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Caro aluno

Você está recebendo o primeiro livro da Unidade Técnica de Imersão (U.T.I.) do Hexag Vestibulares. Este material tem o objetivo de retomar os conteúdos estuda-
dos nos livros 1 e 2, oferecendo um resumo estruturado da teoria e uma seleção de questões dissertativas que preparam o candidato para as provas de segunda
fase dos principais vestibulares. Além disso, as questões dissertativas permitem avaliar a capacidade de análise, organização, síntese e aplicação do conhecimento
adquirido. É também uma oportunidade de o estudante demonstrar que está apto a expressar suas ideias de maneira sistematizada e com linguagem adequada.
Aproveite este caderno para aprofundar o que foi visto em sala de aula, compreender assuntos que tenham deixado dúvidas e relembrar os pontos que foram
esquecidos.
Bons estudos!

SUMÁRIO
LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias
GRAMÁTICA 3
INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS 25
LITERATURA 43
REDAÇÃO 61
INGLÊS 95

CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias


HISTÓRIA GERAL 105
HISTÓRIA DO BRASIL 133
FILOSOFIA 159
SOCIOLOGIA 185
GEOGRAFIA 1 209
GEOGRAFIA 2 223

CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias


BIOLOGIA 1 239
BIOLOGIA 2 259
BIOLOGIA 3 283
FÍSICA 1 305
FÍSICA 2 319
FÍSICA 3 341
QUÍMICA 1 357
QUÍMICA 2 369
QUÍMICA 3 377

MATEMÁTICA e suas tecnologias


MATEMÁTICA 1 387
MATEMÁTICA 2 405
MATEMÁTICA 3 417
© Hexag SiStema de enSino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2022
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ENTRE
LETRAS

2
LINGUAGENS
CÓDIGOS
GRAMÁTICA
e suas tecnologias

U.T.I.
NUMERAIS, PREPOSIÇÕES E INTERJEIÇÕES

Numerais Preposições nocionais


São aquelas que acrescentam valor semântico à sentença.
Os numerais formam uma classe de palavras que se rela-
As preposições nocionais introduzem o adjunto adnominal
ciona diretamente com o substantivo. Os numerais indicam
e o adjunto adverbial.
quantidades de pessoas ou coisas, ou assinalam o lugar
que elas ocupam em determinada sequência, mantendo
com os substantivos vínculos morfossintáticos. Preposições nocionais mais recorrentes
Observação: Algumas palavras são consideradas numerais § Preposicão A
se denotam ideia de quantidade, proporção ou ordenação: § Preposição COM
§ Preposição DE
Classificação dos numerais § Preposição EM
§ Preposição PARA
§ Cardinais § Preposição POR
§ Ordinais
§ Multiplicativos
§ Fracionários Locuções prepositivas
São duas ou mais palavras empregadas com a função de
Preposições uma única preposição. Nelas, a última palavra do conjunto é
sempre uma preposição essencial.
As preposições são palavras que estabelecem relações
de sentido entre dois ou mais termos de uma oração. Tra-
ta-se de um processo de conexão entre os elementos que
Contração de preposições
foram ligados pela preposição. No português, não ocorre a contração de preposição com ar-
tigo quando o substantivo que aparece depois da preposição
As preposições são invariáveis, isto é, não se flexionam em
estiver funcionando como sujeito de algum verbo posterior.
gênero, número ou grau. Não obstante, elas se contraem
com outras palavras. Ao se juntarem ao artigo, elas passam
a estabelecer concordância em gênero e número. É impor-
tante lembrar que não se trata de uma variação própria da
Interjeições
Interjeições são formas invariáveis que manifestam sen-
preposição, mas da palavra com a qual ela se funde.
sações, emoções, sentimentos, ordens, chamamentos, esta-
A relação estabelecida pelas preposições pressupõe um dos de espírito, etc. Elas expressam reações emotivas.
primeiro elemento – denominado antecedente – e um se-
gundo elemento – denominado consequente. O primeiro
é o que exige a preposição, também chamado de termo
Classificação
regente; o segundo é o termo regido por ela, também § Admiração ou surpresa: Puxa! Vixe! Caramba!
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chamado de termo regido pela preposição. Nossa! Céus! Eita!


§ Alegria: Viva! Oba! Que beleza! Eba!
Valor semântico das preposições § Aplauso: Viva! Bravo! Parabéns!
Do ponto de vista semântico (do sentido), as preposições § Chamamento: Alô! Ei! Oi! Psiu! Socorro!
são divididas em dois grupos: as relacionais e as nocionais. § Concordância: Claro! Certo! Ok!
§ Dor: Ai! Ui! Ah! Oh!
Preposições relacionais
§ Lamento: Que pena! Ai coitado!
São aquelas exigidas por algum termo antecedente (verbo,
§ Saudação: Olá! Oi! Adeus!
substantivo, adjetivo ou advérbio), e que, por esse motivo,
não acrescentam qualquer valor semântico à sentença. As § Silêncio: Silêncio! Basta! Chega!
preposições relacionais introduzem o objeto indireto ou o
complemento nominal.

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CONJUNÇÕES

Conjunções coordenativas Conjunções subordinativas


As conjunções coordenativas conectam orações sem esta- As conjunções subordinativas ligam duas orações, das
belecer uma relação de dependência (uma função sintáti- quais uma é necessariamente dependente da outra, de-
ca). De acordo com um critério lógico-semântico, elas se sempenhando em relação a esta uma função sintática.
classificam assim: São classificadas como:
§ Aditivas – estabelecem uma relação de soma, de adi- § Causais – introduzem a oração que é causa da ocor-
ção entre os termos. rência da oração principal.
Principais conjunções aditivas: e, nem, não só... Principais conjunções causais: porque, que, pois
mas também, não só... como também, bem como, não que, visto que, uma vez que, porquanto, já que, des-
só... mas ainda. de que, como (no início da frase).

Exemplos: Ele saiu cedo e levou a carteira. Exemplo: Ele não fez as compras porque não havia
trazido a carteira.
Ela não só saiu cedo como também passou na farmácia.
§ Concessivas – introduzem a oração que expressa ideia
§ Adversativas – estabelecem uma relação de contras- contrária à da principal.
te, de oposição entre os termos.
Principais conjunções concessivas: embora, ainda
Principais conjunções adversativas: mas, porém, que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por mais
contudo, todavia, entretanto, no entanto, não obstante. que, posto que, conquanto.
Exemplo: Tentou vender os livros usados, mas não Exemplo: Embora fosse arriscado, investimos em
conseguiu. ações.
§ Alternativas – estabelecem uma relação de alternân- § Condicionais – introduzem uma oração que indica
cia, de escolha ou de exclusão entre os termos: a hipótese ou a condição para ocorrência da principal.
Principais conjunções alternativas: ou, ou... ou, Principais conjunções condicionais: se, caso, con-
ora... ora, já... já, quer... quer, seja... seja, talvez... talvez. tanto que, salvo se, a não ser que, desde que, a menos
que, sem que.
Exemplo: Ou você chega logo, ou vou embora para
minha casa. Exemplo: Caso precise de algum empréstimo, procu-
re um banco.
§ Conclusivas – estabelecem uma relação de conclu-
são a respeito de um fato dado no mundo. § Conformativas – introduzem uma oração que expri-
me a conformidade de um fato com outro.
Principais conjunções conclusivas: logo, portanto,
Principais conjunções conformativas: conforme,
por conseguinte, por isso, assim, pois (depois do verbo
como (conforme), segundo, consoante.
e entre vírgulas).
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Exemplo: As coisas nem sempre ocorrem como que-


Exemplo: Estava muito irritado, portanto, preferiu
remos.
conversar mais tarde.
§ Finais – introduzem uma oração que expressa a finali-
§ Explicativas – estabelecem uma relação de explica-
dade ou o objetivo com que se realiza a principal.
ção sobre um fato que ainda não ocorreu no mundo.
Principais conjunções finais: para que, a fim de que,
Principais conjunções explicativas: que, porque,
que, porque (para que), que.
porquanto, pois (antes do verbo).
Exemplo: Mande o e-mail para que todos compare-
Exemplo: Não fique irritado, porque a conversa pode
çam no horário correto.
tomar outros rumos.
§ Proporcionais – introduzem uma oração que expres-
sa um fato relacionado proporcionalmente à ocorrên-
cia da principal.

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Principais conjunções proporcionais: à medida § Consecutivas – introduzem orações que expressam
que, à proporção que, ao passo que – e as combina- consequência em relação à principal.
ções: quanto mais... (mais), quanto menos... (menos), Principais conjunções consecutivas: de sorte que,
quanto menos... (mais), quanto menos... (menos). de modo que, sem que (que não), de forma que, de jei-
Exemplo: Os problemas saem do controle à medida to que, que (cujo antecedente na oração principal seja
que não são resolvidos. tal, tão, cada, tanto, tamanho).
§ Temporais – introduzem orações que acrescentam Exemplo: Dormiu tanto que ficou com dores no
uma circunstância de tempo ao fato expresso na ora- pescoço.
ção principal.
Principais conjunções temporais: quando, en-
quanto, antes que, depois que, logo que, todas as
Conjunções integrantes
vezes que, desde que, sempre que, assim que, agora As conjunções integrantes introduzem as orações subordi-
que, mal (assim que) nadas substantivas. Ocorrem com os termos “que” e “se”.
Exemplo: Ele nos atendeu assim que começamos a Exemplos: Espero que você volte (espero sua volta).
reclamar. Não sei se ele voltará (não sei da sua volta).
§ Comparativas – introduzem orações que expressam
ideia de comparação em relação à oração principal. Dica
Principais conjunções comparativas: como, assim Para confirmar se uma conjunção é do tipo integrante, de-
como, tal como, como se, (tão)... como, tanto como, ve-se substituir os termos “que” ou “se”, e o restante da
tanto quanto, do que, quanto, tal, qual, tal qual, que oração que os acompanha, pelo pronome “isso”.
nem, que (combinado com menos ou mais).
Exemplo: É necessário que se mudem os pensamentos.
Exemplo: A seleção fez mais gols hoje que no jogo
anterior.

TERMOS ESSENCIAIS DA ORAÇÃO: SUJEITO E PREDICADO

Sujeito é o termo que concorda, em número e pessoa, Observação: as gramáticas normativas determinam o
com o verbo da oração. Em grande número de casos, o sujeito e o predicado como termos essenciais; no en-
sujeito da oração é também o agente da ação expressa tanto, deve-se observar que o termo constante em toda
pelo verbo, mas essa não deve ser a base de definição con- oração é o verbo.
ceitual, uma vez que há orações para as quais não se pode Exemplos: Choveu o dia todo. (verbo que indica um
atribuir ao sujeito essa função de agente. fenômeno natural.)
Exemplos: Chorou.
(verbo que indica uma ação e permite a possível identi-
Ele viajou para o interior de São Paulo. ficação do sujeito através da desinência.)
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(viajou está no singular para concordar com ele.


