES2, Mário CABRAL 3, Maria Teresa BARBOSA4


1
Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil, Email: ariel.nunes@engenharia.ufjf.br
2
Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil, Email: igor.costa@engenharia.ufjf.br
3
Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil, Email: mario.cabral@engenharia.ufjf.br
4
Professora Dra., Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, Email: teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br

Resumo: A intervenção humana no município de Juiz de Fora é composta por padrões construtivos
diversificados, associados a uma topografia, algumas vezes, peculiar. Neste contexto, a classe social
mais carente classificada pelo governo (SAE - Secretaria de Assuntos Estratégicos) como
extremamente pobre e pobre, concentra-se nas regiões periféricas do município. O objetivo deste
trabalho é efetuar um estudo no Bairro Três Moinhos, localizado em Juiz de Fora – MG, concebido
na década de 1950 conforme registro na Prefeitura, onde atualmente é possível verificar a presença
de três tipos de ocupações precárias, em sua maioria: imóvel irregular, favela e cortiço. Para tanto,
serão analisadas as intervenções efetuadas até o momento, bem como avaliadas as manifestações
patológicas mais recorrentes nas edificações e no terreno, e que tendem a comprometer a
durabilidade e segurança das moradias. Espera-se que este estudo possa auxiliar os órgãos locais,
bem como os regionais e nacionais na elaboração de diretrizes que visem assegurar os requisitos
mínimos em prol da qualidade de vida dos usuários (“proprietários”) das edificações existentes nas
denominadas “áreas de risco”.

Palavras-chave: assentamento precário, durabilidade, manifestação patológica.

Abstract: The human intervention in the city of Juiz de Fora is composed by diversified
construction standards, associated to a topography, sometimes, peculiar. In this context, the most
needy social class classified by the government (SAE – Secretariat of Strategic Affairs) as
extremely poor and poor, is concentrated in the peripheral areas of the municipality. The present
study aims to evaluate the neighborhood of Três Moinhos, located in Juiz de Fora – MG, designed
in the 1950s according to records in the city hall, where currently it is possible to see three types of
precarious settlements, in the majority: irregular property, slum (favela) and tenement. Therefore, it
will be analyzed the interventions made so far, as well as the most recurring pathological
manifestations in the buildings and site, which tend to compromise the durability and safety of the
domicilies. It is expected that this work may assist local authorities, as well as regional and national
authorities, in the elaboration of standards and guidelines that aim to assure the mininum
requirements on behalf of the owners’ quality of life of the existing buildings in the denominated
“risk areas”.

Keywords: durability, pathological manifestation, precarious settlement.


1. INTRODUÇÃO
De acordo com a Prefeitura de Juiz de Fora, a história do município remete ao início do século
XVIII. Com a construção da estrada Caminho Novo, estabeleceu-se uma ligação entre o Rio de
Janeiro e as regiões das Minas, a qual passava pela Zona da Mata Mineira. A estrada Caminho
Novo trouxe benefícios, favorecendo o transporte do ouro extraído e contribuindo para uma maior
circulação de pessoas, o qual fez com que surgissem às suas margens cidades e pequenos povoados.
Nesse contexto, com o Império concedendo terras a pessoas de origem nobre, após o
desenvolvimento da região, surge a cidade de Juiz de Fora. Segundo Barbosa (2013), a
industrialização predominantemente se destacou no período de mudança do século XIX para o
século XX, no entanto, outros setores também foram importantes para o desenvolvimento da
cidade, como por exemplo, o comércio em geral e a agricultura.
O início do crescimento urbano acelerado da cidade de Juiz de Fora pode ser associado à construção
da estrada União e Indústria, em 1861 (GIROLETTI, 1988). Após a inauguração dessa estrada, a
segregação espacial característica dos dias de hoje começou a tomar forma (MIRANDA, 1990).
Barbosa (2013) acrescenta que, no processo expansivo urbano, existem diversos exemplos de
cidades em que ocupações irregulares se desenvolveram devido à escassez de moradias de baixo
padrão, cenário ocorrido também no processo de expansão de Juiz de Fora. Assim, residências
como cortiços e casebres se multiplicaram, agravando a situação de segregação, advindo daí todas
as suas consequências.
De maneira geral, os municípios brasileiros apresentam, de forma peculiar, as desigualdades e as
precárias condições de vida da população menos favorecida. Segundo classificação da SAE
(Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República), a população em condição de
pobreza e pobreza extrema é dada pela renda máxima familiar de até R$ 648,00 e até R$ 324,00,
respectivamente. A aquisição de terrenos por vias legais é uma forma que não atinge como um todo
essas classes. Além disso, a política pública de programas habitacionais é, em sua grande maioria,
insuficiente para atender a real demanda da população, sendo esta oferecida com soluções
habitacionais de qualidade duvidosa, atreladas à escassez de infraestrutura e inacessibilidade aos
equipamentos urbanos. Mediante essa situação, o acesso à moradia é viabilizado através da
ocupação de terras ociosas, implementando assentamentos precários e insalubres. Em sua grande
maioria, o emprego da autoconstrução e a ocupação de áreas remanescentes em encostas,
proporcionam áreas de risco e comprometem a segurança física dos moradores.
É importante ressaltar que a literatura apresenta conceitos variados para o termo assentamento
precário. De acordo com o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social e o
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPARDES/IPEA, 2010), “[...] a ideia de precariedade
está associada à insegurança, efemeridade e fragilidade; as ideias de pobreza e vulnerabilidade
também” (IPARDES/IPEA, 2010, p.18). Nesse sentido, a Secretaria Nacional de Habitação do
Ministério das Cidades (SNH/MCidades, 2010), divide assentamentos precários em 4 grupos,
sendo: favelas, cortiços, conjuntos habitacionais degradados e loteamentos irregulares de moradores
de baixa renda. Esses assentamentos apresentam algumas características comuns, sendo elas a
predominância de residências habitadas por moradores de classe econômica desfavorável e “[...]
irregularidade fundiária; ausência de infraestrutura de saneamento ambiental; localização em áreas
mal servidas por sistema de transporte e equipamentos sociais; terrenos alagadiços e sujeitos a
riscos geotécnicos; adensamento excessivo, insalubridade e deficiências construtivas da unidade
habitacional; [...]” (SNH/MCidades, 2010, p.9).
O não emprego de mão de obra especializada que caracteriza o empirismo no processo construtivo e
a utilização de materiais de baixa qualidade, ilustra de forma característica a precariedade das
moradias dos assentamentos. Nesse contexto, como forma de exemplificação e estudo de caso, este
trabalho tem por objetivo efetuar um estudo no Bairro Três Moinhos, localizado em Juiz de Fora –
MG, em critérios de processo de formação da região, manifestações patológicas existentes,
ocorrências segundo dados da Defesa Civil, índice pluviométrico e intervenções realizadas, de
modo a estabelecer uma síntese da atual condição do local, bem como fornecer alternativas de
melhoria para promoção de segurança e durabilidade das moradias.

2. HISTÓRICO DO BAIRRO TRÊS MOINHOS


O processo de ocupação da região de Três Moinhos, a partir da década de 1950, ocorreu de forma
suburbana, através de planos de loteamentos ou granjeamentos (MARTINS, 2001 apud. DIAS,
2017). Barbosa (2013) indica que a divisão da Fazenda do Yung (região correspondente a maior
parcela do Três Moinhos) nesses planos tinha como objetivo constituir um “bairro operário”,
reforçando a ideia existente de segregação espacial. De acordo com Martins (2001 apud. DIAS,
2017), apesar das devidas divisões de terreno para venda aos operários, não havia nenhuma obra
pública para serviços de saneamento, energia e pavimentação, corroborando para a ocupação desses
locais pela classe menos favorecida. Assim, a própria população ocupante realizava os serviços
básicos para atender a suas necessidades, naturalmente com mão de obra não especializada.
Além disso, Dias (2017) identificou, em seu estudo, que os terrenos efetivamente delimitados eram
diferentes daqueles concebidos no projeto “Granjas Três Moinhos”. O autor menciona que não
foram encontradas referências relevantes e confiáveis para esclarecer a não execução do projeto, no
entanto, ele estabelece algumas suposições:
1. Falecimento do proprietário da gleba;
2. Declividade da região;
3. Reprovação do projeto por parte do poder público (devido a conflitos com a legislação vigente).
De qualquer forma, uma vez devido ao contexto e aos fatores mencionados, a região de Três
Moinhos se constituiu, desde o início de sua formação, como uma periferia, trazendo consigo as
consequências da precária organização espacial (DIAS, 2017). Na figura 1, é possível observar onde
situa-se a região de Três Moinhos em parte da região leste da zona urbana de Juiz de Fora.
Dias (2017) ainda acrescenta que, com o desenvolvimento das famílias e o crescimento
desordenado da região,
“[...]tornaram-se muito comuns as extensões ou anexos dos im veis (popularmente
chamados “puxadinhos”), cortando ainda mais a encosta de área suscetível a
movimentos de massa. Embora muitos dos residentes tenham ciência do risco
eminente (do risco ambiental ex geno), a necessidade pela sobrevivência e
permanência no espaço urbano fa com que o local seja a nica opção de moradia
para essas pessoas.” (DIAS, 2017, p.17)
Dentro deste cenário, a partir de visita no local, encontramos alguns modelos construtivos no bairro
Três Moinhos que estarão presentes no nosso estudo, exemplificados a seguir.

Fig. 1 – Mapa de Localização do Bairro Três Moinhos – Juiz de Fora – MG/Fonte: Google Maps
(2017)
2.1. Barracos
Geralmente são construídos com sobras de vários tipos de materiais de construção, como por
exemplo madeirite (Figura 2), madeiras de desmanche de móveis, chapas de folhas galvanizadas,
telhas de fibrocimento e até mesmo lona. O piso é em terra batida e/ou cimentado, com banheiro em
anexo construído em alvenaria e, em sua grande maioria, não tem acesso ao fornecimento de
energia elétrica, água potável e rede pública de esgoto sanitário, depositando o esgoto em fossas
negras ou até mesmo a céu aberto.

Fig. 2 – Exemplo de moradia classificada como Barraco/Fonte: os autores (2017)


2.2. Baixo padrão
Construídas em sua maioria com regime de mutirão, realizados no final de semana empregando
materiais de construção de baixa qualidade que, junto ao processo empírico e a autoconstrução sem
acompanhamento nem projeto de profissional habilitado, resultam em moradias de baixa qualidade
e baixo padrão construtivo. As edificações apresentam, normalmente, características como: pouca
ou nenhuma infraestrutura, erguidas em alvenaria (lajotas cerâmicas, blocos de cimento, entre
outros), sem revestimento interno nem externo, com o pé direito indefinido e fora das normativas
vigentes, cobertura em laje (pré-moldada ou maciça), sem impermeabilização, com instalações
elétricas e hidráulicas aparentes de um ou mais cômodos, com piso cimentado e ou de restos de
revestimento cerâmico, podendo ter lançamento de esgoto sanitário na rede pública ou uso de fossa
negra (vide Figura 3).

Fig. 3 – Exemplo de moradia classificada como Baixo Padrão/Fonte: os autores (2017)

2.3. Padrão normal


Construídas através de contratação de mão de obra (Pedreiros), com emprego de materiais de
construção de baixa a média qualidade, com fundações rasas ou sapata corrida sem
dimensionamento, executado em alvenaria (lajotas cerâmicas, blocos de cimento, entre outros), com
revestimento interno e externo, com cobertura de laje impermeabilizada ou de telhas de
fibrocimento, cerâmicas ou galvanizadas, instalações elétricas e hidráulicas embutidas,
normalmente em um ou dois pavimentos, piso com revestimento cerâmico e revestimento de
paredes nas áreas molhadas. Em sua maioria, são atendidas pelas concessionárias de energia elétrica
e abastecimento de água, tendo seu lançamento de esgoto na rede pública.
Fig. 4 – Exemplo de edificação de padrão normal, de quatro pavimentos porém, sem projeto
estrutural/Fonte: os autores (2017)

3. METODOLOGIA
Nosso estudo estará focado no município de Juiz de Fora, como ilustração à realidade exposta até
aqui, concentrando-se na região periférica. A metodologia foi dividida em três etapas, a saber:
i) Primeira etapa: Estudo preliminar em três tipos de ocupação no Bairro Três Moinhos:
loteamento irregular, favela e cortiço, definidos a seguir:
a) Loteamento irregular: Tem como condicionantes a ocupação de terras ociosas,
geralmente nos finais de semana que é quando ocorre somente prestação de serviço de
fiscalização sobre regime de plantão, em encostas íngremes ou talvegues. Estas ocupações se
dão através da autoconstrução das unidades habitacionais e ausência ou precariedade de
infraestruturas básicas. O objetivo das invasões é se instalar no local para futuramente
tentarem ser regularizados perante o município através de usucapião ou até mesmo processo
de regularização.
b) Favela: É considerado um aglomerado de construções habitacionais autoconstruídas,
dispostas de forma desordenada, densos e carentes de serviços públicos. São seguramente os
mais precários de todos devido à insegurança da posse da terra, à predominância de padrões
urbanísticos de baixa qualidade, um sistema viário precário e problemas de acessibilidade.
c) Cortiço:Habitação coletiva com vários cômodos que são alugados ou cedidos servindo
cada um destes como moradia para uma família, superlotados e com instalações sanitárias de
uso comum.
ii) Segunda etapa: Após a definição e estudo preliminar dos tipos de ocupação a serem analisados,
foi realizado, em conjunto com a Subsecretaria de Defesa Civil de Juiz de Fora, um levantamento
de dados estatísticos do índice pluviométrico e das ocorrências na cidade de Juiz de Fora e no bairro
Três Moinhos e Alto dos Três Moinhos (vide tabela 1).
É possível perceber um total de 445 ocorrências em 14 anos (vide Tabela 1) e destaca-se como o
ano de maior percentual de ocorrências o ano de 2003 (3,87%) e o de menor percentual em 2008
(0,02%), conforme demonstrado na tabela 1. Não é adequado se fazer uma média de ocorrências
destes anos pois as mesmas variam de acordo com o índice pluviométrico do período, fator este que
acarretaria em um erro na análise dos dados. É importante ressaltar que o período chuvoso no
município é considerado entre os meses de outubro a abril sendo que os maiores índices de chuva
ocorreram entre novembro e janeiro (conforme registros estatísticos da Defesa Civil de Juiz de
Fora).

Tabela 1 – Número de ocorrências registradas pela Defesa Civil de Juiz de Fora de 2003 até 2016.
Quantidade de ocorrências no
Porcentagem de ocorrências Pluviometria mais alta
ANO bairro Três Moinhos e Alto dos
bairro/município no ano (mm)
Três Moinhos
2003 131 3,87% 483,2 Jan
2004 67 1,56% 444,3 Dez
2005 16 1,16% 385,6 Jan
2006 56 1,94% 300,9 Nov
2007 49 0,85% 589,2 Jan
2008 1 0,02% 480,6 Dez
2009 3 0,09% 479,3 Dez
2010 3 0,08% 472,7 Dez
2011 21 0,63% 345,4 Dez
2012 10 0,37% 397,3 Dez
2013 13 0,39% 484,0 Dez
2014 31 1,26% 206,4 Nov
2015 23 0,84% 152,2 Jan
2016 21 0,55% 327,0 Jan

Fonte: Subsecretaria de Defesa Civil de Juiz de Fora e BDMEP – INMET

iii) Estudo in loco:


Por meio de estudo in loco, foi possível coletar informações de infraestrutura e das manifestações
patológicas nas moradias, irregularidades de uso do terreno e intervenções executadas. Os
parâmetros avaliados estão descritos a seguir.
1 – Análise e levantamento por meio de visitas in loco das condições físicas no bairro com o
intuito de coletar informações da infraestrutura e das manifestações patológicas apresentadas
nas moradias caracterizando as patologias e tipologia das moradias e intervenções que
melhor atenderiam as necessidades dos moradores;
2 - Verificação da adequabilidade em qualquer terreno, agilidade na construção ou
montagem, equilíbrio entre meio ambiente e a implantação, uso de materiais das
proximidades visando à redução de custos e empirismo na execução evitando a dependência
tecnológica. Propor diretrizes de projeto que garantam as condições de segurança,
salubridade e correções das manifestações patológicas, que garantam condições de moradia
adequada;
3 - Avaliação das alterações funcionais e construtivas da área delimitada do assentamento
analisando as intervenções realizadas pelo município no bairro e, sabendo que se trata de
uma área de ocupação irregular, os fatores que englobam a regularização fundiária e o
planejamento urbano.

4. RESULTADOS
4.1. Ocorrências segundo a Defesa Civil
Tabela 2 – Principais causas de desabamento – Defesa Civil.
Principais causas de desabamento
segundo material técnico da Defesa Consequências
Civil
Atingindo o solo de alteração e outros fatores
Declividade e altura excessiva de cortes
condicionantes, a encosta fica suscetível a desabamento.
Pode gerar novas vias de condução de água levando à
Execução inadequada de aterros
ruptura do aterro e escorregamentos.
Pela ineficiência de sistema de drenagem, ocorrem
Lançamento e concentração de águas
infiltrações por trincas e fissuras, diminuindo a resistência
pluviais
do solo e provocando a ruptura de solos e aterros.
Infiltração excessiva de água no solo, agravada no período
Lançamento de águas servidas
das chuvas.
Vazamento na rede de abastecimento de Causam saturação de água no solo e redes improvisadas
água são ainda mais inadequadas.
Fossa sanitária -

Deposição de lixo -
Remoção indiscriminada de cobertura Diminui a proteção ao impacto e às infiltrações pluviais,
vegetal além de que as raízes ajudam a conter o solo.
Fonte: Defesa Civil
4.2. Análise da correlação entre índice pluviométrico e ocorrências
A partir do levantamento do índice pluviométrico e das ocorrências segundo a Defesa Civil, obteve-
se o gráfico ilustrado na figura 5 ilustrada, permitindo uma maior visualização das informações bem
como para possibilitar a correta interpretação dos dados. Assim, foi possível concluir que não há
relação direta entre a pluviometria mais alta no ano com o número de ocorrências, uma vez que há
casos em que essa relação não é respeitada, por exemplo, o ano de 2007 em que o valor de
pluviometria mais alto no ano corresponde ao maior valor em todos os anos analisados, embora o
número de ocorrências seja apenas o quarto maior. De maneira semelhante, o ano de 2003, ano com
maior número de ocorrências (131), não apresenta o maior valor anual de pluviometria. Logo, a
interpretação dos dados obtidos nos leva a crer que há mais elementos que sejam determinantes na
influência de ocorrências. Podemos propor uma suposição: a realização de intervenções, que podem
por sua vez, reduzir ou aumentar os dados de ocorrência.

Obs.: A pluviometria foi apresentada em cm para ajuste de escala e melhor visualização das informações para efeitos de comparação.

Fig. 5 – Quantidade de ocorrências e pluviometria (cm)

4.3. Assentamentos precários e intervenções


A grande maioria das moradias posicionadas na encosta se deu através da abertura de platôs,
estes executados sem critérios técnicos (escavação manual ou mecânica), cortes em seção mista
(corte e aterro lançado sem compactação) e crista do aterro e corte do talude em 90 graus. Além
disso, os acessos executados com precariedade através de trilhos e ruas estreitas, executadas
manualmente ou mecanicamente, mas de forma totalmente empírica, vieram a ser melhorados
pela Prefeitura, de forma que as ruas estreitas receberam pavimentação e nos “trilhos” foram
confeccionadas escadões. Esta ocupação foi concebida na década de 60, iniciando-se na parte
inferior do Bairro. Os integrantes desta população apresentam uma condição financeira melhor,
portanto têm um histórico de compra dos terrenos, os demais ocupantes das áreas remanescentes
possuem um histórico de situação de vulnerabilidade social. Esta área é considerada de AEIS
(Áreas de Especial Interesse Social) devido à sua implantação e a característica de
vulnerabilidade de seus habitantes.
Além disso, a base geomorfológica da localidade denota de alvéolo estrutural com vegetação na
baixada e a partir do terço médio da mesma, colina aplainada com pastagem. Pode-se verificar
nitidamente a presença de afloramentos de rocha, logo acima um extrato de solo residual jovem
recoberto por solo argilo siltoso, com presença de uma capa de solo orgânico e áreas pontuais de
acúmulo de lixo, trechos de erosão devido à insuficiência de captação pluvial ou mesmo a
inexistência desta. Há também a presença de fossas negras como principal meio de esgotamento
sanitário e vários pontos de lançamento do esgoto e água pluvial na encosta. Entre meio as
construções é presente resíduo de mata densa com árvores de grande porte, eucaliptos e árvores
nativas remanescentes da Mata Atlântica, como Embaúba, Paineiras e etc., muitos bambuzais e
vegetação de pequeno porte como Capins-Napier, Braquiária, perdurando ainda a cultura de
plantação de bananeira. Abaixo, são fornecidos alguns exemplos de intervenções efetuadas
registradas em foto.

Fig. 6 – Utilização de telas como cobertura em taludes/Fonte: os autores (2017)

Fig. 7 – Construção de muro de arrimo/Fonte: os autores (2017)

É importante ressaltar que, durante o tempo de produção deste artigo, não foi possível obter junto
ao órgão público um modelo sistematizado e cronológico das intervenções efetuadas na região dos
Três Moinhos. Por essa razão, não pode-se estabelecer de forma conclusiva uma relação entre as
intervenções em conjunto com as ocorrências e o índice pluviométrico. Ainda assim, fez-se
necessário conhecer as principais manifestações patológicas que acometem os domicílios, uma vez
que elas também fornecem informação relevante acerca das condições de moradia dos usuários.
4.4. Manifestações patológicas encontradas
No levantamento do bairro Três Moinhos realizado durante o mês de outubro de 2017, foram
selecionados e visitados 6 domicílios divididos em: 2 barracos, 2 edificações de baixo padrão e 2
edificações de padrão normal. Não existe na localidade ou não foi encontrada nenhuma habitação
de alto padrão construtivo. Nas vistorias in loco foram verificadas as seguintes manifestações
patológicas:
4.4.1. Barracos: manifestações patológicas verificadas: na cobertura infiltração e gotejamento
devido ao posicionamento e incompatibilidade das telhas utilizadas, proveniente também de furos
preexistentes, com lona plástica frágil não resistindo às intempéries. A própria cobertura por não
possuir um alinhamento correto e por ser o engradamento de madeiras variadas, não possui
parafusos ou pregos para travar as telhas que são amarradas com arame recozido em uma parte e a
outra colocada “pedras marruadas” para segurar a cobertura; ineficiência nas vedações laterais com
vazamentos em vários pontos; fechamento da entrada precário com porta de madeira produzida com
sobras; ventilação insuficiente; presença de muita umidade e mofo; inexistência de energia elétrica
e água tratada prevalecem à utilização de poço raso e energia cedida; o lançamento de esgoto é em
fossa negra e direcionamento de água pluvial a revelia.
4.4.2. Baixo Padrão: manifestações patológicas verificadas: O fechamento de alvenaria mista
(lajotas cerâmicas e blocos de cimento) apresenta-se em desaprumo; no interior são visíveis as faltas
de amarrações entre as lajotas; os vãos de portas não são contemplados com verga possuindo trincas
diagonais em 45º em ambos os lados; nas janelas não existem vergas nem contra vergas
apresentando assim trincas diagonais em 45º acima e embaixo dos vãos; nas lajes de cobertura são
visíveis às armaduras devido à corrosão, fruto de falta de cobrimento e infiltração por falta de
impermeabilização, fator este contribuinte da utilização de concreto de baixa qualidade; o
cabeamento de energia elétrica é exposto com emendas sem isolamento, cabos finos sem
especificação adequada, com vários aparelhos ligados em uma só tomada; a ligação do chuveiro
improvisada com pedaços de cabos, as instalações hidráulicas são expostas executadas com
tubulação de baixa qualidade apresentando vazamentos principalmente nos pontos de serviço
(torneiras, registro de chuveiro); infiltrações nas paredes por falta de um revestimento adequado,
presença de umidade e mofo em todas as paredes do imóvel e direcionamento de água pluvial a
revelia.

Fig. 8 – Exemplo de edificação de baixo padrão, com acúmulo de mofo em laje/Fonte: os autores
(2017)
Fig. 9 – Exemplo de edificação de baixo padrão, com concreto de baixa qualidade em pilar e
armadura exposta/Fonte: os autores (2017)

4.4.3. Padrão Normal: manifestações patológicas verificadas: mesmo sendo executadas sem
projetos e sem acompanhamento de profissional habilitado não foi detectada manifestações
patológicas e sim defeitos construtivos que somente interferem na estética. Também é isenta de
padrões como afastamento e áreas permeáveis. Estão localizadas nas áreas em níveis com cotas
inferiores em terrenos maiores e mais estáveis.

Fig. 10 – Exemplo de edificação de padrão normal, pobre em revestimento adequado/Fonte: os


autores (2017)

5. CONCLUSÃO
O Bairro Três Moinhos é caracterizado como assentamento precário e um espaço que está em
constante movimento e transformação. Assim, deve ser contemplado com urbanização e obras
estruturantes que venham a abranger esse espaço em movimento. Os agentes transformadores são os
próprios moradores, que no intuito de melhorar suas residências continuam a abrir espaços nas
encostas, além das situações de verticalização das construções do assentamento em cujo muitas
delas não possuem infra e superestrutura em condições de receber carregamento adicional, gerando
assim risco de desabamentos. Nesse caso, existem dois tipos de intervenções principais: primeiro,
uma medida extrema, que é a remoção dos tipos de moradia estudados, através de sua demolição e
realocação dos habitantes em programas habitacionais, assim como a recuperação da área
degradada, de forma a evitar novas invasões e possíveis escorregamentos, mitigar o risco do local e
potencializar melhores condições de vida para estes ocupantes. Este tipo de moradia é parte
integrante do “PAC (Programa de Aceleração do Crescimento – Ministério das Cidades), que em
seus itens financiáveis o habitacional é contemplado, pois visa à diminuição da densidade e ao
reordenamento urbano: realocação (na mesma área) ou reassentamento (em outras áreas). As outras
moradias devem receber melhores condições habitacionais como módulos sanitários e cobertura. O
segundo tipo corresponde à intervenção para a regularização e integração urbana, transformando o
assentamento em bairro, que através do PAC contemplaria a regularização fundiária e a integração
urbana visando assegurar a segurança na posse. A mesma deve ocorrer durante a execução das
obras tanto para as famílias que receberão novas unidades habitacionais, quanto para as que serão
consolidadas; deve-se também assegurar a infraestrutura básica, a contenção e estabilização de solo
para eliminação de risco, construção de equipamentos públicos e ajuste do parcelamento urbano e
ruas. Devido ao assentamento estar localizado na periferia do município e o bairro localizar-se em
uma encosta, sendo esta uma conformação de talvegue com resíduo de mata atlântica e demais itens
mencionados, cabe ressaltar que a questão ambiental também é parte integrante do PAC onde, em
seus itens financiáveis, contempla projetos ambientais visando prevenir novas ocupações em áreas
de onde as famílias foram removidas. Deve, portanto, ser dado um uso adequado considerando: o
perfil natural da área e as características urbanas e sociais da localização. Após a readequação da
estrutura do bairro, visando ao quadro de necessidades e bem estar dos moradores e, mediante os
financiamentos, deve-se propor habitações de qualidade pensando também em um espaço coletivo e
funcional. O bairro deve ser incluído no plano diretor do município e ser incorporado ao processo
de planejamento da cidade, na legislação vigente e nos planejamentos dos cadastros relativos ao
parcelamento e uso do solo urbano, para que sejam mantidas as intervenções realizadas.

REFERÊNCIAS
[1] G1 NOTÍCIAS. Disponível em: http://g1.globo.com/economia/seu-dinheiro/noticia/2013/08/veja-diferencas-entre-
conceitos-que-definem-classes-sociais-no-brasil.html. Acessado em: 01/11/2018
[2] Prefeitura Municipal de Juiz de Fora. Disponível em: https://www.pjf.mg.gov.br/cidade/historia.php. Acessado
em: 01/11/2018.
[3] BARBOSA, Yuri Amaral. O processo urbano de Juiz de Fora – MG: Aspectos econômicos e espaciais do
Caminho Novo ao ocaso industrial. Monografia apresentada ao curso de Geografia da Universidade Federal de
Juiz de Fora como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Geografia, 2013.
[4] GIROLETTI, Domingos. Industr . 1a edição, Ed. UFJF, Juiz de Fora, 1988.
[5] MIRANDA, Sonia Regina.
Mineira. Dissertação. Universidade Federal Fluminense, 1990.
[6] IPARDES/IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada/Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico
e Social. Assentamentos Precários Urbanos: Espaços da Região Metropolitana de Curitiba: Curitiba, 2010.
[7] MINISTÉRIO DAS CIDADES. Guia para o Mapeamento e caracterização de Assentamentos Precários,
primeira impressão: Maio de 2010.
[8] DIAS, Daniel da Silva. “VOU LEVANTAR O EU BARRA O” Um diagnóstico geográfico sobre as
condições de habitabilidade no espaço periférico, Três Moinhos, em Juiz de Fora - MG. Monografia apresentada ao
curso de Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) como requisito parcial para a obtenção do título
de bacharel em Geografia, 2017.
[9] Subsecretaria de Defesa Civil. Programa de Urbanização, Regularização e Integração de Assentamentos
Precários (PURI), Juiz de Fora MG, maio 2007.
[10] BRASIL. Lei N° 9811, de 27 de junho de 2000. Institui o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Juiz de
Fora.
[11] BRASIL. Lei Nº 12340, de 1 de dezembro de 2010. Dispõe sobre as transferências de recursos da União aos órgãos
e entidades.
[12] BRASIL. Lei Nº 12608, de 10 de abril de 2012. Política Nacional de Proteção e Defesa Civil.
[13] CURSO de Atualização em Gestão de Risco de Desastres, Secretaria Nacional de Defesa Civil, Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Manual do Participante, Brasília DF. 2013
[14] FILHO, A. P. Q. As definições de assentamentos precários e favelas e suas implicações nos dados
populacionais abordagem da análise de conteúdo. Urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana: set/dez 2015.
[15] GONÇALVES, Juliano Costa. Por uma verdadeira e viva Política Nacional de Proteção e Defesa Civil.
NEPED/UFSCAR 2013.
[16] JUIZ DE FORA. Lei nº 6908, de 31 de maio de 1986. Dispõe sobre o parcelamento do solo no Município de Juiz
de Fora.
[17] JUIZ DE FORA. Lei nº 6909, de 13 de dezembro de 2010. Dispõe sobre as edificações no Município de Juiz de
Fora.
[18] JUIZ DE FORA. Lei nº 6910, de 31 de maio de 1986. Dispõe sobre o ordenamento do uso e ocupação do solo no
Município de Juiz de Fora.
ANÁLISE DA MASSA ESPECÍFICA E DO ÍNDICE DE VAZIOS DO
CONCRETO UTILIZANDO O EPS E A PET SUBSTITUINDO
PARCIALMENTE PELO AGREGADO GRAÚDO

ANALYSIS OF SPECIFIC MASS AND INDEX OF EMPTY CONCEPTS USING EPS


AND PET REPLACING PARTIALLY BY AGGREGATE GRAUD
Hyago Sodré Sousa1, Hígor Jônathas Sena Dias Lopes 2, Demerval Martins dos Santos Segundo3

1
Uninovafapi, Piauí, Brasil, sodrehyago@hotmail.com
2
Uninovafapi, Piauí, Brasil, higorjonathan@gmail.com
3
Uninovafapi, Piauí, Brasil, demerval_martins@outlook.com

Resumo: Os agregados oriundos da construção civil estão mais escassos, logo é necessário o
desenvolvimento de alternativas que venham a substituir estes materiais. Neste trabalho foi avaliado
o comportamento do concreto substituindo o agregado graúdo (Brita) por resíduos de politereftalato
de etileno (PET) e de poliestireno expandido (EPS). A escolha desses materiais se justifica pelo fato
de que são materiais de baixo custo, requer mais tempo para se decompor, ou seja, visa a produção
de um concreto que reutiliza materiais, podem ser encontrados facilmente e são leves, logo devido
ao seu baixo peso especifico reduz consideravelmente o peso próprio das edificações. Os resultados
encontrados retratam que o concreto com 35% de EPS atingiu o esperado quanto a classificação de
concreto leve. Quanto aos resultados do índice de vazios ocorreu diminuição desse parâmetro
quando comparado com o concreto referência (sem substituição) a ressalva é o concreto com 35%
de PET.

Palavras-chave: Reciclagem, Concreto, Concreto Leve, PET, EPS.

Abstract: And the aggregates from civil construction are more scarce, so it is necessary to develop
alternatives that will replace these materials. In this work, the behavior of the concrete with the
addition of the polyethylene terephthalate (PET) and expanded polystyrene (EPS) was evaluated,
replacing them with the large aggregate (Gravel). The choice of these materials is justified by the
fact that they are low cost materials, it requires more time to decompose, that is, it aims at
producing a concrete that reuses materials, can be found easily and are light, therefore due to its
specific low weight, it reduces considerably the weight of the buildings. The results show that the
concrete with 35% of EPS reached the expected level of light concrete. As for the results of the void
index, there was a decrease of this parameter when compared with the concrete reference (without
substitution). The caveat is the concrete with 35% of PET.

Keyword: Recycling, Concrete, Lightweight Concrete, PET, EPS, Structural.


1. INTRODUÇÃO

A indústria da construção civil é responsável por uma considerável degradação ambiental, quer seja
pela demanda por matérias primas naturais ou pela geração de resíduos de suas atividades. A análise
da viabilidade de uso de materiais alternativos para a utilização como agregados, tem sido objeto de
várias pesquisas que são influenciadas por alguns fatores, dentre os quais destacam-se as limitações
ambientais impostas para a exploração de materiais naturais, fatores econômicos relacionados as
distâncias das jazidas e o potencial de utilização dos materiais descartados pelas indústrias.
O emprego de poliestireno expandido e politereftalato de etileno como agregado leve formará
concretos com propriedades otimizadas para uma aplicação específica e afetará positivamente no
meio ambiente, pois diminui o uso da areia, que devido a sua extração desordenada traz sérios
danos e às vezes incorrigíveis ao meio ambiente (SCOBAR, 2016). Diante de tal cenário, essa
pesquisa busca avaliar o comportamento do concreto substituindo parcialmente o agregado graúdo
(Brita) por resíduos de politereftalato de etileno (PET) e de poliestireno expandido (EPS).

A substituição parcial da brita por agregados leves pode originar o concreto leve. O concreto leve é
caracterizado, segundo Scobar (2016), por reduzir o peso próprio das estruturas e para Helena
(2009), pela baixa densidade devido a utilização de agregados leves e resíduos industriais.

2. OBJETIVO

Este trabalho visa analisar as características do concreto quanto ao índice de vazios e a massa
específica, substituindo de forma parcial o agregado graúdo pelos agregados leves de poliestireno
expandido (EPS) e politereftalato de etileno (PET).

3. METODOLOGIA
Para a concepção desta pesquisa foram realizados estudos na literatura disponível, a caracterização
dos materiais e métodos empregados na produção, moldagem e ensaios de corpo de prova,
buscando alcançar os objetivos propostos no trabalho. Os ensaios realizados seguiram as
recomendações das Normas Brasileiras.
O cimento Portland empregado para a confecção dos CPs é o CP V ARI. A escolha dessa
especificação deve-se ao fato de ser um cimento que possui maior rendimento e não conter adições.
Logo, o concreto irá possuir resistências elevadas, compensando a baixa resistência dos agregados
utilizados.
O módulo de finura da areia é 1.8, o diâmetro máximo da brita é 19 mm, o EPS utilizado para a
fabricação do concreto é em flocos, com diâmetros 5 mm (Fig. 1) e a PET usada é triturada onde
através do ensaio de granulometria (NBR NM 248/03 Agregados- Determinação da composição
granulométrica) é possível constatar que através dos resultados do diâmetro máximo (6,3 mm) e do
módulo de finura (4,32) o material apresenta-se como um agregado estando numa zona entre areia
muito grossa e brita zero.
Fig. 1- Flocos de EPS

O traço do concreto é o 1: 1,72: 3,11: 0,55 e foi utilizado para todos os tipos de concreto (concreto
normal e concreto com EPS e PET), o que varia é somente a composição dos agregados e suas
porcentagens de substituição. A norma usada para a determinação da massa específica e do índice
de vazios do concreto é a NBR 9778/05 - Argamassa e concreto endurecidos – Determinação da
absorção de água, índice de vazios e massa específica.

Para o cálculo da massa especifica a norma determina a seguinte fórmula:

Ps (1)
Onde:

• Ps: massa específica seca;


• Ms: massa da amostra seca;
• Msat: massa da amostra seca;
• Mi: massa da amostra imersa em água.

Para o cálculo do índice de vazios a norma determina a seguinte fórmula:

Iv x 100 (2)
Onde:

• Iv: Índice de vazios:


• Ms: massa da amostra seca;
• Msat: massa da amostra saturada;
• Mi: massa da amostra imersa em água.

A etapa de moldagem utilizou-se as normativas estabelecidas na NBR 5738/15- moldagem e cura


de corpos de prova cilíndricos ou prismáticos de concreto. Foram moldados 70 corpos de prova
(Fig. 2) cilíndricos com 10 cm de diâmetro e 20 cm de altura e para cada porcentagem de
substituição foram feitas cinco amostras (Tabela 1). Os ensaios propostos seguem os mesmos
procedimentos, o que difere é a fórmula empregada e a escolha da dimensão dos corpos de prova se
justifica pela NBR 5738/15, que indica que os moldes devem ter a altura o dobro do diâmetro.

Tabela 1: Disposição da quantidade de corpos de prova por ensaio

CONCRETO PORCENTAGEM MASSA ÍNDICE


ESPECÍFICA DE
VAZIOS

COMUM 0% 5 5

15% 5 5
POLIESTIRENO 25% 5 5
EXPANDIDO 35% 5 5

15% 5 5
POLITEREFTALATO 25% 5 5
DE ETILENO 35% 5 5
Fig. 2 - Moldagem e Adensamento com vibrador de imersão

Para a constatação se o concreto produzido irá se classificar como concreto leve foi usado com
referência as seguintes normas (Tabela 2):

Tabela 2: Classificação do Concreto Leve

REFERÊNCIA (NORMA) MASSA ESPECÍFICA

NM 35 (1995) 1680 kg/m3 < ρ < 1840 kg/m3

ACI 213 R (2003) 1120 kg/m3 < ρ < 1920 kg/m3

NBR 8953 (2015) ρ < 2000 kg/m3


4. RESULTADOS
Os dados que são apresentados no Gráfico 1, refere-se a média de cada porcentagem de
substituição, onde pode-se afirmar através dos resultados que os materiais empregados para
substituir o agregado graúdo foram responsáveis pela diminuição da massa específica. Outras
hipóteses a serem consideradas: o peso próprio dos materiais leves usados na mistura são menores
que o da brita, aumento da área de contato com a pasta de concreto, esta ocasionada pela forma e o
tamanho dos flocos de EPS e dos flakes de PET.

Gráfico 1: Massa específica

No tocante da classificação do concreto, se o mesmo será concreto leve pela massa específica,
utilizando as normativas do Mercosul NM 35 (1995) e a norma americana ACI 213 R (2003) como
base, não é possível realizar a classificação dos tipos de concretos analisados como concreto leve
estrutural, pois a porcentagem de substituição de EPS e de PET mostrou-se ser insuficiente.
Provavelmente serão necessárias porcentagens superiores, assim para a PET é preciso aumentar a
quantidade para 50% e para o EPS a partir 40% para atender as normas citadas.

Já a ABNT NBR 8953 classifica o concreto pela massa específica da seguinte forma (Tabela 3):
Tabela 3: Classificação pela NBR 8953

CLASSIFICAÇÃO DO MASSA ESPECÍFICA


CONCRETO

Concreto com Agregados Leves ρ < 2000 kg/m3

Concreto com Agregados Normais 2000 kg/m < ρ < 2800 kg/m3

Concreto com Agregados Pesados ρ > 2800 kg/m3

Levando em consideração a NBR 8953 o concreto 35% de EPS já atende a especificação da norma
e, portanto, é classificado como concreto leve e os demais tipos de concreto são classificados como
concreto normal. Possivelmente para que algum percentual de PET consiga atender a norma faz-se
necessário o aumento da quantidade em percentuais acima de 40%.

Gráfico 2: Índice de vazios x Percentuais de substituição


Através da análise do Gráfico 2 é possível constatar que o maior valor de índice de vazios foi de
15,88%, que foi registrado no concreto com 35% de PET. Esse aumento considerável é gerado
provavelmente pelo mal adensamento, logo com a presença dos flakes acaba prejudicando a
propriedade aglomerante do cimento, gerando uma maior quantidade de vazios na estrutura do
concreto (Fig. 3).

Fig. 3 - Estufa com corpo de prova para a determinação da Ms

O concreto referência possui mais vazios que os concretos com 15, 25% de PET e 15, 25 e 35% de
EPS. Provavelmente o que ocorreu foi que a baixa porcentagem de EPS e de PET preencheu os
vazios, porém a confirmação só poderá ser feita mediante o ensaio da microestrutura do concreto.
Logo é possível afirmar que quanto maior é a quantidade de EPS e PET na mistura mais poroso é o
concreto.

6. CONCLUSÃO
A busca pelo modelo de desenvolvimento sustentável, fez com que o trabalho abordasse aspectos
relacionados a utilização do PET e do EPS na construção civil e ao possível aproveitamento desses
resíduos, que de forma geral são descartados no meio ambiente sem nenhum tipo de destinação.
A constatação de quanto maior o índice de vazios menor é a resistência à compressão só pode ser
afirmada para o concreto com 30% de PET, pois o concreto com 15, 25 e 35% EPS e 15 e 25% de
PET tem valores menores quando comparado com o concreto referência. A verificação da
microestrutura é o ideal para saber o que realmente ocorreu, mas possivelmente como as
quantidades de substituição são pequenas ocorreu que os flocos e os flakes ocuparam os vazios e
devido serem materiais com pouca resistência não colaboraram para o aumento da resistência a
compressão.

A tese almejava a obtenção do concreto leve, porém usando os parâmetros de massa especifica das
normas NM 35 (1995) e da ACI 213 R (2003) não é possível. Entretanto a NBR 8953 (2015) tem
faixas de massa especifica diferente, logo o concreto com 35% de EPS atingiu o esperado quanto a
classificação de concreto leve.

Por fim, através das observações do trabalho a inclusão do EPS e da PET na construção civil é
aceitável em alguns teores e em outros não quando são usados os parâmetros verificados. Desse
modo, novos estudos devem ser desenvolvidos para a validação e aperfeiçoamento dos resultados.

REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 9778. Argamassa e concreto endurecidos -
Determinação da absorção de água por imersão - índice de vazios e massa específica. Rio de Janeiro, 2005.

[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR NM 35. Agregados leves para concreto
estrutural- especificação. Rio de Janeiro, 2008.

[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 5738. Concreto – Procedimento para moldagem
e cura de corpo de prova. Rio de Janeiro, 2015.

[4] FARIAS, M.M; PALMEIRA, E.M. Materiais de construção civil e princípios: Agregados para a construção
civil, CAP 16. São Paulo: Geraldo C. Isaia, 2010.

[5] GRASSI, R.L; ANTUNES, E.G. P. Concreto leve: Estudo de dosagens com argila expandida e poliestireno
expandido moído. 24f. Universidade do Extremo Sul Catarinense, 2016.

[6] NEVILLE, A.M; BROOKS.J.J. Tecnologia do concreto. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.

[7] PIETROBELLI, E.R. Estudo de viabilidade do pet reciclado em concreto sob aspecto da resistência a
compressão. 71f. Dissertação (Monografia) - Universidade Comunitária Regional de Chapecó, Chapecó, 2010.

[8] ROSSIGNOLO, J.A. Concreto leve estrutural: Influência da argila expandida na microestrutura da zona de
transição pasta/agregado. 9f. Universidade de São Paulo, São Carlos, 2009.

[9] ROSSIGNOLO, J.A; AGNESINI, M.V.C. Concreto: ciência e tecnologia – Resistência mecânica do concreto,
CAP 42. São Paulo: Geraldo C. Isaia, 2011.
[10] SIQUEIRA, L.V.M; STRAMARI, M.R; FOLGUERAS, M.V. Adição de poliuretano expandido para a
confecção de blocos de concreto leve. 12f. Universidade do Estado de Santa Catarina, Revista Matéria, Joinville, 2004.
DESAFIOS E OPORTUNIDADES ACERCA DA GESTÃO DOS RESÍDUOS
ORGÂNICOS EM JUIZ DE FORA, MG.

Challenges and opportunities on the management of organic waste in Juiz de Fora

Arthur J. P. Silva *¹, Gabriela Maria F. Fiães*², Júlia Righi de Almeida³

¹Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, arthur.james.silva@hotmail.com


²Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, gabriela.fiaes@engenharia.ufjf.br
³Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, julia.righi@ufjf.edu.br

Resumo: De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (2010), metade dos resíduos sólidos
urbanos é orgânico, constituído basicamente por restos de alimentos e podas. A destinação desses
resíduos poderia ser, por exemplo, uma usina de compostagem ou mesmo composteiras domésticas,
onde se dá a transformação da matéria orgânica em composto orgânico, ou seja, o adubo. De acordo
com dados apresentados pelo CONAMA, no ano 2000, apenas 4,5% dos resíduos eram destinados
para compostagem. Em 2008 esse valor caiu para 1%. Na década de 70 foram importadas tecnologias
de compostagem dos Estados Unidos e da Europa e aplicadas no Brasil, porém, não eram adequadas
para o nível de gestão encontrado no país. Com isso, geraram-se compostos ineficientes, e a
compostagem passou a ser desacreditada, diminuindo o interesse do mercado no produto. Diante do
exposto, o objetivo do trabalho é apresentar os principais desafios e oportunidades acerca da gestão
do resíduo orgânico no município de Juiz de Fora/MG e, especificamente, na Universidade Federal
de Juiz de Fora, com foco na compostagem como solução. Para alcançar este objetivo foi realizado
um diagnóstico das principais iniciativas relacionadas à compostagem no campus de modo que seja
possível traçar um panorama da situação atual e apresentar as necessidades de melhoria. Do total de
220 mil toneladas de resíduos gerados diariamente no Brasil, considera-se que cerca de 128 mil
toneladas/dia sejam de resíduos compostáveis (Mahler et al., 2012). A disposição desse material gera,
para a maioria dos municípios, despesas que poderiam ser evitadas caso essa fração fosse separada
na fonte e tratada em domicílio ou encaminhada para um tratamento específico como a compostagem.
Partindo do princípio que o chorume gerado nos aterros é resultado, em parte, do alto teor de matéria
orgânica depositado no mesmo, conclui-se que a compostagem dos resíduos (em grandes leiras ou
domiciliar) reduziria gastos com o tratamento do efluente, aumentaria a vida útil dos aterros e ainda
minimizaria os impactos ambientais.
Palavras-chave: Aumento da vida útil do aterro sanitário, compostagem, gestão de resíduos
orgânicos.

Abstract: According to the Ministry of the Environment, in 2010, half of urban solid waste consists
basically of leftover food and pruning. The destination for consumption could be, for example, a
composting plant and even of domestic compositions, where the genetic basis, that is, the fertilizer,
is found. This process can be viewed on a domestic scale for a large industrial, safely. However, this
waste is mostly disposed of in landfills. According to data presented by CONAMA, in the year 2000,
only 4.5% of the waste was destined for composting. In 2008 this figure fell to 1%. In the 1970s
compost technologies were imported from the United States and Europe and applied in Brazil, but
these were not adequate for the level of management found in the country. As a result, inefficient
compounds were generated, and composting became discredited, reducing market interest in the
product. In view of the above, the objective of this work is to present the main challenges and
opportunities regarding the management of organic waste in Brazil and specifically in the
municipality of Juiz de Fora/MG. To achieve this objective, a diagnosis of the main initiatives related
to composting in the municipality was carried out so that it is possible to draw a panorama of the
existing public policies and still present the needs for improvement in its management. Of the total
of 220 thousand tons of waste generated daily, it is estimated that around 128 thousand tons per day
are of compostable waste (Mahler et al., 2012). The provision of this material generates, for most
municipalities, expenses that could be avoided if that fraction were separated at source and treated at
home or sent to a specific treatment such as composting. Assuming that the slurry generated in the
landfills is partly a result of the high content of organic matter deposited in the landfill, it is concluded
that the composting of the residues (in large landfills or at home) would reduce expenses with effluent
treatment, increase life of the landfills and would also minimize environmental impacts.
Keywords: Increase the life of the landfill, composting, management of organic waste.

1. INTRODUÇÃO
Os resíduos sólidos vêm se tornando cada vez mais um assunto de extrema importância e preocupação
na sociedade, pois muitas são as questões relativas aos cuidados, responsabilidades, monitoramento
e controle dos resíduos em geral. Medidas como a redução do consumo e a introdução da
compostagem são de grande valia. Muito conhecido, porém pouco difundido, o tratamento do resíduo
orgânico antes mesmo da chegada ao aterro sanitário poderia ser realizado pela sociedade em
domicílios, escolas, empresas e indústrias, de forma que os maiores impactos gerados pela degradação
da matéria orgânica nos aterros (efluentes como chorume e gases) poderiam ser evitados.
A compostagem é um processo no qual microrganismos decompõem e estabilizam biologicamente
substratos orgânicos, liberando dióxido de carbono e vapor d’água, sendo um processo aeróbico em
quase sua totalidade, e em alguns casos, anaeróbico. Os principais fatores que afetam a compostagem
estão relacionados à atividade microbiológica destacando-se: umidade, aeração, temperatura,
concentração de nutrientes, tamanho das partículas e pH.
Na sociedade antiga, homens, animais e plantas ocupavam o mesmo espaço e com isso o ciclo de
nutrientes era fechado. Nos dias atuais, as atividades agrícolas, pecuárias e o consumo humano estão
distanciadas, não havendo assim troca de nutrientes, o que leva ao seu esgotamento na produção
vegetal e sua concentração onde há a criação de animais e o consumo humano. Reaproveitando
compostos orgânicos e utilizando-os como adubo, há a possibilidade de se fechar o ciclo de nutrientes,
minimizando diversos problemas ambientais. O adubo orgânico pode ser utilizado visando o
condicionamento físico, físico-químico e biológico do solo, além de servir de matéria prima para
substratos (Curso de compostagem, EMBRAPA, 2018).
No caso da compostagem domiciliar, é necessário, primeiramente, caracterizar o domicílio no âmbito
social, econômico e ambiental, adquirindo dados como o número de pessoas residentes no domicílio,
a quantidade de refeições preparadas em casa por semana, a instrução escolar, a renda familiar em
salários mínimos, o número de pessoas que trabalham na família, a existência de coleta seletiva no
bairro e identificar se a população tem conhecimento sobre compostagem. Depois dessa
caracterização, é necessária a instrução aos moradores de como proceder com o processo, sendo
necessária a existência de uma composteira, local onde os compostos vão ser processados, e que serão
dispostos restos de alimentos como cascas de frutas e legumes, e como fonte de nitrogênio, o pó de
café.
A compostagem realizada em grandes empresas, universidades ou mesmo em escala industrial, tem
como benefício a redução do lixo acumulado em aterros sanitários, ampliando a vida útil destes e
diminuindo os custos com o seu descarte, neste caso em maior escala.
Neste trabalho, foi feito um mapeamento e entrevistas com professores, bolsistas e funcionários para
averiguar práticas de compostagem na Universidade Federal de Juiz de Fora. Além disso foram
realizadas pesquisas acerca do conhecimento sobre esse tema com a comunidade acadêmica através
de um questionário.
Com base no exposto, o objetivo deste trabalho é apresentar os principais desafios e oportunidades
acerca da gestão do resíduo orgânico em Juiz de Fora, especificamente no Campus da Universidade
Federal de Juiz de Fora, com foco na compostagem como solução.

2. COMPOSTAGEM: HISTÓRICO E AVANÇOS


Há milênios que o homem aprendeu a amontoar restos de animais e vegetais para fermentar e
empregar como adubo (Ministério da Agricultura, 1980 apud PEREIRA, 2003). Os chineses têm
empregado este sistema natural por milhares de anos, como um processo intermediário no retorno de
resíduos agrícolas e dejetos para o solo. As técnicas eram artesanais e fundamentavam-se na formação
de leiras ou montes de resíduos que ocasionalmente eram revolvidos. Após cessar o processo de
fermentação, o composto resultante era incorporado ao solo, o que favorecia o crescimento dos
vegetais (STENTIFORD et al., 1985 apud PEREIRA, 2003).
Essas técnicas foram sendo aperfeiçoadas, tanto em processos aeróbios quanto anaeróbios,
principalmente na Europa. A partir da década de 20, as pesquisas dirigiram-se preferencialmente aos
sistemas fechados de compostagem, que proporcionam um maior controle sobre o processo, além de
acelerar o tempo de produção do composto. Já na década de 70, a compostagem ressurgiu como um
processo de tratamento para o lodo de esgotos.
As experiências de compostagem no Brasil partiram da iniciativa de Dafert em 1988, que foi o
primeiro diretor do Instituto Agronômico de Campina (RS). Houve um incentivo aos agricultores a
produzirem um fertilizante natural para recuperação ou enriquecimento de solos, em que pudessem
ser utilizados materiais orgânicos de suas propriedades agrícolas. Mais tarde iniciaram-se estudos
sobre compostagem na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (SP), com a publicação de
livros técnicos relacionados à compostagem (KIEHL, 1985 apud AQUINO et al., 2012 apud
Trabalhos Feitos, 2014).
As primeiras unidades de compostagem no Brasil foram instaladas no final da década de 1960. Nessas
instalações havia a retirada dos recicláveis durante sua passagem na esteira e os resíduos orgânicos
remanescentes eram destinados para a compostagem. Haviam também usinas totalmente manuais em
municípios menores, onde uma mesa de concreto levemente inclinada ficava no lugar da esteira,
acarretando a diminuição dos custos operacionais. Porém, esse mecanismo não obteve muito êxito e,
consequentemente, foi caindo em desuso (Ministério do Meio Ambiente, 2010).
Em 1989 existiam 80 usinas de compostagem no Brasil, mas a maioria delas estava desativada por
falta de preparo técnico no setor e de uma política mais séria. As condições de trabalho nas usinas
eram precárias, e não havia controle de qualidade do sistema de compostagem gerando-se um produto
de má qualidade, que por muitas vezes continha metais pesados (Redação Ambiente Brasil, 2017).
Atualmente, o Brasil possui 260 usinas de compostagem as quais são responsáveis pela compostagem
de 4% dos resíduos orgânicos gerados no país (IBGE, 2000; CEMPRE, 2005, apud PIRES, 2017 e
FERRÃO, 2017. Observando a distribuição dessas usinas no território brasileiro, percebe-se que 90%
do montante total das usinas de compostagem existentes estão concentradas nas regiões sul e sudeste
(IBGE, 2010, apud PIRES, 2017 e FERRÃO, 2017).

3. DESTINAÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS ORGÂNICOS E O COMPORTAMENTO DOS


ATERROS SANITÁRIOS
Segundo pesquisa realizada pela Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA, 2017), que
avaliou o impacto de mais de 3 mil lixões no Brasil sobre a saúde e o meio ambiente, 75 milhões de
brasileiros têm seu lixo depositado em locais inadequados. Entre 2010 e 2014, cerca de 1% da
população desenvolveu doenças em consequência desse descarte, o que fez com que o governo
brasileiro desembolsasse cerca de R$ 1,5 bilhão por ano através do Sistema Único de Saúde (SUS)
com o tratamento dessas doenças. Os estragos associados aos lixões estão relacionados com as
emissões de substâncias tóxicas, e a exposição a alguns desses elementos químicos pode ser
cancerígena. Danos como a poluição do ar e a contaminação do solo e de lençóis freáticos também
são consideráveis e estima-se que, nos últimos 4 anos, foram gastos R$ 8,4 bilhões com reparação de
prejuízos ao meio ambiente (ISWA, 2017 apud RIGHI, 2018).
No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) instituída pela Lei 12.305/2010,
estabeleceu que todos os depósitos irregulares deveriam ser encerrados até 2 de agosto de 2014.
Porém, após uma série de prorrogações dessa data, mais de 3 mil lixões ainda se encontram em
operação (ISWA, 2017). No ano de 2015, quase 30 milhões de toneladas foram dispostas em lixões
ou aterros controlados em todas as regiões e estados brasileiros. Milhares de municípios ainda fazem
uso desses locais impróprios e nas regiões norte, nordeste e centro-oeste a situação é ainda mais
alarmante já que, em média, 70% dos resíduos gerados são dispostos de forma inadequada. Nas
regiões sul e sudeste, esse número cai para 30%. Os recursos aplicados pelos municípios em 2015
para fazer frente a todos os serviços de limpeza urbana no Brasil foram, em média, de cerca de 4
R$10,15 por habitante por mês, o que representa um aumento de 1,7% em relação a 2014 (ABRELPE,
2015, apud RIGHI, 2018).
Em muitos países desenvolvidos, diferentemente do Brasil, o aterro sanitário é a última etapa da
gestão dos resíduos sólidos. Antes dessa última etapa deve-se pensar primeiramente na não geração,
sendo necessária uma conscientização e mudança de hábito da sociedade brasileira. Em sequência, a
redução, a reutilização, a reciclagem e por fim, o tratamento e a destinação final. A diminuição do
volume de lixo reciclável nos aterros sanitários, aumentaria sua vida útil, minimizando possíveis
impactos ambientais e à saúde pública.
Em particular, o artigo destaca um tratamento mais eficaz dos resíduos orgânicos antes de sua
destinação final, que além de reduzir o volume de lixo nos aterros, também diminui a instabilidade
desses, minimizando a possibilidade de geração de trincas e recalques. Além disso, o resíduo orgânico
é a parcela do lixo responsável pela geração de chorume e gás metano, fruto da decomposição dessa
fração. Através dos processos de triagem e compostagem, essa problemática seria diminuída. A fração
orgânica também é responsável pela geração de vetores, agentes causadores de doenças, quando
descartados de maneira inadequada, podendo contaminar solos e águas.
Os custos envolvidos na implantação e operação de unidades de triagem e compostagem são elevados
e muitos municípios têm dificuldades em regularizar a gestão de resíduos, devido a limitações
financeiras e técnicas. Para estimular a solução dessa problemática, a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS) (BRASIL, 2010) propôs o incentivo à adoção de consórcios intermunicipais. Esses
consórcios visam dividir esses custos entre as administrações públicas e facilitar a obtenção de
recursos para a sua implantação. Para tanto, em âmbito estadual, o Sistema Estadual de Meio
Ambiente e Recursos Hídricos (Sisema) propôs a divisão do estado de Minas Gerais em arranjos
territoriais ótimos (ATOs) para a gestão integrada de resíduos sólidos urbanos.

4. METODOLOGIA
Após coleta de dados diretamente do SNIS – Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento –
acerca do diagnóstico do manejo de resíduos sólidos urbanos de todos os municípios no ano de 2016,
foram extraídas informações da microrregião de Juiz de Fora, sendo composta de 33 municípios. O
enfoque da análise se deu em relação aos resíduos orgânicos, onde também avaliou-se, através da
aplicação de questionários online, a percepção e conhecimento dos alunos e servidores das faculdades
de engenharia e biologia da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, em relação à correta gestão
dos resíduos orgânicos. Foi realizado também, um diagnóstico das principais iniciativas de
compostagem existentes no campus, através de pesquisas e entrevistas.
4.1. Aplicação de questionário
Estruturou-se um questionário onde se pretendia entender qual a percepção de alunos e servidores,
em maior parte da área biológica e engenharia, quanto à gestão dos resíduos sólidos como um todo,
manejo e disposição, e quanto a reciclagem doméstica. A compostagem foi o foco do questionário.
Tabela 1 - Perguntas feitas no formulário

GRÁFICO
PERGUNTAS FEITAS NO FORMULÁRIO REFERENTE ÀS
RESPOSTAS

Qual seu curso? Fig. 3

Você sabe qual o destino do lixo que você produz? Descreva. Fig. 4

Você realiza separação do lixo no seu dia-a-dia? Fig. 5

Você conhece o processo de compostagem? Fig. 6

Já realizou o realiza algum tipo de compostagem em sua casa? Fig. 7

Você possui algum tipo de jardim, horta ou plantação que poderia ser Fig. 8
auxiliada pelo produto da compostagem?

A partir de instrução e dos materiais necessários, você estaria disposto a Fig. 9


fazer a compostagem em sua casa, com seu resíduo orgânico?
4.2. Visitas e Mapeamento
Com o objetivo de conhecer os projetos relativos à compostagem existentes no campus da
Universidade Federal de Juiz de Fora, foi realizado um mapeamento a fim de verificar as ações
existentes.
4.2.1 PROINFRA - Pró Reitoria de Infraestrutura da UFJF
O primeiro local visitado foi a PROINFRA – Pró Reitoria de Infraestrutura e Gestão da UFJF –
responsável pela execução, acompanhamento e fiscalização dos projetos e das obras de engenharia
do campus, e que conta com 36 funcionários terceirizados para o trabalho de poda, varredura das vias,
manutenção e jardinagem e coleta desses resíduos. Alguns projetos de compostagem para o campus
já foram propostos, segundo a PROINFRA, porém nenhum deles saiu do papel. Em 2017, foram
recolhidos, por mês, cerca de 5 toneladas de resíduos de podas e folhas secas, já que o campus conta
com uma extensão média de 40% de área verde, dessas, 87% composta por Mata Atlântica nativa, e
os outros 13% por instalações desenvolvidas para educação ambiental, estudos de novas espécies e
progressão de pesquisas nessas áreas, como o Jardim Sensorial e os hortos de Biologia e Farmácia.
Esse resíduo recolhido é encaminhado para uma região bem próxima do campus, no bairro São Pedro,
onde é depositado em uma vala. Outro fato é que a PROINFRA compra, a cada dois meses, cerca de
quatro caminhões de 4,5 m³ de adubo para ser usado em todas as áreas do campus. Partindo do
princípio que existe um restaurante universitário com grande geração de restos de comida e grande
área para realização da compostagem, a prática poderia proporcionar economia nos gastos, visto que
não mais seria necessário a compra de adubo por parte da universidade. Mesmo apresentando um
potencial para a realização da compostagem, buscou-se conhecer as dificuldades envolvidas em um
projeto desse porte. Primeiramente, o mesmo demandaria um maior número de funcionários,
manutenção e manejo correto do processo, entre outros.
4.2.2 Núcleo de Pesquisas Jurídicas
Por meio de pesquisa e entrevista, foi possível conhecer uma iniciativa no Núcleo de Práticas
Jurídicas da UFJF. Um projeto de compostagem interna, que consiste em utilizar o pó e o filtro usados
na produção de café, além de algumas cascas de frutas dentro de uma composteira de 4 andares, com
minhocas inseridas, para gerar um chorume rico em nutriente, que é usado na ornamentação de plantas
presentes no hall do Núcleo. Neste caso, para os funcionários que tenham interesse, o composto é
distribuído para que façam sua utilização.
4.2.3 ICB - Instituto de Ciências Biológicas da UFJF
Em conversa com Maria Alice Bourneuf, servidora do departamento do ICB, obteve-se a informação
que existiu uma iniciativa, comandada por uma aluna de mestrado, Franciany Pereira, entre 2010 e
2011, no qual se recolhia todo material orgânico da cantina do ICB (local que servia almoço todos os
dias) para ser transformado em adubo por meio de uma composteira, criada com auxílio da
PROINFRA. Após o término de sua dissertação, porém, o processo não foi continuado. Ainda de
acordo com a servidora do ICB, além dos resíduos orgânicos da cantina, a maravalha, resultante do
CBR - Centro de Biologia e Reprodução, que é um tipo de madeira raspada, utilizada em sua maior
parte para camas de animais, e no caso estudado, de ratos que passam por pesquisa, poderia ser útil
no processo da compostagem. Atualmente, a maravalha é descartada por uma empresa terceirizada
tendo um custo pra UFJF de 60 mil reais mensais (R$6,49 o quilo), segundo informações da servidora.
Uma vez caracterizada e tendo garantia da não contaminação desse material, o mesmo poderia ser
usado na compostagem no lugar das folhas secas, como uma espécie de serragem, que auxilia na
estabilização do material, evitando, portanto, que a UFJF tivesse gastos com a destinação da
maravalha.
4.2.4 Escola Municipal Santana Itatiaia - UFJF
Em visita à Escola Municipal Santana Itatiaia, localizada no campus, constatou-se que havia um
projeto em andamento até o início de 2018, realizado pelo ESF - Engenheiros Sem Fronteiras - que
levou até as crianças da escola (aproximadamente 200), uma iniciativa ambiental ensinando a realizar
a compostagem de maneira fácil e caseira, com baldes e peneiras de baixo custo. Os futuros
engenheiros orientaram as crianças e as professoras durante o ano de 2017. Porém, após o término do
projeto do ESF, a escola se pronunciou dizendo que não poderia encaminhar as professoras para
realizar esse tipo de atividade, e a compostagem não foi continuada.
4.2.5 GET-ESA – Grupo de Educação Tutorial da Engenharia Sanitária e Ambiental
Em contato com o GET-ESA – Grupo de Educação Tutorial da Engenharia Sanitária e Ambiental –
foi constatado a iniciativa de um projeto, que teve início em outubro de 2018, ainda em escala
laboratorial, para a realização de compostagem domiciliar. Fazem parte do projeto uma aluna e um
professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental que o coordena. Na compostagem
são utilizados restos de alimentos e folhas, que são colocados 4 vezes por semana, correspondendo a
aproximadamente 5 litros por mês. A composteira é montada com 5 baldes de 5 litros cada e o
processo é feito com minhocas, o que acelera o processo, durando aproximadamente 2 meses. O
projeto visa ampliar a compostagem para diversas escolas de Juiz de Fora, sendo necessário o
monitoramento da umidade e a quantidade de orgânicos para evitar a geração de moscas de frutas e a
morte das minhocas.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1. SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento
Pela análise de dados do SNIS, foi constatado a presença de UTCs - Unidade de Triagem e
Compostagem - em todo o Brasil. Em Minas Gerais a porcentagem de municípios que possuem UTCs
regularizadas, chega a 15%, de acordo com a figura 1.A, um número pequeno quando relacionado
aos 853 municípios de Minas Gerais. Na microrregião de Juiz de Fora, composta por 33 municípios,
a porcentagem de UTCs atinge 19%, figura 1.B. Muitos dos municípios de Minas Gerais possuem
menos de 10 mil habitantes, com acesso limitado à informação, tecnologia e investimentos nessa área,
e 164 dos municípios mineiros possuem a população rural maior que a urbana (LOBATO, 2015). A
prática de compostagem nesses lugares deve ser mais fácil, já que, em propriedades rurais, com
rebanhos e plantações, existe uma cultura de reaproveitar o lixo, podendo apenas cavar buracos para
a introdução do material orgânico remanescente, e depois utilizar essa terra compostada para as
diversas áreas da propriedade.
Fig. 1 - Disposição Final dos RSU em Minas (A) e na microrregião de Juiz de Fora (B)

5.2. Campus UFJF


A partir do estudo e visitas de campo realizadas na UFJF pode-se dizer que é possível realizar a
compostagem dentro do campus, mas necessita-se de organização para gerir quais os projetos que
serão implantados e continuados. Alguns dos lugares que já realizam compostagem no campus
apresentaram resultados positivos, entre eles:
No Núcleo de Pesquisas Jurídicas da UFJF a compostagem está sendo realizada há dois anos, e
mesmo que com algumas dificuldades, a equipe tem feito uso do composto gerado. Apesar da
compostagem ser feita somente com o pó e o filtro de café, e algumas cascas de fruta, há geração de
composto e coleta de cerca de 500ml de chorume produzido. O resultado é satisfatório, já que o
Núcleo conta com poucos funcionários.
Na Escola Municipal Santana Itatiaia as crianças que participaram do projeto, utilizaram o composto
em uma horta feita na própria escola, onde eram plantadas ervas de pequeno porte, como hortelã,
alecrim e salsa. Também foi plantado arruda, que ajudou contra a infestação de ratos que haviam na
escola e citronela que atualmente estão utilizando para fazer repelentes caseiros, com auxílio de um
projeto da biologia/zoologia. Porém, com o término do projeto de compostagem, a horta também foi
abandonada.
O plano do GET-ESA já aponta números comprovados: são colocados, em média, cerca de 5
litros/quilogramas de resíduo orgânico por semana, que resultam em 2/2,5 litros de composto por
semana. Ou seja, metade do material colocado é transformado em um composto rico em nutrientes e
livre de patógenos. A maneira como o composto deve ser utilizado é simples, basta diluir o
concentrado em 1:5 litros de água, e fazer a utilização em dias correntes, geralmente uma vez na
semana. O preparo deve ser usado cerca de 10 a 15 centímetros de distância do caule ou da raiz da
planta, diretamente na terra.
Os resultados são interessantes, visto que trazem matéria orgânica para o solo e nutrientes para as
plantas, fazendo com que os ciclos biológicos se concluam, figura 2.

Fig. 2 - Processo de Compostagem (Ciclo) [10]


5.3. Formulário eletrônico
Através do formulário eletrônico, respondido no período de setembro a outubro de 2018, foi
constatado a percepção dos alunos e servidores quanto às questões pertinentes à gestão dos resíduos
orgânicos, obtendo um total de 121 respostas.
A primeira pergunta foi “Qual seu curso?” O formulário se propagou na Universidade de maneira
geral, por isso o gráfico da primeira pergunta foi separado em áreas de estudo (fig. 3).

Fig. 3 - Área do curso dos entrevistados


Logo depois de responder qual o seu curso, a pergunta foi sobre o conhecimento da destinação do
lixo produzido pelo entrevistado (fig. 4): 40% responderam que não sabem para onde vão, e dos 60%
que disseram que sabiam, apenas 20% deles especificaram pra onde iria.

Fig. 4 - Conhecimento sobre o destino do lixo


Em seguida, questionou-se quanto prática de separação do lixo, e 40% das pessoas que responderam
disseram separar o lixo seco do lixo úmido, orgânico e inorgânico; e 17% separam todos os tipos,
metais, plásticos, vidros, etc. (fig. 5). Considera-se que sejam números expressivos, já que a prefeitura
de Juiz de Fora não salienta a importância desse método, reservando dias específicos da semana para
coletar materiais recicláveis em certos bairros da cidade.

Fig. 5 - Separação de lixo realizada pelo entrevistado


Quando perguntado sobre o processo de compostagem, especificamente sobre o conhecimento do
aluno quanto ao tema, 64% disseram que conhecem, 30% disseram conhecer, porém não saber como
funciona e 6% responderam que não conhecem (fig. 6).
Fig. 6 - Conhecimento sobre o processo de compostagem

Posteriormente, foi questionado quantos deles já haviam feito algum tipo de compostagem, e 74%
das pessoas que responderam disseram que não (fig. 7).

Fig. 7 - Realização do usuário quanto ao processo de compostagem caseira

Das pessoas que responderam o questionário, 51% informaram que possuem algum tipo de jardim,
horta ou vasos em sua residência, que poderiam ser beneficiados pelo produto da compostagem (fig.
8).
Fig. 8 - Gráfico referente à porcentagem de pessoas que possuem algum tipo de plantação
Mais de 63% dos participantes, a partir de instrução e dos materiais necessários, responderam estar
dispostos a fazer a compostagem em suas casas, com seus resíduos orgânicos; 24% disseram que
talvez o fizessem, e apenas 13% não estariam dispostos (fig. 9).

Fig. 9 - Predisposição dos entrevistados a realizarem o processo de compostagem


5.2. Como realizar a compostagem dentro da Universidade?
Um primeiro passo para realizar a compostagem dentro do campus seria difundindo a ideia de
composteira “caseira”, primeiramente, para cada departamento, utilizando os próprios resíduos
orgânicos que são gerados em cada lugar, como o pó de café. Ou seja, não necessitando, a princípio,
de transporte de materiais nem de insumos para realizar a compostagem. Dessa forma, com o
composto produzido, seria possível sua utilização em folhagens diversas, em plantas ornamentais e
em hortas, e se acharem conveniente os funcionários poderiam levar para casa, fazendo o uso de um
composto rico em nutrientes na sua própria residência.
Um projeto de porte maior que também poderia ser viabilizado com o suporte da PROINFRA seria a
compostagem com os restos orgânicos do Restaurante Universitário. Conforme apresentado nesse
artigo, a UFJF possui área suficiente para tal e ainda deixaria de gastar com a compra de material
como adubo e fertilizantes que hoje são necessários para utilização em sua extensa área verde.
A possibilidade de utilizar a maravalha, que hoje é retirada por empresa terceirizada com altos custos
para UFJF, seria uma maneira inteligente e sustentável, incorporando esse material ao processo de
compostagem.
Ressalta-se, também, a importância de disponibilizar aos servidores da universidade, um curso onde
poderiam aprender a realizar a compostagem e entender qual a importância dessa técnica para o meio
ambiente, seja ela feita nos departamentos ou em suas próprias casas.

6. CONCLUSÕES
Um dos maiores desafios na gestão dos resíduos sólidos urbanos (RSU) é fazer com que esse material
orgânico se estabilize nos próprios domicílios onde são gerados.
A compostagem se mostra como uma alternativa para a destinação dos resíduos orgânicos, visto que,
dispor essa matéria orgânica em aterros e em locais inapropriados pode causar grandes impactos ao
meio ambienta e à saúde humana.
Algumas dificuldades são encontradas no decorrer do processo, começando pela separação do lixo
seco do lixo úmido, prática diária que requer empenho para se tornar uma rotina. Existe ainda a
necessidade de separar o que pode ou não ir para a composteira, já que resíduos orgânicos animais,
como detritos, ossos, resíduos cítricos etc. não devem participar do processo, pois causam maus
odores e afetam a parte microbiológica, podendo eliminar espécies de bactérias. Porém essa
adequação na separação do lixo é proporcionada com o tempo. Mantendo o cuidado e a manutenção
semanal ou diária, a compostagem pode estar em consonância com o dia-a-dia.
Grande parte dessa harmonia pode ser adquirida através de educação ambiental, seja ela em escolas,
projetos sociais ou mídias. Porém, quando colocado em prática, o projeto ganha força, daí a
importância em aplicar essas atividades nos primeiros anos de aprendizado, para que a criança já
cresça com uma conscientização ambiental.
No decorrer do artigo foram expostas as iniciativas já tomadas dentro do Campus, a respeito de
compostagem, ideias de como introduzir ou continuar esses projetos e a percepção dos estudantes e
servidores sobre o tema. De maneira geral, a compostagem é muito bem vista, é uma grande
alternativa para fechar o ciclo de resíduos orgânicos e os entrevistados, em sua maioria, demonstraram
aceitação e até mesmo predisposição para realizar tal procedimento, seja ele feito na própria
faculdade, em casa ou em outros locais onde se adequa o conceito.
Para difundir a ideia de compostagem deve-se começar realizando pequenos projetos, para que se
tornem exemplos para outros, incentivando servidores e estudantes e promovendo diversos meios de
troca de informações entre eles, para que os processos ocorram de maneira correta e continuada.
REFERÊNCIAS
[1] MAHLER, Claudio Fernando (Org.). Lixo urbano: o que você precisa saber sobre o assunto.
Rio de Janeiro: Evan: FAPERJ, 2012. 192 p.
[2] Curso de compostagem, EMBRAPA, 2018
[3] PEREIRA, Luiz, Compostagem de Resíduos Orgânicos, 2003.
[4] Trabalhos Feitos, 2014.
[5] Ministério do Meio Ambiente, 2010.
[6] Redação Ambiente Brasil, 2017.
[7] PIRES, Isabela., FERRÃO, Gregori., Revista Trópica – Ciências Agrárias e Biológicas. p.01-
18, v.09, n.01, 2017
[8] RIGHI, Júlia., Destinação final dos resíduos sólidos no Brasil: Desafios e oportunidades, 2018.
[9] LOBATO, Paulo Henrique. Jornal Estado de Minas - em 13 de setembro de 2015.
[10] Figura 2 - Processo de compostagem (Ciclo) - disponível em <http://sustentahabilidade.com/como-
funciona-a-compostagem-domestica/> em 15 de outubro de 2018.
ANÁLISE COMPARATIVA DA PERMEABILIDADE DA PAVIMENTAÇÃO
INTERTRAVADA DE CONCRETO, UTILIZANDO AGREGADO GRAÚDO
E AGREGADO MIÚDO

Permeability comparative analysis of the interlocking concrete paving, using coarse


aggregate and fine aggregate

Demerval Martins dos Santos Segundo*1, Hígor Jônathas Sena Dias Lopes2, Hyago Sodré Sousa3,
Renan Maycon Mendes Gomes4, Wendel Melo Prudêncio de Araujo5
1 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, demerval_martins@outlook.com
2 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, higorjonathan@gmail.com
3 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, sodrehyago@hotmail.com
4 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, renan_maycon2008@hotmail.com
5 Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, Brasil, wendelprudencio@hotmail.com

Resumo: Os alagamentos e as inundações podem gerar vários transtornos, como impedimento do


trânsito de veículos e transeuntes, progresso de ação erosiva de encostas, poluição de águas pluviais
por mistura de lixo inserido de forma irregular no arruamento, entre outros, que são maximizados
devido aos processos de urbanização das grandes cidades, que intensifica a impermeabilização do
solo, fator que aumenta o escoamento superficial, potencializando esses alagamentos. Porém, os
pavimentos intertravados de concreto são considerados pisos permeáveis, pois permitem que esta
água superficial infiltre no pavimento, diminuindo o volume escoado. Portanto, deve-se analisar a
alternativa mais eficaz para a melhoria de seu desempenho de controle de escoamento superficial.
Esta pesquisa se destina em fazer a análise comparativa da permeabilidade da pavimentação
intertravada de concreto, utilizando agregado graúdo e miúdo. Para o desenvolvimento deste trabalho,
elaborou-se dois módulos experimentais que simularam o seu estado inicial de aplicação, sendo que
um adotou o material com características granulométricas sugeridas pela ABNT NBR 16416/2015
[1], e outro adotando agregado miúdo, dos quais ambos foram utilizadas nas camadas de
assentamento e de rejunte, onde os ensaios seguiram as diretrizes descritas na norma vigente em
questão. Foram obtidos valores de 5,79 x 10-5 m/s a 3,23 x 10-5 m/s no ensaio de permeabilidade no
módulo experimental de piso intertravado onde foi utilizado a areia nestas camadas; e valores entre
3,83 x 10-3 m/s a 2,86 x 10-3 m/s no mesmo teste, utilizando a brita com granulometria indicada na
norma em análise na mesma finalidade, indicando que houve melhores resultados onde foi utilizado
agregado com maior granulometria, atendendo o valor mínimo de 10-3 m/s exigido pela norma em
análise. Os módulos experimentais de piso intertravado conseguiram alcançar o objetivo definido,
constatando-se que apenas o modelo que seguiu as características indicadas pela norma atendeu o
critério de seu coeficiente de permeabilidade, enquanto àquele que foi utilizado o agregado miúdo
atingiu resultados muito inferiores ao exigido pela norma em análise, podendo indicar que esta norma
possui bastante rigidez no quesito de desempenho de permeabilidade.

Palavras-chave: drenagem urbana, pavimentos intertravados de concreto, módulos experimentais.

Abstract: The floods and the inundations can generate several disorders, as an impediment to the
traffic of vehicles and passers-by, erosive action progress of slopes, pollution of rainwater by mixing
rubbish inserted irregularly on the street, among others, that are maximized due to the urbanization
processes of the big cities that intensifies the waterproofing of the soil, a factor that increases the
surface runoff, potentiating these floods. However, the interlocking concrete pavement are considered
permeable floors, because they allow this surface water to infiltrate the floor, reducing the runned off
volume. Therefore, it is necessary to analyze the most effective alternative for the improvement of its
performance of control of surface runoff. This research is intended to make the permeability
comparative analysis of the interlocking concrete paving, using coarse aggregate and fine aggregate.
For the development of this work, two experimental modules were elaborated that simulated its initial
state of application, being that one adopted the material with granulometric characteristics suggested
by ABNT NBR 16416/2015 [1], and other adopting fine aggregate of which both were used in the
settling and grouting layers, where the tests followed the guidelines described in the current standard
in question. Values of 5.79 x 10-5 m/s to 3.23 x 10-5 m/s were obtained in the permeability test in the
interlocked floor experimental module where the sand was used in these layers; and values between
3.83 x 10-3 m/s to 2.86 x 10-3 m/s in the same test, using the crushed stone with granulometry indicated
in the standard in analysis in the same purpose, indicating that there were better results where the
aggregate with a larger granulometry was used, attending the minimum value of 10-3 m/s required by
the standard in analysis. The experimental interlocking floor modules were have managed to achieve
the defined objective, being verified that only the model that followed the characteristics indicated
by the standard attended the criterion of its permeability coefficient, while that one which was used
the fine aggregate reached much lower results than required by the standard in analysis, being able to
indicate that this norm has plenty rigidity on the question of performance of permeability.

Keywords: urban drainage, interlocking concrete pavement, experimental modules.

1. INTRODUÇÃO
Derivado de uma urbanização não planejada e não uniforme, com baixa infraestrutura e moradias
locadas em áreas de risco, as inundações urbanas, que são eventos naturais, estão sendo cada vez mais
recorrentes, desde as grandes metrópoles às cidades interioranas. Além do mais, a existência de áreas
urbanas mais valorizadas em relação a outras sem assistência adequada de infraestrutura e serviços
públicos tem como consequência a vulnerabilidade de parcelas da população a desastres naturais,
segregando-as também ao acesso a bens sociais [2].
Contaminação por doenças infectocontagiosas, suspensão das atividades econômicas existentes na
região afetada, danos materiais e mortes são algumas das consequências das inundações, aliados ao
sistema irregular de esgotamento sanitário, o acúmulo de lixo nas galerias e arruamentos com
ineficiente capacidade de permitir a infiltração adequada da água [3].
Os pisos intertravados de concreto permitem a diminuição do escoamento superficial através das suas
juntas de percolação, elevando a superfície permeável dos centros urbanos, sendo utilizados em
estacionamentos, passagem de transeuntes, e até mesmo para o tráfego leve de veículos. Vale ressaltar
que o volume precipitado infiltra no pavimento, sendo filtrado pela camada de base do mesmo, e
armazenada pelas camadas de base e sub-base [4].
Então, no sentido de desenvolver práticas sustentáveis que visem a melhoria da qualidade do recurso
hídrico e da mobilidade urbana, a análise da permeabilidade da pavimentação intertravada de concreto
deve propor a melhoria da eficiência do mesmo, podendo abranger a linha de pesquisa para diferentes
tipos de pisos permeáveis de diferentes locais que utilizam este tipo de pavimento, para a diminuição
do escoamento superficial, que gera problemas de inundações, principalmente nos centros urbanos.

2. OBJETIVOS
O objetivo geral desta pesquisa está voltada a analisar a permeabilidade da pavimentação intertravada
de concreto, utilizando agregado graúdo e miúdo, cujo seus objetivos específicos são de elaborar dois
módulos experimentais que simulem seu estado inicial de aplicação, realizar de ensaios de
permeabilidade nestes módulos e avaliar o coeficiente de permeabilidade dos mesmos.

3. MÉTODOS
Nesta pesquisa foram elaborados dois modelos de pavimentação intertravada, sendo que o primeiro
simulou a pavimentação da Instituição de Ensino Superior, como exemplificação de ensaio (Fig. 1),
e o segundo a pavimentação com características descritas pela NBR 16416 (ABNT, 2015) [1],
conforme descritas nas Tabelas 1 a 4.

Fig. 1 – Modelo de piso intertravado com camada de assentamento em areia


Tab. 1 – Especificações para o material de rejuntamento [1]
Propriedade Método Especificação
Abrasão "Los Angeles" ABNT NBR NM 51 < 40 %

Índice de vazios ABNT NBR NM 45 ≥ 32 %

Material passante na peneira com


ABNT NBR NM 46 ≤2%
abertura de malha de 0,075 mm
Dimensão máxima característica ≤ 1/3 da menor largura da junta ou da
ABNT NBR 7212
(Dmáx) área vazada
Tab. 2 – Distribuição granulométrica recomendada para o material de rejuntamento [1]
Peneira com abertura de Porcentagem retida
malha em massa %
12,5 mm 0
9,5 mm 0 a 15
4,75 mm 70 a 90
2,36 mm 90 a 100
1,16 mm 95 a 100

Tab. 3 – Especificações para o material da camada de assentamento [1]


Propriedade Método Especificação

Abrasão "Los Angeles" ABNT NBR NM 51 < 40 %


Índice de vazios ABNT NBR NM 45 ≥ 32 %
Material passante na peneira com
ABNT NBR NM 46 ≤2%
abertura de malha de 0,075 mm
Dimensão máxima característica
ABNT NBR 7212 9,5 mm
(Dmáx)

Tab. 4 – Distribuição granulométrica recomendada para o material de assentamento [1]


Peneira com abertura de Porcentagem retida
malha em massa %
12,5 mm 0
9,5 mm 0 a 15
4,75 mm 70 a 90
2,36 mm 90 a 100
1,16 mm 95 a 100

A norma americana “ASTM C1701/2009 – Standard Test Method for Infiltracion Rate of In Place
Pervious Concrete” [5] descreve os critérios e procedimentos para este teste, e segundo Ono, Balbo
e Cargnin (2017) [6], a NBR 16416 (ABNT, 2015) [1] incorporou a americana para este ensaio.
Para a execução dos ensaios, foram necessários os seguintes materiais:
 Cilindro rígido e resistente a água, com diâmetro interno de (300 ± 10) mm;
 Massa de modelar;
 Balde capaz de armazenar pelo menos 20 litros;
 Proveta;
 Cronômetro;
 Água.
Na superfície externa dos módulos experimentais, montou-se o sistema formado pelo cilindro, vedado
com massa de calafetar, para que o volume de água que seria utilizado não escapasse do cilindro em
questão. Contudo, de acordo com a norma em análise, especifica-se a utilização da massa de calafetar
para os ensaios, porém, para que houvesse economia de material de vedação, e para sua reutilização,
substituiu-se a massa especificada em norma por massa de modelar.
Definido de pré-molhagem, inseriu-se 3,6 litros de água no sistema corretamente vedado,
cronometrando-se o intervalo de tempo referente entre o início do despejo do líquido no cilindro de
ensaio e a infiltração total deste (Fig. 2). Caso este intervalo fosse inferior a 30 segundos, o volume
utilizado para o ensaio definitivo seria de 18 litros; caso contrário, novamente 3,6 litros.

Fig. 2 – Método de ensaio NBR 16416 (ABNT, 2015)


Após a definição do volume de água necessário para o ensaio definitivo, inseriu-se este volume, no
intervalo de tempo máximo de 2 minutos após a pré-molhagem. Foi novamente cronometrado o
intervalo de tempo referente entre o início do despejo do líquido no cilindro de ensaio e a infiltração
total deste.
Vale ressaltar que a NBR 16416 (ABNT, 2015) [1] faz algumas observações, que são importantes
para o ensaio em análise, como não aceitar a execução de mais de 02 testes no mesmo dia; o volume
de água para a pré-molhagem e no ensaio definitivo devem ser inseridos com uniformidade,
destacando-se que altura da lâmina d’água deve estar entre duas demarcações internas pré-
estabelecidas, de 10 e 15 mm em relação a borda inferior do cilindro; e deve prevalecer o local mais
baixo do cilindro para a demarcação da altura da lâmina d’água, se houver inclinação.
De acordo com a NBR 16416 (ABNT, 2015) [1], deve-se utilizar a Equação 1 para cálculo do
coeficiente de permeabilidade.
C×m
k= 2 (1)
(d × t)
sendo que:
 k = Coeficiente de permeabilidade (mm/h);
 m = Massa de água utilizada (kg);
 d = Diâmetro interno do cilindro (mm);
 t = Tempo cronometrado para a infiltração total da água (s);
 C = Constante, fator de conversão de unidades, igual a 4583666000.
O resultado foi comparado com os valores da Tabela 5, que caracteriza o grau de permeabilidade do
solo.
Tab. 5 – Valores típicos de coeficiente de permeabilidade [1]

Coeficiente de Permeabilidade do solo (k) Grau de permeabilidade


m/s mm/h do solo
> 10-3 > 3600 alta
10-3 a 10-5 3600 a > 36 média
10-5 a 10-7 36 a > 0,36 baixa
10-7 a 10-9 0,36 a 0,0036 muito baixa
< 10-9 < 0,0036 praticamente impermeável

Apoiado em uma superfície regular e plana, foi montado uma caixa de madeira, com área de 0,56 m²,
sendo que suas dimensões são de 0,75 x 0,75 m, e altura de 0,20 m, e com duas aberturas (superior e
inferior), pois 0,04 m foram destinados a camada de base; para a camada de assentamento em 0,08
m; assim como 0,08 m para o revestimento, dimensionado para tráfego leve, conforme a NBR 16416
(ABNT, 2015) [1]; adequando-se a área mínima de 0,50 m², de acordo com a mesma norma. Depois
disso, foi lançada a camada permeável, compactando-se adequadamente; logo após isso, foi inserido
a camada de assentamento, também devidamente compactada; em seguida foram colocados os blocos
pré-fabricados de concreto. No final, foi aplicado a camada de rejuntamento. Os dois modelos
seguiram esta metodologia descrita, porém o primeiro possuiu a camada de assentamento e de rejunte
com características granulométricas semelhantes a que a Instituição utiliza; e o segundo com
granulometria descrita na norma em análise (Fig. 3).
Fig. 3 – Modelo de piso intertravado com camada de assentamento e rejunte em brita

4. RESULTADOS

Para a elaboração do modelo de pavimento intertravado de concreto, utilizando areia como material
para a camada de assentamento e de rejunte, a curva granulométrica do mesmo está apresentada na
Fig. 4.

Fig. 4 – Curva granulométrica da areia utilizada como camada de assentamento


Na Fig. 5 mostra o resultado do ensaio de permeabilidade no modelo de pavimento intertravado com
areia como material de camada de assentamento e de rejunte, sendo que em todos os testes foram
utilizados 3,6 litros de água.
250,00
208,47
Coeficiente de permeabilidade

197,36 200,38
200,00
178,01 178,35 176,21
152,09
145,92
150,00
131,71 133,25 132,19 126,97
(mm/h)

116,19
100,00

50,00

0,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
N° Dias

Fig. 5 – Resultado do ensaio em modelo de piso intertravado com areia


O material utilizado na camada de assentamento do modelo de pavimento intertravado de concreto
com brita seguiu a distribuição granulométrica exposta na Fig. 6, sendo que na NBR 16416 (ABNT,
2015) [1] sugere uma faixa granulométrica para esta camada, onde a linha azul descreve a
granulometria máxima e a vermelha a granulometria mínima para o material em análise.

Fig. 6 – Curva granulométrica da brita utilizada como camada de assentamento


Os valores referentes ao resultado do ensaio de determinação do coeficiente de permeabilidade do
modelo de pavimento intertravado de concreto, utilizando a brita como camada de assentamento,
estão representados na Fig. 7. Estes foram obtidos utilizando 18 litros de água nos testes, pois todos
possuíram intervalo de tempo inferior a 30 segundos na pré-molhagem.
Coeficiente de permeabilidade Limite mínimo
15000,00 13785,46
14000,00
Coeficiente de permeabilidade

13000,00
12000,00 10598,07 10978,84 11111,92 10913,49 10300,37
11000,00
10000,00
9000,00
(mm/h)

8000,00
7000,00
6000,00
5000,00
4000,00
3000,00
2000,00
1000,00
0,00
1 2 3 4 5 6
N° Dias

Fig. 7 – Resultado do ensaio em modelo de piso intertravado com brita

5. DISCUSSÕES
Analisando o resultado referente ao modelo de piso intertravado com areia, constatou-se que com o
decorrer do tempo, isto é, da quantidade de dias de ensaio, houve o acréscimo de intervalo de tempo,
ocasionando, por sua vez, a diminuição do coeficiente de permeabilidade. Além disso, percebe-se que
os primeiros valores de coeficiente de permeabilidade estão muito abaixo que a NBR 16416 (ABNT,
2015) [1] estabelece para pavimentos intertravados recém construídos: da expectativa de 3600
(mm/h) da norma vigente (10-3 m/s), para valores reais de 208,47 (mm/h) e 197,36 (mm/h) (5,79 x
10-5 m/s e 5,48 x 10-5 m/s, respectivamente) obtidos no ensaio de permeabilidade. Este resultado pode
ter ocorrido por causa da compactação da areia durante o período de uso para o controle de
escoamento superficial (Fig. 8), além de se constatar que este material pode não ser o mais adequado
para a camada drenante de assentamento e rejuntamento do pavimento intertravado por sua
distribuição granulométrica, conforme parâmetros exigidos na norma vigente.

Fig. 8 – Modelo de pavimento intertravado de concreto com areia como camada de assentamento antes e após a
aplicação de água, respectivamente
A partir dos valores expostos do modelo de pavimento intertravado com brita, o mesmo possui alto
grau de permeabilidade, muito superior ao limite mínimo estabelecido pela NBR 16416 (ABNT,
2015) [1], de 10-3 m/s (3600 (mm/h)), podendo ser adequado o uso da brita em sua camada de
assentamento e de rejunte, considerando a distribuição granulométrica preestabelecida, para sua
função drenante, segundo os parâmetros da norma analisada. Foi constatado também que os valores
do coeficiente de permeabilidade se mantiveram constantes ao decorrer dos dias de ensaio, do qual o
primeiro dia de testes apresentou o melhor resultado, de 13785,46 (mm/h), ou 3,83 x 10-3 m/s. Estes
resultados podem ter sido alcançados por conta da granulometria mais aberta do material, em
comparação à areia utilizada no primeiro modelo de pavimento intertravado de concreto, tanto na
camada de assentamento, quanto de rejuntamento.

6. CONCLUSÕES
Para os ensaios referentes ao cálculo do coeficiente de permeabilidade, foi atingido o objetivo da
massa de modelar, com sua função de vedar o sistema analisado em todos os dias de ensaio, suprindo
adequadamente a massa de calafetar.
Na elaboração dos módulos experimentais de pavimentos intertravados, conseguiu-se atingir ao
objetivo proposto. Contudo, o valor que a norma analisada exige para o coeficiente tanto após a
execução do pavimento quanto após a prática da manutenção podem ser considerados muito elevados
devido aos valores alcançados do módulo experimental de piso intertravado com areia na camada de
assentamento e rejuntamento nos seus primeiros dias de execução serem muito inferiores aos dois
valores da norma. Além disso, deve-se ressalvar que esta pesquisa está voltada apenas para a análise
do desempenho de permeabilidade do piso intertravado, não sendo analisados os seus desempenhos
mecânicos (adequação ao tráfego, por exemplo).

REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16416: pavimentos permeáveis de concreto –
Requisitos e procedimentos. Rio de Janeiro, 2015.
[2] GUIMARÃES, Rosangela Maria Amorim Benevides. SEGREGAÇÃO E INUNDAÇÃO URBANA:
APONTAMENTOS SOBRE O PAPEL ÉTICO-POLÍTICO DO SERVIÇO SOCIAL JUNTO AOS AFETADOS.
REINPEC-Revista Interdisciplinar Pensamento Científico, v. 3, n. 1, 2017.
[3] OLIVEIRA, Arlan Jefferson Miguel de. Controle de inundações: causas, consequências e possíveis medidas de
proteção urbana no município de Mulungu/PB. 2017.
[4] MARCHIONI, Mariana; SILVA, Cláudio Oliveira. Pavimento intertravado permeável – melhores práticas –
ABCP – Associação Brasileira de Cimento Portland. São Paulo, 2011.
[5] ASTM C1701 / C1701M - 09 - Standard Test Method for Infiltration Rate of In Place Pervious Concrete.
[6] ONO, Bruno Watanabe; BALBO, José Tadeu; CARGNIN, Andréia. Análise da capacidade de infiltração em
pavimento permeável de bloco de concreto unidirecionalmente articulado. TRANSPORTES, v. 25, n. 3, p. 90-101,
2017.
APLICAÇÃO DE FERRAMENTA COMPUTACIONAL NA OTIMIZAÇÃO E
MITIGAÇÃO DE CUSTOS NA ROTEIRIZAÇÃO DA LOGÍSTICA DE
TRANSPORTE DE CARGAS
Application of computational tool in the optimization and mitigation of costs in
routing of charge transport logistics.

Jaísa Aparecida Costa Gomes*1, José Ronaldo Tavares Santos2, Gustavo Vinicius Duarte Barbosa3,
Giordani Bruno de Carvalho4
1
Centro Universitário UNA Campus Barreiro, Belo Horizonte, Brasil, jaisaamorim@gmail.com
2
Centro Universitário UNA Campus Barreiro, Belo Horizonte, Brasil, jose.tavares@prof.una.br
3
Cindata 1 Comando da Aeronáutica, DTCEA-CF (Confins), Brasil, gustavogvdb@fab.mil.br
4
Centro Universitário UNA Campus Barreiro, Belo Horizonte, Brasil, giordani.carvalho@prof.una.br

RESUMO
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o transporte de cargas por
meio rodoviário é o mais predominante no Brasil, onde a sua movimentação responde de um a dois
terços dos custos logísticos totais do país. Do ponto de vista econômico, empresas com atividades
logísticas mais eficientes têm maior competitividade e maior sustentabilidade no mercado, portanto,
para que isso ocorra é necessária a mitigação dos custos e das distâncias nas rotas de transporte. O
objetivo principal deste artigo é apresentar um estudo de caso em uma empresa do ramo de
transporte de materiais de construção civil, localizada na região centro-sul de Belo Horizonte,
buscando demonstrar como a roteirização e a modelagem computacional podem contribuir na
redução dos custos da logística de transporte dessa empresa. A metodologia da pesquisa é do tipo
aplicado, com abordagem quantitativa, onde são obtidos os dados com o cenário de entrega atual, e
além desses, os novos cenários após a aplicação da modelagem e tomada de decisão, empregando a
ferramenta computacional solver do Microsoft Excel®. Os resultados obtidos evidenciaram a
potencialidade da otimização na roteirização de veículos e a redução dos custos de transporte.
Conclui-se, por conseguinte, a necessidade de utilização de ferramentas computacionais e conceitos
da pesquisa operacional como elementos de auxílio na otimização no processo de roteirização.

Palavras-chave: Modelagem computacional, Pesquisa Operacional, Transporte.


Abstract: According to data from the Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE),
freight transport by road is the most predominant in Brazil, where its movement accounts for one to
two thirds of the total logistics costs of the country. From the economic point of view, companies
with more efficient logistics activities have greater competitiveness and greater sustainability in the
market, so for this to happen it is necessary to mitigate costs and distances in transport routes. The
main goal of this paper is to present a case study in a construction materials transportation
company, located in the south-central region of Belo Horizonte, aiming to demonstrate how routing
and computational modeling can contribute to the reduction of costs of transportation logistics
company. The methodology of the research is of the applied type, with a quantitative approach,
where the data are obtained with the current delivery scenario, and besides these, the new scenarios
after the application of the modeling and decision making, using the Microsoft Excel solver
computational tool ®. The results obtained evidenced the potential of the optimization in vehicle
routing and the reduction of transport costs. It is concluded, therefore, the need to use
computational tools and concepts of the operational research as elements of aid in the optimization
in the routing process.

Keywords: Computational modeling, Operational Research, Transportation.

1. INTRODUÇÃO
O transporte de cargas constitui em um dos elementos mais importantes nos custos logísticos para
inúmeras empresas, absorvendo de um a dois terços do custo logístico total. Portanto, é importante
que haja uma distribuição eficiente, ou seja, um menor custo para ambas as partes (prestador do
serviço e contratante) e que proporcione agilidade, confiabilidade e segurança ao cliente, tornando a
estratégia competitiva mais dinâmica [1].
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [2], o modal rodoviário é
predominante no Brasil. Esse modal pode se tornar oneroso e inviável quando considerados os
quesitos como o excesso de veículos trafegando nas rodovias e vias urbanas, a poluição ambiental
causada pelos veículos, o aumento nos insumos relacionados aos custos de entregas e o tempo para
se percorrer um determinado roteiro de distribuição de cargas.
Sabendo-se da maior utilização do modal rodoviário na matriz de transporte brasileira, e
compreendendo que as empresas precisam antecipar às tendências de mercado, gerando respostas
rápidas e eficazes aos clientes, justifica-se a necessidade de utilização de técnicas de pesquisa
operacional, especificamente a roteirização, e o uso de ferramentas computacionais, que por sua vez
auxiliam na otimização dos processos de distribuição.
Nesse contexto, o presente artigo aborda a logística de transporte e o problema da definição de rotas
de veículos em um cenário de transporte de cargas, diante da importância do planejamento da
logística de transporte e benefícios que a solução de roteirização pode proporcionar às empresas que
trabalham com distribuição física. Neste trabalho é realizado um estudo de caso em uma
distribuidora de materiais de construção civil na região centro-sul de Belo Horizonte, buscando
demonstrar como a roteirização pode contribuir na redução de custos da logística de transporte
dessa empresa.
A roteirização possibilita que se encontre a melhor rota, de maneira que a demanda de todos os
clientes seja atendida. Com a otimização das rotas diminui-se o tempo de resposta ao cliente (Lead
Time) e a distância percorrida. Com isso, a empresa aumenta sua vantagem competitiva.
Com a finalidade de responder ao problema de pesquisa proposto, o objetivo geral deste artigo é
demonstrar a utilização da roteirização, modelagem e uso da simulação computacional, partindo de
um estudo de caso em uma distribuidora de materiais de construção civil, localizada na região
centro-sul de Belo Horizonte, e visando a redução de custos logísticos de transporte, com os
seguintes objetivos específicos: Avaliar o funcionamento atual da logística de transporte dessa
empresa, identificar os custos logísticos atuais de transporte, analisar e identificar o melhor método
de roteirização, com possíveis reduções de custos e distâncias de transporte.
2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. Logística
De acordo com [3], a logística originou-se na Segunda Guerra Mundial onde esteve relacionada à
movimentação de tropas, armamentos e munições. Contudo, quando o conceito migrou para o
mundo dos negócios ele referiu-se à preparação e movimentação de produtos finais das
organizações fabris até os clientes. Esse entendimento da viabilidade da aplicação da logística em
organizações civis se deu pela necessidade de suprir a reconstrução das cidades e dos países que
foram atingidos pela guerra.
O processo logístico, segundo [4], é o planejamento da movimentação de materiais e informações
com o objetivo de entregar ao cliente o produto e/ou serviço na qualidade e no tempo desejado ao
menor custo possível. Os ganhos extraordinários resultantes do domínio das atividades logísticas
estão proporcionando alterações nesse setor, e um maior número de empresas utiliza a logística
como fator estratégico.
Para [5], a logística é o processo de planejar, implementar e controlar de forma econômica, eficiente
e efetiva. O fluxo logístico começa no fornecedor, percorre todo o processo de fabricação, depois a
armazenagem de matéria prima, dos materiais em processo e dos produtos acabados, seguindo até o
varejista, para atingir finalmente o consumidor final.

2.2. Atividades Logísticas


De acordo com [6], as atividades logísticas se dividem em primárias e secundárias. As atividades
primárias são compostas pelo processamento de pedido, gestão de estoque e transportes, e as
atividades secundárias são constituídas pela Armazenagem, Manuseio de Materiais, Embalagem,
Obtenção/Suprimento e Programação de Produtos.
As atividades primárias são aquelas que contribuem com a maior parcela do custo total da logística
ou elas são essenciais para a coordenação e o cumprimento da tarefa logística. [7] conceitua as
atividades primárias da seguinte forma:
 O processamento de pedido: É o recebimento e análise dos pedidos dos clientes, a separação
e a expedição dos itens que compõem o pedido.
 Gestão de estoque: Consiste em identificar os itens que devem ser estocados, em que
quantidades e seus intervalos de reposição.
 Transporte: É a atividade de movimentar matérias da origem até o seu destino, utilizando um
único meio ou a combinação de vários meios de transporte.

2.3. Logística de Transporte


A logística de transporte pode ser definida como um método adotado para movimentar pessoas ou
bens de um local para o outro e um dos modais para transporte é o rodoviário. O transporte
rodoviário é o transporte realizado em estradas, rodovias e ruas. Apesar de sua importância,
apresenta custos elevados devido aos altos valores pagos pelo petróleo, incluindo manutenção
periódica do veículo. [8]
O transporte é essencial para a distribuição de produtos e no fornecimento de recursos produtivos
para as organizações, por isso o transporte é tão importante na cadeia de suprimentos. O aumento na
eficiência do transporte proporciona menor tempo em trânsito das mercadorias, sendo possível
melhorar a prestação de serviço aos clientes. [5] confirma essa ideia dizendo que “uma indústria
precisa transportar seus produtos da fábrica para os depósitos ou para as lojas de seus clientes;
precisa também providenciar e armazenar matéria-prima em quantidade suficiente para garantir os
níveis de fabricação planejados”. Ainda esclarece [9], “o transporte tem função básica de
proporcionar aumento da disponibilidade de bens e permitir o acesso a produtos que de outra
maneira não estariam disponíveis para uma sociedade ou estariam disponíveis a um elevado preço”.

2.4. Custos Logísticos do Transporte


Os custos de transporte representam a maior parcela dos custos logísticos na maioria das empresas e
chegam a representar até 60% dos custos logísticos. [10]
De acordo com [10], quando se analisa a participação que cada modal de transporte possui na
matriz de carga do Brasil, é possível perceber praticamente um monopólio do transporte rodoviário.
Nesse modal de transporte existem vários custos que devem ser considerados na gestão de
transporte de produtos, esses podem ser classificados conforme [1] em: custos variáveis (variam de
acordo com serviços ou volume) e custos fixos (invariáveis).
Custos fixos são a depreciação do veículo, a remuneração do capital, os salários e as obrigações
trabalhistas e seguros. Os custos variáveis incluem normalmente os gastos com combustível,
lubrificação, equipamentos de manutenção e pneus. [10]
Segundo [11], em relação ao transporte rodoviário de cargas, exemplifica alguns fatores que
determinam variações nos custos ou em sua formação, são eles:
 Quilometragem percorrida - quanto maior, menor o custo final por quilometro, pois, o custo
fixo é dividido pela quilometragem;
 Tipo de tráfego - em áreas urbanas o veículo consome mais combustível;
 Tipo de via-as condições da rodovia influenciam os custos;
 Região - dependendo do local onde a transportadora está instalada, pode haver variações no
valor dos salários, combustíveis, impostos, entre outros;
 Porte do veículo - quanto maior a capacidade de carga do veículo, menor o custo da tonelada
por quilômetro;
 Desequilíbrio nos fluxos - quando não há carga de retorno, ocorre um aumento no custo do
transporte.
O aumento da eficiência do transporte rodoviário, a partir da descoberta de melhores rotas para os
veículos, no intuito de minimizar as distâncias e os tempos, pode reduzir os custos do transporte e
causar melhorias na prestação de serviço aos clientes. Conforme [12], o custo logístico está se
tornando cada vez mais um diferencial competitivo, tanto para empresas que prestam serviços de
transporte como também para as empresas que se utilizam desses serviços a fim de que possam se
sustentar no mercado.
2.5. Roteirização
O processo denominado roteirização é um processo de planejamento prévio das entregas, através do
ordenamento de um roteiro lógico determinado pela capacidade do veículo transportador,
considerando distâncias dos percursos e o tempo necessário de cada entrega. Isso se faz necessário
devido à racionalização do uso da frota rodoviária [8].
De acordo com [1], a roteirização pode ser definida como o processo logístico que tem por fim
buscar o melhor trajeto que o veículo deve percorrer, com o objetivo de diminuir o tempo ou a
distância. Para reduzir os problemas de roteirização existem três tipos básicos:
 Ponto de origem e destino diferentes - é o mais utilizado, acontece geralmente com
varejistas, atacadistas e vendas do e-commerce utilizando o trajeto mais curto.
 Ponto de origem e destinos múltiplos - ocorre geralmente quando há mais de um armazém
ou fornecedores tem uma dificuldade de encontrar a melhor rota que são vários pontos de
origem.
 Pontos de origem e destino coincidentes - o ponto de origem e destino são os mesmos, os
veículos de transporte são da própria empresa.
Segundo [5], há dois métodos que podem ser agrupados em métodos de construção de roteiro, os
quais usam regras que podem ser seguidas. Um método é ligar cada ponto ao seu cliente mais
próximo, estabelecendo um ponto inicial e procurar os demais clientes, para montar um roteiro que
pode ser não o mais eficaz, porém é o mais rápido e pode ser utilizado como uma melhoria. E o
método de melhoria de roteiro cria uma solução obtida com auxílio de outro método de construção
procurando aperfeiçoar o resultado obtido, esses métodos podem ser aplicados em qualquer roteiro.
Os fatores fundamentais da roteirização, sendo: decisões, objetivos e restrições. As decisões se
referem ao destino de cada cliente, os quais devem ser visitados e, seguidamente, serão entregues as
mercadorias através dos motoristas e ajudantes. O objetivo é que, a partir do processo de
roteirização, a empresa possa fornecer um alto nível de serviço para seus clientes a um menor custo
operacional possível. As restrições são os recursos disponíveis que a empresa possui, tendo em vista
o tempo, a distância a ser percorrida, capacidade de carga do veículo, as condições de velocidade,
tempo médio de cada entrega (carga e descarga). [5]

2.6. Pesquisa Operacional


[13] estabelece que a Pesquisa Operacional teve importantes usos durante a Segunda Guerra
Mundial, quando pesquisadores buscavam técnicas para otimizar a utilização de recursos limitados
e resolver problemas de gestão de operações e processos, sendo caracterizada pelo uso de técnicas
empregando métodos matemáticos e estatísticos.
De acordo com [14], a observação inicial e a formulação de uma problemática estão entre os passos
mais importantes para solucionar problemas em PO. A Pesquisa Operacional trata-se de um método
científico, que busca obter a melhor solução (solução ótima) para um problema e,
consequentemente, auxiliar empresas e gestores nas tomadas de decisões, proporcionando satisfação
dos interesses envolvidos, adaptação dos meios necessários e consistência do curso da ação.
Entre essas técnicas estão a programação linear que utiliza funções e restrições lineares,
programação inteira na qual se aplica valores inteiros, programação dinâmica na qual o modelo
pode ser decomposto em subproblemas, otimização em redes onde o problema pode ser modelado
em uma rede e programação não linear, na qual utiliza-se funções não lineares. A programação
linear auxilia em diversas situações, como: logística do transporte, determinação da capacidade
máxima, determinação de um esquema de fluxo de custo mínimo, fluxo de materiais, entre outros,
podem ser eficientemente resolvidas se modelados como uma rede [15].
A tomada de decisão dos problemas de Otimização em Redes pode ser obtida por meio de
algoritmos, tais como: Árvore geradora mínima, que trata de conectar todos os nós de uma rede,
usando o comprimento total mais curto de ramos conectores; algoritmo de caminho mínimo, que
determina o caminho mais curto entre um destino e uma origem de uma rede; algoritmo de fluxo
máximo, o qual é baseado em achar rotas de passagem que maximizam a quantidade total de fluxo
da origem para o escoadouro (onde o fluxo termina); e algoritmo de caminho crítico, com o objetivo
de fornecer meios analíticos para programar determinadas atividades [16].

3. MÉTODOS
Este artigo parte do conceito de natureza aplicada. A pesquisa aplicada tem como propósito a
geração de conhecimento para aplicações práticas dirigidas à solução de problemas específicos.
[17]. A pesquisa apresenta também uma abordagem quantitativa, onde, segundo [18] "a pesquisa
quantitativa se centra na objetividade. Influenciada pelo positivismo, considera que a realidade só
pode ser compreendida com base na análise de dados brutos, recolhidos com o auxílio de
instrumentos padronizados e neutros".
Partindo de um estudo de caso em uma distribuidora de materiais de construção civil, localizada na
região centro-sul de Belo Horizonte, são realizadas análises em documentos, coletas de dados, a
identificação do processo atual da logística de transporte e os impactos da aplicação da roteirização
quanto a custos logísticos e melhoria do nível de serviço nas entregas dessa empresa.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste trabalho são levantados 7 (sete) principais clientes com maior receita da região sudeste da
empresa objeto de estudo. Por meio de dados fornecidos pela empresa, os pontos de entregas da
região são definidos como clientes 05, 14, 21, 22, 27, 28, 29 e CD (Centro de Distribuição). A
Figura 1 ilustra a rota atual que o motorista realiza com a finalidade de atender a região.
Figura 1: Demonstração da rota atual.
Para realização da rota atual o motorista segue da origem CD para os clientes 29-21-22-27-5-28-14
retornando ao final para o CD. Com essa rota o motorista percorre aproximadamente 192
quilômetros diários. O caminhão utilizado pela empresa consome o equivalente a 3,6 quilômetros
por litro de diesel. Para atender a região sudeste são necessários 54 litros de combustível,
diariamente. O custo mensal para atender a região sudeste é aproximadamente igual a R$6.742,57,
relativos ao combustível e aos custos variáveis com horas extras do motorista.
Para otimização da rota é desenvolvida a modelagem com o propósito de se obter a rota de menor
custo, levando em consideração a origem CD (centro de distribuição), os destinos e a distância de
cada entrega. O objetivo da fórmula é encontrar a solução de alocação de rota que represente o
menor custo de entrega. Pelas características desse problema, a melhor forma de modelá-lo é como
um problema de transportes e com todas as suas variáveis inteiras. O modelo é representado da
seguinte maneira:

 Função objetivo, minimizar a distância de entrega:


Min z = (1)

 Restrição 1, a cada origem somente um destino:


(2)

 Restrição 2, a cada destino apenas uma origem:


(3)

 Restrição 3, não pode alocar origem e destino iguais:


(4)

 Restrição 4, o somatório de todas as origens para todos os destinos é 8:


(5)

 Restrição 5, variáveis binárias:

Xij = (6)

Onde: i = clientes; j = clientes; n = total de clientes; Cij = distância de i para j; Xij = variável binária
que indica se cliente i foi designado para o cliente j. Após a definição da modelagem construiu-se a
matriz de distância (custo de cada entrega de i para j). Essa, por sua vez, é calculada através da
matriz de deslocamento entre os clientes, conforme apresentado na Tabela 1.
Tabela 1: Matriz Origem x Destinos (Distâncias em km).
Destino
Origem
CD 5 14 21 22 27 28 29
CD 0 12,2 13,3 3,3 37,5 7,9 7,9 24,4
5 12,2 0 11,9 10,9 33,6 22,8 25,3 9,3
14 9,9 13,5 0 9,4 28,3 8,4 16,6 8,6
21 2,3 10,6 12,9 0 40,5 7.2 9,7 16,5
22 35,4 32,8 29,2 34,7 0 39,6 47,3 28
27 7,3 23,3 9,3 7,2 36 0 11,5 16,3
28 7,8 17,8 17,8 9,3 42 11,7 0 23,5
29 16 7,1 6,2 15,3 30,7 17 24,2 0

Partindo dessa matriz, aplica-se a modelagem na ferramenta computacional Solver do Microsoft


Excel®, como ilustra a Figura 2, onde todas as restrições foram cumpridas, com a realização de
uma entrega para cada cliente com a menor distância.
Figura 2: Modelagem na ferramenta solver do Microsoft Excel®.

Partindo da modelagem, a nova rota simulada para otimização foi CD-28-27-14-22-29-5-21-CD,


ilustrada na figura 3.

Figura 3: Demonstração da rota otimizada.

A roteirização que atende a função objetivo com o melhor trajeto que o veículo deve percorrer, com
a finalidade de diminuir a distância, é a roteirização de ponto de origem e destinos diferentes e a
roteirização que utiliza o trajeto mais curto.
A partir dessa nova proposição, é possível realizar a comparação de novos cenários antes e após a
otimização, conforme mostrado na Tabela 2.
Tabela 2: Análise dos cenários.
Atual Simulado Redução
Cenários
(mensal) (mensal) (%)
Distância Percorrida (km) 5.760 3.060 -46,9
Custo do Consumo de Combustível (R$) 6.010,00 3.116,40 -48,1
Tempo do percurso (horas) 129,9 96 -26,1
Horas Extras (horas) 52,5 0 100,0

Observa-se nessa tabela que, com a rota otimizada, a empresa atenderá todos os clientes
percorrendo ao invés de 192 quilômetros, 102 quilômetros. Isso equivale à redução de 54 para 28
litros de diesel por dia, totalizando um custo logístico mensal de R$ 6.742,57 para R$3.116,40 em
combustível.

5. CONCLUSÃO
Os resultados obtidos são aceitáveis, onde é possível avaliar e identificar a rota atual da empresa,
bem como os custos atuais da logística de transporte, concluindo então que a rota adotada pela
empresa para a região sudeste não era viável e economicamente satisfatória.
Aplicando-se o método da pesquisa operacional e programação linear é possível obter uma nova
proposição para redução em aproximadamente 48,1% nos custos e 46,9% da distância na logística
de transporte, demonstrando a viabilidade técnica, operacional e econômica no uso da ferramenta
computacional.

REFERÊNCIAS
[1] BALLOU, Ronald H. Logística Empresarial. São Paulo: Atlas, 2007.
[2] BRASIL, IBGE. Infraestrutura dos transportes no Brasil, 2014. Disponível em:
<https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2013-agencia-de-noticias/releases/14707-asi-ibge-mapeia-
a-infraestrutura-dos-transportes-no-brasil.html>. Acesso em: 03 mai. 2018
[3] SLACK, N. et al. Administração da Produção. 1 ed. São Paulo. Atlas, 1997.
[4] BALLOU, Ronald H. Logística Empresarial: transporte, administração de materiais e distribuição física. São
Paulo: Atlas, 1993.
[5] NOVAES, A. G. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição. 6 reimp. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. 400
p.
[6] MEIRIM, H. As atividades primárias da logística. Disponível em:
<http://www.administradores.com.br/artigos/negocios/as-atividades-primarias-da-logistica/14168/>. Acesso em:
25 de maio de 2018.
[7] MORAIS, Roberto Ramos de. Logística empresarial, Curitiba: InterSaberes, 2015.
[8] RODRIGUES, P. R. A. Introdução aos sistemas de transporte no Brasil e a logística internacional. São Paulo:
Aduaneiras, 2000. 148 p.
[9] TAKAHASHI, S. Avaliação ambiental do setor de transporte de cargas: Comparação de métodos. 2008. 89 p.
Dissertação (Mestrado em Engenharia) -Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2008.
[10] GOMES, Carlos Francisco Simões, Gestão da cadeia de suprimentos integrada à tecnologia da informação. São
Paulo, 2004.
[11] KLANN, R. et al. Utilização da programação linear na otimização de resultados de uma empresa do ramo de
transporte rodoviário de cargas. Associação Brasileira de Custos, Santa Catarina, v. 5, n. 1, p. 1-23, jan- abr 2010.
[12] MASIERO, L. S. Proposta de dimensionamento de frota para uma transportadora. 2008. 103 p. Trabalho de
Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia de Produção) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2008.
[13] ANDRADE, E. L. Introdução à Pesquisa Operacional: Métodos e Modelos para Análises de Decisões. 4. ed. Rio
de Janeiro: LTC, 2009.
[14] MOREIRA, D. A. Pesquisa Operacional – Curso Introdutório. 2. ed rev. São Paulo: Cenage Learning, 2010.
[15] LACHTERMACHER, G. Pesquisa operacional na tomada de decisões: modelagem em excel. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2007.
[16] TAHA, H. A. Pesquisa operacional: uma visão geral. 8. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008.
[17] PRODANOV, Cleber Cristiano. Metodologia do trabalho cientifico: Métodos e técnicas de pesquisa do trabalho
acadêmico. 2.ed.- Novo Hamburgo: Feevale, 2013.
[19] FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.
ESTUDO DE BARREIRAS IMPERMEABILIZANTES PARA CAMADA DE
COBERTURA DE ATERROS DE RESÍDUOS

Study of waterproofing barriers for covering layer in landfills

Nathália Delage Soares 1, Sarah Kirchmaier Fayer 2, Júlia Righi de Almeida 3


1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, nathaliadelage@gmail.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, sarah.kirchmaier@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, juliarighi@gmail.com

Resumo: A camada de cobertura é uma maneira de proteger a superfície das células de um aterro
de resíduos. Considerando que existem opções alternativas promissoras de materiais a serem
utilizados nessa etapa, o objetivo desse trabalho foi estabelecer uma comparação entre diversos
liners, apresentando os tipos de barreiras mais usadas e como diversos materiais (solo, resíduo de
construção civil, composto orgânico, lodo, PET, geomembrana) vêm sendo empregados nesse
sistema. Foram discutidas as características principais de cada barreira, sua eficiência em relação à
infiltração de águas pluviais e escape de gases, além de seu comportamento segundo a variação de
condições climáticas e a forma de execução dessas camadas. Ao fim do trabalho, apresenta-se como
resultado um quadro que expõe os liners analisados e as vantagens e desvantagens intrínsecas a
cada um deles. Por fim, conclui-se que a escolha de um material adequado para a execução da
camada de cobertura final é de grande importância para que haja um bom funcionamento do aterro
sanitário, com menores taxas de geração de chorume e escape de gases, resultando em projetos mais
conscientes, eficazes e econômicos.

Palavras-chave: Aterros de Resíduos, Barreira impermeabilizante, Camada de cobertura.

Abstract: The covering layer is a way to protect the surface of landfills. Considering that exist
promising alternative options of materials, the objective this study was establish a comparison
between several liners, presenting the types of barriers most used (soil, building waste, organic
compost, sludge, PET, geomembrane) and how these materials have been used in this system. In
additional, this work discussed the main characteristics of each barrier, their efficiency in relation to
the infiltration of rainwater and the gas escape, also their behavior according to the variation of
climatic conditions and the way of execution of the layers. In the end of the work, this research
presents a table that exposes the liners analyzed and the advantages and disadvantages intrinsic to
each of them. Finally, it was concluded that the choice of a suitable material for the execution of the
final covering layer is very important for a good functioning of the landfill, with lower rates of
slurry generation and exhaust gases. To sum up, a good choice of covering layer results in more
conscious, effective and economical projects.

Keywords: landfills, waterproofing barriers, layer.

1. INTRODUÇÃO
Com o crescimento das cidades e ampliação do consumo pela população, a geração de resíduos
sólidos urbanos (RSU) também aumentou de forma significativa. Com isso, a demanda por formas
de disposição de lixo que sejam ambientalmente corretas torna-se cada vez mais necessária e os
aterros sanitários mostram-se como a opção mais viável do ponto de vista econômico. O aterro
sanitário é uma forma de disposição dos resíduos que visa mitigar os impactos ambientais através
de técnicas de engenharia, como o uso de impermeabilização de base, drenagem dos líquidos e
gases gerados e uma camada de cobertura final.
No que diz respeito a essa última etapa, existem grandes preocupações no momento de elaboração
do projeto, uma vez que a cobertura final dos resíduos é de grande importância para o bom
desempenho do aterro sanitário. Essa camada funciona como uma barreira impermeabilizante (liner)
que controla a interação do resíduo e da atmosfera, reduzindo a infiltração de águas pluviais para o
interior do maciço, minimizando a emissão de gases gerados na degradação do lixo e, ainda,
reduzindo a presença de odores e vetores de doença.
Em relação à construção dos liners, não existe uma norma específica ou procedimento a ser seguido
no país. A norma que expõe os critérios para projeto, implantação e operação em aterros de resíduos
não perigosos, ABNT NBR 13896/97, somente preconiza que o projeto e construção da cobertura
final deve “minimizar a infiltração de água na célula, exigir pouca manutenção, não estar sujeita a
erosão, acomodar assentamento sem fratura e possuir um coeficiente de permeabilidade inferior ao
solo natural da área do aterro”.
Desta forma, torna-se necessário estudar diversos liners para a construção da camada de cobertura
final dos resíduos, analisando as diversas configurações possíveis e a disponibilidade de materiais
que podem ser empregados nessa etapa, para que se possa fazer uma escolha consciente durante a
fase de projeto.

2. OBJETIVO
O objetivo desse trabalho foi estabelecer uma comparação entre diversos liners, de forma a
apresentar suas características principais, sua eficiência em relação à infiltração de águas pluviais e
escape de gases, seu comportamento segundo a variação de condições climáticas e a forma de
execução dessas camadas. Ao fim do trabalho, apresenta-se como resultado um quadro que expõe
os liners analisados e as vantagens e desvantagens intrínsecas a cada um deles.

3. MÉTODOS
Esta pesquisa se deu por meio de revisão bibliográfica, reunindo dados coletados em trabalhos já
publicados, como teses, monografias e artigos. Neste estudo, buscou-se informações atualizadas
sobre o tema, priorizando como referência trabalhos produzidos nos últimos 10 anos.

4. DESENVOLVIMENTO
Ao se encerrar uma célula de um aterro, deve ser executada a camada de cobertura final dos
resíduos, que tem a função de proteger a atmosfera do contato com o lixo, reduzindo a presença de
odores e de vetores de doença, além de evitar o arraste de detritos pelo vento. Outra função dessa
camada é impedir o escape de gases produzidos na degradação do lixo e reduzir a infiltração de
águas pluviais no maciço. Para isso, a camada de cobertura final deve ser construída de modo que
sua integridade seja mantida ao longo do tempo, resistindo à erosão, surgimento de trincas e
recalques (OLIVEIRA, 2002).
Na fase de projeto, a concepção desse sistema deve considerar o tipo e classe do resíduo a ser
coberto, balanço hídrico e clima do local, estabilidade dos taludes do sistema de cobertura,
recuperação da área do aterro e disponibilidade de jazida de material próximo ao aterro (BARROS,
2005). Esses fatores são fundamentais para a escolha adequada das camadas que irão compor o
sistema e, dessa forma, atingir um equilíbrio entre eficiência e economia.
A seguir serão apresentados diversos materiais que têm sido empregados para a construção de
coberturas finais de aterro, discutindo as características principais de cada barreira, sua eficiência
em relação à infiltração de águas pluviais e escape de gases e a forma de execução dessas camadas.
4.1. Solo
O solo é um produto natural proveniente da decomposição das rochas pela ação de agentes do
intemperismo físico ou químico, podendo ou não ter matéria orgânica em sua composição. A maior
vantagem do emprego do solo em coberturas de aterros sanitários é a redução dos custos na
implementação desse sistema, visto que, normalmente, é um material fácil de obter e relativamente
barato, podendo ser usado até mesmo o solo do próprio local do aterro, em alguns casos.
Para utilizar o solo como camada de cobertura, devem-se estudar os aspectos geotécnicos desse
material, verificando: composição granulométrica, limite de liquidez e plasticidade, além de ensaios
de massa específica. A qualidade de solos naturais utilizados como camada de cobertura pode ser
melhorada com a adição de alguns materiais, como, por exemplo, bentonita, cinzas voláteis, entre
outros. Também se pode optar pelo uso desses solos conjuntamente com geomembranas, geotêxteis,
geossintéticos e outros (HUSE, 2007).
O uso de uma camada única de solo compactado é o tipo mais comum de cobertura em aterros
sanitários brasileiros, sendo chamada de cobertura monolítica, convencional ou resistiva.
Normalmente utiliza-se um solo argiloso que é compactado até atingir uma condutividade igual ou
inferior a 10-7 cm/s (SANTOS, 2009). Além da cobertura convencional, o solo pode ser usado em
outros tipos de barreiras, como a barreira capilar simples ou dupla, camada evapotranspirativa ou
associado a materiais alternativos.
A camada monolítica evita a penetração da água de chuva nas camadas de lixo, pela baixa
condutividade hidráulica do solo compactado, escoando para fora da célula o excesso de
precipitação. Sua eficiência depende da espessura da camada de solo e da permeabilidade do solo
compactado. Porém a cobertura convencional possui algumas desvantagens, apresentando
problemas, tais como ressecamento e formação de fissuras e trincas, que são causadas por ciclos de
secagem e umedecimento. Isso leva ao aumento da capacidade de infiltração das águas e do escape
de gases, podendo levar até à perda da função da camada (HUSE, 2007). Sendo assim, a diminuição
do desempenho das camadas de coberturas deve ser levada em consideração para o correto
dimensionamento dos custos de longo e de médio prazo da construção e da manutenção desses
sistemas (USEPA, 2003 apud COSTA, 2015).
A barreira capilar simples consiste de uma camada de solo de granulometria fina colocada sobre
uma camada de material de granulometria grossa, na qual ocorre o fenômeno da ruptura capilar,
cujo objetivo não é impedir que a água penetre no solo, como no caso das barreiras resistivas
convencionais, mas que a água seja armazenada no solo fino para que seja, posteriormente,
eliminada por evapotranspiração. O fluxo de água da camada de solo fino para o solo grosso fica
dificultado devido à grande mudança nos tamanhos dos poros entre as camadas de materiais mais
finos e mais grosseiros, que leva a um efeito mais intenso do fenômeno de capilaridade. A barreira
capilar dupla possui o mesmo funcionamento da barreira capilar simples, porém nesse tipo de
cobertura também existe uma camada superior de material granular, que tem a função de evitar que
a perda de umidade retida pelo material de granulometria fina (SANTOS, 2009; LIMA et al, 2015).
Na Figura 1 é possível observar a representação esquemática da uma barreira capilar simples e
dupla.

Fig. 1 - Esquema de barreira capilar simples (esquerda) e dupla (direita). (SANTOS, 2009 ).

Lopes (2011) avaliou a infiltração de águas e emissões de metano em três diferentes camadas de
cobertura, instaladas em uma célula experimental de aterro de resíduos sólidos. As coberturas
avaliadas foram do tipo convencional, barreira capilar e metanotrófica. A camada convencional
(CONV) possui uma camada de solo compactado. A barreira capilar (BAC) foi construída com uma
camada de pedra rachinha, pedra bruta com dimensão entre 6,4 cm a 17 cm, e solo compactado. A
camada metanotrófica (METO) possui uma camada de solo compactado sobreposta de uma mistura
solo+composto orgânico. Em relação à infiltração de água, os resultados mostram que a camada
convencional foi a que apresentou menores taxas mensais, ficando abaixo de 0,1%, mantendo a
umidade constante ao longo do tempo e apresentando infiltrações somente para precipitações de
grande intensidade. Porém, a eficiência da camada convencional foi inferior quando se tratam das
emissões de metano, apresentando níveis de emissão 6 vezes superior às camadas metanotróficas e
barreira capilar. As emissões de metano ficaram dentro da faixa de 0 e 40 g/m².dia nas barreiras
capilar e metanotrófica e entre 0 e 250g/m².dia para a camada convencional, excluindo-se os picos
em função de fissuras, conforme pode ser observado na Figura 2.

Fig. 2 - Emissão de metano nas camadas de cobertura. (LOPES, 2011).


Costa (2015) avaliou o desempenho de duas camadas de cobertura estudando o comportamento dos
solos em função do fluxo de líquidos e gases através do uso de colunas de solos. As colunas
utilizadas foram preenchidas adotando uma camada convencional com 0,60 m de solo compactado
(Coluna 1) e uma camada oxidativa com 0,30 m de solo compactado sobreposta a uma camada de
0,30 m de solo + composto na proporção de 1:1 (Coluna 2). Os resultados mostram que a coluna de
solo não apresentou redução das emissões de metano, devido ao solo possuir pouca matéria
orgânica na sua constituição e menor capacidade de retenção de metano (51%), enquanto a Coluna
2 apresentou 84% de retenção. A permeabilidade medida apresentou a mesma ordem de grandeza
para os dois materiais, atingindo 4,2x10-9 m/s para o solo e 1,9x10-9 m/s para solo+produto
compostado. A capacidade de campo (teor de umidade volumétrico correspondente ao máximo de
água que o material pode reter sem que ocorra percolação vertical) foi menor para o solo, chegando
a 24%, enquanto a mistura solo+composto atingiu 35%. Outra observação feita foi o surgimento de
várias fissuras na superfície da Coluna 1, devido ao ciclo de umedecimento e secagem do material.
A presença de fissuras na Coluna 2 foi bem menor, como pode ser visto na Figura 3.

Fig. 3 - Fissuras abertas na Coluna 1 (esquerda) e Coluna 2 (direita). (COSTA, 2015).

4.2. Resíduo de Construção Civil


Os resíduos de construção civil (RCCs) são provenientes de reformas, construções de edificações e
outras estruturas e demolições, sendo compostos por resíduos de concreto, argamassa, materiais
cerâmicos, metais, madeiras, vidros, entres outros. Assim, para realizar o reaproveitamento e
reciclagem desses resíduos, é necessária uma separação prévia dos materiais de maior interesse. No
caso das coberturas de aterros sanitários, os resíduos de concreto, argamassa e materiais cerâmicos
são os de maior interesse. Após a separação é realizada a homogeneização, britagem e peneiramento
do material (SALGADO, 2010). A partir desses processos, transforma-se o RCC em agregados
reciclados graúdos e miúdos.
O uso de agregados reciclados provenientes de RCC na cobertura final de aterros sanitários, além de
ser uma alternativa para a redução da disposição final desse material, pode representar uma
proposta sustentável de destinação, aliando vantagens técnicas, econômicas e ambientais (COSTA,
2015). Além disso, o uso de RCC implica na não extração de materiais naturais para a aplicação na
cobertura dos resíduos em aterros sanitários (SALGADO, 2010). Normalmente, o RCC é utilizado
nas coberturas do tipo barreira capilar simples ou dupla.
Salgado (2010) realizou um estudo comparando o uso de agregados reciclados miúdos e graúdos
com o uso de argila e pedra britada nº5 como camadas de cobertura de aterros sanitários, através do
calculo do balanço hídrico. Ao final do estudo o autor pôde concluir que o uso de agregados
graúdos de RCC em substituição do uso de pedra britada natural se mostrou satisfatório, pois as
vazões permitidas para passagem de líquidos na camada granular inferior tem a mesma ordem de
grandeza nos dois casos. Ao tentar substituir o uso de argila por agregado reciclado miúdo, o
resultado encontrado pelo autor foi que a vazão percolada pela barreira de agregado miúdo
reciclado compactado é 100 vezes maior do que a vazão passante pela barreira de argila
compactada. Segundo Salgado (2010), mesmo com o aumento na vazão é possível usar o resíduo de
granulometria fina como camada de cobertura, já que a camada drenante inferior é capaz de retirar
parte dessa vazão antes de entrar na pilha de lixo.
Costa (2015) realizou diversos ensaios para avaliar o comportamento da mistura de solo com RCC.
Os percentuais de adição estudados foram de 10%, 20%, 30% e 40% de RCC em relação à massa de
solo seca. Do ponto de vista da permeabilidade, o autor observou que a condutividade hidráulica
manteve a mesma ordem de grandeza em todas as adições de resíduo comparadas com o solo puro,
com exceção daquela com adição de 40%, na qual houve um aumento da condutividade. Em relação
ao ensaio de absorção/retração, que tem por objetivo avaliar a perda de massa e a variação
volumétrica dos materiais quando dispostas em ambientes com diferentes umidades relativas do ar,
os resultados obtidos com o ambiente úmido foi uma perda de massa de máxima 2% e de variação
volumétrica inferior à 2%. Com o ambiente seco atingiu-se uma perda de massa de máxima 23%,
sendo que as perdas de massa foram maiores para menores percentuais de RCC, e a variação
volumétrica máxima do solo puro foi de 5,5% enquanto as misturas atingiram somente 3,5%. Ao
realizar ensaios preliminares de ressecamento, Costa (2015) pode observar que os casos em que se
usou misturas de solo e RCC as fissuras demoraram mais a aparecer se comparado ao uso de solo
puro e que a adição do RCC ao solo demostrou a tendência de redução da área fissurada com o
aumento do percentual da adição.
Em seu estudo, Rios e São Mateus (2016) compararam o uso de RCC com o uso de solo natural
através do cálculo do balanço hídrico. O RCC usado classifica-se como pedregulho arenoso com
pouca argila e vestígios de silte (DAMASCENO, 2013 e RIBEIRO, 2014 apud RIOS E SÃO
MATEUS, 2016 ), e o solo como areia fina argilosa (SANTOS E SÃO MATEUS, 2015 apud RIOS
E SÃO MATEUS, 2016). Os resultados mostram que a utilização de RCC como camada de
cobertura é satisfatório já que a quantidade de percolado ao longo do ano de 2015 é inferior a 20
mm, tanto para o resíduo quanto para o solo, não sendo suficiente para atingir a capacidade de
armazenamento desses materiais (90 mm). Isso mostra que a água não atinge o resíduo.
4.3. Composto Orgânico
O composto orgânico é um produto relativamente estabilizado que é resultado de um processo
chamado compostagem. A compostagem pode ser definida como uma decomposição aeróbia
controlada de substratos orgânicos em condições que permitem atingir temperaturas suficientemente
elevadas para o crescimento de microorganismos termofílicos. O aumento de temperatura surge
como resultado da liberação de calor na degradação microbiológica dos substratos (MAHLER,
2002 apud ALMEIDA, 2011).
O uso de composto na cobertura final de aterros sanitários, além de ser uma alternativa para a
redução da disposição de resíduos orgânicos em aterros, representa uma proposta sustentável de
reutilização do material, aliando vantagens técnicas, econômicas e ambientais. Além disso, o uso de
composto implica na diminuição do volume de deposição de materiais orgânico em aterros
sanitários, aumentando a vida útil do mesmo (IZZO et al, 2013).
Em seu trabalho, Almeida (2011) avaliou o uso de RSU compostado como material de construção
de uma barreira capilar que funcione como cobertura final de aterros de resíduos. Neste trabalho foi
construído um modelo de laboratório representando uma barreira capilar simples na qual se realizou
duas simulações de chuva. Através desse modelo, verificou-se o desempenho das camadas de
cobertura chegando ao resultado de que, para a primeira simulação, a eficiência da barreira capilar
foi de 81,62% e, pra a segunda simulação, foi de 93,44%. Assim, Almeida (2011) concluiu que o
composto utilizado como material de uma barreira capilar funciona de maneira semelhante àquela
construída com solo, desempenhando bem a função de reter a água da chuva e minimizando,
portanto, a geração de lixiviado.
Izzo et al (2013) analisaram a viabilidade do uso de RSU pré-tratado mecânica e biologicamente
(RSU PTMB) em barreiras capilares para cobertura de aterros sanitários, investigando os
parâmetros envolvidos em seu funcionamento através do coeficiente de permeabilidade, da
capacidade de campo e da construção de uma barreira capilar experimental em laboratório. Como
resultados os autores observaram que o coeficiente de permeabilidade variou entre 4x10-4 e 1,8x10-6
cm.s-1, para uma massa específica seca entre 0,49 a 0,82 g.cm-3. De acordo com os resultados, a
capacidade de campo variou entre 46% e 56%, sendo que os valores foram menores para valores de
massa específica seca maiores. Com relação à barreira capilar construída em laboratório, Izzo et al
(2013) concluíram que com o aumento da inclinação, menos líquido é retido na camada capilar por
causa do efeito de drenagem lateral. Em relação à massa específica seca, o aumento do valor desse
parâmetro gera uma maior retenção de água na camada capilar, devido ao efeito da capilaridade. Os
autores indicam, ainda, que há uma diminuição do volume de água retido pela camada capilar
devido à elevação da intensidade de chuva. Por fim, Izzo et al (2013) concluiu que o uso de RSU
PTMB é viável para a construção da barreira capilar como cobertura de resíduos em aterros.
Ao avaliar o desempenho de duas colunas de solo estudadas, Costa (2015) pôde perceber que apesar
da permeabilidade da mistura solo+composto ser uma pouco maior, atingindo 1,9x10-9 m/s
enquanto o solo apresentou 4,2x10- 9 m/s, a eficiência desse material foi maior em relação ao solo
compactado, quando comparado a outros aspectos. A Coluna 2, que tem a mistura solo+produto
compostado, apresentou uma retenção de metano 33% maior que o solo, além de apresentar redução
das taxas de emissão de metano dada pela oxidação do mesmo. A mistura apresentou maior
capacidade de retenção de água, apresentando taxas de umidade de capacidade de campo 11%
maior do que a observada no solo. Além disso, a adição de produto compostado ao solo foi
importante para minimizar o surgimento de fissuras na Coluna 2, como pode ser visto na Figura 2,
conseguindo diminuir a retração deste, melhorando a capacidade de retenção de água e retardando a
infiltração para pontos mais baixos da camada.
Analisando três diferentes configurações de cobertura final, Lopes (2011) pôde perceber que em
relação à infiltração de água, as barreiras alternativas sofreram maior percolação do que a barreira
convencional (CONV), como pode ser visto na Figura 4. Apesar disso, as taxas de infiltração
mensal máximas foram de 4,2% para a cobertura metanotrófica (METO) e 3,5% para a barreira
capilar (BAC), apresentando desempenho satisfatório. A retenção do gás metano foi mais eficiente
nas barreiras metanotrófica e capilar, apresentando taxas máximas de emissão de 40 g/m².dia,
enquanto a camada convencional apresentou uma taxa máxima de 250 g/m².dia. Do ponto de vista
da oxidação do metano, a cobertura metanotróficas foi a mais eficiente, atingindo uma média de
64,9% de eficiência, enquanto a cobertura convencional e a barreira capilar atingiram a média de
21,7 % e 4,5%, para os perfis sem vegetação, e 58,8% e 42,4%, para perfis com vegetação,
respectivamente.

Fig. 4 - Precipitação e infiltração acumuladas. (LOPES, 2011)


4.4. PET
O Polietileno Tereftalato de Etileno, conhecido comumente como PET, é considerado um material
alternativo para camadas de cobertura. A inclusão das fibras de polietileno ao solo pode melhorar
suas propriedades, controlando a abertura e o espaçamento entre fissuras e, dessa maneira, reforçar
o solo para que um material bem compactado, que apresente boa resistência à compressão, mas que
não apresente uma resistência à fissuração considerável, tenha uma boa resistência à tração
(COSTA, 2015).
Considera-se o PET um dos maiores responsáveis pelos prejuízos causados ao meio ambiente
devido à deposição irregular, uma vez que o seu processo de decomposição demora séculos. No
entanto, as possibilidades de reaproveitamento desse material são enormes visto que o Brasil recicla
atualmente apenas 51% do que é gerado, como pode ser visto na Figura 5 (ABIPET, 2016).

Fig. 5 - Gráfico da Evolução da Reciclagem do PET no Brasil. (ABIPET, 2016)


De modo a analisar o comportamento de materiais alternativos adicionados ao solo para execução
de camadas de cobertura, Costa (2015) avaliou percentuais de adição, em relação à massa de solo
seco de 0,4%, 0,6%, 0,8% e 1,0% de filetamento de garrafas de refrigerante PET. Variando o
comprimento e a geometria lateral dessas fibras se pôde concluir que sua adição praticamente não
influenciou o comportamento do solo quanto aos parâmetros obtidos no ensaio de compactação,
nem no peso específico dos grãos. Em contrapartida, observou-se que o percentual de adição de
0,4% mostrou-se mais eficiente em relação ao ganho de resistência à compressão e ao padrão de
fissuração das misturas que, quando comparado ao solo puro, apontaram para uma melhoria
significativa na redução das áreas fissuradas. Quanto a tração no solo, o comportamento mudou
significativamente. Foram moldados corpos de prova com 0,4% de adição de fibras, variando-se o
comprimento entre 10 mm e 30 mm e a geometria lateral, utilizando-se fibras lisa (FL) e sanfonadas
(FS). Após os ensaios de tração por compressão diametral foi possível observar que o solo puro
apresentou um comportamento frágil, sem um intervalo de plastificação sensível, rompendo assim
que a resistência última foi atingida. Já os corpos de prova com adição de fibra apresentaram um
comportamento diferente, com uma zona de deformação secundária influenciada pelas interações
das fibras com o solo, como pode ser observado na Figura 6.

Fig. 6 – Resultados dos ensaios de tração por compressão diametral para as misturas solo+PET. (SANTOS e
SILVA, 2015 apud COSTA , 2015)
A amostra com adição de PET fissurou rapidamente, mas apresentou, ao longo do processo, menor
evolução da área fissurada, demonstrado que a fibra atuou evitando a propagação das fissuras com o
tempo.
4.5. Lodo
Os lodos das Estações de Tratamento de Água (ETA’s) são resíduos semissólidos provenientes dos
processos de tratamento de água para abastecimento público. Esse material é produzido pelos
processos de coagulação e floculação e removidos por decantadores. O lodo de ETA é composto de
água e de sólidos suspensos, constituídos de partículas coloidais e finas, acrescidos dos produtos
químicos aplicados durante o processo de tratamento. A quantidade de lodo gerada depende da
qualidade físico-química da água bruta (BOSCOV, 2008).
O lodo de esgoto é gerado quando o esgoto é submetido a algum tipo de tratamento. As Estações de
Tratamento de Esgoto (ETE’s) operam com diferentes sistemas tecnológicos como: lagoa de
estabilização, lodos ativados, filtros anaeróbios, entre outros. De uma maneira geral, o lodo de ETE
pode ser caracterizado como um material bastante rico em matéria orgânica, com alto teor de
umidade e com concentração relativamente elevada de nitrogênio e outros minerais, podendo
apresentar características marcantes como odor, concentração de patógenos e atração de vetores
(PRIM, 2011).
O destino do lodo de ETA era o despejo em rios. No entanto, essa prática foi abolida pelo
CONAMA n°357 (2005), que obriga a disposição deste material em local correto, pois o lodo pode
ser prejudicial à qualidade da água, além de colaborar no processo de assoreamento de rios. Logo,
foram criadas alternativas para o despejo do lodo que em sua grande maioria têm custos elevados,
devido à aquisição de equipamentos ou outras atividades realizadas para tal disposição (BERALDO
et al, 2011). Já para o lodo proveniente de ETE, as principais destinações são: aplicação em áreas
degradadas, disposição em aterros sanitários, incineração, disposição no mar e aplicação na
agricultura e em florestas (PRIM, 2011). A utilização como cobertura de aterros sanitários é uma
forma comum de disposição de lodo desidratado e a Figura 7 ilustra o processo.

Fig. 7 - a) Descarregamento do lodo de esgoto na área desejada; b) Mistura do lodo com aditivo em área
designada; c) Aplicação da mistura em cobertura de aterro. (REINHART et al., 2007 apud Pimentel, 2012).
Castilhos Junior et al (2011), afirmam que o lodo de ETA e ETE in natura não possuem qualidade
suficiente para ser utilizado diretamente como material de cobertura em função do seu alto teor de
sólidos voláteis, umidade e microrganismos patogênicos. No entanto, o tratamento de estabilização
alcalina em estufa agrícola, adotado pelo autor, foi suficiente para adequar o lodo aos critérios
necessários para sua utilização em coberturas de aterro sanitário, considerando os valores
verificados na literatura e o padrão Classe B do CONAMA nº 375 (Brasil, 2006). Além disso, os
resultados apontaram em aumento da granulometria, redução do índice de plasticidade (IP) e da
massa específica dos grãos. Os parâmetros de resistência ao cisalhamento apresentam resultados
significativos provavelmente em função da reação pozolânica entre a cal e os minerais argílicos
presentes no solo e consequentemente conferindo ação cimentante à mistura.
Pimentel (2012) recomenda traços de 1:1 (solo:lodo) com 30% de cal para coberturas finais nas
camadas superficiais (vegetativas) e camadas de proteção e o traço 1:2,33 com 30% é recomendável
para coberturas diárias e intermediárias. O autor afirma ainda que à adição de lodo ao solo aumenta
sua permeabilidade e a capacidade de absorver água, assim a camada reteria a água da chuva e
evitaria que ela se infiltrasse para dentro do aterro sanitário, liberando água para a camada
vegetativa conforme sua demanda ou através de sua evaporação para a atmosfera. Estes fatores
ajudariam a manter a camada vegetativa, e a reduzir a erosão e a infiltração de água da chuva,
diminuindo assim a geração de lixiviado e o potencial de contaminação das águas superficiais e
subterrâneas. No estudo em questão foi avaliado o lodo de esgoto e concluiu-se que estes podem
contribuir para elevar a concentração de alguns parâmetros do lixiviado nos primeiros dias após sua
aplicação, como a DQO, a DBO, a amônia, o nitrito, o fósforo, os sólidos e alguns metais, mas
poucas semanas depois esses valores tendem a baixar e a ficar próximos de uma célula normal que
não tivesse recebido lodo em sua cobertura.
4.6. Geomembranas
As geomembranas (GM) se caracterizam por serem mantas contínuas, flexíveis e impermeáveis,
com espessuras de 0,5 a 2,5 mm e coeficiente de permeabilidade entre 10-12 e 10-15m/s (BOSCOV,
2008). Esses geossintéticos são amplamente utilizados como barreiras hidráulicas em sistemas de
cobertura, devido à sua estrutura não porosa, à sua flexibilidade e à facilidade de instalação
(COSTA, 2015).
Nos aterros de resíduos de RSU, as geomembranas são utilizadas no sistema de confinamento da
base e dos taludes, para que não ocorra a evasão de lixiviados, e no sistema de cobertura, com a
função de controlar a infiltração das águas superficiais e, consequentemente a produção de
lixiviado, além de evitar a migração não controlada do biogás. Além das funções indicadas, as
geomembranas possuem ainda a função de resistir a agressões químicas e biológicas por parte dos
resíduos, lixiviados e biogás, a agressões mecânicas durante a construção (tráfego de obra,
colocação de camadas sobrejacentes) e exploração (peso dos resíduos, assentamentos da cobertura
ou fundação) e ainda ao efeito da exposição aos raios solares, entre outros (LOPES, 2006 ).
Lopes (2006) avaliou as falhas da geomembrana e pode concluir-se que cerca de 98% dos danos
observados em geomembranas utilizadas no confinamento de aterros de resíduos ocorrem durante o
período de construção. Destes 25% ocorrem durante a colocação da geomembrana e ligação dos
painéis e 73% durante a colocação da camada drenante sobrejacente à geomembrana. Os danos
mais recorrentes são as soldaduras defeituosas e o punçoamento da geomembrana devido a pedras
angulosas.
Palmeira (2018) apresenta as principais vantagens do uso da geomembrana em relação às soluções
convencionais em obras de disposição de resíduos. Segundo o autor, o geossintético é um material
de construção manufaturado e sofre rigoroso controle de qualidade, o que lhe confere maior
constância e confiabilidade nas propriedades e características gerais. Além disso, por possuir
pequena espessura, acarreta na redução de volume de disposição ocupado pelo sistema de barreira,
sendo também interessante em regiões com escassez de materiais naturais apropriados ou em locais
de difícil acesso. Palmeira (2018) afirma que com o avanço da tecnologia, já se dispõe de
características e funções diversas em um mesmo produto, e é possível obter a localização de
vazamentos nas geomembranas por meio de monitoramento remoto.
Costa (2015) aponta vantagens da utilização de GM em camadas impermeáveis destacando a
permeabilidade extremamente baixa e a possibilidade de absorver pequenas deformações. O autor
ainda apresenta a capacidade de minimizar os efeitos do ressecamento e da penetração de raízes
quando associadas às camadas de argila compactada. Já como desvantagens, assim como Lopes
(2004), destaca a possibilidade de vazamentos causados por imperfeições ocasionais na GM. Outra
desvantagem evidenciada foi a possibilidade de deslizamento na interface entre a GM e materiais
próximos.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir das informações obtidas durante o desenvolvimento desta pesquisa, foi possível
desenvolver a Tabela 1, que apresenta as principais vantagens e desvantagens relativas ao uso de
cada material como camada de cobertura. A principal finalidade do desenvolvimento desta tabela é
facilitar a avaliação das diversas possibilidades aqui apresentadas, possibilitando uma escolha mais
consciente do material a ser usado nesta etapa da construção de um aterro sanitário.

Tabela 1 - Principais vantagens e desvantagens relativas ao uso de cada material como camada de cobertura.
Material Vantagens Desvantagens
Baixa permeabilidade; Surgimento de fissuras;
Geralmente é um material de fácil Menor retenção da emissão de gases;
Solo obtenção; Não oxidação do metano;
Algumas vezes pode ser usado solo do Alto custo de transporte e extração do
próprio local. material, caso não exista em locais próximos.
Reaproveitamento de material com Aumento da condutividade hidráulica com o
destinação ambientalmente correta; aumento da porcentagem de RCC incorporado
Diminuição da extração de argila e pedras ao solo.
britadas do meio natural;
RCC Elevação da resistência devido a
argamassa, concreto e materiais cerâmicos;
Menor perda de massa e variação
volumétrica em locais com clima seco;
Redução do nível e da área fissurada.
Reaproveitamento de material com Maior infiltração de água, comparado ao solo
destinação ambientalmente correta; compactado;
Diminuição do volume de lixo orgânico Necessidade de área e materiais para realizar
aterrado; o processo de compostagem.
Aumento da vida útil do aterro;
Composto Orgânico
Diminuição da extração de material natural
do meio ambiente;
Boa retenção e oxidação do metano;
Boa capacidade de retenção da água;
Baixo surgimento de fissuras.
Reaproveitamento de material com Aumento da condutividade hidráulica;
destinação ambientalmente correta; Necessidade de controle da compactação na
Fácil obtenção; obra, já que o grau de compactação afetam os
Absorve as deformações; benefícios do reforço com fibras.
PET Reduz a quantidade, a profundidade e o
comprimento das fissuras;
Evita propagação das fissuras ao longo do
processo de ressecamento; Eleva o módulo
de elasticidade da mistura;
Reaproveitamento de material com Aumento da condutividade hidráulica com o
destinação ambientalmente correta; aumento da porcentagem de lodo;
Lodo Diminuição dos custos com tratamento de Necessidade de pré-tratamento e
lodo; acompanhamento da estabilidade e umidade
Diminuição da extração de material natural do material para posterior uso;
do meio ambiente; Aumento da concentração de alguns
Boa capacidade de retenção da água; parâmetros no lixiviado durante os primeiros
Aproveitamento dos nutrientes para o dias.
crescimento da vegetação na cobertura
final.
Baixa permeabilidade; Possibilidade de vazamentos causados por
Absorve pequenas deformações; imperfeições ocasionais;
Fácil instalação; Incerteza sobre a vida útil;
Geomembrana Minimiza o efeito de ressecamento do solo Possibilidade de deslizamento na interface
e da penetração das raízes, quando usado GM e materiais adjacentes.
junto com o solo compactado;
Ocupa menor espaço.

6. CONCLUSÃO
O trabalho aqui apresentado teve como objetivo reunir informações e estabelecer uma comparação
entre os diversos tipos de camada de cobertura, apresentando os tipos de barreiras mais usadas e os
diversos materiais que vem sendo empregados nesse sistema. Verificou-se uma série de vantagens e
desvantagens a partir da escolha de cada tipo de material para construção da cobertura.
Para as camadas construídas com solos constatou-se que, apesar de possuir uma permeabilidade
baixa, esse tipo de cobertura apresenta problemas de surgimento de fissuras, perdendo a eficiência
com o tempo, e possui baixa retenção da emissão de gases. Além disso, ao escolher esse tipo de
cobertura, deve-se verificar a disponibilidade do material nos locais próximos à instalação do aterro,
já que a extração e transporte do solo tem o custo elevado.
O uso de RCC na cobertura de aterros traz vantagens como a elevação da resistência do material,
redução da área fissurada e diminuição da perda de massa e variação de volume do da camada.
Porém constatou-se que quanto maior a proporção de RCC em misturas com solo, maior será a
condutividade hidráulica da mistura. Desta forma, quando se opta por usar este material em
misturas, estudos devem ser feitos para chegar a uma proporção adequada de RCC e solo.
Em relação ao composto orgânico, as principais vantagens são diminuição da fissuração da
cobertura, boa capacidade de retenção de água e gases e boa oxidação do metano. A maior
dificuldade encontrada na utilização desse material é a necessidade de área e materiais disponíveis
para o processo de compostagem.
No caso do PET, há uma melhora na absorção das deformações, evitando a propagação de fissuras
ao longo do ensaio de tração e uma elevação do módulo de elasticidade. No entanto, ocorre um
aumento da condutividade hidráulica e é necessário um controle de compactação da obra. Além
disso, o reaproveitamento do material é um benefício ao meio ambiente.
As camadas construídas com mistura de lodo e solo têm boa capacidade de retenção de água e
fornecem nutrientes para o crescimento de vegetação na cobertura final. Por outro lado, o uso desse
material gera um aumento da condutividade hidráulica e da concentração de alguns parâmetros no
lixiviado durante alguns dias. Além disso, existe a necessidade da realização de pré-tratamento do
lodo, acompanhando a estabilidade e umidade do mesmo.
O uso de geomembranas na cobertura dos aterros traz como principais vantagens a facilidade da
instalação, redução do volume da camada, absorção de pequenas deformações e a permeabilidade
baixa. Porém, há uma grande preocupação sobre a incerteza da vida útil desse material, a
possibilidade de vazamentos causados por imperfeições ocasionais e de deslizamentos na interface
de contato com outro material.
Por fim, conclui-se que a escolha de um material adequado para a execução da camada de cobertura
final é de grande importância para que haja um bom funcionamento do aterro sanitário, com
menores taxas de geração de chorume e escape de gases, resultando em projetos mais conscientes,
eficazes e econômicos.

REFERÊNCIAS
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perigosos - Critérios para projeto, implantação e operação. Rio de Janeiro, 2010.

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agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos derivados, e dá outras
providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 2006.

[21] PIMENTEL, F. J. G. Aproveitamento de lodo de estação de tratamento de esgoto em camada de cobertura de


aterro sanitário. Dissertação de mestrado. UFSC. Florianópolis, 2012.

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[23] PALMEIRA, E. M.. Geossintéticos em Geotecnia e Meio Ambiente. 1. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2018.
v. 1. 294p .
AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS QUE INFLUENCIAM A
CONFIABILIDADE DE VIGAS PRÉ-FABRICADAS PROTENDIDAS:
TEORIA VERSUS PRÁTICA

Evaluation of parameters that influence the reliability of precast prestressed beams:


theory versus practice

Natália Lo TIERZO 1, Fabio Albino SOUZA2, Maria Cecilia Amorim Teixeira da SILVA 3
1UNICAMP, Campinas, Brasil, natalia.tierzo@gmail.com
2
UNICAMP, Campinas, Brasil, fabio@selap.com.br
3
UNICAMP, Campinas, Brasil, cecilia@fec.unicamp.br

Resumo: O objetivo do presente trabalho é apresentar uma análise comparativa entre valores teóricos
e experimentais dos fatores que influem na análise de confiabilidade de vigas pré-fabricadas de
concreto protendido submetidas à flexão. A abordagem teórica, extraída da literatura corrente,
estabelece como são tratadas as principais variáveis consideradas como aleatórias e os parâmetros a
elas associados. Os valores experimentais foram obtidos a partir do acompanhamento da produção de
vigas em uma indústria de pré-fabricados. Foram considerados como principais parâmetros que
influenciam a confiabilidade estrutural das vigas à flexão as dimensões da peça, as resistências dos
materiais e a força de protensão aplicada. A partir dos valores coletados, foi possível verificar que
teoria e prática se alinham quando parâmetros geométricos e aqueles referentes às resistências dos
materiais são analisados. Notou-se, entretanto, que a aplicação da força de protensão na viga foi o
ponto crítico da análise, com difícil mensuração das perdas de protensão devido ao grande número
de incertezas vinculadas a esse processo. A análise comparativa entre os parâmetros teóricos e
experimentais da perda da força de protensão foi inconclusiva, mostrando ser necessário um
aprimoramento no tratamento desse parâmetro para que seja possível se chegar a resultados mais
representativos.

Palavras-chave: concreto protendido, confiabilidade, viga pré-fabricada.

Abstract: The aim of this paper is to present a comparative analysis between theoretical and
experimental values of the variables that influence the reliability analysis of precast concrete beams
subjected to bending. The theoretical approach, extracted from the current literature, establishes how
the main variables considered as random and the associated parameters are treated. The experimental
values were obtained from the monitoring of the production of beams in an industry of precast
structures. The main parameters influencing the structural reliability of the flexural beams were the
dimensions, the strengths of the materials and the prestressing applied. From the collected values, it
was possible to verify that theory and practice fit when geometric parameters and those referring to
the resistances of the materials are analyzed. One observes, however, that the application of the
prestressing in the beam was the critical point of the analysis, with a difficult measurement of the
losses of the prestressing due to the great number of uncertainties related to this process. The
comparative analysis between the theoretical and experimental parameters of the loss of the
prestressing was inconclusive, showing that it will be necessary an improvement in the treatment of
this parameter in order to reach more representative results.
Keywords: prestressed concrete, reliability, precast beam.

1.INTRODUÇÃO
Uma estrutura feita em concreto pré-fabricado é aquela em que os elementos estruturais são moldados
e adquirem certo grau de resistência antes do seu posicionamento definitivo na estrutura. Sua
produção é feita em fábricas, havendo uma completa industrialização da construção com o emprego,
de forma racional e mecanizada, dos materiais, dos meios de transporte e das técnicas construtivas
para se conseguir uma maior produtividade, diferentemente das estruturas moldadas in loco, que
possuem um processo artesanal de produção. Esta industrialização do processo construtivo faz com
que as estruturas pré-moldadas sejam mais eficientes e econômicas, garantindo a padronização das
peças e qualidade da produção. Quando se reúne o processo de pré-fabricação com a protensão, os
resultados são peças ainda mais eficientes, aliando-se as vantagens do concreto protendido, ou seja,
peças mais esbeltas que resistem a grandes cargas com as vantagens da industrialização dos pré-
fabricados, que minimiza os erros nas obras.
Quando se trata de estruturas pré-fabricadas e protendidas o sistema construtivo mais utilizado é a
pré-tração com aderência inicial, trazendo como vantagem a produção em grande escala em pistas de
protensão e evitando o desperdício de materiais.
Apesar do maior controle de qualidade das estruturas pré-fabricadas, existem ainda as incertezas
geradas pela aleatoriedade de alguns parâmetros que podem fazer com que ocorram variações no que
diz respeito à segurança estrutural. A aplicação de técnicas de confiabilidade na avaliação da
segurança estrutural leva a resultados mais realísticos quanto à probabilidade de falha de uma
estrutura. Avaliar os parâmetros que podem ser tratados como variáveis aleatórias e qual a sua
influência no desempenho da estrutura de concreto tem sido objeto de análise há alguns anos de
diversos autores: AL-HARTHY & FRANGOPOL (1994) estudaram os níveis de confiabilidade de
elementos estruturais submetidos a solicitações de flexão, considerando todos os parâmetros
envolvidos como variáveis aleatórias; REAL (2000) desenvolveu um modelo para análise
probabilística de concreto armado sob estado plano de tensões; NOWAK, PARK E CASAS (2001)
compararam os índices de confiabilidade de vigas protendidas projetadas segundo os códigos Spanish
Norma IAP-98 (1998), ENV 1991-3 Eurocode 1 (1994) e AASHTO LRFD (1998);BIONDINI,
BONTEMPI, FRANGOPOL E MALERBA(2004) avaliaram a confiabilidade de estruturas de
concreto armado e protendido pelo Método de Monte Carlo; AGRAWAL & BHATTACHARYA
(2010) apresentaram uma metodologia baseada em confiabilidade para obtenção de fatores de
segurança parciais para vigas de concreto protendido no estado limite último de flexão; ROCHA
(2014) analisou a confiabilidade de vigas portuárias de concreto protendido em relação ao estado
limite último de flexão de acordo com as prescrições da NBR 6118 (2014); e SAN MARTINS (2014)
estudou a confiabilidade de vigas pré-tracionadas de concreto protendido em relação ao estado limite
último de flexão de acordo com as prescrições da NBR 6118 (2014) através do método FORM.
Com base nesses estudos, foi realizado um levantamento dos principais parâmetros de projeto que
podem ser considerados como variáveis aleatórias no dimensionamento de vigas pré-fabricadas de
concreto protendido para verificar se a forma como estas variáveis aleatórias são tratadas refletem a
realidade. Para isso, foi feito o acompanhamento da produção de vigas de concreto protendido pré-
fabricadas em uma empresa de estruturas pré-fabricadas. Esse trabalho foi dividido em três etapas.
Na primeira etapa, foi feito um levantamento bibliográfico e identificação dos parâmetros que
normalmente são considerados como variável aleatória no cálculo de confiabilidade de estruturas pré-
fabricadas protendidas. Após a obtenção destes dados, a segunda etapa foi um estudo de caso em uma
fábrica de estruturas pré-fabricadas de pequeno porte, e os parâmetros citados na literatura como
variáveis aleatórias, foram analisadas in-loco. Por fim, na terceira etapa, foi feita uma comparação
dos dados teóricos com os dados encontrados na fábrica para averiguar se a variação dos parâmetros
considerados como aleatórios referenciada na literatura está de acordo com os valores aplicados na
fábrica.

2.PARÂMETROS TEÓRICOS PARA AVALIAÇÃO DE CONFIABILIDADE DE VIGAS


PRÉ-FABRICADAS
No desenvolvimento dos projetos estruturais, a presença da incerteza é inevitável. Normalmente os
dados existentes são incompletos ou insuficientes, e engenheiros devem lidar cotidianamente com
estimativas baseadas em modelos idealizados com algum grau de imperfeição relativo à realidade.
Quando se desenvolve um projeto, as varáveis podem ser consideradas como determinísticas ou
aleatórias. A consideração das variáveis como determinísticas resultam em problemas mais simples,
porém com maiores incertezas. Já a consideração das variáveis como aleatórias gera problemas mais
complexos, porém com maior confiabilidade. A determinação de quais variáveis serão consideradas
como aleatórias e quais deverão ser consideradas como determinísticas vai depender do grau de
segurança que se pretende atingir. Os problemas de confiabilidade podem ser tão complexos quanto
necessário, de acordo com a consideração de como as variáveis se relacionam, podendo exigir grandes
esforços computacionais.
O projeto de vigas de concreto protendido com aderência inicial envolve um número relativamente
grande de parâmetros, desta forma, a consideração de todas as variáveis como aleatórias tornaria a
solução do problema inviável. Cabe ao projetista analisar quais os parâmetros devem ser considerados
aleatórios e quais devem ser considerados como determinísticos. Esta não é uma tarefa tão intuitiva,
sendo objeto de estudo de muitos pesquisadores a análise de como cada parâmetro pode influenciar
no resultado final.
O objetivo deste item é abordar quais são as variáveis aleatórias mais comumente empregadas no
dimensionamento de vigas protendidas com aderência inicial e como cada uma delas vem sendo
abordada nos estudos de confiabilidade.
2.1.Resistência do Concreto
Os coeficientes de variação para a resistência à compressão do concreto dependem do grau de controle
de qualidade em todas as fases da produção. Na maioria das bibliografias assume-se que este
coeficiente pode variar entre 0,10, 0,15 e 0,20 se o controle de qualidade for excelente, médio ou
baixo, respectivamente. Nos casos em que a pré-tração é utilizada em vigas pré-fabricadas,
produzidas em fábricas, onde se espera que haja um controle de qualidade alto, é possível adotar um
coeficiente de variação para o concreto de 0,10.
Com o coeficiente de variação definido, é possível calcular a média e o desvio-padrão. A resistência
fck corresponde a uma porcentagem de 5% das amostras não atingirem a resistência estipulada em
uma curva normal de distribuição. Com isso, assumem-se as equações apresentadas em 1 e 2:
𝑓
𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡
𝑓𝑐𝑚 = 1−1,645∗𝐶𝑉 (1)

σfc = CV. fcm (2)


sendo
𝑓𝑐𝑚 - Média da resistência à compressão
𝑓𝑐𝑘,𝑒𝑠𝑡 - Resistência característica à compressão
CV - Coeficiente de variação
𝜎𝑓𝑐 - Desvio-padrão
2.2. Resistência do aço
Para os coeficientes de variação do aço, tanto para as armaduras ativas quanto para as passivas, é
comum encontrar valores entre 0,10 e 0,05, valores menores do que o encontrado para o concreto
devido ao maior controle de qualidade no processo de fabricação, o que resulta numa menor
variabilidade das resistências.
Com o coeficiente de variação definido, é possível calcular a média e desvio padrão. O conceito de
fyk leva a uma porcentagem de 5% das amostras não atingirem a resistência estipulada e possuem uma
distribuição normal, assim como no concreto, assumindo as seguintes equações, apresentadas em 3 e
4:
𝑓
𝑦𝑘,𝑒𝑠𝑡
𝑓𝑦𝑚 = 1−1,645∗𝐶𝑉 (3)

𝜎𝑓𝑦 = 𝐶𝑉. 𝑓𝑐𝑚 (4)


sendo
𝑓𝑦𝑚 - Média da resistência ao escoamento
𝑓𝑐𝑦,𝑒𝑠𝑡 - Resistência característica
CV- Coeficiente de variação
𝜎𝑓𝑦 - Desvio-padrão
2.3. Características geométricas
As imperfeições das peças de concreto armado e protendido surgem por diversos fatores e em
diferentes fases da construção, desde a montagem das formas até a concretagem e vibração do
concreto. Quando se trabalha com peças pré-fabricadas, essas variações são minimizadas com o uso
de formas metálicas e maior controle das concretagens, o que garante uma menor variabilidade das
dimensões.
Com relação ao posicionamento da armadura dentro das formas, nas estruturas pré-fabricadas existe
também um maior controle do cobrimento em relação ao concreto moldado in-loco. A montagem da
armadura passiva é feita fora da estrutura para posteriormente ser introduzida na forma, já a armadura
ativa é limitada pelas cabeceiras das pistas, garantido seu posicionamento adequado.
Para a geometria recomenda-se a utilização de distribuição normal de probabilidade.
2.3.1. Altura útil da armadura passiva (ds)
Para a média da altura útil da armadura passiva ds adota-se o valor nominal ds,nom, com coeficiente
de variação CVds igual a 0,5cm/ds,nom, já que segundo a norma NBR6118/14 quando há controle
rigoroso de qualidade durante a execução é possível adotar uma variação do cobrimento de c igual
a 5mm.
2.3.2. Altura útil da armadura ativa (dp)
Para a média da altura útil da armadura ativa dp adota-se o valor nominal, dp,nom,,com coeficiente de
variação CVdp igual a 1cm/ds,nom. Por possuir maior responsabilidade no dimensionamento das vigas
protendidas, considera-se para esta armadura a possibilidade de apresentar um desvio maior da sua
posição de projeto devido à necessidade de retificação da posição do cabo que possui a tendência a
formar uma catenária pelo grande vão que o mesmo deve vencer longitudinalmente sem apoios
intermediários.
2.3.3 Dimensões da seção transversal
Para a média das dimensões da seção transversal, admitem-se os valores nominais com desvio-padrão
igual a 5mm. Esses valores são totalmente compatíveis quando se imagina o controle de produção
obtido com o uso de formas metálicas, diminuindo-se a possibilidade de variações das seções
transversais, como acontece nas estruturas convencionais feitas com formas de madeira.
2.3.4. Área de aço
Para a área de aço, muitos autores consideram está variável determinística, pois normalmente já estão
incorporadas nas estatísticas de tensão de escoamento do aço as variações de sua seção transversal
[7].
2.4.Fator de perda final de protensão
Segundo SAN MARTIN (2014) esta variável possui distribuição normal com média rf = 0,8 e
coeficiente de variação adotado CVrf =0.025/rf.. Este fator de perdas influi no cálculo do momento
resistente último e na determinação da deformação prévia do cabo de protensão na ruptura.
2.5.Carregamento
Para a análise do carregamento que atua na estrutura, considera-se que o mesmo é composto de ações
permanentes e ações variáveis.
2.5.1.Ações permanentes
Para as ações permanentes, assume-se uma distribuição normal de probabilidades, com coeficiente
de variação igual a 0,10e média representada pelas expressões apresentadas nas expressões 5 e 6:
g=1,05gk (5)
g = g CV (6)
sendo
g :Média da ação permanente
gk: Valor da ação permanente sem majorações
g: Desvio-padrão da ação permanente
CV: Coeficiente de variação
2.5.2.Ações Variáveis
ELLINGWOOD, GALAMBOS, MACGREGOR E CORNELL(1980),com base em dados amostrais,
concluíram que o valor característico da ação variável é igual à média dos valores máximos anuais
para um período de 50 anos. Para a ação variável, a distribuição de valores extremos do tipo I ou
Gumbel é utilizada. A média qé tomada como o valor nominal qk (valor da ação variável sem
ponderação de cálculo) e o coeficiente de variação CV é igual a 0,25, conforme as expressões 7 e 8:
q=1,05qk (7)
q = q CV (8)
As principais variáveis que são tratadas como aleatórias foram apresentadas nesta seção. Vale lembrar
que esses valores citados não são fixos e são parâmetros de constantes estudos, sendo apresentadas
neste trabalho as considerações mais recorrentes na literatura. Outros fatores podem ser introduzidos,
como por exemplo, os fatores de correlação entre variáveis, que leva a análise para campos
estocásticos, gerando um estudo mais elaborado. A complexidade do estudo está ligada a exigência
de segurança solicitada pela estrutura.

3.AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS COLETADOS EM CAMPO QUE INFLUENCIAM NA


CONFIABILIDADE DE VIGAS PRÉ-FABRICADAS
No item 2 foram descritas, resumidamente, algumas considerações teóricas sobre os parâmetros que
devem ser levados em conta no cálculo de confiabilidade de estruturas pré-fabricadas em concreto
protendido. Ressalta-se que muitas dessas considerações sobre as variabilidades dependem das
condições impostas na obra.
Neste item são apresentados os parâmetros de controle, montagem e execução de peças pré-fabricadas
com o intuito de verificar se a teoria e a prática se alinham para garantir a eficiência dos modelos
teóricos.
A fábrica visitada foi a Tulipa Pré-Moldados, localizada no estado de São Paulo, cidade de Holambra,
com uma produção mensal aproximadamente de 400m3 mês de concreto. Sua produção é focada
principalmente em galpões industriais.
3.1.Controle de qualidade do concreto
A empresa possui uma usina interna e um laboratório onde são realizados os ensaios dos materiais e
do concreto a fim de garantir a qualidade do concreto que é utilizado na fábrica. Indicativos de
qualidade dos corpos de prova são produzidos e avaliados mensalmente, para que desvios sejam
corrigidos. Na figura 1 são apresentados os indicadores de qualidade mensais dos anos de 2014 a
2016, com as porcentagens de corpos de prova que ficaram com as resistências de compressão
superiores ou inferiores as metas estabelecidas pela empresa.

Fig.1- Avaliação de indicadores de desempenho para concreto do ano 2014 a 2016

A partir dos dados coletados das amostras de concreto produzidas neste período, foi possível fazer
uma análise estatística da resistência à compressão do concreto produzido, obtendo-se os valores da
média, do Desvio-padrão e do coeficiente de variação para cada classe de resistência produzida na
empresa, conforme apresentado na tabela 1.

Tabela 1 – Análise estatística da resistência à compressão do concreto


Número fck fcm Desvio CV
de (MPa) (MPa) Padrão
amostras
477 40 43,61 4,5 0,103
281 45 47,71 4,09 0,086
74 50 53,21 2,12 0,040

Analisando-se os dados, foi possível verificar que os valores de coeficiente de variação para os
concretos produzidos na fábrica estão menores ou iguais aos utilizados para concreto com controle
de fabricação ótimo sugeridos na literatura, e conforme o fck aumenta o coeficiente de variação
diminui.
3.2 Protensão e medidas de alongamento
Na protensão algumas medidas são importantes para garantir que a força necessária em projeto seja
a realmente aplicada à cordoalha. A forma mais comum de medir se a força aplicada foi realmente
transmitida à cordoalha é através do alongamento, fator este, que é imposto em projeto e verificado
no ato da protensão.
Analisando-se as medições deste parâmetro na fábrica, chegou-se a conclusão de que este é o
momento mais crítico do processo de protensão, pois envolve muitas variáveis que não devem ser
tratadas como determinísticas.
Estão envolvidas neste processo as seguintes variáveis: as dimensões das armaduras, o módulo de
elasticidade da armadura, a aferição do macaco hidráulico, a variação da força aplicada pelo macaco
(varia de acordo com cada fabricante), a força de pré-tensão necessária para retificaras cordoalhas
devido ao grande comprimento das pistas, entre outras.
Nesta empresa foi estipulado como critério de aceitação de alongamento final do cabo que a variação
do valor teórico de alongamento exigido em projeto para o valor real medido na obra seja de no
máximo 5%, a fim de garantir que a força de protensão necessária esteja realmente aplicada à peça.
Qualquer valor diferente deste intervalo deverá ser analisado e corrigido.
Para se ter um controle da influência de cada variável presente no processo de protensão, foram
analisadas, individualmente, as incertezas presentes nesta etapa, chegando-se aos seguintes dados:
1. Macaco de protensão
Aferição: precisão de 0,5%
Força de protensão: precisão lida pelo equipamento de 8%
2. Variação da área de aço: de acordo com o catálogo da Belgo, que define áreas mínima e máxima,
para cada tipo de aço de protensão, as variações entre as áreas de aço máximas e mínimas ficam entre
1,589% a 2,08%.
3. Variação do módulo de elasticidade: valor de 2% de acordo com o catálogo da Belgo.
4.Variação da tensão de escoamento do aço: estes valores são controlados pela fabricante e todo lote
entregue vem acompanhado de um relatório e de um diagrama de tensão-deformação do aço, a fim
de garantir as especificações da norma, desta forma, a adoção do coeficiente de variação entre 0,05 e
0,10 é totalmente aceitável.
5.Variação dos comprimentos das peças: os valores de tolerância para as dimensões da peça atendem
ao manual de selo de qualidade Abcic (Associação brasileira de construção industrializada de
concreto). Para peças com até 5 m de comprimento o coeficiente de variação é 10 mm. De 5 m à 10
m o coeficiente de variação é 15 mm e para peças acima de 10 m o coeficiente de variação é de 20mm.
Nos estudos teóricos, o módulo de elasticidade e a área de aço normalmente são considerados como
parâmetros determinísticos, com a justificativa de que suas variações já estão embutidas na tensão de
escoamento do aço.
Após o levantamento dos fatores que poderiam influenciar na transferência da força de protensão para
a peça, foi realizado um estudo com 330 peças para verificar se os resultados estavam respeitando a
variação de alongamento estipulada em 5% entre o valor de projeto e o valor em campo, e obtiveram-
se os resultados apresentados na tabela 2.

Tabela 2 – Variação de alongamento em peças protendidas com relação ao projeto

Situação Número de Porcentagem


amostras (%)
Curto 229 69
Aprovado 92 28
Longo 9 3

É possível notar que 72% peças não respeitaram o alongamento estipulado em projeto, sendo que
69% estavam abaixo do alongamento ideal, mostrando com este resultado que a força de protensão
final estaria abaixo do requerido em projeto, o que poderia causar, num primeiro momento, o não
comprimento do estado limite de serviço.
Através destes dados é possível notar a importância de uma análise cuidadosa da força de protensão
que deverá ser aplicada à viga, e a grande quantidade de fatores que podem gerar variações na mesma.
Os trabalhos analisados tratam de redução da força de protensão como um todo através do fator de
perdas de protensão rf, não referenciando quais variáveis poderiam influenciar neste parâmetro.
3.3.Características geométricas e tolerâncias na etapa de execução
Na fábrica em questão, todo o processo de execução de uma peça passa por diversas verificações,
desde a sua montagem até a sua armazenagem para a entrega.
A armadura é montada e verificada em uma área externa à forma. Somente após a conferência com o
projeto das dimensões, dobras, bitolas e espaçamentos, a mesma é disposta dentro da forma, onde é
posicionada cuidadosamente, com o auxílio de espaçadores. Nesta fase a armadura de protensão
também é montada. Após toda a armação ser posicionada, uma nova verificação é feita para a
liberação da concretagem.
Após 24 horas da concretagem a peça já adquiriu resistência suficiente para que haja a transferência
da força de protensão para a peça de concreto. Neste momento a mesma já está pronta para ser içada
e armazenada.
Após a retirada da peça da forma, acontece a última verificação para a liberação da mesma. Caso
apresente alguma irregularidade, a peça passa por retificações e em último caso é descartada.
Nesta etapa inspecionam-se: coloração, manchas, desplacamento, falha do concreto, comprimento,
altura, largura, esquadro ou inclinação, alinhamento, torção, contra flecha, consolo, pinos de engaste,
metalon ou ganchos, alça para içamento, furo de engaste, furo de içamento, entre outros aspectos.
Essas verificações seguem o recomendado pelo selo de qualidade da Abcic, que impõem as
tolerâncias dimensionais para as peças conforme apresentado na figura 2.
Fig. 2 - Tolerâncias exigidas para elementos estruturais segundo selo de qualidade (valores em mm)

Comparando-se os limites para as variações das dimensões utilizadas na fábrica com os valores
encontrado na literatura, nota-se que os valores são correspondentes. Na literatura as dimensões da
seção transversal são consideradas com desvio padrão de 5 mm, na prática este valor é considerado -
5 mm/+10 mm, permitindo uma tolerância maior para cima do valor estipulado, o que é a favor da
segurança. Na literatura o posicionamento do cabo de protensão é considerado com Desvio-padrão
de 10 mm, e na prática o valor também é 10 mm. Apesar do posicionamento da armadura passiva não
ser tratado no manual da Abcic, nesta fábrica a variação é limitada a um desvio máximo de 5 mm,
mesmo valor adotado pela literatura.
3.4.Carregamento
Na fábrica não há como mensurar as ações que atuarão na estrutura e suas variações, não sendo,
portanto, variáveis passíveis de comparação entre o projeto e a fabricação. A análise desta variação
pode ser mensurada apenas durante a utilização da estrutura ou em laboratório através de ensaios.

4.DISCUSSÃO
Neste trabalho, foram apresentadas as principais variáveis que costumam ser tratadas como aleatórias
no cálculo de vigas pré-fabricadas de concreto protendido. Teoricamente todas as variáveis poderiam
ser tratadas como aleatórias com a aplicação das devidas correlações entre elas, porém isto tornaria o
cálculo da confiabilidade inviável. Por este motivo, fica a critério do engenheiro verificar o nível de
confiabilidade adequado à sua estrutura, para assim determinar quais as variáveis serão consideradas
como aleatórias e quais serão consideradas como determinísticas. Diversos trabalhos tratam deste
assunto e podem ser referências para esta escolha.
Nesta análise foi possível notar que dentro da fábrica, o controle de qualidade é tratado de forma
rigorosa, todas as peças produzidas são verificadas e liberadas etapa a etapa, desde sua montagem até
a instalação na obra.
Comparando-se as exigências impostas pela Abcic para as dimensões da peça, com os valores
adotados nas análises de confiabilidade, foi possível comprovar que os mesmos estão de acordo,
levando a valores teóricos de variabilidade das peças condizentes com a prática.
Outro fator que levou a resultados satisfatórios foi a resistência à compressão do concreto. Os dados
estatísticos obtidos em campo geraram coeficientes de variação iguais ou abaixo dos sugeridos na
literatura para concretos com controle de qualidade alto.
O aço, por ser um produto industrializado, possui um grande controle de qualidade, desta forma, é
possível a adoção de coeficientes de variação baixos, fato que se aplica na teoria e na prática.
Portanto, tratando-se de materiais e geometria, os fatores considerados como aleatórios utilizados nas
análises de confiabilidade estão de acordo com o realizado nas empresas que seguem as
recomendações de qualidade do selo Abcic.
Quando se trata das questões das forças de protensão e alongamentos, a quantidade de variáveis
envolvidas é grande e cada uma delas carrega erros que somados podem apresentar variações muito
além do estipulado como ideal. Ao se trabalhar com confiabilidade e protensão neste trabalho, não
foi possível chegar a um consenso se as variáveis aleatórias consideradas na teoria são suficientes
para representar as diversas variáveis encontradas em campo.
Nota-se que é muito importante um estudo minucioso sobre quais os fatores que podem ser
determinantes na variação das cargas de protensão aplicada nos cabos no ato da protensão e não
apenas tratar todas as perdas conjuntas como uma única variável aleatória.

5. CONCLUSÃO
Nesta análise foi possível verificar que, ao se tratar de geometria e resistência dos materiais, os dados
levantados nos estudos teóricos estão de acordo com os valores encontrados na fábrica. Porém, ao se
analisar a questão da perda da força de protensão das vigas de concreto na fábrica, verificou-se que
existem muitos fatores que podem influenciar no resultado final, como o tipo de ancoragem, a
aplicação da protensão pelo macaco hidráulico, o comprimento da viga, entre outros. Foi possível
notar que a aplicação da força de protensão é o ponto crítico na fábrica, produzindo o maior número
de incertezas, o que influencia na confiabilidade destas vigas. Por este motivo não foi possível fazer
uma relação direta com os valores adotados na literatura para a perda de protensão.
Conclui-se que devido ao grande controle de qualidade na produção das vigas pré-fabricadas, as
análises de confiabilidade são muito realistas quando leva se em conta as variáveis relativas à
geometria e à resistência dos materiais, pois os valores considerados na teoria e na prática estão muito
próximos. Porém, é necessário um cuidado maior com as considerações sobre as possíveis variáveis
envolvidas no ato da protensão dos cabos. O tratamento destes fatores como variáveis determinísticas
numa análise de confiabilidade pode levar a resultados que não necessariamente corresponde à
realidade das obras.

REFERÊNCIAS
[1] AL-HARTHY, A.S., FRANGPOL, D.M. Reliability Assessment of Prestressed Concrete Beams. Journal of
Structural Engineering, ASCE, Vol. 120, n. 1, 180-199 p., jan. 1994.
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método dos elementos finitos. Tese de Doutorado, PPGEC/ UFRGS, Porto Alegre, junho, 2000.
[3] NOWAK, A. S. PARK, C., CASAS, J. R. Reliability analysis of prestressed concrete bridge girders: comparison
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[4] BIONDINI, F., BONTEMPI, F., FRANGOPOL, D.M., MALERBA, P. G. Reliability of Material and
Geometrically non-linear Reinforced and Prestressed Concrete Structures. Computer and Structures, Vol. 82, 1021-
1031 p., 2004.
[5] AGRAWAL, G., BHATTACHARYA, B..Partial safety factor design of rectangular partially prestressed
concrete beams in ultimate flexural limite state.Journal of Structural Engineering, Vol. 37, n. 4, 257-267 p., oct-nov.
2010.
[6] ROCHA, R. G. Análise de Confiabilidade de Vigas Portuárias de Concerto Protendido. Dissertação (Mestrado
em Engenharia Oceânica) - Programa de Pós Graduação em Engenharia Oceânica, Universidade Federal do Rio Grande,
Rio Grande. 2014.
[7] SAN MARTINS, D.A. Confiabilidade de vigas pré-tracionadas de concreto protendido. Dissertação (Mestrado
em Engenharia Civil) - Programa de Pós Graduação em engenharia Civil, UFRGS, Porto Alegre. 2014.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de estruturas de concreto – Procedimento:
NBR-6118. Rio de Janeiro, 2014.
[9] ELLINGWOOD, B.,GALAMBOS, T. V., MACGREGOR, J. G., CORNELL, A. Development of a Probability-
Based Load Criterion for American National Standard A58, NBS Special Publication 577, National Bureau of
Standards, Washington, DC. 1980
INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA EM EDIFICAÇÕES ASSENTES SOBRE
FUNDAÇÕES RASAS DO TIPO SAPATA

Soil-Structure interaction in buildings on spread footings

Charles J. de Oliveira 1, Elcimar F. D. Biz 1, Bruno M. Gerum 1


Flavio M. Graper 1, Thadeu R. Lugarini 1
1 Universidade Positivo, Paraná, Brasil, chjaster@hotmail.com

Resumo: A interação solo-estrutura (ISE) é o estudo do comportamento conjunto entre solo, estrutura
e fundação, ao considerar a deformabilidade do solo na redistribuição dos esforços internos e
recalques de fundação. A suposição simplificadora de considerar apoios de fundação totalmente
rígidos não permite um esclarecimento real do comportamento da estrutura, e do solo. Portanto, o
objetivo deste trabalho é demonstrar a importância da consideração da ISE para análise estrutural. O
método é baseado no estudo de um modelo por meio de pórticos bidimensionais, compostos por uma
estrutura simétrica de pilares e vigas. Inicialmente, analisa-se os esforços internos com apoios de
fundação indeslocáveis, para uma posterior implementação da ISE, através de processos de iteração
com uso de apoios representados por coeficientes de molas. Os resultados denotam diferenças na
redistribuição dos esforços. Tais diferenças, justificam a importância da consideração da ISE em
substituição à hipótese simplificadora de apoios indeslocáveis, seja para correto dimensionamento
dos elementos de infra e superestrutura, como a finalidade de assegurar durabilidade, estabilidade e
funcionalidade da obra perante sua vida útil.

Palavras-chave: apoio elástico, coeficiente de mola, solo-estrutura.

Abstract: The soil-structure interaction (SSI) is a study of joint behavior between soil, structure, and
foundation when considering the deformability of the soil in the redistribution of internal forces and
settlement of the foundations. The simplifying assumption of considering fully rigid foundation
supports doesn’t allow a real explanation of the behavior of the structure, and of the soil. Therefore,
the objective of the present work is to show the importance of SSI consideration for structural
analysis. The method is based on the study of a model by means two-dimensional frame, composed
by a symmetrical structure of columns and beams. Initially, analyses the internal forces with rigid
foundation supports, for a later implementation of SSI, through iteration processes using supports
represented by spring coefficients. The results show differences in redistribution of forces. These
differences justify the importance of considering the SSI as a substitute for the simplifying hypothesis
of fully rigid supports, either for a correct dimensioning of the infra and superstructure elements, in
order to ensure durability, stability, and functionality of the work in relation to its useful life.

Keywords: elastic support, spring coefficient, soil-structure.

1. INTRODUÇÃO
Interação solo-estrutura é o mecanismo de análise mútua entre estrutura e solo. Sua finalidade consiste
em estudar um sistema único e determinar a influência desse sistema nos recalques e nos esforços
solicitantes aos elementos estruturais [1]. O desempenho de uma edificação é governado pela
interação entre estas partes. Porém, na prática, em algumas situações, tal interação é desprezada [2].
Nos escritórios de cálculo estrutural, a estrutura é responsabilidade do engenheiro de estruturas, assim
como no caso da fundação, do engenheiro de fundações. Porém, sabe-se que a superestrutura e a
infraestrutura não subsistem por si só, como comenta Iwamoto [3], “A terminologia diferenciando
infra e superestrutura poderia ser revista. Na verdade, o que existe é a estrutura e o maciço de solo,
[...] e o comportamento desse conjunto denomina-se interação solo-estrutura”.
A origem do problema, apesar dos avanços dos softwares numéricos, é causada pelas simplificações
impostas. Ainda fazem parte de modelagens, considerações de vínculos indeslocáveis, rótulas ou
engastes perfeitos, no qual se obtém carregamentos que irão atuar na fundação [4]. Nesta situação,
são desprezados efeitos de interação entre o solo e a estrutura, provocados pela deformação do terreno
de fundação, consequência da mudança no estado de tensões pré-existentes do solo, em decorrência
da construção da edificação [2].
Chamecki [5], em 1954, já mencionava que esse procedimento convencional de cálculo de estruturas
apresentava divergências de projeto com a realidade, em vários quesitos, principalmente em casos de
edifícios com muitos pavimentos. O autor propôs um sistema de análise da interação solo-estrutura,
em que a partir das reações de apoio e dos recalques de fundação da estrutura, calculada como
indeslocável, inicia-se um processo de iteração. Através de expressões estabelecidas, obtém-se novos
valores de recalque ao considerar novos valores de reação de apoio. Esse processo repete-se até que
os valores de reação de apoio e recalque convirjam entre si. Com o uso dessa metodologia, foi
observado menos erros em resultados de recalque quando medidos em estruturas reais.
Um exemplo da necessidade de uma análise integrada, considerando a camada de solo adensável, é o
caso dos prédios inclinados na cidade de Santos/SP, em que os modelos estruturais convencionais
não representaram a realidade e causaram deficiências na superestrutura [1]. A redistribuição dos
esforços, em especial nos pilares, devido a interação solo-estrutura, causou esmagamento nos pilares
periféricos devido a sobrecarga nos mesmos [2].
Mediante o exposto, o presente estudo justifica-se por lançar uma abordagem do solo como uma base
deslocável, ou seja, demonstrando numericamente um comportamento mais próximo do real através
de sua aplicação sobre apoios elásticos, segundo a Teoria de Winkler. A finalidade em se estudar o
solo e a estrutura como um sistema único é determinar a grandeza dos recalques e a influência do
conjunto na redistribuição dos esforços solicitantes nos elementos estruturais do sistema.

2. OBJETIVO

Demonstrar a diferença nos resultados dos recalques e esforços na estrutura em edificações assentes
sobre fundações rasas do tipo sapata, quando considerada a interação solo-estrutura em relação ao
modelo tradicionalmente utilizado sobre apoios indeslocáveis.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1. Dimensionamento de Fundações Rasas


Fundação rasa, ou também chamada de superficial, ou direta, é definida no item 3.1 da NBR 6122 [6]
de 2010 como o “elemento de fundação em que a carga é transmitida ao terreno pelas tensões
distribuídas sob a base da fundação, e a profundidade de assentamento em relação ao terreno adjacente
à fundação é inferior a duas vezes a menor dimensão da fundação”. Se apoiam logo abaixo da
infraestrutura e se caracterizam pela transmissão da carga ao solo através das pressões distribuídas
em sua base. Neste grupo incluem-se os blocos de fundação e as sapatas [7].
A área da base de um bloco de fundação ou de uma sapata, quando sujeita a apenas uma carga vertical,
poderá ser calculada através da relação entre a carga proveniente do pilar pela tensão admissível do
solo (conforme Fig.1 e Eq.1) [8].

Fig. 1 – Dimensionamento de sapata isolada


𝑃
𝐴 = 𝜎 = 𝐵. 𝐿 (1)
𝑎

2.3. Teoria de Winkler


A teoria elaborada por Winkler [9], em 1867, considera o solo como uma estrutura deformável, e
sugere que as cargas aplicadas em sua superfície promovam deslocamentos somente em seu ponto de
aplicação. Assim, Winkler propõe que o maciço de solo seja substituído por um sistema de molas
lineares e independentes entre si, com consideração de deformação somente na região da fundação
(ilustrado pela Fig. 2).

Fig. 2 – Modelo de Winkler [10]


As pressões de contato entre solo e estrutura são proporcionais aos deslocamentos (recalques). Além
disso, a variação é linear e seu grau varia com um coeficiente denominado coeficiente de reação
vertical (conforme Eq. 2 e Fig. 3) [11].
𝑞 = 𝐾𝑣 . 𝑤 (2)
Fig. 3 – Coeficiente de reação vertical, quociente entre pressão e deslocamento
Para cada solo e sistema de fundação (onde se varia forma e dimensão, tipo de construção e mudanças
de carregamento) existe um valor de coeficiente de reação vertical. Tal valor pode ser obtido de três
maneiras: ensaios de placa, tabelas de valores típicos e por meio de correlações com módulo de
elasticidade do solo [12]. Mendonça [13], em seu estudo, apresenta a correlação matemática proposta
por Perloff [14], onde o coeficiente de reação vertical pode ser obtido a partir da Teoria da
Elasticidade, que correlaciona o coeficiente a parâmetros elásticos do solo e a forma geométrica do
elemento de fundação, conforme a Eq. 3.
𝐸 1 1
𝐾𝑣 = 2 .
1−𝜈 𝐼𝑤 𝐵
. (3)

Sendo,
E : Módulo de elasticidade do solo ou Módulo de Young;
ν : Coeficiente de Poisson do solo;
Iw : Coeficiente de Influência;
B : Menor dimensão do elemento de fundação.
Através desse coeficiente, calcula-se os coeficientes de mola à translação, ao longo do eixo vertical,
e à rotação, em torno do eixo perpendicular ao plano considerado, conforme as Eq. 4 e Eq. 5.
𝐾𝑚𝑣 = 𝐾𝑣 . 𝐴𝐵𝑎𝑠𝑒 (2)
Onde,
Kmv : Coeficiente de mola à translação;
ABase : Área da base da fundação.
𝐾𝑚𝜃 = 𝐾𝑣 . 𝐼𝑓 (4)
Em que,
Km : Coeficiente de mola à rotação;
If : Momento de inércia a flexão em torno do eixo perpendicular ao plano em questão.

4. METODOLOGIA

Empregou-se um modelo de pórtico plano a fim de mostrar de forma didática os efeitos da interação
solo-estrutura em um edifício. O edifício apresenta uma tipologia bastante simples, de quatro
pavimentos idealizados com a mesma planta de fôrma, e apoiado sobre fundações superficiais do tipo
sapata. A Fig. 4 sintetiza a metodologia adotada.
Fig. 4 – Fluxograma metodológico, com e sem interação solo-estrutura (ISE)
A planta de fôrma do pavimento tipo estudado, após o pré-dimensionamento dos elementos
estruturais, está ilustrado pela Fig. 5. O pórtico em análise é formado pelos pilares P3, P7 P11 e pela
viga V6 (evidenciado pela Fig. 5 em amarelo e representado pela Fig. 6). Foram adotados como
distância de eixo a eixo de viga: térreo – 3,2 metros; e para os demais pavimentos – 2,8 metros. Para
o módulo de elasticidade longitudinal considerou-se 25000 MPa. A Fig. 6 apresenta o corte
esquemático do pórtico em questão.

Fig. 5 – Planta de fôrma do pav. Tipo do edifício Fig. 6 – Corte esquemático do pórtico estudado
Devido a simetria, as áreas de influencia totalizaram 15,53 m² para cada tramo da viga. As ações
permanentes (g) e variáveis (q) foram adotadas com base na NBR 8681:2003 [15] versão corrigida:
2004, totalizando um carregamento distribuído para o pavimento tipo de 24,85 kN/m e para a
cobertura de 13,98kN/m.
Totalizaram então, as cargas, nos pilares P3 e P11: 73,43 kN para os pavimentos tipo e 80,68 kN para
o pavimento térreo; para o pilar P7: 155,53 kN para os pavimentos tipo e 170,88 kN para o pavimento
térreo.
As ações provocadas pelo vento foram calculadas com base na NBR 6123 [16] de 1998, utilizando a
velocidade do vento como 42 m/s, fator topográfico S1 de 1,0 para terreno plano, fator S2 para
categoria IV e classe A, e fator S3 como 1,0 – grupo 2.
Os pilares, inicialmente, foram engastados nas fundações, sendo estes indeslocáveis em todas as
direções (conforme Fig. 7). Com base nos valores das reações de apoio obtidas para o modelo, foram
dimensionadas as sapatas isoladas para os pilares P3, P7 e P11. Foi considerado que a estrutura assente
sobre um solo de tensão admissível de 250 kN/m²; coeficiente de Poisson de 0,3; coeficiente de
influência de 1,06; e módulo de elasticidade no valor de 20 MPa, características típicas de um silte
argiloso.

Fig. 7 – Pórtico plano com aplicação das cargas e apoios indeslocáveis


De posse das dimensões das sapatas, obtém-se os coeficientes de reação vertical pela formulação
proposta por Perloff [14], seguindo a Teoria de Winkler. Tal coeficiente é utilizado para calcular os
coeficientes de mola à translação e rotação que representaram a presença do solo na estrutura. Assim,
de posse dos valores, altera-se os apoios rígidos para apoios elásticos e faz-se o reprocessamento da
estrutura, com a mesma propriedade de material, geometria e carregamento (ilustrado pela Fig. 8).

Fig. 8 – Apoios elásticos, ou molas, aplicadas sob a base dos pilares


Novamente, a partir das reações dos pilares, redimensiona-se os elementos de fundação, para novos
valores de coeficientes de reação vertical, e de mola. O reprocesso da estrutura torna-se iterativo até
que os valores convirjam entre si de maneira significativa. Tais valores são base de dados de planilhas,
as quais traduzem as diferenças no conjunto solo-estrutura conforme cada iteração.
5. RESULTADOS
Ao todo foram necessárias cinco iterações da estrutura com apoios elásticos para encontrar valores
definitivos da consideração solo-estrutura. Os valores são modificados conforme a variação da rigidez
nos apoios, caracterizando uma redistribuição nos esforços nos pilares em todos os casos
investigados. O Quadro 1 apresenta os valores dos coeficientes de reação vertical (Kv), obtidos a
partir dos reprocessamentos do pórtico plano. Tais valores variaram de acordo com as dimensões das
sapatas, provenientes do dimensionamento. É possível observar que os valores de Kv diminuíram para
os pilares mais periféricos P3 e P11, e aumentaram para o pilar central P7. Esse resultado traduz um
comportamento inverso para os recalques, que diminuem para o pilar P7, e se elevam para os pilares
P3 e P11 (conforme Fig. 9).
Quadro 1 – Coeficientes de reação vertical para os pilares P3, P7 e P11
Coeficiente de Reação Vertical (kN/m³)
Apoio Apoio Apoio Apoio Apoio
Apoio
Pilar Elástico 1ª Elástico 2ª Elástico 3ª Elástico 4ª Elástico 5ª
Rígido
Iteração Iteração Iteração Iteração Iteração
P3 13731,11 12958,74 12798,75 12798,75 12720,23 12720,23
P7 10419,09 10970,36 11147,30 11207,56 11207,56 11207,56
P11 14809,99 14398,60 14201,36 14201,36 14201,36 14201,36

Fig. 9 – Recalques para os pilares P3, P7 e P11


Os esforços normais provenientes da alteração da rigidez nos apoios, variaram consideravelmente,
com um valor máximo de 14,48% proveniente da reação vertical para o pilar P3. O pilar de centro
teve um alívio de esforço, enquanto os pilares periféricos (de canto) tiveram um aumento. Esse
aumento decorre da redistribuição dos esforços normais perante a deformabilidade do solo, a uma
tendência de equilibrar a distribuição de carga atuante nos elementos estruturas, conforme menor for
a rigidez do solo – avaliada pelo valor do coeficiente de reação vertical.
O Quadro 2 evidencia a consideração da interação solo-estrutura com base nas reações verticais
atuantes nos pilares, após todas as iterações do método.
Quadro 2 – Reações dos pilares, com e sem consideração da interação solo-estrutura

Reações verticais (kN)


Pilar
S/ISE C/ISE %
P3 702,63 804,37 14,48
P7 1365,07 1205,57 -11,68
P11 607,90 665,66 9,50

As Fig. 10, Fig. 11 e Fig. 12 ilustram a variação dos esforços normais para os pilares P3, P7 e P11,
respectivamente. Os primeiros pavimentos obtiveram maiores variações de valores em decorrência
do aumento da rigidez da estrutura. O sinal negativo indica esforço de compressão.

Fig. 10 – Normal ao longo do pilar P3

Fig. 11 – Normal ao longo do pilar P7


Fig. 12 – Normal ao longo do pilar P11
Com relação aos momentos fletores negativos nas vigas, reforça-se a importância da consideração
ISE para que ocorra um correto dimensionamento. É notável a migração destas solicitações quando
se leva em conta a existência do solo sobre o qual a estrutura está assentada, ao observar a
transferência de esforço da viga junto ao pilar central P7 para as vigas junto aos pilares periféricos P3
e P11 (ilustrado pela Fig. 13, Fig. 14 e Fig. 15).

Fig. 13 – Momentos negativos solicitantes às vigas junto ao pilar P7


Com a consideração da ISE, enquanto que os esforços normais variaram no máximo 14,48%, para os
momentos fletores negativos, a variação chega a 311%. Com base na Fig. 13, por exemplo, para o
quarto pavimento da edificação, nota-se uma redução de momento fletor negativo junto ao pilar P7,
no valor de 79,85%. Essa redução causada pela redistribuição dos esforços ao considerar apoios
elásticos, chega a aumentar em 311% o mesmo esforço, considerando o mesmo pavimento, para o
pilar periférico P11 (Fig. 15). Nota-se que diferentemente dos esforços normais, para consideração
dos momentos fletores negativos nas vigas, não mais os primeiros pavimentos obtiveram as maiores
variações, ou seja, o efeito da interação solo-estrutura é capaz de modificar os esforços solicitantes
de toda a estrutura.
Fig. 14 – Momentos negativos solicitantes às vigas junto ao pilar P3

Fig. 15 – Momentos negativos solicitantes às vigas junto ao pilar P11

6. DISCUSSÃO
Dentre as áreas de pesquisas de interação solo-estrutura em edificações, a maioria destes estudos têm
sido desenvolvidos na simples idealização do comportamento do solo através de apoios elásticos,
segundo a Teoria de Winkler. Através disso, pode-se variar o software para obtenção dos esforços, e
a forma de obtenção dos valores de coeficientes de reação vertical. Mendonça, Silva e Sierra [17],
em seu estudo, analisam a interação solo-estrutura no comportamento de estruturas mistas (aço-
concreto) com modelagem em software de elementos finitos, ANSYS, e avaliações dos parâmetros
do solo através do software PLAXIS. Seus resultados indicam considerações similares às obtidos
neste trabalho, embora utilizando diferentes metodologias. Da mesma forma, Mendes [4], com a
utilização do software CAD/TQS, ao concluir semelhantes redistribuições de esforços em seu modelo
de edifício. Vale salientar que a hipótese de Winkler sobre linearidade não é rigorosamente satisfeita,
pela alta complexidade envolvida com a mecânica dos solos, porém, como comenta Gusmão [2],
apesar de suas limitações, para casos de análises com fatores de segurança elevados, o modelo linear
elástico pode levar a resultados bastante acurados.
Há também variações nas formas de iteração, como propõe Chamecki [5], ao processar a estrutura
utilizando deslocamentos impostos a partir dos recalques. Assim, a estrutura passa a ser calculada
com deslocamentos já prescritos, sendo obtidas novas reações de apoio, e consequentemente, novos
valores de recalque, até que haja convergência. Outro método, parte do princípio em que toda a
fundação interage com o maciço de solo. Neste caso, toda a estrutura de fundação é discretizada com
molas, e em cada nó de contorno são representados a deformabilidade do solo. Esse tipo de
modelagem foi empregado por Mota [18] para edificação de múltiplos andares com fundação
profunda. Por fim, pode-se também modelar a estrutura com fundação e solo integrados em uma única
modelagem através de elementos finitos. Tal método pode ser verificado no trabalho de Medeiros
[19], porém, como salienta Antoniazzi [11], este modelo ainda possui pouco uso prático devido o alto
grau de complexidade.
Vale salientar alguns aspectos não tratados aqui neste trabalho, mas também referente à hipótese de
Winkler:
• Deslocamentos horizontais referentes a forças horizontais atuantes nos elementos de fundação. Da
mesma forma, pode ser calculado o coeficiente de reação horizontal considerando tal direção a
uma flexibilidade, para então a determinação do coeficiente de mola. Antoniazzi [11] comenta que
esse tipo de análise é feito em casos de estacas, e estruturas de escoramento em escavações.
• Limitação da teoria quanto à consideração de fundações vizinhas. A independência das constantes
de mola não considera o efeito de grupo na avaliação dos recalques. Gusmão [2], em seu trabalho,
analisa o estudo da interação solo-estrutura considerando a relação entre os elementos de fundação,
não mais válida a hipótese de molas. Para tal estudo, utilizou-se o método proposto por Aoki [20]

6. CONCLUSÃO
Os resultados deste trabalho comprovam a importância da interação solo-estrutura no desempenho de
uma edificação. A equação proposta por Perloff, com base na Teoria de Elasticidade para a
determinação do coeficiente de reação vertical, bem como, a Teoria de Winkler ao representar o solo
por um sistema de molas, demonstram ser eficientes para o correto funcionamento dos processos de
iteração. Comprova-se que a consideração da deformabilidade do solo gera redistribuição dos
esforços ao longo da estrutura. Essa redistribuição pode resultar em dimensionamentos equivocados
quando comparados à estrutura dimensionada com apoios indeslocáveis, como foi observado na
diferença de até 14,48% de esforço normal para os pilares mais carregados, chegando a uma
discrepância de 311% no valor do momento fletor negativo em vigas de pavimentos superiores.
Mesmo que tais redistribuições não resultem em economia, ao menos visam quesitos de segurança e
durabilidade da edificação.
Com base na redistribuição qualitativa dos esforços, foi observado um alívio das cargas nos pilares
mais centralizados e um acréscimo de carga vertical para os pilares mais periféricos, e tal acréscimo
é proporcional a proximidade do pilar em relação ao solo, pelo aumento de rigidez da estrutura. Em
relação ao recalque, foi possível verificar que ocorre o inverso da distribuição de esforços normais,
onde diminuem valores para o pilar central e aumentam para os pilares de canto. Tal relação provém
da Teoria de Winkler, associado ao coeficiente de reação vertical. Portanto, conclui-se que os
objetivos propostos foram atingidos, ficando evidente a redistribuição dos esforços na estrutura, bem
como, comprovada a mudança nos valores de recalque após a consideração da interação solo-
estrutura.
REFERÊNCIAS
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superficiais em argila mole. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.
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[7] ALONSO, U.R. Exercícios de Fundações. 2 ed. São Paulo: Editora: Blucher, 2010.
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[9] WINKLER, E. Die lehre von der Elastizistat und Festigkeit. Domicius. Prag, 1867.
[10] PALIGA, C.M. Estudo da solução laje de concreto armado sobre base elástica para pavimentos portuários
através do método dos elementos finitos. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande, Rio
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[11] ANTONIAZZI, J.P. Interação Solo-Estrutura de Edifícios com Fundações Superficiais. Dissertação de
Mestrado. Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, 2011.
[12] PAVAN, Roberto Carlos; COSTELLA, Marcelo Fabiano; GUARNIERI, Gustavo. Interação solo-estrutura para
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[16] ASSOCIAÇÃO BRASIELIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6123: Forças devidas ao vento em
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resultados observados no campo. Tese de Doutorado da EESC da USP. São Carlos, SP, 2009.
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UFRN. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2016.
[20] AOKI, N. Modelo Simples de Transferência de Carga de Estaca Vertical Sujeita a Carga Axial de Compressão.
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GESTÃO DOS RESÍDUOS ELETROELETRÔNICOS NO MUNICÍPIO DE
JUIZ DE FORA – MG

Management of electrical and electronic waste in the municipality of Juiz de Fora -


MG

Letícia Teixeira Ferreira 1, Fernanda Fagundes Paes 2, Nicolle Ongaro de Oliveira Santos3, Julia
Righi de Almeida4
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, leticiatferreira1@yahoo.com.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, ffpaes@yahoo.com.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, nicolleongaro@hotmail.com
4
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, julia.righi@ufjf.edu.br

Resumo: O volume de resíduos eletroeletrônicos cresce cada vez mais impulsionado pelo
consumismo e inovações tecnológicas. A alta concentração de metais pesados nesses aparelhos
pode afetar negativamente a saúde humana e o meio ambiente quando descartados de forma
incorreta. O Brasil está entre os países em desenvolvimento que mais produzem esse tipo de
resíduo, tendo sido gerados 1,4 milhão de toneladas em 2014. O objetivo deste trabalho é fazer uma
análise da gestão dos resíduos eletroeletrônicos (REE) avaliando as dificuldades encontradas na
destinação adequada desse material e as oportunidades de negócios existentes nesse setor. Buscando
compreender o cenário municipal de Juiz de Fora - MG, foi realizado um estudo de caso em uma
empresa que coleta esse material na cidade a fim de levantar dados a respeito da quantidade e tipos
de materiais recolhidos. Realizou-se também um questionário com os alunos da Faculdade de
Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) com o intuito de obter informações que
possibilitem avaliar a percepção dos estudantes em relação à geração e destinação correta desse
resíduo. Por Juiz de Fora ser um polo industrial e tecnológico, há uma grande geração desse tipo de
material na região, o que justifica a realização do estudo como forma de contribuir para a melhoria
da gestão desses resíduos. Havendo uma gestão eficiente, com separação do eletroeletrônico para
evitar que seja misturado com resíduos de Classe II em um aterro convencional, evita-se a
contaminação do solo pela migração do chorume. Ressalta-se, ao fim do artigo, as oportunidades de
negócio na reciclagem, visto que do total de produtos eletroeletrônicos gerados, apenas 20%, ou
cerca de 8,9 milhões de toneladas foram recicladas em 2016 (ITU, 2017). Os dados ainda mostram
que, todos os anos, até 90% desse material, com valor estimado em US$ 19 bilhões, são
comercializados ilegalmente ou jogados no lixo comum.

Palavras-chave: Eletroeletrônico, Potencial de reciclagem, Oportunidade de negócio.

Abstract: The volume of waste electronics grows increasingly driven by consumerism and
technological innovations. The high concentration of heavy metals in these devices can adversely
affect human health and the environment when disposed of improperly. Brazil is among the
developing countries that most produce this type of waste, having been generated 1.4 million tonnes
in 2014. The aim of this work is to make an analysis of the management of electrical and electronic
waste evaluating the difficulties encountered in proper disposal of this material and the business
opportunities that exist in this sector. Seeking to understand the scenario of Juiz de Fora-MG, was
conducted a case study on a company collecting this material in the city in order to raise the data
about the amount and types of materials collected. Also, a questionnaire was carried out with the
students of the faculty of engineering at the Federal University of Juiz de Fora (UFJF) in order to
obtain information allowing to assess the students ' perception regarding the correct disposal of this
waste and generation. By Juiz de Fora be an industrial and technological pole, there is a huge
generation of this type of material in the region, which justifies the conduct of the study as a way of
contributing to the improvement of the management of this waste. Going on an efficient
management, with separation of the electronics to avoid it being mixed with class II waste in a
conventional landfill, prevents the contamination of soil by migration of leachate. It should be
noted, at the end of the article, business opportunities in recycling, since of all electrical and
electronic products generated, only 20%, or about 8.9 million tons were recycled in 2016 (ITU,
2017). The data show that, every year, up to 90% of this material, with value estimated at US $19
billion are sold illegally or thrown in the trash.

Keywords: Electronics, recycling potential, business opportunity.

1. INTRODUÇÃO

O aumento da geração de resíduo eletroeletrônico (REE) é percebido em todo mundo e merece


atenção. Hoje em dia, as pessoas são cada vez mais incentivadas a trocar seus produtos por outros
de maior tecnologia, em prazos muitos curtos, tornando seus aparelhos obsoletos rapidamente. O
descarte desse grande volume de resíduo nos aterros sanitários pode gerar diversos problemas
devido a presença de metais pesados, contaminando solos, águas subterrâneas e superficiais, além
de prejudicar a saúde humana.

No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, Lei 12.305/2010) institui que os
fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos eletroeletrônicos sejam
obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos
após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana. Porém,
tais sistemas geralmente não funcionam, visto que os processos pelos quais esses resíduos devem
passar têm um custo financeiro elevado e, além disso, geralmente não há fiscalização das empresas.

De acordo com o estudo “Sustainable management of waste electrical and electronic equipment in
Latin America” (ITU, 2015), no continente americano, em 2014, a geração de resíduos
eletroeletrônicos foi de 11,7 milhões de toneladas. Os três países que geraram a maior quantidade
deste tipo de resíduo foram: Estados Unidos (7,1 milhões de toneladas), Brasil (1,4 milhão de
toneladas) e México (1 milhão de toneladas). Ainda de acordo com o estudo citado, no ano de 2014,
na América Latina, foram gerados cerca de 3,8 milhões de toneladas de resíduos eletroeletrônicos,
sendo que, desse total, 52% dos resíduos eram provenientes do Brasil, 11% da Argentina, 9% da
Colômbia e 9% da Venezuela. Além disso, esse estudo também apresenta dados da geração de lixo
eletrônico per capita na América Latina representados na Tabela 1. O Brasil com 7,1 kg de
REE/hab, se mostra como um dos principais geradores por habitante, ficando atrás de países como
Chile, Uruguai, Venezuela e Suriname.
Tabela 1 – Geração de resíduos eletroeletrônicos nos países da América do Latina (modificado de Baldé et al, 2015).

Apesar de no artigo 49 da PNRS estar explícita a proibição de importação de resíduos sólidos


perigosos (como os componentes de REE), o país é o maior gerador de REE entre os países
emergentes (Pnuma, 2013) e o seu sistema de gestão do lixo eletrônico é ineficiente, mesmo com
sua recente regulamentação específica na PNRS (Decreto n° 7404 de 23 de dezembro de 2010)
sobre o tratamento dos REEs. Somado a isso, a PNRS encontra dificuldades em sua implementação
no que se refere à coleta e reciclagem de diversos resíduos, principalmente os eletroeletrônicos
(Demajorovic e Migliano, 2013; De Oliveira, Bernardes e Gerbase, 2012).

Diante da escassez de estudos feitos sobre esse assunto na cidade, Juiz de Fora foi escolhida como
cenário principal deste trabalho. Localizada na região da Zona da Mata de Minas Gerais, contendo
564 310 habitantes (IBGE, 2018), Juiz de Fora é caracterizada por ser um polo industrial e
tecnológico. Além disso, é sede da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) a qual atrai
estudantes de todo Brasil, sendo uma região propícia à adesão de novas tecnologias e inovações.

2. OBJETIVO

O trabalho tem como objetivo avaliar as dificuldades e oportunidades na destinação adequada de


resíduos eletroeletrônicos no município de Juiz de Fora – MG. Além disso, visa levantar dados a
respeito da quantidade e tipos de materiais que são recolhidos pela empresa E-Ambiental no
município e também avaliar a percepção dos estudantes da Faculdade de Engenharia da
Universidade Federal de Juiz de Fora em relação à geração e destinação correta desse resíduo
através do formulário aplicado.
3. MÉTODOS

Foram utilizadas duas metodologias para a avaliação da situação do resíduo eletroeletrônico em Juiz
de Fora, o formulário aplicado aos alunos de engenharia na UFJF e o estudo de caso da empresa E-
Ambiental.

3.1 Formulário

Para se fazer um levantamento de como os resíduos eletroeletrônicos vem sendo tratados no


cotidiano, foi aplicado um formulário aos alunos de engenharia da Universidade Federal de Juiz de
Fora. Para tanto, foram feitas nove perguntas a respeito do conhecimento sobre resíduos
eletroeletrônicos. Durante duas semanas, 150 respostas foram obtidas e a partir delas foi possível
avaliar o conhecimento dos alunos de engenharia sobre o assunto tratado. As perguntas realizadas
aos alunos estão descritas na Tabela 2.

Tabela 2 – Perguntas feitas no formulário

GRÁFICO
PERGUNTAS FEITAS NO FORMULÁRIO REFERENTE ÀS
RESPOSTAS

Qual o seu curso? Fig. 1

Você tem o costume de descartar o eletroeletrônico no próprio lixo Fig. 2


doméstico?

O lixo comum tem como destino o aterro sanitário, você acha que o lixo Fig. 3
eletroeletrônico pode ter a mesma destinação?

Você tem conhecimento de que esse tipo de lixo contém metais pesados Fig. 4
que são prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente?

Quantos celulares, computadores, carregadores, pilhas, baterias, cabos, Fig. 5


eletrodomésticos, câmeras fotográficas, que não estão sendo usados você
tem em casa?

Existem pontos de coleta de lixo eletroeletrônico próximos a sua casa ou Fig. 6


em locais que frequenta?

Na hora de comprar um produto você se preocupa que ele seja Fig. 7


multifuncional ou que aparente ter uma vida prolongada?

Você conhece a empresa E-Ambiental que coleta lixo eletroeletrônico nas Fig. 8
residências em Juiz de Fora sem nenhum custo?

Sabendo da existência da empresa, você teria interesse em contatá-la para Fig. 9


dar destino correto aos seus resíduos eletroeletrônicos?
3.2 Estudo de caso

Foi realizada uma visita na empresa E-Ambiental localizada em Juiz de Fora, onde se pôde observar
o ambiente de trabalho, a organização do local e o modo de funcionamento da mesma. Além disso,
uma série de perguntas foram feitas aos responsáveis a fim de obter dados para uma estimativa da
quantidade de resíduo eletroeletrônico recolhida por dia.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Análise do Formulário

A primeira pergunta do questionário foi o curso de cada aluno (Fig. 1). A maioria dos alunos que
responderam são dos cursos de Engenharia Civil, Ambiental e Sanitária e Elétrica.

Fig. 1: Resposta da pergunta “Qual o seu curso?”

Quando questionados sobre o descarte dos resíduos eletroeletrônicos, 25,3% dos alunos que
responderam ao questionário disseram descartá-los junto ao lixo doméstico (Fig.2), mas quando
perguntados se esse tipo de lixo poderia ter a mesma destinação que o lixo doméstico, 97,3%
marcaram não (Fig.3). Com isso, percebe-se que grande parte dos alunos tem conhecimento de que
não se deve misturar os resíduos de classes diferentes, mas ainda assim, o fazem.

Quando perguntados sobre os metais pesados contidos neste tipo de resíduos, 96% dos alunos que
responderam ao questionário afirmaram saber da presença desses elementos e que os mesmos são
prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente (Fig.4).
Fig. 2: Resposta da pergunta “Você tem o costume de descartar o eletroeletrônico no próprio lixo doméstico?”

Fig.3: Resposta da pergunta “O lixo comum tem como destino o aterro sanitário, você acha que o lixo
eletroeletrônico pode ter a mesma destinação?”

Fig. 4: Resposta da pergunta “Você tem conhecimento de que esse tipo de lixo contém metais pesados que são
prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente?”

Através da aplicação do questionário, verificou-se que 57,3% dos entrevistados têm 5 ou mais
resíduos eletroeletrônicos em suas casas (Fig.5). Como pode ser visto na Fig.6, 64,7% das pessoas
disseram não conhecer ou não saber da existência de pontos de coleta próximos de suas residências
ou locais que frequentam.
Fig. 5: Resposta da pergunta “Quantos celulares, computadores, carregadores, pilhas, baterias, cabos,
eletrodomésticos, câmeras fotográficas, que não estão sendo usados você tem em casa?”

Fig. 6: Resposta da pergunta “Existem pontos de coleta de lixo eletroeletrônico próximos a sua casa ou em locais
que frequenta?”

Para tratar do tema consumo consciente, uma das perguntas feitas aos alunos foi em relação a
preocupação no momento da compra de um produto. Daqueles que responderam ao questionário,
88% informaram que levam em consideração sua multifuncionalidade e vida prolongada (Fig. 7).

Fig. 7: Resposta da pergunta “Na hora de comprar um produto você se preocupa que ele seja multifuncional ou
que aparente ter uma vida prolongada?”
Ao fim do questionário os alunos foram perguntados se tinham conhecimento da empresa E-
Ambiental e se já haviam entrado em contato com a mesma. Entre as 150 pessoas que participaram
da pesquisa, 30% já tinham ouvido falar e 5% já haviam entrado em contato com a empresa para
realizar a destinação adequada dos resíduos eletroeletrônicos (Fig.8). Em seguida, foram
questionados se, sabendo da existência desta empresa, pretendiam entrar em contato para descartar
seus equipamentos e 96% responderam que tem interesse (Fig.9).

Fig. 8: Resposta da pergunta “Você conhece a empresa E-Ambiental que coleta lixo eletroeletrônico nas
residências em Juiz de Fora sem nenhum custo?”

Fig. 9: Resposta da pergunta “Sabendo da existência da empresa, você teria interesse em contatá-la para dar
destino correto aos seus resíduos eletroeletrônicos?”

4.2 Empresa E-Ambiental

Localizada no município de Juiz de Fora – MG, a empresa recolhe lixo eletroeletrônico da


população há dois anos, não só em Juiz de Fora, mas também em cidades próximas. Sua principal
forma de coleta é através de agendamento, onde os funcionários vão até as residências sem nenhum
custo, sendo os principais equipamentos coletados: televisão, monitor CRT, videocassete, controle
remoto, DVD e impressora (Fig. 10 e Fig. 11). Além desse tipo de serviço, também existem
aproximadamente vinte pontos de coleta no município de Juiz de Fora, sendo a maioria deles em
quarteis, faculdades e condomínios. Atualmente a empresa conta com 11 funcionários e possui uma
parceria estabelecida por meio de um projeto social com o Centro de Remanejamento do Sistema
Prisional (CERESP) em que 5 detentos realizam a desmontagem do eletroeletrônico.
Fig. 10 e 11 – Imagens de materiais recolhidos (TV’s, computadores e teclados)

Segundo a empresa E-Ambiental, por mês são coletadas em média, 16 toneladas de REE
(aproximadamente 200 toneladas por ano). Tendo como base o dado apresentado por Baldé et al
(2015), que cada brasileiro gera aproximadamente 7,1 Kg de REE por ano, pode-se dizer que o
potencial de reaproveitamento e reciclagem desses resíduos em Juiz de Fora seria muito maior, já
que o montante que a empresa consegue coletar representa menos de 5% de todo REE gerado.

O transporte desse material é feito através de caminhonete, carro ou carreta. A partir do momento
que chega à empresa, os aparelhos passam por uma triagem, onde o que ainda está em
funcionamento é separado para doação e o que não está é levado para o CERESP para a
desmontagem. O armazenamento é feito em baias e tambores (Fig. 12 e 13). No desmonte das peças
são utilizados EPI’s e todas as empresas envolvidas nas etapas do processo possuem licenciamento.
Fig. 12 e 13 – Armazenamento dos resíduos no galpão da empresa

Em relação ao material recolhido, apenas 4% é reaproveitado e apresenta em média 65% de plástico


em sua composição. Ferro, alumínio, cobre e chumbo são os principais metais encontrados e
separados pela E-Ambiental. As placas presentes nos computadores são vendidas para uma outra
empresa que posteriormente as exportam para a Alemanha.

A empresa E-Ambiental considera como principal vantagem desse tipo de serviço, a não retirada de
novos recursos da natureza e também, propiciar maior visibilidade ao assunto que é pouco
discutido. Além do fato do recolhimento desse material e sua posterior separação proporcionar
oportunidades como a geração de novos empregos e possibilidade de parcerias com projetos sociais,
todo material coletado deixa de ser descartado em aterros sanitários, fazendo com que a vida útil
dessas áreas possa ser aumentada.

6. CONCLUSÕES

Diante do cenário descrito anteriormente, pode-se perceber o grande potencial de material a ser
coletado e reciclado em Juiz de Fora. Uma discussão pertinente e que deve ser levantada é sobre o
impacto desse lixo no meio ambiente e na saúde da população. Pela pesquisa feita através de
formulário online com estudantes dos cursos de Engenharia da UFJF, 96% dos alunos que
responderam ao questionário afirmaram saber da presença desses elementos e que os mesmos são
prejudiciais à saúde humana e ao meio ambiente. Se todo ou grande parte do REE de Juiz de Fora
fosse coletado, a consequência direta, além de evitar impactos à saúde da população, seria a
oportunidade de emprego para mais pessoas e o aumento da vida útil do aterro sanitário, visto que
grande parte da população descarta seu lixo eletrônico juntamente com o lixo doméstico, mesmo
sabendo que essa não é a maneira adequada.

Ainda em relação à pesquisa realizada com estudantes da UFJF, foi possível perceber que mesmo
grande parte do alunado tendo consciência da importância do descarte adequado do REE (97,3%
dos estudantes assinalaram que o lixo eletrônico não pode ter o mesmo destino do lixo comum),
25,3% dos alunos dizem ainda fazer o descarte de maneira conjunta.

As dificuldades encontradas em relação à destinação adequada estão diretamente relacionadas com


a falta de conscientização em relação ao consumo e descarte do resíduo eletroeletrônico. A maioria
das pessoas ainda não procura dar uma destinação correta aos seus aparelhos mantendo-os em sua
casa, mesmo depois de se tornarem obsoletos. Através da aplicação do questionário, verificou-se
que 57,3% dos entrevistados têm 5 ou mais resíduos eletroeletrônicos em suas casas.

No município de Juiz de Fora 192 toneladas (16 toneladas a cada mês) de REE são coletadas e
deixam de chegar nos aterros sanitários, deixando claro o potencial no aumento da vida útil dessas
áreas. Com as respostas do formulário dos alunos e as informações obtidas na empresa analisada,
percebe-se que para atingir a conscientização da população sobre a destinação adequada ainda é
necessário, por parte do poder público, investimentos em educação ambiental e também, incentivo
às empresas que buscam soluções sustentáveis.

REFERÊNCIAS
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Latin America. Disponível em http://www.who.int/ceh/publications/ewaste_latinamerica/en/, 2015.
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https://www.itu.int/en/ITU-D/Climate-Change/Documents/GEM%202017/Global-E-waste%20Monitor%202017%20-
%20Executive%20Summary.pdf, 2017.
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Desenvolvimento Sustentável e a Nova Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Disponível em:
http://www.advancesincleanerproduction.net/third/files/sessoes/5b/6/natume_ry%20-%20paper%20-%205b6.pdf,
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[5] PNRS. Política Nacional dos Resíduos Sólidos LEI Nº 12.305/2010. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm, Presidência da República, Departamento
da Casa Civil. Brasília, 2 de agosto de 2010.
[6] BACHI, Mariana Helena. RESÍDUOS TECNOLÓGICOS: A relação dos Resíduos Eletroeletrônicos e a Legislação
no Brasil. Revista Brasileira de Gestão Ambiental, v. 7, n. 1, p. 01-05, 2013.
[7] Baldé C.P., Wang, F., Kuehr, R., Huisman, J. The global e-waste monitor 2014. United Nations University, IAS –
SCYCLE, Bonn, Germany. Disponível em: http://i.unu.edu/media/unu.edu/news/52624/UNU-1stGlobal-E-
WasteMonitor-2014-small.pdf, 2015.
[8] DCI. Lixo eletrônico é oportunidade. Disponível em: https://www.dci.com.br/colunistas/editorial/lixo-eletronico-e-
oportunidade-1.683528, 2018.
[9] DEMAJOROVIC, Jacques; MIGLIANO, João Ernesto Brasil. Política nacional de resíduos sólidos e suas
implicações na cadeia da logística reversa de microcomputadores no Brasil. Gestão & Regionalidade, v. 29, n. 87,
2013.
[10] DWIVEDY, Maheshwar; MITTAL, R. K. An investigation into e-waste flows in India. Journal of Cleaner
Production, v. 37, p. 229-242, 2012.
[11] KISSINGER, Meidad; REES, William E.; TIMMER, Vanessa. Interregional sustainability: governance and policy
in an ecologically interdependente world. Environmental science & policy, v. 14, n. 8, p. 965-976, 2011.
PRODUÇÃO NACIONAL NO DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS
CONSTRUTIVOS VOLTADOS À HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL
NO BRASIL

National production in development of constructive systems for social housing in


Brazil

Valéria Mayumi Kushima Ramos 1, Adriana de Paula Lacerda Santos 2,


1 Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, valeria.mayumi@yahoo.com
2
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, adrianapls1@gmail.com

Resumo: Desde a década de 1940 o Brasil busca solucionar a questão do déficit habitacional,
responsável por diversas políticas do Estado que permanecem até hoje. A falta de moradias
manifesta-se principalmente nas camadas de baixa renda, responsável pela maior parte da escassez
de habitações, que era de aproximadamente 6 milhões habitações no ano de 2015. Baseado na
necessidade de encontrar meios mais eficientes para construir moradias, diversas pesquisas vêm
sendo desenvolvidas em âmbito nacional, predominantemente nas universidades. Nesse sentido, foi
realizada uma revisão sistemática da literatura para identificar a situação atual do desenvolvimento
de sistemas construtivos voltados à habitação de interesse social no Brasil, camada que mais carece
de oferta de imóveis. A estratégia da revisão focou inicialmente na definição do objetivo para
selecionar as combinações de palavras-chave para pesquisa em quatro portais brasileiros. Na
sequência foram adotados critérios para filtragem dos estudos e a aplicação da técnica “bola de
neve”, resultando ao final em 24 trabalhos. Foram levantadas informações acerca da autoria, tipo,
ano e local de publicação, descrição do sistema construtivo, o emprego de resíduos e os ensaios e
normas atendidos ou avaliados pelos estudos. Foram encontrados estudos a partir do ano de 1998
até 2015. Com as maiores incidências, os artigos publicados em congresso correspondem a 29%,
assim como as dissertações de mestrado e 25% são artigos publicados em periódicos. Quase metade
(49%) dos estudos desenvolveram sistemas construtivos com reuso de resíduos e 45% utilizou
madeira como material constituinte. Quanto aos critérios para avaliação desses sistemas, a maior
parte das pesquisas levantou os desempenhos mecânico, térmico e a sua durabilidade. Diante das
informações coletadas, pode-se afirmar que existe o interesse em desenvolver novos tipos de
materiais para constituir sistemas construtivos alternativos aos convencionalmente utilizados. No
entanto, verificou-se no Sistema Nacional de Avaliação Técnica (SINAT) que as técnicas
inovadoras aprovadas atualmente não crescem na mesma proporção. Isso pode se dar pelo fato de
ser um processo oneroso e demorado, que pode levar ao desincentivo em obter o DATec
(Documento de Avaliação Técnica) e à dificuldade em empregar novas tecnologias nos sistemas de
financiamento habitacional.

Palavras-chave: Brasil, Habitação social, Sistemas construtivos.

Abstract: Since the 1940s, Brazil has sought to solve the housing deficit problem, responsible for
several state policies that remain today. Lack of housing is mainly seen in low-income households,
responsible for most of the housing shortage, which was approximately 6 million households in
2015. Based on the need to find more efficient means to build housing, several studies are being
developed at national level, predominantly in universities. In this sense, a systematic review of the
literature was carried out to identify the current situation of the development of constructive
systems aimed at housing of social interest in Brazil, the most lacking layer of property supply. The
review strategy initially focused on defining the goal to select keyword combinations for research in
four Brazilian portals. Afterwards, criteria for filtering the studies and the application of the
"snowball" technique were adopted, resulting in 24 cases. Information about authorship, type, year
and place of publication, description of the construction system, use of waste and the tests and
norms attended or evaluated by the studies were collected. Studies were found from 1998 to 2015.
With the highest incidence, articles published in congress correspond to 29%, as well as master's
dissertations and 25% are articles published in journals. Almost half (49%) of the studies developed
constructive systems with reuse of residues and 45% used wood as constituent material. As for the
criteria for evaluation of these systems, most research has raised the mechanical, thermal
performance and durability. Considering the information collected, it can be stated that there is an
interest in developing new types of materials to constitute alternative construction systems to those
conventionally used. However, it was verified in the National System of Technical Evaluation
(SINAT) that the innovative techniques currently approved do not grow in the same proportion.
This can be explained by its high cost and for being a time-consuming process, which can lead to a
disincentive to obtain the DATec (Technical Assessment Document) and the difficulty of using new
technologies in housing financing systems.

Keywords: Brazil, social housing, constructive systems.

1. INTRODUÇÃO

Um dos problemas que o Brasil tem enfrentado há décadas é o déficit habitacional que atinge
principalmente a população das camadas de renda mais baixa localizadas nos centros urbanos. Entre
os anos de 2007 e 2015, o déficit habitacional sofreu variações atingindo o seu pico em 2010 com
quase sete milhões e desde 2012 mantém a tendência de crescimento. A escassez de habitações
atinge todas as regiões do país, com maior expressividade no Sudeste (39%) e no Nordeste (31%)
[1].

Como forma de incentivar a aquisição da casa própria e reduzir esse déficit, foram implementadas
condições facilitadas de financiamento principalmente para famílias de baixa renda pelo programa
Minha Casa Minha Vida, lançado em 2009 [2].

No entanto, ao avaliar as habitações financiadas pelo programa, 56,4% apresentou alguma


deterioração antes do término da garantia. Entre os problemas apontados estão fissuras, falta de
prumo e de esquadros, trincas e defeitos que comprometem a qualidade e a durabilidade da obra,
gerando novamente a necessidade de reposição de imóveis [3]. Portanto, o que se vê, são
construções de baixa qualidade e durabilidade comprometida entregues à população, sem buscar
uma solução de longo prazo.

Diversos sistemas construtivos que têm sido desenvolvidos nos últimos vinte anos em todo o país
com diferentes propósitos. Desde a avaliação de seu desempenho estrutural [4-16], durabilidade
[4,6,7,12,14,16-19,] conforto térmico ou acústico [4,7,13,15,17,20-22], aproveitamento de resíduos
e sustentabilidade ambiental [8,10,13,23-26] ou ainda a avaliação de custos [10].

Dessa forma, foi criado em 2007 o Sistema Nacional de Avaliações Técnicas (SINAT) para avaliar
o desempenho de técnicas construtivas inovadoras não abrangidas por normas técnicas
regulamentadoras. Essas avaliações consideram características ligadas à durabilidade, vida útil,
comportamento térmico, acústico, estrutural e ambiental [27], que ao atingirem os critérios mínimos
especificados, concede-se o Documento de Avaliação Técnica (DATec). No ano de 2018 foram
identificados 12 DATec’s vigentes, sendo 10 relacionados a sistemas construtivos.

Nesse contexto, o presente trabalho realizou uma Revisão Sistemática da Literatura (RSL) para
levantar os estudos que desenvolveram sistemas construtivos voltados à habitação de interesse
social no Brasil, com o objetivo de identificar os avanços nesta área de pesquisa e a sua
contribuição na redução do déficit habitacional.

2. MÉTODO
As etapas desta revisão seguem conforme a FIGURA 1, que explicita todas as considerações
realizadas conforme os critérios descritos ao longo da revisão para possibilitar a reprodução e
confiabilidade dos resultados [28].

Definição do objetivo

Definição da estratégia para revisão sistemática

Aplicação das palavras-chave e seleção de estudos

Filtragens conforme critérios

Leitura dos estudos e extração de informações

Análise dos dados

Apresentação dos resultados

Conclusões
Fig. 3 – Etapas da RSL

A definição de palavras-chave apropriadas é primordial para que sejam retornados resultados


representativos e condizentes com o objetivo de pesquisa. Para isso, foram testadas diferentes
combinações de palavras-chave e avaliados os resultados para validar se a combinação era ou não
adequada.

Foram também avaliados diferentes portais e bases de dados, em que os resultados mais próximos
ao objetivo foram encontrados no Google acadêmico, ibict oasisbr, Scielo e Periódicos CAPES.
Para o primeiro, devido à grande quantidade de resultados, foram aplicadas as combinações de
palavras: desenvolvimento “habitação social” (método OR sistema) construtivo alternativo;
desenvolvimento “habitação social” (método OR sistema) construtivo inovador (Fig. 2).
Já os portais Ibict oasisbr, Scielo e a base de dados Periódicos CAPES, por apresentarem poucos
resultados, utilizou-se menor combinação de palavras: para o portal brasileiro de pesquisas
científicas Ibict oasisbr, foi utilizado “habitação social” (método OR sistema) construtivo; já para o
Periódicos CAPES e Scielo, (método OR sistema) construtivo.

alternativo
desenvolvimento “habitação social” (método OR sistema) construtivo
inovador
Scielo e Periódicos CAPES

Ibict oasisbr
Google acadêmico
Fig. 2 – Palavras-chave e bases de dados

A quantidade de resultados conforme o site com as palavras-chave está apresentada na Tabela 1.


Cabe ressaltar que a pesquisa no Google Acadêmico cita o número de 3.310 e 1.150 resultados para
as duas variações (com as palavras “alternativo” e “inovador”, respectivamente), no entanto a
quantidade de artigos retornados foi de 978 e 971.

Tabela 1 – Resultados conforme portal/bases de dados


Portal / Base de 1ª Bola de
Resultados 2ª Filtragem 3ª Filtragem Quantidade final
dados Filtragem neve
978* 73* 32*
Google acadêmico
971** 52** 20**
ibict oasisbr 58 9 6 30 11 24
Scielo 55 5 3
Periódicos CAPES 448 7 3
FONTE: A autora (2018).
* Para a combinação de palavras: desenvolvimento “habitação social” (método OR sistema) construtivo alternativo
** Para a combinação de palavras: desenvolvimento “habitação social” (método OR sistema) construtivo inovador

A partir dos resultados, procedeu-se às filtragens conforme os critérios descritos a seguir:

• 1ª filtragem: seleção do estudo de acordo com a adequação do título ao objetivo.


• 2ª filtragem: leitura do resumo para exclusão de estudos que não apresentavam sistemas
construtivos alternativos ou inovadores.
• 3ª filtragem: eliminação de estudos duplicados entre os portais/bases de dados.
• Bola de neve: realizou-se a busca por outros estudos com base nos mesmos critérios utilizados nos
portais/bases de dados, mas desta vez nas referências bibliográficas dos artigos restantes (30). Esta etapa foi
iterativa (busca nas referências dos estudos selecionados) até que fossem esgotados os resultados
encontrados dessa forma.
Nesta subetapa, muitos estudos não foram encontrados, possivelmente por se tratarem de documentos
acadêmicos (dissertações e teses) antigos e não disponibilizados por meio digital.
• Quantidade final: nesta última etapa foi realizada a leitura de conteúdo dos estudos e eliminação
daqueles que não atendiam ao critério de desenvolvimento de sistema construtivo.

Feita a seleção dos 24 estudos, foram extraídas as seguintes informações:

- Tipo de documento (artigo de congresso, artigo de periódico, dissertação,etc);

- Breve descrição do sistema construtivo;

- Classificação do sistema construtivo, conforme definição dada por [29];

- Principal material constituinte do sistema construtivo;

- Verificou-se que diversos sistemas construtivos fazem uso de resíduos, de forma que também foi
levantado o tipo de material reaproveitado;

- Quais critérios, ensaios, normas ou requisitos foram realizados ou considerados no


desenvolvimento do sistema construtivo.

As figuras poderão ser em preto e branco ou em cores. Em todos os gráficos, abscissas e ordenadas
deverão ser identificadas com símbolos e unidades. Cuide que os valores nas escalas sejam legíveis
quando o gráfico seja reduzido para caber na coluna. Recomenda-se inserir as figuras de forma tal
que resultem no menor tamanho de arquivo possível.

3. RESULTADOS

Quadro 1 – Artigos selecionados na RSL


Tipo de Local de Descrição do Principal
Autor Uso de resíduo Ensaios/requisitos/normas
documento publicação sistema construtivo material
[8] Artigo de VI Encontro "Painéis sanduíches" Madeira Não - Aplicação de carga no painel
congresso Brasileiro em pré-fabricados para
Madeiras e em vedação em madeira
Estruturas de
Madeira
[19] Dissertação Universidade de kit pré-fabricado em Madeira Não - Durabilidade (propriedades
de São Paulo pinus físicas: densidade, umidade,
mestrado retração e inchamento)
[21] Artigo de I Conferência Painéis pré- Bloco Não - Desempenho térmico
congresso Latino- fabricados com cerâmico - Geometria simples
Americana de blocos cerâmicos
Construção
Sustentável e X
Encontro
Nacional de
Tecnologia do
Ambiente
Construído
[25] Artigo de I Conferência Painéis com madeira Madeira Sim - madeira - Aproveitamento da madeira
congresso Latino- de rejeito comercial de reiejto
Americana de comercial
Tipo de Local de Descrição do Principal
Autor Uso de resíduo Ensaios/requisitos/normas
documento publicação sistema construtivo material
Construção
Sustentável e X
Encontro
Nacional de
Tecnologia do
Ambiente
Construído
[22] Dissertação Universidade Painéis de vedação Madeira Não - Desempenho térmico -
de Estadual de em madeira ABNT (NBR 15220:2005,
mestrado Londrina 02:136.01-001:2002 e
02:136.01-004:2002)
[18] Dissertação Universidade Painéis de madeira Madeira Não - Durabilidade
de Federal de Santa de reflorestamento - Simplicidade construtiva
mestrado Catarina - Nível máximo de pré-
fabricação
- Possibilidade de ampliação
- Segurança
[10] Tese de Universidade de Painéis estruturais de Madeira Sim - madeira - Desempenho técnico
doutorado São Paulo madeira (peças roliças (estrutural, estanqueidade
de pequeno visual, durabilidade)
diâmetro) - Sustentabilidade ambiental
(materiais renováveis,
consumo energético e geração
de resíduos)
- Sustentabilidade econômica
(facilidade de produção e
montagem, produção em
escala e custos)
[12] Dissertação Universidade Painéis pré- Argamassa Sim – garrafa - Desempenho estrutural
de Federal de Santa fabricados de e garrafa PET (ensaio de compressão
mestrado Catarina argamassa e garrafas plástica vertical e impacto)
plásticas (Sistema PET - Desempenho hidrotérmico –
Casa Pet) ABNT (NBR 15.220:2005 e
02:136.01-001:2004)
[26] Livro Inovação Painéis estruturais de Madeira Não - Desempenho térmico
Tecnológica na madeira - Desempenho estrutural
Construção (Stella/UFSC) - Geometria simples
Habitacional
[7] Artigo de IV Encontro Paredes maciças Solo Sim - casca de - Desempenho mecânico -
congresso Nacional e II compactadas com arroz ABNT (NBR 8492:1984 e
Encontro Latino- mistura solo- NBR 12025:1990)
americano sobre cimento-cinza de - Absorção de água - ABNT
Edificações e casca de arroz (NBR 8492:1984 e NBR
Comunidades 13.555:1996)
Sustentáveis - Desempenho térmico -
ABNT (NBR 15220:2005)
[20] Artigo de XII Encontro Painéis de madeira Madeira Não - Desempenho térmico -
congresso Nacional de (placa compensado ABNT (02:135.7.002:1998 e
Tecnologia do OSB) 02:135.7.003:1998)
Ambiente
Construído
[20] Painéis com material Embalage Sim - - Desempenho térmico -
reciclado (plástico e m longa embalagem ABNT (02:135.7.002:1998 e
alumínio de vida e longa vida 02:135.7.003:1998)
embalagem longa madeira
vida)
Tipo de Local de Descrição do Principal
Autor Uso de resíduo Ensaios/requisitos/normas
documento publicação sistema construtivo material
[20] Painéis de madeira Madeira Não - Desempenho térmico -
(placa OSB) e manta ABNT (02:135.7.002:1998 e
térmica 02:135.7.003:1998)
[15] Dissertação Universidade Blocos com Gesso e Sim - EPS - Desempenho mecânico -
de Federal do Rio compósito gesso, EPS ABNT (NBR 6461:1983)
mestrado Grande do Norte EPS, cimento, areia e - Desempenho térmico -
água ABNT (NBR 15220:2005)
[15] Compósito gesso, Gesso, EPS Sim - EPS e - Desempenho mecânico -
EPS, cimento, areia e e garrafa garrafa PET ABNT (NBR 6461:1983)
água e enchimento PET - Desempenho térmico -
de garrafas plásticas ABNT (NBR 15220:2005)
PET
[6] Artigo de Revista Paredes com blocos Resíduos Sim - resíduos - Desempenho mecânico:
periódico Ambiente EVA (etil vinil de EVA de EVA Resistência - ABNT
Construído acetato) (etileno acetato (NBR 11675:1990, NBR
de vinila) 11678:1990 e NBR
8054:1983)
Absorção de água -
ABNT (MB 4359:1991)
Para blocos sem função
estrutural - ABNT (NBR
7173:1982)
[9] Artigo de Tecno-Lógica Paredes de vedação Embalage Sim - - Resistência à compressão -
periódico modulares com m longa embalagem ABNT (NBR 6136:2008)
placas de argamassa vida longa vida
de cimento, areia e
caixas recicladas
tetrapak
[23] Artigo de Congresso Uso de contêiner Contêiner Sim - contêiner -
congresso Internacional: com camada de EPS
Sustentabilidade e acabamento interno
e Habitação de com PVC ou OSB
Interesse Social
[14] Tese de Universidade de Painel de vedação Tubos de Sim - tubos de - Desempenho mecânico -
doutorado São Paulo com tubos de papelão papelão ABNT (NBR 8949:1998,
papelão NBR 11675:1990 e NBR
5739:1994)
- Umidade - ABNT (NBR
14257:1998)
- ABNT (NBR 15575:2008):
- Estabilidade e resistência
estrutural
- Deformação e fissuração
- Estanqueidade e
permeabilidade
- Manutenibilidade
[17] Artigo de Floresta e Paredes de vedação Madeira Não - Umidade - ABNT (NBR
periódico Ambiente com madeira 7190:1997)
- Preservação - ABNT (NBR
8456:1984)
- ABNT (NBR 15575:2010):
- Desempenho lumínico
- Durabilidade e
manutenibilidade
- Saúde
- Funcionalidade
- Conforto tátil e antropo-
dinâmico
Tipo de Local de Descrição do Principal
Autor Uso de resíduo Ensaios/requisitos/normas
documento publicação sistema construtivo material
- Adequação ambiental

[4] Dissertação Centro Paredes com resíduos Resíduos Sim - pneus e - Desempenho técnico (NBR
de Universitário de da construção civil, da resíduos da 15575-2/2008; NBR
mestrado Araraquara lascas de pneu, cal, construção construção 11678/1990; NBR 8952/1983;
cimento e água civil, pneu civil NBR 8054/1983)
e cimento - Estanqueidade (Método do
IPT)
- Desempenho acústico (ISO
140-5:1998; ISO 140-4:1998)
- Resistência ao fogo (ASTM
E-119:1995 e Método do IPT)
- Calor e choque térmico
(Método do IPT)
[16] Artigo de Floresta e Painéis de madeira e Madeira Sim - bagaço - Absorção de água - ABNT
periódico Ambiente chapas de partículas de cana-de- (NBR14810:2006)
de bagaço de cana- açúcar - Desempenho mecânico -
de-açúcar e resina à ABNT (MB-3256:1990 e
base de óleo de NBR 14810:2006)
mamona - ABNT (NBR 15575:2008)
[24] Patente BR 10 2013 Paredes de função Garrafas Não -
023892 9 B1 estrutural com PET com
garrafas PET com formato
formato inovador inovador
[13] Artigo de Ambiente Paredes de vedação Resíduos Sim - resíduos - Desempenho mecânico -
periódico Construído com blocos de EVA de EVA ABNT (NBR 6136:2007,
intertravados de (etileno acetato NBR 8949:1985, NBR
EVA (etil vinil de vinila) 7184:1992 e NBR
acetato) 12118:2006)
- Desempenho térmico -
ABNT (NBR 15575:2005)
[8] Artigo de XV Encontro Paredes de vedação Madeira Não -
congresso Nacional de com madeira de
Tecnologia do reflorestamento
Ambiente conjugada com
Construído derivado de madeira
(chapa de
aglomerado)
[8] Paredes de vedação Madeira Não -
com madeira de
reflorestamento
conjugada com
técnicas de terra crua
(terra palha
monolítica)
[8] Paredes de vedação Madeira Não -
com madeira de
reflorestamento
conjugada com
Tipo de Local de Descrição do Principal
Autor Uso de resíduo Ensaios/requisitos/normas
documento publicação sistema construtivo material
técnicas de terra crua
(terra palha bloco)

[5] Artigo de Revista Nacional Painéis de bambu e Madeira e Não - Desempenho mecânico -
periódico de chapas OSB bambu ABNT (NBR 11675:2011,
Gerenciamento NBR 11680:1990 e NBR
de Cidades 15575:2013)
[11] Dissertação Universidade de Painéis pré- Concreto Sim - resíduos - Desempenho mecânico -
de Brasília fabricados de da construção ABNT (NBR 5739:1994,
mestrado concreto civil RCC) NBR 6136:2007, NBR
8681:2003, NBR 10004:2004
- ABNT (NBR 15575:2013)

Com relação à predominância do tipo de documento em que foi apresentado o sistema, as


dissertações de mestrado (7 estudos) representaram a maioria dos estudos, seguido pelos artigos
apresentados em congresso (7) e publicados em periódicos (6). Já os que tiveram menor incidência
foram em livros (1), teses de doutorado (2) e registro de patente (1) (Fig. 3).

Fig. 3 – Quantidade de artigos conforme tipo de publicação

Segundo a classificação dos sistemas dada por [29] e descrito no referencial, todos os sistemas
encontrados na revisão podem ser classificados como racionalizados, pois têm além de outros
objetivos, a redução de desperdícios, custos ou qualidade da construção.

Nos estudos de [8,15,20] foram apresentados mais de um sistema construtivo, de forma que se
considerou a percentagem sobre a quantidade total de sistemas construtivos apresentados.

Na descrição desses sistemas construtivos (Fig. 4) verificou-se que a execução de painéis de


madeira foi predominante em relação às demais tecnologias e materiais, com 50% dos estudos
utilizando alguma variação da matéria prima. A presença expressiva foi justificada por questões
como o potencial da atividade florestal no Brasil e a presença de grandes áreas de reflorestamento, o
baixo consumo de energia no processo produtivo, por ser um recurso renovável, o baixo custo final
e menores impactos ambientais gerados quando comparado a outros materiais, desde que originária
de reflorestamento, com correto manejo e sem a exploração de floresta nativa [8,18,19].
Fig. 4 – Percentagem de estudos, conforme tipo de sistema construtivo e tipo de resíduo utilizado

No entanto, variações na qualidade da madeira, condições de montagem, qualificação da mão de


obra e relação direta entre o seu nível de umidade e o processo de degradação influenciam
diretamente o desempenho final do produto [17,25]. Este último verificado pela presença reiterada
de normas acerca de durabilidade e avaliação da absorção de água, além do desempenho mecânico e
térmico.

Além disso, o reaproveitamento de resíduos foi frequentemente encontrado nos sistemas


construtivos, correspondendo a 60% dos estudos levantados. Dentre os utilizados na execução das
vedações ou estruturas, estão o EPS (poliestireno expandido), garrafa plástica, embalagem longa
vida, pneus, resíduos da construção civil, madeira de rejeito, bagaço de cana de açúcar, EVA
(etileno acetato de vinila) e pallets. Com a aplicação deles, foram desenvolvidos desde paredes de
vedação até elementos estruturais, como é o caso da aplicação de lascas de pneu [4].

A partir da coleta de informações sobre os critérios, normas e ensaios consultados, evidenciou-se


principalmente a avaliação do desempenho mecânico, seja por ensaios de resistência à compressão
ou durabilidade e do desempenho térmico dos sistemas.

Além disso, a norma NBR 15575 foi a mais consultada, presente em 24% dos estudos. Sua
importância se dá pela apresentação de critérios (quantitativos) e requisitos (qualitativos) de
desempenho da edificação e os métodos de avaliação, sejam eles por meio de ensaios em
laboratório, avaliação do projeto ou simulações computacionais, independentemente do sistema
construtivo adotado, desde que se trate de edificação de até cinco pavimentos.
São avaliados critérios para segurança estrutural, segurança contra incêndio, segurança no uso e
operação, desempenho acústico, desempenho térmico, desempenho lumínico, estanqueidade, saúde,
higiene e qualidade do ar, acessibilidade, conforto antropodinâmico e tátil, durabilidade,
manutenibilidade e o impacto ambiental. Eles são aplicados nas diferentes composições do edifício
(sistemas estruturais, de pisos, de vedações verticais internas e externas, de coberturas e
hidrossanitários) [30]. Importante ressaltar que apesar de ela abranger critérios dimensionados em
outras normas, cabe o cumprimento de todas as exigências.

3. CONCLUSÃO

Foram identificados 24 estudos que desenvolveram sistemas construtivos no país ao longo de mais
de vinte anos. No entanto, ao comparar com a quantidade de DATec’s concedidas a sistemas
construtivos inovadores, verifica-se que não há continuidade no processo para concessão do
documento, necessário para autorizar o financiamento de construções para o programa Minha Casa
Minha Vida.

Uma das hipóteses levantadas para essa questão é o custo e tempo elevados necessários para emitir
o documento (DATec) e o distanciamento entre a academia e o mercado no Brasil, que levam à
desistência ou ao desincentivo em dar continuidade ao processo de validação do desempenho do
sistema construtivo inovador.

Em relação à aplicação de resíduos em novos componentes da construção, evidencia-se a


necessidade de mudança de paradigmas, desenvolvendo novos materiais, tecnologias e processos
para mitigar os impactos ambientais gerados pelo setor.

De acordo com a RSL, existe o interesse em desenvolver sistemas construtivos inovadores aliados à
preocupação ambiental, de modo que o uso da madeira, um material renovável e de baixo consumo
energético durante o seu processamento, teve um alto índice de aplicação, assim como o uso de
resíduos na constituição do material.

Em resumo, verifica-se que em geral o desenvolvimento de sistemas construtivos alternativos ainda


não se traduz em reais contribuições para a redução do déficit habitacional. No entanto, salienta-se
o potencial das universidades e das pesquisas acadêmicas em desenvolver materiais e técnicas
inovadoras mais sustentáveis e produtivas que as atualmente utilizadas, que se efetivamente
aplicadas em larga escala possibilitam mitigar a escassez de moradias em conjunto a meios mais
sustentáveis ao meio ambiente, por meio do estreitamento da relação entre o meio acadêmico e o
mercado.

REFERÊNCIAS
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[29] PICARELLI, M. Habitação: uma interrogação. São Paulo: FAUUSP, 1986.

[30] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 15575-1: edificações Habitacionais —
Desempenho Parte 1: Requisitos gerais, Rio de Janeiro, 2013.
DESEMPENHO E QUALIDADE DAS EDIFICAÇÕES DO PROGRAMA
MINHA CASA MINHA VIDA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA DE
LITERATURA

Performance and quality evaluation of My House My Life Program buildings: a


systematic literature review

Drielle Sanchez Leitner 1, Adriana de Paula Lacerda Santos 2


1 Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, drielle.dsl@gmail.com
2
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, adrianapls@ufpr.br

Resumo: A escassez habitacional urbana é um problema que deve ser enfrentado no Brasil, tendo
ultrapassado 5,4 milhões em 2015 [1]. Nesse cenário, o Programa Minha Casa Minha Vida
(PMCMV) atua na construção de casas. Apesar disso, ainda há um forte questionamento sobre a
qualidade da moradia produzida [2], portanto, avaliações de desempenho, como as avaliações pós-
ocupação, tornam-se interessantes para mensurar o real desempenho dos edifícios já entregues do
PMCMV. Neste contexto, uma revisão sistemática da literatura (RSL) foi desenvolvida a fim de
localizar publicações que desenvolveram algum tipo de avaliação de desempenho e qualidade de
edifícios do PMCMV, bem como para determinar quais critérios estão sendo estudados. A RSL foi
feita nas bases de dados eletrônicas Google Scholar, Portal de Periódicos CAPES, e Scopus, sendo
que a busca ocorreu no título das publicações para as duas primeiras fontes e no título, resumo e
palavras chaves no terceiro caso. A pesquisa compreendeu artigos de revista e congresso publicados
de 2013 a 2018 em português ou inglês, de forma a compreender a situação atual das edificações do
PMCMV. Como resultado, 12 publicações foram identificadas, um baixo número de publicações
frente a um programa que impacta milhares de brasileiros. Dessa forma foi, primeiramente,
detectada uma lacuna na pesquisa nacional. Além disso, alguns artigos fizeram apenas uma reflexão
teórica sobre o assunto. Outros, optaram por incluir alguns critérios de desempenho, sendo que
alguns focaram na avaliação do desempenho térmico. Dentre os artigos selecionados tiveram
aqueles que discutiram o uso da tecnologia Building Information Modeling (BIM) para estudar o
desempenho do edifício. Assim, apesar da qualidade das edificações do PMCMV ser um tema atual
e de importância tanto tecnológica quanto social, não foram encontradas pesquisas a altura do
problema. Como resultado, apesar das pesquisas terem abordagens variadas, existe um consenso
sobre a necessidade de uma maior preocupação com a qualidade das edificações do programa. Os
conhecimentos adquiridos podem ser utilizados para identificar falhas recorrentes nas edificações.

Palavras-chave: Desempenho, Programa Minha Casa Minha Vida, revisão sistemática de


literatura.

Abstract: The urban housing shortage is a problem that must be faced in Brazil, having surpassed
5.4 million in 2015 [1]. In this scenario, the My Home My Life Program (PMCMV) works in the
construction of houses. Despite this, there is still a strong questioning about the quality of produced
housing [2], so performance evaluations, such as post-occupation evaluations, become interesting to
measure the actual performance of PMCMV’s already delivered buildings. In this context, a
systematic review of the literature (RSL) was developed in order to locate publications that have
developed some type of performance and quality evaluation of PMCMV buildings, as well as to
determine which criteria are being studied. The RSL was made in the electronic databases Google
Scholar, Portal of Periodicals CAPES, and Scopus, and the search took place in the title of the
publications for the first two sources and the title, abstract and keywords in the third case. The
research included articles from journals and conferences published from 2013 to 2018 in Portuguese
or English, in order to understand the current situation of PMCMV buildings. As a result, 12
publications were identified, a small number of publications facing a program that impacts
thousands of Brazilians. In this way, it was first detected a gap in the national survey. In addition,
some articles have only made a theoretical reflection on the subject. Others chose to include some
performance criteria, some of which focused on the evaluation of thermal performance. Among the
articles selected were those who discussed the use of Building Information Modeling (BIM)
technology to study building performance. Thus, despite the quality of the PMCMV buildings being
a current theme of both technological and social importance, no research was found to measure the
problem. As a result, although the researches have varied approaches, there is a consensus about the
need for a greater concern with the quality of the buildings of the program. The knowledge acquired
can be used to identify recurring faults in the buildings.

Keywords: Performance, My Home My Life Program, systematic literature review.

1. INTRODUÇÃO
Segundo dados estatísticos, o déficit habitacional urbano no Brasil passou de 5,4 milhões em 2015
[1]. No ano anterior, 83,9% deste déficit concentrava-se na faixa de renda mensal de até três
salários mínimos. Nesse cenário, o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) atua construindo
casas e contempla quatro faixas de renda, variando de rendas familiares de R$1800,00 a R$7000,00
[3].
O PMCMV tem como objetivo atender as necessidades de habitação da população de baixa renda,
sendo que as moradias devem alcançar padrões mínimos de sustentabilidade, segurança e
habitabilidade [4]. Apesar disso, observa-se ainda um questionamento quanto à qualidade das
habitações que vêm sendo produzidas [2].
Isso pois, usualmente, a preocupação com a necessidade quantitativa das habitações antecede o
interesse e disponibilidade por parte da sociedade em apostar numa melhoria da qualidade [5].
Consequentemente, durante essa transição, famílias podem ser prejudicadas. Além disso, a busca
pela diminuição do déficit não ocorreu da forma mais apropriada se for considerado o usuário e a
pós-ocupação da edificação [6].
O PMCMV deve equilibrar custo e qualidade para atender a demanda por moradias a um preço
acessível enquanto disponibiliza edificações dignas aos ocupantes, o que é um desafio do programa
[5]. Logo, avaliações de desempenho, como as avaliações pós-ocupação (APOs), tornam-se
interessantes em edificações do PMCMV já entregues.
A APO é um tipo de avaliação de desempenho das edificações, depois desta ter sido construída e
ocupada há um certo tempo. Ela pode ser utilizada para documentar as características positivas e
negativas do comportamento do edifício com o propósito de utilizar tais informações em
construções novas e reformas [7]. Ou seja, uma APO permite que os construtores, e demais agentes
envolvidos, entendam quais foram os erros que ocorrem naquele processo gerando informações
capazes de evitar que esses sejam repetidos.
Portanto, a APO pode ser entendida como um passo final lógico de um projeto cíclico, com suas
lições aprendidas podendo ser usadas tanto para melhorar o espaço existente quanto no design e
programação do próximo prédio [8]. Existem diversas variáveis em uma APO, como os métodos de
avaliação (qualitativo e quantitativo); critérios a avaliar (qualidade do ar, desempenho acústico,
etc.); e o tempo de avaliação, que pode variar de acordo com seu objetivo central.
Ademais, uma avaliação de desempenho pode ser realizada sob o panorama de uma norma ou
diretriz. No Brasil, em 2013 foi lançada pela Associação Brasileira de Normas técnicas (ABNT) a
série de normas NBR 15575 "Edificações habitacionais – Desempenho" que buscam atender às
exigências dos usuários independentemente dos materiais constituintes da habitação e do sistema
construtivo utilizado [9]. Essa norma pode então ser utilizada para balizar a qualidade das
edificações no país.
Por fim, diante de um programa de habitações de interesse social tão importante para o crescimento
do país, o objetivo deste estudo é desenvolver uma revisão sistemática de literatura (RSL) a fim de
localizar publicações que desenvolveram algum tipo de avaliação de desempenho e qualidade em
edificações do PMCMV, assim como levantar quais os critérios estão sendo estudados.

2. MÉTODO

O método utilizado foi a revisão sistemática de literatura (RSL) que possibilita encontrar, avaliar
criticamente e consolidar informações a fim de contribuir para um tópico de pesquisa. Para iniciar
uma RSL é necessário estabelecer os termos de busca para a obtenção de resultados convenientes ao
objetivo determinado [10].

A pesquisa foi feita em três bases de dados eletrônicas sendo elas o Google Scholar, o Portal de
Periódicos CAPES, e o Scopus, sendo que a busca ocorreu no título das publicações para as duas
primeiras fontes e no título, resumo e palavras chaves no terceiro caso. Essa diferenciação ocorreu
devido a diferenças técnicas das bases de dados eletrônicas. A pesquisa compreendeu artigos de
revista e congresso publicados de 2013 a 2018 em português ou inglês, excluindo-se patentes e
citações. A restrição temporal das publicações, de 2013 a 2018, foi feita de forma a compreender a
situação atual das edificações do PMCMV, que existe desde 2009. Além disso, busca-se entender o
impacto da NBR 15575 [9], lançada em 2013, na questão central do estudo.

Como pode ser observado no Quadro 1, os termos de busca escolhidos relacionam o PMCMV com
o desempenho e as condições da edificação construída. O termo principal foi fixado como sendo
obrigatório e pelo menos um termo complementar deveria estar presente na publicação. Ou seja,
para ser incluída no estudo em questão a publicação deveria possuir a frase “Programa Minha Casa
Minha Vida” combinada com algum dos termos de busca complementares, como por exemplo
“qualidade”.
Quadro 1 – Termos de busca da RSL

Termo de busca obrigatório Termos de busca


complementares
Programa Minha Casa Minha Desempenho
Vida Avaliação
Pós-ocupação
Patologia
Qualidade
Defeito

Como resultado, foram encontradas 41 publicações no Google Scholar, 3 no Portal de Periódicos


CAPES e 2 no Scopus, somando 46 títulos. Em seguida, foram eliminadas as publicações repetidas,
resultando em 36 documentos que foram selecionados inicialmente.

A segunda etapa constou em identificar, por meio da leitura do título e resumo, aqueles que o
assunto não estava relacionado com o objetivo deste estudo. Ademais, diversas publicações não
satisfaziam todos os critérios de inclusão e foram excluídas, como dissertações e pesquisas sobre
questões sociais.

Como resultado, 13 artigos foram selecionados e estudados por completo. Em seguida, a partir desta
leitura, foram excluídos artigos que avaliaram a inserção urbana dos empreendimentos e não a
qualidade da edificação. Alguns desses incluíam outras questões como satisfação dos usuários
quanto ao estacionamento interno [11], ou a eficiência energética [12], mas ainda sem discutir sobre
a qualidade da edificação.

Por fim, as filtragens resultaram em 9 artigos que foram utilizados na construção do panorama
PMCMV – avaliação do desempenho e condições de qualidade. Ademais, foi utilizado o
procedimento backward, no qual são consultadas as listas de referências dos estudos selecionados
[10]. Esse procedimento visa verificar se todas as publicações dentro do escopo da RSL foram
realmente encontradas evitando lacunas na pesquisa. Tal procedimento contribuiu para a inclusão
de mais 3 publicações, que seguiram os mesmos critérios de inclusão que as demais, totalizando 12
artigos. O Quadro 2 mostra o resumo das etapas da RSL.

Quadro 2 – Etapas da RSL

Etapa Resultado
Pesquisa nas bases de dados eletrônicas 46
Exclusão dos repetidos 36
Leitura do título e resumo 13
Leitura completa 9
Backward +3
TOTAL 12
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Por meio da RSL foram identificadas 12 publicações que discutiam sobre a qualidade e o
desempenho das edificações do PMCMV, como pode ser observado no Quadro 3. O número de
publicações encontradas permite uma reflexão sobre a escassez de pesquisas publicadas sobre a
temática, uma vez que as edificações do PMCMV impactam um número considerável de
brasileiros.
Quadro 3 – Publicações identificadas pela RSL

AUTOR
França e Abiko (2013) [13]
Pedro (2013) [5]
Nardelli e Oliveira (2013) [14]
Batista, Peixoto, Cavalcante e Lima (2014) [15]
Ferreira (2014) [16]
Dantas e Barbirato (2015) [17]
Moreira e Silveira (2015) [18]
Moreira, Silveira e Reis (2015) [19]
Tonso e Nardelli (2015) [20]
De Aragão e Hirota (2016) [2]
Pinto, Silva e Cumerlato (2016) [6]
De Souza, De Moura, De Oliveira e Rodrigues (2017) [21]

Dentre as publicações encontradas, nem todas desenvolviam algum trabalho prático. Duas das
publicações mais antigas não desenvolvem uma avaliação de desempenho mas optaram por seguir
abordagem teóricas [5,13].

Em [13] são apontadas as principais dificuldades em conciliar os objetivos quantitativos do


PMCMV com a necessidade de garantir sua qualidade. Os autores expõem uma visão geral do
PMCMV por meio de publicações de outros autores, sendo algumas dessas da época da criação do
programa. Além disso, os autores não citam a NBR 15575 [9] e seu impacto sobre a questão.

[5] contextualiza o PMCMV, discute sobre a importância da qualidade da habitação do PMCMV e


promove um confronto entre as abordagens quantitativa na construção de habitação, que atendem
essencialmente aos interesses imediatos da economia, e qualitativa, que atendem essencialmente aos
interesses presentes e futuros da comunidade. O autor aponta os riscos do PMCMV para a qualidade
arquitetônica e urbanística dos empreendimentos habitacionais, sendo eles: riscos envolvendo o
ambiente e a comunidade, item que fala sobre questões como a localização do empreendimento e a
falta de mistura social; aspecto e caráter, que inclui reflexões sobre a estética da edificação; ruas,
estacionamento e percursos pedonais; e, projeto e construção.

Diante desses riscos, [5] faz algumas recomendações como que o bairro local do empreendimento
deve possuir uma identidade visual própria, dispor de equipamentos e serviços próximos e evitar
grandes concentrações de edifícios e habitações do mesmo tipo. Além disso, são feitas outras
recomendações sobre o empreendimento em si, como possuir projeto próprio e específico, superar
os valores mínimos regulamentais (como a NBR 15575 [9]), permitir adaptações internas pelos
moradores e ampliações futuras. A última recomendação do autor é que as melhores soluções sejam
reconhecidas e divulgadas, que é a ideia central de uma APO. Por fim, é discutido sobre
oportunidades do PMCMV para a qualidade arquitetônica e urbanística dos empreendimentos
habitacionais destacando o potencial de aumento do grau de industrialização da construção, com o
uso de elementos pré-fabricados, proporcionando também o desenvolvimento de sistemas
construtivos inovadores, o investimento na realização de estudos de investigação e assim o
aperfeiçoamento progressivo das soluções construtivas.

Em seguida, foi identificado um grupo de artigos que, apesar de possuírem objetivos diferentes,
incluíam algum critério do desempenho da edificação na pesquisa. Alguns desses focavam na
percepção do usuário.

Nesse contexto, em [18] foram desenvolvidos indicadores de desempenho, divididos em 3


categorias (sendo elas a moradia, o conjunto habitacional e o entorno), a partir da percepção dos
ocupantes do PMCMV. A categoria moradia foi a que mais se adequou a questão central do
presente estudo uma vez que englobou: a qualidade da construção, com a avaliação de portas,
janelas, instalações hidráulicas, etc.; e o conforto ambiental, com a avaliação da ventilação,
iluminação, acústica, etc. Ainda dentro da categoria moradia estava incluído o item adequação ao
uso, que abrange o tamanho, disposição e possibilidade de adaptação dos cômodos pelos habitantes,
questão essa sugerida como importante por [5]. Após terem sido estabelecidos os indicadores foi
feita uma coleta de dados em um estudo de caso afim de determinar o índice de satisfação com a
moradia.

O estudo [19] também avaliou a percepção dos ocupantes do PMCMV sob as três dimensões:
unidade habitacional, empreendimento e entorno. Dentro da dimensão unidade habitacional foram
incluídas 22 variáveis que discutiam sobre a qualidade da edificação e conforto ambiental. Como
resultado, os itens mais bem avaliados foram a iluminação natural e aparência da unidade. Os itens
materiais de revestimento, temperatura da casa no verão, telhado, portas e janelas, tamanho da
cozinha, e, segurança, foram avaliados como ruim ou péssimo.

Em [2] também foi abordado o lado dos usuários. Os autores propõem a estruturação dos requisitos
do usuário como dados de entrada no processo de projeto visando oportunizar o desenvolvimento de
um produto com características que atendam mais adequadamente às necessidades dos ocupantes. A
pesquisa atribui valores a fatores que avaliam o desempenho da edificação como a acústica da casa,
qualidade das esquadrias e acabamentos, temperatura interna, iluminação e aparência da edificação.

Dentre os fatores relacionados com a qualidade da edificação, a acústica da casa foi o fator que mais
se destacou seguido pelo desejo dos ocupantes de terem mais cômodos na casa e então a qualidade
dos materiais, como esquadrias e acabamentos. Ademais, o desejo dos ocupantes em poder fazer
adaptações nas suas moradias também esteve presente, o que mostrou que, mais uma vez, a
recomendação de [5] sobre adaptações e tamanho das edificações do PMCMV continua válida e
também a preocupação dos ocupantes dessas edificações quanto a qualidade de suas moradias. A
pesquisa também contou com um estudo de caso.

Outros trabalhos focaram em uma característica especifica da edificação, sendo que os trabalhos
que avaliaram um tipo de desempenho de edificações do PMCMV optaram pelo desempenho
térmico.
Neste contexto, em [16] o desempenho térmico das paredes externas de seis empreendimentos foi
estudado e em todos os casos o fator solar encontrado foi maior do que o permitido na NBR 15575
[9]. Em um dos empreendimentos a transmitância térmica e o atraso térmico das paredes externas
também foram maiores do que o valor limite. Quanto ao desempenho térmico das coberturas, das
três com cobertura cerâmica, nenhuma alcançou os valores de transmitância térmica no verão, assim
como nenhum dos seis empreendimentos alcançou o valor de transmitância térmica indicado para o
inverno e nem o valor de atraso térmico. A ventilação também foi estudada tanto nos dormitórios
quanto na sala e cozinha e, na maioria dos casos, o valor adequado estabelecido por norma não foi
atingido.

Em [15] também é relacionado o desempenho térmico do PMCMV com a NBR 15575 [9] e com o
Regulamento Técnico da Qualidade de Edificações Residenciais (RTQ-R). Os autores
desenvolveram simulações tanto com as prescrições da NBR 15575-1 [9] quanto do RTQ-R para
um edifício multifamiliar. Como resultado foi observada uma distinção nos resultados entre as
abordagens de avaliação de desempenho utilizadas. Ademais, apesar de apresentar os resultados do
desempenho da edificação do PMCMV a publicação em questão não discute sobre os resultados no
quesito qualidade da edificação.

A publicação [17] avaliou o desempenho térmico de quartos em uma edificação do PMCMV,


localizada em Maceió – AL, por meio de simulações computacionais. Foram feitas quatro
simulações diferentes nas quais foram alteradas a composição das paredes, cobertura e ventilação.
Como resultado, os autores puderam observar a importância de conciliar o método construtivo com
a situação climática do local, uma vez que a simulação que obteve os melhores resultados foi aquela
que usava matérias adequados a zona climática de Maceió. Esse resultado está de acordo com a
ideia exposta por [5], que fala que cada empreendimento deve ser pensado isoladamente. Ou seja,
um projeto do PMCMV elaborado para um contexto climático, ou até mesmo social e urbano, pode
não ser adequado para outro.

Já [6] identificou como o usuário do PMCMV avalia sua moradia quanto às condições de conforto
térmico, comparando com sua moradia anterior, além de verificar quais as medidas adotadas pelo
mesmo para amenizar as possíveis situações de desconforto. Como resultado: a avaliação do
conforto térmico no verão foi muito desagradável (84%) e no inverno foi agradável (58%); os
cômodos mais desconfortáveis no verão foram os dormitórios (77%).

A RSL ainda localizou dois trabalhos que desenvolveram pesquisas sobre BIM e desempenho do
PMCMV [14,20]. Ainda em 2013, após a publicação da NBR 15575 [9], em [14] foi elaborada uma
adaptação da biblioteca BIM do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio)
desenvolvida em 2008 para o PMCMV levando em consideração os parâmetros de desempenho
estabelecidos pela norma em questão. Já o estudo [20] teve seu foco no desempenho térmico. O
objetivo dos autores foi explorar a potencialidade do BIM para executar a análise de eficiência
térmica exigida pela NBR 15575 [9]. Os autores discutem ainda sobre a interoperabilidade de
ferramentas BIM no contexto das simulações de desempenho. Em ambos os casos, apesar de ser
debatido sobre o PMCMV, BIM e também a NBR 15575 [9], as publicações focam no processo
BIM e não nos resultados gerados pelas simulações.
Com uma abordagem diferenciada, outra publicação estudou a influência da gestão de projetos no
gerenciamento e controle da qualidade de obras do PMCMV [21]. A pesquisa engloba a qualidade
das edificações do programa e pontua erros ocasionados pela má execução, má qualidade dos
materiais e vícios construtivos, como trincas e rachaduras. Apesar de ser a publicação mais atual
localizada, não e discutida a NBR 15575 [9].

4. CONCLUSÃO

Por meio da RSL foram identificadas doze publicações que falavam sobre a qualidade e
desempenho das edificações do PMCMV. Os artigos identificados englobavam de alguma maneira
a questão do desempenho e da qualidade em edificações do Programa Minha Casa Minha Vida. Foi
possível perceber que, apesar das pesquisas seguirem abordagens variadas, todas as publicações
contextualizavam o PMCMV ressaltando sua importância na construção de habitações de interesse
social no Brasil. Não foram localizados questionamentos sobre a relevância do programa ou
sugestões de propostas alternativas como forma de resolver alguma carência na qualidade e
desempenho das edificações.

O período escolhido na busca de publicações durante o desenvolvimento da RSL visou refletir o


impacto da criação da NBR 15575 [9], a norma de desempenho vigente no país, no desempenho das
edificações do PMCMV. Dentre as publicações incluídas nesta RSL seis citavam de alguma forma a
norma em questão [5, 14, 15, 16, 17, 20]. Ademais, três das publicações englobaram alguma
simulação de desempenho da edificação [15, 16, 17], sendo que nesses casos a ferramenta de
simulação utilizada foi o Energy Plus. A escolha dessa ferramenta pode também estar refletindo na
utilização da NBR 15575 [9], uma vez que esta seja a ferramenta de simulação de desempenho
indicada pela norma. Dessa forma, conclui-se que a NBR 15575 [9] pode ter influenciado
positivamente na busca por um melhor desempenho das edificações além de incentivar o
desenvolvimento de simulações de desempenho para avaliar a situação real do empreendimento.

Ainda sobre ferramentas, a utilização do BIM, como explorado em [14] e [20], poderia auxiliar na
busca por um melhor desempenho nas edificações do PMCMV. O desenvolvimento de uma
edificação do PMCMV utilizando ferramentas e a lógica BIM, que engloba todo o ciclo de vida da
edificação, poderia auxiliar na tomada de decisões e também, por meio da interoperabilidade entre
ferramentas BIM e ferramentas de simulação, facilitar o processo de simulações de desempenho.
Poderiam ser desenvolvidos outros estudos sobre essas ferramentas e sua interoperabilidade.

Sete pesquisas contaram com o estudo de caso como método de pesquisa, ou simulações em
edificações especificas do PMCMV, o que mostra que as publicações estavam interessadas em
compreender, ou descobrir, a situação real das edificações do PMCMV [2, 6, 15, 16, 17, 18, 19].
Apesar disso, diante de abordagens variadas, não foi possível comparar os resultados entre as
publicações. Dessa forma, encontrou-se uma lacuna de uma avaliação de desempenho unificada
para ser seguida nesse tipo de edificações.

Quanto a características específicas da edificação, percebeu-se uma grande preocupação com o


desempenho térmico dessas, questão alvo de cinco publicações [6, 15, 16, 17, 20]. Ademais, pode-
se perceber uma grande preocupação com as percepções dos usuários da edificação.
Como resultado, apesar das pesquisas terem abordagens variadas, existe um consenso sobre a
necessidade de uma maior preocupação com a qualidade das edificações do programa. Os
conhecimentos adquiridos podem ser utilizados para identificar falhas recorrentes nas edificações.
Destaca-se que:

 O projeto de uma edificação do PMCMV deve ser feito única e exclusivamente para o
empreendimento em questão. Dessa forma garante-se que as necessidades climáticas da
edificação sejam respeitadas, o que resultará em um desempenho térmico adequado. Além
disso, o projeto deve levar em consideração as características urbanas no bairro aonde está
inserido, impactando de forma positiva nas atividades e na identidade visual do local, o que
resultará em uma maior satisfação de seus moradores.

Por fim, as recomendações feitas em [5] ainda são válidas e caso tivessem sido seguidas poderiam
ter contribuído para edificações com um desempenho e qualidade superiores. Destaca-se que as
edificações do PMCMV além de impactarem a vida de milhares de brasileiros impactam o
planejamento urbano e o crescimento das cidades.

AGRADECIMENTOS
As autoras agradecem o PPGECC UFPR e a CAPES pelo apoio.

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CONTROLE TECNOLÓGICO DO CONCRETO DA LAJE DE TRANSIÇÃO
DE OBRA EM ALVENARIA ESTRUTURAL QUE UTILIZA SISTEMA DE
PROTENSÃO LEVE
TECHNOLOGICAL CONTROL OF THE TRANSITION SLAB CONCRETE IN
STRUCTURAL MASONRY USING PRESTRESSED CONCRETE

Prof. Antônio Eduardo Polisseni, D.Sc.¹, Prof. Thais Mayra de Oliveira, D.Sc.², Alysson Maganin
Almeida³, Eng. Gabriela de Castro Polisseni, M.Sc.4

¹Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, aepolisseni@gmail.com


² Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, thais.mayra@ufjf.edu.br
³ Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, alysson.maganin@engenharia.ufjf.br
4
Eiffage, Île-de-France, France gabriela.polisseni@gmail.com

Resumo: A tecnologia construtiva em alvenaria estrutural em blocos cerâmicos ou de concreto é


uma tendência nas cidades brasileiras pelas construtoras. Na grande maioria dessas obras a laje da
transição que recebe o carregamento dos pavimentos é executada em concreto armado, gerando
peças de concreto de grandes dimensões que consomem grandes volumes de concreto e altas taxas
de armadura e que, consequentemente, podem influenciar a altura total da edificação e desta forma
encontrar restrições de “não conformidades” ao serem confrontadas com as exigências das leis de
uso e ocupação do solo impostas pela prefeitura local. Desta forma, na fase de concepção do projeto
estrutural, para viabilizar tecnicamente o empreendimento, é lançado mão pelos projetistas de
estrutura da utilização do sistema de concreto protendido (protensão leve), para dimensionar a
estrutura de concreto, gerando peças de lajes e vigas com menores geometrias e taxas de armaduras
ativas (cabos engraxados de protensão) e passivas (barras de aço). O trabalho apresenta as diretrizes
tecnológicas que foram seguidas para se garantir a conformidade da execução da laje de transição
em termos de qualificação do traço de concreto a ser fornecido pela concreteira, visando atender os
parâmetros técnicos especificados em projeto (consistência, resistência característica à compressão
e módulo de elasticidade do concreto) bem como os resultados de ensaios realizados na obra e em
laboratório, que foram definidos previamente num plano de amostragem para controle, recebimento,
e aceitação dos lotes de concreto em conformidade com a ABNT NBR 12655 [8], além dos
resultados de acompanhamento “in loco” da taxa de evaporação da água da superfície do concreto
(L m-2 h-1) em função das condições ambientais do local durante a concretagem (umidade relativa
do ar, temperatura do ar e velocidade do vento) e da temperatura da massa de concreto fresco.
Através destes procedimentos técnicos mitigou-se o aparecimento de fissuração na laje de transição
que é um requisito técnico imprescindível quando da utilização da tecnologia do concreto
protendido.

Palavras-chave: Alvenaria estrutural, Concreto protendido, Laje de transição.

Abstract: The constructive technology in structural masonry in ceramic or concrete blocks is a


trend in Brazilian cities by the builders. In the great majority of these works, the transitional slab
that receives the loading of the pavements is executed in reinforced concrete, generating large
concrete pieces that consume large volumes of concrete and high rates of reinforcement and that,
consequently, can influence the total height of the building and thus finding restrictions of
"nonconformities" when confronted with the requirements of the laws of use and occupation of the
soil imposed by the local city hall. In this way, in the design phase of the structural project, to make
the project feasible, the designers of the structure of the use of the prestressed concrete system (light
protension) are used to dimension the concrete structure, generating pieces of slabs and beams with
lower geometries and rates of active reinforcement (grease proof cables) and passive (steel bars).
The work presents the technological guidelines that were followed to guarantee the conformity of
the execution of the transition slab in terms of qualification of the concrete trait to be supplied by
the concrete, in order to meet the technical parameters specified in the project (consistency,
compressive strength and and the results of on-site and laboratory tests, which were previously
defined in a sampling plan for control, reception, and acceptance of concrete lots in accordance with
ABNT NBR 12655 [8], in addition to (L m-2 h-1) as a function of site environmental conditions
during concreting (relative air humidity, air temperature and wind speed) ) and the temperature of
the fresh concrete mass. Through these technical procedures the appearance of cracking on the
transition slab was mitigated which is an essential technical requirement when using the technology
of the prestressed concrete.

Keywords: Masonry structure, Prestressed concrete, Transition slab.

1. INTRODUÇÃO
Atualmente nas cidades brasileiras é comum observar cada vez mais a presença de construções
edificadas com a tecnologia em alvenaria estrutural. Historicamente, isto vem acontecendo desde a
década de sessenta quando esta tecnologia começou a ser divulgada e implementada pelas
construtoras.
Inicialmente os edifícios construídos em alvenaria estrutural, tinham a seguinte tipologia: andar
térreo assentado sobre uma fundação tipo radier e mais três ou quatro pavimentos tipo. Porém,
como relata Polisseni [1], no fim da década de setenta, no sul do país, região de Porto Alegre - RS,
através do Banco Nacional de Habitação (BNH) foram construídos edifícios em alvenaria estrutural
com blocos de concreto de 8 pavimentos tipo.
A alvenaria estrutural por ser uma construção racionalizada e com grande potencial para agregar
valor de produtividade, quando da fase de construção do edifício, possibilita novos arranjos de
projetos podendo ser incrementados com subsolo, andar de garagem, salão de festa, brinquedoteca,
coberturas com áreas transitáveis, dentre outros. Dentro desta nova concepção, os pavimentos tipo
passam a descarregar cargas em uma laje de transição que por sua vez descarrega em vigas e
pilares, que transmitem suas cargas para os diversos tipos de concepção de fundação em função das
características geotécnicas do terreno.
Da mesma forma, a altura dos edifícios vem aumentando devido às melhorias dos softwares de
dimensionamento, principalmente devido à maior precisão dos cálculos das deformações em função
das cargas, e ao fato de os fornecedores de materiais terem investido em tecnologia, o que refletiu
na qualidade dos materiais: blocos de concreto e cerâmico, argamassas industrializadas, argamassas
estabilizadas produzidas pelas concreteiras, grautes, etc.). A característica de racionalização,
padronização e repetitividade dos serviços na tecnologia de alvenaria estrutural possibilita que o
colaborador seja melhor treinado e consequentemente atinja maior produtividade quando
comparado aos colaboradores da construção de edifícios no sistema tradicional.
A figura 1 [2] representa o ciclo de vida do empreendimento. Na fase de concepção do projeto
estrutural, muita das vezes, para viabilizar técnica e economicamente o empreendimento, em função
de alguma limitação que possa ocorrer quanto a fatores como a altura do edifício ou ordem de
grandeza das cargas que chegam às fundações, por exemplo, o projetista da estrutura pode lançar
mão da utilização do sistema de concreto protendido (protensão leve), para dimensionar a estrutura
de concreto da laje de transição, gerando peças com menores geometrias e taxas de armaduras
passivas (barras de aço).

Figura 1 - Ciclo de vida do empreendimento: fase de projeto estrutural: alvenaria estrutural - laje de transição

2. MÉTODO DE PESQUISA
2.1. Método de pesquisa

A questão da pesquisa deste trabalho é: como mitigar a fissuração de lajes de transição


dimensionadas e executadas em concreto protendido em edifícios que utilizam a tecnologia de
alvenaria estrutural quando da fase de lançamento do concreto.
2.2. Objetivo do trabalho

O presente trabalho tem por objetivo apresentar um procedimento para mitigara retração do
concreto, que pode ocasionar o aparecimento de fissuras ordem térmica, hidráulica ou plástica
quando da execução de uma laje de transição de um edifício construído na tecnologia de alvenaria
estrutural que utiliza como dimensionamento os fundamentos do concreto protendido (protensão
leve).

3. FUNDAMENTAÇÃO
As lajes de edifícios quando em sua fase de execução estão submetidas à condições de exposição
ambientais que são: temperatura do ar, umidade relativa e velocidade do vento. Estas condições,
associadas à temperatura desenvolvida no interior da massa de concreto geram como consequência
o aumento da taxa de evaporação de água da superfície do concreto.
O concreto, no estado fresco, ao perder água por evaporação está sujeito ao fenômeno de retração.
A retração é o processo de redução de volume que ocorre na massa de concreto, ocasionada
principalmente pela saída de água por exsudação (retração plástica e por secagem ou hidráulica). [3]
Canovas [4] apresenta os seguintes valores como possíveis condições prováveis para ocorrência de
fissuração na superfície do concreto em função da taxa de perda de água da superfície por
evaporação (velocidade de evaporação), expressos em “litros/m² /hora”:
 Velocidade de evaporação (0 a 0,5 l/ m² /h): nenhuma;
 Velocidade de evaporação (0,5 a 1,4 l/ m² /h): alguma;
 Velocidade de evaporação (1,5 l/ m² /h): 100%.
Segundo Metha e Monteiro [5], quando a taxa de perda de água da superfície do concreto for
superior a 1,5 l/ m² /h, ocorrerá fissuração por retração plástica, as quais “são paralelas entre si e
afastadas umas das outras de 0,3 a 1 m com 25 mm a 50 mm de profundidade” (p. 359). Os aspectos
das fissuras podem ser observados na figura 2.

Figura 2 - Fissuras típicas causadas por retração plástica do concreto


Para quantificar a taxa de evaporação de água do concreto Metha e Monteiro [5] apresentam um
gráfico preconizado pela Portland Cement Association (figura 3)

Figura 3 - estimativa da taxa de evaporação de água de uma superfície de concreto


4. LAJE DE TRANSIÇÃO COM PROTENSÃO LEVE EM OBRA DE ALVENARIA
ESTRUTURAL: ESTUDO DE CASO
4.1. Tipologia do edifício e especificações de projeto

Este trabalho se refere ao processo aplicado num empreendimento imobiliário construído na cidade
de Juiz de Fora, composto por uma torre habitacional de 11 pavimentos, sendo 3 pavimentos de
garagem, 6 pavimentos tipo com oito apartamentos por andar, e 2 pavimentos referentes a 8
apartamentos duplex das coberturas, todas com áreas externas e transitáveis.

Os três pavimentos de garagem foram executados em estrutura convencional de concreto armado


com alvenaria de vedação. A laje com protensão está situada na transição do terceiro para o quarto
pavimento, onde há a mudança do sistema convencional para o sistema de alvenaria estrutural.
Nos pavimentos construídos em alvenaria estrutural, foram especificados blocos de concreto, do 4º
ao 6º pavimento e blocos cerâmicos, do sétimo pavimento à cobertura de acordo com o quadro 1.

Quadro 1 - Especificações da alvenaria definidas em projeto pelo calculista


PAVIMENTOS fbk (MPa) fpk (MPa) fa (MPa)
4º e 5º 12 8,4 10
6º 10 7,0 8
7º e 8º 8 4,8 6
9º 10º e 11º 6 3,6 6
Em relação ao concreto da laje de transição o projetista da estrutura fez as especificações que
constam no quadro 2.

Quadro 2 - Especificações do concreto da laje de transição definidas em projeto pelo calculista


CONSUMO
fck Eci
MÍNIMO DE a/c
(MPa) (GPa)
CIMENTO (kg/m³)
≥ 280 0,55 ≥30 ≥ 30GPa
4.2. Adequações das especificações de projeto

Foi apresentado pelo pessoal de compra da construtora para ser analisado uma Carta de Traço que
consta no quadro 3.
Quadro 3 - Carta de traço inicial apresentada pela concreteira
CIMENTO AREIA AREIA BRITA 0 ÁGUA ADITIVO
(kg/m³) NAT. ART. (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³)
(kg/m³) (kg/m³)
269 314 732 836 207 2,046

Analisando tecnicamente os parâmetros constantes no quadro 3, nota-se que se encontram em “não


conformidade” com as especificações de projeto do quadro 2, o consumo de cimento Portland (269
kg/m³) e a relação a/c (0,77). Da mesma forma, o parâmetro módulo de elasticidade (Eci) não seria
atingido.
Assim sendo, procedeu-se a revisão da carta de traço apresentada pela concreteira, adequando-se às
necessidades especificas do projeto. O quadro 4 mostra os valores constantes da carta de traço
adequada para atender, principalmente, a especificação de módulo de elasticidade definida em
projeto.
Quadro 4 - Carta de traço após adequação
Cimento Areia Nat. Areia Art. Brita 0 Brita 1 Água Aditivo
(kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³) (kg/m³)
406 242 564 99 887 203 3,088

No quadro 5 são apresentados outros parâmetros que norteiam as propriedades do concreto nos
estados fresco e endurecido que podem ser extraídas da carta de traço após adequação.

Quadro 5 - Parâmetros de propriedades do concreto no estado fresco e endurecido


Consumo Percentual ÁGUA /
Fator Slump
de Densidade de Eci MATERIAIS
agua Test
cimento (kg/m³) argamassa (GPa) SECOS
cimento (mm)
(kg/m³) (%) (%)
120 ±
406 0,5 2404 55,14 30 9,24
2

5. PLANO DE CONTROLE TECNOLÓGICO DO CONCRETO


A concretagem do empreendimento em questão, em função de procedimentos operacionais,
foi dividida em dois dias consecutivos, gerando dois lotes de concretagem (lotes 1 e 2). Em todos os
lotes foram realizados os procedimentos de controle tecnológico do concreto.
As atividades de controle da qualidade do concreto foram realizadas em quatro diretrizes: controle
da consistência do concreto, controle da resistência à compressão (através da moldagem e ruptura
de corpos de prova cilíndricos), controle do módulo de elasticidade e controle do surgimento das
fissuras.
A determinação da consistência do concreto foi realizada para todos os caminhões betoneiras,
medindo-se o abatimento através do ensaio “Slump Test” em conformidade com a ABNT NBR NM
67 [6].
O Controle da resistência à compressão do concreto foi realizado, de acordo com a ABNT NBR
12655 [8], com amostragem total (onde são moldados corpos de prova para ruptura em todos os
caminhões de concreto). Foram moldados 4 corpos de prova para cada caminhão betoneira, sendo
dois deles para ruptura aos 7 dias de idade, possibilitando a criação de uma expectativa das
resistências, e os outros dois para a ruptura na idade de 28 dias, para determinação do fck,est. Os
resultados obtidos nas rupturas de 28 dias, foram analisados estatisticamente conforme preconiza a
ABNT NBR 12655[8].
Para a determinação do módulo de elasticidade, foi especificado de comum acordo entre o projetista
da estrutura e o tecnologista de concreto, que seriam determinados para cada lote um ensaio de
modulo de elasticidade para cada lote de concreto, seguindo o que preconiza a ABNT NBR 8522
[9]. Desta forma, foram então moldados 5 Corpos de prova em cada lote, para realização do ensaio
da determinação do módulo de elasticidade do concreto, na idade de controle de 28 dias.
Para a mitigação das fissuras foi realizado um procedimento para cálculo da taxa de evaporação de
água na superfície do concreto (l/m²/h), baseando-se nas considerações de Canovas [4] e Metha e
Monteiro [5]. Durante a concretagem, foram medidos a temperatura do ambiente e do concreto,
umidade relativa do ar e velocidade do vento, através da utilização de termômetros de vareta,
termohigrômetros e anemômetro. Caso a taxa de evaporação calculada atingisse, ou superasse o
limite de 1,5 l/m²/h seria tomada a ação de dispersar “névoa de água” sobre a superfície da laje com
a utilização de máquinas de hidro jateamento, com o objetivo de criar um microclima a fim de
aumentar a umidade relativa do ar e diminuir a temperatura do ar sobre a superfície do concreto.
6. RESULTADOS
O controle tecnológico do concreto para os dois lotes da laje de transição seguiu o que especifica,
em termos de ensaio, as normas técnicas da ASSOSSIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS. Todas as amostras de concreto foram coletadas segundo a ABNT NBR NM 33 [6].
A figura 4 apresenta as vistas parciais do empreendimento estudado neste trabalho e da estrutura da
laje de transição

(a) (b)
Figura 4: (a) Vista parcial do empreendimento (b) Vista parcial da laje de transição / cabos de
protensão

(b)
Vista parcial da laje de transição
6.1. Consistência do concreto – Slump Test
A figuras 5 e 6 mostram os resultados dos abatimentos do concreto, de cada caminhão betoneira
obtidos pelo ensaio de Slump Test de acordo com a ABNT NM 67 [7]. Visualiza-se que para todos
os caminhões betoneiras, o abatimento encontrou-se em conformidade com o especificado em
projeto que foi de (140 ± 20) mm.

Figura 4 - Lote 1 - Ensaio de Slump Test da laje de transição

Figura 5 - Lote 2 - Ensaio de Slump Test da laje de transição


6.2. Ensaios de resistência à compressão
O quadro 6 representa a resistência à compressão axial dos corpos de prova de cada caminhão betoneira,
determinadas de acordo com a ABNT NBR 5739 [10], relativos à idade de 28 dias. A moldagem dos corpos
de prova seguiu as especificações da ABNT NBR 5738 [11]

Quadro 6 - Resistência à compressão axial dos corpos de prova da laje de transição (MPa)

Lote 1 - IDADE: 28 DIAS Lote 2 - IDADE: 28 DIAS


CB fc,28 fc,28 CB fc,28 fc,28 CB fc,28 fc,28
fc,28 fc,28 fc,28
(CB1)
56,5 51,4 (CB14)
55,1 52,3 (CB1)
55,0 52,5
fc,28 fc,28 fc,28
(CB2) 42,3 46,2 (CB15) 46,6 44,4 (CB2) 50,5 49,1
fc,28 fc,28 fc,28
(CB3)
51,9 54,4 (CB16)
50,7 51,1 (CB3)
49,0 50,9
fc,28 fc,28 fc,28
(CB4)
46,1 51,7 (CB17)
42,8 40,0 (CB4)
52,7 53,5
fc,28 fc,28 fc,28
(CB5)
57,5 57,9 (CB18)
47,0 48,0 (CB5)
50,8 48,4
fc,28 fc,28 fc,28
(CB6)
53,9 51,8 (CB19)
56,5 54,0 (CB6)
49,1 51,7
fc,28 fc,28 fc,28
(CB7) 47,0 48,6 (CB20) 49,2 49,6 (CB7) 50,0 50,0
fc,28 fc,28 fc,28
(CB8)
56,8 58,1 (CB21)
56,3 58,3 (CB8)
45,3 42,7
fc,28 fc,28 fc,28
(CB9)
56,6 58,4 (CB22)
49,6 49,2 (CB9)
46,8 47,9
fc,28 fc,28 fc,28
(CB10)
58,8 58,8 (CB23)
47,0 50,8 (CB10)
43,1 43,3
fc,28 fc,28 fc,28
(CB11)
56,8 57,8 (CB24)
49,5 52,2 (CB11)
46,8 46,8
fc,28 fc,28 fc,28
(CB12)
46,6 48,7 (CB25)
48,9 47,8 (CB12)
41,1 43,3
fc,28 fc,28
(CB13)
49,3 50,9 (CB26)
42,5 45,3

As figuras 7 e 8 mostram os resultados obtidos quando da determinação do fck,est do concreto lançado na


estrutura da laje de transição na idade de 28 dias conforme preconiza a ABNT NBR 12655 [8],
considerando-se a amostragem total. Os resultados de ambos os lotes de concreto, em relação à resistência
característica estimada (fck,est) para a idade de 28 dias, foram superiores à resistência característica do
concreto especificada em projeto (fck=30 MPa).
Figura 6 - Lote 1 - Resistências características estimadas da laje de transição
fonte:

Figura 7- Lote 2 - Resistências características estimadas da laje de transição


fonte:
6.3. Ensaios de módulo de elasticidade
O quadro 7 representa os resultados do módulo de elasticidade do concreto, determinados de acordo com a
ABNT NBR 8522 [9], de cada lote aos 28 dias de idade. Os resultados de ambos os lotes de concreto, em
relação ao módulo de elasticidade, atenderam à especificação de projeto, que foi de 30 GPa aos 28 dias de
idade.
Quadro 7 - Módulos de elasticidade do concreto da laje de transição

MÓDULO DE
ELASTICIDADE
LOTE
Eci (GPa) - 28
DIAS
1 32,4
2 31,4

6.4. Medições da taxa de evaporação de água em campo


Os Quadros 8 e 9 apresentam os parâmetros das condições climáticas ambientais (temperatura do ar,
umidade relativa do ar e velocidade do vento), bem como a temperatura da massa de concreto, o que
possibilita em função da figura 3, determinar a taxa de evaporação de água da superfície do concreto, a qual
será responsável pelo surgimento do fenômeno de retração e, consequentemente, o aparecimento de fissuras.
Nota-se que a taxa de evaporação ficou bem abaixo do que tecnicamente é necessário para se promover a
quantidade de perda de água da superfície do concreto em função do tempo que é de 1,5 l/m²/h. A baixa taxa
de evaporação de água da superfície foi conseguida graças ao sistema de cura empregado que foi
imediatamente iniciado logo após o lançamento do concreto na fôrma, utilizando-se o equipamento de
hidrojateamento, que promoveu uma “névoa de água” que causou um microclima local, arrefecendo a
temperatura do ar e aumentando a umidade relativa do ar.

Quadro 8 – Lote 1 - Resultados de taxa de evaporação de água da superfície de concreto da laje de transição

TAXA DE
T(ar) URA T(concreto) V(vento)
MEDIÇÃO EVAPORAÇÃO
(ºc) (%) (ºc) (km/h)
(l/m²/h)
1 20,9 78,5 28,0 4,0 0,2
2 21,8 69,0 29,0 1,3 0,2
3 20,5 68,7 27,9 1,8 0,6
4 23,4 61,6 27,0 0,7 0,5
5 24,5 59,5 29,9 10,4 0,6
6 25,2 61,2 28,0 6,9 0,6
7 24,0 64,9 29,2 8,0 0,5
8 26,6 61,0 28,5 2,0 0,2
9 26,8 52,7 28,9 1,2 0,3
10 26,5 60,0 32,0 0 0,1
11 27,2 50,9 31,0 1,4 0,2
12 28,2 50,8 31,0 2,7 0,3
Quadro 9 – Lote 2 - Resultados de taxa de evaporação de água da superfície de concreto da laje de transição

1 18,3 79,9 28,5 0 0,1


2 20,9 67,5 26,3 0,2 0,2
3 21,1 65,4 27,4 0 0,2
4 23,3 62,9 27,6 0 0,1
5 23,5 63,4 27,5 1,3 0,2
6 23,4 65,3 27,8 0,6 0,3
7 24,5 62,5 27,9 0,8 0,3

A figura 9 apresenta os equipamentos utilizados para a determinação dos parâmetros utilizados para
o cálculo da taxa de evaporação de água na superfície do concreto.

(a) (b) (c)

Figura 8 - Equipamentos: (a) - Termômetro de vareta (b) – Termohigrometro (c) - anemômetro


7. CONCLUSÕES
Na tecnologia construtiva de alvenaria estrutural que utiliza o sistema de concreto protendido para a
execução da laje de transição, é de suma importância que se crie condições operacionais de cura do
concreto durante a fase de concretagem de tal forma que sejam mitigadas as fissuras de retração.
Desta forma o controle e ação imediata para se evitar que o requisito da taxa de evaporação de água
na superfície do concreto atinja o critério de ser inferior a 1,5 l/m²/h, torna-se necessário. O trabalho
mostrou que ao se quantificar esta taxa de evaporação pelos equipamentos utilizados, atingiu-se o
objetivo de mitigar o surgimento das fissuras neste tipo de laje.

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[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12655: Concreto de cimento Portland - Preparo,
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[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8522: Concreto - Determinação dos módulos
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[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739: Concreto - Ensaio de compressão de
corpos de prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2018.
[11] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5738: Concreto - Procedimento para moldagem
e cura de corpos de prova. Rio de Janeiro, 2015.
GESTÃO DE ÁREAS COMUNS EM PROJETOS DE HABITAÇÃO DE
BAIXA RENDA
Management of Common Areas in Low Income Housing Projects

Gicele Aparecida da Silva Brittes 1, Maria Aparecida Steinherz Hippert 2

1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, brittes_pt@yahoo.com.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, aparecida.hippert@ufjf.edu

Resumo: Os conjuntos habitacionais representam uma resposta do Poder Público à demanda


habitacional no Brasil. O cenário de procura maior que a demanda, consolidou por parte das
empresas construtoras o pensamento de produção em massa a partir da redução de custos
independente de sua qualidade ou objetivo social. Essa busca por lucratividade acima de tudo tem
contribuído para elevar os riscos de conflitos em áreas comuns por concentrarem edificações
volumosas no ponto de vista das ocupações, em espaços reduzidos, longe dos centros urbanos e
com moradores sem nenhum tipo de organização ou mesmo vínculo social. O que se percebe é que
a forma com que a produção em série - oriunda da indústria, se traduziu no setor da construção civil
pode colaborar para o surgimento e perpetuação de problemas de relacionamento que por sua vez
podem gerar conflitos que comprometem o bom desempenho da edificação no pós uso. Face a este
cenário, o objetivo deste trabalho é realizar uma análise dos fatores que podem corroborar com o
aumento ou com a diminuição dos problemas e conflitos relacionados à gestão de áreas comuns em
projetos de habitação de baixa renda. Como um dos indicativos para o agravamento desta situação
está o acirramento do mercado imobiliário que busca a lucratividade através da padronização das
construções, a ausência de estudos mais detalhados quanto ao perfil dos habitantes das moradias e
as construções verticalmente volumosas do ponto de vista das ocupações. Uma das possíveis saídas
para enfrentamento deste desafio é analisar se o mais adequado a este público no que tange a gestão
dos condomínios e a minimização de conflitos é a existência ou não da figura do síndico como
principal mediador e gestor, ou na implantação de um modelo autogestionário, onde os moradores,
através de um conselho eleito entre seus pares irão estabelecer regras de convivência, princípios e
valores com os quais irão realizar a gestão coletiva das áreas comuns. Visando atingir este propósito
realizou-se uma revisão bibliográfica em estudos que abordam esta temática

Palavras-chave: Habitação de baixa renda, Gestão de áreas comuns, Condomínios, Autogestão,


Conflitos.
Abstract: The housing complexes represent a response of the Public Power to the housing demand
in Brazil. The scenario of demand greater than demand, consolidated by the construction companies
the thought of mass production from the reduction of costs regardless of its quality or social
objective. This search for profitability above all has contributed to raising the risk of conflicts in
common areas by concentrating bulky buildings from the point of view of occupations, in small
spaces, away from urban centers and with residents without any type of organization or even social
bond. What is perceived is that the way in which the series production - originating from the
industry, has translated into the civil construction sector can collaborate for the emergence and
perpetuation of relationship problems that in turn can generate conflicts that compromise the good
performance of the building in post use. In view of this scenario, the objective of this work is to
analyze the factors that can corroborate with the increase or decrease of problems and conflicts
related to the management of common areas in low income housing projects. As one of the
indications for the worsening of this situation is the intensification of the real estate market that
seeks profitability through the standardization of constructions, the absence of more detailed studies
on the profile of the inhabitants of the dwellings and the vertically bulky buildings from the point of
view of occupations. One of the possible options to face this challenge is to analyze whether the
most appropriate for this public in the management of condominiums and the minimization of
conflicts is the existence or not of the figure of the administrator as the main mediator and manager,
or in the implementation of a model self-management, where the residents, through an elected
council among their peers will establish rules of coexistence, principles and values with which they
will carry out the collective management of common areas. Aiming to achieve this purpose, a
bibliographic review will be carried out in studies that approach this theme

Keywords: Low Income Housing, Management of common areas, Condos, Self-management,


Conflicts.

1. INTRODUÇÃO
Este artigo tem o objetivo de contribuir para a gestão condominial de áreas comuns nos
condomínios habitacionais para pessoas de baixa renda. Para atingir seu objetivo, conceitos como
áreas comuns, gestão condominial, trabalho social e autogestão serão visitados para tentar
compreender as possibilidades existentes através de uma revisão de literatura em produções que
articulem questão dos conflitos existentes nestas áreas a possibilidades de uma gestão mais
eficiente.
Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) realizado no ano de
2015, mostra que os investimentos de quase 4 bilhões de reais do Ministério das Cidades, não foram
suficientes para acabar com o déficit habitacional no pais, mesmo tendo resultado nos últimos nove
anos, na contratação de 5,1 milhões de unidades habitacionais, sendo entregues 3,7 milhões até
março de 2015.
Já os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) [1], realizada em 2017 mostram um aumento
de 1,4% no número de invasões entre os anos de 2016 e 2017.
A partir da análise das pesquisas é possível identificar, segundo Santos e Moretti[2], algumas das
razões que levam a população de baixa renda a buscar na informalidade ou mesmo ilegalidade sua
habitação.
Essa percepção esta ligada ao fato que os projetos habitacionais para atendê-los nem sempre
condizem com suas possibilidades e necessidades. Os investimentos relacionados à oferta pública
de terra urbanizada e as demais alternativas de ação do Poder Público, sempre estiveram aquém das
necessidades desse público.
Para Santos e Moretti[2] do ponto de vista do Poder Público, os conjuntos habitacionais
representam o maior investimento governamental para tentar resolver o problema da habitação de
interesse social dos últimos 50 anos. Do ponto de vista da indústria da Construção civil,
representam a retomada de investimentos, associados a uma proposta de empreendimentos de baixo
custo, com modelos padronizados e distantes dos centros urbanizados.
Neste sentido, Santos e Moretti [2] destacam a pobreza de tipologias empregadas nestas construções
e que os benefícios sociais oriundos desta proposta, ainda não foram traduzidos pois em alguns
casos algumas dessas opções como o uso de terrenos longe dos equipamentos públicos como
escolas, hospitais, comercio, lazer etc., contribuem para reforçar os processos de segregação sócio-
espacial.
A padronização das construções destinadas ao público de baixa e o elevado número de residências
em um único projeto tem caracterizado as edificações contemporâneas. Esse processo pode ser
observado desde as fases do processo de projeto quando, por exemplo, se opta por excluir do
projeto equipamentos como os elevadores sob o argumento que os mesmos elevam o custo final da
obra e pode causar problemas de conflitos para a gestão condominial ou entre os moradores.
Segundo Santos e Moretti [2] os moradores desses condomínios na maioria das vezes não possuem
nenhum tipo de parentesco ou mesmo vínculo social. São pessoas estranhas umas as outras tendo
que dividir o mesmo espaço e que de alguma forma precisam se comunicar para garantir a
sociabilidade. Contudo, este processo não é tão fácil quando se observa os diferentes contextos
sociais e interesses que envolvem o uso das áreas comuns.
Na visão de Santos e Moretti [2] estes conflitos registrados nas áreas comuns podem resultar desde
situações de violências até a quebra do contrato originando evasão dos moradores ou mesmo o uso
desses espaços para práticas criminosas. É neste momento que se apresenta o conceito de um novo
modelo gestão para as áreas comuns. Para Sousa [3], o ambiente construtivo assim como a
sociedade, do ponto de vista econômico e social esta em constante modificação em função da
celeridade de processos construtivos que estão surgindo em países e épocas diversas. Esse processo
evolutivo prescinde ao uso de inovações no ambiente construtivo. Estas novações devem acontecer
no âmbito operacional que envolve planejamento, elaboração de projetos e execução - passando
pelos canteiros de obra, descarte adequado os resíduos, uso de materiais mais eficientes e menos
poluentes, até a esfera administrativa e gerencial no pós uso das edificações. As ramificações,
encontros e desencontros entre procura e a oferta por moradias no Brasil são objetos constantes de
debate que adquirem novos contornos, possibilidades e relevância ao longo do tempo. Contudo, é
importante a constatação que este ainda é um processo lento. Este artigo é uma oportunidade de
fazer o debate sobre a gestão de áreas comuns a partir da análise dos conflitos relacionados à
sustentabilidade das áreas comuns no pós- ocupação.
2. METODOLOGIA
No trabalho, foi implementada uma metodologia de caráter exploratório que consiste numa revisão
bibliográfica seguida da análise crítica dos fatores que podem contribuir tanto para acentuar os
conflitos em áreas comuns nos projetos de habitação para o público de baixa renda quanto os fatores
que podem contribuir para solucionar estes problemas. Este estudo está organizado a partir da
análise dos seguintes conceitos: Áreas comuns nos condomínios; Gestão de áreas comuns;
Autogestão de áreas comuns; Trabalho social.

3. ÁREAS COMUNS NOS CONDOMINIOS


Segundo Marques e Miron [4], o espaço comum é aquele que esta entre o espaço público e o
privado. Ou seja, ele atua como intermediário e reúne desde os acessos no nível da edificação até as
áreas externas ao empreendimento.
Com relação as áreas comuns nos condomínios habitacionais Navazinas [5] apresenta uma
definição interessante. Para o autor, o espaço comum é um elemento de transição entre a casa e o
espaço público. Será neste espaço físico, que as relações de aproximação e de estranhamentos irão
se consolidar.
Ainda segundo Brasil [6], os espaços comuns obrigatórios presentes nos projetos habitacionais para
o público de baixa renda são: áreas condominiais, abertas e fechadas; equipamentos de uso comum -
espaço coberto para uso comunitário, espaço aberto para lazer infantil e quadra de esportes.
A percepção de área comum que mais se aproxima do objetivo deste estudo é trazida pelo
Ministério das Cidades [6], que a considera como o espaço comum cujo objetivo é reunir pessoas
com intuito de lhes fornecer lazer, conforto, assim como o compartilhamento de estruturas técnicas
de suporte das atividades de moradias.
Considerando área comum como um espaço que extrapola o projeto construtivo, é importante
dentro desta perspectiva relacionar qual o valor que essas áreas possuem na vida dos moradores e
que tipo de uso eles fazem delas. Para Marques e Miron[4], é preciso compreender o valor
percebido tanto pelos usuários quanto pelos técnicos envolvidos com a produção habitacional para
que elas atendem as expectativas para a qual foram criadas.
A questão que orienta esta pesquisa parte da ideia que os programas habitacionais das últimas
décadas, ao mesmo tempo em que buscaram resolver uma demanda que é legitima, ao construírem
os conjuntos habitacionais, reuniram em um único espaço pessoas com contextos sociais diferentes,
sem vínculo afetivo e ampliaram as chances de surgirem os primeiros problemas identificados na
pós ocupação dessas edificações que são os conflitos pelo uso de áreas comuns.
Uma das possíveis causas para o surgimento dos conflitos pode estar relacionada de acordo com
Navazinas [5], está ligada ao processo de privatização das áreas comuns e ao “isolamento
verticalizado” dessas famílias. Por isso, ao mesmo tempo, que os programas de habitação
possibilitam o acesso a um direito constitucional, criam um problema social, porque a privatização
trazida ao contexto da própria separação de classes sociais gera ou acentua conflitos.
A evasão de moradores, instalação do poder paralelo, intervenções policiais e judiciais até
impedimento de atividades como a do sindico ou de técnicos, são alguns dos possíveis resultados
dessas situações de conflito [4]-[5].
Para Sanches e Moretti [2], o gerenciamento de áreas comuns em habitações de baixa renda
encontra algumas resistências históricas a partir do uso coletivo de algumas áreas, como os
elevadores. Existe uma alegação que os elevadores aumentam os custos de manutenção dos
edifícios e que isso pode gerar conflito entre os moradores.
Esta é uma situação que mostra como a busca por lucratividade pela diminuição de custos e a
padronização dentro da indústria da construção civil vem reproduzindo o modelo de produção em
série.
O grande desafio é estabelecer um método de gestão num ambiente favorável à criação e
manutenção de conflitos. Para Sanches e Moretti [2], isso ocorre porque embora se tenha avançado
nos programas de habitação, grande parte dos conjuntos habitacionais foram construídos numa
visão reduzida de custos, de maximização de espaço e de padronização e pobreza das tipologias
arquitetônicas e urbanísticas.
A padronização destas unidades além de contribuir para a produção em massa com baixos custos
reforça a visão de espaço pré-definido que não atendendo as necessidades dos usuários serão
convertidos em problemas domésticos. Este é o entendimento de Santos e Costa [7]. Estes
problemas levados a um grau maior resultam em conflitos familiares em detrimento a dificuldade de
convivência e circulação para desfrutar de privacidade e conforto
No entendimento de acordo com Sanches e Moretti [2] o modelo de edifício com o qual se trabalha
na atualidade é alto e com muitas unidades habitacionais por andar. Esta é uma situação
problemática do ponto de vista gerencial porque não se consegue estabelecer com certeza que
determinada decisão atendeu a todos os moradores de maneira uniforme. A situação pode se
complicar ainda mais quando em detrimento da gestão condominial se delega a segundo plano a
gestão social.
A abordagem de Luiza Collina et al [8], apresentada nos anais da Conferência Internacional de
Design de Serviços e Inovação – ServDES de 2010, sobre o espaço comum dos dormitórios
estudantis, pode contribuir para o surgimento de uma nova percepção desses condomínios, pois os
espaços de dormitórios estudantis, se configuram como centros comunitários de convivência.
Nesta perspectiva as áreas comuns dos condomínios de baixa renda podem se tornar espaços
convivência inclusivos onde sejam criadas relações sinérgicas dentro e fora do contexto espacial.
Portanto, todo esforço em atribuir a estes espaços um novo olhar, pode ser um caminho para dirimir
a existência de conflitos, tendo em vista que o modelo verticalizado das habitações, associado a
ausência de vínculos sociais entre os moradores, tende a favorecer os conflitos.
Segundo Schwartz [9], a realidade de viver em condomínios é muito recente e nem sempre é dado
tempo suficiente para que os futuros moradores assimilem ou mesmo criem um modo adequado de
viver em condomínio, onde prevaleça atitudes e valores como o respeito aos direitos dos outros
moradores.
Contudo, Schwartz [9] não atribuiu a um único fator a existência desses conflitos. Os conflitos nas
áreas comuns não se justificam pela verticalização das construções e aumento no número de
habitações, mas ocorre em decorrência da junção destes fatores com a falta de vínculos sociais entre
os novos moradores e de um modelo de gestão que consiga ao mesmo tempo manter as funções
básicas da edificação e a harmonia entre os condôminos.
4. GESTÃO DE ÁREAS COMUNS
A abordagem dada a gestão de áreas comuns pressupõe de um lado a existência de situações de
conflitos e de outro os mecanismos participativos destinados a resolução destes problemas como
forma de exercício cidadão.
Para evitar os conflitos, o ideal é projetar estes espaços de maneira versátil para que abrigue a
multiplicidade de atores e elimine o isolamento, fazendo com que as pessoas não apenas se vejam,
mais interajam, se comuniquem e se articulem Um dos caminhos pode ser transformar estas áreas
em espaços multiuso [6].

4.1. Gestão condominial


Na definição dada pelo Dicionário da Língua Portuguesa, [10] Condomínio é o domínio exercido
juntamente com outrem. É uma propriedade que tem vários donos denominados coproprietários ou
condôminos. Para quê sejam consideradas condôminos as pessoas precisar possuir parte da
propriedade, do contrário serão apenas moradores (inquilinos). Schwartz [9], assinala que ambos
trazem consigo seus interesses e seus traços individuais, que acabam influenciando os outros
membros do condomínio [9].
Se essas pessoas trazem consigo suas vivencias, esperanças, motivações, histórias, valores,
sentimentos, crenças e bons hábitos, trazem também outras características como falta de interesse
pelo que é coletivo, angústias, experiências malsucedidas, frustrações, medos e desejos ocultos,
como o desejo de obter vantagens pessoais. O gerenciamento de características tão diversas, revela
a complexidade que é realizar a gestão condominial [9].
Para Schwartz [9], condomínios são pequenas células da sociedade onde existem direitos e deveres
e no qual a figura de um síndico pode atuar como a de um prefeito ou gestor do local. Contudo,
quando a participação de todos os membros do condomínio não é plena, Poe acontecer o
fortalecimento de alguns grupos em detrimento de outros que pode certamente corroborar para a
insatisfação e a indiferença.
No modelo tradicional de gestão condominial, a medida de eficiência é dada por resultados e
objetivos mensuráveis do ponto de vista financeiro do residencial, índices de inadimplência, e
conservação de áreas comuns, dentre outros indicativos [9]. Embora sejam aspectos importantes, do
ponto de vista administrativo não podem ser os únicos parâmetros para assegurar o sucesso de uma
gestão.
Entender como isso funciona os condomínios é importante dada a diversidade de atores e a
complexidade de contextos que os envolvem é fundamental para que haja um aumento da
participação dos moradores e a diminuição das insatisfações e indiferença e se tornem um espaço de
convivência e de encontros.
Para Ferreira [11] a noção de cidadania se encaixa perfeitamente nas reflexões sobre os espaços de
livre convivência e de encontros porque é o exercício da cidadania que confere a estes espaços o
caráter participativo e cooperativo. O conceito de cidadania adotado remete aos princípios no qual a
etimologia do vocábulo cidadania é civitas que vem do latim e quer dizer “cidade” é o que interesse
a esta pesquisa, no sentido de trazer os conceitos de qualidade ou condição de cidadão nas
dimensões política, social e civil.
Esta visão é importante porque as praças, jardins, espaços de recreação e lazer, estacionamentos
dentre outras áreas comuns devem ser espaços que promovam o exercício pleno da cidadania
através do convívio harmonioso dos moradores. Fazer das áreas comuns, espaços multiuso, voltados
ao encontro das famílias, contribuiu para o surgimento de uma nova abordagem do trabalho do
projetista que desconsidere a proposta de padronização de espaço pré-definido [6]-[7].
No caso de situações de conflitos o sindico ocupa a função de mediador dessas relações. Para
Schwartz [9], ele é a pessoa que conhece os instrumentos legais que regem os condomínios e pode
auxiliar os moradores em aspectos que vão desde o uso de equipamentos comuns, passando pela
gestão financeira até a capacitação para que os demais moradores utilizem adequadamente os
instrumentos previstos na convenção dos condomínios como: assembleia geral, notificações,
cobranças de taxas, dentre outros. Ou seja, o síndico além de desempenhar um papel administrativo,
pode ser aquele que exerce também um trabalho social no desempenho de suas funções. Contudo,
ele sozinho pode não ser capaz de resolver situações de conflitosrelacionados a gestão de áreas
comuns.
Para Schwartz [9], a existência de outros instrumentos para auxiliar o trabalho do sindico pode
significar um avanço na gestão condominial e, neste caso também para a resolução de conflitos em
áreas comuns. Um exemplo são os conselhos de moradores que passariam a ter respaldo para
apresentar propostas e soluções coletivas para uma boa gestão das áreas comuns.
Na visão de Sanches e Moretti[2] e Schwartz[9], os conselhos resgatam os princípios da soberania
popular e da democracia e podem ser instrumentos importantes para se desenvolver um trabalho
social permanente junto aos novos moradores.
A argumentação de Schwartz [9], sobre o sindico, ressalta a importância de seu papel na gestão
condominial ao mesmo tempo em que retirar dele a função de resolver sozinho todos os problemas
condominiais. É uma forma de se aproximar do princípio de cidadania e da gestão participativa,

4.2 Autogestão de áreas comuns


Para Cançado et al [12], o modelo de gestão taylorista fordista se universalizou e atingiu por parte
de pesquisadores certo esgotamento. Este contexto exigiu a criação de alterativas de gestão que
ultrapassem os modelos tradicionais (hegemônicos) onde os interesses da sociedade serviam
unicamente aos interesses do capital. Dentro deste contexto, alternativas estão surgindo para tentar
conciliar a gestão do ambiente construído com as novas ressignificações que a sociedade pós-
moderna apresenta.
Para Faria [13], autogestão no contexto administrativo é uma alternativa de gestão que extrapola o
ambiente interno e as teorias próprias da administração porque engloba o plano econômico, político
e social.
Já Albuquerque [14], a autogestão é colocada numa perspectiva de que “autogoverno como
caminho para a construção de outro modo de viver em sociedade é praticamente ausente no campo
da administração”.
Na visão de Albuquerque[14], autogestão é o conjunto de práticas sociais que se caracteriza pela
natureza democrática das tomadas de decisão, que propicia a autonomia de um "coletivo". É um
exercício de poder compartilhado, que qualifica as relações sociais de cooperação entre pessoas
e/ou grupos, independentemente do tipo das estruturas organizativas ou das atividades, por
expressarem intencionalmente relações sociais mais horizontais.
A percepção de Albuquerque [14] é importante, pois de certa maneira as identidades coletivas se
traduzem como possibilidades articulatórias, elas podem revelar uma lógica de indiferenciação ou
de diferenciação definindo, por exemplo, possíveis praticas diárias a partir da mistura de culturas.
O termo autogestão tem sido usado por vários movimentos de organização do trabalho e “ao ter se
tornado corrente com a globalização das técnicas de administração – deve estar submetido à
“contínuas reflexões, dada a possibilidade de explicações falaciosas e equivocadas sobre o assunto”.
Para o autor [14] a autogestão um sentido polissemântico para descrever diversas formas de
participacionismo nas organizações – tais como os grupos autogeridos, a economia solidária, a co-
gestão, as células de produção, os times de trabalho, os grupos semiautônomos, etc. – e o termo ter
sido amplamente difundido no ocidente com a experiência Iugoslava e os acontecimentos de 1968
na Europa, procura-se demonstrar um significado mais amplo do termo, um significado
transformador e revolucionário, que advém das lutas dos trabalhadores e nas experiências de
associação operária, auto-organização dos produtores, coletivizações, gestão coletiva, gestão
socialista, dentre outras.
O termo cunhado para autogestão nesta pesquisa refere-se aos princípios democráticos e
compartilhados da organização. Assim, para que ela não seja uma pseudoparticipação ou
participação parcial é necessário concretizar a autogestão em seu sentido pleno sendo necessário
para isso a priorização dos espaços democráticos como as assembleias, conselhos ou fóruns.
As práticas autogestionárias, do ponto de vista social, podem eliminar algumas hierarquias e a
sensação de posse (que na gestão tradicional o síndico pode assumir), além de promover a ampla
participação nas decisões e o estabelecimento de relações mais duradouras, rompendo com a
fragilidade e superficialidade das relações que em tempos de modernidade liquida, geram incertezas
e inseguranças [15].
Para Reis [16] ao corroborar com o pensamento de Bauman [15], estas incertezas e inseguranças
associadas ao individualismo e isolamento, caracterizam a sociedade contemporânea de tal maneira
que na busca de soluções para qualquer conflito o rompimento com essa cultura passa a ser
essencial pois somente assim será possível construir novas relações sociais identitárias.
No entendimento de Reis [16] o processo autogestionário favorece o surgimento de formas
organizativas e, neste contexto, é possível que as áreas comuns sejam gerenciadas por um grupo de
moradores organizados para atuar especificamente nestes espaços em parceria com o sindico.

4.3. Trabalho Social: um caminho para a autogestão


De acordo com a Portaria nº 21 do Ministério das Cidades [6], publicada em 22 de janeiro de 2014,
o trabalho social é:

O Trabalho Social compreende um conjunto de estratégias, processos e ações, realizado a


partir de estudos diagnósticos integrados e participativos do território, compreendendo as
dimensões: social, econômica, produtiva, ambiental e político institucional do território e da
população beneficiária, além das características da intervenção, visando promover o
exercício da participação e a inserção social dessas famílias, em articulação com as demais
políticas públicas, contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida e para a
sustentabilidade dos bens, equipamentos e serviços implantados.

