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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

Tomoko Kimura Gaudioso

A PRESENÇA DO GOVERNO JAPONÊS E SUA POLÍTICA PARA


A PRESERVAÇÃO DE MEMÓRIA, DA IDENTIDADE E
PERPETUAÇÃO DA ETNIA JAPONESA NO EXTERIOR:
BRASIL, SÉCULO XX

Santa Maria, RS
2019
Tomoko Kimura Gaudioso

A PRESENÇA DO GOVERNO JAPONÊS E SUA POLÍTICA PARA A


PRESERVAÇÃO DE MEMÓRIA, DA IDENTIDADE E PERPETUAÇÃO
DA ETNIA JAPONESA NO EXTERIOR: BRASIL, SÉCULO XX

Tese apresentada ao Curso de


Pós-Graduação em História da
Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM), como requisito
parcial para obtenção do título
de Doutora em História.

Orientador: André Luís Ramos Soares

Santa Maria, RS
2019
Gaudioso, Tomoko Kimura
A Presença do Governo Japonês e sua Política para a
Preservação de Memória, da Identidade e Perpetuação da
Etnia Japonesa no Exterior: Brasil, século XX / Tomoko
Kimura Gaudioso.-2019.
248 p.; 30 cm

Orientador: André Luís Ramos Soares


Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa
Maria, Centro de Ciências Sociais e Humanas, Programa de
Pós-Graduação em História, RS, 2019

1. Imigração Japonesa 2. Etnia e Geopolítica 3. Memória


e Patrimônio Cultural I. Soares, André Luís Ramos II.
Título.

Sistema de geração automática de ficha catalográfica da UFSM. Dados fornecidos pelo


autor(a). Sob supervisão da Direção da Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca
Central. Bibliotecária responsável Paula Schoenfeldt Patta CRB 10/1728.
Tomoko Kimura Gaudioso

A PRESENÇA DO GOVERNO JAPONÊS E SUA POLÍTICA PARA A


PRESERVAÇÃO DE MEMÓRIA, DA IDENTIDADE E PERPETUAÇÃO
DA ETNIA JAPONESA NO EXTERIOR: BRASIL, SÉCULO XX

Tese apresentada ao Curso de


Pós-Graduação em História da
Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM), como requisito
parcial para obtenção do título de
Doutora em História.

Aprovada em 16 de dezembro de 2019:

_______________________________________
André Luís Ramos Soares, Dr. (UFSM)
(Presidente/Orientador)

_______________________________________
José Martinho Rodrigues Remedi, Dr. (UFSM)

_______________________________________
Maria Catarina Chitolina Zanini, Dra. (UFSM)

_______________________________________
Eloísa Helena Capovilla da Luz Ramos, Dra. (UNISINOS)

_______________________________________
Maíra Ines Vendrame, Dra. (UNISINOS)
Santa Maria, RS
2019
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço aos meus pais, principalmente à minha mãe,


que me criou com liberdade e não poupou os esforços em dar boa educação
para mim. Ao meu esposo Júlio César e meus filhos Akira, Nyssia Eiko e Alaydo
Takeshi, que me apoiaram sempre em todas as jornadas.

Agradeço imensamente ao meu orientador Professor Doutor André Luís


Ramos Soares e a todos os professores e demais colegas do Programa de Pós-
Graduação em História da Universidade Federal de Santa Maria, que me
proporcionaram novos conhecimentos da academia, dentro e fora das salas de
aula.

Não poderia deixar de agradecer à Susane Antonioli e família, que me


acolheram durante a estada na cidade de Santa Maria para que eu pudesse
estudar. Agradeço, ainda, a todas as pessoas e instituições que têm relação com
a comunidade japonesa no Rio Grande do Sul e no Brasil com que me relacionei
durante esta jornada acadêmica. Agradeço, assim, à Associação de Assistência
Nipo e Brasileira do Sul, ao Escritório Consular do Japão em Porto Alegre e às
associações regionais de imigrantes japoneses, que não pouparam esforços em
contribuir para que esse trabalho pudesse ser concluído.

Por fim, deixo aqui um imenso agradecimento ao sistema de ensino


público brasileiro, que, sendo gratuito e de qualidade, me proporcionou
condições para que pudesse iniciar e seguir meus estudos, desde minha infância.
Agradeço à minha primeira mestra de ensino primário, a professora Avani, que
aceitou o desafio de assumir uma pequena escola rural no município de Viamão
e, com muita paciência, ministrou as aulas aos filhos de imigrantes japoneses –
sem a qual jamais poderia ter seguido a vida acadêmica e concluir esta etapa da
jornada.

Dizem que a mente seleciona os fatos percebidos em determinados


momentos e lembra, em forma de memórias. E são muitas! Muitas mesmo. Não
terei condições de enumerar e mencionar cada uma delas para agradecer. Muito
obrigada a todos.
Se não tivermos diferenças,
Seríamos apenas aglomerado de amebas.
A convivência equilibrada das diferenças
É o que permite evoluirmos.

Tomoko Gaudioso
RESUMO

A PRESENÇA DO GOVERNO JAPONÊS E SUA POLÍTICA PARA A


PRESERVAÇÃO DE MEMÓRIA, DA IDENTIDADE E PERPETUAÇÃO DA ETNIA
JAPONESA NO EXTERIOR: BRASIL, SÉCULO XX

AUTORA: Tomoko Kimura Gaudioso

ORIENTADOR: André Luís Ramos Soares

Quando o Japão reinicia a abertura dos portos para o exterior em 1603, não havia concepção
entre os japoneses da unicidade como uma nação. Assim, o Japão precisou reconfigurar a
estrutura enquanto estado-nação e forma de governo. Nesse contexto, o país do sol nascente
aparece pela primeira vez na história mundial como uma nação una, hino e a bandeira própria,
seguindo o modelo dos países ocidentais. A Constituição Meiji é elaborada e promulgada como
primeira Magna Carta do Japão Moderno. Em relação à identidade nacional, ao estudar sistemas
de governo, economia, cultura e tecnologia do ocidente, os diligentes perceberam que havia
necessidade de criar uma identidade nacional, viabilizar a modernização do país assim como a
expansão territorial. De fato, depois de Imperador Meiji ter assumido o trono, houve a dominação
japonesa na Ásia e no Pacífico, como colonização de ilhas do Pacífico, invasão a Taiwan (1874)
e anexação do reino de Okinawa em 1872, como ocorria à moda ocidental de colonização. Sendo
Hokkaido o território nacional, empenhou em desbravá-lo e ocupa-lo, com assentamento d
soldados com suas famílias. Em 1894-1895 ocorrem guerra sino-japonesa, seguido de guerra
russo-japonesa, em 1904-1905, com o Japão vitorioso. Em 1910, a Coréia é anexada, como
colônia japonesa. Os símbolos nacionais como hino e bandeira nacional foram apresentados ao
povo. A figura do Imperador foi apresentada como soberano máximo e representativo do povo
japonês. Essa imagem mítica do imperador se mantém até o fim da Segunda Guerra Mundial,
quando, através do sagrado pronunciamento imperial, se autodeclara pessoa comum, com a
decisão da rendição incondicional para os aliados para salvar o seu povo. Neste contexto, esta
proposta tem como objetivo investigar a representatividade da figura do imperador do Japão
desde a Restauração Meiji, como representante dos japoneses, tanto os nacionais como as
pessoas de origem. Ainda, dentro do contexto da política de expansão do povo japonês além do
território nacional, investigar se esse movimento continuou mesmo após a Segunda Guerra
Mundial e sendo afirmativo, qual a nova estratégia o Japão passou a adotar em relação ao mundo.
Havendo essa política, identificar como é realizada a preservação da memória coletiva como
povo japonês, considerando que os mesmos estão alocados nos territórios geopolíticos externos
ao Japão. Para a coleta de dados, além de pesquisa documental e bibliográfica, foram realizadas
pesquisas de campo, sobretudo a de observação de comportamentos atinentes a cultura
característico dos japoneses, com o fim de demonstrar que, no mundo em que o deslocamento
humano se torna cada vez mais frequente em que o processo de integração regional ocorre de
forma contínua, é possível os povos manterem sua identidade cultural e memória, enquanto uma
etnia própria, tendo o Estado como protagonista.

Palavras-chave: Imigração Japonesa. Etnia e Geopolítica. Memória e Patrimônio Cultural.


ABSTRACT

THE PRESENCE OF THE JAPANESE GOVERNMENT AND ITS POLITICS FOR


THE PRESERVATION OF MEMORY, IDENTITY AND THE PERPETUATION OF THE
JAPANESE ETHNICITY IN FOREIGN TERRITORY: BRAZIL, 20TH CENTURY

AUTHOR: Tomoko Kimura Gaudioso

ADVISOR: André Luís Ramos Soares

As Japan reopens its ports to the outside world in 1603, there wasn’t yet among Japanese people
the notion of a unified nation. Thus, Japan had to reshape its structure as a nation state and
government. In this context, the land of the rising sun shows up for the first time in world history
as a unified nation, having its own flag and national anthem, following the example of western
countries. The Meiji Constitution is elaborated and promulgated as the first Magna Carta of
modern Japan. In regards to national identity, by studying the west’s governance systems,
economy, culture and technology, policymakers realized the need to bring forth a national identity,
to modernize the country as well as to expand its territory. In effect, after the rise to the throne of
the Meiji Emperor, Japan dominated Asia and the Pacific, with the colonization of the Pacific
Islands, the invasion of Taiwan (1874) and the annexing of the kingdom of Okinawa in 1872, as
was the colonial practice in the west. With Hokkaido being part of Japanese territory, there were
efforts in braving it and occupying it with settlements of soldiers and their families. In 1894-1895
breaks out the sino-japanese war, followed by the russo-japanese war, in 1904-1905, with Japan
emerging victorious. In 1910, Korea is annexed as a Japanese colony. The national symbols,
such as the national anthem and flag are presented to the people. The figure of the emperor was
presented as the absolute sovereign and representative of the Japanese people. This mythical
image of the emperor persists until the end of world war two, when, through sacred imperial
announcement, he declares himself as common folk, alongside its unconditional rendition to the
Allies to save his people. In this context, this proposal has the intent of investigating the
representativeness of the figure of the emperor of Japan since the Meiji Restoration, as
representative of the Japanese people, both nationals or people of Japanese origin. Moreover, in
the context of Japan’s policies of expansion beyond its national territory, investigate if this motion
carried on even after the end of world war two and, it being the case, what strategy did Japan
adopt regarding the rest of the world. Having this policy being adopted, identify how the collective
memory of the Japanese people is preserved, considering that these people are settled in
geopolitical territories external to Japan. For data collection, besides documental and
bibliographic research, field research was held, most importantly, the observation of behavior
pertaining the culture characteristic to the Japanese, with means to demonstrate that, in a world
in which migration is more frequent and where the process of regional integration happens in a
continuous way, it is possible for people to maintain their cultural identity and memory while
claiming their own ethnicity, and having the State as a leading figure.

Keywords: Japanese Immigration. Ethnicity and Geopolitics. Memory and Cultural Heritage.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – A relação entre as associações de provincianos do Japão no exterior


e o Ministério de Relações Exteriores do Japão............................................. 103

Figura 2 – Mapa da localização de associações de japoneses no Rio Grande


do Sul em 2019............................................................................................... 110

Figura 3 – Histórico da expansão ultramarina e suas principais atividades... 137

Figura 4 – Fluxo de atividades para promoção de atividades emigratórias


para o exterior; o histórico da estruturação da JICA....................................... 158
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 — Imigrantes que ingressaram no Brasil, 1900-1939, por nacionalidade


e década............................................................................................................ 78

Gráfico 2 – A variação do ingresso de imigrantes japoneses ao Brasil, de 1923


até 1934, em número de indivíduos................................................................... 83

Gráfico 3 – O ingresso de imigrantes japoneses ao Brasil, em porcentagem em


relação aos estrangeiros de outras nacionalidades (1923-1934)....................... 84

Gráfico 4 – Emigrantes que saíram do Japão através da 海外興業株式会社


(Kaigai Kougyou Kabushiki Kaisha – KKKK – Companhia Ultramarina de
Desenvolvimento), por província, no período de 1917 até 1934...................... 139
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Calendário anual de celebrações imperiais...................................... 36

Tabela 2 – Associações Kaigai Kyokai no Japão e datas de fundação............ 137

Tabela 3 – Lista de empresas gaúchas que passaram para grupo de empresas


estrangeiras entre 1973 a 1974....................................................................... 151
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABC Agência Brasileira de Cooperação

ACJ Associação da Cultura Japonesa de Porto Alegre

AEC Antes da Era Comum

伯刺西爾拓殖会社(Burajiru Takushoku kaisha) – Sociedade


BRATAC
Colonizadora do Brazil Limitada

CAMPO Companhia de Desenvolvimento Agrícola Brasil-Japão

CBLJ Centro Brasileiro de Língua Japonesa

CCICJRS Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Rio Grande do Sul

CEASA/RS Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul

CEPAC Centro de Pesquisa Agropecuária do Cerrado

EC Era Comum

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

南伯援護協会 Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul


ENKYÔ
(2003-)

南伯援護協会 Associação de Assistência Nipo-Brasileira do Sul


ENKYÔ
(1982-2003)

南伯日系コロニア援護協会 (Nanpaku Nikkei Koronia Engokyokai) –


ENKYÔ Associação de Assistência à Colônia Japonesa do Sul do Brasil (1969 –
1981)

EXPO’70 Exposição Mundial do Japão de 1970


日系コロニア学生寮 (Nikkei Koronia gakusei ryo) Casa de Estudante da
Gakusei ryo
Colônia Japonesa

IIGM Segunda Guerra Mundial

日本海外移住振興株式会社(Nihon Kaigai Ijyuu Fukyou Kabushiki


IJUU KAISHA
Kaisha) – Companhia de Migração Ultramarina Japonesa

JADESAS Associação Kaigai Nikkeijin Kyôkai

JAMIC JAMIC – Imigração e Colonização Ltda.

信用金融投資有限会社(Shinyou Kinyuu Toushi Yugen Kaisha) –


JEMIS
JEMIS – Assistência Financeira S. A.

国際協力機構 (Kokusai Kyoryoku Kikô) – Agência de Cooperação


JICA
Internacional do Japão

国際協力事業団 (Kokusai Kyôryoku Jigyôdan) Agência de Cooperação


JICA
Internacional do Japão

海外移住事業団 (Kaigai Iju Jigyodan) Agência de Migração no


Jigyôdan
Exterior

財団法人日本海外協会連合会 (Nihon kaigai Ijukyokai Rengokai) –


Kaikyôren
Federação das Associações Provincianas de Migração

Kanebo Ltda. Kanebuchi Boseki Kabushiki Kaisha

KAZOKUKAI Federação Japonesa das Famílias de Emigrantes Ultramarinos

KENREN Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil

海外興業株式会社 (Kaigai Kougyou Kabushiki Kaisha) –


KKKK
Companhia Ultramarina de Desenvolvimento
M Celebração Maior

m Celebração menor

MG Minas Gerais

MoFA Ministério de Relações Exteriores do Japão

MS Mato Grosso do Sul

南米拓殖株式会(Nanbei Takushoku Kabushiki Kaisha) – Sociedade


Nantaku
Colonizadora da América do Sul

NDL National Diet Library

Nikkei-RS Sociedade Nipo-Brasileira do Rio Grande do Sul

PADAP Programa de Assentamento Dirigido Alto Paranaíba

PIB Produto Interno Bruto

POLOCENTRO Programa de Desenvolvimento da Região Centro-Oeste

Porto Alegre
Centro de Estudos da Língua Japonesa de Porto Alegre
Moderuko

PR Paraná

Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento


PRODECER
dos Cerrados

PUCRS Pontifica Universidade Católica do rio Grande do Sul

RS Rio Grande do Sul


SC Santa Catarina

SP São Paulo

USIMINAS Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A.

USP Universidade de São Paulo


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................... 19
1.1. OBJETIVO................................................................................... 20
1.2. HIPÓTESES................................................................................ 22
1.3. METODOLOGIA.......................................................................... 22
2. A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL E A PRESENÇA DA
FAMÍLIA IMPERIAL JAPONESA NO BRASIL..................................... 25
2.1. A ETNIA JAPONESA E A FIGURA DO IMPERADOR................ 25
2.2. O IMPERADOR COMO REPRESENTAÇÃO DA ETNIA
JAPONESA....................................................................................... 33
2.3. A CONSTITUIÇÃO E O SISTEMA MONÁRQUICO JAPONÊS.. 39
2.4. FIGURA DO IMPERADOR DO JAPÃO NO BRASIL E O
SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO............................................ 47
3. O DESLOCAMENTO DA ETNIA JAPONESA PARA O EXTERIOR.... 59
3.1. O ENCONTRO DO JAPÃO COM PAÍSES OCIDENTAIS ATÉ O
FIM DO SÉCULO XIX....................................................................... 58
3.2. A MODERNIZAÇÃO DO PAÍS E A EXPANSÃO DOS
JAPONESES PARA O ALÉM-MAR.................................................. 65
3.3. O DESLOCAMENTO MIGRATÓRIO DOS JAPONESES PARA O
BRASIL............................................................................................. 78
4. OS JAPONESES E O SISTEMA ORGANIZACIONAL NO E FORA DO
JAPÃO................................................................................................... 92
4.1. A ESTRUTURA DO GRUPO SOCIAL TRADICIONAL JAPONÊS
E ASSOCIAÇÃO DE PROVINCIANOS............................................ 93
4.2. A IMIGRAÇÃO JAPONESA PARA O RIO GRANDE DO SUL E A
FORMAÇÃO DE ASSOCIAÇÕES LOCAIS.................................... 106
4.3. A ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO E BRASILEIRA DO
SUL E SUA RELAÇÃO COM OUTROS GRUPOS ASSOCIATIVOS
JAPONESES DO RIO GRANDE DO SUL...................................... 111
4.4. ASSOCIAÇÃO CULTURAL E ESPORTIVA NIPO-BRASILEIRA E
A CÂMARA DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA JAPONESA DO SUL 119
5. AS INSTITUIÇÕES PROMOTORAS DA INTEGRAÇÃO E FORMAÇÃO
DA CULTURA, MEMÓRIA E DA IDENTIDADE.................................. 126
5.1. A FORMAÇÃO DAS AGÊNCIAS FOMENTADORAS DA
EMIGRAÇÃO JAPONESA PARA O EXTERIOR E A COMUNIDADE
DOS PROVINCIANOS................................................................... 126
5.2. A ATUAÇÃO DAS AGÊNCIAS DE COOPERAÇÃO
INTERNACIONAL DO JAPÃO NO CENÁRIO DE
DESENVOLVIMENTO BRASILEIRO E SUAS RELAÇÕES COM OS
IMIGRANTES................................................................................. 142
5.3. A ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO E BRASILEIRA DO
SUL (ENKYÔ) E SUA RELAÇÃO COM AS INSTITUIÇÕES
JAPONESAS.................................................................................. 148
6. OS EVENTOS ANUAIS E CELEBRAÇÕES NA CULTURA
JAPONESA......................................................................................... 161
6.1. EVENTOS ANUAIS TRADICIONAIS......................................... 162
6.2. FESTAS E CELEBRAÇÕES COLETIVAS................................ 171
6.3. O PAPEL DA GINCANA ESPORTIVA UNDÔKAI NA
CONSTITUIÇÃO DA CIDADANIA.................................................. 179
7. CONCLUSÃO...................................................................................... 191
REFERÊNCIAS................................................................................... 198
ANEXO 1 – FOTOGRAFIAS DOS PRIMEIROS JOVENS QUE
EMBARCARAM DO JAPÃO E A SEDE DA ENKYÔ......................... 220
ANEXO 2 – 海外興業株式会社設立の目的 (KAIGAI KOGYO
KABUSHIKI KAISHA SETSURITSU NO MOKUTEKI – OS
PROPÓSITOS DO ESTABELECIMENTO COMPANHIA
ULTRAMARINA DE DESENVOLVIMENTO)...................................... 223
ANEXO 3 – A PUBLICAÇÃO DA LEGAÇÃO DA SUÉCIA,
ENCARREGADA DOS INTERESSES JAPONESES NO BRASIL, DE 4
DE ABRIL DE 1946............................................................................. 227
ANEXO 4 – TERMO DE ABERTURA DO REGISTRO ESPECIAL DO
IMPOSTO SOBRE SERVIÇO DE QUALQUER NATUREZA DA
ENKYO, DATADA DE 29 DE SETEMBRO DE 1972.......................... 230
ANEXO 5 – CAPAS DOS PRIMEIROS DOIS EXEMPLARES DO
JORNAL DA ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA À COLÔNIA
JAPONESA DO SUL DO BRASIL...................................................... 231
ANEXO 6 – CARTA DE ESCLARECIMENTO SOBRE PENSÃO
MILITAR, DE 10 SET. 1981, EXPEDIDA PELA ASSOCIAÇÃO DE
ASSISTÊNCIA À COLÔNIA JAPONESA DO SUL DO BRASIL PARA
UM JAPONÊS..................................................................................... 233
ANEXO 7 – ATIVIDADE COMEMORATIVA A 55 ANOS DE
IMIGRAÇÃO JAPONESA NO RIO GRANDE DO SUL, REALIZADA
PELA ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO E BRASILEIRA DO
SUL, EM 20 DE AGOSTO DE 2011, EM SUA SEDE CAMPESTRE EM
GRAVATAÍ.......................................................................................... 234
ANEXO 8 – FOTOGRAFIAS DAS ATIVIDADES CULTURAIS
PROMOVIDAS PELA ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO E
BRASILEIRA DO SUL......................................................................... 236
ANEXO 9 – FOTOGRAFIAS DAS ATIVIDADES REALIZADAS NO
UNDÔKAI DA ASSOCIAÇÃO DE ASSISTENCIA NIPO E BRASILEIRA
DO SUL................................................................................................ 240
ANEXO 10 – ATIVIDADES DA JICA JUNTO À COMUNIDADE
JAPONESA......................................................................................... 243
ANEXO 11 – AS REGIÕES DO JAPÃO E RESPECTIVAS
PROVÍNCIAS....................................................................................... 244
ANEXO 12 – ASSOCIAÇÃO DE PROVINCIANOS DO JAPÃO NO
BRASIL (DATA DA FUNDAÇÃO)....................................................... 245
ANEXO 13 – JAPONESES E DESCENDENTES RESIDENTES NO
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL EM 2008.................................. 247
19

1. INTRODUÇÃO
O meu interesse para a realização desta pesquisa e a delimitação do tema
“A presença do governo Japonês e sua política para a preservação da memória,
da identidade e perpetuação da etnia japonesa no exterior: Brasil, século XX”
surge a partir de atividades de projeto de extensão como docente na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com o título
“Memorial da Imigração e Cultura Japonesa”. O referido projeto iniciou-se no
ano de 2009, em parceria com Núcleo de Estudos de Patrimônio e Memória
(NEP) da Universidade Federal de Santa Maria.

No desenvolvimento das atividades de extensão, como identificação de


documentos, coleta de dados bibliográficos e pesquisas documentais, além de
participação em eventos organizados pelas instituições relacionados aos
imigrantes japoneses, constatei que algumas atividades relacionadas à cultura
japonesa e de assistência aos imigrantes e seus descendentes possuem forte
apoio do governo japonês direta e indiretamente, sempre no sentido de reforçar
os imigrantes e descendentes a se conscientizarem como indivíduos com
valores japoneses arraigados em seu sangue, como cultura e outros valores de
conduta social, mesmo que tenham nacionalidade brasileira.

A imigração japonesa para o Brasil iniciou na primeira década do século


XX, sobretudo numa política de expansão nacional e por conta de crise
econômica interna que assolava o país. Como consequência desse incentivo ao
envio de japoneses ao exterior, de 1908 – data em que primeiros imigrantes
contratados desembarcaram no porto de Santos –, até 1941 – data em que
deflagrou a Segunda Guerra Mundial –, vieram pouco mais de 180.000
japoneses ao Brasil. Depois da guerra, a imigração japonesa para o Brasil foi
retomada com reestruturação de instituições promotoras, por interesses
governamentais, principalmente japoneses. Entretanto, em relação à história
dessas instituições, correlacionando umas às outras, necessita-se de estudos
para compreender a estratégia do governo japonês para deslocar parte de seu
povo além do território nacional como forma de expansão, sobretudo pacífica.
20

Além disso, o fato de eu ser uma das imigrantes de origem japonesa


também contribuiu para realizar a pesquisa com esse tema, sobretudo por ter
facilidade no acesso, tanto nas fontes documentais primárias, secundárias e
outras bibliografias escritas em língua japonesa. Somado a isso, a constatação
de artigos acadêmicos de historiadores ocidentais mencionando que as suas
pesquisas e conclusões são elaborados e concluídos a partir da visão ocidental,
senti que é necessário investigar os pontos de vista dos historiadores orientais,
mais especificamente os japoneses, em seus diversos aspectos, sobretudo em
relação à identidade cultural e memória. Nesse sentido, mais do que minha
origem cultural, a manifestação “cautelosa” dos profissionais de história
ocidentais em resguardar seus pontos de vista sobre “fenômenos” históricos
incitou-me o interesse em realizar pesquisa, sobretudo a escrita da história pelos
japoneses sobre expansão do povo japonês, incluindo a imigração japonesa
para o Brasil.

Do ponto de vista mais pessoal, salta aos olhos a presença e ações de


órgãos governamentais japoneses que não medem esforços em aproximarem-
se dos imigrantes japoneses e seus descendentes, proporcionando-lhes apoios
específicos, tanto financeiro como cultural e educativo. Alguns destes apoios, eu
mesma vivenciei, como na participação em bolsas de estudos na área de
educação e em um programa de formação de pessoas para o desenvolvimento
regional oferecido pela Agência de Cooperação Internacional, no Japão.

1.1. OBJETIVO
Esta proposta de tese tem como objetivo principal identificar e avaliar
medidas que o governo japonês proporciona para realimentar a memória e
identidade japonesas aos descendentes de seus emigrantes que se
estabeleceram fora do país, sobretudo em Rio Grande do Sul, Brasil, ao longo
do processo de imigração e sua fixação. Para realizar essa avaliação, selecionei
como parâmetro a atuação da associação de imigrantes japoneses que existe
na cidade de Porto Alegre (RS) e sua relação com os órgãos governamentais do
21

Japão para assuntos de emigração desde o período do em que iniciou a


imigração japonesa no Brasil, em 1906, até o fim do século XX.

Assim, através das investigações, pretendo tornar visíveis as instituições,


órgãos, agentes, personagens que atuaram de forma coletiva e/ou individuais no
processo de construção da identidade étnica japonesa, procurando construir um
contexto cultural-histórico aliado ao processo de integração regional desde o
início da Era Meiji (1868) até o período da Era Shôwa, relacionando o papel do
imperador do Japão e o processo emigratório japonês. Além disso, ao identificar
o processo emigratório dos japoneses ocorrido ao longo do século XX, pretendo
relacionar a memória passada com a construção e preservação da memória
presente no período antes e pós Segunda Guerra Mundial, analisando as
atuações das agências de imigração e colonização no Brasil e no Rio Grande do
Sul.

Através da atuação das Associações Japonesas no Japão e no Brasil e


suas relações com a comunidade de imigrantes e agências governamentais
japonesa, analiso suas influências na formação de uma consciência de
coletividade para promover o desenvolvimento regional, no Brasil e no Japão, de
forma colaborativa. Como objeto pontual e essencial, investigo a atuação da
Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul, fundada em 1969, quando
as associações japonesas no Rio Grande do Sul passaram a se organizar
sistematicamente, atuando como instituição assistencial, de integração étnica e
cultural de toda região do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Analiso a sua
relação com órgãos japoneses, no Brasil e no Japão, de forma detalhada e
meticulosa, procurando identificar quais elementos estão sendo projetados para
a realimentação da identidade nipônica e na construção de uma identidade
comum, tendo essa associação como lugar de memória da imigração japonesa
existente no estado do Rio Grande do Sul.
22

1.2. HIPÓTESES

Para investigar as questões acima indagadas, parto das hipóteses a


seguir. Em primeiro lugar, parto da hipótese que, no período em que ocorreu a
modernização do Japão, não havia concepção clara sobre território nacional
visto que a identidade cultural era local. Os imperadores do Japão serviram como
instrumento para simbolizar a identidade de ser japonês, independentemente da
porção de território em que o povo se encontrava. Isso facilitou a emigração dos
japoneses a outros territórios, inclusive ao Brasil, e facilitou a continuidade da
identificação como japoneses. A segunda hipótese levantada é que o Japão,
diante da derrota incondicional na Segunda Guerra Mundial, acabou tendo que
desistir da conquista territorial. Entretanto, o Japão adotou outra forma de
expansão, como a de emigração japonesa para os países da América Latina e,
através das atividades de assistência, apoio cultural e programas de
desenvolvimento regional em parceria com países receptores, desenvolvendo
ambientes propícios para atuação dos japoneses emigrados e seus
descendentes numa concepção supra-territorial da nação japonesa. A terceira
hipótese é a de que o governo japonês mantém agências que atuam como
instituições de assistência e cooperação para os japoneses e descendentes
residentes no exterior, proporcionando condições favoráveis para
desenvolvimento da comunidade japonesa. Essas agências realimentam a
identidade cultural e retroalimentam a memória dos imigrantes como
pertencentes à etnia japonesa no exterior, e as associações japonesas locais
atuam como delegados dessas atividades.

1.3. METODOLOGIA
Para esta pesquisa, a fim de basear-se no referencial teórico atualizado,
procurei o norte inspirado em Barros (2009). Segundo esse autor, a busca em
portais de periódicos coloca o pesquisador em contato direto com as questões
mais recentes referentes ao tema, atualizando, assim, o seu conteúdo de modo
que evita sua defasagem. Neste contexto, busquei subsídios no Portal de
Periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
23

Superior) para buscar artigos científicos mais atualizados sobre o tema, assim
como no portal SciELO (Scientific Electronic Library Online) e nos portais de
publicação de universidades estrangeiras, principalmente as japonesas devido
ao tema tratado, bem como no Arquivo Nacional Japonês e da Dieta, do governo
japonês. Por outro lado, embora Barros ressalte que nos livros “as informações
não chegam na mesma velocidade que nos periódicos especializados. […] A
rede de artigos produzidos em periódicos, ao contrário, representa uma
atualização de conhecimento permanente e a intervalos mais curtos” (BARROS,
2009, p. 59), devido à escassez de artigos científicos que tratem do tema, tive
de fazer uma ampla pesquisa bibliográfica nos livros escritos.

Na busca nos portais, utilizei como palavras chaves para tal levantamento:
“imigração japonesa, etnicidade, JICA, memória, identidade e territorialidade”,
onde encontrei vários artigos, teses e dissertações, no Brasil e no exterior,
principalmente no Japão. Além disto, busquei referências sobre as associações
japonesas relacionadas à migração, no Brasil e no Japão, sobre a Agência de
Cooperação Técnica e o Escritório Consular do Japão em Porto Alegre, bem
como documentos referentes à Associação de Assistência Nipo e Brasileira do
Sul. A partir disso, resolvi discorrer sobre temas e selecionar documentos que
fundamentam este projeto de tese.

No primeiro capítulo, abordo o tema da construção da identidade nacional


japonesa após abertura dos portos para ocidente em 1868 e a representatividade
do imperador do Japão para o povo. A teoria do imperador como elemento
representativo da nação japonesa também será abordada, assim como a relação
do imperador e a família imperial com os imigrantes japoneses e seus
descendentes, já brasileiros.

No segundo capítulo apresento os movimentos emigratórios dos


japoneses, iniciando pela apresentação dos movimentos de migração japonesa
para fora do arquipélago e formação de comunidades antes do fechamento de
portos pelo xogum Tokugawa Ieyasu, em 1603, para contextualizar sobre
ausência da percepção da territorialidade como um país. Em seguida, apresento
24

o processo de modernização do país que ocorreu com o fim do xogunato, como


a abertura de portos e o deslocamento de japoneses ao exterior como
emigrantes, inclusive para o Brasil.
No terceiro capítulo, apresento as formas pelas quais os japoneses se
organizam dentro do próprio território nacional e como esses imigrantes se
organizaram. Ainda, apresento de que forma esses grupos sociais se inter-
relacionam e se reorganizam, tendo como foco, as associações japonesas no
Rio Grande do Sul.
No quarto capítulo, apresento as instituições que promoveram a
emigração japonesa, formadas como estratégia do governo japonês e suas
transformações ao longo do processo imigratório dos japoneses para o Brasil,
principalmente no Rio Grande do Sul após a Segunda Guerra Mundial. Abordo
em especial a Agência de Cooperação Internacional do Japão, como sucessora
das agências anteriormente existentes para promover a imigração, e sua relação
com a Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul, uma associação
representativa da comunidade japonesa no sul do país.
No quinto e último capítulo, apresento as celebrações tradicionais do
Japão, discriminando as festas e comemorações, as quais algumas estão
carregadas de simbologias históricas milenares. Dentre elas, algumas
celebrações coletivas foram trazidas pelos imigrantes japoneses ao Rio Grande
do Sul e são organizados e praticadas regularmente. Entre essas celebrações,
selecionei a gincana esportiva japonesa que é promovida em nível estadual pela
Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul, discorrendo sobre essa
atividade esportiva e cultural como evento realizado para a constituição da
cidadania japonesa, mesmo sendo brasileiros quanto à nacionalidade.
Finalmente, após realização da pesquisa relacionada ao tema abordado,
apresento os resultados obtidos com considerações.
25

2. A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NACIONAL E A PRESENÇA DA


FAMÍLIA IMPERIAL JAPONESA NO BRASIL

O povoamento do arquipélago japonês se deu nas épocas remotas, há


aproximadamente 13.000 AEC, por habitantes de origem desconhecida. O
desenvolvimento da agricultura favoreceu o surgimento de uma sociedade
voltada em torno de um líder que os representasse e, assim, em torno do século
IV surgiu a figura do Imperador no Japão. A unificação e a pacificação do Japão
pelo clã Tokugawa após longo período de guerras civis e seu governo
isolacionista desde 1603 até 1868 gerou um regionalismo bastante acentuado.
Quando ocorreu a Restauração Meiji e a abertura de portos diante dos
países estrangeiros, os japoneses precisavam encontrar uma figura comum que
os representasse e, para tanto, havia a sua majestade, o Imperador Meiji. Por
outro lado, o novo modelo da nação exigia criar código de leis como no ocidente
determinando o papel do governante. Quando emigraram para o Brasil, os
japoneses trouxeram consigo essa imagem do Imperador como sua própria
representação.

2.1. A ETNIA JAPONESA E A FIGURA DO IMPERADOR


Há diversas teorias acerca da formação da etnia japonesa – como a de
Tokutaro Yasuda, que defende a teoria da origem oceânica do povo japonês. Ao
analisar os diversos aspectos da língua e cultura, realizando amplo estudo
comparativo linguístico e cultural, ele chega à conclusão de que os primeiros
habitantes do arquipélago japonês, há mais de 600 AEC, vieram da Oceania
(YASUDA, 1953, p. 55-56). Por outro lado, o historiador Kiyoshi Inoue apoia a
tese de que os primeiros japoneses vieram da península da Coreia, embora
admita que até os dias de hoje a origem do povo japonês ainda não esteja
esclarecida (INOUE, 1983, p. 21-23). De qualquer modo, o Japão, sendo um
arquipélago, com o território geográfico rodeado pelo mar, é isolado e protegido,
o conceito do “mundo” era concebido como o próprio Japão.

O desenvolvimento da agricultura que surgiu em torno de 300 AEC


proporcionou a criação de um sistema social organizado, abrangendo
26

praticamente todo o arquipélago japonês (SAKURAI, 2008). De acordo com


Sakurai (2008), em 405 EC, os japoneses conheceram a escrita com a
introdução dos ideogramas chineses. Duzentos anos mais tarde, em 605 EC, foi
promulgada a Constituição dos 17 artigos, uma espécie de guia de conduta aos
governantes, pelo príncipe regente Shotoku. O imperador, conforme essa
constituição, seria o elo entre o desejo do Céu, Homens e a Terra e, por isso, a
palavra 天皇 (Tennô) em japonês significa “imperador celeste” (SAKURAI, 2008,
p. 71).

Embora tenha surgido no Japão uma figura comum ao povo como a do


imperador, intensas guerras civis que ocorreram entre os clãs no decorrer dos
séculos impediram a circulação livre de pessoas entre regiões distantes. Quando
ocorreu a unificação do país e a pacificação através do poder militar centralizado
na figura do xogum, este, temendo a reestruturação de aliança entre inimigos,
restringiu fortemente o livre trânsito de pessoas. Assim, excetuando-se o forte
governo centralizado no xogum e a crença na figura do imperador, o
regionalismo continuou acentuado devido à existência de barreiras geográficas
e restrição ao trânsito entre uma região e outra.

Esse sistema intensificou o regionalismo, reforçando hábitos e costumes


de cada localidade assim como o parcial isolamento de dialetos, apesar das
fisionomias semelhantes entre as regiões. Portanto, quando o Japão resolve
abrir as portas para o ocidente como uma nação única e una, o primeiro passo
necessário a dar foi o de criar uma forte identidade nacional.

A estratégia do novo governo era mostrar ao povo uma figura que todos
se identificariam e, desta forma, se sentiriam ligados entre si como membros
pertencentes a um mesmo povo. Para isso, foi elaborada a Constituição Meiji,
que esclarecia a posição do Imperador no Japão – primeiramente para
27

apresentar a figura do governante da nação aos países estrangeiros e, também,


para o próprio povo firmar-se como japonês perante as pessoas de fora1.

Esta peculiaridade do Japão de meados do século XIX pode ser explicada


por razões sociológicas pois,

a sociologia, na sua procura de padrões generalizáveis, foi levada a


deixar de lado, quando não a desdenhar, particularismos nacionais ou
étnicos, vistos eles mesmos como uma forma universal de expressão
das narrativas identitárias […] mas isto não exclui que as narrativas e
valores dos grupos sociais afetem profundamente seus percursos
históricos. (SORJ, 2014, p. 57).

Para elaborar uma constituição que tivesse o efeito unificador da nação,


estrategistas como Tomomi Iwakura e seus companheiros elaboraram o texto
baseado nas constituições ocidentais. O conhecimento acerca do funcionamento
ocidental de administração de país foi obtido em viagens de observação dos
sistemas ocidentais de todos os gêneros (SAKURAI, 2008).

Em forma de missão diplomática, a Missão Iwakura observou e estudou


desde o sistema de produção aos âmbitos social, cultural, tecnológico, político e
outros e viram que o poder podia ser detido em mão de poucos indivíduos,
formado por um pequeno grupo de pessoas caracterizando uma oligarquia
(SAKURAI, 2008, p. 149). Entretanto, para colocar em prática o que aprenderam
na missão, precisariam de uma figura unificadora para o país.

Nesse sentido, o papel do Imperador Meiji, desde sua nomeação em 1868


até seu falecimento em 1912, foi o de aparecer em público como soberano, tanto
no território nacional como diante dos conflitos internacionais. Sua aparição
como líder do país criou a imagem do Japão como um país imperialista, sendo

1 Até os dias de hoje, os japoneses utilizam o termo 外人 (gaijin), isto é, “gente de fora” –
referindo-se aos ocidentais. Nas comunidades japonesas, esse termo é usado de forma
pejorativa para apontar as pessoas de origem europeia ou simplesmente brasileiros que não
tenham origem japonesa.
28

ele o protagonista da expansão japonesa no extremo oriente antes da Segunda


Guerra Mundial.

Considerando o Imperador como soberano detentor do poder de governo,


cabe aqui analisar o papel do Imperador Meiji diante dos conflitos internacionais
e avaliar sua atuação no período em que o Japão foi considerado imperialista.
Para esta análise, Kazuhiro Takii cita o exemplo da guerra sino-japonesa,
ocorrida entre 1894 e 1895, finda com a assinatura de um tratado de paz em
Shimonoseki.

O Japão declarou guerra à China no dia 2 de agosto de 1894. Entretanto,


segundo os historiadores japoneses, esta guerra não iniciou por vontade do
Imperador. Naquele dia, ao definir os encarregados para informar o início da
guerra aos ancestrais e à corte imperial, a primeira reação do Imperador Meiji foi
a de rejeição a tal ato, manifestando as seguintes palavras:

Não somente a esta formalidade, esta guerra, desde início eu sou


contra. Eu permito a realização porque os meus ministros dizem que é
inevitável. Eu sofro em ter de informar no templo e nos mausoléus dos
imperadores falecidos. (TAKII, 2013, p. 245, tradução nossa).

Assim, de fato, pode-se perceber que o Imperador acaba concordando a


contragosto com os militares estrategistas, o que levou o país à guerra contra a
China.

Embora Moraes (1942, p. 33-37) apresente a figura do Imperador do


Japão como um ser mítico, venerado pelo povo e mesmo por militares, em seu
livro A Ofensiva Japonesa no Brasil2, esta teoria necessita ser reavaliada. Como
foi exposto anteriormente, já em meados de 1930, os militares passam a tomar
decisões sobre o rumo da nação em nome do Imperador.

2 A primeira edição do livro A Ofensiva Japonesa no Brasil foi publicada em 1937, no auge do
movimento contra os imigrantes não latinos, como os japoneses e os alemães.
29

Isso se manifestou de forma clara com a proibição pelos militares da


publicação e comercialização do livro da teoria do soberano-nação, 天皇機関説
(Tennô Kikan setsu – Teoria do Soberano-nação) (TOKYO SHOSEKI SHÔ
KUMIAI, 1936), de Tatsukichi Minobe, o que levou à demissão, em 1935, do
autor e a seu desligamento do Conselho dos Nobres (JAPÃO, 1935). Proibindo
qualquer ensino sobre teoria do Estado que defendia a posição do Imperador
como soberano-nação no meio acadêmico e circulação do livro, os militares
passam a tomar decisões do rumo do país. Portanto, sendo o Imperador
manipulado pelas mãos dos militares, fica claro que ele não é exatamente uma
figura mítica e poderosa, diferentemente do discurso público que esses mesmos
militares apresentavam.

A Carta Magna japonesa da época – a Constituição Meiji –, que definia a


posição do Imperador, foi redigida cuidadosamente pelos estadistas
constitucionalistas. Entre eles, Ito Hirofumi entendia que, na aplicação da
constituição, o Imperador não deveria intervir nas atividades de governo do dia
a dia, sendo sua interferência mínima num país imperial constitucional (ITO apud
TAKII, 2013, p. 239).
Essa estrutura do Estado, posicionando a figura do imperador como uma
das peças que compõe a própria nação é percebida nos artigos 5º até o artigo
16º da Constituição Meiji. De acordo com a interpretação do texto, o Imperador
apenas poderia aprovar os ministros já escolhidos pelo Conselho dos Cinco
Anciãos e as decisões do Estado caberiam a esses ministros.
Portanto, conforme Ernst Kantorowicz,

o corpo do rei é formado também pelos seus conselheiros de modo


que, em outras palavras, o rei era a ‘boca do corpo composto’ e que “o
rei pronuncia a sua lei como algo de seu ‘gosto’ somente após
‘discussão e sugestão de seus conselheiros’ ou seja, o que o rei ‘gosta’
é aquele que ‘os nobres declaram ser antiga tradição e que é tratado
como lei através do pronunciamento do rei’”. (KANTROWIKZ, 2003
apud TAKII, 2013, p. 240, tradução nossa).
30

Hirofumi Ito, no seu discurso de 1899, ao explicar o conceito da nação,


faz uma analogia com um grande 風呂敷 (furoshiki), uma trouxa feita de pano de
algodão, envolvendo o território e o povo, colocando a figura do Imperador como
uma “representação” de tudo isso. Portanto, o Imperador não seria um
“representante” de uma nação, mas sim a própria nação (TAKII, 2011, p. 169).
Assim, baseando-se nesta argumentação surge a 天 皇 機 関 説 (Tennô
Kikan setsu), teoria do soberano-nação, defendida pelos constitucionalistas da
época como Tatsukichi Minobe (MINOBE, 1935). De acordo com Yoshimura,
Minobe atribui o mesmo conceito de Estado utilizado por Georg Jellinek (1851-
1911), define o Conselho como representante do povo e controlador da intenção
do imperador através dos ministérios (YOSHIMURA, 1996, p. 96).
Michel de Certeau afirma que a relação entre história e teologia reflete a
estrutura social da época. Assim, os magistrados, diante da nova situação
econômica e social, se voltam para o céu da predestinação e do Deus escondido,
revelando, assim, a nova conjuntura política que lhe fecha o futuro (CERTEAU,
2015, p. 7).
Segundo Sokichi Tsuda, pesquisador da história oriental e filósofo, ao
analisar o primeiro livro escrito conhecido que conta a história do Japão, o 日本
書紀 (Nihon Shoki), datado do ano 720, há separação entre o período de deuses
e o período de homens, e o Imperador do Japão aparece somente na idade dos
homens. A aparição da figura do Imperador somente na era dos homens, de
acordo com Tsuda, é a prova de que esta figura é um ser humano e não uma
figura dêitica como se entende conceitualmente no ocidente (TSUDA apud
YAMAMOTO, 1989, p. 130).
Por outro lado, não se pode também desconsiderar a tradição japonesa
de veneração aos mortos, 先祖崇拝 (senzo suuhai), a crença de que os vivos se
transformam em deuses ao morrerem, protegendo a família ou a comunidade
onde viviam. Ao se considerar esta cultura, altamente religiosa, também não
seria de estranhar que, dentro dessa concepção, o Imperador do Japão fosse
considerado objeto de veneração.
31

Dentro desta mesma concepção, a palavra アラヒトガミ (arahitogami –


deus vivo), Tsuda defende a teoria de que a palavra “Kami” é apenas um termo
honorífico que foi colocado em relação a “arahito”, para dizer “o homem
honorável, acima de todas as pessoas” (TSUDA apud YAMAMOTO, 1989, p.
131). Defende, também, que o Imperador, aparecendo diante do povo como
representação da nação, possibilitou despertar nos habitantes do arquipélago o
espírito de uma unidade nacional.
Esta teoria é amplamente reforçada, como Owada (1996, p. 242-244)
afirma, pela realização de 巡幸 (junkô)3 pelo Imperador Meiji por todo território
nacional, com a primeira viagem para o oeste do Japão, em maio de 1872. Esta
viagem tinha como objetivo conhecer os hábitos e costumes locais e,
principalmente, mostrar a figura do imperador ao povo e, com isso, diminuir a
imagem do antigo sistema de xogunato.
Somando-se a isso, o Édito de Educação foi promulgado como palavras
sagradas para o desenvolvimento individual de faculdades intelectuais e morais,
fazendo os bens públicos progredirem, promovendo os interesses comuns
(SAKURAI, 2008, p. 143). Este documento certamente serviu para fortalecer a
identidade e unidade nacionais, já que esse édito era lido unanimemente em
todas as escolas do Japão.
Assim, quando afirmado que o Imperador Meiji foi considerado deus vivo
na história do Japão, é preciso ter cautela. Como Sakurai afirma, quando o Japão
governado pelo sistema de 幕府(Bakufu)4 desde 1603 resolve restaurar o poder
imperial em 1868, tinha como objetivo verdadeiro a realização de reformas
internas e adaptar o Japão às exigências externas da época. Em outras palavras,
para que uma nova elite ascendesse ao poder, o novo cenário político e

3 巡幸 (junkô): termo utilizado especificamente para designar viagem do Imperador do Japão,


em que aparece para o público em forma de homenagem e reconhecimento ao próprio povo
japonês.

4 幕府 (Bakufu): “Palavra que designa os quartéis de um chefe militar em campanha. Passou a


designar, a partir da época de Kamakura, a sede do governo militar shogunal. Posteriormente,
foi utilizado para caracterizar toda forma de governo exercida por militares” (FRÉDÉRIC, 2008,
p. 112).
32

econômico exigia que o melhor meio de se defender era ocidentalizar o Japão,


assim como a sua economia (SAKURAI, 2008, p. 133). Nesse mesmo sentido,
Eric Hobsbawn – em seu livro A Era dos Extremos: a breve história do século XX
– afirma que o Japão procurou adotar as inovações que tornassem viáveis a sua
sobrevivência no mundo moderno, dando-lhe o nome de “ocidentalização”,
sobretudo em relação ao sistema socioeconômico (HOBSBAWN, 1994, p. 202).
Em relação ao sistema político, principalmente, houve também a tentativa
de instalar o sistema republicano por aqueles que não concordavam com a
restauração do sistema imperial no Japão, com votação para eleger o
representante do novo governo. Assim, na época em que o novo governo
japonês tentava a unificação social, educacional, cultural e linguística, formou-
se, mesmo por um breve período, a República de Ezo, na ilha de Hokkaido (norte
do Japão), em agosto de 1868, por aqueles redutos apoiadores do xogunato que
não concordavam em ter o Imperador como o soberano nacional.

A república, formada pelo presidente eleito pela votação, foi reconhecida


por consulados estrangeiros como o da França, na cidade de Hakodate – antiga
capital do Hokkaido. No entanto, depois de quase um ano de resistência contra
o exército imperial, foi derrotada e, com isso, em maio de 1869, passou
novamente a integrar o território nacional japonês (NARAMOTO, 1986, p. 536;
HARADA, 1976, p. 198). Este movimento, por um lado, teve como objetivo a
construção de um novo país ao molde ocidental da época, e afirma a vontade do
povo japonês em tentar se ocidentalizar, por outro, intentou a não divinização do
imperador como um deus todo poderoso.

De qualquer modo, a vitória sobre os republicanos e a integralização


definitiva das ilhas que formam o arquipélago japonês como território nacional
reforçaram o estabelecimento da unicidade de identidade nacional. Esta
conquista se somou ao reordenamento da divisão geopolítica do território com a
33

revogação, em 1871, do sistema de han5 e ao estabelecimento de separação em


províncias, além da abolição de sistema de castas para todos os níveis sociais.

Ocorreu a devolução formal do cadastro de todos os habitantes e terras


do han ao Imperador, unificando o povo. Depois disso, esses cadastros
familiares e terras foram retornados aos antigos senhores feudais, que foram
renomeados de governadores, e as terras, de províncias (OWADA, 1996, p. 241-
242). Certamente, esse ato também contribuiu profundamente para reforçar a
ideia de unidade nacional.

2.2. O IMPERADOR COMO REPRESENTAÇÃO DA ETNIA JAPONESA


Do século XVII a meados do século XIX, época essa em que o Imperador
Meiji assumiu o trono, os monarcas não tinham uma vida muito longa. Porém,
pela situação em que o Japão se encontrava, não fazia diferença se o Imperador
fosse infantil ou se fosse uma pessoa formosa, dotado de sabedoria ou que
vivesse por longos anos para ser um líder do país.
Nas palavras de Keene (2002, p. 23), “a importante função do Imperador
não era a de governar o país e sim em realizar cerimônias determinadas
formalmente”. De fato, os entronamentos dos últimos imperadores desse período
ocorreram em idades tenras, como pode ser percebido o dos imperadores que
antecederam o Meiji. O bisavô, Imperador Kôkaku (1771-1840), foi entronado
aos nove anos de idade; o avô, Imperador Ninkô (1800-1846), aos dezessete
anos; seu pai, o Imperador Kômei (1831-1867), aos dezesseis anos; e o próprio
imperador Meiji assumiu o trono aos quinze anos de idade, sendo que nenhum
deles havia sido preparado para assumir a rede como condutor de uma nação.