O conteúdo do verbo expressa uma ação.) Classificação do sujeito
Eles viajaram para o interior de São Paulo. O sujeito das orações pode ser determinado ou indeter-
(viajaram está no plural para concordar com eles. minado.
O conteúdo do verbo expressa uma ação.) 1. Sujeito determinado é aquele que pode ser identi-
ficado com precisão a partir da concordância verbal. Ele
Ele está no interior de São Paulo. pode ser:
(está está no singular para concordar com ele; no en-
a) Simples, se apresentar apenas um núcleo (a
tanto, o conteúdo do verbo não expressa uma ação.) palavra principal do sujeito, que encerra essencial-
Eles vivem no interior de São Paulo. mente a significação) ligado diretamente ao verbo,
(vivem está no plural para concordar com eles; no estabelecendo uma relação de concordância com ele.
entanto, o conteúdo do verbo não expressa uma ação.) Exemplo: As pessoas saíram pelas ruas em protesto.

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Observação: O sujeito é simples se o verbo da oração 3. Orações sem sujeito são formadas apenas pelo pre-
referir-se a apenas um elemento, seja ele um substan- dicado e articulam-se a partir de um verbo impessoal.
tivo (singular ou plural), um pronome ou um numeral. Por isso se diz que o sujeito é inexistente. Observe a
Não confundir sujeito simples com a noção de singular. estrutura dessas orações.
Exemplos: O segundo andar possui sala de reunião. Exemplos: Havia borboletas no jardim.
Todos correram em direção ao ônibus. Nevou muito este ano em Santa Catarina.

b) Composto, se apresentar dois ou mais núcleos ATENÇÃO!


ligados diretamente ao verbo, estabelecendo uma Os verbos impessoais devem ser usados sempre
relação de concordância com ele. na terceira pessoa do singular. Cuidado com os
Exemplo: Brigadeiro e caipirinha são especialida- verbos fazer e haver usados impessoalmente: não se
des tipicamente brasileiras. deve empregá-los no plural.

c) Oculto (elíptico ou desinencial): O sujeito Exemplos: Faz muitos anos que nos conhecemos.
oculto ocorre quando o sujeito não está expresso Deve fazer dias quentes na Bahia.
na oração, mas é possível identificá-lo por meio da Há muitas pessoas interessadas na vaga.
terminação do verbo. Houve muitas pessoas interessadas na vaga.
Observação: O verbo existir é pessoal, portanto, ad-
Exemplos: Resolvi meus os problemas com o fisco. –
mite sujeito que concorda com ele.
Sujeito oculto: (eu resolvi)
Estávamos cansados do trabalho. – Sujeito oculto: (nós
estávamos)
Predicado
É o termo da oração que faz uma afirmação sobre o sujeito;
2. Sujeito indeterminado: é aquele que, embora exis- diz-se, portanto, que se trata de uma predicação sobre o
tindo, não é possível determiná-lo nem pelo contexto, nem sujeito. No caso das orações sem sujeito, a predicação é ge-
pela terminação do verbo. Há três maneiras diferentes de nérica. Tudo o que constitui as orações, à exceção do sujeito
indeterminar o sujeito de uma oração: e do vocativo, faz parte do predicado.
a) Com verbo na terceira pessoa do plural, Os predicados devem conter necessariamente um
sem que ele se refira a nenhum termo identificado verbo, mas o núcleo do predicado (termo que detém o
anteriormente (nem em outra oração). sentido propriamente) pode ser um verbo, um nome ou a
junção dos dois.
Exemplos: Proibiram a entrada de menores.
Estão transferindo as crianças de lugar.
Tipos de predicado
b) Com verbo na voz ativa e na terceira pes-
A partir de estruturas que se assemelham às dos exem-
soa do singular seguido do pronome se,
plos anteriores, podem-se classificar os predicados em
pronome esse que atua como índice de inde-
três categorias:
terminação do sujeito. Essa construção ocorre
com verbos que não apresentam complemento di- 1. Predicado verbal tem, como núcleo, uma forma verbal.
reto (verbos intransitivos, transitivos indiretos e de a) A estudante gosta de viajar nas férias.
ligação). O verbo obrigatoriamente fica na terceira Predicado: gosta de viajar nas férias
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pessoa do singular. Núcleo: gosta


Exemplos: Vive-se melhor após o avanço da tecno- b) Todo domingo à tarde ele vai ao cinema.
logia. (verbo intransitivo) Predicado: vai ao cinema
Precisa-se de vendedores com prática. (verbo transi- Núcleo: vai
tivo indireto)
2. Predicado nominal tem, como núcleo, uma forma no-
No dia da prova, sempre se fica nervoso. (verbo de
minal (adjetivo ou locução adjetiva).
ligação)
Os verbos que ocorrem nos predicados nominais são
c) com o verbo no infinitivo impessoal:
sempre de ligação.
Exemplos: Era penoso estudar Direito e Economia, Importante: Os termos que constituem o núcleo
simultaneamente. dos predicados nominais denominam-se predica-
É bom assistir a filmes antigos. tivos do sujeito.

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Exemplo: O filme foi emocionante.
Predicativo do sujeito e
Predicado: foi emocionante
Núcleo: emocionante (adjetivo que dá informação so-
predicativo do objeto
bre o substantivo sujeito. Sintaticamente, esse adjetivo É importante sistematizar a definição de predicativo, fun-
recebe a função de predicativo do sujeito). ção sintática relacionada à ocorrência, nas orações, de
predicados nominais ou verbo-nominais. Denomina-se
Exemplo: Ficaram animados com a programação para
predicativo a palavra ou locução de natureza nominal que
o final de semana. constitui o núcleo de um predicado nominal ou o núcleo de
Predicado: ficaram animados com a programação um predicado verbo-nominal. O predicativo pode se referir
para o final de semana. ao sujeito da oração – predicativo do sujeito –, no caso dos
Núcleo: animados (adjetivo que dá informação sobre predicados nominais, ou ao objeto da oração – predicativo
o sujeito oculto. Sintaticamente, esse adjetivo recebe a do objeto –, no caso dos predicados verbo-nominais.
função de predicativo do sujeito).
Exemplos:
3. Predicado verbo-nominal tem dois núcleos: um Ana saiu enfurecida.
núcleo constituído de uma forma verbal e um núcleo cons- Predicado: saiu enfurecida.
tituído de uma forma nominal.
Núcleo: enfurecida (predicativo do sujeito)
Exemplo: Os alunos chegaram cansados. Eles julgaram o criminoso culpado.
Predicado: chegaram cansados Predicado: julgaram o criminoso culpado
Núcleo verbal: chegaram Núcleo verbal: julgaram.
Núcleo nominal: cansados Núcleo nominal: culpado (predicativo do objeto).

TERMOS INTEGRANTES

Termos integrantes da oração § Objeto indireto é o termo que completa o sentido de


um verbo transitivo indireto. Vincula-se indiretamente
1. Complementos verbais completam o sentido de ver- aos verbos mediante uma preposição.
bos transitivos diretos e transitivos indiretos. Exemplo: Gostava de Matemática e Física.
§ Objeto direto é o termo que completa o sentido do 2. Complemento nominal – nomes (substantivos e ad-
verbo transitivo direto, ligando-se a ele sem o auxílio jetivos) e alguns advérbios, da mesma forma que os verbos,
da preposição. podem exigir um complemento para integrar seu sentido.
Exemplo: Os professores fizeram as resoluções dos Tais complementos de nomes são chamados complemen-
tos nominais e vêm sempre antecedidos por preposição.
exercícios.
§ Substantivo complemento nominal
O objeto direto pode ser constituído:
Exemplo: Ela tem orgulho da filha.
a) por um substantivo ou expressão substantivada.
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§ Adjetivo complemento nominal


Exemplos: O agricultor cultiva a terra. Exemplo: Ana estava consciente de sua escolha.
Unimos o útil ao agradável. § Advérbio complemento nominal
b) pelos pronomes oblíquos o, a, os, as, me, te, se, Exemplo: O juiz decidiu favoravelmente ao acusado.
nos, vos. Observação: O complemento nominal representa o re-
Exemplos: Espero-o na minha formatura. cebedor, o paciente, o alvo da declaração expressa por um
Ela me ama. nome. É regido pelas mesmas preposições do objeto indi-
reto. Difere dele apenas porque, em vez de complementar
Observação: Os pronomes oblíquos empregados no
verbos complementa nomes (substantivos, adjetivos) e al-
interior de um mesmo enunciado têm a função de ob-
guns advérbios terminados em -mente. Os complementos
jeto direto pleonástico. Aqueles livros (objeto direto)
nominais mantêm com os nomes o mesmo tipo de relação
na estante, eu os (objeto direto pleonástico do mesmo que os objetos mantêm com os verbos transitivos. Eles são
verbo) comprei na loja nova do shopping. necessários para complementar o sentido dos nomes.

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3. Agente da passiva é o termo da frase que pratica a Exemplo: A empresa foi comprada pela concorrente.
ação expressa pelo verbo na voz passiva analítica (construí- sujeito paciente verbo agente da passiva
da com o verbo ser). Vem regido comumente da preposição voz passiva
por e eventualmente da preposição de.
O concorrente comprou a empresa.
Exemplo: A vencedora foi escolhida pelos jurados.
sujeito verbo objeto direto
sujeito paciente voz passiva verbo Agente da passiva
voz ativa
Ao passar a frase da voz passiva para a voz ativa, o agente
da passiva recebe o nome de sujeito:
Exemplo: Os jurados escolheram a vencedora.
sujeito verbo objeto direto
voz ativa

TERMOS ACESSÓRIOS

Termos acessórios da oração Os termos em destaque estão indicando as seguintes cir-


cunstâncias:
Existem termos que, apesar de dispensáveis na estrutura bási- § “amanhã” indica tempo
ca da oração, são importantes para a compreensão do enun- § “de bicicleta” indica meio
ciado. Ao acrescentarem informações novas, esses termos: § “ao trabalho” indica lugar
§ caracterizam o ser;
§ determinam os substantivos; e
Classificação do adjunto adverbial
§ exprimem circunstância. Há algumas circunstâncias que o adjunto adverbial pode
expressar:
São termos acessórios da oração:
§ Acréscimo: Além de conhecimentos em Matemáti-
§ o adjunto adverbial ca, eram necessários também conhecimentos em Química.
§ o adjunto adnominal § Afirmação: Ele viajará com certeza.
§ o aposto § Assunto: Falávamos sobre cotas. (ou “de cotas”, ou
§ o vocativo “a respeito de cotas”).
§ Causa: Com a falta de chuvas, a seca propagou-se.
Adjunto adverbial § Companhia: Foi ao cinema com a namorada.
Como o próprio nome indica, trata-se de advérbio ou locu- § Concessão: Apesar da dificuldade do exercício,
ção adverbial associados a verbos, adjetivos ou a outro ad- conseguiu resolvê-lo.
vérbio, acrescentando circunstâncias específicas (no caso § Condição: Sem autorização, a criança não poderá
de verbos) ou intensificando seu sentido no contexto. embarcar.
§ Conformidade: Seguem os relatórios, conforme o
Exemplos: Eles lutaram muito por seus direitos.
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combinado (ou “segundo o combinado”).