A compreensão dada em função do exposto coloca o trabalho social, como uma forma de
intervenção interdisciplinar, onde o objetivo é atuar em diversas dimensões como a social,
econômica, ambiental e política. É justamente sobre estas dimensões que o agente executor do
Trabalho Social, o Técnico Social, não possui controle. Pelo documento, pode-se observar que para
atender ao direito de moradia e o direito à cidade dos beneficiários de programas habitacionais as
obras representam apenas um ponto as dimensões ou mesmo julgar que uma tem maior valor que
outra.
O objetivo do trabalho Social é promover emancipação das pessoas e estimular a participação e a
tomadas de decisões por meio de processos decisórios dentro da intervenção executada, que devem
ser ocupados pelo público beneficiário, em um exercício de democracia direta.
Para Reis [17], é fundamental se contemplar além das obras as intervenções físicas, o fornecimento
de equipamentos públicos de segurança, transporte, lazer, e políticas públicas além de um novo um
serviço de apoio técnico, que promova o acesso adequado da população a essas intervenções. É
reconhecidamente necessária, portanto, uma mediação qualificada, que seja participativa e
promotora dos direitos e da melhoria das condições de vida da população beneficiária
Este estudo considera que é possível realizar uma gestão compartilhada das áreas comuns nos
projetos de habitação para baixa renda envolvendo em alguns casos o sindico e o conselho de
moradores. Essa abordagem pode ser mais eficaz se considerar-se a complexidade de atores
envolvidos, os diferentes contextos e a importância que essas “áreas comuns “ tem na vida dessas
pessoas. Por isso, a autogestão pode ser um caminho interessante na construção de diálogos com os
diferentes sujeitos locais e pode ser promovam a participação dos moradores e a tomada de decisões
coletivas no sentido de que ao exercerem sua cidadania, os moradores possam fazer escolhas que
atendem a todos.
Partindo destas abordagens a gestão condominial em projetos de habitação de baixa renda deve
primar pelo exercício da cidadania e da autogestão como forma de intervir e mediar as relações de
conflito no espaço comum.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos dilemas enfrentados no âmbito da habitação no Brasil, além do déficit em si, diz respeito à
sustentabilidade desses espaços após a entrega das moradias. Este é um problema que tende a
crescer quando se utilizam por parte das empresas construtoras ou do Poder Público, os mesmos
critérios e tipologias para atender a uma demanda com características diferentes.
No âmbito dos projetos de habitação para atender famílias de baixa renda, a indústria da construção
civil tem fomentado a padronização e o elevado número de moradias. Com uma concentração maior
de pessoas em espaços cada vez mais reduzidos e longe dos principais serviços públicos como
bancos, escolas, hospitais e comercio, as chances de que nestes espaços existam conflitos são
enormes.
Vindos de diferentes dimensões, os conflitos em áreas comuns não se originam apenas de um fator
como o excesso de moradores ou ausência de vínculos sociais, mas de um conjunto de fatores
relacionados que quando não resolvidos podem conduzir ao aumento dos casos de violência, uso
indevido das áreas para praticas criminosas e por fim a evasão das famílias que por sua vez tendem
a retornar ás estatísticas de falta de moradia.
Essa situação pode ser agravada quando há uma tentativa de reproduzir na gestão o modelo
verticalizado e padronizado que caracteriza a construção civil na atualidade e se delega apenas ao
sindico a missão de garantir a harmonia, excluindo o papel importante que os moradores possuem
tanto na identificação quanto na proposição de soluções.
Os conflitos originados nas áreas comuns podem ter ligação com a falta de relação dos moradores
com os espaços e equipamentos existentes, ou seja, é possível que em alguns casos os moradores
nunca tenham tido acesso a uma experiência de uso coletivo do espaço. Os conflitos podem surgir
também pela falta de uso, excesso de uso ou uso inadequado dessas áreas ou de outras formas dada
a natureza especifica dos moradores.
Por isso, o ideal é que primeiro, os projetos habitacionais destinados a estes púbico, contemplem
áreas comuns versáteis, que atendam as expectativas dos moradores e de alguma forma possam
sofrer intervenções permanentes ou passageiras e segundo, que na resolução de conflitos, se
considere a existência de órgãos participativos.
Nesta busca por metodologias de gestão mais horizontalizadas, participativas e menos burocráticas,
a autogestão pode contribuir para a criação de mecanismos de fortalecimento da participação dos
moradores na gestão das áreas comuns, sobretudo no sentido de configurá-lo como um espaço de
convivência harmônica

REFERÊNCIAS
[1] IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Disponível em WWW.IBGE.GOV.BR acesso em
22 de setembro de 2018.
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http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.153/4661 Acesso em 18 de agosto de 2018.
[3] MEDVEDOVSKI, N. S. Gestão de espaços coletivos em HIS – a negação das necessidades básicas dos usuários e a
qualidade do cotidiano e do habitat. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE QUALIDADE DO PROJETO NO
AMBIENTE CONSTRUÍDO – SBQP, 2009, São Carlos. Anais... São Carlos: SBQP, 2009. Disponível em:
http://www.aptor.com.br/sbqp/arquivos/sbqpcd/artigos/pdfs/111_121_PALEST_206. pdf. Acesso em: 13 ag.2018.
[4] MARQUES, L. Miron. Minha Casa Minha Vida: análise da percepção de valor sobre as áreas comuns. Porto
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[5] NAVAZINAS. Vladimir. Arquitetura possível: Os espaços comuns nas habitações de interesse social de São
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[6] BRASIL. MINISTÉRIO DAS CIDADES. SECRETARIA NACIONAL DE HABITAÇÃO. Déficit habitacional no
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[7] SANTOS, V. Laira. COSTA, Solange Maria Gayoso. Habitação de Interesse Social no Brasil e a Exclusão do
Direito à Cidade. Sociedade em Debate. 2017
[8] COLLINA et al Projetando espaços e serviços. A projeto experimental para dormitórios estudantis: Experiências
coletivas, vidas conectadas e lugares vinculados. ServDes2018 - Service Design Proof of Concept Politecnico di
Milano.June 2018
[9] SCHWARTZ, Rosely Benevides. Revolucionando o Condomínio. 14ª Edição. São Paulo: Saraiva.2013
[10] DICIONÁRIO. Aurelio. Mini dicionário da língua Portuguesa. 4. edição revista e ampliada do mini dicionário
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[11] FERREIRA, Isabela de Mattos. As intervenções no espaço da cidade. In: Design transversal e as práticas de
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Janeiro, Departamento de Artes e Design Rio de Janeiro, 2017.
[12] CANÇADO, A. C.; TENÓRIO, F. G.; PEREIRA, J. R. Gestão social: reflexões teóricas e conceituais. Cadernos
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[16] REIS, Gabriel Drumond.Santos, H.E. “O trabalho de gestores condominiais em um condomínio do programa
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minha.htmlhttp://hdl.handle.net/20.500.11763/cccss1703condominio-casa-minha acesso em 10 de set.2008.
AVALIAÇÃO DE SISTEMAS DE ILUMINAÇÃO EXTERNA
CONSIDERANDO A VISÃO MESÓPICA

Evaluation of Outdoor Lighting Systems Considering The Mesopic Vision

Belayne Zanini Marchi1, Maria Teresa Gomes Barbosa2, Cristiano Gomes Casagrande 3
1 Engenheira Civil, Mestranda em Ambiente Construído PROAC-UFJF, Juiz de Fora, Brasil, belaynez@hotmail.com
2
Professora Dra., Faculdade de Engenharia Civil/UFJF, Juiz de Fora, Brasil, teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br
3
Professor Dr., Faculdade de Engenharia Elétrica/UFJF, Juiz de Fora, Brasil, cristiano.casagrande@ufjf.edu.br

Resumo: A luz é uma fonte de energia extremamente indispensável para a realização de inúmeras
tarefas, além de propiciar aos mais diversos meios de transporte uma locomoção segura pelas
avenidas, túneis, vias, estradas, assim como o tráfego de pessoas em ruas, praças, jardins, passarelas.
Um ambiente bem iluminado requer não apenas ter luz suficiente, mas também, deve proporcionar
conforto visual, segurança e eficiência. Quando não é possível mais aproveitar a luz natural, por
diversos fatores, principalmente ao anoitecer, é necessário utilizar fontes de luz artificiais que
consequentemente requerem um consumo de energia, custo econômico e em especial impacto
ambiental. Assim, o uso eficiente da energia elétrica é um tema importante e essencial para o
desenvolvimento sustentável; minimizando o desperdício de energia favorece-se a preservação do
meio ambiente. Junto a isso, ao se considerar a percepção da luz pelo olho humano, observa-se
respostas visuais distintas, o que acarreta diferentes regimes de operação visual e curvas de
sensibilidade espectral. Quando se tem altos níveis de luminância (ambiente muito bem iluminado),
a sensibilidade da visão humana responde ao regime fotópico. Opostamente, quando a luminância é
muito baixa, ou seja, um ambiente com iluminação mínima, tem-se o regime escotópico. Visto que a
fotometria clássica se baseia na sensibilidade da visão sob o regime fotópico, e que em ambientes
externos de iluminação é comum deparar-se com condições intermediárias, conhecidas como
mesópicas, é essencial fazer uma correção das grandezas fotométricas medidas com equipamentos
convencionais, a fim de que o nível de iluminação esteja realmente condizente com a verdadeira
sensação de claridade. Dessa forma, ao ajustar o nível de iluminância nos projetos de iluminação em
vias públicas, estamos reduzindo a demanda de energia e custos. Assim, junto aos conceitos que
norteiam uma construção sustentável, pode-se mencionar a questão da eficiência energética como um
dos motivadores centrais para este estudo, que tem como objetivo principal comparar projetos de
iluminação convencionais em vias públicas, com projetos que priorizam a fotometria mesópica, a fim
de demonstrar se há economia de energia e a real eficiência sobre o sistema de iluminação pública.
Para isso, será utilizado o software de simulação Dialux em um condomínio fictício onde se
concentrarão os estudos.

Palavras-chave: Eficiência Energética, Fotometria, Iluminação Externa

Abstract: The Light is a source of energy that is extremely indispensable for the accomplishment of
numerous tasks, as well as providing a wide variety of means of transportation to the streets, tunnels,
roads, walkways A well lit environment requires not only sufficient light, but also, it should provide
visual comfort, safety and efficiency. When it is no longer possible to enjoy natural light, due to
several factors, especially at dusk, it is necessary to use artificial light sources that consequently
require energy consumption, economic cost and especially environmental impact. Thus, the efficient
use of electricity is an important and essential theme for sustainable development; minimizing the
waste of energy favors the preservation of the environment. In addition, considering the perception
of light by the human eye, different visual responses are observed, which leads to different visual
operation regimes and spectral sensitivity curves. When you have high levels of luminance (very well
lit environment), the sensitivity of human vision responds to the photopic regime. Opposite, when the
luminance is very low, that is, an environment with minimum illumination, we have the scotopic
regime. Since classical photometry is based on the sensitivity of vision under the photopic regime,
and it is common in outdoor lighting conditions to encounter intermediate conditions, known as
mesopic, it is essential to make a correction of the photometric quantities measured with conventional
equipment, so that the level of illumination is really consistent with the true sense of clarity. In this
way, by adjusting the luminance level in lighting projects on public roads, we are reducing energy
demand and costs. Thus, along with the concepts that guide sustainable construction, we can mention
the issue of energy efficiency as one of the central motivators for this study, whose main objective is
to compare conventional lighting projects in public roads, with projects that prioritize the mesopic
photometry , in order to demonstrate whether there is energy savings and actual efficiency over the
public lighting system. For this, the Dialux simulation software will be used in a fictional
condominium where the studies will be concentrated.

Keywords: Energy Efficiency, Photometry, External Lighting

1. INTRODUÇÃO

A humanidade necessita de energia para tudo o que faz, desde a simples tarefa de se locomover, ou
fazer uma lâmpada se acender. Quando se necessita utilizar fontes de luzes artificiais,
consequentemente, exige-se um consumo de energia, que reflete diretamente em impactos
econômicos e ambientais. A estimativa atual, é que de toda a energia elétrica produzida no mundo,
30% aproximadamente seja utilizada para a produção de iluminação artificial. Além disso, segundo
a Agência Internacional de Energia [1], entre 2015 a 2040, a necessidade de utilização de energia no
mundo deverá crescer um terço. Dados muito preocupantes, uma vez que 81% da energia consumida
mundialmente provém de três fontes não renováveis como petróleo, carvão mineral e gás [2].

Assim, alternativas e reformas na reestruturação da energia junto a projetos para a redução do


consumo de energia elétrica em sistemas de iluminação constituem um tema importante e essencial
para o desenvolvimento sustentável, pois minimizando o desperdício de energia favorece-se a
preservação do meio ambiente, além de produzir significativos impactos econômicos e ambientais.
Além disso, cresce a preocupação em relação a diminuição dos recursos ao longo dos anos, com as
inúmeras consequências climáticas ao redor do mundo devido ao seu mal-uso.

A estrutura energética de um país é um segmento de cunho estratégico por interferir diretamente na


economia, sua autossuficiência é desejável, assim como produção de energia a baixos custos e uso de
tecnologias mais eficientes. Na iluminação pública, há cerca de 50 anos se usam lâmpadas de descarga
em alta pressão (HID – do inglês High Intensity Discharge), que representam 95% dos pontos de
iluminação pública no Brasil, segundo levantamento feito pela ELETROBRAS [3]. Em comparação
com as lâmpadas incandescentes ou fluorescentes, já há evolução, pois as HID são bem mais
eficientes que suas antecessoras.

Nesse ritmo crescente de evolução, cada vez mais se desenvolvem produtos eficientes, como o LED
(lighting emitting diodes), que aparece como um grande avanço tecnológico no momento, e vem
ganhando espaço nas aplicações de iluminação em geral. Tudo isso devido a suas características de
elevada eficácia luminosa, elevado índice de reprodução de cor, elevada resistência mecânica e longa
vida útil (podendo chegar até 100.000 horas) [4]. Além disso, os LEDs não contêm gases tóxicos em
seu interior como os que estão presentes nas lâmpadas de descarga em alta pressão, e assim agridem
menos o meio ambiente.

Adicionalmente, todos os benefícios do LED podem ser ainda mais eficientes em comparação com
outras fontes de iluminação, ao considerar que o olho humano tem diferentes respostas visuais para
vários tipos de ambiente e níveis de luminosidade. Portanto, a percepção do indivíduo sobre o
ambiente é de fundamental importância na elaboração de um projeto de iluminação, dispondo de luz
suficiente para iluminar todo ambiente, porém sem dispor mais que o necessário e, portanto,
desperdiçar energia.

Quando se tem altos níveis de luminância (ambiente muito bem iluminado), a sensibilidade da visão
humana responde ao regime fotópico. Opostamente, quando a luminância é muito baixa, ou um
ambiente com iluminação mínima, tem-se o regime escotópico. No entanto, toda fotometria clássica
está baseada na sensibilidade da visão sob o regime fotópico, e em muitas vezes, em ambientes
externos de iluminação podemos trabalhar com condições intermediárias (mesópicas). Assim,
corrigindo a grandeza fotométrica, existe a possibilidade de reduzir o consumo de energia para
iluminar um ambiente que não esteja sob o regime visual da fotometria fotópica, garantindo que o
nível de iluminação realmente seja condizente com a verdadeira sensação de claridade.

Portanto, o objetivo desse trabalho é comparar projetos de iluminação convencionais em vias


públicas, com projetos que priorizam a fotometria mesópica, pois ao ajustar o nível de luminância
nos projetos de iluminação, estamos reduzindo a demanda de energia, reduzindo seus custos, e dando
melhor emprego e acesso à energia e seus serviços, sendo a eficiência energética em sistemas de
iluminação pública o tema motivador central desse trabalho.

2. VISÃO MESÓPICA
O olho humano faz parte de um sistema óptico complexo, e que responde de formas diferentes
conforme a luz ambiente. É um órgão sofisticado, capaz de gravar e processar imagens através da
incidência de luz e transformá-la em sinais elétricos que são enviados ao cérebro, sendo constituído
por células sensoriais, nervos, músculos, grupo de lentes e fluidos lacrimais [5]. A íris controla a
passagem de luz para dentro do olho, alterando o tamanho da pupila, que pode dilatar ou reduzir de
acordo com a incidência de luz. Ao atravessar a pupila, os raios luminosos atingem a retina, onde a
imagem é formada. A retina possui células fotossensíveis que captam os estímulos luminosos,
denominadas cones e bastonetes. Os cones, concentrados na região central da retina, são menos
sensíveis à luz, porém permitem a percepção das cores. Os bastonetes, apesar de serem mais sensíveis
à luz, não reconhecem cores, mas dão a percepção de claro e escuro.
É importante notar que o olho humano se comporta de maneiras distintas de acordo com as condições
de luminosidade. Assim, as células fotorreceptoras responderão de acordo com o ambiente de
iluminação, sempre uma sendo predominante à outra. Quanto maior for a incidência de luz, mais
contraída se encontrará a pupila, permitindo que a luz passe de forma mais centralizada, como um
feixe de luz focalizado na região central da retina. Como os cones estão concentrados na região central
do olho, eles vão predominar, permitindo diferenciação e boa definição das cores. Assim, em
ambientes de intensa luminosidade, a sensibilidade do olho está na visão fotópica. Já com a redução
da incidência de luz, o efeito é o contrário, ocorre a dilatação da pupila, o que permite que a luz passe
de forma mais ampla, atingindo toda retina. Dessa forma, os bastonetes serão predominantes sobre
os cones, dando sensação de claridade, contraste, mas sem percepção de cor, ou visão escotópica [6]
[7].

Portanto, ambientes com alto e baixo nível de iluminação podem ser definidos em regime de operação
fotópico e escotópico respectivamente. Em uma faixa intermediária, encontra-se a visão mesópica,
um estágio de transição entre a visão fotópica e escotópica. Nesse regime, o sistema visual combina
sinais entre cones e bastonetes e essas interações podem modificar a experiência perceptiva e alterar
quase todos os aspectos do processamento visual, incluindo a detecção visual, observado na maioria
dos ambientes noturnos de iluminação de tráfego e trânsito. [8]

A CIE (Commission Internationale de l' Éclairage, Comissão Internacional de Iluminação) [9],


determinou curvas de sensibilidade espectral relativa ao olho humano para esses regimes de operação,
vide figura 1. A sensibilidade visual depende da luminosidade e do comprimento de onda (cor),
visível de 380 nm (alta frequência) a 780 nm (baixa frequência).

Fig. 1 - Curvas de sensibilidade espectral [10].

3. ADEQUAÇÃO DAS GRANDEZAS FOTOMÉTRICAS


Desde a década de 20, a CIE vem discutindo padrões para fotometria clássica, na qual o fluxo
luminoso é baseado na resposta visual humana no regime fotópico. Em ambientes fechados, onde se
necessita de luz artificial em seu interior e bons níveis de luminância, é justificável usar esse padrão
de resposta visual, porém em ambientes externos, como no caso de iluminação pública, pode não se
aplicar, pois é uma situação onde a condição mesópica responderá com maior eficiência, com uma
sensação de claridade mais condizente com a realidade.

Seria então necessário fazer uma adaptação da fotometria convencional, onde a condição mesópica
fosse considerada. Contudo, o uso desses modelos é bastante complexo. Como mencionado
anteriormente, cada fonte luminosa tem um nível de emissão e sensibilidade espectral, sendo essencial
fazer uma adaptação fotométrica para cada nível da condição mesópica diferente. Ademais, mesmo
se fosse viável fazer a correção, nessa faixa entre escotópico e fotópico, existem múltiplos valores de
luminância, o que resultaria em múltiplos sistemas de adaptação de grandezas, o que dificultaria a
interpretação dos resultados. Além disso, para fazer a medição fotométrica, se utilizam equipamentos
que são calibrados para a visão fotópica, o que resultaria em mais correções nos resultados das
medições.

Entende-se, portanto, que pela alta complexidade em usar modelos mesópicos, busca-se outras
soluções para contornar essas dificuldades, propor modelos mais simplificados. Porém, até mesmo
modelos mais simplificados, exigem a determinação do fator S/P, que é definido como a razão entre
o fluxo luminoso de uma fonte de luz escotópica, e o fluxo luminoso de eficácia espectral fotópica.

A relação S/P é necessária para todos os sistemas que fazem a conversão de luminância, e necessitam
corrigir as grandezas fotométricas, tanto para se alcançar o sistema mesópico ou se aproximar da
região escotópica, sendo, portanto, componente fundamental para que as adaptações sejam possíveis.
No entanto, a obtenção do fator S/P é bastante complicada, os equipamentos de medição fotométricos
são muitos sofisticados e onerosos, de difícil acesso, disponíveis geralmente em laboratórios de
pesquisa avançada, como a esfera integradora ou goniofotômetro [11]. Além disso, a relação S/P pode
variar bastante de acordo com o tipo de lâmpada, do fabricante, da potência e temperatura de cor.

Entretanto [12], utilizando parâmetros disponibilizados pelos fabricantes de lâmpadas nos catálogos
ou em suas embalagens, como a temperatura de cor correlatada (TCC) e do índice de reprodução de
cor (IRC), propõe uma equação que fornece a relação S/P, eliminando então a necessidade de se
recorrer a equipamentos especiais. Essa equação, é aplicável a qualquer tipo de lâmpada, e
correlaciona S/P em função da TCC e do IRC da fonte de luz:

S P = -1,886  10 - 8 (TCC) 2 + 4,311  10 - 7 (TCC)(IRC) + 6,430  10 - 5 (IRC) 2


(1)
+ 3,590  10 - 4 (TCC) + 1,247  10 - 3 (IRC) - 0,114
A expressão é uma alternativa bastante interessante para obtenção da razão S/P, de forma simples e
sem recorrer aos onerosos equipamentos fotométricos especializados.

A CIE 191:2010, propõe um método, que faz uma adaptação a partir de multiplicadores estabelecidos,
conforme a tabela 1, selecionados de acordo com a luminância do ambiente e a relação S/P calculadas
pela expressão acima, utilizados para fazer a conversão de unidades fotópicas para diferentes
condições mesópicas.
Tabela 1 – Fatores de correção percentuais para luminância efetiva
LUMINÂNCIA FOTÓPICA (cd/m²)
S/P 0,01 0,03 0,1 0,3 0,5 1 1,5 2 3 5
0,25 -75% -52% -29% -18% -14% -9% -6% -5% -2% 0%
0,45 -55% -34% -21% -13% -10% -6% -4% -3% -2% 0%
0,65 -31% -20% -13% -8% -6% -4% -3% -2% -1% 0%
0,85 -12% -8% -5% -3% -3% -2% -1% -1% 0% 0%
1,05 4% 3% 2% 1% 1% 1% 0% 0% 0% 0%
1,25 18% 13% 8% 5% 4% 3% 2% 1% 1% 0%
1,45 32% 22% 15% 9% 7% 5% 3% 3% 1% 0%
1,65 45% 32% 21% 13% 10% 7% 5% 4% 2% 0%
1,85 57% 40% 27% 17% 13% 9% 6% 5% 3% 0%
2,05 69% 49% 32% 21% 16% 11% 8% 6% 3% 0%
2,25 80% 57% 38% 24% 19% 12% 9% 7% 4% 0%
2,45 91% 65% 43% 28% 22% 14% 10% 8% 4% 0%
2,65 101% 73% 49% 31% 24% 16% 12% 9% 5% 0%

Assim, através da tabela acima, é possível adaptar as grandezas de acordo com cada condição
mesópica através dos fatores percentuais de correção.

4. METODOLOGIA E SISTEMA EM ESTUDO


A fim de comparar projetos de iluminação convencionais em vias públicas, com projetos que
priorizam a fotometria mesópica, será apresentado abaixo um estudo de caso, no qual foi utilizado
um software livre que calculou e simulou o projeto luminotécnico. Para a simulação, foi utilizado o
software de design em iluminação Dialux, juntamente com arquivos e catálogos disponíveis pela
PHILIPS LIGHTING [13].

A norma ABNT NBR 5101, de 2012, é a principal norma brasileira referente aos requisitos do sistema
de IP no Brasil. Ela fixa os requisitos mínimos necessários para a iluminação de vias públicas, os
quais são destinados a propiciar segurança aos tráfegos de pedestres e veículos. De acordo com a
classificação do fluxo e do tipo de via, ela pertencerá a uma determinada classificação de iluminação.

Para o caso fictício, como a via é de tráfego leve e sendo uma via local, é pertencente a classe de
iluminação V5, com iluminância média mínima de 5 lux e fator de uniformidade mínimo de 0,2 e
uma luminância média mínima de 0,5 cd/m2. Vide tabela 2

Tabela 2 – Requisitos exigidos em NBR 5101 – Iluminação Pública

DESCRIÇÃO DA VIA FATOR DE


CLASSE DE ILUMINÂNCIA
Vias locais; Vias de conexão menos importantes; ILUMINAÇÃO UNIFORMIDADE
MÉDIA MÍNIMA
Vias de acesso residencial: MÍNIMO
Volume de tráfego médio V4 10 0,2
Volume de tráfego leve V5 5 0,2
Para o estudo em questão, foi utilizado um condomínio fictício, com uma rua principal de acesso,
considerada via local, destinada apenas ao acesso local ou a áreas restritas, com velocidade máxima
de 30 km/h, com 7 m de largura e 2 pistas de rolamento, vide fig. 2. Foram inseridos postes com 10m
de altura, distantes 30 m entre eles, e distante 45 cm em relação a via.

Fig. 2 – Condomínio e Poste de iluminação utilizado na simulação do projeto


Inicialmente, os projetos foram adequados segundo a fotometria convencional (Fotópica) e
posteriormente, pela fotometria mesópica, para cada tipo de luminária, resultando um total de 4
simulações.
Para a simulação dos projetos, utilizou-se dois tipos de lâmpadas: vapor de sódio em alta pressão
(HPS, do inglês high pressure sodium) e LED (light-emitting diode, ou diodo emissor de luz). Foram
adotadas luminárias clássicas, com lâmpada de vapor de sódio de 100 W, TCC 2000 K, IRC 25% e
fluxo luminoso de 10.700 lm e lâmpada de LED de 44W, TCC 4000K, IRC 70 % e fluxo luminoso
de 5.500 lm.

5. DISCUSSÕES E RESULTADOS
Nas duas primeiras simulações, usando a fotometria clássica, os resultados foram:

 HPS - Luminância fotópica de 0,64 cd/m2, iluminância média de 8,8 lux e eficácia luminosa
aproximada 107 lm/W;

 LED - Luminância fotópica de 0,56 cd/m2, iluminância média de 7,5 lux e eficácia luminosa
aproximada 125 lm/W;

Em ambas as simulações a norma foi atendida. Para a adaptação na fotometria utilizando o sistema
mesópico, utilizou-se os parâmetros disponibilizados pelos fabricantes das lâmpadas, para calcular o
valor S/P mencionado anteriormente (fig 2), sendo 0,621 para as lâmpadas de vapor de sódio e 1,543
para as luminárias LED.
Com o fator S/P calculado, e a luminância observada, é possível usar o fator de correção na tabela da
CIE. No entanto, tanto o fator o S/P (0,621 e 1,543), como a luminância calculada (0,64 e 0,56 cd/m2)
não estão disponíveis diretamente na tabela, portanto, os multiplicadores de correção foram obtidos
por meio de interpolação dos valores disponíveis na tabela. Vide fig. 3:

LUMINÂNCIA FOTÓPICA (cd/m²)


S/P 0,01 0,03 0,1 0,3 0,5 1 1,5 2 3 5
0,25 -75% -52% -29% -18% -14% -9% -6% -5% -2% 0%
0,45 -55% -34% -21% -13% -10% -6% -4% -3% -2% 0%
0,65 -31% -20% -13% -8% -6% -4% -3% -2% -1% 0%
0,85 -12% -8% -5% -3% -3% -2% -1% -1% 0% 0%
1,05 4% 3% 2% 1% 1% 1% 0% 0% 0% 0%
1,25 18% 13% 8% 5% 4% 3% 2% 1% 1% 0%
1,45 32% 22% 15% 9% 7% 5% 3% 3% 1% 0%
1,65 45% 32% 21% 13% 10% 7% 5% 4% 2% 0%
1,85 57% 40% 27% 17% 13% 9% 6% 5% 3% 0%
2,05 69% 49% 32% 21% 16% 11% 8% 6% 3% 0%
2,25 80% 57% 38% 24% 19% 12% 9% 7% 4% 0%
2,45 91% 65% 43% 28% 22% 14% 10% 8% 4% 0%
2,65 101% 73% 49% 31% 24% 16% 12% 9% 5% 0%

25
22
20
0,5 16
1
15
INTERPOLAÇÃO 10 14
FATOR DE CORREÇÃO (%)

10 11
8,3
4 7
5
3
0 -2

-6 -3
-5
-9 -6,3
-10 -10

-15 -14

-20
0 0,25 0,5 0,75 1 1,25 1,5 1,75 2 2,25 2,5 2,75
FATOR S/P

Figura 3 – Interpolação de valores da tabela CIE


Logo, baseado nos dados da tabela da CIE, a obtenção dos valores interpolados dos multiplicadores
de correção foram -6,3% para as luminárias de Sódio e 8,3 % para a de LED, que serão utilizados
para a terceira e a quarta simulação, na condição de fotometria mesópica. Vide resumo tabela 3.
Tabela 3 – Resumo dos resultados obtidos

Fluxo Fator de Correção


Lâmpada Tipo Potência TCC IRC Fator S/P
Luminoso após interpolação (%)
SON TPP100W S HPS 10.700 lm 100 W 25 2000 k 0,621 -6,3
1XLED55-3S-740 DM LED 5500 lm 44 W 70 4000 K 1,543 8,3

Com os valores do fator de correção interpolados, a segunda simulação foi realizada de forma
semelhante ao projeto anterior (fotometria clássica), porém alterando os valores dos fluxos luminosos
originais para os valores com a correção. Na luminária de vapor de sódio, o fluxo luminoso passou
de 10.700 para 10.026 lm com a correção, e quando simulado no software, a iluminância média
passou de 8,8 para 8,2 lux, um percentual de 6,8% a menos. Ao mesmo tempo, na luminária LED, o
fator de correção do fluxo luminoso passou de 5.500 para 5.957 lm, e na nova simulação a iluminância
média foi de 7,5 lux para 8,1 lux, um percentual de 8% a mais.

Portanto, ao se comparar o fluxo luminoso efetivo, e o corrigido para condições mesópicas, é possível
perceber que quando a tecnologia empregada são as luminárias de vapor de sódio, há uma redução
dos níveis de iluminância, Por sua vez, ao se aplicar a correção mesópica no projeto com luminárias
LED, visualiza-se um aumento dos níveis de iluminância na via pública. Vide a tabela comparativa
(tabela 4).
Tabela 4 – Comparação entre método tradicional e visão mesópica

Fluxo Eficácia Luminância


Iluminância Fator de
Lâmpada Fotometria Luminoso Luminosa Fotópica Média
Média (lux) Correção
(lm) (lm/W) (cd/m2)
Fotópica
10.700 8,8 107 0,64
HPS (convencional)
-6,3%
(100 W) Mesópica
10.026 8,2 100,3 -
(efetiva)

Fotópica
5.500 7,5 125 0,56
(convencional)
LED
8,3%
(44 W) Mesópica
5.957 8,1 135,4 -
(efetiva)

Ao se fazer uma avaliação geral do desempenho de ambas as tecnologias usadas, é importante


observar que além do ganho de 8,3% que as luminárias LED apresentaram considerando a visão
mesópica, a potência da lâmpada é de apenas 44 W, uma redução de 56% quando se comparado a
lâmpada de vapor de sódio de 100 W. O estudo mostrou, portanto, que na visão mesópica, o olho
humano está enxergando na realidade 8,3% a mais do que necessitaria com as luminárias LED, e 6,3
% a menos nas lâmpadas de vapor de sódio. Na prática, pode-se dizer que as luminárias LED pode
ser dimerizada em 8% a menos, de forma a manter o mesmo fluxo luminoso que era efetivamente
percebido nas luminárias de vapor de sódio, ou ainda optar por outra luminária LED com menos
potência ainda. Essa dimerização proporcionaria uma economia adicional de energia elétrica.
6. CONCLUSÃO
Este artigo apresentou a simulação de projetos luminotécnicos de iluminação pública empregando
luminárias de vapor de sódio e de LED, baseados na norma de iluminação pública NBR 5101. Foi
mostrado a importância de se considerar a visão mesópica em projetos de iluminação pública, para
avaliar se a troca de uma tecnologia de iluminação por outra é vantajosa. Assim foram feitas
comparações entre as características fotométricas de cada sistema, onde se constatou que as
luminárias LED de menor potência podem substituir de forma eficiente as luminárias de vapor de
sódio de maior potência. Embora a lâmpada de vapor de sódio de 100W tenha proporcionado uma
iluminância média inicial maior que a luminária LED de 40W, ao se corrigir pra visão mesópica,
representando a situação na qual o olho humano apresenta resposta visual mais compatível com baixo
nível de luminância, a iluminância média do projeto LED se equipara ao de vapor de sódio, porém o
projeto LED apresentou maior eficácia luminosa.

Portanto, o uso de grandezas fotométricas, além de permitir uma melhor eficiência na iluminação,
também pode melhorar a eficiência energética do sistema elétrico. Quando se opta por uma tecnologia
mais satisfatória para a iluminação pública, isso reflete diretamente em um custo menor na conta de
energia elétrica. Isso acontece porque consegue-se reduzir o fluxo luminoso da lâmpada mantendo a
mesma iluminância da condição fotópica clássica, usada na condição mesópica. Assim,
consequentemente pode-se reduzir a potência da luminária por dimerização (diminuição do fluxo
luminoso da lâmpada para a iluminância adequada). Outra opção seria a substituição por lâmpadas
de potência menor, mas desde que possuam o fluxo luminoso efetivo (mesópico) equivalente.

Como conclusão direta dos resultados deste trabalho, é perceptível que ações de conservação de
energia podem ser implantadas, através das variáveis tecnológicas existentes. A substituição por
luminárias LED por exemplo, pode ser inserida no planejamento energético nacional em diferentes
níveis, através de políticas públicas. Como demonstrado nos resultados do trabalho, existem ganhos
reais da inserção do sistema mesópico em projetos de iluminação pública, que é onde se tem regiões
de baixa luminosidade.

Finalmente, vale a pena observar que a produção de energia elétrica no Brasil vem cada vez mais
necessitando atender uma crescente demanda de consumo dos usuários, o que aumenta os custos na
geração de energia elétrica. Só a iluminação pública é responsável por aproximadamente 8,2% do
consumo total de energia elétrica produzida no Brasil [2]. Assim sendo, quanto mais ações de
incentivo forem viabilizadas para a diminuição e mudança nos hábitos de consumo, ou incentivo no
uso de tecnologias que consomem energia de forma mais racional, contribui-se para uma melhor
eficiência energética.

Em resumo, considerando que a parcela que a iluminação pública ocupa no consumo total de energia
elétrica seja uma parte bastante relevante, e que é de suma importância não só para a economia dos
gastos públicos do país, mas também para a redução do consumo de recursos ambientais em nível
mundial, se adequar a essa nova tecnologia é um desafio que o país pode enfrentar na busca de um
ambiente construído mais sustentável.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a CAPES pelo apoio financeira para execução da pesquisa e a Universidade
Federal de Juiz de Fora, pela disponibilização dos laboratórios de estudo e equipamentos.

REFERÊNCIAS
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[13] PHILIPS LIGHTING. In: www.lighting.philips.com, access in 30/10/2018


COMPARATIVA DE PAVIMENTOS ECOEFICINETES PARA
PROPORCIONAR MAIOR SEGURANÇA A USUÁRIOS DE CICLOVIA

Comparative analysis of green pavement to provide safety for cycling street

Ludmilla Araújo Barbosa de CASTRO1, Belayne Zanini MARCHI2, Maria Teresa Gomes
BARBOSA3
1
Programa de Pós Graduação em Ambiente Construído/UFJF, Juiz de Fora, Brasil,ludmilla.castro@engenharia.ufjf.br
2
Programa de Pós Graduação em Ambiente Construído/UFJF, Juiz de Fora, Brasil, belaynez@hotmail.com
3
Programa de Pós Graduação em Ambiente Construído/UFJF, Juiz de Fora, Brasil, teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br

Resumo: A utilização da bicicleta, como meio de transporte, tem sido um dos diversos temas
recorrentes do século XXI relacionado à mobilidade urbana. Atualmente a sociedade enfrenta
inúmeros desafios relacionados à sustentabilidade, à economia e à mobilidade; portanto, o uso da
bicicleta se apresenta como fator chave na melhoria da qualidade de vida da população por ser um
meio de transporte autônomo, inclusivo e saudável, que é capaz de contemplar curtas e longas
distâncias. A infraestrutura cicloviária deve ter características amigáveis ao ciclista, fazendo que
suas viagens sejam cômodas e diretas, em um ambiente atrativo e seguro. Dentre os requisitos
principais em termos de infraestrutura, os pavimentos devem apresentar, dentre outras
características, coesão no acabamento, durabilidade, drenagem adequada e uniformidade da
superfície. Desta forma, o presente artigo objetivo, através de uma revisão da literatura, efetuar uma
análise comparativa, no que se refere ao desempenho e durabilidade dos pavimentos ecoeficientes
aplicáveis ao revestimento de ciclovias, destacando-se, ainda, as manifestações patológicas
recorrentes que possam comprometer a durabilidade da ciclovia e a segurança dos ciclistas, bem
como o custo de reparo a fim de prolongar a vida útil do sistema. Portanto esse trabalho auxilia na
escolha do tipo de pavimento que atenda as necessidades de viagens dos ciclistas.

Palavras-chave: Materiais ecoeficientes, segurança do usuário, sustentabilidade.

Abstract: The use of the bicycle as a means of transportation has been one of several recurring
themes of the 21st century related to urban mobility. Today society faces numerous challenges
related to sustainability, economy and mobility; therefore, the use of the bicycle is a key factor in
improving the quality of life of the population because it is an autonomous, inclusive and healthy
means of transportation that is able to contemplate short and long distances. Cycle infrastructure
should have cyclist-friendly features, making traveling comfortable and straightforward in an
attractive and safe environment. Among the main requirements in terms of infrastructure, the
pavements must present, among other characteristics, cohesion in the finish, durability, adequate
drainage and uniformity of the surface. In this way, the present article aims, through a review of the
literature, to carry out a comparative analysis, regarding the performance and durability of eco-
efficient pavements applicable to the lining of bicycle lanes, also highlighting the recurrent
pathological manifestations that could compromise the durability of the bicycle lane and the safety
of cyclists, as well as the cost of repair in order to extend the life of the system. Therefore this work
assists in the choice of the type of pavement that meets the travel needs of cyclists.
Keywords: Eco-efficient materials, user safety, sustainability.
1. INTRODUÇÃO
Pode-se considerar a mobilidade urbana como sendo os deslocamentos de pessoas e cargas no
espaço urbano de uma cidade, aglomeração urbana e/ou metrópole [1] gerando uma significativa
influência no cotidiano das cidades e influenciando a qualidade de vida dos seus habitantes. Neste
contexto a gestão da mobilidade urbana tem potencialidade para lançar ações e reflexos em direção
a novos modelos baseado em concepções sustentáveis [2].
No Brasil uma cultura predominantemente voltada para automóvel como opção para circulação,
instituiu um cenário com atuais níveis de congestionamentos e impactos danosos ao meio ambiente
causados pelos elevados índices de Dióxido de Carbono lançado na atmosfera. Em paralelo ao uso
racional do automóvel e o investimento em transporte coletivo deve haver fomento ao uso de
transportes alternativos como a bicicleta para melhorar a qualidade de vida [3].
A bicicleta é o meio de transporte que apresenta menor consumo de energia primária sendo ideal
para deslocamentos urbanos de curtas distâncias. Seus benefícios são consideráveis tanto para
comunidade quanto para seus usuários [3]. Andar de bicicleta traz muitos benefícios, tanto pontuais
quanto globais e todos muito visíveis e eficientes, podemos citar como alguns desses benefícios:
transporte com emissão zero de CO2, mobilidade urbana eficiente um carro ocupa o espaço de
várias bicicletas evitando congestionamentos é também gastos com o recapeamento asfáltico,
condicionamento físico e mental, diminuição dos gasto com saúde pública e experimentação da
cidade em outro nível de percepção.
Todavia, mesmo a bicicleta sendo um transporte não poluente, de baixo custo de manutenção e
ainda contribuir para saúde do usuário, apenas 7,2% no Brasil usam esse utilitário como meio de
transporte de acordo com Sistema de Indicadores de Percepção Social sobre mobilidade urbana,
divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada [4]. Nesse caso podemos notar a cultura a
prevalência da cultura automotiva e ainda ressaltar que na maioria das vezes as cidades não
possuem infraestrutura adequada para a circulação segura e confortável do seu usuário [5]
Dessa forma, efetuou-se uma revisão bibliográfica acerca do tema, com base na ciclovia e no
desenvolvimento sustentável que possibilitaram apresentar os aspectos, perspectivas e
oportunidades de consolidação do uso de modo sustentável. A pesquisa efetuou uma análise
comparativa, no que se refere ao desempenho e durabilidade dos pavimentos ecoeficientes
aplicáveis ao revestimento de ciclovias, destacando-se, ainda, as manifestações patológicas
recorrentes que possam comprometer a durabilidade da ciclovia e a segurança dos ciclistas, bem
como o custo de reparo a fim de prolongar a vida útil do sistema.

2. A BICICLETA NOS PLANOS DE MOBILIDADE URBANA.

2.1. A Biclicleta no Brasil e no mundo


O aquecimento da indústria automotiva em meados do século XVII impactou significativamente
para o declínio da utilização das bicicletas em todo o mundo. Para garantir a segurança de
transeuntes e ciclistas houve, cada vez mais, a segregação dos automóveis dos demais usuários das
vias. Porém, no século XIX, a bicicleta começou a ser utilizada como meio de transporte,
enfrentando como problema técnico apenas o pavimento [6]. Segundo o mesmo autor, o século XX
foi marcado pelo paulatino retorno do uso das bicicletas, devido a grave críse petrolífera em 1973 e
o surgimento de uma consciência ambiental
No Brasil, mesmo sem sentir diretamente os efeitos da crise do petróleo ocorrido na Europa, o
governo federal cria a partir do decreto 57.003/1965 o Grupo Executivo de Integração de Políticas
de Transporte (GEIPOT), com intuito de coordenar e desenvolver estudos na área de transportes
especialmente no que diz respeito a elaboração de Planos Diretores, estudos de viabilidade
econômica e de engenharia, visando investimentos para incentivar a necessidade de uma nova
política de mobilidade urbana, através do uso de bicicletas [7].
A partir de então, um extenso arcabouço Legal regulamenta a utilização da bicicleta em todo o País.
A própria Constituição Federal de 1988, estipula princípios gerais de mobilidade urbana a ser
complementado e seguido por estados e municípios da Federação [8].
O desinteresse do usuário deve-se, em parte, ao fato da maioria das cidades não possui
infraestrutura adequada para a circulação segura e confortável do mesmo, vale ressalta que somente
investir no trafego das vias para bicicletas não cobre a disseminação do uso da mesma. Os usuários
necessitam visualizar a bicicleta como um veículo e não somente como um objeto de lazer, caso
contrário as vias de bicicleta transformaram-se em problemas [5].
A cultura de mobilidade urbana encontra-se em expansão, entretanto, enseja um planejamento de
políticas públicas visando à mobilidade urbana de forma sustentável, objetivando a melhoria do
comportamento dos motoristas frente aos usuários de bicicleta.

2.2. Caracterização das vias de trafego para bicicletas

A escolha do tipo de via está diretamente relacionada as diferentes situações de tráfego.


Inicialmente, há fatores que impactam de forma significativa a segurança, principalmente a
velocidade e o volume de tráfego motorizado. Em segundo lugar, há as caracterizações funcionais,
que estão diretamente ligadas à tipologia da infraestrutura cicloviária e a melhor maneira de
instalação para cada um.

Segundo [9], existe elementos básicos de projetos cicloviários, são ciclorotas, ciclofaixas e
ciclovias. As ciclorotas são vias de menos tráfego de carros e trânsito pouco intenso, com
velocidade de no máximo 30 km/h, que podem ser sinalizado ou não. Caso haja sinalização, ela é
feita por um emblema de bicicleta branco pintado no asfalto. Nesse caso não existe qualquer
proteção especial para os ciclistas, eles trafegam, preferencialmente, pela pista à direita, juntamente
com os veículos automotores [6]. Apesar de ser uma tipologia utilizada em cidades de pequeno
porte no Brasil, não será utilizada no escopo desse artigo.

As ciclofaixas consistiu uma faixa pintada no chão, sem segregação do resto dos veículos que
circulam na via, possuem a cor vermelha e a sinalização delas pode ser feita com “tartarugas” e
“olhos de gato” afixados ao chão. Embora não haja um bloqueio físico não é permitido aos carros e
ônibus trafegar na mesma, quanto ao fluxo e/ou velocidade dos automóveis oferecerem riscos
moderados ou limitação à circulação do ciclista funcionando i para vias com limite de 40km/h [9].

Ainda temos o conceito de ciclovia que corresponde a uma faixa segregada da via de circulação de
veículos motorizados e dos pedestres sendo segregada por espaços verdes e canteiros, grades e
muros, ou mesmo com o meio-fio podendo ser isoladas fisicamente do trânsito. A ciclovia é
indicada para avenidas e vias expressas, com velocidade de 50 km/h ou mais, pois protege o ciclista
do tráfego rápido e intenso. A separação é importante também para proteção contra abertura de
portas de veículos [6].

Fig 1- Caracterização das vias de tráfego de Bicicleta

As ciclovias oferecem opções mais seguras e são melhores do que as ciclofaixas. Por manter o
ciclista separado do tráfego motorizado, o risco de conflito entre os grupos se minimiza. As
Ciclorrotas também podem ser chamadas de Ciclo Rede são rotas de uma certa área própria para
ciclistas, mas também pensada para pedestres de modo a ambos deslocarem com segurança e
tranquilidade afastados de vias de tráfego intenso, e locais perigosos [3].
Tendo como base toda a teoria supracitada é possível dar início à análise de alguns pavimentos que
podem ser utilizados nas ciclovias e ciclofaixas de forma a aumentar a segurança do usuário da via.

3. METODOLOGIA CIENTÍFICA

A partir dos conhecimentos adquiridos até este ponto é coerente exemplificar de que forma cada
pavimento pode ser aplicado para garantir, além da segurança dos ciclistas em suas viagens, altos
indicadores de sustentabilidade. Desta forma, esse trabalho se propõe a desenvolver uma análise
comparative dos tipos de pavimentos que podem ser utilizados em ciclovias e ciclofaixas sendo
imprescindível identificar vantagens e desvantagens de cada tipo utilizado.

4.PAVIMENTOS SUSTENTÁVEIS

4.1. Pavimentos permeáveis

Os pavimentos drenantes ou permeáveis foram elaborados como técnicas compensatórias,


sustentáveis e de baixo custo para mitigar os impactos gerados pelo setor de infraestrutura urbana
no meio ambiente [10]. composto por duas camadas, uma de função estrutural e outra de concreto
asfáltico drenante, caracterizado pelo elevado índice de vazios ocasionado por uma ligação de
determinada dosagem de agregados minerais britados, filler e cimento asfáltico, que permitem a
percolação da água superficial, que resulta na redução a espessura da lâmina d’água sobre a
superfície [11], como pode ser visto na figura 2.
Silva, Tavares, 2017, ainda apresentam inúmeras vantagens dos de pavimentos permeáveis por
“melhorar a segurança e no conforto (redução de poças de água), melhorar a qualidade da água,
ganhos ambientais (recarga de reservas subterrâneas), e financeiros”. Porém, a colmatação
(preenchimento de vazios) das juntas do pavimento pode ser um problema na utilização desse tipo
de pavimento [10].

Fig.2-Estrutura Pavimento Drenante

4.2. Pavimentos de blocos fotocatalíticos

Segundo Nagem, et.al. (2013), os revestimentos que utilizam concreto fotocatalíticos possuem
maior resistência à deformação permanente, ao desgaste, estão menos sujeito à variação térmica
além de possuírem alto desempenho e durabilidade [12].
Muitas cidades Brasileiras, que ainda não possuem uma estrutura cicloviária podem optar por
elaborar um projeto utilizando blocos de concreto fotocatalítico como uma estratégia para
minimizar o efeito dessa poluição oriunda dos veículos automotores. Essa tecnologia fundamenta-se
nos processos oxidativos avançados (POA), através de um processo químico de fotocatálise
heterogênea que incorpora dióxido de titânio (TiO2) ao cimento Portland a fim de elaborar
materiais com propriedades fotocatalíticas que são eficientes na degradação de poluentes
atmosféricos como os óxidos de nitrogênio (NOx) [12]. A forma como ocorre o processo pode ser
vista na figura 3, a seguir:
Fig. 3-Bloco de concreto Fotocatalítico
Os blocos de concreto fotocatalíticos podem ser fabricados com diversos pigmentos, com formatos
variados fazendo com que aplicação seja atrativa para pavimentação de calçadas e ciclovias, e ruas
com baixo e médio volume de tráfego. Além do mais, estes materiais podem ainda capacitar a
produção de superfícies não-deslizantes, importantes para reduzir os acidentes que ocorrem devido
à combinação de chuva e óleos absorvidos pelas superfícies dos pavimentos, o que torna oportuna a
utilização deste material para os projetos de ciclovias [13].

4.3. Pavimentos fotovoltaicos

Inúmeras pesquisas relacionadas à captura de energia solar por meio de tecnologias inseridas ao
pavimento tem sido feita em todo o mundo. Investigações realizadas no instituto coreano - Korea
Institute- verificam possibilidade de captar a energia solar incidente nos pavimentos utilizando
células solares inseridas na estrutura [14]. Os pavimentos solares são compostos por painés de três
camadas, sendo a superior constituída de vidro texturizado de alta resistência, a intermediária para
coleta de energia e, por último, a placa que distribui toda captação de luz solar armazenada [15].
Apesar de muitos serem os pontos positivos dos painéis solares, alguns questionamentos sobre sua
durabilidade são questionáveis como, por exemplo, a segurança para o usuário (apesar de
texturizada a placa pode não responder à frenagem). Outra desvantagem está relacionada a
manutenção constante, uma vez que necessita de uma superfície livre de sujeira e óleo para uma a
produção de energia [14]. Exemplo de ciclovia que implementou o uso de placas fotovoltaicas é a
SolarRoad, em Amsterdam, que com apenas 1 ano de uso gerou aproximadamente 3000 kW/h/m²
de energia, superando o limite esperado de 70 kW/h/m² inicialmente estabelecido em laboratório.
Esyr tipo de pavimento pode ser verificado na figura 4, a seguir:
Fig. 4- Solar Road em Amsterdan

Apesar dos custos de geração desse tipo de energia sejam desconhecidos, é muito provável que a
eletricidade produzida pela SolaRoad seja relativamente cara, especialmente devido a pequena
escala [16]. Porém a energia produzida em períodos em há maior radiação solar pode ser
armazenada e utilizada de forma a iluminar as próprias ciclovias em períodos de pouca ou nenhuma
radiação solar, uma vez que um dos fatores que comprometem a segurança do ciclista está
diretamente associado a iluminação da via.

4.5. Pavimentos Geopolímero

Do ponto de vista terminológico, o cimento geopolímero é um material inovador com alta


resistência mecânica, produzido através de resíduos industriais ricos em aluminossilicatos amorfos
ou semicristalinos, sendo utilizado como uma alternativa real ao altamente poluente: cimento
Portland convencional, para uso em infraestrutura de transporte, construção e aplicações offshore
[18].
No que diz respeito ao custo, há aumento relativo ao m³ do cimento geopolímero quando
comparado ao cimento convencional Portland. Esta diferença pode estar relacionada ao valor dos
ativadores alcalinos que representa mais de 50% do custo total das misturas. No entanto, se a
análise for realizada em relação custo/resistência, os geopolímeros já se tornam uma alternativa
efetiva [19].
Com relação à qualidade, as propriedades do geopolímero depende essencialmente da natureza do
material de origem, sendo que os mais comuns são: cinza volante, vidro vulcânico, metacaulim,
sílicas ativas e escória granulada de alto forno [20]. Segundo os mesmos autores tais características
influenciam diretamente na funcionalidade de cada produto, podendo atribuir diversas vantagens em
substituição ao concreto convencional como a economia de energia e sustentabilidade ambiental na
sua produção, uma vez que reduz a emissão de CO² para a atmosfera
A utilização do material na composição de concreto asfáltico pode contribuir para o bem estar do
ciclista devido a redução do calor absorvido por esse elemento e, consequentemente, dissipado para
o usuário da via.
5. ANÁLISE DOS RESULTADOS
A tabela 01 apresenta uma análise comparativa entre pavimentos ecoeficientes considerando a
segurança para o usuário e os principais indicadores de sustentabilidade de cada um dos
pavimentos.
Para que seja garantida a segurança do ciclista é necessário que se realize periodicamente ou
constantemente serviços de manutenção que proporcione conservação e/ou restauração de forma
eficiente, com menor custo para colocar o pavimento em condições funcionais adequadas
garantindo, durante um período de tempo, as características especificadas do projeto.
Neste artigo a drenagem está relacionada com a capacidade do pavimento absorver ou escoar as
águas pluvias com maior ou menor facilidade. Desta forma foram utilizados 3 indicadores
1. Adequado: Quando a água pluvial percola ou escoa com maior facilidade pela superfície do
pavimento garantindo uma superfície pouco propícia à formação de lâminas d’água.
2. Razoável: Quando a água pluvial percola ou escoa com dificuldade pela superfície do
pavimento garantindo uma superfície pouco propícia à formação de lâminas d’água.
3. Insuficiente: Quando a água pluvial não percola nem escoa pela superfície do pavimento, ela
impregna na via, saturando os materiais, o que facilita a formação de lâminas d’água.
Os mesmos indicadores também podem ser utilizados com relação a durabilidade. A durabilidade
da via está diretamente relacionada à capacidade do pavimento de suportar adversidades
a) Adequado: Quando os agentes atmosféricos e rolamento na via, pouco degradam a via;
b) Razoável: Quando os agentes atmosféricos e rolamento na via, degradam razoavelmente a
via;
c) Insuficiente: Quando os agentes atmosféricos e rolamento na via, degradam severamente a
via.
Com relação ao conforto espera-se que a via seja regular com poucos impecílios para o usupario,
dessa forma ele será classificado em:
A. Adequado: Quando a via proporciona um rolamento agradável à bicicleta, pouca trepidação
ao guidão e menor deformação no pavimento, que reduz a probabilidade de queda;
B. Razoável: Quando a via proporciona um rolamento aceitável à bicicleta, maior trepidação ao
guidão e deformação no pavimento, o que aumenta a probabilidade de queda;
C. Insuficiente: Quando a via não proporciona um rolamento adequado à bicicleta, ha
trepidação ao guidão e deformação no pavimento pode gerar queda do ciclista.
Por sua vez, os indicadores na avaliação da sustentabilidade ambiental tem como principal função
fornecer informações sobre o estado das diversas dimensões principalmente relacionadas a fatores
diretamente ligados ao crescimento da economia, melhoria da qualidade do ambiente e melhoria da
sociedade que compõem o desenvolvimento sustentável do sistema na sociedade. Na tabela todos os
indicadores foram classificados em 3 níveis, a saber:
i) indicador ambiental implica na coexistência harmônica do homem com seu meio ambiente,
mediante o equilíbrio do sistemas transformado está relacionado a requisitos relacionados a
preservação da qualidade do solo, dos recursos hídricos, proteção à biodiversidade; não
produz desmatamento e utiliza energias renováveis, e está classificado como:
 Adequado: quando atende os requisitos ambientais de preseração de recursos não
renováveis;
 Razoável: quando atende parcialmente requisitos relacionados à preservação dos recursos
ambientais não renováveis;
 Insuficiente: quando não atende aos requistios ambientais, utilizando demasiadamente de
resursos não renováveis.
ii) Indicador econômico consiste na habilidade de um sistema ambiental de manter a produção,
através do tempo, na presença de repetidas restrições geoecológicas e pressões
socioeconômicas. Está relacionado a solução de problemas de forma a despender o menor
recurso ambiental e financeiro possível mantendo qualidade e eficiencia, e está classificado
em:
 Adequado: quando atende os requisitos de restrição ecológica e financeira;
 Razoável: quando atende parcialmente requisitos relacionados a restrição ecológica e
financeira;
 Insuficiente: quando não atende aos requistios de restrição ecológica e financeira.
iii) Indicadores sociais é o manejo da organização social compatível com os valores culturais e
éticos do grupo envolvido e da sociedade, está relacionado a renmda, qualidade de vida e
atendimento a espectativas sociais de uma população, está classificada em:
 Adequado: quando atende os requisitos sociais da comunidade envolvida;
 Razoável: quando atende parcialmente requisitos sociais da comunidade;
 Insuficiente: quando não atende aos requistios sociais
Tabela 01: Análise Comparativa Pavimentos Ecoeficientes

PAVIMENTO FLEXÍVEL PAVIMENTO RÍGIDO


ÍTENS COMPARADOS PAVIMENTO DRENANTE PAVIMENTO FOTOCATALÍTICO PAVIMENTO FOTOVOLTAICO PAVIMENTO GEOPOLÍMERO
CONVENCIONAL CONVENCIONAL

DRENAGEM

TEMPO ESTIMADO 10 anos 25 a 30 anos 20 anos 30 anos 30 anos 25 a 30 anos


VIDA ÚTIL

SERVIÇO DE
MANUTENÇÃO

• FISSURAS
SEGURANÇA DO USUÁRIO

INDICADOR DE • TRINCAS

DESLOCAMENTO DAS JUNTAS •
COLMATAÇÃO EM DRENOS •
FALHAS E QUEBRAS (ENTRE) PEÇAS •
ENVELHECIMENTO DAS PLACAS •
DESLOCAMENTO DAS JUNTAS
DESGRADAÇÃO • ABERTURAS
• DEFORMAÇÕES

DURABILIDADE

CONFORTO

AMBIENTAL
SUSTENTABILIDADE
INDICADORES DE

ECONÔMICO

SOCIAL

Legenda

CONSTANTE RAZOÁVEL ADEQUADO

PERIODIZADO INSUFICIENTE
Analisando, então a tabela 04, constata-se que as rodovias fotovoltáica, fotocatalítica, geopolímero
e de concreto são as que possuem maior durabilidade e vida útil. Porém é necessário que se faça
uma análise pormenorizada com relação aos outros elementos da tabela.
O pavimento drenante atende adequadamente a todos os indicadores de sustentabilidade, além de
alta oferecer conforto ao rolamento Outra qualidade a seu favor é o preço, possui baixo custo para
comprar, instalar e realizar a manutenção. Entretanto, é necessário que haja manutenção constante
para evitar a colmatação dos poros, que pode reduzir e até mesmo eliminar a capacidade drenante
do pavimento.
O pavimento fotocatalitico é atualmente um dos métodos mais estudados para o combate da
poluição do ar em grandes cidades, característica que o faz atender o indicador ambiental de
sustentabilidade. Outro ponto positivo com relação a este pavimento está relacionado a sua
capacidade auto limpante. Porém, apresenta insuficiencia nos indicadores de sustentabilidade
economicos e sociais, além de necessitar periodicamente de manutenção.
Com relação ao pavimento fotovoltaico, apesar dos pontos positivos dos painéis solares,há alguns
questionamentos sobre sua durabilidade pois a agressividade ambiental a qual o painel está inserido;
pode causar quebra das placas, comprometendo assim a segurança do usuário. Outra desvantagem
está no seu alto custo de implantação.
O pavimento geopolímero apresenta alta durabilidade com vida útil, necessita de pouca
manutenção, possui baixo custo e atende adequadamente o requisto de sustentabilidade ambiental
por utilizar polímeros em substituição ao cimento Portland que é altamente poluente, Outra grande
vantagem está relacionado a baixa absorção de calor por esse tipo de pavimento.

6. CONCLUSÃO

Atualmente o principal desafio das grandes cidades é atender concomitantemente as necesidades


relacionadas a mobilidade urbana e desenvolvimento sustentável. Portanto, a busca de novos
materiais revela a importancia e a necessidade de interligacao da industria de pavimentação com o
desenvolvimento sustentavel. Além do mais, a utilização de materiais mais duraveis significa uma
vida util maior e um menor consumo de recursos. Torna-se por isso indispensavel perceber quais
medidas devem obrigatoriamente ser tomadas para que seja elevada sua vida útil.
Além do mais, é necessáio que o poder público consolide mudancas comportamentais dos
traseuntes das vias, incentivando e colaborando para o uso de transporte ativo que, além de causar
inúmeros benefícios ambientais, devido a queda expressiva na emissão de poluentes à atmosfera,
ainda colabora para a saúde física e mental dos envolvidos. Resta então, associar um dos meios
mais sustentáveis de transporte, a bicicleta, com pavimentos que também atendam ao maior número
de indicadores ambientais, para que então, se possa alcançar altos índices de mobilidade urbana
com baixíssimos níveis de poluição ambiental.
Com base na tabela 04 foi possível identificar o pavimento geopolímero como o que se adequa a
todos os indicadores de sustentabilidade e durabilidade, além de proporcionar conforto no
rolamento das bicicletas.
Desse modo, conclui-se que é preciso investir em novos materiais, mas considerando as qualidades
ambientais incorporadas no produto de modo que condicione o desemprenho ambiental, social e
econômico na totalidade do seu ciclo de vida.

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Téchne,” edição 172, 2011. [Online]. Disponível: http://techne17.pini.com.br/engenharia-civil/172/pavimento-
de-blocos-de-concreto-fotocatalitico-285876-1.aspx. [acesso: 25-Sep-2018].

[14] C. A. da S. Ferreira, “Avaliação do desempenho fotocatalítico de camadas betuminosas superficiais de


pavimentos,” Portugal, 2016.

[15] L. da S. Cravo, “Geração de Energia nos Pavimentos Rodoviários,” Coimbra, 2014.

[16] R. van Rooij, “Dutch solar bike path SolaRoad successful,” Clean Technica, Dutch, 2017.

[17] V. Ferreira, “Geração de Energia nos Pavimentos Rodoviários,” 2014.

[18] J. Davidovits, “Gopolymer Cement,” Inst. Geopolymer, pp. 1–11, 2013.

[19] F. Pacheco-Torgal, J. P. Castro-Gomes, and S. Jalali, “Adhesion characterization of tungsten mine waste
geopolymeric binder. Influence of OPC concrete substrate surface treatment,” 2006.
[20] V. Živica, M. T. Palou, and M. Križma, “Geopolymer Cements and Their Properties: A Review,” Build.
Res. J., vol. 61, no. 2, pp. 85–100, Mar. 2015.
A IMPORTÂNCIA DO EMPREGO DE MATERIAIS RETARDANTES
AO FOGO NAS GALERIAS COMERCIAS DA CIDADE DE JUIZ DE
FORA

The use important of lower ignition building materials in commercial galeries in Juiz
de Fora city.

Maria Teresa BARBOSA*1, Jenifer Pungirum QUAGLIO2, Wendell ALBUQUERQUE 3


1
UFJF, Juiz de Fora, Brasil, teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br
2
UFJF, Juiz de Fora, Brasil, jeniferpquaglio@gmail.com
3
UFJF, Juiz de Fora, Brasil, wendell.albuquerque@engenharia.ufjf.br

RESUMO: A grande incidência de ocorrências de incêndios e a falta de efetivo do Corpo de


Bombeiros unidos as condições precárias de trabalho, levaram a uma mudança de atitude quanto ao
combate de sinistros. A prioridade agora é a utilização de medidas de prevenção e combate passivas,
ou seja, aquelas que inibem e/ou retardam a propagação das chamas e da fumaça visando
possibilitar um tempo maior de evacuação do local e estendendo o tempo inicial do incêndio até a
chegada dos Bombeiros. Uma particularidade da cidade de Juiz de Fora (MG) é o grande número de
galerias localizadas no centro urbano, cerca de 61 (sessenta e uma) que variam de acordo com a
classificação adotada em: comercial, residencial e mista – comercial e residencial; no que se refere a
um projeto de segurança contra incêndio. A prevenção de incêndios é um conjunto de normas e
ações dotadas de forma a mitigar as possibilidades de ocorrência do fogo, bem como a de reduzir
sua extensão, quando este é inevitável. Sendo assim, a proposta aqui é levantar as características das
galerias localizadas na área central da cidade, área delimitada pelas Avenidas Barão do Rio Branco,
Presidente Itamar Franco e Francisco Bernardino sendo que, este trabalho analisará somente àquelas
denominadas mistas com mais de 5 (cinco) pavimentos, totalizando 29 (vinte e nove) galerias. E,
finalmente, apresentar sugestões de melhorias e adaptações a serem empregadas no local, baseadas
na normalização vigente e nos materiais retardantes do fogo disponíveis no mercado, a fim de
adaptar as galerias às condições mínimas de segurança necessárias e facilitar a emissão do Auto de
Vistoria do Corpo de Bombeiros para as galerias de Juiz de Fora e similares.

Palavras-chave: galerias comerciais, incêndio, materiais retardantes, prevenção.

Abstract: This model has the purpose of presenting the format of the complete articles, submitted
to the scientific committee of the VI Congress of Civil Engineering - CONENGE6. The standard for
submission shall be unique and shall comply with the editorial instructions of this document. Full
papers must have a minimum of 10 pages and a maximum of 15 pages, including all its elements.
The abstract should not exceed 400 words and be in English, necessarily.

Keywords: commercial galleries, fire, retardant materials, prevention.


1. INTRODUÇÃO

Para que ocorra um incêndio são necessários quatro elementos, comumente denominado por
“Tetraedro do Fogo”, a saber: calor, combustível, comburente e reação em cadeia. No entanto,
consideráveis quantidades de materiais combustíveis, para queimar, não necessitam do calor de uma
chama (aproximados valores entre 500°C e 1000°C) mas, dependendo do ponto de ignição, basta o
contato com metais ou outros materiais aquecidos para que atinjam a ignição. Como exemplo,
podemos citar que a gasolina atinge sua ignição a 280°C e basta aproximar um ferro aquecido a
400°C (sem chama) que é o suficiente para causar uma explosão. O Cel. Orlando Secco (1982) já
dizia que as causas de um incêndio podem ser classificadas em três tipos:
Causas Humanas: culposas e criminosas; Causas Naturais; Causas Acidentais: elétricas,
mecânicas e químicas.

A cidade de Juiz de Fora tem como característica marcante a concentração do elevado número de
galerias comerciais no centro da cidade. As mesmas são formadas por corredores de largura variada
que atravessam ou apenas cortam o quarteirão, compostas por lojas no pavimento térreo, que
possibilita uma concentração de comércios e circulação de pessoas pelo interior das quadras. A
grande maioria das galerias possui mais de um pavimento, formada por mais de uma edificação,
podendo ser de quatro tipos: somente comercial composta de uma edificação; somente comercial
composta de mais de uma edificação; mista (comércio e residência) composta de uma edificação e
mista (comércio e residência) composta de mais de uma edificação.
A falta de afastamento entre as edificações, a variabilidade dos tipos construtivos e das alturas, a
diversificação do comércio, presença de imóveis tombados e generalização inadaptável das
legislações dos bombeiros às características do centro de Juiz de Fora, impedem que os imóveis da
área central, principalmente que contemplam as galerias comerciais, tenham aprovação de projetos
de prevenção e combate a incêndio. Tais projetos visam proporcionar condições de segurança
contra incêndio e pânico aos ocupantes da edificação, minimizar os riscos de propagação do fogo,
proporcionar meios de controle e extinção do incêndio e garantir as intervenções de socorro e
urgência.
O objetivo deste trabalho é apontar as características das galerias mistas, na região de estudo, com
mais de 5 (pavimentos), na área compreendida entre as avenidas: Barão do Rio Branco, Presidente
Itamar Franco e Francisco Bernardino, também conhecida pelo Corpo de Bombeiros como
“Triângulo do fogo central” (Figura 1) e apresentar uma proposta passível de implementação para
assegurar a segurança dos usuários e mitigar as consequências de um incêndio.
Figura 1 –Delimitação da área estudada. Fonte: Adaptada do google mapas de 7/7/2016.

2. PREVENÇÃO DE INCÊNDIO

De acordo com a Lei Estadual nº 14.130/2001 e Decreto Estadual nº 44.746/2008, toda edificação
destinada ao uso coletivo (seja residencial, comercial, industrial, etc.) deve ser regularizada junto ao
Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais - CBMMG. Como forma de certificar a segurança da
edificação regularizada, o CBMMG criou o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB),
documento emitido após a verificação das medidas de segurança instaladas em conformidade com o
Projeto de Segurança Contra Incêndio e Pânico (PSCIP) - composto pela documentação que contém
informações sobre edificações ou áreas de risco e o respectivo projeto técnico contendo as medidas
de segurança contra incêndio e pânico, que deve ser apresentada no CBMMG para avaliação em
análise técnica - visando garantir à população a segurança mínima contra o sinistro. [2]

Atualmente, o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais usufrui de 41 Instruções Técnicas (IT),
sendo que a 30 e a 36 estão suspensas. Tais instruções são elaboradas com o objetivo de normalizar
medidas e procedimentos de segurança, prevenção e proteção contra incêndio e pânico nas
edificações e áreas de risco. Cabe ressaltar que incêndio é definido como o fogo sem controle. [3]
Nenhum incêndio é passível de ser totalmente evitável. Cabe a nós garantirmos que, quando de sua
ocorrência, o mesmo seja passível de extinção de forma rápida e segura. Existem duas formas de
proteção contra um incêndio: a ativa e a passiva. A forma ativa caracteriza-se pela aplicação de
medidas como acessibilidade ao lote (afastamentos) e ao edifício (janelas e outras aberturas), rotas
de fuga (corredores, passagens e escadas), compartimentação, entre outros. A forma passiva pela
instalação de dispositivos como extintores, hidrantes, chuveiros automáticos (sprinklers), sistemas
de iluminação de emergência, alarme, entre outros.
Existem três formas de propagação do calor de forma individual ou combinadas: condução,
convecção e irradiação. Ele é transferido dos corpos de maior temperatura para os de menor até o
equilíbrio de suas energias, sendo a causa direta da queima de material e de outras formas de danos
pessoais onde incluem desidratação, insolação, fadiga e problemas para o aparelho respiratório,
além de queimaduras que podem levar até a morte. [5]
Considerando a geografia da cidade de Juiz de Fora, é quase impossível a aplicação de medidas
ativas nas edificações da região central, local de maior concentração de comércio e fluxo de
pessoas, onde encontra-se uma grande quantidade de galerias comerciais que atravessam grandes
quarteirões.
Devido as galerias centrais englobarem mais de uma classificação de edificação e áreas de risco
quanto à ocupação, conforme Tabela 01 do Decreto Estadual nº 44.746/2008, priorizamos aqui as
galerias que comportam edificações classificadas de Média a Alta Altura, conforme a Tabela 02 do
mesmo decreto, devido a grande quantidade mínima de medidas de segurança contra incêndio que
são exigidas para aprovação de projeto e posterior liberação do AVCB. Para o corpo de bombeiros,
uma edificação de média altura é aquela que possui mais de doze metros, medindo do piso do térreo
até o piso do último pavimento, ou seja, consideramos edificações com mais de cinco pavimentos.
Cabe ressaltar que as galerias são formadas por várias edificações e, todas aquelas que possuem no
mínimo uma galeria com cinco pavimentos, foi considerada neste estudo.

3. A CIDADE DE JUIZ DE FORA

Situada na Zona da Mata em Minas Gerais, originou-se a partir da abertura do caminho novo,
estrada criada em 1707 para o transporte do ouro da região de Vila Rica (Ouro Preto). Ao longo da
margem da estrada, diversos povoados foram surgindo estimulados pelo movimento das tropas que
ali transitavam rumo ao porto do Rio de Janeiro. A elevação à cidade ocorreu em 1865, quando foi
adotada a denominação de Juiz de Fora. O IBGE estima que a população de Juiz de Fora em 2018 é
de 564.310 pessoas. Considerando a população flutuante, podemos considerar que este valor
ultrapassa os 700.000. A cidade ocupa a quarta posição no ranking das mais populosas do estado,
atrás de Contagem (658.580), Uberlândia (676.613) e a capital Belo Horizonte (2.523.794). O
município é o 37° no ranking nacional e o 17° entre aqueles que não são capitais, mas que possuem
mais de 500 mil habitantes. (https://diarioregionaljf.com.br/2017/08/30/ibge-afirma-que-juiz-de-
fora-e-a-quarta-cidade-mais-populosa-do-estado/). Aberta em 1853, a Rua Halfeld é considerada a
Rua central de ligação entre as demais vias de grande fluxo de pessoas na região central. Em 15 de
novembro de 1975 foi inaugurada a principal alteração na Rua Halfeld: O Calçadão, que
transformou a parte central da rua em área exclusiva para pedestres. A região do centro, de acordo
com a classificação do Plano Diretor de Juiz de Fora, possui 06 Unidades de Planejamento,
englobando 24 bairros. Simboliza o “coração” da cidade, apresenta grandes concentrações de
população e de atividades e é marcado pela heterogeneidade tanto em termos demográficos quanto
sob a ótica do nível de renda e de funções.
Na Área Central, compreendida pelo triângulo maior formado pelas Avenidas Barão do Rio Branco,
Presidente Itamar Franco e Francisco Bernardino, incorporando as Praças Antônio Carlos e Dr. João
Penido (Praça da Estação), o Parque Halfeld e os seus entornos, está concentrada a maior
diversidade de atividades urbanas, sejam elas comerciais, culturais, prestadoras de serviços,
residenciais ou institucionais. A saturação desta área, sobretudo quanto ao tráfego veicular, a
excessiva verticalização concentrada, o conflito entre o patrimônio histórico e a renovação urbana,
são pontos fundamentais a serem estudados, com vistas, acima de tudo, à prevenção de sinistros. De
acordo com informações fornecidas pelo Departamento de Cadastro Imobiliário Municipal da
Secretaria de Atividades Urbanas da Prefeitura de Juiz de Fora na data de 20/11/ 2014, na área aqui
trabalhada, existe um total de 767 lotes com 14.410 imóveis, sendo estes classificados de acordo
com as tabelas 1.1 e 1.2:

Tabela 1.1 Quantidade de imóveis de acordo com o Tabela 1.2 Quantidade de imóveis de acordo com o tipo
destino o qual são utilizados. [Fonte: Departamento de de utilização. [Fonte: Departamento de Cadastro
Cadastro Imobiliário Municipal da SAU-PJF] Imobiliário Municipal da SAU-PJF]

4. GALERIAS COMERCIAIS

Não foram encontradas definições claras do que seria considerada uma galeria comercial nem para
Prefeitura no Código de Obras da cidade e na Lei de Uso e Ocupação do Solo, nem para os
Bombeiros em suas Instruções Técnicas e normatizações e nem no dicionário. As definições de
galeria, travessa, beco, servidão ou uma via de passagem se sobrepõe e se contradizem em todas as
referências. Assim como na arquitetura, todos possuem suas próprias definições do que seria uma
galeria comercial. O arquiteto Frederico Braida conceitua as galerias como “passagens que servem
para ligar uma rua à outra através de um edifício, geralmente ladeada por lojas comerciais”1. Braida
(2011, p.17) emprega o termo passagem em seu trabalho, definindo-o como “local por onde
caminham os pedestres”. Sendo assim, para efeito desta pesquisa a fim de organizarmos as
características levantadas, consideraremos Galerias Comerciais como:

O corredor de passagem apenas de pedestres, obrigatoriamente com estabelecimentos


comerciais no pavimento térreo e opcional nos demais, possuindo um ou mais andares,
coberta ou descoberta, sendo pública ou privada e constituída por uma ou mais
edificações.

Com a missão de permitir o maior fluxo de pessoas entre as quadras da região central, que possuem
dimensões em torno de sessenta metros de largura por oitenta de comprimento, aumentar o número
de lojas permitindo a circulação das pessoas entre vitrines e permitir o acesso dos moradores em
edificações no interior do quarteirão, a partir da década de 1920, as galerias comerciais, com
destaque para o primeiro exemplar delas a Galeria Pio X – precursora desta nova tipologia em todo
o estado de Minas Gerais e para duas outras galerias resultantes de um espaço residual nas laterais
de um grande teatro (Theatro Central), a tipologia urbana e arquitetônica que se inseriria na cidade
tinha a função de elementos transitórios entre ruas e trazia para Juiz de Fora a característica
tipológica de transgressão de quadra. O princípio da galeria é permitir maiores áreas exclusivas para
pedestres quando o volume do trânsito no centro tornou-se pesado. A Figura 02 aponta o
posicionamento aproximado de cada galeria levantada neste trabalho onde as vermelhas são aquelas
com mais de cinco pavimentos.
Cabe ressaltar que, priorizando a questão do risco de incêndio, os edifícios que apresentam: um
corredor de passagem no primeiro pavimento, composto de estabelecimentos comerciais no térreo,
residenciais ou de prestação de serviço nos demais, com uma ou mais saídas para a via pública, que
contém a portaria de entrada da edificação com acesso por dentro deste corredor de passagem e
permite a circulação pública livre no pavimento térreo, também foram considerados relevantes para
esta pesquisa por conter características similares às galerias. Apesar de se tratarem de unidades
autônomas, independentes e com apenas um condomínio, seus posicionamentos nas grandes
quadras sem afastamentos laterais nem isolamento de compartimento, também dificultam a
liberação do AVCB. Devido à edificação permitir o acesso livre da população no primeiro
pavimento para alcançar o comércio e salas de serviço em seu interior, fica aqui entendido como a
presença de pessoas estranhas – não familiarizadas com o local – que desconhecem a dinâmica de
funcionamento do prédio, suas rotas de fuga e seus equipamentos de combate a incêndio,
equiparando-se aos riscos encontrados nas galerias comerciais.

4.1 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS

As galerias comerciais de Juiz de Fora não possuem um padrão pré-elaborado que possamos
considerar. A característica específica de todas elas é a presença de lojas comerciais no pavimento
térreo e abertas ao público no período diurno. As demais características levantadas que variam entre
elas foram:
Tabela1.3 Características físicas utilizadas para classificar as galerias comerciais de Juiz de Fora.

Número de edificações que compõem a galeria; Largura e comprimentos variados;


Descobertas ou cobertas por telha ou laje; Comerciais ou mistas (comércio e residência);
Com uma ou mais saídas para a via pública; Número de pavimentos da(s) edificação(ões) que
Fecha ou não a noite e aos finais de semana; compõem a galeria;
Possui ou não central de gás;

A categoria das lojas vai desde o pequeno comércio até grandes centrais atacadistas, de “pronta-
entrega”. Devido a largura das quadradas favorecer a construção de grandes lojas com mais de
200m² algumas dessas áreas foram utilizadas para abertura de pequenos “camelôs” formando um ou
dois corredores dentro delas. Os “camelôs” aqui chamados, são pequenos espaços entorno de 5m²,
separados por divisórias de madeira ou PVC, sem cobertura individual, os quais utilizam toda
iluminação e ventilação em conjunto. Tais categorias foram aqui também consideradas como
galerias comerciais por apresentarem tal formação já a alguns anos na cidade, ser frequente a
abertura/aproveitamento de grandes lojas com esse tipo de formação e por apresentarem os riscos
iguais ou até maiores do que as galerias comerciais tradicionais. Cabe ressaltar que este tipo de
aproveitamento de loja sendo transformado em galeria também foi identificado em São Paulo, Rio
de Janeiro e Belo Horizonte, ou seja, demonstra a importância de uma Norma mínima de segurança
para estabelecimentos com essas características no Brasil.

A saturação da área central, sobretudo quanto ao tráfego de veículos, a excessiva verticalização


concentrada e o conflito entre o patrimônio histórico e a renovação urbana, são as suas
características mais marcantes. Observando a sua configuração, nota-se que ela é circundada por
uma ocupação tipicamente residencial com predominância de padrão socioeconômico médio e alto,
enquanto no Centro, propriamente dito – na área aqui estudada – podemos encontrar todas as
classes sociais e comércio destinados para todos os segmentos econômicos.

4.2 RISCOS FÍSICOS

Quem tem um mínimo de conhecimento técnico sobre Prevenção e Combate a Incêndio basta andar
pelas galerias que identificará os riscos que são proporcionados pela falta de instrução, consciência
e fiscalização no comércio central. Como a maioria das lojas possui seus depósitos no 2º pavimento
ou em mezaninos, pilhas de caixas de papelão e plásticos são amontoadas em condições precárias
nas sobrelojas. A presença de várias lanchonetes também potencializa o risco de incêndios por
utilização de gás de cozinha e óleos quentes. A grande maioria das lojas atualmente possui ar-
condicionado, ventiladores mais potentes, cafeteiras elétricas e até micro-ondas. Devido às
edificações serem datadas com mais de trinta anos de idade, diversos incêndios já ocorreram
causados por curtos-circuitos por falta de manutenção ou sobrecarga da rede. A manutenção das
instalações elétricas não acompanhou o rápido crescimento da utilização de materiais elétricos
assim como as condições precárias e “temporárias” que formam verdadeiros „gatilhos‟ nas
instalações potencializando o risco de sinistros como exemplificado na Figura 2.
O Decreto n°46.595 de 10/09/2014 em seu ART 3º, XXXVI, define: “- risco: exposição ao perigo e
a probabilidade da ocorrência de um sinistro;”. De acordo com a Tabela 4 do mesmo decreto -
Classificação do Risco Quanto à Segurança Contra Incêndio e Pânico – consideramos que as
quadras da área central de Juiz de Fora e, consequentemente as galerias pertencentes a elas, são
classificadas com o RISCO ALTO: “Edificação ou área de risco que não possui compartimentação,
isolamento de risco ou sistema eficaz automático de combate a incêndio, permitindo em caso de
incêndio, a possibilidade de propagação deste para outras divisões e/ou níveis...”
Figura 2 - Teto de uma loja localizada na Rua Barão de
São João Nepomuceno. Durante a reforma ficaram
expostas as condições precárias e inadequadas das
instalações elétricas, e próximas ao isolamento de espuma
(material inflamável). Esta situação é inadequada e
comumente encoberta por forros de gesso ou PVC. [acervo
próprio – data: 03/05/2015]

Mas não adianta equipar o local com dispositivos de combate a incêndio ou rotas de fuga se não
houver a correta orientação, o correto treinamento e sinalização adequados. A grande maioria da
população não sabe utilizar um extintor de incêndio e nem mesmo os próprios funcionários das
lojas sabem onde os mesmos ficam localizados. Assim como é necessária a manutenção periódica
de todos os dispositivos de alarme, iluminação e combate a incêndio.
A Instrução Técnica 05 determina critérios para isolar externamente os riscos de propagação do
incêndio por radiação de calor, convecção de gases quentes e transmissão de chama, para evitar que
o incêndio proveniente de uma edificação se propague para outra, ou retardar a propagação
permitindo a evacuação do público até a chegada dos bombeiros. Esta Instrução Técnica aplica-se a
todas as edificações, independentemente de sua ocupação, altura, número de pavimentos, volume,
área total e área específica de pavimento, para considerar-se uma edificação como risco isolado em
relação à (s) outra (s) adjacente (s) na mesma propriedade. O tipo de propagação e o consequente
tipo de isolamento a ser adotado dependem do arranjo físico das edificações que, por sua vez,
determinam os tipos de propagações. No centro de Juiz de Fora, as situações tipicamente
encontradas são:
a) Propagação do fogo entre duas b) Propagação do fogo entre O recomendado seria que as
edificações geminadas, pelas edificações geminadas, por meio da edificações que não possuem
aberturas localizadas em suas cobertura de uma edificação de espaçamento entre si mas sim que
fachadas e/ou pelas coberturas das menor altura e a fachada de outra
mesmas, por transmissão direta de edificação, por transferência de fossem separadas por parede corta-
chamas e convecção de gases energia. fogo entre as edificações contíguas
quentes. (Figura 5).

Figura 3 - Propagação entre duas


Figura 4 - Propagação entre duas
edificações geminadas de mesma
edificações geminadas com altura
altura. (IT05)
diferenciada. (IT05)
Figura 5- Parede corta fogo (IT05)

Além da disposição física, também foram identificados vários imóveis em situação de


Tombamento. De acordo com a Lista da FUNALFA - Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage –
responsável por responder pela política cultural do município e vários espaços culturais, atualizada
no site da Prefeitura em 04/10/2014, dos 186 bens imóveis tombados em toda a cidade 67 estão
localizados aqui na área trabalhada, ou seja, 36% dos imóveis são patrimônios tombados. Para fins
da IT05, um conjunto arquitetônico é formado por pelo menos uma edificação tombada e edificações
vizinhas, ainda que não tombadas, de tal modo que os efeitos do incêndio gerado em uma delas possam
atingir as outras. São características dos imóveis tombados na cidade: construção em tijolos maciços,
sem estrutura de vigas e pilares, piso e forro de madeira, guarnições em madeira, engradamento da
cobertura de telhas cerâmicas também em madeira, sem afastamento com as edificações adjacentes,
instalações elétricas antigas e em estado precário de conservação. Sendo assim, não só as edificações
históricas são potenciais riscos de incêndios que podem atingir todo um quarteirão, assim como as
galerias são também um risco para os patrimônios históricos da cidade.

4.3 PROBLEMAS E ENTRAVES NA LIBERAÇÃO DO AUTO DE VISTORIA DO CORPO


DE BOMBEIROS

A Instrução Técnica 02 do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais tem como pré-requisito para
liberação do AVCB que a edificação em análise tenha uma distância de segurança entre as
adjacentes conforme os critérios na IT (isolada), ou, que a edificação seja compartimentada. A
distância mínima de segurança é o afastamento entre uma face exposta da edificação ou de um local
compartimentado à divisão do lote, ao eixo da rua ou a uma linha imaginária entre duas edificações
ou áreas compartimentadas do mesmo lote, medida perpendicularmente à face exposta da
edificação. Compartimentar é separar um ou mais locais da edificação por intermédio de paredes
resistentes ao fogo, portas, selos e “dampers” corta fogo. A compartimentação tem como
características básicas a vedação térmica e a estanqueidade à fumaça, onde o elemento construtivo
estrutural e de vedação possui resistência mecânica à variação térmica no tempo requerido de
resistência ao fogo – TRRF, determinado pela norma correspondente, impedindo a passagem de
calor ou fumaça, conferida à edificação em relação às suas divisões internas como na figura 5.

A Instrução Técnica 05 no item 2.3 afirma que “as edificações situadas no mesmo lote que não
atenderem às exigências de isolamento de risco serão consideradas como uma única edificação para
o dimensionamento das medidas de proteção previstas no Regulamento de Segurança Contra
Incêndio e Pânico nas edificações e áreas de risco do Estado de Minas Gerais”. Tal exigência
impede o corpo de bombeiros de aprovar qualquer projeto apresentado sem que a edificação seja
considerada compartimentada pois nenhuma edificação nos quarteirões centrais que contém galerias
comerciais são isoladas. Sendo assim, como exemplo dos quarteirões entre as ruas Halfeld,
Marechal Deodoro e Mister Morre, seria necessário que todos os 36 e 46 imóveis apresentassem o
PSCIP e fossem aprovados de uma só vez por quadra. Outra dificuldade encontrada pelos
bombeiros, excluindo a questão da falta de isolamento, é de quem cobrar o projeto dentro da
galeria. A maioria das galerias são formadas por mais de uma edificação e, a área de comércio da
galeria muitas vezes possui um condomínio diferente da área residencial, causando conflitos em
quem vai arcar com os custos. Devido a galeria ser uma via de circulação pública, os condomínios
alegam que a Prefeitura é quem deve arcar com as custas do projeto e instalação dos equipamentos.

A falta de legislação sobre prevenção e combate a incêndio que estipulem as condições mínimas de
segurança nos estabelecimentos das galerias comerciais, unidas a flutuação constate dos tipos de
comércio devido a crise econômica e variação imobiliária, propiciam uma desorganização dos
ambientes facilitando as instalações precárias e clandestinas que colocam em risco o local e seu
entorno. Atualmente, assim como desde anos atrás, o efetivo do corpo de bombeiros é insuficiente
para que hajam vistorias anuais nos estabelecimentos comerciais em uma cidade de tal porte.
Mesmo que haja uma vistoria a cada três ou cinco anos, uma loja que hoje abre como sapataria, em
dois anos ou menos pode passar a funcionar um restaurante. Assim, faz-se necessário que sejam
estipuladas condições mínimas de segurança antes da instalação de qualquer tipo de comércio no
centro, previamente autorizadas pelo corpo de bombeiros.

5. METODOLOGIA DE PESQUISA
Para efeito desta pesquisa, das 61 galerias identificadas no centro, prioriza-se o estudo daquelas
acima de 5 (cinco) pavimentos onde 29 (vinte e nove) galerias foram assim classificadas, mapeadas
e suas características levantadas a fim de se identificar aspectos comuns, particularidades e,
posteriormente, ser feita a análise dos dados e como eles influenciam na dificuldade de
aplicabilidade das Normas em Projetos de Prevenção e Combate a Incêndio - PPCI - gerando risco à
população. De acordo com os estudos feitos em campo e conclusão das análises, correções e
propostas de melhorias utilizando materiais retardantes do fogo como forma passiva de combate a
incêndio foram apresentadas visando à mitigação dos riscos.
Cumpre esclarecer que os estudos efetuados em campo e as análises, possibilitam apresentar
propostas de melhorias e correções visando à mitigação dos riscos e não a garantia de que um
sinistro nunca irá acontecer. Nesse sentido, foram coletadas as seguintes informações acerca das 29
galerias estudadas:
1) Dados Gerais: consiste na identificação: Nome (incluindo Lei e decreto de denominação);
Endereço; Coordenada geográfica; Largura; Comprimento de entrada até o ponto mais
distante; Número de pavimentos e composição dos mesmos (serviço/residência); Número de
estabelecimentos comerciais.
2) Dados Construtivos: Tipo de cobertura: telhado, laje, descoberta ou mista.
3) Dados Preventivos: Número de rotas de fuga; AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de
Bombeiros); Hidrantes; Sinalização de emergência; Iluminação de emergência; Extintores;
Escada de emergência; Sprinklers; Brigadistas.

6. RESULTADOS E ANÁLISES

1) Quanto a responsabilidade de elaboração do PSCIP: Em diversas literaturas encontrou-se a


definição de que „As galerias são vias públicas de domínio privado‟. Esta definição foi explicada
em documento no Processo 5389/99, referente à Lei municipal 9659/1999 sobre o fechamento das
galerias, onde consta afirmação de que as galerias são vias urbanas particulares e, para que se
tornem logradouros públicos, é necessário que sejam adquiridas pelo munícipio. Ou seja, as galerias
e seus projetos de prevenção são de responsabilidade particular dos proprietários do terreno. Este
estudo faz aumentar ainda mais a necessidade de projetos urbanísticos, arquitetônicos e de
prevenção e combate a incêndio adaptados as condições urbanísticas diferenciadas do centro de Juiz
de Fora. Maior adensamento, maior exposição ao risco, maiores devem ser as medidas de
prevenção.
2) Quanto aos dados coletados in loco e informações fornecidas pelo corpo de bombeiros:
Dados Preventivos
Nº Dados Gerais Dados Construtivos Possui
Aprovado
PSCIP
Messias Nunes 23,56m de comprimento, 1 rota de fuga, 2 edificações de 2
1 Não Não
Rebello pavimentos cada, com 7 lojas e cobertura em laje e telha.
45,32m de comprimento, 1 rota de fuga, 1 edificação de 3
2 Center 467 Não Não
pavimentos, com 12 lojas e cobertura em telha.
Centro Comercial 43,83m, 2 rotas de fuga, 1 edificação de 8 pavimentos, com
3 Não Sim
Manchester 11 lojas e cobertura em telha e laje.
Centro Comercial 76,42m, 2 rotas de fuga, 5 edificações, 5 pavimentos, com
4 Não Sim
Riachuelo 30 lojas e cobertura em laje e telha.
26,01m, 1 rota de fuga, 1 edificação, 9 pavimentos, com 4
5 Edifício Brumado Não Sim
lojas e cobertura em laje.
25,75m, 1 rota de fuga, 1 edificação de 7 pavimentos, com
6 Edifício Sedan Não Sim
25 lojas e cobertura em laje.
64,32m, 2 rotas de fuga, 5 edificações de 4 a 10 pavimentos,
7 Carmelo Sirimarco com 129 lojas e cobertura parcial em laje e parcial Não Não
descoberta.
74,46m, 2 rotas de fuga, 2 edificações de 2 e 10 pavimentos,
8 dos Previdenciários Não Não
com 7 lojas e cobertura em laje.
Edgard Bento 12,94m, 5 rotas de fuga, 1 edificações de 14 pavimentos,
9 Não Sim
Salgado com 42 lojas e cobertura em laje.
84,41m, 2 rotas de fuga, 3 edificações de 12, 3 e 9
10 Epaminondas Braga Não Não
pavimentos, com 55 lojas e cobertura em laje e telha.
Farmacêutico 41,72m, 5 rotas de fuga, 1 edificação de 12 pavimentos, com
11 Não Não
Miguel Giovanini 97 lojas e cobertura em laje e telha.
Parte com 29,98m parte com 63,94m, 2 rotas de fuga, 2
Francisco Barrajo
12 edificações de 6 pavimentos, com 72 lojas e cobertura em Não Sim
Cid
laje.
85,56m, 4 rotas de fuga, 5 edificações de 1 a 11 pavimentos,
13 Dr. João Beraldo Não Não
com 125 lojas e cobertura em laje mais telha.
84,41m, 2 rotas de fuga, 1 edificação, 5 pavimentos, com
14 Pio X Não Não
103 lojas e cobertura em laje e parcialmente descoberta.
Prefeito Álvaro 41,47m, 2 rotas de fuga, 4 edificações de 4 a 8 pavimentos,
15 Não Não
Braga com 31 lojas e cobertura parcial em laje e parcial descoberta.
Isaltino da Silveira 41,74m, 2 rotas de fuga, 1 edificação de 11 pavimentos, com
16 Não Sim
Filho 12 lojas e cobertura em laje.
Dr. Machado 54,38m, 2 rotas de fuga, 1 edificação de 19 pavimentos, com
17 Não Não
Penido - Salzer 15 lojas e cobertura em laje mais telha.

Tenente Belfor 86,28m, 2 rotas de fuga,3 edificações de 4 a 7 pavimentos, Sim


18 Não
Arantes com 68 lojas e cobertura em laje mais telha.
Dados Preventivos
Nº Dados Gerais Dados Construtivos Possui
Aprovado
PSCIP
36,42m de comprimento, 2 rotas de fuga, 2 edificações de 13
19 Alberto Andrés Não Não
e 18 pavimentos cada, com 14 lojas e cobertura em laje.
Irmãos Hammound
48,00m de comprimento, 2 rotas de fuga, 1 edificação de 15
20 - Residencial Mont Não Sim
pavimentos cada, com 26 lojas e cobertura em laje.
Serrat
25,58m de comprimento, 2 rotas de fuga, 1 edificação de 16
21 Labibe Simão Não Não
pavimentos cada, com 11 lojas e cobertura em laje e telha.
Afonso da Mota - 49,51m de comprimento, 3 rotas de fuga, 2 edificações de 11
22 Não Não
GHS Shopping pavimentos cada, com 24 lojas e cobertura em laje e telha.
17,48m de comprimento, 2 rotas de fuga, 2 edificações de 17
23 Golden Center Não Não
pavimentos cada, com 40 lojas e cobertura em laje.
Horácio Moreira 6,97m de comprimento, 1 rota de fuga, 1 edificação de 19
24 Não Sim
Dias - Space Center pavimentos cada, com 8 lojas e cobertura em laje.
<50,00m de comprimento, 3 rota edificação de fuga, 1
25 Mister Shopping edificação de 8 pavimentos cada, com 140 lojas e cobertura Não Sim
em laje e telha.
>40,00m de comprimento, 7 rotas de fuga, 1 edificações de
26 Santa Cruz 9 pavimentos cada, com mais de 250 lojas e cobertura em Não Sim
laje.
32,90m de comprimento, 1 rota de fuga, 1 edificação de 5
27 Solar São Sebastião pavimentos cada, com 15 lojas e cobertura em laje mais Não Não
telha.
Antonio Sallin 30,52m de comprimento, 1 rota de fuga, 1 edificação de 10
28 Não Não
Arbex pavimentos cada, com 50 lojas e cobertura em laje.
63,94m de comprimento, 2 rotas de fuga, 2 edificações de 14
29 Shopping Center pavimentos cada, com 90 lojas e cobertura em laje mais Não Não
telha.

7. PROPOSTA PASSÍVEL DE IMPLEMENTAÇÃO PARA ASSEGURAR A SEGURANÇA


MÍNIMA DOS USUÁRIOS

Devido às condições inviáveis de adaptação estrutural das edificações que compõem as galerias,
medidas passivas devem ser adotadas a fim de minimizar os riscos de ocorrência de incêndio e as
consequências caso venham a ocorrer.
- As áreas de uso comum e principalmente as rotas de fuga devem utilizar materiais retardantes do
fogo como tintas intumescentes, revestimentos e argamassas apropriadas, evitar carpetes, cortinas e
forros que costumam ser altamente inflamáveis. No caso da utilização destes materiais, aplicar
tintas ou verniz antichamas nos mesmos, assim como nas paredes e pisos;
- As áreas de uso comum e principalmente as rotas de fuga também devem ser dotadas de piso ante
derrapante e retardante de chamas e iluminação e sinalização adequados.
- Nos casos em que as edificações não possuem escadas com dimensões e características mínimas
que garantem uma evacuação segura da edificação, recomenda-se um estudo específico de cada
propriedade a fim de analisar a possibilidade de criar uma saída de emergência para outra edificação
adjacente, seja por porta, escada, vão ou passagem.
- Devem ocorrer periódicas vistorias técnica nas instalações elétricas, que devem ser efetuadas a
cada, no máximo, 3 anos, mediante acompanhamento, projeto e laudo de um profissional habilitado.
Um estudo do número de instalações, equipamentos e voltagem máximos permitidos nas lojas e nas
dependências das edificações devem ser pré-estabelecidos para cada edificação assim como a
utilização de cabeamento com maior TRRF.
- Orientação e treinamento de todos os funcionários do comércio nas galerias;
- Para edificações antigas que não suportam a instalação de uma caixa d`água para reserva de
incêndio, deve-se analisar a possibilidade de instalação de hidrantes de recalque junto a CESAMA
(companhia de água e saneamento local).

8. CONCLUSÃO
O crescimento da cidade de Juiz de Fora, assim como em todo Brasil, não foi acompanhado pela
atualização das legislações de prevenção e combate a incêndios. A modernização dos aparelhos
eletrônicos, o dinamismo do comércio central e o aumento populacional exigem que medidas
preventivas adequadas às condições atuais e visando as futuras, sejam tomadas em caráter urgente.
Assim como nas edificações tombadas, é necessária a criação de uma instrução técnica, decreto ou
lei que sejam passíveis de aplicação nas galerias comerciais não só de Juiz de Fora, mas todas que
contenham suas características físicas. Apesar da importância da utilização de materiais retardantes
do fogo como forma compensatória de mitigação de risco de incêndio nas edificações, nota-se a
deficiência do mercado em disponibilizar produtos com garantia, preço e certificação de qualidade.
A precária procura destes produtos não incentivam os comerciantes a desenvolverem novos
materiais o que encarece em muito a sua aquisição.
De nada adianta você equipar um local se não houver um treinamento da população tanto residente
quanto temporária. Os funcionários do prédio ou condomínio são as pessoas mais adequadas e
essenciais a terem um treinamento de combate primário e evacuação, pois são as pessoas que
conhecem a rotina do local e os moradores podendo identificar e ajudar os idosos, crianças e
deficientes numa situação de sinistro.
Conclui-se então que, as galerias comerciais de Juiz de Fora são verdadeiros corredores de
passagem de pedestres entre edificações, que atravessam quarteirões, com variadas características
físicas que proporcionam um aumento do risco da ocorrência de incêndio e que necessita de uma
importância ímpar de atenção para que medidas mitigadoras de ocorrência de incêndio sejam
adotadas visando a preservação do patrimônio e proteção da vida.
REFERÊNCIAS

[1] SECCO, CEL. ORLANDO. Manual de Prevenção e Combate de Incêndio, ABPA, São Paulo,
v. 3, p. 218, 1982.
[2] QUAGLIO. JENIFER PUNGIRUM, A Pré Disposição a Incendio no Centro de Juiz de Fora.
UJFJ, p. 50, 2015.
[3] MINAS GERAIS. Decreto nº 44.270, de 31 de março de 2006 – Regulamenta a Lei n°14.130,
de 19 de dezembro de 2001, que dispõe sobre a prevenção contra incêndio e pânico no
Estado e dá outras providências. Disponível em http://www.bombeiros.mg.gov.br/.
MECANISMOS DE DEGRADAÇÃO DAS ESTRUTUTRAS DE CONCRETO
ARMADO EXPOSTAS AO AMBIENTE: RECUPERAÇÃO E REFORÇO DA
ESTRUTURA DA TORRE DA CTBM

Mechanisms of degradation of armed concrete structures exposed to the


environment: recovery and reinforcement of the CTBM tower structure

Eng. Jéssica Ferreira Gonçalves 1, Antônio Eduardo Polisseni, D. Sc. 2, Maurício Leonardo
Aguilar Molina, D. Sc ³, Eng. Victor Hugo Castañon de Mattor Júnior, M. Sc. ⁴
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, jessica.ferreira2012@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, aepolisseni@gmail.com
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mauricio.aguilar@engenharia.ufjf.br
⁴ Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, vhcmj@oi.com.br

Resumo: As estruturas de concreto armado sofrem cada vez mais com diversas manifestações
patológicas quando estão expostas ao meio ambiente, ficando suscetíveis a vários agentes que
podem degradá-las e até mesmo levá-las ao colapso. O presente artigo apresenta, de forma a
conscientizar os profissionais da área, as possíveis origens e causas dos diversos mecanismos de
degradação que podem atacar as estruturas de concreto armado frente a exposição ao meio
ambiente, assim como apresenta suas respectivas manifestações patológicas, caracterizando-as e
identificando-as conforme suas causas. É apresentado também uma solução para recuperação e
reforço de uma estrutura de concreto armado, sendo apresentado no estudo de caso, o qual trata da
estrutura da torre de concreto armado que sustenta um reservatório metálico de água e que está
localizada no estacionamento do atual Centro Cultural e Mercado Municipal Bernardo
Mascarenhas, antiga Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas (CTBM). Assim, foi proposto um
projeto contemplando a recuperação da camada de concreto e das armaduras degradadas e o reforço
da estrutura da torre utilizando fibra de carbono. Essa proposta de recuperação e reforço da estrutura
da torre, estimada em mais de R$ 135 mil reais, foi elaborada por se tratar de um elemento do
patrimônio histórico cultural da cidade de Juiz de Fora, apresentando à impossibilidade da sua
demolição e encontrando-se em estado bastante avançado de degradação das armaduras por
corrosão, resultado das mudanças do meio ambiente de exposição no decorrer dos anos. As
conclusões obtidas nesse artigo foram positivas e apresentam uma ampla visão sobre os diversos
mecanismos de degradação aos quais as estruturas de concreto armado estão suscetíveis, além de
demonstrar solução de recuperação e reforço de estruturas de concreto armado, podendo essas
estruturas serem ou não demolidas.

Palavras-chave: concreto armado, exposição ao meio ambiente, recuperação e reforço,


manifestações patológicas, mecanismos de degradação.

Abstract: Reinforced concrete structures increasingly suffer from various pathological


manifestations when they are exposed to the environment, becoming susceptible to several agents
that can degrade and even lead to collapse. This article presents, in order to raise the awareness of
professionals in the area, the possible origins and causes of the various degradation mechanisms
that can attack the reinforced concrete structures exposed to the environment, as well as presenting
their respective pathological manifestations, characterizing them and identifying them according to
their causes. A solution is also presented for the recovery and reinforcement of a reinforced
concrete structure, being presented in the case study, which deals with the structure of the
reinforced concrete tower that supports a metallic reservoir of water and which is located in the
parking in the current Cultural Center and Bernardo Mascarenhas Municipal Market, former Textile
Company Bernardo Mascarenhas (CTBM). Thus, a project was proposed contemplating the
recovery of the concrete layer and the degraded reinforcements and the reinforcement of the tower
structure using carbon fiber. This proposal of recovery and reinforcement of the structure of the
tower, estimated at more than R $ 135 thousand reais, was elaborated because it is an element of the
historical cultural patrimony of the city of Juiz de Fora, presenting to the impossibility of its
demolition and finding itself in a very advanced state of corrosion degradation due to changes in the
exposure environment over the years. The conclusions obtained in this article were positive and
present a wide view on the various mechanisms of degradation to which the reinforced concrete
structures are susceptible, besides demonstrating solution of recovery and reinforcement of
structures of reinforced concrete, and these structures can be demolished or not.

Keywords: reinforced concrete, exposure to the environment, recovery and reinforcement,


pathological manifestations, mechanisms of degradation.

1. INTRODUÇÃO
As estruturas de concreto armado são amplamente utilizadas em diferentes tipos de construções
devido ao seu fácil acesso e utilização. São soluções econômicas cujos materiais constituintes
possuem características favoráveis como a trabalhabilidade, durabilidade e resistência a altos
esforços mecânicos. Dessa forma o concreto armado tem sido muito procurado e definido como
escolha principal para fins estruturais (CARVALHAIS et al, 2017 apud MARTINS e FIORITI,
2016).

O concreto armado é uma técnica construtiva que vem sendo empregada, desde o final do século
XIX, em diversos tipos de edificações como pontes, prédios residenciais e comerciais, casas,
viadutos, obras hidráulicas entre outras, e que inicialmente era empregada em apenas tubulações
hidráulicas e embarcações, tendo sido inventada em meados desse mesmo século na região europeia
(SANTOS, 2006).

Apesar dos pontos positivos para o emprego dessa técnica construtiva, é importante ressaltar que
como tudo na vida, ela possui características desfavoráveis. As estruturas de concreto armado
sofrem com a ocorrência de manifestações patológicas com o decorrer do seu envelhecimento,
podendo causar de pequenos à grandes problemas. Mas por serem estruturas constituídas de
concreto e este material ter sido considerado por muitos anos como altamente resistente e com uma
durabilidade eterna, não havia grande preocupação no início quanto a estas manifestações, pois até
então aparentava ser uma ocorrência normal. A atenção para essas ocorrências teve um apogeu
quando estas manifestações passaram a surgir cada vez mais cedo, degradando as estruturas antes
mesmo que estas chegassem em uma idade mais avançada e resultando na redução da sua vida útil.
Com menos de 20 anos de uso, muitas dessas estruturas passaram a precisar de ações corretivas
generalizadas por apresentarem-se degradadas em tão pouco tempo (ANDRADE, 2005).
Assim como alguns outros países o Brasil encontra-se ainda em evolução e mesmo já existindo
algumas normas técnicas, métodos e estratégias para o aumento da durabilidade, desempenho e vida
útil do concreto armado, é necessário conscientizar profissionais e proprietários dos problemas que
podem e vão enfrentar: as manifestações patológicas frente as condições de exposição ao ambiente.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. Causas, mecanismos de degradação e respectivas manifestações patológicas frente a


exposição ao meio ambiente
Os sintomas que um ou mais mecanismos de degradação podem manifestar são diversos tanto no
concreto fresco como no concreto já endurecido. No concreto fresco podem se manifestar, por
exemplo, fissuras devidas ao assentamento plástico, dessecação superficial e movimentação das
fôrmas. Enquanto que no concreto endurecido tem-se como exemplos a ocorrência da retração por
secagem, movimentação térmica, corrosão da armadura e reações expansivas.

Para se evitar altos níveis de deterioração, saber proceder frente as suas ocorrências e garantir a
durabilidade dos reparos exigidos é de extrema importância conhecer as causas das degradações
estruturais (SOUZA e RIPPER,1998).

Dividindo as causas de degradação em função da sua natureza, pode-se citar as quatro causas
principais responsáveis pela redução da durabilidade do concreto armado. São elas:

o Causas mecânicas;
o Causas físicas;
o Causas químicas;
o Causa eletroquímica.

Pode existir um ou mais agentes atuantes para todos os tipos das causas da deterioração. Esses
agentes interagem com o concreto e com o aço através dos mecanismos de degradação e reduzem,
gradativamente, o desempenho dos elementos estruturais. A água é um dos agentes contribuinte na
deterioração das estruturas e deve receber grande atenção. Pois seu papel é de agravamento em
quase todos os mecanismos de degradação do concreto armado (ANDRADE, 2005).

A seguir é representado um resumo, Tabela 2.6, que está dividida entre as quatro principais causas
de degradação do concreto armado e torna possível uma breve análise dos respectivos mecanismos
de deterioração, suas manifestações patológicas e os locais diretamente afetados.
Tabela 1 – Resumo das causas, mecanismos e sintomas da deterioração do concreto armado adaptado de
SANTOS, 2012 apud ANDRADE e SILVA, 2005).

CAUSA DA MANIFESTAÇÕES
MECANISMOS DE DEGRADAÇÃO LOCAL AFETADO
DETERIORAÇÃO PATOLÓGICAS
CHOQUES E IMPACTOS
RECALQUE DIFERENCIAL DAS FUNDAÇÕES Fissuração e lascamento
MECÂNICA do concreto; possível Concreto + armadura
ACIDENTES IMPREVISÍVEIS perda de armadura

ABRASÃO
ATRITO Desgaste supercial do
DESGASTE SUPERFICIAL EROSÃO Concreto
concreto
CAVITAÇÃO
Fissuração e
CRISTALIZAÇÃO DE SAIS NOS POROS DO CONCRETO escamamento do Concreto
concreto
RETRAÇÃO HIDRÁULICA ASSENTAMENTO PLÁSTICO
Fissuração do concreto Concreto
DO CONCRETO FRESCO RETRAÇÃO PLÁSTICA
FÍSICA RETRAÇÃO TÉRMICA
GRADIENTE TÉRMICO Fissuração do concreto Concreto
DILATAÇÃO TÉRMICA
Fissuração e
desagregação do
concreto; desidratação
AÇÃO DO FOGO (INCÊNDIO) da pasta de cimento; Concreto + armadura
expansão dos
agregados e ruptura e
colapso da armadura
REAÇÃO ÁLCALI-AGREGADO Expansão e fissuração
Concreto
HIDRATAÇÃO DOS ÓXIDOS DO CIMENTO MgO E CaO do concreto
Decomposição química
da pasta; despassivação
do aço; expansão,
ATAQUE POR SULFATOS fissuração, Concreto
desintegração, perda de
resistência e de massa
do concreto

Decomposição química,
dissolução e lixiviação;
ou decomposição Concreto
ATAQUE POR ÁCIDOS química, expansão, (HCl ataca ambos -
fissuração e concreto e aço)
desagregação do
QUÍMICA concreto

Decomposição química,
dissolução e lixiviação
ÁGUA PURA da pasta de cimento; Concreto
eflorescência, estalactite
e estalagmite
Redução progressiva do
pH do concreto e Inicialmente o
CARBONATAÇÃO despassivação do aço, concreto,
abrindo caminho para a posteriormente o aço
corrosão do aço
Despassivação do aço;
posteriormente, Inicialmente o aço,
ATAQUE POR CLORETOS corrosão das armaduras posteriormente o
(processo concreto
eletroquímico)

Deterioração e perda de
seção do aço; perda de Inicialmente o aço,
ELETROQUÍMICA CORROSÃO aderênciaaço-concreto; posteriormente o
expansão, fissuração e concreto
lascamento do concreto
3. ESTUDO DE CASO: PILARES DO RESERVATÓRIO DA CTBM

3.1. Linha do tempo da CTBM


A Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas (CTBM), localizada na cidade de Juiz de Fora, foi
fundada por Bernardo Mascarenhas, um empresário que impulsionou o crescimento industrial na
cidade e responsável também pela construção da primeira Usina Hidrelétrica da América Latina.
Essa fábrica de tecidos começou a funcionar no ano de 1888 e ocupava uma área de 10.450 m² na
cidade, sendo destacada na época pelas características arquitetônicas do prédio. Hoje é considerado
um importante complexo histórico-cultural de Juiz de Fora, referência da fase de industrialização
mineira do início do século XX. Devido à expansão e avanço tecnológico, a companhia não resistiu
às modificações político-econômicas do Brasil. Ela foi perdendo espaço para as novas tecnologias e
acabou encerrando suas atividades em janeiro de 1984.

Como a Prefeitura Municipal de Juiz de Fora tinha um interesse de preservar o complexo


arquitetônico, em 1982 iniciou o processo de tombamento municipal do prédio e este foi assinado
em 19/01/1983. Durante o período de 1983 e 1987 foi negociada a compra das suas instalações e
restauradas para abrigar o Centro Cultural e o Mercado Municipal. Quando em 1997, o Centro
Cultural Bernardo Mascarenhas foi fechado para reforma e reaberto no ano de 2000 mantendo suas
características originais. Desde então não há histórico de novas intervenções que buscassem manter
a preservação do local. Sendo possível observar em seu complexo estrutural algumas áreas com
determinadas manifestações patológicas e bastante degradadas, como é o caso da estrutura da torre
do reservatório de água da antiga fábrica.

3.2. Tipologia da torre de concreto armado

A torre que sustenta o reservatório de água está localizada no estacionamento do Centro Cultural
Bernardo Mascarenhas (CTBM) e é representada na Figura 1. O reservatório elevado é feito de uma
caixa de aço e que leva a escrita CTBM. A torre é enrijecida com tirantes metálicos e composta por
seis pilares de seção transversal octogonal de concreto armado, os quais encontram-se em estágio de
deterioração bastante avançado. Sua altura é estimada em 12 m, a seção transversal de cada pilar
possui 15 cm de lado, representando uma área aproximada de 1087 cm². A Figura 2 representa um
croqui com vista em planta dos 6 pilares e dos tirantes metálicos. Os detalhes e distâncias entre
eixos dos pilares são representadas em planta.
Fig. 1 - CTBM: Vista parcial do reservatório elevado (AUTOR, 2018).

Fig. 2 – Planta baixa da estrutura da torre da CTBM (AUTOR, 2018).

3.3. Mecanismos de degradação e manifestações patológicas na estrutura


O principal mecanismo de degradação que é observado na torre é a corrosão, cuja causa principal é
carbonatação. Como a estrutura foi projetada no século XIX, o qual apresentava um ambiente muito
diferente do atual, pode-se afirmar que a corrosão vem ocorrendo com a mudança do meio ambiente
de exposição no decorrer dos anos. Pois o ambiente sofreu diversas transformações que resultaram
numa redução da vida útil da estrutura da torre.

Nas Figuras 3, 4 e 5 é possível observar as manifestações patológicas da estrutura da torre, como o


destacamento do concreto, armaduras oxidadas, fissuras de variados tamanhos, eflorescências nas
superfícies.
Fig. 3 – CTBM: Detalhe da armadura exposta e corroída e detalhe da fissura provocando pela corrosão
(AUTOR, 2018).

Fig. 4 – CTBM: Detalhe das eflorescências e mancha marrom avermelhada proveniente da corrosão (AUTOR,
2018).
Fig. 5 – CTBM: Detalhe das fissuras provenientes do destacamento do concreto provenientes da corrosão
(AUTOR, 2018).

3.4. Justificativa do plano de ataque


O plano de ataque visa como será operacionalizado os procedimentos de recuperação e reforço da
estrutura da torre.

Para o estado de conservação atual da estrutura da torre, uma solução viável seria a sua demolição e
possivelmente uma nova construção da mesma. Porém, a proposta de recuperação e reforço da
estrutura da torre tornou-se a única alternativa possível para o restabelecimento da condição da
estabilidade da torre e para manter suas características originais, independente do seu custo, tendo
em vista que a estrutura faz parte de um patrimônio histórico da cidade.

3.5. Procedimentos a serem executados na recuperação e reforço da estrutura da torre


A proposta de recuperação e reforço da estrutura da torre é dividida em procedimentos sequenciais,
o quais são apresentados a seguir:

i. Elaboração de um projeto de escoramento do reservatório elevado. Para isso será contratado


uma empresa especializada nesse tipo de serviço e desta forma, não sendo objeto de estudo
desse trabalho.

ii. Limpeza de toda a superfície da estrutura da torre através do hidrojateamento

iii. Remoção da camada de concreto degradada


iv. Limpeza e passivação das armaduras

v. Reconstituição da camada de concreto

vi. Recuperação da estrutura da torre através do sistema de fibras de carbono (CFRP)

vii. Aplicação de uma argamassa polimérica

viii. Limpeza e pintura das barras metálicas de contraventamento da estrutura da torre

ix. Limpeza geral da obra.

Essa proposta de recuperação e reforço foi formulada em função da não disponibilidade do projeto
estrutural da torre. Os procedimentos que serão apresentadas neste estudo de caso estão
representados no fluxograma da Figura 6.

PLANO DE ATAQUE: RECUPERAÇÃO E REFORÇO DA ESTRUTURA DA

RECUPERAÇÃO

RECONSTRUÇÃO
DA CAMADA DE
REMOÇÃO DA LIMPEZA E CONCRETO
LIMPEZA COM CAMADA DE PASSIVAÇÃO DA • PROFUNDIDADE <= 300
HIDROJATEAMENTO CONCRETO ARMADURA
mm: ARGAMASSA
POLIMÉRICA
• PROFUNDIDADE >= 300
mm : ARGAMASSA
T IXOTRÓPICA

REFORÇO

SISTEMA DE REFORÇO DE FIBRA DE CARBONO (CFRP)


E PROTEÇÃO COM ARGAMASSA POLIMÉRICA
• MANTA DE FIBRA DE CARBONO PARA REFORÇO

Fig. 6 – Fluxograma dos procedimentos propostos para recuperação e reforço da estrutura da torre (AUTOR,
2018).

3.5.1. Limpeza com hidrojateamento


É proposto como procedimento de limpeza o hidrojateamento sobre toda a superfície degradada de
concreto da estrutura da torre, com intuito de retirar as partículas soltas e incrustações no concreto.
Para execução desse procedimento será utilizado uma bomba de alta pressão, 1200 bar (1224
kgf/cm²). Como apoio será utilizado um caminhão pipa para fornecimento de água.

3.5.2. Remoção da camada de concreto degradada

Para retirar toda essa camada degradada remanescente será utilizado uma talhadeira e/ou ponteiro
para retirar as camadas mais superficiais e até mesmo um martelete elétrico para camadas
degradadas mais profundamente. Durante os procedimentos de recuperação, para se definir a
profundidade de carbonatação, será aplicado o indicador de pH a base de fenolftaleína na superfície
do concreto.

3.5.3. Limpeza e passivação das armaduras

Nas armaduras já expostas e também nas armaduras que ficarão expostas após a remoção da
camada degradada de concreto, deverão ser executados os procedimentos para preparar a superfície
dessas armaduras de forma a retirar toda a camada de corrosão incrustada, partículas soltas e
qualquer outro material indesejável. Esses procedimentos poderão ser feitos com o uso de lixa de
ferro ou escova com cerdas de aço.

Após esse preparo da superfície das armaduras elas estarão limpas e prontas para receberem a
camada passivadora constituída de argamassa cimentícia inibidora de corrosão, protegendo toda a
armadura de modo a evitar possíveis problemas futuros, como novamente a corrosão.

3.5.4. Reconstituição da camada de concreto

Após o tratamento de passivação das armaduras, o concreto deverá ser reconstituído. Essa
reconstituição poderá ser feita de duas formas: com argamassa polimérica aditivada com inibidor de
corrosão e /ou com argamassa tixotrópica, o graute.

i. A argamassa polimérica aditivada com inibidor de corrosão: será utilizada quando a


espessura da reconstituição da camada de concreto for igual ou inferior a 3,0 cm. Apresenta
vantagens como a alta resistência a compressão e a flexão, a resistência à carbonatação,
proteção da corrosão mesmo nas áreas de concreto adjacentes ao reparo, altas resistências
iniciais, resistência à abrasão, a choques térmicos e a sais.

ii. Argamassa tixotrópica: também conhecida como graute, será utilizada quando a espessura
da camada a ser reconstituída for maior que 3,0 cm. Apresenta vantagens como a dispensa
do uso das fôrmas, podendo ser aplicada manualmente em superfícies verticais e
horizontais, aderência e trabalhabilidade. Porém, caso haja necessidade será montada fôrma
com objetivo de confinar o graute lançado na região do pilar.
3.5.5. Reforço da estrutura da torre através do sistema de fibras de carbono (CFRP)

3.5.5.1. Introdução ao (CFRP)

Os sistemas com reforço de fibras de carbono (CFRP) vem sendo muito utilizados em estruturas de
concreto armado. Sua utilização é devida a ampla área de aplicação e às suas diversas vantagens,
sendo os compósitos da fibra de carbono utilizados em vigas e lajes para absorver os esforços de
tração e em pilares para proporcionar o efeito de confinamento. Os sistemas são aplicados nas
estruturas em casos de aumento da sobrecarga atuante na estrutura devido à mudança de utilização,
erros de dimensionamento, falhas na execução e mudanças no sistema estrutural.

Para atender a todas as necessidades, no mercado existem dois tipos de sistemas com reforços de
fibras de carbono, a manta de fibra de carbono e as lâminas de fibra de carbono. A manta de fibra de
carbono é aplicada em áreas que necessitam de um reforço de alta resistência à tração para reforço
de componentes estruturais em concreto armado e alvenaria, para restringir a abertura de fissuras e
gerar um confinamento de pilares e vigas. Esse é o sistema proposto para reforçar a estrutura da
torre da CTBM,

3.5.5.1. (CFRP) utilizado na estrutura da torre

Esse sistema com aplicação de uma camada de manta de fibra de carbono, proposto como solução
para reforçar a estrutura da torre de concreto armado, será realizada após toda a preparação do
substrato. A manta de fibra de carbono unidirecional, representada pela Figura 7, apresenta
resistência a tração, pequena seção transversal, baixa espessura, fácil aplicação, baixo peso próprio
e utilização otimizada das propriedades mecânicas.

Fig. 7– Manta de fibra de carbono para reforço


(<https://images.tcdn.com.br/img/img_prod/465776/tecido_fibra_de_carbono_200g_m2_sarja_0_5_x_1_28_m_1
6_1_20160528152645.jpg>, 2018).
Na estrutura da torre a ser reforçada será aplicado um primer por toda a superfície de concreto de
cada pilar, em seguida será aplicada uma camada de massa epóxica para regularização da superfície,
depois deverá ser aplicada a 1ª demão de epóxi estruturante para posteriormente aplicar a manta de
fibra de carbono, após a aplicação da manta, deverá ser aplicada a 2ª demão de resina epóxi. Por
último, a aplicação da argamassa polimérica. A Figura 3.12 mostra esquematicamente todas as
etapas do sistema de reforço.

Fig. 8– Detalhe das camadas do sistema de reforço com manta de fibra de carbono (POLISSENI, 2018).

Figura Erro! Nenhum texto com o estilo especificado foi encontrado no documento..9 – Detalhe das
camadas do sistema de reforço com manta de fibra de carbono (POLISSENI, 2018).

A argamassa polimérica é um impermeabilizante de fibras de carbono sintéticas, flexíveis,


bicomponentes, à base de cimento, areias e resina acrílica. É usada para proteger o concreto da
carbonatação, penetração da água, não provoca corrosão do aço, as fibras absorvem microfissuras
durante o processo de cura e apresenta alto desempenho na vedação sob pressão hidrostática
positiva e negativa.

3.6. Estimativa de preço da recuperação e reforço da estrutura da torre

Como estimativa de preço da recuperação e reforço da estrutura da torre é apresentada a Tabela 3.1.
O preço de cada procedimento é especificado para as respectivas quantidades estimadas de camada
material da estrutura da torre a ser reconstituída e reforçada.

A estimativa de preço da Tabela 1 foi realizada por uma empresa especializada em serviços de
recuperação e reforço de estruturas de concreto armado com finalidade de nortear a grandeza
monetária dos serviços. Chama-se atenção que os preços apresentados nessa tabela contemplam:
materiais, equipamentos, encargos sociais, lucro e taxas, como a taxa de risco que correspondente a
12,5 % do valor do preço total.
Tabela 2 – Estimativa de preço dos procedimentos para reforço e recuperação da estrutura da torre (AUTOR,
2018)
QUANTIDADE QUANTIDADE CUSTO PARCIAL
CUSTO UNITÁRIO
PROCEDIMENTO UNIDADE UNITÁRIA TOTAL PARA DO
POR PILAR
POR PILAR 6 PILARES PROCEDIMENTO
HIDROJATEAMENTO m² 14,40 86,40 R$ 2.033,33 R$ 12.200,00
CAMADA REMOVIDA Profundidade <= 3,0 cm 0,36 2,18 R$ 1.925,00
m³ R$ 16.500,00
DE CONCRETO Profundidade > 3,0 cm 0,16 0,94 R$ 825,00
LIMPEZA E PASSIVAÇÃO DAS ARMADURAS m 38,40 230,40 R$ 1.433,33 R$ 8.600,00
CAMADA Profundidade <= 3,0 cm 0,36 2,18 R$ 2.426,67
RECONSTITUÍDA DE m³ R$ 20.800,00
CONCRETO Profundidade > 3,0 cm 0,16 0,94 R$ 1.040,00
MANTA DE FIBRA DE CARBONO (CFRP) m² 14,40 86,40 R$ 9.416,67 R$ 56.500,00
ARMAGAMASSA POLIMÉRICA DE FIBRA DE CARBONO m² 14,40 86,40 R$ 2.500,00 R$ 15.000,00
BARRAS METÁLICAS DE CONTRAVENTAMENTO:
Vb R$ 3.000,00
LIMPEZA E PINTURA
LIMPEZA DA OBRA Vb R$ 2.500,00
CUSTO TOTAL R$ 135.100,00

NOTA TÉCNICA: Considerações de estimativa de quantidades de serviços realizados por empresa especializada em recuperação e reforço de
estruturas de concreto armado
40% do volume de concreto que corresponde a 3,12m³ que deverão ser removidos e reconstituídos. Desses 40% (3,12 m³) do volume de concreto, 70%
1
(2,18m³) é referente a recuperação do concreto com espessura <=3,00 cm e 30 % para espessura > 3,00 cm.

2 Quantidade da limpeza e passivação das armaduras é de 40% correspondente a 38,40 m.


3 Verba estimada em R$ 2.500,00 da limpeza total da obra

4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
O trabalho apresentou os diversos mecanismos de degradação das estruturas de concreto armado
frente a exposição ao meio ambiente, assim como suas respectivas manifestações patológicas.
Destacou-se a importância de se conhecer as possíveis origens desses mecanismos de degradação,
suas possíveis causas, a influência na durabilidade, na vida útil e no desempenho das estruturas.
Todo esse conhecimento é de extrema importância para a boa formação acadêmica e atuação
profissional de um engenheiro civil.

Foi realizado também um estudo de caso propondo uma forma de recuperação e reforço da estrutura
da torre do CTBM, a qual encontra-se bastante degradada pela corrosão de armadura em função da
carbonatação do concreto ao longo do tempo. O trabalho de pesquisa que contempla o estudo de
caso de recuperação e reforço da estrutura da torre, levou em consideração que simplesmente não
era um serviço técnico de engenharia, uma vez que a torre faz parte de um conjunto arquitetônico
do Centro Cultural e Mercado Municipal Bernardo Mascarenhas, que pertence ao patrimônio
histórico da cidade de Juiz de Fora.

Dessa forma, o trabalho tem o intuito de mostrar que as estruturas de concreto armado degradadas
por mecanismos de degradação frente a exposição ao ambiente podem ser recuperadas. Porém, foi
ressaltado ainda que a melhor forma de se evitar o trabalho de recuperação e reforço de uma
estrutura de concreto armado é prevenir os problemas futuros. Assim, menos gasto e trabalho serão
necessários. Neste caso, por se tratar de um patrimônio histórico, o preço de recuperação e reforço
da estrutura da torre torna-se irrelevante, uma vez que ao preservar a estabilidade da estrutura, a
cidade continuará contando com as características originais do complexo arquitetônico.
Também, as conclusões baseadas na literatura revisada nesse trabalho são inúmeras e nos ensinam
que: ao iniciar as etapas de concepção dos projetos e execução da obra, alguns cuidados baseados
em prescrições normativas podem ser de extrema importância para aumentar a durabilidade da
estrutura de concreto armado. Dessa forma, consultar as normas como a NBR 6118, NBR 12655,
NBR 15575, etc. são imprescindíveis para obtenção de um resultado de qualidade evitando as não
conformidades. Saber determinar e especificar o ambiente para a qual a obra será projetada, seguir
as recomendações prescritas nas normas para dosar um concreto e especificar seu cobrimento de
acordo com esse meio ambiente em questão, são ações que devem ser tomadas sempre pelos
profissionais envolvidos no empreendimento.

Conhecer as características e propriedades de cada insumo do concreto antes de confeccionar o


próprio concreto é de extrema importância também. Pois é dessa forma que a reação álcali-agregado
ou mesmo a hidratação tardia dos compostos cimentícios como MgO e CaO podem ser previstas e
mitigadas através de ações preventivas a serem tomadas.

Da mesma forma, o usuário também é responsável pela vida útil de todo o empreendimento, uma
vez que as manutenções e cuidados, previstos em projetos e manuais, devem ser realizados pelos
mesmos.

REFERÊNCIAS
[1] ANDRADE, Tibério. Tópicos sobre Durabilidade do Concreto. In: ISAIA, Geraldo Cechella. Concreto: ensino,
pesquisa e realizações. São Paulo: IBRACON, 2005. 1v. Cap.25, p.753-792.

[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Concreto de cimento Portland – Preparo, controle,
recebimento e aceitação – Procedimento – NBR 12655. 2015.

[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Edificações Habitacionais — Desempenho - Parte 1:


Requisitos gerais – NBR 15575-1. 2013.

[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto e execução de obras de concreto –


Procedimento – NBR 6118. Rio de Janeiro, 2014.

[5] BOGLIOLO, L.; BRASILEIRO FILHO, G. Patologia. 6. ed. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2000. xiv, 1328 p.

[6] CARVALHAIS, C. A.; OLIVEIRA, A. M. de; RIBEIRO, C. C.; BAMBERG, P.; RIBEIRO, S. E. C. Impacto do
custo de recuperação das manifestações patológicas em estruturas de concreto armado. In CONGRESSO BRASILEIRO
DO CONCRETO, 59., 2017, Bento Gonçalves. Anais... Bento Gonçalves/RS, 2017. p. 2-3.

[7] Centro Cultural Bernardo Mascarenhas. Prefeitura de Juiz de Fora. Disponível em:
<https://www.pjf.mg.gov.br/administracao_indireta/funalfa/ccbm/historico.php>. Acesso em: 12 jul. 2018.

[8] CORRÊA, L; NOVELLI, M. D. PatoArteGeral. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP, jul. 2000.
Disponível em: <http://143.107.240.24/lido/patoartegeral/patoartegeral2.htm>. Acesso em: 05 mar. 2018.

[9] HELENE, P. R. L. Corrosão em armaduras para concreto armado. Monografia. São Paulo: Pini, 1986, 46 p.
[10] HELENE, P. R. L. Manual prático para reparo e reforço de estruturas de concreto. São Paulo: Pini, 1992. 119
p.

[11] MEDEIROS, M. H. F. de; ANDRADE, J. J. de O; HELENE, P. Durabilidade e Vida Útil das Estruturas de
Concreto. IBRACON, 2011, cap. 22.

[12] MIZUMOTO, C. Investigação da Reação de Álcali-Agregado (RAA) em Testemunhos de Concreto e


Agregados Constituintes. Dissertação de mestrado. São Paulo: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho”, 2009, 162 p. Disponível em:
<https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/91463/mizumoto_c_me_ilha.pdf?sequence=1> Acesso em: 29
mai. 2018.

[13] MOTA, J.M.F.; BARBOSA, F. R.; COSTA e SILVA, A. J.; FRANCO, A. P. G.; Carvalho, J.R. Corrosão de
armaduras em estruturas de concreto armado devido ao ataque de íons cloreto. In CONGRESSO BRASILEIRO DO
CONCRETO, 54, 2012, Maceió. Anais... Maceió/AL, 2012. p. 2-13.

[14] NEVILLE, A. M. Propriedades do concreto. 2ª ed. São Paulo: PINI, 1997. 828p.

[15] SANTOS, A. Revisão realça NBR 6118 como referência internacional. Cimento Itambé, Ponta Grossa, nov. 2013.
Disponível em: < http://www.cimentoitambe.com.br/revisao-realca-nbr-6118-como-referencia-internacional/>. Acesso
em: 15 jan. 2018.

[16] SANTOS, M.R.G dos. Deterioração das estruturas de concreto Armado – Estudo de Caso. Trabalho de
conclusão de curso. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2012, 109 p.

[17] SILVA, F. B. da. Patologia das construções: uma especialidade na engenharia civil. Téchne, São Paulo, n. 174, set.
2011. Disponível em: < http://techne17.pini.com.br/engenharia-civil/174/patologia-das-construcoes-uma-especialidade-
na-engenharia-civil-285892-1.aspx>. Acesso em: 05 mar. 2018.

[18] SOUZA, V. C.; RIPPER, T. Patologia, recuperação e reforço de estruturas de concreto. São Paulo: Pini, 1998.
255 p.

[19] TRINDADE, D. dos S. da. Patologia em estrutura de concreto armado. Trabalho de conclusão de curso. Santa
Maria: Universidade Federal de Santa Maria, 2015, 88 p.
COMPORTAMENTO EM SERVIÇO DE PILARES DE CANTO DE CONCRETO
ARMADO
Behavior in service of reinforced concrete corner pillar

Sebastião Salvador Real PEREIRA*1, Thiago Pena BORTONE 2


Hugo Meireles de RESENDE 3, João Marcelo Bernardes Real 4

* Autor para correspondência: ssrp@dees.ufmg.br


1 Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, Brasil
2 Departamentos de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais, Minas Gerais, Brasil
3,4 Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, Brasil

RESUMO
Este trabalho apresenta uma comparação entre os deslocamentos calculados e medidos
em ensaio de um pilar de canto de concreto armado, submetido a carregamento de curta
duração. O pilar ensaiado faz parte do primeiro projeto habitacional pré-fabricado
desenvolvido pela Precon Engenharia. O pilar tinha seção transversal quadrada e foi
submetido a forças de compressão excêntricas. Os deslocamentos transversais, na seção
média do pilar, foram medidos no ensaio e estimados através de um modelo matemático
rigoroso, proposto por Pereira et. al (2013) [2]. A análise comparativa revelou que, para o
caso estudado, os deslocamentos em serviço, obtidos com a formulação teórica adotada,
apresentou boa correlação com os deslocamentos medidos. A deformação do pilar
depende da rigidez efetiva do pilar, bem como do processo executivo assim como das
propriedades mecânicas médias dos materiais, principalmente do módulo de elasticidade
e da resistência à tração do concreto no instante da realização do ensaio. Em face da
variabilidade desses parâmetros, existe uma grande variabilidade das deformações reais.
Não se pode esperar, portanto, grande precisão nas previsões de deslocamentos dadas
por processos analíticos, mas boa correlação foi observada na comparação entre os
descolamentos calculados e os medidos para cargas menores ou iguais às de serviço.

Palavras-chave: Flexão normal composta, pilares de concreto, resistência última.

1. INTRODUÇÃO
A NBR 6118:2014 – Projeto de Estruturas de Concreto – [1] é a norma que rege o
dimensionamento de estruturas de concreto armado. Sabe-se que existe imprecisão nos
deslocamentos determinados utilizando-se a equação de Branson, mesmo no caso de
carregamentos de curta duração.

O estudo desenvolvido visou comparar os resultados de ensaio de um pilar esbelto de


concreto armado, sujeito à flexão normal composta, de curta duração e pequena
excentricidade, com aqueles obtidos através de um modelo matemático rigoroso, proposto
por Pereira et al. (2013) [2]. O modelo considera a história do carregamento e os efeitos
do tempo nas propriedades mecânicas do concreto. Foi levada em conta a influência da
retração e deformação lenta do concreto, que ocorreram desde o fim da cura até o início
do ensaio, assim como a de sua fissuração. O pilar foi dividido em elementos, cada um
possuindo sua história de tensões e deformações.
A superfície do pilar possuía reentrâncias de maneira a garantir estanqueidade a água de
chuvas na interface de contato com painéis pré-fabricados que compunham a edificação.

2. O MODELO NUMÉRICO
No desenvolvimento do modelo numérico as seguintes considerações foram feitas:

• Carregamento aplicado em um plano de simetria do pilar;


• Deslocamentos transversais e longitudinais infinitesimais;
• Consideração somente das deformações normais paralelas ao eixo do pilar;
• Possibilidade de variação da geometria do pilar ao longo do tempo, tanto
transversal, quanto longitudinalmente;
• Possibilidade de diferenças entre propriedades do material de cada elemento e em
diferentes seções de cada um deles;
• Consideração do efeito da retração e da fluência, bem como da evolução das
propriedades mecânicas do concreto;
• Possibilidade de variação, ao longo do tempo, das cargas aplicadas e das
condições de contorno.

O elemento estrutural analisado foi discretizado, longitudinalmente, em diversos


elementos de barra. A seção transversal de cada elemento foi discretizada em diversos
elementos de concreto paralelos ao eixo de flexão e em elementos de aço
correspondentes a cada uma das barras da armadura longitudinal. Considerou-se a área
líquida de concreto.

Durante os diversos estágios de carregamento foi determinado se cada um dos elementos


de barra estava trabalhando no estádio I ou II, em função da distribuição das tensões
normais em cada seção transversal.

O estado de deformação de cada seção transversal foi determinado, iterativamente, de


maneira a garantir o equilíbrio entre os esforços solicitantes e os resistentes. Somente os
elementos de concreto submetidos a tensões de tração superiores à resistência de tração
do concreto foram considerados rompidos. Uma vez determinado o estado de
deformação, a curvatura de cada seção transversal foi determinada.

Os deslocamentos do pilar foram obtidos, em cada etapa do carregamento, integrando-se


as curvaturas das seções transversais ao longo de seu eixo e aplicando-se condições de
contorno.

Tanto o concreto quanto o aço foram considerados trabalhando no regime elástico, pois a
análise foi feita considerando-se condições de serviço. Foram utilizadas as prescrições da
NBR-6118:2014 [1] para determinação das propriedades mecânicas e reológicas do
concreto.
2.1. FORMULAÇÃO
O pilar foi dividido em diversas seções, cada uma delas subdivididas em elementos.
Esses elementos podiam possuir diferentes geometrias e propriedades mecânicas, bem
como histórias de carregamento diferentes. Foi considerado que, em um instante genérico
de tempo tu+1, a deformação total de um elemento era dada por:

(1)

A deformação total, nesse caso, incluiu os efeitos do carregamento, da fluência e da


retração. Esses efeitos correspondiam ao primeiro, segundo e terceiro termos do lado
direito da equação (1). A expressão para a retração e coeficiente de fluência do concreto,
bem como do módulo de elasticidade tangente no instante t, foram aqueles prescritos pela
NBR 6118 [3]. Quando o tempo genérico tu+1 era dividido em um número de sub-
intervalos, a deformação total de cada elemento, em cada seção do pilar, passava a ser:

(2)

Onde o subscrito (i) se referia ao elemento i, e o (j)...

Pela equação (2) pode ser verificado que cada elemento pode ser de diferente material e
possuir história de carregamento diferente em cada intervalo de tempo. É importante
salientar que o coeficiente de fluência somente foi considerado até o instante de tempo
(u), pois era nulo. Com a deformação de cada elemento definida, a curvatura da seção foi
calculada.

Na equação (2), a variação de tensão Δσc(i)(tu+1) pôde ser explicitada reescrevendo-se a


equação depois de ser desenvolvido o primeiro somatório. Então:

(3)

Com tal incremento de tensão, a tensão final, em cada elemento no instante tu+1, podia ser
obtida por:

(4)
Essa tensão final, em cada passo da análise, foi comparada com a resistência limite do
material. No caso de concreto tracionado, esse limite foi definido pela resistência a tração
fctm. Se essa tensão resistente fosse excedida, sua contribuição era negligenciada. Para
elementos de aço, a tensão máxima era igual a tensão de escoamento.

A força axial e o momento fletor em cada seção transversal foram determinados por:

(5)

(6)

O equilíbrio entre os esforços internos e externos, em cada seção transversal do pilar, era
dado por:

NR = NEXT (7)
MR = MEXT (8)

Em cada instante da análise, o estado de deformação e de tensão era determinado de


maneira que as equações (7) e (8) fossem satisfeitas em cada seção. Quando isso não
era conseguido para o estado de deformação adotado, um novo estado de deformação
era introduzido e o procedimento repetido.

Depois que as condições de equilíbrio eram satisfeitas, em cada seção transversal, a


forma fletida do pilar podia ser determinada. A relação entre os deslocamentos
transversais e a curvatura era dada por:

(9)

As rotações eram obtidas integrando a equação acima. Então:

(10)

Os deslocamentos transversais eram calculados por:

(11)
Como o pilar foi discretizado em diversos elementos de barra a equação acima era
substituída por:

(12)

É importante esclarecer que a equação (12) devia satisfazer as condições cinemáticas.

3. METODOLOGIA DO ENSAIO
Nas extremidades do pilar, foram concretados dois consoles para aplicação das cargas,
conforme indicado nas Figs. 1, 2 e 3.

O pilar foi fabricado com concreto de resistência característica à compressão (fck) igual a
30 MPa, e armado com quatro barras longitudinais de 12,5 mm de diâmetro de aço CA-
50, com estribos de 5 mm espaçados a cada 12 cm.

Figura 1: Elevação do pilar; Vista B-B; Seção C-C.


O ensaio foi realizado na idade de 28 dias e a resistência média a compressão, na idade
do ensaio, era de 36,6 MPa.

O pilar foi ensaiado dentro de uma gaiola metálica composta de quatro perfis I,
interligados nas extremidades, de maneira a proteger os operadores dos equipamentos
de qualquer possível acidente durante os ensaios.

Foram aplicadas cargas colineares, nas extremidades do pilar, por meio de macaco
hidráulico dotado de célula de carga axial para monitoramento da força aplicada em uma
das extremidades, conforme Figs. 3 e 4.

Um relógio comparador foi posicionado no meio do vão, junto à borda inferior do pilar,
para medição dos deslocamentos transversais, conforme indicado nas Figs. 2 e 3. As
propriedades mecânicas do concreto foram determinadas na idade de execução do
ensaio.

Figura 2: Esquema de ensaio do pilar.

Figura 3: Vista geral do ensaio. Carga aplicada com excentricidade de 11,7 cm.
Figura 4: Apoio passivo (a esquerda) e ativo (a direita).

4. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS


São apresentados, na Tabela 1 e na Fig. 5, os deslocamentos medidos e aqueles
estimados pelo modelo matemático. A razão entre eles é, também, mostrada.

Tabela 1: Cargas e deslocamentos na seção média do pilar.


Deslocamentos Deslocamentos
Carga axial Razão
ensaio dens estimados dmod
[kN] dens/dmod
[mm] [mm]
0.0 0.0 0.0 -
50.0 1.6 1.9 0.73
100.0 3.3 2.9 0.94
150.0 6.0 4.2 1.22
200.0 12.3 6.3 1.73

Figura 5: Relação carga axial versus deslocamento transversal.


5. ANÁLISE COMPARATIVA
Com a finalidade de comparar os resultados de ensaios (dens) com os valores teóricos
obtidos do modelo numérico (dmod), calculou-se a média da razão entre esses valores
obtendo-se (dens/dmod)=1.56, com desvio padrão s = 0.37 e coeficiente de variação CV =
(0.37/1.56)*100 = 24%.

A análise dos resultados acima revela que, para o caso estudado, o modelo adotado
prevê, em média, deslocamentos menores em 36% do que aqueles medidos nos ensaios.

Para níveis de carregamento mais baixos pode-se observar uma melhor correlação entre
os valores dos deslocamentos previstos e medidos no ensaio, pois para cargas mais
baixas todo o pilar trabalha no Estádio I, não ocorrendo fissuração em nenhuma região do
pilar.

6. CONCLUSÕES
A análise comparativa desenvolvida revelou que, para o caso estudado, os
deslocamentos em serviço, obtidos com a formulação teórica adotada, apresentou boa
correlação com os deslocamentos medidos. O coeficiente de variação foi de 24%. Vale
lembrar que a deformação do pilar depende da rigidez efetiva das seções, ou seja, da
forma do pilar, da distribuição das armaduras, da existência e distribuição das fissuras,
das propriedades mecânicas do concreto e aço, e da contribuição do concreto entre
fissuras, contribuição, essa, não considerada no modelo teórico. A deformação real
depende também do processo executivo assim como das reais propriedades dos
materiais, principalmente do módulo de elasticidade e da resistência à tração do concreto
no instante da realização do ensaio.

Em face da grande variabilidade dos parâmetros citados, existe uma grande variabilidade
das deformações reais, como previsto pela NBR 6118:2014 [1]. Não se pode esperar,
portanto, grande precisão nas previsões de deslocamentos dadas por processos
analíticos.

Os resultados encontrados foram compatíveis com as condições de projeto para a


edificação a que o pilar se destina.

7. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à UFMG, à FAPEMIG e à PRECON INDUSTRIAL pelo apoio
financeiro e de infraestrutura para a realização do trabalho.

8. REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. (2014). NBR 6118: Projeto de Estruturas de
Concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.

[2] PEREIRA, S.S.R., CALIXTO, J.M., BORTONE, T.P. Numerical analysis of prestressed hollow core slabs
under long term loading. Ibracon Structures and Materials Journal, v. 6, n. 4, p. 613-622, 2013.
ANÁLISE TEÓRICA EXPERIMENTAL DA RESISTÊNCIA ÚLTIMA Á FLEXÃO DE
LAJES PROTENDIDAS
Theoretical experimental analysis of the ultimate strength of prestressed hollow core slabs

Sebastião Salvador Real PEREIRA*1, Thiago Pena BORTONE 2


Hugo Meireles de RESENDE 3, Lucas Mateus Faria de BARROS 4

* Autor para correspondência: ssrp@dees.ufmg.br


1 Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, Brasil
2 Departamentos de Estradas de Rodagem do Estado de Minas Gerais, Minas Gerais, Brasil
3,4 Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, Brasil

Resumo: Este trabalho apresenta os resultados de ensaio de resistência última á flexão


de três lajes alveolares protendidas, com 10 m de comprimento e 26 cm de espessura,
sem capeamento, submetidas a cargas uniformemente distribuídas. Na idade de 30 dias
as lajes foram carregadas com uma carga uniformemente distribuída correspondente a
1/3 da carga de ruptura. Esse carregamento foi mantido até a idade de 140 dias, quando
as lajes foram levadas á ruptura. Para determinação da tensão de protensão atuante no
instante de ruptura foi utilizado o modelo proposto por Pereira et al. (e.g. [2]) que
determina a evolução das perdas de protensão de maneira rigorosa. Na determinação da
resistência última foi adotado para o concreto o diagrama tensão x deformação
preconizado pela NBR 6118:2014 (e.g. [1]) e para o aço de protensão o diagrama tensão
x deformação determinado em função de informações que constam de catálogo do
fabricante. Com a finalidade de comparar os resultados de ensaios Mens com os valores
teóricos obtidos através de modelo numérico Mmodelo, calculou-se a média da razão entre
esses valores obtendo-se (Mens/Mmodelo) = 1,11, com desvio padrão s = 0,0047 e
coeficiente de variação CV = (0,0047/1,11)*100 = 0,42%. Desses resultados pode-se
concluir que houve grande uniformidade no comportamento estrutural dos três
exemplares, atestando o bom controle de qualidade na sua fabricação. Os resultados
comprovam também que o modelo matemático adotado pela NBR 6118:2014 (e.g. [1])
para estimar a resistência última á flexão produziu bons resultados. Cabe ressaltar que
não se deveria esperar resultados diferentes, pois as equações preconizadas pela NBR
6118:2014 (e.g. [1]) permanecem as mesmas já por mais de quatro décadas.

Palavras-chave: Flexão normal composta, lajes protendidas, resistência última.

Abstract: This paper presents the results of the ultimate flexural strength test of three
prestressed hollow core slabs with 10 meters long and 26 cm of thickness, without
capping, subjected to uniformly distributed loads. At the age of 30 days the slabs were
loaded with a uniformly distributed load corresponding to 1/3 of the failure load. This
loading was maintained until the age of 140 days, when the slabs were taken to rupture.
The model proposed by Pereira et al. (e.g. [2]), which determines the evolution of the loss
of protension in a rigorous manner, was used to determine the real tension in prestressed
steel at the moment of rupture. In the determination of the ultimate strength, the strain x
deflection diagram recommended by NBR 6118:2014 (e.g. [1]) was adopted for the
concrete and for the steel of the stress the strain x deformation diagram was determined
according to the information contained in the manufacturer's catalog. In order to compare
the results of tests Mens with the theoretical values obtained through the numerical model
Mmodelo, the average of the ratio between these values was obtained (Mens / Mmodelo) = 1.11,
with standard deviation s = 0.0047 and coefficient of variation CV = (0.0047/1.11)*100 =
0.42%. From these results it can be concluded that there was great uniformity in the
structural behavior of the three specimens, attesting to the good quality control in their
manufacture. The results also prove that the mathematical model adopted by NBR
6118:2014 (e.g. [1]) to estimate the ultimate flexural strength produced good results. It
should be noted that different results should not be expected, since the equations
recommended by NBR 6118:2014 (e.g. [1]) remain the same for more than four decades.

Keywords: prestressed slabs, normal bending, ultimate strength.

1. INTRODUÇÃO
Esse trabalho tem como objetivo apresentar os resultados de resistência última à flexão
de três lajes protendidas com quatro cordoalhas de 12,7 mm e seis cordoalhas 11,1 mm
CP 190 RB executadas com concreto fck 35 MPa. O carregamento consistiu do peso
próprio estrutural e de cargas uniformemente distribuídas, aplicadas através de sacaria.
As lajes foram submetidas a carregamento variável desde a idade de 30 dias até a idade
de 160 dias, quando foram levadas á ruptura. Os exemplares são denominados A1, A2 e
A3, compondo a denominada série A. Os ensaios foram realizados nas instalações da
Precon Industrial S.A.

2. O MODELO NUMÉRICO
Com a finalidade de avaliar as prescrições da norma brasileira NBR 6118:2014 (e.g. [1]),
a resistência última á flexão das lajes foram avaliadas através de formulação proposta por
MARTINS et al. (e.g. [3]) e comparadas com as obtidas nos ensaios. O modelo teórico
adotado considera as deformações diferidas do concreto e aço, embora se saiba de sua
pequena influência no cômputo da resistência última. Para isso inicialmente são
determinadas as perdas imediatas e as perdas diferidas da força de protensão e as
deformações de retração e fluência no concreto, considerando o histórico do
carregamento até a data em que se quer avaliar a capacidade resistente da seção. O
cômputo das deformações na seção transversal é feito de acordo com modelo proposto
por PEREIRA et al. (e.g. [2]). Para determinação teórica da resistência última das lajes
cada seção transversal é subdividida em elementos de concreto paralelos ao eixo de
flexão e considerando-se as diversas cordoalhas em suas reais posições e afetadas dos
respectivos pré-alongamentos. Considera-se o diagrama parábola retângulo do concreto
preconizados pela NBR 6118:2014 (e.g. [1]), conforme Fig. 1, e o diagrama tensão x
deformação do aço fornecido pelo fabricante, conforme Fig. 2
Fig. 1 – Diagrama Tensão x Deformação do concreto

Fig. 2 - Diagrama Tensão x Deformação do aço CP-190RB

A determinação da resistência última teórica é obtida através de um processo iterativo


que utiliza o Método da Seção Áurea conforme MATEUS et al. (e.g. [4]) para
determinação da posição da linha neutra, considerando a seção em Estado Limite Último.
Procede-se por tentativas, arbitrando-se estados de deformação. Para cada estado de
deformação devem ser calculadas as forças correspondentes em cada elemento de
concreto e aço, considerando-se as deformações diferidas anteriormente determinadas,
obtendo-se daí a força normal e o momento resistentes, em relação a um eixo qualquer,
conforme Eqs. (1) e (2).
n p
NR =  c (i ) Ac (i ) +  p (i ) Ap (i )
i =1 i =1
(1)

n p
MR =  c (i ) d c(i ) Ac (i ) +  p (i ) d p(i ) Ap(i )
i =1 i =1
(2)

No caso de flexão simples, como é o caso aqui tratado, o equilíbrio se dará quando for
obtida força normal resistente nula. O processo iterativo é repetido até que se obtenha
igualdade entre a força normal resistente e solicitante. O momento resistente último é
então calculado computando-se a parcela de momento fletor resistido por cada elemento
que compõe a seção, em função do estado de tensões atuante. Para o cálculo de tensões
são consideradas as deformações diferidas do aço e concreto.

3. METODOLOGIA DO ENSAIO
As lajes possuíam 250 cm de largura, 26 cm de altura e cinco alvéolos de 19,6 cm de
diâmetro, conforme Figs. 3 e 4. O comprimento das lajes era de 10 m, vencendo um vão
de 9,9 m. Em todas as lajes a armadura de protensão era composta de quatro cordoalhas
de 12,7 mm e seis cordoalhas de 11,1 mm (3x5,0) CP 190RB, sem capeamento,
posicionadas com o CG a 4,5 cm do fundo. Um relógio comparador foi posicionado no
centro do vão para medição da evolução das flechas ao longo do tempo, embora o foco
desse trabalho seja apresentar apenas a resistência última á flexão das lajes, que foram
levadas a ruptura no final do ensaio.

Fig. 3 – Modelo esquemático do ensaio

Fig. 4 – Lajes série A – 4 Ø 12.7 mm + 6 Ø 11.1 mm (dimensões em cm)


As tensões de protensão utilizadas em cada exemplar constam da Tabela 1, a seguir. A
transferência da força de protensão ocorreu 20 horas após o início da concretagem.

Tabela 1 – Tensão de protensão aplicada nos ensaios e armaduras ativas


Série Tensão de protensão Armadura ativa
- (MPa) -
A1 1425 4 Ø 12,7 + 6 Ø 11,1 mm
A2 1425 4 Ø 12,7 + 6 Ø 11,1 mm
A3 1425 4 Ø 12,7 + 6 Ø 11,1 mm

O concreto das lajes foi produzido usando cimento tipo CP-V ARI e agregado graúdo tipo
calcário. Para avaliação da resistência a compressão do concreto foram realizados
ensaios de esclerometria na idade de execução dos ensaios. Todas as três lajes foram
concretadas em um mesmo dia, fazendo parte da mesma pista de protensão e
posteriormente transferidas para uma área aberta na Precon Engenharia, em Pedro
Leopoldo, MG, onde os ensaios foram realizados. Até a idade de 30 dias o único
carregamento atuante foi o peso próprio, que consistia de uma carga de 5,39 kN m-1. Nas
idades de 30, 31, 32 e 33 dias foram acrescentadas cargas de 1,5 kN m-1, utilizando-se
sacos de argamassa, mantendo-se a partir daí carregamento constante até a idade de
160 dias. Os deslocamentos verticais no ponto médio do vão foram medidos com relógios
comparadores. Nessa idade, cada uma das lajes foi levada á ruptura, chegando-se nos
valores de momentos de ruptura indicados na Tabela 2. Todos os exemplares, após os
acréscimos de carga e medições de deslocamentos, foram mantidos cobertos por lona de
forma a proteger os exemplares da insolação diária e evitar que uma possível chuva
durante o período de ensaio alterasse a carga aplicada. Neste artigo apresentam-se
apenas os resultados da carga de ruptura dessas lajes.

Fig. 5 – Carregamento parcial da laje A1. Atrás de A1 vê-se carregamento que provocou a ruptura de
A2
Fig. 6 – Ruptura das lajes A1, A2 e A3
A ruptura ocorreu na seção média do vão por esmagamento do concreto. As cargas que
provocaram a ruptura das lajes, bem como o momento atuante na seção média do vão,
estão indicadas na Tabela 2.

4. ANÁLISE COMPARATIVA
A tabela 2 apresenta os resultados encontrados. Para o cálculo da resistência última
segundo o modelo numérico foi adotado fck de 40,6 MPa, obtido de ensaios de
esclerometria realizado na data de ruptura das lajes. Os coeficientes de minoração de
resistência e majoração de esforços foram feitos iguais a um. Não foi considerado o efeito
Rusch em função da idade do concreto na data de realização do ensaio.

Tabela 2 – Momentos de ruptura


Mensaio/M6118
Carga Mens Mmodelo Mensaio
Vão ruptura (no meio (no meio /
LAJE
(cm) total vão) do vão) Mmodelo
(kN m-1) (kN m-1) (kN m-1)
A1 990 269 2988 2671 1,12
A2 990 263 2954 2671 1,11
A3 990 263 2954 2671 1,11

Com a finalidade de comparar os resultados de ensaios Mens com os valores teóricos


obtidos do modelo numérico Mmodelo, calculou-se a média da razão entre esses valores
obtendo-se (Mens/Mmodelo) = 1,11, com desvio padrão s = 0,0047 e coeficiente de variação
CV = (0,0047/1,11)*100 = 0,42%. Da análise dos resultados concluímos que há grande
uniformidade no comportamento estrutural dos três exemplares ensaiados, comprovando
o ótimo controle de qualidade na fabricação do concreto, na aplicação da força de
protensão, na concretagem, desforma, cura, etc. Os resultados comprovam também que
o modelo matemático adotado pela NBR 6118:2014 (e.g. [1]) para estimar a resistência
última á flexão produziu excelentes resultados. Cabe ressaltar que não se deveria esperar
resultados diferentes pois, as equações adotadas pela NBR 6118:2014 (e.g. [1])
permanecem as mesmas já por mais de quatro décadas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo geral desse trabalho foi apresentar os resultados de ensaios de três lajes
protendidas submetidas à flexão. Houve grande uniformidade no comportamento
estrutural dos três exemplares ensaiados e as resistências últimas obtidas foram em
média 26% maiores que as previstas segundo a NBR 6118:2014 (e.g. [1]). A análise dos
resultados revela que, para os casos estudados, a norma brasileira NBR 6118:2014 (e.g.
[1]) tem viés conservador para determinação de resistência última á flexão desse tipo de
elemento estrutural.

6. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à UFMG, à FAPEMIG e a PRECON Industrial pelo apoio
financeiro e de infraestrutura para a realização do trabalho.

7. REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de Estruturas de Concreto –
Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.

[2] PEREIRA, S.S.R., CALIXTO, J.M., BORTONE, T.P. Numerical analysis of prestressed hollow core slabs
under long term loading. Ibracon Structures and Materials Journal, v. 6, n. 4, p. 613-622, 2013.

[3] MARTINS, P.C.R., FAIRBERN, E. M. R., PEREIRA, S.S.R. Programação Não Linear aplicada ao
dimensionamento de armaduras passivas adicionais em estado limite último, de seções transversais em
concreto estrutural de geometria qualquer, submetidas a flexão normal composta. XXVIII, Jornadas Sul
Americanas de Engenharia Estrutural, p. 1497-1504, 1999.

[4] MATEUS, G. R., LUNA, H. P. L. Programação não linear. V Escola de Computação. Belo Horizonte, 10
a 18 de Julho, 1986, 289 p.
DETERMINAÇÃO DE CURVA CARACTERÍSTICA DE SOLOS NÃO
SATURADOS

DETERMINATION OF CHARACTERISTIC CURVE OF UNSATURATED SOILS

Fernanda Ferreira da Silva 1 , Thiago Celeiro Nascimento 1 , Tatiana Tavares Rodriguez 1, Mário
Vicente Riccio Filho 1
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, ferreira.fernanda@engenharia.ufjf.br
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, thiago.nascimento@engenharia.ufjf.br
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, tatiana.rodriguez@ufjf.edu.br
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mvrf1000@g mail.co m

Resumo: O estudo de solos não saturados é de extrema importância, pois naturalmente, este
comportamento é o mais comum entre os maciços terrosos visto que dificilmente os solos apresentam-
se saturados em sua condição natural. Entretanto, para compreensão desse tema, é preciso mensurar
o fenômeno da sucção, que é um estado de tensão que expressa a propriedade do solo em reter ou
adsorver água, sabendo que o módulo da sucção é inversamente proporcional ao teor de umidade do
solo. A análise do comportamento do fenômeno da sucção em um dado solo é indispensável, pois
esta exerce participação nas tensões que resultarão na resistência ao cisalhamento, impactando na
estabilidade de taludes formados pelo mesmo. Neste contexto, o objetivo do presente trabalho é
determinar a curva característica dos solos analisados, que exprime graficamente a relação entre teor
de umidade (gravimétrico ou volumétrico) e tensões de sucção (mátrica ou total). Para tanto, foram
coletadas amostras indeformadas dos substratos terrosos de interesse, a saber: uma argila silto-arenosa
(Solo I) e uma areia siltosa (Solo Amarelo). Estes foram moldados conforme normatização para
realização do ensaio do papel filtro, que consiste na determinação da sucção do solo a partir do teor
umidade de círculos de papéis, que foram devidamente equalizados com os corpos de provas
ensaiados. O papel-filtro utilizado foi o Whatman® n°42, que apresenta equação padronizada para o
cálculo da sucção. Após tratamento dos dados obtidos no experimento, foi possível traçar a curva de
sucção de cada solo estudado, e observou-se que a argila silto-arenosa apresenta uma curva
característica mais aberta, isto é, apresenta maiores valores de sucção (valor de entrada de ar de 2000
kPa), enquanto que areia siltosa apresenta menores valores de sucção (valor de entrada de ar de 200
kPa). Frente ao experimento pode-se verificar, então, que o tipo de solo é fator determinante no
formato da curva característica, pois este está diretamente relacionado à forma e intensidade com a
qual acontece o fenômeno da sucção no meio.

Palavras-chave: Estabilidade de taludes, Solos não-saturados, Sucção.

Abstract: The study of unsaturated soils is of extreme importance, since, of course, this behavior is
the most common among the earthy massifs, since soils are seldom saturated in their natural
condition. However, to understand this theme, it is necessary to measure the suction phenomenon,
which is a state of tension that expresses the soil property in retaining or adsorbing water, knowing
that the suction modulus is inversely proportional to the moisture content of the soil. The analysis of
the behavior of the suction phenomenon in a given soil is indispensable because it exerts a
participation in the tensions that will result in the shear strength, impacting the stability of slopes
formed by the same. In this context, the objective of the present work is to determine the characteristic
curve of the analyzed soils, which graphically expresses the relationship between moisture content
(gravimetric or volumetric) and suction voltages (total or total). For this, undisturbed samples of the
soil substrates of interest were collected, namely: a silt-sandy clay (Soil I) and a silty sand (Soil
Yellow). These were molded according to standardization for the paper filter test, which consists of
determining the soil suction from the moisture content of paper circles, which were duly equalized
with the test specimens tested. The filter paper used was Whatman® No. 42, which has a standardized
equation for calculating suction. After treatment of the data obtained in the experiment, it was possible
to draw the suction curve of each soil studied, and it was observed that silt-sandy clay presents a more
open characteristic curve, that is, it presents higher suction values (input value of air of 2000 kPa),
while silt sand presents lower suction values (air inlet value of 200 kPa). Therefore, it is possible to
verify that the soil type is a determining factor in the shape of the characteristic curve, since it is
directly related to the shape and intensity with which the suction phenomenon occurs on this
environment.

Keywords: Slope Stability, Unsaturated Soils, Suction.

1. INTRODUÇÃO
Solo não saturado é assim denominado por possuir característica trifásica, ou seja, ser formado por
partículas sólidas e apresentar os interstícios entre estas ocupados por ar e água. O estudo dos solos
não saturados é de suma importância – por possuírem ocorrência representativa na litosfera e grande
aplicabilidade geotécnica-, e um tanto complexo, visto que vários fatores alteram o seu
comportamento, como as interações físico-químicas que ocorrem no sistema, sua mineralogia e
estrutura.
Diversas são as aplicações geotécnicas do conhecimento dos solos não saturados, visto que este
possibilita, para esta categoria de solo [1]:
a) Análise do transporte de contaminantes e fluxo de gases;
b) Estudo de solos colapsíveis e expansivos, bem como de recalques com bolhas de ar oclusas;
c) Verificação da resistência ao cisalhamento e estabilidade de taludes;
d) Barreiras capilares em coberturas evapotranspirativas;
e) Dimensionamento de barragens de terra, fundações e estruturas de pavimento.
Nos solos não saturados, os comportamentos mecânico e hidráulico - como a capilaridade -dependem
do grau de saturação no qual o material se encontra [2]. A relação entre o volume de vazios e o volume
de água contido nos mesmos também interfere no fenômeno da sucção.
A sucção, juntamente com a capilaridade, é responsável pela propriedade de retenção de água de
determinado solo. Enquanto a capilaridade está relacionada ao comportamento físico entre as 3 fases
do sistema, a sucção representa as forças de adsorção provenientes da mineralogia do mesmo [1].
Esta se divide em duas parcelas, denominadas sucção osmótica e sucção matricial [3].
A parcela osmótica é definida como a energia adicional que é necessária para se remover uma
molécula de água do solo, devido à presença de íons dissolvidos no fluido presente nos vazios. Já a
parcela matricial diz respeito às forças de adsorção, ou então o efeito capilar [1].
Sabe-se que para solos saturados, a resistência ao cisalhamento é dada pela equação 1, que é uma
aproximação linear da envoltória de Mohr Coulomb, obtida pelo ensaio triaxial. Nela notam-se os
parâmetros de resistência c’, referente à parcela de resistência devida à coesão do solo, e Ф’, referente
ao ângulo de atrito interno do mesmo.
= cʹ + σn tg Φʹ (1)

Quando o maciço não está sujeito ao fenômeno da sucção, esta equação é ótima aproximação para
estudo das tensões no solo; entretanto, em solos não saturados, onde ocorrem tensões superficiais e
interações físico-químicas entre moléculas de água, ar e partículas sólidas, faz-se necessária a adição
de outros parâmetros que contabilizarão o acréscimo de resistência fornecendo uma análise mais
realística. Então, para análise de resistência ao cisalhamento de solos não saturados, a equação mais
adequada é expressa pelas equações 2 e 3.
= c + (σn – ua) tg Φʹ (2)

Onde:
c = cʹ + (ua – uw) tg Φb (3)

cʹ = intercepto coesivo do solo saturado


Φʹ = ângulo de atrito do solo saturado;
c = intercepto coesivo do solo não saturado
(σn – ua) = tensão normal atuante no plano de ruptura, na ruptura;
(ua – uw) = sucção mátrica na ruptura;
Φb = parâmetro que quantifica um aumento na resistência devido a um aumento na sucção.
É então perceptível a importância do estudo da sucção para determinação da resistência, visto que por
meio do fenômeno são gerados os parâmetros que exprimem o comportamento de solos não saturados
submetidos à pressão negativa devido às interações das três fases que o constituem.
Além de parâmetros resistência, outra informação de grande utilidade é obtida no estudo da sucção:
o gráfico denominado Curva de Retenção ou Curva Característica. Ela, juntamente com a
permeabilidade, define o comportamento do fluxo de água no meio poroso quando este é submetido
à secagem ou ao umedecimento. Como supracitado, para umidades relativamente baixas, a sucção
exerce maior influência sobre o comportamento hidráulico e mecânico do solo. Logo, a representação
gráfica deste comportamento é uma excelente ferramenta, pois ela o exprime de forma visual, além
de oferecer uma interpretação analítica e contínua à tendência do comportamento hidromecânico ao
longo de toda a faixa de variação da umidade característica do material analisado; ademais, como
existe grande dificuldade de se determinar a permeabilidade experimentalmente, não é raro que a
curva característica seja usada para balizar modelos que estimam a propriedade computacionalmente
[4].
Vista a importância da curva característica para previsão dos padrões dos solos não-saturados, torna-
se evidente a necessidade de determiná-la da forma mais verossímil possível. É importante que os
pontos obtidos experimentalmente sejam bem representados através delas, pois é por meio deles que
se extraem os parâmetros para a formulação analítica, ou seja, para o ajuste de curva. Existem vários
métodos para determinação dos pontos experimentais, que se dividem duas categorias: métodos
diretos e métodos indiretos (relacionam a sucção do solo com as propriedades de outros materiais).
As medições por tensiômetros e a translação de eixos são exemplos de métodos diretos, enquanto o
uso de condutividade térmica, elétrica e do papel filtro (o qual é utilizado neste trabalho) são os
métodos indiretos mais conhecidos [2].
Juiz de Fora é uma cidade brasileira, localizada no estado de Minas Gerais e possui topografia
relativamente acidentada com desníveis consideráveis, associados a médias e altas declividades dos
terrenos. Então, não é raro que as construções de edifícios do município sejam assentes em taludes
de inclinações razoáveis, moldados em solos residuais não saturados, sujeitos a movimentos de massa
e/ou processos erosivos. Este cenário foi a principal motivação para o estudo da estabilidade e
resistência ao cisalhamento de solos não saturados, tema central deste artigo [5].

2. OBJETIVO
O presente trabalho possui como objetivo a determinação da curva característica de solos não
saturados localizados em regiões propicias a essa formação sujeitos a movimentos de massa e
processos erosivos. Neste trabalho são apresentados os estudos feitos com dois solos da cidade de
Juiz de Fora obtidos do campus da UFJF e que apresentam diferentes granulometrias.

3. MÉTODOS

3.1. Coleta de Amostras


O ensaio do papel filtro foi realizado a partir de amostra indeformadas que são coletadas de forma a
preservar a estrutura natural do solo [6]. O sistema adotado para coleta foi o da extração de bloco
indeformado para solo não friável, tomando os devidos cuidados para garantia da integridade
estrutural e preservação da umidade natural. Os procedimentos compreendem, de forma resumida:
limpeza superficial, abertura da cava, moldagem das faces do bloco, corte da base para soltar o bloco,
inserção do bloco em saco plástico, etiquetagem, transferência do bloco para caixa de transporte. A
Figura 1 ilustra a obtenção dos corpos de prova indeformados obtidos através dos blocos, já em
laboratório, após coleta in situ.
Figura 1 - Corpos de prova obtidos de amostras indeformadas .

3.2. Método do Papel Filtro


O ensaio escolhido para a determinação da sucção mátrica foi o do papel filtro seguindo os
procedimentos da norma D 5298 da ASTM [7], considerando sugestões de Nacinovic [8] como uso de
três papéis filtros em cada face do corpo de prova e equalização por 21 dias em câmara úmida.
Os corpos de prova foram obtidos por moldagem em anel de PVC lubrificado com dimensões de 2,7
cm de altura e 4,8 cm de diâmetro (Figura 2), e massa (Mm). O material restante da moldagem foi
utilizado para determinação do teor de umidade inicial (wi) que o solo possui no ato da moldagem
conforme procedimentos da norma NBR 6457 da ABNT [9].

Figura 2 - Determinação das dimensões e da massa do anel de PVC.

Ao final da moldagem do corpo de prova, pesa-se o anel de PVC com o solo que será utilizado no
ensaio (Mmsu). A diferença entre Mmsu e Mm fornece o valor da massa de solo úmida contida no anel
de PVC. A partir dessa informação e do teor de umidade inicial (Wi), é possível determinar a massa
específica seca do solo (d). Com o valor da massa específica dos sólidos (s) determinada pelo
método de ensaio ME093 do DNER [10], podem ser determinados o índice de vazios (e), a umidade
de saturação gravimétrica (Wsat ) e a umidade de saturação volumétrica (s) para o corpo de prova.
O ensaio de papel filtro pode ser realizado partindo do corpo de prova seco ou do corpo de prova
saturado. No caso deste trabalho, partiu-se do corpo de prova úmido, porém com umidade inicial que
estava abaixo da umidade de saturação.
Para a determinação da sucção mátrica, é necessário o contato direto do papel filtro com a superfície
do solo contido no anel. Então, os 3 círculos de papel filtro são posicionados nas bandas inferior e
superior da amostra (Figura 3). É ideal que o diâmetro dos círculos de papel seja igual ao diâmetro
do anel, pois, desta forma, toda a amostra contida estará em contato com o papel. Isto melhora a
precisão dos resultados obtidos.
Com os papéis filtro devidamente posicionados nas faces da amostra, envolve-se o conjunto em
plástico filme e em papel alumínio, como mostra a Figura 3, armazenando o conjunto em câmara
úmida durante 21 dias. Esse período é necessário para que ocorra a equalização da umidade do sistema
(papéis filtro - amostra de solo).

Figura 3 - Papéis-filtro cortados, posicionamento dos papéis -filtro, colocação do papel filme, corpo de prova
finalizado com papel alumínio.

Após a equalização, procede-se à determinação do teor de umidade dos papéis. Para tanto, retira-se
os envoltórios do conjunto; pesa-se o círculo intermediário posicionado em uma das bandas da
amostra. É adequado colocá-lo dentro de um plástico zipado de massa conhecida (M p ), como os que
compõem a Figura 4a, para que não haja perda de umidade do papel durante a pesagem. Obtém-se a
massa do envelope plástico com o papel filtro úmido (Mppu). Este procedimento deve ser realizado
tanto para a banda superior quanto para a inferior. A Figura 4c mostra o papel sendo inserido no
plástico para medição da pesagem.
Em seguida, os papéis são colocados em cápsula limpa e seca e levados à estufa para que haja
evaporação total da água contida nos mesmos, conforme Figura 4d. Após 24 horas, pesa-se o papel
filtro seco com o cuidado de colocá-lo no mesmo plástico zipado e obtém-se a massa Mpps.

Figura 4 - Plásticos zipados, pesagem do plástico zipado, inserção do papel filtro úmido, colocação do papel filtro
em cápsula de alumínio para secagem em estufa.
O teor de umidade de cada papel filtro (wp) é determinado pela Equação (4).

(𝑀𝑝𝑝𝑢 − 𝑀𝑝𝑝𝑠 ) (4)


𝑊𝑝 = . 100%
𝑀𝑝𝑝𝑠 − 𝑀𝑝

Onde:
Mppu = massa do envelope plástico com o papel filtro úmido
Mpps = massa do envelope plástico com o papel filtro seco
Mp = massa do envelope plástico para acondicionamento do papel

A partir do valor médio de umidade dos papéis filtros superior e inferior, é possível determinar a
sucção do papel filtro (Sp) pela Equação (5). Considerando que houve equalização, o valor
encontrado para sucção do papel filtro (Sp) é igual à sucção mátrica do solo (S) para o teor de umidade
inicial do solo (wi) determinado na moldagem e demais teores de umidade a que o solo se encontra
ao longo do ensaio.

Para: Wp ≤ 47%  sucção = 10 (4,84 - 0,062 * W f) (5)

Para Wp > 47%  sucção = 10 (6,05 – 2,48 * Log W f)

Essas duas informações fornecem um par ordenado na curva SUCÇÃO x TEOR DE UMIDADE do
solo analisado. A partir da obtenção do primeiro ponto, repete-se o procedimento de ensaio para
diferentes teores de umidade de forma a obter a quantidade de pontos necessários para plotagem
satisfatória do gráfico.

3.3. Curva Característica


O traçado da Curva Característica pode ser feito por diversos modelos a partir dos resultados
experimentais obtidos no ensaio do papel filtro para diferentes umidades gravimétricas. Para este
trabalho foi escolhido o modelo de ajuste proposto por Fredlund e Xing [11], que relaciona a umidade
volumétrica do solo com sucção do mesmo. A formulação está descrita na Equação 7.

𝑚
1
𝜃 = 𝜃𝑠 [ 𝜓
] (6)
ln⁡[ 𝑒 + ( )𝑛
𝑎

Onde :
e = 2,718
𝜃𝑠 = umidade volumétrica de saturação;
𝜃= umidade volumétrica em função da sucção;
𝜓= sucção mátrica;
a, m, n = parâmetros da curva obtidos através dos dados experimentais.
O ponto denominado 𝝍𝒑 , a inclinação denominada s e o par ordenado formado por (𝝍𝒊 ,Ɵ 𝒊 )
correspondem, respectivamente, ao ponto onde a reta tangente intercepta o eixo das abscissas, ao
coeficiente angular desta reta e às coordenadas do ponto de inflexão da curva característica. Estes
dados são extraídos graficamente, como é visto na figura 5.

Figura 5 - Obtenção de 𝝍𝒊 , Ɵ 𝒊 , s e 𝝍𝒑

Já os parâmetros a, m e n foram obtidos conforme proposta de Fredlund e Xing [11], seguindo o


Modelo I de cálculo:

𝑎 = ⁡ Ψ𝑖 (vide Figura 5); (7)

𝜃𝑠 (8)
𝑚 = 3,67⁡ln⁡( )
𝜃𝑖

1,31𝑚+1 (9)
𝑛= 𝑠𝜓𝑖
𝑚𝜃𝑠

Com S e  i obtidos conforme Figura 5.

4. RESULTADOS

4.1. Granulometria
O solo denominado neste documento como Solo I foi estudado por Cardoso [12] e apresenta 20% de
areia, 30% de silte e 50% de argila (Figura 6), sendo uma argila silto-arenosa.
Figura 6 - Curva granulométrica do Solo I.

O Solo Vermelho (Figura 7), estudado por Nery [13], apresenta 43% de areia, 27% de silte e 30% de
argila, sendo uma areia argilo-siltosa. O Solo Amarelo (Figura 8) mostrou 15% de pedregulho, 48%
de areia, 27% de silte e 10% de argila, sendo areia siltosa com pedregulho e argila.

Figura 7 - Curva granulométrica do Solo Vermelho. Figura 8 - Curva granulométrica do Solo Amarelo.

A Tabela 1 apresenta a massa específica dos sólidos (s), a massa específica seca do solo (d), o
índice de vazios (e), a umidade de saturação gravimétrica (wsat) e a umidade de saturação volumétrica
(s) para os solos estudados.

Tabela 1 - Índices físicos dos solos estudados.


SOLO SOLO AMARELO
PARÂMETROS SOLO I: VERMELHO
ρs 2,802 g/cm³ 2,71 g/cm³ 2,621g/cm³
d 2,05 g/cm³ 1,40 g/cm3 1,31 g/cm3
W sat 35,74% 34,68% 38,28 %
e 0,98 0,94 1,00
θs 49,57% 48,45% 50,08%
As tabelas 2, 3 e 4 mostram os valores de umidade gravimétrica, umidade volumétrica, umidade do
papel filtro e a sucção mátrica para os pontos experimentais de cada solo. Ressalta-se que a quantidade
de pontos experimentais obtidos nos solos Amarelo e Vermelho foi pequena, pois os corpos de prova
perderam água muito rápido quando colocados para secar, sendo difícil o controle da umidade. No
caso do solo I, por ser mais argiloso, a perda de água foi mais lenta, facilitando a secagem até a
umidade nova que se desejava alcançar.

Tabela 2 - Dados obtidos pelo ensaio do papel filtro para o Solo I.

Umidade Umidade Umidade do


Ponto gravimétrica volumétrica papel filtro Sucção
(% ) (% ) (% )
1 28,485 39,512 40,000 3451,430
2 25,978 36,711 22,253 3259,800
3 21,341 30,159 18,750 4758,828
4 18,818 26,103 17,708 5521,834
5 9,886 13,713 14,583 8626,474
6 5,360 7,435 12,266 12008,360
7 4,265 6,028 9,191 18627,18

Tabela 3 - Dados obtidos do ensaio do papel filtro para o Solo Vermelho.

Umidade Umidade Umidade do


Ponto gravimétrica volumétrica papel filtro Sucção
(% ) (% ) (% )
1 25,64 18,35 32,08 709,31
2 20,22 14,69 30,33 910,93
3 6,19 4,5 26,1 1666,74
4 2,46 1,76 12,5 11614,49
5 2,01 1,46 7,14 24954,15

Tabela 4 - Dados obtidos pelo ensaio do papel filtro para o solo Amarelo.

Umidade Umidade Umidade do


Ponto gravimétrica volumétrica papel filtro Sucção
(% ) (% ) (% )
1 21,49 16,62 25 1949,85
2 19,95 15,25 24,21 2183,21
3 12,19 9,32 18,68 4805,72
4 2,9 2,25 11,54 13323,41
5 2,36 1,80 7,69 23071,56
4.2 Curva Característica
A partir dos pontos experimentais (tabelas 2, 3 e 4) e da umidade volumétrica saturada (Tabela 1), foi
possível determinar os parâmetros de ajuste de ψp , ψi ⁡e⁡Ɵ i dos solos estudados (Tabela 5). A Figura 8
mostra, como exemplo, a definição para o Solo I. Os demais parâmetros foram calculados pelas
equações e também constam da Tabela 5.

Tabela 5 - Parâmetros para a construção da Curva Característica dos solos estudados.

Solo Solo I Solo Vermelho Solo Amarelo


𝝍𝒑 10000 1900 5200
𝝍𝒊 4724,98 709,31 1949,85
Ɵ𝒊 30,15% 25,64 21,49
a 4724,98 709,31 1949,85
m 1,78 2,34 2,98
n 2,44 1,24 0,97
s 0,0057 0,0215 0,0066

Figura 9 - Determinação dos parâmetros de ajuste para o Solo I.

Por fim, foram determinadas as curvas características para o Solo I, o Solo Vermelho e o Solo
Amarelo, apresentadas nas figuras 9, 10 e 11, respectivamente.
60

VEA
50
Modelo 1 Fredlund e
Xing (1994)
Umidade Volumétrica (%)

40 Pontos Experimentais

30

20

10

Saturação Residual
0
1 10 100 1000 10000 100000 1000000
Sucção (kPa)

Figura 10 - Curva característica do Solo I.

60

Modelo 1 Fredlund e
VEA
50 Xing (1994)
Pontos Experimentais
Umidade Volumétrica (%)

40

30

20

10

Saturação Residual
0
1 10 100 1000 10000 100000 1000000
Sucção (kPa)

Figura 11 - Curva característica para o Solo Vermelho.


60

VEA Modelo 1
50 Fredlund e Xing
Umidade Volumétrica (%)

(1994)
40 Pontos
Experimentais
30

20

10
Saturação Residual
0
1 10 100 1000 10000 100000 1000000
Sucção (kPa)

Figura 12 - Curva característica do Solo Amarelo.

5. DISCUSSÕES
Os resultados mostraram que houve diferença nas curvas características em função da granulometria
dos solos. O Solo I que apresenta 20% de areia, 30% de silte e 50% de argila (Figura 5), sendo uma
argila silto-arenosa, gerou curva característica com valores mais elevados de sucção mátrica, sendo o
valor de entrada de ar (VEA) de cerca de 2000kPa. O Solo Vermelho que apresenta 43% de areia,
27% de silte e 30% de argila, sendo uma areia argilo-siltosa, apresentou curva com valor de entrada
de ar (VEA) de 150 kPa. O solo Amarelo mostrou 15% de pedregulho, 48% de areia, 27% de silte e
10% de argila, sendo areia argilo-siltosa com pedregulho, tendo valor de entrada de ar VEA de VAR
200 kPa.
Importante ressaltar que as curvas características dos solos Vermelho e Amarelo poderiam ter sido
melhor definidas caso os ensaios tivessem partido de corpos de prova com umidades mais elevadas,
o que facilitariam a definição dos parâmetros ψp , ψi ⁡e⁡Ɵ i . Além disso, o ajuste poderia ser melhor caso
tivessem sido feitos mais pontos experimentais para cada solo. Como consequência, a determinação
do VEA pode também ter sido prejudicada pelo ajuste feito com poucos pontos nos solos Vermelho
e Amarelo.

6. CONCLUSÕES
O ensaio de papel filtro é um método simples, porém necessita muito cuidado para ser executado,
principalmente no que diz respeito ao controle de umidade dos corpos de prova.
O tempo de equalização necessário para o ensaio pode dificultar a obtenção da quantidade de pontos
experimentais. Portanto, sugere-se que sejam moldados vários corpos de prova de um mesmo solo e
levados a condições de umidades diferentes para que todos os pontos possam ser obtidos em 21 dias,
que é o tempo de equalização indicado por Nacinovic [8]. Ressalta-se no entanto a necessidade de se
estudar este tempo para diferentes solos.
A equação de ajuste proposta Fredlund e Xing mostrou-se de fácil aplicação, mas é dependente da
qualidade e quantidade dos pontos experimentais.
Por fim, foi observado, como esperado, que o solo argiloso (Solo I) obteve valor de entrada de ar
(VEA) maior do que os solos arenosos (Solo Vermelho e Solo Amarelo).

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à UFJF pela bolsa de iniciação científica PIBIC/CNPQ/UFJF nas Ações
Afirmativas, que possibilitaram o estudo e pesquisa do tema deste artigo. Agradecem, também, ao
laboratorista Lázaro Lopes, pelo auxílio prestado.

REFERÊNCIAS
[1] CARVALHO, J. C. de et al. Propriedades químicas, mineralógicas e estruturais de solos naturais e compactados .
In: Solos não Saturados no Contexto Geotécnico. São Paulo: ABMS, 2015, 763 p. Disponível em <
https://www.abms.com.br/links/bibliotecavirtual/livros/Solos_nao_saturados_no_contexto_geotecnico_2015.pdf >. p.
39-74.
[2] FERNANDES, A.L.O. Determinação da curva característica de solos não saturados pela técnica do papel filtro.
Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2016. 68p.
[3] MARINHO, F. A. M. Soil Suction Measurement in soils and porous materials Unsaturated Soils in Engineering
Practice. Course Notes, Pre-Conference Short Courses, ASCE, Denver, Colorado, 2000.
[4] D’ANGELO, R.G. Análise numérica de infiltração em camada de cobertura de aterro sanitário. Trabalho de
conclusão de curso, Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro , 2016. 89 p.
[5] RODRIGUEZ, T. T. Estudo da resistência à tração de solos saturados e não saturados. Projeto de Pesquisa. Juiz
de Fora: UFJF, 2017. 7p.
[6] DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM – DNER. PRO002: Coleta de amostras
indeformadas de solos. 1994. 12p.
[7] AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS– ASTM. D 5298 – 9403: Standard Test Method for
Measurement of Soil Potential (Suction) Using Filter Paper. Rio de Janeiro, 2009. 8 p.
[8] NACINOVIC, M. G. G. Estudo de erosão pela análise de sucção e escoamento
superficial na bacia do córrego Sujo (Teresópolis, RJ). Dissertação de
Mestrado. UFRJ. Rio de Janeiro – RJ, 2009. 180 p.
[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. NBR 6457: Amostras de solo – Preparação para
ensaios de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 2016. 8 p.
[10] DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM – DNER. ME093: Densidade real dos grãos.
1994. 4p.
[11] FREDLUND, D.G; XING, A. Equations for the soil-water characteristic curve. Can. Geotech Journal, v. 31, p.
521-532, 1994.
[12] CARDOSO, I.M. Determinação dos Parâmetros de Resistência de Solos Saturados Aplicados à Estabilidade
de Taludes. Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2018, 87p.
[13] NERY, D.L.L. Avaliação da Erodibilidade dos Solos de uma Voçoroca Localizada na Universidade Federal de
Juiz de Fora. Trabalho de conclusão de curso, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2017, 80p.
IMPORTÂNCIA DOS FATORES GEOLÓGICOS NA ESCOLHA DE UMA
ÁREA DE ATERRO SANITÁRIO

The Importance of Geological Factors for the choice of a Sanitary Landfill Site

Nicolas da Rocha Pires 1, Fernanda Ferreira da Silva 2, João Víctor Franco Domingues 3, Julia
Righi de Almeida 4
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, nicolas.pires@engenharia.ufjf.br
2 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, ferreira.fernanda@engenharia.ufjf.br
3 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, joao.franco@engenharia.ufjf.br
4 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, julia.righi@ufjf.edu.br

Resumo: Com a expansão populacional e inovações tecnológicas voltadas para os bens de


consumo, um problema que anteriormente não possuía tanta relevância começa a ser foco de várias
áreas da ciência: a destinação do lixo produzido em escala global. A contaminação dos solos por
chorume é um dos grandes problemas na Engenharia de Aterros Sanitários e é escopo da Geologia o
estudo das propriedades de um solo ou rocha que servirão de base para sua construção, sendo a
análise dos fatores hidrogeológicos fundamentais para a escolha da área de disposição de lixo. O
objetivo do presente trabalho é avaliar a importância dos estudos geológicos-geotécnicos das
regiões onde se deseja implantar um aterro sanitário. O estudo tem sua metodologia fundamentada
em revisão bibliográfica, consultas às normas vigentes e análise de situações reais nas quais as
propriedades geológico-geotécnicas dos sítios foram determinantes nos níveis de percolação de
agentes contaminantes. Critérios como distância mínima de corpos hídricos, profundidade freática e
permeabilidade do solo são normatizadas e fiscalizadas por órgãos responsáveis, e caso não sejam
atendidos, podem tornar a obra inviável. Os pontos favoráveis que um terreno pode apresentar para
a implantação de aterros são um aquífero profundo, substrato argiloso e adsorção de metais pelo
solo. Como pontos negativos destacam-se a proximidade de corpos d'água, lençol freático
superficial e áreas passíveis de inundações ou enchentes como pântanos, mangues e brejos. Do
ponto de vista geológico, deve-se evitar rochas porosas e permeáveis, como as sedimentares; rochas
que apresentam elementos estruturais como fraturas, que comprometem a segurança do aterro e
aumentam o risco de contaminação, devido a possíveis infiltrações; e solos de granulometria muito
grossa como areias e pedregulhos. Com este trabalho, busca-se enfatizar que o estudo de
alternativas locacionais que levem em conta o perfil geológico constitui-se em um importante
instrumento de planejamento. Dessa forma, conclui-se que o entendimento dos processos
geomorfológicos podem auxiliar na tomada de decisão a respeito da escolha da área adequada para
a implantação de um aterro sanitário, evitando, portanto, danos ao meio ambiente e à saúde humana.

Palavras-chave: Aterros sanitários, Geologia, Uso do Solo.

Abstract: Noticing the population expansion and technological innovations focused on consumer
goods, an issue not so relevant before began to be the focus of several areas of science: the
destination of garbage produced on a global scale. The contamination of soils by leachate is one of
the major problems in the Engineering of Landfills and it is the scope of Geology to study the
properties of a soil or rock that will serve as the basis for the construction of a landfill, being the
analysis of hydrogeological factors fundamental for the choice of disposal area. The objective of the
present work is to evaluate the importance of the geological-geotechnical studies of the sites where
it is desired to build a sanitary landfill. The study has its methodology based on bibliographical
review, checking standards and the analysis of real situations in which the geological and
geotechnical properties of the sites were determinant in the percolation levels of pollutants. Criteria
such as minimum distance of water bodies, groundwater and soil permeability are regulated and
monitored by responsible bodies, and if they are not met, may make the work unfeasible. The
favorable points that a land can present for the implantation of landfills are a deep aquifer, clayey
substrate and adsorption of metals by the soil. Negative points include the proximity of water
bodies, water table close to the surface and areas liable to floods, such as marshes, mangroves and
swamps. From the geological point of view, one must avoid porous and permeable rocks, such as
sedimentary rocks; rocks that present structural elements such as fractures, which compromise the
safety of the landfill and increase the risk of contamination due to possible infiltrations; and very
coarse-grained soils such as sand and gravel. This work aims to emphasize that the study of
alternatives of sites that take into account that the geological profile constitutes an important
planning tool. Thus, it is concluded that the understanding of the geomorphological processes can
help in the decision making regarding the choice of the appropriate area for the implantation of a
sanitary landfill, therefore avoiding damages to the environment and human health.

Keywords: Sanitary Landfill, Geology, Soil Use

1. INTRODUÇÃO

Um dos maiores problemas da atualidade diz respeito ao descarte do lixo produzido em escala
global, devido ao seu impacto na qualidade ambiental e na saúde pública. Essa temática só piora a
medida que, a cada dia, a população urbana e a geração per capita de resíduos aumentam, enquanto
a área para sua disposição diminui.

Não é rara - tampouco recente - a prática de dispor o lixo produzido sobre corpos terrosos. Durante
muito tempo acreditava-se que não obstante suas propriedades físicas e químicas, como
permeabilidade, absorção, capilaridade, entre outras, os solos possuíam grande capacidade de
autodepuração, além de permanecerem inertes em contato com substâncias que são inerentes aos
resíduos ou então produzidas naturalmente no processo de decomposição destes. Entretanto, no fim
da década de 70, observaram-se grandes impactos ambientais, como contaminações de lençóis
subterrâneos, que possuíam forte relação com a poluição do solo, dada pela percolação do lixiviado,
e pelas interações entre solo e contaminante[1].

Após investigações, concluiu-se que, assim como o ar e a água, o solo não só se constitui como via
transportadora de poluentes, como também pode ser contaminado por estes. Frente a esta premissa,
a Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6938/1981) considera que a preservação de recursos
naturais e a qualidade dos solos configuram dever ambiental[1].

A partir de então, novas diretrizes foram tomadas para que o descarte de lixo causasse o menor
impacto ambiental quanto fosse possível, visto que as atividades industriais, juntamente com o
despejo inadequado de resíduos representavam as principais causas de contaminação de solos,
fomentados pelo comportamento compulsivo do consumidor contemporâneo e do setor industrial,
que produz em larga escala para suprir a demanda do mercado, gerando grande quantidade de
rejeito[1]. Resultante desta necessidade surgiram os aterros sanitários, que nada mais são do que
técnicas eficientes para que a disposição de resíduos sólidos em maciços ou substratos terrosos
tragam o menor impacto ambiental possível tanto para o corpo receptor, como para todos os
sistemas ao entorno, preservando assim os recursos naturais, a saúde pública e o bem estar da
população vizinha.

Atualmente, a implantação de aterros sanitários constitui a forma mais sistematizada e sustentável


para descarte de lixo; entretanto, está longe de ser solução cabal para os problemas da contaminação
de solos e águas que se dão através dos percolados poluentes. Ainda é necessário estudos
multidisciplinares em áreas como Hidrologia, Saneamento e Geotecnia para que o sistema de
aterramento erradique impactos trazidos no processo.

Além disso, nas cidades brasileiras, o destino final dos resíduos sólidos urbanos ainda é feito de
maneira inadequada Observa-se que os vazadouros a céu aberto (lixões) constituem o destino final
de 18% dos municípios brasileiros, 22,9% são destinados a aterros controlados e 59,1% têm como
destino final um aterro sanitário[2].

O aterro sanitário é tido como a forma de disposição final mais ambientalmente adequada, de modo
a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, de acordo com a Política Nacional dos
Resíduos Sólidos (PNRS, 2010). Para Marques (2011)[3], a seleção de uma área adequada para a
implantação de aterros é de grande importância para a redução dos impactos ambientais, financeiros
e sociais relacionados à disposição final dos resíduos sólidos.

As propriedades geológico-geotécnicas contribuem para o processo de escolha dessas áreas de


construção uma vez que estão relacionadas a parâmetros como o nível de percolação de agentes
contaminantes. Além disso, a área deve atender à legislação vigente e às necessidades da população.

Neste contexto, o objetivo do artigo é analisar os parâmetros favoráveis que um terreno pode
apresentar para a implantação de um aterro sanitário.

2. METODOLOGIA

Como supracitado, o presente trabalho tem como objetivo o estudo e análise de casos em que
fatores geológico-geotécnicos influenciaram na execução e operação de aterros ao redor do mundo.
Para que o estudo fosse realizado de forma ordenada, adotou-se a sumarização do assunto por meio
de revisão bibliográfica, artifício imprescindível para formulações de trabalhos científicos.

Segundo Echer (2001)[4], a revisão literária é de imensurável importância em produções acadêmicas,


visto que é por meio dela que se alcança visão clara do problema, bem como os caminhos já
percorridos no intuito de elucidá-lo. Isto é, antes que se investigue soluções, cabe ao pesquisador
identificar e classificar a adversidade prática sob o ponto de vista teórico. Percebe-se então que é
necessária uma sistematização e catalogação de observações e hipóteses já levantadas para que o
resultado seja consistente do ponto de vista teórico e de maior univocidade possível entre os
estudiosos do tema; desta maneira, obtém-se uma pesquisa de altos padrões de qualidade, que
contribuirá efetivamente para aprimoramento dos conhecimentos e técnicas já obtidos por estudos
precedentes.

Outro cenário onde a revisão literária desempenha respeitável função é nos estudos de casos onde
existe a temática, mas não se identifica ainda o problema, devido, geralmente, à recenticidade dos
estudos do assunto em voga. Através da sumarização e estruturação que uma sólida revisão propicia
é possível identificar pontos que já foram objetos de pesquisa, bem como os que ainda precisam ser
investigados, através dos indícios e recomendações de autores[4].

A Geotecnia de aterros é um vasto campo de estudo; contudo, ainda é uma ciência recente no
Brasil. Os vazadouros a céu aberto só foram proibidos no fim da década de 70[5]. Constata-se então,
que há uma necessidade de que os campos de pesquisas no que tange tanto a concepção como a
execução e operação de aterros de resíduos sólidos agrupem todos os conhecimentos teóricos
coordenadamente para que as técnicas elaboradas a partir dos estudos bibliográficos resultem em
processos mais otimizados quanto for possível.

Nesse artigo ressalta-se a importância dos conhecimentos geotécnicos e geológicos de um dado


maciço, seja rochoso ou terroso, sobre o qual deseja-se construir um aterro sanitário. Os casos
escolhidos para estudo foram dois aterros na Austrália e um situado no Brasil. O leitor poderia
achar de maior adequação tomar por exemplos aterros de países que estão na vanguarda da
deposição de resíduos sólidos. Entretanto, como o artigo dá maior enfoque ao aspecto geotécnico,
julga-se pertinente fazer comparações em regiões onde exista maior similaridade com o clima e
topografia brasileiros, que, por consequência, também apresentarão formações geológicas
semelhantes às do país. Desta forma, o trabalho ganha maior aplicabilidade aos estudos posteriores
para construção de aterros sobre os solos pátrios. Além disso, são feitas aqui considerações sobre as
normas técnicas brasileiras referentes ao assunto.

3. ESTUDOS DE CASO

3.1. Fatores influentes na implantação de um aterro sanitário

Com base no histórico dos projetos de execução e gerenciamento dos aterros sanitários que são
referência mundial em qualidade e gestão, pode-se afirmar que é necessário um vasto estudo
multidisciplinar para que a escolha da área destinada a receber o depósito acarrete os menores
impactos possíveis, tanto no processo de locação e execução da obra, como durante a deposição dos
resíduos (vida útil da construção). Para tanto, o sistema precisa ser socioeconomicamente viável,
logisticamente acessível, e, sobretudo, atender às legislações e normas no que tange ao escopo
ambiental, que se tornam tanto mais rigorosas quanto maior a complexidade da composição dos
detritos. Nota-se, então, que um dos maiores desafios para a concepção de um aterro é o
zoneamento para a sua implantação.

A seleção de áreas para localização de aterros sanitários é um processo de decisão de natureza


multicritério, no qual são avaliados e hierarquizados diversos atributos. Estes atributos geralmente
tem caráter econômico, social, topográfico, hidrológico e geológico[6].
Aqui, o enfoque será dado aos fatores e restrições geotécnicos que determinam a viabilidade da
implantação de um sistema de deposição sobre um dado maciço, dos quais, segundo Moreira et
al.(2008) [6], destacam-se:

 Declividade: a inclinação de um terreno pode se constituir tanto um fator como uma


restrição para construção de um aterro. Declividades relativamente baixas favorecem a
operacionalização e drenagem, além de facilitarem a movimentação necessária de solos e
resíduos. Entretanto, se o terreno possuir desnível altimétrico inferior a 2%, podem-se
formar áreas de altíssimas infiltrações, ocasionadas pelo baixo escoamento superficial; em
contrapartida, grandes inclinações (acima de 20%) configuram maciços instáveis e
vulneráveis a processos erosivos e infiltrações que podem levar ao colapso estrutural do
sistema de depósito.
 Permeabilidade: uma das características mais relevantes do ponto de vista geológico é a
permeabilidade de um maciço, que pode ser definida como a capacidade de permitir a
transmissão de água ou ar (fluidos) através dele. A permeabilidade de um material geológico
depende de sua textura, estrutura, grau de compactação, índice de vazios, do grau de
saturação, do tamanho e da forma das partículas, grau de compactação, teor de matéria
orgânica, porosidade, grau de alteração, composição mineralógica, entre outros. As argilas
são materiais geológicos que geralmente apresentam baixa permeabilidade; isso se deve não
só ao fato de seus vazios serem menores, mas às diversas interações físico químicas que
ocorrem neste tipo de matriz, como capilaridade, sucção e capacidade de troca catiônica
(C.T.C). Moreira et al.(2008)[6] consideram que, solos finos que apresentam coeficiente de
permeabilidade menores que 10-8 cm/s e argilominerais com C.T.C maior que 10 cmol+/kg,
quando associados a uma camada de espessura de 10 m, podem retardar significativamente a
contaminação de lençois freáticos caso haja infiltração de lixiviado, pois além de diminuir a
velocidade do escoamento deste, a camada impermeável contribui para a depuração do
percolado. Solos granulares ou grosseiros não são indicados, pois possuem alta porosidade e
permeabilidade, visto que os espaços entre suas partículas sólidas são maiores. As exceções
são os solos areno-argilosos, ou misturas de cascalho-areia-argila bem graduados, desde que
os argilominerais presentes não sejam expansivos ou tenham baixa C.T.C. Os maciços com
presença de matéria orgânica também são restrições, por conta de sua alta compressibilidade
e baixa resistência ao cisalhamento[7].
 Geologia: o tipo e as propriedades do substrato rochoso presente, como estruturas, falhas,
estratificações e composições mineralógicas, bem como sua espessura precisam ser
rigorosamente analisadas, pois estas definirão como se dão as interações de contato entre
rocha e solo, bem como a possibilidade da existência de aquíferos na região. As rochas
afloradas, sem cobrimento de solos merecem maior atenção, sobretudo se apresentarem
baixo coeficiente de permeabilidade; maciços calcáreos ou carbonosos são expressamente
contraindicados, pois possuem propriedades de dissolução, que podem ocasionar cavernas
interiores, interligando os vazios e facilitando o fluxo do percolado; rochas clásticas
grosseiras, assim como os solos, também são restrições, salvo situações onde os sedimentos
formadores possuam boa graduação[7]. Os substratos pelíticos (rochas sedimentares
clásticas argilosas) são as mais indicadas. Contudo, é pertinente verificar a estabilidade dos
argilominerais constituintes do mesmo, para que não haja risco de contração, com
consequente formação de trincas que comprometerão a permeabilidade da rocha.
Além das questões geotécnicas, citam-se as hidrológicas e logísticas:

● Escoamento Superficial: fluxo da parcela da água de chuva que não percola o maciço, o
escoamento é função de outros aspectos, como por exemplo, a capacidade de infiltração (que por
sua vez está ligado à permeabilidade do substrato), tipo de cobertura vegetal, declividade e dados
meteorológicos[6]. As áreas mais adequadas para implantação de aterros são as que possuem alto
coeficiente de escoamento associada à baixa taxa de infiltração, o que dificultará a formação de
áreas alagadas[7].
● Distância de Corpos d’Água: é necessário assegurar uma distância mínima da área de
implantação do aterro a corpos hídricos, para que o nível ou curso da água não atinja a área de
resíduos caso ocorra cheias ou inundações. Calijuri et al. (2002)[8] recomendam distâncias de raio
superior a 700 m.
● Distância de Rodovias: os aterros devem estar longe das rodovias a ponto de não causarem
poluição visual, e respeitarem os limites das faixas de domínio da mesma, conforme normas de
especificação; entretanto, devem estar próximos a ponto de o transporte dos resíduos não serem
demasiadamente onerosos. Calijuri et al. (2002)[8] recomendam distâncias inferiores a 700 m.

3.2. NBR 13896 - Especificações

A norma brasileira que trata dos critérios para implantação e execução de aterros de resíduos não
perigosos é a ABNT NBR 13896[9], vigente desde junho de 1997. Nela são especificados padrões
que devem ser seguidos para a instituição de um sistema de deposição de resíduos em determinada
área, como por exemplo, aceitação da instalação pela vizinhança; necessidade da disposição de
camadas de materiais artificiais ou naturais que reduzam drasticamente ou impeça a infiltração de
percolados no maciço; medição periódica da concentração e vazão dos gases gerados na operação;
maximização da vida útil e minimização de manutenções. Além disso, é necessário que requisitos
básicos de segurança de caráter hidrogeotécnico sejam atendidos, dentre os quais destacam-se:

● Topografia: recomendam-se declividades entre 1% e 30%;


● Geologia e material inconsolidado: desejável a existência de um depósito natural extenso e
homogêneo de materiais com coeficientes de permeabilidade inferior a 10-5 com/s e zona não
saturada com espessura superior a 3 metros;
● Recursos Hídricos: o aterro deve ser localizado a uma distância mínima de 200 m de
qualquer coleção hídrica ou curso de água;
● Vegetação: é interessante o estudo sobre o cobrimento vegetal local, visto que este pode se
constituir importante fator no combate à erosão;
● Cheias: o aterro não deve ser executado em áreas sujeitas à inundações em períodos de
recorrência de 100 anos;
● Distância Vertical de Lençóis Freáticos: entre a superfície inferior do aterro e o mais alto
nível do lençol freático deve haver uma camada natural de espessura mínima de 1,50 m de solo
insaturado;
● Subsolo: o aterro deve ser executado em áreas cujo subsolo apresente coeficiente de
permeabilidade inferior a 5 x 10^(-5) cm/ s.
3.3. Apresentação dos Aterros a serem estudados e seu perfil geológico

Buscando exemplificar os fatores supracitados, 3 aterros serão tomados como base: o aterro de
Pilligo nos arredores de Canberra[11], o aterro de West Belconnen, na região de North Canberra e
Belconnen[11] e, por último, o aterro de Cuiabá no estado de Mato Grosso[10]. Em cada um dos três
pode ser vista a maneira que o solo de base de um aterro influencia a necessidade de preparo prévio
do sítio, ou ainda, a observação e monitoração posteriores ao início do uso do mesmo. [P1] Comentário: A ordem descrita
nesse parágrafo deve ser igual a que
aparece em seguida:
3.3.1. Aterro de Pilligo 1º pilligo,
2º West belconnen
O aterro de Pilligo é o mais antigo dentre eles. Construído em meados dos anos 60, era o principal 3º cuiabá

destino do lixo doméstico gerado pela cidade de Canberra até 1978. O projeto do aterro em quase
toda a sua integridade foi feito antes de haver entendimento da importância de fatores geológicos no
momento de escolha de uma área a qual será dada este fim. Sob uma visão geológica, sabe-se que
grande parte da região era composta de trincheiras e poços arenosos profundos, os quais foram
cobertos na execução do aterro. O aterro está em uma região de taludes e depósitos de origem eólica
e coluvial até o Rio Molongo no Oeste; no seu limite Leste, uma cadeia de cumes baixos; ao Norte,
está o Aeroporto de Canberra no Vale Majura onde fica o Córrego de Woolshed e ao sul, colinas
baixas de afloramento de rochas vulcânicas[12]. O leito rochoso abaixo consiste em blocos de rochas
sedimentares que apresentavam falhas estruturais como lamito calcáreo, siltito e Ashstone (rocha
composta de cinzas vulcânicas de diâmetro reduzido) e tufos de uma rocha vulcânica chamada
Dacito, como pode ser visto na Figura 1.

Fig. 1- Perfil do Aterro Sanitário de Pilligo adaptado de Jacobson e Evans (1981)[11].

Como já dito anteriormente e também no trabalho de Ferreira et al. (2018)[13], quando se trata de
aterros sanitários o maior dano que se maneja evitar é a contaminação do solo de corpos d’água
próximos pelo lixiviado. Cada um destes três que foram citados tiveram que lidar de alguma
maneira com a permeabilidade do estrato de solo que servia como base.

O aterro de Pilligo era considerado uma iminência ao desastre, com seu solo altamente permeável,
leito rochoso fraturado e total despreparo prévio do solo por falta de conhecimento da época. A
percolação de água se daria facilmente, portanto, no ano de 1979 foram feitos ensaios através de 19
escavações no solo, donde 12 furos apresentaram água subterrânea e então foram utilizados
equipamentos para determinar e monitorar a extensão dos poluentes, como pode ser visto na Figura
2. Os ensaios e estudos feitos por Jacobson e Evans (1981)[11] determinaram que quando o solo é
submetido ao regime de chuvas e próximo a total saturação, inicia-se a produção de chorume e a
recarga do aquífero, consequentemente, a infiltração ocorre em um fluxo constante até o lençol
freático.

Na época, a qualidade de água era testada a cada 6 meses. Para água subterrânea natural, os níveis
aceitáveis de COD (Carbono orgânico dissolvido) eram de 1-5 mg/L e de 10-20 mg/L para água
represadas. Em três dos pontos de controle, a poluição era evidente nos aquíferos superficiais
atingindo valores superiores a 10 mg/L de COD. Somado a estes em um ponto que monitorava o
aquífero que permeava rochas fraturadas se encontrou também níveis fora do padrão de poluentes.

Fig. 2- Regime de água subterrâneo e pluma de contaminação, adaptado de Jacobson e Evans


(1981)[11].

Análises químicas foram feitas e o total de sólidos dissolvidos no lixiviado variava de 9000 a 14000
mg/L, enquanto em águas subterrâneas levemente poluídas variava de 400 a 900 mg/L e em águas
aparentemente não contaminadas; de 100 a 300 mg/L. A Demanda química de oxigênio,
condutividade elétrica eram correspondentemente altas e o pH do chorume era ácido, variando de
5,1 a 5,3.
Até o momento em que o artigo de Jacobson e Evans foi publicado, não havia tido nenhuma coleta
da água subterrânea vizinha e nenhuma contaminação no Rio Molongo. Contudo, monitoramentos
ainda eram requeridos, pois, o plano futuro de uso do local era na criação de edifícios de atividades
recreacionais, ainda que o aterro apresentasse recalque diferencial e o aparecimento de fissuras de 5
centímetros de largura e 30 metros de comprimento.

Atualmente, onde antes havia o aterro de Pilligo, há uma usina de reciclagem de rejeitos e resíduos
de materiais de construção civil, a Canberra Concrete Recyclers, vide Figura 3.

Fig. 3- Região do aterro na atualidade, imagem retirada do Google Maps (2018).

3.3.2. Aterro de West Belconnen

O aterro de West Belconnen (Figura 4) foi planejado em 1971 e iniciou suas operações em 1976.
Diferente de Pilligo, a geologia local teve peso na escolha das operações a serem feitas no terreno.
Composto de rochas vulcânicas e sedimentares do Siluriano como visto na Figura 2, há a presença
de água subterrânea em um aquífero que permeia rochas fraturadas, porém confinadas por uma
camada de argila sobreposta[11]. O risco de contaminação do aquífero foi considerado de grande
importância e para evitar tal acidente usou-se na época uma técnica em que os resíduos sólidos eram
depositados em trincheiras e selados com uma argila de baixa permeabilidade para evitar a
infiltração de lixiviado. Além disso, a água superficial que corria nas proximidades foi desviada
para os arredores e todo o chorume produzido era tratado no local em processo de decomposição
anaeróbica e oxidação.
Fig. 4- Perfil do Aterro Sanitário de West Belconnen adaptado de Jacobson e Evans (1981)[11].

Em um viés contrário ao anterior, o aterro de West Belconnen tinha um foco na minimização de


danos ao meio ambiente, além das técnicas para a prevenção de contaminação já citadas, o aterro
era regularmente monitorado para determinar os efeitos causados por sua operação e ainda para
auxiliar na futura necessidade de lidar com o tratamento e disposição do lixiviado. Das 12
escavações feitas, 8 encontraram água subterrânea e foram equipadas para se tornarem poços de
monitoramento.

O nível d'água indica um fluxo a região sudoeste e a superfície potenciométrica fica entre 1 e 2
metros podendo chegar a 2,5 dependendo de flutuações sazonais. A qualidade de água também foi
medida através de COD e estava entre 1 e 3 mg/L em amostras de água subterrânea e de 8 a 20 em
amostras de águas represadas. Nos 4 anos de operação até a publicação do artigo de Jacobson e
Evans (1981), nenhuma poluição do aquífero havia sido detectada.

Havia até mesmo um plano de criação de uma área específica para rejeitos perigosos na região
sudeste do aterro, pois diversos metros de argila acima de pórfiro intemperizado e proximamente
justapostos compunham o solo do local. O aquífero na rocha era confinado e o lençol freático se
localizava entre 11 e 14 metros abaixo da superfície. Após uma bateria de testes, descobriu-se que
os poluentes demorariam em torno de 21 anos para percorrer um quilômetro através da rocha e que
na infiltração testada através de pigmentos aplicados, avaliou-se que esses pigmentos não chegaram
aos poços de monitoramento.

O aterro cessou seu funcionamento em 2002, servindo apenas como aterro de emergência desde
então. No local, funcionava até 2018 uma empresa coleta de materiais recicláveis (Figura 5), porém
como já planejado desde 2015, a empresa Ginninderry vai utilizar o local em no seu plano de
desenvolvimento de casas. O foco principal da empresa é transformá-lo em uma área com objetivo
sustentável, como uma fazenda urbana, um parque ecológico, um parque de geração de energia
renovável ou ainda, espaços de convívio da comunidade como áreas de recreação.
Fig. 5- Aterro Sanitário de West Belconnen em 2018 (Retirado do Google Maps).

3.3.3. Aterro de Cuiabá

Por fim, apresenta-se o aterro de Cuiabá, compreendido em uma província geomorfológica


constituída de rochas metamórficas de baixo grau[14]. Trata-se de um solo argilo-siltoso, portanto,
pouco permeável. Está localizado a nordeste do município, entre o bairro do CPA e a Rodovia
Emanoel Pinheiro (Figura 6).
Figura 6- Localização do Aterro Sanitário de Cuiabá, Mato Grosso. Retirado do Google Maps
(2018).

Apresenta-se em sua geologia, a noroeste, filitos que se mostram como pouco permeáveis cobertos
por cascalhos de quartzo (variando de centímetros a metros) e laterita, com fraturas preenchidas por
quartzo em alguns pontos. Já a sudeste, a região era composta de metarenitos que apresentavam alta
concentração de falhas preenchidas por quartzo (Figura 7), sendo então mais permeável e suscetível
a infiltração de lixiviado. O nível de água está em torno de 16m de profundidade[10]. Além destes
dados, nota-se que próximo ao aterro havia um antigo lixão desativado.

Fig. 7- Perfil do Aterro Sanitário de Cuiabá (Fernandes, 2006)[15].


O estudo feito no Aterro de Cuiabá foi realizado por Shiraiwa e Laureano em 2008[10], apresentando
ensaios que determinaram a possível pluma que teria se formado, pois parte do aterro e as lagoas de
tratamento de lixiviado não têm qualquer tipo de impermeabilização de base.

Os ensaios usados são de origem geofísica, sendo um o GPR enquanto o outro era um método
eletromagnético indutivo. De acordo com os autores, o primeiro é mais recomendado para se obter
dados da profundidade de contaminação e o segundo; da variação de intensidade dessa
contaminação.

Os resultados, por eles obtidos, mostram que a contaminação gerada pelas anomalias de
condutividade calculadas era maior que o esperado nas proximidades das lagoas de chorume e nas
laterais sul e norte do aterro impermeabilizado.

Este último causou a impressão de que a camada de impermeabilização de base não estaria surtindo
o efeito desejado, permitindo a percolação de lixiviado. Uma subunidade em específico era a mais
preocupante, pois seu substrato de metarenito (rocha com altos índices de permeabilidade e
porosidade) fraturado se mostrava um risco. Em oposição, a subunidade 6, uma área de filitos
apresentava valores bem menores, ainda que seja uma área onde não havia sido depositado nenhum
tipo de resíduo até o momento do estudo de Laureano e Shiraiwa (2008)[10].

Tomando uma avaliação mais recente do aterro, Rohlfs (2016)[14] avaliou o nível de contaminação
das áreas vizinhas. Os valores de concentração foram baixos, mas ainda assim, a autora destaca que
o fato de estes valores não serem maiores que os previstos pela legislação no momento do estudo,
não garante que os mesmos não podem aumentar, principalmente conhecendo a geologia e a
hidromorfologia local. A região é um divisor de águas e apresenta rochas fraturadas e, portanto
mais permeáveis, como o metarenito. Em adição a estes fatores, Rohlfs (2016)[14] ainda afirma que
pode ser observado na etapa de campo que o lixiviado estava escoando em volume palpável, sem
grandes impedimentos através de sulcos e erosões no local.

4. CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objetivo avaliar a importância do estudo dos fatores geológicos-
geotécnicos em regiões onde se planeja implantar um aterro sanitário, exemplificando situações
reais nas quais essas propriedades foram determinantes para auxiliar a tomada de decisão a respeito
da escolha da área adequada.

Como procedimento metodológico, foi realizada uma revisão bibliográfica a respeito de temas que
ressaltassem a importância dos conhecimentos geotécnicos e geológicos de uma área sobre a qual
deseja-se construir um aterro sanitário.
Foram escolhidos para estudos dois aterros na Austrália e um aterro no Brasil, pela similaridade do
clima e da topografia entre eles, visando uma maior aplicabilidade ao assunto tratado. Esse estudo
de casos identifica fatores que influenciam na implantação e um aterro sanitário, como: declividade,
escoamento superficial, distância de corpos d’água e distância de rodovias.
O aterro sanitário de Pilligo, na Austrália, possui um solo altamente permeável, com leito rochoso
fraturado, o que contribuiu para a percolação de água da chuva e a contaminação do subsolo. O
aterro de West Belconnen, também na Austrália, é composto por rochas vulcânicas e sedimentares,
com a presença de água subterrânea em um aquífero que permeava as rochas fraturadas, confinadas
por uma camada de argila, com baixo risco de contaminação. Já o aterro de Cuiabá, no Brasil, se
localiza em uma província geomorfológica constituída de rochas metamórficas, com um solo argilo-
siltoso de baixa permeabilidade, com áreas que apresentam alta concentração de falhas, sendo estas,
portanto, mais permeáveis.
Atenta-se que para que haja uma regulamentação a respeito dos procedimentos que devem ser
seguidos para a implantação e execução de aterros, a norma brasileira ABNT NBR 13896[9] -
Aterros de resíduos não perigosos - Critérios para projeto, implantação e operação -, especifica
padrões que devem ser seguidos para a instituição de um sistema de disposição de resíduos em uma
determinada área.
Assim sendo, o presente estudo permitiu compreender que as propriedades geológico-geotécnicas
contribuem ativamente no processo de escolha de uma área de implantação de aterro, uma vez que
relacionam parâmetros importantes, como o nível de percolação de agentes contaminantes,
evitando, portanto, danos ao meio-ambiente e à saúde humana. Sendo necessário ainda, que esta
área atenda à legislação vigente e às necessidades da população.

REFERÊNCIAS
[1] ALMEIDA, J. R. de.Proposta de Índice de Avaliação de Aterros de Resíduos desativados a partir do potencial
poluidor do lixiviado. 2017. Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPE/Programa de Engenharia Civil, 2017.

[2] ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais. Brasil produz mais
lixo, mas não avança em coleta seletiva. 2017. Disponível em: <http://abrelpe.org.br/brasil-produz-mais-lixo-mas-
nao-avanca-em-coleta-seletiva/>. Acesso em: 03 nov. 2018
[3] MARQUES, Marília Daher. Seleção de área para implantação de aterro sanitário simplificado: estudo de caso para o
município de Guapó-GO. 2011. 77 f. Dissertação (Mestrado em Engenharias) - Universidade Federal de Goiás, Goiânia,
2011.
[4] ECHER, I. C.; A Revisão de Literatura na Construção do Trabalho Científico. R. Gaúcha Enferm., Porto
Alegre, v. 22, n. 2 p. 5-25, jul. 2001.

[5] ANDRADE, R. M. de; FERREIRA, J.A. A Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos no Brasil frente às questões da
Globalização. REDE – Revista Eletrônica do Prodema, Fortaleza, v. 6, n.1, p. 7-22, mar. 2011.

[6] MOREIRA, M. A. A.; LORANDI, R.; MORAES, M. E. B. de; Caracterização de Áreas Preferenciais para a
Instalação de Aterros Sanitários no Município de Descalvado (SP), Na Escala 1:50.000. Revista Brasileira de
Cartografia n. 60/02, p. 177-194, agosto 2008.

[7] LEITE, J. C. Metodologia para elaboração da carta de susceptibilidade à contaminação e poluição das águas
superficiais. 1995. Dissertação (Mestrado em Geotecnia) – Departamento de Geotecnia, Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo. São Carlos. 1995. 192p.

[8] CALIJURI, M. L.; MELO, A. L. O.; LORENTEZ, J. F. Identificação de áreas para implantação de aterros
sanitários com uso de análise estratégica de decisão. Informática Pública v.4:, n. 2, p. 231-250. 2002.

[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13896: Aterros de resíduos não perigosos -
Critérios para projeto, implantação e operação. Rio de Janeiro, 1997.
[10] LAUREANO, A. T., SHIRAIWA, S. Ensaios geofísicos no aterro sanitário de Cuiabá-MT. Revista Brasileira de
Geofísica, v. 26, n. 2, p. 173-180, 2008
[11] JACOBSON, G., EVANS, W. R. Geological Factors in the development of sanitary landfill sites in the Australian
Capital Territory. BMR Journal of Australian Geology & Geophysics, n.6, p. 31-41, 1981.
[12] EVANS, W. R., JACOBSON, G., BENNETT, D. G. Geological and geophysical investigation of the Pilligo
Landfill Site, ACT. Department of National Development - Bureau of Mineral Resources, Geology and
Geophysics, 1980
[13] SILVA, F. F., DOMINGUES, J. V. F., PIRES, N. R. A Importância dos Estudos Geológicos-Geotécnicos na
Implantação de Aterros Sanitários. 6° Fórum Ambiental de Juiz de Fora, 2018.
[14] ROHLFS, D. B. Tese de Doutorado em Saúde Coletiva: Aplicabilidade de metodologia de avaliação de risco à
saúde humana em área de disposição de resíduos sólidos: Estudo de Caso do Aterro Sanitário de Cuiabá/ MT. UFRJ,
2016.
[15] FERNANDES, M. C., GARCIA, F. O., CATEN, B. T. Relatório do Campo de Geofísica no Aterro Sanitário de
Cuiabá. ICET/UFMT, 2006.
APLICATIVO EDUCACIONAL PARA CÁLCULO DE TREM-TIPO EM
PONTES

An educational app to design of traffic load on bridges.

Charles Jaster de OLIVEIRA*1, Charles Henrique FERREIRA1, Jennifer Pereira da CRUZ 1,


Nicholas Gabriel Terbeck CASSILHA1

* Autor para correspondência: chjaster@hotmail.com


1 Universidade Positivo, Paraná, Brasil.

Resumo: A utilização de ferramentas computacionais no processo de ensino e aprendizagem tem se


mostrado cada vez mais imprescindível nas universidades. A tecnologia aliada à educação
possibilita uma maior interação e exploração de recursos, aumentando a qualidade e o desempenho
da aprendizagem. O objetivo principal deste trabalho, é o desenvolvimento de uma ferramenta
computacional online para a determinação do trem-tipo longitudinal em pontes. O desenvolvimento
se baseou na antiga NBR 7188/1984 e a atual NBR 7188/2013, através do cálculo da linha de
influência transversal, para fins educacionais. Como linguagem, adotou-se a programação em
JavaScript devido suas características como linguagem interpretada, funções incluídas em páginas
HTML e independência de plataforma. Como resultado, obteve-se um programa disponibilizado de
forma gratuita em plataforma web, visando maior acessibilidade, interatividade e mobilidade no
âmbito educacional, com a apresentação dos resultados de forma didática e intuitiva.

Palavras-chave: Ferramenta educacional, JavaScript, Linha de influência, Trem-tipo, Pontes.

Abstract: The use of computational tools in the teaching and learning process has been shown to be
more and more indispensable in universities. Technology allied to education enables greater
interaction and use of resources, increasing the quality and performance of learning. The main
objective of this work is the development of an online app for the determination of the longitudinal
traffic load on bridges. The development was based on the last version NBR 7188/1984 and the
current NBR 7188/2013, through the calculation of the line of transversal influence, for educational
purposes. As a computational language, JavaScript programming was adopted due to its
characteristics such as interpreted language, functions included in HTML pages and platform
independence. As a result, we obtained an application available for free on a web platform, aiming
at greater accessibility, interactivity and mobility in the educational field, with the presentation of
the results in a didactic and intuitive way.

Keywords: Educational tool, JavaScript, Influence line, Traffic load, Bridges.


1. INTRODUÇÃO
Atualmente devido ao grande avanço tecnológico aliado a velocidade da informação, os processos
de aprendizagem têm requerido inovações em suas metodologias, de forma a envolver e inserir o
estudante no real cenário abordado na área de estruturas de pontes, de forma mais interativa e
prática. A sociedade moderna requer indivíduos que tenham consciência crítica, e que sejam
criativos para driblar os mais variados problemas, sendo capazes de intervir na realidade buscando
transformações [1].
A estrutura de pontes é uma das mais utilizadas como meio de acesso e conexão de veículos no
mundo, sendo os mesmos responsáveis pelo surgimento de esforços verticais e longitudinais,
devidos à posição do veículo e suas respectivas cargas sobre a ponte [2]. A partir processo de
cálculo de linhas de influência de reação de apoio segundo Muller Breslau, geradas pelas cargas de
veículo e multidão, e determinadas pela NBR 7188:2013[3], determina-se os chamados “trem-tipo”.
Os mesmos são locados longitudinalmente no tabuleiro na situação mais critica orientada pela
norma vigente.
Em suma, o presente artigo tem como objetivo demonstrar a eficácia de uma ferramenta
computacional para cálculo do trem-tipo, desenvolvida em linguagem JavaScript para fins
didáticos, tendo como principal intuito maior acessibilidade entre seus usuários, alinhando
tecnologia ao processo de aprendizagem.

2. OBJETIVO
Com o intuito de demonstrar os efeitos do tráfego de veículos sobre as estruturas de pontes, através
do cálculo do trem-tipo positivo e negativo, ressaltando as situações mais críticas de esforços sobre
a estrutura a partir da posição do transporte, desenvolveu-se um programa em linguagem
JavaScript. O aplicativo foi programado com uma das linguagens mais utilizadas no mundo,
garantindo maior interatividade do usuário na web. Utiliza-se no mesmo, valores de carga e
características dos veículos parametrizados segundo NBR 7188.
A partir da escolha da classe estrutural informada pelo usuário, porém, restringida pelas classes da
NBR 7188:1984 [4] (12, 30 e 45) e da NBR 7188:2013 [3] (TB-240 e TB-450), as características
dos veículos (distância entre os vãos, largura das rodas, comprimento e largura) e cargas moveis
atuantes na estrutura (cargas por eixo, carga de multidão e carga permanente), são determinadas por
norma para o cálculo das linhas de influência. A mesma é calculada segundo Princípio de Müller –
Breslau, sendo a partir de sua análise, definidos valores extremos dos esforços cortante e momento
fletor.
A fim de que o processo de aprendizagem de estrutura de pontes se torne mais interativo e inovador,
o proposito do aplicativo é o envolvimento de seu usuário à diversas aplicações didáticas, de forma
a estimular a inovação e o avanço tecnológico no desenvolvimento de modelos de trem-tipo para
cálculo de estruturas de pontes. Disponibilizado de forma gratuita e online, além de fácil
mobilidade, facilitando o acesso de seus usuários.
3. FUNDAMENTAÇÃO

3.1. Cargas moveis


Uma das fases mais importantes do projeto estrutural de ponte rodoviária ou ferroviária, ou mesmo
de uma viga de rolamento de ponte rolante, é a definição dos limites de variação dos esforços
internos, das reações ou dos deslocamentos, de pontos significativos da estrutura, quando esta é
submetida, além de a carregamentos fixos, a carregamentos acidentais ou oriundos de trafego de
veículos [5].
Segundo NBR 7188:2013 [3], os trens-tipo são formados de cargas móveis distribuídas,
provenientes da multidão e circulação de veículos sobre a ponte, sendo as mesmas determinadas
segundo a classe da estrutura e características dos veículos. Na versão normativa da NBR
7188:1984 [4] são empregados os veículos de seis rodas para as classes 45 e 30 e veículos de quatro
rodas para a classe 12 (conforme Fig. 1). Na versão de 2013, figura-se apenas veículos-tipo com
seis rodas nos padrões TB-450 (equivalente a classe 45) e TB-240. Os esforços internos variam
com a magnitude e posição das cargas aplicadas, conforme mencionado por Longo [6], em 1979, os
esforços máximos dependem essencialmente da posição mais desfavorável das cargas moveis.

Fig. 1 – Veículos-tipo para pontes rodoviarias (ABNT, 1982) [7].

Conforme determinado pela NBR 7188:1984 [4] as considerações sobre carga móvel em pontes
rodoviárias foram realizadas de acordo com a norma NB-6 [7] (conforme Tabela 1). A norma
admite três classes estruturais para cálculo do trem- tipo de pontes, classe 45 com peso total de 450
kN, sendo 75 kN em cada roda dianteira e traseira (conforme Fig. 2). Classe 30, que possui peso
total de 300 kN, sendo 50 kN provenientes de cada roda traseira e dianteira. Ambas as classes 45 e
30 possuem carga de multidão de 5 kN/ m² e uma carga de multidão no passeio de 3 kN/m²,
formadas a partir de um veículo de 6 rodas, desconsiderando o impacto. Já a classe 12 é formada
por um veículo de 4 rodas, com peso total de 120 kN, sendo 20 kN em cada roda dianteira e 40 kN
em cada roda traseira, carga de multidão de 4 kN/ m² igualmente majoradas e uma carga de
multidão no passeio igual as demais classes.
Tabela 1 - Cargas dos veículos segundo NBR 7188:1984[4].

A norma vigente NBR 7188:2013 [3] foi revisada e atualizada devido ao aumento da densidade de
trafego, magnitude das ações acidentais e anomalias observadas em pontes e viadutos (elementos
estruturais adjacentes as juntas de dilatação) [8]. Ela autoriza a utilização da TB-450 (igual a classe
45 da versão anterior da norma) e TB-240 (em obras em estradas vicinais municipais de uma faixa e
obras particulares) para o cálculo do trem-tipo, sendo o comprimento do veículo de 6 m e largura de
3m, com 3 eixos de carga afastados entre si a 1,5 m (conforme Fig. 2), desconsiderando as classes
30 e 12. Na configuração TB-240, definido por um veículo tipo de 240kN, com seis rodas, carga P
por roda de 40 kN, e carga de multidão de 4 kN/ m², nas dimensões da Fig.2.

Fig.2 – Características do veiculo e disposição das cargas estáticas [9].

A carga móvel assume posição qualquer em toda a pista rodoviária com as rodas na posição mais
desfavorável, inclusive acostamento (conforme Fig. 3) e faixas de segurança. Já a carga distribuída
deve ser aplicada na posição mais desfavorável, independente das faixas rodoviárias (NBR
7188:2013 [3]).

Fig. 3 - Posição do veículo com a roda no acostamento[10].


O trem-tipo de uma ponte é sempre colocado no sentido longitudinal. Não devem ser consideradas
nesse carregamento as cargas dos eixos ou rodas que produzam a redução da solicitação em estudo.
As cargas concentradas e distribuídas mantem entre si distancias constantes, mas a sua posição com
a linha neutra é variável e deve ser tal, que produza na seção considerada do elemento em estudo
(viga principal, transversina, laje, etc.) um máximo ou mínimo da solicitação [10].
A grande variedade de combinações de cargas moveis e acidentais na estrutura, gera diferentes
esforços em cada seção. De modo a facilitar a análise da posição onde os esforços são extremos,
utiliza-se o método das Linhas de influência, onde a partir desses valores extremos, traça-se as
envoltórias, que evidenciam as situações mais críticas dos esforços cortantes e de momento fletor.
Assim, se a viga for dimensionada para os valores das envoltórias, sua estabilidade fica assegurada
para qualquer posição da carga de cálculo, segundo Pfeil [2] em 1979, pois, a pior situação é
apresentada pela envoltória.

3.2. Linha de Influência


A linha de influência de um efeito elástico E em uma dada seção S é a representação gráfica ou
analítica do valor deste efeito, naquela seção S, produzido por uma carga concentrada unitária, de
cima para baixo, que percorre a estrutura [11].
O teorema de Muller-Breslau ou Teorema Dual simplifica com uma sistematização alternativa ao
trabalho, um caráter mais geométrico ou em alguns casos, meramente cinemático. Dessa forma, o
cálculo de linhas de influência de esforços em estruturas isostáticas leva, em princípio, a manusear
deslocamentos infinitesimais numa cadeia cinemática com só um grau de liberdade. No caso de
vigas o problema seria imediato; para estruturas quaisquer já valeria a pena sistematizar melhor a
geometria de deslocamentos, com a introdução de algumas propriedades comuns interessantes [5].
Segundo Sussekind [11], em 1977, para o traçado da linha de influência de reações de apoio ou
esforços simples em uma seção interior aos apoios de uma viga biapoiada com balanços, traçamos
inicialmente as linhas de influência como se a viga fosse biapoiada, prolongando-as, a seguir para
os balanços. Já para seções situadas nos balanços, as linhas de influência só existirão entre a
extremidade do balanço e a seção em questão, que se comportará como se fosse o engaste de uma
viga engastada e livre entre a seção e a extremidade do balanço (conforme Fig. 4).

Fig. 4 - Linha de influência de reação de apoio[11].


De acordo com Pfeil [2], em 1979, um processo geral para determinar as linhas de influência
consiste em desenhar os diagramas das solicitações desejadas para diversas posições de uma carga
unitária, efetuando-se depois, uma troca de ordenadas. Esse processo é denominado espontâneo,
uma vez que ele decorre da definição de linha de influência. O processo espontâneo só é
conveniente para estruturas muito simples, tornando-se muito trabalhoso em estruturas
estaticamente indeterminadas, sendo necessário para as mesmas a utilização de processos baseados
em teoremas gerais dos sistemas elásticos.
Admite-se que para pré-dimensionamento, a linha de distribuição transversal de carga (LDTC) seja
a linha de influência de reação de apoio de uma viga biapoiada com balanços, uma vez que a rigidez
a torção da longarina está desconsiderada nesse cálculo simplificado, conforme tabela 2:

Tabela 2 – Consideração das reações de apoio para traçado da Linha de Influência.

a) Carga P sobre a viga b) Carga P no ponto c) Carga P sobre a viga


principal I: central da seção: principal II:

Consideração esta que também pode ser verificada [12] conforme Fig.5, para a situação da geração
do trem-tipo longitudinal positivo, com sua respectiva linha de influência.

.
Fig. 5 – Determinação do trem- tipo da longarina [12].
A figura anterior evidencia que o posicionamento do veículo na situação mais desfavorável, faz
com que a longarina receba o valor da carga total veículo com o impacto. Através da linha de
influência da figura anterior, é possível notar uma região negativa, o que segundo Buchaim [12]
implica na existência de um trem- tipo negativo, sendo sua maior importância, a consideração da
fadiga dos materiais. O trem- tipo negativo assim como o positivo, pode ser obtido pela
multiplicação das cargas moveis pelas ordenadas ou pelas áreas correspondentes na referida linha,
conforme menciona Longo [6], em 1979.

4. METODOLOGIA
Visando fins didáticos o estudo foi realizado de forma parametrizada, utilizando uma estrutura de
ponte sobre duas longarinas, com balanço nas extremidades, e seção transversal conforme Fig. 6,
sendo o vão principal, comprimento do passeio e acostamento determinados pelo usuário, com
possibilidade de escolha do veículo tipo, de acordo com a NBR 7188:1984 [4] (12,30 e 45) e da
NBR 7188:2013 [3] (TB-240 e TB-450).

Fig. 6 – Seção transversal da ponte sobre duas longarinas.

A posição dos veículos foi considerada para a situação mais crítica conforme sugerida pela norma
[4], as rodas encostando no acostamento e com as características dos veículos (conforme tabela 3).
As cargas moveis atuantes na estrutura foram determinadas, através da escolha da classe estrutural.
Tabela 3 – Valores característicos para os veículos segundo NBR 7188: 1984 [13].

As solicitações provenientes do trem-tipo são calculadas segundo uma sequência lógica (segundo
Fig.7), através de um programa computacional em linguagem JavaScript, onde primeiramente na
entrada de dados, solicita-se a escolha da classe da estrutura, classe 45, 30, 24 ou 12, sendo a partir
dessa escolha, definido os valores de carga de veículo e multidão atuantes. Em seguida, requer-se a
inserção do comprimento da passarela (confirme Fig.6), comprimento do acostamento e
comprimento do vão, em por fim, calcula-se a linha de influência de reações de apoio segundo o
Princípio de Müller-Breslau. De acordo com a classe escolhida e os dados inseridos pelo usuário, o
programa solicita o trem-tipo desejado, e a partir da mesma obtém-se o trem-tipo segundo a NBR
7188, para veículos com as rodas encostada no acostamento.

ENTRADA DE
DADOS

Escolha da classe Comprimento da Comprimento Comprimento do


da estrutura passarela do acostamento vão

Classe 12 Classe 30 TB-240 (NBR Classe 45 (NBR


(NBR 7188/ 1884) (NBR 7188/ 1884) 7188/2013) 7188/1984) e TB-450
(NBR 7188/2013)

Cálculo da linha de
influência

ESCOLHA DO
TREM- TIPO

Trem – tipo Trem- tipo


positivo negativo

RESULTADO
NUMÉRICO/
GRÁFICO
Fig. 7 – Ordem lógica de desenvolvimento de cálculo.

O fluxograma da Fig.7 finaliza com a determinação de dois trem-tipo para cada classe estrutural. A
posição do veículo em relação a longarina V1 gera um trem-tipo positivo e outro negativo, sendo o
mesmo obtido pela multiplicação das cargas moveis pelas ordenadas ou pelas áreas correspondentes
na referida posição determinada pelo diagrama da linha de influência [13].
Salienta-se, que segundo a NBR 7188:1984 [4], permitia-se homogeneizar a configuração do trem-
tipo longitudinal conforme Fig.8. Tal informação não consta mais na NBR 7188:2013[3], logo, o
trem-tipo gerado no cálculo da ferramenta desenvolvida, segue a abordagem convencional.

Fig. 8 – Configuração trem- tipo longitudinal.[9]

Para validação, dois problemas de referências bibliográficas clássicas foram testados. O primeiro
um exemplo numérico do autor Marchetti [10], em 2008 e o segundo do autor Araujo [14], em
2013.
5. RESULTADOS
Na primeira etapa o programa solicita que o usuário escolha a classe de sua estrutura, conforme
determinações da norma NBR 7188, sendo as possíveis escolhas de acordo com a NBR 7188:1984
[4] (12,30 e 45) e da NBR 7188:2013 [3] (TB-240 e TB-450).
Após escolher a classe, requisita-se as características geométricas da estrutura, comprimento do
tabuleiro (passeios, vão entre longarinas e balanços) considerando valores parametrizados. De modo
padronizado a dimensão da barreira New Jersey é considerada com largura de 0,40 m, como
também, todo modelo de cálculo da ponte é para uma faixa longitudinal de 1 m (valor unitário) de
comprimento, sendo o número de vigas longitudinais (longarina) restrita a apenas duas. As
características do veículo e cargas são determinadas segundo a classe indicada na NBR 7188,
versões de 1984 e 2013 (Fig. 9). Todas as unidades estão de acordo com o S.I. (Sistema
Internacional de Unidades), sendo os comprimentos em metros, cargas concentradas kN, e cargas
distribuídas kN/m².

Fig. 9 – Interface do aplicativo educacional.

A posição do trem-tipo foi considera na situação mais crítica conforme sugerido pela NBR 7188
conforme Fig. 10.

Fig. 10 – Posição do veículo sobre o tabuleiro na seção transversal.


A forma de visualização dos resultados é obtida por meio gráfico e numérico de um trem-tipo,
gerado a partir do cálculo das linhas de influência provenientes das reações de apoio, com o intuito
de tornar mais instrutivo o processo de aprendizagem e colaborando no desenvolvimento (conforme
Fig. 11).

Fig. 11 – Trem–tipo gerado com suas respectivas reações.

Para melhor exemplificar foram resolvidos dois exercícios retirados da bibliografia, de forma a
validar o programa desenvolvido, demonstrando assim sua eficácia.
Segundo Marchetti [10], em 2008, no cálculo das ações das cargas móveis, o preparo do trem-tipo
relativo a um elemento considerado, trata-se de determinar o conjunto de cargas concentradas e
distribuídas que servirão para carregar as linhas de influência relativas. Dessa forma, adotando a
ponte, conforme Fig. 12, classe 45 e dados fornecidos pelo exercício, calculou-se o trem – tipo pelo
programa computacional.

Fig. 12 – Cargas atuantes na ponte a partir da posição do veículo sobre a mesma [10].
Comparando-se o resultado obtido (trem-tipo de reações de apoio positivo) pelo programa
computacional (Fig.14) e o desenvolvido por cálculos manuais conforme demonstrados por
Marchetti [10], em 2008 em seu livro (Fig. 13), consta-se que ambos apresentaram o mesmo
desfecho, comprovando a competência da ferramenta, evidenciando sua didática e funcionalidade
para os usuários. Além do cálculo do trem- tipo positivo, o aplicativo calcula o trem-tipo negativo,
demonstrado na Fig. 15.
Fig. 13 – Trem-tipo positivo obtido por calculos manuais [10].

Fig. 14 – Trem-tipo positivo classe 45, obtido pelo aplicativo educacional.

Fig. 15 – Trem-tipo negativo classe 45, obtido pelo aplicativo educacional.


Outro exemplo importante para essa validação, foi retirado da bibliografia de Araújo [14], em 2013,
onde assim como o exercício anterior, solicita-se a geração do trem-tipo positivo a partir do cálculo
da linha de influência de reações de apoio conforme mostra figura 16.

Fig. 16 – Linha de Influência gerada a partir das cargas atuantes na ponte, conforme posição do veículo sobre a
mesma [14].

Fig. 17 – Trem-tipo positivo obtido por calculos manuais [14].


Fig. 18 – Trem-tipo positivo classe 45, obtido pelo aplicativo educacional.

Fig. 19 – Trem-tipo negativo classe 45, obtido pelo aplicativo educacional.

Por fim, após a apresentação e comparação dos resultados, comprova-se a eficácia da ferramenta
computacional desenvolvida para cálculo de trem-tipo positivo e negativo. Os resultados
apresentados pelo programa tiveram uma boa precisão quando comparados com os extraídos das
referências, sendo alguns idênticos aos mesmo (conforme mostra Tabela 4), o que valida seus
resultados, atingindo assim, de forma satisfatória o objetivo desse trabalho. Os resultados que
apresentaram divergência, validação 02 (segundo Tabela 4), se justifica quanto a aproximação
numérica utilizada pelo autor, com apenas uma casa decimal.

Tabela 4 – Comparação de resultados para validação do aplicativo.

O acesso da ferramenta computacional é gratuito, e disponibilizado por meio do site:


http://tremtipo.com.br/. Conferindo liberdade para criação de exercícios variados por meio dos
parâmetros e a direta solução a qualquer usuário.

6. CONCLUSÃO
As pontes são consideradas grandes obras de arte, de suma importância para a infraestrutura de um
país, além de servir como principal meio de deslocamento em rodovias brasileiras, o que torna seu
estudo ainda mais imprescindível, fascinante e inspirador.
Este trabalho demonstrou o desenvolvimento e determinação do trem-tipo positivo e negativo com
o auxílio de uma ferramenta computacional. Através do cálculo da linha de influência de reações de
apoio, dois exemplos validaram o programa desenvolvido, sendo ambos da classe 45, resultando
valores significativos para o trem-tipo gerado, demonstrando a grande aplicação do mesmo no viés
educacional.
Na atualidade tem se tornado cada vez mais indispensável a tecnologia aliada a educação, de forma
a otimizar o tempo de cálculo visto que, seus processos podem se tornar complexos, sucedendo
cálculos manuais por computacionais. Assim, o aplicativo desenvolvido tem o intuído de designar
maiores analises e concepção de problemas relacionados a estrutura de pontes, a partir do cálculo do
trem-tipo positivo e negativo gerados, explorando e consolidando diferentes habilidades através da
aplicação dos conceitos de estruturas.

REFERÊNCIAS
[1] OLIVEIRA, R., Informática Educativa. 8 ed. São Paulo: Papiros, 1997.
[2] PFEIL, W., Pontes em Concreto Armado. 1. ed. Rio de Janeiro: Livros técnicos e científicos, 1979.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7188: Carga móvel rodoviária e de pedestres
em pontes, viadutos, passarelas e outras estruturas dos conteúdos, 2013. Rio de Janeiro, 2013.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7188: Carga móvel em ponte rodoviária e
passarela de pedestre, 1984. Rio de Janeiro, 1984.
[5] SOUZA, J.C., ANTUNES, H.M., Cargas Moveis em Estruturas lineares. 3. ed. São Paulo: Departamento de
Estruturas, Escola de Engenharia de São Carlos, 2012.
[6] LONGO, H.I., Esforços máximos em pontes tipo grelha. Tese de mestrado. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 1979.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NB- 6: Carga móvel em ponte rodoviária e passarela
de pedestre,1982. Rio de Janeiro, 1982.
[8] TIMERMAN J., BEIER M., CONSIDERAÇÕES SOBRE A REVISÃO DA ABNT NBR 7188 “Carga Móvel
Rodoviária e de Pedestres em Pontes, Viadutos, Passarelas e outras estruturas. Associação Brasileira de
Engenharia e Consultoria Estrutural. São Paulo, SP, 2012.
[9] TIMERMAN, J., Modelos de dimensionamento, normalização e métodos de avaliação de pontes e viadutos.
“Histórico das normas brasileiras para cargas moveis em projetos de pontes e viadutos”.80 ed. Página 123. São
Paulo: Ipsis Gráfica e Editora. Revista concreto construções. Instituto Brasileiro do Concreto, São Paulo, SP, 2015.
[10] MARCHETTI, O., Pontes de Concreto Armado. 1. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2008.
[11] SÜSSEKIND, J.C., Curso de análise estrutural. 2. Ed. Porto Alegre: Globo, 1977.
[12] BUCHAIM, R., Exemplo de Análise de Tabuleiro com duas Vigas. Notas de aula do Departamento de
Estruturas, Pontes, UEL Centro de Tecnologia e Urbanismo. Londrina, 2007.
[13] RUSCHI, L.A., Realização do trem- tipo à luz das cargas reais nas rodovias brasileiras. Tese de doutorado.
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, 2006.
[14] ARAUJO, D.L., Projeto de ponte em concreto armado com duas longarina. Goiás: Editora UFG, 2013.
SEGURANÇA DE BARRAGEM DE REJEITO: UMA ANÁLISE DA
LEGISLAÇÃO BRASILEIRA
Tailing dam safety: an analysis of brazilian legislation

Yasmin Ramos Oliveira 1, Júlia Righi de Almeida 2,


1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, yasmin.ramos@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de fora, Brasil, julia.righi@ufjf.edu.br

Resumo: Em função do potencial do solo brasileiro, a indústria mineradora tem papel


extremamente importante para a economia do país, fato que torna necessária a presença de um
elevado número de barragens de contenção de rejeitos. O histórico de problemas envolvendo este
tipo de obra no Brasil é bastante alarmante; os reflexos dos acidentes ultrapassam os aspectos da
engenharia e atingem de forma sistemática o meio ambiente, a sociedade e a economia. Apesar do
avanço de tecnologias e pesquisas na área possibilitarem a operação e construção de barragens com
bons níveis de segurança, na prática o que se percebe são projetos deficientes, supervisão
inadequada durante a construção, manutenção e, constantemente, ausência de monitoramento após
finalizado o tempo de operação da barragem. Outro ponto que contribui para a ocorrência destes
desastres é a falta de fiscalização, muitas vezes devido à escassez de profissionais habilitados para a
função. Em face ao problema apresentado e suas causas, observa-se a necessidade de avaliar a
evolução da legislação brasileira relacionada às barragens de rejeitos com o intuito de propor
melhorias capazes de potencializar a segurança da obra. Posto isso, o objetivo do trabalho é
verificar a relação entre as falhas na legislação e o elevado número de acidentes. Perante as
inúmeras deficiências apontadas, é pouco provável que desastres envolvendo barragens de rejeito
não voltem a acontecer, já que a ocorrência de falhas persiste, sobretudo em função da falta de
profissionalismo dos envolvidos. Todavia, é importante continuar propondo e implementando ideias
capazes de minimizar o problema abordado: a legislação deve avançar na busca por barragens cada
vez mais seguras e punições efetivas aos responsáveis por acidentes. Paralelamente, é necessária
uma fiscalização atuante realizada por profissionais capacitados e investimentos relevantes capazes
de impulsionar pesquisas na área. Para atingir o objetivo serão realizados estudos sobre o histórico
de acidentes envolvendo barragens de rejeito e as atualizações da legislação diante destes desastres.
Conclui-se que, frequentemente, o método construtivo utilizado não é o mais adequado mesmo
sendo permitido pela legislação.

Palavras-chave: Barragem, segurança, legislação.

Abstract: Considering the potential of the Brazilian soil, the mining industry has an extremely
important role in the country’s economy; this fact makes necessary the presence of a great number
of tailing dams. The historic of problems involving this kind of work in Brazil is hugely
threatening; the outcome of these accidents surpass the engineering aspects and hit systematically
the environment, the society and the economy. Although technological advancements and
researches in this area enable the operation and the construction of dams with a nice safety level, in
reality what is seen are lacking projects, improper supervision during the set up and maintenance
and, hence, a lack of monitoring after the end of the operational time of the dam. Another fact that
contributes for these disasters is the absence of proper inspection, often caused by the scarcity of
professionals qualified for the role. In light of the problem and its causes there is the need to rate the
evolution of the Brazilian law related to tailing dams, with the aim to propose improvements to
increase the safety of the works. With this in mind, the purpose of this essay is to verify the relation
between legislation flaws and the high number of these accidents. In front of the uncountable
deficiencies, it is unlikely that tailing dams disasters will not happen again, since failures remain,
mainly because of the lack of professionalism of the ones involved. However, it is important to keep
proposing and complementing ideas that can decrease the problem: the law must progress in the
pursuit of safer dams and punish effectively the responsible ones for the accidents. At the same
time, it is necessary to implement a form of control made by trained professionals and promote
investments that can boost researches in the area. To reach this aim it is necessary to study the
historic of tailing dam accidents and the law updates about them, showing the urge of legislation
changes. To sum up, the building method of tailing dams is often not suitable, although the law
allows it.

Key-words: Tailing dams, safety, legislation

1. INTRODUÇÃO

A indústria da mineração tem um papel extremamente importante para a economia brasileira, tendo
sido responsável por 4,2% do PIB de 2016 [1]. Isto ocorre em função do potencial do solo
brasileiro, que se apresenta em configurações bem diversificada e rica. A forte presença da
atividade extrativista gera alguns impactos, dentre eles a necessidade de construir barragens para
conter os rejeitos da mineração. Define-se como rejeitos, resíduos resultantes de processos de
beneficiamento, a que são submetidos os minérios, visando extrair os elementos de interesse
econômico [2].

De acordo com o Relatório de Segurança de Barragens da ANA (2015) com dados computados até
setembro de 2014, o Brasil possui cerca de 663 barragens de contenção de rejeitos [3]. Estes
números se mostram extremamente preocupantes já que os acidentes envolvendo este tipo de obra
tem sido relativamente frequente e causam graves impactos socioambientais.

O tema em questão ganhou grande proporção e notoriedade a partir do desastre na barragem de


Fundão, em Mariana (MG) no ano de 2015 que deixou 19 mortos. O distrito de Bento Rodrigues,
localizado em Mariana, foi o primeiro a receber o impacto da onda de rejeitos. Em função da força
da enxurrada, o povoado desapareceu. Os sobreviventes ficaram desabrigados, pois suas casas,
igrejas e colégios foram arrastados e destruídos pela avalanche [4]. Todavia, outros sérios acidentes
que aconteceram nas últimas décadas já vinham sinalizando a gravidade do problema e necessidade
de ações eficazes no que diz respeito a prevenção.

Em 1986, a barragem de Fernandinho em Itabirito (MG) rompeu causando a morte de sete pessoas;
em 2001 um acidente envolvendo a barragem da mineração Rio Verde, em Nova Lima (MG),
deixou cinco operários mortos além do assoreamento do Rio Taquaras causado pelos rejeitos. Dois
anos depois, em Cataguases (MG), a barragem da indústria Cataguases de Papel Ltda rompeu,
liberando lixívia negra (sobra industrial da produção de celulose) no Rio Pomba. O acidente afetou
três estados e 600 mil pessoas ficaram sem água. Em 2007, mais uma vez em Minas Gerais, agora
em Miraí, a barragem da mineradora Rio Pomba Cataguases se rompeu, atingindo bairros de Miraí
e Muriaé, deixando inúmeros moradores desalojados. Posteriormente, em 2014, a barragem de
Herculano em Itabirito se rompeu, tirando a vida de três pessoas [5].

Os aspectos técnicos sobre o assunto como infiltração, liquefação e estabilidade da fundação são
bem compreendidos e controlados pelos profissionais de engenharia há algumas décadas [6]. Os
aspectos ambientais também se tornaram essenciais, o potencial de dano ambiental e os mecanismos
de transporte de contaminantes passaram a ser um fator relevante nos projetos de barragens a partir
da década de 1980.

Outro fator que foi observado ao longo dos anos, foi a necessidade de monitorar as barragens a
longo prazo, ou seja, é preciso acompanhar a obra em todas as suas fases: construção, operação e
após finalizado o tempo de operação da barragem.

Todavia, mesmo diante de todas essas informações e do avanço das técnicas de engenharia que
possibilitam construir e operar barragens cada vez mais seguras, as falhas persistem e levam ao
histórico trágico de acidentes na área. A falta de aplicação do conhecimento desenvolvido, projetos
deficientes, supervisão inadequada na fase de construção, falhas na manutenção da obra e em alguns
casos o abandono da barragem após a sua inativação são as grandes causas do problema abordado.

Ultrapassando os aspetos técnicos responsáveis pelos acidentes, pode-se citar as questões que
envolvem a legislação acerca do assunto. A Política Nacional de Segurança de Barragens (lei nº
12.334/2010) cria regras para a acumulação de água, de resíduos industriais e a disposição final ou
temporária de rejeitos [7]. Após a criação da lei, diversas alterações já foram feitas, entretanto, o
que se observa é que a legislação ainda é falha e existe um grave problema de fiscalização na
aplicação dessas leis.

Em função do problema apresentado e de suas principais causas, é importante avaliar a evolução da


legislação brasileira relacionada às barragens de rejeitos com o intuito de propor melhorias capazes
de potencializar a segurança dessas barragens.

2. METODOLOGIA
A pesquisa abordada é de revisão bibliográfica com intuito de sintetizar as diversas informações
existente sobre o assunto. Por um lado, há uma escassez de material de pesquisa, uma vez que o
assunto só ganhou grande notoriedade após o “desastre de Mariana”; poucas pesquisas foram
realizadas sobre os acidentes que antecederam o rompimento da barragem de Fundão. Em relação a
legislação, existe uma necessidade de interpretar, analisar o texto, apontar falhas e propor medidas
para solucioná-las com intuito de obter barragens mais seguras, diminuindo o número e a gravidade
dos acidentes. Em função da quantidade relativamente baixa de textos científicos publicados, foram
utilizadas diversas obras literárias disponíveis relacionadas ao assunto. Assim, usou-se matérias
jornalísticas, reportagens e laudos técnicos, legislação brasileira e mineira sobre barragens de
rejeitos.

3. LEGISLAÇÃO

3.1. Legislação Nacional


Com o objetivo de melhorar a segurança das barragens, em 2010 entrou em vigor a lei federal
12.334, que estabeleceu a Política Nacional de Segurança de Barragens e criou o Sistema Nacional
de Informações sobre Segurança de Barragens. Essa lei engloba as barragens destinadas à
armazenamento de água, à disposição final ou temporária de rejeitos e à acumulação de resíduos
industriais.

É necessário que a barragem apresente pelo menos uma das seguintes características para estar
inserida nessa política: Altura do maciço, contada do ponto mais baixo da fundação à crista, maior
ou igual a quinze metros; capacidade total do reservatório maior ou igual a três milhões de metros
cúbicos; reservatório que contenha resíduos perigosos conforme normas técnicas aplicáveis;
Categoria de dano potencial associado, médio ou alto, em termos econômicos, sociais, ambientais
ou de perda de vidas humanas [3].

Um dos elementos de maior destaque nessa regulamentação são os sete instrumentos da PNSB:
Sistema de classificação de barragens por Categoria de Risco e por Dano Potencial Associado;
Plano de Segurança de Barragem; Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens;
Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente; Cadastro Técnico Federal de Atividades
e Instrumentos de Defesa Ambiental; Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente
Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais e Relatório de Segurança de Barragens. Esses
instrumentos são fundamentais para atingir os diversos objetivos dessa legislação, dentre eles:
Garantir a observância de padrões de segurança de barragens de maneira a reduzir a possibilidade
de acidente e suas consequências; e fomentar a cultura de segurança de barragens e gestão de riscos
[3].

A Lei prevê que os empreendedores das barragens são os responsáveis legais pela segurança das
estruturas, cabendo a eles e aos responsáveis técnicos por eles contratados o compromisso de
desenvolver e implementar o Plano de Segurança da Barragem, de acordo com metodologias e
procedimentos adequados para garantir as condições de segurança necessárias, compreendendo
ainda, no caso de grandes estruturas, o monitoramento quanto a ocorrência de sismos (antes exigido
para hidrelétrica), devendo também, manter atualizadas as informações relativas às suas barragens
junto à entidade fiscalizadora [8].

A Resolução do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), nº 144, de 10 de julho de 2012


estabeleceu diretrizes para implementação da Política Nacional de Segurança de Barragens,
aplicação de seus instrumentos e atuação do Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de
Barragens, em atendimento ao art. 20 da Lei n° 12.334, de 20 de setembro de 2010, que alterou o
art. 35 da Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Nesta resolução foram definidos conceitos de
acidente e incidentes; os itens que o plano e o relatório de segurança de barragens devem conter e os
objetivos do sistema nacional de informações sobre segurança de barragens [9].

Também em 2012, outra resolução do CNRH, 143, de 10 de julho, estabeleceu critérios gerais de
classificação de barragens por categoria de risco, dano potencial associado e pelo volume do
reservatório, em atendimento ao art. 7° da Lei n° 12.334, de 20 de setembro de 2010. Quanto à
categoria de risco, as barragens serão classificadas de acordo com aspectos da própria barragem que
possam influenciar na possibilidade de ocorrência de acidente, levando-se em conta os critérios
gerais como estado de conservação, características técnicas e o plano de segurança de barragens. O
dano potencial associado é o dano que pode ocorrer devido a rompimento, vazamento, infiltração no
solo ou mau funcionamento de uma barragem, independentemente da sua probabilidade de
ocorrência, podendo ser graduado de acordo com as perdas de vidas humanas e impactos sociais,
econômicos e ambientais. Em relação ao volume do reservatório, as barragens para disposição de
rejeito mineral e/ou resíduo industrial são classificadas como: muito pequena, pequena, média,
grande e muito grande de acordo om seus respectivos volumes [10].

A criação do Cadastro Nacional de Barragens de Mineração e do Sistema Integrado de Gestão em


Segurança de Barragens de Mineração se deu através da portaria nº 70.389, do Departamento
Nacional de Produção Mineral (DNPM), de 17 de maio de 2017. Além disso, foi estabelecida a
periodicidade de execução ou atualização, a qualificação dos responsáveis técnicos, o conteúdo
mínimo e o nível de detalhamento do Plano de Segurança da Barragem, das Inspeções de Segurança
Regular e Especial, da Revisão Periódica de Segurança de Barragem e do Plano de Ação de
Emergência para Barragens de Mineração [11].

Um dado preocupante apontado pela ANA diz respeito à regularização das barragens e aos
investimentos em segurança. Foi apurado, que cerca de 12.590 (54,9%) dos empreendimentos
possuem algum tipo de ato de autorização (outorga, concessão, autorização, licença, entre outros),
portanto, os demais não estão regularizados; e que apenas 5% dos valores considerados necessários
para segurança de barragens foram aplicados pelos empreendedores [12].

Não há um banco de registros de acidentes e incidentes para consulta pública anterior a 2010. No
entanto, é evidenciado o número de registro de eventos envolvendo barragens, destacados no ano de
2008. Segundo o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (2010), nesse ano foram registrados 14
acidentes ambientais envolvendo barragens de distintos usos. A ANA registrou para a mesma
época, um total de 381 acidente/incidentes, com 27 óbitos. Uma das principais causas registradas
foram as cheias superior a capacidade do vertedouro das barragens [12].

3.2. Legislação de Minas Gerais


Como foi observado, a maior parte dos acidentes envolvendo barragens de rejeito ocorreu em Minas
Gerais. Em razão disto, o estado apresenta algumas leis específicas sobre o assunto. A lei que
estabelece atualmente as diretrizes para verificação da segurança de barragens em Minas Gerais é a
15.056, de 2004, que tem como foco específico a segurança de empreendimentos de resíduos
tóxicos industriais. Foi uma resposta do poder legislativo aos rompimentos de barragens em Nova
Lima (2001) e em Cataguases (2003) [13].

Após o rompimento da barragem de Fundão da mineradora Samarco, em Mariana, a Comissão


Extraordinária de Barragens da Assembleia Legislativa decidiu criar uma nova legislação para
licenciamento e fiscalização de barragens de rejeito no Estado e apresentou o projeto de lei 3676.

O objetivo deste projeto é proibir a construção de barragens que possam implicar em riscos à
segurança das populações e do meio ambiente. A ele foram anexadas diversas outras propostas que
tratavam do mesmo assunto. Entre elas, o projeto de lei 3695, surgido a partir de uma iniciativa da
população, com o apoio da Associação Mineira do Ministério Público. Este projeto foi protocolado
na Assembleia, em 2016, com cerca de 56 mil assinaturas em uma campanha chamada “Mar de
lama nunca mais” [13].

Porém, existem importantes diferenças entre o projeto 3676, que segue tramitando, e o 3695, que se
tornou apenas um anexo. Alguns pontos deixam claras as diferenças entre as duas propostas e
podem ser observados na tabela 1 a seguir [13].

Tabela 1- Comparação entre a PL 3695 e 3676 [13].

PL 3695 PL 3676
Licenciamento *Exige licenciamento ambiental *Exige licenciamento ambiental
de três fases para barragens de três fases para apenas
independentemente do porte alguns tipos de barragens.
e potencial poluidor.
Localização *Veda expressamente a instalação *Proíbe a instalação de barragem em cuja
de barragem que identifique área a jusante seja identificada alguma
comunidade na zona de auto-salvamento forma povoamento, reservatório
– região do vale imediatamente ou manancial de água potável.
a jusante de uma barragem
Audiência pública *Obriga a realização em todas as *Obriga a realização apenas em
comunidades afetadas, comunidades afetadas diretamente.
de forma direta ou indireta.
Tecnologia *Proíbe a instalação de barragens de rejeito *Proíbe a instalação de barragem
sempre que houver alternativa técnica de rejeitos pelo método de alteamento
Disponível a montante

3.3. NBR 13028 DE 2017


Além das leis relacionadas às barragens de rejeito, também existem normas sobre o assunto. Neste
contexto pode-se citar a NBR 13028 de 2017. Esta norma especifica os requisitos mínimos para a
elaboração e apresentação de projeto de barragens de mineração, incluindo as barragens para
disposição de rejeitos de beneficiamento, contenção de sedimentos gerados por erosão e reservação
de água em mineração, visando atender às condições de segurança, operacionalidade e desativação,
minimizando os impactos ao meio ambiente [14].
As primeiras versões dessa norma foram publicadas no início da década de 1990, em esforço
coordenado pelo DNPM, durante seminários do setor mineral promovidos pelo órgão. Por se tratar
de um texto novo sobre o assunto, as normas apresentavam falhas e questionamentos: terminologias
inadequadas; incluíam itens não relativos a projetos, continham recomendações específicas mas sem
a devida justificativa técnica; não explicitavam critérios mínimos de projeto [14].
Buscando solucionar os problemas apresentados, uma proposta de revisão das normas foi
encaminhada em 2004. Dessa maneira, foi criado um grupo de trabalho, sob coordenação do
IBRAM-CONIM (Instituto Brasileiro de Mineração e o Comitê para a Normalização Internacional
em Mineração), com participação de empresas de mineração, de projeto/consultorias e
universidades com intuito de tratar alguns pontos principais: revisão e adequação das terminologias
e definições; explicitar critérios mínimos de projeto; recomendar “como fazer” em vez de
recomendar “não fazer” [14].
Posteriormente, em fevereiro de 2015, foi proposta nova revisão dessas normas, para sua adequação
às normas internacionais e a legislação brasileira vigente, mais especificamente a Lei 12.334/2010 e
seus desdobramentos. Os trabalhos foram paralisados logo após o acidente da Samarco, por
indisponibilidade dos participantes, face às novas demandas resultantes do evento [14].
No início de 2017, as reuniões foram retomadas e a norma foi submetida à consulta pública duas
vezes. Os principais pontos de destaque na atual revisão da norma são: revisão da terminologia
específica; adoção de critérios de análise mais abrangentes (liquefação, condição de ruptura não
drenada, análises sísmicas, rejeitos perigosos) e utilização de critérios hidrológicos para
dimensionamento do sistema extravasor em função das consequências de ruptura ou dano potencial
associado [14].

4. SEGURANÇA DE BARRAGENS

4.1. Métodos construtivos

Três métodos construtivos podem ser utilizados para a concepção de barragens de rejeito alteadas
com o próprio rejeito: método de alteamento à montante, método de alteamento à jusante e método
da linha de centro. Em todos os casos é construído um dique de partida com material de empréstimo
e com o passar do tempo são feitos os alteamentos. Os rejeitos são lançados ao longo da crista do
dique por ciclones ou por séries de pequenas tubulações, para que haja uma formação uniforme da
praia. Os três métodos se diferenciam de acordo com a direção do alteamento em relação ao dique
inicial [15].

4.1.1. Método de montante

O método de montante é bastante antigo, simples e econômico quando comparado com os outros
métodos de construção de barragens. O início da execução deste tipo de barragem se dá a partir da
construção de um dique de partida, em geral, feito de material argiloso ou enrocamento
compactado. Posteriormente, o rejeito é lançado por canhões em direção a montante da linha de
simetria do dique (Figura 1), formando a praia de deposição, que se tornará a fundação e poderá
fornecer material de construção para o próximo alteamento. Este processo ocorre de forma
sucessiva até que a cota final de projeto seja atingida [16].
Figura 1- Método de montante [17].

Se, por um lado, o método à montante apresenta como vantagens a simplicidade e o baixo custo de
construção, por outro está associado à maioria das rupturas em barragens de rejeitos. Rupturas por
percolação e erosão (piping) também são possíveis quando a distância entre o lago de decantação e
o talude de jusante da barragem não for suficientemente grande, propiciando a ocorrência de
gradientes hidráulicos elevados [18].

Esse problema pode ser evitado através de ângulos suaves na praia de deposição e segregação e
sedimentação de partículas mais grossas junto à face de montante [16]. Sistemas de drenagem e
filtros (por exemplo tapetes drenantes) evitam aumentos excessivos de poropressões e controlam a
poluição da água subterrânea, quando for o caso. Cabe lembrar que com esse método construtivo
existe uma dificuldade na implantação de um sistema interno de drenagem eficiente para controlar o
nível d’água dentro da barragem, constituindo um problema adicional com reflexos na estabilidade
da estrutura [16].

4.1.2. Método de jusante

A construção de barragens de rejeitos pelo método de jusante representa um desenvolvimento


relativamente novo. Sua origem relaciona-se à necessidade de que os alteamentos sucessivos não
fossem executados sobre o rejeito previamente depositado e pouco consolidado [17]. A etapa inicial
consiste na construção de um dique de partida, normalmente de solo ou enrocamento compactado.
Depois de realizada esta etapa, os alteamentos subsequentes são realizados para jusante do dique de
partida (Figura 2). Este processo continua sucessivamente até que a cota final prevista em projeto
seja atingida [16].

As vantagens envolvidas no processo de alteamento para jusante consistem no controle do


lançamento e da compactação, de acordo com técnicas convencionais de construção; nenhuma parte
ou alteamento da barragem é construída sobre o rejeito previamente depositado. Além disso, os
sistemas de drenagem interna podem ser instalados durante a construção da barragem, e
prolongados durante seu alteamento, permitindo o controle da linha de saturação na estrutura da
barragem e então aumentando sua estabilidade. A barragem pode ser projetada e subsequentemente
construída apresentando a resistência necessária ou requerida, inclusive resistir a qualquer tipo de
forças sísmicas, desde que projetadas para tal, já que há a possibilidade de seguimento integral das
especificações de projeto [16].
Figura 2- Método de jusante [17].

A principal desvantagem desde método é o custo de sua implantação, devido ao grande volume de
aterro que necessita e a grande área que sua construção ocupa [18]. Consequentemente tem-se um
alto custo envolvido na execução destas estruturas. Nesse sentido, a insuficiência de rejeito
granular, principalmente nas fases iniciais de operação, pode implicar a necessidade de execução de
um dique de partida mais elevado ou utilização de materiais alternativos provenientes de áreas de
empréstimo ou do estéril da mina.

4.1.3. Método de linha de centro

Este método é uma solução intermediária entre os dois métodos apresentados anteriormente,
possuindo uma estabilidade maior que a barragem alteada somente com o método à montante,
porém não requerendo um volume de materiais tão significativo como no alteamento somente com
o método à jusante (Figura 3) [19].

Agrega-se assim vantagens e desvantagens de ambos os métodos. Entretanto, o comportamento


estrutural destas estruturas encontra-se mais próximo das barragens construídas pelo método de
jusante [19]. Constituindo uma variação deste método, onde o alteamento da crista é realizado de
forma vertical, sendo o eixo vertical dos alteamentos coincidente com o eixo do dique de partida
como mostra a figura a seguir.

Figura 3- Método de linha de centro [17].

Neste método, torna-se possível a utilização de zonas de drenagem internas em todas as fases de
alteamento, o que possibilita o controle da linha de saturação e promove uma dissipação de
poropressões, tornando o método apropriado para utilização inclusive em áreas de alta sismicidade
[16]. A Tabela 2 a seguir apresenta uma comparação entre os métodos construtivos de alteamento
de barragens de rejeitos.
Tabela 2- Comparação entre os métodos construtivos [20].
Método Vantagens Desvantagens Observações
*Melhor aproveitamento de área *Maior risco de ruptura por *Diques geralmente construídos
*Menor custo Piping com o rejeito escavado na periferia
Montante *Rápida construção * Dificuldade de implementação do lago
de sistema de drenagem eficiente

*Menor probabilidade de ruptura *Custo mais elevado. *O alteamento pode ser realizado
Interna *Menor aproveitamento da área com o próprio rejeito. No entanto
Jusante *Abatimento da linha freática, disponível. é mais comum o uso de materiais
uma vez que há sistema de drenagem. provenientes de áreas de empréstimo.

*Economia de espaço físico *Maior risco de ruptura por piping *Caso particular do método à jusante.
*Menor volume de material *Possibilidade de ocorrência de
Linha de centro Compactado fissuras no corpo da barragem.
*Boa drenagem interna

4.2. Instrumentação de barragens

A instrumentação de barragens consiste, basicamente, na utilização de instrumentos capazes de


auxiliar na análise de seu comportamento. Diante dos consideráveis riscos envolvendo este tipo de
construção, é necessário realizar este monitoramento em todas as etapas da obra. A instrumentação
apresenta funções diferentes de acordo com a fase em que se encontra o empreendimento [21].

Durante o projeto, usa-se instrumentos para determinar propriedades do solo e das rochas e alguns
parâmetros geotécnicos como resistência e permeabilidade. Na construção, os instrumentos podem
alertar sobre mudanças no comportamento da barragem e dessa forma é possível buscar soluções
mais eficientes para os problemas apresentados. Outra vantagem da instrumentação no período
construtivo é a possibilidade de realizar revisões no projeto e se necessário fazer alterações ainda na
fase inicial, sem causar grandes prejuízos futuramente. Na fase do enchimento do reservatório, a
instrumentação também pode ajudar a identificar riscos e assim evitar acidentes. Por fim, no
período de operação, os instrumentos auxiliam a verificar se a barragem está apresentando
desempenho adequado e permitem avaliar o comportamento solo e da estrutura da barragem [21].

Os avanços tecnológicos possibilitam o processamento dos dados de instrumentação sem grandes


dificuldades. Dentre os instrumentos utilizados, pode-se destacar: pressiômetros e piezocones muito
usados na fase de projeto; piezômetros, extensômetros e medidores de recalque para monitorar a
barragem durante a construção de operação.

Instrumentar uma barragem de forma adequada a fim de proporcionar altos níveis de segurança
requer um plano de instrumentação minucioso, onde estará descrita as justificativas dos
instrumentos adotados, seleção dos equipamentos e o projeto de instrumentação. Dessa maneira, é
possível afirmar que o investimento feito, será, de fato, revertido em maior segurança da obra.
5. SEGURANÇA DE BARRAGENS EM MINAS GERAIS

De acordo com a Agência Nacional de Mineração (ANM, 2016), 44% das barragens de Mineração
do país concentram-se no Estado de Minas Gerais (MG), seguido por São Paulo com 13%, e Pará
com 11% [12].

A exploração de minérios na região é de grande importância para a economia do estado, entre


muitos recursos minerais, destacam-se o calcário muito importante para a indústria do cimento as
minas de ferro e de manganês que servem à indústria siderúrgica, a bauxita à produção de alumínio,
e as rochas fosfáticas usadas em fertilizantes [12].

A Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais (FEAM-MG) desenvolve e implementa


as políticas públicas ambientais e à gestão dos efluentes líquidos e resíduos sólidos. Desta maneira,
desde o ano de 2008, foi criado o cadastramento das barragens no Estado, que tem a função de
classificar as barragens de acordo com o potencial de dano ambiental e a atualização sistemática
das informações relativas às auditorias de segurança, buscando diminuir as chances de ocorrências
de acidentes com danos ambientais [12].

Não existe um consenso sobre o número de barragens no Estado. A FEAM-MG, lista um total de
439 barragens construídas no estado, no ano de 2016. Já o RSB da ANA (2017) consta o cadastro
de um total de 325 barragens [12]. Essa divergência mostra que não há uma comunicação adequada
entre as instituições estaduais e federais. A criação de um banco de dados único com informações
atualizadas seria de grande importância para consultas relativas ao assunto.

6. CONCLUSÃO

A segurança de barragens é extremamente importante no sentido de evitar acidentes graves capazes


de trazer problemas ambientais, sociais e econômicos. Construir e operar barragens altamente
seguras depende do envolvimento de diversos segmentos. As autoridades legais e a agência
fiscalizadora têm o importante papel de fazer cumprir as regras estabelecidas pela legislação e
penalizar aqueles que não as cumprem. Já o corpo técnico da obra deve utilizar de todo o
conhecimento e tecnologias disponíveis desde a concepção da ideia, passando pelo projeto e
chegando à construção e operação da barragem.

Todos os agentes envolvidos devem buscar incansavelmente por barragens cada vez mais seguras,
uma vez que podem ser atingidos de forma implacável caso ocorra algum acidente. Para a empresa
responsável pela barragem, acidentes podem significar multas elevadas e grandes prejuízos; em
relação ao meio ambiente, pode haver contaminação, assoreamento e danos a flora e a fauna; quanto
a população residente próxima a barragem, um desastre pode levar a morte de muitas pessoas,
destruição de localidades, doenças e prejuízos econômicos.

Para minimizar esses danos, o ideal seria que na área a jusante das barragens, não houvesse
ocupação humana ou manancial, entretanto, transformar isso em realidade depende de políticas
públicas eficientes, humanas e bem desenvolvidas capazes de levar a população dessas áreas para
outros locais assegurando qualidade de vida para essas pessoas. Em contrapartida é preciso ter uma
fiscalização atuante para impedir a construção de novas barragens nas proximidades de
comunidades.

Em relação aos projetos de segurança, devem ser feitas revisões minuciosas com o passar do tempo.
Mudanças podem ser necessárias de acordo com alterações não previstas e com o envelhecimento e
deterioração das estruturas.

Quanto a legislação, sabe-se que o Brasil já avançou neste quesito: as diversas alterações na
legislação apresentadas demonstram isto, entretanto, ainda há muito o que ser feito. A possibilidade
de ainda se construir barragens de rejeito com alteamento a montante é preocupante, uma vez que
este método apresenta problemas e não garante bons níveis de segurança quanto o método de
jusante e o de linha de centro.

Outro problema associado à legislação é a ineficiência dos órgãos fiscalizadores. Estes, muitas
vezes, não conseguem fazer cumprir os termos estabelecidos pela lei, isso se dá tanto por
negligência dos envolvidos nas inspeções quanto por falta de profissionais capacitados para realizar
a fiscalização. No caso do acidente de Mariana, por exemplo, o Tribunal de Contas da União
afirmou que “quanto ao processo de fiscalização das barragens a cargo do DNPM, chegou-se à
conclusão que a atuação da autarquia é frágil, deficiente e carente de uma coordenação adequada, não
atendendo, em consequência, aos objetivos da Política Nacional de Segurança de Barragens"[22].

Dessa maneira, fica clara a necessidade de empenho do poder público para garantir barragens
efetivamente seguras e comprometimento dos profissionais em utilizar todo o conhecimento
disponível e desenvolver tecnologias para se ter cada vez menos acidentes. Além disso, cabe a
população reivindicar ao Estado o desenvolvimento de leis mais efetivas, fiscalizações eficientes e
punição aos não cumpridores da legislação vigente.

REFERÊNCIAS
[1] BRASIL. Congresso. Senado. Comissão mista da medida provisória nº 789, de 2017, Brasília, DF, 3Out. 2017.
Diário Oficial Da República Federativa Do Brasil. Disponível em: <file:///C:/Users/User/Downloads/DOC_PAR
TICIPANTE_EVT_4612_1507052252028_KComissaoMistaMPComissaoCMMPV789201720171003REU006_part
e8702_RESULTADO_1507052252028%20(1).pdf>. Acesso em: 6 out. 2018.
[2] ESPÓSITO, T. D. J. Metodologia probabilística e observacional aplicada a barragens de rejeitos construídas
por aterro hidráulico. 2000. 363 p. Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, UnB, Brasília, DF. Disponível
em: < http://www.geotecnia.unb.br/downloads/teses/004-2000.pdf>. Acesso em: 6 out. 2018.
[3] PEREIRA, O. F. M. Análise da classificação de barragens de contenção de rejeitos no brasil, quanto ao
critério de categoria de risco. 2016. 53p. Programa de Mestrado Profissional em Uso Sustentável de Recursos
Naturais em Regiões Tropicais do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento.
[4] LOPES, L. M. N. O rompimento da barragem de Mariana e seus impactos socioambientais. Sinapse múltipla, v.5,
n.1, 2016. Disponível em: < http://seer.pucminas.br/index.php/sinapsemultipla/article/view/11377/9677>. Acesso
em: 17 out. 2018.
[5] Minas já sofreu com outros rompimentos de barragem. O tempo. Disponível em :< https://www.otempo. com.br/
cidades/minas-j%C3%A1-sofreu-com-outros-rompimentos-de-barragens-1.1159501>. Acesso em: 6 out. 2018.
[6] DUARTE, A. P. Classificação das barragens de contenção de rejeitos de mineração e de resíduos industriais
no estado de minas gerais em relação ao potencial de risco. Programa de pós-graduação em saneamento, meio
ambiente e recursos hídricos, UFMG. Belo Horizonte, MG. Disponível em: < http://www.smarh.eng.ufmg.br/defesa
s/502M.PDF>. Acesso em 17 out. 2018.
[7] Agência Nacional das Águas. Barragens. Disponível em: <http://www3.ana.gov.br/portal/ANA/regulacao/outorga-
e-fiscalizacao/barragens>. Acesso em: 6 out. 2018.
[8] Departamento Nacional de Produção Mineral. Segurança de Barragens. Disponível em:
<http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00005316.pdf>. Acesso em: 6 out. 2018.
[9] BRASIL. Resolução nº 144, de 10 de julho de 2012. Conselho Nacional De Recursos Hídricos. Disponível em:
<https:// sistemas.dnpm.gov.br/publicacao/mostra_imagem.asp?IDBancoArquivo Arquivo=7234>. Acesso em: 2
nov. 2018.
[10] BRASIL. Resolução no 143, de 10 de julho de 2012. Conselho Nacional De Recursos Hídricos. disponível em:
<http://adcon.rn.gov.br/ACERVO/semarh/DOC/DOC000000000020854.PDF>. Acesso em: 2 nov. 2018.
[11] BRASIL. Portaria nº 70.389, de 17 de maio de 2017. Departamento Nacional de Produção Mineral. Disponível
em: < http://www.dnpm.gov.br/acesso-a-informacao/legislacao/portarias-do-diretor-geral-do-dnpm/portarias-do-
diretor-geral/portaria-70-389-de-2017>. Acesso em: 2 nov. 2018.
[12] Costa, K. O. B; Leite, L. S; Maia, P. C. A; X, G. C. Barragens de rejeito: O cenário das duas últimas décadas. In
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos, 19, 2018. Salvador. Anais eletrônicos COBRAMSEG, Salvador,
2018. Disponível em: < file:///C:/Users/User/Downloads/35933.pdf>. Acesso em: 17 out. 2018
[13] Legislação vigente sobre barragens de rejeito. Lei.a. Disponível em: <http://blog.leia.org.br/entenda-a-legislacao-
vigente-sobre-barragens-de-rejeito>. Acesso em: 2 nov. 2018.
[14] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13028: Mineração - Elaboração e apresentação
de projeto de barragens para disposição de rejeitos, contenção de sedimentos e reservação de água - Requisitos. Rio
de Janeiro, 2017.
[15] Como é construída uma barragem de rejeito. Organics News Brasil. Disponível em: <https://organicsnewsbrasil.
com.br/meio-ambiente/barragem-mg/como-e-construida-uma-barragem-de-rejeitos/>. Acesso em: 8 out. 2018.
[16] ARAÚJO, C. B. Contribuição ao Estudo do Comportamento de Barragens de Rejeito de Mineração de ferro.
2006. 136p. Faculdade de Engenharia Civil, COPPE/UFRJ. Rio de Janeiro, RJ. Disponível em: < http://wwwp
coc.ufrj.br/teses/mestrado/geotecnia/2006/teses/ARAUJO_ CB_06_t_ M_geo.pdf>. Acesso em: 15 out. 2018.
[17] ALBUQUERQUE FILHO, L. H. Avaliação do comportamento geotécnico de barragens de rejeitos de minério
de ferro através de ensaios de piezocone. 2004. 192 p. Departamento de Engenharia Civil, UFOP, Ouro Preto,
MG. Disponível em: <file:/// C:/Users/User/Downloads/DISSERTA%C3%87% C3%83O_Avalia%C3%A7%C3%A
7%C3%A3oComportamentoGeot%C3%A9cnico.pdf>. Acesso em: 15 out. 2018.
[18] RAFAEL, H. M. A. M. Análise do potencial de liquefação de uma barragem de rejeito. 2012. 103 p.
Departamento de Engenharia Civil, PUC-Rio, Rio de Janeiro, RJ. Disponível em: <https://www.maxwell.vrac.puc-
rio.br/20720/20720_3.PDF>. Acesso em: 15 out. 2018.
[19] ASSIS, A; ESPÓSITO, T. Construção de barragens de rejeitos sob uma visão geotécnica. In: Simpósio Sobre
Barragens De Rejeitos E Disposição De Resíduos - REGEO, 3., 1995, Ouro Preto, Anais Ouro Preto:
ABMS/ABGE/CBGB,1995.
[20] CAMPOS, T. M. P. Geotecnia e Meio Ambiente: Relato do Estado da Arte. In VIII COBRAMSEF. Porto
Alegre, 1986.
[21] MACHADO, W. G. L. Monitoramento de barragens de contenção de rejeitos da mineração. 2007. 155p.
Escola Politécnica da USP, São Paulo, SP. Disponível em: <file:///C:/Users/User/Downloads/Dissertacao
WillianGladstoneMachado.pdf>. Acesso em: 17 out. 2018.
[22] Fiscalização de barragens foi frágil e deficiente, avalia TCU sobre Mariana. G1. Disponível em:
<http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em-mariana/noticia/2016/09/fiscalizacao-de-barragens-foi-
fragil-e-deficiente-avalia-tcu-sobre-mariana.html >. Acesso em: 2 nov. 2018.
PREVISÃO DO COMPORTAMENTO DE ATERROS A PARTIR DA
ANÁLISE DOS PARÂMETROS DE RESISTÊNCIA DOS RESÍDUOS

Analysis of residual resistance parameters analysis of the residual parameters

Patrícia de Oliveira Silva 1, Júlia Righi de Almeida 2, Sarah Kirchmaier Fayer 3


1Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, patrícia.oliveira@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, julia.righi@ufjf.edu.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, sarah.kirchmaier@engenharia.ufjf.br

Resumo: O aumento na geração de resíduos é uma realidade que se reflete na dificuldade de


encontrar áreas adequadas para a disposição correta dos mesmos, o que tem levado engenheiros e
técnicos a pensar em formas de aumentar a vida útil dos aterros. Para que isso seja possível, são
necessárias avaliações da estabilidade dos maciços, a fim de evitar futuros acidentes. Neste trabalho
foram feitas análises da variação dos fatores de segurança de aterros de três diferentes tipos de
resíduos: predominantemente orgânicos, reforçados com fibras e industriais. Para tais avaliações,
foram consideradas variações na linha piezométrica e nos parâmetros de resistência do material. Os
fatores de segurança foram obtidos a partir das análises de estabilidade realizadas no software
GeoStudio 2018 e os parâmetros utilizados foram escolhidos com base na literatura. A partir da
análise dos resíduos com predominância de material orgânico, verificou-se que quanto mais alta a
linha piezométrica, menor é a estabilidade do maciço, visto que o fator de segurança variou de
0.288 a 2.088 dependendo da altura desta linha. Além disso, observou-se que com o acréscimo de
material com características coesivas ocorreu um aumento no fator de segurança de 0.666 para
1.663. Com a análise dos resíduos reforçados com fibras, verificou-se que o acréscimo de material
fibroso à matriz é vantajoso até certo ponto, a partir do qual o fator de segurança começa a diminuir.
Na análise realizada com acréscimo de 10% de fibra o fator de segurança encontrado foi de 1.141 e
com o acréscimo de 20% foi de 1.028, levando a concluir que deve-se atentar para a quantidade
ideal de fibra a ser adicionada. Outro aspecto observado, foi que fatores de segurança obtidos com
dados de aterros brasileiros foram menores do que os obtidos com dados de aterros europeus,
mostrando ser necessário um cuidado especial na hora de importar determinados parâmetros para
projetos no Brasil. Além disso, os resultados mostraram que resíduos mais antigos também tendem
a ser mais estáveis. Com os resultados obtidos na análise de resíduos industriais observou-se que
com o aumento da linha piezométrica houve uma redução considerável no fator de segurança, de
1.223 para 0.243. Com isso, conclui-se que é necessário que o sistema de drenagem interna seja
eficiente, pois mesmo sem a geração de chorume, em locais com altos índices pluviométricos
podem ocorrer posições mais desfavoráveis de linha piezométrica, causando uma diminuição da
estabilidade do maciço.

Palavras-chave: Aterros de Resíduos, Estabilidade, Parâmetros de Resistência

Abstract: The increase in waste generation is a reality that is reflected in the difficulty of finding
suitable areas for the correct disposal of the same, which has led engineers and technicians to
consider ways to increase the life of landfills. For this to be possible, stability assessments of
massifs are required to prevent future accidents. In this work, analyzes of the variation of the safety
factors of landfills of three different types of residues were performed: predominantly organic,
reinforced with fibers and industrial. For these evaluations, variations in the piezometric line and
the resistance parameters of the material were considered. The safety factors were obtained from the
stability analyzes performed in GeoStudio 2018 software and the parameters used were defined
based on the literature. From the analysis of the residues with predominance of organic material, it
was verified that the higher the piezometric line, the lower the stability of the massif, since the
safety factor ranged from 0.288 to 2.088 depending on the height of this line. In addition, it was
observed that with the addition of material with cohesive characteristics there was an increase in the
safety factor from 0.666 to 1.663. With the analysis of fiber reinforced residues, it has been found
that the addition of fibrous material to the matrix is advantageous to some extent, from which the
safety factor begins to decrease. In the analysis carried out with an increase of 10% of fiber, the
safety factor found was of 1.141 and with the addition of 20% it was of 1.028, leading to the
conclusion that one must pay attention to the ideal amount of fiber to be added. Another aspect
observed was that safety factors obtained with data from Brazilian landfills were lower than those
obtained with data from European landfills, showing that special care is needed when importing
certain parameters for projects in Brazil. In addition, the results showed that older waste also tends
to be more stable. With the results obtained in the analysis of industrial waste it was observed that
with the increase of the piezometric line there was a considerable reduction in the safety factor,
from 1.223 to 0.243. Therefore, it is concluded that it is necessary that the internal drainage system
be efficient, since even without slurry generation, as in the case of industrial landfills, in places with
high rainfall rates, more favorable positions of the piezometric line may occur, causing a the
stability of the massif.

Keywords: Landfills, Stability, Resistance Parameters

1. INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização
Com o avanço da industrialização, problemas ambientais associados à área geotécnica foram
surgindo. Como exemplos, temos as contaminações de solo por substâncias químicas, a necessidade
crescente de áreas apropriadas para disposição dos mais diversos tipos de resíduos e a disposição de
rejeitos de mineração. No entanto, nem todas as respostas e soluções foram encontradas nos
conhecimentos clássicos da engenharia geotécnica, havendo a necessidade da pesquisa e
desenvolvimento de novas técnicas, apoiadas na geotecnia, para fazer frente aos novos desafios,
surgindo assim, a geotecnia ambiental. Nas últimas décadas, esse novo ramo da ciência geotécnica
vem sendo desafiado a responder questões que afetam a vida moderna. Exemplo disso é a questão
da destinação final dos resíduos sólidos urbanos (RSU), cuja geração aumenta cada vez mais, o que
cria a necessidade de soluções cada vez mais pautadas em técnicas refinadas, visando causar o
menor impacto ambiental possível, preservar a saúde pública e reduzir custos associados (IZZO e
NAGALLI, 2013).
A escolha do local adequado para receber um aterro sanitário depende de várias características que
devem ser levadas em consideração, tais como a distância do centro populacional mais próximo,
distância de cursos d’água, profundidade do lençol freático, área que atenda à vida útil desejada,
etc. Logo, são poucos os terrenos que se enquadram nas exigências feitas em norma, e por esse
motivo o aumento na verticalização dos maciços tem sido uma saída para a otimização do plano de
ocupação da área e aumento da vida útil do aterro.
O aumento na verticalização tem como consequência um crescimento no número de acidentes
geotécnicos, que podem ocorrer por causas naturais, projetos inadequados, ausência ou ineficiência
de sistemas de drenagem de líquidos e gases, problemas construtivos e operacionais e inexistência
de programas de monitoramento ambiental e geotécnico (BATISTA, 2010). A falta de
conhecimento sobre o material depositado traz uma certa insegurança em relação a estabilidade do
maciço, já que não é costume ensaiar o material recebido.
1.2. Revisão bibliográfica
1.2.1. Formas de disposição de resíduos
Parte da população não se importa com o que vai acontecer com o seu lixo, desde que não fique em
suas casas. Essa atitude se dá pela falta de conhecimento dos problemas causados por ele. A
quantidade de lixo produzido está intimamente ligada ao poder aquisitivo da sociedade, que vem
aumentando no Brasil. Este aumento tem trazido graves consequências, já que a utilização de
métodos como reciclagem e compostagem ainda é pouco efetiva e a disposição final de forma
inadequada ainda é uma realidade.
Os aterros sanitários devem ser utilizados para a disposição de rejeitos, materiais que já esgotaram
todas as possibilidades de reaproveitamento e reciclagem. Compostagem, reciclagem e incineração
são métodos de tratamento que precedem a disposição final, as quais têm como finalidade reduzir o
volume de resíduos e transformá-los em materiais inertes ou estáveis. As três formas de disposição
final de resíduos mais utilizadas são: lixão ou vazadouro, aterro controlado e aterro sanitário. O
aterro industrial tem como finalidade a destinação de resíduos provenientes de indústrias.
Segundo Borgatto (2006), lixão ou vazadouro é uma forma inadequada de disposição, que consiste
no simples depósito do lixo sobre o solo sem nenhuma técnica nem proteção ao meio ambiente ou a
saúde pública. Aterro controlado é uma forma de disposição em que alguns princípios de
engenharia são utilizados, tais como confinamento dos resíduos, cobertura final, captação de gases,
recirculação de chorume e impedimento da circulação de pessoas.
De acordo com a Norma da ABNT, NBR 8419/1992, aterro sanitário de resíduos sólidos urbanos é
definido como:
Técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo,
sem causar danos à saúde pública e à sua segurança,
minimizando os impactos ambientais, método este que
utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos
sólidos a menor área possível e reduzi-los ao menor volume
permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na
conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos
menores, se necessário.
O aterro industrial é utilizado como destinação final de resíduos produzidos pelas indústrias, o qual
utiliza de rigorosas técnicas nacionais e internacionais para que a disposição seja realizada de forma
controlada e correta, sem acarretar danos à saúde pública e minimizar os danos ambientais. Um
cuidado especial que se deve tomar na operação é o controle dos resíduos a serem dispostos, pois só
podem ser dispostos resíduos quimicamente compatíveis, ou seja, aqueles que não reagem entre si,
nem com as águas de chuva infiltradas (PINTO, 2011).
1.2.2. Acidentes em aterros
A ocorrência de acidentes em aterros de resíduos se dá pela sua inadequada disposição, falta de
monitoramento das células, problemas nos sistemas de drenagem, aumento da sobrecarga, falta de
informações sobre as características do resíduo depositado, entre outros. Além disso, a demanda por
maiores volumes tem levado a ampliações dos maciços, através de um aumento na altura das
células.
Como muitas obras de engenharia, os principais avanços no que diz respeito a estabilidade de
aterros sanitários só ocorrem após acidentes, muitas vezes, graves. Um bom exemplo disso é que os
critérios de projeto vigentes atualmente no Brasil foram estabelecidos após estudos feitos depois de
um acidente no Aterro Bandeirantes, em 24 de junho de 1991 (BENVENUTO, 2012).
Na região sudeste, o primeiro aterro sanitário licenciado foi o Aterro Bandeirantes, que começou
sua operação em 01 de setembro de 1979, com previsão de encerramento para junho de 2006. No
ano 2000 já haviam sidos depositados 24.250.000 toneladas de resíduos, sendo que a capacidade
total do aterro era de 30.000.000 toneladas (AZEVEDO, 2004). Em 1991 ocorreu uma ruptura na
qual 65.000 m³ de resíduos depositados escorregaram para a Rodovia dos Bandeirantes. Foi esse
acidente que impulsionou os estudos relativos a estabilidade e monitoramento geotécnico de
maciços de resíduos (COSTA, 2017). A Figura 1 mostra uma imagem de antes e depois do
escorregamento.

Figura 1 - Aterro Bandeirantes antes e depois da ruptura, respectivamente (BATISTA, 2010).

1.2.3. Estabilidade e parâmetros de resistência


A análise da estabilidade de aterros de resíduos tem como objetivo avaliar o risco de ruptura de
maciços, propiciar dados para a elaboração de projetos adequados, prever possíveis pontos nos
quais possam ocorrer escorregamentos futuros e, nos casos em que já ocorreu algum
escorregamento, avaliar como e por que ocorreram e o que pode ser feito para amenizar os danos
causados (MARTINS, 2006).
Para que seja feita a avaliação da segurança em taludes de aterros de resíduos é necessária a análise
da estabilidade do mesmo, e essa análise é realizada através de métodos clássicos da mecânica dos
solos (MARTINS, 2006).
Para Borgatto (2006) a utilização desses métodos pode acarretar em resultados não compatíveis
com a realidade, já que o resíduo é um material com características e propriedades distintas das dos
solos, como heterogeneidade, anisotropia (resultado da deposição em camadas), mudança na
composição com o passar do tempo ou de um lugar para outro, variação de suas propriedades e alto
índice de vazios. Logo, é necessário que o projeto de um aterro de resíduos seja feito com muita
cautela de forma a adaptar as diferenças entre solos e resíduos (FUCALE, 2005). A determinação
da coesão e do ângulo de atrito interno, a escolha de uma geometria adequada e o estudo das
condições de fundação do aterro são essenciais para a análise da estabilidade (BORGATTO, 2006).
A redução da resistência interna dos materiais e o acréscimo de solicitações externas, como
aumento na verticalização do maciço, são os principais fatores que causam escorregamentos em
aterros sanitários (SCHULER, 2010). Além disso a permeabilidade também interfere, pois quanto
maior o acúmulo de líquidos e gases no interior do maciço, maior será a poropressão e, como
consequência, menor será a resistência interna (MARTINS, 2006).
O tempo é um fator importante na estabilidade de aterros sanitários, pois a resistência ao
cisalhamento está diretamente ligada ao estado de alteração e composição dos resíduos
(CARVALHO, 1999).
Os parâmetros de resistência dos resíduos são o ângulo de atrito e coesão, que podem variar de
acordo com composição, idade, profundidade, grau de compactação, índice de vazios, etc. Esses
parâmetros são a base para a análise da estabilidade de aterros sanitários, pois interferem na
resistência ao cisalhamento desenvolvida no interior da massa de resíduo (KÖNIG E
JESSBERGER, 1997 apud CARDIM, 2008).
Vale ressaltar que nos projetos de aterros elaborados no Brasil, é comum a utilização de parâmetros
presentes na literatura, já que a realização de ensaios específicos para o local onde será o
empreendimento não é comumente feita (OLIVEIRA, 2002).

2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é avaliar o comportamento de aterros de três diferentes tipos de resíduos:
predominantemente orgânicos, reforçados com fibra e industriais, a partir dos resultados de fatores
de segurança obtidos. Para tanto, serão apresentadas simulações utilizando o software GeoStudio
2018.

3. METODOLOGIA
As metodologias de pesquisa aplicadas ao trabalho foram bibliográfica, desenvolvida com base em
material científico como artigos, dissertações de mestrado, teses de doutorado e normas técnicas, e
experimental, utilizando a modelagem computacional para realizar simulações por meio do software
GeoStudio 2018.
4. RESULTADOS
Nas simulações mostradas abaixo levou-se em consideração a composição dos resíduos e a
influência da linha piezométrica. Foi adotada uma única geometria para todas as simulações, com a
finalidade de facilitar as comparações e discussões. A geometria escolhida teve como referência o
trabalho de Suzuki (2012).
4.1. Resíduos com predominância de material orgânico
Em países desenvolvidos existe uma predominância de materiais plásticos e fibrosos nos resíduos,
já que a utilização de produtos industrializados é maior e o incentivo a processos como
compostagem e incineração também são maiores. Dessa forma, os materiais que realmente são
depositados nos aterros sanitários praticamente não geram chorume, que é um líquido com grande
potencial poluidor e que causa instabilidade no maciço.
Do total de 220 mil toneladas de resíduos gerados diariamente no Brasil, considera-se que 58% seja
orgânico, o que significa que o país produz cerca de 128 mil toneladas/dia de resíduos compostáveis
(MAHLER, 2012). Esse tipo de resíduo contribui com grande parte da geração de chorume, o que
deve ser levado em consideração ao analisar a estabilidade dos aterros. Os parâmetros utilizados
para esse tipo de resíduo foram extraídos do trabalho de Ribeiro (2007), no qual é feita a
determinação de parâmetros de resistência (coesão e ângulo de atrito) de resíduos sólidos urbanos
coletados na cidade de Viçosa – MG, por meio de retroanálises de testes em laboratório. Foram
realizados dois ensaios de prova de carga confinados para a obtenção dos parâmetros. Após a
montagem do equipamento de carga, realizou-se a compactação dos RSU para alcançar os pesos
específicos de 7 e 5 kN/m³. Os valores de coesão foram escolhidos de forma arbitrária, para
possibilitar o cálculo do ângulo de atrito utilizando as cargas de ruptura obtidas nos ensaios
(RIBEIRO, 2007). Na Tabela 1 estão os dados utilizados na simulação.
Tabela 1 - Parâmetros de resistência de resíduos com predominância de material orgânico (modificado de RIBEIRO, 2007).

ANÁLISE ϒ (kN/m³) C (kN/m²) ϕ (º)

1 7 20 30,17
2 7 40 28,66
3 5 40 23,13

4.1.1. Simulações – Análise 1


Nas Figuras 4, 5 e 6 são mostradas simulações em que foram mantidos os mesmos parâmetros,
sendo variada apenas a posição da linha piezométrica, de acordo com o que foi pré-estabelecido.
Analisando os resultados é possível observar que o fator de segurança é alto no caso da linha
piezométrica baixa: 2,088, e o maciço é considerado estável. Com a linha piezométrica na metade
do maciço o fator de segurança diminui para 0,666. Quando a linha piezométrica é colocada no
limite máximo, o fator de segurança é levado a 0,288, que é muito menor do que o limite que
garante sua estabilidade. Logo, conforme esperado, quanto mais alta a linha piezométrica, menor é
o fator de segurança, ou seja, menos estável está o maciço. Como o resíduo analisado possui
predominância de material orgânico, deve-se atentar para a quantidade de chorume gerado em seu
interior, pois esse eleva a linha piezométrica, o que não é desejável. Na Tabela 2 tem-se um resumo
dos fatores de segurança obtidos.
Figura 2 - Simulação 1 (FS = 2,088) (AUTORAS, 2018).

Figura 3 - Simulação 1 (FS = 0,666) (AUTORAS, 2018).


Figura 4 - Simulação 3 (FS = 0,288) (AUTORAS, 2018).

Tabela 2 - Fatores de segurança encontrados (AUTORAS, 2018).


SIMULAÇÃO ϒ (kN/m³) C (kN/m²) ϕ (º) FS
1 7 20 30,17 2,088
2 7 20 30,17 0,666
3 7 20 30,17 0,288

Para todas as análises apresentadas abaixo, foram utilizadas a mesma geometria e as mesmas
posições de linha piezométrica mostrados nas Figuras 4, 5 e 6.
4.1.2. Simulações – Análise 2
Comparando os dados de entrada das simulações mostradas na Tabela 3 com os obtidos na
Análise 1, pode-se observar que o peso específico permaneceu o mesmo, a coesão dobrou de valor e
o ângulo de atrito teve uma pequena redução. A princípio já é possível observar que os fatores de
segurança obtidos nessa Análise são bem maiores que os da Análise 1, sendo garantida a
estabilidade mesmo quando a linha piezométrica está no limite máximo. Como a maior diferença
entre essas Análises está na coesão, podemos concluir que esse aumento reflete em uma maior
estabilidade no maciço. Dessa forma, a mistura de um material com característica coesiva ao
resíduo pode ser uma opção caso seja necessário um aumento na estabilidade do talude.
Tabela 3 - Fatores de segurança encontrados (AUTORAS, 2018).
SIMULAÇÃO ϒ (kN/m³) C (kN/m²) ϕ (º) FS
4 7 40 28,66 2,696
5 7 40 28,66 1,663
6 7 40 28,66 0,489
4.1.3. Simulações – Análise 3
Comparando as características dos resíduos utilizadas nas simulações mostradas na Tabela 4 com as
utilizadas na Análise 2, tem-se uma redução do peso especifico juntamente com uma redução do
ângulo de atrito. A coesão utilizada nas duas Análises é igual. Os fatores de segurança encontrados
são bem altos e maiores que os da Análise 2, sendo que nas três posições da linha piezométrica o
maciço se encontra estável. Conclui-se, portanto, que aumentar a coesão juntamente com a redução
do peso específico garante ao resíduo uma maior estabilidade.
Tabela 4 - Fatores de segurança encontrados (AUTORAS, 2018).
SIMULAÇÃO ϒ (kN/m³) C (kN/m²) ϕ (º) FS
7 5 40 23,13 3,324
8 5 40 23,13 3,583
9 5 40 23,13 0,855

4.2. Resíduos reforçados com fibras


Os resíduos sólidos urbanos são compostos por três fases: sólida, líquida e gasosa. A fase líquida é
constituída por água e chorume, a fase gasosa pelos gases gerados no processo de decomposição da
matéria orgânica e a fase sólida por materiais inertes estáveis (vidro, metal e resto de construção),
materiais bastante deformáveis (tecidos, papeis e plásticos) e materiais facilmente degradáveis
(material orgânico) (GRISOLIA et al., 1995 e MNASSERO et al., 1996 apud FUCALE, 2005).
A presença de materiais compressíveis diferencia os RSU dos solos e este tipo de material
proporciona um comportamento similar ao de uma massa de solo reforçada, pois após as
deformações sofridas os mesmos formam uma estrutura de reforço a tração (COWLAND et al.,
1993 apud FUCALE, 2005). Para as simulações seguintes foram usados os dados do trabalho de
Fucale (2005), os quais foram obtidos através de ensaios de cisalhamento direto convencional e de
maiores dimensões. Para os ensaios foram utilizados dois tipos de fibras diferentes, fibra geotécnica
e fibras de resíduos sólidos, as quais foram obtidas através de plásticos e trapos coletados de
amostras de resíduos sólidos (FUCALE, 2005). Na Tabela 5 encontram-se os parâmetros utilizados,
que são a realidade de dois aterros situados na Alemanha.
Tabela 5 - Parâmetros de resistência de resíduos reforçados com fibra (modificado de FUCALE, 2005).

RESÍDUO ANÁLISE MATERIAL ϒ (kN/m³) C (kN/m²) ϕ (º)

RESÍDUOS 4 Básico 17,3 29,7 42,5


SÓLIDOS
VELHO 5 Teor de fibra de 8% 14,7 24,3 50,8

RESÍDUOS 6 Básico 14,5 16 40,1


SÓLIDO
PRÉ- 7 Teor de fibra de 20% 12,5 16 45,4
TRATADOS
8 Teor de fibra de 10% 13,6 16 48,1
4.2.1. Simulações – Análise 4
Analisando as simulações apresentadas na Tabela 6, conforme esperado e já apresentado nos
resíduos com predominância de orgânicos, o fator de segurança, ou seja, a estabilidade do maciço
está intimamente ligada a posição da linha piezométrica. Quanto mais alta, menor é o fator de
segurança.
Segundo Fucale (2005), a matriz básica é constituída por partículas de granulação fina a média
(inferiores a 8 mm), a qual é responsável pelas propriedades de atrito. Comparando com os
resultados da Análise 1, já que a Análise 4 é uma matriz básica, pode-se observar que os fatores de
segurança são maiores na Análise 4. Essa diferença pode ser justificada pelo fato dos resíduos nessa
Análise serem caracterizados como velhos, ou seja, já houve uma maior decomposição do material
orgânico, logo já ocorreu parte dos recalques e, como consequência, o maciço é mais estável do que
um resíduo mais novo, como encontrado na Análise 1. Outra justificativa possível é que os dados da
Análise 4 são de um aterro na Alemanha e por se tratar de um país desenvolvido é possível que a
composição do resíduo tenha uma maior quantidade de material plástico, quando comparado a
resíduos brasileiros. Essa observação mostra que utilizar parâmetros importados de outros países
pode ser arriscado, já que a composição do lixo varia de acordo com as características da sociedade
e clima da região.
Tabela 6 - Fatores de segurança encontrados (AUTORAS, 2018).
SIMULAÇÃO ϒ (kN/m³) C (kN/m²) ϕ (º) FS
10 17,3 29,7 42,5 2,256
11 17,3 29,7 42,5 1,490
12 17,3 29,7 42,5 1,078

4.2.2. Simulações – Análise 5


Os parâmetros utilizados para as simulações presentes na Tabela 7 foram obtidos a partir de
resíduos com adição de material fibroso a sua matriz básica, levando a um teor de fibras de 8%. Foi
possível observar um aumento considerável no ângulo de atrito em relação ao da Análise 4, que é a
matriz básica. Esse aumento no ângulo de atrito levou a um aumento considerável no fator de
segurança, ou seja, na estabilidade.
Tabela 7 - Fatores de segurança encontrados (AUTORAS, 2018).
SIMULAÇÃO ϒ (kN/m³) C (kN/m²) ϕ (º) FS
13 14,7 24,3 50,8 2,554
14 14,7 24,3 50,8 1,410
15 14,7 24,3 50,8 0,917

4.2.3. Simulações – Análise 6


As simulações encontradas na Tabela 8 utilizaram de características da matriz básica de resíduos
pré-tratados. Comparando com os resultados da Análise 4 é possível observar uma redução no fator
de segurança, o que pode ser justificado pela idade dos resíduos, já que na Análise 4 são utilizados
resíduos velhos e nessa última são utilizados resíduos mais novos.
Tabela 8 - Fatores de segurança encontrados (AUTORAS, 2018).
SIMULAÇÃO ϒ (kN/m³) C (kN/m²) ϕ (º) FS
16 14,5 16 40,1 2,023
17 14,5 16 40,1 1,102
18 14,5 16 40,1 0,720

4.2.4. Simulações – Análise 7


Os parâmetros utilizados nas simulações mostradas na Tabela 9 diferem dos utilizados na Análise 6
devido ao acréscimo de material fibroso à matriz básica (teor de fibra de 20%), levando a uma
redução do peso específico e um aumento do ângulo de atrito. A partir dessas mudanças obteve-se
um fator de segurança um pouco maior que os da matriz básica. Confirmando o que já foi
observado anteriormente, o acréscimo de fibras aumenta o ângulo de atrito e, como consequência,
aumenta o fator de segurança. Logo, a adição de fibras ao resíduo é uma opção que gera um
aumento na estabilidade.
Tabela 9 - Fatores de segurança encontrados (AUTORAS, 2018).
SIMULAÇÃO ϒ (kN/m³) C (kN/m²) ϕ (º) FS
19 12,5 16 45,4 2,300
20 12,5 16 45,4 1,028
21 12,5 16 45,4 0,576

4.2.4. Simulações – Análise 8


Nas simulações mostradas na Tabela 10 houve um acréscimo de 10% de material fibroso à matriz
básica de resíduos. Esse acréscimo proporcionou um aumento do ângulo de atrito e uma diminuição
do peso específico. Fucale (2005) observou que o material com teor de fibra de 10% apresentou
maior valor de resistência em todos os ensaios, quando comparado aos dados da matriz cujo teor de
fibras é o dobro, 20%. Nesse caso, os fatores de segurança encontrados não são maiores apenas que
os da na matriz básica, mas também que os resíduos com teor de fibra de 20%. Logo pode-se
observar que há um limite para que o acréscimo de fibras aumente a estabilidade. Dessa forma,
deve-se atentar para que este limite não seja ultrapassado, o que diminuiria o fator de segurança.
Tabela 10 - Fatores de segurança encontrados (AUTORAS, 2018).
SIMULAÇÃO ϒ (kN/m³) C (kN/m²) ϕ (º) FS
22 13,6 16 48,1 2,375
23 13,6 16 48,1 1,141
24 13,6 16 48,1 0,687

4.3. Resíduos industriais


O crescimento da industrialização acarreta um aumento na quantidade de resíduos industriais, sendo
importante destiná-los de forma correta. Atualmente a destinação mais adequada é o aterro
industrial, construído de acordo com normas específicas para o tipo de resíduo que ali chega.
Devido ao aumento significativo deste tipo de lixo, se faz cada vez mais necessária a análise do
maciço quanto a sua estabilidade. Para as simulações seguintes foram utilizados os dados de Righi
(2018). Os parâmetros de resistência foram obtidos a partir de ensaios in-situ em aterro industrial.
Na Tabela 11 se encontram os valores utilizados.
Tabela 11 - Parâmetros de resistência de resíduos industriais (RIGHI, 2018).
ANÁLISE ϒ (kN/m³) C (kN/m²) ϕ (º)
9 9,3 5 28,5

4.3.1. Simulações – Análise 9


Nas simulações apresentadas na Tabela 12 foram mantidos os mesmos valores de peso específico,
coesão e ângulo de atrito, variando-se apenas a posição da linha piezométrica. Nesse tipo de aterro é
comum pensar que há uma maior estabilidade devido à ausência de material orgânico (não há
geração de chorume), já que o chorume é comumente tratado como o principal “vilão” da
estabilidade de resíduos. Porém, foi possível observar que mesmo com a linha piezométrica na parte
inferior do talude, o fator de segurança é de 1,223, o que representa um talude estável, mas muito
próximo do limite da estabilidade. Subindo um pouco a linha piezométrica, o fator de segurança cai
para 0,243. Logo, se a impermeabilização não for feita de forma a impedir ao máximo a entrada de
água proveniente da precipitação, pode-se ter algum problema relativo a estabilidade do maciço no
caso de resíduos industriais.
Tabela 12 - Fatores de segurança encontrados (AUTORAS, 2018).
SIMULAÇÃO ϒ (kN/m³) C (kN/m²) ϕ (º) FS
25 9,3 5 28,5 1,223
26 9,3 5 28,5 0,234
27 9,3 5 28,5 0,159

5. CONCLUSÕES

O objetivo principal deste artigo foi prever o comportamento de maciços de resíduos sólidos a partir
da alteração da linha piezométrica e de seus parâmetros de resistência. Para tal previsão foram
avaliados os fatores de segurança obtidos nas simulações feitas no software GeoStudio 2018. A
partir disso serão apresentadas algumas considerações finais e conclusões obtidas:
 Com os resultados obtidos nas simulações foi possível concluir que quanto mais alta a linha
piezométrica, menor é o fator de segurança, ou seja, menos estável é o maciço. No caso de
resíduos com presença de material orgânico deve-se atentar para a quantidade de chorume
produzido em seu interior, pois esse eleva a linha piezométrica.
 A influência da coesão do resíduo na estabilidade também merece atenção já que o aumento
na coesão reflete em maior estabilidade do maciço. Logo, a mistura de materiais com
características coesivas aos resíduos pode ser uma opção caso seja necessário um aumento
da estabilidade.
 Apenas a análise 3 apresentou um resultado desconforme. Deste modo, acredita-se que seja
relevante um estudo futuro sobre a influência da poropressão juntamente com a redução do
peso específico, chegando a uma relação mais precisa desses parâmetros na estabilidade do
maciço.
 A utilização de parâmetros importados é uma realidade no Brasil. Essa é uma prática
arriscada, pois a composição do lixo varia de acordo com as características da sociedade e
clima da região. Logo, a determinação dos parâmetros dos resíduos que serão depositados é
de suma importância para a obtenção de projetos adequados à realidade.
 A idade do resíduo também influencia na sua estabilidade. Quanto mais velho for o mesmo,
maior será a estabilidade apresentada pelo maciço, devido ao aumento no grau de
compactação e a diminuição na produção do chorume.
 A partir da análise dos resíduos reforçados com fibra, foi possível observar que o acréscimo
de fibras na massa de resíduo reflete em um aumento de sua estabilidade a partir do aumento
do ângulo de atrito. Porém, há um limite para isso, a partir do qual o fator de segurança
começa a diminuir.
 A linha piezométrica na posição máxima é muito improvável de ocorrer na realidade. Essa
posição foi escolhida para que fosse possível avaliar o comportamento do maciço mesmo em
uma condição extremamente desfavorável. Avaliar esse extremo se justifica, pois problemas
na drenagem, grande quantidade de material orgânico e altos índices pluviométricos podem
levar a uma aumento da linha piezométrica.
 Em aterros industrias não há geração de chorume, porém caso o índice pluviométrico da
região seja elevado, a drenagem do aterro seja ineficiente e não haja cobertura adequada dos
resíduos com manta ou algum tipo de grama, poderá haver entrada de água em excesso,
facilitando ainda existência de erosões no talude. Foi possível observar que o aumento da
linha piezométrica em um aterro industrial levou a uma redução considerável no fator de
segurança. Fica claro que nestes casos é fundamental uma avaliação mais detalhada do
maciço através do monitoramento com piezômetros, o que poderia auxiliar na melhor
compreensão de seu comportamento em termos de estabilidade.

REFERÊNCIAS
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2013,19 p.
[2] BATISTA, H. E. – Desenvolvimento de diretrizes para monitoramento geotécnico e plano de
contingência/emergência em aterros sanitários. Belo Horizonte: UFMG, 2010, 146 p. Dissertação de Mestrado em
Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídrico. Disponível em:
<http://www.smarh.eng.ufmg.br/defesas/455M.PDF>. Acesso em: 21 nov. 2017.
[3] BORGATTO, A. V. A. – Estudo do efeito fibra e da morfologia na estabilidade de aterros de resíduos sólidos
urbanos. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006, 157 p. Dissertação de Mestrado Ciências em Engenharia Civil. Disponível
em: < http://www.getres.ufrj.br/pdf/BORGATTO_AVA_06_t_M_int.pdf>. Acesso em 06 fev. 2018.
[4] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT NBR 8419: Apresentação de projetos de
aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos. Rio de Janeiro, 1992, 7 p.
[5] PINTO, D. P. S. – Contribuição à avaliação de aterros de resíduos industriais. Rio de Janeiro: UFRJ, 2011, 145 p.
Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil.
[6] BENVENUTO, C. – Estabilidade geotécnica de aterros sanitários. In: I seminário sobre Geomecânica dos Resíduos
Sólidos Urbanos, 2012, 31p. Disponível em: <http://www.fec.unicamp.br/~sgrsu/arquivos/Clovis.pdf>. Acesso em
17 fev. 2018.
[7] AZEVEDO, M. A. – Avaliação do risco a saúde da população vizinha as áreas de disposição final de resíduos
sólidos urbanos: o aterro sanitário como cenário de dispisição ambiental. São Carlos: USP, 2004, 263 p. Tese de
Doutorado em Engenharia Hdráulica e Saneamento. Disponível em: <
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Tese_Azevedo_MonicaA.pdf>. Acesso em: 17 fev. 2018.
[8] COSTA, E. F. – Monitoramento geotécnico e ambiental de aterrros sanitários. Juiz de Fora: UFJF, 2017, 71 p.
Trabalho Final de Curso de Engenharia Civil.
[9] MARTINS, H. L. – Avaliação da resistência de resíduos sólidos urbanos por meio de ensaios de cisalhamento direto
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Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos.
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[19] RIGHI, J. A. Acervo Pessoal. Juiz de Fora, 2018.
VARIAÇÃO DOS PARÂMETROS LIMNOLÓGICOS NO RIBEIRÃO
ESPÍRITO SANTO, EM JUIZ DE FORA – MG, AO LONGO DE 6 ANOS.

Long term variation of limnological parameters at Espírito Santo stream in Juiz de


Fora – MG

Emília Marques Brovini ¹, Nathália da Silva Resende ², Simone Jaqueline Cardoso 3, Maria Helena
Rodrigues Gomes 4, Renata de Oliveira Pereira 5
1 Universidade Federal de Juiz de Fora; Departamento de Engenharia Ambiental e Sanitária, Juiz de Fora, Brasil,
emilia.brovini@engenharia.ufjf.br
2 Universidade Federal de Juiz de Fora; Departamento de Biologia, Juiz de Fora, Brasil, natsresende@hotmail.com
3 Universidade Federal de Juiz de Fora; Departamento de Zoologia, Juiz de Fora, Brasil, simone.jcardoso@gmail.com
4 Universidade Federal de Juiz de Fora; Departamento de Engenharia Ambiental e Sanitária, Juiz de Fora, Brasil,

mariahelena.gomes@ufjf.edu.br
5 Universidade Federal de Juiz de Fora; Departamento de Engenharia Ambiental e Sanitária, Juiz de Fora, Brasil,

renata.pereira@ufjf.edu.br

Resumo: A crise hídrica brasileira tem se tornado cada vez mais intensa nos últimos anos. Tal fato
se deve, principalmente, à interferência na bacia hidrográfica e à poluição antrópica. Neste estudo,
foi avaliada a conformidade da qualidade das águas do ribeirão Espírito Santo de acordo com a
legislação vigente. Foram monitorados em 3 pontos amostrais no ribeirão Espírito Santo entre os
anos de 2013 a 2018. O ribeirão Espírito Santo está situado na região noroeste do município de Juiz
de Fora - MG e é responsável por abastecer cerca de 40% da cidade. É afluente pela margem direita
da bacia do rio Paraibuna, fazendo parte, portanto, da bacia do rio Paraíba do Sul. Além disso, o
mesmo possui pontos com alta susceptibilidade à degradação da qualidade das águas, devido a sua
passagem pelo Distrito Industrial de Juiz de Fora. Os parâmetros limnológicos analisados foram:
pH, sólidos totais, sólidos dissolvidos totais (SDT), salinidade, turbidez, cor aparente,
condutividade, resistividade, temperatura da água, demanda bioquímica de oxigênio (DBO5,20),
demanda química de oxigênio (DQO), oxigênio dissolvido, nitrogênio total e fósforo total. A
Análise de Componentes Principais (PCA) explicou 70,33% da distribuição total dos dados
amostrados, sendo SDT, condutividade, salinidade, DBO5,20, DQO, oxigênio dissolvido e pH as
variáveis de maior importância na ordenação dos parâmetros. Observou-se que não houve
agrupamento de pontos por localização, indicando que não há uma forte correlação espacial. No
entanto, alguns pontos se agruparam por período de coleta, demonstrando que a relação com o fator
sazonal é mais forte. Os pontos 1 e 2 foram mais homogêneos entre si e apresentaram uma
distribuição de dados semelhantes. O ponto 3, no entanto, apresentou uma distribuição de dados
mais heterogênea. A partir da comparação dos parâmetros limnológicos com os limites estipulados
pela Resolução CONAMA 357/2005, o ponto 3 apresentou um maior número de dados em
desconformidade com a legislação. Os parâmetros DBO5,20 e fósforo total excederam o permitido
na maioria das coletas, sendo 14,3% e 87,5% as respectivas porcentagens de atendimento. Sendo
assim, aponta-se a continuação do monitoramento, uma vez que se trata de um importante recurso
hídrico para o município e região.

Palavras-chave: recursos hídricos, qualidade da água, monitoramento, legislação.


Abstract: It The Brazilian water crisis has become increasingly intense in recent years. This is
mainly due to interference in the river basin and anthropogenic pollution. In this study, the quality
of the waters of the Espirito Santo stream was evaluated according to the current legislation. They
were monitored at 3 sampling points in the Espirito Santo stream between the years of 2013 and
2018. The Espirito Santo stream is located in the northwest region of the municipality of Juiz de
Fora - MG and is responsible for supplying about 40% of the city. It is affluent on the right bank of
the Paraibuna river basin, thus forming part of the Paraíba do Sul river basin. In addition, it has
points with high susceptibility to degradation of water quality due to its passage through Juiz
Industrial District out. The limnological parameters analyzed were pH, total solids, total dissolved
solids (TDS), salinity, turbidity, apparent color, conductivity, resistivity, water temperature,
biochemical oxygen demand (BOD5,20), chemical oxygen demand (COD) , dissolved oxygen, total
nitrogen and total phosphorus. The Principal Component Analysis (PCA) explained 70.33% of the
total distribution of the data, being TDS, conductivity, salinity, BOD5,20, COD, dissolved oxygen
and pH the most important variables in ordering the parameters. It was observed that there was no
clustering of points by location, indicating that there is no strong spatial correlation. However, some
points were grouped by collection period, showing that the relation with the seasonal factor is
stronger. Points 1 and 2 were more homogeneous with each other and presented a similar
distribution of data. Point 3, however, presented a more heterogeneous data distribution. From the
comparison of the limnological parameters with the limits stipulated by CONAMA Resolution
357/2005, point 3 presented a greater number of data in disagreement with the legislation. The
parameters BOD5,20 and total phosphorus exceeded that allowed in most of the collections, being
14.3% and 87.5% the respective attendance percentages. Therefore, it is pointed out the
continuation of monitoring, since it is an important water resource for the municipality and region.

Keywords: Water resources, water quality, monitoring, legislation.

1. INTRODUÇÃO
Um dos objetivos assegurados pela Lei 9.433, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos
(PNRH) é o de “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em
padrões de qualidade adequados aos respectivos usos” (Art. 2°, Cap. II, Tit. I). Atualmente, os
padrões de qualidade da água estão sendo afetados, em demasia, pelas atividades antrópicas
desenvolvidas no entorno de uma bacia hidrográfica [1- 2]. Em detrimento dessa atividade, ocorre a
poluição e degradação de trechos em recursos hídricos superficiais que deveriam ser preservados a
partir de padrões mínimos estipulados, baseados nas composições químicas e microbiológicas
aceitáveis [3].
É nesse cenário que está inserida a importância do monitoramento da qualidade da água em cursos
d’água superficiais, sendo um fator crucial para o desenvolvimento de políticas públicas que ajudem
a subsidiar uma adequada gestão a uma bacia hidrográfica [4].
Dentro desse contexto, é relevante destacar que o acompanhamento de processos físicos, químicos e
biológicos em pequenas bacias hidrográficas subsidia pesquisas relacionadas às mudanças do ciclo
hidrológico de uma região, devido as suas características serem, por vezes, homogêneas [5]. Além
do mais, estudos focados em pequenas bacias centralizam os problemas principais e são mais fáceis
de obterem a participação social [6].
No rol de pequenas bacias que estão em estado de degradação antrópica, encontra-se a bacia
hidrográfica do ribeirão Espírito Santo. A mesma é afluente pela margem esquerda do rio
Paraibuna, o maior afluente em volume de água da grande bacia do rio Paraíba do Sul [7 - 8]. O
ribeirão Espírito Santo encontra-se a noroeste da cidade de Juiz de Fora e o seu principal uso é o
abastecimento de aproximadamente de 40% da população do município. Em segundo lugar, tem-se
o uso para consumo industrial e em terceiro é utilizada para a irrigação de pequenas culturas e de
atividades agropecuárias [7]. Demonstrando sua relevância para o município de Juiz de Fora e
região.

2. OBJETIVO
Avaliar qualidade da água do ribeirão Espírito Santo quanto a sua conformidade com a legislação
vigente no período de 2013 a 2018.

3. MÉTODOS

3.1. Área de estudo

A bacia hidrográfica do ribeirão Espírito Santo (BHRES) está situada entre as coordenadas
21°44’41” a 21°44’48” Sul e 43°26’30” a 43°37’46” Oeste [9]. Possui como principais afluentes o
Córrego Gouveia e o Córrego Vermelho, pela margem esquerda, e os córregos Barreiro e Penido,
pela margem direita. Além disso, possui 17 km de extensão e tem uma área de 147,8 km², sendo a
maioria desta situada em ambiente rural [7]. Sendo assim, deste valor 98,24% da sua área é ocupada
por pastagens, silvicultura e mata [9].

A área em que se encontram os pontos estudados no decorrer dessa pesquisa representa o local do
ribeirão com maiores porcentagens de áreas construídas, solo exposto, eucalipto e pastagem,
indicando uma menor porcentagem de florestas. Além disso, de uma maneira geral, o local possui
alta susceptibilidade à erosão superficial [9].

Os trechos estudados estão situados em áreas estratégicas da BHRES. O primeiro ponto está
localizado após uma extensa área residencial e é predominantemente rural. O segundo ponto está
situado à jusante da captação de água da Estação de Tratamento de Água (ETA) Walfrido Machado
Mendonça e o terceiro ponto transpassa o distrito industrial da cidade e recebe o lançamento de
efluentes industriais e sanitários (Figura 1).

O ribeirão, da sua nascente até ser captado pela ETA é enquadrado na classe 1, já, da captação até a
sua foz, é enquadrado na classe 2. Fato esse que classifica o ponto 1 de acordo com a classe 1 e os
pontos 2 e 3 na classe 2 [10].
Fig. 1 – Localização dos pontos de amostragem na BHRES. Fonte: [11].

3.2. Coleta e amostragem

As coletas foram realizadas em datas e períodos diferentes, para abranger uma maior variação
temporal (Tabela 1). Os procedimentos de coleta e posterior preservação da amostra para as análises
de qualidade da água foram feitos seguindo a NBR 9897 e a NBR 9898 [12]. Destaca-se que, após
uma análise da normal climatológica para o município de Juiz de Fora [13], os meses com menores
índices pluviométricos são os de maio, junho, julho, agosto e setembro. Sendo assim, as coletas
foram distribuídas em períodos de seca (4 coletas) e períodos chuvosos (7 coletas) para contemplar
uma melhor distribuição das variáveis ambientais analisadas.
Tabela 1 – Datas das coletas.
1ª coleta 09/06/2013 7ª coleta 30/03/2015
2ª coleta 01/09/2013 8ª coleta 13/05/2016
3ª coleta 21/10/2013 9ª coleta 13/10/2016
4ª coleta 16/12/2013 10ª coleta 05/07/2017
5ª coleta 19/01/2014 11ª coleta 28/02/2018
6ª coleta 20/03/2014 - -

Os parâmetros pH, sólidos dissolvidos totais (SDT), salinidade, condutividade, resistividade,


oxigênio dissolvido e temperatura da água foram obtidos in loco através de sondas
multiparamétricas em todas as coletas, salvo o SDT que foi analisado em laboratório na última
coleta. O parâmetro sólidos totais (ST), turbidez, cor aparente, demanda bioquímica de oxigênio
(DBO5,20), demanda química de oxigênio (DQO), nitrogênio total e fósforo total foram analisados
de acordo com os métodos descritos na Tabela 2. Na 7ª, 8ª e 9ª coletas não foi possível realizar as
análises de DBO5,20, fósforo total e nitrogênio total, devido a limitações laboratoriais. Além dessas
coletas, na 11ª coleta também não foi possível quantificar o nitrogênio total, devido a erros de
amostragem.
Tabela 2 – Método de análise dos parâmetros de qualidade da água. Fonte: [14].

Parâmetro Método de análise Equipamento


DBO5,20 5210.B - Winkler -
DQO 5220.D - Espectrofotométrico Espectrofotômetro
Cor aparente 2120.C - Colorimetria fotoelétrica Colorímetro
Turbidez 2130.B - Nefelométrico Turbidímetro
Sólidos Totais 2540.B - Secagem a 103°-105° -
Nitrato 4500-NO3- .E - Redução de cádmio Kit nitrato HACH
Nitrito 4500-NO3- .B - Redução de cádmio Kit nitrito HACH
Fósforo Total 4500 P E -
Nitrogênio orgânico e 4500.N C -
amoniacal
Sonda HANNA HI9828 / Sonda
Oxigênio Dissolvido 4500.OG
HACH 58258-00
Condutividade 2510.B
Salinidade 2520.B
Temperatura 2550.B
Sonda HANNA HI9828
pH 4500.B
Resistividade -
Sólidos Dissolvidos Totais -

Após serem analisados, os parâmetros de qualidade da água foram comparados aos limites
estabelecidos pela Resolução CONAMA 357/2005 [15] e pela Deliberação Normativa conjunta
COPAM/CERH 01/2008 [16].

3.3. Análise de Componentes Principais

Uma análise de componentes principais (PCA) foi realizada com o objetivo de explorar como as
amostras se relacionam às variáveis ambientais do ribeirão Espírito Santo. Por meio da PCA, é
possível determinar se existem gradientes espaciais e temporais para os parâmetros observados. A
análise foi realizada a partir do software RStudio v. 3.5.1 (R Core team 2018).

4. RESULTADOS

4.1 Parâmetros de qualidade da água

A Figura 2 expressa a porcentagem de atendimento aos padrões da legislação no ponto 1. Observa-


se que o parâmetro mais desconforme à norma é a DBO5,20 (62,5 % abaixo dos padrões) seguido do
parâmetro fósforo total (25%) e turbidez (25%) ao passo que os demais parâmetros estão em
conformidade com a legislação vigente em todas as coletas.
Fig. 2 – Frequência relativa dos parâmetros em conformidade com a legislação no ponto 1 em todas as coletas.

Pela Figura 3 pode-se perceber que, no ponto 2, apenas dois dos parâmetros analisados estão em
desconformidade com a legislação vigente. Ressalta-se que 40% dos valores de DBO5,20 e 22,5%
fósforo total estão acima dos limites estipulados pela norma e que, as demais variáveis encontram-
se 100% em conformidade.

Fig. 3 – Frequência relativa dos parâmetros em conformidade com a legislação no ponto 2, em todas as coletas.

No ponto 3, observa-se que o parâmetro DBO5,20 apresenta 85,7% dos valores encontrados acima
dos limites impostos pela normalização vigente. Ressalta-se ainda a desconformidade do parâmetro
fósforo total em 22% e dos SDT em 27 % ao passo que os demais parâmetros analisados estão em
conformidade com a legislação em todas as coletas (Figura 4).
Fig. 4 – Frequência relativa dos parâmetros em conformidade com a legislação no ponto 3, em todas as coletas.

Observa-se pela Figura 5 a distribuição referente ao atendimento aos padrões de cada ponto na
época seca e chuvosa. Revela-se que, os parâmetros em desconformidade apresentam diferentes
porcentagens nas diferentes épocas estudadas. Como mencionado, os parâmetros que estão fora dos
limites estipulados foram fósforo total, DBO5,20, turbidez e, apenas no último ponto os SDT.

Fig. 5 – Frequência relativa dos parâmetros em conformidade com a legislação separados em época seca e
chuvosa em todos os pontos.

4.2. Análise de Componentes Principais

A PCA explicou 70,33% da distribuição total de dados (eixo 1 e 2). Não houve agrupamento por
pontos, porém houve agrupamentos em determinadas coletas (3ª, 4ª e 5ª coleta), todas na época de
chuva . O ponto 1 e 2 foram mais semelhantes entre si e o ponto 3 se mostrou mais heterogêneo. As
variáveis mais explicativas que apresentaram correlação positiva no eixo 1 foram SDT, salinidade,
condutividade, temperatura, DQO, DBO5,20 e ST. No eixo 2, as variáveis que mais explicaram a
distribuição dos dados foram pH e OD. É importante salientar que no eixo 2, houve maior
correlação negativa com as variáveis, sendo Turb, Cor, Temp, NT e ST as mais relevantes (Figura
6).
0.0 0.5 1.0 1.5

OD
pH

CondSal
SD
DQODBO
PC2

Res
Temp ST
NT
FT Cor
-1.0

Turb
-2.0

-2 -1 0 1 2 3 4

PC1

Fig. 6 – Análise de Componentes Principais (PCA). O primeiro eixo explicou 40,07% e o segundo 27,27% da
distribuição dos dados. Sendo as variáveis oxigênio dissolvido (OD); potencial hidrogeniônico (pH);
condutividade (Cond); salinidade (Sal); sólidos dissolvidos totais (SD); demanda bioquímica de oxigênio (DBO);
demanda química de oxigênio (DQO); sólidos totais (ST); cor aparente (Cor); turbidez (Turb);
temperatura(Temp); nitrogênio total (NT); fósforo total (FT); resistividade (Res) representadas pelas respectivas
siglas.