5 藩 (Han): feudos do Japão. Cada han era concedido pelo xogum e sua dimensão e poder eram
calculados pela produtividade de arroz em suas terras, chamada 石高 (kokudaka) (TOTMAN,
1993, p. 119).
34

Como ressalta Keene (2002, p. 224-225), o Imperador Meiji, quando


assumiu o trono, apresentou em forma de escrita, o seguinte texto,
demonstrando sua preocupação em relação a seu país:

Desde que herdei o trono enquanto jovem frágil, penso de que forma
poderei continuar fiel aos ancestrais considerando o trato com os
países estrangeiros.
No período medieval, o poder do imperador definhou e desde que os
guerreiros tomaram o poder para si, o império foi idolatrado
formalmente, mas, na verdade, foi afastado.
Por isso, o império passou a não poder conhecer os pensamentos do
todo povo como mãe ou pai dele e por fim, passou a existir somente
no nome.
[…]
Agora que o governo e o estado estão unificados, se o povo não puder
obter suas posições adequadas, isso se deve ser por minha culpa.
Portanto, eu pretendo enfrentar com todo o ímpeto enfrentando as
dificuldades.
Através do meu esforço em governar o país, seguindo os passos dos
meus ancestrais é que cumpro o meu dever preestabelecido. Com isso
consigo cumprir obrigação de ser líder do povo.
[…]
Deixando de lado o meu sofrimento e dificuldade individual, Eu mesmo
irei aos quatro cantos do território para governar, providenciarei a
estabilidade do meu povo e, finalmente, com o desbravamento de
todos os lugares, farei o poder do país ser reconhecido para o mundo,
trazendo a povo a estabilidade como o monte Fuji.
[…]
Clamo a todo o povo. Vamos dar a caminhada, tendo para consigo
também o meu objetivo.
Deixe de lado a opinião pessoal e vamos construir o bem coletivo e
público.
Ajude meu trabalho e mantenha a segurança do país.
Não há algo mais feliz para mim do que poder consolar os espíritos dos
ancestrais. (IMPERADOR MEIJI, 1868 apud KEENE, 2002, p. 224-228,
tradução nossa).

Desse pronunciamento do Imperador Meiji, se pode perceber no texto sua


preocupação como um ser humano, com problemas pessoais e deveres com a
nação. Na escrita não consta nenhuma menção que reporta a alguém todo
poderoso. Pelo contrário, ele, como representante de uma nação, roga aos
habitantes da terra do sol nascente para que eles o sigam, a fim de manter a
integridade de seu país diante de uma ameaça externa iminente.
Como já foi mencionado, no Japão, a partir da Restauração Meji, surgiu
uma nova teoria sobre sistema imperial japonês, o 天皇機関説 (Tennô kikan
35

setsu), isto é, teoria que conceitua o imperador como soberano do Estado


estabelecido pela Constituição (MINOBE, 1935). Segundo essa teoria, o poder
seria do próprio Estado e o Imperador seria apenas um “instrumento” para
exercer esse poder intrínseco ao Estado.
Essa teoria foi fortemente defendida pelos constitucionalistas como
Hassoku Hozumi, Shinkichi Hozumi e Tatsukichi Minobe 6 até a proibição da
manifestação dessa teoria em 1935, quando os militares japoneses que tinham
interesse em comandar o país proibiram a venda de livros com esse tema. Logo
depois, o Japão acabou desencadeando a Segunda Guerra Mundial, com uma
decisão meramente militarista a contragosto do Imperador da época, o
Imperador Showa.
Segundo Soichi Sasaki, da Universidade Imperial de Kyoto, o Imperador
Showa, que estava no trono desde 1926 – portanto, antes da Segunda Guerra
Mundial –, também seguia a teoria defendida por Minobe, entendendo que o
Imperador é um representante da nação e, por consequência, do povo, não
tendo personalidade própria como indivíduo (IZAKI, 2006, p. 98). O Imperador,
como pode-se perceber, configura como um representante do povo e, como tal,
exerce sua função de zelar por ele através de obrigações tais quais cerimoniais,
algumas realizadas intermitentes, durante gerações, até os dias de hoje. As
obrigações do Imperador do Japão são muitas, sobretudo as celebrações anuais
que são compulsórias, as quais não podem deixar de realizar.
Assim, até hoje, o Imperador realiza inúmeras celebrações as quais
poderemos descrever algumas delas.

6 Tatsukichi Minobe, professor da Universidade Imperial de Tóquio e constitucionalista, na 67ª


reunião de Conselho de Nobres realizada no dia 25 de fevereiro de 1935, manifestou sua
insatisfação em longo discurso (MINOBE, 1935) diante da posição do Barão Kikuchi, que alegou
ser o texto da autoria de Minobe ofensivo à nação, proibindo a comercialização (TOKYO
SHOSEKI SHÔ KUMIAI, 1936). Logo depois, Minobe acabou tendo que deixar seu assento no
Conselho (JAPÃO, 1935).
36

Tabela 1 – Calendário anual de celebrações imperiais.


Celebração
Dia e mês (Celebração Maior = M) Local
(Celebração menor = m)
01/01 “Shihô-hai” / “Saitan-sai” (m) Jardim Sul do palácio Shinkiden
Três Palácios (Kashikodokoro, Subera
03/01 “Ge shi-sai” (M)
girei den e Shinden)
Celebração ao Imperador Showa (M) Koureiden (data de falecimento do
07/01
124º imperador)
Celebração ao Imperador Koumei Koureiden (data de falecimento do
30/01
(m) 121º imperador)
Shinnen-sai – Celebração do Ano
17/02 Três Templos
Novo (m)
Equinócio
de Kourei-sai・Shinden-sai (M) Koureiden
primavera
Koureiden (data de falecimento do
03/04 Celebração ao Imperador Jinmu (M)
primeiro imperador)
29/04 Tenchô-sai (m) Três Templos
Koureiden (data de falecimento da
17/05 Imperatriz Sadaaki (m)
mãe do atual Imperador Kinjô)
Palácio principal e jardim frontal do
30/06 Yoori・Ooharae (M)
Palácio Shinkiden
Koureiden (data de falecimento do
30/07 Celebração ao Imperador Meiji (m)
122º imperador)
Equinócio
Kourei-sai・Shinden-sai (M) Koureiden
de outono
17/10 Kan-name-sai (M) Kashiko-dokoro
23/11 Nii-name-sai (M) Shinkiden
Chujjun/ 12
(meados de Kagura do Kashiko-dokoro (m) Kashiko-dokoro
dezembro)
Koureiden (data de falecimento do
25/12 Celebração ao Imperador Taishô(m)
123º imperador)
Palácio principal e jardim frontal do
31/12 Yoori・Ooharae (M)
Palácio Shinkiden
Todas as Cerimônia matinal
Três Palácios
manhãs (Pode ser substituído por um súdito)
Cíclico/ Koureiden (data de falecimento dos
Celebrações cíclicas (M)*
periódico imperadores)

Fonte: Principais cerimônias do Palácio Imperial (TOKORO, 1990, p. 150-151).


*Os anos variam de acordo com 3º, 5º, 10º, 20º, 50º e 100º ano do falecimento dos imperadores.
Depois disso, os anos são contados a cada cem anos.

Segundo Isao Tokoro (1990), já no primeiro dia do Ano Novo, o Imperador


realiza-se o 四方拝 (shihou-hai), que consiste em reverenciar as quatro direções:
norte, sul, leste e oeste. Esta cerimônia, que é realizada desde o Período Heian
(794-1192), é a primeira cerimônia do ano que o Imperador exerce. A cerimônia
37

inicia às cinco horas e trinta minutos da manhã do primeiro dia do Ano Novo, no
meio ao jardim em frente ao prédio chamado 神 嘉 殿 (Shinkaden), onde o
Imperador realiza reverência em direção ao Templo do Ise, onde estão os
ancestrais imperiais, os deuses de quatro cantos, o mausoléu do Imperador
Jimmu e do imperador anterior. Esta cerimônia foi realizada continuamente,
mesmo sob alarme de bombardeio durante a Segunda Guerra Mundial e
continua até os dias de hoje.
Logo após, o Imperador e o príncipe herdeiro, no 宮中三殿 (Kyuuchuu
Sanden – Três Templos do Palácio Imperial), realizam o 歳旦祭 (Saitansai),
agradecendo pela dádiva recebida no ano que terminou aos oito milhões de
deuses e à deusa Amaterasu7, e aos imperadores antecessores. Em seguida, o
Imperador e príncipe herdeiro rogam aos deuses a prosperidade da nação e
felicidade de seu povo (TOKORO, 1990, p. 59). Esta cerimônia contínua,
realizada na manhã fria de inverno, enquanto ainda não há luz do dia, mais
parece a cerimônia de um sacerdote do que ato do próprio deus divino.
Outra cerimônia interessante é a 新嘗祭 (Niiname-sai), o ritual da colheita
japonês, realizada provavelmente desde época do Imperador Tenmu, na
segunda metade do século VII, nos templos xintoístas em todo território japonês
após o oferecimento de primeiras espigas no Templo de Ise. Atualmente, a
celebração acontece no dia 23 de novembro por implantação de novo calendário
para tal atividade. De acordo com Tokoro (1990, p. 77), nos dias de hoje, a
cerimônia da tarde é realizada das dezoito até as vinte horas, e a do amanhecer
inicia-se às 23 horas e ocorre até uma hora da manhã do dia seguinte.

7 Divindade feminina considerada a fundadora do povo japonês.


38

Nessas cerimônias, o Imperador oferece ao altar as comidas aos deuses,


servindo-as em folhas de árvore de 柏 (Kashiwa)8 com os 箸(hashi) de bambu9.
As comidas sagradas são o arroz novo cozido a vapor e a canja, ambos cozidos
com castanha de Portugal, saquê branco e saquê escuro, peixe fresco e seco,
abalone e alga marinha e frutas. Depois, elas são comidas pelo Imperador, no
sentido de recarregar a energia da deusa Amaterasu (TOKORO,1990).
O fato de interpretar esta cerimônia como reconhecimento do Imperador
de ser uma deidade, como muitos historiadores consideram, deve ser analisado
de forma bastante cuidadosa. Em primeiro lugar, na cerimônia do início do ano,
o Imperador agradece aos deuses pelo ano que passou. Se ele é a própria
deidade máxima, por que agradeceria aos milhões de deuses do Japão? Por que
deveria pedir aos deuses a prosperidade de seu povo e proteção contra os
males?
Yoko Sono, que serviu como dama da corte do Imperador Meiji, no texto
“Purificando o fogo e venerando os deuses” apresentado no livro Meiji Taitei (O
Grande Imperador Meiji), em 1927, escreve que

o que aqui gostaria de lembrar da sua elevada virtude é a alta


venerabilidade aos deuses. Na ocasião da celebração de Shinjo-sai10,
no dia 23 de novembro, desde tarde do dia anterior, o Imperador e a
imperatriz e todos nós que lhes servem purificamos. Isto é, mais ou
menos às 4 horas da tarde do dia 22, todas as pessoas da corte se
purificam, recebendo o novo fogo chamado tsukane Mukaebi, sendo
que até cinzas da pequena lareira é totalmente substituída. […] O fato
da veneração do Imperador aos deuses pode ser observado no poema
como esse que diz “a verdadeira coração da pessoa é aquela que
chega ao coração dos deuses invisíveis”. (SONO; SEGAWA, 1927, p.
267-268, tradução nossa).

8 柏 (Kashiwa): Quercus dentata, uma espécie de carvalho nativa do Japão, da China e da Coréia.
É também conhecida como “carvalho do Imperador japonês” ou “carvalho daimyô”.

9 O 箸 (hashi) utilizado para a refeição do Ano Novo tem duas extremidades exatamente iguais,
para serem colocados a boca. Isso representa o ato de comer, onde uma das extremidades cabe
ao deus e a outra, ao humano se servir.

10 新條祭(/shinjo-sai/ ou /niiname-sai/). Isao Tokoro segue a leitura /Niiname-sai/ conforme


leitura com fonética contemporânea.
39

Observa-se que Sono (SONO; SEGAWA, 1927) ressalta a veneração do


Imperador aos deuses através da observação acerca da cerimônia de Shinjo-sai
(ou Niiname-sai) – o que deixa claro sua definição como pessoa que serve aos
deuses. Também, Sono reforça essa afirmação apresentando um poema da
autoria do próprio Imperador Meiji.
Em relação a esta cerimônia, Tokoro (1990) esclarece que ela não é
exclusiva do Imperador. Na região de Noto, existe o costume que as famílias
recebam o deus do arroz na época do término da colheita, dando-lhe como
oferenda o arroz cozido, frutos do mar e da terra, como se recebessem pessoas
importantes, comendo logo em seguida essas oferendas como se recebessem-
nas do deus. Ao serem oferendadas, as comidas ficam carregadas com o espírito
dos cereais e, ao consumir essas comidas carregadas de energia desses
espíritos, a família recobra a vitalidade (TOKORO, 1990, p. 79). Os habitantes
da região de Noto sentem, com isso, que estão protegidos por mais um ano de
vida, sem que eles mesmos se sintam transformados em deuses.
Tendo esta interpretação como verdadeira, o fato do Imperador ofertar a
comida aos seus antepassados e depois tomá-las para internalizar o que ficou
dentro dessas comidas, também deve ter objetivo semelhante, visto que em
nenhum momento desta cerimônia menciona a transformação do mesmo em
deus nem estar possuído por este. Assim, pode-se afirmar que os Imperadores
do Japão, mesmo somente analisando os períodos recentes – desde a época do
Imperador Meiji –, continuam exercendo as mesmas tarefas imperiais de seus
ancestrais. Passando pelos Imperadores Taishô (Yoshihito) e Showa (Hirohito)
– que viveu o Japão antes e depois da Segunda Guerra Mundial –, o Imperador
viveu como executor máximo de celebrações do Japão para os japoneses, tal
como seu sucessor, Imperador aposentado Heisei (Akihito) e o sucessor dele, o
Imperador Reiwa (Naruhito – atual Imperador japonês), desejando a paz ao
mundo e ao seu povo. A casa imperial continua repetindo, hoje, os rituais
milenares que lhe são atribuídos há diversas gerações.
Cabe relembrar que as atividades imperiais acima mencionadas de fato
têm sido realizadas ininterruptamente ao longo dos milênios sem que as guerras
40

internas e as revoltas civis as atingissem. A autoridade do Imperador como


executor desses ritos, nesse longo tempo, nunca chegou a ser ameaçada a
ponto de o Imperador ser destituído como ocorreu no ocidente ou mesmo na
China ou Coreia que, a cada reinado, uma etnia sobrepunha-se à outra. No
sentido geral, mesmo com a pluralidade, o Imperador serviu como elemento
comum a todos e, assim, unificador do povo.
Em relação ao sentimento de unicidade da etnia japonesa, há argumentos
contrários à sua existência visto que há etnias minoritárias que já habitavam o
que hoje é considerado território japonês. No entanto, englobarão-se aqui todos
aqueles que se sentem portadores legítimos da cultura japonesa, o ser japonês.

2.3. A CONSTITUIÇÃO E O SISTEMA MONÁRQUICO JAPONÊS


Desde que o Japão iniciou negociações com o ocidente, a figura do
Imperador sempre foi apresentada como representante maior do país. Moraes
(1942, p. 33-37), em seu livro A Ofensiva Japonesa no Brasil, apresenta a figura
do Imperador do Japão como um ser mítico, venerado pelo povo e mesmo por
militares.

Segundo Moraes,

Num período de 74 anos, que decorre da Restauração Meiji aos nossos


dias, o Japão transformou-se extraordinariamente para converter-se
numa das mais poderosas nações do mundo. […] Não obstante essa
ocidentalização rápida […] o Japão continua preso às suas crenças,
aos seus mitos, aos seus deuses, aos seus costumes […], não é para
causar estranheza o fanatismo com que os soldados nipônicos
investem contra as pessoas inglesas, americanas e holandesas do
Pacífico, conquistando-as de maneira surpreendente, a despeito de
patrióticos e gloriosas resistências e de praças de guerra […].
Torpedos suicidas, pilotos suicidas e outros engenhos de matar com
sacrifício certo de vida – são elementos a confirmarem,
insofismavelmente, o patriotismo desse povo, que luta pelo seu
Imperador-Deus, cuja veneração é atestada por todos quantos têm
escrito sobre sua pessoa. (MORAES, 1942, p. 33-36).

Moraes apresenta o trecho do livro de Lima Figueiredo em que comenta


o artigo terceiro da Constituição Meiji, reafirmando a divinização do Imperador
no Japão.
41

A divinização de S.M. Imperial é atestada pela própria Constituição,


que diz no seu artigo terceiro do capítulo primeiro: Tenno wa shisei ni
okasu bakarazu, isto é, o imperador é divino e inviolável. Não é a nação
que dita suas leis e sim o Imperador que as estabelece para maior
felicidade do seu povo. (FIGUEIREDO, [19--] apud MORAES, 1942, p.
36-37).

Michel de Certeau (2015) afirma que a relação entre história e teologia é


um problema intrínseco à própria história visto que ela reflete a estrutura social
da época. Ele apresenta a doutrina jansenista e contrasta as opiniões de Orcibal,
que sustenta que, em história, o que deve procurar é a experiência no seu estado
primitivo11, com a do outro, Goldmann, este sustenta que no jansenismo o que
importa é a situação socioeconômica da época12:

é o resultado e o signo da situação econômica e na qual se encontra


uma categoria social: perdendo seu poder, os magistrados se voltam
para o céu da predestinação e do Deus escondido, e revelam, assim,
a nova conjuntura política que lhe fecha o futuro; aqui a espiritualidade,
sintoma daquilo, que não diz, remete à análise de uma mutação
econômica e uma sociologia de fracasso. (CERTEAU, 2015, p. 7).

Quanto à interpretação das religiões, Certeau apresenta os seguintes


modelos: o modelo “místico” e o modelo “folclórico”; o modelo sociológico: a
prática e o saber; e o modelo cultural: das “ideias” ao “inconsciente coletivo”.

1. O modelo “místico” e o modelo “folclórico” são modelos de


interpretação em que se liga a religião com práticas sociais, isto é, as
práticas religiosas tornam-se “um elemento social de diferenciação
religiosa”, em que a crença como dogma é deixada de lado e passa a
representar uma realidade social per si (CERTEAU, 2015, p. 10).
2. O modelo sociológico surge a partir da reação francesa contra
as tipologias teóricas de Troeltsch (1912), de Weber (1920) e de Wach
(1931) ao afirmar que a prática religiosa age como elemento social de

11 ORCIBAL, J. Les origines du jansénisme. Vrin, 1947-1962. 5 v. apud CERTEAU, 2015.

12 GOLDMANN, L. Le Dieu cache, 1956 apud CERTEAU, 2015.


42

diferenciação política, representando uma “realidade social” e não uma


“significação dogmática” (CERTEAU, 2015, p. 11).
3. O modelo cultural é o modelo de interpretação da religião em
que as “ideias” manifestas no discurso “tornam-se uma mediação entre
o espírito (o Geist) e a realidade sociopolítica” na formação do
“inconsciente coletivo” (CERTEAU, 2015, p. 14).

O período que antecedeu ao Meiji, conhecido pelo Xogunato de


Tokugawa, foi um governo de militares liderado pelo clã Tokugawa. Ieyasu
Tokugawa, o primeiro xogun do clã Tokugawa, derrotou os clãs inimigos na
batalha de Seki-ga-Hara em 1600. Três anos mais tarde, em 1603, recebe o
título de 征夷大将軍 (Sei-i-Taishôgun), isto é, Generalíssimo Combatente dos
Invasores das mãos do Imperador Goyouzei, surgindo, assim, o primeiro do
xogunato Tokugawa a assumir o poder de governante (TAKAO, 1976, p. 43-45;
SAKURAI, 2008, p. 110-111).

Desde então, como estadista eficiente, Ieyasu implanta o sistema de


castas e leva o Japão à clausura, fechando os portos para o resto do mundo.
Durante o governo de seu clã, o Japão amadurece a cultura, mergulhando no
período conhecido como 近世 (Kinsei – período feudal), também chamado de
Período Edo (1603-1868).

Nesse longo período de mais de 250 anos, os Imperadores do Japão


permaneceram na capital Quioto, exercendo suas funções e compromissos
imperiais. Essas atividades que se iniciaram com os primeiros Imperadores do
Japão – antes do século X – têm sido contínuas até os dias de hoje, mesmo com
restrições impostas pelos Países Aliados após a Segunda Guerra Mundial, de
modo que não se pode negar ao Imperador a posição como símbolo da
hegemonia nacional.

Mesmo os historiadores que viveram suas infâncias no período da


Segunda Guerra Mundial, como é o caso de Yamamoto (1989), contrariam a
manifestação de vários historiadores ocidentais em relação à história do Japão
43

incluir mitologia, já que afirmam nunca ter aprendido na escola que o Imperador
do Japão fosse um “deus”13.

Eu nasci no ano 9 da era Showa (1934) mas não tenho lembranças


que me ensinaram a mitologia como história. Em primeiro lugar, O
término da parte da mitologia japonesa é o nascimento do Imperador
Jinmu, isto é, o Kamuyamatoiwarehiko, do casamento entre
Ugayafukiaezu, filho de Hikohohodemi e princesa Toyotama-hime que
vive no fundo do mar, e sua tia Tamayorihime, irmã da Toyotama-hime.
No Nihon shoki, nesta parte separa o período de deuses para o período
de homens. Nenhuma criança acreditaria que o imperador atual (da
época) seja descendente direto deles. […] Talvez os americanos
fundamentalistas que realizaram o Monkey Tryal acreditem. No Japão,
a teoria evolucionista nunca foi proibida. No meu caso, li a mitologia
depois da declaração 人間宣言 [ningen seigen – declaração de ser
humano] do Imperador e não na época que estava estudando na
escola fundamental. (YAMAMOTO, 1989, p. 112, tradução nossa).

Segundo Sokichi Tsuda, no 日本書紀 (Nihon Shoki – Crônicas do Japão)


há separação clara entre o período de deuses e o período de homens, de modo
que, se o Imperador é considerado deus, haveria continuidade da era dos deuses
no século XX. Entretanto, a figura do Imperador passa a ser mencionada
somente na era dos homens. Outra argumentação é que o Imperador tem função
de orar aos deuses, isto é, exerce função como a de sacerdote, mas não é o
objeto de adoração.
Na cultura japonesa, aparecem vários deuses e deusas que são adorados
pelo povo, mas o Imperador aparece somente como executor da oração, isto é,
o povo não dirige a oração para a sua figura. Ademais, o imperador também não
é o alvo de pedido para curar doenças ou meio de salvação de alguma
infelicidade ou desastre. Pelo contrário, quando acontecem desastres, o
Imperador ora aos deuses para que salvem seu povo.

13 O livro de leitura didática do ensino médio de 1929 menciona sobre o sistema de sucessão
do Imperador japonês, diferenciando-o do sistema chinês. Aquele se baseia na continuidade de
linhagem, este na troca de poder pela força e, por esse motivo, os conceitos de imperador e os
sistemas se diferenciam (FUKASAKU, 1929, p. 81-82).
44

Como Sakurai afirma, quando o Japão resolve restaurar o poder Imperial


em 1868, tinha como objetivo real a realização das reformas internas e adaptá-
la às exigências externas da época.

Trata-se de um profundo redimensionamento de forças sociais no


cenário político-econômico levado ao cabo pela elite do país (grandes
senhores capitalizados, grandes negociantes, intelectuais e
tecnocratas de famílias poderosas) a partir de uma escolha: participar
com alguma força no circuito capitalista. […] A nova elite no poder
acredita que o melhor meio de resistir ao Ocidente é ocidentalizar o
Japão e sua economia. (SAKURAI, 2008, p. 133).

A essa inovação que ocorreu de forma seletiva, o Japão atribuiu o nome de


“ocidentalização” e de “modernização”, sobretudo em relação ao sistema social
e à forma de produção. Ao mesmo tempo, o Japão tinha necessidade de
construir, internamente, uma identidade nacional forte e sólida visto que as
diferenças regionais de hábitos, tradições e linguísticas eram muito grandes
apesar da unificação que ocorrera desde o século XV, período em que o clã
Tokugawa estabeleceu o xogunato.
Na época em que iniciou a negociação de reabertura dos portos a outros
países, o arquipélago estava sendo administrado pelo sistema 幕藩 (bakuhan),
com governadores locais, de forma isolada. Neste sistema, não lhes eram
exigidas práticas culturais ou tradições homogêneas nem homogeneidade
linguística14.
Sakurai afirma que “houve consenso entre os líderes de que as mudanças
deveriam ocorrer o mais rápido possível”, e “foi recriada a imagem das ‘raízes
japonesas’ comuns, como […] de todos serem descendentes da deusa

14 Essa diferença cultural e linguística continuou sendo refletida nos imigrantes japoneses que
vieram ao Brasil. Muitas vezes, no casamento entre japoneses oriundos de diferentes regiões, o
casal não entendia o que cada um falava. A autora, no convívio com esses imigrantes, ouviu
comentários a respeito da vida dos primeiros anos de casamento. Há um episódio, por exemplo,
da mulher que, para esconder da sogra que não compreendia o que seu marido dizia, acabou
tomando várias atitudes tais como trazer cigarro, acender a lareira, fazer almoço etc., até
descobrir, finalmente, que o objeto que ele queria era uma chaleira. O episódio foi contado pelo
Sr. K, na década de 1990, em Porto Alegre, RS, em uma ocasião informal.
45

Amaterasu, a figura do imperador também foi incluída nesse discurso” (SAKURAI,


2008, p. 148).

As estratégias tomadas pelo novo governo para remediar esta questão foram:
1) Determinação do ensino escolar obrigatório com material
escolar elaborado pelo governo central;
2) Uso de língua padrão nas salas de aula;
3) Criação de bandeira e hino nacional japonesa;
4) Criação e publicação da constituição, em 1889, fortalecendo a
imagem do Imperador como representante do povo japonês.
(SAKURAI, 2008).

Assim, em relação à construção de uma identidade, os líderes japoneses da


época da Restauração Meiji, antecedendo a afirmação de Cuche, colocaram na
prática o que acreditaram ser necessário para fortalecer a identidade e a coesão
social do povo japonês. Pois,

A construção da identidade se faz no interior de contextos sociais que


determinam a posição dos agentes e por isso mesmo orientam suas
representações e suas escolhas. Além disso, a construção da
identidade não é uma ilusão, pois é dotada de eficácia social,
produzindo efeitos reais. (CUCHE, 1999, p. 182).

O arquipélago do Japão, no fim do período do xogunato e início da Era


Meiji, era um país em que não havia uma língua que era comum ao povo. Sendo
assim, como afirma Okamoto, houve necessidade de criar instrumentos de
comunicação de forma artificial para que as pessoas de diferentes regiões
pudessem se comunicar.

Em 1900, foi elaborado o material didático com língua falada pela


classe média da região nobre de Tóquio e essa língua foi ensinada às
crianças no lugar de línguas locais. As pessoas estavam separadas
pelo sistema han e pelos feudos. Tendo os governantes autônomos, e
tendo classes sociais divididas em samurais, agricultores, artesãos e
comerciantes, não havia consciência de serem japoneses ou cidadãos
japoneses. (OKAMOTO, 2011, p. 85-86, tradução nossa).
46

O Imperador, como representante da nação, é apresentado ao povo como


uma figura “eterna e incontestável”, Celia Sakurai (2008) apresenta os trechos
da Constituição de 1889, afirmando que “tudo o que ele faz é certo por princípio”
(JAPÃO, 1889 apud SAKURAI, 2008, p. 149).

[…] tendo, pela virtude das glórias de nossos ancestrais, ascendido ao


trono de sucessão linear desde épocas eternas; desejando promover
o bem-estar, o desenvolvimento moral e as faculdades intelectuais de
Nossos súditos, os mesmos que têm sido favorecidos pelo cuidado
benevolente e vigilância afetiva de Nossos Ancestrais; e esperando
manter a prosperidade do estado, e em conjunto com Nosso povo e
com seu apoio, Nós promulgamos […] o direito de soberania do estado,
que Nós herdamos de Nossos Ancestrais e Nós transmitiremos a
Nossos descendentes. (JAPÃO, 1889 apud SAKURAI, 2008, p. 149).

Takii (2013) menciona que, na fase do projeto de elaboração dos artigos,


a expressão “linhagem única de todos os tempos” fora questionada por Kiyoshi
Inoue, em 1886 ou 1887, sob alegação de texto ser uma expressão usada mais
na literatura do que técnica jurídica pois a Constituição Meiji, no seu artigo 1º diz:
“O Grande Império do Japão é regido pelo Imperador de linhagem única de todos
os tempos”.

A respeito da alegação de que o novo governo pretendia construir um país


imperialista com poder de deus, isso parece não proceder, pois o quarto artigo
daquela mesma constituição impõe limitação ao Imperador. O artigo, ao afirmar
que o poder de governança do Imperador será executado “conforme
estabelecido nos artigos desta constituição”. Portanto, limita-se
constitucionalmente sua atuação – dependente dos textos estabelecidos nos
demais artigos (TAKII, 2013, p. 239).
Hirofumi Ito (ITO, [18--] apud TAKII, 2013), maior autoridade na
elaboração da Constituição Meiji, na apresentação do projeto, esclarece que
“quando institui uma constituição e realiza a governança, deve esclarecer as
funções atribuídas ao representante maior do Estado, limitando algumas
atividades.” E que “governança constitucionalista significa claramente que há
47

limitação de certas atividades do representante do Estado” (ITO, [18--] apud


TAKII, 2013, tradução nossa).
Portanto, Ito entendia que, na aplicação da constituição, o Imperador não
deveria intervir nas atividades de governo do dia a dia, porém, na ocorrência de
impasse, como indivíduo neutro, interviria dando sua decisão, de modo que a
interferência do Imperador deveria ser mínima em um país imperial constitucional
(ITO apud TAKII, 2013, p. 239).
A teoria do Imperador como instituição representativa da própria nação,
天皇機関説 (Tennô kikan setsu), entre constitucionalistas da época, foi aceita e
ensinada em todas as instituições jurídicas até ser vedada pelo Conselho dos
Nobres em 1935. Nesta época, devido à crise econômica, havias surgido um
movimento militarista que precisava da figura do imperador como forte estadista,
o que exigia abandono da imagem descrita na teoria vigente até então
(YAMAGUCHI, 2019, p. 266-268).
Após a Segunda Guerra Mundial, uma nova constituição é promulgada,
dissolvendo da classe dos militares e transferindo todo poder de governo para a
Dieta, composta pelos representantes eleitos pelo povo. O Imperador passa a
ser um “representante” do Estado, sem direito a voz na determinação do rumo
do país, mesmo que indiretamente.
Os Imperadores, depois da nova constituição, passaram a ser chamados
de 象徴天皇 (shocho tennô), ou seja, Imperador figurativo, pois lhes foi vedado
o exercício de atividades que caracterizam atos de governo ou a eles
relacionados. Entretanto, aqueles rituais que perduraram ao longo do milênio na
Casa Imperial para rogar a prosperidade do povo japonês continuam sendo
realizados até os dias de hoje.
Os rituais realizados pelo casal Imperial são atrativos para muitos turistas.
Em um dos tradicionais rituais de início do ano, por exemplo, o Imperador e a
imperatriz reúnem-se com pessoas comuns para compor poemas, contendo
sentido de prosperidade. Nota-se neste ritual a presença de japoneses que vêm
de diversas partes do mundo, inclusive do Rio Grande do Sul.
48

2.4. FIGURA DO IMPERADOR DO JAPÃO NO BRASIL E O SENTIMENTO


DE PERTENCIMENTO
A representatividade do Imperador na comunidade japonesa divide-se em
três fases. Estas fases são divididas entre a primeira fase: do início da imigração
japonesa em 1908 até o fim da Segunda Guerra Mundial; a segunda fase: entre
1945 até aproximadamente 1950; e a terceira fase: depois da segunda metade
da década de 1950 até os dias de hoje.
A primeira fase refere-se àquele período em que a teoria do Imperador
como instituição representativa da própria nação – 天皇機関説 (Tennô kikan
setsu) – estava aceita, tanto pelos intelectuais como pelo povo em geral. Assim,
os imigrantes que deixaram o Japão nesse período trouxeram consigo esse
conceito de valores. O Imperador representava a própria nação japonesa em
forma de carne e osso, e que cada indivíduo teria a responsabilidade em relação
a sua nação, o Japão, e, por consequência, em relação ao próprio Imperador.
Esta identidade de serem indivíduos pertencentes ao país do sol nascente
é lembrada aos primeiros imigrantes a chegarem ao Brasil a bordo do navio
Kasato-maru, em 1908, sem o sentimento de ruptura. Neles, o sentimento de
ampliação da atuação japonesa além da fronteira marítima se mostra evidente,
conforme discursos apresentados, tanto por parte dos que ficaram no Japão
quanto dos que emigraram. Segundo Kooyama (1949) – um dos tripulantes de
um navio –, três horas antes da partida de porto de Kobe, o representante da
companhia de imigração, Gonta Doi – deputado do Partido Seiyuukai da
província de Hyogo – pronunciou seguintes palavras de despedida:

Chegando ao país estrangeiro, devem ter consciência que cada um de


vocês carrega nas suas costas a nação japonesa. Nenhum de vocês
deve sujar a imagem de ser um japonês. Devem partir com
determinação de não voltar com vida se não forem vencedores. (DOI,
[19--] apud KOOYAMA, 1949, p. 26-27, tradução nossa).

Conforme o discurso, os imigrantes seriam aqueles que representariam o Japão,


com responsabilidade e que, tinha uma missão a cumprir: a de alcançar o
sucesso nas terras estrangeiras em nome da nação japonesa.
49

A maioria dos textos encontrados sobre a imigração japonesa no Brasil


aponta que os japoneses ingressantes antes da Segunda Guerra Mundial
desejavam tornar-se ricos rapidamente e voltar à sua terra natal. Como aponta
Jeffrey Lesser,

Como a maioria dos imigrantes, os passageiros do Kasato-maru não


pretendiam permanecer no Brasil em caráter permanente. As canções
compostas durante a viagem tinham como tema o regresso, e a
propaganda veiculada pelas empresas de emigração japonesas levava
muitos a acreditarem que o Brasil era tão rico, que em cinco anos eles
voltariam para casa em boas situações financeiras. (LESSER, 2001, p.
159).

Quando se analisa os discursos envolvendo a emigração japonesa para


o Brasil, percebe-se que há dois discursos. De um lado, a intenção das
instituições de recrutamento em conseguir maior número de emigrantes e para
isso, realizam propaganda atraente. Ao mesmo tempo, aos que saem do país,
exigem que se comportem como representantes exemplares da nação japonesa.
Considerando que a teoria em voga no Japão na época da primeira leva
de imigração ao Brasil tenha sido a teoria do Tennô kikan setsu, não é de se
estranhar que, após o discurso de Doi, afirmando que cada um de imigrantes
carrega nas suas costas a responsabilidade para a nação japonesa, cada
emigrante se sentisse possuidor da missão de se fazer presente a etnia japonesa
no Brasil. Isto condicionou o fortalecimento do elo entre o Império e os imigrantes
que, se de um lado eles eram a representação da própria nação japonesa, por
outro lado, também se sentiam parte desta nação.
Esta ligação entre família imperial e os imigrantes japoneses permanecem
fortes, como se pode perceber pela participação dos membros da Casa Imperial
nas atividades dos imigrantes no Brasil, antes e mesmo depois da Segunda
Guerra Mundial. Um dos exemplos é a fundação do 日伯中央協会 (Nippaku Chuo
Kyokai), i.e., Associação Central Nipo-Brasileira, em 29 de novembro de 1932,
no Japão, tendo como diretor-geral o príncipe 高松宮 (Takamatsu-no-miya) e
como vice-diretor o visconde 徳川頼貞 (Yorosada Tokugawa) (HANDA, 1976, p.
50

66; ASSOCIAÇÃO CENTRAL NIPO-BRASILEIRA, 2017), para promover a


migração dos japoneses entre Japão e Brasil.
Quase dois anos mais tarde, em 12 de outubro de 1933, o membro de
Conselho dos Nobres Imai Gosuke visita o Rio de Janeiro (HANDA, 1976, p. 69)
via Belém do Pará, o que reforça a aproximação do Japão com a colônia
japonesa. Esta aproximação da Casa Imperial com os imigrantes segue no ano
seguinte, com doações em dinheiro da Casa Imperial às instituições japonesas
para custear parte das despesas com a manutenção das colônias.
Em 29 de abril de 1934, a Casa Imperial faz doação em dinheiro para as
entidades sociais no exterior, sendo que, no Brasil foram agraciadas várias
instituições de saúde, consultórios médicos em Santos, Bauru, Presidente
Prudente, Registro, Sete barras, Hospital Acará, em Tomé-Açu, além do
Sanatório Japonês 同仁会 (Dôjinkai) no Brasil, anexo do Centro de Pesquisas
Agronômicas da Amazônia15.
Entre as doações, aquela enviada ao consultório de Dôjinkai, em Santos,
converteu-se para parte das despesas para construção de um hospital japonês,
hoje conhecido como Hospital Santa Cruz (HANDA, 1976, p. 72; O DÔJINKAI…,
2009), da cidade de São Paulo, disponível a toda a comunidade local.
Na época, a Casa Imperial havia enviado uma quantia significativa em prol
da saúde dos imigrantes japoneses, e esse gesto incentivou a conclusão do
hospital japonês. A motivação para construção deste hospital mobilizou o
governo japonês, os japoneses residentes no Japão e no Brasil, numa ação
conjunta para alcançar um objetivo, aumentando a identidade japonesa e
sensação de pertencimento das pessoas envolvidas ou atingidas por esta ação.

Em 1934, a Casa Imperial fez uma doação no valor de 50 mil ienes


para a construção do hospital e, em 1935, foi criado o Comitê de
Construção do Hospital Japonês de São Paulo. Decidiu-se que os
custos da construção do hospital (equivalentes a 800 mil ienes) seriam
divididos entre os subsídios oferecidos pelo governo japonês (250 mil

15 同仁会(Dojinkai) foi a entidade responsável pela saúde e pelo bem-estar dos imigrantes
japoneses no Brasil. Esta entidade existiu de 1923 até 1941, quando o Japão declarou guerra
contra os Aliados, tendo, assim, o Brasil como inimigo. (O DÔJINKAI…, 2009).
51

ienes), os donativos obtidos no Japão (400 mil ienes) e os donativos


obtidos entre os japoneses no Brasil (100 mil ienes). Com isso, foi
criada em 1935, no Japão, o Comitê de Apoio à Construção do Hospital
Japonês “São Paulo” (presidido pelo ex-primeiro-ministro Minoru Saitō),
que tinha como objetivo a arrecadação de mais donativos para a
construção do hospital (O DÔJINKAI…, 2009).

Na construção deste hospital, segundo boletim informativo da exposição


de documentos que ocorreu na ocasião de 120 anos do Tratado de Amizade
entre Brasil e Japão, houve inicialmente sugestões somente por parte japonesa,
mas acabou sendo realizado, por intermédio do Dr. Resende Puech, na época
vice-diretor da faculdade de odontologia da USP, em conjunto, entre Japão e
Brasil. O engenheiro para a construção foi enviado pelo Ministério de Relações
Exteriores do Japão e, envolvendo os especialistas locais, elevou-se um prédio
de seis andares, de 7.125 m² de área construída, em forma de “L”, com
aproximadamente duzentos leitos, de concreto armado, com vigas de ferro,
trazidos especialmente do Japão (JAPÃO, 2015, p. 14-15).
A presença da figura do Imperador e membros da Casa Imperial tem sido
importante para que os imigrantes japoneses se sentissem japoneses no Brasil.
Negawa (2016, p. 221), ao analisar as redações escritas pelas crianças no
período de 1930 a 1940 nas escolas japonesas no Brasil, conclui que na época
antes da Guerra, as escolas incentivavam a percepção de uma coexistência da
etnicidade brasileira e japonesa.
Negawa comenta sobre textos do concurso de redação realizado em 1939
dizendo:

As redações iniciam com a fala tipicamente japonesa, mencionando


que ouviu do professor a história de 2600 anos do império e que sente
orgulho em ser japonês mesmo nascendo no Brasil. Observa-se que
as crianças falam naturalmente que “nasceu no Brasil” e que “é
japonês”. A identidade étnica e identidade nacional coexistem
naturalmente. […] com isso, por último, aparecem frase ‘quero me
dedicar para o meu país’, sendo que, pelo contexto, ‘meu país’ se
refere ao Japão e não ao Brasil, dando a entender que havia educação
de formação imperialista mesmo que as redações estejam sido escritos
com linguagem simples. (NEGAWA, 2016, p. 221-222).
52

Isto mostra que, dada a política de expansão do povo japonês para o


além-mar, não seria de estranhar que educassem os filhos como japoneses,
independentemente do local onde se encontravam. O pertencimento para os
imigrantes eram se sentir japonês não em forma de lembrança ou memória do
passado. Pelo contrário, o compromisso do seu “ser” era a de ser um japonês,
carregado de valores culturais e étnicos, tal como no momento da partida para o
Brasil.
Eles vieram para o Brasil não só para fazer “dinheiro”, mas também para
ocupar o espaço geográfico como um “japonês” como qualquer imigrante, para
conviver com os que já estavam aqui antes de sua chegada. Se houve
movimento de “embranquecimento” por parte do governo brasileiro, certamente
isso decorreu por conflito de interesse econômico e social mais do que étnico
propriamente dito, por sentirem ameaçados na preservação de seus espaços de
atuação16.
A segunda fase em que o Imperador do Japão toma importância é logo
após a Segunda Guerra Mundial, quando os próprios japoneses entram em
conflito entre si, envolvendo a figura do Imperador. Durante a Guerra, as escolas
japonesas foram fechadas, assim como ocorreu com as escolas alemãs e
italianas.
Nesse período, as notícias sobre a situação do Japão também ficaram
escassas de modo que, quando terminou a guerra com a rendição do Japão,
houve confronto entre os imigrantes que acreditavam na vitória, os 勝ち組 (kachi
gumi) e outros, na derrota, os 負け組 (make gumi). Os vitoriosos, kachi gumi não
aceitavam a notícia da derrota do Japão e, se autodeclarando súditos do
Imperador, acabaram formando grupo de guerrilheiros, ameaçando e matando
os japoneses que não concordavam com a ideia da vitória. Segundo Negawa

16 Em relação a isso, a política de “embranquecimento” da nação certamente não seria aceita


nos dias de hoje. Imagine o caso do Brasil onde grande parte da população é formada pelas
pessoas de origem afro-brasileira ou tem mestiçagem com os indígenas, conforme regiões do
país. Embora a questão étnica e racial ainda não esteja resolvida, não se pode negar que para
o Brasil, a heterogeneidade étnico-racial é fato inegável e necessária.
53

(2016, p. 542), o grupo denominado 神道連盟 (Shindo renmei) – a “Liga dos


Seguidores do Caminho dos Súditos" – era composto de mais de cem mil
pessoas de origem japonesa, e quase 90% dos imigrantes acreditavam que o
Japão havia vencido a guerra. Esse movimento continuou até 1947, resultando
em 23 mortes de japoneses e mais de mil prisões (NEGAWA, 2016, p. 542).
A revista Mundo Policial em revista de maio-junho de 1947 (SHINDO,
1999) apresenta em sua capa uma bandeira do Shindo renmei, da sede de
Pirajuí, São Paulo, confiscada durante a prisão de seus membros. Curiosamente,
analisando a bandeira, aparece apenas a flor de cerejeira, que, na cultura
japonesa, não representa de maneira alguma a ligação com a família imperial.
Muito pelo contrário, a flor é o símbolo da efemeridade, algo que não permanece
no tempo. Portanto, esse símbolo floral pode ter surgido acidentalmente como
fruto imaginário da identidade nacional japonesa.
Segundo Tsuguio Shindo (1999, p. 107), o líder-fundador desse
movimento foi um tenente-coronel reformado do exército japonês chamado Junzi
Kikkawa, o que igualmente deixa dúvidas no seu comportamento, pois durante
o período de guerra, ele não servia ao Japão. Considerando os principais
membros desse movimento formado por ex-militares japoneses de gradação
razoável, liderados por um tenente-coronel do exército, a presença do desenho
da flor de cerejeira como símbolo do movimento deverá ser analisado com
bastante cuidado.
O movimento nacionalista criado no meio dos imigrantes provavelmente
surgiu como um “trauma” da guerra justamente porque não a vivenciaram como
os japoneses que estiveram no front ou que tenham sofrido bombardeios.

Não há nenhum país em que a passagem da geração de políticos que


teve uma experiência direta da II Guerra Mundial não tenha marcado
uma mudança profunda, ainda que silenciosa, na sua política e na sua
perspectiva histórica da guerra e da Resistência […]. De forma geral,
isso se aplica à memória de todos os grandes levantes e traumas da
vida nacional. (HOBSBAWM, 1995, p. 107).

A formação do grupo Sakura gumi – o “Grupo de Voluntários Sakura” (flor


de cerejeira) –, criado em 1953 em Londrina (PR), oito anos depois do fim da
54

guerra, criou uma comunidade das pessoas que acreditavam ainda na vitória do
Japão. Um desses grupos vitoristas, oriundo de Santo André, realizou uma
marcha organizada em 1954, desde o Viaduto de Chá até a Praça da Sé, mas
acabaram dispersados pelos policiais (SHINDO, 1999, p. 132; KYOGOKU, 2009,
p. 114).
Depois disso, aos poucos os imigrantes passaram a acreditar na derrota,
graças às cartas e mensagens recebidas de parentes e amigos do Japão, e,
então, o movimento terrorista cessou. Nas comunidades como a do Rio Grande
do Sul, mesmo sendo formado pelos imigrantes que vieram após a Segunda
Guerra, o assunto era tabu até o início da década de 1980.
Em relação ao Imperador – que havia se declarado homem comum no dia
15 de agosto de 1945 –, com a nova constituição, ele agora era classificado
apenas como detentor de papel figurativo. Excetuando-se a resposta negativa
dos vitoriosos que recorreram ao terrorismo ao ameaçarem e matarem os que
acreditaram na derrota japonesa, não houve manifestação negativa que afetasse
a figura do Imperador.
A terceira fase da Figura Imperial entre os imigrantes japoneses começou
logo depois da retomada da relação diplomática do Brasil com o Japão e reinício
da imigração e integração da sociedade nikkei17. Os membros da Casa Imperial
passaram a visitar o Brasil, o maior país em que há presença da etnia japonesa
no exterior.
A primeira visita pós-guerra do membro da família imperial foi na
comemoração de cinquenta anos de imigração japonesa ao Brasil, em junho de
1958. Nesta comemoração, que ocorreu no dia 18 de junho de 1958, no Pavilhão
das Indústrias do parque Ibirapuera, participaram da solenidade o príncipe
Mikasa e sua esposa, reunindo público estimado de cinquenta mil pessoas, mais
o governador de São Paulo Jânio Quadros e o prefeito Ademar de Barros, além
das demais autoridades (NAKAZAWA, 2003, p. 40; HANDA, 1976, p. 124).