Ele é muito inteligente. § Dúvida: Talvez seja melhor sair mais cedo.
Falou-se muito mal daquele filme.
§ Fim, finalidade: Viajei a trabalho.
Nessas três orações, o termo “muito” é adjunto adverbial § Frequência: Sempre ocupava o mesmo lugar à mesa.
de intensidade. § Instrumento: A redação deve ser feita à caneta.
No primeiro caso, muito intensifica a forma verbal lutaram, § Intensidade: A aluna estudava bastante.
que é núcleo do predicado verbal. § Lugar: Estou em casa.
No segundo, muito intensifica o adjetivo inteligente, que é § Matéria: A cadeira é feita de aço.
o núcleo do predicativo do sujeito. § Meio: Atravessou a cidade de ônibus.
Na terceira oração, muito intensifica o advérbio mal, que é § Modo: Fique à vontade para fazer seus comentários.
o núcleo do adjunto adverbial de modo. § Negação: Não se deve esquecer o horário da consulta.
Exemplo: Amanhã, vou de bicicleta ao trabalho. § Tempo: O expediente é das 8h às 17h.

9
Adjunto adnominal Exemplo: Ana é um amor de mãe.
A expressão de mãe é adjunto adnominal, uma vez
É o termo que determina, especifica ou explica um que mãe é agente de amar, pratica a ação de amar.
substantivo. O adjunto adnominal tem função adje-
tiva na oração, a qual pode ser desempenhada por ad- Aposto
jetivos, locuções adjetivas, artigos, pronomes adjetivos e
numerais adjetivos. É um termo que, acrescentado a outro termo da oração,
tem a função de ampliar, resumir, explicar ou desenvolver
Exemplo: O médico prescreveu dois remédios ao paciente.
mais o conteúdo do termo ao qual se refere.
Sujeito objeto direto objeto indireto
Nessa oração, os substantivos ”médico”, ”remédio” e ”pa- Exemplo: Ontem, domingo, passaram o dia no parque.
ciente” são núcleos, respectivamente, do sujeito determina- Domingo é aposto do adjunto adverbial de tempo "on-
do simples, do objeto direto e do objeto indireto. Ao redor tem". Diz-se que o aposto é sintaticamente equivalente
de cada um desses substantivos, agrupam-se os adjuntos ao termo a que se relaciona porque pode substituí-lo.
adnominais:
Exemplo: Domingo passaram o dia no parque.
§ o artigo o refere-se a médico;
Verifica-se, portanto, que, se "ontem" for eliminado, o
§ o numeral dois refere-se ao substantivo remédios;
substantivo "domingo" assume a função de adjunto
§ o artigo o (em ao) refere-se a paciente. adverbial de tempo.
Os adjuntos adnominais costumam ser expressos por: Exemplo:
§ adjetivos: crianças tagarelas, políticos corruptos; Gosto de todos os tipos de música:
objeto indireto
§ locuções adjetivas: anéis de ouro, livro de histórias;
§ artigos definidos e indefinidos: o papel, os papéis, rock, blues, chorinho, samba, etc.
aposto do objeto indireto
um papel, uns papéis;
§ pronomes possessivos: meu carro; Se for retirado o objeto da oração, seu aposto passa a exer-
§ pronomes demonstrativos: este carro; cer essa função:
§ pronomes indefinidos: algum carro; Exemplo: Gosto de rock, blues, chorinho, samba, etc.
§ pronomes Interrogativos: qual chave?; objeto indireto
§ pronomes relativos: na biblioteca cujos livros estão Observação: O aposto tem a mesma função sintática do
em mau estado; termo ao qual se relaciona.
§ numerais adjetivos: trezentos e cinquenta soldados.
Classificação do aposto
Distinção entre adjunto adnominal De acordo com a relação que estabelece com o termo a
e complemento nominal que se refere, o aposto pode ser classificado em:
É comum confundir o adjunto adnominal, na forma de lo- a) Explicativo: A Linguística, ciência da lingua-
cução adjetiva, com o complemento nominal. Para evitar gem, fornece subsídios importantes para o conheci-
que isso ocorra, considere o seguinte: mento da língua materna.
b) Enumerativo: A vida se compõe de muitas coisas:
a) Somente os substantivos podem ser acompanhados amor, trabalho e dinheiro.
de adjuntos adnominais; os complementos nominais c) Resumidor ou recapitulativo: Vida digna, ci-
podem ligar-se a substantivos, adjetivos e advérbios. O dadania plena, igualdade de oportunidades, tudo isso
termo ligado por preposição a um adjetivo ou a um está na base de um país melhor.
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advérbio só pode ser complemento nominal. Se não d) Comparativo: Drummond e Guimarães Rosa são
houver preposição ligando os termos, será um adjunto dois grandes escritores, aquele na poesia e este na
adnominal. prosa.
b) O complemento nominal equivale a um comple- Além desses, há o aposto especificativo, que difere dos de-
mento verbal, ou seja, mantém relação exclusivamente mais porque não é marcado por sinais de pontuação (vírgula
com os substantivos cujos significados transitam. Por- ou dois-pontos). O aposto especificativo individualiza um
tanto, seu valor é passivo, é sobre ele que recai a ação. substantivo de sentido genérico, prendendo-se a ele direta-
O adjunto adnominal tem sempre valor ativo. mente ou por meio de uma preposição, sem que haja pausa
Exemplo: Ana tem muito amor à mãe. na entonação da frase.
A expressão à mãe classifica-se como complemento Exemplos: O poeta Carlos Dummond de Andrade
nominal, uma vez que mãe é paciente de amar, recebe criou obra de expressão simples.
a ação de amar. A rua Augusta é um dos pontos turísticos de São Paulo.

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Vocativo Distinção entre vocativo e aposto
É um termo que não tem relação sintática com outro ter- O vocativo não mantém relação sintática com outro termo
mo da oração. Não pertence, portanto, nem ao sujeito nem da oração.
ao predicado. É o termo que serve para chamar, invocar ou Exemplo: Pessoal, vamos estudar mais.
interpelar um ouvinte real ou hipotético. Em razão de seu ca- Vocativo
ráter, geralmente se relaciona à segunda pessoa do discurso. O aposto mantém relação sintática com outro termo da oração.
Exemplo: Não se esqueçam de marcar todas as res- Exemplo: A vida de Marylin Monroe, artista
postas no gabarito, alunos! hollywoodiana, foi muito conturbada.
vocativo sujeito aposto
Exemplo: A vida, minha filha, é feita de escolhas. A colocação de pronomes oblíquos átonos em português
vocativo
pode ser realizada em três posições, obedecendo a regras
Nessas orações, os termos destacados são vocativos: indicam e condições específicas. Essas três posições são a próclise,
e nomeiam o interlocutor a quem se está dirigindo a palavra. a mesóclise e a ênclise.
Observações: o vocativo pode vir antecedido por in-
terjeições de apelo, tais como ó, olá, eh!, etc.
Ó mar salgado! Quanto do teu sal são lágrimas de Portugal.
Olá, prezado cliente! Entramos em contato para apre-
sentar novos produtos.

SINTAXE DE COLOCAÇÃO

1. Próclise d) Nas orações iniciadas por pronomes ou advérbios


de tipo interrogativo.
Temos próclise quando o pronome surge antes do verbo. Exemplos: Quem te chamou até aqui?
Suas condições de colocação são: (pronome interrogativo)
a) Nas orações que contenham uma palavra ou expres- Por que o convidaram?
são de valor negativo. (advérbio interrogativo)
Exemplos: Ninguém me ajuda.
e) Com gerúndio precedido de preposição “em”.
Não me fale de problemas hoje.
Nunca se esqueça do que lhe disse Exemplo: Em se tratando de pesquisas, melhor utili-
zar a biblioteca.
b) Nas conjunções subordinativas:
Exemplos: Voltarei a fazer contato se me interessar. f) Nas orações introduzidas por pronomes relativos.
Ela não quis jantar, embora lhe servissem o melhor prato. Exemplos: Foi aquele rapaz quem me pediu para falar
É necessário que o vendamos por um bom preço. com você.
Há situações que nos constrangem.
c) Nas orações em que existam pronomes indefini-
Essa foi a festa onde te conheci.
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dos ou advérbios, sem marcas de pausa.


Exemplos: Tudo me irrita nessa cidade. g) Com a palavra “só” (no sentido de “apenas” ou
(pronome indefinido) “somente”) e com as conjunções coordenativas alter-
Hoje se vive melhor no Brasil. nativas.
(advérbio) Exemplos: Só se lembram dos pais quando precisam
de dinheiro.
Observação: caso tenhamos marcas de pausa depois
Ou vai embora, ou se prepare para a bronca.
do advérbio, emprega-se ênclise.
Exemplo: Hoje, vive-se melhor no Brasil. h) Nas orações iniciadas por palavras exclamativas e
(advérbio) nas optativas (que exprimem desejo).
Exemplos: Deus o ilumine! (oração optativa)
Como te admiro! (oração exclamativa)

11
2. Mesóclise Exemplos: Fale-me o que está acontecendo.
Compravam-se muitos produtos antes da crise.
Temos mesóclise quando o verbo estiver em algum dos
tempos futuros do indicativo (futuro do presente ou futuro b) Nas orações imperativas afirmativas.
do pretérito), desde que não existam condições para a pró- Exemplos: Ligue para seu primo e avise-o do horário
clise. O pronome é colocado no meio do verbo. Ei, ajude-me com essa receita!
Exemplos: Comprar-lhe-ei umas roupas novas. c) Nas orações reduzidas de infinitivo.
(comprarei + lhe) Exemplos: Convém dar-lhe um pouco mais de tempo.
Encontrar-me-iam se realmente quisessem. Espero enviar-lhe isto até amanhã cedo.
(encontrar + me) d) Nas orações reduzidas de gerúndio (desde que
Observações: não venham precedidas de preposição “em”).
a) Havendo condições para a próclise, esta prevalece
Exemplos: A mãe adotiva ajudou a criança, dando-lhe
sobre a mesóclise:
carinho e proteção.
Exemplo: Sempre lhe contarei os meus segredos. (O
advérbio “sempre” exige o uso de próclise.) Ele se desesperou, deixando-se levar pela situação.
b) A mesóclise é de uso exclusivo da língua culta e da Observação: Se o verbo não estiver no início da frase,
modalidade literária. Não a encontramos na comuni- nem conjugado nos tempos Futuro do Presente ou Fu-
cação oral mais básica. turo do Pretérito, é possível usar tanto a próclise como
c) Com esses tempos verbais (futuro do presente e a ênclise.
futuro do pretérito) jamais ocorrerá a ênclise.
Exemplos: Eu me encontrei com ela.
3. Ênclise Eu encontrei-me com ela.