5. DISCUSSÃO

5.1 Parâmetros de qualidade da água

O parâmetro turbidez ficou abaixo dos padrões estipulados pela legislação no ponto 1 nas 4ª e 11ª
coletas, sendo estas realizadas em dois períodos chuvosos. Pela Figura 5 pode-se perceber que o
parâmetro ultrapassou os limites em 50% das coletas analisadas no período chuvoso ao passo que o
mesmo se manteve dentro dos padrões em todas as coletas no período seco. Fato esse que
possivelmente está ligado a extrapolação deste parâmetro no ponto 1, ocasionado pelo carreamento
do solo da região. Em um estudo realizado para descobrir a avaliação do desempenho de uma ETA,
foi observado que o valor da água afluente à estação obteve picos de turbidez nos dias de maior
intensidade pluviométrica [17].

Pode-se observar também, os valores de fósforo total que estão em desconformidade com a
legislação. Tal parâmetro, dentre outras fontes, pode ser encontrado em fertilizantes utilizados para
agricultura. Como o ponto 1 é predominantemente rural, a utilização de fertilizantes no local é
provavelmente uma fonte de contaminação deste parâmetro nas águas do ribeirão Espírito Santo,
contudo há residências próximas que podem efetuar o lançamento de efluentes não tratados no
mesmo, fato este que não é influenciado pela chuva. Além disso, pela Figura 5 percebe-se que o
fósforo apresentou uma porcentagem maior em desconformidade na época seca do que quando
comparada à época chuvosa. Isso se deve possivelmente à diluição do parâmetro nas águas do corpo
hídrico. Já a desconformidade do parâmetro DBO5,20 pode estar relacionado ao carreamento de
fezes de gado da região, sendo prioritária talvez ao lançamento de efluentes residenciais visto que o
parâmetro mantém a porcentagem de atendimento em ambas as estações (chuva e seca). Uma
pesquisa relacionada a efluentes bovinos constatou que o mesmo apresenta valores de DBO5,20 na
ordem de 66 mg/L [18]. Sendo assim, tal valor, quando diluído no corpo hídrico, pode contribuir
significativamente para o aumento deste parâmetro na água.

O ponto 2, apesar de não ter extrapolado os valores de turbidez em nenhuma coleta, apresentou um
pico na 11ª análise, caracterizada por ser feita, como mencionado acima, em época de chuva. Este
mesmo ponto, apesar de se encontrar a jusante da captação de ETA para a cidade, apresenta
despejos de origem sanitária no local. Fato esse que, devido às características do efluente doméstico
lançado, possivelmente implica em alterações dos valores de fósforo total e DBO5,20, os dois únicos
parâmetros que estão em desconformidade à legislação nesse ponto. Destaca-se ainda que o ponto 2
possui suas águas enquadradas na classe 2 e o ponto 1 na classe 1. O aumento da conformidade dos
parâmetros de qualidade da água é devido a menor restrição das variáveis ambientais na classe 2.
Sendo assim, não houve uma melhora do ponto 1 para o ponto 2, pelo contrário, as variáveis
ambientais possuem valores maiores do que quando comparadas àquelas obtidas no ponto 1.

Já o ponto 3, característico por transpassar o distrito industrial da cidade e receber o lançamento de


efluentes domésticos e industriais in natura, apresentou valores de fósforo total acima dos limites
impostos pela norma, devido provavelmente ao uso e ocupação do solo na região e aos lançamentos
realizados a montante. Além deste, o parâmetro DBO5,20 foi o que mais ultrapassou os padrões da
legislação em comparação aos pontos 1 e 2 o que também pode estar relacionado ao lançamento dos
efluentes citados no local, demonstrando serem efluentes com alta carga orgânica. Ressalta-se que o
parâmetro ultrapassou os valores da norma em 86% das coletas ao passo que a DBO5,20 no ponto 2
ficou acima dos limites em 40% e no ponto 1 em 62%. Destaque também para o parâmetro SDT
que teve uma porcentagem de não atendimento em 27%, sem diferenciação com relação a
sazonalidade, indicando efluentes industriais, devido à elevada concentração de compostos
dissolvidos. Assim sendo, pode-se inferir que o potencial poluidor de indústrias na região contribui
significativamente para a degradação do ponto 3, sendo composto prioritariamente por elevada
carga orgânica e compostos dissolvidos.

Pode-se inferir também, pela Figura 5, que a distribuição sazonal dos dados relativos às diferentes
épocas do ano no ponto 3 não indicam uma correlação com os índices pluviométricos. Sendo assim,
compreende-se que o último ponto analisado não é afetado diretamente pelos índices pluviométricos
como os demais pontos dessa pesquisa.

Como mencionado acima, os valores padrões no ponto 2 e 3 são menos restritivos do que no ponto
1. Deixa-se claro que o ponto 3 possui parâmetros com maiores valores do que o ponto 2, e este
com maiores valores do que o ponto 1. Fato esse que está possivelmente ligado as ocupações e usos
referentes a cada local, que impactam diretamente nas poluições pontuais e difusas que ocorrem na
água e que interferem diretamente nos parâmetros físico-químicos do corpo receptor.
5.2. Análise de Componentes Principais

A ausência de agrupamentos por pontos indica que não houve correlação espacial. Todavia, os
agrupamentos da 3ª, 4ª e 5ª coleta, indicam que o fator temporal/sazonal foi mais forte que o
espacial para caracterizar o sistema. Além disso, como já era esperado, o ponto 3 é o ponto que
mais se distingue dos outros, estando majoritariamente relacionado com parâmetros característicos
da entrada de efluentes no sistema (DBO5,20, DQO, Turb, FT e NT), como discutido no tópico
anterior.

As variáveis mais explicativas que apresentaram correlação positiva, como a salinidade,


condutividade e SDT estão provavelmente relacionadas com o teor de íons dissolvidos na água, que
impactam diretamente as três variáveis mencionadas. Além disso, ressalta-se a DQO e a DBO5,20
como parâmetros para análise de matéria orgânica no ambiente e que estão inteiramente ligadas a
matéria orgânica biodegradável do local [19]. Em segunda instância, observa-se os valores de OD
que estão ligados ao aporte de matéria orgânica no ambiente. Quanto maior este teor, maior a
utilização de OD pelas bactérias do local para a degradação da matéria orgânica, procedimento
utilizado para a obtenção de alimento.

6. CONCLUSÃO

Verificou-se que os parâmetros que possuíram maiores valores em desconformidade com a


legislação foram DBO5,20, turbidez e fósforo total. Estes, sendo consequência do uso e ocupação
referente a cada ponto. Além disso, constatou-se que o ponto 3 é o mais degradado seguidos do
ponto 2 e 1. Tal afirmativa é inicialmente justificada na PCA, indicando que os pontos 1 e 2 foram
mais semelhantes entre si e o ponto 3 mais heterogêneo. Através da leitura visual feita em cada
área, constatou-se o lançamento de efluentes industriais advindos do distrito industrial no último
ponto e que provavelmente é o fator mais determinante e que justifica os resultados encontrados no
ponto 3.

Os parâmetros mais explicativos e que apresentaram uma correlação positiva são os SDT,
salinidade, condutividade, temperatura, DQO, DBO5,20 e ST. Os três primeiros afetados pelo teor de
íons dissolvidos presentes na água e a DQO e DBO5,20 indicando principalmente o teor de matéria
orgânica presente no ambiente.

Ante o exposto, sugere-se a continuidade do monitoramento dos parâmetros de qualidade da água


nos três pontos estrategicamente analisados e que estão, como observado, em estado de degradação.
Assim como, da fiscalização de lançamentos no ribeirão e da criação de políticas públicas baseadas
no conteúdo aqui pesquisado a fim de que subsidie na preservação e conservação das águas de um
dos ribeirões mais importantes da cidade de Juiz de Fora – MG.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Laboratório de Qualidade Ambiental da UFJF (LAQUA) por permitir a realização


das análises dos parâmetros de qualidade da água e à Iramaia Moraes por nos ajudar nas mesmas.
Ao 4º Batalhão de Bombeiros Militar de Minas Gerais– Juiz de Fora, por nos ceder um membro da
corporação para nos acompanhar nas coletas, à Pró-Reitoria de Pesquisa da UFJF por conceder a
bolsa de iniciação científica e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CNPq.

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[10] MINAS GERAIS. Deliberação Normativa Conjunta COPAM/CERH-MG nº 16, de 24 de setembro de 1996.
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[14] APHA; AWWA; WEF. Standard methods for the examination of water and wastewater. 22º ed. Washington:
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[15] BRASIL. Resolução CONAMA Nº 357 de 17 março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e
diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de
efluentes, e dá outras providências. Brasília, 2005.
[16] MINAS GERAIS. Deliberação Normativa Conjunta COPAM/CERH-MG nº 01, de 05 de maio de 2008.
Dispõe sobre a classificação dos corpos d’água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece
as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Minas Gerais, 2008.
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com ácido peracético para fins de reúso. Revista Desafios, n. 4, p. 41-50, 2017.
[19] VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. v. 1, e. 4, p. 92, Belo
Horizonte, 2014.
RELAÇÃO POROSIDADE/CIMENTO COMO PARÂMETRO DE CONTROL NA
ESTABILIZAÇÃO DE UM SOLO SILTOSO

Porosity/cement ratio as a control parameter of a stabilized silty soil


Jair BALDOVINO*1, Ronaldo IZZO2, Mirian PEREIRA3 Alexandre CARDOSO4, Érico Rafael da SILVA5
1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, yaderbal@hotmail.com
2
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, izzo@utfpr.edu.br
3
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, miriandayane@gmail.com
4
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, alexandrecardosomj@gmail.com
5
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, herico.rafael@gmail.com

Resumo: O presente trabalho apresenta o desenvolvimento da resistência à compressão simples (qu ou


UCS) e da resistência à tração indireta (qt ou STS) de um solo siltoso estabilizado quimicamente. Para isso,
foram moldados corpos de prova com volume de 196.35 cm3 empregando teores de cimento de 3%, 5%,
7% e 9% (em referência à massa seca do solo) e posteriormente ensaiados depois de 7 dias de cura. Foi
utilizada como principal parâmetro de análise dos resultados a relação porosidade/teor volumétrico de
cimento (η/Civ) ou também chamada vazios/cimento. Os resultados exibem que com a adição do cimento
aumenta-se a resistência mecânica das misturas de maneira linear. Demonstra-se também que com a
diminuição da relação η/Civ os valores de qu e qt crescem, e que o valor de qu máximo obtido com o cimento
foi de 2000 kPa e para qt foi de 375 kPa. Assim, a diminuição da porosidade significou um aumento em qu
e qt. Uma equação geral de estimativa para qu e qt foi desenvolvida para estimar a resistência das misturas
com o uso de η/Civ ajustada a um escalar igual a 0.45. As equações demonstraram que é possível estimar o
valor de qu e qt do solo tratado dentre as quantidades de cimento, relação η/Civ e tempo de cura empregado
no presente trabalho. Finalmente, foi calculada uma relação constante de qt/qu=0.15, a qual é independente
dos vazios e do teor volumétrico de cimento.
Palavras-chave: Estabilização de solos, porosidade-cimento, resistência mecânica.
Abstract: The present work presents the development of unconfined compressive (qu or UCS) and split
tensile strength (qt or STS) of a stabilized silty soil. For this, specimens with a volume of 196.35 cm3 were
prepared using cement contents of 3%, 5%, 7% and 9% (in reference to the dry mass of the soil) and then
tested after 7 days of cure. The porosity/volumetric content of cement (η/Civ) or also voids/cement ratio
was used as the main parameter of the results analysis. The results show that with the addition of cement
the mechanical strength of the mixtures is increased linearly. It is also shown that with the decrease in the
ratio η/Civ the values of qu and qt increase, and that the maximum qu value obtained with cement was 2000
kPa and for qt was 375 kPa. Thus, the decrease in porosity meant an increase in qu and qt. A general
estimation equation for qu and qt was developed to estimate the resistance of the mixtures with the use of
η/Civ adjusted to a scalar equal to 0.45. The equations showed that it is possible to estimate the value of qu
and qt of treated soil among the amounts of cement, η/Civ ratio and curing time employed in the present
study. Finally, a constant ratio of qt/qu=0.15, which is independent of the voids and the volumetric content
of cement, was calculated.
Keywords: soil stabilization, porosity-cement, mechanical resistance.
1. INTRODUÇÃO
Uma das metodologias para melhorar as propriedades físico-mecânicas dos solos é a adição de cimento. A
metodologia tem sido utilizada para estabilizar solos para uso em camadas de pavimentos, para reforço de
solos usados como suporte de fundações superficiais, proteção de encostas e taludes e para construção de
fundações profundas. A metodologia vem sendo empregada há 100 anos [1].
O solo-cimento é definido como uma mistura de solo e quantidades medidas de cimento Portland e água e
compactado para a densidade desejada. O cimento é mais comumente empregado para aumentar a
resistência de solos com granulometria mais arenosa. Quando a água é adicionada na mistura solo-cimento
e logo compactada, se dá a hidratação, o que significa que são formados compostos cimentantes de hidrato
de silicato de cálcio e hidrato de aluminato de cálcio e o excesso de hidróxido de cálcio [CaOH] é liberado
[2].
Lade e Trads [3] reportaram o papel da cimentação no comportamento de solos cimentados artificialmente
baseados em estudos experimentais mediante modelos elastoplásticos para estabelecer a influência do poder
da cimentação no desenvolvimento da resistência do material solo-cimento. Por outra parte, Horpibulsuk
et al. [4] analisaram o desenvolvimento da resistência de misturas de uma argila siltosa misturada com
cimento baseados em considerações microestruturais, estudando a influência do teor de umidade, do tempo
de cura e da quantidade de cimento. A adição do cimento melhora a estrutura do solo aumentando a ligação
inter-cluster e reduzindo assim o espaço dos poros. Para Horpibulsuk et al. [4] a água influencia tanto nos
produtos de hidratação como nos tamanhos dos poros, sendo a água ótima 0.8 vezes o valor da umidade
ótima de compactação.
Pakbaz and Alipour [5] pesquisaram a influência da adição de cimento Portland nas propriedades
geotécnicas em um solo argiloso, com adições de cimento de 4, 6, 8 e 10% em referência ao peso seco do
solo, usando três umidades de mistura, 30, 48 e 70% e empregando 7, 14 e 28 dias de cura. Os pesquisadores
reportaram a resistência à compressão simples de 250 kPa para 4% de cimento chegando a 2900 kPa para
adição de 10% de cimento, ambos aos 28 dias de cura. A massa real dos grãos (Gs) após a cura aumentou
ligeiramente de 2.68 (para a amostra não estabilizada) para 2.73-2.76 (para amostras estabilizadas com
cimento). Os valores do Gs das amostras tratadas diminuíram com um aumento do teor de cimento e tempo
de cura.
Recentemente, Jin et al. [6] reportaram valores de até 5000 kPa com misturas de solo estabilizado com 3 e
15% de cimento em referência ao peso seco do solo e com significativa redução da plasticidade da mistura.
Consoli et al. [7] estudaram a influência dos tipos de cimento Portland (I, III e IV) em um solo arenoso
adicionando de 3% a 9% de cimento ao solo com tempos de cura de 2, 7 e 28 dias. Os autores mostraram
que há acréscimo de resistência qu de até 1600 kPa, 2600 kPa e 1600 kPa para o cimento I, III e IV,
respectivamente. Outros autores como Por et al. [8]apresentaram resultados de compressão simples com
adição de 5 e 10%, em relação ao peso seco do solo, obtendo resultados de até 1500 kPa aos 14 dias e 2900
kPa aos 28 dias de cura, esses resultados são semelhantes aos reportados por Consoli et al. [7]Os autores
também reportam a diminuição significativa do índice de plasticidade e expansão do solo, diminuindo de
8% (sem adição de cimento) para 0% com adição de cimento.
Como foi visto anteriormente, o tópico de estabilização de solos com cimento vem sendo bastante
pesquisado, sobretudo em lugares onde os solos por suas próprias características físico mecânicas não
podem ser empregados na engenharia geotecnia nem na construção civil. Assim, o presente trabalho
presenta os efeitos da adição de cimento CP V na resistência à compressão simples e tração por compressão
diametral de um solo siltoso da região metropolitana de Curitiba/PR. O artigo também apresenta os fatores
que influenciam no acréscimo ou diminuição da resistência mecânica como o teor de cimento, a porosidade
e o teor volumétrico de cimento.

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL
O programa experimental foi dividido em duas etapas: a primeira foi a realização dos ensaios de
caracterização do solo e do cimento: granulometria do solo de acordo à norma americana ASTM D2487
[9], limites de Atterberg do solo de acordo às normas brasileiras NBR 7180 [10] e NBR 6459-84 [11] , a
massa especifica real dos grãos do solo de acordo à norma ASTM D854 [12], massa especifica real dos
grãos do cimento de acordo à norma brasileira NBR 6474 [13] e as propriedades de compactação do solo e
das misturas solo-cimento nas três energias (normal, intermediária e modificada) de acordo à norma
brasileira NBR 7182 [14]; e a segunda etapa, consistiu-se na moldagem, cura e rompimento dos corpos de
prova solo-cimento submetidos a ensaios de compressão simples e tração por compressão diametral.
2.1. Materiais
No presente trabalho foram utilizados três materiais: solo, cimento Portland CP V e água destilada. A
amostra de solo foi coletada na zona oeste da cidade de Curitiba (Brasil) na municipalidade de São José
dos Pinhais de maneira manual em estado deformado, evitando uma possível contaminação e em quantidade
suficiente para a realização de todos os ensaios. O solo foi coletado em um talude rodoviário a 2.5 m de
profundidade. Segundo o Sistema Unificado de Classificação de Solos, o solo é classificado como um silte
elástico arenoso (MH). Quanto a caracterização física do solo, o material apresentou uma pequena variação
nos percentuais de cada tipo de componente, na qual a porcentagem de areia média alcançou 12%; enquanto
a areia fina chegou em 18%; para o silte se obteve 60% e completando a fração fina, o percentual de argila
foi de 5%, sendo a porcentagem de silte, compreendia na fração de (0.002 mm < diâmetro < 0.075 mm)
compõe a maior parcela do solo. Os resultados dos ensaios de caracterização física do solo são apresentados
na Tabela 1.
O cimento foi fornecido por um produtor local. A Tabela 2 apresenta as propriedades físico-químicas do
cimento. As propriedades químicas foram fornecidas pelo produtor e as físicas foram calculadas no
laboratório. De acordo à Tabela 2 o cimento CP V tem uma massa específica de 3.11.
Tabela 1 – Propriedades físicas do solo
Propriedades Valor
Limite de liquides, % 50.82
Limite de plasticidade, % 35.96
Índice de plasticidade, % 14.86
Densidade real dos grãos 2.62
Areia grossa (0.6 mm<diâmetro<2 mm), % 5
Areia média (0.2 mm< diâmetro <0.6 mm), % 12
Areia fina (0.06 mm< diâmetro <0.2 mm), % 18
Silte (0.002 mm < diâmetro <0.06 mm), % 60
Argila (diâmetro < 0.002 mm), % 5
Diâmetro efetivo (D10), mm 0.003
Diâmetro médio (D50), mm 0.038
Coeficiente de uniformidade (Cu) 8.33
Coeficiente de curvatura (Cc) 1.33
Classificação (SUCS) MH
Color Amarelo
Tabela 2- Propriedades físico-químicas do cimento
Propriedade Valor
% MgO 4.11
% SO3 2.99
% CaO 60.73
% Resíduo insolúvel 0.77
Resistência aos 28 dias (MPa) 53
% Finura 0.04
GsC 3.11
Para a realização de todos os ensaios de caracterização do solo, das misturas solo-cimento e para a
moldagem de corpos de prova foi usada água destilada a 24±3°C para evitar reações não desejadas e limitar
o número de variáveis no estudo.

2.2. Definição dos teores de cimento, pontos de moldagem e tempo de cura


Os pontos de moldagem foram estabelecidos após a realização dos ensaios de compactação do solo e das
misturas solo-cimento nas três energias: normal, intermediária e modificada, de acordo com a norma
brasileira NBR 7182 [14]. A Tabela 3 mostra os resultados das curvas de compactação do solo: peso
específico seco aparente máximo y teor de umidade ótimo.
Com o objetivo de estudar a influência do peso específica seco e dos vazios sobre a resistência mecânica
do solo cimentado artificialmente com o cimento mencionado, foram definidos 3 pontos de moldagem: SE
(energia normal), IE (energia intermediária) e ME (energia modificada). Estes pontos de moldagem foram
definidos estrategicamente considerando possíveis condições de campo. Pontos de moldagem estratégicos
para estudar solos melhorados já foram utilizados anteriormente por Rios et al. [15] e Baldovino et al. [16]
Todos os corpos de prova solo-cimento foram submetidos a ensaios depois de 7 dias de cura em condições
de saturação para anular o máximo possível a influência da sucção sobre a resistência nas misturas.

Tabela 3- Resultado dos ensaios de compactação do solo e das misturas solo-cimento


Teor de Peso específico seco máximo (kN/m3) Teor de umidade ótimo (%)
cimento (%) Energia Energia Energia Energia Energia Energia
Normal Intermediária Modificada Normal Intermediária Modificada
0 13.72 15.43 16.75 26.5 20.5 14.5
3 13.85 15.65 16.85 26 18 15
5 13.8 15.55 17.05 26.5 18 15
7 14 15.55 16.95 26 18.5 14.5
9 14 15.55 16.95 25.5 18 15

2.3. Preparação das amostras


Para os ensaios de compressão simples foram moldados corpos de prova de 100 mm de altura e 50 mm de
diâmetro (volume de 196.35 cm3). Depois da coleta em campo, o solo foi seco, totalmente, em estufa à
temperatura de 100±5°C, e colocado em porções uniformemente distribuídas para ser misturado com o
cimento. Adicionou-se a quantidade de cimento seco com referência ao peso seco da amostra de solo em
quatro teores diferentes de adição (3, 5, 7 e 9%) de acordo a estudos prévios (Consoli et al. [17]; Rios et
al. [18]). Realizou-se a mistura do solo com o cimento de modo que a mistura ficasse a mais homogênea
possível. Em seguida, foi adicionada uma porcentagem de água em peso, sendo esta porcentagem referente
ao teor de umidade dos pontos de moldagem estabelecidos na Tabela 3. A mistura do solo-cimento com a
água destilada foi realizada em um período não superior a 5 minutos, com isto tentando minimizar as
reações do cimento com a água antes do processo de moldagem dos corpos de prova. As amostras para a
moldagem dos corpos de prova foram compactadas estaticamente em uma camada única com um molde de
aço inox com diâmetro interno de 50 mm, altura de 100 mm e espessura de 5mm, nas condições de
compactação mostradas na Tabela 3. Para assegurar o peso específico seco máximo, obtido durante os
ensaios de compactação, foi realizado o cálculo do volume do molde e do peso de mistura úmida necessários
para cada corpo de prova. Após esses cálculos, foi pesada a quantidade necessária de material para cada
corpo de prova. Foram necessárias 3 camadas para compactar os corpos de prova. A moldagem foi feita
com a ajuda de uma prensa hidráulica manual. Depois de cada processo de moldagem, três amostras da
mistura eram tomadas para medir o teor de umidade em estufa durante 24 horas.
Os corpos de prova foram pesados em uma balança de precisão de 0.01 g e as dimensões do mesmo eram
medidas com o uso de um paquímetro de 0.1 mm de erro. Os corpos de provas extraídos foram envolvidos
com plástico filme transparente para manter o teor de umidade. Por último, os corpos de prova foram
armazenados em câmara úmida para processo de cura durante 6 dias (a temperatura média de 25°C) para
prevenir mudanças significativas de umidade até o dia do ensaio. As amostras tinham que respeitar os
seguintes erros máximos para serem usadas nos ensaios de compressão simples: dimensões das amostras
com diâmetro de ±0.5 mm e altura de ±1 mm, peso específico aparente seco (γd ) de ±1% e teor de umidade
() de ±0.5%. Para cada ponto de moldagem e teor de cimento foram moldados 3 corpos de prova. Após
os 6 dias de cura, os corpos de prova eram imersos em um tanque com água destilada durante 24 horas
antes do ensaio para garantir a sua saturação e evitar com isto a influência da sucção na resistência. Depois
da imersão, eram secados superficialmente com um pano seco. Assim, todas as amostras foram curadas
durante 7 dias.

2.4. Ensaios de Resistência mecânica


Para a realização dos ensaios de compressão simples foi usada uma prensa automática com anéis calibrados
para carga axial com capacidade de 4.5 kN e 10 kN. Os ensaios foram feitos com um sistema automatizado,
medindo, principalmente, a força aplicada, com resolução de 2,5 N, a deformação, com sensibilidade de
0.001 mm, sendo a velocidade do ensaio de 1 mm/min. Os procedimentos dos ensaios de compressão
simples seguiram a norma brasileira NBR 5739 [19]. A resistência a compressão simples é o valor da carga
máxima de ruptura do material ou o valor da pressão correspondente à carga na qual ocorre deformação
específica do corpo de prova de solo de 20%, naqueles casos em que a curva tensão-deformação axial não
apresenta um pico máximo. Adota-se a resistência à compressão não confinada ou simples (qu) de acordo
com a seguinte expressão, quando, no ensaio a curva tensão-deformação axial, alcança um pico máximo:

PR
qu = (1)
AT

Onde PR é a carga de ruptura no pico da curva tensão-deformação axial e AT é a área da seção transversal
corrigida do corpo de prova. Para a realização dos ensaios de tração foi usada uma prensa automática com
capacidade de 30 kN. Adota-se a resistência à tração (qt) de acordo com a seguinte expressão, quando, no
ensaio a curva tensão-deformação axial, alcança-se um pico máximo:
2PR
qt = (2)
πDH

Onde PR é a carga de ruptura no pico da curva tensão-deformação diametral, D e H são o diâmetro e a


altura do corpo de prova, respectivamente. Os procedimentos dos ensaios de resistência à tração (qt)
seguiram norma brasileira NRB 7222 [20].

3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS


As Figuras 1(a)-1(b) mostra os resultados de qu e qt das amostras depois de 7 dias de cura com a variação
dos teores de cimento CP V de 3 até 9%. Nota-se que com o aumento do peso específico seco das amostras
aumenta-se a resistência à compressão simples e tração, assim como com o aumento do teor de cimento
também há um aumento na resistência à compressão simples e tração indireta. o valor de qu máximo obtido
com o cimento foi de 2000 kPa e para qt foi de 375 kPa. Analisa-se nas Figuras 1(c)-1(d) influência da
porosidade inicial sobre qu e qt das misturas solo-cimento. Observa-se uma variação na porosidade de 36%
a 48% para 3%, 5%, 7% e 9% de cimento. Há, também, uma relação inversamente proporcional da
porosidade com qu e qt, pois à medida que a porosidade diminui, o qu e o qt aumentam.
A melhor maneira de caracterizar a variação da porosidade e os resultados da resistência à compressão
simples e tração observados foi através da terminação de uma curva de regressão que pudesse representar,
de forma satisfatória, os resultados. A curva de regressão que melhor representou os pontos foi uma curva
linear. Em média, a redução de 8 pontos porcentuais na porosidade dos corpos de prova solo-cimento
aumentou em 1050 kPa e 123 kPa a resistência à compressão simples e tração das amostras,
respectivamente. Ingles e Metcalf [21]; Moore et al. [22]e da Rocha et al. [23] também reportaram em seus
estudos que a diminuição da porosidade com o aumento de qu e qt.
É observada nas Figuras 2(a)-2(b) a influência da relação porosidade/teor volumétrico de cimento na
resistência à compressão simples e tração por compressão diametral. O teor volumétrico de cimento
(Equação 3) é definido como a razão entre volume cimento pelo volume de um corpo de prova.

γd C
Civ = ( ( )) /Gsc
1+c/100 100 (3)

Onde γd é o peso específico seco aparente da mistura, C é o teor de cimento e Gsc é a densidade dos grãos
do cimento. O teor volumétrico de aumenta com o aumento do teor de cimento, enquanto que a relação
porosidade/teor volumétrico diminui. Para as misturas, a relação η/Civ varia de 10.1-13.6; 12.7-17.1; 17.5-
23.5 e de 28.5-38.2 para 9, 7, 5 e 3% de cimento, respectivamente, tanto para qu como para qt. Em média,
o range de η/Civ para cada teor de cimento é de 3.6; 4.5; 6.3 e 10.5 para 9, 7, 5 e 3%, respectivamente. Ou
seja, o range cresce com a diminuição da quantidade de cimento no corpo de prova, e, o quando o range
diminui fornece os maiores valores de resistência mecânica. Pode-se observar nas Figura 2(a)-2(b) que
existe uma tendência potencial de qu e qt dependente de η/Civ para todos os teores de cimento. A Figura 2
mostra que comparando a redução de 20 pontos porcentuais de η/Civ se obtém que, por exemplo, se se reduz
a relação vazios/cimento de uma mistura de η/Civ=35 a η/Civ=15 aumenta a sua resistência qu em 1230 kPa
e sua resistência qt em 210 kPa.
Consoli et al. [7] sugere que uma melhor tendência dos pontos experimentais de resistência à compressão
simples de misturas solo-cimento pode ser obtida se o valor de Civ é ajustado a um exponente entre 0.01 e
1.00 dentro da faixa da relação η/Civ específica estudada. Desta maneira, os valores reportados na Figura 2
foram ajustados a um exponente decimal entre 0.01 e 1.00 sendo o exponente de 0.45 o qual forneceu o
melhor coeficiente de determinação para o cimento empregado. Assim, os valores de qu e qt dependendo
da relação η/Civ0.45 para os cimentos são apresentados na Figura 2.
3500 600

3000 SE SE
500
IE IE
2500
ME 400
ME
qu (kPa)

2000

qt (kPa)
300
1500
200
1000

500 100

0 0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Cimento (%) Cimento (%)

(a) (b)
3500 600

C=3% C=3%
3000 500
C=5% C=5%
2500 C=7% C=7%
400
C=9% C=9%
2000
qt (kPa)
qu (kPa)

300
1500
200
1000

500 100

0 0
35 37 39 41 43 45 47 49 35 37 39 41 43 45 47 49
η (%) η (%)

(c) (d)
Figura 1- Efeitos da adição de cimento na resistência das misturas solo-cimento (a) Influência do teor de cimento sobre
qu. (b) Influência do teor de cimento sobre qt. (c) Influência da porosidade sobre qu. (d) Influência da porosidade sobre
qt.

A Equação 4 e 5 definem o crescimento de qu e qt com a diminuição de η/Civ0.45, respectivamente:

𝜂 −2.00
𝑞𝑢 = 679129 [ ] (𝑅 2 = 0.97) (4)
(𝐶𝑖𝑣 )0.45

𝜂 −2.00
𝑞𝑡 = 99757 [ ] (𝑅 2 = 0.88) (5)
(𝐶𝑖𝑣 )0.45
𝜂 −𝐵
Pode-se observar que a Equação 4 e 5 segue a forma: 𝑞𝑢 = 𝐴 [𝐶 𝐶 ] . Baseado nos estudos feitos por
𝑖𝑣
Consoli et al. [7] o valor de B e C depende do tipo de solo. Consegue-se obter um mesmo comportamento
dos resultados de compressão simples e tração com o uso da relação η/Civ0.45. A relação η/CivC é capaz de
fornecer uma tendência única da resistência do solo siltoso experimentado no presente trabalho cimentado
artificialmente com um cimento de alta resistência inicial. Para Rios et al. [15] e Mola-Abasi et al. [24]a
relação η/Civ demonstra ser um ótimo parâmetro de ajuste para descrever o comportamento à compressão
não confinada de solos estabilizados com cimento.

3500 600

3000 a) 500
b)
2500
qu= 679129(η/Civ0.45)-2.00 400
qt= 99757(η/Civ0.45)-2.00
qu (kPa)

qt (kPa)

2000
(R2=0.97) 300 (R2=0.88)
1500
200
1000

500 100

0 0
15 20 25 30 35 40 45 50 15 20 25 30 35 40 45 50
η/Civ 0.45 η/Civ 0.45

Figura 2- Efeitos da relação porosidade/teor volumétrico de cimento sobre a resistência mecânica das misturas solo-
cimento: (a) sobre a compressão simples (b) sobre a tração indireta

Outra forma de representar um crescimento único da resistência qu e qt dos três tipos de solos é mediante a
normalização (divisão) das resistências. Segundo Consoli et al. [7]a normalização é obtida dividindo a
Equação 4 ou 5 por um valor específico arbitrário de resistência à compressão simples e à tração,
correspondente a um valor de um dado ajustado de porosidade, η/CivC =Ω, que leva a:

-B
qu qt A(η/Civ C ) -B
ou = -B
=(Ω)B (η/Civ C )
η η A(Ω) (1(6)
qu ( C =Ω) qt ( C =Ω)
Civ Civ

O valor de Ω pode ser escolhido da faixa de η/Civ C média reportados para tração e para compressão. Para o
presente trabalho foi escolhido o 27.5. Assim, com o valor de  = 27.5, a Equação (6) se converte em:
qu qt -B
ou = A(η/Civ C )
η η (7)
qu ( C =27.5) qt ( C =27.5)
Civ Civ
4
UCS- 7 days
qu e qt dividido por qu-norm ou qt-norm em η/Civ0.45=27.5

STS- 7 days
3.5

2.5
qu/qu-norm(η/Civ0.45=27.5) ou
qt/qt-norm(η/Civ0.45=27.5)=756.25(η/Civ0.45)-2.00
2 (R2=0.92)

1.5

0.5

0
15 20 25 30 35 40 45 50
η/Civ0.45

Figura 3- Normalização da compressão simples (qu) e da tração indireta (qt) [para toda a gama de η/Civ0.45] dividindo por
qu e qt em η/Civ0.45=35 considerando todas as misturas solo-cimento usando 7 dias de cura e diferentes energias de
compactação.

Cada valor real de qt e qu deve ser divido pela sua respectiva resistência de normalização resultante de valor
específico de η/Civ C=27.5 e calculado com as expressões que seguem a forma da Equação (4) e (5). Quando
cada valor experimental de resistência é dividido pela sua respectiva resistência de normalização é obtido
um valor quociente. Os valores quocientes de compressão e tração indireta das misturas estudadas formam
uma mesma tendência potencial descrita pela Equação (8) e mostrada na Figura 3 junto com a normalização
das resistências. Assim, a Equação (7) converte-se e, uma equação única que descreve o comportamento de
qt e qu:
qu qt -2.00
ou = 756.25(η/Civ 0.45 )
η η (8)
qu ( C =27.5) qt ( C =27.5)
Civ Civ

Uma relação empírica entre a compressão e a tração pode ser calculada em termos das Equações (4)-(5) das
amostras solo-cimento. Esta relação pode ser chamada de ξ=qt/qu, e é independente da relação η⁄(Civ )0.45 .
Desta maneira, as Equações que descrevem o crescimento de qu e qt em função de η⁄(Civ )0.45 (Ver Figuras
2a-2b) podem ser expressas como uma relação direta de qt/qu para o solo utilizado. A relação qt/qu assegura
uma constante decimal, a qual é calculada na Equação (9). De forma geral, ξ obtém um valor de 0.15.
Assim, qt demonstra ser uma porcentagem de 15% do valor de qu para o silte amarelo estudado.
−2.00
𝜂
99757 [ ]
𝑞𝑡 (𝐶𝑖𝑣 )0.45
= −2.00 = 0.15 (9)
𝑞𝑢 𝜂
679129 [ ]
(𝐶𝑖𝑣 )0.45

3. CONCLUSÕES
A presente pesquisa (solo siltoso), ao tipo de cimento usado, aos teores de cimento (3-9%) e o tempo de
cura de 28 dias a que foram submetidos os corpos de prova além das análises dos resultados, as seguintes
conclusões são abordadas:
1. A resistência à compressão simples dos corpos de prova de misturas solo-cimento aumentou com o
acréscimo do teor de cimento e com o aumento do peso específico seco de moldagem. Além disso, uma
tendência linear foi a melhor forma de representar o crescimento de qu com a variação do teor de cimento
de 3 a 9%. Por outra parte, a diminuição da porosidade das amostras também fez aumentar qu.
2. A relação porosidade/teor volumétrico de cimento (η/Civ) demonstrou ser um parâmetro eficiente para
estudar o comportamento mecânico das misturas como foi reportado em estudos prévios. Um exponente de
0.45 sobre o teor volumétrico de cimento (η/Civ0.45) forneceu melhor ajuste das amostras ensaiadas à
compressão simples. Além disso uma relação tração/compressão de 0.15 foi calculada.

AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer o apoio da CAPES, CNPq e Fundação Araucária do Paraná.

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REUTILIZAÇÃO E RECICLAGEM DE RESÍDUOS GERADOS EM
CANTEIROS DE OBRAS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

REUSE AND RECYCLING OF WASTE GENERATED IN CONSTRUCTION SITES


IN CIVIL CONSTRUCTION

Silane Mattos PERES 1 , Maria Aparecida Steinhertz HIPPERT 2

1
UFJF, Juiz de Fora, Brasil, mattossilane@gmail.com
2 UFJF, Juiz de Fora, Brasil, aparecida.hippert@ufjf.edu.br

Resumo: A sustentabilidade é um tema muito discutido no setor da construção civil, por ser uma
indústria que gera muitos impactos ao meio ambiente, sendo um grande desafio aliar esse tema ao
desenvolvimento e inovações tecnológicas. A construção civil é uma grande geradora de resíduos
sólidos, tanto no processo de construção, quanto na reforma e na demolição das edificações, sendo
estes muitas vezes dispostos de forma inadequadas, causando assim inúmeros problemas ambientais
e sociais. O controle da geração desses resíduos, bem como a forma correta de descarta-lo tem sido
motivo de preocupação, sendo abordado em normas e em programas do Governo Federal, como o
caso do PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat), onde no
Regimento Geral SiAc, aborda como objetivo da qualidade a inclusão da sustentabilidade em
canteiros de obra, contemplando entre outros a redução da geração de resíduos, a criação de
indicador de geração de resíduos ao final da obra e um plano de Gerenciamento de Resíduos em
consonância com a Política Nacional de Resíduos Sólidos e a Resolução Conama 307/2002 e
legislações estaduais e municipais aplicáveis. O objetivo do artigo é mostrar formas de reutilização
dos resíduos gerados em obras de construção civil, não sendo considerado o solo, associando ao
processo dos 3R (Reduzir, Reutilizar, Reciclar). A partir desse objetivo será realizado um trabalho
de revisão bibliográfica abordando temas como resíduos de construção civil, os 3R e formas de
reutilização desses resíduos, afim de controlar seu descarte de forma adequada. Espera-se que o
artigo traga contribuições tanto para a comunidade científica, quanto para as construtoras, que
podem enxergar nesses estudo formas para dar um destino mais adequados aos resíduos gerados e
inerentes ao processo construtivo, contribuindo assim para a evolução da indústria de forma mais
sustentável.

Palavras-chave: Resíduos de Construção Civil, Reutilização, Sustentabilidade

Abstract: Sustainability is a much discussed topic in the civil construction sector, as it is an


industry that generates many impacts to the environment, being a great challenge to combine this
theme with development and technological innovations. Civil construction is a major generator of
solid waste both in the construction process and in the renovation and demolition of buildings,
which are often inadequately disposed of, causing numerous environmental and social problems.
The control of the generation of these wastes, as well as the correct way to discard them, has been a
cause for concern, being addressed in Federal Government regulations and programs, such as
PBQP-H (Brazilian Habitat Quality and Productivity Program) , where in the General Statute SiAc,
it addresses as a quality objective the inclusion of sustainability in construction sites, including,
among others, the reduction of waste generation, the creation of a waste generation indicator at the
end of the project and a Waste Management plan in accordance with the National Solid Waste
Policy and Conama Resolution 307/2002 and applicable state and municipal laws. The objective of
the article is to show ways of reusing waste generated in construction works, not being considered
the soil, associating with the process of 3R (Reduce, Recycle, Reuse). From this objective will be
carried out a work of bibliographic review addressing themes such as construction waste, 3R and
ways of reuse of this waste, in order to control their disposal properly. It is hoped that the article
will bring contributions both to the scientific community and to the construction companies, who
can see in these studies ways to give a more appropriate destination to the waste generated and
inherent to the construction process, thus contributing to the evolution of the industry in a more
sustainable development

Keywords: Civil Construction Waste, Reuse, Sustainability

1. INTRODUÇÃO
De acordo com Oliveira [1] nos processo de construção, reforma e demolição, a indústria da
construção civil, acaba por gerar um grande volume de resíduos sólidos, que são geralmente
considerados inúteis e dessa forma, são descartados e muitas vezes de forma inadequada.
A geração dos Resíduos da Construção Civil – RCC deve-se, em grande parte, às perdas de
materiais de construção nas obras, seja pelo desperdício e falta de controle durante o processo de
execução dos serviços, seja por perda de materiais decorrentes de danos no recebimento, transporte
e até no armazenamento incorreto, pela baixa qualidade dos materiais adquiridos, ou até mesmo
devido à técnica escolhida para a construção e também para a demolição. [2]
À medida que o setor da construção civil cresce, consequentemente cresce a geração de resíduos,
contribuindo para o aparecimento de bota-foras de entulhos clandestinos, em periferias das cidades,
lotes vagos e até em anéis rodoviários, causando poluição dos espaços públicos, comprometendo o
meio ambiente, a vida útil de aterros sanitários, a degradação da paisagem urbana [3], além do
assoreamento de córregos e rios, entupimento de redes de drenagem e a proliferação de vetores
causadores de doenças. [1]
Oliveira [1] aponta que apesar dos problemas causados pela grande geração de resíduos na indústria
da construção civil, especificamente aqueles compostos de concretos, argamassas e elementos
cerâmicos, estes materiais tem um grande potencial e utilidade na engenharia, podendo os mesmos
voltarem à cadeia produtiva através de processo de reciclagem e reutilização, gerando materiais
com qualidade comparáveis àqueles fabricados tradicionalmente, sendo uma importante alternativa
ao uso em aterros, por exemplo.
Em cidades brasileiras de médio e grande porte 40 a 70% de todos os resíduos sólidos gerados são
provenientes de construções, sendo que a forma incorreta de destinação traz prejuízos econômicos,
sociais e ambientais [4] a redução das perdas e dos desperdícios é um fator muito importante para a
sobrevivência bem como para adequação ao mercado das construtoras. [2].
A reciclagem de RCC, processo que leva a novos rumos no que diz respeito a exploração dos
recursos, direção de investimentos e até mesmo a orientação do desenvolvimento tecnológico, é
uma tentativa de aproximar o conceito de desenvolvimento sustentável, tendo potencial na
substituição de matéria-prima convencional que são usadas na construção civil [2].
A NBR 15575, [5], criada no ano de 2013, preconiza que durante a construção deverá ser
implantado um sistema de gestão de resíduos no canteiro de obras, buscando minimizar sua geração
e possibilitar sua segregação de maneira adequada, facilitando dessa forma seu reuso, reciclagem ou
até mesmo a disposição em locais específicos.
O PBQP-H (Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat) instrumento do Governo
federal que tem como metas principais: a melhoria da qualidade das habitações e a modernização
produtiva, em seu Regimento SIAC (Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de
Serviços e Obras) é outro exemplo de documento que fala sobre a gestão de resíduos, neste caso,
estabelecendo que a empresa deve determinar indicadores para a sua gestão. Estabelece ainda que o
PQO (Plano de Qualidade da Obra) deve apresentar o plano de Gerenciamento de Resíduos da
Construção Civil, em consonância com a Política Nacional de Resíduos Sólidos [6] , resolução do
Conama 307/2002 [7] e ainda com as legislações estaduais e municipais aplicáveis.
Diante do que foi exposto, este artigo se desenvolve a partir de uma discussão sobre as melhores
formas de se reutilizar os resíduos gerados na construção civil, sem causar grandes impactos ao
meio ambientes, buscando para isso fazer uma revisão bibliográfica sobre o assunto.
O objetivo geral deste trabalho é contribuir com engenheiros, arquitetos e demais profissionais da
construção civil, com informações das melhores práticas para se gerenciar os resíduos gerados nas
obras, sem levar em consideração o solo. Para se atingir o objetivo proposto, foram realizados
estudos e pesquisas em artigos ,periódicos, normas, teses, com base em assuntos relacionados à
sustentabilidade, construções sustentáveis, resíduos de construção e demolição e gestão de resíduos
em obras e melhores práticas.

2. RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E SUSTENTABILIDADE


De acordo com Brum [3] e Cassa [8] a construção civil, precisa passar por transformações, para que
possa atingir o desenvolvimento sustentável. A cadeia produtiva da construção civil, chamada de
construbusiness, apresenta impactos desde a extração da matéria prima, na produção dos materiais,
na construção em si, em seu isso e na demolição.
A construção civil representa uma importante parcela no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil,
sendo responsável por empregar uma quantidade considerável de pessoas, de forma direta ou
indireta, dessa forma, ocupando posição de destaque na economia nacional [9].
Em contrapartida, é a responsável pela grande geração de entulhos, o que deixa evidente o grande
desperdício de materiais nas obras [4]. Dessa forma, de acordo com Brum [3], é imperioso a busca
de práticas sustentáveis, como uma forma de reduzir os impactos no ambiente gerados pela gestão
ineficiente de resíduos no meio urbano.
A conscientização de todos agentes envolvidos no processo construtivo é muito importante, além
das práticas que já vem sendo utilizadas para a otimização do manejo dos resíduos dentro dos
canteiros de obras, além disso não se pode deixar de pensar no descarte, transporte e destinação
final dos resíduos gerados, aspectos estes externos ao canteiro mas que garante o ciclo da gestão de
resíduos. [3]
Baseada na redução dos resíduos, a construção sustentável, fala de um desenvolvimento de
tecnologias limpas no uso de materiais recicláveis ou reutilizáveis. Cassa [8] mostra um estudo, na
tabela 1 apresentada abaixo, onde realiza uma revisão bibliográfica, mostrando quais os materiais
mais desperdiçados na construção civil, de acordo com diferentes autores. Uma análise feita pela
autora do presente artigo, realizando a média entre os valores apresentados por Cassa [8], mostra
que o cimento e cal estão entre os materiais mais desperdiçados nas obras, no entanto, no caso da
cal, o valor pode sofrer alterações, já que um dos autores não apresentou estatística.
Tabela 1 - Índice de perdas de alguns materiais na construção civil - adaptado de Cassa [8]

Pesquisadores
Materiais Média
S ouza Pinto S oilbeman
Areia 44 39 44 42,33
Cimento 56 33 83 57,33
Cal 36 102 - 69
Concreto 9 1 13 7,67
Aço 11 26 19 18,67
Blocos e tijolos 13 13 52 26

3. RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E LEGISLAÇÕES PERTINENTES


A Resolução CONAMA nº 307, define Resíduos de Construção Civil (RCC) como:
...os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção
civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos
cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e
compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos,
tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou
metralha; [7]

Os RCC’s são considerados como um dos maiores degradadores do meio ambiente, tanto pelo
volume gerado quanto pelo tratamento que é dado a esses resíduos e sua disposição final de forma e
em locais inadequados [10]. Pinto [11] e Costa [12] relatam que no Brasil, estimativas apontam que
o RCC representa de 41% a 70% da massa de resíduos sólidos urbanos, mostrando que as atividades
de construção civil, podem ser consideradas como as maiores produtoras de resíduos.
De acordo com Brum [3] a falta de medidas gerenciais em relação ao RCC provoca impactos nos
centros urbanos, e na natureza. Os reflexos negativos da geração de resíduos atinge os três pilares
da sustentabilidade, que são: ambiental, social e econômico.
• Ambiental: contaminação dos solos, rios e lençóis freáticos [4].
• Social: disposição inadequada de resíduos, muitas vezes dispostos em terrenos baldios,
margens de rios etc. realça a degradação da qualidade de vida urbana [3].
• Econômica: impacto percebido pelo aumento de gastos por parte da Administração Pública
em itens como saúde, limpeza e a remoção de tais dejetos para locais adequados [3]
A responsabilidade de destinar corretamente os resíduos, que historicamente são depositados em
locais ilegais, sempre foi da administração pública [11]. No ano de 2002, a Resolução número 307
do Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama [13], determinou que o gerador passaria a ser o
responsável pelo gerenciamento desses resíduos, representando um avanço legal e técnico,
estabelecendo aos geradores as responsabilidades, tais como a segregação dos resíduos em
diferentes classes e o seu encaminhamento para reciclagem e disposição final adequada.
Os RCC estão sujeitos à legislação federal referente aos resíduos sólidos, à legislação específica de
âmbito estadual e municipal, bem como às normas técnicas brasileiras [7] incluindo regras para
gerenciar sua coleta, transporte e disposição adequada. [3]

3.1. Legislação

3.1.1 Âmbito Nacional


Considerada o principal marco regulatório para a gestão dos RCC’s a Resolução CONAMA
307/2002 [7] dispõe sobre a responsabilidade dos municípios em implementarem seus planos de
gerenciamento integrado de RCC, além de diretrizes, critérios e procedimentos para o manejo
adequado destes resíduos. [7]
A Resolução, preconiza como objetivo prioritário dos geradores a não geração de resíduos, e
quando isso não for possível, que ele seja reduzido, reutilizado e reciclado, de forma que sua
destinação final seja realizada de forma adequada [3].
Além do estabelecimento de diretrizes, critérios e procedimentos gerenciais para empresas e órgãos
públicos, esta Resolução ainda propõe uma classificação dos resíduos da construção civil, em classe
A, B, C auxiliando o gerador no momento de manusear e escolher e melhor forma de destinação.
Após revisões , foi incluso o amianto na classe de resíduos perigosos, Classe D, onde o texto passou
a vigorar com a seguinte redação:
IV - Classe D: são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas ,
solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de
demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros,
bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos
nocivos à saúde. [9]

3.1.2 Âmbito Estadual


De acordo com Brum [3], os Estados são os responsáveis pelos Planos Estaduais de Resíduos
Sólidos. Esses planos, tem condições de junto à união obter recursos para financiamento de
programa de gestão de resíduos sólidos. Os Estados também podem elaborar Planos
Microrregionais de Resíduos Sólidos e Planos de Resíduos Sólidos de Regiões Metropolitanas ou
de Aglomerações Urbanas.
3.1.3 Âmbito Municipal
A Resolução CONAMA 307/2002 [7] em seu artigo 5º dispõe que os municípios são responsáveis
pela elaboração do Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil - PIGRCC,
o qual deve incorporar o Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil -
PMGRCC e o Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil – PGRCC [7].
O PIGRCC deverá conter informações relativas ao cadastramento de áreas públicas ou privadas,
dispostas para o recebimento, triagem e armazenamento temporário de pequenos volumes,
possibilitando a captação dos resíduos dos pequenos geradores e posterior destinação às áreas de
beneficiamento. Também irá estabelecer informações de licenciamento de áreas de beneficiamento
e deposição final de resíduos, proibir a disposição em áreas não licenciadas e orientar, fiscalizar e
controlar os agentes envolvidos [13].
Já o PGRCC é um projeto que deve ser elaborado e implementado pelos grandes geradores em seus
canteiros de obras. Os mesmos devem estabelecer procedimentos necessários para o manejo e
destinação ambientalmente adequada dos resíduos [13]. Segundo Marques Neto [14], cerca de 1%
dos 5.564 municípios brasileiros estabeleceram seus planos de gerenciamento de RCC.

4. RESÍDUOS E SUA GESTÃO


De acordo com a Resolução CONAMA 307/2002 [7] o gerenciamento de resíduos trata de um
sistema de gestão que visa reduzir, reutilizar ou reciclar resíduos, incluindo planejamento,
responsabilidades, procedimentos, práticas e recursos para desenvolver e implantar as ações
necessárias ao cumprimento das etapas previstas em planos e programas [13].
A adoção de padrões de produção e consumo sustentáveis e o gerenciamento adequado dos resíduos
sólidos evidentemente podem reduzir significativamente os impactos ao ambiente e à saúde [15]
A gestão de acordo com [16] pode ser entendida como um processo de conceber, planejar, definir,
organizar e controlar as ações a serem efetivadas pelo sistema de gerenciamento. Desta forma a
gestão está diretamente ligada à definição de princípios, objetivos e metas, ao estabelecimento de
políticas e modelos e na elaboração de sistemas de controle, medição, avaliação e previsão de
recursos. Já o gerenciamento refere-se ao conjunto de ações técnico-operacionais que provem em
implantar, orientar, coordenar, controlar e fiscalizar os objetivos estabelecidos na gestão.
A gestão de resíduos sólidos abrange as atividades referentes à tomada de decisões estratégicas e à
organização do setor com essa finalidade, envolve instituições, políticas, instrumentos e meios. [17]
O termo gerenciamento de resíduos, de acordo com Leite [17] está relacionado aos aspectos
tecnológicos e operacionais da questão, envolve fatores administrativos, gerenciais, econômicos e
de desempenho (produtividade e qualidade, por exemplo) e ainda se relaciona à prevenção, redução,
segregação, reutilização, acondicionamento, coleta, transporte, tratamento , recuperação de resíduos
sólidos e destinação final.
4.1 Programa de Gestão de RCC para canteiros de obras
Gestão de resíduos trata de um sistema que visa reduzir, reutilizar ou reciclar resíduos, e inclui
planejamento, responsabilidades, procedimentos, práticas e recursos para desenvolver e implantar
as ações necessárias ao cumprimento das etapas previstas em planos e programas [7].
Segundo Blumenschein [13] a gestão responsável dos resíduos gerados em canteiros de obras
requer a compreensão de que os processos de construção de um edifício são complexos e que
existem dificuldades ao combinar as formas de disposição dos resíduos.
Ainda segundo Blumenschein [13] entre as complexidades e os desafios do gerenciamento dos
resíduos sólidos gerados em canteiros de obras o autor cita, entre outros o volume de resíduos
produzido, recursos escassos para financiamento de pesquisa de projetos de projetos de pesquisa de
novos materiais produzidos pela reciclagem de resíduos; recursos escassos dos municípios para
planos de gestão e a necessidade e a responsabilidade do setor público de instituir instrumentos que
controle e estimulem a gestão dos resíduos nos canteiros de obra.
A geração de RCC pelos grandes geradores dá-se no período de implantação (execução) do
empreendimento, definido em cronograma físico-financeiro, no entanto o processo de gestão
antecede o início da obra, já que este está condicionado por decisões a serem tomadas nas fases de
concepção, planejamento e projeto, onde são definidos os processos construtivos e especificação de
materiais. Nesse momento surge a necessidade de implantar as práticas de gestão de RCC,
orientadas pela elaboração do Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC).
[18]
O foco da gestão dos resíduos da construção deve ser na redução, na reutilização e na reciclagem
dos resíduos gerados nos canteiros de obra, visto o enorme potencial de reciclagem dos RCC e
considerando que a legislação pertinente, que proíbe a partir de julho de 2004 o encaminhamento
dos resíduos sólidos da construção a aterros sanitários e domiciliares. [13]
Dessa forma, existe a responsabilidade dos construtores, ao elaborar seus projetos de gestão de
resíduos, de incluir um Plano de Redução de Resíduos; um Plano de Reutilização de Resíduos e um
Plano de Gestão de Resíduos nos Canteiros de Obras, sendo que este último depende e influencia
diretamente a qualidade do processo de reciclagem dos resíduos da construção.
4.2 Projeto de gerenciamento
Jalaei e Jrade [2] colocam que o Projeto de Gerenciamento de RCC estará a cargo dos grandes
geradores e terá como objetivo estabelecer os procedimentos necessários para o manejo e
destinação ambientalmente adequados dos RCC.
De acordo com Brum [3] o termo Projeto de Gerenciamento de Resíduos de Construção Civil, está
restringido às atividades desenvolvidas dentro do canteiro de obras, isto é, são as ações operacionais
que estão relacionadas diretamente à redução, ao manejo e à destinação final dos resíduos de
construção. Sendo assim, pode-se dizer que o Projeto de gerenciamento de Resíduos é uma das
partes que compõe o Programa de Gerenciamento de RCC.
O Projeto de Gerenciamento de RCC deve ser apresentado ao órgão competente do poder público
municipal, junto com o projeto do empreendimento, para análise e posterior aprovação [7], a fim de
legalizar o empreendimento para a construção.
De acordo com Pinto [19] a implantação de uma metodologia para Programa de Gestão de Resíduos
da Construção Civil nas empresas compreende uma sequência de quatro atividades distintas, sendo:
Reunião Inaugural, Planejamento, Implantação e Monitoramento.
Na reunião inaugural serão passadas as primeiras informações sobre o programa à empresa, com o
objetivo de apresentar os assuntos referentes aos impactos ambientais causados pela ausência da
gestão de resíduos na construção e demolição, legislações existentes relacionadas aos resíduos da
construção e esclarecimentos sobre as mudanças que devem ocorrer no canteiro após a implantação
[19]
Já na tapa de planejamento, o foco estará em cada obra que a empresa esteja realizando, sendo
levantadas informações como quantidade de funcionários, área de construção, arranjo físico do
canteiro, empresas contratadas para remoção dos resíduos e identificação dos locais utilizados como
destinação final, para que se apresente um modelo de cronograma, relacionando as sequências das
atividades com o período de toda a obra. [19]
Na etapa de implantação são iniciadas as aquisições e distribuições dos dispositivos de coleta e
acessórios necessários ao programa, são feitos treinamentos dos operários, a fim de explicar como
se desenvolvem as atividades associadas ao Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção
Civil dentro do canteiro. Há também o treinamento da equipe responsável pelos controles
administrativos, expondo as atividades referentes à Destinação Final dos Resíduos, ficando a cargo
desta registrar a destinação dos resíduos [19]
O monitoramento, última etapa a ser realizada, serão feitos check-list e relatórios periódicos, com o
objetivo de averiguar aspectos de limpeza, triagem e destinação dos resíduos, dando base para
direção da obra agir de forma corretiva diante dos desvios observados [19]. De acordo com Lima
[6] o comprometimento da equipe gerencial, incluindo diretores e gestores da obra é de suma
importância para que o programa dê resultados com qualidade.
Araújo [16], coloca que uma forma de evitar este tipo de problema é iniciar a implantação através
da conscientização da alta hierarquia. A sua sensibilização e presença ao longo das demais
atividades do programa demonstra o comprometimento da empresa e suas expectativas em relação
aos resultados, fazendo com que os colaboradores da empresa sejam mais facilmente envolvidos e
conscientizados sobre as suas responsabilidades.

5. POLÍTICA DOS 3R - REDUZIR, REUTILIZAR E RECICLAR


De acordo com a Agenda 21/1992, os 3Rs constituem os primeiros passos da hierarquia de
objetivos que formam a estrutura de ação necessária para o manejo ambientalmente saudável dos
resíduos, sendo [2].
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) atribui às preocupações com coleta, tratamento e
destinação dos resíduos sólidos apenas como uma parte do problema ambiental. Lembra ainda, que
a geração de resíduos é precedida por uma outra ação impactante sobre o meio ambiente – a
extração de recursos naturais. [20]
Lordêlo, Evangelista e Ferraz [21] dizem que a política ou pedagogia dos 3R’s surge da imensa
necessidade de gerenciar os resíduos sólidos. Atualmente após a Política Nacional de Resíduos
Sólidos, é abordado como 5R’s, que promove meios de enfrentamento da questão dos resíduos
sólidos.
De acordo com o MMA a política dos cinco R’s deve priorizar a redução do consumo e o
reaproveitamento dos materiais em relação à sua própria reciclagem, sendo eles: Reduzir, Repensar,
Reaproveitar, Reciclar e Recusar consumir produtos que gerem impactos socioambientais
significativos.[20]
5.1 Reduzir
A Resolução CONAMA 307/2002 [7] coloca que a prioridade na gestão de resíduos é a sua
redução. A construção civil gera grandes impactos ambientais, tanto nas etapas de construção,
quanto no uso da edificação, a redução desses impactos é um desejo para a engenharia. Algumas
soluções sugeridas são: alteração em projeto visando à redução do consumo de recursos na fase de
utilização, Substituição de equipamentos e sistemas descartáveis por outros de maior durabilidade,
Reciclagem dos resíduos gerados nas obras e uso de materiais reciclados, projeto do produto e
planejamento dos sistemas de produção visando evitar perdas. [22]
A compatibilização de projetos é uma das etapas mais importantes para a redução de desperdício e
consequentemente a redução da geração de resíduos. Quanto mais detalhes e incompatibilidades
entre os projetos puderem ser verificados e resolvidos antes da execução, menos perda e menos
geração de resíduos ocorrerão. Projetos desenvolvidos de forma inadequada traz como
consequências levantamentos incorretos de materiais e mãos-de-obra, distorções em custos e
cronogramas, além da impossibilidade de um planejamento adequado para as etapas seguintes.[22]
De acordo com Marsico [23] o BIM (Building Information Modeling) é uma das ferramentas
existentes no mercado com a capacidade de suprir essa necessidade de estruturação e planejamento
de fluxo de trabalhos, tanto nas fases de projetos como de construção. O BIM faz um elo com a
concepção de edifícios ambientalmente amigáveis, os quais apresentam tanto alto desempenho
quanto economia de custos, desenvolvendo assim cidades sustentáveis. [3]
5.2 Reutilizar
Tendo em vista a escassez de matéria-prima em nosso planeta, a reutilização dos resíduos e
materiais se torna fundamental, podendo a mesma ser considerada tanto na fase de construção
quanto na fase de demolição das edificações. A reutilização dependerá do projeto, que deverá ser o
mais racional possível com especificações de materiais e equipamentos que possuam maior
durabilidade e maior número possível de utilizações e de critérios norteadores na tomada de decisão
sobre sistemas e tecnologias construtivas. [16]
Araújo [16], ressalta ainda que quando o processo de demolição for imprescindível, deve-se tentar
proceder ao desmonte mantendo as partes intactas e/ou separadas para futuras reutilizações, seja em
novos edifícios, ou para a reciclagem. Quanto maior a racionalização definida na fase de projeto,
por exemplo, com o uso de elementos pré-fabricados mais facilmente será alcançada a
racionalização.
5.3 Reciclar
O conceito de reciclagem está relacionado ao ciclo de utilização de um material ou componente que
uma vez se tenha tornado velho, possa se tornar novo, prolongando a vida útil do material. A
reciclagem se fundamenta em princípios de sustentabilidade, implicando a redução do uso de
recursos naturais (fontes de energia e matéria-prima primária) e na manutenção da matéria-prima no
processo de produção o maior tempo possível. Minimiza. desta forma a necessidade de que
matérias-primas primárias sejam extraídas desnecessariamente, [16]
A reciclagem de resíduos da própria construção vem sendo praticada há milênios, no entanto o uso
de resíduos de construção e demolição (RCD) só se intensificou após a Segunda Guerra Mundial,
principalmente na Alemanha, devido à enorme demanda por matéria prima. No Brasil a reciclagem
dos RCD é bastante recente, no início da década de 80, se difundiu o uso de “masseiras-moinho”,
equipamento de pequeno porte que possibilita a moagem intensa de resíduos menos resistentes para
reutilização. [22]
Hoje temos no Brasil, unidades para reciclagem de resíduos públicas e privadas, situadas em
cidades como Belo Horizonte e São Paulo. Em Belo Horizonte, os agregados reciclados são usados
para confecções de meio-fio, base e sub-base de pavimentos, já na cidade de São Paulo, como as
distâncias para pedreiras e mineração de areia são elevadas, o custo de agregados naturais é muito
alto, justificando a sua fabricação nas usinas privadas de reciclagem. [22]
Vantagens da reciclagem: preservação de recursos naturais com a substituição destes por resíduos,
prolongando a vida útil das reservas naturais e reduzindo o impacto ambiental; redução da
necessidade de áreas para aterro devido à diminuição do volume de resíduos a serem depositados;
redução no gasto de energia, seja para produção de um novo bem, seja com o transporte e gestão do
aterro; geração de empregos com o surgimento das empresas para reciclagem; redução da poluição
emitida com a fabricação de novos produtos; e aumento da durabilidade da construção em
determinadas situações como, por exemplo, na adição de escória de alto forno e pozolanas ao
cimento. [22]
Algumas estatísticas apontam porcentagens entre 60% a 80% de RSC passíveis de serem reciclados
(resíduos classe A e resíduos classe B de acordo com a Resolução 307) [16]. A figura 1 abaixo
mostra um gráfico, onde nota-se que a argamassa é o material de maior porcentagem nos resíduos
de construção civil, estando tijolos e blocos em segundo lugar.

Fig. 1 – Gráfico da composição dos resíduos de Construção no Brasil ( adaptado de Blumenschein [2])

5.3 Utilização de Materiais reciclados


Na tabela 2, mostrada abaixo, vê-se algumas possíveis utilizações e características de materiais
reciclados, na construção civil, com base em estudos realizados por Cassa [8]. Nota-se pela tabela,
que existe uma grande variedade de reutilização de materiais de construção civil.
Tabela 2 – Utilização de materiais reciclados –Cassa [8]

Material produzido Características Material de Origem Utilização


Agregado reciclado M ais poroso, presença de Parcelas de concreto, Camadas de pavimentos não
partículas de cimento não inerte, argamassa, cerâmica etc estruturais, argamassas, tijolos,
granulometria variada concretos não estruturais
Camadas de base e sub- M uito usado. Baixa Seixos, pedregulhos, M elhora nas condições de
base de pavimentos expansibilidade, redutor de britagem de rochas etc rolamento, comodidade e
plasticidade segurança ao usuário
Tijolo de solo estabilizado Facilidade de fabricação, baixo M istura de solo com Alvenaria simples de vedação,
com cimento custo, resistência à compressão aglomerantes alvenaria estrutural (sob ensaios)
similar ao bloco cerâmico
Argamassa de Desempenho superior a Agregados reciclados Assentamento e revestimento de
revestimento argamassas industrializadas, baixa em obra ou usinas de alvenarias
permeabilidade, pouca retração, reciclagem
trabalhabilidade, plasticidade e
retenção de água
6. CONCLUSÃO
A preocupação com os Resíduos é hoje uma preocupação mundial, sendo que, vários países já se
preocupam a gestão de seus resíduos.
A gestão de resíduos nos canteiros de obra, é um importante meio para que se melhore o manejo
dos resíduos, seja reciclando ou até mesmo fazendo depósito em local apropriado. Ao se promover
a gestão, aspectos como impacto ambiental, questões sociais e até econômicos são minimizados.
Através do estudo realizado, foi possível observar, que muito se fala em reciclagem de resíduos,
sendo abordado por vários autores, formas de transformar os materiais em outros que possam voltar
à cadeia produtiva, através por exemplo, da produção de blocos e até de agregados.
No entanto, pouco foi visto sobre a reutilização dos materiais dentro do próprio canteiro, por
exemplo, transformando a madeira em móveis que poderiam ser utilizados pela própria mão de
obra.
Dessa forma, entende-se que seja necessário fazer um estudo mais amplo sobre o assunto,
abordando a questão do reuso e de suas implicações nas questões aqui abordadas, como aspectos
ambientais, econômicos e sociais.

REFERÊNCIAS
[1] OLIVEIRA, João Carlos de. Indicadores de potencialidade e desempenho de agregados reciclados de resíduos
sólidos da construção civil em pavimentos flexíveis. 2007. 161 f. Tese (Doutorado) - Curso de Engenharia Civil,
Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, 2007. Cap. 5.
[2] JALAEI, Farzad; JRADE, Ahmad. “Integrating building information modeling (BIM) and LEED system at the
conceptual design stage of sustainable buildings”. Sustainable Cities and Society, v. 18, p. 95-107, nov. 2015.
[3] BRUM, FÁbio Martins. “Implantação de um programa de Gestão de Resíduos da Construção Civil em
Canteiro de Obra Pública: o caso da UFJF”. 100 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Engenharia Civil,
Engenharia Civil e Arquitetura, Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2013. Cap. 6
[4] Ministério das Cidades. Ministério do Meio Ambiente. Área de manejo de resíduos da construção e resíduos
volumosos: orientação para o seu licenciamento e aplicação da Resolução Conama 307/2002. 2005b.
[5] Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR 15575 – 1 – Disposições Gerais. Rio de Janeiro, 2013
[6] BRASIL. Lei 12.305 – Política Nacional dos Resíduos Sólidos. De 02 de agosto de 2010
[7] BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA ). Resolução CONAMA nº 307, de 5 de julho de
2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Brasil, 2002. 4
p..
[8] Reciclagem de entulho para produção de materiais de construção / Organizado por Alex Pires Carneiro, Irineu
Antônio Schadach de Brum e José Clodoaldo da Silva Cassa. _ Salvador: EDUFBA; Caixa Econômica Federal,
2001. 312 p. ; il.
[9] LIMA, Rosimeire Suzuki; LIMA Ruy Reynaldo Rosa. Guia para Elaboração de Projeto de Gerenciamento de
Resíduos da Construção Civil. Série de Publicações Temáticas CREA-PR, 2012
[10] Ministério do Meio Ambiente. Resolução Conama no 358, de 29 de abril de 2005. Dispõe sobre o tratamento e a
disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 4
maio 2005a.
[11] PINTO, Tarcísio de Paula. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana.
São Paulo, 189p. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. 1999
[12] COSTA, N.A.A. da. “ A reciclagem do resíduo de construção e demolição: uma aplicação da análise
multivariada”. Tese de Doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), 2003
[13] BLUMENSCHEIN, R. N. Manual Técnico: Gestão de Resíduos Sólidos em Canteiros de Obras . Brasília.
SEBRAE/DF, 2007. 42 p.
[14] MARQUES NETO, J. C. Diagnóstico para estudo de gestão de resíduos de construção e de construção do
município de São Carlos-SP. 2003. 155 p. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2003.

[15] JACOBI, Pedro Roberto; BESEN, Gina Rispah. “ Gestão de Resíduos Sólidos: desafios da sustentabilidade”.
Estud.av.vol.25.no 71. Sâo Paulo.Jan./Apr.2011
[16] ARAÚJO, Valdete santos de. Gestão de Resíduos Especiais nas Universidades: Estudo de Caso da Universidade
Federal de São Carlos, Campus de São Carlos . São Carlos: UFScar, 2004. 154p.
[17] LEITE, W.C.A., Estudo da gestão de resíduos sólidos: uma proposta de modelo tomando a Unidade de
Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI – 5) como referência. São Carlos. Tese de D.Sc., Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1997.
[18] SINDUSCON. Gestão ambiental de resíduos da construção civil: a experiência do Sindus Con-SP.
São Paulo: Obra Limpa; I&T; SindusCon-SP, 2005.

[19] PINTO, T.P. “Gestão ambiental de resíduos da construção civil – a experiência do SINDUSCON SP. São
Paulo: Obra Limpa; Instituto e Técnicas em Construção Civil; SINDUSCON-SP, 2005. 48p.
[20] BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. “A política dos 5R’s”. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/informma/ item/9410>. Acesso em 02 de novembro de 2018

[21] LORDÊLO, P. M.; EVANGELISTA, P. P. A.; FERRAZ, T. G. A. Programa de gestão de resíduos em canteiros
de obras: método, implantação e resultados. In: Programa de Gestão de Resíduos da Construção Civil,
SENAI/BA, 2006.
[22] Gestão de Resíduos na Construção Civil: Redução, Reutilização e Reciclagem. Disponível em:
<http://www.fieb.org.br/Adm/Conteudo/uploads/Livro -Gestao-de-
Residuos_id_177__xbc2901938cc24e5fb98ef2d11ba92fc3_2692013165855_.pdf>. Acesso em 29 de outubro de
2018
[23] MARSICO, Matheus Lamas et alli. Aplicação de BIM na compatibilização de projetos de edificações .
Iberoamerican Journal of Industrial Engineering, Florianópolis, SC, Brasil, v. 7, n. 17, p. 19-41, 2017.
O COMPROMETIMENTO DA VIDA ÚTIL DOS MATERIAIS E
COMPONENTES DECORRENTES DA PRESENÇA DE UMIDADE NAS
EDIFICAÇÕES E DA FALTA DOS SERVIÇOS DE MANUTENÇÃO

THE LACK OF DURABILITY OF MATERIALS AND COMPONENTS DUE TO THE


PRESENCE OF HUMIDITY IN BUILDINGS AND LACK OF MAINTENACE

Silane Mattos Peres 1, Maria Teresa Barbosa 2


1 UFJF, Juiz de Fora, Brasil, mattossilane@gmail.com
2
UFJF, Juiz de Fora, Brasil, teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br

Resumo: A indústria da construção civil, tem vivido uma evolução no que diz respeito a novas
tecnologias, novos processos construtivos, novos materiais de construção e ainda aumento dos
padrões de qualidade, tanto dos processos construtivos, quanto dos materiais utilizados nas
edificações, além disso tem focado no controle da produção de resíduos sólidos e na durabilidade. A
durabilidade é um conceito que está intimamente ligado à vida útil, que pode ser alcançado dentro
do esperado quando a edificação passa pelo correto processo de manutenção preventiva, serviços
estes que são programados antecipadamente e de baixo custo que visam o ganho de durabilidade
das edificações. Os itens como durabilidade, manutenabilidade e vida útil são assegurados por
normas pertinentes como a NBR 15575:2013 – Desempenho de Edificações Habitacionais, que tem
o intuito de melhorar a qualidade das construções habitacionais. O objetivo principal do artigo é
correlacionar durabilidade, vida útil e manifestações patológicas decorrentes da presença de
umidade em edificações, sejam essas acidentais ou ascensionais, devido a erros construtivos,
especificações inadequadas de materiais e ainda a falta de manutenção preventiva.
Partindo desse objetivo será realizado um trabalho de revisão bibliográfica acerca de umidade de
edificações, manifestações patológicas decorrentes dessas e sobre as medidas preventivas que
buscam minimizar custos com os serviços de manutenção e ainda asseguram a vida útil das
edificações. Espera-se que o artigo contribua para a comunidade científica mostrando como a
manutenção e a boa escolha de materiais pode ajudar a aumentar a vida útil das edificações, inserida
ao conceito de construção sustentável.

Palavras-chave: Durabilidade, Manifestações Patológicas, Sustentabilidade, Vida Útil.

Abstract: The construction industry has been evolving in terms of new technologies, new
construction processes, new building materials and increased quality standards, both of the building
processes and materials used in the buildings, and has focused on in the control of solid waste
production and durability. Durability is a concept that is intimately linked to the useful life, which
can be achieved within the expected when the building goes through the correct process of
preventive maintenance, these services that are programmed in advance and low cost that aim the
gain of durability of the buildings. Durability, maintenance and shelf life are ensured by pertinent
standards such as NBR 15575: 2013 - Housing Construction Performance, which aims to improve
the quality of housing construction. The main objective of the article is to correlate durability, shelf
life and pathological manifestations due to the presence of humidity in buildings, whether
accidental or accidental, due to constructive errors, inadequate specifications of materials and also
the lack of preventive maintenance.
Based on this objective will be carried out a work of bibliographical review about the humidity of
buildings, pathological manifestations arising from them and about preventive measures that seek to
minimize costs with maintenance services and still ensure the useful life of buildings. The article is
expected to contribute to the building community by showing how maintenance and good choice of
materials can help increase the useful life of buildings, which is part of the concept of sustainable
construction.

Keywords: Durability, Pathological Manifestations, Sustainability, Shelf Life.

1. INFORMAÇÕES BÁSICAS
O homem sempre teve uma grande preocupação com sua habitação, desde à época em que moram
em cavernas, e dentre as preocupações, estava as questões de umidade. O homem percebe que ao se
abrigar das chuvas, animais e do frio nestes locais, havia uma umidade me seu interior que ascendia
do solo, penetrava as paredes e tronava a vida insalubre dentro daquele ambiente. [1]
Dessa forma, o homem começa a sentir necessidade de aprimorar seus métodos construtivos para
isolar o máximo que pudesse suas habitações. Pode-se dizer que a água, o calor e a abrasão foram e
ainda são um dos principais desgastes e depreciação das construções, sendo que a água, deve ter
uma atenção redobrada, já que a mesma além de ter um alto poder de penetração nas edificações,
essa pode acontecer vinda de origens diferentes. [1]
Vê-se atualmente um grande número de edificações, relativamente novas apresentando diversos
tipos de patologias, esse fato pode ser dado ao avanço tecnológico no setor de técnicas e materiais
de construção. O uso de materiais inadequados, imperícia na execução, ausência de planejamento da
obra, excesso de cargas, incompatibilidade de materiais, agentes climáticos associados à falta de
manutenção levam as edificações a apresentarem níveis de degradação superiores aos desejados.
[2], [3].
Os fatores citados acima, comprometem a qualidade e a durabilidade das edificações, afetando
diretamente sua vida útil, seu desempenho, além do comprometimento na estética, segurança. [2],
[3]. O desempenho da edificação pode ser definido como o seu comportamento em uso, ou seja,
características que proporcionam condições mínimas de habitabilidade (como conforto térmico e
acústico, higiene, segurança etc.) necessárias para que um ou mais indivíduos possam utilizar a
edificação durante um período de tempo[4], [5], e pode ser mensurado quantitativamente segundo a
Norma Brasileira 15575-1 de 2003. [6]
Segundo a NBR 15575-1/2013 [6], a umidade acelera os mecanismos de deterioração das
edificações, acarretando a perda das condições de habitabilidade e higiênicas do ambiente, por isso
a estanqueidade da umidade proveniente do solo e da utilização da edificação habitacional, devem
ser consideradas em projeto. Além do mais a impermeabilização é de extrema importância para as
construções, pois, aumentam a vida útil da edificação.[1]
O objetivo geral deste trabalho é contribuir com engenheiros, arquitetos, e demais profissionais da
área de construção civil, com informações que levem ao entendimento das patologias ocasionadas
pela umidade nas edificações, de modo a evitá‐las e, não sendo possível, ser uma base para buscar
uma forma de saná‐las, além de indicar as origens da umidade nas edificações e a natureza dos
problemas ocasionados; citar as principais patologias decorrentes. Para isso foram realizadas
pesquisas em materiais específicos e artigos especializados na área de forma a embasar a elaboração
deste artigo. Por fim foi elaborada uma tabela correlacionando durabilidade, vida útil e
manifestações patológicas que podem influenciar a qualidade da edificação.

2. DURABILIDADE E VIDA ÚTIL DAS CONSTRUÇÕES


Possan e Demoliner [5], ressaltam que é na fase de projeto das edificações, que os profissionais
devem levar em consideração a vida útil mínima dos elementos e sistemas construtivos, buscando
dessa forma, que a construção atinja o desempenho esperado. Nessa fase que são tomadas as
principais decisões que causam as repercussões no ciclo de vida das edificações, esta fase é
considerada de fundamental importância para o futuro desempenho de qualidade, redução de custos
com manutenções e a operação da edificação. [7].
Segundo a norma a norma de desempenho, a vida útil de projeto (VUP) é o período estimado de
tempo para o qual um sistema é projetado, ou seja, a VUP é uma estimativa teórica do período que
compõe o tempo de vida útil. Por sua vez, a vida útil (VU) de um sistema construtivo é o período de
tempo em que uma edificação executa atividades para as quais foi projetada e construída. [6].
Portanto, de acordo com este conceito, o uso adequado da vida útil dos materiais e seus
componentes permite a obtenção de edifícios com melhor qualidade, mais econômicos e agradável
aos usuários [7].
Após a definição da VUP, é interessante que todos aqueles que participam do processo produzam
elementos e técnicas adequadas para que a VU seja maior que a VUP, dessa forma, evita-se que se
utilize qualquer produto normalizado, mesmo que não seja correto no ponto de vista técnico [6]
Ainda de acordo com a Norma de Desempenho, a tendência é a utilização de produtos com menor
custo inicial, por parte das construtoras e dos projetistas, sem a definição da VUP, porém esses
produtos são menos duráveis, causando dessa forma, maiores custos de manutenção e como
consequência, maior custo global da edificação. [6]
Ainda tomando como base a mesma norma, entende-se por durabilidade como o período no qual o
produto mantém as características ou funções que lhe foram atribuídas, atendendo o desempenho
esperado ao longo de sua vida útil. Complementando a ideia da NBR 15575-1 [6], a NBR 15575-6
[8] preconiza que para manter a capacidade funcional do produto durante sua vida útil de projeto é
necessário que os sistemas sejam submetidos a intervenções periódicas de manutenção e
conservação com objetivo fazer com que o material, produto ou equipamento atendam aos
requisitos de desempenho especificados no projeto [8].
De acordo com Nascimento et. al [9] vícios e defeitos da construção é necessário ter uma visão
global de todo o processo construtivo, pois o edifício é composto por diversos sistemas, em que os
problemas nem sempre provém de um único material empregado, mas sim das consequentes
relações entre seus componentes [9]. Sendo assim é necessário que as informações de manutenção
estejam inseridas no projeto para facilitar o trabalho executivo e fornecer segurança aos futuros
usuários mitigando ou eliminando as patologias nas edificações.
3. UMIDADE NAS EDIFICAÇÕES
Conforme já citado anteriormente a umidade é o maior inimigo das construções e da saúde de seus
ocupantes. Após ocorrência conseguir eliminar em 100% a umidade é muito complexo, sendo
necessário inicialmente o estudo e pesquisas das causas potenciais, de modo que as ações corretivas
sejam efetivas [3].
Sabe-se também que a umidade não é apenas uma causa de patologias, ela age também como um
meio necessário para que grande parte das patologias em construções ocorra. sendo fator essencial
para o aparecimento de eflorescências, ferrugens, mofo, bolores, perda de pinturas, de rebocos e até
a causa de acidentes estruturais [10]
Segundo a NBR 15.575:2013, a água é o principal agente de degradação de um amplo grupo de
materiais de construção, estando presente no solo, na atmosfera, nos sistemas e procedimentos de
higiene da edificação. A unidade nas edificações pode ser associada a diversos fenômenos tais
como: condensação, capilaridade, infiltrações e outros. [11]
Verçoza [12] diz que a umidade pode ter como origem: a) o processo de construção; b)
capilaridade; c) as chuvas; d) vazamentos em redes hidráulicas e; e) condensação.
Segundo Macedo e Queruz [13], [14] as formas de origem da umidade são:
• Elementos construtivos: originada da constituição interna aos materiais por ocasião de sua
execução e que acaba por se exteriorizar em decorrência do equilíbrio que se estabelece entre
material e ambiente. Um exemplo desse tipo de situação é a umidade contida nas argamassas de
reboco, nos materiais porosos como concreto, tintas e tijolos;
• Capilaridade: Caracteriza-se pela presença de água originada do solo, tanto por fenômenos
sazonais de aumento de umidade quanto por presença permanente de umidade de lençóis freáticos
superficiais. A ascensão da água em paredes ocorre pela existência do fenômeno de capilaridade. Os
pequenos vasos capilares presentes na estrutura de concreto permite a percolação da água. A altura
que ela ascende pelo vaso capilar depende principalmente do seu diâmetro: quanto menor, maior a
altura
• Vazamento em redes hidráulicas (acidental): ocorre devido a falhas nos sistemas de
tubulação de distribuição e/ou coleta de águas da construção. Tal tipologia tem importância especial
em edificações que já possuam um longo tempo de existência, pois pode haver presença de
materiais com tempo de vida já excedido, que não costumam ser contemplados nos planos de
manutenção predial.
Provindas da atmosferas tem-se:
• Chuva: tipo de umidade que passa das áreas externas para internas por meio de pequenas
trincas ou até mesmo rachaduras nas paredes e juntas dos elementos construtivos ( portas e janelas).
Em geral, é ocasionada pela água da chuva e, se combinada com o vento, pode agravar a infiltração
com o aumento da pressão de infiltração;
• Condensação: de acordo com Verçoza [12] difícil de ser identificada, ocorre devido a uma
grande umidade do ar combinada com uma superfície fria causando assim a condensação da água
na estrutura. O fenômeno ocorre pela redução de capacidade de absorção de umidade pelo ar
quando é resfriado, na interface da parede, precipitando-se. Os diferentes materiais, conforme a sua
densidade, comportam-se de forma diferenciada quanto à condensação: os mais densos são mais
atacados, enquanto que os de menor densidade sofrem menos;
Alguns locais da edificação são mais propensos à umidade como paredes, lajes, telhados e áreas que
possuam pouca ventilação, natural ou artificial, a correlação entre origem da umidade e em quais
locais apresentam maior incidência é possível ser verificado na tabela 1.
Tabela 1 – Origens e locais propensos à umidade
Origem da umidade e locais propensos às manifestações
patológicas
Origem Local
Inerente à construção Confecção de concretos,
argamassas e outros
Oriunda das chuvas Cobertura, paredes
Ascencional Paredes
Acidental Paredes, telhados, pisos,
terraços
Condensação Paredes, forros, pisos, locais
com pouca ventilação

Tendo conhecimento sobre a forma como a água se insere na edificação é possível identificar como
age e que tipo de manifestações patológicas geram.

4. MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DECORRENTES DA PRESENÇA DE UMIDADE


Um estudo realizado por Antonelli [15], apresentado na figura 1 abaixo, mostra um panorama das
falhas ocorridas nas edificações, ocorridas por problemas na impermeabilização,

Fig. 1 - Problemas encontrados na impermeabilização (adaptado de Antonelli [15])


A palavra umidade tem como significado qualidade ou estado de úmido ou levemente molhado. As
deficiências mais habituais na construção civil são resultantes da penetração de água ou por causa
da formação de manchas de umidade. Esses defeitos causam problemas abundantes e de difícil
solução, tais como prejuízos funcionais na edificação, incômodo aos moradores podendo, em casos
extremos, influenciar em sua saúde, danos a bens presentes no interior das edificações e, sem
dúvida, tudo isso trará prejuízos financeiros [4]
A umidade não é apenas uma das causas de patologia, ela age também como um intermédio para
que grande parte de outras patologias em construções aconteçam. A umidade é o fator primordial
para o aparecimento de inflorescências, ferrugens, mofo, bolores, perda de pinturas, de rebocos e
até a causa de acidentes estruturais. As manifestações patológicas podem ocorrer em diversas partes
das edificações, como piso, parede, laje, teto e fachadas [1], [13], [16].
As manifestações patológicas podem ocorrer em diversas partes das edificações, como piso, parede,
laje, teto e fachadas [13], [16], [1]. Identificar e conhecer as causas dessas manifestações são fatores
importantes na resolução e prevenção de maiores problemas que podem ocorrer nas edificações.
[17]
De acordo com Parisi Jonov, Nascimento e Paulo e Silva [18] problemas relacionados á umidade
em edificações além de serem frequentes, representam um dos maiores problemas durante a sua
vida útil. Ainda de acordo com os autores pode-se associar a ocorrência de manifestações
patológicas devido á umidade à idade da construção, ao clima, aos materiais e técnicas construtivas
aplicadas, ao nível de controle de qualidade realizado nas construções, falhas de execução e má
utilização das edificações por parte dos usuários [17]
De acordo com Nour [19] as manifestações patológicas, são também uma parcela importante da
manutenção. O projeto é um fator importante no aparecimento das manifestações patológicas,
assegurando que não ocorram em idades precoces das edificações.
Verçoza [12] coloca que os defeitos causados em impermeabilizações podem causar problemas nas
edificações tais como: goteiras e manchas (mais comuns), mofo, apodrecimento, ferrugens,
eflorescências, criptoflorescências, gelividade e deterioração. O autor, diz ainda que quando a
umidade é permanente, pode causar deterioração em qualquer material de construção, o que causa a
desvalorização do imóvel, quando analisado aspecto econômico por exemplo.
• Goteiras e manchas: são as mais comuns e que se resolve com impermeabilização. As
manchas aparecem pela aderência da água, no substrato, quando o volume da água que atravessou a
barreira é grande pode causar as goteiras. Quando permanente causa deterioração dos materiais de
construção, levando à desvalorização das edificações.
• Mofo e apodrecimento: mofo e bolor, são fungos vegetais, que se desenvolvem na presença
de ar e de água, em que suas raízes, penetram na madeira, destilam enzimas ácidas que a corroem,
causam danos também na alvenarias , já que também se aderem a esse tipo de superfícies, levando
ao escurecimento das superfícies levando à desagregação com o tempo.
• Ferrugem: nome dado ao processo de oxidação em ferro e aço, sendo a transformação lenta
de um metal em seus óxidos, propiciado pela umidade. Deve-se portanto tomar cuidado com as
estruturas de concreto, respeitando o recobrimento pedido em projeto, para impedir que a água
chegue até as ferragens, podendo causar o processo de oxidação, que eleva ao aumento de volume
do aço, acarretando o rebentamento do concreto.
• Eflorescência: são as formações de sais nas superfícies das paredes, trazido pela umidade ao
seu interior. Dão aspecto de mancha, causam descolamento ou descoloramento de pinturas entre
outras manifestações patológicas, se tornam piores quando situadas em tijolos e rebocos, causando
também seu descolamento.
• Criptoflorescência: assim como as eflorescências, são formações salinas, com a mesma
causa que estas, no entanto, os sais causam grandes cristais que se fixam no interior da parede ou
estrutura, com seu crescimento, pressiona a massa, formando rachaduras e até a queda da parede. O
sulfato é seu maior causador.
• Gelividade: causado pelo aumento de volume da água ao se congelar, quando a mesma está
depositada nos poros e canais capilares dos tijolos e concreto, desagregando lentamente o material,
levando ao desgaste das superfícies de tijolos.
• Deterioração: causada por todas as manifestações patológicas citadas anteriormente, que
com o tempo levam à deterioração dos materiais, sendo assim, a impermeabilidade é uma exigência
de duração e não somente de aparência.

5. COMPROMETIMENTO DA VIDA ÚTIL X PERCEPÇÃO DO USUÁRIO


Santos [20] coloca que tanto a vida útil, quanto a durabilidade depende de agentes externos que
atuam no material bem como de características inerentes a esses e sua capacidade de resistência à
esses agentes.
Elementos de construção atingem o fim de sua vida útil, quando deixam de desempenhar os funções
que lhe foram exigidas em projeto, devido a alterações no desempenho em relação à sua utilização,
tais como segurança, função e aparência. [20]
Dentre os itens citados acima, a segurança é um critério fundamental, sendo assim, seu nível de
exigência é superior aos demais critérios colocados. No entanto, as propriedades estéticas, como é
considerado um grupo eu cresce de forma rápida atingindo níveis mínimos, são condicionantes
também para avida útil. [25],[22]
A tabela 2, apresentada abaixo, mostra as manifestações patológicas, o local onde as mesmas se
manifestam e os danos causados à edificação e a percepção ao usuário, sendo neste caso, abordado
aspectos estéticos, de insalubridade e de risco à segurança, sendo caracterizado em baixo, médio e
grave de acordo com os danos causados, conforme mostrado em legenda.
Conforme pode ser visto as manifestações patológicas mais graves são aquelas relacionadas à
ferrugem, por atacarem as armações de vigas, pilares e lajes, comprometendo a estabilidade da
estrutura, podendo leva-la ao colapso, gerando risco grave aos moradores das edificações.
Manifestações como as eflorescências, criptoflorescências e gelividade apresentam danos
caracterizados como médios, pois geram custos em reparos, causam um mal estar aos moradores.
Mofos e apodrecimentos, podem levar ao aparecimento de doenças, no moradores, além de um
problema estético, assim como goteiras e manchas, que além de desconforto, podem causar danos à
pertences dos moradores, causando prejuízo, econômico e psicológico.
Legenda
- baixo; - médio; - alto
Tabela 2 – Origens e locais propensos à umidade
Manifestações Local Danos à Percepção
Patológicas Edificação do Usuário

Goteiras e manchas Tetos e paredes

Mofo e apodrecimento Madeira, alvenaria

Ferrugem (oxidação) Aço e metais

Paredes (descolamento de
Eflorescência argamassa, descoloramento da
pintura)

Criptoflorescência Paredes

Gelividade Paredes e estruturas de concreto

6. MEDIDAS PREVENTIVAS PARA MINIMIZAR MANUTENÇÃO E PROLONGAR


VIDA ÚTIL DA EDIFICAÇÃO
De acordo com Righi [1], tanto a água quanto o calor e abrasão são os principais fatores para o
desgaste e a depreciação das edificações, sendo a água ainda mais que os demais, dado ao seu poder
de penetrar nas construções.
Medida geral adotada para prevenir e tratar as patologias devido a presença de umidade são os
sistemas impermeabilização. Entretanto, barreiras como a falta de conscientização em relação a
importância e execução da impermeabilização, falta de projeto de impermeabilização, utilização de
produtos e materiais do sistema construtivo inadequados e principalmente fiscalização inadequada
em cada etapa de uma obra, podem afetar este sistema [4], [23].
O processo de impermeabilização de superfícies horizontais e verticais previnem a penetração da
água nos elementos estruturais e arquitetônicos e devem ser projetadas de acordo com a
necessidade, geralmente devem ser executadas como proteção da alvenaria contra umidade do solo
e contra respingos, proteção das lajes de pisos dos chuveiros e também de suas paredes, proteção
das lajes de cobertura , dos terraços das marquises, proteção de caixas e reservatórios subterrâneos e
elevados [24].
De acordo com Righi [1] a vida útil das edificações, depende diretamente da realização eficiente da
impermeabilização, que muitas vezes é negligenciada por estar fora do alcance visual. Ao se
escolher o melhor processo de impermeabilização, fatores como custo e confiabilidade devem ser
considerados e analisados, já que o retrabalho é ainda mais caro.
Falta de informação a cerca de técnicas e de materiais para impermeabilização, além de falta de
planejamento para sua execução, são alguns dos responsáveis pelo insucesso do processo citado por
Righi [1]
A norma NBR 9575 [25] é responsável em estabelecer as exigências e recomendações que estão
relacionadas à seleção e projeto de impermeabilização, podendo esta ser integrada á outros sistemas
que garantam a estanqueidade das construções. A norma cita três tipos de impermeabilização:
cimentícios, asfálticos e poliméricos.
• Cimentícios: argamassas com aditivo impermeabilizante, modificada com polímero,
polimérica e cimento modificado com polímero;
• Asfáltico: membrana de asfalto modificado sem adição de polímero, de asfalto elastomérico,
de emulsão asfáltica, de asfalto elastomérico em colução e manta asfáltica;
• Polimérico: membranas elastoméricas, polímeros, mantas.
Verçoza [12] coloca que a escolha do sistema de impermeabilização a ser utilizado, não é uma
tarefa fácil. A escolha dependerá de fatores como: condições locais, a superfície a ser
impermeabilizada, a durabilidade que se pretende, a segurança desejada, qual será a utilização da
superfície, o preço dos materiais a serem utilizados, a qualidade da mão de obra disponível, a
dificuldade na execução e outros fatores.
Os serviços de impermeabilização aumentam a vida útil das edificações, já que diminui os riscos de
infiltrações, que acarreta o aparecimento de manifestações patológicas. A AEI (Associação das
empresas de Impermeabilização do Brasil) [26], faz um demonstrativo do custo benefício da
impermeabilização, fazendo um comparativo de seu custo, quando comparado a outros custos da
edificação, como pode ser visto no gráfico da figura 2 abaixo.
Como pode ser visto na figura, o valor que se destina aos serviços de impermeabilização,
representam a menor porcentagem do valor total da obra. Se for executada após serem constatados
problemas com infiltração, ou seja, em construções já finalizadas, o custo ultrapassa o citado acima,
podendo chegar em até 25% do custo total da obra, já que será preciso remover revestimentos, e
estes são itens caros numa obra. O projeto de impermeabilização, deverá ser feito com
compatibilidade com os demais projetos, para que se possa utilizar produtos adequados de acordo
com a finalidade. [26]

Fig. 2 - Custos da impermeabilização em relação a outros serviços (adaptado de AEI [26])


7. CONCLUSÃO
Com auxílio da revisão bibliográfica pôde-se obter informações sobre a umidade nas edificações e
quais as alterações que a mesma pode gerar nos elementos construtivos e nos materiais constituintes
dos mesmos. As manifestações patológicas ocasionadas pela umidade são muito comuns no mundo
da construção e estas podem acarretar danos elevados, gerando gastos enormes em recuperação e
reparo, que poderiam ser evitados com medidas simples preventivas.
Conclui-se que a prevenção é a melhor solução. Corrigir erros na fase de projeto é primordial. A
escolha de materiais empregados e tipos de sistemas construtivos podem evitar o surgimento de
patologias de umidade, assim como uma boa impermeabilização.
É importante, também, atentar para a incidência de chuva e vento pode variar de uma fachada para
outra, exigindo características especiais e cuidados garantindo dessa forma uma maior segurança e
durabilidade da estrutura. Deste modo, será benéfico não só para a edificação em si, mas também
para todas as pessoas que a utilizam.

REFERÊNCIAS
[1] RIGHI, Geovane Venturini. ESTUDO DOS SISTEMAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO: PATOLOGIAS,
PREVENÇÕES E CORREÇÕES – ANÁLISE DE CASOS. 2009. 90 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Engenharia Civil, Centro de Tecnologia, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rs, 2009. Cap. 5
[2] KÜNTZ, Michel; LAVALLÉE, Paul. “Experimental evidence and theoretical analysis of anomalous diffusion
during water infiltration in porous building materials,” . Jorunal of Physics D: Applied Physics, volume 34,
number 16. 2001.
[3] A. Cesen, T. Kosec, A. Legat, and V. Bokan-Bosiljkov, “CORROSION PROPERTIES OF DIFFERENT
FORMS OF CARBON STEEL IN SIMULATED CONCRETE PORE WATER,” Materiali in tehnologije /
Materials and technology 48 (2014) 1, 51–57
[4] MONTECIELO, Janaina; EDLER, Marco Antônio Ribeiro. PATOLOGIAS OCASIONADAS PELA UMIDADE
NAS EDIFICAÇÕES. In: SEMINÁRIO INTERINSTITUCIONAL DE ENSINO, PESQUISA E
EXTENSÃO,XXI, 2016, Cruz Alta. Anais... . Cruz Alta: Unicruz, 2016. , p. 1 - 10.
[5] E.Possan and C. A. Demoliner, “DESEMPENHO, DURABILIDADE E VIDA ÚTIL DAS EDIFICAÇÕES:
ABORDAGEM GERAL,” Revista técnico Científica do CREA-PR, Paraná, p. 14, 2013.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edificações Habitacionais —
Desempenho Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro, 2013.
[7] C. Pagliari, M. Costella, and S. P.-P. P. Em, “Especificação da vida útil dos sistemas construtivos a partir da
NBR 15575, segundo a abordagem de projetos,” Periodicos.Sbu.Unicamp.Br, pp. 47–56, 2018.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edificações Habitacionais —
Desempenho Parte 6: Requisitos para os sistemas hidrossanitários. Rio de Janeiro, 2013
[9] A. M. Nascimento, O. C. Longo, L. F. Alcoforado, H. H. L. Silva, and T. L. S. de Oliveira, “ABORDAGEM
SOBRE A NORMA DE DESEMPENHO E SEUS ASPECTOS JURÍDICOS: UMA CONTRIBUIÇÃO PARA
AS PERÍCIAS NAS EDIFICAÇÕES,” foz do iguacu, 2017.

[10] K. Beck, M. Al-Mukhtar, O. Rozenbaum, and M. Rautureau, “Characterization, water transfer properties and
deterioration in tuueau: building material in the Loire valley-France,” Build. Environ., vol. 38, pp. 1151–1162,
2003.

[11] VIEIRA, Hugo. Humidade em edificações. Tipos de intervenções necessárias. Projeto FEUP/MIEC.
Universidade do Porto. Faculdade de Engenharia. 2012/213.
[12] VERÇOZA, Enio José. "Impermeabilização na Construção". 2 ed. Porto Alegre, Sagra, 1987

[13] J. V. Macedo, P. Batista, P. Lopes, R. Souza, and E. Monteiro, “UMIDADE DEVIDO À FALHA OU
AUSÊNCIA DE IMPERMEABILIZAÇÃO : ESTUDO DE CASO,” 2017, no. 1, Recife, Aug-.

[14] F. Queruz, “CONTRIBUIÇÃO PARA IDENTIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS AGENTES E


MECANISMOS DE DEGRADAÇÃO EM EDIFICAÇÕES DA VILA BELGA,” Santa Maria, 2007.

[15] ANTONELLI, G. R., CARASEK, H., & CASCUDO, O. (2002). Levantamento das manifestações patológicas
de lajes impermeabilizadas em edifícios habitados de Goiânia-GO. Foz do Iguaçu: Encontro Nacional de
Tecnologia do Ambiente Construido - ENTAC.

[16] B. Maidel, F. Almeida, J. Lidani, and S. R. Flach, “PATOLOGIAS DAS EDIFICAÇÕES,” Spensa, 2009.
[Online]. Available: https://speranzaengenharia.ning.com/page/patologias-das-edificacoes. [Accessed: 19-Oct-
2018].

[17] RAMALHO, Michele Batista et al. "AVALIAÇÃO DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS DA


UMIDADE DE EDIFICAÇÕES EM CIDADES DO VALE DO JEQUITINHONHA E MUCURI – MG". In:
COBENGE, 2014, Juiz de Fora. Congresso. Juiz de Fora: Doctom, 2014.

[18] JONOV, Cristiane Machado Parisi; NASCIMENTO, Nilo de Oliveira; SILVA, Adriano de Paula e. Avaliação de
danos às edificações causados por inundações e obtenção dos custos de recuperação. Ambiente Construído,
Porto Alegre, v. 13, n. 3, p.75-94, Não é um mês valido! 2013. Mensal.

[19] NOUR, Antonio Abdul. MANUTENÇÃO DE EDIFÍCIOS DIRETRIZES PARA ELABORAÇÃO DE UM


SISTEMA DE MANUTENÇÃO DE EDIFÍCIOS COMERCIAIS E RESIDENCIAIS. 2013. 71 f. Monografia
(Especialização) - Curso de Engenharia Civil, Engenharia de Construção Civil e Urbana, Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Cap. 4

[20] M. R. P. Santos, “METODOLOGIAS DE PREVISÃO DA VIDA ÚTIL DE MATERIAIS, SISTEMAS OU


COMPONENTES DA CONSTRUÇÃO. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA,” FEUP, Portugal, 2010.

[21] Sousa, R. (2008). Previsão da vida útil dos revestimentos cerâmicos aderentes em fachada. Dissertação de
Mestrado, IST.21 SOUSA

[22] Silva, A. (2009). Previsão da vida útil dos revestimentos de pedra natural de paredes. Dissertação de
Mestrado, IST

[23] I. de S. Silva and J. C. Sales, “Patologias ocasionadas pela umidade: Estudo de caso em edificações da
Universidade Estadual Vale do Acarú,” Acaraú, 2013.

[24] S. Silva, “Patologia das construções,” Revista on-line IPOG, vol. 01, 2014.

[25] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9575, “Impermeabilização – seleção e


projeto,” . Rio de Janeiro, 2010.

[26] AEI; (Ed.). Impermeabilização na Construção civil. 2015. Disponível em: <http://aei.org.br/impermeabilizacao-
na-construcao-civil/>. Acesso em: 03 de novembro de 2018
AVALIAÇÃO DE MICROESTRUTURA DE PASTAS CIMENTÍCIAS COM ADIÇÃO DE
REJEITO DE MINÉRIO DE FERRO DEPOSITADOS EM BARRAGEM DE LAMAS .
Micro- structure analysis of cement slurries whit addition os iron ore tailling
deposited in muds dam.

Nara L.B. de CASTRO 1, Laura LAGE 2, White José dos SANTOS 3, Carlos Augusto de
Souza OLIVEIRA 4

* Autor para correspondência: linhares.nara@gmail.com


1
Universidade Federal de Itajubá, Minas Gerais, Brasil.
2 Universidade Federal Itajubá, Minas Gerais, Brasil.
3 Universidade Federal de Minas Gerais, Minas Gerais, Brasil.
4 Universidade Federal de Itajubá, Minas Gerais, Brasil.

Resumo: O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de minério de ferro na atualidade, como
consequência o setor da mineração é apontado como um dos principais geradores de resíduos. Esta
exploração é responsável por gerar uma quantidade cada vez maior de resíduos, criando um passivo
ambiental pela construção e manutenção de barragens de lama nas quais são depositados os resíduos
de minério de ferro, estas, ocupam uma área considerável, necessária para sua operação, além do
elevado impacto social causado nas comunidades. No presente momento, a busca por soluções
inovadoras, ligadas a sustentabilidade e ao consumo enorme de recursos naturais, demandam o
melhor conhecimento dos materiais que utilizam aproveitamento de resíduo. Nessa conjuntura, este
trabalho apresenta a análise microestrutural de pastas cimentícias fabricadas com adição parcial de
resíduo de minério de ferro (RMF) em relação massa de cimento Portland. Foram estudas pastas
com teores de adição de 10%, 20%, 30% e 40% de RMF. As mesmas foram analisadas para idades
de 7 e 28 dias. A técnica de instrumentação utilizada nas análises microestruturais foi a de
Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV), aliada a técnicas de caracterização do resíduo de
minério de ferro como, fluorescência de raios X (FRX) e difração de raios X (DRX), densidade dos
grãos e granulometria. As análises sinalizaram indícios de que o uso do RMF na forma de adição
seria tecnicamente viável. Porém, observam-se algumas anomalias da microestrutura que podem
indicar algum efeito deletério da adição do RMF às pastas cimentícias como, diminuição de
trabalhabilidade e demanda excessiva de água para hidratação da pasta.

Palavras-chave: Microestrutura, Pasta, Rejeito de minério de ferro.

Abstract: Brazil is one of the world's largest producers of iron ore today, as a consequence the
mining sector is considered as one of the main waste generators. This exploration is responsible for
generating an increasing amount of waste, creating an environmental liability for the construction
and maintenance of mud dams in which the iron ore wastes occupy a considerable area, necessary
for its operation, besides social impact on communities. At the present time, the search for
innovative solutions, linked to sustainability and the enormous consumption of natural resources,
demand the best knowledge of the materials that use waste recovery. In this context, this work
presents the microstructural analysis of cementitious pastes made with partial addition of iron ore
residue (RMF) in relation to Portland cement mass. It was studied slurries with addition contents of
10%, 20%, 30% and 40% of RMF. They were analyzed for ages 7 and 28 days. The instrumentation
technique used in the microstructural analyzes was the Scanning Electron Microscopy (SEM)
technique, together with the characterization of the iron ore residue, as well as X-ray fluorescence
(XRF) and X-ray diffraction (XRD). grains and granulometry. The analyzes indicated that the use
of RMF in the form of addition would be technically feasible. However, some anomalies of the
microstructure can be observed that may indicate some deleterious effect of the addition of the
RMF to the cementitious pastes as, decrease of workability and excessive water demand for
hydration of the pulp.

Keywords: Microstructure, Paste, Iron ore tailing.

1. INTRODUÇÃO

Dados da United States Geological Survey (USGS, 2014) mostram que a produção de minério de
ferro do Brasil foi estimada, em 2013, em 398 milhões de toneladas o que equivale cerca de 13,5%
do total mundial. Além disso Galvão (2011) afirma que o minério de ferro é um dos principais
commodities que o Brasil exporta e as empresas com sedes brasileiras obtiveram recordes na
produção, contribuindo para um aumento do valor das exportações.

Como consequência da produção de matéria prima a geração de rejeitos é inevitável. Estes resíduos
são produzidos em grande volume e em consequência várias regiões enfrentam problemas
relacionados aos impactos ambientais desse beneficiamento (ROESER, 2007). Está prescrito na
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que alocar os rejeitos em barragens não deve ser
considerado como último artifício de acomodação dos mesmos, e ainda como alternativa provisória.
Porém, dados da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM, 2016), é observado, apenas em
Minas Gerais, 737 barragens de rejeito de mineração. Segundo os autores Silva, Viana e Cavalcante
(2012), na mineração, grandes volumes e massas de material são extraídos e movimentados, e a
quantidade de resíduos gerada pela atividade depende do processo utilizado para a extração do
minério, da concentração do mineral na rocha matriz e da localização da jazida.
Figura 1- Fluxograma típico do tratamento de minério de ferro

Fonte: Luz,2010

As operações realizadas para etapa de beneficiamento do produto podem ser destacadas como
cominuição, peneiramento, concentração mineral, filtragem, secagem e por fim disposição do
rejeito.
O reaproveitamento dos resíduos da mineração é um fator importante, tanto no âmbito ambiental,
quanto no que se diz respeito ao emprego de materiais sustentáveis na construção civil. Suzuki
(2017) afirma que as maiores dificuldades encontradas são as viabilidades econômica e técnica para
essa troca e o desempenho nem sempre similar, quando utilizado o produto reciclado em
comparação ao natural. Visando dirimir esse volume audacioso de barragens, Neto (2007) defende
que existem técnicas para gerenciar os resíduos e devem partir de um planejamento integrado, para
que haja minimização de ações e majoração de reciclagem e reaproveitamento. Para gerenciar os
resíduos, deve-se dar ênfase na redução na fonte, visando a reutilização e reciclagem.
Atrelado a essa necessidade atual de desenvolvimento de materiais sustentáveis, viu-se a
importância de entender o comportamento desses novos métodos. Para tal, uma das metodologias é
a análise microestrutural, que vem sendo incentivada pois, de acordo com Custódio (2015), estudar
o comportamento desse novo produtor, sendo possível prever e otimizar propriedades da pasta,
além de ser possível prever patologias. Mehta e Monteiro (2008), complementam que a análise
microscópica pode ser considerada um ensaio não- destrutivo e eficiente. Varela (2017) define pasta
como a mistura com proporções adequadas de água e cimento e/ou aglomerante. A Associação
Brasileira de Cimento Portland (ABCP) afirma que a mesma pode ser classificada quanto ao seu
estado, sendo eles, fresco ou endurecido. Um dos itens para obtenção da pasta, é o aglomerante, o
mais utilizado é o cimento Portland, e pode ser definido como um material pulverulento, rico em
sílica e cal e que apresenta propriedades aglutinantes. Ao ser misturado com a água, forma uma
pasta com consistência plástica, reage quimicamente, endurece e adquire resistência mecânica
(SCANDIUZZI e ANDRIOLO, 1986).
Na análise do resíduo do minério de ferro, Varela (2017) define por granulometria, a distribuição,
em porcentagem, dos diversos tamanhos de grãos. “A composição granulométrica tem grande
influência nas propriedades das argamassas e concretos.” (MEHTA e MONTEIRO, 2008). Se
tratando da análise química do RMF, Glocker e Schreiber (1928) a espectrometria de fluorescência
de raios-X é uma técnica não destrutiva que permite identificar os elementos presentes em uma
amostra (análise qualitativa) assim como estabelecer a proporção (concentração) em que cada
elemento se encontra presente na amostra. A microscopia eletrônica de varredura é utilizada em
várias áreas do conhecimento, incluindo a mineralogia. O uso desta técnica vem se tornando mais
freqüente por fornecer informações de detalhe, com aumentos de até 300.000 vezes (Duarte, et al.,
2003). As propriedades, por exemplo as mecânicas, tem sua origem na microestrutura e essas
podem ser modificadas fazendo certas alterações na microestrutura do material.

2. OBJETIVOS

Neste contexto, o presente trabalho, visa promover o aproveitamento de resíduos, originado no


processamento final de beneficiamento, em forma de lama, proveniente do estado de Minas Gerais,
Brasil e estudar a influência da implementação do mesmo na fabricação de concretos, produto
altamente consumido na construção civil. Para tal uso avaliar-se-a as características químicas e
físicas do resíduo de minério de ferro coletado em Sarzedo, no estado de Minas Gerais, Brasil,
assim como o Estudo da dosagem experimental e identificando o teor ótimo de adição do resíduo
de minério de ferro à pastas cimentícias pela análise e caracterização da microestrutura das mesmas,
avaliando as possíveis reações químicas entre o cimento Portland e resíduo de minério de ferro
quando hidratados e por consequência analisar morfologicamente a fase endurecida da pasta, na
finalidade de entendimento desta interação
3. MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho avaliou a influência do resíduo de RMF em adição parcial ao cimento Portland,
avaliando sua caracterização, assim como confeccionando pastas, e avaliando-as quanto a sua
microestrutura. O conteúdo abaixo retrata sobre a metodologia usada para o desenvolvimento.

Figura 2 Fluxograma dos métodos

Fonte : O autor ,2018.

O RMF utilizado neste trabalho tem origem de Sarzedo (MG), cidade situada na região
metropolitana de Belo Horizonte. O RMF foi coletado e disponibilizado por uma empresa que atua
no segmento de exploração e beneficiamento mineral. A amostra foi retirada de forma
representativa seguindo as orientações da norma da NBR 9604 (ABNT, 2016), com auxílio de uma
carregadeira, sendo obtidas em diferentes pontos da barragem de rejeito. Em seguida as amostras
foram conduzidas até o Laboratório de Materiais de Construção Civil (LMCC) da Unifei – Campus
de Itabira. As amostras se encontravam convenientemente embaladas e identificadas , conforme
orientações da norma NBR 6457 (ABNT, 1986).
Primeiramente, foi feita a caracterização do material no seu estado natural, fazendo parte do
planejamento da pesquisa, conhecer as propriedades e características do mesmo. Para isso, foi
retirada uma amostra representativa do montante, após o processo de quarteamento em laboratório .
As mesmas foram caracterizadas quanto a granulometria, densidade dos grãos e mineralogia.
A análise mineralógica das amostras de rejeito (RMF) foi determinada pela técnica de Eflorescência
de raios X. Esse teste foi realizado pela empresa SGS Geosol Laboratório Ltda, localizada na cidade
de Vespasiano (MG). Foram analisadas três amostras do RMF.
Na avaliação da granulometria do RMF foram adotadas as recomendações da norma NBR 7181
(ABNT, 1984) complete, seguindo as etapas de peneiramento grosso, peneiramento fino e
sedimentação.
Após uma análise visual do resíduo foi constatado que o mesmo não apresentava material de
diâmetro de partículas superiores à abertura 4,8mm. Então, na etapa de peneiramento grosso optou-
se por usar apenas as peneiras de aberturas 4,8mm e 2,0mm, sendo que nas demais não haveria
retenção do material. Já na etapa de peneiramento fino, empregou-se todo o jogo de peneiras de
acordo com a norma NBR 7181 (ABNT, 1984), que foram elas: 1,2 mm, 0,6 mm, 0,42 mm, 0,3
mm, 0,15 mm, 0,075 mm e fundo .
De acordo com os ensaios realizados, constatou-se que o material apresentava elevado diâmetro dos
grãos e não se encontrava na granulometria almejada para o desenvolvimento da pesquisa. Com
isso, procedeu-se a moagem do material, para se obter uma maior superfície específica. Ressalta-se
que essa pesquisa visa pesquisar o comportamento reológico do RMF com elevada finura, como
adição ao cimento Portland.
Para cominuição foi utilizado o moinho de Bolas, com dimensões 380 x 420 mm, volume de 47
litros, carregado com 67 esferas metálicas de 30,53 mm de diâmetros em média. A cada
procedimento foi colocado no equipamento uma quantidade de 4,5kg de RMF. Por meio de um
programador digital do equipamento foi possível controlar o número de rotações durante o processo
de moagem, sendo adotadas 16.000 rotações, como tentativa de maximizar o material fino.
Utilizou-se como processo de moagem o moinho de bolas, rotacionados a 2.000, 4.000, 6.000,
8.000, 10.000,12.000, 14.000 e 16.000 rotações, sempre intercalado com peneiramento para análise.
Entre os dois últimos ciclos o material se estabilizou quanto a porcentagem de finos, portanto,
trabalhou-se com o RMF proveniente da moagem de 14.000 rotações. Com isso, aproximadamente
66% do material foi incorporado aos processos de confecção de pastas.
Do material cominuído, foram coletadas novamente amostras para a realização dos ensaios de
granulometria e densidade grãos, segundo as metodologias anteriormente citadas. Após a passagem
pela peneira 015 mm (#100) esse material foi empregado na produção das pastas.
Para a produção das pastas foi realizada a adição em porcentagens proporcionais em massa, de
resíduo em relação ao cimento Portland. Foram adotados os teores de adição de 10%, 20%, 30% e
40% de RMF, em relação a massa do cimento.
A relação água/aglomerante empregada na pasta foi 0,50. Foi adotada a seguinte representação
gráfica para os traços, sendo o primeiro índice o cimento Portland, o segundo índice a adição de
RMF e o Terceiro a relação água/aglomerante. Foram considerados como aglomerantes o cimento
Portland e o RMF, passante na peneira de abertura 0,15 mm (#100).
O cimento Portland empregado na fabricação das pastas foi o cimento Portland de alta resistência
Inicial. A escolha do cimento Portland CPV - ARI, do fabricante InterCement Brasil S/A se deu
pois, de acordo com os dados do mesmo é constituído basicamente de clínquer Portland finamente
moído e gesso. Portanto, por característica de elevada finura (baixo teor de adições minerais) esse
cimento foi adotado no estudo para facilita o entendimento da influência do RMF na reologia das
pastas e análise das microestruturas geradas.
Após o preparo das pastas, as mesmas foram colocadas em moldes até a etapa de desforma. Adotou-
se como moldes em oito copos plásticos com capacidade volumétrica de 50 ml cada. Para cada teor
de adição de RMF moldou-se dois corpos de prova (moldes).
Figura 3 Moldagem dos corpos de prova

Fonte: O autor,2018
Para análise das microestrutura foram examinados fragmentos da amostra das pastas com adição de
10%, 20%, 30% e 40% de RMF em relação ao cimento. O equipamento utilizado foi utilizado o
Microscópio Eletrônico de Varredura Bruker Xflash Detector 410 –M. As amostras foram dispostas
em suportes metálicos e fixadas com fita adesiva. Em seguida, foram metalizadas com ouro
paladium para conferir propriedade de condutividade a amostras de RMF. Posteriormente, já
disposto em condição de vácuo, através do detector de elétrons secundários foi possível visualizar
as amostras nos aumentos de 100, 1.000 e 10.000 vezes, tanto no SE e BSE. Essas ampliações
permitiram para observar a estrutura superficial a amostra.

4. RESULTADOS

A umidade do RMF natural é de 0,7532% . Observou-se que o processo de moagem, influenciou


diretamente na densidade dos grãos. Isso foi percebido, após a realização da picnometria ao final de
cada ciclo das rotações para cominuição do resíduo. Os resultados da densidade dos grãos obtido foi
de 4,22 g/cm³. Percebe-se pela distribuição granulométrica do RMF natural que o modulo de finura
da amostra é de 8,6% superior ao do cimento Portland cujo às especificações da NBR 11579
(ABNT, 1991) para o CPV - ARI que deve possuir o índice de finura inferior a 6% .
Percebeu-se que houve um aumento significativo da área específica devido a cominuição do
material no moinho de bolas.
Na Tabela 01 visualizam-se os resultados da análise química do RMF. Os elementos químicos com
maiores porcentagens em ordem de grandeza foram o ferro (Fe2O3) e o silício (SiO2),
respectivamente.

Tabela 01 Resultado da análise da eflorescência de raio – X

Análise Resultados (%) Limite de detecção (%)


FeO 0,49 0,14
SiO2 25,6 0,1
Al2O3 3,13 0,1
Fe2O3 59,1 0,01
CaO 3,85 0,01
MgO 0,23 0,1
TiO2 0,14 0,01
P2O5 0,159 0,01
Na2O <0,1 0,1
K2O 0,38 0,01
MnO 0,23 0,01
LOI 6,12 -45

Fonte: SGS Geosol Laboratório LTDA, 2017.

O elevado teor de ferro justifica o resultado da densidade dos grãos obtida.O método de DRX
permitiu-se avaliar que o RMF é um material composto principalmente por Fe, Si, Ca e Al,
apresentando a composição de Fe2O3 – 59,1%, SiO2–25,6%, CaO– 3,85% , Al2O3 - 3,13%.
As análises e os dados encontrados neste trabalho, corroboram com os obtidos na análise química e
na densidade dos grãos do RMF.
As micrografias das pastas de argamassas estudadas, nas idades de 7 e 28 dias, geraram-se imagens
obtidas por elétrons secundários (SE) e retroespalhados (BSE). Na Figura 02, destacam-se imagens
dos elétrons secundários de 28 dias, com aumento de 100 vezes. As pastas apresentam estrutura
densa e compacta. Entretanto, dispersos na microestrutura das pastas, encontram regiões com a
presença de vazios, com morfologia arredondada, típicos de bolhas de ar incorporadas que foram
incorporadas às pastas durante o processo de moldagem dos corpos de prova.
Figura 02 SE - 28 DIAS – AUMENTO: 100 X ( pasta 10%, 20%, 30% e 40% de adição de RMF-
esquerda para direita.

Fonte: Próprio autor, 2018.

Um bom processo de adensamento e a redução do tempo de mistura poderia minimizar esse


fenômeno. Na figura 3, aumento de 10.000 vezes exibe o alto teor de oxido de silício e óxido férrico
no RMF da pasta. As partículas finas da sílica ativa e hematita ocupam os vazios deixando a massa
mais densa, por isso quanto mais RMF incorporado, menos poroso é a pasta.
Figura 03 BSE - 28 DIAS – AUMENTO: 10.000 X X ( pasta 10%, 20%, 30% e 40% de adição de
RMF- esquerda para direita.

Fonte: Próprio autor.

Nos traços P10% e P20% vê-se uma estrutura porosa e com etringitas, destacada de vermelho.
Enquanto na com percentual de adição de P40% a amostra está mais densa, com menos etringitas e
maior aglomerado de C-S-H, que se encontra destacado em azul.
Apesar disto, a presença de fase cristalina de C-S-H se encontra identificada em todas as pastas,
independente do teor de utilização do RMF e da idade de análise, aspecto importante por se tratar dá
principal fase proveniente da hidratação do cimento Portland. Nessa pesquisa com a técnica de
MEV empregada não foi possível identificar qual tipo de fase C-S-H foram spredominantemente
formada ou se o RMF influenciou nos seus mecanismos de formação.
A relação água/aglomerante, influencia diretamente na resistência mecânica da pasta, porém pouco
se observou a formação de fissuras durante a aplicação da microscopia.
Observou-se que houve um descolamento da matriz. Apesar do RMF ser acrescido a massa de
cimento, ele possui características diferentes. E nessa etapa ele se comportou como agregado, que
pode ser justificado porque há presença de alguns grãos
A elevada relação água/aglomerante está intimamente ligada aos efeitos deletérios da pasta. Pois
agrava o aparecimento de poros, acarretando mais retrações, originando as fissuras. Em
consequência, é percebível uma maior permeabilidade.

5. CONCLUSÕES

Fisicamente pode-se observar que a lama oriunda da barragem de Sarzedo, Minas Gerais, após ser
beneficiada em laboratório, possui alta dureza do material. Isso pode ser constatado pois apesar de
todos os processos de moagens, foi possível implementar como adição a pasta de cimento apenas
66% da amostra.
A análise química mostra que o RMF apresenta elevado teor de hematita, resultando então numa
alta densidade. Além disso, após cada processo para aumento da superfície de contato do RMF, sua
densidade dos grãos aumentou. Isso aconteceu pois quanto maior o percentual de finos, mais vazios
aquela amostra ocupa em um dado volume. O volume e a densidade são parâmetros inversamente
proporcionais.
O RMF cominuído e peneirado se comportou como efeito filler, ou seja, fechando os poros, então
quando maior o percentual de RMF implementado a pasta, espera-se melhor características
mecânica. Seguindo o raciocínio de que, menor quantidade de poros, menor permeabilidade e maior
durabilidade.
O traço P40% possui melhores características morfológicas e químicas, isso porque as partículas
finas da sílica ativa e hematita ocupam os vazios deixando a pasta mais densa, por isso quanto mais
RMF incorporado, menos poroso é a pasta. A fase cristalina de silicato de cálcio hidrato (C-S-H) é
importante pois influencia de modo positivo e direto nas propriedades mecânicas, é considerado o
composto mais importante na resistência da pasta.
Em contrapartida, o traço P10% apresentam maior volume de etringitas, que são os agulhamentos e
é considerado a parte frágil da pasta. As agulhas intertravam entre si e prejudicam a
trabalhabilidade.
O uso do RMF na forma como foi estudado sinaliza ser tecnicamente viável e ambientalmente
correto, porém necessita de estudos mais aprofundados.
Como sugestão de trabalhos futuros sugere-se diminuir a relação água/aglomerante da pasta e
observar o que acontece na sua morfologia. Implementar essa pasta estudada em argamassas ou
concretos. Além disso, executar ensaios relacionados a durabilidade deste material.
6. REFERENCIAS

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.
O GERENCIAMENTO DE CUSTOS NA PERSPECTIVA DO MODELO BIM:
UMA PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO COM O PMBOK
Cost Management on the BIM’s Perspective: A Proposal of Integration with
PMBOK.
José Aravena-Reyes1, Laila Machado2
1
Universidade Federal de Juiz Fora, Juiz de Fora, Brasil, jose.aravena@ufjf.edu.br
2
Universidade Salgado de Oliveira, Juiz de Fora, Brasil, laila.machado@engenharia.ufjf.br

Resumo: O BIM (Building Information Model/Modelling) está se tornando a cada dia mais
relevante para o setor da construção civil e tal fato tem atraído preocupações em relação às formas
de integração dos sistemas e práticas existentes da construção civil neste novo contexto. Por outro
lado, as demandas específicas do atual momento de crise econômica que vive o Brasil apontam para
a necessidade de melhorias nos processos produtivos mediante a incorporação de uma gestão
eficiente, o que por sua vez pode ser alcançado adotando as diretrizes do PMBOK (Project
Management Body of Knowledge). Aparentemente, a integração de ambas as abordagens pode
parecer uma ótima opção, porém, é necessário conhecer as possibilidades reais e o alcance dessa
integração. Nesse sentido, este artigo pretende discutir as formas que pode tomar uma integração
entre o Gerenciamento de Projetos e os parâmetros do Modelo BIM – IFC, especificamente no
âmbito do gerenciamento de custos. A partir da análise crítica das informações coletadas na
pesquisa bibliográfica, foi possível perceber a necessidade de relacionar os aspectos organizacionais
e operacionais de ambas as abordagens mediante um módulo específico (plug-in) que permita
manter em uma única unidade lógica as informações disponíveis do Modelo BIM, no formato IFC,
e os procedimentos de gerenciamento desses dados a partir das diretrizes do PMBOK. Para
subsidiar o projeto desta unidade lógica foram analisados diferentes aspectos que existem no
Modelo BIM relativos ao gerenciamento e para aqueles que não foram encontrados nesse modelo,
foi proposto um domínio de interface com tais elementos externos. Como parte da pesquisa, os
diversos elementos e entidades constituintes do modelo BIM são identificados e relacionados às
diversas práticas e recomendações do guia PMBOK, de modo a propor uma estrutura de dados
integrada e um conjunto de funções associadas a eles. Como o modelo BIM não esgota todas as
recomendações e diretrizes do PMBOK, uma organização dos dados que faltam é sugerida para fins
de complementar o modelo de integração. Finalmente se conclui que, embora o BIM seja um
modelo com muitas funções que suportam o gerenciamento de custos, alguma extensão deve ser
considerar para abranger a totalidade das diretrizes PMBOK, o que torna a integração completa,
embora viável, um trabalho extremamente complexo e oneroso.

Palavras-chave: BIM, PMBOK, gerenciamento de custos.

Abstract: BIM (Building Information Modeling / Modeling) is becoming more and more relevant
for the construction industry, and this fact has attracted concerns about the integration of existing
civil construction systems and practices in this new context. On the other hand, the specific
demands of the current economic crisis in Brazil point to the need for improvements in productive
processes through the incorporation of efficient management, which in turn can be achieved by
adopting the PMBoK (Project Management Body of Knowledge). It seems that the integration of
both approaches may seem like a great option, but it is necessary to know the real possibilities and
the scope of this integration. In this sense, this article intends to discuss the forms that can take an
integration between the Project Management and the parameters of the Model BIM - IFC,
specifically in the scope of the management of costs. From the critical analysis of the information
collected in the bibliographic research, it was possible to perceive the need to relate the
organizational and operational aspects of both approaches through a specific module (plug-in) that
allows to keep in a single logical unit the available information of the Model BIM, in the IFC
format, and the procedures for managing this data from the PMBOK guidelines. To support the
design of this logical unit we analyzed different aspects that exist in the Model BIM regarding the
management and including and for those that were not found in this model, we proposed an
interface domain with such external elements. As part of the research, the various elements and
entities in the BIM model are identified and related to the various practices and recommendations
of the PMBOK guide, in order to propose an integrated data structure and a set of functions
associated with them. Because the BIM model does not exhaust all PMBOK recommendations and
guidelines, a missing data organization is suggested to complement the integration model. Finally,
it is concluded that, although BIM is a model with many functions that support cost management,
some extension should be considered to encompass the entire PMBOK guidelines, which makes
integration, although feasible, extremely complex and costly

Keywords: BIM, PMBOK, cost management.

1. INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o setor da construção no Brasil tem sofrido com a crise econômica e política que
afeta o país. Tal crise se caracteriza por uma baixa nos investimentos públicos no setor e uma perda
do poder aquisitivo de grande parte da população. Nesse cenário, o setor de Engenharia e
Construção Civil se vê obrigado a “fazer mais com menos”. Caracterizado como o setor de menor
produtividade, alguns empreendedores do ramo da construção têm vivenciado a necessidade de
procurar por alternativas que objetivem ganhos de produtividade e competitividade num cenário
altamente desfavorável. Mas como muitos especialistas dizem, crises são também oportunidades
para crescer. Nessa direção se considera inevitável a adoção de técnicas e métodos de gestão nos
mais diversos aspectos da cadeia produtiva da construção. Desde o projeto até a relação da
organização com os fornecedores de insumos devem agora ser vistos desde a perspectiva da
eficiência dos processos e da economia e eliminação das esperas desnecessárias, dos resíduos ou
das perdas indesejadas.
Por outro lado, com o avanço das tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC), uma
nova camada de racionalidade é colocada sobre a maior parte dos processos produtivos, fato que
também está afetando o setor da construção civil. Começando pela digitalização de uma enorme
quantidade de processos que antes eram realizados mediante procedimentos demorados e
burocráticos, as TDIC pretendem otimizar diversos aspectos do ciclo produtivo, seja pelo
mapeamento direto das suas variáveis em modelos computacionais (inclusive inteligentes) ou pela
automação de muitas das tarefas que forma parte dele. Esta nova perspectiva automatizante se abre
principalmente em função da parametrização a que foram submetidos os objetos da construção civil,
fato que permite a representação computacional da quase totalidade dos aspectos do processo
produtivo da construção civil e, portanto, da manipulação eficiente das variáveis dos seus processos.
O melhor exemplo dessa nova forma de abordar o processo de projeto e construção de obras civis
pode se encontrar na especificação do modelo do edifício elaborado no BIM (Building Information
Model), modelo este que representa parametricamente todos os elementos geométricos, físicos,
econômicos e de produção do edifício. A perspectiva desenvolvida dentro do modelo BIM
privilegia muitos aspectos que favorecem o rápido desenvolvimento integrado de projetos mediante
o uso de um único modelo de dados que representa um edifício, o qual pode ser acessado de
diversos lugares e por diversos profissionais graças às qualidades interoperativas que o inspiram.
Dessa forma, mais do que uma simples atualização de software para o projeto do edifício, o que o
BIM promove é uma nova prática; uma espécie de paradigma produtivo que se funda em outra
maneira de projetar e construir. Como parte das novas práticas, surge a necessidade de uma
integração maior entre todos os aspectos projetuais e produtivos do edifício. Tal integração é
realizada sobre uma infraestrutura técnica computacional que permite a manipulação das
informações e geradas tanto do processo projetual quanto do processo produtivo, o que envolve em
última instância, o uso de técnicas de gestão para a construção do edifício.
Como técnicas de gestão se encontram todas as técnicas, métodos e ferramentas de gerenciamento
que podem ser utilizadas para dar agilidade e eficiência aos processos produtivos. Desde uma
análise de linha de balanço até o uso de princípios de produção enxuta exigem o uso de uma
racionalidade gerencial que também se encontra hoje em dia, modelos ou guias que orientam sobre
as melhores práticas que devem ser adotadas. Dentre esses guias está o famoso PMBOK (Project
Management Body of Knowledge) que serve também para orientar o gerenciamento de
empreendimentos de edifícios utilizando as melhores práticas relatadas por especialistas do mundo
inteiro.
Nesse sentido, para que engenheiros possam lidar melhor com as dificuldades presentes e com as
constantes críticas de falta de produtividade do setor, esses devem se tornar gestores preparados
para as novas demandas. O que se propõe neste estudo é que seria relevante, para enfrentar esse
quadro de limitações e para aumentar a eficiência dos processos produtivos, a adoção conjunta de
abordagens para o Gerenciamento de Projetos (como o PMBOK) e de modelos paramétricos de
representação do edifício (como o modelo BIM), pois ambas, nos seus respectivos domínios,
acrescentam ganhos substanciais em função do aumento de precisão dos projetos e da possibilidade
de antecipar nesse estágio inicial, os problemas de execução das obras. (NAKAMURA, 2015).
Porém, ainda nessas condições de adoção conjunta de ambas as abordagens, as equipes de projeto
se deparam com dois modelos altamente complexos que operam sobre o mesmo objeto físico e
computacional (o edifício e sua representação), o que leva em termos práticos a pensar a
compatibilidade desses dois modelos com o intuído de avaliar a real capacidade de integração de
ambos e as abordagens para que os ganhos de produtividade obtidos no processo de projeto se
estendam ao processo de construção.
O objetivo deste trabalho é identificar a base de infraestrutura computacional que existe em um
modelo paramétrico (BIM) para efeitos de gerenciamento de empreendimentos (segundo o
PMBoK). Tal necessidade se justifica pela complexidade de ambas as abordagens, as quais, para
uma real e eficiente inserção nos processos produtivos devem conciliar suas particulares
perspectivas e encontrar os pontos de contato e troca de informações. O uso do PMBOK (Guia do
Conhecimento em Gerenciamento de Projetos) como guia de boas práticas vem ganhando espaço no
ambiente organizacional e se torna um modelo interessante para ser integrado com o Modelo BIM.
Por sua parte, o BIM apresenta uma dimensão de trabalho colaborativa que visa superar os
obstáculos de um processo de projeto caracterizado pela fragmentação, pouca integração de agentes,
pouca comunicação e principalmente, resistência ao planejamento e à gestão (MANZIONE, 2013).
Diante disso, este trabalho se submerge nas características de ambas as abordagens para saber onde
seus modelos possuem compatibilidade plena e onde é necessário propor outros elementos externos
que possam auxiliar na troca das informações. Sugere-se que a potencialização de resultados no
setor da construção possa ser alcançada a partir da integração entre as ferramentas gerenciais
embasadas no PMBOK e a implantação adequada do BIM, uma vez que BIM e PMBOK adotam
conceitos similares de colaboração e trabalho compartilhado.
Como a tarefa de entrar na selva conceitual de ambos os modelos é muito ampla e complexa, neste
trabalho optou-se por reduzir o universo de análise e focar em um aspecto que pode ser de enorme
valia para os momentos atuais: o gerenciamento de custos. Desta forma, para encontrar alguns
pontos de contato existentes e outros onde devem se alçar pontes para auxiliar a integração, o
presente artigo propõe, de modo exploratório, um esquema inicial para a integração entre BIM e
PMBOK, especificamente na área de Gerenciamento de Custos.

2. O MODELO BIM E O GERENCIAMENTO DE CUSTOS


Como foi mencionado na introdução deste texto, o que se propõe aqui é integrar um aspecto do
gerenciamento de projetos segundo o PMBOK com o modelo BIM. Se pode afirmar que em ambos
os casos se trata de um modelo. Em relação ao BIM, ele é apresentado como tal, porém em relação
ao PMBOK é necessário esclarecer que existe uma racionalidade que representa o processo de
projeto e que está organizado em processos. Inicialmente a racionalidade que envolve ambos os
modelos precisam de pontos de contato ou pontes de integração para a troca de dados. O modelo
que sustenta o PMBOK se fundamenta em uma estrutura básica que considera, para cada processo
representativo do projeto, entradas, técnicas e ferramentas e saídas. Ou seja, de certa forma está se
trabalhando com unidades de informação que visam alimentar o uso de técnicas e ferramentas
específicas, as quais, por sua vez, resultam em outro conjunto de informações: as saídas. No sentido
contrário, o BIM se estrutura mediante uma estrutura hierárquica de unidades de informação, nas
quais se representam diversos aspectos do edifício. A proposta de integração deve operar sobre a
troca dessas informações em ambos os modelos: tanto as informações de gerenciamento podem
influenciar as informações do modelo do edifício, quanto o contrário, como mostrado na figura
seguinte:
Fig. 1 – Esquema geral da Proposta de Integração
Fonte: O Autor
O BIM é uma iniciativa que surgiu com a intenção de promover mudanças no processo construtivo,
através de um modelo virtual da edificação que permite que essa seja modelada considerando todo o
ciclo de vida do projeto, condição que permite fornecer suporte para um processo construtivo
integrado que resulta em melhorias na qualidade, prazos e custos de execução. (EASTMAN et. Al,
2014).
O conceito de BIM está intimamente ligado à parametrização dos objetos. Os parâmetros
representam principalmente a informação geométrica e das características físicas dos elementos
(3D), da temporalidade associada ao processo construtivo (4D) e dados de ordem econômica do
edifício (5D). Outras informações também fazem parte do modelo e servem também para manter a
coerência entre os diversos domínios de tarefas que existem no projeto e construção do edifício. A
principal vantagem da modelagem paramétrica é que mediante eles é possível obter objetos com um
comportamento dito inteligente, isto é, um comportamento que reconhece características específicas
dos elementos que compõem o edifício e das relações entre eles, não permitindo a modelagem
abstrata do edifício; a inteligência é um conjunto de regras de comportamento desses elementos em
função das suas características específicas e do tipo de relação que mantém com outros elementos.
Porém, como o modelo prescreve os elementos e propriedades dos componentes de qualquer
edifício, um nível de abstração é necessário para o representar. Assim, existem no modelo,
elementos tais como paredes, janelas ou portas, cujas características geométricas físicas, temporais
e econômicas foram formalizadas em termos de paramentos e estão acessíveis para leitura e escrita
por parte de qualquer software que seja compatível com o modelo. Em função dessa condição é
necessário que o modelo garanta o intercâmbio consistente desses dados entre processos e
aplicativos que compartilham uma mesma instância do modelo do edifício. Essa situação foi
resolvida mediante a adoção do padrão IFC (Industry Foundation Classes): um modelo de
interoperabilidade de dados para planejamento, projeto, construção e gerenciamento das edificações
baseado na linguagem EXPRESS que permite, entre outras, registros em XML (Extensible Markup
Language). A figura a seguir apresenta esquematicamente o modelo BIM e alguns dos seus
componentes hierárquicos:
Fig. 2 – Descrição geral do Modelo hierárquico BIM
Fonte: Coletânea Implementação do BIM para Construtoras e Incorporadoras – Colaboração e
Integração BIM – Parte 3

O modelo BIM-IFC organiza os seus componentes de forma hierárquica, isto é, num ordenamento
onde os componentes de menor hierarquia herdam informações de propriedades e comportamentos
daqueles de maior hierarquia na sua linhagem topológica. Como parte do modelo, essas hierarquias
e sua organização é representada mediante uma linguagem específica chamada EXPRESS na qual
são definidos alguns componentes chamados de entidades (entity), que incluem outros componentes
chamados de tipos (types) alguns dos quais, tais como como paredes e pisos, formam a parte física
do objeto edifício, enquanto outros tipos são componentes de gerenciamento que se relacionam com
os tipos físicos do edifício para extrair ou inserir informações. A maior parte dessas entidades/tipos
podem dar origem a outras subentidades ou subtipos mais elaborados e especializados e que
definem novas classes de objetos que herdam as propriedades das suas entidades ou tipos de
origem. (CATELANI, 2016).
Do outro lado do modelo de integração proposto aqui se encontra o PMBOK que, com o objetivo de
estabelecer as melhores práticas em projetos, entendidos estes como empreendimentos temporais
para os quais se requer esforço na sua realização, aborda os diversos aspectos do gerenciamento na
forma de processos. O guia propõe a execução integrada de 47 processos que serviriam de norte
para gerenciar os empreendimentos, organizando a sua aplicação segundo áreas disciplinares ao
longo do ciclo de vida desses (ver figura 3).
Fig. 3 – Diagrama geral do PMBOK
Fonte: O Autor

A organização matricial considera, por um lado (superior) as etapas de Iniciação, Planejamento,


Execução, Controle e Encerramento. Estas etapas estendem o ciclo de vida do projeto para além da
sua execução física. Tanto as atividades de iniciação como as de encerramento terminam ou acabam
muito depois da obra física e visam dar as condições estruturantes para a correta execução do
empreendimento e a finalização de todas as atividades complementares como é o caso de términos
de contratos, limpezas e tramites legais finais. Talvez o grupo que requer maior esforço por parte do
gestor é a etapa de planejamento, pois nela se organizam e se integram todas as ações que serão
parte da etapa de execução e controle.
Como a complexidade dos projetos é muito alta, o guia PMBOK também organiza as informações
para o gerenciamento mediante um critério disciplinar (esquerda). Assim, por exemplo, se tem uma
área disciplinar específica para agrupar os processos para a Integração do projeto visando a
elaboração de um único plano geral do projeto onde os planos parciais para o gerenciamento do
empreendimento são alinhados e compatibilizados. Os planos parciais visam o estabelecimento de
linhas de base para conduzir a execução do empreendimento com foco específico no Escopo (isto é,
de volumem total de trabalho), Tempos (cronograma), Custos (orçamento), Qualidade, Recursos
Humanos, Comunicações, Riscos (identificação e análise) e Aquisições (Compras) e Partes
Interessadas ou stakeholders.
Com foi descrito anteriormente, o caráter exploratório deste trabalho se debruça na área específica
do gerenciamento de custos do PMBOK. Esta área considera processos para os grupos de
planejamento e controle dos custos. Em relação ao planejamento são especificados processos para o
planejamento do próprio processo de gerenciamento dos custos, para as estimativas de custos do
empreendimento e, finalmente para a determinação do orçamento. No caso específico do
orçamento, o guia recomenda esses processos para obter a linha de base de custos que será utilizada
no acompanhamento do ciclo de vida do projeto, o que caracteriza o único processo dentro do grupo
de controle. Assim, os quatro processos do gerenciamento de custos estão organizados segundo a
figura 4 na página a seguir.
Como se pode observar na figura 4, para cada processo, existem entradas, procedimentos e técnicas
específicas para guiar o gerenciamento dos custos e saídas que resultam da aplicação de tais
técnicas em cada processo. É em função dessas entradas e saídas que se propõe encontrar os pontos
de contato ou as pontes necessárias para integrar os dados do modelo PMBOK com os componentes
hierárquicos do modelo BIM.
Em base na natureza descritiva desses modelos que se pretende analisar a viabilidade da integração
do modelo BIM com os processos de Gerenciamento de Custos segundo o PMBOK, pois é
necessário considerar que, se bem todos os elementos físicos do edifício se encontram
completamente mapeados e sejam modeláveis em softwares como o REVIT da Autodesk, os
elementos próprios do gerenciamento de custos devem ainda ser identificados no modelo de dados
do edifício desse tipo de software para saber que tipo de propostas de projeto e desenvolvimento de
sistemas devem ser feitas para que se incluam e complementem as entidades necessárias para a
plena integração do modelo físico e de custos do edifício (BIM 3D/4D) e o modelo de
Gerenciamento do Projeto (PMBOK), como será visto na próxima seção.
Fig. 4 – Visão Geral do Gerenciamento de Custos segundo o PMBOK.
Fonte: PMBOK 5ª Edição

3. UMA PROPOSTA DE INTEGRAÇÃO EM IFC


No contexto de um modelo de gerenciamento que precisa de informações físicas e econômicas do
modelo do edifício, é necessário relacionar as entidades IFC que devem ser utilizadas tanto nas
entradas, com nas diversas técnicas e ferramentas assim com as saídas dos processos de
Figura 5 - Modelo Geral de Integração
Fonte: O Autor

Gerenciamento de Custos PMBOK. O modelo geral de integração sugerido está representado na


figura 5.
A proposta de integração que se apresenta aqui procura primeiramente, que entidades do padrão
IFC possam ser utilizadas pelo modelo de Gerenciamento de Custos do PMBOK para depois
complementar o modelo com outras entidades que sejam necessárias. Como o tipo de dados entre
ambos os modelos são muito diferentes, a proposta também inclui a implementação de outras
estruturas de suporte para a modelagem (chamado aqui de Domínio de Elementos Externos -DEE) e
processamento e armazenamento de dados de processos de gerenciamento que não se encontram no
modelo BIM (p. e. mediante um plug-in para software como o REVIT).
Para o primeiro processo sugerido – Planejar O Gerenciamento de Custos – tem-se 4 entradas:
Plano de Gerenciamento do Projeto, Termo de Abertura do Projeto (TAP), Fatores Ambientais e
Ativos Organizacionais. Essa entrada tem como principais informações para Gerenciar Custos a
Linha de Base do Cronograma e Linha de Base do Escopo. O primeiro é um elemento que pode ser
extraído do modelo pela entidade IfcWorkSchedule, outras informações necessárias devem vir do
DEE. Para o TAP, requisitos de aprovação podem ser extraídos do elemento IfcApprovalResource,
informações de custos, valores, orçamento podem ser encontrados no elemento IfcCostResource,
marcos, datas, tempo e esperas no elemento IfcDataTimaResource e informações de partes
interessadas, organização, pessoas em IfcActorResource. Fatores Ambientais e Ativos de Processos
Organizacionais são entradas com informações que podem ser variáveis, fixadas pelo regimento
interno da organização ou expostas em listas, como um banco de dados, constantemente atualizável.
Algumas informações como diretrizes internas, políticas e procedimentos da empresa, missão,
valores, descrição da estrutura organizacional, podem ser fixas, advindas do DEE, outras como
listas de vendedores, produtos, podem ser encontradas no modelo pela entidade IfcGroup capaz de
fornecer uma coleção de objetos que podem ser produtos, processos, controle, recursos, atores, além
disso, dados históricos de produtividade de máquinas ou recursos humanos são representados pela
entidade IfcPerformanceHistory.
Ferramentas e técnicas para o processo de planejamento incluem: Definir e Registrar Gerente de
Custos (P1), Determinar Unidades de Medida (P2), Determinar Precisão de Valores (P3),
Determinar Faixa Aceitável para Variação de Estimativas (P4), Determinar Pontos e Regras para
Medição de Desempenho (P5), Disponibilizar Formato Modelo para Relatórios (P6), Escolha da
Forma de Financiamento do Projeto (P7) e determinar como será o Registro de Custos (P8). P1 tem
o apoio do elemento IfcActorResource capaz de armazenar informações sobre pessoas e
organizações que vão realizar certa atividade ou ter determinadas responsabilidades no projeto. P2
pode ser definida pelo elemento IfcMeasureResource. Através do elemento IfcConstraintResource,
pode-se especificar restrições aplicáveis a qualquer objeto ou recurso, podendo inclusive, aplicar
restrições de valores, ou limitar uma gama de valores, atribuindo possibilidades de ser maior ou
menor que um valor. Com esse elemento, as atividades P3 e P4 podem ser realizadas. Pelas
entidades IfcEvent e IfcProcedure, tem-se que a primeira é responsável por acionar uma ação ou
responsabilidade, ou emitir algum aviso quando algo pré-definido acontecer, já a segunda, aciona
uma sequência de ações a serem feitas em resposta a um acontecimento. Essas duas entidades
podem ser atribuídas à atividade P5, pois pode-se determinar que a medição de desempenho seja
feita sempre que valores realizados de custos ultrapassem o planejado, ou sempre que um pacote de
trabalho seja concluído.
Diante da análise do modelo, não foram encontrados elementos relacionados com a decisão sobre a
Forma de Financiamento do Projeto (P7), Disponibilização de Modelos para Relatórios (P6) ou
Maneiras de Registrar Custos (P8). Portanto, essas atividades devem ser integradas através do
Domínio de Elementos Externos.
O próximo passo é Estimar Custos. Esse processo tem como entradas o Plano de Gerenciamento de
Custos, que é saída do processo anterior; o Plano de Gerenciamento de Recursos Humanos, de
conteúdo pertencente a outra área de conhecimento, no entanto, questões relevantes para esse
processo como disponibilidade de mão-de-obra, assim como informações históricas de
produtividade da mesma podem ser obtidas através do elemento IfcControlExtension, em sua
entidade IfcPerformanceHistory, é possível recorrer a dados de performance de recursos humanos
de projetos anteriores; Linha de Base do Escopo, elemento não identificado no modelo;
Cronograma do Projeto representado pela entidade IfcWorkPlan que representa cronogramas de
diferentes propósitos; Registro de Riscos, não encontrado no modelo; Fatores Ambientais e Ativos
de Processos Organizacionais disponíveis como no processo anterior.
As principais decisões a serem tomadas nesse processo envolvem: Considerar Alternativas de
Material, Fornecedores e Mão-de-obra (P1), Analisar Custos de Qualidade (P2), Analisar
Informações Históricas de Produtividade (P3), Criar Fórmulas (P4), Estimar Custos de Pessoal e
Material (P5), Determinar Contingência (P6), Atentar para Restrições e Premissas (P7). P1 é
realizada com auxílio de informações de Fatores Ambientais e Ativos de Processos
Organizacionais. P2 é uma atividade de responsabilidade de opiniões especializadas, portanto
advinda de DEE. Para tomar decisões do tipo alugar x comprar x fazer, é preciso avaliar o custo
benefício de cada possibilidade, lançando mão de opiniões especializadas e dos dados históricos
fornecidos pela entidade IfcPerformancyHistory, como sugerido em P3. Para P4 o modelo BIM tem
incorporado ao elemento IfcCostResource a possibilidade de se criar operações aritméticas e aplicar
o valor do resultado a um objeto. A atividade P5 de pessoal e material é suportada no modelo por
dois elementos, o IfcProcessExtension e o IfcCostResource. Através do primeiro, aloca-se recursos
nas tarefas, elabora-se cronograma de trabalho segundo restrições e durações de atividades, já o
segundo, atribui valores aos objetos. P6 é uma atividade que deve ser discutida por uma equipe
especializada, uma vez que o modelo não fornece dados para estimar esse tipo de custo. O elemento
IfcConstraintResoure permite atribuir restrições a objetos que podem estar relacionados com
valores por exemplo, o que corresponde à atividade P7.
Para o terceiro processo, Determinar o Orçamento, tem-se como entradas: Plano de Gerenciamento
de Custos, saída do primeiro processo; Linha de Base do Escopo, não identificada no modelo;
Estimativa de Custos e Base das Estimativas, saídas do processo anterior; Cronograma do Projeto e
Calendário de Recursos, ligadas à entidade IfcWorkPlan, pois através dela tem-se calendários e
planos de trabalho com diferentes propósitos; Registro de Riscos, disponível como especificado
anteriormente; Acordos, relacionado com a entidade que recebe o nome de
IfcSubContractResource. É um recurso responsável por especificar acordos de contratos e
subcontratos em vários níveis de detalhes, sejam subcontratos para atividades específicas, acordos
com pessoas, horários ou ordens de projeto; Ativos de Processos Organizacionais, disponível como
explicitado anteriormente.
As ferramentas e técnicas que envolvem esse processo são: Determinar o Orçamento (P1), Avaliar
Reservas (P2), Verificar Limites de Recursos (P3) e Agregar Custos (P4). no modelo BIM
estimativa e orçamento estão intimamente relacionados diante da possibilidade de parametrização
dos objetos mantidos em bancos de dados com informações de custos disponíveis como parâmetros
e quantificação precisa, portanto, a atividade P1, torna-se facilitada; P2 é de caráter exclusivo da
equipe de trabalho juntamente com os patrocinadores do projeto, as reservas destinadas ao projeto
vão compor o custo final total, e seu valor é embasado nos riscos do projeto; P3 significa confirmar
de acordo com o Calendário do Projeto e Cronograma de Recursos se a disponibilidade de recursos
financeiros está de acordo com o planejado. Nessa etapa, se necessário, recursos precisarão ser
realocados e cronograma ajustado. A integração dessa atividade consiste somente no suporte que o
modelo fornece de Calendários e Cronogramas, por entidades do elemento IfcProcessExtension; P4
significa somar os custos de acordo com os pacotes de trabalho correspondentes a níveis mais altos
da EAP. A entidade IfcAppliedValue captura valores obtidos por fórmulas que podem ser aplicados
a datas específicas.
Para o último processo, Controlar Custos, são necessárias as entradas: Plano de Gerenciamento do
Projeto, mencionado no primeiro processo, Requisitos de Recursos Financeiros, que constitui-se
como saída do processo anterior, Dados de Desempenho do Trabalho, uma entrada que
constantemente é atualizada conforme o processo é executado, acontece durante toda a execução do
projeto. Assim, os dados de desempenho da última medição são usados para comparação com os
novos dados medidos. A entidade IfcConstructionResource auxilia na obtenção desses dados,
Ativos de Processos Organizacionais, como anteriormente mencionado.
As ferramentas e técnicas envolvem Controlar Mudanças (P1), Alertar para Variações da Linha de
Base (P2), Analisar Desempenho e Tendências (P3), Calcular IDPT (P4), Obter Previsões (P5),
Analisar Reservas (P6), Fazer Análise de Valor Agregado (P7), Documentar Resultados (P8). P1
relaciona-se com a entidade IfcActionRequest, que configura-se como uma solicitação, um pedido
que pode estar relacionado com informações, com a necessidade de se realizar algum trabalho,
algum pagamento ou compra; Para P2 tem-se a entidade IfcProcedure que aciona uma sequência de
ações a serem tomadas em resposta a um evento. Sendo assim, pode-se emitir uma mensagem de
alerta caso o modelo identifique que os valores estão se afastando de suas linhas de base. As
atividades P3, P4, P5 e P7 não podem ser feitas diretamente no modelo, necessitando de dados do
DEE para análise das mesmas. No entanto, a entidade IfcConstructionResource fornece suporte para
informação de dados que serão usados nessas atividades. Através dessa entidade é possível analisar
trabalho, tempo e custo programados, completos e a fazer, que podem estar associados a restrições,
demonstra valores aplicados em determinadas datas e identifica quantidades consumidas. As
Reservas embora sejam descritas e agregadas no Orçamento Final, não fazem parte dos custos por
pacotes de trabalho. Ao ser usada deve ser sempre registrado e contabilizado nos documentos
gerenciais. O controle das Reservas deve ser feito sempre que pacotes de trabalho terminem. Os
resultados de cada ciclo do processo Controlar Custos devem ser sempre documentados, todos os
gráficos de cada análise, quais os motivos das variações e quais medidas foram tomadas. Todos
esses dados servirão como informações a serem agregadas nos Ativos Organizacionais da empresa.
Para essa proposta de integração foram considerados os elementos e entidades de todas as camadas
do modelo relacionados com o Gerenciamento de Projetos, não foram analisados outros elementos
que não tivessem conectados ao tema.

4. CONCLUSÕES
O desenvolvimento do presente estudo permitiu analisar cuidadosamente as diretrizes sugeridas
pelo PMBOK para Gerenciamento de Custos, assim como os elementos e entidades do Modelo
BIM, no formato padronizado e universal IFC, relacionados com Gerenciamento de Projetos.
Diante disso, foi possível avaliar e propor a integração entre o modelo de informações do edifício e
as diretrizes de Gerenciamento de Custos.
De um modo geral, o Modelo BIM não é capaz de fornecer suporte a todas as diretrizes sugeridas,
sendo necessária a criação de um Domínio de Elementos Externos, que envolve recursos humanos
especializados, arquivos e dados externos ao modelo. A solução proposta para esse problema é que
os dados sejam reunidos e organizados com as informações disponíveis no modelo através da
implementação de um plug-in que possa colocar em um arquivo de dados IFC de um dado edifício
aquilo que faz parte do modelo BIM e em outro arquivo auxiliar, os dados que não fazem parte,
sendo de responsabilidade do plug-in a correta instanciação dos parâmetros físicos, econômicos e de
gestão de cada edifício.
Dada a complexidade do modelo de gerenciamento se considera que o esforço de propor um
modelo de integração para cada processo sugerido pelo PMBOK é grande e deve ser previamente
bem avaliado.
Nesse sentido, a pesquisa foi de grande valia pois permitiu identificar no Modelo BIM muitas
ferramentas gerenciais, que por si só, já são de grande importância para avanços no setor da
construção, além de mostrar como essas ferramentas podem servir para seguir diretrizes gerenciais
ou dar suporte a elas. Mesmo que o modelo proposto não tenha atingido a completa integração, o
nível de detalhe alcançado constitui-se do ponto de partida para uma proposta avançada.
5. REFERÊNCIAS

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construcao/143/artigo290692-3.aspx

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planejamento de obras. Fonte: Revista téchne: http://techne17.pini.com.br/engenharia-
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335226-1.aspx

PMI. (2013). Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos: Guia PMBOK (5ª ed.).
Pensilvânia: PMI Publications.

Souza, K. M. (Julho de 2009). Gerenciamento de Custos de um Projeto. Dissertação em Pós


Graduação em Gestão de Custos - Cândido Mendes.

Vargas, R. (2017). Gerenciamento de Projetos: Estabelecendo Diferenciais Competitivos (8ª ed.).


Brasport.
TEORIA DA SIMILITUDE: ANÁLISE DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO
EM CORPOS DE PROVA DE CONCRETO

Similitude theory: compressive strength analysis in concrete specimens

Carlos Felipe de Azevedo1, Marcela Aguiar Nogueira 2, José Maria Franco de Carvalho3,
Humberto Dias Andrade4, Ricardo André Fiorotti Peixoto5
1 Mestrando, Ouro Preto, Brasil, deazevedocf@gmail.com
2 Graduanda, Ouro Preto, Brasil, marcelaanogueira@outlook.com
3 Doutorando, Ouro Preto, Brasil, jmfcarvalhoii@gmail.com
4 M. Sc., Ouro Preto, Brasil, andrade.hdias@gmail.com
5 D. Sc., Ouro Preto, Brasil, ricardofiorotti@yahoo.com.br

Resumo: A resistência à compressão de um concreto é a propriedade mais básica e importante


utilizada em projetos de estruturas de concreto armado. A utilização da informação de resistência a
compressão de concretos se torna um problema, por causa das diferenças no tamanho e forma dos
corpos de prova utilizados. Há muito tempo vêm sendo utilizados modelos que buscam aproximar
experimento e teoria. Usando-se a análise dimensional e Teorema Pi de Buckingham, pode-se
determinar os termos Pi necessários para estabelecer a similaridade entre dois processos ou sistemas
físicos. Dessa forma, é possível identificar variáveis que são potencialmente prejudiciais à precisão
do modelo e aplicar, às mesmas, fatores de correção. No que tange as Normas Técnicas Brasileiras,
especificamente à ABNT NBR 5738:2015, a menor dimensão referenciada e autorizada para ensaios
em corpos de prova cilíndricos, para concreto, é a Ø100x200 mm (DIÂMETROxALTURA).
Entretanto, esse tamanho de corpo de prova exige uma quantidade de material consideravelmente
grande em algumas situações; fator que se torna prejudicial quando lidamos com novas matérias-
primas. Muitas vezes o volume disponível de material a ser testado é limitado. Partindo disso,
buscam-se maneiras alternativas para a realização de experimentos que apresentem economia de
material e facilidades para a execução de ensaios envolvendo corpos de prova cilíndricos. O presente
estudo investiga o comportamento de corpos de prova de dimensões reduzidas, para diferentes
composições de traços de concreto a partir de uma análise dimensional via Teoria da Similitude e
análises estatísticas, como a análise de variância, teste Tukey e teste t. O estudo correlaciona os
resultados de resistência à compressão do modelo padrão mínimo estabelecido por norma a um
modelo cilíndrico reduzido de 50x100 mm. Os resultados indicaram que as condições de operação e
critérios de projeto para corpos de prova reduzidos, com emprego de análise dimensional de maneira
simplificada, foi adequado para a determinação do comportamento mecânico do concreto para classes
C25 e C35; porém, a distorção existente afetou consideravelmente os corpos de prova reduzidos para
a classe C15 a respeito dos resultados de resistência à compressão.

Palavras-chave: Concreto, Resistência à Compressão, Teoria da Similitude.

Abstract: The compressive strength of concrete is the most basic and important property used in the
design of reinforced concrete structures. The use of concrete compression strength information
becomes a problem because of differences in the size and shape of the specimens used. Models that
seek to bring experiment and theory together have long been used. Using the dimensional analysis
and Buckingham's Pi Theorem, one can determine the Pi terms needed to establish the similarity
between two physical processes or systems. In this way, it is possible to identify variables that are
potentially harmful to the accuracy of the model and to apply correction factors to them. With respect
to the Brazilian Technical Standards, specifically to ABNT NBR 5738: 2015, the smallest dimension
referenced and authorized for tests on cylindrical specimens for concrete is Ø100x200 mm
(DIAMETERxHEIGHT). However, this probe size requires a considerable amount of material in
some situations; a factor that becomes harmful when dealing with new raw materials. Usually, the
available volume of material to be tested is limited. From this, alternative ways are sought to perform
experiments that present material savings and facilities for the execution of tests involving cylindrical
specimens. The present study investigates the behavior of test specimens of reduced dimensions for
different compositions of concrete mixes from a dimensional analysis through Similitude Theory and
statistical analyzes such as analysis of variance, Tukey test, and t-test. The study correlates the results
of compressive strength of the minimum standard model established by Brazilian code to a cylindrical
model reduced of 50x100 mm. The results indicated that the operating conditions and design criteria
for reduced specimens, using dimensional analysis in a simplified way, were adequate for the
determination of the mechanical behavior of the concrete for classes C25 and C35; however, the
existing distortion considerably affected the reduced specimens for class C15 regarding the results of
compressive strength.

Keywords: Concrete, Compressive Strength, Similitude Theory.

1. INTRODUÇÃO

Tratando-se do concreto, a resistência à compressão é a propriedade mais básica e importante


utilizada em projetos de estruturas de concreto armado [1]. A Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) é responsável por estabelecer padrões e critérios a serem seguidos para o ensaio de
resistência à compressão. A instituição fixa limites mínimos e máximos de diversas propriedades e
procedimentos, como orientação à produção e análise de um objeto final de qualidade, como o
tamanho mínimo de um corpo de prova cilíndrico padrão para o ensaio de compressão simples em
concreto.

Sempre que possível, avaliar limites mínimos e possíveis modificações são estudos de relevante
interesse para a Engenharia. Para o estudo em questão, trabalhar com espécimes reduzidos pode
representar uma redução no volume das amostras de 8 vezes, considerando moldes Ø50x100mm,
comparativamente ao tamanho mínimo estabelecido para corpos-de-prova cilíndricos de concreto,
Ø100x200 mm. Aspectos relacionados a facilidades operacionais e segurança, bem como economia
de recursos, energia e tempo para realização dos ensaios à compressão e tração também devem ser
considerados.

Alguns trabalhos comparativos vêm sendo feitos desde o começo do século XX até os dias atuais
[2,3,4,5]. Em sua maioria, os estudos destacam a influência das dimensões dos corpos de prova, seus
formatos, adições e agregados utilizados nos resultados finais de resistência à compressão. Existem
também outros fatores que podem ser levados em consideração, como taxa de deformação no ensaio,
comportamento de falha do elemento, condições de cura e energia de fratura dos espécimes; porém,
nesse trabalho a análise será preponderante sobre as dimensões físicas e agregados graúdos dos corpos
de prova.

A respeito da forma dos agregados, partículas com uma alta razão de área superficial por volume
são indesejáveis para o concreto pois influenciam negativamente na trabalhabilidade da mistura. É o
caso de partículas escamosas, por exemplo; que afetam a durabilidade do concreto por tenderem a ser
orientadas em um plano, formando bolsas de água e ar por baixo das partículas de agregado. A
presença de partículas mais alongadas em excesso de 10 a 15 % da massa do agregado graúdo é
geralmente considerada indesejável, embora não haja limites estabelecidos [6].

Existe um critério de conformidade estabelecido pela norma [19] que visa limitar a dimensão
básica do corpo de prova em relação à dimensão nominal máxima do agregado graúdo do concreto.
Isso indica que a graduação dos agregados é um fator relevante, pois existe um fenômeno chamado
“wall effect” (ou efeito parede), o qual indica que a quantidade de argamassa necessária para
preencher o espaço entre os agregados de concreto pode ser menor do que a quantidade de argamassa
necessária para preencher o espaço entre agregados e a parede do corpo de prova, o que influenciaria
o desempenho desse espécime [7].

Diversos estudos foram realizados nas últimas décadas com o intuito de estabelecer relações entre
a resistência à compressão e a dimensão máxima do agregado. Alguns deles [8,9] indicam pouco
efeito, outros [10, 11] indicam proporcionalidade, mas a tendência recente é de uma relação
inversamente proporcional [7, 12].
Há um leque de trabalhos relativos à influência das dimensões e formas dos corpos de prova em
relação à resistência mecânica do concreto. Estudos mais recentes são inclinados para uma tendência
de que corpos-de-prova de dimensões maiores possuem menores resistências medidas [13, 14, 7]. Os
autores têm feito essa justificativa baseando-se, além do fenômeno efeito de parede, no fato de que
espécimes maiores possuem maior chance de possuírem irregularidades e heterogeneidade em relação
a corpos menores.
No contexto da Engenharia, é comum a prática de buscar modelos (objetos reduzidos) em
relação a protótipos (objetos de tamanho real), por razões de economia. Os princípios que envolvem
projeto, construção, operação e interpretação de resultados no que diz respeito a esses modelos
reduzidos corresponde à teoria da similitude. Essa teoria inclui assumir condições sob as quais o
comportamento de dois corpos possa ser similar, e técnicas para predizer resultados de forma precisa
no modelo em relação ao protótipo [15].
Desde o começo do século XX, existe uma série de trabalhos desenvolvidos aplicando essa
teoria, envolvendo temas como análise dimensional, casos de estudo aeroespaciais, equações
diferenciais, métodos energéticos, análise de estruturas impactadas, efeitos de escala em compósitos
e outros. Atualmente, há uma disponibilidade vasta de tecnologias para o desenvolvimento de projetos
e trabalhos complexos em relação a um século atrás, mas mesmo assim, experimentos em modelos
de escala reduzida continuam sendo uma opção a ser considerada, por engenheiros, como uma das
ferramentas de projeto das mais viáveis e valiosas [16, 17].
Quando um sistema é complexo o bastante de forma que não se pode formular um modelo
matemático que preveja seu comportamento, mesmo fazendo algumas presunções, um trabalho
experimental extenso pode ser necessário até que o sistema ganhe confiabilidade necessária e
performance desejada [18, 19]. Através da aplicação da análise dimensional à teoria da similitude,
obtém-se apenas resultados qualitativos, mas quando se alia com os procedimentos experimentais,
ela pode oferecer resultados quantitativos e equações de predição acuradas [15].
Em suma, a teoria da similitude propõe fixar previamente parâmetros de estudo e estabelecer
relações por meio de equações, para que possam ser obtidos diversos coeficientes como resultados
das análises. Os próprios coeficientes, com auxílio de ferramentas estatísticas, permitirão a avaliação
da consistência das relações entre parâmetros e fornecerão uma base para futuras correções a respeito
do estudo.

2. OBJETIVO
Investigar o comportamento de corpos de prova de dimensões reduzidas para diferentes
composições de traços de concreto a partir de uma análise dimensional via Teoria da Similitude e
análises estatísticas.

3. MÉTODOS

O cimento utilizado foi um CP III 40 RS da marca cauê. O agregado miúdo foi uma areia natural
quartzoza, de granulometria dentro da faixa utilizável de acordo com a norma [21], proveniente de
rio dos Peixes, Ponte Nova, MG. Como agregado graúdo, foi utilizada rocha gnáissica britada, da
faixa granulométrica 9,5/25, em conformidade com a [21], e obtido junto à empresa Martins Lanna,
Contagem, MG. Os agregados foram caracterizados no Laboratório de Materiais de Construção Civil
da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e mantidos estocados em recipientes plásticos
hermeticamente fechados no pátio do mesmo laboratório.

Três traços de concreto foram projetados empregando-se o software de dosagem de concretos


desenvolvido por [23] e aplicando-se o método ACI/ABCP [24]. As resistências de dosagem
estabelecidas foram: 25 MPa (C25); 35 MPa (C35) e 40 MPa (C40), e a consistência fixada em 60±10
mm pelo ensaio de abatimento do tronco de cone [22].

Os concretos foram preparados no Laboratório de Materiais de Construção Civil da UFOP,


utilizando-se o misturador forçado de eixo vertical, modelo MF2070, marca CSM, com capacidade
normal de mistura de 120 L. Foram produzidos 30 corpos de prova de cada geometria estudada com
os concretos C25 e C35, para cada traço. Com o concreto C40 foram moldados 10 corpos de prova
para cada geometria.

Os corpos de prova foram moldados conforme a norma [19], sendo adensados com a utilização
de mesa vibratória em tempos de 30 s (corpos de prova Ø100×200 mm) e 15 s (corpos de prova
Ø50×100 mm). Após desmoldagem com 1 dia de idade, os corpos de prova foram mantidos em
câmara úmida até a data do rompimento.

Os ensaios de compressão foram executados com 28 dias de idade, seguindo as recomendações


da norma [20]. A regularização das faces em contato com os pratos da máquina de ensaio foi feita
utilizando-se a técnica do capeamento com enxofre. A máquina universal de ensaios empregada foi
uma EMIC DL 20000. Foi utilizada uma célula de carga de 20 tf (200 kN) de capacidade para os
corpos de prova de dimensões Ø50×100 mm, e uma célula de carga de 200 tf (2 000 kN) de capacidade
para os corpos de prova de Ø100×200 mm.
A aplicação da teoria da similitude ao estudo em questão envolve determinação dos termos Pi,
explicitação da equação de Predição, fator de predição e fatores de distorção. Os termos Pi são
determinados tomando-se inicialmente conhecimento dos parâmetros influentes com os quais deseja-
se trabalhar, sendo essa uma parte fundamental e exclusiva de cada estudo. Os parâmetros foram
selecionados de forma que se possa analisar um número razoável de termos Pi mas que não envolva
elevada quantidade de grandezas, pois de acordo com o Teorema de Buckingham e a equação geral
de predição, quanto mais grandezas envolvidas, menor a quantidade de termos Pi, o que acaba
limitando a análise dos resultados. A Tabela 2 ilustra os parâmetros e respectivas grandezas
envolvidas. Dessa forma, parte-se de uma equação geral (Eq. 1) aplicada ao problema, na qual tem-
se parâmetros influentes ao objeto em estudo (no caso, um corpo de prova cilíndrico, de concreto)
que se relacionam diretamente à resistência à compressão. Os parâmetros determinados são:
comprimento do espécime, diâmetro do corpo de prova, dimensão do agregado, força compressiva e
módulo de elasticidade estático.
Após desenvolvimento das expressões algébricas envolvendo os parâmetros selecionados, foi
possível expressar a equação de predição (Eq. 2) e determinar os fatores de predição (Eq. 3) e
distorção (Eq. 4, 5, 6) para o presente estudo.
𝑓𝑐𝑗 = 𝑓(𝑙, 𝑑, 𝑑𝑎 , 𝑃, 𝐸) (1) Onde: Comentado [1]: faltou esse nao?... sugiro ainda colocar a
descrição dos itens na ordem em que aparecem na equação.
𝑓𝑐𝑗 𝐸 𝐸 𝐸 𝑓𝑐𝑗 – Resistência à compressão Comentado [2]: corrigido
𝐸
= 𝑓(𝑙 ∗ √𝑃 , 𝑑 ∗ √𝑃 , 𝑑𝑎 ∗ √𝑃) (2)
𝑙 – Comprimento do espécime
d – Diâmetro do corpo-de-prova
𝑓𝑐𝑃
𝜋 ⁄
𝐸𝑃 𝑑𝑎 – Dimensão do agregado
𝛿 = 𝜋 1𝑃 = 𝑓𝑐𝑀 (3)
1𝑀 ⁄
𝐸𝑀 P – Força compressiva
𝐸
(𝑙∗√ )
E – Módulo de elasticidade estático
𝑃 𝑀
𝛼2 = 𝐸
(4) 𝛿 − Fator de Predição
(𝑙∗√ )
𝑃 𝑃
𝛼𝑖 − Fator de distorção i
𝐸
(𝑑∗√ )
𝑃 𝑀 Obs.: Os índices “P” e “M” significam
𝛼3 = 𝐸
(5) respectivamente “Protótipo” (objeto real) e
(𝑑∗√ )
𝑃 𝑃
“Modelo” (objeto reduzido). O índice “a” é
𝐸 relativo ao agregado.
(𝑑𝑎 ∗√ )
𝑃 𝑀
𝛼4 = (6)
𝐸
(𝑑𝑎 ∗√ )
𝑃 𝑃

De posse dessas expressões algébricas, os resultados experimentais foram inseridos em algumas


das mesmas (Eq. 2 e 5) de forma a realizar uma simulação da modelagem e avaliar comparativamente
os resultados de resistência entre classes, tamanhos dos corpos de prova e a influência do tamanho
máximo do agregado nos espécimes reduzidos.
Como critério de qualificação da hipótese, a Análise Estatística de Variância (ANOVA) pode
averiguar se os resultados de resistência são estatisticamente significantes e, complementarmente, o
Teste Tukey pode fornecer entre quais parâmetros analisados há significância. Esses dois testes
estatísticos permitem analisar as amostras externamente. Uma outra ferramenta que pode ser utilizada
é o Teste t de Student, para diferenças entre médias de uma população.

4. RESULTADOS
Após 28 dias, 25 amostras reduzidas (Ø50x100 mm) e padrão (Ø100x200 mm) foram ensaiadas
à compressão simples, para cada classe. Vale ressaltar que apenas uma faixa granulométrica de
agregados foi utilizada. O coeficiente αda é equivalente a α3 (Eq. 5). A seguir, as figuras a seguir
apresentam os gráficos dos fatores de predição por distorção separados em diferentes classes.

Fig. 1 - Gráfico Fator de distorção (da) x Fator de predição para classe C15
Fig. 2 - Gráfico Fator de distorção (da) x Fator de predição para classe C25

Fig. 3 - Gráfico Fator de distorção (da) x Fator de predição para classe C35
Fig. 4 - Gráfico Fator de distorção (da) x Fator de predição para as médias das classes C15, C25 e C35

5. DISCUSSÃO

Para um número de amostras igual a 25, o critério de normalização de resultados de Chauvenet,


também recomendado por [15], é o seguinte:
𝑥−𝑥′
𝜎
< 2.44 (6)

Onde x é o resultado individual de cada amostra, x’ é a média do conjunto e σ é o Desvio Relativo


Médio do conjunto. Nenhum dos corpos de prova envolvidos para quaisquer classes fora rejeitado
devido à aplicação do critério.

As Figuras 1, 2 e 3 ilustram os valores de fatores de distorção de 𝛼𝑑𝑎 confrontados com os fatores


de predição, para as classes C15, C25 e C35, respectivamente. O coeficiente de determinação (R2) é
bem próximo a 1 para os três casos, e indica um comportamento muito bom como linha de tendência
potencial.
Para que a distorção não afete os resultados de resistência à compressão entre modelo e protótipo,
é desejável que os fatores de predição tenham valores mais próximos de 1. Observando em um
primeiro momento, nota-se dispersões de valores mais evidentes para as classes C15 e C35.
A Figura 4 ilustra os valores finais médios para as 3 classes. Observa-se que o valor para a Classe
C15 sofreu influência considerável em relação à distorção, comparativamente às outras classes.
A Análise Estatística de Variância (ANOVA) pode ser aplicada para evidenciar se há diferença
significativa entre as médias dos resultados referentes às 3 classes de concreto, ou seja, se a hipótese
nula (h0), de que as médias entre as classes são similares, pode ser rejeitada.
Foi utilizado o software PAST v3.2 para a análise de variância dos fatores de predição envolvidos
e a Tabela 1 ilustra os principais dados de saída. Observa-se que os valores de F (coeficiente de
Fisher) e p (variável de probabilidade) equivalem a 5.478 e 0.006104, respectivamente. O método
afirma que se p < 0.05 (confiabilidade de 95%) então a hipótese nula deve ser rejeitada, ou seja, há
diferença significativa entre as amostras analisadas. Dessa forma, observa-se que há diferença entre
os resultados de fatores de predição referente às classes de concreto C15, C25 e C35.
Tabela 1 - Resultados da Análise Estatística de Variância no PAST v3.2 para as amostras de C15, C25 e C35
ANOVA
Tratamento Soma dos quadrados Média dos quadrados F p
Entre grupos 0.543283 0.271642
5.478 0.006104
Dentro dos grupos 3.57059 0.0495916
Todavia, a ANOVA não permite afirmar entre quais das amostras há diferença significativa. O
Teste Tukey pode afirmar entre quais grupos amostrais acontece a rejeição da hipótese nula. A Tabela
2 apresenta os resultados do Teste Tukey aplicado para os mesmos dados amostrais também no
software PAST v3.2. O Teste Tukey informa os valores de p obtidos quando confronta-se os dados
amostrais entre os diferentes grupos analisados. Os valores que não atendem ao critério p < 0.05 estão
destacados na cor vermelha na tabela. Portanto, pode-se concluir que entre as classes C15 e C25 e,
classes C15 e C35, a hipótese nula pode ser descartada e os valores de fatores de predição diferem.
Tabela 2 - Resultados do Teste Tukey no PAST v3.2 para as amostras de C15, C25 e C35
Teste Tukey - valor p
Grupos C15 C25 C35
C15 - 0.01565 0.01759
C25 4.136 - 0.9921
C35 3.966 0.1702 -

De forma a verificar a diferença entre médias populacionais dentro de cada grupo amostral, pode
ser aplicado o Teste t de Student. Assim, verifica-se a rejeição ou não da hipótese nula entre os valores
de resistência à compressão de modelo em relação ao protótipo. A Tabela 3 apresenta os resultados
do Teste t para duas médias. Observa-se que apenas a classe C15 teve seus resultados rejeitados de
acordo com o teste realizado, portanto há diferenças significativas entre as médias dos valores de
resistência à compressão para corpos de prova cilíndricos de Ø100x200 mm em relação a corpos de
prova de Ø50x100 mm.
Tabela 3 - Resultados do Teste t de Student para duas médias, relativo às classes C15, C25 e C35 para tamanhos de
espécimes cilíndricos Ø100x200 mm e Ø50x100 mm
Teste t para duas médias
Classe de Dimensão do Número de Média Desvio Padrão
t calculado valor p Intervalo de confiança Resultado
concreto espécime amostras (MPa) (MPa)

100x200 mm 25 19.93 0.86


C15 -5.5285 0.0000 (-3.48133 ; -1.62443) Rejeitado
50x100 mm 25 17.38 2.14

100x200 mm 25 28.01 1.31 Não


C25 0.6909 0.0218 (-0.65689 ; 1.34470)
Rejeitado
50x100 mm 25 28.35 2.12

100x200 mm 25 33.3 4.05


Não
C35 0.5592 0.0132 (-2.30257 ; 4.07695)
50x100 mm 25 34.19 6.82 Rejeitado

6. CONCLUSÃO

A distorção existente afetou consideravelmente os corpos de prova reduzidos para a classe C15,
no que diz respeito aos resultados de resistência à compressão simples. Já para as classes C25 e C35,
não houveram efeitos consideráveis de distorção.
A modelagem desenvolvida demonstrou ser adequada para determinar o comportamento
mecânico do concreto relativo às classes C25 e C35. Destaca-se que essa modelagem pode ser
aplicada somente a formatos cilíndricos de corpos de prova solicitados à compressão simples.
Formatos e aplicações de cargas diferentes implicam em novas distorções e, consequentemente,
resultados que divergem da realidade.
A Teoria da Similitude constitui-se de importante e poderosa ferramenta no tocante dos trabalhos
de engenharia e permite um amplo leque de modelagens e análises comparativas.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.

REFERÊNCIAS
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[21] ABNT. NBR 7211: Agregados para concreto-Especificação. Rio de Janeiro: Associação Brasileira de Normas
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[22] ABNT. NBR NM 67: Concreto - Determinação da consistência pelo abatimento do tronco de cone. Rio de Janeiro:
Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1998.
[23] SOARES, A. F. F. Software especialista para dosagem de matrizes cimentícias. Monografia - Curso de graduação
em Engenharia de Produção Civil - CEFET MG. Belo Horizonte. 2009.
[24] TORRES, A. F.; ROSMAN, C. E. Método para dosagem racional do concreto. São Paulo: ABCP, 1953.
CONCRETOS DE ALTA RESISTÊNCIA ECOEFICIENTES

High Resistant Eco-friendly Concrete

J. M. F. de Carvalho1, C. F. Azevedo1, L. D. Kuster1, G. J. B. Silva1, R. A. F. Peixoto1


1Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil. E-mail: jmfcarvalhoii@gmail.com
deazevedocf@gmail.com, luanadkuster@gmail.com, guilhermebrigolini@gmail.com, ricardofiorotti@yahoo.com.br

Resumo: A alta produção de minério de ferro no Brasil, apesar de todos os benefícios, gera uma
quantidade considerável de resíduos que traz transtornos a ser alocada no meio. Ao mesmo passo,
temos a construção civil, cuja demanda por recursos naturais é alta e apresenta necessidade por
alternativas. Este estudo, a fim de atenuar tanto os impactos causados pelo armazenamento de
rejeitos de minério de ferro quanto os atrelados à produção de materiais para construção civil,
propõe a produção de concretos ecoeficientes de alta resistência com substituição parcial de
Cimento Portland por finos de rejeito de minério de ferro. Fez-se a caracterização física do rejeito
bem como sua moagem objetivando-se obter dois finos de diferentes granulometrias. Os finos
obtidos pela moagem apresentaram duas dimensões características diferentes, uma delas maior e
outra menor comparada a do cimento Portland utilizado (CP-V). A areia foi peneirada e quatro de
suas frações foram separadas (2,26 mm; 1,18 mm; 150 μm; 300 μm) e utilizadas em mesma
proporção. A mistura dos microconcretos respeitou o traço 1:2 (cimento:areia) e as substituições do
Cimento Portland por finos foram gradativas, de 10% a 60%. Além dos finos de rejeito, Cimento
Portland e areia, utilizou-se aditivo superplastificante para compor as matrizes. Os protótipos foram
testados mecanicamente e apresentaram comportamento satisfatório para compressão e tração na
flexão. Foi feito também teste de avaliação de sustentabilidade, que determinou que o desempenho
de todos os traços com substituição ultrapassou o valor encontrado pelo traço referência neste
parâmetro. Os desempenhos mecânicos atrelados aos de sustentabilidade justificam a relevância do
estudo, possibilitando em estudos futuros consumir grande volume de rejeitos ao produzir tais
concretos de alta resistência em escala industrial.

Palavras-chave: Rejeito de Minério de Ferro, Sustentabilidade, Concretos de Alta Resistência,


Microconcretos

Abstract: The high production of iron ore in Brazil, despite all the benefits, generates a
considerable amount of waste that causes problems when placed in the environment At the same
time, civil construction demands for high quantities of natural resources and asks for alternative
materials. This study, in order to mitigate both the impacts caused by the storage of iron ore tailings
and those related to the production of civil construction materials, proposes the production of high-
strength eco-efficient concrete with partial replacement of Portland cement by iron ore tailing fines.
Physical characterization was made of the reject as well as its milling aiming to obtain two fines of
different granulometries. The fines obtained by grinding presented two different characteristic
dimensions, one larger and one smaller compared to the Portland cement used (CP-V). The sand
was sieved and four of its fractions were separated (2.26 mm, 1.18 mm, 150 μm, 300 μm) and used
in the same proportion. The microconcrete mixture followed the 1: 2 trace (cement: sand) and
Portland cement substitutions by fines were gradual, from 10% to 60%. In addition to the fines of
tailings, Portland Cement and sand, a superplasticizer additive was used to compose the matrices.
The prototypes were mechanically tested and presented satisfactory behavior for compression and
flexion traction. A sustainability assessment test was also performed, which determined that the
performance of all traces with substitution exceeded the value found by the reference prototype in
this parameter. The mechanical performances linked to sustainability justify the relevance of the
study and allow, with further studies, to consume large volume of tailings when producing such
high strength concretes on industrial scale.

Keywords: Iron Ore Tailings, Sustainability, High Resistant Concrete

1. INTRODUÇÃO
O Brasil se encontra como um dos maiores produtores de minério de ferro no cenário mundial e é
de grande destaque a participação da mineração no Produto Interno Bruto brasileiro [1]. Tal
atividade além de gerar riquezas minerais, ainda beneficia a população com geração de empregos e
investimentos no país.
Não se pode negar, porém, que esta atividade traz consigo grandes impactos causados pela geração
de rejeitos no beneficiamento do minério extraído. O problema aumenta ainda mais com as
condições de depósito, muitas vezes em barragens de rejeitos.
Ao mesmo passo, a indústria da construção civil apresenta hoje o maior consumo de bens minerais
para suprir a demanda por matéria-prima [1] e busca por alternativas sustentáveis de substituição
destes materiais.
Motivados por estes entraves, estudos já foram realizados para possibilitar a incorporação de
rejeitos de minério de ferro em substituição de materiais convencionais, incorporações estas
abrangendo substituição de agregados convencionais em matrizes cimentícias por exemplo [2].
Este estudo, visando otimizar o consumo de resíduos minerais e mitigar a exploração de matéria-
prima destinada à construção civil, propõe utilização de finos de rejeito de minério de ferro como
substituição parcial de Cimento Portland para produção de matrizes coesas, resistentes e com
consideráveis percentuais de rejeito.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Materiais
Para realização desta pesquisa foi utilizada amostra de rejeito de minério de ferro (IOT) proveniente
de uma mina localizada na região do Quadrilátero Ferrífero, estado de Minas Gerais.
O Cimento Portland (CP) utilizado no estudo foi o CPV-ARI, especificado pela norma NBR 5733
[3], devido à sua composição (95-100% de clínquer, 0-5% de calcário). A composição deste CP,
ausente em materiais cimentantes suplementares, permite avaliar o comportamento das adições sem
que haja grande interferência.
Para a produção dos protótipos de microconcreto, utilizou-se uma areia natural quartzosa de rio
(Rio dos Peixes, Ponte Nova-MG) e também um aditivo superplastificante (SP) à base de
policarboxilato (POwerflow4000, McBauchemie).
3.2 Caracterização e preparação dos materiais utilizados
Antes de ser utilizada, a areia natural foi peneirada e apenas o material passante na peneira #8 (2,36
mm) foi empregado. Após o peneiramento, quatro frações da areia foram separadas: retida na
peneira #16 (1,18 mm); retida na peneira #30 (600 μm); retida na peneira #50 (300μm); e retida na
peneira #100 (150 μm).
A massa específica da matéria-prima de rejeitos de minério de ferro foi determinada para amostras
cominuídas durante três horas no moinho de bolas Marconi (MA500, 10,36L, jarro e esferas de aço
inox) através da metodologia ASTM C188 [4] (Método do frasco de Le Chatelier). O tamanhos das
partículas desta matéria-prima foi determinado utilizando o método de peneiramento ASTM C136
[5] e a técnica de difração a laser (Bettersize2000).
Foram produzidos dois finos com diferentes faixas granulométricas a partir da moagem da mesma
matéria-prima de rejeito de minério de ferro visando melhorar o empacotamento destes fillers com o
cimento ao serem adicionados à matriz.
Em função do desempenho da moagem dos materiais foi definida a dimensão máxima
característica D50 (50% das partículas apresentando diâmetro inferior à faixa D). Para atingir o
empacotamento desejado, o fino de granulometria mais grossa (FG) deve ter uma dimensão máxima
característica maior que a apresentada pelo cimento, enquanto isso, o mais refinado (FR) deve
apresentar tal dimensão ainda menor que a do cimento.
A produção do fino de granulometria mais grossa se deu através de moagem por rota seca em um
moinho de bolas Marconi MA500 com jarro e esferas de aço inox por 30 minutos. As
especificações do moinho e configurações de moagem se encontram na Tabela 1.

Tabela 1: Especificações e configurações de moagem

Característica Valor
Volume do jarro, cm³ 10 367
Volume útil, cm³ 3 422
Volume de material por ciclo, cm³ 1 740
Velocidade de rotação, rpm 200
Bolas de aço inox (quantidade / diâmetro, mm) (7 / 22), (17 / 28), (34 / 31),
(11 / 38), (16 / 41)

Já o material mais refinado foi produzido em um moinho de bolas planetário de alta eficiência
Retsch PM100 com jarro e esferas de YZrO2 (250cm3 de volume do jarro, 99 esferas de 10mm de
diâmetro e 191 esferas de 5mm de diâmetro). Moagem feita por via seca e com velocidade
rotacional de 400 rpm por 45 min, o volume de material utilizado foi fixado em 80 ml por ciclo. Tal
material foi previamente moído no moinho de bolas Marconi MA 500 por 180 min antes de passar
pelo processo acima.
3.3 Dosagem dos microconcretos
Projetou-se um microconcreto de referência com boa performance de empacotamento garantida
pela distribuição granulométrica dos agregados miúdos. A mistura foi composta pelas quatro
frações de areia separadas (em quantidades iguais) e respeitando a proporção 1:2 (cimento:areia)
por ser simples e com desempenho de empacotamento muito eficiente ao estudo. Não foi utilizado
agregado graúdo.
Baseando-se na mistura referência, foram produzidas seis argamassas substituindo o teor de
cimento gradativamente (de 10% a 60%) em volume pelos finos de rejeito de minério de ferro. A
Tabela 2 abaixo apresenta as proporções em volume dos materiais constituintes das argamassas
projetadas.

Tabela 2. Traços propostos para argamassas com substituição.

Traço FG CP FR Areia #16 Areia #30 Areia #50 Areia #100

Ref. 0,0% 33,3% 0,0% 16,7% 16,7% 16,7% 16,7%


0-9-1 0,0% 29,9 % 3,3% 16,7% 16,7% 16,7% 16,7%
0-8-2 0,0% 26,6% 6,6 % 16,7% 16,7% 16,7% 16,7%
2-7-1 6,6% 23,2% 3,3% 16,7% 16,7% 16,7% 16,7%
4-5-1 13,3% 16,6% 3,3% 16,7% 16,7% 16,7% 16,7%
2-6-2 6,6% 19,9% 6,6% 16,7% 16,7% 16,7% 16,7%
4-4-2 13,3% 13,3% 6,6% 16,7% 16,7% 16,7% 16,7%

Objetivando definir a relação água/finos ótima para se chegar ao máximo empacotamento, foi
empregada uma metodologia experimental baseada na proposta de Wong e Kwan [6] que determina
a condição de máximo empacotamento aplicada a produção de concretos.
3.4 Testes mecânicos dos microconcretos
As misturas foram produzidas no misturador padrão Fortest VC 370 e moldadas 6 amostras
prismáticas (40x40x160 mm) para cada traço. A compactação consistiu em: adensamento da
argamassa em três camadas de forma a preencher o molde totalmente; para cada camada foram
aplicados 30 golpes com o soquete padrão prescrito na NBR 7215 [7]; em seguida, foi executado
adensamento complementar em mesa vibratória por 30s. Os corpos de prova foram desmoldados
com idade de 1 dia e, posteriormente, foram mantidos em câmara úmida Equilam SS600UM (98 ±
2% de umidade relativa, 40ºC) até o dia do ensaio mecânico.
Os testes de resistência à compressão e flexão foram realizados nas idades de 7 e 28 dias sendo
testadas três amostras prismáticas para cada idade pela máquina de ensaios universal EMIC DL
20000 (célula de carga 20kN e taxas de aplicação de carga 50N/s (flexão) e 500 N/s (compressão)).
Os ensaios foram baseados nas normas ASTM C348 [8], ASTM C349 [9] e NBR 13279 [10].
3.5 Avaliação da sustentabilidade
Para cada traço estudado foi calculada a intensidade do ligante (bi) de acordo com o proposto por
Damineli [11]. Para isso, utilizou-se a Equação 1, onde b é o consumo total de material aglutinante
em kg/m³ (neste trabalho, apenas o Cimento Portland) e p é o desempenho alcançado (considerou-se
a resistência à compressão aos 28 dias).
b
bi  (1)
p

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 Caracterização de materiais e dosagens
Foi determinada massa específica de 3,527 g/cm3 para o rejeito de minério de ferro. Por ser elevada
em relação a do Cimento Portland utilizado (3,04 g/cm3), justifica matrizes mais densas ao
substituir este aglomerante pelos finos de rejeito. Tal característica, inclusive, garante bons
resultados de resistência a compressão dos microconcretos.
Quanto a dimensão característica e o fator de forma, temos os resultados explícitos na Tabela 3 a
seguir.

Tabela 3: Dimensão característica e fator de forma dos finos de rejeito em comparação com o Cimento Portland
utilizado

Dimensão
Material Característica Fator de forma
D50
FG 40,25 2,7
CP 10,95 1,1
FR 4,691 1,1

Os resultados apresentados, juntamente aos de distribuição granulométrica da Figura 1 abaixo,


garantem o bom empacotamento alcançado na matriz ao se utilizar os três materiais. Fato atrelado
ao arranjo das partículas de diferentes faixas granulométricas. Vê-se também a eficiência da
moagem, tanto das partículas maiores quanto das menores da matéria-prima.
Fig. 1: Distribuição granulometrica dos finos grosseiros e refinados

O fator de forma dos finos mais grosseiros apresentado na Tabela 3, apesar da maior dimensão
máxima característica deste material, causa um aumento no fator água/finos durante a preparação
das misturas com substituição. Entretanto, esse fator diminui com a melhora do empacotamento dos
finos com o aglomerante. A Tabela 4 a seguir demonstra a relação água/finos ótima referente ao
máximo empacotamento determinado para cada mistura.

Tabela 4: Relação água/finos ótima para atingir máximo empacotamento

Relação água finos adotadas


Traço
(% em massa) (% em volume)
Ref 0,30 0,91
0-9-1 0,30 0,92
0-8-2 0,30 0,94
2-7-1 0,26 0,82
2-6-2 0,26 0,84
4-5-1 0,26 0,85
4-4-2 0,26 0,86

Vê-se que apesar do fator de forma lamelar dos finos grosseiros e da alta superfície específica dos
finos mais refinados (por análise da granulometria) ainda há diminuição da relação água/finos nas
misturas com substituição utilizando as duas frações quando comparadas ao traço de referência.
Fato este atrelado à organização ótima das partículas.
4.2 Desempenho mecânico dos microconcretos
Resultados favoráveis foram encontrados nos ensaios de resistência à compressão e flexão como
pode ser observado na Figura 2 abaixo.

Fig. 2: Resultados do ensaio mecânico de compressão em 7 e 28 dias

O melhor resultado encontrado para resistência a compressão foi da amostra 0-8-2 que mesmo com
20% de substituição superou a resistência obtida pelo microconcreto referência. Logo em seguida,
temos os traços 0-9-1 e 2-7-1 que se mostraram muito eficientes e com baixa redução de resistência
em relação à referência. Considerando o elevadíssimo teor de adição dos protótipos que
apresentaram pior resultado no ensaio, ainda tem-se potencial associado a sua utilização.
É possível constatar também, principalmente pelo comportamento do microconcreto 0-8-2, que o
rejeito utilizado possui potencial cimentante suplementar já que garantiu maior resistência à mistura
ao ser adicionado, substituindo 10% de cimento em relação à referência.
Fig. 3: Resultados do ensaio mecânico de tração na flexão em 7 e 28 dias

Ao analisar os valores encontrados para a resistência à tração na flexão, observa-se bastante


coerência com os encontrados para resistência à compressão e ainda maior acréscimo de
ductibilidade nos traços com os maiores teores de substituição.
4.3 Avaliação de sustentabilidade

Tabela 5: Resultados da avaliação de sustentabilidade para cada traço produzido.

Consumo de cimento Intensidade de ligante - bi Consumo de rejeitos


Traço
(kg/m³) (kg/m³/MPa) (kg/m³)
REF. 771,5 8.22 0
0-9-1 693,9 7.53 89.4
0-8-2 614,3 6.36 178.3
2-7-1 556,2 6.30 276.9
2-6-2 472,7 5.85 365.5
4-5-1 392,5 5.74 455.5
4-4-2 313,0 5.96 544.7

De acordo com Damineli [11], o desempenho encontrado para o microconcreto de referência é


satisfatório, justificado pela baixa relação água/cimento e ao grau de empacotamento, que mostra a
eficiência da mistura. Foi determinado ainda, que os desempenhos de todos o traços com
substituição de cimento por finos de rejeito se apresentaram superiores ao de referência
considerando que melhores resultados de ecoeficiência estão associados a menor intensidade de
ligante e maior consumo de rejeitos.

5. CONCLUSÃO
O processo de moagem para obtenção de materiais com diferente granulometria foi muito eficiente
ao produzir os finos utilizados, um com grau de finura maior e outro com grau de finura menor que
o do cimento Portland estudado. Este procedimento foi de suma importância para otimizar a
obtenção do empacotamento dos fillers com o cimento Portland de modo a diminuir a relação
água/finos dos concretos produzidos e aumentar a densidade da matriz.
O alto grau de empacotamento, relação água/finos ótima e densidade elevada da matriz levaram
juntos ao bom comportamento mecânico das misturas produzidas, sendo possível a uma delas (0-8-
2) atingir resultados mecânicos superiores ao microconcreto de referência.
Partindo do objetivo de consumir rejeitos produzindo concretos de alta resistência, tem-se
resultados de alto desempenho quanto à avaliação de sustentabilidade, principalmente nos
microconcretos com maior percentual de substituição. Estes excelentes resultados de ecoeficiência
aliados à alta resistência à compressão encontrada para os protótipos demonstram o grande
potencial de estudo, ampliando assim, a viabilidade de aplicação à produção industrial e os
benefícios tanto à industria de mineração quanto à de contrução em paralelo ao meio ambiente.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq

REFERÊNCIAS
[1] IBRAM. Instituto Brasileiro de Mineração. Informações sobre a economia mineral brasileira 2015. Disponível em:
http://www.ibram.org.br/sites/1300/1382/00005836.pdf. Acesso em: 20 out. 18.
[2] Fontes, W. C., A. C. P. P. Pereira, P. A. Chibli, L. A. C. Bastos, G. J. Brigolini, e R. A. F. Peixoto. 2013.
“Utilização de Rejeito de Barragem de Minério de Ferro como Agregado Reciclado para Argamassas.” X SIMPÓSIO
BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DAS ARMAGASSAS.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5733: Cimento Portland de alta resistência inicial
- Especificações. Rio de Janeiro, 1991.
[4] ASTM. ASTM C 188: standard test method for density of hydraulic cement [S.l.]: American Society for Testing
and Materials, 2016.
[5] ASTM. ASTM C 136: standard test method for sieve analysis of fine and coarse aggregates [S.l.]: American
Society for Testing and Materials, 2014.
[6] KWAN, A. K. H.; WONG, H. H. C. Packing density of cementitious materials: part 2 - packing and flow of OPC +
PFA + CSF. Materiais and Structures, v. 41, p. 773-784, 2008.
[7] ABNT. NBR 7215: Cimento Portland – Determinação da resistência à compressão. Rio de Janeiro: Associação
Brasileira de Normas Técnicas, 1996.
[8] ASTM. ASTM C 348: Standard Test Method for Flexural Strength of Hydraulic-Cement Mortars [S.l.]: American
Society for Testing and Materials, 2014.
[9] ASTM. ASTM C 349: Standard Test Method for Compressive Strenght of Hydraulic-Cement Mortars (Using
Portions of Prisms Bronken in Flexure) [S.l.]: American Society for Testing and Materials, 2014.
[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13279: Argamassa para assentamento e
revestimento de paredes e tetos – Determinação da resistência à tração na flexão e à compressão. Rio de Janeiro, 2005.
[11] DAMINELI, B. L. CONCEITOS PARA FORMULAÇÃO DE CONCRETOS COM BAIXO São Paulo:
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2013.
A IMPORTÂNCIA DA IMPERMEABILIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

The importance of waterproofing in construction

GODOI; Thaliane Neres 1, DIAS, Luciane Sandrini 2


1
UniFAJ - Centro Universitário de Jaguariúna, São Paulo, Brasil, email: thalianegodoi@hotmail.com
UniFAJ - Centro Universitário de Jaguariúna, São Paulo, Brasil

Resumo: Impermeabilização é uma técnica que torna algo impermeável, ou seja, se trata da
aplicação de determinados produtos com a função de proteger as localidades de uma edificação
contra patologias causadas por intempéries ou falhas. É de extrema importância em todas as etapas
da construção, pois garante uma vida útil duradoura e com qualidade na residência. Este artigo tem
como objetivo apresentar as diversas técnicas de impermeabilização e quais são as mais
convenientes, aplicar o conhecimento que foi obtido no decorrer das informações descritas neste
artigo, atingindo então uma edificação impermeável, que evite futuras patologias que geram
incômodo ao(s) futuro(s) morador(es) da edificação.

Palavras-chave: impermeabilização, patologia, proteção.

Abstract: Proofing is a technique that makes something waterproof, namely, it comes to the
application of certain products to protect localities of a building against diseases caused by bad
weather or failures. It is of utmost importance at all stages of construction, as it ensures a durable
and high quality life in residence. This article aims to present the various techniques of
waterproofing and which ate the most convenient, apply the knowledge that was obtained in the
course of the information described in this article, reaching so waterproof construction, to avoid
future pathologies that cause nuisance to the residents of he building futures.

Keywords: waterproofing; pathologies; protection.

1. INTRODUÇÃO
Impermeabilização é a ação de tornar algo impermeável, ou seja, perder a capacidade de
absorção de água. Consiste na aplicação de determinados produtos com a finalidade de proteger as
áreas contra as ações de água, para não gerar infiltração afetando a casa tanto internamente quanto
externamente. Portanto, a impermeabilização tem um intuito de proteger a edificação de diversos
problemas patológicos que podem surgir com a infiltração de ações de água, integradas ao oxigênio
e outros componentes agressivos da atmosfera.

A impermeabilização tem o início desde o projeto, pois é nele que será decidido qual o tipo de
sistema impermeabilizante para cada área da edificação. Deve-se avaliar método de execução e
construtivo, produtividade para se escolher o material adequado para determinada área da
edificação. É uma das etapas mais importantes da construção, porém, na maioria das vezes essa
etapa não recebe a devida importância por falta de informação ou por maiores custos em materiais
impermeáveis. Essa desinformação pode afetar a edificação durante sua utilização, diminuindo sua
vida útil, e o custo do reparo, caso surja algum tipo de patologia, fica maior do que o custo que seria
gasto em materiais impermeáveis durante a construção.

Contudo, deve ser destacado que, é de extrema importância avaliar e adequar à impermeabilização
conforme as necessidades que o projeto da edificação necessita, utilizando os recursos técnicos
precisos para executar a obra com qualidade. É válido ressaltar que a impermeabilização é como
qualquer outro processo da obra é necessária mão de obra e materiais de qualidade, ou seja, não
basta somente possuir as etapas se não as realizar corretamente e com precaução. A seguir, será
explicada detalhadamente a impermeabilização como um todo e como a falta dela pode desvalorizar
uma edificação por completa.

2. IMPORTÂNCIA DA IMPERMEABILIZAÇÃO
Impermeabilização é uma técnica que torna algo impermeável, ou seja, trata-se da aplicação de
determinados produtos com a função de proteger as localidades de uma edificação contra patologias
causadas por intempéries.
Além de possibilitar a devida funcionalidade e prolongar a vida útil da edificação, a
impermeabilização na construção civil, tem a função de proteger a edificação contra patologias
indesejadas que muitas vezes acontecem nas obras, por exemplo, a infiltração de água, ou aos
componentes agressivos da atmosfera, sendo que a maioria dos materiais utilizados em construções
possui um processo de degradação e deterioração, quando expostas às intempéries da atmosfera.
Como dito, a falta de impermeabilização está sendo um dos principais problemas nas construções.
Isso ocorre por conta do desinteresse do responsável pela obra para a execução da mesma. Em
consequência, surgiram muitos casos de infiltração de água, dando início em diversos problemas
patológicos, dentre eles, corrosão de armaduras, fissuras, degradação do concreto e da argamassa,
eflorescência e empolamento e bolhas nas pinturas, gerando altos custos para solucionar devido
problema.
Muitos profissionais da área de construção civil, não utilizam meios de impermeabilização devido
ao custo dos materiais para realizá-la, porém, pesquisas apontam que, realizar os processos de
impermeabilização desde o projeto, há mesmo pouco influência no custo total da obra, caso não
ocorra a mesma desde o início e surja algum problema futuro na edificação, o gasto para a
recuperação e manutenção passa a se tornar muito maior do que se a impermeabilização estivesse
sido realizada desde o início e durante execução da obra, pelo fato de prejuízos com os materiais
que foram atingidos pelo problema e principalmente as consequências e desagrados que
determinada patologia apresenta.
Logo, é muito importante de acordo com as necessidades, avaliar e adequar a impermeabilização de
determinado projeto da edificação, utilizando os recursos técnicos precisos para executar a obra
com qualidade. A impermeabilização é como qualquer outro processo da obra, não basta possuir
apenas as etapas se não as realizar corretamente com mão de obra e materiais de qualidade.
3. ESCOLHA DA IMPERMEABILIZAÇÃO
A escolha do sistema de impermeabilização deve selecionada conforme as necessidades de cada
local. Estas necessidades variam com o contato como sol, frequência de umidade, exposição a
cargas, pressão hidrostática, movimentação da base e extensão da aplicação. As principais diretrizes
para uma boa impermeabilização precisam de: requisitos de desempenho, racionalização
construtiva, adequar a obra ao sistema de impermeabilização, custo compatível e principalmente a
durabilidade do sistema.
A impermeabilização é constituída por várias camadas, então é preciso considerar o custo de ambas
para sua utilização e manutenção, caso for necessário. É preciso considerar devidos parâmetros,
como por exemplo, facilidade de execução, método construtivo e produtividade para a escolha dos
impermeabilizantes relacionados às características de cada obra.
Os sistemas impermeabilizantes estão relacionados à especificação que o projetista deverá
determinar, avaliando todas as áreas que serão impermeabilizadas. Essa determinação especificada
segue algumas restrições: sistema mais apropriado para determinada situação, material
impermeabilizante, resistência do material escolhido, método construtivo e exposição à chuva.

4. PROJETO DE IMPERMEABILIZAÇÃO
A impermeabilização é uma das etapas do projeto que se for realizada corretamente possibilita a
determinada edificação um bom e duradouro rendimento no seu período de utilidade. A mesma
deve ser especificada como qualquer outro projeto da construção, como por exemplo: projeto
arquitetônico, elétrico, hidráulico, entre outros, pois a presença da impermeabilização na obra pode
fazer com que ocorram algumas mudanças na construção.
Neste projeto, é necessário relatar todos os detalhes avaliados para cada necessidade desta obra,
incluindo desde os materiais até sua forma de execução.
Segundo a norma NBR9574, é preciso conter neste projeto: memorial descritivo e justificativo,
especificação dos materiais, desenhos e detalhes específicos, planilha de quantidade de serviços e
estimativa de custo total.
Para adquirir todos estes detalhes, é preciso uma avaliação completa do local para que possa atender
todas as necessidades que o mesmo apresenta e qual será a melhor alternativa para solucioná-lo,
juntamente com o responsável por projetar a obra.
Mas, na maioria das vezes, este projeto de impermeabilização não é realizado no início da obra e os
responsáveis pela impermeabilização são acionados pouco antes da finalização da obra ou até
mesmo quando os problemas já se transformaram em grandes riscos.
Para a realização do projeto, é preciso determinar alguns conceitos. Estes conceitos estão
basicamente ligados com a necessidade de cada ponto da obra, no qual mostra os futuros problemas
que poderão surgir caso seja feito a impermeabilização. É válido destacar: o posicionamento da
camada de impermeabilizantes; de que modo serão distribuídos os impermeabilizantes em cada área
da construção; a espessura da alvenaria necessária para a proteção já incluindo a regularização;
cuidados para a execução dos rodapés; desníveis para a laje e também a listagem dos pontos críticos
dos outros projetos que podem comprometer a impermeabilização, justificando as supostas
alterações no projeto.
É obrigatório seguir todas as recomendações descritas durante a execução da obra e a verificação
dos locais que receberão a impermeabilização estão sendo feitos corretamente, por exemplo, as
estruturas, paredes, lajes e principalmente quanto aos materiais impermeabilizantes, se estão sendo
aplicados corretamente e são de boa qualidade.
As principais vantagens da impermeabilização podem ser classificadas por: unificação de
orçamentos, definição das etapas de execução de serviços, antecipação dos possíveis problemas
patológicos e prevenção, facilidade durante a fiscalização e compatibilidade de todos os projetos da
obra.

5. PATOLOGIAS CAUSADAS POR FALTAS E FALHAS DE IMPERMEABILIZAÇÃO


A impermeabilização tem um papel muito importante na construção civil, sob ela existem alguns
materiais que complementam a edificação, como por exemplo, cimento, argamassas, pisos, tijolos,
pinturas, entre outros. Quando ocorre algum erro na impermeabilização, estes materiais
complementares podem ser totalmente perdidos, dependendo do grau em que a patologia se
encontra, gerando um custo ainda maior com a recuperação do local afetado do que se estivesse
realizado um projeto de impermeabilização.
É necessário que tenha uma fiscalização rigorosa durante a execução da impermeabilização, tanto
da empresa impermeabilizadora como também do responsável pela obra, pois se a mesma não for
realizada corretamente ela perde sua função.
Economiza-se e facilita-se muito mais realizar a impermeabilização durante a execução do que
esperar o término da obra, ou quando surge algum imprevisto por falta da mesma, ou seja, umidade,
manchas, bolores, oxidação das armaduras, deixando determinada área desagradável não atingido
seu objetivo.
Dentre muitas qualidades ligadas a impermeabilização, a mesma contribui para a saúde, pois evita
problemas respiratórios tornando as edificações adequadas exercendo sua utilidade.

Fig. 1 - Porcentagem de investimentos nas edificações. Fonte: RIGHI, 2009, 16p.


(RIGHI, 2009, 16p)
Fig. 2 - Custo da impermeabilização X Quando é executado.
(RIGHI, 2009, 17p)

Através da pesquisa de Antonelli (2002), as falhas no processo de impermeabilização geram


diversas patologias, na figura abaixo são mostradas as causas de infiltrações nas edificações.

Fig. 3 - Principais efeitos de problemas de impermeabilização.


(RIGHI, 2009, 55p)
As falhas no projeto de impermeabilização podem ser dividas em quatro aspectos, ambas são falhas
no projeto, execução, materiais e utilização.
5.2. Falhas no projeto
Causada pela responsável da obra, quem projeta.
• Devido à ausência do projeto de impermeabilização;
• Especificação inadequada
• Falta de dimensionamento e previsões dos coletores pluviais para providenciar o escoamento
das águas;
• Pela intercessão dos outros projetos ligados a edificação;

5.3. Falhas na execução


São causadas por quem realiza a construção de determinada obra.
• Quantidade incorreta de argamassa de regularização, gerando perfuração da
impermeabilização;
• Execução da impermeabilização com a base do local que será impermeabilizado estando
úmida, comprometendo a aderência do material que será utilizado;
• Falhas em emendas;
• Perfuração de mantas;
• Execução da impermeabilização com a base não higienizada;
• Juntas mal travadas;
• Erro na quantidade das camadas dos materiais impermeabilizantes;
• Não respeitar o tempo de cura de cada material, sendo ele impermeabilizante ou não.

5.4. Falha na qualidade dos materiais


Pode ser causada pela má especificação dos materiais no projeto.
• Importunação funcional;
• Importunação na construção;
• Importunação na estrutura;
• Importunação na saúde dos habitantes da edificação;
• Ações na justiça;
• Desavenças com o proprietário e/ou construtor;
• Importunação dos bens internos da edificação;
• Necessidade de recuperação da estrutura;
• Gastos com reparos;
• Desvalorização da edificação.
.

5.5. Falhas na má utilização e/ou manutenção


São relacionadas ao uso incorreto do usuário.
• Danos causados na obra relacionados à colocação de excesso de peso sobre determinada
área impermeabilizada;
• Troca de pisos;
• Perfuração da impermeabilização após ser instalados varais, antenas, grades, entre outros;
• Colocação de floreiras de modo a gerar penetração de água no rodapé impermeabilizado.

Em algumas obras a impermeabilização pode ser bem executada, mas podem existir falhas na
concretagem ou até na má colocação do revestimento, comprometendo então, toda a área que foi
impermeabilizada sendo necessária a reconstrução de determinada área. Quando isto ocorre, não é
possível evitar patologias, pois a impermeabilização está exposta às intempéries.
A umidade é uma das principais preocupações nas edificações, é a que mais acontece na construção
civil. A mesma gera manchas, goteiras, mofo, ferrugem, apodrecimento, eflorescências, entre
outros, que conforme o tempo e vida útil da edificação deterioram os materiais afetando diretamente
a obra.

6. RESULTADOS ESPERADOS
No decorrer desta pesquisa, foi detalhado como acrescentar a impermeabilização nas obras da
engenharia civil. Nos dias atuais, percebemos que ocorrem muitas falhas na construção, por conta
da falta de proteção, seja ela nas fundações, estruturas, paredes, lajes, entre outros. Uma edificação
realizada sem nenhuma proteção, ao decorrer do tempo gera patologias (falhas/problemas), sendo
elas, trincas, infiltrações, umidades, perca de resistência, desmoronamentos, entre outros, e muito
incômodo e gastos ainda maiores a quem utiliza a edificação, pois será necessário uma reforma no
local afetado. O material que foi danificado por essas patologias deve ser imediatamente retirado e
substituído por novos materiais junto com impermealizantes escolhidos pelo responsável técnico da
obra. Por isso, é recomendado que seja feito um projeto de impermeabilização antes de dar o início
a determinada obra, pois ela estará totalmente protegida e não haverá futuras preocupações, desde
que todas as etapas sejam realizadas de fato como está descrito no projeto.
Este projeto deve ser feito através do projeto arquitetônico da edificação, para avaliar quais são os
pontos críticos que deverão receber essa proteção. Sendo assim, se deve seguir os dados descritos,
cumprindo as necessidades de cada local, juntamente com o andamento da obra.
A impermeabilização na construção resulta em uma edificação protegida e qualificada durante sua
utilização, evitando diversos problemas patológicos desagradáveis ao morador. Embora a
impermeabilização seja uma das etapas mais importantes da contrução, ela ainda não é executada
como deveria, por isso ocorre com muita frequência na construção civil problemas por falta dela.

REFERÊNCIAS
ARANTES, Y. k. Monografia apresentada no curso de especificação em Engenharia Civil. 67 p, 2007.
Ebah, disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAASD8AK/impermeabilizacao?part=6
Acesso em: 06, março de 2018.
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento da Arquitetura Fórum da Construção, disponível em:
http://www.forumdaconstrucao.com.br/conteudo.php?a=20&Cod=163 Acesso em: 08, março de 2018.
MELLO, L. S. L. Trabalho de conclusão de curso. 54 p, 2005.
Portal Metálica Construção Civil, disponível em: http://wwwo.metalica.com.br/sistemas-de-impermeabilizacao-na-
construcao-civil - Acesso em: 10, março de 2018.
RIGHI, G. V. Estudos dos sistemas de impermeabilização: patologias, prevenções e correções análise de casos. 95
p, 2009.
SILVA, A. Apostila Universidade Católica de Pernambuco. 9 p, 2004.
SOARES, F. Projeto de Graduação. 127 p, 2014.
SOLO SEDIMENTAR ESTABILIZADO COM CAL E CIMENTO: ESTUDO
COMPARATIVO DA INFLUÊNCIA DOS VAZIOS E DA POROSIDADE NA
RESISTÊNCIA À TRAÇÃO
Sedimentary soil stabilized with lime and cement: comparative study of influence of
voids and porosity on splitting tensile strength

Jair BALDOVINO*1, Ronaldo IZZO2, Mirian PEREIRA3, Eduardo ROCHA4 e Felipe PERRETTO5
1 Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, yaderbal@hotmail.com
2
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, izzo@utfpr.edu.br
3
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, miriandayane@gmail.com
4
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, eduardog.rocha@hotmail.com
5
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, Brasil, fperretto@utfpr.edu.br

Resumo: O presente artigo avalia o desenvolvimento da resistência à tração por compressão


diametral (qt) de um solo siltoso da Formação Guabirotuba de Curitiba/BR cimentado
artificialmente ao longo de 28 dias. Para isso, dois aglomerantes foram utilizados: a cal e o cimento.
A cal utilizada foi hidratada tipo dolomítica e o cimento foi de alta resistência inicial, adicionados
em porcentagens de 3, 5, 7 e 9% em referência à massa seca do solo. Corpos de prova de 50 mm de
diâmetro e 100 mm de altura foram moldados com os diferentes teores de cal (L), diferentes teores
de cimento (C), diferentes porosidades (η), diferentes pesos específicos secos aparentes (γd),
umidades de moldagem (ω) entre 20 e 23% e submetidos a tração indireta em condições de
saturação. Foi usada a relação vazios/cal (η/Liv) e vazios/cimento (η/Civ) representada pela relação
porosidade/teor volumétrico de aglomerante (η/Biv) para avaliar o desenvolvimento de qt além de
variáveis como L, C e η e sua influência sobre qt. Os resultados demonstram um crescimento da
resistência com o aumento do teor de cal e cimento e com a diminuição dos vazios (isto é, maior
peso específico seco e menor η). Em termos de adição, a mistura solo-cimento desenvolveu maior
resistência à tração que a mistura solo-cal em 15%. Finalmente, uma equação de dosagem para qt do
solo estudado e misturado com cal e cimento foi calculada com o uso da relação η/Biv ajustada a um
exponente de 0.20 para o cimento e cal obtendo uma aceitação de 95% e um erro médio de 4%.

Palavras-chave: Estabilização de solos, porosidade-aglomerante, resistência à tração.

Abstract: The present article evaluates the development of splitting tensile strength (qt) of a silty
soil of the Guabirotuba Formation of Curitiba/BR artificially cemented for 28 days. For this, two
binders were used: lime and cement. The lime used was hydrated dolomitic type and the cement
was of high initial strength, added in percentages of 3, 5, 7 and 9% in reference to the dry mass of
the soil. 50 mm diameter and 100 mm high specimens were molded with different lime (L)
contents, different cement contents (C), different porosities (η), different apparent specific dry
weights (γd), molding moisture (ω) between 20 and 23% and subjected to split tensile tests under
saturation conditions. The ratio of voids/lime (η/Liv) and voids/cement (η/Civ) represented by the
porosity/volumetric ratio of binder (η/Biv) was used to evaluate the development of qt in addition to
variables such as L, C and η and its influence on qt. The results demonstrate increased strength with
increasing lime and cement content and decreasing voids (i.e., higher dry unit weight and lower η).
In terms of addition, the soil-cement blend developed greater tensile strength than the soil-lime
mixture by 15%. Finally, a dosing equation for qt of the soil studied and mixed with lime and
cement was calculated using the η/Biv ratio adjusted to an exponent of 0.18 for lime and of 0.40 for
the cement obtaining an acceptance of 95% and an average error of 4%.

Keywords: soil stabilization, porosity-cement, mechanical resistance.

1. INTRODUÇÃO

Os solos de granulometria fina às vezes apresentam problemas quando são empregados para
construção de camadas de pavimentos, fundações superficiais e proteção de encostas e taludes, o
que se converte em um transtorno quando, em cidades como Curitiba-sul do Brasil, a maioria dos
solos da formação geológica local (Guabirotuba) são de granulometria fina, expansivos, e de baixa
capacidade de carga. Por este motivo, a maioria dos solos dessa região não podem ser empregados
para o desenvolvimento da infraestrutura física da cidade, o que é um imbróglio para os
construtores e para a economia da cidade já que se deve trazer materiais de outros locais da região
aumentando o orçamento das obras civis. O tratamento destes solos com o uso de agentes
cimentantes, vem sendo uma técnica bastante empregada na engenharia geotecnia porque melhora o
solo para as condições de uso mencionadas anteriormente. Recentemente Baldovino et al. [1]
estudou os efeitos da adição de cal hidratada em um solo siltoso da região metropolitana de Curitiba
em diferentes tempos de cura, conseguindo obter resistência à compressão simples máxima de 1300
kPa com 9% de adição de cal depois de 90 dias de cura na energia de compactação normal.
Contudo, na maioria das vezes não é possível esperar tanto tempo para liberar a utilização de obras
de engenharia como pavimentos e por isso é indispensável dispor de agentes cimentantes adicionais
como o cimento que possam proporcionar resistências altas em menor tempo. Mesmo que a cal seja
economicamente mais viável que o cimento, as vezes diminuir o tempo de ganho de uma resistência
desejada pode equilibrar os custos de construção. Assim, este estudo tem como objetivo comparar a
resistência à tração desenvolvida por um solo sedimentar estabilizado com cal e cimento. Além
disso, a influência dos vazios e da porosidade são avaliadas em termos dos teores volumétricos de
cal e cimento sobre qt.

2. PROGRAMA EXPERIMENTAL

O programa experimental foi dividido em duas etapas: a primeira foi a realização dos ensaios de
caracterização do solo, da cal e do cimento: granulometria do solo de acordo à norma americana
ASTM D2487 [2], limites de Atterberg do solo de acordo às normas brasileiras NBR 7180 [3] e
NBR 6459-84 [4], a massa especifica real dos grãos do solo de acordo à norma ASTM D854 [5] e a
massa especifica real dos grãos dos tipos de cimento e da cal de acordo à norma brasileira NBR
16605 [6]; e a segunda, consistiu-se na moldagem, cura e rompimento dos corpos de prova solo-cal
e solo-cimento submetidos a ensaios de tração por compressão diametral.

2.1. Materiais
Um solo siltoso da Formação Guabirotuba, cal hidratada dolomítica, cimento de alta resistência
inicial (ARI) CP V e água destilada foram os materiais utilizados na pesquisa. A amostra de solo foi
coletada no município Fazenda Rio Grande, próximo da cidade de Curitiba (Brasil), de maneira
manual em estado deformado, evitando uma possível contaminação e em quantidade suficiente para
a realização de todos os ensaios. A cal hidratada dolomítica usada é produzida no município
Almirante Tamandaré (Paraná) e foi fornecida por um produtor local. Por último, O cimento CPV
foi fornecido pelo Laboratório de Materiais da UTFPR.
A Figura 1 mostra a curva granulométrica do solo e a Tabela 1 apresenta as propriedades físicas do
mesmo. O solo é maiormente formado por silte (57.6%) e areia fina (25.9%). Segundo o Sistema
Unificado de Classificação de Solos, o solo é classificado como um silte arenoso (MH) com índice
de plasticidade médio de 21.3%. A Tabela 2 apresenta a composição química do solo determinada
com Fluorescência de Raios-X, o solo tem alta presença de sílica e alumina, componentes essenciais
para estabilização química e geo-polimerização.
A Tabela 3 mostra as propriedades físicas e químicas do cimento. As propriedades químicas foram
fornecidas pelo produtor e as físicas foram calculadas no laboratório. De acordo à Tabela 3 o
cimento CP V tem uma massa específica (Gsc) de 3.11.
A Tabela 4 apresenta as propriedades da cal. A cal tem uma densidade especifica (GsL) de 2.39 e uma porcentagem de finos
de 91% passantes pelo diametro 0.002 mm.

100
90
80
Porcentagem passante (%)

70
60
50
40
30
20
10
0
0.001 0.01 0.1 1 10 100
Tamanho dos grãos (mm)
Fig. 1- Curva granulométrica do solo

Tabela 1- Propriedades físicas do solo


Propriedade Valor
Limite liquido 53.1%
Índice de plasticidade 21.3%
Massa especifica real dos grãos 2.71
Brita (4.75 mm <  < 19 mm) 0%
Areia grossa (2.0 mm <  < 4.75 mm) 0%
Areia média (0.425 mm<  <2.0 mm) 7.5%
Areia Fina (0.075 mm <  < 0.425 mm) 25.9%
Silte (0.002 mm <  < 0.075 mm) 57.6%
Argila ( < 0.002 mm) 9.3%
Diâmetro médio (D50) 0.025 mm
SUCS Classificação MH

Tabela 2- Composição química do solo

Composto Concentração (%)

SiO2 53.12
Al2O3 24.30
Fe2O3 10.46
CaO 0.03
MgO 0.28
K2O 0.39
Na2O 0.02
TiO2 1.37
MnO 0.17
P2O5 0.22
Perda ao fogo 9.64

Tabela 3- Algumas propriedades do cimento


% MgO % SO3 % % Resíduo Resistência à % Finos GSC
CaO insolúvel compressão 28-d
(MPa)
4.11 2.99 60.73 0.77 53.00 0.04 3.11

Tabela 4- Propriedades da cal


Propriedade Valor
Gravidade específica dos grãos- GsL 2.39
Cal ( < 0.002 mm) 91%

2.2 Pontos de moldagem, teores de cimento e tempo de cura


A Tabela 5 apresenta as condições de moldagem dos corpos de prova solo-cal e solo-cimento. Para
estudar os efeitos do volume de vazios na resistência à compressão foram estabelecidos
estrategicamente condições de moldagem próximas às condições em campo. Assim, para as
misturas solo-cimento o valor da umidade de moldagem foi fixado em 23% e a densidade de
moldagem foi variada entre 13.10 e 15.10 kN/m3. Para as misturas solo-cal, o valor do teor de
umidade foi variado entre 20 e 28.5% e a densidade entre 13.80 e 16.15 kN/m3. De acordo à
experiência brasileira [1,7], os teores de cal/cimento foram escolhidos como 3,5,7,9% em referencia
à massa seca do solo.

Tabela 5- Pontos de moldagem par as misturas solo-cal e solo cimento


Pontos de moldagem γd (kN/m3) ω (%) Mistura
A1 15.10 23 Solo-cimento
A2 14.43 23
A3 13.77 23
A4 13.10 23
A1 13.80 28.5 Solo-cal
A2 15.10 22.8
A3 16.15 20.0

2.4. Preparação dos corpos de prova e os ensaios de resistência mecânica


A bateria de ensaios de resistência à tração por compressão diametral foi dividida em dois grupos.
O primer grupo foram os corpos de prova estabilizados com cal hidratada e moldados nos pontos
relacionados na Tabela 5. O segundo grupo correspondeu aos corpos de prova estabilizados com
cimento.
Para os ensaios tração por compressão diametral foram moldados corpos de prova de 100 mm de
altura e 50 mm de diâmetro. Depois da coleta em campo, o solo foi seco, totalmente, em estufa à
temperatura de 100±5°C, e colocado em porções uniformemente distribuídas para ser misturado
com a cal e o cimento. Adicionou-se a quantidade de cal ou cimento seco com referência ao peso
seco da amostra de solo em quatro teores diferentes de adição (3, 5, 7 e 9%). Realizou-se a mistura
do solo com a cal/cimento de modo que a mistura ficasse a mais homogênea possível. Em seguida,
foi adicionada uma porcentagem de água em peso, sendo esta porcentagem referente ao teor de
umidade dos pontos de moldagem estabelecidos na Tabela 5. A mistura do solo-cal/solo-cimento
com a água destilada foi realizada em um período não superior a 5 minutos, com isto tentando
minimizar as reações com a água antes do processo de moldagem dos corpos de prova. As amostras
para a moldagem dos corpos de prova foram compactadas estaticamente em três camadas com um
molde de aço inox com diâmetro interno de 50 mm, altura de 100 mm e espessura de 5 mm, nas
condições de compactação mostradas na Tabela 5. A primeira e segunda camada eram
escarificadas. Para assegurar o peso específico seco aparente.
Foi realizado o cálculo do volume do molde e do peso de mistura úmida (dividida em três partes)
necessários para cada corpo de prova. Após esses cálculos, foi pesada a quantidade necessária de
material para cada corpo de prova. A moldagem foi feita com a ajuda de uma prensa hidráulica
manual. Depois de cada processo de moldagem, três amostras da mistura eram tomadas para medir
o teor de umidade em estufa a 100±2°C durante 24 horas.
Os corpos de prova foram pesados em uma balança de precisão de 0.01 g e as dimensões do
mesmo eram medidas com o uso de um paquímetro de 0.1 mm de erro. Os corpos de provas
extraídos de seus moldes foram envolvidos com plástico filme transparente para manter o teor de
umidade. Por último, os corpos de prova foram armazenados em câmara úmida para processo de
cura durante 27 dias (a temperatura média de 23±2°C) para prevenir mudanças significativas de
umidade até o dia do ensaio. As amostras tinham que respeitar os seguintes erros máximos para
serem usadas nos ensaios de tração: dimensões das amostras com diâmetro de ±0.5 mm e altura de
±1 mm, peso específico aparente seco (γd ) de ±1% e teor de umidade () de ±0.5% [1,8-9]. Para
cada ponto de moldagem e teor de cal/cimento foram moldados 3 corpos de prova.
Os corpos de prova eram imersos em um tanque com água destilada durante 24 horas antes do
ensaio para garantir a sua saturação e evitar com isto a influência da sucção na resistência como
feito em estudos prévios [10-11]. Depois da imersão, eram secados superficialmente com um pano
seco. Assim, todas as amostras foram curadas em um total de 28 dias.
Para a realização dos ensaios de tração foi usada uma prensa automática com capacidade de 30
kN. Os ensaios foram feitos com um sistema automatizado, medindo, principalmente, a força
aplicada e a deformação com uma sensibilidade de 0.01 mm, sendo a velocidade do ensaio de 1.15
mm/min. Adota-se a resistência à tração (qt) de acordo com a seguinte expressão, quando, no ensaio
a curva tensão-deformação axial, alcança-se um pico máximo:

2PR
qt = (1)
πDH

Onde PR é a carga de ruptura no pico da curva tensão-deformação diametral, D e H são o


diâmetro e a altura do corpo de prova, respectivamente. Os procedimentos dos ensaios de
resistência à tração (qt) seguiram a norma americana ASTM C496-96 [12] baseada norma brasileira
NRB 7222 [13].

3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1 Influência do teor de cimento/cal e porosidade na resistência

A Figura 2 apresenta os efeitos da adição de cimento e da porosidade inicial de moldagem (η) das
misturas solo-cimento na resistência à tração depois de 28 dias de cura. Nota-se, primeiramente, um
acréscimo no valor da tensão devido ao aumento da quantidade de cimento adicionada. O valor da
tração aumenta quando aumenta também o valor da densidade de moldagem. Da mesma maneira, a
Figura 3 mostra os resultados da tração indireta das misturas solo-cal influenciadas pela quantidade
de cal (Fig. 3a) e pela porosidade inicial de moldagem (Fig. 3b).
Comparando os efeitos da adição do teor de cal/cimento e da densidade de moldagem em qt (Figs.
2a e 3a), nota-se que as misturas solo-cimento alcançaram maiores resistências com a adição de
menor quantidade de aglomerante. Este resultado pode ser claramente visto para o ponto de
moldagem de d=15.10 kN/m3 onde a mistura solo-cal (A2) alcança valores qt de 300 kPa para
L=9% enquanto para a mistura solo-cimento nessas mesmas condições de moldagem (A1) alcança
valores em resistência de 550 kPa, sendo um aumento de 83% no valor de qt.
Para a mistura solo-cimento uma diminuição de 7 pontos porcentuais (Fig.3b) significou um
aumento de 200 kPa em qt e para a mistura solo-cal essa mesma diminuição nos vazios significou
um aumento de 190 kPa. Assim, o aumento na resistência à tração das misturas esteve determinado
principalmente pelo tipo de aglomerante utilizado enquanto a diminuição da porosidade
proporcionou uma maior capacidade de distribuição de tensões no interior dos corpos de prova, de
mesmo modo que a maior capacidade de mobilização do atrito nas porosidades mais baixas também
contribui para o ganho de resistência à tração do material. Assim, independentemente da quantidade
de cal ou cimento utilizada, a redução na porosidade do material promove ganhos consideráveis de
resistência à tração por compressão diametral [14]. A melhor maneira de representar os valores de
tração influenciados pela quantidade de cal/cimento e porosidade foi a través de uma curva de
regressão linear como visto nas Figs. 2-3. Essa regressão significar que o ganho de resistência
devido ao aumento de aglomerante ou diminuição dos vazios (independente da densidade) é sempre
proporcional.

700 700
C=9%
600 A1 600
C=7%

500
A2
A3 a) 500
b) C=5%

A4 C=3%
400 400
qt (kPa)

qu (kPa)

300 300

200 200

100 100

0 0
2 3 4 5 6 7 8 9 10 43 45 47 49 51 53
Cimento, C (%) Porosidade, η (%)

Fig. 2- (a)Influência do teor de cimento na resistência à tração por compressão diametral (qt). (b)Influência da porosidade
inicial dos corpos de prova solo-cimento na resistência à tração por compressão diametral (qt) aos 28 dias de cura.
700

700 L=3%
600
L=5%
600 A1
a) b) L=7%
500
500 A2 L=9%
400
qt (kPa)

A3
qt (kPa)

400

300 300

200 200

100
100

0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 0
38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
Teor de cal, L (%)
η (%)
Fig. 3- (a)Influência do teor de cal na resistência à tração por compressão diametral (qt). (b)Influência da porosidade inicial
dos corpos de prova solo-cal na resistência à tração por compressão diametral (qt) aos 28 dias de cura.

3.2 Influência do índice vazios/aglomerante na resistência

A Figura 4 apresenta a influência da relação porosidade/aglomerante (η/Biv) na resistência à tração.


Os parâmetros η e Biv exercem uma influência de mesma magnitude, ou seja, variações
proporcionais que mantêm o valor da resistência à tração constante. Nota-se um crescimento
potencial de qt para ambas misturas, solo-cal e solo-cimento, dependentes de η/Biv. Os acréscimos
estão representados pelas equações 2-3 para solo-cal e solo cimento, respectivamente:

η -1.32
𝑞𝑡 =5173.8 [ ] (𝑅 2 = 0.80) (2)
(𝐿iv )1

η -0.95
𝑞𝑡 =4620.8 [ ] (𝑅 2 = 0.83) (3)
(𝐶iv )1
A relação η/Biv é definida em relação aos vazios da mistura solo-aglomerante e do volume de
aglomerante utilizado na mistura nas condições iniciais de moldagem definidos previamente na
Tabela 5. Calcula-se a porosidade como uma condição inicial da matriz solo-cimento/solo-cal em
um peso específico seco γd pré-estabelecido e um teor de umidade desejado. Assim, a resistência
mecânica da matriz solo-aglomerante pode dar-se como uma relação direta da porosidade dos
corpos de prova assim como também como uma função do inverso do teor volumétrico de
aglomerante (1/Biv), assim como foi demostrado em estudos prévios [15-16].
O teor volumétrico do aglomerante pode tomar o nome de teor volumétrico de cimento (Civ) e cal
(Liv), quando pertinente. As Eqs. 2-3 obtiveram ajustes de 0.80 e 0.83, respectivamente. Assim, a
relação η/Biv não foi totalmente compatível e não tiveram uma relação direta. Para encontrar uma
relação direta e compatível entre η e Biv como uma razão matemática, e, converter as duas variáveis
em uma dependência para qt, o valor de Biv se deve ajustar a um expoente entre 0.01 e 1.00 com
variações de 0.01 tal e como é feito na literatura atual [8,15]. Desta maneira, o valor de B que
melhor se ajustou aos valores de qt para o presente programa experimental foi de 0.20.O valor de
0.20 significa que a influência da porosidade (η) e dos vazios da mistura solo-aglomerante exerce
maior atuação na resistência à tração indireta qt, do que o teor volumétrico de aglomerante, de tal
forma que um aumento na porosidade necessita de um incremento proporcionalmente maior no teor
de aglomerante, a fim de compensar o aumento dos vazios devido à falta de compactação e manter a
resistência constante [17]. Assim, a Figura 5 apresenta a influência da relação porosidade/teor
volumétrico de aglomerante (ajustado em 0.20) sobre a resistência qt para ambas misturas, solo-cal
e solo-cimento. Usando o expoente de 0.20 as Eqs. 2-3 passaram a ter ajustes de R2=0.95 e erro
porcentual absoluto médio (mean absolute percentage error-MAPE) como visto nas Eqs. 4-5:

η -4.82
6
𝑞𝑡 =4440•10 [ ] (𝑅 2 = 0.95) (4)
(𝐿iv )0.20

η -4.06
𝑞𝑡 =910•106 [ ] (𝑅 2 = 0.95) (5)
(𝐶iv )0.20
600
Solo-cal
qt= 5173.8 (η/Liv)-1.32 (R2=0.80)
500
(MAPE=22%)
400 Solo-cimento
qt= 4620.8·106 (η/Civ)-0.95 (R2=0.83)
qt- kPa

300
(MAPE=20.5%)

200

100

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Porosidade/aglomerante (η/Biv)

Fig. 4- Influência da relação porosidade/aglomerante na resistência à tração por compressão diametral das misturas solo-
cal/solo-cimento aos 28 dias de cura

600

500
Solo-cal
qt= 4440·106 (η/Liv0.20)-4.82 (R2=0.95)
400
MAPE=4.2%
qt- kPa

300
Solo-cimento
200 qt= 910·106 (η/Civ0.20)-4.06 (R2=0.95)
MAPE=3.9%
100

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Porosidade/aglomerante- ajustado em 0.20 (η/Biv0.20)

Fig. 5 - Influência da relação porosidade/aglomerante ajustado em um expoente de 0.20 na resistência à tração por
compressão diametral das misturas solo-cal/solo-cimento aos 28 dias de cura
As Eqs. 4-5 representam o crescimento potencial da resistência das misturas solo-cal e solo-
cimento, respectivamente. Estas equações podem tomar-se como funções para dosar qualquer
mistura estabilizada dentre os limites de moldagem estabelecidos na Tabela 5.

3.3 Normalização das resistências

3.5

Solo-cal
3
Solo-cimento
2.5
qt- kPa

1.5

1
qt/qt-normalizado em η/Biv0.20= 910·106 (η/Biv0.20)-4.06

0.5 (R2=0.95) (MAPE=4%)

0
0 10 20 30 40 50
Porosidade/aglomerante-ajustado em 0.20 (η/Biv0.20)
Fig. 6- Normalização da resistência à tração por compressão diametral (qt) [para toda a faixa de η/B iv0.20] dividida qt em
η/Biv0.20 =35 considerando a resistência do solo siltoso tratado com cimento e cal, usando 28 dias de cura e teores de umidade
de moldagem mostrados na Tabela 5.

Usa-se a normalização (divisão) das resistências para encontrar uma equação capaz de estimar qt em
função de η/Biv normalizado em uma tendência potencial única usando as Eqs. 4-5. Segundo [18],
para encontrar uma equação de estimativa de solos siltosos/argilosos estabilizados com cimento e
cal com o uso da relação η/Biv, primeiro se deve determinar todas as resistências de normalização
com o uso de um valor particular de η/Biv B = ∆ para cada variável das quais dependem as
resistências (neste caso, o tipo de aglomerante utilizado). O valor particular de ∆ para normalizar
pode ser escolhido do range reportado na presente pesquisa entre 27 e 50 (Ver Figura 5). Assim,
para o presente trabalho foi escolhido o valor de η/Civ 0.20 = ∆ =35. O número ∆ =35 é substituído
nas Equações que controlam qt (Eqs.4-5) para calcular as resistências de normalização para cada
tipo de aglomerante. As resistências de normalização para qt-normalizado em 35 são 160 e 490 kPa para
solo-cal e solo-cimento, respectivamente. Depois de realizar o cálculo das resistências de
normalização, devem-se normalizar as resistências sobre os valores reportados de tração indireta,
que resulta em dividir o valor de resistência à tração de cada corpo de prova pelo valor da
resistência de normalização correspondente. Esta divisão fornece uma relação entre qt experimental
e qt-normalizado em 35 como mostrado na Figura 6.
A Figura 6 também mostra que em condições normalizadas, a resistência à tração também tem um
comportamento potencial crescente com o aumento da quantidade de cal/cimento ou com o
aumento da densidade de compactação das amostras e que segue a forma da seguinte equação:

η -4.35
𝑞𝑡 /𝑞𝑡−𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙𝑖𝑧𝑎𝑑𝑜 𝑒𝑚( 𝜂 =4.5•106 [ ] (𝑅 2 = 0.95) (6)
𝐵𝑖𝑣^0.20
=35) (𝐵iv )0.20

A Eq. 6 tem um erro de 4% dos valores estimados sob os valores experimentais. Dá-se essa alta
aceitação dos resultados devido ao valor de 0.20 que fornece maiores ajustes aos valores de tração
dependente do índice porosidade/teor de aglomerante como visto nas Eqs. 4-5 que passaram de ter
erros de aceitação de 20% (Ver Eqs. 2-3 e Figura 4) a erro médio de 4% (Figs. 5-6).

3. CONCLUSÕES

De acordo à metodologia, apresentação e análise dos resultados as seguintes conclusões podem ser
ofertadas:
- Tanto as misturas solo-cimento e solo-cal tiveram um aumento na resistência à tração indireta com
o aumento da quantidade de aglomerante adicionado e com o aumento da densidade de moldagem
durante a compactação das amostras.
-Em termos de vazios, a porosidade teve a mesma influencia tanto para solo-cal como para solo-
cimento pelo que a tração se viu principalmente influenciada pelo tipo de aglomerante (cal ou
cimento), sendo que as maiores resistências foram desenvolvidas pelo cimento devido a seu alto
conteúdo de óxido de cálcio.
-A relação porosidade/teor volumétrico de aglomerante mostrou-se um índice eficaz para estimar a
resistência à tração de todas as misturas quando ajustado a um expoente de 0.20.
-A relação porosidade/teor volumétrico de aglomerante ajustado em 0.20 permitiu obter coeficientes
de determinação maiores a 0.90 e erros de aceitação de 4% das equações que controlaram a
resistência das misturas solo-cal e solo-cimento.

AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer o apoio da CAPES, CNPq e Fundação Araucária do Paraná.

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Stabilized Soils. J Mater Civ Eng 2009;21:210–6.
[16] HENZINGER C, SCHUHMACHER SA, FESTUGATO L. Applicability of the Porosity/Binder Index to
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[17] LEON H. The index porosity/volumetric content of cement (η/Civ) as a state parameter for cemented
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[18] CONSOLI NC, VAZ FERREIRA PM, TANG CS, VELOSO MARQUES SF, FESTUGATO L, CORTE MB.
A unique relationship determining strength of silty/clayey soils – Portland cement mixes. Soils Found
2016;56:1082–8.
A GESTÃO DE RISCOS COM O APLICATIVO ÁLEA PARA O
DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS NOS MUNICÍPIOS

Risk management.with Álea application to public policies in counties

Jordan H. de Souza1, Gislaine dos Santos2, Marcelo C. Renhe3, Ana C. M. M. de Toledo4, Bruno E.
de O. Brugnara5

1
Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Brasil, jordan.souza@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Brasil, gislaine.santos@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Brasil, marcelo.caniato@gmail.com
4
Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Brasil,carolina.marini@engenharia.ufjf.br
5
Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora, Brasil, bruno.brugnara@engenharia.ufjf.br

Resumo: Uma gestão de riscos abrangente deve compreender a percepção e análise do perigo, a
divulgação da informação, além do suporte gerencial. A análise de riscos geotécnicos compreende
estimativas da probabilidade de ocorrência de instabilização, assim como suas consequências e
prejuízos. Afim de mitigar danos em decorrência de inundações, a gestão do risco hidrológico atua
na redução da exposição, da vulnerabilidade e da ameaça. São reconhecidas como áreas suscetíveis,
aquelas passíveis de serem atingidas por fenômenos ou processos naturais e/ou induzidos que
causem efeito adverso. Nesse sentido, este trabalho almeja desenvolver um Modelo de Gestão de
Riscos baseado em modelagem matemática com dados georreferenciados e propiciar ações de
Políticas Públicas no âmbito da Proteção e Defesa Civil. Inicialmente foram realizadas práticas em
geoprocessamento, além da atualização da ficha de caracterização de riscos do Instituto de
Pesquisas Tecnológicas (IPT) proposta em 2007 e adaptação do cálculo do Índice de Unidade de
Resposta (IUR) desenvolvido em 2015. A partir desse estudo, foi desenvolvido um Modelo de
Gestão de Riscos por meio de um sistema de informações que possui uma base de dados
georreferenciada e está em fase de aplicação. O sistema Álea possui informações dos
condicionantes físicos e antrópicos relacionados ao risco geotécnico necessários à análise in loco,
visando a prevenção, preparação, assistência nas comunidades afetadas e auxiliando as equipes a
obter dados mais precisos em menor tempo. Um curso na modalidade à distância, com intuito de
capacitar gestores públicos e inserir o aplicativo na comunidade foi estruturado. O Álea se apresenta
como uma ferramenta que integra e aprimora as principais funcionalidades de um modelo de gestão
de riscos a partir de uma estrutura de banco de dados e informações que possibilitam ações de
Proteção e Defesa Civil e tomadas de decisões das autoridades competentes, auxiliando a redução
de perdas humanas e materiais. Os dados armazenados na plataforma podem ser usados pelas
coordenadorias municipais de Proteção e Defesa Civil, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, para a
manutenção e criação de políticas públicas relacionadas à gestão de riscos, como por exemplo,
evitar a ocupação de áreas de risco, monitorar as já habitadas e ser um recurso de alerta e alarme.

Palavras-chave: aplicativo, gestão de risco, mapeamento.

Abstract: A comprehensive risk management should include the hazard perception and analysis,
information dissemination, and management support. The geotechnical risk analysis includes
estimates of the probability of instabilization occurrence, as well as its consequences and losses. In
order to mitigate flood damage, the hydrological risk management acts to reduce the exposure, the
vulnerability and the threat. Are recognized as susceptible areas those likely to being affected by
natural and/or induced phenomena or processes that cause adverse effects. In this sense, this work
aims to develop a Risk Management Model based on mathematical modeling with georeferenced
data and to provide public policy actions in the scope of Civil Protection and Defense. Initially,
geoprocessing practices were carried out, as well as the updating of the risk characterization form of
the Instituto de Pesquisa e Tecnologia (IPT) proposed in 2007 and adaptation of the Índice de
Unidade de Resposta (IUR) calculation developed in 2015. Based on this study, a Risk Management
Model was developed through an information system that has a georeferenced database and is in the
application phase. The Álea system has information on the physical and anthropic constraints
related to the geotechnical risk necessary for on-site analysis, aiming at prevention, preparation,
assistance in affected communities and helping teams to obtain more accurate data in a shorter time.
A course in the distance modality, in order to train public managers and insert the application in the
community was structured. Álea presents itself as a tool that integrates and enhances the main
functionalities of a risk management model based on a database structure and information that
enables Civil Protection and Defense actions and decisions making by the competent authorities,
helping to reduce human and material losses. The data stored on the platform can be used by
municipal coordinators of Civil Protection and Defense, Fire Brigade, Military Police, for the
maintenance and creation of public policies related to risk management, such as avoiding
occupancy of risk areas, monitor the already inhabited ones and be an alert and alarm feature.

Keywords: application, risk management, mapping.

1. INTRODUÇÃO
A urbanização consiste no processo de transformação do espaço geográfico qualquer em um local
de práticas coletivas que caracterizam a vida em uma cidade. Do ponto de vista estratégico, o mais
interessante para países que passam por um intenso processo de urbanização é o desenvolvimento
de um planejamento que norteie a ocupação desses novos ambientes de tal forma que a sociedade
que ali se estabeleça, desfrute de conforto e segurança. Porém, levando em conta a ineficiência das
políticas públicas e a desorganização do Estado, essa estratégia não se aplicou no Brasil (assim
como em outros países subdesenvolvidos) e o processo foi se desenvolvendo de forma caótica e
desordenada, durante décadas e até mesmo séculos.
Nesse ambiente passível de problemas, uma vez carente de um direcionamento de infraestrutura ou
até mesmo de informações acerca das áreas ocupadas, surge a necessidade de se propor mecanismos
que, ainda que paliativos, sejam capazes de fornecer a segurança e bem estar requisitados pela
população.
Como ferramenta de identificação e controle das áreas de risco, surge a gestão de riscos geotécnicos
e hidrológicos. E com a missão de mitigar consequências, eliminar situações de perigo e auxiliar a
comunidade a conviver com os riscos a partir da elaboração e operação de planos preventivos, o
projeto de se criar um modelo de gestão mais eficiente se faz necessário e urgente. É nesse cenário
de otimização e busca pela melhor forma possível de atender a sociedade, que surge a proposta de
integração da tecnologia com modelos já existentes.
Na descrição do modelo de gerenciamento das áreas de risco feito atualmente no Brasil, se faz
fundamental o projeto proporcionado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), que desde
2007, tem sua base pautada no preenchimento manual de fichas de caracterização que classificam o
local avaliado (em conformidade com os riscos: R1-Baixo ou sem risco, R2-Médio, R3-Alto, R4-
Muito Alto). Essa caracterização é hoje o principal registro dos aspectos relacionados à ocorrência
de desastres naturais de origem geotécnica e, portanto, uma grande ferramenta para gerir o risco do
qual a população do local está exposta.
Segunda a Lei 12.608/2012, Art. 20, é dever dos Municípios adotar as medidas necessárias à
redução dos riscos de desastre. Trabalhando com esse viés, os órgãos de Proteção e Defesa Civil,
juntamente com os batalhões do Corpo de Bombeiros, se colocam à disposição neste processo de
gerenciamento de riscos. Segundo o ciclo de ações do órgão de Proteção e defesa Civil, Figura 1, o
plano converge de forma análoga com o plano de ação do Corpo de Bombeiros Militar de Minas
Gerais.

Fig. 1 - Ciclo de Gestão em Proteção e Defesa Civil (SOUZA, 2018)

Tendo em vista o desenvolvimento tecnológico e extensão das possibilidades de otimização


proveniente dos recursos do ambiente acadêmico, no ano de 2014, a UFJF e o Corpo de Bombeiros
Militar de Minas Gerais/4º Batalhão de Bombeiros Militares (CBMMG/4º BBM), sob processo de
nº 23071.007236/2014-01, publicado no Diário Executivo (MINAS GERAIS, 2014), iniciaram uma
parceria por meio da qual trabalham na realização de atividades de mapeamento de áreas de risco.

Desde o ano de 2016, o projeto de extensão em interface com a pesquisa, intitulado “Modelo de
Gestão de Riscos Geotécnicos em Cenários Urbanos”, tem possibilitado a realização de atividades e
estudos relacionados ao ciclo de ações de Proteção e Defesa Civil. Nesse cenário nasce o aplicativo
Álea, integrando tecnologia e mapeamento de zonas de risco, atuando como uma ferramenta de
auxílio às autoridades para redução de perdas humanas e materiais.

2. OBJETIVO
Apresentar um estudo de uma gestão de riscos por meio do aplicativo Álea, para proporcionar o
desenvolvimento de políticas públicas voltadas à prevenção e mitigação de desastres em cenários
urbanos, e apresentar informações para caracterização dos condicionantes de riscos.

3. MÉTODOS

A compreensão da metodologia que rege o processo de desenvolvimento de uma gestão de riscos


eficiente e capaz de articular políticas públicas deve ser feita analisando as partes que compõem o
processo de otimização do gerenciamento. A proposta inicial do projeto foi, a partir do convênio
com o Corpo de Bombeiros, desenvolver um estudo em 144 cidades de Minas Gerais, localizadas
na área de atuação do 4º Batalhão de Bombeiros Militar e/ou que façam parte dos municípios
limítrofes à cidade de Juiz de Fora. Para tanto, realizou-se investigações de campo, iniciadas nos
municípios de Bicas e Guarará, nas quais fez-se o que o uso das fichas para caracterização de riscos
em papel da metodologia desenvolvida pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (MINISTÉRIO
DAS CIDADES, 2007). Atualmente a Equipe UFJF, 3º COB e PJF (Prefeitura de Juiz de Fora)
encontram-se mapeando as áreas de risco em Juiz de Fora.
Porém, ainda no início das atividades, notou-se que o uso de tais fichas torna-se cansativo em se
tratando da grande quantidade de áreas e setores de risco de um município, além de ser muita
informação sem uma forma mais eficiente de organização. Em cada setor é produzido uma ficha e
feito o registro aleatório de uma série de fotos, o que torna difícil a catalogação destes, ocorrendo
muitas vezes a troca equivocada e perdas de informações sobre os setores. Havia ainda uma
necessidade de agrupar esses dados coletados em campo de uma forma mais eficiente, compondo
um banco de dados versátil e que tivesse fácil aplicação no gerenciamento dos riscos.
Pensando inicialmente na otimização das fichas, evitando algumas redundâncias e acrescendo novos
dados, foi proposto uma complementação das fichas de caracterização de riscos do IPT já
existentes, de forma que abrangesse de maneira mais clara e completa os riscos de determinada
área, incluindo novas variáveis como inundações e posteriormente incêndios. Além disso, foi
elaborada uma tabela com a caracterização da vulnerabilidade de cada um dos 144 municípios
estudados, com o objetivo de classificar a vulnerabilidade e o índice de unidade de resposta (IUR)
para se avaliar o grau de risco que cada município está exposto. Assim, tornou-se mais dinâmico o
processo de coleta de informações.
É nesse ponto que surge a ideia de produzir um sistema em formato de aplicativo mobile capaz de
organizar, interpretar e gerar análises como forma de ferramenta de auxílio à gestão de riscos.
Assim, nasce o aplicativo Álea.
O aplicativo mobile, disponível para Android trata-se de uma plataforma (suportada por um
servidor web) com uma interface de acesso disponível para o gerenciamento destas informações.
Dessa forma, a ficha de caracterização de riscos passa a ser colocada em prática por meio de uma
base de dados georreferenciada de apoio à gestão de riscos geotécnicos, que tem por objetivo
auxiliar na coleta e edição de dados realizados durante as visitas às áreas de risco e que são
inseridos dentro do aplicativo. O aplicativo permite ao usuário delimitar polígonos de risco sobre o
mapa do local, cadastrar as informações previstas na ficha de caracterização de riscos e vincular as
fotos do setor à região mapeada. Outros dados relevantes relacionados às cidades e suas áreas de
risco também poderão ser cadastrados e exibidos no sistema. A Figura 2 mostra a interface de
utilização do aplicativo:

Fig. 2 - Apresentação da tela do Álea (AUTORES)

O banco de dados criado dentro do aplicativo abriga todas as informações dos condicionantes
físicos e antrópicos de risco geotécnico necessárias à análise in loco, visando a prevenção,
preparação, resposta, mitigação e recuperação nas comunidades afetadas. Os mapas base do
aplicativo são os de declividade, curvas de nível, relevo sombreado e susceptibilidade à
escorregamento Shalstab. Os dados armazenados na plataforma poderão ser usados pelos órgãos
públicos de Proteção e Defesa Civil para a manutenção e criação de políticas públicas relacionadas
à gestão de riscos, como por exemplo, evitar a ocupação de áreas de risco, monitorar as já
habitadas, ser um recurso auxiliar em um sistema de alerta e alarme.
Visando transformar a ferramenta idealizada no meio acadêmico em recurso prático para a
comunidade e órgãos responsáveis, principalmente na elaboração de políticas públicas, viu-se
necessário a elaboração de um mecanismo de capacitação para a utilização do aplicativo. Assim,
surge a concepção do curso “Mapeamento de áreas de risco com o aplicativo Álea”, elaborado na
modalidade de ensino a distância, para familiarizar os profissionais que atuam na área de Proteção e
Defesa Civil com o programa, incentivando o uso do aplicativo e fornecendo o conhecimento
necessário para utilização do aplicativo e preenchimento das fichas de caracterização. O curso
orientou os participantes segundo o fluxograma da Figura 3:
Fig. 3 - Orientação para os alunos do curso (SOUZA, 2018)

Dessa forma, pode-se dizer que o desenvolvimento do projeto teve uma etapa de identificação do
problema, que consistiu na necessidade de otimizar o processo de mapeamento da áreas de risco;
uma segunda etapa de desenvolvimento de uma proposta de ferramenta para melhorar o trabalho
dos órgãos envolvidos; e , por fim, a proposição de um método de tornar essa ferramenta aplicável,
que materializou-se com a criação do curso à distância. A Figura 4 trata-se de um fluxograma que
resume o desenvolvimento da metodologia do projeto:

Fig. 4 - Desenvolvimento do projeto (AUTORES)


4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

O aplicativo Álea, assim como as etapas de sua elaboração, pode contribuir para o desenvolvimento
de um modelo de gestão de riscos e, por conseguinte, para elaboração de políticas públicas em
municípios. Os primeiros resultados das atividades desenvolvidas envolvem o formulário eletrônico
com as fichas de caracterização, as bases cartográficas e a possibilidade de vincular informações e
registros fotográficos no Álea. O estudo também fomentou discussões sobre a temática de riscos, ao
promover um seminário e oferecer um curso de capacitação, com auxílio do Centro de Educação a
Distância (CEAD). Avaliando os cursistas, chegamos à distribuição geográfica por estado exposta
na Figura 5:

Fig. 5 – Distribuição geográfica por estado do curso de capacitação (AUTORES)


4.1. A complementação das fichas de caracterização
As fichas de caraterização desenvolvidas pelo IPT (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007) eram
limitadas ao estudo de tipologias de risco relacionadas a movimentação de solos e rochas e
estabilidade de taludes. Outro aspecto fundamental da necessidade de complementação dos
formulários foi a separação da setorização de riscos em áreas ocupadas e em não edificadas.
Durante a inserção no aplicativo Álea, uma das maneiras de otimização das fichas, estruturadas
como formulário eletrônico, foi a separação das variáveis em abas. Assim, no trabalho de campo,
primeiramente é selecionado o tipo de risco (escorregamento de solo ou rocha, queda ou
tombamento de blocos, corrida de massa, inundação ou enchente, rastejo, rolamento de pedras,
alagamento, enxurrada) e as telas seguintes dependem deste parâmetro inicial. Dessa forma, o
profissional que executa o mapeamento não é direcionado, por exemplo, a preencher as abas
relativas a encostas e estruturas de contenção, caso a região mapeada esteja sujeita a ocorrência de
enxurrada, ou seja, eliminou-se informações não aderentes à tipologia do risco.
A inserção dos parâmetros para análise de risco de inundações, inovação advinda desse estudo para
aprimoramento da metodologia já existente, vem com o intuito de suprir uma lacuna da
classificação desses sinistros, uma vez que enxurradas e alagamentos são recorrentes em inúmeros
municípios de atuação do 4º Batalhão de Bombeiros Militar e não havia metodologia ou escala
qualitativa aplicada a análise desses eventos. Assim, a complementação dos formulários de
setorização do modelo do IPT (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2007) cria uma forma de se
quantificar o grau de risco de inundações, e de maneira alinhada à classificação de sinistros
relacionados à geotecnia.

4.2. O aplicativo Álea e o Modelo de Gestão de Riscos


O sistema Álea se apresenta como uma solução que integra e aprimora as principais funcionalidades
de um modelo de gestão de riscos geotécnicos em cenários urbanos, uma vez que propõe uma
infraestrutura tecnológica que auxilia as autoridades competentes em nível municipal, regional e
estadual em suas ações de Proteção e Defesa Civil e em suas tomadas de decisões.
A ferramenta, que contempla preliminarmente 144 municípios da área de atuação do 4º BBM,
permite ao usuário cadastrar e delimitar polígonos, caracterizar a área de risco de movimentação de
massas de solo ou inundações e obter os dados de uma forma mais precisa e rápida; fornece dados
históricos de atendimentos e das características das áreas de risco; gerencia usuários do sistema com
diversos níveis de permissão para controlar as visitas de campo. Todas as informações do
mapeamento em campo ficam salvas no sistema e podem ser consultadas por outros usuários, o que
facilita a coleta de dados sobre os municípios.
O Álea também comporta uma base cartográfica que atuam como um auxílio à identificação dos
fatores de risco in loco. O aplicativo possui uma função de visualização de mapas de dados
matriciais, como altimetria, cidades, curvas de nível, declividade, relevo sombreado e Shalstab, na
forma de camadas, ou seja, é possível sobrepor diversas cartas, de acordo com a necessidade do
profissional que estiver executando a análise do grau de risco. É válido lembrar que estes mapas são
informações auxiliares, porém não podem ser decisivas no mapeamento, uma vez que a fonte de
dados apresenta resolução espacial de 12,5 m (NASA, 2018).
Uma camada inovadora é o Shalstab, que se resume em um modelo matemático e cartográfico de
análise à susceptibilidade à escorregamento de solo, considerando vários parâmetros como
declividade, fluxo de água entre outros (DIETRICH, 1998). Com essas informações em mãos, os
órgãos atuantes na Proteção e Defesa Civil têm como desenvolver meios de se aumentar a eficiência
na prevenção e no atendimento nos desastres, evitar a ocupação de áreas de risco e monitorar as já
habitadas.

4.3. Promoção de seminário


Em agosto de 2017, por meio do convênio de mútua colaboração entre UFJF, representada pelo
projeto de extensão “Modelo de Gestão de Riscos Geotécnicos em Cenários Urbanos”, e o 4º BBM,
foi promovido o “I Seminário Regional de Proteção e Defesa Civil” (SEPDEC), sediado na
universidade.
A fim de fomentar a troca de informações e conhecimento no âmbito de Proteção e Defesa Civil, a
partir de experiências e trabalhos desenvolvidos por órgãos e instituições da área, e o fortalecimento
da cultura de gestão do risco de desastres na Zona da Mata e Campo das Vertentes, foram discutidos
temas como, por exemplo, os aspectos jurídicos dos desastres, o papel da administração pública na
redução dos desastres e as consequências do rompimento de barragens. Foi apresentado ainda o
aplicativo Álea como ferramenta de apoio, uma vez que este atua no processo de mapeamento, parte
imprescindível de uma gestão integrada eficaz.

4.4. O curso de capacitação


Almejando um aprimoramento das técnicas de mapeamento e percepção dos riscos, um curso com
duração de seis semanas foi elaborado com auxílio do CEAD (Centro de Educação a Distância) da
Universidade Federal de juiz de Fora.
O curso “Mapeamento de Áreas de Riscos por Meio de Setorização em Campo”, ministrado na
modalidade ensino a distância com suporte instrucional e atividades que promoveram experiências
de aprendizado ativo, cumpriu seu objetivo de acelerar o processo de capacitação de pessoal técnico
e apresentar a ferramenta computacional de geoprocessamento Sistema Álea, desenvolvida no
projeto de extensão “Modelo de Gestão de Riscos Geotécnicos em Cenários Urbanos”. O público
alvo inicialmente era servidores Estaduais do Corpo de Bombeiros Militar e Civil e Polícia Militar
de Minas Gerais, servidores Públicos Municipais que atuam em Defesa Civil, professores das redes
de ensino pública e privada, integrantes dos Núcleos Comunitários e dos Conselhos de Defesa Civil
e Habitação e alunos da UFJF, todos da área de atuação do 4º Batalhão de Bombeiros Militar,
entretanto, na etapa da inscrição foi verificado que havia inscrições de todo o país.
Faziam parte da ementa os seguintes tópicos: apresentar a funcionalidade da Defesa e Proteção
Civil e do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil; definir risco, vulnerabilidade e tipologias
de riscos; expor conceitos e discutir sobre bacia hidrográfica, impermeabilização do solo,
construções em margens de cursos d’água, tipos de solo, modelos de probabilidade de
escorregamento; introduzir o uso de aplicativo Mobile para mapeamento de áreas de risco; abordar
questões relativas à possibilidade de intervenções estruturais e estruturantes, monitoramento das
áreas de risco, variáveis dos abrigos alternativos e lideranças comunitárias.
Na última semana foi aplicado um questionário de avaliação do curso. Em sua primeira aplicação, o
curso atingiu resultados positivos em todos os quesitos propostos: 86,8% dos cursistas classificaram
o nível de aplicação dos conteúdos à formação e atuação profissional como alto ou muito alto;
81,4% consideraram o nível de aplicação das atividades à formação e atuação profissional também
como alto ou muito alto.

5. CONCLUSÃO
O Álea é um aplicativo de apoio às atividades de campo, que agiliza e aprimora tal processo,
destacando-se assim, como ferramenta para gestão de riscos geotécnicos e hidrológicos em cenários
urbanos. Os dados armazenados na plataforma podem ser usados pelas coordenadorias municipais,
Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, dentre outros órgãos que desempenham ações relacionadas à
Proteção e Defesa Civil, para a manutenção e criação de políticas públicas relacionadas à gestão de
riscos, como por exemplo, evitar a ocupação de áreas sujeitas à deslizamento de encostas ou
inundações, monitorar as já habitadas, e constituir até mesmo um recurso auxiliar em sistemas de
alerta e alarme.
Os cursos de capacitação oferecidos à comunidade representam um marco no avanço em prevenção
e mitigação de riscos, pautando-se na união e diálogo entre a comunidade e órgãos públicos, além
de melhor instruir profissionais da área e instigar a percepção de risco dos cursistas.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora por tornar
possível o projeto de Extensão em Interface com a Pesquisa, ao Corpo de Bombeiros Militar de
Minas Gerais e a todos os professores envolvidos em etapas do projeto, pela contribuição e apoio às
ações desenvolvidas.

REFERÊNCIAS
[1] BRASIL. Lei n° 12.608 de 10 de abril de 2012. Institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil – PNPDEC.
Brasília, 2012a.
[2] BRASIL. Ministério da Integração Nacional.Capacitação Básica em Proteção e Defesa Civil 5ª edição.
SEDEC/Universidade Federal de Santa Catarina –UFSC, 2014 .
[3] DIETRICH W, MONTGOMERY D. R. SHALSTAB: a digital terrain model for mapping shallow landslide
potential. National Council of the Paper Industry for Air and Stream Improvement (NCASI) Technical Report: 26
p., 1998.
[4] MINISTÉRIO DAS CIDADES. Mapeamento de riscos em encostas e margens de rios. Brasília, 2007, 176 p.
[5] NASA. ASTER - Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection Radiometer. Disponível em:
<https://terra.nasa.gov/about/terra-instruments/aster>. Acesso em: 26 out 2018.
[6] SOUZA, J. H. Mapeamento de risco com o aplicativo Álea. -- Juiz de Fora: NASFE 2018. 84 p.
DESENVOLVIMENTO DE UM ALGORITMO EM LINGUAGEM PYTHON
PARA ANÁLISE DE ESTRUTURAS UTILIZANDO O MÉTODO DOS
DESLOCAMENTOS

Development of an Algorithm in Python Language for Analysis of Structures Using


the Stiffness Method

Amanda Isabela de Campos1


1 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, amanda.campos@coc.ufrj.br

Resumo: A análise estrutural plana representa um conhecimento essencial para a formação de um


estudante de engenharia e pode ser aplicada nos mais diversos tipos de sistemas construtivos,
constituindo uma etapa primordial de projeto, onde é necessário para definição da estrutura em
questão o cálculo de esforços internos, deslocamentos, reações de apoio, etc. Durante o curso de
graduação em engenharia civil esses conceitos são desenvolvidos com o auxílio do método do
deslocamentos que é o mesma formulação utilizada em programas comerciais de análise estrutural,
de posse desse conhecimento foi desenvolvido um algoritmo simples e livre, implementado em
linguagem PYTHON, que realiza análise estática linear de vigas e pórticos planos modelados com
elementos de barra sob influência de carregamentos estáticos, para diferentes seções geométricas e
módulos de elasticidade. Com essa proposta o usuário tem contato com os resultados de matrizes de
rigidez dos elementos, matrizes de rotação, matriz de rigidez da estrutura global, etc. Além de
acompanhar o desenvolvimento do método, e não somente inserir dados de entrada e receber
resultados como acontece com programas fechados, dessa forma acredita-se que é de grande
interesse para o aprendizado a utilização e compreensão dos passos seguidos de acordo com o
método dos deslocamentos aplicados nesse algoritmo. Para validar o algoritmo proposto os
resultados de esforços e reações de apoio obtidos são então comparados com resultados teóricos e
uma modelagem no programa comercial já consolidado SAP2000, o trabalho proposto apresentou
resultados exatamente iguais e se mostra uma ferramenta simples e precisa para aplicação e
desenvolvimento dos conceitos aprendidos, além de fácil modificações para as mais diversas
necessidades do usuário, sem a necessidade de programas robustos.

Palavras-chave: Análise estrutural, método dos deslocamentos, pórtico plano.

Abstract: The structural analysis represents an essential knowledge for the formation of an
engineering student and can be applied in the most diverse types of constructive systems,
constituting a primordial stage of design, where it is necessary to define the structure in question the
calculation of internal forces, displacements, support reactions, etc. During the graduate course in
civil engineering these concepts are developed with the aid of the displacement method which is the
same formulation used in commercial programs of structural analysis, in possession of this
knowledge was developed a simple and free algorithm, implemented in PYTHON language, which
performs linear static analysis of beams and plane frames modeled with bar elements under the
influence of static loads, for different geometric sections and modulus of elasticity. With this
proposal, the user has contact with the results of stiffness matrices of the elements, rotation
matrices, stiffness matrix of the global structure, etc. In addition to monitoring the development of
the method, not only entering input data and receiving results, as with closed programs, it is
believed that it is of great interest for learning to use and understand the steps followed according to
the displacement method applied in this algorithm. In order to validate the proposed algorithm, the
results of the efforts and support reactions obtained are then compared with theoretical results and a
modeling in the already consolidated SAP2000 commercial program, the proposed work presented
exactly the same results and it shows a simple and precise tool for application and development of
concepts, and accept modifications to the most diverse user needs, without the need for robust
programs.

Keywords: structural analysis, displacement method, plane frame.

1. INTRODUÇÃO

Segundo Martha (2010) a análise estrutural é a fase do projeto estrutural em que é feita a
idealização do comportamento da estrutura. Esse comportamento pode ser descrito com a
determinação pelos campos de tensões, deformações e deslocamentos na estrutura. De uma maneira
geral, a análise estrutural tem como objetivo determinar esforços internos e externos (cargas e
reações de apoio), e tensões, além dos deslocamentos e correspondentes deformações da estrutura
que está sendo projetada. Ou seja, é de grande interesse do engenheiro determinar previamente
quais serão as solicitações para um determinado carregamento e de posse desses resultados
dimensionar corretamente e estrutura e os materiais a ser empregados na edificação.

A análise estrutural como outros tantos problemas de engenharia pode ser entendida como a procura
por uma solução numérica de um problema matemático, e sabe-se que soluções numéricas, ou
aproximadas, para problemas de natureza continua descritos por modelos matemáticos através de
equações representam uma classe de solução conveniente para a Engenharia (MILLMAN;
AIVAZIS, 2011).

Grande parte das estruturas reais podem ser idealizadas por um esquema de pórticos planos
chamados de modelos analíticos, com o intuito de facilitar o trabalho e gerar bons resultados,
exemplos importantes relacionados a engenharia civil que são resolvidos dessa forma são edifícios,
pontes e torres (Hibbeler, 1984). Define-se pórtico plano como um típico modelo estrutural
reticulado formado por barras, interligadas por nós e sujeitas a cargas no mesmo plano. Como dito,
o dimensionamento estrutural está interligado a determinação das tensões internas das barras. Sabe-
se que a tensão interna resultante em uma seção transversal de um membro de pórtico plano
depende do momento fletor, esforço cortante e da força axial (Sussekind, 1981) então uma rápida e
correta determinação dessas grandezas é de suma importância no dimensionamento de estruturas.

Nesse trabalho serão determinadas com o auxílio de um algoritmo todas essas grandezas de
interesse para qualquer organização de barras em forma de pórtico plano, para qualquer
carregamento, definindo assim uma ferramenta de fácil uso e aberta para eventuais alterações ou
verificações de algum passo dos cálculos.

O método dos deslocamentos é um método clássico desenvolvido visando a implementação


computacional, segundo Kassimali (2012) por ser sistemático ele pode ser convenientemente
programável e é um método geral, ou seja, se aplica aos mais variados tipos de estruturas de
pórticos planos.
Dessa forma, o método dos deslocamentos foi utilizado como ferramenta e validado como forma de
algoritmo numérico resultando assim em um algoritmo que recebe os dados iniciais do pórtico
plano, como propriedades geométricas e organização das barras e retorna como resultados as
reações de apoio da estrutura, os esforços internos das barras (esforço normal, cortante e momento
fletor) e os deslocamentos dos nós. Para isso, inicialmente, a matriz de rigidez de cada elemento de
pórtico é montada em relação ao seu eixo local e, em seguida, é transformada em um sistema de
coordenadas globais. Existem casos de pórticos formados por barras com as mais diversas
inclinações, e como o algoritmo criado propõe resolver qualquer tipo de pórtico é preciso rotacionar
todas as matrizes no referencial local da estrutura transformando com o auxílio da matriz de rotação
os resultados de forças e deslocamentos para o sistema de coordenadas globais. O sistema de
equações gerado é resolvido e as incógnitas, que nesse tipo de problema são os deslocamentos
nodais, são então determinadas. Conhecidos os deslocamentos nos nós são calculadas as reações de
apoio, e os esforços nas barras da estrutura, completando assim a análise estática linear.

2. MÉTODOS

2.1. Fundamentação Teórica

A lei de Hooke (equação 1) garante que em um regime elástico linear as deformações (x) em uma
barra serão diretamente proporcionais as forças aplicadas (F), de acordo com um parâmetro de
rigidez k, constante.

F  k * x (1)

Como dito, as estruturas planas em estudo são formadas por elementos de barra no plano, esse tipo
de elemento é constituído por dois nós com três graus de liberdade por nó e estão esquematizados
na figura 2a. Esses, são: deslocamento axial, deslocamento transversal e rotação.

A rigidez à flexão de uma barra é calculada por E*I (produto entre o módulo de elasticidade e a
inércia) e a rigidez axial E*A (produto entre o módulo de elasticidade e a área), considerando a
deformação axial da barra na análise. Os possíveis deslocamentos em cada nó da barra são:
translação u(x) e rotação em v(x). Dessa forma, cada barra possui seis graus de liberdade, que estão
apontados na figura 2b. A relação entre deslocamentos e forças é então determinada a seguir,
resultando na matriz de rigidez para esse tipo de elemento.
Figura 1 - Deslocamento axial e transversal de um elemento de barra

Figura 2- Graus de liberdade do elemento de barra no referencial local (a) e global (b)

É de interesse na análise estrutural o cálculo dos deslocamentos em todos os pontos ao longo do


comprimento deste elemento, para isso são utilizadas as chamadas funções de interpolação que
aproxima os deslocamentos em todo o comprimento quando conhecidos os deslocamentos nos nós
de extremidade do elemento. Nesse trabalho como funções de interpolação foram utilizadas funções
de primeiro grau para os deslocamentos axiais dos elementos e para os deslocamentos
perpendiculares ao eixo longitudinal utilizaram-se funções de terceiro grau (Figura 1). De acordo
com Dias (2014) a adoção de tais funções permite a obtenção de resultados exatos para situações de
carregamentos concentrados e aproximados para elementos estruturais sujeitos a carregamentos
distribuídos.

Para Clough & Penzien (1975) a formulação das equações de movimento é uma das fases mais
importantes no procedimento de análise dinâmico-estrutural e, em muitos casos, a mais difícil.
Nesse trabalho foi aplicado o princípio da energia para determinação das equações de rigidez do
elemento de barra.

A aproximação do deslocamento em qualquer distância x da barra então pode ser calculado com o
auxílio das funções de interpolação adotadas da seguinte forma. Para o deslocamento axial (equação
1) e para o deslocamento transversal (equação 2).

 u  u1 
u~( x)  u1   2 x (2)
 L 
v~( x)  a0  a1 x  a2 x 2  a3 x 3 (3)

As condições de contorno conhecidas (Figura 1) são então aplicadas.

v~( x  0)  v1  a0  v1 (4)

v~' ( x  0)  1  a1  1 (5)

v~( x  L)  v2  v1  1 L  a2 L2  a3 L3  v2 (6)

v~' ( x  L)  2  1  2a2 L  3a3 L2  2 (7)

Resolvendo o sistema de equações (2x2), determina-se os coeficientes.

3v2  v1  21   2 
a2   (8)
L2 L

2v1  v2  1   2 
a3   (9)
L3 L2

Logo, as aproximações de deslocamentos transversais ao eixo do elemento são calculadas com a


seguinte expressão.

 3v  v  21   2  2  2v1  v2  1   2  3


v~( x)  v1  1 x   2 2 1  x    x
L2 
(10)
 L L   L3

2.2. Matriz de Rigidez do Elemento

Sabe-se que a energia de deformação especifica é calcula a partir das deformações com a seguinte
expressão. Essa abordagem é conhecida como formulação por energia.
L
1
U  E 2 dAdx (11)
0 A
2

L
EA ~ 2 EI ~ 2
U  (u , x )  (v, xx ) dx (12)
0
2 2

Aplicando os deslocamentos calculados (2) e (10) em (12), obtem-se:

U
EA
2L L
   
u 2  u1 2  2EI3 L2 12  1 2   22  3v1  v2 2  3Lv1  v2 1   2  (13)
Com essa formulação qualquer coeficiente de rigidez associado a flexão de uma barra pode ser
calculado com a expressão 14, obtida com a consideração de que a condição de equilíbrio para um
sistema exige que a primeira variação de energia total do sistema seja igual a zero (Zienkiewicz,
1968).

 2U
K (ei , j )  (14)
ui u j

Então, aplicando a equação 13 na expressão 14 pode-se obter os coeficientes de rigidez que formam
a matriz de rigidez do elemento escrita em um sistema de coordenadas locais que representa o
referencial do elemento, e está indicada a seguir.

 EA / L 0 0  EA / L 0 0 
 0 3
12 EI / L 6 EI / L2 0  12 EI / L 6 EI / L 
3 2

 0 6 EI / L2 4 EI / L 0  6 EI / L2 2 EI / L 
K (ei , j )   (15)
 EA / L 0 0 EA / L 0 0
 
 0  12 EI / L  6 EI / L2
3
0 12 EI / L3  6 EI / L2 
 0  6 EI / L2  6 EI / L2 4 EI / L 
 2 EI / L 0

2.3. Matriz de Rotação do Elemento

Para uma análise de pórticos planos em barras com inclinações quaisquer funcionar é necessário
utilizar os conceitos de referencial local e global e as mudanças entre esses dois universos com a
chamada matriz de rotação.

O referencial global da estrutura corresponde ao eixo cartesiano x, y (horizontal e vertical)


normalmente utilizado e único para toda a estrutura. Já no referencial local o eixo x é o eixo ao
longo do comprimento da barra e o eixo y perpendicular à barra. Então para uma barra horizontal
com o nó inicial em zero e nó final no eixo x positivo, o referencial local coincide com o referencial
global.

A transformação do referencial global para o local do elemento é feita a partir da multiplicação da


matriz de rotação, que depende do ângulo entre os referenciais. Já a transformação do referencial
local para o global é feita com a multiplicação da inversa da matriz de rotação. Esse artificio será
necessário em alguns trechos do algoritmo.

A matriz de rotação para um elemento com seis graus de liberdade esta apresentada na equação 16,
onde os termos não exibidos são todos nulos.
 cos  sen 0 
 sen cos  0  
 
 0 0 1 
R
0
(16)
cos  sen
 
   sen cos  0
 1
 0 0

Em uma estrutura plana, após transformar a matriz de rigidez de membros individuais do sistema de
coordenadas local para global é preciso de realizar a montagem da matriz de rigidez global de
acordo com as conexões dos elementos. Esse procedimento está descrito a seguir.

2.4. Matriz de Rigidez da Estrutura

De acordo com Kassimali (2012) um coeficiente de rigidez da estrutura de um determinado nó em


uma dada direção é igual à soma algébrica dos coeficientes de rigidez do elemento, nessa direção,
devido a todos os elementos com extremidades conectados a esse nó. Este fato indica que a matriz
de rigidez da estrutura pode ser formulada diretamente pela adição dos elementos das matrizes de
rigidez do elemento em suas posições apropriadas na matriz da estrutura. Esta técnica de formar
diretamente uma matriz de rigidez estrutural através da montagem das matrizes de rigidez dos
elementos formando assim a matriz global da estrutura é conhecida na literatura como Assembly e
pode ser programada facilmente e implementada em um código computacional. Esse processo
então, consiste em acoplar as informações contidas em cada uma das matrizes e inseri-la em uma
matriz global, referente à toda a estrutura. Essa nova matriz contém todas as matrizes de rigidez de
cada elemento em suas respectivas posições. O que determina essa posição são as conectividades
dos elementos.

Para determinar as posições dos elementos de uma matriz de elemento na matriz de estrutura,
identifica-se o número do grau de liberdade da estrutura, no referencial global da estrutura. Um
elemento formado pelos nós 1 e 3, por exemplo será adicionado na matriz de rigidez da estrutura
nos correspondentes gruas de liberdade, e se outro elemento tem ligação no nó 3 esse coeficiente
será somado e assim respectivamente para toda a estrutura. Esse procedimento pode ser observado
na figura 3, onde cada x corresponde a um coeficiente de rigidez da matriz (15).
Figura 3- Montagem da matriz de rigidez de uma estrutura no referencial global

2.5. O Algoritmo

Este item tem como objetivo comentar toda a fase de implementações computacionais da análise
estática linear de pórticos planos de forma que o leitor seja capaz de compreender a aplicação da
teoria de método dos deslocamentos por meio dos mecanismos computacionais de programação. O
código foi desenvolvido em linguagem PYTHON, uma linguagem de programação de sintaxe
simples, gratuita e direta com ferramentas de cálculos e bibliotecas envolvendo matrizes muito
eficientes.

O intuito é formular um algoritmo universal onde qualquer pórtico plano possa ser estudado,
alterando as propriedades do material bem como a organização das barras de treliças e/ou barras de
pórtico com as mais diversas inclinações sujeitas a cargas distribuídas ou concentradas em duas
direções.

A figura 4 exibe o fluxograma da análise linear, apontando os passos seguidos na análise estrutural
como método dos deslocamentos implementados no algoritmo.
Figura 4 – Fluxograma de análise linear de estruturas

2.5.1 Estrutura Exemplo

A etapa de pré-processamento consiste no usuário informar ao algoritmo qual será a estrutura a ser
analisada. Para facilitar esse processo foi criado uma leitura de dados a partir de um arquivo do tipo
texto (com extensão .txt) chamado de arquivo de entrada. A leitura é feita por linhas e todas as
linhas que iniciam com o caractere # não serão lidas, ou seja, são comentários que facilitam o
entendimento. Na figura 5 em (a) está reproduzido o arquivo de entrada utilizado como exemplo,
em (b) está esquematizada a estrutura que esse arquivo de entrada representa, onde os números
dentro de retângulos é a numeração de cada elemento e os números sem bordas é a numeração de
cada nó e em (c) a estrutura exemplo modelada no programa FTOOL.
(a) (b) (c)
Figura 5 - Estrutura exemplo: Arquivo de entrada, numeração dos nós e modelagem no Ftool
Para o perfeito funcionamento do algoritmo o arquivo de entrada deve ser montado no padrão
apresentado onde o primeiro número é o número de nós do pórtico a ser analisado, depois o número
de elementos, tipo de características, número de elementos de pórticos, módulo de elasticidade, área
e inércia da seção transversal, o número de cada nó e as coordenadas x, y, e por fim as informações
de cada elemento na seguinte ordem: número do elemento, número do primeiro e do segundo nó
(conectividades) e a carga distribuída. Para o caso de cargas concentradas a leitura da posição e da
magnitude é feita dentro do próprio algoritmo e para o caso de elementos de treliça, como o último
elemento do exemplo da Figura 5(a), só é necessário informar as conectividades.

A validação do algoritmo é feita com a comparação entre os resultados de esforços, reações de


apoio e deslocamentos obtidos com resultados do Ftool e a seguir com o SAP2000.

3.1 Matriz de Rigidez do Elemento 5

Como dito a matriz de rigidez para qualquer elemento deve ter a forma da equação 15, para
comprovar isso foi escolhido um elemento qualquer da estrutura exemplo, utilizamos aqui para
exemplificar o elemento 5, mas qualquer outro elemento a equação da matriz de rigidez é mantida.
O resultado do cálculo dessa matriz utilizando o algoritmo está exposto na figura 6. Os dados de
entrada necessários são o módulo de elasticidade e as propriedades geométricas, dados como a
seguir.

E = 35*106 kPa, A = 0,06 m², I = 8*10-4m4, L = 3m


Figura 6 - Matriz de Rigidez do elemento 5

3.2 Matriz de Rotação do Elemento 7 e 9

Como dito a matriz de rotação para qualquer elemento deve ter a forma da equação 16, para
comprovar isso foi retirado do algoritmo a matriz de rotação do elemento 7 e 9 e observa-se que os
valores são coerentes.

Figura 7 - Matriz de Rotação do Elemento 9

Figura 8 - Matriz de Rotação do Elemento 7

3.3 Reações de Apoio

A resposta para reações de apoio obtidas no algoritmo é apresentada na forma de um vetor com o
número de linhas igual ao número de graus de liberdade da estrutura, onde cada valor de reação de
apoio esta na posição do grau de liberdade referente ao impedimento. Como por exemplo a primeira
posição do vetor de reações de apoio corresponde ao grau de liberdade 1 (direção x) do nó 1. A
comparação com os resultados do Ftool é apresentada a seguir na figura 9.
Figura 9 – Vetor com as Reações de Apoio e Diagrama de Esforço Normal

3.3 Esforços: Normal, Cortante e Momento Fletor

A resposta para esforços obtidas no algoritmo é apresentada na forma de uma matriz com seis linhas
(número de graus de liberdade por elemento) e número de colunas igual ao número de elementos,
ou seja para cada coluna representa um elemento, assim a primeira coluna retrata os esforços no
elemento 1, e cada linha dessa coluna é um grau de liberdade. O esforço normal está sempre na
primeira linha (para o primeiro nó) e na quarta linha (para o segundo nó) em cada elemento. O
esforço cortante está sempre na segunda linha e na quinta e por fim o momento fletor estará na
terceira linha e na última. Os resultados de esforços obtidos no Ftool estão apresentados na figuras 9
(Normal) e 11 (Cortante e momento fletor), esses valores podem ser comparados com a matriz de
esforços obtida com o algoritmo na figura 10 a seguir.

Figura 10 - Matriz de esforços obtida com o algoritmo


Figura 11 - Diagrama de Esforços Cortantes e Momentos Fletores

3.4 Deslocamentos

O resultado de deslocamentos obtidos no algoritmo é apresentado na forma de um vetor com


número de linhas igual ao número de graus de liberdade, onde cada valor de deslocamento esta na
posição do grau de liberdade de interesse. Os graus de liberdade com impedimento (apoios)
apresentam deslocamentos nulos, ou praticamente nulo (alguns resíduos de erros numéricos
irrelevantes podem aparecer). Dessa forma, o deslocamento horizontal (em metros) do nó 6
apresentado na tabela 1 é o deslocamento da posição 15. O número do grau de liberdade pode ser
encontrado com a seguinte operação (3*6 – 2) – 1 = 15 utilizando a lógica (3*NÓ – 2 ) – 1 para a
direção x, e considerando que a contagem de posições em Python começa no zero. O valor
calculado do deslocamento nesse grau de liberdade quando comparado com o Ftool e o programa
SAP2000 mostram valores iguais, validando mais uma vez o algoritmo, a tabela 1 apresenta a
comparação dos resultados.

Tabela 1 – Comparação entre resultados utilizando três diferentes ferramentas

Deslocamentos no nó 6 Reações de apoio Nó 1


Ftool Sap2000 Algoritmo Ftool Sap2000 Algoritmo
x (m) 3.897E-04 3.897E-04 3.897E-04 x (kN) -21.659 -21.659 -21.659
y (m) -2.516E-06 -2.516E-06 -2.516E-06 y (kN) -6.645 -6.645 -6.645
z (rad) -2.669E-04 -2.669E-04 -2.669E-04 z (kNm) 16.895 16.895 16.895
Figura 12 - Deslocamentos obtidos com o algoritmo e com o Ftool.

4. DISCUSSÃO

A abordagem proposta para análise linear de estruturas planas possui vantagens quando comparada
com outras ferramentas como compreensão e contato com todos as etapas de cálculo e possibilidade
de estudo das mais diversas formas e tipos de pórticos planos, com elementos de barras ou treliças.
Quando confrontado com os programas comerciais já consolidados possui desvantagens, como falta
de visualização gráfica do modelo da estrutura e sua deformada, porém uma vez que o usuário
conhece os passos do método dos deslocamentos o algoritmo garante uma aplicação poderosa, com
resultados exatos além de exercitar a aplicação de toda a teoria envolvida, ao contrário dos
programas comerciais onde só se insere dados e recebe resultados.

5. CONCLUSÃO

O trabalho teve como objetivo aplicar computacionalmente a formulação do método dos


deslocamentos em um algoritmo que realiza uma análise estrutural linear em qualquer estrutura
plana, calcular dessa forma os deslocamentos, esforços e reações de apoio de pórticos planos,
treliças ou vigas. A obtenção da matriz de rigidez pela formulação de energia passando pela
aproximação do campo de deslocamentos com funções de interpolação foi validada para aplicação
no código. O intuito desse algoritmo era ter o contato com cada matriz de rigidez e vetor de forças,
diferente de uma análise estrutural em programas fechados onde só se tem acesso ao resultado final.
Os passos do método dos deslocamentos foram aplicados no algoritmo como a criação da matriz de
rigidez global, após a rotação e assembly das matrizes dos elementos, criação do vetor de forças
nodais e por fim a resolução do sistema de equações, para qualquer estrutura plana que o usuário
informar.

Como forma de validação foram comparados os resultados de um pórtico plano com diferentes tipos
de características geométricas das barras, inclinações de elementos, carregamentos e tipos de
vinculações ou apoios, calculados com o algoritmo implementado, o FTOOL e o SAP200. Como
esperado as reações de apoio, deslocamentos nodais e esforços internos nos elementos foram
praticamente idênticos comprovando o validade e precisão do código proposto e garantindo a
validade do algoritmo para qualquer estrutura plana desejada.

Por fim pode-se afirmar que o uso de uma ferramenta desse tipo configura um importante aliado no
processo de aprendizado conceitos de análise estrutural, uma vez que o usuário tem contato com
todas as etapas de cálculo.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq pelo auxílio financeiro.

REFERÊNCIAS

[1] CLOUGH, RAY W., PENZIEN, JOSEPH. Structural dynamics. New York: McGrowHill Inc, 1975.

[2] DIAS, R. P. Formulação do método dos elementos finitos para a análise elástica linear de pórticos planos.
Trabalho de Conclusão De Curso (Engenharia Civil) - Universidade Federal do Paraná, 2014.

[3] HIBBELER, RUSSELL C., KIANG, TAN. Structural analysis. Prentice Hall, 1984.

[4] KASSIMALI, ASLAM. Matrix Analysis of Structures SI Version. Cengage Learning, 2012.

[5] MARTHA, LUIZ. Análise de estruturas: conceitos e métodos básicos. Elsevier Brasil, 2010.

[6] SUSSEKIND, J. C. Curso de análise estrutural. 6. ed. Porto Alegre-Rio de Janeiro: Editora Globo, 1981.

[7] ZIENKIEWICZ, O. C.; CHEUNG, Y. K. The finite element method in structural and continuum mechanics:
numerical solution of problems in structural and continuum mechanics. London: McGraw-Hill, 1968.
COMPARAÇÃO ENTRE OS MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO DE
PERFIS DE AÇO FORMADOS A FRIO SUBMETIDOS À COMPRESSÃO DE
ACORDO COM A NBR 14762:2010

Comparison of design methods for cold-formed steel profiles submitted to


compression according to NBR 14762:2010

Amanda Isabela de Campos1


1 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, amanda.campos@coc.ufrj.br

Resumo: A norma brasileira NBR 14762 (ABNT, 2010) aborda informações fundamentais de
dimensionamento de perfis de aço formados a frio, conhecidos como PFF, para as seções mais
usuais encontradas no mercado. Dessa forma nesse trabalho foi desenvolvido um algoritmo que
automatiza o dimensionamento de colunas de aço formados a frio submetidas a compressão
centrada, de acordo com os dois métodos apresentados na norma (o método clássico, já validado e
semelhante ao dimensionamento de perfis de aço laminados e o método da rigidez direta (MRD),
que é um procedimento mais recente incorporado nas normas e se difere dos demais pela sua
simplicidade, facilidade e flexibilidade no dimensionamento dos PFF passando pela determinação
das tensões críticas de flambagem elástica (global, local e distorcional) do perfil. Nesse trabalho
como exemplo foram calculadas, com as duas diferentes abordagens e comparadas, as cargas
críticas e resistência à compressão de 20 perfis do tipo U enrijecido, cujas dimensões são
encontradas em tabelas de fabricantes. O método da resistência direta garante que após
determinadas as forças críticas de flambagem elástica da seção (local, global e distorcional) e o
carregamento que ocorre o escoamento da seção, a resistência do perfil pode ser diretamente
determinada. Nesse trabalho foi utilizado como ferramenta auxiliar para o cálculo numérico de
determinação das forças críticas de flambagem o programa livre e gratuito GBTul. E por fim a
comprovação de que o método da resistência direta apresentado no Anexo C da norma é a uma
ferramenta simples e de bons resultados na determinação da resistência à compressão de colunas.
Portanto, a utilização do algoritmo proposto torna eficaz, segura e precisa a determinação da
resistência de cálculo dos elementos de perfis de aço formado a frio, desta maneira, tornando mais
confiável e econômico o trabalho do engenheiro projetista.

Palavras-chave: Dimensionamento, perfis de aço formados a frio, método da resistência direta.

Abstract: The Brazilian standard NBR 14762 (ABNT, 2010) addresses key design information for
cold formed steel profiles, such as PFF, for the most usual dimensions found in the market. In this
way, an algorithm was developed that automates the design of cold formed steel columns subjected
to centered compression, according to the two methods presented in the standard (the classic
method, already validated and similar to the dimensioning of rolled steel profiles and the direct
stiffness method (MRD), which is a more recent procedure incorporated in the standards and differs
from the others for its simplicity, ease and flexibility in the design of the PFF by determining the
critical elastic buckling stresses (global, local and distortional) of the profile. In this work as an
example, the critical loads and compressive strength of 20 stiffened U-profiles were calculated with
the two different approaches and compared, whose dimensions are found in manufacturer's tables.
The direct resistance method ensures that after determined the critical forces of elastic buckling of
the section (local, global and distortional) and loading that occurs the flow of the section, the
strength of the profile can be directly determined. In this work was used as an auxiliary tool for
numerical calculation of determination of critical forces of buckling the free and free GBTul
program. Finally, the proof that the direct resistance method presented in attachment C of the
standard is a simple and good tool in determining the resistance to compression of columns.
Therefore, the use of the proposed algorithm makes the calculation resistance of the cold formed
steel elements effective, safe and precise, in this way, making the work of the designer engineer
more reliable and economical.

Keywords: Sizing, cold formed steel profiles, direct strength method.

1. INTRODUÇÃO

Os perfis formados a frio (PFF) são uma interessante opção para a construção civil uma vez que
possuem um processo de fácil fabricação, resultando em peças leves e baratas. Em geral são consti-
tuídos por seções abertas de paredes delgadas de chapas finas de aço laminadas à frio ou a quente,
que são posteriormente dobradas resultando em elevadas relações largura/espessura dos elementos
(CHODRAUI, 2006).

Devido a forma de fabricação os perfis formados à frio quando aplicados como colunas geram es-
truturas leves e esbeltas, isso pode ser uma vantagem do ponto de vista estático, porém um proble-
ma do ponto de vista estrutural uma vez que colunas esbeltas submetidas à compressão possibilitam
a ocorrência de fenômenos de instabilidade global (onde a peça toda sofre flambagem), ou local
(problema de instabilidade da chapa) ou distorção da seção transversal (SCHAFER, 2001). Esses
são os chamados modos de flambagem e a NBR indica diretrizes para dimensionamento de perfis
de aço formados à frio na compressão evitando a ocorrências desses fenômenos, isolados ou combi-
nados.

A ocorrência de fenômenos de flambagem está diretamente relacionada com o formato e dimensões


da seção transversal, o comprimento da coluna e as propriedades do aço. Na figura 1 está indicado a
nomenclatura adotada para as dimensões de um perfil U enrijecido.

Figura 1 - Típico perfil U enrijecido


Nesse trabalho será realizado um estudo do comportamento estrutural de 20 colunas formadas a
partir de seções U enrijecido sujeitas a compressão axial, o objetivo é calcular a resistência final da
coluna pelo método normativo e pelo método da resistência direta (MRD) com o auxílio da
ferramenta numérica baseada na “Genereralised Beam Theory”. Dessa forma serão comparados os
resultados obtidos por duas abordagens e comprovado que ambas coincidem nos mesmos valores.

A Norma ABNT NBR 6355:2012 – “Perfis Estruturais de Aço Formados a Frio - Padronização”
estabelece os requisitos exigíveis para perfis estruturais de aço formados a frio, com seção
transversal aberta, determinando dimensões e propriedades geométricas de perfis usuais no mercado.
Nesse trabalho foram tomados como exemplo 20 desses perfis, suas dimensões estão indicadas na
tabela 1 e as propriedades geométricas necessárias para o dimensionamento estão na tabelas 2.

Tabela 1 - Dimensões das Seções transversais


Seção bw (mm) bf (mm) D (mm) t (mm) Área (cm²)
1 300 100 25 2,65 14,11
2 300 85 25 4,75 23,22
3 300 85 25 2 10,14
4 250 100 25 3 14,41
5 250 85 25 2 9,14
6 200 100 25 2,65 11,46
7 200 75 25 4,75 14,52
8 200 75 25 2,65 10,14
9 200 75 20 2 7,54
10 150 60 20 3,35 9,65
11 150 60 20 2 5,94
12 125 50 17 3 7,18
13 125 50 17 2 4,92
14 100 50 17 3 6,43
15 100 50 17 1,2 2,71
16 100 40 17 2 4,02
17 100 40 17 1,2 2,47
18 75 40 15 3 4,96
19 75 40 15 1,2 2,13
20 50 25 10 1,2 1,35

1.1 Definição da propriedades geométricas da seção transversal

Como dito, as propriedades geométricas utilizados nos cálculos foram obtidas por norma, e a
terminologia empregada segue essa norma, portanto, alguns símbolos e seus respectivos
significados precisam ser definidos, são eles:

A - área da seção
E - módulo de elasticidade: E = 200 GPa
fy - limite de escoamento: fy = 345 MPa
-coeficiente de Poisson:  = 0.3
Ix, Iy - momentos de inércia da seção bruta em relação aos eixos principais x e y, respectivamente
rx, ry - raio de giração da seção bruta em relação ao eixo principal x e y, respectivamente
Xg, Yg - centro de massa
x0 - distância do centro de torção ao centróide, na direção do eixo x


r0 - raio de giração polar da seção bruta em relação ao centro de torção r0  rx2  ry2  x02 
0,5

J - constante de torção da seção


G - módulo de elasticidade transversal
Cw - constante de empenamento da seção
K x Lx , K y Ly - comprimento efetivo de flambagem, nesse trabalho considerado igual ao comprimen-
to da barra.
Tabela 2- Propriedades geométricas das seções

Seção Ix (cm4) rx (cm) Xg (cm) X0 (cm) Iy (cm4) ry (cm) Cw (cm6) r0 (cm)


1 1920,58 11,67 2,72 6,79 178,97 3,56 32115,67 13,96
2 2959,01 11,29 2,2 5,33 193,55 2,89 35606,89 12,82
3 1339,09 11,49 2,2 5,64 93,89 3,04 17055,02 13,16
4 1408,08 9,89 2,98 7,25 188,58 3,62 24048,03 12,78
5 871,52 9,77 2,43 6,09 88,98 3,12 11477,06 11,93
6 750,68 8,09 3,31 7,89 157,2 3,7 13447,29 11,89
7 1036,95 7,69 2,32 5,42 124,95 2,67 10910,56 9,79
8 621,67 7,83 2,33 5,67 78,69 2,79 6862,49 10,06
9 467,42 7,88 2,2 5,42 56,3 2,73 4615,39 9,94
10 327,7 5,83 1,92 4,5 45,65 2,18 2275,9 7,68
11 207,59 5,91 1,93 4,66 30,02 2,25 1498,57 7,86
12 168,35 4,84 1,61 3,75 23,44 1,81 817,11 6,39
13 118,35 4,91 1,61 3,87 17,04 1,86 594,42 6,52
14 99,3 3,93 1,78 4,06 21,66 1,84 521 5,94
15 44,15 4,03 1,79 4,28 10,12 1,93 246,61 6,91
16 60,66 3,89 1,38 3,27 9,25 1,52 227,57 5,3
17 38,29 3,93 1,38 3,36 6,01 1,56 148,49 5,41
18 42,08 2,91 1,5 3,34 10,58 1,46 155,27 4,67
19 19,32 3,02 1,51 3,56 5,14 1,55 76,95 4,92
20 5,24 1,97 0,93 2,17 1,23 0,95 8,13 3,08
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Instabilidade Global e Distorcional

Em 1759, Euler propôs uma equação para o cálculo da força normal crítica de flambagem elástica
de barras submetidas à compressão. Segundo GARCIA (2016) a carga crítica ou ponto crítico que
ocorre a flambagem, depende das dimensões da seção da barra, do tipo de vinculação e do
comprimento livre. E sabe-se que encontrar a carga critica está diretamente relacionado com a
estabilidade da estrutura e seu equilíbrio.

Dessa forma pode-se afirmar que a carga critica indica um ponto de transição entre o equilíbrio
estável e instável da estrutura. A carga crítica de Euler PE calculada com a equação (1) representa a
menor carga que gera uma mudança no estado de equilíbrio da coluna idealizada (IYENGAR,
1986).

 2 EI
PE 
L2 (1)

2.1 Instabilidade Global

Um perfil monossimetrico do tipo U enrijecido pode sofrer flambagem global por flexão, em torno
do eixo perpendicular ao de simetria, de acordo com a formulação de flambagem elástica proposta
por Euler (Equação 1) ou por flexo-torção (flexão em torno do eixo de simetria e rotação em torno
do centro de torção). A flambagem por flexo-torção ocorre quando uma coluna ao ser carregada
com uma força de compressão no centro de gravidade da seção, para o caso do perfil U enrijecido o
centro de torção e o centro de gravidade estão localizados em pontos diferentes o que gera
deslocamentos em forma de flexão e torção, neste caso diz que essa barra sofreu flambagem por
flexo-torção.

2.2 Instabilidade Distorcional

A instabilidade distorcional está relacionada com a distorção da seção transversal, ou seja, com a
flexão de um ou mais elementos acompanhada pelo deslocamento das arestas que ligam esses
elementos, ao contrário da flambagem local onde as arestas não se deslocam (HANCOCK, 2003),
um esquema de seções do tipo U enrijecido nesses modos de flambagem pode ser observado na
figura 2. As principais teorias já consolidadas para análise de instabilidade distorcional são o
Método dos Elementos Finitos (MEF), o Método das Faixas Finitas (MFF) e a Teoria Generalizada
de Viga (GBT) – desenvolvido por Silvestre & Camotim (2004), (BEBIANO et. al, 2010)

3. DIMENSIONAMENTO DE COLUNAS SOB COMPRESSÃO

A norma ABNT NBR 14762:2010 indica o procedimento de dimensionamento de barras submeti-


das à força axial de compressão utilizando o chamado método das seções efetivas. As equações a
seguir resumem a formulação recomendada por norma. O dimensionamento, como nos principais
casos de engenharia, é baseado na condição das forças resistentes de cálculo serem maiores ou
iguais que as forças solicitantes.

N c ,Sd  N c, Rd
(2)

3.1 Flambagem Global por flexão, por torção ou por flexo-torção

Nc,Rd  Aef f y  (  =1,20) (3)

0,5
20  Af 
Para 0  1,5 :   0,658 , onde 0   y  (4)
 Ne 

0,877
Para 0  1,5 :   (5)
20
Para perfis monossimétricos, como é o caso do tipo U enrijecido, no problema de compressão axial
a norma NBR 14762:2010 indica que a força axial de flambagem global elástica Ne é o menor valor
entre os obtidos em a) e b).

a) Força axial de flambagem global elástica por flexão em relação ao eixo principal y:

 2 EI y
N ey 
K L 
y y
2
(6)
b) Força axial de flambagem global elástica por flexo-torção:

N exz 
N ex  N ez 
1  1 

4 N ex N ez 1  x0 r0 
2


2 1  x0 r0 
2
  N ex  N ez 2 
(7)

Onde:
Força axial de flambagem global elástica por flexão em relação ao eixo principal x:

 2 EI x
N ex 
K x Lx 2 (8)
Força axial de flambagem global elástica por torção:

1   2 EC w 
N ez  2 
 GJ 
r0  K z Lz 2
 (9)
3.1.1 Método da seção efetiva para cálculo da área efetiva (Aef)

Aef  A para  p  0,776 (10)

 0,15  1
Aef  A1  0,8  0,8 para  p  0,776 (11)
  
 p  p

 Af y
0,5
  2E
 p    N l  kl
121  2 bw t 
, onde 2
A (12)
 Nl 

Os valores de kl (coeficiente de flambagem local) para uma seção U enrijecido

kl  6,8  5,8  9,2 2  6,0 3 ,onde   b f bw (13)

3.2. Flambagem distorcional

Nc,Rd   dist A f y  (  =1,20) (14)

Onde  dist  1 para dist  0,561 (15)

0,5
 0,25  1  Af y 
 dist  1  1, 2  1, 2 para dist  0,561 onde dist    (16)
  
dist  dist  dist 
N

N dist é a força axial de flambagem elástica obtida com uma análise de estabilidade elástica.

3.3 Método da Resistência Direta

O método exposto anteriormente consiste em determinar a resistência de um perfil a partir do


cálculo das propriedades geométricas efetivas de uma seção, o que pode ser considerado um
processo trabalhoso, então SCHAFER e PEKÖZ (1998) propuseram o Método da Resistência
Direta (MRD) como uma alternativa ao método das larguras efetivas.

O chamado Método da Resistencia Direta presente no anexo C da Norma NBR 14762:2010,


corresponde a uma alternativa para o dimensionamento, utilizando as propriedade da seção bruta.
Porém uma análise elástica com ferramentas numéricas é necessária, para isso nesse trabalho será
utilizado o GBTul.

3.4. GBTul

O programa GBTul desenvolvido no Instituto Superior Técnico de Lisboa (2000) realiza a análises
de flambagem elástica de perfis de aço formados a frio a partir do método GBT (Generalised Beam
Theory). É disponível gratuitamente no site do grupo de pesquisa e é uma poderosa ferramenta na
obtenção de tensões de flambagem elástica para barras de perfis formados a frio.
A figura 2 apresenta um típico resultado de análise de estabilidade elástica de um perfil U enrijecido
que é um gráfico relacionando o comprimento do perfil e sua carga crítica. Nota-se que o primeiro
ramo do gráfico é referente a flambagem local e o segundo ramo corresponde ao modo distorcional,
e por fim o terceiro ramo corresponde a flambagem global. Os valores mínimos serão então
multiplicados pela tensão de escoamento do material resultando nas tensões de flambagem elástica
de cada modo. Esse tipo de gráfico é conhecido na literatura como “Curva de assinatura” e é o que
será retirado como resultado no programa GBTul para cálculo da resistência dos perfis.

Figura 2 - Exemplo de curva de assinatura para perfil U enrijecido. Fonte GARCIA (2015)

As tensões críticas são obtidas nos pontos de mínimo da curva dado pelo programa para cada modo
(local Nl, distorcional Ndist e global Ne), estes resultados para as seções de estudo estão indicados na
tabela 3. O programa divide os modos de flambagem em números onde, os primeiros quatro modos
representam os modos globais caracterizados pelo movimento de corpo rígido da seção, os modos 5
e 6 são distorcionais e todos os outros são modos locais de placa. Esses resultados representam a
carga critica em cada modo, ou seja, a partir dessa determinada carga a coluna entram em instabili-
dade.
Tabela 3 – Forças axiais de compressão obtidas com o GBtul (Valores em kN)

Modos Globais Modos Locais Modos Distorcionais


Ne Nl Ndist
Seção 1 3401,8513 118,0790 262,7628
Seção 2 4858,4028 655,4768 1100,4144
Seção 3 2030,7036 48,9290 139,3280
Seção 4 3028,0222 218,4573 404,3616
Seção 5 1645,3640 61,9339 169,3014
Seção 6 1903,3678 207,1366 341,8558
Seção 7 2599,8079 1097,4710 1412,4363
Seção 8 1413,0824 190,5679 419,7442
Seção 9 957,5920 79,8373 196,5456
Seção 10 503,3730 111,6701 238,3044
Seção 11 503,3730 111,6701 238,3044
Seção 12 469,6112 452,9629 589,3253
Seção 13 300,3203 136,1154 232,4302
Seção 14 349,1937 671,8038 638,0743
Seção 15 127,4611 42,9954 90,2260
Seção 16 182,4920 189,1732 288,0149
Seção 17 104,3751 40,8614 91,1715
Seção 18 196,7549 1159,3727 720,7528
Seção 19 64,3887 73,3304 97,1372
Seção 20 21,7188 186,7257 104,6128

3.5. O Algoritmo

De posse dos resultados da tabela 3 é possível calcular a resistência à compressão de cada perfil
pelo método da resistência direta e comparar com o cálculo realizado utilizando as indicações da
norma, para automatizar todos esses cálculos foi implementado um algoritmo na linguagem de pro-
gramação gratuita Python, definindo assim um algoritmo de sintaxe simples e direta e por fim estão
a comparação entre todos os resultados. A parte principal do algoritmo está reproduzida a seguir,
para funcionar uma leitura de propriedades geométricas da seção é feita inicialmente.
4. RESULTADOS

Na tabela 4 estão apresentados os resultados de força axial de flambagem global em todas as dire-
ções, para os 20 perfis exemplos, utilizando as duas propostas de cálculo automatizadas com o algo-
ritmo e a diferença entre os resultados. Pode-se observar que em nenhum caso a diferença foi maior
que 1,42%.

Tabela 4 – Comparação entre os resultados (Valores em kN)

Modo 2 Modo 3 Modo 4 Modos 2 e 4


Nex Ney Nez Nexz
Norma 40223,1358 3962,3964 3477,3016 3399,4670
Seção 1 GBTul 40267,6330 3963,9733 3479,2924 3401,8513
Diferença 0,11% 0,04% 0,06% 0,07%

Norma 65850,7357 4857,7923 4964,6441 4889,3576


Seção 2 GBTul 65851,0360 4858,4028 4965,4706 4890,2774
Diferença 0,00% 0,01% 0,02% 0,02%

Norma 27725,5874 2043,2488 2061,4500 2030,6354


Seção 3 GBTul 27725,6110 2043,2945 2061,5109 2030,7036
Diferença 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%

Norma 29979,8116 4245,2623 3141,3095 3027,8000


Seção 4 GBTul 29979,9010 4245,3943 3141,4662 3028,0222
Diferença 0,00% 0,00% 0,00% 0,01%

Norma 18135,6218 1936,8339 1689,6208 1645,3011


Seção 5 GBTul 18135,6450 1936,8731 1689,6718 1645,3640
Diferença 0,00% 0,00% 0,00% 0,00%

Norma 15945,9773 3485,8274 2015,1588 1899,3066


Seção 6 GBTul 15965,7970 3488,1014 2019,0616 1903,3678
Diferença 0,12% 0,07% 0,19% 0,21%

Norma 23931,2946 3218,2936 2703,9211 2599,0783


Seção 7 GBTul 23931,5570 3218,7296 2704,4589 2599,8079
Diferença 0,00% 0,01% 0,02% 0,03%

Norma 13350,1272 1793,7756 1468,3432 1412,9573


Seção 8 GBTul 13350,1730 1793,8513 1468,4354 1413,0824
Diferença 0,00% 0,00% 0,01% 0,01%
Norma 9838,2191 1245,8789 989,3072 957,5402
Seção 9 GBTul 9838,2391 1245,9102 989,3462 957,5920
Diferença 0,00% 0,00% 0,00% 0,01%

Norma 7450,4264 1137,6950 910,5390 868,4752


Seção 10 GBTul 7450,5002 1137,8112 912,1322 870,2604
Diferença 0,00% 0,01% 0,17% 0,21%

Norma 4447,7306 678,7694 526,7492 503,3317


Seção 11 GBTul 4447,7465 678,7942 526,7771 503,3730
Diferença 0,00% 0,00% 0,01% 0,01%

Norma 3869,4174 594,2162 493,2795 469,4910


Seção 12 GBTul 3869,4615 594,2860 493,3603 469,6112
Diferença 0,00% 0,01% 0,02% 0,03%

Norma 2579,4471 395,8826 314,2272 299,7614


Seção 13 GBTul 2579,4603 395,9033 314,8287 300,3203
Diferença 0,00% 0,01% 0,19% 0,19%

Norma 2325,9716 551,0154 377,0105 347,3990


Seção 14 GBTul 2326,0157 551,0743 379,0537 349,1937
Diferença 0,00% 0,01% 0,54% 0,52%

Norma 930,2394 220,2062 135,3670 125,5343


Seção 15 GBTul 930,2423 220,2100 137,2841 127,4611
Diferença 0,00% 0,00% 1,42% 1,53%

Norma 1353,0649 221,7474 193,0461 181,8359


Seção 16 GBTul 1353,0753 221,7649 193,7751 182,4920
Diferença 0,00% 0,01% 0,38% 0,36%

Norma 803,8729 132,3665 109,1870 102,9837


Seção 17 GBTul 811,8008 132,9845 110,4881 104,3751
Diferença 0,99% 0,47% 1,19% 1,35%

Norma 1037,9592 286,4181 218,6596 194,7304


Seção 18 GBTul 1037,9944 286,4643 221,1481 196,7549
Diferença 0,00% 0,02% 1,14% 1,04%

Norma 415,0643 114,4106 70,6773 64,3839


Seção 19 GBTul 415,0666 114,4135 70,8369 64,5195
Diferença 0,00% 0,00% 0,23% 0,21%
Norma 118,0547 29,3203 23,9506 21,5141
Seção 20 GBTul 118,0561 29,3223 24,2037 21,7188
Diferença 0,00% 0,01% 1,06% 0,95%

A tabela 5 apresenta a diferença percentual entre os valores de força axial de compressão resistente
de cálculo. O principal objetivo aqui é comparar o método de resistência direta como o método pro-
posto pela norma, pode-se observar que para os 20 tipos de perfis escolhidos como exemplo a dife-
rença nunca foi maior que 1%.
Tabela 5 - Força axial de compressão resistente

Seção 1 Seção 2 Seção 3 Seção 4 Seção 5 Seção 6 Seção 7 Seção 8 Seção 9 Seção 10
Norma 205,67 523,77 119,19 260,17 121,72 217,26 491,53 192,73 115,66 251,22
MRD 206,69 526,73 119,93 260,61 122,03 217,61 491,54 193,48 116,10 251,31
% 0,49% 0,56% 0,62% 0,17% 0,26% 0,16% 0,00% 0,39% 0,38% 0,04%

Seção 11 Seção 12 Seção 13 Seção 14 Seção 15 Seção 16 Seção 17 Seção 18 Seção 19 Seção 20
Norma 107,94 175,90 97,26 150,75 41,04 87,23 36,90 105,73 34,94 15,72
MRD 108,19 175,91 97,93 150,97 41,17 87,70 37,02 106,18 34,95 15,87
% 0,23% 0,01% 0,68% 0,15% 0,32% 0,54% 0,32% 0,42% 0,00% 0,95%

Na figura 3 estão apresentados os três modos de flambagem de colunas, observa-se que para com-
primento que foi desenvolvido o trabalho (L = 100cm) a seção 10 desenvolve um modo local e a
seção 20 um modo global, como indicado nas contas, como nenhum perfil exibe flambagem distor-
cional nesse comprimento a seção 20 com L = 24cm foi exemplifica na figura com a identificação
desse modo de flambagem. A curva de assinatura (comprimento do perfil por carga crítica) para o
perfil 20 também está reproduzida e confirma o aspecto esperado com a literatura quando compara-
da com a figura 2, onde o primeiro mínimo da curva é a carga critica do modo local, o segundo a
carga do modo distorcional e por fim o modo global.

Modo Local Modo Distorcional Modo Global


L= 100 cm L= 24 cm L= 100 cm
Seção 10 Seção 20 Seção 20

Figura 3 – Modos de Flambagem e curva de assinatura do perfil 20, ambos obtidos com o GBTUL
5. DISCUSSÃO

A abordagem proposta para análise se mostrou eficiente uma vez que a comparação entre os resul-
tados obtidos com o algoritmo e com o programa já consolidado se mostraram precisamente iguais,
então pode-se afirmar que está validado e que outros variados tipos de perfis podem ser estudados e
calculados com o algoritmo. Com base nas diferenças percentuais das tabelas 4 e 5 pode-se afirmar
que o método da resistência direta é uma proposta rápida e fornece estimativas bastante precisas no
caso da compressão de colunas.

Para os perfis adotados como exemplo, observando a tabela 3, tem-se que os perfil 14, 16, 18, 19 e
20 em um comprimento de coluna de 100 cm, apresentam força crítica em um modo de flambagem
global e então pode-se afirmar que a coluna formada com esses perfis apresentarão problemas de
flambagem global principalmente, se forem submetidas a cargas superiores as encontradas para Ne
na tabela 3. Todos os outros perfis apresentaram cargas críticas locais, e portanto sofrerão proble-
mas de flambagem local.

6. CONCLUSÕES

O trabalho teve como objetivo apresentar um algoritmo que automatiza a determinação de resistên-
cia à compressão de perfis de aço formados a frio segundo as duas recomendações da norma brasi-
leira ABNT-NBR 14762/10 e comparar os dois métodos de dimensionamento. O método da resis-
tência direta (MRD), é considerado como um método alternativo para dimensionamento de colunas
sob compressão, consiste em um procedimento simples e confiável para determinar a resistência
última e está presente no ANEXO C da norma, porém é um método que depende de resultados de
análise de estabilidade elástica, que só são obtidos com o auxílio de programas prontos e já estão
consolidados na literatura, um deles e o utilizado nesse trabalho é o GBTul.

Pode-se observar com 20 exemplos de seções que a utilização do algoritmo e a aplicação do MRD
propiciou a realização dos cálculos de dimensionamento corretamente, uma vez que o erro encon-
trados entre os resultados com as duas abordagens foi irrelevante.

Ao observar o modelo de deformada do perfil em cada modo de flambagem com o GBTul


comprovou-se o modo de flambagem dos cálculos e como esperado, a grande maioria das colunas
selecionadas como exemplo apresentam flambagem crítica no modo local e algumas no modo
global para um comprimento de 100cm.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPQ - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico pelo auxílio financei-


ro na realização deste projeto.
REFERÊNCIAS
[1] ABNT NBR 14762, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Dimensionamento de estruturas
de aço constituídas por perfis formados a frio – Procedimento. Rio de Janeiro, 2010.
[2] BEBIANO R., PINA P., SILVESTRE N., CAMOTIM D. GBTul 1.0 – Buckling and Vibration Analysis of Thin-
Walled Members, DECivil/IST, Technical University of Lisbon. (http://www.civil.ist.utl.pt/gbt), 2010.
[3] BEBIANO R., PINA P., SILVESTRE N., CAMOTIM D., Manual user.GBTul 1.0 – Buckling and Vibration
Analysis of Thin-Walled Members, DECivil/IST, Technical University of Lisbon, 2010.
[4] CHODRAUI, G. M. B. Análise teórica e experimental de perfis de aço formados a frio submetidos à compres-
são. São Carlos. Tese de doutorado – Escola de Engenharia de Sao Carlos, Universidade de Sao Paulo, 2006.
[5] GARCIA, R. A. S. Behaviour and DSM design of cold-formed steel web/flange stiffened lipped channel
columns experiencing distortional failure. Tese – COOPE UFRJ, Instituto lberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação
e Pesquisa de Engenharia, Rio de Janeiro, 2016.
[6] HANCOCK, G.J., Cold-formed steel structures. Journal of Constructional Steel Research, v.59, pp.473-487, 2003.

[7] JAVARONI, C.E. Estruturas de aço: dimensionamento de perfis formados a frio. 1a Ed. Elsevier Editora Ltda,
2015.
[8] IYENGAR, N. G. R. Structural stability of columns and plates. Affiliated East-West Press, 1986.

[9] SCHAFER, B. W. Thin-walled column design considering local, distortional and euler buckling. Proceedings:
Structural Stability Research Council – Annual Technical Session and Meeting, 2001.
[10] SILVESTRE, N.; CAMOTIM, D. Towards an Efficient Design Against Distortional Buckling: Formulae for C
and Z-Section Cold-Formed Steel Members. Proceedings of Structural Stability Research Council (SSRC) 2004
Annual Stability Conference, Long Beach, pp. 239- 263, March 24-27, 2004.
[11] SCHAFER, B. W.; PEKÖZ, T. Computational modeling of cold-formed steel: characterizing geometric imper-
fections and residual stresses. Journal of Constructional Steel Research, v.47, p.193-210, January, 1998.
A IMPLANTAÇÃO DA NORMA DE DESEMPENHO EM EMPRESAS
CONSTRUTORAS – UMA ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA

Implantation of performance standard in construction companies – a systematic


literature review

Simone Lazzarini 1, Maria Aparecida Steinherz Hippert 2


1Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, simone.lazzar@gmail.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil , aparecida.hippert@ufjf.edu.br

Resumo: Normas de desempenho são estabelecidas buscando atender às exigências dos usuários e,
no caso da ABNT NBR 15575 – Edificações Habitacionais – Desempenho, em vigor desde julho de
2013, essas exigências se referem a sistemas que compõem edificações habitacionais,
independentemente dos seus materiais constituintes e do sistema construtivo utilizado. O foco da
Norma está no comportamento em uso da edificação e não na prescrição de como os sistemas são
construídos. Em pesquisa recente sobre o processo de implementação da ABNT NBR 15575, a
importância da publicação da norma para o setor da construção foi ratificada por 69% dos
entrevistados. Por outro lado, 58% dos construtores reclamam que há desconhecimento ou
desinteresse dos projetistas sobre a norma de desempenho. Esses resultados indicam que a adesão à
norma, apesar de ser vista como importante, é um processo em andamento. O objetivo deste artigo é
fazer um levantamento sobre as publicações a respeito da implantação da ABNT NBR 15575 em
empresas construtoras. A metodologia utilizada foi a análise bibliométrica. Tendo em vista que a
Norma entrou em vigor em 19/07/2013, e que as discussões começaram alguns anos antes, a
pesquisa foi limitada a uma janela de tempo de até 10 anos de publicação. A base de dados
inicialmente utilizada foi a do portal Periódicos CAPES. Os descritores "Desempenho", "NBR
15575", "Implantação" e "Construtora" foram inseridos em várias etapas e combinações distintas,
com o número de resultados tabulado em cada etapa. Foi feita uma análise do material encontrado
em cada uma destas etapas: primeiro pelos “títulos” dos trabalhos; em seguida, pelos “resumos”; e,
finalmente, pela pertinência ao tema. Foram selecionados artigos que apresentassem: estudo(s) de
caso ou metodologia de implantação da Norma, além de dificuldades esperadas para a adoção pelas
empresas. Com base nos artigos selecionados, foi observada baixíssima ocorrência de artigos de
estudos de casos ou metodologia de implantação da Norma de Desempenho nas empresas. Tendo
em vista a escassez de trabalhos que analisem a implantação da Norma de Desempenho em
empresas construtoras, pode-se esperar que trabalhos com esta temática trarão uma grande
contribuição para a discussão sobre o tema.

Palavras-chave: NBR 15575, Norma de Desempenho, bibliometria, edificações habitacionais,


implantação.

Abstract: Performance standards are established in order to meet users' requirements and,
regarding ABNT NBR 15575 – Housing Constructions – Performance, in use since July 2013, these
requirements refer to systems that make up housing constructions, regardless of their constituent
materials and the construction system used. The focus of the Standard is on the behavior in use of
the building and not on the prescription of how the systems are constructed. In a recent survey on
the implementation process of ABNT NBR 15575, the importance of the publication of the standard
for the construction sector was ratified by 69% of respondents. On the other hand, 58% of the
manufacturers complain that there is lack of knowledge or lack of interest of the designers on the
performance standard. These results indicate that adherence to the standard, despite being seen as
important, is an ongoing process. The objective of this article is to make a survey about the
publications regarding the implementation of ABNT NBR 15575 in construction companies. The
methodology used was a bibliometric analysis. Given that the Standard has been adopted since
7/19/2013, and the discussions began a few years earlier, the research was limited to a time window
of up to 10 years of publication. The database used was Periódicos CAPES portal. The descriptors
"Performance", "NBR 15575", " Implantation" and "Builder" were inserted in several distinct steps
and combinations, with the number of results tabulated in each step. The material found in each of
these stages was analyzed: firstly by the "titles" of the works; then by the "abstracts"; and finally, by
relevance to the theme. Were selected articles that presented: case study (s) or methodology of
implementation of the Standard, in addition to expected difficulties for adoption by companies.
Based on the selected articles, there was a very low occurrence of case study articles or
methodology of implementation of the Performance Standard in companies. Considering the
scarcity of studies that analyze the implementation of the Performance Standard in construction
companies, it can be expected that studies with this theme will make a great contribution to the
discussion on the subject.

Keywords: NBR 15575, Performance Standard, bibliometry, housing constructions,


implementation.

1. INTRODUÇÃO
A palavra desempenho é utilizada de maneira coloquial por toda a sociedade, e normalmente está
associada a um nível de desempenho desejado comparado a um desempenho entregue. Na
construção civil, o conceito de desempenho está consolidado há muito tempo, e uma das definições
mais aceitas pelo meio acadêmico é a que afirma que a abordagem de desempenho é, acima de tudo,
a prática de se pensar em termos de fins e não de meios, com os requisitos que a construção deve
atender, e não com a forma como esta deve ser construída [1] [2].
Normas de desempenho são estabelecidas buscando atender às exigências dos usuários e, no caso da
ABNT NBR 15575, em vigor desde julho de 2013, essas exigências se referem a sistemas que
compõem edificações habitacionais, independentemente dos seus materiais constituintes e do
sistema construtivo utilizado. O foco da Norma está no comportamento em uso da edificação e não
na prescrição de como os sistemas são construídos [3].
Segundo o Guia orientativo para atendimento à norma ABNT NBR 15575/2013:
Ao contrário das normas tradicionais, que prescrevem características dos produtos com
base na consagração do uso, normas de desempenho definem as propriedades necessárias
dos diferentes elementos da construção, independentemente do material constituinte. No
primeiro caso, deve-se utilizar o produto em atendimento às suas características. No
segundo, deve-se desenvolver e aplicar o produto para que atenda às necessidades da
construção. [4]
A CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), com o apoio do SENAI (Serviço Nacional
de Aprendizagem Industrial), promoveu recentemente uma pesquisa sobre o processo de
implementação dos requisitos da ABNT NBR 15575. O objetivo era levantar um panorama geral da
indústria da construção em relação ao tema, após 3 anos de publicação da norma. Os dados foram
levantados junto a 145 representantes de empresas construtoras, incorporadoras, projetistas e
fabricantes do setor, com cargo de gerência ou direção em 18 unidades federativas do Brasil.
Alguns dos resultados foram [5]:
 A importância da publicação da norma para o setor da construção foi ratificada por 69% dos
pesquisados;
 Entre os impactos gerados, na visão dos construtores, 27% consideram que é impossível
atender a norma integralmente; 78% deles avaliam que haverá necessidade de atender a
normas técnicas anteriormente desconhecidas, 70% especificação por características de
desempenho e 54% contratações de consultorias específicas.
 Quanto às dificuldades de atendimento à norma, 58% dos construtores reclamam que há
desconhecimento ou desinteresse dos projetistas sobre a norma de desempenho.
Esses resultados indicam que a adesão à norma, apesar de ser vista como importante, é um processo
em andamento.
Por isso, o objetivo deste artigo é fazer um levantamento sobre as publicações a respeito da
implantação da Norma de Desempenho em empresas construtoras por meio de uma bibliometria em
bases de dados selecionadas.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
A palavra desempenho é utilizada de forma coloquial por toda a sociedade, e possui um significado
bastante amplo, desde o desempenho de determinado produto (seja ele um carro ou um computador,
por exemplo) ao desempenho de um esportista, passando até mesmo pelo desempenho de um
funcionário na execução de suas atribuições. O consumidor, espectador ou gerente, nestes
exemplos, define um desempenho desejado (mesmo que informalmente), e o comparam ao
desempenho entregue. Este conceito também é aplicado ao setor da construção civil. O edifício é
um produto que deve apresentar determinadas características que o capacitem a cumprir objetivos e
funções para os quais foi projetado, quando submetido a determinadas condições de exposição e
uso, de forma a atender às necessidades dos usuários ao longo do seu ciclo de vida [1].
Em vigor no país desde julho de 2013, a norma NBR 15575 foi redigida segundo modelos
internacionais de normalização de desempenho: para cada necessidade do usuário e condição de
exposição, há uma sequência de Requisitos de Desempenho, Critérios de Desempenho e respectivos
Métodos de Avaliação. O conjunto normativo é composto de seis partes, organizadas por elementos
da construção: Parte 1: Requisitos gerais; Parte 2: Requisitos para os sistemas estruturais; Parte 3:
Requisitos para os sistemas de pisos; Parte 4: Requisitos para os sistemas de vedações verticais
internas e externas; Parte 5: Requisitos para os sistemas de coberturas; e Parte 6: Requisitos para os
sistemas hidrossanitários. Para cada parte, há uma sequência de exigências relativas à segurança
(desempenho mecânico, segurança contra incêndio, segurança no uso e operação), habitabilidade
(estanqueidade, desempenho térmico e acústico, desempenho lumínico, saúde, higiene e qualidade
do ar, funcionalidade e acessibilidade, conforto tátil) e sustentabilidade (durabilidade,
manutenibilidade e adequação ambiental) [6].
Uma das responsabilidades de um pesquisador é conhecer a literatura em sua área de pesquisa. E o
melhor caminho para adquirir esse conhecimento é por meio de uma revisão de literatura. Esse
processo não deve ser entendido como meramente um resumo exaustivo de pesquisas anteriores,
mas também a capacidade do pesquisador de escrever uma revisão minuciosa e sofisticada,
utilizando-se de uma ampla gama de habilidades e conhecimentos [7]. De acordo com Randolph
(tradução nossa) [8]: “sem estabelecer o estado das pesquisas anteriores, é impossível determinar
como a nova pesquisa avança em relação a elas”.
São relativamente poucos os trabalhos que analisam como as empresas vem desenvolvendo seus
empreendimentos tendo em vista o desempenho. Entre os principais desafios que as empresas têm
enfrentado na implementação da norma estão a falta de conhecimento sobre o tema, a pouca
valorização que o mercado dá ao processo de projeto, a dificuldade na contratação de projetistas
qualificados e a escassez de informações técnicas a respeito de materiais e sistemas construtivos.
Levando-se isso em conta, abre-se um interessante campo para pesquisas sobre atendimento à
norma nas empresas construtoras brasileiras [9].

3. METODOLOGIA

3.1. Análise bibliométrica


A implementação da NBR 15575 nas construtoras é recente, e os seus impactos nos processos das
empresas são ainda pouco conhecidos. Por isso, o estudo baseou-se em uma análise bibliométrica
sobre o tema para avaliar o grau de difusão da norma no mercado.
O termo bibliometria foi proposto por Pritchard [10] no final da década de 1960 e pode ser definido
como a aplicação de métodos estatísticos e matemáticos na análise de obras literárias [11].
Os métodos adotados nesta pesquisa sobre a NBR 15575 são apresentados a seguir.