17 日系 (Nikkei) – se refere a tudo que há relação direta com o Japão enquanto sua origem.
Assim, as pessoas que tem ancestralidade japonesa são chamados Nikkei ou Nikkeijin.
55

Na ocasião, doze imigrantes receberam as condecorações da Casa


Imperial por terem se dedicado na prosperidade dos compatriotas e mais seis
brasileiros foram condecorados por terem ajudado na receptividade dos
imigrantes. Certamente, esta celebração de cinquenta anos de imigração
japonesa no Brasil que teve a presença dos membros da família imperial reforçou
aos nikkeis o sentimento de pertencimento ao povo japonês como um grupo
étnico específico.
Em abril do ano seguinte, em 1959, em homenagem a casamento do
príncipe herdeiro da época Akihito e a princesa Michiko, o Consulado Geral do
Japão realiza uma missa e promove uma grande recepção. E, em julho do
mesmo ano, um pouco mais de um ano e um mês depois da vinda do príncipe
Mikasa, os imigrantes japoneses recebem a visita do Primeiro-Ministro japonês
Nobusuke Kishi, com fervor (NAKAZAWA, 2003, p. 43).
A segunda visita dos membros da família imperial ao Brasil ocorreu em
1967, durante a viagem oficial de amizade na América do Sul. O casal Príncipe
Herdeiro – da época – Akihito e a Princesa Michiko foram recebidos no dia 24 de
maio no Aeroporto de Congonhas por mais de dez mil nikkeis. No dia seguinte,
na cerimônia de recepção que ocorreu no Parque de Pacaembu, reuniram-se
mais de oitenta mil pessoas de origem japonesa para homenagear e ver o casal
imperial. Na mesma viagem, o casal imperial visitou a Usinas Siderúrgicas de
Minas Gerais S.A. (USIMINAS)18, no município de Ipatinga (MG) (NAKAZAWA,
2003, p. 57; HANDA, 1974, p. 142; SHINDO, 1999, p. 198).
Dez anos mais tarde, em 1978, o então Príncipe Herdeiro Akihito e a
Princesa Michiko retornaram novamente ao Brasil, em homenagem aos setenta

18 A Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A. (USIMINAS) foi criada em 1958, num projeto
conjunto entre o governo japonês e brasileiro (HONDA, 1974, p. 123). Em 1955, seguindo a
política de promoção de desenvolvimento do país do presidente Juscelino Kubitscheck, o Brasil
passou a procurar o parceiro para tal. O país escolhido foi o Japão para este grandioso
empreendimento. Em março de 1957, o parlamento aprovou o empreendimento e o projeto de
implantação da siderúrgica iniciou em março de 1958. Segundo o Sr. L. C. Vinholes que trabalhou
como intérprete japonês-português na construção das plantas – a da USIMINAS no Brasil e de
YAHATA Seitetsujyo no Japão –, ambas foram construídas em forma de consórcio, numa
cooperação técnica e financeira entre Japão e Brasil com participação de engenheiros de ambos
os países (depoimento informal concedido à autora, em 2018).
56

anos da imigração japonesa. Na solenidade comemorativa da imigração que


ocorreu no Parque de Pacaembu, manteve-se a presença de cerca de oitenta
mil imigrantes e seus descendentes (NAKAZAWA, 2003, p. 71).
Quatro anos depois, em 4 de outubro de 1982, a convite do presidente
Figueiredo, o príncipe Hironomiya Naruhito visitou o Brasil, e na ocasião fez
viagens para diversas regiões que tem concentração de imigrantes japoneses
como Brasília, São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro (NAKAZAWA, 2003, p. 78).
Em menos de cinco anos, em 3 de outubro de 1986, depois da
comemoração de cinco anos de imigração japonesa no Paraguai, o Príncipe
Hitachi e a Princesa Hanako visitaram cidade de São Paulo. A grande cerimônia
de recepção ocorreu na Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa. No seu
roteiro de visitas, foi incluída a visita ao Memorial em Homenagem aos
Imigrantes Pioneiros Falecidos (NAKAZAWA, 2003, p. 85).
Esse gesto de rememoração dos imigrantes japoneses pela Casa Imperial
repetiu-se em 1995, na comemoração de cem anos do Tratado de Amizade entre
Brasil e o Japão, com visita da princesa Sayako, filha do Imperador que, no dia
7 de novembro prestou homenagem aos imigrantes falecidos, através da entrega
de coroa de flores no Memorial dos Imigrantes localizado no Parque de
Ibirapuera (NAKAZAWA, 2003, p. 98).
Em 1997, o Imperador Akihito e a Imperatriz Michiko visitaram o Brasil,
sendo que, dentre várias cerimônias celebradas a visitação ao Memorial dos
Imigrantes falecidos não foi esquecido. A visita mobilizou a sociedade de
japoneses residentes no Brasil e descendentes, sendo que nesta visita foi
incluída a participação de todas as faculdades da Universidade de São Paulo,
onde 35 estudantes, cada um representando uma faculdade, recepcionaram a
visita do casal imperial junto com o reitor, professor Flávio Fava de Moraes
(NAKAZAWA, 2003, p. 102-103).
Em junho de 2008, o Príncipe Hironomiya Naruhito retornou ao Brasil, no
ano comemorativo a cem anos da imigração japonesa no Brasil. Segundo a
Folha de São Paulo, de 23 de junho de 2008, numa visita que realizou em
57

Rolândia, norte do Paraná, 75 mil pessoas se reuniram para recebê-lo (VISITA…,


2008).
Na comemoração de 110 anos da imigração japonesa no Brasil, em 2018,
a princesa Mako, filha do Príncipe Akishino, visitou cinco estados, incluindo Rio
de Janeiro, Paraná, São Paulo, Pará e Amazonas e um total de quatorze cidades
(KUNAICHO, 2018), sendo que essas cidades possuem grande número de
japoneses e descendentes.
Pode-se perceber que a presença contínua dos membros da família
imperial no Brasil, sobretudo nas comunidades onde há maior presença de
imigrantes japoneses, não só realimenta o sentimento de pertencimento em
forma de rememoração do passado. Pelo contrário, esse sentimento de ser
“japonês” mesmo que “brasileiro”, passa a ser realidade presente, pois o
momento é vivido pelos vivos sem que haja interferência do tempo passado.
Para reforçar esta presença, os membros da Casa Imperial têm visitado
com grande receptividade da comunidade local, as localidades onde há
participação econômica ou tecnológica, seja em forma de cooperação ou
atividades conjuntas, as quais sempre há presença significativa de participação
dos indivíduos de ascendência japonesa. Recentemente, em junho de 2019, foi
publicado um livro sobre a presença e trajetória dos membros da família imperial
japonesa no Brasil (NINOMIYA, M.; NINOMIYA, S., 2019). Escrito de forma
bilíngue, em japonês e português, percebe-se que a Casa Imperial japonesa
manteve-se presente na vida dos imigrantes japoneses e seus descendentes no
Brasil ao longo da história, antes e depois das duas Guerras Mundiais, num gesto
de reconhecimento da etnia japonesa, mesmo que, enquanto nacionalidade, os
filhos e netos dos imigrantes tenham se tornado brasileiros.
Durante o período de isolacionismo no Japão, o regionalismo se acentuou
e o povo japonês se identificava mais com sua região onde habitava. Após a
devolução de poder de governo do xogum ao Imperador Meiji e abertura dos
portos para o ocidente, o Japão necessitou educar o seu povo para ser mais
homogêneo tanto nos costumes quanto numa figura que fosse representá-lo.
58

Assim, o imperador do Japão foi considerado, pela Constituição Meiji,


como representação do país e do povo. Essa definição foi desconstruída em
1935 pelos militares japoneses e, até o fim da Segunda Guerra Mundial, o
imperador passa a ser tratado como uma divindade. A declaração do Imperador
Hirohito anunciando que ele próprio é um humano como outros, diante do povo
japonês, após a derrota do país em 1945 causou no Brasil o surgimento de dois
grupos opostos. O primeiro, os derrotistas, que eram mais sensatos, e outro, os
vitoristas que, não acreditando na veracidade das informações, criaram ondas
de terror entre os conterrâneos japoneses durante alguns anos após o término
da Guerra, causando mortes e pavor.
Por outro lado, em diversas ocasiões de datas comemorativas relativas à
imigração japonesa ao Brasil, desde antes da Segunda Guerra Mundial até os
dias atuais, os membros da família imperial têm visitado as comunidades
japonesas, com grande receptividade entre os imigrantes e seus descendentes.
Assim, percebe-se que a própria presença da família imperial reforça a
comunidade japonesa a se identificar como aquele que faz parte da etnia
japonesa, ou seja, um japonês, independentemente da fronteira geopolítica
traçada.
59

3. O DESLOCAMENTO DA ETNIA JAPONESA PARA O


EXTERIOR

Os japoneses, na época em que o ocidente estava em plena Revolução


Industrial, mantinham o modelo de sistema produtivo e econômico do século XVII
devido à política de isolacionismo adotada pelo xogunato do clã Tokugawa. A
abertura dos portos para a Europa e as Américas que ocorreu na segunda
metade do século XIX proporcionou ao Japão uma nova visão sobre o mundo,
com possibilidade do povo se deslocar para fora dos limites do arquipélago
japonês.

Por outro lado, havia necessidade de reorganizar o país nos moldes de


países ocidentais, mais industrializados e modernos. Assim, os dirigentes do
Japão pós-xogunato, como uma nação independente, introduziram o novo
conceito para o país diante dos estrangeiros. A introdução do pensamento
democrático no país e a liberação do direito de ir e vir das pessoas além das
fronteiras também trouxe consequências como o deslocamento de japoneses,
como imigrantes, ao Brasil.

3.1. O ENCONTRO DO JAPÃO COM PAÍSES OCIDENTAIS ATÉ O


FIM DO SÉCULO XIX

O período de hegemonia do clã Tokugawa – que se estendeu de 1603 a


1868 – para alguns historiadores japoneses é considerado um período de
opressão, em que a classe guerreira sobrepôs às demais classes sociais e é
considerado igualmente um período de estagnação do país. Nesse período, de
um pouco mais de duzentos e cinquenta anos, o povo japonês, pela ordem do
governo, era proibido de ter contato com os países estrangeiros. A abertura dos
portos para os países estrangeiros e para o ocidente só ocorreu após várias
negociações que sucederam a partir do século XIX, como com a Rússia, a
Inglaterra e os Estados Unidos – que eram considerados países potentes
daquela época.
60

No período em que o Japão não recebeu cultura de outros povos,


desenvolveu a própria cultura, que podia circular dentro do território considerado
nacional. Tinha-se como modelo principal o modo de vida que se desenvolvia na
cidade de Edo, atual Tóquio, onde foi instalado o castelo do Xogum Tokugawa.

A abertura dos portos do Japão ocorreu paulatinamente, na medida em


que entravam no Japão informações sobre o exterior, mesmo de forma indireta
– através de holandeses que aportavam na ilha artificial de Dejima, em Nagasaki.
Conforme Titshingh19, uma das provas é a menção da intenção do Japão de abrir
os portos em 1789, quando o governo de 幕府 (Bakufu)20 permitiu a construção
de navio a vela para abrir o caminho naval ao exterior, mas infelizmente não foi
concluído pela morte do mentor do projeto (TITSHINGH, 1820 apud TSUJI, 1950,
p. 299).

Em 1792, Adam Kyrilovitch Laxman chegou ao Japão como mensageiro


da Rússia na intenção de firmar um acordo internacional, com justificativa de
repatriar os japoneses Kodayu e Isokichi, naufragados nos os mares da Rússia
em 1783. Não obtiveram, no entanto, sucesso no firmamento desse tratado. Em
1804, a Rússia enviou novamente o mensageiro, Nikolai Petrovitch Rezanov,
sem sucesso (SHCHEPKIN; KARTASHOV, 2018).

Em 1806, Rezanov retornou aos mares do Japão, prendendo o guarda


japonês que vigiava Karafuto – atual Sacalina – ao norte de Hokkaido. Em 1817,

19 Isaac Titshingh (1745-1812) – descreveu a vida dos japoneses no período Edo, quando
esteve na ilha de Dejima, em Nagasaki. Sua obra póstuma foi publicada em Paris no ano de
1820, com o título Mémoires et anecdotes sur la dynastie régnante des Djogouns, souverains du
Japon.

20 幕府 (Bakufu) – “Palavra que designa os quartéis de um chefe militar em campanha. Passou


a designar, a partir da época de Kamakura, a sede do governo militar shogunal. Posteriormente,
foi utilizado para caracterizar toda forma de governo exercida por militares” (FRÉDÉRIC, 2008,
p. 112).
61

o capitão russo Vaassilii Michaelovitch Golovnin, que navegava nos mares ao


norte do Japão, foi capturado pela guarda japonesa (GOLOVNIN, 1824).

Em relação à Inglaterra, o navio Phaeton aportou na ilha de Nagasaki em


1808, exigindo o abastecimento de alimentos e água; ameaçando, caso tivessem
sua solicitação negada, bombardear a cidade de Nagasaki (WILSON, 2010). Em
1813, aporta novamente um navio inglês, trazendo a notícia ao comissário
holandês Hendrik Doeff, lotado no posto comercial de ilha artificial de Dejima em
Nagasaki, de que a Holanda havia sido integrada à França e Java havia sido
tomada pela Inglaterra (NATIONAL DIET LIBRARY, 2009a).

Em 1817, Doeff recebeu do navio holandês que chegou à ilha de Dejima


a notícia da independência da Holanda. Essas informações eram transmitidas
ao governo japonês que se inteirava das mudanças políticas que ocorriam na
Europa, principalmente do apossamento do território de um país pelo outro
(NATIONAL DIET LIBRARY, 2009a).

Nessa mesma época, ocorria frequentemente a chegada de navios


baleeiros ingleses e americanos ao Japão, sobretudo vindos do Alasca, que
pediam o abastecimento de alimentos e água, além do reparo da embarcação
danificada. Assim, o primeiro contato americano que solicitou um acordo com o
Japão foi através do navio Morrison, da Companhia Oliphant, o que foi um
insucesso, tendo sido atacado e teve de se retirar sem sucesso para abertura do
acordo comercial (TSUJI, 1950, p. 307).

Depois disso, houve outros incidentes por parte dos americanos, como,
por exemplo, a vinda do navio baleeiro Mercator, de bandeira americana,
trazendo os vinte e dois náufragos japoneses que perderam sua embarcação
nos mares do norte. O governo de Bakufu resolveu, então, sugerir aos
americanos que esses japoneses fossem entregues aos holandeses para, então,
serem repatriados.

A efetiva abertura dos portos só aconteceu em 1853, com a chegada de


Comodoro Matthew Calbraith Perry, sendo que, durante um período de quinze
62

anos – até a concretização da Restauração Meiji – ocorreu de certa forma um


desmoronamento da cultura do Período Edo e, ao mesmo tempo, os problemas
internos do país vieram à tona (IWASHITA, 1997a, p. 18-19; TSUJI, 1950, p.
315-317).

A época de isolamento coincide com a consolidação da concentração do


poder governamental na mão de um único clã – Tokugawa. Esse clã da classe
guerreira instituiu um governo baseado no sistema Bakufu, uma espécie de
sistema de feudos subordinados ao governo central. Isto trouxe, de certa forma,
uma consciência da unicidade entre os japoneses.

Assim, quando houve reaproximação a países ocidentais, o movimento


para manter-se isolado foi fortemente defendido por parte das pessoas de 藩
(han21) mais conservadores. Por outro lado, os han mais vanguardistas como
Choshu e Satsuma entendiam que mudar o sistema de governo, abrir os portos
e firmar acordos com outros países também seria uma forma de se reconhecer-
se como um país uno e também expandir-se para o além dos limites do
arquipélago japonês.

Entretanto, uma das questões que dividiu a opinião de líderes da época,


era a de que o povo mais se importava se identificar com o han a que pertencia.
Tampouco havia a consciência de nacionalidade entre os japoneses antes da
Restauração Meji em 1868. Eles nasciam, cresciam e morriam japoneses de
forma natural e inconsciente, pois não havia uma referência externa nem ameaça
de outros povos.

De acordo com Tokutomi Soho, no livro sobre Yoshida Shoin, jovem


samurai do domínio senhorial de Chōshū – Chôshû-han –, um dos membros

21 藩 (han) – “domínio senhorial pertencente a um guerreiro ou daimyo (período Edo). De 1868


na 1871, os daimio desses han receberam o título de Han Chiji. Os han desapareceram em 1871
quando o governo de Meji incorporou esses domínios e os dividiu em províncias 県 (ken)”
(FRÉDÉRIC, 2008, p. 375).
63

decisivos na desconstrução do sistema de xogunato menciona a concepção


sobre a noção do “povo”.

A ideia nacional é uma ideia relativa. Este conceito só aparece quando


se tem contato com países estrangeiros […] Se os guerreiros feudais
não perceber a existência do Japão, não se pode estranhar. Suas
percepções nacionais só significam suas percepções em relação a
cada um dos han. […] A alerta vindo dos países estrangeiros
imediatamente induz a consciência da existência do estrangeiro e essa
consciência imediatamente exerce o espírito nacional, e o espírito
nacional inspira imediatamente a unidade nacional. E a liberdade
feudal não se pode compatibilizar com ele. A noção da existência dos
países estrangeiros estimulam a noção da existência do Japão; e no
dia em que reinar a consciência sobre o Japão, será aquele que o
conceito da autonomia de han desaparecerá. E esse dia, será o fim da
sociedade feudal. (TOKUTOMI apud WANG, 2016, p. 300-301).

O mundo estava se transformando rapidamente após a Revolução


Industrial que se iniciou na Europa, e esse movimento se estendeu aos Estados
Unidos meio a um aumento desenfreado da população. A realocação do modo
de agir dos países mais desenvolvidos tecnologicamente num sistema de
produção em massa ocasionou uma dominação econômica sobre os demais
países, tomando a forma de imperialismo econômico.

O Japão estudou modelos de Estado-Nação para sua subsistência


através da observância de países ocidentais na segunda metade do século XIX,
como a durante a Missão Iwakura – conhecida amplamente no Japão como 岩
倉使節団 (Iwakura Shisetsudan) – que, em 1871, partiu do Japão para fazer
viagem de conhecimento sobre tudo que havia na Europa e os Estados Unidos.
Composta de 107 pessoas, entre diplomatas, oficiais e estudantes, essa missão
diplomática e de estudos ao redor do mundo anotou e registrou tudo que
observou, desde costumes locais onde passaram, sistema financeiro,
gerenciamento de pessoas e os processos produtivos das indústrias do ocidente.

Depois de retornar ao país, grande parte dos membros que compuseram


essa missão tornaram-se dirigentes da nação, como políticos, empresários,
diplomatas e juristas, moldando um novo perfil para o Japão. E, como uma nação
64

unificada, os novos dirigentes políticos elaboraram a constituição escrita


baseada nas cartas magnas ocidentais, estabelecendo os direitos e deveres de
todos, inclusive os do próprio Imperador.

Em relação a esse período de adequação do sistema de governo japonês


ocorrido sobretudo durante a segunda metade do século XIX, não se pode
esquecer que os países como a Inglaterra haviam colonizado grandes territórios,
tais como Índia, Oriente Médio, parte da África e outros, na maioria com intuito
de lucrar com o comércio. No caso da China, a venda de ópio para aquele país
trazia grandes lucros, garantindo moeda para a aquisição do chá, muito
apreciado pelos ingleses. A Índia, por sua vez, garantia a produção do ópio para
exportação, exportado para o consumo chinês – o que levou posteriormente para
um conflito internacional entre Inglaterra e China conhecido como Guerra de
Ópio. Portugal também esteve presente no Extremo Oriente nesse período, em
Macau, como colonizador, lucrando no comércio e catequizando os chineses.

A situação desses países vizinhos era de conhecimento do Japão, mesmo


antes da abertura dos portos. Sabia-se que a China estava mergulhada numa
situação devastada, de miséria e de consumo desenfreado do ópio fornecido
pelos ingleses, o que levou, em 1840 à Guerra do Ópio (CHIN, 2004, p. 256). Os
dirigentes do Japão tinham de considerar essa realidade dos atos do ocidente
na época em que estavam estudando o caminho a tomar diante dos países que
exigiam a abertura dos portos. Em junho de 1858, diante de várias pressões
externas visando principalmente tratados comerciais, o Japão decide firmar
acordo de amizade com os Estados Unidos, determinando uma pequena vila de
pescadores com pouco mais de cem habitantes chamada Vila Yokohama
(IWASHITA, 1997a, p. 22).

No dia 14 de outubro de 1867, o XV Xogum, Tokugawa Yoshinobu se


desligou do título de 征 夷 大 将 軍 (Seii Taishogun), isto é, Generalíssimo
Combatente dos Estrangeiros. Devolvendo, assim, ao Imperador do Japão, de
fato, toda sua autoridade concedida. Essa devolução passou a ser conhecida
65

com o nome de 大政奉還 (Taisei Houkan) (SASAMA, 1997, p. 34-35; IWASHITA,


1997a, p. 116-121).

Embora os conservadores tenham acreditado que a manutenção do


sistema de governo seja essencial, percebe-se que eles estavam abertos a
receber novas culturas vindas do exterior, sobretudo da Europa. Nas batalhas
que travaram contra o exército dos vanguardistas que apoiavam o governo
imperial, os conservadores em prol da manutenção do Bakufu adotaram a
estratégia francesa de guerra e mesmo os uniformes à moda francesa, com
ajuda de Napoleão III que, para manutenção do sistema tradicional de governo
japonês doou uniformes, rifles, canhões e outros materiais.

Posteriormente, influenciado pela estratégia holandesa de combate, o


Bakufu encomenda uniformes à França para seus soldados (SASAMA, 1997, p.
34-37; IWASHITA, 1997b, p. 122-127). Pode-se dizer que a introdução de novas
culturas como a de vestimenta não foi recusada mesmo numa situação extrema
de beligerância como essa, visto que os soldados passaram a usar as roupas e
acessórios ocidentais, gritantemente diferente do que estavam familiarizados, ou
seja, quimono, hakama, kacchu, kabuto, tekko e demais adereços,
indumentárias que lembram o kendô – a arte marcial de espada japonesa 22.
Diante de todo esse acontecimento, os grupos conservador e vanguardista se
confrontam, com a vitória do último e, no ano de 1868, surge um novo governo
– representado pelo Imperador Meiji. Com isso, iniciou-se a modernização do
Japão.

22 Algumas vestimentas e acessórios japoneses tradicionais que utilizaram nas batalhas


sobreviveram como acessórios e vestimentas de artes marciais como os quimonos, hakama –
uma espécie de calça folgada – e acessórios para as lutas de espada, o kendô, naginata, kyudô
e outras. Entre as vestimentas que os imigrantes japoneses trouxeram ao Brasil, pode-se notar
a presença de jogo de uniforme de o kendô, como a da família Sassada da colônia japonesa de
Ivoti (fato observado pela autora em 2003, na ocasião da visita da autora e equipe de pesquisa
da Faculdade de Educação da UFRGS, na casa da família Sassada, em Ivoti, RS, já falecidos;
DOLL, 2003).
66

3.2. A MODERNIZAÇÃO DO PAÍS E A EXPANSÃO DOS JAPONESES


PARA O ALÉM-MAR

A entrada da cultura ocidental pela modernização do Japão, no entanto,


sob ponto de vista de historiadores como Tsuji (1950), foi pouco significativa no
primeiro momento. Esse historiador defende que, do ponto de vista geral, a
cultura recebeu influência do ocidente e se diversificou, mas de forma não
significativa para a população em geral. A mudança, atingindo somente as
camadas mais altas da sociedade, como aqueles que tinham relações com a
governança, manifestou-se somente como uma reforma política e que,
economicamente, apenas era parte do percurso inevitável do tempo. No ano de
1868, houve efetivamente a mudança governamental com a entronização do
Imperador Meiji – o que posteriormente passou a ser chamado de Restauração
Meiji pelos historiadores.

A entrada da cultura exógena no Japão passou a enriquecer a cultura já


existente e amadurecida durante o Período Edo. A concepção da liberdade
individual, por exemplo, que foi introduzido ao país no Período Meiji fez surgir o
movimento em prol do direito do indivíduo. De acordo com Watanabe (2012, p.
389), no Período Meiji, para muitos, o conceito de liberdade sobrepunha a
palavra japonesa jiyû, o que significa fazer o que quisesse.

The idea of liberty as a liberation from the caste and status hierarchy of
Tokugawa Japan Fuses with the sense of jiyū as freewheeling license
[…]. There was certainly a faddish aspect to “civilization,” a giddy sense
of newfound freedom from convention, the feeling that all manner of
new things was, now permitted. (WATANABE, 2012, p. 389).

No Japão, ocorre então o movimento デモクラシー化 (demokurashii-ka),


ou seja, democratização do país com a abolição de divisão de classes sociais,
desde o início da Restauração Meiji. No Período Taishô (1912-1926) – período
em que a democratização já fica incorporada ao povo –, surge um novo conceito
de agir, tanto nas atividades artísticas, costume doméstico, literatura e
movimento trabalhista. Esse novo modo passa a ser chamado de 大正デモクラ
67

シイ (Taishô demokurashii23) (KISHIMOTO, 1988, p. 13; OKUBO, 1969, p. 555-


559).

Em relação à presença da cultura que é inserida em uma cultura já


existente, Yuri M. Lotman afirma que quando duas culturas se encontram, ambas
criam tensões sem, no entanto, perder suas próprias essências.

La dinâmica cultural no puede ser presentada ni como um aislado


processo inmanente, ni em calidad de esfera passivamente sujeta a
influenciar externas. Ambas tendências se enquentran em uma tensión
recíproca, de la cual no podrán ser abstraídas sin la alteración de su
misma escencia.
La intersección com otras estructuras culturales puede producirse a
través de variadas formas. Así uma cultura externa, para irrumpir em
nuestro mundo, debe cesar de ser “externa” para él. Debe encontrar
para sí um nombre y um lugar em la lengua de la cultura a la que invade
desde el exterioro. Por lo tanto, para transformasse de “extrãna” em
“própria”, esta cultura externa debe, como vemos, assumir um nombre
em la cultura a a que entra. El processo de cambio del nombre tiene
repercusiones sobre el contenido que adquiere uma nueva
denominación. (LOTMAN, 1999, p. 181).

No caso do movimento modernizador no Japão, desde a esfera pública


até o particular, ocorreu de modo diverso sem que houvesse algum movimento
de menosprezo em relação à cultura tradicional. O conhecimento da cultura
estrangeira, sobretudo a do ocidente, reacende o sentimento de valorização da
própria cultura ao mesmo tempo que o povo tenta absorver todas as novidades,
desde a moda até a gastronomia. De fato, o estilo literário como o haicai passa
a ser revalorizado com surgimento de novos mestres, ao exemplo de Masaoka
Shiki24, reavivando o gosto pela escrita de poema curta tipicamente japonesa.

23 No Japão, esse movimento é conhecido como 大正デモクラシイ (Taishô demokurashii). No


ocidente, é conhecido como “Taisho Democracy” ou, em português, “Democracia Taishô”.

24 正岡子規 (Masaoka Shiki, nome artístico de Masaoka Tsunenori) foi poeta e membro do grupo
literário Hototogisu que influenciou vários escritores de romances e poetas do fim do século XIX
e início do século XX (SHIKIAN, [201-?]).
68

Também no início do século XX, surgiram romances introspectivos como 私小説


(shishosetsu)25, de cunho autobiográfico.

Eisenstadt defende que

[…] as múltiplas modernidades é a de que as ordens institucionais


modernas de modernidade (as quais se desenvolveram com a
institucionalização das ordens culturais e políticas da modernidade)
não se desenvolveram de modo uniforme ao redor do mundo –
contrariamente aos pressupostos das teorias clássicas de
modernização dos anos 1950 e até mesmo dos clássicos mais antigos
da sociologia, como Spencer e, em certa medida, Durkheim, que
predominavam mesmo na época de Weber. (EISENSTADT, 2010, p.
11).

Conforme esta visão pluralista da cultura, “apesar de todas essas


semelhanças, mudanças contínuas e cristalizadas em padrões de modernidade
econômicos, políticos e culturais distintos” do ocidente, essa “modernidade foi
definida no Japão como ‘acompanhar os tempos’, adaptar-se aos tempos,
significando o domínio da tecnologia ocidental e a busca por seu lugar” já que o
país precisava ser atuante no cenário internacional (EISENSTADT, 2010, p. 16).
Assim, mesmo que a concepção de comunidade nacional tenha sido influenciada
por noções ocidentais de nacionalismo, não foi a mesma dos Estados-nações
ocidentais.

Na época em que o Japão se estruturava e se firmava como um país


diante do ocidente, a discussão envolvendo o 日本人論 (Nihonjin-ron – teoria
sobre os japoneses) tornou-se intensa, visto que se tratava de identificação do
conceito da própria etnia japonesa. Ao mesmo tempo, o próprio movimento
acabou fortalecendo a identidade nacional, pois os estudos salientavam a
singularidade do Japão, tal como existência do Imperador, um dos elementos

25 私小説 (Shishosetsu): romance escrito em primeira pessoa (também chamado watakushi


shosetsu), geralmente autobiográfico, que faz parte do movimento naturalista japonês, no início
do século XX, até meados do século XX (HIJIYA-KIRSCHNEREIT, 1996).
69

que compõem o país. Essa composição de elementos culturais foi simbolizada


pela palavra 国体 (kokutai)26, a “estrutura nacional”, com caráter apolítico.

Assim, ao mesmo tempo que desenvolvia o conceito de democracia no


Japão com abolição do sistema de castas sociais e maior liberdade de expressão,
cada vez mais as pessoas passaram a procurar sua própria identidade e seus
raízes, diante das novidades que apareciam. E, se por um lado a identidade
cultural japonesa passava a ser apropriada pelos próprios japoneses, por outro,
o desejo de melhorar a sua condição socioeconômica aumentava.

Outro fenômeno que passou a acompanhar a modernização e a


industrialização do Japão foi o aumento da densidade demográfica de forma
acelerada, além da capacidade que o pequeno arquipélago poderia suportar.
Diante dessa transformação do país, tanto os civis japoneses quanto o governo
passaram a procurar mais espaços além da fronteira marítima para se alocarem.

Em relação ao movimento de pessoas no mundo, após o término da


guerra da França de Napoleão, em 1815, inicia-se um grande deslocamento da
massa trabalhadora da Europa para outros continentes. Impulsionados pela falta
de oportunidade de emprego no próprio país causada pelo aumento populacional,
as pessoas passaram a procurar emprego e oportunidades em outros
continentes como na Oceania, Austrália e África e, sobretudo as Américas. De
acordo com Negawa (2016, p. 37), a população europeia que emigrou para
outros continentes no século XIX soma um total de 52 milhões pessoas. Mesmo
com esta movimentação, a população aumentou, de 187 milhões de habitantes

26 国体 (kokutai): Significa “ideia nacional” ou “organização do país”. De acordo com Fréderic


(2008, p. 690-691), essa palavra é “conceito nacionalista que engloba todos os arquétipos que
se referem ao caráter sagrado da cultura japonesa, como a autoridade divina do imperador, e
que tende a simbolizar a própria Nação.” Essa ideologia foi desenvolvida pelas escolas nativistas,
ainda no período Tokugawa, muito antes da Restauração Meiji e da introdução da ideologia
ocidental.
70

em 1800 para 266 milhões de habitantes em 1850, o que motivou um grande


êxodo do Velho Continente. (NEGAWA, 2016, p. 37).

No Japão, em 1873, a população total era de 34.985.000 pessoas num


arquipélago com área arável de pouco mais de um terço de todo o território. Com
isso, havia necessidade de realocar a população excedente para as regiões além
do arquipélago a fim de assegurar a sobrevivência de seu povo.

Em 1892, menos de cinquenta anos após o início da modernização, o


Japão já contava com 40.508.000 habitantes e, em 1908, quando os primeiros
imigrantes chegaram ao Brasil, a população interna chegava a 47.965.000
habitantes, num período de rápida modernização do país e de comércio exterior
que incentivava a inflação interna. Percebe-se que, num período de 35 anos, a
população chegou a aumentar mais de 12.980.000 habitantes e não havia
perspectiva de estabilizar-se e muito menos diminuir (JAPÃO, 2019a, p. 36-37;
BURAJIRU NIHON IMIN 80 NEN SHI IINKAI, 1991, p. 26).

Esse rápido aumento populacional ameaçava a capacidade produtiva de


alimentos e de outras necessidades para garantir a sobrevivência e equilíbrio
social da nação. A solução era encontrar um espaço para realocar as pessoas,
garantindo um lugar de trabalho para obtenção de renda e, assim, a população
poderia obter sustento para si e para a família. Ainda, para manter o país já
saturado de habitantes, teria que se garantir a fonte de abastecimento de
matérias primas indispensáveis para a sobrevivência.

Autores como Minamikawa e Endo sustentam a tese de que a expansão


do Japão antes da Segunda Guerra Mundial não foi uma implantação do império
japonês, e que mesmo a imigração para as Américas foi uma forma de expansão
da etnia japonesa numa ideologia não colonialista (MINAMIKAWA, 2017; ENDO,
2016 apud MINAMIKAWA, 2017, p. 139). Segundo esses historiadores, o “perigo
amarelo” nunca existiu. Não foi efetiva uma perspectiva imperialista copiada do
ocidente, de países como Portugal e Espanha, desde o século XV, e,
posteriormente, Inglaterra, Alemanha, Holanda, França – e os Estados Unidos,
71

do Novo Mundo. Esses autores entendem que a ideologia expansionista


ocidental, como a do imperialismo meramente de dominação econômica e
colonialista numa perspectiva exploratória de países colonizados, não foi
praticada de fato nem desejada por parte japonesa.

Esta afirmação procede, pois observa-se que, mesmo antes do século XV,
havia presença japonesa com formação de comunidades fixas – e.g., 日本人町
(nihonjin-machi 27 ) – em diversas localidades ao longo dos países e reinos
próximos ao Japão, tais como na Indonésia, nas Filipinas e outros antes do
fechamento de portos ao exterior, pelo governo do Xogunato de Tokugawa, na
primeira metade do o século XVII (SHIBATA, 1941, p. 46-52)28. A maioria das
cidades japonesas no exterior tinha certa autonomia em relação à governança
local e, numa determinada época, o número dos que saíram do país chegou a
atingir mais de 70.000 indivíduos, sendo que cerca de 10.000 indivíduos
emigraram definitivamente para o país de destino (INOUE, 1983, p. 274)29.

Ao comparar a expansão japonesa à expansão dos países ocidentais,


Shibata exemplifica comparando Espanha e Portugal com o Japão no processo
de ampliação da atuação no mundo. Assim, a Espanha que foi em direção ao

27 Nos nihonjin-machi, se estabeleciam indivíduos e famílias japoneses que emigravam para o


além-mar e trabalhavam principalmente no comércio de importação e exportação, sem que essa
comunidade interferisse na política e na economia interna do país. A manutenção da prática
cultural japonesa e consequente necessidade de consumo também possibilitou a exportação de
produtos japoneses para fora do arquipélago.

28 O fechamento dos portos determinava a proibição a japoneses de transitarem entre o Japão


e exterior, assim como a entrada de navios e pessoas estrangeiras ao país – salvo os holandeses
que mantinham o comércio com o Japão através de um único acesso, o Dejima, ilha artificial
construída no porto de Nagasaki, Japão.

29 Em 28 de outubro de 1613, Hasekura Tsunenaga e seus 180 tripulantes, por ordem de Date
Masamune, partiram à Espanha e a Roma, com o galeão fabricado no Japão no estilo europeu.
O objetivo era solicitar a abertura do comércio entre Nova Espanha (atual México) e o Japão. A
viagem para atravessar o Oceano Pacífico e chegar a Acapulco, costa oeste do México, demorou
noventa dias. A viagem para costa leste ao lado do Oceano Atlântico foi por terra. Tsunenaga
chegou à Espanha e também visitou Roma. A viagem demorou sete anos e, nesse período, o
Japão adotou a política do isolacionismo, e seu objetivo de abrir o comércio foi frustrado
(INOUE,1983, p. 275-276).
72

ocidente, ao descobrir a América, torna-a sua colônia e Portugal, que se


expandiu para o oriente, colocou sob seu domínio os países do sul do Pacífico.

[…] a expansão dos países europeus sempre foi pela vontade do


Estado, utilizando seu poder político e econômico. […] içando a
bandeira nacional e declaravam que eram seu território […]. Ao
contrário, o desenvolvimento do nosso país ocorreu de forma natural,
pela vontade do próprio povo deste país, dedicando-se principalmente
ao comércio. Assim, eles não recebiam proteção do país, pelo contrário,
foram ignorados de forma fria, sobretudo no período na época em que
a grande navegação estava acontecendo no século XVI e VII.
(SHIBATA, 1941, p. 47).

Em relação ao fracasso dos japoneses em se radicarem nas terras


estrangeiras ao contrário de conquistadores europeus como espanhóis e
portugueses, Shibata (1941) argumenta que, além de serem ignorados pelos
dirigentes dos países de destino, esses imigrantes concentravam suas
atividades para a própria comunidade. Portanto, além do comércio de
importação e exportação, esses japoneses produziam produtos de consumo com
público-alvo dentro das próprias comunidades que onde se fixavam no exterior.
Ainda mais, ao tratar da verdadeira razão do fracasso da fixação desses
japoneses fora do arquipélago, Shibata (1941) afirma que eles não se
empenharam em trabalhar na lavoura local como sendo sua. De acordo com ele,
um povo só consegue se firmar numa localidade e se enraizar quando se dedica
a agricultura.

Devido ao isolacionismo, o Japão perdeu totalmente o contato com essas


comunidades e, principalmente, a garantia do espaço para realocar a quantidade
de homens, mulheres e as crianças que cresciam rapidamente com a
modernização, num território limitado. A solução que o governo Meiji tomou foi a
de reiniciar a emigração para garantir local de trabalho e alimentos ao povo e,
por outro lado, expandir para o além-mar, aumentando a sua atuação e presença
no mundo. Japão, para tanto, teria de competir numa disputa de espaço com
73

outros países para obtenção de matérias-primas, praticar a agricultura que


abasteceria o povo e abrir o mercado para o crescimento da nação.

Uma das soluções foi a de explorar e desenvolver as regiões remotas de


Hokkaido, ao norte do Japão 30 . Outra, a de emigrar seu povo para países
vizinhos, como a Manchúria, Coreia e Taiwan, através de tratados, a grosso
modo, como a Inglaterra, Alemanha e a França expandiam seus domínios para
a Ásia, para as Américas e para a África. Essa teoria expansionista e imperialista
dominou não somente a academia, mas grande parte de formadores de opinião,
principalmente nos países em que a raça branca mantinha o domínio.

A respeito da percepção do mundo, os japoneses percebiam o ocidente


como uma ameaça e, para se proteger, nas palavras de Akira Irie,

Os dirigentes do Japão eram extremamente sensíveis a manifestação


da teoria do ‘perigo amarelo’ tendo grande receio que a união entre
China e Japão ou ideia da formação da liga dos países do leste asiático
fomentasse ‘febre de fobia a amarelos’ dos países europeus e dos
Estados Unidos, vindo a interferir na Ásia. […] E tendo consciência de
ser inferior militar e economicamente no âmbito internacional e,
querendo resguardar a integridade do país como uma nação, tinha de
abrir as mãos do orientalismo e com extremo cuidado, desenvolver-se
como imperialista. (IRIE, 1966, p. 40-45, tradução nossa).

Em relação à diplomacia, no cenário internacional, o Japão surge como


uma nação forte, o que alertou o ocidente. Irie (1966, p. 46-47) chama atenção
do fato de ter encontrado em diversos impressos do início do século 20 as
discussões sobre o Japão, um país asiático que absorvia incessantemente a
cultura ocidental e até que medida contrariava os países ocidentais. Ao final,
esses comentários concluíam que todo o problema era questão de interpretação
e que a ocidentalização da cultura era apenas superficial.

30 A lei japonesa nº 26 de 1897 intitulada “Lei de Eliminação de Devolutas Nacionais do


Hokkaido” tinha como objetivo conceder aos particulares as terras desocupadas de Hokkaido de
forma gratuita desde que fossem exploradas (IZUMI; SAITO, 1955, p. 98).
74

Segundo Shibata (1941), na primeira metade do século XX, o Japão


estava se posicionando como um país colaborador para a criação da “nova
ordem” na Ásia Oriental na medida em que ampliava a sua atuação fora do
arquipélago. O deslocamento de trabalhadores, segundo esse autor, foi um
fenômeno de expansão da etnia japonesa, numa perspectiva colaboracionista
com os países receptores.

[O Japão] às vezes estagnava, outras vezes tinha de dar voltas, mas


como um pequeno córrego que surgiu no interior da montanha
aumenta o volume d’água e desemboca no grande oceano, esse
corrente d’água seguiu o curso conforme o caminho que deve seguir e
aumentou gradativamente a sua força e o tamanho. A etnia japonesa
também se desenvolveu grandemente para o exterior, conforme o
destino favorável da nação. (SHIBATA, 1941, p. 150, tradução nossa).

De acordo com o livro 日本民族発展史 (Nihon minzoku kaigai hatten shi


– História de expansão da etnia japonesa), de Shibata, a emigração japonesa
ao exterior antes da Segunda Guerra Mundial divide-se em quatro períodos: o
primeiro, período de concentração da emigração para Havaí e os Estados
Unidos; segundo, o período de concentração da emigração para América do Sul
e; o terceiro, o período de concentração de emigração para a Manchúria; e, por
fim, o período de emigração para o Pacífico Sul. Assim, primeiramente o Japão
passou a enviar uma parte da população como emigrantes para os países
através dos tratados, como fornecedor de mão de obra, suprindo a necessidade
do recurso humano do país receptor.

Em junho de 1868, antes da Restauração Meiji, 153 trabalhadores


japoneses chegaram ao arquipélago do Havaí como empregados temporários
para atuarem no plantio e colheita de cana-de-açúcar. Essa imigração
temporária ocorreu de forma particular, sem licença oficial para a saída dos
japoneses do país nem aceite oficial por parte do país receptor (KOKURITSU
KOKKAI TOSHOKAN, 2009). Em 1885, o Reino do Havaí e o Japão assinaram
um tratado para envio e recepção de trabalhadores. Em relação à América Latina,
75

o Japão firmou um tratado de amizade em 1896 com Argentina, em 1897 com


México e em 1899 com Peru (NEGAWA, 2016, p. 45).

Na primeira fase da emigração de japoneses para o exterior, o fluxo dessa


migração ocorreu para o Havaí e os Estados Unidos da América. Em 1899, havia
cerca de setenta mil imigrantes japoneses residentes no Havaí, entre
trabalhadores, mulheres e crianças, sendo que, em 1901, 61.111 japoneses
moravam nas ilhas do Havaí. Essa quantia de japoneses correspondia a 39,7%
da população, o dobro em relação a nativos e chineses e quase nove vezes
maior do que americanos. Após o Havaí ser incorporado aos Estados Unidos,
dezenas de milhares de japoneses emigraram para o continente, principalmente
para o estado da Califórnia (SHIBATA, 1941, p. 172).

Nos Estados Unidos, em 1899, havia cerca de cinquenta mil japoneses e,


em 1909, já havia cerca de 79.000 japoneses residentes naquele país (JORDAN,
[200-?]; RAICHEL; HARADA; HURH, 2006, p. 7), o que resultou em uma disputa
pelo mercado de trabalho local. Somada a isso, a vitória japonesa contra a
Rússia no ano de 1905 aumentou o movimento anti-amarelos americano e o
governo estadunidense acabou proibindo a entrada de japoneses.

Before the turn of the 20th Century, Asians were view as an inferior
race, little better than “beasts of burden.” This all changed with the Sino-
Japanese War (1894-1895) and the Russo-Japanese War (1904-1905).
Japan prevailed in both wars and established Korea as a Japanese
protectorate. In less than forty years, Japan had transformed itself from
a pre-modern agrarian society to a formidable industrial and military
power (RAICHEL; HARADA; HURH, 2006, p. 8).

Em 1907 e 1908, através do Acordo de Cavalheiros firmados entre Japão


e, Estados Unidos, o Japão não emitiria mais aos os trabalhadores japoneses
que fossem para a América, o passaporte para possibilitar a imigração, salvo os
76

familiares que fossem chamados 31 (TAKASA, 1998, p. 52). Nessa época, a


segregação racial nos Estados Unidos era bem forte apesar da abolição da
escravatura ter acontecido em 1863 naquele país. Os americanos entendiam
que a vitória dos japoneses (de raça amarela) sobre os russos (de raça branca)
seria uma ameaça a sociedade branca do país, dominante política e
economicamente, pois o sucesso poderia alertar outras raças como a população
de americanos afrodescendentes32.

De acordo com Alison Jordan, os japoneses residentes nos Estados


Unidos, provavelmente para não prejudicar seu cotidiano e as atividades
econômicas e por não terem recebido qualquer influência ideológica
expansionista por parte do governo japonês, criavam a comunidade de
compatriotas com intuito de fortalecer a identidade cultural.

This resident was referring to the fact that outsiders’ use of Japantown
was meant to emphasize the section’s inferior status, while the
reference to “Japanese People” by the inhabitants was a form of
empowerment through group identification. He also did not want to give
the impression that the Japanese were colonizing a part of America,
especially during this period as Japan grew in its military power through
its victories in the Sino-Japanese War (1894-1895) and Russo-
Japanese War (1904-1905). (JORDAN, [200-?]).

No início do século XX, criou-se um movimento racial contra os não-


brancos nos Estados Unidos após a publicação do livro The Rising Tide of Color:

31 A imigração realizada sob essa condição era chamada de 呼び寄せ移民 (yobiyose imin), ou
seja, imigrantes chamados. No Brasil, essa modalidade de imigração ocorreu de forma contínua,
de modo que uma parte dos imigrantes radicados no país acabaram chamando seus parentes.
Os japoneses solteiros que imigraram para o Brasil também acabavam chamando suas noivas
para se casarem e constituir família. Algumas famílias, por não declararem o casamento civil
realizado em cartório brasileiro no consulado japonês, mantiveram-se como solteiros no cadastro
de famílias do Japão. Depois da estabilização econômica, alguns casais como o do Sr. S. K.
contraíram matrimônio “novamente” no consulado japonês para obter renovação de passaporte
e retornar à terra natal para visitar os familiares. Esse casal apareceu um dia na mercearia onde
a autora se encontrava. Indagada pela dona da loja por estarem muitíssimo bem-vestidos, o
marido respondeu dizendo que “casou de novo” no consulado para tirar o passaporte, constando
o estado civil atualizado, pois, não constando como casado no cadastro de família, o consulado
havia negado a emissão de passaporte aos dois, mesmo sendo japoneses.

32 O movimento afro-americano iniciou-se após Segunda Guerra Mundial, nos anos 1950 e 1960
nos EUA como resposta contra o racismo (ANDREWS, 1985).
77

The Threat Against White World-Supremacy, escrito por Lothrop Stoddard em


1921, atestando a supremacia de brancos e o perigo da contaminação por outras
raças, como amarelos, marrons, negros e vermelhos, seja pela miscigenação ou
dominação33.

Esse movimento influenciou os demais países latino-americanos,


inclusive o Brasil34. Lesser afirma que, na década de 1920, a campanha anti-
japoneses tornou-se mais pública no Brasil com a manifestação de deputado
federal Fidelis Reis, agrônomo e professor de Universidade de Minas Gerais,
que pedia a proibição de entrada dos asiáticos, pois a presença dessas etnias
mancharia de amarelo o país de brancos, com língua, religião e cultura própria,
dividindo por quase uma década as opiniões contrárias e favoráveis à aceitação
da etnia japonesa na sociedade brasileira (LESSER, 2001, p. 178-188).

3.3. O DESLOCAMENTO MIGRATÓRIO DOS JAPONESES PARA O


BRASIL

A concentração do movimento da imigração japonesa para América do


Sul, principalmente no Brasil, foi ocasionada pela lei de limitação e proibição da
entrada de asiáticos que os Estados Unidos efetiva entre 1907 e 1917. Por esse
motivo, a proporção de imigrantes japoneses que ingressaram no Brasil desde o
início do século XX em relação a indivíduos de outra origem cresceu rapidamente
– principalmente a partir da segunda metade da década de 1920 até a
interrupção da imigração em 1942.

33 O livro foi publicado em 1920 com o título The Rising Tide of Color: The Threat Against White
World-Supremacy e depois modificado para The Rising Tide of Color Against White World-
Supremacy, alertando sobre o perigo da ascensão da raça não-branca, sobretudo chineses e
japoneses que começaram a se destacar com a industrialização e expansão no cenário
internacional (STODDARD, 1921, 320 p.).

34 Esse movimento contra os orientais interferiu na imigração japonesa para o Brasil e deu
origem ao movimento contra os japoneses, isto é, o perigo amarelo.
78

De acordo com Lesser, a imigração japonesa, que abrangia 0,01% na


primeira década do século XX, quatro décadas depois, já atingia 30% da entrada
de estrangeiros ao país – 1% a menos que a entrada de portugueses.

Gráfico 1 — Imigrantes que ingressaram no Brasil, 1900-1939, por


nacionalidade e década.

Fonte: LESSER, 2001, p. 28.

De acordo com Costa (2007, p. 30), “uma primeira tentativa exploratória


de acordo com o governo brasileiro foi feita em 1892, a partir da promulgação da
Lei nº 97, na presidência de Floriano Peixoto, que permitiu a imigração de
asiáticos para o Brasil”, no qual os japoneses estavam contemplados. O Brasil,
em 1895, firmou em Paris, o “Tratado de Amizade, Comércio e Navegação” com
o Japão. Era o início da expansão oficial japonesa para o Brasil enquanto um
povo que se identificava como pertencente a mesma etnia apesar de
divergências regionais.

A maioria dos imigrantes que ingressaram no Brasil no início do século


XX, principalmente os que pretendiam ganhar muito dinheiro e retornar ao país,
rico não se preocuparam muito em conhecer e absorver a cultura brasileira.
(WATANABE, 2016, p. 188). Uma das razões é o movimento de “modernização
e ocidentalização” dentro do próprio Japão e sendo o Brasil um país de cultura
79

ocidental, o abrasileiramento de vários hábitos “exóticos”, para os imigrantes


japoneses, seria uma “atualização” dos hábitos estagnados pelo isolacionismo
do Período Edo.

Outra razão é que considerava mais importante preservar as práticas


culturais japonesas para não se perder a identidade original e não causar um
estranhamento quando o imigrante e sua família retornassem ao Japão. Assim,
em várias comunidades de aglomerado de japoneses, construía-se escolas
japonesas, onde aprendia-se todo o conteúdo de estudo aplicado nas escolas
japonesas, sobretudo a língua japonesa, o 国語 (kokugo) que, literalmente, se
traduz como “língua nacional”35.

Conforme afirma Negawa (2016, p. 68), do início do século XX até a


década de 1930, o Japão, para desenvolver um “corpo moderno” do povo
japonês, desenvolveu exercícios físicos que mesclam a música, canções e a
diversão que exigisse a movimentação física. Essa ideologia tríplice de
educação intelectual, educação de virtude e educação física é concebida pelos
pais e professores, e os imigrantes japoneses acabaram trazendo essa
concepção para o Brasil.

Essas atividades desenvolvidas e implantadas nas escolas japonesas


para fortalecer a identidade nacional japonesa certamente criaram uma
preocupação para os brasileiros, principalmente os de origem europeia. Naquela
época, se iniciava um movimento nos países receptores dos imigrantes o
movimento contra os asiáticos, principalmente por trabalhadores que sentiam-se
ameaçados numa disputa por emprego.

Internamente, houve intenso esforço por parte dos governantes do


Período Meiji para conscientização do povo da unicidade étnica e formar a

35 No Japão, a língua japonesa é identificada pela palavra 国語 (kokugo), numa junção da


palavra 国(koku – país/nação) e 語(go – língua/palavra), isto é, língua nacional. No Brasil, a
língua falada é o português brasileiro.
80

identidade nacional, visto que, durante o governo do xogunato de Tokugawa,


que perdurou por mais de duzentos e cinquenta anos, os habitantes de cada 藩
(han), a província da época, não tinham a permissão de se deslocar sem
autorização específica do governo e passar de um han para outro. Eles tinham
de portar uma espécie de passaporte chamada 通行手形 (tsuukô tegata) se
quisessem viajar e passar por um 関所 (sekisho), uma espécie de posto de
fiscalização instalada nos pontos estratégicos das principais estradas que
ligavam o interior à cidade de Edo – onde o xogum se estabelecia.

Esse sistema de isolamento regional, além de possibilitar o controle do


comércio de armas, impedia que as pessoas de várias localidades se reunissem,
evitando a formação de grandes grupos que poderiam se rebelar contra o
governo. De certa forma, isso possibilitou o desenvolvimento cultural peculiar
regional que, mais tarde, entre os imigrantes que vieram de diversas regiões do
Japão para Brasil, motivou a criação de associações de provincianos, chamadas
kenjin-kai. Posteriormente, ocorreu a federalização delas com a criação da ブラ
ジル日本都道府県人会連合会 (Burajiru Nihon Todofukenjin-kai Rengô-kai –
Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil), conhecida como
KENREN (KENREN, 2018d), reunindo as pessoas oriundas de 47 províncias e
concentrando suas atividades no resgate da identidade cultural nipônica e da
identidade dos conterrâneos das províncias.

Como foi mencionado, o Japão acabou seguindo diversos caminhos para


se manter unificado, tais como a adoção do sistema de autonomia de
governança regional e a uniformização do ensino em todo o território nacional.
Estabeleceu as datas de celebração a nível nacional e montou uma peregrinação
do Imperador para visitar todas as regiões do território nacional para que o povo
se identificasse com a sua figura. Além disso, criou a bandeira e hino nacional
entre outras. Essa integração do povo servia igualmente para firmar e garantir a
existência da nação japonesa diante de outros países, sendo que, ao deixar a
terra natal para emigrar a outros países, os japoneses passaram a se sentir mais
japoneses, além de provincianos.
81

Alguns autores como Kokuma (1995 apud MINAMIKAWA, 2017)


defendem que até o fim da Segunda Guerra Mundial o Japão do período
moderno era um império constituído por várias etnias por conta da possessão e
inclusão de países como Coreia e Taiwan sob seu domínio (KOKUMA, 1995
apud MINAMIKAWA, 2017, p. 137). Entretanto, essa inclusão étnica
artificialmente constituída não se perpetuou já que os próprios habitantes dos
países independentes do Japão após a Segunda Guerra não se sentiam
japoneses36.

De fato, quando se observa diversos aspectos da cultura japonesa dos


dias de hoje, percebe-se que as tradições permanecem nas atividades diversas
do cotidiano. Enquanto uma nação, nesse sentido, o Japão conseguiu sua
unificação e a manutenção da independência depois da abertura dos portos,
diante da pressão dos países ocidentais, sem que se tornasse uma colônia ou
dependente, como ocorreu com China, Vietnã, Índia e outros países asiáticos.