Temos ênclise quando o pronome surge depois do verbo. Como se viu, são orações não introduzidas por conjunção.
Seu emprego obedece às seguintes regras: São coordenadas, postas lado a lado e separadas por sinais
de pontuação.
a) Nos períodos iniciados por verbos (desde que não
estejam no tempo futuro), pois, segundo a gramática Exemplos: Vim, vi, venci.
normativa, não podemos iniciar frases com pronome Chegou; ninguém reparou nele: todos estavam ocupa-
oblíquo. dos em seus afazeres.

ORAÇÕES COORDENADAS

Orações coordenadas sindéticas “tanto... como” e semelhantes. Essas estruturas costu-


mam ser usadas se se pretende enfatizar o conteúdo
Conforme o tipo de conjunção que as introduz, as orações
coordenadas sindéticas podem ser aditivas, adversativas, da segunda oração.
alternativas, conclusivas ou explicativas. Ele não só canta, mas também (ou como também) in-
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a) As aditivas expressam ideia de adição, de acrésci- terpreta muito bem. Ela sabe tanto matemática como
mo. Regularmente indicam fatos, acontecimentos ou português.
pensamentos dispostos em sequência. As conjunções b) As adversativas exprimem fatos ou conceitos que se
coordenativas aditivas típicas são e e nem (e + não). opõem ao que se declara na oração coordenada ante-
Exemplos: Viajaram e trouxeram muitas fotos de lem- rior, estabelecendo entre elas contraste ou compensação.
brança. Mas é a conjunção adversativa típica. Além dela, empre-
Não trouxeram presentes nem fotos da última viagem. gam-se: porém, contudo, todavia, entretanto e as
Observação: A conjunção “nem” tem o valor da ex- locuções no entanto, não obstante, nada obstante.
pressão “e não”. Dessa forma, deve-se evitar, na língua Exemplos: Eles embarcariam para a Europa dentro de
escrita, a estrutura “e nem” para introduzir orações uma hora, mas perderam o voo.
aditivas. As orações sindéticas aditivas podem também O cachorro não é bonito; no entanto, é simpático.
estar ligadas pelas locuções “não só... mas (também)”, O problema é grave; contudo, há solução.

12
A conexão entre a oração subordinada adjetiva e o termo
Importante da oração principal que ela modifica é feita pelo pronome
Dependendo do contexto em que for empregada, a conjun- relativo “que”.
ção e pode indicar ideia de adversidade. Além de conectar (ou relacionar) duas orações, o prono-
Compraram vários presentes e perceberam depois que não me relativo desempenha uma função sintática na oração
caberiam nas malas. Deitou-se cedo e não conseguiu dormir. subordinada: ocupa o papel que seria exercido pelo termo
que o antecede.
c) As alternativas expressam ideia de alternância de fa-
tos ou escolha. Regularmente é usada a conjunção ou. Importante
Além dela, empregam-se também os pares: ora... ora; Para que dois períodos unam-se num período composto,
já... já; quer... quer; seja... seja, etc. altera-se o modo verbal da segunda oração, se necessário.
Exemplos: Diga agora ou cale-se para sempre. (apenas Dica: O pronome relativo “que” sempre pode ser subs-
a segunda é sindética, mas ambas são alternativas, dada tituído por: o qual, a qual, os quais, as quais.
a ideia de escolha.). Refiro-me ao livro que é referência. Essa oração é equi-
Ora mostra-se alegre, ora expressa tristeza profunda. valente a: Refiro-me ao livro o qual é referência.

Estarei lá, quer você aceite, quer não. (a segunda oração


fica subentendida, para evitar a redundância do mesmo Classificação das orações
verbo.) subordinadas adjetivas
Observação: Nesse último caso, o par “quer... quer” Na relação que estabelecem com o termo que caracteri-
está coordenando entre si duas orações que, na verda- zam, as orações subordinadas adjetivas podem atuar de
de, expressam concessão em relação a “Estarei lá”. É duas maneiras diferentes. Há as que restringem ou especi-
correspondente semanticamente a “embora você não ficam o sentido do termo a que se referem, individualizan-
queira, estarei lá”. do-o. Nessas orações, não há marcação de pausa; são as
chamadas orações subordinadas adjetivas restritivas.
d) As conclusivas exprimem conclusão ou consequência
referentes à oração anterior. As conjunções típicas são: Há também as orações que realçam um detalhe ou ampli-
ficam dados sobre o antecedente, já suficientemente defi-
logo, portanto e pois (posposto ao verbo). Usa-se ain-
nido; são as denominadas orações subordinadas adjetivas
da: então, assim, por isso, por conseguinte, de modo que, explicativas.
em vista disso, etc.
Exemplo: O homem que trabalha é útil à sociedade.
Exemplos: Tenho prova amanhã, portanto não posso
ir ao show. A ausência de vírgula restringe o sentido da palavra ho-
mem, designando um tipo de homem entre vários.
A situação econômica é delicada; devemos, pois, agir
com cautela. Trata-se de oração subordinada restritiva que apresenta va-
lor sintático de adjunto adnominal, uma vez que qualifica
O time jogou bem, por isso foi vencedor.
o termo anterior.
Aquela substância é toxica, logo deve ser manuseada
Exemplo: O homem, que trabalha, é útil à sociedade.
com cuidado.
A presença de vírgula amplia o sentido da palavra homem,
e) As explicativas indicam uma justificativa ou uma expli-
que pode ser entendida como todo homem.
cação referente ao fato expresso na declaração anterior.
Trata-se de oração subordinada explicativa, pois acrescenta
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As conjunções que merecem destaque são: que, porque


e pois (obrigatoriamente anteposto ao verbo). uma informação acessória; desempenha também valor sin-
tático de adjunto adnominal, uma vez que qualifica o termo
Exemplos: Vá com cuidado, que o caminho é perigoso.
anterior.
Mudou de emprego, porque estava farto da rotina.
Observação: A oração subordinada adjetiva explicativa é
Ligue para ela, pois hoje é o seu aniversário.
separada da oração principal por uma pausa, que, na es-
crita, é representada pela vírgula. É comum, por isso, que
Orações subordinadas adjetivas a pontuação seja indicada como forma de diferenciar as
Uma oração subordinada adjetiva tem valor e função de orações explicativas das restritivas. De fato, as explicativas
adjetivo, ou seja, equivale a essa classe de palavras. As vêm sempre isoladas por vírgulas; as restritivas, não.
orações adjetivas vêm introduzidas por pronome relativo Trata-se de uma construção com verbo que possui valor
e exercem a função de adjunto adnominal do antecedente. de substantivo (essa oração fica posicionada onde, habitu-
Exemplo: Este é o livro que te indiquei como referência. almente, deveria haver um substantivo) e vem introduzida,

13
geralmente, pelas conjunções integrantes “que” ou “se”.
Sintaticamente, podem exercer a função de: Substituindo a oração subordinada em destaque pelo
§ sujeito pronome “isso”, temos:
§ objeto direto É importante isso (ou, na ordem direta: Isso é importan-
§ objeto indireto te). Percebemos então que a função sintática do pro-
§ complemento nominal nome “isso” na construção é de sujeito. Vejamos outro
§ predicativo do sujeito exemplo:
§ aposto Não sei se entregaremos a encomenda hoje.
Substituindo a oração subordinada em destaque pelo
Atenção pronome “isso”, temos:
É importante, nesse momento, que sejam recuperados os Não sei isso (o pronome “isso” completa o sentido do ver-
conceitos de identificação de conjunções integrantes an- bo “saber”). Percebemos então que a função sintática do
teriormente estudados Lembremos que, para localizarmos pronome “isso” na construção é de objeto direto.
uma conjunção integrante, devemos substituir os elemen-
tos “que” ou “se” pelo pronome demonstrativo “isso”. A
função que couber ao pronome indicará a função exercida
pela oração.
Exemplos:
É importante que chegue cedo ao atendimento.

ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS

Classificação das orações § Oração principal: Tudo depende

subordinadas substantivas § Oração subordinada: de que ela se esforce. (sinta-


ticamente exerce função de objeto indireto da oração
De acordo com a função que exerce no período, a oração principal.)
subordinada substantiva pode ser:
d) completiva nominal: exerce a função de comple-
a) subjetiva: exerce a função sintática de sujeito do mento nominal (complementa o sentido de um nome
verbo da oração principal: que pertença à oração principal; também vem marcada
Exemplo: Não se sabe se ela foi embora.
por preposição).
§ Oração principal: Não se sabe
Exemplo: Sou favorável a que o absolvam.
§ Oração subordinada: se ela foi embora (sintatica-
§ Oração principal: Sou favorável
mente exerce função de sujeito da oração principal).
§ Oração subordinada: a que o absolvam. (sintati-
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b) objetiva direta: exerce a função de objeto direto


camente exerce função de complemento nominal da
do verbo da oração principal:
oração principal.)
Exemplo: Eu percebo que ficarei com bastante sono
hoje.
§ Oração principal: Eu percebo Importante
§ Oração subordinada: que ficarei com bastante sono Não podemos esquecer que as orações subordinadas
hoje (sintaticamente exerce função de objeto direto da substantivas objetivas indiretas integram o sentido de
oração principal). um verbo, enquanto as orações subordinadas substan-
c) objetiva indireta: exerce a função de objeto in- tivas completivas nominais integram o sentido de um
direto do verbo da oração principal (a conjunção inte- nome. Para distinguir uma da outra, é necessário levar
grante vem precedida de preposição). em conta o termo complementado.
Exemplo: Tudo depende de que ela se esforce.