3.2. Critérios de inclusão


A pesquisa teve como foco a implantação da Norma de Desempenho em empresas construtoras.
Tendo em vista que a norma entrou em vigor em 19 de julho de 2013, e que as discussões
começaram alguns anos antes, a pesquisa foi limitada a uma janela de tempo de até 10 anos de
publicação. A base de dados utilizada foi a do portal Periódicos CAPES.
Por se tratar de uma norma brasileira, as pesquisas foram feitas somente no idioma português.
Foram escolhidas as seguintes palavras-chave, coerentes com o tema investigado: "Desempenho,
"Norma de Desempenho", "Construtora", "NBR 15575" e "Implantação".
Estes descritores foram pesquisados na base de dados em quaisquer um dos campos possíveis
(título, assunto, autor), em quatro etapas, conforme resumido no quadro 1:
1) Uso das palavras-chave isoladas, para avaliar a abrangência de cada uma delas
individualmente;
2) Combinações de duas das palavras-chave, que já associassem o conceito de desempenho à
NBR 15575 ou a construtoras;
3) Combinações de três das palavras-chave, de forma a refinar ainda mais a pesquisa, associando
os conceitos de desempenho ou Norma de Desempenho não somente à construção, mas
também à implantação;
4) Combinação de todas as palavras-chave de interesse para a pesquisa, a fim de obter resultados
comuns acerca dos temas
Nesta análise, o primeiro critério de seleção foi a leitura dos “títulos” dos trabalhos; dos
selecionados, eram lidos os “resumos”; finalmente, os artigos restantes foram lidos em todo o seu
conteúdo e escolhidos com base na pertinência ao tema – deveriam apresentar estudo(s) de caso ou
metodologia de implantação. Também foram selecionados artigos a respeito das dificuldades
esperadas para a adoção da norma pelas empresas no país.
Quadro 1 – Uso de palavras-chave em cada etapa

1ª etapa 2ª etapa 3ª etapa 4ª etapa

Desempenho + Desempenho + Construtora +


Desempenho
Construtora Implantação

Norma de Norma de Desempenho + Desempenho + NBR 15575 +


Desempenho Construtora Implantação
Construtora + Norma de Desempenho + Desempenho + Norma de
Construtora
NBR 15575 Construtora + NBR 15575 Desempenho + Construtora
+ NBR 15575 + Implantação
Desempenho + Norma de Desempenho +
NBR 15575
NBR 15575 Construtora + Implantação
Norma de Desempenho + NBR
Implantação -
15575 + Implantação
Construtora + NBR 15575 +
- -
Implantação

Os trabalhos selecionados foram então arquivados e catalogados. Esta medida foi útil para evitar a
redundância de arquivos, tendo em vista que um mesmo artigo poderia aparecer em mais de uma
combinação de palavras-chave.
Depois de catalogados, cada trabalho foi analisado a partir de seu conteúdo. O resultado desta
análise gerou outra etapa de preenchimento do catálogo, com as seguintes informações: título,
autores, palavras-chave, objetivo do estudo, metodologia, resumo dos resultados alcançados e
observações sobre o artigo.

4. RESULTADOS E ANÁLISES
Os resultados de cada etapa da pesquisa podem ser observados na tabela 01.
Houve muitas ocorrências com palavras-chave mais genéricas, utilizadas individualmente na
primeira etapa, tais como "Construtora" e "Desempenho". No entanto, quando se começa a associar
os descritores, percebe-se uma redução significativa de resultados, indicando que há poucos estudos
sobre implantação da norma nas empresas.
Tabela 1 – Resultados de cada etapa de pesquisa
Selecionados Selecionados
Termo(s) de pesquisa Etapa Resultados
por título por resumo
Desempenho 1ª 32028 - -

Implantação 1ª 11517 - -

Norma de Desempenho 1ª 1244 - -

Construtora 1ª 499 - -

NBR 15575 1ª 57 6 1

Desempenho + Construtora 2ª 99 3 0

Norma de Desempenho + Construtora 2ª 15 0 0

Desempenho + NBR 15575 2ª 1 0 0

Construtora + NBR 15575 2ª 0 0 0

Desempenho + Construtora + Implantação 3ª 23 2 0

Desempenho + NBR 15575 + Implantação 3ª 3 1 0

Norma de Desempenho + NBR 15575 + Implantação 3ª 3 0 0

Construtora + NBR 15575 + Implantação 3ª 1 0 0

Norma de Desempenho + Construtora + Implantação 3ª 0 0 0

Norma de Desempenho + Construtora + NBR 15575 3ª 0 0 0


Desempenho + Norma de Desempenho +
4ª 0 0 0
Construtora + NBR 15575 + Implantação
Total 01

Ao final do processo, foi selecionado somente um artigo que se encaixava no objetivo da pesquisa,
que era encontrar literatura sobre implantação da NBR 15575 em empresa construtora. O trabalho
tem como título "Avaliação da aplicação da norma de desempenho: estudo de caso em cinco
empreendimentos". Seu objetivo era avaliar o desempenho de edificações habitacionais de
Chapecó/SC por meio de um checklist da norma de desempenho desenvolvido e proposto por uma
das autoras. Este questionário foi aplicado em 05 empreendimentos de 05 construtoras, sendo uma
obra de cada empresa, em diferentes estágios de execução. O atendimento a cada critério da norma
era avaliado por meio de preenchimento em campo apropriado do formulário, utilizando-se uma de
três abreviaturas: C – Conforme, quando apresentado o documento de comprovação de acordo com
o checklist e respeitando a descrição do critério; NC – Não conforme, quando não era apresentado o
documento; e NA – Não se aplica, caso a obra não possuísse o método construtivo indicado, não
estivesse na fase de execução a qual o requisito indicasse ou não fornecesse os materiais que
estavam especificados. Como resultado, os autores concluíram que as obras avaliadas não estavam
atendendo à norma de desempenho como deveriam, mesmo considerando que foram estudadas
obras e empresas de diferentes padrões. Constatou-se que todas apresentaram um nível de
atendimento muito abaixo do esperado, não alcançando nem mesmo o desempenho mínimo exigido
pela norma [12].
O artigo propõe uma ferramenta simples de avaliação do grau de implantação da norma em obras
prontas ou em andamento. Por outro lado, não fornece subsídios para empresa atuar corretivamente
caso constate que seu atendimento esteja aquém do esperado. Tampouco sugere ferramentas de
planejamento ou de técnicas de implantação para as construtoras que queiram implantar a NBR
15575 em seus empreendimentos.
Devido ao resultado insignificante de trabalhos selecionados, partiu-se para uma segunda etapa de
pesquisa, ampliando-se a base de dados e incluindo-se também o Catálogo de Teses e Dissertações
da CAPES.
A busca por trabalhos relacionados à Norma de Desempenho no Catálogo de Teses e Dissertações
da CAPES foi realizada pelo projeto de pesquisa de Iniciação Científica da Universidade Federal de
Juiz de Fora [13]. O grupo de pesquisa estratificou os trabalhos por temas: conforto acústico,
conforto térmico, segurança estrutural etc. Alguns trabalhos (no total, 16 dissertações) não se
enquadravam diretamente nesta classificação e foram alocados em uma categoria de "Tema Geral",
conforme tabela 02.
Os trabalhos levantados por aquele grupo foram então selecionados para esta pesquisa pelos
mesmos critérios adotados com artigos de periódicos: primeiramente pela leitura dos títulos, depois
pelos resumos e, finalmente, pelo conteúdo. Os resultados desta seleção estão na tabela 03.
A dissertação de Okamoto [14] tem como objetivo identificar influências da NBR 15575 sobre o
processo de projeto de edificações residenciais e propor ações de melhoria em uma empresa
incorporadora e construtora utilizada como estudo de caso. A metodologia envolveu análise crítica
de referencial bibliográfico, pesquisa de campo em empresas e proposição de modelo. A autora
destaca nas considerações finais que encontrou dificuldades práticas no atendimento das exigências
normativas nas empresas estudadas. Nelas, o comportamento de seus produtos em uso e operação
não é, muitas vezes, conhecido, demonstrando uma falta de cultura em avaliações de pós-entrega e
pós-ocupação. Destacou também um despreparo geral das empresas entrevistadas quanto à
compreensão de normas baseadas em desempenho, que não indicam de que forma torna-se possível
atingir o resultado esperado para os produtos finais. E finalmente conclui que o desempenho da
edificação é dependente da qualidade do processo de projeto, sendo necessário que cada agente
cumpra com as suas responsabilidades.
A pesquisa de Silva [15] tem como objetivo analisar a vida útil estimada das edificações, a partir do
desgaste dos sistemas construtivos, após a entrada em operação e uso, sob a ótica do desempenho
conforme NBR 15575. A metodologia utilizada foi exploratória e descritiva, por meio de pesquisa
documental, bibliográfica e por amostragem; o banco de dados utilizado é procedente do setor de
assistência técnica pós-obra de uma empresa construtora. A pesquisa consistiu no estudo da norma e
da relação que os parâmetros nela definidos têm com os problemas patológicos constatados através
da assistência técnica pós-obra de 8 (oito) empreendimentos. Com isso, a autora analisou a taxa de
falhas nos empreendimentos e aplicou o método dos fatores para determinação a vida útil estimada
(VUE) de cada edificação. Entre as conclusões, constatou-se uma redução média de 20% da vida
útil de referência (VUR), significando que a previsão inicial da VUP poderá não ser cumprida. O
estudo identificou também que as anomalias constatadas refletem a utilização de materiais e/ou
componentes inadequados ou mau instalados, ressaltando a responsabilidade solidária dos
fornecedores de materiais.
Tabela 2 – Dissertações de tema geral

Titulo Ano Autor


Investigação da viabilidade da redução do consumo de energia elétrica em edificações
2013 Josiane Reschke PIRES
residenciais através da aplicação de soluções de conforto ambiental passivo
Marcus Vinícius Manfrin
Ruído ambiental: avaliação acústica de edificações em Curitiba – PR 2014
de OLIVEIRA FILHO
Análise do desempenho de blocos de concreto celular autoclavado em um sistema Marcelo Queiroz
2014
de vedação externa VARISCO
O impacto da janela no conforto térmico: edificações multifamiliares ventiladas
2014 Amabeli Dell SANTO
naturalmente
Avaliação dos parâmetros de desempenho térmico da NBR 15575/2013: Habitações
2014 Maicon Motta SOARES
de Interesse Social na zona bioclimática 2
Os impactos da norma brasileira de desempenho sobre o processo de projeto de Patricia Seiko
2015
edificações residenciais OKAMOTO
Análise do desempenho térmico e acústico de vedações verticais externas Fabiani Pereira
2015
executadas em light steel framing FRANZEN
Norma de desempenho como orientação para a elaboração do código de obras de
2015 Elda NICOLINI
Santana do Livramento – RS
Desempenho, durabilidade, degradação e vida útil: aspectos técnicos no Waldir Belisário dos
2016
desenvolvimento do plano de manutenção de fachadas SANTOS JÚNIOR
Diretrizes para seleção tecnológica de vedações verticais externas de edifícios em
2016 Carla Andrade da SILVA
estrutura metálica
Uma proposta de orientação para introdução de sistemas construtivos inovadores Walmick Aparecido
2016
em habitações Souza GRASSI
Análise da vida útil estimada das edificações baseada na norma de desempenho Nina Celeste Macário
2016
(ABNT NBR 15.575:2013) Simões da SILVA
Evolução da degradação de fachadas - efeito dos agentes de degradação e dos Jéssica Siqueira de
2016
elementos constituintes SOUZA
Parâmetros de desempenho incorporados em projetos de arquitetura com o uso de Mauro Augusto SILVA
2016
aplicativo de modelagem BIM JÚNIOR
A influência da temperatura do solo no desempenho térmico de construções que
2017 Jessica FABRIS
utilizam fundação em radier
Avaliação da influência da espessura do revestimento argamassado e do Rodrigo Périco de
2017
carregamento no comportamento da alvenaria frente a atas temperaturas SOUZA
Tabela 3 – Seleção das dissertações de tema geral

Quantidade inicial Trabalhos selecionados por título Selecionados por resumo


OKAMOTO, 2015
NICOLINI, 2015
OKAMOTO, 2015
SANTOS JÚNIOR, 2016
16 dissertações 06 dissertações 03 dissertações SILVA, 2016
GRASSI, 2016
SILVA JÚNIOR, 2016
SILVA, 2016
SILVA JÚNIOR, 2016
Total 06 03

O trabalho de Silva Júnior [16] aborda o uso do BIM no desenvolvimento de projetos de arquitetura
aplicando conceitos de desempenho e tem como foco projetos de arquitetura de edificações
habitacionais, sem especificação de área ou padrão de acabamento. O estudo seguiu o método
baseado na pesquisa construtiva (constructive research) ou design science research e considera a
possibilidade de identificar e informar aproximadamente um terço dos requisitos impostos pela
NBR 15575 com o uso do projeto em BIM. Entre os resultados obtidos, o autor destaca como a
utilização de uma biblioteca de componentes com informações padronizadas de desempenho
térmico para a adequação de paredes externas e coberturas podem otimizar o trabalho do projetista
na transcrição dos dados de transmitância e capacidade térmica no projeto da edificação.

5. CONCLUSÃO
Com base nos artigos e dissertações selecionados, foi observada baixíssima ocorrência de trabalhos
de estudos de casos ou metodologia de implantação da Norma de Desempenho nas empresas:
apenas 01 artigo e 03 dissertações. Ainda assim, os trabalhos selecionados apenas avaliam o grau de
implantação da norma ou estudam o impacto de sua aplicação a determinados processos, tais como
projetos ou pós-entrega, mas não indicam métodos ou técnicas para as empresas adotarem a norma
em toda a sua extensão. Pelos resultados encontrados, é possível perceber que o mercado, mesmo
após 5 anos de publicação da Norma, ainda não a tenha adotado com a rapidez esperada dada a sua
importância.
É possível que o número de empresas aderentes à norma aumente a médio prazo, considerando-se
as exigências ao cumprimento da NBR 15575 introduzidas no regimento do SiAC PBQP-H em
2017 e ratificadas e expandidas no regimento de 2018.
Tendo em vista a escassez de artigos em periódicos que analisem a implantação da Norma de
Desempenho em empresas construtoras, pode-se concluir que trabalhos com esta temática trarão
uma grande contribuição para a discussão sobre o tema.

REFERÊNCIAS
[1] BORGES, Carlos Alberto de Moraes. O conceito de desempenho de edificações e a sua importância para o setor
da construção civil no Brasil. 2008. Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia. Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde-25092008-
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2016. Disponível em: <https://cbic.org.br/wp-content/uploads/2018/03/Panorama.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2017.
[6] CBIC. Desempenho de edificações habitacionais. Guia orientativo para atendimento à norma ABNT NBR
15575/2013. Brasília, abr. 2013. Disponível em:
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EFEITO DOS ADITIVOS EXPANSOR E INCORPORADOR DE AR EM
CONCRETOS LEVE DE PREENCHIMENTO DE SEÇÕES MISTAS

Effect of expansive agent and air-entraining admixture in lightweight concrete of


filling mixed sections

Juliana Fadini Natalli 1, Humberto Dias Andrade 2, Karine de Jesus Santos 3, Guilherme Jorge
Brigolini 4, Ricardo André Fiorotti Peixoto 5
1
M.S.c, Ouro Preto, Brasil, juliananatalli24@gmail.com
2
Mestrando, Ouro Preto, Brasil, andrade.hdias@gmail.com
3
Graduanda, Ouro Preto, Brasil, karine718@hotmail.com
4
Professor Associado, Ouro Preto, Brasil, guilhermebrigolini@gmail.com
4
Professor Associado, Ouro Preto, Brasil, ricardofiorotti@yahoo.com.br

Resumo: A construção civil vem exigindo o desenvolvimento de técnicas e de sistemas construtivos


cada vez mais eficientes. Ao encontro desta demanda, a utilização de pilares mistos preenchidos vem
crescendo devido às vantagens oferecidas por essas estruturas, como rapidez de execução, elevada
resistência e ductilidade. Nesse tipo de pilar, o concreto no interior do tubo minimiza os problemas
de flambagem global e local do perfil de aço.
Enquanto o perfil metálico trabalha como um reforço da seção transversal que restringe a expansão
lateral do núcleo de concreto, proporcionando aumento da resistência da seção devido ao efeito de
confinamento. Esse efeito juntamente com a aderência na interface da seção mista garantem os
benefícios estruturais verificados nos pilares mistos. Dessa forma, este estudo analisa a aderência e o
efeito de confinamento em perfis tubulares de
parede fina preenchidos com três tipos de concreto leve: sem adição - utilizado como referência
(CSA), com adição de expansor (CEX) e com adição de um novo aditivo incorporador de ar baseado
em LAS – Linear Alquil Benzeno Sulfonato de Sódio (CLAS).
Os modelos foram submetidos a ensaios de resistência à compressão com carga aplicada à seção mista
e os resultados obtidos foram comparados com os resultados de resistência à compressão dos corpos
de prova 10 x 20 (diâmetro x altura) dos concretos executados. A partir dos resultados constatou-se
que o CEX e o CLAS proporcionaram à seção mista os maiores graus de confinamento, contribuindo
para uma maior compatibilização aço-concreto. Assim, constatou-se a viabilidade técnica da
utilização desses aditivos em matrizes cimentícias para preenchimento de seções mistas.

Palavras-chave: concreto leve, aditivo expansor, aditivo incorporador de ar, pilar misto preenchido,
aderência, efeito de confinamento.

Abstract: The construction industry has been demanding the development of more efficient building
techniques and systems. Meeting this demand, the use of concrete-filled steel tube has been growing
due to the advantages offered by these structures, such as speed of execution, high resistance and
ductility. In this type of pillar, the concrete inside the pipe minimizes the problems of global and local
buckling of the steel profile. While the metal profile works as a cross-sectional reinforcement wich
restricts lateral expansion of the concrete core, providing an improvement in the section strength due
to the confinement effect. This effect together with the adhesion at the interface of the mixed section
guarantees the structural benefits verified in the concrete filled steel tube. Thus, this study analyzes
the adhesion and the confinement effect on tubular profiles of three types of concrete: convencional
(CSA); with addition of expansive agent (CEX) and with the addition of a new air-entraining
admixtures based on LAS - Linear Alkyl Benzene Sodium Sulfonate (CLAS). The models were
submitted to compressive strength tests with load applied to the mixed section and the results obtained
were compared with the results of compressive strength of 10 x 20 specimens (diameter x height) of
the concretes executed. From the results, it was verified that the CEX and the CLAS had the highest
degrees of confinement in the mixed section, contributing to a greater steel-concrete
compatibilization. Thus, the technical feasibility of the use of these additives in cementitious matrixes
to fill mixed sections was verified.

Keywords: lightweight concrete, expansive agent, air-entraining admixtures, concrete-filled steel


tube, adhesion, Confinement effect.

1. INTRODUÇÃO
Os pilares mistos preenchidos, sujeitos a força predominante de compressão, são elementos
resultantes da utilização de um tubo de aço preenchido com concreto de qualidade estrutural [1]. A
associação aço-concreto nesse tipo de elemento tornou-se uma forma de potencializar as vantagens
desses dois materiais, proporcionando uma melhor solução estrutural.
Nesses tipos de pilares, o concreto é confinado pelo tubo resultando em um estado tri-axial de
compressão o que proporciona aumento da resistência e da ductilidade do material de preenchimento
[2], [3]. Por outro lado, o núcleo de concreto minimiza os problemas de deformação por flambagem
global e local do perfil de aço [4], [5]. Esses benefícios estruturais, aliados com a facilidade de
construção e redução de custos [6], [7], justificam a ampla utilização dessas estruturas em edifícios
altos, pontes de várias tipologias, torres e sistemas de contraventamento [8], [9], [10].
No entanto, para que esses benefícios sejam conferidos, é necessário que ocorra uma interação aço-
concreto, manifestada principalmente em tensões de aderência e de confinamento. A aderência é a
propriedade responsável pela transferência de tensões cisalhantes na interface da seção por meio da
adesão, atrito e mecanismos mecânicos [11], [12]. O confinamento, um dos efeitos mais relevantes
no estudo de pilares mistos preenchidos, é caracterizado pela restrição do tubo de aço à expansão do
núcleo de concreto [13], [14]. Além do aumento da capacidade resistente da seção, o confinamento
oferecido pelo tubo de aço melhora a ductilidade do concreto, que em condições normais apresentaria
comportamento frágil e ruptura brusca [15], [16], [17].
Estudos mostram que o uso de concreto leve como preenchimento de tubos de aço na composição de
pilares, além de proporcionar redução do peso próprio da estrutura, economia de tempo e custo da
construção [18], [19] é capaz de favorecer a interação aço-concreto no elemento misto [20], [21],
[22]. O menor módulo de elasticidade desse tipo de concreto, devido à estrutura interna porosa de
seus agregados, é responsável por sua maior deformação e expansão radial, a qual mobiliza tensões
de aderência e de confinamento [10].
A limitação das deformações de contração do concreto, provocada por diversos fenômenos, tais como
retração por secagem e retração autógena [23], é de importância prática para a indústria, já que
considerando certos usos estruturais, o encolhimento do material pode causar rachaduras e redução
de sua durabilidade [24]. Em seções mistas, esse fenômeno, além de reduzir a durabilidade do
concreto de preenchimento, empobrece o vínculo na interface da seção, pois provoca a separação
entre os dois materiais [25]. Dessa forma, o uso de aditivos expansores é uma alternativa para
aumentar parâmetros de compatibilização aço-concreto em seções mistas [26]. A expansão da matriz
de preenchimento provocada pela adição de agente expansor, induz uma pré-tensão de confinamento
nas paredes do tubo de aço, melhorando o desempenho de interligação aço-concreto [27], [23] [28].
Os três tipos de agentes expansivos descritos na literatura são classificados como à base de
sulfoaluminato de cálcio, que induzem a formação de etringita, à base de óxido de cálcio, que
etimulam a cristalização da portlandita e aquele cujo princípio ativo é a hidratação do MgO [29], [30],
[31]. A pressão de cristalização gerada pela supersaturação dos cristais quando os agentes são
adicionados ao concreto resulta em uma expansão significativa no estado endurecido que compensa
o encolhimento subsequente [24].
Os aditivos incorpordores de ar são surfactantes, que impedem que as bolhas de ar presentes no
concreto durante o processo de mistura, se aglutinem, se rompam e emerjam à superficie [32], [33].
O uso desses aditivos possibilitam a melhora da trabalhabilidade e da coesão da matriz, e redução de
seu módulo de elasticidade [34]. Neste estudo, o incorporador de ar utilizado foi o LAS (Liner Alquil
Benzeno Sulfonato de Sódio), princípio ativo dos detergentes lava-louças com concentração de 5 a
25% de surfactante. De acordo com Mendes et al., (2017) [33], o produto alternativo é capaz de criar
um sistema eficiente que garante a manutenção do teor de ar incorporado do estado fresco para o
estado endurecido, melhorando a trabalhabilidade e reduzindo a massa específica do concreto.
Este estudo propõe o entendimento do uso de aditivos expansor e incorporador de ar em concreto leve
de preenchimento, visando o aumento da interação aço concreto e melhor desempenho estrutural
dessas seções mistas quando submetidas a cargas axiais.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Materiais
Neste trabalho foi utilizado cimento Portland pozolânico CPIV-32RS, com massa específica de 3,01
g/cm3 e resistência à compressão aos 28 dias equivalente a 32,4 MPa NBR 7215 [35]. O uso desse
cimento é justificado pelo melhor desempenho dos aditivos expansores nesse tipo de aglomerante
[23]. O agregado miúdo utilizado foi a areia natural de rio e os agregados graúdos foram a argila
expandida em duas graduações: 6-15 mm e 15-22 mm (Figura 1). As características físicas dos
agregados são especificados na Tabela 1.
Fig. 1 – Agregados leves nacionais: (a) graduação 6-15 mm; (b) graduação 22-15 mm.

Tabela 1 – Características físicas dos agregados.


Propriedade Areia Argila 1506 Argila 2215
Massa específica (g/cm³) 2,67 1,11 0,64
Massa unitária (g/cm³) 1,62 0,60 0,50
Módulo de finura 2,17 6,19 7,09
Dimensão máxima característica (mm) 2,4 12,5 25,0
Teor de material pulverulento (%) 0,76 - -
Absorção de água (%) 0,80 7,0 10,0

As adições utilizadas foram um agente expansor do tipo sulfoaluminato de cálcio e um aditivo


incorporador de ar alternativo baseado em LAS, princípio ativo dos detergentes lava-louças (Mendes,
et al., 2017) [33].
Os perfis de aço utilizados foram tubos de aço de baixa liga SAE 1020, com diâmetro externo de 100
mm, espessura de 2 mm e comprimento equivalente a 550 mm. A tensão de escoamento (fy) e a
tensão de ruptura (fu) do aço equivaleram respectivamente a 210 MPa e 380 MPa. Os tubos de aço
foram cortados e lixados no Laboratório de Estruturas/UFOP, utilizando uma serra de fita Starrett®.

2.2. Projeto das misturas de concreto


As misturas de concreto leve foram projetadas de acordo com o método IPT/APUSP [36]
considerando a classe C15 (15 MPa aos 28 dias) por meio de software computacional [37]. A
consistência foi determinada pelo abatimento de tronco de cone fixado em 60 ± 10 mm.
Foram produzidos três tipos de concreto leve: um concreto sem aditivos (CSA), usado como
referência, um concreto com expansor (CEX), e um concreto com adição de LAS (CLAS). Para cada
tipo de matriz cimentícia foram produzidos 3 corpos de prova cilíndricos de dimensões 10 x 20 cm
(diâmetro x altura) e quantidade suficiente para o preenchimento dos tubos de aço na composição dos
protótipos mistos. Os corpos de prova e os protótipos mistos foram curados cobertos por uma manta
umedecida por 28 dias. A Tabela 2 mostra os traços dos concretos executados.

Tabela 2 – Traço dos concretos executados.


Aditivos
Concreto Traço Fator a/c
Expansor LAS
CSA 1: 1,35: 0,49: 0,52 - - 0,55
CEX 1: 1,35: 0,49: 0,52 1,0% - 0,55
CLAS 1: 1,35: 0,49: 0,52 - 0,10% 0,53

2.3. Protótipos mistos


Os protótipos mistos foram produzidos usando tubos de aço moldado a frio totalmente preenchidos
com concreto. O material de preenchimento foi compactado em 5 camadas adensadas com 12 golpes,
de acordo com procedimentos da NBR 5738 [38]. Para cada matriz cimentícia (CSA, CEX, CLAS)
foi executado um espécime como mostra a Tabela 3.

Tabela 3 – Identificação e características dos espécimes.


Preenchimento Aço
Protótipo
Tipo fck (MPa) D (mm) L (mm) t (mm) L/D D/t
PCSA Concreto leve sem adição 15 100 550 2 5,5 50
PCEX Concreto leve com expansor 15 100 550 2 5,5 50
PCLAS Concreto leve com LAS 15 100 550 2 5,5 50

2.4. Resistência à compressão dos corpos de prova e dos protótipos mistos


Os ensaios de resistência à compressão dos corpos de prova de concreto leve, NBR 5739 [39], e das
seções mistas foram executados em uma prensa servo-controlada modelo DL 20000-EMIC e PC 200
com carga máxima de 2000 kN e velocidade de aplicação de carga de 0,45 MPa/s. A Figura 2 mostra
a representação esquemática do ensaio realizado nos protótipos mistos.
Fig. 2 – Representação esquemática do ensaio de compressão dos protótipos mistos: a) seção longitudinal e
transversal do tubo; b) ensaio mecânico.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1. Resistência à compressão dos corpos de prova


De acordo com Carballosa, Calvo, Revuelta, Sánchez & Gutiérrez (2015) [23] os aditivos expansores
baseados em sulfoaluminato de cálcio não modificam substancialmente a resistência à compressão
das matrizes cimentícias. Esse comportamento também pode ser observado nos resultados mostrados
na Figura 3, onde verifica-se que o CEX apresentou um valor de resistência muito próxima com a
identificada para o CSA.
No entanto, observa-se que o CLAS apresentou significativa redução de resistência mecânica, sendo
esta 42% inferior a obtida para o concreto de referência. Essa redução também observada por Mendes,
et al., 2017 [33] e Chen & Zhoe (2013) [40], é justificada pelo aumento da porosidade da matriz e
consequente redução de sua integridade.
De acordo com Santos, Cabral, Monteiro & Helene (2013) [41], a resistência mecânica está
relacionada diretamente com o módulo de elasticidade estático, parâmetro que relaciona a tensão
aplicada e a capacidade do concreto suportar as deformações. Dessa forma, com base nos resultados
de resistência pode-se inferir que o CLAS é a variação de concreto analisada com o menor módulo
de elasticidade. A redução do valor desse parâmetro implica em maior deformabilidade do material
ao ser solicitado axialmente.
Resistência à Compressão 50

40
(MPa)

30

20

21,00
20,96
10

12,07
0
CSA CEX CLAS

Fig. 3 – Resistência à compressão dos corpos de prova de concreto leve.

3.1. Resistência à compressão dos protótipos mistos


Analisando os resultados expostos na Figura 4 e comparando-os com os valores de resistência à
compressão dos concretos (Figura 3), constata-se que embora os concretos CSA e CEX apresentem
praticamente os mesmos valores de resistência à compressão (diferença de 0,2%), o protótipo misto
PCEX exibiu capacidade resistente 8,12% superior ao do modelo de referência PCSA.
Verifica-se também que o CLAS, que apresentou resistência de 42% inferior a identificada para o
CSA, conferiu à seção mista PCLAS capacidade resistente muito próxima a do protótipo de
referência.
O bom desempenho da seção PCEX está relacionado com a expansão do concreto CEX durante seu
período de cura. Esse aumento volumétrico da matriz, além de compensar a retração do núcleo, induz
tensões no tubo metálico gerando tensões de confinamento e melhora significativa da adesão aço-
concreto [26], [27] [23].
A boa performance da seção PCLAS pode ser justificada pelo reduzido módulo de elasticidade do
concreto com ar incorporado, o que permite que o material de preenchimento ao ser solicitado
axialmente apresente maior deformação e expansão radial, mobilizando tensões de aderência e
confinamento [22], [42]. Além disso, nessa seção mista, ocorre a predominância da aderência
mecânica relacionada com a maior rugosidade e irregularidades superficiais do núcleo com ar
incorporado [22], [42].
50
Resistência à Compressão

40

30
(MPa)

46,53
43,13

42,24
20

10

0
PCA PCEX PCLAS

Fig. 4 – Resistência à compressão dos protótipos mistos.


Os comportamentos das seções PCEX e PCLAS também podem ser relacionados com os maiores
graus de confinamento verificados, como indica os valores de índice de força (SI) apresentados na
Tabela 4.
Os índices calculados para os perfis preenchidos com CEX e CLAS foram de 1,41 e 1,63,
respectivamente. Segundo Ekmekyapar & Al-Eliwi (2016) [43], índices maiores que 1,35 significam
que um bom efeito de confinamento foi verificado, influenciando no aumento da capacidade
resistente da seção devido a correta transferência de tensões cisalhantes na interface aço-concreto.
Por outro lado, o protótipo com concreto sem adição obteve um SI de 1,31, o que indica que esta
configuração teve um desempenho ao confinamento inferior aos demais.

Tabela 4 – Propriedades das seções mistas.


Protótipo As (mm²) Ac (mm²) fy (MPa) fck (MPa) Nu (kN) SI*
PCSA 615,75 7238,22 210 20,96 338,72 1,31
PCEX 615,75 7238,22 210 21,00 365,42 1,41
PCLAS 615,75 7238,22 210 12,07 331,72 1,63
* Refere-se ao índice de força (SI) dos protótipos mistos calculados de acordo com a equação 1:

𝑁𝑢
SI = (1)
𝐴𝑠 𝑓𝑦 + 0,85𝐴𝑐 𝑓𝑐𝑘
Na expressão:
 𝑁𝑢 é a resistência à compressão da seção mista (N);
 𝐴𝑠 é a área da seção transversal de aço (mm²);
 𝑓𝑦 é a tensão de escoamento do aço (MPa);
 𝐴𝑐 é a área da seção transversal do concreto (mm²);
 𝑓𝑐𝑘 é a resistência à compressão do concreto (MPa).
O mecanismo de falha típico de todos os tubos de aço dos protótipos mistos ensaiados foi a
plastificação, como se observa na Figura 5.

Fig. 5 – Modo de falha dos tubos de aço.

3. CONCLUSÃO
Diante dos resultados apresentados, constata-se que o aditivo expansor do tipo sulfoaluminato de
cálcio não afeta significativamente a resistência mecânica das matrizes cimentícias. No entanto, o
aditivo incorporador de ar alternativo (LAS), proporciona redução dessa propriedade mecânica pelo
fato de provocar aumento da porosidade da matriz.
A adição de agente expansor e de incorporador de ar nos concretos leves de preenchimento
fortaleceram o vínculo na interface aço-concreto
dos perfis mistos contribuindo para a transferência de tensões de cisalhamento e
compatibilidade de deformações entre os materiais da seção. O efeito de confinamento foi bastante
pronunciado nos protótipos PCLAS, o suficiente para compensar a resistência reduzida do concreto
de preenchimento e contribuir para uma maior aderência e compatibilização aço-concreto na
interface.
Dessa forma, constata-se a viabilidade técnica da utilização desses aditivos em matrizes cimentícias
para preenchimento de seções mistas.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem as instituições FAPEMIG, CAPES, Fundação Gorceix, UFOP e CNPq pelo
apoio para a realização e apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e
colaboração do Grupo de Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS – CNPq.
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MÓDULO DE ELASTICIDADE DO CONCRETO: UM ESTUDO SEMI
PROBABILÍSTICO E SEUS DESDOBRAMENTOS

Concrete modulus of elasticity: a semi probabilistic study and its consequences

Ana Carolina Carius 1, Leonardo de Souza Corrêa 2, Vinícius Costa Furtado da Rosa 3,
Bruna Nogueira 4, Alex Justen Teixeira 5
1
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil, ana.carius@ucp.br
2
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil, leo.s.c@hotmail.com
3
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, vinicius.rosa@ucp.br
4
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, bru.nogueira02@gmail.com
5
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, alex.teixeira@ucp.br

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar um estudo do comportamento da


resistência à compressão do concreto, considerando que o concreto é um material compósito e, sendo
assim, admite variabilidade significativa e comportamento semi probabilístico. A partir desta
conclusão, conjectura-se que o módulo de elasticidade do concreto possui, também, um
comportamento semi probabilístico, divergindo da norma ABNT NBR 6118 (2014), a qual considera
o módulo de elasticidade a partir de cálculos determinísticos. A metodologia da pesquisa envolveu a
escolha de um traço de concreto com resistência característica (fck) de 40 MPa, com o qual foram
realizados ensaios para determinação do módulo de elasticidade tangente (Eci), além de ensaios que
garantissem o valor da resistência a compressão indicado. Os ensaios para a obtenção do módulo de
elasticidade foram realizados de acordo com a norma ABNT NBR 8522 (2017). Concluiu-se que,
como o módulo de elasticidade do concreto recebe influência da resistência à compressão, que
obedece a uma distribuição probabilística, e desta forma, não se deve manter o cálculo do módulo de
elasticidade do concreto de forma determinística.
Palavras-chave: Módulo de elasticidade, concreto, probabilidade, comportamento semi
probabilístico

Abstract: The present work aims to present a study of the compressive strength behavior of the
concrete, considering that the concrete is a composite material and, therefore, admits significant
variability and semi probabilistic behavior. From this conclusion, it is conjectured that the modulus
of elasticity of the concrete also has a semi probabilistic behavior, diverging from the norms ABNT
NBR 6118 (2014), which consider the modulus of elasticity from deterministic calculations. The
research methodology involved the selection of a concrete trait with characteristic strength (fck) of
40 MPa, with which tests were carried out to determine the tangential elasticity modulus (Eci), in
addition to tests that guarantee the value of the compressive strength indicated. The tests to obtain the
modulus of elasticity were performed according to ABNT NBR 8522 (2017). It was concluded that
as the modulus of elasticity of the concrete is influenced by the compressive strength, which obeys a
probabilistic distribution, and in this way, the calculation of the concrete modulus of elasticity of the
concrete must not be maintained deterministically.

Keywords: Modulus of elasticity, concrete, probability, semiprobabilistic behavior


1. INTRODUÇÃO
De acordo com Hibbeler (2010), vigas são elementos delgados que suportam carregamentos aplicados
perpendicularmente a seu eixo longitudinal. Em virtude de sua ampla aplicabilidade na composição
de elementos estruturais, as vigas são consideradas as partes mais importantes em elementos
estruturais.
As vigas podem ser classificadas de acordo com o modo como as mesmas são apoiadas. Dentre os
principais tipos de apoio, destacamos: viga simplesmente apoiada, que é aquela suportada por um
apoio fixo em uma extremidade e um apoio móvel na outra extremidade; viga em balanço, que é
engastada em uma extremidade e livre na outra e viga apoiada com extremidade em balanço, que
é a viga na qual uma ou ambas as extremidades ultrapassam livremente os apoios (HIBBELER, 2010).
Considerando como ponto de partida para este estudo uma viga bi apoiada, o objetivo deste trabalho
foi analisar a deflexão de uma viga biapoiada. Para tanto, define-se o conceito de linha elástica. Para
Hibbeler (2010), linha elástica corresponde ao diagrama da deflexão do eixo longitudinal que passa
pelo centroide de cada área da seção transversal da viga.
O modelo matemático que descreve a linha elástica inclui, em sua formulação, a contribuição do
módulo de elasticidade ou módulo de Young. Por definição, o módulo de elasticidade é a razão entre
a tensão aplicada sobre um corpo e a deformação específica sobre o corpo. Para os materiais
idealizados por Robert Hooke, verifica-se uma proporcionalidade entre a força aplicada e a
deformação verificada. No entanto, o concreto não mantém esta proporcionalidade, variando-se o
módulo de elasticidade de acordo com a carga aplicada (PACHECO et. al, 2014). Desta forma,
consideramos, primeiramente, dois tipos de módulo de elasticidade: módulo de elasticidade estático
e módulo de elasticidade dinâmico. Em geral, o módulo de elasticidade é obtido através de métodos
experimentais, uma vez que diversos fatores afetam o valor para o mesmo, tais como: o tempo de
cura do concreto, a temperatura da cura, proporções da mistura e propriedades dos agregados,
destacando-se a proporção água/cimento, tamanho e forma do corpo de prova, entre outros
(DIÓGENES et. al, 2011).
A proposta inicial da pesquisa era estudar o comportamento da linha elástica que define a deflexão
de uma viga bi apoiada, considerando-se carregamento pontual localizado na metade do comprimento
da viga, a partir de um modelo matemático que não considerasse o módulo de elasticidade para o
concreto como uma constante. Diante desse panorama, iniciou-se um estudo sobre o comportamento
do módulo de elasticidade do concreto do ponto de vista probabilístico.
Segundo MEHTA e MONTEIRO apud DE MARCHI (2008), o módulo de elasticidade pode ser
definido como a relação entre a tensão aplicada e a deformação instantânea dentro de um limite de
proporcionalidade do material. Em alguns casos, este limite é simplesmente adotado por uma norma
que padroniza o ensaio, como acontece na norma brasileira.
O concreto é um material compósito, cujas características de suas ligações químicas são semelhantes
a materiais cerâmicos, sendo um material heterogêneo e multifásico. A fração volumétrica, a
densidade e o módulo dos principais componentes, além de características da zona de transição na
interface determinam o comportamento elástico do concreto (DE MARCHI, 2011).
O concreto é composto pela mistura de dois materiais bem distintos: o agregado, que é o material
rígido e a pasta de cimento, que é um material poroso e flexível. Consequentemente o módulo de
elasticidade do conjunto é a resultante da interação destas duas fases. De acordo com Neville (1997),
o comportamento do concreto pode ser descrito de forma intermediária entre o comportamento do
agregado e da pasta de cimento, conforme mostra a Figura 1.

Fig. 1 - Gráfico tensão X deformação para concreto, pasta de cimento e agregado. (NEVILLE, (1997)).
Neville (1997) justifica o comportamento não-linear da curva do concreto no gráfico tensão X
deformação pelo fato de que, mesmo antes de sofrer a aplicação de carga na compressão, o concreto
possui microfissuras, principalmente na zona de transição entre os agregados e a pasta de cimento.
Essas microfissuras evoluiriam inicialmente dentro da zona de transição com a aplicação da carga, se
tornando estáveis até 30% da resistência à compressão do concreto. Com solicitações acima de 70%
da resistência à compressão, as fissuras se propagariam através da pasta de cimento. Neville (1997)
destaca, ainda, que a retração autógena da pasta de cimento que o constitui não depende da ação de
cargas sobre ele. Desta forma ocorrem retrações e deformação do material como um todo.
A partir do comportamento apresentado pelo concreto para os ensaios de compressão, modificando a
relação tensão x deformação, o presente trabalho objetivou o estudo do módulo de elasticidade para
concreto convencional, tomando-se, como base, um traço de resistência a compressão de 40 MPa.
Foram confeccionados 47 corpos de prova cilíndricos, de acordo com a norma ABNT NBR 5738
(2014) e rompidos de acordo com a norma ABNT 5739 (2007). Utilizou-se o tempo de cura de 7, 14
e 28 dias para os ensaios de resistência à compressão e 60 dias para os ensaios de módulo de
elasticidade. Optamos pelo método tangencial para o cálculo do módulo de elasticidade.
Após a obtenção dos dados através dos ensaios laboratoriais, realizamos um levantamento estatístico
tanto para os valores referentes aos ensaios de resistência à compressão como para os ensaios para o
cálculo de elasticidade visando o entendimento, do ponto de vista estatístico, do comportamento tanto
da resistência à compressão quanto do módulo de elasticidade.
Concluímos que a resistência à compressão se comporta conforme uma distribuição gaussiana de
probabilidade e investigamos o comportamento do módulo de elasticidade, a fim de propor um
modelo probabilístico para o cálculo deste coeficiente. Pretendemos, ao final de todo o projeto, obter
um modelo que melhor descreva o módulo de elasticidade do ponto de vista probabilístico, divergindo
da norma brasileira, a qual considera o cálculo deste coeficiente de forma determinística.
2.OBJETIVOS

O presente trabalho objetivou, a partir da hipótese de que a resistência a compressão do concreto não
se comporta de forma determinística em função do mesmo não ser um material homogêneo regido
pela Lei de Hooke e avaliar a contribuição da distribuição probabilística da resistência à compressão
no cálculo do módulo de elasticidade. Conforme citado anteriormente, o estudo de variabilidade do
concreto, quando considerado adequadamente, pode contribuir, de forma significativa, na otimização
de usos de recursos naturais e materiais, conduzindo a projetos sustentáveis.

3. MÉTODOS

3.1 Módulo de elasticidade: definições e normas existentes


De acordo com De Marchi (2011) são descritos três tipos de módulo de elasticidade do concreto
quando sujeito à compressão:
Módulo tangente: é calculado através do coeficiente angular da reta tangente a qualquer ponto da
curva tensão X deformação na compressão, mas quando não for especificado o ponto da curva, refere-
se à origem, ou seja, ao módulo tangente inicial Eci.
Módulo secante: é dado pela relação entre uma tensão qualquer e a deformação a ela correspondente,
ou seja, o coeficiente angular da reta que liga os pontos da curva tensão X deformação correspondente
a essa tensão e à tensão igual a zero. Quando a tensão não é mencionada, infere-se que o módulo
secante seja relativo a uma tensão entre 40 e 50 % da resistência à compressão.
Módulo cordal: É definido pela reta que liga dois pontos quaisquer da curva tensão X deformação.
Adotamos, para este trabalho, o cálculo do módulo de elasticidade tangente, de acordo com o previsto
pela ABNT NBR 8522 (2017). Existem, contudo, alguns modelos matemáticos que tentam prever o
comportamento do módulo de elasticidade sem levar em consideração toda a variabilidade intrínseca,
discutida na Seção 1. De acordo com De Marchi (2011), as abordagens teóricas não possuem muita
aplicabilidade e se restringem ao uso do ponto de vista acadêmico. No entanto, é possível verificar
algumas fórmulas para o cálculo do módulo de elasticidade, obtidas de forma empírica, que estão
presentes em normas e recomendações técnicas internacionais de projetos de estruturas de concreto,
conforme a Tabela 1.
3.2 Fatores que influenciam no módulo de elasticidade do concreto
Conforme descrito anteriormente, o concreto é um material compósito e, devido a sua estrutura
heterogênea, possui comportamento elástico. Destacam-se fatores de variabilidade intrínsecos e
extrínsecos os quais são descritos a seguir.
3.2.1 Variabilidade intrínseca
Os agregados ocupam, em média, 75 % do volume do concreto, impactando diretamente na
variabilidade do mesmo e alterando significativamente o valor do módulo de elasticidade (DE
MARCHI, 2011).
SBRIGHI (2005) apresenta os principais tipos de rochas utilizados como agregados para o concreto
e seus respectivos módulos de elasticidade. Estes valores estão indicados na Tabela 2.
Tabela 1: Diferentes formas para o cálculo do módulo de elasticidade tangencial (PACHECO et. al, 2014).
Autor Expressão
Eci = 5600 ∙ √𝑓𝑐𝑘
NBR 6118/2007

𝐸𝑐 = 1,05 ∙ 𝐸𝑐𝑚
EUROCODE 2/2004 0,3
28 0,5
{𝑠+[1−( ) ]}
𝑡
𝐸𝑐 (𝑡) = 1,05 ∙ (𝑒 ) ∙ 𝐸𝑐𝑚

ACI 318/2005 Não tem cálculo para o módulo tangencial


1
3
𝑓𝑐𝑘 + 8 3
Fib MODEL CODE 2010 𝐸𝑐𝑖 = 21,5 ∙ 10 ∙ 𝛼𝐸 ∙ ( )
10
0,5
28 0,5
{𝑠+[1−( ) ]}
𝑡
𝐸𝑐𝑖 (𝑡) = (𝑒 ) ∙ 𝐸𝑐𝑖

Tabela 2: Módulo de elasticidade de agregados (SBRICHI, 2005).


Tipo de rocha Módulo de elasticidade (GPa)
Arenito 20-40
Basalto 60-100
Calcário 30-50
Gnaisse 40-70
Granito 40-70
Quartzito 50-100
Xisto 25-40

Observa-se, no entanto, que de todas as propriedades do agregado graúdo, aquela que afeta o módulo
de elasticidade de forma significativa é a porosidade. De acordo METHA e MONTEIRO (2008), a
porosidade do agregado determina a sua rigidez e, desta forma, controla a capacidade do agregado de
restringir deformações da matriz da pasta de cimento, sendo a variação do módulo de elasticidade do
agregado diretamente proporcional ao aumento do módulo de elasticidade do concreto.
Assim como para os agregados graúdos, a porosidade desempenha um papel fundamental no módulo
de elasticidade da pasta de cimento endurecida. Esse fenômeno está diretamente atrelado à relação
água/cimento, teor de ar incorporado, adições minerais e grau de hidratação do cimento (MEHTA e
MONTEIRO, 2008). Os vários tipos de vazios na pasta de cimento são classificados como porosidade
gel e porosidade capilar. O volume da porosidade diminui durante a hidratação.
A zona de transição entre a matriz da pasta de cimento e o agregado é normalmente considerada como
a parte mais fraca do concreto de resistência normal. Para o concreto de alta resistência, a resistência
da argamassa e da zona de transição pode ser comparável com a resistência do agregado graúdo (DE
MARCHI, 2011).
MASO apud METHA e MONTEIRO (2008) descreve o comportamento do concreto a partir de seu
lançamento: primeiro forma-se um filme de água ao redor das partículas dos agregados graúdos,
podendo formar uma relação água/cimento mais elevada nas proximidades do agregado graúdo do
que na matriz da pasta de cimento. Os íons de cálcio, sulfato, hidroxila e aluminatos formados pela
dissolução dos compostos de sulfato de cálcio e de aluminato de cálcio, combinam-se para formar
etringita e hidróxido de cálcio. Devido à relação água/cimento elevada, estes produtos cristalinos
vizinhos ao agregado graúdo consistem de cristais relativamente grandes e, consequentemente,
formam uma estrutura mais porosa do que na matriz da pasta de cimento ou na matriz da argamassa.
3.2.2. Variabilidade Extrínseca
Entre os parâmetros influenciadores para o módulo de elasticidade relacionados aos corpos-de-prova,
encontram-se a forma e a dimensão da seção transversal, a relação entre o comprimento e essa
dimensão e a direção de concretagem (SHEHATA, 2005). Já os parâmetros relacionados ao
procedimento de ensaio estão o teor de umidade do corpo-de-prova, a velocidade de aplicação da
tensão, a restrição à deformação nas extremidades do corpo-de-prova causada pela placa de
carregamento, o comprimento ao longo do qual se mede a deformação, o diâmetro do prato
transmissor de carga e a rigidez da prensa.
De Marchi apud Montija (2007) sinaliza que o uso de uma fórmula que exige uma aproximação
matemática contribui para a interpretação do resultado de ensaio do módulo de deformação do
concreto. Desta forma, é necessário garantir que os limites do trecho retilíneo estejam bem definidos
e confiáveis. Também são citados pelo autor como fontes de variabilidade inerentes ao ensaio, a
velocidade de aplicação da carga, a definição do plano de carga e o tipo de instrumentação para a
medição das deformações.
Para os ensaios do módulo de elasticidade, segue-se as recomendações da norma ABNT NBR 8522
(2017). São indicados 5 corpos de prova cilíndricos, de forma que a altura do corpo de prova seja o
dobro do diâmetro do mesmo corpo de prova. O diâmetro deve ser dado de acordo com o tamanho
do agregado graúdo, de forma que o diâmetro seja, no mínimo, 4 vezes o tamanho máximo do
agregado graúdo. Primeiramente deve ser feito um ensaio de resistência à compressão para dois
corpos de prova, de acordo a ABNT NBR 5739 (2007). Este ensaio tem por objetivo determinar o
nível de carregamento a ser aplicado no ensaio de módulo.
A fim de determinar o módulo de elasticidade através da tangente inicial, posiciona-se o corpo de
prova corretamente em relação aos medidores que serão usados e aplica-se o carregamento até uma
tensão de 30% da resistência à compressão obtida no ensaio anterior (𝜎𝑏 ), a uma velocidade de 0,25
MPa/s, podendo-se variar esta velocidade em 0,05 MPa/s, tanto positivamente quanto negativamente.
Esse nível de carregamento deve ser mantido por 60 segundos e, em seguida, reduzido à mesma
velocidade do processo de carregamento até o nível de tensão básica (considerado 𝜎𝑎 =0,5 MPa, com
variação de 0,1 MPa, tanto positivamente quanto negativamente). Devem ser realizados mais ciclos
de carregamento adicionais, entre 𝜎𝑎 e 𝜎𝑏 , mantendo essas tensões por 60 segundos. Depois do
último ciclo de carga são medidas as deformações específicas.
Após o término das leituras de deformação, o corpo de prova deve ser carregado até a sua ruptura.
Se a resistência efetiva à compressão do corpo de prova diferir de fci em mais de 20 %, os resultados
do corpo de prova devem ser descartados.
O módulo de elasticidade, com tensão fixa 𝜎𝑎 , pode ser calculado pela seguinte equação
∆𝜎 𝜎𝑏 − 0,5 −3
𝐸𝑐𝑖 = 10−3 = 10
∆𝜀 𝜀𝑏 − 𝜀𝑎
onde
𝜎𝑏 é a tensão maior, em MPa (𝜎𝑏 = 0,3 𝑓𝑐𝑘 ) ou outra tensão especificada em projeto, de até 40 % de
𝑓𝑐𝑘 ;
0,5 é a tensão básica em MPa;
𝜀𝑏 é a deformação específica média, sob a tensão maior;
𝜀𝑎 é a deformação específica média, sob a tensão básica de 0,5 MPa.

4. PROGRAMA EXPERIMENTAL E SEUS RESULTADOS


O objetivo deste programa experimental foi investigar o comportamento semi probabilístico dos
ensaios de resistência à compressão para um traço de concreto de 40 MPa. A seguir, foram realizados
ensaios para a medir a deformação e cálculo do módulo de elasticidade para o método da tangente
inicial, descrito na Seção 3.
A primeira etapa da pesquisa foi realizada durante um período de sessenta dias. A partir de um traço
calculado para um concreto convencional de 40 MPa, foram confeccionados 47 corpos de prova, dos
quais 10 foram separados para a realização dos ensaios do módulo de elasticidade e os demais 37
foram ensaiados à compressão.
A segunda etapa da pesquisa objetivou o estudo estatístico dos dados obtidos nos ensaios realizados
na primeira etapa, mapeando os fatores ligados a variabilidade da determinação do módulo de
elasticidade, diante da variabilidade inerente aos materiais e a variabilidade do ensaio.
Por fim sugere-se, a partir dos resultados para a variabilidade da resistência à compressão, um
comportamento semelhante para o módulo de elasticidade, o qual será melhor avaliado
posteriormente, em uma próxima etapa desta pesquisa.
4.1 Materiais constituindo do concreto utilizado na pesquisa
O cimento utilizado na pesquisa foi o CP II, E-32, da TUPI. Foram usados 38 kg de cimento, de um
mesmo saco (mesmo lote). Como agregado miúdo foi usada uma areia média (diâmetro de 0,42 a 2
mm) de origem natural, na quantidade de 63 kg, de uma mesma amostra. Para os agregados graúdos
foram utilizados na composição de brita 0 e brita 1, de origem granítica, na proporção de 60 % de
brita 0 (diâmetro de 4,8 a 9,5 mm) e 40 % de brita 1 (diâmetro de 9,5 a 19,0 mm). Foram utilizados
13,5 litros de água, fornecidos pela concessionária de água do município de Petrópolis (Águas do
Imperador), dentro dos limites normais de potabilidade. Por fim, foram usadas 228 g de aditivo,
TecFlow 9030 da GRACE.
4.2 Dosagem do concreto
A Tabela 3 apresenta as dosagens para o traço de concreto utilizado na pesquisa.
Tabela 3: Traço do concreto.
Fck (MPa) 40 MPa
Relação a/c 0,3563
Cimento (kg/m3) 480
Água (l/m3) 171
Areia (kg/m3) 850
Brita 0 (kg/m3) 600
Brita 1 (kg/m3) 400
Aditivo (0,6%)/Massa cimento 28,8 L

4.3 Avaliação da resistência à compressão dos concretos estudados


Para o estudo foram realizadas análises baseadas nos ensaios de resistência aos 7, 14 e 28 dias de
idade, para 37 corpos de prova. Os resultados podem ser observados no Gráfico 1.

Variação da resistência à compressão

50
Resistência à compressão (MPa)

4446
40 42414140 40 40 42
41
38 3938 3737 35 3738
3939 38 38 39
36
34 3433 35 3434
33 31 323133 32 32
30

20

10

0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37
Identificação dos corpos de prova

Gráfico 1: Resistência a compressão para os 37 corpos de prova.


Os dados analisados são dispostos na forma de uma tabela de frequências. Esta tabela é construída a
partir dos intervalos de classes, que são escolhidos a partir da amplitude máxima dos dados. Para a
resistência à compressão, a amplitude foi de 16, uma vez que o maior fck aferido foi de 46 MPa e o
menor fck aferido foi de 30 MPa. Foi construída uma tabela de frequências com 10 intervalos de
classe, cuja amplitude é de 1,7 MPa. A partir desta tabela é possível construir o histograma para os
dados obtidos, representado pelo Gráfico 2.
É possível observar pelo Gráfico 2 que as variabilidades intrínsecas aos materiais, assim como
variabilidades relacionadas aos ensaios colaboraram para que o histograma não exprimisse uma
distribuição gaussiana ou normal, conforme prevê a norma.
A Tabela 4 representa o resumo da análise estatística para o traço de 40 MPa.
Tabela 4: Resumo da análise estatística para a resistência do traço de 40 MPa.

Variável Valor obtido


Número de amostras 37
fck,est (NBR 12655) 49,7893259
fc médio (MPa) 41,98706397
Desvio padrão fc 5,932924791
Coeficiente de variação fc (%) 14,13036357
Gráfico 2: Histograma para os 37 corpos de prova submetidos à resistência à compressão.

4.4 Avaliação do módulo de elasticidade


Em virtude de condições externas à pesquisa, dos 9 corpos de prova que foram separados para os
testes do módulo de elasticidade, foram ensaiados apenas três, cujos resultados podem ser indicados
na Tabela 5.
Tabela 5: Resumo da análise estatística para o módulo de elasticidade do traço de 40 MPa.
Variável Valor obtido
Número de amostras 3
Eci previsto segundo NBR 6118 (GPa) 35,417
Eci médio 39,37
Desvio padrão Eci 2,6777
Coeficiente de variação (%) 6,8

5. CONCLUSÃO E TRABALHOS FUTUROS


O presente estudo objetivou discutir o caráter aleatório do concreto, destacando esta característica em
duas propriedades: resistência à compressão e módulo de elasticidade. Conforme descrito na Seção
1, a norma brasileira prevê que a resistência à compressão para o concreto não se dê através de uma
fórmula determinística, mas que possa ser calculada através de uma distribuição de probabilidade.
Através do Gráfico 2, observa-se o histograma para os dados experimentais de resistência à
compressão. É possível verificar uma maior concentração dos valores em torno da média aritmética.
Acredita-se que, aumentando-se a quantidade de corpos de prova, o comportamento dos dados se
aproxime de uma distribuição gaussiana (DE MARCHI, 2011).
Para o módulo de elasticidade, foram utilizados apenas uma média entre os valores para 3 corpos de
prova. Conforme descrito na Seção 2, a norma brasileira ainda prevê o cálculo do módulo de
elasticidade usando fórmulas determinísticas pré-estabelecidas. No entanto, percebe-se que pelo fato
do módulo de elasticidade ser definido como o quociente entre a tensão aplicada ao corpo de prova e
a deformação do mesmo, o caráter aleatório presente no concreto é expresso através dos ensaios de
resistência à compressão deve ser considerado para o módulo de elasticidade, diferentemente do
previsto pela norma brasileira.
Por fim, na Seção 5, apresenta-se a contribuição do módulo de elasticidade de forma aleatória, e a
forma como essa construção pode contribuir no cálculo da linha elástica que define a deflexão de uma
viga bi apoiada. Na próxima etapa do projeto, já em andamento, avalia-se o módulo de elasticidade
para o concreto, considerando o mesmo traço, para, aproximadamente, 400 corpos de prova. De
acordo com Torman et. al (2012), a fim de aplicar um teste para verificação se o conjunto de dados
obedece a uma distribuição gaussiana, considera-se o teste de Kolgomorov-Smirnov, o qual possui
um percentual de acerto de 100% para uma amostra de 500 dados, quando a amostra se trata de uma
distribuição gaussiana. Baseados nesse trabalho, pretende-se obter experimentalmente o módulo de
elasticidade de 400 corpos de prova de um mesmo traço e, posteriormente, comprovar que estes dados
correspondem a uma distribuição gaussiana.
Após a verificação se o conjunto de dados para o módulo de elasticidade representa uma distribuição
gaussiana, a análise semi probabilística para o mesmo será realizada, donde pretende-se obter
conclusões a respeito da qualidade do concreto e indicar procedimentos de controle e qualidade que
podem ser aplicados a estruturas, a exemplo das vigas.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao CNPq pela bolsa PIBIC ao estudante Leonardo de Souza Corrêa e pela bolsa PIBIC-
EM a estudante Bruna Nogueira. A Universidade Católica de Petrópolis pela disponibilização do
Laboratório de Engenharia Civil para os experimentos.

REFERÊNCIAS
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COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO ENTRE CONCRETO
CONVENCIONAL E LEVE

Comparison of the performance between conventional and lightweight concrete

B. H. Rodrigues1, J. F. Natalli2, L. F. dos Santos 3, J. T.Fagundes4, R. A. F. Peixoto5


1Laboratório de Materiais de Construção Civil, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil,
bah.eng12@gmail.com@gmail.com
2
Laboratório de Materiais de Construção Civil, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil,
juliananatalli24@gmail.com
3
Laboratório de Materiais de Construção Civil, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil,
lelefigueiredos@gmail.com
4
Laboratório de Materiais de Construção Civil, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil,
juniatfagundes@gmail.com
5
Laboratório de Materiais de Construção Civil, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil,
ricardofiorotti@yahoo.com.br

Resumo:
O concreto é o material construtivo mais utilizado no mundo devido a sua viabilidade técnica e
econômica. A larga aplicação do material pode ser justificada pela sua capacidade de resistir a ação
da água sem deterioração, diferentemente da madeira e do aço. Além disso, os elementos estruturais
podem ser facilmente moldados em diversas formas e tamanhos, com baixo custo de transporte e
produção, devido à disponibilidade de matérias-primas. O intenso processo de industrialização da
construção civil nos últimos anos demanda a produção de concretos que otimizem os procedimentos
construtivos, sem comprometer a segurança estrutural. Nesse sentido, a utilização de agregados
leves em substituição aos agregados convencionais e o uso de aditivos incorporadores de ar
contribuíram para redução da massa específica de elementos de concreto. Há vantagens
consideráveis com a redução dessa propriedade, como a diminuição significativa do peso próprio da
estrutura, redução de gastos com materiais e com obras de fundações. Também contribui para uma
maior produtividade da construção, devido à facilidade de transporte do material. Dessa forma, este
estudo tem o objetivo de avaliar e caracterizar física e mecanicamente traços de três tipos de
concreto: convencional - produzido com brita gnáissica (CC), leve - produzido com argila
expandida (CL), e convencional com aditivo incorporador de ar (CAI). A partir dos resultados
verificou-se uma expressiva redução da massa específica do concreto leve, em comparação ao
convencional, sem perda significativa de sua resistência mecânica. Por outro lado, o uso de aditivo
incorporador de ar não contribuiu para uma considerável diminuição da massa específica, além de
ter provocado grande redução da resistência dessa matriz. O módulo de elasticidade do concreto
leve com agregados leves foi o menor observado, devido principalmente à estrutura porosa da argila
expandida. Assim, verificou-se a viabilidade técnica da utilização de concretos leves e a
necessidade de mais estudos sobre agentes incorporadores de ar na produção de concretos com
baixo peso próprio.
Palavras-chave: Concreto convencional, Concreto leve, Aditivo incorporador de ar.
Abstract:
The concrete is the most used construction material in the world due to its technical and economic
feasibility. The wide application of the material can be justified by its ability to withstand the action
of water without deterioration, unlike wood and steel. In addition, the structural elements can be
easily molded in various shapes and sizes, with low transportation and production costs due to the
availability of raw materials. The intense process of industrialization of the civil construction in the
last years demands the production of concretes that optimize the constructive procedures, without
compromising their structural security. Thus, the use of lightweight aggregates instead of
conventional aggregates and the use of air-entraining admixtures contribute to reduce the specific
mass of concrete elements. There are considerable advantages to the reduction of this property, such
as a significant reduction in the self weight of the structure and the lower expenses with materials
and foundations. It also contributes to a higher productivity of the construction, due to the ease of
transport of the material. Thus, this study aims to evaluate and characterize physically and
mechanically traces of three types of concrete: conventional - produced with gneiss gravel (CC),
light - produced with expanded clay (CL), and conventional with air-entraining admixture (CAI).
From the results, there was an expressive reduction of the specific mass of the lightweight concrete
in comparison to the conventional one, without significant loss of its mechanical resistance. On the
other hand, the use of air-entraining admixture did not contributed to a significant decrease of the
specific mass, besides causing a great reduction of the concrete’s resistance. The modulus of
elasticity of light concrete with light aggregates was the lowest observed, mainly due to the porous
structure of the expanded clay. Thus, it was observed the technical feasibility of the use of
lightweight concrete and the need for further studies on air entraining agents in the production of
low weight concrete.
Keywords: Conventional concrete, Lightweight concrete, Air-entraining admixtures.

1. INTRODUÇÃO
A construção civil exige, atualmente, técnicas e materiais cada vez mais eficientes, com aplicação
fácil e rápida, além de um produto final com custos menores, tornando-se necessário o
desenvolvimento rápido da tecnologia. O concreto vem apresentando um crescimento mundial
contínuo, tanto em relação a sua aplicação quanto no desenvolvimento de materiais com melhores
propriedades. Com a necessidade de produzir estruturas com menor peso próprio, vem sendo
desenvolvidos cada vez mais diferentes tipos de concretos que atendam a essa demanda,
denominados concretos leves.
Denominam-se por concretos convencionais as misturas endurecidas compostas por ligante
(cimento), agregados naturais (areia, brita, cascalho) e água, de massa específica entre 2000 e 2800
kg/m³ [1]. Identifica-se como concreto leve os concretos com massa específica inferior à do
concreto convencional, abaixo de 2000 kg/m³ [2].
O concreto leve é utilizado na engenharia como solução para a redução do peso próprio das
estruturas, visto que o material é de 20 a 30% mais leve que o concreto convencional [3]. Esse
concreto, além de promover redução do peso das peças estruturais, também é muito utilizado em
seções mistas e proporciona ganhos com relação à interação aço-concreto e aumento da capacidade
resistente do pilar misto [4][5][6][7].
Os concretos leves podem ser obtidos através da utilização de materiais alternativos aos
tradicionais, como a argila expandida e aditivos incorporadores de ar, que vêm permitindo o
desenvolvimento de matrizes cada vez mais leves.
A argila expandida, agregado de massa específica reduzida, pode ser utilizada em substituição ao
agregado convencional, dando origem ao concreto leve estrutural. O processo de fabricação faz com
esse agregado apresente uma estrutura interna porosa coberta por uma camada vitrificada, formato
arredondado e granulometria variada. Suas principais características são: leveza, isolamento
térmico, baixa densidade, isolamento acústico, durabilidade e resistência a altas temperaturas [8].
Os aditivos incorporadores de ar surfactantes são aditivos que alteram a tensão superficial capazes
de permitir que as bolhas de ar formadas na etapa de mistura do concreto se rompam. Essas espécies
químicas reduzem a tensão superficial das interfaces líquido-líquido, líquido-ar, sólido-líquido e
sólido-ar melhorando a capacidade de molhamento, de incorporação de ar e de lavabilidade [9].
Dessa forma, o presente trabalho pretende desenvolver e comparar o desempenho entre concretos
convencionais e com o uso de aditivos incorporadores de ar ou de agregados leves em concreto leve
de preenchimento, visando o uma redução do peso próprio e do módulo de elasticidade da matriz
cimentícia.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Materiais
Neste trabalho foram produzidos três tipos de concreto: concreto convencional (CC) com brita
gnáissica, concreto leve com argila expandida (CL) e concreto convencional aditivo incorporador
de ar (CAI). Foi utilizado cimento Portland de alto-forno CPIII-40RS, com resistência à compressão
aos três dias equivalente a 15 MPa. O agregado miúdo utilizado nos concretos convencionais foi a
areia natural de rio e os agregados graúdos utilizados no concreto leve foram substituídos pela
argila expandida em duas graduações, 6-15 mm e 15-22 mm (Figura 1). Para os concretos
convencionais foram utilizadas britas gnáissicas com dimensões máximas características de
12,5mm (brita 0) e 25mm (brita 1). As características físicas dos agregados são especificadas na
Tabela 1.

Fig.1–Agregados leves nacionais: (a) graduação 6-15 mm; (b) graduação 15-22 mm.
Tabela 1– Características físicas dos agregados.
Propriedade Areia Argila 1506 Argila 2215 Brita 0 Brita 1
Massa específica (g/cm³) 2,65 1,11 0,64 2,66 2,66
Massa unitária (g/cm³) 1,62 0,60 0,50 1,48 1,54
Módulo de finura 2,17 6,19 7,09 6,10 7,00
Dimensãomáximacaracterística (mm) 2,4 12,5 19,0 12,5 19,0
Teor de material pulverulento (%) 0,76 - - - -
O uso das duas graduações de argila expandida se justifica devido à equivalência de granulometria
entre a argila tipo 1506 e a brita 0 e a argila tipo 2215 e a brita 1. Na execução dos concretos CC e
CL foi empregado aditivo plastificante e na execução do CAI foi empregado aditivo incorporador
de ar.

2.2. Projeto das misturas de concreto


A dosagem dos concretos foi feita utilizando-se o software computacional [10] e adotando-se o
método ABCP. No cálculo das dosagens foi determinado que todos os concretos deveriam
apresentar 80 (± 10)mm de abatimento de tronco de cone. O método ABCP foi escolhido por
considerar as características físicas dos agregados graúdos e miúdos bem como prezar por um
menor consumo de cimento. Na Tabela 2 são apresentados os traços (Cimento : Agregado Miúdo :
Agregado Graúdo 1 : Agregado Graúdo 2) de cada tipo de concreto.
Tabela 2 – Traço dos concretos executados.
Aditivos
Concreto Traço Fator a/c
Plastificante Incorp. de ar
CC 1: 2,71: 1,54: 2,41 1,0% - 0,64
CL 1: 1,55: 0,79: 1,47 1,0% - 0,45
CAI 1: 2,71: 1,54: 2,41 - 0,15% 0,57
Após a produção dos concretos desejados, foram moldados corpos de prova (CP) cilíndricos de
10x20cm (diâmetro x altura) e vibrados na mesa vibratória por 20 segundos. Os procedimentos de
moldagem e cura foram realizados segundo NBR 5738:2003 [11]. Todos os CPs foram
desmoldados após 24h e mantidos em câmara úmida com umidade e temperatura controladas, até a
idade de 28 dias, para realização de análises de resistência à compressão, módulo de elasticidade e
massa específica.

2.3. Caracterização do concreto no estado endurecido


Os concretos CC, CL e CAI foram caracterizados em seus estados endurecidos de acordo com os
seguintes parâmetros normativos:
 Determinação da absorção de água por imersão, índice de vazios e massa específica - NBR
9778:2005 [12];
 Resistência a compressão simples - NBR 5739:2007 [13];
 Módulo de elasticidade estático - NBR 8522:2008 [14];
Para realização dos ensaios de resistência à compressão simples e módulo de elasticidade dos
concretos foram utilizados 4 CPs de cada tipo (CC, CL e CAI) em cada um dos ensaios e para
massa específica 3 CPs de cada tipo de concreto. Todos os CPs foram inicialmente capeados com
enxofre para a regularização das superfícies, como mostra a Figura 2.

Fig.2–Corpos de prova capeados com enxofre.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1. Massa específica, absorção de água e índice de vazios


Os resultados obtidos para a massa específica do concreto no estado endurecido apresentam-se na
Figura 3.

Fig. 3–Massas específicas dos concretos.


A partir dos resultados expressos no gráfico da Figura 6, observa-se que o CC e o CAI podem ser
classificados como concretos normais, uma vez que suas massas específicas reais são de 2,6 e 2,5
g/cm³, respectivamente, superiores ao limite mínimo de 2,0 para concretos convencionais. Já o CL
pode ser classificado como concreto leve, uma vez que sua massa específica real é de 1,6g/cm³,
inferior ao mínimo de 2,0g/cm³ para concretos convencionais.
Quanto ao CC e CAI, estes apresentam valores de massa específica próximos, por serem dosados
com o mesmo tipo de agregado, porém a pequena a diferença existente entre os valores é devido a
incorporação de ar no CAI, tornando-o menos denso que o CC. O aditivo incorporador de ar não
contribuiu para a produção do concreto leve, uma vez que não permitiu que o concreto CAI
atingisse a massa específica máxima de 2,0g/cm³ para ser considerado um concreto leve.
Em relação ao CL, sua massa específica apresenta-se expressivamente menor que os demais, por ser
a argila expandida o agregado utilizado em sua dosagem, uma vez que a argila possui massa
específica menor que os agregados utilizados nos demais tipos de concreto dosados. Portanto, o CL
se torna o concreto com menor densidade em relação aos demais, o que contribui para obter
estruturas mais leves a partir de sua utilização.
Para o cálculo da absorção de água por imersão e índice de vazios, para cada tipo de concreto,
foram tomadas as massas de imersão (mi) e saturada (msat) de todos CPs antes da fervura. Os
resultados são apresentados na Figura 4.

Fig. 4–Absorção de água por imersão.


Os resultados mostram que o concreto com argila expandida como agregado leve (CL) e o concreto
convencional com aditivo incorporador de ar (CAI), apresentaram valores de absorção de água
muito próximos, 7,84% e 7,72%%, respectivamente. No entanto, o concreto convencional (CC)
apresentou o menor índice de absorção de água, 4,18%.
Em relação aos resultados para índice de vazios o CAI é o concreto que apresentou a maior
porcentagem, 15,99%, seguido do CL com 10,98% e do CC com 9,84% de índice de vazios.
O fato do CAI ter apresentado maior absorção de água, comparado ao CC, é devido ao maior valor
de índice de vazios, logo maior porosidade, obtido pelo uso de aditivo incorporador de ar, uma vez
que ambos os CPs são constituídos dos mesmos agregados. Quando é feita a comparação entre o CL
e o CC, nota-se uma proximidade muito grande do índice de vazios, contrastando com uma
diferença, significativa, da absorção de água. Uma vez que a capacidade de absorção de água está
diretamente ligada ao índice de vazios, esperava-se que o CC e o CL apresentassem capacidades de
absorção tão próximas quanto o índice de vazios. No entanto observou-se que a absorção de água
foi consideravelmente discrepante, de 4,18% para o CC e 7,84% para o CL. Esse fato por ser
justificado pela porosidade da argila expandida, utilizada como agregado no CL, que possui uma
maior capacidade de absorção de água que a brita, utilizada como agregado no CC.

3.2. Resistência à compressão

Os resultados obtidos para a resistência à compressão dos concretos apresentam-se na Figura 5.

Fig. 5–Resistência à compressão dos concretos aos 7 e 28 dias.


Os resultados à compressão dos concretos mostram que o concreto convencional obteve aos 7 dias
uma resistência de 17,6 MPa e aumentou essa propriedade em 21,52% aos 28 dias, chegando a 21,4
MPa. O CL apresentou aos 7 dias uma resistência muito próxima ao CC, com 17,5 MPa, porém seu
acréscimo em 28 dias foi inferior, chegando a 18,4 MPa. O concreto produzido com aditivo
incorporador de ar não apresentou a resistência mecânica desejada de 15MPa, apresentando
resistência inicial de 8,9 MPa e atingindo aos 28 dias à uma resistência de 9,3 MPa, apresentando
um acréscimo de apenas 5,1%.
Avaliando o comportamento do CL, em relação ao CC tem-se que estes apresentaram uma
resistência semelhante para 7 dias, porém o aumento da resistência do CL de 7 para 28 dias foi
menos pronunciado que o do CC. Entretanto, sua massa específica apresentou uma notória redução
em relação à massa específica do concreto CC, cerca de 61,5%. No concreto leve, a ruptura
normalmente não ocorre devido à diferença entre as deformações dos agregados e da pasta de
cimento, mas devido ao colapso da argamassa, muitas vezes com origem em microfissuras nos
agregados e a linha de fratura atravessa os agregados, fazendo com que sua resistência à
compressão aos 28 dias não possua um acréscimo significativo.
Já em relação ao resultado obtido para as análises de resistência à compressão do CAI em relação
ao CC, foi obtida uma significativa queda da resistência, tanto para 7 quanto para 28 dias. A
redução na resistência é atribuída ao aumento do índice de vazios ocasionada pela aplicação do
aditivo incorporador de ar [15][16].
3.3. Módulo de Elasticidade
Os resultados obtidos para o módulo de elasticidade do concreto no estado endurecido apresentam-
se na Figura 6.

Fig. 6–Módulo de elasticidade dos concretos.


Os resultados apresentados na Figura 6 mostram que, embora constituídos do mesmo material, o
CAI mostrou um módulo de elasticidade um pouco menor que o do CC. Tal observação se deve ao
fato da presença de poros na estrutura do CAI, pois, quando submetido a um esforço compressivo, a
estrutura mais fragilizada pela presença dos poros se rompe a valores de tensão mais baixos, não
permitindo a reestruturação. Em relação ao CL, o baixo módulo de elasticidade é reflexo do tipo de
agregado utilizado. Sendo a argila expandida um agregado de superfície arredondada,
diferentemente da brita, não ocorre a concentração de tensão nos agregados, diminuindo assim seu
módulo de elasticidade. Um fator que também contribui para a redução do módulo de elasticidade é
o fato de que a argila expandida é altamente porosa.
A redução do módulo de elasticidade sem uma significativa redução da resistência à compressão é
vantajosa, uma vez que apresenta um concreto menos rígido e menos suscetível à fissuração. Esse
fator também permite que o material apresente bom desempenho como preenchimento de seções
mistas, por exemplo, por favorecer um aumento do efeito de confinamento e da aderência aço-
concreto.

4. CONCLUSÃO
A partir dos resultados obtidos nas análises e ensaios de caracterização dos diferentes tipos de
concreto, foi possível concluir que:
I. A utilização de argila expandida em substituição à brita, como agregado dos concretos
resulta em um concreto com menor massa específica, o que permite a obtenção de estruturas
mais leves;
II. A incorporação de ar ao concreto, a partir da utilização de aditivo incorporador de ar, reduz
a resistência do concreto devido ao aumento do índice de vazios;
III. A substituição da brita pela argila expandida nos concretos não resultou em redução
significativa da resistência à compressão do mesmo, tornando-se uma substituição vantajosa
devido à redução da massa específica;
IV. O aumento do índice de vazios causado pela aplicação de um aditivo incorporador de ar
aumenta, significativamente, a absorção de água do concreto. Aumento este, que também
pode ser observado ao se utilizar um agregado expansivo que tem maior capacidade de
absorção de água.
V. Em relação ao módulo de elasticidade, o valor deste sofre uma redução derivada tanto da
utilização de um agregado de superfície arredondada, que diminui a concentração de tensões
no concreto, quanto da incorporação de poros. Essa redução faz com que o concreto
desenvolvido seja bastante interessante ao uso como concreto de preenchimento em seções
mistas.
Dessa forma, verifica-se a viabilidade técnica da utilização de concretos leves e a necessidade de
mais estudos sobre agentes incorporadores de ar na produção de concretos com baixo peso próprio.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem as instituições FAPEMIG, CAPES, Fundação Gorceix, UFOP e CNPq pelo
apoio para a realização e apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e
colaboração do Grupo de Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS – CNPq.

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2
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3
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil, bruna.silveira@ucp.br

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo apresentar a modelagem matemática e simulações
computacionais para o problema de flexão de uma viga de Euler-Bernoulli quando os parâmetros de
rigidez são considerados probabilísticos. A fim de garantir que as hipóteses para o problema sejam
satisfeitas, considerou-se que a viga é constituída de concreto, que é um material compósito e,
portanto, não se comporta de maneira homogênea. De acordo com a ABNT NBR 6118 (2014), que
estabelece parâmetros para a qualidade do concreto, discute-se o caráter probabilístico da resistência
à compressão para o concreto. Uma vez que o módulo de elasticidade é uma relação entre a tensão e
a deformação, espera-se que o mesmo não seja determinístico, diferentemente do que prevê a mesma
norma. A partir desta hipótese, este trabalho procurou estudar os efeitos do módulo de elasticidade
não determinístico na deflexão de uma viga de Euler-Bernoulli, a partir da linha elástica e do
momento fletor. Foi elaborado um código computacional em MATLAB a fim de simular a situação
proposta, através do Método de Elementos Finitos Estocásticos. Concluiu-se que as simulações
computacionais que levaram em consideração a hipótese probabilística proposta apresentaram
resultados sensivelmente diferentes dos resultados obtidos quando se considera o módulo de
elasticidade determinístico, como um valor constante, contribuindo para uma discussão mais ampla
a respeito das considerações probabilísticas em Análise Estrutural.

Palavras-chave: módulo de elasticidade, modelagem matemática, Método dos Elementos Finitos


Estocástico (MEFE), parâmetros de rigidez probabilísticos.

Abstract: The present work aims to present the mathematical modeling and computational
simulations for the flexural problem of an Euler-Bernoulli beam when rigidity parameters are
considered probabilistic. In order to ensure that the assumptions for the problem are satisfied, it was
considered that the beam consists of concrete, which is a composite material and therefore does not
behave homogeneously. According to ABNT NBR 6118 (2014), which establishes parameters for
concrete quality, the probabilistic character of the compressive strength for concrete is discussed.
Since the modulus of elasticity is a relationship between stress and strain, it is expected that it will
not be deterministic, unlike the same ABNT NBR 6118(2014). From this hypothesis, this work sought
to study the effects of the nondeterministic modulus of elasticity on the deflection of an Euler-
Bernoulli beam, from the elastic line and the bending moment. A computational code was developed
in MATLAB to simulate the proposed situation, using the Stochastic Finite Element Method. It was
concluded that the computational simulations that took into account the proposed probabilistic
hypothesis presented results significantly different from the results obtained when considering the
deterministic modulus of elasticity, as a constant value, contributing for a broader discussion of
probabilistic considerations in Structural Analysis.

Keywords: elasticity modulus, mathematical modelling, Stochastic Finite Element Method (SFEM),
probabilistic rigidity parameters.

1. INTRODUÇÃO
Estruturas apoiadas são amplamente utilizadas na engenharia civil, sobretudo na engenharia de
estruturas. A posição e o comportamento mecânico dos suportes são determinantes na resposta
mecânica do conjunto (HIDALGO, 2014). Devida à simplicidade geométrica, estruturas podem ser
adequadamente avaliadas utilizando-se modelos lineares. Nesse sentido, para efeitos de estudo,
destacam-se as vigas de Euler-Bernoulli, objeto de estudo deste trabalho e que são usadas, com maior
frequência, para efeitos acadêmicos, sobretudo em Análise Estrutural.
Com o avanço dos computadores domésticos, no início dos anos 1980, foi possível melhorar o acesso
aos cálculos que essas máquinas eram capazes de realizar e tornar esses resultados aplicáveis aos
problemas cotidianos (LÉVY, 1999). Nesse sentido, a engenharia não esteve a parte do
desenvolvimento promovido pela entrada dos microcomputadores no dia a dia da sociedade. A
Análise Estrutural, em particular, pode contar com ferramentas computacionais mais robustas para
solucionar problemas de cálculo de difícil resolução até então. Diversos softwares comerciais
passaram a atuar neste ramo como o TQS, SAP 2000, ABAQUS e ANSYS, entre outros.
As vigas, como elementos estruturais de suma importância para a Análise Estrutural, podem ser
classificadas de acordo com o modo como as mesmas são apoiadas. Dentre os principais tipos de
apoio, destacam-se: viga simplesmente apoiada, que é aquela suportada por um apoio fixo em uma
extremidade e um apoio móvel na outra extremidade; viga em balanço, que é engastada em uma
extremidade e livre na outra e viga apoiada com extremidade em balanço, que é a viga na qual uma
ou ambas as extremidades ultrapassam livremente os apoios (HIBBELER, 2010). Neste trabalho
considerou-se, por questões relacionadas aos experimentos laboratoriais que poderiam ser realizados
no laboratório da universidade, apenas as vigas simplesmente apoiadas como modelo.
O modelo matemático que descreve a linha elástica para uma viga bi apoiada inclui, em sua
formulação, a contribuição do módulo de elasticidade ou módulo de Young. Por definição, o módulo
de elasticidade é a razão entre a tensão aplicada sobre um corpo e a deformação específica sobre o
corpo. Para os materiais idealizados por Robert Hooke, verifica-se uma proporcionalidade entre a
força aplicada e a deformação verificada. No entanto, o concreto não mantém esta proporcionalidade,
variando-se o módulo de elasticidade de acordo com a carga aplicada (PACHECO et. al, 2014). Em
geral, o módulo de elasticidade é obtido através de métodos experimentais, uma vez que diversos
fatores afetam o valor para o mesmo, tais como: o tempo de cura do concreto, a temperatura da cura,
proporções da mistura e propriedades dos agregados, destacando-se a proporção água/cimento,
tamanho e forma do corpo de prova, entre outros (DIÓGENES et. al, 2011).
Um dos maiores desafios para a construção civil, atualmente, é a sustentabilidade. A intensidade de
uso de recursos naturais, nessa perspectiva, deve ser feita selecionando-se os materiais mais
adequados para cada necessidade. A otimização do uso de materiais e recursos só é possível com a
redução da variabilidade, como é percebida hoje para o controle da resistência à compressão, onde
trabalha-se com valores característicos, baseados na teoria de probabilidades (DE MARCHI, 2011).
Apesar de considerar para o parâmetro de resistência à compressão a variabilidade intrínseca do
concreto, não se considera tal variabilidade para o módulo de elasticidade. Entretanto, valores
determinísticos para o módulo de elasticidade nem sempre são confirmados pelo controle tecnológico
realizado em campo, fato que pode acarretar situações problemáticas nas obras. Nesse sentido
destaca-se a importância do controle de qualidade, pois irá fornecer os dados para análise e decisão
sobre o atendimento às especificações de projeto, de forma a garantir a otimização no uso de materiais
e recursos, gerando menores custos financeiros e ambientais, proporcionando sustentabilidade aos
projetos (DE MARCHI, 2011).
Baseados na hipótese de não consideração do módulo de elasticidade para o concreto como um
parâmetro determinístico, obtido através de fórmulas matemáticas pré-determinadas pela ABNT
NBR 6118 (2014), estudou-se a influência desta hipótese na formulação matemática para o problema
da viga de Euler-Bernoulli bi apoiada.
A fim de estudar o comportamento da linha elástica desta viga, considerando-se contribuições, no
modelo, das diferentes formas com as quais o módulo de elasticidade pode ser obtido, propôs-se a
seguinte equação diferencial de quarta ordem para o problema de deflexão de uma viga de
comprimento L, submetida a uma carga pontual, bi apoiada em suas extremidades:
Encontrar 𝑢 ∈ C4 (0,L) tal que
𝑑2 𝑑2 𝑢
[𝐸𝐼 (𝑑𝑥 2 )] = 𝑓(𝑥),
𝑑𝑥 2

𝑢(0) = 𝑢(𝐿) = 0, (1)


𝑑2 𝑢 𝑑2 𝑢
(0) = (𝐿) = 0,
𝑑𝑥 2 𝑑𝑥 2

onde 𝑓 representa o carregamento desta viga e 𝑢 representa a função que define a linha elástica para
a viga.
Observa-se que, caso os parâmetros de rigidez 𝐸𝐼 fossem considerados constantes, a equação
diferencial de quarta ordem seria resolvida analiticamente através de integrações sucessivas. No
entanto pretende-se, a partir da formulação acima, avaliar as soluções obtidas através de um método
de elementos finitos para (1).
A partir do estudo realizado por Hidalgo (2014) para uma viga de Euler- Bernoulli, apoiada em
fundação de Pasternak com o método de Galerkin estocástico, desenvolveu-se o método de Galerkin
estocástico aplicado ao problema de flexão de uma viga, considerando-se que os parâmetros de
rigidez não fossem constantes. Incluiu-se, na formulação parametrizada para o módulo de
elasticidade do concreto, valores experimentais obtidos através de experimentos laboratoriais no
Laboratório de Construção Civil da Universidade Católica de Petrópolis. A partir das simulações
realizadas, comparou-se os resultados clássicos da literatura, apresentados por Hibbeler (2010), com
os resultados das simulações numéricas, discutindo-se as diferenças e semelhanças entre eles.
Por fim, este trabalho está dividido da seguinte forma: na Seção 2 discute-se os objetivos do projeto.
Na Seção 3 descreve-se o método numérico aplicado ao problema (1) e apresenta-se a formulação
discreta para o problema ( 1 ). A Seção 4 apresenta os resultados numéricos obtidos a partir da
formulação discreta para o problema de flexão da viga proposta na Seção 3. Todos os experimentos
computacionais foram realizados em MATLAB. A Seção 5 discute as hipóteses para o problema, os
resultados computacionais, tanto positivos quanto negativos. A Seção 6, enfim, apresenta as
conclusões obtidas a partir dos resultados até o presente e aponta perspectivas futuras na mesma linha
de pesquisa para o problema em questão.

2.OBJETIVOS

O presente trabalho objetivou, a partir da hipótese de que o módulo de elasticidade do concreto não
se comporta de forma determinística em função do mesmo não ser um material homogêneo regido
pela Lei de Hooke, avaliar a contribuição do módulo de elasticidade, quando considerado
probabilístico, no estudo da linha elástica e do momento fletor de uma viga de Euler-Bernoulli bi
apoiada. Nesse sentido, foi realizada a dedução de um modelo computacional, baseado em elementos
finitos estocásticos para, a partir de simulações computacionais, se verificar que a inserção de
elementos probabilísticos à simulação computacional pode aproximar a solução, de forma
satisfatória, dos resultados reais, obtidos em obras. Conforme citado anteriormente, o estudo de
variabilidade, quando considerado adequadamente, pode contribuir, de forma significativa, na
otimização de usos de recursos naturais e materiais, conduzindo a projetos sustentáveis.

3. MÉTODOS

A mecânica estocástica incorpora a aleatoriedade ou incerteza na formulação matemática dos


problemas mecânicos. A utilização de métodos numéricos tem tornado a análise de sistemas
estocásticos atrativa nos últimos anos (HIDALGO, 2014). O primeiro método numérico a trazer
contribuições, do ponto de vista estocástico, foi o método de elementos finitos tradicional, combinado
com as chamadas Simulações de Monte Carlo (SMC). Este método obtém, ao final de diversas
realizações, momentos estatísticos para as variáveis em questão. Babuska et. al (2004) apresentaram,
em seu trabalho, uma versão estocástica para o lema de Lax-Milgram, o que proporcionou, para os
problemas de valores de contorno elípticos, a garantia da existência e unicidade de solução para
problemas elípticos. Nesse sentido, o problema de flexão de uma viga de Euler-Bernoulli,
considerando-se os parâmetros de rigidez estocásticos, foi modelado, através do Método de
Elementos Finitos Estocásticos (MEFE) como segue.

3.1. Formulação variacional para o problema estocástico

A formulação forte para o problema estocástico para viga de Euler-Bernoulli, de comprimento 𝐿, bi


apoiada, é dada por

Encontrar 𝑢 ∈ 𝐿2 ((Ω, 𝐹, 𝑃); 𝐻 4 (0, 𝐿)) tal que


𝑑2 𝑑2 𝑢
(𝐸𝐼 𝑑𝑥 2 ) = 𝑓 para todo (𝑥, 𝜔) ∈ (0, 𝐿) × Ω q. s.,
𝑑𝑥 2

𝑢(0, 𝜔) = 𝑢(𝐿, 𝜔) = 0, (2)


𝑑2 𝑢 𝑑2 𝑢
| = 𝑑𝑥 2 | =0 para todo 𝜔 ∈ Ω q. s.,
𝑑𝑥 2 (0,𝜔) (𝐿,𝜔)
onde 𝑢 representa a linha elástica para a viga e 𝑓 representa o carregamento. A tripla ordenada
(Ω, 𝐹, 𝑃) representa o espaço amostral para o experimento aleatório, a função de distribuição de
probabilidade e a probabilidade para a variável aleatória. 𝜔 é o evento elementar para o espaço
amostral Ω.

Para o problema ( 2 ) considera-se 𝐸𝐼 como um processo estocástico.

As seguintes hipóteses são necessárias para a verificação de existência e unicidade do problema


variacional, através do lema de Lax-Milgram variacional (BABUSKA et. al, 2004).

H1: ∃𝑎, 𝑏 ∈ ℝ+ : 𝑃(𝜔 ∈ Ω: 𝐸𝐼(𝑥, 𝜔) ∈ [𝑎, 𝑏], ∀𝑥 ∈ [0, 𝐿]) = 1,

H2: 𝑓 ∈ 𝐿2 ((Ω, 𝐹, 𝑃); 𝐿2 (0, 𝐿)).

A hipótese H1 garante que, para qualquer evento elementar 𝜔 ∈ Ω, os parâmetros de rigidez são
estritamente positivos e limitados em probabilidade (BABUSKA e CHATZIPANTELIDIS, 2002).
Já a hipótese H2 garante que o carregamento externo f seja um processo estocástico com variância
finita.

Considere, para um evento fixo 𝜔 ∈ Ω, o espaço

𝑑2 𝑢 𝑑2𝑢
𝑄 = {𝑢(∙, 𝜔) ∈ 𝐻 2 (0, 𝐿)|𝑢(0, 𝜔) = 𝑢(𝐿, 𝜔) = 0 𝑒 | = | = 0}.
𝑑𝑥 2 (0,𝜔) 𝑑𝑥 2 (𝐿,𝜔)

Por outro lado, considere, para uma posição fixa 𝑥 ∈ (0, 𝐿) no domínio espacial,

𝑢(𝑥,∙) ∈ 𝐿2 (Ω, 𝐹, 𝑃),

como uma variável aleatória, ou seja, 𝑢(𝑥,∙): (Ω, 𝐹, 𝑃) → (ℝ, 𝐹𝑋 ).

Portanto o espaço de soluções teórico é dado pelo produto tensorial 𝐿2 (Ω, 𝐹, 𝑃) ⊗ 𝑄, o qual denota-
se por 𝑉. A partir da definição para o espaço de soluções 𝑉, define-se o produto tensorial entre 𝑔 ∈
𝐿2 (Ω, 𝐹, 𝑃) e 𝑤 ∈ 𝑄 como

𝑢 ≔ 𝑤 ∙ 𝑔,

ou seja, para a solução 𝑢, é possível separá-la em duas partes: uma dependente apenas da posição
espacial e outra dependente apenas do evento elementar. A partir desta definição, decorre uma
definição para o operador derivada diferente da definição usual.

𝐷𝛼 : 𝐿2 (Ω, 𝐹, 𝑃) ⊗ 𝑄 → 𝐿2 (Ω, 𝐹, 𝑃) ⊗ 𝐿2 (0, 𝐿)

𝑑𝛼 𝑤
𝐷𝛼 𝑢: ( 2 ) (𝑥) ∙ 𝑔(𝜔),
𝑑𝑥
no qual 𝛼 ∈ ℕ e 𝛼 ≤ 2.
Considerando o operador derivada definido acima, o produto interno no espaço 𝑉é
𝐿
(𝑢, 𝑣)𝑉 = ∫ ∫ (𝑢 ∙ 𝑣 + 𝐷𝑢 ∙ 𝐷𝑣 + 𝐷2 𝑢 ∙ 𝐷2 𝑣)(𝑥, 𝜔)𝑑𝑥𝑑𝑃(𝜔).
Ω 0

A fim de obter a formulação variacional para o problema ( 2 ), considera-se uma função teste 𝑣 ∈ 𝑉.
Multiplicando-se ambos os lados de ( 2 ) por 𝑣, integrando em [0, 𝐿] × Ω e aplicando integração por
partes, obtém-se a seguinte formulação variacional

Encontrar 𝑢 ∈ 𝑉 tal que

𝑎(𝑢, 𝑣) = (𝑓, 𝑣) (3)

onde a forma bilinear 𝑎: 𝑉 × 𝑉 → ℝ é definida por


𝐿
𝑎(𝑢, 𝑣) = ∫Ω ∫0 𝐸𝐼𝐷2 𝑢 ∙ 𝐷 2 𝑣 𝑑𝑥 𝑑𝑃(𝜔) (4)

𝐿
e (𝑓, 𝑣) = ∫Ω ∫0 (𝑓 ∙ 𝑣) 𝑑𝑥 𝑑𝑃(𝑤).

Uma vez que a hipótese H1 ocorre, é possível mostrar que a forma bilinear 𝑎 é contínua, simétrica e
coerciva, satisfazendo as hipóteses do Lema de Lax-Milgram para problemas elípticos estocásticos.
Sendo assim, a solução variacional para o problema ( 3 ) existe e é única. Além disso, esta solução é
equivalente à solução para o problema forte ( 2 ).

3.2 Representação da incerteza para os parâmetros de rigidez

O primeiro passo para se obter uma solução, por método de elementos finitos, para um problema é
obter a formulação variacional para o problema forte e verificar a existência e a unicidade da
formulação. Como o Lema de Lax-Milgram garante a existência e unicidade de solução para o
problema ( 3 ), é necessário introduzir uma formulação para as incertezas nos parâmetros de rigidez.
No entanto, as informações para as incertezas dos parâmetros de rigidez são incompletas. Nesse
sentido assume-se, por hipótese, que o comportamento aleatório destes parâmetros pode ser
representado em um espaço de dimensão finita.

De acordo com Hidalgo (2014), a incerteza sobre um dado parâmetro do problema ( 2 ), denominado
genericamente por 𝜗: (0, 𝐿) × Ω → ℝ+ , será representada em termos de um conjunto finito de
variáveis aleatórias

𝜗(𝑥, 𝜔) = 𝜗(𝑥, 𝝃(𝜔)) = 𝜗(𝑥, 𝜉1 (𝜔), … , 𝜉𝑁 (𝜔)),

sendo 𝝃: (Ω, 𝐹, 𝑃) → ℝ𝑁 é um vetor randômico.

A partir desta escolha, a incerteza nos parâmetros de rigidez da viga será modelada através de
processos estocásticos parametrizados (HIDALGO, 2014). Tais processos são expressos como
combinações lineares de funções determinísticas e variáveis aleatórias
𝜗(𝑥, 𝜔) = 𝜇𝜗 (𝑥) + ∑𝑁
𝑖=1 𝜑𝑖 (𝑥)𝜉𝑖 (𝜔), (5)

no qual 𝜇𝜗 (𝑥) é o valor esperado do processo estocástico 𝜗(∙,∙). As funções 𝜑𝑖 ∈ 𝐶0 (0, 𝐿) ∩ 𝐶 2 (0, 𝐿)
para todo 𝑖 ∈ {1, … , 𝑁} e 𝝃(𝜔) = {𝜉𝑖 (𝜔)}𝑁𝑖=1 é um vetor de variáveis aleatórias independentes. A
partir do lema de Doob-Dynkin, apresentado por Rao e Swift (2010) apud Hidalgo (2014), o processo
estocástico de deflexão da viga será função das variáveis aleatórias 𝝃(𝜔) = {𝜉𝑖 (𝜔)}𝑁 𝑖=1 , que
descrevem os parâmetros de entrada

𝑢(𝑥, 𝜔) = 𝑢(𝑥, 𝝃(𝜔)) = 𝑢(𝑥, 𝜉1 (𝜔), … , 𝜉𝑁 (𝜔)). (6)

3.3 O esquema de Askey – Wiener para obtenção dos polinômios para o espaço 𝑳𝟐 (Ω, 𝑭, 𝑷)

A fim de obter uma aproximação para o problema variacional ( 3 ), é necessária uma discretização,
de dimensão finita, para o espaço 𝐿2 (Ω, 𝐹, 𝑃). Os polinômios do esquema de Askey-Wiener formam
uma base para o subespaço denso no espaço das variáveis aleatórias com variância finita 𝐿2 (Ω, 𝐹, 𝑃)
(HIDALGO, 2014). O esquema de Askey-Wiener representa uma família de subespaços gerados por
polinômios ortogonais, que são soluções de equações diferenciais ordinárias. Os polinômios de
Hermite e Legendre são representantes deste tipo de polinômios.

3.4 Método dos Elementos Finitos Estocásticos (MEFE)

Conforme descrito anteriormente, o método dos elementos finitos estocástico (MEFE) é uma
importante ferramenta para abordagem de problemas em mecânica os quais consideram incertezas
em suas formulações. Reddy (2006) apud Hidalgo (2014) procede à ortogonalização do resíduo sobre
o espaço 𝑉, de modo análogo ao método de Galerkin tradicional. Desta forma, o espaço de soluções
aproximadas é formado pelas funções teste 𝑁𝑗 (𝑥, 𝝃(𝜔)) que, ao ser utilizado na formulação
variacional ( 3 ) obtém-se a forma discretizada do mesmo

Encontrar {𝑢𝑖 }𝑀 𝑀
𝑖=1 ∈ ℝ tal que

∑𝑀
𝑖=1 𝑎(𝑁𝑖 , 𝑁𝑗 )𝑢𝑖 = 𝑓(𝑁𝑗 ), ∀𝑁𝑗 ∈ 𝑉𝑀 , (7)

no qual
𝑥
𝑎(𝑁𝑖 , 𝑁𝑗)= ∫Ω ∫𝑥 𝑒+1 𝐸𝐼𝐷2 𝑁𝑖 𝐷2 𝑁𝑗 (𝑥, 𝜔) 𝑑𝑥 𝑑𝑃(𝜔) (8)
𝑒

e
𝑥𝑒+1
𝑓(𝑁𝑗 ) = ∫ ∫ 𝑓𝑁𝑗 (𝑥, 𝜔)𝑑𝑥 𝑑𝑃(𝜔).
Ω 𝑥𝑒

A solução aproximada, pelo MEFE, no subespaço de dimensão finita 𝑉𝑀 através de ( 7 ), é dada por

𝑢𝑀 (𝑥, 𝜔) = ∑𝑀
𝑖=1 𝑢𝑖 𝑁𝑖 (𝑥, 𝝃(𝜔)), (9)
sendo 𝑁𝑖 (𝑥, 𝝃(𝜔)) = 𝜙𝑗 (𝑥)𝜓𝑘 (𝝃(𝜔)), onde 𝜙𝑗 para 𝑗 = {1,2,3,4} são os polinômios de Hermite na
variável posição 𝑥 e 𝜓𝑘 para 𝑘 = {1,2,3,4,5} são os polinômios de Legendre para o evento elementar
𝜔. O módulo de elasticidade foi modelado através de um processo estocástico parametrizado
𝑥 𝑥
𝐸(𝑥, 𝝃(𝜔)) = 𝜇𝐸 + √3𝜎𝐸 ∑𝑁 𝑛=1 [𝜉2𝑛−1 (𝜔)𝑐𝑜𝑠 (𝑛𝐿 ) + 𝜉2𝑛 (𝜔)𝑠𝑒𝑛 (𝑛𝐿 )] ( 10 )

o qual é descrito por quatro variáveis uniformes e independentes (HIDALGO, 2014). 𝜇𝐸 é a média
aritmética para o módulo de elasticidade e 𝜎𝐸 é o desvio padrão para o módulo de elasticidade. A
obtenção da base de aproximação por polinômios foi realizada através do esquema de Askey-Wiener
e, de acordo com essa teoria, para variáveis aleatórias uniformes, os polinômios utilizados são os
polinômios de Legendre. A utilização dos polinômios de Hermite ocorre em função da forma bilinear
𝑎 dada por ( 3 ). Esses polinômios também são utilizados no método de Galerkin tradicional.

4. RESULTADOS

Esta seção relaciona os resultados obtidos para o problema ( 1 ) quando aproximado pelo Método de
Elementos Finitos Estocásticos (MEFE). Para os experimentos numéricos foi utilizado o software
MATLAB, uma vez que os softwares comerciais não modelam a situação descrita, do ponto de vista
numérico, pela Seção 3. Em todas as simulações foi proposta uma viga bi apoiada, de comprimento
𝐿
𝐿 = 20 m. A carga considerada foi pontual, colocada no centro da viga, isto é, em 2 = 10 m,
correspondente a 1000 N. O vetor randômico 𝝃(𝜔) foi gerado através da função rand do MATLAB.
O vetor randômico para o módulo de elasticidade (10) possui 1000 componentes. Os polinômios de
Legendre considerados foram 𝜓1 = 1, 𝜓2 = 𝜉2 , 𝜓3 = 𝜉3 , 𝜓4 = 𝜉4 e 𝜓5 = 𝜉5 , para os experimentos
e novamente o vetor randômico foi gerado através da função rand. Comparou-se os resultados
numéricos obtidos com a solução exata quando se considera o módulo de elasticidade constante e a
solução ocorre a partir de integrações sucessivas. (HIBBELER, 2010). Para os valores da média e do
desvio padrão necessários em ( 10 ), realizou-se ensaios laboratoriais no Laboratório de Engenharia
Civil da Universidade Católica de Petrópolis com concreto de fck de 40 MPa, uma vez que Hidalgo
(2014) realizou as simulações computacionais tomando como base vigas de aço, cujo comportamento
do módulo de elasticidade não se assemelha ao concreto. A variabilidade do módulo de elasticidade
para o aço é bem inferior quando comparada à variabilidade do concreto. Tais ensaios seguiram o
padrão estabelecido pela norma ABNT NBR 8522 (2008), de forma tangencial. Os valores
referenciais obtidos a partir dos ensaios estão na Tabela 1.

Tabela 1 – Valores referencias para o módulo de elasticidade a partir do ensaio laboratorial


Variável Valor obtido
Número de amostras 3
Eci previsto segundo NBR 6118 (GPa) 35,417
Eci médio 39,37
Desvio padrão Eci 2,6777
Coeficiente de variação (%) 6,8
A Figura 1 mostra a primeira simulação com os dados acima para a obtenção da linha elástica através
do MEFE. A Figura 2 mostra a comparação entre os momentos fletores, para a mesma simulação.

Fig. 1 – Comparação entre a solução aproximada por MEFE e a solução exata.

Fig. 2 – Comparação entre o momento fletor aproximado por MEFE e o momento fletor exato.

A Figura 3 apresenta a linha elástica através da simulação por MEFE para os mesmos dados e a Figura
4 apresenta o momento fletor aproximado para a linha elástica da Figura 3. Observa-se que as figuras
são diferentes quando comparadas com os resultados nas Figuras 1 e 2.
Fig. 3 – Comparação para a linha elástica obtida por MEFE e a solução exata.

Fig. 4 – Momento fletor por MEFE correspondente à linha elástica da simulação na Figura 3.

O código computacional desenvolvido em MATLAB permite, ao usuário, inserir a quantidade de


elementos finitos que deseja considerar para o cálculo da solução aproximada, assim como inserir o
tamanho da viga em questão. Quanto maior a quantidade de elementos desejável, maior o tempo de
processamento do programa. Fish (2009) mostra que, para o método de elementos finitos tradicional,
a solução exata pode ser obtida com a viga sendo dividida em apenas dois elementos. A fim de
otimizar o tempo de processamento, para todos os experimentos foi utilizada a divisão em dois
elementos apenas, obtendo um tempo de processamento médio de 31,022 segundos. A título de
comparação, realizou-se um experimento no qual se utilizou a divisão da viga em 20 elementos
finitos. A solução aproximada obtida é semelhante às soluções para a divisão em apenas dois
elementos, com um tempo de processamento de 222,5 segundos.
5. DISCUSSÃO

A Seção 4 apresenta duas simulações, para o mesmo código computacional em MATLAB, usando-
se o mesmo processador, para o problema ( 1 ) através do Método de Elementos Finitos Estocásticos
(MEFE) descrito na Seção 3. Observa-se que os resultados são substancialmente distintos. Para cada
experimento, a diferença se dá, unicamente, na função rand do MATLAB que, a cada processamento
do código gera valores diferentes. Outra questão que se pode levantar relaciona-se com a
aproximação para a linha elástica não acompanhar, uniformemente, a aproximação para o momento
fletor. Ou seja, quando os dados aproximam a linha elástica satisfatoriamente, o mesmo não ocorre
para o momento fletor. A partir dos resultados apresentados, é imprescindível o cálculo dos
momentos estatísticos, tanto para a linha elástica como para o momento fletor. Os momentos
estatísticos envolvem o cálculo da esperança matemática e da variância. Acredita-se que, ao utilizar
valores “em média” nos nós dos elementos para compor a solução aproximada que descreve a linha
elástica e o momento fletor, as soluções geradas serão menos discrepantes quando comparadas aos
resultados expostos na Seção 4.

Outra discussão cabível relaciona-se aos resultados para a flexão de uma viga quando ensaiada em
laboratório. Uma vez que o objetivo do projeto é avaliar o impacto das contribuições probabilísticas
para o módulo de elasticidade em Análise Estrutural, é necessária a comparação em testes
laboratoriais para um concreto de 40 MPa, a fim de verificar a coesão entre os resultados
computacionais e experimentais.

6. CONCLUSÃO

Este artigo descreveu a modelagem computacional, através do Método de Elementos Finitos


Estocásticos (MEFE), para o problema de deflexão de uma viga bi apoiada considerando-se que os
parâmetros de rigidez se comportam de forma estocástica. Tal procedimento fez-se necessário, uma
vez que problemas mecânicos envolvendo parâmetros probabilísticos tem despertado interesse por
parte da engenharia, atualmente, além do fato de que os softwares comerciais comumente utilizados
para modelagem de estruturas não captam processos estocásticos relacionados aos parâmetros de
rigidez.

A partir das hipóteses aventadas para o problema de deflexão da viga, foram realizados experimentos
computacionais em MATLAB, nos quais se considerou o módulo de elasticidade como um processo
estatístico e, em virtude da parametrização escolhida para o módulo de elasticidade, foram utilizados
valores médio e desvio padrão para o módulo de elasticidade a partir de experimentos laboratoriais
realizados na própria universidade com concreto.

Como perspectivas futuras para este trabalho, destaca-se a necessidade de cálculo dos momentos
estatísticos para os resultados computacionais que gerarão a linha elástica e o momento fletor. Além
disso, serão confrontados ensaios laboratoriais com mini vigas em concreto quando submetidas a uma
carga pontual central, conforme as hipóteses das simulações computacionais, a fim de verificar se as
simulações numéricas se aproximam dos resultados experimentais obtidos para o problema proposto.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Universidade Católica de Petrópolis pela bolsa PIBIC ao estudante João Vitor Curioni
de Miranda. Ao estudante Leonardo de Souza Corrêa pela obtenção dos dados experimentais,
juntamente com o laboratorista Alex Justen Teixeira e o professor Vinícius Costa Furtado Rosa.

REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto –
Procedimento – NBR 6118. Rio de Janeiro, 2014.
[2] HIDALGO, F.L.C. Quantificação da incerteza do problema de flexão estocástica de uma viga de Euler-
Bernoulli, apoiada em fundação de Pasternak, utilizando o método estocástico de Galerkin e o método de
elementos finitos estocástico. Dissertação (Mestrado). Curitiba: Universidade Tecnológica Federal do Paraná. 2014,
83 p.
[3] LÉVY, P. Cibercultura, Editora 34, São Paulo, 1999.
[4] HIBELLER, R.C., Resistência dos materiais. Editora Pearson, São Paulo, 2010.
[5] PACHECO, J.; BILESKY, P.; MORAES, T.R.; GRANDO, F.; HELENE, P., Considerações sobre o módulo de
elasticidade do concreto, Anais do 560 Congresso Brasileiro do Concreto, Natal: Rio Grande do Norte, 2014.
[6] DIÓGENES, H. J. F.; COSSOLINO, L. C.; PEREIRA, A. H. A.; EL DEBS M.K.; EL DEBS, A. L. H. C.,
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Materiais, v. 4, n. 5, p. 803-813, 2011.
[7] DE MARCHI, R. D. Estudo sobre a variabilidade do modulo de deformação do concreto associada a fatores
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[8] BABUSKA, I.; TEMPONE, R.; ZOURARIS, G.E.. Galerkin finite element approximations of stochastic elliptic
partial differential equations. Society for Industrial and Applied Mathematics, v.42, n.2, p. 800-825, 2004.
[9] BABUSKA, I.; CHATZIPANTELIDIS, P.. On solving elliptic stochastic partial differential equations. Computer
Methods in Applied Mechanics and Engineering, v. 191, n. 37-38, p.4093-4122, 2002.
[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 8522: Determinação do módulo estático de
elasticidade à compressão - NBR 8522. Rio de Janeiro, 2008.
[11] FISH, J.; BELYTSCHKO, T.. Um Primeiro Curso em Elementos Finitos. Livros Técnicos e Científicos Editora
S.A., Rio de Janeiro, 2009.
DIRETRIZES PARA GARANTIA DA SEGURANÇA CONTRA INCÊNDIO
APLICADAS EM GALERIAS

Guidelines for fire safety guarantee applied in commercial galleries

Wendell Salles ALBUQUERQUE 1, Maria Teresa BARBOSA 2, Jenifer Pungirum QUAGLIO 3


1
Graduando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Juiz de Fora, bolsista IC/UFJF, Juiz de Fora, Brasil, Email:
wendell.albuquerque@engenharia.ufjf.br
2
Professora Dra., Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, Email: teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br
3
Engenheira Civil, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Ambiente Construído, Universidade Federal de Juiz
de Fora, Brasil, Email: jeniferpquaglio@gmail.com

Resumo: A segurança em incêndios é uma série de medidas realizadas para reduzir as


consequências causadas pelo fogo, incluindo prevenção de ignição, efeitos e desenvolvimento. As
políticas de prevenção em incêndio são aplicadas durante a construção de edifícios e até mesmo
posteriormente após a sua conclusão, sendo imprescindível o cumprimento de suas normas. Na área
central da cidade de Juiz de fora, em Minas Gerais, destaca-se a presença de diversas galerias,
sendo elas comerciais, ou comerciais e residenciais, e devido à idade de algumas das construções
constata-se sua presença em regiões de tombamentos, bem como se verifica diversas restrições
quanto a prevenção de incêndios, os seus riscos e ao cumprimento da legislação. Desta forma, o
presente documento é uma análise do levantamento realizado das vinte e sete galerias localizadas no
“coração” do centro comercial da cidade, dando enfoque às comerciais e residenciais de até cinco
pavimentos, com o intuito de estudar se todos os edifícios estão de acordo com a norma e propor
medidas protetivas complementares para garantir a segurança dos usuários para o sinistro. E por
fim, apresentar uma proposta de mudança baseada na normalização vigente para facilitar a emissão
do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros.

Palavras-chave: segurança, galerias, prevenção de incêndio.

Abstract: Fire safety is a series of measures taken to reduce the consequences caused by fire,
including ignition prevention, effects and development. Fire prevention policies are applied during
the construction of buildings and even after their completion, and it is essential to comply with the
standards. In the central area of the city of Juiz de Fora, in Minas Gerais, the presence of several
galleries stands out, being only commercial, or commercial and residential, and due to the age of
some of the constructions it is verified its presence in heritage listed buildings regions, as well as
several restrictions on fire prevention, its risks and compliance with legislation. In this way, this
document is an analysis of the survey of the twenty-seven galleries located in the “heart” of the
commercial center of the city, focusing on commercials and residential buildings up to five storeys,
in order to study if all the buildings are of accordance with the standard and propose complementary
protective measures to ensure the safety of users for the accident. And, finally, to present a proposal
of change based on the current normalization to facilitate the issuance of the Inspection Order of the
Fire Department.

Keywords: fire safety, commercial galleries, fire prevention.


1. INTRODUÇÃO
O fogo se tornou uma parte muito importante da civilização, sendo crucial para o desenvolvimento
da sociedade humana. Entretanto, dentre diversos tipos de desastres, o fogo constitui uma ameaça
significativa à vida e à propriedade em áreas urbanas e rurais, já que os incêndios podem ter
consequências graves às edificações. Os materiais de construção sujeitos à ação do fogo podem
amolecer, fundir-se, decompor-se ou carbonizar-se. Além disso, podem agravar as consequências
do incêndio por entrarem em combustão, produzirem calor, desenvolverem chamas, emitir fumaças
ou substâncias tóxicas (HARPER, 2004).
Assim sendo, é imprescindível ter um conhecimento básico sobre como o incêndio ocorre e se
comporta dentro de uma edificação. Dependendo da combustibilidade do combustível inflamado, o
fogo pode iniciar lentamente por longos períodos de combustão ou pode apenas crescer rapidamente
por um curto período de tempo, caracterizando assim, como uma força destrutiva nas edificações,
podendo se espalhar através de portas abertas e penetrações na parede, ou até mesmo através de
cavidades ocultas de parede e teto, ocasionando uma perda total da edificação e de vidas, caso não
seja suprimido.
Os objetivos fundamentais da segurança contra incêndio são minimizar o risco à vida. Como
consequência, conduz-se a redução da perda patrimonial. Entende-se como risco à vida, a exposição
severa dos usuários à fumaça (principal causa de óbitos em incêndios) ou ao calor, bem como o
desabamento de elementos construtivos sobre usuários ou a equipe de combate. Assim a segurança
à vida depende prioritariamente da rápida desocupação do ambiente em chamas (SILVA, 2012).
Desta forma, é de extrema importância o estudo da segurança contra e em incêndios em quaisquer
tipos de ambientes. A prevenção dos riscos concentra-se, sobretudo, em três objetivos, a saber:
reduzir a probabilidade de ocorrência de processos de combustão; assegurar-se de que, caso ocorra
uma combustão, esta seja delimitada e não possa propagar-se em ambientes diferentes daquele em
que se ativou e, finalmente, permitir o abandono seguro do edifício para as pessoas presentes nos
ambientes incendiados (HELENE, 2013). Além destes objetivos, e importante também proporcionar
controle prévio do incêndio garantindo fácil acesso do Corpo de Bombeiros no local.
O objetivo do presente trabalho é relacionar todo conhecimento sobre a segurança e prevenção
contra incêndios e aplicá-lo na cidade de Juiz de Fora, mais especificamente nas galerias comerciais
localizadas no centro da cidade, que são pontos muito utilizados e um atrativo turístico de alto
tráfego no coração do centro comercial do município.
Para a avaliação das galerias, este trabalho efetuou o levantamento das características relacionadas à
segurança contra o fogo, desde seu dimensionamento até os projetos contra incêndio.
Exclusivamente serão estudadas apenas as vinte e sete galerias comerciais ou
residenciais/comerciais de até doze metros de altura, denominadas de “edificação baixa”
(BOMBEIRO MILITAR MG, 2017), possuindo até cinco pavimentos, pois as edificações acima de
doze metros incorporam recomendações adicionais e, por isso, serão objeto de estudo posterior.

2. CIDADE DE JUIZ DE FORA


O crescimento do município de Juiz de Fora, no século XIX, ocorreu principalmente pelo, Caminho
do Ouro, entre os estados do Rio de Janeiro, localização do porto na época, e de Minas Gerais,
localização das principais atividades mineradoras da região, fazendo com que a cidade fosse rota de
parada dos tropeiros (COLCHETE FILHO et al, 2014).
A partir deste ponto, a cidade começaria a expandir na área comercial e industrial, principalmente
na produção têxtil, levando até a construção da Estação Ferroviária. Assim, o coração da cidade
pode ser subdividido entre 3 ruas principais, a saber: Avenida Rio Branco, a primeira e principal rua
da cidade; Avenida Presidente Itamar Franco, um antigo córrego afluente do Rio Paraibuna que foi
canalizado; e Avenida Getúlio Vargas, localização das principais indústrias na época.
Nesta região central (vide Figura 1) movia e move-se todo o comércio da cidade, que influenciou as
construções ao seu redor e, posteriormente, com a chegada de imigrantes e mais investimentos,
influenciaram a construções de grandes edifícios centrais, dando origem às galerias comerciais.

Fig. 1 - Região Central de Juiz de Fora


Atualmente, segundo (IBGE, 2017), o município de Juiz de Fora é o quarto mais populoso do
Estado de Minas Gerais, totalizando uma população de 564.000 habitantes. Localizado na Zona da
Mata Mineira, possui área de unidade territorial de aproximadamente 1.500 km². A economia da
cidade e voltada principalmente pelo setor terciário, ou seja, o de serviços, uma cidade com base no
comércio, fazendo com seus setores industriais e agrícolas fiquem em segundo e terceiro lugar
respectivamente.
O centro comercial de Juiz de Fora é conhecido como “shopping a céu aberto”, e decorrente das
dimensões dos quarteirões, foram criadas galerias, que funcionariam como passagem para
pedestres, e assim, houve a expansão do comércio em seu interior. Com a sua expansão, hoje se
contabilizam um total de 61 galerias, sendo elas diferenciadas pelo seu tipo: comercial ou
comercial/residencial.
Como no início do século XX, a expansão das galerias da cidade foi desorganizado, ou seja, sem
uma própria regulamentação, e as normas para segurança de incêndios são tardias a este período,
houve uma preocupação quanto a garantia da segurança nestes estabelecimentos, principalmente
pela sua idade, qualidade dos materiais usados na construção, áreas de influência de edifícios
tombados, número de fábricas têxteis e principalmente pelo alto registro de focos de incêndio
catalogados pelo Corpo de Bombeiros.

3. METODOLOGIA

Neste estudo, inicialmente efetuou-se o levantamento no número de galerias existentes na área de


interesse, vide Figura 1, compreendido no cruzamento das avenidas Rio Branco, Francisco
Bernardino e Itamar Franco, o que totalizou sessenta e uma galerias. Em seguida as galerias foram
classificadas segundo seu tipo (comerciais ou comerciais/residenciais) e quanto ao número de
pavimentos (sendo o limite cinco).
Na área delimitada do estudo, constatou-se a existência de vinte e sete galerias, vide Figura 2, com
até cinco pavimentos, onde foram efetuadas a catalogação das seguintes informações, vide Tabelas
1 e 2:
a) Número de identificação constando: nome da galeria e endereço;
b) Dimensões (para facilitar a investigação de números mínimos de extintores e sistemas de
alarme por exemplo, além de levantar também o número de rotas de fugas, ou seja, o
número de saídas que estão com as larguras conforme a NR 23);
c) Número de rotas de fuga;
d) Número de pavimentos (comerciais, escritórios e residências, para estimativa de número de
pessoas que podem ser atingidas pelo incêndio);
e) Funcionamento 24hrs (facilitar entrada do Corpo de Bombeiros, mas em contrapartida perde
em segurança contra furtos);
f) Números de estabelecimentos (separados por classe levando em consideração possíveis
focos de incêndio em ordem de classificação, como lojas, residências e escritórios, bares,
restaurantes e fábricas);
g) Tipo de cobertura (importante para uma possível rota de fuga pelo telhado);
h) Central de gás GLP (central de gás é importante para também definir um possível foco de
incêndio);
i) Características de prevenção de incêndios (obtenção de equipamentos para prevenção ou
combate de incêndios como hidrantes internos, sinalização e iluminação de emergência,
extintores em áreas comuns, sprinklers, escadas de emergência e até se possui brigada
treinada).
Um levantamento das áreas de edifícios tombados da cidade, vide Figura 2, também foi levado em
consideração, visto que estes são propícios a incêndios devido a dificuldades de instalações de
equipamentos de prevenção, portanto, para um estudo mais completo, optou-se por identificar áreas
de influências destes edifícios tombados, para maiores cuidados com prevenção para que o fogo das
galerias não se alastre até as áreas culturais da cidade.
4. RESULTADOS E ANÁLISES
Como podemos perceber na Figura 2 e Tabelas 1 e 2, são um total de vinte e sete galerias com até
cinco pavimentos e uma grande parte delas estão localizadas em áreas de edifícios tombados por lei,
o que leva ainda mais a uma maior preocupação quanto ao incêndio na região. É importante
ressaltar, que a única galeria que é tombada hoje, é a Pio X (PJF, 2017), porém, como possui mais
de cinco pavimentos, não será considerada para este artigo.

Fig. 2 - Localização das Galerias e Áreas de Tombamentos


Tabela 1 – Identificação e Localização de cada galeria levantada
Nº NOME ENDEREÇO
IDD RUA / AVENIDA Nº
1 Angela Falci D´Agosto - Braz Shopping Rua Braz Bernardino 105
Rua Espírito Santo 922
2 Central Hall Av. Barão do Rio Branco 2167
3 Edifício São Paulo Rua Marechal Deodoro 85
4 Ali Halfeld Rua Barão de São João Nepomuceno 246
5 Ana Delmonte Rua Barão de São João Nepomuceno 225
6 Antônio Alexandre Ahouagi - Shopping Marechal Rua Marechal Deodoro 162
Rua Fonseca Hermes 82
7 Azarias Villela Rua Barão de São João Nepomuceno 245
8 Bellini Rua Batista de Oliveira 405
Marechal Deodoro 230
9 Bruno Barbosa Rua Halfeld 622
Rua Marechal Deodoro 353
10 Carlos Torres Quintão - Marechal Shopipng Rua Marechal Deodoro 450
Rua Mister Moore 71
11 Castro Alves Rua Marechal Deodoro 194
Rua Fonseca Hermes 91
12 General Roberto Neves Gal. João Beraldo -
Gal. Azarias Villela -
13 Ítala Rua Marechal Deodoro 420
Rua Mister Moore 55
14 João Borges de Matos Rua Barão de São João Nepomuceno 257
Rua Santa Rita 412
15 Rosa Falci Maia Av. Getúlio Vargas 353
Rua Halfeld 517
Rua São João Nepomuceno 84
16 sem nome Av. Barão do Rio Branco 1820
17 Professor Irineu Guimarães Rua Espírito Santo 664
Av. Presidente Itamar Franco 619
18 Jamil Mockdeci Rua Espírito Santo 620
Av. Presidente Itamar Franco 575
19 Sofia Rua Marechal Deodoro 532

20 Panteleoni Arcuri - JF Shopping Rua Batista de Oliveira 189


21 Pátio Central Rua Braz Bernardino 199
Rua Espírito Santo 1000
22 Pavilhão da Moda Rua São Sebastião 491
23 São Sebastião Center Rua São Sebastião 503
24 Vereador Nicolau Shuery - Shopping Rio Branco Rua Santo Antônio 585
Av. Barão do Rio Branco 1840
25 Trilha da Moda Rua São Sebastião 517
26 Condomínio Cathoud Rua Halfeld 744
27 sem nome Rua Marechal Floriano Peixoto 157
Tabela 2 – Características de cada galeria levantada.
Analisando as Tabelas 1 e 2, verifica-se que, segundo a NR 23 e a Figura 3 que todas as galerias
possuem suas saídas como rotas de fuga, sendo suas larguras maiores que 1,2 metros (NORMA
REGULAMENTADORA, 2011), porém somente 8% possuem quantidades suficientes de rotas de
fuga para atender aos usuários (maior ou igual a 4%), necessitando, portanto, um estudo mais
detalhado para adequar as demais galerias e garantir a segurança dos usuários frente ao sinistro.
Quanto ao funcionamento, vide Figura 3, grande maioria das galerias funcionam no período noturno
e nos fins de semana, este fato devido a quantidade de galerias que são além de comerciais,
residenciais, possibilitando a acessibilidade aos bombeiros em situações emergenciais.

Fig. 3 - Número de Rotas de Fuga e Funcionamento 24h


Neste contexto deve-se esclarecer:
a) Número de pavimentos: observa-se que a grande maioria das galerias possuem pavimentos
superiores com escritórios ou residências, e ainda assim, algumas possuem também algum
tipo de bar ou restaurante sendo que somente a galeria Castro Alves, possui fábricas, 9 no
total, vide Tabela 2.
b) Número de estabelecimentos: com este levantamento é possível observar que as galerias,
além das suas lojas, possuem também bares, restaurantes e fábricas, que possam ser grandes
focos de incêndio, por possuir cozinhas e materiais inflamáveis, aumentando ainda o risco
que pode causar à população interna e vizinha. Outro ponto a levantar, é que as residências
ou escritórios estão localizados nos pavimentos mais altos do edifício, fazendo com que o
foco de incêndio seja nas proximidades do térreo, podendo dificultar nas rotas de fuga em
caso de incêndio.
c) Central GLP, vide Figura 4: dependendo do estabelecimento (da necessidade de instalação
de gás para residências ou negócios), é de suma importância e ao mesmo tempo perigoso, e
verifica-se que apenas 4% das galerias a possuindo, por ser altamente inflamável, e em caso
de incêndios deve-se tomar sérias precauções.
d) Tipo de cobertura, vide Figura 4: influencia muito no comportamento das fumaças geradas
durante um incêndio e bem como a facilidade de entrada dos bombeiros para o combate ao
sinistro ou até mesmo novas rotas de fuga. A grande maioria das coberturas são de laje ou
mistas de laje e telha, que podem obstruir a passagem da fumaça, ou então, em situações
mais severas, podem aquecer as telhas, trincar e cair, sendo perigoso para as pessoas que
estão sendo evacuadas do edifício. Além disso, uma porcentagem considerável das
coberturas são totalmente ou parcialmente descobertas, 11% e 7% respectivamente, esta
informação é interessante para ressaltar que em caso de incêndio, a fumaça pode ser
facilmente controlada pela área externa, e há uma facilidade de acesso do corpo de
bombeiros via pavimentos superiores, além de proporcionar um ambiente mais propício à
evacuação, devido à pouca propagação da fumaça.

Fig. 4 - Tipo de cobertura e Central GLP


e) Características de prevenção de incêndios, vide Figura 5: é possível observar que a situação
das galerias é precária.
e.1) Apenas 48% das galerias possuem hidrantes internos, o que dificultaria o trabalho do
Corpo de Bombeiros, já que eles dependeriam apenas dos hidrantes exteriores, que
nem sempre estão em locais ideais.
e.2) Iluminação e sinalização de emergência: a situação é a ainda mais preocupante, visto
que seriam equipamentos ideais para a evacuação devido à quantidade de pessoas
que ali trabalham ou residem, sendo 70% das galerias que não possuem iluminação
de emergência e 52% não possuem sinalização de emergência.
e.3) Em relação às áreas de comum acesso ou de grande quantidade de trânsito de
pessoas, as medidas principais para prevenção contra incêndios são os extintores e as
escadas de emergência, mas apenas 52% e 7% das galerias respectivamente, os
possuem.
e.4) Sprinklers: nenhuma galeria de até cinco pavimentos possui, mesmo sendo um
grande auxílio à prevenção do alastramento do fogo antes que os bombeiros
chegassem ao local, nenhuma galeria de até cinco pavimentos possui.

Fig. 5 - Equipamentos de prevenção contra incêndios


e.5) Brigada treinada, vide Figura 6: é possível perceber que apenas 4% das galerias
possuem brigada treinada, ou seja, alguém responsável pela segurança do
estabelecimento que tenha conhecimento de combate contra incêndio para auxiliar as
pessoas na evacuação e até mesmo realizar o pré-combate ao fogo até o Corpo de
Bombeiros chegar no local.

Fig. 6 - Brigada Treinada


5. RECOMENDAÇÕES
Com base nos dados obtidos, as galerias de até cinco pavimentos do centro de Juiz de Fora estão
não estão adequadas aos requisitos para prevenção de incêndios e, considerando a elevada
população usuária destes estabelecimentos, o baixo índice de equipamentos de prevenção, além de
estarem em regiões que existem edifícios tombados próximos, ou seja, existe um grande risco, em
caso de incêndio, de destruição da área afetada e das adjacências.
Segundo a ABNT 14432.2000, existem dois tipos de proteção, a ativa e a passiva. A proteção ativa
é definida como o tipo de proteção contra incêndio que é ativada manual ou automaticamente em
resposta aos estímulos provocados ao fogo, composta basicamente das instalações prediais de
proteção contra incêndio como sprinklers, detecção de incêndio, brigadas e iluminação de
emergência. A proteção passiva é definida como o conjunto de medidas incorporado ao sistema
construtivo do edifício, sendo funcional durante o uso normal da edificação e que reage
passivamente ao desenvolvimento do incêndio, não estabelecendo condições propícias ao seu
crescimento e à propagação, garantindo resistência ao fogo e facilitando a fuga dos usuáriosno
edifício para desenvolvimento das ações de combate, como, por exemplo, a compartimentação
horizontal e vertical, (SILVA, 2012).
Portanto, para medidas ativas, é importante realizar a instalação devida respeitando a NR23:
a) Extintores de incêndios:
a.1) Mínimo de dois extintores por pavimento segundo a NR23 além de possuir uma
unidade extintora adequada conforme a Tabela 3;
Tabela 3 – Número de extintores que constituem uma unidade extintora

CAPACIDADE DOS NÚMERO DE EXTINTORES QUE CONSTITUEM UNIDADE


SUBSTÂNCIAS
EXTINTORES EXTINTORA

5 litros 2
Espuma
10 litros 1

Água Pressurizada ou 1
10 litros
Água Gás 2
1 quilo 4
2 quilos 3
Gás Carbônico (CO2)
4 quilos 2
6 quilos 1
1 quilos 3
Pó Químico Seco 2 quilos 2
4 quilos 1

a.2) Distância de até 20 metros dependendo do grau do risco de fogo que o


estabelecimento possui, vide Tabela 4.
Tabela 4 – Distância máxima a ser percorrida por risco de fogo
ÁREA COBERTA P/ UNIDADE DE RISCO DE DISTÂNCIA MÁXIMA A SER
EXTINTORES FOGO PERCORRIDA

500 m² Pequeno 20 metros

250 m² Médio 10 metros

150 m² Grande 10 metros

a.3) Instalação em locais de fácil visualização, acesso e onde haja de preferência, menos
probabilidade de o fogo bloquear acesso;
a.4) Os extintores não deverão ter sua parte superior a mais de 1,60 metros acima do piso.
Os baldes não deverão ter seus rebordos a menos de 0,60 metros nem a mais de 1,50
metros acima do poso
b) Sinalizadores e iluminação de emergência: o objetivo é instruir as pessoas para diminuir o
tempo de evacuação para entrada do Corpo de Bombeiros e por isso, devem ser instalados
de forma inteligente, seguindo as rotas de fuga projetadas para cada edifício.
c) Hidrantes internos: para edifícios com mais de 750 m² de área construída, é necessário
realizar a instalação de hidrantes internos em cada pavimento.
d) Sprinklers: que auxiliariam muito no combate contra incêndios, e é de extrema importância
para a prevenção no alastramento da chama até a chegada do Corpo de bombeiros, que pode
ser demorada e com isso o fogo pode ser temporariamente contido. Por isto, sua instalação
deve ser realizada seguindo um projeto de incêndios.
Além de todas as medidas ativas para prevenção, outra medida importante é diminuir a quantidade
de brigada destreinada no local. Apenas 4% das galerias possuem um responsável capacitado para
agir em ambiente com incêndio, e por isto, a intuito é aumentar esta estatística incentivando os
proprietários a pagar por um curso de treinamento próprio junto ao Corpo de Bombeiros,
principalmente para que este responsável pela segurança tenha capacidade de agir e reagir em
situações adversas, auxiliando nas evacuações e até mesmo no combate contra incêndio com
extintores, auxiliando a chegada dos bombeiros antes que a chama aumente de intensidade.
Para os trabalhadores ou residentes, uma forma prática e fácil é a utilização de cartilhas de
orientação como no exemplo da Figura 7. As cartilhas de prevenção são importantes para locais
com cozinhas, central GLP, fábricas, bares e restaurantes, estas devem conter formas de evitar que o
fogo se alastre, como uso de material devido, manutenção de equipamentos em dia, limpeza,
cuidados com equipamentos elétricos, entre outros.
Fig. 7 – Cartilha de prevenção a ser fixada em todos os estabelecimentos, escritórios e residências
Já para cartilhas em caso de incêndio, exemplo na Figura 8, esta deve conter um passo a passo de
como proceder nestas situações, mostrando inicialmente o motivo e significado da sinalização e
iluminação de emergência, localização das escadas de emergência e rotas de fuga do local,
informação sobre circulação e como se comportar, além também de como manusear o extintor e até
mesmo contato com os Bombeiros.

Fig. 8 – Cartilha de fuga e combate a ser fixada em bares, restaurantes e fábricas. Adaptado de CORPO DE
BOMBEIROS, 2011
5. CONCLUSÃO
Finalmente, a inclusão de medidas de proteção e combate ao incêndio e, principalmente, de meios
que permitam o rápido abandono dos ambientes em chamas deve ser conscientemente analisada
pelo projetista, em conjunto com o proprietário, levando em conta as condições específicas da obra,
tais como porte da edificação, número de usuários e tipo de utilização, além das exigências do poder
público, das recomendações das normas técnicas para o projeto e da especificação de equipamentos
(SILVA, 2012). Ademais, todas estas medidas devem ser realizadas com auxílio do Corpo de
Bombeiros, auxiliando na execução do projeto e também na facilitação na obtenção do AVCB
(Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros).

REFERÊNCIAS
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elementos construtivos de edificações - procedimento. Rio de Janeiro: [s.n.].
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[4] BUCHANAN, A. H. Structural Design for Fire Safety. [s.l.] Wiley, 2015.
[5] CARVALHO, G. O. M. As Galerias de Juiz de Fora: Urbanismo da Área Central. [s.l.] PUC-Campinas,
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[6] CLARETO, S. M.; TERRA, M. F. Nos labirintos das galerias: um estudo de espacialidades urbanas em
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[11] IBGE. Dados IBGE Município de Juiz de Fora. Disponível em: <cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/juiz-de-
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[12] NORMA REGULAMENTADORA. NR 23: Proteção contra incêndios. [s.l: s.n.].
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<https://www.pjf.mg.gov.br/administracao_indireta/funalfa/patrimonio/arquivos/imoveis_tombados_300317.p
df>.
[14] SILVA, V. P. Projeto de Estruturas de Concreto em Situação de Incêndio Conforme ABNT NBR
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[15] XIN, J.; HUANG, C. Fire risk analysis of residential buildings based on scenario clusters and its application in
fire risk management. Fire Safety Journal, v. 62, p. 72–78, 1 nov. 2013.
OTIMIZAÇÃO DE SEÇÕES TRANSVERSAIS DE PILARES EM
CONCRETO ARMADO VIA ALGORITMOS GENÉTICOS

Optimization of cross-sectional areas of reinforced concrete columns via genetic


algorithms

Rodrigo Oliveira Cruz 1, Afonso Celso de Castro Lemonge 2


1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, rodrigo.cruz@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, afonso.lemonge@ufjf.edu.br

Resumo: O dimensionamento atual de uma estrutura de concreto armado é resultado de uma série de
iterações realizadas pelo projetista, que predefine dimensões para cada elemento estrutural (pilar,
viga, laje, etc.), e posteriormente realiza os cálculos necessários até encontrar uma melhor solução.
Este processo é dependente principalmente dos valores inicialmente atribuídos e, assim, é função
direta do conhecimento e experiência do profissional. Dessa maneira, como está sujeito a
interpretações subjetivas, os resultados obtidos podem não se caracterizar como os melhores em
questão de custo, utilização e aproveitamento dos materiais. Por isto, se mostra necessária a
otimização do dimensionamento estrutural, com o objetivo de se encontrar o menor custo de uma
estrutura; em especial, visto as grandes ordens de grandeza que ocorrem, para as cargas atuantes em
pilares de concreto armado que influenciam a ocorrência de seções transversais com dimensões
robustas e nada otimizadas. Com isto, o presente trabalho possui o objetivo de usar um algoritmo
genético, que consiga obter a solução ótima na forma de seção transversal de um pilar com a
minimização do seu custo de construção. Será de caráter importante a definição das dimensões como
base e altura, assim como as armaduras do elemento estrutural em questão, resultando por fim no
consumo necessário de concreto, aço e madeira. O problema de otimização deverá seguir as
prescrições existentes em normas, principalmente as da ABNT NBR 6118:2014 [1], atendendo aos
estados limites último e de serviço, como também a valores mínimos referentes às suas dimensões.
A partir destas restrições, o algoritmo genético define os valores ótimos para as variáveis do projeto
(dimensões, armaduras, linha neutra, etc.), de modo que a função objetivo represente o menor custo
possível do conjunto e, de fato, seja uma solução global. Por fim, para se demonstrar o potencial do
método computacional, o resultado final obtido será comparado com outro resultante de um método
distinto; e, então, poderá ser observado se a aplicação do algoritmo é viável. Espera-se que os
resultados obtidos neste trabalho possam ser replicados e utilizados por projetistas envolvidos neste
tema.

Palavras-chave: algoritmo genético, otimização, pilares de concreto armado.

Abstract: The sizing of reinforced concrete structure is the result of a large number of iterations made
by the designer, who defines the dimensions for the structure elements (columns, beams, slabs, etc.)
and then fulfill all necessary verifications to achieve a better solution. This process is mainly
dependent of the initial values and, thus, is related with the professional’s knowledge and experience.
In this case, the results are influence by subjective interpretations and the sizing could not be the best
in terms of cost and performance. Therefore, it is necessary to optimize structure designs with the
purpose to acquire the lowest cost for them; in particular, for reinforced concrete columns which have
robust and not optimized dimensions. This work has the objective of using a genetic algorithm that
acquire the optimal solution of a cross-sectional area of reinforced concrete column with the
minimization of its cost. It will be important to define dimensions as base and height, likewise the
steel reinforcement, in order to obtain the necessary consumption of concrete, steel and wood. The
optimization problem should satisfy not only the requirements presents in NBR 6118:2014 [1] in its
methods of sizing but also the minimum values relatives to the cross-sectional area. Through these
constraints, the genetic algorithm defines the optimal values for project variables (dimensions, steel
reinforcements, neutral line, etc.); in order to the objective function refer to the lowest possible cost.
Finally, to demonstrate the potential of the computational method, its result will be compared with a
distinction one and then it can be analyzed if the application of the algorithm is feasible. It is hoped
that results acquired in this work could be replicated and used for designers with interest for the
problem.

Keywords: genetic algorithm, optimization, reinforced concrete columns.

1. INTRODUÇÃO
O método tradicional de dimensionamento estrutural adotado atualmente, é um processo dependente
dos conhecimentos e experiências anteriores do projetista. Esta forma de cálculo é realizada pela
predefinição das dimensões do elemento, seguido pelo dimensionamento nos estados limites último
e de serviço, assim como pelas verificações de acordo com as respectivas normas vigentes. O projeto
estrutural possui, então, um caráter subjetivo, propiciando a adoção de parâmetros que,
eventualmente, podem não ser os melhores para determinada situação.
Com o término do projeto técnico e a transição para a execução da construção, pode-se obter um
produto final (entende-se a construção como um todo ou o elemento isolado) com custo elevado e/ou
maior do que outra solução mais viável, visto uma má utilização dos materiais em função de seus
quantitativos e aproveitamento de suas capacidades. Estruturas como vigas e pilares podem, assim,
possuir dimensões exageradas e não compatíveis com um rendimento ótimo, resultado da alta carga
que devem suportar. Desta maneira, um dimensionamento com estas características gera perdas
econômicas, maior índice de desperdício no canteiro de obras, além de impactar ainda mais o meio
ambiente.
É nesta perspectiva que pode-se utilizar métodos de otimização que buscam configurações ótimas
para os dados existentes em determinado projeto e baseiam-se em análises matemáticas e/ou
computacionais capazes de minimizar os custos de construção e melhorar o desempenho. Estes
métodos possuem aplicações já consolidadas na engenharia estrutural assim como o representado nos
trabalhos desenvolvidos por Chaves [2], Bordignon e Kripka [3], Picinini [4] e Sias e Alves [5].
A aplicação de um processo de otimização pode ser feita a problemas dos mais simples aos mais
complexos, com formulações e raciocínios distintos, mas que em sua generalidade tendem a um único
objetivo: encontrar a melhor solução. As abordagens podem se caracterizar como determinísticas,
pela aplicação de cálculos matemáticos mais elaborados, como também por probabilísticas, que
utilizam métodos estocásticos e muito se baseiam em fenômenos da natureza, como os algoritmos
genéticos, colônias de formigas e colônias de abelhas [6] [7].
Os algoritmos genéticos (AG) se mostram como ferramenta muito utilizada nos estudos e aplicações
aos processos de otimização, apresentando referências e embasamento teórico nos conceitos da
seleção natural [8]. Sua utilização é abrangente, já sendo desenvolvidos códigos nas mais variadas
linguagens de programação.
Portanto, a utilização de um método de otimização como o AG e a sua aplicação ao dimensionamento
estrutural pode se mostrar como forma de aprimorar as imperfeições dos cálculos tradicionais. Este
processo deve ser analisado e estudado com o futuro potencial de implementação de modo definitivo
nos cálculos de projeto técnicos.
O artigo é organizado da seguinte forma: na Seção 2 são apresentados os objetivos deste trabalho. Na
Seção 3 a Metodologia usada. Na Seção 4 e 5 são apresentados e analisados os Resultados. E,
finalmente, na Seção 6 estão as Conclusões e trabalhos futuros.

2. OBJETIVOS
O presente trabalho possui por objetivo apresentar a otimização da seção transversal de um pilar de
concreto armado com a utilização de um algoritmo genético. O método probabilístico em questão
deverá obter a melhor solução do problema com a minimização dos custos de construção do elemento
estrutural.
A aplicação do AG, também é tema de estudo, uma vez que será utilizado o código do Professor
Kalyanmoy Deb [9] com associação à modelagem proposta para o problema.

3. METODOLOGIA
3.1. Otimização
A otimização estrutural possui grande potencial de ser aplicada às situações encontradas no campo
da engenharia. Ela pode ser utilizada principalmente em situações em que se deseja otimizar
dimensões como comprimentos e diâmetros (sizing optimization), na busca por uma melhor forma da
estrutura (shape optimization) e na topologia destas (topology optimization). É a procura pela
maximização e/ou minimização das características do elemento, de forma que, por exemplo, este
sustente as cargas incidentes e possua menor peso e/ou menores deformações, tornando-se mais
eficiente [10].
De forma genérica, o problema de otimização possui três principais elementos que podem ser
observados e que se relacionam intrinsicamente e de forma dependente na modelagem do mesmo.
Estes são a função objetivo, as variáveis de projeto e as restrições.
As variáveis de projeto são os parâmetros utilizados que representam as características reais do
problema, que variam ao decorrer da sua resolução e que devem possuir valores que indiquem a
melhor solução. O conjunto das variáveis de um problema se caracterizam como uma configuração
ou solução e devem ser analisados conforme sua validade de aplicação [11].
A função objetivo representa o ponto central do problema e deverá sempre ser minimizada ou
maximizada, sendo dependente das variáveis de projeto. Portanto, retorna o valor referente a uma
solução, que será de fato a melhor, caso o resultado da função seja o mínimo (ou o máximo) possível
em comparação com os demais valores [11].
Por último, as restrições são os limites impostos aos problemas de otimização e às suas soluções,
representando um caminho ou condições que não podem ser assumidas na interpretação do problema.
São dependentes das variáveis de projeto e delimitam os valores que estas podem assumir,
restringindo, assim, a busca pela melhor solução. Elas devem ser atendidas no decorrer do problema
de otimização, resultando em uma solução viável, ou seja, que possui suas variáveis com valores
aceitáveis e respeitando as restrições. Podem se apresentar de duas maneiras, como relações de
desigualdades ou de igualdade, sendo denominadas de ativas quando se encontram com valores
exatos (com resultados respeitando a igualdade) [11].
Desse modo, um problema de otimização pode ser enunciado de forma genérica por Arora [11]:
𝑚𝑖𝑛𝑖𝑚𝑖𝑧𝑒 (𝑜𝑢 𝑚𝑎𝑥𝑖𝑚𝑖𝑧𝑒) 𝑓(𝑥) (1)
𝑠𝑢𝑏𝑚𝑒𝑡𝑖𝑑𝑜 𝑎 𝑔𝑖 (𝑥) ≤ 0 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑖 = 1, … , 𝑚 (2)
ℎ𝑖 (𝑥) = 0 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑖 = 1, … , 𝑙 (3)
𝑥 ∈ 𝑋 ⊂ ℝ𝑛 (4)
𝑋 = {𝑥 ∈ ℝ𝑛 ∶ 𝑥𝑖𝐿 ≤ 𝑥𝑖 ≤ 𝑥𝑖𝑈 , 𝑖 = 1, 2, … , 𝑛} (5)

Onde:
(1) – Representa a função objetivo;
(2) – São as restrições de desigualdade;
(3) – São as restrições de igualdade;
(4) – Representa as variáveis de projeto e seus limites.
(5) – Representa o espaço de busca de cada variável.
3.2. Algoritmo Genético
Na década de 70 foram iniciados estudos por Holland [12] sobre métodos de buscas computacionais
baseados na seleção natural de Darwin [8], implementando conceitos originados nas áreas biológicas
sobre adaptação, genética e população.
Os algoritmos criados, interpretam o conjunto de soluções como uma população de indivíduos que
possuem suas características transcritas em um cromossomo e a partir deste realizam avaliações e
escolhas dos que são mais aptos a gerar uma nova população e sobreviver. Destaca-se neste processo
a existência de uma função aptidão que guia a análise de cada indivíduo, além de operadores
genéticos, como os de recombinação (crossovers) e mutações, que permitem a troca das informações
presentes nos cromossomos, gerando indivíduos melhores e mais aptos [13].
A interpretação genética pelo AG é feita de modo que as características particulares de cada
cromossomo são na verdade identificadas como variáveis. Dessa maneira, os operadores genéticos
atuam sobre estas informações como o descrito a seguir:
- Crossover: após a seleção dos indivíduos de uma população, são definidos, usualmente,
pares de cromossomos que terão seu material genético utilizados como base para a formação de um
novo par. Cada cromossomo tem suas informações divididas em duas ou mais partes e em mesmas
posições, possibilitando a permutação entre cada intervalo [14].
- Mutação: ocorre com a mudança aleatória em uma ou mais informações do cromossomo de
um indivíduo [14]. Este tipo de operador não permite uma convergência prematura do algoritmo e
ocorre em taxas inferiores ao do crossover.
De forma genérica, os Algoritmos Genéticos geracionais podem ser representados da seguinte
maneira por meio de um pseudo-código [13]:
Algoritmo genético genérico
Inicialize a população
Avalie indivíduos na população
Repita
Selecione indivíduos para reprodução
Aplique operadores de recombinação e mutação
Avalie indivíduos na população
Selecione indivíduos para sobreviver
Até critério de parada satisfeito
Fim
A população é inicialmente gerada de forma pseudo-aleatória e representa a cada iteração uma
geração composta pelos indivíduos. Em seguida é realizada a avaliação baseada na aptidão, e caso
selecionados para reprodução, os indivíduos passam pelos operadores genéticos de crossover e/ou
mutação para a formação de uma nova população. Estes procedimentos são então repetidos
continuamente até que o critério de parada estabelecido seja atingido e o algoritmo termine sua
execução. Podem ser adotados para o término do AG um número máximo de gerações, um máximo
de avaliações realizadas ou o caso de estagnação da solução.
O AG utilizado como método de otimização [9] é estruturado na linguagem de programação C. Para
a sua execução são estabelecidos critérios para a modelagem do problema, como a necessidade de
que as restrições sejam escritas na forma de desigualdades maiores ou iguais a zero, da semente que
atua na definição das populações pseudo-aleatórias iniciais, além de outros parâmetros que são
escolhidos pelo usuário e influenciam no processo evolucionário. Ele será configurado para a
utilização de uma codificação real ou binária das variáveis e usa o crossover denominado de SBX e
uma mutação do tipo polinomial [15]. Para o tratamento das restrições foi adotado uma estratégia
proposta por Deb [16].
3.3. Pilares de Concreto Armado
Os pilares de concreto armado são elementos estruturais utilizados na construção em geral e possuem
seu alinhamento na vertical, com preponderância de cargas de compressão [1]. Em uma estrutura
usual, este recebe cargas de lajes e vigas e as transmite para as fundações, resultando em altas
grandezas decorrentes de peso próprio dos elementos e de cargas de uso da edificação [17]. São
caracterizados por possuir, em sua maioria, seção transversal retangular, porém também podendo
apresentá-la de forma circular ou vazada.
O dimensionamento de pilares deve seguir o recomendado pela ABNT na NBR 6118 – Projeto de
Estruturas de Concreto – Procedimento [1], ao abordar os cálculos de Estado Limite Último (ELU) e
as verificações de Estado Limite de Serviço (ELS). Os critérios de resistência dos materiais devem
ser atendidos para as solicitações existentes (forças solicitantes menores ou iguais às de resistência)
prevendo para a estrutura um arranjo de barras longitudinais e transversais mínimos. Caso esta
restrição não seja atendida e os esforços solicitantes existam em grau maior que os resistentes, ocorre
a ruptura da estrutura com a deformação do concreto e/ou aço atingindo seus valores limites [17].
Para a simplificação deste cálculo no dimensionamento de estruturas no ELU são adotadas hipóteses
básicas e simplificações pela NBR 6118 [1] e que também são citadas por Sias e Alves [5],
destacando-se as seguintes:
- A armadura passiva e o concreto ao possuírem aderência entre si, possuem deformações
iguais.
- As tensões de tração do concreto devem ser desprezadas no dimensionamento no ELU.
- As tensões existentes no concreto podem ser aproximadas por um diagrama em formato de
retângulo, com valor máximo de 0.85 fcd.
- Utilização de diagramas de tensão-deformação para a definição de tensão nas barras de aço
(Fig. 2).
- Distribuições de deformação na seção transversal apresentadas por meio de domínios de
deformações (Fig. 3).

Fig. 1 – Tensão - deformação para o concreto (Fonte: adaptado de NBR 6118 [1]).

Fig. 2 – Tensão - deformação para o aço (Fonte: adaptado de NBR 6118 [1]).
Fig. 3 – Distribuição dos domínios no ELU (Fonte: adaptado de NBR 6118 [1]).
Como visto nas figuras 1, 2 e 3, a tensão do concreto 𝜎𝐶 e do aço 𝜎𝑠 são dependentes da deformação
do elemento estrutural. Para o primeiro, a tensão varia até o ponto de início da deformação plástica
de encurtamento e partir deste mantêm-se constante com o valor máximo até o ponto de deformação
de encurtamento em que se têm ruptura do concreto. Para o segundo, a tensão também é função da
deformação até o ponto de escoamento do aço, a partir do qual seu valor é constante até a ruptura [1].
Para o concreto, os valores referentes à Fig. 1, são mostrados a seguir [1]:
𝑓𝑐𝑘
- 𝑓𝑐𝑑 = (6)
𝛾𝑓

- 𝑓𝑐𝑘 ≤ 50 𝑀𝑃𝑎:
𝜀𝑐2 = 2,0 ‰
𝜀𝑐𝑢 = 3,5 ‰
- 𝑓𝑐𝑘 > 50 𝑀𝑃𝑎:
𝜀𝑐2 = 2,0 ‰ + 0,085 ‰ . (𝑓𝑐𝑘 − 50 )0,53 (7)
𝜀𝑐𝑢 = 2,6 ‰ + 35 ‰ . [(90 − 𝑓𝑐𝑘 )⁄100]4 (8)

Para o aço, os valores referentes à Fig. 2, são:


𝑓𝑦𝑘 (9)
- 𝑓𝑦𝑑 =
𝛾𝑓

- 𝜎𝑠 = 𝐸𝑠 . 𝜀𝑠 (10)

Como a determinação dos esforços resistentes é função das deformações existentes nos componentes
da estrutura, torna-se necessário descobrir como é feita a distribuição destas na seção transversal. Por
meio da definição dos domínios obtêm-se as deformações no ELU com correlações com a posição da
Linha Neutra na seção transversal e da altura útil (distância do centro de gravidade da armadura
longitudinal à seção mais comprimida de concreto) [17].
Os domínios se dividem em 6 grupos e caracterizam duas maneiras de rupturas. Os domínios 1,2 e 3
possuem sua ruptura de modo dúctil com o escoamento da armadura e colapso desta por deformação
excessiva. Por outro lado, os domínios 4, 4a e 5 rompem de forma frágil com o concreto atingindo
sua deformação limite e a armadura sem atingir o escoamento ou encurtando [17]. A partir desta
divisão e das particularidades de cada domínio, pode-se concluir que um pilar de concreto armado
pode ser dimensionado para aqueles em que ocorra esforços de compressão, ou seja, para aos
domínios 3, 4, 4a e 5 [18].
3.3.1 Formulação do Problema
Será adotado para a formulação do problema de otimização da seção transversal de um pilar de
concreto armado, a abordagem realizada por Chaves [2]. O processo de otimização adotado em [2]
usa um método determinístico via multiplicadores de Lagrange e das condições de Kuhn-Tucker [11].
Os valores encontrados pela autora serão comparados com os determinados pelo Algoritmo Genético
[9] usado neste artigo.
A autora adota para o dimensionamento do pilar, uma seção transversal retangular com 4 barras fixas
posicionadas nos cantos e de forma simétrica, considerando o aço CA50 e o mesmo diâmetro para as
barras. Esta configuração e as variáveis utilizadas no projeto são representadas na Fig. 4.

Fig. 4 – Variáveis de projeto (Fonte: Chaves [2]).


- 𝑥1 → largura da seção transversal do pilar.
- 𝑥2 → altura da seção transversal do pilar.
- 𝑥3 → área de aço da seção transversal do pilar.
- 𝑥4 → posição da linha neutra na seção transversal do pilar (distância entre a fibra mais
comprimida da seção e a linha neutra).
Os cálculos são realizados considerando o elemento estrutural sob flexão normal composta e no
domínio 5, ou seja, em que toda a seção transversal está sendo comprimida. Nesta composição, a
linha neutra não corta a seção transversal e, de acordo com a Fig. 3, gira em torno de um eixo fixo no
3
ponto C, que define uma distância de 𝑥2 da seção mais comprimida. A justificativa para esta
7
aplicação é que para o dimensionamento de pilares de um edifício, a seção em um nível inferior possui
os esforços normais em grandezas mais elevadas que os momentos existentes [2].
Dessa forma, a partir das considerações feitas, pode ser apresentado os elementos para o problema de
otimização que compreende a minimização do custo de construção da seção transversal. A função
objetivo F(x), então, associa as variáveis de projeto com os custos de concreto, armadura longitudinal
e forma.

𝐹(𝑥) = 𝑐1 . (𝑥1 . 𝑥2 ) + 𝑐2 . 𝑥3 + 𝑐3 . (𝑥1 + 𝑥2 ) (11)

Onde:
- 𝑐1 = 𝐶𝐶
- 𝑐2 = 𝜌𝑆 . 𝐶𝑆
- 𝑐3 = 2 . 𝐶𝐹
- 𝐹 → função custo para o pilar, por unidade de comprimento.
- 𝐶𝐶 → custo do concreto, por unidade de volume.
- 𝐶𝑆 → custo da armadura, por unidade de massa.
- 𝐶𝐹 → custo da fôrma, por unidade de área.
- 𝜌𝑆 → massa específica do aço.
As restrições adotadas foram resultado de cálculos de equilíbrio da seção transversal, entre os
esforços resistentes e os solicitantes, como também pelo uso de equações de compatibilidade do
domínio 5 para a definição das tensões (Eq. 12 e 13). As demais restrições são originadas de condições
de garantia do domínio 5 (Eq. 14) e dos limites laterais das variáveis (Eq. 15, 16 e 17).

𝑥3 𝑥4 − 𝑥2 + 𝑑 ′
0,85 . 𝑓𝑐𝑑 . 𝑥1 . 𝑥2 + (294 + 𝑓𝑦𝑑 ) − 𝑁𝑑 = 0 (12)
2 7 𝑥4 − 3 𝑥2
𝑥3 𝑥4 − 𝑥2 + 𝑑 ′
(𝑥2 − 2 𝑑 ′ ) . (𝑓𝑦𝑑 − 294 + 𝑓𝑦𝑑 ) − 𝑀𝑑 = 0 (13)
4 7 𝑥4 − 3 𝑥2
1,25 . 𝑥2 − 𝑥4 ≤ 0 (14)
20 ≤ 𝑥1 ≤ 40 𝑐𝑚 (15)
20 ≤ 𝑥2 ≤ 40 𝑐𝑚 (16)
0,8 % ≤ 𝜌 ≤ 3 % (17)

Onde:
- 𝑑′ → distância do centro da armadura até a face da seção.
- 𝑁𝑑 → esforço normal solicitante.
- 𝑀𝑑 → momento solicitante, produto entre o esforço normal e a excentricidade considerada.
- 𝜌 → taxa geométrica de armadura no concreto. Razão entre a área da armadura longitudinal
e a área da seção transversal do pilar.
De forma geral, o problema de otimização pode ser escrito na formatação padrão e usual:
Min: 𝐹(𝑥) = 𝑐1 . (𝑥1 . 𝑥2 ) + 𝑐2 . 𝑥3 + 𝑐3 . (𝑥1 + 𝑥2 ) (11)

s.a:
𝑥3 𝑥4 − 𝑥2 + 𝑑 ′ (12)
0,85 . 𝑓𝑐𝑑 . 𝑥1 . 𝑥2 + (294 + 𝑓𝑦𝑑 ) − 𝑁𝑑 = 0
2 7 𝑥4 − 3 𝑥2
𝑥3 𝑥4 − 𝑥2 + 𝑑 ′ (13)
(𝑥2 − 2 𝑑 ′ ) . (𝑓𝑦𝑑 − 294 + 𝑓𝑦𝑑 ) − 𝑀𝑑 = 0
4 7 𝑥4 − 3 𝑥2
1,25 . 𝑥2 − 𝑥4 ≤ 0 (14)

4. RESULTADOS
O Algoritmo Genético (AG) foi executado utilizando os parâmetros de Chaves [2] para as variáveis
de projeto, para ser possível a posterior comparação dos dados finais obtidos com os da autora. Os
valores de força normal solicitante iniciam com 250 kN e variam até limite de 3000 kN, enquanto o
momento solicitante é definido pelo valor adotado para a excentricidade (1,2 ou 3 cm), dessa maneira,
sendo o produto entre esta e a força normal.
Foram definidos valores padrões para os parâmetros de entrada do AG conforme indicado na Tabela
1. Foram analisadas duas situações diferentes para a execução do algoritmo, onde se variam,
principalmente, as taxas de crossover e mutação, além do tamanho da população e do número de
gerações. A seguir são representados estes dados e os resultados obtidos com as execuções do AG:
4.1. Dados de Entrada
- 𝐶𝐶 = 228,39 𝑅$/𝑚³
- 𝐶𝑆 = 2,73 𝑅$/𝑘𝑔
- 𝐶𝐹 = 31,58 𝑅$/𝑚²
- 𝑓𝑐𝑘 = 35 𝑀𝑃𝑎
- 𝑓𝑦𝑑 = 500 𝑀𝑃𝑎
- 𝜌𝑆 = 7,85 𝑥 10−3 𝑘𝑔/𝑐𝑚³

Tabela 1 – Parâmetros de entrada do Algoritmo Genético.


4.2. Resultados para excentricidade de 1 cm
As Tabelas 2 e 3 mostram os resultados obtidos pelo Algoritmo Genético usado neste artigo e por
Chaves [2], respectivamente, para uma excentricidade de 1cm.

Tabela 2 – Resultados obtidos com o Algoritmo Genético usado neste artigo para uma excentricidade de 1 cm.

Tabela 3 – Resultados obtidos por Chaves [2] para uma excentricidade de 1 cm.
4.3. Resultados para excentricidade de 2 cm
As Tabelas 4 e 5 mostram os resultados obtidos pelo Algoritmo Genético usado neste artigo e por
Chaves [2], respectivamente, para uma excentricidade de 2 cm.

Tabela 4 – Resultados obtidos com o Algoritmo Genético usado neste artigo para uma excentricidade de 2 cm.

Tabela 5 – Resultados obtidos por Chaves [2] para uma excentricidade de 2 cm.
4.4. Resultados para excentricidade de 3 cm
As Tabelas 6 e 7 mostram os resultados obtidos pelo Algoritmo Genético usado neste artigo e por
Chaves [2], respectivamente, para uma excentricidade de 3 cm.

Tabela 6 – Resultados obtidos com o Algoritmo Genético usado neste artigo para uma excentricidade de 3 cm.

Tabela 7 – Resultados obtidos por Chaves [2] para uma excentricidade de 3 cm.

5. ANÁLISE DOS RESULTADOS


O Algoritmo Genético mostrou-se, como esperado, com grande potencial de aplicação, uma vez que
apresentou resultados muito satisfatórios em comparação com a referência. Nota-se que para os
esforços com menores intensidades (primeiras linhas das Tabelas 1, 2 e 3), os resultados tiveram
pouca diferença, enquanto para aqueles maiores há uma diferença significativa. Por exemplo,
comparando-se os resultados das tabelas 2 e 3, para Nd = 250 o AG usado neste artigo encontrou um
custo de R$/m 34,47 enquanto Chaves [2] encontrou R$/m 34,46 e, por outro lado, para Nd = 3000 o
AG encontrou R$/m 66,44 enquanto Chaves [2] encontrou R$/m 87,32 com um custo de 31.42 %
maior. Situações similares podem ser observadas comparando-se as Tabelas 4 e 5 e as tabelas 6 e 7.
O AG, obteve em suas soluções dimensões menores para a seção transversal, porém áreas de aço
maiores e muito próximas do limite superior ou neste limite. Isto ocorre devido ao menor valor que
o aço retorna para a função objetivo, ou seja, um aumento do aço gera um custo menor do que um
aumento na seção de concreto, apesar do valor unitário maior do primeiro. Neste sentido, é também
influenciado pelas capacidades dos materiais, que a variação pequena na área do aço gera maiores
tensões resistentes, além da formulação do problema, em que apenas este elemento foi considerado
como forma de combater o momento solicitante (visto Eq. 13).
Os resultados apresentam ainda seções transversais com características distintas no que tange às suas
formas: Chaves [2] apresenta dimensões mais próximas, o que se supõe uma seção mais semelhante
a um quadrado perfeito, enquanto o AG aponta para seções de fato retangulares.

6. CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS


O presente trabalho apresentou a otimização da seção transversal de um pilar de concreto armado,
utilizando de um algoritmo genético e se baseando na formulação proposta por Chaves [2].
Foram introduzidos de forma sucinta e genérica os problemas de otimização e aplicação dos
algoritmos genéticos na engenharia estrutural. Como visto nas seções anteriores, fica nítido que
ambos possuem um campo vasto de teorias, técnicas e de autores renomados, estes que ficam como
referência em caso de um aprofundamento nos temas.
A otimização da seção transversal de um pilar, teve êxito em sua aplicação conjunta com o Algoritmo
Genético elaborado por Deb [9], retornando valores positivos, minimizando os custos da construção
do elemento estrutural e atendendo os limites impostos pelas restrições do problema. Desta forma, o
algoritmo se mostrou eficiente e completo, destacando–se pelo tratamento que o mesmo realiza para
as restrições.
Estudos futuros sobre o problema podem ser desenvolvidos abordando o tema de forma a englobar o
dimensionamento na flexocompressão nos domínios 3, 4 e 4a, considerando as excentricidades
acidentais e os efeitos provenientes de 2ª ordem. O cálculo pode ser realizado para as armaduras
transversais do pilar e com os diâmetros comerciais existentes como referência, além de representar
as variáveis de forma discreta e, assim, mais próximas do que acontece nas condições de construção.

AGRADECIMENTOS
O segundo autor agradece o apoio recebido do CNPq (306186/2017-9), FAPEMIG (TEC PPM
528/11, TEC PPM 388/14..

REFERÊNCIAS
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Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
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São Carlos: EdUSP, 2004.178 p.
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submetidos à flexocompressão. Revista Sul-Americana de Engenharia Estrutural, Passo Fundo, v.10, n.1, p. 26-46,
jan/jun. 2013.
[4] PICININI, F. B. Otimização de vigas em concreto armado por meio do algoritmo genético. Juiz de Fora: EdUFJF,
2017. 56 p.
[5] SIAS, F. M.; ALVES, E. C. Dimensionamento ótimo de pilares de concreto armado. Revista Eletrônica de
Engenharia Civil, Vitória, vol. 9, n. 3, p. 16-31, 2014. Disponível em: <http://revistas.ufg.br/index.php/reec/index>.
Acesso em: 17 out. 2018.
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[17] CARVALHO, R. C.; FIGUEIREDO FILHO, J. R. de. Cálculo e Detalhamento de Estruturas Usuais de Concreto
Armado Segundo a NBR 6118:2014. São Carlos: EdUFSCar, 2014. 415 p.
[18] SIAS, F. M. Dimensionamento Ótimo de Pilares de Concreto Armado. Vitória, Ed:UFES, 2014. 153 p.
ÍNDICE DE AVALIAÇÃO DO GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS
SÓLIDOS IGR – MONITORAMENTO DA COLETA SELETIVA SOLIDÁRIA
EM UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA

Solid Waste Management Evaluation Index IGR - Monitoring the Selective Solidary
Collection in a Public University

Mariana Medina da Fonseca 1, Thais Girardi Carpanez 2, Fernanda Deister Moreira 3, Samuel
Rodrigues Castro 4
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil, mariana.medina@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil, tgcarpanez@gmail.com
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil, fernanda.deister@engenharia.ufjf.br
4 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora - MG, Brasil, samuel.castro@ufjf.edu.br

Resumo: A geração de resíduos sólidos é preocupante, tanto no cenário nacional como


internacional, principalmente pelo crescimento da população e do consumo. As universidades, com
suas especificidades, são exemplos de grandes geradores de resíduos e devem se responsabilizar
com o adequado gerenciamento, que passa pela sensibilização de toda comunidade acadêmica. A
partir do Decreto Presidencial 5940/06 e dos princípios da Agenda Ambiental da Administração
Pública (A3P), institui-se a Coleta Seletiva Solidária (CSS), sendo uma ação do Governo Federal
que visa implantar a coleta seletiva em órgãos públicos com a cessão dos resíduos para associações
ou cooperativas de catadores. Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo a proposição de
um índice de avaliação na qualidade do gerenciamento de resíduos, com a aplicação prática em
unidade acadêmica de uma Instituição de Ensino Superior pública, para o monitoramento das ações
de implementação da CSS, preconizada na A3P. Para a criação do Índice, utilizou o método
Pressão-Estado-Impacto-Resposta (PEIR), como base para a escolha dos parâmetros a serem
avaliados, e a Matriz de Avaliação Funcional, como ferramenta comparativa multicritério, com a
qual foram mensuradas as variáveis inseridas no sistema, atribuindo pesos às mesmas. Dessa forma,
criou-se indicadores qualitativos para cada uma das dimensões do PEIR, atribuindo valores a cada
possível resposta do indicador, compilados em um resultado quantitativo único, o Índice de
avaliação do Gerenciamento de Resíduos Sólidos – IGR. A validação do índice foi realizada com
sua aplicação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia da Universidade Federal de
Juiz de Fora. Os resultados indicaram, a partir de uma amostra de acadêmicos, que 50% dizem fazer
sua parte para contribuir com o Programa de CSS, destinando seus resíduos de maneira correta.
Foram conferidos 43 coletores de lixo na unidade disponibilizados pelo referido Programa, sendo
que apenas 37% dos mesmos possuem segregação entre resíduos secos e úmidos. Observou-se que,
mesmo com a implantação da CSS, é questionável a sua eficiência, possivelmente pela ausência de
ações sistemáticas e frequentes de comunicação e educação ambiental, além da ausência de
participação e colaboração da comunidade acadêmica. Espera-se que os resultados apresentados
sejam norteadores em tomada de decisões e possibilitem o monitoramento da eficiência e
suficiência de ações relacionadas à CSS; sendo, ainda, referência para outras instituições, com
adaptações que venham de encontro com especificidades de cada cenário, de forma prática, ágil,
dando suporte para uma gestão de melhoria contínua.
Palavras-chave: indicador de qualidade, instituição de ensino superior, reciclagem.

Abstract: The generation of solid waste have been increasing in the national and international
scenario caused mainly for the population and consumption growth. The universities are an example
of large generators of solid waste so they should show management responsibility that includes the
academic community awareness. From the Presidential Decree 5940/06 and the principles of Public
Administration Environmental Agenda (A3P), it is instituted the Selective Solidarity Collection
through the Government aiming to implement the selective collection in public sectors that can
donate waste for collectors associations. In view of this, this study aims to propose an evaluation
index for waste management quality for monitoring the implementation of Selective Solidary
Collection (CSS) according to A3P with a practical application on an academic unit of a public
university in Brazil. For the index creation, the method Pressure-State-Impact-Response (PEIR) was
used, that is recognized worldwide, and Functional Evaluation Matrix as a multicriteria tool in
which was measured the variables inserted on the system, assigning weight to them. Thus,
qualitative indicators were created to each dimension of PEIR, attributing values to each possible
response of the indicator and doing this, it was possible to compile everything in one result, the
Solid Waste Management Evaluation Index -IGR. The index validation was held in the Engineering
and Architecture Faculty of Federal University of Juiz de Fora (UFJF). It was verified that the result
was not entirely satisfactory once only 50% of students chosen as sample said they try to do your
part to contribute to the CSS program, destinating your waste properly. 43 garbage cans were
checked at the faculty and only 37% have waste segregation to separate wet waste and dry waste. It
was observed that even with the implementation of CSS the management is not satisfactory as the
academic community is not totally involved. It is expected that due to the results presented in this
study it will be possible to guide decision making and evaluate and monitoring the actions
efficiency and sufficiency so it will the reference to other institutions considering adaptations that
converge with the specificities of each scenario and give supported by continuous improvement.

Palavras-chave: quality indicator, public universities, recycling.

1. INTRODUÇÃO
Faculdades e núcleos universitários podem ser assemelhados a pequenos núcleos urbanos em
relação à geração de resíduos sólidos, visto que desenvolvem atividades de ensino, extensão,
pesquisa e outras atividades referentes à sua operação, como restaurantes, cantinas e locais de
convivência. (Tauchen & Brandli, 2006). A sensibilização de toda a comunidade acadêmica,
incluindo professores, alunos e funcionários, é primordial no adequado gerenciamento dos resíduos
sólidos gerados tendo em vista a minimização dos impactos no meio ambiente e na saúde pública.
(Furiam & Gunther, 2006).
Em 1999, o Ministério do Meio Ambiente elaborou a Agenda Ambiental na Administração Pública
(A3P), buscando a revisão dos padrões de produção e consumo, e a adoção de novos referenciais de
sustentabilidade ambiental nas instituições da administração pública. Dentre os principais objetivos
de tal instrumento, cita-se a promoção do uso racional dos recursos naturais, a redução de gastos
institucionais, a contribuição para revisão dos padrões de produção e consumo para a adoção de
novos referenciais de sustentabilidade no âmbito da administração pública, a redução do impacto
socioambiental negativo direto e indireto causado pela execução das atividades de caráter
administrativo e operacional, e a contribuição para a melhoria da qualidade de vida (MMA, 2009).
Notada sua responsabilidade, é indispensável que as universidades desenvolvam atividades
sustentáveis, envolvendo os diferentes atores, indo de encontro com a responsabilidade
compartilhada e a hierarquia no gerenciamento de resíduos preconizados pela Lei 12.305/2010, a
qual institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dispondo sobre seus princípios, objetivos e
instrumentos bem como sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de
resíduos sólidos, incluídos os perigosos, e às responsabilidades dos geradores e do poder público
(BRASIL,2010).
O Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) é um instrumento de implementação da
Política Nacional dos Resíduos Sólidos e contribui para um maior controle da destinação dos
resíduos (BRASÍLIA, 2014). Seu objetivo é contribuir para a redução da geração de resíduos
sólidos, orientando o correto acondicionamento, armazenamento, coleta, transporte, tratamento e
destinação final. O PGRS deve identificar as gerações e cada tipo de resíduo, assim como verificar
os possíveis pontos de desperdícios, promovendo a redução da geração ou possibilidade de
reutilização de resíduos segregados adequadamente (CURITIBA, 2004).
A correta segregação dos resíduos é fundamental para que seja eficaz a implementação do PGRS.
Sendo assim, é indispensável a colaboração de todos os envolvidos, fazendo a segregação na fonte,
o acondicionamento correto e a precisa identificação de cada resíduo gerado, para que não haja
contaminação cruzada, incremento da fração de resíduos perigosos e, consequentemente, maior
ônus na gestão – social, ambiental e economicamente.
Instituída pelo Decreto Presidencial 5940 de 25 de outubro de 2006 e a Lei N° 11.445 de 5 de
janeiro de 2007, a Coleta Seletiva Solidária visa implementar a coleta seletiva em órgãos públicos
da administração federal, concedendo a doação dos resíduos para catadores, devidamente
organizados em associações ou cooperativas. É uma ação do Governo Federal, fiscalizada pelo
Comitê Interministerial de Inclusão Social dos Catadores de Materiais Recicláveis e tem o objetivo
de gerar renda e inclusão social destes profissionais, construindo uma nova cultura institucional
para um novo modelo de gestão de resíduos. É uma ação somada aos princípios e metas
estabelecidos pela A3P.
Em 30 de setembro de 2016, o campus da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), instaurou a
Comissão de Coleta Seletiva Solidária, pela Portaria 1135 de 2016, em atendimento ao Decreto
5960 de 26 de outubro de 2006. Tal comissão, de acordo com a Portaria 1135/2016, tem atribuições,
tais como: gerenciar o processo de seleção das associações e/ou cooperativas de catadores de
materiais recicláveis e implantar, supervisionar a separação dos resíduos recicláveis descartados,
bem como a destinação final dada pela associação e/ou cooperativa selecionada.
Diante do exposto, o presente trabalho tem por objetivo propor índice de avaliação na qualidade do
gerenciamento de resíduos – IGR – com a aplicação prática em unidade acadêmica de uma
Instituição de Ensino Superior, pública, para o monitoramento das ações de implementação da
Coleta Seletiva Solidária de acordo com a A3P.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Os indicadores ambientais têm sidos criados e desenvolvidos durante anos para o monitoramento e
análise das condições ambientais (SILVA et al, 2012). Dentre as metodologias de elaboração de
indicadores mais utilizados, nacional e internacionalmente, destaca-se o Modelo de Pressão-Estado-
Resposta (PER), desenvolvido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OECD) em 1993 com o objetivo de estruturar trabalhos sobre as políticas e relatórios ambientais.
A evolução desse modelo se deu, em 2007, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA), que introduziu a dimensão “I” – “Impacto”, sendo então, representado pela
sigla PEIR (Pressão-Estado-Impacto-Resposta) (SILVA et al, 2012; VASCONCELOS et al, 2014).
O detalhamento de tais dimensões é apresentado no Quadro 1.

Quadro 1: Dimensões do Modelo PEIR.

Pressão As pressões ambientais descrevem as pressões das atividades humanas exercidas


sobre o meio ambiente, incluindo os recursos naturais.

Estado O estado é a situação, condição ou qualidade que o meio ambiente vem se


desenvolvendo ao longo do tempo e se encontra no momento atual.

Impacto O impacto refere-se ao efeito do estado ou condição do meio ambiente sobre a


saúde e a qualidade de vida humana, a economia urbana, os ecossistemas, etc.
A Resposta mostra a extensão em que a sociedade responde às preocupações
Resposta ambientais. Refere-se a ações e reações coletivas, destinadas a mitigar, adaptar ou
prevenir os efeitos negativos induzidos pelo homem sobre o meio ambiente.

Para mensurar as variáveis, empregou-se a técnica da Matriz de Avaliação Funcional, que implica
na comparação de cada função com as demais, determinando, a cada momento, sua necessidade e
importância (Csillag, 1995 apud Monteiro, 2006). A metodologia sofreu algumas adaptações, sendo
utilizada uma ponderação de um a quatro, sendo elas:
✓ 4 pontos: função muito mais importante ou necessária que a outra;
✓ 3 pontos: função mais importante ou necessária que a outra;
✓ 2 pontos: função pouco mais importante ou necessária que a outra;
✓ 1 ponto: função de igual importância ou necessidade que a outra.
A partir das metodologias apresentadas, foi possível a elaboração do Índice de Gerenciamento de
Resíduos Sólidos – (IGR) que utilizou o modelo PEIR como base para escolha dos parâmetros a
serem avaliados, e a Matriz de Avaliação Funcional como ferramenta comparativa multicritério,
com a qual foram mensuradas as variáveis inseridas no sistema, atribuindo pesos às mesmas. Para a
validação do índice, realizou a aplicação do mesmo em unidade acadêmica da Universidade Federa
de Juiz de Fora – UFJF.
Área de estudo e gestão de resíduos

A UFJF foi criada em 1960 e dispões de uma área de 1.234.193,80 m², segundo informações de seu
Plano de Desenvolvimento Institucional. A UFJF está localizada na cidade de Juiz de Fora,
principal município da Zona da Mata Mineira, no estado de Minas Gerais. Circulam em seu
campus, diariamente, cerca de 20 mil alunos, sem contar os cerca de três mil estudantes da
educação a distância, apresentando 93 opções de cursos de graduação, 36 de mestrado e 17 de
doutorado (UFJF, 2018). Destaca-se que o campus é meio de conexão entre bairros do município,
contando com uma população flutuante considerável que utiliza seu espaço físico, ainda, para a
realização de atividades esportivas e de lazer.
O gerenciamento dos resíduos no campus da UFJF é realizado pela Coordenação de
Sustentabilidade, que realiza ações em prol do correto manejo e destinação ambientalmente
adequada. Os resíduos químicos e biológicos são armazenados pelas unidades que contam com 59
laboratórios, lotados em 9 unidades do campus. Tais resíduos, em função de sua periculosidade, são
classificados, rotulados, recolhidos e enviados para incineração, que ocorre semestralmente (UFJF,
2018). Para os resíduos de serviços de saúde, o armazenamento é de responsabilidade das unidades
geradoras e, posteriormente, são recolhidos, duas vezes na semana, por empresa especializada e
licenciada para o transporte e correta destinação. Destaca-se o recolhimento e destinação
ambientalmente adequada de lâmpadas, pilhas, além da coleta seletiva de toners e papel.
A Faculdade de Engenharia (FE), criada em 1914, localiza-se no campus sede da UFJF, sendo uma
de suas 20 unidades acadêmicas, que concentra 10 cursos de graduação e 2 programas de pós-
graduação, contando com o fluxo constante de 141 docentes e cerca de 5000 discentes, além de 88
técnicos administrativos e terceirizados. O estudo se deu em tal unidade acadêmica em agosto de
2018.

2. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Seguindo o modelo PEIR, definiu-se indicadores quantitativos e qualitativos para cada uma das
quatro dimensões (Pressão-Estado-Impacto-Resposta), sendo atribuídos duas ou três possibilidades
de respostas, de acordo com o observado nas unidades acadêmicas e deliberado por representantes
da Coordenação de Sustentabilidade, Comissão da Coleta Seletiva Solidária, docentes e discentes.
A Matriz de Avaliação funcional, apresentada no Anexo I, subsidiou a atribuição de pesos (Pv) às
variáveis da matriz Pressão-Estado-Impacto e Reposta, que somados totalizam 100%. Os
indicadores também foram ponderados com pesos iguais (Pi) entre eles, totalizando 100% dentro de
cada variável, multiplicando Pv por Pi é possível obter o peso (p) de cada indicador em relação ao
total do índice. O IGR poderá ser calculado para cada unidade acadêmica e/ou, ainda, para a
Instituição atribuindo-se uma variável de controle (tamanho), a partir do valor médio dos índices
obtidos para as unidades. A cada resposta atribui-se uma nota de 0 a 1, onde 1 corresponde a
situações de atendimento integral ao indicador; 0,5 corresponde a situações onde apenas 50% a 80%
do indicador é atendido; e 0 corresponde a situações onde o indicador não é atendido ou há
insuficiência no grau de adesão.
O cálculo do índice foi realizado de acordo com a equação (1):
IGR=∑(p*N) (1)
Onde:
IGR = Índice de Gerenciamento de Resíduos Sólidos;
p = Pv * Pi
Pv = Peso das variáveis;
Pi = Peso dos indicadores dentro das variáveis;
N = Nota obtida pelo no indicador correspondente.

Para traduzir os resultados obtidos e torná-los mais acessíveis, adotou-se um enquadramento do


índice calculado em classes, conforme Figura 1 (SELUR, 2017). A Classe A se refere às melhores
avaliações em termos de gerenciamento de resíduos sólidos; por outro lado, a Classe D refere-se às
menores notas, significando que a unidade/instituição ainda tem muito a se adaptar para um bom
gerenciamento dos resíduos.

Figura 1: Classificação – IGR. Fonte: adaptado de ISLU, 2017.

Para validação do índice, o IGR foi aplicado na avaliação de gerenciamento dos resíduos da
Faculdade de Engenharia e Arquitetura da UFJF. Os Quadros 2, 3, 4 e 5 apresentam as dimensões
do IGR, juntamente com os resultados obtidos em sua aplicação.
Na dimensão “Pressão” (quadro 2), para analisar a conscientização da comunidade acadêmica,
aplicou-se um questionário a 128 pessoas que frequentam os prédios da Faculdade de Engenharia,
contemplando professores, funcionários, alunos da engenharia ou alunos de outros cursos que usam
as dependências da Faculdade, principalmente em horário de almoço, devido à proximidade com o
Restaurante Universitário. Foram realizadas duas perguntas sobre a CSS no campus e verificou-se
que, 50% dos entrevistados tinham ciência do Programa de CSS institucional e disseram fazer sua
parte, contribuindo com o Programa e destinando seus resíduos da maneira correta. Dos
entrevistados, 32% não conheciam ou não sabiam opinar sobre as ações da Coordenação de
Sustentabilidade da UFJF em concordância com a A3P e a CSS.
Na mesma dimensão, a variável “Gestão dos resíduos” foi respondida de acordo com informações
contidas no site da Coordenação de Sustentabilidade, observando que Universidade possui Gestão
dos Resíduos Especiais, não há desvio dos resíduos e a disposição final dos resíduos comuns é em
aterro sanitário licenciado, uma vez que não há mais lixões na cidade de Juiz de Fora.
Quadro 2: IGR - Dimensão P
Dimensão P - Pressão
Variável Indicador Resposta p Nota N p*N
Consientização da Mais de 80 % sabe do Programa de Coleta Solídária e faz a sua parte 1,0
Conscientização De 50 a 80 % sabe do Programa de Coleta Solídária e faz a sua parte 16,67% 0,5 0,5 0,083
comunidade acadêmica
Menos de 50 % sabe do Programa de Coleta Solídária e faz a sua parte 0,0
Gestão de Resíduos Sólidos Presença 1,0
4,76% 1,0 0,048
Especiais Ausência 0,0
Gestão dos Desvio inadequado dos Ausência 1,0
resíduos 4,76% 1,0 0,048
resíduos Presença 0,0
Disposição final dos Não 1,0
4,76% 1,0 0,048
resíduos em lixões Sim 0,0
Resultado parcial 30,95% 4,0 3,5 0,226

Para a análise da dimensão “Estado” (quadro 3), verificou-se que a faculdade apresenta uma
unidade de armazenamento adequada para o armazenamento dos resíduos. A variável
“acondicionamento” foi analisada por vistoria realizada na Faculdade, que possibilitou verificar
características de cada um dos coletores. Dessa forma, observou-se que a quantidade de coletores na
faculdade é suficiente. Foram encontrados 43 coletores de vários tipos, sendo que 35% deles
garantem estanqueidade, 84% possuem tamanho adequado1, 77% são fáceis de manusear, 72% são
resistentes e 51% estão identificados. A Faculdade apresentou lixeiras de segregação de resíduos
seco e úmido (37%), sendo todas elas implantadas pelo Programa de CSS (figura 2). A existência de
equipamentos de segregação adicional de resíduos secos (por exemplo: plástico, papel, vidro e
metal) é praticamente nula. Das 43 lixeiras amostradas, apenas 4 delas (9%) continham
identificação adequada e, mesmo assim, não eram utilizadas para a correta segregação na fonte.

1 O tamanho do coletor foi analisado de acordo com a demanda do local em que ele estava inserido.
Figura 2: Lixeiras do Programa de Coleta Seletiva Solidária.

Na variável “Destinação dos resíduos”, segundo dados obtidos pelo site da Coordenação de
Sustentabilidade (UFJF, 2018), os resíduos recicláveis recolhidos em cada unidade são destinados
para cooperativas e associações de catadores locais, a Associação de Catadores de Juiz de Fora
(ASCAJUF) e a Associação Lixo Certo (ALICER), contempladas mediante edital público de
chamamento para a coleta de tais resíduos no período de 2016 a 2018. O recolhimento do lixo
comum é responsabilidade do Departamento Municipal de Limpeza Urbana da Prefeitura de Juiz de
Fora - DEMLURB, que encaminha os resíduos para o Aterro Sanitário da cidade.
Devido à presença do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, há uma maior divulgação de
assuntos na temática ambiental na Faculdade de Engenharia. São realizados, tantos pelos segmentos
pertencentes à UFJF, quando pelos alunos do curso, eventos e palestras na tentativa de implementar
maior conscientização ambiental na comunidade do campus. A CSS, realizada pela UFJF, é uma
prática ambiental que visa menor geração de rejeitos, com o máximo de reaproveitamento, dentro
da hierarquia preconizada pela PNRS – reduzir, reutilizar, reciclar, tratar e dispor.
São realizados treinamentos e capacitações com os funcionários da limpeza do campus para o
correto manejo e segregação nos pontos de armazenamento, contudo, percebe-se que tais ações são
incipientes e podem apresentar maior eficiência quando pautadas em planejamento específico e
assertivo, subsidiadas por indicadores que evidenciem fragilidades e pontos de melhoria.
Quadro 3: IGR - Dimensão E
Dimensão E - Estado
Variável Indicador Resposta p Nota N p*N
Armazenamento Galpão para Presença 1,0
2,38% 1,0 0,024
interno dos resíduos armazenamento dos Ausência 0,0
Mais de 80% dos coletores garantem estanqueidade 1,0
Estanqueidade do coletor De 50 a 80% dos coletores garantem estanqueidade 1,04% 0,5 0,0 0,000
Menos de 50% dos coletores garantem estanqueidade 0,0
Mais de 80% dos coletores têm tamanho adequado 1,0
Tamanho do coletor De 50 a 80% dos coletores têm tamanho adequado 1,04% 0,5 1,0 0,010
Menos de 50% dos coletores têm tamanho adequado 0,0
Mais de 80% dos coletores são fáceis de manusear 1,0
Operacionabilidade do
De 50 a 80% dos coletores são fáceis de manusear 1,04% 0,5 0,5 0,005
coletor
Menos de 50% dos coletores são faceis de manusear 0,0
Mais de 80% dos coletores são resistentes 1,0
Resistência do coletor De 50 a 80% dos coletores são resistente 1,04% 0,5 0,5 0,005
Acondicionamento
Menos de 50% dos coletores são resistentes 0,0
dos resíduos
Mais de 80% dos coletores são identificados 1,0
Identificação dos coletores De 50 a 80% dos coletores são identificados 1,04% 0,5 0,5 0,005
Menos de 50% dos coletores são identificados 0,0
Suficiente 1,0
Quantidade de coletores 1,04% 1,0 0,010
Insuficiente 0,0
Existe em mais de 80% da unidade avaliada 1,0
Equipamento segregação
Existe em 50 a 80% da unidade avaliada 1,04% 0,5 0,0 0,000
seco e úmido
Existe em menos de 50% da unidade avaliada 0,0
Existe em mais de 80% unidade avaliada 1,0
Equipamento de segregação
Existe em 50 a 80% da unidade avaliada 1,04% 0,5 0,0 0,000
adicional de resíduos secos
Existe em menos de 50% da unidade avaliada 0,0
Destinação dos recicláveis Sim 1,0
5,95% 1,0 0,060
recuperados para Não 0,0
Destinação dos Destinação dos orgânicos Sim 1,0
5,95% 0,0 0,000
resíduos recuperados para unidades Não 0,0
Destinação final Sim 1,0
5,95% 1,0 0,060
ambientalmente adequada Não 0,0
Projetos de educação Presença 1,0
5,56% 1,0 0,056
ambiental Ausência 0,0
Educação Eventos e/ou palestras com Presença 1,0
5,56% 1,0 0,056
ambiental a temática ambiental Ausência 0,0
Capacitação e treinamento Presença 1,0
5,56% 1,0 0,056
com os funcionários da Ausência 0,0
Resultado parcial 45,24% 15,0 9,5 0,346

Na dimensão “Impacto” (quadro 4), foi observado utilização inadequada do espaço destinado aos
resíduos, uma vez que estes são depositados muitas vezes de forma errada, inviabilizando o
propósito da reciclagem. Em época de muita chuva há alagamento do corredor que dá acesso aos
galpões, dos cursos de Arquitetura e demais Engenharias, e ao RU, entretanto esse alagamento não
ocorre pela presença de lixo, mas sim por erro no projeto de drenagem, dessa forma, esta variável
recebeu nota 1, referente a ausência de alagamentos em função do lixo.
A poluição visual foi observada. Não existem políticas ambientais eficientes para a conscientização
da comunidade que circula no Campus, gerando uma deposição inadequada dos resíduos, além de
uma limpeza falha, com o consequente acúmulo nas lixeiras.
Quadro 4: IGR - Dimensão I
Dimensão I - Impacto
Variável Indicador Resposta p Nota N p*N
Utilização inadequada do Ausência 1,0
espaço destinado ao 0,79% 0,0 0,000
Presença 0,0
gerenciamento de resíduos
Espaço físico Ausência 1,0
Alagamento das vias 0,79% 1,0 0,008
Presença 0,0
Ausência 1,0
Poluição visual 0,79% 0,0 0,000
Presença 0,0
Resultado parcial 2,38% 3,0 1,0 0,008

Para a última dimensão “Resposta” (quadro 5), a presença da CSS foi averiguada. Os resultados
indicam que as ações são incipientes e carecem de ser intensificadas em termos da divulgação de
práticas ambientais, para que assim funcione as campanhas propostas. É interessante que UFJF
apresente ferramentas para que as pessoas que a circulam possam fazer o destino correto.

Quadro 5: IGR - Dimensão R


Dimensão R - Resposta
Variável Indicador Resposta p Nota N p*N
Participação/ Colaboração Presença 1,0
7,14% 0,0 0,000
da comunidade acadêmica Ausência 0,0
Resultados
Presença 1,0
Coleta seletiva solidária 7,14% 1,0 0,071
Ausência 0,0
Presença 1,0
Monitoramento 1,79% 0,0 0,000
Ausência 0,0
Análise e avaliação dos Presença 1,0
1,79% 0,0 0,000
resultados Ausência 0,0
Melhoria contínua
Presença 1,0
Propostas de melhoria 1,79% 1,0 0,018
Ausência 0,0
Presença 1,0
Divulgados dos resultados 1,79% 0,0 0,000
Ausência 0,0
Resultado parcial 21,43% 6,0 2,0 0,089

Através destas informações foi possível calcular o IGR para a faculdade. A nota obtida foi de 0,67,
com classificação C. Tal resultado indica que o gerenciamento dos resíduos na Faculdade de
Engenharia, em termos da implementação e efetividade da CSS, ainda é incipiente, necessitando ser
incrementada e de melhorias.
Nota-se que o modelo PEIR foi desenvolvido com a adição da dimensão I no modelo PER criado
pela OECD, à vista disso, outro ponto importante a ser analisado está na aplicação de pesos as
dimensões do PEIR. Observa-se que a nova dimensão I obteve um peso consideravelmente inferior
(2,38%) em relação as outras, justificando sua menor importância no modelo.

4. CONCLUSÃO
Diante do apresentado, destaca-se que o índice proposto poderá servir na avaliação do
gerenciamento de resíduos em instituições de diferentes setores, com adaptações que venham de
encontro com as especificidades de cada cenário, de forma prática e ágil. Destaca-se que o IGR é
instrumento proposto e de base comparativa, aplicado em Instituições de Ensino Superior, que pode
ser adotado na análise de diferentes unidades acadêmicas ou, ainda, na avaliação do gerenciamento
adotado em diferentes instituições. A adoção de uma metodologia de monitoramento com
avaliações periódicas é intrínseca a uma gestão de qualidade com vistas à melhoria contínua. Pela
construção de uma série temporal e uma base de dados robusta, possibilita-se consolidar
informações que dão suporte a tomada de decisões, avaliação da eficiência de medidas de controle,
além da proposição de ações assertivas, sendo o que se pretende estabelecer com tal metodologia no
cenário estudado.
Com a aplicação do IGR na Faculdade de Engenharia, conclui-se que tal gerenciamento é
incipiente, com fragilidades que podem merecem atenção. A falta de políticas de comunicação e
educação ambiental com fins de conscientização ambiental e mobilização da comunidade
acadêmica compromete a eficiência da Coleta Seletiva Solidária. Dessa forma, se faz necessário,
além de novas propostas e ações assertivas, maior envolvimento da comunidade acadêmica em
ações integradas, para que estas funcionem com excelência. É preciso mais do que criar
instrumentos, infraestrutura e aplicação de políticas ambientais, é imprescindível o engajamento de
todos para que estas funcionem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] Tauchen, J.; Brandli, L. L. A gestão ambiental em instituições de ensino superior: modelo para implantação em
campus universitário. Gestão & Produção, São Carlos, v.13, n.3, p.503-515, 2006.
[2] Furiam, S.M.; Gunther, W.R. Avaliação da educação ambiental no gerenciamento de resíduos sólidos no campus da
universidade Estadual de Feira de Santana. Sitientibus, Feira de Santana, n.35, p.7-27, jul./dez. 2006.
[3] MMA. Ministério do Meio Ambiente. Cartilha A3P - Agenda Ambiental da Administração Pública, 5° edição.
Brasília, 2009.
[4] Brasil. Casa Civil. Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Brasília: Casa Civil,2010.
[5] Brasília. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental - Plano de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos - Instrumento de Responsabilidade Socioambiental na Administração Pública.
Brasília, 2014.
[6] Curitiba. Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Termo de referência para a elaboração de planos de
gerenciamento de resíduos sólidos - PGRS. Curitiba, 2004. 8p.
[7] Silva, S.S.F.; Santos, J.G.; Cândido, G.A.; Ramalho, A.M.C. Indicador de Sustentabilidade Pressão –Estado –
Impacto – Resposta no Diagnóstico do Cenário Sócio Ambiental resultante dos Resíduos Sólidos Urbanos em Cuité,
PB. REUNIR – Revista de Administração, Contabilidade e Sustentabilidade – Vol. 2, nº 3 – Edição Especial Rio +20,
p.76-93, 2012.
[8] Vasconcelos, A.C.F.; Oliveira, J.R.M.; Santos, J.E.A.; Nunes, E.R.; Freitas, G.C. Pressão Estado Impacto Resposta:
um estudo em curtumes artesanais na Paraíba. EMGEMA – Encontro Internacional sobre Gestão Empresarial e Meio
Ambiente, 2014.
[9] CSILLAG, J. M., 1995. Análise do valor: metodologia do valor: engenharia do valor, gerenciamento do valor,
redução de custos, racionalização administrativa. 4ª ed. São Paulo: Atlas, pp. 58 – 73;
[10] MONTEIRO, A. E. Índice de qualidade de aterros industriais-IQRI. Dissertação de mestrado. Departamento de
Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
[11] UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora. Apresentação. Disponível em:
http://www.ufjf.br/ufjf/sobre/apresentacao/; Acesso em: 20 abril 2018
[12] UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora. Coordenação de Sustentabilidade. Disponível em:
http://www.ufjf.br/sustentabilidade/; Acesso em: 10 agosto 2018.
[13] SELUR. Sindicato das Empresa de Limpeza Urbana no Estado de São Paulo. Índice de Sustentabilidade da
Limpeza Urbana. Edição 2017. São Paulo, 2017.
ANEXO I - Matriz de Avaliação Funcional

B C D E F G H I Soma %
A A 3 A 3 AD 1 AE 1 F 2 A 3 AH 1A 2 14 16,667
B B 4 BD 1 BE 1 F 2 B 3 BH 1 B 2 12 14,286
C CD 1 E 3 F 3 CG 1 H 3 I 2 2 2,381
D DE 1 FD 1 DG 1 DH 1 I 2 7 8,333
E E 2 E 3 EH 1 E 3 15 17,857
F F 3 FH 1 F 2 14 16,667
G H 2 I 2 2 2,381
H H 2 12 14,286
I 6 7,143
Variável % 84 100
A Conscientização 16,67
B Gestão dos resíduos 14,29
C Armazenamento interno dos resíduos 2,38
D Acondicionamento dos resíduos 8,33
E Destinação dos resíduos 17,86
F Educação ambiental 16,67
G Espaço físico 2,38
H Resultados 14,29
I Melhoria contínua 7,14

4 pontos Função muito mais importante ou necessária que a outra


3 pontos Função mais importante ou necessária que a outra
2 pontos Função pouco mais importante ou necessária que a outra
1 ponto Função de igual importância ou necessária que a outra
CONSTRUÇÃO DE UM PLUVIADOR DE AREIA PARA MOLDAGEM DE
CORPOS DE PROVA COM DIFERENTES DENSIDADES E ÍNDICES DE
VAZIOS

Construction of a sand pluviator for molding of test specimens with different densities
and voids content

Eduardo Fonseca Ribeiro 1, Mario Vicente Riccio Filho 2.


1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, eduardo.fonseca@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mvrf1000@gmail.com

Resumo: Devido às dificuldades em se realizar amostragens de solos granulares sem alterar a


estrutura da amostra, esta é recuperada através da reconstituição em laboratório. A ausência de um
aparelho que realizasse a reprodução nos laboratórios de Mecânica dos Solos da Universidade
Federal de Juiz de Fora mostrou a necessidade da construção de um pluviador. O equipamento
controla a densidade relativa, peso específico aparente seco e índice de vazios de corpos de prova,
gerando uma relação entre o diâmetro do bocal de um funil que limita a velocidade de queda do
solo e os parâmetros mencionados. O pluviador baseia-se no trabalho de Miura e Toki (1982), e tem
como componentes uma conjunto de funis feitos de papel cartão, uma série de peneiras e uma
estrutura de sustentação feita de madeira e ferragens. Após a construção do equipamento,
realizaram-se testes com solo arenoso seco, gerando a pluviação no ar do solo em um molde
posicionado abaixo das peneiras. Logo após a fase de calibração do aparelho, curvas de relação
abertura do funil versus peso específico aparente seco, abertura do funil versus densidade relativa e
abertura do funil versus índice de vazios da amostra foram geradas. O aparelho é importante em
aplicações de diversos estudos que envolvem solos não coesivos, como ensaios de cisalhamento
direto e permeabilidade. O presente trabalho é fruto de uma pesquisa desenvolvida pelos autores em
parceria com o Programa de Educação Tutorial – PET – do curso de Engenharia Civil da
Universidade Federal de Juiz de Fora.

Palavras-chave: Solos não coesivos, pluviador, índice de vazios, densidade relativa.

Abstract: Due to the difficulty by doing sample of granulated soil without changing the sample
structure, it is recovered through laboratory reconstitution. The lack of a tool able to do the
reproduction in the soil mechanics laboraty at Fedral University of Juiz de Fora showed the need to
build a pluviator. The equipment controls relative density, apparent specific weight and void ratio,
creating a relation between the nozzle filler diameter wich limits the velocity of fall of soil and the
mentioned properties. The pluviator is based on Miura and Toki’s (1982) work and is constituted by
an array of fillers done with paper card, a series of sifters and a structure for sustenance made of
wood and hardware. After the construction of equipment, there were tests with dry sandy soil,
generating the pluviation in the soil air at a pattern under the sleeves. Right after the calibration of
equipment, curves about the relation between the filler crevice and dry apparent specific weight,
between the filler crevice and the relative density and between the filler crevice and the pore sample
indication were generated. The apparatus important for application in several studies which
involves non-coesive soil, like tests about shear stress and permeability. This work is product of a
research developed by the authors in partnership with the tutorial education program of the Civil
Engineering (PET-UFJF) course from Federal University of Juiz de Fora.

Keywords: Non-cohesive soils, pluviator, indices of voids, relative density.

1. INTRODUÇÃO
Diferente dos solos coesivos, os solos granulares são aqueles em que a maior parte da sua
resistência ao cisalhamento se deve ao seu ângulo de atrito, medido no ensaio de cisalhamento dire-
to, por exemplo, relacionando as tensões normal e cisalhante máxima no estado de ruptura. Devido
à baixa coesão desses solos, nota-se uma dificuldade de trabalhar com amostras indeformadas em
laboratório e, consequentemente, de estudar as características geotécnicas dos solos granulares
(MARTINS e FILHO, s.d.).
A textura dos solos é estudada pela análise granulométrica, a qual permite classificar seus
componentes sólidos em classes de acordo com os seus diâmetros. Já a estrutura se baseia no arran-
jo das partículas sólidas e dos espaços vazios. Portanto, a manutenção do segundo é impossível na
amostragem de solos arenosos, como o objeto de estudo desse trabalho (ROSA, 2010).
A partir daí, notou-se a necessidade de reconstituir a estrutura dos solos em laboratório para
realização de ensaios que necessitassem de amostras indeformadas, como de cisalhamento direto e
permeabilidade. Com essa demanda, em 1982, Seiichi Miura e Shosuke Toki, da universidade japo-
nesa de Hokkaido, criaram um método de preparação de amostras de areia capaz de controlar as
densidades e os índices de vazios desses corpos de prova, através do peneiramento múltiplo (méto-
do MSP).
Ao se perceber a necessidade de um equipamento que fizesse o controle de densidades e
índices de vazios para a reestruturação de solos arenosos nos laboratórios da Univerdade Federal de
Juiz de Fora, foi proposta a construção de um pluviador de areia como atividade de pesquisa do
Programa de Educação Tutorial do curso de Engenharia Civil da universidade.
Tendo a construção do pluviador em vista, utilizou-se como modelo uma versão simplifica-
da do equipamento presente no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de
Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE/UFRJ. Com o projeto idealizado,
deu-se início a construção do aparelho e, posteriormente, a sua calibração.

2. PLUVIADOR MIURA E TOKI (1982)

Os estudiosos formuladores do primeiro pluviador foram impulsionados pela descoberta de


que as características estáticas e dinâmicas da resistência à deformação de solos não coesivos, em
determinadas densidades, dependiam da formação e do histórico de tensões desses solos. Esses es-
tudos foram baseados em Oda, Arthur e Menzies (1972) e Ladd (1974), os quais confirmam que as
propriedades mecânicas das areias são fortemente influenciadas pela densidade, pela característica
da estrutura (arranjo das partículas) e pelo preparo das amostras. A partir de então, Miura e Toki
notaram a necessidade de realizar testes laboratoriais de alta qualidade por um método de prepara-
ção simples, livre de erros humanos e que originasse amostras uniformes e definidas com estrutura
definida como “fabric”.
O aparelho original consiste em um funil cônico para estocar areia, sete peneiras e uma es-
trutura de fixação. Tal disposição garante que a areia seja depositada uniformemente, de modo a
produzir amostras homogêneas. A taxa de deposição é controlada através da alteração do diâmetro
do funil que, quanto maior, mais rápido será o caimento. A partir daí, a densidade da amostra de
areia pode ser controlada e, com isso, a amostragem de solos não coesivos é contemplada. A figura
1 mostra o projeto do pluviador idealizado por Miura e Toki, em 1982.

Fig. 1 – Projeto do pluviador de Miura e Toki (1982)

3. PLUVIADOR COPPE/UFRJ
Com a mesma ideia de controlar a densidade e os índices de vazios de amostras de solos
granulares, os pesquisadores do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de
Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – COPPE/UFRJ idealizaram uma versão
simplificada do sistema de pluviação. Essa versão se diferencia da anterior por possuir apenas 4
peneiras, sendo a primeira de abertura de 2 mm e as outras três inferiores de 4,76 mm. A figura 2 é
uma foto tirada no Laboratório de Mecânica dos Solos da COPPE/UFRJ. Inspirada nessa variante
construiu-se o pluviador da Universidade Federal de Juiz de Fora.
Fig. 2 – Pluviador da COPPE/UFRJ

4. PLUVIADOR UFJF
A partir da revisão bibliográfica, a construção do pluviador se tornou possível. Após confec-
cionar o projeto, foi adquirido o material necessário: duas bases de madeira de 30 x 30 cm, furadas
com o diâmetro das peneiras; 12 folhas papel cartão para a confecção dos funis; 4 barras rosqueadas
de 1 m de comprimento para sustentação; molde de madeira com as dimensões do corpo de prova
utilizado no ensaio de cisalhamento direto; duas mãos-francesas para fixação na parede. Utilizou-se,
também, a mesma sequência de peneiras do pluviador da COPPE/UFRJ. As figuras 3 e 4 apresen-
tam, respectivamente, o projeto do pluviador da UFJF e o mesmo depois de instalado.

Diâmetro de abertura
das peneiras

Fig. 3 – Projeto do pluviador da UFJF


Fig. 4 – Pluviador da UFJF

5. PROGRAMA DE ENSAIOS

Para a calibração do pluviador, pluviações foram realizadas sob as mesmas condições. A


amostra se encontrava seca em estufa até constância de massa. Os ensaios foram realizados no La-
boratório de Ensaios Especiais de Mecânica dos Solos da Faculdade de Engenharia da Universidade
Federal de Juiz de Fora. A tabela 1 apresenta o programa de ensaios.

Tabela 1 – Programa de ensaios de calibração do pluviador da UFJF

DIÂMETRO DO FUNIL *PLUVIAÇÂO COMPLETA PROCEDÊNCIA DA


ENSAIO SIM/ NÃO
(mm) AMOSTRA
Rio do Peixe, Monte
P05 5 SIM Verde, MG
Rio do Peixe, Monte
P10 10 SIM Verde, MG
Rio do Peixe, Monte
P15 15 SIM Verde, MG
Rio do Peixe, Monte
P20 20 SIM Verde, MG
Rio do Peixe, Monte
P25 25 SIM Verde, MG
Rio do Peixe, Monte
P30 30 SIM Verde, MG
Rio do Peixe, Monte
P35 35 NÃO Verde, MG
Rio do Peixe, Monte
P40 40 NÃO Verde, MG
Rio do Peixe, Monte
P45 45 NÃO Verde, MG
Rio do Peixe, Monte
P50 50 NÃO Verde, MG
Rio do Peixe, Monte
P55 55 NÃO Verde, MG
Rio do Peixe, Monte
P60 60 NÃO Verde, MG

* Quando houve acumulo de areia sobre a primeira peneira (abertura 2.0mm, Figura 3) a pluviação foi interrompida.

6. CARACTERIZAÇÃO DA AREIA

A caracterização da areia utilizada consistiu na análise granulométrica e na determinação do


peso específico dos grãos. As normas de referências foram DNER-ME 051/94 e DNER-ME 093/94,
ambas do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem. Esses ensaios originaram a curva gra-
nulométrica do solo, bem como os coeficientes de não-uniformidade (CNU) e de curvatura (CC), e
o peso específico dos grãos (Gs) à temperatura de 20ºC.
6.1. Análise Granulométrica (DNER-ME 051/94)

Após o preparo da amostra inicial de 120,3 g, realizou-se o peneiramento fino do solo, visto
que esse é arenoso. Utilizou-se as peneiras de aberturas, em milímetros, de 1,200; 0,840; 0,600;
0,300; 0,150; 0,074. A tabela 2 apresenta os resultados do ensaio de granulometria.

Tabela 2 – Caracterização da areia: resultados do ensaio de granulometria

Massa retida
Peneira (mm) Massa retida (g) Massa passante (g) Massa passante (%)
acumulada (g)

2,000 0,0 0,0 120,3 100,0

1,200 0,0 0,0 120,3 100,0

0,840 0,2 0,2 120,1 99,8

0,600 19,7 19,9 100,4 83,5

0,300 70,9 90,8 29,5 24,5

0,150 20,6 111,4 8,9 7,4


0,074 8,9 120,3 0 0,0

Observação: o material passante na peneira de abertura de 0,074 mm foi descartado, tendo em vista o interesse apenas
em partículas acima desse diâmetro.

100
90
80
70
60
% Passante

50
40
30
20
10
0
0,010 0,100 1,000 10,000

Diâmetro (mm)

Fig. 4 – Curva granulométrica da areia


Através dos resultados acima, é possível determinar os coeficientes de não-uniformidade
(CNU) e de curvatura (CC), sendo dx o diâmetro correspondente a x% em massa total de todas as
partículas menores que ele:
𝑑60 0,45
𝐶𝑁𝑈 = = = 2,6 (1)
𝑑10 0,17

(𝑑30 )² (0,33)²
𝐶𝐶 = = = 1,4 (2)
𝑑60 𝑥 𝑑10 0,45 𝑥 0,17

Com os valores acima, classifica-se o solo como muito uniforme e bem graduado.

6.2. Peso específico dos grãos (DNER-ME 093/94)

Com 10 g de amostra já preparada, efetuou-se o ensaio do picnômetro para determinação do


peso específico dos grãos (Gs). Foram medidas as massas, em gramas, do picnômetro vazio (P1), do
picnômero com o solo seco (P2), do picnômetro com o solo completado com água (P3) e do picnô-
metro cheio de água (P4). Para determinar a densidade relativa na temperatura do ensaio (Dt), usou-
se a seguinte relação:
𝑃2−𝑃1
𝐷𝑡 = (𝑃4−𝑃1)−(𝑃3−𝑃2)
(3)

Os resultados são apresentados na Tabela 3.


Tabela 3 – Caracterização da areia: resultados do ensaio do picnômetro

Picnômetro P1 (g) P2 (g) P3 (g) P4 (g) T (ºC) Dt

5 29,780 40,481 86,603 79,931 23 2,656

22 30,768 41,262 87,281 80,736 23 2,657

49 26,976 37,389 83,322 76,820 23 2,662

Com os resultados acima, determinou-se a densidade relativa na temperatura de 23ºC que,


por média, é Dt = 2,66.

Portanto, é de interesse o peso específico dos grãos à 20ºC e, para isso, necessita-se de uma
correção. Considerando D20 a densidade relativa do solo à 20ºC, k20 a razão entre a densidade rela-
tiva da água à temperatura T e a densidade relativa da água à 20ºC e w,20 o peso específico da água
à 20ºC, podemos calcular o peso específico dos grãos (Gs) à 20ºC:

𝐷20 = 𝑘20 𝑥 𝐷𝑡 (4)

𝐺𝑠 = 𝐷20 𝑥 ϒ𝑤,20 (5)

Dessa forma, o peso específico dos grãos obtido foi de Gs = 2,65 gf cm-3.

7. RESULTADOS

Com o pluviador instalado e a areia caracterizada, inicializou-se o programa de ensaios. Fo-


ram realizados três ensaios com cada funil, sempre verificando se os resultados eram condizentes
com o esperado. Utilizou-se um molde, com as dimensões da célula do aparelho de cisalhamento
direto (6 cm de diâmetro interno e 4,35 cm de altura interna) e de massa igual a 84,49 g (a qual foi
descontada da massa total na efetuação dos cálculos). Por fim, os índices de vazios máximo e mí-
nimo foram calculados, conforme as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR
12004/90 e NBR 12051/91, respectivamente. Os cálculos foram efetuados com as definições de
peso específico aparente do solo seco, índice de vazios e densidade relativa a seguir:
𝑃𝑠
𝛾𝑑 = (6)
𝑉𝑡

𝐺𝑠
𝑒= −1 (7)
𝛾𝑑

𝑒𝑚𝑎𝑥 − 𝑒
𝐷𝑟 = (8)
𝑒𝑚𝑎𝑥 − 𝑒𝑚𝑖𝑛

Onde: d = peso específico aparente seco; Ps = peso de solo seco; Vt = volume total (volume do
molde); Gs = peso específico dos grãos; Dr = densidade relativa; emáx = índice de vazios máximo;
emín = índice de vazios mínimo.
A Tabela 4 apresenta os resultados da calibração do pluviador para a areia utilizada.

Tabela 4 – Calibração do pluviador: resultados da pluviação


Peso específico
Densidade
Diâmetro do Peso médio de aparente do Índice de
Ensaio relativa média
funil (mm) areia (gf) solo seco (gf vazios médio
(%)
cm-3)

P05 5 199,46 2,3088 0,1478 99,5820

P10 10 198,97 2,3047 0,1498 98,3416

P15 15 198,17 2,2982 0,1531 96,3234

P20 20 193,92 2,2637 0,1706 85,4100

P25 25 186,02 2,1994 0,2049 64,1798

P30 30 183,38 2,1780 0,2167 56,8271

* Foram efetuadas três pluviações para a determinação de cada parâmetro apresentado na tabela.

Observações:

- A altura de queda do material foi, em média, de 75 cm.

- Os índices de vazios máximo e mínimo, pré-determinados, são, respectivamente, 0,3083 e 0,1471.

- Os ensaios P35, P40, P45, P50, P55 e P60 não puderam ser realizados, pois a alta velocidade de
queda da areia fez com que o material ficasse retido na peneira superior, condicionando os parâme-
tros calculados à mesma situação, em todos os casos.

A partir dos resultados acima, foram construídos três gráficos, as chamadas curvas de cali-
bração. As Figuras 5, 6 e 7 apresentam os resultados para peso específico aparente seco do solo,
índice de vazios e densidade relativa.
2,32
Peso específico aparente do solo seco

2,30
2,28
2,26
(gf cm-3)

2,24
2,22
2,20
2,18
2,16
0 5 10 15 20 25 30 35
Abertura do funil (mm)

Fig. 5 – Curva de calibração: variação do peso específico aparente do solo seco com a abertura do funil

0,22
0,21
0,2
Índices de vazios

0,19
0,18
0,17
0,16
0,15
0,14
0 5 10 15 20 25 30 35
Abertura do funil (mm)

Fig. 6 – Curva de calibração: variação do índice de vazios com a abertura do funil


100
95
90
Densidade relativa (%)

85
80
75
70
65
60
55
0 5 10 15 20 25 30 35
Abertura do funil (mm)

Fig. 7 – Curva de calibração: variação da densidade relativa com a abertura do funil

As curvas de calibração atenderam às expectativas iniciais, visto que os parâmetros determi-


nados tenderam corretamente com o aumento da abertura do funil, como mostra o trabalho de Mar-
tins e Filho. As figuras acima podem ser usadas para determinar qual diâmetro utilizar para se obter
corpos de prova com pesos específicos aparentes do solo seco, índices de vazios ou densidades rela-
tivas desejados. O pluviador da UFJF está disponível no laboratório de ensaios especiais em Mecâ-
nica dos Solos da Faculdade de Engenharia para rearranjo de amostras de solos arenosos com as
especificações citadas nesse artigo.

8. CONCLUSÕES
O método de reconstituição de amostras de solos não coesivos realizada pelo pluviador
construído se mostrou útil para as demandas das pesquisas realizadas pelos autores e de fácil opera-
ção e repetibilidade, visto que foram realizados três ensaios com cada funil e esses tiveram resulta-
dos coerentes entre si. Garantindo que o solo tenha grãos na faixa entre 0,074 e 0,84 mm, corpos de
provas com densidades relativas entre 56,8 a 99,6% podem ser preparados pelo pluviador UFJF,
levando em consideração a areia estudada. Para areias mais finas é possível aumentar este intervalo.
O pluviador pode ser utilizado para moldagem de corpos de prova de areias destinados à
ensaios do tipo cisalhamento direto, triaxial e permeabilidade, por exemplo.

9. REFERÊNCIAS
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nulares para ensaios triaxiais em laboratório. Relatório interno da COPPE/UFRJ, não datado.
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granulométrica. Rio de Janeiro, 1994.
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nação da densidade real. Rio de Janeiro, 1994.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12004: Solo – determinação
do índice de vazios máximo de solos não coesivos. Rio de Janeiro, 1990.
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do índice de vazios mínimo de solos não coesivos. Rio de Janeiro, 1991.
VIABILIDADE TÉCNICA DA UTILIZAÇÃO DE GABIÃO PREENCHIDO
COM CORPOS DE PROVA CILÍNDRICOS DE CONCRETO (NBR
5739/2007) COMO ESTRUTURA DE CONTENÇÃO

Technical feasibility of using gabion filled with concrete cylindrical specimens (NBR
5739/2007) as a containment structure

Ricardo Leme de Calais1, Luciane Sandrini Dias2, Caroline Accorsi Politt3, Mayara de Oliveira4,
Raul Olavo Ballarini da Silva5
1
Centro Universitário de Jaguariúna, Jaguariúna, Brasil, ricardocalais@gmail.com
2
Centro Universitário de Jaguariúna, Jaguariúna, Brasil, lusdias74@gmail.com
3
Centro Universitário de Jaguariúna, Jaguariúna, Brasil, caroline.accorsi@gmail.com
4
Centro Universitário de Jaguariúna, Jaguariúna, Brasil, maaoliveira08@gmail.com
5
Centro Universitário de Jaguariúna, Jaguariúna, Brasil, raul.olavo@gmail.com

Resumo: Desde a pré-história o homem utiliza objetos encontrados na natureza para suas
construções. Talvez o fato mais interessante seja a dependência desses materiais após milhares de
anos, para fins de habitação, tanto nas cavernas do passado, como nos materiais de construção das
casas modernas. Com o desenvolvimento da vida em sociedade, criação das cidades e posterior
ligação entre elas, o homem começou a não mais se adaptar ao relevo. Assim, surgiram as
contenções de encostas, estabilizando solos de diferentes níveis, agindo em favor da segurança e
exploração de áreas cultiváveis. Nesta época, surgiram os primeiros muros de contenção,
principalmente confeccionados de madeira e rochas. A evolução deste muro é o que hoje
conhecemos como muro de arrimo. Dentre vários tipos de contenção, o gabião é muito utilizado
atualmente, devido ao baixo impacto ambiental, baixa ou não-necessidade do uso de máquinas na
sua construção, boa permeabilidade, fácil modelagem e adaptabilidade ao perfil do solo e também
baixo custo de fabricação e manutenção. Assim como o homem evoluiu ao longo das gerações, seus
métodos construtivos o acompanharam. Uma das maiores tecnologias desenvolvidas, aperfeiçoadas
e aplicadas foi a “descoberta” do cimento e preparação de sua pasta com areia, pedra e
posteriormente aço, gerando uma estrutura sólida e extremamente resistente. A criação e
desenvolvimento do concreto armado deram possibilidade ao homem de imaginar e desenvolver
construções cada vez maiores e mais ousadas tecnicamente. Por medida de segurança, foram
normatizados certos aspectos de cada um dos materiais utilizados em sua confecção. No caso do
concreto, há uma norma específica para o teste de resistência à compressão (NBR 5739/2007),
realizado em corpos de prova (CP) moldados de acordo com a NBR 5738/2015, onde, para cada
lote de concreto, são retiradas, pelo menos seis amostras. Com o aumento do número de
construções e necessidade desses testes, esses CP têm se tornado um passivo ambiental, gerando um
grande volume nas escassas usinas de reciclagem. Após essa constatação, buscamos na literatura
uma solução ambiental mais rápida e barata para o reaproveitamento dos CP, onde somente foram
encontrados exemplos amadores de utilização em demarcação de canteiros de flores, hortas e
projetos paisagísticos, não aproveitando toda a resistência e robustez do concreto ainda existente.
Buscamos, assim, apresentar uma nova utilização para tais CP, quando fissurados, reutilizando-os
como material para preenchimento de muros de contenção por gravidade.
Palavras-chave: Corpos de Prova, Estrutura de Contenção, Gabião.

Abstract: Since prehistoric times the man uses objects found in nature for their constructions.
Perhaps the most interesting is the dependency of these materials after thousands of years, for
housing purposes, both in the caves of the past, as in building materials of the modern houses. With
the development of life in society, creation of cities and greater connection between them, the man
began to no longer adapt to the topography. Thus, the contentions of slopes by stabilizing soils of
different levels, acting in favour of safety and exploitation of cultivable areas. This time, the first
walls, mainly made of wood and rocks. The evolution of this wall is what we now know as
retaining wall. Among various types of containment, the gabion is widely used nowadays, due to
the low environmental impact, low or non-necessity of using machines in your construction, good
permeability, easy modeling and adaptability to the soil profile and also low cost manufacture and
maintenance. As well as man evolved over the generations, their construction methods followed
him. One of the greatest technologies developed, improved and applied was the "discovery" of
cement and preparation of your folder with sand, stone and later steel, generating a solid structure
and extremely resistant. The creation and development of reinforced concrete gave possibility to
man to imagine and develop increasingly larger constructions and bolder technically. For safety
reasons, were regulated certain aspects of each of the materials used in your cooking. In the case of
concrete, there is a specific rule to the test of resistance to compression (NBR 5739/2007),
performed on specimens (CP) framed in accordance with the NBR 5738/2015, where, for each
batch of concrete, are withdrawn, at least six samples. With the increase in the number of buildings
and need of these tests, these CP have become environmental liabilities, generating a large volume
in the scarce plants for recycling. After this realization, we seek in the literature a environmental
solution faster and cheaper for the reuse of the CP, where only amateur use examples were found in
demarcation of flowerbeds, vegetable gardens and landscaped projects, no taking advantage of all
resistance and robustness of concrete that still exists. We seek, therefore, to introduce a new use for
such CP when cracked, reusing them as material for filling of walls by gravity.
Keywords: concrete cylindrical specimens, containment structure, gabion.

1. INTRODUÇÃO
O homem utiliza desde a pré-história objetos encontrados na natureza como ferramentas e
materiais para suas construções, entre eles, minerais e rochas encontrados em abundância. Talvez o
fato mais interessante seja a dependência desses materiais, mesmo após milhares de anos, para fins
de habitação, tanto nas cavernas, do passado, como nos materiais de construção de nossas casas
modernas.
Com a transição de sociedades nômades para comunidades fixas, o ser humano teve que
aprender a cultivar a terra e construir moradias e benfeitorias duradouras. Com vida em
comunidade, a criação das cidades e a posterior ligação entre elas, o homem começou a tratar o
relevo do seu entorno como matéria prima para suas construções e lavouras. E para estabilizar solos
de diferentes níveis, surgiram as contenções de encostas e barrancos, agindo assim em favor da
segurança das pessoas, da conservação de estradas e do aumento de áreas cultiváveis.
Deste modo, surgiram os primeiros muros de contenção, principalmente os confeccionados a
partir da madeira (com baixa durabilidade) e rochas. A evolução deste muro de contenção é o que
hoje conhecemos como muro de arrimo. Dentre os vários tipos de estruturas de contenção, o gabião
é muito utilizado atualmente, devido ao baixo impacto ambiental, a baixa ou não-necessidade do
uso de máquinas na sua construção, sua boa permeabilidade, fácil modelagem e adaptabilidade ao
perfil do solo e também baixo custo de fabricação e manutenção das estruturas.
Conforme o homem evoluiu ao longo das gerações, seu conhecimento técnico, passado por
gerações e posteriormente estudado e aprimorado pelos estudiosos o acompanharam. Com o
desenvolvimento de novas tecnologias e descoberta e desenvolvimento de materiais, suas
construções passaram a ter caráter permanente, o que gerou a possibilidade destes almejarem
conforto e segurança duradoura. Uma dessas tecnologias desenvolvidas, aperfeiçoadas e
amplamente estudada é a “descoberta” do cimento e a preparação de sua pasta com areia e pedra e
posteriormente a adição do aço, gerando uma estrutura sólida e extremamente resistente.
A criação e o desenvolvimento do concreto armado deram ao homem a possibilidade de
imaginar e desenvolver construções cada vez maiores e ousadas tecnicamente. Assim, por medida
de segurança, foram normatizados certos aspectos de cada um dos materiais utilizados em sua
composição. No caso do concreto, há uma norma específica para o teste de resistência à compressão
(NBR 5739/2007), realizado em corpos de prova moldados de acordo com a NBR 5738/2015,
sendo que, para cada lote de concreto, são retiradas, pelo menos, seis amostras para os testes.
Com o intuito de se facilitar as execuções de tais testes existem no mercado vários
laboratórios auditados pelo INMETRO, aptos para a realização do mesmo. Com o aumento do
número de construções legais e a necessidade desses testes para comprovação da resistência do
concreto, esses corpos de prova têm se tornado um passivo ambiental, gerando um grande volume
nas escassas usinas de reciclagem de materiais oriundos da construção civil e, consequentemente, o
aumento de parte do custo da obra no descarte seu adequado.
Após a tal constatação, foram realizadas buscas na literatura de alguma solução ambiental
mais rápida e barata para o reaproveitamento dos corpos de prova, porém, somente foram
encontrados exemplos amadores de utilização em demarcação de canteiros de flores, hortas e
projetos paisagísticos, não aproveitando adequadamente toda a resistência e robustez do concreto
ainda existente no corpo de prova.
Busca-se, assim, apresentar um modo de reutilização para tais corpos de prova, quando
fissurados, reutilizando-os como material de preenchimento em muros de contenção por gravidade.
1.1 Estruturas de contenção
As estruturas de contenção são elementos indispensáveis de várias obras e projetos de
engenharia. De acordo com Loturco (2004), as estruturas de contenção, independente do seu
método, têm o mesmo princípio de funcionamento. Todas elas promovem, ativa ou passivamente,
resistência à ruptura e ao deslocamento de terra, ocasionados pelo corte.
Para obter sucesso na escolha de estrutura de contenção mais adequada a ser executada em
determinada situação, é necessário um prévio estudo do local, pois é o estudo que verifica a
estabilidade do terreno. É fundamental que se obtenha dados como a formação do terreno, a
situação e as características atuais (LOTURCO, 2004).
De acordo com Pinto (2006), a Mecânica dos Solos, que estuda o comportamento dos solos
quando tensões são aplicadas, no caso das fundações, ou aliviadas, no caso de escavações, constitui
uma ciência de engenharia, na qual o engenheiro civil se baseia para o desenvolvimento de seus
projetos.
Segundo Terzaghi (1943, p.1), a Mecânica dos Solos é a aplicação das leis da mecânica e da
hidráulica aos problemas de engenharia relacionados com os sedimentos e outras acumulações não
consolidadas de partículas sólidas produzidas pela desintegração mecânica e química das rochas,
independentemente do fato de conterem ou não elementos constituídos por substâncias orgânicas.
Os problemas que se apresentam no projeto e execução das fundações e obras de terra
podem ser distinguidos em dois tipos: os que se referem à deformações do solo, que abrangem o
estudo de recalques das obras, e os que consideram a ruptura de uma massa de solo, que envolvem
as questões relativas à capacidade de carga do solo, estabilidade de maciços terrosos e empuxos de
terra (CAPUTO, 1988, p. 11).
Caputo (1988, p. 4) ainda afirma que o requisito prévio para o projeto de qualquer obra é o
conhecimento da formação geológica local, bem como o estudo das rochas, solos, minerais que o
compõem e também a influência da presença da água sob ou sobre a superfície da crosta terrestre.
A ruptura de um solo é, geralmente, um fenômeno de cisalhamento, que acontece quando
uma sapata de fundação é carregada até a ruptura ou também quando ocorre o escorregamento de
um talude, por exemplo (PINTO, 2006, p. 260).
Deslizamento é um termo que foi designado para descrever o movimento de descida do solo,
de rochas e material orgânico, sob o efeito da gravidade, e também a formação geológica resultante
de tal movimento (HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008, p. 6).
Segundo Highland e Bobrowsky (2008, p. 13), escorregamento é um dos tipos de
deslizamento, e pode ser definido como o movimento de uma massa de solo ou rocha, em declive,
que ocorre sobre superfícies em ruptura ou sobre zonas relativamente finas com intensa deformação
por cisalhamento.
As medidas de correção comumente utilizadas para um escorregamento e que, quando
possível, reduzirão consideravelmente o risco, incluem um retaludamento apropriado e a construção
adequada de taludes. A construção de muros de arrimo na sua base pode ser suficiente para diminuir
ou desviar o movimento do solo (HIGHLAND; BOBROWSKY, 2008, p. 14).
Segundo Onodera (2005, p. 28), as estruturas de contenção são obras cuja finalidade é conter
maciços de solos. Quando são construídas em centros urbanos ou até mesmo em área de lazer, elas
devem integrar-se ao máximo no meio em que se encontram, tanto do ponto de vista ambiental
como paisagístico.
1.2 Contenção em gabião
Segundo Moliterno1 (1980, apud Onodera, 2005), “o gabião foi utilizado durante muito
tempo como solução para desvio dos cursos dos rios e fechamentos das ensecadeiras nas obras de
construção de barragens”.

1
MOLITERNO, A. Caderno de muros de arrimo. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1980. 104 p.
Seu emprego têm se diversificado, encontrando aceitação na execução, não somente de
muros de arrimo, mas também em revestimento de canais, proteção de margens de rios, e em obras
de emergência para contenção de encostas (ONODERA, 2005, p. 28).
1.3 Histórico
Segundo Camuzzi2 (1978, apud Onodera, 2005, p. 28) e Maccaferri (p. 9), a palavra gabião
deriva do italiano “gabbione”, que quer dizer “gaiolão”. Os gabiões foram empregados pela
primeira vez no final do século XIX. Desde então, sua utilização passou a tornar-se crescente e, a
cada dia, os campos de utilização são mais amplos.
No Brasil, este tipo de estrutura de contenção começou a ser utilizado no início dos anos 70,
e hoje em dia está presente em diversas obras, em todas as regiões do país.
1.4 Principais vantagens de muros em gabião
Uma das mais importantes características do gabião é a sua permeabilidade, trata-se de uma
estrutura totalmente permeável, autodrenante, facilitando o saneamento do terreno, por permitir o
fluxo das águas de percolação, proporcionando, assim, um alívio por completo das pressões
hidrostáticas sobre a estrutura (FINOTTI et al., 2013, p. 23; ONODERA, 2005, p. 35).
Segundo Onodera (2005, p. 35), os muros de gabião também apresentam extrema
flexibilidade, o que permite que a estrutura se adapte aos movimentos do terreno, acompanhando o
recalque ou acomodações, sem comprometer sua estabilidade e eficiência estrutural. Finotti et al.
(2013, p. 22 e 23) acrescentam que essas deformações permitem a prévia visualização de qualquer
problema antes de um colapso, permitindo, dessa forma, possíveis intervenções para a recuperação
da estrutura, minimizando gastos e evitando acidentes.
Finotti (2013, p. 22) e Onodera (2005, p. 36) afirmam ainda que outra importante vantagem
dos muros de gabião é a sua elevada resistência aos esforços de tração e empuxo do terreno, pois
eles são calculados como uma estrutura monolítica. A malha do tipo hexagonal de dupla torção
proporciona uma distribuição mais uniforme dos esforços, seu revestimento assegura a durabilidade
por muitos anos e impede o desfiamento da tela.
Segundo Finotti (2013, p. 23), esse tipo de estrutura de contenção é economicamente mais
viável, devido aos seus custos diretos e indiretos serem mais baixos, comparando com outros tipos
de soluções com as mesmas resistências estruturais.
Os muros de gabião são estruturas práticas e versáteis, pois podem ser construídos sob
qualquer condição ambiental, com a utilização ou não de maquinário, inclusive em locais de difícil
acesso. Além disso, para a construção desse tipo de contenção não é exigida mão de obra
especializada (FINOTTI, 2013, p. 23).
Dentre as afirmações de Finotti (2013, p. 23) ainda é possível destacar uma importantíssima
vantagem dos muros de gabião, seu baixo impacto ambiental. Devido à sua composição, o gabião
não interpõe obstáculo impermeável para as águas de infiltração e percolação, interferindo o
mínimo possível na fauna e flora local. Além disso, é possível a integração da estrutura com o meio
ambiente, ao permitir o crescimento de plantas ou gramíneas na sua superfície.

2
CAMUZZI FILHO, D. Gabiões Profer. São Bernardo do Campo, 1978.
2 OBJETIVO
Para o reaproveitamento proposto dos corpos de provas, foi idealizado o feitio de uma
estrutura do tipo gabião caixa, preenchida com tais corpos de prova de concreto fissurados.

3 MÉTODOS
Existem na região de Campinas, vários laboratórios de controle tecnológico de concreto, que
realizam o serviço de verificação da capacidade de carga do mesmo para vários empreendimentos e
construtoras de modo terceirizado. De acordo com a NBR 5739/2007, os corpos de prova possuem
dimensões padronizadas, sendo a mais usual nos laboratórios o CP cilíndrico de 0,20 m x 0,10 m de
diâmetro.
Conforme a ocorrência de construções na cidade e região e época do ano, ocorre a sobra de
uma enorme quantidade de peças testadas a serem descartadas. Com a implementação da Política
Nacional dos Resíduos Sólidos (lei 12305/2010), tornou-se responsabilidade, tanto da empresa
contratante como do laboratório de testes, a destinação final adequada destes corpos de prova.
Gerando um ônus extra para as construtoras, que arcam com o custo do teste, onde já está embutido
o custo da destinação final das peças testadas.
Mesmo com esta obrigação legal quanto à disposição final, os laboratórios de teste doam
certas quantidades desse material para quem interessar. Existe alguma variedade de projetos
paisagísticos e de jardinagem que utilizam estes artefatos como suporte para a terra dos canteiros
e/ou demarcação de trilhas e caminhos. Isso gera um lucro extra para os laboratórios, que recebem
dos seus clientes o montante designado à destinação adequada. Frisamos que tal prática de doação
dos corpos testados não apresenta problemas ao meio ambiente, desde que sejam utilizados para tais
projetos e não descartados aos montes em locais não específicos.
No modelo aqui proposto, de uso desses corpos de prova como material de preenchimento
de gabiões, a empresa executora do gabião é quem arcará com o custo de retirada, armazenagem e
transporte de tais objetos até o local da obra da estrutura de contenção. Isso gerará uma economia
para o contratante do teste e/ou para o laboratório executor do mesmo, além da executora do gabião,
que não terá necessidade de comprar as rochas para o preenchimento da estrutura. Devido às
variações no ritmo das construções durante o ano e até mesmo em épocas de crise no setor da
construção civil, tais testes podem ser realizados em menor ritmo, gerando uma demanda de um
local para armazenar certa quantidade desses corpos de prova. Tal necessidade não ocasionaria
maiores problemas, uma vez que podem ser armazenados em locais expostos às intempéries e ser
facilmente movimentados com o auxílio de um trator munido de pá carregadeira.
Foi encontrada no mercado uma grande variedade de modelos e tamanhos de gabiões caixas
para comercialização, porém, nem todos passíveis de serem preenchidos com os corpos de provas
fissurados. Isto devido à sua dimensão, que inviabilizaria a disposição mais adequada de acordo
com o estudo realizado para posicioná-los. Os gabiões caixa utilizados devem ser sempre múltiplos
de 0,20m, devido às dimensões normatizadas do material de preenchimento.

4 RESULTADOS
4.1 Posicionamento dos corpos de prova
Com o intuito de se obter um melhor aproveitamento dos materiais, visando a economia de
insumos e mão de obra na confecção da estrutura, foi realizada uma análise no software AutoCAD,
da melhor disposição dos corpos de prova. Assim, foi possível comprovar que a forma mais prática
de encaixe dentro da estrutura do gabião caixa seria na posição vertical (facilitando o encaixe dos
blocos, por sua superfície aplainada e dispensando a necessidade de escoramento da face frontal do
gabião) e que o encaixe destes seria de forma intercalada, fazendo com que em cada camada
houvesse linhas com 10 e 9 blocos. Essa situação seria preferível a outra onde os corpos de prova
estivessem encaixados de modo alinhado dentro do gabião caixa (figuras 1 e 2).

Figura 1 - Simulação do encaixe de modo intercalado.


Figura 2 - Simulação do encaixe de modo alinhado.

De acordo com amostragem realizada nesses corpos de prova, foi possível estimar um peso
médio destes, que é de 3,8 Kg e seu volume, que é de 0,00157 m³. Com o auxílio da modelagem,
foram calculados os dados da Tabela 1, onde são comparados os resultados de cada tipo de
modelagem para uma estrutura de 1m³ e que serviu de base para a escolha do modelo adotado.

Tabela 1 - Comparativo entre modelos construtivos.


TIPO DE ENCAIXE INTERCALADO ALINHADO GABIÃO TRADICIONAL
Quantidade de CPs 525 500 -
Peso total da estrutura (Kg) 1995 1900 1600
Índice de vazios 17,52 21,5 20~30

Comparando-se os dados obtidos na modelagem assistida por computador e os dados da


Tabela 1, foi possível verificar que, ao se intercalar os blocos no preenchimento do gabião, haveria
um maior número de peças encaixadas, gerando uma estrutura mais pesada e com menor
porcentagem de vazios por metro cúbico.
4.2 Custos
No decorrer do ano de 2017, foram realizadas pesquisas de mercado na região de Campinas,
e levantado que o custo de execução de um gabião pode variar consideravelmente de acordo com
suas características de construção. Porém após contatos em obras, foi possível estimar um custo
para o cliente final de aproximadamente R$ 430,00 o metro cúbico de estrutura. Em um orçamento
apresentado, a confecção de uma estrutura de 57m³ foi discriminada de acordo com a seguinte
proposta, apresentada na Tabela 2, onde foi feita também a comparação com os custos do modelo
construtivo proposto:

Tabela 2 - Comparação de custos entre o modelo tradicional e o modelo proposto.


EXECUÇÃO DE 57 m³ MODELO MODELO
DE GABIÃO TRADICIONAL PROPOSTO
$
DESCRIÇÃO QUANTIDADE $ UNITÁRIO $ TOTAL $ TOTAL
UNITÁRIO
MOBILIZAÇÃO
1 3.129,40 3.129,40
DE EQUIPE
MÃO DE OBRA (m²) 57 125,80 7.170,60 125,80 7.170,60
GABIÃO CAIXA
57 120,00 6.840,00 120,00 6.840,00
(UNIDADE)
PEDRA RACHÃO (m³) 95 65,00 6.175,00 - -
MANTA GEOTÊXTIL (m²) 230 3,20 736,00 3,20 736,00
SARRAFO CEDRINHO 10 cm
50 7,80 390,00 - -
(metro linear)
TOTAL 24.441,00 - 17.876,00

5 CONCLUSÃO
Comparando-se os dados obtidos na modelagem computacional e os dados da tabela 1,
pode-se verificar que, intercalando os corpos de prova no preenchimento do gabião, obtemos um
maior número de peças encaixadas, gerando uma estrutura mais pesada, com uma menor
porcentagem de vazios por metro cúbico, estes são fatores de grande importância em muros de
contenção por gravidade. Tais índices superam até mesmo o modelo construtivo tradicional. Sendo
possível, num estudo futuro, otimizar as dimensões da tela de suporte da estrutura, gerando a
necessidade de menores volumes dessas estruturas para suportar cargas semelhantes.
Mesmo com a necessidade de verificar os corpos de prova na hora da montagem da
estrutura, separando blocos rompidos ou muitos fissurados, é possível também considerar uma
otimização da mão de obra necessária para a confecção da estrutura, uma vez que o encaixe dos
corpos cilíndricos seria facilitado ante o encaixe manual das rochas britadas. As superfícies
aplainadas e paralelas desses corpos facilita o suporte entre elas e o faceamento da estrutura,
eliminando a necessidade de escoramento de face para uniformizar e obter uma boa aparência na
estrutura.
Além do ganho ambiental pelo reaproveitamento dos corpos de prova, haveria também a
redução do custo das matérias primas para a confecção do gabião, já que esses corpos são
descartados pelos laboratórios, sendo necessário somente um local de armazenagem onde haja um
estoque suficiente para as obras vindouras. A atividade de transporte e armazenamento desses
corpos de prova não gerariam novos custos à prestadora do serviço, uma vez que a economia na
aquisição da rocha britada e no transporte da quantidade necessária com uma pequena folga
operacional, em substituição à necessidade de quantidades com mais de 50% do volume necessário
no modelo tradicional, supriria tais custos.

7 REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5739: Concreto - Ensaios de
compressão de corpos-de-prova cilíndricos. Rio de Janeiro, 2007. 9 p.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5738: Concreto Procedimento
para moldagem e cura de corpos de prova. Rio de Janeiro, 2015. 9 p.
[3] LOTURCO, B. Contenções: talude seguro. Revista Téchne, São Paulo, 83ª ed., fev. 2004.
Disponível em: <http://techne.pini.com.br/engenharia-civil/83/artigo286273-1.aspx>. Acesso em
27 de abril de 2017.
[4] PINTO, C. S. Curso básico de mecânica dos solos. 3ª ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2006.
363 p.
[5] TERZAGHI, K. Theoretical soil mechanics. New York: John Wiley & Sons, 1943. 526 p.
[6] CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações: fundamentos. 6ª ed. Rio de Janeiro:
LTC, 1988. 244 p.
[7] HIGHLAND, L. M.; BOBROWSKY, P. The landslide handbook – A guide to understanding
landslides. U.S. Geological Survey, Reston, Virginia, 2008. 176 p.
[8] ONODERA, L. T. O uso de gabiões como estrutura de contenção. 2005. 92 f. Trabalho de
conclusão de curso (Bacharelado em Engenharia Civil) – Universidade Anhembi Morumbi, São
Paulo.
[9] MOLITERNO, A. Caderno de muros de arrimo. São Paulo: Edgard Blücher Ltda, 1980. 104
p.
[10] CAMUZZI FILHO, D. Gabiões Profer. São Bernardo do Campo, 1978.
[11] MACCAFERRI. Obras de contenção: manual técnico. Maccaferri do Brasil Ltda, Rio de
Janeiro.
[12] FINOTTI, G. B. S. et. al. Estruturas de contenção em gabiões para estabilidade de
encostas em processos erosivos. 2013. 130 f. Trabalho de conclusão de curso (Bacharelado em
Engenharia Civil) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia.
[13] BRASIL. Lei nº 12.305, de 02 de agosto de 2010. Institui a política nacional de resíduos
sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=636>. Acesso em:
02 de novembro de 2017.
A RELAÇÃO ENTRE AULAS EXPERIMENTAIS E O PROCESSO DE
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO OBSERVADOS NA DISCIPLINA
ELEMENTOS DE GEOLOGIA

The relationship between experimental classes and the construction process of


knowledge observed in the discipline Elements of Geology

João Víctor Franco Domingues1 , Fernanda Ferreira da Silva2 , Nicolas da Rocha Pires3 , Júlia
Righi de Almeida4
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, joao.franco@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, ferreira.fernanda@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, nicolas.pires@engenharia.ufjf.br
4
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, julia.righi@ufjf.edu.br

Resumo: Para o discente de engenharia civil, o conhecimento de Geologia é fundamental, pois


constitui importante ferramenta para soluções geotécnicas que são de competência do profissio na l
formado. O aperfeiçoamento didático e a melhoria do rendimento acadêmico nessa ciência são
preocupações constantes de todo corpo pedagógico. Um ensino de qualidade no âmbito da Geologia
implica em levantar problematizações sobre os sistemas terrestres, visando em seguida, atividades
experimentais que solucionarão estes problemas[1]. Entende-se por atividades experimentais as
investigações que os alunos tendem a desenvolver frente às questões adversas apresentadas,
relacionando as atividades ao cotidiano. Dessa forma, desperta-se o interesse do aluno nos assuntos
abordados, resultando em uma experiência significativa e consolidação de conceitos científicos de
forma prática. Além disso, as atividades experimentais proporcionam ao estudante a percepção da
relevância da disciplina, visto que muitas das atividades são aproximações de fatos corriqueiros à
rotina de trabalho do engenheiro civil. Posto isso, o objetivo deste trabalho é analisar a importânc ia
das aulas práticas no ensino da disciplina Elementos de Geologia, para que o graduando consolide o
conhecimento adquirido na disciplina e saiba aplicá-lo, tanto em cadeiras subsequentes da ênfase em
Transportes e Geotecnia, como em seu cotidiano, após a graduação, quando já inserido no mercado
de trabalho. Além disso, será apresentado um estudo de caso onde a revitalização do acervo de
minerais e rochas pertencentes ao Laboratório de Geotecnia da Faculdade de Engenharia da UFJF
(LaGetec) despertou nos alunos um interesse maior na disciplina e maior facilidade no aprendizado
da matéria. Para tanto, os dados obtidos nas pesquisas realizadas com alunos que responderam
questionários acerca de seu rendimento foram analisados de forma a compreender os avanços obtidos
a partir dessa nova metodologia empregada. Constatou-se, através dessa análise, que o ensino com
aulas demonstrativas no laboratório facilita a compreensão de temas teóricos e conduz o discente a
um maior conhecimento inter-relacionado e científico, corroborando na formação de profissiona is
mais aptos a solucionar problemas da engenharia civil que envolvam assuntos abordados na Geologia.
Palavras-chave: aulas práticas, geologia, laboratório.

To the student of Civil Engineering, the knowledge of Geology is fundamental, since it is an important
tool for geotechnical solutions which are part of the graduate professional‘s responsibility. The
didactic amelioration and the improvement of the academic performance in this science are constant
worries of all the faculty members. A quality learning in the Geology context implies on bringing up
matters on the earth system, aiming afterward, the experimental activities which will solve these
problems[1]. One can understand by experimental activities the investigations that the student tend to
develop facing the adverse questions presented, assisted by resources such as the teaching guided by
experimentation and related to the daily routine which will grab the attention of the student, coming
out as a significant experience and the consolidation of the scientific concepts in a practical way.
More than that, they bring applicability to those concepts, providing to the student the perception of
the course’s relevance, noticing that plenty of the activities are close to ordinary facts to the Civil
Engineer. Thus, the goal of this paperwork is to analyze the importance of practical classes in the
teaching of the course Elements of Geology so that the undergraduate consolidate the knowledge
acquired in the course and to apply it, may it be in the following courses of the Transportation and
Geotechnics Department or in its daily life, after the graduation, while being part of the market.
Moreover, a case study will be presented in which the revitalization of the collection of minerals and
rocks that belong to the Laboratory of Geotechnics of the Engineering School of UFJF (LaGetec)
awakened greater interests in the students and made it easier to learn the subject. To do so, the data
gathered through researches done with students who answered the survey about their performance
were handled by statistical analysis in order to comprehend the advances obtained from the new
employed methodology. After the analysis, it was observed that the teaching with practical classes in
the laboratory eased the comprehension of theoretical subjects and drove the student to a greater,
correlated and scientific knowledge, corroborating the qualification of professionals more able to
solve problems of Civil Engineering that involve subjects addressed in Geology.

Key Words: practical classes, geology, laboratory.

1. INTRODUÇÃO
Com a evolução das mídias tecnológicas e a popularização do acesso às mesmas, uma nova maneira
de adquirir conhecimento começou a se desenvolver. O acesso através de meio digital se tornou um
dos pilares do comportamento humano. Seja para expor suas opiniões, aprender ou ensinar, vê-se
uma geração crescendo em meio a esta miríade de informações de tão fácil acesso. Tal fato levado à
academia cria a necessidade de repensar a maneira em que esta repassa o conhecimento, em princíp io
na graduação, e como pode adaptar o ensino aos novos alunos já acostumados a aprender através de
fontes que não professores e livros.
O ensino é entendido como uma mescla da postura que um docente tem ao transmitir saberes sob
cunho disciplinar e, também, fazer possível alguém aprender algo, o que é tido como uma visão
pedagógica e engloba a necessidade de pluralidade por parte do professor. O ensino atual, então, tem
de requerer uma dupla transitividade (sujeitos que ensinam e aprendem) e a mediação (sujeitos que
aprendem sob a mediação de quem ensina) entre discentes e mestres[2]. Contudo, existe uma dualidade
muitas vezes vista em sala, na qual a oposição de um professor em detrimento das capacidades do
aluno resulta em má compreensão de assunto e até mesmo rejeição por parte do corpo estudantil a
determinados temas[3].
O ensino da Geotecnia, por focar em um público já maduro, tem de se tornar mais tangível ao mesmo,
e sob essa perspectiva, uma teoria de ensino que serve como fundação para essa proposta é a
Andragogia. Schuch e Silva (2018)[4] apresentam como principais pontos dessa teoria a ideia de que
o aluno precisa de autonomia para se desenvolver e que, além disso, a experiência prévia do aprendiz
e a incorporação de tarefas e discussão dos temas relacionados à vida cotidiana são importantes para
consolidação do aprendizado. Aprendizado este que deve ser centralizado na solução de problemas.
A Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP) pode ser uma alternativa na hora de se apresentar o
conhecimento, e seus pilares são a centralização do aluno no ensino, a cooperação do trabalho em
equipe e o professor como tutor[5]. Essa metodologia guia, também, a maneira com que este trabalho
foi conduzido, trazendo uma nova roupagem ao ensino de Elementos de Geologia na Universidade
Federal de Juiz de Fora. Além do embasamento teórico em sala de aula, as aulas práticas em
laboratório e os exercícios baseados em problemas da Engenharia fazem do aprendizado de Geologia
para Engenharia Civil uma maneira de entrar em contato com situações reais, objetos de estudos que
muitas vezes são abordados de maneira teórica mas agora podem ser vistos, tocados e sentidos,
ultrapassando a barreira que antigamente separava essas duas facetas: o prático e o teórico.

2. OBJETIVO
O objetivo deste trabalho é analisar a importância das aulas práticas no ensino da disciplina Elementos
de Geologia, para que o graduando consolide o conhecimento adquirido na disciplina e saiba aplicá -
lo, tanto em cadeiras subsequentes da ênfase em Transportes e Geotecnia, como em seu cotidiano.
Para alcançá-lo de maneira funcional e ordenada, foram estipulados os seguintes objetivos
específicos: estudo de caso da revitalização do laboratório de Geotecnia da Universidade Federal de
Juiz de Fora; execução de atividades experimentais que simulem problemas com os quais um
engenheiro geotécnico pode se deparar ao longo de sua carreira; investigação qualitativa sobre a
assimilação da disciplina por parte dos alunos através de relatos e depoimentos dos mesmos;
integração dos monitores ao ensino da geologia a fim de prepará-los para novas metodologias de
disseminação do conhecimento e a criação de um portal de notícias e informações sobre Geologia e
Geotecnia.

3. METODOLOGIA
Partindo-se do objetivo de tornar a aprendizagem dos alunos mais interessante por meio das aulas
práticas, e, visando motivar os estudantes ao relacionar o tema estudado com o exercício da profissão
e com a solução de problemas reais, foram desenvolvidas atividades direcionadas ao referido público.
Neste artigo, utilizou-se de dois artifícios para fazer as relações entre as aulas experimentais e o
processo de construção do conhecimento na disciplina: revisão bibliográfica e aulas práticas em
laboratório.
3.1. Revisão Bibliográfica
Ao realizar uma abordagem de pesquisa qualitativa a respeito de temas relacionados aos princíp ios
da andragogia, aplicados em diferentes áreas, procurou-se escolher um caminho para refletir sobre
um novo método de ensino, que neste caso, serviu como base para a mudança na rotina das aulas de
Elementos de Geologia.

3.1.1. A Andragogia:
Apesar de o termo andragogia ter sido utilizado pela primeira vez no século XIX pelo alemão Eugen
Rosenback, foi em meados do século XX que o mesmo ganhou significado científico. Desta época,
destaca-se o trabalho de Malcom Knowles, pesquisador e educador estadunidense. Considerado o pai
da andragogia, ele a define como a arte e a ciência destinada a auxiliar os adultos a aprender e a
compreender o processo de aprendizagem dos adultos[6].
Os processos cognitivos de um adulto e de uma criança diferem demasiadamente. Logo, constata-se
que os métodos e processos de ensino precisam estar adequados à faixa etária do aprendiz; nem todos
os princípios da pedagogia atendem às demandas de aprendizagem de um aluno amadurecido [6].
Em crianças, observa-se o que se chama de efeito esponja, onde o aprendiz, indiscriminadamente,
absorve todas as informações que o professor lhe fornece. Este fenômeno não ocorre com alunos de
maior idade, visto que este consolida conhecimentos de forma muito mais autônoma [7]. A andragogia
então estuda como se dá o fenômeno de aprendizado em adultos, e formula métodos de ensino que
atendam às demandas deste processo.
“Adultos são capazes de criticar e analisar situações, fazer paralelos com as experiências já vividas,
aceitar ou não as informações que chegam” (Santos, 2006, p. 1) [6]. O indivíduo maduro aprende de
forma muito mais seletiva, absorvendo apenas informações que ele julga úteis para seu
desenvolvimento intelectual, ou ascensão social/profissional; em outras palavras, o conhecime nto
precisa ter finalidade específica (para que aprender). Portanto, atividades que provocam a
aplicabilidade do que foi aprendido em situações similares ao cotidiano são uma ferramenta eficiente
de fixação de conceitos[6].
Visto que este aluno tem maior independência no processo de aprendizado, o professor também
diverge do modelo de educador tradicional da pedagogia; aqui, ele deixa de ser o detentor das
informações e passa a ser o facilitador do acesso a estas, mediando as discussões que consolidarão
novos conceitos a serem assimilados. Logo, o ensino passa a ser cooperativo e horizontal, e é
primordial que cada aluno se sinta à vontade para compartilhar suas experiências vividas, que
corroborarão para a produção coletiva do conhecimento [6].
Aplicar a andragogia integralmente no ensino de jovens é um tanto complexo, visto que alunos da
graduação em sua maioria ainda não chegaram à fase adulta. Entretanto, a aplicação de alguns
princípios desta ciência pode tornar o processo de aprendizagem muito mais interessante para o jovem
estudante, e ajudá-lo a atingir a maturidade cognitiva, onde ele será capaz de assimilar informaçõ es
de maneira independente[6].
Adultos guardam apenas 10% do que ouviram, após 72h, mas são capazes de lembrar 85% daquilo
que ouvem, vêm e fazem, decorrido o mesmo prazo[8] [9]. Então, atividades experimentais tornam-se
grandes aliadas do aprendizado. Para isso, os laboratórios são indispensáveis, pois configura m
ambientes em que o aluno tem contato com instrumentos e materiais adequados para execução de
tarefas ou atividades práticas que lhe são propostas.
3.1.2. Experiências de sucesso
Percebeu-se através da literatura consultada, a necessidade de ser adotada uma metodologia de ensino
que vai além do modelo enraizado na cultura brasileira, de aulas expositivas. Neste caso, a realização
das aulas práticas propicia um maior conhecimento, bem como a reflexão sobre o tema estudado. Os
princípios da andragogia sugerem que o aluno necessita perceber a aplicabilidade do ensino na sua
futura profissão, e ainda, que se deve pensar na troca de experiências entre os atores deste processo
educacional, propiciando a interação entre eles, sob um clima de segurança e respeito[4]
Os artigos de Neto e Oliveira (2018)[10], Schuch e Silva (2018)[4], Carvalho, Jesus, Mascarenha e Porto
(2018)[11] e Oliveira, Albuquerque e Oliveira (2018)[12], publicados no XIX Congresso Brasileiro de
Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano são claros
exemplos da necessidade de inovação da forma com que se pensa em educação, seja ela focada em
preparar o aluno para as situações reais, para o mercado de trabalho ou até mesmo fora da academia,
envolvendo alunos de ensino fundamental que já podem compreender, ainda que superficialmente, o
comportamento de um solo.
Oliveira, Albuquerque e Oliveira. (2018)[12] apresentam experiências realizadas ao tentar remodelar a
maneira com que se ensinava Geotecnia para os alunos do curso de Arquitetura, trazendo uma nova
perspectiva para o entendimento da Mecânica dos Solos. O professor de Engenharia que ministra va
o curso dividiu-o em duas partes: embasamento teórico e análise de um perfil geotécnico, e
posteriormente desenvolveu um modelo de sapata. O conceito de ABP (Aprendizagem Baseada em
Problemas) é um dos fatores que regem essa mudança na forma em que se passa o conhecimento.
Outro exemplo é o trabalho de Carvalho, Jesus, Mascarenha e Porto (2018) [11], no qual a professora
apresenta diversas maneiras de se explicar propriedades do solo para alunos de ensino fundamenta l
através de ensaios simples com materiais como copos de plástico e que podem ser traduzidos para o
contexto da graduação, se relacionados à explicação teórica dos conceitos. Ou seja, adaptando a
mensagem ao ouvinte.
3.2. Revitalização do Laboratório de Geotecnia da Faculdade de Engenharia da UFJF
Para estimular o processo de aprendizagem na disciplina Elementos de Geologia, era necessário um
lugar que pudesse servir como base para a realização das aulas práticas. Para isso, o Laboratório de
Geotecnia da Faculdade de Engenharia da UFJF (LaGetec) foi revitalizado. As Figuras 1 (A e B)
mostram, respectivamente, o laboratório antes e depois do processo de revitalização.
A

Fig. 1 – (A) Laboratóri o antes do processo de revitalização;


(B) Laboratório depois do processo de revitalização

Organizaram-se horários de trabalho onde os monitores da disciplina, professores e técnicos


trabalhavam em conjunto para a limpeza do lugar. As tarefas consistiam em retirar objetos
inutilizados, antigos, com defeito ou mesmo desnecessários que ocupavam um espaço consideráve l
do laboratório.
Além do espaço apropriado para as aulas práticas, o laboratório contava com um grande acervo de
minerais e rochas, catalogado em um arquivo impresso em folha de papel. Visando criar um banco
de dados mais seguro e moderno, planejou-se criar um arquivo digital contendo essas informaçõ es.
No total haviam 1773 amostras com os seguintes dados: ID, Registro, Denominação, Espécie Mineral,
Variedade, Procedência, Doador, Endereço. Essa tarefa foi proposta aos monitores. Na Figura 2 é
possível visualizar uma parte da planilha digitada contendo essas informações.
Fig. 2 – Planilha digitada contendo todo o acervo de minerais e rochas do laboratório

Com a construção da planilha, foi idealizada uma nova mudança, desta vez, nas caixas que continha m
as amostras. Isso porque os minerais e rochas, que possuíam tamanhos e formas variados, eram
mantidos em uma caixa de papelão com um formato padrão, que se desgastava facilmente na presença
de água ou mesmo com a ação do tempo e não comportava exemplares maiores.
Como solução, foi escolhido o plástico como material para a confecção de novos recipientes, por
possuir características que atendiam à utilização no laboratório sem comprometer sua qualidade. Na
Figura 3 percebe-se as diferenças entre o antigo e o atual modelo de recipientes.

Fig. 3 – Antigo recipiente que comportava as amostras do laboratório em comparação com o atual
As etiquetas dos novos recipientes foram geradas automaticamente por meio do recurso “mala-dire ta ”
do pacote Office, sendo impressas em papel fotográfico adesivo em impressora a laser.
3.3. Aulas Práticas e Aplicação de Atividades e Questionários
Durante o primeiro semestre letivo de 2018 algumas aulas foram lecionadas no laboratório, como
mostra a Figura 4, com o objetivo de fazer com que os alunos adquirissem um maior interesse naquele
que era o objeto de estudo da disciplina.
Para a fixação do conteúdo foram propostas atividades conforme mostra a Figura 5, em que após
leitura prévia do material disponibilizado e revisão dada em aula, os alunos eram desafiados a
identificar exemplares de minerais e rochas e correlacioná- los a conceitos apresentados na disciplina.

Fig. 4 – Realização de aula prática no laboratório lecionada com ajuda dos monitores da disciplina

Fig. 5 – Atividade de identificação de amostras durante aula prática no laboratório


4. RESULTADOS
4.1. Aulas práticas e atividades aplicadas
Visto a necessidade de reformulação nos métodos de ensino de Elementos de Geologia, no primeiro
semestre letivo de 2018 foram ministradas as primeiras aulas práticas. O curso se divide em três
módulos: estudo dos minerais, estudo das rochas e aplicações geotécnicas dos conceitos geológicos.
Como a revitalização do laboratório ocorreu durante o primeiro módulo do curso (março a maio), as
aulas experimentais abrangeram somente assuntos do segundo e terceiro módulo para a primeira
turma da cadeira no ano. Como desejava-se conhecer os resultados e impactos do novo método
adotado, ao fim do semestre elaborou-se um questionário sobre o aproveitamento da disciplina e a
importância das aulas de laboratório, que foi respondido pelos alunos que cursaram a matéria. Os
alunos não se identificaram para que pudessem se sentir mais à vontade com as opiniões expressadas.
Segue abaixo a reprodução de depoimentos obtidos pelo formulário, que exprimem as opiniões dos
discentes:
“Foi uma das melhores matérias que já tive na faculdade! É inspirador e faz querer saber mais sobre
o assunto! Didática incrível, aulas maravilhosas, aulas práticas foram de fundamental importância
e só há críticas positivas a serem feitas!”
“Parabéns à professora Júlia e aos monitores, todos muito dedicados em passar o conhecimento
para nós! As aulas no laboratório foram muito legais.”
“Confesso que me surpreendi com a disciplina, não esperava que geologia poderia ser tão aplicada
na engenharia civil. Isso se deve muito à forma como a matéria foi dada. Os vídeos contribuem muito
para que façamos um link com o mundo. Eu tive muita dificuldade na primeira parte da matéria, não
via muita aplicabilidade. Mas as três últimas aulas eu me surpreendi, pois vi que todo conteúdo é
dado de forma inteligente e conectado. Quero agradecê-la e parabenizá-la pelo comprometimento e
preocupação e, destacar de forma especial pela última aula quando ultrapassou os limites técnicos
para falar de experiência com o ser humano/sociedade, algo que sinto falta na faculdade.”
Neste último depoimento, é pertinente considerar o fato de que o aluno sentiu maior dificuldade de
correlacionar conceitos do primeiro módulo às aplicações práticas da engenharia, justamente o
conteúdo sobre o qual não foi possível a ministração de aulas experimentais. A relevância do uso do
laboratório se reforça em outros depoimentos, onde os alunos fizeram sugestões sobre o que podia
ser melhorado:
“Em relação às aulas de laboratório, estas facilitaram o aprendizado, deixou mais claro. Por isso,
acho que deve até mesmo aumentar a quantidade destas aulas.”
“Mais aulas de laboratório, são muito explicativas e poderia ter mais.”
“Possuir mais aulas de laboratório ou no campo.”
“Continuar com as aulas práticas de laboratório.”
Findo o primeiro período letivo, a professora da disciplina, Júlia Righi de Almeida, se reuniu com os
monitores para discutir a elaboração de atividades que trouxessem maior aplicabilidade dos conceitos
para o contexto da engenharia civil, bem como formas de otimizar as aulas de laboratório. Definiu-
se então um número maior de aulas experimentais: cada módulo contando com pelo menos 2 aulas
práticas referentes aos assuntos abordados. Além disso, foram confeccionadas duas atividades que
envolvem a contextualização do conhecimento adquirido sobre minerais e rochas no decorrer da
disciplina.
Até a produção deste documento, as aulas experimentais do primeiro e segundo módulo já haviam
sido ministradas. Elaborou-se então um novo questionário para os alunos do semestre vigente, para
que estes pudessem opinar sobre os métodos utilizados no ensino da disciplina. Mais uma vez foi
solicitado que nenhum aluno se identificasse para que pudessem ter mais liberdade em expressar sua
opinião.
A primeira pergunta do questionário era relativa ao método tradicional com que a disciplina vinha
sendo dada: “Elementos de Geologia, tradicionalmente, é uma disciplina teórica. Até o ano de 2017,
todas as aulas aconteciam em sala, sem atividades no laboratório. O que você acha da disciplina
Elementos de Geologia ser dada exclusivamente em sala de aula? RESPOSTAS: (A) Adequado (B)
Indiferente (C) Cansativo”. Das 33 pessoas que responderam à essa pergunta, 30 marcaram a opção
“cansativo”, o que representa 91% dos alunos que responderam a essa pesquisa.
A segunda pergunta foi sobre o impacto das aulas de laboratório no aprendizado: “Desde o 1º período
de 2018, parte das aulas da disciplina Elementos de Geologia vem sendo dadas no laboratório. Para
você que está cursando a disciplina, qual o impacto dessas aulas no seu aprendizado? RESPOSTAS:
(A) Nenhum impacto (B) Pequeno impacto (C) Grande impacto”. Todos os alunos que responderam
ao questionário marcaram a opção “grande impacto”.
A terceira pergunta tinha como objetivo compreender se as atividades feitas no laboratório estavam
tendo aplicabilidade no curso: “O que você achou das atividades que foram realizadas até agora na
disciplina (especificamente a de MINERAIS e ROCHAS) antes das avaliações e que buscavam tratar
da aplicação dos minerais e rochas na Engenharia Civil. RESPOSTAS: (A) Desnecessárias (B)
Indiferentes (C) Importantes”. Assim como na pergunta 2, 100% dos alunos deram a mesma resposta,
marcando a opção “importantes”.
Por último, foi colocada uma questão aberta. Há uma grande preocupação com os conhecimentos que
os estudantes irão levar consigo para as próximas disciplinas que tem Elementos de Geologia como
pré-requisito. Nesse caso, colocou-se a seguinte pergunta: “Elementos de Geologia é pré-requisito de
Materiais de Construção. O que você acha que poderá levar de conhecimento dessa disciplina para
o período que vem?”. Dos 33 alunos que responderam ao questionário (múltipla escolha) apenas 1
não respondeu a essa última questão. A seguir, serão reproduzidas algumas respostas que marcaram
a efetividade das aulas de laboratório e o entendimento da relação entre as 2 disciplinas (Elementos
de Geologia e Materiais de Construção).
“Os materiais de construção em sua grande maioria são obtidos de recursos naturais, logo,
compreendendo a maneira que minerais e rochas se comportam em dadas circunstâncias, será muito
mais simples e interessante, compreender as propriedades do macro.”
“Já aprendemos que alguns minerais e rochas são necessários para a fabricação do cimento e que
rochas como gnaisse podem ser usados para fabricação de britas, ou seja, pontos importantes de
materiais de construção.”
“Os diferentes tipos de agregados para materiais utilizados na construção, diferenciando-os pela
resistência, permeabilidade, etc.”
“Maior afinidade com minerais e rochas e suas características físicas e químicas, nos mostrando
como usar ou não usar determinado material, suas reações com intempéries, agregados...”
4.2. Monitores no ensino da disciplina
4.2.1. Integração dos monitores
Um dos principais objetivos ao propor uma nova metodologia nas aulas, com a inserção de prática de
laboratórios, é que os monitores se sintam corresponsáveis na disseminação dos conhecimentos da
disciplina Elementos de Geologia. Cabe ressaltar que a elaboração deste trabalho já denota por si só
o engajamento e integração destes. Ademais, segue abaixo os depoimentos das monitoras Fernanda
Fagundes Paes e Letícia Teixeira, respectivamente, graduandas do curso de Engenharia Sanitária e
Ambiental:
“Primeiramente, eu busquei a monitoria de Geologia Ambiental por ser uma disciplina que tenho
afinidade e teria interesse em passar para os alunos o que eu havia aprendido. No início, eu não
tinha a dimensão das variadas vantagens que ela me traria, principalmente na relação com o outro,
tanto na troca de aprendizado com os alunos, quanto no trabalho em grupo com os outros monitores.
Além disso, aprendi a organizar melhor as minhas tarefas e a redigir de forma mais didática textos
e trabalhos. Exercendo o trabalho de monitora me sinto como parte do aprendizado dos alunos
dentro de sala de aula e no laboratório, sendo o segundo uma forma mais dinâmica de aprender
onde eles têm contato direto com os materiais ensinados em aula. A monitoria me fez ter uma visão
em relação à disciplina ainda mais positiva do que quando eu era aluna. Acredito que ser monitora
é mais do que doação de conhecimento, é transmissão de ideias.”
“Durante a graduação passamos por diversos momentos em que tentamos nos encontrar e saber o
que queremos para o futuro. Quando fazemos prova e nos tornamos monitores de alguma matéria,
isso se deve pela proximidade com o conteúdo aprendido e a possibilidade de ajudar outros alunos
com o nosso conhecimento, apesar não sabermos tanto quanto os professores. Com a monitoria fiquei
mais comprometida com a faculdade e fui descobrindo cada vez mais o que realmente me interessava
no meu curso ao participar das aulas e nos projetos de laboratório. Na monitoria pude me envolver
no projeto de reorganização do laboratório de geologia, além de participar da elaboração de artigos
e postagens no blog sobre Geotecnia que criamos. Após todas essas só posso dizer que minhas notas
melhoraram e isso devido a minha entrada para monitoria em geologia.”
4.2.2. Blog GEOSABER
Além da participação ativa nas aulas, os monitores das disciplinas Elementos de Geologia e Geologia
Ambiental, juntamente com os demais bolsistas da Professora Júlia Righi de Almeida, desenvolvera m
um site para divulgação de conteúdos referentes ao estudo da Geologia aplicada às Engenharias Civil
e Sanitária A ambiental: o GEOSABER. As figuras 6 (A e B) ilustram a página inicial e a seção
“sobre”, que informa de maneira resumida, a proposta da criação do blog.
Fig. 6 – (A) Página inicial do site GEOSABER; (B) Seção “SOBRE” do site

O site tem como público alvo os jovens estudantes das áreas onde o conhecimento da Geotecnia se
faz importante ou indispensável. Sem perder a credibilidade, busca-se, de maneira simples e
interativa, transmitir conteúdos sólidos de forma a facilitar a fixação dos conceitos e diversas
aplicações sobre os materiais geológicos. Os posts são publicados em média 2 vezes por semana e
classificados nas categorias Engenharia Ambiental, Engenharia Civil, Rochas, Solos e Minerais,
facilitando a busca do usuário, caso ele pesquise por um assunto específico. Além de poder ser
acessado pelo link https://www.portalgeosaber.com/, o conteúdo também é divulgado pela rede social
Facebook®, na página Portal Geosaber, como mostra a figura 8. Os posts do site também são
compartilhados com os alunos das disciplinas Elementos de Geologia e Geologia Ambiental, sendo
uma forma de fixação de conhecimento em uma plataforma amplamente utilizada pelos estudantes.

Fig. 8 – Página do Portal Geosaber


5. CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objetivo analisar a importância das aulas práticas no ensino da disciplina
Elementos de Geologia, exemplificando ações que contribuíram para motivar a aprendizagem dos
alunos.
Como procedimento metodológico, foi realizada uma revisão bibliográfica a respeito de temas
relacionados ao princípio da andragogia, visando compreender melhor o processo de aprendizage m
dos alunos e estudando casos onde a adoção de uma nova metodologia de ensino propiciou uma
perspectiva diferente para o entendimento do conteúdo.
Em relação ao ambiente para a realização das aulas práticas, foi organizada a revitalização do
Laboratório de Geotecnia da Faculdade de Engenharia da UFJF (LaGetec), onde atuaram alunos,
professores e técnicos da Faculdade. Foi realizada também a criação de um banco de dados digita l,
por parte dos monitores, para comportar informações a respeito do acervo de minerais e rochas
presentes no laboratório, antes catalogado apenas em papel. Além disso, o processo de revitalização
contou com uma mudança no que diz respeito aos recipientes que comportavam essas amostras.
Com um ambiente propício foi possível a realização das aulas práticas e de atividades que fizesse m
que os alunos adquirissem uma maior motivação no estudo da disciplina. Almejando uma interação
maior entre alunos, monitores e professores, e uma forma cada vez mais intuitiva e prática de
promover o processo de aprendizagem, diversas ideias estão sendo estudadas para uma possível
aplicação nos próximos períodos. Entre elas a construção de um jogo de cartas para o aprendizado de
temas relacionados à Geologia [12].

AGRADECIMENTOS
Os autores deste artigo agradecem à todos aqueles que colaboraram para a revitalização do
laboratório: Professor Marcio Marangon, Técnico Wagner Barbosa e alunos e alunas que fizera m
parte do grupo de pesquisa da professora Júlia Righi de Almeida no ano de 2018.

REFERÊNCIAS
[1] FONSECA, P., BARREIRAS, S., VASCONCELOS, C. Trabalho Experimental no Ensino da Geologia:
Aplicações da Investigação na Sala de Aula. Enseñanza de las Ciencias, 2005.
[2] ROLDÃO, M. C.. Função Docente: natureza e construção do conhecimento profissional. Revista Brasileira de
Educação. Rio de Janeiro, v.12, n.34, p.94-181, 2007.
[3] CRUZ, G. B., ANDRÉ, M. E. D. A. Ensino de Didática: Um Estudo Sobre Concepções e Práticas de
Professores Formadores. Educação em Revista, v.30, n.4, p.181-203, 2014.
[4] SCHUCH, F. S., SILVA, F. K. Os Conceitos da Andragogia Aplicados ao Ensino da Geotecnia Visando a
Retenção do Aprendiz. XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e
Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG, 2018.
[5] SOUZA, S. C., DOURADO, L. Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP): Um Método de Aprendizag em
Inovador para o Ensino Educati vo. HOLOS, Ano 31, v. 5, p. 182-200, 2015.
[6] SANTOS, C. C. R.. Andragogia: Aprendendo a ensinar adultos . 9 p. Disponível em: <
https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos10/402_ArtigoAndragogia.pdf >. Acesso em: nov. 2018.
[7] CAVANCANTI, R. de A.; GAYO, M. A. F. da S. Andragogia na educação universitária. Conceitos. Disponível
em: <www.adufpb.org.br/publica/conceitos/11/art05.pdf>. Acesso em: 03 nov. 2018.
[8] TEIXEIRA, G. Andragogia: A aprendizagem nos adultos . Disponível em:
<http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=1&texto=5>. Acesso em: out. 2018.
[9] GOECKS, R. Educação de adultos: Uma abordagem andragógica. Disponível em:
<http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=1&texto=4>. Ac esso em: out. 2018.
[10] NETO, A. O. C., OLIVEIRA, K. C. M. Diálogo entre um Professor e uma Estudante: Relato da Aplicação
de uma Nova Metodologia de Ensino-Aprendizagem. XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e
Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG, 2018.
[11] CARVALHO, J. C., JESUS, A. S., MASCARENHA, M. M. A., PORTO, F. M. R., LUZ, M. P. O que, Onde e
Como Ensinar o Conteúdo Geotécnico. XIX Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Geotecnia e Desenvolvimento Urbano COBRAMSEG, 2018.
[12] OLIVEIRA, P., ABUQUERQUE, L. L. C., OLIVEIRA, J. T. R. Elaboração De Perfis Geotécnicos E
Fundações Em Modelos Reduzidos Como Vivência Da Disciplina De Solos Para O Curso De Arquitetura. XIX
Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica Geotecnia e Desenvolvimento Urbano
COBRAMSEG, 2018.
ADAPTAÇÃO DA METODOLOGIA GDE/UnB À TÚNEIS E ESTUDO DO
TÚNEL REBOUÇAS

Adaptation of the GDE/UnB methodology to tunnels and Rebouças tunnel study

Matheus Rodrigues Marchetti da SILVA 1, Amaro Francisco Codá dos SANTOS 2


1 CEFET/RJ, Rio de Janeiro, Brasil, matheusrmarchetti@gmail.com
2
CEFET/RJ, Rio de Janeiro, Brasil, coda.engenharia@uol.com.br

Resumo: Neste trabalho objetivou-se desenvolver uma metodologia de inspeção visual para
aplicação em túneis. Para tal, baseou-se na metodologia GDE/UnB, originalmente desenvolvida
para edificações e modificada, posteriormente, para pontes e viadutos, o que evidencia seu potencial
de adaptação. A pesquisa se inicia contextualizando a importância dos túneis para a cidade do Rio
de Janeiro que permitem a conexão de toda a metrópole ao mesmo tempo em que reduzem,
consideravelmente, as viagens. Em seguida, apresenta-se uma análise dos elementos importantes
dos túneis, bem como das patologias associadas a cada um desses elementos. Dessa maneira, se
torna possível chegar a uma equação para quantificação dos resultados. Por meio de análise
estatística, decide-se que a aplicação teste da metodologia seja realizada no túnel Rebouças,
elemento de grande relevância para a mobilidade no Rio de Janeiro. Os resultados provenientes da
aplicação do método proposto indicam alto grau de deterioração na estrutura e, consequentemente,
intervenção em no máximo, um ano. Tais dados são condizentes com a situação atual da estrutura,
tanto na condição em que se encontra quanto em simulação após a intervenção.

Palavras-chave: Inspeção-visual, patologias, túneis.

Abstract: In this work we aimed to develop a visual inspection methodology for quantification of
pathologies in tunnel structures. For this, it was based on the GDE/UnB methodology, originally
developed for buildings and later modified for bridges and viaducts, which shows its potential for
adaptation. The research begins by contextualizing the importance of the tunnels to the city of Rio
de Janeiro that allow the connection of the entire metropolis while at the same time considerably
reducing travel. Next, an analysis of the important elements of the tunnels, as well as the
pathologies associated to each of these elements, is presented. In this way, it becomes possible to
arrive at an equation to quantify the results. Through statistical analysis, it is decided that the test
application of the methodology is performed in the Rebouças tunnel, an element of great relevance
for mobility in Rio de Janeiro. The results from the application of the proposed method indicate a
high degree of deterioration in the structure and, consequently, an intervention in a maximum of
one year. Such data are consistent with the current situation of the structure, both in the condition in
which it is found and in simulation after the intervention.

Keywords: Visual-inspection, pathologies, tunnels.


1. INTRODUÇÃO
Com mais de 6 milhões de habitantes e apresentando um relevo acidentado, a cidade do Rio de
Janeiro necessita de soluções de engenharia para contornar o problema da oferta de espaço.
Possuindo três maciços principais (Gericinó, Pedra Branca e Tijuca), além de tantas outras
elevações, é trivial que os túneis sejam parte da realidade carioca. A cidade dispõe de 28 túneis
rodoviários, totalizando quase 20km de extensão [1], existindo entre os mesmos estruturas
centenárias e outras inauguradas em 2016. Com essa diversidade em métodos construtivos e,
principalmente, tempo de degradação, percebe-se a importância do desenvolvimento de métodos
racionais e expeditos de inspeção visual.
Até 2016 o Túnel Rebouças detinha o título de maior túnel rodoviário em extensão na cidade (sendo
considerado o maior do mundo por muitos anos), e destaca-se por seu importante papel na
interligação entre as principais regiões da cidade: Centro, Zona Sul e Zona Norte. Sua concepção
data dos anos 20, porém somente na década de 60 que o mesmo se tornou realidade.
O túnel Rebouças é, na realidade, um conjunto de dois túneis. O maior possuindo 2040m de
extensão e, o menor, 760m. Seu nome é dado em homenagem aos irmãos André e Antônio
Rebouças, engenheiros que contribuíram de maneira significativa para a realização de obras de
infraestrutura durante o Império [2].
Sua importância para a cidade é facilmente percebida quando o mesmo é interditado devido a algum
sinistro. A ligação do mesmo com vias importantes e centrais proporciona um fluxo diário de 190
mil veículos [3]. Sua contribuição também se dá no viés ambiental, pois, ao reduzir em cerca de
9km as viagens [4], reduz em, aproximadamente, 112,5t de CO2 emitidos diariamente [5].

2. OBJETIVO
Adaptar a metodologia GDE/UnB para aplicação em túneis, permitindo uma análise quantitativa do
estado de conservação destas OAE (Obras de Arte Especiais).

3. MÉTODOS

3.1 Metodologia GDE/UnB


Desenvolvida em 1994 por Castro [6], inicialmente foi pensada como uma modificação do método
proposto por Klein [7], e baseada nos estudos de Tuutti [8] para aplicação em edificações de uso
geral. Desde então, diversos trabalhos aplicaram e modificaram a metodologia para utilização em
outros tipos de estruturas, como, por exemplo, em pontes [9] e viadutos [10]. Uma grande
modificação foi feita por Fonseca [11] para adequar os resultados obtidos pelo método ao simular-
se intervenções na estrutura.
A metodologia consiste na atribuição de notas tanto para os elementos estruturais (Fp) quanto para
as patologias que se desenvolveram (Fi). A importância do elemento estudado no conjunto da
estrutura é apurada pelo fator Fr, que se combina ao fator Gdf para obter o fator K. Estas notas são
processadas a partir das seguintes equações:

(1)
(2)

(3)

(4)

O resultado final (Gd) é, então, comparado ao valor presente na Tabela 1.


Tabela 1 – Classificação da estrutura em função do Gd e ações recomendadas. [10]

Nível de deterioração Gd Ações recomendadas

Estado aceitável.
Baixo 0 – 15
Manutenção preventiva.
Definir prazo e natureza de nova inspeção.
Médio 15 – 50
Planejar intervenção em longo prazo (máximo 2 anos).
Definir prazo para inspeção especializada.
Alto 50 – 80
Planejar intervenção em médio prazo (máximo 1 ano).
Definir prazo para inspeção especializada rigorosa.
Sofrível 80 – 100
Planejar intervenção em curto prazo (máximo 6 meses).
Inspeção especializada imediata e medidas emergenciais (alívio
Crítico > 100 de cargas, escoramento, etc).
Planejar intervenção imediata.

3.2 Adaptação da metodologia para túneis


Os túneis possuem elementos únicos que os diferem de outras estruturas e obras de arte especiais.
Dessa maneira, propõe-se a utilização das famílias, patologias e valores de Fp e Fi presentes nas
tabelas 2 a 12, sendo o valor adotado para fissuras correspondente ao sugerido em [10].
Tabela 2 – Valores de Fp propostos para pista de rolamento.
Família: Pista de rolamento
Patologia Fp
Descontinuidade 5
Desgaste superficial 5
Desgaste da sinalização 5
Tabela 3 – Valores de Fp propostos para guarda rodas.
Família: Guarda-rodas
Patologia Fp
Carbonatação do concreto 3
Cobrimento deficiente 3
Contaminação por cloretos 4
Corrosão de armaduras 5
Desagregação 3
Desplacamento 3
Eflorescência 2
Falha de concretagem 2
Fissuras *
Manchas 3
Sinais de esmagamento 4
Tabela 4 – Valores de Fp propostos para revestimento arquitetônico.
Família: Revestimento arquitetônico
Patologia Fp
Desplacamento 5
Fissuras *
Manchas 3
Eflorescência 3
Infiltração de água 3
Tabela 5 – Valores de Fp propostos para junta de dilatação.
Família: Junta de dilatação
Patologia Fp
Obstrução de junta 5
Desgaste do material de preenchimento da junta 5
Umidade 5
Tabela 6 – Valores de Fp propostos para vigas secundárias.
Família: Vigas secundárias
Patologia Fp
Carbonatação do concreto 3
Cobrimento deficiente 3
Contaminação por cloretos 4
Corrosão de armaduras 5
Desagregação 3
Desplacamento 3
Eflorescência 2
Fissuras *
Falhas de concretagem 2
Flechas 5
Infiltração de água 3
Manchas 3
Sinais de esmagamento 5
Tabela 7 – Valores de Fp propostos para lajes secundárias.
Família: Lajes secundárias
Patologia Fp
Carbonatação do concreto 3
Cobrimento deficiente 3
Contaminação por cloretos 3
Corrosão de armaduras 5
Desagregação 3
Desplacamento 3
Eflorescência 2
Falhas de concretagem 2
Fissuras *
Flechas 5
Infiltração de água 3
Manchas 3
Tabela 8 – Valores de Fp propostos para pilares.
Família: Pilares
Patologia Fp
Carbonatação do concreto 3
Cobrimento deficiente 3
Contaminação por cloretos 4
Corrosão de armaduras 5
Desagregação 3
Desplacamento 3
Desvio de geometria 4
Eflorescência 2
Falha de concretagem 3
Fissuras *
Manchas 3
Recalque 5
Sinais de esmagamento 5
Umidade excessiva na infraestrutura 4
Deslocamento por empuxo 5
Tabela 9 – Valores de Fp propostos para vigas principais.
Família: Vigas principais
Patologia Fp
Carbonatação do concreto 3
Cobrimento deficiente 3
Contaminação por cloretos 4
Corrosão de armaduras 5
Desagregação 3
Desplacamento 3
Eflorescência 2
Fissuras *
Falhas de concretagem 2
Flechas 5
Infiltração de água 3
Manchas 3
Sinais de esmagamento 5
Deslocamento por empuxo 5
Tabela 10 – Valores de Fp propostos para lajes principais.
Família: Lajes principais
Patologia Fp
Carbonatação do concreto 3
Cobrimento deficiente 3
Contaminação por cloretos 4
Corrosão de armaduras 5
Desagregação 3
Desplacamento 3
Eflorescência 2
Falhas de concretagem 2
Fissuras *
Flechas 5
Infiltração de água 3
Manchas 3
Tabela 11 – Valores de Fp propostos para revestimento estrutural.
Família: Revestimento estrutural
Patologia Fp
Desplacamento 3
Eflorescência 3
Manchas 3
Infiltração de água 3
Desagregação 3
Cobrimento deficiente 3
Corrosão de armaduras 5
Fissuras *
Tabela 12 – Valores de Fi propostos.

Tipos de danos Valores de Fi


1 – localizada, com regiões com pH < 9, sem afetar as armaduras;
2 – localizada, atingindo a armadura, em ambiente seco;
Carbonatação
3 – localizada, atingindo a armadura, em ambiente úmido;
4 – generalizada, atingindo a armadura, em ambiente úmido.
1 – menores que o previsto em norma, sem, no entanto, permitir a localização da
armadura;
Cobrimento deficiente
2 – menor que o previsto em norma, permitindo a localização visual da armadura
ou armadura exposta em pequenas extensões;
3 – deficiente, com armaduras expostas em extensões significativas.
2 – elementos abrigados sem umidade;
Contaminação por
3 – elementos no exterior sem umidade;
cloretos
4 – ambientes úmidos.
2 – manifestações leves, pequenas manchas;
3 – grandes manchas e/ou fissuras de corrosão;
Corrosão de armaduras
4 – corrosão acentuada da armadura principal, com perda relevante de seção (>
20% do diâmetro).
2 – início de manifestação;
Desagregação 3 – manifestações leves, início de estofamento do concreto;
4 – por perda acentuada de seção e esfarelamento do concreto.
Deslocamento por 3 – deslocamento lateral da parede no sentido horizontal, estável;
empuxo 4 – deslocamento lateral da parede no sentido horizontal, instável.
2 – pequenas descamações do concreto;
Desplacamento 3 – lascamento de grandes proporções, com exposição da armadura;
4 – lascamento acentuado com perda relevante de seção.
2 – pilares com excentricidade e ≤ h/100 (h = altura)
Desvio de geometria 3 – pilares com excentricidade h/100 < e < h/50
4 – pilares com excentricidade e ≥ h/50
1 – início de manifestações;
2 – manchas de pequenas dimensões;
Eflorescência
3 – manchas acentuadas, em grandes extensões;
4 – grandes formações de crostas de carbonato de cálcio (estalactites).
1 – superficial e pouco significativa em relação às dimensões da peça;
2 – significativa em relação às dimensões da peça;
Falha de concretagem 3 – significativa em relação às dimensões da peça, com ampla exposição da
armadura;
4 – perda relevante da seção transversal da peça (> 20% da área).
1 – abertura menores do que as máximas previstas em norma;
2 – estabilizadas, com abertura até 40% acima dos limites da norma;
Fissuras
3 – aberturas excessivas, estabilizadas;
4 – aberturas excessivas, não estabilizadas.
1 – não perceptíveis a olho nu;
2 – perceptíveis a olho nu, dentro dos limites previstos na norma;
Flechas
3 – superiores em até 40% às previstas na norma;
4 – excessivas.

Devido a estrutura única que os túneis possuem foi necessário alterar valores de parâmetros da
metodologia, a começar pelo fator de relevância estrutural (Fr) – Tabela 13.
Tabela 13 – Valores de Fr propostos.

Família Fr

Pista de rolamento, guarda rodas 1


Revestimento arquitetônico, vigas e lajes secundárias, juntas de dilatação 2
Pilares, vigas e lajes principais, revestimento estrutural 3
A família de revestimento arquitetônico considera os materiais utilizados com fins estéticos, que,
por ventura, impeçam a visualização da estrutura, como revestimento cerâmico, por exemplo. Os
elementos considerados secundários não influenciam na estabilidade do túnel, porém, trazem
transtornos para o mesmo em caso de falha. Quando a estrutura do túnel for constituída por aduelas
protendidas ou cambotas de concreto moldadas no local, será adotada a família de revestimento
estrutural. Quando a estrutura for composta por elementos lineares e planos, comuns no sistema cut-
and-cover, estes serão os chamados elementos principais.
Ao adotar-se estas alterações, é necessário adequar a equação (4), de forma a manter a escala
original da metodologia, evitando que seja necessário alterar os valores da Tabela 1. Para isso,
foram consideradas duas estruturas: uma edificação qualquer e um túnel. Em ambas, foi
considerado o valor máximo de dano ocorrendo simultaneamente em todas as patologias (D = 100).
Dessa maneira, a equação (2) torna-se função somente do número de patologias em cada família –
Tabela 14 – fornecendo o valor de Gde,máx.
Tabela 14 – Quantidade de patologias em cada família.

Famílias n

Pista de rolamento 3

Guarda rodas 11

Revestimento arquitetônico 5

Junta de dilatação 3

Vigas secundárias 13

Lajes secundárias 12

Pilares 15

Vigas principais 14

Lajes principais 12

Revestimento estrutural 8

Ao adotar-se um número muito grande de elementos para cada família (m → ∞), chega-se a um
valor limite para Gdf:
(5)

Assim, comparando-se os resultados de cada estrutura, pôde-se chegar a um fator de escala


correspondente a 1/4,25, transformando a equação (4) em:

(6)
3.3 Determinação do tamanho da amostra
Devido a diversidade dos túneis na cidade do Rio de Janeiro, foi realizada uma análise para
determinação do espaço amostral adequado para realização do estudo, a partir da equação [12]:

(7)

Para tal, considerou-se como universo um comprimento total (N) de 19030m, desvio padrão
máximo de 95% (z = 1,96), erro máximo (e) de 5% e uma proporção (p) de 71% (relação entre o
comprimento total dos túneis elegíveis a aplicação da metodologia e o universo), obtendo-se uma
amostra de 311,24m.
O estudo no túnel Rebouças deu-se no período de outubro de 2016 a março de 2018, em veículo
automotor (carro e ônibus). Devido a má iluminação no interior do túnel não foi possível fazer um
registro fotográfico das inspeções.

4. RESULTADOS

Os elementos analisados foram divididos, de acordo com a posição, em:

a) G1 ZS – galeria 1, sentido zona sul;

b) G2 ZS – galeria 2, sentido zona sul;

c) G1 ZN – galeria 1, sentido zona norte;

d) G2 ZN – galeria 2, sentido zona norte.

Os cálculos foram realizados com auxílio de planilha eletrônica, sendo os resultados individuais
apresentados nas tabelas 15, 16 e 17, e os resultados totais agrupados nas tabelas 18 e 19.
Tabela 15 – Resultados para pista de rolamento.

Elemento Patologia Fp Fi D
Pista de Rolamento – G1 ZS Descontinuidade 5 1 4
Pista de Rolamento – G1 ZS Desgaste superficial 5 3 40
Pista de Rolamento – G1 ZS Desgaste da sinalização 5 3 40
Pista de Rolamento – G2 ZS Descontinuidade 5 1 4
Pista de Rolamento – G2 ZS Desgaste superficial 5 3 40
Pista de Rolamento – G2 ZS Desgaste da sinalização 5 3 40
Pista de Rolamento – G1 ZN Descontinuidade 5 1 4
Pista de Rolamento – G1 ZN Desgaste superficial 5 3 40
Pista de Rolamento – G1 ZN Desgaste da sinalização 5 3 40
Pista de Rolamento – G2 ZN Descontinuidade 5 1 4
Pista de Rolamento – G2 ZN Desgaste superficial 5 3 40
Pista de Rolamento – G2 ZN Desgaste da sinalização 5 3 40

Tabela 16 – Resultados para guarda rodas.

Elemento Patologia Fp Fi D
Guarda rodas – G1 ZS Corrosão de armaduras 5 4 100
Guarda rodas – G1 ZS Desplacamento 3 4 60
Guarda rodas – G1 ZS Eflorescência 2 2 3,2
Guarda rodas – G1 ZS Manchas 3 4 60
Guarda rodas – G2 ZS Corrosão de armaduras 5 4 100
Guarda rodas – G2 ZS Desplacamento 3 4 60
Guarda rodas – G2 ZS Eflorescência 2 2 3,2
Guarda rodas – G2 ZS Manchas 3 4 60
Guarda rodas – G1 ZN Corrosão de armaduras 5 4 100
Guarda rodas – G1 ZN Desplacamento 3 4 60
Guarda rodas – G1 ZN Eflorescência 2 2 3,2
Guarda rodas – G1 ZN Manchas 3 4 60
Guarda rodas – G2 ZN Corrosão de armaduras 5 4 100
Guarda rodas – G2 ZN Desplacamento 3 4 60
Guarda rodas – G2 ZN Eflorescência 2 2 3,2
Guarda rodas – G2 ZN Manchas 3 4 60

Tabela 17 – Resultados para revestimento estrutural.

Elemento Patologia Fp Fi D
Revestimento estrutural – G1 ZS Desplacamento 3 1 2,4
Revestimento estrutural – G1 ZS Eflorescência 2 3 16
Revestimento estrutural – G1 ZS Manchas 2 4 40
Revestimento estrutural – G1 ZS Infiltração de água 3 3 24
Revestimento estrutural – G2 ZS Desplacamento 3 1 2,4
Revestimento estrutural – G2 ZS Eflorescência 2 3 16
Revestimento estrutural – G2 ZS Manchas 2 4 40
Revestimento estrutural – G2 ZS Infiltração de água 3 3 24
Revestimento estrutural – G1 ZN Desplacamento 3 1 2,4
Revestimento estrutural – G1 ZN Eflorescência 2 3 16
Revestimento estrutural – G1 ZN Manchas 2 4 40
Revestimento estrutural – G1 ZN Infiltração de água 3 3 24
Revestimento estrutural – G2 ZN Desplacamento 3 1 2,4
Revestimento estrutural – G2 ZN Eflorescência 2 3 16
Revestimento estrutural – G2 ZN Manchas 2 4 40
Revestimento estrutural – G2 ZN Infiltração de água 3 3 24

Tabela 18 – Resultados de Gde e Gdf.

Elemento Família Gde Gdf


Pista de rolamento – G1 ZS Pista de rolamento 60,95
Pista de rolamento – G2 ZS Pista de rolamento 60,95
80,63
Pista de rolamento – G1 ZN Pista de rolamento 60,95
Pista de rolamento – G2 ZN Pista de rolamento 60,95
Guarda rodas – G1 ZS Guarda rodas 155,20
Guarda rodas – G2 ZS Guarda rodas 155,20
205,31
Guarda rodas – G1 ZN Guarda rodas 155,20
Guarda rodas – G2 ZN Guarda rodas 155,20
Revestimento estrutural – G1 ZS Revestimento estrutural 60,58
Revestimento estrutural – G2 ZS Revestimento estrutural 60,58
80,14
Revestimento estrutural – G1 ZN Revestimento estrutural 60,58
Revestimento estrutural – G2 ZN Revestimento estrutural 60,58

Tabela 19 – Resultado de Gd.

Família Gdf Fr K Gd
Pista de rolamento 80,63 1 80,63
Guarda rodas 205,31 1 205,31 70,28
Revestimento estrutural 80,14 3 240,43

O valor de Gd encontrado (70,28) classifica a estrutura como alto grau de deterioração, sendo
recomendado que haja intervenção em, no máximo, 1 ano.

5. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
O trabalho apresentou uma proposta inovadora de aplicação da metodologia GDE/UnB a túneis,
obtendo resultados considerados satisfatórios por cumprir o objetivo inicialmente definido. Os
valores de deterioração encontrados foram elevados, o que era esperado, devido a infiltração
constante de água, observada ser mais intensa no encontro entre os diversos módulos que compõe a
estrutura, devido à falta de tratamento das juntas entre os mesmos.
Foi observado também manifestações de eflorescências, concentradas principalmente próximo as
juntas, porém, não restritas a elas. Quando ocorrem em outros locais, indicam percolação de
material carbonatado através da rede porosa do concreto [13]. O processo de carbonatação é
alimentado devido ao depósito constante de óxidos de carbono oriundos da exaustão dos veículos,
formando manchas escuras nas paredes de toda a extensão do túnel.
Os guarda rodas apresentam elevado desgaste devido a colisão de veículos e ausência de reparos,
sendo possível observar marcas que comprovem estes impactos, se fazendo necessária a
recuperação completa dos mesmos. O pavimento, em geral, apresenta-se em boas condições,
necessitando de manutenção da sinalização.
É interessante notar que ao simular uma situação pós-intervenção, onde seriam realizadas a limpeza
com jateamento de água nas paredes do túnel, tratamento das juntas entre placas e recomposição
dos guarda rodas, o resultado reprocessado da metodologia cairia para um estado aceitável, sendo
indicada somente a manutenção periódica que toda estrutura deveria receber.

REFERÊNCIAS
[1] O GLOBO. Rio, cidade dos túneis. Jornal O Globo, 2015. Disponivel em: <infograficos.oglobo.globo.com/rio/rio-
cidade-dos-tuneis.html>. Acesso em: 20 de outubro de 2017.
[2] COMITÊ BRASILEIRO DE TÚNEIS. Túneis do Brasil. São Paulo: DBA, 2006.
[3] VEJA RIO. Túnel Rebouças completa 50 anos em 2017. Veja Rio, 2017. Disponivel em:
<https://vejario.abril.com.br/cidades/tunel-reboucas-completa-50-anos-em-2017/>. Acesso em: 5 de abril de 2018.
[4] O GLOBO. Túneis Santa Bárbara e Rebouças, criados na década de 60, unem zonas Norte e Sul. Acervo O
Globo, 2017. Disponivel em: <http://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/tuneis-santa-barbara-reboucascriados-
na-decada-de-60-unem-zonas-norte-sul-20760020>. Acesso em: 5 de abril de 2018.
[5] ESTADÃO. Carros levam 30% dos passageiros, mas respondem por 73% das emissões em SP.
Sustentabilidade Estadão, 2017. Disponivel em: <http://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,carros-
transportam-30-dospassageiros-mas-respondem-por-73-das-emissoes-em-sp,70001806416>. Acesso em: 5 de abril
de 2018.
[6] CASTRO, Eliane Kraus de. Desenvolvimento de metodologia para manutenção de estruturas de concreto
armado. Universidade de Brasília. Brasília. 1994.
[7] KLEIN, D. et al. Critérios adotados na vistoria de obras de arte. XXV Jornadas Sul-Americanas de Engenharia
Estrutural. Porto Alegre: [s.n.]. 1991. p. 185-196.
[8] TUUTTI, Kyösti. Corrosion of steel in concrete. Swedish Cement and Concrete Research Institute. Estocolmo.
1982.
[9] EUQUERES, Priscilla. Metodologia de inspeção em estruturas de pontes de concreto armado. Universidade
Federal de Goiás. Goiânia. 2011.
[10] VERLY, Rogério Calazans. Avaliação de metodologias de inspeção como instrumento de priorização de
intervenções em obras de arte especiais. Universidade de Brasília. Brasília. 2015.
[11] FONSECA, Régis Pamponet da. A estrutura do instituto central de ciências: aspectos históricos, científicos e
tecnológicos de projeto, execução, intervenções e proposta de manutenção. Universidade de Brasília. Brasília. 2007.
[12] OCHOA, Carlos. Qual é o tamanho da amostra que eu preciso?. Netquest, 2013. Disponivel em:
<https://www.netquest.com/blog/br/blog/br/qual-e-o-tamanho-deamostra-que-preciso>. Acesso em: 4 de março de
2018.
[13] SANTOS, Amaro Francisco Codá dos. Análise do concreto dos blocos de fundação da ponte Rio-Niterói.
Universidade Federal Fluminense. Niterói. 2018.
ESTRUTURAS PRÉ-FABRICADAS DE CONCRETO PARA USO
AGRÍCOLA

Precast concrete structures for agricultural use

Ricardo Leme de Calais1, Luciane Sandrini Dias2, Thiago Marques3


1
Centro Universitário de Jaguariúna, Jaguariúna, Brasil, ricardocalais@gmail.com
2
Centro Universitário de Jaguariúna, Jaguariúna, Brasil, lusdias74@gmail.com
3
Centro Universitário de Jaguariúna, Jaguariúna, Brasil, e.projethos@gmail.com

Resumo: Desde o início da exploração comercial pós-descobrimento, a agricultura no Brasil sofreu


inúmeras modificações em sua estrutura. A partir de 1960, desenvolveu-se tanto que ganhou papel
de destaque na economia. Muitos pesquisadores e institutos de pesquisa enxergaram essa evolução
e começaram a destacar-se pela relevância das suas pesquisas procurando auxiliar a agricultura
brasileira, propondo bases técnicas necessárias ao seu desenvolvimento. As estruturas de concreto
estão cada vez mais presentes no Brasil e no mundo. Isso se justifica por alguns motivos centrais. O
primeiro deles é a abundância dos materiais que o compõem (cimento, agregados e água). O
segundo se relaciona com sua forte estrutura quando comparado a outros materiais, como a madeira,
por exemplo, que é mais suscetível às intempéries ambientais. Por fim seu fácil uso e aplicação em
diferenciados tipos de construção. Levando-se em conta essas vantagens construtivas e com o
intuito de baixar o custo de fabricação, algumas empresas especializadas criaram uma linha de
artefatos de concreto específicos para uso em atividades agrícolas fabricados em série, como
cochos, bebedouros, currais e mata-burros. Além de adaptar artefatos já comumente utilizados nas
cidades, que por sua versatilidade servem também para o uso em propriedades rurais como por
exemplo manilhas, anéis de poço e blocos. Há demanda para produtos de concreto no setor
agropecuário, porém, como a maioria dos agricultores é de pequeno porte (agricultura familiar), o
custo inicial das peças ainda pesa na escolha. No caso dos cochos e bebedouros, existem vários
pequenos fabricantes, alguns até que “adaptam” estruturas no formato de canaletas para serem
vendidas como cocho, mas a qualidade final deixa a desejar. No caso dos silos, que são estruturas
para armazenar grãos e insumos, são comumente encontrados os fabricados em estrutura metálica.
Há no Brasil uma gama de universidades trabalhando com pesquisas na utilização de estruturas de
concreto para tal fim, entretanto, estas não se mostraram adaptáveis a toda a gama de grãos,
sementes, rações e insumos agrícolas. O concreto, apesar de relativamente novo na relação homem-
natureza, apresenta-se como uma peça chave, podendo ter várias aplicações que resultam na
melhoria da vida do homem do campo, na produtividade de seu trabalho e durabilidade de seus
equipamentos. A área de produção e desenvolvimento de novas técnicas de uso e tecnologias de
construção e aplicação de artefatos de concreto, vislumbra uma promissora carreira no ramo da
engenharia civil, seja na área de pesquisa e desenvolvimento ou no empreendedorismo.

Palavras-chave: Agricultura, Artefatos de cimento, Pré-fabricados.


Abstract: Since the beginning of commercial operation after the discovery, agriculture in Brazil has
undergone numerous modifications in your structure. From 1960, has developed so much that he
won a major role in the economy. Many researchers and research institutes recognized this
evolution and began to stand out for the relevance of his research looking for the brazilian
agriculture, proposing technical bases needed for your development. Concrete structures are
increasingly present in Brazil and in the world. This is justified for a few reasons. The first one is
the abundance of its component materials (cement, aggregates and water). The second relates to
your Fort structure when compared to other materials, like wood, for example, which is more
susceptible to bad weather. Finally your easy use and application in different types of construction.
Taking into account these constructive and advantages in order to lower the cost of manufacture, a
few specialized companies created a line of specific concrete artifacts for use in agricultural
activities manufactured in series, as troughs, troughs , corrals and kill donkeys. In addition to
adapting artifacts already commonly used in cities, that by your versatility also serve for use on
rural properties such as shackles, rings of well and blocks. There is demand for concrete products in
the agricultural sector, however, as most farmers are small businesses (agriculture), the initial cost
of the parts still weighs on choice. In the case of troughs and drinkers, there are several small
manufacturers, some until "adjust" structures in the form of channels to be sold as a trough, but the
quality leaves something to be desired. In the case of silos, which are structures for storing grains
and inputs, are commonly found the manufactured in metallic structure. There are in Brazil a range
of universities working with research in the use of concrete structures to that end, however, these
were not adaptable to the full range of grains, seeds, feed and agricultural inputs. The concrete,
though relatively new in the relationship man-nature, presents itself as a key, and may have various
applications that result in improvement of the life of man of the field, in your work productivity and
durability of its equipment. The area of production and development of new techniques and
technologies of construction and application of concrete artifacts, glimpsed a promising career in
the field of civil engineering, is in the area of research and development or entrepreneurship.

Keywords: Agriculture, cement artifacts, prefabricated.

1. INTRODUÇÃO
Desde o início da exploração comercial pós-descobrimento, a agricultura no Brasil sofreu inúmeras
modificações em sua estrutura. A partir da década de 1960, desenvolveu-se tanto que ganhou papel
de destaque na economia do país. Segundo Kageyama (2004) a modernização pela qual passou a
agricultura fez com que as diferenças antes gritantes entre campo e cidade fossem minimizadas.
Dessa forma o ambiente rural também passou a significar evolução tecnológica e
multifuncionalidade (NAVARRO, 2001). Tanto que passou a utilizar-se, entre outras, de técnicas
da engenharia, entre elas a civil para aprimorar-se.
Muitos pesquisadores e institutos de pesquisa enxergaram essa evolução e começaram a se destacar
pela relevância dos seus estudos e investigações, procurando auxiliar a agricultura brasileira, de
modo a propor bases técnicas necessárias ao seu desenvolvimento. Isso, sempre se levando em
conta a realidade do homem do campo, uma vez que o desempenho da produção depende da
observância das recomendações técnicas e sua aplicabilidade. A teoria, nesse caso tem que aliar-se a
prática.
Na agricultura, por exemplo, é necessário analisar o perfil agro socioeconômico dos agricultores e
da agricultura praticada naquela área em questão. A aplicação das técnicas e o teste de novos
procedimentos e métodos inéditos de investigação vão variar tanto de região para região como
depender do tipo de cultura escolhido. Assim, o grande desafio é descobrir a melhor combinação
entre as pesquisas, as melhores técnicas e os menores custos de implantação.
1.1 Agricultura no brasil: cenário
Para entender a agricultura e as mudanças que aconteceram no espaço geográfico brasileiro, é
necessário situar qual era o cenário no Brasil nos anos de 1920, período antecessor à Revolução de
1930. Até essa época, o sistema produtivo adotado no Brasil era baseado em um modelo primário-
exportador, em que todas as fases de desenvolvimento tinham como premissa um único produto, o
qual era destinado à exportação. Podemos exemplificar os casos do pau-brasil, do açúcar, do couro
e do café (FURTADO, 1959). A base econômica era representada por um produto produzido ou
extraído do setor primário, nomeado agricultura de extrativismo, que tivesse muita aceitação no
mercado externo.
O grande problema do modelo adotado era que, quando o principal produto de exportação entrava
em baixa, influenciava diretamente na economia do País, acentuando a crise econômica (FAUSTO,
1997). Impactando imediatamente a capacidade de importação de mercadorias importantes ao
abastecimento do mercado interno. Nesse contexto, o crescimento econômico era totalmente
dependente do desempenho verificado no setor que produzia para o mercado externo.
A realidade desse sistema é que se era obrigado a conviver com instabilidades constantes e ficava
cada vez mais evidente a fragilidade econômica, o que evidenciava os casos de crises, como a do
café, que foi o principal produto a partir de meados de 1850 até a década de 1930. A crise do café
acentuou-se em toda a década de 20, naquele momento, todo mercado interno era movimentado
através da comercialização de produtos ligados ao mundo do café.
A partir do governo de Getúlio Vargas, a política extrativista deu lugar ao desenvolvimento do
Capitalismo, através dos investimentos e incentivos à consolidação das indústrias e à consolidação
do mercado consumidor. Nesse contexto, além de diminuir o tempo entre as regiões através dos
diversos meios de transporte e, consequentemente, integrar os centros comerciais, os povoados e os
produtores, era necessário garantir o abastecimento de alimentos e matérias-primas para a
população e fábricas concentradas na região sudeste. Logo, era necessário estabelecer e constituir
um mercado consumidor de produtos industrializados.
1.2 Era da modernização da agricultura
Essas relações se estabeleceram no Brasil até meados da década de 60. No período, o êxodo rural
era a principal causa dos fracassos dos projetos rurais, dando espaço aos grandes latifúndios,
incentivados pelas isenções fiscais e crédito facilitado proposto pelo Governo Federal.
Com isso, entra em cena a criação dos centros de pesquisa, dos órgãos específicos para apoiar a
agricultura latifundiária, e assim sendo, inicia-se a era da modernização na Agricultura Brasileira,
também conhecida como “Revolução Verde”. De acordo com Almeida (1977) essa época
representou muito mais que uma modernização nas estruturas físicas, mas uma revolução na
maneira de se pensar a agricultura.
Nessas circunstâncias, deu-se lugar a uma nova fase de produção e o aumento de projetos,
executados também por empresas particulares e os vários programas criados de desenvolvimento
Industrial, proporcionando novas pesquisas e tecnologias, que vêm sendo aplicadas e utilizadas até
os dias de hoje.
Inclusive, o governo celebrou convênios de infraestrutura rural para a execução de projetos, abrindo
frentes para a Engenharia Civil, tais como: centros comunitários, abatedouros, centros de
comercialização, estradas vicinais, entre muitos outros.

2 OBJETIVOS
Conhecer e entender a historia da introdução, a aplicabilidade e a possibilidade de nichos de
mercado para a atuação na área de engenharia civil, aplicado à agricultura.

3 MÉTODOS
3.1 Concreto simples
O concreto é um material formado pela mistura de cimento, água, agregado miúdo (areia) e
agregado graúdo (pedra ou brita), e ar. A fim de melhorar suas propriedades, podem ser anexados
elementos como cinza volante, pozolanas, sílica ativa e aditivos químicos (FUSCO, 1976; p.298).
As estruturas feitas de concreto estão cada vez mais presentes no Brasil e no mundo. Isso se
justifica por alguns motivos centrais. O primeiro deles é a abundância dos materiais que o compõem
(cimento, agregados e água). O segundo se relaciona com sua forte estrutura quando comparado a
outros materiais, como a madeira, por exemplo, que é mais suscetível às intempéries ambientais.
Por fim seu fácil uso e aplicação em diferenciados tipos de construção.
A grande questão é que o concreto é um material com altíssima resistência às tensões de
compressão, porém, baixa resistência à tração (cerca de 10 % da sua resistência à compressão).
Dessa forma, é muito importante a união do concreto com um material que lhe forneça essa segunda
característica. É justamente dessa necessidade que surge o concreto armado, que vai unir o concreto
a estruturas de aço (LEONHARDT, 1982; p305).
3.2 Concreto armado: conceito e aplicações
Esse concreto é definido, de acordo com Leonhardt (1982) como sendo todas as estruturas que em
seu interior apresentam armações de aço e concreto. O conceito básico do que é concreto armado é:
Concreto armado = concreto simples + armadura + aderência
As barras de aço existentes embutidas nas peças de concreto existem para suprir as deficiências do
concreto a esforço de tração. Com a utilização do aço na estrutura, obtém-se uma maior resistência.
Dessa forma ele é indispensável em estruturas de concreto, uma vez que os esforços exercidos sobre
elas são muito altos. São exemplos de estruturas de concreto que recebem maior esforço: vigas,
lajes, pilares, sapatas e estacas.
Para dar início à execução dessas estruturas de concreto, primeiramente, é necessário que as
mesmas sejam projetadas por um engenheiro civil especialista, mais conhecido no mercado como
“engenheiro calculista”.
É a partir de análises e estudos de projetos feitos por ele, que serão determinados os tipos de
estruturas e o diâmetro das armaduras de aço que serão utilizados em cada construção, bem como os
espaçamentos das barras de aço e o dimensionamento das peças de concreto a serem produzidas.
Assim, no projeto de execução, estarão discriminadas todas as informações necessárias para a
construção das estruturas.
3.3 Concreto armado e os silos
Na amplitude da construção civil, o concreto armado pode ser utilizado como elemento estrutural.
No caso da aplicação na agricultura, pode ser tomado como um dos inúmeros exemplos, o
armazenamento em silos. Estes são construídos no sentido vertical e utilizados para estocagem de
grãos.
Foram criados como forma de estimular os agricultores a terem uma maior rentabilidade econômica
e boa qualidade de seus insumos (SAFARIAN; HARRIS, 1985; 01 p.). Os silos são construídos na
posição vertical em formato cilíndrico, com saída de escoamento em formato cônico na sua base. Aí
nota-se que engenharia civil e agricultura podem andar de mãos dadas.
Com a construção de silos de concreto armado em suas fazendas ou cooperativas próximas, os
produtores poderão economizar em fretes, que antes eram destinados a silos de maior distância e
guardar sua produção para venda numa época mais rentável, de forma segura e garantindo a
continuidade da qualidade de seus produtos.
Nos silos convencionais (metálicos) ocorrem algumas desvantagens, de acordo com Safarian e
Harris (1985), apesar da sua construção ter maior agilidade, por serem de chapas de aço, os silos
convencionais têm uma perda de temperatura significativa, teor de umidade alta e até mesmo
presença de pragas e/ou roedores. Essas desvantagens vão afetar diretamente na qualidade dos
grãos, podendo assim diminuir sua durabilidade.
Já os silos de concreto armado possuem ótimos resultados como isolantes, podem ser facilmente
moldados e requerem menos manutenção que outros materiais (SAFARIAN; HARRIS, 1985; 01
p.).
Mas ainda assim, os silos de concreto armado são mais pesados e pode ocorrer alguma entrada de
umidade devido a fissuras causadas pelos esforços exercidos em suas paredes internas pelos grãos
armazenados (SAFARIAN; HARRIS, 1985; 01 p.). Porém esse problema pode ser facilmente
resolvido fazendo com que ele não afete a qualidades dos insumos armazenados.
3.4 Concreto pré-moldado para uso agrícola
Levando-se em conta parte das vantagens construtivas apresentadas anteriormente e com o intuito
de baixar o custo de fabricação, algumas empresas especializadas criaram uma linha de artefatos de
concreto específicos para uso em atividades agrícolas fabricados em série. Alem de adaptar os
artefatos já comumente utilizados nas cidades, que por sua versatilidade servem também para o uso
em propriedades rurais.
Dentre os de uso comum, podemos citar (PEC FORMAS, 2018):
● Manilhas: usadas principalmente em drenagens e passagens de água (Fig.1);
Figura 1 - Manilha de concreto
● Anéis de poço: utilizados para a contenção dos próprios poços e construção de fossas
sépticas (Fig.2);

Figura 2 - Anel de poço de concreto


● Blocos: utilizados em construções em geral (Fig.3);

Figura 3 - Blocos de concreto


● Bloquetes (intertravados ou sextavados): usados na pavimentação de vias e terreiros
(Fig.4);

Figura 4 - Bloquete de concreto


● Canaletas: utilizadas para o escoamento de águas superficiais, drenagens (Fig.5);

Figura 5 - Canaleta
Quanto aos artefatos de uso propriamente agrícola, podemos citar (CURRAIS ITABIRA, 2017
):
● Currais: todo confeccionado em placas e mourões de concreto (Fig.6);
Figura 6 - Curral de concreto
● Cochos: para sal ou rações (Fig.7);

Figura 7 - Cocho de concreto


● Bebedouros: para a dessedentação de animais (Fig.8);

Figura 8 - Bebedouro de concreto


● Mata-Burros: idealizado para facilitar o trânsito de veículos e evitar o acesso a
animais (Fig.9);

Figura 9 - Mata burro de concreto


Há ainda disponível na web page da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP) e em
associações de produtores rurais, manuais que no passado eram distribuídos aos comerciantes de
cimento, que ensinam técnicas construtivas de artefatos de cimento para tais usos. Estes estão
disponíveis em 3 volumes, que formam o “Guia de Construções Rurais a base de cimento”. São
esses volumes: “Benfeitorias de uso geral”, “Como usar os materiais” e “Benfeitorias para
bovinocultura”.
Nestes fascículos, são abordados temas relevantes de forma explicativa e com várias imagens,
visando facilitar o acesso para todos os tipos de pessoas. Neles podemos aprender vários tipos de
construções, desde como fazer seus próprios mourões de concreto (com as medidas da armação de
aço) até como construir uma casa, estábulos e ranchos para animais e maquinário.

4 DISCUSSÃO
A partir dessa análise, verificou-se que existe uma demanda para uma grande variedade de artefatos
de concreto no setor agropecuário, no entanto, como a maioria dos agricultores é de pequeno porte
(agricultura familiar), o custo inicial das peças ainda pesa na escolha do final, uma vez que o
produtor prefere construir suas estruturas e acessórios pertinentes em madeira, material mais barato
e fácil de ser encontrado e transportado.
Outro ponto a que se verificou, foi a falta de concorrência de fábricas de acessórios para
bovinocultura. Hoje o mercado é dominado por um só fabricante (no caso dos currais) localizado
em Cachoeiro do Itapemirim - ES, o que torna oneroso até mesmo o frete desse produto até o
mercado consumidor, sem falar que esse fabricante possui somente projetos para grandes
propriedades, com um alto número de animais, inviabilizando o acesso aos pequenos produtores.
No caso de cochos, bebedouros e mata-burros, existem vários pequenos fabricantes, alguns até que
“adaptam” estruturas no formato de canaletas para serem vendidas como cocho, porém pela imagem
captada pela internet, atesta-se a falta qualidade no acabamento do produto. Galpões de estrutura
pré-fabricada dificilmente são vistos nas propriedades rurais. Nelas encontramos comumente
barracões com estrutura de madeira e, poucas vezes, de estrutura metálica (que não proporciona o
mesmo conforto térmico que o concreto).
Já no caso dos silos, que são estruturas para armazenar grãos e insumos, são mais comumente
encontrados fabricados em estrutura metálica (SAFARIAN; HARRIS, 1985; 01 p.). Há no Brasil
toda uma grande gama de universidades trabalhando com pesquisas na utilização de estruturas de
concreto para tal fim. Entretanto, as estruturas de concreto não se mostraram adaptáveis a toda a
gama de grãos, sementes, rações e insumos armazenados na agricultura.

5 CONCLUSÕES
Após levantamento, pode-se concluir que o concreto, apesar de relativamente novo na relação
homem-natureza, apresenta-se como uma peça chave, podendo ter várias aplicações que resultam na
melhoria tanto da vida do homem do campo quanto na produtividade de seu trabalho e durabilidade
de seus equipamentos.
Atesta-se também que o trabalho, tanto na produção quanto no desenvolvimento de novas técnicas
de uso e tecnologias de construção e aplicação de artefatos de concreto, vislumbra uma promissora
carreira futura no ramo da engenharia civil, seja na área de pesquisa e desenvolvimento ou no
empreendedorismo.
Para uma maior amplitude na utilização desses artefatos é necessária a criação de uma linha de
crédito governamental assim como maior investimento na divulgação para que tais produtos sejam
acessíveis aos pequenos produtores.
Essa mesma linha deveria proporcionar recursos à pesquisa de novas tecnologias construtivas e
modernização das fábricas, para que disponibilizem produtos de melhor qualidade a um preço mais
acessível. Há também a necessidade de maior divulgação de cartilhas educativas, a exemplo essas
da ABCP, que, mesmo sendo de distribuição gratuita, não atingem o público alvo de modo efetivo.

REFERÊNCIAS
[1] KAGEYAMA, A. et. al. O novo padrão agrícola brasileiro: do complexo rural aos complexos
agroindustriais. ln: DELGADO, G.; GASQUES, J.G.; VILLA VERDE, CM. Agricultura e
políticas públicas. Brasília: IPEA, 1990. 113-223 p.
[2] NAVARRO, Z. Desenvolvimento rural No Brasil: os limites do passado e os caminhos do
futuro. Estudos Avançados, v. 15, n. 43, 2001. 83-100 p.
[3] FURTADO, C. Formação Econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional,
1959.
[4] FAUSTO, B. Revolução de 1930: Historiografia e História. São Paulo: Ed. Companhia das
Letras, 1997.
[5] ALMEIDA, J. Da ideologia do progresso à ideia de desenvolvimento (rural) sustentável. In:
Almeida, J. e Navarro, Z. Reconstruindo a agricultura: ideias e ideais na perspectiva do
desenvolvimento rural sustentável. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1997, 33-55 p.
[6] FUSCO, P.B. Estruturas de Concreto - Fundamentos do Projeto Estrutural. São Paulo, Ed.
USP e McGraw-Hill, 1976, 298 p.
[7] LEONHARDT, F.; MÖNNIG, E. Construções de concreto – Princípios básicos do
dimensionamento de estruturas de concreto armado, v. 1. Rio de Janeiro, Ed. Interciência,
1982, 305 p.
[8] SAFARIAN, S.S.; HARRIS, E. C. Design and constructions of silos and bunkers. New York:
Van Nostrad Reinhold, 1985.
[9] PEC FORMAS: catálogo técnico geral. Disponível em: <http://www.pecformas.com.br>.
Acesso em 02 de novembro de 2016.
[10] CURRAIS ITABIRA: manual técnico. Disponível em: <http://www.curraisitabira.com.br>.
Acesso em 02 de novembro de 2016.
[11] ABCP. Guia de Construções Rurais a base de cimento, Fascículo 1, 2 e 3. Disponível em:
<http://www.abcp.org.br/cms/download/>. Acesso em 02 de novembro de 2016.
ANÁLISE DO PANORAMA DAS TRAVESSIAS EM PASSAGENS EM NÍVEL
FERROVIÁRIAS

Analysis of the situation of the Level Crossing

Márcio William da COSTA JÚNIOR1, Ana Maria STEPHAN²


1 Universidade Federal Fluminense, Niterói (RJ), Brasil, marcio.william@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora (MG), Brasil, ana.stephan@ufjf.edu.br

Resumo: A interface entre os modais rodoviário e ferroviário em um mesmo nível são as


denominadas Passagens em Nível (PN). Estas são problemáticas do ponto de vista rodoviário, uma
vez que há interrupções no tráfego, redução da velocidade para cruzar a ferrovia, investimentos em
equipamentos de sinalização e gera entraves para a mobilidade. Em relação a ferrovia, as PN
merecem atenção por serem consideradas grandes gargalos, pois afetam a eficiência do modal, além
do alto índice de acidentes ou paradas de emergências resultando na interrupção do tráfego. Este
estudo apresenta uma pesquisa exploratória sobre as Passagens em Nível nos mais variados
aspectos dando ênfase na segurança, estatísticas de acidentes, causas dos acidentes, ações para
redução do número de acidentes e o emprego de novas tecnologias comparando a realidade
brasileira com a européia. Embora os dados apontem para uma redução do número de acidentes no
país em relação às PN, a realidade brasileira está aquém da realidade internacional. Este atraso pode
ser justificado por anos de investimento no modal rodoviário em detrimento do ferroviário e a
fatores comportamentais da sociedade. No entanto, pode se concluir que houve uma redução no
número de acidentes desde 1997 no Brasil, embora tenha sido significativa, ainda há muito a ser
melhorado. Observou-se, também, que embora a solução mais adequada seja a supressão das PN,
nem sempre esta é possível devido à escassez de recursos. Mediante essa realidade, é necessário que
se sejam adotadas medidas alternativas, desde campanhas educativas até o uso de novas
tecnologias, porém, não há consenso sobre qual a melhor solução.

Palavras-chave: Linhas Férreas, passagem em nível, segurança ferroviária.

Abstract: An interface between road and rail modes on the same level is called Level Crossings
(LC). These are the variables from the road point of view, since there are traffic disruptions,
reduced cruising speed, investments in signaling equipment and entrance for mobility. In relation to
a railroad, such as the LC merit attention for great efforts bottlenecks, once again the speed of the
modal, in addition to the high index of hits or emergency stops. This study includes exploratory
research on changes in the most varied levels, decision rules on safety, the occurrence of accidents,
the causes of accidents, actions to reduce the number of accidents and the use of new technologies,
comparing a reality Brazilian with one European. The data are commented for a reduction in the
number of occurrences in a country of the region, a Brazilian reality is subject to international
reality. This title can be justified by years of non-modal road investment to the detriment of the
railway sector and to one of the main behaviors of society. However, there may have been a
reduction in the number of failures since 1997 in Brazil, although it has been significant, there is
still much to be improved. It was also observed that a more particular solution is the suppression of
LC, it is not always possible due to scarce resources. Through this reality, it is necessary that the
measures adopted are alternatives, from educational campaigns to the use of new technologies, but
there is no consensus on which solution is best.

Keywords: Railway lines, level crossing, railway safety.

1. INTRODUÇÃO
De acordo com os dados da Confederação Nacional de Transportes (CNT, 2017), o Brasil possui
30.576 km de vias férreas com 12.289 passagens em nível (PN), ou seja, existem em média 4 PN
para cada 10 km de vias férreas. Estas por sua vez são classificadas de acordo com vários
indicadores relacionados a segurança e ao tráfego, sendo as de piores índices consideradas como
críticas, e a partir das últimas, são identificadas aquelas que necessitam de prioridade nos
investimentos doravante denominadas prioritárias. Em 2017, eram 2.659 PN consideradas críticas e
276 prioritárias.
Segundo ILCAD (2017a), existem aproximadamente 600 mil PN nos países analisados, destas 114
mil se encontram nos países da União Europeia (UE). Estima-se a existência de 5 PN para cada
10km de via férrea na Europa. Desde 2010 a UE vem reduzindo o número de acidentes, sobretudo
nas PN.
As séries históricas de acidentes na malha ferroviária brasileira demonstram que o número de
acidentes reduziu bruscamente em relação ao período da Rede Ferroviária Federal Sociedade
Anônima (RFFSA), entretanto, ainda se encontra muito elevado quando comparado com os países
desenvolvidos, nomeadamente com a UE.
As conferências organizadas e pesquisas sobre o tema mostram que a solução seria a supressão de
todas as PN. Entretanto, na falta de recursos financeiros para eliminar todas as PN, há de se buscar
outros meios para redução de acidentes nestes pontos através de campanhas de sensibilização ou
emprego de novas tecnologias.

2. OBJETIVOS
O presente artigo tem como objetivo fazer uma comparação entre a realidade brasileira e européia
quanto as PN nos aspectos relacionados à segurança, estatísticas, causas dos acidentes e o emprego
de novas tecnologias que poderiam ser usadas ou adaptadas para a realidade nacional, inclusive no
que diz respeito à melhoria dos aspectos de segurança nos cruzamentos rodoferroviário.

3. PANORAMA EUROPEU
Em 2015, o número total de acidentes significativos ocorridos nas 21 companhias europeias, alvo
do estudo “Safety Database Activity Report 2016” foi de 1624, apontando uma queda de 31%
quando comparados a 2006. Estes acidentes resultaram num total de 1512 vítimas entre
funcionários, passageiros e outros, com 857 óbitos (UIC, 2016).
Nesta pesquisa estão agrupadas algumas informações relativas aos acidentes ocorridos nas empresas
gestoras de redes ferroviárias: ADIF (Espanha), CFL (Luxemburgo), CFR SA (Romênia), DB AG
(Alemanha), Eurotunnel (França e Reino Unido), HZ (Croácia), Infrabel (Bélgica), JBV (Noruega),
MÁV (Hungria), Network Rail (Reino Unido), ÖBB (Austria), PKP (Polônia), PRORAIL
(Holanda), REFER (Portugal), RFF/SCNF (França), SŽ (Eslovênia), RFI (Itália), SBB CFF FFS
(Suíça), SŽDC (República Tcheca), Trafikverket (Suécia) e ŽSR (Eslováquia) totalizando em
aproximadamente 228 mil km de malha ferroviária.
Tabela 1 - Distribuição dos acidentes ocorridos nas vias ferroviárias da Europa de acordo com as definições da UIC em
2015 (UIC, 2016 adaptado pelo autor)

Tipos de acidentes: (Critérios Informação adicional da Tipo de acidentes: (Critérios "Safety


UIC) UIC Directive")

4,6% Descarrilamento 4,6% Descarrilamento


0,9% Colisões entre trens
8,3% Colisões
Colisão de trem com 7,4% Fora das PN
23,4%
obstáculo 16,0%
Nas PN 24,5% Acidentes nas PN
8,5%
59,7% Atropelamentos
51,2% Fora das PN Acidentes com pessoas e trens em
56,3% movimentos, exceto suicídios fora
5,2% Quedas de pessoas dos trens das PN

1,4% Incêndio no material rodante 1,4% Incêndio no material rodante


Descargas elétricas causadas pela catenária ou
0,2%
terceiro trilho
0,0% Acidentes com cargas perigosas 4,9% Outros tipos de acidentes
4,7% Acidentes em operações de manobra
0,1% Trem desgovernado

Os dados indicam que o número de mortos e vítimas sofreu uma redução respectivamente, de 31% e
38% em relação a 2006. Os atropelamentos nas vias férreas em 2006 representavam 63,8% do total
de acidentes, em 2015 este percentual diminuiu para 56,3%. Entretanto, ainda é o tipo de acidente
mais recorrente. Por sua vez, os acidentes registrados nas PN representaram 27,3% do total de
acidentes em 2006 e em 2015 representam 24,5% como demonstra a Tabela 1. (UIC, 2016)
Ainda de acordo com o relatório, as colisões de trens com obstáculos representaram 23,4% dos
acidentes, sendo que 16,0% se localizam em PN. Por sua vez, os atropelamentos nas PN
representaram 8,5% do total de acidentes.
Nota-se que o estudo utilizou dois critérios de classificação dos acidentes, denominados “UIC” (1ª
Coluna) e “Safety Directive” (3ª Coluna) da Tabela 1. Para esta análise foram usados ambos,
sempre procurando adotar o que melhor retratasse o assunto em questão, como por exemplo, o
segundo critério foi adotado para análise dos acidentes ocorridos em PN.
A análise dos acidentes efetuada no relatório “UIC Safety Report 2016” identifica que, de um total
de 1512 vítimas em 2015, a maioria eram outros (nem passageiros e nem funcionários), como
demonstra a Tabela 2.
Tabela 2 - Número de Vítimas registradas em 2015, segundo o Banco de Dados do Relatório de Atividades da UIC.
(UIC, 2016 adaptado)

2015 Mortos Feridos graves

Tipo de acidente (Critérios


Passageiros Funcionários Outros Passageiros Funcionários Outroa
UIC)

Colisão com obstáculo 4 4 140 17 9 191


Colisão entre trens - 1 - 24 13 -
Descarrilamento - - - - - -
Atropelamentos - 12 659 - 7 310
Quedas 18 2 4 54 2 4
Descargas elétricas - - - 1 1 1
Incêndio em trens - - - 1 - -
Cargas perigosas - - - - - -
Operação de manobra - 6 6 2 12 5
Trem desgovernado - 1 - - 1 -
Total 22 26 809 99 45 511

Este percentual de outros registrados confirma a evidência dos anos anteriores de que a interação
entre o sistema ferroviário com o seu meio envolvente provoca um número mais elevado de vítimas
quando comparado com o número causado apenas por falhas dos sistemas internos de segurança
ferroviários (UIC, 2016).
Neste mesmo relatório, os outros totalizam 94,3% das mortes registradas em acidentes, sendo que
os 5,7% restantes se dividem entre (2,56%) passageiros e os (3,14%) funcionários das companhias
ferroviárias.
A maioria dos acidentes registrados nas vias férreas foram atropelamentos, não somente nas PN em
particular, porém em toda a rede ferroviária como pode ser observado na Tabela 3. Conforme UIC
(2016) foram registrados 969 acidentes desta natureza, de um total de 1624, ocasionando 671
mortos e 317 feridos graves. O número de mortes referente a este tipo de acidente corresponde a
78,3% do total, sendo que o número de feridos graves corresponde a uma percentagem de 48,4%.
Tabela 3 – Número absolutos e relativos por tipo de acidentes em 2015 (UIC 2016 adaptado).