Entretanto, quanto à saída do povo japonês para o exterior, a autora


defende o ponto de vista de Shibata, afirmando que não significava uma intenção
de conquista territorial, tomando as terras para si. Pelo contrário, como pode se
perceber no exemplo do Havaí, o governo sempre esteve amistosamente
presente no processo migratório, através de acordos bilaterais, legitimando o
fluxo de pessoas com anuência de ambas as partes.

O fato é que, após a implantação de lei de cotas americana – limitando e


posteriormente proibindo a entrada dos chineses e os japoneses –, a imigração

36 Há imigrantes coreanos e taiwaneses após a Segunda Guerra Mundial que vieram a residir
na cidade de Porto Alegre e, segundo vários desses imigrantes mais idosos, preferem ler jornais
e revistas escritos em japonês. Em relação ao movimento migratório dos coreanos entre Japão
e a Coreia, por exemplo, havia um fluxo contínuo desde abertura dos portos com a Restauração
Meiji, principalmente por parte dos coreanos que imigravam ao Japão em busca do trabalho e
de estudos. Embora pareça ser contraditória, a entrada dos coreanos trabalhadores para o Japão
incentivava a saída de jovens japoneses para o exterior em busca de espaço maior para realizar
seus sonhos.
82

concentrou-se para o Brasil. Entretanto, mesmo entre os brasileiros, não se via


com bons olhos a entrada de japoneses, pois o país se preocupava em
“branquear” sua população e barrava a entrada dos japoneses. De acordo com
Miguel Couto,

Enfim, começou a colonização do Brasil pelos japoneses; de primeira


entrada compraram-se vastos latifúndios; construíram-se adrede
transportes da maior capacidade; e eles foram chegando, não em
emigração, mas em migração, aos milheiros, aos milhões, ao serviço
de um único pensamento – o Shin Nihon – o Novo Japão, em
obediência a uma só vontade – a do seu imperador. E veio o símbolo
sagrado, e vieram os canhões para defendê-lo e os couraçados para
garanti-los; depois as nugas, as rugas, as lutas, com a vitória do mais
forte; primeiro a coreanização seguida logo da japonização daquele
belo país. Foi assim que nas cartas geográficas se apagou o nome de
República dos Estados Unidos do Brasil, e apareceram com a mesma
cor dois Impérios do Sol, o do Sol Levante e do Sol Poente (COUTO,
1930, p. 21 apud MIKI, 2013).

O movimento nacionalista brasileiro – principalmente a implantação da lei


de cotas de 2% limitando a entrada de imigrantes – afetou o ingresso de
japoneses no Brasil, em 1934, com a promulgação da nova constituição
(MINISTÉRIO DO TRABALHO, INDÚSTRIA E COMMERCIO, 1936). Conforme
Negawa (2016), a representatividade dos japoneses que imigraram no Brasil em
relação a outras etnias, no período de dez anos, até a promulgação da lei de
cotas, evoluiu de forma gritante, saltando de 2,8% para 47,6% do total de
ingressantes/ano.
83

Gráfico 2 – A variação do ingresso de imigrantes japoneses ao Brasil, de 1923


até 1934, em número de indivíduos.

Fonte: NEGAWA, 2016, p. 105, adaptado pela autora.

E, ao comparar o ingresso de japoneses com os de imigrantes de outras


nacionalidades nesse mesmo período, observa-se que há crescimento
significativo daqueles, proporcionalmente.
84

Gráfico 3 – O ingresso de imigrantes japoneses ao Brasil, em porcentagem em


relação aos estrangeiros de outras nacionalidades (1923-1934).

Fonte: NEGAWA, 2016, p. 105, adaptado pela autora.

Assim, quase metade dos imigrantes que aportavam no Brasil eram


japoneses, sendo compreensível que se intensificasse no Brasil o movimento
contra os japoneses, com hábitos e costumes muito diferentes dos europeus.
Além disso, quanto à atuação no campo econômico, passam a surgir grandes
fazendas como a Fazenda Monte Leste, ligada ao grupo Mitsubishi, em 1927,
empresas de exportação de café, cooperativas e outros (HANDA, 1976, p. 52).

A intensificação do movimento contra a entrada de japoneses resultou na


discussão para elaboração de uma nova lei regulamentando a imigração no
Brasil. Em 28 de outubro de 1935, a comissão especial entregou ao Ministério
do Trabalho, Indústria e Comércio brasileiro o texto do anteprojeto de lei de
imigração, justificando a restrição da entrada de japoneses. Dessa comissão se
formaram as seguintes subcomissões:
85

1. Direitos do imigrante;
2. Cotas e entrada de estrangeiros;
3. Seleção e condições eugênicas dos imigrantes;
4. Colonização;
5. Assimilação;
6. Organização do Departamento Nacional de Imigração;
7. Bases para o Instituto de Imigração.
(BRASIL, 1936).

A nova lei de imigração visava restringir a entrada de novos estrangeiros,


fundamentando-se no artigo 121, §§ 6º e 7º da nova constituição, limitando a
entrada de mais de 2% de novos imigrantes de cada nacionalidade. (BRASIL,
1936). Na fundamentação para fixar o mínimo de ingressantes em quinhentos
indivíduos para todas as nacionalidades, maior que 2% para algumas
nacionalidades como americanos e canadenses, alegava-se que esses
imigrantes eram “ricos e laboriosos” e que “com este mínimo de imigrantes,
nenhuma nacionalidade poderia vir a perturbar a nossa formação racial e social
ou crear o perigo de enkystamentos” (VIANNA, 1935, p. 11).

O anteprojeto também tratava de assuntos sobre imigrantes desejáveis –


como agricultores, operários rurais ou técnicos em indústrias rurais – para ocupar
os espaços devolutos e povoar os campos. Havia estipulação no artigo 133 do
anteprojeto que, para formação de núcleos coloniais, a fim de incentivar a
nacionalização, havia obrigatoriedade que a presença de famílias brasileiras
fosse ao menos 30% do total de famílias dos assentamentos. A justificativa
consistia no texto da lei anterior, que regulamentava a formação de núcleos de
imigrantes permitindo o seu isolamento e, se esses núcleos fossem formados
somente de imigrantes, impediriam a nacionalização (VIANNA, 1935, p. 19).

Vianna fundamenta a nova lei de imigração dizendo o seguinte.

Era pois, a própria lei que estimulava a formação de núcleos puramente


exóticos no paiz, que preparava o meio propicio á formação de kystos
raciais, de que tivemos exemplo em Santa Catharina com as colônias
alemãs e como estamos assistindo presentemente centros,
colonizados exclusivamente por japonezes da Amazonia, de Matto
Grosso, de São Paulo. […]. Dahi, a porcentagem dos elementos
86

nacionais deve ser argumentada para aquelles núcleos em que


preponderem ethnias não latinas, taes como as germânicas, as
salvas 37 e, principalmente, as asiáticas (digamos: a japoneza).
(VIANNA, 1935, p. 20-21).

Em relação à presença de núcleos formados pelos imigrantes, o texto não


distingue, em princípio, as etnias de origem europeia, como a branca, ou etnias
asiáticas, como a japonesa. De acordo com Vianna (1935), os próprios alemães,
que são de origem germânica, eram vistos como quistos da sociedade, visto não
serem do país de origem latina. O próprio pacto anti-Comintern Japão-Alemanha
que se firmou, incluindo a Itália posteriormente, transformou o trato com a
etnicidade no Brasil.

De acordo com Lesser, em relação aos japoneses, o movimento


antinipônico foi intensificado pelos constituintes Antônio Xavier de Oliveira,
Miguel Couto e Arthur Neiva, que eram favoráveis pela exclusão de não-brancos
no processo de nacionalização. Nos fins da década de 1930, no governo
nacionalista de Getúlio Vargas, depois da promulgação de diversas leis
controladoras sobre a imigração – assim como a proibição de utilização de
materiais didáticos escritos em línguas estrangeiras –, muitos dos imigrantes
japoneses pensaram em retornar a pátria originária.

Muitos chegaram a pensaram em retornar ao Japão, e um estudo


realizado em 1939, na região de Bauru, verificou-se que quase 90%
eram favoráveis à repatriação, em parte por razões nacionalistas, em
parte porque o movimento antijaponês os deixara com a impressão de

37 Em relação à assimilação étnica de povos europeus não latinos, o anteprojeto da lei de


imigração de 1935 mostrou a preocupação em relação aos próprios europeus como os moldo-
valachos, que são grupo étnico salvo. Pois salvo “tem uma extraordinária capacidade de
resistência e, mais do que isto, um poder excepcional de impor a sua mentalidade e costumes
aos grupos com que convivem: - ‘Desde que uma mulher valacha entre numa casa, toda a casa
fica valacha’ – diz um proverbio servio” (MARTIAL, [19--?], p. 223, apud VIANNA, 1935). Assim,
pode-se afirmar que, mais do que “branqueamento”, o movimento se referia ao desejo de
“latinização” do país.
87

que eles jamais viriam a ser plenamente aceitos como membros da


sociedade do país hospedeiro. (LESSER, 2001, p. 212, p. 230).

Entretanto, outro movimento numa posição mais integracionista com a


sociedade brasileira também brotava principalmente entre os imigrantes que
vieram ao Brasil muito jovens e os de segunda geração, como José Yamashiro,
que, através de várias publicações, divulgou a cultura japonesa aos brasileiros.
Denominada de 学 生 連 盟 (Gakusei Renmei), i.e., “Liga Estudantina Nipo-
Brasileira”, essa liga criada em 21 de outubro de 1934 (HANDA, 1976, p. 73) 38,
visava promover o lugar do 日 系 (nikkei) 39 dentro da sociedade brasileira,
defendendo que eles mesmos também faziam parte da brasilidade.

O próprio nome da organização […] enfatizava que a etnicidade e a


nacionalidade eram dois itens separados, mas inter-relacionados. José
Yamashiro […] tinha uma posição simples com relação a questão: ‘já
que estávamos aqui, tínhamos que agir como brasileiros’ (LESSER,
2000, p. 221).

A 学 生 連 盟 (Gakusei Renmei) fazia mensalmente reuniões culturais,


esportivos e palestras, juntando os jovens estudantes de origem japonesa. Essa
liga durou aproximadamente três anos, até o início da Segunda Guerra Mundial,
já que as reuniões foram proibidas.

Ao fim da Segunda Guerra Mundial e com a derrota do país como membro


do Eixo, o Japão retoma a medida emigratória através da Secretaria de Migração
vinculada ao Ministério de Relações Exteriores. De acordo com um dossiê
levantado em abril de 1956, a saída de trabalhadores para o exterior desafogaria
o excedente de mão de obra resultante do retorno de japoneses dos países como

38 Lesser afirma que a fundação da Liga Estudantina ocorreu em 1935, segundo informação
obtida na entrevista com José Yamashiro, um dos fundadores daquela liga, em São Paulo, 12.12.
1995. (LESSER, 2000, p. 221; p. 255).

39 日 系 (nikkei): termo utilizado para todas as pessoas que têm algum relacionamento de
consanguinidade com os japoneses, independentemente da geração.
88

Manchúria, Coreia e China. Além disso, captaria as divisas no exterior para


abastecer o país fragilizado e no qual o povo sofria de miséria (JAPÃO, 1956).

O documento menciona as contribuições que a emigração poderia fazer


para solucionar o problema de superpopulação do país, sobretudo causado pela
perda de 46% do seu território após derrota na Segunda Guerra Mundial. O
dossiê aborda os benefícios que a emigração traria para o território nacional,
como a seguir.

1. Diminuição da população;
2. Diminuição da taxa de natalidade40;
3. Atribuição do local de trabalho para os desempregados;
4. Envio de dinheiro dos emigrados para a pátria; inserção de
divisas no retorno ao país; pagamento de passagem de navio ao
retornar ao país; investimento financeiro; incentivo a comércio exterior;
ampliação da rota marítima que acompanha o deslocamento de
imigrantes; e
5. Outras.
(JAPÃO, 1956, p.1-2).

Em relação aos itens 1 e 2, observa-se a intenção direta por parte do


governo em diminuir a população interna do país em si, como já ocorria antes da
Guerra. Entretanto, o item 3 pode ser interpretado como sobre a expansão dos
japoneses para o exterior, como mão de obra para atuar no território estrangeiro
sem que isso caracterize “apropriação” do território externo como território
nacional. Por sua vez, o item 4 trata de envio de divisas pelos emigrados para o
Japão e da abertura do mercado financeiro, do comércio exterior e do
investimento empresarial em geral envolvendo o deslocamento da parte da
população interna para fora do Japão. O arrazoado apresentado pela Secretaria
de Migração japonesa defende o deslocamento da população ao exterior, em

40 Em relação à taxa de natalidade, o documento menciona que através da emigração ocorre a


diminuição de famílias residentes no Japão potencialmente geradoras de filhos. Ainda, referindo-
se a 188.000 japoneses que emigraram ao Brasil antes da Segunda Guerra Mundial e que
geraram um total de aproximadamente 250.000 crianças de segunda geração, supõe-se que, se
essas famílias houvessem permanecido na terra natal, contribuiriam com o aumento da
população na mesma proporção.
89

forma de emigração, como anterior à Segunda Guerra Mundial, porém com maior
assistência a esses emigrados.

Embora o texto não mencione de forma explícita a medida que foi tomada
para assistir os japoneses emigrados, a atuação japonesa no exterior modificou-
se em forma de cooperação internacional. Embora o abandono aparente aos
imigrantes japoneses no Brasil antes da Guerra tenha criado o termo 棄民
(kimin 41 ) – referindo-se aos imigrantes que pararam de receber o apoio do
governo japonês – esse perfil passa a modificar.

Conforme Minamikawa,

O Japão que deixou de ser “império” explicou a emigração do povo


para o exterior apresentando o discurso diferente o do anterior. De
acordo com Shinzo Araragi, nos empreendimentos sobre imigração
japonesa no exterior após 1952, o discurso como “imigração pacífica,
imigração tecnológica” passou a dominar. Esse discurso típico é
observado nas atividades imigratórias para América do Sul, priorizando
o desenvolvimento regional através dos imigrantes permanentes
agricultores e transferência de tecnologia através de imigrantes. Assim,
de um país que adotava a “ideologia nacionalista” de antes da Segunda
Guerra Mundial passou a posicionar como um país colaborador para
os países receptores (dos japoneses). Isto é, baseado no “Princípio do
centralismo no país anfitrião”, o Japão passou a colocar os imigrantes
como forma de “cooperação internacional” e “contribuição internacional”
[…]. (MINAMIKAWA, 2017, p. 139, tradução nossa.)

Com o investimento maior do Japão para instalação e estabelecimento


dos imigrantes, assim como programas de difusão de cultura e tecnologia
japonesa, Brasil e Japão passam a estabelecer novos relacionamentos. Por
outro lado, os imigrantes vindos do Japão e que se estabeleceram no Brasil
antes da Guerra passam se a enraizar sociedade brasileira muitos elementos da

41 棄民 (kimin) : termo criado pelos japoneses que emigraram para o exterior que sentiram ser
abandonados pelo governo japonês, principalmente os imigrantes do Brasil. Entre vários livros
de memórias, pode-se citar, por exemplo, o conto Kimin no ishibumi, escrito em 1983 por Isao
Endo (ENDO, 2001).
90

cultura japonesa, como o sobá42 – que se tornou patrimônio imaterial da cidade


de Campo Grande (MS).

Com perspectiva de cooperação e colaboração internacional, além da


retomada da imigração japonesa para as áreas agrícolas, surgem grandes
empreendimentos, tais como a construção de usinas siderúrgicas em Minas
Gerais e o programa de desenvolvimento da região do Cerrado junto ao governo
brasileiro. Assim, se de um lado a imigração japonesa tomou novos rumos,
estava garantida a continuidade de atuação japonesa no Brasil.

O período de hegemonia do clã Tokugawa, que durou do século XVII até


a primeira metade do século XIX, estagnou o país pela política de isolacionismo,
num modelo feudal dividido em han. A devolução de poder do xogum para o
Imperador Meiji em 1868 e a abertura dos portos para os países estrangeiros
após várias negociações mudaram o sistema de governo e possibilitaram a se
firmar acordos comerciais e de amizade com outros países. O Japão moderno,
restruturado como um Estado-Nação, passou a adotar a postura como os demais
países ocidentais e colonizadores, dominadores da época.

Internamente, o país se reestruturou política, social e economicamente


como um país moderno e com indústrias. Enquanto processo de modernização,
surge o movimento de democratização, inicialmente pela abolição oficial de
divisão de classes. Na segunda década do século XX, a palavra “democracia”
fica incorporada ao povo, com liberdade de expressão, tanto nos movimentos
literários, no comportamento das próprias pessoas no cotidiano como nas
manifestações políticas.

Em relação ao movimento emigratório dos japoneses para os países


estrangeiros – retomado após Restauração Meiji –, o governo japonês tomou
diferentes medidas para realocar a população que aumentava em comparação

42 Sobá de Campo Grande: é um prato originário de Okinawa, parecido com sopa de macarrão
temperado e cozido com carne de porco.
91

a dimensão territorial limitada. Uma das soluções foi o envio de emigrantes, na


sua maioria trabalhadores, a países estrangeiros, como ao Havaí, aos Estados
Unidos, e também ao Brasil. Outra, era a conquista de países estrangeiros,
tornando-os colônias como ocorreu com a Coreia e a Taiwan, além da Manchúria.

A tratativa de imigração japonesa para o Brasil ocorreu neste contexto,


desde que o Brasil e o Japão, em 1895, firmaram em Paris o Tratado de Amizade,
Comércio e Navegação. Desde então, ao longo das décadas, os o Brasil tem
recebido os japoneses de todas as províncias, de modo que se formou a
Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil (KENREN).

O número de imigrantes teve seu pico de 1932 até 1934, até a


promulgação de lei de cotas para ingresso de imigrantes estrangeiros ao Brasil.
Posteriormente, a imigração japonesa ao Brasil foi retomada após a Segunda
Guerra Mundial como nova estratégia de realocação do povo, amenizando a
superpopulação do país, sobretudo causada pela perda de 46% do seu território
após derrota na Segunda Guerra Mundial.

Por outro lado, depois da Segunda Guerra Mundial, além da retomada da


imigração japonesa para as áreas agrícolas, o governo japonês passou a atuar
junto ao governo brasileiro com perspectiva de cooperação e colaboração
internacional nos empreendimentos de mútuo interesse, envolvendo os
imigrantes e seus descendentes já enraizados como brasileiros.
92

4. OS JAPONESES E O SISTEMA ORGANIZACIONAL NO E FORA


DO JAPÃO

No Japão, há mais de 1400 anos, praticava-se o sistema de governança


local como forma de estabelecer a ordem social, responsabilizando os próprios
moradores da comunidade para o cumprimento de leis e obrigações do governo
central. Esse sistema de administração que concentrava a atuação da
governança local criou forte vínculo ente os habitantes de uma mesma região e,
no Período Edo (1603-1868), época em que o Japão foi dividido em feudos
através do sistema han, os hábitos peculiares às regiões e dialetos
intensificaram-se.

Assim, mesmo depois da Restauração Meiji e da abolição do sistema


feudal e implantação de nova distribuição geopolítica – em forma de províncias
–, esse regionalismo permaneceu. Os provincianos passaram a criar suas
associações em diversos lugares fora da terra natal, mesmo estando no Japão,
como espaço de memória e manifestação de suas culturas locais.

Quando os imigrantes japoneses chegaram ao Brasil, criaram associação


de japoneses, o nihonjinkai, em diversas localidades onde houvesse
comunidade japonesa. Além disso, também foram criadas as associações de
provincianos no Brasil como elo que os liga às províncias de origem. No caso do
Rio Grande do Sul, as associações formadas por japoneses e seus
descendentes se entrelaçam, dentre as quais a Associação de Assistência Nipo
e Brasileira do Sul é percebida em diversas atividades relacionadas às
associações de comunidades japonesas.

4.1. A ESTRUTURA DO GRUPO SOCIAL TRADICIONAL JAPONÊS


E ASSOCIAÇÃO DE PROVINCIANOS

De acordo com Tsuji (1950), no Período Edo, a governança local ocorria


de uma forma japonesa bastante peculiar que passou a ser praticada baseada
93

na Reforma Taika, de 645 EC, em se que exigia do grupo local fiscalização


mútua para o cumprimento da exigência central. Conforme esse sistema, para
administração de vilas, formava-se um grupo de cinco pessoas, o 五人組 (Gonin-
gumi), responsáveis por realizar tarefas visando manter paz na comunidade,
equiparadas às tarefas da polícia atual (TSUJI, 1950, p. 1595-1601; INOUE,
1983, p. 266-267).

A formação do grupo de Gonin-gumi para cumprir determinadas tarefas


na comunidade pode ser observada até os dias de hoje entre os imigrantes
japoneses como os da colônia japonesa de Ivoti. Esse grupo foi criado
inicialmente com tarefa principal de administrar a captação e a distribuição de
água para toda a comunidade, garantindo a água para beber e a irrigação de
cada lote43.

Nessa colônia, o Gonin-gumi troca seus membros uma vez ao ano através
de eleição feita entre os homens da comunidade. Esse grupo não tem relação
com a representatividade da colônia diante de outros grupos externos de
japoneses, pois, para essa última, elege-se uma pessoa, também anualmente,
que se torna o presidente da comunidade, o kaichô44 da associação japonesa
local, denominada nihonjinkai.

Por sua vez, há também uma subdivisão regional dentro da própria


associação japonesa no que se refere ao gerenciamento territorial. Quando uma
associação regional compõe-se de comunidades japonesas abrangendo

43 Em pesquisa de campo realizada em 2003, na qual a autora participou como um dos


entrevistadores, o primeiro morador da Colônia Japonesa de Ivoti, o Sr. Sasada, relatou que
formou naquela colônia o Gonin-gumi para gerenciar o abastecimento da água. Johannes Doll
também participou da entrevista e, por equívoco, relatou no artigo como sendo apenas uma
pessoa a gerenciar o abastecimento da água daquela colônia (DOLL, 2003, p. 45).

44 会長 (kaichô): significa “chefe ou presidente de um grupo social”. Assim, no caso do grupo de


japoneses, o presidente é chamado nihonjinkai kaichô. No caso da Colônia Japonesa de Ivoti, o
seu presidente é chamado, portanto, de Ivoti Nihonjinkai kaichô.
94

diversos municípios, como a de Gravataí, ela se subdivide em 班(han)45, isto é,


grupo de famílias, menores que a associação japonesa, com um representante
denominado de 班長 (hanchô).

Quando se fala em associações ou grupos da comunidade japonesa,


portanto, deve-se ter o cuidado de distinguir as suas características perante a
sociedade como um todo. Assim, neste capítulo, será tratado de dois tipos de
associações, da associação de provincianos por um lado e, por outro, da
associação de japoneses. Como pode-se perceber, o sistema organizacional
culturalmente consolidado no Japão continua sendo perpetuado em
comunidades japonesas no Brasil e, de uma forma complexa, essas
organizações sociais interagem entre si de forma integrada e unificada.

Em se tratando de associação de provincianos, esse agrupamento social


tem origem ainda no Período Edo 46 , pois durante esse período firmou-se o
sistema de han – semelhante ao sistema feudal europeu –, subordinado ao
xogum. Os habitantes desses territórios feudais se identificam fortemente pelas
peculiaridades da cultura local em relação a outras regiões, mesmo dentro do
território japonês.

Quando houve reestruturação geopolítica do Japão após a Restauração


Meiji, remanejou-se os feudos e se transformou-os em províncias. A primeira
reestruturação ocorreu em 1871, com a criação de 75 províncias. Mais tarde, em

45 “Cada han é subordinado a um nihonjinkai, sendo que dentro da sua jurisdição tem liberdade
de decisão” (M.B.M, residente do município de Gravataí, maio de 2019). E equivalente ao
sucursal regional de uma instituição. A palavra han no âmbito civil, no Japão, se refere a menor
fração existente de um grupo de trabalho, sob comando de um líder. No âmbito militar significa
“esquadra”, o menor grupamento formado.

46 O Período Edo se refere ao período em que o clã Tokugawa deteve o poder num sistema
militarista. Esse período durou de 1603 até 1868. De acordo com John Whitney Hall, “the
smallness of the daimyo’s personal holdings, the continued existence of semi-independent
outlying castles, the excessively military orientation of the domain […] were all features awaiting
change under the Tokugawa regime” (HALL, 1966, p. 300).
95

1890, decidiu-se pelo total de 47 províncias, divisão seguida atualmente. O


governador, por sua vez, ainda era, até o final da Segunda Guerra Mundial,
indicado e nomeado pelo governo central (ISIDA, 2013).

Em relação aos provincianos, logo que houve a primeira reestruturação


geopolítica, criaram associações de conterrâneos dentro do Japão chamadas de
forma global de “県人会” (kenjin-kai), ou seja, “associação de provincianos”.
Algumas dessas associações foram criadas ainda no século XIX, como a 新潟県
人会 (Niigata-kenjinkai47 – Associação de Niigatanos) em 1880, a 静岡県人会
(Shizuoka-kenjinkai – Associação de Shizuokanos), em 1894, e a 福井県人会
(Fukui-kenjinkai – Associação de Fukuianos), em 1898.

Posteriormente, ainda nas primeiras décadas do século XX, criaram-se as


associações tais como 岐阜県人会(Gifu-kenjinkai – Associação de Gifuanos), em
1902, a 鳥取県人会 (Tottori-kenjinkai – Associação de Tottorianos), em 1903, a
愛媛県人会(Ehime-kenjinkai – Associação de Ehimeanos), em 1912, e a 大分県
人会 (Ôita-kenjinkai – Associação de Ôitanos), em 1928. Atualmente, todas as
47 províncias possuem suas associações em diversas localidades do Japão,
algumas formando federações.

Os objetivos dessas associações são variados, desde a confraternização


e a prática cultural local – como dança, culinária e espaço para prática linguística
enquanto dialeto – até o espaço de divulgação de produtos locais para fins
comerciais. O objetivo maior, no entanto, destas associações, é o maior bem-
estar dos conterrâneos e a prosperidade das províncias. (KENREN, 2018c, p.
25-49).

No exterior, as associações de provincianos tornam-se ainda mais


significativas, pois, além de tê-las como espaço de confraternização e de prática

47 県人会(kenjinkai): é o termo usado para referir a associação de pessoas oriundas de uma


mesma província.
96

cultural para rememorar o passado, mantém-se o elo prático entre os emigrados


e descendentes com a província de origem e do Japão. Fora do Japão, o Brasil
é o único país que possui associações de todas as 47 províncias japonesas
(KENREN, 2019).

De acordo com a Federação das Associações de Províncias do Japão no


Brasil (KENREN, 2019), a identificação mútua dos imigrantes das mesmas
províncias ocorriam no Brasil desde o início da colonização através das
associações de provincianos, os kenjinkai. A primeira associação que se tem
registro é a Associação Cultural Kagoshima do Brasil, de 1913. Até o ingresso
do Brasil na Segunda Grande Guerra, os provincianos oriundos de Kagoshima,
Fukushima, Okinawa, Yamaguchi, Fukuoka, Ishikawa, Guifu, Hokkaido e Mie
fundaram suas respectivas associações no Brasil. Entre as nove associações,
três possuem caráter assistencial e cultural e as demais priorizam o caráter
cultural48.

A Associação de Provincianos de Kagoshima, a mais antiga no país, foi


fundada no ano de 1913, com intuito de incentivar que os imigrantes
Kagoshimanos atraíssem mais conterrâneos. O principal objetivo era a de
aumentar os conterrâneos que fizessem parte da nova colônia japonesa, pois,
ao contrário das demais províncias, as pessoas daquela província não estavam
animadas para virem à nova terra (ASSOCIAÇÃO CULTURAL KAGOSHIMA DO
BRASIL, 1978, p. 5).

O desânimo dos japoneses em vir ao Brasil era pelo imaginário de que as


condições locais não seriam boas. Assim, com a criação da associação, os que
já estavam instalados no Brasil passariam a garantir a chegada e
estabelecimento de seus conterrâneos e, com isso, conquistariam espaço dentro
da própria comunidade japonesa. Essa falta de familiarização com o local de

48 São elas: Associação Assistencial e Cultural Yamaguchi Ken do Brasil, fundada em 1927,
Associação Hokkaido de Cultura e Assistência, fundada em 1939, e a Associação Cultural e
Assistencial Mie Kenjin do Brasil, fundada em 1943.
97

trabalho junto aos brasileiros e consequente descumprimento de contratos


culminou na interrupção, em 1912, do envio de imigrantes, o que comprometia a
expansão ultramarina dos conterrâneos49.

Depois disso, diversas associações de provincianos foram criadas. Essas


associações promovem reuniões de confraternização, são espaços para falar
dialetos, alimentar-se conforme o costume da terra natal, além da realização de
celebrações regionais de suas respectivas províncias. A prática de formar
associação de conterrâneos para compartilhar mesmos costumes e cultura local
das províncias assim como prestação de assistência a quem necessita surgiu
dentro do próprio Japão. (KENREN, [20--?])

Ainda, como instituição intermediária entre província de origem e os


imigrantes, as associações promovem bolsas de estudos aos descendentes,
chamadas de kenpi-ryugaku, ou seja, “viagem de estudos às custas da província”.
Essa bolsa propicia aos descendentes a aproximação à cultura de onde seus
ancestrais nasceram, realimentando, com isso, a identidade étnica, cultural
provincial e japonesa (MATSUMOTO, 2008).

Após as nove primeiras, as associações dos imigrantes das demais 38


províncias foram fundadas a partir de 1945 até 1965. No período pós-guerra,
igualmente houve predominância da criação de associações priorizando as
atividades culturais de suas respectivas províncias e a criação de espaço de
confraternização. Entre as associações criadas depois da Segunda Guerra, a
Associação de Beneficente e Cultural Miyazaki, a Associação Cultural e
Beneficente Sagaken do Brasil, Associação Cultural e Assistencial Shiga Kenjin
do Brasil, Associação Cultural e Assistencial dos Provincianos de Saitama no
Brasil, Associação Cultural e Assistencial Iwate Kenjinkai do Brasil, Associação

49 O texto apresentado no livro comemorativo de 70 anos da Associação de Kagoshimanos no


Brasil mostra que havia competição entre próprios japoneses no envio de conterrâneos ao Brasil
conforme a província (BURAJIRU KAGOSHIMA KENJINKAI, 1983, p. 7). É interessante observar
que se usa a palavra “海外発展” (kaigaihatten) que significa “expansão ultramarina” em japonês.
98

Beneficente dos Provincianos de Osaka Naniwa-Kai e Associação Cultural e


Assistencial Kanagawa possuem caráter assistencial, totalizando nove
associações com este caráter50.

Percebe-se que os imigrantes passam a formar as associações dos


conterrâneos provincianos, principalmente no primeiro dez anos após término da
guerra, justamente na época em que diminuía a cisão entre próprios imigrantes,
divididos em dois grupos, a dos que acreditavam na vitória e outro, na derrota do
Japão, liderado pelo grupo Shindo-renmei. Em 1965, a formação das
associações completa-se, totalizando 47 associações.

No mesmo período pós-guerra, de acordo com KENREN (2018b), as 地


方県海外移住家族会 (Chihouken Kaigai Ijukazoku Kai – Associações Regionais
das Famílias de Emigrantes Ultramarinos) foram criadas em várias províncias
logo após a Segunda Guerra Mundial pelas famílias que tinham parentes
residentes no exterior. Mais tarde, em 1962, essas associações se uniram
formando uma federação denominada 日本海外移住家族会連合会(略称=家族
会)(Nihon Kaigai Ijukazokukai Rengokai – Kazokukai – Federação Japonesa
das Famílias de Emigrantes Ultramarinos), tendo como objetivo inicial “prestar
assistência no resguardo de direitos dos que emigraram para o Brasil, após ter
retornado do exterior onde permaneceram durante a guerra” (KENREN, 2018b).

Considerando as associações de provincianos no Brasil, que possuíam


representatividade de todas as províncias do Japão, e por solicitação do
presidente da Kazokukai, o Sr. Tatsuo Tanaka – que viera participar do Primeiro
Encontro de Nikkeis na América do Sul –, por intermédio do Consulado Geral do

50 Assim como os japoneses que se identificavam com as províncias de origem, Poutignat


menciona os casos de migrantes que saíam da Itália se identificando mais com suas vilas ou
comunidades de origem, como genoveses, venezianos, napolitanos e outros e, assim
continuavam por longo período, muitos até o fim de suas vidas. Sendo assim, a identidade
italiana só passou a ser sentida depois de ter se emigrado para a América (POUTIGNAT, 1997,
p. 145).
99

Japão em São Paulo criou-se em 1966, a ブラジル日本都道府県人会連合会


(KENREN – Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil) para
tornar-se o elo entre a Kazokukai e associações de provincianos brasileiros
(KENREN, 2018b).

A Kazokukai, sendo instituição supervisionada pelo Ministério de


Relações Exteriores do Japão, iniciou em 1971 o envio de estudantes nikkeis ao
Japão para receber treinamento técnico a fim de formar líderes de nível médio.
O objetivo era que os estudantes atuassem nos respectivos países contribuindo
para o desenvolvimento local, aplicando os conhecimentos obtidos no Japão.
(KAIGAI NIKKEIJIN KYOKAI, 2018; KENREN, 2018b).

A Kazokukai foi dissolvida em 1998 por se acreditar que o objetivo de sua


fundação foi completado. Entretanto, como a atividade de envio de estudantes
ao Japão tem sido considerada de utilidade pública para o governo japonês, essa
atividade foi repassada para a 海外日系人協会 (Kaigai Nikkeijin Kyokai51), cuja
sua administração é supervisionada e controlada pelo Ministério de Relações
Exteriores do Japão, junto com outras atividades, como auxílio à visita ao Japão
(JAPÃO, 1992).

O objetivo inicial da KENREN era o de executar as atividades da


Kazokukai no Brasil, ou seja, “apoiar” os imigrantes japoneses no Brasil, tais
como “organizar e enviar delegações para visitar a terra natal, de membros
formados pelos primeiros imigrantes”. Além disso, oferecer a “assistência aos
grupos de famílias em suas visitas de solidariedade aos seus filhos emigrados
ao Brasil” (KENREN, [201-]).

Ainda, somado a essas atividades, a KENREN continua realizando


atividades como a seleção e envio dos estagiários técnicos e bolsistas em

51 A 海 外 日 系 人 協 会 (Kaigai Nikkeijin Kyokai) foi criada como fundação diretamente


supervisionada e controlada pelo Ministério de Relações Exteriores do Japão, em fevereiro de
1967, renomeando o 海外日系人連絡協会, criado em 1960 (KAIGAI NIKKEIJIN KYOKAI, 2018).
100

províncias; os atendimentos das missões de pesquisa do governo central ou das


províncias; além de participar da campanha de reconhecimento do direito dos
imigrantes ao voto nas eleições do Japão. Isto quer dizer que, apesar de ter sido
formada por associações de provincianos criadas por espontaneidade de
imigrantes, suas atividades se concentram em fortalecer elo entre as
associações e seus associados com o Japão.

Quanto a atividades culturais japonesas, tendo sua sede na cidade de São


Paulo, a KENREN é uma das principais protagonistas na organização de Festival
do Japão, tornando visível as culturas locais das províncias japonesas, tanto na
gastronomia, dança, música, assim como na divulgação de produtos regionais.
Pode se dizer que a KENREN é uma instituição que participa de forma ativa na
construção da memória e celebração referente à identidade originária dos nikkeis,
enquanto japoneses e provincianos.

De acordo com Morimura (2000), a relação entre a memória e


comemoração é um jogo entre a memória local, nascida naturalmente com
espontaneidade, e outra, a memória narrada pela vontade política. Ao citar Le
Goff, Morimura afirma que a memória pode ser facilmente manipulada
principalmente porque é inconsciente e por isso mesmo o papel do historiador é
“entender a memória e o esquecimento, transformá-los num material possível de
ser mentalizado e torná-los como objeto do conhecimento” (LE GOFF,1988 apud
MORIMURA, 2000, p. 184, tradução nossa).
Morimura (2000) cita a memória dos moradores que foram removidos da
pequena Vila Yokohama para que o local se tornasse porto para receber os
estrangeiros em 1859. Na comemoração de cinquenta anos da inauguração do
porto, ao comentar a reportagem dos jornais que exalta a modernização do país
através do porto de Yokohama, percebe-se a ausência de conflito ou de distinção
de identidade entre yokohamanos e do povo japonês como um todo.

Yokohama perdeu a qualificação como espaço local que possa


confrontar o Estado-nação. Mais do que isso, pode ser dito que a
própria identidade local do Yokohama agarra-se a identidade nacional
101

do Japão moderno e passa a ser construído por afinidade.


(MORIMURA, 2000, p. 188, tradução nossa).

Assim, se considerarmos as associações de provincianos no Brasil como


grupos sociais que surgiram através da ação espontânea dos imigrantes, e a
federação dos mesmos, a KENREN, por outro lado, que foi criada numa
circunstância bastante peculiar – uma instituição mais política do que
simplesmente social ou assistencial –, a ligação com a identidade étnica
japonesa dos associados pôde ser ainda mais fortalecida. Cabe lembrar que a
própria Kazokukai foi uma instituição vinculada diretamente ao Ministério de
Relações Exteriores do Japão e sucedida pelo 海外日系人協会 (Kaigai Nikkeijin
Kyokai – Associação Kaigai Nikkeijin Kyokai), fundação vinculada igualmente ao
mesmo ministério, o que comprova sua existência como de interesse político
japonês.
A Kazokukai realizou várias atividades relacionadas ao Japão com
emigrados e seus descendentes, tanto no Japão como no exterior, diretamente
ou através de outros órgãos japoneses ou locais. Sucedido pela Associação
Kaigai Nikkeijin Kyokai, continua as atividades para promover a identidade
japonesa enquanto etnia, como a realização anual da Convenção dos Nikkeis e
Japoneses do Exterior, em Tóquio, reunindo os descendentes de imigrantes
japoneses de todo o mundo que, em outubro de 2019 completou 60 anos de sua
realização, na presença do Imperador Naruhito, do Japão. (KAIGAI NIKKEIJIN
KYOKAI, 2019). As atividades como o envio de jovens nikkeis ao Japão para
formação de futuros líderes locais e o oferecimento da viagem turística gratuita
para a terra de seus ancestrais àqueles que têm maiores dificuldades financeiras
também podem ser interpretadas como vontade política do governo japonês de
realimentar a memória desses jovens como japoneses, independentemente da
sua nacionalidade ou grau de descendência (EMBAIXADA DO JAPÃO NO
BRASIL, 2018).
Embora Pierre Nora mencione que, “a memória emerge de um grupo que
as une, o que quer dizer, como Halbwachs o fez, que há tantas memórias
quantos grupos existem; que ela é, por natureza múltipla e desacelerada,
102

coletiva, plural e individualizada” (NORA, 1993, p. 9), como acontece com os


provincianos do Japão que se unem em associações no Brasil, as memórias
desses grupos também podem se atrelar a uma manipulação política nacional
japonesa.
Morimura afirma o seguinte:

Pelo menos no Japão, a manipulação da memória coletiva através do


Estado está andando visível a olho nu. O Jacques Le Goff apela pela
“batalha para a popularização da memória social (LE GOFF, 1988)”
através da conscientização de que a memória coletiva serve de
instrumento do poder. E para isso, precisa resgatar a memória que
possa confrontar a memória ‘oficial’ e, mais ainda, é necessário ver
com ceticismo o fato de certas memórias exigirem um status de
memória pública. (MORIMURA, 2000, p. 190, tradução nossa).

O esquema abaixo representa a relação entre as associações de


provincianos existentes no Brasil e o Ministério de Relações Exteriores do Japão
e as associações de entidades vinculados diretamente a este, fomentados para
realizar as atividades que alimenta a memória como japoneses.
103

Figura 1 – A relação entre as associações de provincianos do Japão no exterior


e o Ministério de Relações Exteriores do Japão

Fonte: Elaborada pela autora baseada em KAIGAI NIKKEIJIN KYÔKAI (2018).

No caso do Rio Grande do Sul, geralmente se realizam reuniões anuais


das kenjinkai na sede de Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul
(Enkyô) com uma confraternização de almoço durante a qual as pessoas
esquecem a língua padrão japonesa e falam somente em dialetos, misturado
com o português. Também, nessa confraternização pode-se perceber a
presença de pratos típicos de cada região, o que mostra a importância da
associação de provincianos na preservação da cultura regional de origem.

Outros grupos vinculados à identidade nacional japonesa são as


associações de japoneses que se formaram desde os primórdios da imigração
como as associações de japoneses. Conhecidas com o nome 日 本 人 会
(nihonjinkai), elas eram criadas em quase todas as comunidades desde o
104

princípio da imigração como um espaço para a confraternização da comunidade


e de educação dos filhos (HANDA, 1981, p. 296; 738).

[…] Através dessa associação, passou-se a realizar as atividades


comunitárias como a de confraternização e discutir os problemas da
comunidade em comum […] pois a confraternização era necessária
porque essas associações eram formadas pelos indivíduos de regiões
diferentes do Japão, de modo que somente dessa forma poderiam se
conhecer para discutir harmoniosamente os assuntos de interesse da
comunidade (HANDA, 1981, p. 296, tradução nossa).

A criação da associação estava, portanto, vinculada à criação da escola


japonesa dentro da comunidade. As despesas para pagamentos de salário dos
professores da escola era feita pelas associações, porém, para a construção do
prédio, procurava-se algum órgão japonês no Brasil – como o Consulado Geral
do Japão – para obter o auxílio financeiro. Essa aproximação das próprias
colônias com o consulado para tal fim homogeneizou as características das
associações de imigrantes japoneses.

Uma das razões da criação de associação de japoneses que Handa


chama a atenção é a heterogeneidade dos imigrantes quanto à região ou a vilas
de origem. Portanto, havia necessidade de confraternizarem e se conhecerem –
e, com isso, criar o espírito de grupo. Uma vez formado, o grupo empenhava-se
no desenvolvimento e melhoramento na qualidade de vida da comunidade
japonesa (HANDA, 1981, p. 298).

Essas associações e escolas japonesas formadas foram dissolvidas


pouco antes da Segunda Guerra Mundial, de modo que os nihonjinkai existentes
nos dias de hoje foram criados depois de 1945. As escolas mudaram o seu
caráter, de escola japonesa52 para escola de língua japonesa. As associações

52 A inauguração da Escola Primária Taishô em 1915, adotando ensino totalmente japonês, e a


fundação da Associação de Pais das Escolas Japonesas São Paulinos em 1929 mostram que,
antes da proibição pelo movimento nacionalista brasileiro, as escolas serviam como instrumento
de transmissão de identidade japonesa, muito além do ensino da língua (NEGAWA, 2016, p.
327).
105

de japoneses foram ressurgindo após o término da Guerra, aos poucos, na


medida em que diminuíam os conflitos internos entre próprios japoneses
envolvendo a crença da vitória japonesa na Guerra53.

Em relação à própria definição de imigrantes japoneses e seus


descendentes, observou-se que são aplicadas duas definições, uma jurídica e
outra, de cunho político e étnico, entre as quais o nihonjinkai se apropria do
segundo conceito. A primeira definição se deve à atribuição da nacionalidade
para obter a cidadania, por exemplo, no caso dos brasileiros, a aplicação do jus
soli, ou seja, todos os que nascem no solo brasileiro obtêm a cidadania brasileira.
Por sua vez, no Japão, para se obter a cidadania japonesa, é necessário
comprovar a ligação sanguínea com indivíduo japonês, isto é, aplica-se a jus
sanguinis54, mesmo que o indivíduo resida no próprio Japão.

Entretanto, o termo “日本人” (nihonjin – japonês), com conotação política


e étnica é usado mesmo para os indivíduos de segunda, terceira ou gerações
seguintes, desde que os próprios indivíduos se reconhecerem como tais, seja
por identificação cultural ou linguística, por similaridade ou afinidade. Assim, de

53 Depois do final da Segunda Guerra Mundial, ao surgir o movimento dos vitoriosos que não
aceitavam a derrota, os japoneses se dividiram entre os kachi-gumi e os make-gumi, ou seja,
grupos que acreditavam na vitória do Japão e outro, na derrota. As ações dos kachi-gumi,
liderados por grupo denominado Shindo-renmei, criou uma onda de terror na comunidade pois
ameaçavam os derrotistas com morte e violência (SHINDO, 1999, p. 107-134). Mesmo no Rio
Grande do Sul, onde predomina os imigrantes japoneses de pós-guerra, até meados da década
de 1980, o assunto sobre os kachi-gumi e os make-gumi era considerado tabu na comunidade
japonesa. Em Pelotas, foi entregue uma declaração do término da Segunda Guerra Mundial
escrita em língua japonesa pela Legação da Suécia, no dia 29 de abril 1946, na a comunidade
japonesa, endereçada ao senhor chamado Nakamua. A carta, datada de 4 de abril de 1946,
esclarece a rendição incondicional do Japão em meados de agosto de 1945 perante os aliados
e que, nessa condição, pretende esclarecer as dúvidas e terminar com as confusões a que os
japoneses estão submetidos no Brasil (LEGIÃO DA SUÉCIA, 1946).

54 O Japão não aceita a obtenção da dupla cidadania. Assim, não há como um descendente
de migrante japonês adquirir a cidadania japonesa sem que renuncie à cidadania brasileira.
106

acordo com Suzuki, “os imigrantes japoneses e seus descendentes nascidos no


Brasil são considerados ‘japoneses’” (SUZUKI, 1969, p. 271).

Portanto, deve-se entender que, quando a associação de nikkei é


reconhecida como nihonjinkai, se observá-la terminologicamente, é um termo
genérico utilizado para indicar associação local ou regional fora do Japão,
composta de imigrantes japoneses e seus descendentes. Em relação aos seus
membros, independe da província de origem, todos são reconhecidos como
nikkei pela comunidade japonesa independentemente do nome registado
oficialmente no cartório brasileiro.

4.2. A IMIGRAÇÃO JAPONESA PARA O RIO GRANDE DO SUL E A


FORMAÇÃO DE ASSOCIAÇÕES LOCAIS

No estado do Rio Grande do Sul, diferentemente de outros estados


brasileiros, a imigração japonesa ocorreu depois da Segunda Guerra Mundial.
Os pouco mais de quarenta imigrantes que residiam no estado haviam chegado
de outros estados como São Paulo, individualmente ou em famílias, de forma
assistemática e não planejada.

A chegada oficial dos imigrantes japoneses ao Rio Grande do Sul iniciou-


se com a chegada de 23 jovens japoneses em agosto de 1956 no porto de Rio
Grande. No ano seguinte, 33 famílias chegaram ao estado com contrato para
trabalhar na Estância de São Pedro, no município de Uruguaiana, para trabalhar
na plantação de arroz (SOARES; GAUDIOSO, 2008). Embora essa tentativa de
inclusão dos japoneses na fazenda de arroz não tenha sido exitosa, formou-se
a primeira comunidade de compatriotas no estado.

Deslocando-se de Uruguaiana, essas famílias de imigrantes japoneses


fixaram-se no município de Santa Maria, na região central do estado. Logo em
seguida, criou-se a nihonijnkai, já no ano de 1958. Em 1978, fundou-se a
Sociedade Nipo-Brasileira de Santa Maria, tornando-se reconhecida como
107

instituição oficial perante a sociedade brasileira (SOARES; GAUDIOSO, 2008, p.


141).

De acordo com o último censo de 2008 realizado pela Associação de


Assistência Nipo e Brasileira do Sul a pedido do Consulado Geral do Japão em
Porto Alegre55, desde que a imigração ao Rio Grande do Sul iniciou, entraram
no estado e fixaram suas residências, 786 indivíduos de nacionalidade japonesa.
O número de descendentes residentes no estado naquele mesmo ano era 1761
indivíduos, de modo que um total de 2547 indivíduos de etnia japonesa passou
a residir no estado desde que a imigração iniciou, em vinte e quatro localidades
ao todo, entre municípios e distritos.

A maior população dos indivíduos da etnia japonesa no Rio Grande do Sul


concentra-se na cidade de Porto Alegre, com 775 indivíduos, entre imigrantes de
primeira geração e seus descendentes. Se contar as pessoas residentes nos
distritos do mesmo município, totaliza-se 919 indivíduos, ou seja, uma população
de quase mil pessoas de etnia japonesa residem naquele município.

Outras comunidades onde há concentração de pessoas da etnia japonesa


com mais de cem indivíduos, entre japoneses nativos e descendentes, são
bastante dispersas no estado, como a Colônia Japonesa de Ivoti, localizada na
Serra Gaúcha, município de Pelotas e proximidades, na região sul litorânea,
município de Gravataí e seus arredores, lindeira a Porto Alegre, município de
Santa Maria, que se localiza no centro do estado gaúcho, e município de São
Leopoldo, que faz parte da região de Grande Porto Alegre56.

A comunicação entre as comunidades, assim como realização de eventos


cultuais, fica a cargo da associação local, o nihonjinkai, sob comando de líder

55 Lista fornecida pela Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul em 18 de setembro


de 2019 (ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO E BRASILEIRA DO SUL, 2008).

56 Vide o mapa a seguir indicando as localidades onde há presença de japoneses e seus


descendentes.
108

representante, o kaichô. Também considerada seção interiorana de uma outra


associação – a Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul, de cunho
federativo –, o estatuto desta associação prevê que os presidentes da nihonjinkai
são diretores regionais natos, tendo algumas obrigações57.

De acordo com artigo 32º do estatuto da Associação de Assistência Nipo


e Brasileira do Sul, a seção interiorana deve cumprir seguintes obrigações:

§ 2º) O Presidente e vice-presidente da seção, como responsáveis


máximos da “Associação”, relativos a organização local, executará as
seguintes funções:

a) manter e facilitar as comunicações entre os membros locais e órgãos


da “Associação”, como Diretoria, Conselho Fiscal e Secretaria;

b) arrecadar contribuição social;

c) Reconhecer a pessoa necessitada 58 (por pobreza) da localidade


competente e encaminhar para a Secretaria da “Associação”;

d) administrar de acordo com necessidade e aptidão, - todos os


problemas pertinentes à “Associação” surgido – dentro de sua
jurisdição.

(ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO-BRASILEIRA DO SUL,


1982).

Atualmente, há dezessete associações regionais de japoneses e seus


descendentes somente no estado do Rio Grande do Sul, todas interligadas
através da Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul. Algumas dessas
associações abrangem mais de um município em função do baixo número de
moradores.

57 Artigo 2º, artigo 14º, artigo 15º e artigo 16º, parágrafo único do estatuto da Associação de
Assistência Nipo-Brasileira do Sul, deliberado em 10 de julho de 1982.