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e) predicativa: exerce o papel de predicativo do su- f) apositiva: exerce a função de aposto de algum ter-
jeito do verbo da oração principal e vem sempre depois mo da oração principal.
do verbo “ser”. Exemplo: Coloco uma condição: que não me perturbe
Exemplo: O grande mal é que me esqueço das coisas. mais.
§ Oração principal: O grande mal é § Oração principal: Coloco uma condição
§ Oração subordinada: que me esqueço das coisas. § Oração subordinada: que não me perturbe mais.
(sintaticamente exerce função de predicativo da ora- (sintaticamente exerce função de aposto da oração
principal).
ção principal.)
Atenção: a oração subordinada substantiva apo-
sitiva é a única que pode prescindir da conjunção
integrante.

ORAÇÕES SUBORDINADAS ADVERBIAIS

Uma oração subordinada adverbial exerce a função de ad- tudo (assume valor de adjunto adverbial de con-
junto adverbial do verbo da oração principal. Dessa forma, sequência, uma vez que declara o efeito na oração
pode exprimir circunstância de tempo, modo, fim, causa, principal.)
condição, etc. Classifica-se de acordo com a conjunção ou c) condição
locução conjuntiva que a introduz.
Exemplo: Se o torneio for bem estruturado, todos sai-
Exemplo: Quando vi a pintura do artista, senti uma rão ganhando.
das maiores emoções de minha vida. § Oração principal: todos sairão ganhando.
A primeira oração, “Quando vi a pintura do artista”, atua § Oração subordinada: Se o torneio for bem estrutu-
como um adjunto adverbial de tempo, que modifica a for- rado (assume valor de adjunto adverbial de condição,
ma verbal “senti”. uma vez que a oração subordinada impõe-se como
Trata-se de uma oração subordinada adverbial temporal, necessária para a realização ou não de um fato sobre
uma vez que indica uma circunstância temporal acrescida a principal.)
ao verbo da segunda oração. É importante lembrar que a d) concessão
classificação das orações subordinadas adverbiais é feita
Exemplo: Embora não goste de cogumelos, vou pro-
do mesmo modo que a classificação dos adjuntos adver-
var o prato.
biais. Baseia-se na circunstância expressa pela oração.
§ Oração principal: vou provar o prato
A seguir, temos as circunstâncias expressas pelas orações
subordinadas adverbiais: § Oração subordinada: Embora não goste de co-
a) causa gumelos (assume valor de adjunto adverbial de con-
cessão, uma vez que admite uma ideia de cessão a
Exemplo: Como ninguém se interessou pelo projeto,
algum fato, ou mesmo anormalidade em relação a
não houve alternativa a não ser cancelá-lo.
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esse fato).
§ Oração principal: não houve alternativa a não ser
e) comparação
cancelá-lo.
Exemplo: Andava rápido como um foguete.
§ Oração subordinada: Como ninguém se interes-
sou pelo projeto (assume valor de adjunto adverbial § Oração principal: Andava rápido
de causa, uma vez que provoca um determinado fato, § Oração subordinada: como um foguete (assume
ao motivo do que se declara na oração principal.) valor de adjunto adverbial de comparação, uma vez
b) consequência que estabelece uma comparação com a ação indica-
da pelo verbo da oração principal).
Exemplo: Sua fome era tanta que comeu com casca
e tudo. f) conformidade
§ Oração principal: Sua fome era tanta Exemplo: Fez o bolo conforme a receita.
§ Oração subordinada: que comeu com casca e § Oração principal: Fez o bolo

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§ Oração subordinada: conforme a receita (assume § Oração principal: Viaja ao exterior
valor de adjunto adverbial de conformidade, pois ex- § Oração subordinada: à medida que a empresa
prime uma regra, um modelo adotado para a execu-
solicita seu trabalho (assume valor de adjunto adver-
ção do que se declara na oração principal).
bial proporcional, pois exprime ideia de proporção,
g) finalidade ou seja, um fato simultâneo ao expresso na oração
Exemplo: Li o manual a fim de aprender mais sobre principal).
como usar o produto.
i) tempo
§ Oração principal: Li o manual
Quando você for a Londres, traga-me um presente.
§ Oração subordinada: a fim de aprender mais so-
bre como usar o produto (assume valor de adjunto § Oração principal: traga-me um presente.
adverbial final, pois expressa a intenção, a finalidade § Oração subordinada: Quando você for a Londres
daquilo que se declara na oração principal). (assume valor de adjunto adverbial temporal, uma
h) proporção vez que acrescenta uma ideia de tempo ao fato ex-
Exemplo: Viaja ao exterior à medida que a empresa presso na oração principal, podendo exprimir noções
solicita seu trabalho. de simultaneidade, anterioridade ou posterioridade).

U.T.I. - Sala
1. (FUVEST 2019) Leia o texto.
Tio Ben cravou pouco antes de falecer: “Grandes poderes nunca vêm sozinhos”. E não há responsabilidade maior do
que tirar a vida de alguém. Isso, no entanto, não significa que super-heróis tenham a ficha completamente limpa. Na
verdade, uma olhada mais atenta nos filmes sobre os personagens confirma uma teoria não tão inocente – a grande
maioria deles é homicida.
Foi pensando nisso que um usuário do Reddit, identificado como T0M95, resolveu planilhar os assassinatos que acon-
tecem nos filmes da Marvel. Nos 20 longas, que saíram nos últimos 10 anos, foram 65 mortes – e 20 delas deixaram
sangue nas mãos dos mocinhos.
Vale dizer que o usuário contabilizou apenas mortes relevantes à história: só entraram na planilha vítimas que tinham,
pelo menos, nome antes de baterem as botas. Nada de figurantes ou bonecos criados em computação gráfica só para
dar volume a uma tragédia. Ficaram de fora, por exemplo, as centenas que morreram durante a batalha de Wakanda,
em “Vingadores: Guerra Infinita”, ou a cena de “Guardiões da Galáxia” que se consagrou como o maior massacre da
história do cinema.
https://super.abril.com.br/cultura/quantos_assassinatos_cada_heroi_e_vilao_da_marvel_cometeu_nos_cinemas.
Adaptado.
a) Qual o sentido das palavras “cravou” e “planilhar” destacadas no texto e qual o efeito que elas produzem?
b) Substitua os dois-pontos do trecho “Vale dizer que o usuário contabilizou apenas mortes relevantes à história: só entraram
na planilha vítimas que tinham, pelo menos, nome antes de baterem as botas” por uma conjunção e indique qual a relação de
sentido estabelecida por ela.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


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Ao oferecer-se para ajudar o cego, o homem que depois roubou o carro não tinha em mira, nesse momento preciso,
qualquer intenção malévola, muito pelo contrário, o que ele fez não foi mais que obedecer àqueles sentimentos de
generosidade e altruísmo que são, como toda a gente sabe, duas das melhores características do género humano,
podendo ser encontradas até em criminosos bem mais empedernidos do que este, simples 1ladrãozeco de automóveis
sem esperança de avanço na carreira, explorado pelos verdadeiros donos do negócio, que esses é que se vão aprove-
itando das necessidades de quem é pobre. (...) Foi só quando já estava perto da casa do cego que a ideia se lhe
apresentou com toda a naturalidade (...). Os cépticos acerca da natureza humana, que são muitos e teimosos, vêm
sustentando que se é certo que a ocasião nem sempre faz o ladrão, também é certo que o ajuda muito. 2Quanto a nós,
permitir-nos-emos pensar que se o cego tivesse aceitado o segundo oferecimento do afinal falso samaritano, naquele
derradeiro instante em que a bondade ainda poderia ter prevalecido, referimo-nos o oferecimento de lhe ficar a fazer
companhia enquanto a mulher não chegasse, quem sabe se o efeito da responsabilidade moral resultante da confi-
ança assim outorgada não teria inibido a tentação criminosa e feito vir ao de cima o que de luminoso e nobre sempre
será possível encontrar mesmo nas almas mais perdidas.
JOSÉ SARAMAGO. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

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2. (UERJ) Observe a mudança de posição do advérbio chineses atribuem a essa ideia de padrões cíclicos uma
afinal nos enunciados a seguir: estrutura definida, mediante a introdução dos opostos
yin e yang, os dois polos que fixam os limites para os
1) Quanto a nós, permitir-nos-emos pensar que se o
ciclos de mudança: “Tendo yang atingido seu clímax, re-
cego tivesse aceitado o segundo oferecimento do afinal
tira-se em favor do yin; tendo o yin atingido seu clímax,
falso samaritano, (ref. 2)
retira-se em favor do yang”.
2) Quanto a nós, permitir-nos-emos pensar que se o
cego tivesse aceitado afinal o segundo oferecimento Na concepção chinesa, todas as manifestações do tao
do falso samaritano. são geradas pela interação dinâmica desses dois polos
arquetípicos, os quais estão associados a numerosas im-
Explique a diferença de sentido entre os enunciados, a
agens de opostos colhidas na natureza e na vida social.
partir da posição do advérbio. Justifique, ainda, a opção
É importante, e muito difícil para nós, ocidentais, en-
pela primeira construção, tendo em vista a sequência
tender que esses opostos não pertencem a diferentes
dos acontecimentos.
categorias, mas são polos extremos de um único todo.
Nada é apenas yin ou apenas yang. Todos os fenômenos
3. (UFJF-PISM 3) Para responder à questão, leia o frag-
naturais são manifestações de uma contínua oscilação
mento da peça Se eu fosse Iracema, de Fernando Marque.
entre os dois polos; todas as transições ocorrem grad-
ualmente e numa progressão ininterrupta. A ordem nat-
A história do homem branco é história.
ural é de equilíbrio dinâmico entre o yin e o yang.
A ciência do homem branco é ciência.
CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutação. São Paulo: Editora
A religião do homem branco é religião. Cultrix. 1982. Tradução de Álvaro Cabral, pp. 32-33.
A arte do homem branco é arte.
TEXTO 2
A filosofia do homem branco é filosofia.
E a história de qualquer outro homem é folclore, Efeitos da mudança das condições
é caso, Tenho, até o presente, falado de mudanças — tão co-
é mentira, muns e tão diversas nos seres orgânicos reduzidos ao
é bobagem, estado doméstico e, em menor escala, naqueles que se
é superstição, encontram em estado selvagem — como se elas fossem
fortuitas. É, sem objeção, uma expressão muito incorre-
é lenda, ta; talvez, contudo, seja suficiente para demonstrar a
é enredo de escola de samba, nossa total ignorância sobre as razões de cada variação
é poesia de livro didático. particular.
Só o homem branco sabe, Alguns cientistas julgam que uma das funções do siste-
Só o homem branco sobe, ma reprodutor consiste tanto em produzir diferenças
Só o homem branco salva, individuais, ou pequenos desvios de estrutura, como
em produzir descendentes semelhantes aos pais. Mas
Os outros homens: selva.
o fato de as variações e de as deformações se apre-
MARQUES, Fernando. Se eu fosse Iracema. Rio de Janeiro, sentarem em maior número no estado doméstico que
2016. 20p. Folder elaborado para divulgação. no estado natural, o fato de as espécies que têm um
habitat muito extenso serem mais variáveis que as que
Releia o seguinte trecho:
têm um habitat restrito, permitem-nos concluir que a
“A filosofia do homem branco é filosofia. variabilidade deve ter, comumente, qualquer analogia
E a história de qualquer outro homem é folclore.” com as condições de sobrevida às quais cada espécie
Substitua a conjunção “e” por outra que não altere fun- foi submetida durante algumas gerações sucessivas.
Tentei provar que as mudanças de condições atuam de
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