Tipo de acidente – 2015 Feridos


QTD. % Mortos
(Critérios UIC) graves
Colisão com obstáculo 380 23,4% 148 217
Colisão entre trens 14 0,9% 1 37
Descarrilamento 75 4,6% - -
Atropelamentos 969 59,7% 671 317
Quedas 84 5,2% 24 60
Descargas elétricas 3 0,2% - 3
Incêndio em trens 22 1,4% - 1
Cargas perigosas - 0,0% - -
Operação de manobra 76 4,7% 12 19
Trem desgovernado 1 0,1% 1 1
Total 1624 857 655

Os acidentes que envolvem colisão de trens com obstáculos representam apenas 7,4% do total
conforme demostra a Tabela 4. As diferenças percentuais e absolutas entre as Tabela 3 eTabela 4 é
devido aos diferentes critérios utilizados para a classificação de cada evento.
Ainda segundo UIC (2016), verifica-se que durante o ano de 2015, 58% dos acidentes registrados
foram atropelamentos na rede em geral, excluindo as PN. Dos 915 acidentes registrados nas
condições descritas, resultaram 591 mortos e 341 feridos graves. Os mortos neste tipo equivalem a
69,0% do número total de mortos registrados nas vias férreas, e os feridos graves equivalem a
52,1% do total.
Os atropelamentos em conjunto com os acidentes em PN contabilizam 1367 sendo 80,8% do total.
Contudo, estes foram responsáveis por 841 mortos e 588 feridos graves, ou seja, 98,1% das
fatalidades e 89,8% dos feridos, logo são considerados os acidentes de maior gravidade e
consequências.
Este mesmo estudo aponta o transporte ferroviário como um dos meios de transporte mais seguros
atualmente. No entanto, as linhas férreas não deixam de ser uma fonte de perigo para os condutores
dos veículos e pedestres que utilizam as PN. Os acidentes neste local são responsáveis por um
número significativo de mortes nas ferrovias europeias, sendo estas consideradas a zona mais
problemática de uma ferrovia.
Tabela 4 - Vítimas por tipo de acidente. (UIC, 2016 adaptado)

Mortos Feridos graves

Funcionários

Funcionários
Passageiros

Passageiros
Tipo de acidente - 2015 (Critérios: “Safety

Outros

Outros
Qtd. %
Directive”)

Colisão com obstáculo 120 7,4% - - 2 1 3 2


Colisão entre trens 14 0,9% - 1 - 24 13 -
Acidentes nas PN 398 24,5% 4 4 242 16 6 225
Descarrilamento 75 4,6% - - - - - -
Acidentes com pessoas e trens em movimentos 915 56,3% 18 14 559 54 9 278
Incêndio em trens 22 1,4% - - - 1 - -
Outros tipos 80 4,9% - 7 6 3 14 6
Total Parcial 22 26 809 99 45 511
Total Geral 1624 857 655

As novas vias férreas, principalmente de alta velocidade, recentemente inauguradas na Europa,


foram projetadas e construídas sem PN. A renovação e atualização das linhas existentes também
preveem a supressão da maioria das PN. No entanto, se por um lado a atenção em matéria de
segurança tem sido dada à redução do número de PN ao longo das últimas duas décadas, por outro
lado, o crescimento do tráfego rodoviário e da capacidade ferroviária nas linhas convencionais
existentes, aumentou o risco potencial e a gravidade das consequências dos acidentes nas PN (UIC,
2016).
Resultados da análise de acidentes nos últimos anos demonstram que houve uma redução de
acidentes em PN quando comparada com 2010. Neste ano para um conjunto de 20 redes europeias
registraram-se 500 acidentes em PN. Em 2015 para as 21 redes europeias foram 403 acidentes, ou
seja, uma redução de 19,4%. O número de mortos foi de 323 em 2010 comparado a 252 em 2015,
ano em que os acidentes em PN representaram 24,5% do total de acidentes e 25% do número de
mortos, como demonstra a Tabela 5.
Tabela 5 - Comparação entre o Número de Acidentes nas PN e mortos registrados entre 2010 e 2015, segundo o Banco
de Dados do Relatório de Atividades da UIC. (UIC, 2016 adaptado)

Número de mortos

% em % em Mortos
Acidentes

Funcionários
Acidentes
Passageiros

relação ao relação ao por


Outros
ANO por milhão
total de total de milhão
trem.km
acidentes mortos trem.km

2015 403 4 4 244 25% 29% 0,10 0,06


2014 454 - 2 261 24% 28% 0,11 0,06
2013 478 - 1 283 25% 27% 0,12 0,07
2012 515 - 1 330 27% 32% 0,13 0,08
2011 446 6 1 277 22% 26% 0,11 0,07
2010 500 1 3 319 24% 28% 0,12 0,08

Ainda de acordo com UIC (2016), enquanto que os fatores econômicos excluem presentemente a
possibilidade de separação total entre as vias rodoviárias e as vias férreas, o desenvolvimento de
uma estratégia regional acordada para a Europa poderia facilitar a atribuição de papéis e
responsabilidades, a definição de ações e compromissos a serem executados em matéria de
segurança em PN.
A 9ª Conferência Mundial de PN que ocorreu entre os dias 02 de Julho de 2017 em Quebec,
demonstrou que a maior percentagem de todos os acidentes que envolvem a rede ferroviária são
causados por outros (condutores e pedestres), e estes acontecem regularmente nos cruzamentos
entre estrada e via férrea (ILCAD, 2017a).
Enquanto os mortos em acidentes nas passagens de nível representam apenas 1% dos acidentes
rodoviários, no modal ferroviários este número era em torno de 29% em todo território europeu no
ano de 2012 (ILCAD, 2017b).
Tal fato demonstra um maior impacto dos acidentes em PN no modal ferroviário e mostra a
discrepância nos percentuais de acidentes entre os dois modais. Nota-se que 79,9% dos acidentes
tiveram causas externas conforme descrito na Tabela 6, sendo que 47,0% foram por pessoas que
invadiram a faixa de domínio e 24,3% dos acidentes ocorrem em PN. Em 59,4% há o atropelamento
de outros, sendo esta a maior causa de mortes e feridos nos acidentes ferroviários na Europa.
Tabela 6 - Causas de acidentes no ano de 2015 (UIC, 2016 adaptado)

2015 CAUSA SUBCAUSA


Invasões 47,0%

Outros Veículos nas PN 15,8%

CAUSAS EXTERNAS Pedestres nas PN 8,5%


76,0% Pessoas em área pública da ferrovia 3,9%
79,9% Outros 0,7%
Condições ambientais 2,8%
Clima e Ambiente - 3,9%
Clima 1,2%
Infraestrutura Trilhos e estruturas 1,7%
Energia elétrica 1,4%
3,9% Outros 0,9%
Em trânsito 1,0%
Material Rodante - 3,3%
CAUSAS INTERNAS Outros 2,3%
Falha humana Técnicos em manutenção 0,9%
19,8% (Funcionários e Operadores de tráfego e sinais 1,5%
Terceirizados) Condutores e maquinistas 1,7%
8,0% Outros 4,0%
Usuários da Ferrovia - Passageiros 4,6%
4,7% Outros 0,1%
CAUSAS NÃO IDENTIFICADAS 0,2%

4. PANORAMA NACIONAL
De acordo com a Confederação Nacional dos Transportes (CNT, 2017), o Brasil atualmente possui
12289 PN (Gráfico 1) em uma malha ferroviária de 30.576 km, sendo 2.659 consideradas críticas e
276 prioritárias, tendo estes números apresentado estabilidade desde 2010.
Através dos Gráfico 1 e 2 percebe-se que houve um crescimento entre 2006 e 2007. Considerando
apenas o período de 2010 até 2017, tem-se uma estabilização no número de PN no país. O Brasil
possui em média 0,4 passagens de nível por km de linha férrea. Atualmente, 21,6% do total são
consideradas críticas (CNT, 2017).
Gráfico 1 - Número de PN no Brasil. (CNT adaptado)

Em 2006, existia no país 10755 PN sendo 885 consideradas críticas (CNT, 2005) conforme Gráfico
2. Se compararmos o número de PN com o ano seguinte (2007) houve acréscimo de 14,26% que
não pode ser explicado por aumento substancial da rede ferroviária. Embora não há maiores
informações sobre o motivo desta grande variação, provavelmente até 2006 não eram
contabilizados dados de todas as concessionárias, ocasionando um dado não fidedigno com a
realidade.

Gráfico 2 – Evolução das PN críticas

Outra crítica em relação aos dados disponibilizados é a estabilidade desde 2010. Embora os
investimentos fiquem muito inferor às necessidades, no período em questão ocorreram supressões
de PN, por exemplo, na cidade de Juiz de Fora (MG), bem como inauguração do tramo central da
Ferrovia Norte-Sul, fatos que desencadeariam alterações no total de PN.
Segundo Carmo & Campos (2009), as PN são classificadas como críticas seguindo os seguintes
critérios e fatores como a segurança na passagem em nível, localização da PN, risco provocado pelo
trânsito de pessoas, sinalização deficiente ou inadequada, avaliação de estatísticas de acidentes
ocorridos no local e irregularidades.
Segundo ANTT (2014), existia uma previsão da malha ferroviária brasileira evoluir de 28746 km
para 48732 km em 2023 resultando em um aumento do tráfego ferroviário.
Os dados da Figura demonstram que em 2013 foram registrados 864 acidentes em ferrovias no
país. Em 2012 foram 952, nota-se que desde 1997 os acidentes reduziram em 77%. Contudo, se
consideramos o período entre 2006 e 2013 houve uma estabilização neste número apresentando um
crescimento de 23 casos comparado a 2006.
Para efeitos de acidentes ferroviários no Brasil, é utilizada a definição proposta na Resolução 1431
de 26 de Abril de 2006 (ANTT, 2006) a qual “Estabelece procedimentos para a comunicação de
acidentes ferroviários à ANTT pelas concessionárias e empresas públicas de transporte ferroviário”.
Logo, o artigo 2º da Resolução considera “acidente ferroviário a ocorrência que, com a participação
direta de veículo ferroviário, provocar danos a este, a pessoas, a outros veículos, a instalações, a
obras-de-arte, à via permanente, ao meio ambiente e, desde que ocorra paralisação do tráfego, a
animais.” (ANTT, 2006).

Figura 1 - Acidentes na malha ferroviária. (ANTT, 2014)


Os números absolutos de acidentes não permite uma comparação com dados de outros locais, pois
existem muitas diferenças na extensão da rede ferroviária e nas características do tráfego. Para
melhor comparação, é calculado o Índice de Acidentes. Este é definido pelo quociente do número
de acidentes pelo produto do número de trens que circulam na malha e os milhões de quilômetros
percorridos na mesma em um ano. Por conseguinte, a unidade do índice é acidentes/milhão de
trens.km.
O índice de acidentes no Brasil vem diminuindo com o decorrer dos anos conforme a Figura 2. Em
1997, eram aproximadamente de 75,5 acidentes por milhão de trem.km e em 2013 este número
reduziu em 84% para 12,05. Todavia, observa-se estabilização entre 2006 e 2013, e ainda é um
valor considerado muito alto quando comparado com média europeia de 0,4 acidentes por milhão
trem.km (UIC, 2016).
Figura 2 - Índice de Acidentes. (ANTT, 2014)
Esta situação de estabilização demonstra que existe necessidade de maiores investimentos em
medidas educativas e novos procedimentos e técnicas para que este número possa reduzir visando
chegar aos valores internacionais como o Europeu.
Infelizmente, não foram encontrados dados públicos de fácil acesso com relação aos acidentes que
ocorreram nas PN, sendo apresentados apenas os dados gerais de acidentes na malha ferroviária.
Sugere-se a criação de um relatório anual de acesso público com os principais dados como causas,
número de feridos e mortos como, por exemplo, “Safety Database Activity Report” divulgado
anualmente pela UIC.
O acesso a estas informações poderiam beneficiar o meio acadêmico facilitando nas pesquisas sobre
o tema e auxiliaria os gestores públicos e sociedade a traçarem iniciativas de sensibilização focadas
nas causas dos acidentes.

5. NOVAS TECNOLOGIAS EM PN
Vários fatores podem contribuir para ocorrências de acidentes em PN como físicos, relacionados à
área do cruzamento, operacionais do tráfego rodoviário e ferroviário; e comportamentais,
relacionados à maneira que motoristas e pedestres reagem às condições encontradas.
Conferências sobre o tema mostram que a única maneira realmente eficaz para diminuir o número
de acidentes é a supressão de todas as PN. Entretanto, nem sempre há recursos disponíveis para isto,
portanto, deve-se educar os usuários de passagens de nível, com destaque para os riscos e torná-las
conscientes das possíveis consequências se agirem com imprudência. Finalmente, quando a
educação falha ou não é suficiente, o próximo passo é adotar técnicas de engenharia para garantir a
segurança (ILCAD, 2017a).
Em relação a fatores comportamentais, envolvendo motoristas e pedestres, são necessárias medidas
de médio e longo prazo visando conscientização dos mesmos quanto aos riscos envolvidos em
travessias rodoferroviárias.
Atualmente, as empresas gestoras ferroviárias ao redor do mundo vêm desenvolvendo técnicas para
a redução de riscos nas PN.
5.1. CCTV (Circuito Fechado de Televisão)
Em um sistema de duplas meias barreiras convencional, o sistema abaixa uma barreira de cada lado,
e só passados alguns segundos descem as outras, permitindo que os veículos que estejam em plena
passagem possam concluir a travessia. O problema é que muitos condutores ao ver as primeiras
cancelas em baixo, arriscam e tentam fazer o tal ziguezague, não contando que, antes de saírem da
PN se encontram as segundas barreiras fechadas, permanecendo presos na área de cruzamento.
Para evitar esta situação, uma alternativa é o uso do CCTV. O operador na central nota pelo CCTV
a presença de um obstáculo e aciona o levantamento das meias barreiras de saída para que o veículo
possa evadir. Embora este sistema necessite de intervenção humana, de acordo com REFER (2014)
ao ser aplicado em Portugal se mostrou muito eficaz.
5.2. Sistemas de Detecção de Obstáculos para as PN
Os sistemas de detecção de obstáculos nas PN foram desenvolvidos com o intuito de prevenir a
colisão de um trem com qualquer objeto que se encontre numa PN. Este sistema detecta um objeto,
como por exemplo, um carro, dentro da área de cruzamento de uma PN, e notifica a ocorrência à
tripulação de um trem quando da sua aproximação a esse cruzamento (HISAMITSU et al, 2008).
Ainda de acordo Hisamitsu, o aumento da conscientização da segurança ferroviária levou várias
empresas a instalarem sistemas mais avançados do que aqueles que têm sido utilizados
convencionalmente. Para evitar a ocorrência de acidentes, o sistema de detecção de obstáculos é
instalado nas PN mais problemáticas, ou com maior volume de tráfego.
O Sistema de Radar Laser 3-D emite um laser através de pulsações contra um objeto, e efetua uma
medição do tempo de regresso do laser refletido até ao radar (time-of-flight method) de modo a que
seja possível o cálculo da distância até ao objeto (HISAMITSU et al, 2008).
Ainda conforme Hisamitsu, este Scanner da área permite a medição das coordenadas 3-D de
qualquer objeto que se encontre nesse espaço, coordenadas essas que são devolvidas como
informação através da reflexão do laser de volta ao Radar. Todas as coordenadas que foram
superiores à superfície da estrada são extraídas, e pontos distribuídos nas suas proximidades são
reconhecidos como um grupo de pontos. Os dados sobre esses grupos de pontos são processados
para o cálculo das posições e tamanhos dos objetos.
Executando repetidamente este processo de medição Laser 3-D, torna-se possível reconhecer e
identificar os diferentes tipos de objetos que forem encontrados na área da PN. Além disso, torna-se
possível calcular também a velocidade de deslocamento dos mesmos, bem como a direção do
movimento. Para tal, bastará somente calcular a alteração temporal dos grupos de pontos desde a
sua posição inicial sempre que as suas coordenadas sofrerem alguma alteração (HISAMITSU et al,
2008).
O sistema funciona com a colocação de duplas meias barreiras na faixa de rodagem da PN,
garantido que o fechamento das barreiras das saídas apenas acontecerá com a comprovação de que
não existe nenhum objeto na PN, comprovação esta feita com recurso ao SDO. Este sistema é muito
semelhante ao CCTV, porém é mais seguro pois as ações são executadas de forma automatizadas,
dispensando qualquer intervenção humana.
Por fim, o funcionamento das duplas meias barreiras (MB) com Sistema de Detecção de Obstáculos
(SDO) seguem as seguintes etapas:
1. Início dos sinais sonoros; 2. Sinal vermelho intermitente; 3. Início do fechamento das MB de
entrada; 4. Início do SDO; 5. Início do fechamento das MB de saída, caso não seja detectado
nenhum objeto/obstáculo e depois de comprovado o fechamento das MB de entrada; 5a) Caso seja
detectado um objeto/obstáculo as MB de saída não fecham, permitindo a sua saída da PN.
Simultaneamente são fechados os sinais de proteção à PN, informando ao trem da existência de um
obstáculo na via; 6. Com fim da passagem do veículo ferroviário, são levantadas as 4 MB e
desligado os sinais sonoros e luminosos.
5.3. Guarnecimento a Distância
Para uma PN que tenha pouco tráfego rodoviário, encontraram-se soluções alternativas que
permitam a sua adequação aos quesitos de segurança com um investimento mínimo. Nesse
pressuposto, existe uma solução de PN permanentemente fechada, em que a sua abertura e
fechamento, a pedido do usuário, é efetuada por comando operado à distância por agente
responsável pela segurança.
O veículo ao se aproximar da PN a encontrará fechada. Nela se encontra um dispositivo para qual o
usuário irá solicitar a abertura da mesma. Na ausência de tráfego ferroviário, o agente responsável
irá abrir a PN para que o veículo atravesse e volta a fechá-la após constatar via CCTV que o veículo
saiu do cruzamento.
5.4. GPS (Sistema de Posicionamento Global)
Vários sistemas com o uso de GPS estão em estudo ou sendo testados. Um destes, de viés mais
educativo, necessita da colocação de um aparelho GPS nas locomotivas. Ao se aproximar de uma
determinada PN, o aparelho transmite as coordenadas via satélites que repassam estas informações
para qualquer veículo rodoviário que estiver se aproximando daquela PN alertando-o para a
passagem do trem.
5.5. Sistema de aviso 2º Trem
Um problema muito recorrente em sistemas de transporte ferroviário de passageiros é o "segundo
trem vindo". Este fenômeno dá-se em cruzamentos de via dupla, quando um trem se aproxima da
PN e poucos segundos depois há a passagem de outro em sentido contrário.
O equipamento da PN é ativado indicando a aproximação e passagem do 1º trem, e após completar
a sua passagem, os dispositivos são novamente acionados por um segundo trem. Esta situação é
muito confusa e potencialmente perigosa para motoristas (quando não há barreiras físicas) e
pedestres. Muitos usuários (pedestres principalmente) ao constatar o término do 1º trem, iniciam a
travessia e na metade do percurso são surpreendidos por um trem em sentido contrário. Na maioria
dos casos, a primeiro trem encobre o segundo impedindo que o mesmo seja detectado visualmente
por parte dos pedestres. O mesmo pode acontecer para uma PN sem barreira, o motorista ao término
do primeiro trem inicia a travessia e são surpreendido pelo segundo trem em sentido contrário.
Em Los Angeles, um projeto piloto foi realizado para investigar o uso de um sinal de alerta ativado
pelo segundo trem como um meio de reduzir o risco adicional para os pedestres. O projeto foi
implantado na linha Azul do VLT, considerada a mais perigosa da cidade. A via ferroviária é
composta de quatro linhas sendo duas exclusivas para carga da Union Pacific e duas para o VLT.
Através da análise dos vídeos de antes e depois da implantação do aviso, o projeto piloto confirmou
que o sinal de alerta foi eficaz na redução de comportamentos de risco por parte dos pedestres. No
geral, o número de pessoas que atravessam a PN em menos de 15 segundos na frente de um
segundo trem se aproximando foi reduzido em 14% após o sinal de alerta instalado. O número de
pedestres que atravessaram as PN em seis segundos ou menos antes de um segundo trem foi
reduzida em aproximadamente 32%. O número de pessoas que atravessam as PN em 4 segundos ou
menos na frente de um segundo trem foi reduzido por 73%. Por ser uma medida exclusivamente
educativa, a queda deste comportamento foi considerada impressionante.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora os dados apontem para uma redução do número de acidentes no país, a realidade brasileira
em relação às PN está aquém da realidade européia. Este atraso pode ser justificado por anos de
investimento no modal rodoviário em detrimento oo ferroviário e a fatores comportamentais da
sociedade.
O número de acidentes vem diminuindo desde 1997 no Brasil, entretanto as melhorias foram pouco
significativas a partir de 2006. Tal fato exige atenção por parte de concessionárias, governo e
sociedade uma vez que todas são afetadas negativamente pelas consequências dos acidentes.
Observou-se, também, que embora a solução mais adequada seja a supressão das PN, nem sempre
esta é possível devido à escassez de recursos. Diante disso, deve se adotar medidas alternativas
desde campanhas educativas até o uso de novas tecnologias como o SDO. Há divergências entre os
especialistas e empresas estrangeiras sobre qual a melhor medida a se aplicar, ou seja, alguns
defendem mais campanhas de sensibilização, enquanto outros acreditam que seria melhor o
emprego de novas tecnologias.
O país necessita de um Cadastro Nacional de Acidentes Ferroviários através da compilação dos
dados de todas as concessionárias de forma a ter uma base de dados ampla e pública. Este deve
conter informações como à causa dos acidentes, localização, número de feridos e mortos
semelhante ao relatório “Safety Database Activity Report, 2015” realizado pela UIC ou ao relatório
“Acidentes por quilômetros”, elaborado pelo DNIT para acidentes na malha rodoviária que
facilitaria nas pesquisas e direcionamento dos investimentos.
REFERÊNCIAS
[1] CNT – Confederação Nacional dos Transportes. Boletim Estatístico Março de 2017. 2017.
[2] ILCAD 2017a, The International Level Crossing Awareness Day. The Most Important Stop of the Day. Disponível
em: <http://www.ilcad.org>. Acessado em Maio de 2017.
[3] UIC – International Union of Railways. Safety Database Activity Report, 2015. Artigo. Paris, França. 2016.
[4] ILCAD 2017b, The International Level Crossing Awareness Day. The Most Important Stop of the Day - History.
Disponível em: < http://www.ilcad.org/History.html>. Acessado em Maio de 2017.
[5] CNT – Confederação Nacional dos Transportes. Boletim Estatístico 2005. 2005.
[6] CARMO, R. C.; CAMPOS, V. B. G.. Indicador de Nível de Segurança para Passagens de Nível. Artigo. MRS
Logística. Juiz de Fora, MG. 2009. [4] ILCAD 2017b, The International Level Crossing Awareness Day. The Most
Important Stop of the Day - History. Disponível em: < http://www.ilcad.org/History.html>. Acessado em Maio de
2017.
[7] ANTT - Agência Nacional dos Transportes Terrestres. Relatório 01/2014/GEROF/SUFER/ANTT. 2014. Disponível
em: < http://portal.antt.gov.br/index.php/content/view/4751/Ferroviaria.html#lista >. Acessado em Maio de 2017.
[8] ANTT - Agência Nacional dos Transportes Terrestres. Resolução 1.431 de 26 de Abril de 2006. 2006. Brasília.
Disponível em: < https://www.legisweb.com.br/legislacao/?id=103689 >. Acessado em Setembro de 2017.
[9] REFER, Rede Ferroviária Nacional. Implementação de duplas meias barreiras na PN 24,988 do Sabugo Linha do
Oeste. 2014 Disponível em: http://www.refer.pt/passagensdenivel/referencias/acontecimentos.html. Acessado em
Julho de 2017..
[10] HISAMITSU, Y., SEKINOMOTO, K., NAGATA, K., UEHARA, M., & OTA, E. 2008. 3-D Laser Radar Level
Crossing Obstacle Detection System. IHI Engineering Review, 41(2).
AVALIAÇÃO DE PATOLOGIAS ORIUNDAS POR UMIDADE EM UMA
EDIFICAÇÃO NA REGIÃO SUDESTE DE MINAS GERAIS

Evaluation of mouth-based pathologies in a building in the southeast region of Minas


Gerais

Nathalia Sheila Garcia de MELO 1


1
Faculdade Doctum, Juiz de Fora, Brasil, nathalia.garcia.engenharia@gmail.com.

Resumo: O déficit populacional brasileiro em 2010 era de aproximadamente 6 milhões de


habitações, segundo o Sistema Nacional de Habitação. Para atenuar tal problema, o Governo
Federal criou o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) em março de 2009, com o intuito de
construir 1.000.000 de unidades habitacionais, sendo lançada a fase 02 e 03 do PMCMV nos anos
de 2011 e 2016. Devido ao grande incentivo dado pelo Estado e ao curto espaço de tempo para a
construção, aliado à demanda pelas habitações, foram construídas unidades com grande incidência
de vícios construtivos. Esse estudo teve como objetivo a identificação da causa da patologia mais
representativa em uma edificação na região sudeste de Minas Gerais, composta por 440 habitações,
dispostas em 22 blocos de 5 andares a partir de relatórios fotográficos da construção da edificação,
no ano de 2016. As principais causas identificadas foram a falta de impermeabilização de base,
gerando problemas de umidade ascensional, a penetração de água pelas esquadrias, devido à falta de
prolongamento longitudinal dos peitoris, falta de vedação das janelas, ausência de inclinação
externa dos peitoris, à ausência de pingadeiras e à ausência de vergas e contravergas, que geraram
fissuras e consequentemente infiltração de água. Foram identificadas manchas nos banheiros, por
problemas na execução das instalações hidráulicas (tubulações e conexões) e nas conexões e
observadas manchas no teto, tendo como possíveis causas a instalação incorreta de rufos e o não
suporte da vazão de chuva pelas calhas. Pode-se concluir desse estudo, que os problemas ocorreram
devido a falhas na fase de execução e de projetos, observadas em questões já descritas. Pode-se
sugerir que parte deles seria atenuado pela presença de trabalhadores com melhor qualificação e
pela redução de custo desnecessária por parte das construtoras, o que gera uso de materiais
inadequados e inadequações aos projetos.

Palavras-chave: Patologias, umidade, Minha Casa Minha Vida.

Abstract: The Brazilian population deficit in 2010 was approximately 6 million housing units,
according to the National Housing System. To mitigate this problem, the Federal Government
created the My Home My Life Program (PMCMV) in March 2009, with the aim of building
1,000,000 housing units, with the launch of phase 02 and 03 of PMCMV in 2011 and 2016 Due to
the great incentive given by the State and the short space of time for construction, together with the
demand for housing, units with a high incidence of constructive vices were built. This study aimed
to identify the cause of the most representative pathology in a building in the southeast region of
Minas Gerais, composed of 440 dwellings, arranged in 22 blocks of 5 stories from photographic
reports of the construction of the building, in 2016. The main causes identified were the lack of
basement waterproofing, generating ascending humidity problems, water penetration through the
frames, due to lack of longitudinal extension of the windows, lack of window sealing, absence of
external inclination of the windows, absence of drippings and the absence of poles and counter-
veins, which generated cracks and consequently water infiltration. Stains were identified in the
bathrooms, due to problems in the execution of the hydraulic installations (pipes and connections)
and in the connections and observed stains in the ceiling, having as possible causes the incorrect
installation of ruffles and the non-support of the rainfall through the gutters. It can be concluded
from this study that the problems occurred due to failures in the execution phase and of projects,
observed in questions already described. It can be suggested that some of them would be mitigated
by the presence of better-qualified workers and the reduction of unnecessary cost by the
construction companies, which generates the use of inadequate materials and inadequacies in the
projects.

Keywords: Pathologies, moisture, My Home My Life.

1. INTRODUÇÃO
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2014) descreve que o Brasil possui um
déficit habitacional de cerca de 6 milhões de domicílios, sendo assim, é necessário a elaboração de
políticas públicas para tentar solucionar tal problema e isso fez com que o Governo Federal tivesse
a iniciativa de criar um financiamento de moradia para famílias de baixa renda.
A primeira política nacional de habitação foi criada em 1946, conhecida como Fundação da Casa
Popular, porém possuía falha nas regras de financiamento e faltavam recursos. Em 1964, o governo
deu inicio a um novo modelo de política habitacional, o Banco Nacional de Habitação (BNH) e
elaborou um sistema de financiamento que utilizava o Fundo de Garantia de Tempo de Serviço
(FGTS), a captação de alguns recursos específicos e o Sistema Brasileiro de Poupança e
Empréstimo (SBPE).
Em 1994 o Governo Federal lança os programas Morar Município e Habitar Brasil que contava com
o auxilio de recursos do Imposto Provisório sobre Movimentações Financeiras (IPMF) e do
Orçamento Geral da União (OGU). Porém os investimentos realizados não foram suficientes.
No Governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) a SEPURB se transformou em Secretaria Especial
de Desenvolvimento Urbano (SEDU) e não trouxe nenhuma mudança significativa, o
desenvolvimento urbano e as áreas de habitação continuam sem o apoio financeiro e sem nenhuma
gestão em âmbito federal.
Foram elaboradas novas linhas de financiamento, porém surgiram significativas restrições para
empréstimos habitacionais, o FGTS foi impedido de ser utilizado e uma alta restrição dos recursos
do Orçamento Geral da União (OGU). Nesse momento dois programas de financiamento do setor
privado puderam ofertar novas unidades habitacionais, como o Programa de Carta de Crédito e o
Programa de Arrendamento Residencial.
Em 2003, com o governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi criado o ministério das
cidades que fica encarregado das Políticas de Desenvolvimento Urbano e a Política Setorial de
Habitação. Essa Política de Habitação não só constrói moradias, mas também a infraestrutura,
transporte coletivo, saneamento básico, além de serviços sociais e urbanos.
A implantação do Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC) permite o investimento em
diferentes áreas de infraestrutura, porém os setores mais privilegiados foram o de habitação e
saneamento, e está sob a responsabilidade do setor publico.
Em março de 2009, o Programa Minha Casa Minha Vida é apresentado e consiste basicamente em
atingir a classe social mais baixa com o incentivo de financiamentos habitacionais e com o objetivo
de reduzir o déficit habitacional. O PMCMV disponibiliza o Programa Nacional de Habitação
Urbana (PNHU).
O PMCMV é proposto para famílias com renda mensal de ate dez salários mínimos, porém as
famílias com renda de ate seis salários mínimos, tem direito a subsídios adicionais para o
pagamento do imóvel, o restante das famílias que ganham entre seis e dez salários mínimos
mensais, contam com recursos do FGTS para condições especiais de financiamento.
Mesmo que o Programa não seja suficiente para eliminar o déficit habitacional por completo, é
reconhecido por ser o primeiro programa habitacional coordenado pelo governo federal, gerenciado
pela Caixa, que tem se destacado por ser um excelente parceiro na gestão e execução de políticas
habitacionais.
A acirrada competição no mercado imobiliário, o cenário de crise no Brasil, além dos curtos prazos
exigidos pelos clientes, podem ser grandes responsáveis para uma queda na qualidade das
construções.
As patologias aparentes podem causar certos desconfortos aos moradores, desde apenas danos
estético ate a preocupações com danos mais sérios que possam comprometer ao bem estar dos
moradores. Algumas patologias são mais comuns como: trincas, fissuras, rachaduras e infiltrações.

2. OBJETIVO
Partindo deste ponto, esta pesquisa faz uma avaliação das patologias existentes nas edificações do
Programa Minha Casa Minha Vida. Este estudo busca informações através de análises das
reclamações dos proprietários e será observada, neste caso, qual a origem das ocorrências.
Assim sendo, como objetivo, este trabalho apresenta um estudo dos vícios construtivos das
edificações do programa Minha Casa Minha Vida - faixa 01, na região sudeste de Minas Gerais.

3. MÉTODO
Nesta pesquisa serão abordadas patologias encontradas nas construções do PMCMV, entre elas
podemos citar problemas com: instalação hidráulica, fissuras, acabamentos, infiltração, esquadrias,
coberturas. Sendo essas as mais recorrentes.
Para este estudo foi analisado uma obra do Programa Minha Casa Minha Vida – Faixa 1 que possui
440 unidades habitacionais distribuídas em 22 blocos de 5 andares.

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

4.1. Programa Minha Casa Minha Vida


Um novo modelo de política habitacional foi implantado no primeiro mandato do governo Lula,
esta política visava assistir famílias de baixa renda, com cerca de até cinco salários mínimos
mensais, usando incentivos fiscais e recursos federais, que também beneficiou o mercado da
construção civil. O Ministério das Cidades foi instituído em 2003 que foi um marco da política
habitacional e a infraestrutura das cidades.
O programa em sua primeira fase propôs a construção de um milhão de imóveis para as famílias
com renda em até dez salários mínimos e foi recebido o total de R$ 34 bilhões em recursos que
foram divididos para infraestrutura, subsídios e cadeia produtiva. Esses recursos foram divididos
por regiões de acordo com o déficit habitacional: 37% para o Sudeste; 34% para o Nordeste; 12%
para o Sul; 10% para o Norte; e 7% para o Centro-Oeste.
Para a segunda fase o programa aumentou as metas, melhorou as especificações dos imóveis,
ajustou os valores das faixas de renda, ficando definido assim: faixa 1 – famílias com renda até R$
1.600,00; faixa 2 – famílias com renda até R$ 3.100,00 e faixa 3 – famílias com renda entre R$
3.100,01 e R$ 5.000,00; além de famílias da zona rural.
A terceira fase do programa, lançado em 2016, tem como objetivo a contratação de mais 2 milhões
de moradias ate 2018, segundo notícia no Portal Brasil, e foi criado uma nova faixa de renda, a
faixa 1,5, para famílias com renda de até R$ 2.600,00. O Portal ainda informa que está previsto o
investimento de R$ 210,6 bilhões ao longo de três anos. Desse total R$ 41,2 bilhões virão do
Orçamento Geral da União e R$ 39,7 bilhões de subsídios vindos do FGTS.
Faixa 1 – Famílias com renda mensal bruta de ate R$ 1.800,00. Financiado em ate 120 vezes e as
parcelas variam de R$ 80,00 a R$ 270,00. O próprio imóvel serve de garantia para o financiamento.
Os valores variam de acordo com a renda mensal e com a localidade, o governo pode arcar com ate
90% do imóvel.
Faixa 1,5 – Para famílias com renda mensal bruta de ate R$ 2.600,00. A taxa de juros é de 5% ao
ano. É oferecido pelo programa um subsídio de até R$ 47.500,00 e ate 30 anos para pagar.
Faixa 2 – Famílias com renda mensal bruta de ate R$ 4.000,00 pode ter subsídios de ate R$
29.000,00. Os juros variam de 5,5% a 7% ao ano. Prazo de 30 anos para pagar. É possível a compra
de um imóvel novo ou na planta, comprar um terreno e construir ou ate mesmo construir em um
terreno que já pertence à família.
Faixa 3 – Famílias com renda mensal bruta de ate R$ 7.000,00 com taxas de juros de 8,16% ao ano,
assim como o faixa 2 a família também pode comprar um imóvel novo ou na planta, comprar o
terreno e construir ou construir em algum imóvel pertencente a família. São utilizados recursos do
FGTS para o financiamento e com taxas inferiores as taxas de mercado.

4.3. Garantias
A Cartilha de direitos e deveres da Caixa estabelece que “a responsabilidade dos vícios construtivos
é da construtora e não da CAIXA”. Sendo assim o proprietário deverá entrar em contato com a
construtora, caso não obtenha nenhuma solução deverá entrar em contato com a CAIXA, PROCON,
advogado ou defensoria pública.
A CAIXA informa que a construtora é responsável por garantias previstas em contrato, mas a falta
de manutenção e mau uso das instalações e equipamentos pode acarretar a perda da cobertura.

4.4. Vícios Construtivos


Para o projeto e execução de todas as obras é necessário que seja feita de acordo com as normas da
ABNT, afirma o Código de Defesa do consumidor, caso se prove que não foram respeitadas essas
normas técnicas se configura como uma infração legal, possibilitando a tomada de decisões
cabíveis.
Bauer (1979, p.896) diz que é de grande importância o controle da qualidade na construção civil,
principalmente para a redução do Custo Unitário Básico (CUB) e, para uma maior durabilidade das
construções.
Nesta mesma NBR 13.752 /1996, também define vícios como anomalias que afetam o desempenho
de produtos ou serviços, ou os tornam inadequados aos fins a que se destinam, causando transtornos
ou prejuízos materiais ao consumidor. Podem decorrer de falha de projeto ou de execução, ou ainda
da informação defeituosa sobre sua utilização ou manutenção.

4.5. Patologias das Edificações


Conforme resultado encontrado em estudo que será descrito mais adiante, a maioria das patologias
observadas no PMCMV são relacionadas a umidade, que podem ser decorrente de materiais de
baixa qualidade, problemas de projetos, problemas com mão de obra, técnicas de construção, entre
outros.
As principais patologias originadas na edificação após a entrega do imóvel e sua ocupação são:
falhas de projetos (40%), falhas de execução (28%), qualidade dos materiais (18%), uso das
instalações (10%) e diversos (4%) (JUNIOR, 2013).
Problemas ocasionados por umidade - GRANATO (2002) diz que a infiltração pode causar
vários danos ao imóvel como, por exemplo, a degradação do concreto podendo afetar as armaduras,
eflorescências, manchas, bolhas e empolamento em tintas e até mesmo problemas nas instalações
elétricas gerando curtos circuitos.
Para diagnosticar essas patologias é necessário averiguar toda a alvenaria da edificação para
verificar se existe algum local com aspecto diferente como perda do brilho ou alteração de cor,
entre outras anormalidades.
Um dos principais culpados por essas patologias é a água, em seus diversos estados (líquido, gasoso
ou sólido) são um dos maiores agentes para deterioração dos elementos constituintes das alvenarias,
também podem contribuir para hospedagem de outros agentes. (RIGUI, 2009).
A umidade ascendente acontece quando a edificação tem o contato direto com o terreno úmido
(todo solo contém umidade, ate mesmo os rochosos) e não está impermeabilizada de forma
adequada, essa umidade ocorre nos baldrames que não possuem obstáculos para infiltração da água,
como as impermeabilizações. Essa infiltração ocorre pela falta de impermeabilização, em alguns
casos podem ocorrer transtornos pela qualidade do material ser inferior e não atender de forma
esperada.
Atualmente percebemos uma grande incidência em infiltrações proveniente de juntas ou frestas mal
vedadas nas janelas e por desníveis em peitoris. Essas áreas ficam expostas a grande ação de
agentes externos como chuvas e ventos.
De acordo com Lima (2015), “são diversas as ocorrências de defeitos em esquadrias, as quais
podem ocasionar outras manifestações patológicas. Por exemplo, uma infiltração próxima ao
peitoril da janela é causada pela má vedação entre o vão e a esquadria”. O peitoril tem a função de
proteger a fachada e o revestimento.
Segundo Souza, Almeida e Verçosa (2004), “peitoris de janelas mal executados frequentemente
provocam deteriorização nas fachadas”.
A umidade em instalações hidrossanitárias é oriunda de problemas no sistema de abastecimento ou
coleta de água da edificação. Esses problemas advêm de falhas no projeto, falhas construtivas e
danos nas tubulações.
Segundo Rodrigues (2014), esses problemas são identificados a partir de “manchas na alvenaria
isoladas, em formato circular e com o centro mais úmido”.
Os problemas em relação às tubulações podem aparecer também nas conexões, pode ser
proveniente da “execução de junta roscável com rosca fêmea de PVC e com rosca macho metálica.
Nesse caso, deve-se refazer a junta aplicando as conexões azuis com bucha de latão.”
(CARVALHO JUNIOR, 2013).
Outro caso muito comum é o uso excessivo de buchas de redução, para esse caso se aconselha o uso
de buchas de redução longas para que seja evitado ao máximo o uso dessas buchas.
Na execução dessas tubulações é muito comum o excesso de aperto nos tubos roscáveis, esse é um
problema de mão de obra, que podem causar grandes danos. Exatamente nessa situação não
notamos o problema no momento da execução, os danos aparecerão ao longo do tempo.
Os telhados são destinados a proteger a edificação das águas das chuvas, assim sendo, o volume de
água coletado deve ser devidamente escoado e conduzido para os locais apropriados.
Esses vazamentos, oriundos das instalações de águas pluviais, aparecem na forma de manchas que
ficam logo abaixo da laje ou por goteiras. São de fácil identificação e localização, ficando mais
visível e mais fácil de identificar após uma grande quantidade de chuva.
Existe um problema em relação às calhas e condutores que é conhecida como seção insuficiente,
isso acontece quando um grande volume de chuva atinge a edificação e ocorre um transbordamento
da calha (JUNIOR, 2013).

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Grande problema comum nas obras é a umidade ascendente. O imóvel apresenta manchas na parte
inferior ocasionada pela falta de impermeabilização eficaz. Verifica-se a umidade ascendente na
parte interior da parede com a presença de bolor e empolamento do revestimento na área afetada.
Uma das patologias mais recorrentes apresentadas foram ás patologias provenientes das esquadrias.
No empreendimento observam-se problemas relacionados a janelas no interior e exterior. Algumas
janelas não apresentam vergas e contra-vergas, aparecimento de fissuras inclinadas nas
extremidades das janelas, fato que ocorreu devido à ausência de vergas e contra-vergas.
As infiltrações na parte interna da edificação, abaixo das janelas, são oriundas da má vedação e de
falta de inclinação do peitoril para a face externa da alvenaria que causa o acúmulo de água no
peitoril. No caso dessa patologia a mão de obra esta diretamente ligada, pois é preciso a instalação
dessas esquadrias de forma correta, além da inclinação do peitoril necessária. Tanto o declínio
quanto o prolongamento longitudinal do peitoril são serviços que demandam cuidados.
É preciso que se tenha atenção na instalação do peitoril quanto ao caimento necessário para que a
água proveniente da chuva não fique empoçada. É recomendável que se instale um peitoril de
ardósia ou granito (material que não possua alta porosidade), que tenha o acabamento semi-boleado,
com 5 cm a mais na lateral para dentro da alvenaria.
As próximas patologias são oriundas de instalações hidráulico-sanitárias, os problemas foram
identificados a partir de “manchas na alvenaria”. Além de mão de obra que precisa ser alertada
sobre manuseio correto das tubulações e forma adequada de executar a fixação dos tubos, evitando
o aperto excessivo. Se for preciso verificar a norma NBR 5626, norma que regulamenta essas
instalações.
O aperto excessivo dessas tubulações podem ocasionar fissuras que permitem que a água escape e
infiltre nas alvenarias, causando transtornos aos moradores. Esse problema é causado pela mão de
obra não qualificada que pode acabar lesando as tubulações.
Outro ponto que precisa ser observado durante a execução é a qualidade dos materiais empregados
na instalação. É preciso que se tenha uma atenção especial com relação às juntas, pois são lugares
em que o vazamento é mais fácil de acontecer.
Umidade descendente encontrada na edificação por falta de rufos ou rufos mal colocados e
problemas nos telhados. Os rufos aparentemente são mal instalados o que causa infiltração da água
na edificação. Essa má instalação se dá pela desqualificação da mão de obra.
Verificou-se que no centro do telhado existe uma calha para a captação da chuva (estas calhas
precisam tem uma inclinação para levar a água ate os condutores) que em períodos com grande
incidência de chuva pode não estar dando vazão. É possível ver também que os condutores verticais
estão internos e, como visto anteriormente, quando acontecem vazamentos os danos são muito
maiores.

6. CONCLUSÃO
O Programa Minha Casa Minha Vida foi de grande ajuda em relação aos problemas do déficit
habitacional brasileiro, foi grande o número de contemplados pelo programa. No ano de 2009 a
2012 foram contratadas 1.728.555.

Além disso, o programa auxiliou no aumento de empregos, além de ajudar a população com
moradia também deu oportunidade para alguns trabalhadores. O PMCMV gerou em média 864 mil
empregos diretos e indiretos por ano. Na região sudeste de Minas Gerais foram gerados 66.796
empregos diretos ou indiretos com 301 empreendimentos entregues.

Com o boom da construção civil decorrente da implantação do PMCMV, faltou mão de obra,
principalmente a qualificada, o que refletiu diretamente na qualidade das construções. Além do
tempo de execução cada vez menor.

Com relação às patologias encontradas verificamos uma serie de melhorias que podem ser adotadas
para que evitem possíveis problemas e prejuízos.

A umidade ascendente presenciada pode ser solucionada com uma impermeabilização de qualidade
e da forma correta.
Nas patologias relacionadas às instalações hidráulicas verifica-se que o grande problema é na
execução. As empresas colocam um valor fixo nas moradias e a partir disso procuram encaixar
valores muito pequenos para que exista a margem de lucro, porém com essa redução de custo pode
implicar a falta de mão de obra qualificada para serviços específicos, provocando a baixa na
qualidade do serviço e da edificação.

No caso da umidade relacionada à cobertura proveniente do sistema de drenagem e pluvial, existe


também a falta de mão de obra qualificada, principalmente na colocação dos rufos, verificou-se a
falta de projeto de drenagem (ou projeto ineficiente) pela ausência de condutores verticais.

Na edificação analisada, as manifestações patológicas já atingiram o interior da edificação em


diversos pontos, degradando principalmente os revestimentos de parede e tetos e instalações
hidrossanitárias.

Desde já sabe-se que esses problemas não serão solucionados de forma absoluta, porém com uma
medida de prevenção eficaz poderá diminuir, significativamente, gastos e prejuízos de ambas as
partes.

REFERÊNCIAS
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VERÇOZA, Enio José. Impermeabilização na Construção. Porto Alegre: Sagra, 1985.


IMPACTO DO USO DO BIM NA AVALIAÇÃO DE INTERFERÊNCIAS EM
PROJETOS: UM ESTUDO DE CASO

Impact of the use of BIM in the evaluation of interference in projects: a case


study

Mariana Reis Pereira 1, Mauricio Leonardo Aguilar Molina 2, Antônio Eduardo Polisseni 3
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mariana.reis@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mauricio.aguilar@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, aepolisseni@gmail.com

Resumo: O BIM constitui um novo paradigma no setor de AECO, fornecendo um contexto de


políticas, metodologias e tecnologias que possibilitam a integração de todo o ciclo de vida de uma
edificação. Trata-se de uma plataforma que permite, além da representação geométrica de projetos, o
desenvolvimento de um modelo paramétrico com grande quantidade de informações não geométricas.
Apesar de suas evidentes vantagens, a inserção do BIM ainda enfrenta algumas dificuldades no setor
da AEC devido à resistência dos profissionais. Muitos problemas de projeto poderiam ser resolvidos
através da adoção dos princípios e ferramentas do BIM. Em termos de compatibilidade, as vantagens
do BIM tornam-se evidentes, pois é possível descobrir interferências que seriam difíceis de encontrar
em um modelo CAD 2D. Este trabalho apresenta a análise de uma modelagem em BIM encima de
um projeto em andamento, desenvolvido originalmente em CAD, a fim de mostrar as vantagens da
compatibilização nos moldes do BIM, bem como a detecção de interferências na execução da obra.
A análise mostrou a existência de problemas no projeto original detectados apenas na execução da
obra. Foi possível perceber que os problemas detectados não foram informados à equipe de projeto
com a consequente perda de informação para compor o databook da obra.

Palavras-chave: BIM, Ciclo de Vida, Colaboração

Abstract: BIM is a new paradigm in the AECO sector, providing a context of policies, methodologies
and technologies that allow the integration of the whole life cycle of a building. It is a platform that
allows, in addition to the geometric representation of projects, the development of a parametric model
with a large amount of non-geometric information. Despite its evident advantages, the insertion of
BIM still faces some difficulties in the AECO sector due to the resistance of the professionals. Many
design problems could be solved through the adoption of BIM principles and tools. In terms of
compatibility, the advantages of BIM become evident as it is possible to detect interferences that
would be difficult to find in a 2D CAD model. This work presents the analysis of a BIM modeling
over a project in progress, originally developed in CAD, in order to show the advantages of
compatibilization in the BIM molds, as well as the detection of interferences in the execution of the
work. The analysis showed the existence of problems in the original project detected only in the
execution of the work. It was possible to notice that the detected problems were not informed to the
project team with the consequent loss of information to compose the building databook.

Keywords: BIM. AEC Sector. Project Compatibility.


1. INTRODUÇÃO
O desenvolvimento da indústria de hardware e software gráficos na década de 1960 alavancou o
desenvolvimento tecnológico da época. Em 1960 surgiram as primeiras aplicações CAD – acrônimo
para Computer-Aided Design ou Desenho Assistido por Computador –, as quais foram incorporadas
principalmente pela grande indústria automobilística em substituição do desenho técnico tradicional
[2].
No campo da engenharia civil, os computadores foram inicialmente dedicados ao cálculo e, análise
estrutural, sendo apenas no início da década de 1980 o começo do seu uso na modelagem e
desenvolvimento de projetos arquitetônicos e complementares. Assim, o processo de projeto, até
então manual, ganhou mais agilidade e precisão, qualidade e eficiência, pois a incorporação de
sistemas CAD 2D possibilitou minimizar o trabalho braçal com a automatização dos desenhos e
melhorar o processo de projeto [5].
No entanto, apesar do aprimoramento de hardware e software que levou ao desenvolvimento do CAD
3D, quando os computadores se tornaram definitivamente indispensáveis no setor da Arquitetura,
Engenharia, Construção e Operações – AECO, o CAD apresenta limitações devido à sua natureza
essencialmente geométrica [3].
Na atualidade, o setor de AECO experimenta mudanças significativas, tanto na concepção de projetos
de construção quanto na execução das obras. Esses avanços são alavancados pela necessidade cada
vez mais evidente de melhoria na produtividade, controle e economia, além de questões ambientais
cada vez mais em pauta.
O BIM – acrônimo para Building Information Modelling ou Modelagem de Informações da
Construção – constitui um conjunto de tecnologias de projeto e processos produtivos que possibilitam
a geração e gestão de dados de construção ao longo do ciclo de vida de um empreendimento,
envolvendo a coordenação entre as diferentes disciplinas do projeto [3]. O surgimento do BIM tem o
potencial de melhorar a qualidade dos projetos em diferentes aspectos, entre os quais a interação entre
os profissionais envolvidos na compatibilização nas diferentes disciplinas. Porém, apesar das suas
vantagens, a inserção do BIM experimenta dificuldades em muitas regiões do país, pelo caráter
conservador do setor.
De modo geral, percebe-se que o setor da AECO ainda não incorporou nas suas práticas de projeto
os últimos avanços tecnológicos. Desde seu surgimento na década de 1980, o CAD, continua a
predominar com o uso de pranchas 2D e desenhos geométricos. Na maioria das vezes, a
compatibilização realizada através de tais pranchas CAD 2D não é suficiente para identificar todas as
interferências, ficando a cargo do canteiro de obras resolver muitos problemas não detectados
oportunamente na fase de projeto.
O objetivo deste trabalho é mostrar as vantagens do BIM em relação com o projeto convencional em
CAD. Para tal fim, será apresentado o caso de uma obra em construção cujo projeto em alvenaria
estrutural foi modelado originalmente em CAD e, posteriormente em BIM, a fim de apontar as
vantagens na resolução de conflitos e verificar o impacto no canteiro de obras.

2. ALVENARIA ESTRUTURAL
A alvenaria estrutural é um sistema construtivo que faz uso de componentes manuseáveis (blocos ou
tijolos), ligados entre si por argamassa, de forma tal que, ao final da execução, o conjunto monolítico
gerado tenha não só a função de vedação, mas também a de suportar a estrutura e resistir aos esforços
solicitados, podendo esta ser armada ou não.
Segundo Kalil [4], a Alvenaria Estrutural deve ser vista não apenas como um conjunto de paredes
que tem o objetivo de resistir ao seu peso próprio e a cargas externas à estrutura. O bom projeto a
entende como um processo construtivo racionalizado e econômico, uma vez que, durante o
planejamento da obra, é preciso que o arquiteto e o engenheiro responsáveis estejam em sintonia para
que seja possível obter uma estrutura econômica e que suporte os esforços previstos. Além disso, é
necessário atender aos critérios da Norma NBR 15575 [1], sem que haja um prejuízo noutras funções,
como isolamento termo acústico, instalações hidráulicas e elétricas ou estética.
A execução de um projeto em alvenaria estrutural exige mão-de-obra qualificada pois, afinal,
qualquer erro durante a execução pode significar o comprometimento da estrutura. Isso faz com que
este método construtivo evite desperdício de materiais e reduza o uso de revestimentos, uma vez que
a qualidade dos materiais empregados e a execução são controlados. Além disso, este processo possui
uma característica modular, o que por si só já significaria – em tese – economia de tempo e materiais
devido à adequação das dimensões da estrutura com as da unidade básica – neste caso os blocos ou
tijolos estruturais.
Assim, a Alvenaria Estrutural é uma escolha recorrente em muitos empreendimentos pois, afinal, sua
rápida execução e economia de materiais faz com que sua utilização seja viável em edifícios com
andares com um padrão de repetição.

3. ESTUDO DE CASO
O empreendimento analisado neste trabalho é um edifício composto por cinquenta e seis
apartamentos, financiado pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo. Ele é composto por
onze andares, sendo os três primeiros de estacionamento e construídos em estrutura convencional de
concreto armado e fechamento em alvenaria de vedação. A partir do quarto andar, inicia-se a
construção dos apartamentos em alvenaria estrutural. Entre o terceiro e o quarto andar foi construída
uma laje de transição em protensão leve, como pode ser visto na Figura 1. Como a obra está planejada
para acabar em junho de 2019, é possível ir acompanhando sua construção e verificar se as
observações feitas sobre o projeto condizem com a realidade.

3.1 Modelagem dos andares em alvenaria estrutural


Neste trabalho o ponto de partida foram as plantas do edifício estudado, desenhadas no software
Autodesk Autocad. A partir delas foi feita uma modelagem com o software Autodesk Revit, a fim de
verificar a eventual existência de incompatibilidades. Para este fim foram modelados os andares de
alvenaria estrutural, uma vez que o método construtivo exige uma maior precisão e qualidade de
projeto.
A família de blocos estruturais de concreto utilizada no projeto foi a Família de 29, conforme é
mostrado na Figura 2. A linha lateral ao bloco representa a junta de assentamento e possui exatamente
1cm. A representação dela é importante para que a modelagem seja fiel ao projeto modular.
Assim que a família dos blocos foi criada, a planta baixa das fiadas em formato DWG foi inserida
dentro do modelo no Autodesk Revit a fim de poder analisar as divergências entre os dois projetos.
Figura 1 – Laje de transição (Fonte: Autores)
A primeira etapa da modelagem foi a inserção dos blocos na primeira e segunda fiadas. Como no
software Autodesk Revit a reprodução dos blocos pode ser realizada por um sistema de matriz, foi
possível logo no início verificar algumas incompatibilidades da alvenaria estrutural e do projeto
modular. Como já foi dito, um projeto em alvenaria estrutural considera juntas de assentamento de
1cm. No entanto, em vários pontos do projeto foram encontradas juntas de tamanho diferentes (1,5cm,
0,5cm, 2cm), como mostrado na Figura 3. Este tipo de incompatibilidade, quando em excesso, pode
vir a interferir nas dimensões dos cômodos durante a execução.

Figura 2 – Blocos da Família de 29 (Fonte: Autores)


Figura 3 – Variações nas juntas de assentamento (Fonte: Autores)
Outra observação que pôde ser feita é em relação com o uso de blocos compensadores (blocos com
largura de 5cm). Este tipo de bloco é utilizado para tornar as dimensões compatíveis com a
modulação, mas seu uso excessivo pode vir a descaracterizá-la, pois a ideia principal da modulação
é a racionalização da construção e a utilização do menor número possível de elementos diferentes.
Os blocos compensadores são representados em azul na Figura 4, e puderam ser vistos também na
obra, como mostra a Figura 5.

Figura 4 – Blocos compensadores no modelo (Fonte: Autores)


Figura 5 – Blocos compensadores na obra (Fonte: Autores)
Após a modelagem dos blocos e paredes, foi possível representar o graute (Figura 6) e assim verificar
se o modelo correspondia à execução (Figura 7).

Figura 6 – Modelagem do graute (Fonte: Autores)


Figura 7 – Execução do graute na obra (Fonte: Autores)
O resultado da modelagem do projeto estrutural é mostrado na Figura 8.

Figura 8 – Modelagem do projeto estrutural (Fonte: Autores)


3.2 Modelagem do projeto arquitetônico
Para o projeto arquitetônico foi realizada inicialmente uma modelagem apenas da geometria, para
possibilitar a posterior compatibilização no software Autodesk Navisworks. Essa modelagem foi feita
com base nas plantas executivas originais desenvolvidas no software Autodesk AutoCAD.
Da mesma forma que no projeto estrutural, as plantas e cortes em formato DWG foram usados como
referência para a modelagem da geometria da edificação. A vista 3D do projeto pode ser vista na
Figura 9.

Figura 9 – Modelagem arquitetônica (Fonte: Autores)


Elementos puramente estruturais, como as lajes, não foram representados no projeto arquitetônico.
Apenas um espaçamento representando sua espessura foi criado. Isso ocorre, pois quando houver a
união entre os projetos estes elementos já estarão representados no projeto estrutural. Apesar de
também já estarem representadas no projeto de alvenaria estrutural, foi necessária a criação de paredes
arquitetônicas para possibilitar a inserção de portas e janelas. No entanto, elas foram ocultadas quando
realizada a compatibilização.

3.3 Compatibilização
A compatibilização foi realizada no software Autodesk Navisworks. Em uma primeira análise, foi
possível verificar que os blocos estruturais estavam invadindo as janelas e que as mesmas estavam,
muitas vezes, deslocadas em relação a abertura apresentada no projeto estrutural. Isto pode ser visto
na Figura 10.
Figura 10 – Interferência entre projeto estrutural e arquitetônico (Fonte: Autores)
Ao estudar as interferências, foram descobertas divergências entre o pé direito apresentado no projeto
arquitetônico – 1,72m, e o do projeto estrutural – 1,70m. Esta divergência de 2cm, pode parecer
desprezível em um primeiro momento, mas, considerando que a altura dos andares é cumulativa, no
final do 10º andar a variação chega a alcançar 12cm – uma diferença significativa.
A divergência entre as medidas pode ser vista na Figura 11. Para corrigir esta interferência, o pé-
direito do projeto arquitetônico foi ajustado ao do projeto estrutural, pois a obra está sendo executada
de acordo com o projeto estrutural.

Figura 11 – Diferença entre medidas do pé direito entre projetos (Fonte: Autores)


Analisando o deslocamento de algumas janelas em relação às aberturas, é possível imaginar que isso
possa se dever à não conformidade das dimensões comerciais em relação à modulação utilizada. Este
tipo de interferência poderia ser resolvido com a escolha de especificações de esquadrias fossem de
acordo com as medidas da modulação.
Atualmente a execução da obra se encontra no quarto pavimento e, sendo assim, muitas avaliações
ainda serão feitas ao longo de sua execução. Porém, mesmo assim, várias das incompatibilidades
encontradas durante o estudo já foram confirmadas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após concluída a modelagem dos projetos em software BIM, percebe-se com clareza que um projeto
desenhado e compatibilizado nos moldes 2D tradicionais deixa passar muitos detalhes e
interferências, as que seriam facilmente percebidas se a modelagem fosse feita desde o início com
software BIM.
Adicionalmente, percebe-se como um grande problema o fato de que muitas dessas interferências
costumam ser resolvidas na própria obra, sem que haja um retorno ao escritório, o que faz com que
os projetos não sejam atualizados e sua qualidade não chegue a melhorar.
Por fim, fica evidente a necessidade de investimento na capacitação de profissionais nas novas
tecnologias, o qual contribuirá decisivamente para a qualidade dos projetos, com a consequente
diminuição de custos com retrabalho, tão comum dentro do setor AECO.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] ABNT ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15575: Edificações Habitacionais –
Desempenho. Rio de Janeiro. 2013.
[2] AMARAL, R.D.C.; PINA FILHO, A.C., A evolução do CAD e sua aplicação em projetos de Engenharia. Simpósio
de Mecânica Computacional - São João Del Rei: 2010.
[3] EASTMAN, C.; TEICHOLZ, P.; SACKS, R.; LISTON, K. BIM HANDBOOK: A guide to Building Information
Modeling for owners, managers, designers, engineers, and contractors. Hoboken, Nova Jérsei, EUA: John Wiley
& Sons, 2. ed., 2011.
[4] KALIL, S. M. B. Alvenaria Estrutural. PUCRS. 2004.
[5] NUNES, G.H. e LEÃO, M. Estudo comparativo de ferramentas de projetos entre o CAD tradicional e a
modelagem BIM. Revista de Engenharia Civil. Disponível em http://www.civil.uminho.pt/revista. Acesso em 30 set
2018.
ANÁLISE DO MÉTODO NATM, SONDAGEM E INSTRUMENTAÇÃO
ASSOCIADOS A ESTABILIDADE DE TÚNEIS. ESTUDO DE CASO:
ESTAÇÃO PINHEIROS – METRÔ DE SÃO PAULO

Analysis of NATM method, surface and instrumentation associated with tunnel


stability. Case: Pinheiros Station – Sao Paulo’s subway

Patrícia Ferreira ALVES¹, Guilherme Soldati FERREIRA2, Tatiana Tavares RODRIGUEZ2


1 UFJF, Juiz de Fora, Brasil, patricia.alves@engenharia.ufjf.br
2
UFJF, Juiz de Fora, Brasil, soldati@engenharia.ufjf.br
3
UFJF, Juiz de Fora, Brasil, tatiana.rodriguez.ttr@gmail.com

Resumo: Na cidade de São Paulo, o sistema de transporte metroviário possui uma grande e
crescente demanda populacional o que torna necessário novas obras de expansão das linhas do
Metrô. Nas obras subterrâneas, o NATM (New Austrian Tunneling Method) é um método
construtivo para escavações que tem sido amplamente utilizado devido a sua flexibilidade para
aplicação em diferentes tipos de solos. Trata-se de um método observacional que necessita de um
controlo rigoroso do seu desempenho através de instrumentação adequada para revisão e otimização
do projeto. No ano de 2007, a obra na estação Pinheiros da linha 4 Amarela do Metrô de São Paulo
entrou em colapso devido ao desmoronamento do túnel-estação, ocasionando 7 mortes além de
grande repercussão na mídia atraindo até mesmo olhares internacionais. A busca por respostas que
justificassem o acidente originou documentos de carácter investigativo que percorreram desde o
projeto executivo até as práticas de execução em campo. Neste artigo, apresenta-se uma análise das
prováveis causas do acidente, baseado no Relatório Técnico Final nº 99642205 realizado pelo IPT
(Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e em laudos periciais elaborados pelo britânico Nicholas
Barton, além de uma revisão bibliográfica dos temas envolvidos.

Palavras-chave: Metrô, NATM, Obras Subterrâneas.

Abstract: In Sao Paulo city, the subway transportation system has a huge population demand and
studies show this demand is going to grow even more. For this reason, Metro (sponsored by the
government) is responsible for construction projects to expand the existents lines and create new
ones. NATM is a recognized method applied to undergrounding constructions around the world and
known as a flexible tool that can be used in many types of soil modelling many different shapes. It’s
a observational method and requires a stringent control in order to achieve a successful undertaking
without any human and material risks. In 2007, during the expanding construction of Yellow Line
4, Pinheiros station collapsed killing 7 people besides dramatic repercussion in the international
media. In order to investigate the accident’s causes, specialists elaborated many official documents.
This article analyze the Final Technical Report nº 99642205 elaborated by IPT and Forensic
Reports by Nicholas Barton in order to discuss about the possible collapses’ causes.

Keywords: Subway, NATM, Undergrounding constructions, Tunneling.


1. INTRODUÇÃO

1.1 Mobilidade Urbana e malhas metroviárias

A alta densidade populacional e o grande número de veículos particulares nos centros urbanos são
elementos que ferem a eficiência da mobilidade urbana, pois geram problemas de
congestionamentos diários e de acidentes recorrentes que interferem diretamente na produtividade e
bem-estar dos trabalhadores. Assim, é essencial o investimento em transportes coletivos eficientes
que atendam a grande demanda de pessoas e que sejam compatíveis com o pequeno espaço físico
disponível para tais implementações. Para grandes capitais, como a cidade de São Paulo, as malhas
metroviárias se tornam boas alternativas devido ao grande potencial de alcance em número de
passageiros e linha territorial, embora tenham custos de investimentos mais caros como pode ser
observado na Figura 1.

Figura 1 - Relação entre desempenho dos sistemas de transporte e o custo de investimento [1]

O sistema de transporte metroviário em São Paulo operado pela Companhia Metropolitana atende
em média 4 milhões de pessoas por dia, motivo pelo qual o investimento em melhorias das linhas já
existentes e a expansão dessas malhas é de suma importância para a adequada mobilidade dos
habitantes e trabalhadores da grande cidade.
Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Transportes [1] mostra que o sistema
metroviário possui infraestrutura muito específica por se tratar de uma obra subterrânea, e, em
decorrência de condições geológicas desfavoráveis ou de grandes interferências urbanas, necessita
de eficiente projeto de engenharia para obtenção de êxito na expansão da malha de oferta. Para
elaboração desses projetos, destaca-se o método NATM (New Austrian Tunneling Method) como
uma evolução de técnicas, construção e monitoramento de túneis que se caracteriza pela sua enorme
flexibilidade por se adaptar a várias condições do maciço ao longo do túnel antes e durante a
escavação, além de permitir as mais diversas formas e dimensões.

1.2 O acidente na linha 4 amarela do Metrô – Estação Pinheiros

Com estimativa de atender 600 mil pessoas diariamente, a Companhia do Metropolitano de São
Paulo (Metrô) firmou em 2003 um contrato com o Consórcio Via Amarela (CVA) para a construção
da linha 4 amarela do Metrô no modelo de licitação conhecido como Preço Global. Em 12 de
janeiro de 2007, o poço de escavação da Estação Pinheiros entrou em colapso pelo desabamento das
paredes do rebaixo do túnel-estação sentido Faria Lima (Figura 2), causando 7 mortes, além de
imóveis interditados, condenados e demolidos pela Defesa Civil. Após o acidente, foi firmado um
Termo de Ajuste de Conduta (TAC) que descrevia sobre os procedimentos de investigação e
reparação da área lesada com a colaboração de vários órgãos, entre eles: Ministério Público do
Estado de São Paulo, Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Polícia Civil e o Consórcio Via
Amarela (CVA). Desse acordo, surgem o relatório técnico do IPT nº 99.642-205 de 2008 e os
laudos periciais do perito internacional Nicholas Barton, solicitados pelo Metrô e CVA
respectivamente.

Figura 2 – Vista superior da cratera formada pelo colapso do túnel-estação [2]


2. OBJETIVO
O presente trabalho busca uma análise das possíveis causas do desmoronamento do túnel da Linha 4
Amarela do Metrô de São Paulo durante a construção da Estação Pinheiros em janeiro 2007, tendo
como referência de estudo documentos técnicos elaborados por profissionais consagrados na área de
geotecnia e obras de terra que apresentam diferentes considerações e conclusões conflitantes,
baseadas em uma investigação minuciosa no local do acidente. Aliando as informações levantadas e
disponibilizadas por estes profissionais com os conhecimentos da literatura sobre obras subterrâneas
e o método NATM, fatores contribuintes para o colapso do túnel-estação são apontados neste
trabalho para fins de aprendizado acadêmico-social e contribuição profissional.

3. INFORMAÇÕES COLETADAS
3.1 Relatório Técnico IPT
Como resultado dos estudos feitos, o IPT aponta três principais aspectos que, em conjunto,
culminaram para o desabamento do túnel-estação da Estação Pinheiros. Dentre esses, cabe destacar
as falhas no projeto e na execução da obra. No contexto de projeto, o IPT afirma que o modelo
geomecânico consolidado para os cálculos de estabilidade do túnel era muito simplificado,
contrariando a realidade do maciço que apresentava muita heterogeneidade e condições geológicas
bem desfavoráveis. Pode-se citar ainda que, nas modelagens, o maciço foi considerado como
drenado, embora o mesmo possuísse carga hidráulica. Já o processo construtivo apresentou muitos
desvios significativos, em campo, do projeto executivo do túnel, tendo como principais: inversão do
sentido e aumento da taxa de avanço na escavação; aumento da altura da bancada; alteração na
sequência dos planos de fogo; e número reduzido de enfilagens. Segundo o IPT, essas mudanças de
projeto não passavam por uma verificação de risco (ciclo aprovação) através de interpretações e
análises dos dados de instrumentação para possíveis adequações ou correções, gerando um fator de
risco para a obra.
Na análise da instrumentação do túnel-estação sentido Faria Lima, a magnitude dos deslocamentos
foi elevada se comparada com a prevista em projeto, possuindo um aumento de velocidade nos
recalques internos do túnel de até 2 mm/dia. Essas constatações de aumento nos deslocamentos
eram observadas independentemente da localização das frentes de escavação, conforme Figura 3.
Figura 3 - Instrumentação e leituras aceleradas do túnel [3]

O relatório também aponta uma deficiência do plano integrado de gestão que não garantiu a
quantidade de tirantes de uso esporádico, previstos em campo, quando solicitadas pela ICE
(Instrução Complementar de Execução) do dia 11 de janeiro para a possível retomada de
estabilidade do túnel. Sobre o perfil geológico definido no projeto, o IPT nega haver discordâncias
no modelo geológico-geotécnico do maciço. Afirma que o modelo definido desde a fase pré-
licitatória do contrato é o mesmo revelado pelo estudo dos escombros do acidente, não procedendo
qualquer hipótese de sobrecarga geológica no maciço.

3.2 Laudos Periciais Nicholas Barton


Primeiramente, antes de dissertar sobre suas considerações, Barton afirma que, embora existam
muitas tecnologias modernas para identificação do perfil geológico do maciço, as investigações nos
meios urbanos ainda são muito limitadas devido à ocupação intensa e variada. Defende que o
desabamento do túnel foi um acidente único de muitas particularidades e que, mesmo com um plano
de emergência ativo eficiente, o acidente ainda poderia ter vítimas fatais devido à alta velocidade do
colapso.
Na Figura 4 pode-se observar a comparação entre o perfil sugerido pelas sondagens (Figura 4a) e a
realidade constatada pelos escombros (Figura 4b). Mesmo após anos de sondagens e investigações
para definição do modelo geológico do maciço, o solo previsto ao longo do comprimento
longitudinal do túnel não descreveu a realidade do local, pois a sondagem de número 8704
verticalizada não identificou o cume de rocha pouco alterada delimitada pelas altitudes 714 e 717 e
que pesava de 15 mil a 20 mil toneladas.
(a) (b)

Figura 4 – (a) Modelo conceitual e (b) Modelo real do túnel-estação [4]

Com essa sobrecarga extrapolando fatores de segurança aplicados ao projeto, Barton afirma que
nenhum suporte ou revestimento temporário seriam capazes de conter a estrutura de rocha não
prevista e qualquer tempo de análise para interpretação de tais deformações seriam insuficientes
para adequação do sistema de suporte e revestimento. As paredes próximas aos rebaixos foram as
primeiras a colapsar devido à alta carga não detectada da rocha pouco alterada, desencadeando o
desabamento de todo conjunto maciço-estrutura, conforme figuras 5 e 6.

Figura 5 - Modelo computacional da ruptura [3]


Figura 6 - Ordem do desabamento das paredes do túnel [5]

Barton também cita a falha do Metrô e do CVA por não efetivarem um plano de evacuação
emergencial, tanto para os trabalhadores quanto para os pedestres que circulavam na região.

4. ANÁLISES
4.1 A escolha do método NATM como sistema construtivo
O método NATM, embora mais barato se comparado com outras técnicas de escavação, se mostra
muito satisfatório em escavações subterrâneas devido a sua ampla aplicabilidade em vários tipos de
solos, assim como as várias possibilidades de dimensões, sistemas de revestimentos e de um
flexível cronograma físico por permitir a abertura de várias frentes de escavação. Além disso, a
engenharia possui muitas ferramentas tecnológicas para que esse método seja implantado de forma
eficiente, compreendendo um empreendimento bem-sucedido.

4.2 O plano de sondagens durante a obra


O modelo geológico-geotécnico do maciço foi resultado de múltiplas e variadas sondagens durante
anos que antecederam à fase de licitação. Mesmo depois do contrato firmado entre Metrô e o
Consórcio (CVA), mais sondagens foram realizadas pela contratada a fim de se confirmar o modelo
definido e, embora considerado mais heterogêneo nas últimas sondagens, o perfil geotécnico do
maciço foi consolidado sem muitas mudanças do modelo anterior. Pode-se dizer, então, que o
número de sondagens realizadas para reconhecimento do solo a ser escavado foi adequado e
suficiente para a execução da obra. Porém, quando se trata do método NATM aplicado a obras
subterrâneas, a observação das características do maciço no decorrer das escavações tem grande
importância na confirmação do modelo geológico definido.

4.2.1 A importância das sondagens inclinadas


Como indicado no laudo pericial de Barton, as sondagens realizadas não foram capazes de
identificar a rocha pouco alterada acima da seção escavada do túnel-estação. Isso ocorreu devido à
verticalidade da sondagem, em conjunto com a particularidade da disposição da rocha que resultou
em uma interpretação equivocada. Desse modo, mesmo que sondagens verticais complementares
fossem realizadas, possivelmente a rocha ainda não seria detectada.
Nesse contexto de inúmeras possibilidades nas configurações geológicas, as sondagens inclinadas
são capazes de coletar maiores comprimentos de amostras de solos em uma mesma altura de
prospecção, interceptando coordenadas linearmente progressivas ao longo da seção longitudinal,
detectando possíveis falhas paralelas às sondagens verticais e obtendo maiores informações sobre as
composições geológicas para uma interpretação mais fiel possível ao maciço.

4.3 Monitoramento da obra a partir da instrumentação


O método NATM, como bem consagrado na literatura, é um método observacional que utiliza as
instrumentações, instaladas nas seções de escavação, para obter parâmetros de pressões e
deformações que servem de análise de comportamento do maciço entre o esperado e o observado.
Isso permite com que o projeto executivo sofra alterações de construção, em um ciclo de
compatibilidade de estrutura do maciço e segurança do empreendimento, com adequações ao longo
de toda a escavação. Porém, esses parâmetros de pressões e deformações limites, a fim de
compatibilizar projeto e execução, devem ser calculados e explicitados, não permitindo
interpretações subjetivas e isentas de culpa.
Os engenheiros responsáveis pela obra, mesmo com os desvios significativos de execução, não
consideram necessário o ciclo de validação de segurança do projeto que é procedimento
importantíssimo para a conferência de cálculo e comportamento da redistribuição de tensões no
maciço. Com os desvios no projeto, novas condições de confinamento e esforços foram instauradas
na seção transversal do maciço e precisavam ser verificadas através de um protocolo com valores
limites de divergência a partir das condições originais, a fim de eliminar a subjetividade na
interpretação dos resultados e garantir a segurança do empreendimento.

4.4 A importância do gerenciamento de riscos no acompanhamento da obra


Na construção da linha 4 amarela do Metrô, em especial na Estação Pinheiros, a ausência de um
efetivo gerenciamento de riscos é notável desde a não realização do ciclo de validação do projeto,
necessária devido às mudanças no processo construtivo de escavação e sistema de suporte estrutural
do túnel-estação, até a deficiente relação de responsabilidades e obrigações entre Metrô, CVA e
terceiros.
A análise e gestão de riscos na construção de obras subterrâneas são essenciais para a verificação de
segurança do empreendimento devido às complexidades geológicas em relação ao maciço e aos
desafios técnicos de adequação do projeto presentes na filosofia do NATM. Pode-se sugerir então,
que a não identificação dos riscos capazes de apontarem possíveis colapsos estruturais a partir dos
desvios na construção e a não existência de um plano de respostas a esses riscos (tanto de
contingência, quanto de emergência) foram fatores de peso para a ocorrência do acidente da Estação
Pinheiros, e de suas vítimas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sucesso e acidentes estão atrelados em grandes empreendimentos de engenharia. Enquanto as
tecnologias avançam, os profissionais devem buscar sempre uma correta perspectiva e
aprimoramento de aprendizagem das técnicas empregadas. E sobre o acidente da estação Pinheiros
em São Paulo é possível extrair muito aprendizado acerca do método de escavação empregado e
suas boas práticas, das aplicações das sondagens inclinadas para modelagem geológica e do
processo de gerenciamento de risco de obras.
Como abordado neste artigo, o NATM é um método de escavação muito versátil e apresenta muitas
vantagens na sua aplicabilidade em variados tipos de solos, configurando uma boa opção para a
construção subterrânea da linha 4 Amarela do Metrô e suas frentes de trabalho na estação Pinheiros.
Porém, por se tratar de um método observacional, faz-se imprescindível a prática do monitoramento
através de instrumentação adequada, que visa a compatibilização das condições reais da escavação
com as condições esperadas, eliminando assim qualquer comportamento que ofereça risco à
segurança do empreendimento.
Para o auxílio desse monitoramento, documentos que contemplem valores de deformações e
recalques máximos devem estar constantemente sob consulta e avaliação, pelos engenheiros
responsáveis pela execução da obra, para a correta interpretação dos esforços limites e condições
desfavoráveis de confinamento no qual o maciço está inserido. Ainda sobre a compatibilização das
condições reais com as esperadas, a realização de sondagens complementares inclinadas poderia
auxiliar na compreensão da resistência do maciço e na detecção da rocha pouco alterada acima da
abóbada do túnel.
Por fim, aliando as sondagens complementares em campo e o correto monitoramento, o
gerenciamento de risco da obra assume papel essencial no bom andamento da execução do
empreendimento, através da revalidação constante do projeto construtivo e acionamento rápido do
plano de respostas para condições desfavoráveis à segurança da obra.
REFERÊNCIAS

[1] Confederação Nacional do Transporte – CNT. Transporte metroferroviário de passageiros. 2016.


Disponível em: http://cms.cnt.org.br/Imagens%20CNT/PDFs%%20Pesquisa%20Metroferrovi%C3%A1ria%20.
Acesso em: 20/02/2018.
[2] CBN. O metrô de São Paulo tem dia trágico. 2007. Disponível em:
http://cbn.globoradio.globo.com/institucional/historia/aniversario/cbn-25- anos/boletins/2016/ 01/14/2007-
METRO-DE-SAO-PAULO-TEM-DIA-TRAGICO.htm. Acesso em: 03/05/2018
[3] BARTON, N. The Pinheiros Disagreement. Letter to the Editor, Tunnels and Tunnelling International, 2009.
[4] BARTON, N. A unique metro accident in Brazil caused by multiple factors. 2nd Brazilian Congress of Tunnels
and Underground Structures, São Paulo, Brazil, 2008.
[5] IPT. Investigação e Análise do Colapso da Estação Pinheiros da Linha 4. Relatório Técnico Final no 99 642- 205,
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, São Paulo, 2008.
ch

RELAÇÃO ENTRE ACIDENTES EM ATERROS SANITÁRIOS E


MONITORAMENTO

Relationship between accidents in sanitary landfill and monitoring

Laura de Paula Soares 1, Sarah Kirchmaier Fayer 2, Nathália Delage Soares 3, Júlia Righi de
Almeida 4
1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, laurapsoares18@gmail.com
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, sarah.kirchmaier@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, nathaliadelage@gmail.com
4
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, julia.righi@ufjf.edu.br

Resumo: Diante do cenário brasileiro de disposição final de resíduos, percebe-se um grave atraso
em relação aos países desenvolvidos, visto que muitas cidades ainda depositam resíduos sólidos em
aterros controlados e lixões. O aterro sanitário, única forma de disposição final ambientalmente
adequada, é considerado uma estrutura recente no país e neste contexto ainda depara-se com
obstáculos como a carência de referências de êxito em outras obras e a falta de monitoramento
ambiental e geotécnico, que ainda não é um fator consolidado na maioria dos aterros sanitários.
Perante o exposto, este trabalho tem como objetivo discutir a relação entre acidentes em aterros
sanitários ocorridos no Brasil e a falta de monitoramento dessas estruturas. Acidentes envolvendo
aterros de resíduos não são raros e pelo menos 10 (dez) dessas estruturas se romperam desde a
década de 90, causando diversos impactos ambientais e sociais, com dezenas de mortes. Tanto o
Aterro Bandeirantes, em São Paulo, quanto o Aterro Salvaterra, em Juiz de Fora, sofreram rupturas
que provocaram deslizamentos consideráveis (65.000 m³ e 70.000 m³ de resíduos, respectivamente).
Como é muito comum na Engenharia, pode-se dizer que muitos avanços em relação à previsão do
comportamento dos aterros sanitários ocorreram após esses incidentes. Conclui-se através do estudo
realizado que o monitoramento deveria estar presente desde a fase de projeto até após o
encerramento das operações, de forma a contribuir para a atenuação de impactos ambientais gerados
por essas unidades. Além da falta de monitoramento das células de um aterro sanitário, outros
fatores contribuem de forma decisiva para a ocorrência de acidentes nessas estruturas. São eles: a
ineficiência nos sistemas de drenagem, o aumento da sobrecarga, a ausência de informações sobre
as características do resíduo presente no maciço e a crescente demanda por maiores volumes de
aterro.

Palavras-chave: aterro sanitário, acidentes, monitoramento.

Abstract: Given the Brazilian scenario of final waste disposal, there is a serious delay in relation to
the developed countries, since many cities still deposit solid waste in controlled landfills and
dumps. The sanitary landfill - the only form of sound final disposal that is environmentally correct -
is considered a recent structure in the country and in this context it still faces obstacles such as the
lack of references to success in other works and the lack of environmental and geotechnical
monitoring that has not yet is a consolidated factor in most landfills.
ch

Therefore, this paper aims to discuss the relationship between accidents in sanitary landfills in
Brazil and the lack of monitoring of these structures. Accidents involving waste landfills are not
uncommon and at least 10 of these structures have had accidents since the 1990s, causing a number
of environmental and social impacts, with dozens of deaths. Both sanitary landfill of
―Bandeirantes‖, in São Paulo, and sanitary landfill of Salvaterra, in Juiz de Fora, suffered ruptures
that caused considerable landslides (65,000 m³ and 70,000 m³ of waste, respectively). As is very
common in engineering, it can be said that many advances in predicting the behavior of landfills
occurred after these incidents. It was concluded through the study that monitoring should be present
from the design phase until after the closure of the operations, in order to contribute to the
mitigation of the environmental impacts generated by these units. Besides the lack of monitoring of
the cells of a landfill, other factors contribute decisively to the occurrence of accidents in these
structures. These are: inefficiency in drainage systems, increased overload, lack of information on
the characteristics of the residue present in the massif and the increasing demand for larger volume

Keywords: sanitary landfills, accidents, monitoring.

1. INTRODUÇÃO
Com a urbanização e o alto crescimento populacional nas últimas décadas, a quantidade de resíduos
sólidos urbanos (RSU) gerada aumentou de forma impactante. O lixo produzido por sete bilhões de
pessoas corresponde a 1,4 bilhão de toneladas por ano de RSU, sendo a maior parte gerada pelos
países mais desenvolvidos. O volume de lixo gerado atualmente é três vezes maior que o
crescimento populacional, sendo um grande desafio alcançar uma gestão eficiente dos RSU, que
são, em sua maioria, descartados de forma inadequada [1].

O Brasil possui quase 3 mil lixões em 1.600 cidades e as áreas de disposição são escolhidas
aleatoriamente, sem nenhum monitoramento e controle dos impactos ambientais [2]. O descarte
inadequado desses resíduos tem como consequência a contaminação do solo, da água e do ar, além
dos riscos à saúde da população. O panorama brasileiro de descarte de resíduos tende a piorar, a
julgar que o despejo inadequado de lixo teve um aumento de 3% de 2016 para 2017 [2]. Apesar de
alguns aterros controlados realizarem cobertura dos resíduos e drenagem de efluentes, o que mitiga
algumas dessas consequências, na maioria dos casos há um comprometimento da qualidade das
águas subterrâneas, já que não dispõem de sistemas de tratamento de chorume e gás.

A forma de disposição de resíduos avaliada como correta é o aterro sanitário, que, em suma,
consiste na disposição do lixo em área impermeabilizada e conta com recobrimento e compactação
do lixo com camadas sucessivas de solo. Define-se aterro sanitário como: ―Técnica de disposição de
resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando
os impactos ambientais. Método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos
sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma
camada de terra na conclusão de cada jornada de trabalho, ou a intervalos menores, se necessário.‖
[3]

Depois de licenciado e iniciada a operação do aterro sanitário, o mesmo necessita de constante


monitoramento para garantir seu perfeito funcionamento e para que não haja acidentes, visto que os
ch

impactos ao meio ambiente a partir desses eventos podem ser irreversíveis. Deslizamentos de
maciços de resíduos são comuns e foram relatados vários casos na última década. A partir desse
aporte teórico, o artigo analisará como a falta de monitoramento se relacionou com a ocorrência dos
acidentes do aterro de Salvaterra em Juiz de Fora e de Bandeirantes em São Paulo.

2. METODOLOGIA
Esse estudo foi feito por meio de revisão bibliográfica, com consulta aos principais casos de aterros
de resíduos em que a falta de monitoramento gerou acidentes a partir da ruptura do maciço de lixo.
Os tópicos 2.1 e 2.2 foram referenciados do guia do profissional em treinamento de Resíduos
Sólidos – Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitários [4].

2.1. Licenciamento

A primeira etapa do projeto de um aterro é a escolha da área de implantação. Essa escolha está
diretamente ligada ao desempenho do aterro e é uma das partes mais difíceis no processo, uma vez
que para ser considerada adequada, a área deve atender à alguns requisitos, como: localização fora
de áreas de restrição ambientais, distância mínima de habitações e cursos d’água, declividade
apropriada, solos menos permeáveis e profundidade do lençol freático.

Depois de escolhida a área, a próxima etapa é cumprir com a legislação ambiental do local. O
licenciamento ambiental conta com três etapas: licença prévia (LP), licença de instalação (LI) e
licença de operação (LO).
A LI concede a liberação para realizar estudos de impactos ambientais que o aterro causará. O
estudo em questão é o EIA, Estudo de Impacto Ambiental, e, a partir dele, apresenta-se um
relatório, o RIMA. Caso o EIA seja aprovado, ainda pode ser exigida uma audiência pública. A LI
permite que a obra de implantação do aterro tenha seu início, desde que seja conforme foi detalhada
no projeto. Se a LI for obtida, inicia-se a implantação do empreendimento. Já a LO autoriza as
atividades do aterro após fiscalização do cumprimento das licenças anteriores, é concedida dentro
de prazos de validade sendo possível um cancelamento da mesma, caso não forem cumpridas as
normas vigentes.

2.2. Monitoramento de Aterros Sanitários

Os aterros sanitários devem ser constantemente monitorados a partir do momento que já estão em
operação. Os possíveis impactos causados pelo mau uso de um aterro podem ser adversos, sendo
assim, é de fundamental importância que o monitoramento seja realizado corretamente. Esse
processo é divido em monitoramento ambiental e monitoramento geotécnico.

2.2.1. Monitoramento Ambiental

O monitoramento ambiental consiste em verificar se as obras de drenagem e impermeabilização


cumprem a função de isolar o entorno do aterro de resíduos e efluentes com potencial poluidor.
Dentro dele, consta o monitoramento dos seguintes elementos:
ch

 Qualidade das águas subterrâneas: regido pela NBR 15495-1 (ABNT, 2007) [5], tem como
finalidade examinar como se encontram os sistemas de drenagem e impermeabilização e
identificar mudanças na qualidade da água. Esse monitoramento é feito por análise
laboratorial de amostras de água coletadas em poços a jusante do aterro.

 Qualidade das águas superficiais: são coletadas amostras de água do sistema de drenagem
pluvial e estas são analisadas em laboratório com base na Resolução CONAMA No 357 de
2005 [6]. O objetivo é detectar mudanças nos cursos d’água e examinar a contaminação das
águas pluviais.

 Qualidade do ar: esse quesito tem como finalidade avaliar a qualidade do ar no entorno do
aterro para evitar proliferação de doenças. É realizado a partir de equipamentos de avaliação
da qualidade do ar, monitorando os níveis de partículas totais e inaláveis em suspensão
designados pela NBR 13412 (ABNT, 1995) [7] e NBR 9547 (ABNT, 1997) [8]. Esses
aparelhos são instalados em pontos na direção preferencial dos ventos e o monitoramento é
realizado com periodicidade prevista em cronograma.

 Poluição sonora, ruídos ou pressão sonora: consta em monitorar os níveis de ruídos gerados
em um aterro sanitário para evitar efeitos negativos sobre os seres humanos que residem ao
entorno. Os parâmetros para este monitoramento vão de acordo com a NBR 12179 (NB 101)
[9], e os ruídos não poderão ultrapassar os limites da Norma NBR 10152 (ABNT, 2017)
[10] e conforme Resolução do CONAMA No 01 [11].

 Líquidos lixiviados: por análises em laboratório de diversos parâmetros, como DBO, DQO,
sólidos, metais pesados, entre outros com base na Resolução CONAMA No 430 de 2011
[12]. Ocorre a avaliação da qualidade e quantidade de lixiviados antes de serem lançados em
corpos d´água. Com isso, consegue-se estimar a eficiência do sistema de tratamento. As
amostras são recolhidas na entrada e na saída do sistema.

 Gases: a partir do controle da qualidade dos gases, consegue-se avaliar o grau de


estabilização e as fases de degradação dos resíduos, além de seu potencial energético.

2.2.1. Monitoramento Geotécnico


O monitoramento geotécnico consiste na avaliação das condições de segurança, possibilitando
assim a estimativa da vida útil do aterro. É importante que sejam avaliados:
 Recalques superficiais: para monitorar os deslocamentos do aterro são monitorados os
registros topográficos de medidores de recalques e marcos superficiais presentes nos taludes,
bermas e topo do aterro. Isso permite estimar a vida útil e avaliar estabilidade de taludes, se
tornando um dos pontos mais importantes para evitar acidentes.
 Pressões nos líquidos e gases no interior do maciço: a poropressão pode ser obtida por várias
técnicas, como por piezômetros do tipo sifão, para medir as pressões de gás e de líquidos
percolados isoladamente. Os mesmos são compostos por dois tubos concêntricos, um
interno para o registro da pressão no chorume e um externo para a avaliação da pressão no
ch

gás. A partir da análise da poropressão pode-se avaliar a estabilidade de taludes e evitar


acidentes.
 Inspeções de campo e controle tecnológico dos materiais geotécnicos utilizados: por toda
extensão do aterro devem ser realizadas análises visuais para detectar trincas, vazamentos,
entre outros e verificar a qualidade dos materiais utilizados no aterro. Esse critério visa
averiguar o perfeito funcionamento dos elementos do projeto.

O monitoramento ambiental e geotécnico no Brasil é realizado apenas nos aterros de grande porte, e
mesmo assim, existe uma variação de procedimentos de um aterro para outro. Como as obras de
aterros são estruturas recentes, as referências sobre monitoramento na literatura são escassas. Tanto
o monitoramento ambiental quanto o geotécnico devem ser previstos já no projeto do aterro, a fim
de garantir a estabilidade do maciço e prever o comportamento do mesmo. É importante ressaltar
que não existem normas nem critérios consagrados para regulamentar a instrumentação desses
monitoramentos [13].

2.3. Aterro Salvaterra, Juiz de Fora - MG

2.3.1. Histórico

O município de Juiz de Fora, onde se localiza o aterro Salvaterra, enfrentou diversos problemas em
relação à gestão dos RSU. Até dezembro de 1998, o lixo urbano produzido era descartado em uma
gleba no município de Matias Barbosa, também em Minas Gerais. Após várias interpelações
judiciais, o local foi interditado e deu-se inicio à vida útil do aterro Salvaterra. O aterro localiza-se
nas margens da rodovia BR040 em uma gleba de aproximadamente 40 hectares que dista 11 km do
centro urbano do município. A gleba se divide em duas vertentes, a esquerda e a direita (Figura 1),
sendo a primeira onde se iniciou as operações do aterro, recebendo todo tipo de resíduo, inclusive
hospitalares e industriais [14].

Na época em que foi implantado o aterro Salvaterra, havia um plano diretor que alegava que o sítio
da Igrejinha, também localizado em Juiz de Fora, seria mais adequado para a instalação do aterro
naquele momento. Porém, o DEMLURB (Departamento Municipal de Limpeza Urbana) ignorou
esse plano e seguiu com a implantação do aterro no sítio de Salvaterra. O local era totalmente
impróprio para receber tal fim: situava-se a 300 m de núcleos habitacionais e comerciais,
apresentava declividade maior que 30%, estava localizado em área de bacia de Rio Classe 1 e o
lençol freático estava a apenas 2 metros de profundidade. Além disso, é uma área de proteção
permanente e se localiza às margens de uma rodovia, próximo à curva do trevo de acesso a Juiz de
Fora, estando parte do maciço dentro da faixa de domínio do DNER (Departamento Nacional de
Estradas de Rodagem). O aeroporto Francisco de Assis se localizava a 3,5 km do aterro, e como as
aves dos locais eram espantadas com fogos de artifícios, comprometia o funcionamento do
aeroporto. Mesmo com todos estes riscos, seguiu-se com a implantação do aterro[15].
ch

Figura 1 – Localização do Aterro de Salvaterra [14]

2.3.2. Acidente

Em abril de 2004, ocorreu um deslizamento de aproximadamente 70.000 metros cúbicos de resíduo.


Alega-se que este acidente aconteceu devido às chuvas intensas neste período que contribuíram para
a formação de bolsões de gases e percolados, que atribuíram ao aterro uma geometria desfavorável
e, consequentemente, levaram ao deslizamento [14]. Além disso, o solo ali presente era
predominantemente siltoso, o que confere maior permeabilidade e, consequentemente, maior erosão
pelo contato com a água e o chorume [15]. Esse contato com a água era agravado pelo fato de
vários pontos do aterro terem contato com o lençol freático e ainda não possuir vala para captação
do efluente. Há informações verbais de que a retirada do material do maciço era realizada,
intencionalmente, por baixo, provocando, assim, deslizamentos superficiais. Em março de 2000 um
proprietário da fazenda São Mateus, por onde passa o córrego São Mateus, que se localiza a jusante
do aterro, solicitou uma análise da água do córrego e a mesma comprovou que na cabeceira de seu
açude, os níveis de coliformes totais e fecais já estavam muito acima do permitido, assim como o
nível de ferro. Sendo assim, constata-se que não havia nenhum sistema de impermeabilização do
terreno ou de drenagem de chorume. Rogério Campos Teixeira, diretor da empresa que realizou o
projeto do aterro, afirmou que junto aos altos índices pluviométricos, a granulometria siltosa do solo
contribuiu para os altos índices de contaminação [15].

Os impactos causados por esse acidente foram diversos, como o impedimento da passagem de
cursos d’água e nascentes, exposição de resíduos gerando odor, presença de moscas e aves, perda da
conformação geométrica, contaminação do solo por metais pesados, ecossistemas afetados e
comprometimento de utilização da área [14];[15]. Uma análise de água feita no córrego Salvaterra
pela proprietária da fazenda Santa Cruz em março de 2007, mostra altos índices de DBO e
nitrogênio amoniacal, acima dos estabelecidos pela norma, além de significante perda de qualidade
da água do córrego em questão. O deslizamento ocorrido em 2004 fez com que o maciço deslizado
ficasse retido na divisa do aterro com a reserva ali presente e depois foi carregado para dentro da
fazenda Santa Cruz [15].
ch

Após o acidente no aterro Salvaterra (Figura 2 e Figura 3), foi iniciada uma obra de emergência na
vertente direita, que teria vida útil de apenas 24 meses e receberia somente resíduos de origem
urbana e domiciliar. A obra foi iniciada em primeiro de abril de 2005 e a vertente entrou em
operação dia trinta de maio de 2005. Essa vertente possuía manta de impermeabilização, cobertura
diária de resíduos, drenos e valas de chorume. O percolado da vertente direita e da vertente
esquerda são direcionados para uma estação de tratamento em Barbosa Lage, pela CESAMA
(Companhia de Saneamento Municipal). Além disso, as vertentes apresentam marcos superficiais
para acompanhar a movimentação de taludes e platôs, inspeção e acompanhamento visual de trincas
e poços para monitorar os lençóis subterrâneos [15].

Fora todos os impactos ambientais e sociais, o gasto com o aterro foi muito maior do que seria caso
o DEMLURB tivesse seguido o plano diretor e implantado o aterro no sítio de Igrejinha. Os gastos
totais com o aterro de Salvaterra foram de R$ 17.797.640,00 com uma vida útil de oito anos. Já os
gastos previstos para o aterro em Igrejinha seriam de R$ 19.500.000,00 (Tabela 1), porém com uma
vida útil estimada de 20 anos [15].

Tabela 1 – Tabela de gastos por ano do aterro de Salvaterra [15]

Ano Gastos (R$)


1999 345.000,00
2000 239.000,00
2001 296.666,00
2002 3.271.179,00
2003 308.904,00
2004 1.775.684,00
2005 8.183.923,00
2006 3.067.388,00

Figura 2 – Aterro de Salvaterra antes da ruptura [16]


ch

Figura 3 – Aterro de Salvaterra depois da ruptura [16]

2.4. Aterro Bandeirantes, São Paulo - SP

2.4.1. Histórico
O aterro de Bandeirantes, localizado no km 26 da rodovia dos Bandeirantes (Figura 4), em São
Paulo, foi o primeiro aterro sanitário da região Sudeste. O mesmo foi licenciado e operado desde
1986 possuindo 140 hectares, além de ser constituído por cinco áreas operacionais: AS-1, AS-2,
AS-3, AS-4 e AS-5. Durante seus 28 anos de atividade recebeu o depósito de aproximadamente 35
milhões de toneladas de lixo proveniente da cidade de São Paulo. Devido a carência de locais
adequados para a disposição dos RSU, o aterro de Bandeirantes chegou a alcançar mais de 100
metros de altura [17].
ch

Figura 4 – Localização aterro de Bandeirantes em São Paulo. [18]

2.4.2. Acidente
Em 1991, ocorreu um deslizamento no sub-aterro AS-1 (Figuras 5 e 6) de 65.000 metros cúbicos de
volume de lixo por uma distância de 250 m [19]. Análises da ruptura do sub-aterro demonstraram
que o fator deflagrador foi a elevação das pressões neutras (poropressão) devido ao acúmulo de
chorume, uma vez que não existia ou era ineficiente a rede de drenagem de percolados.

Figura 5 – Aterro de Bandeirantes antes da ruptura [16]


ch

Figura 6 – Aterro de Bandeirantes após da ruptura [16]

A eficácia do sistema de drenagem de percolado é garantida através do monitoramento das pressões


neutras. Para monitorar a poropressão no interior do maciço de um aterro sanitário, sugere-se a
instalação de piezômetros em várias profundidades, como os do tipo Vector (Figura 7), que
permitem medir as pressões de gás e de líquidos percolados separadamente. Estes piezômetros são
constituídos de dois tubos concêntricos, sendo o interno para o registro da pressão no chorume e o
externo para a avaliação da pressão no gás [22]. Além dos piezômetros, o monitoramento de
líquidos no maciço pode ser realizado através de poços por toda extensão do aterro [23]. Sendo
assim, constata-se que não havia monitoramento das poropressões no caso do aterro de
Bandeirantes, e o acidente poderia ter sido evitado, caso fossem apuradas variações significativas de
pressão previamente.

Figura 7 - Desenho esquemático de um piezômetro tipo Vector [19].


ch

Os recalques e a presença de trincas na cobertura dos taludes são indicadores de comprometimento


da estabilidade do maciço e, portanto, servem como alerta para a ocorrência de deslizamentos. A
medição de recalques é realizada com equipamentos topográficos (estação total e prisma ótico) e os
medidores são constituídos por uma base de concreto (Figura 8), instalada entre o topo dos resíduos
e a camada de cobertura final, e uma haste de aço. Já para verificar a presença de trincas, deve-se
realizar inspeções visuais por toda extensão do aterro [23]. Em ambos os casos estudados
(Bandeirantes e Salvaterra) não foram constatadas realizações dessas etapas do monitoramento
geotécnico. Por esse motivo, entende-se que a disposição inadequada, a falta de um sistema de
drenagem apropriado e a ausência de monitoramento geotécnico são fatores que deflagram a
ocorrência de acidentes de escorregamento em aterros sanitários.

Figura 8 – Medidores de recalques [19]

3. CONCLUSÃO
O presente artigo tem como objetivo relacionar a falta de monitoramento ambiental e geotécnico de
aterros sanitários com a ocorrência dos dois acidentes em questão. Por meio de uma revisão
bibliográfica, verificaram-se falhas no planejamento e no monitoramento, que culminaram nos
deslizamentos ocorridos nos aterros de resíduos de Juiz de Fora - MG e São Paulo - SP.

Em ambos os casos estudados, constatou-se que as áreas escolhida não eram adequadas para receber
os aterros. Segundo NBR 13896 [20], para uma área ser caracterizada como adequada para
implantação de um aterro, deve- se contar com: minimização do impacto ambiental causado pelo
aterro, maximização da aceitação pela população, área de acordo com o zoneamento da região e
longa vida útil, necessitando do mínimo de obras para início da operação. Além disso, a NBR
13896 [20] também sugere que o terreno apresente: topografia com declividade superior a 1% e
inferior a 30%, coeficiente de permeabilidade inferior a 10-6 cm/s, distância mínima de 200 m de
qualquer coleção hídrica ou curso de água (essa distância pode ser alterada a critério do Órgão de
Controle Ambiental) e distância mínima de núcleos populacionais superior a 500 metros.

Segundo a NBR 13896 [20], o sistema de drenagem adequado para coleta do líquido percolado
(chorume) de um aterro deve ser: ―instalado imediatamente acima da impermeabilização,
ch

dimensionado de forma a evitar a formação de uma lâmina de líquido percolado superior a 30 cm


sobre a impermeabilização, construído de material quimicamente resistente ao resíduo e ao líquido
percolado, e suficientemente resistente a pressões originárias da estrutura total do aterro e dos
equipamentos utilizados em sua operação e projetado e operado de forma a não sofrer obstruções
durante o período de vida útil e pós-fechamento do aterro‖. Além disso, esse sistema deve ser
constituído de um coletor de área, que é um dreno que envolve totalmente a área do liner (camada
drenante) e de coletores laterais, que consiste em uma rede de drenos que captam o percolado da
camada drenante e o conduzem para fora do aterro [21]. Tanto no aterro Salvaterra (Juiz de Fora –
MG), quanto em Bandeirantes (São Paulo), verifica-se que a ineficiência, ou até mesmo inexistência
do sistema, foram fatores deflagradores para a ocorrência dos acidentes.

Ao se tratar de estabilidade de aterros sanitários, também é importante ressaltar que com o crescente
aumento da geração de resíduos, os maciços vêm atingindo alturas cada vez maiores e sendo
submetidos a sobrecargas. Sendo assim, a geometria conferida aos aterros torna-se desfavorável e
pode ser também considerado um fator deflagrador dos acidentes.

Além da falta de planejamento e monitoramento, vale ressaltar que no Brasil ainda se utiliza de
parâmetros europeus para alguns cálculos de projetos de aterro sanitários. Porém, a realidade
brasileira é muito distante da europeia. No Brasil, cerca de 50 a 60% do que chega nos aterros são
matéria orgânica [24], já na Europa esse índice é bem menor. O grau de decomposição da matéria
orgânica é um importante parâmetro para manutenção e estabilidade dos aterros sanitários, uma vez
que quanto maior o volume de matéria orgânica, maior a quantidade de chorume e de gases
produzidos, sendo estes os maiores responsáveis pela instabilidade do maciço. A quantidade de
material orgânico também influencia no teor de umidade, na permeabilidade, na resistência ao
cisalhamento e no peso específico [25].

Por fim, vale ressaltar que no Brasil a grande preocupação deveria ser com o controle da quantidade
e qualidade dos resíduos que chegam ao aterro, pois caso a quantidade de matéria orgânica fosse
reduzida, não haveria necessidade de constante e tão rigoroso monitoramento. Para tal fim, é de
extrema importância o incentivo à reciclagem, à compostagem e uma base educacional que combata
a cultura do desperdício.

REFERÊNCIAS
[1] ALMEIDA, J. R. de. Destinação final de resíduos sólidos no Brasil: desafios e oportunidades. In: Fórum Ambiental
e Florestal, 6, 2018. Juiz de Fora.

[2] Ainda o problema dos lixões. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 16 out. 2018. Disponível em:
<https://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,ainda-o-problema-dos-lixoes,70002548659 >. Acesso em: 17 out. 2018.

[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8419: Apresentação de projetos de aterros
sanitários de resíduos sólidos urbanos -Procedimento. Rio de Janeiro, 1992.

[4] LANGE, L. C.; SIMÕES, G. F. Projeto, Operação e Monitoramento de Aterros Sanitários. Belo Horizonte,
2008.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15495-1:Poços de monitoramento de águas
subterrâneas em aquíferos granulados. Rio de Janeiro, 1995.
ch

[6] CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n. 357, de 05 de Julho de 2002. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=307. Acesso em: 21 de outubro de 2018.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13412: Material particulado em suspensão na
atmosfera - Determinação da concentração de partículas inaláveis pelo método do amostrador de grande volume
acoplado a um separador inercial de partículas - Método de ensaio. Rio de Janeiro, 1992.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9547: Material particulado em suspensão no ar
ambiente - Determinação da concentração total pelo método do amostrador de grande volume. Rio de Janeiro, 1997.
[9] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12179: Tratamento acústico em recintos fechados
- Procedimento. Rio de Janeiro, 1992.

[10] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10152: Acústica — Níveis de pressão sonora
em ambientes internos a edificações. Rio de Janeiro, 2017.

[11] CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n. 01, de 23 de Janeiro de 1986. Disponível em:
http://www2.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html. Acesso em: 21 de outubro de 2018.

[12] CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n. 430, de 13 de Maio de 2011. Disponível em:
http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646. Acesso em: 21 de outubro de 2018.

[13] ALMEIDA, J. R. de. Proposta de índice de avaliação de aterros de resíduos desativados a partir do potencial
poluidor do lixiviado. Tese (Doutorado). Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2017.

[14] TEIXEIRA, G.P.; FRANÇA, R. A.; LACERDA, G.B.M. Metodologia de operação de aterro sanitário no
município de Juiz de Fora – MG. In: Seminário Nacional de Resíduos Sólidos, 8., 2012, Espírito Santo.

[15] VALE, C.S. Planejamento e sustentabilidade: o caso da disposição final dos resíduos sólidos na cidade de Juiz de
Fora. ANAP Brasill, v.3, n.3, p. 67 – 82, jul. 2010.

[16] BENVENUTO, C. Monitoramento de Aterros Sanitários. In: Workshop Resíduos Urbanos: Desafios para a
administração pública. 2016. 82 slides. Disponível em: http://www.ablp.org.br/pdf/Clovis-Benvenuto.pdf. Acesso em:
21 out. 2018

[17] CARVALHO, M. F. Comportamento mecânico de resíduos sólidos urbanos. Tese (Doutorado). São Carlos:
Escola de Engenharia da Universidade de São Carlos, São Carlos, 1999.

[18] LOGA - Logística Ambiental de São Paulo. Disponível em


<http://www.loga.com.br/content.asp?CP=LOGA&PG=LG_L03>. Acesso 21 out. 2018.

[19] BATISTA, H. P. Desenvolvimento de diretrizes para monitoramento geotécnico e plano de contingência/


emergência em aterros sanitários. Dissertação (Mestrado). Belo Horizonte: Escola de Engenharia da Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2010.

[20] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13896: Aterros de resíduos não perigosos -
Critérios para projeto, implantação e operação. Rio de Janeiro, 1997.

[21] OLIVEIRA, D. A. F. Estabilidade de taludes de maciços de resíduos sólidos urbanos. Dissertação (Mestrado).
Brasília: Faculdade de Tecnologia da Universidade de Brasília, Brasília, 2002.

[22] REMÉDIO, F. H . Análise de estabilidade de taludes de aterros de resíduos urbanos utilizando parâmetros
geotécnicos de propostas bibliográficas e correlações com Nspt. Dissertação (Mestrado). Rio Claro: Instituto de
geociências e ciências exatas da Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2014.
ch

[23] CATAPRETA, C. A. A.; SIMÕES, G. F. Monitoramento ambiental e geotécnico de aterros sanitários. In:
Congresso Brasileiro de Gestão Ambiental, 7., 2016, Campina Grande.

[24] IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Apenas 13% dos resíduos sólidos urbanos
no país vão para reciclagem, 2017. Disponível em:
<http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=art icle&id=29296>. Acesso em 21 out.
2018.

[25] SHIMAZAKI, L. R. Análise de estabilidade de aterros de resíduos sólidos antigos. Dissertação (Monografia).
São Carlos: Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, São Carlos, 2017.
IMPLANTAÇÃO DO BIM EM UMA EMPRESA DE PEQUENO PORTE –
ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA JÚNIOR

Implementation of BIM in a small business – case study in a junior company

Rafael Braida Ribeiro 1, Mauricio L Aguilar Molina 2


1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, rafael.braida@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, mauricio.aguilar@engenharia.ufjf.br

Resumo: O BIM vem se consolidando no Brasil devido a diferentes incentivos e políticas


governamentais. A criação da Câmara Brasileira de BIM, o lançamento da Estratégia BIM BR e o
incentivo de instâncias como o governo estadual de Santa Catarina, a Caixa Econômica Federal, o
BNDES e o Exército Brasileiro permitem perceber a importância do movimento no Brasil, com a
consequente demanda por profissionais com competências em BIM. Considerando que é nas
instituições de ensino superior que são formados os profissionais que irão desenvolver projetos de
engenharia, percebe-se a necessidade de uma mudança na forma como tais competências são
abordadas. As empresas juniores constituem um espaço de grande relevância para que os discentes
comecem a se envolver com o desenvolvimento de projetos profissionais reais, junto com o
gerenciamento dos mesmos. Sob esse contexto, a PORTE Jr., Empresa Júnior das faculdades de
Engenharia e Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora, em decorrência dos
seus objetivos para o ano de 2018, decidiu pela implantação do BIM em seus processos, políticas e
ferramentas de projetos. Foi definida, para a criação do Plano de Implementação BIM, a adoção dos
conceitos do PMBOK, a fim de possibilitar o gerenciamento profissional de projetos. Este trabalho
apresenta o novo plano de trabalho da empresa, definido a partir de práticas existentes e modificando
aspectos da concepção e fluxo de trabalho dos projetos. Para este fim foi estabelecida uma parceria
com o Grupo de Estudos e Práticas em BIM da Faculdade de Engenharia da UFJF. O plano prevê a
adoção do “Design for X (DfX)” – um conjunto de diretrizes técnicas que podem ser aplicadas durante
a etapa de concepção do projeto de uma edificação para otimização de um aspecto específico do seu
design: sua gerenciabilidade. Desse modo, o plano de trabalho para a empresa júnior prevê a
implementação do BIM num contexto de “Design para a Gerenciabilidade”.

Palavras-chave: BIM, Gerenciamento de Projetos, Design for X.

Abstract: BIM has been consolidating in Brazil due to different incentives and government policies.
The creation of the Brazilian Chamber of BIM, the launch of the BIM BR Strategy and the
encouragement of instances such as the state government of Santa Catarina, Caixa Econômica
Federal, BNDES and the Brazilian Army allow us to perceive the importance of the movement in
Brazil, with the consequent demand for professionals with BIM competencies. Considering that it is
in higher education institutions that are trained the professionals who will develop engineering
projects, it is perceived the need for a change in the way these competences are approached. Junior
companies constitute a space of great relevance for students to begin to be involved in the
development of real professional projects, together with their management. In this context, PORTE
Jr., the junior company of the faculties of Engineering and Architecture and Urbanism of the Federal
University of Juiz de Fora, as a result of its objectives for the year 2018, decided to implement BIM
in its processes, policies and project tools. For the creation of the BIM Implementation Plan, the
adoption of the PMBOK concepts was defined, in order to allow the professional management of
projects. This work presents the new work plan of the company, defined from existing practices and
modifying aspects of the design and workflow of the projects. To this end a partnership was
established with the Group of Studies and Practices in BIM of the Faculty of Engineering of UFJF.
The plan foresees the adoption of "Design for X (DfX)" – a set of technical guidelines that can be
applied during the project design stage of a building to optimize a specific aspect of its design:
manageability. Thus, the work plan for the junior company provides for the implementation of BIM
in a context of "Design for Manageability".

Keywords: BIM, Project Management, Design for X.

1. INTRODUÇÃO
O setor da Arquitetura, Engenharia, Construção e Operações – AECO – passa por mudanças
significativas com a adoção do BIM – Building Information Modeling – um conjunto de tecnologias
de projeto e processos produtivos que possibilita a geração e gestão de dados de construção ao longo
do ciclo de vida de um empreendimento, envolvendo a coordenação entre as diferentes disciplinas do
projeto [1].

1.1. O aprendizado do BIM na UFJF


O estudo conceitual do BIM, bem como sua aplicação prática, vem sendo realizado em áreas da UFJF
que pouco se comunicam, como a Pró-Reitoria de Infraestrutura e Gestão, disciplinas eletivas e
pesquisas de docentes das faculdades de Engenharia e Arquitetura e Urbanismo, além da empresa
PORTE Jr. Este trabalho surge da necessidade de suprir a demanda por uma modernização nos
processos de projetos da PORTE Jr., bem como fomentar o intercâmbio de informações entre as
diversas áreas internas e da universidade como um todo.
No segundo semestre do ano de dois mil e dezoito, discentes do curso de Engenharia Civil da
Faculdade de Engenharia deram início ao Grupo de Estudos e Práticas em BIM da UFJF (GEBIM).
O formato de grupo, que conta com apoio docente, tem como objetivo desenvolver conhecimento
através de estudos e discussões, atuando em torno de alguns eixos para a disseminação do BIM na
UFJF. O primeiro deles é a identificação das disciplinas do currículo envolvidas na concepção de um
projeto de edificação e a articulação dos conceitos do BIM nelas; o segundo é a disseminação do BIM
através das disciplinas que fazem parte dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo na
UFJF. Por fim, a implantação do BIM na PORTE Jr. através de uma parceria com o GEBIM constitui
a base deste trabalho.
O movimento de empresas júnior constitui uma oportunidade interessante para alunos de cursos de
graduação para aceder às inovações do mercado e, nesse intuito, a parceria entre e o GEBIM e a
PORTE Jr. viabiliza a transferência de conhecimento para sua utilização em projetos reais de
edificações. A PORTE Jr. possui como meta para o presente ano “Se manter como primeira empresa
júnior do estado de Minas Gerais” e, como visão, “Ser a maior empresa júnior do Brasil até 2020”.
1.1. Iniciativas governamentais para implantação do BIM
Segundo PESSATO [2], o estado de Santa Catarina é o pioneiro no incentivo à utilização do BIM no
Brasil, através da exigência de projetos para a Secretaria de Saúde nesses moldes. Desta forma, aliado
à existência de incentivos federais, percebe-se que as esferas governamentais estão cumprindo um
importante papel de fomentar a utilização do BIM no Brasil. Através de uma pesquisa realizada com
construtoras da cidade de Florianópolis por MASOTTI [3], foi possível ter uma percepção do estado
da arte do setor AECO no que diz respeito a escritórios de projetos, que é o perfil da empresa objeto
de estudo neste trabalho.
Das quinze empresas que MASOTTI [3] estudou, somente duas delas não estavam familiarizadas
com o conceito BIM, três adotam o conceito – seja por vontade própria ou por demanda de clientes.
Quatorze das quinze empresas acreditam que a área de projetos é aquela na qual vislumbra-se um
maior potencial de crescimento com o BIM, como mostrado no gráfico apresentado na figura 1.

Figura 1 – Potencial de Evolução [3]


O BIM permeia todas as áreas do setor AECO e, na opinião dos profissionais das empresas
entrevistadas, seus benefícios serão amplos.

Figura 2 – Benefícios do BIM [3]


A menção do setor de projetos como aquele que possui maior potencial de crescimento, conforme
mostra a Figura 1, aponta para a importância de se investir nessa etapa do ciclo de vida. Por tal motivo
foi proposto para a PORTE Jr. um plano de implementação do BIM que foca inicialmente em
melhorias de processos e na mudança da mentalidade de projeto tradicional para aquela que será
chamada aqui de “Design para a Gerenciabilidade”.

2. OBJETIVOS
A implantação do BIM em uma empresa, independente do seu porte, vai muito além da simples
aquisição e utilização de softwares; ela requer uma mudança geral em todo o processo de projeto.
Segundo Ferreira (2017), quando se pensa na adoção do BIM para a elaboração de projetos, pretende-
se alcançar a eficiência através da interoperabilidade, bom gerenciamento de informações e
sustentabilidade.
Desta forma, este trabalho tem como objetivo apresentar as etapas utilizadas durante a criação do
Plano de Implantação BIM que permitirá que a empresa júnior saia do nível 0 e alcance, inicialmente,
o nível 1 de maturidade BIM. Para tal serão seguidas práticas de gerenciamento de projetos descritas
no PMBOK em sua sexta edição [4], dentre elas o Design for X, no contexto do Design para a
Gerenciabilidade.

3. REVISÃO DA LITERATURA
Uma forma de implantar e analisar as áreas de um projeto sob a ótica BIM é através das suas
dimensões. A edificação passa por um ciclo de vida que, no BIM, envolve sete dimensões:
Modelagem (3D), Planejamento (4D), Orçamento (5D), Sustentabilidade (6D) e Gestão da Operação
(7D). Essas dimensões são inseridas de forma sequencial no ciclo de vida da edificação como
mostradas na imagem abaixo.

Figura 3 – Ciclo de vida da edificação (Fonte: http://buildipedia.com/aec-pros/design-news/the-daily-life-of-


building-information-modeling-bim)
A figura 4 mostra, de forma comparativa, o fluxo de trabalho de um projeto utilizando BIM e não o
utilizando. Analisando-a é possível observar que o fluxo de trabalho BIM aumenta a quantidade de
trabalho nas fases de projeto, o que possibilita a otimização e redução do trabalho nas fases de
execução. Desse modo, quanto mais avançado encontra-se o cronograma do projeto, maior é o custo
de qualquer mudança e menor o seu impacto.

Figura 4 – Processo BIM de Projeto [5]


A implantação do BIM envolve, além de ferramentas, conceitos e processos que devem ser bem
definidos e difundidos por toda a empresa, para se avançar na maturidade organizacional em torno
do BIM, conforme mostrado na figura 5.

Figura 5 – Níveis de Maturidade BIM [2]


4. ESTUDO DE CASO
Durante o processo de elaboração do Plano de Implantação BIM para a PORTE Jr. foram seguidas
etapas bem definidas de observação, análise e decisão. O fator dominante durante todo o processo foi
a preocupação em, inicialmente, tentar adaptar processos já existentes para a realidade BIM e,
somente no caso de não ser possível adaptar, optar pela completa modificação. Essa preocupação faz
com que sejam respeitadas as características da empresa e de seus membros.
Uma ferramenta de projeto utilizada na indústria naval é a Espiral de Projeto de Evans [6]. Essa
ferramenta se baseia em um ciclo de melhoria contínua baseado nas etapas do projeto. Na elaboração
do Plano de Implantação BIM foi utilizada a espiral abaixo para que fosse possível, a cada ciclo
completo, iniciar um novo processo de melhoria que fizesse com que os processos da empresa se
aproximassem cada vez mais do desejado dentro do nível 1 de maturidade BIM.

Figura 6 – Espiral de Projeto adaptada de [6]


As etapas mostradas na espiral de projeto da figura 6 serão dividias em tópicos e explicadas de forma
que seja possível compreender como se deu a utilização desta ferramenta. As informações coletadas
em cada uma das etapas foram extraídas através de reuniões com membros da empresa e observação
direta dos processos.

4.1. Etapas de projeto (Cronogramas)


As etapas do projeto entram como primeiro elemento de análise da espiral por ser considerado de
extrema importância o entendimento do sequenciamento do projeto para que possam ocorrer
melhorias. No caso deste projeto foi possível perceber os seguintes pontos iniciais de melhoria nos
cronogramas praticados:
● os cronogramas são elaborados baseando-se somente em suposições;
● o nível de detalhamento da Estrutura Analítica do Projeto (EAP) é baixo.

4.2. Concepção de projetos


A etapa da concepção dos projetos arquitetônico, estrutural e de instalações foi, desde o início, o foco
principal desta implantação. A resistência às mudanças por parte dos membros da empresa foi um
fator que recebeu atenção especial, pois entende-se que, se o departamento de projetos não aceita a
iniciativa, o processo tem poucas chances de dar certo. A falta de ênfase nas etapas do processo de
projeto nas disciplinas da grade do curso de Engenharia Civil necessário considerar alguns pontos de
melhoria na concepção dos projetos:
● superar a mentalidade tradicional de projeto, na qual as áreas trabalham de forma
independente;
● trabalhar a coordenação de projetos em contraposição com a prática compatibilização, que
geralmente pressupõe retrabalho.

4.3. Softwares
A adoção do BIM implica na adoção de softwares que estejam alinhados com características como a
geração de um modelo do projeto que contenha informações e parâmetros e a interoperabilidade entre
plataformas. Existe hoje em dia uma oferta considerável de softwares BIM com foco em aspectos
distintos, tornando necessária a etapa de análise dos softwares antes de fazer a escolha de quais serão
utilizados. Apesar de utilizar softwares BIM para a modelagem da arquitetura e estrutura, a PORTE
Jr. encontra-se no nível 0 de maturidade BIM pelos seguintes fatores observados:
● utilização de softwares de desenho auxiliado pelo computador;
● utilização de softwares de projeto de instalações que não permitem a visualização de um
modelo, impedindo a compatibilização dos mesmos com os modelos arquitetônico e
estrutural;
● ausência de um software que realize de forma otimizada o processo de compatibilização.

4.4. Transmissão do conhecimento aos membros da empresa


Devido ao fato de a PORTE Jr. ter uma alta rotatividade de membros, a transmissão do conhecimento
aos novos membros torna-se uma tarefa complexa, principalmente quando há a necessidade de
treinamentos presenciais. Desta forma, observou-se que o fato da não disponibilidade de membros
em um mesmo horário é um fator complicador para que sejam realizados tais treinamentos.

4.5. Compartilhamento de arquivos


Na PORTE Jr. os projetos são feitos, em sua maioria, em duplas de projetistas, o que faz com que o
compartilhamento de arquivos tenha que ser de forma sincronizada. Ocorrências observadas
permitem uma análise de que existem falhas em tal processo, tais como utilização não otimizada do
compartilhamento em nuvem quando se esquece de realizar o upload de arquivos ao terminar o
trabalho, o que causa um problema do versionamento de arquivos.

4.6. Compartilhamento de informações


Esta área do processo de projetos encontra-se bem estruturada na PORTE Jr., visto que utilizam uma
plataforma de compartilhamento de informações que é bem utilizada. O único ponto de melhoria na
área é o fato de ocorrer pouca comunicação entre áreas no que diz respeito às alterações de projetos.

4.7. Fluxo de trabalho


O fluxo de trabalho da PORTE Jr. encontra-se bem estruturado para a forma em que os projetos são
executados atualmente, porém, ao ser adotada o BIM, faz-se necessária a adoção de um fluxo de
trabalho diferente para que seja possível executar a coordenação de projetos. A coordenação de
projetos possibilita que a compatibilização final não necessite ou necessite de poucas alterações, pois
aquelas que por ventura surgiram, foram prontamente feitas ainda no processo de concepção.

4.8. Sugestões de melhoria


O BIM traz como benefícios para o projeto os seguintes aspectos [1]: visualização antecipada e mais
precisa, correções automáticas de baixo nível quando mudanças são feitas, geração de desenhos em
duas dimensões precisos e consistentes, colaboração antecipada entre disciplinas, verificação
facilitada das intenções, extração de estimativas de custos e incrementação da eficiência energética.
Desta forma, é necessário um estudo detalhado de como foi documentado no Plano de Implantação
BIM citado neste trabalho, para que seja possível extrair o máximo de benefícios do BIM. Esses
benefícios tornam possível a concepção de projetos que sejam gerenciáveis no formato just in time,
ou seja, que permitam que aqueles que os executarão tenham a informação certa, no momento certo
e com o insumo certo.
Após o processo de análise das modificações e estudo das possíveis soluções, foram listadas as
sugestões de melhoria para que fosse possível iniciar a implantação do BIM na PORTE Jr.:
● coleta de informações dos prazos necessários para execução de cada etapa do projeto para que
seja possível construir o cronograma médio para cada tipo de projeto;
● maior detalhamento da EAP de cada área de projeto, bem como construção de uma que faça
com que os projetos ocorram de forma coordenada, baseando-se no nível de detalhamento
(LoD) dos mesmos;
● promover reuniões conjuntas com todas as áreas do projeto de forma regular para que todos
os envolvidos na sua elaboração possam ter ciência do andamento do mesmo;
● sugerir leituras regulares de artigos que falem sobre os assuntos essenciais ao BIM:
colaboração e coordenação;
● definir a regularidade, de acordo com o cronograma montado, com que será feita a
coordenação entre as áreas de projetos para detectar interferências;
● definir responsáveis pela etapa de coordenação e compatibilização dos projetos;
● utilização de softwares BIM em todos os projetos executados pela PORTE Jr.;
● aquisição de softwares BIM que atendam às necessidades da PORTE Jr. e que estejam de
acordo com as normas nacionais;
● executar a compatibilização de projetos através de software que seja destinado a tal tarefa;
● produção e utilização de videoaulas e documentos pela PORTE Jr. para que o conhecimento
técnico possa ser passado aos novos membros;
● seleção e utilização de plataforma adequada para compartilhamento de arquivos entre duplas
de projeto, no intuito de corrigir o problema de não executar o upload de um arquivo ao
término do trabalho;
● utilização de um servidor de modelos para compartilhamento de arquivos atualizados no
formato de interoperabilidade BIM (IFC) entre áreas distintas do projeto;
● reestruturação do fluxo de trabalho feita através da experiência de um projeto piloto;
● realizar reuniões com empresas juniores que já utilizam o BIM para seja possível observar
boas práticas e construir uma troca de informações sobre os métodos adotados.

5. RESULTADOS
Durante o início do processo de implantação, alguns testes de softwares foram feitos para que se
pudesse tomar a decisão de qual se adequaria melhor à realidade da PORTE Jr. Inicialmente, devido
à maior familiaridade com a PORTE Jr., foi utilizado o software Autodesk Revit para o projeto
arquitetônico. Para os projetos de instalações encontra-se em teste o software QiBuilder da AltoQi,
visto que possui total adequação às normas nacionais e executa o dimensionamento de forma precisa,
bem como as demais etapas do projeto. Para o projeto estrutural vem sendo utilizado o software
Eberick, também da empresa AltoQi.
Durante as etapas da elaboração do Plano de Implantação BIM e as etapas já executadas dessa
implantação, percebeu-se como desafio a resistência à mudança por parte dos membros. Essa
resistência se dá, dentre outros motivos, pelo completo desconhecimento dos benefícios que a
metodologia traz e pelo fato de ser necessário o estudo para que se tenha o domínio do novo processo.
Para mitigar essa resistência, foram feitas palestras explicativas, reuniões demonstrativas e
flexibilização do estudo através da utilização de videoaulas.
Os resultados do processo de implantação do BIM na PORTE Jr. ainda são pouco expressivos. Porém,
de acordo com um projeto de instalações elétricas já executado, percebeu-se que o tempo de execução
foi similar, sendo que neste primeiro projeto existia o estudo da ferramenta ocorrendo em paralelo.
Portanto, a expectativa para próximos projetos é de que seja possível executá-los em menor tempo e
com maior qualidade.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A elaboração de um Plano de Implantação BIM constitui um desafio devido às diversas
peculiaridades existentes quando se trata de uma empresa júnior, como no caso da PORTE Jr. A alta
rotatividade dos seus membros, que não podem se dedicar integralmente ao processo devido à sua
condição discente, a habitual incompatibilidade de horários para treinamentos, a necessidade de
destinar recursos financeiros para outras áreas e a mudança na mentalidade de projeto da PORTE Jr.
são algumas dessas peculiaridades.
Há ainda as barreiras culturais, decorrentes de um currículo que, no caso da UFJF, ainda não incorpora
o BIM como parte das competências do egresso [7]. Nesse sentido, as iniciativas em esferas
governamentais desempenham um papel fundamental na promoção daquilo que, embora amplamente
como algo “futurístico”, já é realidade que se expande com rapidez.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a contribuição dos integrantes da PORTE Jr. e do GEBIM.

REFERÊNCIAS
[1] EASTMAN, C. et. al. Manual de BIM: um guia de modelagem da informação da construção para arquitetos,
engenheiros, gerentes, construtores e incorporadores. Bookman, 2014.

[2] FERREIRA, J.B.P., Análise do cenário de implantação do BIM em obras e projetos de arquitetura,
engenharia, construção e operação no governo brasileiro e estrangeiro. Belo Horizonte: UFMG, 2017.
Disponível em: <http://pos.demc.ufmg.br/novocecc/trabalhos/pg4/170.pdf>. Acesso em 23 out. 2018.

[3] MASOTTI, L.F.C., Análise da implementação e do impacto do BIM no Brasil. Florianópolis: UFSC, 2014.
Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/127335/TCC%20-%20Luis%20Felipe%20Cardoso%20Mas
otti%20-%20BIM.pdf>. Acesso em 23 out. 2018.

[4] PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos (Guia


PMBOK). Newton Square: PMI, 2017.

[5] ALMEIDA, R.C.G., Impacto do uso do BIM na elaboração de projetos as built de sistemas prediais
hidrossanitários. Goiânia: UFG, 2016. Disponível em:
<https://www.eec.ufg.br/up/140/o/IMPACTO_DO_USO_DO_BIM_NA_ELABORA%C3%87%C3%83O_DE_PR
OJETOS_AS_BUILT_DE_SISTEMAS_PREDIAIS_HIDROSSANIT%C3%81RIOS.pdf>. Acesso em 23 out.
2018.

[6] EVANS, J.H., “Basic Design Concepts”, J. American Society of Naval Engineers, 1959.

[7] AGUILAR, M.; AZEVEDO, W. O Ensino/Aprendizado do BIM no curso de Engenharia Civil da UFJF. In:
ENCONTRO BRASILEIRO DE TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NA CONSTRUÇÃO,
7. 2015, Recife. Anais... Porto Alegre: ANTAC, 2015.
A CONSTRUÇÃO DE EDIFICAÇÕES EM ILHAS OCEÂNICAS:
O CASO DA ILHA DA TRINDADE

Building construction in ocean islands: the Trinity island case


Mauro César Delarue dos Santos, Emil de Souza Sánchez Filho, Celso Romanel

Mestrado Profissional em Engenharia Urbana e Ambiental, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Brasil,
romanel@puc-rio.br

Resumo: Construir em ilhas oceânicas ou locais de difícil acesso exige o prévio conhecimento das
restrições impostas pelas dificuldades de transporte. Neste trabalho o objetivo é descrever um
sistema construtivo adequado à logística de transporte de materiais para execução de edificação na
Ilha da Trindade, situada a 1200 km de distância da costa do Espírito Santo. É apresentada uma
análise da transportabilidade dos materiais para os seguintes sistemas construtivos: tijolos
cerâmicos, blocos de concreto, painéis de madeira e painéis de PVC – concreto, este último
empregado na construção da Estação Científica da Ilha da Trindade em 2011. Nesta pesquisa, o
tempo de transporte dos materiais do navio para a ilha é o principal fator para avaliação do critério
de sustentabilidade do sistema construtivo, pois a permanência de navio junto à ilha, e as operações
de transporte de materiais, geram considerável intervenção humana no meio ambiente e ecossistema
local. Os resultados das análises mostram que o sistema construtivo constituído por painéis de PVC
é o mais adequado à logística de transporte de materiais para produção da edificação na ilha da
Trindade, pois são leves, resistentes, fáceis e rápidos de serem transportados.

Palavras-chave: construção sustentável, ilha da Trindade, sistemas construtivos

Abstract: Building in ocean islands or in hard-to-reach places requires prior knowledge of the
constraints imposed by transportation difficulties. In this work the objective is to describe a
constructive system adequate to the logistics of transporting material construction to the Trindade
Island, located 1200 km away from the coast of the state of Espírito Santo. An analysis of the
transportability of materials is presented for the following constructive systems: ceramic bricks,
concrete blocks, wood panels and PVC - concrete panels, the latter used in the construction of the
Trindade Island Science Station in 2011. In this research, the time for transporting the materials
from the ship to the island is the main factor for evaluation of the sustainability criterion of the
construction system, since the permanence of a ship near the island and the operations for material
transport generate considerable human intervention in the environment and local ecosystem. The
results of the analyses show that the constructive system made up of PVC panels is the most
appropriate for the transportation of materials for the production of the building in the Trindade
Island, since they are light, resistant, easy and fast to be transported.

Keywords: sustainable construction, Trindade Island, constructive systems


1. INTRODUÇÃO

A Ilha da Trindade é a maior ilha oceânica brasileira, do arquipélago Trindade e Martin Vaz,
localizada na extremidade oriental da cadeia de montanhas submarinas Vitória-Trindade, distante
cerca 1200 km da costa da cidade de Vitória – ES. A ilha tem 8,2 km2 de área, com topografia
acidentada constituída por várias elevações, a máxima das quais com aproximadamente 600m de
altitude em relação ao nível do mar. A ilha abriga fauna marinha diversificada, cercada por recifes
de algas calcárias, sendo considerada área de preservação ambiental.
Para assegurar a efetiva posse desta fração do território nacional, a Marinha do Brasil mantém, na
parte menos acidentada da ilha, um posto oceanográfico (POIT – Posto Oceanográfico da Ilha da
Trindade – Fig. 1) com área construída total de 2000m2 distribuídos em casa de comando,
alojamento para militares, oficinas, posto de saúde, estação meteorológica, estação científica e
estação de rádio. A ocupação da ilha da Trindade e de outras ilhas oceânicas passou a ter
importância estratégica nacional quando áreas circundando ilhas oceânicas passaram a fazer parte
da Zona Econômica Exclusiva que garante ao país os direitos de exploração de recursos do mar e do
subsolo adjacentes. Em associação com as grandes dimensões da Amazônia Verde, de seus recursos
naturais e biodiversidade, a área de 4,5 milhões de km2 ao longo da costa brasileira sob jurisdição e
soberania nacional é também denominada Amazônia Azul.

Figura 1 – Vista aérea do posto oceanográfico da ilha da Trindade (POIT)


Fonte: DOCM [1]

A ilha da Trindade é assolada por forte arrebentação de ondas, não dispondo de qualquer tipo de
atracadouro para navios, exceto uma rampa de concreto que serve para receber pequenas
embarcações. Para transbordo de materiais e pessoal do navio, que fica ancorado a 300m da
arrebentação das ondas, os únicos meios de transporte são balsas, helicóptero e botes infláveis
(cabritas) – Fig. 2.
Figura 2 – Transporte de materiais do navio para a ilha por meio de helicóptero, balsa e botes.
Fonte: DOCM [1]

Edificar em locais de difícil acesso e de preservação ambiental é um grande desafio. As dificuldades


logísticas para construção requerem a avaliação de materiais e metodologias construtivas adequadas
às condições locais. Não interferir no ambiente e no ecossistema natural, buscando equilíbrio entre
atividades humanas e a natureza, é premissa obrigatória.
Inicialmente todas as construções do POIT foram concebidas com a utilização de sistemas
construtivos que empregavam a madeira como principal elemento de construção. A partir de 1999
foram estudadas novas alternativas construtivas para edificações [2], tendo sido decidido que
aquelas existentes seriam reformadas ou reconstruídas. Na busca de alternativas construtivas que
aliassem o conceito de sustentabilidade com transportabilidade de materiais, foram pesquisados
sistemas de construção com elementos pré-fabricados, resistentes, leves, fáceis e rápidos de serem
movimentados e transportados. Os resultados da pesquisa recomendaram um sistema construtivo
baseado em formas de PVC preenchidas com concreto, denominado concreto – PVC. Com este
sistema foi edificada a Estação Científica da Ilha da Trindade (ECIT), entre 2009 e 2011, com
142m2 de área destinada para abrigar pesquisadores.
O sistema construtivo PVC – concreto (Fig. 3) foi desenvolvido no Canadá na década de 1980,
sendo internacionalmente conhecido como Royal Building System (RBS). Chegou ao Brasil em
1998, com a construção de uma escola no município de Macaé, no Rio de Janeiro, mas foi
posteriormente aplicado em vários tipos de empreendimento, como na construção de casas no
programa Minha Casa, Minha Vida.
O composto de PVC utilizado nos painéis RBS é um polímero especialmente projetado para
proporcionar características únicas: é um material de fácil aplicação, resistente, inerte, não tóxico,
auto extinguível, impermeável, isolante térmico, elétrico e acústico, resistente às intempéries e à
salinidade, reciclável e reciclado.

Figura 3 – Sistema construtivo PVC - concreto (RBS)


Fonte: Royal do Brasil Technologies S.A. [3]

2. CARACTERÍSTICAS DOS SISTEMAS CONSTRUTIVOS ANALISADOS


Tendo em vista o objetivo de construção sustentável envolvendo planejamento logístico de
transporte por via marítima, este trabalho compara o sistema construtivo PVC – concreto com
métodos de construção tradicionais (tijolos cerâmicos, blocos de concreto, painéis de madeira)
considerando como estudo de caso a construção da Estação Científica da Ilha da Trindade (ECIT).
Nesta análise comparativa foram levantadas as seguintes quantidades (em peso) para cada sistema:
tijolos cerâmicos (45t), blocos de concreto (66t), painéis de madeira (18t), painéis de concreto –
PVC (34t). As características de cada método estão sumarizadas na Tab. 1.

Tabela 1 – Características (peso, materiais, dimensões) dos sistemas construtivos analisados


Sistema Construtivo Características
A construção de paredes de alvenaria com tijolos cerâmicos
Paredes de tijolos demanda grandes quantidades e diversidade de materiais
(cimento, areia, saibro, tinta) gerando elevado peso total a ser
cerâmicos
transportado – 45 toneladas.
A construção de paredes de alvenaria com blocos de concreto
Paredes de blocos de também requer grandes quantidades e diversidade de materiais
(cimento, areia, saibro, tinta) gerando elevado peso total a ser
concreto
transportado – 66 toneladas.
A montagem de paredes com painéis pré-fabricados de madeira
demanda diversidade de materiais (cimento, areia, saibro, tijolo,
Painéis de madeira
tinta) mas pouca quantidade, gerando baixo peso total a ser
transportado – 18 toneladas. Porém, os painéis de madeira
individualmente são pesados, de grandes dimensões e de difícil
transporte.
A montagem de paredes com painéis (formas) de PVC exige
razoável diversidade (cimento, areia, brita) e quantidade de
PVC - concreto
materiais, gerando moderado peso total a ser transportado – 34
toneladas. As formas de PVC individualmente são leves,
possuem dimensões variadas, mas são fáceis de serem
transportadas.

3. EMBALAGENS: RESISTÊNCIA E TRANSPORTABILIDADE


As embalagens constituem aspecto importante no estudo de avaliação da capacidade de
movimentação e transportabilidade de materiais para construção na Ilha da Trindade. Elas têm por
objetivo proteger e propiciar melhores e maiores condições de carregamento.
Para o transporte do cimento, areia, pedra, saibro e demais agregados são utilizados embalagens ou
sacos impermeáveis. Os tijolos e blocos são carregados em invólucros constituídos de lonas
plásticas reforçadas sobre pallets de madeira.
Big bags são contentores flexíveis de ráfia reutilizáveis, com capacidade para transportar entre uma
a duas toneladas. Esse tipo de embalagem dispõe de alças que facilitam seu carregamento e são
apropriados para transportar grandes quantidades de sacos de cimento, areia, saibro, tijolos e blocos
de concreto. A utilização de big bags tem por finalidade agilizar as operações de transporte de carga
e são utilizadas quando o meio de transporte do navio para a ilha é o helicóptero.
As peças, formas e painéis de PVC ou madeira, são carregados em feixes precintados ou
individualmente, sem necessidade de embalagem. Caixas plásticas, com capacidade para transportar
aproximadamente 50 kg de materiais, servem para carregar bagagens pessoais, mantimentos e
materiais de construção de pequeno porte, como latas de tintas, ferramentas de pintura, fios e cabos
etc (Fig. 4).
A Tab. 2 apresenta para cada sistema construtivo as necessidades de embalagem para transporte do
navio para a Ilha da Trindade.

4. PRÉ-FABRICAÇÃO
A possibilidade de utilização de tecnologias que permitam o uso de materiais pré-fabricados é um
aspecto relevante a ser considerado em relação à logística de transporte de materiais para locais de
difícil acesso. Elementos pré-fabricados, constituídos por materiais leves com dimensões e
características que permitam seu fácil manuseio e movimentação, sem a necessidade de
equipamentos especiais como guinchos, guindastes e tratores, são mais adequados para construção
em locais com restrição de acesso. Materiais pré-fabricados não só proporcionam uma diminuição
dos prazos de execução, como também racionalizam as quantidades a serem transportadas,
minimizam os resíduos de construção, permitem operações prévias de montagem e desmontagem,
como também possibilitam o treinamento da equipe de construção na elaboração de um plano
estratégico para embalagem, transporte e remontagem dos elementos pré-fabricados no menor
tempo possível (Tab. 3).

Tabela 2 – Necessidade de embalagem nos sistemas construtivos analisados


MÉTODO CONSTRUTIVO EMBALAGEM
Tijolos cerâmicos são frágeis, fáceis de serem
Tijolos cerâmicos movimentados e não necessitam de embalagem
individual. Entretanto para o transporte de grandes
quantidades é necessário a utilização de embalagens
especiais.
Os blocos de concreto são razoavelmente resistentes,
Blocos de concreto fáceis de serem movimentados e individualmente não
necessitam de embalagem. Entretanto para o
transporte de grandes quantidades é necessário a
utilização de embalagens especiais.
Os painéis pré-fabricados constituídos de madeira
Painéis de madeira maciça são resistentes e não necessitam de
embalagens especiais para sua movimentação e
transporte.
Os painéis (formas) de PVC pré-fabricados são
Concreto - PVC resistentes e não necessitam de embalagens especiais
para sua movimentação e transporte.

Figura 4 - Transporte de materiais em caixas plásticas


Fonte: DOCM [1]
Tabela 3 – Características dos sistemas construtivos em relação à pré-fabricação, pré-montagem e desmontagem
Sistema Construtivo Características
Tijolos pré-fabricação Não permitem, exceto em obras de grande escala
cerâmicos com equipamentos especiais
desmontagem e Não permitem
pré-montagem
Blocos de concreto pré-fabricação Não permitem, exceto em obras de grande escala
com equipamentos especiais
desmontagem e Não permitem
pré-montagem
Painéis de madeira pré-fabricação Permitem pré-fabricação
desmontagem e Permitem sem necessitar de numerosa mão de obra
pré-montagem
pré-fabricação Permitem pré-fabricação
PVC - concreto desmontagem e Permitem sem necessitar de numerosa mão de obra
pré-montagem

5. TEMPO DE TRANSPORTE
O fator tempo de transporte dos materiais do navio para a ilha é um dos principais aspectos para
avaliação dos sistemas construtivos, pois a permanência do navio junto à ilha e as operações de
transporte geram considerável intervenção humana no meio ambiente e ecossistema local. Quanto
maior o prazo de transbordo, maior o tempo de permanência da embarcação, com aumento do
número de pessoas, consumo de combustíveis, energia, água e demais recursos da ilha e, em
consequência, maior o impacto causado ao meio ambiente.

Para possibilitar uma estimativa do impacto ambiental causado pelo transporte de materiais para a
ilha da Trindade, a Tab. 4 apresenta uma síntese da duração e do número de viagens necessárias em
cada meio de transporte disponível, considerando o navio ancorado a 300m de distância da
arrebentação das ondas. Para resguardar a segurança da tripulação, as operações de transbordo só
foram realizadas no período diurno, com duração máxima entre 10 a 12 horas.

6. SUSTENTABILIDADE DOS MATERIAIS


Construção sustentável é aquela que promove intervenções no meio ambiente de forma a atender as
necessidades de edificação e habitação do homem moderno, sem esgotar os recursos naturais e
preservando o meio ambiente. Faz uso de ecomateriais e de soluções tecnológicas e inteligentes
para promover o bom uso e a economia de recursos finitos, bem como a redução da poluição e o
conforto de seus moradores e usuários [5]. De modo geral, ecomateriais devem atender aos critérios
gerais apresentados na Tab. 5.
Tabela 4 – Meio de transporte, número de viagem e tempo de transbordo
Fonte: Santos [4]

Sistema Meio de Número de Duração de


construtivo transporte viagens transporte
Helicóptero 113 28h15min
400 kg / 15 min 3 dias
Tijolos cerâmicos Bote inflável 150 100h
45t 300 kg / 40 min 10 dias
Balsa (cabrita) 90 180h
500 kg / 120 min 18 dias
Helicóptero 165 41h15min
400 kg / 15 min 5 dias
Blocos de concreto Bote inflável 220 146h40 min
66t 300 kg / 40 min 15 dias
Balsa (cabrita) 132 264 h
500 kg / 120 min 27 dias
Helicóptero 30 7h30 min
400 kg / 15 min 1 dia
Painéis de madeira Bote inflável 60 40 h
18t 300 kg / 40 min 4 dias
Balsa (cabrita) 36 72 h
500 kg / 120 min 8 dias
Helicóptero 57 14h15 min
400 kg / 15 min 2 dias
PVC – concreto Bote inflável 113 75h 33 min
34t 300 kg / 40 min 8 dias
Balsa (cabrita) 68 136
500 kg / 120 min 14 dias

Notas:
1. helicóptero Esquilo versão militar da Marinha do Brasil. Pesos: vazio: 1045 kg; máximo na decolagem: 1950 kg.
Fonte: DOCM [1] e Aviação Naval Brasileira. Disponível em: www.helibras.com.br/
2. barco inflável Zodiac MILPRTM da MB (ComForSup), capacidade de carga 1250kg ou 10 pessoas . Fonte: DOCM
[1] e Zodiac. Disponível em: www.zodiacmilpro.com/
3. balsa cabrita, construída pelo AMRJ – Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, capacidade de carga 500kg ou 6
pessoas. Fonte: DOCM [1]
4. segundo a Marinha do Brasil os navios que servem de apoio para abastecimento do POIT, consomem em média cerca
de 13 a 15 toneladas/por dia de óleo combustível. Fonte: www.naviosbrasileiros.com.br
5. segundo a Helibrás, fabricante dos modelos de helicópteros tipo Esquilo (UH12/13) utilizados pela Marinha do
Brasil, o consumo médio de querosene de aviação é de 120 a 150 litros por hora de vôo. Fonte: www.helibras.com.br
6. Yamaha Motores do Brasil, fabricante de motores de popa de 25 HP e 50 HP / 4 tempos, normalmente utilizados na
propulsão dos barcos infláveis tipo Zodiac, com consumo médio de 9 e 18L de gasolina por hora. Fonte: www.boat-
fuel-economy.com
7. na operação do cabrestante de içamento da cabrita localizado na rampa do POIT, o equipamento é um gerador com
potência de 75kVA. O consumo médio do gerador é 10 a 17 L de diesel por hora. Fonte: www.cumminspower.com.br.
Tabela 5 - Definição de ecomateriais [6]
A escolha de um material que participe ativamente da
Material absorvente de CO2 mitigação do aquecimento global é a melhor opção que
a construção pode dar ao meio ambiente.
Utilização de matérias-primas que a natureza oferece
Material sustentável de maneira inesgotável.
O destino de um material reciclável encontra-se na
Material reciclável reutilização, não acaba no aterro.
Evita-se a poluição e o consumo de energia para uma
Material reciclado nova fabricação do mesmo material, reduzindo a
quantidade de resíduos.
Quanto mais matérias-primas são necessárias para
Pureza de composição fabricar um material, mais complicada se torna a sua
separação e reciclagem.
Além dos custos energéticos iniciais (extração,
transporte, fabricação…), é importante compreender a
Energia incorporada dependência energética do material ao longo do seu
ciclo de vida (inércia térmica, manutenção, desgastes).
Apenas para projetos de pequena escala se justifica a
utilização de um material artesanal que exija muita
Grau de industrialização mão-de-obra e a utilização intensiva de recursos (água
e energia). Em todos os demais projetos deve-se
utilizar materiais industriais com consumo controlado
de recursos.
Evitar o uso de produtos que possam afetar a saúde do
Materiais saudáveis fabricante, do usuário e do trabalhador no processo de
reciclagem, principalmente em relação a partículas
tóxicas ou cancerígenas.
Materiais com baixa manutenção favorecem o conforto
Exigências de manutenção do usuário e diminuem a utilização de pinturas,
lubrificantes e vernizes.
Materiais com certificação Poucos materiais têm certificação que garanta uma
ecológica adequada utilização dos recursos; os que a possuem
merecem um tratamento privilegiado.

Com o objetivo de verificar quais dos materiais considerados para a construção da ECIT da Ilha da
Trindade que reúnem as melhores características de sustentabilidade, foram atribuídos fatores de
ponderação, para cada uma das propriedades listadas na Tab. 5, variando em uma escala entre 1
(péssimo) a 5 (excelente). Os resultados estão mostrados na Tab. 6, de onde pode se concluir que o
PVC é o material que possuiu a maior pontuação sob ponto de vista ecológico.
Com relação à sustentabilidade há que se considerar que no sistema construtivo PVC – concreto, o
painéis de PVC servem de formas que são preenchidas com concreto ou argamassa, transformando-
se em paredes estruturais de vedação interna ou externa da edificação. Quanto ao sistema
construtivo com painéis de madeira, este deve ser substituído por alvenaria em áreas molhadas
(cozinhas e banheiros). Logo, ambos os sistemas com painéis de madeira e PVC- concreto
necessitam empregar razoável quantidade de cimento, areia e tijolos, o que faz com que a pontuação
média recebida da Tab. 6 não seja representativa do sistema construtivo em si, mas apenas de
materiais isoladamente (madeira e PVC).

Tabela 6 - Estimativa da carga ecológica dos principais materiais construtivos na Ilha da Trindade

Propriedades Tijolos Blocos de Painéis de Painéis de


cerâmicos concreto madeira PVC
Material absorvente de CO2 3 2 4 3
Material sustentável 3 3 4 4
Material reciclável 1 1 4 4
Material reciclado 1 1 3 3
Pureza de composição 2 2 4 3
Energia incorporada 1 2 4 4
Grau de industrialização 2 2 4 5
Materiais saudáveis 3 3 4 4
Exigências de manutenção 2 2 2 5
Durabilidade 4 4 3 4
Pontuação média 2,2 2,2 3,6 3,9

7. SELEÇÃO DO SISTEMA CONSTRUTIVO


A seleção mais adequada de um sistema construtivo para ilhas oceânicas ou locais de difícil acesso,
com base no estudo de caso da Estação Científica da Ilha da Trindade (ECIT), procurou considerar
todos os aspectos anteriormente descritos, com a estimativa de um grau final (GF) estimado pela
seguinte média ponderada:
𝐺𝐹 = ∑5𝑖=1 𝐺𝑃𝑖 × 𝑊𝑖 ⁄∑5𝑖=1 𝑊𝑖 (1)
onde GPi é o grau atribuído ao sistema construtivo em cada categoria analisada, variando entre 1 a
5, e Wi o fator de ponderação da categoria (1 ou 2), indicados na Tab. 7.

Tabela 7 - Seleção final do sistema construtivo

Aspecto técnico Fator de Tijolos Blocos de Painéis de Concreto


ponderação W cerâmicos concreto madeira PVC
Peso e medidas 2 2 1 3 4
Embalagem 1 2 2 4 4
Pré-fabricação 1 1 1 4 4
Tempo de transporte 2 1 1 4 5
e sustentabilidade
Grau Final (GF) 9 7 22 25
Os valores do grau final GF determinados para uma construção baseada em tijolos cerâmicos e
blocos de concreto indicam que ambos os sistemas construtivos são inadequados, enquanto que
painéis de madeira e de concreto – PVC se destacam em todos os aspectos técnicos analisados, com
vantagem para o sistema concreto – PVC em relação aos aspectos de pré-fabricação (incluindo
montagem e desmontagem), pesos e medidas, sustentabilidade (ecomateriais).

8. CONCLUSÃO
A Ilha da Trindade apresenta dificuldades de acesso que tornam as atividades de construção mais
complicadas do que no continente, principalmente em relação à logística de transporte de materiais
e de pessoal.
Para conhecer qual o sistema construtivo mais adequado, foi importante investigar, avaliar e
comparar as principais características de transportabilidade dos materiais do navio para a ilha
(pequenas embarcações ou helicóptero). O fator tempo de transporte foi um dos principais aspectos
para seleção do sistema construtivo, pois a permanência do navio junto à ilha e as operações de
transporte produzem considerável intervenção humana no meio ambiente e ecossistema local.
Quanto maior o prazo de transbordo, maior o impacto ambiental.
Sistemas construtivos em alvenarias empregam grandes variedades e quantidades de materiais
(tijolos cerâmicos ou blocos de concreto, cimento, areia, saibro, pedra etc.), com altos valores de
peso por unidade de área construída. Para serem transportados, estes materiais necessitam de
embalagem e demandam longos tempos de transporte. Paredes de alvenarias também não permitem
pré-montagem e desmontagem.
O sistema constituído por PVC utiliza grandes quantidades e variedades de formas, individualmente
leves e fáceis de serem transportadas, enquanto que o sistema baseado em madeira maciça emprega
pequenas quantidades de painéis, porém individualmente mais pesados e difíceis de serem
movimentados. As formas de PVC necessitam estruturação com concreto e os painéis de madeira
requerem substituição por alvenaria em áreas molhadas (cozinha e banheiros). Tanto os painéis de
madeira quanto os de PVC são compostos por elementos pré-fabricados que permitem pré-
montagem, desmontagem e transporte, sem necessidade de embalagens especiais.
No aspecto de sustentabilidade, o sistema construtivo baseado em painéis de PVC obteve uma
avaliação ligeiramente superior aos painéis de madeira, tendo em vista que o PVC foi o material
com maior conceito atribuído na classificação de ecomateriais (Tab. 6).

REFERÊNCIAS
[1] DOCM – Diretoria de Obras Civis da Marinha. Construção da Estação Científica da Ilha da Trindade (ECIT).
Relatórios de fiscalização, 2011.
[2] ALVAREZ, C.E. Metodologia para construção em áreas de difícil acesso e de interesse ambiental – aplicabilidade
na Antártica e nas ilhas oceânicas brasileiras. Tese de Doutorado, Faculdade de Arquitetura da Universidade de São
Paulo, 186p., 2003.
[3] ROYAL DO BRASIL TECHNOLOGIES S.A. O futuro é PVC! Disponível em: www.royalbrasil.com.br/. acesso
em 31 de março 2014.
[4] SANTOS, M.C.D. Análise do sistema construtivo concreto – PVC em relação à logística de transporte para
construção da Estação Científica da Ilha da Trindade (ECIT). Dissertação de Mestrado Profissional,
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 109p., 2015.
[5] ARAUJO, M.A. A Moderna Construção Sustentável. Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica
(IDHE). Disponível em https://www.aecweb.com.br/cont/a/a-moderna-construcao-sustentavel_589, acesso em 20 de
outubro de 2018.
[6] ARNAL, I.P. Generación S - una nueva generación de materiales sustenibles. Barcelona, Catalunha, Ed Ignasi
Perez Arnal, 2008.
AVALIAÇÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO E QUALIDADE DA ÁGUA
NA BACIA DO CÓRREGO MATIRUMBIDE, JUIZ DE FORA – MG

Evaluation of land use and occupancy and water quality in the Matirumbide River,
Juiz de Fora – MG

Felipe Souza Freitas ¹, Samuel Rodrigues Castro ², Edgard Henrique Oliveira Dias ³

¹ Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Juiz de Fora-MG, Brasil, freitas.felipe@hotmail.com


² Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Juiz de Fora-MG, Brasil, samuel.castro@ufjf.edu.br
³ Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Juiz de Fora-MG, Brasil, edgard.dias@ufjf.edu.br

Resumo: A falta de planejamento urbano gera inúmeros impactos ambientais, como a poluição de
corpos hídricos, que se dá, principalmente, devido ao lançamento indevido de efluentes domésticos
e industriais. Desta forma, é importante a realização de estudos em áreas que vêm sofrendo pressões
ambientais com o intuito de poder elaborar e efetuar medidas que possam minimizar impactos no
local. A cidade de Juiz de Fora, MG, apresenta áreas que vêm sendo degradadas por ações
antrópicas. Uma delas é a área de estudo desta pesquisa, a Bacia do Córrego Matirumbide, que
apresenta sérios problemas ligados a deslizamentos de terra e à qualidade do curso hídrico. O
presente trabalho teve como objetivo fazer uma avaliação do impacto do uso e ocupação do solo
sobre a qualidade da água. Para isso, foram coletadas amostras de água em três pontos distintos do
Córrego Matirumbide: alto (P1), médio (P2) e baixo (P3) curso. Foram realizados cinco eventos de
coletas, entre os meses de agosto e novembro de 2017. Os parâmetros físico-químicos definidos
para análise e comparação foram: pH, oxigênio dissolvido (OD) nitrogênio amoniacal, fósforo total,
turbidez, cor aparente, DQO e DBO. Através de imagem do satélite Sentinel-2 (06/09/2017) para a
análise de uso e ocupação do solo, foram classificadas áreas de mata, vegetação rasteira e urbana.
Segundo metodologia de referência adotada na avaliação da qualidade entre o resultado da
classificação com as áreas de treinamento de validação, o resultado pode ser classificado como
excelente, com o valor de coeficiente Kappa de 0,87. Observou-se grande influência do uso e
ocupação do solo sobre a qualidade da água no Córrego Matirumbide, sendo boa a qualidade da
água no ponto P1, com indicativo de pouca influência antrópica, e qualidade relativamente inferior
nos pontos P2 e P3, sujeitos a elevada influência antrópica, no Córrego Matirumbide.

Palavras-chave: bacia hidrográfica, qualidade da água, uso e ocupação do solo.

Abstract: The lack of urban planning leads to numerous environmental impacts, for instance the
pollution of water bodies, which is related to the discharge of untreated domestic and industrial
effluents. Therefore, it is important to conduct studies in areas that are under environmental
pressure in order to design and implement measures that can minimize the impact on these sites.
The city of Juiz de Fora, MG, has areas that have been degraded by anthropic actions. One of these
is the area of study of this research, the Matirumbide River catchment, which presents serious
problems related to landslides and water quality of the river. The Matirumbide River catchment
contributes, among others, to the formation of the Paraibuna River catchment, located in the
municipality of Juiz de Fora, MG. The present work aimed at evaluating the impact of the land-use
and occupancy on the quality of the water. For this, water samples were collected at three distinct
points of the Matirumbide River: high (P1), medium (P2) and low (P3) course. Five sampling
events were performed between August and November 2017. The physic-chemical parameters
defined for analysis and comparison were: pH; dissolved oxygen (OD); ammoniacal nitrogen; total
phosphorus; turbidity; apparent colour; COD; and BOD. From the image of the Sentinel-2 satellite
(06/09/2017) of the catchment, three classes were determined for land-use and occupancy: forest;
grassland; and urban. The result of the land-use and occupancy method used was considered as
excellent, with a Kappa coefficient value of 0.87. It was observed a great influence of the land-use
and occupancy on the water quality of the Matirumbide River: good water quality in sampling point
P1, with relatively low anthropic influence; and deteriorated water quality in sampling points P2
and P3, with considerable anthropic influence.

Keywords: catchment, land-use and occupancy; water quality.

1. INTRODUÇÃO
O processo de crescimento urbano desordenado, aliado a um crescimento populacional igualmente
desregrado, são capazes de provocar mudanças drásticas em paisagens e ecossistemas, podendo
acarretar alterações significativas na dinâmica ambiental de várias localidades. Sobretudo, a má
gestão do uso do solo, aliada ao crescimento da população e à expansão industrial observada nas
últimas décadas, tem provocado o decréscimo da qualidade da água de rios, lagos e reservatórios
[1]. Segundo [2], isso pode ser causado por processos naturais, tais como chuva, erosão e transporte
de sedimentos; ou ainda, como consequência da ação humana, como: urbanização, industrialização
e agricultura.
Os resíduos sólidos e efluentes líquidos sem tratamento lançados de forma arbitrária em recursos
hídricos são os maiores causadores de impactos em meios urbanos. Por consequência, a avaliação
físico-química e microbiológica das águas pode ser usada para medir os efeitos que as atividades
humanas têm sobre o ambiente [3]. O esgoto polui as águas, alterando suas características físico-
químicas e biológicas [4], enquanto que resíduos sólidos podem atrair vetores e promovem poluição
visual das margens do ambiente aquático.
O uso e a ocupação do solo podem interferir na qualidade das águas superficiais e subterrâneas, e
também nos ecossistemas aquáticos dentro de uma bacia hidrográfica. Nesse contexto, o
sensoriamento remoto constitui-se em uma técnica fundamental para a manutenção de registros do
uso da terra ao longo do tempo, pois permite detectar as constantes alterações provocadas pela ação
do homem e o comportamento dinâmico do meio ambiente [5]. Segundo [6], o processo de
levantamento e caracterização do uso do solo pode ser facilitado pela utilização de imagens de
satélites, que podem apresentar custo relativamente baixo, eficiência e fornecer informações
diversas em caráter espacial, úteis para tomada de decisões sobre planejamento ambiental e
ordenamento territorial.
O presente estudo teve por objetivo comparar a qualidade da água em três pontos distintos do
Córrego Matirumbide (P1, P2 e P3), da montante à jusante, relacionando os resultados com análises
de uso e ocupação do solo.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Área de Estudo
A bacia do Córrego Matirumbide está localizada entre as coordenadas 43º21’30” e 43º20’30” W e
21º44’30” e 21º42’30” S, dentro do perímetro urbano do município de Juiz de Fora, estado de
Minas Gerais. A área localiza-se na zona leste da cidade e abrange nove regiões urbanas. A bacia
apresenta uma área de aproximadamente 442 ha.
Pelo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, a região da bacia do
Córrego Matirumbide apresentou cerca de 40 mil habitantes [7]. Após percorrer aproximadamente 4
km a partir de sua nascente, o Córrego Matirumbide deságua no Rio Paraibuna, um dos principais
formadores da bacia hidrográfica do Paraibuna, onde se situa o município de Juiz de Fora. Segundo
a Deliberação Normativa COPAM nº 16, de 24 de setembro de 1996 [8], esse curso é enquadrado
como Classe 2, sendo que suas águas podem ser destinadas ao consumo humano, após tratamento.
A Figura 1 apresenta a localização da bacia do Córrego Matirumbide, sua delimitação, e os corpos
hídricos principais.

Fig. 1 - Carta índice da bacia do Córrego Matirumbide.


2.2. Pontos de coleta e análises laboratoriais
No presente estudo, a escolha dos pontos de monitoramento da qualidade da água do Córrego
Matirumbide levou em consideração estudos desenvolvidos em 2008 no mesmo corpo hídrico [9],
com adaptações necessárias à localização do ponto de alto curso (P1). O ponto de alto curso do
córrego escolhido (P1) fica localizado próximo à nascente, com pouca interferência urbana, e foi
escolhido pela facilidade de acesso, visto que a nascente se localiza em propriedade particular. Os
demais pontos, P2 representando o médio curso do córrego e P3 representando o baixo curso do
córrego, foram os mesmos locais definidos por [9]. A amostragem da água nos diferentes pontos se
deu próximo a superfície do córrego, pois o mesmo possui pouca profundidade, da seguinte forma:
manualmente no P1; com o auxílio de uma corda no P2; e com o apoio de haste metálica no P3. A
Figura 2 ilustra a localização dos pontos P1, P2 e P3 na bacia do Córrego Matirumbide, assim como
foram coletadas as amostras de água do Córrego Matirumbide nos mesmos.

P2 P3

Fig. 2 – Localização e ilustração da coleta de amostras de água nos pontos amostrais P1, P2 e P3 na bacia do
Córrego Matirumbide.
A coleta de amostras foram realizadas nas datas 10/08, 05/09, 05/10, 05/11 e 29/11 do ano de 2017
utilizando-se garrafas plásticas previamente limpas e esterilizadas. Logo após a coletadas, as
amostras foram acondicionadas em recipientes térmicos (4 ± 2ºC) e encaminhadas para o
Laboratório de Qualidade Ambiental (LAQUA) do Departamento de Engenharia Sanitária e
Ambiental (ESA) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) para realização das análises
laboratoriais. Foram analisados os seguintes parâmetros: oxigênio dissolvido; pH; fósforo;
nitrogênio amoniacal; turbidez; cor aparente; DQO; e DBO5,20. As análises laboratoriais foram
realizadas de acordo com o [10], segundo métodos apresentados na Tabela 1.

Tabela 1- Métodos utilizados para a determinação da qualidade das amostras segundo o Standard Methods for
the Examination of Water and Wastewater (APHA, 2012).
Parâmetros Código do Método
Oxigênio dissolvido (OD) 4500- O G– Método do Eletrodo de Membrana
pH 2310.B – Método Pontenciométrico
Fósforo Total 4500- P D – Método do Cloreto Estanoso
Nitrogênio amoniacal 4500.B – Método Titulométrico com Ác. Sulfúrico
Turbidez 2130.B – Método Nefolométrico
Cor aparente 2120.B – Método Colorimétrico
DQO 5220.D – Método Colorimétrico de refluxo fechado
DBO5,20 5210.D – Método Respirométrico

2.3. Classificação do uso e ocupação do solo


Foi adquirida uma imagem do satélite Sentinel-2, da data 06/09/2017, através do Serviço Geológico
dos Estados Unidos (USGS) na plataforma online Earth Explorer. A escolha da data e do satélite foi
para melhor representação do momento no qual se deu as coletas em campo e também da resolução
espacial do Sentinel-2, que é de 10 metros. Cabe salientar que, quanto menor o tamanho do pixel,
melhor a visualização da área que se pretende estudar.
O instrumento MSI a bordo do Sentinel-2 gera 13 bandas espectrais. No entanto, foi feita uma
composição das bandas 8 (NIR- Infravermelho próximo), 4 (vermelho) e 3 (verde), todas com
resolução de 10 metros, que permitiu uma melhor visualização para as seguintes classes de uso e
ocupação do solo definidas para o trabalho: mata; vegetação rasteira; e área urbana. O método
utilizado neste estudo foi o da Máxima Verossimilhança, que é um tipo de classificação
supervisionada. Este método consiste em uma definição de áreas de treinamento, pelo usuário, que
representa cada classe desejada. A partir desta definição, usando a ferramenta de classificação
“Maximum Likelihood Classification”, o software estatisticamente estabelece todas as áreas pré-
determinadas na imagem. Após esta etapa foi utilizada uma ferramenta de filtro “Majority Filter”
para melhorar a classificação e, em seguida, determinou-se a área de cada classe em km2. Para a
classificação de uso e ocupação do solo e confecção dos mapas da bacia em estudo, utilizou-se o
software ARCGIS, em sua versão 10.3 (Esri, Redlands, EUA). Por fim, como método de validação
de todo o procedimento supracitado, foi calculado o índice Kappa.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1. Análises físico-quimicas
Ao decorrer das coletas feitas em campo, algumas informações relevantes foram levantadas junto
aos moradores dos bairros que margeiam o córrego Matirumbide. É perceptível a falta de
consciência ambiental dos moradores em vista do descarte de grande quantidade de resíduos nas
margens do córrego, fato mais observado a partir do médio curso próximo ao ponto P2, o que
impacta na qualidade da água do córrego, além de poluir visualmente o trecho do mesmo. Um outro
fator observado foi a quantidade de ligações irregulares com despejo de efluentes, aparentemente
esgoto doméstico, fato que contribui, adicionalmente, em odor desagradável no local. Destaca-se
que moradores da região relataram uma suposta emissão de efluentes advindos de uma fábrica têxtil
que em certas horas do dia, causam coloração avermelhada às águas do córrego. Mesmo após,
aproximadamente, dez anos, os mesmos problemas relatados por [9] ainda são observados no local.
Os resultados das análises de determinação dos parâmetros serão discutidos à luz da Resolução
Deliberação Normativa Conjunta COPAM/CERH nº 01, de 05 de maio de 2008 [11], cujo texto
apresenta limites aos parâmetros, de acordo com o enquadramento do corpo hídrico que no caso do
presente estudo é de Classe 2.

3.1.1. Turbidez e cor


As Figuras 3 e 4 apresentam dados de turbidez e cor nos pontos amostrais da Bacia do Córrego
Matirumbide. A partir das análises dos resultados, na Figura 3, pode-se observar que a turbidez nos
pontos P2 e P3 foram maiores do que no ponto P1 em todas as datas de coleta. Nos meses de agosto
e setembro, os pontos P2 e P3 apresentaram valores de turbidez que excedem o previsto na DN
Conjunta COPAM/CERH nº 01/2008 [11], que estabelece que corpos hídricos enquadrados como
classe 2 devem possuir turbidez de até 100 UNT. Tal fato poderia ser explicado pelo despejo
irregular de efluentes ao longo do Córrego Matirumbide. Segundo [12] os esgotos domésticos e
industriais podem provocar elevação na turbidez da água, podendo acarretar a redução da taxa
fotossintética dos organismos autotróficos residentes no local.

Fig. 3 - Valores de turbidez nos pontos P1, P2 e P3 do Fig. 4 - Valores de cor nos pontos P1, P2 e P3 do
Córrego Matirumbide nos cinco eventos de coleta. Córrego Matirumbide nos cinco eventos de coleta.
Antes de analisar os dados apresentados na Figura 4, é importante enfatizar que a cor determinada
nesta pesquisa foi a cor aparente. Portanto a comparação dos resultados do presente trabalho com a
DN Conjunta COPAM/CERH nº 01/2008 [11] não é possível, pois esta aborda cor verdadeira. No
entanto, cabe uma breve discussão a respeito da diferença de valores encontrado entre o ponto P1 e
os demais pontos (P2 e P3). Enquanto no P1 níveis de cor aparente não ultrapassaram valores
máximos de 30 mg Pt/L, nos pontos P2 e P3 este parâmetro apresentou valores acima de 150 mg
Pt/L. Cabe lembrar que a cor aparente sofre influência da presença de sólidos em suspensão além
dos sólidos dissolvidos. Desta forma, os resultados encontrados podem ser explicados pela ação da
influência antrópica nesta região, já que o descarte indevido de efluentes ao longo do córrego pode
ter contribuído para esses valores elevados nos pontos P2 e P3.

3.1.2. OD, DBO e DQO


Sabe-se que o valor do oxigênio dissolvido (OD) é de suma importância para manutenção da biota
aquática. Contudo, alguns fatores podem influenciar na queda do valor de OD, sendo um deles a
presença de matéria orgânica. De acordo com a DN Conjunta COPAM/CERH nº 01/2008, o valor
de OD em corpos hídricos de Classe 2, em qualquer amostra, não pode ser inferior a 5 mg O2/L
[11]. Na Figura 5, as variações de OD do ponto P1 com relação aos outros é perceptível. Enquanto
o ponto P1 apresentou valores bem superiores ao determinado na legislação, os pontos P2 e P3
apresentam valores muito abaixo do esperado para um córrego de Classe 2, na ordem de 1 mg O2/L.
Segundo [13], a diminuição dos valores de OD pode ser ocasionada devido a atividades humanas,
como lançamento de esgoto doméstico. Acredita-se que esta diferença seja devido a um possível
lançamento de efluentes ao longo do trecho a jusante do ponto P1. A Figura 6 apresenta uma
imagem do córrego Matirumbide e tubulações que possivelmente lançam esgotos domésticos no
córrego, o que corrobora a hipótese anteriormente apresentada.

Fig. 5 - Valores de oxigênio dissolvido nos pontos P1,


Fig. 6 - Ligações irregulares de descarte de efluente
P2 e P3 do Córrego Matirumbide nos cinco eventos de
doméstico no Córrego Matirumbide.
coleta.
A Figura 7 apresenta as concentrações de DBO nos pontos analisados nas cinco datas de coleta. O
ponto P1 apresentou valores inferiores de DBO em todos os eventos de coleta, com concentrações
abaixo de 5,0 mg O2/L. Em contrapartida, os pontos P2 e P3 apresentaram-se alarmantes no que diz
respeito a DBO desejável segundo a DN Conjunta COPAM/CERH 01/2008 em corpos hídricos
Classe 2, que deve ser inferior a 5 mg O2/L. Os pontos P2 e P3 apresentaram DBO máxima no mês
de agosto, com valores iguais a 245 e 206 mg O2/L, respectivamente, e valores mínimos na última
amostra do mês de novembro, com concentrações iguais a 114 e 69 mg O2/L, respectivamente.
Estes valores de DBO corroboram, mais uma vez, o descarte indevido de efluentes domésticos no
córrego, fato citado anteriormente para o parâmetro de oxigênio dissolvido, como consta na Figura
6.
Nota-se, a partir da Figura 7, que a DBO5,20 decresce de forma considerável do P2 para o P3 em três
datas distintas (05/setembro, 05/novembro e 29/novembro), representando uma queda média no
valor da DBO5,20 de 34%. Nas demais datas de amostragem, o decréscimo observado foi menos
proeminente: 8% em 05/outubro e 16% em 10/agosto.
A partir da relação DQO/DBO5,20 pode-se inferir a respeito da biodegradabilidade de um esgoto ou
efluente, quanto menor a relação mais biodegradável é o efluente. Devido aos baixos valores de
DBO5,20 em todas as datas de coleta no ponto P1, optou-se por realizar apenas a relação para os
pontos P2 e P3 como pode ser observado na Figura 9. Segundo [12], águas residuais de origem
doméstica possuem relações de DQO/DBO que variam de 1,7 a 2,4. Observando a Figura 8, os
pontos P2 e P3 apresentam valores de relação acima de 2 e ambos atingem o máximo no mês de
setembro, sendo 2,5 e 2,8; respectivamente. Tais valores corroboram com o possível despejo de
efluentes industriais no córrego Matirumbide.

Fig. 7 - Valores de DBO nos pontos P1, P2 e P3 do Fig. 8 - Relação DQO/DBO nos pontos P2 e P3 do
Córrego Matirumbide nos cinco eventos de coleta. Córrego Matirumbide nos cinco eventos de coleta.

3.1.3. pH, nitrogênio amoniacal e fósforo


Os resultados encontrados na Figura 9, demonstraram uma certa regularidade nos valores de pH em
todos os pontos e datas de coleta com valores entre 7,0 e 7,5. Observa-se que apenas no mês de
agosto houve uma discrepância no valor de pH do ponto P1, que apresentou valor superior a 7,5. No
entanto, todos os valores estiveram dentro da faixa estabelecida para rios Classe 2 pela DN
Conjunta COPAM/CERH 01/2008, que é de 6 a 9 [11].

Fig. 9 - Valores de pH nos pontos P1, P2 e P3 do Córrego Matirumbide nos cinco eventos de coleta

A partir dos dados obtidos de nitrogênio amoniacal observado na Figura 10, pode-se perceber
valores altos de nitrogênio amoniacal nos pontos P2 (49 a 55 mg/L N-NH3) e P3 (27 a 45 mg/L N-
NH3). No ponto P1, as concentrações não ultrapassaram 0,1 mg/L N-NH3. Vale ressaltar que os
esgotos sanitários apresentam, normalmente, concentrações de nitrogênio total que variam de 20 a
85 mg/L N-NH3, sendo de 8 a 35 mg/L N-NH3 na forma de nitrogênio orgânico e de 12 a 50 mg/L
N-NH3 na forma de nitrogênio amoniacal [14]. Desta forma, pode-se deduzir que esses altos valores
de nitrogênio amoniacal nos pontos P2 e P3 podem ser associados ao despejo inadequado de
efluentes sanitários no córrego Matirumbide, resultando em uma degradação do mesmo.
A presença de nitrogênio amoniacal pode estar ligada a descargas domésticas, assim como dejetos
animais e fertilizantes químicos [12]. Neste contexto, a DN Conjunta COPAM/CERH nº 01/2008
[11] estabelece para os corpos hídricos Classe 2, um padrão de nitrogênio amoniacal variando de
acordo com o pH da água onde quanto maior o pH menor deve ser a quantidade de mg/L de N-NH3.
Correlacionando os valores obtidos de pH (Figura 9) com os de nitrogênio amoniacal (Figura 10) e
comparando com a legislação supracitada, constata-se que apenas o ponto P1 atende a legislação
pois ele se encaixa dentro do padrão exigido para Classe 2 no qual para valores de pH abaixo de 7,5
o padrão por mg/L de N-NH3 deve ser de 3,7.
Mediante os valores obtidos e apresentados na Figura 11, as concentrações de fósforo no ponto P1
não ultrapassaram 0,04 mg/L P-PO4³-, enquanto nos pontos P2 e P3 valores oscilaram entre 0,15 e
0,38 mg/L P-PO4³-. Os pontos P2 e P3 tiveram valores máximos que ultrapassaram 0,3 e 0,2 mg/L
P-PO4³-, respectivamente. Em todos os eventos de coleta, as concentrações de P nos pontos P2 e P3
ultrapassaram o definido pela DN Conjunta COPAM/CERH 01/2008, que estabelece limite de
fósforo total de 0,1 mg/L P-PO4³- para ambiente lótico e tributários de ambientes intermediários.
Fig. 10 - Valores de nitrogênio amoniacal nos pontos Fig. 11 - Valores de fósforo total nos pontos P1, P2 e P3
P1, P2 e P3 do Córrego Matirumbide nos cinco eventos do Córrego Matirumbide nos cinco eventos de coleta.
de coleta.

3.2. Uso e ocupação do solo


É apresentada na Figura 12 a distribuição espacial do uso e da ocupação do solo na bacia do
Corrego Matirumbide. Sabendo que a área total da bacia é de 4,41 km², as áreas associadas a mata
(verde escuro), vegetação rasteira (verde claro) e área urbana (cinza) ocupam, respectivamente, 0,69
km² (15,65%), 1,16 km² (26,30%) e 2,56 km² (58,05%). Percebe-se que a região que possui mais
área verde se localiza à montante da bacia, e que no sentido montante-jusante, ela vai decrescendo
gradativamente (Figura 12). O contrário acontece com a área urbana, que decresce no sentido
jusante-montante.
Para validação do resultado, calculou-se o índice Kappa, que indica o grau de concordância global
entre o resultado da classificação com as áreas de treinamento de validação. Segundo [15], o índice
Kappa apresenta uma avaliação adequada pois ele não superestima a confiabilidade da
classificação. O índice Kappa obtido no estudo foi de k = 0,87, o que, segundo [16], é caracterizado
com um excelente, como pode-se observar na Tabela 3.

Tabela 3 - Índice Kappa.


Índice Kappa k < 0,0 0,0 < k ≤ 0,2 0,2 < k ≤ 0,4 0,4 < k ≤ 0,6 0,6 < k ≤ 0,8 0,8 < k ≤ 1,0
Desempenho Péssimo Ruim Razoável Bom Muito Bom Excelente
Fig. 12 - Uso e ocupação do solo na bacia do Córrego Matirumbide

4. RELAÇÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO COM OS PADRÕES FÍSICO-


QUÍMICO DA ÁGUA
Apresentou-se no item 3.1 os resultados dos parâmetros de turbidez, cor, oxigênio dissolvido, DBO,
DQO, pH, nitrogênio amoniacal e fósforo total analisados nos pontos P1, P2 e P3 em cinco
diferentes eventos de coleta entre agosto e novembro de 2017. Todos os parâmetros, exceto cor e
DQO, foram comparados à DN Conjunta COPAM/CERH nº 01/2008 [11] para águas doces Classe
2, com a finalidade de inferir se os mesmos se encontravam dentro do previsto por lei.
Dentre todas as cinco datas de coleta, o ponto P1 foi o único que se enquadrou em todos os valores
definidos pela DN Conjunta COPAM/CERH 01/2008 [11]. Já os demais pontos (P2 e P3)
apresentaram, na maioria dos eventos de coleta, valores que superaram o esperado e limites
estabelecidos para corpos hídricos enquadrados como Classe 2.
As diversas atividades de uso e ocupação do solo pelo homem alteram os processos biológicos,
físicos e químicos dos sistemas naturais e contribuem para a redução da qualidade da água [17].
Neste contexto, como já comentado no item 3.2, a bacia do Córrego Matirumbide é constituída em
sua grande parte por área urbana, que representa 58% de sua área total. A partir dessa avaliação,
pode-se inferir a respeito de alguns valores obtidos dos parâmetros físico-químicos da água nos
pontos analisados.
Com relação ao ponto P1, é perceptível pela Figura 12 que este ponto fica situado em uma região
que é circundada por área verde. Em outras palavras, possui pouca ou quase nenhuma influência
antrópica. Pode ser que devido a este fato, todos os parâmetros do P1 ficaram de acordo como
previsto na DN Conjunta COPAM/CERH nº 01/2008 [11] para Classe 2. Contudo, com relação aos
pontos P2 e P3, o cenário ao longo do Córrego Matirumbide vai se modificando de tal forma que as
áreas verdes vão se reduzindo dando espaço à área urbana, representada pela cor cinza na Figura 12.
Como consequência desta mudança, as análises dos parâmetros, a partir destes pontos, começaram a
apresentar valores discrepantes quando comparados com P1 e com o previsto na legislação estadual.
Um dos maiores problemas atrelados ao porquê dos parâmetros nos pontos P2 e P3 ficarem fora do
padrão classe 2 é a possibilidade do despejo inadequado de efluentes domésticos ao longo de toda a
bacia do Córrego Matirumbide, além de uma suposta fonte de emissão de efluente de uma indústria
têxtil que fica localizada entre os pontos P1 e P2.
No entanto, alguns parâmetros tais como DBO, DQO, nitrogênio amoniacal e fósforo total sofreram
uma redução do ponto P2 para o ponto P3. A princípio, suspeitou-se que o decréscimo da DBO
(Figura 7) entre os pontos P2 e P3 poderia estar relacionado com o perfil de elevação do Córrego
Matirumbide. No entanto, ao analisar tal perfil através de ferramentas do Google Earth Pro, foi
constatado que a inclinação do curso do Córrego Matirumbide entre os pontos P2 e P3 é muito
pequena. Sendo assim, seria difícil haver uma reoxigenação ao longo deste trecho para um possível
decréscimo da DBO através da autodepuração. Contudo, percebeu-se que entre os pontos P2 e P3
há duas contribuições de afluentes, um na margem direita do córrego e outro na margem esquerda
ambos após o ponto P2 (Figura 12), que passam por área de mata em seu trecho inicial e em seguida
por uma pequena área urbana. Pode ser que estes afluentes contribuam com uma carga mais diluída
e com menos poluente, o que poderia fazer com que a DBO entre os pontos P2 e P3 sofresse um
decréscimo. Essa justificativa pode explicar a redução do nitrogênio amoniacal que também possui
uma ligação com o efluente doméstico assim como o fósforo. No caso do fósforo, chama-se a
atenção para o conteúdo do elemento contido nos detergentes, podendo ser esse um dos fatores para
os altos valores obtidos, como também o possível descarte de efluentes de indústria têxtil a
montante do ponto P2.
O oxigênio dissolvido a partir do ponto P2 apresenta níveis muito abaixo do esperado pela
legislação usada para comparar os parâmetros neste estudo. Os valores nos pontos P2 e P3 (Figura
5) estão abaixo da metade da concentração exigida pela legislação estadual para corpos hídricos de
água doce Classe 2, que é de, no mínimo, de 5mg/L O2. Segundo [18] um dos fatores que pode
contribuir para o decaimento da concentração de OD é o lançamento de matéria orgânica nas seções
que se encontram em áreas agrícolas e urbanizadas. Neste contexto, este decaimento condiz com a
realidade do local, pois há o lançamento de compostos orgânicos ao longo de toda zona urbanizada
na área do córrego.
A turbidez nos pontos P2 e P3 ultrapassou os limites preconizados pela legislação estadual, que é de
100 UNT, nos meses de agosto de setembro. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia [19], o
valor de chuva acumulado mensal para os meses de agosto e setembro no ano de 2017 foram de
aproximadamente 25mm e 10 mm respectivamente, enquanto que para os meses de outubro e
novembro ambos ultrapassaram o valor de 100mm. É válido colocar em evidência que, antes das
coletas realizadas nos meses de agosto e setembro, não foram observados eventos de chuva. Já nas
três últimas coletas, eventos de chuva foram observados no dia anterior e a média da turbidez obtida
foi de aproximadamente 70 UNT. Sabe-se que eventos de chuva influenciam no aumento da
turbidez, devido ao carreamento de possíveis sólidos para o córrego, além da suspensão de
sedimentos presentes no corpo hídrico. É difícil justificar e correlacionar os valores acentuados de
turbidez encontrados nos meses de agosto de setembro com a precipitação. Portanto, o alto valor
pode estar vinculado aos efluentes domésticos e industriais lançados no córrego.

5. CONCLUSÃO
A forma na qual o ser humano usa e ocupa o solo está intrinsicamente ligada com a qualidade dos
cursos hídricos presente no local onde ele vive. Quanto a relação do uso e ocupação do solo da
bacia com a qualidade da água encontrada na bacia, cabe ressaltar que a influência antrópica pode
ter impactado negativamente o Córrego Matirumbide. A montante, onde se localiza o ponto P1 e
também onde possui maior área verde, os parâmetros analisados se encontraram dentro da DN
Conjunta COPAM/CERH 01/2008 [11], enquanto que nos demais pontos P2 e P3 já se pode
observar valores discrepantes ao estabelecido pela legislação estadual para corpos hídricos de
Classe 2, podendo ser relacionados com o aumento da área urbana ao longo da bacia do Córrego
Matirumbide.
Sabe-se que no município de Juiz de Fora, a despoluição do Rio Paraibuna começou em meados de
2013 com objetivo de captar e tratar os esgotos lançados no Rio Paraibuna e em cinco córregos
afluentes dele. Um dos córregos contemplados no projeto para que houvesse esta obra era o Córrego
Matirumbide. No entanto, apesar de alguns trechos estarem próximos de serem concluídos, as obras
nem sequer iniciaram na região do córrego, fato explicado pela dificuldade encontrada na logística
de atuar na área. Como visto neste trabalho, é perceptível a possível contaminação do Córrego
Matirumbide como consequência dos lançamentos indevidos de efluentes domésticos e industriais.
Além disto, percebeu-se que, naturalmente, o corpo hídrico em alguns momentos consegue
minimizar o impacto dos efluentes lançados devidos a afluentes que ainda não se encontram
tomados por áreas com elevada urbanização. Por fim, cabe ressaltar a importância de realizar ações
com o objetivo em educar a população local para tentar minimizar o impacto causado pelo
gerenciamento inadequado de resíduos sólidos nas regiões do entorno do córrego e, de fato,
começar a se pensar melhor na implantação de obras de infraestrutura de coleta e tratamento dos
esgotos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MUÑOZ, S. I. (2013). Water quality of the Ribeirão Preto Stream, a water course under anthropogenic
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[11] MINAS GERAIS (Estado). Deliberação Normativa Conjunta COPAM/CERH-MG no 01, de 05 de Maio de
2008. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como
estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências.
[12] VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgoto. 3. ed. Belo Horizonte:
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[18] BLUME, K.K.; MACEDO, J.C.; MENEGUZZI, A.; SILVA, L.B.; QUEVEDO, D.M.; RODRIGUES, M.A.S.
Water quality assessment of the Sinos river, southern Brazil. Brazilian Journal of Biology, [s.l.], v.70, n.4,
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[19] INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA - INMET. Gráficos das condições registradas. Disponível
em: <http://www.inmet.gov.br/sim/abre_graficos.php>. Acesso em: 30 mar. 2018.
ANÁLISE DAS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS EM PAREDES DE
GESSO ACARTONADO E ALVENARIA INSTALADAS EM ÁREAS
MOLHÁVEIS

Analysis of pathological manifestations in gypsum plasterboard and masonry


installed in wetlands

Taciane Roberta Francescatto 1, Douglas Barreto 2


1 Mestranda, Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil (PPGECiv) – Universidade Federal de São
Carlos – UFSCar, Araraquara, Brasil, taci.francescatto@gmail.com
2
Docente, Programa de Pós-Graduação em Estruturas e Construção Civil – Universidade Federal de São Carlos –
UFSCar, São Carlos, Brasil, dbarreto@ufscar.br

Resumo: As construções secas apresentam como característica a ausência de água no processo de


montagem da edificação. Esse método construtivo, possibilita, por intermédio da industrialização de
seus componentes, construções mais rápidas, que geralmente são estruturadas em aço ou madeira.
Uma alternativa para compartimentação interna de ambientes, sem a função estrutural, é por meio
de vedações com chapas de gesso acartonado e perfis metálicos. Esse sistema construtivo é
principalmente utilizado em edificações comerciais, como escritórios ou industriais. Essa tecnologia
é utilizada em vedações internas de edificações em alvenaria, entretanto o componente é sensível a
ação da água, sendo necessário um maior cuidado em ambientes que apresentam elevado índice de
umidade. Em virtude a aplicação no setor comercial e principalmente no setor hoteleiro, é comum a
utilização de chapas de gesso acartonado em ambientes molháveis. Assim, pode-se considerar a
dicotomia entre esses ambientes e o componente de vedação. Por ser uma tecnologia menos usual,
poucos são os estudos acerca dos problemas que ocorrem nesses painéis, desde falhas construtivas
que possibilitam o surgimento das manifestações patológicas nessas áreas de interface entre
ambiente seco e molhado. Deste modo, esta pesquisa objetiva apresentar e analisar os problemas
patológicos que ocorrem em ambientes molháveis de redes hoteleiras construídos com paredes de
alvenaria ou gesso acartonado. Para tal, foi proposto estudos de campo envolvendo hotéis da região
de São Carlos que utilizam essas técnicas de vedações, para a catalogação e categorização das
falhas nesses ambientes e identificando as suas causas e processos mitigatórios de recuperação.

Palavras-chave: gesso acartonado, manifestação patológica, áreas molháveis.

Abstract: The dry constructions present as characteristic the absence of water in the process of
assembling the building. This constructive method makes possible, through the industrialization of
its components, faster constructions, which are usually structured in steel or wood. An alternative
for internal compartmentalization of environments, without the structural function, is by means of
seals with gypsum plasterboard and metallic profiles. This constructive system is mainly used in
commercial buildings, such as offices or industrial buildings. This technology is used in internal
fences of masonry buildings, however the component is sensitive to water action, and greater care is
required in environments with a high moisture content. Due to the application in the commercial
sector and mainly in the hotel sector, it is common to use gypsum plasterboard in wettable
environments. Thus, the dichotomy between these environments and the sealing component can be
considered. Because it is a less usual technology, there are few studies about the problems that
occur in these panels, from constructive failures that allow the appearance of pathological
manifestations in these interface areas between dry and wet conditions. Thus, this research aims to
present and analyze the pathological problems that occur in wettable environments of hotel
networks built with walls of masonry or gypsum plasterboard. To this end, it was proposed field
studies involving hotels in the region of São Carlos that use these techniques of fences, for
cataloging and categorizing the faults in these environments and identifying their causes and
mitigating recovery processes.

Keywords: gypsum plasterboard, pathological manifestation, wetlands.

1. INTRODUÇÃO
Com relação ao estudo das manifestações patológicas que ocorrem nas edificações, o SindusCon-SP
em um levantamento realizado com 78 empreendimentos com idades entre zero e cinco anos,
localizados na cidade de São Paulo, identificou maior incidência de problemas nos sistemas
hidrossanitário e gás. Além, para o IBAPE, os problemas oriundos a ação da umidade,
principalmente os ocasionados pela ausência de impermeabilização, é a principal causa de
deterioração da edificação. Novamente, em outra pesquisa, liderada pelo Secovi-SP, mostrou em
uma avalição com 52 edifícios que os vícios mais frequentes ocorrem no sistema hidrossanitário
[1].
Essa ocorrência significativa de problemas que acontecem nos sistemas prediais, enfatiza a
gravidade da ação da umidade nos ambientes, principalmente os considerados molháveis, como é o
caso de banheiros, cozinhas e áreas de serviço. Nos sistemas construtivos a seco a situação é ainda
mais preocupante, pois o material utilizado no fechamento vertical interno, as chapas de gesso
acartonado, possui propriedades e características antagônicas à presença de água [2].
Por ser uma técnica construtiva menos usual no pais, há ausência de estudos na área patológica,
com o emprego de outros materiais de fechamento além da tradicional alvenaria. Essas edificações,
que possuem vedação industrializada, precisam, ainda, de diagnóstico quanto às manifestações
patológicas que ocorrem nesses ambientes molháveis [3]. Diante disto modo, o objetivo deste
trabalho consistiu em identificar e analisar as manifestações patológicas que ocorrem em ambientes
molháveis de hotéis construídos com vedações internas tanto em alvenaria quanto em drywall.
Para isso, este trabalho foi desenvolvido através de uma metodologia, que fora dividida em duas
etapas. A primeira etapa constituiu em uma revisão bibliográfica das recomendações técnicas
propostas pela literatura e as manifestações patológicas que ocorrem em ambientes molháveis. Na
etapa subsequente, foram realizados estudos de campo em hotéis na região de São Carlos-SP, de
modo a identificar e analisar os problemas e as processos de recuperação adotados pelo setor de
manutenção responsável, por intermédio da aplicação de formulários elaborados pelos autores.

2. METODOLOGIA
Para o desenvolvimento desta pesquisa, foi proposta uma metodologia bibliográfica e com estudos
de campo, que foram realizados em hotéis na região de São Carlos-SP. As informações foram
coletadas através da aplicação de três formulário, direcionados ao responsável pelo setor de
manutenção de sete estudos de campo. O primeiro formulário teve o intuito de apresentar
informações gerais e características físico-construtivas do empreendimento. Já, o segundo
formulário, com base em outros estudos patológicos, buscou expor e identificar as manifestações
patológicas que ocorrem nos ambientes molháveis dos hotéis que possuem o sistema de vedação em
alvenaria ou drywall. Por fim, o último formulário objetivou apresentar as características da equipe
de manutenção, as dificuldades e procedimentos básicos enfrentados. Na Figura 01 é apresentado o
fluxograma da metodologia desta pesquisa.

Revisão Bibliográfica

Definição dos estudos de campo

Elaboração dos formulários

Caracterização dos Identificação Informações sobre


empreendimentos das anomalias a manutenção

Tabulação de dados

Análises dos resultados

Figura 01 - Fluxograma da metodologia.

3. ANÁLISES E RESULTADOS
Para melhor visualização das informações obtidas a partir dos formulários, aplicados nos sete
empreendimentos em análise, os resultados foram divididos em tópicos, sendo eles: a caracterização
do empreendimento e da equipe de manutenção, as manifestações patológicas que ocorrem e os
processos de recuperação adotados. Todos os formulários foram respondidos por um responsável
pelo setor de manutenção do hotel. A aplicação deles correu por meio de entrevistas para os
empreendimentos 02, 03, 05, 06 e 07, que duraram em média de 30 minutos. Já nos hotéis 01 e 04,
os formulários foram respondidos pelo próprio participante, por preferência.

3.1. Caracterização do empreendimento


O primeiro formulário aplicado objetivou obter informações preliminares sobre a edificação, desde
dados gerais sobre o hotel, á características físico-construtivas. Na Tabela 01 e 02 são apresentadas
resumidamente as informações dos sete empreendimentos em análise, localizados em quatro
cidades e com idades e características distintas. Os formulários dos Hotéis 02 e 03, que fazem
divisa predial, são gerenciados pela mesma rede hoteleira e compartilham o mesmo responsável
pelo setor de manutenção, que respondeu ambos os formulários. Ainda, somente o Hotel 06 não
pertence a mesma rede de hotéis dos demais empreendimentos.
Tabela 01 – Caracterização dos empreendimentos 01, 02 e 03
Hotel 01 Hotel 02 Hotel 03

Ilustração

Idade do Hotel 17 anos 03 anos 03 anos


Número de blocos 01 01 01
Número de pavimentos 09 17 19
Número de quartos / áreas
112 178 152
de banho individuais
Sistema estrutural Concreto armado Concreto armado Concreto armado
Sistema de vedação Misto – drywall / alvenaria Misto – drywall / alvenaria Misto – drywall / alvenaria
Misto - gesso acartonado / Misto - gesso acartonado / Misto - gesso acartonado /
Tipo de forro
laje laje laje

Tabela 02 – Caracterização dos empreendimentos 04, 05, 06 e 07

Hotel 04 Hotel 05 Hotel 06 Hotel 07

Ilustração

Idade do Hotel 02 anos 06 anos 10 anos 8 anos


Número de blocos 01 01 01 01
Número de
05 06 05 06
pavimentos
N. de quartos / áreas
119 68 110 96
de banho individuais
Sistema estrutural Concreto armado Concreto armado Concreto armado Concreto armado
Sistema de vedação Alvenaria Alvenaria Alvenaria Alvenaria
Misto - gesso Misto - gesso Misto - gesso Misto - gesso
Tipo de forro
acartonado / laje acartonado / laje acartonado / laje acartonado / laje

No que tange ao sistema de vedação interna, os Hotéis 01, 02 e 03 possuem paredes internas
compostas por chapas de gesso acartonado nos quartos e corredores, e uma parede em alvenaria no
banheiro, que faz divisa com o banheiro de outro quarto. Já os Hotéis 04, 05 e 07 possuem
fechamento vertical composto integralmente por alvenaria. No Hotel 06 foi utilizado o sistema
drywall somente para corredores e shafts, sendo as demais paredes dos pavimentos-tipos
construídas em alvenaria.
Entre as descrições dos ambientes, todos possuem áreas molháveis comuns, como cozinhas,
banheiros coletivos e individuais, e área de serviço. Ainda, os Hotel 03 e 06 possuem áreas para
piscina, porém em locais abertos, sendo o primeiro na cobertura e o segundo no térreo. Com relação
aos banheiros individuais, observou-se diferentes padrões estéticos. Em todos os empreendimentos,
notou-se uma variedade nos designs dos banheiros, com diferentes tipos de layouts, que variam
conforme o tipo de quarto escolhido, como é apresentado na Figura 02.

Figura 02 – Exemplo de planta de layout Hotéis 03 e 06.

Com relação aos revestimentos das paredes, somente nos hotéis com drywal (01, 02 e 03) não
apresentaram o revestimento total das chapas com placas cerâmicas, e sim parcial, executado
apenas na área interna do box. Já nos demais hotéis, o banheiro é inteiramente revestido. Na Figura
03 é ilustrado a situação mencionada com os banheiros dos Hotéis 02 e 06, respectivamente.

Figura 03 – Design de banheiros Hotéis 02 e 06.

3.2. Caracterização da equipe de manutenção


Analisando o universo dos usuários participantes desta pesquisa observou–se uma responsabilidade
singular, no qual o setor de manutenção contempla apenas o próprio participante. Somente os
Hotéis 02 e 03, gerenciados pela mesmo setor e de maiores portes, possuem uma equipe de
manutenção formada por 4 indivíduos. Entre os materiais técnicos consultados pelos participantes
para a execução de serviços, estão manuais próprios, de fabricantes, normas, e além da própria
experiência. O tempo de serviço dos participantes, variam entre 2 meses a 10 anos, conforme
apresentado na Tabela 03.
Tabela 03 – Perfil participante

Características
Participantes Tempo de Total
Idade Cargo Nível de escolaridade
serviço Equipe
Hotel 01 32 anos Auxiliar de manutenção Ensino superior incompleto 2,5 anos 1
Hotel 02 38 anos Coordenador de manutenção Ensino Técnico 3 anos 4
Hotel 03 38 anos Coordenador de manutenção Ensino Técnico 3 anos 4
Hotel 04 45 anos Manutencionista Ensino médio 2 meses 1
Hotel 05 29 anos Gerente geral Ensino superior 4 anos 1
Hotel 06 40 anos Gerente de manutenção Ensino superior incompleto 10 anos 1
Hotel 07 33 anos Manutencionista Ensino Técnico 2 anos 1

3.3. Manifestações patológicas nos ambientes molháveis


Para o segundo formulário, direcionado aos problemas patológicos que ocorrem nesses ambientes,
foi utilizado uma ficha no modelo check list, de modo a apresentar ao participante, uma gama de
possíveis problemas que ocorrem em áreas molháveis, com base em outros estudos, afim de
verificar quais ele identifica como problemas decorrentes no hotel. Ainda, as manifestações
patológicas foram apresentadas e divididas conforme o local de atuação, sendo elas nas paredes, nas
instalações elétricas, nas instalações hidrossanitárias, nos sistemas de revestimentos e nas
esquadrias.
Vale ressaltar que está pesquisa trata-se de uma análise qualitativa das tipologias de problemas que
ocorrem em ambientes molháveis de hotéis. Ainda, as respostas apresentadas pelos participantes
condizem com a experiência do indivíduo e tempo de serviço prestado no empreendimento.

3.3.1. Manifestações patológicas nas paredes


Em relação aos problemas que ocorrem nas paredes, no caso dos banheiros, somente os hotéis
construídos com drywall possuem paredes livres de revestimentos, e sujeitas ao surgimento das
possíveis manifestações patológicas apresentadas neste tópico. Ainda, outras ocorrências apontadas,
referem-se aos demais ambientes molháveis, que, conforme os participantes, também acontecem
nas demais comodidades do empreendimento. As informações obtidas estão apresentadas na Tabela
04.
Entre os principais problemas, destacam-se a presença de manchas de umidade e bolor. No caso dos
banheiros, em todos os hotéis são utilizados forros de gesso. Esse fato em combinação com a
ausência de ventilação natural no ambiente, proporciona o acúmulo de umidade no meio e o
surgimento dessas manifestações patológicas nos forros e também no drywall não revestido com
cerâmica, como exemplo ilustrado na Figura 04 (a,b). Já em paredes de alvenaria, as manchas de
umidade ocorrem principalmente devido a vazamentos de tubulações, Figura 04 (c).
(a) (b) (c)

Figura 04 – (a,b) Manchas de umidade em drywal no Hotel 02 / (c) Manchas área de serviço Hotel 06.

Tabela 04 – Manifestações patológicas em paredes


Hotéis
Problema patológico
Hotel 01 Hotel 02 Hotel 03 Hotel 04 Hotel 05 Hotel 06 Hotel 07
Deterioração próxima ao rodapé X X X X X X
Descolamento de pinturas X X X X X
Manchas de umidade X X X X X X X
Presença de bolor X X X X X X
Fissuras próximas aos rodapés X X X
Fissuras nas juntas das chapas X X X
Cargas suspensas cedendo X X X X
Danos por impacto acidental X X X
Danos por impacto de maçaneta X X X X

Outro problema comum, trata-se de danos que ocorrem próximos aos rodapés em ambientes
molháveis, devido ao fácil contato com a água no momento da higienização. Em geral, os hotéis
com drywall (01, 02 e 03) foram os que mais apresentaram problemas em paredes quando sujeitas a
ação da umidade. Esse fato pode ser justificado devido a sensibilidade das chapas de gesso
acartonado perante a presença de água. Ainda o hotel que menos apresentou danos é também o
participante que possui o menor tempo de serviço, e, consequentemente, menos vivencia de
ocorrências de falhas.

3.3.2. Manifestações patológicas nas instalações elétricas


Os problemas relacionados as instalações elétricas não se resumem apenas aos ambientes
suscetíveis a umidade, mas comuns aos demais cômodos da edificação. Foram poucos os problemas
relatados nesse sistema, sendo eles: defeitos no acabamento das instalações e falhas de
funcionamento, ambos os problemas podem ocorrer devido a execução e concepção de projeto
incorreto, conforme apresentado na Tabela 05.
Tabela 05 – Manifestações patológicas em instalações elétricas
Hotéis
Problema patológico
Hotel 01 Hotel 02 Hotel 03 Hotel 04 Hotel 05 Hotel 06 Hotel 07
Defeitos no acabamento X X X X
Falha no funcionamento X X X X

3.3.3. Manifestações patológicas nas instalações hidrossanitárias


Os problemas derivados do sistema hidrossanitário podem ter várias origens, desde o sistema de
esgoto, água fria / quente ou peças sanitárias. Com relação as manifestações patológicas
mencionadas pelos participantes, e apresentados na Tabela 06, observou-se que a percepção de
ruídos não corre somente em edificações com drywall, mas também em alvenaria. Outro problema,
menos corriqueiro, é a quebra de box, citados pelos Hotéis 01 e 04, decorrente aos parafusos de
fixação ficarem frouxos com o tempo e possibilitar que o vidro atrite com o piso. Problemas como
obstrução de esgoto, mal funcionamento dos equipamentos, e refluxo de gases, comumente são
resultantes de execuções errôneas, ainda em fase de construção do edifício.

Tabela 06 – Manifestações patológicas em instalações hidrossanitárias


Hotéis
Problema patológico
Hotel 01 Hotel 02 Hotel 03 Hotel 04 Hotel 05 Hotel 06 Hotel 07
Vazamentos na rede esgoto X X X X X
Vazamentos na rede água X X X X X X
Vazamentos nas peças sanitárias X X X X X X
Corrosão da tubulação X
Obstrução de esgoto X X X X X
Percepção de ruídos X X X X X
Mal funcionamento equipamentos X X X X X
Excesso de pressão X X
Acessórios ou peças soltas X X X X X X
Box cedendo X X
Presença de bolor no silicone X X X
Refluxo de gases X X

As principais ocorrências entre os empreendimentos, são os vazamentos nas tubulações em geral,


que acarreta a deterioração de placas cerâmicas e pinturas, conforme ilustrados na Figura 05. Além
do desgaste natural do material, as instalações mal executadas também são responsáveis por esses
problemas no sistema hidrossanitário. Em paredes de gesso acartonado, essas situações, quando não
resolvidas imediatamente, pode ocasionar na total degradação do painel, sendo necessário a troca.
Em uma ocorrência no Hotel 02, foi mencionado que devido as paredes serem ocas, facilitou um
vazamento que percorreu do 11º pavimento até o térreo.
Figura 05 – Vazamentos nos Hotéis 06 e 07 respectivamente

3.3.4. Manifestações patológicas no sistema de revestimento


As manifestações patológicas atuantes no sistema de revestimentos podem ocorrer nas placas
cerâmicas ou rejuntamento. Entre os principais problemas identificados a partir dos formulários, as
fissuras, manchas nas placas e existência de pisos ocos são as mais comuns, conforme expostos na
Tabela 07. Além do desgaste natural, as principais causas dos problemas nesse sistema é a falta de
domínio técnico para a execução do assentamento das placas por parte do profissional e a
especificação de produtos incorretos.

Tabela 07 – Manifestações patológicas nos revestimentos


Hotéis
Problema patológico
Hotel 01 Hotel 02 Hotel 03 Hotel 04 Hotel 05 Hotel 06 Hotel 07
Descolamento de placas X
Pisos ocos X X X X X
Fissuras, trincas e gretamento X X X X X
Deterioração do rejunte X X X X X X
Manchas de umidade e bolor X X X
Eflorescência X
Peças quebradas X
Caimento errado do piso X X X
Peças manchadas X X X X X
Recortes mal feitos X X X X X

Apesar de ser um assunto pouco divulgado, os materiais da construção civil também possuem
validade, sendo necessária a manutenção e reposição periódica. Isso contempla inclusive os pisos,
argamassas colante e rejuntes. A exemplo disto, em uma ocorrência no Hotel 06, em alguns
cômodos os azulejos trincaram e descolaram das paredes, que apesar de estarem assentados a alguns
anos, sofreram rompimento brusco e repentinos das placas, conforme é ilustrado na Figura 06 (a,b).
Além das cerâmicas, outra ocorrência registrada no mesmo hotel, trata-se de remoção total e
substituição do rejuntamento existente da cozinha, (b), que devido à ação de produtos, se deteriorou.

(a) (b) (c)

Figura 06 – Reformas no Hotel 06

3.3.5. Manifestações patológicas nas esquadrias


Na Tabela 08 é exposto as principais falhas que ocorrem no sistema de esquadrias, como por
exemplo problemas com a automatização das portas, comuns em hotéis. Com relação as fissuras
próximas às portas e janelas das edificações em alvenaria, podem ser decorrentes à ausência de
vergas e contravergas na etapa de construção do edifício.

Tabela 08 – Manifestações patológicas nas esquadrias

Hotéis
Problema patológico
Hotel 01 Hotel 02 Hotel 03 Hotel 04 Hotel 05 Hotel 06 Hotel 07
Instalação fora de esquadro X
Problemas nas fechaduras X X X X
Manchas de umidade próximas X X X X X
Descolamento da pintura ao X X X
redor
Fissuras próximas às janelas X X X
Fissuras próximas ás portas X X

As esquadrias são componentes fundamentais para garantir a funcionalidade das edificações,


proporcionando iluminação e ventilação natural. No entanto em locais que possui alto concentração
de umidade, como os banheiros, entre todos os empreendimentos analisados, somente 10 banheiros
do Hotel 06 possuem janela, os demais utilizam sistema ventilação artificial [4]. Nas paredes ao
redor das janelas, é comum o surgimento de problemas relacionados a umidade, decorrente da
infiltração de água de chuva ou água proveniente de limpeza, como manchas de umidade e
descolamento de pintura, conforme ilustrados na Figura 07.
Figura 07 – Descolamento e manchas de umidade Hotel 03 e 06 respectivamente

3.4. Processo de manutenção


Nos Hotéis 01, 04, 05 e 07, os participantes são qualificados a executar pequenos e médios reparos.
A terceirização de serviços ocorre somente em casos de procedimentos maiores, que demandem de
equipamentos de alto custo e mão de obra especializada. Para o Hotel 05, não há um indivíduo
responsável exclusivamente pela manutenção local, mas sim um gerente geral que se certifica em
terceirizar e acompanhar os serviços quando necessário. Já nos Hotéis 02 e 03, além de ser a mesma
equipe de manutenção para ambos os empreendimentos, ela também é responsável por toda e
qualquer intervenção realizada nos hotéis.
Com relação as técnicas de registros de falhas, todos os empreendimentos utilizam planilhas
manuais ou eletrônicas para notações sobre o serviço realizado. Em sua maioria, esses documentos
são semelhantes ao Livro de Ocorrências Gerais (LOG), que requer as seguintes informações: data e
hora de solicitação de serviço, a especificação da solicitação, o nome do solicitante e de quem
recebeu a solicitação, o status de resolução, a data e hora de resolução e o responsável pela solução.
Além disso, as equipes são determinadas e incentivadas a resolverem os problemas no menor tempo
possível.
Todos os participantes concordam que o empreendimento precisa de constante manutenção,
considerada diária, e quando questionados quais os ambientes que necessitam de maior intervenção,
as respostas em geral foram os quartos e banheiros individuais. Além, em relação as principais
reclamações dos hóspedes, referentes a edificação, destacaram os ruídos de quartos vizinhos,
problemas de infiltração, estéticas do ambiente e falhas nos equipamentos.
Com relação as principais dificuldades enfrentadas durante o processo de manutenção, nos
empreendimentos com paredes de alvenaria, foram apontadas as infiltrações com vazamentos
internos. No caso das paredes de gesso acartonado, as principais dificuldades, referem-se a falta de
rigidez da chapa quando necessário fazer a fixação, pois ocorre o esfarelamento do gesso entre os
papeis de cartão. Outro problema mencionado, típico desse material, é a sensibilidade a umidade.
De modo geral, um problema comum aos dois tipos de vedações, é a dificuldade para encontrar
objetos compatíveis aos já existentes no hotel, por exemplo, quando uma determinada lâmpada
queima e não há mais a produção daquela linha em específica, sendo assim, para manter a
padronização das lâmpadas, é necessário trocar todos os conjuntos existentes que se tornaram
obsoletas com o tempo.
4. CONCLUSÃO
A primeira análise obtida com o desenvolvimento desta pesquisa, foi um panorama das tipologias
construtivas empregadas nos hotéis da região de São Carlos-SP. Para realizar os estudos de caso,
foram necessárias 33 visitas e apresentação persistentes em hotéis localizados em cinco cidades.
Após a finalização dessa etapa inicial, e alcançados os sete hotéis participantes, foi possível
verificar que dentre esses 33 hotéis renomados, apenas cinco possuem o drywall como vedação
vertical interna principal. Desses cinco empreendimentos, quatro são pertencentes a mesma rede
hoteleira.
Com relação aos três hotéis participantes que possuem vedações em drywall, apesar de existirem
outros hotéis construídos em alvenaria que fazerem parte do mesmo grupo, e existir uma diferencia
considerável de idade de execução entre os Hotéis, sendo eles o 01 (com 17 anos), 02 e 03 (ambos
com 03 anos), ainda assim, a disseminação dessas tecnologias no setor hoteleiro depende de grandes
redes hoteleiras, que importam essas técnicas construtivas de outros países.
Além dessas constatações, com relação as manifestações patológicas analisadas em paredes de
gesso acartonado e alvenaria, foi possível verificar que ambos os sistemas estão suscetíveis ao
surgimento de problemas, que, no entanto, devido as diferentes propriedades dos materiais de
fechamentos, podem se manifestar de formas e intensidades distintas.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a CAPES no desenvolvimento deste trabalho, através da concessão de bolsa
de pesquisa, e aos profissionais dos hotéis que viabilizaram esse estudo.

REFERÊNCIAS
[1] BLANCO, M. Danos Construtivos: Como atender as reclamações dos compradores de imóveis dentro do prazo de
garantia. Revista Construção Mercado. São Paulo, 72. ed., 2007.
[2] TANIGUTI. E. K. Método construtivo de vedação vertical interna de chapas de gesso acartonado. 1999. 293 p.
Dissertação (Mestrado) – Departamento de Engenharia de Construção Civil, Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo, São Paulo, 1999.
[3] SILVA, N. C. N. Paredes internas de chapas de gesso acartonado empregadas em edifícios habitacionais:
avaliação em uso. 2002. 281 p. Trabalho Final (Mestrado Profissional em Habitação) – Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo, São Paulo, 2002.
[4] CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO. Esquadrias para edificações, desempenho e
aplicações: orientações para especificação, aquisição, instalação e manutenção. Brasília: CBIC/SENAI, 2017.
ESTUDO DO POTENCIAL DE APLICAÇÃO DE RESÍDUOS ORIUNDOS DA
SEPARAÇÃO DAS APARAS DA CELULOSE NA PRODUÇÃO DE CONCRETO
POLIMÉRICO

STUDY OF THE POTENTIAL FOR THE APPLICATION OF WASTE FROM THE


SEPARATION OF CELULOSE APARES IN THE PRODUCTION OF POLYMERIC
CONCRETE
Isabel Christina de Almeida Ferreira 1, Thais Mayra de Oliveira 2, Antonio Eduardo Polisseni3
1
UFJF, Juiz de Fora, Brasil, isabel.ferreira@engenharia.ufjf.br
2
UFJF, Juiz de Fora, Brasil, thais.mayra@yahoo.com.br
UFJF, Juiz de Fora, Brasil, Eduardo.polisseni@engenharia.edu.ufjf.br

Resumo: Estudos na área de reaproveitamento de resíduos e sustentabilidade estão em ritmo


crescente nos últimos anos. Os resíduos industriais, principalmente, apresentam grande potencial
de reutilização em diversos seguimentos, não somente na construção civil. Em paralelo, muitos
estudos vêm mostrando que concretos poliméricos são excelentes alternativas para peças
produzidas com a finalidade de evitar absorção, seja de água ou outras substâncias que acabem
por comprometer a resistência, ou até mesmo levar ao colapso da estrutura. Este estudo possui
como base a adição de resíduos industriais e resina na mistura de concreto para que, através de
ensaios, seja verificada a viabilidade da produção de um produto rentável, de melhores
resistências e com potencial sustentável. Ao fim dos estudos, verificou-se que o comportamento
dos corpos de prova não foi o esperado. A cura do concreto não ocorreu devido a reação
inesperada entre a resina fornecida pela empresa parceira da pesquisa e os agregados da mistura.

Palavras-chave: Concreto, Sustentabilidade, polimérico, Resíduos.

Abstract: Sustainability and studies about the reuse of different types of waste are being discussed
even more in the last years. Above many others, industrial waste has a great potential to be reused
in construction segment. In this sustainability area, studies prove that polymer concretes are great
alternatives in order to compound rigid concrete parts with high resistance values. This article uses
industrial waste and resin as components of polymer concrete to perform specific tests in order to
verify the viability of this new sustainable product as such as you great performance in resistance.
As a result, the concrete samples did not work as expected. There was an unforeseen reaction
between the resin and aggregate discomposing the concrete drying process.

Keywords concretes, concretes, polymer, wasrte.

Normalmente, dentro da construção civil, os concretos com bases poliméricas, utilizam com
maior frequência resinas do tipo epóxi e a poliéster, sendo esta a mais economicamente viável
(CZARNECKI et al.,1999).
O uso de polímeros e resinas na construção civil teve início como uma alternativa às falhas
que ocorriam nas estruturas, como por exemplo trincas e rachaduras, eram utilizadas “injeções” de
resina epóxi com catalisadores para fazer o fechamento do modelo estrutural, além de bloquear a
entrada de água que causaria danos maiores se em contato com o aço.
Muitas das falhas que ocorrem nas estruturas de concretos, derivam-se da alta porosidade
apresentada em seu estado endurecido, fato este que pode ser ocasionado desde a sua fabricação até
a sua aplicação onde não é realizado o correto adensamento.

Como a porosidade é extremamente prejudicial aos concretos, o preenchimento destes poros


com polímeros, seja parcial ou totalmente, ocasionaria no fechamento dos mesmos evitando a
entrada de agentes agressivos. Além disso, esse preenchimento causa um aumento na área
superficial da peça de concreto, ou seja, quando colocada diante de cargas, não apresentaria perda
de resistência, pelo contrário, torna-se mais eficiente.

O concreto com adição de polímeros, é resultante da mistura de tipos variados de


substâncias da classe dos polímeros, com agregados inorgânicos, graúdos e miúdos. Dependendo da
destinação do produto pode-se ainda ser acrescentado algum tipo de pigmento para fins estéticos.
Por ser um material de alto valor no mercado, as matérias poliméricas podem muitas vezes
tornar o produto inviável. Por exemplo, quais as vantagens que podem ser resultantes da troca de
materiais convencionais por poliméricos em ambientes corrosivos, como aqueles em que atuam
maresia e produtos químicos? Estudos de caso se fazem necessários para responder esse tipo de
questionamento.
Primeiramente, o concreto polímero foi utilizado para fazer reparos em estruturas de concreto
convencional, sendo então inserido no mercado norte americano por volta de 1950. Hoje, o concreto
polímero tem diversas aplicações, principalmente nos países desenvolvidos (TONET apud.
FOWLER 2005).
O concreto Polimérico pode ser classificado em três categorias: Concreto de Polímero (CP),
concreto Impregnado com Polímero (CIP) e concreto modificado com Látex (CML).
Cada método de produção, seja para uma impregnação parcial ou um completa, formará um
concreto com características físicas, químicas e mecânicas distintas. Isso ocorre porque cada
polímero tem uma natureza distinta, e sendo assim, cada compósito atenderá a casos diferentes.
Podemos utilizar os polímeros de forma a substituírem completamente o cimento Portland
na composição do concreto, dando origem a um material que resiste melhor em meios agressivos e
pode ser utilizado em um curto prazo de tempo já que sua cura se dá em aproximadamente em 24
horas.

Além da cura rápida, outras vantagens podem ser atribuídas ao concreto polímero, sendo
uma das mais importantes a baixa permeabilidade, devido a propriedade das resinas de preencher
melhor os vazios das estruturas, o que proporciona uma taxa menor de manutenção das peças onde
for utilizado.

Muitas são as aplicações possíveis do concreto polímero, até mesmo para a produção de
bases para máquinas industriais. Isso se deve, principalmente, ao seu alto poder de amortecimento
de vibração, o que torna a estrutura mais durável, resistente, e, principalmente, o ambiente menos
ruidoso, agregando qualidade ao trabalho dos operários. Podem-se citar, entre outras aplicações, os
blocos resistentes para pisos, devido sua alta resistência ao impacto, resistência química, e baixa
permeabilidade, proporcionando grande resistência ao tráfego pesado, aos agentes químicos e à
água (TONET apud ORAK, 2000; BIGNOZZI et al., 2000).

Nos Estados Unidos, por exemplo, o concreto polímero está sendo utilizado em
pavimentações, pontes e indústrias petroquímicas. Já no Canada e Japão, o PC vem sendo aplicado
nas construções subterrâneas e em pavimentações. Na Europa, destina-se, principalmente, para a
produção de estruturas pré-moldadas, reservatórios, tubulações e revestimentos para as indústrias
químicas e de alimentos. (TONET, 2009).

Além disso, por se tratar de um material com capacidade de reproduzir o acabamento


proposto em sua forma, incluindo texturas e possibilitando até o uso de cores através de pigmentos,
o concreto polímero também vem sendo aplicado em lajes, painéis para fachadas e balcões para
estabelecimentos comerciais (FOWLER, 1998; DAVIES et al. 2006).

Segundo CZARNECKI (2009), o concreto polímero é um material heterogêneo, logo, suas


características e propriedades são variáveis.

Neste tipo de concreto, onde a impregnação se dá por completo, a trabalhabilidade da massa


fica comprometida, na maioria das vezes ocorre segregação dos materiais que a constituem. Sendo
assim é necessário acrescentar algum componente que faça o papel de agregar todos os materiais e
tornar a mistura uniforme.
Um componente que muitas vezes é incorporado ao concreto polímero é o fíler que por ser
um agregado de baixa granulometria e pulverulento, torna-se responsável por uma melhor união
entre os agregados e a resina. Quando em estado fresco do concreto, o fíler proporcional uma
melhora considerável á trabalhabilidade deste compósito.
Já o concreto apenas impregnado por polímero consiste em um concreto de cimento
hidratado e curado, o qual recebe um monômero de baixa viscosidade, geralmente metil metacrilato,
que polimeriza por radiação ou catálise térmica (GEMERT et al., 2005).

É importante lembrar que a impregnação parcial não tem a finalidade específica de aumentar
a resistência na peça, mesmo que isso ocorra com a adição de polímeros no concreto, se o objetivo
principal for a melhora nesta característica mecânica, deve-se trabalhar com a impregnação total e
com avaliações laboratoriais de carga para chegar no alvo desejado.

A impregnação parcial vem se mostrando eficaz quando aplicada em camadas acima das
peças de concreto, exercendo uma proteção em formato de capa prevenindo a entrada de íons como
Cl e SO4, que são dentre outros os responsáveis por causar corrosão de armaduras.

Polímeros podem se apresentar como termorrígidos (ou termofixos, quando a rigidez não se
altera com a temperatura) ou termoplásticos (quando em presença de altas temperaturas amolecem e
se fundem).
Termorrígidos quando moldados não podem ser fundidos novamente, pois não aceitam
novas moldagens, possuem cadeias articuladas, deformam menos e possuem boas propriedades
estruturais. Quando em altas temperaturas são decompostos antes de ocorrer fusão, o que os torna
inviáveis a reciclagem.
Termoplásticos são polímeros que apresentam alta viscosidade quando em contato com altas
temperaturas, ou seja, podem ser moldados mais facilmente, são sintéticos e possuem propriedades
que permitem se remodelar e se estruturar mais de uma vez. São altamente recicláveis.
Os polímeros apresentam-se mais leves que outros materiais e possuem uma melhor
trabalhabilidade, podendo assim ser usado em maior quantidade, dispondo de menor tempo e
melhorando em grandes proporções as características de resistência dos produtos onde são usados.
Podem em alguns casos, ao se usar polímeros, serem utilizados aditivos que vão melhorar
características como flexibilidade e ductilidade dos materiais poliméricos, geralmente se
apresentam em forma liquida e baixas pressões de vapor.
Segundo ANDRADE (2007), o processo de adicionar aditivos ao concreto é necessário para
modificar as suas propriedades físicas, químicas e mecânicas em um nível superior ao que é
possível por meio de alterações na sua estrutura molecular fundamental.
São também comumente usados aditivos estabilizadores, que atuam na estrutura polimérica
retardando possíveis degradações por meio de oxidação ou exposição à radiação ultravioleta.
Dentro da construção civil buscam-se polímeros que apresentem características ligadas a
massa específica, estabilidade dimensional, comportamento mecânico, resistência ao impacto,
permeabilidade a gases e vapores, inflamabilidade e propriedades térmicas e elétricas. (MENDES,
2010).
Hoje, a sociedade impõe ao indivíduo necessidades de consumo cujos resíduos de produção
e usos passam a ser um problema (NAGALI, 2015). É relevante destacar que o consumo foi
acelerado em momentos históricos, dentre eles, provavelmente o mais relevante, a revolução
industrial, cujas características fizeram com que as indústrias ganhassem força e aumento de
produção, funcionários passaram a ser setorizados e suas funções bem definidas, o que majorou a
geração de produtos / resíduos.
Segundo a NBR 10004 (2004), resíduo sólido é definido como qualquer forma de matéria ou
substância (no estado solido ou semissólido) que resulte de atividades industriais, domésticas,
hospitalares, comerciais, agrícolas, de serviços, de varrição e de outras atividades da comunidade
capaz de causar poluição ou contaminação ambiental.
Em termos de alcance imediato, resíduos sólidos são gerados a todo momento pela população
mundial em quase todas suas atividades. Com a industrialização alimentar por exemplo, no mundo
moderno, é quase impossível se alimentar e não gerar resíduo inorgânico, em sua maioria
constituídos de papel e/ou plásticos.
A PNRS, Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída através da lei 12.305/2010 previu
a elaboração do Plano Nacional de Resíduos Sólidos num amplo processo de mobilização e
participação social, ou seja, passa a ser aplicado o conceito de responsabilidade compartilhada onde
toda a sociedade passa a ser responsável por gerir seus resíduos de uma forma mais ideal.
Seguindo essa diretriz de sustentabilidade, a construção civil abriu seus campos de estudo e
exploração, para que deixe de ser conhecida somente como uma grande geradora de resíduos
sólidos, e passe a ser também um setor onde surgem novas e eficazes alternativas para a utilização
de tais compostos.
Devido aos recursos explorados e os materiais utilizados, a área da construção civil afeta
sistematicamente o ambiente em que está inserida. É evidente que ao serem estudados novos
materiais e novas técnicas, estas matérias primas ainda serão utilizadas, o que os estudos do setor
vem promovendo é uma diminuição nas perdas, na exploração e na quantidade de resíduos que se
acumulam muitas vezes sem qualquer tratamento ou destinação correta.
As quantidades de alguns elementos diminuíram, mesmo com variações nos últimos três
anos de estudo, nota-se que a exploração ainda é alta, assim como o impacto causado pela
exploração.
Hoje, a sociedade impõe ao indivíduo necessidades de consumo cujos resíduos de produção
e usos passam a ser um problema (NAGALI, 2015). É relevante destacar que o consumo foi
acelerado em momentos históricos, dentre eles, provavelmente o mais relevante, a revolução
industrial, cujas características fizeram com que as indústrias ganhassem força e aumento de
produção, funcionários passaram a ser setorizados e suas funções bem definidas, o que majorou a
geração de produtos / resíduos.
Segundo a NBR 10004 (2004), resíduo sólido é definido como qualquer forma de matéria ou
substância (no estado solido ou semissólido) que resulte de atividades industriais, domésticas,
hospitalares, comerciais, agrícolas, de serviços, de varrição e de outras atividades da comunidade
capaz de causar poluição ou contaminação ambiental.
Em termos de alcance imediato, resíduos sólidos são gerados a todo momento pela população
mundial em quase todas suas atividades. Com a industrialização alimentar por exemplo, no mundo
moderno, é quase impossível se alimentar e não gerar resíduo inorgânico, em sua maioria
constituídos de papel e/ou plásticos.
A PNRS, Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída através da lei 12.305/2010 previu
a elaboração do Plano Nacional de Resíduos Sólidos num amplo processo de mobilização e
participação social, ou seja, passa a ser aplicado o conceito de responsabilidade compartilhada onde
toda a sociedade passa a ser responsável por gerir seus resíduos de uma forma mais ideal.
Seguindo essa diretriz de sustentabilidade, a construção civil abriu seus campos de estudo e
exploração, para que deixe de ser conhecida somente como uma grande geradora de resíduos
sólidos, e passe a ser também um setor onde surgem novas e eficazes alternativas para a utilização
de tais compostos.
Devido aos recursos explorados e os materiais utilizados, a área da construção civil afeta
sistematicamente o ambiente em que está inserida. É evidente que ao serem estudados novos
materiais e novas técnicas, estas matérias primas ainda serão utilizadas, o que os estudos do setor
vem promovendo é uma diminuição nas perdas, na exploração e na quantidade de resíduos que se
acumulam muitas vezes sem qualquer tratamento ou destinação correta.
As quantidades de alguns elementos diminuíram, mesmo com variações nos últimos três
anos de estudo, nota-se que a exploração ainda é alta, assim como o impacto causado pela
exploração.
Quando falamos em resíduos da celulose ....
Segundo a Bracelpa – Associação Brasileira de Celulose e Papel, o segmento praticamente dobrou o
volume de celulose produzida na última década. Em 2008, o setor teve uma grande conquista:
alcançou o posto de quarto produtor mundial de celulose – atrás apenas de Estados Unidos, Canadá
e China.
Os resíduos provenientes das indústrias de papel, possuem alto teor de substâncias orgânicas, o que
lhe confere a propriedade de ser reaproveitado quase que em sua totalidade.
Frente a toda essa produção de resíduo, espera-se uma disposição desses materiais de forma correta
e limpa. Uma das soluções sócio ambientais-financeiras almejadas pela construção civil é a
utilização desses rejeitos em argamassas e concretos com o objetivo de reduzir custos e incentivar a
construção de artefatos para a construção civil (MARQUES, SILVA et al, 2014).
A NBR 1004 (2004) classifica os resíduos de celulose como sendo de classe II (não perigosos), não
inertes, que podem possuir características como biodegradabilidade, combustibilidade ou
solubilidade em água.
Segundo Velasco et al. (2014) de uma forma geral, a maioria dos resíduos sólidos minerais gerados
pela indústria de celulose podem ter uma ou diversas aplicações na construção civil. Essas
aplicações vão desde a fabricação de cimento e argamassas até a utilização em blocos de concreto,
estruturas, pavimentos de estradas, etc. Constata-se nas publicações técnico-científicas, um
incremento de estudos que visam obter alternativas para a substituição total do agregado natural,
visto a escassez crescente de oferta e do decorrente aumento de preço dos agregados convencionais
no mercado.
Durante a produção de misturas com utilização de agregados reciclados alguns
procedimentos específicos devem ser realizados, em função da influência das características desses
agregados nas propriedades dos concretos. Esses procedimentos estão relacionados ao método de
compensação da taxa de absorção de água do agregado reciclado e ao tempo e sequência de mistura
desses concretos. A metodologia, a ser aplicada, deve ser escolhida de forma a garantir a menor
influência de algumas características do material reciclado nas propriedades dos concretos, de modo
a garantir sua viabilidade técnica (SANTOS,2016).
Ainda segundo Santos (2016), para a produção de concreto reciclado existem, também,
formas variadas da ordem de mistura dos materiais na betoneira (MALTA, 2012). A mistura do
concreto é um processo complexo, e muitos fatores influenciam a sua qualidade. Estes fatores
incluem a sequência de colocação dos materiais no misturador, tempo de mistura e tipo de
misturador. Uma mistura eficiente influência no comportamento e nas propriedades do concreto,
uma vez que, distribuem melhor as partículas de cimento, água e agregado (OYANADEL, 2009;
CORDEIRO, 2013).
A trabalhabilidade dos concretos reciclados é significativamente influenciada pela alta taxa
de absorção de água, textura áspera, superfície rugosa e formato irregular dos grãos dos agregados
originados da reciclagem. De modo geral, concretos reciclados apresentam necessidade de maior
conteúdo de água para atingir uma trabalhabilidade adequada, quando esta é medida pelo ensaio de
abatimento do tronco de cone (SANTOS apud SANTIAGO et al., 2009; LEITE et al., 2013;
ZAHARIEVA et al., 2003).
Apesar do interesse de alguns autores em definir um método de dosagem específico para o
concreto de reciclagem, observa-se que ainda não existe consenso a respeito da metodologia mais
adequada para ser utilizada.
Segundo dados fornecidos pela empresa parceira desta pesquisa, os resíduos fornecidos
estão classificados segundo a norma 10004 (2004) da ABNT como não inertes-classe II, contendo
plásticos, fios de corda, tecidos e impurezas metálicas.
Este resíduo, em suas amostras, possui potencial quanto a reutilização e incorporação em
peças de concreto pois se apresenta em forma de fibras. Devido essa característica, surgiu grande
interesse de incorporação ao concreto, pois em elementos estruturais é inevitável utilizar reforços no
composto, já que esta medida evita a ruptura brusca do material e pode-se diminuir o número e a
área total de fissuras ao longo da peça. (CHODOUNSKY; VIECILI, 2007). O incremento de micro
e macro fibras é uma alternativa que possibilita amenizar a aparição destas manifestações
patológicas (QUININO, 2015).
Desenvolvido para melhorar a resistência à tração, durabilidade, dureza e ductibilidade das
estruturas, o CRF (concreto reforçado com fibras) é facilmente encontrado em revestimentos de
túneis, em radiers, pisos industriais, lajes e até em vigas (JAMERAN et al. 2015).
Segundo Quinino (2015), a inserção de filamentos em matrizes cimentícias é eficiente
quando se considera a distribuição uniforme das fibras pela pasta de cimento, o fator de forma e o
teor ótimo de adição das mesmas. Sendo estes parâmetros atendidos, os compósitos são mais
deformáveis, possuem maior tenacidade e, consequentemente, maior módulo de elasticidade.
(CHRIST, 2014).
É necessário lembrar que somente o uso de fibras não faz com que o concreto se torne imune
ao aparecimento de trincas. Assim como qualquer elemento da construção civil é necessário estar
atendo a todo o processo de escolha dos componentes que devem ter qualidade verificada, a
execução bem realizada e a cura feita corretamente.
Todas essas etapas quando em junção com as fibras permitem explorar o máximo potencial
do concreto.
As fibras além de auxiliar no reforço do concreto contra as ações de tração, conferem
também uma melhora na permeabilidade dos elementos em que foram aplicadas.
Um fator importante a ser dito é a dificuldade que a incorporação de fibras pode causar na
trabalhabilidade do concreto, seja ele simples ou polimérico.
Devido a sua heterogeneidade não se pode concluir sua exata caracterização, cada amostra
possui uma composição própria já que é remanescente de um grupo de materiais diversos, como
caixas de papelão, panfletos, entre outros, que acabam sendo acompanhados de diversas impurezas.
Nas amostras recolhidas puderem ser constatados como material improprio partes de
tubulações, cd’s, cartões plásticos, fraldas e pedaços de lona.
Por se apresentar de forma irregular em tamanho e texturas, foi necessária uma criteriosa
seleção de aproveitamento das amostras disponíveis. Em um segundo momento foi tomada a
decisão de regularizar o máximo possível as amostras, para que o resíduo pudesse ser inserido de
forma mais eficiente na mistura de concreto. Essa seleção e regularização do material foi feito de
forma manual.

Figura 1 e 2 – Separação e regularização de amostras


Fonte: autora (2018)

O traço utilizado na primeira fase do trabalho foi determinado a partir de estudos anteriores
que utilizaram os mesmos agregados desta pesquisa.

Dentre cinco opções fornecidas por Carvalho (2014), o traço escolhido neste estudo foi o de
resistência 20 MPa por esta ser a resistência estrutural mínima conforme indica a NBR 6118
(ABNT, 2014), conforme a tabela 1 indica.

Tabela 1 – Proporções dos materiais, em massa, para cada classe de cimento

CLASSE CIMENTO AREIA DE AREIA BRITA BRITA FATOR ÁGUA ADITIVO RESINA
CONCRETO BRITAGEM NATURAL 0 1 CIMENTO % %
20 1 0,924 2,772 1,200 2,800 0,65 0,65 13
Fonte: CARVALHO (2014)

Lembrando que a porcentagem da resina ocorre a partir dos materiais secos.

O traço foi calculado para a moldagem de seis fôrmas cilíndricas (de dimensões 5
centímetros de raio e 20 centímetros de altura) e duas fôrmas de vigas com 15 cm de largura e
comprimento e 50 centímetros de altura.

Figura 3 – Fôrmas para moldagem de corpos de prova


Fonte: autora (2018)
A primeira etapa de produção dos traços de referência aconteceu no dia 7 de junho de 2018,
no laboratório de materiais de construção e teve início com a pesagem dos materiais
correspondentes ao traço de referência 1. Após a pesagem deu-se início a produção do
concreto realizada em betoneira. Como a resina é extremamente volátil, ela foi incorporada
por último a mistura de concreto.
Devido à falta de conhecimento que o comportamento da mistura iria apresentar, foi
necessária uma rápida retirada da massa da betoneira e uma imediata moldagem dos corpos
de prova para que o tempo não interferisse no processo de cura dos moldes.
Após serem moldados segundo a NBR 5739 (2018), os corpos de provas cilíndricos foram
levados a câmara úmida, e os moldes de vigas foram posicionados em ambiente comum.
Não houve a necessidade de cura dos cp’s devido a utilização de resina no traço, ou seja,
devido às análises de bibliografia, constatou-se que o próprio material polimérico evita a
secagem rápida e excessiva do concreto.
O segundo traço de referência foi moldado no dia 23 de junho de 2018, também seguindo os
procedimentos exigidos pela ABNT 5739 (2018), ou seja, após o término do processo de
mistura, foi colocada uma camada de massa na fôrma cilíndrica, golpeada 12 vezes com
bastão de ferro para eliminação de vazios e melhor acomodação do material. A prática de
batidas com o bastão no interior da fôrma também foi adotada a fim de um melhor resultado.
A segunda camada foi colocara e golpeada 12 vezes, tomando-se o cuidado de não atingir a
camada inferior, já anteriormente trabalhada.
Como foi informado anteriormente, este novo traço teve o cimento e a água substituídos por
resina. Através da tabela 8 é possível analisar as novas proporções. Ao fim da mistura,
notou-se o início da reação da resina, onde bolhas de ar começaram a surgir e aumentavam a
frequência conforme o tempo decorria. Após a moldagem, o traço de referência foi levado
para câmara úmida.

Tabela 2 – Proporções dos materiais, em massa, para cada classe de cimento

CLASSE CIMENTO AREIA DE AREIA BRITA BRITA FATOR ÁGUA ADITIVO RESINA
CONCRETO BRITAGEM NATURAL 0 1 CIMENTO % %
20 1 0,924 2,772 1,200 2,800 0,00 0,65 0,70
Fonte: autora (2018)

Completados quatro dias após a moldagem, deu-se início a desforma dos corpos de prova.

Ao retirar a fôrma, percebeu-se que o concreto não havia passado pelo processo de endurecimento
como esperado. Na figura 16 pode-se perceber que a consistência pouco mudou quando comparada
com o dia de moldagem.

Figura 16 – Desforma do primeiro CP do traço de referência 1

Fonte: autora (2018)


Foi determinado que os outros corpos de prova seriam desmoldados conforme pudesse ser
notada alguma reação de enrijecimento.
Ao passar dos dias não era notada nenhuma alteração, ou seja, os corpos de prova
continuavam apresentando o mesmo aspecto pastoso que o primeiro desformado.

Após 16 dias, todos os cp’s foram desformados, e como pode ser confirmado nas figuras
19,20 e 21 o aspecto inicial ainda prevaleceu, não permitindo que os mesmos pudessem ser
ensaiados quanto a sua resistência e absorção.

A desforma do segundo traço foi marcada para quatro dias após a moldagem. Ao retirar o cp da
câmara úmida, inclusive nos dias que antecederam a retirada, notou-se uma camada de resina saindo
da base da fôrma em quantidade significativa.

Em primeira análise, antes de retirar o corpo de prova da fôrma, notou-se que o mesmo estava
muito instável e apresentava textura gelatinosa. Esta situação permaneceu durante todo o processo
de análise do cp e não foi notado nenhum indício de cura do concreto nos 2 meses seguintes.

O estudo teve como finalidade o reaproveitamento de resíduos sólidos devido ao alto volume em
que se apresenta diariamente. Atrelada a essa ideia, o uso do concreto polimérico devido aos bons
resultados que vem apresentando em diversos estudos anteriores.

O primeiro obstáculo encontrado foi o impedimento pleno acerca da resina disponibilizada pela
empresa interessada no estudo, pois, segundo informações no decorrer da pesquisa, o segredo
industrial, já que a resina faz parte da produção de um produto sob patente, não permitiria mais
informações, como marca, porcentagens de cada composto, etc.

Sendo assim, a eficácia do traço pode ter sido gravemente afetada, já que quantidades, porcentagens
e outras informações tornam-se essenciais ao bom desenvolvimento de uma pesquisa que envolve a
criação de novos produtos.

Um segundo ponto relevante, que dificultou o trabalho, foi o tempo disponível para a continuidade
desta análise. Como a pesquisa não conseguiu chegar ao ponto exato que explique o motivo da
resina impedir o endurecimento do concreto, novos traços e novas incorporações devem ser feitas
para que se possa chegar a um resultado ideal.

REFERÊNCIAS
ANÁLISE DE CONCRETOS DE ESCÓRIA DE ACIARIA CARBONATADOS

Analysis of concrete carbonation of steelmaking slag


Humberto Dias ANDRADE*1, Fernanda Pereira da Fonseca ELÓI1, Marcela Aguiar NOGUEIRA1,
Guilherme Jorge Brigolini SILVA1, Ricardo André Fiorotti PEIXOTO1

* Autor para correspondência: andrade.hdias@gmail.com


1
Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil

RESUMO
Segundo o Instituto Aço Brasil, a indústria siderúrgica brasileira é um dos componentes de maior
destaque na economia do país. Durante o processo siderúrgico, são gerados materiais residuais, dos
quais destaca-se a escória de aciaria (EA), gerada na produção do aço. Em 2015, o total de
subprodutos e resíduos gerados foi de 19,8 milhões de toneladas, dos quais 28% foram EA que ainda
possuem destinações pouco nobre. Diante desse fato, a indústria da construção vem contribuindo na
implementação do uso da escória como constituinte parcial da elaboração do concreto. Para que o uso
seja de fato eficaz, faz-se necessário uma análise de desempenho, em especial de durabilidade. Deste
modo, o presente projeto tem por objetivo investigar o efeito da carbonatação na velocidade de pulso
ultrassônico de concretos com substituição total da areia (agregado miúdo) e brita (agregado graúdo)
por escória LD, devidamente beneficiada. O processo de carbonatação do concreto ocorre quando a
matriz cimentícia entra em contato com o CO2 do ar, na presença de água os hidróxidos do concreto
são convertidos em carbonatos. Essa reação química acarreta uma acentuada queda no pH do
concreto, com consequente redução na proteção das armaduras. Assim, para avaliar a durabilidade
dos concretos de escória, inicialmente será feito o beneficiamento da EA e a sua caracterização
química e física. Em seguida, serão confeccionados concretos com agregados convencionais e de EA,
onde serão realizados ensaios acelerados de carbonatação, através de câmara específica. Por fim,
serão realizados os ensaios de velocidade de pulso ultrassônico e profundidade de carbonatação.
Concretos produzidos com EA tiveram profundidades de carbonatação significativamente inferiores
aos convencionais, o que indica a viabilidade técnica dessas matrizes frente a ambientes agressivos.

Palavras-chave: Concreto de escória, Carbonatação, Pulso Ultrassônico.

ABSTRACT
According to the Brazilian Steel Institute, the Brazilian steel industry is one of the most prominent
components of the country's economy. During the steelmaking process, residual materials are
generated, of which steel slag (EA), generated in the production of steel, stands out. In 2015, the total
by-products and waste generated was 19.8 million tons, of which 28% were EA, which still have very
poor destinations. Faced with this fact, the construction industry has been contributing in the
implementation of the use of slag as a partial constituent of the elaboration of concrete. In order for
the use to be effective, it is necessary to analyze performance, especially durability. Thus, the present
project aims to investigate the effect of carbonation on the ultrasonic pulse velocity of concrete with
total replacement of sand (aggregate) and gravel (aggregate) by LD slag, properly benefited. The
concrete carbonation process occurs when the cementitious matrix comes into contact with the CO2
of the air, in the presence of water the hydroxides of the concrete are converted into carbonates. This
chemical reaction causes a marked decrease in the pH of the concrete, with consequent reduction in
the protection of the reinforcement. Thus, to evaluate the durability of slag concretes, it will initially
be made the beneficiation of EA and its chemical and physical characterization. Then, concrete will
be made with conventional and EA aggregates, where accelerated carbonation tests will be carried
out through a specific chamber. Finally, the tests of ultrasonic pulse velocity and carbonation depth
will be performed. Concretes produced with EA had significantly lower carbonation depths than
conventional ones, which indicates the technical viability of these matrices against aggressive
environments.

Keywords: Steel Slag concrete, Carbonation, Ultrasonic Pulse.

1. INTRODUÇÃO
A construção civil é o setor com maior consumo de recursos naturais no mundo, seguido por setores
da indústria do cimento, siderurgia, alumínio, química, ferro-liga e papel/celulose [1, 2, 3]. Visto isso,
tem-se a necessidade de reduzir a quantidade de resíduos sólidos. O estudo da possibilidade do
aproveitamento de resíduos nos diversos segmentos da construção civil é de grande importância,
sabendo que, o Brasil é o 9º produtor de aço bruto a nível mundial, totalizando em 2017 uma produção
de 31,3 milhões de toneladas de aço produzido [4].
Na produção do aço são geradas dois tipos de escória, cada uma oriunda de um processo, sendo eles;
fornos conversores Linz – Donawitz (BOFS), ou de Arco Elétrico (EAF).Segundo IAB [3] a geração
de resíduos em toda a cadeia produtiva do aço, gera 600 kg/ton de aço. Considera-se que, para cada
tonelada de aço produzidos são gerados 150 kg de escória de aciaria [4].
Muitos trabalhos acerca da viabilidade da utilização de escória de aciaria em compósitos à base de
cimento vêm sendo estudados. Os resultados indicam que processos como estabilização e separação
magnética são eficientes na neutralização de agentes deletérios [5]. Materiais tecnicamente
competentes foram produzidos e relatados na literatura, destacando o uso de escórias de aciaria na
substituição total ou parcial de agregados naturais em compósitos à base de cimento, incluindo
concreto estrutural [6, 5, 7, 8, 9, 10, 2, 11]. A viabilidade econômica do processamento e uso de
escória de aciaria como agregados para construção civil e pesada também foi demonstrada [12].
A durabilidade das estruturas de concreto armado está relacionada com a integridade das armaduras
frente aos ataques dos agentes agressivos do meio. A corrosão do aço, como efeito da despassivação
da armadura induzida pela carbonatação do concreto é um fator preocupante. [13]. A durabilidade do
concreto está intimamente relacionada com sua porosidade, de maneira geral, concretos menos
porosos são mais duráveis [14].
A carbonatação se expressa de forma mais efetiva em ambientes urbanos ou industriais, onde verifica-
se maior exposição do concreto a níveis mais elevados de CO2. O dióxido de carbono penetra pelos
poros do concreto e reage com a água disponível na estrutura, formando-se o ácido carbônico
(H2CO3). O ácido carbônico reage com a pasta de cimento hidratada, particularmente com o
hidróxido de cálcio (Ca(OH)2), e resulta em água e carbonato de cálcio (CaCO3). Em um taxa mais
baixa, há também reação com CSH [15] [16].
O concreto possui comumente o pH entre 12,6 e 13,5, mas, em função do processo de carbonatação,
esses valores se reduzem para uma faixa de pH 8,5. A carbonatação ocorre da superfície externa da
estrutura para o interior da mesma, segundo uma frente de carbonatação [17, 14, 18, 19].
Além da despassivação das armaduras, [16, 20], os danos causados são vários, como fissuração do
concreto, destacamento do cobrimento do aço, redução da seção da armadura e perda de aderência
desta com o concreto.
A carbonatação é ainda função de fatores como condições ambientais (altas concentrações de CO2),
dosagem do concreto (altas relação de água / cimento resultam em concretos porosos e, portanto,
aumentam as chances de difusão de CO2 nos poros), lançamento e adensamento (se o concreto tiver
baixa permeabilidade (compacto), dificultará a entrada de agentes agressivos) e cura (o concreto mal
curado possui microfissuras que o enfraquecem).
Alguns estudos de carbonatação para concretos com adição de escória vem sendo desenvolvidos [21,
22], porém comportamentos equivalentes aos de concretos convencionais vem sendo reportados [23].
No entanto, a maioria dos estudos tratam de concretos com substituição parcial de agregados naturais
por agregados de escória de aciaria, no que se difere desse estudo, onde todo agregado natural é
substituído integralmente por agregados de escória de aciaria. Concretos produzidos com a
substituição integral de agregados naturais por agregados de escória de aciaria produziram matrizes
com baixa permeabilidade e adequada resistência mecânica [7].

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral


Avaliar a profundidade de carbonatação em concretos produzidos com escória de aciaria.

2.2 Objetivos específicos


• Caracterização química e física da escória utilizada,
• Determinação das propriedades mecânicas para as matrizes cimentícias com
agregados LD;
• Avaliação do desempenho à carbonatação dos concretos produzidos integralmente
com agregados de escória de aciaria LD, em comparação a concretos produzidos
convencionalmente;
• Comparação da velocidade de pulso ultrassônico com a profundidade de carbonatação.

3. METODOLOGIA
O estudo foi realizado com Escória de Aciaria LD fornecida pela empresa ArceloMittal no
Laboratório de Materiais de Construção Civil da UFOP. Para comparação dos resultados, foram
produzidos concretos de referência (areia de rio e brita de gnaisse). Para melhor entender o processo
de carbonatação, foram produzidos para ambos os tratamentos, concretos com e sem aditivo
superplastificante.
3.1 Materiais e métodos
Para os modelos experimentais propostos, utilizou-se cimento Portland CP V - ARI RS. O material
foi recebido no Laboratório de Materiais de Construção Civil da UFOP em containers de papelão
com volume aproximado de 20 litros. Após recebimento, o material foi acondicionado em embalagens
plásticas hermeticamente fechadas.
A caracterização do cimento é apresentada na Tabela 1. Toda caracterização foi disponibilizada pela
empresa Cimentos Nacional, que cordialmente forneceu o cimento utilizado na presente pesquisa.

Tabela 1 - Análise química do cimento.

Ensaio Valor
Resíduo Insolúvel 1,00 %
Perda ao fogo 3,93 %
Índice de finura 0,10 %
Resíduo na peneira #325 1,00 %
Água de consistência normal 29,50 %
Expansibilidade à quente 0,00 mm
Área Específica (Blaine) 4,64 cm2/g
Massa Específica 3,01 g/cm3
Tempos de pega (167 – 226) min
Resistência a compressão (1, 3, 7 e 28) (24,1 – 37,5 – 46,3 – 55,2) MPa
Fonte: Cimentos Nacional.

Para determinação dos parâmetros de interesse, os agregados utilizados para a produção das matrizes
de cimento Portland foram obtidos de amostras de escórias de aciaria geradas pela siderurgia no
Brasil. O material utilizado foi recebido no Laboratório de Materiais de Construção Civil – UFOP,
com granulometria na faixa (4,75 – 12,5) mm, e mantido em pátio descoberto por 36 meses, exposto
às intempéries durante esse período.
O material recebido passou pelo processo de separação magnética utilizando rolo (HF CC, Inbrás®),
para retirada da fração magnética, e submetido ao processo de separação gravimétrica, afim de obter
a curva granulométrica de Brita Zero (4,75 – 12,5) mm, estipulada pela NBR 7211 [24].
Os agregados miúdos utilizados para produção das matrizes resultam do processo de cominuição das
escórias em britador de mandíbulas (BB 200, Retsch®), afim de se obter um material com
granulometria inferior 4,8 mm. A seguir, o material foi submetido a processo de separação magnética
utilizando rolo magnético (HF CC, Inbrás®) para a retirada da fração magnética presente no material
processado. Finalmente o material passou pelo processo de segregação gravimétrica por
peneiramento, os materiais obtidos estão em conformidade com limites indicados pela NBR 7211
[24]. Os agregados utilizados nos concretos convencionais (areia de rio e Brita de gnaisse), também
estão de acordo com as curvas granulométricas recomendadas pela NBR 7211.
O modelo experimental proposto contempla tratamentos com aditivos superplastificantes (MC –
POWERFLOW 1180, MC – Bauchemie®), e modelos sem aditivos, tanto para concretos produzidos
integralmente com escória de aciaria, como para aqueles produzidos com agregados naturais. O
aditivo utilizado é de 3ª geração, e foi selecionado visando redução do consumo de água, melhor
estabilidade e trabalhabilidade da mistura, visto que, a escória de aciaria possui elevada massa
específica, o que pode acarretar segregação.
A caracterização química da escória utilizada foi realizada por Fluorescência de Raio-X com o
equipamento Epsilon3X ® PANalytical. A preparação dos materiais para a realização da análise
química consistiu em cominuição em moinho de esferas por 3 horas (MA 500, Marconi®) seguida
de moagem de alta energia (PM100®, Retsch) para obtenção de um material com partículas inferiores
a 0,15mm (Tabela 2).

Tabela 2: Fluorescência de Raio–X.


Composto SiO2 CaO Fe2O3 P2O5 Cr2O3 MnO MgO Al2O3 SO3 TiO2 V2O5
Fração 14,6% 36,8% 32,2% 1,6% 0,7% 3,7% 5,5% 3,7% 0,3% 0,5% 0,1%

As misturas foram projetadas de acordo como método ABCP - Software Especialista para Dosagens
de Misturas Cimentícias, Soares [25]. O método escolhido, se justifica pelo fato de considerar todas as
especificidades dos agregados, visto que, a escória não é um agregado considerado convencional. Foi
considerada classe C25 (25 MPa) de resistência à compressão aos 28 dias de idade. A consistência
foi determinada pelo abatimento de tronco de cone conforme NBR 10342 [26], e fixada em 80 ± 10
mm para todos os traços mostrados na Tabela 3.

Tabela 3 – Traço dos concretos executados.

Aditivo
Concreto Traço Fator a/c
Superplastificante
BOF25 1 : 2,02 : 2,90 - 0,48
BOF25A 1 : 3,33 : 2,90 1% 0,48
REF25 1 : 1,17 : 2,05 - 0,48
REF25A 1 : 2,48 : 2,52 1% 0,48

A resistência a compressão foi determinada como referência para os tratamentos propostos, para idade
de 28 dias após cura em câmara úmida. Os corpos-de-prova foram capeados com enxofre e solicitados
axialmente em uma prensa servo-controlada DL 20000-EMIC, célula de carga com capacidade de
200 kN e taxa de incremento de tensão de 0,3 MPa/s.
A velocidade de pulso ultrassônico foi determinada utilizando-se ultrassom modelo TICO da marca
PROCEQ, com pulsos ultrassônicos de 54 kHz. O equipamento emite ondas ultrassônicas nos corpos-
de-prova de concreto, sendo que, quanto mais densa for a matriz, maior será a velocidade do pulso e
menor o tempo gasto para que o pulso ultrassônico saia de um transdutor e chegue ao outro.
A base e o topo dos corpos-de-prova com 28 dias de idade, foram polidos e recobertos por uma
camada de vaselina para garantir e homogeneizar o contato entre as superfícies e o transdutor.

4. RESULTADOS

4.1 Resistência à compressão


Os resultados obtidos para resistência a compressão são observados na Figura 1, onde se percebe, que
todos os concretos ganharam resistência ao utilizar aditivo superplastificante, e os concretos
produzidos com agregados de escória de aciaria, apresentaram melhor desempenho mecânico, em
relação aos concretos que foram produzidos com agregados convencionais.
Ao comparar os resultados dos concretos aditivados e não aditivados, percebe-se que os concretos
aditivados de referência mostram um aumento de 12%, enquanto os concretos BOF por sua vez,
apresentaram aumento dos valores de 10,6%.

50
Resistência à compressão (MPa)

40

30

20

10
31,20

34,93

41,00

44,00

0
REF REF - A EAF EAF - A
C 25

Figura 1: Resistência à compressão.

Concretos produzidos com escória de aciaria apresentam resultados para resistência à compressão
melhores quando comparados aos concretos produzidos com agregados convencionais [27] [28]. Em
seu estudo, Monosi, Ruello, & Sani [29] encontrou melhora de 66% para resistência a compressão
concretos com substituição de agregado natural por agregado de escória de aciaria.
Os concretos aditivados apresentaram valores de resistência à compressão superiores aos valores
encontrados para os não aditivados. Ao utilizar o aditivo superplastificante, reduziu-se a quantidade
de cimento e água, para que o fator água/cimento, fosse mantido. Mesmo com a redução da
quantidade de cimento nos concretos produzidos com a adição de aditivo superplastificante, os
mesmos apresentaram resultados de resistência à compressão aos 28 dias superiores. Isso ocorre
devido a melhor dispersão das partículas de cimento na matriz, quando aditivada, acarretando em
maior formação de produtos de hidratação ao longo da mesma [30, 31].
Os estudos de Pang, Zhou, & Xu, [32] e Özbay, Erdemir, & Ibrahim Durmus, [33] também relatam
aumento de resistência em concretos produzidos com escória na faixa de 15% a 44% a medida em
que se aumenta a porcentagem de substituição do agregado convencional por escória e a idade do
mesmo.
Outro fator que contribui diretamente para o ganho de resistência a compressão dos concretos de
escória, é a forma dos agregados. O agregado com formato cúbico melhora a interação com a matriz
cimentícia. Além disso, a resistência do agregado de escória de aciaria é maior do que o convencional
[32]. A Figura 2 mostra a forma dos agregados utilizados.

Fig. 2 - Forma dos agregados graúdos: a) Gnaisse b) EAF c) BOFS

4.2 Carbonatação
Os resultados de carbonatação obtidos para os concretos produzidos com escória de aciaria foram
melhores quando comparados aos concretos fabricados com agregados convencionais, mostrados na
Tabela 3. Qiang, Peiyu, Jianwei, & Bo [34] apontam em seu estudo, que concretos com substituição
parcial (até 45%) de agregado natural por escória de aciaria, com 3 ou mais dias cura, apresentam boa
resistência à carbonatação.

Tabela 3 - Carbonatação.
Classe de
REF BOF
Resistência
C25 27,0 mm 10,0 mm
C25 ADT 23,5 mm 9,0 mm

No entanto não existe um consenso na literatura quanto a eficácia de escória de aciaria na redução à
carbonatação. Santamaría A. , et. all [35] expôs corpos de prova de concreto convencional e
fabricados com agregados de escória à ambientes agressivos. Ambos tiveram resultados similares
quando aplicados ao indicador de fenolftaleína, não indicando vantagens ao se utilizar a escória de
aciaria [36].
Ao comparar os resultados dos concretos aditivados e não aditivados, percebe-se que os concretos
aditivados mostram uma redução de 13% para o concreto de referência. O concreto BOF por sua vez,
apresentaram aumento dos 10%. As imagens geradas através do teste colorimétrico, são apresentadas
na Figura 3 a seguir.

Fig. 3 - Profundidade de Carbonatação.

4.3 Velocidade de Pulso Ultrassônico


Um parâmetro que está diretamente ligado com a porosidade é a velocidade de pulso ultrassônico,
visto que a onda se propaga com maior dificuldade no vazio. Na Figura 4, é correlacionado os valores
de VPU e carbonatação para cada tratamento. Observa-se que quanto menor a velocidade do pulso
ultrassônico, maior registro de carbonatação, sendo esse fenômeno apresentado pelos concretos de
referência. Ao analisar os tratamentos de escória, percebe-se que a VPU aumenta enquanto a
carbonatação diminui. No entanto, nota-se, como esperado, que os concretos C35 possuem os maiores
resultados de UPV, indicando um concreto, mas denso e com menos vazios resultando em menores
valores para carbonatação.
4,00 4,00

Velocidade de Pulso Ultrassônico.


3,50 3,50
Carbonatação (mm)

3,00 3,00
2,50 2,50

(km/s)
2,00 2,00
1,50 1,50
1,00 1,00
0,50 0,50
0,00 0,00
REF REF - A EAF EAF - A

UPV Carbonatação

Fig. 4 - Correlação de UPV com Carbonatação.

5. CONCLUSÃO
O aumento considerável na resistência à compressão dos corpos de prova produzidos com agregados
de escória BOF é perceptível, quando comparado aos concretos convencionais. Todos os traços de
escória apresentaram melhor desempenho no teste de carbonatação acelerada. Os concretos de escória
apresentaram desempenho, em média, 80% melhores que os concretos convencionais.
Ao analisar os resultados para os concretos aditivados, percebe-se a influência que o aditivo
proporciona na matriz. Destacando-se a profundidade de carbonatação, observa-se que todos os
valores de carbonatação para os concretos aditivados foram melhores quando comparados aos sem
aditivo. Este fato, evidencia o efeito do mesmo nas matrizes cimentícias, que ao ser utilizado, melhora
a dispersão das partículas de cimento, ocasionando em maior formação de produtos de hidratação ao
longo da matriz, tendo como resultado maior coesão do produto final.
Ao analisar a velocidade pulso ultrassônico em correlação com a carbonatação, consegue-se perceber
que quanto maior a velocidade, menor a carbonatação, ou seja, quanto menos vazios o concreto
apresenta, maior será a velocidade do pulso e menor a carbonatação.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS – CNPq.
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AVALIAÇÃO DA ERODIBILIDADE POR UMA NOVA VERSÃO DO
EQUIPAMENTO DE INDERBITZEN EM SOLO DA REGIÃO DE JUIZ DE
FORA-MG
Evaluation of a soil`s erodibility in Juiz de Fora-MG` region by a new version of
Inderbitzen equipment
Ana Maria Stephan 1
1
UFJF, Juiz de Fora, Brasil, ana.stephan@ufjf.edu.br

Resumo: O presente trabalho traz um estudo da perda de solo por erosão hídrica em dois locais
densamente povoados da cidade de Juiz de Fora-MG, que apresentam importantes feições erosivas.
Medir a erosão, não é fácil, pois as chuvas e enchentes variam muito, e um único acontecimento
extraordinário pode produzir grandes danos em um pequeno espaço de tempo. Com o objetivo de
avaliar as perdas de solo tomou-se como parâmetro principal a erodibilidade, definida como a
quantidade de material que é removido por unidade de área; ela quem determina a resistência do
solo à ação erosiva da chuva. As diferenças relacionadas às propriedades dos solos fazem com que
alguns destes sejam mais erodidos que outros, ainda que variáveis como chuvas, declividades,
cobertura vegetal e práticas de manejo sejam as mesmas. Para avaliar de forma indireta a
erodibilidade dos solos em estudo, realizou-se vários ensaios convencionais de laboratório obtendo-
se as suas propriedades geotécnicas, e de forma direta utilizou-se de uma nova versão do
equipamento de Inderbitzen. Foram confeccionadas três rampas com diferentes orifícios para
inserção dos corpos de prova, com o objetivo de verificar o efeito da forma e tamanho da amostra
nos resultados de perda de solo. Por esse motivo, durante o programa de ensaios realizados
manteve-se constante a vazão e a declividade das rampas. A partir dos resultados, pode-se concluir
que mudanças na forma e no tamanho do orifício da rampa no equipamento Inderbitzen
influenciaram na determinação da erodibilidade dos solos. Além disso, os solos das áreas estudadas
não apresentaram resistência à erosão laminar, o que justifica as grandes erosões, que, com o
decorrer do tempo, vêm aumentando gradativamente.

Palavras-chave: Erodibilidade, erosão, Inderbitzen.

Abstract: The present work presents a study the soil loss by water erosion in two densely populated
areas in the city of Juiz de Fora, MG, which have important erosional features. Measuring erosion is
not easy, as rains and floods vary greatly, and one single extraordinary event can produce large
losses of soil in a short time. In order to evaluate soil losses, erodibility was defined as the amount
of material that is removed per unit area; it determines the soil's resistance to the erosive action of
rainfall. Differences related to soil properties make some of them more eroded than others, although
variables such as rainfall, slopes, vegetation cover and management practices are the same. In order
to indirectly evaluate the erodibility of the soils under study, several conventional laboratory tests
were carried out, obtaining their geotechnical properties, and a new version of the Inderbitzen
equipment was used directly. Three ramps were prepared with different holes for insertion of the
specimens, in order to verify the effect of the shape and size of the samples in soil loss results. For
this reason, during the testing program conducted, the flow and slope of the ramps was kept
constant. From the results, one can be concluded that changes in form and size of role in the ramp in
the Inderbitzen equipment influenced the determination of erodibility the soil. Furthermore, the
soils of the areas studied showed no resistance to extensive erosion, which explains the large
erosions that, over time, have been gradually increasing.

Keywords: erodibility, erosion, Inderbitzen.

1. INTRODUÇÃO
O processo da erosão é entendido como um ciclo de alteração, desagregação, transporte e
sedimentação dos constituintes do solo, subsolo e rocha. Ele acontece devido à atuação de fatores
naturais (ventos, a água, as ondas, a gravidade e as mudanças climáticas, etc.) e antrópicos
(desmatamentos, cortes de estradas, ocupação desordenada das encostas, técnicas agrícolas etc.).
Independentemente do processo erosivo, o importante é entender como que este é gerado, uma vez
que sua gravidade depende de fatores como tipo de solo, propriedades físicas, declividades das
encostas etc.
Ao longo dos anos esse fenômeno vem trazendo prejuízos, pois, além de causar o assoreamento dos
cursos d’água, vem degradando áreas urbanas ou em processo de urbanização.
A erosão está presente nos mais diversos locais, em especial nas regiões de clima tropical ou
subtropical úmido, com altos índices pluviométricos, nas quais se inclui grande parte do território
brasileiro.
Em Juiz de Fora - MG existe uma extensão muito grande de áreas com alto risco de erosão e
escorregamentos situadas principalmente a sul, oeste e sudoeste da área urbana, regiões onde se
encontra maior densidade populacional, causando danos ambientais, sociais, culturais e financeiros.
A erosão urbana é um dos expressivos passivos ambientais em Juiz de Fora, sendo caracterizada por
um tipo de erosão acelerada, pois, além da atuação antrópica, apresenta extrema fragilidade do meio
físico.
Foram considerados como principais aspectos das áreas a serem pesquisadas: localização, condições
climáticas, tipos de solo e vegetação e características geotécnicas das áreas afetadas pelos processos
de desgaste superficial do solo, recaindo sobre duas encostas localizadas em regiões densamente
povoadas da cidade de Juiz de Fora - MG.
A erodibilidade dos solos locais, foco principal deste artigo, é um parâmetro que estima a perda de
solo em uma determinada área em função do tempo de escoamento (processo de erosão hídrica pelo
fluxo superficial).
As propriedades que contribuem mais significativamente para explicar a variação da perda de solo
são: textura, estrutura, densidade, teor de matéria orgânica e grau de saturação dos solos, além da
forma da encosta.

2. OBJETIVOS
 Investigar os fatores determinantes para a ocorrência dos processos erosivos em dois taludes
localizados na cidade de Juiz de Fora-MG;
 Avaliar a erodibilidade de forma indireta, baseada nas propriedades geotécnicas dos solos, e
direta por meio de ensaios de Inderbitzen em uma nova versão;
 Verificar o efeito da forma e tamanho das amostras;
 Fazer uma análise entre os resultados destes ensaios com as áreas avaliadas.

3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1. Erosão do solo: definições
A erosão é um processo mecânico que age em superfície e profundidade, em certos tipos de solo e
sob determinadas condições físicas, podendo-se tornar críticas pela ação catalisadora do homem. É
um fenômeno que, com intensidades diferentes e em consequências variadas, causa perdas de solo e
de seus nutrientes. O agente de erosão dos solos mais importante é a água.
A erosão hídrica é provocada pela ação da chuva sobre o solo. Do volume total precipitado, parte é
interceptada pela vegetação, enquanto o restante atinge a superfície do solo, provocando o seu
umedecimento e reduzindo suas forças coesivas. Com a continuidade da ação da chuva, ocorre a
desintegração dos agregados em partículas menores. A quantidade de solo desestruturado aumenta
com a intensidade da precipitação, a velocidade e o tamanho das gotas.
A água da chuva exercerá maior ou menor ação erosiva sobre o solo, dependendo de uma série de
fatores, entre os quais podem-se destacar: as condições topográficas ou de relevo (comprimento da
encosta, declividade, área do terreno etc.), as características do solo (textura, estrutura,
profundidade do solo e subsolo, permeabilidade etc.) e o tipo de cobertura (mata, pastagens, e etc.).
Esse tipo de erosão envolve três fases: desagregação (causada pelo impacto das gotas de chuva e da
tensão cisalhante hídrica provocada pela passagem do escoamento superficial), transporte (causado
pela ação do escoamento superficial) e deposição das partículas.
Guerra et al. (1999) afirmam que a erosão dos solos pela água é responsável por 56% da degradação
dos solos do mundo.
3.2. Formas de erosão hídrica
As principais formas de erosão hídrica são: erosão por salpicamento (“splash erosion”), erosão
laminar ou superficial (“interrill”), erosão em ravinas ou sulcos (“rill”), voçorocas ou gargantas e
erosão interna (“piping”).
Segundo Ellison (1994), a erosão por salpicamento corresponde à ação da energia da gota d’água da
chuva com a superfície do solo, lançando partículas de solo ao ar (“splash”) para baixo e para cima,
em declives com mais de 10%, sem influência do vento. O volume de partículas no sentido do
declive é três vezes superior ao volume para cima. A altura desses fragmentos pode chegar a 60 cm
ou mais, e eles podem se deslocar por mais de 150 cm. Estas partículas podem seguir dois
caminhos: manter-se livres na superfície do solo e ser transportadas quando da ocorrência de fluxo
superficial (Figura 1).
Além de ocasionar a liberação de partículas, o impacto das gotas tende também a compactar o solo,
ocasionando o selamento de sua superfície e, consequentemente, reduzindo a capacidade de
infiltração da água.
gota de chuva
gota de chuva

splash
"splash

(a) (b)
(a) partículas mantidas livre na superfície do solo; (b) partículas transportadas quando da ocorrência de fluxo
superficial.
Fig. 1 - Situações de transporte de fragmentos de solo por salpicamento

A erosão laminar (“interrill”) ocorre pela combinação do “splash” com o movimento da água no
declive. De acordo com Magalhães (2001), caracteriza-se pelo desgaste e arraste uniforme e suave
em toda a extensão da área sujeita ao processo erosivo. A matéria orgânica e as partículas de argila
são as primeiras porções do solo a se desprenderem, sendo as partes mais ricas e com maior
quantidade de nutrientes para as plantas. Apesar da dificuldade de ser observada, ela pode ser
constatada pelo decréscimo de produção das culturas e pelo aparecimento de raízes ou mesmo
marcas no caule das plantas, onde o solo tenha sido arrastado.
A erosão em ravinas ou sulcos (“rill”) ocorre quando a água superficial atinge pequenas depressões,
ganha velocidade e profundidade e começa a transportar sedimentos, formando canais com traçados
bem definidos. A cada ano esses canais se aprofundam, e a falta de cobertura vegetal e de drenagem
adequada pode fazer com que cheguem a atingir até alguns metros de profundidade.
A erosão interna (“piping”), geralmente surge em consequência do aumento da taxa de infiltração
ou do gradiente hidráulico e corresponde à formação de canais de fluxo no interior do maciço de
solo. A ruptura hidráulica causada pelas forças de percolação ocorre nos locais de descarga, onde o
gradiente atinge o valor crítico e condições de liquefação, arrastando partículas de solo e permitindo
a abertura de pequenos orifícios, pelos quais o fluxo passa a se concentrar, criando assim pequenas
cavidades.
A erosão depende fundamentalmente das relações entre a capacidade erosiva da chuva (erosividade)
por intermédio dos fluxos superficiais e subsuperficiais, da suscetibilidade dos materiais a serem
erodidos (erodibilidade) e da vegetação. Verifica-se, então, uma associação entre chuva, vegetação,
topografia, solo e erosão.
3.3. Estudo da erodibilidade do solo
A erodibilidade de um solo pode ser caracterizada pelos fatores: chuva; propriedades físicas e
químicas; características das encostas (forma, tamanho e declividade); e natureza da cobertura
vegetal, na qual se incluem os efeitos espaciais, que podem impedir ou não os efeitos da energia
cinética das chuvas. Com o tempo, essas propriedades podem ser alteradas e, consequentemente, a
erodibilidade de um solo pode mudar.
Uma forma comum de se avaliar a erodibilidade é procurar correlacioná-la com propriedades
geotécnicas do solo simples de serem determinadas, como análise granulométrica, índices físicos,
coeficiente de permeabilidade, parâmetros de resistência ao cisalhamento etc., além de ensaios de
caracterização química e mineralógica do solo e ensaios para a composição química da água.
Para avaliação direta da erodibilidade em laboratório, alguns equipamentos foram desenvolvidos,
entre os quais os ensaios de Inderbitzen.

4. METODOLOGIA
4.1. Áreas em estudo
As áreas escolhidas para este estudo estão localizadas nas porções oeste (Bairro Jardim Caiçaras) e
leste (Bairro Bom Jardim), por apresentarem processos de desgaste superficial do solo.
De acordo com o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) de Juiz de Fora - MG, a
vegetação original (Floresta Estacional Semidecidual, condicionada pela dupla estacionalidade
climática), expansão da Mata Atlântica, é praticamente inexistente.
Em razão da ocupação humana e do uso da terra, os desmatamentos ocasionaram a substituição das
florestas por pastagens e capoeiras (mata de baixa altura), que constituem hoje a paisagem
dominante da área, em torno de 70%.
O Bairro Jardim Caiçaras está localizado em uma região comumente identificada como Cidade Alta
e, conforme classificação geológica está inserido em área de ocorrência do “Gnaisse Piedade”.
Trata-se de um bairro residencial composto por casas tipo “populares”. Após as fases de corte e
aterro e implantação das moradias, as encostas não receberam qualquer tipo de sistema de drenagem
e vegetação; portanto, os solos ficaram desprotegidos, sendo tomados por imensas erosões, cujo
crescimento vem se acelerando nos períodos de chuva (Figura 2).

Fig. 2 - Aspectos erosivos em grandes proporções

O Bairro Bom Jardim faz parte de uma via de acesso de 2,5 km (rua Diva Garcia) que liga os
bairros Vitorino Braga, Três Moinhos, Bom Jardim e Linhares. O traçado dela é paralelo ao
Córrego do Yung. Sua formação geológica se classifica como “Complexo Juiz de Fora”. Na Figura
3 verifica-se um processo acelerado de desgaste do solo que vem se formando nas encostas, ao
longo da via.
Fig. 3 - Processos erosivos existentes nas encostas, junto à via de acesso. Bairro Bom Jardim
4.2. Metodologia usada na coleta das amostras e nos ensaios
Em conformidade com a NBR 9604/86foram coletadas amostras de solo em pontos de média
vertente em talude das duas áreas estudadas. Os locais escolhidos seguiram a ideia de analisar a
susceptibilidade dos solos à erosão hídrica pelo fluxo superficial (Figura 4).

Bairro Jardim Caiçaras Bairro Bom Jardim


Fig. 4 - Extração das amostras
Para cada local em estudo, as amostras de solos indeformadas foram coletadas em dois blocos
cilíndricos de PVC, com 25,0 cm de diâmetro e altura de 30,0 cm, parafinadas, envolvidas em
plástico PVC.
4.3. Ensaios de laboratório
O programa de ensaios realizado no Laboratório de Mecânica dos Solos da Universidade Federal de
Viçosa consistiu dos ensaios de caracterização (teor de umidade, limites de consistência, peso
específico das partículas e análise granulométrica); resistência ao cisalhamento (triaxial);
permeabilidade; e de erosão (Inderbitzen).
4.4. O aparelho de Inderbitzen
A nova versão do aparelho de Inderbitzen consiste de uma rampa metálica em alumínio, contendo
um orifício para fixação dos corpos de prova. Uma das faces dos corpos de prova é posicionada
tangencialmente ao plano da rampa, em sua extremidade inferior, exposta a um fluxo d’água
laminar controlado, ocasionando erosão no solo por um tempo determinado.
Conforme Figura 5, a rampa é apoiada em uma estrutura metálica provida em sua parte superior de
um sistema móvel, permitindo assim a variação do ângulo de inclinação dela; sua parte inferior é
fixa, para dar rigidez a essa estrutura.
Na tentativa de melhorar os ensaios e para se obter uma estimativa mais realística da erodibilidade,
criou-se uma nova versão do equipamento, variando o orifício existente na rampa hidráulica para
fixar os corpos de prova; aumentando o comprimento dela e material, garantindo uniformidade do
fluxo d’água e rigidez.
As rampas foram fabricadas em alumínio, com 4,0 mm de espessura, 220,0 mm de largura e 170,0
cm de comprimento. Foram confeccionadas três rampas: uma delas com um orifício circular de
diâmetro igual a 150,0 mm e as outras duas com orifícios quadrados de lados iguais a 150,0 e 100,0
mm, para fixação dos corpos de prova (Figuras 5 e 6).
Nas três rampas, esses orifícios ficaram a 120,0 cm do início do escoamento, feito através de um
tubo perfurado acoplado nos perfis da rampa. Verificou-se a flexibilidade do equipamento em
colocar a entrada do fluxo d’água a qualquer distância da amostra.
Para fazer com que a rampa girasse em diversas inclinações, adotou-se um sistema contendo
suporte fixo em ferro fundido e um cilindro acoplado a ele.
Para simular o escoamento superficial, utilizou-se um reservatório com capacidade volumétrica de
40 litros, confeccionado em PVC e revestido com fibra-cimento, colocado a 1,00 m de altura em
relação à entrada do fluxo d’água na rampa.
Para que não houvesse variações do nível d’água e turbulências no reservatório de modo a interferir
na vazão do ensaio, este foi projetado com três furos, um constituindo de uma saída de água
(ladrão) e os outros dois com registros, um para entrada da água de abastecimento e o outro com
saída da água para o tubo perfurado, que, quando ajustado, garante constância de vazão, verificada
através de um rotâmetro (Figura 7).
A vazão foi estabelecida em 1,0 l/min (16,7 ml/s), correspondente a uma leitura no rotâmetro de
0,25.
Fig. 5 - Detalhe do sistema móvel que permite a Fig. 6 - Rampas com orifícios quadrados
variação da inclinação das rampas . Rampa com
orifício redondo

Fig. 7 - Detalhe do reservatório e rotâmetro


4.5. Execução dos Ensaios de Inderbitzen
Após terem sido preparados os corpos de prova, estes eram pesados, obtendo-se o peso da massa do
corpo de prova com solo natural mais amostrador (Figura 8).
A seguir, o conjunto amostrador era posicionado no orifício da rampa sendo fixado nesta através de
parafusos (Figura 9).

Fig. 8 - Pesagem dos corpos de prova fixados no Fig. 9 - Vista superior do conjunto amostrador fixado
conjunto amostrador na rampa hidráulica

Os sedimentos carreados foram coletados (Figura 10) em intervalos de tempo predefinidos (1, 3, 5,
9, 15 e 30 minutos), com o objetivo de obter dados para a plotagem dos gráficos dados em função
do tempo (em minutos) x perda solo seco acumulado por área da amostra (g/cm2).
Os recipientes com material coletado eram colocados em repouso para sedimentação. Em seguida,
todo o material depositado era transferido para pequenas cápsulas, e encaminhadas à estufa para
secagem durante 24 horas. Posteriormente, o solo obtido era destorroado, pesado e transferido para
um conjunto de peneiras (#4, #10, #40, #100 e #200), sendo pesado o material retido em cada uma
delas (Figura 11).
Figura 10 - Coleta de sedimentos

Figura 11 - Cápsulas contendo material carreado seco e a transferência de solo seco para o conjunto de peneiras
5. RESULTADOS
Na Tabela 1 encontraram-se os resultados dos ensaios de limites de consistência, das análises
granulométricas, bem como a classificação dos solos estudados correspondente ao par de valores IP
e LL na Carta de Plasticidade.
Tabela 1 - Limites de consistência, análise granulométrica e classificação dos solos segundo a Carta de Plasticidade
Procedência Limites de Consistência (%) Análise granulométrica (%) Carta de
da Amostra Areia Silte Argila Plasticidade
LL LP IP
Jardim Caiçaras 61,95 31,34 30,61 25 37 38 CH
Bom Jardim 41,79 21,03 20,76 46 34 20 CL
CH – argila de alta compressibilidade; CL – argila de baixa compressibilidade.
Observa-se que as partículas erodidas nos solos estudados têm diâmetro equivalente menor que 2,00
mm, pois durante o peneiramento nas análises granulométricas verifica-se que 100% do material
seco passam na peneira dez (# 10).
Analisando os índices de plasticidade, segundo os critérios adotados neste estudo os solos são
classificados como tendo boa resistência à erosão, uma vez que na correlação proposta pelo DNER
(1979), citada por Fragassi (2001) e Mendes (2006), o IP superou a média, que é 17%, mas o LP foi
inferior a 32%.
Nos estudos realizados por Santos e Castro (1967) apenas os solos do Bairro Bom Jardim são
apontados como fortemente erodíveis; já do Bairro Jardim Caiçaras apresentou boa resistência à
erosão.
Em função das curvas granulométricas, de acordo com a classificação de Meireles (1967) e Bastos
(1999), para todas as áreas os solos são considerados como pouco erodíveis, pois o percentual que
passa na peneira 200 é maior que o proposto por eles, ou seja, 40% e 55%, respectivamente.
Obedecendo à classificação proposta por Gray e Sotir (1996) no que diz respeito à medida da
erodibilidade, no sentido do solo mais erodível para o menos erodível tem-se Bairro Bom Jardim
(CL)  Jardim Caiçaras (CH).
A parcela de argila encontrada para o Bairro Bom Jardim foi inferior a 35%, daí não seria
considerados erodível, segundo Eltz et al. (2001). Já o percentual encontrado para o Bairro Jardim
Caiçaras ultrapassou esse valor e seria caracterizado como erodível.
Como os solos apresentaram pouca quantidade de argila e elevada porcentagem de areia fina e silte,
segundo Fragassi (2001), são considerados erodíveis. Em contrapartida, o critério do DNER (1979),
apontado por este mesmo autor, classifica esses solos com boa a regular resistência à erosão, pois o
percentual de solo passante na peneira 40 foi superior a 49% e inferior a 96%.
Quanto aos critérios adotados por Santos (2001), através da relação entre erodibilidade, IP (índice
de plasticidade) e Cu (coeficiente de uniformidade), os solos em estudo são caracterizados com boa
resistência à erosão, pois possuem IP > 15; quanto ao Cu não se aplica, pois na curva
granulométrica não se consegue determinar o diâmetro correspondente à porcentagem que passou
de 10%.
Quanto aos critérios baseados nos índices físicos a Tabela2 apresenta os valores médios obtidos
para teor de umidade (w), peso específico aparente natural (Nat), peso específico aparente seco (d),
peso específico dos sólidos (s), índices de vazios (e) e grau de saturação (S).
Tabela 2 - Índices Físicos
Procedência w (Nat) (d) s E S
da Amostra (%) (kN/m³) (kN/m³) (kN/m³) (%)
Jardim Caiçaras 28,90 16,10 12,40 28,30 1,28 44,0
Bom Jardim 20,70 16,10 13,40 26,85 1,00 50,0

Em razão de os valores obtidos para índices de vazios ultrapassarem a 0,7 os solos são classificados
como solos facilmente erodíveis (BASTOS, 1999).
De acordo com Fácio (1991), o solo do Bairro Jardim Caiçaras seria o mais erodível, por ser o de
menor grau de saturação (S).
Por outro lado, de acordo com Mendes (2006), considerando o peso específico dos sólidos (s)
como um fator controlador dos processos erosivos, o solo do Bairro Jardim Caiçaras estaria mais
compacto e seria o menos erodível. No entanto, observa-se que essa proposta é inadequada porque,
apesar de ter o maior s, este solo é o que possui o maior índice de vazios, portanto, não é o mais
compacto.
Para analisar a resistência ao cisalhamento dos solos foram realizados ensaios de cisalhamento
direto e triaxial, com os resultados apontados nas Tabelas 3 e 4.
Tabela 3 - Parâmetros de resistência obtidos nos ensaios de cisalhamento direto

Condição Natural Condição Inundada


Procedência
w
da Amostra cnat (kPa) nat (o) cinu (kPa) inu (o)
(%)
Jardim Caiçaras 29,00 68,00 37,00 1,30 35,00
Bom Jardim 20,20 45,00 34,00 2,50 36,00

Segundo Bastos (1999), a análise em termos do parâmetro c permite entender a tendência de


crescimento da taxa de erodibilidade com c e identificar os solos com média a alta erodibilidade
como aqueles que apresentam elevada variação de coesão com a inundação, igual ou superior a
85%.
Com os parâmetros de resistência mostrados na Tabela 3, obteve-se o fator de variação da coesão
(c) para as áreas dos bairros Jardim Caiçaras e Bom Jardim, respectivamente, de 98 e 94%.
Aplicando o critério proposto por Bastos (1999), conclui-se que os solos dos dois locais apresentam
alta erodibilidade.
Tabela 4 - Parâmetros de resistência obtidos nos ensaios de triaxial
CID Nat CIU
Procedência nat c  c' 
cnat (kPa)
da Amostra (o) (kPa) (o) (kPa) (o)
Jardim Caiçaras 69,00 25,00 28,00 14,00 11,00 33,00
Bom Jardim 8,00 33,00 21,00 11,00 4,00 36,00
A partir dos resultados da Tabela 4, aplicando novamente o critério proposto por Bastos (1999),
foram obtidos valores para o fator de variação da coesão (c) de 84 e 50% para as áreas dos bairros
Jardim Caiçaras e Bom Jardim, respectivamente.
Quanto a avaliação direta da erodibilidade pelos Ensaios de Inderbitzen, tem-se através da Tabela 5
os resultados da perda de solo total acumulada (g) x tempo de ensaio (min) e da perda de solo total
acumulada por unidade de área do corpo de prova (g/cm2) x tempo de ensaio (min), obtidas através
dos ensaios de Inderbitzen, para os três solos em estudo e para os três tipos de rampa.
Tabela 5 - Perda de solo total acumulada (g) x tempo de ensaio (min) e perda de solo total acumulada por unidade de
área do corpo de prova (g/cm2) x tempo de ensaio (min)
Perda de solo total acumulada Perda de solo total acumulada por unidade
Procedência da (g) de área do corpo de prova (g/cm2)
Amostra Circular Quadrado Quadrado Circular Quadrado Quadrado
144 mm 142 mm 93 mm 144 mm 142 mm 93 mm
Jardim Caiçaras 87,43 83,19 56,50 0,5368 0,4126 0,6533
Bom Jardim 58,28 165,77 79,56 0,3579 0,8221 0,9199

Os solos dos bairros Jardim Caiçaras e Bom Jardim tiveram maiores perdas nas rampas de orifício
quadrado com 93,0 mm de lado.
Segundo Fragassi (2001), os solos das áreas em estudo mostraram comportamento de regular a ruim
frente à erosão, porque apresentam velocidade de erosão entre 0,8 e 25,0 g/cm2/hora. Os resultados
estão apresentados na Tabela 6.
Tabela 6 - Perda de solo total acumulada por unidade de área do corpo de prova (g/cm2) por tempo de ensaio (horas)

Jardim Caiçaras Bom Jardim


Tipo de Rampa 2
E (g/cm /hora)

Circular de  = 144,0mm 1,0736 0,7158


Quadrada 142,0 mm de lado 0,8252 1,6442
Quadrada 93,0 mm de lado 1,3066 1,8398

7. CONCLUSÕES
As principais conclusões obtidas são que:
 O equipamento desenvolvido mostrou-se válido, tendo sido capaz de aplicar vazões maiores que
0,5 l/min e inclinações menores que 900.
 As três rampas funcionaram igualmente bem, e a metodologia do ensaio, desde a moldagem dos
corpos de prova e a proteção que eles tinham no início do ensaio, até que a vazão fosse
adequadamente imposta, foi apropriada.
 Os critérios baseados nos índices de plasticidade apontam apenas os solos do Bairro Bom Jardim
como fortemente erodíveis, segundo Santos e Castro (1967); os demais continuaram a apresentar
boa resistência à erosão. Com relação à curva granulométrica, as metodologias mencionadas
apontam, em sua maioriao outo solo como pouco erodível.
 De acordo com a classificação pela carta de plasticidade, proposta por Gray e Sotir (1996), o
solo do Jardim Caiçaras (CH) seria menos erodível seguido do Bairro Bom Jardim (CL).
 Os índices físicos indicam os solos dos bairros Jardim Caiçaras e Bom Jardim como solos
facilmente erodíveis.
 Em todos os ensaios Inderbitzen, a maior quantidade de perda de solo ocorria nos 15 minutos
iniciais.
 Observou-se nesses ensaios que mudanças na forma e no tamanho do orifício da rampa
influenciaram nas perdas de solo.
 Era de se esperar que as perdas de solo na rampa de menor largura fossem maiores, uma vez que
a tensão de cisalhamento hidráulica nessa rampa é maior.
Portanto, para correlacionar a erodibilidade dos solos com suas características físicas e geotécnicas
é necessário que se crie um banco de dados a partir de uma maior área amostral, abrangendo uma
extensão maior da bacia em estudo, conhecendo-se a classe predominante desses solos para que se
formule um modelo-padrão.
Apesar disso, podem-se considerar como representativas as áreas envolvidas, que vêm se
degradando através dos tempos.

AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) pela oportunidade em apresentar este trabalho e à
Universidade Federal de Viçosa (UFV) pelo apoio no decorrer das pesquisas.

REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9604, Norma: Abertura de poço e trincheira de
inspeção em solo, com retirada de amostras deformadas e indeformadas. Rio de Janeiro: 1986. 9 p.
[2] BASTOS, C. A. B. Estudos geotécnicos sobre a erodibilidade de solos residuais não saturados. 1999. 251 f. Tese
(Doutorado em Engenharia) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1999.
[3] ELLISON, W. D. Studies of raindrop impact and erosion. Agriculture Engineering, v. 25, p. 131-136, 181-182,
1994.
[4] FACIO, J. A. Proposição de uma metodologia de estudo de uma erodibilidade dos solos do Distrito Federal,
Brasília/DF. 107 f. Dissertação (Mestrado em Geotecnia) – Universidade de Brasília, Brasília, 1991.
[5] FRAGASSI, P. F. M. Estudo da Erodibilidade dos solos residuais de gnaisse da Serra de São Geraldo e de Viçosa
(MG). 119 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2001.
[6] GUERRA, A. J. T. et al. Erosão e conservação dos solos: conceitos, temas e aplicações. Rio de Janeiro-RJ: Ed.
Bertrand Brasil, 2001.
[7] GRAY D. H.; SOTIR, R. B. Biotechnical and soil bioengineering slope stabilization - A pratical guide for erosion
control. New York: Wiley, 1996. 377 p.
[8] MAGALHÃES, R. A. Erosão: definições, tipos e formas de controle. SIMPÓSIO NACIONAL DE CONTROLE
DE EROSÃO, 7., 2001, Goiânia/GO. Anais... Goiânia/ GO, 2001. 11 p.
[9] MEIRELES, J. M. F. Erosão de taludes de estradas. In: JORNADAS LUSO-BRASILEIRAS DE ENGENHARIA
CIVIL, 2., 1967, Rio de Janeiro/RJ – São Paulo-SP. Anais... Rio de Janeiro/RJ – São Paulo-SP, 1967. p. 204-211.
[10] MENDES, C. A. R. Erosão superficial em encosta íngreme sob cultivo perene e com pousio no município de Bom
Jardim – RJ. 2006. 227 f. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, 2006.
SANTOS, C. A. Comportamento hidrológico superficial, subsuperficial e a erodibilidade dos solos da região de Santo
Antônio do Leite, distrito de Ouro Preto - Minas Gerais. 2001. 107 f. Dissertação (Mestrado em Geologia) –
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG, 2001.
PRODUÇÃO E AVALIAÇÃO DE TINTAS SUSTENTÁVEIS COM REJEITO
DE BARRAGEM DE MINÉRIO DE FERRO

Production and evaluation of sustainable paintings produced with iron ore tailing
José Lucas Barros Galvão1, Humberto Dias Andrade2, Karine de Jesus Santos3, Júlia Castro
Mendes4, Ricardo André Fiorotti Peixoto5
1
Graduado, Ouro Preto, Brasil, lucasbgalvao91@hotmail.com
2
M.S.c, Ouro Preto, Brasil, andrade.hdias@gmail.com
3
Graduanda, Ouro Preto, Brasil, karine.js@aluno.ufop.edu.br
4
Doutoranda, Ouro Preto, Brasil, jcmendes.eng@gmail.com
5
Professor Associado, Ouro Preto, Brasil, fiorotti.ricardo@gmail.com

Resumo: Os rejeitos de barragens de minérios de ferro (RBMF) são materiais finos e cristalinos que
não apresentam características perigosas. Seu impacto ambiental está diretamente relacionado à sua
disposição final, na forma de barragens. O desastre ocorrido em Minas Gerais no ano de 2015 revela
o real passivo ambiental, social e econômico que esse resíduo representa. Assim, o presente trabalho
busca utilizar o RBMF como pigmento na produção de tintas de solo produzidas in loco, aqui
denominadas Tintas Sustentáveis. Na produção dessas tintas foram utilizados quatro ligantes
diferentes: resina poliacetato de vinila (PVA), resina acrílica, cal e cimento. Esses ligantes eram
misturados com o RBMF e água em diferentes proporções, onde o teor máximo de aglomerante é
50%. Para efeito de comparação, foram estudadas tintas comerciais Látex e Acrílica. Todas as tintas
foram testadas quanto a variabilidade da cor, resistência à abrasão, durabilidade às intempéries no
ambiente externo e custo. As tintas sustentáveis com RBMF são esteticamente satisfatórias com baixo
custo para produção. Frente às intempéries, a tinta sustentável com ligante PVA teve a melhor
performance com desempenho superior às de referência, com seu resultado representando menos de
25% da variação de cor da tinta Látex. Assim, esses materiais demonstraram alternativas viáveis para
pintura interna e externa, com o potencial de aplicação principalmente em construções de interesse
social.

Palavras-chave: Rejeitos de Barragem de Minério de Ferro; Tinta; Construção Sustentável.

Abstract: The tailings dams of iron ores (RBMF) are thin and crystalline materials that do not exhibit
hazardous characteristics. Your environmental impact is directly related to your disposal, in the form
of dams. The disaster occurred in the State of Minas Gerais in the year 2015 reveals the real
environmental, social and economic liabilities that this residue represents. Thus, the present work
search using RBMF as pigment in paint production of soil produced the spot, here called Sustainable
Paints. In the production of these paints were used four different ligands: poliacetato chloride resin
(PVA), acrylic resin, lime and cement. These binders were mixed with the water in different
proportions and RBMF, where the maximum content of binder is 50%. For comparison, commercial
paints were studied Latex and acrylic. All the paints were tested as the variability of color, resistance
to abrasion, weather durability in the external environment and cost. Sustainable RBMF inks are
aesthetically satisfactory with low cost for production. Weather front, the sustainable paint with PVA
Binder had the best performance with superior performance to benchmarks, with your result
representing less than 25% of the variation in color of Latex paint. So, these materials have
demonstrated viable alternatives to internal and external painting, with the potential for application
mainly in construction of social interest.

Keywords: first, second, third, fourth (minimum of three and maximum of six).

1. INTRODUÇÃO
Tinta é uma composição líquida, geralmente viscosa, constituída de um ou mais pigmentos dispersos
em um aglomerante líquido que, após o processo de cura forma um filme aderente ao substrato com
finalidade de proteção e embelezamento da superfície [1]. Sua composição é resultado da mistura de
diversas substâncias, pigmentos, aditivos, solventes, água e veículo. Os componentes sólidos das
tintas (responsáveis pela pigmentação), geralmente se encontram misturados aos voláteis, que, após
processo de cura se evaporam, formando uma película sólida.
Dentre os tipos de tintas produzidas no Brasil, as imobiliárias representam 83,3% do volume total de
produção (1.279 bilhões de litros), e 79,7% do faturamento do mercado brasileiro nesse setor (2.352
bilhões de dólares) [2]. Segundo Góis [3], “no processo de fabricação das tintas imobiliárias,
destacam-se como matérias-primas os minerais não metabólicos e os produtos derivados de petróleo,
recursos não renováveis, e água. Além disso, nesse processo ocorre emissão de efluentes líquidos e
gasosos [..] como os Compostos Orgânicos Voláteis – COVs, uma classe de contaminantes derivados
do petróleo”. A emissão de COV’s coloca em risco à saúde dos usuários e dos trabalhadores durante
a pintura, e causa a redução da qualidade do ar presente no interior das edificações. Entre as
consequências ao meio ambiente, destacam-se; poluição atmosférica e a formação do ozônio
troposférico (responsável pela névoa fotoquímica urbana) [4].
Como alternativa para a redução da emissão de COV’s através de tintas, surgem a produção de Tintas
de Solos. Estas, utilizam dos pigmentos do solo e são a base de água; sendo consideradas sustentáveis,
pois não geram resíduos ou produtos tóxicos à saúde e ao meio ambiente. A pigmentação e cobertura
da Tinta Solo é resultado da coloração e dimensão de rochas e minerais; sendo os solos mais finos os
com melhores resultados. Assim, Rejeitos das Barragens de Minério de Ferro (RBMF), tornam-se
uma boa alternativa para produção desse tipo de tinta, por se tratar de um material com grande parte
de partículas finas (fração silte-argila <0,075mm). [5]
Além disso, essa é uma importante solução quanto aos crescentes volumes de rejeitos da mineração,
muitas vezes armazenados em barragens, que ocasionam vários impactos ambientais. Considerando
a necessidade de redução dos imensuráveis impactos socioambientais causados pelas tintas industriais
e pelos rejeitos da mineração, este trabalho busca desenvolver uma tinta para a construção civil
utilizando RBMF.

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral


Avaliar a viabilidade técnica e financeira do uso de RBMF, como pigmento na constituição de tintas
sustentáveis utilizadas na construção civil.

2.2 Objetivos específicos


• Definir a preparação de material adequada;
• Avaliar a melhor resina do ponto de vista técnico e econômico;
• Avaliar o melhor traço sob aspectos de durabilidade, consistência de cor, trabalhabilidade,
rendimento e preço.

3. METODOLOGIA

O estudo foi realizado com Rejeito de Barragem de Minério de Ferro (RBMF) no Laboratório de
Materiais de Construção Civil da UFOP. Para comparação dos resultados, foram utilizadas duas tintas
comercialmente disponíveis: Suvinil Fosco Completo Acrílico Premium (denominada Comercial
Acrílica - Cor "Petit Gâteau") e Suvinil Clássica Max (denominada Comercial Látex - Cor "Petit
Gâteau"). O custo de cada traço foi calculado levando em consideração a cotação dos insumos na
cidade de Ouro Preto- MG.

3.1 Materiais e métodos


O RBMF, foi seco em estufa a temperatura de 100ºC durante 24 horas, e após atingir
aproximadamente 0% de umidade relativa; destorroado para facilitar a sua separação granulométrica
e homogeneização. Posteriormente, o material passou por separação em fração granulométrica; a fim
de se obter a quantidade passante na peneira da série normal de abertura 150μm (#100) [6], necessária
para se iniciar a fabricação das tintas. Pesados em balança de precisão, o RBMF foi separado de
acordo com o traço estipulado de cada tinta (Tabela 1), e armazenado seco até serem misturados.

Para a preparação das tintas foram utilizados os seguintes materiais:

• Água potável da Universidade Federal de Ouro Preto;


• Rejeito de barragem de minério de ferro (RBMF) proveniente da região do Quadrilátero
Ferrífero – MG.;
• Resina acrílica para impermeabilização multiuso incolor Hydronorth/à base d'água;
• Cal para Pintura da marca Calex;
• Cola Branca PVA Cascola/Cascorez Extra;
• Cimento CPV Holcim/ARI (Alta Resistência Inicial);
Tabela 1 – Traços da tinta de RBMF

O procedimento para mistura dos materiais e adotado em todos os traços foi: distribuir inicialmente
50% da quantidade de água no misturador juntamente com 100% da quantidade de RBMF e deixar
em agitação durante 30 segundos na velocidade lenta. Logo após isso, foi colocado o restante dos
materiais, e novamente misturado por 1 minuto e 30 segundos em velocidade lenta. A tinta produzida
foi disposta em um recipiente limpo e seco; para análise visual da sua textura, trabalhabilidade e
incorporação de ar.
Foram utilizadas placas de PVC (18,5×13 cm) para se testar os resultados dos 17 traços da tinta. As
placas foram selecionadas de acordo com a coloração e aderência homogêneas, simulando também
situação desfavoráveis de aderência superfície/tinta. Os testes realizados nas placas de PVC foram:
Variabilidade de Cor, Escuridade. Resistência à Abrasão e Custo.
Como análise de resultados, os traços foram comparados com tintas comerciais de cores semelhantes,
do tipo Látex e Acrílica, que passaram pelos mesmos testes e procedimentos da Tinta de RBMF.
Sendo que, os 5 melhores resultados das tintas na superfície de PVC foram testados em placas
cimentícias de revestimento em ambientes interno e externo sujeitos as intempéries.
Após pintura de cada placa, foi realizada a captura da sua imagem, com a finalidade de se realizar o
teste de Variabilidade de Cor, que busca avaliar homogeneidade da cobertura da tinta. Para realização
deste teste, foi utilizado o software Adobe PhotoShop®, no qual para cada imagem gerada foi feita a
análise do sistema RGB (abreviatura do sistema de cores formado por Vermelho - Red, Verde - Green
e Azul - Blue) da imagem. Uma das representações mais usuais para esse sistema de cores é a
utilização da escala de 0 a 255. Assim, cada cor possui um determinado valor de R, G e B variando
de 0 a 255 (exemplos na Tabela 2).

Tabela 2 – Representação numérica de algumas cores em RGB

Para cada três traços de cores em R, G e B, foram coletados e calculados os valores de desvio padrão
do conjunto. Sendo que, quanto maior o desvio padrão de uma cor, menor sua homogeneidade. A
Figura 1, apresenta o Histograma da cor vermelha no Traço 14 com desvio padrão de 4,41. Já na
Figura 2, temos a o Histograma da cor vermelha no Traço 10, com desvio padrão de 2,85.

Fig. 1 - Histograma da cor vermelha no Traço 14 com desvio padrão de 4,41


Fig. 2 - Histograma da cor vermelha no Traço 10 com desvio padrão de 2,85

Posteriormente ao teste de variabilidade de cor, foi realizado o Teste de Escuridade, que buscou
avaliar o poder de pigmentação dos traços, analisados. O resultado foi encontrado através da
metodologia de diferença de cores Delta-E, no qual o Delta-E é um número único que representa a
diferença de distância euclidiana entre os aspectos Vermelho, Verde e Azul de um RGB (Mokrzycki
& Tatol, 2011). Esse é o método adotado pela Comissão Internacional de Iluminação (CIE) pois
melhor representa a percepção de cores dos seres humanos (COLORMINE, 2016).
Utilizando o Software Delta-E Calculator® foi possível calcular o Delta-E a Escuridade de cada traço.
O cálculo realizado no programa se deu através da análise (em cinco pontos de uma imagem) da
diferença da cor da tinta produzida em relação a cor branca (cor semelhante a do substrato de PVC).
A Figura 3 apresenta o resultado do Teste de Escuridade do Traço 1.

Fig. 3 - Delta-E Calculator para Traço 1


Após 72 horas da pintura da placa, foi realizado o Teste de Resistência à Abrasão, uma adaptação da
NBR 15078 [7]. Para realização do teste foi aplicado 30 ciclos de abrasão nas placas com a tintura.
Cada ciclo consiste em um movimento retilíneo de ida e volta sobre a placa na mesma direção, sem
pressão na direção normal à superfície além do peso-próprio da escova. Em cada placa foram
realizados dois testes, na parte superior inferior da placa, ambos respeitando os mesmos parâmetros
operacionais.
Observados os resultados, os 5 melhores traços foram selecionados e aplicados como cobertura em
placas cimentícias de espessura 12,5 cm, em 2 demãos de tinta. Para cada um destes traços, utilizou-
se 2 placas, sendo uma deixada em ambiente interno, protegida das intempéries e raios solares;
enquanto a outra foi exposta ao exterior do ambiente, em posição aproximadamente vertical
simulando uma parede convencional. O objetivo desse teste foi de analisar a durabilidade dos traços
em relação às intempéries e comparar o resultado com dois tipos de tintas comerciais (Látex e
Acrílica), todos sujeitos às mesmas condições.
Após pintura as placas foram identificadas, e com a idade de 7 dias dispostas em posição
aproximadamente vertical em ambientes separados para Teste de Durabilidade às intempéries no
período de 6 meses.

Fig. 4 - Placas expostas em posição aproximadamente vertical sob beiral de 15 cm

4. RESULTADOS

4.1 Variabilidade de cor


Ao todo, 10 traços das Tintas Sustentáveis apresentaram maior Variabilidade de Cor que as tintas
comerciais. Entretanto, os traços 3, 7, 13 e 14, apresentaram uma menor variabilidade, possuindo
assim, uma maior homogeneidade de cor, com resultado superior às tintas comerciais. De modo geral,
os resultados encontrados, indicam que o processo de mistura adotado foi adequado.
Fig. 5 - Resultados do Teste de variabilidade de cor

4.2 Teste de escuridade


O Teste de Escuridade avaliou a pigmentação dos traços, avaliando a opacidade das tintas através da
diferença com a cor branca do substrato de PVC. O conjunto de Traços PVA foram, no geral, os que
alcançaram as cores mais escuras, sendo o Traço 3 com o melhor resultado de cobertura.

Fig. 6 - Resultados do Teste de Escuridade

4.3 Resistência à abrasão


Observando-se os resultados (Gráfico 3), as tintas comerciais apresentaram resultados significativos
em relação às tintas sustentáveis, sendo A tinta comercial Acrílica foi 1387,5% superior no teste em
relação ao maior resultado das tintas sustentáveis (Traços PVA). É importante ressaltar que, os testes
foram realizados 3 dias após a pintura. As tintas sustentáveis, diferente das comerciais, não possuem
componentes (COV’s) que aceleram o processo de secagem, podendo apresentar diferentes resultados
de acordo com o período de cura.

Fig. 7 - Resultados do Teste de Resistência à abrasão

4.4 Durabilidade às intempéries


O Gráfico 3 apresenta o resultado da Variação de Cor (ΔE) nas placas testadas após 6 meses. O
resultado foi encontrado através do Software Delta-E Calculator, a partir da média R, G e B das placas
do ambiente interno e externo, foi possível calcular o ΔE.

Fig. 8 - Resultados da Variação de Cor das placas após 6 meses às intempéries internas e externas

A menor Variação de Cor foi do Traço PVA (Figura 5) com ΔE igual a 2,8. Sendo assim, esta é a
melhor opção de pintura para ambientes internos e externos pois sua oscilação de cor foi
consideravelmente pequena. Esse resultado superou o desempenho nos testes das tintas comerciais,
possuindo qualidade superior para uso.

Figura 9 - Traço PVA após 6 meses, à esquerda exposta no ambiente externo e à direita interno

4.5 Custos
O Gráfico 4 apresenta o custo por quilograma para a produção e o custo do quilograma das tintas
comerciais. O custo de cada traço foi calculado levando em consideração a cotação dos insumos na
cidade de Ouro Preto- MG. Observando os resultados, pode-se perceber que as tintas comerciais
foram as com custo mais elevado. Já a tinta sustentável de custo mais elevado foi o Traço 4, sendo
352,5% mais barata que as tintas comerciais. A de menor valor foi do Traço 14, que é 23.225% mais
econômica (financeiramente) que as tintas comerciais.

Fig. 10 - Custo por Quilograma das Tintas Sustentáveis e Comerciais (R$/Kg)


5. CONCLUSÃO
Este trabalho possibilitou a avaliação da viabilidade técnica e financeira do uso de RBMF como
pigmento na constituição de tintas sustentáveis para utilização na construção civil. O material pelas
suas características e propriedades apresentou bom desempenho, tendo como principal resultado o
baixo custo de produção.
Os resultados mostram que as tintas sustentáveis apresentaram dados semelhantes e em alguns casos
mais satisfatórios, às tintas comerciais (Látex e Acrílica). Sendo que, os traços compostos com PVA,
tiveram os melhores resultados nos testes de resistência à abrasão, durabilidade e variabilidade de
cor, apresentando também um custo de R$2,70 por quilo de tinta produzida, sendo financeiramente
mais viável que as tintas comerciais, e excelentes opções para redução de gastos com pintura.
O custo de produção da tinta se refere aos custos com insumos, utilizando-se os valores respectivos
do comércio da região. Neste trabalho não se considerou gastos com mão de obra, impostos e
alíquotas; pois buscou-se avaliar a viabilidade técnica do RBMF para ser produzido e utilizado de
modo reprodutivo, com interesse socioambiental.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.
REFERÊNCIAS

[1] J. M. R. FAZENDA. Tintas - Ciência e Tecnologia. 3ª ed., S.l.: ABRAFATI., 2005.

[2] ABRAFATI. Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas, 2016. [Online]. Available:
https://www.abrafati.com.br/indicadores-do-mercado/numeros-do-setor/.

[3] L. GÓIS. Tintas da terra: O uso dos pigmentos naturais para uma pintura sustentável. Universidade Federal
de São João Del-Rei, 2016.

[4] K. L. I. P. &. A. V. UEMOTO. Construção e Meio Ambiente- Impacto ambiental das tintas imobiliárias. 7ª
ed., Porto Alegre: Habitare, 2006.

[5] L. C. R. D. ANDRADE. Caracterização de rejeitos de mineração de ferro, in natura e segregados, para


aplicação como material de construção civil.. (Tese) Universidade Federal de Viçosa., 2014.

[6] ABNT. NBR NM 238: Agregados- Determinação da composição granulométrica,” Associação Brasileira de
Normas Técnicas, Rio de janeiro, 2003.

[7] ABNT. NBR 15078: Tintas para Construção Civil - Determinação de resistência à abrasão úmida sem pasta.,”
Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de janeiro, 2004.
ANÁLISE DOS RISCOS DE ESCORREGAMENTOS E OCUPAÇÕES NA
FAIXA DE DOMÍNIO DE UM TRECHO FERROVIÁRIO EM JUIZ DE
FORA (MG)

Landslide hazards and occupations analysis in the wayside of a railway in Juiz de


Fora (MG)

Kelly Ferreira Berini 1, Gislaine dos Santos 2, Jordan Henrique de Souza 3, Ana Maria Stephan 4
1UFJF, Juiz de Fora, Brasil, kelly.berini@engenharia.ufjf.br
2 UFJF, Juiz de Fora, Brasil, gislaine.santos@engenharia.ufjf.br
3 UFJF, Juiz de Fora, Brasil, jordan.souza@ufjf.edu.br
4 UFJF, Juiz de Fora, Brasil, ana.stephan@ufjf.edu.br

Resumo: Este estudo apresenta uma análise de como está sendo utilizada a faixa de domínio, de um
trecho de ferrovia pertencente à concessionária MRS Logística, localizada na cidade de Juiz de Fora
– Minas Gerais (MG). Esta faixa é determinada por lei como uma área não edificada e que deve ser
utilizada apenas para estruturas relacionadas à ferrovia, como estações, oficinas e pátios, bem como
para suas futuras expansões. O presente estudo consiste em avaliar uma faixa de 15 metros para
cada lado, contados a partir do eixo da ferrovia, conforme prescreve a Lei nº 10.932 de 2004, em
uma extensão de 50 quilômetros que passa pelo município, abrangendo vários bairros. A partir da
utilização do software de geoprocessamento QGis® foram gerados mapas e gráficos, para cada
quilômetro de via, dos quais obteve-se dados referentes aos parâmetros físicos, tais como,
declividade, altimetria, áreas com risco de escorregamento por meio da metodologia Shalstab, uso e
ocupação do solo e localização de imóveis. Após essas informações foi possível verificar que existe,
em grande parte dessa área pertencente a faixa de domínio, edificações comerciais e residenciais
além de pontos susceptíveis a escorregamento de terra. Portanto, pode-se concluir que tais faixas
não vêm sendo respeitadas conforme preceitua a lei, e que há novas áreas na iminência de
escorregamentos, o que pode vir trazer sérios danos para as edificações e pessoas locadas nesse
entorno, como também para a concessionária responsável pela via férrea.

Palavras-chave: ferrovia, faixa de domínio, QGis®, escorregamento, ocupação.

Abstract: This study presents an analysis of how the wayside is being used, of a railway segment
belonging to the MRS Logística concessionaire, located in the city of Juiz de Fora – Minas Gerais
(MG). This track is determined by law as an unbuilt area and should only be used for railroad-
related structures such as stations, workshops and patios, as well as for future expansions. The
present study consists of evaluating a range of 15 meters for each side, counted from the axis of the
railroad, as prescribed by Law No. 10,932 of 2004, in an extension of 50 kilometers passing through
the county, covering several neighborhoods. From the use of the QGis ® Geoprocessing software,
maps and graphs were generated for each kilometer of pathway, from which data were obtained
referring to physical parameters, such as, slope, altimeter, areas with risk of slipping through of
Shalstab methodology, land use and occupation and real estate localization. After this information it
was possible to verify that there is, in a large part of this area belonging to the wayside, commercial
and residential buildings in addition to points susceptible to landslides. Therefore, it can be
concluded that such tracks have not been respected as preceded by the law, and that there are new
areas on the imminence of slips, which can bring serious damage to the buildings and people
located in this environment, as well as to the Concessionaire responsible for the railroad.

Keywords: railway, wayside, QGis®, landslide, occupation.

1. INTRODUÇÃO
A ferrovia é um elemento que interfere na paisagem e no funcionamento de uma cidade. Muitas
cidades no mundo e em especial no Brasil tiveram sua evolução de forma conjunta com a
implantação e desenvolvimento da linha férrea. Juiz de Fora é uma dessas cidades, que tem sua
história e seu crescimento intimamente ligado à ferrovia, por isso estudar esse elemento se faz tão
importante.
A via férrea que atravessa a cidade pertence à concessionária MRS Logística S.A, que opera trens
de carga em uma malha ferroviária de 1643 km nos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São
Paulo.
Apesar da ferrovia ter chegado primeiro na cidade, com o crescimento desta, houve uma ocupação
desordenada do entorno e consequentemente da sua faixa de domínio.
Esta faixa trata-se de um trecho de segurança da via férrea e por isso deve permanecer como uma
área não edificada. Em Juiz de Fora, há muitas edificações desrespeitando esses limites ficando
assim sujeitas aos riscos causados por essa ocupação indevida. Acidentes, ruídos, vibrações,
escorregamento de terra são alguns dos problemas para as construções que estão dentro desta faixa.
Ter o conhecimento sobre áreas e edificações que se encontram em risco é importante para que haja
conscientização em manter esses trechos desocupados, assim como elaborar projetos para um
melhor planejamento dessas áreas, visando à segurança da população da região.
A partir dessa justificativa foi feito um estudo, utilizando-se das ferramentas de Sensoriamento
Remoto e Geoprocessamento, que possibilitou a obtenção de imagens que mostram como estão
sendo utilizadas determinadas áreas no entorno da via férrea que passa por dentro da cidade de Juiz
de Fora.

2. OBJETIVOS
Analisar a faixa de domínio da ferrovia inserida na cidade de Juiz de Fora-MG, em uma extensão de
50 quilômetros, caracterizando esse trecho sobre seus aspectos físicos para fins de identificação de
áreas mais susceptíveis a escorregamentos e de uso e ocupação do solo.

3. REFERENCIAL TEÓRICO
3.1. Faixa de Domínio
Segundo FTC (2015), “A faixa de domínio da ferrovia é o terreno com pequena largura em relação
à extensão, necessária para a instalação das vias férreas e demais estruturas exigidas pela operação
como: Estações, Oficinas e Pátios, bem como às futuras expansões da ferrovia”.
O item III, do Art. 4, da Lei nº 6.766, de 1979, alterada pela Lei nº 10.932, de 2004 reza: “ao longo
das águas correntes e dormentes e das faixas de domínio público das rodovias e ferrovias, será
obrigatória a reserva de uma faixa não-edificável de 15 (quinze) metros de cada lado, salvo maiores
exigências da legislação específica”.
A invasão da faixa de domínio gera problemas tanto para a empresa ferroviária quanto para as
edificações e pessoas locadas dentro desse trecho.
De acordo com Soares (2016) alguns desses problemas são: risco de acidentes; prejuízo ao
desempenho operacional das ferrovias - em virtude da redução da velocidade média de 40 km/h
para 5 km/h nas áreas urbanas; roubos de carga e vandalismo e dificuldade de captação de cargas de
alto valor agregado.
3.2. Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento
O Sensoriamento Remoto é uma ferramenta que possibilita a obtenção de informações sobre um
objeto (alvo), área ou fenômeno na superfície terrestre por meio da análise de dados adquiridos por
um dispositivo, o sensor, que não está em contato direto com o alvo (LILLESAND & KIEFER,
1994).
Já o Geoprocessamento, tem como objetivo tornar as coordenadas conhecidas num dado sistema de
referência por meio da obtenção das coordenadas pertencentes ao conjunto no qual se pretende
georreferenciar, seja a partir de pontos da imagem ou da própria imagem a ser georreferenciada;
estes pontos, chamados pontos de controle, são locais que oferecem uma feição física perfeitamente
identificável, tais como intersecções de estradas e de rios, represas, pistas de aeroportos, edifícios
proeminentes, topos de montanha, entre outros (SILVA, 2011).
3.3. QGis®
O QGIS é um Sistema de Informação Geográfica (SIG) de Código Aberto iniciado em 2002 e
licenciado segundo a Licença Pública Geral GNU. O QGIS é um projeto oficial da Open Source
Geospatial Foundation (OSGeo). Funciona em Linux, Unix, Mac OSX, Windows e Android e
suporta inúmeros formatos de vetores, rasters e bases de dados e funcionalidades (QGIS, 2018).
3.4. Metodologia Shalstab
As análises de susceptibilidade a escorregamentos são referidas muitas vezes na literatura como
estudos de previsão de áreas instáveis devido aos escorregamentos (TOMINAGA, 2007). Com o
desenvolvimento dos SIGs houve um aumento na produção de estudos sobre metodologias de
avaliação de perigos e de previsão de áreas instáveis (VAN WESTEN, 2004 apud TOMINAGA,
2007).
A metodologia Shalstab combina um modelo hidrológico com o modelo de estabilidade do talude
infinito, definindo um padrão de equilíbrio baseado na saturação do solo e sua analogia com a área
de contribuição a montante e com a transmissividade do solo (DIETRICH et al, 1998).

4. METODOLOGIA

Utilizando-se do software de geoprocessamento e de domínio público QGis®, versão 2.18,


arquitetura 64 bits. foi feita a vetorização da área em estudo A partir da ferramenta Buffer, que cria
áreas ao redor de feições de ponto, linha ou área de entrada para uma distância especificada, foi
demarcado um trecho de 15,0 m para cada lado do eixo da ferrovia para delimitar sua faixa de
domínio. Foram gerados mapas baseados nos parâmetros declividade, altimetria, susceptibilidade ao
escorregamento do solo pela metodologia Shalstab, uso do solo e localização dos imóveis. Com as
informações obtidas nesses mapas foram construídas tabelas para organizar os dados e gráficos para
facilitar o entendimento dos resultados encontrados. O resumo da metodologia utilizada pode ser
visto através do fluxograma apresentado na Figura 1.

Vetorização da área de
estudo no QGis®

Mapa de altimetria
Utilização da
ferramenta Buffer
Mapa de declividade

Mapa de
susceptibilidade a
Geração dos mapas escorregamento

Mapa de uso do solo

Elaboração de tabelas
Mapa de localização dos
e gráficos
imóveis

Fig. 1 - Fluxograma da metodologia apresentada

5. DESENVOLVIMENTO
5.1. Estudo de Caso
O trecho de ferrovia em estudo está localizado na cidade de Juiz de Fora – MG, pertencente à
concessionária MRS Logística S.A. A MRS é uma operadora que administra uma malha ferroviária
de 1643 km (quilômetros) abrangendo os estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Foi
criada em 1996, quando o governo transferiu à iniciativa privada a gestão do sistema ferroviário
nacional. A ferrovia em questão é utilizada para transporte de cargas como minérios, produtos
siderúrgicos acabados, cimento, bauxita, produtos agrícolas, containers, entre outros (MRS
LOGÍSTICA, 2017).
O presente estudo aborda um trecho da via situado na região do município de Juiz de Fora, com 50
km de extensão (Km 251 ao Km 300) conforme Figura 2. As análises foram feitas a cada
quilômetro considerando uma faixa de 15,0 m para cada lado do eixo da ferrovia, totalizando 30,0
m de faixa de domínio.

Fig. 2 – Imagem do trecho em estudo


5.2. Caracterização dos mapas
Os mapas foram desenvolvidos seguindo o padrão detalhado no fluxograma da Figura 3, sendo os
de declividade e susceptibilidade obtidos por meio do mapa de altimetria e este por meio do projeto
Aster/GDEM. Já os mapas de uso do solo e de localização de imóveis foram obtidos utilizando as
imagens do satélite Quick Bird.

Altimetria (MDE) → Aster/GDEM

Declividade Susceptibilidade (Shalstab)

Imagens de Satélite
Quick Bird

Uso do solo Localização dos Imóveis

Fig. 3 - Fluxogramas do desenvolvimento dos mapas

6. RESULTADOS
Será apresentado um detalhe dos mapas gerados para cada parâmetro, destacando de uma forma
geral uma mesma área para todos. Os gráficos obtidos a partir dos mapas serão mostrados e
discutidos em sequência, explicando as classificações adotadas.

6.1. Mapas Gerados


O trecho apresentado nesse estudo está evidenciado nos mapas a seguir (quilômetro 255 ao 265)
localizados na região que envolve os bairros Graminha, Santo Antônio e do Retiro, zonas Sul e
Sudeste do município de Juiz de Fora. Os quilômetros variam de acordo com o parâmetro analisado,
em trechos que ilustram uma maior quantidade de diferentes condições. Como por exemplo, no
detalhe apresentado na Figura 4, foi interessante detalhar os quilômetros 264 e 265 por possuírem
uma altitude mais elevada, enquanto nas Figuras 7 e 8 foi dado um enfoque nos quilômetros com
maior número de edificações.
No mapa de altimetria da Figura 4, foram divididos intervalos de 50 em 50 metros, em uma altitude
de 500 a 800 metros. A Figura 5 apresenta o mapa de declividade, agrupado de 15 em 15 graus. O
mapa de susceptibilidade a escorregamento do solo por meio da metodologia Shalstab (Figura 6) foi
gerado com base na classificação de graus de risco, desde risco baixo ao risco muito alto. Na Figura
7 tem-se o mapa de uso do solo com as cores cinza, verde claro e verde escuro correspondendo a
áreas edificadas, de pasto e de mata, respectivamente. Por fim, o mapa de localização dos imóveis
está em detalhamento na Figura 8 representando cada imóvel presente nesse trecho.
Fig. 4 - Detalhamento da altimetria Fig. 5 - Detalhamento da declividade

Fig. 6 - Detalhamento da susceptibilidade a Fig. 7 - Detalhamento do uso do solo


escorregamento do solo
Fig. 8 - Detalhamento da localização dos imóveis
6.2. Gráficos

6.2.1 Gráfico da altimetria


A Figura 9 mostra o gráfico da altimetria com a equidistância vertical agrupada em 50,0 m assim
como o mapa para facilitar a visualização da distribuição altimétrica na faixa de domínio da ferrovia
na cidade de Juiz de Fora.

Fig. 9 - Gráfico da altimetria


Para classificar a altimetria considerou para valores de 500 a 600 m altitude baixa, média para 600 a
700 m e alta acima de 700 m.
A partir deste gráfico observa-se que a altitude varia de 500 a 800 m ao longo dos quilômetros 252
a 300 representando uma declividade média de 0,6%, sendo compatível com a utilização ferroviária.
Verifica-se portanto, que a ferrovia e sua faixa de domínio estão em altitude média, já que a maioria
da área edificada está entre 650 e 700 m.
6.2.2 Gráfico da declividade
A declividade nesse estudo será classificada de acordo com seu grau de inclinação considerando um
terreno com até 15°, plano a suavemente ondulado; até 30° forte ondulado; até 45° muito forte
ondulado e acima de 45° montanhoso. Os 50 km da ferrovia foram divididos de 10 em 10 km e por
meio do mapa de declividade (Figura 5) foi feita a análise desse terreno, conforme mostrado na
Figura 10.

Fig. 10 - Gráfico da declividade


Observa-se que o terreno analisado é, em sua maioria, plano a suavemente ondulado (0 a 15º) com
pequenas porcentagens de área montanhosa (maior que 45º).
6.2.3 Gráfico da susceptibilidade a escorregamento do solo por Shalstab
Para classificar a área em estudo quanto ao grau de risco a escorregamentos dividiu-se em quatro
categorias: baixo, médio, alto e muito alto. Como para essa análise é mais interessante as áreas com
risco alto e muito alto, o gráfico foi gerado somente para essas duas classificações.
Os 50,0 km da ferrovia também foram divididos nesse caso de 10 em 10 km, como mostrado na
Figura 11.
Fig. 11 - Gráfico de susceptibilidade a escorregamento
É possível verificar que do quilômetro 251 a 270 há mais de 40% da área da faixa de domínio com
susceptibilidades a escorregamento podendo levar a interrupções do tráfego ferroviário reafirmando
a necessidade de políticas públicas de proibição da ocupação de edificações na referida faixa. Esse
trecho corresponde aos bairros Retiro, Santo Antônio e adjacências, onde notoriamente ocorrem
expressivos atendimentos de ocorrências de escorregamento de solo. Entre os quilômetros 281 a
290 encontra-se uma faixa de transição entre o perímetro urbano e a zona rural, com significante
ocupação.
Observa-se também, que os quilômetros que possuem maior porcentagem de área montanhosa (Km
251 a Km 260) são também os que apresentam alto risco de escorregamento, o que é de se esperar
face a influência da declividade neste tipo de sinistro geotécnico.
6.2.4 Gráfico do uso do solo
A classificação do uso do solo, conforme citado anteriormente, foi feita com base no tipo de
vegetação encontrada na faixa de domínio, sendo a vegetação rasteira classificada como pasto e a
vegetação alta como mata. O restante da área foi classificado como área edificada.
A divisão de quilômetros foi feita de modo a fornecer dados relevantes, focando assim nos
quilômetros que possuem uma grande parte de área edificada.
A Figura 12 mostra que a faixa de domínio em toda a sua extensão no município de Juiz de Fora se
encontra fortemente ocupada por edificações sendo alguma delas distantes alguns centímetros da
projeção da composição ferroviária.
Fig. 12 - Gráfico do uso do solo
6.2.5 Gráfico de contagem de imóveis
Foram marcados os imóveis encontrados dentro da faixa de domínio de 30,0 m por meio do uso de
imagens aéreas e no gráfico apresentado na Figura 13 foram agrupados os quilômetros mais críticos
em termos de ocupação e contados os imóveis presentes na área.

Fig. 13 - Gráfico de contagem de imóveis


Os quilômetros com maior número de edificações (Km 264 a 267) estão na segunda faixa de
quilômetros com maior risco de escorregamento (40% de sua cobertura sob risco muito alto e cerca
de 10% sob risco alto).
É possível perceber que os quilômetros 264 a 273 possuem um número considerável de edificações
de uso residencial e comercial, ocupando a faixa de domínio.
6.3. Detalhe de uma área da ferrovia com risco muito alto a escorregamentos
O quilômetro 262 da ferrovia se encontra dentro da área com risco alto a muito alto como mostrado
pelo gráfico da Figura 11 e é um trecho onde ocorreu escorregamento de solo, ocasionando um
acidente junto da ferrovia.
Na Figura 14 foi sobreposto a análise de susceptibilidade a escorregamento do solo pela
metodologia Shalstab no local onde ocorreu escorregamento. Nas áreas em vermelho percebem-se
os pontos de risco muito alto. Próximo à cicatriz causada pelo escorregamento, está a região onde o
solo escorregou e invadiu a ferrovia. Existem outros pontos de risco muito alto nesse trecho,
evidenciando que ainda há a possibilidade de ocorrência de novos escorregamentos de solo.
Apesar dessa área não ser edificada, demonstra o problema para edificações que são construídas
desrespeitando o limite da faixa de domínio. Devido à maior susceptibilidade a escorregamento do
solo desses locais a presença de edificações agrava o problema e deixa os usuários mais expostos
aos riscos.

Fig. 14 - Susceptibilidade a escorregamento Shalstab na área onde ocorreu o acidente.

7. CONCLUSÕES
Os parâmetros declividade, altimetria e susceptibilidade a escorregamento do solo mostraram
informações físicas da área delimitada pela faixa de domínio da ferrovia em Juiz de Fora – MG
enquanto os parâmetros de uso do solo e localização dos imóveis mostraram os riscos presentes em
alguns trechos.
É possível inferir que, apesar da maioria das áreas serem de baixo risco a susceptibilidade de
escorregamentos, existem algumas delas apresentando um alto risco, sendo, portanto necessário
acompanhá-las, pois, de acordo com o mapa de uso do solo, há presenças de edificações bem
próximas a elas.
Percebe-se que ao longo da faixa de domínio muitos trechos estão ocupados, ou seja, em uma
extensa área definida por lei como não edificável, é possível observar existência de edificações
comerciais e residenciais.
A análise realizada nesse estudo evidencia a necessidade de proteger e respeitar a área de segurança
da faixa de domínio mostrando os riscos existentes em sua ocupação, destacando áreas de grande
invasão e também de pontos de alto risco de susceptibilidade a escorregamento. Mesmo que não
existam edificações em alguns desses trechos existe um risco grande de novos escorregamentos, que
podem levar a acidentes.
É importante que essas áreas sejam monitoradas para garantia de segurança da população local e
para minimizar os prejuízos para a via.
Conclui-se, portanto, por meio dessas análises, que as políticas públicas devem atuar dentro dos
preceitos legais para coibirem as ocupações nestes locais e não somente por um atendimento legal
de não ocupação, mas por serem áreas com possibilidade de escorregamento podendo contribuir
para agravar esta instabilidade.