58 A pessoa necessitada se refere ao indivíduo que tem nacionalidade japonesa. O órgão


japonês, através da lei de assistência social, concede auxílio em dinheiro para os cidadãos
pobres, mesmo residindo no exterior. A Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul é a
instituição reconhecida e autorizada para fazer tal requerimento.
109

As associações chamadas de nihonjinkai, dentro da comunidade


japonesa, são identificadas como sucursais regionais da Associação de
Assistência Nipo Brasileira do Sul, mesmo tendo atividade regional independente.
As associações regionais são compostas principalmente de japoneses e seus
descendentes dos seguintes municípios e arredores: Bagé, Cachoeira do Sul,
Caxias do Sul, Cruz Alta, Gravataí, Ijuí, Itapuã, Itati, Ivoti, Lami, Passo Fundo,
Pelotas, Rio Grande, Santa Maria, São Leopoldo e Viamão. No município de Ijuí
especificamente, há duas associações, o Ijuí Nihonjinkai e a Associação
Regional de Colônia Japonesa Sakura (ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO
E BRASILEIRA DO SUL, 2008).

A maioria das associações se concentram na metade leste do estado,


sendo que, no censo de 2008, havia moradores japoneses nos municípios de
Alegrete, Santana do Livramento, Uruguaiana, Guaíba, Camaquã, Torres e
Santa Cruz do Sul (ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO E BRASILEIRA DO
SUL, 2008). Os residentes dessas comunidades são informados de pertinências
através de boletim informativo emitido pela Enkyô 59 . Algumas famílias
comunicam-se diretamente com a Enkyô por serem associadas, através de
boletim mensal e telefones assim como cartas, quando necessário.

59 Os boletins que informam as atividades da comunidade japonesa no Rio Grande do Sul, assim
como notícias sobre o Japão relevantes, são enviados mensalmente para os associados.
110

Figura 2 – Mapa da localização de associações de japoneses no Rio Grande do


Sul em 2019.

Fonte: DNIT, [20--?]. Adaptado.

Existem ainda as associações locais de imigrantes japoneses de todo o


estado de Santa Catarina, que fazem parte da diretoria da Associação de
Assistência Nipo e Brasileira do Sul. Entretanto, considerando a delimitação do
objeto do estudo, as associações da população residente fora do Rio Grande do
Sul não foram incluídas.

4.3. A ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO E BRASILEIRA DO SUL


E SUA RELAÇÃO COM OUTROS GRUPOS ASSOCIATIVOS
JAPONESES DO RIO GRANDE DO SUL
111

Entre as associações de japoneses que surgiram no Rio Grande do Sul


desde início da imigração japonesa, algumas são bastante significativas quanto
ao processo de identidade étnico, cultural e inclusive sob aspecto estratégico e
econômico. A primeira e mais antiga é a 南伯日系コロニア援護協会 (Nanpaku
Nikkei Koronia Engokyokai), isto é, Associação de Assistência à Colônia
Japonesa do Sul do Brasil, criada em 11 de outubro de 196960 (ASSOCIAÇÃO
DE ASSISTÊNCIA À COLÔNIA JAPONESA DO SUL DO BRASIL, 1969). Essa
associação, registrada no cartório como sendo sua atividade principal o
pensionato, mudou de nome para Associação de Assistência Nipo-Brasileira do
Sul na medida em que seus associados saíram das zonas rurais. O local, então,
passou a ser chamado de 学生寮 (Gakusei ryô – Casa de Estudantes) pelos
usuários da instalação.

De acordo com o primeiro estatuto elaborado na data da fundação, a


associação foi criada principalmente para assistir a “fixação dos imigrantes
japoneses, dando-lhes orientações e assistência de caráter social, saúde,
higiene e jurídica, a fim de que os mesmos possam tornar-se bons cidadãos
brasileiros” e que “o exercício social terminará em 31 de março de cada ano”
(ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA À COLÔNIA JAPONESA DO SUL DO
BRASIL, 1969, artigo 1º; artigo 3º), o que coincide com o ano fiscal japonês61.

60 De acordo com o relatório manuscrito de agosto de 1981, quando a associação foi criada
havia 246 famílias associadas (ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO-BRASILEIRA DO SUL,
1981).

61 O ano fiscal japonês inicia no dia 1º de abril e termina no dia 31 de março do ano seguinte,
diferentemente do ano fiscal brasileiro, que inicia no dia 1º de janeiro e termina no dia 31 de
dezembro daquele mesmo ano. Estabelecendo o ano social de acordo com o calendário japonês,
considerando as atividades que envolvam custos de manutenção e de realização, a associação
teria de realizar duas contabilidades, uma adaptada ao calendário brasileiro e outra, ao
calendário japonês.
112

Essa primeira reunião constitutiva foi realizada na Rua Garibaldi, nº 96062,


em Porto Alegre, na presença do Cônsul Geral do Japão em Porto Alegre, Sr.
Nagaharu Odo, Vice-Cônsul, Sr. Hirano, e diretor da JAMIC – Imigração e
Colonização Ltda.63, Sr. Inoue. Nessa assembleia constituinte, houve proposição
de nomearem o Cônsul Geral do Japão em Porto Alegre e o diretor da JAMIC –
Imigração e Colonização Ltda. como conselheiros, a qual foi aprovada e aceita
na mesma ocasião. Como sócio-fundador e primeiro presidente, foi eleito o Sr.
Eito Asaeda, de nacionalidade japonesa e segundo morador japonês mais antigo
do Rio Grande do Sul, que chegou no estado em 192464.

Em relação a seções regionais, o artigo 2º do mesmo estatuto permite


criá-las na localidade que julgar-se conveniente ou necessário, por tempo
indeterminado. Assim, tendo em vista a existência das colônias japonesas no
interior do estado, a criação das seções regionais provavelmente incentivou a
formação dos nihonjinkai de forma estruturada. De acordo com o relatório
manuscrito datado de 1981, a Associação de Assistência à Colônia Japonesa do
Sul do Brasil foi criada para unir as 45 regiões onde havia os imigrantes
japoneses nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul (ASSOCIAÇÃO
DE ASSISTÊNCIA À COLÔNIA JAPONESA DO SUL DO BRASIL, 1981).

62 De acordo com informação fornecida pelo professor Paulo Warth Gick, primeiro secretário da
Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasilera, fundada em 1973, a Rua Garibaldi nº 960, Porto
Alegre, foi o local onde funcionava a JAMIC – Imigração e Colonização Ltda., empresa local da
国際協力事業団 (Kokusai Kyôryoku Jigyôdan – JICA).

63 Empresa fundada com objetivo de orientar e conformar os imigrantes sobre os assentamentos.

64 Eito Asaeda nasceu em Hokkaido em 1904, na província de Yamaguchi, Japão. De acordo


com Sasaoka, Asaeda veio para o Brasil em Wakasaki-maru, em 1918 (SASAOKA, 1971, p. 11).
Depois de residir em São Paulo, em 1924 veio para Porto Alegre e casou-se com uma gaúcha,
na época em que o aumentava o movimento contra a raça “amarela” nas Américas. Possuía uma
chácara no município de Viamão, onde abrigou muitos japoneses no início da década de 1960.
Além de ser sócio-fundador e primeiro presidente da Associação de Assistência à Colônia
Japonesa do Sul do Brasil, também foi presidente da Associação Cultural e Esportiva Nipo-
Brasileira em 1975.
113

Em 1975, através do apoio obtido da 国際協力事業団 ポルトアレグレ支


部 (Kokusai Kyoryoku Jigyodan Poruto Aregure Shibu – Agencia de Cooperação
Internacional do Japão Escritório Regional de Porto Alegre), construiu no terreno
da Associação uma casa de estudante, o 日系コロニア学生寮 (Nikkei Koronia
gakusei ryo – Casa de Estudante da Colônia Japonesa), para que os filhos dos
imigrantes pudessem continuar seus estudos na capital do estado. Em 1980, o
prédio foi reformado e aumentado com capacidade para abrigar 52 internos.

O prédio onde funcionava o dormitório masculino abrange uma cozinha,


lavanderia, banheiros comuns e banheiro com furô, além de espaço para sala de
estar e de refeições e churrasqueira – o que mostra uma prática cultural mista
entre o japonês e o brasileiro entre os jovens internos. O prédio de dormitório
feminino foi construído separadamente, com quartos e banheiros simples65.

O próprio registro da Associação consta o pensionato como principal


atividade, conforme o Livro do Termo de Abertura para fins de registro especial
do imposto sobre serviço de qualquer natureza. Atualmente, o prédio está
desativado como casa de estudante e o espaço está sendo utilizado para
diversos fins culturais, como local de reuniões de grupo de senhoras, lazer de
idosos e demais atividades sociais, além de consultório médico ocasional.

Outra atividade que a Associação iniciou foi o empréstimo sem juros para
financiar a educação dos universitários nipo-brasileiros a partir de 1976, como
atividade delegada também pela 国際協力事業団 ポルトアレグレ支部 (Kokusai
Kyoryoku Jigyodan Poruto Aregure Shibu – Agencia de Cooperação
Internacional do Japão Escritório Regional de Porto Alegre). Esse sistema de
empréstimo educativo continua até os dias de hoje sustentado pelo fundo inicial

65 Em 1980, havia seis universitários, treze estudantes dos cursos de pré-vestibular, cinco
estudantes de ensino médio e dois estudantes de cursos técnicos, totalizando vinte e seis
internos (ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO-BRASILEIRA DO SUL, 1981).
114

que a Associação recebeu especificamente para esse fim e pelas devoluções


periódicas dos empréstimos.

Em 1979, iniciou-se a obra do consultório médico na sede da Associação


(ENKYONEWS, 1979), com a doação que recebeu em 1978 por evento do Japan
World Exposition Commemorative Found (Fundo comemorativo da Exposição
Mundial do Japão de 1970) – EXPO’70 (ENKYONEWS, 1978a). O atendimento
médico iniciou-se a partir de novembro de 1980, por dois médicos, uma vez por
semana.

Ainda, conforme o artigo 3º, alínea 2, item b do estatuto (ASSOCIAÇÃO


DE ASSISTÊNCIA NIPO-BRASILEIRA DO SUL, 1982), passou-se a realizar
regularmente todos os anos inspeções e exames médicos gratuitamente no
interior dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Conhecida com o
nome de 巡回診療 (Jyunkai shinryo – Consultório médico móvel), essa consulta
médica móvel, cuja a atividade básica é a medicina preventiva, é uma atividade
consignada pelo governo japonês, por 国 際 協 力 事 業 団 (Kokusai Kyoryoku
Jigyodan – Agencia de Cooperação Internacional do Japão) em Porto Alegre 66,
representada pela JAMIC – Imigração e Colonização Ltda. Desde que iniciou a
consulta médica até agosto de 1981, atendeu 613 pacientes, abrangendo 26
regiões entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina (ASSOCIAÇÃO DE
ASSISTÊNCIA NIPO-BRASILEIRA DO SUL, 1981).

Esta consulta médica móvel continua até os dias de hoje,


ininterruptamente, de modo que se tornou como uma referência cultural para a
comunidade japonesa, principalmente dos idosos de primeira geração. A
visitação nas comunidades são planejadas, organizadas e agendadas de acordo

66 Nos primeiros anos da atividade, as despesas eram arcadas pelo governo japonês.
Atualmente, uma parte das despesas do ambulatório médico móvel é custeada pela própria
associação. Por outro lado, também passou a atender os brasileiros, principalmente os
descendentes desses imigrantes, de nacionalidade brasileira. Embora o estatuto, desde a
fundação da Associação em 1969 previa o atendimento de não-japoneses, até dias de hoje
poucos brasileiros de origem não-japonesa têm procurado este serviço.
115

com a nihonjinkai regional, de modo que a própria atividade também acaba


fomentando a estruturação da própria comunidade japonesa.

Doze anos depois da fundação da Associação, em 1981, o número de


sócios era de 484 pessoas e, incluindo os dependentes, chegava a contar com
aproximadamente 2500 pessoas, entre japoneses e os de gerações seguintes.
As principais atividades que exercidas eram as assistências a saúde e higiene e
assistência social, além de outras atividade sociais e culturais, permeando as
atividades entre os imigrantes e 国際協力事業団 ポルトアレグレ支部 (Kokusai
Kyoryoku Jigyodan Poruto Aregure Shibu – Agencia de Cooperação
Internacional do Japão Escritório Regional de Porto Alegre) por ter sido delegada
por esta.

Outra atividade delegada pela chancelaria do governo japonês é a de


providenciar as documentações relativas à solicitação de aposentadorias de civis
e pensão militar aos ex-militares japoneses. Em relação à pensão militar, um
indivíduo que nasceu em Hokkaido e residente em Pelotas solicitou-a, a qual
todos os trâmites foram realizadas através da associação, em 1981
(ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO-BRASILEIRA DO SUL, 1981).

Em 10 de julho de 1982, treze anos após a fundação, a associação mudou


de nome para Associação de Assistência Nipo-Brasileira do Sul, incluindo a
palavra “Brasileira”. Atualmente o nome jurídico da associação modificou-se para
Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul, pois, sendo beneficente e de
cunho assistencial, precisou ter um nome mais abrangente à população, não se
restringindo mais aos japoneses e seus descendentes. A denominação em
língua japonesa também sofreu a modificação, retirando a palavra “colônia”,
passando a ser chamada de 南日伯援護協会(Minami Nippak Engo Kyokai –
Associação de Assistência Nipo-Brasileira do Sul) em 1982 e desde então
mantém este nome.

No ano de 1983, a 国際交流基金 (Kokusai Kyôryu Kikin – Fundação


Japão), a 国 際 協 力 事 業 団 (Kokusai Kyoryoku Jigyodan – Agencia de
116

Cooperação Internacional do Japão), 日伯文化連盟 (Nippak Bunka Renmei –


Aliança Cultural Brasil e Japão) realizaram em conjunto a pesquisa relativa Às
escolas de ensino da língua japonesa no Brasil, incluindo as do Rio Grande do
Sul. No levantamento, localizaram sete escolas no interior do estado, mais duas
escolas na cidade de Porto Alegre, ministradas pelos professores de forma
independente e com didática heterogênea (NIPPAK BUNA RENMEI; KOKUSAI
KOURYU KIKIN; KOKUSAI KYORYOKU JIGYODAN, 1983, p. 23).

Baseada nos dados obtidos, a 国 際 協 力 事 業 団 (Kokusai Kyoryoku


Jigyodan – Agencia de Cooperação Internacional do Japão) passou a
desenvolver novos materiais didáticos através do Centro Brasileiro de Língua
Japonesa (CBLJ), fundado em maio de 1985 e oficializado no dia 20 de fevereiro
de 1988, numa ação conjunta entre Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e
Assistência Social, Aliança Cultural Brasil e Japão e Federação das Escolas de
Língua Japonesa no Brasil. (CENTRO BRASILEIRO DE LÍNGUA JAPONESA,
2016).

O Centro Brasileiro de Língua Japonesa posicionou-se em construir uma


escola-modelo de ensino de língua japonesa em Porto Alegre, considerando a
cidade como local estratégico do extremo sul do Brasil. De acordo com a carta
de intenções apresentada pela Associação de Assistência Nipo-Brasileira do Sul
para a comunidade japonesa gaúcha e catarinense, de novembro de 1987,
anexada ao jornal mensal Enkyonews, sobre a construção da Escola Modelo de
Língua Japonesa em Porto Alegre, a solicitação partiu da 国 際協 力 事 業 団
(Kokusai Kyoryoku Jigyodan – Agencia de Cooperação Internacional do Japão)
(ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO-BRASILEIRA DO SUL, 1987).

De acordo com a carta, o pedido de colaboração por parte da Associação


para a construção da escola partiu da 国際 協 力事 業 団 (Kokusai Kyoryoku
Jigyodan – Agencia de Cooperação Internacional do Japão), sendo que esta
forneceria apoio financeiro para a aquisição do imóvel. O acordo concretizou-se
após várias reuniões entre a diretoria da Associação de Assistência Nipo-
117

Brasileira do Sul e a 国際協力事業団 (Kokusai Kyoryoku Jigyodan – Agencia de


Cooperação Internacional do Japão), sendo que, além da aquisição do imóvel, o
custo de parte da infraestrutura e aquisição de materiais permanentes ficaria a
cargo da solicitante67.

O adendo da ata da assembleia da Associação de Assistência Nipo-


Brasileira do Sul, datado de 24 de agosto de 1992, menciona que a escola, com
o nome de Centro de Estudos da Língua Japonesa de Porto Alegre (Porto Alegre
Moderuko), seria inaugurada em 20 de novembro daquele mesmo ano. Esta
escola teria objetivo de oferecer aulas de língua japonesa aos filhos de
imigrantes associados, assim como oferecer cursos teóricos e práticos relativos
a cultura e costumes nipo-brasileiros.

Este imóvel foi posteriormente vendido por estar localizado em bairro de


difícil acesso. Então, a escola mudou-se em 1998 para um novo imóvel adquirido
com o valor da venda. Devido à característica não-assistencial, a escola passou
a ser administrada pela Associação da Cultura Japonesa de Porto Alegre (ACJ),
voltada a atividades culturais no novo endereço.

No dia 14 de março de 2019, através do programa chamado 草の根支援


(Partnership Programme), a Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul
recebeu doação para a reforma e ampliação do prédio onde funciona o Centro
de Estudos da Língua Japonesa de Porto Alegre. A assinatura relativa à
concessão de donativo entre o governo japonês e a associação foi realizada

67 O imóvel adquirido na Rua Pernambuco, nº 106, Porto Alegre, segundo informação constante
na carta de intenções anexado ao jornal Enkyonews de novembro de 1987, era uma construção
de dois andares, num total de 526mq de área construída mais a érea de estacionamento,
perfazendo 726mq. O custo da compra foi de 3.800.000 cruzados. A 国際協力事業団 (Kokusai
Kyoryoku Jigyodan – Agência de Cooperação Internacional do Japão) disponibilizou a verba de
5.894.500 ienes para aquisição do imóvel pela Associação de Assistência Nipo e Brasileira do
Sul, mais 4.456.500 ienes para compra de materiais permanentes, num total de 10.351.000 ienes
viabilizando a criação da escola (ENKYONEWS, 1987). Atualmente, este imóvel é utilizado pela
Associação da Cultura Japonesa de Porto Alegre que sucedeu as atividades de ensino de língua
japonesa.
118

entre o cônsul Takeshi Kondo, representante do Escritório Consular do Japão


em Porto Alegre, e o presidente da associação, Sr. Hiroshi Taniguchi, na
presença do Cônsul Geral do Japão em Curitiba, Sr. Hajime Kimura (NIKKEY
SHIMBUN, 2019). Durante a reforma, os materiais móveis da escola estão sendo
armazenados no prédio principal da Associação de Assistência Nipo e Brasileira
do Sul (Enkyô) e as aulas estão sendo ministradas em salas alugadas da Igreja
da Sagrada Família, onde realiza anualmente o evento cultural artístico da
comunidade japonesa.

Outra atividade, como a Casa de Estudantes, continuou funcionando até


o ano de 2000, na época em que a autora conheceu os moradores daquela
instituição. Outrossim, a concessão de bolsa de estudos, incentivo a formação
de professores e o ambulatório móvel funcionam até os dias de hoje, todos com
apoio das instituições governamentais japonesas, mesmo que parcialmente68.

Por outro lado, com a reestruturação gradual da JICA desde 1998, dentro
do plano estratégico da internacionalização do governo japonês (JICA, 2019, p.
187-190), ela delegou as atividades direcionadas aos japoneses e seus
descendentes para a 海外日系人協会 (Kaigai Nikkeijin Kyokai – Associação
Kaigai Nikkeijin Kyokai). Assim, as ações como ambulatório médico móvel
passou a ser gerenciado por esta associação (ASSEMBLEIA ANUAL DA
ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO-BRASILEIRA DO SUL, 2001, p. 3;
ENKYONEWS, 2000). Por outro lado, a partir de 2003, totalmente reestruturada
como uma autarquia, a JICA passou a ser uma agência com autonomia própria
(JICA, 2019, p. 30-31). À primeira vista, passou a atuar nos projetos sem vínculo
específico com os imigrantes japoneses e os descendentes. Entretanto, desde
que 海 外日系人協会 (Kaigai Nikkeijin Kyokai – Associação Kaigai Nikkeijin
Kyokai) seja uma instituição delegada pela JICA na realização de projetos e

68 Informação do conhecimento da própria autora por fazer parte das atividades mencionadas
desde 2006.
119

programas junto a comunidades japoneses no exterior, o vínculo originário


permanece, mesmo que indiretamente.

4.4. ASSOCIAÇÃO CULTURAL E ESPORTIVA NIPO-BRASILEIRA E


A CÂMARA DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA JAPONESA DO SUL

A 日伯文化体育協会 (Nippaku Bunka Taiiku Kyokai – Associação Cultural


e Esportiva Nipo-Brasileira) foi uma instituição criada pelos imigrantes japoneses
em Porto Alegre, tendo como objetivo principal a confraternização entre os
membros da comunidade japonesa do Rio Grande do Sul, no início da década
de 1970 (ASSOCIAÇÃO CULTURAL E ESPORTIVA NIPO-BRASILEIRA, 1973).
A primeira assembleia ordinária ocorreu no dia 27 de janeiro de 1973, nomeando
o Sr. Eito Asaeda como presidente da associação69.

O Sr. Asaeda foi o primeiro presidente da Associação de Assistência à


Colônia Japonesa do Sul do Brasil, fundada em 1969, com mandado previsto
para dois anos, de modo que o cargo de sua presidência transferiu-se de uma
instituição à outra. As reuniões importantes – como as assembleias – ocorriam
em sua residência até a terceira assembleia, que se realizou em 12 de janeiro
de 1975. Naquela ata, há menção sobre problema do registro da Associação
Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira, sem esclarecer detalhes (ASSOCIAÇÃO
CULTURAL E ESPORTIVA NIPO-BRASILEIRA, 1975).

A partir da quarta assembleia ordinária, realizada no dia 10 de janeiro de


1976, as assembleias passam a ser realizadas na Casa de Estudantes, isto é,

69 De acordo com o estatuto (ASSOCIAÇÃO CULTURAL E ESPORTIVA NIPO-BRASILEIRA,


1973) e as atas encontradas datadas de 1973 até 1980 (ASSOCIAÇÃO CULTURAL E
ESPORTIVA NIPO-BRASILEIRA, 1973-1980), localizados no Cartório de Registro Especial de
Porto Alegre, a assembleia ordinária para eleição do presidente e da diretoria, assim como o
planejamento de suas atividades, ocorriam anualmente na casa do Sr. Eito Asaeda até a
construção da Casa de Estudantes em 1976, quando esta se tornou um local de referência para
a comunidade japonesa.
120

na sede da Associação de Assistência à Colônia Japonesa do Sul do Brasil, onde


funcionava também o pensionato para filhos de imigrantes japoneses. A
averbação da associação cultural no Cartório do Registro Especial de Porto
Alegre ocorreu em 25 de agosto de 1976 (CARTÓRIO DO REGISTRO
ESPECIAL DE PORTO ALEGRE, 25 ago. 1976).

Na Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira, no período de sete


anos – de 1975 até 1980 –, em cinco gestões, foram nomeados como
conselheiros de forma majoritária os membros do Consulado Geral do Japão em
Porto Alegre e da JAMIC – Imigração e Colonização Ltda., além dos diretores de
uma empresa japonesa representativa no Brasil, o Lanifício Kurashiki do Brasil
S.A 70 (ASSOCIAÇÃO CULTURAL E ESPORTIVA NIPO-BRASILEIRA, 1973-
1980). A função básica de um Conselho Administrativo é a manutenção do
direcionamento de atividades pertinentes aos principais interesses da
organização na tomada de decisões. Assim, na gestão de uma instituição de
imigrantes japoneses, a presença de representantes do governo japonês e da
empresa japonesa deve ser considerada.

70 A Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira teve como conselheiros Sr. Jiro Nishikawa,
Cônsul Geral do Japão em Porto Alegre, Kazu Fusumada, diretor da JAMIC – Imigração e
Colonização Ltda., e Hiroshi Hitomi, diretor-presidente do Lanifício Kurashiki do Brasil S.A., na
gestão de 1975. As atas de 1976 e 1977 não mencionam os nomes dos conselheiros
(ASSOCIAÇÃO CULTURAL E ESPORTIVA NIPO-BRASILEIRA, 1973-1980). Em 1978, na sexta
assembleia, novamente aparecem representantes da chancelaria do governo japonês como
membros da diretoria. Assim, são nomeados conselheiros Sr. Mamoru Fujita, novo Cônsul Geral
do Japão em Porto Alegre, Sr. Shigetoshi Hirano, novo diretor da JAMIC – Imigração e
Colonização Ltda., além do Sr. Takeshi Omori, diretor-presidente do Lanifício Kurashiki do Brasil
S. A., a empresa de maior representatividade no comércio relativo a lanifício entre o Japão no
Brasil. Ainda, Pe. Lino Stahl, Sr. Seichi Fuke e Sr. Mitsugu Hinohara foram nomeados como
conselheiros por terem influência na comunidade de japoneses. No ano seguinte, o Sr. Tooru
Yoshimizu, outro Cônsul Geral do Japão em Porto Alegre, tornou-se conselheiro. Os demais
conselheiros permaneceram no cargo, excetuando-se o Sr. Mitsugu Hinohara. Em 1980, na
oitava assembleia, o Sr. Tooru Yoshimizu, Cônsul Geral do Japão em Porto Alegre permaneceu
no cargo de conselheiro. Por outro lado, Sr. Toshiro Kamo, diretor da JAMIC – Imigração e
Colonização Ltda. e Sr. Masahiro Okuyama, diretor-presidente do Lanifício Kurashiki do Brasil S.
A., passaram a suceder os conselheiros anteriores (ASSOCIAÇÃO CULTURAL E ESPORTIVA
NIPO-BRASILEIRA, 1973-1980).
121

Assim como na Associação de Assistência à Colônia Japonesa do Sul do


Brasil, a Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira nomeia como os
diretores regionais, inicialmente em 1975 (ASSOCIAÇÃO CULTURAL E
ESPORTIVA NIPO-BRASILEIRA, 1975), os representantes dos municípios de
Ivoti, Lami, Viamão, Gravataí, Sapucaia do Sul e São Leopoldo – todos
pertencentes à região de grande Porto Alegre. Posteriormente, em 1979,
ampliam-se os diretores regionais para os municípios de Ivoti, Lami, Viamão,
Gravataí, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Guaíba, Itapuã e Itati. (ASSOCIAÇÃO
CULTURAL E ESPORTIVA NIPO-BRASILEIRA, 1979).

As atividades desenvolvidas abrangiam desde a agricultura, esportes e


outros tipos de lazer, como concurso de exibições artísticas e exposições
agrícolas. Dentre as atividades culturais mais importantes havia o 演 芸 会
(engeikai – concurso de exibições artísticas) e outra, o 運動会 (undôkai), uma
gincana esportiva que envolve toda comunidade japonesa local
indiscriminadamente.

A época da realização do undôkai variava da última semana de abril até


a primeira semana de maio, excetuando-se 1977, em que ocorreu no dia 10 de
maio. Atualmente, depois da desativação da associação cultural71, a organização
e realização do undôkai envolvendo várias comunidades japonesas no estado
do Rio Grande do Sul passaram a ser responsabilidade da Enkyô, que realiza o
evento no dia 1º de maio de cada ano. E, sendo chuvoso, é transferido para o
primeiro domingo subsequente da mesma semana.

Entre os esportes praticados pelos associados havia beisebol, softball,


sumo, judô e futebol, sendo que cada categoria de esportes era bem organizada
dentro da associação, formando diretorias específicas. Os associados

71 No Cartório de Registro Especial de Porto Alegre, não foi encontrado o documento relativo à
dissolução desta associação. No jornal Enkyonews de 15 de julho de 1981, consta a íntegra da
decisão da fusão da Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira e da Associação de
Assistência à Colônia Japonesa do Sul do Brasil (ENKYONEWS, 1981).
122

organizavam torneios e campeonatos, de acordo com categorias, como ocorria


no torneio de softball, diferenciando as categorias masculina e feminina assim
como pela idade, como ocorreu com a criação da categoria acima de 35 anos e
de 40 anos de idade. O sumô, por sua vez, era tratado de forma diferenciada dos
demais esportes, como pode se perceber pela organização do torneio de sumô
para 27 de agosto de 1980, em comemoração ao 70º Aniversário da Imigração
japonesa no Brasil, no estágio do Gigantinho, em Porto Alegre, por ser esporte
nacional japonesa (ASSOCIAÇÃO CULTURAL E ESPORTIVA NIPO-
BRASILEIRA, 1980).

Além dessas atividades, a associação cultural promovia eventos sociais


para integração entre os membros da comunidade japonesa, como o concurso
de Miss Colônia. Essa associação foi sendo desativada e as atividades culturais
da comunidade de japoneses e seus descendentes foram redirecionados para a
criação de uma nova associação, a Sociedade Nipo-Brasileira do Rio Grande do
Sul (Nikkei-RS), com membros mais abrangentes, unindo as pessoas de origem
japonesa e brasileiros sem origem sanguínea japonesa. A reportagem do G1
São Paulo de 2009 relata que, “o concurso de Miss Nikkei-RS é promovido em
Porto Alegre desde 1975 pela Sociedade Nipo-Brasileira do Rio Grande do Sul
[…], e contou com shows de karaokê e apresentações de danças típicas” (G1,
2009)72, comprovando a continuidade das atividades uma vez promovidas pela
Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira.

No âmbito empresarial, o grupo de empresários ポルト・アレグレ三水会


(Poruto Aregure Sansuikai) surgiu em 1974, na mesma época em que a
Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira estava se constituindo e
consolidando. De acordo com Sr. Shoya Tsuchiya, presidente local da empresa
Indústrias Pesadas Mitsubishi S.A., a sugestão da formação deste grupo partiu
do Sr. Jiro Nishikawa, Cônsul Geral do Japão em Porto Alegre, num encontro de

72 No Cartório de Registro Especial, não foi localizada a ata de encerramento da Associação


Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira.
123

confraternização com os diretores das dez empresas japonesas que haviam se


instalado no Rio Grande do Sul (TSUCHIYA, 1984, p. 5).

O objetivo era criar um espaço para discutir sobre a cooperação entre as


empresas e trocar informações que considerarem pertinentes aos negócios,
assim como criar espaço para a confraternização entre os membros do grupo.
Além disso, através das reuniões regulares, as empresas se manteriam próximas
ao Consulado Geral e à JAMIC – Imigração e Colonização Ltda.

A reunião ocorria inicialmente na primeira segunda-feira do mês e, desde


1980, passou a ser realizada na quarta-feira da terceira semana de cada mês, o
que originou o nome de “Sansuikai” para esse grupo (TSUCHIYA, 1984). Desde
sua formação até o surgimento da CCICJRS (Câmara de Comércio e Indústria
Japonesa do Rio Grande do Sul), esse grupo realizava atividades como
organização e recepção a delegações de empresários e políticos japoneses ao
Rio Grande do Sul.

A despeito dos percalços enfrentados pela economia brasileira durante


a década de oitenta, manifestados na profunda crise que se instaura
nos seus anos iniciais, nas marchas e contramarchas que refletem as
dificuldades de retomada do crescimento e que resultam na virtual
estagnação do Produto Interno Bruto (PIB) per capita nesse período,
além do aumento das desigualdades de renda que acompanha a
aceleração do processo inflacionário da segunda metade da década, a
análise de uma série de indicadores sociais surpreende ao registrar a
ocorrência de progressos significativos (OMETTO; FURTUOSO;
SILVA, 1995, p. 403).

O Sansuikai, iniciado com diretores de dez empresas no primeiro encontro,


em 1984 passou a contar quatorze empresas, somando-se nove empresas que
passaram a participar contra as quatro empresas que fecharam seus escritórios
no estado, demonstrando progresso em meio à crise.

A escola japonesa fundada pelo Sansuikai em 1975 para complementar


os estudos dos filhos de suas famílias, em 1983, diminuiu seu corpo estudantil
para sete alunos e depois para um aluno (MAKINO, 1984). Com a diminuição de
crianças dos funcionários japoneses, passou a receber crianças da colônia
124

japonesa (MAKINO, 1984, p. 42-44). Anos mais tarde, a escola acabou se


tornando base para a criação da Escola Modelo de Língua Japonesa em Porto
Alegre.

De acordo com Tsuchiya (1984), esse grupo de empresários foi formado


no intuito de criar a Câmara de Comércio e Indústria Japonesa em Porto Alegre,
envolvendo as empresas japonesas e as demais empresas administradas pelos
imigrantes e descendentes e, assim, consolidar a presença de nikkeis73 no Brasil.

Desde o início da criação deste grupo, temos desejado que fosse


desenvolvido em algo como a Câmara de Comércio e Indústria do
Japão em Porto Alegre, com participação de todos os empresários de
origem japonesa com suas empresas. E, com isso, contribuir para o
desenvolvimento do Japão e do Brasil, assim como aprofundar
amizade entre os dois países através de nossos esforços […]
(TSUCHIYA, 1984, p. 5, tradução nossa).

Mais tarde, em 28 de junho de 1989, o grupo de empresários fundou a


Câmara de Comércio e Indústria Japonesa do Sul. Ela passou a atuar como
instituição de cooperação e interlocutora entre as empresas japonesas e as
locais, firmando a posição dos imigrantes e descendentes que atuam em
diversas camadas produtivas. A sua sede se localiza no mesmo endereço da
Enkyô, assim como outras associações ligadas à comunidade japonesa, no
bairro Anchieta, descritas anteriormente (CÂMARA…, 2015).

O sistema organizacional do povo japonês centrado na governança local


favoreceu o regionalismo acentuado. Assim, quando o Japão se reestruturou
geopoliticamente, implantando o sistema de governo através das províncias, as
pessoas, ao mudar de residência fora da província de origem, passaram a formar
comunidade de provincianos e criar associações próprias.

73 A palavra “nikkei” que Tsuchiya (1984) menciona refere-se tanto a pessoas jurídicas como a
pessoas físicas. No caso da pessoa jurídica, quer dizer que o empresário é japonês ou
descendente de japoneses.
125

Os imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil também se organizaram,


criando comunidade e associações, como no Japão. Primeiro, enquanto
japoneses, criaram associação de japoneses nas comunidades onde se
encontravam. Por outro lado, também criaram associações de provincianos e,
através de cada associação, criaram elo com as províncias japonesas,
promovendo as atividades peculiares de cada uma delas.

No caso do Rio Grande do Sul, em 11 de outubro de 1969, criou-se em


Porto Alegre a Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul – antiga
Associação de Assistência à Colônia Japonesa do Sul do Brasil –, tendo como
objetivo assistir a fixação dos imigrantes japoneses e seus descendentes para
se tornarem-se bons cidadãos brasileiros. A criação dessa associação que
engloba as demais associações de japoneses regionais foi possível graças ao
apoio financeiro a fundo perdido das agências governamentais japonesas. Ainda,
desde a aquisição da sede até os dias de hoje, recebe apoio financeiro por parte
do governo japonês para execução de atividades tanto assistenciais quanto
educativas.

A Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira, voltada às atividades


culturais, foi absorvida pela Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul.
Outro grupo social que surgiu nos meados da década de 1970 formado por
empresários japoneses deu origem à criação de Câmara de Comércio e Indústria
Japonesa do Sul em 1989, sendo que a sua sede se localiza no prédio da
Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul, assim como de outras
associações ligadas à comunidade japonesa, o que comprova esta associação
como instituição unificadora da comunidade japonesa e a ela relacionada.
126

5. AS INSTITUIÇÕES PROMOTORAS DA INTEGRAÇÃO E


FORMAÇÃO DA CULTURA, MEMÓRIA E DA IDENTIDADE
A política expansionista japonesa após o período de reclusão causou o
deslocamento de seu povo para além de suas fronteiras, desde a ocupação
forçada de alguns países do leste asiático como introdução de imigrantes aos
países das Américas. Assim, surgiram as instituições promotoras de migração e
colonização que, ligadas aos órgãos governamentais japoneses, recrutaram
indivíduos e famílias japoneses para criar colônias comunidades de japoneses
nos países distantes – como ocorreu de fato, no Brasil.

As pessoas eram recrutadas através de empresas e associações, sendo


que nas províncias formaram associação de pessoas que tinham algum membro
de família fora do país. Depois da Segunda Guerra Mundial, com a retomada da
imigração japonesa ao Brasil como política governamental japonesa, as
associações provinciais de migração no Japão fundaram uma instituição para
proporcionar o apoio aos familiares.

O governo japonês, em forma de cooperação binacional, criou, após a


Guerra, a Agência de Cooperação Internacional – conhecida como JICA – e,
através dessa instituição, continuou assistindo os japoneses fora do território
nacional. No Rio Grande do Sul, esta agência tem promovido até os dias de hoje
o bem-estar dos imigrantes japoneses e seus descendentes através da
Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul (Enkyô), que apoia desde
sua fundação em 1969.

5.1. A FORMAÇÃO DAS AGÊNCIAS FOMENTADORAS DA


EMIGRAÇÃO JAPONESA PARA O EXTERIOR E A COMUNIDADE DOS
PROVINCIANOS
Desde que o Japão adotou a política expansionista, seja anexando o
território como ocorreu com Taiwan ou deslocando seu povo aos países
estrangeiros, percebe-se que esse assentamento dos emigrados se fez de forma
diferenciada do que ocorreu com os demais países. Sakaguchi, da Universidade
127

Ritsumeikan, cita em seu trabalho a pesquisa sobre o perfil da imigração


japonesa ao Havaí realizada por Allan Takeo Moriyama, no período entre 1894
até 1908.

Segundo o texto,

Ao analisar o complexo sistema de emigração japonesa para as


regiões do Pacífico, a fim de esclarecer o processo de envio de
emigrantes através de pessoas jurídicas de entidades civis particulares,
realizou seguinte procedimento. Colocou-se de um lado o Japão e
outro, o Havaí e nesse contexto, com cinco protagonistas para cada
um deles. No lado japonês, colocou 1. O governo japonês; 2. Os
governadores das províncias, prefeitos e líderes das comunidades
locais; 3. Empresas de emigração; 4. Os delegados dessas empresas;
e 5. Os próprios emigrantes. E do lado recebedor de emigrantes, os
protagonistas seriam: 1. Governo do país recebedor; 2. Consulado do
Japão; 3. Empresas imobiliárias; 4. Os delegados locais da empresa
de emigração; e 5. Japoneses residentes no estrangeiro. (MORIYAMA,
1985 apud SAKAGUCHI, 2010, p. 53, tradução nossa).

Em relação à emigração dos japoneses para o exterior, esta ocorreu


inicialmente diretamente entre os interessados dos dois países, como ocorreu
com o Havaí por quase dez anos, entre 1885 a 1894. Dado o volume de demanda
de diversos países como México, Peru, Austrália e Nova Caledônia solicitavam
o envio de mão de obra, além do Brasil, que recém saía do sistema de
escravatura, o governo japonês resolve liberar, então, a criação de empresas de
colonização e imigração pelos particulares.

Entretanto, depois de serem criadas mais de setenta empresas e um


grande número de irregularidades se sucederem, em 1894, é estabelecido o
regulamento de proteção aos emigrantes. Esse regulamento, em 1896,
transforma-se em lei de proteção aos emigrados.

Na época em que os primeiros imigrantes contratados vieram ao Brasil,


período este que Masaaki Kodama classifica como terceira fase da imigração
japonesa no mundo, chegou a ter em torno de trinta empresas de imigração e
colonização no Japão. No caso do Brasil, a Companhia Imperial de Colonização
– 帝国殖民株式会社 (Teikoku Shokumin Kabushiki Kaisha) –, sob presidência de
128

Mizuno Ryu, possibilitou a entrada dos primeiros imigrantes contratados, que


vieram a bordo do navio Kasato-maru, chegando ao porto de Santos em 1908
(COMISSÃO DE ELABORAÇÃO DE 80 ANOS DE HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO
JAPONESA NO BRASIL, 1996). Desde então, a chegada dos japoneses ao
Brasil como imigrantes foi praticamente contínua.

Deslocados de suas terras originais, os imigrantes precisariam


realimentar sua identidade étnica e cultural. Pois, como Fenton (2008, p. 3)
afirma, “a etnicidade se refere à construção social da descendência e da cultura”
– dando significado à sua existência. No caso das comunidades japonesas, essa
construção social de “ser japonês” numa terra estrangeira foi construída mesmo
antes da partida, visto que, na maioria dos textos encontrados durante a
pesquisa, desde o período da expansão colonial, a ideia era de que esses
imigrantes prosperassem nas terras estrangeiras. O país de destino igualmente
seria beneficiado, já que os imigrantes deveriam contribuir com o
desenvolvimento local na implantação de valores que traziam consigo como
japoneses e ser bons cidadãos locais.

Essa bandeira é apresentada por diversas instituições de forma


continuada desde a abertura dos portos em 1868, e, dentro da política do Estado,
o Japão amplia o seu território étnico-cultural desconsiderando a figura do
território geográfico ou a nacionalidade em si. Um dos exemplos é a atuação da
instituição denominada Associação Rikko do Japão, fundada pelo religioso
protestante Hyotayu Shimanuki em 1897, que mais tarde abriu o filial no Brasil –
Rikkokai do Brasil –, promovendo a emigração japonesa para Brasil tendo os
japoneses como promotores de desenvolvimento nacional brasileiro
(ASSOCIAÇÃO RIKKO DO BRASIL, 1966, p. 9-14).

O livro comemorativo a sessenta anos da criação desse grupo deixa


evidente o incentivo aos imigrantes japoneses para contribuírem com seus
valores étnicos para o desenvolvimento local. Tomando o lema “desenvolva as
pessoas acima da produção de café”, essa associação tem contribuído para a
129

qualificação de vida das pessoas, não somente para o desenvolvimento


econômico regional.

Apesar de ter sido descoberto quase que ao mesmo tempo com


América do Norte e que este se tornou o país mais forte do mundo com
sua população atingindo 150 milhões de habitantes, o Brasil tem
apenas 50 milhões de habitantes. Isso é uma questão muito
interessante para analisar as causas pelos quais não tem conseguido
fazer parte de países fortes, mas isto não é o problema a ser discutido
neste livro. Por sua vez, a questão central da etnia japonesa que
pretende emigrar para o Brasil deve ser o modo pelo qual fará crescer
frondosamente o país que ficou para trás. (ASSOCIAÇÃO RIKKO DO
BRASIL, 1966, p. 100).

A imigração japonesa nas Américas inicia-se com o projeto de emigração


do conde Takeaki Enomoto que, depois de se exonerar do cargo de Ministro de
Relações Exteriores do Japão, em 1893, formou o 榎本移民団 (Enomoto Imindan
– Grupo Enomoto de Emigrantes). Um dos objetivos dessa companhia era criar
uma colônia japonesa no México (MATSUMOTO, 2019). Um ano mais tarde,
Charles Alexander Carlyle, representante da Companhia Prado Jordão de São
Paulo, visita o Japão em busca de trabalhadores japoneses. Entretanto, o
contrato com a empresa japonesa de migração 吉佐移民合名会社 (Yoshisa Imin
Goumei Kaisha), fundada em 1891, infelizmente não foi exitoso, pois o governo
japonês havia regulamentado através do decreto nº 42/1894 a saída de
japoneses, exigindo as condições mínimas de ambiente do trabalho 74

(SAKAGUCHI, 2010). Por outro lado, tornado república há apenas cinco anos, o
Brasil ainda não tinha um tratado bilateral com o Japão.

Com finalidade de avaliar o Brasil como país viável para a emigração, o


governo japonês, através do Ministério da Agricultura e Comércio, enviou o
funcionário Sho Nemoto. No ano seguinte, em 1895, firmou-se o Tratado de
Amizade, Comércio e Navegação entre o Japão e o Brasil. No Japão, para evitar

74 Esse decreto foi criado inicialmente para proteger os trabalhadores japoneses que saíam
para o Havaí. Mais tarde, torna-se lei de imigração.
130

as atividades escusas e exploratórias por parte dos intermediários, é promulgada


a lei de proteção aos migrantes.

A 東洋移民会社 (Toyo Imin Kaisha) herdou o contrato da 吉佐移民合名会


社(Yoshisa Imin Goumei Kaisha) a respeito do envio de imigrantes ao Brasil, e a
Prado Jordão não conclui o contrato devido à queda do preço de café em 1897.
Por outro lado, o contrato entre 日本移民会社 (Nihon Imin Kaisha) e A. Fiorita
também não foi exitoso (HANDA, 1976, p. 20).

Em 1906, Ryu Mizuno, o presidente da 帝 国 殖 民 株 式 会 社 (Teikoku


Shokumin Kabushiki Kaisha – Companhia Imperial de Colonização) visitou o
Brasil em busca de novas terras para colonização. No ano seguinte,
aproveitando a promulgação da lei de imigração brasileira, Mizuno firmou o
contrato de introdução de três mil imigrantes japoneses com a Secretaria de
Agricultura de São Paulo, através de Carlos Botelho (HANDA, 1976, p. 17). Entre
o empreendimento de enviar imigrantes ao Brasil, Ryu Mizuno, através da sua
empresa de colonização, trouxe os primeiros imigrantes a bordo do Kasato-maru,
em 18 de junho de 1908 – empresa essa que faliu em 1909 (HANDA, 1976).

Por outro lado, em 1907, criou-se no Japão o programa de emigração ao


Brasil, liderado pelo conde 大浦兼武 (Kanetake Ôura), o engenheiro de minas
長 谷 川 芳 之 助 (Yoshinosuke Hasegawa), o político 床 次 竹 二 郎 (Takejiro
Tokonami) e 青 柳 郁 太 郎 (Ikutaro Aoyagi). Assim, para viabilizar o
empreendimento, o conde Kanetake Ôura, junto com os empresários, criaram
em Tóquio uma associação empresarial com nome 東京シンジケート(Tôkyô
Shinjikeeto), isto é, Sindicato de Tóquio (CENTRO DE ESTUDOS NIPO-
BRASILEIROS, 2008). Em julho de 1910, Ikutaro Aoyagi foi enviado pelo
Sindicato de Tóquio para analisar a viabilidade de envio de japoneses para o
Brasil. (HANDA, 1976; TOKYO JIJI SHINPÔ, 1912).

Nesse ano, em 1910 criou-se no Japão a sociedade em comandita


simples, a 東洋移民合資会社 (Toyo Imin Goshi Kaisha), sendo que, de 1912 até
131

1914, ela trouxe mais de 6.500 imigrantes ao Brasil. De outro lado, em 1911, foi
promulgada a lei estadual nº 1299/1911, pelo estado de São Paulo, atribuindo
ao estado o poder de firmar acordo de imigração com o 東京シンジケート(Tôkyô
Shinjikeeto – Sindicato de Tóquio) (HANDA, 1976, p. 23).

Em 1911, o Sindicato de Tóquio consegue firmar acordo para concessão


de área de terras no município de Iguapé para assentamento dos japoneses
(HANDA, 1976, p. 24; KOOYAMA, 1949, p. 82). O Sindicato, no mesmo ano,
transformou-se em uma empresa chamada 伯 刺 西 爾 拓 殖 会 社 (Burajiru
Takushoku kaisha).

Em 1911, eram duas empresas que recrutavam os imigrantes: 東洋移民


合 資 会 社 (Toyo Imin Goshi Kaisha) e 竹 村 植 民 商 館 (Takemura Shokumin
Shoukan). De acordo com Kooyama, o Ministério de Relações Exteriores do
governo japonês, para conceder a licença para a saída dos imigrantes, publicou
as seguintes diretivas para as empresas de imigração:

1. Os emigrantes se restringem a aqueles que estão habituados a


lides agrícolas;
2. Dar devidos cuidados a estrutura familiar e evitar que se
desfaçam depois de chegada ao Brasil;
3. Manter o contrato, isto é, não receber além do valor acordado ou
aumentar o ganho;
4. Antes da chegada de imigrantes, deve fazer os preparativos
prévios para não criar empecilho no desenvolvimento de suas
atividades. Para tanto, as empresas delegadas do Brasil deve
firmar acordo satisfatório com os donos de fazendas e seu
conteúdo deve ser informado, independentemente da sua
amplitude, para órgão público (japonês) no Brasil;
5. Evitar o recrutamento das pessoas das províncias de Okinawa e
Kagoshima;
6. O atraso na chegada de imigrantes provoca resultado
indesejável na colheita de café, e assim, eles devem chegar
antes de maio, quando inicia a colheita de café.

(KOOYAMA, 1949, p. 83, tradução nossa).


132

Em 1916, 竹村植民商館 (Takemura Shokumin Shoukan) repassou todas


as atividades para Ryu Mizuno, antigo fundador do 帝 国 植 民 会 社 (Teikoku
Shokumin Kaisha – Companhia Imperial de Colonização). Este criou uma nova
empresa, 南米植民株式会社 (Nanbei Shokumin Kabushiki Kaisha) e ブラジル移
民組合 (Burajiru Imin Kumiai – Cooperativa de Imigrantes Brasil) no Japão.

Essa cooperativa que visava recrutar os emigrantes transformou-se em


sociedade anônima, a Companhia de Atuação no Exterior, 海外興行株式会社
(Kaigai Kougyou Kabushiki Kaisha) e, incorporando a 盛岡移民会社(Morioka
Imin kaisha), tornou-se a única empresa a tratar da imigração. Segundo Handa
(1976, p. 33), em 1917 mudou seu nome para 海 外 興 業 株 式 会 社 (Kaigai
Kougyou Kabushiki Kaisha – Companhia Ultramarina de Desenvolvimento)75, o
que nas literaturas é conhecido com a sigla KKKK. A partir de 1920, essa
empresa passou a ser única empresa a tratar de enviar os imigrantes para o
Brasil (KOOYAMA, 1949, p. 91).

De acordo com artigo publicado no Centro de Estudos Nipo-brasileiros,


esta companhia foi criada no dia 1° de dezembro de 1917, reunindo as quatro
empresas existentes, ou seja, 東洋移民合資会社 (Tôyô Imin Goushi Kaisha), 南
米殖民株式会社 (Nanbei Shokumin Kabushiki Kaisha), 日本殖民株式会社 (Nihon
Shokumin Kabushiki Kaisha) e 日東殖民株式会社 (Nitto Shokumin Kabushiki
Kaisha). Dois anos depois, em 1919, absorveu a empresa 伯剌西爾拓殖株式会
社(Burajiru Takushoku Kaisha) e, finalmente, em novembro de 1920, completou
a sua estrutura incorporando o 盛岡移民会社(Morioka Imin kaisha), tornando-se

75海外興行株式会社 (Kaigai Kougyou Kabushiki Kaisha) e 海外興業株式会社 (Kaigai Kougyou


Kabushiki Kaisha – Companhia Ultramarina de Desenvolvimento), apresar de terem mesmo
fonema, são diferentes. A primeira utiliza a palavra 興行(Kogyo – apresentação) e a segunda, 興
業(Kogyo – empreendimento).
133

única instituição japonesa responsável para tratar os assuntos relacionados à


imigração (CENTRO DE ESTUDOS NIPO-BRASILEIROS, 2010).

Em relação à unificação das empresas promotoras de imigração japonesa


ao redor do mundo, o ministro das finanças Kazue Shoda profere uma palestra
explicativa sobre a expansão no exterior no Seminário de Verão da Sociedade
Colonial do Japão – 日本植民協会 (Nippon shokumin kyokai) –, realizada no dia
6 de agosto de 1918, mencionando a criação da 海外興業株式会社 (Kaigai
Kougyou Kabushiki Kaisha – KKKK – Companhia Ultramarina de
Desenvolvimento) e o intuito de sua atuação.