damentalmente o sentido do trecho destacado. Justi-


fique sua escolha. duas maneiras: diretamente, sobre toda a organização,
ou sobre algumas partes unicamente do organismo;
4. (PUC-RJ) e indiretamente, por meio do sistema reprodutor. Em
todos os casos, há dois fatores: a natureza do organis-
TEXTO 1 mo, que é a mais importante das duas, e a natureza das
condições ambientes. Neste último caso, o organismo
Os filósofos chineses viam a realidade, a cuja essência
parece tornar-se plástico e encontramos uma grande
primária chamaram tao, como um processo de con-
variabilidade incerta. No primeiro caso, a natureza do
tínuo fluxo e mudança. Na concepção deles, todos os
organismo é tal que cede facilmente, quando submeti-
fenômenos que observamos participam desse processo
do a certas condições, e todos, ou quase todos os in-
cósmico e são, pois, intrinsecamente dinâmicos. A prin-
divíduos, se modificam da mesma maneira.
cipal característica do tao é a natureza cíclica de seu
movimento incessante; a natureza, em todos os seus as- É difícil delimitar até que ponto a alteração das
pectos — tanto os do mundo físico quanto os dos domí- condições — por exemplo, a alteração do clima, da al-
nios psicológico e social —, exibe padrões cíclicos. Os imentação, etc. — atua de uma maneira definida. Há

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razão para se acreditar que, no decurso do tempo, os Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem
efeitos destas alterações sejam tão marcantes que pos- donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao
sam ser provados por evidências claras. Contudo, po- mundo para ter aquele cachorro. Ele fremia suave-
demos concluir, sem receio de engano, que não se pode mente, sem latir. Ela olhava-o sob os cabelos, fascina-
atribuir unicamente a uma tal causa atualmente as da, séria. Quanto tempo se passava? Um grande soluço
adaptações de estrutura, tão numerosas e tão compli- sacudiu-a desafinado. Ele nem sequer tremeu. Também
cadas, que observamos na natureza entre os diferentes ela passou por cima do soluço e continuou a fitá-lo.
seres orgânicos. Os pelos de ambos eram curtos, vermelhos.
DARWIN, Charles. A origem das espécies. Rio de Janeiro: Ediouro Que foi que se disseram? Não se sabe. Sabe-se apenas
Publicações S.A., pp. 143-4 (Tradução de Eduardo Fonseca, 2004.) que se comunicaram rapidamente, pois não havia tem-
po. Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pe-
a) Reescreva o trecho “Os opostos não pertencem a
diam-se com urgência, com encabulamento, surpreen-
diferentes categorias.”, substituindo o verbo “perten-
didos.
cer” por “derivar”. Faça as modificações necessárias.
No meio de tanta vaga impossibilidade e de tanto sol,
b) Destaque do Texto 1 a palavra em que o prefixo
ali estava a solução para a criança vermelha. E no meio
“in” apresenta o mesmo sentido que na palavra “in-
de tantas ruas a serem trotadas, de tantos cães maiores,
cessante”.
de tantos esgotos secos − lá estava uma menina, como
c) Indique a palavra ou expressão a que se refere a
se fora carne de sua ruiva carne. Eles se fitavam profun-
última ocorrência de “que” no Texto 2. dos, entregues, ausentes de Grajaú. Mais um instante e
d) No Texto 2, o enunciador apresenta suas reflexões o suspenso sonho se quebraria, cedendo talvez à gravi-
acerca do que está sendo observado e das investi- dade com que se pediam.
gações que vem desenvolvendo. Destaque, do último
Mas ambos eram comprometidos.
parágrafo, a expressão que, em si mesma, denota cer-
teza a respeito do que é enunciado. Ela com sua infância impossível, o centro da inocência
que só se abriria quando ela fosse uma mulher. Ele, com
TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: sua natureza aprisionada. A dona esperava impaciente
sob o guarda-sol. O basset ruivo afinal despregou-se
Tentação da menina e saiu sonâmbulo. Ela ficou espantada, com
Ela estava com soluço. E como se não bastasse a clari- o acontecimento nas mãos, numa mudez que nem pai
dade das duas horas, ela era ruiva. nem mãe compreenderiam. Acompanhou-o com olhos
pretos que mal acreditavam, debruçada sobre a bolsa e
Na rua vazia as pedras vibravam de calor − a cabeça da os joelhos, até vê-lo dobrar a outra esquina.
menina flamejava. Sentada nos degraus de sua casa, ela
Mas ele foi mais forte que ela. Nem uma só vez olhou
suportava. Ninguém na rua, só uma pessoa esperando
para trás.
inutilmente no ponto do bonde. E como se não bastasse
LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira.
seu olhar submisso e paciente, o soluço a interrompia
Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964, p. 67-69
de momento a momento, abalando o queixo que se
apoiava conformado na mão. Que fazer de uma menina Ternura
ruiva com soluço? Olhamo-nos sem palavras, desalen-
to contra desalento. Na rua deserta nenhum sinal de Eu te peço perdão por te amar de repente
bonde. Numa terra de morenos, ser ruivo era uma re- Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ou-
volta involuntária. Que importava se num dia futuro vidos
sua marca ia fazê-la erguer insolente uma cabeça de Das horas que passei à sombra dos teus gestos
mulher? Por enquanto ela estava sentada num degrau Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
faiscante da porta, às duas horas. O que a salvava era
Das noites que vivi acalentado
uma bolsa velha de senhora, com alça partida. Segura-
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

va-a com um amor conjugal já habituado, apertando-a Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
contra os joelhos. Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Foi quando se aproximou a sua outra metade neste
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das
mundo, um irmão em Grajaú. A possibilidade de comu-
promessas
nicação surgiu no ângulo quente da esquina, acompan-
hando uma senhora, e encarnada na figura de um cão. Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
Era um basset lindo e miserável, doce sob a sua fatali- É um sossego, uma unção, um transbordamento de carí-
dade. Era um basset ruivo. cias
Lá vinha ele trotando, à frente de sua dona, arrastando E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
seu comprimento. Desprevenido, acostumado, cachorro. E deixes que as mãos cálidas da noite ncontrem sem fa-
A menina abriu os olhos pasmada. Suavemente avisa- talidade o olhar extático da aurora
do, o cachorro estacou diante dela. Sua língua vibrava. MORAES, Vinicius de. Antologia poética.
Ambos se olhavam. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p.92-3.

18
5. (PUC-RJ) Ternura TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
a) No poema Ternura, o eu lírico dirige-se à amada Ética
usando a 2ª pessoa tu. Reescreva o verso a seguir, A palavra “ética” vem do grego ethos, tal como “mor-
substituindo os pronomes oblíquos sublinhados por al” vem do latim mores. Sintomaticamente, tanto ethos
seus correspondentes, de modo que a 2ª pessoa em- como mores significam costumes. De acordo com essa
pregada passe a ser “você”. significação original, as normas de conduta e a definição
“Eu te peço perdão por te amar de repente” do que era certo e do que era errado eram impostas aos
b) Em “Sabe-se apenas que se comunicaram ra- indivíduos pela comunidade, e os indivíduos as aceita-
pidamente, pois não havia tempo.” (8º parágrafo vam (tendiam a concordar com o castigo, quando as in-
do conto Tentação), a palavra “se” apresenta dois fringiam). Desse modo, podemos dizer que, num tempo
comportamentos distintos. Explique a diferença de muito antigo, os seres humanos já conheciam valores. E
sentido entre eles. podemos dizer mais: esses valores, embutidos nas nor-
mas de conduta, eram inculcados nos indivíduos pelo
grupo. A comunidade precedia a individualidade.
U.T.I. - E.O. Posteriormente, quando se desenvolveu a atividade mer-
cantil, o comércio exigia a ampliação do espaço para a
1. (UFJF-PISM 2) Nova data? Escola não libera muçul- autonomia individual (o comerciante precisava de espaço
manos para festa religiosa para se deslocar para o lugar certo na hora exata em que
Diretor afirmou que aqueles que não comparecessem podia comprar barato e vender caro, a fim de ser bem
às aulas levariam falta sucedido, por sua livre iniciativa pessoal). Os indivíduos
Nesta quinta-feira (24), a religião Islã comemora a Fes- mais autônomos passaram a se defrontar com situações
ta do Sacrifício, uma das datas religiosas mais impor- nas quais não podiam se limitar a obedecer às normas
tantes para os muçulmanos. Apesar do feriado religioso, pré-fixadas pela comunidade e essas normas começaram
uma escola no Reino Unido não liberou seus alunos das a perder o vigor. Os indivíduos passaram a enfrentar o
aulas e informou que aqueles que não comparecessem desafio de decidir por conta própria o que era certo e
levariam falta. As informações são do Independent. o que era errado. Por mais autônomos que se tornem,
entretanto, os indivíduos não podem subsistir sozinhos,
Normalmente, em feriados religiosos, as escolas ten- precisam da sociedade para sobreviver ao nascer, para
dem a dar uma "falta autorizada" aos alunos de deter- crescer, para assimilar uma linguagem. A dimensão social
minada religião. No entanto, a instituição afirmou aos nas pessoas é ineliminável.Por isso, ao tentarem justificar
pais que os alunos muçulmanos não seriam liberados e suas escolhas, ao tentarem esclarecer os fundamentos de
poderiam comemorar a data na sexta-feira (25), quan- sua preferência, ao tentarem hierarquizar seus valores, os
do a escola estará fechada pra um treinamento dos pro- indivíduos são levados a formular princípios que devem
fessores. "Sexta-feira não significa nada. O Eid al-Adha valer tanto para eles como para os outros. Quer dizer: são
(Festa do Sacrifício) é na quinta", disse a mãe de uma levados a elaborar uma ética (uma pauta de conduta) que
das alunas da escola, que estranhou a decisão da insti- só pode ser proposta seriamente aos outros (à sociedade)
tuição, já que as crianças normalmente são liberadas. se puder se basear naquilo que cada indivíduo tem de
A carta enviada pela diretoria aos pais dizia: "Nós per- universal. Toda pessoa é um indivíduo singular, com dese-
mitimos que os estudantes registrados como muçul- jos e interesses particulares, mas é também — poten-
manos tenham um dia de falta autorizada para celebrar cialmente — um representante da humanidade (Kant).
a ocasião. A sexta-feira, 25 de setembro, quando a Ac- Coexistem dentro de cada um de nós, segundo Kant, o
ademia estará fechada para alunos, foi reservada para representante da humanidade e o indivíduo sempre par-
isso. Nesse dia todos os alunos terão direito a uma falta ticular. Por isso, o ser humano é “social-insociável”.
autorizada". Texto modificado de KONDER, Leandro. Ética. In: YUNES,
Muitos pais ficaram insatisfeitos e alunos não foram à Eliana & BINGEMER, M. Clara Lucchetti. Virtudes. Rio de
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Janeiro: Ed. PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2001. pp. 86-87.