AGRADECIMENTOS
Obrigado a todos que contribuíram para a realização desse estudo e posterior elaboração desse
artigo.

REFERÊNCIAS
[1] BRASIL. Lei nº 6766 de 19 de dezembro de 1979. Parcelamento do Solo Urbano e Outras Providências.
[2] DIETRICH W.; MONTGOMERY D. R. Shalstab: a digital terrain model for mapping shallow landslide potential.
National Council of the Paper Industry for Air and Stream Improvement (NCASI) Technical Report: 26 p., 1998.
[3] FERROVIA TEREZA CRISTINA (FTC). Faixa de Domínio Legislação e Normas: Autorização para Obras na
Faixa de Domínio da Ferrovia. Tubarão/SC, 2015. Disponível em: <http://ftc.com.br/faixa-de-dominio> Acesso em: 15
de novembro de 2017.
[4] FERROVIA TEREZA CRISTINA (FTC). Faixa de Domínio Legislação e Normas: Autorização para Obras na
Faixa de Domínio da Ferrovia. Tubarão/SC, 2015. Disponível em: <http://ftc.com.br/faixa-de-dominio> Acesso em: 15
de novembro de 2017.
[5] LILLESAND, T.M. and KIEFER, R.W. Remote sensing and image interpretation, 3rd Ed., John Wiley and Sons,
Inc.: Toronto. 1994.
[6] MGTV PANORAMA. Deslizamento de terra causa acidente com trem em Juiz de Fora. Publicado em: 15/01/2011.
Disponível em: < http://.ceivap. org.br / downloads2011/eventos/17-01-11%20Deslizamento.pdf > Acesso em: 15
março 2018.
[7] MRS LOGÍSTICA. Quem somos. Disponível em: < https://www.com.br /empresa / quem- somos/>. Acesso em: 27
abr 2017.
[8] QGIS. Sobre o QGis. Disponível em: < https://www.qgis.org /pt_BR /site /about /índex .html > Acesso em: 25 abril
2018.
[9] SILVA, J. X. da; ZAIDAN, R. T. Geoprocessamento & Meio Ambiente. Ed Bertrand Brasil LTDA, 2011. 328p.
[10] SOARES, A. Produto 8: Parâmetros Indicadores de Intervenções em Áreas Urbanas. Diretoria de Infra Estrutura
Rodoviária (DNIT). Brasília/DF, 2016, 61p. Disponível em: <http://www.dnit.gov.br/ferrovias/instrucoes-e-
procedimentos/ parametros-indicadores-de-intervencoes-em-areas-urbanas-pn/parametros-indicadores-de-intervencoes-
em-areas-urbanas.pdf/view>. Acesso em: 15 de novembro de 2017.
[11] TOMINAGA, L. K. ; Avaliação de metodologias de análise de risco a escorregamentos: Aplicação de um
ensaio em Ubatuba, SP. Tese de doutorado. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2007, 220p.
 

ARGAMASSAS MISTAS PRODUZIDAS COM


ESTÉRIL DE MINERAÇÃO DE QUARTZITO

Mixed mortars produced with sterile of quartzite mining

Diego Haltiery dos SANTOS1, Gabriela Andrade FERREIRA1, Aline Santana FIGUEIREDO1,
Marina Altoé CAETANO1, Ricardo André Fiorotti PEIXOTO1

¹ Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil, alinesantanafigueiredo@gmail.com

Resumo: O setor da construção civil é responsável por consumir uma quantidade elevada de recursos
naturais não renováveis. O crescimento acelerado desse mercado impacta diretamente no aumento da
demanda desses recursos, bem como no aumento de seus custos e na redução de suas reservas na
natureza. Dessa necessidade, ocorre cada vez mais a busca por melhores soluções ambientais e sociais,
sendo que a aplicação de resíduos de outras indústrias se torna uma opção desejável. Deste modo,
este trabalho pretende apresentar uma alternativa para a utilização do estéril da mineração de quartzito
na região central de Minas Gerais para produção de argamassas de assentamento e revestimento de
alvenarias. A adoção deste material como agregado miúdo em substituição total ao agregado natural
poderá não só diminuir o impacto ambiental das minerações como também possibilitar a valorização
deste material para uso na construção civil. Neste contexto, é necessário verificar a viabilidade técnica
dessas argamassas propostas por meio da realização de ensaios laboratoriais procedidos de acordo
com normatizações brasileiras e internacionais. Para caracterização do estéril de quartzito friável
foram realizadas análises físicas, químicas, microestruturais e ambientais. Os traços utilizados foram
1:1:6 (cimento:cal:agregado miúdo) e 1:2:9 (cimento:cal:agregado miúdo) para a produção de
argamassas de revestimento e assentamento, respectivamente, obedecendo sempre uma proporção de
1:3 (aglomerantes: agregados) e utilizando como agregados uma areia natural de rio e duas amostras
de quartzito friável provenientes de jazidas distintas da mesma mineradora. Em sequência, as
argamassas foram submetidas a ensaios nos estados fresco e endurecido para classificação de suas
propriedades, comparando os resultados obtidos com os diferentes tipos de agregados. 

Palavras-chave: Argamassas, construção civil, quartzito.

Abstract: The construction industry is responsible for consuming a large amount of non-renewable
natural resources. The accelerated growth of this market directly impacts on the increase of the
demand of these resources, as well as on the increase of its costs and the reduction of its reserves in
nature. From this need, there is an increasing search for better environmental and social solutions,
and the application of waste from other industries becomes a desirable option. In this way, this work
intends to present an alternative for the use of the barren of the quartzite mining in the central region
of Minas Gerais for the production of mortars for laying and masonry coating. The adoption of this
material as fine aggregate in total substitution to the natural aggregate may not only reduce the
environmental impact of mining but also allow the valuation of this material for use in civil
construction. In this context, it is necessary to verify the technical feasibility of these proposed
mortars by laboratory tests carried out in accordance with Brazilian and international regulations. To
characterize the friable quartzite sterile, were performed physical, chemical, microstructural and

 
 

environmental analysis. The admixtures used were 1:1:6 (cement: lime: fine aggregate) and 1:2:9
(cement: lime: fine aggregate) for the production of coating and laying mortars respectively, always
following a ratio of 1:3 (binder: aggregates) and using as aggregates a natural river sand and two
samples of friable quartzite from different deposits of the same miner. Then, the mortars were
submitted to tests in the fresh and hardened states to classify their properties, comparing the results
obtained with the different types of aggregates. 

Keywords: Mortars, civil construction, quartzite.

1. INTRODUÇÃO
Os agregados normalmente utilizados para produção de argamassas são areias de sílica naturais, ex-
traídas de leitos de rios, encostas ou resultantes de subprodutos da exploração e britagem de rochas.
A construção civil é um dos setores que mais causam impactos ambientais, tanto na retirada de recur-
sos naturais para a sua utilização na construção quanto no descarte de resíduos de obras. De acordo
com o Anuário ANEPAC 2012 [1], a construção civil é responsável pelo consumo entre 15% e 50%
dos recursos naturais extraídos, 40% da energia consumida e 16% da água potável.
Muitos resíduos têm sido estudados com o intuito de contribuir com a redução dos impactos ambien-
tais associados à obtenção de agregados naturais para produção de matrizes cimentícias, como arga-
massas e concretos. Podem ser citados autores que utilizaram rejeito de barragem de minério de ferro
como matéria prima para infraestrutura rodoviária [2]; que substituíram agregados naturais por rejeito
de minério de ferro para produção de argamassas [3]; que estudaram o comportamento de blocos e
prismas produzidos com escória de aciaria elétrica em substituição aos agregados naturais através de
modelagem[4]; que estudaram o uso de manta cerâmica para fabricação de argamassas [5]; que utili-
zaram escória de aciaria para fabricação de argamassas[6] e que estudaram a produção de concretos
utilizando escória de aciaria como agregados [7].
O uso de resíduos, além das vantagens de sustentabilidade, pode também proporcionar diminuição
energética da exploração, redução dos custos com transporte e custos de manutenção dos resíduos
configurando-se em uma oportunidade técnica (quando garantidas as propriedades de interesse), am-
biental e econômica. Embora o quartzito friável não seja um resíduo, pois não sofreu nenhum pro-
cesso industrial, este material apresenta potencialidade para substituir os agregados naturais nas ati-
vidades da construção civil, promovendo os mesmos benefícios do uso dos resíduos sólidos.
Na região metropolitana de Belo Horizonte está localizada uma jazida de quartzito friável que apre-
senta potencial para abastecer toda a região. Este material, se empregado como agregado miúdo, que
poderia substituir as areias convencionalmente usadas nas construções, que estão cada vez mais es-
cassas devido a elevada extração e por se tratar de um recurso não renovável. O quartzito friável é
um material que apresenta, por definição, elevado teor de sílica na forma de quartzo, assim como a
areia de rio; normalmente utilizada para produção de argamassas.

2. METODOLOGIA E RESULTADOS

2.1. Materiais e métodos


Como substituição da areia foi utilizado quartzito friável. A Tabela 1 mostra a nomenclatura adotada
para o material.

 
 

Tabela 1 - Nomenclatura adotada para quartzito friável


Nomenclatura Descrição
Q1 Quartzito friável proveniente da jazida 1
Q2 Quartzito friável proveniente da jazida 2
Q1B; Q2B Quartzito friável no estado bruto
Q1A; Q2A Quartzito friável utilizado com areia

Para caracterização física dos materiais a serem utilizados para a produção das argamassas foram
realizados ensaios de composição granulométrica de acordo com a NBR NM 248 [8], teor de material
pulverulento em atendimento aos requisitos da NBR NM 46 [9] e teor de impurezas orgânica em
atendimento aos requisitos da NBR NM 49 [10].
Para argamassas de revestimento e assentamento, respectivamente, adotou-se os traços de dosagem
1:1:6 (cimento: cal: agregado) e 1:2:9 (cimento: cal: agregado), em volume, numa proporção aglo-
merante: agregado de 1:3. Foram utilizados cimento CPII-F 32 e cal hidratada CHI como aglomeran-
tes para todas as dosagens e como agregados a areia natural (AN), produzindo traços de referência, e
a de quartzito proveniente das duas jazidas (Q1 e Q2). O traço da dosagem das argamassas, bem como
as nomenclaturas adotadas, encontra-se detalhado na Tabela 2, apresentada a seguir.
Tabela 2 - Dosagem das argamassas
Tipo Sigla Traço Materiais
TNR 1:1:6 cimento : cal : areia natural
Argamassa de
TQ1R 1:1:6 cimento : cal : areia de quartzito 1
revestimento
TQ2R 1:1:6 cimento : cal : areia de quartzito 2
TNA 1:2:9 cimento : cal : areia natural
Argamassa de
TQ1A 1:2:9 cimento : cal : areia de quartzito 1
assentamento
TQ2A 1:2:9 cimento : cal : areia de quartzito 2

As argamassas foram produzidas utilizando-se misturador mecânico com movimentos planetários,


sendo os materiais sólidos (cimento, cal e agregados miúdos) dosados em massa e a água dosada em
volume para produção das argamassas em acordo com os procedimentos prescritos na NBR 13276
[11]. Estas foram colocadas nos moldes em duas camadas, sendo cada camada golpeada 30 vezes em
um intervalo de tempo de 30 segundos com auxílio de uma mesa de fluxo e depois curadas em uma
câmara úmida portátil com controle de umidade e temperatura, sendo retiradas dos moldes após um
período de 48 horas e mantidas na câmara até a idade de realização dos ensaios.
Para a caracterização das argamassas no seu estado fresco, foram procedidos os ensaios de índice de
consistência [11], retenção de água [12], densidade de massa no estado fresco [13]. Para seu estado
endurecido utilizou-se dos ensaios absorção de água por capilaridade [14], densidade de massa no
estado endurecida [15], resistência à tração na flexão e resistência à compressão [16], expansibilidade
[17].

 
 

As argamassas quando endurecidas foram submetidas a ensaios para avaliação de suas propriedades
químicas. Desta forma, as amostras foram comuinuídas em moinho de alta energia que contém um
jarro e pequenas esferas de aço, sendo então procedidos os ensaios de fluorescência de raios X (FRX)
e difração de raios X (DRX).
As amostras também foram caracterizadas no quesito ambiental. O procedimento para obtenção de
extrato lixiviado [18], visa classificar o resíduo sólido como classe I - perigoso ou classe II - não
perigoso em função da sua capacidade de transferir suas substâncias orgânicas e inorgânicas no ele-
mento extrator por meio de dissolução. A metodologia utilizada para obtenção de extrato solubilizado,
[19], visa diferenciar o resíduo sólido como classe II A - não inertes ou classe II B - inertes. A carac-
terização morfológica foi realizada por meio de microscopia óptica com ampliação de até 450 vezes.

2.2. Resultados e análises


As amostras de quartzito friável quando no estado bruto, Q1B e Q2B, apresentam distribuição granu-
lométrica fora dos limites prescritos. O agregado natural (AN) apresentou distribuição granulométrica
dentro dos limites normativos enquanto os agregados de quartzito friável processados segundo pro-
tocolo estabelecido (Q1A e Q2A) ficaram situados dentro dos limites ótimos. Estes resultados suge-
rem a necessidade de processamento adequado de rejeitos para obtenção de agregados aplicáveis em
argamassas. Pelo método também se obteve o módulo de finura (MF) e a dimensão máxima caracte-
rística (DMC), a Tabela 3 apresenta os resultados encontrados:
Tabela 3 - Módulo de finura e a dimensão máxima característica dos materiais
Q1B Q2B AN Q1A Q2A
MF 0,99 1,2 2,45 2,2 2,3
DMC (mm) 2,4 2,4 2,4 2,4 2,4

Após aplicados os protocolos de processamento para obtenção dos agregados miúdos, a dimensão
máxima característica dos materiais foi de 2,4 mm, logo podemos os associar a "areia média".
Quanto ao teor de material pulverulento o quartzito apresentou valores excessivos de materiais finos.
Estes valores reduzem substancialmente de modo que o material Q1A apresenta o menor teor de
materiais nos (1,24%), seguido do Q2A (4,20%) e AN (5,12%). Uma grande quantidade material
pulverulento pode prejudicar a hidratação do cimento pois, devido a finura das partículas e sua ele-
vada área superficial, demandam mais água de amassamento e diminuindo a resistência [20].
A análise qualitativa para presença de matérias orgânicas nos agregados miúdos indicou para o agre-
gado natural apresentou pequena quantidade de impureza enquanto as amostras provenientes do quar-
tzito friável praticamente não indicaram presença de impurezas, portanto não apresentam quantidade
suficiente para provocar patologias na argamassa.
O teor de água/aglomerante (a/a) para produção das argamassas de assentamento e revestimento foi
dosado para obtenção de um índice de consistência de aproximadamente 260,0 mm, sendo este um
valor de referência recomendado por norma, e desenvolvidos com o agregado natural e com os agre-
gados de quartzito friável. Os fatores água/aglomerante foram 0,72 para TNR, 0,78 para TQ1R e
TQ2R, 0,70 para TNA e 0,80 para TQ1A e TQ2A. A quantidade de água necessária para produção
das argamassas foram idênticas para os agregados de quartzito que, comparativamente, necessitam

 
 

de mais água que o agregado AN. Estes resultados sugerem um maior teor de finos nos agregados
Q1A e Q2A.
O índice de consistência obtido com cada uma das argamassas foram 262,2 mm para TNR, 261,0 mm
para TQ1R, 257,0 mm para TQ2R, 260,0 mm para TNA, 262,9 mm para TQ1A e 258,7 mm para
TQ2A. Esse resultado sugere que o aumento no teor de cal, nas argamassas de assentamento, pode
ter contribuído para a formação de argamassas mais plásticas. Embora a proporção de aglomeran-
tes/agregados permaneça 1:3, em ambas as argamassas, a incorporação de maior teor de cal aumenta
a quantidade de partículas mais nas na argamassa, que irão demandar maior quantidade de água, e
também facilitar a sua fluidez.
A retenção de água nas argamassas foi de 91,95% para TNR, 90,65% para TQ1R, 93,44% para TQ2R,
93,24% para TNA, 91,47% para TQ1A e 93,51% para TQ2A.Todas as argamassas receberam a
mesma classificação, U5, conforme os limites estabelecidos na NBR 13281 [21] exceto a argamassa
TQ1R que foi classificada como U4. Estes resultados indicam alta capacidade de retenção de água
das argamassas. Como esperado o aumento no teor de cal como aglomerante permitiu maior retenção
de água nas argamassas de assentamento. Agregados que apresentam maiores teores de partículas
finas podem ser alternativas para aumentar a retenção de água nas argamassas pois elas auxiliam no
confinamento ou aprisionamento do líquido [22]. Comparando os materiais, as argamassas de assen-
tamento e de revestimento apresentaram maior retenção de água para os traços produzidos com o
agregado Q2A, seguido do agregado AN sendo o agregado Q1A o que apresentou os menores valores.
Este resultado condizente com os valores obtidos para o ensaio de teor de material pulverulento.
O resultado para o ensaio de densidade de massa no estado fresco foi 1546,9 kg/m³ para TNR, 1532,1
kg/cm³ para TQ1R, 1576,9 kg/m³ para TQ2R, 1438,6 kg/m³ para TNA, 1555,4 kg/m³ para TQ1A,
1537,3 kg/m³ para TQ2A. As argamassas de assentamento e revestimento produzidas com o agregado
AN e com os agregados Q1A e Q2A apresentaram valores próximos em torno de 1500 kg/m³ exceto
para o traço TNA cujo resultado foi, aproximadamente, 1440 kg/m³. O aumento na relação cal/ci-
mento diminui a densidade da argamassa e aumenta o consumo de água [23]. Martins [24] apresenta
resultados para a densidade de massa de argamassas dosadas em volume com proporção de 1:1:6
como sendo, aproximadamente, 1950 kg/m³.
A Figura 1, apresentada a seguir, mostra os resultados para absorção de água por capilaridade dos
corpos de prova nos tempos de 10 e 90 minutos. A Figura 2 mostra o coeficiente de capilaridade das
argamassas.

Figura 1 - absorção de água nos corpos de prova no tempo de 10 e 90 minutos

 
 

Figura 2 - coeficiente de capilaridade das argamassas


As argamassas de assentamento, devido ao maior teor de cal, apresentam maiores teores de absorção
e também coeficiente de capilaridade. De acordo com os resultados verificou-se que as argamassas
produzidas como os agregados de quartzito friável absorvem mais água por capilaridade que os traços
naturais. Com exceção da argamassa de revestimento TNR, que foi classificada como C4, as demais
argamassas foram classificadas como C6, de acordo com a NBR 13281 [21]. Este resultado indica
que as argamassas produzidas são muito absortivas.
Aa densidades de massa no estado endurecido foram 1340,9 kg/m³ para TNR, 1377,2 kg/m³ para
TQ1R, 1350,2 kg/m³ para TQ2R, 1330,0 kg/m³ para TNA, 1338,2 kg/m³ para TQ1A e 1329,5 kg/m³
para TQ2A. Segundo Freitas [25] o valor da densidade de massa da argamassa é um indicativo da
compacidade resultante da proporção de mistura agregado/aglomerante e da distribuição granulomé-
trica do conjunto. O uso de cal na produção de argamassas mistas reduz a densidade das argamassas
em função do aumento de vazios pela incorporação de ar. Desta forma, como esperado, as argamassas
de assentamento apresentaram menor densidade no estado endurecido em relação às argamassas de
revestimento. As argamassas produzidas com o agregado Q1A apresentaram maior densidade no es-
tado endurecido que as argamassas produzidas com Q2A e AN, onde os resultados foram próximos.
A resistência à tração na flexão das argamassas é apresentada na Figura 3.

Figura 3 - Resistência à tração na flexão


A incorporação de cal para produção de argamassas mistas reduz a resistência mecânica. Aos 56 dias
a diferença na resistência à tração na flexão das argamassas de assentamento para a de revestimento
foram de, aproximadamente, 207,3%; 183,6% e 289,6%, para as argamassas produzidas com os agre-
gados AN, Q1A e Q2A, respectivamente. As argamassas de assentamento apresentaram resistência
inferior a 0,5 MPa aos 56 dias sendo classificadas como R1 enquanto as argamassas de revestimento
obtiveram resistência inferior a 1,0 MPa sendo, também, classificadas como R1 de acordo com a
NBR 13281 [21]. As argamassas produzidas com quartzito friável desenvolveram maior resistência à
tração na flexão em todas as idades analisadas sendo o TQ2R o mais resistente para as argamassas de

 
 

revestimento e o TQ1A para as argamassas de assentamento. Este resultado pode estar associado ao
maior teor de partículas nas que preencheram os poros produzindo uma matriz mais resistente. O
valor encontrado para resistência a compressão das argamassas é apresentado na Figura 4, a seguir.

Figura 4 - Resistência à compressão


A incorporação de cal reduz a resistência mecânica tanto na tração quanto na compressão. As arga-
massas produzidas com quartzito friável desenvolveram maior resistência à compressão em todas as
idades analisadas sendo o TQ2R o mais resistente para as argamassas de revestimento e o TQ1A para
as argamassas de assentamento. Este resultado pode estar associado ao maior teor de partículas nas
que preencheram os poros produzindo uma matriz mais resistente.
Devido aos teores de potássio encontrados nas FRX foi realizado o ensaio de expansibilidade por
método acelerado. Analisando o conjunto de barras produzidas com cada agregado houve uma ex-
pansibilidade média em torno de 0,08% e dentro do tratamento estatístico podemos afirmar que as
barras apresentam mesma expansibilidade sendo ela não deletéria, pois está abaixo do limite de 0,19%
prescrito na NBR 15577-1 [26], e os agregados podem ser classificados como potencialmente inócuos.
As expansões observadas para as todas as argamassas foram inferiores a 0,09% ao final de 30 dias de
exposição à solução de NaOH e nenhuma manifestação patológica. Estes resultados indicam que os
agregados são inertes e que os potássios encontrados nos agregados de quartzito friável estão em uma
configuração mineralógica estável e, portanto, não induzem a processos deletérios. A Tabela 4, apre-
sentada a seguir, mostra os elementos encontrados na fluorescência de raios X.
Tabela 4 - Fluorescência de raios X das amostras
Elementos AN Q1B Q2B Q1A Q2A
SiO2 51,87% 93,38% 83,05% 90,51% 73,80%
K 2O 1,67% 4,89% 14,30% 50,64% 16,07%
Al2O3 29,77% - - - -
SO3 1,10% - - 3,19% 7,56%
Fe2O3 13,18% 1,20% 2,01% 0,36% 0,71%

O agregado natural e composto basicamente por sílica (SiO2), alumina (Al2O3), óxido de ferro (Fe2O3)
e óxido de potássio (K2O) sendo este último em menor quantidade. As amostras de quartzito friável
apresentaram predominância por sílica e óxido de potássio. Quando no estado bruto a amostra Q1B
tem aproximadamente 93,4% de SiO2 e 4,9% de K2O, enquanto a amostra Q2B apresenta teores de

 
 

83,0% e 14,30% para os mesmos elementos. Percebe-se que qualquer das frações, no estado bruto ou
após o peneiramento, os agregados de quartzito apresentam teores de sílica superiores ao agregado
natural, sendo o agregado Q1A com maior teor de sílica e com considerável teor de óxido de potássio
enquanto o agregado Q2 eleva o teor de óxido de potássio reduzindo a sílica. Na difração de raios X
foram encontrados os resultados mostrados na Figura 5, apresentada a seguir.

Figura 5 - Difração de raios X dos agregados de quartzito friável. a) Q1B, b) Q2B


Nas amostras de quartzito friável, a presença do quartzo e da caulinita e que o potássio poderia estar
associado a alumina e ao enxofre, sempre na presença de sílica, sob as prováveis formas: muscovita,
ortoclásio, potássico e kasilita. O refinamento das análises por meio de Rietveld, utilizando a adição
de fluorita em teor de 10% em massa, permitiu realizar uma análise quantitativa dos minerais presen-
tes nas amostras. O agregado Q1 apresentou 85,0% de quartzo, 3,9% de caulinita e 4,7% de muscovita
enquanto o agregado Q2 obteve 65,9% para o quartzo, 5,4% para a caulinita e 23,8% para a muscovita.
Esta análise concorda com os resultados obtidos para a fluorescência de raios onde foi identificado
maior presença de sílica no agregado Q1 e maiores teores de potássio e alumínio no agregado Q2.
Na análise morfológica dos agregados percebe-se que os provenientes do quartzito friável são mais
homogêneos (especialmente o Q2A). Estes resultados foram observados também na FRX onde ha-
viam três elementos principais para os agregados de quartzito friável: a sílica, o óxido de potássio
(associado a outros elementos como a alumina) e óxido sulfúrico. Sabe-se que as areias de rio devido
ao processo geológico de sua formação passaram por diversos graus de intemperismo pelos rios e
ventos que conferem aos seus grãos formatos mais esféricos. Os agregados de quartzito (Q1A e Q2A)
também apresentam forma mais volumétrica e seguem raciocínio análogo visto que são materiais
intemperizados.
Quanto a análise morfológica das argamassas a matriz da argamassa de assentamento TQ1A apresen-
tou poros menores que as demais. Possivelmente devido ao teor de materiais finos que agiram como
filler preenchendo os poros. Este fato pode refletir em um ganho de resistência mecânica na tração e
compressão (matriz mais rígida, menor retenção de água (menor porosidade), maior densidade de
massa no estado endurecido (menor porosidade) e maior absorção de água (poros capilares menores).
As argamassas TNA e TQ2A apresentaram matrizes e porosidades similares. A matriz das argamassas
de revestimento TQ1R e TQ2R são menos porosas que a TNR, e idênticas entre si. Possivelmente
devido ao teor de materiais nos que agiram como filler preenchendo os poros.

 
 

No quesito de análise ambiental as argamassas TQ1R e TQ2R foram classificadas como resíduo
classe IIB - não perigoso e inerte. O resultado indica a presença de teores de potássio e alumínio em
limites superiores aos normativos. Da mesma forma espera-se que as argamassas de assentamento
apresentem mesma a classificação obtida para as argamassas de revestimento. A argamassa de reves-
timento produzida com o agregado AN obteve mesma classificação (resíduo classe IIB).

3. CONCLUSÃO
Os agregados de quartzito friável, quando no estado bruto, não apresenta características desejáveis
para aplicação como agregados na produção de argamassas com excesso de partículas nas (menores
que 0,075 mm), o que demonstra a necessidade de um processo de beneficiamento antes de sua apli-
cação como agregado.
Os materiais AN, Q1A e Q2A apresentam módulo de finura dentro dos limites ótimos (2,20 ≤ MF ≤
2,90) e mesma dimensão máxima característica (DMC = 2,4mm). O AN apresentou distribuição den-
tro faixa que descreve o limite utilizável e os agregados Q1A e Q2A dentro da faixa que descrevem
o limite ótimo. Quanto ao teor de material pulverulento, após o processo de beneficiamento, os agre-
gados Q1A e Q2A apresentaram teores inferiores aqueles obtidos para AN e dentro dos limites nor-
mativos (inferior a 5%). Os agregados AN, Q1A e Q2A não apresentaram impurezas orgânicas em
quantidade suficientes significativas.
As argamassas produzidas com AN, Q1A e Q2a apresentam mesma trabalhabilidade e um mesmo
consumo de água para fluidez determinada independente do agregado utilizado. O aumento no teor
de cal como aglomerante permitiu maior retenção de água nas argamassas de assentamento, classifi-
cando-as como argamassas como alto potencial de retenção de água (maior de 90%). A densidade de
massa obtida para as argamassas de assentamento e revestimento, no estado fresco, variaram de
1438,6 kg/m³ a 1576,9 kg/m³ que as classifica como argamassas do tipo 3.
A densidade de massa, no estado endurecido, encontra-se entre 1329,5 kg/m³ a 1377,2 kg/m³ o que
permite classificá-las como argamassas do tipo 3. Todas as argamassas em relação ao coeficiente de
capilaridade podem ser classificadas como do tipo 6, exceto a argamassa TNR que é classificada
como tipo 4. O resultado obtido para a resistência à tração na flexão, para todos os tratamentos, foi
inferior a 1,5 MPa o que classifica todas as argamassas como do tipo 1. Observa-se que os valores
para resistência à tração foram superiores para as argamassas de revestimento. Os resultados obtidos
para a resistência a compressão, para os tratamentos TNR (2,09 MPa), TQ1R (2,59 MPa) e TQ2R
(2,78 MPa) classificam estes tratamentos como argamassas do tipo 2. Os resultados obtidos para a
resistência a compressão, para os tratamentos TNA (0,94 MPa), TQ1A (1,22 MPa) e TQ2A (1,02
MPa) classificam estes tratamentos como argamassas do tipo 1.
Os resultados obtidos para expansibilidade pelo método acelerado por exposição à solução de NaOH
mostrou serem os agregados Q1A e Q2A inertes, o mesmo comportamento pode ser observado para
AN, em análise comparativa, sendo todos os valores inferiores a 0,10% aos 30 dias, estabilidade
relacionada aos altos teores de sílica.
A análise química por FRX apontou a presença de teores de potássio sob a forma de óxidos de 5,64%
para Q1A e 16,07% para Q2A, o que justifica a estabilidade dimensional e a integridade dos corpos
de prova submetidos a determinação de expansibilidade pelo método acelerado.
As argamassas de revestimento TQ1R e TQ2R apresentam matrizes, morfologicamente idênticas, e
menos porosas comparativamente a TNR. A argamassa TQ1A apresenta estrutura menos porosa que
as argamassas TNA e TQ2A; sendo a matriz de TQ1A influenciada pelo maior teor de materiais finos.

 
 

Todas as argamassas produzidas foram classificadas como classe II-B, não perigoso e inerte. A utili-
zação dos agregados Q1A e Q2A não alteram a classificação ambiental das argamassas comparativa-
mente aquelas produzidas com AN.
Uma análise econômica preliminar indica viabilidade para substituição dos agregados AN por agre-
gados Q1A e Q2A. A utilização de Q1A e Q2A em substituição a AN significa uma redução de 34,4%
nos custos de produção dessas argamassas.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e apresen-
tação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de Pesquisa
em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.

REFERÊNCIAS

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DESEMPENHO DE ARGAMASSAS COM ESCORIA DE FORNO PANELA
EM SUBSTITUIÇÃO À CAL HIDRATADA

Performance of mortars produced with ladle furnace slag in substitution of hydrated


lime

Ana Luiza Borges Marinho1, Laís Cristina Barbosa Costa2, Arthur Silva Santana Castro3, Ricardo
André Fiorotti Peixoto4, Fernando da Silva Souza5

1Faculdade Alis, Itabirito, Brasil, alborgesmarinho@gmail.com


2 Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, lais.cristina.costa@gmail.com
3 Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, arthur19c@gmail.com
4 Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, fiorotti.ricardo@gmail.com
5 Universidade Federal do Acre, Rio Branco, Brasil, fernandoufac2014@gmail.com

Resumo:
A construção civil é um dos setores da economia brasileira com maior consumo de matérias-primas.
Dessa forma, a utilização de coprodutos e resíduos de diversas indústrias, como insumos em
elementos da construção civil tem o potencial de mitigar os impactos ambientais de ambos os setores.
Dentre estes resíduos está a escória de forno panela, gerada durante refino secundário do aço. Esse
subproduto é composto majoritariamente por óxido de cálcio, assim como a cal hidratada que é
empregada na fabricação de argamassas, com a finalidade de melhorar diversas propriedades da
matriz. Dessa forma, o objetivo desse estudo é avaliar a performance de argamassas produzidas com
a escória de forno panela em substituição total à cal hidratada. Inicialmente, o resíduo foi
caracterizado física e quimicamente, sendo analisado quanto a todas as exigências normativas de uma
cal para argamassas. Para esse fim, foram produzidas argamassas mistas para assentamento e
revestimento com cimento Portland e um ligante secundário, sendo elas: sustentáveis, com
aglomerante de escória de forno panela, e de referência, com cal hidratada. Além de estudar essas
misturas quanto a sua performance mecânica, as mesmas foram avaliadas quanto às propriedades
físicas mais relevantes para a fabricação de argamassas, como retenção e absorção de água e
densidade. As argamassas sustentáveis demandaram menos água para atingir a mesma
trabalhabilidade que a de referência e apresentaram um comportamento mecânico similar. Além
disso, foram observadas reduções na absorção de água no estado endurecido. Assim, foi comprovada
a viabilidade da utilização desse material como ligante em argamassas de revestimento e
assentamento.
Palavras-chave: Escória de forno panela, Argamassa, Aglomerantes.
Abstract:
The civil construction is one of the Brazilian sectors with one of the highest raw materials
consumption rate. In this sense the use of byproducts and residues coming from various industries as
inputs in civil construction elements has the potential of mitigating the environmental impacts from
both sectors. Amongst these residues is the ladle furnace slag, which is generated during steel
secondary refining. This byproduct is mainly composed by calcium oxide, the same way as the
hydrated lime which is used to produce mortars, aiming to enhance various properties of the matrix.
Thus, the goal of this study is to assess the performance of mortars produced with ladle furnace slag
in full replacement of the hydrated lime. Initially, the residue was characterized physically and
chemically and was then analyzed according to Brazilian standards for limes used in mortars. In this
sense, coating and laying mortars were produced using Portland cement and a secondary binder,
being: sustainable, with ladle furnace slag, and reference, with hydrated lime mortar for comparison
purposes. Besides studying these mixtures’ mechanical performance, we evaluated them for the most
relevant physical properties for the production of mortars, as water retention, water absorption, and
density. The sustainable mortars demanded less water to attain the same workability as conventional
mortars, and they presented a mechanical behavior similar to the reference. In addition, water
absorption in the hardened state was lower. This study then verifies the feasibility of using this residue
as a binder for coating and laying mortars.
Keyword: Ladle furnace slag, mortar, binder.

1. INTRODUÇÃO
O segmento da construção civil no Brasil é um dos maiores consumidores de matérias primas naturais,
contribuindo, assim, de forma considerável para a degradação do meio ambiente. Calcário, agregados,
argilas são algumas das fontes principais de grande parte dos materiais utilizados em larga escala nos
canteiros de obra. O consumo de água e energia também é grande quando leva-se em consideração o
processo de beneficiamento destes insumos. É também importante citar que a geração de resíduos se
torna um aspecto significativo quando se avalia todo o processo. Pensando na indústria da siderurgia,
a geração de resíduos é constante e em grande escala, sendo ela, também, responsável por elevado
impacto no meio ambiente. Nos processos pirometalúrgicos, além da fase líquida constituída pelo
banho metálico, está quase sempre presente uma fase líquida de natureza não-metálica, denominada
escória [1].
Devido à pressão do mercado, a construção civil demanda a cada ano materiais de construção e
técnicas mais eficientes. No Brasil, a utilização de argamassas de assentamento e revestimento à base
de cal hidratada é comum devido ao método construtivo de vedação em alvenarias amplamente
difundido no país. Isto ocorre, principalmente, em habitações de média e baixa renda, onde os
conglomerados à base de cimento e agregados minerais perfazem 20% do custo médio das obras [2].
As propriedades das argamassas, tanto de assentamento quanto de revestimentos de alvenarias, são
essenciais para a qualidade e durabilidade das obras em que são utilizadas [3].
Tendo isso em vista, a engenharia deve se aproximar das reais necessidades humanas, principalmente
porque a indústria da construção civil é protagonista no cenário atual de poluição ambiental [4]. Dessa
forma, a substituição de materiais, tendo como foco a reciclagem de resíduos, se faz cada vez mais
necessária e presente nos dias atuais. Assim, o presente trabalho objetiva estudar a produção de um
aglomerante sustentável: a viabilidade técnica do uso escória de forno panela processada (EFPP) em
substituição à cal hidratada para argamassas de revestimento e assentamento.
2. MATERIAIS E MÉTODOS
2.1. Materiais

A cal hidratada ou aérea utilizada no experimento foi a cal hidratada CHI, tipo cálcica, utilizada
devido à elevada pureza do material. As propriedades físicas da cal utilizada, disponibilizadas pelo
fabricante, podem ser visualizadas na Tabela 1, apresentada abaixo.

Tabela 1 - Propriedades físicas da cal hidratada CHI

Parâmetro Resultado

Aspecto Pó seco branco

Umidade (%) 0,76

Plasticidade (%) 123,75

Densidade (g/cm³) 0,48

Poder de incorporação de areia (%) > 4,0

Massa unitária (g/cm³) 0,55

Retenção de água (%) > 80

Retido na peneira 0,600mm (%) < 0,5

Retido na peneira 0,075mm (%) < 0,7

O cimento CP II Z-32, segundo prescrições normativas estabelecidas pela NBR:11578 [5], foi
utilizado como um dos aglomerantes na produção das argamassas. O CPII-Z-32 foi utilizado pois
leva em sua composição até 10% de material carbonático e de 6 a 14% de pozolana, material que
proporciona uma maior impermeabilidade ao concreto e à argamassa, que por consequência garante
uma maior durabilidade. As propriedades químicas, físicas e mecânicas do cimento, disponibilizado
pelo fabricante, podem ser visualizadas na Tabela 2.
Tabela 2 - Propriedades físicas, químicas e mecânicas do cimento
Parâmetro Resultado

Água necessária para elaboração de pasta de consistência normal (%) 28,44

Início (min) 280,29


Tempo de pega
Fim (min) 376,18

3 dias 22,89
Resistência à
compressão (MPa)
7 dias 29,39
28 dias 34,94

Retido em peneira #200 (%) 0,64


Finura
Retido em peneira #325 (%) 6,28

Teor de MgO (%) 4,74

Teor de SO3 (%) 3,24

Resíduo insolúvel (%) 4,97

Massa unitária (kg/m3) 970

A areia utilizada como agregado miúdo foi extraída no município de Ponte Nova, Minas Gerais,
advinda do Rio Piranga. A amostra utilizada possui partículas com diâmetro inferior a 4,75 mm,
obtidas por processo de peneiramento. A areia foi seca em estufa a fim de não adicionar umidade na
mistura. A massa unitária da areia utilizada é de 1407 kg/m3.
O aglomerante ecológico utilizado no experimento foi a escória de forno panela processada (EFPP),
obtida da escória de forno panela bruta (EFPB), oriundo de usinas siderúrgicas da região sudeste do
país.
2.2. Métodos
O programa experimental constituiu em inicialmente em processar a EFPB a fim de produzir o
aglomerante ecológico. O material foi processado para retirada de constituintes metálicos em rolo
magnético INBRAS (HF CC ϕ12” X12”) até que a fração metálica retida no cone fosse inferior à 1%
da massa inicial da amostra.
Com o objetivo de produzir materiais idênticos granulometricamente aos aglomerantes convencionais
e a fim de produzir um aglomerante que possa substituir as cales nas argamassas mistas, a EFPB após
separação magnética foi separada em frações granulométricas de interesse, através de peneiramento.
Utilizou-se o material retido nas peneiras de n° 30, 50, 100, 200 e o material moído passante na
peneira de n°200. A porcentagem de cada fração utilizada encontra-se detalhada na Tabela 3.
Com o objetivo de se produzir aglomerantes com partículas com tamanhos médios idênticos, moeu-
se a fração de EFP com diâmetro menor que 0,075 mm em moinho de bolas, dando origem à EFPP.
Para a moagem, utilizou-se jarros e corpos moedores em aço inox. Estabeleceu-se tempo de moagem
padrão de 10 minutos no moinho de baixa eficiência (MARCONI MA500).
Tabela 3- Distribuição granulométrica da EFPP

EFPP
Peneira
(%)

Retida na #30 (0,590 mm) 0,5

Retida na #50 (0,297 mm) 0,5


Retida na #100 (0,149 mm) 1,0

Retida na #200 (0,074 mm) 13

Passante na #200 (0,074 mm) 85

Para a caracterização física dos aglomerantes, cimento, cal hidratada e EFPP, foram realizados os
ensaios de massa específica e massa unitária de acordo com as normas NBR NM 23:2000 [6] e NBR
NM 45:2006 [7], respectivamente. O resultado condiz à média de 6 determinações para cada ensaio
e cada material.
Para as amostras de EFPP e cal hidratada foram realizados ensaios de difração de raios X (DRX) para
a determinação das suas respectivas composições mineralógicas e ensaios de fluorescência de raios
X (FRX) para a determinação de suas respectivas composições químicas. Os equipamentos utilizados
foram, respectivamente, o modelo Empyrean, da marca Panalytical com radiação CuKa, tensão de 45
KV, corrente de 40 mA, com passo angular de 0,02 e tempo por passo de 20 segundos, com ângulo
2𝜃 percorrido entre 4 – 80o; e o Rayny EDX 720, da marca Shimadzu. Foram utilizadas frações
granulométricas abaixo de 0.075 mm para a caracterização química e mineralógica de todos os
aglomerantes, conforme recomendações dos equipamentos.
A fim de caracterizar o tipo de cal ao qual a EFPP mais se aproxima, foi realizada a avaliação de
índice de hidraulicidade. O índice de hidraulicidade correlaciona teores de sílica, ferro e alumina em
relação aos teores de cálcio e magnésio. Cales hidráulicas podem apresentar hidraulicidade entre 0,1
< i < 0,5; variando de fracamente hidráulica a muito hidráulica e as cales hidratadas, caracterizadas
como cales aéreas, variando entre 0 e 0,1, conforme demonstrado por [8]. O processo de
endurecimento das argamassas pode ser definido como função da hidraulicidade do ligante. O índice
de hidraulicidade foi obtido através das análises de FRX e é dado pela Equação 1:

%𝑆𝑖𝑂2 + %𝐹𝑒2 𝑂3 + %𝐴𝑙2 𝑂3


𝑖= (1)
%𝐶𝑎𝑂 + %𝑀𝑔𝑂

Para avaliação da substituição da cal hidratada pela EFPP, analisou-se as exigências da NBR
7175:2003 [9], que fixa as características da cal hidratada destinada a ser empregada na produção de
argamassas na construção civil. Dessa maneira, a cal hidratada e a EFPP foram avaliadas de acordo
com os parâmetros indicados na Tabela 4.
Tabela 4 - Ensaios realizados com a cal hidratada e EFPP
Ensaio Norma Limites NBR 7175 para CHI

Peneira 0,600 mm (nº 30) <0,5%


Determinação de finura NBR 9289:2000 [10]
Peneira 0,075 mm (nº 200) <15%

Determinação da estabilidade NBR 9205:2001 [11] Ausência de cavidades e protuberâncias

Determinação de plasticidade NBR 9206:2003 [12] >110%


Incorporação de areia NBR 9207:2003 [13] <2,5%

Retenção de água NBR 9290:1996 [14] >80%

O planejamento experimental proposto estabeleceu dois traços de dosagem para argamassas de


revestimento e assentamento, respectivamente, 1:1:6 e 1:2:9 em volume, como apresentado na Tabela
5 a seguir.
Tabela 5 - Traços produzidos
Traço (volume/massa) Materiais

Argamassa Cal-Revestimento 1:1:6 / 1:0,44:8,66 Cimento: cal hidratada: areia

Argamassa Cal-Assentamento 1:2:9 / 1:0,89:12,99 Cimento: cal hidratada: areia

Argamassa EFPP-Revestimento 1:1:6 / 1:0,91:8,66 Cimento: EFPP: areia

Argamassa EFPP-Assentamento 1:2:9 / 1:1,81:12,99 Cimento: EFPP: areia

Após a produção das argamassas, as mesmas foram ensaiadas nos estados fresco para retenção de
água e densidade de massa. Em sequência, as argamassas foram caracterizadas no estado endurecido,
sendo avaliadas quanto a absorção de água, resistência à compressão, resistência à tração na flexão,
módulo de elasticidade dinâmico e densidade de massa. A Tabela 6 a seguir mostra a relação dos
ensaios realizados. Em todas as análises, foi realizada cura ao ar, mais próxima das condições de
aplicação que as argamassas estão expostas. Os corpos de prova foram submetidos a condições de
umidade relativa de 65±5% e temperatura e 20±5°C.
Tabela 6 - Ensaios executados com argamassas nos estados fresco e endurecido

Material Ensaio Norma

Retenção de água NBR 13277:2005 [15]


Argamassa no estado fresco
Densidade de massa NBR 13278:2005 [16]

Absorção de água NBR 15259:2005 [17]

Resistência à compressão NBR 13279:2005 [18]

Argamassa no estado endurecido Resistência à tração na flexão NBR 13279:2005 [18]

Módulo de elasticidade dinâmico NBR NM 58:2003 [19]

Densidade de massa NBR 13280:2005 [20]

Todos os ensaios foram realizados com corpos de prova aos 28 dias de idade. Na determinação da
resistência à compressão e a tração na flexão, para cada tipo de traço foram rompidos 4 corpos de
prova. O equipamento utilizado para o ensaio de resistência à compressão foi a prensa EMIC, modelo
DL 20000, e a célula de carga de capacidade de 200 kN; e o mesmo equipamento foi utilizado para o
ensaio de resistência à tração na flexão, mas com célula de carga com capacidade de 20 kN. O ensaio
para a determinação do módulo de elasticidade dinâmico foi conduzido pelo método ultrassônico,
sendo realizado utilizando 4 corpos de prova cilíndricos para cada tipo de argamassa. O equipamento
utilizado foi o modelo Tico da fabricante PROCEQ, de 54 kHz de frequência.

3. RESUTALDOS E DISCUSSÕES
3.1. Caracterização física dos materiais
Os resultados obtidos na caracterização física dos materiais são apresentados na Tabela 7.
Tabela 7 - Resultados da caracterização física
EFPP Cal hidratada

Massa específica (kg/m3) 2830 2210

Massa unitária (kg/m3) 876 429

Os resultados obtidos da massa unitária e da massa específica para EFPP são maiores em relação aos
demais tratamentos, o que pode ter relação com a composição mineralógica de cada um dos materiais,
como será visto à frente, como também com seus vazios e poros permeáveis. De acordo com [21], a
massa especifica está diretamente relacionada à distribuição granulométrica, superfície especifica e
materiais constituintes.
3.2. Caracterização química e mineralógica dos materiais
As análises de fluorescência de raios X apresentaram resultados mostrados na Tabela 8 a seguir.
Tabela 8 - Resultados do FRX

Cal
Óxido EFPP
Hidratada

CaO 60,0% 96,0%

SiO2 26,9% 1,9%

SrO 0,2% 0,6%

SO3 5,2% 0,6%

K2O 0,5%

Fe2O3 1,2% 0,2%

MgO 6,2%

TiO2 0,4%

MnO 0,5%
A partir dos resultados obtidos da FRX, observa-se que a EFPP é composta principalmente por óxido
de cálcio (CaO), sílica (SiO2) e óxido de magnésio (MgO). A cal hidratada possui em quase sua
totalidade óxido de cálcio (CaO).
Conforme apresentado na Tabela 8, os resultados obtidos de FRX, compõem o índice de
hidraulicidade para os respectivos materiais (Equação 1). O resultado para o índice de hidraulicidade
foi de 0,42 para a EFPP e 0,03 para a cal hidratada. Sendo o resíduo classificado, assim, como material
muito hidráulico. A hidraulicidade para a cal hidratada, como era de se esperar, reafirma
características de aglomerante aéreo para o material.
A seguir, na Tabela 9, indica-se os principais compostos cristalinos identificados por DRX nas
amostras, por meio da técnica de refinamento de Rietveld.
Tabela 9 - Composição mineralógica da cal hidratada e EFPP

Quantidade (%)
Componentes Fórmulas
EFPP Cal hidratada

Anatase TiO2 5,0

Cálcio-olivina Ca2SiO4 43,2

Calcita CaCO3 7,9

Fluorita CaF2 1,0 10,0

Merwinita Ca3Mg(SiO4)2 10,9

Piroxênio Si2O6CaMg 8,2

Portlandita Ca(OH)2 65,4

Fase amorfa 17,3 16,7

3.3. Caracterização dos ligantes


A Tabela 10 a seguir indica os resultados obtidos a partir dos ensaios realizados com os ligantes.
Tabela 10 - Resultados dos ensaios realizados com cal hidratada e EFPP
Ensaio EFPP Cal hidratada

Retenção de água (%) 82,2 89,2

Plasticidade (0/3/5 min) (mm) 313/319/320 294/296/297

Estabilidade (40/100o) - Observação - Fissuras/fissuras

Incorporação de areia (areia/ligante) 1,6 2,1


Os resultados obtidos pela análise da determinação de retenção de água indicaram que a EFPP é capaz
de produzir argamassas com valores de retenção de água superiores aos limites normativos que são
de 80% para cal hidratada CHI.
Os resultados para a incorporação de areia sugerem melhor capacidade de incorporação de areia pela
a cal que para escória de forno panela processada (EFPP). Isto pode acontecer devido à maior retenção
de água pela cal, e consequentemente maior viscosidade do material, permitindo que ele consiga
incorporar mais areia.
Em relação à estabilidade, a EFPP atendeu às condições estabelecidas pela NBR 7175:2003 [9],
porém, não aconteceu o mesmo para a argamassa produzida com cal hidratada. Segundo [22] a
retenção de água influencia na retração por secagem, que é uma das principais causas de fissuração
das argamassas no estado endurecido.
3.4. Caracterização das argamassas
A Tabela 11 apresenta os resultados obtidos nos ensaios das argamassas no estado fresco e também
no estado endurecido.
Tabela 11 - Resultados dos ensaios realizados com as argamassas nos estados fresco e endurecido

EFPP Cal hidratada


Ensaio
Revestimento Assentamento Revestimento Assentamento

Retenção de água no estado


89,00 86,30 89,60 87,10
fresco (%)

Densidade de massa no estado


2022 2018 1988 2003
fresco (kg/m3)

Densidade de massa no estado


1839 1820 1757 1727
endurecido (km/m3)

Absorção de água no estado


0,31/1,01 0,51/1,56 0,52/1,28 0,53/1,54
endurecido (10/90 dias)

Resistência à compressão
5,08 2,23 3,78 1,93
(MPa)

Módulo de elasticidade
9,87 8,05 7,58 5,39
dinâmico (GPa)

Os resultados apontam que argamassas a base de EFPP são mais densas quando comparadas com as
convencionais, o que se deve à característica dos elementos que compõem esse material, conforme
mostrado anteriormente pelas análises de FRX.
Em geral, as argamassas de revestimento e assentamento à base de cal hidratada apresentaram maior
absorção de água, o que pode significar maior permeabilidade, o que é coerente com a menor
resistência à compressão. Os traços compostos com a EFPP apresentaram melhor comportamento à
compressão, cerca de 30% maior, quando comparados à cal hidratada, provavelmente em função
também do melhor envolvimento dos grãos pelos produtos de hidratação do cimento e da EFPP.
No geral, os traços compostos com a EFPP apresentaram módulo de elasticidade superior, fato
esperado devido ao desempenho mecânico à compressão e tração na flexão ligeiramente superiores
quando comparados com as argamassas com cal hidratada. Os resultados obtidos estão em
concordância como os achados de [23].

4. CONCLUSÃO

O presente trabalho estudou a viabilidade técnica da substituição da cal hidratada em argamassas de


assentamento e revestimento por escória de forno panela (EFP). Foi observado que o beneficiamento
do resíduo é necessário para que as características do mesmo se assemelhem às da cal hidratada e ele
atenda aos mesmos limites normativos colocados para o ligante convencional para produção de
argamassas.

A escória de forno panela processada (EFPP) apresentou, fisicamente, valores superiores ao da cal
hidratada, quando avaliada em relação à massa específica e massa unitária. Em relação às exigências
normativas da NBR 7175:2003 [9], a EFPP atende aos requisitos. As argamassas produzidas com
EFPP apresentaram resultados satisfatórios e, em alguns casos, como resistência à compressão,
superiores aos das argamassas com cal hidratada nas avaliações referentes aos estados fresco e
endurecido. Concluiu-se também que embora a quantidade de água necessária para a produção das
argamassas sustentáveis foi menor, sua trabalhabilidade foi equivalente à das argamassas de
referência.

Os resultados obtidos permitiram avaliar que a EFPP utilizada como aglomerante em argamassas de
revestimento e assentamento é uma alternativa tecnicamente adequada. Existe ainda as vantagens da
diminuição dos impactos ambientais provenientes da indústria siderúrgica e da redução do consumo
de recursos naturais pelo setor da construção civil.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.

REFERÊNCIAS

[1] A. Lúcio, Físico-química metalúrgica - 2ª parte, Belo Horqizonte, 1981.

[2] E. Santin, “Tijolo por tijolo, num desenho mágico.,” Revista Téchne, pp. 18-24, 1996.

[3] M. A. Cincotto, M. A. C. Silva e H. C. Cascudo, Argamassas de revestimento: características, propriedades e


métodos de ensaio., São Paulo, 1995.

[4] U. Del Carlo, “Cultura Sustentável,” Revista Téchne, pp. 22-28, 2008.
[5] ABNT, “NBR 11578: Cimento Portland composto - Especficação,” ABNT, Rio de Janeiro, 1997.

[6] ABNT, “NBR NM 23: Cimento portland e outros materiais em pó - Determinação da massa específica,”
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro, 2000.

[7] ABNT, “NBR NM 45: Agregados - Determinação da massa unitária e do volume de vazios,” ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro, 2006.

[8] A. S. Coutinho, Fabrico e propriedades do Betão, Lisboa: Laboratório Nacional de Engenharia - LNEC, 1988, p.
401.

[9] ABNT, “NBR 7175: Cal hidratada para argamassas - Requisitos,” ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, Rio de Janeiro, 2003.

[10] ABNT , “NBR 9289: Cal hidratada para argamassas - Determinação de finura,” ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro, 2000.

[11] ABNT, “NBR 9205: Cal hidratada para argamassas - Determinação da estabilidade,” ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro, 2001.

[12] ABNT, “NBR 9206: Cal hidratada para argamassas - Determinação da plasticidade,” ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro, 2003.

[13] ABNT, “NBR 9207: Cal hidratada para argamassas - Determinação da capacidade de incorporação de areia no
plastômetro de Voss,” ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro, 2000.

[14] ABNT, “NBR 9290: Cal hidratada para argamassas - Determinação de retenção de água - Método de ensaio,”
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro, 1996.

[15] ABNT, “NBR 13277: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos - Determinação da retenção
de água,” ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro, 2005.

[16] ABNT, “NBR 13278: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos - Determinação da densidade
de massa e do teor de ar incorporado,” ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro,
2005.

[17] ABNT, “NBR 15259: Argamassa de assentamento e revestimento para paredes e tetos - Determinação da absorção
de água por capilaridade e do coeficiente de capilaridade,” ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, Rio de Janeiro, 2005.

[18] ABNT, “NBR 13279: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos - Determinação da resistência
à tração na flexão e à compressão,” ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, Rio de Janeiro,
2005.

[19] ABNT , “NBR NM 58: Concreto endurecido - Determinação da velocidade de propagação ultrassônica,”
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS , Rio de Janeiro, 2003.
[20] ABNT, “NBR 13280: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos - Determinanção da
densidade de massa aparente no estado endurecido,” ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS,
Rio de Janeiro, 2005.

[21] N. G. Silva, Argamassa de revestimento de cimento, cal e areia britada de rocha calcárea, Curitiba: Universidade
Federal do Paraná, 2006.

[22] A. M. P. Carneiro, Contribuição ao estudo da influência do agregado nas propriedades de argamassas compostasa
partir de curvas granulométricas - Tese (Doutorado), São Paulo: Escola Politécnica, Universade de São Paulo, 1999.

[23] N. G. SILVA e V. C. CAMPITELI, Correlação entre módulo de elasticidade dinâmico e resistências mecânicas de
argamassas de cimento, cal e areia., Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, 2008, pp. 21-35.
 

PLACAS DE GESSO TERMOISOLANTES ADITIVADAS COM REJEITOS


DE QUARTZITO E FIBRA DE VIDRO

Thermal insulating plasterboards with quartzite and fiberglass tailings

Rosana Márcia de Resende Mol 1, Aline Santana Figueiredo 1, Keoma Defáveri do Carmo e
Silva1, Junio Oliveira dos Santos Batista 1, Ricardo André Fiorotti Peixoto 1
1 Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil, alinesantanafigueiredo@gmail.com

Resumo: O uso de placas de revestimento de gesso (conhecidas como drywall) tem se tornado cada
vez mais comum, visto que estas apresentam diversas vantagens como rapidez e facilidade na
instalação, regularidade dimensional e superfície lisa. Além disso, bom isolamento térmico e
acústico, resistência à umidade e ao fogo com grande durabilidade em ambientes internos (paredes,
forros e revestimentos). A atividade industrial da construção civil é grande consumidora de matérias
primas e, recentemente, a questão ambiental tem ganhado cada vez mais importância neste setor. A
utilização de materiais reciclados ou reaproveitados é cada vez mais necessária e cria atrativos para
o desenvolvimento e valoração dos produtos desta indústria, promovendo ganhos a todos
envolvidos. Desta forma, este projeto propõe o desenvolvimento de um material compósito
termicamente eficiente e resistente ao fogo para alvenarias modulares, produzidos com rejeitos da
indústria da mineração de ferro e quartzito. Os rejeitos da mineração de ferro são as fibras de vidro,
empregadas como elemento construtivo e portante para estruturas de apoio. Os rejeitos da
mineração de quartzito são os quartzitos friáveis, camadas superiores que compõem os inservíveis
desta atividade mineradora. O material compósito proposto possui como matriz uma argamassa de
gesso comercial e areia de argila expandida, aditivada com os resíduos e moldados sob a forma de
placas, a exemplo das placas de gesso comercialmente disponíveis. Todos os materiais utilizados
para construção das placas foram caracterizados segundo suas propriedades físicas, químicas e
morfológicas. As placas foram submetidas a um programa experimental para determinação de suas
propriedades mecânicas, isolamento térmico e resistência ao fogo comparativamente às placas de
gesso de referência. Os resultados obtidos indicaram desempenho semelhante para as placas
aditivadas com resíduos em relação às convencionais, mostrando que tais adições podem não só
produzir peças mais econômicas como mais eficientes ambientalmente. 

Palavras-chave: Fibra de vidro, quartzito, resistência a incêndio.

Abstract: The use of plasterboard (known as drywall) has become increasingly common, as these
have several advantages such as speed and ease of installation, dimensional regularity and smooth
surface. In addition, good thermal and acoustic insulation, resistance to humidity and fire with great
durability in internal environments (walls, linings and coatings). The industrial construction
industry is a major consumer of raw materials, and recently the environmental issue has gained
increasing importance in this sector. The use of recycled or reused materials is increasingly
necessary and creates attractions for the development and valuation of the products of this industry,
promoting gains to all involved. Thus, this project proposes the development of a thermally efficient
and fire resistant composite material for modular masonry, produced with tailings from the iron and
quartzite mining industry. The tailings of iron mining are glass fibers, used as a constructive

 
 

element for supporting structures. The tailings of quartzite mining are the friable quartzites, upper
layers that make up the unserviceable ones of this mining activity. The proposed composite material
has a commercial plaster mortar and expanded clay sand, added with the residues and molded in the
form of slabs, such as commercially available plasterboard. All the materials used to construct the
plates were characterized according to their physical, chemical and morphological properties. The
plates were submitted to an experimental program to determine their mechanical properties, thermal
insulation and fire resistance compared to reference gypsum boards. The results obtained indicated
similar performance for the waste additive plates compared to conventional ones, showing that such
additions may not only produce more economical but more environmentally efficient parts. 

Keywords: Fiberglass, quartzite, fire resistance.

1. INTRODUÇÃO

Com a produção de resíduos sólidos pelas indústrias, gera-se um problema ambiental no que se
refere ao seu descarte e armazenamento, tornando-se assim essencial a busca de formas para sua
reutilização. A indústria da construção civil é canteiro fértil para aplicação de novos materiais
desenvolvidos de forma sustentável, a partir da reciclagem e reutilização de rejeitos industriais.
Casos de sucesso são relatados pela literatura, como matrizes cimentícias produzidas com rejeitos
de siderurgia - escórias de aciaria e com rejeitos de mineração de ferro [1] [2].

Por outro lado, a atividade mineradora de ferro e quartzito são juntas, responsáveis pela geração de
milhões de toneladas de rejeito por ano. A produção de minério de ferro no Brasil foi estimada em
398 milhões de toneladas em 2013, sendo que para cada tonelada de minério de ferro processado
tem-se cerca de 0,4 toneladas de rejeitos [3]. A produção brasileira de rochas ornamentais teria
somado 9,3 milhões de toneladas em 2012, no caso específico do quartzito, estima-se que a
produção brasileira esteja por volta de 600.000 toneladas, sendo a grande maioria em Minas Gerais
[4].

No processo de extração do quartzito, é gerado um grande volume de resíduos, que são divididos
em finos e granulados, sendo esses últimos de dimensão maior que 1 mm, oriundos da etapa de
lavra e desplacamento, nas quais se enquadram os quartzitos friáveis, provenientes da remoção da
camada de estéril. Para esse tipo de rejeito a disposição realizada é o empilhamento [5]. Além das
grandes áreas destinadas a essas pilhas, impactos ao ambiente são gerados no sentido da
preservação da fauna e flora local assim como nascentes, cursos d’água e poluição atmosférica.

Em outro contexto, o sistema Drywall é o mais utilizado para construção de alvenarias e divisórias
na Europa e Estados Unidos, visto que é constituído por placas de gesso com alta resistência
mecânica, térmica e acústica com alto padrão de qualidade. Esse sistema permite ainda, maior
racionalização de operações e custos e da obra como um todo, permitem rapidez de execução, obras
leves, limpas e sem desperdício de materiais, além de oferecer excelente acabamento.

Para melhoria das propriedades de isolamento acústico e térmico, optou-se pelo uso da argila
expandida. As argilas expandidas são compostas por argilominerais, que quando submetidos a altas
temperaturas (1100°C), se expandem, formando em seu interior uma estrutura micro porosa,
produzindo elevada porosidade e taxa de absorção de água, bem como baixa massa específica

 
 

aparente, que é uma característica comum dos isolantes térmicos, implicando na redução do peso
das peças. Em relação aos rejeitos de fibra de vidro, optou-se pela incorporação destes,
primeiramente, pelo fato da possibilidade de seu reaproveitamento e visando melhorar
características como tração na flexão, isolamento térmico e resistência a altas temperaturas.

No Brasil, a instalação de fábricas de chapas de gesso para drywall, iniciada em meados dos anos
90, representou um esforço pioneiro visando à modernização da construção civil brasileira,
tradicionalmente caracterizada pelo uso de métodos artesanais, com baixa produtividade, elevados
níveis de desperdício e reduzida valorização da mão de obra. O mercado respondeu positivamente a
essa iniciativa, ainda assim, no que diz respeito à utilização desse sistema construtivo, o Brasil
ocupa posição bastante modesta no cenário internacional.

Pensando em desenvolver placas de gesso para produção de alvenarias tipo drywall, contribuindo
para redução dos impactos da exploração de gipsita e para os processos de construção civil, e, ainda
criando alternativa para destinação técnica e ambientalmente adequada para a mineração de ferro e
quartzito, o objetivo desse estudo é desenvolver placas de gesso aditivadas com rejeitos da
mineração de ferro e de quartzito, que possam apresentar propriedades físicas, mecânicas,
isolamento térmico e resistência ao fogo adequadas, comparativamente às placas de gesso
disponíveis atualmente no mercado.

Desta forma, procedeu-se a caracterização química, física e morfológica dos rejeitos utilizados na
composição das placas, determinação das proporções do rejeito de quartzito e fibras de vidro nas
dosagens e obtenção das propriedades físicas, mecânicas, termo isolantes e de resistência ao fogo
das placas produzidas.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Materiais
O trabalho buscou uma finalidade para o rejeito de quartzito, assim, baseado na literatura existente
sobre o assunto e na composição das placas comerciais foram decididos que os materiais utilizados
seriam gesso, rejeito de quartzito, argila expandida e fibras de vidro.
O gesso utilizado como aglomerante para a produção das placas foi adquirido do comércio em Belo
Horizonte - MG, marca Gesso Padrão, com especificações indicadas pelo fabricante segundo sua
composição química: sulfato de cálcio hemidratado – CaSO4.0,5H2O, impurezas: (< 2%) carbonato
de cálcio, carbonato de magnésio e sais solúveis.
O rejeito de quartzito foi utilizado, neste trabalho, em substituição a parte do gesso na composição
de placas do tipo drywall, sendo este um estéril de rocha de quartzito de uma mineradora localizada
na região metropolitana de Belo Horizonte. Utilizou-se neste trabalho amostras de quartzito
provenientes da mesma jazida. As amostras foram coletadas de forma representativa, conforme
prescrições da NBR 10007 [6] com o auxílio de máquinas de escavação em diferentes pontos de
coleta e enviadas ao Laboratório de Materiais de Construção Civil da Escola de Minas/UFOP em
bombonas plásticas, lacradas e devidamente identificadas. O quartzito usado foi separado
granulometricamente previamente. Santos 2015, produziu argamassas mistas com este estéril de
mineração utilizando frações de dimensões maiores que 0,075 mm. Neste trabalho, então, foi

 
 

utilizada a fração inferior a 0,075 mm, que foi seca em estufa por 24 horas a uma temperatura de
aproximadamente 105°C tanto para a caracterização quanto para produção das matrizes.
A argila expandida utilizada como adição na composição das dosagens para a produção das placas
foi doada pela empresa CINEXPAN. As amostras foram segregadas gravimetricamente, sendo
utilizada a faixa entre 1,18 mm e 2,36 mm. Para adição, a argila expandida foi saturada e adicionada
à composição na condição saturada superfície seca.
O rejeito de fibra de vidro utilizado como adição na composição das dosagens para a produção das
placas foi coletado do pátio de rejeito da VALE complexo Tubarão, em Vitória, ES. O rejeito bruto
foi cominuído em trituradores tipo SHREDDER, pela empresa TECSCAN, em Contagem - MG e
estocados em células devidamente lacradas. O material triturado foi segregado granulometricamente
em peneiras e em seguida foi submetido a um novo ciclo de cominuição em um moinho de facas
adaptado. Após este processamento, o material foi classificado para que todo ele apresentasse
dimensões entre 0,075mm e 0,3 mm.

2.2. Métodos
Procedeu-se a caracterização do rejeito de quartzito através de granulometria a laser, utilizando-se
um granulômetro a laser da marca Bettersize, modelo 2000, que aplica um modelo ótico em seus
softwares de análise, baseado na teoria da difração de Fraunhofer; e fluorescência de raios-X com
espectrômetro da marca Panalytical, modelo Epsilon 3x. As dosagens adotadas para a produção dos
compósitos foram:
Tabela 1 - Dosagens
Dosagem Gesso Quartzito Argila Expandida Fibra de vidro
TR 100,0% 0,0% 0,0% 0,0%
TC 69,5% 20,0% 10,0% 0,5%

Cada material passou por um processo de beneficiamento adequado às condições de uso, que foram
explicitadas na apresentação dos materiais. A avaliação das propriedades físicas e de desempenho
mecânico das placas foi realizada através da determinação da capacidade de absorção de água, de
acordo com a NBR 14717 [7]; resistência à compressão, de acordo com a NBR 12129 [8] e
resistência à ruptura na flexão, de acordo com a NBR 14717 [7]. As propriedades térmicas foram
verificadas através de ensaio de condutividade térmica, utilizando-se procedimentos normalizados
pela NBR 15220 [9] e utilizando para a determinação da condutividade térmica o equipamento
NETZSCH HFM 436 Lambda. Procedeu-se a análise termogravimétrica, para determinação da
perda de massa, com analisador termogravimétrico da marca Shimadzu, modelo DTG – 60H.
Avaliou-se a resistência ao fogo das placas através de ensaio em forno tipo mufla adaptado com
capacidade de temperatura máxima de 1200°C, marca SP Labor, modelo SP 1200, no CEFET-MG
Campus I, Belo Horizonte, MG Para a realização do MEV pós ensaio, o equipamento utilizado foi
um microscópio eletrônico da marca HITACHI, modelo TM3000, com capacidade de ampliação de
até 30.000 vezes.

 
 

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Distribuição granulométrica


A distribuição granulométrica do rejeito de quartzito foi obtida utilizando a técnica de
granulometria com recurso a laser. A Figura 1 exibe os resultados do ensaio.

Fig. 1 - Curva granulométrica do quartzito


Observa-se que mais de 90% do material possui tamanho de grãos inferiores a 0,075 mm, e que
50% do material é menor que 0,029 mm. A análise granulométrica desse material permite sua
classificação como pulverulento, característica física de interesse para substituição do gesso pelo
rejeito na confecção das placas, considerando suas propriedades no estado fresco e endurecido.

3.2. Propriedades químicas - FRX


Os resultados obtidos para a composição química do rejeito de quartzito e para o gesso comercial
utilizados, apresentam-se nas Tabela 2 e 3, a seguir.

Tabela 2 - Composição química do quartzito


Elemento SiO2 Al2O3 K2O Fe2O3 CaO MgO P2O5 TiO2 Cl
% 74,53 22,07 2,20 0,14 0,14 0,11 0,46 0,16 0,13

Tabela 3 - Composição química do gesso


Elemento SO3 CaO Al2O3 SiO2 MgO SrO
% 58,19 40,76 0,48 0,25 0,13 0,13

O rejeito de quartzito é composto principalmente por óxidos de sílica e alumina e o gesso é


composto principalmente por óxidos de enxofre e de cálcio. A presença de sílica no rejeito poderia
servir como elementos estruturantes à dosagem, produzindo misturas um pouco menos plásticas,
mas com melhor desempenho mecânico e durabilidade, em função do melhor empacotamento da
mistura [10].

 
 

3.3. Absorção de água


Os resultados obtidos para absorção de água, indicam maior absorção de água para placas do
compósito, comparativamente às placas de gesso. Esse fato, pode estar relacionado à baixa
densidade das placas e provavelmente está relacionado à presença dos grãos de argila expandida,
altamente porosas, que foram usadas na condição saturada superfície seca, mas durante os 28 dias
do período de secagem das placas, perderam a água de saturação, como indicam os resultados das
análises térmicas, apresentadas no item 3.6, que não indicam perda de água livre na placa de gesso,
e aproximadamente 1% nas placas do compósito, e assim, quando tiveram contato com a água
novamente, devido ao seu caráter hidrófilo e alto poder de absorção, saturaram-se novamente.
Os valores médios obtidos para absorção de água são mostrados na Figura 2, a seguir.

Fig. 2 - Absorção de água do gesso e compósito

3.4. Resistência à compressão


Os resultados obtidos para a determinação da resistência à compressão são exibidos na Figura 3, a
seguir.

Fig. 3 - Resistência à compressão do gesso e compósito


Os corpos de prova de gesso obtiveram resultados de resistência à compressão um pouco melhores
em relação aos corpos de prova do compósito. Isso provavelmente está relacionado à presença dos

 
 

grãos de argila expandida, que possuem uma estrutura porosa e bem menos coesa que o gesso puro
endurecido. No entanto, a NBR 13207 [11] que define as exigências físicas e mecânicas para o
gesso para construção civil estabelece que a resistência à compressão deve ser maior que 8,4 MPa,
logo, todos os corpos de prova ensaiados apresentaram desempenho muito satisfatório.

3.5. Resistência à ruptura na flexão


Os ensaios das placas de gesso e do compósito foram realizados, primeiramente, com as faces da
frente para baixo, e em seguida, usando dois novos corpos de prova, com a face para cima e notou-
se que as faces da frente voltadas para baixo obtiveram resultados pouco mais elevados de
resistência. Os resultados obtidos para a determinação da resistência à ruptura na flexão das placas
são exibidos na Figura 4, a seguir.

Fig. 4 - Resistência à ruptura na flexão do gesso e compósito


As placas feitas com o compósito apresentaram menores valores de resistência à ruptura na flexão
para todos os corpos de prova em comparação aos corpos de prova de gesso. Isso pode estar
relacionado ao tipo de fissuração, tendendo as solicitações mecânicas a serem de maior dimensão e
intensidade que as térmicas, tendo as fibras de vidro não funcionado tão bem, como também
acredita-se estar relacionado à presença dos grãos de argila expandida que torna os espécimes mais
porosos, menos coesos, podendo haver também zonas de fraqueza no contato grãos-matriz.
Embora a tensão final fosse diferente, o comportamento das placas do compósito foi superior,
evitando que as rupturas acontecessem de forma brusca. Esse fato ocorreu devido à presença dos
rejeitos, sendo as fibras de vidro muito importantes na melhoria do desempenho mecânico global da
placa, que assim como no ensaio da dureza superficial, também foram capazes de manter os
espécimes inteiros após o carregamento.

3.5. Condutividade térmica


Os resultados obtidos para a condutividade térmica, como média de três placas de gesso e três
placas de compósito apresentam-se a seguir na Figura 5. As placas foram submetidas à temperatura
de 20°C (sendo esta a temperatura normalmente utilizada para estudos em materiais de construção).

 
 

Fig. 5 - Condutividade térmica do gesso e compósito


Os resultados mostram que todas as placas do compósito apresentaram valores inferiores de
condutividade térmica em relação ao gesso puro. Sendo a condutividade térmica fortemente
influenciada pelo teor de umidade migrando através do material poroso [12] e com base nas análises
térmicas procedidas nas placas de gesso, apresentadas no item 3.6, foi visto que não houve perda de
massa relacionada a água livre no exemplar de gesso, e aproximadamente 1% na placa do
compósito, que ainda assim apresentou melhores resultados para condutividade térmica, reforçando
a ideia da ação isolante das fibras de vidro, que é um material conhecido por essa propriedade,
assim como as argilas expandidas, que podem ter contribuído de forma positiva para o melhor
desempenho das placas do compósito.

3.6. Análise térmica


A figura 6, apresentada a seguir, ilustra o comportamento da placa de gesso e mudanças de massa
em função do aumento da temperatura, segundo gradiente térmico imposto pela análise térmica.

Fig. 6 - Análise térmica da placa de gesso.

 
 

Analisando a imagem nota-se que praticamente não há presença de água livre na amostra da placa
de gesso, visto que não houve perda de massa por volta dos 40ºC, o que é um evento comum em
análises térmicas nesse material. Na temperatura de 100ºC inicia-se a perda de massa relacionada à
perda da água de cristalização existente no gesso, evento esse caracterizado por um expressivo pico
endotérmico. Sua completa finalização ocorre na temperatura de aproximadamente 230ºC, marcada
pela base do pico da curva e esse evento leva a fase anidro III. Essa fase também é conhecida como
anidrita ativa, um produto solúvel, instável e ávido por água, que pode absorver umidade
atmosférica e passar à forma de hemidrato novamente [13].
Um pico exotérmico é observado a 375°C e é característica do hemidrato. A reação exotérmica
representa uma modificação da estrutura da forma hexagonal para a forma ortorrômbica [14], e
ocorre a transição da fase anidro III para anidro II [15]. A partir dos 650ºC nota-se um pequeno
deslocamento na linha de base da curva TGA e também que a curva DTA começa a apresentar
“ruídos”, característica comum ao escape de produtos voláteis. Em seu trabalho, Mélinge [15]
obteve comportamento semelhante e, atribuiu o evento à perda de massa associada, provavelmente,
ao escape de CO2 do CaCO3, contido inicialmente no gesso como impureza. Entre as temperaturas
de 700 e 900ºC forma-se um produto inerte, e a partir dos 900ºC ocorre a dissociação do sulfato de
cálcio com formação do CaO livre [13].
A Figura 7, apresentada a seguir, ilustra o comportamento dos compósitos, segundo gradiente
térmico imposto pela análise térmica.

Fig. 7 - Análise térmica placa do compósito.


Primeiramente, observa-se que o comportamento das curvas obtidas para o compósito é semelhante
ao do gesso. Analisando as curvas pode-se notar uma perda de massa, de aproximadamente 1%, à
temperatura de 40ºC, representando a saída da água livre ainda presente. A partir dos 100ºC, inicia-
se a perda da água de cristalização existente no gesso, caracterizado pelo pico endotérmico, e que
leva a fase anidro III. Em aproximadamente 350ºC há uma transição de fase do cristal anidro III
para anidro II [15], marcando assim a presença do pequeno pico em torno dessa temperatura visto

 
 

no gráfico. A sílica sofre pequenas perdas de massa sem nenhum passo individual detectado até
1000ºC [16]. Em torno de 650ºC é detectada uma nova reação que leva a perda de massa associada,
provavelmente, ao escape de CO2 do CaCO3, contido inicialmente no gesso como impureza [15].
Na literatura são descritos vários processos de obtenção da mulita, que se trata de uma estrutura
cerâmica constituída por alumina e sílica, e de acordo com ele, a mulita pode ser formada por
decomposição térmica em temperaturas aproximadas de 1000ºC, caracterizando assim o final da
curva [21].

3.7. Resistência ao fogo


As curvas que representam o comportamento das placas de gesso e compósito produzidas, durante o
aquecimento que simula o incêndio, são exibidas na Figura 8. As curvas correspondentes ao gesso
possuem marcadores redondos e as correspondentes ao compósito, triangulares. Analisando as
curvas observa-se que a temperatura ambiente em ambos ensaios, representada pela cor azul, se
encontram praticamente sobrepostas, sendo 25,6ºC a temperatura média ambiente durante o ensaio
da placa de gesso e 27,6ºC durante o ensaio do compósito. A temperatura interna do forno segue a
tendência de curva regulamentada pelas normas ISO 834-1 [17] e ASTM E119 [18] em ambos
ensaios, nota-se que no ensaio do compósito, seu início até aproximadamente 240ºC possui
aquecimento ligeiramente mais lento e a partir daí o comportamento se inverte, alcançando os
926ºC num tempo de 57 minutos, enquanto no ensaio do gesso, 62 minutos. Analisando as curvas
referentes às temperaturas das faces das placas voltadas para o interior do forno, representadas pela
cor vermelha, observa-se que para ambos os ensaios a tendência da curva de aquecimento possui
comportamento semelhante ao aquecimento do forno. Em se tratando da face externa das placas,
voltadas para o ambiente e representadas pela cor verde, a placa de gesso se comportou de acordo
com o modelo de exposição ao fogo proposto por Vilches [19], mantendo-se a aproximadamente
100ºC devido ao platô de evaporação que se forma na face não exposta na decorrência da primeira
hora de ensaio. A placa do compósito segue o mesmo padrão até os 45 mim, o que demarca sua
resistência ao fogo, resistindo então, a uma temperatura de exposição em torno de 817ºC.

Fig. 8 - Comportamento à exposição ao fogo.

 
 

Na Figura 9 são mostradas as placas do compósito e gesso após o ensaio. Ambas apresentaram
rachaduras em direções preferenciais e secundárias, no entanto a placa do compósito apresentou
menor quantidade de trincas de forma generalizada além de menos escurecimento nas regiões das
extremidades da abertura do forno, apresentando um aspecto bem menos degradado. Esse fato deve-
se à redução do teor de gesso na matriz e aumento dos teores dos óxidos de sílica e alumina. Esses
resultados comprovam que a inserção do rejeito de quartzito contribuiu de forma positiva para
melhoria da estabilidade da matriz, como também os rejeitos de fibra de vidro que contribuíram na
contenção da fissuração.

Fig. 9 - Pós ensaio. a) placa de compósito, b) placa de gesso.


A distribuição do calor nas placas, nas temperaturas próximas ao final dos ensaios pode ser
observada na Figura 10, a seguir.

Fig. 10 - Distribuição de calor nas placas. a) gesso, b) compósito.


As temperaturas atingidas na placa do compósito foram superiores as da placa de gesso, tendo o
compósito alcançado uma temperatura máxima de 248ºC e o gesso 126ºC. É possível observar
também a distribuição do calor na área das placas, representada pelos tons mais avermelhados,
apesar do corpo de prova de gesso apresentar menores temperaturas em relação ao compósito, a
área em que esse calor se distribui é maior. A seguir, são exibidas imagens obtidas por MEV dos
corpos de prova antes e após o aquecimento, a fim de verificar possíveis alterações na estrutura da

 
 

matriz. A Figura 11 trata-se do gesso, com ampliação de 1000 vezes. São observados os cristais
formados no processo de hidratação, alguns pequenos poros comuns a estrutura e nenhuma
mudança é notada após o aquecimento.

 
Fig. 11 - MEV placas de gesso. a) pré ensaio, b) pós ensaio.
A Figura 12, a seguir, mostra a matriz do compósito antes e após o aquecimento com ampliação de
500 vezes. Na imagem pré-aquecimento pode ser vista a interface entre um grão de argila expandida
e os cristais do gesso. No pós-aquecimento são observados grãos do quartzito em meio aos cristais
do gesso, ainda bem aderidos uns aos outros.

 
Fig. 12 - MEV placas de compósito. a) pré ensaio, b) pós ensaio.
Ainda sobre o compósito após o ensaio, a Figura 13 ilustra dois fatos observados. Alguns autores
afirmam que a adição de fibras de vidro e argila expandida aumentam a resistência das placas
quando expostas a altas temperaturas [20]. Sabe-se que as composições das argilas expandidas
podem sofrer algumas variações, no entanto, a adição deste componente na placa não produziu
resultados positivos em relação à resistência a altas temperaturas. O que se observou é que houve
uma variação volumétrica nos grãos de argila expandida, que induziram a um fendilhamento
generalizado nas matrizes, conforme pode se observar na Figura 13.a, com ampliação de 50 vezes,
apresentada. Acredita-se que o dano relacionado só não se apresentou mais efetivo em função da
presença dos rejeitos de fibras de vidro que contribuíram para uma maior estabilidade da matriz,
mostrando que o uso desse rejeito triturado continua atuando como um agente conectante na matriz
quando danificada, conforme observado da figura 13.b, com ampliação de 500 vezes apresentada a
seguir.

 
 

 
Fig. 13 - MEV placas de compósito, detalhes. a) AE, b) FV.

4. CONCLUSÃO

O presente trabalho demonstrou que a inserção de rejeitos de mineração, o quartzito friável e fibras
de vidro, em matrizes de gesso é viável, visto que as propriedades avaliadas nos compósitos
produzidos foram, de uma forma geral, semelhantes à do gesso. A presença dos resíduos de fibras
de vidro indicou resultados satisfatórios, como visto nos resultados do ensaio de ruptura na flexão e
dureza superficial, em que os corpos de prova ensaiados apresentaram apenas pequenas fissuras
após sofrerem as respectivas ações dos ensaios, diferentemente das placas de gesso que se
desintegraram no processo. Acredita-se que as fibras de vidro também contribuíram para redução
nos valores da condutividade térmica, assim como a presença da argila expandida, que de forma
geral, levou a corpos de provas com massas ligeiramente inferiores, mas que por outro lado, elevou
os valores obtidos para a absorção de água como também, contribuiu para redução das resistências a
esforços mecânicos devido a uma possível zona de fragilidade de ligação entre seus grãos e a
matriz. As análises térmicas mostraram que ao final do aquecimento o compósito apresentou uma
perda de massa pouco menor que o gesso, e como visto nas imagens de microscopia para a
definição do traço, as amostras com as adições apresentaram-se em melhores condições e menos
calcinadas ao final do ensaio. O ensaio de resistência ao fogo comprovou a eficiência da inserção
dos rejeitos de fibras de vidro na matriz, agindo como elemento de ligação entre possíveis partes
fissuradas, quanto a argila expandida, sua variação volumétrica teve influência negativa na
performance da matriz. Esse ensaio também mostrou que o rejeito de quartzito teve comportamento
estável perante ao aquecimento, sendo possível sua inserção nas matrizes sem prejuízo à sua
qualidade além de promover um fim nobre ao resíduo.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.

 
 

REFERÊNCIAS

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Time Study of the Dehydration of Plasterboards Under Standard Fire Condition (ISO 834): Thermo-
Chemical Analysis.,” Journal of Fire Sciences, pp. 299-316, 2010.

[16] E. J. Kappert, H. J. M. Bouwmeester, N. E. Benes e A. Nijmeijer, “Kinetic Analysis of the Thermal


Processing of Silica and Organosilica,” J. Phys. Chem. B, pp. 5270-5277, 2014.

[17] ISO, “ISO 834-1 - Fire-resistance tests - Elements of building construction,” Switzerland, 1999.

[18] ASTM, “ASTM E119: Standard Teste Methods for Fire Tests of Building Construction and Materials,”
United States, 2000.

[19] L. F. Vilches, C. Leiva, J. Vale e C. F. Pereira, “Insulating capacity of fly ash pastes used for passive
protection against fire,” Cement & Concrete Composites, pp. 776-781, 2005.

[20] H. Javangula e Q. Lineberry, “Comparative studies on fire-rated and standard gypsum wallboard,” J
Therm Anal Calorim, pp. 1417-1433, 2014.

[21] G. Feitosa, D. Pinheiro e A. C. A. Chinelatto, “Obtenção de mulita a partir de matérias-primas naturais


utilizando ativação mecânica,” Universidade Estadual de Ponta Grossa – Programa de Pós-Graduação
em Engenharia e Ciência de Materiais.

 
 
 

 
ADERÊNCIA DE BARRAS DE AÇO EM CONCRETO
CONCRETOS PRODUZIDOS COM
AGREGADOS DE ESCÓRIA DE ACIARIA

Bonding capacity between steel bars and concrete produced with steel slag
aggregates in steel

*1, Juliana Fadini Natalli2, Fernanda Pereira da Fonseca E


Laís Cristina Barbosa Costa* Elói3,
4 5
Guilherme Jorge Brigolini SSilva , Ricardo André Fiorotti Peixoto
eixoto
1
Mestranda
estranda, Ouro Preto, Brasil, lais.cristina.costa@gmail.com
2
M.S.c,, Ouro Preto, Brasil, juliananatalli24@gmail.com
3
Mestranda, Ouro Preto, Brasil, fernandaeloi94@gmail.com
4
Professor Associado, Ouro Preto, Brasil, guilhermebrigolini@ufop.edu.br
5
Professor Associado, Ouro Preto, Brasil, fiorotti.ricardo@gmail.com

Resumo:Em 2017, foram gerados dos pela indústria siderúrgica 20,9 milhões de toneladas de resíduos e
coprodutos no Brasil, dentre
entre esses se destaca a escória de aciaria.. Dessa forma, a reciclagem da
escória como agregado para a produção de concretos tem o potencial de reduzir o impacto da
construção civil, que é uma grande consumidora de matéria prima. Entretanto, seu uso em conjunto
com o aço foi pouco estudado, mesmo considerando-se
considerando se que no Brasil o concreto armado é
amplamente utilizado como sistema construtivo. Assim, a proposta deste trabalho é investigar a
aderência entre barras de aço tipo CA em concretos,classe
concretos C20, produzidos a partir da substituição
total dos agregados naturais por agregados artificiais, obtidos do pós-processamento
pós processamento de escória de
aciaria. Os mesmos foram submetidos
submetid a ensaios de caracterização
terização física, nos estados fresco e
endurecido. Por meio desses ensaios, foi possível verificar que os concretos de escória e os
concretos convencionais possuem propriedades mecânicas similares para a mesma classe de
resistência. Para
ra a avaliação da aderência das barras nos concretos fabricados, foram produzidos
modelos utilizando três diâmetros diferentes de barra (8mm, 10mm e 12.5mm) que foram
submetidos ao teste de arrancamento, segundo metodologia Pull-Out
Pull test - Rilem RC6. Obser
Observou-se
que os concretos de escória apresentaram aderência aço-concretoaço concreto próxima aos concretos
convencionais. Também foi observado que a aderência é maior para barras de diâmetros maiores.
Esse estudo mostra, então, o forte potencial do concreto com escória de aciaria para uso em funções
estruturais.

Palavras-chave:aderência aço-concreto;
concreto; arrancamento; escória de aciaria.

Abstract:InIn 2017, 20.9 million tons of waste and co-products


co products were generated by the steel industry
in Brazil, among these the steel slag is highlighted. Thus, using the steel slag as an aggregate for the
production of concrete has the potential to reduce the impact of civil construction, which is a major
consumer of raw material. However, the interaction between steel bars and steel eel slag concrete was
not studied, even considering that in Brazil, reinforced concrete is widely used as a construction
system. Thus, the purpose of this work is to investigate the adhesion between CA-type
CA steel bars in
concretes, class C20, produced from the total replacement of natural aggregates by artificial
aggregates obtained from the post-processing
post processing of steel slag. They were submitted to physical
characterization tests, in the fresh and hardened states. By means of these tests, it was possible to
verify
ify that slag concretes and conventional concretes have similar mechanical properties for the
same resistance class. For the evaluation of the adhesion of the bars in the manufactured concrete,
models were produced using three different bar diameters (8mm, 10mm and 12.5mm) that were
submitted to the pull-outout test, Rilem RC6. Slag concretes were found to have steel steel-concrete
adherence close to conventional concretes. It was also observed that the adhesion is greater for bars
of larger diameters. This study then
then shows the strong potential of concrete with steel slag for use in
structural functions.

Keywords: steel-concrete
concrete adhesion; pull-out; steel slag.

1. INTRODUÇÃO
O setor da construção civil tem um enorme impacto no meio ambiente, visto que suas atividades
levam a um grande nde consumo de matérias-primas,
matérias as quais,as cadeias produtivas apresentam
significativo consumo de energia e recursos. Destaca-se se a fabricação de elementos estruturais de
concreto, onde atividades extrativas são extremamente exigidas,
exigidas, seja na fabricação do cimento
Portland ou para obtenção dos agregados. Observa-se
Observa que em 2015 a construção civil consumiu
mais de 700 milhões de agregados, apenas no Brasil[1].
Brasil Dessa forma, a utilização de resíduos e
coprodutos na produção de matrizes de cimento Portland é uma vertente crescente, devido ao
potencial de reduzir o impacto
cto de dois setores diferentes ao mesmo tempo.
Assim, destaca-se
se a indústria siderúrgica a qual possui importante posição na economia brasileira
tendo produzido em 2017 cerca de 34,4 milhões de toneladas de aço bruto[2].. Da mesma forma,
essa produtividade implica em uma substancial geração de resíduos e subprodutos, sendo que para
cada tonelada de aço bruto produzido são obtidos como consequência 607kg de resíduo, desses 27%
é representado pela escória de aciaria [2]. Por isso, nos últimos anos diversos estudos se dedicaram
d
a incorporar esse resíduo em matrizes cimentícias, principalmente como agregados.
San-José,, Vegas, Arribas e Marcos[3]e
Marcos Monosi, Ruello e Sani[4]estudaram
estudaram concretos com
substituição
ão total de agregados graúdos por escória de aciaria, além de incorporação parcial desse
material em fração de areia, ambos observaram uma resistência à compressão superior aos
convencionais. Outros
tros estudos observaram
observ ram que a incorporação de escória de aciaria como agregado
também auxiliaa na melhora do desempenho do concreto a tração e aumenta sua rigidez [5,4,3].Esse
material também foi estudado como agregado em concretos combinado a adições minerais, a fim de
produzir concretos de alto desempenho
desempenho[6].
Apesar de concreto armado ser um dos sistemas estruturais mais utilizados, na literatura ainda não
foi abordado a interação mecânica dos compósitos produzidos a partir desse resíduo com barras de
aço. O fenômeno da aderência concreto
concreto-aço
aço é fundamental para que o compósito se comporte de
forma uniforme e que os materiais atuem com solidariedade.Sabe-se
solidariedade.Sabe se que a aderência ocorre devido
a adesão, ao atrito e aderência mecânica. Estudos comprovaram que quanto maior a resistência à
compressão maior será o fenômeno de aderência entre concreto-aço[7].
concreto
Por isso, especula-se
se que concretos produzidos com agregados de escória de aciaria possuíram uma
boa interação concreto-aço,
aço, devido as boas propriedades mecânicas desse material. Destaca
Destaca-se que
na literatura os concretos armados (fabricados com escória de aciaria) foram avaliados apenas
quanto a problemas de durabilidade, como corrosão por cloretos [8,9]. Assim, o presente trabalho
objetiva estudar a aderência de barras de aço
a tipo CA50 em concretos fabricados com substituição
total de agregados naturais por agregados de escórias de aciaria através do ensaio de arrancamento
Pull-out. Esse trabalho se apresenta como uma continuidade ao estudo apresentado por Souza et
al[10],, tendo sido executado uma nova bateria de corpos de prova e avançando as análises com o
ensaio de aderência.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Materiais
Os concretos da classe C20 estudados nesse trabalho foram fabricados com dois tipos de agregados:
naturais; e de escória de aciaria. Os agregados naturais foram escolhidos a fim de produzir traços de
referência com finalidade comparativa. A fração areia para ra os agregados naturais é proveniente do
Rio do Peixe, em Ponte Nova (Minas Gerais), enquanto que os agregados graúdos são de gnaisse,
extraídoss na região de Ouro Preto (Minas Gerais).
Para a produção dos agregados de escória de aciaria foi utilizado um resíduo proveniente de uma
usina siderúrgica em Minas Gerais, que funciona de acordo com a metodologia integrada Linz Linz-
Donawitz. Esse material foi estabilizado, para hidratação dos óxidos livres, em pátios abertos por
um período de um ano. O resíduo foi recebido em frações de areia (0 (0-4,8mm)
4,8mm) e brita 00 (4,8
(4,8-
9,5mm). A escória bruta foi utilizada como agregado graúdo sem necessidade de processamentos,
por já se enquadrar nos limites da NBR 7211[11].
72 No entanto, foram necessário
necessários ajustes na fração
areia da escória para se enquadrar as prescrições normativas.
Para os concretos de ambos os tipos de agregados foi escolhido o cimento Portland CP V ARI como
aglomerante,devido
,devido a sua composição com baixa incorporação de adições minerais, a NBR 5733
determina teores inferiores a 5% de adição de filler calcário[12].De
calcário De acordo com informações
apresentadas pelo fabricante, esse cimento possui massa específica de 3,07g/cm³ e área superficial
de 1,69m²/g. Além disso, na fabricação dos concretos foi utilizada água proveniente do sistema de
abastecimento de Ouro Preto.
Para o ensaio de arrancamento, foram utilizados também barras de aço CA50 de três dimensões
diferentes: 8mm; 10mm; e 12,5mm. Essas barras possuem resistência característica de 500MPa e
todas estão em conformidade com os parâmetros de massa linear.

2.1. Métodos
O programa experimental desse estudo dividiu-se
dividiu se em três momentos distintos
distintos. Inicialmente foi
procedido a caracterização dos
os materiais abordados na pesquisa: escória de aciaria, agregados em
geral e as barras de aço. Munidos dessas informações,
informações foram produzidos e moldados os concretos,
para ser realizada a sua caracterização.
caracterização. Por fim, foi realizado o teste de arrancamento a fim de
avaliar a aderência aço-concreto.
concreto.

2.1.1 Caracterização dos materiais


Inicialmente a escória de aciaria na fração 0-4,8mm
0 foi separada
rada gravimétricamente a fim de
fabricar o agregado miúdo para o concreto, sendo utilizadas as peneiras de abertura 1,18mm e
2,36mm.. A curva final do agregado miúdo adotado foi produzida pelo seguinte
proporcionamentodas frações: 74,6% da passante na 1,18mm;
1,18mm; 11,36% do retido entre 1,18-2,36mm;
1,18
e 14,05% do retido em 2,36mm. Com isso foi possível enquadrar a areia de escória de aciaria na
zona utilizável proposta na especificação de agregados para concreto[11].
concreto
Quanto aos ensaios de caracterização, foi determinada a composição química da escória de aciaria
através de fluorescência de raio-x
raio (Shimadzu RayNy EDX-720), 720), para realização desse ensaio o
material deve ser passante na peneira 75µm.
75 Então, a escória de aciaria
ciaria seca foi cominuída no
moinho planetário de alta eficiência (Retsch PM100) pelo período de 5 minutos.
O resultado da composição química da escória de aciaria entra como uma caracterização química
dos agregados fabricados a partir desse resíduo. A necessidade
necessidade dessa caracterização nos agregados
de escória seria para identificar possíveis compostos deletérios. Essa dúvida quanto a composição
química não existe com os agregados de referência, compostos por materiais consolidados no
mercado. Então, os agregados,
ados, naturais e de escória de aciaria, foram classificados apenas de acordo
com suas propriedades físicas, sendo relacionados
relacionado os ensaios e os respectivos
respectivo protocolos
normativos na Tabela 1.
Tabela 1– Ensaios necessários para caracterização física dos agregados
Propriedade Física Agregado miúdo Agregado graúdo
Massa Específica NBR NM 52 [13] NBR NM 53:2009[14]
53:2009
Massa Unitária NBR NM 45:2006 [15]
Material Pulverulento NBR NM 46:2003 [16]
Absorção de água NBR NM 30 [17] NBR NM 53:2009[14]
53:2009
Granulometria NM 248:2003[18]

As barras de aço utilizadas no estudo também foram caracterizadas de acordo com sua suas
propriedades elastomecânicas, sendo realizados ensaios de tensão máxima e tensão de escoamento
de acordo com a NBR 7480 [19]..

2.1.2 Produção dos concretos e caracterização


Os traços dos concretos para ambos os agregados foram reproduzidos do trabalho anteriormente
desenvolvido por Souza et al [10
10], com classe de resistência fixa de 20 MPa (C20)
(C20). Observa-se que
para obter concretos com trabalhabilidade e características equivalentes, aqueles com escória de
aciaria tiveram
m seu fator água/cimento elevado.
Tabela 2 –Apresentação dos traços dos concretos desenvolvidos C20
Traços C20 Cimento Areia Brita Água
Concreto de agregado de escória de aciaria (C_LD
( 1 2,05 2,66 0,65
Concreto de agregado natural (C_AN) 1 1,87 2,54 0,59

Os concretos foram produzidos com misturador orbital,


orbital em bateladas, sendo que o protocolo de
mistura consistia em adicionar o agregado graúdo juntamente com 1/3 da água e homogeneizar por
30 segundos. Em seguida, era adicionado o cimento e outro 1/3 da água, misturando pelo mesmo
período.. Por fim, era adicionada a areia e o restante da água, com tempo de homogeneização de
pelo menos 5 minutos, sendo importante observar uma mistura homogênea e coesa. Nesses
concretos foram fixados a trabalhabilidade de 80±10mm de abatimento. No o estado fresco foram
medidas a trabalhabilidade pelo teste de abatimento, NBR NM 67[20];; e massa específica, NBR
9833 [21].
A fim de caracterizar os concretos no estado endurecido,
endurecido, eram moldados corpos de prova
cilíndricos (ϕ10x20cm)
ϕ10x20cm) com adensamento em camada única em mesa vibratória. A massa
específica, índice de vazios e absorção de água por imersão desses corpos de prova eram
determinados aos 28 diass seguindo o protocolo estabelecido pela norma NBR 9778
9778[22]. Com a
mesma idade (28 dias) os concretos eram avaliados de acordo com suas propriedades mecânicas,
resistência à compressão e à tração diametral,
diametra respectivamente NBR 5739 [23]] e NBR 7222 [24].
Paraa ambos os ensaios foi utilizada a prensa EMIC 2000, seguindo as respectivas prescrições
normativas.
Além dos ensaios de caracterização,
caracterização os concretos foram analisados quanto a sua capaci capacidade de
aderência aço-concreto, aos 28 dias, utilizando a metodologia Pull-out test– Rilem RC6 [25]. O
ensaio consiste basicamente em aplicar uma força de tração em uma barra de aço fixada no
concreto, enquanto outra face do corpo de prova se encontra livre, com isso é obtido à força de
tração e o deslocamento relativo entre a barra de aço e o concreto. A prensa utilizada nesse ensaio é
a mesma apresentada anteriormente, um deflectômetro (EE05 EMIC) foi necessário para medir o
deslocamento da barra à medida que o carregamento era aplicado. Considera-se
Considera se que a ruptura da
aderência ocorre quando a barra de aço escorrega, indicando que não existem mais interações entre
aço-concreto.
Para execução desse ensaio foram moldados blocos cúbicos de concreto de 20x20x20 cm, sendo
adensados em duas camadas, com auxílio do vibrador por imersão. Em todos os blocos de co concreto
foi posicionada uma barra de aço, logo após o adensamento. Nesse ponto, era necessário averiguar
que a barra estivesse totalmente centralizada na face do cubo e vertical.
vertical Seguindo as exigências da
norma, Rilem RC6, antes de concretar as a barras de aço
o nos cubos era necessário criar trechos de não
aderência. Esses tinham dimensão de 5ϕ,, sendo realizado o isolamento da barra com um tubo PVC
rígido de 1,27cm,, assim é criado um comprimento de ancoragem conhecido da barra dentro do
concreto. A Fig. 1 apresenta o corpo de prova posicionado na prensa e a barra de aço preparada.

(a) (b)
Fig. 1 - (a) Bloco de concreto com a barra de aço posicionado na prensa para sser
er ensaiado (b) Barra preparada
indicando trecho não aderente.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
2.1. Caracterização dos Materiais
Inicialmente é apresentada a composição química da escória de aciaria, Tabela 3. Nota-se que os
principais componentes desse material são, em ordem, CaO, Fe2O3 e SiO2. As partículas de CaO e
Fe2O3 contribuem para a instabilidade volumétrica da escória de aciaria, visto que
q a sua hidratação
forma produtos expansivos [26 26].. No entanto, esse resíduo foi submetido a um processo de
intemperização de um ano, o que indica que esses compostos se apresentam devidamente
hidratados.
Tabela 3- FRX da escória de aciaria
Composto Teor
SiO2 15,2%
CaO 39,3%
Fe2O3 34,6%
MgO 2,0%
MnO 3,3
Al2O3 1,9%
SO3 1,7%
Cr2O3 1,1%
Outros 0,9%

A Fig. 2 apresenta as curvas granulométricas dos agregados miúdos e graúdos utilizados na pesquisa,
naturais e de escória de aciaria. As regiões em destaque no gráfico são as eespecificações para
granulometria
lometria de agregados definidos pela NBR 7211 [11].. Para os agregados miúdos, observa
observa-se
que todos estão enquadrados nas zonas previstas em norma (ótima e utilizável). Destaca
Destaca-se que com
a separação gravimétrica
métrica realizada na areia de escória (areia LD) foi possível construir uma
distribuição dos grãos praticamente toda inserida na zona ótima de norma. Indicando que o
beneficiamento previsto nesse trabalho foi efetivo em construir um agregado cujo diâmetro das
partículas se enquadra nas exigências de norma.
Com relação aos resultados da granulometria dos agregados graúdos, ambos se encontram dentro
dos limites estabelecidos pela NBR 7211 [11].. No entanto, o agregado de escória de aciaria (brita
LD) se posiciona no limite superior da norma, com grãos menores. Enquanto que o agregado
natural (brita Nat) possui uma curva compatível com o limite inferior da zona prevista em norma.
Apesar de grãos menores indicarem uma menor superposição dos agregados com relação a barra de
aço, promovendo assim uma redução na aderência, esse tamanho de grão também influenciará na
tensão aderente através da demanda de água [27].. Assim, não é possível afirmar apenas pela
granulometria qual terá melhor contribuição a interação aço-concreto.
aço
Fig. 2 –Distribuição
Distribuição granulométrica dos agregados utilizados na fabricação dos concretos
Os demais resultados da caracterização física dos agregados são apresentados na Tabela 4. Observa-
se que os agregados de escória de aciaria apresentam massa específica
específica superior aos convencionais
convencionais,
esse resultado era previsto devido aos altos teores de CaO, SiO2 e Fe2O3, que são compostos de
elevada massa [28].. Todos os teores de material pulverulento atendem as prescrições normativas da
NBR 7211. Quanto a absorção de água, observa-se
observa se que as escórias apresentam resultados superiores
provavelmente devido a sua morfologia.
Tabela 4- Ensaios de caracterização física dos agregados
Ensaio Areia Nat Areia LD Brita Nat Brita LD
Massa Específica 2,63 g/cm³ 3,14 g/cm³ 2,71 g/cm³ 3,37 g/cm³
Massa Unitária 1,44 g/cm³ 1,58 g/cm³ 1,42 g/cm³ 1,77 g/cm³
Material Pulverulento 0,58 % 5,51 % 2,04 % 0,11 %
Absorção de água 0,75 % 7,41 % 1,23 % 2,06 %
DMC 4,8 mm 2,4 mm 12,5 mm 9,5 mm
Módulo de Finura 2,60 2,42 6,18 5,84

Quanto à caracterização das barras de aço, a Fig. 3 apresenta os resultados de tensão de escoamento
e tensão máxima para cada diâmetro utilizado. O valor característico de tensão de escoamento das
barras CA50 é 500MPa, dessa forma observa-se
observa se que todas apresentaram resultados superiores. Com
relação a tensão
o máxima, a NBR 7480 estabelece que seu valor tem que ser maior do que 1,08y, 1,08
onde y é a tensão de escoamento [19].. Dessa forma, os limites para as barras de 8mm, 10mm e
12,5mm, respectivamente, seriam: 655,2
655,2 MPa; 610,2 MPa; e 602,64 MPa. Assim, observa observa-se que
todas estavam dentro das exigências normativas.
Fig. 3 - Resultados de tensão de escoamento e tensão máxima das barras de aço CA50

2.2. Caracterização dos Concretos


No estado fresco os concretos foram caracterizados de acordo com seu abatimento e a massa
específica, Tabela 5. Foi
oi observado que os concretos fabricados com escória de aciaria (C_LD)
obtiveram resultados de trabalhabilidade equivalente aos convencionais, apesar de serem um pouco
inferiores. Com relação a massa específica, os concretos com escória apresentaram resultados
superiores aos convencionais, como esperado, visto que seusseus agregados possuíam maior massa
específica.
Tabela 5- Propriedades no estado fresco dos concretos
Teste Slump (cm) Massa Específica (kg/m³)
C_AN 7,7 2322
C_LD 7,6 2574

Após o período de cura de 28 dias, os concretos foram classificados quanto as suas propriedades no
estado endurecido. A Fig. 4 apresenta as propriedades físicas dos concretos
concretos fabricados, no estado
endurecido. Nota-sese que o C_LD segue a tendência observada no estado fresco com resultados de
massa específica superiores ao convencional, cerca de 8,2%. Com relação a absorção de água e
índice de vazios, esperava-se
se resultados
resultados superiores nos concretos produzidos com escória de aciaria,
pois foi necessário um maior fator água/cimento para obter trabalhabilidades semelhantes. Ambos
os resultados apresentaram aumentos equivalentes, sendo o índice de vazios 28,9% superior ao
convencional,
encional, enquanto que a absorção de água é 26,6%.
Fig. 4 - Caracterização física do concreto no estado endurecido
As informações relativas às propriedades mecânicas dos concretos são apresentadas na Tabela 6.
Nota-se que ambos os traços possuíram fck superior ao dimensionado, sendo o do convencional
28,6 MPa e o de escória de aciaria30,2 MPa. Apesar dos agregados de escória de aciaria terem
contribuído
tribuído para a melhora de ambos os parâmetros mecânicos apresentados, percebe
percebe-se que sua
influência foi maior quando se avalia a resistência a tração diametral. Os concretos do tipo C_LD
foram 22,6% superior aos convencionais. Nesse sentido, observa-se ainda nda que a razão entre a
resistência à tração e à compressão dos concretos de escória de aciaria é mais próxim
próxima do valor
encontrado na literatura de 10%. A explicação para a melhor performance mecânica está
relacionada a uma menor zona de transição de interface
interface entre os agregados de escória de aciaria e a
argamassa e também ao intertravamento
intertravament promovido pela superfície rugosa do agregado [3,29].
Essas características permitem uma melhora nas propriedades mecânicas.
Tabela 6– Resultados das propriedades mecânicas dos concretos
Resistência à Compressão Resistência à Tração
Razão R. Tração/Compressão
28 dias 28 dias
C_AN 35,2MPa 3,1MPa 8,8%
C_LD 36,8MPa 3,8MPa 10,3%

Os resultados do ensaio de Pull--out test é apresentado na Fig. 5. A partir desse gráfico nota-se, que
de forma geral, os concretos com escória de aciaria tiveram resultados superiores de tensão de
aderência quando comparado aos de referência. Além disso, em ambos os casos se percebe uma
tendência de aumentar a tensão de aderência à medida que o diâmetro aumenta. Os concretos de
escória de aciaria tiveram resultados de resistência à compressão superiores aos de referência em
4,55%, enquanto que a tensão de aderência aumentou 50%, 38,8% e 25% para as barras de 8mm,
10mm e 12,5mmm, respectivamente.
respectivamente Percebe-sese que o aumento da resistência influencia
influ mais os
concretos com barras de aço de diâmetros menores. A aderência é um fenômeno que depende da
colaboração entre o aço e o concreto, atuando de forma conjunta.
conjunta Assim, os melhore
melhores resultados de
resistência
ência a tração diametral permitem que a solidariedade entre os materiais cresça, gerando
melhores resultados.
(a) (b)
Fig. 5 - Resultados do ensaio de Pull
Pull-out (a) C_AN (b) C_LD

3. CONCLUSÃO
O presente trabalho estudou a viabilidade técnica da utilização de concretos produzidos com
agregados de escória de aciaria para fabricação de estruturas de concreto armado. Foi observado
que com a incorporação do resíduo ocorreu uma elevação da massa específica, devido
principalmente a composição química do material, rica em SiO, CaO e Fe2O3. Além disso, esses
concretos se mostraram menos trabalháveis demandando um maior fator água/cimento, que teve
como consequência um aumento na absorção de água e no índice de vazios indicando maior
porosidade nesses concretos.
No entanto, isso não interferiu nas propriedades mecânicas dessas matrizes. Os concretos fabricados
com escória de aciaria apresentaram resultados superiores de resistência a compressão e à tração
diametral. Isso se deve principalmente
princi à superfície rugosa dos grãos que permite maior
intertravamento entre a matriz. Além disso, a razão entre a resistência a tração diametral e à
compressão dos concretos com escória de aciaria aumentou.
Essa melhora nas propriedades mecânicas levou a resultados mais expressivos de tensão de
aderência. Esse fenômeno depende principalmente da maior solidariedade entre os materiais,
resultando em uma melhor interação entre aço-concreto.
aço Observou-se
se que quanto maior o diâmetro
da barra de aço, maior será a tensão de aderência. Além disso, o aumento das resistências
influenciou mais a tensão de aderência de barras de diâmetros menores. De forma geral, percebe
percebe-se
a viabilidade técnica mecânica da utilização de concretos de escória de aciaria junto a barras de aço,
apresentando um bom comportamento mecânico e bons resultados de aderência.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.
REFERÊNCIAS
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Brasil.. São Paulo: Associação Nacional das Entidades de
Produtores de Agregados para Construção, 2015.

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2016 Rio de Janeiro, 2018.

[3] J.T. San-José,


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[4] S.. Monosi, M.L. Ruello, and D. Sani, "Electric arc furnace slag as natural aggregate replacement in concrete
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[16] ABNT, NBR NM 46: Agregados - Determinação do material fino que passa através da peneira 75 micrometro,
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COMO A NÃO OBSERVAÇÃO DOS PRESSUPOSTOS DA ANOVA PODE
LEVAR A RESULTADOS EQUIVOCADOS: UM ESTUDO DE CASO NA
ENGENHARIA CIVIL

How not to observe the ANOVA assumptions can lead to wrong results: a case study
in civil engineering

Daniel Martins Papini Mota1, Octávio Alcântara Torres², Gleidson da Silva Santos³
1
Professor Mestre no Centro Universitário Una Barreiro, Belo Horizonte, Brasil, daniel.papini@prof.una.br
2
Professor Mestre no Centro Universitário Una Barreiro, Belo Horizonte, Brasil, octavio.torres@prof.una.br
3
Aluno de graduação no Centro Universitário Una Barreiro, Belo Horizonte, Brasil, gleidson.santos@outlook.com.br

Resumo: O presente trabalho discute a aplicabilidade do teste estatístico não paramétrico de


Kruskal-Wallis como uma alternativa ao teste paramétrico ANOVA em situações em que ocorre
violação dos pressupostos, especialmente, o pressuposto de homocedasticidade (variância constante
dos erros experimentais). Assim a pergunta norteadora deste estudo é: Como a não observação dos
pressupostos da ANOVA podem levar a resultados equivocados ao realizar estudos de comparação
de média? A metodologia utilizada para o trabalho foi a revisão bibliográfica a respeito das técnicas
estatísticas ANOVA e Kruskal-Wallis e, a título de exemplo, realizou-se um estudo de caso. Para
realização do estudo de caso foram utilizados os dados reais de um ensaio de compressão axial do
concreto em que os corpos de prova foram tratados com três diferentes metodologias de
regularização de suas faces. Neste experimento a variável resposta foi a resistência a compressão
axial do concreto, o fator foi o tipo de tratamento utilizado para regularização das faces dos corpos
de prova que contou com três níveis (Neoprene, Retífica, Retífica + Neoprene). O experimento
contou com 30 replicas, totalizando 90 ensaios que foram realizadas de maneira aleatória e pelo
mesmo operador, com o objetivo de eliminar a confusão de efeitos de possíveis fatores de ruído. Os
resultados do experimento foram tratados no software estatístico Minitab 18. Realizou-se uma
análise estatística descritiva, seguida da aplicação da técnica da ANOVA bem como a verificação
dos pressupostos (homocedasticidade, normalidade, variância constante e independência dos
resíduos). Identificou-se a quebra do pressuposto de homocedasticidade, indicando que ao menos
um dos grupos (Neoprene, Retífica, Retífica + Neoprene) apresentou variabilidade diferente dos
demais grupos. Em seguida aplicou-se a técnica não paramétrica de Kruskal-Wallis que é indicada
para este tipo de situação. Observou-se que a utilização da técnica da ANOVA levaria a conclusão
errônea de que os corpos de prova regularizados por retífica apresentam resistência à compressão
axial média menor que aqueles corpos de prova regularizados por retífica + Neoprene. Já a
utilização da técnica de kruskal-wallis leva a conclusão de que não existem diferenças
estatisticamente significativas entre os corpos de prova. Assim ficou demostrado que, no caso do
experimento estudado neste trabalho, a não observação dos pressupostos estatísticos da ANOVA
poderia levar o pesquisador a conclusões equivocadas no que diz respeito à comparação de médias.

Palavras-chave: ANOVA, concreto, estatística.

Abstract: The present paper discusses the applicability of the Kruskal-Wallis non-parametric
statistical test as an alternative to the parametric ANOVA test in situations where there is a violation
of assumptions, especially the assumption of homoscedasticity (constant variance of experimental
errors). Thus the guiding question of this study is: How can nonobservance of ANOVA
assumptions lead to misleading results when performing mean comparison studies? The
methodology used for the study was the bibliographic review of ANOVA and Kruskal-Wallis
statistical techniques and, by way of example, a case study was carried out. For the study of the case
the real data of an axial compression test of the concrete were used in which the test pieces were
treated with three different methodologies of regularization of their faces. In this experiment the
response variable was the axial compressive strength of the concrete, the factor was the type of
treatment used to regularize the faces of the specimens that had three levels (Neoprene, Retífica,
Retífica + Neoprene). The experiment consisted of 30 replicates, totaling 90 tests that were carried
out in a random manner and by the same operator, with the objective of eliminating the effects
condicion of possible noise factors. The results of the experiment were treated in Minitab 18
statistical software. (ANOVA), as well as the verification of the assumptions (homoscedasticity,
normality, constant variance and independence of residues). It was identified the breakdown of the
homoscedasticity assumption, indicating that at least one of the groups (Neoprene, Retífica, Retífica
+ Neoprene) presented different variability of the other groups. Then the non-parametric Kruskal-
Wallis technique was applied, which is indicated for this type of situation. It was observed that the
use of the ANOVA technique would lead to the erroneous conclusion that the specimens
regularized by grinding exhibit lower axial compression strength than those specimens regularized
by grinding + Neoprene. The use of the kruskal-wallis technique leads to the conclusion that there
are no statistically significant differences between the specimens. Thus, it was demonstrated that, in
the case of the experiment studied in this study, the non-observation of ANOVA statistical
assumptions could lead the researcher to erroneous conclusions regarding the comparison of means.

Keywords: ANOVA, concrete, statistic.

1. INTRODUÇÃO
O concreto é definido como uma mistura de aglomerantes, agregados, água e aditivos em
proporções adequadas, os quais tendem dar forma a estrutura e resistir aos esforços de compressão
quando se solidificam. O concreto pode ser considerado como um dos produtos mais consumidos
pela população, isto é, a taxa de consumo do concreto é dada por 2.700 kg/habitante de concreto. O
custo dele na utilização em obras corresponde a um percentual entre 20% a 30% do custo global da
obra [18].
O controle tecnológico através dos ensaios de resistência à compressão axial é uma garantia de uma
avaliação segura do comportamento mecânico do concreto utilizado nas estruturas. Ao realizar o
ensaio de compressão, deve-se ter cautela, pois o mesmo sofre interferências: no calor final causado
pela velocidade do carregamento, pela calibração errada do equipamento, pela faixa nominal do
manômetro, pela cura do concreto e pela forma de regularização das faces para o ensaio, o qual é
objeto de estudo desse trabalho [12].
A realização do controle tecnológico do concreto, na execução de estruturas de concreto armado,
além de garantir a qualidade do produto recebido em obra, trata-se de uma orientação normatizada
segundo normas e procedimentos de programas de gestão da qualidade tais como: NBR 6118 [7],
PBQP-H [11], NBR NM 33 [2], NBR NM 67 [3], NBR 5738:2015 e no ensaio de resistência à
compressão axial [5].
A regularização das faces dos corpos de prova é necessária para a realização de alguns ensaios, pois
a mesma deve garantir, que a carga axial de ensaio, seja distribuída de forma homogênea em todas
as faces (superior e inferior). Nos dias atuais, existem três metodologias aplicadas em laboratórios
de controle tecnológico, sendo elas: a retífica mecânica, o chapéu de neoprene e a retífica mecânica
em conjunto com o chapéu de neoprene. A primeira tem o objetivo de regularizar as faces retirando
uma camada que varia de 1 a 3 mm nas faces superior e inferior do corpo-de-prova [4]. O segundo,
trata-se de uma chapa de aço em formato de chapéu cilíndrico onde se acopla uma borra de
neoprene de aproximadamente 5 mm de espessura [1]. E o terceiro, tem como objetivo diminuir o
desvio padrão entre amostras gêmeas (moldadas da mesma amostra) [5].
Como é possível encontrar uma variação considerável de resultados de ensaios de uma mesma
amostragem utilizando os três métodos citados acima, existe a necessidade de estudar,
estatisticamente, o resultado dessa variação, já que, a metodologia escolhida para regularização das
faces, possui um papel importante no resultado final do ensaio à compressão axial dos corpos de
prova de concreto.

2. OBJETIVO
O objetivo desse trabalho é discutir aplicabilidade do teste estatístico não paramétrico de Kruskal-
Wallis como uma alternativa ao teste paramétrico ANOVA em situações em que ocorre violação
dos pressupostos. Para isso, foram utilizados dados de um experimento conduzido para avaliar o
efeito do fator tipo de tratamento aplicado para regularização das faces dos corpos de prova,
envolvidos no ensaio de compressão.

3. MÉTODOS
Ao analisar a qualidade dos produtos geralmente estamos interessados em mensurar alguma
característica importante deste produto, chamada característica de qualidade. Dizemos que um
produto tem qualidade se esta característica de qualidade do produto estiver próxima ao valor
nominal estabelecido e com uma variabilidade dentro dos limites especificados pelo cliente, ou seja,
tem qualidade quando há conformidade com as especificações. Quando falamos em melhoria da
qualidade de um produto nosso objetivo, via de regra, é fazer com que esta característica de
qualidade se aproxime cada vez mais do valor nominal e também, reduzir a variabilidade o máximo
possível [17].
Entretanto, para alcançar o objetivo de melhorar a qualidade do produto se faz necessário entender
bem o processo produtivo, identificar quais são os fatores que influenciam o processo, quais destes
fatores podem ser controlados e quais não podem ser controlados, identificar, dentre os fatores
controláveis, quais são os que exercem maior influência sobre a característica de qualidade do
produto a ser melhorada e, por fim, criar um modelo que permita entender a relação entre os fatores
e a característica de qualidade [16].
Uma ferramenta estatística que pode ser muito útil para estudos de melhoria da qualidade de
produtos e processos é o Design Of Experiments DOE, ou, Planejamento de Experimentos. “Um
experimento é um procedimento no qual alterações propositais são feitas nas variáveis de entrada de
um processo ou sistema, de modo que se possa avaliar as possíveis alterações sofridas pela variável
resposta, como também as razões destas alterações.” [12]. Nesta definição, as variáveis de entrada
correspondem aos fatores, ou causas, enquanto a variável resposta corresponde ao efeito deste
processo, ou a característica de qualidade estudada.
Para a realização de um experimento planejado é recomendado que sejam realizadas as seguintes
etapas: Identificação dos objetivos do experimento, Seleção da variável resposta, Escolha dos
fatores a serem analisados e seus níveis, Planejamento do procedimento experimental, Realização
do experimento, Análise de dados, Interpretação dos resultados e Elaboração do relatório
[21].Todas estas etapas são extremamente importantes para o sucesso de um estudo e devem ser
realizadas com muita objetividade e precisão. O presente estudo discute os métodos a serem
utilizados na etapa de Análise de dados, apresentando a técnica estatística que é mais utilizada nesta
etapa, a Análise de Variância (ANOVA) bem como os seus pressupostos e também, a técnica
estatística de Kruskal-Wallis, que é a técnica estatística não paramétrica indicada para as situações
em que há quebra de um ou mais pressupostos da ANOVA.

3.1 Testes Estatísticos


Quando realizamos estudos estatísticos com o intuito de comparar grupos a partir de resultados
amostrais o que estamos realizando é na verdade um teste de hipóteses estatístico. Ou seja,
queremos utilizar um resultado amostral para inferir a respeito de toda a população de interesse. Ou
ainda, queremos utilizar estatísticas para inferir sobre os parâmetros populacionais. De certa forma,
ao utilizar estes procedimentos queremos responder a seguinte pergunta: as diferenças observadas
nas estatísticas amostrais são grandes o suficiente para afirmar que existe diferença entre os
parâmetros populacionais dos grupos comparados ou tais diferenças se deve apenas a flutuações
amostrais?
A escolha da técnica estatística utilizada para responder a tal pergunta depende de alguns fatores
tais como: o tipo de variável resposta (quantitativa ou qualitativa), o procedimento utilizado para
coleta dos dados, o tamanho da amostra, a hipótese a ser testada, dentre outros. É importante
observar que toda técnica estatística tem pressupostos que devem ser observados antes de sua
aplicação, ou seja, mesmo que todos os critérios apresentados indiquem que uma determinada
técnica seja adequada para a situação, antes de ser aplicada, se faz necessário observar se o conjunto
de dados amostrais atendem as exigências teóricas da referida técnica estatística [20].
Quando a variável resposta é de natureza quantitativa os testes estatísticos paramétricos mais
utilizados para comparar grupos são o teste Z e o teste T. Estes testes são aplicáveis quando se
deseja comparar apenas dois grupos, por exemplo, quando se realiza um experimento e o fator
estudado apresenta apenas dois níveis. Para aplicação destes testes deve ser observado o
pressuposto de que as populações são Normalmente distribuídas (os dados se ajustam a um modelo
Normal de probabilidade). A escolha entre o teste Z e o teste T irá depender da força da validade
desta suposição de normalidade, dependerá também se as variâncias populacionais dos dois grupos
são conhecidas ou não, se estas variâncias são iguais para os dois grupos ou não, se amostras são
independentes ou pareadas e também dependerá do tamanho da amostra coletada [17]. Em situações
em que a suposição de normalidade é violada uma alternativa é utilizar um teste de hipótese
estatístico não paramétrico. Os testes alternativos ao teste Z e ao teste T são o teste da mediana, o
teste de Wilcoxon-Mann-Whitney, o teste de Kolmogorov-Smirnov, o teste Posto-Ordem Robusto,
dentre outros [20].
Nas situações em que se faz necessário comparar três grupos ou mais, quer dizer, quando o fator
analisado tem três níveis ou mais, ou em situações que se realiza um experimento com mais de um
fator, o teste estatístico paramétrico indicado é a Análise de Variância (ANOVA), isto, devido às
suas vantagens estatísticas se comparado a outros testes como, poder e eficiência. Para aplicação
desta técnica, devem ser observados os seguintes pressupostos: a variância deve ser a mesma em
todos os tratamentos, ou seja, todos os níveis do fator devem apresentar a mesma variância; os
resíduos devem ser normalmente distribuídos, devem apresentar média zero e variância constante e,
devem ser independentes. Quando um ou mais dos pressupostos são violados, faz-se necessário a
aplicação de um teste estatístico não paramétrico, e, neste caso, o teste equivalente à ANOVA é o
teste de Kruskal-Wallis por postos.
A seguir apresenta-se uma breve descrição formal de ambas as técnicas ANOVA e Kruskal-Wallis,
bem como os instrumentos utilizados para verificar a adequabilidade destas técnicas ao conjunto de
dados. E na sequencia é apresentado uma situação real para exemplificar a aplicação de ambas as
técnicas, comparar os resultados e discutir as implicações da não observância dos pressupostos ou
aplicação inadequada da técnica da ANOVA.

3.2 Análise de Variância - ANOVA


A ANOVA é definida como um método para comparar as médias de diversas populações,
frequentemente assumidas como uma distribuição normal. O método testa a hipótese de que as
médias de duas ou mais populações são iguais. Para isso, a ANOVA avalia a importância de um ou
mais fatores, comparando médias de variáveis respostas nos diferentes níveis de fator. A hipótese
nula afirma que todas as médias populacionais são iguais, enquanto a hipótese alternativa afirma
que pelo menos uma é diferente [13].
O foco central, na modelagem estatística ANOVA, é separar as variabilidades devidas às alterações
de parâmetros daquelas oriundas de flutuações aleatórias. As variações aleatórias ocorrem, em
geral, de maneira independente da variação de parâmetros. A separação das variabilidades permite
entender o real efeito das variações dos parâmetros. Caso as variabilidades aleatórias sejam da
ordem de grandeza das determinadas pelas alterações dos parâmetros, não é possível saber se as
respostas obtidas mudaram suas características pela mudança do processo ou simplesmente ser um
resultado do acaso [19].
Sabe-se que, a regressão linear, visa modelar uma variável resposta numérica à custa de uma ou
mais variáveis igualmente numéricas e, uma variável resposta numérica pode depender de uma ou
mais variáveis qualitativas, ou seja, de um ou mais fatores. Em tais situações, pode ser útil a
ANOVA. É possível formular a Análise de Variância como uma técnica distinta da Regressão
Linear. Mas ambas são particularizações do chamado Modelo Linear [19].
Em um experimento, para aplicação da ANOVA, organizamos os dados conforme a Tabela 1:
Tabela 1: Dados da ANOVA
Fator A A1 A2 ... Ak
y11 y12 ... y1k
y21 y22 ... y2k
: : yij :
: : ... :
yn1,1 yn2,2 ... ynk,k
TotaisT.j T.1 T.2 ... T.k T.. =
Num. obs.nj n1 n2 ... nk N=
Médias Ῡ.j Ῡ.1 Ῡ.2 ... Ῡ.k Ῡ.. =
Fonte: elaborado pelos autores
A análise de variância, ANOVA, propõe a seguinte formulação matemática do problema de acordo
com a equação 1:
𝑌𝑖𝑗 = 𝜇 + 𝜏𝑗 + 𝜀𝑖𝑗 ; (1)
Em que: µ é a média geral; 𝜏𝑗 é o efeito do grupo j; 𝜀𝑖𝑗 é um erro aleatório.
A verificação do pressuposto de ajuste à distribuição Normal é feita pelo teste de normalidade de
Anderson-Darling. O pressuposto de variâncias iguais pode ser verificado através do teste de
Levene para igualdade de variâncias. O pressuposto de homocedasticidade pode ser verificado
através da análise do gráfico de resíduos versus valores ajustados. E o pressuposto de independência
pode ser verificado através da análise do gráfico de resíduos versus ordem de coleta. Estas
ferramentas são mostradas na seção de resultados.

3.3 Kruskal-Wallis
A técnica proposta por Kruskal-Wallis é utilizada para comparar medianas de diversas populações,
portanto, ela testa a hipótese nula de que as k amostras provêm da mesma população ou de
populações idênticas com a mesma mediana e, a hipótese alternativa é de que ao menos uma das k
amostras difere das demais. Para aplicação da técnica os dados são organizados de maneira
semelhante à técnica da ANOVA, entretanto, os valores são substituídos por seus postos, ou seja,
todos os dados, de todas as k amostras, são colocados juntos e organizados através de postos em
uma única série (o menor valor é substituído pelo posto 1, e assim sucessivamente até que o maior
valor seja substituído pelo posto N) [20].
Isto feito, calcula-se a soma dos postos, bem como a média dos postos, em cada uma das k
amostras. Desse modo, se as amostras são da mesma população, ou de populações idênticas, os
postos médios devem ser próximos, enquanto que se as amostras vêm de populações com medianas
diferentes os postos médios devem diferir. Assim, a estatística de Kruskal-Wallis pode ser obtida
pela equação abaixo:
12
𝐾𝑊 = ∑𝑘𝑗=1 𝑛𝑗 (𝑅̅𝑗 − 𝑅̅ )2 , (2)
𝑁(𝑁+1)

Onde: k = número de amostras ou grupos


nj = número de casos na j-ésima amostra
N = número de casos na amostra combinada (suma dos nj)
̅ j = média dos postos na j-ésima amostra ou grupo
R
̅ = (N + 1)/2 = média dos postos na amostra combinada (grande média)
R
Quando há mais que cinco observações em cada um dos k grupos (amostras) a estatística KW segue
aproximadamente uma distribuição Qui-quadrado. Isto implica que se o valor observado de KW é
maior ou igual ao valor Qui-quadrado para o nível de significância previamente determinado e para
o observado grau de liberdade (gl=k-1), então a hipótese nula pode ser rejeitada neste nível de
significância.
É importante dizer que a eficiência desta técnica, se comparado à ANOVA é de 95,5%, ou seja,
para igualar o poder do teste de Kruskal-Wallis ao da ANOVA precisamos extrair 10 elementos
para o Kruskal-Wallis para cada 9,55 elementos extraídos para a ANOVA [20].

2.4 Controle tecnológico


O controle tecnológico do concreto é um conjunto de ações que são executadas desde o
recebimento, a amostragem, a moldagem, a cura e a realização do ensaio de compressão segundo
NBR: 12655 [8]. A última etapa do controle tecnológico, o ensaio de resistência à compressão axial
é o método mais difundido no mercado da engenharia. Ressalta-se que essa difusão da utilização do
ensaio de compressão axial do concreto se dá devido a sua facilidade de realização, porém existem
variáveis do ensaio que podem influenciar os resultados, destacando-se a metodologia de
regularização das faces empregadas, isto é o capeamento do corpo de prova [10].
A partir da amostragem do concreto fresco, realizam-se os seguintes ensaios: ensaio de compressão
conforme NBR 12655 [8]; ensaio de consistência, denominado “slump test” conforme NBR NM
67 (ABNT,1998); a moldagem dos corpos-de-prova NBR 5738 [4]; a cura em câmara úmida NBR
9479 [6]; e como ultima etapa. o ensaio de compressão axial de corpos-de-prova cilíndricos de
concreto que segundo a NBR 5739 [5]. Esse último consiste na aplicação de uma carga vertical e
perpendicular à superfície do corpo-de-prova.
Nos ensaios de compressão axial de corpos de prova de concreto às superfícies onde se aplicam as
cargas, devem ser planas, paralelas e lisas, de modo a evitar um carregamento desuniforme, visto
que pequenas irregularidades na superfície já são o suficiente para provocar excentricidade pelo
carregamento desuniforme e, consequentemente, uma diminuição da resistência final do ensaio. Os
métodos de capeamento foram classificados em três sistemas diferentes [10] :
i. sistema de capeamento colado: pasta de cimento, argamassa de enxofre;
ii. sistema de capeamento não colado: uso de elastômeros, principalmente, neoprene e areia;
iii. sistema de desgaste mecânico: retifica as manuais ou mecânicas;
Um capeamento insatisfatório dos topos dos corpos de prova ou um adensamento deficiente
poderão reduzir em até 50 % o valor da resistência à compressão do concreto de um certo corpo de
prova [15].
O procedimento para o capeamento com pasta de cimento segue as diretrizes [4]:
i. decorridas 6h às 15h do momento da moldagem. Passar uma escova de aço sobre o topo do
corpo de prova e rematá-lo com uma fina camada de pasta de cimento consistente. Com
espessura menor ou igual a 3mm;
ii. a pasta deve ser preparada cerca de 2h às 4h antes de seu emprego;
iii. o acabamento dos topos dos corpos de prova deve ser feito com o auxílio de uma placa de
vidro plana, com no mínimo 12 mm de espessura e dimensões que ultrapassem em pelo
menos 25 mm a dimensão transversal do molde;
iv. a pasta de cimento colada sobre o topo do corpo de prova deve ser trabalhada com a placa
até que a face inferior desta fique em contato firme com a borda superior do molde em todos
os pontos;
v. a aderência da pasta à placa de capeamento deve ser evitada, lubrificando-se esta última com
uma fina película de óleo mineral;
vi. a placa deve permanecer sobre o topo do corpo de prova até a desforma.
O Neoprene confinado é uma almofada elastômérica confinada por placas de aço. Essas almofadas
deformam-se no carregamento inicial conformando-se às extremidades dos corpos-de-prova e são
contidas quanto à propagação excessiva da lateral por ser estar em um dispositivo confinado que
garante uma distribuição de carga uniforme. No entanto, a metodologia não é aconselhável para
concretos de baixa resistência menor que 10MPa e para concretos de alta resistência maior que
85MPa, [1].
O sistema de desgaste mecânico é basicamente a retirada de uma fina camada dos topos do corpo de
prova para que eles atinjam as condições ideiais para ser ensaiados. Durante a retificação, é
importante garantir a integridade estrutural da amostra, para isso as retíficas devem estar sempre
calibradas e aferidas para que não ocorra deslocamento do disco e com isso acarrete falhas no
processo de nivelamento, de acordo com [12].

4. RESULTADOS
O estudo seguiu inicialmente as prescrições de Normas Brasileiras ABNT para amostragem,
moldagem, cura e ensaio à compressão axial dos corpos de prova de concreto. Foi realizado com
apoio da Concreteira Concreto Campeão, que forneceu o concreto traço 25 MPa, Slump 16 ± 2,
brita 0, de onde foram moldadas 90 amostras. Aos 28 dias da data de moldagem, foram separados
30 corpos-de-prova para o ensaio utilizando apenas o neoprene, outros 30 corpos-de-prova foram
separados para ensaio utilizando o neoprene mais a retífica (desgaste mecânico) e os 30 finais foram
submetidos apenas a retífica
Após a realização dos ensaios de compressão os dados coletados foram tabulados no software
estatístico Minitab 18. Pode ser observado, que neste experimento, os corpos de prova tratados com
Retífica + Neoprene apresentaram maior resistência a compressão média: 30,340 Fck (MPa) e
menor desvio-padrão 1,423 Fck(MPa), enquanto que aqueles tratados apenas com retífica
apresentaram menor resistência a compressão média: 29,066 Fck(MPa) e maior desvio-padrão
2,287 Fck(MPa), conforme pode ser observado na tabela 2:
Tabela 2: Estatísticas descritivas da resistência a compressão dos corpos de prova por tipo de tratamento aplicado na superfície do
corpo de prova
Variável Tratamento N Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
Fck(MPa) Neoprene 30 29,580 1,542 26,663 33,764
Retífica 30 29,066 2,287 24,789 32,507
Retífica + Neoprene 30 30,340 1,423 28,165 33,807
Fonte: elaborado pelos autores
Para comparar os grupos e verificar se a diferença observada na amostra pode ser considerada
estatisticamente significativa realizou-se os testes de hipóteses estatísticos pertinentes. Para
verificar a adequabilidade da aplicação da ANOVA realizou-se o teste de igualdade de variâncias de
Levene, onde as hipóteses testadas foram: H0: Todas as variâncias são iguais e H1: No mínimo uma
variância é diferente. A estatística do teste foi de 4,49 (p-valor = 0,014), indicando que, ao nível de
5% de significância, ao menos uma variância é diferente. A figura 1 abaixo permite perceber que o
grupo Retífica + Neoprene apresentou variância estatisticamente menor que a variância do grupo
Retífica, uma vez que os intervalos não se sobrepõem.
Figura 1: Teste para igualdade de variâncias entre os grupos de tratamentos

Teste para Igualdade de Variâncias: Fck(MPa) versus Tratamento


Intervalos de comparação múltipla para o desvio padrão, α = 0,05

Comparações Múltiplas
Valor-p 0,025
Neoprene Teste de Levene
Valor-p 0,014
Tratamento

Retífica

Retífica + Neoprene

1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

Se os intervalos não se sobrepuserem, os desvios padrão correspondentes serão significativamente diferentes.

Fonte: Elaborado pelos autores


O resultado apresentado acima implica a quebra do pressuposto de variâncias iguais, inviabilizando
a aplicação da ANOVA e indicando a necessidade de se aplicar a técnica de Kruskal-Wallis. Ainda
assim, aplicou-se ambas as técnicas para fins de comparação de resultados. Com a aplicação da
ANOVA a estatística de teste foi de F=3,84 (p-valor=0,025), ou seja, ao nível de 5% de
significância concluiríamos pela rejeição da hipótese nula. Quer dizer, ao aplicar a ANOVA neste
caso concluiríamos que existem evidências de que ao menos um dos grupos difere dos demais no
que se refere a resistência a compressão média, conforme pode ser visto na tabela abaixo:
Tabela 3: Resultado da Analise de Variância para a resistência a compressão
Fonte GL SQ (Aj.) QM (Aj.) Valor F Valor-P
Tratamento 2 24,63 12,316 3,84 0,025
Erro 87 279,30 3,210
Total 89 303,93
Fonte: Elaborado pelos autores
É importante observar que os demais pressupostos da ANOVA foram satisfeitos, quer dizer, os
resíduos se ajustam a uma distribuição Normal de probabilidade (pelo teste de Anderson-Darlin
obtém-se o p-valor = 0,86), apresentam variância constante e podem ser considerados
independentes, conforme pode ser observado na figura abaixo:

Figura 2: Análise de resíduos para Análise de Variância da Resistência à Compressão

Fonte: Elaborado pelos autores


Diferentemente do resultado apresentado acima, ao aplicar a técnica de Kruskal-Wallis obtém-se
uma estatística de teste KW=89 (p-valor = 0,48), ou seja, ao nível de 5% de significância pode-se
concluir que não existem evidências estatísticas que comprovem a diferença entre as medianas dos
grupos de tratamentos no que se refere a resistência à compressão dos corpos de prova.

5. DISCUSSÃO
Os resultados apresentados na seção anterior indicam que a não observação de apenas um dos
pressupostos da ANOVA, neste experimento, poderiam levar o pesquisador a uma conclusão
precipitada e inválida do ponto de vista metodológico. É importante destacar que todos os demais
pressupostos exigidos pela técnica foram satisfeitos, ou seja, os resíduos apresentaram distribuição
normal, com variância constante e média igual a zero e independentes, ainda assim, o resultado
obtido foi muito discrepante do resultado obtido quando se aplicou a técnica estatística adequada
para a situação, o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis.

6. CONCLUSÃO
Através do tratamento aplicado para regularização das faces dos corpos de prova no ensaio de
compressão, foi possível inferir a aplicabilidade dos tratamentos estatísticos em situações que
ocorrem violação dos pressupostos. Neste trabalho, a não observação dos pressupostos estatísticos
da ANOVA poderia levar o pesquisador a conclusões equivocadas no que diz respeito à
comparação de médias.
Em relação aos resultados coletados dos ensaios de compressão axial, entende-se que a margem de
erro dos resultados de para a metodologia retífica mecânica é superior as demais metodologias,
sendo que a metodologia retífica somada ao uso do neoprene considerada a mais confiável. Porém,
não há comprovação estatística de que exista diferença entre os dois tipos de tratamento. Sobre a
variabilidade dos resultados apresentados pela metodologia retífica, cabe uma análise e comparação
mais aprofundada a fim de verificar possíveis ajustes mecânicos no equipamento de desgaste
mecânico.
Assim, pode-se concluir que, faz-se necessário a observação da adequabilidade das técnicas
estatísticas para as diversas pesquisas da área da engenharia civil, de maneira a garantir a qualidade
e a confiabilidade dos resultados.

REFERÊNCIAS
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concreto fresco – Elaboração. Rio de Janeiro; 1998a.
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pelo abatimento do tronco cone – Elaboração. Rio de Janeiro; 1998 a.
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moldagem e cura de corpos de prova – Elaboração. Rio de Janeiro; 2015ª.
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corpos-de-prova cilíndricos – Elaboração. Rio de Janeiro; 2015.
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úmidas e tanques para cura de corpos-de-prova – Elaboração. Rio de Janeiro; 2006.
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Procedimento – Elaboração. Rio de Janeiro; 2014.
[8] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12655: Concreto de Cimento Portland –
Preparo, controle e recebimento - Procedimento – Elaboração. Rio de Janeiro, 2006.
[9] INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZARTION. ISO GUM: Avaliação de dados de
medição – Guia para expressão de incerteza de medição – Elaboração. 2008ª.
[10] BEZERRA, Augusto C. da Silva. Influência das variáveis de ensaios nos resultados de resistência à
compressão de concretos: Uma análise experimental e computacional. Dissertação de pós graduação da Escola
de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2007.
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Brasília: MCid, Secretaria Nacional de Habitação, 2005. 131p.
[12] BARBOSA, Fred R et. al. Análise da influência do capeamento de corpos-de-prova cilíndricos na resistência à
compressão do concreto. Anais do 51º Congresso Brasileiro do Concreto. Recife: Instituto Brasileiro de Concreto
IBRACON, 2009.
[13] CASELLA, Geroge; BERGER, Roger L. Inferência estatística. São Paulo: Cengage Learnin, 2010.
[14] DAHER, César Henrique Sato. Dosagem do concreto convencional. 1 Edição. Curitiba: Instituto Idd, Faculdade e
Pós graduação, 2008. 82 p.
[15] HELENE, Paulo. Controle da Resistência à compressão do Concreto das Estruturas de Edificações e Obras
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Divisão de Edificações, Agosto 1984. Cap. 11 p. 49 a 54.
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Verônica Calado. 6ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016.
[17] MONTGOMERY, D.C.; Introdução ao Controle Estatístico da Qualidade. Tradução de Ana Maria Lima de
Farias e Vera Regina Lima de Farias e Flores. 7ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 2016.
[18] PINHEIRO, Libânio M.; MUZARDO, Cassiane D.; SANTOS, Sandro P. Fundamentos do concreto e projetos de
edifícios. Escola de Engenharia de São Carlos – Departamento de Engenharia de Estruturas da Universidade
Federal de São Paulo. São Paulo, 2007.
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Graduação em Engenharia de Produção.
[20] SIEGEL, S.; CASTELLAN JR, N.J.; Estatística não-paramétrica para ciências do comportamento. Tradução
de Sara Ianda Correa Carmona. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
[21] WERKEMA, M.C.C.; AGUIAR, S.; Planejamento e análise de experimentos: como identificar as principais
variáveis influentes em um processo. Belo Horizonte: Fundação Cristiano Ottoni, 1996.
ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DA RESISTIVIDADE ELÉTRICA DO
CONCRETO CONFECCIONADO COM AGREGADO GRAÚDO
RECICLADO

Analysis of the evolution of the electrical resistivity of the concrete made with
recycled coarse aggregate

AZZI, Sarah Silva*1; LAGE, Eduardo Brandão Diniz²; SOEIRO, Joaquim Martins³; CHAHUD,
Eduardo4; AGUILAR, Maria Teresa Paulino5
1
Mestranda de Materiais de Construção da UFMG, Belo Horizonte; Brasil
2
Coordenador e Professor da Faculdade Pitágoras, Itabira/MG
³Esp. em Eng. Diagnóstica, INBEC, Serra-ES
4
Professor titular da UFMG, Belo Horizonte; Brasil
5
Professor titular da UFMG, Belo Horizonte; Brasil

Resumo: A construção civil, seja no momento da manutenção ou reforma/demolição, é responsável


pela geração de resíduos, especialmente, resíduos de concreto. No contexto da ecoeficiência,
alternativas vem se desenvolvendo para a reutilização desses resíduos como agregados para produção
de novos concretos. Dados como módulo de elasticidade, resistência mecânica à compressão, e
carbonatação são comuns em estudos da literatura sobre esses concretos. No entanto, são escassos os
dados sobre probabilidade de corrosão da armadura, inserida nesses concretos, por ataque de íons de
cloreto, por meio do ensaio de resistividade elétrica. Neste artigo é analisada a influência do uso do
agregado reciclado em substituição a 20% em peso do agregado graúdo natural na resistividade
elétrica volumétrica e superficial do concreto. Para tal, foram confeccionados concretos com e sem
substituição do agregado natural por agregado de concreto. Estes concretos foram caracterizados
quanto à resistência à compressão, módulo de elasticidade e resistividade elétrica ao longo de 28 dias.
Os resultados indicam que o uso do agregado reciclado não influência na medição da resistividade
elétrica do concreto, seja pelo método volumétrico ou superficial, ou seja, não interfere no risco de
corrosão das armaduras inseridas no concreto.

Palavras-chave: Materiais sustentáveis, resíduo de materiais de construção, resistividade elétrica.

Abstract: The construction, or at the time of maintenance or renovation / demolition, is responsible


for the generation of waste, especially concrete waste. In the context of ecological efficiency, has
developed alternative for reuse of such waste as aggregate for the production of new concrete. Data
such as modulus of elasticity, compressive strength, and carbonation are common in literature
regarding these concretes. However, there is little likelihood of corrosion data on the inserted
reinforcement these concrete attack by chloride ions through the electrical resistivity test. In this paper
we analyzed the influence of the use of recycled aggregate replacing 20 % of the natural coarse
aggregate in the bulk and surface resistivity of the concrete. For such, they were fabricated concrete
with and without replacement of natural aggregate for concrete aggregate. These were characterized
for concrete compressive strength, modulus of elasticity and electrical resistivity over 28 days. The
results indicate that the use of recycled aggregate doesn´t influence the measurement of the electrical
resistivity of the concrete, either by bulk or surface method, that is, it doesn´t interfere in the risk of
corrosion of the reinforcement insert in concrete.

Keywords: Organic materials, waste building materials, electrical resistivity.

1. INTRODUÇÃO
O concreto reciclado surgiu como uma alternativa para minimização do impacto ambiental associado
ao uso de agregados naturais. Segundo [1] o emprego de agregados reciclados nos países europeus
tem origem no período pós-guerra, na década de 40 do século XX, uma vez que a Europa continha
grandes quantidades de escombros e resíduos sólidos provenientes dos bombardeios, que passaram a
ser utilizados como materiais de reconstrução, com bons resultados. Porém a utilização do agregado
reciclado como constituinte do concreto, nas construções civis, depende de alguns fatores como o
tipo de aplicação e a finalidade da obra, o método de dosagem, as taxas de substituição do agregado
natural pelo reciclado e as propriedades inerentes aos resíduos utilizados [2].
Os agregados reciclados possuem um desempenho que funciona da mesma forma que o concreto
reciclado, sendo que, caso o primeiro tenha suas propriedades afetadas por sua porosidade, o segundo,
também terá. O comportamento dos concretos reciclados são determinados por aspectos
característicos dos agregados empregados, como a presença de impurezas, grau de porosidade dos
agregados e as suas diferentes composições [3].
Segundo [4] a proveniência dos agregados reciclados e a etapa construtiva em que se encontravam,
influenciam diretamente nas propriedades dos concretos reciclados, como por exemplo a presença de
cerâmicos, geralmente de resistência reduzida e elevada porosidade, pode aumentar o consumo de
água, e reduzir a consistência e a resistência mecânica. O módulo de elasticidade, a massa unitária e
a estabilidade dimensional do concreto, estão diretamente associados e dependem da densidade e
resistência do agregado [5].
O uso de agregados reciclados, como material de construção, tende a aumentar a retração de secagem,
a fluência, a taxa de carbonatação e a absorção de água, e diminuem a resistência à compressão e a
resistência ao congelamento e ao descongelamento do concreto comparado ao concreto convencional.
Porém com a adequada execução da mistura e aditivos minerais, os inconvenientes podem ser
sanados[6].
Santos et al [7]realizaram ensaios para caracterizar os agregados reciclados e naturais e avaliar, as
propriedades de concretos com a substituição de 20% dos agregados convencionais por resíduos da
construção civil, em três condições (areia, brita 0 e brita 1) (convencionais e oriundos de RCC). Foram
realizados ensaios de absorção de água por capilaridade e por imersão, porosidade e densidade. Os
resultados desses ensaios confirmaram o potencial de utilização dos agregados reciclados e a
importância de se avaliar as características dos materiais e suas propriedades para que seja
identificada a melhor utilização do agregado como constituinte do concreto.
Existem estudos da literatura sobre a durabilidade de concretos com agregados reciclados, eles são
desenvolvidos pela avaliação dos concretos reciclados pela medição da resistência à compressão,
modulo de elasticidade, espectrometria, densidade e por ensaios de absorção. No entanto poucos são
os estudos encontrados sobre a resistividade elétrica desses compósitos cimentícios.
De acordo com [8], o interesse em conhecer a resistividade elétrica é muito importante do ponto de
vista da corrosão da armadura. [5], apontam que o teor de oxigênio disponível na atmosfera e a
resistividade elétrica são responsáveis por controlar a taxa de corrosão da armadura, após, destruída
a camada passivadora do elemento estrutural. É importante ressaltar a necessidade dos concretos
estruturais possuírem a capacidade de impedir à penetração de agentes agressivos visando reduzir
possíveis efeitos causados ao concreto e as armaduras [9].
Andrade [10] explica que a resistividade elétrica está intrinsicamente ligada à porosidade e
conectividade entre os poros do concreto saturado. Quando o concreto não está saturado, essa medida
de resistividade serve como medida de grau de saturação. Para [11], a variável que mais interfere na
medição de resistividade elétrica é o teor de umidade do concreto, visto que, com a diminuição da
umidade, há uma diminuição do teor de solução nos poros, consequentemente, diminuição do
eletrólito responsável pela transmissão de corrente elétrica que passa pelo concreto, logo ocorre,
aumento da resistividade elétrica do concreto.
A resistividade elétrica é responsável pelo controle de fluxo de íons numa solução aquosa nos poros
do concreto, sendo muito sensível a variação de umidade de equilíbrio e a variação de temperatura.
O aumento da temperatura e da umidade contribuem para a diminuição da resistividade elétrica do
concreto [12]. Lencioni [13], classifica o ensaio como não destrutivo, e que permite analisar a
resistência do concreto à penetração de íons cloretos, efeitos de condições de cura na matriz do
concreto e o processo de desenvolvimento da hidratação das matrizes cimentícias com adições
minerais.
As medidas de resistividade elétrica podem ser utilizadas na investigação de propriedades do concreto
tanto em laboratório, quanto no monitoramento in loco de estruturas de concreto. Então se torna
importante analisar a resistividade elétrica do concreto reciclável como parâmetro de durabilidade
desses materiais. Neste contexto, este trabalho investiga a durabilidade do concreto reciclável por
meio da resistividade elétrica volumétrica e superficial, pela resistência a compressão e pelo modulo
de elasticidade.

2. METODOLOGIA
Para o estudo da influência do agregado reciclado na resistividade elétrica foram confeccionados
concretos com agregados naturais e com agregados graúdos obtidos da moagem de corpos de prova
de concretos. Os ensaios foram realizados no Laboratório de Caracterização de Materiais de
Construção Civil e Mecânica e no Laboratório de Concreto, ambos pertencentes à UFMG.
Primeiramente, foi confeccionado um concreto convencional (concreto de referência) utilizando
cimento CPIII, areia silicosa de rio de diâmetro médio de 2,36mm (areia média), brita gnaisse de
diâmetro 19mm (brita 1) e água potável. O traço característico adotado foi de 1:1,3:2,1 e relação água
cimento de 0,46, obtendo-se um slump de 7+1 cm e projetando-se um concreto de 20MPa. Também
foram produzidos concretos de forma similar, apenas substituindo-se 20% em peso do agregado
graúdo natural por agregado obtido da moagem e peneiramento de corpos de prova de concreto. Os
corpos de prova foram moldados de acordo com a NBR 12655 (ABNT, 2015) [14], sendo produzidos
24 espécimes de tamanhos 100x200mm que foram submetidos ao processo de cura por submersão
em água durante os 28 dias.
Nas idades de 7, 14,21 e 28 dias os corpos de prova foram submetidos a ensaios de resistividade
elétrica volumétrica e superficial e caracterizados quanto à resistência à compressão e modulo de
elasticidade.
A resistividade elétrica volumétrica, de norma NBR 9204 (ABNT, 2012) [15], foi determinada no
equipamento desenvolvido no Laboratório de Caracterização de Materiais de Construção Civil e
Mecânica (Figura 1). Nos ensaios foram adotados os seguintes parâmetros: corpo de prova saturado,
frequência de 40 Hz e utilização de lã de aço para maximizar o contato entre a superfície do corpo de
prova e os eletrodos de cobre [16]. Foram realizadas medições em 12 corpos de prova do concreto de
referência e 12 corpos de prova de concreto reciclado

Figura 1: Equipamento para medição de resistividade elétrica volumétrica

O equipamento utilizado nas medições da resistividade elétrica superficial foi o RESIPOD do


fabricante PROCEQ (Figura 2), com 50 mm de distância entre os eletrodos, empregando a frequência
de 40Hz. Embora esta técnica seja comumente utilizada como parâmetro para previsão de vida útil
da estrutura [17] ela foi empregada para medição da resistividade elétrica de corpos de prova de
100x200mm [18]. As medições foram realizadas em todos os corpos de prova de concreto de
referência e do reciclado

Figura 2 - Equipamento pra medição da resistividade elétrica superficial.

A resistência à compressão dos concretos com e sem substituição do agregado graúdo, aos 7, 14, 21
e 28 dias, foi determinada em uma prensa hidráulica da EMIC e realizada segundo a norma NBR-
5739 (ABNT, 2007) [19]. Foram realizados medições com uma amostragem de três corpos de prova
por ensaio. O ensaio de módulo de elasticidade dos concretos foi determinado pelo método de
frequência ressonante forçada utilizando o equipamento Erudite MKII da C.N.S. Eletronics LTDA,
após 7, 14, 21 e 28 dias de cura. Foram realizadas três medições para cada corpo de prova aplicando-
se vibrações com frequência na faixa de 5.000–15.000 Hz e voltagem de 0,5v, considerando constante
de amortecimento superiores a 15.

Figura 3: Equipamento para medição de módulo de elasticidade

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na Tabela 1 e Figuras 3 e 4 são apresentados os resultados do ensaio de resistência à compressão e
módulo de elasticidade do concreto de referência e do concreto com agregado reciclado.
Tabela 1– Resistencia à compressão e módulo de elasticidade do concreto.
Resistência Mecânica (MPa) Módulo de elasticidade (GPa)
Concreto Desvio Concreto Desvio Concreto Desvio Concreto Desvio
Dia
Convencional Padrão Reciclável Padrão Convencional Padrão Reciclável Padrão
7 16,75 0,79 18,11 1,59 29,34 3,14 28,46 3,61
14 20,61 0,80 22,57 2,02 30,57 0,79 31,80 0,69
21 20,98 0,72 22,14 1,24 31,11 0,63 36,80 3,63
28 22,42 1,37 24,29 0,42 37,65 4,56 40,67 3,92

Considerando que o concreto foi projetado para uma resistência à compressão de 20 MPa, verifica-
se que os valores obtidos são adequados: 24 MPa para o concreto reciclável e 22,5 MPa para o
concreto convencional. A homogeneidade dos corpos de prova pode ser avaliada pelos resultados da
resistência à compressão no que se refere ao desvio padrão, cujo valor máximo é 9%, valor este
considerado razoável. A linearidade dos dados é em torno de 0,8, indicando um crescimento
monotônico da resistência mecânica à compressão com a idade do concreto. Como relatado na
literatura [20] [21], considerando os desvios padrões das medidas, é possível observar que o uso de
até 20% de agregado reciclado em substituição ao natural não influência nos valores da resistência à
compressão do concreto.
50
45
40
y = 0,2588x + 17,247
35 R² = 0,7983
30
22,57 24,29
25 22,14
MPa

18,11
20 20,98 22,42
15 20,61
16,75 y = 0,2484x + 15,841
10
R² = 0,8577
5
0
0 7 14 21 28 35
Dias
Concreto Convencional Concreto Reciclável
Linear (Concreto Convencional) Linear (Concreto Reciclável)

Figura 3 – Resistência à compressão do concreto convencional e reciclado.

No gráfico do módulo de elasticidade são observadas as mesmas tendências apresentadas no de


resistência mecânica a compressão: os valores de R2 de 0,77 para o concreto convencional e de 0,99
para o concreto reciclado. Os resultados obtidos indicam uma propensão de crescimento monotônico
do módulo de elasticidade com o tempo de cura. O desvio padrão máximo de 12% sugere uma
uniformidade razoável dos corpos de prova para o ensaio do módulo de elasticidade. O módulo de
elasticidade obtido, aos 28 dias, foi de aproximadamente 40 ohm.m, valor este considerado alto para
um fck em torno de 22Mpa, porém [22] relata que o módulo de elaticidade é proporcional ao aumento
do teor de agregados reciclados no concreto. Como consultado na literatura [23], considerando os
desvios padrões das medidas, é possível perceber que a utilização de 20% de agregados reciclados no
concreto não altera significativamente os resultados dos módulos de elasticidade.
50
45 y = 0,595x + 24,019 40,67
R² = 0,9947 36,80
40
31,80
35 29,34 37,65
30 31,11
25 30,57
GPa

28,46
20 y = 0,3639x + 25,798
R² = 0,7775
15
10
5
0
0 7 14 21 28 35
Dias
Concreto Convencional Concreto Reciclável
Linear (Concreto Convencional) Linear (Concreto Reciclável)

Figura 4 – Módulo de elasticidade do concreto convencional e reciclado.

As medidas das resistividades elétricas superficiais e volumétricas do concreto são apresentadas na


Tabela 2 e nas Figuras 5 e 6. A análise do desvio padrão indica uma uniformidade dos corpos de
prova, os valores não ultrapassam de 5%. Observa-se um crescimento linear das resistividades,
volumétrica e superficial (R2 = 0,95). Este crescimento linear da resistividade elétrica foi também
observado por [24] com a evolução da idade do concreto. O uso de 20% de agregado reciclado em
substituição ao natural não influência nos resultados da resistividade elétrica do concreto.

Tabela 2 – Resistividade volumétrica e superficial do concreto convencional e reciclado.

Resistividade Elétrica Volumétrica (Ohm.m) Resistividade Elétrica Superficial (Ohm.m)


Concreto Desvio Concreto Desvio Concreto Desvio Concreto Desvio
Dia
Convencional Padrão Reciclável Padrão Convencional Padrão Reciclável Padrão
7 74,12 3,46 75,40 1,25 158,47 6,38 156,53 7,38
14 116,21 2,33 117,96 1,37 177,42 10,52 177,67 9,92
21 145,11 2,22 139,13 4,05 213,92 8,18 211,42 9,79
28 162,10 2,66 157,95 1,86 235,17 4,06 236,92 4,84
250
230
210
190 y = 3,8403x + 55,405
R² = 0,9579 162,10
170 145,11
150
ohm.m

117,96 157,95
130 139,13
110 y = 4,1834x + 51,178
90 75,40 116,21 R² = 0,9646
70
50 74,12
0 7 14 21 28 35
Dias
Res. Elét. Vol. Conc. de Refer. Res. Elét. Vol. Conc. Recicl.
Linear (Res. Elét. Vol. Conc. de Refer.) Linear (Res. Elét. Vol. Conc. Recicl.)

Figura 5: Resistividade elétrica volumétrica do concreto convencional e reciclável

250 236,92
y = 3,9271x + 126,91 213,92
230
R² = 0,993 235,17
210
177,67
190 211,42
158,47
170 y = 3,8086x + 129,59
150 177,42 R² = 0,9847
ohm.m

156,53
130
110
90
70
50
0 7 14 21 28 35
Dias
Res. Elét. Super. Conc. de Refer. Res. Elét. Super. Conc. Recicl.
Linear (Res. Elét. Super. Conc. de Refer.) Linear (Res. Elét. Super. Conc. Recicl.)

Figura 6 – Resistividade elétrica superficial do concreto convencional e reciclável


Nos resultados apresentados nas Figuras 5 e 6, pode-se observar uma diferença significativa entre os
valores de resistividade volumétrica e superficial, em torno de 52% para a medição de 7 dias e em
torno de 34% para as medições de 14,21 e 28 dias. Essa diferença entre os dois métodos de medição
de resistividade elétrica, pode ser verificado também na pesquisa desenvolvida por [18], relacionada
ao uso do concreto vencido.
Considerando que a resistividade elétrica volumétrica pode avaliar o risco de corrosão das armaduras
por íons cloretos como indicado nas Tabelas 3 (Comité Euro-International Du Beton – CEB 192),
observa-se que ambos os concretos apresentam uma baixa probabilidade de corrosão, uma vez que o
valor aproximado, em ambos os casos, é de 160 Ohm.m e este número se encontra dentro da faixa de
100 a 200 Ohm.m considerada baixo índice de corrosão
No caso da resistividade elétrica superficial, o risco corrosão pode ser considerado baixo, uma vez
que os valores de resistividade são aproximadamente 235 Ohm.m e este número se encontra acima
da faixa de 200 Ohm.m, considerada desprezível pelo índice de corrosão proposto por [25] (Tabela
4). Assim, analisando essa propriedade em contrapondo a corrosão da armadura, pode se considerar
que os dois casos podem ser aplicados para confecção de peças estruturais no que tange a durabilidade
e risco de corrosão.

Tabela 3: Probabilidade de corrosão em função da resistividade elétrica volumétrica

Resistividade Indicação da
Volumétrica do probabilidade
concreto de corrosão
> 200 ohm.m Desprezível
100 a 200 ohm.m Baixa
50 a 100 ohm.m Alta
< 50 ohm.m Muito Alta
Fonte: CEB 192/1989 apud HOPPE, 2005.

Tabela 4: Probabilidade de corrosão em função da resistividade elétrica superficial

Resistividade Indicação da
superficial do probabilidade
concreto de corrosão
> 1000 ohm.m Desprezível
500 a 1000 ohm.m Baixa
100 a 500 ohm.m Alta
< 100 ohm.m Muito Alta
Fonte: POLDER, 2000.

4. CONCLUSÃO
O uso de 20% de agregado reciclável em substituição ao agregado natural no concreto não influência
nos resultados da resistência à compressão do compósito cimentício, como relatado na literatura por
[22]. O agregado graúdo reciclado consegue exercer a mesma função do agregado graúdo natural e
desempenhar no concreto as mesmas características, necessárias para mantê-lo com as suas
propriedades mecânicas.
Os dados também indicam que o resultado do módulo de elasticidade obtido por frequência
ressonante, aos 28 dias, não é alterado pela substituição de 20% do agregado natural por agregado
reciclado no concreto. O módulo de elasticidade apresenta crescimento monotônico com a evolução
da idade do concreto, ao longo dos 28 dias, considerando o concreto convencional ou o reciclado
A resistividade elétrica superficial e volumétrica apresenta, crescimento linear com a idade de cura,
tanto para o concreto de referência quanto para o concreto reciclado. Porém a resistividade
volumétrica, aos 7 dias, possui resultados que correspondem a uma diferença de 52% em relação a
resistividade superficial, para um mesmo concreto, e 34% de diferença aos 14, 21 e 28 dias.
O uso do agregado reciclado (20%) não influência nas medições das resistividades elétricas. Uma vez
que nas análises das resistividades elétricas volumétrica e superficial o concreto reciclável obteve
resultados aproximados do concreto convencional, ao longo dos 28 dias de ensaio.
Concreto com agregado reciclado (20%) apresenta baixo risco de corrosão das armaduras, de acordo
com as medições da resistividade elétrica volumétrica e superficial e a Tabela 3, tanto para o concreto
convencional quanto para o concreto reciclável. Considerando os resultados obtidos para a
resistividade elétrica, o uso de agregado reciclado não altera o risco de corrosão das armaduras, o que
indicaria seu uso, quanto a este requisito, em concretos para fins estruturais.
Portanto de acordo com os resultados analisados é possível confirmar que o incremento de resíduos
de concreto com o teor de 20%, não afeta o comportamento do concreto em relação ao de referência,
indicando que poderão ser utilizados sem qualquer restrição quanto à resistência e à durabilidade e
com um maior controle de qualidade do material.

REFERÊNCIAS
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pp 603-611
PANORAMA DAS LEIS DE APROVEITAMENTO DE ÁGUA DE CHUVA
NO BRASIL

OVERVIEW OF THE RAIN WATER USE LAWS IN BRAZIL

Andre Kazunori Maebara 1, Douglas Barreto 2


1 UFSCar, São Carlos, Brasil, andremaebara@hotmail.com
2
UFSCar, São Carlos, Brasil, dbarreto@ufscar.br

Resumo: O consumo doméstico de água e a impermeabilização do solo trouxeram problemas como


falta no abastecimento e também inundações. O aproveitamento da água de chuva apresenta-se
como solução para diminuir o consumo de água potável, bem como para amenizar os efeitos das
inundações. Em alguns municípios do estado de São Paulo propuseram legislações para que as
novas construções implantassem sistema de aproveitamento de água pluvial e retenção no lote,
incentivando também o uso racional de água. O objetivo deste trabalho é apresentar o levantamento
das leis municipais de aproveitamento de água pluvial, visando a discussão de parâmetros
importantes de aplicação de leis para implementar o sistema de aproveitamento de água pluvial. Foi
feita uma pesquisa bibliográfica das legislações existentes; levantando os parâmetros importantes de
projeto. Como resultado da análise da legislação constatou-se que dos cinco dos nove parâmetros
destacados, como exemplo dimensionamento e captação, foram citados nas legislações pesquisadas;
verificou-se também que muitas vezes de forma superficial, já os outros quatro, como qualidade da
água e filtragem, foram pouco citados ou não comentados. Considerando que o aproveitamento de
água de chuva é uma solução para a redução do uso de água potável, principalmente para uso como
bacias sanitárias ou rega de jardins, constatou-se que as legislações municipais devem ser revisadas,
pois muitas não apresentam dimensionamento ou especificações técnicas que permitem o
aproveitamento de água adequado. Outro problema encontrado foi a aplicação dessas legislações,
visto que algumas estabelecem critérios muito específicos não sendo viável para uma aplicação
mais generalizada.

Palavras-chave: aproveitamento de água de chuva, legislação, parâmetros.

Abstract: The domestic consumption of water and the impermeability of the soil brought problems
such as lack of supply and flooding. The rainwater harvesting presents as a solution to reduce the
consumption of drinking water, as well as to mitigate the effects of flooding. In some municipalities
in the state of São Paulo, they proposed legislation for the new buildings to implement a system
for the utilization of rainwater and retention in the lot, also encouraging the rational use of water.
The objective of this work is the survey of the municipal laws for the use of rainwater, aiming to
discuss important parameters for law enforcement to implement the rainwater harvesting system. A
bibliographical research was carried out of the existing legislations; raising important design
parameters. As a result of the analysis of the legislation, it was verified that of the five of the nine
parameters highlighted, such as sizing and abstraction, were cited in the legislations researched; it
was also observed that many times in a superficial way, the other four, such as water quality,
filtration, were little mentioned or not commented. Considering that the utilization of rainwater is a
solution for the reduction of the use of drinking water, mainly for use as sanitary basins or irrigation
of gardens, it was verified that the municipal legislations have to be revised, since many do not
present technical design or specifications that allow the use of adequate water. Another problem is
also the application of these legislations, where they establish specific criteria making it
impracticable for a wide application.

Keywords: rainwater harvesting, laws, parameters.

1. INTRODUÇÃO
O aproveitamento da água de chuva é utilizado desde da antiguidade, [1] é relatado que em locais
como Grécia, Itália, Egito já era utilizado desde de antes do ano de 3.000 a.C., sendo até mesmo
como a principal fonte de água.
Com o crescimento das cidades e a grande concentração urbana, as cidades começam a apresentar a
ocorrência de enchentes urbanas e grande demanda de água. Para diminuir esses problemas, na
Europa e América do Norte nos anos 70, implementaram técnicas alternativas ou compensatórias de
drenagem, técnicas essas que por meio de infiltração e armazenamento buscam reduzir o tempo e a
quantidade de água chuva que vai para as áreas impermeabilizadas, reduzindo assim o risco de
inundações [2].
É possível aproveitar a água de chuva para a diminuição do uso de água potável; controle de
enchentes; drenagem pluvial das cidades; entre outros. No Japão, a coleta de água de chuva
acontece por que os reservatórios de abastecimento de água ficam longe das cidades e também por
que as cidades têm grandes áreas superficiais pavimentada impedindo a infiltração da água no solo
[3]. O aproveitamento da água de chuva surge como fonte alternativa para o uso que não há
necessidade de água tradada [4].
O aproveitamento da água de chuva é um importante meio para suprir a demanda de água crescente
das cidades, citando como exemplo países como Estados Unidos, Alemanha entre outros onde o
consumo de água nas residências foi diminuído em 30% com a utilização do aproveitamento da
água de chuva [5].
Há benefícios para o uso da água de chuva, tanto social, econômico e ambientais, tais como [6]:
 Fonte alternativa limpa, independente e ampla;
 Tecnologia simples;
 Redução do volume de água comprada, ou do uso de água potável;
 Redução os custos de construção para novas redes de abastecimento;
 Redução o risco de inundações, devido a modificação no tempo de escoamento da
chuva ao sistema de drenagem urbana.
No âmbito nacional, o abastecimento de água para as cidades ainda tem enfoque nos recursos
hídricos e subterrâneos, ocorrendo o uso de fontes alternativas, água da chuva em situações em que
há baixa disponibilidade hídrica. Mas com o incentivo das legislações de nosso país, o uso de fontes
alternativas, como exemplo água de chuva e águas cinzas, está em crescente, fazendo com que
novos projetos, tanto residencial, comercial ou industrial, tenha a obrigatoriedade de contemplar o
aproveitamento de água de chuva [7].
Neste cenário, algumas cidades brasileiras começam a propor legislações exigindo ou incentivando
a captação, retenção e uso de água de chuva, também medidas para a racionalização de água vêm
sendo adotadas e implantadas na sociedade, como a implantação de novas teorias e tecnologias que
resultem em mudança de comportamento da sociedade, promovendo o uso sustentável da água.
Nos municípios brasileiros que estão em processo de implementação, ou revisão do Plano Diretor,
propõem diretrizes para os novos empreendimentos, para que seja prevista a construção de sistema
para o controle do aumento das vazões gerado pela impermeabilização. Os Planos Diretores
sugerem que sejam instalados, entre outras estruturas, reservatórios de retenção temporário das
águas da chuva
Cidades como Curitiba [8] e Campinas – SP[9] propuseram legislações [8,9] ou programas para a
conservação e uso racional da água nas edificações. Estas legislações estão complementando o
Plano Diretor das cidades, com a inclusão do sistema de captação e uso de água pluvial para
minimizar o uso de água potável nas edificações.
As legislações quando pesquisadas podem se apresentar de diferentes tipos de nomenclaturas
aplicáveis, sendo algumas como:
 Lei: são as leis típicas, ou as mais comuns, aprovadas pela maioria dos parlamentares da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal presentes durante a votação.
 Lei complementar: diferem das leis por exigirem o voto da maioria dos parlamentares que
compõe a Câmara dos Deputados e o Senado Federal para serem aprovadas. Devem ser
adotadas para regulamentar assuntos específicos, quando expressamente determinado na
Constituição da República.
 Resolução: ato administrativo normativo emitido por autoridade superior, com a finalidade
de disciplinar matéria de sua competência específica. As resoluções não podem produzir
efeitos externos, tampouco contrariar os regulamentos e os regimentos, mas sim explicá-los
 Projeto de lei: conjunto de normas que deve se submeter à tramitação no legislativo com o
objetivo de se efetivar através de uma lei. No Brasil, um projeto de lei pode ter sua tramitação
iniciada tanto na Câmara dos Deputados como no Senado Federal
Estas nomenclaturas, pressupõe à uma hierarquia conforme a Figura 1 a seguir.

Figura 1 – Hierarquia para as legislações.


Fonte: https://viagemjuridica.wordpress.com/2012/06/01/direito-civil-parte-geral-i-aula-2/ acesso em 17/05/2017
Há também a classificação das legislações de acordo com sua finalidade como:
 Detenção;
 Uso racional de água;
 Aproveitamento de água de chuva;
 Reuso de água.
A principal norma para o aproveitamento de água de chuva é a ABNT NBR 15527:2007 – Água de
chuva – Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis – Requisitos, no
qual apresenta diretrizes para o sistema de aproveitamento de água de chuva.
Deste modo este trabalho tem o objetivo do estudo e comparação das legislações de aproveitamento
de água de chuva, destacado a importância deste estudo para identificar e padronizar os parâmetros
e diretrizes que permitam o uso conjugado da água de chuva para retenção no lote e aproveitamento
para consumo em atividades que não requeiram água potável nas edificações.

2. METODOLOGIA

A metodologia para o desenvolvimento deste estudo consistiu no levantamento bibliográfico e uma


revisão sistemática das legislações relacionadas ao aproveitamento e retenção de água de chuva. A
pesquisa abrangeu somente em âmbito municipal, entre leis, decretos ou algo similar; e em seguida
foi feito o estudo, fazendo a leitura de todas as legislações encontradas, levantando os pontos
importantes de cada uma delas, bem como comparando uma com as outras e também com a norma
de aproveitamento de água de chuva; e por fim foram levantados os parâmetros importantes de cada
uma delas a fim de comparar quais as semelhanças e diferenças entre as mesmas e semelhanças e
diferenças com a norma, buscando-se identificar os melhores parâmetros.

3. RESULTADOS

Como resultado da revisão sistemática das legislações obteve-se 24 legislações municipais, sendo
estas localizadas mais na região sudeste do Brasil e do tipo Lei, com relação ao ano as legislações
variaram entre os anos de 2002 a 2016, sendo apresentado os dados mais detalhados no Quadro 1 e
Figuras 2 e 3.

a - legislação por região b - legislação por tipo


Figura 2 - Legislação por região e tipo
Figura 3 - Legislação por ano

Já com relação aos parâmetros, foram levantados nove quando comparado as legislações entre elas
e a norma como apresentado na Quadro 1.
Quadro 1 – Legislações e parâmetros
Uso de água de chuva

Qualidade da água
Dimensionamento

Descarte inicial
Aplicação das

Tratamento
legislações
Condução

Filtragem
Captação

Tipo N° Cidade

Lei 13276 São Paulo - SP D D S - D - - - -


Lei 10785 Curitiba - PR S D S D - - - - -
Lei 14018 São Paulo - SP - S - - - - - - -
Lei 17081 Recife - PE - D S D - - - - -
Lei 12474 Campinas - SP S S - D - S S - -
Lei 8718 Ponta Grossa - PR S D S D - - - - -
Lei Complementar 155 Goiânia - GO S D - - D - - - -
Lei 7079 Vitória - SP S D S D - - - - -
Lei 1192 Manaus - AM S S - D - S S - -
Lei 2626 Niterói -RJ D D S - D - S - -
Lei 10506 Porto Alegre - RS S D S D - - - - -
Lei 324 Chapecó - SC D D - D D - - - -
Lei 3461 Foz do Iguaçu - PR S - - - D - - - -
São José do Rio Preto -
Lei 10290 D D S - D - - - -
SP
Lei 6511 Guarulhos - SP S D - - D - - - -
Lei 8080 Florianópolis - SC S D - D - - - - -
Quadro 1 – Legislações e parâmetros (continuação)

Uso de água de chuva

Qualidade da água
Dimensionamento

Descarte inicial
Aplicação das

Tratamento
legislações
Condução

Filtragem
Captação
Tipo N° Cidade

Resolução 18 Londrina - PR D D S D D - S S -
Lei 6801 Petrópolis -RJ S D S D - - - - -
Lei 6110 Bauru - SP - S S - D - - - -
Lei 5279 Rio de Janeiro - RJ S D S D - - - - -
Balneário Camboriú
Lei 3533 S S - - D - - - -
- SC
Lei Complementar 865 Araraquara - SP S D S D D - - - -
Lei 17729 São Carlos - SP S D S D D - - - -
D – Citado de forma detalhada
S – Citado de forma simples
- – Não é atendido

Dentre os parâmetros os que foram apresentados com detalhes foram:


 Dimensionamento: dentre as legislações apenas 5 apresentaram de forma detalhada
como calcular o volume do reservatório, como mostra o Quadro 2.
Quadro 2 – Dimensionamento do reservatório
Tipo N° Cidade Volume reservatório
Lei 13276 São Paulo - SP V = 0,15 x Ai x IP x t
Lei 2626 Niterói -RJ V = 0,15 x Ai x IP x t
para c < 0,5 V = 500 L
Lei 324 Chapecó - SC para 0,5 < c < 0,7 V = 2000 L
para c > 0,7 V = 5000 L
Para Ai ≤ 40% V = (102,55 + 6,335 x (Ai-10)) x At,
Lei 10290 São José do Rio Preto - RO
Para Ai > 40% V = (292,60 + 6,938 x (Ai-40)) x At
Resolução 18 Londrina - PR V = 0,01 x Ac
V = volume do reservatório (m3) IP = índice pluviométrico igual a 0,06 m/h c = área de telhado/área do terreno
Ai = área impermeabilizada (m2) t = tempo de duração de chuva igual a uma hora

As legislações da cidade de São Paulo e Niterói, apresentam formulações semelhantes para o


dimensionamento do reservatório, como variáveis a área impermeável do empreendimento, o índice
pluviométrico e o tempo de chuva, mas, no próprio texto as duas últimas variáveis são descritas
com um valor constate. Para São José do Rio Preto, há uma relação entre a área impermeável e o
tamanho do terreno, estabelecendo faixas e equação para cálculo do volume de reservatório. A
cidade de Chapecó o dimensionamento depende de apenas duas variáveis, área de cobertura e de
terreno, podendo ser três tipos de volumes fixos já propostos pela legislação. Já a resolução da
cidade de Londrina utiliza apenas como variável para o dimensionamento a área de cobertura.
 Uso de água de chuva: descrevendo quais eram os possíveis usos para a água captada
apresentada no Quadro 3.
Quadro 3 – Usos possíveis para água de chuva
Tipo N° Cidade Usos
Lei 10785 Curitiba - PR
Lei 17081 Recife - PE  Rega de jardins;
Lei 12474 Campinas - SP  Lavagem de roupas;
Lei 8718 Ponta Grossa - PR
Lei 7079 Vitória - SP  Lavagem de veículos;
Lei 1192 Manaus - AM  Lavagem de piso e calçadas;
Lei 10506 Porto Alegre - RS
Lei 324 Chapecó - SC  Bacias sanitárias;
Lei 8080 Florianópolis - SC  Combate a incêndio;
Resolução 18 Londrina - PR
Lei 6801 Petrópolis -RJ  Recarga de lençol;
Lei 5279 Rio de Janeiro - RJ  Uso na construção civil;
Projeto de Lei 1381 Belo Horizonte - BH
Lei Complementar 865 Araraquara - SP  Limpeza e abastecimento de piscinas.
Lei 17729 São Carlos - SP

É importante fazer a definição dos usos da água de chuva, pois, dessa forma é possível definir o
com mais precisão o volume de utilização, demanda, fazendo com que o dimensionamento do
reservatório seja mais preciso também.

 Aplicação das legislações: neste parâmetro era descrito o critério para a aplicação do
sistema de aproveitamento de água de chuva, como apresentado no Quadro 4.
Quadro 4 – Critério de aplicação

Tipo N° Cidade Critério de aplicação


Lei 13276 São Paulo - SP Áreas impermeabilizada superior a 500 m²
Lei Complementar 155 Goiânia - GO Área construída igual ou superior a 100 m²
Lei 2626 Niterói -RJ Áreas impermeabilizada superior a 500 m²
Lei 324 Chapecó - SC Área de cobertura maior ou igual a 150 m²
Lei 3461 Foz do Iguaçu - PR Postos e lava rápido
Lei 10290 São José do Rio Preto - RO Área impermeável superior a 100 m²
Lei 6511 Guarulhos - SP Área de cobertura maior ou igual a 250 m²
Resolução 18 Londrina - PR Área construída igual ou superior a 200 m²
Área de cobertura maior ou igual a 300 m² para
Lei 6110 Bauru - SP construção horizontal e 200 m³ para construção
vertical
Lei 3533 Balneário Camboriú - SC Escolas municipais
Projeto de Lei 1381 Belo Horizonte - BH Área construída superior a 300 m²
Lei Complementar 865 Araraquara - SP Área construída igual ou superior a 140 m²
Lei 17729 São Carlos - SP Área construída igual ou superior a 140 m²
O critério para aplicação das legislações é de forma muito especifica, levado em conta o tipo de
empreendimento, área impermeabilizada e área de cobertura. A exemplo a legislação da cidade de
São Paulo, no qual for definindo de forma muito especifica a área de empreendimentos que deve ser
aplicado o sistema de aproveitamento de água de chuva.
Este critério de aplicação deveria ser mais flexível para que as legislações abrangessem todos os
tipos de edificações.
Os parâmetros captação, condução, tratamento, qualidade da água e filtragem, foram apenas citados
que deveriam constar no sistema de aproveitamento de água de chuva, e de forma bem superficial,
sem ter nenhuma recomendação técnica ou sem fazer menção a nenhuma norma técnica. E o
parâmetro de descarte inicial não foi citato em nenhuma das legislações pesquisadas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentre os nove parâmetros levantados e analisados nas legislações, apenas três deles:
dimensionamento, uso e critério de aplicação, estão apresentados nas legislações de forma
detalhada, os demais, quando citados no texto, são de forma simples.
Sobre os parâmetros citados de forma detalhada pode-se concluir que no dimensionamento há
diferenças entre as variáveis das legislações e algumas dessas variáveis são apresentadas como
constantes, exemplo, os índices pluviométricos no qual para o cálculo do volume do reservatório
das cidades de São Paulo – SP e Niterói - RJ seja igual na equação, o volume de chuva das cidades
são diferentes necessitando ser levando em conta para ter um dimensionamento preciso. Para o
Critério de aplicação a apresentação é de forma específica, deixando muito limitado o tipo de
empreendimento que pode ter o sistema de aproveitamento de água de chuva.
O uso de água de chuva deveria ser trabalhado juntamente com os parâmetros de tratamento e
qualidade da água de forma que as legislações fizessem a definição da qualidade de água para cada
tipo de uso que deve ter e consequentemente qual o tipo de tratamento.
As legislações, são propostas por vereadores, que podem ou não ter o conhecimento técnico sobre o
assunto, daí algumas diferenças com a normalização, visto que norma é elaborada por um corpo
técnico especializado no assunto. No entanto, a legislação possui a obrigação de ser cumprida, e a
norma só se torna obrigatória quando citada no texto de uma legislação.
Denota-se a que as legislações, necessitam passar por uma revisão em seu texto de forma abordar os
parâmetros levantada, ou mesmo incluir em seu texto a citação da norma de aproveitamento de água
de chuva NBR 15527 (ABNT, 2007).
O sistema de aproveitamento de água de chuva, deve ser incorporado em legislações nos vários
âmbitos visando tanto na parte sustentável do uso água de chuva nas edificações, como também, na
parte de drenagem urbana das cidades.

AGRADECIMENTOS
Agradeço à CAPES pelo financiamento da pesquisa realizada e também ao PPGECiv da UFSCar
pelo apoio em todas as etapas da pesquisa.
REFERÊNCIAS
[1] KRISHNA, H. J.; PHILIPS, A.; POPE, T.. Rainwater Harvesting and Stormwater Recycling ASLA (American
Society Landscape Architects) Annual Meering, 2002.
[2] BAPTISTA, M. B.; NASCIMENTO, N. O.; BARRAUD, S.; Técnicas compensatórias em drenagem urbana.
ABRH, 2011.
[3] KITA, I. et al.. Local government’s financial assistance for Rainwater utilization in Japan. In: CONFERENCIA
INTERNACIONAL SOBRE SISTEMAS DE CAPTAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA, 9., Petrolina, 199.
Proccedings. Petrolina: ABRH, 199. p. 5.
[4] SILVA, A. R. V; TASSI, T.. Dimensionamento e simulação do comportamento de um reservatório para
aproveitamento de água de chuva: resultados preliminares. SBRH 2005 - João Pessoa/BR. 2005.
[5] LIMA, J.A. et al. Potencial da economia de água potável pelo uso de água pluvial: análise de 40 cidades da
Amazônia. Engenharia Sanitária e Ambiental, Rio de Janeiro, n.3, v.16, p. 291-298, 2011.
[6] CHE-ANI, A. I.; SHAARI, N.; SAIRI, A. ZAIN, M. F. M.; TAHIR, M. M. Rainwater harvesting as na
alternative water supply in the future. European Journal of Scientific Research, v. 34, n. 1, p. 132- 140, 2009.
[7] SENADO FEDERAL. Projeto de lei n. 324, de 2015. Institui obrigatoriedade para as novas construções,
residenciais, comerciais, e industriais, público ou privado, a inclusão no projeto técnico da obra, item referente a
captação de água da chuva e seu reuso não potável e dá outras providências. Brasília, DF, 2015.
[8] CURITIBA, Lei n. 10785 de 18 de setembro de 2003. Cria no município de Curitiba, o programa de conservação e
uso racional da água nas edificações - PURAE.
[9] CAMPINAS, Lei n. 12474 de 16 de janeiro de 2006. Cria o programa municipal de conservação, uso racional e
reutilização de água em edificações e dá outras providências.
[10] ARARAQUARA, Lei Complementar n. 865 de 28 de maio de 2015. Cria o sistema de captação e
aproveitamento de água de chuva, institui a sua obrigatoriedade nos imóveis localizados no município e dá outras
providências.
[11] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15527: Água de chuva – Aproveitamento de
coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis – Requisitos. Rio de Janeiro, 2007.
[12] BALNEÁRIO CAMBORIU, Lei n. 3533 de 26 de dezembro de 2012. Dispõe sobre o controle do desperdício de
água potável distribuída pela rede pública municipal institui o programa municipal de conservação e uso racional da
água em edificações, cria concurso de economia de água nas escolas da rede municipal e dá outras providências.
[13] BAURU, Lei n. 6110 de 25 de agosto de 2011. Cria o programa municipal de uso racional e reuso de água em
edificações e dá outras providências.
[14] BELO HORIZONTE, Projeto de Lei n. 1381 de 13 de novembro de 2014. Estabelece a política municipal de
captação, armazenamento e aproveitamento de águas pluviais e define normas gerais para sua promoção.
[15] CHAPECÓ, Lei n. 324 de 10 de março de 2008. Dispõe sobre a obrigatoriedade de instalação de reservatório e
valas de infiltração para aproveitamento da água da chuva em edificações e dá outras providências.
[16] FLORIANÓPOLIS, Lei n. 8080 de 09 de dezembro de 2009. Institui programa municipal de conservação, uso
racional e reuso da água em edificações e dá outras providências.
[17] FOZ DO IGUAÇU, Lei n. 3461 de 30 de junho de 2008. Dispõe sobre a obrigatoriedade de reservatórios e
captadores de água de chuva nos postos de combustíveis e estabelecimentos de lavagem de veículos e dá outras
providências.
[18] GOIÂNIA, Lei n. 10785 de 18 de setembro de 2006. Torna obrigatório a execução de reservatório para as águas
coletadas por coberturas e pavimentos nos lotes, edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a
500m².
[19] GUARULHOS, Lei n. 6511 de 09 de junho de 2009. Institui o programa municipal de uso racional da água
potável e dá outras providências.
[20] LONDRINA, Resolução n. 18 de 31 de agosto de 2009. Estabelece o programa racional de uso da água.
[21] MANAUS, Lei n. 1192 de 31 de dezembro de 2007. Cria, no município de Manaus, o programa de tratamento e
uso racional das águas nas edificações - Pro - Águas.
[22] NITERÓI, Lei n. 2626 de 30 de dezembro de 2008. Dispõe sobre a instalação de sistemas de aquecimento solar
de águas e do aproveitamento de águas pluviais na construção pública e privada no município de Niterói e cria a
comissão municipal de sustentabilidade urbana.
[23] PETRÓPOLIS, Lei n. 6801 17 de dezembro de 2010. Institui, no município de Petrópolis, o programa de uso e
reuso racional da água- pura, para utilização em condomínios, clubes, entidades, conjuntos habitacionais e demais
imóveis residenciais e comerciais.
[24] PONTA GROSSA, Lei n. 8718 de 21 de dezembro de 2006. Institui no município de Ponta Grossa, o programa
de captação, armazenagem, conservação e uso racional da água pluvial nas edificações urbanas.
[25] PORTO ALEGRE, Lei n. 10506 de 05 de agosto de 2008. Institui o programa de conservação, uso racional e
reaproveitamento das águas.
[26] RECIFE, Lei n. 17081 de 12 de janeiro de 2005. Cria no município do Recife o programa de conservação e uso
racional da água nas edificações.
[27] RIO DE JANEIRO, Lei n. 5279 de 27 de junho de2011. Cria no município do Rio de Janeiro o programa de
conservação e uso racional da água nas edificações.
[28] SÃO CARLOS, Lei n. 17729 de 10 de fevereiro de 2016. Cria o sistema de captação e aproveitamento de água de
chuva e institui a sua obrigatoriedade nos imóveis localizados no município e dá outras providências.
[29] SÃO JOSÉ DO RIO PRETO, Lei n. 10290 de 24 de dezembro de 2008. Cria no município o programa
permanente de gestão das águas superficiais (PGAS) da bacia hidrográfica do Rio Preto, e dá outras providências.
[30] SÃO PAULO, Lei n. 13276 de 04 de janeiro de 2002. Torna obrigatório a execução de reservatório para as águas
coletadas por coberturas e pavimentos nos lotes, edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a
500m².
[31] SÃO PAULO, Lei n. 14018 de 28 de janeiro de 2003. Institui o programa municipal de conservação e uso
racional da água em edificações e dá outras providencias.
Simulação de edificações em container para pesquisa em conforto ambiental

Building Simulation of container test-buildings designed for research on


environmental comfort

Daniele Abe Ribeiro1, André José Ribeiro Guimarães 2, Cintia Akemi Tamura 3, Eduardo Krüger
4, Rodrigo José de Almeida Torres Filho 5

1
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, Curitiba, Brasil, ribeirod@alunos.utfpr.edu.br
2
Universidade Federal do Paraná - UFPR, Curitiba, Brasil, andrejrg@gmail.com
3
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, Curitiba, Brasil, cintiatamura@gmail.com
4
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, Curitiba, Brasil, ekruger@utfpr.edu.br
5
Universidade Tecnológica Federal do Paraná - UTFPR, Curitiba, Brasil, rodrigotorresfilho@yahoo.com.br

Resumo: Simulações de edificações (BS) podem orientar e apoiar a tomada de decisões durante as
fases de projetos. A BS pode ser uma ferramenta essencial na concepção de edificações mais
sustentáveis e avaliação do desempenho térmico de novas tecnologias de construção, como
residências e escritórios feitos com containers. A grande disponibilidade destas estruturas dada sua
vida útil relativamente curta em atividades de transporte e armazenagem, juntamente com suas
formas e tamanhos padronizados e modulares, bem como seu baixo custo, tornam esta tecnologia de
edificação uma opção sustentável atraente a ser explorada no setor de construção. No entanto,
apesar da envoltória da estrutura ser feita de aço resistente a intempéries, ainda há ceticismo quanto
ao desempenho térmico atingido, e se este pode ser adequadamente resolvido com isolamento
térmico. Assim, o objetivo do trabalho é comparar resultados de simulação com medições de
temperatura em escala real de duas pequenas estruturas de contêiner, a fim de validar o modelo
gerado para simulações subseqüentes em outras zonas climáticas. Os dois módulos foram
concebidos como ambientes de escritório para subsidiar estudos de conforto ambiental. Ambos
apresentam as mesmas características e dimensões de envoltória ( 244 cm × 300 cm com altura de
289 cm), tendo aproximadamente 13,5 m³ de volume interno. Cada módulo está assentado sobre
uma plataforma giratória que permite rotação de 360 graus para testes de desempenho de diferentes
orientações solares da fachada envidraçada (WWR de 0,2, vidro simples). A localização é
subtropical úmida com clima Cfb, conforme classificação de Köppen-Geiger (verão ameno, período
de geada severa, sem estação seca). A primeira etapa do estudo compreendeu a mineração de dados,
para identificar a produção acadêmica que trata de testes de desempenho de edifícios de
contêineres, materiais de isolamento de envoltória usados em tais edifícios, bem como modelos e
metodologias de BS empregados nesses estudos. A análise bibliométrica associada às técnicas de
mineração de texto e mapeamento de palavras-chave foi realizada utilizando os repositórios Web of
Science e Scopus. Os resultados desta etapa auxiliaram a definição de métodos e procedimentos de
análise para a segunda etapa, que consistiu no uso do EnergyPlus 8.7.0 como uma ferramenta de
simulação. A calibração do modelo foi baseada nas temperaturas do ar interno, as quais foram
previamente monitoradas com sensores de temperatura a 110 cm de altura. As comparações entre os
resultados da simulação e os dados medidos permitiram verificar a consistência do modelo.

Palavras-chave: análise bibliométrica, simulação de edificações, construções com containers


Abstract: Building Simulation (BS) is relevant for guiding and supporting decision making during
design stages. BS can be an essential tool towards achieving more sustainable buildings and
assessing thermal performance of new construction technologies, such as shipping container homes
and offices. The large availability of this type of structure due to its relatively short lifespan in
transport and warehousing activities, alongside its standardized and modular shapes and sizes, as
well as its low-cost, make this building technology an appealing sustainable option to be explored
in the construction sector. However, considering the fact that the envelope is made of weathering
steel, there is still skepticism regarding indoor thermal performance and whether the latter can be
adequately solved with thermal insulation. Therefore, the objective of this work is to compare
simulation results against full-scale temperature measurements in two small container structures in
order to validate the generated model for subsequent simulations in other climate zones. The two
experimental container modules were conceived as office environments which will subsidize Indoor
Environmental Quality studies. Both modules present same envelope characteristics and dimensions
(outer skin 244 cm × 300 cm with height 289 cm), accounting for approximately 13.5 m³ internal
volume. Each module stands on a rotating platform which allows a 360-degree rotation for
performance testing of different solar orientations of the glazed façade (WWR of 0.2, with single-
glazing). The location is humid subtropical with Cfb climate, according to Köppen-Geiger’s
classification (mild summer, severe frost period, without dry season). The first step of the study
comprised of data mining, with identification of academic output as regards performance testing of
container buildings, envelope insulation materials used in such buildings as well as BS models and
methodologies employed in those studies. The bibliometric analysis associated with text mining
techniques and key-word mapping was carried out using the Web of Science repository for the time
frame 2013-2017. Results of the initial step helped us defining methods and analysis procedures for
the second step, which was based on the use of EnergyPlus 8.7.0 as a simulation tool. Model
calibration was based on indoor air temperatures monitored with temperature sensors at 110 cm
height. Comparisons between simulation results and measured data allowed us to verify data
consistency of model results.

Keywords: bibliometric analysis, building simulation, container building.

1. INTRODUÇÃO

Containers são artefatos de aço resistentes à corrosão, com grande espaço interno para a
acomodação de cargas e com geometria que facilita seu empilhamento e armazenamento. Foram
criados em 1937 por Malcom Mclean, que os concebeu com o intuito de diminuir desperdícios de
tempo e recursos financeiros ao se carregar navios (BUCHMEIER et al., 2010). Os materiais,
dimensões e propriedades técnicas esperadas de um container são descritos pela Norma ISO 668
(ISO, 1995). Quanto à sua definição, o Artigo 4º do Decreto nº 80.145 de 15 de Agosto de 1977,
que dispõe sobre transporte de mercadorias em unidades de carga, define um container como
“um recipiente construído de material resistente, destinado a propiciar o transporte de mercadorias
com segurança, inviolabilidade e rapidez, dotado de dispositivos de segurança aduaneira e devendo
atender às condições técnicas e de segurança previstas pela legislação nacional e pelas convenções
internacionais ratificadas pelo Brasil” (BRASIL, 1977, p.2).
Conforme Milaneze et al. (2012), o transporte marítimo é o setor que mais utiliza containers, sendo
também o principal responsável por seu descarte. Embora sejam confeccionados com material
durável e resistente (aço corten), seu tempo de vida útil é estimado em aproximadamente dez anos.
Após este período, tornam-se impróprios para este fim e seu uso é descontinuado (MILANEZE et
al., 2012).
Costa e Souza (2015), no entanto, afirmam que há uma subutilização destes elementos devido a
diversos fatores, como a inviabilidade financeira do envio dos containers vazios de volta aos portos
de origem. Conforme os autores, isto provoca a “inutilidade forçada” dos containers, resultando em
seu abandono e descarte em zonas portuárias, “gerando pilhas de caixas de aço como montanhas de
lixo esquecidos, que apesar de serem biodegradáveis permanecem durante anos no meio ambiente”
(COSTA; SOUZA, 2015, p.2).
Considerando-se que atualmente cerca de 90% das mercadorias em todo o mundo são transportadas
com o uso de containers (KRONENBURG, 2008), soluções que promovam sua reutilização têm
papel fundamental na redução de seu negativo impacto ambiental.
Uma das formas de reutilização de containers descartados pelo setor de transporte marítimo é a sua
aplicação na construção civil. De acordo com Nunes e Júnior (2018), estes artefatos têm sido
tradicionalmente reutilizados na composição de espaços utilitários de canteiro de obras, como
almoxarifados, depósitos, refeitórios e guarda-volumes, entre outros. Entre as vantagens da
utilização de containers na construção civil, Paula e Tibúrcio (2012) citam o baixo custo, sua
resistência estrutural, a viabilização de futuros deslocamentos, e a facilidade de expansão da área
útil construída, devido à modularidade. Ademais, os espaços construídos com a utilização de
containers podem ser facilmente modificados conforme demanda, possibilitando a associação de
seu uso a diversas estruturas e tipologias, podendo ser utilizado juntamente com outros materiais
como madeira, aço, concreto e vidro (PAULA; TIBÚRCIO, 2012). Desta forma, as vantagens
obtidas com a construção com containers expandiram as possibilidades de aplicações, como a
concepção de ambientes de uso comercial e residencial.
A utilização de containers como opção de moradia surgiu na China por volta de 1990, como solução
de baixo custo. Seguiu sendo difundida na Europa no início dos anos 2000, ainda com o apelo de
construção de custos reduzidos, porém também com o grande foco na redução de tempo de
execução do projeto (FOSSOUX; CHEVRIOT, 2013).
No Brasil, o uso de containers na construção civil tem experimentado aumento significativo na
última década. Como exemplos, Carbonari (2015) cita diversos exemplos de construções comerciais
desta natureza localizados no sul do país, como lojas (Container Store – 2008-1015), restaurantes
(Chicken Pollos – 2014; Madero Container – 2015; Taishi Sushi – 2013) e escritórios (Escritório
M2K – 2012), entre outros.
Quanto aos requisitos a serem contemplados em um projeto arquitetônico com containers, Garrido
(2011) elenca treze pontos: (1) Assegurar um design bioclimático adequado e eficaz; (2) Melhoria
do comportamento térmico e acústico; (3) Prover isolamento na parte externa do envelope
arquitetônico; (4) Aproveitar a enorme inércia térmica do container1; (5) Garantir respirabilidade e
ventilação natural; (6) Assegurar a impermeabilização e evitar a condensação; (7) Fornecer
acabamentos interiores saudáveis, ecológicos e facilmente substituíveis; (8) Assegurar o contrapeso

1
O tipo de container utilizado na construção da CBBC só possui a camada de aço corten, logo, não tem inércia térmica.
eletromagnético e eliminar o efeito “gaiola de Faraday”; (9) Garantir a recuperação, reparo e
reutilização de componentes; (10) Otimizar, tanto quanto possível, recursos e materiais; (11)
Diminuir as emissões tanto quanto possível; (12) Reduzir o desperdício tanto quanto possível; (13)
Diminuir o consumo de energia tanto quanto possível.
A análise das recomendações permite a identificação de dois focos ao se tratar de construções com
containers. Observa-se que, do total de recomendações, as seis primeiras estão diretamente
relacionadas à aplicação de estratégias que visem a garantia do conforto ambiental, com ênfase no
desempenho térmico. As demais recomendações, por sua vez, estão em sua grande maioria
relacionadas à garantia do consumo e manejo sustentáveis de recursos.
Neste contexto, com o intuito de aprimorar técnicas projetuais e orientar a especificação de
materiais construtivos e de acabamento, a utilização de simulações do desempenho térmico de
construções tem demonstrado grande utilidade. Ainda que os resultados de simulações não possam
substituir medições físicas, é amplamente reconhecido que predizer e avaliar o futuro
comportamento de uma edificação é muito mais eficiente e econômico do que resolver os
problemas quando o edifício já está na fase de utilização (HENSEN; LAMBERTS, 2011). Neste
trabalho, utilizou-se o software EnergyPlus 8.7.0 para a realização de simulações de desempenho
térmico de construções em containers.
Conforme Hensen e Lamberts (2011), simulações computacionais de desempenho de edificações
são multidisciplinares, orientadas à resolução de problemas. São normalmente baseadas em
métodos numéricos que visam oferecer uma solução aproximada a um modelo realístico em
complexidade no mundo real.
Assim, a realização de simulações de desempenho térmico de edificações pode contribuir no
processo de tomada de decisão acerca da escolha de materiais estruturais e de acabamento,
orientação de aberturas, entre outros parâmetros projetuais. Desta forma, viabiliza-se a seleção e
aplicação de materiais e técnicas mais adequadas de acordo com as condições climáticas do sítio
onde a edificação se encontra. Aguirre et al. (2008) frisam a importância da flexibilização do
ambiente construído com containers, levando-se em consideração as condições bioclimáticas de
cada região, requisito frequentemente ignorado em projetos.

2. OBJETIVO

Dado o contexto anteriormente apresentado, o objetivo deste artigo é apresentar um comparativo


entre dados simulados e medidos de desempenho térmico no interior de dois ambientes construídos
a partir de containers, localizados na cidade de Curitiba – PR.

3. METODOLOGIA

Esta seção descreve a metodologia adotada para a realização do trabalho. Inicia com o levantamento
realizado por meio da técnica de mineração de dados para determinação do estado da arte de
estudos que utilizam simulações de desempenho térmico em containers, bem como principais
tendências. A seguir, apresenta os procedimentos adotados no monitoramento térmico da CBBC, e
na realização de simulações de desempenho térmico com o software EnergyPlus 8.7.0.
3.1. Mineração de textos

Faro, Giordano e Spampinato (2011) definem mineração de dados como o processo utilizado para a
extração de conhecimento não explícito de textos, tornando a apresentação final lógica e concisa.
Seu objetivo é descobrir informações previamente não conhecidas, por meio da aplicação de um
procedimento de processamento automatizado de um banco de dados textuais (FARO;
GIORDANO; SPAMPINATO, 2011).
Para Gajzler (2010), o processo de mineração pode ser resumido em quatro fases: (1) transformação
do banco de dados textuais; documentos são reconfigurados para um formato texto, sendo retirados
e/ou substituídos símbolos desnecessários; (2) “tokenização”, ou separação de palavras, que
conforme Weiss et al.(2010), consiste na divisão de um texto contínuo em palavras distintas; nesta
etapa remove-se caracteres comuns em textos, que isoladamente não trazem informação relevante,
como símbolos, números, separações silábicas, entre outros; (3) “stemming” ou “lemmatization”
(WEISS et al., 2010) fase onde cada “token” é convertido para uma forma padrão, reduzindo seu
número pelo agrupamento de termos que se referem a um termo em comum, com a extração de
sufixos e prefixos que formam cada token; trata-se de uma “normalização linguística, onde formas
variantes de um termo são reduzidas a uma forma comum, o stem”, conforme Soares, Prati e
Monardi (2008, p. 4); e (4) matriz de frequências, que Fan et al. (2006) descrevem como o estágio
onde os stems são categorizados, associados às respectivas frequências de ocorrência nos textos que
compõem o banco de dados, possibilitando a realização de inferências acerca de suas proximidades,
distâncias, sinônimos e termos relacionados.
Destaca-se que a ocorrência de palavras em determinada sequência pode conter mais informações
que palavras isoladas, fato que demanda como etapa final a elaboração do procedimento
denominado “n-grama”, que estabelece a frequência da ocorrência de palavras unidas a outras, seja
de forma adjacente ou mesmo distante (SOARES; PRATI; MONARD, 2008).
Os procedimentos adotados para a execução da mineração de textos são apresentados no Quadro 1,
e descritos subsequentemente.
Quadro 1 – Procedimento para execução da Mineração de Texto
Etapa Objetivos Materiais
1 – Formação do banco de Formação do banco inicial de dados, com o resgate de artigos a partir da Bases de dados Scopus e
dados string "shipping container*" AND (building* OR construct* OR home Web of Science
OR hous*) nos campos Title, Abstract e Keywords
2 – Seleção dos artigos Remoção de artigos duplicados, sem Abstract e sem ano EndNote®X6 / Rotina
PHP criada pelos autores
3 – Conversão de artigos Preparação e conversão dos artigos, da extensão criada pelo EndNote Rotina PHP criada pelos
X6 (.xml) pata o formato de texto (.txt) autores
4 – Mineração de Texto Identificação e agrupamento dos termos encontrados nos arquivos após PreText 2
conversão
5 – Pré-análise dos resultados Identificação e retirada de stems naturalmente encontrados em artigos EndNote®X6
científicos, como 'results', 'research', 'study', 'paper'

Para a etapa 1, as fontes primárias consultadas para a formação do banco de dados da pesquisa
foram os repositórios online Scopus e Web of Science. Scopus é o maior banco mundial de dados
de resumos e citações de trabalhos científicos revisados por pares. Possui ferramentas de busca para
acompanhar, analisar, visualizar, classificar e refinar resultados de buscas. Composto por mais de
20.000 títulos e mais de 5.000 editores em todo mundo, resulta em aproximadamente 55 milhões de
registros (ELSEVIER, 2015). O Web of Science, por sua vez, possui registros de um período de 110
anos, tornando-o a mais relevante base de dados em número de registros e diversidade de
conteúdos, oferecendo a oportunidade de encontrar material relacionado a 55 diferentes disciplinas
(THOMSON REUTERS, 2015).
A escolha destes repositórios, consultados em 22/10/2018, atenderam aos seguintes critérios: (1)
seleção por conveniência; acesso disponível nas instituições às quais os autores são vinculados; (2)
todas possuem somente artigos revisados por pares; (3) a busca foi realizada utilizando a seguinte
string: "shipping container*" AND (building* OR construct* OR home OR hous*), nos campos
Title, Abstract e Keywords2. Esta foi definida após a realização de testes com várias combinações de
termos apontados pela literatura científica como elementos chave dentro do escopo da pesquisa.
Estes também foram os que ofereceram um maior número de retornos nas buscas preliminares,
sendo adotados como os mais representativos para os objetivos desta; (4) não foi aplicada nenhuma
restrição ao período avaliado, ou seja, os artigos resgatados poderiam ser de qualquer ano.
O levantamento, conduzido conforme os critérios descritos retornou um total de 359 artigos, sendo
256 da Scopus e 103 da Web of Science. A seguir, esta coleção passou pela etapa 2 de seleção de
artigos. Procedeu-se à remoção de documentos duplicados feita no EndNote ®X6, que resultou na
identificação e exclusão de 56 documentos, reduzindo a coleção inicial de 359 para 303 artigos.
Excluíram-se também os arquivos sem informação de ano e/ou autor, que diminuiu a amostra total
para 276 artigos. Na etapa 3, a rotina PHP utilizada no processo de preparação e conversão da
extensão dos artigos da extensão .xml para .txt identificou mais um artigo duplicado, o que resultou
em uma coleção com 275 artigos válidos para a execução da mineração de textos. Na etapa 5,
executaram-se a mineração de texto e a pré-análise dos dados, momento em que foram excluídos
stems cuja ocorrência é notoriamente conhecida em produções científicas, mas que não trazem
informações relevantes para estudos bibliométricos, como result, data, method, popul3, entre outros.
Como resultado da mineração de textos, o software PreText 2 gerou quatro listas de termos, sendo a
primeira com os stems mais recorrentes em todos os artigos analisados, e as demais relativas às
análises 2-grama, 3-grama e 4-grama, ou seja, expressões compostas por dois, três e quatro termos,
respectivamente. Nas análises n-grama, foi alta a frequência de expressões referentes a nomes de
instituições acadêmicas e do próprio assunto estudado, que também foram retiradas das análises.
Para viabilização da mineração, dado o grande volume de stems produzidos, estabeleceu-se como
critérios de seleção para análise até 20 stems de cada série grama, cuja ocorrência fosse registrada
ao menos em 5 artigos distintos.

3.2. Modelo em escala real – Câmara Bioclimática de Baixo Custo (CBBC)

O monitoramento do desempenho térmico do modelo em escala real, a Câmara Bioclimática de


Baixo Custo (CBBC), foi realizado durante o inverno de 2018, no período de 26 a 29 de Junho.
A CBBC é composta por dois módulos independentes de 3 × 2,44 m², com aproximandamente 5,4
m² de área interna criados a partir de containers, instalados em sistemas independentes de rotação
manual. Os módulos controle (MC) e experimental (ME) da CBBC estão localizados na cidade de

2
Título, Abstract e Palavras chave.
3
resultados, dados, método, população.
Curitiba, no campus da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). A planta padrão dos
módulos e a vista geral da CBBC são apresentadas nas Figuras 1 e 2.

Figura 1. Planta esquemática de um módulo da Figura 2. Vista geral dos dois módulos da CBBC –
CBBC módulo experimental (ME) e módulo controle (MC)

A principal premissa do projeto da CBBC foi viabilizar a obtenção de ambientes que


proporcionassem condições satisfatórias para a realização de pesquisas dentro do escopo do
conforto e percepção ambientais. No entanto, por ser um projeto que visa possibilitar sua
reprodução a um baixo custo, quatro aspectos limitantes foram considerados na concepção da
CBBC: (1) atendimento a regulamentações edilícias quanto a dimensionamento, iluminação,
ventilação e ergonomia vigentes, aplicáveis a ambientes educacionais; (2) adaptabilidade a
diferentes condições climáticas; (3) disponibilidade orçamentária e (4) oferta de mão de obra e
materiais locais.
De forma a garantir um desempenho térmico satisfatório na CBBC, admitiram-se as diretrizes
construtivas recomendadas pela NBR 15220/2005 – Desempenho térmico de Edificações (ABNT,
2005). Para Curitiba, pertencente à Zona Bioclimática 1, as principais recomendações construtivas
são a utilização de aquecimento solar, a provisão de elementos de sombreamento que permitam o
acesso solar no período de inverno e a utilização de materiais com grande inércia térmica nas
vedações internas, sendo que nos períodos mais frios do ano, o condicionamento ativo é necessário.
Abaixo, a Tabela 1 apresenta as recomendações normatizadas e as características da CBBC.
Tabela 1 - Estratégias construtivas para o Zoneamento Bioclimático 1 conforme NBR 15220/2005
Parâmetro Especificação Estratégias de CBBC
condicionamento térmico
Aberturas médias A ventilação janela = 15% < Apiso < 25% A – Aquecimento artificial Ar condicionado
(permitir sol durante o período frio) B – Aquecimento solar Janelas com vidro incolor
Paredes leves U ≤ 3,00 W/m².K, ϕ ≤ 4,3 horas, FSo ≤ C – Paredes internas pesadas Espessura das paredes = 20 cm
5,0%
Cobertura leve isolada U ≤ 2,00 W/m².K, ϕ ≤ 3,3 horas, FSo ≤ F - Desumidificação Ar condicionado
6,5%
Quanto aos valores de referência para a transmitância térmica (U) e a capacidade térmica (CT) da
envoltória, adotaram-se os valores definidos pela NBR 15575/2013 – Desempenho de Edificações
Habitacionais (ABNT, 2013). Os valores determinados por norma para obtenção do
condicionamento térmico passivo em construções localizadas na Zona Bioclimática 1 (ZB1), a
composição das camadas das paredes, teto e piso, espessura (e), densidade (ρ), condutividade
térmica (λ) e calor específico (c), bem como os valores calculados de U e CT para cada um destes
elementos são apresentados na Tabela 2.
Tabela 2 - Estratégias construtivas para o Zoneamento Bioclimático 1 conforme NBR 15220/2005
U [W/(m².K)] CT [Kj/(m².K)]
e ρ λ c
Elemento Composição Mínimo*
(mm) (kg/m³) (W/m.K) (kJ/kg.K) Máximo* Obtido Obtido

Aço corten 2 7800 0,55 0,46


PU expandido 15 40 0,03 1,67
Painel Wall* 5 682 0,24 2,09
Parede 2,50 0,87 130 122,544
Painel OSB 11,1 1000 0,20 2,30
Camada de ar - - - -
Painel de gesso acartonado 12,5 1000 0,35 0,84
Aço corten 2 7800 0,55 0,46
PU expandido 15 40 0,03 1,67
Painel Wall* 55 682 0,24 2,09 Não
Teto 2,50 0,87 122,54
Painel OSB 11,1 1000 0,20 2,30 requerido
Camada de ar - - - -
Painel de gesso acartonado 12,5 1000 0,35 0,84
Piso vinílico 3 - - -
Painel Wall* 55 682 0,24 2,09 Não
Piso 2,30 1,00 121,95
Madeira naval 28 1000 0,29 1,80 requerido
PU expandido 15 40 0,03 1,67
*Conforme NBR15575/2013

3.3. Monitoramento térmico da CBBC

Monitorou-se continuamente, a intervalos de 5 minutos, a temperatura do ar (Tar - °C) no interior


do módulo controle (MC) e módulo experimental (ME) da CBBC, durante período próximo ao
solstício de inverno (dias 26/06/18 a 29/06/2018). Para isso, utilizaram-se dois sensores de
temperatura da marca HOBO (modelo RH/Temp H08), que foram mantidos suspensos no interior
de tubos de PVC revestidos internamente com papel alumínio, acoplados a suportes de madeira,
concebidos especialmente para esta finalidade. Estes suportes foram posicionados no centro do piso
dos dois módulos da CBBC, a uma altura de 1,10 m do piso. As Figuras 3, 4 e 5 apresentam,
respectivamente, o sensor utilizado no monitoramento, o mesmo posicionado no suporte e a
localização do conjunto no centro de MC e ME. A janela de duas folhas (0,95m x 1,44m) e
fechamento de vidro 6 mm de cada módulo foi mantida cerrada, com persiana branca de PVC
aberta durante o período de monitoramento considerado neste estudo.

4
Observa-se que, enquanto a transmitância térmica da envoltória atendeu ao recomendado em norma, a capacidade térmica ficou pouco abaixo do
requerido. Isto se deu devido à necessidade de garantir massa térmica sem alterar o padrão típico de construções em container e às restrições
orçamentárias enfrentadas ao longo da construção da CBBC, o que condicionou a composição da envoltória a doações de materiais.
Figura 3. Sensor HOBO Figura 4. Acondicionamento do sensor Figura 5. Localização do conjunto
(RH/Temp H08) no interior do tubo protetor suporte mais sensores no interior
do Módulo Controle (MC)

A fachada envidraçada do módulo controle (MC) permaneceu orientada a norte, e o módulo


experimental foi rotacionado 180°, ficando sua janela orientada a sul. A Figura 6 apresenta a planta
esquemática com a representação desta configuração.

Fig. 6 – Planta esquemática em corte com posição das aberturas dos módulos da CBBC
3.4. Simulação de desempenho térmico - CBBC

Foram usados os programas IDFEditor, Weather Statistics and Conversions (WSC) e EP-Launch do
EnergyPlus 8.7.0 para a simulação da temperatura do ar no interior da CBBC. A simulação foi
realizada seguindo as sete etapas apresentadas na sequência.
(1) Foram inseridas no IDF Editor as coordenadas da envoltória da CBBC, assim como as aberturas
de janela e porta, além das propriedades térmicas dos elementos construtivos, como descrito na
Tabela 2.
(2) Ainda no IDF Editor, na seção Building, foi inserido Suburbs no campo Terrain, dado que a
localização do campus Ecoville está em região menos adensada. As demais configurações-padrão
foram mantidas.
(3) Foi baixada a base de dados horária do INMET da estação automática de Curitiba, de
01/01/2018 até o final do mês de Agosto, contendo dados de: temperatura de bulbo seco,
temperatura de ponto de orvalho, umidade relativa, pressão atmosférica, radiação global horizontal,
velocidade e direção do vento e precipitação. Os dados foram devidamente tratados, sendo a hora
no format UTC ajustada para a local e as unidades das variáveis convertidas para as do arquivo
climático padrão.
(4) Foi gerado o arquivo climático para a simulação com base no arquivo padrão da estação do
INMET que contém o ano climático com as normais do ano de 2008.
(5) Com o WSC, o arquivo climático foi convertido para a extensão .epw.
(6) Foi selecionada como saída a Mean Zone Air Temperature para ser comparada com os dados
medidos pelos sensores instalados nas câmaras.
(7) Foram simuladas no EP-Launch as duas configurações da CBBC, uma com a fachada
envidraçada a norte e outra a sul, ambas com o arquivo climático gerado com os dados de 2018.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1. Stems gerados pelo processo de mineração de textos

Os resultados estão na Tabela 4, que apresenta os stems, a frequência (fi) de cada um, e a
quantidade (n) de resumos em que cada stem ocorre para a amostra de 275 artigos.
Na tabela 1-grama, além dos termos da string de busca, observa-se que apenas alguns stems
aparecem na análise 2-grama, e que alguns aparecem em mais de uma combinação, como cost e
energy. Assim, para o estudo, foi considerada mais relevante a análise 2-grama, por mostrar como
os termos se conectam, indicando que as pesquisas relacionadas à sustentabilidade de containers
não são numerosas e que não parece existir muitos casos de simulação de desempenho térmico em
construções que sirvam para abrigar pessoas (visto que alguns estudos focam em construção de data
centers, por exemplo).
Segundo Berardi (2013), a sustentabilidade das construções é analisada na maioria das vezes
somente sob a ótica da eficiência energética e da redução de gases de efeito estufa, sendo assim,
acaba-se dando ênfase apenas aos parâmetros ambientais. Através da análise 2-grama é possível
perceber que este é o foco das pesquisas que envolvem a sustentabilidade do uso de containers,
sendo que os termos relacionados à sustentabilidade aparecem como "descarte de resíduos"
(wast_disposal), "consumo de energia" (energy_consumption), "resíduo radioativo"
(radioact_wast), "ciclo de vida" (lif_cycle), "resíduo sólido" (solid_wast) e "eficiência energética"
(energy_efficiency). O radical "meio ambiente" (environment) aparece na análise 1-grama, porém o
radical referente a "sustentável" (sustainabl) e "sustentabilidade" (sustaintability) aprecem somente
nas posições 136 (fi =35 e n=23) e 451 (fi =14 e n=11), respectivamente.
A análise 3-grama resultou em apenas 5 stems que atenderam os critérios, todavia, considera-se que
nenhum seja relevante para esta análise, pois não se relaciona com termos associados à
sustentabilidade. A análise 4-grama não retornou resultado dentro dos critérios estabelecidos.
Tabela 4 - Stems, frequência e número de quantidades de publicações para os N-Grama
1-Gram 2-Gram 3-Gram
stems fi n % stems fi n % stems fi n %
contain 868 275 100.00 shipping_contain 497 275 100.00 finit_element_analys 9 8 2.91
shipping 545 275 100.00 finit_element 20 13 4.73 shipping_contain_building 9 7 2.55
design 251 97 35.27 freight_transportation 17 13 4.73 modul_dat_cent 9 6 2.18
building 161 91 33.09 low_cost 17 12 4.36 shipping_contain_hous 9 5 1.82
construction 195 90 32.73 modul_construction 20 11 4.00 cost_benefit_analys 7 5 1.82
modul 154 53 19.27 full_scal 14 11 4.00
cost 118 48 17.45 united_stat 18 10 3.64
energy 196 45 16.36 wast_disposal 16 10 3.64
model 105 45 16.36 energy_consumption 12 10 3.64
performanc 88 45 16.36 dat_cent 44 8 2.91
transport 87 45 16.36 cost_effect 17 8 2.91
materials 75 41 14.91 contain_hous 15 8 2.91
hous 69 40 14.55 radioact_wast 13 8 2.91
impact 153 39 14.18 larg_scal 10 8 2.91
development 63 37 13.45 lif_cycle 24 7 2.55
environment 47 36 13.09 solid_wast 20 7 2.55
air 101 35 12.73 debr_impact 20 7 2.55
products 49 35 12.73 contain_building 11 7 2.55
temperatur 56 34 12.36 energy_efficiency 10 7 2.55
industry 49 33 12.00 supply_chain 9 7 2.55

4.2. Comparativos entre o resultados de Tar registrados na CBBC e simulados pelo EnergyPlus
Os gráficos com as temperaturas do ar (Tar - °C) obtidas pelo INMET, pelo monitoramento no
interior dos módulos MC e ME, bem como os valores gerados a partir das simulações realizadas
com o EnergyPlus são apresentados nas Figura 7 e 8.

Fig. 7 – Comparativo entre Tar (°C) medidas no interior do Módulo Controle (MC) e simulados
Fig. 8 – Comparativo entre Tar (°C) medidas no interior do Módulo Experimental (ME) e simulados

Observa-se na Figura 7, que no MC da CBBC (fachada Norte), salvo um curto período de tempo, a
temperatura medida permaneceu sempre superior à temperatura do ar externa, e que a temperatura
simulada segue a mesma tendência. Este fato indica que a alta inércia térmica da envoltória dificulta
as trocas térmicas com o exterior, ao mesmo tempo em que a fachada de vidro de pouca espessura
permite entrada significativa de radiação, intensificando os picos de temperatura durante o período
de insolação direta. Também é possível observar que o modelo, apesar de apresentar maiores erros
ao calcular os picos de temperatura, representa de forma satisfatória as curvas de ganho e perda de
calor, acompanhando as oscilações dos dados medidos. O atraso térmico não é muito aparente nesta
situação.
Na figura 8 pode-se verificar que em todo o período analisado a temperatura simulada sempre
excede a medida, porém com uma variação bem menor do que na situação de fachada norte. Nesta
configuração também é possível identificar o atraso térmico e a redução da amplitude térmica
causados devido à inércia térmica da envoltória da CBBC. O fato da janela não ter recebido
insolação, por estar voltada para o sul e se tratar de situação de inverno, não gerou ganho de calor
por esta fonte no ME.

Fig. 9 – Médias de Tar (°C) medidas no interior do Módulo Controle (MC – fachada Norte), Módulo
Experimental (ME – fachada Sul), simuladas e registradas pelo INMET
A Figura 9 mostra que a diferença entre a média das temperaturas simulada e medida para o MC é
de 0,4°C, e entre o simulado e o ME de 1°C, sendo que em ambas as situações a média das
temperaturas medidas é menor do que as simuladas, apesar de haver maior variabilidade na
distribuição dos dados medidos. Na situação de fachada a norte, as diferenças entre as temperaturas
máxima e mínima variam 12,8°C e 7,7°C, para os dados medidos e simulados, respectivamente. Na
situação de fachada a sul existe menor variação, sendo de 7,5°C para os dados medidos e 6,2°C para
os simulados, para mesma condição de diferença de 12,8°C entre as temperaturas máxima e mínima
do ar externo (INMET). Se comparadas as situações de fachada norte e sul, as temperaturas
mínimas, tanto medidas quanto simuladas, quando não iguais, ficaram muito próximas, enquanto
que para as máximas houve diferença de 5,3°C entre os dados medidos e de 2°C para os simulados.
A diferença entre as temperaturas médias medidas entre fachada norte e sul foi de 1,7°C para os
dados medidos e 1,1°C para os simulados, evidenciando a influência da orientação da fachada
envidraçada nos ganhos de calor.
A estação do INMET se situa cerca de 12km do local de estudo e existe variação de temperatura
entre as localidades. Portanto, em estudos futuros, há previsão do uso de estação meteorológica no
local para o monitoramento de variáveis climáticas, visando à coleta de dados mais refinados para
controle.
A correlação entre os dados simulados e medidos para ambas as configurações, fachada Norte e Sul
são apresentadas nas Figuras 10 e 11.
A correlação entre os dados simulados e medidos na fachada Norte apresenta maior dispersão nos
dados, sendo esta maior quanto maior a temperatura registrada. Todavia, como visto nas Figuras 7 e
10, a maior variação entre os dados simulados e medidos se dá durante os picos de temperatura,
sendo que nas demais condições as curvas apresentam comportamentos semelhantes, sendo isto
indicado pelo coeficiente de correlação (R²) igual a 0,8061. Já no caso da fachada Sul, como é
possível verificar na Figura 8, existe menos dispersão entre os dados, resultando em um R² de
0,9799. Embora a correlação seja alta para ME, ainda existe discrepância entre os valores mais
baixos de temperatura: enquanto os valores mais altos simulados correspondam aos medidos, os
valores mais baixos são superiores aos medidos.

Fig. 10 - MC - Correlação entre dados simulados e medidos Fig. 11 - ME - Correlação entre dados simulados e medidos
4. CONCLUSÕES

A mineração de texto permitiu verificar que apesar de o número de construções em container estar
crescendo, que o número de pesquisas relacionadas ao tema ainda não é muito expressivo. Ainda,
na análise 2-grama observou-se que a abordagem orientada à sustentabilidade de ambientes
construídos em containers está focada somente na base ambiental do tripé, com ênfase para o
desempenho energético dessas construções e seu reuso visando à redução de resíduos.
Na avaliação do modelo usando o EnergyPlus, verificou-se que a partir da análise dos resultados
das simulações é possível fazer predições do comportamento térmico da CBBC, em especial em
situações onde não haja radiação direta entrando por aberturas, pois o modelo apresentou valores
estatisticamente significativos para o coeficiente de correlação. Desta forma, considerando o
objetivo do estudo de fornecer diretrizes para a replicação da CBBC em outras zonas bioclimáticas,
o modelo se mostrou consistente com a realidade.
Como limitação ao estudo, cita-se a impossibilidade da coleta de dados climáticos locais. Para os
próximos estudos, é previsto o registro in loco destes dados, o que contribuirá com a maior acurácia
do método proposto, ao se reduzir as incertezas inerentes à simulação.
Ainda, salienta-se que a configuração com a persiana de PVC fechada também será testada e
validada em estudos futuros, assim como situações de condições climáticas diferentes, auxiliando o
ajuste fino do modelo.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES e ao CNPq pela concessão de bolsas de mestrado, doutorado e pós-
doutorado que viabilizaram a produção da pesquisa.

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ESTUDO DA LAMA VERMELHA NA FABRICAÇÃO DE GEOPOLÍMEROS
SEM ADIÇÃO DE HIDRÓXIDO DE SÓDIO

Study of red mud in the production of geopolymer without sodium hydroxide addition

Thamires Rangueri de BARROS1, Marcela Aguiar NOGUEIRA*2, Keoma Defáveri do Carmo e


SILVA3, Guilherme Jorge Brigolini SILVA4, Ricardo André Fiorotti PEIXOTO5
1
Engenheira Civil, Ouro Preto, Brasil, lais.cristina.costa@gmail.com
2
Graduando, Ouro Preto, Brasil, juliananatalli24@gmail.com
3
Professor Assistente, Lavras, Brasil, fernandaeloi94@gmail.com
4
Professor Associado, Ouro Preto, Brasil, guilhermebrigolini@ufop.edu.br
5
Professor Associado, Ouro Preto, Brasil, fiorotti.ricardo@gmail.com

Resumo: O alumínio é um dos metais mais utilizados mundialmente. Entretanto, a produção da


alumina gera uma grande quantidade de lama vermelha, um resíduo que possui hidróxido de sódio
(NaOH) na sua composição. Devido à alta alcalinidade desse rejeito, o mesmo é considerado
corrosivo e, portanto, sua destinação final em barragens representa um risco socioambiental. Assim,
o objetivo do presente estudo é fabricar um geopolímero a partir da lama vermelha sem adição de
solução ativadora, visto que esse resíduo já possui uma porcentagem significativa de NaOH.
Inicialmente, foi feita a caracterização química e mineralógica da lama vermelha, além da obtenção
do seu pH. Prosseguiu-se com um estudo inicial do processo de fabricação do geopolímero, no qual
foram moldados corpos de prova cilíndricos apenas com a lama vermelha, submetidos a cura
térmica à 60°C por 24 horas. Esses se mostraram friáveis, sem suportar o manuseio, além de
exibirem grande formação de eflorescência, o que indica a não-ocorrência da geopolimerização. A
partir desses resultados, decidiu-se fabricar geopolímeros com uma temperatura de cura superior
(100°C) e com a lama em duas condições diferentes: in natura e com adição de água. As matrizes
fabricadas foram testadas quanto as suas propriedades mecânicas: resistência a compressão e a
tração na flexão. Observou-se que os geopolímeros produzidos tiveram uma resistência a
compressão baixa, porém atenderam a normatização brasileira para blocos de alvenaria com furos
na horizontal, o que indica a aplicabilidade desse material.

Palavras-chave: lama vermelha; geopolímero; construção sustentável.


Abstract: Aluminum is one of the most used metals worldwide. However, the production of
alumina generates a large amount of red mud, a residue that has sodium hydroxide (NaOH) in its
composition. Due to the high alkalinity of this waste, it is considered corrosive and, therefore, its
final destination in dams represents a socio-environmental risk. Thus, the objective of the present
study is to manufacture a geopolymer from the red mud without addition of activator solution, since
this residue already has a significant percentage of NaOH. Initially the chemical and mineralogical
characterization of the red mud was made, in addition to obtaining its pH. An initial study of the
geopolymer manufacturing process was carried out, in which cylindrical specimens were molded
only with the red mud, subjected to thermal curing at 60 ° C for 24 hours. These showed to be
friable, without supporting the handling, besides showing great formation of efflorescence, which
indicates the non-occurrence of the geopolymerization. From these results, it was decided to
manufacture geopolymers with a higher curing temperature (100 ° C) and with the sludge in two
different conditions: in natura and with addition of water. The fabricated matrices were tested for
their mechanical properties: compressive strength and flexural tensile strength. It was observed that
the geopolymers produced had a low compression strength, but they met Brazilian standards for
masonry blocks with holes in the horizontal, which indicates the applicability of this material.

Keywords: red mud; geopolymer; sustainable construction.


1. INTRODUÇÃO
O alumínio é um metal utilizado em diversos setores da economia mundial, essa pluralidade se deve
a suas propriedades físicas e mecânicas. Em 2015, a produção de alumínio se estabeleceu como a
principal commoditie no Brasil [1,2]. O desenvolvimento do processo de produção de alumínio
iniciou-se em 1888, ficou conhecido como “Processo Bayer” e é o principal método industrial de
refino da bauxita para obtenção da alumina [3]. No entanto, nesse processo é gerado um rejeito
denominado lama vermelha. Esse resíduo possuí altos teores de NaOH, um álcali forte e corrosivo,
que em contato com o solo ou água provoca a elevação do pH acarretando poluição dos mesmos e
consequente degradação do meio ambiente, além de causar prejuízos à fauna [4]. Por isso, demanda
acondicionamento especial em lagos de deposição, o que representa elevado custo. Esse problema
vem sendo enfrentado pela indústria de alumina em escala mundial, tendo sido gerados por ano 82
milhões de toneladas de resíduos de lama vermelha devido à produção de 21 milhões de toneladas
de alumínio [5], visto que não possuía, até 2013, praticamente nenhuma aplicação além do pequeno
uso em indústrias cimentícias e cerâmicas [6].
O crescente consumo de metal no mundo em conjunto com a exploração de depósito de
minérios, ocasionou em uma nova preocupação ambiental: encontrar soluções sustentáveis para os
resíduos provenientes da produção desses materiais. Em contrapartida, o setor da construção civil é
um grande consumidor de matérias-primas, cujas atividades produtivas e extrativas demandam
consumo de recursos naturais e resíduos. Por isso, várias pesquisas vêm sendo desenvolvidas a fim
de encontrar uma aplicação à lama vermelha, incorporando esse resíduo nos materiais de construção
convencionais.
Tang, et al. [7] em sua pesquisa, incorporou a lama vermelha como material cimentante
suplementar, em conjunto com o cimento e cinzas volante, a fim de produzir concreto auto
adensável. O autor observou que o resíduo não alterou as propriedades mecânicas do concreto.
Zhang et al. [8] para produzir material de pavimentação asfáltica porosa, o qual possui um elevado
índice de vazios (causando alguns defeitos estruturais), utilizou a lama vermelha para preencher os
poros e observou que o desempenho da resistência do resíduo foi melhor do que a do pó de calcário,
um material amplamente utilizado para esse fim. Mas além disso, Whang et al. [9], obteve bom
desempenho de ladrilhos cerâmicos de baixo custo a partir da incorporação da lama vermelha com
adição de caulim, em relação a sua resistência à flexão e densidade aparente. Outros estudos já
avançam para aplicar esse rejeito na produção de geopolímeros.
A geopolímerização é um processo onde a sílica e a alumina reagem em um ambiente altamente
alcalino formando polímeros. Então, para fabricação do geopolímero é necessário um material rico
em SiO2 e Al2O3 e uma solução alcalina ativadora, KOH ou NaOH. Com a correta seleção do
material e um proporcionamento adequado, é possível que esse material apresente uma diversidade
de propriedades e características como: elevada resistência à compressão, baixa retração, cura
rápida ou lenta, resistência a ácidos, resistência ao fogo e baixa condutividade térmica [10,11].
Alguns autores já vêm estudando a aplicação da lama vermelha na fabricação de geopolímeros
utilizando o resíduo conjuntamente com tipos de cinzas volantes e obtendo bons desempenhos,
como nas pesquisas de Zang [12] e Hu [13]. Já Toniolo [5], empregou a lama vermelha em conjunto
com resíduo de vidro como fornecedor de sílica, utilizando apenas o NaOH como material “não
residual”, obtendo materiais com uma resistência à compressão expressivo, chegando a 45MPa,
para amostra com 60% em massa de lama vermelha.
Diante desse contexto, o presente trabalho visa por meio de geopolimerização, utilizar a lama
vermelha para a produção de materiais aglomerantes, estudando suas características e propriedades
para aplicação em novos materiais tecnológicos na construção civil, e assim, dar utilidade a esse
rejeito e reduzir os problemas gerados por ele. O diferencial desta pesquisa é a utilização do rejeito
sem solução ativadora, aproveitando o NaOH já existente na lama vermelha para a
geopolimerização, sendo possível assim ampliar o conhecimento sobre o potencial do material.

2. MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização do programa experimental desse estudo, foi utilizado uma lama vermelha
proveniente de uma empresa produtora de alumínio localizada na cidade de Ouro Preto, no estado
de Minas Gerais. Destaca-se que o resíduo foi recebido com um alto teor de umidade.

Fig. 1 – Lama vermelha ao ser recebida, sem tratamento

2.1. Caracterização da lama vermelha


Para todos os ensaios de caracterização, a lama vermelha foi processada. Inicialmente, o rejeito foi
seco em 100°C por 24h. Após secagem, o material passou pelo moinho de esferas (MA 500,
Marconi) até que todo o material fosse passante na peneira com abertura de 150µm. Para a
caracterização física do material, foi utilizado a técnica de granulometria por difração a laser
(Bettersize 2000), onde obteve-se a distribuição de tamanho de partícula.
Quanto a caracterização química da lama vermelha, foi realizada a medição do pH através do
equipamento Hanna HI 2212. Além disso foi executada a fluorescência de raios-X (PANalytical
Epsilon3x).Também foi realizada a caracterização mineralógica através da difração de raios-X, onde
a amostra de lama vermelha foi misturada com 10% de fluorita, como padrão interno . O ensaio foi
realizado no equipamento Bruker D2 Phaser com radiação de cobre e as configurações de tempo de
passo de 1 segundo e ângulo 2θ de 15° a 70°.

2.2. Fabricação e caracterização do geopolímero


A fim de conhecer o processo de endurecimento da lama vermelha estudada, foi elaborado um teste
piloto, onde foram moldados corpos de prova cilíndricos (ϕ5x10) com o resíduo in natura e
colocados na estufa a 60°C por 7 dias para cura térmica. Assim, seria possível analisar o índice de
forma e os teores de NaOH na mistura, observando se a temperatura de cura é suficiente para
catalisar o endurecimento do corpo de prova verificando a fragilidade do mesmo ao manusear e a
formação de fissuras e eflorescências.
A temperatura adotada para o piloto de 60°C está abaixo do encontrado por muitos pesquisadores,
pois o objetivo era avaliar o potencial de endurecimento desse material. Vassalo [14] utilizou a
temperatura de 85 ± 3ºC para fabricação de geopolímeros com o metacaulim como precursor. Por
outro lado, outros pesquisadores já apontaram resultados de endurecimento com temperaturas a
partir de 70°C.
Então, objetivando a total geopolimerização do hidróxido sódio já contido na lama vermelha, foi
utilizado uma temperatura de cura superior ao apresentado pelas referências. Para essa avaliação
foi adotado o resíduo com duas preparações distintas, implicando em duas proporções diferentes de
umidade o que representa duas concentrações distintas de NaOH. A Tabela 1 apresenta os traços
elaborados. Observa-se que o traço com a lama vermelha in natura (LV00) terá uma concentração
de NaOH maior pois a solução contida no material não foi diluída.

Tabela 1 – Teor de umidade das amostras


Traço Preparação da lama vermelha Teor de umidade
LV00 In natura 49,4%
LV0A Foi adicionado 6,5% de água destilada à lama in natura 64,3%

Para cada traço foram moldados três corpos de prova 4x4x16 cm. Afim de acelerar a
geopolimerização, utilizou-se cura térmica na estufa a 100°C, onde o material ficou por 24h. O
processo de cura dos corpos de prova seguiu com os corpos de prova ficando expostos a umidade e
temperatura ambiente por 7 dias. Uma placa de vidro foi posicionada acima dos corpos de prova
para evitar perda de umidade do material antes do seu endurecimento.
Após os 7 dias de cura, as amostras LV00 e LV0A foram submetidas à ensaios de resistência à
compressão e tração à flexão utilizando uma prensa hidráulica modelo EMIC DL20000, de acordo
com o protocolo estabelecido pela NBR 13279 [15]. É recomendado que os corpos de prova de
geopolímero tenham resistência à compressão mínima de 2MPa para não comprometer a amostra ao
manipulá-la [16].

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Caracterização da lama vermelha


A Fig.2 apresenta a distribuição das partículas da lama vermelha. Observe na Tabela 2 que na lama
vermelha 90% das partículas são menores que 73,08µm. Analisando os resultados de D50 e D10,
percebe-se uma grande queda nos diâmetros para 12,36µm e 1,18µm, respectivamente.
Fig.2 – Granulometria da amostra

Tabela 2 – Identificação da amostra

ID Amostras (μm)

D90 73.08 μm

D50 12.36 μm

D10 1.18 μm

A lama vermelha apresentou o pH de 11,14. A norma brasileira NBR 10004 [17] classifica como
material corrosivo aqueles que apresentam pH superior a 12,5 ou inferior a 2, dessa forma, apesar
da lama vermelha ter apresentado valor próximo ao limite, a mesma não é classificada como resíduo
sólido corrosivo. Quanto a composição química da lama vermelha, a mesma é apresentada na Tabela
3. Onde, foi constatado que os óxidos de alumínio, ferro e silício representam 87% da composição
total do resíduo. Nesse material a razão SiO2/Al2O3 é de 0,24, um valor relativamente baixo. Foi
observado na lama vermelha cerca de 5% de Na2O, o que provavelmente ocorreu devido ao
processo Bayer elevando a concentração de NaOH do material.

Tabela 3 - Composição de óxidos na lama vermelha

Óxidos % contida na amostra


Fe202 48.18
Al202 31.25
SiO2 7.46
Na20 5.02
TiO2 3.86
Óxidos % contida na amostra
CaO 2.27
Outros 1.75

Na análise mineralógica do resíduo, as principais fases encontradas foram gibbsita, hematita,


sodalita e quartzo. Sabe-se que quanto maior a finura do material, maior será a reatividade das
espécies (sodalita, gibbsita, silicatos amorfos) para a formação de geopolímero. Os minerais
presentes na lama vermelha dependem muito da rocha bauxita que foi matéria-prima na fabricação
da alumina e das características do processo Bayer. 3.1. Caracterização do geopolímero
Os corpos de prova do teste piloto, curadas a 60°C por 24h não alcançaram o endurecimento
necessário para um geopolímero. Demonstraram fragilidade ao manuseio e à retirada dos moldes,
além de possuírem muitos espaços vazios. Também foi identificada eflorescência nos corpos de
prova após exposição ao ar, e esse fator se intensificou com o passar dos dias. A Fig.4 mostra o
corpo de prova após o desmolde, onde são notados os espaços vazios e a fragilidade do corpo de
prova. A Fig.4 apresenta o aparecimento da eflorescência ao longo do tempo (a e b).

Fig. 4 – Desenvolvimento da eflorescência (a) 2 dias


Fig. 3 – CP’S ao desmoldar
após desmolde (b) 16 dias após o desmolde
Acredita-se que a temperatura da estufa não foi suficiente para fazer com que todo o NaOH reagisse
na mistura e apenas uma parte da solução reagiu de dentro para fora nos corpos de prova, formando
cristais esbranquiçados pela superfície, como já indicado por autores na literatura [14,15].
Durante o processo de moldagem do geopolímero, observou-se que quanto maior o teor de umidade
contido na amostra, maior sua trabalhabilidade. No entanto, durante o adensamento dos moldes,
realizados com auxílio de um soquete, parte da amostra aderiu à ferramenta e deformou a camada
de lama vermelha anteriormente adensada.
Após a cura dos geopolímeros, observou-se que houve fragmentação do material em ambos os
traços, LV00 e LV0A (a e b), apresentando grandes poros e retração após cura de 7 dias, como pode
ser observado nas Fig. 5 e 6. Relativo ao teor de umidade nota-se que a amostra que possuía maior
teor de água apresentou visualmente maior índice de vazios e maior desplacamento da área de
contato com o molde.
Fig. 5 – Retração (a) traço LV00 Fig. 6 – Retração (b) traço LV0A

A Fig. 7 apresenta os resultados médios da resistência à compressão das amostras. É possível


observar que a amostra com menor teor de umidade apresentou maior resistência à compressão.
Esse resultado era esperado visto que esses geopolímeros estavam mais íntegros, com menor
retração e desplacamento. Os geopolímeros LV00 atingiram a resistência à compressão média de
3,44 MPa com idade de apenas 7 dias. Já as amostras do traço LV0A tiveram uma resistência à
compressão de 2 Mpa com a mesma idade do primeiro.

Fig. 7 – Resistência à compressão


Os resultados dos valores médios da resistência à tração na flexão das amostras estão representados
na Fig. 8. Para a lama vermelha moldada in natura (LV00) obteve-se o resultado de 542,3 kPa, já
para a amostra com adição de água, foi obtido uma resistência de 210,1 kPa. O comportamento do
geopolímero a tração é correlato ao da compressão, no entanto percebe-se que a instabilidade
volumétrica dos corpos de prova durante o período de cura afetaram de forma mais significativa os
resultados de tração, visto que a resistência do geopolímero LV0A é inferior ao LV00.
Fig. 8 - Resistência à Flexão
Blocos cerâmicos utilizados para a vedação devem atingir, segundo a NBR 15270 [18], uma
resistência mínima de 1,5 MPa para blocos usados com furos na horizontal e a 3,0 MPa para sua
utilização com furos na vertical. Comparando com os resultados obtidos com os geopolímeros de
lama vermelha estudados, observa-se que a amostra LV00 obteve valores de resistência superiores
aos estabelecidos pela norma. Já a amostra LV0A obteve uma resistência suficiente para ser
utilizada apenas como bloco cerâmico com furos na horizontal,. Um fator importante para ser
ressaltado é que a fabricação de blocos cerâmicos convencionais exige temperatura do processo de
queima superior a 1000°C para atingir a resistência necessária, enquanto que os geopolímeros
foram produzidos à 100°C apresentando uma enorme vantagem ambiental da utilização desse
material.

4. CONCLUSÃO
O presente trabalho visou analisar os processos de geopolimerização, e avaliar o potencial de
utilização da lama vermelha para a produção de materiais aglomerantes, estudando suas
características e propriedades. O diferencial desta pesquisa foi a utilização do rejeito sem solução
ativadora, aproveitando do NaOH já existente na lama vermelha obtidos pelo processo Bayer. Com
base nos estudos, nas análises e nos resultados obtidos conclui-se que:
• Os teores de umidade utilizados influenciaram na moldagem e nos resultados obtidos. As
amostras com maior teor de umidade (LV0A) apresentaram uma maior retração e desplacamento
comparadas às amostras in natura (LV00), com menor teor de umidade.
• O pH apresentado pela lama vermelha encontrou-se abaixo dos valores definidos pela norma
que classifica materiais corrosivos.
• Quanto a caracterização da lama vermelha, a fluorescência de raios- x apresentou resultados
esperados , apesar da composição química variar de acordo com a rocha de origem. Além disso,
confirmou-se que a lama vermelha é constituída por partículas muito finas e as fases encontradas na
difração de raios-x contribuem para a geopolimerização.
• O geopolímero produzido com a lama vermelha possui boas propriedades mecânicas e pode
ser aplicado como blocos de cerâmicas, uma vez que apresentam resistências superiores exigidas
por norma para fabricação de blocos cerâmicos. Destaca-se que o geopolímero necessita de uma
temperatura na cura 10 vezes menores do que as convencionais para produzir essa resistência.
• Além de contribuir para a diminuição de lagoas de deposição de lama vermelha, a
possibilidade de utilização desses geopolímeros na construção civil envolve um processo de
produção mais sustentável e apresenta melhores propriedades do que os materiais convencionais,
como o descrito acima.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e
apresentação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de
Pesquisa em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.

REFERÊNCIAS

[1] ABAL – Associação Brasileira do Alumínio. http://www.abal.org.br. Acessado em outubro de 2018.

[2] ABAL; CNI. Encontro da Indústria para a sustentabilidade. A Sustentabilidade da indústria brasileira do
alumínio. Disponível em: http://www.abal.org.br/downloads/abal-rio20.pdf. Acessado em outubro de 2018.

[3] HIND, R. A., BHARGAVA, S. K., GROCOTT, S. C., “The surface chemistry of Bayer process solids: a
review”, Colloids and surfaces A: Physicochemical and engineering aspects, n. 146, pp.359-374, 1999.

[4] FREITAS, A. FISPQ Hidróxido de Sódio – Perigos, cuidados e EPIs. Disponível em https://cmcenter.com.br/pt-
br/fispq/fispq-hidroxido-de-sodio/.Acessado em outubro de 2018.

[5] TONIOLO, N. et al., 2018. Novel geopolymers incorporating red mud and waste glass cullet. Materials Letters,
Volume 219, pp. 152-154.

[6] BINNEMANS K., JONES P. T., BLANPAIN B., VAN GERVEN T., YANG Y., WALTON A., BUCHERT M.
Recycling of Rare Earths: a critical review. Journal of Cleaner Production 51 I-22, Editora Elsevier, 2013.

[7] TANG, W., Wang, Z., Liu, Y. & Cui, H., 2018. Influence of red mud on fresh and hardened properties of self-
compacting concrete. Construction and Building Materials, Volume 178, pp. 288-300.

[8] ZHANG, H. et al., 2018. Performance enhancement of porous asphalt pavement using red mud as alternative
filler. Construction and Building Materials, Volume 160, pp. 707-713.

[9] WANG, W., Chen, W., Liu, H. & Han, C., 2018.Recycling of waste red mud for production of ceramic floor tile
with high strength and lightweight. Journal of Alloys and Compounds, Volume 748, pp. 876-881.

[10] BITENCOURT, C. S.; TEIDER, B. H.; GALLO, J. B.; PANDOLFELLI, V. C. A geopolimerização como técnica
para a aplicação do resíduo de bauxita. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ce/v58n345/05.pdf. Acessado em
outubro de 2018.
[11] SOUZA, R. D. Z. Estudo da Influência do ativador alcalino nas propriedades mecânicas do geopolímero.
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao cursode graduação em Engenharia de Materiais da Universidade do
Vale do paraíba, 2012.

[12] ZHANG, M. et al., 2014. Synthesis factors affecting mechanical properties, microstructure, and chemical
composition of red mud-fly ash based geopolymers. Fuel, Volume 134, pp. 315 - 325.

[13] HU, W. et al., 2018. Mechanical and microstructural characterization of geopolymers derived from red mud
and fly ashes. Journal of Cleaner Production. Volume 186, pp. 799 - 806.

[14] VASSALO, E. A. S.; Obtenção de geopolímero a partir de metacaulim ativado.Dissertação de mestrado


apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Minas Gerais – MG,
2013.

[15] ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 13279:2005 – Argamassapara assentamento de
paredes e tetos – Determinação da resistência à tração na flexão e à compressão.

[16] NAGEM, N. F., MANSUR, H. S. Geopolímero a partir de resíduos oriundos da indústria de alumínio para
reutilização de coprocessamento. Abril de 2013. Tese de doutorado apresentada o Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Metalúrgica e de Minas da Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte
– MG, 2013.

[17] ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 10004:2004 – Resíduos sólidos – Classificação.

[18] ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15270-1:2005-Componentes cerâmicos. Parte 1:
Blocos cerâmicos para alvenaria de vedação – Terminologia de requisitos.
EVOLUÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: UMA ANÁLISE
CRÍTICA DOS SERVIÇOS DE ÁGUA E ESGOTO COM BASE NA
EXPERIÊNCIA DO SNIS

Evolution of sanitation in Brazil: a critical analysis on drinking water and wastewater


services based on the SNIS dataset
Fernanda Pantojo¹, Tayná Salimena¹, Samuel Castro¹, Edgard Dias¹*

* Autor para correspondência: edgard.dias@ufjf.edu.br


¹ Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil

Resumo: O saneamento básico engloba serviços de abastecimento de água, coleta e tratamento de


esgotos, manejo de águas pluviais e gerenciamento de resíduos sólidos. A Lei Nacional do
Saneamento Básico (Lei n° 11.445/2007) preconiza a universalização desses serviços no país.
Visando analisar a situação do saneamento no Brasil, o Ministério das Cidades desenvolveu o
Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS). Esse sistema é responsável por recolher
informações sobre serviços de água, esgotos, resíduos sólidos e drenagem de águas pluviais. Tal
ferramenta é, portanto, de extrema relevância, pois pode ser utilizada para identificar setores que
necessitam maiores investimentos. Nesse contexto, o presente estudo buscou analisar
estatisticamente a base de dados do SNIS em termos de indicadores de serviços de água (Índice de
atendimento total de água; Consumo médio per capita de água; Índice de perdas na distribuição) e
esgoto (Índice de coleta de esgoto; Índice de esgoto tratado referido à água consumida; e Extensão
da rede de esgoto por ligação). A partir desse banco de dados, realizou-se testes de hipóteses de
comparação simples e de comparações múltiplas entre as macrorregiões do Brasil (2012-2016),
sendo adotado nível de confiança de 95%. Resultados demonstraram que as regiões sul, sudeste e
centro-oeste apresentaram os maiores índices de atendimento total de água, com medianas acima
dos 75%, enquanto as regiões norte e nordeste apresentaram os menores índices de atendimento (53
e 51%, respectivamente) e de perdas na distribuição (47 e 35% respectivamente). Entre os anos de
2012 e 2016, observou-se queda no consumo médio per capita de água no país, com destaque para
as regiões sudeste (195 L.hab-¹.d-¹ em 2012; 180 L.hab-¹.d-¹ em 2016) e nordeste (131 L.hab-¹.d-¹ em
2012; 112 L.hab-¹.d-¹ em 2016). Se tratando de serviços de esgoto, grande destaque se dá para a
região sudeste, com valores medianos de índice de coleta de esgoto e de tratamento de esgoto iguais
a 80,0% e 61,6%, respectivamente; logo em seguida aparecem as regiões sul e centro-oeste, com
valores oscilando entre 40 e 50%. Nas regiões norte e nordeste, apesar de ter sido observado
aumento da extensão da rede coletora de esgoto por ligação entre os anos de 2012 e 2016, valores
medianos dos índices de coleta e tratamento de esgotos estiveram abaixo dos 30%. Por fim,
acredita-se que ferramentas de análise estatística dos dados do SNIS possam auxiliar avaliações das
condições sanitárias do país, subsidiando tomadas de decisão e melhoria dos serviços prestados.

Palavras-chave: índices de avaliação do saneamento; saneamento básico; universalização do


saneamento
Abstract: Basic sanitation encompasses water supply, sewage collection and treatment, storm water
management, and solid waste management. The National Basic Sanitation Law (Law No. 11,445 /
2007) advocates the universalization of these services in the country. In order to analyze the
sanitation situation in Brazil, the Ministry of Cities developed the National Sanitation Information
System (SNIS). This system is responsible for collecting information on water services, sewage,
solid waste and rainwater drainage. Such a tool is therefore extremely relevant, since it can be used
to identify sectors that require greater investments. In this context, the present study sought to
statistically analyze the SNIS database in terms of indicators of water services (index of total water
service, average per capita consumption of water, index of losses in distribution) and sewage of
treated sewage referred to the water consumed; and Extension of the sewage network by
connection). From this database, tests of simple comparison and multiple comparison hypotheses
between the macro-regions of Brazil (2012-2016) were carried out, adopting a 95% confidence
level. Results showed that the South, Southeast and Midwest regions had the highest rates of total
water service, with medians above 75%, while the North and Northeast regions had the lowest
attendance rates (53% and 51%, respectively) and of distribution losses (47 and 35%, respectively).
Between the years of 2012 and 2016, there was a drop in the average per capita water consumption
in the country, especially in the southeast (195 L.hab-¹.d-¹ 2012; 180 L.hab-¹.d-¹ em 2016) e nordeste
(131 L.hab-¹.d-¹ em 2012; 112 L.hab-¹.d-¹ em 2016). In the case of sewage services, the Southeastern
region, with a high level of sewage collection and sewage treatment equal to 80.0% and 61.6%,
respectively; soon thereafter appear the south and center-west regions, with values ranging between
40 and 50%. In the northern and northeastern regions, although there was an increase in the
extension of the sewage network by linkage between 2012 and 2016, median values of sewage
collection and treatment rates were below 30%. Finally, it is believed that tools of statistical
analysis of the NHIS data can help assess the country's health conditions by subsidizing decision-
making and improving services providedIn the case of sewage services, the Southeastern region,
with a high level of sewage collection and sewage treatment equal to 80.0% and 61.6%,
respectively; soon thereafter appear the south and center-west regions, with values ranging between
40 and 50%. In the northern and northeastern regions, although there was an increase in the
extension of the sewage network by linkage between 2012 and 2016, median values of sewage
collection and treatment rates were below 30%. Finally, it is believed that tools of statistical
analysis of the NHIS data can help assess the country's health conditions by subsidizing decision-
making and improving services provided

Keywords: sanitation assessment indices; basic sanitation; universalization of sanitation


1. INTRODUÇÃO
O saneamento básico engloba serviços de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgotos,
manejo de águas pluviais e gerenciamento de resíduos sólidos. A Lei Nacional do Saneamento
Básico (Lei n° 11.445/2007) preconiza a universalização desses serviços no país [1]. Dessa forma,
diante da necessidade de proporcionar um levantamento sobre a situação do saneamento no Brasil,
através do Programa de Modernização do Setor Saneamento (PMSS), foi desenvolvido o Sistema
Nacional de Informações sobre o Saneamento (SNIS), que é responsável por recolher dos
prestadores de serviços as informações referentes aos serviços de Água e Esgotos (AE), Resíduos
Sólidos Urbanos (RS) e Drenagem e Manejo das Águas Pluviais Urbanas (AP) [2].
Observa-se ainda que o Governo Federal, através de programas e ações, busca auxiliar os
prestadores de serviços para que estes realizem uma gestão adequada. Uma das formas de melhoria
no sistema é a diminuição de perdas, dessa forma, um dos programas existentes é o Programa
Nacional de Combate ao Desperdício de Água - PNCDA, estabelecido pelo Ministério das Cidades,
que auxilia os prestadores através de documentações técnicas, visando aprimorar a eficiência dos
sistemas de distribuição. [3]
Os prestadores de serviços não são obrigados legalmente a fornecer informações ao SNIS, porém,
existem programas de investimentos do Ministério das Cidades que usam como critério de seleção o
envio de informações ao sistema. Além disso, o uso de sistemas de informações é um princípio
fundamental que garante clareza dos dados à população. A transparência dessas informações aliada
as representações técnicas e participações nos processos de formulação de políticas trazem à
comunidade o conhecimento, participação, controle e avaliação do saneamento básico [2].
A exposição dos dados recebidos pelo SNIS é realizada através da publicação anual de diagnósticos
que realizam uma análise crítica de determinadas informações e indicadores. Sendo assim, é
disponibilizado através do endereço eletrônico do SNIS, no ambiente Série Histórica, tabelas com
as informações e indicadores recebidos pelo sistema. Ressalta-se que os serviços de água e esgoto
possuem dados desde o ano de 1995, os serviços de Resíduos Sólidos Urbanos possuem dados
desde 2002 e o serviço de drenagem e manejo das águas pluviais urbanas, possuem dados a partir de
2015, sendo mais recentes [2,4].

2. OBJETIVO

O estudo buscou verificar a situação do saneamento básico em todas as regiões do país,


identificando pontos de melhoria. Tais análises podem orientar a gestão adequada do setor e
direcionar os investimentos que devem ser realizados.

3. METODOLOGIA

O presente estudo analisou estatisticamente a base de dados do Sistema Nacional de Informação


Sobre o Saneamento (SNIS). Para isso, foram utilizados os dados dos anos de 2012 e 2016. Visto
que existem diversas informações e indicadores no sistema, foi realizada uma análise crítica para a
seleção dos indicadores. Dessa forma, para os serviços de água e esgoto, foram analisados: Índice
de atendimento total de água (IN055); Consumo médio per capita de água (IN022); Índice de perdas
na distribuição (IN046); Índice de coleta de esgoto (IN015); Índice de esgoto tratado referido à água
consumida (IN049); e Extensão da rede de esgoto por ligação (IN021).
3.1. Testes
Foi necessário verificar o conjunto de dados analisados através dos testes de normalidade. Para
análise do teste, supõe-se que a hipótese poderá ser rejeitada ou não rejeitada e a análise é realizada
através do p-valor. Caso o valor de P seja maior que a significância adotada, a hipótese é não
rejeitada, porém caso o valor de P seja menor que a significância, a hipótese é rejeitada. [5].
Utilizou-se os testes de Kruskal – Wallis ANOVA, que é um teste de comparação múltipla e
possibilita que sejam identificadas as diferenças significativas entre as amostras.
Dessa forma, a partir do banco de dados estipulado, através do software Statist [6], realizou-se
testes de hipóteses de comparação simples e de comparações múltiplas entre as macrorregiões do
Brasil, sendo adotado nível de confiança de 95%.
Além disso, através do software Excel, foi realizada uma análise temporal dos indicadores, entre os
anos de 2012 a 2016, a fim de analisar a evolução do saneamento no Brasil.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A fim de promover a melhor compreensão dos gráficos Box Plot que serão apresentados ao longo
desse estudo, a figura 1 representa os símbolos relacionados ao gráfico. O retângulo central
representa a zona aonde estão contidos 50% dos dados, já os valores máximos e mínimos são
representados valores extremos da distribuição. Além disso existem os quartis, sendo que o
primeiro quartil representa 25% da amostra e o terceiro quartil representa 75% da amostra. [7]

Figura 1 - Legenda do gráfico BoxPlot

4.1. Índice de atendimento total de águ1 - IN055 (%)


O indicador IN055 é calculado através da divisão da população total atingida pela população
residente do município. De acordo com a figura 2, que representa o índice de atendimento total de
água o ano de 2012, observa-se que as regiões Sudeste, Centro-oeste e Sul possuem medianas acima
de 75%. Já a região Nordeste encontra-se com 60% de abastecimento e a região Norte possui uma
mediana com um valor próximo de 50%. Na figura 3, que representa o indicador no ano de 2016,
observa-se que houve um aumento na região Sul, aonde a mediana aproximou-se do 80%
100

80

60
IN055 (%)

40

20

0
CO NE N SE S

Figura 2 - Índice de atendimento total de água (IN055) em 2012

100

80

60
IN055 (%)

40

20

0
CO NE N SE S

Figura 3 - Índice de atendimento total de água (IN055) em 2016

4.2. Índice de perdas na distribuição - IN049 (%)


O indicador IN049, perdas na distribuição de água, representa a quantidade de água consumida medida
em relação a quantidade de água produzida. Esse indicador apresentou valores elevados, no ano de
2016, para as regiões Norte e Nordeste, com 47% e 35%, respectivamente. As perdas no sistema podem
ocorrer devido a vazamentos nas unidades de tratamento ou distribuição. Além disso, também existem
as perdas referentes a falhas de medição dos volumes consumidos. Ademais, as perdas na distribuição
são reportadas como um dos maiores problemas no sistema de distribuição, pois além de se tratar de um
recurso natural, observa-se que existe perda financeira, visto que a água já passou pelo tratamento
necessário, gerando custos aos prestadores de serviços e que são, consequentemente, repassados ao
consumidor [4].
120

100

80

60
IN049 (%)

40

20

-20

-40
CO NE N SE S

Figura 4 - Índice de perdas na distribuição (IN049) em 2012

100

80

60
IN049 (%)

40

20

0
CO NE N SE S

Figura 5 - Índice de perdas na distribuição (IN049) em 2016


4.2. Índice de consumo médio per capta – IN022
Entre os anos de 2012 e 2016, observou-se queda no consumo médio per capita de água no país,
com destaque para as regiões Sudeste, com valores de 195 L.hab-¹.d-¹ em 2012 e 180 L.hab-¹.d-¹ em
2016. E a região Nordeste com valores de 131 L.hab-¹.d-¹ em 2012 e 112 L.hab-¹.d-¹ em 2016,
como pode ser observado nas figuras 6.
Ressalta-se que nos anos de 2014 e 2015 a região Sudeste foi atingida por uma crise hídrica. Com a
diminuição nos índices pluviométricos e a necessidade de garantir o acesso aos serviços, foi
fundamental promover a gestão emergencial dos recursos hídricos, o que pode ser relacionado com
a queda do indicador nos anos de 2014 e 2015. Porém, observa-se que apesar da diminuição do
indicador, a região Sudeste ainda possui um consumo muito mais elevado do que a média nacional.

Figura 6 – Consumo médio per capta (IN022)

Além disso, através dos gráficos box plot é possível observar que apesar das medianas não excedem
os 200 L.hab-¹.d-¹, existem em todas as regiões municípios com valores extremamente elevados.
Esses valores podem ser considerados outliers, e optou-se por representa-los para efeito de análise
crítica, como pode ser observado nas figuras 7 e 8. Além disso, o consumo médio per capita elevado
pode ser justificado pois em alguns casos, devido a um precário controle operacional realizado
pelos prestadores de serviços, a macromedição e micromedição não são efetivamente computadas,
mas sim superestimadas [4]. Vale ressaltar, que em determinados municípios, existe um fluxo de
turistas considerável, aumentando o consumo de água sem aumentar a população residente do
mesmo. Na figura 7 são representados os consumos médios percapita de todas as regiões brasileiras
no ano de 2012, já na figura 8 são apresentados os consumos médios per capita no ano de 2016,
observa-se que houve uma diminuição considerável de outliers em todas as regiões em 2016.
1600

1400

1200
IN022 (L/hab.d)

1000

800

600

400

200

0
CO NE N SE S

Figura 7 – Consumo médio per capta (IN022) em 2012

600

500

400
IN022 (L/hab.d)

300

200

100

0
CO NE N SE S

Figura 8 – Consumo médio per capta (IN022) em 2016


4.4. Índice de Coleta de Esgoto – IN015
Se tratando de serviços de esgoto, grande destaque se dá para a região Sudeste, com valores
medianos de índice de coleta de esgoto 80,0%, logo sem seguida aparecem as regiões sul e centro-
oeste, com valores oscilando entre 40 e 50%.

240
220
200
180
160
140
IN015 (%)

120
100
80
60
40
20
0
CO NE N SE S

Figura 9 - Índice de Coleta de Esgoto (IN015) em 2012

100

80

60
IN015 (%)

40

20

0
CO NE N SE S

Figura 10 - Índice de Coleta de Esgoto (IN015) em 2016


4.5. Extensão da rede de esgoto por ligação - IN021
A extensão de rede de esgoto por ligação (m/lig) é calculada através da divisão do comprimento
total da malha de esgoto dividida pelas ligações de esgoto existentes no município. Ressalta-se que
tal indicador possui uma variação considerável, visto que em regiões altamente povoadas os valores
tendem a se aproximar de um, já em municípios com menor densidade populacional existe a
possibilidade de valores mais elevados. Na figura 11, existem muitos valores extremos (outliers),
que comprometem a visualização do gráfico, porém optou-se por não excluí-los para que essa
análise crítica fosse realizada. Na figura 12 observa-se que não são observados valores incomuns
como acontece no ano de 2012. Os valores muito elevados para o indicador também podem ser
associados a erros de preenchimento do formulário eletrônico ou até mesmo erros de entendimento
do indicador.

9000

8000

7000

6000
IN021 (m/lig)

5000

4000

3000

2000

1000

0
CO NE N SE S

Figura 11 - Extensão da rede de esgoto por ligação (IN021) em 2012


500

400
IN021 (m/lig)

300

200

100

0
CO NE N SE S

Figura 12 - Extensão da rede de esgoto por ligação (IN021) em 2016

4.5. Índice de tratamento de esgotos referido a água consumida - IN046


O indicador é calculado através da divisão do volume de esgoto tratado pelo volume de água
consumido. Ressalta-se que tal indicador é o mais recomendado para a análise da condição de
tratamento de esgotos, visto que o indicador IN016 - Índice de tratamento de esgoto pode distorcer
a situação do município já que este considera para cálculos o esgoto coletado e não o volume de
água consumida pela população.
Observa-se que nos anos de 2012 apenas a região Sudeste possuía um valor mediano maior que
40%. Porém, em comparação com o indicador IN046 no ano de 2016, figura 12, é possível verificar
que as regiões Sul e Centro-oeste obtiveram aumento nas suas medianas, o que representa no setor
saneamento.
Nas regiões Norte e Nordeste, apesar de ter sido observado aumento da extensão da rede coletora de
esgoto por ligação – IN021, valores medianos dos índices de tratamento de esgotos permaneceram
abaixo dos 30% em 2016, como pode ser observado na figura 11.
160

140

120

100
IN046 (%)

80

60

40

20

CO NE N SE S

Figura 13 - Índice de tratamento de esgoto referido ao esgoto coletado (IN046) em 2012

120

100

80
IN046 (%)

60

40

20

0
CO NE N SE S

Figura 14 - Índice de tratamento de esgoto referido ao esgoto coletado (IN046) em 2016

5. CONCLUSÃO
Percebe-se que o cenário atual brasileiro apresenta um avanço considerável relacionado aos
indicadores apresentados. Verifica-se ainda que a situação dos serviços de abastecimento de água
encontra-se em melhor situação quando comparado aos serviços de esgotamento sanitário. As
regiões Norte e Nordeste apresentam os piores resultados em todas as análises realizadas, o que
comprova a necessidade de investimentos do Governo Federal nessas regiões do país.
Ademais, apesar da metodologia do SNIS envolver uma análise criteriosa dos dados fornecidos ao
sistema, ressalta-se que é de extrema importância analisar cuidadosamente a série histórica
existente, visto que as informações são disponibilizadas diretamente pelos prestadores de serviços,
impossibilitando a conferência da veracidade das informações.
Por fim, acredita-se que ferramentas de análise estatística dos dados do SNIS possam auxiliar
avaliações das condições sanitárias do país, subsidiando tomadas de decisão e melhoria dos serviços
prestados.

6. REFERÊNCIAS

[1] BRASIL, Lei no. 11.445/2007, de 05 de janeiro de 2007. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 05 jan.2007.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2007/Lei/L11445.htm>
Acesso em: 05 de julho de 2018

[2] BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental – SNSA. Sistema
Nacional de Informações sobre Saneamento: Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2016.
Brasília: SNSA/MCIDADES, 2018. 220 p.: il.
Disponível em: <http://www.snis.gov.br/diagnostico-agua-e-esgotos>
Acesso em: 25 de setembro de 2018

[3] Guias práticos: técnicas de operação em sistemas de abastecimento de água / organização, Airton
Sampaio Gomes. - Brasília: SNSA, 2007. 5 v.
Disponível em: < http://www.pmss.gov.br/index.php/biblioteca-virtual/programa-nacional-combate-ao-
desperdicio-agua-pncda>
Acesso: 25 de setembro de 2018

[4] BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Plano Nacional de
Saneamento Básico (PLANSAB): mais saúde com qualidade de vida e cidadania. Brasília: Ministério
das Cidades, 173p, 2013.
Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/processos/AECBF8E2/Plansab_Versao_Conselhos_Naciona
is_020520131.pdf> Acesso em: 04 de outubro de 2018

[5] STATSOFT. STATISTICA (data analysis software system), version 8.0. 2007.
Disponível em: <www.statsoft.com>

[6] BARBOZA, J. V. S.; LEISMANN, E. L.; JOHAN, J. A. Sustentabilidade na Visão de Gestores de


Micro e Pequenas Empresa na Região do Paraná. Revista da Micro e Pequena Empresa, v. 9, n. 2, p. 17-
29, 2015

[7] Capela,M.V.; Capela, J.V.M. Elaboração de gráficos Box-Plot em Planilhas de Cálculo. In:
Congresso de Matemática Aplicada e Computacional da Região Sudeste. Anais..., n.p.
Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/267296938_Elaboracao_de_Graficos_Box-
Plot_em_Planilhas_de_Calculo?enrichId=rgreq-7431c0b432230ba4f36ffb2d9b683735-
XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2NzI5NjkzODtBUzoxNzQ5ODE0NzY1MjgxMjhAMTQxODczMDI0MzE
yNw%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf>
Acesso: 10 de outubro de 2018
EVOLUÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL: UMA ANÁLISE
CRÍTICA DOS SERVIÇOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS COM BASE NA
EXPERIÊNCIA DO SNIS

Evolution of sanitation in Brazil: a critical analysis on solid waste services based on


the SNIS dataset

Tayná Salimena 1, Fernanda Pantojo 2, Edgard Dias 3, Samuel Castro 4


1
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, tayna.salimena@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, fernanda.pantojo@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, edgard.dias@ufjf.edu.br
4
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, samuel.castro@ufjf.edu.br

Resumo: Saneamento básico agrega serviços e instalações operacionais em seu conceito, visando à
universalização do abastecimento de água, coleta de esgoto, resíduos sólidos, limpeza urbana,
drenagem urbana e manuseio da água pluvial. Diante disso, foi desenvolvido o Sistema de
informações sobre o saneamento, SNIS, sob gestão do Ministério das Cidades, que é responsável
por recolher dos prestadores de serviços as informações referentes aos serviços de Água e Esgotos,
Resíduos Sólidos Urbanos (RS) e Drenagem e Manejo das Águas Pluviais Urbanas. Através do
Web SNIS é disponibilizado o banco de dados Série Histórica. O estudo teve como objetivo, aplicar
testes estatísticos na análise do cenário evolutivo do saneamento no Brasil (2012-2016), enfatizando
serviços de gerenciamento de resíduos sólidos; além de explorar dados evidenciando pontos de
melhoria, obstáculos e tendências nos indicadores, que poderão nortear e fundamentar a gestão e
gerenciamento do saneamento no país. Foram observados indicadores e informações contidas nos
diagnósticos anuais do manejo de resíduos sólidos, com foco em: despesa per capita com manejo de
RS em relação à população urbana; taxa de cobertura do serviço de coleta domiciliar direta da
população urbana do município; massa coletada per capita em relação à população urbana; taxa de
resíduos sólidos da construção civil coletada pela prefeitura em relação à quantidade total coletada;
taxa de recuperação de materiais recicláveis em relação à quantidade total coletada e taxa de
resíduos de serviços de saúde coletada em relação à quantidade total coletada. Com base em
resultados de testes de aderência, realizou-se testes de hipóteses de comparação simples e de
comparações múltiplas, sendo adotado um nível de 95% de confiança. A partir da elaboração de
gráficos e da análise dos testes estatísticos, foi possível comparar os dados e evidenciar deficiências
e padrões nas ações de gerenciamento de resíduos nas macrorregiões do Brasil. A cobertura de
coleta domiciliar tem se mantido em taxas elevadas, igual a 98,6 da população urbana para os anos
de 2014, 2015 e 2016, porém, há um déficit de atendimento a aproximadamente 2,7 milhões de
habitantes das cidades brasileiras, sendo 65,8% destes, moradores das regiões Norte e Nordeste.
Evidenciou-se, ainda, incremento nas despesas referentes ao manejo de RSU em cidades litorâneas,
visto que, no geral, são cidades pouco populosas com população flutuante considerável que
contribui na geração de resíduos. Acredita-se que a verificação destas informações seja pertinente
para avaliações das condições sanitárias do país, subsidiando o gerenciamento e tomada de decisão.

Palavras-chave: resíduos sólidos, saneamento básico, série histórica, SNIS.


Abstract: Basic sanitation adds services and operational facilities in its concept, aiming at the
universalization of water supply, sewage collection, solid waste, urban cleaning, urban drainage and
storm water management. In view of this, the Sanitation Information System, SNIS, under the
management of the Ministry of Cities was developed, which is responsible for collecting
information from the service providers on Water and Sewage, Urban Solid Waste (RS) and
Drainage and Sewage services. Urban Water Management. Through the SNIS Web, the Historical
Series database is made available. The objective of the study was to apply statistical tests in the
analysis of the evolutionary scenario of sanitation in Brazil (2012-2016), emphasizing services of
solid waste management; in addition to exploring data showing improvement points, obstacles and
trends in the indicators, which could guide and support the management and management of
sanitation in the country. Indicators and information contained in the annual diagnoses of solid
waste management were observed, focusing on: per capita expenditure with RS management in
relation to the urban population; rate of coverage of the direct household collection service of the
urban population of the municipality; mass collected per capita in relation to the urban population;
solid waste rate of civil construction collected by the city hall in relation to the total amount
collected; rate of recovery of recyclable materials in relation to the total amount collected and the
rate of waste of health services collected in relation to the total amount collected. Based on results
of adhesion tests, tests of simple comparison and multiple comparison hypotheses were performed,
with a confidence level of 95% being adopted. From the elaboration of graphs and the analysis of
the statistical tests, it was possible to compare the data and evidence deficiencies and patterns in the
actions of waste management in the macro regions of Brazil. Household coverage coverage has
remained at high rates, equal to 98.6 of the urban population for the years 2014, 2015 and 2016, but
there is a deficit of approximately 2.7 million inhabitants of Brazilian cities. 65.8% of them,
residents of the North and Northeast regions. It was also evidenced an increase in expenses related
to MSW management in coastal cities, since, in general, they are sparsely populated cities with a
considerable floating population that contributes to the generation of waste. It is believed that the
verification of this information is relevant for assessments of the country's health conditions,
subsidizing management and decision making.

Keywords: solid waste, basic sanitation, historical series, SNIS.

1. INTRODUÇÃO

Saneamento básico agrega serviços e instalações operacionais em seu conceito, visando à


universalização do abastecimento de água, coleta de esgoto, resíduos sólidos, limpeza urbana,
drenagem urbana e manuseio da água pluvial [1-3].
O Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento, SNIS, é incumbido pelo recolhimento de
informações referentes aos serviços de Água e Esgoto, Drenagem e Manejo das Águas Pluviais
Urbanas (AP) e Resíduos Sólidos Urbanos (RS) dos prestadores de serviços. Este sistema de
informação surgiu pelo intermédio do Programa de Modernização do Setor Saneamento (PMSS)
[4].
Além disso, o uso de sistemas de informações é um princípio fundamental que garante clareza dos
dados à população. As transparências dessas informações aliada às representações técnicas e
participações nos processos de formulação de políticas trazem à comunidade o conhecimento,
atuação, controle e avaliação do sistema de saneamento básico [1].
Visto que o SNIS dispõem os dados a partir de diagnósticos anuais, não oferecendo uma
comparação múltipla, é de suma importância a análise dos indicadores entre as regiões e em um
determinado espaço de tempo. Tendo em vista que o começo da implantação do banco de dados
sobre resíduos sólidos foi no ano de 2012.
Desta forma, torna-se necessária esta pesquisa para a garantia de informação de forma simplificada
e clara, com o intuito de avaliar as condições sanitárias do país, subsidiar o gerenciamento e
tomada de decisão do governo.

2. OBJETIVO

Contribuir para o acesso à informação e comparar os indicadores entre as regiões, apontando os


pontos de melhoria, onde se deve investir capital e as regiões e cidades que estão se desenvolvendo
no sistema de coleta e gerenciamento de resíduos sólidos.

3. MÉTODOS

3.1. Obtenção dos dados


A partir da plataforma SNIS, foi acessada a Web SNIS - Série Histórica e obtidas as tabelas com as
informações e indicadores recebidas pelo sistema através dos prestadores de serviços. Foram
utilizados na pesquisa o Minitab e STATISTICA [5] como software estatístico para análise dos
testes e elaboração de gráficos.
Tendo como base testes de aderência, de hipóteses e de comparações simples e múltiplas, sendo
adotado um nível de 95% de confiança na realização do tratamento de dados. Como banco de dados
para RS, não apresenta dados agregados, foi utilizado para a elaboração das séries temporais, a
mediana do Brasil referente a cada indicador.
Os seguintes indicadores foram selecionados para o estudo mais aprofundado: IN006 - Despesa per
capita com manejo de RSU em relação à população urbana (R$/hab), IN014 - Taxa de cobertura do
serviço de coleta domiciliar direta (porta-a-porta) da população urbana do município (%), IN021 -
Massa coletada (RDO + RPU) per capita em relação à população urbana (kg/hab/dia), IN026 - Taxa
de resíduos sólidos da construção civil (RCC) coletada pela prefeitura em relação à quantidade total
coletada (%), IN031 - Taxa de recuperação de materiais recicláveis (exceto matéria orgânica e
rejeitos) em relação à quantidade total (RDO + RPU) coletada (%) e IN037 - Taxa de RSS coletada
em relação à quantidade total coletada (%).

3.1.1 Teste

3.1.1.1 Testes de aderência


Os dados qualitativos e quantitativos foram submetidos ao teste de distribuição qui-quadrado (λ2)
para a verificação do enquadramento do conjunto de dados pelo intermédio das distribuições
observadas e esperadas nas amostras. Este teste foi aplicado com o objetivo de analisar a
normalidade da distribuição e balizar o uso dos demais testes estatísticos, paramétricos ou não.
Estes tipos de testes proporcionam estabelecer a melhor distribuição que se ajusta a série de dados.
Promovem a rejeição ou aceitação de H0 , sendo assim, se o p valor gerado a partir dos dados for
maior que a significância, a hipótese está na zona de não-rejeição e, o contrário, rejeição. Caso a
hipótese venha a ser rejeitada, significa que há discordância em relação às demais informações em
estudo [6].
3.1.1.2. Testes de Comparação
Como os testes de variâncias apenas manifestam que existem diferenças, mas não mostram onde
foram encontradas. Fez-se o uso dos testes de comparações múltiplas, Kruskal-Wallis ANOVA a
fim de identificar as diferenças significativas dentro do intervalo de confiança adotado.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir das análises estatísticas, obtivemos gráficos que, juntamente com os resultados dos testes
utilizados, facilitaram a visualização dos resultados alcançados. A Figura 1 a seguir ilustra a
legenda sobre a interpretação dos elementos do gráfico Box Plot. Este tipo de gráfico apresenta a
caixa com 50% dos valores, o mínimo exibindo o menor valor encontrado e o máximo, que
representa o quarto quartil, sendo cada quartil formado por 25% dos valores obtidos nas amostras
[7].

Fig. 1 – Legenda do gráfico BoxPlot. Fonte: Autoria Própria

4.1. Despesa per capita com manejo de RSU em relação à população urbana (IN006)

O Gráfico 1 a seguir representa na abscissa o indicador IN006 referente à despesa per capita com
manejo de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) apresentado em R$/habitante. De acordo com o Brasil
[8] com a base de dados de 2016, nesta edição, o indicador em estudo contou com a colaboração de
3.545 municípios.

3000
2500
IN006 (R$/hab.)

2000
1500
1000
AB C AB A BC
500
0
CO N NE S SE
REGIÕES
Gráfico 1 – Indicador IN006 com a presença de Fernando de Noronha no ano de 2016. Fonte: Autoria Própria

A região Nordeste apresenta o arquipélago de Fernando de Noronha com o máximo elevado em


relação às demais localidades, cerca de R$ 2726,29/ hab.. A partir de observações, foi possível
verificar a influência das cidades litorâneas no aumento do IN006. Isto se dá, devido ao fato de no
geral, serem pouco populosas e com população flutuante considerável que contribui na geração de
resíduos.

O cálculo deste indicador é feito através do somatório das despesas com serviços de manejo de
resíduos sólidos urbanos, dividido pela população urbana do município. E, segundo o IBGE [9],
Fernando de Noronha apresentava em 2016 uma população estimada de 2.974 habitantes e de
acordo com Brasil [10] 91 mil turistas visitaram o município no mesmo ano, o que justifica
resultados tão elevados.

Esse fato foi observado no Gráfico 2 quando a ilha foi retirada do banco de dados, o máximo
continuou sendo liderado por cidades litorâneas, desta vez, guiado por Guamaré – RN. Entretanto,
este padrão não foi notado no ano de 2012, onde o indicador foi liderado por Floriano Peixoto – RS.
900
800
IN006 (R$/hab.)

700
600
500
400
300
200
100
0
CO N NE S SE
REGIÕES
Gráfico 2 – Indicador IN006 sem a presença de Fernando de Noronha no ano de 2016. Fonte: Autoria Própria

4.2. Taxa de cobertura do serviço de coleta domiciliar direta (porta-a-porta) da população urbana
do município (IN014).
A PNSB estabelece a formulação de planos de saneamento básico sob direção do Ministério das
Cidades. O Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB) foi elaborado a partir de três
principais estudos, sendo eles: “Pacto pelo Saneamento Básico: mais saúde, qualidade de vida e
cidadania”, “Panorama do Saneamento Básico no Brasil” e “Consulta Pública” que permitiu
discussões que levaram ao seu aval [11].

Segundo Brasil [8], este indicador passou a entrar na computação dos dados a partir de 2012, com o
intuito de auxiliar a verificação do progresso de uma das metas do PLANSAB. Através de um
indicador nomeado como “percentual de domicílios urbanos atendidos por coleta direta de resíduos
sólidos”.
Ademais, estes indicadores possuem inconsistências em suas equiparidades, uma vez que o da
PLANSAB reconhece a coleta realizada três vezes por semana nos municípios urbanos e do SNIS, a
coleta efetuada uma vez na semana, atendendo a população urbana [8].

Os Gráficos 3 e 4 ilustram o indicador em estudo nas cinco regiões do Brasil nos anos de 2012 e
2016. Em ambos há a presença dos dados majoritariamente aproximados da totalidade (100%),
tendo como exceção alguns municípios que não responderam ou que não realizam coleta porta-a-
porta, apresentando resultados de 0% e outros valores médios encontrados nas regiões Norte e
Nordeste.
120
100
80
IN014 (%)

60
40
20 A B B A A
0
CO N NE S SE
REGIÕES
Gráfico 3 – Indicador IN014 no ano de 2016. Fonte: Autoria Própria
120
100
80
IN014 (%)

60
40
20
0
CO NE N SE S
REGIÕES
Gráfico 4 – Indicador IN014 no ano de 2012. Fonte: Autoria Própria
4.3. Massa coletada (RDO + RPU) per capita em relação à população urbana (IN021).
Este indicador é apresentado em kg/hab/dia, a partir dele é possível verificar que novamente no
Gráfico 5 a região nordeste apresenta o ponto de máximo elevado se tratando de uma cidade
litorânea turística denominada Jijoca de Jericoacoara.
Isto acontece, devido ao fato do cálculo necessário para encontrar os valores ser realizado através da
divisão entre o somatório da massa coletada de resíduos domiciliares orgânicos e resíduos públicos
urbanos, a estimativa de população realizada pela plataforma e os dias do ano. Como mostrado na
Fig. 2 seguir:
Fig. 2 – Fórmula para o cálculo do IN021. Fonte: Glossário de Indicadores - Resíduos Sólidos [8].

5,5
4,5
IN021 (kg/hab/dia)

3,5
2,5
A B A B B
1,5
0,5
-0,5
CO N NE S SE
REGIÕES
Gráfico 5 – Indicador IN021 no ano de 2016. Fonte: Autoria Própria
Também é possível analisar através do Gráfico 6, que as medianas regionais encontram-se em
faixas próximas e estagnadas, pois em 2012 foram observados resultados mantidos a esta média,
dando destaque apenas para a cidade de Alcinópolis – MS apresentando 11,23kg/hab/dia.
O município de Alcinópolis possuía em 2012, população estimada segundo o IBGE [12] de 4.704
habitantes. A hipótese para este resultado exorbitante surgiu a partir do Plano de Gestão Integrada
de Resíduos Sólidos para a Sub-Bacia do Rio Taquari no qual o município e outros dez estão
inseridos.

Segundo PGIRS [13] para o cálculo da estimativa de coleta de RSD são necessários outros
elementos, sendo que o município não contempla o controle da geração per capita de RSD, o que
acaba prejudicando a precisão da estimativa do parâmetro. Após esta etapa, utilizaram para a
aproximação do volume de RSD coletados, peso específico aparente determinado a partir de
ensaios. Para o ano de 2012 foi estimado o volume de 0,94 t/dia para Alcinópolis, o que leva a crer
que realmente houve erro ao transcrever os valores para a plataforma SNIS.

O Brasil [14] apresenta no escopo do diagnóstico que o munícipio foi retirado do tratamento dos
dados para a elaboração do mapa do IN021 com a justificativa de que o valor mencionado teria
excedido o valor máximo do aplicativo de 4kg/hab./dia.
12
10

IN021 (kg/hab/dia)
8
6
4
2
0
CO NE N SE S
REGIÕES
Gráfico 6 – Indicador IN021 no ano de 2012. Fonte: Autoria Própria
4.4. Taxa de resíduos sólidos da construção civil (RCC) coletada pela prefeitura em relação à
quantidade total coletada (IN026).
Se tratando deste indicador, o ano de 2012 foi constatado através do Gráfico 7 um outlier em
Guararapes – SP, apresentando o valor de 2977,36%. Em 2016 não foram contemplados valores
discrepantes como em 2012 (Gráfico 8) e, o município de Guararapes não apresentou resposta.
3000
2500
IN026 (%)

2000
1500
1000
500
0
CO NE N SE S
REGIÕES
Gráfico 7 – Indicador IN026 no ano de 2012. Fonte: Autoria Própria
350
300
250
IN026 (%)

200
150
100
AB C B B A
50
0
CO N NE S SE
REGIÕES
Gráfico 8 – Indicador IN026 no ano de 2016. Fonte: Autoria Própria
4.5. Taxa de recuperação de materiais recicláveis (exceto matéria orgânica e rejeitos) em relação
à quantidade total (RDO + RPU) coletada (IN031).
A partir deste critério, foi notada uma deficiência na Região Nordeste nos anos de 2012 e que
perdurou por 2016, apresentando baixos percentuais em relação às demais localidades do país como
pode ser observado nos Gráficos 9 e 10 a seguir.
120
100
80
IN031 (%)

60
40
20
0
CO NE N SE S
REGIÕES
Gráfico 9 – Indicador IN031 no ano de 2012. Fonte: Autoria Própria
70
60
50
IN031 (%)

40
30
20
BC BC C A B
10
0
CO N NE S SE
REGIÕES
Gráfico 10 – Indicador IN031 no ano de 2016. Fonte: Autoria Própria
Com a análise temporal da taxa de recuperação de materiais recicláveis tratada no Gráfico 11, é
indispensável salientar a evolução do indicador e o crescimento nos anos mais atuais. A reciclagem
no Brasil ganha espaço e se apresenta como forma de negócio, uma vez que gera lucro e renda com
os seus materiais. Vale destacar também que no cenário atual do país existem muitos catadores
autônomos, o que dificulta a precisão do impacto desta atividade [15].
6

IN031 (%)
3

0
2012 2013 2014 2015 2016
Anos

Gráfico 11 – Série Temporal do indicador IN031. Fonte: Autoria Própria

4.6. Taxa de RSS coletada em relação à quantidade total coletada (IN037).


Este percentual foi de suma importância, uma vez que foi notado em Aurora – SC valor demasiado
em 2012 e em 2016 o município não constou no banco de dados do SNIS. Equiparando assim, o
parâmetro sobre a taxa de Resíduos de Serviço de Saúde nas regiões do Brasil como observado na
comparação entre os Gráficos 12 e 13 a seguir.
140
120
100
IN037 (%)

80
60
40
20
0
CO NE N SE S
REGIÕES
Gráfico 12 – Indicador IN037 no ano de 2012. Fonte: Autoria Própria
3,5
3,0
2,5
IN037 (%)

2,0
1,5
1,0
B AB A A B
0,5
0,0
CO N NE S SE
REGIÕES
Gráfico 13 – Indicador IN037 no ano de 2016. Fonte: Autoria Própria
A série temporal do IN037 ilustrada no Gráfico 14 abaixo evidencia o decaimento do indicador com
o decorrer dos anos.
0,235
0,23
0,225
0,22
IN037 (%) 0,215
0,21
0,205
0,2
0,195
0,19
0,185
2012 2013 2014 2015 2016
Anos

Gráfico 14 – Série Temporal do indicador IN037. Fonte: Autoria Própria

5. CONCLUSÃO

Contudo, apesar dos indicadores apresentarem em sua maioria avanço no cenário de resíduos
sólidos, principalmente por elaborações de Planos de Gerenciamentos de Resíduos Sólidos, vale
salientar que o país ainda é carente da difusão dessas informações, métodos de tratamento e de
correta disposição dos rejeitos.

Para isto, a educação ambiental tem um papel importante e é relacionado diretamente ao aumento
da taxa de recuperação de materiais recicláveis (exceto matéria orgânica e rejeitos). Uma vez que
indica o local correto de armazenagem, os materiais passíveis de serem reciclados e até mesmo a
conscientização sobre o recolhimento dos resíduos pelas prefeituras ou empresas terceirizadas.

A coleta porta-a-porta também de suma importante e vale salientar que no IN014 são consideradas
apenas as coletas diretas, mas que ainda em lugares de condições deficientes de infraestrutura
urbana, são oferecidas à população caçambas estacionárias. Diferenciando a qualidade e
disponibilidade na prestação deste serviço.

Ademais, o Brasil vem elevando sua geração per capita de resíduos sólidos, isto ocorre devido ao
aumento do poder aquisitivo da população. Caso não haja a destinação correta e a utilização de
artifícios de pré-tratamento e recuperação enérgica, logo menos as áreas de disposição estão
saturadas.

REFERÊNCIAS
[1] BRASIL. Lei N. 11.445, de 05 de Janeiro de 2007: Estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico,
cria o Comitê Interministerial de Saneamento Básico, altera a Lei nº 6.766, de 19 de dezembro de 1979, a Lei nº 8.036,
de 11 de maio de 1990, a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, e a Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, e revoga a
Lei nº 6.528, de 11 de maio de 1978. Brasil, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2007/Lei/L11445.htm>. Acesso em: 15 out. 2018.

[2] BRASIL. MINISTÉRIO DAS CIDADES. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. 2014. Disponível em:
<http://www.cidades.gov.br/saneamento-cidades>.
[3] PEREIRA, Tatiana Santana Timóteo; HELLER, Léo. Planos municipais de saneamento básico: avaliação de 18
casos brasileiros*. Engenharia Sanitaria e Ambiental, [s.l.], v. 20, n. 3, p.395-404, set. 2015. FapUNIFESP
(SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1413-41522015020000098824. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/esa/v20n3/1413-4152-esa-20-03-00395.pdf>. Acesso em: 19 out. 2018.

[4] BRASIL. SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE SANEAMENTO. (Org.). Aplicação web Série
Histórica. 2015. Disponível em: <http://www.snis.gov.br/aplicacao-web-serie-historica>.

[5] STATSOFT. STATISTICA (data analysis software system), version 8.0. 2007. Disponível em:
<www.statsoft.com>.
[6] BARBOZA, J. V. S.; LEISMANN, E. L.; JOHAN, J. A. Sustentabilidade na Visão de Gestores de Micro e Pequenas
Empresa na Região do Paraná. Revista da Micro e Pequena Empresa, v. 9, n. 2, p. 17-29, 2015.
[7] MEDRI, Dr. Waldir. ANÁLISE EXPLORATÓRIA DE DADOS. 2011. 82 f. - Curso de Estatística,
Departamento de Estatística, Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011. Disponível em:
<http://www.uel.br/pos/estatisticaquantitativa/textos_didaticos/especializacao_estatistica.pdf>. Acesso em: 24 out.
2018.
[8] Brasil. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental – SNSA Sistema Nacional de
Informações sobre Saneamento: Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos – 2016. – Brasília:
MCIDADES.SNSA, 2018.
[9] BRASIL. IBGE. . Estimativas populacionais para os municípios e para as Unidades da Federação brasileiros
em 01.07.2016. Disponível em:
<https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2016/estimativa_dou.shtm>. Acesso em: 05 nov. 2018.
[10] BRASIL. Brasil. Ministério do Turismo. Fernando de Noronha registra alta no fluxo turístico em
2016: Destino de celebridades no fim do ano, arquipélago tem taxa média de ocupação de 91% e prevê resultados
positivos em 2017. 2017. Disponível em: <http://www.turismo.gov.br/ultimas-noticias/7397-fernando-de-noronha-
registra-alta-no-fluxo-tur%C3%ADstico-em-2016.html>. Acesso em: 05 nov. 2018.
[11] BRASIL. (2014) Plano nacional de saneamento básico. Brasília: Ministério das Cidades, 220 p. Disponível em:
<http://www.cidades.gov.br/images/stories/ArquivosSNSA/PlanSaB/plansab_texto_editado_para_download.pdf>.
Acesso em: 19 out. 2018.

[12] BRASIL. IBGE. Estimativas populacionais para os municípios brasileiros em 01.07.2012. Disponível em: <
https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2012/estimativa_dou.shtm>. Acesso em: 05 nov. 2018.

[13] SECRETARIA DE ESTADO DE MEIO AMBIENTE, DO PLANEJAMENTO, DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA.


Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos para a Sub-bacia do Rio Taquari. Disponível em:
<http://www.imasul.ms.gov.br/wp-content/uploads/sites/74/2016/02/PGIRS_COINTA_VERSAO_FINAL.pdf>.

[14] Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental. Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento:
diagnóstico do manejo de resíduos sólidos urbanos – 2012. Brasília: MCIDADES.SNSA, 2014.

[15] CAMPOS, Heliana Kátia Tavares. Renda e evolução da geração per capita de resíduos sólidos no Brasil. Eng
Sanit Ambient, Brasília, v. 17, n. 2, p.171-180, Não é um mês valido! 2012. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/esa/v17n2/a06v17n2>. Acesso em: 15 out. 2018.
ENSINO DE RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS POR MEIO DE
APLICAÇÕES COMPUTACIONAIS

Teaching Strength of Materials through computational applications

Raphael B. Nunes 1, Thadeu R. Lugarini 1, Charles J. de Oliveira 1


1 Universidade Positivo, Curitiba, Brasil, chjaster@hotmail.com

Resumo: O presente estudo discute a implementação do uso de ferramentas computacionais aplicadas


ao campo da Engenharia Civil na disciplina de Resistência dos Materiais. A busca por diferentes
meios na determinação de esforços axiais e tensões normais, possibilita comparação de resultados. A
metodologia consiste na resolução de problemas de engenharia, contextualizados, que envolvem
aplicações de cargas concentradas, distribuídas, e térmicas, em estruturas isostáticas e hiperestáticas,
para cálculo de deslocamentos e esforços. Utilizou-se de teorias analíticas, clássicas, pela Resistência
dos Materiais, e softwares para comparação; Ftool pelo método da rigidez direta; SAP 2000 pelo
método dos elementos finitos. A importância deste trabalho se justifica pela correlação destes
métodos, tanto pela utilização analítica, tanto pelo emprego de ferramentas computacionais, na
resolução de exemplos didáticos. Resolve-se um mesmo problema com diferentes técnicas, de forma
sequencial, afim de aumentar o entendimento da disciplina, seja por possibilitar uma melhor
compreensão, ou maior discernimento para com análises corretas de resultados fornecidos. Justifica-
se também, a partir de um caso geral, pela introdução na utilização de softwares de modelagem na
resolução de problemas da engenharia, em que o sistema real físico passa a ser estudado por um
modelo virtual criado.

Palavras-chave: Resistência dos Materiais, elementos finitos, ensino.

Abstract: The present study discusses the implementation of the use of computational tools applied
to the field of Civil Engineering in the discipline of Strength of Materials. The search for different
means in the determination of axial stresses and normal stresses, allows comparison of results. The
methodology consists of solving contextualized engineering problems involving concentrated,
distributed, and thermal loads, applications in isostatic and hyperstatic structures for the calculation
of displacements and stresses. We used analytical, classical theories for the Strength of Materials, and
software for comparison; Ftool by direct stiffness method; SAP 2000 by the finite element method.
The importance of this work is justified by the correlation of these methods, both by the analytical
use, both by the use of computational tools, in the resolution of didactic examples. The same problem
is solved with different techniques and in a sequential way, in order to increase the understanding of
the discipline, and to enable a better understanding and discernment for the correct analyzes of the
results provided. It is also justified, from a general case, by the introduction in the use of modeling
software, to solve engineering problems, in which the real physical system is studied by a virtual
model created.

Keywords: Strength of Materials, finite elements, teaching.


1. INTRODUÇÃO
A tecnologia avança em todas as áreas do conhecimento. Praticamente em todas as esferas em que
vivemos, busca-se ampliar velocidade, e praticidade. Os avanços tecnológicos são motivados pela
necessidade na obtenção de respostas com mais agilidade e eficiência. Na área do ensino, e do
conhecimento, não haveria de ser diferente. Muito do que se considerava habitual em uma sala de
aula, mudou com o tempo. No lugar de um caderno, um tablet, ou computador. Aulas antes
ministradas por meio de texto, ou exercícios escritos em um quadro-negro, que agora deram lugar às
aulas ministradas via multimídia e outros programas. Essas inovações possibilitam que os estudos
sejam mais abrangentes e dinâmicos, pela maior disponibilidade, praticidade e facilidade na obtenção
de informações. Portanto, tais aulas que dispõem do uso de ferramentas computacionais, podem
auxiliar e potencializar o aprendizado do aluno, aumentando seu entendimento, além de lhe fornecer
maiores condições para construir conhecimento consolidado [1].
Com base na lógica abordada, em que o ensino da disciplina de Resistência dos Materiais nos cursos
de engenharia, mais especificamente da Engenharia Civil, possa ser feito por meio do uso de
aplicações computacionais, este estudo apresenta uma comparação da teoria analítica (discernida em
classe, resolvida em passos pelo corpo docente, por meio de cálculos manuais) com a utilização de
softwares (por meio da modelagem computacional), com a finalidade de apresentar diferentes meios
para o aprendizado e entendimento do conteúdo.

2. OBJETIVO
Discutir a aplicação das ferramentas computacionais no campo do ensino da disciplina de Resistência
dos Materiais através de comparação da resolução clássica de exercícios, com soluções via softwares
de modelagem.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As análises de problemas da engenharia partem de princípios em que o sistema real, complexo, deve
ser idealizado. São feitas representações do problema real, tal que o objetivo seja considerar os
aspectos mais dominantes; ou também, desprezar efeitos não importantes, para uma possível análise
matemática. Com base nisso, adotam-se hipóteses. Entretanto, essas hipóteses podem carregar dois
erros: erros de modelagem e erros de discretização. Os erros de modelagem são reduzidos
aumentando a fidelidade do modelo; e os erros de discretização são reduzidos com refinamento de
modelagem (aumento de elementos discretos). Vale salientar, que embora os erros de discretização
forem tão pequenos podendo eles ser desprezíveis, a realidade nunca será perfeitamente idealizada,
como comenta Cook, Malkus, Pleasha e Witt [2].
Um exemplo de modelagem e discretização, está esquematizado pela Fig. 1. Primeiramente, através
de modelagem, considera-se o solo como um apoio rígido (desconsiderando a deformação
proveniente do recalque). Segundo, considera-se a carga atuante na estrutura como uniforme, aplicada
em uma certa área aproximada, para que então seja representada uma carga pontual (carga P – Fig.
1), e unidirecional (para baixo – Fig. 1), nos cálculos. Define-se também, uma forma aproximada da
estrutura, dividida em três partes, com constantes áreas transversais equivalentes. Assume-se uma
distribuição linear de tensões e deformações e ignora-se a não linearidade do material (supondo
material elástico). Por fim, desconsidera-se o peso da estrutura [2].
A estrutura, portanto, a partir das simplificações impostas, pôde-se ser matematicamente exequível.
Fig. 1 – Esquema de modelagem e discretização [2]
Pela Resistência dos Materiais, sempre válidos os conceitos da Lei de Hooke, princípio de Saint-
Venant, isotropia, e continuidade, a variação de comprimento (L) de uma determinada peça (de
módulo de elasticidade E, área transversal A) por uma carga aplicada (P), é dada por [3]:
𝑃.𝐿
𝛿 = 𝐸.𝐴 (1)

Pelo método da rigidez direta, os problemas são conduzidos com de uso de análise matricial. Tal
método é aplicável para estruturas reticuladas [4], em que são atendidos dois conjuntos de
formulações: compatibilidade dos deslocamentos, e equilíbrio de forças. Através dessa relação é
possível obter um conjunto de equações expresso em termos de deslocamentos [5]. Esse processo é
iterativo, sendo possível sua programação através de linguagens computacionais, o que confere sua
aplicação por meio de softwares.

Pelo método dos elementos finitos, a discretização de estruturas não obrigatoriamente reticuladas,
mas contínuas e em domínios mais complexos, por meio de um número finito de elementos [6]. Tais
elementos, que mantêm as propriedades do meio que os originou, são posteriormente descritos por
equações diferenciais e resolvidos por modelos matemáticos aproximados [7]. Resolve-se um
problema complexo, através de uma sequência de problemas mais simples, e que quando agrupados,
conduzem à solução inicial real [8].

4. METODOLOGIA

Mediante apresentação de cinco exemplos de exercícios que constam nas principais bibliografias de
Resistência dos Materiais, e um exercício-base, será estabelecido uma comparação entre os
métodos propostos, divididos respectivamente entre as categorias: Resolução via Resistência dos
Materiais (RM), via Ftool e via SAP 2000 (MEF) em um quadro-resumo, que apresenta as resoluções
e as respostas.
Exercício 01: A haste ABCD é feita de Alumínio, com E = 70GPa. Determine, para as cargas
indicadas, desprezando o peso próprio: o deslocamento da seção B e o deslocamento da seção D [9].

Fig. 2 – Esquema do exercício 01 [9]

Exercício 02: Duas barras maciças cilíndricas AC e CD, ambas de mesma liga de alumínio (E =
70GPa), são soldadas juntas em C e submetidas ao carregamento indicado. Determinar a deformação
total da barra composta ACD e o deslocamento do ponto C [9].

Fig. 3 – Esquema do exercício 02 [9]

Exercício 03 (adaptado): O conjunto tem as áreas especificadas e a composição de materiais


indicados. Estando eles bem fixados aos apoios, quando as cargas aplicadas em B e C agem,
determinar a tensão normal média em cada material. Dados: Alumínio E = 73,1GPa; Bronze E =
103GPa; Aço E = 200GPa [3].
Fig. 4 – Esquema do exercício 03 [3]

Exercício 04: O conjunto tem os diâmetros especificados e a composição de materiais indicados.


Estando eles bem fixados aos apoios, quando a temperatura é 20°C, determinar a tensão média em
cada material, quando a temperatura atinge 40°C [3].

Fig. 5 – Esquema do exercício 04 [3]

Exercício 05: Uma barra composta de duas porções cilíndricas AB e BC é engastada em ambas as
extremidades. A porção AB é de aço (E = 200GPa; α = 11,7.10-6 °C-1) e a porção BC é de latão (E =
105GPa; α = 20,9. 10-6 °C-1). Sabendo que a barra está inicialmente sem tensão, determinar: As
tensões normais induzidas nas porções AB e BC, por uma elevação de temperatura de 50°C e a
correspondente deflexão no ponto B.

Fig. 6 – Esquema do exercício 05 [9]


Exercício-base: Diante da estrutura hipotética apresentada, composta de estaca e pilares com módulos
de elasticidade e áreas (conforme Fig. 7), determinar o recalque sofrido pela extremidade do último
pavimento representado.

Fig. 7 – Esquema do exercício-base

O Quadro 1 esquematiza as equações e símbolos de variáveis utilizadas para as resoluções via


Resistência dos Materiais, e o Quadro 2, a forma de como foram apresentadas as resoluções dos
exercícios.
Equações Variáveis
𝜎: Tensão normal, medida
em mega-pascal (MPa)
𝑃
P: força normal, medida em
𝜎 = 𝐴 (Tensão normal) (2) newtons (N)
A: área de seção transversal,
medida em milímetros
quadrados (mm²)
𝛿: Deslocamento, medido
em milímetros (mm)
P ou P(x): força-normal ou
função carregamento, em
𝑃. 𝐿 newtons (N) e newton-
𝛿= (3)
𝐸. 𝐴 milímetro (N/mm),
𝑃. 𝐿 respectivamente
𝛿=∑ (4)
𝐸. 𝐴 L: comprimento, em
𝐿𝐹
𝑃(𝑥). 𝐿 milímetros
𝛿=∫ 𝑑𝑥 (5)
𝐿𝐼 𝐸. 𝐴 E: módulo de elasticidade
(Deslocamentos) longitudinal, medido em
mega-pascal (MPa)
A: área de seção transversal,
medida em milímetros
quadrados (mm²)
𝛿𝑇 : dilatação, medida em
milímetros (mm)
𝛼: coeficiente de expansão
𝛿𝑇 = 𝛼. 𝐿. Δ𝑇 (Dilatação térmica) (6)
térmica linear, em °C-1
Δ𝑇: variação de temperatura,
em graus Celsius (°C)
Quadro 1 – Equações e símbolos utilizados na resolução via RM
RESOLUÇÃO VIA RM
Procedimentos de cálculo e respostas
RESOLUÇÃO VIA SOFTWARE MEF RESOLUÇÃO VIA FTOOL
Discretização, diagramas e respostas Discretização, diagramas e respostas
Quadro 2 – Exemplo do modelo resolutivo a ser apresentado

5. RESULTADOS

O quadro 3 apresenta as três soluções (RM, via software MEF, e via Ftool) para o exercício 1.
RESOLUÇÃO VIA RM
Equilíbrio global da estrutura:
∑𝐹𝑦 = 0
𝐹𝐴 + 100 − 75 − 50 = 0
𝐹𝐴 = 25𝑘𝑁 (↑)

Diagrama de esforços normais, com base no equilíbrio local em cada seção:

Deslocamento dos pontos B e D:


𝛿𝐵 = 𝛿𝐴𝐵
𝑃𝐴𝐵 . 𝐿𝐴𝐵 25000.1750
𝛿𝐵 = = = 0,781𝑚𝑚(↓)
𝐸𝐴𝐵 . 𝐴𝐴𝐵 70000.800

𝛿𝐵 = 𝛿𝐴𝐵 + 𝛿𝐵𝐶 + 𝛿𝐶𝐷


𝑃𝐴𝐵 . 𝐿𝐴𝐵 𝑃𝐵𝐶 . 𝐿𝐵𝐶 𝑃𝐶𝐷 . 𝐿𝐶𝐷
𝛿𝐷 = + +
𝐸𝐴𝐵 . 𝐴𝐴𝐵 𝐸𝐵𝐶 . 𝐴𝐵𝐶 𝐸𝐶𝐷 . 𝐴𝐶𝐷

125000.1250 50000.1500
𝛿𝐷 = 0,78125 + + = 5,714𝑚𝑚(↓)
70000.800 70000.500
RESOLUÇÃO VIA SOFTWARE MEF RESOLUÇÃO VIA FTOOL

Quadro 3 – Resoluções do exercício 01

O quadro 4 apresenta as três soluções (RM, via software MEF, e via Ftool) para o exercício 2.

RESOLUÇÃO VIA RM
Equilíbrio global da estrutura:
∑𝐹𝑥 = 0
∑𝐹𝑥 = 90 − 65 − 65 + 40 = 0
Diagrama de esforços normais, com base no equilíbrio local de cada seção:

Deformação da barra ACD e o deslocamento do ponto C:

𝑃𝐴𝐵 . 𝐿𝐴𝐵 𝑃𝐵𝐶 . 𝐿𝐵𝐶 𝑃𝐶𝐷 . 𝐿𝐶𝐷


𝛿𝐴𝐶𝐷 = + +
𝐸𝐴𝐵 . 𝐴𝐴𝐵 𝐸𝐵𝐶 . 𝐴𝐵𝐶 𝐸𝐶𝐷 . 𝐴𝐶𝐷
0.300 −90000.200 40000.380
𝛿𝐴𝐶𝐷 = + + = 0,0452𝑚𝑚 (→)
𝜋(60)2 𝜋(60)2 𝜋(30)2
70000. 70000. 70000.
4 4 4
𝑃𝐴𝐵 . 𝐿𝐴𝐵 𝑃𝐵𝐶 . 𝐿𝐵𝐶 0.300 −90000.200
𝛿𝐶 = + = 2 +
𝐸𝐴𝐵 . 𝐴𝐴𝐵 𝐸𝐵𝐶 . 𝐴𝐵𝐶 𝜋(60) 𝜋(60)2
70000. 70000.
4 4
𝛿𝐶 = −0,009𝑚𝑚 (←)
RESOLUÇÃO VIA SOFTWARE RESOLUÇÃO VIA FTOOL
Quadro 4 – Resoluções do exercício 02

O quadro 5 apresenta as três soluções (RM, via software MEF, e via Ftool) para o exercício 3.
RESOLUÇÃO VIA RM
Pelo método da superposição, considera-se a barra engastada no ponto A livre para deformar em D. Diante
disso, aplica-se o equilíbrio global e calcula-se o deslocamento relativo ao ponto D:
∑𝐹𝑥 = 0
𝐹𝐴 − 125 + 100 = 0 ∴ 𝐹𝐴 = 25𝑘𝑁 (→)
𝑃𝐴𝐵 . 𝐿𝐴𝐵 𝑃𝐵𝐶 . 𝐿𝐵𝐶 𝑃𝐶𝐷 . 𝐿𝐶𝐷
𝛿𝐼 = + +
𝐸𝐴𝐵 . 𝐴𝐴𝐵 𝐸𝐵𝐶 . 𝐴𝐵𝐶 𝐸𝐶𝐷 . 𝐴𝐶𝐷
−25000.1200 100000.1800 0.900
𝛿𝐼 = + + = 2,400𝑚𝑚 (→)
73100.800 103000.600 200000.500
Considera-se a barra somente sob ação de uma força de compressão em D (FD), desconhecida, e calcula-se seu o
deslocamento:
𝑃𝐴𝐵 . 𝐿𝐴𝐵 𝑃𝐵𝐶 . 𝐿𝐵𝐶 𝑃𝐶𝐷 . 𝐿𝐶𝐷
𝛿𝐼𝐼 = + +
𝐸𝐴𝐵 . 𝐴𝐴𝐵 𝐸𝐵𝐶 . 𝐴𝐵𝐶 𝐸𝐶𝐷 . 𝐴𝐶𝐷
−𝐹𝐷 . 1200 −𝐹𝐷 . 1800 −𝐹𝐷 . 900
𝛿𝐼𝐼 = + + = −5,865. 10−5 𝐹𝐷 (←)
73100.800 103000.600 200000.500
Aplica-se, por fim, a condição de contorno, que estabelece que a soma dos deslocamentos em ambas as
hipóteses resolutivas tem que ser igual a zero:
𝛿𝐼 + 𝛿𝐼𝐼 = 0
2,40 + −5,865. 10−5 𝐹𝐷 = 0 ∴ 𝐹𝐷 = 40923,470𝑁
𝐹𝐷 = 40,923𝑘𝑁 (←)
Portanto, para a haste AB (alumínio):
65923
𝜎𝐴𝐵 = = 82,404𝑀𝑃𝑎 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜)
800
haste BC (bronze):
59077
𝜎𝐵𝐶 = = 98,462𝑀𝑃𝑎 (𝑡𝑟𝑎çã𝑜)
600
haste CD (aço):
40923
𝜎𝐶𝐷 = = 81,846𝑀𝑃𝑎 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜)
500
RESOLUÇÃO VIA SOFTWARE RESOLUÇÃO VIA FTOOL

Quadro 4 – Resoluções do exercício 03

O quadro 6 apresenta as três soluções (RM, via software MEF, e via Ftool) para o exercício 4.
RESOLUÇÃO VIA RM
Cálculo da dilatação térmica, considerando a estrutura livre em D:

𝛿𝑇 = 𝛼. 𝐿.△ 𝑇
𝛿𝐼 = (𝛼. 𝐿.△ 𝑇)𝐴𝐵 + (𝛼. 𝐿.△ 𝑇)𝐵𝐶 + (𝛼. 𝐿.△ 𝑇)𝐶𝐷
𝛿𝐼 = (23. 10−6 . 1200. (40 − 20))𝐴𝐵 + (17. 10−6 . 1800. (40 − 20))𝐵𝐶 + (17. 10−6 . 900. (40 − 20))𝐶𝐷
𝛿𝐼 = 1,470𝑚𝑚 (→)

Considera-se a que barra está sujeita a uma força de compressão em D (−𝐹𝐷 ), desconhecida, e calcula-se o seu
deslocamento provocado:

−𝐹𝐷 . 1200 −𝐹𝐷 . 1800 −𝐹𝐷 . 900


𝛿𝐼𝐼 = + +
𝜋(300)2 𝜋(200)2 𝜋(100)2
73100. 103000. 193000.
4 4 4
𝛿𝐼𝐼 = −1,382. 10−6 𝐹𝐷 (←)

Aplica-se, por fim, a condição de contorno, que estipula que a soma dos deslocamentos nas duas hipóteses é
igual a zero:
𝛿𝐼 + 𝛿𝐼𝐼 = 0
1,470 − 1,382. 10−6 𝐹𝐷 = 0 ∴ 𝐹𝐷 = 1063675,832𝑁
𝐹𝐷 = 1063,675𝑘𝑁 (←)
Portanto, para a haste AB (alumínio):

1063675,832
𝜎𝐴𝐵 = = 15,0479𝑀𝑃𝑎 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜)
𝜋(300)2
4
Haste BC (bronze):

1063675,832
𝜎𝐵𝐶 = = 33,858𝑀𝑃𝑎 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜)
𝜋(200)2
4
Haste CD (aço):

1063675,832
𝜎𝐶𝐷 = = 135,431𝑀𝑃𝑎 (𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜)
𝜋(100)2
4
RESOLUÇÃO VIA SOFTWARE MEF RESOLUÇÃO VIA FTOOL

Quadro 4 – Resoluções do exercício 04

O quadro 5 apresenta as três soluções (RM, via software MEF, e via Ftool) para o exercício 5.

RESOLUÇÃO VIA RM
Cálculo da dilatação térmica, considerando a estrutura livre em C:

𝛿𝑇 = 𝛼. 𝐿.△ 𝑇
𝛿𝐼 = (𝛼. 𝐿.△ 𝑇)𝐴𝐵 + (𝛼. 𝐿.△ 𝑇)𝐵𝐶
𝛿𝐼 = (11,7. 10−6 . 250.50)𝐴𝐵 + (20,9. 10−6 . 300.50)𝐵𝐶
𝛿𝐼 = 0,460𝑚𝑚 (↓)

Deslocamento em C, por uma força de compressão desconhecida ( −F𝑐 ):

𝑃𝐴𝐵 . 𝐿𝐴𝐵 𝑃𝐵𝐶 . 𝐿𝐵𝐶


𝛿𝐼𝐼 = +
𝐸𝐴𝐵 . 𝐴𝐴𝐵 𝐸𝐵𝐶 . 𝐴𝐵𝐶
−F𝑐 . 250 −F𝑐 . 300
𝛿𝐼𝐼 = +
𝜋(30)2 𝜋(50)2
200000. 105000.
4 4
𝛿𝐼𝐼 = −3,224. 10−6 F𝑐 (↑)
Aplica-se a condição de contorno que estipula que a soma dos deslocamentos nas duas etapas tem de ser igual a zero.
𝛿𝐼 + 𝛿𝐼𝐼 = 0
0,460 − 3,22410−6 . F𝑐 = 0 ∴ F𝑐 = 142679,901𝑁
F𝑐 = 142,679𝑘𝑁 (↑)
É possível, então, calcular as tensões normais às quais as barras AB e BC estarão sujeitas através da equação:
Barra AB (aço):
142679,901
𝜎𝐴𝐵 = = 201,851𝑀𝑃𝑎 (𝐶𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜)
𝜋(30)2
4
Barra BC (latão):
142679,901
𝜎𝐵𝐶 = = 72,666𝑀𝑃𝑎 (𝐶𝑜𝑚𝑝𝑟𝑒𝑠𝑠ã𝑜)
𝜋(50)2
4

Por fim, calcula-se a deflexão do ponto B, pela soma dos efeitos da dilatação e pela força de compressão em C:

𝑃𝐴𝐵 . 𝐿𝐴𝐵
𝛿𝐵 = + (𝛼. 𝐿.△ 𝑇)𝐴𝐵
𝐸𝐴𝐵 . 𝐴𝐴𝐵
−142679,901.250
𝛿𝐵 = + (11,7. 10−6 . 250.50)𝐴𝐵
𝜋(30)2
200000.
4
𝛿𝐵 = −0,106𝑚𝑚 (↑)
RESOLUÇÃO VIA SOFTWARE MEF RESOLUÇÃO VIA FTOOL

Quadro 6 – Resoluções do exercício 05

O quadro 6 apresenta as três soluções (RM, via software MEF, e via Ftool) para o exercício 6.
RESOLUÇÃO VIA RM
Equilíbrio global da estrutura:

∑𝐹𝑦 = 0
5 5
−350 − 750 − 750 + 10 ( ) + (20 + 40) ( ) + 𝐹𝐴 = 0
2 2

𝐹𝐴 = 1675𝑘𝑁 (↑)

Diagrama de esforços normais da estrutura, com base no equilíbrio local estabelecido nas
seções:

Cálculo do recalque a que estará sujeito o terceiro pavimento:

5 10
𝑃3 . 𝐿3 𝑃2 . 𝐿2 𝑃1 . 𝐿1 𝑃(𝑥)𝑑𝑥 𝑃(𝑥)𝑑𝑥
𝛿3 = + + +∫ +∫
𝐸3 . 𝐴3 𝐸2 . 𝐴2 𝐸1 . 𝐴1 0 𝐸. 𝐴 𝑆𝑂𝐿𝑂1 5 𝐸. 𝐴 𝑆𝑂𝐿𝑂2

−350000.3900 −1100000.3900 −1850000.3900


𝛿3 = + +
200000.4000 200000.12000 200000.1200
5000
(−1850000 + 0,001𝑦 2 )
+∫ 𝑑𝑦
0 25000.3000 𝑆𝑂𝐿𝑂1

10000
(−1875000 + 0,002𝑦 2 )
+∫ 𝑑𝑦
5000 25000.3000 𝑆𝑂𝐿𝑂2

𝛿3 = −246,5𝑚𝑚 (↓)
RESOLUÇÃO VIA SOFTWARE MEF RESOLUÇÃO VIA FTOOL

Quadro 7 – Resoluções do exercício 06

6. CONCLUSÃO

Diante do que foi apresentado neste estudo, é importante salientar alguns pontos: a implementação
de recursos computacionais no ensino e na aprendizagem da Resistência dos Materiais só se faz válida
e efetiva se o aluno dominar os métodos e teorias que regem tal disciplina. De nada se torna útil a
utilização de softwares se o usuário não for capaz de inserir dados de entradas (input) e a metodologia
pela qual o software se baseia. Além disso, impreterivelmente, para o mesmo usuário, a capacidade
de interpretar as respostas (output) e conclusões obtidas pelo software. A implementação de
ferramentas digitais tem por objetivo antecipar o contato do futuro profissional com métodos que
poderão fazer parte de seu cotidiano em sua profissão. A melhoria da relação usuário-software se
justifica por uma maior eficiência na utilização de cada método computacional escolhido.

Vale salientar que, através da abordagem de três formas resolutivas distintas, foi possível perceber as
nuances de cada uma delas: a resolução via RM é vital para que se entenda os processos teóricos,
pelos quais os softwares posteriores são em parte modelados. Também, o uso do software Ftool faz-
se muito útil no que diz respeito a estruturas reticuladas planas, para a obtenção de esforços e
deslocamentos. Por fim, o software SAP 2000, que apresenta uma estrutura muito robusta em
possibilidades de cálculo, e obtém, assim como o Ftool, esforços e deslocamentos. Portanto,
promoveu-se aqui a tentativa de abordagem de um ensino mais efetivo, ilustrado, e didático, a uma
possível nova visão do aluno tanto para reconhecer os princípios da Resistência dos Materiais, quanto
para a inserção no âmbito de programas computacionais.

REFERÊNCIAS
[1] VALENTE, J. A. Informática na Educação do Brasil: Análise e Contextualização Histórica. Universidade de
Campinas, 1999.
[2] COOK, Robert D. et al. Concepts and applications of finite element analysis. New York: Wiley, 1974.
[3] HIBBELER, R. C. Resistência dos Materiais, 5a ed., Pearson Education do Brasil, 2004
[4] MARTHA, L. F. Método da Rigidez Direta para Modelos Estruturais Lineares e Elásticos. Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, 1999.
[5] KUMMER, F. D. Análise de Pórticos Espaciais Pelo Método da Rigidez: Considerações dos Efeitos da
Deformação por Corte. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2014.
[6] GIACCHINI, B. L. Uma breve introdução ao Método dos Elementos Finitos. Universidade Federal de Minas
Gerais, 2012.
[7] LOTTI, R. S., et al. Aplicabilidade científica do método dos elementos finitos. R Dental Press Ortodontia
Ortopedia Facial, 2006.
[8] DIAS, F, T. et al (2010). Método dos elementos finitos: técnicas de simulação numérica em engenharia. Lidel,
Lisboa, Portugal.
[9] BEER, F. P., et al. Mecânica dos Materiais, 5ª ed., AMGH Editora Ltda., Porto Alegre, 2011.
ANÁLISE NÃO LINEAR FÍSICA DE TRELIÇAS PLANAS VIA
MÉTODO ITERATIVO COM CONVERGÊNCIA CÚBICA

Physical non-linear analysis of the space trusses by iterative methods with cubic
convergence

Reinaldo Antonio dos Reis1; Paulo Anderson Santana Rocha2


1
Mestrando em Engenharia Civil, Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto - MG, Brasil.
2
Dr. Prof., Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto - MG, Brasil.
Contato: reinaldo.reis@engenharia.ufjf.br

RESUMO: As treliças metálicas são estruturas que têm sido utilizadas de forma extensiva e confiável
para superar grandes vãos e suportar carregamentos elevados com reduzido peso próprio. São
compostas por elementos lineares, geralmente construídas em madeira ou aço. Em alguns casos,
durante a análise destas estruturas, deseja-se conhecer o carregamento de colapso e sua trajetória de
equilíbrio (curva carga aplicada versus deslocamento). Na atualidade, as treliças têm sido usadas
numa grande variedade de aplicações práticas da engenharia, com estruturas mais complexas devido
ao advento de novos materiais com alta resistência. Com isto, têm-se produzido estruturas mais
econômicas devido a redução do consumo de material e o consequentemente o custo global. As
análises não lineares das estruturas surgem diante da necessidade de torná-las mais realísticas, sendo
possível com o aparecimento dos computadores e uso análise matricial. A análise não linear por muito
tempo baseou-se em técnicas numéricas de convergência quadrática, com bom desempenho
computacional, como o método de Newton-Raphson padrão e modificado. Devido ao avanço e a
complexidade das estruturas buscou-se métodos iterativos com melhor eficiência, mas que se
mantivesse o uso de derivadas de primeira ordem. Diante deste contexto, o método de Potra-Pták
surge como um eficiente método iterativo, possuindo convergência cúbica com derivada de primeira
ordem. Assim, o desenvolvimento de técnicas com baixo custo computacional é um dos principais
temas de pesquisas dentro da engenharia estrutural. O presente trabalho tem o intuito de comparar o
os métodos de solução de Newton -Raphson padrão e modificado com o de Potra–Pták. O algoritmo,
desenvolvido na Linguagem Fortan90 e baseado no Método dos Elementos Finitos, são aplicados em
problemas de treliças metálicas com não linearidade física. Os resultados evidenciaram uma tendência
de que o método de Potra–Pták necessita de um menor número de iterações, devido a sua
característica de diminuir o erro cubicamente ao longo do processo incremental iterativo, mostrando-
se eficiente para análises não lineares.

Palavras chave: Análise Não Linear Física, Newton – Raphson, Potra – Pták.

ABSTRACT: Steel trusses have been extensively used for structures designed to overcome large
gaps and to bear high loads with low self-weight. These structures are composed by linear elements
usually in wood or steel. In some cases, during the analysis of these structures, it is desired to know
the collapse load and its path following. Currently, plane trusses are used in many engineering
practical applications as more complex structures due to new materials with a higher resistance. Then,
more economical structures are being produced due to the reducing of the materials demand and
consequently the global cost, presenting a non-linear behavior in the relation stress versus
deformation. Nonlinear analysis of structures arise from the need to make them more realistic, being
possible with the advent of computers and matrix analysis. The non-linear analysis for a long time
was based on numerical techniques of the quadratic convergence with good computational
performance, such as the Newton-Raphson method. Due to the advancement and complexity of the
structures, iterative methods with better efficiency have been searched, but maintaining the use of
first-order derivatives. In this context, the Potra-Pták method appears as an efficient iterative method,
with cubic convergence and first order derivative. Thus, the development of techniques with low
computational cost is one of the main research topics in structural engineering. The current work aim
is compare the Newton-Raphson, Modified Newton-Raphson and Potra-Pták solution methods. In
order to analyze the methods performance, steel trusses problems with physical non-linearity are
analyzed by algorithms using Finite Element Methods developed in Fortran90. The both Newton-
Raphson methods are largely used in non-linear analysis and have quadratics convergence, and the
Potra-Pták is a new method that has cubic convergence. Due to this, it is expected that the Potra-Pták
become an advantageous method comparing to other iterative methods.

Keywords: Newton – Raphson, Potra – Pták, Physical Non-Linear Analysis, Plane Truss.

1. INTRODUÇÃO
A análise linear pressupõe que exista uma relação linear entre a carga aplicada e o deslocamento.
Essa hipótese só se verifica em casos onde o comportamento do material tenha uma resposta elástica
linear com pequenos deslocamentos. Quando a carga atuante na estrutura ultrapassa o valor da carga
de escoamento, desde que a estrutura não tenha ruptura frágil, a deformação passa a ter um parcela
elástica e outra plástica, sendo esta última permanente no material definindo o regime plástico. Na
análise estrutural considerando a plasticidade do material os deslocamentos não são pequenos.
As treliças surgiram como um sistema estrutural mais econômico para vencer vãos maiores e suportar
cargas mais pesadas quando comparadas com as vigas. A treliça ideal é uma estrutura reticulada, que
possui todas as extremidades rotuladas e cujas cargas são aplicadas somente nos nós. A configuração
da ligação de uma treliça ideal faz com que os eixos dos montantes e diagonais coincidam com o eixo
dos banzos. Este tipo de ligação entre os elementos criará sempre pequenas restrições à rotação
relativa das barras nos nós, com o aparecimento de pequenos momentos, mas, esses efeitos são
desprezados no dimensionamento de treliças planas ideais. Portanto, este tipo de sistema estrutural
não apresenta momentos fletores e esforços cortantes como forças internas, existindo apenas os
esforços normais [1][2]. Na análise estrutural de treliças submetidas à grandes esforços externos é
necessário considerar o comportamento não linear. A resposta dessa análise, geralmente chamada de
trajetória de equilíbrio, é constituída por um conjunto de pontos que representam uma configuração
de equilíbrio da estrutura [3].
Durante o processo de análise estrutural que considera o comportamento não linear do material,
baseado no Método de Elementos Finitos, surgem equações não lineares que só podem ser resolvidas
com o uso de técnicas iterativas. Devido ao aumento da complexidade das estruturas e das análises,
tem-se buscado na matemática métodos iterativos com uma melhor capacidade de convergência para
a solução dessas equações. O método de Newton-Raphson, ainda é uma técnica bastante utilizada em
análises numéricas para solucionar problemas estruturais que tenham comportamento não linear
devido a sua convergência quadrática com o uso de derivadas de primeira ordem [4].
Até a década de 80, os métodos iterativos que possuíam convergência cúbica exigiam o uso de
derivadas de segunda ordem ou superior, fazendo com que seu uso fosse restrito devido ao seu alto
custo computacional. Diante deste contexto, o método iterativo de Potra-Pták mostra-se como um
eficiente método iterativo para ultrapassar essas desvantagens.
De acordo com [5], o método de Potra-Pták possui taxa de convergência cúbica usando somente
derivadas de primeira ordem, configurando uma vantagem em relação aos outros métodos com
convergência de mesma ordem ou superior. Por ser um método recente dentro da matemática
aplicada, ainda é pouco explorado na engenharia para análises não lineares de estruturas. Outro fator
que contribui para a pouca popularização do método é que o procedimento de Newton-Raphson é
bastante consagrado dentro de todas as aplicações que necessitam de uma solução via método
incremental iterativo.
O método iterativo de Potra-Pták é mais barato do que qualquer método clássico de convergência
cúbica que requer avaliação da derivada segunda. De acordo com [6], o conhecido método de
Newton-Raphson requer uma avaliação da função e uma avaliação da derivada primeira por cada
iteração para atingir a taxa de convergência quadrática e o índice de eficiência 21/ 2  1.4142 ,
enquanto que o método de Potra-Pták consiste em duas avaliações da função e uma avaliação da
primeira derivada, fornecendo um método de convergência cúbica e o índice de eficiência
31/3  1.4422
Recentes trabalhos utilizaram tal método para solucionar os sistemas de equações não lineares em
análises estruturais. Os autores [7] [8] [9] fizeram diferentes tipos de análises em treliças planas e
espaciais com não linearidade geométrica usando o método de Potra-Pták associado a técnica de
comprimento de arco linear, proposto por [10] [11]. Diante deste contexto, pretende-se desenvolver
um código computacional para análise de treliças planas com não linearidade física usando o método
de Potra-Pták acoplado técnica de continuação do comprimento de arco e com incremento de carga
baseado na técnica do parâmetro de rigidez generalizado (GSP), proposto por [12].