De acordo com o ministro Kazue Shoda (1918),

[…] Em relação à expansão ultramarina, não se pode dizer que isso


ocorre bastando a saída de ser humano para fora do país ou quando
eles, fora do país se tornam imigrantes no estrangeiro e se estabelecem
em forma de colônias. Para se expandir, deve acompanhar um
investimento no exterior. […] De uma perspectiva diferente, pode-se
dizer que lugares como o Pacífico do Sul assim como a América do Sul
também podemos afirmar que são lugares destinados onde os súditos
imperiais devem desenvolver naturalmente. […]Abriremos uma filial ou
sucursal do 横浜正金銀行 (Yokohama Specie Bank Ltd.) no Brasil ou
Argentina e, com isso tomaremos medidas para atender as
conveniências dos imigrantes além de facilitar o comércio exterior.[…] É
necessário se unirem e tornando-se em uma grande empresa e com sua
confiabilidade, obter uma grande quantidade de fundos. E com isso,
fomentar a atividade dos imigrantes e colonos. Isso é obvio. […] Por esta
razão, hoje, a empresa chamada de 海外興業株式会社 (Kaigai Kogyo
Kabushiki Kaisha), recém-fundada, não aparenta tornar proeminente
mas o fato é que a providência está tomada e a eficácia do seu
funcionamento ideal está sob responsabilidade do Sr. Kamiyama,
presente aqui. Dependendo de suas atividades futuras, se isso funcionar
favoravelmente, a política colonial imperial pode fortalecer a vontade
humana. A situação está assim […] (SHODA, 1918, tradução nossa)

O recrutamento dos imigrantes passa a ser, então, através desta nova


empresa, com supervisão do governo japonês. O próprio panfleto que é
distribuído nas comunidades japonesas onde há maior concentração da
população e dificuldades financeiras passa a ter uma identificação de
134

autorização de divulgação pelo Ministério de Relações Exteriores 76 . O que


chama a atenção sobre o seu conteúdo, numa época em que foi considerada a
expansão do império japonês, é o perfil desejável das pessoas que emigraria ao
Brasil.

De acordo com o panfleto,

Já que a época de imigração com o trabalho temporário passou, não


deve sonhar com um ganho milionário instantâneo. Agora em diante,
cada um precisa criar base para permanecer no país e, ao mesmo
tempo que obtenha lucro explorando os recursos fartos do Brasil, deve
agir inclusive para proporcionar o ganho para o Brasil (KAIGAI KÔGYÔ
KABUSHIKI KAISHA, 1926, tradução nossa).

O discurso aqui apresentado é o de assentamento dos imigrantes


japoneses no Brasil numa perspectiva colaboracionista. Assim, compreende-se
que os imigrantes japoneses sentiam-se também incumbidos de servir ao Brasil.

De acordo com Ow (2018, p. 265), as comunidades das províncias criaram


associações ultramarinas de economia mista público-privado desde 1915
(províncias de Kumamoto e Hiroshima) “como medidas protetivas contra o
movimento anti-japoneses dos Estados Unidos da América” (OW, 2018, p. 265),
expandindo a iniciativa para outras províncias. Incluindo associações de
imigração ultramarinas locais que foram criadas após a promulgação em 1927
da lei regulamentando as cooperativas de emigração além-mar e o governo ter
se intensificado o interesse pelo envio de imigrantes ao Brasil, totalizou-se 23
associações77.

76 Panfleto de recrutamento de imigrantes elaborado pela KKKK, consta na sua primeira folha,
autorização de publicação pelo Ministério de Relações Exteriores do Japão, datada de 13 de
dezembro de 1926.

77 海外移住組合法 (Kaigai Ijyu Kumiai Hou) – Lei de Cooperativa de Migração Ultramarina, nº


25 de 1927. Esta lei foi revogada em 1º de abril de 1950 (SHUGIIN, 2014).
135

Enquanto sua estrutura como uma empresa de economia mista, recebia


do Ministério do Interior do Japão78 verba e tinha como presidente o governador
da província, e sua sede no prédio administrativo do governo local. No exterior,
criaram os filiais onde havia concentração de provincianos e, para facilitar a
comunicação com suas filiais, criou-se o Comitê Central de Cooperativas de
Migração Ultramarina em Tóquio, tendo como presidente o Ministro do Interior
(OW, 2018, p. 264). Em relação ao Brasil, o governo japonês tinha interesse em
criar pelo menos uma colônia por província, o que explica o aumento da entrada
dos japoneses no o Brasil ter se intensificado a partir desse período.

Nesta mesma época, o político socialista e administrador-geral da


empresa de fiação Kanebuchi Boseki Kabushiki Kaisha (Kanebo Ltda.), Sanji
Muto79 (1867-1934) passou a apoiar a ideia do envio de japoneses para o Brasil
como um empreendimento e com cunho social (YAMAMOTO, 2015). O governo
japonês, por sua vez, procurava apoio dos particulares para financiar a pesquisa
in loco sobre o Brasil, para onde havia a possibilidade de enviar parte da
população que aumentava cada vez mais.

Kanebo Ltda. fundou em 1928 uma empresa a ela afiliada, a 南米拓殖株


式 会 (Nanbei Takushoku Kabushiki Kaisha – Sociedade Colonizadora da
América do Sul), conhecida pelos imigrantes por nome Nantaku80 (YAMAMOTO,

78 O Ministério do Interior depois transformou-se em Ministério de Assuntos Coloniais, que


esteve funcionando de 1923 até 1942.

79 Sanji Muto (1867-1934) – administrador, político e socialista ativista. Considerado fundador


do sistema de administração japonês, dedicou sua vida em prol dos operários. Como
representante dos empregadores, participou da Primeira Conferência Internacional de
Trabalhadores, realizada na cidade de Washington, em 1919. Em relação à empresa que
trabalhava, em 1903 construiu maternal para os filhos das trabalhadoras e até 1919, construiu
cerca de quarenta unidades de apoio aos empregados. De acordo com Yamamoto, a ideologia
socialista do Sanji Muto se baseava no 家制度(ie seido – sistema de casas) japonês, o qual chefe
de família ou grupo se responsabiliza pelo bem de seus membros (YAMAMOTO, 2015).

80 “Nantaku” é a abreviatura de Nanbei Takushoku Kabushiki kaisha (南米拓殖株式会社 [南


拓]).
136

2015), a fim de recrutar as famílias que desejassem emigrar para o Brasil.


Embora houvesse intensificação do movimento anti-japoneses a partir do início
daquela década, isto não impedia a entrada de japoneses. Em alguns estados,
como no Pará, a entrada dos japoneses era vista com bons olhos já que
possibilitava a ocupação de terras improdutivas, trazendo lucro ao estado.

Dentro do cenário internacional, finda a Primeira Guerra Mundial e com


crise econômica mundial que se agravava, o Japão estava passando por
dificuldades pela superpopulação e falta de alimentos. Diante da oferta de terras
a título gratuito pelo governo paraense, o governo japonês resolveu enviar a
equipe técnica ao Pará para verificar a viabilidade de instalação de colônias
naquele estado.

Para o envio de especialistas e para custear parte das despesas, segundo


o relato de Sanji Muto, presidente do Kanebo Ltda., a empresa foi procurada pelo
governo japonês. O pedido foi aceito, visto que os interesse de ambas as partes
convergiram. A intenção por parte governo do Pará era de ocupar áreas
devolutas através da concessão de terras aos japoneses. A oferta, proposta pelo
presidente estadual Dionysio Bentes, e o interesse da empresa de imigração
Nantaku em trazer os japoneses ao Brasil resultou na criação da colônia
japonesa de Tomé Açú (YAMAMOTO, 2015).

Para que essa colônia fosse exitosa, criou-se no Brasil a empresa ブラジ
ル農耕日本会(Burajiru Noukou Nihon Kai – Companhia Nipônica de Plantação
do Brasil) e, através dessa companhia, construiu a infraestrutura necessária para
a colônia, como hospital, escola, residências e estradas na colônia japonesa de
Acará, no município de Tomé Açú (IZUMI; SAITO, 1955, p. 99; YAMAMOTO,
2015). Essa colônia, estabelecida por forte interesse pelo governo japonês, em
29 de abril de 1934, recebeu a doação em dinheiro da casa imperial para auxiliar
o funcionamento do Hospital Acará, em Tomé-Açu, a exemplo de outros
estabelecimentos de saúde localizado no Brasil (HANDA, 1976, p. 72).
137

A 海 外 興 業 株 式 会 社 (Kaigai Kougyou Kabushiki Kaisha – KKKK –


Companhia Ultramarina de Desenvolvimento) tinha a seguinte estrutura:

Figura 3 – Histórico da expansão ultramarina e suas principais atividades.

Fonte: SAKAGUCHI, 2010, p. 56.

Paralelamente, a nível nacional, o governo japonês promove programas


de apoio aos japoneses emigrados e seus descendentes, principalmente através
das agências específicas. Nas províncias, passam a ser criadas as associações
海外協会 (Kaigai kyokai – Associação Kaigai Kyokai) com objetivo de apoiar as
pessoas que desejam emigrar para exterior assim como os já emigrados (KAIGAI
KYOKAI CHUO KAI, 1923, p. 15).

Tabela 2 – Associações Kaigai Kyokai no Japão e datas de fundação.

Associação Kaigai Kyokai no Japão por Associação Kyokai no


província / Data da fundação Japão por província / Data
de fundação desconhecida
Kumamoto 5/07/1915 Aomori
Hiroshima 01/09/1915 Iwate
Wakayama 11/11/1918 Akita
Bocho Kaigai Kyokai 30/11/1918 Yamagata
(Yamaguchi)
Kagawa 17/11/1919 Ibaraki
Okayama 12/1919 Tochigi
138

Shinano (Nagano) 29/01/1922 Gunma


Mie 1923 Saitama
Okinawa 07/11/1924 Chiba
Nagasaki 02/1925 Tóquio
Kagoshima 02/1925 Kanagawa
Ishikawa 03/1925 Fukui
Fukuoka 25/11/1925 Gifu
Tottori 27/05/1926 Aichi
Toyama 01/1927 Shiga
Yamanashi 23/07/1927 Kyoto
Shizuoka 25/07/1927 Osaka
Saga 12/1927 Hyōgo
Hokkaidō 1928 Nara
Niigata 1928 Shimane
Fukushima 19/05/1928 Tokushima
Miyagi 03/1930 Kōchi
Ehime Ōita
Miyazaki
Fonte: SAKAGUCHI, 2010, p. 60.

A 海 外 興 業 株 式 会 社 (Kaigai Kougyou Kabushiki Kaisha – KKKK –


Companhia Ultramarina de Desenvolvimento), nova instituição criada para enviar
os japoneses ao exterior, sendo entidade japonesa e tendo como presidente o
Ministro do Interior do Japão, na época em que o movimento anti-japoneses se
intensificava, era impossível criar diretamente colônias no Brasil. (SAKAGUCHI,
2010, p. 63; LONE, 2001, p. 73). A saída encontrada foi a criação ou encontrar
alguma instituição que aceitasse os imigrantes japoneses no Brasil.

A fim de cumprir as condições para aceitação de imigrantes, cria-se no


Brasil a Sociedade Colonizadora do Brazil Limitada (ブラジル拓植組合 –Burajiru
Takushoku Kumiai – BRATAC), que iniciou suas atividades em 1929 81. Essa
empresa possibilitou a compra de terras e loteá-las, além de providenciar a
infraestrutura para o assentamento de imigrantes japoneses, como a construção

81 A Sociedade Colonizadora do Brazil Ltda. foi o nome jurídico brasileiro atribuído para a ブラ
ジル拓植組合 (Burajiru Takushoku Kumiai – BRATAC). Em inglês, esta instituição é traduzida
como Brazilian Development Co-operative, aproximando do significado original (LONE, 2001, p.
72).
139

de hospitais, escolas e estradas, além de empréstimos e auxílios financeiros 82


(KAIGAI IJYUU KUMIAI RENGOUKAI, 1930, p. 26; p. 33).

Gráfico 4 – Emigrantes que saíram do Japão através da 海外興業株式会社


(Kaigai Kougyou Kabushiki Kaisha – KKKK – Companhia Ultramarina de
Desenvolvimento), por província, no período de 1917 até 1934.

Fonte: SAKAGUCHI, 2010, p. 58.

A imigração japonesa para o Brasil foi se restringindo


principalmente por determinação do artigo 151 da nova Constituição de 1937,
que limitava a entrada de novos estrangeiros.

Art 151 – A entrada, distribuição e fixação de imigrantes no território


nacional estará sujeita às exigências e condições que a lei determinar,
não podendo, porém, a corrente imigratória de cada país exceder,
anualmente, o limite de dois por cento sobre o número total dos
respectivos nacionais fixados no Brasil durante os últimos cinqüenta
anos. (BRASIL, 1937).

82 Algumas colônias se apropriaram do nome BRATAC, como para a atividade de sericicultura


que se iniciou na cidade de Bastos (SP), em 16 de setembro de 1940, com a criação da Fiação
de Seda BRATAC Ltda. Ela iniciou suas atividades contando com apenas vinte bacias de fiação
manual importadas do Japão. Depois da Segunda Guerra Mundial, em 1957, transformou-se em
sociedade anônima. Atualmente, o Brasil é o terceiro maior produtor de seda do mundo, atrás
apenas da China e da Índia – e o melhor em qualidade (MEGA, 2016; BRATAC, [20--?]).
140

A partir dessa restrição e do aumento de hostilidade contra os japoneses,


a entrada dos japoneses diminui de forma significativa até ser interrompida
completamente pela Segunda Guerra Mundial. Porém, a partir da aprovação em
1952 da assinatura do Tratado de Paz firmado anteriormente entre o governo do
Brasil e o governo do Japão em 1951 na cidade de São Francisco, Califórnia,
pelo Decreto Legislativo nº 29, o plano de emigração japonesa ao Brasil é
retomado (BRASIL, 1952).

Depois da dissolução da Companhia de Imigração e Colonização (KKKK)


por conta da derrota na guerra, o governo cria em 1954 (MUSEU DA MIGRAÇÃO
JAPONESA AO EXTERIOR, [20--?]) uma agência controladora das associações
provinciais de migração, denominada 財団法人日本海外協会連合会 (Nihon
kaigai Ijukyokai Rengokai – Federação das Associações Provincianas de
Migração) conhecida popularmente pelo nome 海協連 (Kaikyoren), sigla da
entidade. No Japão, essa instituição realizava anúncios de esclarecimento,
recrutamento de emigrantes, cursos de treinamento, transporte etc.
Estabelecendo filiais na América do Norte e América Latina, recebiam os
imigrantes do Japão e faziam orientação agrícola etc.

O programa de emigração ultramarina foi implementado e promovido


antes da Segunda Guerra Mundial como uma ação pública conjunta entre as
províncias e o governo central. Entretanto, após a Guerra, esse programa
passou a ser executado como política nacional através de duas instituições
criadas específicas para a emigração.

Em 1954, o 財団法人日本海外協会連合会 (海協連)(Zaidan Houjin


Nihon Kaigai Kyokai Rengoukai – Kaikyoren) (HANDA, 1976, p. 113) foi
designado para realizar o recrutamento e treinamento de pessoas que
desejavam emigrar além de criar uma rede de contato das famílias através das
associações provinciais locais. A outra instituição, a 日本海外移住振興株式会社
( 移 住 会社) (Nihon Kaigai Ijyuu Fukyou Kabushiki Kaisha – Ijuu Kaisha –
Companhia de Migração Ultramarina Japonesa), fundada em 1955, tinha
141

objetivo de realizar empréstimos e fomentar os imigrantes e suas corporações


para as atividades agrícolas, indústria e pesca, como um banco de
desenvolvimento. Estabeleceu a sede principal no Rio de Janeiro e abriu filiais
em São Paulo, Belém, Recife, Porto Alegre, Assunção no Paraguai, Buenos
Aires na Argentina. Em Santo Domingo na República Dominicana e em Santa
Cruz na Bolívia, estabeleceu os escritórios de representação (OKANO;
WATANABE, 2011, p. 69; NIHON KAIGAI IJYUU FUKYOU KABUSHIKI KAISHA,
1962; JICA, [200-?]). Essas duas instituições trabalhavam em conjunto,
atendendo os emigrantes para que o assentamento no local de destino fosse
aproveitado de melhor maneira possível.

Em 1956, para facilitar o financiamento e assentamento dos imigrantes


japoneses, criou-se no Brasil duas empresas locais, atendendo a legislação
brasileira. Uma para realizar a orientação agrícola aos imigrantes e dar
conformação aos locais de assentamento, de nome JAMIC – Imigração e
Colonização Ltda. ( 移 植 民 有 限 責 任 持 分 会 社 - Ishokumin Yugen Sekinin
Mochibun Kaisha). Outra, uma empresa para fazer o financiamento e
empréstimo, a JEMIS Assistência Financeira S. A. (信用金融投資有限会社–
Shinyou Kinyuu Toushi Yugen Kaisha) (OKANO; WATANABE, 2011, p. 69;
HANDA, 1976, p. 119). A JAMIC recebia através da JEMIS empréstimos de
banco dos Estados Unidos com base em contratos de empréstimo por migração,
e adquiria áreas de terras, financiava as despesas de viagem a emigrantes e
fazia empréstimo as empresas.

Em 1963, o governo japonês criou o 海外移住事業団 (Kaigai Iju Jigyodan


– Agência de Migração no Exterior), fundindo a 日本海外移住振興株式会社(移
住 会 社 ) (Nihon Kaigai Ijyuu Fukyou Kabushiki Kaisha – Ijuu Kaisha –
Companhia de Migração Ultramarina Japonesa), e a 財団法人日本海外協会連合
会(Zaidan Houjin Nihon kaigai Kyokai Rengoukai – Federação das Associações
Provinciais de Migração) para otimizar a atividades junto a imigrantes (JAPÃO,
2000). No Brasil, a JAMIC Imigração e Colonização Ltda. continuou como
142

instituição local para tratar dos assuntos financeiros e outros assuntos relativos
aos imigrantes. A nova agência, a 海 外移住事業団(Kaigai Iju Jigyodan) passou
a atuar em diversas áreas, como verificação de áreas adequadas para
assentamento e auxílio financeiro, além de apoiar a instalação de infraestrutura
nas colônias onde os imigrantes pudessem reproduzir as práticas culturais de
seus ancestrais.

5.2. A ATUAÇÃO DAS AGÊNCIAS DE COOPERAÇÃO


INTERNACIONAL DO JAPÃO NO CENÁRIO DE DESENVOLVIMENTO
BRASILEIRO E SUAS RELAÇÕES COM OS IMIGRANTES

A partir de 1964, as associações provinciais de migração passam a ser


reposicionadas para dentro dos escritórios regionais da 海外移住事業団 (Kaigai
Ijuu Jigyodan – Agência de Migração no Exterior)83, centralizando as atividades
de migração no exterior. O 横浜移住斡旋所(Yokohama Assenjyo –Escritório de
Mediação para Emigração em Yokohama), que estava sob tutela do Ministério
de Relações Exteriores, também passa a ser da responsabilidade desta agência
(JICA, [200-?]).

83 海外技術協力事業団 (Kaigai Gijyutsu Kyoryoku Jigyodan) foi criada pela Lei 120 de 1965 para
dar apoio técnico aos países em desenvolvimento em forma de cooperação técnica internacional
(JAPÃO, [201--?]). A estrutura de atuação baseou-se no Plano Colombo, criado em 1951
envolvendo os EUA e os países asiáticos com objetivo de melhorar os países asiáticos em
desenvolvimento (KAIGAI, 1962, p. 10). Desde 1954, o Japão passou a integrar esse grupo,
atuando como país fomentador na área tecnológica, como atuação junto ao Plano Colombo na
Asia. “The Colombo Plan for Cooperative Economic and Social Development in Asia and the
Pacific was conceived at the Commonwealth Conference on Foreign Affairs held in Colombo,
Ceylon (now Sri Lanka) in January 1950 and was launched on 1 July 1951 as a cooperative
venture for the economic and social advancement of the peoples of South and Southeast Asia.
1977, its name was changed to “The Colombo Plan for Cooperative Economic and Social
Development in Asia and the Pacific” to reflect the expanded composition of its enhanced
membership and the scope of its activities.” (COLOMBO PLAN, 2018).
143

Dez anos mais tarde, em 1974, a Agência de Migração no Exterior (海外


移住事業団 – Kaigai Ijû Jigyôdan) e a Agência de Cooperação Técnica no
Exterior ( 海外技術協 力事業団 – KAaigai Gijyutsu Kyouryoku Jigyôdan), que
prestavam cooperação técnica aos países em desenvolvimento, fundiram-se,
formando a 国 際 協 力 事 業 団 (Kokusai Kyoryoku Jigyodan), i.e. Agência de
Cooperação Internacional (JICA), vinculada exclusivamente ao Ministério de
Relações Exteriores, passando a atender as necessidades locais dos países em
desenvolvimento.

Em 1976, dois anos após sua fundação, a JICA iniciou seus trabalhos no
Brasil, em forma de cooperação internacional. De acordo com Agência Brasileira
de Cooperação (ABC), do Ministério de Relações Exteriores do Brasil, “as
relações de cooperação técnica entre Brasil e Japão tiveram início em 1959 e
são reguladas pelo Acordo Básico de Cooperação Técnica Brasil-Japão, tratado
assinado em agosto de 1971” (AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO,
2012).

Assim, suas atividades passaram a, além do financiamento e apoio


técnico aos japoneses imigrantes, fazer o investimento para desenvolvimento
regional84.

Desde o início das atividades da JICA, o apoio oferecido ao Brasil pelo


Japão assumiu grande importância histórica para os laços de amizade
entre os dois países. […] o montante acumulado de fundos enviado ao
Brasil pela cooperação técnica supera 1.2 bilhão de dólares (cerca de
2.0 bilhão de Reais). Isto coloca o Brasil na 6ª posição entre os maiores
receptores de assistência japonesa via cooperação técnica dentre
todos os países do mundo […]. A cooperação financeira do Japão
destinada ao Brasil supera até o momento 3 bilhões de dólares (cerca
de 4.8 bilhões de reais). (AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO,
2012).

84 O período mais marcante desta cooperação ocorreu nas décadas de 80 e 90 (século XX).
Este foi um período de apoio intenso, no qual vários projetos foram implementados e um canal
de transferência tecnológica consolidou-se, caracterizado pelo grande fluxo de peritos japoneses
enviados ao Brasil e de bolsistas brasileiros enviados ao Japão (AGÊNCIA BRASILEIRA DE
COOPERAÇÃO, 2012).
144

Um dos projetos desenvolvidos através da cooperação bilateral Brasil-


Japão é o projeto de desenvolvimento da região do Cerrado brasileiro.

A região do Cerrado abrange vários estados brasileiros, sendo que


aproximadamente 90% da área é constituída de solo ácido e pobre em nutrientes.
Ocupa aproximadamente 24% do território brasileiro, possuindo uma área total
estimada em 2.036.448 km². Sua área nuclear abrange o Distrito Federal e dez
estados: Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Maranhão, Bahia,
Piauí, Minas Gerais, São Paulo e Paraná, somando aproximadamente 1.500
municípios. (BRASIL, 2010, p. 4).
Embora nos últimos anos se tenha discutido as questões ambientais
como a preservação da natureza e da diversidade de biomassa na região do
Cerrado, não se pode negar que a ampliação da área cultivável a partir da
década de 1960 foi importante para o desenvolvimento do Brasil e para fornecer
alimento suficiente para a população nacional. Foi nessa época em que a
agricultura brasileira passou de um sistema produtiva familiar e local para uma
escala maior.
Em relação a imigrantes japoneses agricultores assentados na região de
Cerrado, no oeste de Minas Gerais, exerceram papel importante no
desenvolvimento agrícola. Na época em que se discutia a expansão agrícola da
região do Cerrado, na Cooperativa Agrícola Cotia – formada por cooperados na
sua maioria imigrantes japoneses e seus descendentes, dedicados ao plantio de
batata e hortaliças e da criação de aves em 1973 – “já enviava cooperados nos
estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, estados onde predomina o clima
da savana tropical” (NDL, 2009b).
Os membros da Cooperativa Agrícola de Cotia85 e demais imigrantes,
através do sistema de cooperativismo, participaram ativamente na realização e
execução do Programa de Assentamento Dirigido Alto Paranaíba (PADAP).

85 A Cooperativa Agrícola de Cotia foi fundada em 1927, com 83 membros, todos produtores
de batata-inglesa, com duzentos e noventa contos, mais a doação em dinheiro do Consulado
Geral do Japão (KOOYAMA, 1949, p. 276).
145

Transformaram a região produtora do carvão vegetal, abrangendo área total de


60.000 ha (municípios de São Gotardo, Rio Paranaíba, Ibiá e Campos Altos,
Minas Gerais), em vasta área agrícola, passando a produzir o arroz sequeiro,
café, batata, cenoura, sementes de hortaliças para abastecer outras regiões 86
(ROMANO, 2010, p. 7; BRASIL; JICA, 2002).
Em 1974, o Primeiro-Ministro do Japão Kakuei Tanaka visita a região do
Cerrado, onde os imigrantes japoneses já participavam das atividades agrícolas.
A partir disso, desenvolveu-se uma conversa bilateral para desenvolver a região
do Cerrado, antes considerada árida por ter o solo muito ácido para a plantação.
Era uma porção improdutiva.
Dois anos mais tarde, na visita do presidente Ernesto Geisel ao Japão,
em 1976, os dois países assinaram uma declaração de um acordo para a
execução do projeto conjunto denominado “Companhia de Desenvolvimento
Agrícola Brasil-Japão – CAMPO”, tendo como objetivo adequar a região do
Cerrado para produção agrícola (ROMANO, 2010, p. 5; EMBAIXADA DO JAPÃO
NO BRASIL, 2014). O acordo de cooperação incluía inicialmente a participação
financeira igualitária de 50% para cada um dos países, sendo que na CAMPO a
diferença de capital seria de 51% brasileiro e 49% japonês. O programa com o
nome Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos
Cerrados – PRODECER iniciou-se primeiramente nos cerrados de Minas Gerais,
abrangendo os municípios de Iraí de Minas, Paracatu e Coromandel.
Posteriormente, o programa estendeu-se para os estados de Maranhão e Piauí,
além de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (ROMANO, 2010, p.10)
Por parte brasileira, ficou estabelecido que seriam criadas instituições de
pesquisa nas áreas de agricultura e pecuária, o que resultou na criação da

86 De acordo com o relatório geral elaborado analisando a evolução das atividades realizadas
na região do Cerrado, numa forma de joint venture Japão-Brasil, “after the implementation of the
projects ‘PADAP’ and ‘POLOCENTRO’ in 1973, and 1975 respectively, ‘Prodecer’ started to be
implemented in 1979”. E como resultado, “the Cerrados region added to the Brazilian productive
process 10 million ha of annual crops and 2 million ha of perennial crops, in a period of a quarter
of a century”. (BRASIL; JICA, 2002, cap. 5, p. 1).
146

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e o Centro de


Pesquisa Agropecuária do Cerrado (CEPAC). Essas duas instituições forneciam
estrutura física e infraestrutura como laboratórios e espaço físico necessário
para pesquisa agropecuária.
De outro lado, por parte do governo japonês, garantidos a infraestrutura
e condições de trabalho, vários especialistas em técnicas agrícolas e pecuárias
japoneses passaram a ser enviados para atuarem nessas instituições através da
Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) 87 . Seu objetivo era a
capacitação do recurso humano e colaborar na pesquisa.
A produtividade da região aumentou significativamente de modo que “a
produção agrícola da região do Cerrado, dez anos depois, em 1988, era
responsável por 45% da produção de soja, 36% de milho e 47% da produção de
arroz” (GAUDIOSO, 2019). Isso “favoreceu também a diminuição dos custos das
rações de aves e de outros animais para abate […], tornando o Brasil um dos
maiores exportadores de carne do mundo” (GAUDIOSO, 2019).
Depois da fundação, a EMBRAPA passou a atuar em diversos locais
além da região do Cerrado, estabelecendo polos de pesquisa e treinamento
agropecuária desde a região Norte até o Rio Grande do Sul, capacitando os
recursos humanos para otimizar a produtividade agrícola e pecuária. Na região
sul especificamente, a EMBRAPA Clima Temperado 88 é responsável pela
pesquisa e difusão de plantas que desenvolvem na clima mais frias da região
Sul (EMBRAPA, [20--?]).

87 A sigla “JICA” que significa “Agência de Cooperação Internacional do Japão” é usada tanto
para órgão 国際協力事業団(Kokusai Kyoryoku Jigyôdan) como para seu sucessor, 国際協力機構
(Kokusai Kyoryoku Kikô). Atualmente, é o órgão do Governo Japonês responsável pela
implementação da Assistência Oficial para o Desenvolvimento (ODA), que apoia o crescimento
e a estabilidade socioeconômica dos países em desenvolvimento com o objetivo de contribuir
para a paz e para o desenvolvimento da sociedade internacional. Com uma rede de escritórios
que se estende por quase cem países, a JICA presta assistência a mais de 150 países no mundo
todo (JICA, [20--?]).

88 A EMBRAPA Clima Temperado foi criada em 1993, numa fusão de instituições de pesquisa
locais anteriormente existentes na região de Pelotas, RS (EMBRAPA, [20--?]).
147

A recém-criada JICA, ao mesmo tempo, em parceria com as


associações japonesas locais, passa a atuar direta e indiretamente para o
melhoramento de vida dos imigrantes japoneses e seus descendentes, os
nikkei89.
Em relação às colônias japonesas, o governo japonês passou a oferecer
assistência tanto na saúde como auxílio nos estudos dos jovens através da
concessão de bolsas de estudos. Nos locais que necessitavam de maior
infraestrutura, forneceu condições financeiras através de doações de
equipamentos e em espécie, ou mesmo auxílio na aquisição de imóveis.
Por outro lado, a atuação da JICA (Kokusai Kyoryoku Jigyôdan)
objetivando a manutenção cultural dos descendentes tem sido realizada através
das instituições locais como as associações de japoneses conhecidas com o
nome 日本人会 (Nihonjinkai). As doações de equipamentos, envio de voluntários
japoneses assim como os especialistas são enviados à comunidade através das
associações representantes locais.
Na Colônia Japonesa de Ivoti, localizada próxima a Porto Alegre (RS),
por exemplo, foi possível construir uma escola de língua japonesa e um grande
ginásio90 onde acontece até os dias de hoje os eventos tipicamente japoneses
como engeikai – o encontro da comunidade com confraternização artística – e
como a seijin-shiki – a cerimônia anual da comunidade para celebrar jovens que
atingem a maioridade.
A JICA também realiza outras atividades através de outras instituições
japonesas. O envio de japoneses voluntários por parte do governo japonês para
atuar no ensino de língua japonesa como língua de herança e cultura japonesa

89 De acordo com Associação Kaigai Nikkeijin Kyokai, a palavra nikkei se refere a “aquele que
saiu do Japão e reside no exterior, munido do objetivo de viver definitivamente nessas terras, e
seus descendentes da segunda, terceira, quarta, e demais gerações, independentemente de sua
nacionalidade ou mistura” (KAIGAI NIKKEIJIN KYOKAI, 2018).

90 O prédio tem aparência de um grande salão e foi construído para abrigar a escola de língua
japonesa e fazer reuniões da comunidade japonesa daquela localidade. Atualmente, é usado
para fazer reuniões comemorativas, festas e assembleias.
148

também tem sido seu foco. Para tanto, algumas dessas atividades são realizadas
através da 海外日系人協会 (Kaigai Nikkeijin Kyokai – Associação Kaigai Nikkeijin
Kyokai). Os livros didáticos desenvolvidos para ensino de língua japonesa por
esta associação, em parceria com a JICA, são disponibilizados para diversas
escolas de língua japonesa latino-americanas 91 . Em relação à cooperação
técnica da JICA no Rio Grande do Sul, baseado no protocolo firmado entre Brasil
e o Japão, criou-se o Instituto de Geriatria e Gerontologia, na PUC-RS, em 1973
e que passa a funcionar em 197592.

5.3. A ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO E BRASILEIRA DO SUL


(ENKYÔ) E SUA RELAÇÃO COM AS INSTITUIÇÕES JAPONESAS

A JICA tem fomentado e incentivado diversas práticas culturais japonesas


através da 南日伯援護協会 (援協) (Minami Nippak Engo Kyokai – Enkyô –
Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul). Inicialmente chamada de 南
伯日系コロニア援護協会(援協) (Nanpaku Nikkei Koronia Engo Kyokai – Enkyô –
Associação de Assistência à Colônia Japonesa do Sul do Brasil), esta
associação foi criada pelo esforço de imigrantes japoneses gaúchos. Ela foi
reconhecida juridicamente no dia 14 de junho de 1971 e abrange os associados
residentes em Rio Grande do Sul e Santa Catarina por conta da jurisdição do

91 Os livros didáticos, escritos em japonês, estão repletos de informações sobre a vida cotidiana
no Japão e sobre a cultura japonesa. Elaborada pela Associação Kaigai Nikkeijin Kyokai a pedido
da JICA, a partir de 1996, passou a analisar a língua japonesa no exterior. A partir dos resultados,
reelaborou todo material de ensino de língua japonesa considerando a língua japonesa como
língua estrangeira e não mais como língua de herança. A publicação do primeiro livro, Nihongo
do-re-mi ocorreu em 2002. O segundo livro, Nihongo Janpu, foi publicado em 2003 (NIHONGO…,
2003; NIHONGO…, 2004).

92 O Hospital Universitário da Pontifica Universitária Católica do RS foi inaugurado no ano


seguinte, em 1976.
149

Consulado Geral do Japão, contando com, no total, 455 associados no ano de


197693.

A Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul (Enkyô) foi


construída no terreno próximo a Centrais de Abastecimento do Rio Grande do
Sul (CEASA/RS) para facilitar o acesso dos associados, na sua maioria
agricultores. Nas décadas de 1970 e 1980, esse terreno tem sido usado como
dormitório de estudantes, abrigando os filhos de japoneses que moravam longe
das escolas e universidades. A sua estrutura, refletindo a arquitetura japonesa,
era dividida em prédio de dormitório masculino e outro prédio para o dormitório
feminino, tendo o banho de furô de uso geral para todos os internos. A
construção e ampliação do prédio assim como aparelhamento do prédio foram
realizadas através de arrecadação de fundos dos imigrantes interessados em ter
uma sede de referência que o fundo que viria do governo japonês.

No ano de 1971, criou-se no Japão a 日本万国博覧会記念協会(Nihon


Bankoku Hakurankai Kinen Kyokai – Associação Comemorativa da Exposição
Universal do Japão 1970) através da Lei Nacional nº 94 de 1971, como uma das
atividades comemorativas da Exposição Universal 1970 – Expo '70 (日本万国博
覧会 – Nihon bankoku hakurankai), realizada em Osaka (COMMEMORATIVE,
1971). A captação de recursos para realizar as atividades de fomento era
rigorosamente estabelecida pela lei nacional, incluindo título do governo nacional
e provincial, títulos corporativos especiais, títulos de crédito de bancos e outros
(COMMEMORATIVE, 1971, p. 13). Por outro lado, o objetivo da associação era
conceder fomento a fundo perdido as atividades que honrassem a realização da
Expo ‘70. De acordo com o regulamento, somente as pessoas ou instituições

93 Dado obtido a partir da carta dirigida ao recém-criado Hospital Universitário da PUCRS,


propondo um convênio para que os membros da associação obtivessem assistência médica,
sobretudo a preventiva.
150

que tinham notoriedade internacional poderiam receber esse fomento


comemorativo.

Assim, em relação ao indivíduo, somente poderiam receber o prêmio


“aqueles que contribuíram de forma notável para o esforço acadêmico e a
promoção da paz internacional, auxiliando assim o progresso e a harmonia para
a humanidade” (COMMEMORATIVE, 1971, tradução nossa). E, para as
instituições, poderia se oferecer subsídio somente para a realização de projetos
que pudessem contribuir para intercâmbio e amizade internacionais, cooperação
internacional nas áreas de ensino e aprendizagem, educação de jovens,
preservação de meio ambiente além das atividades de medicina, saúde, higiene
e assistência social – todas realizadas no âmbito internacional
(COMMEMORATIVE, 1971, p. 13).

Entre as instituições beneficiadas para a construção de consultórios, a


Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul recebeu a doação do fundo
do Japan World Exposition Commemorative Found (Fundo comemorativo da
Exposição Mundial do Japão) em 1978 no valor de Cr$120.000,00. Através
desse apoio, além de dormitório e local de reuniões, também foram construídos
os consultórios para que os atendimentos médicos e odontológicos fossem mais
eficientes.

Considerando que uma boa parte do fundo comemorativo advém do título


de governo nacional e provincial japoneses, dada a estratégia política do governo
japonês da época em tentar se firmar no cenário mundial, é interessante
observar o destino de sua distribuição. Logo depois da crise de petróleo mundial,
primeiro 1970 e depois em 1973-1974 e as crises econômicas mundiais que
sucederam, percebe-se que mais uma vez o Japão passa a se interessar pela
sua expansão, principalmente através de suas empresas e pelo fortalecimento
de comunidades japoneses.

Citando somente a presença de empresas japonesas no estado do Rio


Grande do Sul desse período, pode-se perceber que foi bastante significativa. O
151

artigo do jornal Opinião do Rio de Janeiro, publicado em 16 de setembro de 1974,


apresenta um artigo com título “Rio Grande do Sul: desnacionalização e
desgauchização”, chamando atenção sobre a venda e associação de empresas
gaúchas para empresas internacionais ou para nacionais de outros estados nos
dois anos anteriores (RIO…, 1974).

De acordo com a tabela apresentada no jornal, entre meados de 1972 a


1974, seis empresas foram vendidas. Uma empresa foi comprada pelos Estados
Unidos, outra pela Alemanha e as demais quatro empresas foram adquiridas por
empresas japonesas. Em relação à associação entre empresas, oito empresas
associaram-se a empresas estrangeiras, dos quais as duas empresas são
japonesas.

Tabela 3 – Lista de empresas gaúchas que passaram para grupo de


empresas estrangeiras entre 1973 a 1974.

Fonte: RIO…, 1974, p. 8.


152

Não era de se estranhar que a atenção do governo japonês estivesse


voltada para o Brasil, incluindo a região sul. Se de um lado as empresas
tornavam-se cada vez mais presentes no cenário do cotidiano brasileiro e
gaúcho, as comunidades japonesas, no caso dos habitantes do Rio Grande do
Sul e de Santa Catarina, passaram a adquirir benefícios assistenciais médicos
no hospital universitário através da associação corporativa de imigrantes em
Porto Alegre.

Em relação a atividades assistenciais acima mencionadas, a JICA


forneceu quase que a totalidade dos equipamentos, como materiais
permanentes. Embora nem todas as atividades iniciais tenham persistido até os
dias de hoje, algumas ações ainda permanecem, como o sistema de ambulatório
móvel que é disponibilizado a toda comunidade japonesa de Santa Catarina e
Rio Grande do Sul. Atualmente essa atividade está desativada, mantendo-se
assistência a saúde através do consultório móvel, isto é, equipe de médicos
voluntários atendem aproximadamente 4.000 imigrantes idosos. O atendimento
é realizado em quinze localidades onde há comunidades japonesas espalhadas
entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em consultórios montados
especialmente para esse fim. Uma parte do custeio é arcada pela JICA, além do
próprio ambulatório móvel doado pelo governo japonês.

De outro lado, a fim de ampliar a assistência médica aos associados, a


Enkyô propõe acordo com a Escola de Medicina da PUCRS94 para atender seus
associados em junho de 1976. Quatro meses depois, no dia 29 de outubro de
1976, com a presença do então Presidente da República Gen. Ernesto Geisel,
foi oficialmente inaugurado o Hospital Universitário da PUCRS.

Cabe lembrar que, no ano de 1973, foi criado o Instituto de Geriatria e


Gerontologia na PUCRS através do termo de cooperação técnica assinado entre

94 O curso de Medicina da PUCRS foi reconhecido pelo Governo Federal em 12 de fevereiro


1976, através do Decreto nº 77135/76, publicado no Diário Oficial da União (BRASIL, 1976).
153

JICA e PUCRS, baseado no protocolo de cooperação técnica firmado entre


Brasil e o Japão. Esse instituto passou a funcionar em 1975 dentro do curso de
Medicina daquela instituição de ensino. O documento de acordo entre a
Associação de Assistência à Colônia Japonesa do Sul do Brasil (Enkyô) e o
Hospital Universitário da PUCRS foi assinado em 18 de março de 1977,
comprometendo o hospital a oferecer assistência médica aos associados e seus
dependentes95.

Na década de 1980, foi adquirido por Enkyô um imóvel para construção


de uma escola japonesa destinada aos filhos dos imigrantes e para famílias de
funcionários das empresas japonesas perto da CEASA, na zona norte da cidade
de Porto Alegre. Quase metade do custo para compra e instalação da
infraestrutura foram pagas através da verba advinda da JICA 96 . A escola
denominada モデル校(Moderuko) é o Centro de Estudos da Língua Japonesa97
e passou a funcionar com o compromisso de estimular a aprendizagem da língua
e cultura japonesa aos filhos de japoneses.

A escola mudou-se em 1998 (ENKYONEWS, 1998) para uma localidade


de melhor acesso Porto Alegre, no bairro Santana, sendo que o terreno anterior
foi vendido para custear a aquisição da escola no novo endereço. Logo depois,
em 10 de dezembro de 1999, a escola recebeu auxílio financeiro do governo
japonês através do projeto “Melhoria da Infraestrutura Educacional e

95 O documento de acordo entre a Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul e o


Hospital Universitário da PUC foi assinado pelo Sr. Kimiaki Miyazaki e Irmão José Otão,
respectivamente, no dia 18 de março de 1977, sendo o período de validade por prazo
indeterminado. Na época, a Enkyô era chamada de “Associação de Assistência à Colonia
Japonesa do Sul do Brasil”.

96 Enkyonews, nº 187, de 6 de novembro de 1987b e Enkyonews, nº 188, de 9 de dezembro


de 1987a.

97 Atribui-se o nome “モデル校”para as escolas de língua japonesa que receberam o auxílio por
parte da JICA na década de 1990. No Brasil, há várias moderuko, as quais se dedicam ao ensino
da língua, principalmente para os descendentes de imigrantes japoneses.
154

Dinamização do Ensino da Língua Japonesa” no valor de US$10.310,00 para


dar continuidade e oferecer melhores condições em suas atividades
educacionais98 (EMBAIXADA DO JAPÃO NO BRASIL, 2000).

A escola de língua japonesa funcionou como uma das atividades do Enkyô


por mais seis anos no novo endereço, sendo uma das principais atividades,
paralelamente às assistenciais, culturais e sociais desde a década de 1980.
Entretanto, a fim de adequar-se à legislação brasileira, a comunidade decidiu por
criar uma nova associação em funcionaria somente a escola voltada a cultura
japonesa e migrar o gerenciamento da escola para esta associação.

Assim, fundou-se a Associação da Cultura Japonesa de Porto Alegre, no


dia 6 de janeiro de 2005. Esta nova associação tem como finalidade, além de
abrigar a escola de língua japonesa de Porto Alegre – Moderuko –, promover o
bem-estar da comunidade através de eventos, palestras e outras atividades
culturais relacionadas ao Japão.

Outra atividade relacionada à educação que Enkyô exerce é o empréstimo


de dinheiro aos filhos nikkeis a juros irrisórios. Esse financiamento foi criado para
que os jovens possam continuar seus estudos nas escolas superiores,
principalmente para pagar anuidades escolares ou despesas de custeio. Até os
dias de hoje esta forma de empréstimo continua existindo na forma de um fundo
chamado 育英奨学資金(Ikuei shogaku shikin). O dinheiro para o financiamento é
oriundo de depósito efetuado pelo governo japonês na época em que o Enkyô
iniciou suas atividades, a pedido da JICA, como forma de qualificar os
descendentes dos japoneses.

98 Dados obtidos do site da Embaixada do Japão no Brasil, publicado em 29 de fevereiro de


2000, onde consta a lista de instituições que receberam o apoio. De acordo com a tabela, outras
escolas de língua japonesa em diversos estados foram beneficiadas, como a Escola Modelo de
Língua Japonesa de Goiás, vinculada à Associação Nipo-Brasileira de Goiás, para aquisição de
equipamento usado no ensino da língua japonesa (EMBAIXADA DO JAPÃO NO BRASIL, 2000).
155

De acordo com carta de solicitação de devolução de empréstimo, datada


de 2001, emitida pela Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul,

Há mais de 20 anos o Governo do Japão, com a participação de


Associação de Assistência Nipo Brasileira do Sul, tem colaborado no
sentido de propiciar empréstimos para financiar a educação. Durante
este período muitos nipo-brasileiros foram beneficiados por este
crédito educativo […]. (ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO E
BRASILEIRA DO SUL, 2001).

A Enkyô realiza também o seminário de professores de língua japonesa


ao longo dos anos – desde a década de 1980 – através da associação informal
de professores que se dedicam ao ensino de língua japonesa. Esse seminário
ocorre pelo menos uma vez ao ano e iniciou com verba totalmente financiada
pela JICA. Atualmente, essas atividades são denominadas de atividade “委託事
業” (itaku-jigyô99) e recebem da JICA aproximadamente 40% do valor total de
despesas para sua execução. O restante é pago pela Enkyô como contrapartida.

Segundo justificativa por parte da JICA, esta entende que a Enkyô tem
alcançado consolidação suficiente para iniciar uma caminhada independente,
sem que seja necessário ser amparada por completo. A aquisição e melhoria de
três imóveis – dois na cidade de Porto Alegre e um no município de Gravataí,
com o apoio financeiro de JICA –, propiciou a consolidação e integração das
atividades culturais dos imigrantes japoneses.

Em relação à sede campestre de Gravataí, os japoneses adquiriram o


espaço para praticar atividades como o undôkai – uma espécie de gincana
esportiva que tem simbologia importante no fortalecimento da identidade étnica
japonesa. Pequenos grupos de imigrantes também ocupam o espaço ao longo

99 委託(itaku) – delegação de uma atividade a um representante que a executa. Entre as


atividades da Enkyô, existem aquelas que são atividades próprias, como atividades de
confraternização e de lazer. A maioria de atividades consideradas assistenciais são as atividades
de interesse do governo japonês nas quais a Enkyô atua como instituição executora, ou seja,
como uma instituição delegada.
156

do ano para fazer confraternizações, jogos e campeonatos esportivos. Ainda,


esse espaço é usado para a realização de campeonatos de outros esportes
como sumô, baseball e gateball, possibilitando a integração de nikkeis com os
brasileiros de diversas regiões, dentro e fora do estado do Rio Grande do Sul, já
que usa-se o local para integração com comunidades de outras regiões
brasileiras.

Na sede administrativa localizada próxima à CEASA/RS, em agosto


realiza-se um evento ecumênico na data próxima ao dia dos finados do Japão,
em homenagem aos imigrantes mortos e outros ancestrais. Os idosos usam o
auditório da sede para fazer as competições semanais de go, uma espécie de
jogo de damas, outros aproveitam a biblioteca para acessar os livros escritos em
japonês.

As associações não formalizadas como Fujin-kai e Kayo-Kai podem


desfrutar da estrutura, fazendo suas reuniões, oficinas e demais atividades
desde que o grupo seja formado em sua maioria de japoneses, sem ser
necessário pagar pelo uso do espaço. Ainda, o próprio prédio é usado como
sede de outras associações formais ligadas direta ou indiretamente ao Japão,
tais como a Associação de Amigos de Kanazawa e a Associação de Ex-bolsistas
do Japão, além de outros grupos e associações informais, também ligadas direta
ou indiretamente com o Japão. Outro prédio, mais próximo ao Centro Histórico,
como já foi mencionado, adquirido para fins de difusão da língua japonesa, é
cedido para a Associação da Cultura Japonesa (ACJ) para abrigar o Moderuko.

Tendo no seu estatuto uma cláusula estabelecendo que os presidentes


regionais de associação japonesa – o Nihonjin-kai – são sempre membros da
diretoria, o Enkyô exerce também o papel de interlocutor das instituições
japonesas para a comunidade nikkei 100 em geral. Assim, os presidentes

100 Denomina-se nikkei todas as pessoas que tem alguma ancestralidade japonesa,
independentemente da geração.
157

regionais, vinculados diretamente ao Enkyô, levam à comunidade as


informações tais como sobre a bolsa de estudos para nikkeis – benefício
específico do governo japonês aos descendentes.

Além disso, ao eleitorado de nacionalidade japonesa, a Enkyô recebe


informações sobre as eleições e partidos políticos do Japão, as quais são
compartilhadas com os associados e demais membros da comunidade japonesa
através de folhetos de divulgação enviados do Japão e pelo jornal mensal. Para
os que já deixaram a nacionalidade ou aos brasileiros natos, a Enkyô é um
espaço de rememoração da cultura dos pais, onde essa memória cultural é
realimentada não somente pelos descendentes, mas igualmente pela instituição
japonesa como a JICA, que se preocupa em estabelecer um elo direto como
japonês enquanto um grupo étnico.

A JICA (国際協力事業団 – Kokusai Kyoryoku Jigyôdan – Agência de


Cooperação Internacional), vinculada diretamente ao Ministério de Relações
Internacionais, criada em 1974 com o objetivo de apoiar os japoneses emigrados
e seus descendentes foi incluída na pauta do Plano de Restruturação e
Racionalização de Pessoas Jurídicas Públicas de dezembro de 2001 (JICA,
2019). Em 2003, a JICA foi totalmente reestruturada como uma autarquia, a 独
立行政法人国際協力機構 (Dokuritsu Gyôsei Houjin Kokusai Kyôryoku Kikô)
adquirindo maior autonomia nas suas ações101.

101 DOKURITSU GYOUSEI HOUJIN KOKUSAI KYOURYOKU KIKOU HOU, 2013.


158

Figura 4 – Fluxo de atividades para promoção de ATIVIDADES emigratórias para


o exterior; o histórico da estruturação da JICA.

Fonte: JICA, [200-?], tradução nossa.

A partir de 2003, a supervisão das ações comuns passaram a ser da


responsabilidade da própria autarquia, reservando-se o poder de autoridade ao
Ministro de Relações Exteriores do Japão para tomar as medidas cabíveis em
caso de necessidade urgente. O Projeto de Voluntariado da Cooperação
Internacional do Japão, o Projeto de Voluntários Seniores e o Projeto de
Cooperação Técnica de Base passaram a ser definidos coletivamente como
“Atividades de Cooperação dos Cidadãos”, a fim de enfatizar a participação da
comunidade japonesa nas ações internacionais (JAPÃO, 2014a; DOKURITSU
GYOUSEI HOUJIN KOKUSAI KYOURYOKU KIKOU HOU, 2013).

Neste contexto, a Enkyô permanece vinculada ao JICA, recebendo apoio


para dar continuidade às suas atividades, como auxílio financeiro para realização
de seminários, assistência aos idosos, realização de atividades culturais
pontuais, além da verba para melhoramento de infraestrutura.