escola, apesar da posição da diretoria. No feriado da
Festa do Sacrifício, os muçulmanos reservam o dia para 2. (PUC-RJ)
rezar, trocar presentes e comemorar com a família e
a) Conservando o sentido original, reescreva a frase
amigos.
http://noticias.terra.com.br/educacao/nova-data-escola-
abaixo, atendendo ao início proposto em cada item:
nao-libera-muculmanos-para-festa-religiosa,1359610 “Toda pessoa é um indivíduo singular, com desejos e in-
477ae131c95eb751344b0b21e8mkih63u.html teresses particulares, mas é também — potencialmente
Releia o trecho abaixo: — um representante da humanidade.”
i) Apesar de
“Muitos pais ficaram insatisfeitos e alunos não foram à
escola apesar da posição da diretoria. No feriado da Fes- ii) Embora
ta do Sacrifício, os muçulmanos reservam o dia para rezar, b) Comente as mudanças estruturais e semânticas de-
trocar presentes e comemorar com a família e amigos”. correntes do emprego das preposições nas frases abaixo:
Por que razão foi usado o verbo no pretérito perfeito na Consciência e responsabilidade são condições indispen-
primeira frase e no presente, na segunda? sáveis da vida ética.

19
3. (PUC-RJ) A tarefa de desenvolver as capacidades in- gigantesca dívida social com a necessidade de defender
telectuais e morais do sujeito universal, como condição a Amazônia, os mares, nossos grandes rios na América.
de aprimoramento da personalidade do indivíduo, jun- Carrego o dever de lutar por pátria para todos.
tamente com a inserção social e a reprodução dos con- Nossa civilização montou um desafio mentiroso e, as-
teúdos culturais da tradição, formam o esteio da inten- sim como vamos, não é possível satisfazer esse sentido
cionalidade educativa moderna. A escola deve assumir de esbanjamento que se deu à vida. Isso se massifica
o compromisso com o desenvolvimento das estruturas
como uma cultura de nossa época, sempre dirigida pela
mentais do sujeito para que ele seja capaz de operar
acumulação e pelo mercado.
em níveis de abstração elevada. 1Essa é uma condição
necessária para que os processos de tomada de con- Prometemos uma vida de esbanjamento, e, no fundo,
sciência superem a racionalidade instrumental e habi- constitui uma conta regressiva contra a natureza, con-
litem o sujeito frente às possibilidades da competência tra a humanidade no futuro. Civilização contra a sim-
comunicativa. plicidade, contra a sobriedade, contra todos os ciclos
Cabe à escola favorecer uma aprendizagem crítica do naturais.
conhecimento científico, promover a discursividade O pior: civilização contra a liberdade que supõe ter tem-
dos alunos e a discussão pública das formas de racio- po para viver as relações humanas, as únicas que tran-
nalidade subjacentes aos processos escolares. [...] A scendem: o amor, a amizade, aventura, solidariedade,
construção de uma razão que se descentra é condição família.
necessária para que o sujeito reconheça outras razões
e seja capaz de agir com competência no discurso argu- Civilização contra tempo livre que não é pago, que não
mentativo, fundamental para a racionalidade comunica- se pode comprar, e que nos permite contemplar e es-
tiva que opera nas bases de um pensamento refletido, quadrinhar o cenário da natureza. Arrasamos a selva,
tornando conscientes os seus esquemas de ação. as selvas verdadeiras, e implantamos selvas anônimas
de cimento. Enfrentamos o sedentarismo com esteiras,
Texto adaptado de LIMA, João Francisco Lopes de. A
reconstrução da tarefa educativa: uma alternativa para a crise e a a insônia com comprimidos, a solidão com eletrônicos,
desesperança. Porto Alegre: Editora Mediação, 2003, p. 103. porque somos felizes longe da convivência humana.
a) Reescreva o trecho a seguir sem a palavra que. Ouvimos da biologia que defende a vida pela vida,
Faça as modificações necessárias. como causa superior, e a suplantamos com o consumis-
“Essa é uma condição necessária para que os pro- mo funcional à acumulação.
cessos de tomada de consciência superem a racio- A política, eterna mãe do acontecer humano, ficou lim-
nalidade instrumental e habilitem o sujeito frente às itada à economia e ao mercado. De salto em salto, a
possibilidades da competência comunicativa” (refe- política não pode mais que se perpetuar, e, como tal,
rência 1) delegou o poder, e se entretém, aturdida, lutando pelo
b) Com relação à frase abaixo, faça o que é pedido governo. Debochada marcha de historieta humana,
a seguir. comprando e vendendo tudo, e inovando para poder
“A escola deve assumir o compromisso com o desen- negociar de alguma forma o que é inegociável. Há mar-
volvimento das estruturas mentais do sujeito para keting para tudo, para os cemitérios, os serviços fúne-
que ele seja capaz de operar em níveis de abstração bres, as maternidades, para pais, para mães, passando
elevada.” pelas secretárias, pelos automóveis e pelas férias. Tudo,
i. Determine o valor semântico do verbo auxiliar dever tudo é negócio.
na locução “deve assumir”. Todavia, as campanhas de marketing caem deliberada-
ii. Indique um outro verbo auxiliar que mantenha o mente sobre as crianças, e sua psicologia para influir
mesmo sentido da expressão sublinhada e que forme sobre os adultos e ter, assim, um território assegurado
uma locução verbal com o verbo operar. no futuro. Sobram provas de que essas tecnologias são
bastantes abomináveis e que, por vezes, conduzem a
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

frustrações e mais.
Discurso do presidente do Uruguai, José Pepe Mujica, O homenzinho médio de nossas grandes cidades peram-
na Assembleia da ONU/2013 bula entre os bancos e o tédio rotineiro dos escritórios,
Sou do sul e venho do sul a esta Assembleia, carrego às vezes temperados com ar condicionado. Sempre sonha
inequivocamente os milhões de compatriotas pobres, com as férias e com a liberdade, sempre sonha com pa-
nas cidades, nos desertos, nas selvas, nos pampas, nas gar as contas, até que, um dia, o coração para, e adeus.
depressões da América Latina, pátria de todos que está Haverá outro soldado abocanhado pelas presas do mer-
se formando. cado, assegurando a acumulação. A crise é a impotência,
Carrego as culturas originais esmagadas com os restos a impotência da política, incapaz de entender que a hu-
de colonialismo nas Malvinas, com bloqueios inúteis a manidade não escapa nem escapará do sentimento de
este jacaré sob o sol do Caribe que se chama Cuba. Car- nação. Sentimento que está quase incrustado em nosso
rego as consequências da vigilância eletrônica, que não código genético.
faz outra coisa que não despertar desconfiança. Des- Hoje é tempo de começar a talhar para preparar um mun-
confiança que nos envenena inutilmente. Carrego uma do sem fronteiras. A economia globalizada não tem mais

20
condução que não seja o interesse privado, de muitos Ouçam bem, queridos amigos: em cada minuto no mun-
poucos, e cada Estado Nacional mira sua estabilidade do se gastam US$ 2 milhões em ações militares nesta
continuísta, e hoje a grande tarefa para nossos povos, em Terra. Dois milhões de dólares por minuto em inteligên-
minha humilde visão, é o todo. cia militar!! Em investigação médica de todas as enfer-
Talvez nosso mundo necessite menos de organismos midades que avançaram enormemente, cuja cura dá às
mundiais, desses que organizam fóruns e conferências, pessoas uns anos a mais de vida, a investigação cobre
que servem muito às cadeias hoteleiras e às companhias apenas a quinta parte da investigação militar.
aéreas e, no melhor dos casos, não reúnem ninguém e Amigos, creio que é muito difícil inventar uma força
nem se transformam em decisões. pior que nacionalismo chauvinista das grandes potên-
Continuarão as guerras e, portanto, os fanatismos, até cias. A força é que liberta os fracos. O nacionalismo, tão
que, talvez, a mesma natureza faça um chamado à ordem pai dos processos de descolonização, formidável para
os fracos, se transforma em uma ferramenta opressora
e torne inviáveis nossas civilizações. Talvez nossa visão
nas mãos dos fortes e, nos últimos 200 anos, tivemos
seja demasiado crua, sem piedade, e vemos ao homem
exemplos disso por toda a parte.
como uma criatura única, a única que há acima da ter-
ra capaz de ir contra sua própria espécie. Volto a repetir, Até que o homem não saia dessa pré-história e arquive
porque alguns chamam a crise ecológica do planeta de a guerra como recurso quando a política fracassa, essa
consequência do triunfo avassalador da ambição huma- é a larga marcha e o desafio que temos daqui adiante.
na. Esse é nosso triunfo e também nossa derrota, porque E o dizemos com conhecimento de causa. Conhecemos
temos impotência política de nos enquadrarmos em uma a solidão da guerra. No entanto, esses sonhos, esses de-
nova época. E temos contribuído para sua construção safios que estão no horizonte, implicam lutar por uma
sem nos dar conta. agenda de acordos mundiais que comecem a governar
nossa história e superar, passo a passo, as ameaças à
A cobiça, tão negativa e tão motor da história, essa que
vida. A espécie como tal deveria ter um governo para a
impulsionou o progresso material, técnico e científico,
humanidade que superasse o individualismo e primasse
que fez o que é nossa época e nosso tempo, um fenome-
por recriar cabeças políticas que acudam ao caminho da
nal avanço em muitas frentes, paradoxalmente, essa mes-
ciência, e não apenas aos interesses imediatos que nos
ma ferramenta, a cobiça, que nos impulsionou a domesti-
governam e nos afogam.
car a ciência e transformá-la em tecnologia, nos precipita
a um abismo nebuloso. A uma história que não conhece- Paralelamente, devemos entender que os indigentes
mos, a uma época sem história, e estamos ficando sem do mundo não são da África ou da América Latina, mas
olhos nem inteligência coletiva para seguir colonizando e da humanidade toda, e esta deve, como tal, globaliza-
para continuar nos transformando. da, empenhar-se em seu desenvolvimento, para que
possam viver com decência de maneira autônoma. Os
Porque se há uma característica deste bichinho humano é
recursos necessários existem, estão neste depredador
a de que é um conquistador antropológico.
esbanjamento de nossa civilização.
Parece que as coisas tomam autonomia e essas coisas
Há poucos dias, fizeram na Califórnia, em um corpo de
subjugam os homens. De um lado a outro, sobram ativos
bombeiros, uma homenagem a uma lâmpada elétrica
para vislumbrar tudo isso e para vislumbrar o rombo. Mas
que está acesa há cem anos. Cem anos que está ace-
é impossível para nós coletivizar decisões globais por esse
sa, amigo! Quantos milhões de dólares nos tiraram dos
todo. A cobiça individual triunfou grandemente sobre a
bolsos fazendo deliberadamente porcarias para que as
cobiça superior da espécie. Aclaremos: o que é “tudo”,
pessoas comprem, comprem, comprem e comprem.
essa palavra simples, menos opinável e mais evidente?
Em nosso Ocidente, particularmente, porque daqui vie- Mas esta globalização de olhar para todo o planeta e
mos, embora tenhamos vindo do sul, as repúblicas, que para toda a vida significa uma mudança cultural brutal.
nasceram para afirmar que os homens são iguais, que É o que nos requer a história. Nosso dever biológico, aci-
ma de todas as coisas, é respeitar a vida e impulsioná-la,
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