2. ANÁLISE NÃO LINEAR DE TRELIÇAS PLANAS


A análise estrutural considerando a não linearidade geométrica e física tem como intuito torná-la mais
próxima de uma análise real, objetivando diminuir o custo global sem afetar a segurança estrutural.
Em casos de estruturas muito esbeltas o colapso ocorre quando todos os pontos da estrutura se
encontram no domínio elástico o que leva a um estudo considerando somente a não linearidade
geométrica. Caso contrário, em casos de estruturas menos esbeltas, o colapso pode ocorrer quando
alguns pontos se encontram já no domínio plástico. Por esse motivo, a consideração da não
linearidade física se torna indispensável [13].
Em muitas situações é impossível ou inviável obter uma solução de forma analítica, especialmente,
em estruturas que possuem geometrias ou condições de contorno complexas. Neste contexto, uma
ferramenta de grande importância é o processo de solução numérica. Enquanto a solução analítica é
obtida com a dedução de uma expressão que leva a um valor exato, a solução numérica iterativa é
obtida em um processo que começa a partir de uma solução aproximada e é seguido de um
procedimento no qual se determina uma solução com uma precisão desejada. Por isso o estudo das
técnicas numéricas de iteração para análise não linear das estruturas se tornam tão importante.
Existem três tipos principais de não linearidade: a física, a geométrica e a de contato. A primeira, e
objeto de estudo deste trabalho, surge quando há uma relação constitutiva não-linear. Isto ocorre,
tipicamente, em modelos inelásticos (plasticidade, viscoplasticidade, etc.) e em modelos
hiperelásticos.
2.1 Formulação para análise não linear física
O Método dos Elementos Finitos (MEF) tem como objetivo transformar os elementos contínuos em
elementos discretos com um número finito de graus de liberdade, obtendo-se os deslocamentos em
qualquer ponto do elemento contínuo em termos de um número finito de deslocamentos nos pontos
nodais, multiplicados por funções de interpolação apropriadas. De acordo com [4] o MEF é uma
extensão do método dos deslocamentos utilizado por muitos anos na Engenharia Civil.
A Fig. 1a representa um elemento de treliça no sistema de coordenadas global e a Fig.1b este mesmo
elemento no sistema de coordenadas local.

Fig.1 Elemento de treliça a) Sistema global b) Sistema local


A energia potencial total  para um elemento de treliça, Fig. 1, equação (1), é escrita em termos da
energia de deformação interna (𝑈) e da energia potencial provocada pelas ações atuantes no sistema
estrutural (𝑉).

  U  V  1    dV  u
T iT
Fi (1)
2V i

A partir deste funcional de energia para a treliça ideal aplica-se o princípio da estacionariedade,
𝛿𝜋 = 0.

  1   T
 dV   u i F i
T

(2)
2V i

Considerando que todos os deslocamentos estão ao longo do eixo X , sendo estes função de ui e u j ,
é possível escrever u ( x ) da seguinte forma:
u( x)  N1 ( x)ui  N2 ( x)u j (3)

As funções de forma, Ni ( x) ,considerando um elemento linear com dois nós são dadas por:
x  L
N1 ( x)  (4)
L

x
N 2 ( x)  (5)
L
No elemento de treliça, a deformação axial é dada por:

du
 (6)
dx
e o campo de deformações é definido do seguinte modo:

  Bui (7)

Substituindo as equações 3, 4 e 5 em 6, a derivação resulta em:

dN1 dN 2
 ui  uj (7)
dx dx
e em forma matricial:

 dN dN 2   ui 
  1  
dx  u j 
(8)
 dx

A matriz B da equação 7 é chamada de matriz gradiente que contém as derivadas das funções de
forma, armazenadas da seguinte forma:
 dN dN 2 
B 1
dx 
(9)
 dx

Considerando uma relação constitutiva apropriada ao modelo do material com sua matriz 𝐷 que
representa a matriz de constantes elásticas, tem-se:
  D (9)

A equação matricial que define o equilíbrio estático da estrutura em todo domínio é dada por:
Ku  F (10)

onde: 𝐾 é a matriz de rigidez do elemento, obtido pela seguinte expressão:


K B
T
DBdV (11)
Ve

sendo: 𝑉 𝑒 o volume do elemento.

2.2 Modelo constitutivo para o aço


A Fig. 2 idealiza um comportamento elasto-plástico do material através de um diagrama bilinear,
onde se distingue um comportamento elástico, cuja 𝜎 é menor que 𝜎𝑒 (tensão de escoamento do
material), no trecho OA com módulo de elasticidade E e um trecho AB com comportamento
plástico, cuja 𝜎 é maior que 𝜎𝑒 , com “endurecimento” linear (strain hardening) que possui módulo
tangente Et .

Fig. 2 Comportamento elasto-plástico do material para o caso uniaxial

Em ambos os trechos adota-se a lei constitutiva da equação 9, cuja matriz D é obtida por:
d
D (12)
d
O campo de deformação varia linearmente em função do comprimento:
du
d  (13)
L
Durante um processo incremental, tem-se que em algum estágio após o escoamento inicial o
acréscimo de tensão 𝑑𝜎 é acompanhado de um acréscimo de deformação 𝑑𝜀. Portanto, a
deformação passa ser decomposta em uma parcela elástica e outra plástica.
d  d e  d p (14)

Para considerar o encruamento é definido um parâmetro H , onde:


d
H (15)
d p
Desenvolvendo a equação 15 com o auxílio da equação 14, chega-se:
d 1
H  
d  d e
d d e

d d
(16)
1 1

1 1 1 1
 
d d  d d  e
Et E
e, finalmente, obtém-se a definição do parâmetro H :
EEt
H  (17)
E  Et
O acréscimo de tensão é obtido de acordo com o regime em que o elemento se encontra. Na fase
elástica:
d  Ed (18)

e na fase plástica:
 E 
d  E  1   d (19)
 EH

Quando 𝐻 = 0 → 𝐸𝑡 = 0, neste caso o comportamento elasto-plástico perfeito é contemplado.


2.3 Estratégias de solução de sistemas de equações não lineares
Problemas mecânicos com equilíbrio estático que envolve materiais com comportamento elasto-
plástico são representados matematicamente por um sistema de equações algébricas não lineares em
função da não linearidade da parcela de força interna, Fi . Dentro do processo iterativo, o vetor de
forças desiquilibradas, equação 20, deve se anular. Isto ocorrerá quando o ponto de equilíbrio da
estrutura for atingido.
g   Fr  Fi  0 (20)

Sendo: g o vetor de forças desequilibradas, 𝐹𝑖 o vetor de forças internas (avaliado em função do


vetor de coordenadas nos pontos nodais da estrutura, e 𝜆 o parâmetro de força responsável pelo
escalonamento do vetor 𝐹𝑟 , sendo este um vetor de referência e de magnitude arbitrária.
Para solucionar o sistema dado pela equação 20 é necessário usar um esquema incremental iterativo.
A cada incremento de carga, contabilizado pelo índice t , obtido pelo parâmetro de força 𝜆, uma
sequência de incrementos de deslocamentos, ∆𝒖, são determinados.
O problema estrutural não linear, dentro de um ciclo iterativo 𝑘, é dado por:
K k 1 u k   Fr t t Fi k 1  0 (21)

O parâmetro de carga  e o vetor de deslocamentos u em cada passo de carga são atualizados por:
 k   k 1   k (22)

u k  u k 1   u k (23)

Substituindo a equação (22) na (21) e isolando 𝛿𝑢(𝑘) , chega-se à equação proposta por [13]:
 u k   ugk   k urk (24)

Sendo: 𝛿𝜆𝑘 o incremento da força que deve ser obtido dentro de cada ciclo iterativo, 𝛿𝑢𝑔𝑘 e 𝛿𝑢𝑟𝑘 são
incrementos, ao longo do ciclo iterativo, obtidos, respectivamente, pelas equações:
k 1
 ugk  K 1 g k 1 (25)

k 1
 urk  K 1 Fr (26)

Para cada iteração dentro de um passo de carga, os incrementos de força, ∆𝝀 , e de deslocamentos,


∆𝒖 , são atualizados, respectivamente, por:
 k   k 1   k (27)

u  u k 1   u k (28)

Até aqui foram descritas as equações necessárias para análise não linear via método iterativo de
Newton-Raphson associado a técnica do comprimento de arco. O resumo do algoritmo está
apresentado na Tabela 1.

Tabela 1 - Metodologia incremental-iterativa via método de Newton-Raphson


1 Processo Incremental: ∆𝝀𝟎 e ∆𝒖𝟎
1.1 Montagem da Matriz de Rigidez tangente
1.2 Achar os deslocamentos: 𝑲𝜹𝒖𝒓 = 𝑭𝒓
1.3 Definir ∆𝝀𝟎 pelo estratégia do GSP
1.4 Determinar incremento de deslocamentos: ∆𝒖𝟎 = ∆𝝀𝟎 𝜹𝒖𝒓

2 Processo Iterativo: Newton-Raphson


2.1 Calcular o vetor de forças desiquilibradas: 𝒈(𝒌−𝟏) = 𝝀(𝒕+∆𝒕) 𝑭𝒓 − 𝑭𝒊 (𝒌−𝟏)
(𝒕+∆𝒕)
2.2 Atualizar a matriz de rigidez tangente K (Newton Raphson Padrão)
2.3 Corrigir o parâmetro do incremento de carga: 𝜹𝝀𝒌 = −(𝜹𝒖𝒓 ∆𝒖𝒌−𝟏 )/(𝜹𝒖𝒓 𝜹𝒖𝒓 )
2.4 Corrigir o parâmetro do incremento de deslocamento: 𝜹𝒖𝒌 = 𝜹𝒖𝒌𝒈 + 𝜹𝝀𝒌 𝜹𝒖𝒌𝒓
Com 𝜹𝒖𝒌𝒈 = 𝑲−𝟏(𝒌−𝟏) 𝒈𝒌−𝟏 e 𝜹𝒖𝒌𝒓 = 𝑲−𝟏(𝒌−𝟏) 𝑭𝒓
2.5 Atualize o parâmetro de carga:𝝀𝒌(𝒕+∆𝒕) = 𝝀𝒌𝒕 + ∆𝝀(𝒌−𝟏) + 𝜹𝝀𝒌
2.6 Atualize o vetor de deslocamento:𝒖𝒌(𝒕+∆𝒕) = 𝒖𝒌𝒕 + ∆𝒖(𝒌−𝟏) + 𝜹𝒖𝒌
2.7 Verificar a convergência: ‖𝜹𝒖𝒌 ‖/‖∆𝒖𝒌 ‖ ≤ 𝒕𝒐𝒍
Sim → Pare o processo iterativo e passe para o passo 3
Não → Se 𝒌 < 𝒏𝒊𝒏𝒕𝒆𝒓, volta ao passo 2
→ Se 𝒌 = 𝒏𝒊𝒏𝒕𝒆𝒓, reduza ∆𝝀𝟎 pela metade e volte ao passo 1

3 Faça um novo incremento de carga e volte para o passo 1

De acordo com [6], o método iterativo de Potra-Pták pode ser descrito como dois passos, equações
29 e 30, que solucionam um problema não linear.
f ( xn )
yn  xn  (29)
f '( xn )

f ( xn )  f ( yn )
xn 1  xn  (30)
f '( xn )
O esquema iterativo para análise não linear via método de Potra-Pták necessita das seguintes
equações:
K k 1 u k t t Fi k t t F1k t t F2k (31)

t t
F1k  1k Fr  g  u k 1  (32)

t t
F2k  2k Fr  g  y k  (33)

y k  u k 1   ygk (34)

K 1
 ygk  K 1 t t
F1k (35)

K 1
 ugk  K 1 t t
F2k (36)

u k  u k 1   ygk   ugk (37)

O algoritmo referente ao Método de Potra-Pták associado à técnica de comprimento de arco é


apresentado em na Tabela 2
Tabela 2 -Metodologia incremental-iterativa via método de Potra-Pták
1 .Processo Incremental: ∆𝝀𝟎 e ∆𝒖𝟎
1.1 Montagem da Matriz de Rigidez tangente
1.2 Determinar os deslocamentos residuais: 𝑲𝜹𝒖𝒓 = 𝑭𝒓
1.3 Definir ∆𝝀𝟎 pelo estratégia do GSP
1.4 Determinar incremento de deslocamentos: ∆𝒖𝟎 = ∆𝝀𝟎 𝜹𝒖𝒓

2.Processo Iterativo: Potra-Pták


(𝒌−𝟏)
2.1 Calcular o vetor de forças desiquilibradas: 𝒈(𝒌−𝟏) = 𝝀(𝒕+∆𝒕) 𝑭𝒓 − 𝑭𝒊 (𝑢 + ∆𝒖𝒌 )(𝒕+∆𝒕)
2.2 Atualizar a matriz de rigidez tangente K
2.3 Corrigir o parâmetro do incremento de carga: 𝜹𝝀1𝑘 = −(𝜹𝒖𝒓 ∆𝒖𝒌−𝟏 )/(𝜹𝒖𝒓 𝜹𝒖𝒓 )
Com 𝜹𝒖𝒌𝒓 = 𝑲−𝟏(𝒌−𝟏) 𝑭𝒓
2.4 Corrigir o parâmetro do incremento de deslocamento: 𝜹𝒚𝒌 = 𝜹𝒚𝒌𝒈 + 𝜹𝝀1𝑘 𝜹𝒖𝒌𝒓
Com 𝜹𝒚𝒌𝒈 = 𝑲−𝟏(𝒌−𝟏) 𝒈𝒌−𝟏
2.5 Atualize o parâmetro de carga:𝝀𝒌(𝒕+∆𝒕) = 𝝀𝒌𝒕 + ∆𝝀(𝒌−𝟏) + 𝜹𝝀1𝑘
2.6 Atualize o incremento do deslocamento:∆𝒖𝒌 = ∆𝒖(𝒌−𝟏) + 𝜹𝒚𝒌
2.7 Calcular o vetor de forças desiquilibradas: 𝒈(𝒌−𝟏) = 𝝀(𝒕+∆𝒕) 𝑭𝒓 − 𝑭𝒊 (𝒖(𝒌−𝟏) + ∆𝒖𝒌 )(𝒕+∆𝒕)
2.8 Corrigir o parâmetro do incremento de carga: 𝜹𝝀𝑘2 = −(𝜹𝒖𝒓 ∆𝒖𝒌−𝟏 )/(𝜹𝒖𝒓 𝜹𝒖𝒓 )
2.9 Corrigir o parâmetro do incremento de deslocamento: 𝜹𝒖𝒌 = 𝜹𝒖𝒌𝒈 + 𝜹𝝀𝑘2 𝜹𝒖𝒌𝒓
Com 𝜹𝒖𝒌𝒈 =– 𝑲−𝟏(𝒌−𝟏) 𝒈𝒌−𝟏
2.9 Atualize o parâmetro de carga:𝝀𝒌(𝒕+∆𝒕) = 𝝀𝒌𝒕 + ∆𝝀(𝒌−𝟏) + 𝜹𝝀𝑘2
2.10 Atualize o incremento do deslocamento:∆𝒖𝒌 = ∆𝒖(𝒌−𝟏) + 𝜹𝒖𝒌
2.11 Verificar a convergência: ‖𝜹𝒖𝒌 ‖/‖∆𝒖𝒌 ‖ ≤ 𝒕𝒐𝒍
Sim → Pare o processo iterativo e passe para o passo 3
Não → Se 𝒌 < 𝒏𝒊𝒏𝒕𝒆𝒓, volte ao passo 2
→ Se 𝒌 = 𝒏𝒊𝒏𝒕𝒆𝒓, reduza ∆𝝀𝟎 pela metade e volte ao passo 1
3. Faça um novo incremento de carga e volte para o passo 1

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A treliça apresentada na Fig. 3 foi analisada por [15] para análise não linear física com a mesma
relação constitutiva apresentada neste artigo. Os elementos da treliça possuem módulo de elasticidade
longitudinal E=20500 kN/cm2 , tensão de escoamento 𝜎𝑒 =34,5 kN/cm2 , área da seção transversal
A=12,51 cm2 e comprimento L = 200 cm. A carga P = 1.050 kN foi aplicada no nó 4 na direção
vertical, sentido de cima para baixo.

Fig. 3 Treliça plana hiperestática em regime elasto-plástico


Usando como solução analítica o método dos deslocamentos, é possível determinar quais os esforços
normais suportados por cada barra. Considerando uma variação de comprimento que corresponde a
um esforço normal de EA  L cos  .
Após a determinação dos coeficientes da matriz de rigidez e o estabelecimento das equações de
equilíbrio, segundo os respectivos graus de liberdade, pode-se determinar o deslocamento  4 no nó
de aplicação da força.
PL (38)
4 
 2
EA  1  
 2 

O esforço normal para que a barra vertical entre em processo plástico é dado por:
eA (39)
Pe 
2  2 
O esforço de ruptura Pr é obtido quando as duas barras inclinadas atingirem a carga de escoamento:

 
Pr  1  2  e A (40)

Das equações 39 e 40 obtêm-se os valores teóricos de 𝑃𝑒 = 736,78 𝑘𝑁 e 𝑃𝑟𝑢𝑝 = 1041,96 𝑘𝑁.


Durante as análises foram utilizados uma tolerância igual a 𝑡𝑜𝑙 = 10−5 e dois incrementos de carga,
∆𝑃 = 10,5𝑘𝑁 e ∆𝑃 = 105𝑘𝑁.
As curvas carga aplicada versus deslocamento no nó 4 foi obtida com o uso do método iterativo de
Newton-Raphson padrão, Newton-Raphson modificado e Potra-Pták, e estão apresentadas nas Figura
4, 5 e 6, respectivamente.

1200
Carga Aplicada (kN)

1000

800
Newto-
600 Raphson
Padrão
400
Téorico
200

0
0 0,2 0,4 0,6 0,8
v(cm) Nó 4
Fig. 4 Curva carga aplicada versus deslocamento via Newton-Raphson Padrão
1200
Carga Aplicada (kN)

1000

800
Newto-
600 Raphson
Modificado
400
Téorico
200

0
0 0,2 0,4 0,6 0,8
v(cm) Nó 4
Fig. 5 Curva carga aplicada versus deslocamento via Newton-Raphson Modificado

1200
Carga Aplicada (kN)

1000

800
Potra-
600 Pták
Téorico
400

200

0
0 0,2 0,4 0,6 0,8
v(cm) Nó 4
Fig. 5 Curva carga aplicada versus deslocamento via Potra-Pták
Percebe-se que os três métodos tiveram sua implementação validada, uma vez que o traçado da
trajetória passou por todos os pontos teóricos. Neste exemplo não houve um menor número de
incrementos para o método de Potra-Pták como observado em [8][9] devido ao fato de que os pontos
de equilíbrio convergiam nas primeiras iterações e ausência de pontos limites de carga e
deslocamento.
A Tabela 3 apresenta o número de iterações para cada método iterativo com os dois incrementos de
carga.
Tabela 3 - Comparação entre os métodos iterativos para análise não linear

P  10.5kN P  105kN
Método iterativo
Incrementos Iterações Incrementos Iterações

Newton-Raphson
Padrão 100 198 34 66

Newton-Raphson
Modificado 100 226 34 74

Potra-Pták 100 101 34 35

Ao analisar os resultados percebe-se que para se obter a resposta estrutural com o método de Potra-
Pták é necessário um menor número de iterações acumuladas até que se alcance a convergência,
quando comparado com os métodos de Newton-Raphson padrão e Newton-Raphson modificado. Este
fato faz com que seja menor a quantidade de vezes em que os sistemas lineares são solucionados no
passo de carga, além da redução da atualização da matriz de rigidez e do vetor de força internas,
fazendo com que o custo computacional com o uso deste método seja menor. Outro fator associado
ao menor número de iterações do método de Potra-Pták deve-se à sua convergência cúbica, ou seja,
o erro diminui cubicamente a cada iteração enquanto o método de Newton-Raphson o erro diminui
quadraticamente, ambos utilizando derivadas de primeira ordem.

4. CONCLUSÕES
O presente trabalho apresentou um algoritmo para análise de treliças planas com não linearidade física
via método de Potra-Pták acoplado a técnica de comprimento de arco. A análise estrutural
considerando a reserva de rigidez do elemento gera uma maior utilização da sua capacidade resistente,
aumentando a economia e garantindo a segurança.
Dentro da análise não linear de estruturas várias operações matemáticas são requeridas até traçar a
curva carga aplicada versus deslocamento. Devido ao comportamento não linear do material, é gerado
um sistema de equações não lineares baseado no método de Elementos Finitos, necessitando de um
método iterativo eficiente para solucionar o problema. O processo de solução é o passo mais custoso
para o computador. Os resultados numéricos evidenciam o melhor desempenho do método de Potra-
Pták, no problema estudado, em comparação com as análises feitas com os esquemas iterativos de
Newton-Raphson Padrão e Newton- Raphson Modificado, quanto ao número de iterações acumuladas
até a convergência para a solução.

5. REFERÊNCIAS
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[2] SORIANO, H. L. Análise de Estruturas: Formulação Matricial e Implementação Computacional. Ciência
Moderna, 2005.
[3] LACERDA, E. G. M., MACIEL, D. N., SCUDELARI, A. C. Geometrically Static Analysis of Trusses Using the Arc-
Length Method and the Positional Formulation of Finite Element Method. In: Proceedings of the XXXVIII Iberian
Latin-American Congress on Computational Methods in Engineering, 2014.
[4] BATHE, K.J. Finite Element Procedures. New Jersey, Prentice-Hall, 1996.
[5] POTRA, F. A., PTÁK, V. Nondiscrete Induction and Iterative Processes. Research Notes in Mathematics, 1984.
[6]SOLEYMANI, F., SHARMA, R.; LI, X., TOHIDI, E. An Optimized Derivative-Free Form of the Potra-Pták Method.
Mathematical and Computer Modelling, v.56, p.97-104, 2012.
[7] SOUZA, L. A. F. Análise Não Linear de Cúpula pelo Método de Potra-Pták Associado à Técnica Comprimento
de Arco, In: Congresso Técnico Científico da Engenharia e da Agronomia, 2017.
[8] SOUZA, L. A. F., CASTELANI, E. V., SHIRABAYASHI, W. V. I.; MACHADO, R. D. Métodos Iterativos de
Terceira e Quarta Ordem Associados à Técnica de Comprimento de Arco Linear. Ciência & Engenharia (Science &
Engineering Journal), v.26, n.1, p. 39-49, 2017.
[9] SOUZA, L. A. F., CASTELANI, E. V., SHIRABAYASHI, W. V. I., ALIANO FILHO, A., MACHADO, R. D.
Trusses Nonlinear Problems Solution Whit Numerical Methods of Cubic Convergence order. Tendências em
Matemática e Computacional, v.19, n.1, pp.161-179, 2018.
[10] RIKS, E. The Application of Newton's Methods to the Problems Elastic Stability. Journal of Applied Mechanics,
v. 39, n. 4, p. 1060-1065, 1972.
[11] RIKS, E. An Incremental Approach to the Solution of Snapping and Buckling Problems. International Journal of
Solids and Structures, v. 15, n. 7, pp. 529-551, 1979.
[12] YANG, Y.B. E KUO, S.B. Theory & Analysis of Nonlinear Framed Structures, Prentice Hall, 1994.
[13] REIS, A., CAMOTIM, D. Estabilidade estrutural. Lisboa: McGraw-Hill, 2000.
[14] CRISFIELD, M. A. A Consistent Corotational Formulation for Non-Linear, Three-Dimensional, Beam-Elements.
Computer Methods in Applied Mechanics and Engineering, v. 81, n.2, p. 131-150, 1990.
[15] LEITE, N.F. Uma formulação Teórica Consistente para Análise Não Linear de Estruturas Treliçadas
Espaciais, Dissertação de Mestrado, Departamento de Engenharia de Estruturas, Belo Horizonte, MG, Brasil, 2000.
ATIVAÇÃO ALCALINA DO REJEITO DE BARRAGEM DE MINÉRIO DE
FERRO PARA PRODUÇÃO DE TIJOLOS

Iron ore dam alkaline activation for bricks production

Fernanda Pereira da Fonseca Eloi1, Gabriela Andrade Ferreira 2, Keoma Defáveri do Carmo e
Silva 3, Ricardo André Fiorotti Peixoto4, Guilherme Jorge Brigolini Silva5
1 Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, fernanda.eloi@aluno.ufop.edu.br
2
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, gabiandradeferreira@yahoo.com.br
3
Universidade Federal de Lavras, Lavras, Brasil, keomadc@hotmail.com
4
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, fiorotti.ricardo@gmail.com
5
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, Brasil, guilhermebrigolini@ufop.edu.br

Resumo: Atualmente, o Brasil é um dos três maiores países extratores e produtores de minério de
ferro no mundo. Deposita-se, comumente, os rejeitos desta produção em barragens e estes se tornam
um problema quando não têm destinação útil. Por outra parte, a construção civil é um dos maiores
responsáveis pelo consumo de recursos naturais, já que envolve uma grande escala de utilização de
insumos e execução de obras. Setenta e cinco por cento do que é extraído do meio ambiente no Brasil
dirige-se a este setor. Amplamente utilizados na construção civil, os tijolos podem representar uma
agressão ao meio ambiente, devido ao processo da extração de argila. Estuda-se então, a criação de
compósitos que utilizem rejeitos na substituição total ou parcial dos materiais convencionais, como
alternativa de mitigação destes impactos. Uma destas alternativas é a utilização do rejeito de barragem
de minério de ferro para produção de tijolos, que se baseia no processo de ativação alcalina: uma
reação de sólidos, geralmente compostos por óxido de silício e de alumínio, com uma solução básica
de ativação formada por hidróxidos alcalinos ou silicatos alcalinos. Formam-se assim, compostos
inorgânicos capazes de atingir resistências elevadas. Na caracterização dos materiais deste trabalho,
foi possível observar que a área superficial do rejeito de barragem de minério de ferro aumentou 17%
quando moído por duas horas, em comparação com o rejeito sujeito a apenas uma hora de moagem.
Porém, para o rejeito moído por 3 horas, nota-se uma tendência à estabilização da área superficial
específica. Todos os corpos de prova produzidos atenderam aos requisitos da norma brasileira para
tijolos maciços cerâmicos para alvenaria, NBR 7170, no que diz respeito aos valores máximos
requeridos para resistência à compressão. A maioria dos fragmentos de corpos de prova submetidos
ao ensaio de absorção de água atendeu aos requisitos da norma para blocos cerâmicos de vedação,
porém alguns fragmentos se dissolveram. Para a viabilidade da utilização dos tijolos produzidos com
rejeito de barragem de minério de ferro, julga-se necessário um estudo que logre o ajuste da relação
líquido/sólido e da concentração adequada desta solução alcalina.

Palavras-chave: Ativação Alcalina, Rejeito de Barragem de Minério de Ferro, Tijolos.


Abstract: Brazil is, currently, one of the three largest iron ore extractors and producers in the world.
The waste of this production are commonly deposited in dams and become a problem when they have
no useful destination. On the other hand, the civil construction sector is responsible for a big
consumption of natural resources, once its process involves a huge variety of inputs. In Brazil, 75%
of natural resources extracted from the environment is destined to this sector. Widely used in civil
construction, bricks represent a great damage to the environment, due to the process of clay extraction.
To mitigate this impact, it was studied the creation of composites that use tailings in the total or partial
substitution of conventional materials. The use of the iron ore dam tailings for the production of bricks
is one alternative. This production is based on the alkaline activation process: a reaction of solids,
usually composed of silicon oxide and aluminum, with an alkaline activation solution formed by
alkali hydroxides or alkali silicates. Thus, inorganic compounds are formed and they have capability
to achieve high values of strength. It was observed that the waste milled for two hours had its surface
specific area increased about 17%, compared to the material milled for only one hour. However, after
two hours of grounding, this results have stabilized. All specimens met the requirements of NBR
7170 for compressive strength. Most of the specimen fragments submitted to the water absorption
test attended the standards requirements for ceramic blocks. However, some fragments have been
discarded, so further research is demand to achieve the adjustment of the liquid / solid ratio and the
adequate concentration of the alkaline solution to the feasibility of the use of the iron ore dam tailing
in the production of conventional masonry bricks.

Keywords: Alkaline Activation, Iron Ore Dam Tailing, Bricks


1. INTRODUÇÃO
No primeiro ano de extração de minério de ferro no Brasil, 1986, extraiu-se cerca de 13 milhões de
toneladas do mineral. Desde então, o Brasil, a China e a Austrália alternam entre si, as posições entre
os três maiores países extratores e produtores de minério de ferro no mundo. Não possuindo destina-
ção útil, os grandes volumes de rejeitos da produção do minério de ferro são então depositados em
barragens e acabam se tornando um problema [1].
O ferro é normalmente encontrado nas rochas em forma de óxidos, como a magnetita e a hematita. A
fim de reduzir as impurezas e se tornar um produto economicamente viável, o minério passa por um
processo de beneficiamento, mantendo assim, um alto teor de ferro em sua composição [2].
De acordo com o IBRAM, em 2014 foram produzidas 400.000.000 de toneladas de minério de ferro
no Brasil [3]. Durante o processo de beneficiamento, são geradas também, toneladas de rejeitos, o
que tem conduzido a um aumento da necessidade de estruturas armazenadoras dos mesmos. Dentre
estas estruturas, destacam-se as barragens de rejeitos, umas das mais importantes obras envolvidas
no processo de mineração. Sincronicamente ao aumento das dimensões das barragens devido à alta
produção de rejeitos, nota-se também um aumento da preocupação devido a sérios acidentes ocorridos
com as mesmas [4].
Bem como a atividade minerária, o setor da construção civil também é responsável pelo consumo de
recursos naturais, englobando a produção em grande escala de insumos utilizados e ainda a execução
e operação das obras. No Brasil, 75% do que se extrai do meio ambiente dirige-se a este setor [5].
Dentre estes insumos, tradicionais no sistema construtivo em alvenaria convencional no Brasil, des-
taca-se a produção dos tijolos cerâmicos e um problema relacionado a tal: a extração de argila, que
representa uma grande agressão ao meio ambiente, por muitas vezes, advir de uma exploração desor-
denada, sem acompanhamento de profissionais capacitados. Ademais, envolve ainda a exploração
ilegal de madeira para retirar a argila de jazidas, a erosão do solo e a geração de resíduos sólidos
durante a produção [6].
Visando a mitigação dos impactos da atividade mineradora e da construção civil, cria-se diversos
compósitos que utilizam rejeitos em substituição total ou parcial dos materiais convencionais. Neste
trabalho, propõe-se a produção de tijolos a partir do reaproveitamento do rejeito de barragem de mi-
nério de ferro, a partir da ativação alcalina. Esta, consiste numa reação de sólidos, geralmente com-
postos por óxido de silício e de alumínio, com uma solução básica de ativação, formada por hidróxi-
dos alcalinos ou silicatos alcalinos [7].
Convencionalmente, os cimentos ativados alcalinamente são sintetizados através da mistura de uma
solução alcalina (frequentemente silicato solúvel) com materiais sólidos compostos de aluminosili-
catos. Esta reação pode ocorrer à temperatura ambiente ou a temperaturas mais elevadas [8].
Esta reação ocorre em duas etapas. Na primeira, a superfície do mineral é hidrolisada pela solução
alcalina e assim, uma pequena quantidade de Al e Si é dissolvida. Nesta fase a reação é catalisada
pela OH- e o cátion alcalino atua como um elemento de formação da estrutura, balanceando a carga
negativa da estrutura do alumínio. As espécies dissolvidas reagem com os íons silicato dissolvidos,
polimerizam por reações de condensação e iniciam a formação de um gel, reorganizando a estrutura
[9].
Na segunda fase, a estrutura se condensa, fazendo aparecer um material cimentante. A estrutura deste
material, apesar de desordenada, é caracterizada por atingir altas resistências mecânicas [10].
Algumas propriedades dos cimentos alcalinamente ativados vêm sendo apontadas em pesquisas, onde
salienta-se a potencialidade do emprego deste tipo de material no âmbito da construção civil
[11,12,13].
Dentre suas vantagens, destaca-se, a abundância da matéria prima do material, grande aderência para
reforço do aço, elevada durabilidade em ambientes agressivos, rápido ganho de resistência (estudos
indicam aproximadamente 70% da resistência à compressão em 4 horas), excelente estabilidade e
baixa condutividade térmica (conferindo resistência a altas temperaturas) [14,15,16].

2. MATERIAIS
Utilizou-se, neste trabalho, para a produção dos corpos de prova: rejeito de barragem de minério de
ferro, soluções de hidróxido de sódio e areia de rio.

2.1. Rejeito de Barragem de Minério de Ferro

O rejeito de barragem de minério de ferro (RBMF) utilizado neste trabalho é proveniente de uma
barragem que possui cerca de 2Mm³ de volume disponível e está localizada no município de Ouro
Preto, Minas Gerais, Brasil. A secagem do RBMF foi realizada em duas etapas: à temperatura ambi-
ente por um período de 2 a 7 dias e em estufa a 100º por 24h. Posteriormente, foi estocado em
recipientes hermeticamente fechados.

2.1. Soluções de Hidróxido de Sódio

Como agente do processo de ativação alcalina, optou-se pela utilização da solução de hidróxido de
sódio (NaOH), a partir resultados apresentados por autores no processo de ativação alcalina [17].
Também, devido à facilidade de aquisição no mercado. As soluções foram produzidas em laboratório,
com água destilada e hidróxido de sódio em escamas e em pérolas de grau de pureza 98%, em três
diferentes concentrações: 8M, 10M e 12M (mol/l).

2.1. Areia

Utilizou-se a areia proveniente do rio município de Ponte Nova, Minas Gerais. A secagem foi reali-
zada em estufa a 100º por 24h. Posteriormente, foi separada através de peneirador mecânico em qua-
tro frações segundo [18]: passante na malha 150µm, passante na malha 300µm, passante na malha
600µm e passante na malha 1,2mm. A areia foi armazenada em recipientes hermeticamente fechados.

2. MÉTODOS

2.1. Beneficiamento do RBMF

O processo de moagem do RBMF foi realizado no moinho de bolas de baixa energia (moinho hori-
zontal) (Marconi MA 500 ®) por três intervalos de tempo diferentes: 1 hora (RBMF-1), 2 horas
(RBMF-2) e 3 horas (RBMF-3).
2.2. Caracterização do RBMF

2.2.1. Área Superficial Específica

Seguiu-se, para a realização deste ensaio, o Protocolo Reciclos #9 “Método de Blaine [19]. Três
amostras de RBMF foram ensaiadas: RBMF-1, RBMF-2 e RBMF-3, utilizando-se o permeabilímetro
de Blaine.

2.2.2. Massa Específica


Embasou-se, para a realização deste ensaio, em [20]. Ensaiou-se as três amostras (RBMF-1, RBMF-
2 e RBMF-3), utilizando-se o frasco volumétrico de Le Chatelier e querosene.

2.2. Caracterização da areia


Caracterizou-se a areia a partir do ensaio de massa específica, que foi realizado conforme a [21].
Utilizou-se o frasco volumétrico de Chapman, 500g de areia e 200ml de água.

2.2. Definição dos traços

A partir do estudo de resultados obtidos na literatura, decidiu-se por utilizar nos traços os tempos de
moagem de 1h, 2h e 3h e as soluções de hidróxido de sódio com concentrações de 8M, 10M e 12M.
Para a cura, definiu-se ser realizada em estufa a 100º C, por 7 dias. Para a relação líquido/sólido,
após revisão da literatura, decidiu-se por utilizar o valor igual a 0,27 [17]. Para a relação RBMF/areia,
foram testados três diferentes traços, e a partir de uma análise tátil-visual, optou-se pela relação 1:0,5.
Assim, foram moldados nove traços, que são a combinação dos três diferentes tempos de moagem
com as três diferentes concentrações de soluções de NaOH. As relações líquido/sólido e RBMF/areia
foram mantidas em todos os traços.

Foi então convencionada, a seguinte nomenclatura:

xyz,

onde:

x, indica a concentração da solução de NaOH (8M, 10M ou 12M);

y, indica o tempo de moagem (1h, 2h ou 3h);

z, indica a temperatura da cura (1 → 100º);

2.2. Moldagem dos corpos de prova

Na moldagem dos corpos de prova utilizou-se moldes para corpos de prova prismáticos de dimensões
igual a (40x40x160) mm. A mistura foi realizada em uma argamassadeira de mesa (FORTEST, VC
370 ®). O procedimento é descrito nos tópicos a seguir:

1. Adição da amostra de RBMF e da solução de NaOH à cuba da argamassadeira;


2. Homogeneização da mistura na argamassadeira, em baixa velocidade, por 1 minuto;

3. Pausa na argamassadeira e raspagem do fundo, das laterais e da haste misturadora;

4. Adição das quatros frações de areia (já homogeneizadas manualmente) por 30 segundos, com a
argamassadeira em velocidade baixa;

5. Homogeneização da mistura por 3 minutos em velocidade baixa;

6. Retirada da argamassadeira e moldagem dos corpos de prova em fôrma prismática: moldagem da


primeira camada aplicando-se 15 golpes com o soquete e 30 golpes na mesa de consistência; molda-
gem da segunda e última camada aplicando-se também 15 golpes com o soquete e 30 golpes na mesa
de consistência;

7. Cobrimento dos moldes com placa de vidro e cura em estufa a 100º C, por 7 dias.

2.3. Resistência à tração na flexão

No estado endurecido, conforme [22], foi determinada a resistência à tração na flexão dos corpos de
prova com idade de 7 dias. Submeteu-se ao ensaio, três corpos de prova de cada traço. O ensaio foi
realizado na prensa (Emic DL20000 ®), situada no Laboratório de Materiais de Construção Civil da
Universidade Federal de Ouro Preto, com velocidade de 50N/s.

2.4. Resistência à compressão

No estado endurecido, conforme [22], foi determinada a resistência à compressão dos corpos de prova
com idade de 7 dias. Submeteu-se ao ensaio, três corpos de prova de cada traço. O ensaio foi realizado
na prensa (Emic DL20000 ®), situada no Laboratório de Materiais de Construção Civil da Universi-
dade Federal de Ouro Preto, com velocidade de 50N/s.

2.5. Absorção de água


Embasou-se, para a determinação da absorção de água, na, adaptando-a para o material ensaiado.
Segue a metodologia utilizada:

1. Pesagem da massa inicial (Ms) de três fragmentos dos corpos de prova após o rompimento;

2. Imersão completa dos fragmentos dos corpos de prova em água por 24h;

3. Retirada dos fragmentos da água, secagem superficial e pesagem da massa saturada com superfície
seca (Msat) dos fragmentos.

Assim, foi possível avaliar a resistência e absorção de água de cada fragmento, sendo:
𝑀𝑠𝑎𝑡 −𝑀𝑠
𝐴𝑏𝑠𝑜𝑟çã𝑜 𝑑𝑒 á𝑔𝑢𝑎(%) = 𝑥100 (1)
𝑀𝑠
Tomou-se por fim, a média dos três fragmentos ensaiados como resultado final.

De acordo com [24] “Componentes Cerâmicos. Parte 1: Blocos cerâmicos para alvenaria de
vedação – Terminologia e resquisitos”, o índice de absorção de água de blocos cerâmicos de
vedação em obras de alvenaria de vedação não deve ser inferior a 8% nem superior a 22%.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

2.5. Área Superficial Específica do RBMF

Pelo Gráfico 1, é possível observar que a área superficial específica do RBMF cresce 17,66% entre a
primeira e a segunda hora de moagem. Porém, após a segunda hora de moagem, a área superficial
específica cresce apenas 0,01%.

430,00
Área Superficial Específica (g/cm³)

410,00 418,56 418,59

390,00

370,00

350,00
344,65
330,00

310,00
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5
Tempo de moagem (h)

Gráfico 1 - Área Superficial Específica

A moagem do material é responsável por diminuir o tamanho de cada partícula, aumentando assim,
a área superficial específica e, consequentemente, a superfície de contato. Desta forma, a reação quí-
mica é facilitada, tornando-se mais provável a obtenção de maiores valores de resistência. Os resul-
tados obtidos demonstram a eficácia da segunda hora de moagem para tornar o rejeito mais propenso
à reação, porém a partir da terceira hora de moagem nota-se que a área superficial específica caminha
para uma estabilização.

2.5. Resistência à tração na flexão

O Gráfico 2 apresenta os valores médios de resistência à tração na flexão referentes a cada traço, con-
forme [22].
14 12,38
11,14
12 10,26 10,15 10,62
Resistência (MPa)

10
7,06
6,97
8 6,53 8M

6 10M
4
12M
4

0
RBMF-1 RBMF-2 RBMF-3

Gráfico 2 - Resistência à tração na flexão

É possível perceber que, em geral, os corpos de prova de 10M e 12M obtiveram maiores valores de
resistência à tração na flexão quando comparados aos corpos de prova de 8M. Para os diferentes
tempos de moagem, os corpos de prova de 12M obtiveram maior resistência à tração na flexão.

Para [26], quando se aumenta a concentração de álcalis, a razão NaO2/SiO2 também aumenta. Con-
sequentemente, aumenta-se o pH e assim o desenvolvimento de fase amorfa é favorecido. Desta
forma, a formação do gel na ativação alcalina é mais eficaz.

Observa-se ainda que, o traço 1211 possui o melhor desempenho quanto a resistência à tração na
flexão e também um dos menores desvios padrões de todos os traços ensaiados, o que indica uma boa
execução do processo de moldagem.

2.5. Resistência à compressão

No Gráfico 3, tem-se os valores médios de resistência à tração na flexão referentes a cada traço, con-
forme [22].

70 65,41
60 56,06 56,39
Resistência à compressão

50 45,3
39 44,29
40 32,91 8M
(MPa)

32,29
30 25,78 10M
12M
20

10

0
RBMF-1 RBMF-2 RBMF-3

Gráfico 3 - Resistência à compressão


Através dos resultados obtidos para a resistência à compressão, é possível notar que, em geral os
corpos de prova de 10M e 12M obtiveram valores maiores que os de 8M. Assim como na resistência
à tração na flexão, os corpos de prova de 12M, também apresentam valores maiores que os das demais
concentrações, exceto para o corpo de prova de RBMF-3. Os corpos de prova moldados com RBMF-
2 apresentam maiores valores que os dos demais tempos de moagem, para as concentrações de 8M e
12M, o que pode ser consequência da eficiência da moagem nesse intervalo de tempo, verificada nos
resultados de área superficial.

Os piores resultados tanto para resistência à tração na flexão quanto para a resistência à compressão
são verificados no traço, o que pode advir de uma possível inadequação do processo de moldagem ou
de homogeneização, o que não garante que a quantidade de Si e Al seja sempre a mesma em uma
certa quantidade de material, alterando as propriedades do produto final.

A NBR 7170/83 “Tijolo maciço cerâmico para alvenaria” discrimina os tijolos em três categorias
quanto à resistência à compressão, conforme a Tabela 1 [26]:
Tabela 1 - Valores de resistência à compressão requeridos para tijolos
Categoria Resistência à compressão (MPa)
A 1,5
B 2,5
C 4,0

Nota-se que todos os traços ensaiados neste trabalho atendem ao mínimo requerido por todas as ca-
tegorias. O traço 1021 obteve o menor valor de resistência à compressão dos ensaios e é ainda 6,5
vezes maior que o máximo requerido pela norma (categoria C). O maior valor de resistência foi obtido
no traço 1211 e é, aproximadamente, 16 vezes maior que o requerido pela categoria C.

2.5. Absorção de água

As massas obtidas na pesagem antes e após as 24 horas de imersão em água e a porcentagem de


absorção de água final são mostradas na Tabela 2. Os resultados para cada traço são uma média
aritmética dos três fragmentos ensaiados.
Tabela 2 - Absorção de água
Tempo de moagem Concentração da solução Absorção em porcentagem
8M Dissolveu
1 hora 10M Dissolveu
12M Dissolveu
8M 4,81
2 horas 10M 3,33
12M 2,63
8M 2,26
3 horas 10M 1,77
12M 2,6
Pode-se perceber que todos os fragmentos de corpo de prova de RBMF-1 dissolveram-se por com-
pleto após a submersão em água por 24 horas. Os fragmentos de corpo de prova de traços com RBMF-
2 e RBMF-3 não se dissolveram, no entanto, apenas 4 deles atendem os requisitos da NBR 15720.

Assim, vê-se que não é conveniente o contato com água aos corpos de prova de traços de RBMF-1.
Percebe-se ainda que, em geral, os corpos de prova de RBMF-3 apresentaram melhor comportamento
em relação à absorção de água. Conforme visto no subitem 2.5, a área superficial específica do RBMF-
1 é menor que as dos rejeitos moídos por mais tempo, e consequentemente, a reatividade do mesmo
também tende a ser menor. Assim, pode ser que a reação de ativação alcalina não tenha se completado
nos traços de RBMF-1, fazendo-se obter uma estrutura menos coesa, o que pode ter propiciado a
dissolução dos fragmentos. Contrariamente, nos fragmentos de corpo de prova de RBMF-2 e RBMF-
3, os quais obtiveram uma área superficial específica similar, pode ter ocorrido um melhor desenvol-
vimento da reação de ativação alcalina, formando uma estrutura mais coesa, obtendo-se então uma
menor porcentagem de absorção de água.

4. CONCLUSÃO
Neste trabalho, observou-se que o processo de moagem do RBMF aumentou em cerca de 17% a área
superficial do rejeito da primeira hora para a segunda hora de moagem. Porém, da segunda para a
terceira hora de moagem, a área superficial caminha para uma estabilização. Os resultados obtidos
demonstram a eficácia da segunda hora de moagem para tornar o rejeito mais propenso à reação.
Pelas imagens dos corpos de prova antes do rompimento, é possível verificar que eles apresentam,
visualmente, diferenças entre si. Alguns possuem a superfície mais lisa, outros se mostram mais
coesos, etc. Considerando que o procedimento de moldagem não segue um processo normalizado,
pode-se inferir que o processo de moldagem possa ter sido falho, o que explica as variações das
características visuais até mesmo de corpos de prova de mesmo traço.
Os resultados de resistência à tração na flexão e à compressão são positivos. Todos os corpos de prova
ensaiados para resistência à compressão, atendem, com exorbitância, aos máximos valores requeridos
pela NBR 7170/05. Entretanto, alguns corpos de prova apresentam valores elevados de desvio padrão.
Apesar de todos os fragmentos de corpos de prova dos traços de RBMF-1 terem derretido após o
ensaio de absorção de água, a maioria dos corpos de prova de RBMF-3 atendeu aos requisitos da
norma para blocos cerâmicos de vedação.
Portanto, para a viabilidade da utilização da lama de barragem de minério de ferro na produção de
tijolos para alvenaria convencional, torna-se necessário um estudo que logre o ajuste da relação
líquido/sólido e da concentração adequada desta solução alcalina. É interessante também, o estudo de
um processo de moldagem e adensamento adequado para este tipo de material que pode ter causado
variações dos resultados.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG, CAPES, CNPq e UFOP pelo apoio para a realização e apresen-
tação dessa pesquisa. Também somos gratos pela infraestrutura e colaboração do Grupo de Pesquisa
em Resíduos Sólidos - RECICLOS - CNPq.

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específica de agregados miúdos por meio do frasco Chapman. Rio de Janeiro, 1987.
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revestimento de paredes e tetos - Determinação de resistência à tração na flexão e compressão. Rio de Janeiro, 2005.
[23] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9778: Argamassa e Concreto Endurecidos -
Determinação da absorção de água por Imersão - Índice de Vazios e Massa Específica. Rio de Janeiro, 1987.
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Vedação. Rio de Janeiro, 2005
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Building Materials, 756-765, 2016.
[26] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7170: Tijolo maciço cerâmico para alvenaria. Rio
de Janeiro, 1983.
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO ATERRAMENTO DE RESÍDUOS
SÓLIDOS URBANOS: UM RETRATO PRELIMINAR DO
GERENCIAMENTO EM MINAS GERAIS–BR.

Evaluation on the quality of municipal wastes landfilling: a preliminary portrait of


the management in Minas Gerais-BR.

Pedro Fagundes¹, Samuel Castro¹*, João Paulo Borges², Fernanda Castro², Gilson Carvalho³

*Autor para correspondência: samuel.castro@ufjf.edu.br


1 Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, Juiz de Fora, Brasil
2
Centro Universitário de Formiga – UNIFOR MG, Formiga, Brasil
3
Universidade Vale do Rio Verde - UNINCOR, Betim, Brasil

Resumo: Recentemente, evidencia-se um número crescente na proposição de índices ambientais,


que provêm uma descrição condensada de estados ambientais multidimensionais, agregando
variáveis/indicadores em um estimador único. Nessa tendência, o Brasil tem adotado índices com
vistas ao monitoramento e melhorias no saneamento básico, dentre eles: Índice de Sustentabilidade
da Limpeza Urbana (ISLU), que visa medir a aderência dos municípios em relação ao cumprimento
das metas e diretrizes estabelecidas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos; e o Índice de
Qualidade de Aterros de Resíduos (IQR), proposto pela Companhia Ambiental do Estado de São
Paulo (CETESB). O presente estudo teve como objetivo aplicar o IQR para avaliar sistemas de
aterramento sanitário de dois municípios mineiros, Município X (grande porte, localizado na região
da Zona da Mata de Minas Gerais) e Município Y (pequeno porte, localizado na região Oeste de
Minas Gerais), a fim de evidenciar os diferentes cenários de disposição final e aprimorar
mecanismos de controle sanitário ambiental, correlacionando os resultados com o ISLU dos
municípios em questão. Os dados referentes aos resíduos sólidos urbanos coletados, materiais
recicláveis e taxa de cobertura de serviço, foram obtidos no Sistema Nacional de Informações Sobre
Saneamento para o ano de 2016. As informações para o cálculo do IQR foram coletadas através da
inspeção das unidades de disposição final de resíduos. O ISLU, para os diferentes municípios, foi
obtido através do Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana para os Municípios Brasileiros
2017 (SELUR, 2017). Como resultado, verificou-se que ambos Municípios possuem aterro sanitário
como unidade de disposição final de resíduos, possuindo IQR com valores de 9,8 e 9,5, para X e Y,
respectivamente, em uma escala que varia de 0 a 10, portanto, estão em condições adequadas.
Contudo, a unidade do Município X possui uma proximidade de corpos de água inferior a 200 m, e
a unidade de Y, possui de forma ineficaz, isolamento visual e drenagem provisória de águas
pluviais. Em relação ao ISLU, ambos municípios apresentaram uma queda para o ano de 2017,
sendo que o Município X apresentou uma queda de 0,57%, e o Município Y, uma queda de 7,13%.
Verificou-se ainda, que Município X está abaixo da média nacional referente a taxa de materiais
recicláveis recuperadas a partir dos resíduos sólidos coletados. Por fim, destaca-se a necessidade de
um estudo considerando um maior número amostral, objetivando uma caracterização mais robusta e
assertiva do cenário de disposição final de resíduos sólidos urbanos do estado.

Palavras-chave: Indicadores de sustentabilidade, IQR, ISLU, aterros sanitários, PGIRS.


Abstract: Recently, a growing number of environmental indexes are emerging, which provide a
condensed description of multidimensional environmental states, aggregating variables / indicators
in a single estimator. In this trend, Brazil has adopted indexes with a view to monitoring and
improving basic sanitation, including: Urban Cleaning Sustainability Index (ISLU), which aims to
measure the adherence of municipalities to the achievement of the goals and guidelines established
by the National Policy on Solid Waste; and the Landfill Quality Index (IQR), proposed by the
Environmental Company of the State of São Paulo (CETESB). The present study had the objective
of applying the IQR to evaluate sanitary landfill systems of two municipalities of Minas Gerais,
Municipality X (large, located in the Zona da Mata of Minas Gerais) and Municipality Y (small,
located in the Oeste region of Minas Gerais), in order to highlight the different scenarios of final
disposal and to improve mechanisms of environmental sanitary control, correlating the results with
the ISLU of the municipalities in question. Data on solid urban waste collected, recyclable materials
and service coverage rate were obtained from the Sistema Nacional de Informações Sobre
Saneamento for the year 2016. The information for the calculation of the IQR was collected through
the inspection of the final waste disposal units. The ISLU, for the different municipalities, was
obtained through the Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana para os Municípios Brasileiros
2017 (SELUR, 2017). As a result, both municipalities have sanitary landfill as final waste disposal
unit, having IQR values of 9.8 and 9.5, for X and Y, respectively, on a scale ranging from 0 to 10,
therefore, being in proper condition. However, the unit of Municipality X has a proximity of bodies
of water inferior to 200 m, and the unit of Y, inefficiently, visual insulation and provisional
drainage of pluvial waters. In relation to the ISLU, both municipalities presented a decrease for the
year 2017, with Municipality X presenting a decrease of 0.57%, and Municipality Y, a drop of
7.13%. It was also verified that Municipality X is below the national average referring to the rate of
recyclable materials recovered from solid wastes collected. Finally, the need for a study considering
a larger number of samples is highlighted, aiming at a more robust and assertive characterization of
the scenario of final disposal of urban solid waste in the state.

Keywords: Indicators of sustainability, IQR, ISLU, landfill, solid waste.

1. INTRODUÇÃO
O crescimento populacional, associado ao processo de urbanização dos centros urbanos, resulta no
aumento da geração de resíduos sólidos urbanos, comumente, gerando problemas relacionados à
destinação final ambientalmente correta, conforme os termos da legislação vigente e aplicável.
Assim, registra-se que diversos resíduos são descartados de forma inadequada, resultando em gastos
financeiros e contaminação do meio ambiente, o que acarreta riscos à saúde pública. Do mesmo
modo, percebe-se que dentre as políticas públicas ambientais que tangem os resíduos sólidos, o
aterro sanitário é uma das soluções viáveis para minimizar os problemas relacionados a esses
resíduos, assim como uma alternativa de destinação final ambientalmente correta, sobretudo com
amparo em princípios de engenharia, de planejamento e de políticas públicas socioambientais [1].
Evidencia-se um número crescente na proposição de índices ambientais, que provêm uma descrição
condensada de estados ambientais multidimensionais, agregando variáveis/indicadores em um
estimador único, subsidiando a tomada de decisão e gerenciamento, de forma mais assertiva, por
proporcionar uma visão geral informativa e integrada.
Os indicadores de sustentabilidade são instrumentos que apontam problemáticas existentes no
espaço urbano onde é possível identificar as variáveis que influenciam o meio para fins de
planejamento de ações e respostas, para os atuais e futuros impactos ambientais. Assim, os índices
de sustentabilidade são capazes de orientar, avaliar e monitorar o desempenho rumo à
sustentabilidade [2].
Nessa tendência, o Brasil tem adotado índices com vistas ao monitoramento e melhorias no
saneamento básico, dentre eles: o Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana (ISLU) e o Índice
de Qualidade de Aterros de Resíduos (IQR).
O IQR, desenvolvido pela Companhia de Saneamento do Estado de São Paulo (CETESB), permite
avaliar as condições gerais do sistema de destinação final de resíduos, desde a escolha do local, até
suas condições técnicas operacionais [3], apresentando como produto final uma nota que varia de
zero (0) a dez (10), onde: se o valor se encontra na faixa de 0,0 a 7,0, o sistema está na condição
inadequada; e se o sistema está na faixa de 7,1 a 10,0, está em condição adequada [4].
O ISLU foi criado com o objetivo de medir a aderência dos municípios em relação ao cumprimento
das metas e diretrizes estabelecidas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei nº
12.305, de 2 de agosto de 2010 [5]. Assim, o município é avaliado de acordo com uma pontuação
que varia de zero (0) a um (1), onde quanto mais próximo de 1, maior é a aderência do município à
PNRS [6].
Desta maneira, destaca-se a importância de estudos voltados para a avalição de sistemas de
aterramento sanitário através da correlação de indicadores de sustentabilidade.

2. OBJETIVO
O presente estudo teve como objetivo calcular o IQR na avaliação de sistemas de aterramento
sanitário de dois municípios mineiros, X e Y, a fim de evidenciar os diferentes cenários de
disposição final e aprimorar mecanismos de controle sanitário ambiental, correlacionando os
resultados com o ISLU dos municípios em questão.

3. METODOLOGIA
Para concepção do estudo foram avaliadas duas áreas de disposição de resíduos em diferentes
municípios do estado de Minas Gerais, sendo o Município X de grande porte com 564.310
habitantes [7], e o Município Y de pequeno porte com 67.540 [7], localizados, respectivamente, na
região da Zona da Mata Mineira, e na região Oeste do estado, e distantes cerca de 360 km entre si.
Na Figura 1, encontra-se a localização aproximada dos municípios.
Os dados de toneladas de resíduos sólidos urbanos coletados, material reciclado recolhido, material
reciclado recuperado, e taxa de cobertura do serviço de coleta dos resíduos domiciliares em relação
à população total do município, foram obtidos no Sistema Nacional de Informações Sobre
Saneamento (SNIS) para o ano de 2016.
A avaliação do índice de qualidade dos resíduos para os municípios em estudo, foi realizada
utilizando a metodologia proposta pela CETESB [4], que leva em consideração os seguintes itens:
estrutura de apoio; frente de trabalho; taludes e bermas; superfície superior; estrutura de proteção
ambiental; características da área; dentre outros. As informações para o cálculo do IQR foram
coletadas através da inspeção das unidades de disposição final de resíduos.
Por fim, o ISLU, para os diferentes municípios, foi obtido através do Índice de Sustentabilidade da
Limpeza Urbana para os Municípios Brasileiros 2017[6]. Ressalta-se, ainda, que o cálculo desse
índice é efetuado considerando-se quatro dimensões: Dimensão E (engajamento do município), com
peso de 33,3%; Dimensão R (recuperação dos resíduos coletados), com peso de 22,2%; Dimensão S
(sustentabilidade financeira), com peso de 22,4%; e Dimensão I (impacto ambiental), com peso de
22,1% [6].

Fig. 1 – Localização dos Municípios

Com base nos dados levantados, foi possível realizar uma análise crítica dos cenários estudados,
com indicativo do gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos no estado, considerando diferentes
regiões e municípios de portes distintos.
3. RESSULTADOS E DISCUSSÕES
Segundo dados do SNIS (2016), foram coletados, respectivamente, 278.183,3 toneladas e 13.159
toneladas, de resíduos sólidos urbanos nos Municípios X e Y para o ano de 2016, sendo esses,
encaminhados para áreas de disposição final ambientalmente adequados, que para ambos os casos,
configura-se como aterro sanitário.
Como resultado da vistoria realizada nessas áreas de disposição de resíduos sólidos urbanos, foi
calculado um IQR de 9,8 para o Município X, e 9,5 para o Município Y, estando, portanto, ambos
municípios em condições adequadas. Ressalta-se também, que os aterros sanitários em estudo
operam sem recebimento de resíduos industrias. Na Figura 2, encontra-se a porcentagem do
atendimento das áreas de disposição, às dimensões estabelecidas pela metodologia da CETESB [4]
para o cálculo do IQR, considerando o grau de atendimento de cada município objeto do estudo.

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%


92%

78%

50%

Estrutura de Frente de Taludes e Bermas Superfície Estrutura de Outras Caracterísitcas da


Apoio Trabalho Superior Proteção Informações Área
Ambiental

Município X Município Y

Fig. 2 - Porcentagem de atendimento dos itens avaliados no IQR

Assim, percebe-se que o Município X atendeu na sua integridade à maioria dos itens avaliados na
elaboração do IQR, com exceção do item “Características da Área”, onde, verificou-se que o aterro
possui proximidade de corpos de água inferior a 200 m. Dessa forma, percebe-se que os corpos
hídricos em torno dessa área de disposição estão mais susceptíveis a contaminação por descargas,
não planejadas, de chorume, que segundo Hamada (1997), possui alta concentração de matéria
orgânica, reduzida biodegradabilidade, presença de substâncias recalcitrantes e metais pesados.
Destaca-se, conforme apresentado na Figura 3, que o resultado observado para tal equipamento de
disposição final de resíduos pode ser notado visualmente e que tal aterro possui sistema de captação
e recuperação energética do biogás, com capacidade quantitativa de geração diária de energia com
capacidade de abastecer uma cidade de 60.000 habitantes.
Já o Município Y, não atendeu integralmente os quesitos dos itens “Estrutura de Apoio” e
“Estrutura de Proteção Ambiental”. Em relação a este, verificou-se que a área de disposição não
possui isolamento visual, ou o isolamento é insuficiente, resultando em poluição visual e possível
dispersão de particulado, conforme pode ser observado na Figura 4. Destaca-se, ainda, que o aterro
não possui, ou apresenta de forma insuficiente, drenagem provisória de águas pluviais. Dessa
forma, registra-se uma deficiência operacional dessa área de aterramento relacionada à ausência da
drenagem provisória de águas pluviais, que acompanha a evolução da frente de trabalho, e tem o
objetivo de redirecionar o volume precipitado sobre a massa de resíduos, diminuindo, portanto, a
geração de lixiviado [9].
Contudo, percebe-se que ambos municípios possuem IQR superior a 8,7, IQR médio do Estado de
São Paulo para o ano de 2017 [4], região que já possui esta metodologia consolidada.
Segundo o relatório do Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana [6], ambos municípios
tiveram ISLU rebaixados no ano de 2017. O Município X, que em 2016 tinha um ISLU de 0,702,
obteve em 2017, 0,698. A depreciação do ISLU, pode ser entendida através da queda de 2,5% da
Dimensão S (sustentabilidade financeira), mesmo com um acréscimo de 0,6% na Dimensão E
(engajamento do município). As demais dimensões se mantiveram. Contudo, o Município X
apresenta um ISLU superior à 0,671, valor médio para a Região Sudeste do Brasil, para o ano de
2017 [6].

Fig. 3 – Aterro Sanitário Município X

O Município Y, que em 2016 tinha um ISLU de 0,701, obteve em 2017, 0,651, estando abaixo do
valor médio encontrado para a Região Sudeste brasileira. Essa queda, pode ser entendida através da
diminuição de 29,3% da Dimensão S (sustentabilidade financeira), e 44,8% da Dimensão R
(recuperação dos resíduos coletados). As demais dimensões se mantiveram.
Portanto, foi possível verificar que ambos Municípios tiveram uma depreciação no indicador que
avalia o grau de autonomia dos municípios para a prestação de serviços de limpeza urbana
(Dimensão S). Ainda segundo o relatório do Índice de Sustentabilidade da Limpeza Urbana [6], os
municípios que não possuem arrecadação específica para essa prestação de serviço, tendem a
comprometer o seu orçamento com a manutenção dos mesmos, estando mais vulneráveis a fatores
políticos, econômicos ou sociais, que venham a impactar o montante financeiro sob sua gestão.
Contudo, entende-se como sustentabilidade financeira, a utilização dos recursos disponíveis de
forma racional, atendendo as necessidades atuais, e se importando com as que estão por vir, ou seja,
aplicar a sustentabilidade financeira significa saber controlar o orçamento e usar os recursos
disponíveis com segurança para a formação de reservas de emergência, aplicação em investimentos
e planejamento [2]. Assim, além da baixa arrecadação, os municípios podem estar apresentando
uma gestão ineficiente dos recursos disponíveis.
A Dimensão E, é calculada a partir do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e da
Porcentagem da População Atendida pelos Serviços de Limpeza Urbana, sobretudo, com relação à
cobertura de coleta de resíduos [2]. Assim, como ponto positivo, destaca-se o incremento da
aderência do Município X a tal Dimensão. Segundo dados do SNIS (2016), esse município possuía
uma taxa 99,65% de cobertura do serviço de coleta dos resíduos domiciliares em relação à
população total do município. Apesar do Município Y não apresentar alteração na Dimensão E,
destaca-se que, também segundo o SNIS, 91,34% da população era atendida pelo serviço de coleta
dos resíduos domiciliares.

Fig. 4 – Aterro Sanitário Município Y – frente de operação


Destaca-se como ponto positivo, que ambos municípios obtiveram nota máxima na Dimensão I,
resultado da disposição final adequada dos resíduos sólidos urbanos, que para ambos casos,
conforme já mencionado, ocorre em aterro sanitário.
Embora o Município X, não tenha apresentado alteração na Dimensão R, o valor registrado ainda é
incipiente. Segundo dados do SNIS para o ano de 2016, 0,39% dos resíduos coletados, foram
obtidos como materiais recicláveis, e apenas 0,14% dos resíduos coletados foram recuperados,
estando abaixo de 1,62%, média nacional do total aproximado de 58,9 milhões de toneladas de
resíduos domiciliares e públicos possivelmente coletadas em 2016 no Brasil [10]. As principais
justificativas apontadas para o resultado são as transferências de responsabilidades entre empresas,
sociedade, catadores e prefeitura, além da própria falta de adesão e comprometimento da população
[11]. Segundo o departamento responsável pela limpeza urbana do Município X, o baixo percentual
é consequência, ainda, de dificuldades na obtenção de dados de coleta seletiva realizadas por outros
meios e associações e que, dessa forma, não são contabilizados.
O Município Y, obteve ainda uma diminuição expressiva, 44,8%, na quantidade de recicláveis
recuperados em relação à quantidade total de resíduos urbanos coletados. Segundo dados do SNIS
do ano 2016, 17,77% dos resíduos sólidos coletados tratou-se de fração reciclável, e apenas 2,28%
dos resíduos coletados, foram recuperados, porém, verifica-se que a taxa de resíduos recuperados
está acima da média nacional, estando em conformidade com municípios de até 100 mil habitantes
[10].
Ressalta-se que ambos aterros sanitários possuem vida útil superior a 5 anos, conforme consta nos
respectivos IQR. Contudo, frisa-se a importância da expansão da coleta seletiva desses Municípios,
pois ainda os resultados encontrados são insatisfatórios. De acordo com o Panorama dos Resíduos
Sólidos no Brasil de 2017 [12], houve um aumento de 1% na geração de resíduos sólidos urbanos
em relação a 2016, portanto, se não for destinado aos aterros sanitários apenas os rejeitos, através da
redução, reutilização, coleta seletiva e reciclagem, conforme Art. 19, inciso XIV da PNRS [5],
pode-se registrar a possível redução da vida útil dessas unidades e o esgotamento da capacidade em
tempo aquém ao previsto.
Em linhas gerais, percebe-se um avanço do estado de Minas Gerais no gerenciamento de resíduos
sólidos, mesmo que para o ano de 2017, tenha-se registrado uma diminuição no atendimento as
metas da PNRS [5], de modo igual, registrado para a região Sudeste [6]. Contudo, ambos
Municípios possuem IQR com expressiva, e positiva, avaliação, mesmo apresentando problemas, os
quais, precisam ser sanados.
Verifica-se ainda que as características encontradas para ambos municípios, nas suas devidas
proporções, estão em conformidade com os resultados apresentados no Diagnóstico do Manejo de
Resíduos Sólidos Urbanos – 2016 [10] para municípios na faixa de 30.001 a 100 mil habitantes, e
de 250.001 a 1 milhão de habitantes.
Contudo, aconselha-se que estudos posteriores sejam realizados contemplando maior número de
municípios, visando uma caracterização mais fidedigna do cenário de disposição de resíduos sólidos
urbanos, e atendimento as metas da PNRS [5], para o estado de Minas Gerais.
4. CONCLUSÃO
Os municípios X e Y possuem aterros sanitários como unidades ambientalmente adequadas de
disposição final de resíduos. Ao fazer a avaliação do IQR nos equipamentos de disposição final
objetos do estudo, encontrou-se valores de 9,8 e 9,5, para X e Y, respectivamente, demonstrando
que ambos apresentam condições estruturais e operacionais adequadas, e com pontuações
expressivamente satisfatórias, tendo em vista, que o índice varia de 0 a 10.
Ainda assim, percebe-se que ambas áreas precisam de atenções específicas para seu funcionamento.
Em relação ao X, salienta-se a importância de análises periódicas da qualidade da água de corpos
hídricos no entorno, pois o aterro possui uma proximidade de corpos de água inferior a 200 m. No
caso de Y, deve-se avaliar a questão da drenagem provisória de águas pluviais, a fim de se evitar o
aumento na geração de lixiviados e instabilidade geotécnica. Além disso, deve-se viabilizar
alternativas visando a mitigação da poluição visual ocasionada pelo isolamento visual ineficaz.
Verifica-se que ambos municípios tiveram uma redução no ISLU ao se comparar com o ano
anterior, sendo que o Município X apresentou uma queda de 0,57%, e o Município Y, uma queda de
7,13%.
Registra-se, ainda, que os municípios X e Y, possuem resultados insatisfatórios em relação a coleta
de materiais recicláveis recuperados, sendo, 0,14% e 2,28%, respectivamente.
Destaca-se que um estudo considerando um maior número amostral, contemplando um maior
número de municípios, de portes e realidades diferenciadas, possa contribuir na caracterização mais
robusta e assertiva do cenário de disposição final de resíduos sólidos urbanos do estado.
Por fim, destaca-se, ainda, que o monitoramento periódico de tais indicadores pode ser uma
ferramenta simples e efetiva no delineamento de diretrizes e tomada de decisões no gerenciamento
de resíduos.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem aos departamentos de limpeza urbana e gestores dos aterros sanitários dos
municípios objetos do estudo por fornecerem informações e viabilizarem visitas técnicas essenciais
ao desenvolvimento do trabalho.

REFERÊNCIAS
[1] LIMA, P. G.; TAMARINDO, U. G. F.; FORTI, J. C.; BRAGA JUNIOR, S.S. Avaliação de um Aterro Sanitário
por meio do Índice de Qualidade de Resíduos Sólidos. Brazilian Journal of Biosystems Engineering, v. 11(1), p.
88-106, 2017.
[2] LOPES, A. Q. M.; FERREIRA, I. F.; NETO, J. A. F.; ARAÚJO, L. A.; SANTOS, R. R.; JÚNIOR, I. M. P. Índice
de Sustentabilidade da Limpeza Urbana. Cadernos de Graduação - Ciências Exatas e Tecnológicas, v.4, n.3, p.
51-66, mai. 2018.
[3] SILVA, C.; SchoenhalS, M.; CORNELI, V. M. Aplicação do Índice de Qualidade de Aterros de Resíduos da
Cetesb na Área de Disposição de Resíduos Sólidos Urbanos de Peabirú - Pr. Acesso em: out 2018. Disponível
em: <http://cac-php.unioeste.br/eventos/senama/anais/PDF/ARTIGOS/51_1269887725_ARTIGO.pdf>.
[4] COMPANHIA DE SANEAMENTO DO ESTADO DE SÃO PAULO – CETESB. Inventário Estadual de
Resíduos Sólidos Urbanos. São Paulo, 2018.
[5] BRASIL. Lei n° 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei
no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
Brasília, DF, 3 de ago. 2010.
[6] SINDICATO DAS EMPRESAS DE LIMPEZA URBANA – SELUR. Índice de Sustentabilidade da Limpeza
Urbana para os Municípios Brasileiros. 2.ed. Brasília, 2017.
[7] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Cidades. Disponível em:<
https://cidades.ibge.gov.br/>. Acesso em: out. 2018.
[8] HAMADA, J. Estimativas de Geração e Caracterização do Chorume em Aterros Sanitários. 19° Congresso
Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental, 1997, Foz do Iguaçu. Anais. Rio de Janeiro: ABES – Associação
Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental, 1997.
[9] CARVALHO, E. T. A. Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos: Estudo de Caso para o Município de
Andrelândia – MG. Juiz de Fora: UFJF, 2015.
[10] SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE SANEAMENTO – SNIS. Diagnóstico do Manejo de
Resíduos Sólidos Urbanos – 2016. Brasília, mar. 2018.
[11] ARÉAS, G. (2016). Apenas 0,23% do Lixo é Reciclado em Juiz de Fora . Tribuna de Minas, Juiz de Fora, 28
ago.
[12] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLOCA E RESÍDUOS ESPECIAIS –
ABRELPE. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2017. Disponível
em:<https://belasites.com.br/clientes/abrelpe/site/wp-
content/uploads/2018/09/SITE_grappa_panoramaAbrelpe_ago_v4.pdf>. Acesso em: out. 2018.
[13] SISTEMA NACIONAL DE INFORMAÇÕES SOBRE SANEAMENTO – SNIS. Série Histórica – Resíduos
Sólidos. 2016. Disponível em: <http://app3.cidades.gov.br/serieHistorica/>. Acesso: out. 2018.
ELABORAÇÃO DE APLICATIVO PARA DIMENSIONAMENTO EM
CONCRETO ARMADO DE VIGAS-PAREDE BIAPOIADAS

Elaboration of an application for dimensioning reinforced concrete of simply


supported deep beams

Jackson Souza Corrêa¹, Lucas Machado Rocha²


1 Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Brasil, jackson.correa@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Brasil, lucas.machado@engenharia.ufjf.br

Resumo: As estruturas de concreto, devido a descontinuidades geométricas ou a condições


específicas de aplicação de cargas, podem apresentar regiões que não se comportam segundo a
Hipótese de Bernoulli. Nestas, após a flexão, as deformações não se distribuem de forma linear em
relação a linha neutra em uma seção transversal, não podendo ser adotadas as hipóteses utilizadas
no dimensionamento de peças esbeltas. Assim sendo, torna-se necessário a utilização de métodos de
dimensionamento alternativos, tal como o Método das Bielas e Tirantes. O objetivo deste trabalho é
apresentar, através de um exemplo, o aplicativo VP Strut idealizado pelos autores, que utiliza um
modelo de bielas e tirantes no dimensionamento de vigas-parede biapoiadas de concreto armado,
realizando também as verificações de segurança necessárias e elaborando uma proposta de
detalhamento da viga. A linguagem utilizada é a Visual Basic, voltada para aplicações, utilizando
softwares de uso livre que são capazes de gerar arquivo executável deste aplicativo. Os resultados
encontrados são condizentes com os da literatura, bem como fornecem o detalhamento preciso de
vigas-parede necessários para a construção desta estrutura.

Palavras-chave: Bielas e tirantes, Hipótese de Bernoulli, viga-parede.

Abstract: Due to geometric discontinuities and specific condition of load applications, reinforced
concretes may present regions that do not behave according to Bernoulli’s Hypothesis. In these
situations, after the bending, the deformations do not distribute linearly in relation to the neutral line
in a cross section, and the hypotheses used in the slender pieces dimensioning cannot be adopted.
Thus, it is necessary to use alternative dimensioning methods, such as the Strut and ties method.
The objective of this work is to present the VP Strut application conceived by the authors, which
uses a model of strut and ties in the dimensioning of simple supported deep beams of reinforced
concrete, checking the necessary safety requirements and detailing the beam. The language used is
the Visual Basic, aimed at applications, using free softwares that can generate an executable file of
this application. The results are consistent with those of the literature, as well as providing the
precise detailing of the deep beams required for the construction of this structure.

Keywords: Strut and ties, Bernoulli’s Hypothesis, deep-beam.

1. INTRODUÇÃO
Estruturas convencionais de concreto armado podem ser dimensionadas considerando que as
deformações se distribuem de forma linear em relação a linha neutra, sendo possível, assim,
elaborar equações de equilíbrio na seção (Método Seccional) da peça e realizar a quantificação da
área de aço necessária. A consideração de que as deformações se distribuem de tal forma é chamada
de Hipótese de Bernoulli, e se mantém válida em todos os estágios de carregamento. Dessa forma,
as seções planas da estrutura se manterão planas após a flexão. A Figura 1 ilustra a distribuição das
deformações que ocorre na seção. A hipótese é comprovada em ensaios de estruturas e não possui
formulação matemática.

Figura 1 - Distribuição linear das deformações ao longo da seção [1]

Porém, existem algumas regiões onde a Hipótese de Bernoulli não é válida, pois as deformações
não mais se distribuem de forma linear. Nesses casos, o dimensionamento convencional não é mais
possível. Isto ocorre em zonas onde há descontinuidades geométricas, como mudança de seção e
abertura de furos em vigas, e descontinuidades estáticas, como em pontos com cargas concentradas.
Em situações como estas, pode-se recorrer a métodos alternativos de dimensionamento, que
consideram as perturbações existentes nos campos de tensões e podem prever, de forma mais
adequada, a quantidade e distribuição da armadura necessária para suportar as tensões ocorridas na
estrutura de concreto armado. O método das bielas e tirantes é um dos exemplos de alternativas
existentes que permitem tal dimensionamento.

2. VIGAS-PAREDE
Uma viga de grande altura, biapoiada e isostática é considerada como viga-parede quando a relação
entre o vão teórico l e a altura h for menor que 2, sendo o vão teórico a distância entre os eixos do
apoio [2]. A Figura 2 exemplifica o modelo descrito.

Figura 2 - Viga-parede biapoiada com vão teórico l e altura h


Para que os efeitos de instabilidade lateral das vigas sejam combatidos, é prescrito que a largura da
base b seja igual a um valor que atenda as condições a seguir:
l0
b (1)
50
b   fl .h (2)
Em que:
b - largura da zona comprimida;
l0 - comprimento do flange comprimido, medido entre os suportes que garantem o
contraventamento lateral;
βfl - coeficiente com valor encontrado segundo a Tabela 1.

Tabela 1 – Valores de βfl [2]

Porém, o valor adotado para a largura da base b não deve ser inferior a um mínimo de 15 cm,
admitindo-se redução deste limite até um mínimo de 10 cm somente para casos em que seja
garantido o alojamento das armaduras e suas interferências com as armaduras de outros elementos
estruturais, respeitando os espaçamentos e cobrimentos estabelecidos [2]. Ademais, esta redução
deve garantir o correto lançamento e vibração do concreto, de acordo com a ABNT NBR 14931 [3].

2.1. Detalhamento
A ABNT [2] prescreve que a armadura longitudinal As do tirante deve ser distribuída numa faixa
hdist na ordem de 0,15h. Deve ser levada de apoio a apoio, sem interrupção, e ancorada sem a
utilização de ganchos verticais, sendo recomendado a utilização de laços ou grampos no plano
horizontal.
Na mesma norma também é prescrita a adição de armadura em malha, sendo os valores mínimos
dados pela Equação 3:
As ,vert = As ,hor = 0,075 %.b (3)
Onde:
As,vert - armadura vertical da malha;
As,hor - armadura horizontal da malha.
Ressalta-se, porém, que é conveniente realizar a comparação entre a armadura vertical da malha
com a armadura de suspensão (se necessária), e a armadura horizontal da malha com a armadura de
pele, adotando sempre o maior dos valores para cada plano [1].

3. O MÉTODO DAS BIELAS E TIRANTES


O princípio do método consiste em discretizar os campos de tensões na estrutura, e idealizar bielas
que resistem aos esforços de compressão, representadas por um volume de concreto, e tirantes
resistindo aos esforços de tração, representados por uma barra ou por um conjunto de armaduras de
aço. Em casos específicos, os tirantes também podem ser representados por um volume de concreto
tracionado, desde que condições de resistência a tração do concreto sejam atendidas. A ligação entre
os elementos tracionados e comprimidos se dá através dos nós ou regiões nodais. Nas regiões
nodais também devem coincidir as linhas de ação das forças aplicadas externamente.
A disposição das bielas e tirantes é feita através da análise das trajetórias de tensões na estrutura,
encontrando-se um caminho que represente a resultante das tensões. Ao final do processo, é
possível observar que os elementos formam uma treliça hipotética resistindo aos esforços dentro da
estrutura, como mostra a Figura 3. A obtenção das trajetórias pode ser realizada através de
modelagem computacional utilizando o Método dos Elementos Finitos (MEF), como mostra a
Figura 4, com a análise podendo ser linear ou não-linear.

Figura 3 - Trajetória das tensões principais e modelo de bielas e tirantes adotado [4]

Figura 4 - Discretização dos campos de tensões principais via MEF


A tensão nos elementos é obtida por equilíbrio de forças internas e externas, considerando-se o
sistema como isostático e autoequilibrado, e tanto as bielas quanto as regiões nodais devem ser
verificadas em termos de tensões. A área de aço necessária aos tirantes é obtida por relação direta
entre a força aplicada e a resistência do material. A análise é feita considerando-se o estado-limite
último (relacionado ao colapso), ou a qualquer outra forma de ruína estrutural que determine a
paralisação do uso da estrutura [2] [5].
Na literatura encontram-se modelos de bielas e tirantes padronizados para vigas-parede mais
simples e comuns. Porém, com o aumento da complexidade da geometria e das condições de
carregamento, esses modelos passam a não ser mais válidos devido a alteração da distribuição dos
campos de tensões, sendo necessárias novas análises para determinação de novos modelos.
Ressalta-se que a experiência e sensibilidade do projetista é determinante no traçado da treliça
hipotética dentro da estrutura [5].

3.1. Modelos para viga-parede


Alguns modelos padronizados para o cálculo de vigas-parede de concreto armado biapoiadas e
sujeitas a carregamento distribuídos estão disponíveis em Wight e MacGregor [4] e Silva e Giongo
[5]. A Figura 5 apresenta o desenvolvimento do fluxo das tensões principais e as fissuras que
ocorrem para os casos de carregamento distribuído no bordo superior e no bordo inferior,
respectivamente. Neste último caso, as cargas estão suspensas, sendo necessário adicionar armadura
de suspensão. Apenas assim a carga pode ser considerada no bordo superior. Na Figura 6 é ilustrado
o modelo de bielas e tirantes utilizado pelo aplicativo proposto neste trabalho.

Figura 5 - Carregamento pelos bordos superior e inferior [4]

Figura 6 - Modelo de bielas e tirantes utilizado pelo aplicativo VP Strut (Adaptado de [4])
Para o dimensionamento, utiliza-se o braço de alavanca Z para o cálculo da área de aço através da
Equação 4:
Md
As = (4)
Z . f yd
Em que:

As - área de aço necessária para resistir ao esforço de tração na região;


Md - momento fletor de cálculo atuante na viga-parede;
Fyd - valor de cálculo da resistência ao escoamento do aço.

O valor do braço de alavanca pode ser obtido conforme Araújo (2014) [6]:

Z = 0,6l , quando l/h ≤ 1 (5)


Z = 0,15 h.3 + (l / h ), quando 1< l/h ≤ 2 (6)
O valor da área de aço também poderia ser encontrado realizando-se o equilíbrio de forças nos nós,
encontrando-se a força atuante no tirante Rst, e fazendo-se a relação da força sobre a tensão de
escoamento do aço, conforme a Equação 7. Porém, seria necessário conhecer o ângulo θ. Este
ângulo, formado entre as bielas e o plano horizontal, varia para cada modelo utilizado e deve estar
contido em um intervalo estabelecido pelo código normativo em uso. Segundo a ABNT [2], deve-se
garantir que 29,7º ≤ θ ≤ 63,4º. Para se conhecer o ângulo θ, neste trabalho, são adotados os valores
de Schlaich e Schäfer [7], relacionados pelas Equações 8 e 9, e admitindo-se interpolação linear
para valores intermediários.
R
As = st (7)
f yd
θ = 68º, quando l/h ≤ 1 (8)
θ = 55º, quando l/h = 2 (9)

3.1. Determinação das tensões de compressão


Após o dimensionamento da estrutura é necessário realizar a verificação das tensões atuantes nas
bielas e nos nós de forma a assegurar que não ocorra a ruptura do concreto e, para tal, é necessário
que se conheça a geometria do volume sujeito a compressão [8]. Geralmente, a tensão máxima
admissível na estrutura corresponde a uma fração da resistência à compressão do material [5].
Nas vigas-parede biapoiadas, com carregamento concentrado ou distribuído, a verificação das
tensões ocorre nos nós inferiores (nós singulares) próximos aos apoios, destacados na Figura 7.

Figura 7 – Nó crítico em destaque de uma viga-parede biapoiada


Os nós singulares recebem as forças concentradas e realizam o desvio dessas forças de forma
repentina. Devido a isso, são chamados de nós críticos e devem ter sua resistência verificada. Por se
tratar de uma região submetida a tensões de compressão em duas interfaces e tensão de tração em
uma interface, o nó em questão é classificado como CCT [5].
Na Figura 8 observa-se que as tensões geradas pela força de compressão Fc aplicada na biela, e pela
força da reação de apoio Rd, atuam ao longo das distâncias c2 e t, respectivamente. A distância hdist é
a altura de distribuição das barras do tirante. Vale ressaltar que a distância t é igual à largura do
apoio. A distância c2 é traçada ortogonalmente ao eixo da biela.

Figura. 8 – Tensões atuantes e dimensões do nó CCT. (Adaptado de Araújo [6])

A medida da distância c2 é obtida por relações trigonométricas, utilizando a medida x. Chega-se,


portanto, a seguinte expressão:
c 2 = (t + hdist . cot g ) sen (10)
Conhecido o valor de c2, é possível determinar as tensões atuantes em duas interfaces:
Rd
d = (11)
bw .t
Fc
 2d = (12)
bw .c 2
Onde:

- tensão atuante na interface entre nó e apoio;


- tensão na interface entre nó e biela;
Fc - força de compressão na biela;
Rd - reação de apoio;
bw - espessura da viga-parede.
Caso a tensão na interface seja menor que os parâmetros limites, garante-se que as tensões tanto no
nó, quanto na biela, são atendidas. Observa-se que, se hdist > t cotg θ, é necessário verificar apenas a
tensão . Do contrário, deve-se verificar apenas .
A ABNT [2] estabelece que a resistência limite para o nó crítico em questão vale:

f cd 3 = 0,72 . v 2 . f cd (13)
Em que:

f ck
= 1− , sendo fck a resistência característica a compressão do concreto, em MPa;
250
f ck
= , sendo o coeficiente de ponderação da resistência do concreto.
c
É possível observar através da Figura 8 que o ângulo θ entre biela e plano horizontal influencia
diretamente nas dimensões do nó. Seu cálculo é realizado conforme as Equações 8 e 9.

4. VPSTRUT
Mesmo com o acelerado desenvolvimento das ferramentas computacionais, dificilmente um
software será capaz de atender a todas as demandas dos projetos de estruturas sem que os
engenheiros modifiquem o código original. Com o intuito de contribuir com a área acadêmica e
profissional no que tange a elaboração de projetos, além de estimular o desenvolvimento interfaces
e códigos computacionais voltados aos projetos de estruturas de concreto armado, foi desenvolvido
o aplicativo VP Strut, disponibilizado gratuitamente pelos autores.

4.1. Interface
O aplicativo é composto por quatro abas intuitivas e que devem ser selecionadas consecutivamente
pelo usuário. Na primeira aba “Dados de Entrada” são inseridos todos os dados necessários ao
cálculo da viga-parede, como as suas dimensões, dimensões dos apoios, carregamentos atuantes e
resistência dos materiais a serem utilizados. Inseridas todas as informações, deve-se pressionar o
botão “calcular”.
Na aba “Análise”, o aplicativo realiza o cálculo das cargas atuantes e das forças do modelo de bielas
e tirantes. São exibidas informações sobre a viga em questão, como lefet, relação l/h, modelo de viga,
ângulo do modelo e braço de alavanca Z. Também nesta aba, é realizada a análise da tensão de
compressão no nó do modelo, onde a mensagem da verificação é emitida.
Na aba seguinte, “Detalhamento”, pressiona-se o botão “Detalhar”, exibindo assim as informações
das armaduras longitudinais calculadas, comparando-a com a armadura mínima (As,mín) e sendo
adotado o maior valor entre os dois valores. O usuário seleciona um diâmetro comercial de sua
preferência e então é gerado o detalhamento. O processo se repete para as demais armaduras. No
campo “ancoragem” é feita a análise da ancoragem das barras nos apoios, ao qual é emitida uma
mensagem informando se é possível ancorar com trecho reto ou se deverá ser utilizado gancho,
sendo que, para esta situação, o aplicativo não realiza o detalhamento. Quando o apoio possui
largura de ancoragem menor que a mínima, também é emitida uma mensagem de aviso.
A Figura 9 exemplifica a aba “Dados de “Entrada, enquanto a Figura exemplifica a aba “Análise”.

Figura 9 – Aba “Dados de Entrada”

Figura 10 – Aba “Análise”


Por último, na aba “Informações”, estão dispostas as considerações sobre o aplicativo, as
limitações, os desenvolvedores e seus contatos. As abas “Detalhamento” e “Informações” estão
exemplificadas na Figura 11 e Figura 12, respectivamente.

Figura 11 – Aba “Detalhamento”

Figura 12 – Aba “Informações”


4.2. Limitações
O aplicativo VP Strut foi idealizado pelos presentes autores, sem fins lucrativos, a fim de propagar
o conhecimento acerca deste método de cálculo e facilitar o seu aprendizado. Por se tratar da
primeira versão, algumas limitações são inerentes ao aplicativo, a citar:

▪ A relação l/h deve ser maior que 1,0 e menor que 2,0;
▪ A largura da base da viga deve ser maior que 15cm;
▪ O carregamento deve ser uniformemente distribuído, superior ou inferior;
▪ A viga deve ser biapoiada;
▪ Segundo Araújo [6], devido a não linearidade na distribuição das tensões, o momento de
fissuração na viga-parede é menor do que nas vigas esbeltas. Com isso, a taxa de armadura
longitudinal mínima também será menor. No aplicativo, porém, é adotado o valor de armadura
mínima para as vigas esbeltas;
▪ É necessário realizar o detalhamento dos ganchos ou laços de ancoragem, quando preciso;
▪ Devem ser analisados os espaçamentos para o detalhamento proposto, fazendo as adequações
necessárias;
▪ É necessário observar a influência do esforço cortante na estrutura, não contemplado pelo
modelo;
▪ O aplicativo não realiza as verificações do Estado Limite de Serviço.
Apesar de obedecer aos critérios normativos da ABNT [2] [3], qualquer dimensionamento deve ser
realizado por profissional capacitado, eximindo-se seus autores de qualquer inaplicabilidade dos
resultados encontrados.

4.3. Validação do Aplicativo


Para verificar a validade dos resultados gerados pelo aplicativo VP Strut, um software comercial foi
utilizado no cálculo de um modelo arbitrário. Para isso, optou-se por uma viga que possui relação
l/h igual a 2, estando esse modelo no limite da definição entre uma viga esbelta e uma viga-parede.
A premissa inicial é de que os valores de armaduras de tração calculados pelo software comercial e
pelo aplicativo VP Strut não devem se afastar significativamente, estando eventuais diferenças
justificadas por diferenças nas considerações dos carregamentos.
O modelo escolhido possui altura de 1,50m e 2,70m de vão livre entre os apoios. Estes apoios
simularão um pilar que possua largura igual a 30cm. Sendo assim, o vão efetivo será de 3,00m,
atingindo a relação l/h estabelecida como proposta. A largura da viga é de 20cm, o cobrimento das
armaduras é igual a 3cm e o concreto utilizado possui resistência característica de 20MPa. O
carregamento será apenas superior, com valor de 25KN/m, não sendo necessário o cálculo de
armadura de suspensão.
Após a simulação dos modelos, observou-se que os resultados da armadura de tração foram os
mesmos, confirmando a hipótese inicial. A armadura vertical apresentou diferença significativa,
mas tal ocorrência pode ser explicada pelo fato do modelo utilizado pelo software comercial realizar
o dimensionamento para a força cortante, o que não ocorre no modelo de bielas e tirantes. A Figura
13 e Figura 14 representam, respectivamente, os resultados do software comercial e do VP Strut.

Figura 13 – Resultados do Software Comercial

Figura 14 – Resultados do Aplicativo VP Strut


A armadura de pele apresentou pequena divergência, pois no aplicativo VP Strut, a armadura de
pele é disposta numa faixa igual a 0,85h, que representa um valor inferior ao que há disponível para
a disposição da pele no software comercial. A armadura negativa que surge no modelo do software
comercial não é contemplada no aplicativo. A ocorrência dessa armadura pode ser explicada pelas
grandes perturbações no campo de tensões da viga esbelta, com a altura elevada, indicando que o
modelo já não é o ideal para o dimensionamento.
No geral, sabendo-se das ressalvas e limitações de ambos os modelos, os resultados foram
satisfatórios, indicando apenas algumas correções relacionadas ao detalhamento das armaduras, de
modo a fornecer valores mais consistentes para o usuário.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O modelo de bielas e tirantes mostrou-se eficiente no cálculo dos esforços principais atuantes em
vigas-parede. As divergências encontradas entre os resultados do Software comercial e o do VP
Strut são esperadas não apenas pelo rigor técnico ao se comparar os modelos de cálculos, como
também pela função que devem cumprir. Enquanto o comercial, obtido a custo considerável, deve
produzir um resultado exequível, confiável o VP Strut é uma ferramenta que ainda não deve ser
utilizada como única referência para dimensionamento estrutural, sendo um auxiliar na tomada de
decisões do engenheiro ou no aperfeiçoamento acadêmico.
Os autores idealizam o aprimoramento do aplicativo, implementando novos casos de carregamento,
geometria, condições de apoio e o desenvolvimento de um painel gráfico mostrando o detalhamento
real, tal como ocorre nos softwares usuais de concreto armado. Entretanto, consideram que esta
primeira versão é um importante passo para a difusão do conhecimento em engenharia estrutural e
modelagem computacional.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos à UFJF pelo apoio à pesquisa.

REFERÊNCIAS
[1] SOUZA, R. A. Concreto estrutural: Análise e dimensionamento de elementos com descontinuidades. 2004. Tese
(Doutorado). Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações. São Paulo: Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo, 2004.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118 (2014). Projeto de estruturas de concreto
– Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14931 (2004). Execução de estruturas de con-
creto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2004.
[4] WIGHT, J. K.; MACGREGOR, J. G. Reinforced concrete mechanics and desing. 6. ed. Editora Pearson, 2012.
[5] SILVA, R.C.; GIONGO, J.S. Modelos de bielas e tirantes aplicados a estruturas de concreto armado. São
Carlos: EESC-USP, 2000.
[6] ARAÚJO, J. M. Curso de concreto armado. 4. ed. Rio Grande: Dunas, 2014. v. 4.
[7] SCHLAICH, J.; SCHÄFER, K. Design and detailing of structural concrete using strut-and-tie models. London:
The Structural Engineer, v. 69, n. 06, p. 113-125, Mar. 1991.
[8] THOMAZ, E. C. S. Viga Parede. 2003. Notas de aula – Parte 1. Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia,
2003.
LIGAÇÕES TUBULARES SUJEITAS À
PLASTIFICAÇÃO DA FACE LATERAL DO BANZO

Tubular joints with chord side wall failure

João Batista Silva Neto1, Daniel José Rocha Pereira2, Arlene Maria Cunha Sarmanho3,
Messias Júnio Lopes Guerra4, Luiza Gabriela Vasconcelos Alves5

1
Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil, joaobatista011@gmail.com
2
Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil, daniel.pereira@ufop.edu.br
3
Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil, arlene.sarmanho@gmail.com
4
Instituto Federal de Minas Gerais, Campus Santa Luzia, Minas Gerais, Brasil, junioguerra@hotmail.com
5
Universidade Federal de Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil, lluizavasconcellos@gmail.com

Resumo: As estruturas tubulares possuem características que permitem sua utilização em diversos
sistemas estruturais na construção civil. Ligações entre esses perfis exigem atenção, por poder
apresentar um ponto de vulnerabilidade em uma estrutura. Portanto, o estudo aprofundado do
comportamento estrutural de ligações é primordial para o desenvolvimento de prescrições
normativas e execução de projetos. Atualmente, as prescrições internacionais e nacionais preveem a
utilização de ligações entre banzos e montantes compostos por seções transversais circulares,
retangulares ou quadradas, com limitações de geometria impostas a partir da relação entre
dimensões do banzo e do montante. Neste trabalho, ligações soldadas do tipo “T”, compostas por
perfis compactos e esbeltos, sujeitas à ocorrência da plastificação da face lateral do banzo devido à
alta relação entre diâmetro do montante e largura do banzo, tiveram seus valores de capacidade
resistente de cálculo analisados e comparados. Estes valores foram obtidos por meio de modelos
numéricos desenvolvidos em um software de elementos finitos, com a formulação normativa
brasileira presente na NBR 16239 (2013). Trabalhos desenvolvidos anteriormente já demonstravam
a necessidade de uma formulação normativa mais adequada para os perfis fora das condições de
validade da norma, como os considerados esbeltos, ou seja, de paredes finas. Observou-se que as
resistências numéricas e teóricas apresentaram boas correlações. Porém, para os perfis mais
esbeltos, as atuais equações normativas não se mostraram adequadas, o que era esperado dado que
as condições de validade não foram atendidas.
Palavras-chave: Estruturas metálicas, ligações tubulares, seções esbeltas.

Abstract: Hollow steel structures have properties that allow its use in a wide range of
constructions. Connections between these members demand attention, since it can become a
vulnerability spot on a structure. Therefore, the intensified study of the structural behavior of
connections is capital to the development of normative prescriptions and the correct execution of
projects. Nowadays, international and national prescriptions predict the use of joints between
circular, rectangular or square hollow section chords and braces, provided that a range of validity,
considering the geometric relations between dimensions of chords and braces, is obeyed. In this
work, welded T-joints formed by compact and thin-walled sections, subjected to chord side wall
failure due to its high brace-to-chord ratio, were analyzed. The joints resistances were obtained and
compared. The values were obtained through numerical models, developed in a commercially
available software that uses the finite elements method, and through the Brazilian design
prescriptions of NBR 16239 (2013). Previous studies had shown the necessity of adaptations to the
design prescriptions in order to consider sections that are not recommended in current the range of
validities, such as the thin-walled sections. It was observed that the numerical and theoretical joint
resistances results showed a good correlation, even though that, for thin-walled sections, the results
obtained through design prescriptions showed higher dispersion, what was expected, since the
geometric properties of these models are not in accordance with the range of validity recommended.
Keywords: Hollow steel sections, tubular joints, thin-walled sections.

1 INTRODUÇÃO

1.1 Considerações iniciais


As diversas aplicabilidades do aço e seu grande uso o tornaram economicamente e tecnicamente
viável na indústria da construção civil. Suas vantagens, tanto arquitetônicas como estruturais, são
diversas [1].
Um tipo de estrutura metálica cujo uso vem crescendo na construção civil é a composta de perfis
tubulares. Essas estruturas apresentam bom desempenho estrutural quando são solicitados por
cargas axiais, já que a forma geométrica da seção faz com que se tenha uma concentração de
material em pontos mais distantes do centro de massa da seção. Devido a tal característica, esses
perfis são amplamente usados em colunas, sistemas treliçados de coberturas, pontes e passarelas [2].
Na Fig. 1 tem-se um exemplo de aplicação em coberturas do sistema estrutural treliçado composto
por tubos.
Na construção civil atual as seções de perfis tubulares mais comumente utilizadas são as seções
retangulares, e circulares. No Brasil, essas peças metálicas podem ser produzidas a partir de dois
processos: o de conformação a frio com costura, utilizando solda para união entre os elementos da
seção, e o de laminação a quente, que é produzido a partir de um bloco maciço perfurado e
laminado, do qual diversas peças são obtidas sem a necessidade de haver uma solda [3].
As ligações entre perfis tubulares em sistemas treliçados são tidas como pontos de atenção e
vulnerabilidade em um projeto de estrutura metálica. O estudo, análise e conhecimento aprofundado
de seu comportamento estrutural são primordiais para o desenvolvimento de projetos, que hoje são
cada vez mais complexos [4].
Além disso, o estudo de perfis com maior esbeltez é interessante para o desenvolvimento de
estruturas com menor peso próprio e aplicadas a casos com menores níveis de carregamento. Nas
atuais prescrições normativas, as formulações de seções compactas foram obtidas através de
equações teóricas e algumas por meio de formulações semi-empíricas. Todavia, essas adaptações
podem não representar de forma correta o comportamento das ligações de forma geral,
principalmente para perfis mais esbeltos, onde as formulações das equações foram desenvolvidas a
partir de adaptações das formulações das seções compactas.
Fig. 1: Sistemas de treliças na cobertura do Estádio Governador Magalhães Pinto (Mineirão).
Devido a isso, há a necessidade de estudos das relações e limites geométricos baseados em
resultados experimentais, bem como a calibração de modelos numéricos que avaliem a real
influência desses parâmetros no comportamento das ligações para possibilitar o desenvolvimento de
estudos paramétricos.
Portanto, neste trabalho serão analisados os perfis compostos por paredes esbeltas e compactas,
utilizando banzos de seção transversal retangular e montantes de seção circular.

1.2 Estado da arte


Atualmente diversas pesquisas podem ser encontradas na área que envolve o estudo de ligações
tubulares; contudo, à medida em que se delimitam aspectos como a geometria, o tipo, a esbeltez e
modo de falha das ligações, esses estudos se tornam cada vez mais escassos.
Korol e Mirza [5] analisaram ligações tubulares soldadas do tipo “T” utilizando o método dos
elementos finitos. Observou-se a partir deste estudo que o aumento da resistência da ligação está
associado aos coeficientes β, razão entre a largura do montante da ligação e a largura do banzo, e γ,
razão entre a largura do banzo e duas vezes sua espessura.
Zhao e Hancock [6] realizaram ensaios experimentais de seções tubulares submetidas a apenas
momento fletor, força de compressão concentrada e à combinação de ambos os esforços. A
ocorrência de três modos de falha nas ligações foi observada, sendo eles a plastificação da face
superior do banzo ou da face lateral do banzo e a flambagem local do montante.
Lu et al. [7] realizaram um estudo numérico e experimental para diversos tipos de ligações de uma
treliça com banzos compostos tanto por perfis retangulares como circulares. Nesse estudo, foi
redefinido a formulação para o critério da deformação limite para ligações que utilizam perfis
tubulares em que o modo de falha dominante é a plastificação da face do banzo.
Um estudo realizado por Zhao et al. [8] sobre os limites de deformação e resistência de ligações “T”
soldadas com seções retangulares conformadas a frio mostrou que, para o modo de falha de
flambagem da parede lateral do banzo, o limite de deformação da resistência da ligação proposto
por Lu et al.[7] era adequado e aplicava-se à perfis com relação entre largura ou diâmetro do
montante e largura do banzo situado entre 0,80 e 1,00. Isso se deve ao fato de que as ligações
apresentaram falha predominante na face lateral do banzo, apresentando uma carga de pico antes
dos limites propostos anteriormente.
Vegte, Wardenier e Puthli [9] realizaram um estudo sobre características de modelagem e tipos de
análise em software de elementos finitos para ligações soldadas e parafusadas entre perfis tubulares.
Concluíram que para ligações que apresentem falha por plastificação, o método dos elementos
finitos é capaz de prever satisfatoriamente o comportamento da curva Carga-Deslocamento,
enquanto que, para casos onde há fratura, uma aproximação no valor máximo de deformação por
tração pode ser utilizada.
Nunes [2] realizou um estudo teórico, numérico e paramétrico sobre ligação tipo “T”, “K” e “KT”
com afastamento utilizando banzo em perfil tubular retangular e montante em perfil tubular circular.
Neste trabalho, modelos com variações geométricas e de esbeltez foram analisados e comparados de
acordo com os limites do guia de dimensionamento publicado pelo CIDECT [10] e da NBR 16239
[11].
Guerra [3] analisou ligações tubulares soldadas do tipo “T” compostas por perfis de paredes
esbeltas, submetidas a compressão no montante, realizando ensaios experimentais e análises
numéricas com modelos em que as condições de validade normativas eram extrapoladas. Observou
que as ligações apresentaram maior resistência nos resultados experimentais do que nas prescrições
normativas.
Gomes [12] realizou um estudo numérico e experimental de ligações soldadas tubulares do tipo “T”
com seções retangulares para o banzo e o montante, com mesma largura para ambos. Foi feita uma
análise com e sem a presença de reforços de chapas laterais, com a proposição da forma a se adotar
o uso dessas chapas no dimensionamento.
No Brasil, a ABNT NBR 16239: Projeto de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e
concreto de edificações com perfis tubulares [11] é a norma que dispõe os critérios para o
dimensionamento de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto com perfis tubulares.
É uma norma que surgiu com base no EN 1993-1-8 [13] e de forma complementar à NBR 8800
[14], com adições de procedimentos específicos de maior precisão para dimensionamento de
estruturas tubulares.

1.3 Objetivo
Neste trabalho, são utilizados dois tipos de análise: uma avaliação teórica por meio de
dimensionamento e uma análise numérica, com objetivo de avaliar a resistência de ligações
tubulares soldadas do tipo “T” compostas por perfis compactos e esbeltos, sujeitas à ocorrência da
plastificação da face lateral do banzo devido à alta relação entre diâmetro do montante e largura do
banzo. As ligações possuem seção retangular no banzo e circular no montante. Os resultados das
avaliações numéricas, realizadas no software comercial ANSYS [15], são utilizados na verificação
da capacidade resistente das ligações. Posteriormente, esses resultados são comparados com os
resultados obtidos a partir da norma brasileira vigente de tubos de aço, a NBR 16239 [11].
2 METODOLOGIA
2.1 Tipologia e Geometria das ligações
Existem diversas tipologias de ligações entre perfis tubulares que dependerão basicamente do
modelo da treliça estudada. Sua classificação geralmente é baseada na forma da ligação e o tipo de
carregamento.
Em relação à forma, as ligações podem ser classificadas de diversas maneiras, como por exemplo:
“T”, “X”, “Y”, “N”, “K” e “KT”. Na Fig. 2 é possível observar algumas das diferentes tipologias
possíveis.

(a) T (b) K (c) KT (d) N

Fig. 2: Tipos de ligações em perfis tubulares [11].


2.2 Modos de falha
Devido aos carregamentos aplicados nos elementos de uma ligação soldada, esta pode chegar a
apresentar diferentes modos de falha. Esses modos possuem características particulares que podem
variar de fenômenos de instabilidade à plastificação ou ruptura de elementos da ligação. Na Tabela
1, são descritas as características de determinados modos de acordo com a NBR 16239 [11].

Tabela 1: Modos de falha em ligações soldadas composta por banzo em perfis retangulares e montantes/diagonais por
perfis circulares ou retangulares [11].

Plastificação da face ou de toda a seção


Modo A transversal do banzo, junto às diagonais
ou montantes

Plastificação da face lateral da seção


Modo B transversal do banzo junto às diagonais
ou montantes sob compressão.
2.3 Nomenclatura e parâmetros geométricos
Será adotada para as dimensões e parâmetros dos elementos do perfil, a nomenclatura utilizada pela
NBR 16239 (2013), conforme esquematizado na Fig. 3. Vale ressaltar que o índice “0” faz
referência a propriedades e elementos do banzo e o índice “1” ao montante.

b0 - largura do tubo retangular do banzo.


h0 - altura do tubo retangular do banzo.
t0 - espessura da parede do tubo do banzo.
d1 - diâmetro do montante do tubo
t1 - espessura da parede do tubo do montante

Fig. 3: Nomenclatura das ligações compostas por perfis tubulares circulares e retangulares.

Dois parâmetros relacionados à geometria do perfil servirão de base para as análises apresentadas
adiante, os parâmetros  e 2 :

Relação entre diâmetro do montante e a largura do banzo:

d1
= (1)
b0

Relação entre a largura do banzo e sua espessura:

b0
2 = (2)
t0

2.4 Dimensionamento

2.4.1 Condições de validade das relações geométricas para ligações soldadas


As expressões para o cálculo da resistência da ligação nas normas apresentam condições de
validade que devem ser atendidas para todos os tipos de ligações entre perfis. Essas condições
geralmente estão associadas às relações geométricas e de material das peças.
Na Tabela 2 pode-se observar os limites previstos pela NBR 16239 para a ligação “T” soldada de
montante circular.
Tabela 2: Condições de validade geométricas para ligações tipo “T” [11].

Relação entre banzo e montante Montante (Compressão) Banzo

50 
b0  
 E
d1 d1 E t 0 0, 05 
0, 4   0,8  0, 05  fy 
b0 t1 fy
h
0,5  0  2, 0
b0

2.4.2 Verificação das ligações segundo sua classificação


De acordo com a NBR 16239 [11], nas ligações do tipo “T”, os seguintes modos de falha poderão
ocorrer, de acordo o valor encontrado para o parâmetro β:
• Modo de falha A: para ligações em que o parâmetro  ≤ 0,85.
• Modo de falha B: para ligações em que o parâmetro  = 1,0.

Vale destacar que a ligação “T” é um tipo especial da ligação tipo “Y” em que o montante apresenta
um ângulo de 90° em relação à face superior do banzo. A força axial resistente de cálculo para o
Modo B pode ser determinada a partir da equação:

f y t 0 ( 2, 2h1 + 11t 0 )
N1,Rd = (3)
 a1

Para diagonais e montantes de perfil circular, multiplica-se as forças axiais resistentes acima por
(  4 ). Ressalta-se que o valor do coeficiente de ponderação de resistência (γa1), utilizado pela
norma brasileira é de 1,10, e que, neste trabalho, não foram realizadas análises envolvendo
carregamento no banzo.

2.5 Análise Numérica


Foram desenvolvidos modelos computacionais que representassem da forma mais precisa possível o
comportamento de uma peça real. Nesses modelos foram feitas simulações de atuação de
deslocamentos para análise do comportamento estrutural e posterior classificação do tipo da
ligação. A criação desse modelo se deu por meio do software ANSYS [15], que faz a modelagem
em elementos finitos.

2.5.1 Geometria dos modelos


O comprimento do banzo adotado foi de 1000mm, enquanto o montante, por sua vez, apresenta
comprimento de 500mm, diâmetro de 120mm e espessura de 5,0mm. A elaboração do modelo
numérico é realizada e calculada a partir da linha média da seção, devido às características do
elemento de casca escolhido. Para a dimensão da perna da solda, foi considerado uma perna de duas
vezes e meia a espessura da parede do montante.
2.5.2 Escolha do elemento finito
A partir de uma biblioteca de elementos que simulam o comportamento dos materiais componentes
dos modelos, sua escolha é de relevante importância para o desenvolvimento da análise numérica.
Para este projeto, devido à geometria, tipo de análise e condições de contorno adotadas, optou-se
pela escolha do elemento de casca Shell181. Este elemento considera esforços de flexão, cortante,
efeito de membrana e possui quatro nós, cada um com seis graus de liberdade. Além disso,
trabalhos realizados anteriormente [2], [16], [17] concluíram que este elemento apresenta resultados
satisfatórios com relação à convergência dos modelos numéricos.
2.5.3 Definição dos materiais envolvidos
Na elaboração do modelo numérico foram adotados os seguintes valores de propriedades para os
materiais da solda, banzo e montante:
• Módulo de elasticidade do aço do banzo e montante, E = 200 GPa;
• Módulo de elasticidade do aço da solda, E = 405 GPa;
• Coeficiente de Poisson, ν = 0,3;
• Tensão de escoamento do perfil do banzo: fy0= 304MPa;
• Tensão de escoamento do perfil do montante: fy1= 250MPa;
• Tensão de ruptura do aço da solda: fw = 600MPa.

Destaca-se que foi utilizado um diagrama bilinear para representação do comportamento estrutural
do modelo computacional, considerando o módulo de elasticidade e um módulo tangente no regime
plástico.
2.5.4 Aplicação das condições de contorno
A condição de apoio adotada para os perfis foi a bi-engastada. Assim, nas duas extremidades do
banzo, realizou-se o acoplamento de todos os nós, restringindo todos os graus de liberdade de tal
forma represente um engaste. Trabalhos semelhantes anteriores, como o de Nunes [2], que realizou
estudo de ligações “T”, porém com foco no modo de falha A, demonstraram que a condição de
apoio adotada não interfere de forma significativa nos resultados da resistência da ligação.
2.5.5 Geração da Malha
A malha foi gerada de forma que o seu arranjo e dimensões possibilitassem o refinamento nas
regiões de concentração de tensões, ou seja, na região de união entre o montante e o banzo das
ligações. Na Fig. 4, pode-se observar o refinamento na região da ligação.

(a) Vista Superior (b) Vista lateral


Fig. 4: Detalhe da malha na região da ligação.
2.5.6 Aplicação de carregamento
Nos modelos numéricos desenvolvidos, a aplicação de carregamento no montante deu-se por meio
da imposição de descolamentos. De forma semelhante à técnica utilizada para definição das
condições de contorno, efetuou-se um acoplamento dos nós na seção superior do montante. Isso
garantiu que todos os pontos recebessem o mesmo deslocamento, simulando, dessa forma, a
uniformidade da aplicação do carregamento.
2.5.7 Deformação Limite
Nas análises numéricas, a resistência de uma ligação pode ser determinada pelo método da
deformação limite. Trata-se de um método bastante utilizado e consolidado entre pesquisadores, que
considera em suas análises deformações limites para o estado limite de serviço e para o estado
limite último. Segundo Lu et al. [7], considera-se nesse método uma deformação em alguma face do
banzo, proveniente do Modo de falha A ou B, e a deformação Δ, representada na Fig. 5.

(b) Gráfico de carga aplicada versus deformação Δ, pelo


(a) Deformação limite
qual se obtém a deformação limite
Fig. 5: Deformação limite
De forma complementar, estudos realizados por Zhao [18] mostraram que, para o Modo de Falha B
em ligações “T” soldadas com seções retangulares conformadas a frio, os limites de deformação e
resistência proposto por Lu et al. [7] eram adequados e aplicava-se à perfis com β entre 0,80 e 1,00.
Isto deve-se ao fato de que as ligações apresentaram falha predominante na face lateral do banzo,
apresentando uma carga de pico antes dos limites propostos anteriormente.
Para as ligações que possuem a carga máxima bem definida, a obtenção da carga resistente (Nu)
será dada pelo primeiro valor encontrado no gráfico: pico de carga ou deformação Δ de 3% da face
do banzo lateral [19].
2.5.8 Análise paramétrica
Foi realizada uma análise sobre nove modelos numéricos para que se obtivesse um melhor
entendimento da influência do parâmetro γ sobre comportamento da ligação. Dessa forma, variou-se
a espessura do banzo de 2,65mm à 6,00mm, percorrendo valores comerciais. Para valores acima do
demonstrado, a falha do montante, que possui espessura de 5,00mm, antecedeu à falha da ligação.
Tal fato descaracterizaria o escopo deste trabalho.
Na Tabela 3, são apresentadas as especificações geométricas dos modelos numéricos estudados.
Convém relembrar que não houve variações nas espessuras do montante e nem nas seções, largura e
altura, do banzo.
Tabela 3: Especificações geométricas dos modelos analisados

Modelo b0(mm) h0(mm) t0(mm) d1(mm) t1(mm) β (d1/b0) 2γ (b0/t0)


1 2,65 45*
2 3,00 40*
3 3,35 36*
4 3,75 32
5 120 120 4,00 120 5,00 1,00 30
6 4,25 28
7 4,75 25
8 5,00 24
9 6,00 20
*Não atende as condições de validade

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para se estudar a adequação da norma aos modelos numéricos propostos, realizou-se uma
verificação das condições de validade da NBR 16239 [11] para a ligação do tipo “T”. Na Tabela 3,
são expostos os parâmetros geométricos de cada modelo, e é descrito se atendem ou não às
condições de validade mostrados na Tabela 2.
A análise não-linear dos modelos numéricos realizados pelo software ANSYS [15] é feita pelo
método Newton-Raphson, o qual trabalha com interações de forma a encontrar soluções com boas
precisões e convergência. Devido a isso, a aplicação de deslocamento é realizada por meio de
incremento a cada intervalo (substep). Para se ter uma comparação qualitativa do efeito da carga
aplicada em cada modelo, tem-se representado na Fig. 7 a deformação da parede lateral sofrida por
eles, com seus correspondentes substeps, quando submetidos à um mesmo deslocamento vertical.
Na Fig. 7 é possível observar a diminuição da plastificação da parede lateral do banzo à medida que
se tem o aumento da espessura do banzo. Observa-se ainda que, quando a espessura do montante
ficou menor que a do banzo, tem-se a ocorrência da sua plastificação e falha, ou seja, o Modo de
falha F torna-se dominante. Isto é maior evidenciado na Fig. 6, obtida no último substep da análise.

Fig. 6: Plastificação e falha do montante.


Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3

Modelo 4 Modelo 5 Modelo 6

Modelo 7 Modelo 8 Modelo 9

Fig. 7: Deformação dos modelos numéricos quando submetidos à uma mesma imposição de deslocamento.
Além disso, é visível na Fig. 6 que o ponto de máxima deformação na parede lateral do banzo
ocorreu, em sua maioria, a um valor correspondente próximo à 5/8 da sua altura total, conforme
demonstrado na Fig. 8. Para os modelos 7 e 8, que possuem maiores espessuras, verificou-se que
esse deslocamento máximo ocorreu na metade da seção.

Fig. 8: Deformação máxima na parede lateral do banzo.


Tal fato pode ser relacionado com estudos de teoria de placas e cascas. Tomando-se as faces do
banzo como um conjunto de placas interligadas, em que suas rigidezes são interdependentes, esse
modelo pode ter sua análise simplificada considerando apoios elásticos em suas extremidades,
conforme Fig. 9 (a). Para os modelos mais esbeltos, tem-se uma plastificação logo na extremidade
superior da face lateral do banzo, gerando nessa região, portanto, um local com maior capacidade de
rotação e deformação do que na sua extremidade inferior. Esse conjunto se assemelharia a um
sistema de apoio-engaste, gerando uma deformação maior na região acima do centro dessa face
(Fig. 9 (b)). Quando a esbeltez dos modelos é diminuída, ou seja, as espessuras são maiores, as
extremidades das faces do banzo passam a ter mais capacidade de resistir às deformações e rotações
importas pela solicitação e acabam por, de certa maneira, simular um sistema bi-engastado na face
lateral, resultado em um deslocamento máximo em seu centro (Fig. 9 (c)).

(a) Simulação de deformação e


(b) Sistema apoio-engaste (c) Sistema bi-engastado
apoio nas faces do banzo

Fig. 9: Simulação de sistemas de flambagem da parede lateral do banzo [20].

Em relação à distribuição de tensões é possível observar a partir da Fig. 10 que há uma maior
concentração, como esperado, na região da ligação. Essa tensão é ao longo do carregamento,
distribuída para as faces laterais do banzo.
Fig. 10: Distribuição de tensões von Mises ao longo do perfil.

Na Fig. 11, pode-se observar como se deu a variação do deslocamento da face lateral do banzo, em
seu ponto máximo, de acordo com a carga imposta. A partir dele, é possível obter uma estimativa da
resistência das ligações através do método dos estados limites, considerando a deformação de 3%
da face lateral do banzo. Além disso é possível observar que o modelo 9 (6,00mm) apresentou um
comportamento totalmente diferenciado, já que seu modo de falha está relacionado com a
plastificação do montante, ou seja, Modo F.

Fig. 11: Gráfico de carga por deslocamento no ponto de máxima deformação da face lateral do banzo.
Na Tabela 4 é apresentado uma comparação entre os valores de resistência de cálculo obtidos no
modelo numérico (Nnum) e a partir das formulações normativas da NBR 16239 [11] (N1,Rd). O
modelo 9 tem sua força resistente suprimida por não ter apresentado o modo de falha B como
dominante.
Tabela 4: Resistências teóricas e numéricas

Modelos 2γ (kN) (kN)

1 45,3 167,1 161,6 1,03


2 40,0 191,4 188,2 1,02
3 35,8 216,3 217,4 0,99
4 32,0 245,4 251,0 0,98
5 30,0 263,9 272,8 0,97
6 28,2 282,7 295,4 0,96
7 25,3 321,2 339,1 0,95
8 24,0 340,8 358,1 0,95
9 20,0 - - -

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após a análise dos resultados, notou-se que todos os modelos numéricos analisados, exceto o
modelo 9, apresentaram como modo de falha da ligação a plastificação da face lateral do banzo na
região da ligação, ou seja, o Modo B.
Observa-se também que, à medida que a relação entre a espessura do banzo e a do montante (t0/t1)
ou (h0/b0) se aproxima de 1 ou o ultrapassa, para o perfil de seção estudada, o modo de falha B
deixa de ser influente e a falha passa a ocorrer no montante. Tal fenômeno demonstra o ganho de
rigidez do banzo e a insuficiência do montante para transmitir a solicitação imposta.
Notou-se que para perfil de mesma seção, a resistência da ligação tem acréscimos com o aumento
da espessura do banzo. O parâmetro γ, portanto, tem relação proporcional à resistência, já que como
as tensões tendem a ser distribuídas para as paredes laterais do banzo, uma maior espessura deste,
fará com que se tenha maior capacidade e resistência para receber esta solicitação.
Além disso, observa-se que as resistências numéricas e teóricas apresentaram, em geral, boas
correlações, mesmo apresentando condições de validade fora das proposições da NBR 16239 [11].
Isso demonstra a possível expansão da abrangência da norma para outras faixas de esbeltez ainda
não contempladas nas suas formulações. Porém ressalta-se que, para os perfis mais esbeltos, a
equação normativa resultou em valores mais altos de capacidade resistente do que o modelo
numérico. Tal fato pode resultar em dimensionamentos contra a segurança estrutural das
edificações, mostrando a necessidade de maiores estudos nessa área dominante.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à CAPES, CNPq e FAPEMIG e UFOP pelo apoio e financiamento do
desenvolvimento da pesquisa.
REFERÊNCIAS
[1] A. H. M. de Araújo, A. M. C. Sarmanho, E. de M. Batista, J. A. V. Requena, R. H. Fakury, and R. J. Pimenta,
Projeto de estruturas de edificações com perfis tubulares de aço, 1st ed. Belo Horizonte: Ed. do Autor, 2016.
[2] G. V. Nunes, Estudo paramétrico de ligações tipo “T”, “K” e “KT” compostas por perfis tubulares de seção
retangular e circular. Dissertação de Mestrado. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto, 2012.
[3] M. J. L. Guerra, Estudo de ligações tipo “T” com perfis tubulares de seção composta de paredes esbeltas.
Dissertação de Mestrado. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto, 2017.
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ASPECTOS DA INFLUÊNCIA DE TRANSVERSINAS NO
COMPORTAMENTO DINÂMICO DE PONTES

Aspects of the influence of crossbeam in the dynamic behavior of bridges

Hugo Medeiros de Oliveira 1, Lucas Teotônio de Souza 2, Paula de Oliveira Ribeiro 3


1 Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, hugo.oliveira@coc.ufrj.br
2
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, lucas.souza@coc.ufrj.br
3
Universidade de São Paulo, São Carlos, Brasil, paula_ribeiro@usp.br

Resumo: Estudos mostram a importância dos elementos de transversinas em pontes e viadutos


construídos por vigas pré-moldadas, aumentando a rigidez do tabuleiro e contribuindo com a
distribuição de cargas móveis. Em contrapartida, em virtude da elevada dificuldade de serem
moldadas in loco, tanto em termos de consumo de material quanto de demanda de mais mão-de-obra,
muitos engenheiros têm optado por não empregar estes elementos em suas obras. Com isso, a
estrutura se torna mais deformável, devendo ser analisada mais criteriosamente. Em termos de
esforços, já são mostrados os efeitos destas opções de projeto sobre as lajes e longarinas da estrutura,
mas não a influência em seu comportamento dinâmico. Neste cenário, o presente trabalho consiste na
comparação de resultados obtidos para o comportamento dinâmico de pontes de concreto armado
com 10, 20 e 30 m de comprimento e quatro longarinas biapoiadas, considerando duas condições:
transversinas ligadas à laje e sem transversinas. Verifica-se as frequências naturais, além do
deslocamento máximo e Fator de Amplificação Dinâmica (FAD) em virtude da passagem do veículo
na superestrutura. Para este fim, são concebidos modelos em casca, grelha e unifilar das estruturas,
sendo utilizados o SAP2000 e um programa de simulação de tráfego.
Palavras-chave: pontes, transversinas, SAP2000.

Abstract: Studies show the importance of crossbeam elements in bridges and viaducts built by
precast beams, increasing the rigidity of the board and contributing to the distribution of mobile loads.
On the other hand, because of the high difficulty of being molded locally, both in terms of material
consumption and the demand for more labor, many engineers have chosen not to use these elements
in their works. With this, the structure becomes more deformable and should be analyzed more
carefully. In terms of efforts, the effects of these design options on the slabs and struts of the structure
are already shown, but not the influence on their dynamic behavior. In this scenario, the present work
consists of the comparison of the results obtained for the dynamic behavior of reinforced concrete
bridges with 10, 20 and 30 m length and four bi-supported longitudinal struts, considering two
conditions: transverse linked to the slab and without crossbeam. The natural frequencies, besides the
maximum displacement and Dynamic Amplification Factor (DAF), are verified by virtue of the
passage of the vehicle in the superstructure. To this end, bark, grid and single-line models of the
structures are designed, using SAP2000 and a traffic simulation program.

Keywords: bridge, crossbeam, SAP2000.


1. INTRODUÇÃO
As transversinas são elementos estruturais que compõem a superestrutura de pontes e viadutos.
Segundo Judice et al. [1], as transversinas têm a principal função de elevar a rigidez transversal do
tabuleiro e, desta forma, melhorar a distribuição das cargas móveis pelas vigas principais. No entanto,
nos últimos anos vem sendo prática usual a não utilização de vigas transversinas em pontes de
concreto armado. Sua utilização vem decrescendo por apresentar certa dificuldade de execução
principalmente quando se têm vigas longarinas pré-moldadas. O custo adicional do uso de
transversinas no travamento da estrutura de pontes de concreto armado deve ser levado em conta,
devido também ao aspecto executivo das mesmas.
O emprego de vigas transversinas em pontes são requeridas com a finalidade de ligar as longarinas.
As transversinas podem ser introduzidas nos apoios, sendo chamadas de transversinas de apoio (TA),
e ao longo do vão, sendo chamadas de transversinas intermediárias (TI).
As transversinas têm sido largamente usadas desde o início das construções de pontes em concreto
armado. A princípio, seu uso foi baseado em considerações e observações empíricas. Atualmente, a
quantidade e o posicionamento das TI’s é um assunto que vem recebendo atenção especial de
engenheiros e pesquisadores em todo o mundo [2].
1.1. Estado da arte

Araújo et al. [2] realizou uma avaliação comparativa entre os valores de momentos fletores a serem
utilizados em projetos de pontes rodoviárias com longarinas protendidas pré-moldadas obtidos com
e sem o uso de transversina intermediária. O objetivo principal foi verificar a influência desses
elementos nos valores dos momentos nas longarinas. Utilizando modelo de grelha na modelagem, a
presença da transversina intermediária reduziu os esforços tanto na longarina extrema quanto na
longarina central. O mesmo não ocorreu com o modelo sólido, no qual se observou que a redução do
momento na viga externa foi acompanhada por aumento desse esforço na viga central.
Judice et al. [1] avaliou a distribuição de cargas em pontes e viadutos com e sem transversinas
internas. Foram analisados modelos em elementos finitos, baseados em tabuleiros reais com seção
transversal em vigas múltiplas e os resultados obtidos foram comparados com os propostos na
literatura técnica. Concluiu-se que as situações com e sem transversina, em termos de carga na
longarina, a existência da transversina teve pouca influência.
Em 2010, Judice et al. [3] em continuação ao estudou anterior desenvolveu modelos computacionais
com a representação de lajes, longarinas e transversinas com elementos finitos do tipo casca. Os
resultados foram comparados com aqueles obtidos por modelos de menor complexidade e com
valores propostos na literatura técnica. Os Modelos 3D e Casca foram os que melhor representaram
o comportamento da estrutura, pois capturam o funcionamento conjunto de todas as partes da mesma.
O modelo 3D, entretanto, foi considerado pelos autores o mais complexo em termos da interpretação
de resultados.
Fulgêncio, de Paula e Azevedo [4] realizaram um estudo comparativo para distribuição de
solicitações e valores de deformações em uma ponte rodoviária de concreto armado com e sem o
emprego de vigas transversinas no travamento da estrutura. Foi observado que o uso de vigas
transversinas proporcionou menores valores de deformações na ponte em estudo. Por meio da análise
estrutural realizada com o auxílio do programa SAP 2000, percebeu-se que com o aumento do número
de transversinas na ponte, maior foi o acréscimo de rigidez na estrutura gerando assim uma menor
deformação da mesma. Observou-se também uma maior distribuição das solicitações com a presença
das transversinas, tanto da carga permanente quanto da carga variável.
Cavalcante e Barboza [5] realizaram um estudo numérico no programa SAP 2000 para pontes de
vigas pré-moldadas e moldadas in loco para diferentes quantidades de transversinas, além de variar
as ligações do tabuleiro com os pilares intermediários como flexíveis e monolíticas. Concluiu-se que
o uso de transversinas intermediárias aumentou os deslocamentos verticais no tabuleiro, mas reduziu
os deslocamentos relativos entre longarinas a partir da redistribuição de esforços, enquanto os
esforços de tração nas longarinas foram reduzidos, nos pilares não houve variações nos
deslocamentos, mas ocorreu redução dos esforços devido à ação do vento.
1.2. Objetivos
Fundamentado no cenário supracitado, o presente trabalho apresenta a comparação de resultados
obtidos para o comportamento dinâmico de pontes de concreto armado com quatro longarinas
biapoiadas considerando duas condições: transversinas ligadas à laje e sem transversinas. Verifica-se
as alterações em termos de frequências naturais, além do deslocamento máximo e Fator de
Amplificação Dinâmica (FAD) em virtude da passagem do veículo na superestrutura. Para cumprir
com os objetivos, são concebidos três tipos de modelos: em elementos de casca, de onde obtém-se as
características dinâmicas, modelo de grelha ajustado, do qual são obtidos frequências e modos de
vibração para a criação do último, o unifilar, utilizado na determinação dos deslocamentos dinâmicos
máximos. As análises são realizadas com auxílio do programa comercial SAP 2000, fundamentado
no Método dos Elementos Finitos, e da ferramenta IVPE, desenvolvida na COPPE [6], que simula a
interação veículo-pavimento-estrutura.

2. MODELAGEM DAS ESTRUTURAS


2.1. Descrição dos modelos

A estrutura base consiste em uma ponte rodoviária constituída por quatro longarinas pré-fabricadas,
biapoiadas e igualmente distribuídas. São estudados três modelos com largura do tabuleiro constante
igual a 12,0 m e vãos de 10, 20 e 30 m, denominados, respectivamente, LB-10, LB-20 e LB-30. Foram
adotadas duas transversinas de extremidade e uma transversina intermediária em todos os casos
analisados. Na seção transversal das pontes admite-se duas proteções do tipo barreira NEW JERSEY
em cada extremidade com 0,40 m cada, totalizando 11,20 m de largura possível para tráfego de
veículos.

Os elementos da estrutura são fabricados em concreto com resistência característica fck = 40 MPa.
Pela NBR6118 (2014), o módulo de elasticidade longitudinal é Ecs = 32 GPa e o coeficiente de
Poisson, 𝜈 = 0,2. Na análise dinâmica, a taxa de amortecimento (𝜉) para todos os primeiros modos
de vibração das estruturas foi considerada igual a 2,5%, tomando como base o trabalho de Araújo [8].
Ressalta-se a exceção para as simulações considerando veículos trafegando a 1,0 km/h, ver seção 2.4,
nas quais considerou-se 𝜉 = 25%, a fim de diminuir o efeito dinâmico e obter uma resposta estática.
A Fig. 1 apresenta a seção genérica do caso em estudo e a Tabela 1 as dimensões dos modelos, ambos
com unidade em centímetros.
Fig. 1 – Corte transversal genérico das pontes

Tabela 1 – Dimensões dos modelos analisados


Longarina (cm) Transversina (cm)
Estrutura
h bs bi ba hs hi ht bt
LB-10 120 35 30 15 12 15 100 25
LB-20 140 45 40 15 15 18 120 30
LB-30 160 50 45 15 15 20 140 40

2.2. Descrição do modelo de casca

A primeira etapa da modelagem das pontes consiste na elaboração de modelos em elementos de casca
para a análise estática e de vibrações livres, os quais são utilizados no ajuste dos modelos de grelha.
Este é o modelo mais completo empregado para fins deste estudo, onde os componentes estruturais
são representados em sua linha média. A conexão entre o topo das vigas longarinas e transversinas
com a laje do tabuleiro é viabilizada por meio do uso de elementos de ligação, que possuem elevada
rigidez e massa nula.

Os componentes da estrutura foram discretizados para se obter elementos retangulares com todas as
dimensões não excedendo 0,30 m. Além disso, optou-se por uma malha “mais quadrada” possível,
de sorte a evitar a distorção dos elementos durante a análise. Para as condições de contorno, foram
impedidas as translações das três direções nos pontos onde existem apoios. A Fig. 2 mostra o modelo
de casca para estrutura LB-20, com transversinas.
Fig. 2 – Modelo de casca 3D da ponte LB-20
2.3. Descrição do modelo de grelha

A partir do modelo em elementos de casca descrito na seção 2.2, ajusta-se um modelo de grelha por
meio da comparação direta das formas modais de flexão e torção da estrutura, bem como suas
frequências naturais e deslocamentos devido a cargas estáticas sendo ainda comparadas as massas
globais dos dois modelos. O modelo ajustado de grelha é utilizado para a obtenção dos autovalores e
autovetores da estrutura que serão utilizados para a criação do modelo unifilar. O modelo de grelha é
constituído de elementos de barras tridimensionais cada uma com doze graus de liberdade sendo seis
de translação e seis de rotação para representar os componentes da ponte. Esses elementos são mais
fáceis de serem implementados e processados matematicamente do que os modelos com elementos
em casca. No entanto, muitas das características da estrutura não podem ser representadas
perfeitamente nesse tipo de modelo devido à característica unidimensional de seus elementos. As
representações da rigidez da laje em seu próprio plano e da posição excêntrica do apoio em relação
ao eixo das longarinas são feitas por elementos de rigidez [7]. A Figura 3 mostra o modelo de grelha
para estrutura LB-20, com transversinas.

Fig. 3 – Modelo de grelha 3D da ponte LB-20


2.4. Descrição do modelo unifilar e programa de interação veículo-pavimento-estrutura

O modelo unifilar é uma modelagem simplificada, onde a estrutura da ponte é representada com
elementos de barra alinhados ao eixo longitudinal da obra, construído a partir das formas modais de
vibração, de flexão vertical e torção, de um modelo de grelha tridimensional da estrutura [8]. O
modelo de grelha é ajustado a um modelo de casca em termos de rigidez e características dinâmicas
[7]. Esta sequência foi utilizada na análise de todas as estruturas neste trabalho, portanto para cada
estrutura foram feitos três modelos matemático-numéricos distintos.

As principais vantagens do modelo unifilar estão relacionadas à eficiência no tempo de


processamento e a facilidade da obtenção dos esforços seccionais nas longarinas a partir do histórico
de amplitudes modais aplicados ao modelo de grelha (modelo intermediário) [8]. Por esses motivos,
é interessante estabelecer as condições para as quais a solução obtida com modelo unifilar seja
representativa da modelagem mais completa, que seria o modelo de casca.

Já a modelagem do veículo é feita por um sistema plano de massas e molas associadas com vários
graus de liberdade [8]. Rossigali [9] mostra que o veículo com maior frequência de passagem nas
rodovias brasileiras é o caminhão de três eixos (3C) classificado como: monolítico com conexão tipo
reboque, eixo dianteiro isolado com dois pneumáticos e eixos traseiros em tandem duplo. Sendo
assim, esse será o veículo considerado neste trabalho.

Para o método unifilar, o veículo de três eixos é representado por um modelo mecânico plano
composto por uma massa suspensa, que representa o corpo do veículo e a carga nele transportada,
apoiada em três massas não suspensas, que compreendem os conjuntos eixo-roda-pneu, Fig. 4. A
ligação entre essas massas é feita por meio das suspensões formadas pelo conjunto mola-amortecedor
e por fim as massas não suspensas se apoiam no pavimento da estrutura através do conjunto mola-
amortecedor equivalentes aos pneus. O modelo matemático é composto pelos seguintes graus de
liberdade: deslocamento vertical e rotacional da massa suspensa como corpo rígido e deslocamentos
verticais das três massas não suspensas, resultando em cinco graus de liberdade (5 GL).

Fig. 4 – Modelo mecânico plano para veículo de três eixos [10]


A interação dinâmica entre o veículo e a estrutura da ponte é caracterizada pela excitação realizada
pelo veículo, que atua como um sistema mecânico, quando trafega pela mesma sob determinada
velocidade. Tal excitação é resultante do efeito inercial da massa suspensa do veículo, o movimento
vertical é induzido pela irregularidade geométrica do pavimento e pelo próprio movimento da
estrutura. O sistema mecânico-estrutural de um eixo do veículo 3C acoplado à estrutura flexível cuja
superfície de contato é dada pelo perfil rugoso do pavimento apresenta em cada ponto de contato do
veículo com a estrutura forças de interação de componentes elástica e de amortecimento, que são
funções do movimento da massa do eixo considerado em relação ao movimento da estrutura. A Fig.
5 apresenta um aspecto genérico de perfil de rugosidade longitudinal e o processo de suavização.

Fig. 5 – Perfil de rugosidade longitudinal e processo de suavização [6]

Os modos de flexão e torção do modelo unifilar foram obtidos de maneira análoga à apresentada em
Araújo [8]. O modelo unifilar com seus autovetores, por sua vez, é excitado com um veículo
trafegando em condições pré-determinadas, com as características da estrutura, do pavimento e do
veículo. Essa mesma sequência de modelagem foi utilizada por Melo [6], Mota [7] e Araújo [8].

A análise dinâmica da interação veículo-pavimento-estrutura será feita a partir do programa IVPE v5,
que utiliza um modelo simplificado unifilar com elementos de barra alinhados, construído a partir de
formas modais de vibração de flexão vertical e torção, de um modelo de grelha tridimensional
calibrado da estrutura. O programa que será utilizado neste trabalho encontra-se validado
experimentalmente para veículo do tipo 3C, Mota [7].
2.5. Modelo analítico-numérico unifilar da iteração veículo-pavimento-estrutura
Conforme descrito na seção 2.4, a análise da interação veículo-pavimento-estrutura realizada pelo
programa IPVE utiliza elementos de barra de um modelo unifilar, onde se consideram os modos de
flexão vertical e torção transversal das pontes. Os modos são obtidos de um modelo de grelha da
estrutura, que por sua vez são ajustados de um modelo de casca em termos de rigidez e características
dinâmicas [8]. Os modos de flexão vertical (∅𝑖𝑗 ) são calculados pela média das amplitudes modais
extraídas do modelo 3D e os modos de torção pela rotação da seção transversal (𝛼𝑖𝑗 ) obtida pela
relação entre as amplitudes verticais, conforme apresentado nas equações (1), (2) e Fig. 6. Os valores
obtidos são então normalizados.
Modos de flexão
∅𝑣1 + ∅𝑣2 (1)
∅𝑖𝑗 =
2
Modos de torção
∅ 𝑇1 − ∅ 𝑇2 (2)
𝛼𝑖𝑗 =
𝑒

Fig. 6 – Representação dos modos de flexão vertical (a) torção (b) [8]
Para caracterização das irregularidades do pavimento que irão gerar as excitações ao veículo, adota-
se funções de densidade espectral obtidas experimentalmente. Neste trabalho utiliza-se um espectro
de rugosidade do pavimento ajustado de Honda et al [11], equação (3).
−𝛽 (3)
𝑆(𝜔𝑘 ) = 𝛼̅ ∙ 𝜔𝑘

onde 𝛼̅ é o coeficiente espectral de rugosidade e depende do estado de conservação do pavimento, 𝛽


é o expoente de rugosidade do espectro que depende do material que constitui o pavimento e 𝜔𝑘 é a
frequência de rugosidade em ciclos por metro. Neste estudo, foram adotados valores de 𝛽 = 2,03
para pavimento asfáltico e 𝛼̅ = 0,5 ∙ 10−6 considerando a condição do pavimento boa. Para que o
contato entre o pavimento e o pneu seja representado de forma mais realística, o perfil é ainda
suavizado pelo método da média móvel, Fig. 5. Além das informações modais da estrutura, são
necessários dados do veículo, como rigidez e amortecimento do pneu e suspensão, massa não
suspensa e peso aplicado em cada eixo.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
3.1. Determinação das propriedades dinâmicas

As estruturas analisadas foram modeladas por elementos de casca, a partir do qual, foi possível
determinar as frequências naturais e modos de vibração para cada caso. Buscou-se comparar os
valores das frequências de forma a verificar as possíveis diferenças nos casos com e sem transversina.
Serão avaliados em cada estrutura os dois primeiros modos de flexão vertical e torção. Os resultados
de vibração livre do modelo de casca serão ainda utilizados no ajuste do modelo de grelha. A Tabela
2 mostra os valores para as pontes em análise.
Tabela 2 – Frequências naturais dos modelos em casca analisados
Frequências (Hz)
Estruturas
LB-10 LB-20 LB-30
Com Sem Com Sem Com Sem
Modos
Transv. Transv. Transv. Transv. Transv. Transv.
1º Flexão 24,88 26,85 9,57 9,98 5,14 5,44
2º Flexão 34,86 39,43 18,95 18,86 10,80 11,34
1º Torção 23,93 27,24 9,51 9,88 5,21 5,50
2º Torção 34,95 42,29 19,05 14,43 13,14 14,84

A Fig. 7 mostra a relação entre os valores das frequências naturais nas estruturas sem e com
transversina. Em todas as estruturas, a frequência natural das pontes sem transversina é maior que
nos modelos com transversina. Este fato pode ser explicado uma vez que, nas pontes sem transversina,
a massa total é menor, ocorrendo redução da contribuição da mesma no peso da estrutura. Fica
evidenciado também que, a redução da rigidez das pontes pela ausência da transversina, para os casos
da flexão vertical e torção, não contribui de forma significativa nas frequências naturais, sendo estas
maiores nas pontes sem transversinas.

Fig. 7 – Relação entre as frequências naturais dos modelos, em casca, Sem e Com transversina

3.2. Ajuste dos modelos de grelha

Como forma de melhor representar as pontes a partir do modelo de grelha, adota-se o processo de
ajuste que visa aproximar o comportamento dinâmico e estático deste modelo com o de casca 3D.
Para isso, são incluídos além das longarinas e transversinas, elementos longitudinais que representam
a rigidez da laje e transversina e montantes que representam a altura das longarinas no apoio, Fig. 3.
O ajuste é realizado determinando seções fictícias para estes elementos de forma a se obter resultados
próximos ao modelo de casca.
Para os componentes longitudinais utilizou-se elementos quadrados, sendo necessário, portanto, a
obtenção da dimensão de seu lado. Para os montantes, com seção retangular, fixou-se a largura,
equivalente a razão entre a área e a altura do perfil, logo o ajuste é responsável por determinar a altura
da seção transversal. As propriedades desses elementos são iguais à do concreto, no entanto, atribui-
lhes valor de massa nulo.

O ajuste foi feito comparando as frequências naturais de flexão e torção até o segundo modo. Foram
também determinados os deslocamentos máximos na longarina 1 devido a uma carga pontual de
100kN aplicada sobre a mesma, considerando também o peso próprio. Os resultados, obtidos pelo
programa SAP2000, estão apresentados na Tabela 3.
Tabela 3 – Resultado do ajuste do modelo de grelha 3D
Deslocamento (m) Frequências (Hz)
Estrutura Modelo
Peso Próprio C. Pontual 1º Flexão 2º Flexão 1º Torção 2º Torção
LB-10 Com Casca 0,0005 0,0003 24,88 34,86 23,92 34,95
Transv. Grelha 0,0005 0,0003 24,80 36,91 25,52 45,27
LB-10 Sem Casca 0,0004 0,0003 26,85 39,43 27,24 42,29
Transv. Grelha 0,0004 0,0003 27,59 41,33 28,03 36,83
LB-20 Com Casca 0,0034 0,0009 9,57 18,95 9,51 19,05
Transv. Grelha 0,0037 0,0011 9,13 19,65 9,51 23,43
LB-20 Sem Casca 0,0032 0,0010 9,98 18,86 9,88 14,43
Transv. Grelha 0,0031 0,0012 9,57 20,13 9,60 16,91
LB-30 Com Casca 0,0120 0,0180 5,14 10,80 5,21 13,14
Transv. Grelha 0,0121 0,0190 5,12 11,12 5,51 14,20
LB-30 Sem Casca 0,0108 0,0021 5,44 11,34 5,50 14,84
Transv. Grelha 0,0120 0,0022 5,53 12,00 5,71 14,40

Os valores tanto de deslocamento quanto frequências naturais se aproximaram em todos os casos,


portanto, é válida a adoção dos modelos de grelha para determinação dos modos e frequências
fundamentais a serem utilizados no modelo unifilar, a partir do qual serão obtidos os deslocamentos
dinâmicos devido à passagem do veículo sobre as pontes.
3.3. Cálculo dos deslocamentos dinâmicos máximos
Fundamentado na descrição dos modelos apresentados neste trabalho e utilizando o programa IVPE,
foram determinados os deslocamentos máximos nas pontes devido a passagem de um veículo 3C,
cujas propriedades são apresentadas na Tabela 4.
Tabela 4 – Propriedades do veículo 3C utilizado na determinação dos deslocamentos dinâmicos
Dist.
Peso Ks Kp Cs Cp mp
Eixo Eixos
(kN) (kN/m) (kN/m) (kNs/m) (kNs/m) (t)
(m)
1 67,5 - 580 1680 6 2 0,635
2 91,25 4,8 1180 3360 12 4 1,066
3 91,25 1,3 1180 3360 12 4 1,066

As velocidades dos veículos trafegando sobre as estruturas variam de 20km/h a 120km/h, aumentando
com intervalo de 20km/h. Além dos deslocamentos, obteve-se os Fatores de Amplificação Dinâmica
(FAD’s), determinados comparando os deslocamentos máximos obtidos para cada velocidade com o
resultante da passagem do veículo a 1km/h, adotado neste trabalho como a resposta estática. Em todos
os casos, considera-se a contribuição dos dois primeiros modos de flexão e de torção, portanto, quatro
modos no total. A Tabela 5 apresenta os deslocamentos máximos das pontes para cada velocidade
analisada.
Tabela 5 – Deslocamentos máximos para as pontes Com e Sem transversinas devido à passagem do veículo 3C
Deslocamentos (m)
Estrutura
V=1km/h V=20km/h V=40km/h V=60km/h V=80km/h V=100km/h V=120km/h
Com 0.000434 0.000449 0.000488 0.000471 0.000408 0.000444 0.000514
LB-10
Sem 0.000417 0.000429 0.000446 0.000451 0.000393 0.000426 0.000486
Com 0.001769 0.001969 0.001972 0.002061 0.001904 0.001818 0.001582
LB-20
Sem 0.001858 0.002067 0.002131 0.002207 0.002067 0.001882 0.001600
Com 0.005214 0.005281 0.005770 0.005477 0.005760 0.006234 0.005896
LB-30
Sem 0.003957 0.004020 0.004379 0.004122 0.004276 0.004724 0.004596

A Fig. 8 apresenta a relação entre os deslocamentos máximos das pontes com e sem transversina para
cada velocidade analisada.

Fig. 8 – Relação entre os deslocamentos máximos para as pontes Com e Sem transversinas devido à passagem do
veículo 3C

Note-se que os deslocamentos das pontes LB-10 e LB-30 são sempre maiores nos casos com
transversina. O mesmo não acontece nas pontes LB-20, onde os maiores deslocamentos ocorrem nas
estruturas sem transversina. Para as duas condições de transversinas, a maior variação é evidenciada
na ponte LB-30, com 30% de diferença. Nas demais estruturas, essa variação não ultrapassou 10%.

A Tabela 6 apresenta os FAD’s calculados para cada situação e a máxima amplificação dentre as
velocidades avaliadas.
Tabela 6 – FAD’s para as pontes Com e Sem transversinas
FADs
Estrutura
V=20km/h V=40km/h V=60km/h V=80km/h V=100km/h V=120km/h Máximo
Com 1.035 1.126 1.086 0.940 1.024 1.186 1.186
LB-10
Sem 1.029 1.072 1.081 0.944 1.022 1.166 1.166
Com 1.114 1.115 1.166 1.076 1.028 0.895 1.166
LB-20
Sem 1.112 1.147 1.188 1.112 1.013 0.861 1.188
Com 1.013 1.107 1.050 1.105 1.196 1.131 1.196
LB-30
Sem 1.016 1.106 1.042 1.080 1.194 1.161 1.194

Tal como ocorre com os deslocamentos, o máximo FAD no caso de estrutura sem transversina é
maior que na ponte com transversina apenas no modelo LB-20, conforme apresentado na Fig. 9.
Apesar disso, em todas as situações, os FAD’s máximos são próximos nos dois casos.

Fig. 9 – Relação FAD’s para as pontes Sem e Com transversinas

4. CONCLUSÕES
A modelagem tridimensional das pontes utilizando elementos de casca é a que melhor representa a
estrutura, por reproduzir o funcionamento global de cada componente analisado. No entanto, a própria
literatura mostra que os resultados obtidos são de difícil compreensão, tornando-se conveniente a
análise a partir de outros modelos, como o caso do modelo de grelha e unifilar. Por este fato, utiliza-
se o modelo de casca das estruturas no ajuste do modelo de grelha de forma a se obter respostas
estáticas e dinâmicas próximas nos dois casos.
Os elementos de transversinas que compõem a superestrutura têm a principal função de elevar a
rigidez transversal do tabuleiro e melhorar a distribuição das cargas móveis. O presente trabalho
avaliou o papel deste elemento estrutural em relação ao funcionamento dinâmico em modelos de
pontes, tendo em vista a tendência de suspensão destes em projetos. Para isso, fez-se a comparação
entre as frequências naturais e modos de vibração de pontes biapoiadas com vãos de 10, 20 e 30m.
Além disso, calculou-se os deslocamentos dinâmicos máximos devido a passagem do veículo 3C
padrão.
Em todas as estruturas analisadas, a frequência natural das pontes sem transversinas é maior que nos
modelos com transversina. Isso porque, neste último, a massa total é maior, sendo a principal
responsável por esta característica nos exemplos estudados. Além disso, a redução da rigidez das
pontes pela ausência da transversina não contribuiu significativamente com as frequências naturais,
já que estas ficaram maiores nas pontes sem transversinas. Isto é, a perda de rigidez com a ausência
de transversinas é menor que a perda de massa, logo as frequências fundamentais são maiores.
Obteve-se os deslocamentos máximos para as pontes analisadas e não se verifica nenhuma tendência
de situação crítica no que diz respeito às estruturas com e sem transversinas. Isto, pois para os modelos
LB-10 e LB-30 os deslocamentos foram maiores nas pontes com transversina, ocorrendo o inverso
para a ponte LB-20. Ao se comparar os FAD’s, que são o principal indicativo da contribuição do
efeito dinâmico na estrutura, percebe-se que, da mesma forma que para os deslocamentos, não existe
uma tendência. Apesar disso, pode-se concluir que, ao analisar os FAD’s máximos, os valores
mantiveram-se próximos nos casos com e sem transversina. Portanto, em termos de comportamento
dinâmico devido à interação veículo-pavimento-estrutura, a existência ou não da transversina tem
pouca influência.

REFERÊNCIAS
[1] JUDICE, F. M. S., PERLINGEIRO, M.S.P.L., DIAZ, B. E. e SOUZA LIMA, S. Avaliação da distribuição
transversal de cargas em tabuleiros de pontes sem transversinas internas. In: 50º Congresso Brasileiro de
Concreto. 16 p. Salvador, 2008.
[2] ARAUJO, M. C., CAI, S. C. S., TEIXEIRA, P. W. G. N. e NEIVA, V. M. Distribuição transversal de cargas em
ponte de concreto protendido pré-moldada: avaliação da influência das transversinas com uso de
procedimentos da NBR 6118/2003, do LaDOTD e de modelos de elementos finitos sólidos. In: 1º Encontro
Nacional de Pesquisa-Projeto-Produção em Concreto Pré-moldado. 12 p. São Carlos, 2005.
[3] JUDICE, F. M. S., PERLINGEIRO, M.S.P.L., DIAZ, B. E. e SOUZA LIMA, S. Avaliação da Distribuição de
Cargas em Tabuleiros de Pontes sem Transversinas Internas – 2ª Parte. In: III Congresso Brasileiro de Pontes e
Estruturas, Rio de Janeiro, Brasil, 2010
[4] FULGÊNCIO, J.P.T.O.R.; DE PAULA, F.A.; AZEVEDO, C.P.B. Análise do Uso de Transversinas em Pontes de
Concreto Armado. In: VII Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas, Rio de Janeiro, Brasil, 2014.
[5] CAVALCANTE, G. H. F., BARBOZA, A. S. R. Análise da influência de transversinas no comportamento
estrutural de pontes em vigas pré-moldadas e moldadas “in loco”. In: IX Congresso Brasileiro de Pontes e
Estruturas, Rio de Janeiro, Brasil, 2016.
[6] MELO, E. S. Interação dinâmica veículo-estrutura em pequenas pontes rodoviárias. Dissertação de M.Sc.,
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2007.
[7] MOTA, H. C. Esforços extremos em pontes para modelo de cargas móveis no Brasil. Dissertação de M.Sc.,
COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2017.
[8] ARAÚJO, A. O. Modelos analítico-numéricos para interação dinâmica veículo-pavimento-estrutura de ponte
rodoviária. Dissertação de M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2014.
[9] ROSSIGALI, C. E. Atualização do Modelos de Cargas Móveis para Pontes Rodoviárias de Pequenos Vãos no
Brasil. Tese de D.Sc. COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2013.
[10] MENDONÇA, R. F. Geração de Dados para Modelo Dinâmico de Cargas Móveis em Pontes. Dissertação de
M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2009.
[11] HONDA, H., KAJIKAWA, Y., KOBORI, T. Spectra of Road Surface Roughness on Bridges. In: Journal of the
Structural Division, v. 108, ST 9, p. 1956-66, 1982.
A PRÁTICA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL ATRAVÉS DA
ENGENHARIA PÚBLICA EM JUIZ DE FORA

The practice of social responsibility through public engineering in Juiz de Fora.

Gislaine dos Santos 1, Jordan H. de Souza 2, José Augusto Recker Felicio 3,


Gabriela Mendes Othoni 4, Luana Rodrigues Gomes 5
1 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, gislaine.santos@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, jordan.souza@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, jose.recker@arquitetura.ufjf.br
4
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, gabriela.othoni@arquitetura.ufjf.br
5
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil, luana.gomes@engenharia.ufjf.br

Resumo: Desde a época colonial, a desigualdade social é a realidade que persiste no país, muito por
conta dos grandes avanços econômicos, também desiguais, obtidos ao longo dos séculos. Frente a
isso, ações que transformam este quadro demandam esforço de segmentos como o Estado, a
sociedade e a comunidade acadêmica. O Núcleo de Atendimento Social da Faculdade de
Engenharia (NASFE) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) é um projeto universitário
extensionista que tem como objetivo a prática da engenharia em prol da melhora na qualidade de
vida de comunidades carentes, por meio da oferta de serviços gratuitos de assessoria a projetos.
Dentro do conceito de sustentabilidade, se encaixa no pilar da equidade social, visando minimizar
as desigualdades. Com orientação de professores e parceria com outros órgãos, alunos do 2º ao 10º
período dos cursos de Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Engenharia Ambiental e Sanitária,
Arquitetura e Urbanismo, Artes e Design, e Serviço Social da UFJF ofertam tais serviços. O núcleo
possui uma estrutura de setores: Atendimento, Gestão de Pessoas, Qualidade e Infraestrutura,
Comunicação, Projetos e uma atividade complementar nomeada NASFE-Educação. Organização e
abertura das solicitações, capacitação e motivação dos colaboradores acadêmicos, análise, melhoria
e suporte dos procedimentos, publicações externas e internas, desenvolvimento, acompanhamento e
entrega de projetos e, por fim a promoção e prevenção de desastres naturais por meio do
aprendizado de crianças do ensino fundamental e comunidade escolar, quanto aos riscos
socioambientais, são as principais atividades de cada setor, respectivamente. Entre 2017 e 2018
foram realizados 100 atendimentos, divididos em projetos de usucapião, projetos proletários,
regularizações e projetos arquitetônicos, mapeamentos de áreas de risco e vistorias técnicas. Assim,
mesmo com o quadro reduzidos de alunos e professores frente à alta demanda da sociedade por
atendimento de engenharia gratuita, obteve-se uma produtividade satisfatória, além de permitir, para
os colaboradores acadêmicos, uma visão prática da responsabilidade social de suas futuras
profissões ao longo de um processo, por vezes, complexo e dinâmico.

Palavras-chave: engenharia pública, responsabilidade social, sociedade.

Abstract: Since colonial times, social inequality is the reality that persists in the country, largely
because of the great economic progresses, also unequal, obtained over the centuries. Considering
this fact, actions that transform this framework demand effort from segments such as the State,
society and the academic community. The Social Assistance Nucleus of the Faculty of Engineering
(NASFE) of the Federal University of Juiz de Fora (UFJF) is a university extensionist project
whose objective is the engineering practice in favor of improving the quality of life of poor
communities, through offering free advisory services to projects. Within the conception of
sustainability, it fits into the social equity pillar, in order to minimize inequalities. With guidance
from teachers and partnership with other institutions, students from the 2nd to 10th period of Civil
Engineering, Electrical Engineering, Environmental and Sanitary Engineering, Architecture and
Urbanism, Arts and Design, and Social Service of UFJF offer such services. The core has a
structure of sectors: Attendance, People Management, Quality and Infrastructure, Communication,
Projects and NASFE-Education. Organization and opening of requests, training and motivation of
academic collaborators, analysis, improvement and support of procedures, external and internal
publications, development, follow-up and delivery of projects and, finally, promotion and
prevention of natural disasters through children's learning of the elementary school and school
community, regarding socio-environmental risks, are the main activities of each sector,
respectively. Between 2017 and 2018, 100 visits were carried out, adverse possession, proletarian
projects, regularizations and architectural projects, mapping of risk areas and technical surveys.
Thus, even with the reduced number of students and teachers facing the high demand of the society
for free engineering service, a satisfactory productivity was obtained, besides allowing, for the
academic collaborators, a practical vision of the social responsibility of their future professions to
the process, sometimes complex and dynamic.

Keywords: Public Engineering, Social responsibility, Society.

INTRODUÇÃO
O índice de desigualdade social em nosso país sempre foi muito alarmante, mesmo sendo muito rico
em recursos naturais e com um PIB entre os 10 maiores do mundo. Segundo consta no Relatório de
Desenvolvimento Humano [1], elaborado pelas Nações Unidas e lançado em março de 2017, o
Brasil aparece em décimo lugar num índice que indica a disparidade de renda. Frente à este cenário,
iniciativas formadas a partir do tripé Estado-Sociedade-Comunidade acadêmica surgem como uma
oportunidade de minimizar o cenário desigual, onde todos seus atores saem ganhando: a
comunidade acadêmica com laboratórios onde pode explorar a aplicação dos conhecimentos
teóricos e técnicos desenvolvidos em sala de aula e com ações práticas; o Estado recebe retorno
indireto de seu investimento em educação, através da melhoria em áreas necessitadas e pouco
exploradas do território; e a sociedade, neste caso por meio dos cidadãos principalmente menos
favorecidos, entra para o hall de dignidade previsto para todos, por meio de direitos e deveres até
então suprimidos.
O Núcleo de Atendimento Social da Faculdade de Engenharia, conhecido como NASFE, foi criado
a partir da resolução 01/2008 do Conselho de Unidade da Faculdade de Engenharia da UFJF, com o
objetivo de prestar para a sociedade, serviços de assessoria técnica de forma gratuita nas áreas de
competência dos cursos sediados na faculdade de engenharia. O Núcleo antecede, em alguns meses,
a Lei Nº 11.888/2008 que “assegura às famílias de baixa renda assistência técnica pública e gratuita
para o projeto e a construção de habitação de interesse social” [2], a ser realizada por profissionais
das áreas de engenharia, arquitetura e urbanismo garantindo o direito à moradia digna, previsto no
artigo 6º da Constituição Federal [3]. De acordo com o regimento interno do núcleo, e em
consonância com a lei supracitada, os solicitantes podem ser pessoas físicas com renda familiar
mensal menor ou igual a três salários mínimos, advindos de pequenas comunidades, sociedades pró-
melhoramentos de bairros e organizações sociais.
Desde sua reestruturação em 2016, o NASFE almeja se tornar referência como agente
transformador que influencia positivamente a vida nas comunidades por meio da engenharia e
arquitetura públicas, e tem como valores o aprendizado contínuo de sua equipe, responsabilidade
social com visão ética e humanística, em atendimento às demandas da sociedade [4]. Conforme é
definido o tripé indissociável entre ensino, pesquisa e extensão, definido oficialmente logo após a
constituição de 1988 a partir do pensamento da inter-relação entre universidade e sociedade, o
NASFE vai de encontro com os objetivos traçados anteriormente, de “maior diálogo com distintos
setores da sociedade, [...] e a articulação com demandas sociais e pesquisa” [5].
A dinâmica das ações partem de uma hierarquia onde os docentes agem como moderadores do
processo de produção do conhecimento cuja finalidade é estimular o aprendizado do colaborador
acadêmico na realização de tarefas de pesquisa, análise e síntese da informação, caracterizando o
método de Aprendizagem Baseada em Problema - ABP [6]. Segundo Barrel [7], neste método, a
busca do conhecimento ocorre por meio de questionamento e investigação para responder aos
problemas identificados. No caso específico do núcleo, os problemas são reais e advindos de
núcleos familiares de baixa renda inseridos num contexto de vulnerabilidade social.
Tendo em vista que a cidade de Juiz de Fora tem recorrentes problemas relacionados a desastres
naturais, o projeto de extensão NASFE - Núcleo de Atendimento Social da Faculdade de
Engenharia, da Universidade Federal de Juiz de Fora, viu a necessidade da criação de um Programa
educacional denominado NASFE-Educação voltado para esse tema que ainda tem pouca
visibilidade, e que conta com a parceria do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, da Defesa Civil
de Juiz de Fora e do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DEMLURB) de Juiz de Fora,
onde busca instruir a população para que problemas ambientais possam ser evitados, melhorando a
qualidade de vida da população.
Se tratando da aplicação destes projetos no âmbito universitário, o artigo 43 da Lei 9394/96 que
trata das Diretrizes e Bases da educação superior entende que o objetivo das universidades é o de:

“Formar diplomados nas diferentes áreas do conhecimento, aptos para a inserção


em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade
brasileira, e colaborar na sua formação contínua, incentivar o trabalho de pesquisa
e investigação científica, visando à difusão das conquistas e benefícios resultantes
da criação cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição” [8].

Assim, a atuação do Núcleo é enriquecedora uma vez que concorda com a ideia de que a “formação
do engenheiro [...] tem um custo social que deve ser resgatado através de uma atuação consciente
perante a sociedade.”[9].
Em uma análise comparativa com outras ações que envolvem o tripé ensino-pesquisa-extensão, o
NASFE tem semelhanças e diferenças de atividades, dadas também as diversas metodologias
adotadas. Quando comparado com o HABITAT, projeto do Consultório Móvel de Arquitetura da
Universidade Federal de Viçosa, com relação a referida ação, pode-se destacar as semelhanças na
elaboração de projetos, orientações técnicas para famílias de baixa renda, e este vir antes da criação
da Lei Nº 11.888/2008 de assistência técnica, embora também tenha esta como cerne das diretrizes
de atuação. Se tratando das ações que diferem, é possível notar que no projeto da UFV, os
estudantes acompanham a execução da obra, reforma ou ampliação, além de todo o processo de
construção da moradia popular [10]:
“[O projeto HABITAT] possibilita que os profissionais acompanhem o processo de
autoconstrução da moradia popular, evitando o desperdício de materiais, a
insegurança, o desconforto, a insalubridade, conferindo qualidade ao processo
construtivo e a melhoria do estoque existente. Desta maneira, enquadra a
autoconstrução nas políticas habitacionais, retirando aos poucos, o seu caráter
informal. Estas mudanças podem substituir os principais atores sociais envolvidos
nas políticas habitacionais, tirando o foco das empresas construtoras e colocando-o
no próprio usuário.”
Outro ponto que difere, é a pluralidade dos alunos e futuros profissionais envolvidos. Embora o
NASFE seja um projeto da Faculdade de Engenharia, este contempla, como dito anteriormente,
alunos de 8 cursos, criando maior interdisciplinaridade ao longo do processo. O HABITAT, em
essência, envolve discentes e docentes apenas do curso de Arquitetura e Urbanismo.
Além do Projeto HABITAT da UFV, outra ação extensionista é a do Escritório de Engenharia
Pública da Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS [11]. As ações na resolução de
questões de regularização fundiária e a própria estruturação interna dos colaboradores (docentes,
estagiários e professores coordenadores) são pontos comuns entre ambas ações. Além destas, o
serviço do escritório é voltado para a população carente e as diretrizes são organizadas
conceitualmente baseadas na lei de assistência técnica, como no NASFE. Enquanto o núcleo
trabalha a partir de demandas individuais de famílias em condições econômicas não favoráveis, o
Escritório de Engenharia Pública da UEFS dá prioridade à realização de projetos de equipamentos
comunitários, e só depois às unidades habitacionais. Outro ponto é o convênio entre Universidade e
a Companhia de Energia Elétrica da Bahia - COELBA da região e que unem conhecimento e força
de trabalho em prol da conscientização do uso racional de energia elétrica na habitação.
O exercício de comparação entre ações extensionistas de Universidades do país se torna importante
para compreender o processo e torná-lo mais eficaz ao longo do tempo. É possível compreender a
importância da parceria com empresas particulares ou públicas no que diz respeito à disseminação
de conhecimento bem como ao trabalho desenvolvido em equipe, amplificados com agentes de
diferentes locais de atuação. A importância da criação de uma lei que regulamenta a assistência
técnica também se torna imprescindível no trabalho inter-relacional das universidades junto à
sociedade. Por fim, esta comparação mostra diferentes possibilidades de aplicação do conhecimento
científico em benefício da parcela menos abastada do país, indo desde ações unifamiliares,
passando por diferentes questões técnicas - que vão desde a regularização fundiária a análises de
desempenho energético - até ações de benefício comunitário, não criando barreiras para a
diminuição da desigualdade e distribuição de renda.
Partindo do conceito de desenvolvimento sustentável que, desde a Conferência de Estocolmo na
década de 70 vem sendo difundido como importante ferramenta para a manutenção sustentável dos
recursos naturais, humanos e econômicos, conforme apresentado por Jacobi [12], e da estruturação
a partir de três pilares fundamentais, segundo o LASSU [13] compreende-se a importância de
projetos voltados à sociedade e à minimização das desigualdades geradas pelo sistema político-
econômico-social em curso.
Dentre os três pilares que dão sustentação ao conceito, o primeiro trata da prudência ecológica, que
abrange questões do impacto ambiental gerado por determinadas condutas, destacando a
necessidade de pensar no pequeno, médio e longo prazo. Sendo assim, é de responsabilidade da
iniciativa privada, do Estado e/ou da sociedade, considerar formas de amenizar impactos e
compensar aqueles que são inevitáveis. O segundo pilar é relacionado a viabilidade econômica,
onde o “interesse de evolução da mesma não deve sobrepor o ecossistema em que é inserida”, ou
seja, não é benéfico que se adquira lucro em cima de uma situação de devastação. O último dos
pilares é o da equidade social, que diz respeito ao chamado “capital humano” e que está ligado à
sociedade, ao empreendimento e ao impacto causado no entorno. Refere-se a problemas gerais
enfrentados pela comunidade, como educação, violência e lazer, todos relacionados à desigualdade
social. Relacionando-o à vivência empresarial, é necessário entender que este é um pilar que não
trata apenas de benefícios a funcionários por exemplo, mas que deve-se proporcionar um ambiente
capaz de encorajar as relações de trabalho legítimas e saudáveis, além de favorecer o
desenvolvimento pessoal e coletivo dos direta ou indiretamente envolvidos. [14]

OBJETIVO
O presente artigo visa expor o impacto do projeto de extensão na vida de famílias carentes através
da engenharia pública na cidade de Juiz de Fora, paralelo a uma estruturação coerente e eficaz de
discentes em busca de prática profissional e como o envolvimento nas atividades extensionistas são
capazes de despertar uma consciência social em todos os envolvidos. Nesse sentido busca-se
identificar as principais demandas de serviços da sociedade junto ao NASFE e apresentar as
metodologias de atendimento, atividades realizadas e estruturação interna do núcleo.

MÉTODOS
O NASFE, além da assistência técnica prevista em lei, parte das diretrizes curriculares instituídas
pelo Ministério da Educação, dos cursos abrangidos, no que diz respeito o atendimento aos
objetivos de formação, para determinar suas atividades, tornando-se assim, parte importante no
processo de aprendizado e preparação dos seus alunos para o trabalho na sociedade. No artigo 4º da
Resolução CNE/CES nº 11, de 11 de março de 2002, são apresentados os objetivos da formação do
profissional de engenharia, e é possível destacar os itens IV, VIII, IX e X, que tratam,
respectivamente, da supervisão, planejamento e elaboração de projetos; comunicação eficiente;
atuação em equipes multidisciplinares e; compreensão e aplicação da ética e responsabilidade
profissionais [15], por estarem especialmente alinhados às atividades do núcleo de trabalho em
equipe, visitas de campo junto aos solicitantes, setorização interna e desenvolvimento de projetos.

Fig. 1 - Nova identidade visual do NASFE, adotada a partir de 2017. Fonte: José Recker (2017)
Para marcar a mudança da estruturação do núcleo, em 2017 foi realizado o desenvolvimento de uma
nova identidade visual, com logotipo e símbolo modernizados, contando com cores que
carregassem os valores da essência do NASFE, bem como um estudo com nova família tipográfica,
visando melhor legibilidade do conjunto (Fig. 1).
O núcleo apresenta como missão a promoção de atendimento técnico de qualidade em engenharia e
arquitetura para as comunidades em situação de vulnerabilidade social, considerando a necessidade
dos discentes que buscam atividades de aplicação prática e vivência dos assuntos abordados na
universidade, desenvolvendo nos acadêmicos as habilidades e competências da prática e ética
profissional e de sua função social por meio da orientação e acompanhamento dos professores. É
estruturado por meio de um docente na coordenação e um na vice-coordenação, docentes
orientadores vinculados, docentes colaboradores externos e discentes dos cursos de Arquitetura e
Urbanismo, Artes e Design, Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Engenharia Ambiental e
Sanitária e Serviço Social da UFJF. Os estudantes são envolvidos diretamente com os projetos
desde a fase de atendimento até a entrega final, sempre com o acompanhamento e supervisão dos
professores orientadores, trazendo a oportunidade da prática interdisciplinar a fim de promover a
inclusão diante do conhecimento. Há também uma parceria com a Defesa Civil, o Corpo de
Bombeiros, o DEMLURB - Departamento Municipal de Limpeza Urbana e, por fim, o NPJ -
Núcleo de Práticas Jurídicas na UFJF, onde este atua na orientação interdisciplinar nos casos que
envolvem questões jurídicas, como as ações de usucapião e orientações técnicas nas temáticas de
projetos arquitetônicos e perícias de engenharia. O núcleo está organizado em cinco setores: Gestão
de Pessoas, Qualidade e Infraestrutura, Atendimento, Projetos, Comunicação; e três diferentes
atuações: supervisor, assessor e colaborador acadêmico, considerando o perfil, a área de formação e
interesse de atuação de cada discente.
A fim de otimizar o processo interno de atendimento no NASFE em 2017 foi implantado o
SisNasfe, um sistema online em linguagem PHP para organizar e estruturar o banco de dados dos
atendimentos e das informações gerenciais dos usuários. Neste sistema é possível cadastrar os dados
pessoais para o atendimento, inserir os documentos digitalizados do solicitante, criar rotas para
visitas, ter acesso a imagens do Google Maps e Google Street View dos locais, inserir fotos
realizadas na visita para geração do relatório fotográfico, registrar informações dadas ao solicitante
durante todo o período de atendimento no sistema, alocar a documentação desenvolvida, que conta
com plantas, desenhos, memoriais descritivos, planilhas de cálculo de fração ideal, bem como os
relatórios internos e externos do projeto.
Assim, cada colaborador é um usuário no sistema pelo qual realiza seu cadastro inserindo dados
pessoais e horário de trabalho, sendo arquivados no sistema informações sobre a equipe, os
solicitantes e os casos atendidos. Por meio da parceria com o Núcleo de Práticas Jurídicas da UFJF,
do Projeto de Extensão Moradia Legal e da divulgação externa dessas ações, o solicitante se dirige
ao NASFE para que o processo de atendimento (Fig. 2) seja iniciado em períodos de cadastramento
de novas solicitações.
Fig. 2 - Fluxograma do processo de projetos no NASFE. Fonte: Os autores (2018)
O primeiro passo é o cadastramento dos dados no sistema e o recolhimento da documentação
comprobatória, fazendo-se então, uma verificação dos mesmos para que sejam inseridos
corretamente na Solicitação de Atendimento - SA dentro do Sistema SisNasfe (Fig. 3).

Fig 3 - SisNasfe. Fonte: Dos autores (2018)


Após esse processo, o setor de atendimento entra em contato com o solicitante para agendamento da
visita de campo (Fig. 4 e 5) a fim de que os colaboradores acadêmicos acompanhados pelo
professor orientador possam realizar o levantamento de dados necessários para execução do projeto,
que contempla, entre outros, a criação de um memorial descritivo e uma planta de situação do lote
(Fig. 6 e 7).

Fig. 4 e 5 - Medição durante visitas em campo do NASFE. Fonte: SisNasfe (2018)

Fig. 6 e 7 - Memorial descritivo e Planta de Situação de uma solicitação do NASFE. Fonte: SisNasfe (2018)
Após a visita os dados coletados são organizados no sistema e então inicia-se o processo de
elaboração projetual. Os colaboradores acadêmicos se organizam e executam as representações
gráficas necessárias no tempo estipulado pelos professores orientadores e supervisores acadêmicos,
sempre contando com as orientações dadas pelos docentes colaboradores internos e externos.
Esse processo é feito por meio de croquis, medições e registro fotográfico conforme necessidade de
cada projeto. As atividades realizadas sob supervisão do professor orientador envolvem aplicações
práticas de conteúdos teóricos vistos em sala de aula e com possibilidade de desenvolver pesquisas-
ação, ao proporcionar a participação e envolvimento do aluno nas tarefas para levar consigo uma
série de conhecimentos que serão o substrato para a realização da sua análise reflexiva sobre a
realidade, e este sair da sua zona de conforto de mero pesquisador e adentrar no campo prático da
realidade. Nesse sentido o discente tem possibilidade de colocar em prática a metodologia junto
com o levantamento de dados e a análise dos mesmos [16].
Os projetos e relatórios são verificados quanto à técnica e a padronização antes da entrega ao
solicitante. Conforme previsto em norma [17], a vistoria é a “constatação de um fato, mediante
exame circunstanciado e descrição minuciosa dos elementos que o constituem” e “em caso de
necessidade de obras de engenharia (construção, reforma, demolição) as mesmas deverão ser
acompanhadas por profissional de engenharia habilitado, com emissão de ART – Anotação de
Responsabilidade Técnica no Conselho Regional de Engenharia – CREA. A ART é regulamentada
pela Lei Federal nº 6496 de 7 dez 1977 [18]; e definida como um “documento expedido após
realização de vistoria técnica e nos termos que dispõe o artigo 5º, incisos XXXIII e XXXIV, alínea
b da Constituição Federal”.
Dentre os projetos desenvolvidos, o que tem maior demanda é o projeto para processo de usucapião
e ocorre quando o proprietário requer judicialmente a propriedade de um terreno que não tem
registro em seu nome. Além deste, também são prestados serviços como elaboração de projeto
elétrico, projeto para regularização arquitetônica, projetos arquitetônicos de adaptação para fins de
acessibilidade e vistoria técnica em geral, o que traz ao acadêmico a oportunidade de lidar com
casos reais da sociedade, despertando maior consciência para a situação de desigualdade social,
destacando a importância de ações públicas de Engenharia.
Tendo em vista que o núcleo atende cidadãos em situação de vulnerabilidade social, a maioria das
construções visitadas em campo e que serão retratadas no projeto, são precárias e não planejadas,
dessa forma, o discente aprende a fazer representações gráficas em casos mais complexos de
compreensão e interpretação do que os ideais que são tratados em sala de aula.
Para desenvolver os projetos atendidos pelo NASFE, os membros, ao ingressarem no núcleo,
passam por capacitações internas que visam desenvolver as habilidades necessárias que resultarão
em projetos mais rápidos e com maior qualidade.
A partir da configuração de um núcleo com discentes e docentes multidisciplinares e
multiprofissionais foi incorporado o NASFE-Educação para promover ações junto a escolas da rede
pública de ensino para fins de orientação e conscientização de crianças nas questões ambientais.
Trata-se da busca de solução de problemas pautado na interação social e na oportunidade de
provocar cooperação grupal e no desenvolvimento de habilidades interpessoais.
Encontros mensais são realizados com as crianças do ensino fundamental, que tem como finalidade
despertar o interesse dos alunos em relação ao tema abordado e, assim, se faz necessária
inicialmente uma apresentação da equipe prosseguida de atividades teóricas e práticas cujo intuito é
o de identificar, conhecer e divulgar as causas dos desastres ambientais. Assim são abordados temas
envolvendo a ação antrópica, enchentes, incêndios florestais e deslizamentos de terra, nas
proximidades da escola e também nos locais onde residem as crianças. Os envolvidos na ação
propõem atividades interativas divididas por etapas, com metas a serem cumpridas pelas crianças
(Fig. 8 e 9).

Fig. 8 e 9 - Gincana do NASFE-Educação na Escola Municipal Professor Augusto Gotardelo.


Fonte: Dos autores (2018)

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A gestão organizacional setorizada, iniciada em 2017, bem como o desenvolvimento de atividades
ligadas ao núcleo tem possibilitado uma atuação mais ampla junto à sociedade, sendo visível a
partir do aumento dos atendimentos ocorridos e das novas ações do NASFE-Educação.

Gráfico 1 - Tipologias de Solicitação no NASFE, desde 2017. Fonte: Dos autores (2018)

A partir do Gráfico 1, que mostra um comparativo percentual das tipologias de solicitações


atendidas pelo NASFE desde de 2017, ou seja, entre janeiro de 2017 a setembro de 2018, é
perceptível como os casos de regularização fundiária que envolvem o processo de Usucapião são as
mais procuradas no núcleo, com 67% dos casos. Seguida por vistorias técnicas, 10%, Regularização
arquitetônica com 9%, Projeto Arquitetônico com 4%, Verificação de Medidas no Terreno com 3%,
e demais projetos que, juntos, somam 7% e envolvem: retificação de medidas, realização de
medidas no terreno para correção de IPTU, readequação arquitetônica, projeto de drenagem e
orientação técnica.
É compreensível que o alcance do atendimento e o maior número de resultados se deve às
mudanças estruturais que vão desde a organização de membros até o aumento de seu número, mas
também à visibilidade externa e interna, levando em consideração que o núcleo vem sendo citado
como referência em atendimento técnico social pelas mídias, setores públicos e privados, além do
aumento do interesse dos discentes em participar do NASFE, promovendo então, maiores
possibilidades de atendimento.
As ações do NASFE-Educação também já apresentam os primeiros resultados junto a Escola
Municipal Professor Augusto Gotardelo, localizada no bairro Caiçaras, em Juiz de Fora, próximo à
UFJF, onde durante quatro dias alternados pode-se realizar atividades lúdicas de conscientização
socioambiental com 38 crianças de 10 a 12 anos de idade. As visitas foram acompanhadas por
professores e coordenadora pedagógica da escola e contou com a participação do corpo de
bombeiros militar do Estado de Minas Gerais e da Defesa Civil Municipal complementando
informações sobre a temática “Aprender para Prevenir” e o subtema “Água de mais ou água de
menos igual a desastre?” Vê-se a importância de ações similares nas escolas públicas, pois além do
conhecimento transmitido, é aberto um espaço de diálogo para que essas crianças explicitem suas
demandas e haja a possibilidade de trabalhar no contexto em que vivem. Para os estudantes da
Universidade, o projeto é fundamental para se estabelecer um contato e um envolvimento com a
sociedade, de forma a entender diferentes realidades e pensar em maneiras de utilizar suas futuras
profissões na solução dos mais diversos obstáculos.
Assim, no que tange a engenharia e a sustentabilidade, verifica-se, portanto, a apresentação do
Núcleo de Atendimento Social da Faculdade de Engenharia da UFJF como um potente modificador
social, promovendo suporte à equidade social, pilar fundamental da prática da sustentabilidade. E
ainda, o núcleo utiliza dos conhecimentos da própria universidade por meio de seus colaboradores,
agindo nas localidades próximas visando uma interação dialógica com a sociedade.

CONCLUSÃO
Por meio do presente trabalho, foi possível compreender a maior demanda que a população de Juiz
de Fora teve em relação à regularização fundiária, que é o projeto de Usucapião. O projeto
extensionista da Universidade promove uma série de impactos positivos, desde o impulso para que
ocorra mudanças significativas na questão das desigualdades sociais, até o benefício dos alunos no
âmbito profissional, dando aos acadêmicos a oportunidade de aprimorar seus conhecimentos tanto
teóricos quanto práticos e ainda despertar a consciência social em cada um que se envolve com o
projeto. Com o NASFE, a interdisciplinaridade entre discentes e docentes potencializa as trocas e
aprendizados, em campo e dentro do núcleo promovendo o diálogo e a troca de saberes. Por outra
vertente, a da educação ambiental, é fundamental compreender o poder que a formação e
conscientização das ações e reações antrópicas geram no meio. Por fim, destaca-se a importância de
se promover a engenharia e arquitetura públicas em ações similares, indo de encontro à equidade
em busca de uma sociedade mais sustentável e igualitária.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos à Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora por tornar
possível o projeto de Extensão, à Faculdade de Engenharia e ao Núcleo de Práticas Jurídicas da
Faculdade de Direito da UFJF, ao Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, à Defesa Civil de
Juiz de Fora, ao Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Juiz de Fora, à Escola Municipal
Professor Augusto Gotardelo, à todos os professores envolvidos em etapas do projeto, pela
contribuição e apoio às ações desenvolvidas, e aos estudantes que compõem a equipe e a história do
NASFE.

REFERÊNCIAS
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Desenvolvimento Humano (RDH) 2016: Desenvolvimento humano para todos. 2017. Disponível em:
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report-2017.pdf>. Acesso em: 03 ago. 2018.
[2] BRASIL. Constituição (2008). Lei nº 11888, de 24 de dezembro de 2008. Brasília, DF, Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11888.htm>. Acesso em: 10 jul. 2018.
[3] Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.
BRASIL. Constituição (1988).
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Perspectiva, Florianópolis, v. 33, n. 3, p. 1229-1256, abr. 2016. ISSN 2175-795X. Disponível em:
<https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/2175-795X.2015v33n3p1229>. Acesso em: 18 out. 2018.
[6] BARRETT, T.; MOORE, S. New Approaches to Problem-Based Learning. Revitalising your practice in higher
education. New York: Routledge, 2011.
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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>. Acesso em: 15 jul. 2018.
[9] BAZZO, Walter Antonio; TEIXEIRA, Luiz Antônio do Vale. Introdução à engenharia. 4. ed. Florianópolis:
UFSC, 2013.
[10] CARVALHO, Aline Werneck Barbosa de et al. A assistência técnica gratuita para o projeto de habitação de
interesse social: uma experiência de aproximação entre pesquisa, ensino e extensão: EIXO 3 – Interfaces entre
universidade e sociedade através do projeto: ensino, pesquisa e extensão.. 2013. Disponível em:
<http://projedata.grupoprojetar.ufrn.br/dspace/bitstream/123456789/1811/1/E3011.pdf>. Acesso em: 17 jul. 2018.
[11] CERQUEIRA, Eufrosina de Azevêdo; ALVES, Gerinaldo Costa. Relato sobre a produção técnica do escritório
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[12] JACOBI, Pedro. Educação Ambiental, Cidadania e Sustentabilidade. Cadernos de Pesquisa, [S.I.], n. 118, p.189-
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[14] COLOMBO, Luiz Antonio. Entenda os três pilares da sustentabilidade. 2014. Disponível em:
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07 ago. 2018.
[15] BRASIL. Resolução no CNE/CES 11/2002, de 11 de março de 2002. Institui as diretrizes curriculares do curso
de graduação em engenharia. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES112002.pdf>. Acesso
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[16] THIOLLENT, M.; SOARES, V.M.S. The subject of interdisciplinarity in the production engineering.
International Conference on Education Engineering. Rio de Janeiro: ICEE, ago. 1998. CD-ROM.
[17] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13752: Perícias de engenharia na construção
civil. Rio de Janeiro: Moderna, 1996.
[18] BRASIL. Constituição (1977). Lei nº 6496, de 7 de dezembro de 1977. Brasília, DF, 7 dez. 1977. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6496.htm>. Acesso em: 15 ago. 2018.
EXECUÇÃO DE OBRAS DE RETROFIT: UM ESTUDO DE
CASO NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO
PARA O VI CONGRESSO DE ENGENHARIA CIVIL

Execution of Retrofit: a case in the city of Rio de Janeiro

Thiago Thielmann de Araújo 1, Caio Flávio de Souza Azevedo 2


1 Universidade Santa Úrsula, rio de janeiro, Brasil, thiago.araujo@usu.edu.br
2
Universidade Santa Úrsula, rio de janeiro, Brasil, caiusflavius@gmail.com

Resumo: As construções com mais tempo de vida, precisam de reformas constantes para que sua
aparência e até mesmo a sua estabilidade se mantenham de forma satisfatória, com o desempenho
adequado. Os imóveis sofrem pelo tempo com a deterioração dos materiais e sistemas prediais. Não
é difícil encontrar imóveis que estão em estado de abandono, alguns destes imóveis por serem
antigos e geralmente estarem sem utilização, passam por reformas que além de corrigirem as
patologias da construção, dão um novo destino a este imóvel, transformando-o em outro tipo de
empreendimento. O retrofit trabalha com este conceito, não é somente uma reforma, mas tem como
finalidade recolocar o imóvel em uma outra forma de utilização. Este trabalho tem como objetivo
documentar a execução de um retrofit, apresentando as dificuldades e características encontradas
durante as atividades de obra. A obra foi escolhida por ter em seu corpo técnico, o autor deste
trabalho. O local em análise abrigava uma lavanderia de grande porte, atualmente sendo reformado
para abrigar uma escola de ensino fundamental. Para este estudo, o autor acompanhou o processo
desde a aquisição do imóvel pela empresa até a inauguração da escola. Verificou-se que o
detalhamento de projeto, principalmente o arquitetônico, é de fundamental importância para
direcionar os trabalhos na obra. Os sistemas prediais de instalações, em especial os de hidráulica,
são os que mais sofrem mudanças de projeto em virtude dos intervenientes e incompatibilidades que
aparecem durante a execução.

Palavras-chave: execução, reabilitação predial, retrofit.

Abstract: Longer life buildings need constant retrofits so their appearance and even stability
remain satisfactorily, with proper performance. Real estate suffer from weather with deterioration of
building materials and systems. It is not difficult to find properties that are in a state of
abandonment, some of these properties because they are old and generally are without use, they
undergo reforms that besides correcting the pathologies of the construction, give a new destiny to
this property, transforming it into another type development. The retrofit works with this concept, it
is not only a renovation, but its purpose is to reposition the property in another form of use. This
work aims to document the execution of a retrofit, presenting the difficulties and characteristics
found during the work activities. The work was chosen for having in its technical staff, the author of
this work. The site under analysis housed a large laundry, currently being renovated to house a
primary school. For this study, the author followed the process from the acquisition of the property
by the company until the inauguration of the school. It was verified that the design detail, especially
the architectural one, is of fundamental importance to direct the work in the work. Building
systems, especially those of hydraulics, are the ones that suffer the most from design changes due to
the intervenients and incompatibilities that appear during the execution.

Keywords: execution, building rehabilitation, retrofit

1. INTRODUÇÃO
O Setor da construção civil vem crescendo a cada dia, inovando em técnicas de construção e no
planejamento das obras visando o aumento da competitividade, melhoria da qualidade, redução de
prazos e redução de custos na construção e na manutenção.
Existe uma enorme responsabilidade do profissional de engenharia e arquitetura, uma vez que deles
partem os projetos das edificações e a analise das etapas envolvidas (HELENE-TERZZIAN, 1992).
O trabalho conjunto na construção civil é de fundamental importância. Para que se possa obter uma
melhor qualidade nos projetos e obras visando à racionalização da construção, a redução de etapas
de trabalho, o menor desperdício, o aumento da produtividade e, consequentemente, uma maior
lucratividade, é fundamental que na fase de projetos haja um trabalho conjunto entre projetistas e
construtores, na busca de melhores resultados (FLORES,2006).
Para que a execução de uma obra seja bem sucedia, a mesma transcorre por diversas etapas extensas
e complexas, partindo de um projeto sólido que envolva os principais desafios e soluções que
devem ser tratados, chegando à construção e na entrega da obra finalizada.
O objetivo deste trabalho é documentar atividades de execução de uma obra de retrofit.

1.1 - Metodologia
O trabalho se inicia com uma pesquisa bibliográfica através da revisão da literatura nacional sobre
os assuntos retrofit, reformas e algumas patologias que as construções sofrem com o abandono.
Também foram pesquisados trabalhos pertinentes à manutenção de edificações e métodos
construtivos. Posteriormente será mostrado um estudo de caso dentro do escopo de trabalho do
próprio autor. De posse dos dados e após o estudo, fez-se um apanhado sobre as técnicas de
execução aplicadas no retrofit e utilizando das informações colhidas, foi possível tecer uma análise
sobre este tipo de execução de obra.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

‘2.1 - Retrofit
Segundo Barrientos (2004), retrofit é a conjunção dos termos “retro”, oriunda do latim, que
significa movimentar-se para trás e de “fit”, do inglês, que significa adaptação, ajuste. Inicialmente
o termo foi incorporado no vocabulário da indústria aeronáutica nos Estados Unidos e Europa no
final da década de 90, ele era mais utilizado em relação à modernização dos equipamentos de
aeronaves. Da mesma forma, na Construção Civil o termo tem sua aplicação mais recorrente quanto
o foco principal é a modernização de sistemas de condicionamento de ar, instalações elétricas, de
lógica e dados, etc. O termo em inglês retrofit vem ganhando cada vez mais espaço e cada vez está
mais em alta. Os arquitetos e engenheiros tem se deparado com mais frequência com este termo,
pois a diferença dele com a reforma, é que o retrofit busca estender a vida útil de um equipamento
ou imóvel, dando a ele outras funcionalidades que normalmente ele não teria. Uma reforma busca
dar acabamento e corrigir algumas patologias que as construções acabam sendo submetidas com o
passar dos anos, mantendo as funcionalidades do imóvel sendo as mesmas do projeto inicial.
O retrofit surgiu e foi desenvolvido na Europa, onde ocupa importância cada vez maior, por causa
da grande quantidade de edifícios e construções antigas e históricas. Esta prática também ganhou
um lugar diferenciado nos Estados Unidos. Essas práticas nestes países foram tomando maior vulto,
pois a rígida legislação não permitiu que o rico acervo arquitetônico fosse substituído, o que
preserva o patrimônio histórico ao mesmo tempo em que permite a utilização adequada do imóvel.
Uma grande motivação é a revitalização de antigos edifícios, que estende a sua vida útil usando
tecnologias modernas em sistemas prediais e materiais atuais, tomando cuidado para compatibilizar
com as restrições urbanas e ocupacionais atuais, isso, sem falar da preservação do patrimônio
histórico, sobretudo o arquitetônico. Desta forma o patrimônio histórico, o partido arquitetônico e
estrutural é preservado, permitindo a utilização adequada do imóvel. Já bastante rotineira na
Europa, esta modalidade construtiva de reformas e reabilitações chega a 50% das obras e em países
como a Itália e a França, este índice aumenta para 60% (MORAES E QUELHAS, 2012).
De acordo com Rocha; Qualharini (2001), a idéia em foco diz respeito ao processo de modernização
e atualização de edificações, tornando-as contemporâneas, valorizando edifícios antigos, estendendo
a sua vida útil, seu conforto e funcionalidade através da incorporação de avanços tecnológicos e da
utilização de materiais de última geração. Como o envelhecimento das edificações leva a
degradação de seu entorno e, consequentemente, há o objetivo central da melhoria da qualidade de
vida, fica criada a necessidade de reabilitação do ambiente urbano. A capacidade regenerativa de
um edifício ou de uma microrregião, só pode ser determinada após um processo de avaliação de
certa complexidade, é o que chamamos de diagnóstico para um retrofit (BARRIENTOS, 2004).

2.2 - Execução de Obras


Analisando as diferentes necessidades e dificuldades que uma obra gera, é necessário uma série de
projetos, destacando-se os de arquitetura, estrutura e instalações. Os projetistas desenvolvem de
maneira paralela esses projetos, sendo reunidos, muitas das vezes somente no canteiro de obras no
momento da execução dos serviços. Esse fato acaba gerando uma série de incompatibilidades que
comprometem não só a qualidade do produto e também podem causar enormes perdas de materiais
e produtividade. Melhado (1994) ressalta que a redução de custos da produção, o alcance do
rendimento esperado, a redução das falhas no processo de execução, a otimização das atividades de
execução e o aumento da satisfação dos usuários finais é garantida pela qualidade do projeto.
Desta forma, quanto antes forem tratados os potenciais problemas relativos à execução da obra, a
partir das informações fornecidas pelos empreendedores e dos projetos, maior será a tendência
positiva referente aos custos do empreendimento, desde que sejam implantadas soluções pertinentes
aos problemas detectados. Assim sendo, o projeto enquanto etapa do processo de execução de obras
possui diversas entradas que podem se transformar será pré-requisito para a realização de outras
etapas da construção.
A execução de obras é a etapa onde são concretizados todos os planejamentos da obra e os projetos
arquitetônicos. As operações de apoio e a execução da obra em si, são executadas em uma área de
trabalho que pode ser fixa ou temporária que recebe o nome de canteiro de obras e a área de
vivência é destinada a suprir as necessidades básicas humanas, alimentação, higiene, lazer,
descanso, ambulatória e convivência, que devem estar separadas das atividades de trabalho, isso é o
que está disposto na NR-18 (BRASIL, 2013), que trata das condições do meio ambiente de trabalho
na indústria da construção civil.
Segundo Souza (1996), a qualidade da execução da obra como um todo é o produto que resulta
da organização do canteiro de obras, das condições de segurança e higiene do trabalho, da correta
operacionalização dos processos administrativos em seu interior, do seu gerenciamento e
planejamento, do controle de armazenamento e recebimento dos equipamentos e materiais e
também da qualidade da execução de todos os processos específicos que são gerados no processo de
produção.
De acordo com Thomaz (2001), é necessário prever algumas medidas para a prevenção de
acidentes no canteiro de obras e um sistema de treinamento dos trabalhadores para que se consiga
atingir a produtividade planejada na execução da obra. Devido aos números referentes aos acidentes
de trabalho, a NR 18 (BRASIL, 2013) exige que as construtoras exerçam sobre seus operários e
funcionários, um treinamento com pequenos cursos no início das obras no que tange tanto a
produção quanto a segurança na execução das obras, fato que vem sendo massificado cada vez mais
pelas construtoras brasileiras. Estes pequenos cursos devem ser de maneira geral, bastante prático
onde esses treinamentos são apoiados em apostilas com grande quantidade de imagens e pouca
redação, adaptado para o público alvo em questão. Esses treinamentos devem ser executados
baseando-se nos serviços que a obra irá abordar, sendo mais voltados a mestres, pedreiros,
carpinteiros, etc.
Ainda segundo o mesmo autor, é preciso se basear nas normas brasileiras para a preparação dos
procedimentos para a execução da obra, nas recomendações feitas pelos fabricantes dos produtos
utilizados na obra e outras fontes de informação que conduzam para uma execução sem acidentes
de trabalho. Além desta documentação é muito importante introduzir a experiência da empresa e a
forma como ela trabalha desta forma é sempre bom contar com a contribuição dos engenheiros de
campo, mestres e oficiais. De acordo com a execução da obra em questão, alguns aspectos relativos
a condicionantes para início do serviço, constituição das equipes, ferramentas e equipamentos
necessários, materiais e condições especiais de segurança no trabalho (se houver) devem ser
introduzidos. A utilização dos “procedimentos de execução” deverá estar amarrada com planilhas
de controle de materiais e de serviços e os riscos aos quais os trabalhadores estarão expostos.
A execução da obra em si, é um processo que ocorre basicamente dentro do canteiro de obras, e de
acordo com Illingworth (1993), o canteiro de obra pode ser dividido em três tipos: Canteiros
restritos: são os canteiros que tomam praticamente ou até mesmo toda a extensão do terreno onde a
obra será executada, o que faz com que os acessos não proporcionem uma boa locomoção de
máquinas e pessoas. É um tipo de canteiro que é muito comum nas áreas centrais das cidades, em
obras cujos terrenos e áreas adjacentes oferecem poucas condições para a disposição de materiais.
Canteiros amplos: é quando o canteiro da obra ocupa apenas uma pequena parcela do terreno
disponível. Em casos assim, as possibilidades são bem maiores para uma boa elaboração do canteiro
do que do tipo restrito. Este tipo de canteiro é encontrado geralmente em obras de médio e grande
porte, em áreas mais afastadas da zona urbana. Canteiros longos e estreitos: estes canteiros são
restritos em apenas uma das dimensões com poucos pontos possíveis de acesso. Podemos tomar
como exemplos de obras com canteiros longos e estreitos as obras de ferrovia, rodovia, saneamento
básico, etc.
De acordo com Lins (2012), o construtor necessita de informações suficientes para que então ele
consiga transformar o projeto em realidade. Essas informações são obtidas na fase de planejamento
da obra, projetos revisados e finalizados, no cronograma estipulado para atender aos requisitos que
foram mostrados acima, o construtor precisa ter informações suficientes para que o projeto se torne
realidade. Estas informações foram obtidas graças aos projetos revisados e finalizados; do
cronograma físico, contendo informações sobre volumes e quantidades produzidas, estocadas e
transportadas. Além disso, é preciso ter as especificações técnicas da obra; fornecer recursos
básicos para o dimensionamento e construção da área de vivência; ter os dados sobre a
produtividade dos operários para um melhor dimensionamento da mão de obra, e, estar atento ao
cronograma com base nas informações obtidas sobre a obra.
Um mercado cada vez mais competitivo faz com que aconteça de forma mais acentuada melhorias
dentre as empresas concorrentes, e uma destas melhorias que cada vez mais está sendo almejada é a
satisfação do cliente. O sucesso de uma construtora dentro da indústria da construção civil está,
basicamente, associado a sua habilidade em fornecer produtos finais que sejam superiores aos
produtos de seus concorrentes afirma Almeida (2003). Uma inspeção criteriosa antes da entrega
formal da obra é fundamental para garantir a total satisfação do cliente, essa inspeção não deve ser
realizada por amostragem. Essa inspeção deve ser rigorosa e ser realizada cômodo a cômodo, não se
esquecendo das áreas comuns. Mesmo que a construtora possua um rigoroso controle da qualidade,
algumas imperfeições poderão aparecer na etapa de entrega da obra. Sendo o principal foco o
cliente, nada será mais importante se a satisfação do cliente não for atingida. Desta forma, o
controle da qualidade na etapa de entrega é fundamental e de extrema necessidade, pois é a última
etapa antes de se atingir o objetivo esperado.

2.3 - Gestão de Obras de Retrofit


Segundo Barros (2014), iniciar a obra mesmo sem ter um projeto definido é uma falha grave e
muito comum, quando se constrói, reforma ou se executa um retrofit. O Quadro 3 exemplifica os
passos e detalhes a ser analisados devido ao nível e grau de dificuldade e importância de muitos
passos do retrofit. A falta de um planejamento e de um orçamento consistentes é a principal causa
da maioria dos problemas de uma obra. O projeto, não pode ser tratado apenas como uma mera
formalidade, ele tem a funcionalidade de ser uma espécie de seguro, que ajuda e auxilia a
diminuição dos imprevistos, detalha os itens que compõem a reforma e norteia a construção.
SISTEMAS CARACTERISTICA
É preciso emassar e lixar as paredes antes da pintura para deixá-las uniformes. Se forem
Acabamento de Pintura
embutir móveis, deixe para dar a última demão de tinta na parede após a instalação.
Caso o piso não seja trocado, proteja-o contra arranhões durante toda a obra, especialmente se
Pisos
for de madeira. Utilize plástico com gesso para segurar, depois a remoção é fácil.
Caso seja preciso substituir a tubulação hidráulica, procure usar PVC nos tubos de água fria e
Hidráulica
Esgoto e o novo PPR nas de água quente, em substituição ao cobre.
Nunca haverá tomadas suficientes. Faça um projeto com novos pontos para elas, e preveja
também pontos e tubulação para a fiação de telefones, TV a cabo, Internet e até de som, caso
Elétrica tenha pretensão de instalar um sistema de Home Theater. Uma distribuição elétrica correta,
com os fios e disjuntores dimensionados assim você não sobrecarrega as fases, evitando contra
tempos indesejados.
Antes de instalar observe as especificações técnicas, por exemplo: espaçamento, material para
Revestimentos
instalação, assentamento e etc.
Quadro 1 – Características de qualidade para execução de obra
Fonte: Barros (2014)
No canteiro de obras, existe um gestor que atua organizando o trabalho, liderando e motivando o
pessoal. Este papel geralmente é realizado pelo corpo de arquitetos e engenheiros responsáveis pela
execução, mesmo sem o recebimento de formação específica para isso. O curso de Engenharia Civil
e Arquitetura são extremamente técnicos, não sendo lecionadas disciplinas que tratam das relações
interpessoais. E é exatamente na prática, lidando com os erros e acertos, que os gestores aprendem a
se relacionar e a gerenciar alguns destes conflitos. Diferentemente das máquinas, os seres humanos
têm pensamentos, valores e experiências de vida diferentes, o que os torna únicos. "O maior desafio
é fazer com que toda a equipe tenha o mesmo objetivo e que cada um entenda sua importância.
Saber administrar conflitos, escutar, se colocar no lugar do outro, respeitar as individualidades,
aceitar pontos de vista diferentes e zelar e auxiliar o colaborador na busca por crescimento, não
perdendo de vista as metas", é o que afirma a consultora em desenvolvimento humano Verbena
Lima, que ministra o curso de Liderança em Gestão de Pessoas no Sindicato da Indústria da
Construção da Bahia (Sinduscon-BA).
O mercado de trabalho vem sendo talhado pela falta de mão de obra qualificada de maneira
recorrente, desta forma, os gestores devem trabalhar de modo a extrair o potencial máximo dos
colaboradores e reter talentos importantes para o desenvolvimento dos projetos. Ainda sobre
Verbena Lima (2010) ao estimular boas práticas, ele garante qualidade aos serviços, reduz
desperdícios, eleva a segurança, diminui a rotatividade de profissionais e aumenta a produtividade.

3. ESTUDO DE CASO
3.1 – Caracterização do Estudo de Caso
O estudo de caso foi originado de uma obra onde o próprio autor atuou como estagiário. O imóvel
localizado na área metropolitana do Rio de Janeiro era utilizado como lavanderia para as forças
armadas no estado, estava desativado há mais de trinta anos, apresentava então, inúmeras
patologias. O projeto foi elaborado por arquitetos contratados de acordo com a demanda do grupo
investidor. A empresa responsável pelo projeto de arquitetura e paisagismo tem tradição em
desenvolver projetos de arquitetura, reformas, retrofit, design de interiores e de móveis.
A escolha pela realização do retrofit foi devido a impossibilidade de demolição da estrutura já
existente, pois se tratava de uma concessão de uso e um prédio de propriedade de terceiros. A obra
como um todo durou quatorze semanas. O galpão possuía poucas salas que eram utilizadas pela
parte administrativa da lavanderia, dois vestiários e um grande pátio onde ficavam as maquinas que
executavam os serviços de lavanderia. O escritório da empresa responsável pelo projeto de
arquitetura manteve o aspecto industrial que a edificação apresentava.

Figura 01 – Fachada antes e de acordo om o projeto


Fonte: Autores
A princípio fói definido que todas as paredes divisórias que seriam colocadas no primeiro
pavimento fossem executadas em dry-wall, o que diminuiria o custo e tempo de execução da
estrutura que suportaria o primeiro pavimento. Outro fator decisivo para a escolha de dry-wall para
o primeiro pavimento seria a possibilidade de alteração da configuração de alguma sala de aula,
caso a necessidade de salas maiores ou menores surgissem, de forma mais simples, rápida e
econômica se comparada à remoção de paredes feitas em alvenaria.
Nesta etapa foi definido também como seria o acesso às pessoas com deficiência e problemas de
locomoção pelo interior da edificação. Todas as portas do pavimento térreo foram cotadas com
dimensões mínimas de noventa centímetros, o que possibilita o acesso com cadeira de rodas de
forma simples. Foi projetado um banheiro especial para pessoas com dificuldades de locomoção e
que utilizam de cadeira de rodas. O acesso ao primeiro pavimento para as pessoas com deficiência e
problemas de locomoção será realizada através de uma cadeira especial que possibilita a subida e
descida de escadas convencionais para pessoas que utilizam cadeiras de rodas. Desta maneira não
foi necessário à construção de rampas de acesso ou de elevadores no prédio
Execução da Estrutura Em Aço
Foi uma decisão da diretoria do colégio, optar por estrutura metálica para as vigas e colunas para
que houvesse uma maior agilidade no decorrer da obra devido ao tempo de cura do concreto e
tempo de execução mais alongado devido o uso das formas e do escoramento

Figura 2 – Execução da Estrutura em aço


Fonte: Autores

Na medida em que a estrutura metálica iria avançando, a alvenaria iria sendo executada nos trechos
que estavam sendo concluídos. Na imagem acima, podemos notar o primeiro pilar em estrutura
metálica e que foi alinhado acompanhando a parede que já existia no pátio de maquinas da
lavanderia. Este lado foi o escolhido como sendo o primeiro lado a ser executado, pois era
exatamente o lado que havia a parede que seria utilizada e por possuir as maquinas de menor porte,
que mesmo assim, demandou bastante tempo e esforço da equipe em removê-las para um lugar que
não fosse incomodar onde pudesse aguardar o momento em que a aeronáutica pudesse recolher
junto às outras maquinas de grande porte.
Nota-se através da imagem a seguir como foi à execução da estrutura como um todo juntamente
com a alvenaria. Note que o pátio com a maior quantidade de maquinas pesadas e de maiores
dimensões continua lá, mesmo com o decorrer da obra, o que causa dificuldades de locomoção de
material e mão de obra no canteiro, sem contar que proporciona um ambiente de trabalho poluído
visualmente e com acumulo se sujeira. Perceba também o alinhamento dos pilares com a parede que
já existia e das vigas alinhadas com a laje do primeiro pavimento
Instalações
A tubulação de toda a fábrica estava comprometida, pois ela foi feita com barbarás, que são
tubulações antigas feitas em ferro e que são suscetíveis a corrosão e ferrugem, onde os mesmos já
estavam completamente obstruídos com muita ferrugem e sujeiras. A solução foi à instalação de um
novo sistema de água e esgoto em todo edifício. A imagem a seguir mostra um dos banheiros após a
escavação do piso para a troca de todo o encanamento por tubos mais modernos e de maior
diâmetro que comportará a demanda do colégio que é bem maior que de uma empresa. Ainda sobre
a imagem a seguir, é possível observar também que as baias onde serão instaladas as louças
sanitárias, já existem um início de corte na parede onde o encanamento de água que alimentava as
antigas caixas dos vasos sanitários, receberá um acréscimo de encanamento a fim de possibilitar a
alimentação hidráulica dos novos vasos sanitários com caixas acopladas.

Figura 3 – Execução das Instalações


Fonte: Autores

A troca do encanamento, a retirada das máquinas, a abertura dos vãos na parede que já existia e
alguns outros fatores, fizeram com que uma reparação no revestimento do pátio e no banheiro fosse
necessária. O revestimento encontrado nos banheiros da lavanderia eram diferentes comparados ao
revestimento encontrado no pátio das maquinas. Os banheiros eram revestidos com cerâmica,
enquanto o pátio havia sido revestido com argamassa. Este piso do pátio de maquinas era
constituído de uma argamassa chamada de Granitina. A Granitina é um tipo de revestimento
argamassado de alta resistência que permite um alto fluxo contínuo e possui uma resistência
mecânica de alto desempenho
Fachada
O revestimento de concreto queimado, só poderia ser colocado após a retirada de uma pequena
camada do emboço que cobria a fachada para dar aderência ao cimento. Como as dimensões da
fachada eram extensas e a sua trabalhabilidade exigiria a montagem e movimentação de andaimes,
o trabalho seria demorado e deveria ser realizado com perfeição e exatidão, pois se tratava do cartão
de visita da edificação.
Embora esta maneira de revestimento proporcione um maior trabalho e exija mais detalhes e horas
de serviço, sua execução precisa torna a edificação praticamente livre de reparos na fachada, visto
que sua vida útil é bem extensa e não é constituída de pequenas partes que podem se soltar com a
ação das intempéries e também não necessitam de pinturas, pois sua tonalidade é a própria
coloração vem do cimento
Instalações Elétricas
Com relação às manutenções que forma executadas, podemos destacar: troca do óleo dos dois
transformadores, troca de todos os fusíveis de proteção, troca do medidor de consumo de energia,
pintura da alvenaria do interior e exterior da subestação, pintura dos componentes condutores nos
novos padrões, troca de todos os conectores mecânicos, troca da chave magnética e a substituição
do cabeamento primário
Os cabeamentos que ainda eram de material rígido (já em desuso) estava totalmente ressecado e
com muitas partes com o condutor aparente. Foi necessário remover o pouco de cabeamento que
restou para que então fosse possível a instalação de novos cabos e tomadas já nos padrões mais
atuais
Outro fato que nos deu um trabalho extra foi executar um aumento no número de caixas de tomada,
pois como a edificação já era bastante antiga, não havia tantos equipamentos eletrônicos naquela
época como existem hoje, portanto nas salas que foram reaproveitadas, tivemos que abrir valas nas
paredes para colocar conduítes e mais tomadas, pois embora as caixas estivessem em boas
condições, não seriam suficientes para atender o labor diário que precisamos hoje. Este fato foi
bastante observado nas salas administrativas que permaneceram praticamente inalteradas em
relação as suas configurações anteriores.
Como as salas de aula não existiam, precisávamos enfrentar o problema de levar energia elétrica a
cada uma delas e deixar provimentos necessários para atender as salas que serão construídas na
segunda etapa da obra. Com isso houve a preocupação de não deteriorar o piso que era revestido
com granitina e que estava em bom estado necessitando apenas de alguns pontos de manutenção.
Desta forma a solução adotada foi efetuar uma cava para colocar eletrodutos capazes de abastecer
todas as salas já existentes e as que ainda iriam ser construídas em volta de toda a edificação,
deixando toda a alimentação elétrica das salas pelo subterrâneo exterior da edificação, onde o piso
era revestido simplesmente com concreto.
Foi preciso alugar um martelete rompedor para efetuar a escavação. Após três dias de trabalho
rompendo e escavando, a valeta estaria pronta para receber os eletrodutos. A caixa de disjuntores
que era utilizada na lavanderia foi reaproveitada no colégio, sendo que remanejada para a área
externa junto à fachada lateral, distante dos alunos e de fácil acesso aos funcionários do colégio, ale
da proximidade com a passagem dos novos eletrodutos.
Cobertura
O pátio livre e desimpedido proporcionou a opção de trabalhar com torre de andaime com rodinhas,
o que tornou a mobilidade dentro da uma excelente vantagem no reparo do forro to teto que possuía
algumas placas defeituosas ou faltantes. O forro da edificação original foi feito de madeira
aglomerada, que nada mais é que serragem prensada com cola. É um tipo de madeira que não
possui nenhuma resistência a umidade, estufando e se desintegrando quando em contato com água.
Algumas telhas haviam se deslocado, pois o parafuso de fixação havia enferrujado e saído da
posição, o que causou a entrada de água no forro e a quebra de algumas placas do forro. Todos os
parafusos do telhado foram substituídos por novos parafusos feitos de aço galvanizado. O telhado é
de telha de amianto, algumas destas telhas e duas cumieras tiveram que ser substituídas e foram
trocadas por telhas de fibrocimento, que é um material semelhante, porém não tem amianto que é
nocivo ao homem.
As novas placas de madeira para o forro do teto foram encomendadas de MDF, que são madeiras
com boa resistência e que são amigas do meio ambiente. Essas placas foram cortadas sob medidas e
fixadas através de pequenos caibros de madeira que deram acabamento em formato de moldura.
Após a troca de todas as placas quebradas ou defeituosas, houve a pintura de todo o forro através de
tinta acrílica. Abaixo nós temos imagens que mostram os problemas que foram encontrados no
forro e a manutenção sendo executada
Área Externa
A liberação do pátio onde as máquinas impossibilitavam o trabalho no teto foi de grande ajuda e
importância para o decorrer do trabalho, assim como a liberação do pátio descoberto que já
acumulava uma grande quantidade de máquinas que fora trazida durante a execução dos serviços. O
pátio descoberto era revestido de concreto, que por muitos anos sem uso e abandonado já estava
repleto de vegetação. Árvores de pequeno porte além de grande quantidade de capim e outras
vegetações impediam a entrada de veículos pelo portão de garagem o que também impedia um bom
desempenho da obra. O revestimento de concreto do pátio externo já estava completamente
deteriorado devido à formação desta vegetação e pela cava que foi executada pala a passagem do
novo cabeamento. Foi necessário que toda a área externa fosse concretada novamente para corrigir
esses problemas e para proporcionar um novo piso de forma regular e que não apresentasse risco de
utilização dos pedestres e dos veículos que fossem utilizar deste pátio como estacionamento.
Revestimento Argamassado do Pátio
O piso do pátio interno era de um revestimento argamassado a base de granitina e cimento. Este tipo
de revestimento é capaz de suportar um alto fluxo contínuo de pessoas e cargas elevadas de pressão
sem apresentar deformações ou fissuras. Este revestimento é feito por profissionais capacitados e
pode ser desenvolvido in loco. Foi contratada uma empresa especializada em revestimento de alta
resistência para reparar o piso acidentado e realizar uma nova aplicação deste revestimento nos
banheiros, visto que praticamente todo o piso teve que ser removido para a troca da tubulação
hidráulica antiga.
Este tipo de revestimento necessita da utilização de máquinas que fazem uma regularização e
acabamento na superfície do revestimento através do atrito de uma lixa especifica ou pedras de
esmeril.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta apresentada pela empresa responsável pelo projeto de arquitetura foi seguida e as
especificações do projeto de arquitetura foram compridas.
A execução de um projeto que contenha o máximo de informações detalhadas é de extrema
importância para a execução do retrofit. Devido à construção estar abandonada há muitos anos,
algumas patologias ou problemas que pudessem resultar em contratempos podem passar por
despercebido e não serem detectadas a ponte de ser colocadas no projeto executivo. Contar com
profissionais empenhados em catalogar e coletar informações acerca da construção é um fator muito
importante para uma execução segura e uma entrega de resultados de qualidade.
Muitas dificuldades e soluções encontradas puderam ser sanadas utilizando serviços e técnicas que
Grosso (2015) descreveu como sendo necessárias para a execução de um retrofit. Estes serviços e
técnicas executados no estudo de caso mostram, de maneira bem clara, as diferenças principais
entre uma obra de retrofit e uma obra de reforma. Para que seja possível efetuar uma análise
comparativa, de forma mais clara e objetiva, e confrontar com as afirmações de Grosso (2015)
segue abaixo um quadro que mostra as sete etapas para a realização de uma obra de retrofit e os
serviços que foram executados no estudo de caso.
É importante que o profissional se mantenha atento às verbas disponíveis, para tanto é essencial ter
um orçamento detalhado, com o preço dos itens muito bem pesquisados. Para isso tenha sempre um
projeto de arquitetura executivo feito por um bom profissional. Assim, alguns cuidados garantem
maior tranquilidade.

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VARIAÇÃO DE CALOR EM UMA PLACA: ANÁLISE EXPERIMENTAL E
SIMULAÇÕES COMPUTACIONAIS

Variation of heat on a plate: experimental analysis and computational solution

Fábio Gaspar Santos Júnior 1, Ana Carolina Carius 2, Mariana Anastácia 3


1
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil, fabiogaspar15@gmail.com
2
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil, ana.carius@ucp.br
3
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil, mariana.oliveira@ucp.br

Resumo: O presente trabalho objetivou a discussão do problema de variação de temperatura em


estruturas bidimensionais dos pontos de vista computacional e experimental. A equação diferencial
parcial que rege este problema depende, apenas, de variáveis espaciais. A formulação do problema
para materiais que se comportam de forma homogênea, a exemplo dos metais como o aço ou o titânio,
é simples e, a partir do método de Separação de Variáveis para Equações Diferenciais Parciais, é
possível obter uma solução analítica para este problema. A proposta desse trabalho foi analisar a
construção dessa solução analítica e verificar a implementação desta solução do ponto de vista
computacional, através do aplicativo GeMA. Este software utiliza, na obtenção das soluções
aproximadas, o Método de Elementos Finitos. A fim de avaliar a discrepância entre os resultados
computacionais a partir do GeMA e os resultados experimentais, elaborou-se um roteiro de
experimentos laboratoriais utilizando placas de aço e titânio, verificando-se diferentes valores para
as temperaturas ao longo das placas, uma vez que para esse tipo de experimento não há normas ABNT
que orientassem as medições, assim como a quantidade de dados mínima para validar o experimento
laboratorial. Por fim, comparou-se os resultados experimentais e com os resultados computacionais,
obtendo-se erros absolutos e relativos compatíveis, que indicaram a não necessidade de ensaios
laboratoriais para se compreender a variação de temperatura ao longo de placas homogêneas, uma
vez que as simulações do GeMA foram capazes de validar os resultados experimentais.

Palavras-chave: Variação de temperatura, separação de variáveis, Método dos Elementos Finitos,


GeMA.

Abstract: The present work aimed at discussing the problem of temperature variation in two -
dimensional structures from a computational and experimental point of view. The partial differential
equation governing this problem depends only on spatial variables. The formulation of the problem
for materials that behave homogeneously, for example metals such as steel or titanium is simple and,
from the method of Separation of Variables for partial differential equations, it is possible to obtain
an analytical solution for this problem. The purpose of this work was to analyze the construction of
this analytical solution and verify the implementation of this solution from the computational point
of view, through the GeMA application. This software uses Finite Element Method to obtain
approximate solutions. In order to evaluate the discrepancy between the computational results from
the GeMA and the experimental results, a script of laboratory experiments was elaborated using plates
of steel and titanium, being verified different values for the temperatures along the plates, one since
for this type of experiment, there are no ABNT standards that guide the measurements, as well as the
minimum amount of data to validate the laboratory experiment. Finally, we compared the
experimental results and the computational results, obtaining absolute and relative errors compatible,
which indicated the need for laboratory tests to understand the variation of temperature along
homogeneous plates, since the simulations of the GeMA were able to validate the experimental results.

Keywords: Temperature variation, separation of variables, Finite Element Method, GeMA.

1. INTRODUÇÃO
O processo de transferência de calor é amplamente estudado em diversas áreas da engenharia,
destacando-se a importância deste estudo, sobretudo, na engenharia civil e na engenharia mecânica.
Sempre que há um gradiente de temperatura no interior de um sistema ou quando há contato entre
dois sistemas com temperaturas diferentes, há um processo de transferência do calor. Este trabalho
concentrou-se no estudo de transferência do calor através do processo de condução, representado, em
sua forma estacionária, pela Equação de Laplace
∆𝑢 = 0, (1)
cujo domínio é um retângulo.
A Equação de Laplace apareceu, pela primeira vez, em um artigo de Euler sobre hidrodinâmica em
1752. A equação ficou com o nome de Laplace em honra a Pierre-Simon Laplace (1749-1827) que,
a partir de 1782, estudou extensivamente suas soluções enquanto investigava a atração gravitacional
entre corpos no espaço. A Equação de Laplace é figura conhecida em muitos problemas da Física
Matemática, como, por exemplo, no estudo de campos eletrostáticos, na função potencial elétrico em
um meio dielétrico sem cargas elétricas e, para interesse deste trabalho, na representação temperatura
no estado estacionário (IÓRIO, 2010).
Devido ao caráter histórico do problema apresentado neste trabalho, muito investigou-se, até o
presente, a respeito do papel das soluções analíticas encontradas para a Equação de Laplace no
contexto do problema de condução do calor, sobretudo do ponto de vista matemático, uma vez que a
Equação de Laplace possui solução analítica através do método de Separação de Variáveis para
Equações Diferenciais Parciais (EDP’s).
Desta forma, este trabalho consiste na análise computacional da variação de calor em uma placa
retangular, objetivando a verificar se a Equação de Laplace pode, de fato, ser utilizada para determinar
o valor da temperatura em pontos distribuídos de um objeto retangular. A questão da análise de calor
é problema recorrente em diversas áreas na engenharia, podendo ser aplicada na determinação do
valor da temperatura em um ponto de uma caldeira, de um motor ou outro objeto de estudo. Entretanto,
quantificar o valor dessa temperatura em um material e selecionar os parâmetros necessários para sua
determinação são processos altamente complexos. Uma possível solução seria a determinação de
valores verossimilhantes por meio de uma análise computacional.
O trabalho buscou comparar valores computacionais para a temperatura em uma placa retangular com
valores reais obtidos de forma experimental em laboratório. A fim de garantir as duas análises citadas
anteriormente, utilizou-se o software computacional GeMA, desenvolvido no Tecgraf, laboratório
computacional da Engenharia Civil da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Simulou-
se a condução do calor em placas retangulares de diferentes materiais: aço e titânio.
Após a obtenção dos resultados computacionais para o problema em questão, foram realizados
diversos experimentos laboratoriais envolvendo placas retangulares de aço e titânio. Não há, na
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), normas específicas para esse tipo de
experimento. Por fim, as temperaturas foram registradas em dois pontos diferentes das placas, que
eram idênticas, porém de materiais distintos e comparou-se esses resultados com os resultados
computacionais obtidos através do GeMA.

2. OBJETIVOS

Este trabalho objetivou avaliar o fenômeno do transporte do calor em uma placa retangular constituída
por materiais que se comportam de maneira homogênea quando submetidos à uma fonte de calor.
Analisou-se a transferência do calor, de forma estacionária, através de simulações numéricas e
experimentos laboratoriais. Ao final de ambos os processos, comparou-se a temperatura da placa em
cada par ordenado (x,y) sob as duas perspectivas, utilizando-se, como materiais experimentais, o aço
e o titânio. Nesse sentido, o trabalho conseguiu verificar se a modelagem matemática, em conjunto
com as simulações computacionais, foi capaz de reproduzir os resultados experimentais e, portanto,
gerar resultados confiáveis para problemas reais.

3. MÉTODOS

Nesta seção descreve-se as duas metodologias de pesquisa que foram utilizadas durante o trabalho:
modelagem matemática e simulações computacionais e os experimentos laboratoriais, simulando
situações reais de transferência de calor em placas retangulares de diferentes materiais.

3.1 Modelagem matemática: Equações Diferenciais Parciais e a transferência do calor


estacionária
Conforme descrito na Seção 1, a transferência do calor ocorre de diferentes formas e pode ser
estacionária ou transiente. Para efeitos de estudo neste trabalho, considerou-se o problema de
transferência do calor de forma estacionária em uma placa retangular, modelado através da Equação
de Laplace. Esta solução possui solução analítica através do método de separação de variáveis para
Equações Diferenciais Parciais (EDP). Deduz-se, a seguir, a solução para o problema de condução
do calor estacionário em uma placa retangular, a exemplo de Iório (2016).
Considere a equação de Laplace ( 1 ), onde Ω é o espaço bidimensional que, para este trabalho, é
representado por um retângulo. A Figura 1 ilustra o domínio proposto.
A fim de desenvolver a solução para a equação ( 1 ), considerou-se a placa retangular em regime
estacionário, sem geração de calor interno e a temperatura igual a 𝑇1 em três bordas. De forma
ilustrativa, pode-se considerar a temperatura 𝑇1 nas bordas inferior, lateral esquerda e lateral direita
da placa. A borda restante é submetida a uma temperatura diferente 𝑇2 . Portanto
∆𝑢 = 0,
que é equivalente a
𝜕2 𝑢 𝜕2 𝑢 .
+ 𝜕𝑦 2 = 0
𝜕𝑥 2
Fig. 1 - Placa [0, 𝑎] × [0, 𝑏]
Moreira (2015) propõe a seguinte mudança de variáveis para o problema descrito pela equação ( 1 )
𝑢−𝑇1 (2)
=𝜃
𝑇1−𝑇2
A partir da definição desta nova variável, as condições de contorno para problema podem ser
redefinidas da seguinte forma
𝜃(0, 𝑦) = 0
𝜃(𝐿, 𝑦) = 0
𝜃(𝑥, 0) = 0 (3)
𝜃(𝑥, 𝑏) = 1
Portanto a equação ( 1 ) pode ser reescrita em função da variável 𝜃
𝜕2 𝜃 𝜕2 𝜃 (4)
+ 𝜕𝑦 2 = 0
𝜕𝑥 2

Considerando 𝜃 a função que analisa a variação de temperatura, tem-se


𝜃(𝑥, 𝑦) = 𝑋(𝑥) ∙ 𝑌(𝑦)
onde X é uma função dependente de x e Y é uma função dependente apenas de y. Derivando duas
vezes em função de cada parâmetro, tem-se:
𝜕2 𝜃 𝑑2 𝑋
=𝑌∙
𝜕𝑥 𝑑𝑥
𝜕2 𝜃 𝑑2 𝑌
=𝑋∙
𝜕𝑦 𝑑𝑥

Dividindo essas equações pelo produto XY e considerando a definição para a função 𝜃, obtém-se
1 𝑑2 𝑌 1 𝑑 2 𝑋.
∙ = −𝑋 ∙
𝑌 𝑑𝑥 𝑑𝑥
É possível mostrar que a solução para esta equação é
𝜃(𝑥, 𝑦) = [𝐶1 cos 𝜆𝑥 + 𝐶2 cos 𝜆𝑥] ∗ [𝐶3 𝑒 −𝜆𝑦 + 𝐶4 𝑒 𝜆𝑦 ] (5)
Impondo-se as condições de contorno ( 3 ), é possível determinar os valores para as constantes
presentes na solução ( 5 ), assim como o valor para 𝜆.
Logo, a solução para o problema ( 4 ), com as condições de contorno ( 3 ), é dada por
2 (−1) 𝑛+1 +1 𝑛∗𝜋∗𝑥 𝑠𝑒𝑛ℎ(𝑛∗𝜋∗𝑦), (6)
𝜃(𝑥, 𝑦) = ∗ ∑∞
𝑛=1 ∗ 𝑠𝑒𝑛 ( )∗ 𝑙
𝜋 𝑛 𝑙 𝑠𝑒𝑛ℎ(𝑛∗𝜋∗𝑏)
𝑙

Considerando, novamente, a mudança de variáveis de 𝑢 para 𝜃 descreve-se a solução para a Equação


de Laplace ( 1 )
2(−1) n+1 +1 nπy
nπx sinh( 𝑤 )
(7)
u(𝑥, 𝑦) = 𝑢𝑙𝑎𝑡𝑒𝑟𝑎𝑙 + (𝑢𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑖𝑜𝑟 − 𝑢𝑙𝑎𝑡𝑒𝑟𝑎𝑙 ) ∙ ∑∞
n=1 sin ( )
π 𝑛 𝑤 sinh(nπh)
𝑤

onde 𝑤 é a largura da placa e ℎ é a altura da placa. A solução 𝑢, Equação de calor de Lewis descrita
por ( 7 ) é analítica, permitindo-se que se calcule o valor da temperatura para cada par ordenado
(𝑥, 𝑦). No entanto, em função das funções hiperbólicas que estão presentes nesta solução, o cálculo
manual não é tão simples. A fim de se obter a distribuição de temperatura no domínio bidimensional
Ω, foram realizadas simulações computacionais.

3.2 Simulações computacionais através do GeMA


O software GeMA foi desenvolvido na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)
através de uma plataforma digital. O objetivo do software é atuar como uma biblioteca que usa
modelos matemáticos e físicos aplicados à engenharia com finalidade de obter soluções através de
simulações numéricas, deixando a parte da estrutura e informação de dados na responsabilidade do
engenheiro. Os programas dentro dessa plataforma podem simular diversos problemas, dos mais
simples aos mais complexos, tendo como exemplo problemas físicos dependentes do tempo, que, em
geral, não são de fácil resolução. O programa suporta múltiplas soluções, porém seu foco é voltado
para a área de Elementos Finitos, utilizando discretizações das malhas e a análise necessária para a
solução de um dado problema. É utilizada uma “caixa de ferramentas” para o auxílio na obtenção da
solução através do programa, reduzindo custos e aumentando a produtividade do mesmo. Essa caixa
de ferramentas é definida no meio computacional como framework. Esse framework é o programa
GeMA (Análise de Modelagem Geográfica) que utiliza a linguagem de programação “Lua” em sua
estrutura, que se assemelha bastante a linguagem C++ e, também, tem a vantagem de ser de fácil
entendimento e fácil programação. Cabe ressaltar que a linguagem Lua também foi desenvolvida na
Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro (PUC-RJ).
A solução é construída, resumidamente, em três partes: dados do modelo, método da
solução e monitor de resultados. Neles, são definidos como será a simulação e os resultados obtidos.
A execução da simulação utiliza os dados do modelo e o método da solução em um arquivo (monitor
de resultados) e, em seguida, o script de orquestração calcula os resultados. O script de orquestração
é o local que as soluções são calculadas e é ali que são aplicados os dados e a sequência do processo
para a solução. Esse script é escrito em linguagem Lua.
Os processos de desenvolvimento são de alto nível e os processos de análise, como de elementos
finitos, ajudam na obtenção de objetos físicos para a modelagem matemática simulada. Com a
linguagem de programação necessária, é possível a execução do programa.
O ambiente GeMA é uma estrutura multifísica, ou seja, lida com diferentes problemas. Sendo assim
há uma disponibilidade da utilização desse programa para a análise computacional do problema de
calor em questão.
Como a proposta é a comparação dos resultados matemáticos com experimentos laboratoriais, a
solução desse programa é feita pela plataforma GeMA, gerando as malhas necessárias para a análise
computacional a ser feita. Assim, é possível comparar se a solução computacional se equipara com a
solução física real.
A arquitetura do programa é bastante didática, apresentando organização, facilidade e objetividade
no entendimento por parte de pessoas que já possuam um conhecimento prévio acerca de
programação.
O fornecimento da solução se dá por meio da solução do método em questão, com matrizes
específicas para cada tipo físico que, no caso deste trabalho, é a solução para uma placa de calor. O
programa implementa, em sua solução, malhas que definem a geometria do problema, parâmetros
físicos como material, densidade, temperatura, tamanhos etc.
Sua solução é bastante flexível e de fácil acesso.
Para a visualização da simulação computacional, é utilizado o ParaView, um software que transforma
as malhas calculadas em imagem, e projeta o gráfico da figura em análise. No caso deste trabalho, o
ParaView mostrará a simulação computacional das placas de metal simuladas pela GeMA.

3.3 Solução computacional


A equação de solução que o programa GeMA calcula gerando suas malhas é baseada em uma placa
quadrada em função dos eixos x e y, que mostra a temperatura em cada ponto dessa placa, dada pela
equação ( 7 ).

4. RESULTADOS
Primeiramente, apresentam-se os resultados computacionais obtidos a partir da inserção de dados no
programa GeMA. Os dados serão inseridos no programa baseando-se no maior calor obtido na fonte
em cada material durante a parte experimental, para o estabelecimento de um parâmetro para
comparação. Os maiores valores de temperatura obtidos nas fontes foram após cinco minutos de cada
teste laboratorial. Para a simulação no GeMA, tem-se a fonte como parâmetro inicial para temperatura
superior, enquanto para outras temperaturas, lateral e inferior, será adotado o valor da temperatura
ambiente. A simulação é feita sendo necessário colocar no programa os valores de temperatura
superior, lateral e inferior, o tamanho da placa, que neste trabalho é uma placa de metal de 2 polegadas
(5,1 cm) x 1 polegada (2,54 cm), e a condutividade térmica de cada material (k).
Para fazer a comparação com a parte teórica desenvolvida e a veracidade entre a modelagem
matemática, simulações computacionais e experimentos laboratoriais, foi realizada uma experiência
no Laboratório de Materiais Mecânicos na Universidade Católica de Petrópolis (UCP). O
experimento foi conduzido da seguinte forma: através de uma resistência elétrica em contato com
uma placa, que funcionou como fonte de calor, realizou-se a transferência de calor por condução
pelos grãos que compõem o material. Com um termômetro, aferiu-se os valores da temperatura em
dois pontos distintos da placa.
4.1. Resultados Teóricos

Para o Titânio:

O material para a primeira simulação foi o Titânio que possui, como propriedade específica, a
condutividade térmica (k) com valor de k = 21,9 W/mC. A temperatura da fonte na simulação foi de
T fonte = 130 °C. Colocando esse valor de temperatura para a fonte, obtemos gráfico na Figura 2,
levando em consideração a temperatura lateral como a temperatura ambiente, sendo nesta simulação
o valor utilizado de T ambiente/lateral = 22°C.

Fig. 1 – Placa de Titânio gerada no GeMA

Para o aço:
O material para a segunda simulação foi o Aço que possui, como propriedade, a condutividade
térmica (k) com valor de k = 50,2 W/mC. A temperatura da fonte na simulação foi de T fonte =
125 °C. Colocando esse valor de temperatura para a fonte, obtemos gráfico na Figura 3, levando em
consideração a temperatura lateral como a temperatura ambiente, sendo nesta simulação o valor
utilizado de T ambiente/lateral = 22°C.
Fig. 2 – Placa de Aço gerada no GeMA.

4.2. Resultados Práticos


Os resultados a seguir são os valores obtidos na medição da variação de calor em uma placa. Em cada
placa foram feitas as medições e convergiram para um valor. A seguir, estão indicados nas tabelas 1
e 2 as temperaturas, em °C (graus Celsius), na fonte (f) e nos pontos, em milímetros, nas placas de
Titânio e Aço.

Tabela 1 - Resultados dos valores obtidos em laboratório para a placa de Titânio.

Titânio
(x;y) em milímetros 0 min. 5 min.
Fonte 23,5 °C 132,3 °C
(12,7;30) 23,5 °C 30,2 °C
(12,7;15) 23,5 °C 26,3 °C

Tabela 2 - Resultados dos valores obtidos em laboratório para a placa de Aço.

Aço
(x;y) em milímetros 0 min. 5 min.
Fonte 20,5 °C 126,0 °C
(12,7;30) 21,8 °C 29,4 °C
(12,7;15) 21,8 °C 22,6 °C
5. DISCUSSÃO

A obtenção dos valores obtidos pela simulação teórica e os experimentos laboratoriais, possibilita o
estabelecimento de uma comparação entre eles, expressa nas tabelas 3 e 4:

Tabela 3 - Comparação dos valores obtidos em laboratório e computacional para a placa de Titânio.

Titânio – Comparação
T. ambiente 21,80 °C
(x;y) em milímetros Temperatura em laboratório Temperatura computacional
Fonte 132,30 132,30
(12,7;30) 30,20 31,40
(12,7;15) 26,30 23,27

Tabela 4 - Comparação dos valores obtidos em laboratório e computacional para a placa de Aço.

Aço – Comparação
T. ambiente. 21,70 °C
(x;y) em milímetros Temperatura em laboratório Temperatura computacional
Fonte 126,00 °C 126,00 °C
(12,7;30) 29,40 °C 29,58 °C
(12,7;15) 22,60 °C 21,80 °C

Então, mesmo com pequenas diferenças, pode-se perceber que as variações de temperatura nas placas
tanto de titânio quanto nas de aço se dão de uma forma bem aproximada, tanto na simulação
computacional quanto na parte prática.
A partir dessa análise pode-se dizer que para materiais homogêneos apenas a simulação
computacional é necessária. Os valores do programa GeMA se aproximam dos valores reais. Portanto,
não é necessário fazer medições práticas, com a peça no seu ambiente de atuação, para obter os
valores da variação de temperatura em um material exposto a troca de calor com uma fonte quente.

6. CONCLUSÃO
Levando em consideração os valores analisados, tanto na parte teórica quanto na parte prática deste
trabalho, é possível verificar que os valores se comparam. Haja vista que o programa GeMA é para
cálculo de variação de temperatura em placa, os valores determinados pela simulação no programa
condizem com os valores obtidos em laboratório. Há um pequeno erro de aproximação devido a
fatores físicos, como a interferência do calor por convecção e radiação (convecção e radiação foram
desprezados neste, já que a intenção era o cálculo por condução), a umidade do ar, densidade do ar e
pressão atmosférica e outros valores que não são levados em conta nesse trabalho. A variação devido
a esses fatores é pequena comparado aos valores altos de temperatura gerados na fonte.
A Equação de calor (Lewis) que determina a temperatura em cada ponto de uma estrutura é analisada
no programa da plataforma GeMA e determina a variação em uma placa de aço e titânio. Como os
resultados obtidos no estudo em laboratório condizem com os valores (bem próximos) do programa,
a análise desses pôde permitir que são condizentes. Portanto, a Equação de calor e o programa são
ótimas aproximações para valores reais. Tal fato é de suma importância na engenharia, visto que
permite a obtenção de valores de temperatura em estruturas sem o uso de termômetro ou outra
medição no objeto físico em estudo. Nesse contexto, somente o uso de uma simulação computacional
se torna suficiente, uma vez que permite avaliar o valor da temperatura em cada ponto do corpo ou
analisar a variação de temperatura nesse, a partir da informação acerca de fatores básicos, como a
temperatura em torno do objeto e a condutividade térmica do material.
Com o intuito de comprovar a eficiência da equação e do programa, este trabalho analisou uma placa
retangular.
Por fim, propõe-se, para estudos futuros, a análise dos fatores físicos e como eles podem interferir na
comparação entre os valores real e teórico, e assim, chegar em um valor teórico mais próximo ainda
do real.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos a Universidade Católica de Petrópolis por fornecer seu laboratório para os
experimentos. Ao Matheus Fernandes de Andrade e Michel Mouawad de Queiroz pelo auxílio na
realização dos experimentos do trabalho. À professora Bruna Teixeira Silveira pela ajuda com o
programa GeMA.

REFERÊNCIAS
[1] IÓRIO, V. EDP, Um curso de Graduação. Editora IMPA, Rio de Janeiro, 2016.
[2] MOREIRA, J. Processos de transferência de Calor. Texto para uso didático disponível em forma digital na
internet – Faculdade de Engenharia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
[3] FISH, J; BELYTSCHKO, T. Um Primeiro Curso em Elementos Finitos. Livros Técnicos e Científicos Editora S.A,
Rio de Janeiro, 2009.
[4] OZISIK, M. Transferência de calor, Um texto básico. Editora Guanabara. Koogan S.A, Rio de Janeiro, 1990.
REJEITOS DA INDÚSTRIA DE PRODUÇÃO DE ALUMÍNIO E MAGNÉSIO
COMO SUBSTITUINTE PARCIAL DO CIMENTO PORTLAND PARA
MITIGAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELA EMISSÃO
DE CO2

Waste of the aluminum and magnesium production industry as a partial substituent of


the Portland cement to mitigate the environmental impacts caused by CO2 emission

Maysa L. Figueiredo Martins 1, Ivete Peixoto Pinheiro 2


1 Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET-MG, Belo Horizonte, Brasil,
ysalorena@yahoo.com.br
2
Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET-MG, Belo Horizonte, Brasil,
trabalhosivetepinheiro@gmail.com

Resumo: O cimento Portland é um dos materiais mais utilizados na construção Civil, portanto,
melhorias quanto ao custo, qualidade e eficiência são importantes. A indústria de construção civil é
caracterizada como uma indústria anti-ambiental devido às grandes emissões de CO 2. Em particular,
rejeitos industriais podem promover a diminuição da emissão com a substituição parcial do cimento
Portland. Partindo desse princípio, vários materiais estão sendo estudados com o objetivo de substituir
parcialmente o cimento Portland. O presente trabalho tem como finalidade verificar a possibilidade
de uso dos resíduos provenientes da fabricação do magnésio metálico e do refino da bauxita como
materiais cimentícios suplementares adicionados ao cimento Portland. A pesquisa visa obter um
cimento que apresente propriedades mecânicas favoráveis e reduzir os danos ambientais causados
pela destinação dos rejeitos e pela diminuição na emissão de CO2. A caracterização do material
estudado foi realizada por meio de granulometria a laser e difração de raios X (DRX). A lama
vermelha foi calcinada a 900C. A moldagem das argamassas, para confecção dos corpos de prova
que foram submetidos aos ensaios, foi feita com a substituição em massa do cimento Portland pela
mistura dos resíduos. Testes como resistência à compressão, resistência à flexão e absorção de água
foram realizados para determinar o índice de desempenho do cimento Portland e com adição de
rejeitos. O resultado da resistência mecânica por compressão foi de 43,57 MPa, acima do valor
estabelecido em norma (30 MPa), e o resultado por flexão apresentou uma resistência de 5,89 MPa,
maior que 10% do valor de referência. Por meio dos resultados tornou-se possível perceber as
melhorias obtidas com a incorporação da mistura de rejeitos ao cimento Portland.

Palavras-chave: Cimento Portland, Materiais Cimentícios Suplementares, Resíduos Industriais.

Abstract: Portland cement is one of the materials most used in civil construction, so improvements
in cost, quality and efficiency are important. The civil construction industry is characterized as an
anti-environmental industry due to large CO2 emissions. In particular, industrial waste can promote
the reduction of emissions with the partial replacement of Portland cement. Based on this principle,
several materials are being studied with the aim of partially replacing Portland cement. The present
work aims to verify the possibility of using the residues coming from the manufacture of metallic
magnesium and the refining of bauxite as additional cementitious materials added to the Portland
cement. The research aims at obtaining a cement that presents favorable mechanical properties and
reduce the environmental damages caused by the destination of the waste and the decrease in CO 2
emission. The characterization of the studied material was performed by means of laser granulometry
and X-ray diffraction (XRD). The red mud was calcined at 900 ° C. The molding of the mortars, for
the preparation of the test specimens that were submitted to the tests, was done with the mass
replacement of the Portland cement by mixing the residues. Tests such as compressive strength,
flexural strength and water absorption were performed to determine the performance of Portland
cement and with the addition of tailings. The result of the mechanical strength by compression was
43.57 MPa, above the standard value (30 MPa), and the bending result showed a resistance of 5.89
MPa, greater than 10% of the reference value. By means of the results it was possible to perceive the
improvements obtained with the incorporation of the tailings mixture to the Portland cement.

Keywords: Portland Cement, Supplementary Cementing Materials, Industrial Waste.

1. INTRODUÇÃO
Desde o inicio do acompanhamento e registro das temperaturas da superfície da terra (1880), após o
ano de 2001 ocorreram as 15 maiores temperaturas registradas. O ano de 2015 foi o que apresentou
a maior temperatura média de todos os tempos [1].
Os maiores índices de emissões de CO2 aproximadamente a metade, ocorreram entre os anos de 1750
e 2011, justificadas pelo aumento da população e crescimento econômico. As emissões por
combustão de combustíveis fósseis e processos industriais corresponde a 78% do total. Estima-se que
a produção de cimento é responsável por cerca de 5 a 7% das emissões globais de CO 2, considerada
uma das grandes emissoras de dióxido de carbono. E a maior demanda por concreto está diretamente
relacionada com o aumento da população e desenvolvimento tecnológico [2]. Devido às imprecisões
nas previsões quanto ao desenvolvimento social, econômico e tecnológico, é relevante um
planejamento para redução de emissões de gases, tendo por consequência menor gasto energético [3].
Caracterizada como uma indústria anti-ambiental, devido às grandes emissões de CO2, a indústria de
construção civil emite CO2 em praticamente todo o seu processo produtivo desde a fase da produção
do cimento, como na fabricação de agregados, adições e aditivos. Os principais processos que
ocorrem na produção do concreto e seus constituintes devem ser definidos para uma avaliação
ambiental ampla. Em geral, para uma tonelada de clínquer de cimento Portland 0,87 toneladas de CO2
é liberada para a atmosfera. No entanto, esse valor pode variar de acordo com a localização, a
tecnologia e a eficiência da produção [4-5].
Algumas alternativas com o objetivo de reduzir as emissões de CO 2 pelas industrias cimentícias são
estudadas e aprimoradas. As com maiores potenciais têm sido a mudança no combustível utilizado
no processo de calcinação, isto é, o emprego de combustíveis com menor teor de carbono. A adsorção
química de CO2, a otimização do processo de obtenção do clínquer na moagem e conversões
eficientes de um processo úmido para seco são opções para minimizar as emissões de CO2. Outra
alternativa em destaque é a adição de materiais cimentícios suplementares (MCS) ao cimento,
escorias de alto forno, cinza volante e sílica ativa. Esta alternativa possui menor custo e vantagens
ambientais, pois utiliza de subprodutos e/ou rejeitos industriais [6].
A demanda por cimento cresce exponencialmente com o passar do tempo, deste modo estudos e
desenvolvimento de soluções tecnológicas ou técnicas capazes de minimizar as emissões de CO 2, que
contribuem diretamente com o efeito estufa estão cada vez mais presentes [7].
Julie Armengaud et al. [8] mostraram que a utilização de materiais cimentícios suplementares,
metacaulim, sílica e escoria granulada de alto forno como substituintes ao clínquer, no concreto
projetado a seco é favorável. Os resultados de resistência a compressão foram satisfatórios a maioria
dos corpos de prova apresentaram resistência maior que 45MPa (padrão norma europeia EN 206/CN)
aos 28dias. A mistura de concreto a seco contendo grandes quantidades de MCS mostra ser tão
durável quanto a qualquer concreto feito com cimento Portland comum.
Pesquisas com tufos vulcânicos, depositados no norte da Jordânia, para utilização como MCS tiveram
resultados positivos. A composição química dos tufos está diretamente ligada ao seu desempenho,
pois pode ser qualificado como material pozolânico natural uma vez que apresenta mais de 70% em
peso dos compostos SiO2 , Al2O3 e Fe2O3. O ensaio de resistência a compressão mostrou que em
idades mais avançadas (56 e 90 dias), o cimento substituído parcialmente pelos tufos produziram
resultados semelhantes ou até superiores aos obtidos com o cimento Portland puro. As respostas no
estudo obtidas apontam para o potencial confiável de uso do tufos [9].

Os problemas causados pelas emissões de CO 2 na produção do cimento Portland podem ser


minimizados com a utilização de resíduos como misturas minerais, ou materiais complementares, que
atualmente são utilizados e apresentam boas propriedades. Portanto, melhorar o desenvolvimento
sustentável da indústria do cimento diminuindo a quantidade de emissão de carbono e a energia
utilizada é um desafio significativo e duradouro. Um grande número de resíduos industriais está
disponível e não são totalmente utilizados, nem dada a destinação adequada, portanto seu uso como
MCS na produção de cimento pode ser uma alternativa para a diminuição dos impactos abientais.
[10].

Os MCS mais comuns (escorias de alto forno, cinzas) não estão conseguindo abastecer o mercado o
que gera um aumento no seu preço. Por conseguinte, faz necessário aprimorar e selecionar novos
materiais cimentícios suplementares que atendam a indústria e contribuam tanto nas questões
econômicas e ambientais. Quando adicionados ao cimento Portland, os MCS devem apresentar
atividade hidráulica e/ou pozolânica, essa combinação tem uma influência positiva a longo prazo nas
propriedades do concreto endurecido [11].

2. OBJETIVO

A fim de reduzir as emissões de CO 2 geradas na produção do cimento Portland, o interesse dessa


pesquisa é a caracterização de dois rejeitos industriais com propriedades mineralógicas favoráveis
para serem empregadas no cimento Portland. Os resíduos são a mistura exaurida proveniente da
indústria de magnésio metálico e a lama vermelha da produção do alumínio. O objetivo é avaliar a
utilização dos mesmos como substituintes parciais ao cimento Portland. Ao fazer a substituição
espera-se que haja a diminuição dos gastos energéticos e da geração de CO2 no processo de fabricação
do cimento.
3. MATERIAIS E MÉTODOS

A classificação do cimento Portland pode ser feita de acordo com o percentual de gesso, escoria,
material pozolânico e material carbonático presente no cimento. O cimento Portland pode ser
classificado como comuns, compostos, alto-forno e pozolânicos. O cimento comum é aquele sem
nenhuma adição além de gesso, e por meio desses se faz possível o desenvolvimento de outros tipos,
já a denominação composto é dada ao cimento comum com adições. É intitulado como cimentos
portland de alto forno e pozolânicos, o cimento composto por frações de escorias granuladas de alto
forno e materiais pozolânicos, respectivamente [12].

O processo de produção de magnésio metálico consiste em reagir o óxido de magnésio e cálcio


(dolomita) com ferro-silício em altas temperaturas (1100 a 1500ºC) e baixas pressões. A pressão baixa
deixa o sistema sob vácuo, o que faz diminuir a temperatura e facilitar a obtenção do magnésio na
forma gasosa. O resíduo desse processo é a mistura exaurida que é composta por belita (Ca2SiO4),
monticelita (CaMgSiO2), periclásio (MgO), portlandita (Ca(OH)2) e oxido de cálcio (CaO) [13].

A obtenção do alumínio ocorre pelo processo Bayer que consiste na cominuição da bauxita, seguido
de tratamento térmico em solução a quente de hidróxido de sódio (NaOH) e licor de cal a -175C,
submetido a um ataque de alta pressão e alta temperatura. O que resulta na conversão da alumina
hidratada em solução de aluminato de sódio, enquanto as impurezas permanecem no estado solido. O
resíduo do processo Bayer é a lama vermelha que tem propriedades alcalinas, sua composição varia
de acordo com a fonte de bauxita. Seus principais constituintes são Fe2O3 , Al2O3 , SiO2, TiO2, Na2O
e CaO e poucas frações, traços (como óxidos) de V, Ga, Cr, P, Mn, Cu, Cd, Ni, Zn, Pb, Mg, Zr, Hf,
Nb, U, Th, K, Ba, Sr, terras raras [14-17].
Os rejeitos utilizados (lama vermelha e mistura exaurida) foram caracterizados pelos ensaios de
difração de raios X (drx) e granulometria a laser. os testes foram realizados com substituição em de
25% em massa do cimento portland pelos rejeitos, 12,5% da lama vermelha e 12,5% mistura exaurida.
após a confecção dos corpos de prova foi realizado ensaios de compressão, flexão e absorção de água.
Os corpos de prova foram moldados utilizando as normas estabelecidas pela ABNT, que são descritas
ao longo do trabalho como referência para os ensaios realizados. O processo de moldagem foi
realizado no Laboratório de Mecânica dos Pavimentos e Tecnologia dos Materiais - CEFET-MG.

3.1 Processo de preparação dos rejeitos

A lama vermelha proveniente da barragem Maravilhas, localizada na cidade de Ouro Preto em Minas
Gerais, inicialmente foi submetida ao processo de homogeneização (quarteamento). Em seguida, o
material foi levado ao forno a temperatura de 100C por 24 horas para que toda umidade residual
fosse eliminada. Após a secagem, a lama vermelha passou por um processo de moagem, realizada no
moinho de bolas planetário de alto desempenho da marca FRITSCH, modelo Pulverisette 5. A
velocidade do moinho foi de 300 RPM por 20 min, para que fosse possível atingir a granulometria
inferior a 45m, estabelecida na norma NBR 5752 [18]. Utilizou-se 12 esferas de moagem de 20mm
de diâmetro, em cada vasilhame de 500mL. A lama vermelha moída, passou por
um processo de calcinação no forno da marca Magno, potência 5,5kW, e dimensões 40cm x 20cm x
20 cm, a uma temperatura de 900C por uma hora, com base no trabalho de Daniel Véras Ribeiro
[19].

A mistura exaurida foi fornecida pela empresa Rima Industrial S.A, utilizada como recebida, sem a
necessidade de processamento, uma vez que o material possui características como granulometria
fina, material seco e calcinado.

3.2 Moldagem dos corpos de prova (CPs)

Para o processo de moldagem dos corpos de prova foi usado os rejeitos, cimento Portland CPV-ARI
(cimento comum), areia normalizada classificada em quatro frações granulométricas retidas nas
peneiras n100 (0,169mm), n50 (0,297mm), n30 (0,59mm) e n16 (1,19mm) em proporções iguais
e água fornecida pela empresa de saneamento da cidade de Belo Horizonte (COPASA). A moldagem
dos CPs foi iniciada após a caracterização das amostras dos rejeitos utilizados. Para o estudo da
eficácia do processo de substituição parcial do cimento Portland, foram moldados corpos de prova de
referência, isto é, corpos de prova preparados apenas com o cimento Portland, areia e água em seguida
foram feitos os CPs com a substituição parcial do cimento.

A moldagem dos CPs foi realizada utilizando moldes cilíndricos de aço com diâmetro de 50mm e
altura de 100 mm, e formas prismáticas de aço, com altura de 40 mm, comprimento de 160 mm e
largura de 40 mm (Figura 1).

Figura 1 - Moldes de CPs para ensaios de compressão e flexão.

A preparação da argamassa para a moldagem iniciou-se com a pesagem de todo o material necessário
para o seu preparo. A proporção de material utilizado para os corpos de prova de foi, para cada uma
parte de cimento Portland CPV-ARI, 3 partes de areia normalizada e 0,48 partes de água. Já a
composição dos os corpos de prova com substituição parcial, seguiu a mesma
composição variando apenas a massa do cimento, que foi substituída na proporção de 25% em peso
pelos rejeitos (12,5% ME e 12,5% LV), valores embasados na norma NBR 5752 [18].
O processo para obtenção da argamassa se dá pela mistura dos materiais, que em sequência é colocada
nos moldes, obtendo os CPs (Figura 2) e assim que secos (após 24hs) passam pelo processo de cura
por 28 dias, para que possam ser ensaiados. Todo o processo citado foi realizado conforme a norma
NBR 7215 [18].

Figura 2 - Processo de moldagem dos CPs

3.3 Ensaios Mecânicos

Os ensaios mecânicos realizados foram o de flexão e tração para medir a resistência mecânica dos
CPs após 28 dias após a cura dos corpos de prova conforme a NBR 13279 [20]. Os ensaios foram
realizados utilizando o equipamento Universal de Ensaios da marca EMIC, com capacidade para 300
KN, e os softwares TESC e Vmaq, do Laboratório de Mecânica dos Pavimentos e Tecnologia dos
Materiais - CEFET-MG. Os resultados obtidos foram analisados estatisticamente usando o método
T-student.

3.4 Ensaio de Absorção de água

O ensaio de absorção foi realizado conforme a NBR 9778 [21]. Pra realizar o ensaio foi utilizada uma
balança hidrostática, com um cesto acoplado para comportar a amostra durante a pesagem, interligado
a um recipiente contendo água. O forno a temperatura de 100C por 24 horas foi utilizado para fazer
a secagem dos CPs em análise.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Difração de raio X (DRX)


A difração de raios X (DRX) foi realizada para caracterizar as fases mineralógicas presentes na
mistura exaurida e na lama vermelha, os picos correspondentes a cada mineral presente nos rejeitos
podem ser observados na Figura 3 e na Figura 4.

1200

 - Calcio-olivine
1000
 - Periclase

800
Intensidade

600

400

 
200  

 
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
2 Theta

Figura 3 - DRX da mistura exaurida

600

 - Quatzo

 - Goethita
 - Hematita
400
Intensidade

200 

  
  
   

  
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
2 Theta
Figura 4 – DRX da lama vermelha
Ao analisar o DRX da mistura exaurida percebe-se a presença do mineral Cálcio – olivine, que
segundo Zadov [22] é o polimorfismo de estruturas de do Ca2SiO4, que pode ser apresentada de forma
natural γ-Ca2SiO4, ou de forma sintética, proveniente principalmente dos processos de calcinação de
minerais. Observa-se também a presença de periclase ou periclásio, mineral de óxido de magnésio
(MgO), que é esperado por se trata de um rejeito proveniente de uma indústria de magnésio metálico.
A presença de quartzo no DRX da lama vermelha deve-se ao dióxido de silício e as fases Gothita e
Hematita por apresentar F2O3 em sua composição.

4.2 Granulometria a laser


A granulometria a laser da mistura exaurida indicou uma granulometria média 21,75µm e a maior
parte do material (90%) tem granulometria menor que 42,87 µm. Assim o material atende a norma
NBR 12653 [23], que indica que o material deve ter granulometria máxima de 45µm, deste modo
favorecem o preenchimento de vazios e proporcionam o efeito filler.
Os resultados da granulometria a laser da lama vermelha mostraram que a média do tamanho de grão
é de 11 µm, e a maior parte (90%) do material apresenta granulometria em torno de 28,8 µm, o que a
qualifica como um material fino e atende a norma NBR 5752 [18]. Deste modo a superfície de contato
com o material aumentam a interação entre os materiais presente na mistura na qual ela for
incorporada. Deste modo, quanto maior a superfície de contato com o material, maior a interação.

4.3 Ensaios mecânicos


4.3.1 Ensaio de compressão
Os resultados do ensaio de resistência a compressão realizado com 10 corpos de prova sendo 5 com
materiais de referência e 5 com o material substituintes podem ser verificados na Figura 5. Ao analisar
os dados obtidos observa-se que a média da tensão para o corpo de prova referência é de 57,65 MPa,
já para os CPs com os rejeitos apresentaram resistência média a uma tensão de 43,57 MPa .
Referência
60
MCS
Resistência a compressão (MPa)

50
)
a
P 4
M
(
0
a
m
i? 3
x 0
M
o
?
s
n2 0
e
T
10

Figura 5 - Ensaio de compressão


Os resultados estatísticos dados pelo t-student têm como resultado p= 0,0000384, o que indica que
são estatisticamente diferentes. Portanto, pode-se afirmar um desempenho 24% menor para os CPs
com MCS, quando comparado à referência. Entretanto, de acordo com a norma NBR 5752 [18], a
resistência esperada para cimentos com materiais pozolânicos é de 30 MPa, e foi verificado que todos
os CPs com a mistura de mistura exaurida e lama vermelha como substituinte romperam acima da
tensão prevista em norma.
4.3.2 Ensaio de Flexão
Nos testes para verificar à resistência à flexão dos CPs foi utilizado 3 CPs de referência e 3 com
substituição parcial pelos os rejeitos, totalizando 6 corpos de prova. Os resultados obtidos no ensaio
de flexão são apresentados na Figura 6, visualmente perceptível a maior resistência dos corpos de
prova com MCS, que apresentam uma resistência a flexão média de 6,79 MPa, e os CPs de referência
uma média de 5,89 MPa.

Referência
MCS
7

6
Resistência à flexão (MPa)

)
a 5
P
M
(
a 4
m
ix
?
M
o
?
3
s
n
e
T 2

Figura 6 - Ensaio de flexão

A analise estatística t-student para o ensaio de flexão teve como resultado p= 0,4271 deste modo há
uma variação significativa, pois está abaixo de 0,5. O desempenho de resistência a flexão dos corpos
de prova com substituição parcial pelo MCS foram 13% maior em relação aos CPs de referência, uma
resposta favorável.
4.3.3 Absorção de água e índice de vazios presentes
O ensaio de absorção de água foi realizado de acordo com a norma NBR 9778 [21], os resultados
obtidos por meio da fórmula estabelecida pela norma para imersão podem ser observados na Figura
7. Ao observar os dados obtidos há uma variação na quantidade de água absorvida, os corpos de prova
com MCS absorveram aproximadamente de 12,6 % de água a mais, em relação aos corpos
de prova de referência. A justificativa para essa maior absorção é a maior presença de poros geradas
possivelmente pela interferência da granulometria das partículas.

Referência
9 MCS

8
Absorção de água (%)

B
4

Figura 7 - Ensaio de absorção de água

5. CONCLUSÃO
Os ensaios realizados mostram que a substituição parcial do cimento Portland pelos dois rejeitos em
estudo apresentaram resultados satisfatórios. A composição mineralógica dos rejeitos indica que eles
podem oferecer efeito pozolânico e a sua granulometria fina promove o efeito filer.
Os primeiros testes realizados com a substituição dos rejeitos no cimento Portland mostram resultados
que indicam que são materiais elegíveis para substituição, pois quando submetidos aos testes de
compressão os valores foram menores que a referência, contudo maiores que o estabelecido por
norma. Já quanto o teste de flexão os CPs com o percentual de cimento substituído, obtiveram maior
resistência à flexão.
A substituição parcial do cimento Portland não compromete as propriedades mecânicas e promoverá
a diminuição da emissão de CO2 e gasto energético na produção do cimento, além de promover a
destinação aos rejeitos.
REFERÊNCIAS
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Studies. Disponível em:http://data.giss.nasa.gov/gistemp/. Acesso 10 jan. 2018.
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Cleaner Production, v. 51, p. 142-161, 2013.
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change: current and potential future cement industry CO2 emissions. In: GREENHOUSE GAS CONTROL
TECHNOLOGIES. INTERNATIONAL CONFERENCE, 6 th. Proceedings... 2003. p. 995-1000.
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of a low-carbon-emission concrete mix design using an optimal mix design system. Renewable and Sustainable
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Concrete Composites, v. 51, p. 38-48, 2014.
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concrete. Journal of Cleaner Production, v. 103, p. 774-783, 2015.
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abatement cost. Journal of Cleaner Production, v. 112, part 5, 2016, p.. 4041-4052.
[8] ARMENGAUD, Julie et al. Durability of dry-mix shotcrete using supplementary cementitious materials.
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[9] ABABNEH, Ayman; MATALKAH, Faris; Potential use of Jordanian volcanic tuffs as supplementary
cementitious materials, Case Studies in Construction Materials,v. 8, 2018, p. 193-202
[10] WU, Meng et al. Experimental study on the performance of lime-based low carbon cementitious materials.
Construction and Building Materials, v. 168, p. 780-793, 2018.
[11] DAM, V. T. Supplementary cementitious materials and blended cements to improve sustainability of concrete
pavements. Tech Brief, National Concrete Pavement Technology Center, Iowa State University Institute for
Transportation, Ames, IA, USA. Accessed, v. 9, 2016.
[12] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND. (ABCP) Guia básico de utilização do cimento
Portland. 7.ed. São Paulo, 2002. 28p.
[13] FRIEDRICH, H. E.; MORDIKE, B. L. Magnesium technology: metallurgy. Design Data, Applications, v. 677,
2006.
[14] DODOO-ARHIN, David et al. Awaso bauxite red mud-cement based composites: characterization for pavement
applications. Case studies in Construction Materials, v. 7, p. 45-55, 2017
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bauxite calcination method. Journal of Hazardous Materials, v. 146, n. 1-2, p. 255-261, 2007.
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implications for revegetation. Journal of Environmental Quality, v. 33, n. 5, p. 1877-1884, 2004.
[17] SOLYMAR, Karoly et al. Characteristics and separability of red mud. In: TMS ANNUAL MEETING, 121
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[18] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 5752: materiais pozolânicos:
determinação do índice de desempenho com cimento Portland aos 28 dias. Rio de Janeiro, 2014.
[19] RIBEIRO, Daniel Véras. Influência da temperatura de calcinação nas propriedades cimentícias do resíduo de
bauxita. Relatório Científico Final de Pós-doutorado, apresentado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (FAPESP) em jun. de 2011.
[20] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND. (ABNT). NBR 13279: argamassa para assentamento
e revestimento de paredes e tetos—determinação da resistência à tração na flexão e à compressão. Rio de Janeiro,
2005.
[21] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS(ABNT). NBR 9778: argamassa e concreto
endurecidos: determinação da absorção de água, índice de vazios e massa específica. Rio de Janeiro, RJ, 2005.
[22] ZADOV, A. E. et al. Discovery and investigation of a natural analog of calcio-olivine (γ-Ca 2 SiO 4). In: Doklady
Earth Sciences. SP MAIK Nauka/Interperiodica, 2008. p. 1431-1434.
[23] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 12653: materiais pozolânicos -
especificação. Rio de Janeiro,1992.
DIRETRIZES DA MOBILIDADE URBANA SUSTENTÁVEL: ESTUDO DE
CASO DA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO

Guidelines on sustainable urban mobility: case study of the metropolitan region of


Rio de Janeiro

Pedro TERSIGUEL Oliveira*1, Nélio Domingues PIZZOLATO2


1
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, pedrotersiguel@gmail.com
2
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, ndp@puc-rio.br

Resumo: As estruturas urbanas atuais, sobretudo nos países em desenvolvimento, se beneficiaram


do uso dos automóveis particulares e do transporte rodoviário sem levar em conta os aspectos da
sustentabilidade. Os impactos negativos deste desenvolvimento já podem ser vistos hoje. A
mobilidade urbana sustentável trata de aspectos tradicionais do planejamento urbano de um
diferente ponto de vista: focada nas pessoas, permite a desaceleração dos movimentos e a percepção
da cidade de forma global. Sob esta ótica, o objetivo do presente trabalho foi comparar a formação
histórica do Sistema de Transportes da Região Metropolitana do Rio de Janeiro às propostas do
atual Plano de Desenvolvimento do Sistema de Transporte Urbano (PDTU-RMRJ). Aspectos
históricos da cidade evidenciaram que o processo de desenvolvimento do sistema de transportes
esteve intimamente ligado às estratégias de investimento em infraestrutura. Neste contexto, a
parcela da população alocada nos pontos mais distantes do centro comercial e mais carente de
infraestrutura de mobilidade eficiente, não teve os seus interesses atendidos de forma prioritária.
Além disso, as melhorias implementadas no transporte público não estiveram alinhadas com as
recentes pesquisas sobre mobilidade urbana sustentável ao redor do mundo. O PDTU lista
diferentes oportunidades de melhoria, tais como: sobreposição de serviços, sistemas de maior
capacidade subutilizados e pouca integração entre modais. Neste sentido, as principais propostas
oferecidas pelo documento incluem a implantação de corredores de BRT, linhas metroviárias,
qualificação e melhoria do sistema ferroviário existente, além de promoção da integração entre
diferentes modais. A promoção da mobilidade sustentável gera ganhos que levam à redução do
custo social intrínseco ao sistema de transportes. A quantificação destes ganhos serve de base para
estratégias de planejamento urbano. É importante considerar as restrições econômicas impostas nos
últimos anos e parcerias público-privadas podem auxiliar na concretização de propostas ainda não
realizadas. É possível levar em conta os interesses da parcela da população que mais necessita de
um sistema de transportes eficiente, priorizando modais que tenham um menor impacto do ponto de
vista econômico, social e ambiental para a sociedade nos dias atuais e as futuras gerações.

Palavras-chave: Custo social, mobilidade urbana, PDTU-RMRJ.

Abstract: Current urban structures, especially in developing countries, were benefited by the use of
private cars and road transportation without considering aspects of sustainability. Negative impact
of this development can already be seen today. Sustainable mobility deals with traditional aspects of
urban planning from a different point of view: people-centered, it enables deceleration of
movements and a global comprehension of city form. From this perspective, the objective of the
present work was to compare the historical formation of the Metropolitan Region of Rio de Janeiro
Transportation System to the proposals present in the current Urban Transport System Development
Plan (PDTU-RMRJ). Historical points reveal that the transport system development process was
deeply connected to the strategies of investments in infrastructure. In this context, the portion of
population distributed at the most distant points from the commercial center and lacking of efficient
mobility infrastructure did not have their interests attended as a priority. Besides that, the
improvements that were implemented have not been aligned to recent research on sustainable urban
mobility around the world. PDTU-RMRJ lists different points that have the opportunity of
improvement, such as overlapping services, underused systems, and lack of integration between
modes of transport. In this sense, the document offers different proposals including the
implementations of BRT corridors, subway lines, qualification and improvement of the existing
railway system and promotion of integration between different modes. Promoting sustainable
mobility lead to gains that conduce to the reduction of intrinsic social cost in the transport system.
Quantification of these gains helps to develop urban planning strategies. However, it is important to
consider the economic constraints imposed in recent years and public-private partnership can help
in the accomplishment of proposals not yet implemented. Thus, it is possible to take into account
the interests of the population portion that needs the most an efficient transportation system,
prioritizing modals that have a lower economic, social and environmental impact for society in the
present and future generations.

Keywords: PDTU-RMRJ, social cost, urban mobility.

1. INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização
Estatísticas usualmente aceitas dizem que nos dias atuais, sobretudo nos países em
desenvolvimento, as estruturas urbanas se beneficiam do uso de automóveis particulares e ônibus
como uma das principais formas de deslocamento de seus habitantes. No Brasil, tais estruturas se
desenvolveram de forma a estimular o deslocamento viário e, ao longo dos últimos 50 anos, foram
constituídas a partir de fatores como expansão das cidades gerada pelo crescimento populacional,
migração da população rural para as áreas urbanas, apoio do mercado imobiliário e políticas
públicas de incentivo ao rodoviarismo [1]. Porém, é importante ponderar que na ocasião em que
estas estratégias foram elaboradas, o número de carros nas ruas e a parcela da população motorizada
não eram os mesmos, da mesma forma que os impactos gerados por este tipo de estrutura ainda não
eram perceptíveis e a preocupação com o meio ambiente tinha proporções menores. O conceito de
mobilidade sustentável ainda não havia sido construído e é possível supor que, por falta de
informações a respeito do tema, as soluções apresentadas fossem as mais apropriadas para a época.
Todavia, os impactos gerados por estas estruturas já podem ser vistos hoje. Vasconcellos (2008)
afirma que os problemas de saúde decorrentes de poluição têm aumentado exponencialmente nos
países em desenvolvimento. Além disso, em função do aumento da circulação de veículos
motorizados e do espalhamento das cidades, houve um crescimento significativo do consumo de
recursos naturais como solo e energia. O autor ainda chama atenção para os custos desses consumos
e impactos, assim como para a distribuição dos seus efeitos sobre as pessoas [2].
Diante deste cenário, ocorre uma mudança de paradigma em que se tornam imprescindíveis as
estratégias voltadas para a Mobilidade Urbana Sustentável no momento da definição de diretrizes
para as cidades. Em 2003, surge a definição de desenvolvimento sustentável como sendo aquele que
tem como motivação a consciência do dever de cada geração para com os seus sucessores, sendo “o
desenvolvimento que satisfaz as necessidades da atual geração sem comprometer a capacidade das
futuras gerações de satisfazerem as suas próprias necessidades” [3]. No contexto do planejamento
urbano, o desenvolvimento sustentável incentiva a criação de cidades compactas através da criação
de multicentralidades e uso do solo misto, em oposição ao planejamento modernista que estimula a
separação dos usos e das funções urbanas, incentivando o espraiamento urbano. A ausência desta
perspectiva voltada para a mobilidade sustentável gera cidades com grandes congestionamentos,
emissão de gases que favorecem o efeito estufa, meios de transporte de massa superlotados e
deslocamentos de grande distância e longa duração. Segundo Alves (2006), "[...] investir em
infraestruturas rodoviárias para resolver os problemas do congestionamento tem o mesmo efeito que
desapertar o cinto para tentar reduzir a obesidade" [4].
A abordagem tradicional, sob a ótica do planejamento de transportes, trata de questões como o foco
no tráfego de automóveis, a visão de ruas simplesmente enquanto vias e a priorização do transporte
motorizado. Por sua vez, o planejamento sob o ponto de vista da mobilidade urbana sustentável tem
com o foco as pessoas, estejam elas em veículos ou a pé, permitindo a desaceleração dos
movimentos e a percepção de cidade como um todo, baseado na gestão do sistema através de
análises multicriteriais que incluem parâmetros ambientais e sociais e a criação de uma
multimodalidade hierárquica com pedestres e ciclistas no topo [5]. A mobilidade pode alcançar a
visão de sustentabilidade por dois diferentes caminhos: o primeiro trata de adequar a oferta de
transporte ao contexto socioeconômico, levando em conta medidas que se integrem ao
desenvolvimento urbano e à igualdade social relacionada aos deslocamentos, enquanto o segundo
está mais ligado à qualidade ambiental do sistema, considerando a tecnologia e o modal a ser
utilizado [6]. Ambos estão conectados e são capazes de gerar impactos nos usuários dos sistemas de
transportes.
1.2. Boas práticas
Existem na literatura diversos estudos que desenvolveram boas práticas de planejamento orientado
para a mobilidade sustentável. Um dos principais se chama TransLand (Integration of Transport and
Land Use Planning de 2000) e foi desenvolvido pela Comunidade Europeia, tendo como objetivo a
promoção do planejamento integrado entre transporte urbano e uso do solo sob o aspecto da
sustentabilidade. Por meio da análise de exemplos de sucesso, conclusões de pesquisas conduzidas
anteriormente, condições institucionais e as barreiras para implantação de políticas integradas, o
estudo buscou ter uma visão de futuro e propor melhores práticas de planejamento, assim como
indicar áreas prioritárias de pesquisas a serem conduzidas pela Comunidade Europeia no futuro
(TransLand, 2000) [7]. Concluiu-se que é necessário identificar uma organização espacial das
atividades otimizada, adensando-as e assim ocupando o menor espaço possível. Então definir
soluções de transporte viáveis do ponto de vista social, ambiental e econômico [7]. Outros estudos,
como o conceito Móbile (COPPE/UFRJ) que buscou adaptar à realidade brasileira experiências de
sucesso como as da Comunidade Europeia e assim definir estratégias para a mobilidade sustentável
[8]. O norte-americano TOD (Transit Oriented Development) busca reduzir as distâncias entre os
locais de origem e destino das viagens diárias, de forma a minimizar a necessidade pelo transporte
motorizado. Finalmente, o TOD Standard se baseia nas experiências de diferentes países para
propor uma metodologia de avaliação dos projetos de planejamento de transporte nas cidades [9].
2. OBJETIVO
O objetivo do presente trabalho foi de comparar a formação histórica do Sistema de Transportes da
Região Metropolitana do Rio de Janeiro com as propostas do atual Plano de Desenvolvimento do
Sistema de Transporte Urbano (PDTU-RMRJ).

3. METODOLOGIA
Para a obtenção do objetivo proposto, foram desenvolvidas as seguintes etapas. Realização de
pesquisa bibliográfica para aprofundamento dos conceitos de desenvolvimento e mobilidade urbana
sustentável. Tais conceitos são apresentados na introdução de forma a contextualizar o tema, além
de apresentar boas práticas existentes na literatura. Em seguida, foi levantado o histórico do sistema
de transportes da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, onde se buscou citar acontecimentos
relevantes para a construção do cenário existente hoje e assim compreendê-lo melhor. A partir daí, é
apresentado o diagnóstico deste sistema de transportes realizado pelo atual PDTU-RMRJ e as suas
propostas para a rede de 2016, a rede futura mínima e a rede futura desejável. Finalmente, nas
considerações finais é feito um paralelo entre as propostas do PDTU-RMRJ e as decisões tomadas
ao longo da história e as compara às boas práticas sugeridas na literatura.

4. ESTUDO DE CASO: HISTÓRICO DOS TRANSPORTES NA RMRJ

4.1. Os transportes na Capital da Colônia e do Império


O transporte urbano na cidade do Rio de Janeiro dá os seus primeiros passos já no período colonial,
onde a maior parte dos meios de transporte tem capacidade individual, eram movidos por mão de
obra escrava e destinados à alta elite. No deslocamento para além do perímetro urbano, veículos
com capacidade para quatro ou cinco passageiros e movidos por tração animal podiam ser utilizados
[10]. Segundo Dutton (2012), nesta época do período Imperial, locais como Engenho da Rainha,
Irajá e Inhaúma, hoje pertencentes ao subúrbio, e outras áreas situadas no entorno do centro da
cidade abrigaram a aristocracia carioca por sua função de veraneio. As demais classes sociais eram
obrigadas a se deslocar a pé, sendo excluídas do "sistema de transportes" e assim tendo o acesso
inviabilizado a estes locais de lazer [10]. Os transportes coletivos surgem na cidade apenas a partir
dos últimos anos do Império, com diligências, gôndolas, ônibus (não motorizados) e os tílburis,
estes dois últimos sendo implementados já sob a regência de D. Pedro II. Tais veículos trouxeram
consigo as primeiras linhas com tarifas e trajetos pré-definidos e, administradas por empresas
privadas, permitiram a inclusão das camadas mais populares nos serviços de transportes, sendo um
avanço significativo da sociedade naquela época. Todavia, estes meios de transporte ainda eram
lentos, com baixa capacidade de passageiros, sem regularidade nos horários das linhas e seus
trajetos eram concentrados na região central da cidade [10]. Foi com o surgimento dos trens e dos
bondes que o conceito de transportes de massa pôde ser introduzido na cidade, aumentando
significativamente o número de passageiros transportados.

4.2. O surgimento do Subúrbio Carioca


O subúrbio carioca começa a se formar em função da reforma do então prefeito Pereira Passos
(1902-1906), sendo considerada um verdadeiro divisor de águas na cidade. Influenciada pelas ideias
do higienismo [10] e inspirada nas reformas urbanas de Paris realizadas pelo prefeito Haussmann,
ela incluía a definição de uma função para cada área da cidade, sendo a região central uma área que
facilitaria a entrada de mercadorias com o porto e uma maior integração viária, enquanto as regiões
periféricas seriam onde as classes populares se instalariam. Esta reforma se deu através da remoção
de habitações populares do centro da cidade, com a derrubada de cortiços e outros tipos de casas
para a construção de prédios novos, além da reforma na zona portuária, abrindo a Avenida do Cais
(Rodrigues Alves), a Avenida do Mangue (Francisco Bicalho) e a Avenida Central (Rio Branco)
[10]. Desta forma, a parcela da população que habitava as residências removidas foi obrigada a se
deslocar para a área que ficou conhecida como o subúrbio carioca, porém sem levar consigo
soluções de trabalho, infraestrutura e de serviços, aumentando a importância do transporte no
cenário urbano, especialmente para esta parcela da população [10].

4.3. Evolução do sistema ferroviário, de bondes e a febre viária


Os primeiros bondes eram movidos a força animal e passaram a se locomover sobre linhas elétricas
apenas em 1892. Seus trajetos se estenderam rapidamente pela cidade, começando com pequenos
trechos entre o centro e o Largo do Machado, até passar bairros pouco ocupados até então, tal qual a
região de Copacabana [10]. Os contratos de implantação das linhas de bonde previam um
fatiamento da cidade pelo governo para fazer concessões às empresas privadas que dividiam as
operações em determinadas áreas, obedecendo a um sistema chamado "privilégio de zona". Este
sistema de concessão das linhas de transporte associado às companhias imobiliárias e loteadoras
ajudou a desenhar o espaço urbano da cidade e desenvolveu o processo de criação dos bairros,
dando início às obras que transformaram a sua paisagem urbana [10]. Por abrangerem toda a zona
urbana do Rio e os seus subúrbios, as linhas de bonde eram consideradas o principal transporte
coletivo da cidade nas primeiras décadas do século XX [10].
Os trens começaram a ser implantados em 1858, com a Estrada de Ferro D. Pedro II que
transportava cargas e passageiros e ligava a estação da Aclamação (atual Central do Brasil) à
estação de Queimados, passando por outras como Cascadura e Engenho Novo e mais tarde a
estação da Corte (atual São Cristóvão), Sapopemba (atual Deodoro) e São Francisco Xavier. O
transporte regular de passageiros se deu apenas em 1861, no trecho entre a Aclamação e Cascadura
[10]. Esta ferrovia foi aberta com capital privado a partir de concessões do governo. Já durante a
República, restituída ao Governo e com o nome de Estrada de Ferro Central do Brasil, ela havia se
tornado a maior companhia do país em termos de capital empregado, superando até mesmo o Banco
do Brasil. Nessa época os investimentos no setor ferroviário estavam em alta e outras ferrovias de
menor porte foram surgindo como a E. F. Rio do Ouro (para abastecimento de água entre o Caju e a
Serra do Tinguá, na Baixada Fluminense, 1883), E. F. Melhoramentos (1898, ligando a Mangueira a
Sapopemba) e E. F. Leopoldina Railway (1898, ligando o Rio de Janeiro a Porto Novo, atual Além
Paraíba, em MG), porém sem serviço regular de passageiros [10]. Fernandes (1995, apud
DUTTON, 2012) [10] aponta que o número de unidades industriais localizadas ao longo do eixo
ferroviário não representava nem 1% do total das indústrias da cidade. Além disso, apenas 2% do
total da receita da companhia provinham do transporte de passageiros e que o número de usuários
evoluiu muito lentamente, tendo apenas uma linha destinada para esse fim em 1875 pulando para
três em 1897, contrariando a ideia de que a origem do eixo ferroviário da cidade estivesse
diretamente associada à necessidade de mobilidade dos moradores do subúrbio carioca.
O número de passageiros nos trens cresceu significativamente apenas no final do século XIX e
início do século XX, após a reforma Pereira Passos. Fernandes (apud DUTTON) conta que, apesar
da falta de incentivos para que a população se instalasse nas áreas em torno das ferrovias, elas
passaram a atrair um número crescente de usuários, conforme mostra a Tabela 1.

Tabela 1 - Volume de passageiros no sistema de trens suburbanos da E.F.C. B (1866-1910)


Ano Passageiros por ano
1866 263.306
1876 1.200.761
1886 1.399.029
1896 5.257.683
REFORMA PASSOS
1906 19.239.236
1910 23.841.236

Silva (1992, apud DUTTON, 2012) [10] aponta que outros fatores também favoreceram o aumento
significativo do número de passageiros nas três primeiras décadas do século XX, como a construção
do viaduto sobre o Canal do Mangue em 1907, o acréscimo de linhas entre Engenho de Dentro e
Madureira e a duplicação dos ramais de Santa Cruz até Campo Grande. Este crescimento tanto nos
bondes, como nos trens, se intensificou na década de 1920 até se estabilizar nos anos 50. Desde que
as linhas se eletrificaram em 1937, até 1945, o número de usuários saltou de 32 para 137 milhões
por ano. Além da eletrificação, acredita-se que outros fatores importantes influenciaram este
crescimento acelerado tais quais o subsídio nas tarifas dos trens urbanos, muito aplicado na época, e
a ocupação por migrantes vindos do Nordeste em áreas da Baixada Fluminense, como o município
de Nova Iguaçu. Porém, apesar do aumento considerável no número de passageiros, o número de
composições não se alterou, permanecendo com as mesmas 60 de 10 anos antes. Sendo assim, a
falta de investimento e de preparo para a crescente demanda gerou a deterioração do sistema como
um todo que apresentava diversos problemas, como a degradação das composições pela sobrecarga
aplicada, superlotação, atrasos, panes, descarrilamentos, quedas de energia, entre outros [10].
Em 1930, a Prefeitura distingue, através do Plano Agache, os bairros populares (que se
encontravam em comunicação rápida, mas insuficiente pelas vias férreas, com as oficinas do porto e
das indústrias) dos bairros da Zona Sul e da Zona Norte. Este plano previa então a promoção da
integração dos trabalhadores com as oficinas através de uma reestruturação ferroviária e uma
integração com um sistema metropolitano. Na década de 50 surge a "febre viária", em que o poder
público investe no setor rodoviário visando privilegiar os ônibus, as lotações e o carro individual.
Neste período, os bondes começam a experimentar a sua decadência, até serem extintos em 1964
[10]. Pela facilidade de implantação, além de ter um bom alcance em locais onde os bondes ou trens
não chegavam, os ônibus elétricos, e posteriormente os veículos movidos a diesel, tiveram o seu uso
privilegiado em relação aos outros a partir da década de 1960.
4.4. Os meios alternativos ao transporte viário
As barcas e o metrô tiveram um papel importante na mobilidade da cidade como opção frente aos
ônibus e automóveis que ocupavam a cidade na segunda metade do século XX. Protagonista
durante anos no transporte de cargas, veículos e passageiros entre as cidades do Rio de Janeiro e
Niterói, as barcas se tornaram um meio de locomoção popular e eficiente para a população que se
desloca entre estas duas cidades, além de utilizar uma via natural da cidade: a Baía da Guanabara.
Inaugurado em 1979, o metrô surge como alternativa que não apresenta congestionamentos,
ecologicamente limpa, mas que tem a sua implantação dificultada pelos altos custos. O trecho
inicial contava com cinco estações (Praça Onze, Central, Presidente Vargas, Cinelândia e Glória)
em um trajeto de 4,3 km e se expandiu ao longo da década de 80 em direção a Botafogo e à Tijuca.
A linha 2 teve a sua operação comercial iniciada em 1984, passando por estações como Maracanã,
São Cristóvão, Maria da Graça e Del Castilho, chegando até Vicente de Carvalho em 1996. No final
da década de 1990, o metrô chega até Copacabana, ao mesmo tempo em que a linha 2 se expande
até a estação da Pavuna, se aproximando da Baixada Fluminense [11]. Em 2009, em meio ao
anúncio da realização dos grandes eventos de proporção mundial que aconteceriam na cidade
(Jornada Mundial da Juventude em 2013, Copa do Mundo em 2014 e Jogos Olímpicos em 2016) é
inaugurada a estação General Osório, a primeira no bairro de Ipanema.

5. ESTUDO DE CASO: PDTU-RMRJ


5.1. Diagnóstico geral
De acordo com dados apresentados no documento do PDTU-RMRJ [12], entre 2005 e 2015 o
sistema de transportes evoluiu da seguinte forma. A rede hidroviária aumentou o número de
usuários em quase 3% ao ano, tanto pela criação da linha Praça XV–Charitas, quanto pelo aumento
da oferta de lugares nas demais linhas, em especial Praça XV–Praça Araribóia; a rede metroviária
aumentou o número de usuários em mais de 7%, graças a fatores como a implantação da operação
em Y entre as linhas 1 e 2, o aumento da oferta de composições, ocasionando a redução do
headway, assim como a extensão da linha 1 até a estação Gal. Osório; a rede ferroviária, por sua
vez, aumentou também mais de 7% ao ano a quantidade de passageiros, beneficiando-se de
melhorias na sua operação, tais quais o aumento da oferta de composições, o uso de ar
condicionado, redução dos intervalos e maior regularidade; o transporte por ônibus continua sendo
o responsável pelo maior número de viagens, tendo aumentado sua rede, tanto pela maior
quantidade de veículos quanto pelo maior número de linhas, o que representa uma área de
influência mais ampla. A quantidade de usuários deste modal cresceu cerca de 3% ao ano, mesmo
tendo deixado de transportar uma parcela que migrou para os modais de maior capacidade [12]. O
chamado transporte alternativo surgiu com o aparecimento e posterior quase desaparecimento dos
ônibus piratas, sendo seguido pelas vans, chegando a ter no seu auge 18% do mercado de transporte
de passageiros. Hoje, com sua imagem associada à insegurança e violência, estão em declínio e têm
a circulação interditada na maior parte da Região Metropolitana [12]. O tempo médio de viagem
nos transportes coletivos foi reduzido devido ao aumento do fluxo de usuários nos modais de maior
capacidade, ao aumento da velocidade operacional, à implantação de corredores de ônibus (BRT e
BRS) e à redução dos tempos de embarque com a utilização de bilhetes eletrônicos pela maior parte
dos usuários. Com relação aos automóveis, houve aumento da quantidade de deslocamentos mais
curtos, o que diminui o tempo de viagem médio, porém não evidencia uma queda dos
congestionamentos viários. Além disso, com exceção do corredor TransOeste, não surgiram novas
vias na Região neste período [12].
5.2. Evolução organizacional e tarifária
O sistema de ônibus da Capital sofreu uma reestruturação que permitiu, além da adoção de uma
nova política tarifária, a implantação dos sistemas de BRS e do BRT, gerando reflexos positivos
para o modo rodoviário. Os procedimentos operacionais, de bilhetagem e de controle foram
modernizados, porém, por se tratar de um sistema com alto fluxo de usuários e com alta
capilaridade, ele ainda tem muito a evoluir [12].
A adoção do Bilhete Único (BU) Metropolitano e do Bilhete Único (BU) na Capital contribui de
forma importante para o crescimento da demanda pelos transportes públicos. Porém, a restrição de
se ter apenas dois deslocamentos por viagem cobertos pelo BU ainda dá vantagem competitiva às
redes de ônibus com maior capilaridade [12]. Como importante ponto positivo, o BU promove a
inclusão social de pessoas que residem a grandes distâncias e eram preteridas por empregadores que
optavam por ter menos gastos com auxílio transporte [12]. Contudo, o consórcio PDTU-RMRJ
ainda estabelece sugestões de melhoria para a política tarifária: os subsídios devem ser regressivos
de forma que eles diminuam à medida que a renda dos usuários aumente; identificação e
caracterização dos usuários para aplicação do princípio de progressão de renda; a política tarifária
deve estar orientada para uma diretriz sistêmica que contribua para a melhoria do meio ambiente e
incentivo ao uso dos transportes mais eficientes [12]. A política tarifária ainda é estabelecida pelo
Poder Público Estadual, apesar das condições de operação e controle e as regras de investimento
serem muito diferentes, até mesmo pelos montantes necessários à infraestrutura e material rodante
de cada modo [12].
5.3. Estrutura institucional
Com relação às instituições vigentes hoje, o documento destaca pontos importantes. Neste período,
pouca coisa mudou no plano institucional. A questão principal é que não existe um órgão que
integre as políticas e gestão de transportes na RMRJ. Além disso, a Constituição Federal não obriga
a criação de órgãos de interesse comum, o que leva as políticas a serem feitas de forma totalmente
independente entre Estado e Municípios. Isto gera conflitos nas tomadas de decisão, tais quais
simples mudanças de itinerário, pontos de parada, terminais ou tarifas de linhas de ônibus. Estes
impasses causam impacto sobre a demanda e o equilíbrio econômico-financeiro das operações e
contribuem para a falta de integração física, operacional e tarifária entre os modos, prejudicando a
eficácia para atender à demanda, aumentando os custos econômicos urbanos, diminuindo a
qualidade de vida da população, além de aumentar as despesas das empresas por maiores custos
com seus empregados e perda da produtividade [12]. Todo o sistema de transporte coletivo na
RMRJ é privado, com concessões de longo prazo celebradas na esfera estadual para ferrovias
(SuperVia), metrô (MetrôRio) e barcas (CCR Barcas) e advieram de um processo de licitação, ao
contrário das linhas metropolitanas de ônibus que, com raras exceções, não participaram de
processos licitatórios [12]. Na Capital e em algumas cidades houveram licitações para as linhas de
ônibus locais, que estão agora sob regime de concessão [12]. As rodovias federais que passam pela
RMRJ também fazem parte de concessões e operam com praças de pedágio que são controladas e
têm suas tarifas estabelecidas pela esfera federal. Uma exceção é a Linha Amarela que é uma
concessão municipal, também pedagiada [12].
5.4. Considerações
Embora as mudanças que ocorreram no período entre 2005 e 2015 tenham impactado a demanda e a
oferta por transportes, elas não representaram a expansão da rede integrada e nem ofereceram uma
nova linha de transporte de alta capacidade na RMRJ, apesar de existir integração modal, ter
ocorrido a expansão da rede de metrô, além da inauguração de BRTs [12]. Além disso, os
investimentos estiveram focados em eixos com alta concentração de fluxo, o que é importante para
a mobilidade urbana, porém pouco tem sido feito em relação a políticas de uso do solo integrado no
sentido de reduzir a necessidade de mobilidade [12].
Esta lógica afeta principalmente os que ganham menos pois são os que mais utilizam os transportes
públicos, mais tempo gastam durante o deslocamento e menos podem ajustar seus horários [12].
Além disso, a falta de mobilidade os impele a permanecer em casa limitando as opções de lazer e
reduzindo a circulação pela região metropolitana. Este aspecto talvez seja um dos mais graves do
diagnóstico do PDTU-RMRJ, uma vez que se trata de uma das principais motivações para as
propostas de incentivo ao uso dos transportes públicos, face às deseconomias geradas tanto pelos
congestionamentos urbanos, quanto pela restrição à circulação [12].
Os investimentos significativos que têm sido realizados nos transportes de alta capacidade e que
elevaram a taxa de mobilidade, aliados ao aumento da população e à redução da desigualdade,
levaram ao aumento dos fluxos de transportes. As questões de conforto, segurança, velocidade e
confiança, apesar de terem passado por melhorias e apresentarem índices melhores que os
anteriores, agora são observados por uma população com melhores padrões, mais consciente e
capaz de exigir melhores serviços [12]. Mesmo com a adoção de medidas nas políticas tarifárias,
como o BU, o valor pago ainda não agrada quando se leva em conta o serviço prestado. Desta
forma, verifica-se que é grande a distância entre a oferta e os desejos e necessidade de mobilidade
da população [12].
Não obstante o crescimento da quantidade de usuários nos transportes públicos, o seu percentual de
crescimento médio foi menor que o de transporte individual. O aumento na demanda por transportes
de massa não tem origem, de forma representativa, nos antigos usuários de automóveis [12]. As
políticas de incentivo ao uso de veículos particulares (facilidade para compra e baixo custo de
estacionamentos em áreas centrais) somadas à qualidade do serviço de transportes que está aquém
do desejável, elevaram a sobrecarga no sistema viário e levaram ao aumento dos congestionamentos
[12].
5.5. Concepção da rede de transportes futura
Considerando o diagnóstico elaborado, o documento recomenda duas abordagens para o
planejamento da futura rede de transportes: a chamada rede mínima engloba redes com integração
modal ou intermodal, privilegiando os fluxos principais e avaliando os impactos dos fluxos
transversais, com o intuito de reduzir deseconomias, facilitar os deslocamentos e dar retornos
econômico-sociais mais rápidos; a rede desejável é voltada para o desenvolvimento urbano, mesmo
com menor demanda em alguns novos eixos, tem o objetivo de servir como indutora ao
desenvolvimento, trazendo o transporte para uma política urbana mais ampla, com retornos
econômico-sociais talvez mais lentos, porém com uma visão mais estrutural [12].
5.5.1 Rede básica 2016: Rio Cidade Olímpica
Usando como base a Rede de Referência de 2012, o PDTU-RMRJ elaborou a rede básica de 2016
acrescentando projetos do sistema de transportes que na ocasião tinham previsão de conclusão e
início de operação naquele ano, conforme mostra a Tabela 2 [12]. O objetivo era que a maior parte
dos projetos estivessem em operação para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. A rede 2016
apresentou mudanças significativas em relação à de 2012. No sistema metroviário, contemplou a
extensão da Linha 1 até a estação Uruguai, inaugurada em 2014, a extensão da Linha 4 operando
entre as estações General Osório e Jardim Oceânico, inaugurada no final de 2016 e a conclusão da
infraestrutura da interligação com a Gávea, que até os dias de hoje encontra suas obras paralisadas
por falta de recursos. O sistema VLT do Centro teve o primeiro trecho da Linha 1 inaugurado em
2016, com o projeto original das Linhas 1 e 2 finalizado no ano seguinte. Novos sistemas de BRT
se juntaram aos já implantados TransOeste e TransCarioca, sendo eles: os corredores
TransOlímpica e TransOceânica, além da extensão da TransOeste desde a Alvorada até o Jardim
Oceânico. Outro corredor previsto na rede 2016, a TransBrasil, teve as suas obras paralisadas em
2016 e retomadas apenas em 2018. Os modais hidroviário e ferroviário tiveram uma evolução na
sua oferta através da ampliação da capacidade das frotas, além do aumento da frequência dos
serviços nas horas de pico. Finalmente, a criação do Arco Metropolitano, inaugurado em 2014,
ligando os municípios de Magé e Itaguaí e passando por outros oito municípios, teve a função de
desviar o tráfego de veículos que cruzavam a Capital e desafogar as suas vias de acesso [12].

Tabela 2 - Projetos integrantes da Rede 2016, adicionados à rede 2012 (Fonte: adaptado de Consórcio PDTU-RMRJ [12])
Modo Projeto
Metroviário Linha 1: Saens Peña - Uruguai
Metroviário Linha 4: General Osório - Jardim Oceânico
Ferroviário e hidroviário Melhorias operacionais
BRT TransOeste: Jardim Oceânico - Alvorada
BRT TransOlímpica: Recreio - Magalhães Bastos - Deodoro
BRT TransOceânica: Charitas - Itacoatiara
BRT TransBrasil: Deodoro - Av. Pres. Vargas
VLT VLT Carioca – Linha 1: Santos Dumont - Rodoviária
VLT VLT Carioca – Linha 2: Praça XV - Rodoviária
Ônibus - BRS Corredores na Capital
Rodoviário Arco Metropolitano: Magé - Itaguaí

Segundo o documento do PDTU-RMRJ, a Rede 2016 tem grande vantagem sobre a Rede 2012,
pois concretizaria ligações transversais que vêm sendo cogitadas há muitos anos. Contudo, ao
considerar as alocações de demanda sobre a oferta, mostrou alguns pontos fracos que precisam de
tratamento para adequar o nível de serviço [12]. Os sistemas de BRT apresentam trechos saturados
nos horários de pico. O corredor TransCarioca indica saturação potencial e com aumento acelerado.
O BRT TransBrasil mostra elevada quantidade potencial de usuários por hora nos trechos mais
próximos do centro expandido da Capital (delimitado pelas vias Francisco Bicalho, Paulo de
Frontin, Estácio de Sá, e Beira Mar). A integração no Jardim Oceânico entre a Linha 4 do metrô
com o BRT gera desconforto para o deslocamento, diminuindo a quantidade potencial de
passageiros em ambas as redes. O traçado linear da rede metroviária apresenta sobrecargas que
restringem o crescimento do número de usuários. A rede de ônibus municipal e intermunicipal foi
otimizada, todavia continua sendo tratada de forma isolada dos demais modos, levando a uma
menor eficácia geral do sistema [12].
Além de tratar do macroplanejamento de transportes, o PDTU-RMRJ também apresentou projetos
básicos para nove estações de integração: Madureira, Olaria, Vicente de Carvalho, Deodoro,
Engenho de Dentro, Campo Grande, Santa Cruz e Pavuna na Capital, além da estação de Nova
Iguaçu. Estes projetos são uma resposta aos problemas destacados a respeito da qualidade dos
terminais e pontos de integração intermodal. Foram escolhidos em função dos deslocamentos para
os Jogos Olímpicos de 2016 e pela alta prioridade levantada nas redes de transportes propostas.
Estes projetos também buscaram minimizar o efeito barreira imposto pela linha férrea e o metrô,
além de melhorar a eficiência deste conjunto de transportes através da integração modal. Sendo
assim, eles viabilizam a circulação dos usuários através de mezaninos, promovem a acessibilidade
por meio de rampas, propõem adequações no espaço público entre outras ações específicas para o
incentivo ao uso dos transportes públicos na RMRJ [12].
5.5.2 Rede futura mínima 2021
Para a concepção da rede futura mínima com o horizonte de 2021, o consórcio que elaborou o
PDTU-RMRJ fez uso de um processo consultivo a especialistas e instituições diversas, em que cada
um, de forma independente, sugeria um conjunto de projetos estratégicos. A partir daí foi aplicado
um método de análise multicriterial para selecionar os diferentes projetos que compuseram rede
básica futura da RMRJ [12]. Estes projetos estão apresentados na Tabela 3.

Tabela 3 - Projetos integrantes da Rede Futura Mínima (horizonte 2021, complementando a Rede 2016) (Fonte: adaptado de
Consórcio PDTU-RMRJ [12])

N° Modo Projeto
6 Metroviário Linha 2: Estácio – Carioca – Praça XV
7 Metroviário Linha 4: Jardim Oceânico - Alvorada
8 Metroviário Linha 3: Araribóia – Guaxindiba
9 BRS Via Light: Av. Brasil – Nova Iguaçu
10 BRS Arco Metropolitano
11 BRT RJ104: Terminal João Goulart – Manilha
12 BRS Ilha do Governador: Terminal Guanabara (AIRJ) - Cocotá
13 BRS Campo Grande: Park Shopping – Cesário de Melo
14 BRS RJ106: Tribobó – Terinal Maricá
15 BRS Campo Grande: Cesário de Melo – Av. Brasil
16 BRS Campo Grande: Magarça – Park Shopping
17 BRS Campo Grande: Santa Eugênia – Cesário de Melo
18 BRS Campo Grande: Mato Alto – Park Shopping
19 BRS TransBaixada1: D. de Caxias – S. J de Meriti – N. Iguaçu
20 BRS TransBaixada2: Av. Brasil – Via Light – N. Iguaçu
21 BRS TransBaixada3: N. Iguaçu – Belford Roxo – D. de Caxias

Esta rede futura mínima adiciona à rede base 2016 um novo corredor de BRT, ligando o terminal
João Goulart, em Niterói, até Manilha, em São Gonçalo, e ampliação do sistema metroviário,
incluindo a parte terrestre da Linha 3 que liga a Praça Araribóia, em Niterói até Guaxindiba, em São
Gonçalo [12]. Outros trechos de ampliação do sistema de metrô que não foram contemplados na
rede mínima ficaram como recomendação para a rede futura desejável, em um horizonte pós-2021.
De acordo com o documento, uma série de corredores de BRT originalmente propostos
demonstraram, através de simulações computacionais, demandas abaixo das requeridas para
justificar a sua implantação. Estes corredores poderão comportar sistemas de BRS em conjunto a
um projeto de otimização das linhas de ônibus municipais e intermunicipais. Trata-se de um
processo gradual, tal qual o projeto de extensão da linha 2 (Estácio – Carioca – Praça XV), pois
depende de diferentes fases de execução e da disponibilização de recursos [12]. A Figura 1 ilustra
estas implantações no mapa da RMRJ.

Fig. 1 - Rede Futura Mínima (Fonte: adaptado de Consórcio PDTU-RMRJ [12])

O papel desta rede é de contribuir para que os deslocamentos na RMRJ ocorram de forma mais
estruturada, integrada e racional. Ela promove maior integração intermodal, buscando implantar,
gradativamente e a longo prazo, um sistema de transportes mais robusto e flexível. Contudo, ao
considerar as demandas projetadas e as características urbanas e socioeconômicas da Região
Metropolitana, o documento destaca que esta rede ainda não será ideal, uma vez que a participação
dos transportes coletivos no total de viagens motorizadas não muda de forma substancial em relação
ao que existe hoje. É por esta razão que novas ligações e integrações são agrupadas em uma rede
futura desejável.
5.5.3 Rede futura desejável pós-2021
A rede futura desejável complementa a rede futura mínima uma vez que responde às demandas
futuras estimadas pela modelagem matemática do PDTU-RMRJ, indicadas pelas tendências de
mobilidade (matrizes futura), sem considerar possíveis mudanças induzidas no uso do solo [12]. É
certo que tal implantação não seria possível no horizonte 2021, em função da quantidade e do custo
dos projetos. Neste cenário, são adicionados à rede futura mínima, cinco trechos metroviários e três
ferroviários [12].
A rede desejável tem uma visão de longo prazo, com vistas a ser implantada de forma gradual sobre
as redes pré-existentes [12]. Podem ser destacadas importantes ligações metroviárias, como o
fechamento do anel da Linha 1 e o túnel subaquático da Linha 3 que irá conectar o Leste
Metropolitano através de um sistema estruturalmente mais completo. Além disso, apesar de
discreta, uma ampliação da malha ferroviária também está prevista, atendendo à população das
regiões periféricas (Tabela 4 e Figura 2) [12]. O estabelecimento desta rede trará novas
possibilidades de deslocamentos e também contribuirá para a formação de novas centralidades e
para o reordenamento do uso do solo. Além disso, também irá auxiliar na atenuação dos
congestionamentos em vias já saturadas, reduzir os tempos de viagem e as deseconomias urbanas
[12].

Tabela 4 - Projetos integrantes da Rede Futura Desejável (horizonte pós-2021 acréscimo à Rede Futura Mínima) (Fonte: adaptado
de Consórcio PDTU-RMRJ [12])

N° Modo Projeto
22 Metroviário Linha 3: Praça XV – Araribóia (túnel subaquático)
23 Metroviário Linha 6: Alvorada – Fundão
24 Metroviário Uruguai – Méier – Del Castilho
25 Metroviário Linha 1: Uruguai – Gávea (fechamento do anel)
26 Metroviário Linha 4: Gávea – Jardim Botânico – Botafogo - Centro
27 Ferroviário D. de Caxias – Honório Gurgel - Deodoro
28 Ferroviário N. Iguaçu – Belford Roxo – Gramacho – São Bento
29 Ferroviário Santa Cruz – Itaguaí

Fig. 2 – Rede Futura Desejável (horizonte pós-2021) (Fonte: adaptado de Consórcio PDTU-RMRJ [12])
6. CONCLUSÃO
Como dito anteriormente, o planejamento orientado pela mobilidade urbana sustentável tem como o
foco as pessoas e a percepção da cidade como um todo. Intervenções que levaram ao
desenvolvimento do Centro do Rio de Janeiro estiveram na origem do surgimento do subúrbio
carioca. A parcela da população que migrou para aquelas regiões não encontrou ali soluções de
emprego, de infraestrutura ou de serviços, aumentando a importância do transporte público. A
história do desenvolvimento dos transportes na RMRJ indica que o seu espaço urbano foi
construído a partir da orientação de setores específicos, como o setor imobiliário e não
necessariamente das necessidades da maior parte da população. O traçado da malha ferroviária, ao
ser concebido no final do século XIX, não era prioritariamente direcionado ao serviço de
passageiros e nem servia às unidades industriais ou a seus trabalhadores. Mesmo com o aumento
considerável do número de passageiros no sistema ferroviário na primeira metade do século XX, a
falta de investimentos e de preparo para a alta demanda levou à sua degradação. Tal cenário abriu
caminho para a priorização quase que exclusiva do poder público ao setor rodoviário. Modais como
o ônibus que deveriam ter a função de alimentadores, tornaram-se eixos estruturantes. No período
dos dez anos anteriores ao PDTU-RMRJ, os investimentos se concentraram em eixos com alta
densidade de fluxo, importante para a mobilidade urbana, porém sem a elaboração de políticas de
uso do solo integrado no sentido de reduzir a necessidade de mobilidade. Mesmo com
investimentos em melhorias e adoção de medidas nas políticas tarifárias, é grande a distância entre a
oferta e os desejos e necessidades de mobilidade da população. Este descontentamento, aliado às
políticas de incentivo ao uso de veículos particulares, elevou a quantidade de congestionamentos em
função da sobrecarga no sistema viário.
As propostas do PDTU-RMRJ passam por uma rede básica 2016 que se apresentou como um
grande avanço com relação à rede de referência de 2012, com uma discreta expansão do sistema
metroviário e a implantação de corredores de BRT que podem se tornar eixos estruturais para a
futura implantação de modais sobre trilhos. Porém, permaneceram procedimentos operacionais e
institucionais que precisam avançar. A rede futura mínima, com um horizonte 2021, tem o intuito
de estruturar, integrar e racionalizar os deslocamentos na RMRJ, promovendo maior integração
intermodal. Entretanto, ela ainda não é ideal já que não muda de forma significativa a participação
dos transportes coletivos no total de viagens motorizadas. Desta forma, o documento propõe a rede
futura desejável pós-2021 que oferece novas possibilidades de deslocamento e pretende contribuir
para a formação de novas centralidades e para o reordenamento do uso do solo, atenuando
congestionamentos em vias saturadas, reduzindo os tempos de viagens e as deseconomias urbanas.
O documento apresenta um trabalho robusto de análise do contexto socioeconômico da RMRJ,
buscando adequar a oferta de transporte a esta realidade através de sugestões para as políticas
tarifarias e de integração intermodal. Na questão institucional levanta a necessidade de criação de
um órgão Metropolitano para o planejamento e a tomada de decisões integrados dos transportes dos
municípios da Região. Ademais, promove a melhoria da qualidade ambiental do sistema ao propor,
a longo prazo, a ampliação mais significativa do sistema metroviário e de investimentos para
requalificação ferroviária. Por outro lado, é possível observar que o PDTU-RMRJ busca criar eixos
estruturantes que são indutores de desenvolvimento em áreas ainda de baixa densidade, sobretudo
pela necessidade de conectar pontos que serviram de local para a realização dos Jogos Olímpicos de
2016. O planejamento elaborado fala pouco de áreas já estruturadas, de alta densidade e em vias de
degradação, como é o caso da Zona Norte e do Centro (uma exceção foi a revitalização da Zona
Portuária). As boas práticas de mobilidade sustentável indicam que é necessário otimizar a
organização espacial das atividades, adensando-as e assim ocupando o menor espaço possível.
Também é importante reduzir as distâncias entre origem e destino das viagens diárias. As escolhas
do poder público por alguns destes locais de realização do Jogos foram questionadas por preterir
opções mais sustentáveis e priorizar interesses de alguns setores específicos, como o imobiliário.
Tais decisões já puderam ser observadas da mesma forma ao longo da história do sistema de
transportes na região, assim como a priorização do modal rodoviário em detrimento do transporte
sobre trilhos e as consequências são conhecidas. Por esta razão é importante compreender como se
deu este estabelecimento e evitar que os aspectos negativos se repitam.
A quantificação dos ganhos relativos à redução das deseconomias e do custo social gerados pela
promoção da mobilidade urbana sustentável é um desafio para futuros trabalhos e pesquisas no
sentido de dar subsídios a estratégias de planejamento urbano e atrair investimentos para sua
execução. Importante se faz considerar as restrições econômicas impostas nos últimos anos e assim
avaliar a viabilidade de parcerias público-privadas para auxiliar na concretização de propostas ainda
não realizadas por falta de verba. Desta forma pretende-se trazer os interesses da parcela da
população que mais necessita de um sistema de transportes eficiente para as estratégias de
mobilidade urbana na RMRJ.

REFERÊNCIAS
[1] PEREIRA FILHO, A. J. O Planejamento da Infra-estrutura de Transporte e o desenvolvimento Urbano das
Cidades Brasileiras no Século XXI. Rio de Janeiro. Escola Superior de Guerra. 26 páginas (TE-97, DALMOB,
tema L6), 1997.
[2] VASCONCELLOS, E. A. Transporte e meio ambiente - conceitos e informações para análise de impactos. São
Paulo: Annablume, 2008.
[3] PLUME. Synthesis Report on Urban Sustainability and its Appraisal, PLUME- Planning for Urban Mobility in
Europe, 2003.
[4] ALVES M. Mobilidade e acessibilidade: conceitos e novas práticas - Revista Indústria e Ambiente, 2006.
[5] BANISTER, D. The sustainable mobility paradigm. Transport Studies Unit, Oxford University Center for the
Environment, Oxford, UK. Transport Policy. New Developments in Urban Transportation Planning.Vol. 15, Issue 2,
p. 73-80, disponível online emwww.sciencedirect.comemnovembro de 2007.Publicação de março de 2008.
[6] CAMPOS V.B.G. Uma Visão da Mobilidade Urbana Sustentável. Revistas dos Transportes Públicos, 2006.
[7] TRANSLAND. Integration of Transport and Land Use Planning – Transport Research Laboratory, 2000
[8] LENTINO, I. Análise Multicriterial de Proposta de Gestão da Mobilidade para Grandes Empreendimentos
Urbanos. Tese M.Sc. COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, 2005.
[9] CURTIS, C., RENNE, J. L., BERTOLINI, L. Transit Oriented Development: Making It Happen. Routledge,
2009.
[10] DUTTON, R. B. Estratégias e táticas nos trens da Supervia. Dissertação (Mestrado) – Departamento de
Ciências Sociais, PUC-Rio, 2012.
[11] METRÔ RIO. Como tudo começou. Disponível em:
<https://www.metrorio.com.br/Empresa/Historia?p_interna=1> Acessado em 08 de Outubro de 2016.
[12] CONSÓRCIO PDTU. Secretaria de Transportes do Estado do Rio de Janeiro – Plano Diretor de Transportes
Urbanos da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, 2015.
TÉCNICAS MITIGADORAS PARA REDUZIR FREQUÊNCIA E
INTENSIDADE DE INUNDAÇÕES

Mitigating techniques to reduce frequency and intensity of floods

Clarissa Rosa Vieira Della Justina 1, Jader Lugon Junior 2, Maria Inês Paes Ferreira 3, Pedro
Paulo Gomes Watts Rodrigues 4
1 Instituto Federal Fluminense, Macaé, Brasil, cla.rvieira@gmail.com
2
Instituto Federal Fluminense, Macaé, Brasil, jlugonjr@gmail.com
3
Instituto Federal Fluminense, Macaé, Brasil, ines_paes@yahoo.com.br
4
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Nova Friburgo, Brasil, pwatts@iprj.uerj.br

Resumo: O extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS), realizou obras de


retilinização dos canais fluviais nas regiões litorâneas do estado do Rio de Janeiro entre as décadas
de 1940 e 1980. A principal finalidade desse tipo de obra, foi de se reduzir o tempo de escoamento
do fluxo de um rio em direção ao oceano, e por consequência a redução da ocorrência de
inundações às margens do rio, e a proliferação de vetores durante as épocas de chuvas mais
intensas. São obras que proporcionaram diversas consequências negativas, entre outras, a perda de
sinuosidade do canal e as modificações no padrão de drenagem. A partir do método de revisão
bibliográfica, esta pesquisa buscou identificar os tipos de medidas utilizadas para a mitigação de
inundações. Foram efetuadas consultas em bibliografia técnica em meio físico e em periódicos por
meio digital nos bancos de dados do Capes, Cielo e Scopus. Como resultados, foram identificadas
as medidas estruturais, caracterizadas por obras de engenharia tradicional, e as medidas não
estruturais, caracterizadas pelas leis e programas de conscientização e educação ambiental.
Observou-se que nos últimos 20 (vinte) anos em países como os Estados Unidos, Inglaterra,
Alemanha, e mais recentemente na China, os estudos sobre as obras mitigadoras revelaram a busca
por soluções mais naturais. O uso desses materiais caracteriza a área da Bioengenharia e as
Biotécnicas apresentando-se bons resultados na contribuição para o aumento da rugosidade dos
canais. Dessa forma, podem provocar atenuação expressiva da onda de cheia nos cursos d´água e
assim favorecer a restauração do habitat natural por apresentarem interface com as áreas de
hidrologia, hidráulica, transporte de sedimentos, morfologia fluvial, paisagem, recreação, qualidade
da água, biologia, entre outras, e a manutenção fluvial.

Palavras-chave: bioengenharia, cheias, requalificação fluvial, modelagem computacional.

Abstract: The extinct National Department of Works and Sanitation (DNOS), carried out works of
retilinization of the fluvial channels in the coastal regions of the state of Rio de Janeiro between the
decades of 1940 and 1980. The main purpose of this type of work was to reduce the time of flow
from a river to the ocean, and consequently the reduction of flood occurrence along the river, and
the proliferation of vectors during times of more intense rains. They are works that have given
several negative consequences, among others, the loss of sinuosity of the canal and the
modifications in the drainage pattern. From the bibliographic review method, this research sought to
identify the types of measures used for flood mitigation. We consulted in technical literature and in
journals by digital means in the databases of Capes, Cielo and Scopus. As a result, structural
measures, characterized by traditional engineering works, and non-structural measures,
characterized by laws and programs of environmental awareness and education, were identified. It
has been observed that in the past 20 years in countries such as the United States, England,
Germany, and more recently in China, studies on mitigating works have revealed the search for
more natural solutions. The use of these materials characterizes the area of Bioengineering and
Biotechnics presenting good results in the contribution to increase the roughness of the channels. In
this way, they can cause a significant reduction of the flood wave in the watercourses and thus favor
the restoration of the natural habitat by being interfaced with the areas of hydrology, hydraulics,
sediment transport, river morphology, landscape, recreation, water quality, biology, among others,
and fluvial maintenance.

Keywords: bioengineering, floods, fluvial requalification, computational modeling.

1. INTRODUÇÃO
Com a descoberta do petróleo por volta de 1974 na região da Bacia de Campos, e posteriormente
com a chegada da Petrobras em 1978, a região norte do estado do Rio de Janeiro passou a viver um
novo momento econômico. Além das culturas de cana-de-açúcar, café e agropecuária, as atividades
petrolíferas foram iniciadas e motivaram o acelerado crescimento demográfico seguido da
urbanização não planejada. Os centros urbanos desenvolveram-se próximos as margens dos rios,
expandindo-se entre praias e colinas suaves, e posteriormente cresceu a ocupação no interior em
direção as regiões serranas [1].
Foi entre as décadas de 1940 e 1980, que também o Departamento Nacional de Obras de
Saneamento (DNOS) realizou obras de drenagem na região, como as de retilinização de canais
fluviais e afluentes, e construção de novos canais com o objetivo de propiciar rápido escoamento
em direção ao oceano na ocorrência de chuvas intensas evitando a inundação das áreas mais baixas
dos municípios e aumentando a extensão das terras secas para as atividades agropecuárias [2].
Obras de retilinização dos traçados dos rios e córregos além de serem realizadas para minimizar os
efeitos locais das cheias, também objetivavam a criação de áreas para usos de agricultura,
agropecuária, urbanização, construção de estradas e ferrovias. Essas intervenções ao longo dos anos
passaram a transferir os efeitos de cheias para os trechos a jusantes. A tendência das inundações é
de procurar novas áreas para ocupar e gerar novas situações de perigo, e ocasionalmente, de risco ao
impactar áreas então habitadas [3].
A modificação de canais fluviais, altera a dinâmica dos rios e suas bacias hidrográficas. Trechos
retilinizados ocasionam o aumento da declividade do canal e da velocidade do fluxo [2]. Embora a
dinâmica fluvial em alguns casos, como por exemplo o do rio Macaé, tenha sido alterada como uma
solução para reduzir os desastres hidrológicos, as inundações no município de Macaé continuam a
ocorrer a jusante dos trechos retilinizados, cujas cheias têm apresentado maior intensidade e com
períodos de retorno cada vez mais próximos [4].
As inundações tratam-se de processos naturais que envolvem excesso de água no sistema (bacia
hidrográfica), associados a ocorrência de chuvas intensas, sendo assim, constituem os chamados
desastres hidrológicos. Podem ou não estarem relacionadas a problemas de drenagem urbana, e
terem suas consequências agravadas pela ação e ocupação antrópica, e pela frequência com que os
eventos tornem a ocorrer, limitadas no tempo (anual, ou a cada 10, 20, 50, 100 anos) e no espaço
(uma planície de inundação) [3].
Um desastre é a associação de fatores naturais e sociais, que dependendo das características físicas
de um evento específico, são fatores determinantes para a probabilidade de ocorrência de um
fenômeno. Condições sociais de vulnerabilidade regem a gravidade do impacto. Características
físicas e geomorfológicas da região, assim como o crescimento desordenado dos municípios,
ocupando áreas de várzeas, podem os colocar numa situação vulnerável ao evento de inundação [5].
A gestão do risco de cheias consiste em administrar a probabilidade de ocorrência dos desastres
hidrológicos, e procura minimizar e dar a devida atenção as suas consequências e impactos.
Gerenciar a existência dos riscos envolve a análise de questões socioeconômicas e ambientais. Na
ocorrência de um desastre, diferentes ações são tomadas para cada momento que compõe o ciclo de
um desastre. Estas ações são caracterizadas pelas atividades de prevenção, mitigação, preparação,
resposta e recuperação [3].
As atividades de mitigação ocorrem quando as atividades de prevenção se mostraram deficientes e
uma porção da cidade ficou exposta ao risco de um desastre hidrológico ocorrer na iminência de um
evento de inundação [3]. São definidas em medidas estruturais, caracterizadas pela a execução de
obras civis, e em medidas não estruturais, caracterizadas pelas leis, programas que regem a
conscientização, a educação ambiental, o controle do uso e ocupação do solo nos municípios, e
programas de coleta e tratamento de resíduos [6].
Mais comumente nos munícipios, o que se observa para conter as inundações é o uso de medidas
estruturais, obras de engenharia, como as obras de canalização e retardamento de fluxo, que podem
ser representadas por bacias de detenção e retenção, ou por obras de desvio de escoamento, como
túneis de derivação e canais [6], ou ainda, obras de recomposição de cobertura vegetal, controle de
erosão do solo, construção de contenções, docas, eclusas, entre outras, e barragens [7].
Países Desenvolvidos, que no passado utilizaram dessas obras tradicionais para conter os eventos de
inundação, têm-se resgatado recentemente a busca por alternativas que visem a contenção do fluxo
do rio na calha, objetivando a restauração e manutenção, e priorizando restabelecer as condições
naturais dos rios e córregos ou condições mais próximas dos originais, por meio do uso de técnicas
e materiais encontrados na natureza e que contribuam para a paisagem do local [2]; [7].
Trata-se do conceito de requalificação fluvial, que busca além da restauração e conservação dos
corpos hídricos, extinguir os processos convencionais de mitigação de inundações, impedindo ações
de degradação. Rios com as suas funções hidromorfológicas conservadas são menos suscetíveis aos
eventos de inundação sem controle e necessitam de menos procedimentos de manutenção ao longo
do tempo [3].
Vários são os materiais dispostos na natureza que podem ser utilizados. O desafio é encontra-los no
próprio local da intervenção, como os de origem natural viva, compostos por espécies vegetativas e
gramíneas, ou outros ainda de características inertes, aqueles compostos por revestimentos rugosos,
como seixos rolados, enrocamentos, troncos de árvores secas. Todos esses podem ser utilizados de
maneira associada entre eles ou ao uso de telas metálicas, arames, alvenaria de tijolos, entre outros
[6].
2. OBJETIVO
Sendo assim, a pesquisa foi motivada a localizar técnicas mitigadoras de engenharia, estudadas no
cenário nacional e internacional, associadas ao uso de materiais naturais e técnicas sustentáveis. São
soluções para projetos de requalificação fluvial, os quais, apresentaram resultados satisfatórios para
se alcançar redução da frequência e da intensidade de cheias urbanas na ocorrência de eventos de
inundações.

3. MÉTODO
A pesquisa foi desenvolvida pelo método de revisão bibliográfica, de caráter descritivo tendo suas
buscas para a fundamentação deste trabalho realizadas de acordo com a seguinte metodologia:
Literatura técnica em livros físicos, guias e/ou manuais digitais, e contato com autor: a busca foi
realizada por área temática relacionada a conceitos de engenharia hidráulica, ambiental e civil
aliados a gestão de risco de desastres hidrológicos e a obras de controle de inundações;
Base de dados científicos CAPES, e CIELO: a busca foi realizada por autores com temas comuns a
área de interesse da presente pesquisa, como modelagem computacional, avaliação e controle de
obras de bioengenharia, e gestão de risco de inundações. Procurou-se por experiências, relatos,
tanto no âmbito nacional quanto internacional;
Base de dados científicos SCOPUS: esta busca se concentrou apenas em identificar experiências
redigidas no idioma inglês. Foram realizadas 3 (três) pesquisas no Portal de Periódicos da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), disponível em:
www.periódicos.capes.gov.br, na área de acesso remoto via “comunidade acadêmica federada
(cafe). No campo de “Pesquisa avançada”, selecionou-se a base de dados Scopus, com diferentes
combinações de palavras-chave, sendo elas: roughness, manning, flood reduction, runoff e
“restoration river”; gabion, roughness e river; “river hydraulic model” and “technique
bioengineering”. A busca procurou por periódicos publicados entre os anos 2015 a maio de 2018.

4. RESULTADOS
Miguez, Di Gregório e Veról [3] discutem aspectos relacionados ao risco e a sua gestão diante dos
eventos de inundações, enxurradas e alagamentos. A obra foi desenvolvida por meio de revisão
bibliográfica e documental, na abordagem dos temas e conceitos, como: riscos hidrológicos,
exposição aos riscos, perigo, desastres naturais, assim como os mecanismos, atividades, os quais
compõem uma gestão integral de riscos de desastres. Aponta a requalificação fluvial como uma das
medidas de prevenção contra o risco de inundação e discutem a relação desse conceito com as
práticas adotadas em países como Itália, Alemanha, Reino Unido e Holanda, Estados Unidos,
Canadá e Austrália.
Barendrecht, Viglione e Blösch [8] analisaram diferentes estratégias adotadas em vários países, na
maioria europeus, para gerenciar o risco de inundação. O foco da pesquisa propôs um modelo de
gestão integrada com o risco de cheia.
Canholi [6] reúne de forma técnica e prática conceitos e medidas tradicionais de engenharia
sanitária e hidráulica, e apresenta novos conceitos para a contenção de enchentes, relatados através
de experiências e estudos de casos, de projetos desenvolvidos e obras executadas na região
metropolitana de São Paulo.
Chadwick, Morfett e Borthwick [7] abordam técnicas tradicionais de engenharia fluvial para o
alívio das cheias e argumentam o que vem a ser uma engenharia fluvial ambientalmente correta
relacionando com diversas áreas de outras ciências.
Fracassi [9] reuniu conceitos sobre morfologia fluvial e tipos de intervenção em rios e córregos para
se garantir estabilização, regularização, proteção contra a erosão e controle de inundações em
cursos d´água. Abordou as técnicas construtivas de Bioengenharia para compor estruturas como
muros de contenção, diques, espigões, com o uso de gabiões, que foram utilizados como soluções
em obras de estudos de casos nos Estados Unidos, na África do Sul, e na América do Sul.
Durlo e Sutili [10] apresentaram conceitos e características dos rios, processos fluviais, técnicas de
estabilidade de taludes, propriedades estruturais da vegetação, e experiências práticas com a
Bioengenharia e as biotécnicas. Estas foram usadas em um estudo de caso ocorrido em 2003 no
estado do Rio Grande Sul que visou analisar o custo, o quantitativo e desempenho da intervenção a
curto prazo.
Rauch, Sutili e Hörbinger [11] desenvolveram suas pesquisas de acompanhamento e monitoramento
de “novas” matas ciliares implantadas no ano de 2010 às margens do rio Pardinho no estado do Rio
Grande do Sul através de técnicas de bioengenharia de solo.
Ao todo, a pesquisa conseguiu reunir 31 (trinta e uma) fontes de dados bibliográficos para a
fundamentação do presente trabalho. Na figura 1 a seguir, é possível verificar a distribuição das
referências bibliográficas encontradas conforme as fontes buscadas:

Fig. 1 - Gráfico das Fontes Bibliográficas Pesquisadas

Analisando as referências bibliográficas selecionadas, foi possível ainda, classificá-las conforme


área temática. A tabela 1 a seguir, apresenta as áreas temáticas identificadas e as referências
correspondentes:
Tabela 1 – Área Temática x Fonte de Dados Selecionados

Área Temática Fontes Bibliográficas


Forma do Canal / Revestimento [12], [13], [14]
Obras Civis / Projetos de Drenagem /
Projetos Sustentáveis [6], [9], [15], [16], [17], [18], [19], [20], [21], [22]

Fundamentos de Hidráulica
[7], [13], [14], [19], [23]
Análise de resistência ao fluxo /
uso de matéria vegetativa /
rugosidade / [10], [12], [15], [18], [19], [20], [21], [24], [25], [26], [27], [28]
transporte de sedimentos

Medidas de gestão ecológica /


gestão de risco de inundação / [3], [5], [15], [29], [30]
desastres hidrológicos
Uso de Biotécnicas (materiais inertes,
gabiões, madeiras) [9], [15], [18], [20]

Modelagem Computacional /
Simulação Numérica [15], [18], [19], [20], [21], [26], [27]

Avaliação da capacidade de restauração


ecológica do revestimento /
uso da bioengenharia /
soluções baseadas na natureza / [10], [11], [21], [28], [29], [31], [32], [33], [34]
técnicas de restauração ecológica /
requalificação fluvial

Serviços Ecossistêmicos
[30], [33]
Aumento da capacidade de infiltração [18], [33], [35]

5. DISCUSSÃO
O risco pode ser definido pela probabilidade de alguma coisa desagradável e indesejada ocorrer ao
estar exposto a um perigo e as consequências advindas dessa ocorrência. E o perigo pode ser
definido como algo que apresenta um potencial específico para causar danos e ameaçar a existência
ou integridade de pessoas, propriedades, infraestruturas, sistemas econômicos e do meio ambiente
[3].
Muitas são as técnicas de engenharia utilizadas para se alcançar a redução da frequência e
intensidade de inundações.

5.1. Técnicas Tradicionais e Medidas Não Convencionais de Contenção de Cheias


Segundo Canholi [6], as medidas tradicionais de contenção de cheias podem ser classificadas em:
a) medidas estruturais que são definidas por obras de engenharia executadas de modo a reparar e/ou
prevenir as áreas sujeitas a inundações. Caracterizam-se por: medidas intensivas (canalizações,
reservatórios, bacias de detenção/retenção, restauração de calhas naturais, obras de desvio do
escoamento (tuneis de derivação e canais de desvio), e extensivas atuantes ao longo de toda a bacia
de drenagem (pequenos armazenamentos na bacia, recomposição de cobertura vegetal, controle de
erosão do solo, regularização do leito dos rios, construção de contenções, docas, eclusas, barragens
e reservatórios);
b) medidas não estruturais: buscam controlar a ocupação e o uso territorial das pessoas. Tratam-se
das leis e as atividades de educação ambiental, como os programas de controle de poluição, erosão,
lixo, seguro-enchente, sistema de alerta e previsão das inundações, etc.
As medidas não convencionais são as obras, dispositivos ou até mesmo concepções de projeto
diferenciados do sistema tradicional, associados ou não, que visam a otimização de todo o sistema.
Favorecem o processo de infiltração do solo, a retenção dos escoamentos em reservatórios, o
retardo do fluxo nas calhas do córregos e rios, como: os diques, os pôlderes, e derivação de
escoamentos [6].

5.2. Uma outra forma de conter as Cheias


Os trechos mais baixos dos rios geralmente são constituídos por uma grande planície de inundação.
Trata-se de um sistema natural temporário de armazenamento de cheias [7]. As planícies de
inundação apresentam alto potencial de contribuição para a qualidade da água e do ar, para a
paisagem local, a preservação dos ecossistemas e a distribuição e manutenção de uma rede de
drenagem natural eficiente [16].
Novos métodos construtivos e o uso de materiais diversos, têm sido avaliados para que a dinâmica
dos rios e córregos e as características hidromorfológicas sejam restabelecidas. Trata-se de
intervenções de pequeno porte em trechos localizados dos rios, os quais procuram motivar a
resiliência dos sistemas fluviais, por meio da conservação e a preservação das margens [9].
O termo Bioengenharia, ou Engenharia Natural, é caracterizado pelo uso de matéria vegetal viva
para compor técnicas construtivas e de estrutura na engenharia civil. São técnicas ecológicas,
sustentáveis e de aspecto socioeconômicos atrativos que têm se destacado, principalmente em
países europeus, pelo seu uso nos processos de requalificação fluvial [11].
As biotécnicas correspondem ao uso de materiais inertes como alvenaria, madeira “in natura” ou
serrada, restos culturais, grandes pedras ou seixos rolados, arame, telas metálicas ou simplesmente
madeira. Apresentam resultados positivos para a ecologia, o ambiente paisagístico, lazer, além de
economia de custo quando adquiridos na região. Produzem o efeito de contribuir com a melhora da
instabilidade do talude, a implantação e o crescimento da vegetação, reduzem o potencial de erosão
e a velocidade das águas sobre as margens [10].