O movimento emigratório japonês iniciou devido a vários fatores tais como


interesse privado das empresas de imigração e colonização que visavam o lucro;
como o governo japonês, que pretendia encontrar além de suas fronteiras o local
para acomodar a população que aumentava rapidamente. Assim, surgiram
várias empresas no Japão ao longo das décadas para recrutar, transportar e
159

assentar os japoneses nos países estrangeiros. Em alguns países como o Brasil,


para que pudesse criar colônia e assistir esses imigrantes japoneses, foi
necessário criar empresa local – como a Sociedade Colonizadora do Brazil Ltda.
– para cumprir exigência local.

Os familiares de emigrados, deixados no Japão, também formaram


associações por província para trocarem informações sobre os parentes no
exterior e se apoiarem mutuamente. Depois da Segunda Grande Guerra, criou-
se uma federação por interesse do próprio governo japonês, que passou a
recrutar os japoneses para emigrarem, o Kaikyoren. Ainda, criaram Ijuu Kaisha
para facilitar o envio de japoneses ao estrangeiro.

No Brasil, foram criadas empresas como a JAMIC – Imigração e


Colonização Ltda. e a JEMIS Assistência Financeira S.A. para adquirir áreas de
terras, financiar as despesas de viagem a emigrantes, além de fazer empréstimo
as empresas que desejavam fazer o investimento. Em 1963, o governo japonês
criou a Agência de Migração no Exterior, fundindo as empresas de emigração.
Dez anos mais tarde, em 1974, a Agência de Migração no Exterior e a Agência
de Cooperação Técnica no Exterior fundiram-se, formando a Agência de
Cooperação Internacional (JICA), vinculada ao Ministério de Relações Exteriores
(JAPÃO, 2002). Em 1976, a JICA iniciou seus trabalhos no Brasil em forma de
cooperação técnica através da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do
Ministério de Relações Exteriores do Brasil.

Por outro lado, a JICA passou a assistir a comunidades japonesas no


estrangeiro com doações de equipamentos, envio de voluntários japoneses,
assim como envio de especialistas. No Rio Grande do Sul, a Associação de
Assistência Nipo e Brasileira do Sul (Enkyô) tem herdado atividades
assistenciais realizadas pela JICA, como o ambulatório móvel pelas
comunidades japonesas e a realização de seminário de professores de língua
japonesa. Na estruturação da associação, a JICA forneceu perto da totalidade
dos equipamentos, como materiais permanentes e ajuda financeira para
aquisição do imóvel.
160

Por um lado, a Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul (Enkyô)


foi criada e mantida por interesse do governo japonês em assistir os japoneses
e seus descendentes, tanto no aspecto de saúde física como na preservação de
herança cultural. Por outro lado, pela participação ativa dos japoneses e seus
descendentes do Rio Grande do Sul e Santa Catarina como um espaço para
exercitar a identidade de origem, tornou-se uma instituição de referência para se
realimentarem seus valores étnicos como japoneses, mesmo que seja só de
origem.
161

6. OS EVENTOS ANUAIS E CELEBRAÇÕES NA CULTURA


JAPONESA

Tradicionalmente, no Japão há celebrações ligadas ao imperador,


algumas com participação popular, e outras que são eventos individuais da corte.
Essas celebrações, principalmente as anuais, estão ligadas intimamente com as
mudanças de estações de ano, sendo algumas delas estão fortemente ligadas à
figura imperial.

Desde que o Japão passou a adotar o calendário gregoriano e ocidental,


algumas celebrações como as de Ano Novo, O-bon e Kigensetsu continuaram a
ser realizadas como no passado. Em relação a celebrações tradicionais ligadas
ao imperador, depois da Segunda Guerra Mundial, por imposição das Forças
Aliadas, mudaram de nome para descaracterizá-las como evento comemorativo
imperial.

Outras, como as medalhas de honra imperial, mantiveram suas


características e nomenclaturas, suprimindo-se apenas sua concessão aos
militares. Assim, essas medalhas de honra foram concedidas mesmo aos
emigrantes japoneses que vieram ao Brasil, como concessão dessas medalhas
a pessoas destacadas que imigraram para o Rio Grande do Sul.

Outros eventos ligados ao imperador – como aniversário do imperador –


também são celebrados pelo corpo diplomático japonês em Porto Alegre, no Rio
Grande do Sul, desde seu estabelecimento em 1959 até os dias atuais. Nestes
eventos, convida-se todos os representantes da comunidade japonesa, além de
autoridades locais.

As festas e outras celebrações de cunho mais popular – como a do Ano


Novo, homenagem aos falecidos e outros eventos como engeikai e undôkai –
também são praticadas nas comunidades japonesas e organizadas pelas
associações de japoneses. Nesses eventos festivos, observa-se que são
repletos do saber-fazer japonês e são celebrados pelas pessoas que ali
comparecem.
162

6.1. EVENTOS ANUAIS TRADICIONAIS

A estagnação do sistema que Ieyasu Tokugawa implantou no início do


século XVI, isolando o Japão do resto do mundo, não condizia mais com a
realidade mundial no século XIX. Além disso, a ascensão econômica de
comerciantes e artesãos enfraqueceu a classe dos samurais, não produtivas, no
período de paz que durava por mais de 260 anos.

A solução encontrada foi restaurar o poder detido no xogum ao Imperador


e, ao mesmo tempo, dissolver as classes sociais antes separadas em castas.
Com isso, se abriria a possibilidade de todas as classes sociais inserirem-se no
mercado e exercerem as atividades econômicas para obtenção de lucro. A
negociação com os países estrangeiros para a abertura de portos ocorreu nessa
época, justamente quando o país necessitava passar por uma reestruturação
política, social e econômica.

Em 1867, o Xogum Yoshinobu Ieyasu entregou ao Imperador a carta em


que renunciava ao poder e declarava a devolução deste para a corte imperial,
prometendo seguir as palavras do Imperador, sendo condizente com o contexto
mundial, para proteger o país imperial (IWASHITA, 1997, p. 116-121). Além disso,
a chegada dos estrangeiros, principalmente os ocidentais, traziam ao Japão um
novo modelo organizacional da sociedade, das estruturas política, cultural e
econômica, frutos da Revolução Industrial.

No ano de 1868, o Imperador Meiji eleva-se ao trono, como chefe de


governo e de Estado. Esse entronamento e inovação do país ocorridos na
Restauração Meiji passam a ser conhecidos com o nome de 明治維新 (Meiji
Ishin) por inovar o sistema de xogunato anterior (TOKORO, 1990). A filosofia
subjacente da Restauração Meiji consistia em restaurar o Japão para uma
posição anterior ao Xogunato de Tokugawa e, ao mesmo tempo, inová-lo.

To have lived through the transition stage of modern Japan makes a


man feel preternaturally old; for here he is in modern times,...and yet
163

he can himself distinctly remember the Middle Ages (CHAMBERLAIN 102,


1891, p. i apud JANSEN, 1969, p. 7).

De acordo com Isao Tokoro (1990, p. 30), as palavras “restauração” e


“evolução” são a primeira vista contraditórias, mas, na verdade, a evolução só é
possível quando pode-se confirmar a origem, como pode ser verificada com a
Restauração Meiji. Pois, num processo de modernização e de ocidentalização
do país, os japoneses preservaram a cultura preexistente e, com isso, se realizou
a integração cultural. Assim, quando se refere à cultura japonesa presente nos
dias de hoje, é interessante identificá-la considerando aspectos da memória
inseridos nessa cultura, como as festas e celebrações.

Hay (1969) afirma que a tradição não é exatamente oposto da


modernidade e sim coisas diferentes.

First of all, "tradition" cannot be taken simply as the opposite of


"modernity", for the two terms denote different kinds of things. Every
society, whether "modern" or "non-modern", depends for its continuity
on the persistence and development of certain traditions (HAY, 1969,
p. 324).

De acordo com Paul Ricoeur, “o reconhecimento é dado com efeito como


a adaptação, a adequação, a adequação da imagem presente à coisa ausente
da outrora cuja memória acompanhou” (RICOEUR, 2002). E, podendo adequar-
se, a própria memória, tendo caráter seletivo em relação ao acontecimento do
passado, pode ser instrumentalizada. Seguindo este raciocínio, Silva (2002)
afirma que o Estado manipula a memória criando as datas comemorativas,
segundo seus interesses, apagando as lembranças indesejáveis e privilegiando
as outras, como “mitos fundadores” e “utopias nacionais”.

A esse propósito, as comemorações nacionais oferecem exemplos


pertinentes, uma vez que elas são objeto de interesses em jogo
(políticos, ideológicos, éticos, etc.). O uso perverso da seleção da

102 CHAMBERLAIN, Basil Hall. Things Japanese. London: [s.n.], 1891. p. i apud JANSEN,
1969.
164

memória coletiva encontra-se, portanto, nesse processo de


“rememoração” social, cuja função é justamente a de impedir o próprio
esquecimento (SILVA, 2002).

As festas e celebrações, conforme Tokoro (1990, p. 5), são divididas em


três tipos: 1. Dias de celebração vinculados ao Estado; 2. Dias de celebração
festivas do povo e; 3. Dias de celebração ligados a processos de vida. Os dias
de celebração vinculados ao Estado estão na sua maioria ligados aos eventos
da casa imperial. Assim, quando elaborou-se o calendário nacional de datas
festivas no Japão, em 1870, depois da Restauração Meiji, além dos dias festivos
tradicionais, foi acrescida a data de aniversário do Imperador Meiji, denominado
天 長 節 (Tenchô-setsu) 103 . Em 1872, o Japão passou a adotar o calendário
gregoriano e, como data comemorativa, acrescentou o dia de entronização de
Imperador Jinmu, o primeiro a assumir o trono – em 11 de fevereiro de 660 EC
–, como dia comemorativo, atribuindo o nome de 紀元節(Kigensetsu)104, isto é,
“início de todos os tempos da formação do Japão” (TOKORO, 1990, p. 220-227).

Após a Segunda Guerra Mundial, com a derrota incondicional e sob


pressão da Forças Aliadas105, a Dieta promulga a lei nº 178, em 20 de julho de
1948 (JAPÃO, 2012), estabelecendo novas datas festivas e comemorativas,
considerando a reformulação da política nacional como país mais democrático e
popular. Neste contexto, algumas datas que carregavam conotação política
reaparecem na nova lei com nomes modificados. Assim, o Kigensetsu, celebrado
em 11 de fevereiro – dia da entronização do Imperador Jinmu –, passou a ser

103 天 長 節 (tenchô-setsu) – “Festa em homenagem ao imperador para comemorar seu


aniversário. É um feriado nacional (harebi)” (FRÉDÉRIC, 2008, p. 1162).

104 紀元節 (Kigen-setsu) – Esta data foi atribuída ao nascimento do indivíduo que é considerado
o primeiro Imperador do Japão, Imperador Jinmu, que assumiu o trono em 11 de fevereiro de
660 EC (TOKORO, 1990, p. 220-227).

105 As Forças Aliadas permaneceram durante a reestruturação e recomposição do Japão até


28 de abril de 1952, quando foi assinado o Tratado de Paz entre Japão e as Forças Aliadas em
São Francisco, Estados Unidos.
165

considerado o Dia da Fundação do País. Também, estabeleceu-se o dia três de


novembro, data do aniversário do Imperador Meiji como Dia da Cultura 106
(TOKORO, 1990, p. 219-221).

Atualmente, comemora-se como festa nacional, além das datas acima


mencionadas, o Dia de Shôwa, no dia 29 de abril, data do aniversário do
Imperador Shôwa – também conhecido como Imperador Hirohito. A Era Shôwa
durou de 1926 até 1989, e essa data foi definida como feriado nacional para
lembrar as dificuldades do passado para construir o futuro da nação. Ainda, o
aniversário do Imperador da presente era também continua sendo celebrado107.

No Japão, o Imperador concede condecorações por mérito – como


medalhas e taças de honra – duas vezes ao ano às pessoas que se destacam
com suas atividades em prol do país ou da sociedade japonesa. Esses atos
imperiais são realizados no Dia de Shôwa, em 29 de abril, e no Dia da Cultura,
em 3 de novembro, sendo que os japoneses residentes no exterior, assim como
seus descendentes e os estrangeiros, também podem ser condecorados
(JAPÃO, 2019b).

No Rio Grande do Sul, de acordo com o jornal Enkyonews, de 1970 até


1980, foram condecorados seis japoneses e dois brasileiros (ENKYONEWS,
1970-1980). A primeira condecoração noticiada é de três de novembro de 1974,
quando foram condecorados três japoneses, Takayoshi Mori, de Vila Nova, em

106 O Código Especial da Casa Imperial, de 10 de abril de 1959, estabelece ainda, as seguintes
datas como feriado nacional: casamento do príncipe herdeiro, dia da entronização do imperador,
dia da proclamação de entronização e a cerimônia fúnebre do imperador (TOKORO, 1990;
JAPÃO, 2014).

107 Excepcionalmente, no ano de 2019, não há esta celebração porque houve renúncia do
Imperador Akihito em 30 de abril, tornando-se 上皇(Jôkô), assumindo no trono o Imperador
Naruhito, em 1º de maio. A razão da vacância da data comemorativa do aniversário do imperador
japonês nesse ano é que o Imperador Naruhito faz aniversário em 23 de fevereiro e o Jyôkô
Akihito faz seu aniversário no dia 23 de dezembro (JAPÃO, 2019b). No Japão, atribui-se o nome
Jyôkô para aquele que cedeu o trono imperial para o seu sucessor.
166

Porto Alegre, Mibe Kagami de Viamão e outro, Eito Asaeda, de Canoas 108
(ENKYONEWS, 1974b, p. 1).

Outra condecoração ocorreu quatro anos depois, em 29 de abril de 1978,


em especial por ser o ano de comemoração aos setenta anos de imigração
japonesa no Brasil. Neste ano, quatro japoneses e dois brasileiros que se
dedicaram a imigrantes japoneses foram condecorados109. Os brasileiros são o
Pe. Lino Stahl e o Sr. Deocleciano Nery Dornelles 110 , ambos por suas
incessantes atividades de assistência dedicadas aos imigrantes japoneses.
Entre os japoneses, os que receberam condecorações foram Iwao Watanabe,
Nagatoshi Yamaguchi, Eiichi Nakamura e Ishikura Ueki, que auxiliaram novos
imigrantes para se fixarem no estado.

De acordo com a informação do Gabinete de Governo do Japão, essas


condecorações são conferidas exclusivamente pelo imperador, de modo que as
pessoas que recebem a condecoração com as medalhas e taças assim como a
comunidade local envolvida no processo são lembrados como japoneses ou
fortemente ligadas a eles:

As medalhas de honra […], 旭日章 [Kyokujitsu shō – Ordem do Sol


Nascente] e 瑞宝章 [Zuihōsho – Ordem do Tesouro da Felicidade
Sagrada] são conferidas no palácio imperial pelo Imperador, sendo
entregues ao condecorado através do primeiro-ministro. Outras
condecorações, como medalhas, taças de prata e de madeira, são
entregues pelos ministros de cada um dos ministérios. Em todos os
casos, os condecorados são convidados em companhia dos

108 ENKYONEWS, 1974a, p. 1.

109 ENKYONEWS, 1978b, p. 4.

110 O jornal Correio do Povo, de 7 de abril de 1977 possui depoimento do Sr. Mitori Kimura,
mencionando a mobilização do Sr. Deocleciano Nery Dornelles, então vice-prefeito do município
de Santa Maria em 1958, para conseguir a autorização do governo federal para o
estabelecimento dos imigrantes japoneses necessitados vindos de Uruguaiana (CORREIO DO
POVO, 1977 apud SOARES; GAUDIOSO, 2008, p. 111-113).
167

respectivos cônjuges para ter audiência com o Imperador 111. (JAPÃO,


2019c, tradução nossa).

Em relação ao aniversário do Imperador, esta data é comemorada nos


locais onde há estabelecimento de corpo diplomático, como consulados e
embaixadas, convidando as autoridades locais e os representantes das
comunidades japonesas. No Rio Grande do Sul, essa celebração era realizada
pelo Consulado Geral do Japão em Porto Alegre até 2005, quando foi
desativado112. No ano seguinte em diante, a partir de 2006, esta celebração
passou a ser realizada pelo Escritório Consular do Japão em Porto Alegre,
continuando a ocorrer todos os anos.

A festa comemorativa do aniversário do Imperador é uma ocasião


considerada importante, onde os principais membros atuantes nas comunidades
japonesas se reúnem com autoridades locais de origem não-japonesa. Na festa,
sempre há bandeiras japonesas e brasileiras hasteadas, além das fotografias do
casal imperial no local mais ao fundo do salão, considerado a posição mais nobre
na distribuição de elementos no recinto, conforme a cultura japonesa 113.

111 Por decisão do Gabinete de Governo do Japão, a concessão de medalhas de honra pelo
Imperador estava interrompida desde 1946, na época da ocupação de Forças Aliadas, mas, em
1963, o mesmo gabinete reiniciou a concessão, duas vezes ao ano – uma vez na primavera, no
dia 29 de abril, e outra no outono, no dia três de novembro (TOKORO, 1990, p. 219-221).

112 De acordo com jornal Nikkey Shimbun, o Consulado Geral do Japão foi desativado em 28
de dezembro de 2005, de modo que o Rio Grande do Sul e Santa Catarina passaram à jurisdição
do Consulado Geral do Japão em Curitiba. Depois de um abaixo-assinado para que o consulado
não fechasse, foi instalado o Escritório Consular do Japão em Porto Alegre para atender os
serviços como assistência aos japoneses residentes no Brasil, emissão de passaporte e vistos,
cadastro de família, registro de nacionalidade e outros serviços administrativos (NIKKEY
SHIMBUN, 2006).

113 No Japão, as visitas e as pessoas com maior grau de autoridade sempre são posicionados
mais ao fundo da sala, de modo que, quando há alguma festa, os convidados mais importantes
sentam-se sempre ao fundo. Nas festas internas do local de trabalho, os diretores também
posicionam-se ao fundo do recinto, reservando-se o assento próximo da porta aos funcionários
168

A abertura do evento inicia-se com os hinos nacionais brasileiro e japonês


e, em seguida, há discurso do representante diplomático mencionando a
contribuição da comunidade de imigrantes e seus descendentes na sociedade
brasileira. O conteúdo dos discursos, além de agradecimento aos convidados,
ressalta a importância dos descendentes para contribuir na formação e
desenvolvimento da nação brasileira com valores japoneses, como a cultura da
paz e harmonia. Nesse ambiente, os imigrantes e descendentes japoneses
convidados – na maioria representantes das comunidades japonesas do interior
– são lembrados de sua origem nipônica, direta e indiretamente, e que, como
“japoneses”, têm a missão de contribuir para formação do país receptor.

Além das datas comemorativas ligadas a casa imperial, há dias de


celebração festivas do povo que são feriados nacionais. Esses dias
considerados feriados são aqueles que estão ligados à natureza – como as
estações do ano, o nascimento e a morte. Entre esses eventos festivos, estão
as festas do Ano Novo, considerado um dia especial para receber o deus do ano.

De acordo com o jornal chamado 援 護 会 ュ ー ス (Enkyonews) 114 , da


Associação de Assistência à Colônia Japonesa do Sul do Brasil, antecessora da
Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul, nas décadas de 1970 e 1980,
a comunidade japonesa do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina eram
convidados pelo Consulado Geral do Japão em Porto Alegre para comemorar o
Ano Novo115.

de menor grau (FUJIMA, 1977, p. 230). Na festa do aniversário do Imperador, salvo a imagem
do casal imperial que é colocada no fundo do salão, essa categorização não é percebida.

114 O nome do jornal informativo 援護会ュース(Enkyonews) permaneceu com o mesmo nome


mesmo depois da mudança do nome da associação.

115 No jornal Enkyonews de 25 de janeiro de 1971, há notícia mencionando que duzentas


pessoas compareceram na festa do Ano Novo realizada no Consulado Geral do Japão em Porto
Alegre (ENKYONEWS, 1971b).
169

Atualmente, a comemoração do Ano Novo entre os imigrantes é realizada


no nível de comunidade local ou mesmo dentro da família. No levantamento de
eventos comemorativos para 2019 do Ministério de Relações Exteriores do
Japão nas comunidades de japoneses na América Latina, entre corpos
consulares e embaixadas japonesas, apenas os adidos diplomáticos do México,
Equador, Uruguai e Argentina realizam festa de Ano Novo, o 新年会(shinnenkai),
junto à comunidade japonesa.

Em relação ao Rio Grande do Sul, em dados levantados pelo Ministério


de Relações Exteriores do Japão, consta a previsão da realização da Festa de
Ano Novo, no nível comunitário, para 2019, na associação japonesa de Pelotas
(JAPÃO, 2018). Em outra comunidade do mesmo estado, apesar de não
aparecer a palavra 新年会(shinnenkai), há previsão da realização de 運動会
(undôkai) – gincana esportiva da associação japonesa de Gravataí dedicada à
família de associados116.

Em relação à mudança de estações do ano, no Japão, como já


mencionado, no equinócio de primavera se celebra a chegada de nova vida,
enquanto que, no equinócio de outono, equiparado ao Dia dos Finados brasileiro,
celebra-se o お 盆 (O-Bon) para receber em casa a alma dos familiares
falecidos117 (JAPÃO, 1948). Além desses dias, ainda há o Dia de Agradecimento por
Dedicação ao Trabalho, em novembro 118 (TOKORO, 1990, p. 51-55; 62-67).

116 De acordo com Sra. M. B. M., moradora do município de Gravataí, a Nihonjinkai sempre
organiza a festa do Ano Novo através da realização de gincana esportiva, organizando várias
atividades de confraternização na comunidade.

117 O O-bon ou Bon é um evento festivo similar ao Dia de los Muertos que se celebra no México,
recebendo na casa a alma do familiar falecido. Esta festa ocorre atualmente nos dias 14, 15 e
16 de agosto, durando três dias. Há algumas regiões nas quais a celebração é realizada em 15
de julho, acompanhando o calendário lunar e o equinócio de outono (TOKORO, 1990).

118 O feriado do dia 23 de novembro, chamado 勤労感謝の日(kinrou kansha no hi), é o último


feriado do ano. A data é para lembrar a importância da dedicação ao trabalho, com
agradecimento à produção e às pessoas. A data corresponde à celebração da colheita, chamada
新嘗祭(niiname-sai), que era realizada na corte imperial desde século VII (TOKORO, 1990, p.
170

Essas celebrações possuem origem nos eventos ligados a corte imperial antes
da Segunda Guerra Mundial, de modo que, finda a guerra, apareceram o com
outros nomes e outras definições, de forma mais popular.

Uma delas é a celebração japonesa do equinócio de outono, data que foi


definida como dia de respeitar os antepassados e consolar a alma dos falecidos.
Esta prática espiritual, mesclada ao お盆 (O-bon), foi trazida pelos imigrantes
japoneses para a colônia japonesa do Rio Grande do Sul. Enquanto prática
religiosa, o culto aos falecidos além do âmbito familiar, a Associação de
Assistência Nipo e Brasileira do Sul tem realizado anualmente um evento
denominado 先没者慰霊祭 (senbotsusha ireisai) no sábado da primeira semana
de agosto119. Tradicionalmente, desde que esse evento ecumênico comunitário
passou a ser realizado, um representante do adido diplomático do Japão tem
comparecido e participado na celebração120.

Ainda há outros eventos ligados à passagem da vida – como dia da


criança, dia da maioridade, dia dos idosos e dia do esporte – que foram
estabelecidos no calendário oficial japonês. Entre essas atividades culturais
ligadas aos eventos festivos e celebrações, muitas são praticados ainda nos dias
de hoje pelos imigrantes japoneses, em nível familiar ou envolvendo a
comunidade. Embora haja outras festas e celebrações, como dia das meninas121

33). Sendo feriado japonês, as representações japonesas no Brasil, como o Escritório Consular
do Japão em Porto Alegre, não abrem nessas datas.

119 Em 2012, a comunidade japonesa da Grande Porto Alegre passou a realizar o Festival do
Japão no sábado e no domingo mais próximos ao dia 18 de agosto, a data em que os primeiros
imigrantes japoneses chegaram ao Rio Grande do Sul. Com isso, a data da celebração
ecumênica anual em homenagem ao espírito dos antepassados foi transferida para o início do
mês.

120 O evento pode ser traduzido como “celebração” pois tem no discurso o enaltecimento dos
falecidos como aqueles que se sacrificaram para que os familiares, outros japoneses e a própria
comunidade pudessem ter uma vida melhor no presente.

121 No dia das meninas, em três de março, monta-se em sala um altar com bonecas de casal
imperial e serviçais, desejando para a menina que tenha um bom casamento. No Japão, os
171

e dia da criança122 assim como dia de contemplação da lua, essas são praticadas
em nível de família e não envolvem a comunidade.

6.2. FESTAS E CELEBRAÇÕES COLETIVAS

As festas e as celebrações coletivas são observadas nas comunidades


com maior concentração de famílias, tal qual a colônia japonesa de Ivoti. Nesta
comunidade, por exemplo, realiza-se a festa de maioridade coletiva no início de
cada ano123, presenteando os jovens adultos com lembranças e felicitações para
uma nova vida.

Por outro lado, há outras comemorações e festas que também são


realizadas nas comunidades japonesas somente de forma coletiva, como 演芸
会 (engeikai – concurso de exibições artísticas), 敬 老 会 (keirôkai – festa de
homenagem aos idosos acima de 70 anos), 忘年会(Bônenkai – festa de fim do
ano), além de 運動会(undôkai – gincana esportiva japonesa). O 先没者慰霊祭
(Senbotsusha Ireisai), que é culto ecumênico coletivo, por não caracterizar a

meninos não participam da festa, celebrada sempre na residência da menina. Geralmente, o


conjunto de bonecas e acessórios são presenteados pelas avós (NIHON NINGHO-KYOUKAI,
[20--]). Na residência da autora, comemora-se esse dia, com o altar montado, desde que chegou
ao Brasil, ininterruptamente, até os dias de hoje. Nos arquivos do Enkyô, foi encontrada uma
fotografia do altar do dia das meninas doada pela família Michita, da colônia japonesa de Itapuã.
No Memorial da Colônia Japonesa de Ivoti, há um altar completo do dia das meninas. De acordo
com o texto informativo encontrado junto as bonecas expostas, o conjunto completo foi doado
pela 日本人形協会 (Nihon Ningyou Kyoukai – Associação de Bonecas Japonesas do Japão),
porém, sendo exposição de longa duração, perdeu-se a conotação de sazonalidade.

122 O dia da criança no Japão é comemorado no dia cinco de maio, e, nesse dia, nas casas que
de famílias que têm meninos, hasteia-se grandes carpas feitas de tecido, de cores pretas, azuis,
além de vermelhas. A carpa simboliza a vigor e força, de modo que, nos eventos organizados
pela comunidade japonesa, as carpas são hasteadas em local privilegiado do espaço, junto com
a bandeira do Japão, como ocorre nas gincanas esportivas organizadas pela Enkyô.

123 Informação obtida da Sra. Iaioi Tao, quando seu filho foi homenageado pela comunidade
de Ivoti na 成人式 (seijinshiki – cerimônia de maioridade) ao atingir a maioridade.
172

festa em si, será tratado de forma mais detalhada no capítulo referente à prática
religiosa dos imigrantes.

As festas e celebrações nas comunidades japonesas, como em outras


sociedades, são os momentos que proporcionam aos presentes um conjunto de
experiências e vivências públicas. Contrastando com os saberes praticados no
dia a dia, esses dias têm significado religioso, político ou meramente comercial
(FRÉDÉRIC, 2008, p. 383; p. 768). De acordo com Frédéric (2008, p. 768), as
festas “podem ser locais ou nacionais, divididas em duas ‘dimensões’ da vida: O
dia de 晴 (hare) e outro, o dia de 褻 (ke)”. Aquele é tudo o que é fora do comum,
portanto, a festa. Os dias que são ke, são aqueles os quais as festividades
acontecem a nível familiar.

Outra definição é aquela apresentada pelo Tokoro (1990, p. 2),


diferenciando esses dois dias, afirmando que as atividades do dia a dia são
consideradas dias do 褻 (ke), enquanto que o dia de 晴(hare)124 é aquele que
tem o sentido de “retiro”, em que as pessoas se abstém dos afazeres diários.

Para os japoneses, antigamente, o feriado não era dia de descanso.


Era um dia que a comunidade inteira se retirava em frente ao deus local
contrastando-se com os dias do ke que se dedicavam ao trabalho. Era
um dia especial límpido, portanto, de hare para adorar a deuses e se
energizarem. Nesse sentido, corresponde exatamente aos dias de
festas de atualidade. (TOKORO, 1990, p. 2, tradução nossa).

Em relação às festas realizadas em nível coletivo, será considerada a


definição de Tokoro como espaço coletivo e público para se encontrarem como
japoneses e festejar, se identificando como membro da comunidade. Isto é, de
acordo com esse conceito, a festa dos imigrantes corresponderia ao dia de hare,
ocasião especial para recuperar as energias despendidas nos afazeres diários.

124 A palavra 晴(ハレ – hare) tem o sentido de límpido, formal, tempo bom, propício, sem
nebulosidade, no sentido figurativo além da própria condição do tempo climático.
173

Mesmo que não seja tão impactante como a guerra, para os japoneses
que possuem forte ligação com os locais onde os ancestrais viveram, emigrar
para um país estrangeiro já é bastante traumático. Acrescido a isso, ocorria o
choque de cultura meio à cultura exógena, tencionando a vida do dia a dia
desses imigrantes125 o que tornava o momento coletivo necessário. Assim como
afirma Koselleck, as pessoas necessitam de um ao outro que possam se
identificar, compartilhando suas experiências e modo de viver.

O conjunto de experiências acumuladas e a capacidade de processar


as surpresas constituem um patrimônio finito que se estende entre o
nascimento e a morte de um ser humano, não podendo ultrapassar
esses limites nem sobrecarregar-se. Um único ser humano não
consegue processar tudo. Reside aí a determinação individual de cada
geração, que pode ser facilmente estendida a todos os que vivem em
um mesmo tempo e cujas condições sociais ou experiências políticas
se assemelham. (KOSELLECK, 2014, p. 24).

Ainda mais, para os japoneses que imigraram para o Brasil, diante do


ambiente do cotidiano a que estavam expostos, passou-se a organizar festas e
eventos coletivos para aliviar a tensão do cotidiano – todos ligados a datas e
eventos festivos do Japão. As grandes festas coletivas que se observam nas
comunidades japonesas se dividem em duas categorias: as que não demandam
o esforço físico aos participantes, como 演芸会 (engeikai), apresentação ou
concurso de exibições artísticas, 敬 老 会 (keirôkai), uma confraternização de
família em homenagem aos idosos, 忘年会(Bônenkai)126, festa do fim do ano e
outra, a qual o evento consistem em realizar atividades físicas, desde crianças

125 O valor cultural e os hábitos do cotidiano são apropriados na infância e é difícil de criar
naturalmente uma aceitação à cultura distinta, principalmente se tratando de imigrante oriental,
sobretudo o japonês, como ocorreu no caso da autora que, em 1962, imigrou para o Brasil
quando ainda era criança.

126 O 忘年会(Bônenkai) não é apenas festa do fim do ano. O evento com essa denominação
surgiu no Período Meiji com a modernização do país, como festa para esquecer as dificuldades
do ano que está por terminar. Entretanto, alguns autores atribuem origem do evento à China,
como parte do pensamento do Chuang Tzu, atribuindo o esquecimento do ano como uma
desconsideração à idade dos indivíduos, velhos ou jovens (TOKYO TORITSU CHUO
TOSHOKAN, 2007).
174

até os idosos, a 運動会(undôkai), uma espécie de gincana esportiva (KURECHI,


2017).

Essas atividades têm como objetivo a confraternização dos membros da


comunidade japonesa e o agradecimento mútuo127. As datas da realização das
festas diferem conforme a localização das respectivas associações de japoneses,
sendo que nenhuma delas coincide com os dias de festa programada pela Enkyô.

A engeikai é uma apresentação artística popular, que conta com


atividades como dança, canto, teatro, piada ou mágica na frente do público128.

Logo depois da Segunda Guerra Mundial, por falta de diversões e por


sensação de libertação por término do conflito, engeikai foi
amplamente organizada pelos grupos de jovens, tanto de cidades e
pequenas comunidades do interior, criando verdadeiro boom no país.
(SATO, [20--], tradução nossa).

De acordo com Toshio Ogawa (1961 apud ANDO, 2001), os grupos de


jovens que surgiram nas comunidades dentro do Japão depois da Segunda
Guerra Mundial e que organizavam a apresentação de Engeikai tinham a mesma
característica e objetivos em comum. Isto é, a formação do grupo de jovens tinha
como objetivo formar pessoas conforme o interesse público, tanto em nível de
governança local até o nível nacional.

Entretanto, há outros autores que posicionam diferentemente, como Koki


Ando (2001), afirmando que o grupo de jovens formados depois da Segunda
Guerra Mundial apenas tinham intenção de se divertir. O engeikai era uma das
diversões desses grupos de jovens e, sendo necessário treinar para a
apresentação artística, o próprio treinamento servia como local de diversão,

127 Esses encontros festivos geralmente são acompanhados da palavra “家族慰安” (kazokuian),
que pode ser traduzida como “consolo à família” ou “conforto à família”, em que todos os
membros da família participam.

128 A engeikai surgiu no Japão na Era Tenmei (1781-1789) do Período Edo como uma
apropriação pelo povo da apresentação artística improvisada na exibição do teatro kabuki.
175

principalmente na época que nem o rádio nem a televisão estavam difundidos.


Além disso, as apresentações artísticas que eram realizadas no salão da
comunidade atraíam o público, que dava-lhes o dinheiro129 como retribuição para
a diversão proporcionada por esses jovens (ANDO, 2001, p. 26).

Essa cultura de organizar atividades artísticas foi trazida para o Brasil


pelos imigrantes e, principalmente na época em que havia poucas opções de
diversão, era uma oportunidade para as pessoas se desenfadarem dos
acontecimentos do cotidiano. Considerando a imigração japonesa ao Rio Grande
do Sul, que ocorreu posteriormente à Segunda Guerra Mundial, o engeikai
possui o caráter de entretenimento, seguindo a definição atribuída por Ando
(2001).

No Japão, há tradição de as pessoas retornarem à terra natal nessa data


para cultuar seus ancestrais e festejar o reencontro com os familiares e, ao
mesmo tempo, descansar, longe do trabalho. No caso dos imigrantes do Rio
Grande do Sul, por estarem fora do país, não teriam para onde retornar para
gozar desse período festivo nem o túmulo dos ancestrais para o culto.

Com isso, nas comunidades de imigrantes japoneses, faltava espaço de


diversão e lazer. A troca de práticas culturais entre membros da comunidade
com apresentações artísticas como exibição de músicas e canções folclóricas,
danças regionais e teatros como engeikai criaria um espaço para os imigrantes
confraternizarem como espectadores e, ao mesmo tempo, apresentadores,
criando um espaço para e com os seus semelhantes.

A 敬老会 (keirôkai – homenagem aos idosos) no Japão começou em 15


de setembro de 1947 com a iniciativa de Masao Kadowaki, líder da pequena vila
chamada Nomadani, atual bairro Yachiyo da cidade de Taka, localizada na

129 No texto original, no lugar da palavra “dinheiro”, consta que os jovens arrecadaram “hana”
ou seja, “flores”, num montante de seiscentos ienes, pela apresentação do engeikai no dia 12 de
setembro de 1955 (ANDO, 2001, p. 26-27).
176

província de Hyogo. Em 1966, o dia de homenagem aos idosos foi incluído no


calendário nacional (TAKACHO YAKUBA, 2016, p. 3). A imprensa local da
cidade de Taka, anos mais tarde, registrou o comentário do Sr. Kadowaki a
respeito quando o entrevistou:

Naquela época, as feridas da derrota da guerra ainda estavam abertas.


O Japão inteiro estava num caos como se estivesse cutucado colmeia
cheio de abelhas. A cultura, segurança e a economia estavam
totalmente esgotadas e a desordem tomou a conta de todos, colocando
todos a uma escuridão. Além disso, com a reforma do código civil, o
sistema de família sofreu grandes mudanças e parecia haver uma
tendência a negligenciar o velho em vários aspectos. Diante desta
situação, eu que fui eleita como líder da vila, acreditava que era uma
necessidade urgente de restaurar a paz nesta terra, não importa o que
acontecesse. E, para isso, precisava convergir o pensamento das
pessoas, de modo que, como primeira medida, planejei a realização
keirôkai. (TAKACHO YAKUBA, 2016, p. 3, tradução nossa).

Inicialmente, em nível estadual, no Rio Grande do Sul, o 演芸会(Engeikai)


e o 敬 老 会 (Keirôkai) eram organizados pela Federação de Associações
Regionais de Japoneses, ou seja, Federação de Nihonjinkai, como evento de
confraternização entre as famílias e os idosos130. A homenagem aos idosos é
feita através da entrega de um mimo para cada idoso e um お弁当(obentô –
marmita japonesa) de almoço aos que comparecem ao evento.

Posteriormente, criou-se a Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira


em janeiro de 1973, com os membros daquela federação herdando a
organização e realização de atividades culturais e esportivas da colônia
japonesa no Rio Grande do Sul 131 . Assim, a organização e a realização de

130 No Enkyonews de 25 de agosto de 1971, p. 2, consta a reportagem sobre engeikai e keirôkai


organizadas e realizadas em 25 de julho pela Federação de Associações Regionais de
Japoneses (ENKYONEWS, 1971a, p. 2). Não foi encontrado o registro da data do início dessa
atividade.

131 ENKYONEWS, 1973.


177

engeikai, keirôkai e de undôkai ficou ao cargo dessa associação junto com outras
atividades recreativas.

O registro sobre 演芸会 (engeikai) em Porto Alegre encontrado na ata da


terceira assembleia geral ordinária da Associação Cultural e Esportiva Nipo-
Brasileira, de 12 de janeiro de 1975, deixa clara que a mesma foi responsável
pela organização e a realização pelo menos até 1980, quando se registrou a
última assembleia ordinária daquela associação. O evento foi planejado sempre
para meados de julho, durante férias escolares e em data próxima ao O-bon – a
festa das almas –, que corresponde ao dia dos finados brasileiro132.

Essa festa artística desde década de 1970 ocorria em meados de julho,


de modo que seria quando as famílias retornariam à terra onde está o túmulo
dos antepassados. Além disso, sendo época de férias escolares, facilitaria para
que todos os membros da família se juntarem num evento coletivo, mesmo que
tivessem de vir de lugares mais distantes a Porto Alegre, onde o evento é
realizado.

Tradicionalmente, nas programações do engeikai realizadas em Porto


Alegre constam apresentações de danças típicas japonesas, músicas e canções
japonesas ou não, teatro, かくし芸 (kakushigei – habilidade artística secreta e
amadora) entre outras. As apresentações são divididas em duas categorias
conforme a idade: categoria infanto-juvenil e categoria adulta, sendo que em
ambas as categorias as apresentações são variadas133.

Atualmente, em nível estadual, Enkyô é a executora da engeikai e do


keirôkai, homenageando os idosos com presentes e a entrega de obentô para

132 A Urabon-e, popularmente chamada de Bon ou O-bon, é a festa das almas japonesa de
origem budista que acontece todos anos, de 13 a 15 de julho (FRÉDÉRIC, 2008, p. 1230).

133 Desde a infância, a autora tem participado em engeikai, tanto como parte da plateia como
participante ativa.
178

ser servido como almoço. A data também mudou nas últimas décadas, de forma
mais flexível, desde o mês de junho até setembro.

No entanto, embora algumas características tenham se modificado, outras


permaneceram, mantendo algumas peculiaridades da cultura japonesa,
sobretudo na forma de organização do evento. A maior diferença é a montagem
da estrutura do salão, com instalação de balcão para receber doações em
dinheiro dentro de envelope branco, com valor e com sobrenome identificado e
destinado ao organizador, isso é, a Enkyô. A doação é feita geralmente de forma
individual, em nome da família, independentemente de ser associado ou não
daquela instituição. Um dos encarregados da coleta da doação anota o nome do
doador e o valor em caderno, e o outro pendura um papel com o nome do doador
escrito com pincel de caligrafia japonesa em uma corda, em forma de varal para
que todos possam vê-lo.

Geralmente, os valores não são colocados diretamente neste “varal” mas


são publicados no jornal na edição posterior ao evento, junto com agradecimento.
Não há uniformidade no valor de doação, mas geralmente são os mais velhos
da família é que fazem a doação. As mulheres também fazem a doação quando
são representantes da família 134 A arrecadação é usada para despesas do
evento e para a manutenção da associação, de modo que é uma das receitas
importantes para sua continuidade. Esse gesto individual de doação em dinheiro
para a manutenção das atividades coletivas repete-se em outros eventos além
de engeikai e keirôkai, como em outros eventos como a do evento ecumênico
coletivo que se realiza em homenagem aos falecidos135.

134 Neste caso, as pessoas não são necessariamente arrimo da família. Normalmente, é aquele
membro da família mais idoso. Também não é proibido alguém mais jovem fazer a doação.

135 Tradicionalmente, quando há algum evento na comunidade, os japoneses entregam um


valor socialmente preestabelecido em dinheiro, dentro de envelope identificado com o
sobrenome da família. O envelope é recolhido na recepção pelo encarregado de recolher a
doação e posteriormente contabilizado como rendimento para custear os gastos.
179

Em relação a saberes individuais, a engeikai também atua como espaço


de compartilhamento de memória desses saberes, principalmente com a
culinária. Pois, sendo evento que envolve dois turnos, a maioria das mulheres
trazem o お弁当(Obentô), isto é, as marmitas japonesas para comer no horário
do almoço136. O seu conteúdo varia de família para família, entretanto, em sua
maioria, são comidas preparadas à moda japonesa, como cozidos de algas
kombu, norimaki e nishime, além de sekihan, cozido de arroz moti com o feijão
azuki. Esse último prato é considerado especial por simbolizar felicidade por
afugentar os males e é servido em datas especiais festivas. Quando há algum
evento na comunidade japonesa, este prato sempre está presente.

6.3. O PAPEL DA GINCANA ESPORTIVA UNDÔKAI NA CONSTITUIÇÃO DA


CIDADANIA

O 運動会(undôkai) é um evento festivo de cunho esportivo realizado em todo


o Japão, desde as escolas de ensino fundamental até nas empresas. O primeiro
evento com a característica do undôkai ocorreu como uma competição recreativa
entre os alunos da academia da marinha japonesa para formação de oficiais, em
março de 1874. Posteriormente, o evento se propagou para universidades,
escolas de educação física, escolas normais até as escolas de nível fundamental
(KURECHI, 2017, p. 122).

136 Desde épocas imemoriais, os japoneses carregam suas refeições em forma de marmitas
para onde se locomovem. No Japão, há várias categorias de marmitas, isto é, obentô. Existe
obentô feito em casa para levar como refeição na escola ou no serviço. No Japão há várias lojas
de obentô onde as pessoas compram-no para comer em outro lugar. Outros, mais sofisticados,
são vendidos nas estações de trem, com comidas típicas da região (PLENUS KOME ACADEMY,
[20--]). Ainda, há obentô vendido em teatros e locais de espetáculos, chegando a atingir um valor
superior a duzentos reais, como o vendido na internet através do site https://www.kurumesi-
bentou.com/ranking/makunouchi/3501-/luxury/. Em relação à temperatura das comidas,
tradicionalmente, desde que sejam preparadas como marmitas, não é relevante.
180

Em 1886, com a promulgação da Lei de Diretriz para a Escola de Ensino


Fundamental e Básico, a educação física passou a ser uma das atividades
prioritárias para o ensino das crianças. O undôkai passou a ser realizado nas
escolas, envolvendo a comunidade local. Entre as atividades esportivas, o
“cabo de guerra” era realizado como competição entre grupos, a corrida era
a competição entre indivíduos, as competições como corrida de obstáculos era
corrida em pares e o futebol americano eram competição de cunho militar
(HIRATA, 1986 apud KURECHI, 2017, p. 122).

Assim como na Era Meiji, no início da Era Taishô 137 (1912-1926), as


competições programadas envolviam atividades em equipe, individual e de
cunho educativo militar.

[…] cabo de guerra foi considerado como competição em grupo e a


corrida como competição individual, representativos nos eventos
realizados nas escolas fundamentais […] Também realizavam
impreterivelmente as competições de cunho educativo militar como
corrida em par, a três pés, corrida de obstáculos e futebol. (HIRATA;
IMABAYASHI, 1986 apud KURECHI, 2017, p. 122, tradução nossa).

Por outro lado, Konno salienta a peculiaridade do undôkai do Período Meiji


afirmando que o evento tinha característica de festa, envolvendo toda a
comunidade local como evento recreativo sendo que. Ao mesmo tempo, era
considerado um evento que cultivava a mente e o corpo patriótico, além de o
ingresso na escola e os estudos (KONNO, 1989 apud KURECHI, 2017, p. 122).

A partir da Era Taishô, até 1930, o Japão passa por um período de


democratização, conhecido como 大正デモクラシー(Taishô Demokurashii –
Democracia Taishô), um movimento de democratização no Japão, isto é, a
classe popular passou a manifestar suas opiniões democraticamente, de forma

137 A identidade japonesa com a era do imperador é bastante forte entre os imigrantes
japoneses. Em Porto Alegre, havia Taishôkai, isto é, associação dos imigrantes japoneses que
nasceram entre 1912 até 1926, na Era Taishô para fazer a confraternização.
181

livre, tanto na política quanto no âmbito social e na cultura 138 (MARUZEN


ENCYCLOPEDIA DAIHYAKKA COMITEE, 1995, p. 2273). As atividades de
undôkai também passaram a refletir a tendência da época, acrescentando
atividades como dança e música junto com as já praticadas na Era Meiji
(KURECHI, 2017, p. 122).

O grande terremoto que assolou a região de Kantô – incluindo a Grande


Tóquio – em 1923 e a crise econômica do país resultante da crise mundial de
1929 tornaram a população insegura diante do governo de situação. Isso
repercutiu na classe militar e causou incidentes como o Incidente da Manchúria,
em 18 de setembro de 1931, pelos membros do exército japonês que estavam
na Manchúria, e, no ano seguinte, o assassinato de Tsuyoshi Inukai por jovens
oficiais da Marinha, em 15 de maio de 1932139 (KOKURITSU KOUBUN SHOKAN, [19--?]).

Diante da situação em que o Japão se encontrava, o undôkai, originário


da academia da marinha, também passou a ter cunho mais educativo
nacionalista do que democrático. Kurechi (2017) chama atenção que, a partir de
1935, o undôkai passou a ser não como espaço de festas, mas instrumentalizado
pelo governo como espaço para educação da população, sobretudo para
“cultivar o sentimento de solidariedade entre moradores e elevar o espírito de
combate dos jovens” (KURECHI, 2017, p.124).

Depois da Segunda Guerra, em 29 de março de 1947, é promulgada a Lei


n. 26, estabelecendo a Diretriz da Educação Formal no Japão140. O undôkai sofre

138 A democratização da população na Era Taishô foi o resultado do surgimento e aumento da


classe média e de trabalhadores que surgiu pela modernização do Japão na Era Meiji. É nessa
era que surgem os movimentos feministas, literatura de cunho introspectivo e o sistema de voto
popular (MARUZEN ENCYCLOPEDIA DAIHYAKKA COMITEE, 1995, p. 2273).

139 Nesse período, entre 1910 a 1930, houve grande movimento emigratório de japoneses para
o Brasil (LESSER, 2001, p. 28). Essas pessoas, desde que tenham passado sua infância nas
escolas japonesas, a memória da experiência de ter participado em undôkai daquela época
repercutiria na organização ou participação do undôkai no Brasil.

140 学校教育法 (Gakkô Kyouiku hou) – Lei de educação formal nº 26 (JAPÃO, 1947).
182

mais uma vez a mudança com a nova diretriz educacional e passa a fazer parte
das atividades escolares para desenvolver caráter pacífico, comunitário e
colaborativo (JAPÃO, 1947). A partir da reforma da diretriz no que se refere a
educação básica, em julho de 1968, o undôkai passa ser evento esportivo das
escolas fundamentais e básicas de forma definitiva e consolidada (KURECHI,
2017, p. 128; 131; JAPÃO, 1968).

Pode-se verificar, portanto, que o undôkai faz parte da política japonesa


para a formação do indivíduo como cidadão, acompanhando as peculiaridades
da época, desde o seu surgimento até os dias atuais. Considerando a idade
escolar dos imigrantes japoneses e a época em que estes chegaram ao Brasil,
seria interessante realizar o estudo comparativo da sua prática dentro do
território brasileiro, na história da imigração japonesa141.

Em relação a imigrantes residentes no Rio Grande do Sul, a sua maioria


chegou ao estado depois da Segunda Guerra Mundial, após 1956, solteiro ou
em família. Considerando a faixa etária desses imigrantes, incluindo os que
nasceram na Era Taishô (1912-1926), os modelos de undôkai trazidos do Japão
são os de períodos em que o Japão tornava-se militarista bem como o modelo
pacifista de pós-guerra (KURECHI, 2017).

Kurechi (2017, p. 127) afirma que nas escolas japonesas, de modo geral,
na época que a guerra se tornava mais intensa, o undôkai passou a apresentar
seguintes características: 1. Introdução de competição de cunho coletivo que
exige do esforço coletivo para obter a vitória; 2. Competição que possa
apresentar o resultado do treino coletivo como ordem ou beleza da harmonia
coletiva; 3. Competição que exige do indivíduo a coragem e força e; 4.
Competição que não requer custos. Assim, na programação do undôkai de 1942,
realizada em uma escola fundamental em Yokohama, observou-se que houve

141 Neste trabalho, o undôkai é abordado como elemento formador da identidade étnica visto
que é uma das atividades culturais própria dos japoneses que são praticadas nas comunidades
de imigrantes e seus descendentes.
183

aumento da atividade de cunho militar e que aumenta a conscientização de união


de membros do grupo (KURECHI, 2017, p. 127).
Entre as atividades, o cabo de guerra foi considerado competição de
cunho coletivo que exige do esforço coletivo para obter a vitória. O resultado do
treino em grupo era mostrado como apresentação em grupo dos exercícios. Por
outro lado, a competição que exige do indivíduo a coragem e força era realizada
em forma de batalha, corpo a corpo ou guerra de ombros. Por fim, enquanto
atividade que não exigia custos, cabia à competição corridas como disputas
individuais (KURECHI, 2017, p. 127).
De acordo com Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de
Assistência Social (2019), essa festa esportiva foi trazida pelos imigrantes
japoneses, tendo exercido papel importante na integração das pessoas, mesmo
antes da chegada ao Brasil.

O primeiro Undôkai da história da Imigração Japonesa no Brasil foi feito


antes mesmo dos primeiros imigrantes pisarem em terras tupiniquins,
pelos passageiros que estavam a bordo do navio Kasato Maru em 1908
– o primeiro a trazer oficialmente um grande grupo de imigrantes pelo
acordo assinado entre o Brasil e o Japão em 1895 – que ocuparam
todo o deque superior externo do navio para assistir e participar das
corridas e brincadeiras (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CULTURA
JAPONESA E DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2019).

Assim, desde que o undôkai tenha sido uma continuidade ininterrupta da


prática de convivência da comunidade como uma estratégia do governo japonês
na formação do indivíduo e integração da comunidade, o próprio conceito desse
evento esportivo acompanhou a história da imigração. O evento servia, no
princípio, além de para a formação física do indivíduo, como espaço de
integração entre próprios passageiros que enfrentariam uma nova terra,
principalmente porque os imigrantes vinham de diversas regiões do Japão, com
seus dialetos e hábitos também variados142.

142 De acordo com GONZALEZ (2004), os esportes podem ser classificados em quatro
categorias: 1. “Esportes individuais em que não há interação com o oponente”, como as corridas
individuais; 2. “Esportes coletivos em que não há interação com o oponente”, como corrida de
três pernas; 3. “Esportes individuais em que há interação com o oponente”, tais como judô e
184

Depois de desembarcarem, os japoneses continuaram a prática do


undôkai como evento de socialização e de integração da comunidade. Em
relação à sua realização, “independentemente de qual região ou província
vinham as famílias de imigrantes, todos conheciam e sabiam como funcionava a
dinâmica da festividade” (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CULTURA JAPONESA
E DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2019).

O undôkai a bordo do navio continuou sendo praticado durante a história


da imigração japonesa ao Brasil, mesmo depois da Segunda Guerra Mundial. A
própria autora vivenciou a realização de undôkai na infância, em 1962, a bordo
do navio Afurika-maru, que trazia imigrantes ao Brasil. Sendo que, pela pouca
idade que tinha na época, lembra-se apenas que havia competição de abocanhar
um pedaço de pão pendurado na corda. Havia também competição de furar o
balão com o cigarro. O ganhador de cada categoria recebia um prêmio que
poderia ser de diversos tipos143.
Tradicionalmente, são observadas as atividades como radio taisô, corrida
de revezamento, corrida do saco, corrida com a pescaria, corrida de colher com
ovo, corrida de distância, competição de bolinhas nas cestas, competição de
abocanhar o pão entre outros. A atividade inicia-se sempre com o radio taisô144,
exercício de aquecimento acompanhado de música ritmada.

sumô; e 4. “Esportes coletivos em que há interação com o oponente”, como jogo de futebol e
cabo de guerra. Nas competições de undôkai, são realizadas as atividades que abrangem as
categorias 1, 2 e 4.

143 Alguns imigrantes guardaram os prêmios que ganharam até os dias de hoje. A Sra. H., que
reside no município de Viamão, passageira do mesmo navio em que a autora veio para o Brasil,
por exemplo, possui em sua casa uma garrafa térmica com a marca da companhia de navegação
Osaka Shoosen que ganhou na ocasião da competição.

144 A educação para a promoção de saúde iniciou-se nos Estados Unidos com a difusão do
aparelho de rádio e com programas anunciando o benefício de exercícios físicos, como ocorreu
com a Rádio KDKA Pittsburgh em 1922 (HALPER, 2009, p. 12). O ラジオ体操 (radio taisô)
atualmente faz parte do programa Sport for Tomorrow, com objetivo de formar indivíduos com
saúde e ter o esporte como instrumento de intercâmbio internacional das pessoas (CHAWTHIP,
2016).
185

O ラジオ体操 (radio taisô) significa literalmente “exercício com rádio”. Ele


foi idealizado pela Secretaria de Previdência de Saúde do Ministério de
Comunicações do Japão. Sua primeira transmissão por rádio ocorreu em 1928,
e rapidamente foi difundido nas escolas fundamentais e básicas como uma das
atividades da cerimônia matinal antes do horário das aulas (CHAWTHIP, 2016;
JAPAN CENTER FOR ASIAN HISTORICAL RECORDS, 2019).
Em 1934, a transmissão, assim como seu conteúdo, se uniformizaram em
nível nacional, sendo que, naquela época, o aparelho de rádio ainda não estava
difundido para todas as casas. Isso incentivou a comunidade a se reunir nos
largos e paços para se exercitar, acompanhando o comando de exercício físico
que saía do alto-falante145.

Na época da expansão territorial até o fim da Segunda Guerra Mundial, o


radio taisô era incentivado pelo governo japonês a ser praticado em todos os
lugares ocupados pelos japoneses e onde quer que estivessem imigrantes
japoneses, como forma de marcar a presença japonesa. Interrompido por alguns
anos após 1946, em 1951 retoma-se a transmissão como no original e é
praticado até os dias atuais, tanto nas empresas como nas instituições de
ensino146 (JAPAN CENTER FOR ASIAN HISTORICAL RECORDS, 2019).

145 No Arquivo Nacional do Japão, está registrado um evento nacional de radio taisô realizado
em 13 de agosto de 1941 no Santuário Yasukuni, que reuniu vinte mil pessoas para fazer
exercícios físicos sob comando de voz. O radio taisô realizado naquela ocasião foi uma forma
do povo japonês homenagear o espírito das pessoas que lutaram e combaliram em nome da
Nação (JAPAN CENTER FOR ASIAN HISTORICAL RECORDS, 1941). Este santuário que se
localiza em Tóquio foi construído em 1869 por ordem do Imperador Meiji para homenagear e
cultuar o espírito de pessoas que lutaram e deram suas vidas para a formação do novo Japão –
homens e mulheres, independentemente de serem militares ou civis. Atualmente, há mais de
2.466.000 espíritos de mortos cultuados, entre japoneses, coreanos e taiwaneses que, na época
da colonização, eram considerados japoneses (YASUKUNI JINJYA, [20--]).

146 A empresa Japan Airlines recebeu em 2017 uma carta de agradecimento do governo de
Tóquio por difundir o radio taisô ao produzir um vídeo de exercícios com participação de
profissionais de diversas áreas e com acessibilidade para cadeirantes, e também por colocarem
em prática em suas filiais, espalhadas dentro e fora do Japão (JAPAN AIRLINES, 2017).
186

De acordo com Valquíria A. Lima (2009),

O radio taisô foi regulamentado no Japão no dia 1º de novembro de


1928 em comemoração e homenagem a posse do imperador Hirohito.
No Japão a transmissão é feita pela emissora NHK, diariamente as
6h30min da manhã, para todo o território, tornando-se, ao longo dos
anos, quase que obrigatória nas escolas, indústrias, empresas e
serviços. Contabiliza atualmente mais de 30 milhões de praticantes.
[…] Como aqui a transmissão por rádio não é possível, as aulas são
ministradas por instrutores que utilizam fitas cassete e CDs com
músicas originais no idioma japonês (LIMA, 2009).

Tradicionalmente, no Brasil, além de ser praticado matinalmente em


diversas comunidades onde há grande concentração de imigrantes japoneses,
o radio taisô também se faz presente em eventos como undôkai, como primeira
atividade do dia. Essa ginástica coletiva acompanhada de música rítmica serve
como exercício de aquecimento para os participantes desse evento festivo e
esportivo.

Na ocasião da comemoração de 55 anos de imigração japonesa ao Rio


Grande do Sul, em 20 de agosto de 2011, a Associação de Assistência Nipo e
Brasileira do Sul organizou o undôkai na sua sede campestre, localizada no
município de Gravataí a 22 km da sua sede principal. Para a comemoração,
foram convidadas diversas autoridades locais, além do cônsul do Japão em
Porto Alegre e os representantes regionais das comunidades japonesas. As
pessoas das comunidades distantes de Porto Alegre, como das comunidades de
Santa Maria e de Pelotas – ambas distando cerca de trezentos quilômetros de
Porto Alegre –, fretaram ônibus para participarem do evento147.

Em relação à cerimônia da abertura em si, tradicionalmente, o adido


diplomático do Japão – como o cônsul do Japão – e o presidente da Associação
de Assistência Nipo e Brasileira do Sul, representante da entidade organizadora

147 A autora participou do evento comemorativo com exposição de fotografia dos imigrantes
japoneses. Na cerimônia da abertura, além do canto do hino nacional e o hasteamento das
bandeiras do Brasil, do Japão e do Rio Grande do Sul, houve saudação com saquê, distribuído
ao público (vide fotografias dos anexos 7 e 9).
187

do evento, seguram as pontas das cordas para içar as bandeiras do Japão e do


Brasil enquanto os presentes cantam os hinos nacionais japonês e brasileiro. Em
seguida, após pequeno discurso das autoridades presentes, as atividades
esportivas propriamente ditas iniciam-se com os exercícios físicos com radio
taisô comandados pela música e instruções de voz.

Em relação ao tipo de atividades esportivas realizadas no undôkai


organizado pela Assistência Nipo e Brasileira do Sul, observa-se que estão
presentes na programação várias competições que coincidem com aquelas
incentivadas a serem praticadas durante e após a Guerra. Assim, as
competições são categorizadas enquanto tipo e faixa etária de participação,
abrangendo desde crianças até idosos148.

No undôkai, as competições individuais e em grupo são distribuídas tanto


no período da manhã como a tarde, sendo que alguns tipos estão presentes em
todos os undôkai. Na categoria individual, a corrida de velocidade, a corrida de
sacos, a パン食い競争 (pan kui kyôsô – corrida com abocanhada de pão) e a
corrida com ovos são as principais competições. Nessa categoria, os
competidores não usam fita de identificação como na categoria coletiva, que
exige a participação de duas ou mais pessoas. Na categoria coletiva, os grupos
são divididos em dois tipos: primeiro, grupo de pessoas que se formam em torno
de uma atividade que exige a ação da coletividade e outro, grupo de atletas que
representa uma comunidade ou região, geralmente formado pelos membros de
nihonjinkai.

Do ponto de vista da formação de consciência da coletividade, as


competições que “requerem a colaboração de dois ou mais atletas, mas que não
implicam a interferência do adversário na atuação motora” (GONZALEZ, 2004)

148 Kurechi (2017, p. 127) divide as competições em três categorias: individual, em grupo e outra,
a competição para aumentar a beligerância do indivíduo.
188

como corrida a três pés, a corrida a vários pés, assim como 玉入れ (tama ire –
competição de cesto)149 são as modalidades tradicionalmente presentes.

Ainda, durante o evento do undôkai, realiza-se o 盆踊り (Bon Odori), uma


dança coletiva em círculo acompanhada de música, e esta dança permite a
participação de todos. O 盆踊り (Bon Odori) é uma dança coletiva que se
originou na festa de finados japonesa, O-Bon, para alegrar as almas dos
falecidos. Essa dança alegre é realizada entre os dias 13 a 15 de agosto, em
pleno verão japonês, acompanhada de tambores e flautas (KIMURA, 1990, p.
251; TOKORO, 1990, p. 55-56). Assim, sendo a dança coletiva e animada, foi
incorporada no undôkai, e a música tocada é 炭坑節 (Tankou bushi), cantiga de
trabalhadores de minas de carvão. O movimento do círculo que se forma é
sempre em sentido anti-horário, tendo como centro do círculo as bandeiras
japonesa e brasileira, além do 鯉のぼり (Koinobori – Flâmula de carpas de pano)
que simboliza, na cultura japonesa, força e vigor. Tradicionalmente, esta dança
é realizada de forma participativa envolvendo todas as pessoas presentes no
evento, desde crianças pequenas até os idosos com idade bastante avançada.
É única modalidade em que todos participam e que não possui caráter de
competição, além de todos os participantes ganharem uma pequena
lembrancinha.

Outra atividade do undôkai realizada coletivamente é o cabo de guerra,


em que os atletas, divididos por nihonjinkai, disputam a força da comunidade.
Nessa modalidade, observa-se que o grito de incentivo de membros de cada

149 No 玉入れ (tama ire – competição de cesto), as pessoas se dividem em grupo vermelho e
branco, e cada equipe coloca no cesto as bolinhas da cor de sua equipe tanto quanto possível
dentro de tempo limitado. A equipe que conseguir colocar o maior número de bolinhas no cesto
ganha a competição. No Japão, há associação de tama ire em nível nacional, chamada All Japan
Tamaire Association, o que elevou essa atividade à modalidade esportiva autônoma,
independente do undôkai, com regulamento específico para essa categoria (ALL JAPAN
TAMAIRE ASSOCIATION, 2019).
189

nihonjinkai é bastante saliente, o que comprova a sua importância para a


realimentação da consciência de identidade e pertencimento daquele grupo.

Finalmente, o evento encerra com entrega de 優勝杯 (Yushohai – Taça


da Vitória) ao representante do nihonjinkai que obteve as melhores pontuações
ao longo da competição. As bandeiras são baixadas e o local do evento é limpo
para que possa ser usado posteriormente para outras atividades.
Tradicionalmente, nos eventos da comunidade japonesa, os organizadores e
demais presentes do evento fazem a faxina de forma colaborativa, sem a
contratação de profissionais de limpeza. Além da Associação de Assistência
Nipo e Brasileira do Sul, os nihonjinkai que possuem maior número de membros,
como o Nihonjinkai de Gravataí, de Pelotas e de Ivoti, realizam o undôkai ao
longo do ano (JAPÃO, 2018).

No Japão, além das festas populares e celebrações relacionadas a


passagens da vida, realizam-se as celebrações relativas aos imperadores que
existiram ao longo da história. Essas celebrações e festas foram introduzidas
pelos imigrantes japoneses nas comunidades dos imigrantes no Brasil, tais como
festa de Ano Novo, a celebração de maioridade, O-Bon e a senbotsusha ireisai.
Este último, como culto coletivo em homenagem aos falecidos, reúne famílias de
diferentes religiões num único espaço, a Associação de Assistência Nipo e
Brasileira do Sul, para rememorar o passado e consolar as almas dos
antepassados japoneses.

No Japão, cada comunidade possui um local específico onde as pessoas


acreditam residir um deus protetor e também os seus ancestrais, de modo que
a associação, mesmo não sendo templo nem mosteiro, passou a ser lugar onde
os imigrantes se sentirem parte da mesma comunidade e onde as pessoas
podem “se encontrar e dialogar” com os mortos através de suas lembranças. Por
outro lado, outros eventos, mais festivos – como engeikai, keirôkai, Bônenkai e
undôkai –, também são realizados nas comunidades de imigrantes japoneses.
Essas atividades festivas de origem japonesa pertencem aos eventos
190

considerados hare, visto que são atividades que deslocam as pessoas do âmbito
do cotidiano.

No Rio Grande do Sul, em nível estadual, essas atividades foram


inicialmente organizadas pela Federação de Associações Regionais de
Japoneses e, mais tarde, em 1973, a Associação Cultural e Esportiva Nipo-
Brasileira passou a cumprir essa tarefa. Atualmente, a Associação de
Assistência Nipo e Brasileira do Sul é responsável pela organização dessas
atividades culturais, tendo como participantes os japoneses e seus
descendentes de diversas regiões do estado, e também os brasileiros.

Dentre essas atividades, o undôkai se destaca como um evento festivo onde


estão presentes na programação diversas atividades incentivadas pelo governo
japonês para a formação de consciência da coletividade como cidadãos
japoneses. Além do radio taisô e a própria atividade esportiva que cultiva o
espírito competitivo do indivíduo e a importância colaborativa dos grupos de
atletas, outros símbolos e elementos culturais japoneses são observados. O
hasteamento da bandeira japonesa, o tocar do hino nacional japonês, o radio
taisô, além da realização do Bon Odori e a presença do Koinobori tornam o
evento como um dos símbolos culturais e alimentadores da memória dos
participantes como aqueles que estão ligados intimamente com a etnia japonesa.
191

7. CONCLUSÃO

A política isolacionista do Japão estabelecida pelo governo de xogunato


do clã Tokugawa desde o início do século XVII, dificultando o trânsito de pessoas,
acentuou o regionalismo dentro do próprio Japão. Diante da abertura de portos
para os países estrangeiros a partir da Restauração Meiji em 1868 e com o
término do sistema de xogunato, o Japão teve de criar uma identidade nacional.
Nesse cenário, o imperador do Japão passou a ser definido como símbolo e a
representação da nação, o kokutai, integrando o território e o povo, num conceito
atribuído pela primeira constituição promulgada no Japão moderno.
Apresentando-se em público em todo o território japonês, o Imperador Meiji criou
a imagem de líder único do país diante dos japoneses.
A criação de hino, assim como a bandeira nacional que representasse o
Japão, também foi necessária, tanto para o Japão se identificar diante dos países
estrangeiros como para amenizar o regionalismo do povo japonês que se
acentuou durante o período de xogunato. Em relação à língua, foi estabelecida
pelo decreto imperial a educação obrigatória em todo o território nacional, o que
também contribuiu para uniformizar o modo de falar do japonês, habituado a falar
somente os dialetos.
Quando iniciou-se a imigração japonesa no Brasil como política pública,
em 1908, os imigrantes trouxeram consigo a imagem do imperador como um
símbolo nacional. Por outro lado, já na década de 1930, quando entrada de
imigrantes japoneses no Brasil intensificou, os militares japoneses, descontentes
com a forma de governo tradicional, passaram a considerar o Imperador
literalmente como deus vivo, contrariando a teoria de kokutai em 1935. Como
consequência, depois de deflagradas as guerras que culminaram na Segunda
Guerra Mundial, até o seu fim, o Imperador passou a ser tratado como uma
divindade.
Grande parte dos imigrantes que chegaram ao Brasil na década de 1930
também trouxe consigo essa imagem do imperador divinizado. Depois de cessar
a Guerra em 1945, surgiram grupos violentos de imigrantes japoneses que não
acreditavam na derrota do Japão, o que criou por alguns anos ondas de terror
192

entre os conterrâneos japoneses mais sensatos, mesmo diante da apresentação


da declaração do imperador do Japão como uma pessoa humana comum.
Em relação aos membros da família imperial, meio a um fluxo migratório
dos japoneses ao Brasil, pode-se constatar que eles têm visitado as
comunidades japonesas de forma contínua ao longo das décadas durante o
século XX, o que continua ocorrendo no presente século, mesmo depois do
imperador declarar-se humano e ter sido desconstruído a imagem divinizada. A
presença frequente e quase sistemática da família imperial nas comunidades
onde há concentração de imigrantes japoneses e seus descendentes, além de
rememorar o passado japonês daqueles que participam do evento, tem criado
ambiente para se identificarem como japonês, independentemente da fronteira
geopolítica traçada ou a nacionalidade, e se sentirem reconhecidos como
japoneses pelo Japão.
Por outro lado, em relação ao sentimento de pertencimento, desde o
período de hegemonia do clã Tokugawa, os japoneses se sentiram mais
arraigados à sua região de origem, como as províncias onde os ancestrais das
famílias viveram. Assim, esses provincianos criaram tanto dentro do Japão como
no exterior suas associações de conterrâneos. Mais tarde, as associações no
Japão passaram a ser administradas pelos governadores de cada província e,
em forma de federação vinculada ao gabinete do governo japonês. Então,
tornaram-se instituições de cunho público para executar ações de interesse do
governo japonês em relação aos provincianos, inclusive o recrutamento,
treinamento e envio de pessoas para o exterior, como imigrantes que
ingressaram no Brasil.
Por outro lado, a população japonesa em si, desde a abertura dos portos
e entrada de novas informações, passou a apropriar-se das novidades do
ocidente. Após a abolição do sistema de castas e classes sociais e o ingresso
da ideologia de liberdade individual, surge no Japão o movimento em prol da
democracia. Assim, se por um lado o imperador restabelecia o seu poder, por
outro lado, o país se reestruturou política, social e economicamente como um
país moderno, industrializado e democrático. Como consequência, essa
193

modernização colaborou para aumento populacional desproporcional em relação


à capacidade de seu território.
Uma das soluções do governo japonês para resolver o problema foi a
alocação da população excedente para parte do próprio território pouco povoado,
como ocorreu com a ocupação de áreas ainda inexploradas e vazias de
Hokkaido, no norte do Japão. Outra, foi conquistar os países estrangeiros, como
fizeram os países colonizadores da Europa no passado, tomando os territórios
alheios em forma de colônias como ocorreu com a Coreia e Taiwan, além da
Manchúria. Ainda, outra medida tomada foi a adoção do sistema de emigração
para o estrangeiro e o assentamento de japoneses nesses países mediante
acordos bilaterais, como ocorreu com os japoneses que imigraram para as
Américas e, mais especificamente, para o Brasil. Para sistematizar essas
emigrações, criou-se uma companhia única em 1912, a Kaigai Kôgyô Kabushiki
Kaisha (KKKK – Companhia Ultramarina de Desenvolvimento), tendo como
presidente o Ministro do Interior do Japão.
O pico do ingresso de japoneses ao Brasil ocorreu entre 1932 até 1934,
até a promulgação de lei de cotas de 2% para a entrada de imigrantes
estrangeiros ao Brasil. No Japão, o governo japonês promoveu programas de
apoio aos japoneses emigrados e seus descendentes, sendo que, nas províncias,
passaram a ser criadas as associações com objetivo de recrutar e apoiar as
pessoas que desejassem emigrar assim como os já emigrados. Desde então, o
Brasil tem recebido os japoneses vindo de todas as províncias japonesas. Esses
japoneses se organizaram em forma de associações, formando posteriormente
a Federação das Associações de Províncias do Japão no Brasil – a KENREN –
que, por sua vez, promove atividades culturais japonesas e comemorativas
relativas a imigrantes assim como as atividades de intercâmbio com as
províncias japonesas.
Após a Segunda Guerra Mundial e depois de perder as colônias
conquistadas no extremo oriente e nas ilhas de Pacífico, somando a perda de
46% do seu território, o Japão passou a enviar os japoneses para o Brasil através
de acordos bilaterais. Além disso, o governo japonês passou a atuar junto ao
194

governo brasileiro através da criação de órgãos de cooperação internacional


específicos para tal fim, como a Agência de Cooperação Internacional do Japão
(JICA). Executando os empreendimentos de mútuo interesse, em forma de
cooperação e colaboração internacional, o governo japonês passou a participar
no processo de desenvolvimento brasileiro, como na participação da ampliação
das áreas aráveis do Brasil e na construção de usinas de minérios, com
participação de imigrantes e seus descendentes já enraizados como brasileiros,
e a criação de empresas japonesas no Brasil. No âmbito da transferência de
tecnologias, o governo japonês, através de empresa criada no Brasil, executou
tais atividades.
Somado as atividades desenvolvidas em nível intergovernamental com
programas inclusivos dos japoneses e descendentes, foi comprovado que o
governo japonês criou paralelamente programas de apoio e de treinamentos
específicos para os estrangeiros de ascendência japonesa, como com a
concessão de bolsas, a manutenção de assistência à saúde e educação, assim
como com apoio às instituições relacionadas à difusão da cultura japonesa.
Em relação aos próprios imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil,
comprovou-se também que esses se organizaram, criando associações,
primeiro enquanto japoneses e, depois, associações de provincianos, criando
elo com as províncias de origem, promovendo suas culturas regionais originárias.
No Rio Grande do Sul, a Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul
(Enkyô), antiga Associação de Assistência à Colônia Japonesa do Sul do Brasil,
estabelecida em Porto Alegre, é a maior associação de japoneses, fundada em
11 de outubro de 1969. Essa associação foi criada com o incentivo do governo
japonês com objetivos de assistir a fixação dos imigrantes japoneses e seus
descendentes para se tornarem-se bons cidadãos brasileiros.
Através da análise de dados documentais e de observações, constatou-
se que, até os dias de hoje, essa associação tem recebido apoio financeiro da
Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) de forma contínua por
parte do governo japonês, tanto para execução de atividades assistenciais
quanto educativas. De acordo com os documentos encontrados nos arquivos
195

daquela instituição, as atividades assistenciais e educativas foram herdadas da


antiga estrutura da própria Agência de Cooperação Internacional do Japão,
quando era subordinada diretamente ao Ministério de Relações Exteriores.
Somado a isso, tem recebido igualmente de forma contínua recursos para
aprimorar a infraestrutura, como a fundação da aquisição e reforma do prédio
onde abriga a escola de língua japonesa.
Essa associação atua como uma instituição de referência para os
descendentes japoneses se realimentarem os valores étnicos como japoneses,
pela participação ativa dos japoneses e seus descendentes do Rio Grande por
ser também um espaço de manifestações culturais japonesas. Por outro lado, a
associação atua também como interlocutor e como agente executor de
atividades de interesse do governo japonês a ela delegadas, através do repasse
de ajuda financeira do governo japonês aos cidadãos japoneses necessitados
residentes no Rio Grande do Sul.
Como atividades ligadas à cultura e à memória dos imigrantes, foi
comprovado que a Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul realiza,
ao longo do ano, diversas atividades desde sua fundação, como celebrações
ligadas à cultura japonesa, como a festa de Ano Novo e a celebração de culto
aos antepassados, o senbotsusha ireisai. Esta última, ao rememorar os falecidos
e consolar as almas dos antepassados, pode ser considerada uma das
atividades significativas que a associação realiza para lembrar a origem
japonesa dos participantes. No Japão, as pessoas acreditam residir um deus
protetor no local onde os ancestrais estão enterrados e, como interlocutora local,
a associação passou a exercer uma função identificadora da comunidade
japonesa, onde os imigrantes podem “se encontrar e dialogar” inclusive com os
mortos, em suas memórias.
Em relação a manifestações culturais em forma de festas, foram
identificadas no Rio Grande do Sul a realização de eventos culturais festivos
como engeikai, keirôkai, Bônenkai e undôkai, inicialmente organizadas pela
Federação de Associações Regionais de Japoneses. Mais tarde, em 1973, a
comunidade japonesa do Rio Grande do Sul criou a Associação Cultural e
196

Esportiva Nipo-Brasileira, e a organização dessas atividades culturais foi


centralizada nessa associação. Mais tarde, pela sua fusão com a Associação de
Assistência à Colônia Japonesa do Sul do Brasil em 1981, esta passou a ser
responsável pela organização dessas atividades culturais, tendo como
participantes os japoneses e seus descendentes de diversas regiões do estado
– e também brasileiros sem laço sanguíneo com o Japão.

Dentre essas atividades, a hoje Associação de Assistência Nipo e


Brasileira do Sul organiza e realiza um evento expressivo para a construção da
identidade japonesa, o undôkai. Nesse evento festivo e esportivo, estão
presentes várias atividades que foram incentivadas pelo governo japonês para a
formação de consciência da coletividade como cidadão japonês, ainda no início
do século XX. O undôkai foi difundido nacionalmente no Japão a partir de 1934,
com objetivo de cultivar o físico e o espírito competitivo do indivíduo e o senso
colaborativo dos japoneses.

Assim, comprovou-se a primeira hipótese de que, no período em que


ocorreu a modernização do Japão, não havia concepção clara sobre território
nacional devido à fragmentação; a identidade cultural era local, e a figura do
imperador serviu como instrumento para simbolizar a unicidade da identidade
japonesa, independentemente do território, inclusive em relação aos imigrantes
japoneses e descendentes no Brasil.

A segunda hipótese, de o Japão ter adotado outra forma de expansão


após Segunda Guerra Mundial, como a emigração japonesa para o exterior de
forma pacífica, contribuindo para o desenvolvimento regional de países
receptores e desenvolvendo ambientes propícios para atuação dos japoneses
emigrados e seus descendentes numa concepção supra-territorial, da nação
japonesa, inclusive através das associações locais japonesas, como a
Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul, também foi comprovada.

A terceira hipótese, sobre o governo japonês manter agências que atuam


como instituições de assistência e cooperação para os japoneses e
descendentes residentes no exterior, também foi comprovada, demonstrando o
197

investimento governamental japonês para promover condições favoráveis para


o desenvolvimento da comunidade japonesa através de suas agências, que
realimentam a identidade cultural e retroalimentam a memória de imigrantes e
descendentes como indivíduos pertencentes a etnia japonesa. No caso do Rio
Grande do Sul, a Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul cumpre esta
tarefa junto à comunidade japonesa.

Diante das comprovações acima expostas, concluiu-se que o Japão


manteve sua política de expansão do seu povo para o exterior ao longo de todo
século XX. Para prosperidade dos emigrados japoneses e seus descendentes
fora do seu território nacional e manutenção da sua etnicidade, além de cooperar
com o desenvolvimento do país receptor, o governo japonês alimenta, através
da associação local, a memória do passado étnico e cultural deles. No Rio
Grande do Sul, a Associação de Assistência Nipo e Brasileira do Sul atua como
instituição alimentadora da rememoração do passado étnico através da
realização de atividades socioculturais.

Assim, esta pesquisa, além de contribuir com o estudo da imigração


brasileira, permitiu identificar o movimento imigratório internacional em que a
imigração japonesa ao Brasil esteve inserida, onde se constatou que o
desenvolvimento de uma etnia é possível além da fronteira nacional, através da
cooperação mútua entre os países.
198

REFERÊNCIAS

ALL JAPAN TAMAIRE ASSOCIATION (AJTA). About us. Osaka: AJTA, 2019.
Disponível em: <https://tamaire.jp/>. Acesso em: 31 out. 2019.

ANDO, Koki.「集落青年会」の実相とその意味―戦後青年集団史研究の課題お
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naruhito-reune-75-mil-no-interior-do-parana.shtml>. Acesso em: 15 jul. 2018.

WANG, Xiaoyu. The establishment of the concept of “nation” or “people” in


modern Japan and China: the contribution of intellectuals in promoting a new
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Occidental Studies, v. 49, abr. 2016. Disponível em: <https://www.kansai-
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WATANABE, Hiroshi. A history of Japanese political thought 1600-1901.


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WATANABE, Kazuo. Nikkei e comunidade Nipo-brasileira: sua relação com a


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219

YAMAGUCHI, Kazuki. 1930 年代前半期における陸軍派閥対立 : 皇道派・統制


派の体制構想 (1930 nendai zenhan ni okeru rikugun habatsu tairitsu: kôdô ha,
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Kiyô, Quioto, v. 117, p. 259-283, jan. 2019. Disponível em:
<http://www.ritsumei.ac.jp/acd/re/k-rsc/hss/book/pdf/no117_04.pdf>. Acesso
em: 15 out. 2019.

YAMAMOTO, Choji. 武藤山治の企業福祉と社会貢献 (Sanji Muto no kigyô


fukushi to shakai kôken). Saga: Saga University, 2015. Disponível em:
<http://webpark1746.sakura.ne.jp/jafee2015/pdf/YamamotoChoji.pdf>. Acesso
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YAMAMOTO, Shichihei. 日本人とは何か (Nihonjin towa nanika). Tóquio: PHP


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Yasukuni Jinjya, [20--]. Disponível em:
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YOSHIMURA, Sakuji (Org.). 学問のしくみ事典 (Gakumon no shikumi jiten).


Tóquio: Nihon Jitsgyo Shuppansha, 1996.
220

ANEXO 1

FOTOGRAFIAS DOS PRIMEIROS JOVENS QUE EMBARCARAM DO


JAPÃO E A SEDE DA ENKYÔ

1. Fotografia dos primeiros jovens que embarcaram do Japão, antes da


partida ao Rio Grande do Sul, Brasil. Na fotografia, além dos imigrantes,
aparecem os funcionários encarregados da emigração. Datada de 30
jun. 1956.

Fonte: Fotografia cedida pelo Sr. Kurihara em 2018. Porto Alegre, [19--].
221

2. Jovens japoneses na lavoura, depois da chegada ao estado do Rio


Grande do Sul.

Fonte: Fotografia cedida pelo Sr. Kurihara em 2018. Porto Alegre, [19--].

3. Mapa de localização da sede principal da Associação de Assistência à


Colônia Japonesa do Sul do Brasil, a Av Jaime Vignoli, 235, Porto
Alegre, RS, publicado no Enkyonews, em 25 de dezembro de 1973.

Fonte: ENKYONEWS, 25 de dezembro de 1973.


222

4. Sede da Associação de Assistencia Nipo e Brasileira do Sul (antiga


Associação de Assistencia a Colônia japonesa do Sul do Brasil),

Fonte: fotografia da autora. Porto Alegre, 10 de agosto de 2019.


223

ANEXO 2

海外興業株式会社設立の目的 (KAIGAI KOGYO KABUSHIKI KAISHA


SETSURITSU NO MOKUTEKI – OS PROPÓSITOS DO ESTABELECIMENTO
COMPANHIA ULTRAMARINA DE DESENVOLVIMENTO)

[...] Em relação à expansão ultramarina, não se pode dizer que isso


ocorre bastando a saída de ser humano para fora do país ou quando eles, fora
do país se tornam imigrantes no estrangeiro e se estabelecem em forma de
colônias. Para se expandir, deve acompanhar um investimento no exterior. As
pessoas saem para o exterior e com isso possibilita o investimento. O
desenvolvimento no exterior numa base sólida somente é possível com isso. Não
basta as pessoas saírem do país. O que deve ser considerado em primeiro lugar
sobre isso, para o país se desenvolver para o além-mar como império, devemos
definir primeiramente a direção da expansão. É claro que consideremos os locais
anexados recentemente como Taiwan, Karafuto (Ilha Sacarinas) e Coréia. Ainda,
tais lugares como Manchúria e Mongólia, assim como a China, tem o destino
natural como lugar onde os súditos imperiais devem se desenvolver. De uma
perspectiva diferente, pode-se dizer que lugares como o Pacífico do Sul assim
como a América do Sul também podemos afirmar que são lugares destinados
onde os súditos imperiais devem desenvolver naturalmente. Tais locais são as
que os súditos imperiais devem se desenvolver. Se esses locais correspondem
ao que eu já mencionei anteriormente, precisamos providenciar a infraestrutura
correspondente. "O que é essa infraestrutura? Significa a infraestrutura para
facilitar a colonização ou investimento". Primeiro de tudo, a fim de investir no
exterior, se mencionarmos as instalações do governo de uma forma muito
resumida, na região de Manchúria e Mongólia [...]

Por outro lado, o que dizer do Pacífico Sul ou da América do Sul? A


situação de hoje em dia está de certa forma organizada institucionalmente. Em
relação a isso, o governo vê perspectiva e apoia empresas privadas indiretas e
diretamente, fornecendo instalações consideráveis, por exemplo, em relação a
instituição financeira do Pacífico Sul....[...]

Como está em relação a América do Sul? Isso ainda não está completo
em relação a instituições financeiras etc. Não visamos para esta região apenas
para fins de conveniência comercial. Abriremos uma filial ou sucursal do 横浜正
金 銀 行 (Yokohama Shokin Ginko – Banco de Comercio Exterior de
224

Yokohama) 150 no Brasil ou Argentina e, com isso tomaremos medidas para


atender as conveniências dos imigrantes além de facilitar o comércio exterior. O
que eu tenho dito especialmente é que temos uma relação indireta com os
colonos, mas talvez vocês me interpretem como se nós não temos uma relação
direta com os colonos. Estamos diretamente ligados com construção de
instalações e em relação a instituição privada realizamos uma melhoria da 東洋
拓殖株式会社 (Toyo Takushoku Kabushiki Kaisha – Companhia Oriental de
Colonização e Desenvolvimento), bem como criação da 海 外 興 業 株 式 会 社
(Kaigai Kogyo Kabushiki kaisha (KKKK) – Companhia Ultramarina de
Desenvolvimento), onde o Sr. Kamiyama está envolvido, isto é, caminhamos
para a mesma direção.

Recentemente, revisamos o regulamentos da 東洋拓殖株式会社 (Toyo


Takushoku Kabushiki Kaisha – Companhia Oriental de Colonização e
Desenvolvimento) e recebemos a concordância do Parlamento, e nele incluímos
vários itens nesse sentido. A nova empresa possui várias ações oriundas de
empresas privadas e por isso, foi-lhes atribuídos o direito de candidatar-se a
aquisição de títulos de crédito. Embora ela ainda não esteja funcionando
efetivamente desde que foi revisada, a base de funcionamento foi concluída.

A este respeito, a 東洋拓殖株式会社 (Toyo Takushoku Kabushiki Kaisha


– Companhia Oriental de Colonização e Desenvolvimento) não trabalha apenas
na Coréia, Manchúria e Mongólia. Também foi lhe atribuída a autoridade para
dar aos imigrantes que trabalham na América do Sul ou no Pacífico Sul a maior
comodidade possível.

Assim, como forma de ativar a autoridade em relação a empresa de


imigração e colonização consultamos as pessoas envolvidas nessas atividades
do setor privado. Porque embora não seja impossível o império obter o ganho
numa situação quando as empresas de imigração e colonização se mostram
hostis entre si, é difícil enquanto império, obter um proveito desejável do jeito
que estava. Além disso, uma empresa de imigração e colonização nunca pode
ficar satisfeita só com a cobrança de taxas para transporte de imigrantes.
Quando os emigrantes chegam à colônia, eles conseguem um emprego no local
que se estabelecerão permanentemente. Deve ser assim. Isso requer
investimento em imigrados. É impossível conseguir esse fundo de investimento
quando está dividida em muitas empresas pequenas. Realmente, é necessário

150
Banco japonesa criado em 1880, especialmente para tratar dos negócios de importação e
exportação com os países estrangeiros.
225

se unirem e tornando-se em uma grande empresa e com sua confiabilidade,


obter uma grande quantidade de fundos. E com isso, fomentar a atividade dos
imigrantes e colonos. Isso é obvio.

Portanto, considerando as opiniões das pessoas envolvidos com as


companhias de imigração e colonização, também fomos indiretamente
participamos da discussão. E, assim, criou-se esta empresa de empreendimento
e colonização ultramarina, 海外興業殖民会社 (Kaigai Kogyo Shokumin Kaisha –
Companhia Ultramarina de Colonização e Desenvolvimento). Infelizmente,
como não conseguimos unir em uma única empresa, de todas as seis empresas
existentes, acabou se criando nova empresa, a 海外興業株式会社 (Kaigai Kogyo
Kabushiki Kaisha (KKKK) – Companhia Ultramarina de Desenvolvimento) unindo
cinco dessas empresas.

Agora, em relação às atividades de imigração e colonização que 海外興


業株式会社 (Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha (KKKK) – Companhia Ultramarina
de Desenvolvimento) fará, basta as empresas terem-se fundido. Entretanto, na
condição atual, quando se trata de obter fundos, era impossível realizá-la.
Portanto, fomos incluir a 東洋拓殖株式会社 (Toyo Takushoku Kabushiki Kaisha
– Companhia Oriental de Colonização e Desenvolvimento) como acionista. Esta
empresa possui, como já mencionei anteriormente, a autoridade financeira sobre
os migrantes, apoiada por lei. Ela foi transformada em acionista. O fato é que a
própria 東洋拓殖株式会社 (Toyo Takushoku Kabushiki Kaisha – Companhia
Oriental de Colonização e Desenvolvimento) com autoridade que possui,
voluntariamente se tornou acionista da 海 外 興 業 株 式 会 社 (Kaigai Kogyo
Kabushiki Kaisha (KKKK) – Companhia Ultramarina de Desenvolvimento). Isso
significa que por enquanto, se conseguirmos emigrar as pessoas e criar colônias
e, com isso obter o fundo para distribuir aos imigrantes, cria-se a possibilidade
de fazer o investimento no exterior. Ao mesmo tempo, vocês também devem
considerar que, quando se faz investimento no exterior, se pensarem em escala
do Japão, é muito pequeno. A escala é grande quando se pretende investir no
exterior. Como a escala é grande, necessita de maior quantidade de fundos de
investimento. É isso.

Não basta a 東洋拓殖株式会社 (Toyo Takushoku Kabushiki Kaisha –


Companhia Oriental de Colonização e Desenvolvimento) estar anexada à 海外
興業株式会社 (Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha (KKKK) – Companhia Ultramarina
de Desenvolvimento) para fazer o seu trabalho eficientemente. Nesse caso, esta
empresa atuará na América do Sul através do Banco 横浜正金銀行 (Yokohama
Shokin Ginko – Banco de Comercio Exterior de Yokohama). No Pacífico Sul,
atuará em parceria com o Banco de Taiwan ou um dos principais de bancos de
desenvolvimento ou outros bancos grandes, isto é, haverá atuação das
instituições financeiras. Está estruturada dessa forma. Por esta razão, hoje, a
226

empresa chamada 海外興業株式会社 (Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha (KKKK) –


Companhia Ultramarina de Desenvolvimento), recém fundada não aparenta
tornar proeminente mas o fato é que a providência está tomada e a eficácia do
seu funcionamento ideal está sob responsabilidade do Sr. Kamiyama, presente
aqui. Dependendo de suas atividades futuras, se isso funcionar favoravelmente,
a política colonial imperial pode fortalecer a vontade humana. A situação está
assim ...[...] (SHODA, 1918, tradução nossa).
227

ANEXO 3

A PUBLICAÇÃO DA LEGAÇÃO DA SUÉCIA, ENCARREGADA DOS


INTERESSES JAPONESES NO BRASIL, DE 4 DE ABRIL DE 1946.
228
229

Fonte: LEGIÃO DA SUÉCIA, 1946.


230

ANEXO 4

TERMO DE ABERTURA DO REGISTRO ESPECIAL DO IMPOSTO SOBRE


SERVIÇO DE QUALQUER NATUREZA DA ENKYO, DATADA DE 29 DE
SETEMBRO DE 1972.
231

ANEXO 5

CAPAS DOS PRIMEIROS DOIS EXEMPLARES DO JORNAL DA


ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA À COLÔNIA JAPONESA DO SUL DO
BRASIL

Fonte: ENKYONEWS, 25 de maio de 1970.


232

Fonte: ENKYONEWS, 25 de junho de 1970.


233

ANEXO 6

CARTA DE ESCLARECIMENTO SOBRE PENSÃO MILITAR, DE 10 SET.


1981, EXPEDIDA PELA ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA À COLÔNIA
JAPONESA DO SUL DO BRASIL PARA UM JAPONÊS
234

ANEXO 7

ATIVIDADE COMEMORATIVA A 55 ANOS DE IMIGRAÇÃO JAPONESA NO


RIO GRANDE DO SUL, REALIZADA PELA ASSOCIAÇÃO DE
ASSISTÊNCIA NIPO E BRASILEIRA DO SUL, EM 20 DE AGOSTO DE 2011,
EM SUA SEDE CAMPESTRE EM GRAVATAÍ.

1. Bandeira japonesa com mensagem em homenagem de 55 anos da


imigração ao brasil, confeccionada pela Associação De Cultura Nipo-
Brasileira de Pelotas.

Fonte: fotografia da autora. Gravataí, 20 ago. 2011.


235

2. Hasteamento da bandeiras japonesa, brasileira e do Rio Grande do Sul.

Fonte: fotografia da autora. Gravataí, 20 ago. 2011.

3. Brindes com saquê realizados com autoridades do município de


Gravataí.

Fonte: fotografia da autora. Gravataí, 20 ago. 2011.


236

ANEXO 8

FOTOGRAFIAS DAS ATIVIDADES CULTURAIS PROMOVIDAS PELA


ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO E BRASILEIRA DO SUL

1. Os nomes das pessoas que doaram dinheiro na ocasião da


apresentação de karaokê, pendurados a vista dos visitantes.

Fonte: fotografia da autora. Porto Alegre, 15 jul. 2015.


237

2. Apresentação de canto e dança no 51º Engeikai e Keirôkai, em Porto


Alegre, promovida pela Enkyô.

Fonte: fotografia da autora. Porto Alegre, 15 de jul. 2015.

3. Entrega de mimos para os imigrantes idosos no Keirôkai.

Fonte: fotografia da autora. Porto Alegre, 18 set. 2011.


238

4. Casal comendo o obentô, marmita oferecida pela Enkyô em homenagem


aos idosos.

Fonte: fotografia da autora. Porto Alegre, 18 set. 2011.

5. Almoço de confraternização da Associação de Kuwamoto realizado na


sede de Enkyô.

Fonte: fotografia da autora. Porto Alegre, 18 jul. 2010.


239

6. A cozinha da Enkyô sendo utilizada para preparar a comida para a festa


de Bônenkai (festa de fim do ano)

Fonte: fotografia da autora. Porto Alegre, 11 dez. 2011.

7. Excursão de Fujinkai (Associação de senhoras) de Porto Alegre para


serra gaúcha comemorando Dia das Mães.

Fonte: fotografia da autora. Ivoti, 17 maio 2019.


240

ANEXO 9

FOTOGRAFIAS DAS ATIVIDADES REALIZADAS NO UNDÔKAI DA


ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA NIPO E BRASILEIRA DO SUL

1. Hasteamento das bandeiras japonesa e brasileira.

Fonte: fotografia da autora. Gravataí, 2 de maio de 2014.

2. Hasteamento de Koinobori, carpa de pano que representa o vigor das


pessoas

Fonte: fotografia da autora. Gravataí, 2 de maio de 2014.


241

3. Radio Taisô

Fonte: fotografia da autora. Gravataí, 1º de maio de 2015.

4. Competições individuais (de cima a baixo, corrida de distância e


competição de comer o pão)

Fonte: fotografias da autora. Gravataí, 1º de maio de 2014.


242

5. Competições coletivas (de cima para baixo, cabo-de-guerra e o tamaire


– jogo de cestaria) e o bon-odori.

Fonte: fotografias da autora. Gravataí, 1º de maio de 2014


243

ANEXO 10

ATIVIDADES DA JICA JUNTO À COMUNIDADE JAPONESA

1. Oficina de sumi-e (desenho com pincel japonês) ministrada pelo


professor Hiroshi Suganuma, voluntário japonês enviado pela JICA.

Fonte: fotografia da autora. Porto Alegre, 22 de abril de 2012.

2. Palestra do Presidente Mundial da Agencia de Cooperação Internacional


do Japão, ex-embaixador japonês nas Nações Unidas, cientista político
e historiador, Sr. Shinichi Kitaokada, em comemoração a 60 anos de
atividades de cooperação bilateral entre o Japão e o Brasil.

Fonte: fotografia da autora. São Paulo, 4 de novembro de 2019.


244

ANEXO 11

AS REGIÕES DO JAPÃO E RESPECTIVAS PROVÍNCIAS

Região Província
Hokkaidō 1. Hokkaidō
2. Aomori
3. Iwate
Tōhoku 4. Miyagi
5. Akita
6. Yamagata
7. Fukushima
8. Ibaraki
9. Tochigi
10. Gunma
Kantō
11. Saitama
12. Chiba
13. Tóquio
14. Kanagawa
15. Niigata
16. Toyama
17. Ishikawa
18. Fukui
Chūbu e Tōkai 19. Yamanashi
20. Nagano
21. Shizuoka
22. Aichi
23. Gifu
24. Mie
25. Shiga
26. Kyoto
Kansai
27. Osaka
28. Hyōgo
29. Nara
30. Wakayama
31. Tottori
32. Shimane
Chūgoku 33. Okayama
34. Hiroshima
35. Yamaguchi
36. Tokushima
Shikoku 37. Kagawa
38. Ehime
39. Kōchi
40. Fukuoka
41. Saga
42. Nagasaki
Kyūshū e Okinawa 43. Kumamoto
44. Ōita
45. Miyazaki
46. Kagoshima
47. Okinawa
245

ANEXO 12
ASSOCIAÇÃO DE PROVINCIANOS DO JAPÃO NO BRASIL
(DATA DA FUNDAÇÃO)

Associação Cultural Kagoshima do Brasil 1913


Associação Fukushima Kenjin do Brasil 1917
Associação Okinawa Kenjin do Brasil 1926
Associação Assistencial e Cultural Yamaguchi Ken do Brasil 1927
Associaçãoo Fukuoka do Brasil 1930
Associação Ishikawa Ken do Brasil 1937
Guifu Kenjinkai do Brasil 1938
Associação Hokkaido de Cultura e Assistência 1939
Associação Cultural e Assistencial Mie Kenjin do Brasil 1943
Associação Cultural Gunma Kenjin do Brasil 1945
Associação de Beneficente e Cultural Miyazaki 1949
Associação Cultural Tottori – Kenjin do Brasil 1952
Associação Kyoto do Brasil 1952
Associação Cultural Oita Kenjin do Brasil 1952
Associação Cultural e Recreativa Okayama Kenjin do Brasil 1953
Associação Cultural dos Provincianos de Kochi no Brasil 1953
Associação Miyagi Kenjinkai do Brasil 1953
Associação Cultural Ehime Kenjin do Brasil 1953
Yamagata Kenjinkai do Brasil 1953
Associação Cultural e Recreativa Yamanashi Kenjin do Brasil 1953
Wakayama Kenjinkai do Brasil 1954
Associação Aomori Kenjin do Brasil 1954
Associação Fukui Kenjinkai 1954
Cultural Hiroshima do Brasil 1955
Associação Cultural e Benef. Sagaken do Brasil 1955
Associação da Provícia de Kagawa no Brasil 1955
Sociedade Shimane Kenjin do Brasil 1956
Associação Cultural Niigata do Brasil 1956
Associação dos Shizuoka Kenjin do Brasil 1957
Associação Chiba Kenjin do Brasil 1957
Associação Kumamoto Kenjin do Brasil 1958
Associação Aichi do Brasil 1958
Associação Cultural e Assistencial Shiga Kenjin do Brasil 1958
Associação Cultural Tokushima Kenjin do Brasil 1958
Associação Cultural e Assistencial dos Provincianos de Saitama 1958
no Brasil
Associação Centro Social Tochigi do Brasil 1958
Associação Cultural e Recreativa Nagano Kenjin do Brasil 1959
246

Associação Cultural e Assistencial Iwate Kenjinkai do Brasil 1959


Hyogo Kenjinkai 1960
Associação Cultural e Recreativa Akita Kenjin do Brasil 1960
Associação Cultural e Recreativa Nara Kenjinkai do Brasil 1960
Associação Toyama Kenjin do Brasil 1960
Associação Centro Social Ibaraki do Brasil 1961
Associação Nagasaki Kenjin do Brasil 1962
Associação Beneficente dos Provincianos de Osaka Naniwa-Kai 1965
Sociedade Amigos de Tokyo 1965
Associação Cultural e Assistencial Kanagawa 1965
Fonte: FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES DE PROVÍNCIAS DO JAPÃO NO BRASIL.
(KENREN, 2018a)
247

ANEXO 13

JAPONESES E DESCENDENTES RESIDENTES NO ESTADO DO RIO


GRANDE DO SUL EM 2008

Descendentes
Homens Mulheres
Cidade homens e Total
japoneses japonesas
mulheres

1 Porto Alegre 128 84 563 775

2 Ivoti e municípios vizinhos 59 53 231 343

3 Cachoeira do Sul 6 5 32 43

4 São Leopoldo e municípios 29 22 71 122


vizinhos

5 Rio Grande 4 2 16 22

6 Pelotas e municípios 38 28 192 258


vizinhos

7 Santa Maria e municípios 21 24 153 198


vizinhos

8 Passo Fundo e municípios 9 9 32 50


vizinhos

9 Ijuí 7 2 24 33

10 Lami 13 14 38 65

11 Itapuã 12 9 58 79

12 Bagé 4 4 12 20

13 Alegrete 2 2 8 12

14 Gravataí e municípios 50 45 142 237


vizinhos

15 Viamão 13 14 45 72

16 Caxias do Sul 19 8 41 68

17 Santana do Livramento 1 1 4 6

18 Uruguaiana 2 1 6 9
248

19 Guaíba 4 2 26 32

20 Camaquã 1 1 3 5

21 Cruz Alta 6 4 27 37

22 Itati 9 10 26 45

23 Torres e municípios 1 1 6 8
vizinhos

24 Santa Cruz do Sul e 2 1 5 8


municípios vizinhos

Total Geral 440 346 1761 2547

Fonte: Associação de Assistencia Nipo e Brasileira do Sul, 2019.

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