5.3. Resultados Relevantes


Daigneault, Brown e Gawith [15] analisaram de forma comparativa a relação do custo e benefício,
entre a implantação de obras de infraestrutura pesada como, o uso de gabiões e dragagem de rios, e
alternativas baseadas na adaptação ecossistêmica (EbA), como as de revegetação das margens dos
rios e reflorestamento das planícies. A região estudada foi a dos rios Ba e Penang localizados em
Viti Levu, Fiji, na Oceania. Através do uso de modelagem hidrológica por meio do software HEC-
RAS foi possível a análise para mitigar os impactos gerados das inundações ocorridas em janeiro e
março de 2012. Para as hipóteses econômicas foram utilizados levantamentos socioeconômicos dos
eventos ocorridos. Constatou-se que o plantio de vegetação ribeirinha, do tipo gramíneas, se
mostrou a opção mais rentável, na ordem de 30-40% de redução nos danos decorrentes dos eventos
estudados. Em contrapartida, o reflorestamento proporciona maiores benefícios gerais (redução de
20-70%), porém com alto custo de implantação. O reforço das margens de rios com estrutura de
gabião e dragagem proporcionam redução de 30-80% dos impactos, porém seu custo de benefício
quase que se iguala ao custo de implantação.
Através do uso do software Mohid Land de simulação hidrológica, Tavares, Costa, Kalas e Junior
[19] construíram um modelo para a bacia hidrográfica do rio Macaé no município de Macaé, estado
do Rio de Janeiro. O objeto de estudo foi o trecho retilinizado pelas obras do extinto DNOS. Na
oportunidade constatou-se que o aumento o coeficiente de rugosidade do canal de 0,035 para 0,08
alcançaria resultados expressivos para atenuar os efeitos de cheias urbanas para uma chuva com o
período de recorrência de 20 e 50 anos.
Liu, Gebremeskell, Smedtl, Hoffmann, Pfister [34] construíram um modelo distribuído com o uso
do software WetSpa para o estudo de reabilitação do afluente Steinsel da bacia do rio Alzette, Grão-
Ducado do Luxemburgo. Foi proposto na simulação, a reconstituição da vegetação ribeirinha e o re-
meandrar do rio nos trechos canalizados. Os resultados revelaram a redução do fluxo máximo em
até 14% e o tempo de concentração podendo ser adiado em até 2 (duas) horas para os trechos
localizados a jusantes da intervenção.
Muhtar e Abayati [14] verificaram que, para condições de canal aberto, o coeficiente de rugosidade
é mais adaptável e preciso na constante de Manning do que na constante de Chezy. Foi verificado
através de experiência em laboratório utilizando material de fundo composto por agregado graúdo,
granulometria variando de 10mm à 50mm que, à medida que o valor do coeficiente de rugosidade
aumenta para Manning o valor da vazão diminui.
Fracassi [9] analisou valores do coeficiente de rugosidade obtidos através de experiências práticas
em modelos reduzidos. Os materiais utilizados foram gabiões e os colchões de gabião. Após terem
sido ensaiados em laboratórios americanos, foram verificados nos laboratórios da Fundação Centro
Tecnológico de Hidráulica (FCTH em São Paulo) e confirmados no Instituto Nacional del Agua
(INA em Buenos Aires – Argentina). Os resultados obtidos nos ensaios, apresentaram uma variação
de 0,025 a 0,030 a depender das condições de fluxo.
Norman et al. [18] observaram durante o monitoramento de 3 (três) anos que estruturas de
contenção de rochas há mais de 30 anos construídas em canais efêmeros, permaneceram em
situação de equilíbrio com as condições de sedimentação, e estabilização da vegetação. Na outra
análise, no trecho do rio que sofreu intervenções recentes com o uso de estrutura de gabião,
verificou-se que a topografia continuava a evoluir conforme previsto nas hipóteses simuladas. O
modelo revelou redução na velocidade do fluxo (16%) e aumento da profundidade (12%), além de
verificar potencial para maior infiltração.
Miguez, Veról, Sousa e Rezende [21] realizaram 4 (quatro) estudos de caso na Bacia do Rio Iguaçu-
Sarapuí, região da baixada fluminense do estado do Rio de Janeiro. Foi proposto por meio de
modelagem matemática, um modelo hidrodinâmico desenvolvido na UFRJ, denominado
MODCEL. A simulação revelou que a opção de apenas se manter os espaços destinados as
planícies de inundação controlando o uso e a ocupação urbana reduziriam 40% as descargas no rio
em estudo em relação a contribuição de um de seus afluentes, enquanto que o uso de diques elevaria
o nível no canal principal em 0,50m.

6. CONCLUSÃO
Diante da pesquisa bibliográfica realizada, observa-se que muitos estudos, os mais recentes dos
últimos 3 (três) anos, têm-se voltado as pesquisas e experimentos no controle de inundações por
meio de processos mais naturais. Aliados as ferramentas computacionais, como os softwares de
simulações hidrológicas, entre eles, Mohid Land, Hec-Heras, WetSpa, parâmetros como, resistência
ao fluxo, uso de matéria vegetativa, rugosidade do canal, transporte de sedimentos, capacidade de
restauração ecológica do revestimento, uso de bioengenharia e biotécnicas, e requalificação fluvial,
estão sendo o foco das avaliações.
Verificou-se entre os autores, a necessidade de se desenvolver uma gestão de risco de inundação
integrada, principalmente voltada a atender em escala de bacia hidrográfica e a controlar o uso e a
ocupação da população sobre áreas de risco a fim de se diminuir o risco de exposição aos eventos
de inundação. Em regiões já urbanizadas, a delimitação de áreas de preservação permanente sobre
as planícies de inundação transformando-as em áreas de lazer para o uso recreacional da população,
como as de parques, pode contribuir para que essas áreas sejam preservadas de invasão para o uso
de moradia.
Observou-se que o uso da bioengenharia (uso de material vegetal vivo) e das biotécnicas (uso de
material inerte) podem ser importantes técnicas no processo de requalificação fluvial, no resgaste
das condições originais dos rios e córregos que no passado passaram por obras tradicionais de
drenagem como foi o caso de canais retilinizados (região norte fluminense), ou construção de
diques (baixada fluminense). São técnicas que podem contribuir para o aumento da rugosidade dos
canais, reduzindo a onda de cheia, além de facilmente se incorporarem a paisagem do local. Autores
como Arcement e Schneider [12], e Chow [13], já revelavam há muitos anos atrás, as
potencialidades da própria natureza na prevenção e combate aos eventos de inundações.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ABSORTÂNCIA SOLAR DE ARGAMASSAS COLORIDAS PRODUZIDAS
COM REJEITO DE MINÉRIO DE FERRO

Solar absorptance of coloured coated mortars made with iron ore tailings

Isabela MENDONÇA 1, Jhade I. C. VIMIEIRO 2, Bárbara R. BELO 3, Rejane M.


LOURA 4, Sofia A. L. BESSA 5, Augusto C. S. BEZERRA 6
1
Escola de Arquitetura, UFMG, Belo Horizonte/MG, email: isabelakaroline4@gmail.com
2
Escola de Arquitetura, UFMG, Belo Horizonte/MG, email: jhadevimieiro@gmail.com
3
Escola de Arquitetura, UFMG, Belo Horizonte/MG, email: barbara_belo@outlook.com
4
Escola de Arquitetura, UFMG, Belo Horizonte/MG, email: rejaneml@gmail.com
5
Escola de Arquitetura, UFMG, Belo Horizonte/MG, email: sofiabessa@ufmg.br
6
Centro Federal de Educação Tecnológica, CEFET/MG, Belo Horizonte/MG, email: augustobezerra@cefetmg.br

Resumo: O Estado de Minas Gerais é responsável por quase metade do valor gerado pela indústria
extrativa mineral (aproximadamente 44%, sem petróleo e gás natural). No entanto, essa atividade
gera milhares de toneladas por dia de diferentes resíduos líquidos, sólidos e lodos. Neste trabalho,
como objetivo principal pretendeu-se avaliar as propriedades mecânicas e térmicas de argamassas de
revestimento produzidas com rejeito de minério de ferro, (RMF) in natura e calcinado, como
substituto do cimento Portland. As argamassas foram produzidas com cimento (tipo CP IV 32), cal
hidratada (CH-I) e areia natural quartzosa, em traços 1:2:9 e 1:1:6. O RMF foi caracterizado por
ensaios de granulometria a laser e difração de raios x. As amostras de RMF foram usadas no estado
in natura (sem calcinação) e também calcinadas a 500 °C e 750 °C. Todas as amostras foram moídas
por 10 minutos para homogeneização. O cimento foi substituído por RMF nas seguintes
porcentagens: 0%, 10%, 20%, 40% e 60%. A relação água/aglomerante foi mantida fixa, no valor de
0,95 para todas as argamassas. Após a moldagem, a massa específica no estado fresco foi aferida.
Para o ensaio de resistência à compressão e à tração na flexão, foram moldados corpos de prova (CPs)
prismáticos de 40x40x160 mm. Todos os CPs permaneceram nos moldes por 48h e curaram em
ambiente de laboratório até a data de ensaio. Para a medição dos valores de absortância solar das
argamassas foram utilizadas quatro partes dos CPs que sobraram dos ensaios mecânicos. Os
resultados mostraram que as argamassas produzidas com RMF em substituição ao cimento Portland
apresentaram propriedades compatíveis com as argamassas de revestimento padrão e que a
absortância solar foi aumentada com o uso de RMF, o que pode afetar os ganhos térmicos das
edificações que utilizem esse produto como revestimento final.

Palavras-chave: absortância, argamassas, propriedades mecânicas.

Abstract: The State of Minas Gerais is responsible for almost half of the value generated by the
mining industry (approximately 44%, without oil and natural gas). However, this activity generates
thousands of tons per day of different liquid wastes, solids and sludge. In this work, the main objective
was to evaluate the mechanical and thermal properties of coating mortars produced with raw and
calcined iron ore tailing (IOT), as a substitute for Portland cement. The mortars were produced with
cement (CP IV 32), lime (CH-I) and natural quartz sand, in 1:2:9 and 1:1:6 rates. The IOT samples
were characterized by laser granulometry and x-ray diffraction. The IOT samples were used in the in
raw state (without calcination) and also calcined at 500 °C and 750 °C. All samples were ground for
10 minutes for homogenization. The cement was replaced by IOT in the following percentages: 0%,
10%, 20%, 40% and 60%. The water/binder ratio was kept fixed, in the amount of 0.95 for all mortars.
After molding, the specific gravity in the fresh state was measured. For the test of compressive
strength and flexural tensile strength, prismatic specimens of 40x40x160 mm were molded. All
specimens remained in the mold for 48 hours and cured in laboratory environment until the test date.
For the measurement of the solar absorptance values of the mortars, four parts of the specimens that
were left over from the mechanical tests were used. The results showed that mortar produced with
IOT in substitution of Portland cement had properties compatible with standard coating mortars and
that solar absorptance was increased with the use of IOT, which can affect the thermal gains of
buildings that use this product as final coating.

Keywords: absorptance, mortars, mechanical properties.

1. INTRODUÇÃO
A produção de minério de ferro no Brasil teve, no segundo semestre de 2016 um rendimento estimado
em R$ 47,1 bilhões, o que representa, aproximadamente, 12,8% em relação à produção mundial [1].
Esse setor absorve aproximadamente 13% do pessoal ocupado diretamente na indústria extrativa
mineral, com um contingente de 13 mil trabalhadores, e detém 296 concessões de lavra das 6.017
existentes no país [2].
O Estado de Minas Gerais é responsável por quase metade do valor gerado pela indústria extrativa
mineral (aproximadamente 44% em 2011, sem petróleo e gás natural) [3]. Entretanto, a extração de
minérios gera milhares de toneladas por dia de diversos resíduos líquidos, sólidos e lama. Para as
mineradoras, o armazenamento desses resíduos é dispendioso e gera um grande passivo ambiental.
A reciclagem de rejeitos minerais é uma opção sustentável, uma vez que este material pode ser
utilizado para substituir recursos naturais e não renováveis na indústria da construção civil.
Potencializar a utilização de rejeitos de mineiro de ferro (RMF) na construção apresenta-se como uma
das maneiras de se reduzir o consumo de matérias-primas e dar um melhor destino ao grande volume
gerado pelas empresas mineradoras.
Alguns trabalhos já empregaram o RMF como substituto da cal, do cimento e da areia na produção
de concretos e de argamassas [4-10], entre outros.
Como exemplo, Dubaj [11] fez um estudo comparativo entre os traços de argamassa de revestimento
na cidade de Porto Alegre evidenciando a importância desse material na construção civil. Ele justifica
o seu estudo no fato de que o uso de traços inadequados é responsável pelo surgimento de
manifestações patológicas que diminuem a vida útil dos componentes ou da edificação. O autor
concluiu que os traços 1:1:6 e 1:2:9 (cimento:cal:areia) são os mais utilizados e que cumprem
satisfatoriamente a função de revestimento.
Em outro trabalho, Franco et al. [7] avaliaram o emprego do RMF como agregado na produção de
concretos. Os traços com 5% e 10% de adição de RMF como fíler apresentaram melhor desempenho
mecânico. Fontes et al. [9] também estudaram a substituição do RMF pelos agregados e pela cal em
traços de argamassa com base 1:3 e obtiveram resultados relevantes na substituição do resíduo pela
cal. Contudo, os autores observaram que, para manter a mesma trabalhabilidade, houve um aumento
na quantidade de água utilizada nas argamassas com RMF.
As alvenarias e os revestimentos argamassados são técnicas construtivas que, na sua essência,
remontam à Idade Média. Com a invenção do cimento Portland, as argamassas evoluíram com
aumento na resistência e na aderência às bases onde eram aplicadas, já nas primeiras idades [12]. A
cal ainda continua sendo usada para melhorar a trabalhabilidade, a plasticidade e a retenção de água,
ainda que aumente a demanda de água de amassamento para uma dada consistência [13].
As argamassas de revestimento desempenham funções importantes na alvenaria, tais como:
estanqueidade à água, conforto térmico, isolamento acústico, resistência ao fogo, regularização da
base, aparência, decoração e proteção. As camadas argamassadas são responsáveis por,
aproximadamente, 30% do isolamento acústico e 50% do isolamento térmico de uma alvenaria
(blocos+revestimento). Por essa razão, as análises do desempenho térmico desses componentes são
tão relevantes [14-15]. Faz-se necessário avaliar, primeiramente, a absortância solar dos materiais de
revestimento das fachadas.
Materiais que apresentam baixas absortâncias e altas emissividades são conhecidos como materiais
refletivos ou frios. Esses materiais, quando usados como revestimento no envelope construtivo
permitem a redução de temperaturas superficiais nos edifícios, minimizando a necessidade de energia
para refrigeração em edificações artificialmente condicionadas e tornando mais confortáveis
edificações não condicionadas [16].
Por serem largamente utilizadas na construção civil, principalmente àquelas produzidas em obra,
buscou-se analisar argamassas de assentamento mistas com substituição do cimento pelo RMF. Como
objetivos específicos, tem-se: i) avaliar o comportamento mecânico das argamassas produzidas com
RMF por meio de ensaios normalizados; ii) avaliar a absortância solar das argamassas.
2. MÉTODOS

Para avaliar os objetivos propostos neste trabalho, procedeu-se a caracterização dos materiais
utilizados e a produção dos corpos de prova (CPs) das argamassas para os referidos ensaios.
2.1. Caracterização dos materiais
Para a produção das argamassas, utilizou-se cimento CP IV 32 (por ser o mais usado em argamassas
na cidade de Belo Horizonte, MG), cal hidratada e areia média no traço 1:2:9 e 1:1:6. A escolha dos
traços se deu pelo fato de serem os mais aplicados em obras de edificações como reboco interno
(1:2:9) e como reboco externo (1:1:6) [11-12].
O RMF foi utilizado em substituição parcial ao cimento. As amostras de RMF foram fornecidas pela
Vallourec Mineração que utiliza o sistema de peneiramento, ciclonagem e filtragem do rejeito para a
disposição em pilhas. A amostra foi coletada após o peneiramento e a ciclonagem.
Todas as amostras foram secas em estufa (por 24 h) e moídas, apenas para uniformização (por 10
minutos), em moinho planetário de alto desempenho, da marca FRITSCH, modelo Pulverisette 5,
composto por quatro recipientes de moagem, Os recipientes e as esferas utilizadas são compostos por
óxido de Zircônio, 94,2% ZrO2, com densidade de 5,7 g/cm³. A amostra foi recebida já calcinada a
500 °C e 750 °C (forno rotativo).
A determinação da distribuição granulométrica do RMF foi realizada por granulômetro a laser Cilas
1090 Laser Particle Size Analyzer. A mineralogia da amostra foi determinada por meio da técnica de
difração de raios x, realizada com equipamento SHIMADZU, modelo XRD-7000.
O agregado miúdo utilizado foi a areia média lavada disponível na cidade de Belo Horizonte. A cal
utilizada foi do tipo CH-I e o ensaio de finura (para controle) foi realizado de acordo com a NBR
7175 [17]. As amostras de areia foram caracterizadas quanto à granulometria [18], volume de vazios
e massa unitária [19] e massa específica [20].
2.2. Produção das argamassas
Para o estabelecimento dos ensaios, foi moldado um traço de referência com cimento Portland, cal e
areia no traço 1:2:9 e 1:1:6. Posteriormente, o cimento utilizado foi substituído, em massa, pelo RMF,
in natura e calcinado a 500 °C e 750 °C, em teores de 0%, 10%, 20%, 40% e 60% (Tabela 1). O fator
água/aglomerante de todas as argamassas foi fixado em 0,95 pois análises preliminares já atestaram
que o índice de consistência não variou em função da substituição do cimento por RMF [21].

Tabela 1 - Argamassas - Grupos e materiais utilizados


G1 – 1:2:9 G2 – 1:1:6
Tipo de resíduo Argamassas
Cimento Cal Areia RMF Cimento Cal Areia RMF
Sem resíduo REF 1 2 9 - 1 1 6 -
IN-10 0,9 2 9 0,1 0,9 1 6 0,1
Resíduo de minério IN-20 0,8 2 9 0,2 0,8 1 6 0,2
de ferro (RMF) in
natura IN-40 0,6 2 9 0,4 0,6 1 6 0,4
IN-60 0,4 2 9 0,6 0,4 1 6 0,6
500-10 0,9 2 9 0,1 0,9 1 6 0,1
Resíduo de minério 500-20 0,8 2 9 0,2 0,8 1 6 0,2
de ferro (RMF)
calcinado 500°C 500-40 0,6 2 9 0,4 0,6 1 6 0,4
500-60 0,4 2 9 0,6 0,4 1 6 0,6
750-10 0,9 2 9 0,1 0,9 1 6 0,1
Resíduo de minério 750-20 0,8 2 9 0,2 0,8 1 6 0,2
de ferro (RMF)
calcinado 750°C 750-40 0,6 2 9 0,4 0,6 1 6 0,4
750-60 0,4 2 9 0,6 0,4 1 6 0,6

Após a moldagem, a massa específica no estado fresco foi determinada, de acordo com a NBR 13276
[22]. Para o ensaio de resistência à tração na flexão e à compressão [23], foram moldados CPs
prismáticos de 40x40x160 mm. Todos os CPs permaneceram nos moldes por 48 h e, depois do
desmolde, curaram em ambiente de laboratório até a data de ensaio.
As medições da absortância solar foram realizadas nas partes rompidas dos corpos de prova que foram
usados no ensaio de resistência à flexão dos Grupos 1 e 2. Para tal, foi utilizado o Espectrômetro Alta
II (Figura 1).
Figura 1 – Espectrômetro usado na medição da absortância solar

Todos os CPs foram rompidos por meio do equipamento universal de ensaios da marca EMIC e os
softwares TESC e Vmaq. Os CPs prismáticos foram posicionados nos aparatos para ensaio e a carga
aplicada à razão de (50±10) N/s.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Em relação à caracterização do RMF, pode-se observar a estrutura predominantemente cristalina das
amostras (in natura e calcinada) na Figura 2.

Figura 2 - Difratogramas das amostras de RMF in natura (esq.) e calcinadas 500°C (centro) e 750°C (dir.).

Pela análise dos difratogramas, percebe-se a transformação da goethita (GO) em hematita (H) que
ocorre entre 200 °C e 300 °C [24]. Os picos de hematita se acentuam na medida em que a temperatura
de calcinação aumenta. Essa mudança pode ser a responsável pela alteração da coloração das
amostras, o que reflete na tonalidade das argamassas. Outra mudança observada é o desaparecimento
dos picos de caulinita (C) na amostra calcinada a 750 °C.
Na Figura 3, observa-se a mudança de tonalidade das argamassas à medida que se acrescenta o RMF
em substituição ao cimento Portland, o que é bastante desejável em produtos para acabamento/
revestimento. Uma argamassa com tonalidade pode dispensar o uso da camada de pintura e receber
apenas uma impermeabilização com hidrofugante (silicones à base de água).
Figura 3 - Coloração das argamassas do grupo IN NATURA (IN) com RMF em comparação com a argamassa
referência (esquerda).

Na Tabela 2, pode-se observar os resultados da caracterização da areia e da cal. Esses ensaios foram
necessários para obter um controle das características dos materiais convencionais utilizados nas
argamassas. Observa-se que a finura da cal (6,67%) está compatível com a norma correlata (< 10%).
Pela granulometria a laser, pode-se observar que a amostra de RMF in natura apresentou 90% das
partículas com diâmetro inferior a 36,31 μm, enquanto a amostra calcinada a 500 °C apresentou o
valor de 27,67 μm, e a amostra calcinada a 750 °C apresentou o valor de 35,79 μm, resultados muito
próximos.

Tabela 2 - Caracterização - Areia e cal


Material Areia Cal
• Volume de Vazios e Massa Unitária
(0,11%; 1,39 g/cm³)
Métodos de • Massa Específica
• Finura (% retida acumulada)
caracterização (2,49 g/cm³)
na #0,075 - 6,67%
• Módulo de Finura (3,21)
• Dimensão máxima característica (2,40 mm)
Fonte:Autores

Os valores de massa específica no estado fresco podem ser observados na Tabela 3. Os valores não
diferiram muito entre si e ficaram entre 1900 e 2000 g/cm3.
A calcinação do RMF e a substituição pelo cimento não alteraram significativamente a massa
específica das argamassas, excetuando-se uma leve tendência de que, nas argamassas produzidas com
RMF calcinado a 750 °C, os valores se apresentaram maiores que na argamassa de referência.
Os valores de resistência média à flexão e à compressão são apresentados nas Tabelas 4 e 5. Observa-
se uma tendência na diminuição da resistência à flexão e à compressão com o aumento do teor de
RMF nas argamassas e também com o aumento da temperatura de calcinação. Com a calcinação a
500 °C, obtem-se ganhos de resistência que não são observados na temperatura de 750 °C. Essa queda
acentuada pode ser por conta do desaparecimento da caulinita nesta temperatura. Ainda assim, as
argamassas com até 20% de RMF podem ser classificadas como P2 (resistência à compressão entre
1,5 e 3,0 MPa), com exceção do subgrupo IN NATURA, no G1 e como P3 (resistência à compressão
entre 2,5 e 4,5 MPa) no G2.
Tabela 3 - Argamassas – Massa específica – G1 e G2
massa específica estado fresco
Argamassas (g/cm3)
G1 – 1:2:9 G2 – 1:1:6
REF 1963,00 2003,30
IN-10 1961,40 2001,40
IN-20 1972,50 1999,90
IN-40 1967,90 2005,50
IN-60 1966,10 2012,80
500-10 1968,00 2005,00
500-20 1979,90 2001,80
500-40 2007,40 2004,90
500-60 1987,60 2005,40
750-10 1995,20 2013,90
750-20 2001,30 2022,40
750-40 1984,00 2011,10
750-60 1992,90 2018,20

Em relação aos valores de resistência à tração na flexão, as argamassas podem ser classificadas com
R1 (resistência à tração na flexão < 1,5 MPa) no G1. No G2, as argamassas com até 20% de RMF
podem se enquadrar na classificação R2 (resistência à tração na flexão entre 1,0 e 2,0 MPa). É
importante frisar que quase todas as argamassas, por esses critérios, puderam ser classificadas perante
à norma, ainda que se tenha observado a tendência de os melhores valores acontecerem nas
argamassas com até 20% de RMF em substituição ao cimento.
Tabela 4 - Argamassas – Resistência flexão e compressão – G1
Resistência à Resistência à
G1
flexão (MPa) compressão (MPa)
REF 0,99 2,30
IN-10 0,58 1,40
IN-20 0,58 1,16
IN-40 0,50 1,56
IN-60 0,44 1,17
500-10 0,92 2,34
500-20 0,80 2,14
500-40 0,65 1,60
500-60 0,62 1,61
750-10 0,64 1,76
750-20 0,75 1,79
750-40 0,44 1,33
750-60 0,50 1,01
Negrito: valores em destaque
Tabela 5 - Argamassas – Resistência flexão e compressão – G2
Resistência à Resistência à
G2
flexão (MPa) compressão (MPa)
REF 1,39 3,91
IN-10 1,21 3,27
IN-20 0,81 2,63
IN-40 0,85 2,02
IN-60 0,66 1,45
500-10 1,29 3,50
500-20 1,02 2,88
500-40 0,74 2,46
500-60 0,57 1,54
750-10 1,11 3,05
750-20 1,17 2,96
750-40 0,90 2,38
750-60 0,59 2,02
Negrito: valores em destaque

Para a medição dos valores de absortância solar das argamassas foram utilizadas quatro partes dos
CPs que sobraram dos ensaios mecânicos (Figura 4). Da esquerda para a direita, os primeiros quatro
CPs referem-se à argamassa de referência. As quatro colunas representam os quatro teores de
substituição, ou seja, da esquerda para a direita tem-se 10%, 20%, 40% e 60%. Em cada coluna, de
cima para baixo, há 4 quatro corpos de prova para cada temperatura de calcinação, na seguinte ordem:
in natura, 500 °C e 750 °C.

Figura 4 – Argamassas do Grupo 1 (esq.) e argamassas do Grupo 2 (dir.).


Os valores compilados de todos os comprimentos de onda aferidos pelo espectrômetro encontram-se
na Tabela 6. A absortância solar média das argamassas foi calculada para as regiões do ultravioleta
(470 nm) até o infravermelho próximo (940 nm). A cor de referência das argamassas é o cinza claro.
Nota-se um escurecimento ds argamassas com o uso do RMF em substituição ao cimento, com tons
que variam de ocre à terracota. Quase todos os valores de absortância das argamassas com RMF
calcinado ficaram acima do valor de referência, com exceção de 5 traços (em negrito na Tabela 6).
Tabela 6 - Argamassas – Absortância solar

G1 – 1:2:9 G2 – 1:1:6
Argamassa
Absortância (α) Absortância (α)
REF 43,83 48,15
IN-10 39,24 47,73
IN-20 42,91 62,20
IN-40 42,94 63,65
IN-60 54,30 65,17
500-10 44,05 48,11
500-20 49,25 56,94
500-40 56,15 62,34
500-60 56,16 56,88
750-10 60,67 56,69
750-20 60,65 62,48
750-40 63,83 68,96
750-60 63,85 71,77

Com a calcinação do RMF em 750 °C, aumenta-se em quase 40% os valores da absortância solar.
Considerando que a argamassa com RMF poderia ser utilizada como revestimento final (reboco) e
ser utilizada em sua cor original (dispensando camadas de fundo preparador + tintas), esse aumento
pode, sim, ser uma fonte de ganho térmico. Quanto mais baixa é a absortância solar da superfície,
menor a temperatura do envelope construtivo [16].

CONCLUSÕES
Os resultados mostraram que:
• As argamassas produzidas com RMF em substituição ao cimento Portland apresentaram
propriedades compatíveis com as argamassas de revestimento padrão;
• A absortância solar das argamassas foi aumentada com o uso de RMF, o que pode afetar os ganhos
térmicos das edificações que utilizem esse produto como revestimento final de alvenarias (reboco)
sem camadas de acabamento posteriores;

AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer ao Laboratório de Mecânica dos Pavimentos e Materiais do
Departamento de Engenharia de Transportes do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas
Gerais.

REFERÊNCIAS
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Substâncias Metálicas / Coord. Geral W. F. Pinheiro, O. B. Ferreira Filho, C. A. R. Neves; Equipe Técnica por Marina
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Ipea, 2012. 40 p. Disponível em: <http://ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/relatoriopesquisa
/120814_relatorio_atividade_mineracao.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2017.
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Janeiro, 2003.
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2018.
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densidade de massa e do teor de ar incorporado. Rio de Janeiro, 1995.
[23] ABNT. NBR 13279: Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos - Determinação da resistência
à tração na flexão e à compressão. Rio de Janeiro, 2005.
[24] MAGALHÃES, L. F.; MORAIS, I. S.; ESTEVES JUNIOR, M. A.; MELO, A. C.; MAIA, A. L. F.; BEZERRA, A.
C. S. Resistência ao ataque ácido de cimento Portland com adição de rejeito de minério de ferro. Anais do 59º
Congresso Brasileiro do Concreto. Bento Gonçalves : IBRACON, 2017.
USO DE RESÍDUOS DA INDÚSTRIA DE PEDRAS ORNAMENTAIS COMO
SUBSTITUIÇÃO AO AGREGADO MIÚDO EM CONCRETOS E
ARGAMASSAS

Use of waste marble and granite as aggregates in concrete and mortar

Ana Flávia Ramos Cruz 1, Matheus Pereira Mendes 2, Lucas Machado Rocha 3, Cláudia Valéria
Gávio Coura 4
1 Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Brasil, ana.cruz@engenharia.ufjf.br
2
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Brasil, matheus.mendes@engenharia.ufjf.br
3
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Brasil, lucas.machado@engenharia.ufjf.br
4
Instituto Federal do Sudeste de Minas Gerais (IFSudesteMG), Juiz de Fora, claudia.coura@ifsudestemg.edu.br

Resumo: No intuito de alcançar o desenvolvimento sustentável no setor da construção civil, faz-se


necessário o desenvolvimento de tecnologias e processos construtivos que têm como objetivo
minimizar a geração de resíduos e reduzir os impactos ambientais. Este setor é um dos que mais
consome recursos naturais não-renováveis opondo-se ao fato de ser considerado um dos mais
eficazes para utilização de materiais reciclados. Sabe-se que outras indústrias, como a de produção
de pedras ornamentais, produz grandes quantidades de materiais residuais em seu processo de
produção, e que estes são passiveis de serem utilizados na construção civil. A reciclagem e
reutilização de resíduos traz benefícios como a preservação do meio ambiente, a diminuição de
áreas para descarte e a redução do consumo de energia no processo de produção. Os materiais
descartados de outras indústrias são reutilizados na construção civil, muitas das vezes, como
agregado. A extração de areia natural por exemplo, comumente utilizada como agregado miúdo,
compromete a biodiversidade e afeta o regime de vazão dos rios, somado a dificuldade de sua
obtenção próximo a centros urbanos. Assim, sua substituição total ou parcial já influencia bastante
nos impactos causados pelo setor da construção. Diante deste contexto, o objetivo deste trabalho é
apresentar a capacidade de uso dos resíduos de pedras ornamentais, especificamente de mármore e
granito, como substituição ao agregado miúdo na produção de concretos e argamassas. Para isso, é
feita uma pesquisa bibliográfica acerca de pesquisas relevantes no assunto nos últimos 10 anos, com
análise de seus resultados e identificação de vantagens e desvantagens dessa utilização. Conclui-se
que é possível o emprego desses resíduos nesse setor da construção civil, dada sua viabilidade
técnica, econômica e ambiental.

Palavras-chave: mármore, granito, agregado miúdo, resíduo, pedras ornamentais.

Abstract: In order to achieve sustainable development in the construction industry, it is necessary


to create constructive technologies and processes that aim to minimize waste generation and reduce
environmental impacts. This industry is one of the biggest consumers of non-renewable natural
resources and, however, can be considered one of the most effective on the use of recycled
materials. It is known that other industries, such as industry of ornamental stones, result in large
quantities of waste materials in their production process, and these are likely to be reused in
construction. Waste recycle and reuse brings benefits such as preservation of the environment,
reduction of areas allocated for disposal and reduction of energy consumption in the production
process. Discarded materials from other industries are reused in construction, often as an aggregate.
Extraction of natural sand, for example, commonly used as a fine aggregate, compromises
biodiversity and affects the flow regime of the rivers, besides the difficulty of obtaining them near
urban centers. Hence, its total or partial replacement has a great influence on the impacts caused by
the construction sector. In this context, the objective of this paper is to present the capacity of using
ornamental stone residues, specifically marble and granite, as a substitute for the fine aggregate in
the production of concrete and mortars. To achieve this goal, a bibliographical review is done on
relevant researches in the last 10 years, analyzing the results and demonstrating the advantages and
disadvantages of its use. It is concluded that it is possible to use this waste material in the civil
construction industry, given its technical, economic and environmental viability.

Keywords: marble, granite, fine aggregate, waste, ornamental stones.

1. INTRODUÇÃO
Após a década de 1980, os resíduos da construção civil se transformaram em grandes problemas
devido ao aumento da população urbana, intensa industrialização e diversificação do consumo de
bens e serviços. Os problemas se caracterizavam pelo seu oneroso gerenciamento, contaminação
ambiental e escassez de depósitos causados pela intenção urbanização [1].
A gestão ambiental de resíduos sólidos foi debatida durante a ECO-92 com a definição da Agenda
21, conjuntos de medidas para conciliar crescimento econômico e social com a preservação do meio
ambiente. Assim, para que alcançasse o desenvolvimento sustentável na indústria da construção
civil, a reutilização e reciclagem de resíduos se fizeram necessárias, visto que o setor chega a
consumir até 75% dos recursos naturais do planeta, representando um grande impacto ambiental
[2].
A reutilização de resíduos industriais é de grande importância. Dentre alguns de seus benefícios,
pode-se citar: a redução de recursos naturais não renováveis e a preservação do meio ambiente; a
redução de áreas para deposição e descarte de resíduos; a redução do consumo do processo de
produção e redução da poluição; dentre outros [1]-[3].
Apesar da indústria da construção civil ser uma das maiores consumidoras de recursos naturais não-
renováveis, segundo Coura [4], ela também pode ser considerada uma das mais eficazes para
utilização de materiais reciclados. Em consequência disso, faz-se necessário o desenvolvimento de
tecnologias e processos construtivos que têm como objetivo minimizar a geração de resíduos.
Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais [5], a produção de rochas
ornamentais, amplamente empregadas como revestimento, é de aproximadamente 5,2 milhões de
toneladas/ano, dos quais 57% são os granitos e 17% o mármore. Desta quantidade anual, cerca de
30% do material se perde durante o processo de corte de chapas, e 25% no processo de
comercialização, gerando quase 400 mil toneladas de resíduo a ser descartado.
As sobras da indústria de rochas ornamentais são passíveis de serem utilizadas como material para a
produção de concretos, representando uma alternativa viável que substitui a areia como agregado
miúdo [6]. Além disso, a extração da areia natural compromete a biodiversidade, afeta o regime de
vazão dos rios, e sabe-se da dificuldade encontrada para obtenção deste material próximo à centros
urbanos, o que incrementa ainda mais o seu preço final.
Do ponto de vista econômico e produtivo, utilizar-se de um material categorizado como rejeito ou
resíduo e atribuir a este um novo valor comercial é extremamente positivo. A indústria de rochas
ornamentais passaria a ofertar um novo produto ao mercado da construção civil, sem exigir para tal
investimentos adicionais na aquisição, transporte e beneficiamento da matéria prima.
Diante deste contexto, este presente trabalho tem como objetivo a apresentação de uma revisão
bibliografia acerca da potencialidade do uso dos resíduos de pedras ornamentais como agregado
miúdo, especificamente o mármore e o granito, fazendo uma comparação entre o concreto com o
agregado reciclado e aquele com material usual.

2. METODOLOGIA
Este trabalho se divide em três etapas distintas. Na primeira etapa, para sua elaboração e obtenção
de resultados, é utilizado o método da pesquisa bibliográfica, entendida como o ato de indagar e de
buscar informações sobre determinado assunto, através de um levantamento realizado em base de
dados nacionais. Assim, as bases de dados escolhidas foram o Google Acadêmico e a Scientific
Electronic Library Online (SciELO), nas quais foi realizada a pesquisa bibliográfica com recorte
temporal dos últimos 10 anos, com estudos que aplicaram os resíduos da indústria de pedras
ornamentais – mármore e granito – na produção de concretos e argamassas, em substituição ao
agregado miúdo.
Em sua segunda etapa, buscou-se desenvolver uma discussão dos resultados obtidos, apresentando,
portanto, uma abordagem sobre a viabilidade de inclusão desses resíduos na fabricação de concretos
e argamassas, suas vantagens e desvantagens. Por fim, em sua última etapa, o trabalho conta com as
considerações finais, obtidas a partir dos resultados encontrados.

3. RESULTADOS
Recentemente, o emprego de resíduos da indústria de rochas ornamentais na construção civil tem
sido amplamente estudado. Na década de 1990 pesquisadores desenvolveram seus trabalhos
utilizando o rejeito das pedras ornamentais em argamassas [7], tijolos de solo-cimento [8] e em
tijolos cerâmicos [9]-[11], onde foi constatada a viabilidade técnica da substituição. Logo depois, o
resíduo foi utilizado no concreto como adição e obteve-se êxito [12]. Além disso, a utilização dos
resíduos de rochas ornamentais, granito e mármore, como adição e filer no concreto tiveram sucesso
em variados experimentos [13]-[14].
Nos últimos 10 anos, são amplas, também, as pesquisas sobre o emprego de resíduos do
beneficiamento de rochas ornamentais como agregado miúdo na fabricação de concretos e
argamassas. A Tabela 1 apresenta um levantamento de pesquisas relevantes nacionalmente a serem
consideradas nesse trabalho.
Fazendo-se uma abordagem temporal, conforme a Tabela 1, observa-se que Gomes e Bacarji
(2008) [15] estudaram o módulo de deformação e a durabilidade de concretos produzidos com o
resíduo da indústria de rochas ornamentais em substituição ao agregado miúdo. Foram produzidas
diferentes dosagens, uma de referência e as demais com adição de 5%, 10%, 15% e 20% do resíduo
em substituição ao agregado miúdo. Os ensaios de módulo de deformação, absorção e índice de
vazios foram realizados. Nos ensaios de módulo de deformação, houve aumento dos valores em
relação à dosagem de referência, proporcionalmente ao aumento da quantidade de resíduos
adicionada. Em adições de 20%, porém, houve queda dos resultados obtidos. Os autores acreditam
que a quantidade de finos prejudicou a aderência pasta-agregado. Os valores encontrados nos
ensaios de absorção e índice de vazios, embora superiores, de forma geral, são muito semelhantes
aos de referência. A pesquisa concluiu a viabilidade o uso desses resíduos em concretos.
Barbosa et al. (2008) [6] efetuaram um estudo de caracterização e avaliação do emprego de rejeitos
de mármore triturado (RMT) e rocha gnaisse triturada (RGT), em substituição total do agregado
miúdo natural, para a produção de concretos. A dosagem de referência, com agregado miúdo
natural (AMN), foi um parâmetro comparativo para avaliação da viabilidade das duas outras
aplicações. Foram realizados ensaios de trabalhabilidade, densidade de massa, resistência à
compressão axial, absorção de água por imersão e módulo de deformação. A trabalhabilidade foi
avaliada pelo ensaio de abatimento de tronco de cone (slump test). O concreto com RMT teve maior
trabalhabilidade que os demais no estado fresco. Esse fato pode ser explicado pela baixa porosidade
e absorção dos grãos de RMT. A dosagem com RGT, porém, teve trabalhabilidade inferior à de
referência. Isso foi explicado pelas autoras como consequência da dificuldade de homogeneizar a
mistura devido ao elevado teor de material pulverulento dos RGT. Em relação à densidade de
massa, ambos tiveram valores superiores ao concreto com AMN. Isso é explicado pelo fato de o
RMT ser inerte e com baixa absorção de água e, consequentemente, menor perda de água. Os RGT,
por sua vez, têm essa característica por possuírem teor mais elevado de material pulverulento. Nos
ensaios de resistência à compressão axial, os dois concretos (com RMT e com RGT) apresentaram
valores superiores aos do concreto de referência, uma vez que, por terem maior densidade de massa,
tem menor teor de ar aprisionado. Nos ensaios de absorção por imersão, o concreto com RMT teve
valor inferior ao de referência, da ordem de 15%, enquanto que o RGT teve absorção muito superior
ao de referência (aproximadamente 25%). No ensaio de módulo de elasticidade, os resultados do
concreto com RMT foram bastante superiores aos do concreto de referência, uma vez que os AMN
têm partículas mais arredondadas e lisas, permitindo a formação de microfissuras entre o concreto e
a pasta. De modo geral, o resultado obtido pelas autoras foi de que o concreto com RMT tem
características superiores ao de referência, sendo, portanto, viável a utilização desse resíduo no
concreto.
Em 2009, Coura [4] também pesquisou a utilização de rejeitos de mármore triturado (RMT) em
substituição ao agregado miúdo natural (AMN). Em sua pesquisa, foram utilizadas dosagens com
areia natural de rios (mistura de referência), dosagens com substituição do AMN por RMT em 20%,
40%, 50%, 60% e 100%, dosagem com substituição do AMN por mistura de RMT na
granulometria ótima (segundo referência normativa) e dosagem com substituição do AMN por
agregado miúdo artificial. Foram ensaiadas várias propriedades em que o concreto com RMT se
destacou, como nos ensaios de resistência mecânica. Foi observada que quanto maior o teor de
adição de RMT em substituição ao AMN, maiores os valores de resistência, sendo todos superiores
aos valores do concreto de referência. A autora indica, ainda, a possibilidade de aumentar a
resistência dos concretos com RMT em aproximadamente 20%, já que é possível reduzir o fator
água/cimento, uma vez que sua trabalhabilidade é, também, superior à do concreto com AMN.
Outro ensaio realizado foi o de absorção de água por imersão, que indicou redução da absorção e do
índice de vazios com o aumento do percentual de substituição de AMN por RMT. A redução
também ocorreu na absorção por capilaridade. O módulo de elasticidade e coeficiente de Poisson
também foram avaliados para as diferentes dosagens. Foi observado que maiores são seus
resultados à medida que o aumenta-se o teor do RMT, indicando uma melhoria no travamento das
partículas dos agregados, graças à rugosidade dos grãos de RMT. O concreto com RMT, porém,
apresentou aumento de retração por secagem nas primeiras idades, estabilizando-se aos 40 dias. A
autora explica que isso acontece devido à maior concentração de material pulverulento que o AMN
e à sua baixa absorção de água, de modo que o agregado não absorve parte da água de
amassamento, ficando uma quantidade maior livre na mistura (água evaporável). Os concretos com
RMT apresentaram, também, maior velocidade de propagação de ondas que os concretos com
AMN. Outras propriedades foram avaliadas em sua pesquisa e podem ser consultadas na obra
original.
Tabela 1 - Pesquisas relevantes sobre o emprego de resíduos de mármore e granito como agregado miúdo.
Ano Título Autores
Influência da Mistura de Agregados Graúdos, Resíduo
2017 de Corte de Mármore e Granito e Metacaulim e SILVA, D. M.
Aditivos no Desempenho Mecânico do Concreto
Desempenho de durabilidade de concreto estrutural
GAMEIRO, F.; BRITO, J.;
2014 contendo agregados finos a partir de resíduos gerados
SUKVA; D. C.
pela indústria de extração de mármore *
Argamassas com substituição parcial do agregado SALES, A. T. C.; SÁ, B. R. C.;
2014
miúdo por pó de mármore SANTOS, D. G.
MATTA, V.R.P.;
Efeitos da adição do resíduo de corte de mármore e
APOLINÁRIO, E.C.A.;
2013 granito (RCMG) no desempenho de argamassas de
SANTOS, G. R.; RIBEIRO, D.
cimento Portland no estado endurecido
V.
Análise do efeito de adição de diferentes teores de pó BACARJI, E.; PEREZ, E.;
2013 de granito nas propriedades mecânicas do HAMER, L.; LIMA, M.;
microconcreto MARTINS, M.; NETO, T.
Argamassa com substituição de agregado natural por SANTOS, R. A.; LIRA, B. B.;
2012
resíduo de britagem de granito RIBEIRO, A. C. M.
2011 Argamassa de alto desempenho SANTOS, W. J.

Caracterização do pó de mármore para uso em CORINALDESI, V.;


2010
argamassas e concretos MORICONI, G.; NAIK, T. R.

Análise experimental sobre a substituição do agregado


2009 COURA, C. V. G.
miúdo por mármore triturado na confecção de concreto

Estudo sobre a areia artificial em substituição à natural BARBOSA, M. T. G.; COURA,


2008
para confecção de concreto C. V. G.; MENDES, L. O.
Avaliação do módulo de deformação e da durabilidade
de concretos produzidos com o resíduo de
2008 GOMES, K.; BACARJI, E.
beneficiamento de mármore e granito (RBMG) em
substituição ao agregado miúdo
*Tradução pelo autor: Durability performance of structural concrete containing fine aggregates from waste
generated by marble quarrying industry.
Corinaldesi (2010) [16] também ensaiou corpos de prova para estudo do uso de pó de mármore em
concretos e argamassas. O pó de mármore utilizado para os ensaios apresentou um alto índice de
finos. Foram preparadas diferentes dosagens para ensaio, com ou sem adição de aditivo
superplastificante. O fator água/cimento foi variado e os testes foram feitos em diversas misturas de
argamassa, todas preparadas com areia para relação de cimento de 3:1 em aproximadamente a
mesma trabalhabilidade. Os resultados obtidos mostram que 10% de substituição de areia pelo pó
de mármore forneceu a máxima resistência à compressão na mesma trabalhabilidade.
Santos, W. J. (2001) [17] também avaliou o emprego do resíduo de mármore triturado em
substituição ao agregado miúdo natural para a produção de argamassas. Os resíduos oriundos do
mármore foram denominados neste trabalho por areia artificial (AA), enquanto o agregado miúdo
natural, por AN. Foram empregadas diferentes dosagens, baseadas em duas consistências (avaliadas
através da mesa de espalhamento): 180 mm e 210 mm, adotadas em função da trabalhabilidade
desejada. Os traços, portanto, foram constituídos por cimento, cal hidratada e areia ou cimento e
areia, determinando-se o fator água/cimento em função da trabalhabilidade. Os ensaios de
resistência à compressão axial demonstraram melhores resultados nas argamassas com AA. Os
valores de resistência à tração por compressão diametral foram parecidos com os anteriores. Demais
propriedades foram avaliadas em ensaios laboratoriais, como velocidade de propagação de pulso
ultrassônico, módulo de elasticidade, dureza superficial, resistência à tração por arranchamento,
absorção por capilaridade, por imersão e pelo método do cachimbo, massa específica, índice de
vazios e retração hidráulica. O foco foi dado na comparação entre argamassas de AA com ou sem a
adição de cal.
Santos et al. (2012) [18] também estudaram argamassa com substituição total de agregado natural
por resíduo de britagem de granito, comparando duas dosagens distintas: uma com menor teor de
cal, resíduo e menor fator água/cimento e outro com quantidades superiores de cal, resíduo e fator
água/cimento. A primeira dosagem teve resultados de resistência à compressão e flexão muito
superiores à segunda.
Bacarji et al. (2013) [19] estudaram diferentes microconcretos, com areia artificial. Segundo eles,
na indústria brasileira de britagem, são gerados 1t de brita, 0,3t de areia artificial e 0,03t de finos
residuais (pó de brita). O objetivo da pesquisa foi avaliar o desempenho do microconcreto nos
estados fresco e endurecido, com diferentes teores de pó de brita: 5% de adição e 10% de adição em
relação à areia artificial. Foi dosado também um microconcreto de referência, com areia artificial,
sem adição de pó de brita. A areia artificial empregada e o pó de brita foram originários do processo
de britagem do granito. Os ensaios no estado fresco realizados foram o da mesa de espalhamento e
massa específica. No ensaio de espalhamento, para avaliar sua fluidez, as três dosagens tiveram
comportamento semelhante. No ensaio de massa específica, o que obteve comportamento menos
denso foi com a adição de 5%. Os ensaios de resistência à compressão nas primeiras idades (7 dias)
indicaram maiores valores de resistência nos concretos com adição, especialmente no de 5% de
adição. Aos 28 dias, porém, o comportamento das três dosagens foi bastante semelhante. Os valores
de módulo de elasticidade obtidos em cada microconcreto foram condizentes com os valores do
ensaio de resistência à compressão, onde o microconcreto com adição de 5% obteve maior módulo,
seguido do microconcreto com adição de 10% e por fim o microconcreto de referência. Os autores
concluíram que é possível dosar microconcreto com adições de pó de brita, uma vez que
constataram sua viabilidade.
Matta et al. (2013) [20] avaliaram os efeitos da adição do resíduo de corte de mármore e granito
(RCMG) no desempenho de argamassas de cimento Portland no estado endurecido. Foram
elaboradas dosagens de referência e com adições de 5%, 10% e 15% em massa. A relação
água/cimento foi mantida constante. Os ensaios de resistência mecânica – resistência à flexão e
compressão axial – indicaram ganhos de resistência nas argamassas com adição, com desempenho
superior daquela com adição de 5%. A densidade de massa desses concretos foi superior à medida
que se aumentava o teor de adição, enquanto a porosidade diminuía. Em relação à absorção de água
por capilaridade, essa foi aumentando com o aumento do percentual de finos, sendo próxima à de
referência apenas para a argamassa com adição de 5%. Os resultados obtidos para a velocidade de
propagação do pulso ultrassônico são crescentes com o teor de resíduo adicionado, fato que foi
explicado pelos autores como consequência do teor de finos da mistura. Isso também levou a um
aumento do módulo de deformação. Os autores destacaram a viabilidade técnica do uso do RCMG
como adição às argamassas, com 5% de teor ótimo de adição. Eles observaram redução de
porosidade nas argamassas com adição, sendo muito significativa na composição contendo 15% de
resíduo, o que acarretou elevação significativa na rigidez, podendo representar maior
susceptibilidade à fissuração, devido a sua menor capacidade de se deformar. Eles apontaram,
ainda, que densidades elevadas também podem, comprometer a rigidez, dificultando a aplicação
dessa argamassa em revestimentos. Por fim, os autores consideraram viável sua aplicação,
especialmente na adição de 5%, considerada ótima.
Sales, Sá e Santos (2014) [21] analisaram a influência do resíduo da produção de mármore, em
diferentes teores, nas propriedades físicas e mecânicas das argamassas, para sua futura utilização
como revestimento e/ou assentamento. Para isso, uma caracterização química e física do resíduo foi
feita no intuito de conhecer suas propriedades. Logo após, foram realizadas seis misturas de
argamassa cimentícia, com substituição do agregado miúdo natural por pó de mármore, em teores
de 0%, 20% e 40%. Foi encontrado que a porosidade da argamassa foi reduzida quando houve
substituição em teor de 20%, no entanto, com aumento desse teor (40%) a porosidade aumentou. No
que tange as propriedades mecânicas, a resistência à compressão da argamassa aumentou em 10%
se utilizados o teor de 20% de substituição. Para maiores quantidades de pó de mármore (40%), a
resistência reduziu em quase 30 %. O mesmo aconteceu com a resistência à tração indireta, que era
maior com o teor de 20% e menor com o de 40%.
Gameiro, Brito e Silva (2014) [22], avaliaram a durabilidade de concretos com substituição do
agregado miúdo natural por resíduo do beneficiamento de mármore em diferentes teores, sendo
eles: 0%, 20%, 50% e 100%. Foi encontrado que a trabalhabilidade do concreto é reduzida à
medida que se aumenta o teor de substituição. Já em relação a absorção de água por capilaridade, o
teor de 20% foi aquele que apresentou a melhor opção. Em relação a absorção por imersão em água,
quanto maior o teor, mais benéficos eram os corpos de prova.
Por fim, Silva (2017) [23] realizou a substituição de 10% do agregado miúdo natural por resíduo de
corte de granito e mármore. A caracterização deste resíduo foi feita para determinar sua composição
granulométrica. Já que a quantidade de material pulverulento do resíduo era grande, também foi
feito o ensaio para determinar a quantidade de filler (partículas com diâmetro inferior a 0,075 mm).
Essa adição, em comparação a um concreto padrão, resultou numa redução de 42% na resistência
característica à tração. No entanto, ocasionou um aumento de 16% na resistência à compressão
característica do concreto aos sete dias.
4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
De um modo geral, o comportamento das propriedades dos concretos e argamassas com adição de
resíduos da indústria de mármore e granito, de acordo com a bibliografia de referência, com base
nos autores estudados, ocorreu conforme a Tabela 2.
Tabela 2 - Comportamento geral dos concretos e argamassas com adição de resíduos da indústria de produção de
rochas ornamentais.
Propriedade Comportamento
Densidade de massas Aumenta
Resistência mecânica à compressão Aumenta
Resistência mecânica à tração Diminui
Módulo de elasticidade Aumenta
Trabalhabilidade Aumenta
Absorção por imersão Diminui
Absorção por capilaridade Incoerência de resultados
Velocidade de propagação de ondas Aumenta
Retração hidráulica Aumenta nas primeiras idades e
estabiliza-se
Porosidade Incoerência de resultados

Conforme visto na Tabela 2, uma série de vantagens do emprego desses resíduos como adição ou
substituição total do agregado miúdo podem ser verificadas em concretos e argamassas. Observa-se,
de forma geral, ganhos de trabalhabilidade, de resistência, de módulo de elasticidade e redução da
absorção de água por imersão. Essas já são propriedades muito significativas na qualidade de um
concreto e argamassa e devem ser consideradas.
Algumas desvantagens foram observadas, como o aumento da retração hidráulica nas primeiras
idades, conforme visto em Coura [4]. Esta, porém, estabiliza-se após 40 dias.
Os concretos elaborados com resíduo de granito triturado (RGT) por Barbosa et al. [6]
apresentaram redução de trabalhabilidade e aumento de absorção de água por imersão. Essas,
porém, não podem ser consideradas desvantagens da aplicação dos rejeitos de rochas ornamentais,
de um modo geral, uma vez que os concretos com RMT suprem essas falhas e apresentaram
comportamento técnico superior aos concretos de referência.
Matta et al. [20] relacionam a redução de porosidade de certas dosagens com adição de resíduo,
com o aumento de rigidez e possibilidade de geração de fissuras. Além disso, o ganho de densidade
também pode aumentar sua rigidez, dificultando a aplicação dessas argamassas em revestimentos.
Esse comportamento pode ser considerado uma desvantagem de aplicação e deve ser melhor
avaliado por novos ensaios em trabalhos futuros.
A absorção por sucção capilar não pode ser devidamente avaliada, uma vez que houve incoerência
entre os resultados de Coura [4] e Matta et al. [20]
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De forma geral, como visto nas pesquisas levantadas, o uso de resíduos de indústrias de produção
de mármore e granito como substituição total ou parcial do agregado miúdo em concretos e
argamassas se destaca em relação às propriedades que oferece ao concreto produzido. São inúmeros
os benefícios técnicos obtidos, como ganho de trabalhabilidade, resistência, módulo de elasticidade,
além de redução da absorção de água, que está muito relacionada à benefícios de estanqueidade e
durabilidade dos concretos que utilizam esse resíduo. Todos os autores pesquisados indicaram
viabilidade dessa utilização.
Além dos benefícios que configuram sua viabilidade técnica, o uso dessa categoria de resíduos pode
significar benefício econômico, uma vez que os custos desses materiais são inferiores ao da areia
natural, utilizada em concretos de referência, e benefício ambiental, já que é dada uma alternativa
de destinação ambientalmente correta para esses resíduos, além de reduzir a exploração de areia
natural de rios.
Algumas desvantagens foram apontadas em poucos trabalhos, como a redução da resistência à
tração, porém para sua real comprovação são necessários novos estudos e novas abordagens em
relação à utilização desses resíduos em concretos e argamassas.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a CAPES e a UFJF pelo apoio à pesquisa.

REFERÊNCIAS
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desenvolvimento. São Paulo, 2000. 113p. Tese (Livre Docência) – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
Departamento de Engenharia de Construção Civil. São Paulo, 2000.
[2] JOHN, V.M.J. Panorama sobre a reciclagem de resíduos na construção civil. In: SEMINÁRIO
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A RECICLAGEM NA CONSTRUÇÃO CIVIL, 2., São Paulo, 1999.
Anais... São Paulo: IBRACON, 1999.
[3] PINTO, T.P. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana. São
Paulo, 1999. 189p. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica, Universidade de São Paulo. São Paulo, 1999.
[4] COURA, C. V. G. Análise experimental sobre a substituição do agregado miúdo por mármore triturado
na confecção de concreto. Niterói, 2009. 196p. Tese (Doutorado) – Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2009.
[5] ABIROCHAS - Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais. Disponível em:
www.abirochas.com.br. Acessado às 14:35 do dia 23/09/2018.
[6] BARBOSA, M. T. G., COURA, C. V. G., MENDES, L. O. Estudo de areia artificial em substituição à natural
para confecção de concreto. Ambiente Construído. V.8, n.4, PP 51-60, Out-Dez, 2008.
[7] CALMON, J. L.; TRISTÃO, F. A.; LORDÊLLO, F. S. S.; DA SILVA, S. A. C.; MATTOS, F. V. Reciclagem
do resíduo de corte de granito para a produção de argamassas. In: I Encontro Nacional sobre Edificações e
Comunidades Sustentáveis. Canela, 1997. Anais... Canela (RS), 1997.
[8] CALMON, J. L.; TRISTÃO, F. A.; LORDÊLLO, F. S. S.; DA SILVA, S. A. C.; MATTOS, F. V.
Aproveitamento do resíduo de corte de granito para a produção de tijolos de solo-cimento. In: VII Encontro Nacional de
Tecnologia do Ambiente Construído Qualidade no Processo Construtivo. Florianópolis, 1998. Anais... Florianópolis
(SC): ANTAC, 1998.
[9] LIMA FILHO, V.X., BEZERRA, A.C., SANTOS, F.C., NOGUEIRA, R.E.F.Q., FERNADES, A.H.M.
Determinação de parâmetros para racionalização do processamento de rochas graníticas por abrasão. In XV Congresso
Brasileiro de Engenharia Mecânica. Anais... São Paulo, 1999.
[10] NEVES, G. A.; PATRÍCIO, S. M. R.; FERREIRA, H. C.; SILVA, M. C. Utilização de resíduos da serragem de
granitos para confecção de tijolos cerâmicos. In: 43° Congresso Brasileiro de Cerâmica. São Paulo, 02-05/junho, 1999.
Anais... São Paulo, 1999.
[11] BARROTE, L. G. Utilização de rejeitos (cacos) de mármores em massas cerâmicas – Parte-1. In: 44°
Congresso Brasileiro de Cerâmica. São Paulo, 2000. Anais... 31/maio-04/junho, 2000, p.19901-19914.
[12] GONÇALVES, J.P. Utilização do resíduo de corte de granito (RCG) como adição para a produção de
concretos. Porto Alegre, RS. PPGEC/UFRGS. 2000. 135p., il. Dissertação (Pós-graduação em Engenharia Civil) -
Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2000.
[13] BIGNO, I. C. Aproveitamento do resíduo de corte de rochas ornamentais como fíler mineral em
compósitos de matriz polimérica e cimentícia. 2002. 175f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –
Universidade Federal de Fluminense, Niterói, 2002.
[14] GONÇALVES, J. P.; MOURA, W. A.; DAL MOLIN, D. C. C. Avaliação da influência da utilização do
resíduo de corte de granito (RCG), como adição, em propriedades mecânicas do concreto, Ambiente Construído,
jan/mar 2002, v. 2, n. 1, p.53-68.
[15] GOMES, K.; BACARJI, E. Avaliação do módulo de deformação e da durabilidade de concretos produzidos
com o resíduo de beneficiamento de mármore e granito (RBMG) em substituição ao agregado miúdo. Encontro
Nacional Betão Estrutural, 2008. Anais...Guimarães, 2008.
[16] CORINALDESI, V.; MORICONI, G.; NAIK, T.R. Characterization of marble poder for its use in mortar and
concrete. Construction and building materials. Volume 24, Pág. 113-117, Jan, 2010.
[17] SANTOS, W. J. Aproveitamento do resíduo de corte de rochas ornamentais como fíler mineral em
compósitos de matriz polimérica e cimentícia. 2011. 209f. Dissertação (Mestrado em Ambiente Construído) –
Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora. 2011.
[18] SANTOS, R. A.; LIRA, B. B.; RIBEIRO, A. C. M. Argamassa com substituição de agregado natural por
resíduo de britagem de granito. Rev. Elet. em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental, v.8, n.8, p.1818-1828, set-
dez, 2012.
[19] BACARJI, E.; PEREZ, E.; HAMER, L.; LIMA, M.; MARTINS, M.; NETO, T. Análise do efeito de adição de
diferentes teores de pó de granito nas propriedades mecânicas do microconcreto. Revista eletrônica de educação da
faculdade Araguaia, 4:11-24, 2013.
[20] MATTA, V.R.P.; APOLINÁRIO, E.C.A.; SANTOS, G. R.; RIBEIRO, D. V. Efeitos da adição do resíduo de
corte de mármore e granito (RCMG) no desempenho de argamassas de cimento Portland no estado endurecido. IX
Fórum Ambiental da Alta Paulista, Anais... São Paulo, 2013.
[21] SALES, A. T. C.; SÁ, B. R. C.; SANTOS, D. G. Argamassas com substituição parcial do agregado miúdo por
pó de mármore. In: XV Encontro Nacional de Tecnol0ogia do Ambiente Construído Qualidade no Processo
Construtivo. Maceió, 2014. Anais... Maceió (AL): ANTAC, 2014.
[22] GAMEIRO, F.; BRITO, J.; SUKVA; D. C. Durability performance of structural concrete containing fine
aggregates from waste generated by marble quarrying, Engineering Structures, 2014, 59(2): 654-662.
ANALISE ENTRE ADITIVOS SUPERPLASTIFICANTE E BIOPOLIMERO
DERIVADOS DA PROTEINA DO LEITE BOVINO

Analysis in superplastifying and biopolimary additives derived from bovine milk protein

Clarissa Dias de Souza1; Maria Teresa Barbosa2; Nelson Dias de Sousa3;

1
Engenheira Civil, Mestranda em Ambiente Construído/ UFJF - Minas Gerais, Brasil,clarissajf@yahoo.com.br
2
Professora Dra., Faculdade de Engenharia/ UFJF - Minas Gerais, Brasil,teresa.barbosa@engenharia.ufjf.br
3
Professor Doutor, Depto Ciências Exatas e Biotecnologia/ UFT- Tocantins, Brasil, nelson.luis@hotmail.com

RESUMO

A utilização e o desenvolvimento de materiais são cruciais para o crescimento do país, portanto as


pesquisas de novos materiais têm sido foco de estudos de diversas áreas. Nesse contexto temos que
aditivos químicos para o concreto são elementos imprescindíveis para o atual patamar de inovação
da construção, soluções exigem a versatilidade de produtos componentes e, neste aspecto, os
aditivos são responsáveis por modificarem as características dos sistemas, tanto no estado fresco
quanto no estado endurecido. Na expectativa de atender essa nova demanda foram desenvolvidos
diferentes tipos de aditivos sintéticos – plastificantes, retardadores, aceleradores, incorporadores de
ar, superplastificante, entre outros – os mais consumidos no mundo são os aditivos redutores de
água, seu grande sucesso deve-se à versatilidade que promovem às misturas em que são inseridos.
Nesse contexto pode se mencionar que maioria dos aditivos utilizados no mercado são derivados de
polímeros sintéticos, porém nos dias atuais a sociedade busca formas mais sustentáveis de
polimerização de substancias que durante sua síntese, processamento ou degradação produzem
menor impacto ambiental. O presente estudo convergiu para análise das propriedades entre o
biopolímero derivado do leite e os aditivos disponíveis no mercado aplicados na produção do
concreto como um agente facilitador, avaliando o impacto da utilização desse material nas
propriedades do concreto. Por fim, consideramos por avaliar a viabilidade técnica, econômica e
comercial do emprego do material como alternativa de sustentável para as futuras gerações.
Considerando a simplicidade de produção do “aditivo sustentável” e o baixo custo, o
reaproveitamento desse rejeito viabiliza o produto além de possibilitar a obtenção de materiais
ecoeficentes aplicáveis na indústria da construção civil.
Palavras-chave: Biopolímero; Cimento; Sustentabilidade.

ABSTRACT

The development and use materials are crucial to the growth of the country, so the research of new
materials has been the focus of studies in several areas. In this context have that chemical additives
for the concrete are indispensable for the current level of innovation of the construction, solutions
require the versatility of component products and, in this aspect, the additives are responsible for
modifying the characteristics of the systems, both in the fresh state and in the hardened state. In
anticipation of meeting this new demand, different types of synthetic additives have been developed
- plasticizers, retarders, accelerators, air incorporators, superplasticizers, among others - the most
consumed in the world are water reducing additives, its great success due to the versatility which
promote the mixtures into which they are inserted. In this context, it can be mentioned that most of
the additives used in the market are derived from synthetic polymers, but nowadays society is
looking for more sustainable forms of polymerization of substances that during their synthesis,
processing or degradation produce less environmental impact. The present study converged to
analyze the properties between the milk-derived biopolymer and the commercially available
additives applied in the production of the concrete as a facilitating agent, evaluating the impact of
the use of this material on concrete properties. Finally, we consider the technical, economic and
commercial feasibility of using the material as a sustainable alternative for future generations.
Considering the simplicity of production of the "sustainable additive" and the low cost, the reuse of
this waste makes the product feasible and allows the production of eco-friendly materials applicable
in the construction industry.

Keywords: Biopolymer; Cement; Sustainability

1. INTRODUÇÃO
A engenharia dos materiais obteve grandes avanços tecnológicos nos últimos anos
principalmente no setor de construção, pesquisas e desenvolvimento de novos materiais
multifuncionais e de alto desempenho. Em particular, essa tendência é marcada pelas novas
fronteiras da construção civil, onde faz-se necessário o uso de estruturas de concreto em situações
não convencionais, contudo atualmente o desenvolvimento desses materiais tendem a ser ecológico,
atendendo não somente às exigências de preservação do meio ambiente, como serem também
economicamente viáveis.
O concreto é o material de construção mais consumido no mundo, então encontra-se o
concreto na segunda posição ficando atrás apenas da água. Estima-se que o consumo anual per
capita de concreto seja em torno de três toneladas por pessoa no planeta [1]. Os aditivos químicos
para o concreto são elementos imprescindíveis ao atual patamar de inovação em que se encontra a
construção civil. A sofisticação que as soluções de engenharia vêm implementando exigem a
versatilidade de seus produtos componentes e, neste aspecto, os aditivos são responsáveis por
modificarem as características dos sistemas, tanto no estado fresco quanto no estado endurecido,
originando e inserindo no mercado novos materiais, como os concretos de alto desempenho [2]
Atualmente existem diferentes tipos de aditivos existentes – plastificantes, retardadores,
aceleradores, incorporadores de ar, superplastificante [3], entre outros – os mais consumidos no
mundo são os aditivos redutores de água, nos quais se incluem os aditivos plastificantes,
superplastificante e polifuncionais. Cerca de 800.000 toneladas desta classe de produto são
consumidas anualmente. Seu grande sucesso deve-se à versatilidade que promovem às misturas em
que são inseridos. Os aditivos superplastificante possibilitam grandes reduções nos teores de água
adicionados (até 30%) e/ou, no consumo de cimento Portland, quando dosados corretamente,
conferindo a estes materiais um importante papel em relação à sustentabilidade e economia na
produção dos concretos.[4] expõem que, ao longo dos anos, diferentes fórmulas foram
desenvolvidas para esta família de aditivos, iniciando-se com os precursores plastificantes de base
orgânica, os lignosulfonatos, passando pelos superplastificante de base polinaftaleno e melanina, e
chegando, enfim, ao patamar dos superplastificante com base policarboxilato éster, a última geração
de superplastificante já desenvolvida, sendo os mesmos objetos deste trabalho.
Todos os aditivos utilizados no mercado são derivados de polímeros, ou seja, são
macromoléculas constituídas por unidades menores (monômero) que se ligam entre si através de
ligações covalentes podendo o mesmo serem de naturais ou sintéticos. Porem nos dias atuais a
sociedade busca formas mais sustentáveis de polimerização de substancias que durante sua síntese,
processamento ou degradação produzem menor impacto ambiental que os polímeros convencionais,
ultimamente conhecidos como os biopolímeros, polímeros biodegradáveis e ainda polímeros verdes,
que se enquadram bem no conceito de sustentabilidade, que segundo a comissão mundial do meio-
ambiente e desenvolvimento diz que um desenvolvimento sustentável é aquele que atende às
necessidades do presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras de atenderem as suas
necessidades.[5].
O Brasil devido à grande dimensão territorial, atributos de clima, solo, diversidade
ambiental tem como principal atividade econômica a agropecuária, apresenta um enorme potencial
a ser explorado na área de biopolímero. Estima que os estudos com biopolímero nacionais, aliados a
competências complementares, permitirão a utilização racional, o aproveitamento comercial e a
ampliação das áreas de aplicação.
Independentemente do tamanho e capacidade poluidora da indústria, a legislação ambiental
determina que todas as empresas tratem e disponham de forma apropriada seus resíduos. A forma
mais racional e viável de fazer o controle ambiental é minimizar a geração dos resíduos pelo
controle dos processos e buscar alternativas de reciclagem e reutilização dos resíduos gerados
reduzindo ao máximo as despesas com tratamento e disposição final [6].
A utilização dos recursos naturais pelo homem continuamente é algo necessário para sua
subsistência, agora pensar nesse uso de forma equilibrada, sustentável, para não exaurirmos esses
recursos é algo que têm sucedido de forma lenta, a conscientização para um consumo que não
agrida o meio ambiente e aproveite ao máximo os benefícios das fontes naturais ainda está aquém
do desejável para civilizações ditas pós-modernas.
Em suma, apesar das divergências quando se fala sobre viabilidade econômica dos
biopolímero é preciso lançar um olhar futurista sobre essa produção em termos também de
economia de recursos naturais e não somente com relação aos lucros imediatistas; do ponto de vista
ambiental e social é perceptível que com um aumento do uso e por consequência da produção de
biopolímeros haverá maior geração de renda, o que pode estimular o mercado local e
recuperar/aproveitar fontes naturais por vezes ignorada ou ainda atribuir valor agregado a produtos
naturais, além de contribuir para manutenção de um ambiente saudável.

2. ENGENHARIA E A TECNOLOGIA DO CONCRETO

2.1 – Biopolímeros
Os biopolímeros são polímeros produzidos com base em matérias-primas de fontes
renováveis, como o milho, cana-de-açúcar, celulose, quitina, leite entre outras. As fontes renováveis
são assim conhecidas por possuírem um ciclo de vida mais curto comparado com fontes fósseis cujo
o tempo de degradação é longo. Devemos ressaltar que no momento atual onde a população
mundial busca um desenvolvimento sustentável alguns fatores ambientais e sócio-econômico estão
ampliando o interesse pelos biopolímeros, como os grandes impactos ambientais causados pelos
processos de extração e refino utilizados para produção dos polímeros provenientes do petróleo, a
escassez do petróleo e aumento do seu preço [7].
Posto que, não há nenhuma definição fixa para a palavra biopolímero, devido aos muitos
conceitos diferentes sobre o que é um biopolímero. Termos e expressões como biopolímeros, e
biodegradáveis são empregados como sinônimos algumas vezes; porém, cada um deles tem
significado único. Produtos biodegradável constituem materiais que se degrada devido à ação de
organismos vivos, como micróbios e fungos. Por outro lado, o biopolímeros pode ser definido como
um polímero manufaturado concebido a partir de uma fonte natural ou recurso renovável [8].
Sendo assim vale ressaltar a importância de se distinguir entre biopolímeros e
biodegradabilidade. Nesse contexto podemos ratificar que biopolímeros são biodegradáveis, no
entanto os polímeros biodegradáveis podem não ser biopolímeros, temos como exemplo os
polímeros como policaprolactona (PCL) utilizado para fabricação de protótipos, reparação de peças
plásticas e de artesanato, são biodegradáveis, porém derivados de petróleo [9].
A aplicabilidade dos polímeros é extensa, o que torna acentuado o avanço de estudos desses
materiais, para elaboração dos mesmos em escala maior, a partir de fontes naturais. Algum
polímero derivado de plantas possui grande utilidade para indústria a tabela 1 que relaciona os
biopolímeros orgânicos e suas diferentes aplicações em alguns casos até substitui os sintéticos.
Apesar de todas as vantagens, os biopolímero possuem algumas limitações técnicas que
tornam difícil sua processabilidade e seu uso como produto final. Muitos estudos se desenvolvem
nessa área para viabilizar os produtos, contudo a biodiversidade do planeta ainda e muito
subaproveitada afetando a busca por desenvolvimento sustentável de modo a contribuir para
melhoria da qualidade de vida.

Tabela 1 – Potencial substituição de polímeros provenientes de fontes fósseis por biopolímeros, adaptado de [7]
Biopolímeros
Polímeros Aplicações
AMIDO PLA PHB PHBHx
Embalagens de alimentos, cosméticos e
PVC (policarbonato de medicamentos; tubos e conexões, em esquadrias e
vinila) janelas; como “couro sintético” dentre outras Não Não Não
diversas aplicações. substitui substitui substitui Parcial
PEAD (polietileno de alta Embalagens de produtos de limpeza e produtos
densidade) químicos e na fabricação de autopeças Parcial Parcial Parcial Completa
PEBD (polietileno de baixa Não Não
Embalagens flexíveis para alimentos.
densidade) Parcial substitui substitui Completa
Fabricação de peças com dobradiças, autopeças,
PP (polipropileno) embalagens para alimentos, fibras e monofila
mentos, etc. Parcial Parcial Completa Completa
Produtos descartáveis, brinquedos, autopeças,
PS (poliestireno)
eletroeletrônicos. Parcial Parcial Parcial Parcial
Luminosos (propaganda), telhas transparentes,
PMMA (poli metil Não Não Não Não
lanternas de automóveis, , lentes de contato,
metacrilato) substitui substitui substitui substitui
dentaduras/próteses, entre outras.

PA (poliamida) Indústria alimentícia, automobilística, Não Não Não


eletroeletrônica, têxtil, eletrodomésticos, química substitui Parcial substitui substitui
Filamentos, fitas magnéticas, filmes para
radiografias, laminados para impressão,
PET (poetileno)
embalagens para cozimento de alimentos, garrafas Não Não
para bebidas carbonatada substitui Parcial substitui Parcial
Engrenagens, peças de cintos de segurança, fieiras
PC (policarbonato) para extrusão de macarrão, carcaças de isqueiros, Não Não Não Não
bombas de gasolina etc. substitui substitui substitui substitui

Apesar de todas as vantagens, os biopolímeros possuem algumas limitações técnicas que
tornam difícil sua processabilidade e seu uso como produto final. Muitos estudos se desenvolvem
nessa área para viabilizar os produtos, contudo a biodiversidade do planeta ainda e muito
subaproveitada afetando a busca por desenvolvimento sustentável de modo a contribuir para
melhoria da qualidade de vida.
Ainda, com todas essas vantagens, um material biodegradável não elimina toda a chance de
que um problema ambiental seja causado, alguns demoram longo tempo para se degradar e geram
metano e H2S no processo. Portanto o a educação ambiental e de suma importância para criar uma
consciência contra o uso irracional e inconsciente, provavelmente num futuro os biopolímeros
provavelmente terão um impacto próximo à zero no ambiente, isso pode ser justificado pelas suas
aplicações: podem se tornar adubo ou mesmo ração para peixes e gados [10-11].
Recentemente o adjetivo “verde” tem sido usado para se referir a polímeros que produzem
menor impacto ambiental derivado de fonte renováveis. A produção dos polímeros verdes, além de
absorver CO2 da atmosfera, também reduz a dependência de matérias-primas de origem fóssil para
fabricação de produtos [11-12]. Após o final de sua vida útil, os produtos verdes podem ser
reutilizados, reciclados ou enviados para sistemas de reciclagem energética.
Cada vez mais se intensifica a busca por produtos naturais com propriedades poliméricas
que possam contribuir para a sustentabilidade, há uma tendência mundial por produtos que não
causem impacto negativo ao meio ambiente. Os biopolímeros sustentáveis devem seguir um
desenvolvimento econômico, social e ambiental, ou seja, seguir a tríade do desenvolvimento
sustentável.

2.2 – Aditivos para materiais cimenticios


Os aditivos são grandes aliados nos estudos da tecnologia do concreto, sendo meios
imprescindíveis ao atual patamar de inovação em que se encontra a construção civil. Os aditivos
são adicionados aos ingredientes normais do concreto, durante a mistura, para obter propriedades
desejáveis, tais como: aumento da plasticidade, controle do tempo de pega, controle do aumento da
resistência, redução do calor de hidratação, etc. [13].
O uso de aditivos é tão antigo quanto a própria descoberta do cimento. Coutinho (1997)
relata que, no antigo império romano, era comum utilizar albumina (sangue, clara de ovo), leite ou
banha nos concretos, objetivando melhorar a trabalhabilidade das misturas para realização das
grandes obras. No Brasil, há relatos da utilização, no século XIX, de óleo de baleia como aditivo em
rebocos de argamassas, objetivando efeito impermeabilizante na mistura [14].
Por serem capazes de atribuir vantagens físicas e econômicas ao concreto os aditivos
ganham o espaço, constituindo capacidade de beneficiar a utilização do concreto em situações em
que antes existiam dificuldades consideráveis ou mesmo insuperável, assim possibilitam o uso de
uma maior variedade de componentes na mistura, embora nem sempre sejam baratos, não
representam necessariamente uma despesa adicional, já que seu uso pode resultar em economia, no
custo da mão de obra necessária para o adensamento, no consumo de cimento ou, ainda, na
melhoria da trabalhabilidade sem o emprego de medidas adicionais.
Deve ser destacado que, quando adequadamente utilizados, os aditivos são benéficos ao
concreto. Entretanto, eles não são uma solução para a má qualidade dos componentes da mistura
nem para o uso de proporções incorretas na mistura, tampouco para a mão de obra deficiente no
transporte, no lançamento e no adensamento [15].
Podemos configurar que cada aditivo varia dependendo de sua concentração no concreto,
tipo de material cimentício, temperatura ambiente e dos materiais constituintes do concreto, energia
de mistura, tempo de adição e variação dos constituintes dos mesmos. Podendo ainda apresentar
algum efeito secundário, modificando certas propriedades no concreto [15].
Para regulamentar o uso de aditivos a ABNT criou a NBR11768 Aditivos para Concreto de
Cimento Portland [16], a qual classifica os aditivos em função de sua finalidade, nas seguintes
categorias:

 Plastificante: aumenta o abatimento e fluidez de argamassas ou concretos frescos sem


adicional de água; e para um mesmo abatimento permite reduzir a número de água necessária
à mistura, sendo a redução de água mínima de 6 %;
 Superplastificante (tipo I): aumenta o abatimento e a fluidez de argamassas ou concretos
frescos sem adicional de água; para um mesmo abatimento permite reduzir significativamente
quantidade de água necessária à mistura, sendo a redução de água mínima de 12 %;
 Superplastificante (tipo II): aumenta consideravelmente o abatimento e fluidez de
argamassas ou concretos frescos sem adição de água; para um mesmo abatimento permite
uma elevadíssima redução de água para à mistura, sendo a redução de água mínima de 20%;
 Acelerador de pega (AP): reduzem o tempo de transição entre o estado plástico e o estado
endurecido do concreto, sendo a redução do tempo de pega inicial entre 1 min e 3:30 min;
 Retardador de pega (RP): aumentam o tempo de transição entre o estado plástico e o estado
endurecido do concreto, aumento do tempo de pega inicial entre1 min e3:30min;
 Acelerador de resistência (AR): maior taxa de desenvolvimento nas resistências iniciais,
podendo ou não modificar o tempo de pega. Resistência à compressão será acima 120% na
idade de 24 h e superior a 90 % na idade de 28 dias, em relação ao sistema de referência;
 Incorporador de ar (IA): aditivo que permite incorporar, durante o amassamento do
concreto, uma quantidade controlada de pequenas bolhas de ar. Exsudação de água máxima
de 2 %.

Além dos aditivos classificados pela norma NBR 11768, existem outros chamados de
aditivos especiais, utilizados em casos mais específicos como: modificadores de viscosidade,
inibidores de corrosão, redutores de permeabilidade capilar, retentores de água, aceleradores para
concreto projetado, redutores de reação álcali-agregado, para preparação de concreto extrusado e
vibro-prensado, controladores de hidratação, expansores, redutores e compensadores de retração por
secagem [16].
No início os primeiros aditivos redutores de água nomeados plastificantes, apresentavam
uma capacidade de redução de água > 5% com relação ao concreto sem aditivo, contudo com o
avanço da tecnologia do concreto e as indústrias química surgiram a segunda geração de aditivos
redutores de água de alta eficiência, os superplastificante tipo I que permitem maior redução da
quantidade de água > 12%, e podem ser utilizados em dosagens mais elevadas sem comprometer
significativamente a hidratação do cimento [17] .
A última geração de aditivos superplastificante são os classificados de superplastificante tipo
II, oferecem altas taxas de redução de água > 20% e, dependendo da base química do aditivo e a
dosagem utilizada, oferecem grande manutenção de trabalhabilidade, sem o comprometimento de
pega e até favorecendo significativamente as resistências mecânicas, segue abaixo resumo das
gerações e suas composições (figura 1). [18-19].
Organograma 1 – Geração dos aditivos, adaptado de [5]

Outro importante aspecto a ser abordado sobre o uso dos aditivos nos últimos anos é a sua
relação com o desenvolvimento sustentável, aditivos além de possibilitarem reduções consideráveis
no consumo de cimento Portland e/ou água adicionada, quando utilizados com a finalidade de
aumento da resistência à compressão – com consecutiva redução na quantidade de água adicionada
- reduzem consideravelmente as seções mínimas portantes, reduzindo o volume total da estrutura e
dos materiais utilizados.
Precisamos criar uma visão futurista sobre esse produto, os aditivos contribuem para a
durabilidade do concreto, item muito importante que garante a extensão da vida útil do produto e
garante um desenvolvimento sustentável. A baixa relação água/cimento obtida com os aditivos
superplastificante contribuem com a durabilidade, e reduzindo a ocorrência de manutenções
inesperadas, tanto no estado fresco quanto no estado último endurecido [20-21].
Na obtenção de um concreto durável aos agentes e ambientes agressivos precisamos reduzir
a porosidade por meio da redução de água, visto com uma menor quantidade de água podemos
obter um concreto com menor permeabilidade de água e assim reduzir drasticamente a migração por
cloretos e a carbonatação do concreto, evitando o surgimento de manifestações patológicas.
Seguindo esse contexto, a pesquisa preconiza relacionar as propriedades do biopolímero
desenvolvido a partir do leite e os aditivos disponíveis na bibliografia de modo a identificar quais
propriedades dos aditivos esse biopolímero pode atender e qual seu potencial. Por fim, o presente
trabalho tem por objetivo geral analisar a viabilidade técnica, econômica e comercial do emprego de
materiais alternativos biodegradáveis para as futuras gerações.
A metodologia proposta consiste numa pesquisa exploratória através de levantamentos
bibliográficos e dados experimentais proporcionando uma análise da viabilidade do produto, com
vistas a torná-lo mais explícito e construir hipóteses, abordando analises e exemplos que estimulem
a compreensão. Uma vez estabelecida a base, o campo recém-explorado obteremos mais
informações através de uma investigação descritiva, definida como tentativas de explorar e explicar
ao fornecer informações adicionais sobre um assunto.
3. MÉTODOS

3.1- Materiais Utilizados


Nesse estudo, propomos o desenvolvimento de um biopolimero para produção de compostos
cimentícios que satisfazem as exigências técnicas, ambientais e econômicas citadas anteriormente,
bem como possibilitam o desenvolvimento de materiais e produtos com maior desempenho e
sustentáveis. Sendo assim, sugerimos para confecção do biopolímero a extração da proteína
derivada do leite bovino e sua aplicabilidade em materiais cimenticios, segue na sequencia os
materiais.
 Cimento: cimento Portland de alta resistência inicial (CPV-ARI) [22], sendo suas
características apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2 – Caracterização do Cimento CPV-ARI empregado no estudo.


Compostos Teor (%) Ensaios Físicos
SiO2 19,21 Início de pega (min.) 125
Al2O3 4,98 Fim de pega (min.) 165
Fe2O3 2,95 Finura #325 (%) 2,8
CaO 64,00 A/C (%) 29,8
2
MgO 0,73 Superfície específica (cm /g) 4619
K2O 0,81 Expansão a quente (mm) 0,0
C3A 8,00 RI (%) 0,38
CO2 1,14 PF (1000°C) 2,70
SO3 2,59


 Biopolímero: obtido através do leite bovino impróprio para consumo humano, ou seja,
material de descarte das indústrias de lacticínio. O leite bovino possui em média: 3,5% de proteínas
+ 3,8% de gordura + 5,0% de lactose + 0,7% de minerais (cinzas) + 87% de água. Salienta-se que
os sólidos não gordurosos, que compreendem todos os elementos do leite menos a água e a gordura,
representam, em média, 8,9% do total no leite [23].

3.2- Produções Biopolímero para aditivo


Para confecção do biopolímero se faz necessário o isolamento da caseína encontrada na
mistura do leite bovino, sendo que o primeiro elemento a ser desagregado é a gordura, pois esse
elemento não pode estar na em grande quantidade na composição de modo a não ocasionar
prejuízos na aderência entre o concreto e o aço. Sendo assim, o leite bovino é conduzido a uma
desnatadeira, que girando em alta velocidade, submete o leite a uma elevada força centrífuga. Como
a gordura tem menor massa, fixa-se próxima ao eixo da desnatadeira, escapulindo por um pequeno
orifício (cano), enquanto que os outros componentes, mais densos, são lançados às paredes e
escoam para o exterior, conforme ilustrado na Figura 1.
O leite desnatado, resultante do procedimento acima descrito, ainda permanece com 0,05% a
0,10% de gordura. Em seguida efetua-se o ajuste do pH do coloide de caseína para 7,0 empregando-
se uma solução básica e, logo após o sistema é aquecido sob agitação até a temperatura de
aproximadamente 90ºC durante 30 minutos. Finalizado esse procedimento e, com o resfriamento do
mesmo, adiciona-se uma solução de ácido acético (1mol.L-1) até o pH do sistema atingir
aproximadamente 4,6 onde ocorre a coagulação da proteína do leite. O precipitado formado é
filtrado com auxílio de um pano de modo a separar a parte liquida (soro do leite) da parte sólida.
Dessa forma a partir do solido obtido é preparada duas soluções, da seguinte forma: (1) ao
sólido obtido é adicionando água e a mistura resultante é agitada vigorosamente e seu é ajustado seu
pH para 9,0 (através da adição de uma solução de hidróxido de sódio 1mol.L-1 e (2) ao sólido é
adicionado o soro do leite, que foi gerado na etapa anterior, então a solução é agitada e seu pH
ajustado para 9,0. Esse procedimento é empregado com o objetivo de se obter soluções de caseína
que serão empregadas como aditivo na produção de produtos cimentícios.

Figura 1 – Confecção do Biopolímero e textura (fotos do autor)

Salienta-se que é necessário verificar o teor de umidade da solução precipitada a fim de se


empregá-la na dosagem da pasta de cimento já que somente a quantidade de sólidos influenciará no
desempenho da pasta e a parte liquida da precipitação associa-se como parte do fator água /cimento
necessário à dosagem, ou seja, há redução do consumo de água para a obtenção de uma mesma
trabalhabilidade.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nos estudos iniciais supomos que o soluto iria influenciar a viscosidade da pasta de cimento,
o tempo de pega, a reação de hidratação e poderia ser caracterizado com algumas características dos
aditivos comercialmente vendidos atualmente. Sendo assim, inicialmente, efetuou-se o ensaio para
determinar o índice de consistência normal da pasta de cimento que verifica duas importantes
características do cimento Portland: tempo de pega e estabilidade volumétrica devido à cal livre.
Sendo assim, fixou-se uma viscosidade padrão, denominada como consistência normal de
forma que as condições de ensaio, como, por exemplo, enchimento dos moldes fosse as melhores
possíveis[15] e que certificasse todos os ensaios nas mesmas condições.
No momento da moldagem da mistura homogeneizada pode se verificar uma alta
plasticidade e viscosidade da pasta em relação á pasta sem adição do biopolímero e observando
também o tempo de trabalhabilidade da pasta aditivada aumentou muito em relação à pasta não
aditivada. Tal fato proporciona ao material um ganho de tempo de aplicação em relação ao material
não aditivado, futuramente promovendo economia do material diante ao desperdício causado pelo
baixo tempo de aplicação.
O biopolímero desenvolveu uma fina casca brilhosa protetora dificultando a evaporação da
água da mistura contribuindo assim para melhor desempenho da reação de hidratação da pasta,
conforme ilustrado na Figura 2. Comprovou-se sua eficiência como produto tanto na produção da
pasta com consistência normal como, também, o produto de origem orgânica não ocasionou
formação de bolor ou mofo depois da reação com o produto cimenticios.

Figure 2- Amostra exposta ao ambiente durante 60 dias.

As dosagens realizadas da proteína do leite ao cimento e água variaram entre 1 e 2,5%,


sendo que as proteínas formam soluções diferente, a saber: uma contendo água e outra soro que
seria descartado e foi realizado um reaproveitamento. As precipitações tinham um pH fixo de 9,0 e
inicialmente acredita-se que o aditivo seria capaz de reduzir 15% da parte total de água na mistura,
sendo computadas as porcentagens da adição em gramas da proteína do leite e não da solução. As
Tabelas 3 e 4 apresentam os fatores água/cimento empregados nas amostras estudadas onde se
verifica que para o aditivo suspenso em água há uma redução de 15% no consumo total de água
para uma amostra (aditivo) com 9,72% de sólidos e, para o aditivo suspenso em soro, com 11, 58%
de sólidos, a redução da água é igual a anterior.
Analisando as Tabelas 3 e 4 constata-se uma redução do consumo de água necessário para a
mesma trabalhabilidade o que tende a contribuir de forma eficaz em prol do desenvolvimento
sustentável garantindo além do reaproveitamento do rejeito de leite um menor consumo de água
para a produção de concretos. Observa-se que a parte líquida inserida foi realizada com rejeito de
soro, isto é, os “líquidos totais” inseridos na mistura (22,91g) são soro, possibilitando verificar que,
que na verdade, o fator agua/cimento dessa mistura seria 0,21 ocorrendo uma redução 30%
comparado ao não aditivado e 25% em relação ao aditivo suspenso em água.
Tabela 3 – Fator água /cimento das amostras cimento com aditivo suspenso em água.
Produto (g) Água (g)
Agua Fator
Parte Cimento
Amostra Redução Água Total A/C
Proteína Proteína Aditiv liquida do (g)
15% da adicional (g) (%)
Leite (%) leite (g) o (g) Aditivo
água (g) (g)
(g)

CPV -ARI c/ aditivo -1% 1,0 3,0 30,85 27,85 48,64 10,000 86,500 300 0,28
CPV -ARI c/ aditivo -
1,5% 1,5 4,5 46,27 41,77 34,72 10,000 86,500 300 0,28

CPV -ARI c/ aditivo -2% 2,0 6,0 61,70 55,70 20,79 17,000 93,500 300 0,31
CPV -ARI c/ aditivo -
2,5% 2,5 7,5 77,12 69,62 6,8 15,000 91,500 300 0,30

CPV -ARI sem aditivo 0,0 0,0 0,000 0,000 76,50 13,5 90,00 300 0,300
Tabela 4 – Fator água /cimento das amostras cimento com aditivo suspenso em soro.
Produto (g) Água (g) Fato
Liquido
Parte Redução Água Cimento r
Amostra Proteína Proteína Aditivo Total
liquida do 15% da adicional (g) A/C
Leite (%) leite (g) (g) (g)
Aditivo (g) água (g) (g) (%)
CPV -ARI c/
aditivo -1% 1,0 3,0 25,91 22,91 53,58 10,000 86,500 300 0,28
CPV -ARI c/
aditivo -1,5% 1,5 4,5 38,86 34,36 42,13 10,000 86,500 300 0,28
CPV -ARI c/
aditivo -2% 2,0 6,0 51,82 45,82 30,67 11,000 87,500 300 0,29
CPV -ARI c/
aditivo -2,5% 2,5 7,5 64,78 57,28 19,21 15,000 91,500 300 0,30
CPV -ARI
sem aditivo 0,0 0,0 0,000 0,000 76,50 13,5 90 300 0,30

Salienta-se que o estudo convergiu para análise das características e propriedades do novo
biopolimero visando identificar características compatíveis com os aditivos comercializados
atualmente, apontando os fenômenos relevantes que se sucedem à adição de água e o biopolímero
ao sistema de modo a poder classificar o biopolímero dentro de alguma classe de aditivo.
Existem no mercado uma infinidade de opções de produtos que podem ser adicionados no
concreto possuindo a função de modificar as propriedades físicas dos mesmos, portanto com
objetivo de caracterizar os aditivos realizamos um levantamento nos catálogos de aditivos no
mercado de modo a criar uma base para de comparação para o biopolímero proposto, primeiramente
avaliamos que o biopolímero possui potência se enquadrar dentro dos grupo dos aditivos
superplastificante, plastificantes e retardadores de pega, segue levantamento na tabela 5 abaixo:

Tabela 5– Propriedades dos aditivos plastificantes e retardadores


Aspectos
BASE
ADITIVOS TEOR DE EFEITOS
QUIMICA COR pH
CLORETOS
Maior índice de
Plastificante de Sais sulfonados Variando de
Variando de 5,0 consistência.
pega normal ou marrom a Não contem
Lignosulfonatos marrom escuro
a 8,0 Redução da água
(1º geração)
( ≥ 5%).
Maior índice de
consistência.
Sais orgânicos e Variando de
Plastificante Variando de Redução da água
carboidratos ou marrom a Não contem
retardador 4,0 a 7,0 ( ≥ 5%).
Lignosulfonatos marrom escuro
Maior tempo de
início de pega.
Alto índice de
Superplastificante Sais sulfonados
Variando de consistência.
(Tipo I - 2º ou sais de Castanho Não contem
naftaleno
6,0 a 10 Redução da
geração)
água ( ≥ 12%)
Alto índice de
Superplastificante
Policarboxilatos Variando de consistência.
(Tipo II - 3º Amarelo Não contem
em meio aquoso 5,0 a 7,0 Redução da
geração)
água (≥ 20%).
De acordo com as características levantadas podemos verificar que o aditivo contendo
reaproveitamento do rejeito do soro teve um desempenho próximo dos aditivos Superplastificante
da 3º geração, devido à grande redução de água e seu alto consistência, porém vale ressaltar que os
aditivos de 3º são polímeros sintéticos e o biopolímero proposto se trata de uma substancia
biodegradável sendo uma vantagem ambiental.
O aditivo proposto com relação ao pH se aproxima mais dos aditivos superplastificante de 2º
geração pois sua variação pode ir de 7 a 13 com adaptação na hora da produção, Nesse contexto
temos também que a base química sendo orgânica está associada ao aditivo de 1º geração, onde
temos o composto Lignosulfonatos que deriva da Lignina, um dos principais constituintes da
madeira representando de 30 a 40% de seu peso seco, é separada do outro componente principal, a
celulose, obtido pela sulfonação onde diversas reações químicas ocorrem no processo, ocasionando
a solubilização da Lignina. Diferente da Lignina a extração da caseína do leite improprio para
consumo como relatado no item 3 é rápida, fácil de baixo custo.
Podemos avaliar que o aditivo proposto se encaixaria dentro dos padrões de aditivo da 3º
geração sendo que com algumas características dos aditivos de 1º e 3º geração. O melhor controle
do pH contribui para manter a alta alcalinidade, que de acordo com Helene [24] com valor
de pH superior a 9 a armadura estará protegida da corrosão e para um pH de 12,5 a 13,5 (meio
altamente alcalino do concreto) às armaduras um alto grau de proteção contra.

4. CONCLUSÕES
Nessa pesquisa usamos o conceito de desenvolvimento sustentável em áreas distintas que
passaram a se integrar, ou seja, suprimos as necessidades da geração atual, sem comprometer a
capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. Criando essa multidisciplinaridade na
pesquisa podemos desenvolver uma composição proteica láctea modifica por reações de
polimerização capaz de influenciar nas propriedades do concreto.
A eficiência do agente de cura (material “autocura”) nas misturas cimentícias é um fator
importante, pois sua viabilidade e sua funcionalidade são fundamentais para a produção dos
produtos. A fim de reduzir o preço do agente de cura, a sua produção deve ser simples, em grande
escala e com pouca perda, minimizando o uso de procedimentos complexos, logo, o
reaproveitamento de rejeitos de diversos setores industriais viabiliza o produto além de possibilitar
a obtenção de materiais ecoeficentes aplicáveis na indústria da construção civil.
A relevância do efeito do polímero biodegradável nas misturas cimentícias é um fator
importante, pois sua viabilidade e sua funcionalidade são fundamentais para a produção dos
produtos para construção. Devido a sua simples produção temos um agente com custo baixo, logo, o
reaproveitamento de rejeitos de diversos setores industriais viabiliza o produto.
Do ponto de vista social é perceptível que com um aumento da utilização e, por
consequência, da produção do polímero biodegradável haverá maior geração de renda, o que pode
estimular o mercado local e recuperar/aproveitar fontes naturais por vezes ignoradas ou, ainda,
atribuir valor agregado a produtos naturais, além de contribuir para manutenção de um ambiente
saudável. A presente inovação gera um produto ecoeficiente, que busca minimizar os danos
ecológicos através do menor uso recursos, nesse contexto a tecnologia proporciona diminuição do
consumo de água na fabricação de produtos à base de cimento e o reaproveitamento do rejeito,
economicamente abandona perfil de descarte oneroso na indústria láctea para ser um insumo
econômico ativo.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à CAPES pelo apoio financeiro para execução da pesquisa e UFJF pela
disponibilização dos laboratórios de química e engenharia para realização do ensaio

REFERÊNCIAS
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http://blogs.ei.columbia.edu/2012/05/09/emissions-from-the-cement-industry/> Acesso em: 21 de junho 2018.
[2] RIXOM, R., MAILVAGANAM, N. Chemical Admixtures for concrete. 3rd ed. Taylor & Francis, 2001.

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[9] AVÉROUS, Luc. Polylactic acid: synthesis, properties and applications. In: Monomers, polymers and
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[10] SCOTT, Gerald. ‘Green’polymers. Polymer degradation and stability, v. 68, n. 1, p. 1-7, 2000.
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[12] DE FARIAS, Silvana Silveira et al. BIOPOLÍMEROS: UMA ALTERNATIVA PARA PROMOÇÃO DO
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Engenheira Civil. 1997. 610 p
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edição. Erica Editora, 2015
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[21] MONFARDINI, L. Hiperplastificantes e superplastificantes para concreto: alto desempenho com apelo
sustentável.Construchemical. n. 16. 2014. (p.10-18).
[22] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, ABNT. NBR 5733 – Cimento Portland de alta
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[23] BEHMER, Manuel Lecy Arruda. Tecnologia do leite. São Paulo: Nobel, v. 1, p. 984, 1999.
[24] HELENE et al. Materiais de Construção II – Tecnologia da Argamassa e do Concreto: Método IPT de Dosagem.
Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia, [2002].
AVALIAÇÃO DE SISTEMA DE TRANSPORTE EFICIENTE

Evaluation of efficient transport system

Roberta Paulina Tertolino da SILVA *1, José Alberto Barroso CASTAÑON2, Cristiano Gomes
CASAGRANDE3.
* Autor para correspondência: roberta.silva@arquitetura.ufjf.br
1,2,3
Programa de Pós-graduação em ambiente construído – PROAC- UFJF, Juiz de Fora, MG, Brasil

Resumo: O setor de transporte é o que mais favorece o crescimento da emissão dos gases do efeito
estufa (GEE) e poluentes, levando a alterações climáticas e interferindo na qualidade de vida da
humanidade. No Brasil, conforme informações do Balanço Energético Nacional, os setores que
mais utilizaram a energia foram o industrial, representando 33,3%, e o de transportes, com 32,5%,
sendo que a contribuição da emissão de CO2 respectivamente desses setores atingiu 18,9% e 45,8%.
Diante desse contexto, as energias renováveis seriam uma solução para reduzir o uso de
combustíveis fósseis, substituindo-os total ou parcialmente. De acordo com a EPE, as fontes de
energias não renováveis são finitas e esgotáveis, apresentando uma reposição de longo prazo, o que
preconiza investimentos em energia renováveis. Neste cenário, os veículos automotores, que em
maior percentual, utilizam combustíveis fósseis, vêm apresentando forte tendência na mudança de
motorização. Com o desenvolvimento de motores elétricos e baterias de maior duração e eficiência,
e na utilização de biocombustível, contribui na diminuição considerável das emissões de poluentes.
Diante desta situação, este trabalho tem como objetivo uma revisão bibliográfica dos impactos
ambientais e análise da emissão de CO2 produzida por veículos elétricos (VE) e veículos elétricos
híbridos (VEH). Finalmente, conclui-se que há benefícios no aumento da frota do VE e VEH em
substituição aos carros antigos, principalmente nos centros urbanos, onde é maior a concentração de
poluentes.

Palavras-chave: Veículos híbridos, veículo elétrico, energia renováveis e sustentabilidade.

Abstract: The transport sector is what favors the growth of greenhouse gas (GHG) emissions and
pollutants, leading to climate change and interfering with the quality of life of humanity. In Brazil,
according to information from the National Energy Balance, the sectors that used the most energy
were industrial, representing 33.3%, and the transportation sector, with 32.5%, and the contribution
of the CO2 emission respectively of these sectors reached 18.9% and 45.8%. Against this
background, renewable energy would be a solution to reduce the use of fossil fuels, replacing them
in whole or in part. According to the EPE, non-renewable energy sources are finite and exhaustible,
presenting a long-term replenishment, which advocates investments in renewable energy. In this
scenario, motor vehicles, which, in higher percentage, use fossil fuels, have been showing a strong
tendency in the change of motorization. With the development of electric motors and batteries of
longer duration and efficiency, and in the use of biofuel, it contributes in the considerable reduction
of the emissions of pollutants. In view of this situation, the objective of this work is to review the
literature on environmental impacts and analyze the emission of CO2 produced by electric vehicles
(VE) and hybrid electric vehicles (VEH). Finally, it is concluded that there are benefits in the
increase of the fleet of the VE and VEH in replacement of the old cars, mainly in the urban centers,
where the concentration of pollutants is greater.

Keywords: Hybrid vehicles, electric vehicles, renewable energy and sustainability.

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos tempos tem-se discutido assuntos do aquecimento global, do impacto ambiental, a
sustentabilidade, o aumento da emissão do gás do efeito estufa, aumento no consumo de energia e
dentre outras questões que compromete a qualidade de vida da sociedade e da natureza.
No Brasil, segundo dados do Balanço Energético Nacional (BEN) [1], os setores que mais
utilizaram a energia foram o industrial, representando 33,3% e de transporte com 32,5%. No caso,
da emissão de CO2 o transporte corresponde a 45,8%, outros setores (inclui os setores de
agropecuário, serviços, energético, elétrico e as emissões fugitivas) com 31% e a indústria com
18,9%. Ainda, conforme o BEN o combustível fóssil tem maior representatividade em comparação
aos outros tipos de oferta interna de energia, com 36,5% de petróleo e derivados. Para o SEEG [2],
a emissão de GEE do setor de energia por fonte primária para a produção e o consumo de petróleo
correspondeu a 70% no ano de 2016.
A frota de veículos do Brasil segundo Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores
[3], do ano de 2000 a 2017 teve um aumento de 126%, o que caracterizou uma evolução da emissão
de CO2. Conforme levantamento do Balanço Energético Nacional [1], a taxa média de crescimento
anual de 2000 a 2017 representou 2,5% (Crescimento Emissões Totais - MtCO2eq).
Neste cenário, o crescimento da frota de veículos geram consequências para o meio ambiente e para
a sociedade, tais como: poluição, aquecimento global e esgotamento das reservas de petróleo, são
transtornos e preocupações para o homem [4].
Segundo Ornellas [5], o aumento da população juntamente com o consumo leva ao crescimento do
abastecimento de energia elétrica e matérias-primas acarretando a sérias repercussões, como o
colapso de recursos não renováveis, por exemplo, o petróleo e os minérios. Desta forma, na
tentativa de minimizar alguns impactos surge outra forma de obtenção de energia elétrica como a
eólica e solar fotovoltaica [6].
Para o setor automobilístico no Brasil o governo vem estabelecendo algumas medidas para melhoria
da qualidade e comercialização, através da Medida Provisória nº 843 de 2018, que estabelece
requisitos obrigatórios para a comercialização de veículos no país, com a instituição do Programa
Rota 2030 – Mobilidade e Logística e dispõe sobre o regime tributário de autopeças não produzidas.
Além disso, propõe corte do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) dos veículos elétricos e
híbridos, que neste caso, ficará entre 7% a 20% conforme o tipo de veículo. Para Associação
Brasileira do Veículo Elétrico é uma medida que poderá incentivar a utilização de VE no mercado
nacional. As metas principais do programa são: pesquisa e desenvolvimento, contrapartidas,
eficiência energética e etiquetagem [7], [8].
Por meio desses incentivos governamentais, poderá ter um aumento na frota de veículos elétricos
gerando uma demanda maior de energia nos anos seguintes. Como resultado, maior consumo
elétrico nas distribuidoras e investimentos nas fontes existentes. Uma medida para não
sobrecarregar o sistema seria a captação de novas fontes para o abastecimento [9].
Para o setor de transporte o uso da eletricidade seria uma alternativa em substituição aos
combustíveis atuais e os veículos híbridos uma opção de minimizar o uso dos combustíveis. Com
isso tem-se a possibilidade de duas formas para abastecimento e assim equilibrar o sistema. Além
disso, o uso de carro elétrico numa escala maior ao convencional teria benefícios ambientais [10].
Para Bravo, Meirelles, Giallonardo [11], no Brasil a infraestrutura apenas para VE é pequena ou
inexistente, com isso os veículos híbridos torna-se o mais utilizado. Assim, um veículo híbrido
plug-in que utiliza um motor de combustão interna (MCI) otimizado para o etanol mostra-se como
melhor alternativa para o mercado, pois causa uma redução expressiva nos níveis de emissões
reguladas e, principalmente, de gases de efeito estufa. A “configuração plug-in permite uma maior
exploração das fontes de energia elétrica brasileiras, altamente renováveis, além de possibilitar reduções
expressivas de emissões nos centros das grandes cidades, já que sua autonomia elétrica seria suficiente
para locomoção em trechos urbanos”. Os VEs reduz a emissão de poluentes, é mais confortável e
silencioso [12].
Diante do exposto, o veículo elétrico poderá contribuir na redução da poluição do ar, principalmente
em centros urbanos beneficiando a qualidade de vida da sociedade, porém depende do tipo de VE e
da fonte de geração da energia. Vários países com alta porcentagem de fontes renováveis têm o
potencial de reduzir o consumo de petróleo, as emissões e a exposição humana com mudança para a
mobilidade elétrica [13]. Desta forma, o Brasil tem potencial para adotar esse modal e ganhar na
diminuição dos poluentes. No entanto, os veículos elétricos híbridos (VEHs) poderão ser
implantados de forma mais rápido que os veículos totalmente elétricos, sendo uma forma de não
sobrecarregar o sistema de distribuição de eletricidade.

2. OBJETIVO
A pesquisa tem como objetivo revisão bibliográfica dos impactos ambientais e análise da emissão
de CO2 produzida por veículos elétricos (VEs) e veículos elétricos híbridos (VEHs).

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1. Veículo elétrico (VE)


O veículo de propulsão elétrica se locomove por fonte de eletricidade podendo ser: por bateria, por
células combustíveis, por placas fotovoltaicas ou pela rede elétrica . Entre esses sistemas de
fornecimento, às montadoras utilizam mais o armazenamento da energia em baterias, que poderá ser
de chumbo-ácido, níquel-metal hidreto (NiMH), sódio e ou íon-lítio [14].
As baterias dos veículos podem ser recarregadas de forma indutiva através de indução
eletromagnética ou condutiva por conexão física entre a rede e a bateria, sendo essa última mais
utilizada [15]. Os tipos de recargas podem ser divididos em três níveis, a saber: recarga lenta, rápida
e ultra-rápida, cada sistema apresenta suas vantagens e desvantagens. Conforme, Brajterman [16] na
questão de desvantagens para recarga não controlada ou recarga fora de pico, geram sobrecargas de
transformadores e linhas, elevação da carga de pico, elevação do custo da eletricidade, possíveis
perdas de tensão, etc, gerando impacto na distribuição de energia pela concessionária.
Conforme Dyke et al. [9] a bateria de carregamento do veículo demoraria cerca de 7 a 8 horas de carga
ideal, sendo o período noturno ideal para o abastecimento. Mas caso haja necessidade de carga mais
rápida o ideal seria utilizar um carregador adequado que teria a duração de recarga entre 70 a 80
minutos. No entanto, o fabricante recomenda um carregamento lento para melhor desempenho e maior
vida útil do produto. Os carros elétricos podem ser carregados nas estações de carregamento usando
corrente alternada ou contínua, a velocidade de carga depende da saída da estação de carregamento e
das especificações técnicas do veículo [17].
Nos veículos elétricos não tem sistema de exaustão e nem tanque de combustível, os componentes
existentes são: um motor elétrico, um inversor de potência, uma transmissão de velocidade única e um
carregador embarcado. Uma das limitações do VE é a baixa autonomia, comparada aos veículos
convencionais [14].
Conforme estudo da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) os carros elétricos (VEs) e
carros elétricos a bateria (VEB) tem uma projeção de aumento gradativo até 2030 na frota brasileira e
para o mundo até 2040 estimado em 90% de veículo elétrico, conforme representado no gráfico
abaixo [12].

Fig. 1 - Projeção do crescimento de VE no Brasil


Fonte: Elaboração própria (2018)
De acordo com o IEA International Energy Agency, o estoque global de veículos elétricos passou
de 3 milhões em 2017. A china de acordo com o gráfico apresentou uma evolução de 2013 a 2017,
maior em comparação às outras localidades. Esse aumento corresponde a políticas de incentivos
para as regiões e ações, por exemplo, iniciativa de troca de experiências e adoção de boas práticas
para a promoção de VE nas cidades. Para os Estados Unidos e Europa o crescimento durante os
anos foram praticamente iguais.

Fig. 2 – Evolução global de veículos elétricos


Fonte: Adaptado de International Energy Agency1

Portanto a comercialização dos carros elétricos ainda é pequena, mas a projeção em longo prazo
mostra-se crescente. Nos países desenvolvimentos a expansão desses veículos é maior devido às
oportunidades oferecidas, por exemplo, incentivos financeiros para a compra do VE, isenção de
taxas, incentivos governamentais, etc. No caso, do Brasil conforme mostra a figura 1, a partir de
2020 que começará a ter venda mais expressiva do VE, isso provavelmente com as consolidações
das medidas propostas pelo governo e com infraestrutura para atendimento a essa nova demanda.

3.2. Veículo elétrico híbrido (VHE)


Os veículos de propulsão híbrida possuem dois sistemas para locomoção: a convencional e a
elétrica, eles podem ser classificados conforme a configuração dos seus elementos: híbrido série,
híbrido paralela e híbrido split [11].
Para melhor exemplificar essas configurações, as figuras 3,4 e 5 mostram o processo do sistema dos
veículos elétricos híbridos. Tendo alguns elementos diferentes entre eles, o planetário que tem a
função de acondicionar à energia do motor térmico a explosão e do motor/gerador elétrico de

1
International Energy Agency: Disponível em: https://www.iea.org/tcep/transport/evs/
tração, otimizando a operação do sistema. Além disso, o caminho de funcionamento configura-se de
forma diferenciada para os três sistemas, sendo linear ou com ramificações.

Fig. 3 – Sistema do veículo híbrido em série


Fonte: Elaboração própria (2018)

Fig. 4 – Sistema do veículo híbrido em paralelo


Fonte: Elaboração própria (2018)

Fig. 5 – Sistema do veículo híbrido em split


Fonte: Elaboração própria (2018)

No Brasil, encontram-se mais esses tipos de veículos com dois motores, sendo um elétrico e um
movido à combustão interna. O sistema de abastecimento de combustível poderá ser gasolina,
biocombustível ou flex. Quando necessário o motor a combustão provoca o arranque no gerador
para carregar a bateria, dando suporte ao motor elétrico em determinadas ocasiões. O veículo
percorre inicialmente uma distância de 10 a 15 km, somente com eletricidade e, quando a bateria
acaba ou quando o mesmo atinge uma determinada velocidade, entra em funcionamento o motor de
combustão interna. Os veículos apresentam a frenagem regenerativa que converte a energia cinética
em elétrica para carregar a bateria. Até uma velocidade de 70 km/h, o veículo funciona com o motor
elétrico e após essa velocidade parte para o motor a combustão. Em comparação com veículos
convencionais, a redução de consumo de combustível é de 25% a 40% [18], [12].
Conforme estudo da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), os carros elétricos híbridos
(VEHs) e carros elétricos híbridos plug-in (VEHPs) tem projeção de aumento gradativo até 2030 na
frota brasileira e para o mundo em 2030 terá um solta de 35% para VEH e VEHP, conforme a figura
abaixo [12].

Fig. 6 - Projeção do crescimento de VEH no Brasil


Fonte: Elaboração própria (2018)

Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), a


projeção de vendas dos VEs e VEHs no Brasil vem crescendo durante cada ano. A figura 7 mostra
que nos anos de 2014, 2015 e 2016 o número de licenciamento foi praticamente o mesmo, o
sobressalto ocorreu em 2017 mais de 3.000 unidades licenciados. A tendência é aumentar para o
ano de 2018, a representação no gráfico deste período esta referente até o mês de agosto, por isso, o
resultado está menor que 2017. No entanto, se considerar a média de vendas dos meses do ano de
2018 poderia estimar um aumento em 1.236 unidades, o que ultrapassaria o ano anterior o número
de licenciamento.
* Inclui veículo híbrido
Fig. 7 – Evolução dos veículos elétricos e híbridos
Fonte: Elaboração própria, com base em ANFAVEA e Estadão

3.3. Combustíveis
Segundo dados do Relatório da Frota Circulante 2018 [19], do ano de 2009 a 2017 houve um
aumento na frota de veículos no Brasil de 45,3% para automóveis e de 45,8% para comerciais leves.
A maior parte dos veículos utilizam combustíveis a gasolina ou biocombustível, conforme a figura
8, no ano de 2017 os veículos flex representaram 62,7% e os veículos a gasolina 26,5%. No entanto,
se comparar a 10 anos anteriores a realidade mostra que o consumo de gasolina era maior. Por outro
lado a utilização do diesel praticamente se manteve com valor sem grandes alterações durante os
anos [19]. É percebido no gráfico que álcool vem caindo a cada ano, tendo uma diferença entre
2007 a 2017 de 8,8%.

Fig. 8 – Evolução da frota por combustível


Fonte: Relatório da frota circulante 2018, (Sindipeças Abipeças, 2018)
Para o ano de 2018, conforme levantamento realizado nas tabelas do DENATRAN referente do mês
de janeiro a agosto, a figura 9, mostra a predominância do combustível a gasolina em comparação
com os demais. No entanto, vale ressaltar que o combustível flex poderá influenciar nos resultados,
pois os veículos têm outras opções de abastecimento, a gasolina ou a álcool, com isso aumentaria
mais a proporção do uso da gasolina.
Desta forma, para obter os dados separados desses combustíveis e inclusive o GNV, foi realizado
uma busca de informações na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis [20], a
fim de saber sobre a comercialização de combustíveis, vendas pelas distribuidoras. Assim, a figura
10 mostra que o venda do diesel é maior em comparação com os outros combustíveis e que o GNV
o consumo não é expressivo.

Fig. 9 – Combustíveis da frota de veículos, referente ao ano de 2018 do mês de janeiro a agosto
Fonte: Elaboração própria, com base em DENATRAN (2018)

Fig. 10 – Venda de combustível pela distribuidora


Fonte: Elaboração própria, com base em ANP (2018)
As emissões de CO2 originária de combustíveis tendem a crescer conforme projeção até o ano de
2020, isso representa o aumento no setor de transporte o que levará maior impacto de poluentes no
meio ambiente. Por isso, é justificável que se utiliza o veículo elétrico ou o veículo elétrico híbrido
para minimizar a emissão de gases.

Fig. 11 – Emissão de CO2


Fonte: Elaboração própria, com base em E&E [21]

Portanto com a frota de veículos elétricos híbridos crescendo o quadro deverá mudar nos próximos
anos, neste caso, teremos a introdução da eletricidade e provavelmente o consumo do etanol irá
decair. Além disso, espera que a utilização de combustíveis derivados do petróleo seja substituídos
pelos de biocombustíveis.

3.4. Impactos

Os veículos puramente elétrico são vistos como uma alternativa para minimizar a emissões de
dióxido de carbono no setor de transporte mundial, mas vale ressaltar que dependendo da fonte de
energia do país a redução não será o mesmo, por exemplo, fonte a base de carvão mineral,
derivados de petróleo e gás natural, são elementos que aumentam a emissão de poluentes devido à
queima.

Segundo Simon [15], o aumento da frota de veículos elétricos pode apresentar algum risco no
sistema de distribuição nas centrais que não foram projetadas para a demanda estabelecida pelo
setor de transporte. A rede de distribuição para suporta o carregamento depende de diversos fatores,
não havendo um valor absoluto válido para qualquer configuração de rede.

De acordo com a pesquisa de Toshizaemom Noce [22], tem como hipótese uma frota de veículos
elétricos circulando de aproximadamente 110 mil veículos até 2025, com um consumo destinado ao
abastecimento da frota de veículos elétricos em torno de 352 GWh/ano ou 29,3 GWh/mês. Com
base na oferta interna de energia elétrica do Balanço Energético Nacional, o ano de 2016 teve um
consumo de 619.693 GWh, o impacto de uma frota de 110 mil veículos elétricos representaria um
consumo de 0,056% de toda a oferta nacional de energia.

O Brasil apresenta a matriz energética favorável, pois a maior parcela da energia consumida é
derivada de fontes renováveis, o que diferencia do mundo na qual a matriz energética primária é de
fonte não renovável, com utilização principal do petróleo. Conforme dados do EPE [6], o Brasil
apresenta 80,4% de energia renovável no ano de 2017, deste valor 65,2% representa a fonte
hidráulica e o mundo tem-se 22,8% no ano de 2015.

No setor de transporte os combustíveis fósseis são os que mais contribuem para o consumo de
energia, com destaques para, a gasolina e óleo diesel, ambos responsáveis por 73,4% da matriz de
consumo de energia.

Fig. 12 – Consumo de energia nos transporte - matriz


Fonte: EPE, 2017

Neste contexto, a contribuição para o aumento da emissão de CO 2, depende de vários fatores, a


saber: a distância de deslocamento do veículo até o destino, tipo de veículo mais novo ou mais
velho e tipo de combustível utilizado. A figura 13 mostra-se a projeção da emissão de CO 2 para o
ano de 2020, na qual a maior contribuição está entre o automóvel representando 37% e os
caminhões pesados com 33%.

Ainda analisando a figura 13 e comparando o período entre 1992 e 2012, o crescimento dos
automóveis e caminhões pesados continuou. Vale ressaltar que os ônibus rodoviários não
apresentaram alterações significativas. Desta forma, o que foi debatido na Eco-92 2 a respeito de
controlar as emissões de CO2 na atmosfera e a criação de parâmetros para a proteção da
biodiversidade, não teve evolução positiva neste período. Houve um aumento de 36% das emissões
de CO2 no mundo, sendo a expansão da frota de veículos um elemento que faz parte destes dados.

2
Da Eco-92 à Rio+20: Duas décadas de debate ambiental. Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2012/06/120612_grafico_eco92_rio20_pai
Fig. 13 – Emissão de CO2 por categoria de veículos
Fonte: Adaptado de Lima [23]

Neste contexto, a mudança do setor de transporte, mediante aos VEs e VEHs seria uma alternativa
para ter menor impacto ambiental. No entanto, um dos componentes desses veículos pode gerar
degradação ambiental, no caso, as baterias automotivas de chumbo-ácido que contêm chumbo e ácido
sulfúrico, onde há normas ambientais que disciplinam seu recolhimento, descarte e eventual reciclagem.
Além disso, apresenta desvantagens como custo elevado e o curto ciclo de vida [14].

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao realizar a revisão bibliográfica a respeito dos veículos elétricos e veículos elétricos híbridos e o
impacto ambiental que poderá gerar, observou-se que há possibilidade de mudança na frota de
veículos nacionais. Alguns pontos importantes que se pode evidenciar nos VEs e VEHs em
comparação aos veículos convencionais são: redução da emissão de gases do efeito estufa, maior
eficiência no consumo de combustível e freios regenerativos para recarregar a bateria [12].
Além disso, o uso deste modal traz melhores condições ambientais, há também a possibilidade de
renovação da indústria automobilística, nas questões das novas tecnologias empregadas [10]. Mas
para ter êxito exige a superação de obstáculos, como logística, infraestrutura e custo [14].
Para que o mercado tenha uma alta na demanda desses veículos, principalmente o VE é preciso que
haja uma redução dos custos de produção, para os preços serem competitivos com os veículos
convencionais. No entanto, é preciso atender a outras questões como investimentos em
infraestruturas nas distribuidoras de energia elétrica para as demandas que poderão surgir no horário
de pico.
Segundo a pesquisa de Marcincin, Medvec e Moldrik [17], existe uma preocupação especial
referente às áreas com rede mais densa, bem como localidades entre cidades com uma carga
potencialmente maior da infraestrutura.
Ademais, as redes de estações de recargas (postos) deverão ser o suficiente para atender os veículos,
visto que, o tempo gasto para carga da bateria é maior que o tempo para colocar combustível, ou
seja, se o número de VE e VEH for maior e os locais de recarga não proporcional, será uma
possível desistência da utilização destes veículos, apesar de serem economicamente e
ambientalmente melhores que os convencionais. Ainda assim, é necessário que se tenha estações
em várias localidades, seja dentro dos centros urbanos no atendimento a rotas menores ou fora em
distâncias maiores.
Conforme Castro e Ferreira [14], os assuntos referente à energia e ao meio ambiente, aliadas ao
desenvolvimento tecnológico de componentes e à ação direta dos governos, têm elevado uma
inserção cada vez maior dos veículos elétricos nas vendas. Para os veículos elétricos híbridos com
maior difusão há a possibilidade da utilização do combustível bioetanol brasileiro, sendo melhor
alternativa se comparado aos combustíveis fósseis.
O que diferencia os carros convencionais para os híbridos e elétricos é o tempo da tecnologia, cujo
alto custo das baterias, a limitação de autonomia, custo final do produto são alguns itens que torna
tímido o seu crescimento. Apesar dessas desvantagens, tem-se o lado positivo na questão da
redução da dependência do petróleo e ao menor impacto ambiental, conforme for o tipo de energia
distribuída pelo país.
Com relação aos combustíveis espera-se que os dados para os próximos anos estejam diferente, com
resultados maiores para biocombustíveis. Os dois principais biocombustíveis líquidos utilizados no
Brasil são o etanol, extraído de cana-de-açúcar, utilizados nos veículos leves, e, mais recentemente,
o biodiesel, produzido a partir de óleos vegetais ou gorduras animais, utilizados, principalmente, em
ônibus e caminhões3.
Na questão da emissão de CO2 a cidade de São Paulo, por exemplo, se estivesse 6% da frota atual
substituída por veículos elétricos, evitaria a emissão de aproximadamente 490 mil toneladas de CO 2.
Assim a introdução de VEHs na frota circulante atual influenciaria direta e positivamente os problemas
decorrentes pela poluição, pois estes têm emissões significativamente menores do que os veículos
convencionais e podendo chegar a zero, no caso dos veículos puramente elétricos. Logo, os VEHs não
só trariam benefícios ao meio ambiente, à saúde e ao bem-estar da população, como também reduziriam
os gastos públicos [11].
Por fim, destaca-se a importância da introdução desses modais, principalmente em substituição aos
veículos antigos, já que os mesmo tem um consumo maior em combustíveis e emitem maiores
poluentes.

5. CONCLUSÃO

Veículos que se utilizam de energias renováveis é importante para minimizar o impacto ambiental e
a emissão de CO2, principalmente em grandes centros urbanos na qual a concentração de poluentes
são maiores e como consequência prejudica a saúde humana.

3
Governo do Brasil. Biocombustíveis. Disponível em:
http://www.brasil.gov.br/noticias/infraestrutura/2011/11/biocombustiveis
O Brasil apresenta uma matriz energética mais limpa em comparação ao mundo, ou seja, o uso
desses veículos não representa grandes impactos ambientais. Sendo assim, justifica adoção dos
veículos elétricos e veículos elétricos híbridos no transporte individual ou coletivo. Para ter
melhores resultados ambientais vale o incentivo do transporte coletivo, pois a emissão de CO 2 na
projeção para o ano de 2020 corresponde a 10% e os automóveis a 37%, ou seja, o índice é
favorável para o transporte coletivo.
Desta forma, vale o incentivo do poder público para a sociedade adotar esse tipo de modal, pois
geram benefícios para o meio ambiente onde o número de veículos individuais circulando será
menor e assim diminuiria mais a emissão de poluentes. Mas como essa realidade no Brasil ainda
não é praticada tem-se o aumento da frota de transporte individual seja pelas facilidades de compras
ou pela falta de qualidade nos transportes coletivos.
Portanto, é importante que haja incentivos governamentais para que a frota de veículos seja
substituída pelos VEs e VEHs, principalmente os carros antigos que poluem muito, segundo
levantamento do ANFAVEA os motores de carros com mais de 15 anos de uso é 28 vezes maior
que o carro novo, com menos de 6 mil quilômetros rodados. No entanto, é preciso política de
energia, investimentos em infraestruturas, preço final competitivo com veículos convencionais,
entre outros benefícios para o consumidor e os fabricantes de automóveis.
Por fim, é importante destacar que o desenvolvimento constante da tecnologia desses veículos, a
tendência é ter transporte coletivo e individual em maior número no país, e desta forma, as emissões
de poluentes se reduzirá e a qualidade de vida e saúde da sociedade se tornará melhor,
especialmente os que moram e trabalham nos centros urbanos.

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ANÁLISE DE INDICADORES PARA AVALIAÇÃO DE BIKEABILITY EM NOVE
CIDADES BRASILEIRAS

Analysis of indicators for evaluation of bikeability in nine brazilian cities

Ludmilla Araújo Barbosa de CASTRO*¹, José Alberto Barroso CASTANÕN*¹


1
Programa de Mestrado em Ambiente Construído / UFJF, Juiz de Fora, Brasil,
ludmilla.castro@engenharia.ufjf.br / jose.castanon@ufjf.edu.br

Resumo: A utilização da bicicleta, como meio de transporte, tem sido um dos diversos temas
recorrentes do século XXI relacionado à mobilidade urbana. Atualmente a sociedade enfrenta
inúmeros desafios relacionados à forma de deslocamento e a bicicleta se apresenta como uma
ferramenta importante para a melhoria no transporte da grande massa populacional que se
concentra, cada vez mais, nas grandes cidades. O presente artigo objetiva, através de uma revisão da
literatura, apresentar uma análise de indicadores de bikeability, que nada mais é do que o
estabelecimento de instrumentos de análise sobre a aceitação da bicicleta na cidade como um meio
de transporte eficiente, seguro, rápido e inclusivo, sendo de fundamental importância para a
sociedade e para os órgãos governamentais. São vários os fatores que influem no uso da bicicleta,
os chamados indicadores de bikeability, como tamanho da ciclovia, relevo, clima, infraestrutura
cicloviária, segurança e conforto, cultura local entre outros. Como resultado, este trabalho apresenta
uma análise comparativa entre as cidades brasileiras estudadas e os indicadores de bikeability para
cada região.

Palavras-chave: Bikeability, mobilidade urbana, transporte eficiente.

Abstract: The use of the bicycle, as a means of transport, has been translated into the 21st century.
It is an important tool for updating the large population that is increasingly concentrated in large
cities. The present article aims, with a review of the literature, presents an analysis of indexes of
bikeability, which is nothing more than the establishment of instruments of analysis on the
acceptance of the bicycle in the city as an efficient, safe, fast and inclusive means of transport. In
addition, being of fundamental importance for the society and for the governmental organs. There
are several factors that influence bicycle use, such as bike lane size, relief, climate, cycling
conservation, safety and comfort, local culture among others. The expectation is, therefore, that the
work will be able to propose expanded actions for the public actions of an end of a cross application
in the Brazilian capitals.

Keywords: Bikeability, urban mobility, efficient transportation.

1. INTRODUÇÃO
A Política Nacional de Mobilidade Urbana [1] define mobilidade urbana como a condição em que
se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no espaço urbano. A forma de deslocamento se dá
por dois modos de transporte, os motorizados e os não motorizados. Os motorizados incluem os di-
ferentes veículos, sejam eles individuais (moto, carro, etc) ou coletivos (ônibus, metrô, etc). Quanto
aos principais modos de transporte não motorizado, estão os modos a pé ou de bicicleta [2]
O número excessivo de carros, juntamente com a precariedade do transporte público, além da má
conservação das vias tornam o transporte um problema urbano. Nos últimos anos, o planejamento
de transporte no Brasil tem visto a necessidade de promover melhores condições para locomoção de
usuários dos modos não motorizados. Ademais, é crescente o uso da bicicleta como meio de trans-
porte e lazer no Brasil contemporâneo.
O ciclismo pode ser visto como uma solução potencialmente sustentável para melhorar mundial-
mente a saúde pública, incluindo a redução do tráfego e da poluição do ar. Inúmeras evidências de-
monstram que o ambiente construído está correlacionado com o comportamento do ciclista e o
quanto as regiões percorridas podem ser amigáveis a eles.
Em seu estudo César,2014, fez uma avaliação da ciclabilidade das cidades brasileiras. O crescente
número de ciclistas pedalando nas cidades brasileiras demanda um esforço dos governos locais para
elaborar ações a fim de tornar as cidades mais amigas da bicicleta. Porém, estas ações vêm sendo
realizadas sem um planejamento que garanta a prioridade necessária à mobilidade por bicicleta. Em
sua pesquisa foi avaliada o quanto as cidades brasileiras são amigas da bicicleta, e como resultado
apontou falta de infraestrura de qualidade, vias confortáveis e segurança [3].
Diante do exposto, este trabalho busca compreender os fatores que influenciam o uso da bicicleta, e
a partir deles elaborar uma análise de indicadores de avaliação de bikeability em nove cidades brasi-
leiras, distribuídas pelas diferentes regiões do país. As cidades foram escolhidas com base na posi-
ção geográfica. São elas: Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo no Sudeste, Brasília no Cen-
tro-oeste, Curitiba e Florianópolis no Sul, Fortaleza e Recife no Nordeste e Boa Vista no Norte.

2. BIKEABILITY NO MUNDO

2.1. Conceituação de Bikeability


De acordo com Lowry et.al., 2012, bikeability pode ser definido como a avaliação de toda a rede de
ciclovias, ciclorotas e ciclofaixas, em termos de projeto de infraestrutura, conforto e conveniência
para acessar destinos importantes. Além do mais, o projeto de infraestrutura deve tornar o ciclismo
não apenas seguro, mas também fácil e confortável [4]
Segundo [3] Bikeability pode ser traduzido livremente como ciclabilidade e se refere ao quanto um
local é bicycle friendly, ou seja, o quanto ele é amigável ao ciclista, apesentando características
propícias para cada um dos três diferentes usos: transporte, lazer e exercício.

2.2. Indicadores de Bikeability no mundo


Cada autor pesquisado refere-se a indicadores específicos que corroboram para a preferência
por bicicleta em determinada via. Cada autor pesquisado refere-se a incidores específicos que
corroboram para a preferencia de ciclo em determinada via. Segundo Rietveld; Daniel (2004) as
características dos trajetos apropriadas aos ciclistas incluem ciclovias e terreno plano. Para
Caballeto et al., 2014; Pains et al., (2011), o atrativo está no baixo volume de tráfego em vias
compartilhadas e, de acordo com Buehler; Dill, 2015; Titze et al., (2010), um ambiente verde com
áreas atraentes seria a forma de definição do trajeto de viagem. Por exemplo, cidades com vias em
locais verdes, com característica topográficas favoráveis e baixo volume de tráfego, parecem ter
taxas de ciclismo mais altas quando comparadas a cidades que não possuem tais características [10].
Isto sugere que as mudanças no desenho urbano podem aumentar o nível do ciclismo.
Através da revisão da literatura foi possível identificar a utilização da base de dados do Sistema de
Informação Geográfica - GIS para quantificar índices de ciclabilidade em várias cidades ao redor
do mundo. Em Vancouver foi utlizada a base de dados GIS a fim de detectar áreas adequadas para
ciclistas e áreas onde as condições de ciclismo podem ser melhoradas [11]. Através dos dados obti-
dos foi possível gerar um índice de ciclabilidade para esta cidade que consiste em cinco componen-
tes, a saber, densidade de rota de bicicleta, segregação de rota de bicicleta, conectividade, topogra-
fia e densidade de destino. A pesquisa apontou que com excessão da topografia, todos os outros pa-
râmetros estavam adequados ao ciclismo. No entanto, a base de dados em GIS está bem ajustada ao
design da cidade norte-americana, disponibilizando dados confiáveis para realizar uma análise com-
parativa com outras cidades de caracteristicas próximas àquela. As cidades europeias, no entanto,
possuem rede urbana urbana incompatível com as redes urbanas das cidades americanas. Portanto,
um ajuste do índice de capacidade de pedalar de Winters et al. (2013) é necessário.
Com o objetivo de realizar ajustes necessários nos índices propostos para a cidade de Vancouver e
utilizando o mesmo Sistemas de Informação Geográfica- GIS proposto por Winters et.al. (2013),
Krenn; Oja; Titze (2015), desenvolveram um índice de capacidade de ciclo para a cidade européia
de Graz, Áustria, a fim de verificar a facilidade do uso de bicicletas criando um mapa de bikeability.
A avaliaçao da análise do índice de cliclabilidade da pesquisa resultou em três componentes ambi-
entais avaliados positivamente (infra-estrutura cicloviária, ciclovias e áreas verdes), e dois compo-
nentes considerados negativos relacionados com a rota efetivamente utilizada, sendo elas, estradas
principais e topografia.
Um outro levantamento de índice de ciclabilidade utilizando base de dados GIS foi realizado na ci-
dade de Gothenburg, Suécia. Para a realização do estudo foi necessário modelar os potenciais de
fluxo de bicicleta através de uma medida entre origem e destino empíricos de forma a possibilitar a
análise de diferentes combinações de distâncias. Desta forma, foi possível identificar as variáveis
consideradas significantes para ciclismo que estão diretamente relacionadas a declive e a curvatura
das rotas; a largura e o tipo de superfície das ciclovias; o tipo e a quantidade de tráfego ao longo da
rota; a proximidade de sinais de tráfego; grau de separação de pedestres; quantidade de vias acessó-
rias ao longo das rotas e qualidade da pavimentação da ciclovia [13].
Por fim, o último estudo apresentado nesse artigo está relacionado à interação TOD e base de dados
GIS. Um estudo de caso realizado na região de Arnhem-Nijmegen (Holanda) [14], adotou uma das
ferramentas utilizadas no planejamento urbando, o TOD - Desenvolvimento Orientado ao Trânsito.
Geralmente sua avaliação sobre a infraestrutura de ciclismo é realizada em combinação com redes
de pedestres e visa encorajar as pessoas a reduzir o uso de carros para realizar seus translados nas
cidades.
Os indicadores comumente utilizados para mensurar TOD são Density, Diversity, Design -
Densidade, Diversidade e Design , Destination Acecessibility, Distance to transit - Acessibilidade e
Distanciamento ao Destino em trânsito [4], formando os “indicadores 5D” do ambiente construído.
Segundo [4]a densidade é medida como uma variável por unidade de área que pode estar
relacionada à população, ao emprego, à área construída, e unidades habitacionais. As medidas de
diversidade referem-se ao número de usos diferentes da terra em uma determinada área sendo que
valores baixos indicam uso único da terra e valores mais altos usos da terra mais variados. Na
mesma vertente, [15] definem que a acessibilidade do destino mede a facilidade de acesso às
atrações da viagem. A distância até o trânsito é medida como uma média das rotas de rua mais
curtas das residências ou locais de trabalho até os nós de trânsito mais próximos em uma área.
Variáveis de design relacionam-se com características do projeto das vidas, calçadas para pedestres
e ciclovias que atraem as pessoas a andar e a pedalar.
Entretanto, a revisão da literatura sobre métodos para medir os indicadores de ciclabilidade através
do TOD, quando analisado juntamente com a base de dados GIS, apresentam índices
complementares de cicliabilidade. Os indicadores baseiam-se nos cinco princípios do planejamento
da rede de infraestrutura cicloviária (coerência, objetividade, segurança, atratividade e conforto)
(Bach, 2006). Além do mais, a qualidade e as características do estacionamento de bicicletas nas
estações de trem também foram usadas como um indicador para medir a qualidade da infra-
disposição [16].
Tomando como base todo o estudo supracitado é possível sugerir de que forma pode ser realizada a
aplicação de análise de índices de ciclabilidade nas principais cidades Brasileiras.

3. A POLÍTICA NACIONAL E AS BICICLETAS NO BRASIL


O Brasil enfrenta diversas crises ambientais, energéticas e hídricas que apesar de abalarem a
aconomia do País nos últimos anos não se compara a crise petrolífera enfrentada pela Europa no
final dos anos 60 e durante os anos 70, fato que levou diversos europeus a retomar o uso de
bicicletas como principal meio de transporte em diversas cidades [17] [18].
Segundo FREITAS; MACIEL, (2017) Foi na segunda metade dos anos 70, ainda sob o efeito da
crise do petróleo na Europa que o governo Brasileiro iniciou seus investimentos de incentivo à
necessidade de políticas de transporte para bicicletas e aprovou através do decreto n° 73.100/1973 a
criação do GEIPOT- Grupo Executivo de Investigação de Políticas de Transportes.
Além do mais, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 garante como direito
fundamental em seu art. 5, XV, a liberdade de locomoção, no qual menciona ser livre a locomoção
no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar,
permanecer ou dele sair com seus bens. A Carta Magna também determina em seu art. 182, § 1º,
que os municípios com mais de vinte mil habitantes elabore um Plano Direto Estratégico fazendo
com que o sistema de circulação, trânsito e transporte das cidades tivesse maior integração com o
planejamento urbano e ordenação territorial [20].
Apesar do fomento às políticas de mobilidade por bicicleta, a Lei 5108/1966, antigo CTB- Código
de Transito Brasileiro regia a circulação de veículos no Território Nacional, trazia inúmeros
equívocos relacionados à bicicleta que muita das vezes eram comparados a veículos de tração
animal e motocicletas. Em 1997 com a promulgação da Lei 9503, novo CTB, a bicicleta foi
reconhecida como veículo de transporte com características próprias e especificidades, sendo a ela
imputada correta hierarquia na circulação de tranito (FREITAS; MACIEL, 2017).
Novo impulso à política cicloviária volta a ocorrer por ocasião da Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, ECO 92, em 1992. O GEIPOT lança, então, no ano de
2002, dois documentos voltados à estruturação da malha cicloviária no Brasil, a saber,
Planejamento Cicloviário: diagnóstico nacional e Manual de Planejamento Cicloviário. O governo
visando reestruturas o setor de transportes encerra as atividades do Geipot, e o substitui por um
novo órgão com funções semelhantes, a Secretaria de Transporte e Mobilidade Urbana - SEMOB
dentro do recém-criado ministério das cidades [21].
De acordo com [22] no ano de 2004 a Semob lança o principal programa brasileiro direcionado a
bicicleta no País, o Bicicleta Brasil, com objetivo de consolidar ações de uso da bicicleta em estados
e município com objetivo de implantar o conceito de mobilidade urbana sustentável e o uso ativo da
bicicleta como meio de transporte.
A atual Política Nacional de Mobilidade Urbana Brasileira, instituída pela Lei Federal n°
12.587 de 03 de janeiro de 2012, determina em suas diretrizes a priorização dos meios de transporte
não-motorizados sobre os motorizados, além de propor a mitigação dos custos ambientais, sociais e
econômicos dos deslocamentos de pessoas e cargas na cidade. A Lei também incentiva o uso de
energias renováveis e menos poluentes a fim de incentivar o uso de modos não-motorizados nas
cidades brasileiras [23].

4. OBJETIVO

O presente artigo tem como objetivo apresentar uma análise de índices de bikeability, que nada
mais é do que o estabelecimento de instrumentos de análise sobre a aceitação da bicicleta na cidade
como um meio de transporte eficiente, seguro, rápido e inclusivo. O uso e aceitação da bicicleta é
de fundamental importância para a sociedade e para os órgãos governamentais.

5. METODOLOGIA
Este trabalho refere-se a uma pesquisa qualitativa e exploratória, visto que tem como objetivo
compreender os fatores que influenciam o uso da bicicleta, e a partir deles elaborar uma análise de
indicadores para avaliação de bikeability em nove cidades brasileiras. A metodologia foi
desenvolvida através de uma revisão bibliográfica, em que foram consultados trabalhos acadêmicos,
periódicos, páginas na internet e leis para o embasamento teórico, baseado na conceituação e
contextualização do tema.

6. RESULTADOS E ANÁLISES

6.1. Ciclabilidade nas Cidades Brasileiras


6.1.1. Ciclabilidade em Boa Vista – RR
Localizada na região norte do País, a cidade de Boa Vista possui uma população estimada de
375.374 habitantes, com densidade populacional de aproximadamente 57,4hab/km². A cidade se
caracteriza por terreno plano, de invernos secos e verões chuvosos de altas temperaturas (IBGE,
2018).
Ademais, Boa Vista se destaca-se pelo seu traçado urbano muito semelhante a primeira cidade
projetada no Brasil, Belo Horizonte, em forma radial, avenidas largas, bastante harborizadas e
inúmeras praças verdes. A cidade possui inúmeras características interessantes que oferecem uma
boa qualidade de vida aos seus habitantes, dentre elas é possível citar o surgimento das primeiras
ciclovias no ano de 2015 [25].
De acordo com o mesmo autor, as ciclovias, além de serem consideradas seguras por inúmeros
usuários, interligam a cidade de ponta a ponta, além de conectarem importantes entidades de ensino
superior, áreas de lazer e áreas comerciais.
6.1.2. Ciclabilidade em Belo Horizonte – MG
Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais, possui uma área de aproximadamente 331km² e
2.501.576 habitantes. Possui uma geografia diversificada, com morros e planícies, clima agradável
durante todo o ano com invernos secos e verões chuvosos. (IBGE, 2018).
A cidade possui inúmeros parques e infraestrutura que incentiva a utilização de bicicletas como
forma de lazer e meio de transporte. Além do mais, Belo Horizonte conta com um programa de
mobilidade por bicicleta, o Pedala BH, desde 2006, o qual iniciou a implantação de ciclovias em
2011. Em 2012 foi criada a Associação dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte com a finalidade
de se dar maior representação e voz ativa de ciclistas nas políticas públicas da cidade. Nesse mesmo
ano em dezembro foi criado o GT Pedala BH, que é um grupo aberto e sem líderes, de caráter
consultivo, que serve de espaço para o diálogo entre poder público, sociedade civil, associações e
cidadãos interessados em fomentar o uso da bicicleta na cidade como meio de transporte, com
reuniões mensais [26].
6.1.3. Ciclabilidade em Brasília – DF
Brasília, capital do Brasil, possui uma área de aproximadamente 5.779 Km² e 2.974.703 habitantes.
Possui relevo predominantemente plano, clima com temperatura média anual de 20,6°C e alguns
dias com umidade relativa do ar extremamente baixa (IBGE, 2018).
Para garantir que as bicicletas sejam um meio de transporte eficaz, mesmo entre as as longas
distâncias a serem percorridas na cidade, seja para trabalhar, estudar ou para o lazer, a legislação
proporciona aos ciclistas o direito de levarem-nas no MetrôDF, que reserva o último vagão de cada
composição para esse fim [27].
De acordo com a mesma autora, apesar de receber um relativo interesse pelo governo local,
recebendo diversos investimentos, os usuários das ciclovias reclamam de sinalização e iluminação
adequada, buracos, trechos isolados e escondidos, entre outros, são problemas comuns nas ciclovias
da capital.
6.1.4. Ciclabilidade em Curitiba – PR
Curitiba é capital do estado do Paraná. Possui 1.917.185 habitantes sendo o município mais
populoso do Paraná e da região Sul, além de ser o 8º mais populoso do país, segundo estimativa
populacional do IBGE 2018 (IBGE, 2018). Seu relevo é composto por declividades mais
acentuadas devido a proximidade com a Serra de Açungui, configurando topografia ondulada, de
morros levemente redondos.
Estimular o uso da bicicleta, não só como lazer ou prática esportiva, mas como meio alternativo de
transporte é uma das prioridades da Prefeitura de Curitiba dentro do Programa Mobilidade e
Acessibilidade [28].
Alguns usuários das ciclovias podem percebem que a verba lançada à manutenção das ciclovias,
não está sendo feito ou está aquém do necessário. Falta de sinalização e iluminação adequada,
buracos, trechos isolados, são problemas comuns nas ciclovias da cidade. É compreensível que estes
fatores somados aos perigos comuns do trânsito e das grandes cidades não estimulem novos adeptos
dessa prática do ciclismo [29].
6.1.5. Ciclabilidade em Florianópolis – SC
Florianópolis é a capital do estado brasileiro de Santa Catarina, na região Sul do país. A cidade
possui 492.977 habitantes sendo o 47º município mais populoso do Brasil sendo que a região
metropolitana possui uma população estimada de 1.096.476 habitantes, a 21ª maior do país. Seu
relevo é formado por cristas montanhosas e descontínuas, servindo como divisor de águas da ilha;
paralelamente às montanhas, surgem esparsas planícies em direção leste e na porção noroeste da
ilha (IBGE, 2018).
Florianópolis ostenta a segunda colocação no ranking das mais motorizadas, tendo a proporção de
1,46 habitante por veículo, atrás apenas de Curitiba. A melhoria da qualidade de transportes na
cidade está intimamente ligada ao programa de infraestruturas para a circulação não motorizada,
que visa o uso de bicicletas até a conexão com outros modos de transporte. Estas possuirão locais de
armazenamento com controle de acesso e garantia de segurança perante a furtos da bicicleta pública
ou particular [30].
6.1.6. Ciclabilidade em Fortaleza – CE
Fortaleza possui 313,140 km² de área e 2.643 .47 habitantes estimados em 2018, além da maior
densidade demográfica dentre as capitais do país, com 8.390,76 hab/km². Possui terreno
relativamente plano com clima quente, invernos secos e verões chuvosos com altas temperaturas
(IBGE, 2018).
As bicicletas, na cidade de Fortaleza, surgem tanto como atividade esportiva, quanto prática de
lazer, bem como meio de transporte. A implementação de ciclovias e ciclofaixas alargaram as
possibilidades de deslocamento e de lazer nos fins de semana para além das praias, entretenimento
tradicional da cidade [31].
6.1.7. Ciclabilidade em Recife - PE
Recife, capital do estado de Pernambuco, possui o quarto aglomerado urbano mais populoso do
Brasil com 4.000.000 de habitantes, superando as concentrações urbanas de São Paulo, Rio de
Janeiro e Belo Horizonte. Sua área territorial é formada por planícies sendo circundada por colinas
em arco que se estendem do norte ao sul. Possui temperatura elevada durante todo o ano e
precipitações intensas durante todo o ano (IBGE, 2018).
A bicicleta é um importante meio de transporte na cidade e, em sua maioria, é utilizada pela
população de baixa renda que utiliza o modal para pequenos deslocamentos driblando, assim, as
adversidades e a falta de investimentos e de políticas que estimulem a utilização da mesma [32].
6.1.8. Ciclabilidade no Rio de Janeiro – RJ
A cidade do Rio de Janeiro, capital do estado homônimo, é a segunda maior metrópole do Brasil –
depois apenas de São Paulo, possuindo aproximadamente 6.688.927 habitantes. A sua topografia é
composta por planícies cercadas por montanhas e morro e seu clima é predominantemente quentes e
úmidos, com ocorrência de chuvas em todo o ano (IBGE, 2018).
Falta de infraestrutura voltada a utilização de bicicletas e falta de investimentos que promovam a
utilização do modal não é características apenas do Rio de Janeiro. É importante notar que, na
cidade, uma infraestrutura cicloviária estruturada em rede integrada ao tecido urbano e com design
sensitivo à segurança viária promoveria signifcativamente o aumento da frequência do uso da
bicicleta e também a mudança para o modal cicloviário [32].
Ademais, usuários das ciclovias relatam falta de sinalização e iluminação adequada em alguns
trechos, irregularidade no pavimento e obras inacabadas. É compreensível que estes fatores
somados aos perigos comuns do trânsito não estimulem novos adeptos dessa prática do ciclismo
[33].
6.1.9. Ciclabilidade em São Paulo – SP
A cidade de São Paulo, capital do estado homônimo é a 7ª mais populosa do planeta e sua região
metropolitana, com cerca de 21 milhões de habitantes sendo considerada a maior área urbana do
País.e a 8ª maior aglomeração urbana do mundo. Sua topografia é predominantemente plana,
possuindo invernos brandos e verões com temperaturas moderadamente altas (IBGE, 2018).
Segundo Guth, 2016, em uma entrevista realizada com ciclistas da cidade, a principal motivação
para começar a usar a bicicleta como meio de transporte em São Paulo está na rapidez e praticidade
com 48%, enquanto 23% responderam ser "mais saudável" e 18% responderam ser "mais
econômico" [34] .
No centro da cidade estão dispostas a maior quantidade de cliclovias e ciclofaixas de São Paulo. O
maior problema enfrentado pelos ciclistas na cidade está relacionado ao respeito no transito seguido
da falta de infraestrutura e da segurança conta assaltos.

6.2. Análise dos Resultados


A tabela 01 apresenta uma análise comparativa entre as cidades brasileiras estudadas e os
indicadores de bikeability para cada região, a saber: relevo, clima, seguridade pessoal, continuidade,
infraestrutura cicloviária, intermodalidade, segurança e conforto e cultura local. Ademais, também
foi analisada a presença de plano de mobilidade urbana nas cidades. Foram utilizados, para facilitar
a análise da tabela, três parâmetros para cada indicador de bikeability, estando denominados de
adequado, razoável e inadequado, sendo caracterizados por símbolos abaixo empregados.
 Relevo: influencia no esforço físico necessário para a pedalada e é o fator que mais está
relacionado com a inibição do uso da bicicleta
1. Adequado: topografia plana ou com leves aclives e declives;
2. Razoável: topografia com leves e pouco acentudos aclives e declives;
3. Inadequado: Topografia marcada por aclives e declives acentuados.
 Clima: influencia diretamente a escolha da utilização da bicicleta, uma vez que climas
extremos, muita chuva, muito calor e/ou muito frio, favorecem ou dificultam a utilização do
modal;
1. Adequado: clima propício a utilização da bicicleta, bastante ameno;
2. Razoável: clima relativamente propício a utilização da bicicleta, com possibilidade
de chuvas espaçadas e/ou radiação solar relativamente intensa;
3. Inadequado: Chuvas intensas e/ou alta radição solar.
 Seguridade pessoal: está diretamente relacionada ao risco de ser assaltado
1. Adequado: Cidades que possuem plano de segurança pública ativa, em que pedestres
e ciclistas se encontram tranquilos para transitar pela cidade a qualquer hora do dia
2. Razoável: A segurança não atua da forma correta, mas ainda é possível circular pela
cidade em horários específicos sem grandes riscos;
3. Inadequado: Há grande perigo de assalta nas ruas.
 Continuidade: é aquela onde o ciclista para o mínimo possível, com preferência
noscruzamentos e ausência de obstáculos e que interligam ponta a ponta da cidade
1. Adequado: quando a cidade possui continuidade da via cicloviária;
2. Razoável: Há continuidade em certos pontos da cidade
3. Inadeqaudo: Quando as vias não possuem continuidade.
 Infraestrutura cicloviária: compõe o conjunto de elementos necessários para proporcionar
maior segurança e conforto ao ciclista, ou seja, é composta pelos vários tipos de vias
(ciclovias, ciclofaixas, rotas cicloviárias ) para bicicleta, pelos estacionamentos (bicicletários
ou paraciclo) e pela integração com transporte público.
1. Adequado: cidades providas de toda a infraestrutura necessária ao ciclista;
2. Razoável: cidade parcialmente estruturada para o ciclista
3. Inadequado: cidade não possui infraestrutura adequada para o ciclismo.
 Intermodalidade: a bicicleta não precisa percorrer todo o percurso da viagem: pode-se
fazer sua integração com o transporte público podendo ser embarcada no veículo ou vagão
e/ou pode ser estacionada com segurança nas estações e terminais do transporte público.
1. Adequado: Quando há possibilidade de intermodalidade
2. Inadequado: Quando não há possibilidade de haver intermodalidade
 Segurança e conforto: diz respeito às condições do pavimento da vida, que deve ser de boa
qualidade, sem buracos e desníveis e quanto mais protegido do sol e da chuva
1. Adequado: pavimentos em boas condições para ciclagem;
2. Razoável: pavimentos com poucos buracos e desníveis que não causam grandes
transtornos aos ciclistas;
3. Inadequado: pavimentos com muitos desníveis e buracos que causam transtorno ao
ciclista, podendo ocasionar quedas e comprometer a segurança física do usuário.
 Cultura local: é um fator que de bastante influência na ciclagem e também influência na
qualidade da cidade para a bicicleta. Educação e respeito ao próximo são aspectos culturais
que, geralmente, não estão presentes no trânsito
1. Razoável: há respeito e atenção para com o ciclista. Motoristas possuem
conhecimento do código de trânsito e cede a preferencia à bicicleta.
2. Inadequado: falta respeito e atenção do motorista com relação ao ciclista.
CIDADES BRASILEIRAS
BELO
BOA VISTA BRASÍLIA CURITIBA FLORIANÓPOLIS FORTALEZA RECIFE RIO DE JANEIRO SÃO PAULO
HORIZONTE
CICLOVIAS EM KM
40 83 420 165 41 198 52 450 468
(ATÉ 2017)
PLANO DE
INDICADORES DE BIKEABILITY

MOBILIDADE URBANA
RELEVO
CLIMA

SEGURIDADE PESSOAL

CONTINUIDADE
INFRAESTRUTURA
CICLOVIÁRIA
INTERMODALIDADE
SEGURANÇA E
CONFORTO
CULTURA LOCAL
Tabela 01- Análise comparativa de cidades com indicadores de bikeability

Legenda:
ADEQUADO NÃO POSSUI
RAZOÁVEL POSSUI
INADEQUADO
Analisando, então a tabela 01, constata-se que as cidades brasileiras apresentam graves deficiências
com relação à seguridade pessoal, como é o caso de Belo Horizonte,Curitiba, Fortaleza e Recife ou
com relação à cultura local.
O Brasil, como visto anteriormente, possui grande parte da sua infraestrutura voltada para atender à
demanda de transporte individual por automóveis, havendo pouquíssimo investimento em
transporte ativo.
A cidade de Recife e Rio de Janeiro são àquelas que possuem maiores problemas com relação a
utilização da bicicleta como meio de transporte uma vez que essas cidades possuem alto índice de
criminalidade, além de estarem em cidades litorâneas onde as bicicletas são comumente usadas para
lazer.

7. CONCLUSÃO
A análise dos dados da pesquisa revela a carência de uma política pública de proteção à mobilidade
por bicicleta no Brasil. As cidades destacadas necessitam de elementos básicos como pavimento,
limpeza, iluminação de qualidade, segurança e políticas específicas que promovam o uso da
bicicleta nos deslocamentos urbanos.
Pouco se vê, no Brasil, a existência de políticas sérias, verdadeiramente engajadas ao incentivo à
mobilidade por bicicleta. O aumento do número de ciclistas nas cidades Brasileiras surgiu de forma
tímida, pouco incentivada pelo poder público que continuam estimulando o uso do automóvel
particular como principal meio de transporte nas grandes e pequenas cidades.
É necessário que haja nas cidades uma rede cicloviária eficiente que conecte importantes destinos
da cidade, permitindo que o ciclista corte caminhos em uma rede interligada entre si e que permita a
integração modal com o transporte público. Ademais, é necessário que seja segura e cômoda, com o
pavimento de boa qualidade e iluminação noturna proporcionando viagens agradáveis a qualquer
hora do dia.
A bicicleta, com todos os seus atrativos relacionados à um transporte saudável, inclusivo,
econômico e autônomo, deve ser implantado e visto como verdadeiro modal de transporte sendo
imprescindível que o poder público compreenda e aja para promover sua inclusão para incrementar
a mobilidade urbana.

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CONSTRUÇOES EM MADEIRA LAMINADA CRUZADA: PROPOSTA DA
UNIÃO DA MADEIRA COM LAJE DE CONCRETO

Constructions in crossed laminated wood: Proposal of the union of wood with concrete slave

Ramos, F. M. G.1, a *, Carrasco, E. V. M.2,b e Rodrigues, F. C.3,c


1
Escola de Arquitetura, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
2
Escola de Arquitetura, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
3
Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil
a
fmgramos2@gmail.com, bmantilla@dees.ufmg.br, cfrancisco@dees.ufmg.br

Palavras Chave: Conexões de Madeira e Concreto, Sistema Construtivo Misto, Madeira Laminada
Colada Cruzada, Ligação madeira Laminada Colada Cruzada e laje de Concreto

Resumo. Este trabalho apresenta um sistema construtivo misto de concreto e Madeira Laminada
Colada Cruzada (CLT), enfatizando a ligação entre os elementos e propondo um conector metálico
solidarizado no concreto e CLT por meio de adesivo. Inicialmente, é apresentada a idéia geral do
sistema construtivo, seus elementos constituintes, suas ligações e, num segundo momento, é
apresentado o estudo de conectores de aço na ligação de painéis de CLT com laje pré-fabricada de
concreto. Hoje, a escassez cada vez mais acentuada das madeiras nativas é uma forte justificativa
para o uso de CLT. A madeira, além de ser renovável e reaproveitável quando usada de forma
correta e responsável, contribui de forma extraordinária para atenuar os impactos ambientais
causados pelas edificações. Nesse aspecto, o CLT, por se tratar de um produto fabricado a partir de
madeiras de reflorestamento, não representam uma ameaça às florestas nativas existentes no país e
em todo o mundo. Uma série de estudos independentes compararam o desempenho ambiental dos
edifícios de andares múltiplos construídos com CLT e com concreto e concluíram,
consistentemente, que edifícios de CLT tiveram baixa energia incorporada comparada com edifícios
de concreto e, mais ainda, desempenho superior em comparação com os de concreto e de aço no
que tange à destruição da camada de ozônio, potencial de aquecimento global, dentre outros
aspectos.
A montagem do sistema, ou seja, dos painéis CLT com lajes de concreto armado e painéis CLT
com CLT se mostra simples e de fácil execução.

Palavras Chave: Conexões de Madeira e Concreto, Sistema Construtivo Misto, Madeira Laminada
Colada Cruzada, Ligação madeira Laminada Colada Cruzada e laje de Concreto

Abstract: This work presents a mixed construction system of concrete and laminated laminated
wood (CLT), emphasizing the connection between the elements and proposing a metallic connector
solidified in the concrete and CLT by means of adhesive. Initially, the general idea of the
construction system, its constituent elements, its connections and, in a second moment, the study of
steel connectors in the connection of CLT panels with prefabricated concrete slab is presented.
Today, the increasing scarcity of native woods is a strong justification for the use of CLT. Wood,
besides being renewable and reusable when used in a correct and responsible way, contributes in an
extraordinary way to mitigate the environmental impacts caused by the buildings. In this regard, the
CLT, because it is a product made from reforestation woods, does not pose a threat to the native
forests existing in the country and around the world. A number of independent studies compared the
environmental performance of multi-storey buildings built with CLT and concrete and consistently
concluded that CLT buildings had low energy built in compared to concrete buildings and, even
more, superior performance compared to buildings concrete and steel related to the destruction of
the ozone layer, global warming potential, among other aspects.
The assembly of the system, ie the CLT panels with reinforced concrete slabs and CLT panels with
CLT is simple and easy to perform.

Keyword: Wood & Concrete Fittings, Mixed Construction System, Cross Laminated Laminated
Wood, Cross Laminated Link and Concrete Slab

1- INTRODUÇÃO
Em meio ao aquecimento Global, tema dos mais debatidos em todas as esferas de discussão de
políticas ambientais em todo o mundo, tem-se que pensar e colocar em prática proposições que
garantam o desenvolvimento do planeta de modo sustentável.
A madeira, por ser um excelente fixador de carbono, além de ser renovável e reaproveitável quando
usada de forma correta, contribui de forma extraordinária para atenuar os impactos ambientais
causados pelas edificações. Nesse aspecto, a madeira laminada cruzada (CLT), por se tratar de um
produto fabricado a partir de madeiras de reflorestamento tratadas, não representam uma ameaça às
florestas nativas existentes.
O Brasil, com seu imenso território continental cultivável, possui um enorme potencial madeireiro.
Suas extensas áreas de florestas tropicais, acrescidas as áreas de reflorestamento existentes e outras
em curso, levam a refletir sobre o seu aproveitamento e exploração de forma adequada e
responsável. Este poderoso potencial madeireiro aliado às tecnologias de produção de madeira
laminada colada desenvolvidas atualmente na Europa, tanto madeira laminada colada (MLC)
quanto madeira laminada colada cruzada (CLT), esta desenvolvida mais recentemente na Europa, a
partir de 1990, veio viabilizar a sua utilização em larga escala na construção civil. O CLT possui
inúmeras vantagens como sistema construtivo para edificações, inclusive de andares múltiplos,
lastreado no seu elevado desempenho estrutural e ambiental [1]. Uma série de estudos
independentes que compararam o desempenho ambiental dos edifícios de andares múltiplos
construídos com CLT e com concreto [2,3,4,5], concluíram, consistentemente, que os edifícios de
CLT tiveram baixa energia incorporada comparada com os edifícios de concreto e, mais ainda,
desempenho superior em comparação com os de concreto e de aço no que tange à destruição da
camada de ozônio, potencial de aquecimento global, dentre outros aspectos. Uma outra grande
vantagem do sistema é a velocidade e a eficiência com que os edifícios podem ser construídos [1].
A despeito de no Brasil a utilização do CLT ainda esteja em estágio embrionário, com a madeira
maciça ainda sendo usada em larga escala no país, suas vantagens com relação à madeira serrada
são relevantes, especialmente quanto à possibilidade de se produzir peças a partir de madeiras de
reflorestamento, praticamente sem limitações dimensionais, com aumentos de resistência e rigidez.
Atualmente, a escassez cada vez mais acentuada das madeiras nativas é uma forte justificativa para
o uso do CLT.
Por outro lado, a cultura do concreto armado, quer seja moldado no local ou pré-fabricado, já se
encontra consolidada no Brasil. O concreto armado, juntamente com o aço e o vidro,
transformaram-se em materiais suportes para o desenvolvimento da arquitetura moderna que tanto
marcou o cenário do mundo modernizado do século XX [6].
No Brasil, como em nenhum país desse mundo moderno, essa tecnologia se difundiu de forma
absoluta e hegemônica. É, sem sombra de dúvidas, o material estrutural mais utilizado nas
construções das cidades brasileiras.
A sociologia da ciência considera que os artefatos humanos são construções individuais e coletivas,
ligadas a grupos sociais e determinadas mais pelos interesses e recursos próprios desses grupos do
que por forças externas [7]. Isso significa decisivamente que, na difusão do concreto no país,
estiveram em jogo relações sociais mais complexas que, no âmbito deste trabalho, não interessa
entrar no mérito dessa discussão. Não serão apresentados aqui aspectos socioculturais envolvidos na
difusão do concreto. O que importa é que ele é tido como resultado natural de uma longa evolução:
o adobe do período colonial teria sido substituído pela alvenaria de tijolos do século XIX, para se
chegar finalmente ao concreto, signo de modernização, progresso e desenvolvimento [7]. A
trajetória da difusão do concreto no Brasil ocorre em sincronia com a ampliação da disponibilidade
dos materiais necessários à sua fabricação. A partir desse panorama é que acontece a consolidação e
utilização de forma hegemônica do concreto no Brasil.
O sistema construtivo em estruturas pré-fabricadas de concreto traz em seu próprio conceito o
desenvolvimento sustentável. Isto se deve, principalmente, à otimização do consumo de materiais
pela adoção de tecnologias e equipamentos avançadas, resultando na produção de elementos
resistentes e duráveis. Por outro lado, a organização do canteiro de obras propicia um local
favorável à produtividade, redução de desperdícios e utilização de mão de obra qualificada,
considerando que os materiais e os componentes podem ser facilmente reutilizados e reciclados
Projetar e estudar um conector adequado ao uso em um sistema construtivo que contemple a
utilização de painéis CLT com lajes maciças pré-fabricadas de concreto armado, parece um
caminho viável e com enorme potencial de uso no âmbito da construção de edificações no país.
Para que um sistema construtivo misto como este, inovador na medida em que utiliza lajes pré-
fabricadas de concreto conectadas com painéis verticais de CLT - diferentemente dos sistemas
utilizados na Europa, Estados Unidos, Canadá, que usam como laje um sistema misto de CLT
solidarizado com o concreto fundido no local - tenha de fato um desempenho satisfatório, torna-se
fundamental a projetação de elementos de ligação, ou seja, conectores que possam aliar uma
tecnologia já sedimentada no país com outra em desenvolvimento.
Pesquisas já foram realizadas sobre ligações de MLC utilizando-se elementos de ligação como
parafusos auto-atarraxantes, cantoneiras, conectores, etc. Os objetivos de tais estudos visam
abranger um universo de aplicações, tais como: ligações entre painéis CLT em variadas
configurações, entre painéis CLT e treliças metálicas, entre CLT e vigas metálicas de alma cheia,
fundações com painéis CLT, enfim, abordando uma grande parte dos sistemas construtivos pré-
fabricados existentes na construção civil. Nessas ligações, tanto de painéis CLT entre si como nas
ligações com estruturas metálicas, utilizam-se, na maioria das vezes, cantoneiras com parafusos
auto-atarraxantes (madeira), parafusos com porcas (estruturas metálicas) e também, em grande
parte, alumínio extrudado e conectores de chapa dobrada de formatos praticamente padronizados. O
material mais utilizado é o aço, em cantoneiras com ângulo de 90º com enrijecedor de estampa,
conforme mostrado nas figuras 1, 2, 3.
Figura 1. - Cantoneira para união de painéis Figura 2. - Tipos de cantoneiras Figura 3. - Conector para vigas

A desvantagem das ligações nas quais se utilizam essas cantoneiras, é que ficam expostas e
necessitam de uma altura de piso e de forro para escondê-las, como mostram as figuras 4 e 5 abaixo.

Figura 4. - Cantoneiras de teto Figura 5. - Cantoneira de piso Figura 6. - Conector oculto para viga

Fonte: Jular Madeiras (2012)

Existem conectores mais sofisticados, como o produzido pela Rotho Blaas, denominado Sistema de
Ligação X-Rad. Esse sistema exige a preparação do painel na fábrica para o implante dos
conectores. Sua instalação é relativamente simples com um bom resultado estético apesar de ser
externo e aparente, como mostram as 7 e 8.

Figura 7. - Sistema de Ligação X-Rad Figura 8. - Sistema de Ligação X-Rad

Fonte Rotho Blaas (2015)

Os conectores em cantoneira de chapa dobrada são muito eficientes nas ligações de madeira com
madeira. Porém, nas ligações com concreto armado, apresentam algumas limitações no que tange à
fixação com buchas e furação do concreto.
A confiabilidade do sistema de ligação depende das condições dos conectores, dos materiais
envolvidos, do deslizamento inicial e da rigidez à flexão eficaz do sistema. A rigidez de um sistema
de ligação é estimada utilizando o seu módulo de deslizamento, que quantifica a resistência
oferecida contra o deslocamento na superfície de contato entre o concreto e a madeira, quando uma
carga é aplicada à estrutura. Além da rigidez, a ductibilidade da ligação é também uma
característica de segurança importante de uma estrutura mista [8]. Em geral, deve-se afirmar que as
propriedades de resistência e rigidez das conexões mistas de madeira e concreto devem ser
avaliadas por ensaios. O EUROCODE 5, parte 2, contém poucas informações sobre o
comportamento e o projeto de conexões mistas de madeira e concreto. Sem o apoio de resultados
experimentais, o EC 5, sugere ter em conta um valor do módulo de deslizamento duplo do que o de
uma conexão semelhante de madeira com madeira. Isso não parece ser razoável. Os amplos
resultados experimentais [9,10,11,12] não concordam com a sugestão do EUROCODE 5. Também
é verdade que poucos autores propuseram equações simplificadas em conseqüência da dificuldades
de avaliar, através de ensaios, todos os parâmetros envolvidos.
Neste sentido, o objetivo deste trabalho é apresentar um sistema construtivo misto de concreto e
CLT, enfatizando a ligação entre os elementos e propondo um conector metálico solidarizado no
concreto e CLT por meio de adesivo, que deverá ser avaliado por ensaios num segundo momento.

2- SISTEMA CONSTRUTIVO MISTO DE CONCRETO E CLT


Os elementos constituintes do sistema construtivo são: os painéis CLT, lajes de concreto armado
pré-fabricadas e elementos de ligação. Os painéis CLT são os elementos principais de vedação do
sistema. São elaborados a partir de tábuas de pinho selecionadas e classificadas em função da sua
rigidez e fabricados com a mais avançada tecnologia. São montados com as aberturas de portas,
janelas, detalhes especiais de fixação (furos, tampões, etc), locais para passagem de instalações
elétricas e hidráulicas, tudo em consonância com os projetos de arquitetura, de instalações e
estrutural. Após fabricação são transportados da fábrica para o canteiro e montados a seguir. As
dimensões variam em função do fabricante.
As lajes de concreto serão fabricadas a partir das mais avançadas técnicas disponíveis no país e
com as seguintes dimensões: Largura 800 mm, comprimento 4000 mm e espessura 120 mm.
Poderão ser alveolares protendidas, alveolares armadas, ou maciças armadas. As lajes pré-
fabricadas, por extrusão, apresentam alta resistência e grande durabilidade devido ao moderno
processo produtivo gerar um alto grau de compactação do concreto. O sistema construtivo permitirá
agilidade na execução da estrutura e maior controle dimensional e estrutural.

2.1- Descrição do Sistema Construtivo

Conexão com as bases de concreto: A base de concreto da fundação, deverá ser preparada para
receber a bainha com rosca interna, na posição de ancoragem, antes da concretagem. Na ancoragem
dos painéis de CLT com as bases de concreto da edificação deverão ser utilizados conectores
ligados nas bainhas com rosca interna. Os painéis deverão ser perfurados para a colocação dos
conectores e para acesso a porca de fixação, ver Fig.9. O furo para passagem do conector no painel
superior deverá ser oblongo para permitir ajustes na montagem do painel. Após montagem, esse
furo deverá ser preenchido com resina epoxi.
Conexão dos painéis com lajes de concreto armado pré-fabricado: Essas ligações serão efetivadas
por meio de conectores com bainha sem rosca interna. Os painéis serão preparados para fixação na
fábrica e as bainhas posicionadas na laje de acordo com o projeto antes da concretagem, Fig.10.
Conexão de painéis CLT/CLT: Essas ligações serão efetivadas por meio de conectores sem a
utilização de bainhas. Os painéis deverão ser preparados para fixação na fábrica, devendo ser
perfurados para a colocação dos conectores e para instalação e giro da porca de fixação. O furo para
passagem do conector nos painéis deverá ser oblongo para permitir ajustes na montagem. Após
montagem, esse furo deverá ser preenchido com resina epóxi. As conexões entre painéis CLT/CLT
poderão ser de topo, Fig.11, conexão em T, Fig.12 e conexão de canto, Fig. 13.

1- Base de concreto, 2- Laje de concreto pré-fabricada, 3- Painéis CLT, 1- Laje de Concreto, 2- Conector de cisalhamento, 3- Painéis CLT,
4- Argamassa de baixa contração para nivelamento, 5- Isolamento contra 4- Argamassa de baixa contração para nivelamento, 5- Isolamento contra
umidade, 6- Conector de cisalhamento, 7- Tampão em madeira umidade, 6- Tampão em madeira

Fig.9- Conexão com as bases de concreto Fig.10- Conexão com lajes de concreto pré-fabricado

1- Laje de concreto, 2- Conector de cisalhamento, 3- Painéis CLT, 1- Laje de Concreto, 2- Conector de cisalhamento, 3- Painéis CLT,
4- Argamassa de baixa contração para nivelamento, 5- Isolamento contra 4- Argamassa de baixa contração para nivelamento, 5- Isolamento contra
umidade, 6- Tampão em madeira, 7- ponto de junção entre painéis umidade, 6- Tampão em madeira

Fig.11- Conexão de topo Fig.12- Conexão em T

As conexões com a laje de cobertura poderão ocorrer de duas formas, dependendo da solução do
projeto de arquitetura, com platibanda e sem platibanda. Com platibanda essas ligações serão da
mesma maneira que a ligação de painéis com as lajes de piso, serão efetivadas através de
conectores com bainha sem rosca interna, Fig. 14. Sem platibanda serão adotados os mesmos
procedimentos que os da conexão com as bases de concreto. Serão utilizados conectores com
bainha de rosca interna.

1- Laje de concreto, 2- Conector de cisalhamento, 3- Painéis CLT, 1-Laje de concreto, 2- Conector de cisalhamento, 3- Painéis
4- Argamassa de baixa contração para nivelamento, 5- Isolamento contra CLT, 4- Argamassa de baixa contração para nivelamento, 5-
umidade, 6- Fechamento com tampão de madeira isolamento contra umidade, 6- Painéis CLT, 7- Tampão de
madeira, 8- Ripa de madeira, 9- Telha ondulada
Fig. 13- Conexão de canto
Fig. 14- Conexão com a laje de cobertura, com platibanda

3- ESTUDO DO CONECTOR CLT/CONCRETO


Nesse trabalho, buscou-se realizar estudos no sentido de se chegar a um conector de desenho
simples e adequado ao uso no sistema construtivo proposto. Alguns desses estudos são mostrados
nas figuras 15, 16, 17.

Figura 15 - Estudos para conector Figura 16 - Estudos para conector Figura 17 - Estudos para conector
Com base nesses estudos, a adequabilidade a múltiplas aplicações, a forma, a facilidade de fixação,
o material, dentre outros parâmetros considerados, optou-se primeiramente, por um modelo que
apresentasse uma das extremidades auto-atarraxante, para fixação no painel inferior, e a outra
extremidade roscada com o uso de arruela com seção cilíndrica e porca sextavada, para fixação no
painel superior, como mostra a figura 16. A fim de propiciar uma junção rígida dos painéis com a
laje de concreto, de forma a evitar as perdas da força de tração no momento da fixação, foram
projetadas e fabricadas buchas metálicas que serão fixadas na laje no momento da concretagem
como mostra a figura 17.
Foram projetados, também, pinos guia para fixação e manutenção da bucha na posição final durante
o processo de concretagem da laje, como será mostrado mais adiante.Todos os elementos de ligação
serão fabricados em aço SAE 1045, a partir de barras sextavadas de 1/2 polegada, com diâmetros de
rosca de 10mm, para ligação dos painéis com painéis e painéis com a laje de concreto. Os
conectores são elementos fundamentais nas ligações entre materiais. Sua concepção desempenha
um papel crucial na distribuição das tensões na estrutura.
O Sistema Construtivo prevê a fabricação de três tipos de conectores, e dois tipos de buchas para
fixação:
Conector 1 - Para utilização nas ligações do painel com as bases de
concreto (Bucha com rosca interna) e painéis com a laje de cobertura
Conector 2 - Para utilização nas ligações de painéis CLT com CLT
Conector 3 - Para utilização nas ligações dos painéis com a laje
do pavimento e esta com o painel superior.
Bucha 1 - Para fixação nas lajes dos pavimentos, sem rosca interna
Bucha 2 - Para fixação nas bases de concreto da fundação e laje de cobertura, com rosca
interna
São apresentados a seguir os projetos dos conectores 2 e 3:

Figura 18 - Projeto do conector 2 para ligação de painel com painel Figura 19 - Modelo tridimensional do conector 2
Fonte: do autor
Figura 20 - Projeto do conector 3 para ligação de laje com painel CLT Figura 21 - Modelo tridimensional do conector 3,
Fonte: do autor

Para verificação do modelo, foram fabricados a bucha 1 com seu pino guia, figura 22, e os
conectores 2 e 3, conforme mostram as figuras de 18,19,20,21. Para distribuição das tensões de
torque na ligação do conector com a madeira, foi projetado e fabricado, também, um anel metálico
conforme podemos verificar na figura 23.

Figura 22 - Bucha 1 e pino guia Figura 23 - Conector 3 com anel de aço Figura 24 - Conector 3 painel com laje

Após análise dos protótipos do conector proposto, com rosca auto-atarraxante em uma extremidade
e rosca com arruela e porca na outra, verificou-se que, nesse projeto, a seção do conector variava
entre o 1º painel e o 2º painel. Essa variação de diâmetro iria conduzir a resultados diferentes com
relação à resistência aos esforços de cisalhamento e na determinação do módulo de deslizamento,
fato este indesejável.
Optou-se, então, por modificar o projeto original e adotar o mesmo sistema de fixação de um lado e
do outro da ligação, ou seja, rosca com porca e arruela e anel de aço nas duas extremidades do
conector. Pode-se verificar na figura 25.
Figura 25 - Segundo estudo para os conectores - Fonte: do autor

São apresentados, nas figuras 26 a 31 os novos projetos propostos para os conectores 1, 2 e 3.

Figura 26 - Segundo projeto para o conector 1 - Fonte: do autor Figura 27 - Modelo tridimensional do segundo projeto para o conector 1

Figura 28 - Segundo projeto para o conector 2 - Fonte: do autor Figura 29 - Modelo tridimensional do segundo projeto para o conector 2
Figura 30 - Segundo projeto para o conector 3 - Fonte: do autor Figura 31 - Modelo tridimensional do segundo projeto para o conector 3

Como percebe-se nos projetos apresentados, as diferenças básicas entre os conectores são as
dimensões e comprimento de rosca. Será realizado, num segundo momento, um estudo teórico-
experimental para avaliar o comportamento da ligação entre os painéis CLT e a laje de concreto por
meio do conector de cisalhamento ora desenvolvido.

4. CONCLUSÃO
O projeto do conector e a fabricação de protótipos em escala real sinalizou para um resultado
bastante viável do ponto de vista de custo e espera-se, num segundo momento, comprovar a
eficiência dos conectores em ensaios laboratoriais. A montagem do sistema, ou seja, dos painéis
CLT com lajes de concreto armado e painéis CLT com CLT se apresenta simples e de fácil
execução.
Embora, como já foi dito anteriormente, o CLT possui inúmeras vantagens como sistema
construtivo para edificações, inclusive de andares múltiplos, lastreado no seu elevado desempenho
estrutural e ambiental e principalmente, com relação a baixa energia incorporada comparada com
os edifícios de concreto e, mais ainda, desempenho superior em comparação com os de concreto e
de aço no que tange à destruição da camada de ozônio, potencial de aquecimento global, dentre
outros aspectos. No Brasil, embora não exista ainda uma base científica que possa balizar com
realidade o nível de conhecimento dos profissionais que trabalham na área da engenharia e
construção civil sobre o sistema CLT, pode-se deduzir que o nível de conhecimento sobre essa
tecnologia é muito baixo. O número reduzido de pesquisas realizadas no país reflete o grau de
desconhecimento da comunidade acadêmica e, sobretudo, dos profissionais envolvidos no setor da
construção civil. O público em geral praticamente desconhece o sistema. Apesar de ser um dos
mais antigos produtos resultantes da colagem de lâminas, a MLC, assim como a CLT, ainda não
são materiais plenamente disponíveis para o emprego nas construções brasileiras, resultado da
pequena tradição no seu uso, elevado custo de adesivos e reduzido número de empresas envolvidas
em sua fabricação, que provocam um reflexo negativo no preço final do produto e, principalmente,
falta de tecnologia avançada para sua fabricação. Espera-se que essa realidade seja modificada com
a entrada de empresas no mercado e com a absorção de novas tecnologias de fabricação.

REFERÊNCIAS
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Composite Beams. Joints in Timber Structures. In: International RILEM symposium, Aicher S.,
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ACIDENTES COM ESTRUTURAS DEVIDO A FALHAS NA RESISTÊNCIA
À PUNÇÃO

Structural accidents due to puncture resistance failures


Robson Luiz Gaiofatto*1, Luiz Araújo de Souza2, Beatriz Medina2, Victor Reis2

* Robson Luiz Gaiofatto: robson.gaiofatto@ucp.br


1
Universidade Católica de Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil
2
Encopetro Engenharia Estrutural Ltda, Rio de Janeiro, Brasil

Resumo: Nos últimos anos, a solução estrutural desenvolvida com lajes lisas tem crescido muito no
Brasil, de forma especial pelo uso das lajes lisas protendidas. Este tipo de solução resulta na
ocorrência da punção devido ao apoio direto das lajes sobre os pilares, sem vigas e geralmente sem
o uso dos capitéis. Embora bastante conhecida a forma de dimensionamento, de maneira especial
bastante clara nas recomendações da NBR 6118, muitos projetistas não utilizam estas verificações,
buscando economias adicionais, facilidade executiva e outros fatores que acabam resultando na
ocorrência de acidentes de considerável gravidade. Por outro lado, a crescente displicência na
execução, facilmente constatada em visitas à maioria das obras executadas nos últimos anos no
Brasil, ocasionam problemas no comportamento das estruturas à punção devido ao mal
posicionamento das armaduras nestas regiões, ou mesmo, à sua não colocação. Um terceiro fator
fundamental é a manutenção das estruturas, geralmente deixada em segundo plano, ou com
importância relativizada pela falta de profissionais adequadamente capacitados para sua detecção e
análise. Como resultado destas questões fundamentais na construção civil, projeto, execução e
manutenção (ou falta de), temos tido um número considerável de acidentes, cuja causa direta é
insuficiência das estruturas às tensões causadas pelo fenômeno da punção, quando na realidade a
causa efetiva é o dimensionamento inadequado, as falhas de execução ou a falta de manutenção. O
presente trabalho tem por objetivo discutir o problema à base da análise de problemas reais,
associado a avaliação da metodologia preconizada pela NBR 6118 e a outras normas internacionais
equivalentes, quanto a projeto e pela NBR 14931 devido à execução, de forma a permitir que os
usuários destas estruturas tenham a adequada confiança em sua utilização e que os engenheiros,
estejam adequadamente alertados para a importância de um problema real, porém de fácil solução.

Palavras-chave: Projetos estruturais, Punção, Lajes lisas.

Abstract: In the last years, the structural solution developed with flat slabs has grown a lot in
Brazil, especially by the use of the prestressed flat slabs. This type of solution results in the
occurrence of puncture due to the direct support of the slabs on the pillars, without beams and
generally without the use of capitals. Although well-known in the form of dimensioning, especially
quite clearly in the recommendations of the NBR 6118, many structural designers do not use these
verifications, aiming additional savings, ease of execution and other factors that end up in the
occurrence of accidents of considerable gravity. However, the increasing lack of diligence in the
execution, which is easily observed in visits to most of the buildings executed in the last years in
Brazil, causes problems in the behavior of the structures due to the misplaced positioning of the
reinforcement in these regions, or even their non-placement. A third fundamental factor is the
maintenance of the structures, usually left in the background, or with relative importance due to the
lack of adequately trained professionals for its detection and analysis. As a result of these
fundamental issues in construction, design, execution and maintenance (or lack of), we have had a
considerable number of accidents, whose direct cause is structures inadequacy to the tensions
caused by the puncture phenomenon, when in fact the actual cause is inadequate dimensioning,
execution failures or lack of maintenance. The objective of this paper is to discuss the problem
based on the analysis of real problems, associated with the evaluation of the methodology
recommended by NBR 6118 and other equivalent international standards, regarding the project and
NBR 14931 due to the execution, in order to allow the users of these structures have the appropriate
confidence in their use and that the engineers are adequately alerted to the importance of a real but
easily solved problem.

Keywords: structural projects, puncture, flat slabs.

1. INTRODUÇÃO
A recente e contínua evolução na modelagem computacional das estruturas em concreto armado
tem permitido a elaboração de estruturas mais esbeltas e consequentemente mais econômicas. Este
fato é associado ao desenvolvimento da tecnologia do concreto que permite a obtenção de concretos
de resistência à compressão e demais características cada vez mais elevada, chamando atenção o
fato da liberação da NBR 6118 (ABNT, 2014) a partir de 2014 para concretos de até 90 MPa. Ainda
no caminho do desenvolvimento tecnológico, a facilidade de implantação da protensão nas
estruturas de concreto pelas técnicas das cordoalhas engraxadas, disponibilizada no Brasil a partir
do final dos anos 90 do século passado e popularizada a cerca de 10 anos atrás, complementa um
conjunto de procedimentos que se tornou muito comum nos dias atuais.
Este conjunto de evoluções, disponível a qualquer engenheiro, independentemente de seu
conhecimento e/ou experiência, pelo uso dos programas computacionais direcionados ao
dimensionamento e detalhamento de estruturas de concreto armado/protendido, tem ocasionado o
surgimento de estruturas vantajosas economicamente, mas de comportamento muitas vezes
indesejável e inadequado às verificações dos estados limites de serviço.
Tendo em vista que a constatação das inadequações ao estado limite de serviço na maioria das vezes
só aparece quando a estrutura entra em fase de “serviço”, a maioria das construtoras atribui os
problemas ao mau uso e a maioria dos usuários aceita esta situação e acaba arcando com custos
elevados de reforço estrutural, ou convive com um risco a cada dia mais elevado.
Dentro desta evolução, tornou-se muito comum e popular as estruturas em lajes lisas, protendidas
ou não, pela facilidade executiva, resultante da ausência das vigas, que permite em muitos casos
concretagens de mais de uma laje por semana, resultando em uma redução de custo nunca possível
na execução das estruturas constituintes da construção civil.
Estas estruturas, por sua vez, concentram tensões cisalhantes nas regiões em torno dos pilares,
exigindo verificações cuidadosas e armações detalhadas de forma elaborada, que resultam em
trabalho de execução acentuado. Muitos projetistas, entendendo tratar-se as exigências de normas
como excessivas, retiram estas armaduras indicadas pelos programas, ou reduzem as cargas a serem
efetivadas, sob a alegação de serem excessivas, de forma que os programas dimensionam sem a
necessidade destas armaduras (GAIOFATTO, 2017).
Naturalmente este fato é muito apreciado pelos construtores, que conseguem alcançar custos finais
extremamente baixos, deixando aos usuários as consequências da falta de responsabilidade de
inúmeros projetistas que visam apenas obter mais serviços por produzirem projetos de execução
mais econômica, sem lembrar, no entanto, que erros de projeto devem ser encontrados nas
verificações exigidas no capítulo 5 da NBR 6118 (ABNT, 2014) ou ainda, na responsabilidade dos
engenheiros ou arquitetos que assinam as ART ou RRT sem observar as falhas graves e/ou
aceitando a execução sem a devida revisão, deixando de observar as recomendações básicas da
NBR 14931 (ABNT, 2004).

2. OBJETIVO E METODOLOGIA
O objetivo principal deste trabalho é alertar os engenheiros projetistas da importância no
atendimento às normas técnicas, de forma especial no caso da punção, bem como, lembrar àqueles
responsáveis pela execução que além da verificação do projeto, devem ser cuidadosos na função de
garantir o adequado posicionamento das armaduras e uma adequada concretagem , além de, garantir
a construção e fornecimentos aos usuários de manuais técnicos completos e adequados à garantia de
regular e correta manutenção dos elementos estruturais e não estruturais cujos danos possam afetar
aos primeiros.
A metodologia do presente trabalho consiste no acompanhamento de acidente de grandes
proporções ocasionado pelo somatório dos erros aqui discutidos, demonstrando a importância do
atendimento às exigências prescritas pelas diversas normas técnicas que direcionam as atividades da
engenharia civil. Ainda o presente trabalho pretende mostrar os procedimentos adequados a serem
seguidos pelos profissionais que atuam na área de projetos, de execução e mesmo de
gerenciamento, de forma especial àqueles menos experientes, que necessitam passar pelas etapas de
aprendizado, minimizando ao máximo o risco de cometer erros que venham a ter consequências
graves.

3. MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO À PUNÇÃO


O dimensionamento à punção é diretamente demonstrado no texto da NBR 6118 (ABNT, 2014) em
seu capítulo 19, estando repetido em diversas literaturas disponíveis, ou ainda como recomendado
nas normas europeias, conforme citado por Appleton, 2013, ou no próprio Euro Code 2, 2010. No
caso específico do Brasil, a partir de esforços solicitantes definidos pela NBR 6120 (ABNT, 1980) e
outros como ventos e cargas adicionais, devidamente combinados, conforme especificado no
capítulo 11 da NBR 6118 (ABNT, 2014), as normas definem a forma de cálculo dos esforços
solicitantes de projeto, que devem ser superiores aos esforços resistentes de projeto, ou seja, Sd > =
Rd, garantindo assim a segurança à ruptura, conforme preconizado na NBR 8681 (ABNT, 2003) e
demais literaturas mencionadas. Em outros países, normatizações semelhantes são indicadas pelas
normas do Eurocódigo (parte 2 – Euro Code, 2010) ou do ACI 318 (ACI, 2014).
Nos procedimentos em geral, as tensões cisalhantes que ocorrem de forma concentrada em torno
dos pilares que apoiam as lajes sem vigas, necessitam ser equilibradas por bielas diagonais junto ao
perímetro do pilar e pela resistência à tração do concreto em perímetros distantes aproximadamente
de 2 d (d = altura útil da laje). Quando estas verificações, realizadas em conformidade com os
regulamentos, utilizando coeficientes de segurança compatíveis com as verificações no estado
limite de ruptura, apresentam adequada compatibilidade, a laje fica dispensada de receber
armaduras específicas ao combate a estas tensões cisalhantes. Nestas verificações, além dos
esforços solicitantes, são levados em consideração a espessura da laje, o perímetro do pilar, a
resistência do concreto à compressão e à tração, além da concentração de armaduras de combate à
flexão que atravessam a região de atuação da punção.
Quando estas verificações não apresentam compatibilidade, inicialmente deve ser garantida a
capacidade de suporte da biela comprimida, quer pelo aumento do perímetro do pilar ou da
espessura da laje, ou do aumento das armaduras de combate à flexão, ou ainda da resistência do
concreto. A partir daí, devem ser projetadas armaduras específicas para combate à punção, que
devem ser posicionadas adequadamente e em conformidade com diversas especificações, quanto a
forma e posição, conforme será indicado na figura abaixo:

Figura 1 – Demonstração do posicionamento das armaduras de punção segundo NBR 6118 (Fonte: ABNT, 2014).

O posicionamento das armaduras de punção resulta em trabalho de razoável complexidade, por


tratar-se de armadura na vertical dentro do pano de laje, o que exige metodologia de fixação para
garantia de posicionamento durante a concretagem, uma vez que, caso esta armadura se movimente
lateralmente, a sua eficiência fica completamente comprometida.
Tendo em vista que em alguns casos esta armadura é dispensada, por desconhecimento os
engenheiros executores tendem a considerar excesso de zelo de alguns projetistas a sua utilização e
acabam por não a colocar, o que compromete de forma significativa a segurança da estrutura.
Considerando que os dimensionamento ocorrem no estado limite, ou seja, cercados por coeficientes
de segurança, em muitos casos a ausência da armadura (em casos onde é necessária) ainda pode não
levar a acidentes, “comprovando” a teoria de alguns construtores, entretanto, quando ocorre um
carregamento mais elevado acidentalmente, ou mesmo, quando as cargas previstas são mais
elevadas e vencem os coeficientes de segurança, a consequência é a ruína integral da estrutura,
como pode ser observado na Figura 2 apresentada a seguir:

Figura 2 - Acidente com lajes por ruptura à punção das lajes junto aos pilares (Fonte: Autores).

Deve ser considerado, que as normas brasileiras, de forma especial a NBR 6118 (ABNT, 2014) é
hoje reconhecida como possuindo padrão internacional, de forma que os cuidados tomados por esta
norma estão no mesmo patamar das normas americanas e europeias. Estudos comprovam, conforme
citado por Rabello, 2010, que os resultados obtidos no dimensionamento com o uso da norma
brasileira mencionada, segue parâmetros bastante semelhantes e equivalentes àqueles indicados
pelo ACI, pelo Euro Code 2 e pela British Standard, de forma, que nada justifica o não atendimento
às normas técnicas brasileiras.

4. PROBLEMAS EXECUTIVOS
Outro problema de elevada gravidade ocorre quando durante a concretagem, a armação de combate
à flexão, armadura negativa na zona sobre o pilar, afunda, ficando posicionada abaixo de sua
posição e, portanto, comprometendo a resistência da laje, que normalmente sobre uma fissura na
face superior, perdendo integridade consequentemente rigidez, comprometendo desta forma as
dimensões da biela comprimida e naturalmente eliminando a resistência à punção. Este erro, que
afeta o atendimento à NBR 14931 (ABNT, 2004) quanto à admissibilidade dos erros executivos, é
mais comum do que pode parecer, ocorrendo hoje na maioria das obras em execução.
Na maioria dos casos, este erro é resultante da ausência do engenheiro no local e durante a
concretagem. Sob o argumento de que o mestre tem muita experiência e que o engenheiro tem
muito trabalho burocrático a desempenhar, a obra corre à revelia e os erros se acumulam até à
ocorrência de acidentes. A foto abaixo mostra um caso de acidente onde as armaduras estavam
completamente fora de posição:

Figura 3 - Posicionamento da armadura negativa na face seccionada da laje junto ao pilar (Fonte: Autores).

Outro fator fundamental, para o caso da punção, é o inadequado adensamento do concreto lançado
na região sobre o pilar. Na maioria dos casos, o concreto é comprado e entregue em adequadas
condições, mas a falta de adensamento ou a má qualidade do adensamento pela falta de uso dos
vibradores ou por seu uso equivocado, não atendendo às especificações das normas NBR 14931
(ABNT, 2004) e NBR 12655 (ABNT, 2015) resultam em concreto muito poroso e mesmo com
resistência comprometida pela quantidade de vazios ocasionado pelo ar aprisionado não retirado de
forma devida. A redução da resistência à compressão e mesmo à tração do concreto na região sobre
os pilares, comprometem de forma importante a capacidade resistente da laje à punção, ou seja, à
perfuração da laje pelo pilar, comprometendo a segurança da estrutura.

5. QUESTÕES DE MANUTENÇÃO
A manutenção, ou a falta da mesma, é outro fator fundamental no comportamento das estruturas
sujeitas ao fenômeno da punção. Normalmente, a insuficiência da laje de concreto armado ou
protendido apresenta fissuras na parte superior da laje, de forma geral antes da ruptura, embora não
necessariamente com uma antecedência que permita solução do problema. Entretanto, fissuras por
mal posicionamento de armaduras à flexão também ocasionam fissuras na face superior das lajes,
que quando observadas permitem soluções prévias, com elevado potencial de solucionar problemas
ainda iniciais.
Desta forma, é fundamental que as estruturas sejam projetadas de forma a permitir inspeções,
conforme preconizado pela NBR 6118 (ABNT, 2014) em seu capítulo 5, bem como, que o
responsável pela execução da obra emita manual técnico, também em atendimento à mesma norma,
definindo intervalos de vistorias, onde estes pontos possam ser observados por profissional
adequadamente qualificado, de forma a evitar que pequenas fissuras, que funcionam como ponto de
acesso a agentes agressivos ao concreto e ao aço, permitam a propagação de patologias que venham
a comprometer a integridade da estrutura inicialmente e sua segurança a médio e longo prazo. A
norma europeia EN-1504 (NP, EN-1504, 2006) recomenda que a superfície dos elementos de
concreto armado que tenham dificuldade de ser inspecionada, seja protegida com material de
elevada resistência, evitando que o dano previsto se concretize.
Em muitos casos, deve-se tomar atenção especial com as impermeabilizações compostas por
materiais elásticos, como mantas asfálticas, por exemplo, que não permitem uma adequada
inspeção, escondendo sinais que podem evitar a ocorrência de tragédias, como constatado em
alguns casos práticos.

6. CONCLUSÕES
Conforme apresentado no presente trabalho, o problema ocasionado pela ocorrência da punção,
caracterizada pelas lajes planas em geral e pelas lisas (planas de espessura constante) em particular,
embora esteja perfeitamente definido quanto à metodologia projetual nas principais normas técnicas
do mundo, ainda é um problema fonte de muitos e graves acidentes da engenharia estrutural, devido
ao desconhecimento e/ou à teimosia de muitos engenheiros quanto à resistência da utilização das
armaduras de punção, de mais complexa execução, bem como, pela quantidade de falhas
executivas, ocasionadas pelo descaso quanto ao correto posicionamento das armaduras ou do
adensamento do concreto na região sobre o pilar.
A punção é um problema que quando não projetado ou executado adequadamente, apresenta
consequências geralmente muito graves, na maioria dos casos ocasionando rupturas bruscas, pela
falta de armação quando necessária, ou rupturas com avisos prévios quando armaduras são
insuficientes. Em ambos os casos, a tendência é a ocorrência da ruína estrutural com forte tendência
de ocorrência do denominado colapso progressivo, uma vez que quando um ponto de apoio rompe
por punção, as deformações do panos contíguos tendem a romper os apoios do perímetro, levando
toda a estrutura a desabar sobre a estrutura inferior, que também, na maioria das vezes não suporta o
impacto e tende a romper, provocando acidente de elevadas proporções.
Desta forma, fica bastante claro, que o simples atendimento às exigências definidas pelas normas
técnicas, seja aquela de projeto quanto aquela de execução, são medidas suficientes para a garantia
de adequada segurança e durabilidade das estruturas, definindo que as lajes lisas não se constituem
na causa do problema, mas sim a má conduta dos profissionais envolvidos, tanto com os projetos e
execução, quanto com a manutenção, neste último caso, muitas vezes admitindo situações de
impossível inspeção como sendo uma situação aceitável por falta de alternativa. Este fato não deve
ser aceito, exigindo-se a possibilidade de inspeção das áreas consideradas críticas para cada tipo de
fenômeno analisado na engenharia estrutural.
AGRADECIMENTOS
Agradecimento à equipe de trabalho da ENCOPETRO Engenharia Estrutural que nos ajuda a
encontrar as soluções dos problemas e a escrever estes artigos. Agradecimento aos colegas que
organizaram este evento, nos proporcionando a oportunidade de apresentação destas reflexões com
a finalidade de divulgação do conhecimento adquirido.

REFERÊNCIAS
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[12] Euro Code 2 – EN 1992 Parte 1-1– “Projeto de Estruturas de Betão Armado – Regras gerais e regras para
edifícios” – LNEC – Lisboa – 2010
[13] Rabello, FT, “Análise Comparativa de Normas para Punção em Lajes de Concreto Armado” – Dissertação de
Mestrado – Universidade Federal de Santa Catarina, 2010.
REFORÇO DE BLOCOS DE FUNDAÇÃO - ANÁLISE POR MODELO DE
BIELAS E TIRANTES

Foundation blocks reinforcement - strut-and-tie model analysis


Robson Luiz Gaiofatto*1, Luiz Araújo de Souza2, Beatriz Medina2, Victor Reis2

* Robson Luiz Gaiofatto: robson.gaiofatto@ucp.br


1
Universidade Católica de Petrópolis, Rio de Janeiro, Brasil
2
Encopetro Engenharia Estrutural Ltda, Rio de Janeiro, Brasil

Resumo: Em muitas estruturas torna-se necessária a introdução de reforços estruturais. Em muitas


destas estruturas, os reforços das fundações são indispensáveis, resultando na necessidade de
acréscimo em número de estacas. Os motivos para estes casos são muito variados, mas ocorrem
com crescente intensidade, em especial porque a cada dia mais, torna-se mais vantajoso o reforço e
readequação de determinadas estruturas do que a sua demolição e reconstrução, como era habitual
até o século passado quando a vida útil de uma estrutura se esgotava. De forma adicional, os erros
de projeto e execução, em números crescentes, geram a necessidade destes reforços. Quando ocorre
um aumento no número de estacas de um determinado ponto de fundação, os blocos existentes
necessitam ser encamisados para que as novas estacas, geralmente cravadas na periferia das
existentes, passem a dividir a responsabilidade dos novos carregamentos resultantes do novo uso ou
mesmo das cargas usuais de determinada estrutura. Este encamisamento tem uma função
fundamental, como já mencionado, que é garantir a transferência dos esforços de forma adequada
entre as estacas pré-existentes, muitas vezes suportando cargas (ainda que parciais) e as novas, sem
qualquer carga atuante. Ou seja, o encamisamento precisa garantir que o novo bloco ao receber as
cargas totais, terá capacidade suficiente para distribuir de forma adequada estas cargas pelo novo
conjunto de estacas, não permitindo que as estacas antigas sejam sobrecarregadas, o que poderia
causar a sua ruína e a consequente ruína do novo conjunto. Este trabalho tem por objetivo discutir
as formas de ligação que garantam a efetiva ocorrência das tensões previstas nos modelos de
cálculo, como é o caso do modelo biela-tirantes.

Palavras-chave: projetos estruturais, reforço estrutural, blocos de fundações.

Abstract: Introducing structural reinforcements became necessary in many structures. In many


cases foundations reinforcements are indispensable and result in the need to increase the number of
foundation piles. The reasons are many and varied and they occur with increasing intensity,
especially since day after day the reinforcement and re-adaptation of certain structures becomes
more advantageous than its demolition and reconstruction, as was customary until the last century
when the useful life of a structure was depleted. In addition, design and execution errors in
increasing numbers generate the need for these reinforcements. When there is an increase in the
number of piles at a given point of foundation, existing blocks need to be jacketed so that the new
piles, usually embedded in the periphery of existing ones, begin to divide the responsibility of the
new loads resulting from the new use or even the loads structure. This jacketing has a fundamental
function as already mentioned, which is to guarantee the transfer of the efforts in an appropriate
way between the pre-existing piles, often supporting loads (although partial) and the new, without
any active load. In other words, the jacketing needs to ensure that the new block when receiving the
total charges will have sufficient capacity to distribute these loads through the new set of piles in an
appropriate manner, not allowing the old piles to be overloaded, which could lead to their ruin and
the consequent ruin of the new set. The objective of this paper is to discuss the forms of bonding
that guarantee the effective occurrence of the stress predicted in the calculation models, as the case
of the strut-and-tie model.

Keywords: structural projects, structural reinforcement, foundation blocks.

1. INTRODUÇÃO
O reforço dos elementos de fundação, sejam eles sapatas ou blocos de coroamento de estacas,
individuais ou em conjunto, apresentam várias dificuldades inerente ao problema, entre elas, uma
das principais é a ligação entre o elemento original e novo volume, que normalmente o envolve, em
função da capacidade de transferir os esforços, originais e novos, que constituem o objetivo da
interferência no elemento estrutural.
Quando ocorre a necessidade de reforço destes elementos estruturais, o motivo geralmente é o
acréscimo da capacidade de carga do elemento de fundação ou a correção de uma incapacidade de
suporte original da estrutura, que pode ter causado danos ou não. Naturalmente, os reforços dos
elementos de fundação, seja composto por um aumento da área de transferência de cargas para o
solo, como é o caso das sapatas – fundação direta – ou do aumento do número de estacas,
envolvendo o acréscimo volumétrico do bloco de coroamento – fundações profundas, requer que o
elemento resultante apresente um comportamento homogêneo que permita um fluxo de tensões
regular e adequado à distribuições dos esforços conforme o conceito definido para o reforço.
Em muitos casos, as estacas originais, apresentam capacidade de carga inferior às novas estacas que
constituirão o elemento estrutural reforçado, resultando na necessidade fundamental da integridade
do bloco para a uniforme distribuição das cargas pelas inúmeras estacas, em função das capacidades
individuais das mesmas.
Aparentemente um problema simples de ser resolvido pelo encamisamento dos blocos de
coroamento, esta situação exige cuidados, muitas vezes relegados a segundo plano pelos projetistas
e engenheiros de execução, em especial aqueles menos experientes, que compromete a eficiência
dos resultados e mesmo a segurança da estrutura dependente deste aumento de capacidade de
suporte.
Este problema, apresentado e discutido em algumas poucas publicações, merece destaque no código
modelo publicado pela FIB em 2010, onde em seu capítulo 7 o problema é discutido (FIB-2010), de
forma especial quanto à determinação das tensões que ocorrem na superfície entre o concreto do
bloco original e aquela constituinte da nova região.
Desta forma, com base neste conjunto de recomendações, o presente trabalho apresenta o
desenvolvimento de uma solução apresentada em caso real, demonstrando a importância
indispensável das adequadas ligações, apesar de modelos numéricos demonstrarem por vezes a não
existência desta necessidade. No estudo que será apresentado, com base em um modelo elaborado à
base do modelo de bielas e tirantes, podem ser obtidas conclusões não apropriadas ao problema
efetivo, induzindo projetistas a conclusões errôneas, que podem levar a grandes acidentes.
2. OBJETIVO
Dentre os objetivos deste trabalho, o principal deles refere-se à demonstração da importância de
adequadas ligações entre elementos submetidos a processos de reforço estrutural denominados de
encamisamento, ou seja, quando elementos de concreto armado recebem novas camadas,
aumentando as dimensões geométricas do elementos estrutural, de forma que estas dimensões
permitem absorver e equilibrar as tensões ocasionadas pelos novos esforços de utilização a que a
estrutura será submetida em seu novo uso.
A pesquisa, referência do presente artigo, realizou análise de um reforço estrutural de um bloco de
coroamento de estacas, projetado com base em modelo tridimensional de bielas e tirantes,
inadequadamente aplicado ou interpretado, demonstrando que a partir de análises simplificadas,
realizadas com base nas recomendações do código modelo de 2010 (FIB-2010), reforçadas por
modelos em elementos finitos, fica demonstrado que o modelo original não apresentaria
comportamento adequado, colocando em elevado risco de ruína toda a estrutura do edifício a ser
reforçado.

3. MÉTODOS DE DIMENSIONAMENTO DE BLOCOS DE COROAMENTO DE


ESTACAS
Os blocos de coroamento de estacas no Brasil tratados na NBR 6118 (ABNT, 2014) devem ser
dimensionado com base em modelos tridimensionais lineares ou não ou em modelos de bielas e
tirantes tridimensionais, ou seja, a composição de elementos comprimidos (bielas) e tracionados
(tirantes), constituindo uma treliça espacial, uma vez que este elemento estrutural é considerado um
elemento sólido. Esta recomendação, existente no capítulo 22 da norma mencionada apresenta
especificações no mesmo capítulo quanto aos limites de dimensionamento a serem aplicados às
bielas e tirantes.
No caso dos reforços estruturais, as normas da ABNT não fazem qualquer indicação específica,
entendendo-se, portanto, que os procedimentos devem ser semelhantes àqueles indicados aos
elementos novos, além naturalmente, dos problemas específicos associados à técnica de reforço
adotada.
Diversas técnicas podem ser adotadas, como a técnica do encamisamento em concreto armado,
objeto do presente trabalho, como outras envolvendo reforços com concreto protendido, estruturas
metálicas e eventualmente com compósitos à base de fibras de carbono. Todas as opções são
possíveis, uma vez que as normas não indicam nenhuma restrição a quaisquer delas. Entretanto, as
normas técnicas em geral, deixam claro que é responsabilidade do projetista a consideração dos
esforços previstos nos textos normativos e mais quaisquer outros que venham a produzir esforços
significativos ao comportamento dos elementos estruturais.
No caso em estudo, pelo fato de tratar-se de um caso real, onde devido a falhas no projeto estrutural
as cargas de fundação utilizadas no projeto das mesmas ter sido subdimensionada, ao serem
constatadas as falhas, por sorte, antes da ocorrência de um acidente, o prédio foi esvaziado e novas
estacas foram cravadas para corrigir o erro original. Este fato resultou na necessidade de
encamisamento dos blocos originais para que com novas e maiores dimensões pudessem abrigar as
novas estacas e transferir de forma uniforme os esforços às mesmas.
No caso em análise, o bloco original continha 4 estacas, tendo recebido o acréscimo de 4 vezes 3
estacas, ou seja, três novas estacas em cada extremidade.

Figura 1 - Detalhe do bloco antigo e do novo bloco obtido por encamisamento do anterior (Fonte: ENCOPETRO
2018).

A demanda pelas 12 estacas, se dá em especial pela introdução de momentos nas fundações, uma
vez que o projeto original desprezou os efeitos das cargas horizontais de vento. O acréscimo de
carga vertical refere-se apenas ao encamisamento de pilares e outros elementos estruturais afetados
pela insuficiência do dimensionamento original.
Em função dos fatos expostos, as novas estacas equilibram binários resultantes dos esforços
horizontais aplicados em edifício de grande altura e por este motivo necessitam um maior braço de
alavanca que permita a formação de momentos resistentes mais elevados, ampliando as dimensões
dos blocos originais substancialmente.
O presente trabalho pretende discutir apenas o reforço do bloco, não considerando o mérito do
acréscimo de estacas e nem das dimensões necessárias aos novos blocos.
De forma geral, o novo bloco concebido deve distribuir de maneira uniforme as cargas às inúmeras
estacas, de forma que as mesmas sejam solicitadas de forma adequada, conforme sua capacidade de
suporte.
Tendo em vista que o reforço ocorre com a estrutura existente, apenas com redução das cargas
acidentais devido à ausência das pessoas ausente, uma vez que o edifício estava pronto, incluindo
revestimentos, acabamento e mobiliário, as cargas atuantes nas estacas originais já representam
cerca de 70% de sua carga característica, ou seja, um carregamento elevado.
Desta forma, o projeto da ampliação do bloco deve garantir que, após a sua implementação, as
novas estacas sejam colocadas em carga de forma solidária com as existentes e que, os novos
carregamentos sejam distribuídos de forma homogênea, evitando a sobrecarga de qualquer estaca,
em especial, as originais, já muito carregadas.
Caso a situação acima não ocorra e as novas cargas, associadas às cargas de pessoas que ocorrerão
no futuro, não sejam adequadamente distribuídas, poderá ocorrer a ruptura das estacas antigas,
resultando em excesso de deformação das mesmas e transferência de um nível de tensões não
esperado para o novo bloco, que facilmente poderá atingir a sua ruptura e comprometer a segurança
de toda a estrutura.
O projeto elaborado de reforço estrutural, previu um envolvimento do bloco existente pelas faces
laterais e superior, sem qualquer armadura de ligação entre o novo elemento e o elemento original,
funcionando como uma capa rígida a ser vestida no bloco antigo. Esta solução foi justificada em
memorial descritivo, como tendo sido concebida com base em modelo tridimensional de bielas e
tirantes, uma vez que entre as superfícies dos concretos velho e novo haveria apenas a passagem das
bielas, ou seja, haveria apenas compressão.

4. ANÁLISE DA SOLUÇÃO APRESENTADA E DISCUSSÃO DAS CONSEQUÊNCIAS.


Conforme apresentado, a solução proposta não envolvia qualquer ligação mecânica entre as faces,
exceto, pequenos recortes como serão apresentados nas figuras seguintes, sempre tomando como
justificativa a não existência de tração entre as faces de concreto executadas em diferentes idades.

Figura 2 - Detalhe do encamisamento projetado (Fonte: ENCOPETRO 2018).

Ao analisar o comportamento da estrutura original, apoiada em suas 4 estacas centrais, conforme


indicado na figura 1 e a nova estrutura apoiada nas novas estacas de periferia, conforme figura 2 e
no contato entre os concretos das duas diferentes fases. De fato, um modelo tridimensional de bielas
e tirantes conforme mostrado na figura 3 abaixo, denota que na ligação entre estes concretos de
duas idades temos apenas as bielas, ou seja, uma zona de compressão. Aparentemente esta região
poderia funcionar bem apenas pelo contato entre as mesmas, uma vez que, em zona comprimida
dois concretos de duas idades diferentes, provavelmente com resistências e propriedades diferentes,
poderiam funcionar bem, uma vez que apresentariam a resistência à compressão daquele concreto
de menor resistência.
Figura 3 - Esquema do modelo trimensional de bielas e tirantes (Fonte: ENCOPETRO 2018).

Entretanto, uma avaliação do comportamento do bloco de forma geral, permitem verificar que estas
conclusões anteriores são incorretas e inadequadas. Analisando a situação real do comportamento
de um bloco já carregado, onde as estacas de suporte já apresentam deformações elásticas e mesmo
de fluência devido às cargas e ao tempo de atuação das mesmas, seguido do fato da implantação da
nova concretagem sobre estacas absolutamente descarregadas, recém cravadas ou implementadas, é
fácil concluir que ao serem aplicados novos carregamentos, considerando a absoluta rigidez do
novo bloco, as estacas descarregadas absorverão um adicional de cargas, conforme referencias
elementares da resistência dos materiais. Esta absorção de cargas diferenciada ocasionará
deformações iniciais nas novas estacas em relação a uma menor ou inexistente deformação das
estacas velhas. Esta diferença de deformações resultará na ocorrência de tensões cisalhantes entre os
dois concretos, tensões estas que deverão ser absorvidas apenas pelos pequenos dentes projetados.
Na realidade, os dentes não podem ser considerados suficientes, uma vez que a existência do
mesmo eleva apenas o coeficiente de atrito entre as superfícies e não a resistência dos elementos,
uma vez que em função de suas pequenas dimensões, os dentes não podem ser armados, ou seja, as
trações deverão ser equilibradas apenas pelo concreto, que claramente não tem capacidade de
suportar estes esforços.
O código Modelo da FIB (FIB, 2010) em seu capítulo 7, define a resistência ao cisalhamento entre
superfícies de concreto de diferentes idades não ligadas por armações. No texto referido, através da
equação 7.3.50 reproduzida abaixo, figura 4, é permitido estimar a tensão cisalhante resistente como
sendo a soma de duas parcelas, uma primeira representada por uma parcela (entre 0,5 e 0,025) da
tensão resistente de tração (fctd) e uma segunda representada por uma parcela da tensão normal (de
compressão) entre as duas superfícies de concreto. Neste segundo caso, se houver tração ou
compressão muito pequena o valor da parcela é zero. Ou seja, caso não haja uma compressão de
valor expressivo, a tensão cisalhante resistente tende a valores desprezíveis.
Figura 4 - Equação e tabela para a determinação de tensões cisalhantes resistentes sem armação (Fonte: Model
Code FIB 2010).
Esta primeira avaliação já denota que a solução apresentada é inadequada ao sistema, uma vez que
não é possível quantificar com absoluta precisão a resistência dos dentes, além de outros fatores,
pelo fato que estes dependem das propriedades do concreto velho, do concreto novo e sobretudo,
das condições de efetiva execução dos dentes, que necessitam ser cortados no concreto velho e
especialmente devido às suas pequenas dimensões (cerca de 20 mm) dificultam uma execução
precisa – tendem a quebrar as bordas comprometendo a formação de superfícies ortogonais.
Depende ainda das características de retração do concreto novo, que depende, de forma especial, de
uma relação água cimento com tendências de ser elevada, pela necessidade de uso de um concreto
de alta plasticidade devido às características e dificuldade de concretagem.
Este fato por si, já seria suficiente para denotar tratar-se de um projeto inadequado, entretanto, outro
fator fundamental deve ser considerado, ou seja, a elevada probabilidade de que ao se deformar, as
estacas novas o façam fora do prumo, ou seja, dependendo da rigidez da verticalidade da cravação
ou da maior deformabilidade do solo em um dos lados, caso as estacas se deformem na direção
horizontal em sentido oposto ao bloco original, ocorrerá tração entre as superfícies. Ou parâmetro a
ser considerado é a própria tendência de flexão do bloco resultante, formando tensões trativas em
sua região inferior, como pode ser demonstrado pelo modelo em elementos finitos apresentado na
figura 5 a seguir:
Figura 5 - Modelo em elementos finitos gerado no SAP 2000, mostrando tração na área azul (Fonte:
ENCOPETRO, 2017)

O modelo apresentado acima, claramente de maior precisão que o modelo de bielas e tirantes para o
caso em análise, mostra claramente que, sendo os modelos, reproduções simplificadas de casos
reais, os mesmos necessitam ser escolhidos com adequado cuidado, bem como, seus resultados
devem ser avaliados com entendimento efetivo de seu significado. A análise de um modelo
matemático requer profundo conhecimento do comportamento dos materiais utilizados, das
condições executivas e do comportamento e fluxo de cargas e tensões que deverão ser equilibrados
pelo elemento modelado.
O modelo tridimensional de bielas e tirantes, de forma geral é um modelo bastante simples, que
define com suficiente clareza e segurança os esforços principais dos elementos analisados, devido a
este fato, é um modelo considerado em diversas normatizações em todo o mundo, inclusive no
Brasil, entretanto, as regiões secundárias, necessitam ser analisadas de forma cuidadosa,
normalmente envolvendo posicionamento de armaduras mínimas, como ser considerado o exemplo
das vigas parede biapoiadas, onde aparentemente (vide figuras da NBR 6118) (ABNT, 2104) só
ocorrem tensões de tração na região inferior, entretanto, a própria norma exige a distribuição de
armaduras na horizontal e na vertical em toda a sua extensão. Este fato se deve à ocorrência de
campos de tensão não representados pelo modelo, mas que, não podem ser desprezados sob pena de
comprometimento de integridade e mesmo da segurança do elemento estrutural.
No caso em análise, uma situação de reforço de um bloco de coroamento por encamisamento, o
modelo tridimensional de bielas e tirantes não é recomendado, pois não consegue representar um
grande número de situações que comprometem a segurança do elemento estrutural, sendo assim
inadequado o seu uso.
Naturalmente que após as conclusões acima, a solução de reforço estrutural do bloco não foi
implementada, sendo substituída por outra solução em que a costura entre as superfícies de concreto
das diferentes idades foi adotada, de forma a garantir a integridade e adequada segurança dos
elementos estruturais envolvidos.
5. CONCLUSÕES
As reflexões apresentadas no presente trabalho indicam a importância da avaliação cuidadosa das
soluções propostas em qualquer das áreas da engenharia estrutural. Os modelos matemáticos, a cada
dia mais utilizados pelos programas de computador, constituem o caminho mais fácil e rápido para
os erros de interpretação de resultados e consequentemente para os erros executivos, que a cada dia
mais contribuem com o insucesso de muitas estruturas, que podem ter a ruína como seu destino
final ou a demanda por implantação de obras de recuperação e/ou reforço estrutural de elevados
custos como é o caso analisado.
A solução proposta no caso analisado, mostrou-se inadequada, deixando a estrutura em situação de
insuficiência estrutural, com elevado risco de ruína, o que não pode ser admitido na engenharia
estrutural. A interferência que resultou na implementação de armaduras de ligação foi fundamental
para o adequado comportamento da estrutura reforçada, submetida aos carregamentos previstos,
evitando a necessidade de reforço de uma estrutura reforçada.
A adequada análise do comportamento estrutural, mesmo em frente a resultados de modelos
matemáticos nos permite garantir a segurança e o adequado comportamento das estruturas
elaboradas em concreto armado, material ainda em fase de aprendizado, com elevado grau de
complexidade e de comportamento muitas vezes inesperado nos casos reais.

AGRADECIMENTOS
Agradecimento à equipe de trabalho da ENCOPETRO Engenharia Estrutural que nos ajuda a
encontrar as soluções dos problemas e a escrever estes artigos. Agradecimento aos colegas que
organizaram este evento, nos proporcionando a oportunidade de apresentação destas reflexões com
a finalidade de divulgação do conhecimento adquirido.

REFERÊNCIAS
[1] FIB – Federation International du Beton – Model Code – cap. 7 - 2010.
[2] NP-EN1504 – Produtos e Sistemas para Proteção e Reparação de Estruturas de Betão - Projeto de Estruturas
de Concreto – Caparica - 2006
[3] ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 6118/14 – Projeto de Estruturas de Concreto –
Procedimentos - Rio de Janeiro – 2014.
[4] ______ - NBR 6120/10 – Projeto e Execução de Fundações – Procedimentos - Rio de Janeiro – 2010.
[5] GAIOFATTO, RL. Emprego de software para dimensionamento estrutural I e II. In: Sohler, A. A. S.; Santos,
S. B. Projeto, Execução e Desempenho de Estruturas e Fundações. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna
Ltda., 2018. Cap. 6 e 7, p. 103-154.
[5] CAMPOS, J.C., Elementos de Fundações em Concreto – Oficina de Textos, São Paulo, 2015
[6] GAIOFATTO, RL. Os diversos tipos de Retração, 3º. Congresso de Engenharia - Juiz de Fora, 2008
ANÁLISE DAS DEFORMAÇÕES EM ESTRUTURAS DE PONTES
ATRAVÉS DO USO DE IMAGENS

Analysis of deformation in bridge structures through the verification of images


obtained by images

Robson Luiz Gaiofatto*1, Luiz Araújo de Souza 2, Leonardo Correa 2, Victor Reis 2

* Robson Luiz Gaiofatto: robson.gaiofatto@ucp.br


1
Universidade Católica de Petrópolis
2
Encopetro Engenharia Estrutural Ltda – Rio de Janeiro, Brasil

Resumo: As pontes são estruturas de alto custo que, portanto, exigem adequada manutenção de
forma a garantir uma compatível vida útil. Quando não há a programação de manutenções e
intervenções nas pontes para evitar o desenvolvimento de patologias, estas acabam por provocar
transtorno e um custo social incalculável, vez que proporcionam a redução da capacidade de suporte
das estruturas, aumentando, consequentemente, suas deformações e deslocamentos. A fim de
minimizar estes danos, avaliações quanto ao comportamento da estrutura devem ser realizados com
adequada realidade, de forma a detectar precocemente danos que estejam ocorrendo e afetando o
comportamento da estrutura antes que estes danos venham a inviabilizar seu uso, ou mesmo a
causar acidentes e interrupções de utilização da estrutura. Desta forma, o presente estudo tem como
objetivo demonstrar os procedimentos e resultados obtidos com as análises das estruturas de três
pontes, localizadas nos municípios de Aracruz, Ibiraçu e Serra, no estado do Espírito Santo, através
da obtenção de imagens por câmeras fotográficas, posicionadas em pontos fixos externos à
estrutura, denominados Benchmark, sem qualquer interferência de vibrações ou deslocamentos
causados por elementos externos. Para viabilizar as análises, primeiramente foi feito o levantamento
geométrico das estruturas que tornou possível a identificação dos danos, verificação de falhas na
concretagem, fissuras, além da execução de ensaio esclerométrico, conforme a ABNT NBR
7584/12, para determinação da dureza superficial do concreto e posterior estimativa da resistência
do concreto existente nas estruturas. Tais pontes com sistemas construtivos diferenciados entre elas
encontram-se em atual funcionamento, porém, com claros danos em seus elementos de sustentação,
devido à ausência de um programa de manutenção. Desta forma, os deslocamentos monitorados e
analisados nas imagens foram obtidos através da passagem de um caminhão, denominado Tri-trem,
com capacidade máxima de carga de 74 tf + 5%, conforme especificação descrita na Resolução
104/98 da Lei 7.408/85 (conhecida como Lei da Balança), para melhor aproximação dos resultados.
Foram do mesmo modo obtidos os valores das acelerações das estruturas (vibrações), para possível
determinação da frequência natural, através da utilização de sistema captação de sinais de
vibrações. Desta forma, com a informações obtidas em campo, foram elaborados modelos
computacionais para determinar e comparar as condições de segurança e posterior comparação dos
resultados coletados pelas imagens com a passagem do caminhão. A realização destes ensaios e
análises possibilitou a determinação dos deslocamentos reais perante a solicitação que foi gerada
sobre as estruturas, mostrando-se bastante plausível e coerente, com a demonstração de valores
próximos dos esperados, de acordo com os modelos computacionais elaborados.

Palavras-chave: pontes, monitoramento, deformações, fotogrametria.


Abstract: Bridges are high-cost structures that therefore require proper maintenance in order to
ensure a compatible service life. When there is no programming of maintenance and interventions
in the bridges to avoid the development of pathologies, they end up provoking an inconvenience
and an inestimable social cost, since they reduce the load-bearing capacity of the structures,
consequently increasing their deformations and displacements. In order to minimize these damages,
evaluations regarding the behavior of the structure must be carried out with adequate reality, in
order to detect early damages that are occurring and affecting the behavior of the structure before
making it impossible to use or even cause accidents and interruptions of use of the structure. Thus,
this paper aims to demonstrate the procedures and results obtained with the analysis of the
structures of one bridge, located in Aracruz city, in the Espírito Santo state, through the acquisition
of images by photographic cameras, positioned at fixed points external to the structure, called
Benchmark, without any interference from vibrations or displacements caused by external elements.
In order to make the analyzes viable, it was first carried out the geometric survey of the structures
that made it possible to identify the damages, verification of failure in the concreting, cracks,
besides the execution of a sclerometric test, according to ABNT NBR 7584/12, to determine the
surface hardness of the concrete and subsequent estimation of the concrete resistance in the
structures. Such bridges with different construction systems are in current operation, however, with
clear damage to their supporting elements due to the absence of a maintenance program. In this
way, the displacements monitored and analyzed in the images were obtained through the passage of
a truck called Tri-train, with a maximum load capacity of 74 tons + 5%, according to the
specification described in Resolution 104/98 of Law 7408/85 (known as the Law of the Scales), to
better approximate the results. The values of the accelerations of the structures (vibrations) were
likewise obtained, for possible determination of its natural frequency, through the use of a system
for collecting vibration signals. Thus, with the information obtained in the field, computational
models were elaborated to determine and compare the safety conditions and later comparison of the
results collected by the images with the passage of the truck. The realization of these tests and
analyzes made it possible to determine the actual displacements towards the request that was
generated on the structures, proving to be quite plausible and coherent, with the demonstration of
values close to those expected, according to the computational models elaborated.

Keywords: bridges, monitoring, deformations, photogrammetry.

1. INTRODUÇÃO

Tendo em vista as deteriorações que habitualmente afetam as estruturas expostas ao ambiente, em


muito casos de elevada agressividade, como é o caso das pontes, estas estruturas tendem a perder
capacidade portante através da introdução de inúmeras patologias nas estruturas de sustentação
compostas em concreto armado ou protendido, ou ainda, em aço. A ocorrência destas patologias, ao
reduzir a capacidade de suporte dos sistemas estruturais, ocasiona o surgimento de deformações
mais elevadas do que aquelas normalmente esperadas, ou aceitáveis, para as condições de projeto,
ou seja, para as condições originais da estrutura.

Outro fator complicador para o comportamento das estruturas de pontes, é a alta incidência de
veículos com carregamentos acima do especificado em projeto. Este fato ocorre com grande
regularidade, de forma especial em estradas não federais, devido ao menor, ou nenhum, controle ou
fiscalização das cargas passantes. Estas cargas excessivas, tendem a fissurar a estrutura, reduzindo
sua rigidez e como consequência imediata ocasionando uma maior deformabilidade. Também o
estado de fissuração funciona como porta de entrada para agentes agressivos, de forma especial em
ambientes de elevada agressividade, comprometendo a integridade estrutural, ocasionando
acréscimo ainda maior das deformações.

Dentro deste aspecto, as estruturas com integridade comprometida, perdem rigidez, afetando sua
frequência natural, o que normalmente resulta em uma maior amplitude quando a estrutura é
submetida às frequências de excitação habituais. Este aumento de amplitude das respostas da
estrutura, ocasiona um acréscimo no estado de fissuração, comprometendo de forma crescente a
perda de rigidez.

Como pode ser observado, este processo é autoalimentado, comprometendo de forma drástica a
vida útil das estruturas.

Desta forma este trabalho busca propor métodos de maior simplicidade que permitam medir o
comportamento das estruturas sob a ação de cargas, reduzindo custos, margem de erros e
viabilizando o controle deste tipo de estrutura em um número muito maior de casos. A superposição
de fotografias de elevada resolução, através do uso de programas de editoração gráfica, é uma
técnica relativamente recente que permite substituir os extensômetros elétricos de resistência –
tecnologia em uso há cerca de 50 anos –, apresentando várias vantagens.

A obtenção das imagens segue regras que serão discutidas ao longo do presente texto e a análise
depende do levantamento geométrico da estrutura, incluindo mapeamento de danos, determinação
das características dos materiais constituintes e passagens repetidas de veículos com geometria e
cargas conhecidas por medições de suficiente precisão.

2. OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo aplicar uma nova metodologia na avaliação de estruturas reais de
pontes localizadas nos municípios de Aracruz e Ibiraçu, no estado do Espírito Santo, para um
veículo tri-trem, verificando o comportamento das estruturas através de ensaios de caracterização
dos materiais, inspeção de danos estruturais e medições de deformações sob a ação de cargas
conhecidas, visando a determinação do grau de segurança das estruturas. A motivação dos ensaios
foi relacionada à limitação de carga nas pontes, devido a processos de deterioração constatados que
impedem a passagem dos veículos analisados.

Em todos os casos as verificações incluíram valores limites estipulados pela chamada “Lei da
Balança” (BRASIL, 1985) e verificações com veículos reais, com cargas no limite verificado por
balanças devidamente aferidas.

3. JUSTIFICATIVA DA METODOLOGIA UTILIZADA

Em função dos problemas expostos, na maioria dos casos reais, as deformações são medidas através
de extensômetros elétricos de resistência (EER) fixados à estrutura nos pontos que se espera ocorrer
a maior deformação. Esta técnica, já bastante arraigada nos costumes da engenharia nacional,
apresenta dificuldade de fixação – dependente em muitos casos de mão de obra não suficientemente
qualificada, devido à dificuldade de acesso (em muitos casos o operador trabalha pendurado em
cordas – rapel), a necessidade de equipamentos de ampliação, captação e tratamento de sinais
elétricos diminutos, além de outros procedimentos de execução difícil que comprometem uma
hipotética precisão dos resultados. Devido a estes fatores, regularmente o processo tende a acumular
erros e comprometer os resultados. O sistema descrito, geralmente apresenta precisão de medida da
ordem do milésimo do milímetro, ou seja, do micrometro, aparentemente muito elevada, mas
absolutamente desnecessária para as análises requeridas.

O elevado grau de precisão descrito é absolutamente desnecessário para a análise da segurança e do


comportamento das estruturas, em especial de grandes pontes. Numa viga de ponte as flechas, ou
deformações verticais dos vãos principais são definidas em centímetros, não sendo significativo
sequer o décimo de centímetro, uma vez ser absolutamente variável o valor do módulo de
elasticidade (ou módulo de deformação longitudinal) do concreto, indispensável ao cálculo destas
deformações.

Em obras habituais, o valor do módulo de elasticidade varia em função da resistência do concreto,


sendo função direta do traço do concreto, das condições de adensamento e de cura do concreto,
fatos que sabidamente são extremamente variáveis, dependendo de mão de obra e mesmo da
exposição do concreto durante seu processo de cura ao sol, vento e temperatura. Assim sendo, é
possível verificar variações deste importante parâmetro da ordem de até 20%, comprometendo
completamente a certeza em relação aos valores calculados. Deve ainda ser considerado que, com a
ocorrência das fissurações, quase que normais em função dos modelos de cálculo e da variabilidade
dos carregamentos reais, a rigidez considerada através do momento de segunda ordem, ou momento
inércia, varia em percentuais ainda mais elevados.

Dentro desta realidade, é bastante simples observar que uma estrutura de ponte exposta a condições
reais de utilização, por dezenas de anos exposta a ambientes de elevada agressividade, sem qualquer
proteção e/ou manutenção e ainda, submetida a carregamentos consideravelmente superiores
àqueles estipulados nos projetos, tende a sofrer danos significativos, com elevado risco de ruína.

Esta realidade leva à necessidade de uma análise de comportamento estrutural através de medições
de seu comportamento quando submetidas a cargas conhecidas, sem necessidade de grande precisão
quanto às leituras – precisão da ordem do centímetro é bastante satisfatória – que permita uma
adequada e segura avaliação de seu comportamento, sem a demanda de equipamento sofisticados e
custos excessivos, viabilizando a realização deste acompanhamento de forma mais habitual.

Como alternativa a estes métodos, o avanço da tecnologia nos permite atualmente, obter fotos com
elevado grau de resolução, que por sobreposição, quando avaliadas em programas de editoração
gráfica em computadores, resultam na obtenção de medidas de deformações de um determinado
elemento da estrutura com precisão da ordem do centésimo do centímetro, como visto, suficiente
aos objetivos previstos.
4. DESCRIÇÃO DA ESTRUTURA

Tendo em vista uma melhor apresentação do problema, será concentrada a descrição na estrutura
composta por um tabuleiro em concreto armado composto por uma laje com seção trapezoidal, com
extensão de 27,50 m, sendo um balanço de 5 m em cada extremidade e um vão central de 17,50 m,
com uma largura total de 10,9 m, sendo dois passeios de 1,35 m e uma caixa de pista de 8,20 m. O
tabuleiro é apoiado em quatro pilares de 50 x 80 cm sendo que a distância entre eixos dos pilares é
de 3,60 m na transversal e 17,50 m na longitudinal. A laje tem espessura de 45 cm na região central
e variável até 15 cm no extremo dos passeios. A faixa variável em cada lateral tem 3,25 m.

Nas duas cabeceiras existem lajes de transição com extensão de 2,0 m e largura integral da ponte
(10,90 m) apoiadas originalmente em aterro, como se mantem na cabeceira sul, do lado do Sesc
(lado Vitória), enquanto está parcialmente apoiada em enrocamento na cabeceira norte (lado
Aracruz).

Figura 1 - Vista Panorâmica da Ponte (Fonte: Autores, 2018).

Figura 2 – Croquis de Planta do Tabuleiro da Ponte (Fonte: Autores, 2018).


Deve ser considerado que a estrutura da ponte em análise, sob o Rio Laranjeiras, tem idade
indeterminada, sendo com certeza, superior a 30 anos. Naturalmente, nesta época, as normas para
construção de pontes apresentavam condicionantes bem diversas das atuais, de forma que é possível
estimar que a estrutura tenha sido calculada para uma classe 30, comum àquela época para
estruturas em estradas consideradas secundárias, como era o caso da ES-010 àquele tempo.

Naquele período, uma ponte projetada como sendo de classe 30 tf, considerava um veículo tipo de 6
rodas com 5 tf por roda, associado a uma carga distribuída de 500 kgf/m2 nas áreas frontais e
posteriores.

Por outro lado, sabe-se que concretos com idade superior a 30 anos apresentavam um ganho de
resistência significativo a longas idades, normalmente sendo projetados com 15 ou 20 MPa, uma
vez que os cimentos utilizados àquela época eram mais ricos em C2S (Silicato bi cálcico) e mais
pobres em C3S (Silicato tri cálcico) do que os atuais. Assim sendo, é bastante natural que os ensaios
de esclerometria realizados na face inferior da laje e nas laterais dos pilares, durante as atuais
investigações, tenham apontado para resistência à compressão de 40 MPa. Os ensaios realizados
ocorreram em conformidade com a NBR 7582 (ABNT, 2012) com a utilização de esclerômetro tipo
Schimidt N/NR da Proceq AS Zurich.

Uma inspeção cuidadosa da estrutura em sua face inferior, efetuada a partir de barco, denotou que o
tabuleiro é uma estrutura com concreto de muito boa aparência, sem qualquer fissura estrutural,
danificado apenas por exposição de pequena quantidade de armaduras e uma pequena fissura
resultante da expansão das armaduras despassivadas.

Por outro lado, os pilares com comprimento de cerca de 4 m até o leito do canal, zona de desague
do Rio Laranjeiras no oceano Atlântico, apresenta desplacamento do concreto de cobrimento, com
exposição de suas armaduras compostas originalmente por 18 barras de 20 mm, posicionadas no
interior de sua seção de 50 x 80 cm, conforme distribuição mostrada a seguir. Uma inspeção
detalhada mostrou que as barras remanescentes, em sua maioria, podem ser consideradas a favor da
segurança com seção equivalente a uma barra de 10 mm:

Figura 3 - Detalhe da distribuição das armaduras no interior dos pilares, obtida por pacometria (Fonte: Autores,
2018).
5. MATERIAIS E MÉTODOS

O processo de avaliação da capacidade de suporte das pontes teve início pelo levantamento
geométrico detalhado de cada uma das estruturas, consistindo inicialmente na determinação e
localização de danos (fissuras, falhas de concretagem ou deformações), bem como da caracterização
do concreto existente por ensaios de esclerometria, com a utilização de esclerômetro tipo Schimidt
N/NR da Proceq AS Zurich, realizados em conformidade com a NBR 7584/12.

Também foram inspecionadas as armaduras principais quanto ao tipo (pequena abertura localizada e
posteriormente reparada com graute), quantidade e posição por pacometria. Foram constatados
vários estribos rompidos e barras longitudinais com comprometimento de seção superior a 50%.
Estes fatores foram considerados na construção dos modelos.
Com base nas informações obtidas, foi construído modelo numérico computacional, através do
programa SAP 2000 V.19.2.2 (análise não linear) (SAP 2000, 2018) e/ou outro software de análise
estrutural que se aplica de forma mais adequada (análise de tabuleiro via Eberick 2018), em especial
para a pequena ponte na região do SESC. Estes modelos foram avaliados sob a ação do trem tipo
definido para cada veículo conforme a norma de balanças, acima mencionada, sendo definida a
margem de segurança de cada estrutura para este tipo de carregamento.
Após determinação de adequada condição de segurança indicada no modelo computacional, foi
realizado ensaio de campo com a passagem do trem-tipo devidamente calibrado.
Para este ensaio, foi montado na região da ponte, porém fora de eventuais vibrações transmitidas
pela estrutura, sistema de aquisição de imagens calibrado para a ponte descarregada, que permitiu a
captação das deformações, com precisão de centésimo de centímetro (décimo do milímetro), que
foram geradas pela passagem do veículo tipo. Esta captação foi realizada pela passagem por pelo
menos três vezes, podendo ocorrer em velocidades variadas conforme as velocidades compatíveis
com a ponte.
As deformações registradas foram comparadas com aquelas esperadas conforme a modelagem
computacional, desde que dentro dos limites permitidos pela NBR 6118 (ABNT, 2014), de forma a
ser possível definir o grau de segurança da estrutura.
O sistema de aquisição de dados consistiu na filmagem da passagem do caminhão padrão, que
consistiu de um tri-trem carregado e pesado com 77 tf totais, através de câmara de elevada
resolução em 4K, com no mínimo 5 Mpixel. O caminhão com as cargas distribuídas conforme
esquema abaixo.

Figura 4 - Modelo de carga total atuante – carreta integralmente sobre a ponte (Fonte: Autores, 2018).
Figura 5 - Equipamento de aquisição de dados isolado da rodovia (Fonte: Autores, 2018).

6. RESULTADOS

Os resultados obtidos pela sobreposição das fotos permitiram verificar valores semelhantes aos
esperados nas modelagens, na maioria das vezes com margens de erro inferiores aos 10%, o que
pode ser considerado perfeitamente aceitável. Naturalmente deve ser considerado que na
modelagem foram consideradas propriedades dos materiais obtidas nos ensaios de caracterização,
bem como, na determinação dos momentos de inércia foram consideradas reduções compatíveis
com o grau de fissuramento da estrutura observado e mapeado no local. É importante ressaltar que
uma adequada modelagem permitirá a obtenção de resultados de mais elevada qualidade, evitando
erros que podem resultar em conclusões inadequadas e mesmo perigosas.

Os resultados obtidos, coerentes em ordem de grandeza com observações realizadas no local


durante a passagem dos veículos, através do uso de níveis a laser, permitem uma segurança
adicional nas conclusões, demonstrando que os métodos empregados agregam adequada
confiabilidade e permitem a sua utilização desde que executados sob adequada supervisão de um
projetista, preferencialmente com suficiente experiência. Este acompanhamento se torna
indispensável em função da importância do acompanhamento dos resultados, de forma que
conclusões errôneas sejam percebidas a tempo, devidamente corrigidas e ajustadas com base em
uma realidade perfeitamente esperada e coerente.

Neste aspecto, é fundamental observar que as análises permitiram concluir que a carreta analisada,
com cerca de 77 tf, distribuídos nos vários eixos, conforme demonstrado acima, não ocasionou
comportamento inadequado na estrutura, enquanto que o trem tipo de 45 tf, conforme estipulado na
NBR 7188 (ABNT, 2013), ocasionaria deformações muito superiores, em função da distribuição
das cargas, sendo, portanto, inaceitável a utilização da ponte para este carregamento. Aplicando-se
cargas inferiores no mesmo modelo do ter tipo definido na norma acima mencionada, o máximo
admissível para a estrutura analisada seria o uso de 27 tf, distribuídos em 6 rodas de 4,5 tf,
majoradas pelos mesmos critérios utilizados para o trem tipo de 45 tf. Desta forma a placa de
capacidade máxima de 23 tf existente no local é coerente, embora, esta carga seja limitada pela
forma da distribuição e não pelo seu valor absoluto.

Figura 6 - Compilação dos resultados através da sobreposição de imagens (Fonte: Autores, 2018).

O método foi aplicado em outras duas pontes, que deixam de ser descritas no presente trabalho, mas
que reforçam a qualidade dos resultados obtidos em presença dos valores esperados por modelos
matemáticos adequadamente aferidos e ajustados.

7. CONCLUSÕES

O trabalho desenvolvido, que relata uma experiência real, mostra a contínua necessidade de
aplicação de novas tecnologias que permitem avanços significativos nas atividades da Engenharia.
A utilização dos métodos de medição das deformações de uma estrutura com base na sobreposição
de imagens, associada a levantamentos de dados locais e desenvolvimento de modelos
adequadamente aferidos da estrutura, denota a qualidade dos resultados obtidos, com a utilização de
uma metodologia bastante mais simples e econômica do que o uso dos extensômetros elétricos de
resistência, de complexa instalação e mais suscetíveis a erros devido à dificuldade de leitura e
ajustes de sinais elétricos de pequena valoração.

Com base nesta metodologia é confiável afirmar a segurança da estrutura com base em uma análise
confiável do comportamento da estrutura, verificada efetivamente à carga máxima prevista, com
possibilidade de determinação dos coeficientes de segurança considerados adequados a cada
estrutura.

O método descrito, permite ser revisto e corrigido inúmeras vezes, em função de tratar-se da
captação de imagens que constituem um filme que não se perde, onde é possível observar na foto o
momento exato da passagem das cargas em cada posição adotada no modelo matemático
comparativo. Esta situação permite aferir o modelo matemático para várias situações de
carregamento e a partir do mesmo simular uma infinidade de outras situações de carregamento com
muito mais elevada precisão.

Finalmente, deve ser considerado que trata-se de uma tecnologia simples, hoje disponível para a
maioria dos engenheiros, com custo bastante reduzido em relação às forma anteriores e portanto, de
maior aplicabilidade.

AGRADECIMENTOS

Agradecimento à equipe de trabalho da ENCOPETRO Engenharia Estrutural que nos ajuda a


encontrar as soluções dos problemas e a escrever estes artigos. Agradecimento aos colegas que
organizaram este evento, nos proporcionando a oportunidade de apresentação destas reflexões com
a finalidade de divulgação do conhecimento adquirido.

REFERÊNCIAS
[1] FIB – Federation International du Beton – Model Code – cap. 7 - 2010.
[2] ABNT -Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR 6118/14 – Projeto de Estruturas de Concreto –
Procedimentos - Rio de Janeiro – 2014.
[3] ______ - NBR 6120 – Projeto e Execução de Fundações – Procedimentos - Rio de Janeiro – 2010.
[4] ______ - NBR 7188 – Cargas móvel rodoviária e de pedestres em pontes, viadutos, passarelas e outras
estruturas – Rio de Janeiro, 2013
[5] ______ - NBR 7187 – Projeto de Pontes em Concreto Armado e Concreto Protendido – Procedimentos – Rio
de Janeiro, 2003
[6] ______ - NBR 9452 – Vistoria de Pontes e Viadutos de Concreto – Procedimentos - Rio de Janeiro, 2012
[7] ______ - NBR 7584 – Concreto Endurecido – Avaliação da dureza superficial pelo esclerômetro de reflexão –
Método de Ensaio – Rio de Janeiro, 2012.
[8] Manual do SAP 2000 – V.20 – CSI Computers and Structures - EUA, 2017
[9] GAIOFATTO, RL. Os diversos tipos de Retração, 3º. Congresso de Engenharia - Juiz de Fora, 2008
[10] BRASIL. Lei n. 7.408, de 25 de nov. de 1985. Permite a tolerância de 5% (cinco por cento) na pesagem de
carga em veículos de transporte. Brasília, DF, nov. 1985.
REVISÃO DO MAPA DE PERIGO E RISCO DE ESCORREGAMENTO DO
P.M.R.R DO 1º DISTRITO DE PETRÓPOLIS CONSIDERANDO O NSPT DOS
TERRENOS

Revision of the danger map and slip risk of P.M.R.R of the 1st district of Petrópolis
considering the NSPT of the lands

Victor Reis de Jesus 1, Maria Bernadete Luciano Lopes 2, Leonardo de Souza Corrêa 3
1 ENCOPETRO Engenharia Estrutural, Petrópolis, Brasil, vrjeng@gmail.com
2
Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil
3
Leonardo de Souza Corrêa, Petrópolis, Brasil, leo.s.c@hotmail.com

Resumo: Motivados pela ocorrência de escorregamentos, quedas de blocos e enchentes, o


presente artigo apresenta um estudo da probabilidade de ocorrência desses eventos no 1º
Distrito da cidade de Petrópolis. Esses eventos são deflagrados por chuvas intensas e
duradouras, dificilmente, previsíveis. Outro fator que aumenta a probabilidade de ocorrência de
movimentos de massa é a ocupação desordenada de encostas, muitas vezes associada a
modificação da geometria natural do talude e a retirada da vegetação. Porém, deve-se levar em
consideração também a estratigrafia do local, uma vez que tanto o tipo de material quanto sua
espessura podem influenciar decisivamente na estabilidade da encosta. Neste trabalho, foi
utilizado um estudo da cidade de Petrópolis, feito em 2007, no qual foi feito o levantamento das
principais características da região que influenciam na estabilidade das encostas naturais,
originando mapas de Perigo (Suscetibilidade) e Riscos (Vulnerabilidade), surgindo desta forma
o Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR) de Petrópolis. Os mapas do Plano foram
obtidos a partir de integração temática de mapas de estado natural (Declividades, Domínio
Geológico-Geotécnico, Drenagem, Vegetação) para atualização do perigo, empregando a Teoria
de Bayes, já para a estimativa do risco foi calculada a probabilidade de acidentes e riscos de
cada região em função da vulnerabilidade das construções. Sendo assim, foi feita a atualização
dos dados com a adição de informações, quais sejam, drenagem, vegetação, declividade,
geologia e NSPT, sendo este último um novo parâmetro a ser combinado na integração das
informações, dando origem a um novo mapa temático e, consequentemente, a uma nova
elaboração do Mapa de Perigo. A inclusão desse novo parâmetro é uma tentativa de adicionar
parâmetros de resistência do solo nos mapas de perigo e, assim, relacionar com os fatores
predisponentes dos eventos, para atualização do Mapa de Perigo e, consequentemente, o Mapa
de Risco através da análise dos Padrões Construtivos do 1º Distrito da Cidade de Petrópolis.
Reunidos os resultados obtidos com a atualização dos mapas de perigo e posterior risco,
concluiu-se que a utilização do NSPT, mesmo com poucos dados, mostra-se potencialmente
utilizável, devido à atenuação dos níveis de perigo para as áreas em que foram feitas as
campanhas de sondagem. Portanto, é possível mapear e elaborar os mapas com níveis de perigo
e risco, delimitando as principais áreas de incidência dos problemas apresentados, de modo a
viabilizar as tomadas de decisão antes da ocorrência dos fatos e ainda a atenuação dos eventuais
problemas.

Palavras-chave: Integração Temática, NSPT, Geolocalização.


Abstract: Motivated by the occurrence of landslides, block falls and floods, this article presents a
study of the probability of occurrence of these events in the 1st District of the city of Petrópolis.
These events are triggered by intense and long-lasting rainfall, hardly predictable. Another factor
that increases the probability of occurrence of mass movements is the disordered occupation of
slopes, often associated to the modification of natural slope geometry and removal of vegetation.
However, the stratigraphy of the site must also be taken into account, since both the type of
material and its thickness can decisively influence the stability of the slope. In this work, a study
was carried out in the city of Petrópolis, in 2007, in which investigated the main characteristics of
the region that influence the stability of the natural slopes, creating Susceptibility and Risk
(Vulnerability) maps, being created the Municipal Risk Reduction Plan (PMRR) in Petrópolis. The maps of
the Plan were obtained from the thematic integration of maps of the natural state (Declives,
Geological-Geotechnical Domain, Drainage, Vegetation) to update the risk using Bayes Theory, and
to estimate the risk was calculated the probability of accidents and risks of each region due to the
vulnerability of buildings. Therefore, the data were updated with the addition of information,
namely drainage, vegetation, slope, geology and NSPT, the latter being a new parameter to be
combined in the information integration, giving rise to a new thematic map and, consequently, a
new mapping of the Danger Map. The inclusion of this new parameter is an attempt to add soil
resistance parameters to the risk maps and, therefore, to relate the predisposing factors of the
events, to update the Danger Map and, consequently, the Risk Map through the analysis of the
Construction Standards of the 1st District of the City of Petrópolis. The results obtained with the
risk update and the subsequent risk maps were obtained, it was concluded that the use of the
NSPT, even with few data, is potentially usable due to the attenuation of the risk levels at which
the survey campaigns were carried out. Therefore, it is possible to map and elaborate the maps
with levels of risk and danger, delimiting the main areas of incidence of the presented problems, in
order to make the decision before the occurrence of the facts and also the mitigation of the
possible problems.

Keywords: Thematic Integration, NSPT, Geolocation.


1. INTRODUÇÃO
Os fenômenos ocasionados por processos geológicos e geomorfológicos são processos de extrema
importância dentro da análise de risco em uma dada área, pois sempre causam alterações
permanentes com perdas de vidas e/ou perdas materiais.
Um planejamento de ordenamento de ocupação e utilização do território é feito mediante análises
feitas em campo. Uma das fases de maior relevância para tal processo é o zoneamento da área, com
classificações de níveis de risco para a população presente na localidade. É muito importante neste
zoneamento de áreas, serem levados em conta as análises da suscetibilidade da região e do nível de
risco presente para a ocupação da mesma.
O Gerenciamento de Riscos passa a ser uma ferramenta indispensável, pois, na maioria das áreas, a
ação é sempre tomada após a ocorrência do fenômeno, todavia, com este mapeamento e
levantamento das características, será possível prever e minimizar tais eventos.
Voltando-se para o Município de Petrópolis, sabe-se que este apresenta diversas áreas com alto grau
de suscetibilidade, sendo que além de apresentar este problema, tem-se que a ocupação desordenada
das encostas agrava ainda mais esta característica histórica de ocorrência de escorregamento nas
encostas. Com isso, faz-se necessária a caracterização dessas áreas quanto ao nível de risco que
apresentam, para que seja assim possível a tomada de decisões e correções para mitigação do risco
nestes pontos.
A caracterização das áreas de risco e posterior sequenciamento de ações de intervenção precisam de
um conhecimento a fundo das características locais da área, com particularidades do meio em que
ocorreu tal escorregamento e também onde foram implantadas casas.
Para análise destes dados compilados, são gerados os chamados mapas característicos da área (mapa
temático), sendo estes um aglomerado de informações, juntamente com a carta topográfica da área.
Realizar uma Revisão do Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR) para elaboração de um
novo mapa de risco, com o apoio da Teoria Bayesiana, sendo agregado mais um novo parâmetro,
dentre os já existentes, sendo este o NSTP, que possibilitará uma caracterização interna do solo,
partindo da hipótese de que todos os escorregamentos que ocorrem no município de Petrópolis são
considerados rasos (aproximadamente 4,0 metros de profundidade), agregando assim, relevantes
informações para a análise dos níveis de perigo e risco para as áreas de estudo.
Tais mapas temáticos já foram estudados e desenvolvidos por VARANDA (2006)[1], sendo assim,
será feita inicialmente a transição dos mapas que foram elaborados em uma plataforma de sistema
de coordenadas, e, em seguida, a modificação do software SPRING para o ArcGIS, ambos com
adoção do SIG.
Para o presente estudo, será feita a atualização dos seguintes mapas:
 Mapa de Declividade;
 Mapa de Vegetação;
 Mapa de Domínios Geológico-Geotécnicos;
 Mapa de Drenagem Natural;
 Mapa de Padrões Construtivos.
Para integração com os demais mapas, tem-se a elaboração do seguinte mapa:
 Mapa de NSPT.

Com o desenvolvimento dos mapas, busca-se integrá-los para que sejam feitas as análises dos
resultados obtidos com a suscetibilidade e a vulnerabilidade de uma dada região, sendo assim
criados:
 Mapa de Perigo ou Suscetibilidade;
 Mapa de Risco ou Vulnerabilidade.

2. ANÁLISE DE RISCO E MOVIMENTO DE MASSA


De acordo com VARANDA (2006), o risco é o resultado da integração de vários componentes.
Destes, se destacam os de meio físico, quais sejam, geologia, morfologia, hidrologia, vegetação e
clima, os quais expressam a suscetibilidade e as alterações antrópicas (densidade ocupacional,
terraplanagem, infraestrutura), que, por sua vez, indicam a vulnerabilidade da região.
Os movimentos de massas são responsáveis por toda a modificação e evolução do formato e
desenho do relevo, sendo um processo dinâmico que se verifica no decorrer do tempo em encostas
de afloramento rochoso puro ou de uma camada considerável de solo.

3. ÁREA DE ESTUDO
A Serra dos Órgãos, que localmente é também chamada e conhecida como Serra do Mar, tem como
característica a sua formação rochosa e suas escarpas abruptas, de maneira que os rios naturalmente
correm por entre os vales que foram formados ao longo do tempo, caracterizando o relevo da
Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro. Com isso, percebe-se que nos tempos de implantação
do Plano Koeller, ano de 1846, já existia a eminente preocupação com a forma de ocupação da
cidade, sendo que a ocupação era planejada para ser de forma tentacular, seguindo os rios da cidade,
sem prejudicar seu escoamento natural.

Fig.1- Imagem da Vila Imperial, planejada e realizada por JULIO FREDERICO KOELLER (1861).
Assim, a cidade de Petrópolis, na atualidade, apresenta como característica principal, as ocupações
das encostas e vales de forma irregular, tanto as moradias de alto padrão construtivo, quanto as de
péssimos padrões construtivos, que se instalaram em várzeas, encostas, zonas de depósito de tálus-
colúvio, todas as regiões sujeitas a enchentes e escorregamentos.

3.1. Equações
O município de Petrópolis localiza-se ao norte da cidade do Rio de Janeiro, cujas coordenadas
geográficas de longitudes são 43° 04’ – 43° 14’ W e latitudes 22° 33’ – 22° 35’ S, sendo sua
altitude média de 845 metros, abrangendo uma área de 811 km².
A cidade de Petrópolis que está distante 60 km ao norte da cidade do Rio de Janeiro, implantada
sobre a Serra do Mar e Serra dos Órgãos, tem como característica do relevo local a presença de
muitas encostas que variam sua inclinação de 5° a 60°, se mostrando bastante acidentada a área de
ocupação da cidade.
Segundo dados do IBGE (2010)[2] a cidade de Petrópolis tem 295.917 habitantes, com progressão
para o ano de 2016 de aproximadamente 298.142 habitantes, sendo que a maioria esmagadora da
população se encontra situada em áreas urbanas, com aproximadamente 97,5% da população total
(cerca de 288.519 habitantes).
Quanto ao tipo de clima, segundo a classificação climática proposta por NIMER (1989)[3], a área
de estudo apresenta o clima mesotérmico brando superúmido. A precipitação média anual é de
2.200 mm, com temperaturas inferiores a 18ºC no inverno (julho) e de 21ºC no verão (fevereiro) e a
umidade atmosférica varia em torno de 83% ao longo do ano.
A litologia da área de estudo é constituída predominantemente por rochas pertencentes ao complexo
granítico-gnáissico-migmatítico de idade Pré-Cambriana. Estas rochas encontram-se intensamente
seccionadas por fraturas e falhas de extensão regional, com forte reflexo na topografia, pois toda
região de abrangência destas unidades foi submetida a eventos tectônicos caracterizados durante o
período Pré-Cambriano (DRM, 1981; PENHA et al, 1981)[4].
Os estudos que aqui serão realizados estarão voltados para o 1º Distrito de Petrópolis, que possui a
maior concentração de casas e ocupações. Através dos dados obtidos no censo do IBGE (2010), a
população do 1º Distrito é de 188.644.
Segundo GUERRA et al. (2007)[5] a ocupação e implantação do município ocorreu sobre rochas
bastante falhadas e fraturas, características históricas da região, sobre encostas íngremes, possuindo
também em alguns pontos, perfis de solos bastante profundos.

4. ÁREA DE ESTUDO
Como ideia principal desta pesquisa, buscou-se analisar o que a resistência à penetração por golpes
nas sondagens à percussão poderia influenciar nas condicionantes de caracterização das áreas de
risco. Sendo assim, os boletins gerados por campanhas realizadas dentro do 1º Distrito, foram todos
reunidos, caracterizando a região em sua integralidade.
Foram reunidos exatamente 309 (trezentos e nove) relatórios de sondagem, sendo estes de
sondagens de simples reconhecimento à percussão ou até mesmo com sondagem mista. Tais
boletins foram cedidos pela empresa Theopratique Obras e Serviços de Engenharia e Arquitetura
Ltda., a qual forneceu todo tipo de acesso a materiais de estudo e apoio para elaboração desta
pesquisa.
Para a determinação das quantidades de boletins de sondagem para cada região e consequente
posicionamento geográfico dos mesmos foi utilizado o sistema de coordenadas Universal
Transversa de Mercator (UTM), sendo estas mais comumente utilizadas em georeferenciamento.
Para cada campanha de sondagem que foi realizada pela empresa, obteve-se uma coordenada
correspondente, sendo estas posicionadas no Google Earth Pro, de maneira que pudesse ser definida
a sua área de influência no entorno da prospecção.

4.1. Mapa de Declividade


O mapa de declividade pode ser obtido através de dois métodos, sendo estes apresentados como
Mapa Digital de Elevação (MDT) ou o Modelo Numérico do Terreno (MNT). Para tal situação foi
utilizado o Modelo Numérico de Terreno, que é uma representação matemática da distribuição
espacial de uma dada área, com suas elevações de encostas, os vales, talvegues, entre outros, tudo
isso relacionado com uma superfície real, com representação em três dimensões (X, Y e Z), sendo,
X e Y as coordenadas geográficas, posicionamento terrestre, já o Z representa a quantidade de um
atributo, representando a elevação do mesmo, como exemplo a altimetria de uma área.

4.2. Mapa de Vegetação


O mapa de vegetação foi estudado e elaborado pelo Instituto Terra Nova, resultado de um Termo de
Ajuste de Conduta (TAC), sendo tal elaboração motivada pelo IBAMA e pela APA Petrópolis, que
com este adquiriu uma ferramenta de monitoramento eficaz para a ocupação e uso do solo no
Município.
Como descrito na apresentação da área de estudo, toda a região que está sendo analisada é uma área
remanescente de Mata Atlântica, bioma brasileiro que possui alto índice de biodiversidade. Para tal
monitoramento, foi criada a Área de Proteção Ambiental de Petrópolis (APA Petrópolis) que
abrange quase em sua totalidade o 1º Distrito de Petrópolis.

4.3. Mapa de Drenagem Natural


Utilizando os mapas e estudos já executados por VARANDA (2006), tem-se que o mapa de
drenagem natural, foi implementado através de um mapeamento de rios, córregos e linhas de
drenagem natural das regiões estudadas, sendo que para tais levantamentos foi elaborada uma Faixa
Marginal (FM), que corresponde a uma interferência mínima que qualquer objeto possa fazer para o
fluxo natural das águas.
Para a elaboração do mapa, não foram considerados os índices pluviométricos, apenas foram
considerados os processos hidrológicos como representado no Mapa de Drenagem Natural.

4.4. Mapa de Domínio Geológico-Geotécnico


Após o levantamento de todos os dados, sendo estes, mapeamento de fraturas, caracterização das
rochas presentes, solos e suas respectivas formações, tem-se a possibilidade de junto às
classificações adotadas para cada região elaborar o mapa de Domínio Geológico-Geotécnico.

4.5. Mapa de Campanhas de Sondagem (NSPT)


Este mapa tem como objetivo atribuir um novo parâmetro ao Plano Municipal de Redução de
Riscos (PMRR). Assim, dentro do 1º Distrito de Petrópolis, sendo esta a área de estudo adotada,
foram levantados, com auxílio da empresa Theopratique Obras e Serviços, todas as campanhas de
sondagem que tinham abrangência na área em apreço, sendo, em seguida, georeferenciadas, com
intuito de organizar espacialmente todas as informações coletadas, visualizar a quantidade de
campanhas realizadas para cada localidade e posterior análise dos dados obtidos.

Tabela 1 - Quadro de probabilidades associadas à característica interna dos solos prospectados. (VARANDA,2006).

DESCRIÇÃO - SOLOS
DESCRIÇÃO - SOLOS ARENOSOS OU SILTE PROBABILIDADE PROBABILIDA
ARGILOSOS OU SILTE
ARENOSOS (COMPACIDADE) DEDUZIDA DE DEDUZIDA
ARGILOSOS (CONSISTÊNCIA)

FOFA - NSPT ≤ 4 0,9 MUITO MOLE - NSPT ≤ 2 0,95


POUCO COMPACTA - 5 ≤ NSPT ≤ 8 0,7 MOLE - 3 ≤ NSPT ≤ 5 0,9
MEDIANAMENTE COMPACTA - 9 ≤ NSPT ≤ 18 0,3 MÉDIA - 6 ≤ NSPT ≤ 10 0,7
MUITO COMPACTA - NSPT > 40 0,1 DURA - NSPT > 19 0,1

Fig.2- Mapa de Campanha de Sondagem – 1 º Distrito de Petópolis.

5. ELABORAÇÃO E CONFECÇÃO DO MAPA DE PERIGO E RISCO


Para o processo de integração de mapas em seu estado natural, tem-se a adoção da Teoria de Bayes.
Este teorema é muito utilizado na inferência estatística, com o objetivo de analisar a veracidade de
hipóteses criadas, sendo estas baseadas em informações obtidas através de observação e nos
conhecimentos de como ocorre a relação destas observações com a hipótese adotada.
Através de uma análise de hipóteses (H), contexto (I), evidências (E), pode-se elaborar uma Árvore
de Probabilidade com as diversas formas de interação dos valores obtidos.
P

Fig.3- Teorema de Bayes com as condicionantes adotadas para ocorrência do evento ou não.

Tabela 2 - Valores de Probabilidade Inicial (frequência relativa) dos escorregamentos, adaptados para o 1º Distrito de
Petrópolis (OLIVEIRA, 2004)[6].

OCORRÊNCIA PROBABILIDAD
REGIÕES
ACIDENTES/REGIÃO E INICIAL P(H)
Alto da Serra 107 1,44 E-01
Bingen 118 1,59 E-01
Castelânea 18 2,42 E-02

Caxambu 13 1,75 E-02

Centro 146 1,97 E-01

Estrada da Saudade 49 6,59 E-02

Floresta 35 4,71 E-02

Independência 20 2,69 E-02


Mosela 22 2,96 E-02
Quitandinha 62 8,34 E-02
Retiro 38 5,11 E-02
São Sebastião 33 4,44 E-02
Valparaíso 34 4,58 E-02
Ʃ 695 1,00 E+00

5.1. Mapa de Suscetibilidade ou Perigo


Feita a reunião de todas as informações adicionais obtidas com a pesquisa e posterior montagem
dos mapas temáticos já concluídos, pode-se dar andamento à pesquisa com a construção e
elaboração do Mapa de Suscetibilidade (Perigo).
Para a construção deste mapa é feita a integração temática de todos os mapas de estado natural
confeccionados, empregando, em seguida, a Teoria Bayesiana para determinação das
probabilidades atualizadas.

Tabela 3 - Valores considerados para determinação do perigo (VARANDA, 2006).


FAIXA DE PERIGO
Baixo -5
p < 10
Médio -5 -3
10 < p < 10
Alto -3 -2
10 < p < 10
Muito Alto -2
p > 10
Após as definições dos limites de perigo estipulados a partir da análise da Tabela 8, pode-se
elaborar o chamado mapa de suscetibilidade ou mapa de perigo. Tal mapa possibilita a identificação
da tendência ou condição para que um dado evento possa ocorrer, sendo estes dados obtidos a partir
dos mapas de estado natural, que depois de integrados condicionam tais resultados de
suscetibilidade.

Tabela 4 - Exemplo de cálculo de atualização da probabilidade inicial com a Teoria Bayesiana.


DOMÍNIO
PROBABILIDADE PROBABILIDADE
REGIÕES DECLIVIDADE VEGETAÇÃO GEOLÓGICO- DRENAGEM NSPT
INICIAL P(H) ATUALIZADA
GEOTÉCNICO
Alto da Serra 1,44 E-01 0,10 0,5 0,7 0,01 0,7 6,07 E-03
Bingen 1,59 E-01 0,01 0,5 0,01 0,1 0,7 2,64 E-05
Castelânea 2,42 E-02 0,10 0,4 0,5 0,01 0,7 1,74 E-03
Centro 1,97 E-01 0,01 0,5 0,01 0,1 0,7 2,64 E-05
Estrada da Saudade 6,59 E-02 0,70 0,1 0,9 0,01 0,9 5,21 E-02
Floresta 4,71 E-02 0,01 0,5 0,5 0,01 0,7 2,38 E-04
Independência 2,69 E-02 0,50 0,1 0,9 0,01 0,7 2,31 E-02
Mosela 2,96 E-02 0,10 0,5 0,7 0,01 0,9 2,30 E-03
Quitandinha 8,34 E-02 0,01 0,5 0,01 0,1 0,9 1,12 E-03
Retiro 5,11 E-02 0,01 0,5 0,01 0,1 0,7 2,64 E-05
São Sebastião 4,44 E-02 0,10 0,5 0,7 0,01 0,9 1,12 E-02
Valparaíso 4,58 E-02 0,70 0,5 0,7 0,01 0,9 3,31 E-02

Fig.4- Mapa de Suscetibilidade ou Perigo elaborado com a integração dos mapas e síntese de dados
probabilísticos.
5.1. Mapa de Risco
Para o mapa de risco, todos os pontos retratados demonstram quais as consequências que podem ser
geradas devido à má utilização, ocupação e qualquer condição suscetível que se encontra, sendo tais
consequências ligadas às vidas humanas em constante contato.
O MINISTÉRIO DAS CIDADES (2006)[7] afirma que o mapeamento de risco tem duas vertentes,
sendo estas: o zoneamento (ou setorização) dos riscos para as áreas que são retratadas à análise, ou
então, o cadastramento de risco das áreas para elaboração de um banco de dados. Mais comumente
utilizado o zoneamento, admite que as moradias na área em análise possuam um determinado grau
de risco, como exemplo, considera-se um risco muito alto. Mas, como se sabe, existem boas
edificações em meio a essas áreas, sendo assim, não se pode deixar que seja reduzido o risco para
tal localidade, determina-se deste modo uma generalização de risco.
A elaboração de tal mapa é realizada através da correlação entre os mapas de suscetibilidade e
vulnerabilidade.
Logo, foi elaborado um mapa de estado natural classificado este como Mapa de Padrões
Construtivos (ECOTEMA, 2001)[8].
Este mapa foi feito com base em um levantamento das condições de moradias dos habitantes nas
diversas áreas abrangentes do 1º Distrito de Petrópolis, demonstrando assim quais as características
e qualidade das moradias.

Tabela 5 - Probabilidade deduzida para classificação dos padrões construtivos (VARANDA, 2006).

PROBABILIDADE
PADRÃO CLASSES
DEDUZIDA

I 0,01
Alto
II 0,01
Médio a Alto III 0,1
Médio IV 0,1
Baixo V 0,5
Muito Baixo VI 0,7
Péssimo VII 0,9

Partindo da integração temática entre o Mapa de Perigo já incluído o novo parâmetro e o Mapa de
Padrões Construtivos, são gerados dados, probabilidades de ocorrência para tal evento.
Fig.5- Mapa de Padrões Construtivos – 1º Distrito de Petrópolis.

Tabela 6 - Demonstrativo do cálculo de risco individual para cada área onde se adota 0,6 de vulnerabilidade temporal.
PROABILIDADE
PROBABILIDADE DEDUZIDA DE RISCO
REGIÕES
MAPA DE PERIGO PADRÃO ANUAL
CONSTRUTIVO
Alto da Serra 6,07 E-03 0,9 5,46 E-03
Bingen 2,64 E-05 0,5 1,32 E-05
Castelànea 1,74 E-03 0,7 1,22 E-03
Centro 2,64 E-05 0,9 2,38 E-05
Estrada da Saudade 5,21 E-02 0,1 5,21 E-03
Floresta 2,38 E-04 0,1 2,38 E-05
Independência 2,31 E-02 0,9 2,08 E-02
Mosela 2,30 E-03 0,7 1,61 E-03
Quitandinha 1,12 E-03 0,5 5,60 E-04
Retiro 2,64 E-05 0,5 1,32 E-05
São Sebastião 1,12 E-02 0,9 1,00 E-02
Valparaíso 3,31 E-02 0,9 2,98 E-02

As cores na representação do Risco Anual indicam a condição de risco apresentada para a hipótese
estudada. Sendo risco muito alto (roxo), alto (azul escuro), médio (azul claro) e baixo (preto).

Fig.6- Mapa de Vulnerabilidade ou Mapa de Risco – 1º Distrito de Petrópolis.

6. COMENTÁRIOS E CONCLUSÕES
Dentro da ideia de que foi feita a adição de um novo parâmetro ao PMRR, percebe-se que, para o
desenvolvimento deste estudo se faz necessária uma grande aglomeração de relatórios de
sondagens, pois os mesmos são executados em pequenas áreas (pontos), consequentemente precisa-
se de uma malha de campanhas executadas por toda a área a fim de proporcionar uma melhor
identificação das características do solo e também para ser possível a criação de um mapa de
sondagens. Ou seja, tais investigações devem compreender toda a área de estudo em quantidades
que possibilitem a criação de manchas circunscritas através da integração dos mapas com os demais
parâmetros empregados neste estudo.
Sendo assim, para tal estudo, foi verificado que, para as regiões em que não existe execução de
sondagens, há a necessidade de adotar o valor de probabilidade incerta (p=0,5) devido ao
desconhecimento do solo nestes pontos onde não foram feitas investigações, isto é, para se analisar
o que o novo parâmetro NSPT irá proporcionar de modificação, deve-se fazer a exclusão das áreas
desconhecidas, para que se torne possível perceber apenas o que foi alterado nas proximidades dos
furos de sondagem, tanto para o mapa de suscetibilidade (perigo) quanto para o mapa de
vulnerabilidade (risco).
Pode-se dizer então, que este método empregado na revisão do PMRR é um método que vai
possibilitar a atualização dos dados de perigo e, consequentemente, os de risco, visto que o novo
parâmetro será levado em conta no mapa de perigo e apenas nas áreas ocupadas, para ter uma
melhor condição de análise das informações.
O que se pode perceber após este farto estudo é que, devido às condições de sondagem que foram
analisadas nas áreas acima, tem-se que para algumas localidades, devido a suposição de os
escorregamentos ocorrerem em camadas rasas, até 4 (quatro) metros de profundidade, determinados
pontos em que os furos paralisaram recentemente devido a presença de blocos de rocha ou matacão,
sendo assim, a probabilidade foi reduzida, devido aos maiores índices de SPT[7], enquanto em
regiões de depósito, mais comumente encontradas em vales, com profundidades de camada de solo
depositado maiores, os SPT foram menores, ocasionando em uma probabilidade elevada e
consequente atenuação do perigo e posterior risco.

Tabela 7 - Quadro comparativo das condições de perigo e risco após a revisão.

COMPARAÇÃO DOS VALORES DE PERIGO E RISCO REVISADOS


PERIGO PERIGO RISCO RISCO
LOCALIDADE LOCALIDADE
ANTERIOR REVISADO ANTERIOR REVISADO
Alto da Serra 1,91 E-06 6,07 E-03 Alto da Serra 1,03 E-06 5,46 E-03
Bingen 1,41 E-04 2,64 E-05 Bingen 4,24 E-05 1,32 E-05
Castelânea 1,63 E-02 1,74 E-03 Castelânea 6,84 E-03 1,22 E-03
Centro 2,65 E-02 2,64 E-05 Centro 1,43 E-02 2,38 E-05
Estrada da Saudade 8,00 E-07 5,21 E-02 Estrada da Saudade 4,80 E-08 5,21 E-03
Floresta 1,27 E-02 2,38 E-04 Floresta 7,59 E-04 2,38 E-05
Independência 3,06 E-03 2,31 E-02 Independência 1,65 E-03 2,08 E-02
Mosela 3,46 E-07 2,30 E-03 Mosela 1,45 E-07 1,61 E-03
Quitandinha 9,19 E-04 1,12 E-03 Quitandinha 2,76 E-04 5,60 E-04
Retiro 1,41 E-04 2,64 E-05 Retiro 4,23 E-05 1,32 E-05
São Sebastião 5,27 E-07 1,12 E-02 São Sebastião 2,85 E-07 1,00 E-02
Valparaíso 4,84 E-04 3,31 E-02 Valparaíso 2,61 E-04 2,98 E-02

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] VARANDA E. Mapeamento Quantitativo de Risco para o 1º Distrito de Petrópolis utilizando Sistemas de
Informações Geográficas. Dissertação (Mestrado em Ciências em Engenharia Civil) – COPPE,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.

[2] INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Demográfico


2010: Características da População e dos Domicílios – Resultados do Universo. Rio de Janeiro,
2010.

[3] NIMER, E. CLIMATOLOGIA DO BRASIL. 2. ED. RIO DE JANEIRO: IBGE – Departamento


de Recursos Naturais e Estudos Ambientais, 1989. 421p.

[4] DEPARTAMENTO DE RECURSOS MINERAIS – DRM. (2013). Equipe do Núcleo de Análise e


Diagnóstico de Escorregamentos – NADE/DRM. Desastre Março/13 de Escorregamentos em
Petrópolis. Rio de Janeiro: DRM, 2013.

[5] GUERRA, A. J. T.; GONÇALVES, L. F. H.; LOPES, P. B. M. Evolução histórico-geográfica da


ocupação desordenada e movimentos de massa no município de Petrópolis, nas últimas
décadas. Revista Brasileira de Geomorfologia, v. 1, n. 1, p.35-43, 2007.

[6] OLIVEIRA, L. C. D. de Análise Quantitativa de Risco de Movimentos de Massa com Emprego de Estatística
Bayesiana. Tese (Doutorado em Ciências em Engenharia Civil) – COPPE, Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.

[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6484. Solo - Sondagens de


simples reconhecimentos com SPT – Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2001.
PROPOSTA DE RECUPERAÇÃO ESTRUTURAL PARA OBRA DO
PATRIMÔNIO MODERNO – Estudo de caso

Proposal for structural recovery for a modern heritage building – Case study

Robson Luiz Gaiofatto 1, Ana Kyzzy Fachetti 2, Erika Pereira Machado 3


1
Universidade Católica de Petrópolis - UCP, Petrópolis, Brasil, robson.gaiofatto@ucp.br
2
Universidade Católica de Petrópolis - UCP, Petrópolis, Brasil, ana.fachetti@ucp.br
3
Universidade Católica de Petrópolis - UCP, Petrópolis, Brasil, erika.pereira@ucp.br

Resumo: No Brasil, ainda são poucas as pesquisas relacionadas à restauração do patrimônio


moderno, principalmente que envolva recuperação da estrutura de concreto aparente. Considerando
que a tecnologia do concreto avançou muito nos últimos anos, descobrir a técnica correta para cada
tipo de recuperação não é tarefa fácil. Neste artigo, busca-se demonstrar propostas para recuperação
de uma estrutura situada em Petrópolis, cidade da Região Serrana do Rio de Janeiro. O exemplar
modernista estudado é o Centro de Cultura Raul de Leoni, construído em 1977, com características
do Brutalismo, vertente do modernismo que fazia uso de linhas e planos ortogonais em volumes
brutos de concreto aparente. A edificação tem valor, sendo o único exemplar de seu estilo no
conjunto do patrimônio cultural edificado da cidade. Como toda obra de propriedade do poder
público, sofre com a ação do tempo, apresentando patologias associadas às suas características
estilísticas e outras mais específicas, referentes à execução e localização. A estrutura em concreto
armado aparente de 41 anos apresenta os problemas costumeiros destas estruturas, como pontos de
corrosão das armaduras, problemas de infiltrações que ocasionam carbonatação do concreto, entre
outras associadas a questões de mau uso e falta de manutenção. O presente trabalho tem por
objetivo avaliar as patologias existentes, discutir suas causas e entender formas viáveis de
revitalizar e manter a edificação por um período de tempo compatível com sua importância cultural,
de forma especial quando em presença de todas as demais com idades muito superiores. O estudo
está baseado em levantamentos realizados no local, em ensaios não destrutivos e em pesquisas
acadêmicas em desenvolvimento nos laboratórios da Universidade Católica de Petrópolis.

Palavras-chave: patologias, estruturas em concreto armado, recuperação patrimonial.

Abstract: In Brazil, there is still little research related to the restoration of the modern heritage,
mainly involving recovery of the apparent concrete structure. Since concrete technology has
advanced a lot in recent years, finding the right technique for each type of recovery is no easy task.
This article aims to demonstrate proposals for the recovery of a structure located in Petropolis city,
in the mountain region of Rio de Janeiro. The modernist example studied is the Raul de Leoni
Culture Center, built in 1977, with characteristics of Brutalism, a modernist line that made use of
orthogonal lines and planes in gross volumes of apparent concrete. The building has value, being
the only exemplary of its style in the set of built cultural heritage of the city. Like any buildings
owned by the government, it suffers from the action of weather, presenting pathologies associated
with its stylistic characteristics and others more specific, concerning the execution and location. The
41-year-old apparent concrete structure presents the usual problems of these structures, such as
corrosion points of the reinforcement, infiltration problems that cause carbonation of the concrete,
among others associated with issues of misuse and lack of maintenance. The objective of this paper
is to evaluate the existing pathologies, to discuss their causes and to understand practicable ways of
revitalizing and maintaining the building for a period of time compatible with its cultural
importance, especially when in the presence of all the others of a much higher age. The study is
based on surveys conducted locally, non-destructive testing, besides academic research in the
laboratories of the Catholic University of Petropolis.

Keywords: pathologies, structures in reinforced concrete, heritage recovery.

1. INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objeto a obra que constitui o centro cultural municipal de Petrópolis,
conhecido como Centro de Cultura Raul de Leoni. O objetivo principal é, a partir da identificação e
análise dos principais danos e suas causas, que ameaçam a integridade da edificação – consequentes
da falta de manutenção -, propor soluções adequadas para sua recuperação estrutural.
Para tal, fez-se necessária uma pesquisa histórica e análise multidisciplinar desta construção com a
finalidade de compreender integralmente suas condicionantes materiais – necessidade esta
enfatizada pelo fato de que se trata de componente arquitetônico do Conjunto Urbano-Paisagístico
tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico – IPHAN em Petrópolis, estado do Rio
de Janeiro.
Sendo assim, todas as indicações aqui propostas visam atender não só as normas técnicas vigentes
que balizam soluções de recuperação estrutural, mas também às diretrizes de procedimentos de
recuperação e conservação para bens tombados edificados do patrimônio cultural modernista.

2. O CENTRO DE CULTURA RAUL DE LEONI

2.1 Breve histórico e descrição do objeto

Localizado na Praça Visconde de Mauá - Centro Histórico de Petrópolis – RJ -, foi construído entre
os anos de 1974 e 1977 - anterior à inclusão da Rua da Imperatriz e da referida Praça na 1ª extensão
do Conjunto Urbano-Paisagístico da Avenida Koeler, promovido pelo IPHAN em 1980.

Figura 1 - Praça Visconde de Mauá, Centro de Petrópolis-RJ. Destaca-se, à direita, o Centro de Cultura Raul de
Leoni (Fonte: FACHETTI, 2018.)
A edificação objeto de estudo possui estilo arquitetônico brutalista, desenvolvendo-se num grande
bloco horizontal em concreto armado aparente, criando contraste com o conjunto arquitetônico do
entorno imediato. Foi erguida com a finalidade de substituir o antigo e, à época, deteriorado prédio
da Biblioteca Municipal de Petrópolis (em estilo protoeclético) datado do fim da segunda metade do
século XIX. A nova edificação foi projetada para abrigar espaços além de uma biblioteca, sendo o
maior polo cultural do município e o maior centro cultural da Região Serrana (Azevedo, 2012, p. 8-
10).
Até 2016, foi sede da Fundação de Cultura e Turismo de Petrópolis, mas mantém-se casa da
Biblioteca Central Municipal Gabriela Mistral (que conta com140 mil exemplares, sendo a terceira
maior do Estado); sedia a Academia Brasileira de Poesia; possui quatro espaços destinados às artes
visuais – Galeria Aloísio Magalhães, Galeria Van Djik, Galeria Djanira e um espaço alternativo.
Também há nesta edificação o Teatro Afonso Arinos – localizado no 3º pavimento, com capacidade
de 150 lugares, foi por décadas o principal espaço de exibições de música e teatro da cidade. A Sala
Guiomar Novaes é utilizada para ensaios, apresentações de menor porte e oficinas; a Sala Sylvia
Orthof é destinada ao Ateliê de Cursos; o Cinema Humberto Mauro (de pequeno porte); e, adjacente
a este, uma sala multiuso, configurada há algum tempo como sala de aula tradicional, destinada a
cursos e palestras para a comunidade (Azevedo, 2012, p. 8-10).
De autoria dos arquitetos Césare Migliari e Edmundo Lustosa (AZEVEDO, 2012), não faz
quaisquer referências à volumetria, estilo, materiais ou sistema construtivo que caracterizavam o
prédio da antiga Biblioteca Municipal – o que demonstra claramente sua inserção tardia no nobre
trecho do Centro Histórico da cidade (e bem distante do risco de causar um falso histórico), vizinho
ao Museu Imperial, neoclássico, ao Palácio Amarelo e ao Centro de Capacitação Frei Memória,
ambos ecléticos.
O Centro Cultural tem proporções marcantes, formas retilíneas, que destacam os planos em
concreto armado aparente. Possui três acessos externos ao público, estando o principal elevado da
via, voltado para a Praça Visconde de Mauá e destacado por uma grande escadaria. Há outros dois
acessos térreos, caracterizados por esquadrias em estrutura metálica e vidro fumê, estando uma
adjacente à principal (também voltada para a referida praça) e a outra, abrindo-se diretamente para o
passeio de pedestres da Rua da Imperatriz. Este último é protegido por uma pérgola também
comporta por elementos em concreto armado de seção retangular. Além destes, há outros dois
acessos por escadas localizados nas extremidades da edificação, mas que permanecem inutilizados
há alguns anos.
A cromática utilizada na edificação, predominando os tons de cinza e marrom, provoca contraste
em relação aos demais elementos arquitetônicos do Centro Histórico de Petrópolis, contudo,
integra-se ao componente paisagístico do ambiente natural de mata preservada e montanhas, que
emolduram todo estre trecho da cidade.
Desde sua construção, o Centro apresenta detalhes construtivos que não obedecem ao projeto
original, apresentando falhas de execução apontados em documentos oficiais, apresentados ao
Prefeito Dr. Paulo A. Rattes, em 1976. Após sua inauguração, novas dependências foram instaladas
no prédio, como consta no Diário de Petrópolis do dia 13/05/1998.
No decurso do processo completo de construção, salas foram construídas sem padrões
arquitetônicos e parâmetros de conforto térmico e acústico, estando hoje inutilizadas por falta de
adequações para vivência dos usuários por longas horas. Havia a previsão de um teatro para três mil
expectadores, que seria anexo ao prédio existente (no trecho de terreno entre este e o Palácio
Amarelo, voltado para a Praça Visconde de Mauá) e interligado ao mesmo por uma passarela em
vidro (Azevedo, 2012, p. 8-10).
Portanto, este trabalho, além de propor soluções para mitigar as manifestações patológicas
estruturais encontradas, visando propor sua recuperação, embasará futuramente um projeto
completo de conservação e restauro para este bem cultural edificado.

2.2 O estilo brutalista no Brasil


As autoras Bastos e Zein (2010) dizem que existe um conjunto de características que conforma o
panorama do brutalismo. Cada característica pode aparecer isoladamente em arquiteturas que não
fazem parte da tendência brutalista, porque é o conjunto (mesmo que não totalmente completo) que
as classificam como tais. Para melhor compreensão destas características, as citadas autoras
analisaram arquiteturas brasileiras - principalmente paulistas dos anos de 1953 a 1973 - e as
agruparam em categorias.
O partido arquitetônico tende a exprimir volumetrias horizontais e hierarquia de blocos, ou seja, há
um bloco principal, que abriga as atividades principais do programa, como também contém os
acessos. Há a preferências por edifícios em monoblocos, que se integram com o entorno pelo
contraste visual e pelos acessos generosos.
Segundo Bastos e Zein (2010), no brutalismo, prefere-se soluções como a “caixa portante”, a
“planta genérica”, com vãos completamente livres. Prioridade pela solução de teto homogêneo em
grelha e emprego frequente de vazios verticais internos. Os espaços internos são geralmente
organizados de maneira flexível, interconectada e pouco compartimentada. Nas elevações, há
predominância dos cheios sobre os vazios.
É proposto emprego quase exclusivo de estruturas de concreto armado, algumas vezes protendido,
proporcionando maiores vãos livres e balanços amplos. Na maioria dos casos, o concreto armado
era moldado in loco e deixado aparente, mesmo quando utilizado em fechamentos internos. Quando
se utilizava outro material que não fosse o concreto, este também era deixado aparente. Esta
característica tem relação com a “honestidade do uso dos materiais” (BASTOS e ZEIN, 2010).
valorizando suas texturas e demais características próprias.
As aberturas para a circulação de ventilação natural são alocadas nas laterais dos edifícios e, muitas
vezes, recebem brises ou outros dispositivos para promover sombreamento. A cor destes elementos,
também de concreto aparente, promove uma iluminação natural mais amena e difusa nas paredes de
bordas onde se encontram, contrastando com os espaços centrais, onde a iluminação natural é
abundante devido às aberturas zenitais.
Na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro, o Centro Cultural Raul de Leoni foi o único
exemplar encontrado de arquitetura modernista brutalista, situado em trecho particularmente nobre
do centro histórico da cidade de Petrópolis, em frente à propriedade do Museu Imperial.
3. ANÁLISES DAS PRINCIPAIS PATOLOGIAS ENCONTRADAS NO EDIFÍCIO
As patologias encontradas nesta construção são aquelas que podem ser consideradas normais e até
mesmo esperadas nas estruturas em concreto armado aparente, de forma especial quando não
atendem a um conjunto de medidas de manutenção, indispensáveis a este tipo de construção. A
presença de umidade, associada à lixiviação e a ascensão da água por capilaridade, em uma cidade
com unidade relativa do ar média muito elevada e um regime de chuvas intenso, não podem ser
consideradas como surpreendentes. A figura 2 mostra o prédio quase que completamente marcado
pela umidade ascendente e descendente, advinda do meio em que se insere e dos canteiros dos
jardins localizados em algumas coberturas.

Figura 2 - Fachada lateral do Centro de Cultura Raul de Leoni, mostrando inúmeras manchas derivadas dos
processos de umidades ascendente e descendente, como também sujidades de modo geral, causadas pela
drenagem inadequada e ações de intempéries (Fonte: FACHETTI ,2018).

A presença da água no interior do concreto é ocasionada por um concreto de elevada porosidade,


fato bastante comum há cerca de 50 anos – época da construção. A principal consequência deste
fato é a penetração de agentes agressivos, formando depósito de materiais orgânicos, fonte de
manchas e reações expansivas que destroem os elementos de concreto; ácidos provenientes da
atmosfera, carreados pelas águas pluviais; sais de produtos de limpeza, que tendem, ao longo do
tempo, ampliar os poros do concreto - facilitando o aumento do fluxo e a aceleração do processo de
deterioração do mesmo e, em muitos casos, do aço estrutural em seu interior (MEHTA, 2006).
O concreto aparente, associado à porosidade, facilita em muito o avanço da carbonatação, devido à
elevada facilidade de penetração dos agentes agressivos. A carbonatação é um fenômeno
caracterizado pela reação química entre o hidróxido de cálcio originado na hidratação do cimento.
Os carbonos presentes no ar atmosférico resultam na formação de carbonatos com pH muito inferior
ao do concreto, o que ocasiona a despassivação das armaduras no interior do mesmo. Este processo
forma uma pilha dentro da massa que, com a oxidação (formação de ferrugem) e, por seu maior
volume dentro do concreto, provoca a ruptura - estufamento e/ou desplacamento - do cobrimento de
argamassa em diversos pontos das peças atacadas, conforme demonstrado na figura 3 (MEHTA,
2006).

Figura 3 - Ponto de estufamento do concreto, devido ao aumento de volume do aço interno, em processo de
corrosão (despassivação) (Fonte: FACHETTI, 2018).

Estes fatos associados a um cobrimento insuficiente de armadura - além das falhas executivas,
mesmo em função de valores reduzidos especificados pelas normas técnicas da época do projeto e
construção (ver NB-1, ABNT, 1960) - faz com que a perda de passividade da armadura ocorra em
tempo muito menor do que seria possível com o atual conhecimento da tecnologia do concreto.
Deve ser ainda considerado que o concreto poroso, com elevada quantidade de água em seu interior,
funciona como um eletrólito de alta qualidade para a passagem da corrente elétrica formada pela
diferença de potencial, ocasionada por zonas de diferentes valores de pH. O somatório de todos
estes processos resulta em um avanço acelerado do estado de deterioração, com consequente perda
de integridade da estrutura que, com o passar do tempo, sem as adequadas intervenções, certamente
atingirá um estado de comprometimento de sua segurança estrutural, em curto prazo.
A questão da segurança estrutural foi avaliada cuidadosamente, permitindo a conclusão de que em
função do sistema estrutural adotado, as caixas auto portantes, que sustentam a estrutura de forma
geral, apesar das armaduras expostas e fissuras originadas pelos processos de retração do concreto
(GAIOFATTO, 2008), a estrutura não apresenta comprometimento de sua estabilidade global,
entretanto, alguns elementos isolados apresentam elevado comprometimento de sua integridade e já
mostram sinais de aproximação do limite de capacidade portante, exigindo medidas de escoramento
emergenciais.
Como foi possível observar nas vistorias realizadas para a pesquisa na qual se baseia este trabalho,
os danos aparecem, em sua maioria, na parte externa, sendo o trecho inferior da estrutura aquele
mais comprometido, como mostra a figura 4. Este fato está associado à menor qualidade do
adensamento das paredes em sua parte inferior, à ascensão da água por capilaridade e à menor
proteção superficial. Nos trechos mais elevadas, bem como no interior do edifício, os danos são em
menor quantidade e resultantes, de forma geral: falhas de execução no cobrimento das armações; e à
carbonatação, que permite a ocorrência da corrosão pela perda da película passivante das barras de
aço no interior do concreto armado.

Figura 4 - Trecho inferior da fachada principal do prédio, próximo a um dos jardins, com vários pontos de
armadura exposta (Fonte: FACHETTI, 2018).

A associação da porosidade do recobrimento insuficiente do concreto com o acúmulo de materiais


orgânicos (carreado pelos ventos e/ou aves) e a umidade ali concentrada, provoca o aparecimento
de ataque biológico de cunho vegetal, de pequeno a médio porte – o que só vem a aumentar as
fissuras, estufamentos e consequentes desplacamentos desta argamassa, expondo, ainda mais, sua
estrutura em aço.
Outros danos, provocados pela ação nociva do homem, são nitidamente percebidos no interior e
exterior do Centro de Cultura Raul de Leoni, como o vandalismo, expresso por pichações nas
fachadas, mas, principalmente, nos banheiros do prédio. Estes espaços encontram-se
particularmente deteriorados, tendo louças desgastadas e danificadas, instalações hidráulicas e
elétricas precárias, espelhos oxidados, cabines com dimensões inadequadas e elevadas por um
degrau, acima do nível dos banheiros.
A volumetria da edificação cria recuos e alguns espaços abertos inutilizados e distantes dos fluxos
principais da mesma, como as escadas externas de ambas as extremidades, tornaram-se, inclusive,
ponto de encontro de atividades ilegais, como tráfico e uso de drogas. Nestes trechos do prédio, há
presença intensa de urina humana, que ocasiona deterioração dos materiais de revestimento,
principalmente das paredes. Em contato com o concreto poroso, pode vir a se infiltrar e atingir as
ferragens da estrutura aparente da edificação.
Após vistorias realizadas no local, denota-se que a estrutura em análise se encontra em fase da
deterioração avançada, com perda intensa de sua integridade e comprometimento incondicional de
vida útil de projeto sem, no entanto, apresentar comprometimento significativo de sua segurança. A
partir da identificação destas patologias e suas respectivas causas, puderam ser propostas soluções
de recuperação estrutural para o presente objeto que estudo, que serão expostas, a seguir.

4. PROPOSTA DE RECUPERAÇÃO DAS PATOLOGIAS


Como mencionado acima, após os levantamentos de danos, a primeira providência realizada foi a
avaliação da segurança global da estrutura, tendo sido esta avaliação conclusiva quanto à adequada
manutenção das condições de estabilidade da mesma, embora, em pontos localizados, como bases
de jardineiras e algumas lajes de vão mais acentuado, o comprometimento da integridade já
compromete de forma crítica a segurança localizada destes elementos.
Para que haja a interrupção do processo de arruinamento da edificação, é necessário que um intenso
processo de recuperação estrutural e, sobretudo, de proteção generalizada seja projetado e
implementado na maior brevidade possível, devendo ser evitada a implantação dos tradicionais
reparos localizados, uma vez que estes procedimentos além de não serem suficientes, aceleram a
despassivação da estrutura, comprometendo de forma acelerada a integridade estrutural.
O caminho da reconstituição da estrutura em concreto armado do edifício em análise deve passar
inicialmente pela eliminação das causas, através da drenagem efetiva do prédio, inicialmente pela
eliminação da água disponível nos elementos em contato com o solo, como fundações, jardineiras e
muros de contenção. Estes procedimentos, recomendados em Gaiofatto et al. (2016), constituem um
conjunto de cuidados indispensáveis à obtenção de resultados compatíveis com as intervenções a
serem realizadas e fundamentais, para a obtenção de uma vida útil mais longa ao monumento
recuperado. Várias técnicas permitem a redução, ou mesmo da eliminação destas umidades e devem
ser avaliadas em cada caso através de medições e determinação dos caminhos da água, através da
elaboração de projeto cuidadoso. Da mesma forma, as partes mais elevadas, como coberturas e
calhas superiores, devem receber os reparos adequados, de forma a garantir o adequado fluxo das
águas, sem que as mesmas tenham a possibilidade de contato direto com os elementos de concreto.
Nestes casos, os revestimentos impermeáveis são fundamentais e sua adequada especificação
devem considerar a adequada durabilidade a ser buscada e obtida.
Além destes fatores, os elementos estruturais então deverão ser recuperados, inicialmente pela
recuperação localizada incluindo exposição e limpeza das barras atingidas pela corrosão, remoção
de todo o concreto danificado e reconstituição dos elementos estruturais, obrigatoriamente com
argamassas poliméricas enriquecidas com fibras sintéticas. Todos estes procedimentos devem ser
acompanhados por avaliações continuadas de engenheiro estrutural, quanto à integridade
remanescentes dos elementos, seja antes das intervenções ou após as intervenções de limpeza que se
façam necessárias. Os materiais aqui indicados devem ser escolhidos em consonância com as
recomendações da EN-1504 (NP-EM-1504, 2006).
Posteriormente aos reparos localizados, toda a estrutura de concreto aparente, após receber limpeza
intensa através de sistemas de hidrojateamento com pressão mínima de 3000 psi, além de remoção
de incrustrações localizadas, deverá receber recobrimento realcalinizante, visando a extrema
minimização das pilhas eletroquímicas ocasionadas pela diferença de potencial ocasionada pela
carbonatação, como descrito acima. Estes procedimentos, conforme indicados em Gaiofatto et al.
(2018), são fundamentais para a obtenção de resultados compatíveis com os objetivos de
restauração e dos investimentos dedicados.
Finalmente, os procedimentos de recuperação da estrutura recomendados deverão ser seguidos pela
emissão de um manual de uso e manutenção, onde fiquem devidamente definidas as etapas e
serviços de manutenção fundamentais para garantia da nova vida útil a ser fornecida à estrutura.

5. CONCLUSÃO
Mesmo que sejam sanados os danos estruturais, através de estudos aprofundados – que permitam
intervenções minimalistas, em acordo com todas as recomendações técnicas e teóricas que
embasam os melhores procedimentos de conservação e restauro de bens tombados edificados –,
estas não serão suficientes para evitar que a deterioração retorne, uma vez que a inadequada
utilização da edificação incentiva estes acontecimentos indesejados.
Desta forma, entende-se essencial que seja desenvolvido um projeto arquitetônico completo de
revitalização e requalificação do Centro de Cultura Raul de Leoni, voltado para a renovação de
todos os espaços – abertos ao público e/ou destinados a uso exclusivo da administração. A
valorização da arquitetura modernista brutalista é o fator norteador, seguidos da absoluta
necessidade de suprir as questões concernentes à acessibilidade universal ao máximo possível dos
espaços internos e externos.
Com base nesta revitalização, o projeto de recuperação estrutural poderá ser aplicado de forma
simplificada, quando unificado à implantação de intervenções arquitetônicas, de maneira que as
bases dos novos revestimentos sejam apropriadas e resistentes às agressividades ambientais e
antropológicas a que está sujeita a construção em análise.
Finalmente, deve ser frisado que a adequada e contínua manutenção das construções em geral e dos
bens históricos em particular é parte integrante da construção, e que, os órgãos responsáveis por
estes monumentos tenham a consciência da importância da continuidade das ações de restauração
através da implantação de um adequado plano de manutenção.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos à equipe integrada de alunos e professores dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e
Engenharia Civil da Universidade Católica de Petrópolis, que continuamente nos acompanham e
ajudam com pesquisas e desenvolvimentos que incentivam a continuada busca por novos
conhecimentos e sua aplicação.

REFERÊNCIAS
[1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – NB-1: Projeto e execução de estruturas de concreto
armado, Rio de Janeiro, 1960.
[2] ______ NBR 6118/14 – Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimentos - Rio de Janeiro – 2014.
[3] NP-EN1504 – Produtos e Sistemas para Protecção e Reparação de Estruturas de Betão Projeto de Estruturas
de Concreto – Caparica – 2006.
[4] AZEVEDO, Mariliza de. Centro de Cultura Raul de Leoni: maior centro cultural do interior do Estado
completa 35 anos. In: Petrópolis: A Revista da Cultura e do Turismo. Petrópolis, RJ. N.33. Fevereiro de 2012.
Disponível em: <https://issuu.com/domcriatividade/docs/revista_petr__polis_ed_33__-_fevere>. Acesso em: 07
nov. 2018.
[5] BASTOS, Maria Alice Junqueira; ZEIN, Ruth Verde. Brasil: arquitetura após 1950. São Paulo: Perspectiva, 2010.
[6] MEHTA, P. Kumar; Monteiro, Paulo J. M.. Concrete: Microstructure, Properties and Materials. 3 ed. New
York: McGraw-Hill, 2006.
[7] GAIOFATTO, R. L.; FACHETTI, A. K..; MACHADO, E. P. Análise dos danos que comprometem a
integridade do centro cultural Raul de Leoni. Anais do II Simpósio Científico do ICOMOS-Brasil – Belo
Horizonte, 2018.
[8] GAIOFATTO, R. L.; FACHETTI, A. K..; MACHADO, E. P. A restauração da catedral de Petrópolis. Anais do
16º. CINPAR – Porto – Portugal, 2016.
[9] GAIOFATTO, R. L. Os diversos tipos de Retração. 3º. Congresso de Engenharia - Juiz de Fora, 2008.
[10] ZEIN, Ruth Verde. Breve introdução à arquitetura da escola paulista brutalista. Arquitextos, São Paulo, ano
06, n. 069.01, Vitruvius, fev. 2006. Disponível em: <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.069/375>.
Acesso em: 07 nov. 2018.
UTILIZAÇÃO DE CONCRETO RECICLADO PARA REFORÇO DE SUB-
BASE DE PAVIMENTAÇÃO

The use of recycled concrete for the reinforcement of pavement subbase

Rafaela Sophia dos Santos 1, Ricardo Franciss 2


1
Centro de Engenharia e Computação Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil,
rafaela_sophia@outlook.com.br
2
Centro de Engenharia e Computação Universidade Católica de Petrópolis, Petrópolis, Brasil, ricardo.franciss@ucp.br

Resumo: A pesquisa realizada tem como principal objetivo analisar os resultados do acréscimo de
diferentes porcentagens do agregado reciclado da construção civil, proveniente de corpos de prova
de concreto britados, no solo encontrado na Universidade Católica de Petrópolis com o intuito de
reforçá-lo para funcionar como sub-base de pavimentos. Foram realizados diversos ensaios
laboratoriais para definir as características físicas do solo e do agregado. Além disso, foi realizada a
análise da compactação de acordo com as porcentagens de agregado escolhidas, sendo elas 15%, 25%
e 50%, encontrando resultados para definir qual das opções se encaixaria de maneira mais ideal para
os fins buscados. Na sequência, utilizando a mistura com porcentagem ideal e umidade ótima de
compactação, foram iniciados os testes de expansão e Índice Suporte Califórnia. Com esses ensaios
foi possível determinar a absorção de água durante o período de 96 horas e se sua expansibilidade
estaria dentro dos padrões necessários para que a mistura atendesse à função exercida. Além disso,
com o Índice Suporte Califórnia, foi realizado o ensaio de penetração, definindo se a porcentagem
de CBR encontrada estaria dentro dos padrões normativos necessários. Os resultados obtidos e
métodos realizados estão de acordo com suas respectivas Normas Brasileiras Regulamentadoras
(NBR) e com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), desta forma, podem ser
considerados de extrema confiança e verossimilidade.

Palavras-chave: Índice Suporte Califórnia, Pavimentação, Sub-base.

Abstract: This work aims at analyzing the results of the addition of different percentages of
construction recycled aggregate from crushed concrete specimen, to the soil found at Catholic
University of Petropolis, with the objective of reinforcing it to function as pavement subbase. Many
lab tests were carried out to define the physical characteristics of the soil as well as the ones of the
recycled aggregate. Besides, a soil compaction analysis was done, considering the chosen
percentages of aggregate as it follows: 15%, 25% and 50%. The results would define which option
would best suit the purposes of this study. Next, a mixture containing the ideal percentage and the
optimal compaction humidity was used to initiate the expansion and California Bearing Ratio tests.
With these tests it was possible to determine the water absorption in a period of 96 hours and to
verify whether the expansion was within the required standards to meet the desired objectives. The
California Bearing Ratio was used in the penetration test, defining if the percentage of CBR would
be according to the normative standards. All the results obtained as well as the performed methods
are in accordance with the Brazilian Regulatory Standards (NBR) and the Brazilian Association of
Technical Standards (ABNT). Hence, they all can be considered of extreme confidence and
authenticity.
Keywords: California Bearing Ratio, Pavement, subbase.

1. INTRODUÇÃO
No Brasil, muitas estradas e rodovias estão em péssimas condições. De acordo com o Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transporte, apenas 10,8% das rodovias federais não são asfaltadas.
Nas estradas estaduais essa porcentagem passa a ser de 43,7%. E, as rodovias municipais
apresentam a pior taxa, sendo de 92,2% não pavimentadas.
A falta dessa infraestrutura é um dos grandes problemas no país, pois além de causar milhares de
acidentes e consequentes mortes, ainda causa um prejuízo de bilhões de reais.
Algumas das principais causas da precariedade das rodovias são a falta de recursos, as falhas de
execução e descumprimentos de projetos.
Quando as vias apresentam ondulações, irregularidades e/ou buracos tornam-se perigosas,
aumentando os riscos de acidentes e diminuindo o conforto e segurança dos condutores, que por sua
vez é ainda menor quando há ocorrência de chuvas, deixando as vias ainda mais perigosas e
traiçoeiras.
Além disso, caso as vias sejam de difícil afluência ou estejam em más condições o desenvolvimento
local pode ser diretamente prejudicado, devido a complicações no transporte de cargas tanto para
fora quanto para dentro da cidade, fazendo com que seja menos frequente e de maior custo,
afetando o comércio e abastecimento de produtos de todos os gêneros.
Por estes e por outros motivos o estudo das estradas e rodovias, seus fluxos e suas condições é de
extrema importância e devemos sempre estar buscando maneiras de torná-los melhores e
economicamente mais viáveis.
Uma das maneiras de melhorar a condição de vias é realizando o reforço de pelo menos uma das
camadas de pavimentação em locais nos quais os solos não apresentam características físicas
favoráveis à pavimentação, tendendo a apresentar deformações conforme aplicado o carregamento
e/ou a absorção de água.
O reforço de sub-base de pavimentos, por exemplo, realizado com o acréscimo de agregado
reciclado da construção civil, também conhecido como concreto reciclado, além de melhorar a
qualidade da pavimentação das rodovias ainda torna possível reaproveitar um material que é
encontrado em abundância e na maioria das vezes não tem destino apropriado na etapa de descarte.
Solos muito deformáveis não reforçados, materiais de má qualidade, erros de projeto e execução
fazem com que as vias tornem-se perigosas e desconfortáveis, muitas vezes com ondulações
causadas pela movimentação das camadas de pavimentação que não foram preparadas e executadas
de forma correta, assim como grande quantidade de buracos na superfície resultante da erosão que
acontece de forma acelerada e precoce quando os materiais não são de boa qualidade e/ou o cálculo
do fluxo de tráfego e execução não foram corretos.
Tendo em vista os problemas demonstrados esta pesquisa visa identificar as modificações que
ocorrem no solo encontrado na Universidade Católica de Petrópolis quando acrescido de diferentes
porcentagens de agregado reciclado da construção civil, sendo este proveniente de corpos de prova
de concreto britados, com o intuito de reforçá-lo para exercer função de sub-base de pavimentos, de
forma que não aconteça movimentação ou deformação das camadas.
E, além disso, determinar se a mistura solo + agregado atende aos padrões da Associação Brasileira
de Normas Técnicas para os fins aqui almejados.
Como solução propõe-se acrescentar porcentagens de concreto reciclado no solo estudado às
proporções de 15%, 25% e 50%. Em seguida, analisar quais das porcentagens apresentam os
melhores resultados e se com eles é possível atingir o objetivo proposto, de maneira que o solo
estudado atenda aos requisitos necessários definidos por norma técnica para que exerça a função de
sub-base no processo de pavimentação.

2. MÉTODOS
Os ensaios conduzidos durante o período de pesquisas tiveram o objetivo de estabelecer e
identificar todas as características do solo e do material utilizado como agregado. Todos os ensaios
foram realizados de acordo com suas respectivas normas técnicas, seguindo de maneira rigorosa
cada detalhe, visando resultados confiáveis e verossímeis.
Para obtermos a caracterização do solo foram realizados os procedimentos listados abaixo.
 Análise granulométrica;
 Massa específica real dos grãos;
 Umidade natural;
 Umidade higroscópica;
 Limite de plasticidade;
 Limite de liquidez.
Além disso, foi realizada a compactação do solo puro e com diferentes quantidades do agregado
aqui escolhido para estudo, sendo elas 15%, 25% e 50%.
Por fim foi realizado o ensaio de Índice Suporte Califórnia com o objetivo de definir os critérios de
expansão e penetração da mistura solo + 15% de concreto reciclado, que foi ao longo dos testes a
proporção considerada mais vantajosa para os fins necessários, como foi possível observar de
acordo com os resultados.
2.1. Análise Granulométrica
Através da análise granulométrica do solo é possível observar as porcentagens de amostra que
passam através de cada peneira, determinando a porcentagem de cada tipo de material que compõe
o solo, sendo elas:
 Areia grossa – amostra entre as peneiras #2 mm a #0,6 mm – 39,8%
 Areia média – amostra entre as peneiras #0,6 mm a 0,2 mm – 36,22%
 Areia fina – amostra entre as peneiras #0,2 mm a 0,05 mm – 15,31%
 Pedregulho – amostra retida na peneira #2,36 mm – 5,1%
 Silte e Argila – amostra entre a peneira #0,075 mm e o fundo – 3,57%
Desta forma, a granulometria do solo definiu que sua composição é de 91,33% de areia, 5,1% de
pedregulhos e somente 3,57% de uma mistura de silte e argila.
Além disso, temos a curva granulométrica traçada a partir dos resultados demonstrada na Figura 1.

Curva de Distribuição Granulométrica (Solo)


100,00
90,00
80,00
70,00
% que passa

60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
-00
0,00001 0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10
Abertura (mm)

Figura 1 - Curva de Distribuição Granulométrica do Solo Puro


Com os resultados obtidos através da análise do concreto reciclado foi possível traçar também a
curva de distribuição granulométrica do material, demostrada pela Figura 2.

Curva de Distribuição Granulométrica (Concreto Reciclado)


100,00
90,00
80,00
70,00
% que passa

60,00
50,00
40,00
30,00
20,00
10,00
-00
0,00001 0,0001 0,001 0,01 0,1 1 10
Abertura (mm)

Figura 2 - Curva de Distribuição Granulométrica do Concreto Reciclado


O concreto reciclado utilizado apresentou uma porcentagem consideravelmente maior de grãos
retidos na primeira peneira, nº08 - #2,36mm, do que o solo. Porém, ainda assim a quantidade de
concreto reciclado passante nas peneiras mais finas, nº28 - #0,6 mm em diante, foi maior do que a
quantidade obtida com a amostra de solo. Desta forma, é possível perceber que apesar do concreto
reciclado conter grãos maiores também possui material de granulometria muito pequena, sendo
considerado mais heterogêneo do que a amostra de solo.
Ambos, solo e concreto reciclado, possuem curvas granulométricas que se enquadram no padrão da
curva B de acordo com as dimensões das partículas, especificado na Norma DNIT 719:2006 – p.33.
2.2. Massa Específica Real dos Grãos
Os resultados obtidos durante a análise da massa específica real dos grãos podem ser observados
conforme descritos nas Tabelas 1 e 2 abaixo.
Tabela 1 – Análise dos Resultados para Determinação da Massa Específica Real dos Grãos do Solo
Solo
Temp. da Água ϒágua destilada ϒg
Ensaio P1 (g) P2 (g) P3 (g) P4 (g)
Destilada (ºC) (g/cm³) (g/cm³)
A 143 201 661 625 22 0,9978 2,63

Tabela 2 - Análise dos Resultados para Determinação da Massa Específica Real dos Grãos do Concreto Reciclado
Concreto Reciclado
Temp. da Água ϒágua destilada ϒg
Ensaio P1 (g) P2 (g) P3 (g) P4 (g)
Destilada (ºC) (g/cm³) (g/cm³)
B 143 202 662 630 22 0,9978 2,18

Os resultados obtidos para a massa específica real dos grãos do solo e do concreto reciclado foram
satisfatórios, pois o concreto tem densidade inferior a dos grãos do solo, principalmente areias, que
tem no quartzo sua maior fonte (sílica – SiO2) apresentando densidade igual a 2650 kg/m³, enquan-
to o cimento apresenta densidade de 2200 kg/m³
2.3. Umidade Natural
A análise da umidade natural é de suma importância, pois é a partir dela que podemos identificar as
condições hídricas nas quais o material a ser trabalhado se encontra, sendo possível ter uma ideia
mais precisa da quantidade de água necessária para que o solo tenha uma melhor compactação.
Além disso, é um dos fatores decisivos na caracterização do solo, permitindo identificar as situações
nas quais seu uso é mais proveitoso e, quando não recomendável para os fins necessários, quais as
maneiras de torná-lo mais ideal.
Então, para determinar a umidade natural do solo e do concreto reciclado foram analisadas cinco
amostras de cada um dos materiais.
De acordo com as amostras analisadas, a umidade natural média encontrada para o solo foi de h =
23,95%. Enquanto a umidade natural média encontrada para o concreto reciclado foi de h = 1,87%.
Sendo esta consideravelmente menor do que a umidade natural média encontrada para o solo.
2.4. Umidade Higroscópica
Assim como para determinar a umidade natural foram analisadas cinco amostradas de solo e cinco
amostras de concreto reciclado.
Desta forma, a umidade higroscópica média encontrada para o solo foi de h = 19,67%. Enquanto a
umidade higroscópica média do solo foi de h = 0,559%, de acordo com a média retirada dos resul-
tados obtidos.
2.5. Limite de Plasticidade e Liquidez
O ensaio para determinar os limites de plasticidade e liquidez não puderam ser realizados para o
concreto reciclado devido às características físicas do material. Ou seja, independentemente da
quantidade de água adicionada o material não apresentou coesão entre as partículas. Além disso, é
um material não plástico, desta forma não sendo possível moldá-lo.
Já para o solo, de acordo com os resultados obtidos, foi realizada a média dos valores, determinando
LPmédio = 12,67%. Em seguida determina-se um intervalo de -/+5% e excluem-se todos os resul-
tados que não se encaixam em 12,03% ≤ h ≤13,30%. .
E então, o limite de plasticidade do solo é determinado a partir do inteiro mais próximo à média
encontrada. Desta forma, LPsolo = 13%.
Para determinar o limite de liquidez do solo foi realizado o Ensaio de Casagrande, com o qual de-
terminamos o limite de liquidez a partir do momento em que ocorre a junção dos bordos inferiores
quando aplicados 25 golpes. O limite de liquidez encontrado foi de LL = 18%.
Com os resultados encontrados nos ensaios anteriores é possível traçar o esquema de estados de
consistências demostrado na Figura 3.

Figura 3 - Esquema de Estados de Consistências do Solo


Os ensaios de limite de liquidez e plasticidade são idealmente para solos finos. Entretanto, apesar
do solo utilizado ser constituído principalmente por areias grossas e médias foi possível realizá-los,
pois de acordo com minha análise tátil pude perceber que o solo possuía coesão e diâmetros de
grãos pequenos.
No entanto os resultados encontrados foram apenas para quesito de conhecimento e não foram
considerados nas análises finais.
2.6. Compactação
A compactação tem como principal objetivo diminuir o volume de vazios existentes no solo,
causando a expulsão do ar.
O aumento do peso específico do solo, produzido pela compactação, depende da energia aplicada e
do teor de umidade.
A curva de compactação do solo varia de acordo com a massa específica ϒ em função da umidade h,
como será demonstrado nos seguintes tópicos.
Quando traçamos a curva de compactação obtemos um ϒs máximo correspondente a uma umidade
que será classificada com umidade ótima Wot , diferentes para cada tipo de solo.
A curva de compactação que tende ao comportamento ideal aproxima-se da mostrada na Figura 4,
retirada do livro “Mecânica dos Solos e Suas Aplicações” (6ª edição, volume 1) de Homero Pinto
Caputo – p.173.

Figura 4 - Curva de Compactação


Para obtermos as informações necessárias para traçar o gráfico demonstrado pela Figura 4 mostrado
acima foram utilizados os processos de compactação descritos na ABNT NBR 15115:2004 que
normatiza que a energia de compactação utilizada para camadas de sub-base utilizando agregados
reciclados de resíduos sólidos da construção civil deve ser no mínimo intermediária. Também foi
utilizada a ABNT NBR 6457:1986 que define o tamanho do cilindro a ser utilizado de acordo com o
diâmetro das partículas do solo.
Neste caso, foi utilizado o cilindro pequeno, pois o solo passava por completo na peneira de
abertura 4,8 mm, como determinado na norma e demonstrado na Tabela 3, retirada de ABNT NBR
6457:1986 – p.02.
Tabela 3 - Procedimentos Após Peneiramento

Além disso, de acordo com a ABNT NBR 7182:2016, os parâmetros para determinar o nº de
camadas, nº de golpes por camada e tamanho do soquete, referentes à energia intermediária são
dados pela Tabela 4, retirada da ABNT NBR 7182:2016 – p.05.
Tabela 4 - Energia de Compactação (Cilíndro Pequeno)

O processo de compactação foi realizado para o solo puro e para as misturas de 85% de solo com 15%
de agregado reciclado, 75% de solo com 25% de agregado e por fim 50% de solo com 50% de
agregado.
Ao final dos ensaios foi possível determinar a curva de compactação do solo e de cada uma das
misturas.
Após traçadas todas as curvas de compactação foi possível perceber que a curva que mais
aproximou-se da ideal, mostrada na Figura 4, foi a curva de compactação referente à mistura de 75%
de solo com 15% de agregado.
Além disso, também foi possível perceber que ao adicionarmos uma maior porcentagem de
agregado além dos 15%, a tendência da curva de compactação da mistura seria aproximar-se cada
vez mais da curva de compactação inicial, ou seja, do solo puro. Para demonstrar essa tendência foi
traçado o gráfico representado pela Figura 5 e a mesma pode ser observada abaixo.

Curvas de Compactação de Acordo com as


Porcentagens de Agregado
18,90
18,70
18,50
18,30
18,10
ϒs (KN/m³)

17,90 0%
17,70
17,50 15%
17,30
17,10 25%
16,90
16,70 50%
16,50
6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
h (%)

Figura 5 - Comparativo de Curvas de Compactação de Acordo com a Porcentagem de Agregado


Desta forma, foi definido que os ensaios seguintes seriam realizados de forma a testar a mistura solo
+ agregado que obteve a curva de compactação mais próxima à ideal, sendo esta então a curva da
mistura de 85% de solo com 15% de agregado e sua respectiva umidade ótima, Wot = 9,1%.
2.7. Índice Suporte Califórnia
Este ensaio foi realizado seguindo os padrões da norma DNIT 172:2016 – ME, iniciando-se com a
separação de três amostras de 7,0 kg de material a ser testado em cada, destorroado e
homogeneizado. Em seguida essas amostras foram deixadas secando ao ar durante o período de 24
horas para que atingissem sua umidade higroscópica. E então, as amostragens foram passadas na
peneira de 19 mm, não havendo material retido.
Após esse processo foi adicionada a quantidade de água destilada necessária para que as amostras
atingissem a umidade ótima encontrada no ensaio de compactação realizado anteriormente, sendo
ela de Wot = 9,1% obtida através do acréscimo de 101 ml de água destilada na amostra de 3,0 kg
inicialmente em sua umidade higroscópica, como o material testado.
Para encontrar a quantidade de água destilada que deveria ser acrescida na amostra de 7,0 kg foi
realizada uma simples regra de três, obtendo o resultado a ser acrescido de 235 ml de água destilada.
Após o período de secagem, a realização do peneiramento e o acréscimo de 235 ml de água
destilada, foi possível dar início aos testes.
Para os fins necessários serão utilizados os cilindros grandes, como definidos na norma e energia
intermediária definida na ABNT NBR 15115:2004. Além disso, será utilizada a ABNT NBR
7182:2016 que define a quantidade de camadas, nº de golpes/camada e soquete a serem utilizados.
Tudo isso pode ser observado na Tabela 5, retirada da ABNT NBR 7182:2016 – p.06.
Tabela 5 - Características Inerentes a Cada Energia de Compactação - Cilíndro Grande

Os materiais a serem utilizados são então pesados e enumerados. Feito isso, o molde é fixado à sua
base metálica e o disco espaçador (15,00 cm ± 0,05 cm de diâmetro e de 6,35 cm ± 0,02 cm de
altura) é posicionado como fundo falso, tendo em sua parte superior uma folha cilíndrica para evitar
perdas de material que possa aderir-se à superfície do disco espaçador, de forma que a altura total de
solo obtida após a compactação seja de cerca de 12,5 cm.
Em seguida é dado início ao processo de compactação, aplicando 26 golpes em cada uma das cinco
camadas, utilizando o soquete grande.
Após a compactação o cilindro complementar é retirado, de forma a restar somente a parte com a
amostra compactada.
O material compactado é faceado com o auxílio de uma régua rígida biselada até que fique com a
altura exata do molde.
Com os corpos de prova prontos é dado início ao ensaio de expansão, no qual o disco espaçador de
cada um dos mesmos é retirado, os moldes são invertidos e fixados nos respectivos pratos-base
perfurados.
Em cada um dos corpos de prova devem ser adicionados os pesos anelares, nos espaços deixados
pelo disco espaçador, com massa superior a 4,536 kg juntamente com a haste de expansão.
Na haste de expansão é adaptado um extensômetro fixo ao tripé porta-extensômetro na borda
superior do cilindro. O extensômetro tem como função medir a expansão dos corpos de prova
ocorrida durante o período 96 horas de imersão em água. As medições devem ser realizadas no
intervalo de 24 em 24 horas.
Após o período de 96 horas e realizadas todas as medições, os corpos de prova devem ser retirados
da água e deixados durante 15 minutos para que parte da água absorvida possa escoar. Feito isso, os
moldes estão prontos para dar início ao ensaio de penetração.
Para o ensaio de penetração é necessário colocar os moldes, um a um, no prato da prensa com as
mesmas sobrecargas utilizadas no ensaio de expansão posicionadas no topo de cada corpo de prova.
Na sequência assenta-se o pistão de penetração no solo através de uma carga aplicada de
aproximadamente 45 KN, controlada pelo deslocamento do ponteiro do extensômetro do anel
dinamométrico.
Com os extensômetro do anel e o que mede a penetração do pistão no solo zerados, a manivela da
prensa deve ser acionada com velocidade de 1,27 mm/min. Após o início do acionamento da
manivela devem ser realizadas medições nos intervalos de 0,5, 1,0, 1,5, 2,0, 3,0, 4,0, 6,0, 8,0 e 10,0
minutos.
2.7.1. Ensaio de Expansão
Para os ensaios de expansão foram seguidos os procedimentos descritos acima de acordo com a
norma DNIT 172:2016 – ME, e, após realizadas as medições necessárias de 24 em 24 horas
durantes o período de 96 horas, foram obtidos os resultados demonstrados nas Tabelas 6, 7 e 8.
Tabela 6 – Resultados Molde 1 Tabela 7 – Resultados Molde 2 Tabela 8 – Resultados Molde 3

Apesar de terem sido obtidas porcentagens de expansão com diferenças significativas para cada um
dos moldes, nenhuma das amostras foi reutilizada e o material de cada molde partiu de uma mesma
amostra principal, com 15% de agregado e nas mesmas condições físicas.
A expansibilidade de um solo pode interferir diretamente na qualidade da pavimentação devido à
possibilidade de provocar manifestações patológicas irreparáveis.
De acordo com o Manual de Pavimentação – DNIT 719:2006 e com a ABNT NBR 15115:2004, o
valor de expansão categorizado para a função estrutural de sub-base deve ser ≤ 1%.
Neste caso, o solo aqui testado está fora dos padrões usuais utilizados para sub-base, pois apresenta
expansibilidade média de 3,43%, maior do que a permitida, sendo necessário projetar um reforço de
subleito para suprir as necessidades principalmente de recalque.
Além do reforço de subleito, caso o solo não atenda aos padrões exigidos, o mesmo ainda pode ser
estabilizado granulometricamente ou com a adição de cimento e/ou cal hidratada, sendo necessário
neste caso atender as diretrizes estabelecidas pela ABNT NBR 15115:2004.
2.7.2. Ensaio de Penetração
O ensaio de penetração foi realizado conforme descrito anteriormente no item 2.7., seguindo todos
os padrões da norma técnica para cada um dos três moldes e os padrões para as penetrações
principais, obtendo os resultados demonstrados nas Tabelas 9, 10 e 11 e seus respectivos gráficos,
demonstrados pelas Figuras 6, 7 e 8.

Tabela 9 – I.S.C. Molde 1


Penetração (mm) ISC (%)
2,54 14,19
5,08 12,02
ISC (%): 14,19

Figura 6 – Gráfico de Penetração I.C.S. Molde 1


Tabela 10 – I.S.C. Molde 2
Penetração (mm) ISC (%)
2,54 14,41
5,08 10,30
ISC (%): 14,41

Figura 7 – Gráfico de Penetração I.C.S. Molde 2

Tabela 11 – I.S.C. Molde 3


Penetração (mm) ISC (%)
2,54 23,80
5,08 19,12
ISC (%): 23,80

Figura 8 – Gráfico de Penetração I.S.C. Molde 3


Para nenhum dos gráficos demonstrados pelas Figuras 6, 7 e 8 apresentados acima foi necessário
realizar a correção da curva, pois não ocorreu nenhum ponto de inflexão.
Analisando os resultados demonstrados nas Tabelas 9, 10 e 11, temos que a média para os três
moldes é de ISCmédio = 17,47%, não atendendo aos requisitos da ABNT NBR 15115:2004 que
normatiza que amostras de material para execução de sub-base devem possuir ISC ≥ 20%.

3. ANÁLISE DOS RESULTADOS


Realizando a caracterização do solo e do agregado foi possível determinar diversas características
físicas essenciais para as etapas seguintes do estudo.
Tanto o solo quanto o concreto reciclado demonstraram resultados satisfatórios durante a análise
granulométrica, determinação da massa específica real dos grãos, umidades natural e higroscópica.
A umidade higroscópica do concreto reciclado encontrada foi consideravelmente menor do que a do
solo. Essa diferença pode ser explicada devido às características físicas de cada material.
No entanto, quando iniciados os ensaios de Limite de Liquidez e Limite de Plasticidade foi possível
perceber que o concreto reciclado não apresentava coesão entre as partículas ou plasticidade,
independente da quantidade de água adicionada ao material não foi possível moldá-lo.
Já com os ensaios de compactação, realizados para o solo puro, foi possível determinar que o
material é originalmente uma areia quase pura, tendo somente pequenas porcentagens de silte e
argila em sua composição. Ou seja, este solo tem tendência a ser altamente deformável e grande
capacidade de absorver água, características estas que não são desejáveis quando o assunto é
pavimentação.
Além disso, de acordo com ensaios de compactação realizados com o solo puro e adicionando 15%
e 25% de agregado foi possível perceber que conforme a porcentagem de concreto reciclado
aumentava além dos 15% iniciais a curva de compactação tendia a aproximar-se cada vez mais da
curva de compactação do solo puro.
Após a finalização do ensaio e traçados todos os gráficos, foi possível comprovar a teoria inicial de
que a curva de compactação se aproximaria cada vez mais da original, demonstrada na Figura 5.
Fato este que pode ter ocorrido devido à granulometria do concreto reciclado utilizado. Por ser um
material constituído por partículas muito finas além dos grãos maiores, o concreto reciclado
preencheu grande parte dos vazios existentes no solo, melhorando consideravelmente a sua
compactação e diminuindo o intervalo de umidade necessário para atingir a umidade ótima quando
acrescentada a porcentagem de 15%.
A partir do acréscimo além dos 15% o concreto reciclado, que já havia cumprido com sua função
esperada de preencher os vazios do solo e melhorar a compactação, passou a não influenciar de
maneira tão positiva, de forma que a compactação da mistura tornava-se cada vez mais próxima à
original. Desta forma, o intervalo de umidade aumentou novamente. Ou seja, não foi possível
observar grande vantagem ao adicionarmos porcentagens maiores do que 15% de agregado.
Com isso, foi determinada a porcentagem de agregado a ser utilizada para os ensaios de expansão e
penetração, 15%, por ter a curva de compactação mais próxima à ideal, menor intervalo de umidade
necessário para atingir a umidade ótima e ϒs máximo consideravelmente alto.
A partir da definição da umidade ótima e porcentagem de agregado a serem utilizadas, foi possível
iniciar os ensaios de expansão e penetração.
Os resultados obtidos não foram os esperados.
Inicialmente foi realizado o ensaio de expansão do solo, obtendo a expansibilidade média de 3,43%.
De acordo com o Manual de Pavimentação – DNIT 719:2006 e com a ABNT NBR 15115:2004 a
expansão máxima permitida para camadas de sub-base deve ser ≤ 1%. Desta forma, o reforço de
sub-base realizado não foi suficiente para que o solo atendesse aos padrões necessários.
Com isso, é possível que além do reforço de sub-base realizado, seja realizado o reforço de subleito
estabilizando granulometricamente o solo, conforme a ABNT NBR 11804, ou realizando a adição
de cimento e/ou cal hidratada no reforço de sub-base.
Existe a possibilidade de que se realizado o reforço de sub-base com agregado de maior
granulometria a mistura talvez permitisse que a água escoasse através das camadas de maneira mais
eficiente, diminuindo a absorção de água pelo solo e as porcentagens encontradas durante o ensaio
de expansão, atendendo a todos os requisitos necessários por norma.
Outro fator que não atendeu aos padrões normativos foi o Índice Suporte Califórnia encontrado com
o ensaio de penetração.
De acordo com a ABNT NBR 15115:2004, o I.S.C. para reforço de sub-base de pavimentos
utilizando agregados reciclados da construção civil deve ser ≥ 20%. Enquanto o ISCmédio
encontrado foi de 17,47%.
Devido aos resultados obtidos esta mistura não poderia ser utilizada para reforçar o solo estudado
para que cumprisse a função de sub-base. No entanto, acredito que se realizado o estudo novamente,
desta vez utilizando o concreto reciclado com granulometria maior, o I.S.C. também estaria dentro
dos padrões necessários.

4. CONCLUSÃO
Com todos os estudos realizados foi concluído que o reforço sugerido não é suficiente para que o
solo utilizado atenda aos padrões normativos necessários para que possa exercer a função de sub-
base de pavimentos.
Isto porque durante o ensaio de expansão o solo apresentou grande tendência a se deformar e muita
capacidade de absorver água, características estas que não são nada atraentes quando o assunto é
pavimentação, pois desta forma ocorreria movimentação das camadas causando irregularidades nas
pistas, desconforto e risco aos condutores.
No entanto, acredito que se aplicados os princípios do estudo, de forma a utilizar concreto reciclado
com granulometria maior, todos os parâmetros necessários quanto à expansão e penetração seriam
atendidos, pois o material permitiria que a drenagem das camadas fosse mais eficiente, resolvendo
os problemas causados pelas características físicas do solo e da grande quantidade de resíduos
sólidos da construção civil, que ao invés de descartada seria aplicada de forma proveitosa e
econômica.
Além disso, foi possível constatar que não existem vantagens ao adicionarmos quantidades de
concreto reciclado, com a granulometria utilizada neste estudo, além dos 15%, devido às
características do agregado e do solo, pois quanto maior a porcentagem de agregado, acima de 15%,
mais as características apresentadas pelas misturas durante o ensaio aproximavam-se das
características do solo puro. Desta forma, acredito que os resultados dos testes de expansão e
penetração seriam ainda piores, continuando assim fora dos padrões normativos para camadas de
sub-base.
Outro motivo para que a porcentagem de agregado não seja muito alta é devido à falta de
praticidade para substituir tamanha quantidade de solo em obras de grande porte como as de
pavimentação, demandando muito material para abastecer toda quilometragem necessária.

AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a meus pais por sempre me incentivarem a alcançar meu melhor e à Univer-
sidade Católica de Petrópolis por disponibilizar o laboratório de Mecânica dos Solos e todo material
necessário para conclusão desta pesquisa. Sem vocês nada disso seria possível. Muito obrigada!

REFERÊNCIAS
[1] DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-ESTRUTURA DE TRANSPORTES. IPR 719: Manual de pavimenta-
ção. Rio de Janeiro, 2006.
[2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15115: Agregados reciclados de resíduos sólidos
da construção civil – Execução de camadas de pavimentação – Pavimentação. Rio de Janeiro, 2004.
[3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6457: Amostras de solo – Preparação para ensaios
de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro, 1986.
[4] CAPUTO, H. P., Mecânica dos Solos e Suas Aplicações – Fundamentos, Livros Técnicos e Científicos Editora
S.A., v.1, n.6, p. 172-188, 1988.
[5] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7182: Solo – Ensaios de compactação. Rio de
Janeiro, 2016.
[6] DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRA-ESTRUTURA DE TRANSPORTES. IPR 172: Solos – Determinação
do Índice Suporte Califórnia utilizando amostras não trabalhadas – Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2016.
Juiz de Fora
14 - 17 de maio de 2019

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