ninguém é mais que ninguém, que os governos deveriam


representar o bem comum, a justiça e a igualdade. Muitas cuidá-la, procriá-la e entender que a espécie é nosso
vezes, as repúblicas se deformam e caem no esquecimen- “nós”.
to da gente que anda pelas ruas, do povo comum. Transcrição e tradução do discurso feitas por Kiko Nogueira
Disponível em: <http://www.diariodocentrodomundo.com.br/>.
Não foram as repúblicas criadas para vegetar, mas, ao Acesso em: 26 set. 2013. (Adaptado).
contrário, para serem um grito na história, para fazer
funcionais as vidas dos próprios povos e, portanto, as 4. (UFG) Considerando o trecho “Porque se há uma ca-
repúblicas que devem às maiorias e devem lutar pela racterística deste bichinho humano é a de que é um
promoção das maiorias. conquistador antropológico”,
Seja o que for, por reminiscências feudais que estão em a) explique a função de “porque” para o desenvolvi-
nossa cultura, por classismo dominador, talvez pela cul- mento da temática explorada por Mujica.
tura consumista que rodeia a todos, as repúblicas fre- b) Além de bichinho, Mujica usa outra palavra no dimi-
quentemente, em suas direções, adotam um viver diário nutivo. Transcreva-a do texto e explique o sentido que
que exclui, que se distancia do homem da rua. essa palavra confere aos argumentos do presidente.

21
5. (PUC-RJ) pressente alguma aguada, por má que seja, apeia-se,
desencilha o cavalo e reunindo logo uns gravetos bem
TEXTO 1
secos, tira fogo do isqueiro, mais por distração do que
Apesar de consideradas pela crítica, durante muito tem- por necessidade.
po, uma manifestação menor da literatura, as narrativas
Sente-se deveras feliz. Nada lhe perturba a paz do es-
de viagem viveram momentos de glória no passado. In-
pírito ou o bem-estar do corpo. Nem sequer monologa,
úmeros escritores se dedicaram ao gênero, e eram mui-
como qualquer homem acostumado a conversar.
tos os leitores aficionados pelos relatos de aventuras. Na
forma de diários, memórias ou simplesmente impressões
1
Raros são os seus pensamentos: ou rememora as
de viagens, os textos surgiam aos borbotões, nos sécu- léguas que andou, ou computa as que tem que vencer
los XVIII e XIX, ora inspirados pelo Velho, ora pelo Novo para chegar ao término da viagem.
Mundo, expressando sempre o olhar fascinado, a curio- No dia seguinte, quando aos clarões da aurora acor-
sidade e o desejo do viajante de deixar registrada a sua da toda aquela esplêndida natureza, recomeça ele a
experiência, que ele julgava ímpar. caminhar, como na véspera, como sempre.
Na Europa, os destinos mais buscados eram a Alemanha, Nada lhe parece mudado no firmamento: as nuvens de
a Itália e a Espanha, fosse pela mitologia, pela glória si para si são as mesmas. 2Dá-lhe o Sol, quando muito,
passada ou pela profusão de ruínas históricas. 1E não im- os pontos cardeais, e a terra só lhe prende a atenção,
portava se a viagem durasse semanas, meses ou anos; quando algum sinal mais particular pode servir-lhe de
interessava relatá-la e assim se inscrever na tradição do marco miliário na estrada que vai trilhando.
gênero. Dentre os mais ilustres viajantes, Goethe, Mme. TAUNAY, Visconde de. Inocência. Disponível em: <http://www.
de Stäel, Victor Hugo, Michelet, Lamartine e Mérimée dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000002.pdf>.

foram autores que incentivaram outros escritores a tam- Acesso em: 20 set. 2012.
bém excursionar e a escrever sobre as novas terras.
a) Com base na frase abaixo, extraída do texto 1, de-
A América foi igualmente pródiga em inspirar viajantes termine a diferença que se estabelece entre os dois
- em sua maioria pintores, botânicos, naturalistas, ar- empregos da palavra se.
queólogos ou simples aventureiros -, ainda que a maioria “E não importava se a viagem durasse semanas, me-
não tivesse pretensões literárias e quisesse apenas fazer ses ou anos; interessava relatá-la e assim se inscrever
anotações acerca da geografia, fauna e flora tropical das na tradição do gênero.” (ref. 1)
novas terras.
b) Reescreva o período abaixo, fazendo as alterações
Octavio Ianni, em A metáfora da viagem, afirma que a necessárias para atender ao que é proposto.
história dos povos “está atravessada pela viagem”, não
“Raros são os seus pensamentos: ou rememora as lé-
importa se real (se ocorre o deslocamento geográfico,
guas que andou, ou computa as que tem que vencer
espacial e temporal), ou metafórica (sem o deslocamen-
para chegar ao término da viagem.” (Texto 2 – ref. 1)
to físico, mas apenas o sensível ou sensorial), pois toda
sociedade trabalha a viagem, “seja como modo de de- Raros eram
scobrir o ‘outro’, seja como modo de descobrir o ‘eu’”. A c) Com relação à passagem “Dá-lhe o Sol, quando
viagem destina-se, portanto, a ultrapassar fronteiras, a muito, os pontos cardeais, e a terra só lhe prende a
demarcar as diferenças e as semelhanças entre os povos. atenção” (Texto 2 – ref. 2), explique por que o verbo
E, se consideramos as condições em que os deslocamen- dar encontra-se flexionado na 3ª pessoa do singular.
tos eram realizados, as enormes distâncias, o desconfor- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
to de navios, carros de bois e ferrovias, além dos perigos
de toda natureza a que estavam sujeitos, causa espan- Sobre as memórias (fragmento)
to encontrar tantas mulheres, dentre os viajantes, que Rubem Alves
ousaram deixar a segurança de seus lares, suas famílias
Memória é onde se guardam as coisas do passado.
e enfrentar o preconceito, as novas fronteiras, o descon-
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

hecido. Há dois tipos de memória: memórias sem vida própria e


memórias com vida própria.
DUARTE, Constância Lima; MUZZART, Zahidé Lupinacci.
Pensar o outro ou quando as mulheres viajam. Revista Estudos As memórias sem vida própria são inertes. Não têm von-
Feministas. vol.16 n.3. Florianópolis. Setembro/dezembro. tade. 1Sua existência é semelhante à das ferramentas
2008. Apresentação. Disponível em: <http://www.scielo.br/ guardadas numa caixa. Não se mexem. Ficam imóveis
scielo.php?pid=S0104-026X2008000300018&script=sci_
nos seus lugares, à espera. À espera de quê? 2À espera
arttext>. Acesso em: 12 ago. 2012.
de que as chamemos. 3Ao chegar a um hotel, a recep-
TEXTO 2 cionista nos entrega uma ficha para ser preenchida. 4Lá
estão os espaços em branco onde deverei escrever meu
Espalham-se, por fim, as sombras da noite. nome, endereço, número da carteira de identidade, do
O sertanejo que de nada cuidou, que não ouviu as har- CPF, número do telefone, e-mail. Abro a minha caixa de
monias da tarde, nem reparou nos esplendores do céu, memórias sem vida própria e encontro as informações
que não viu a tristeza a pairar sobre a terra, que de nada pedidas. Se desejo ir do meu apartamento à casa de
se arreceia, consubstanciado como está com a solidão, um amigo, eu pergunto: que ruas tomar para chegar lá?
para, relanceia os olhos ao derredor de si e, se no lagar Abro a caixa de ferramentas e lá encontro um mapa do

22
itinerário que devo seguir. É da caixa das memórias sem Depois de cumprir meus afazeres, voltei para casa,
vida própria que se valem os alunos para responder às pendurei o guarda-chuva a um canto e me pus a con-
questões propostas pelo professor numa prova. Se a templá-lo. Senti então uma certa simpatia por ele; meu
memória não estiver lá, ele receberá uma nota má... velho rancor contra os guarda-chuvas cedeu lugar a um
São essas as memórias que os neurologistas testam estranho carinho, e eu mesmo fiquei curioso de saber
para ver se uma pessoa está sofrendo do 5mal de Alzhei- qual a origem desse carinho.
mer. O médico, como quem não quer nada, vai discreta- Pensando bem, ele talvez derive do fato, creio que já
mente fazendo perguntas sobre a cidade onde nasceu, notado por outras pessoas, de ser o guarda-chuva o ob-
o nome dos pais, onde moram os filhos. Se a pessoa não jeto do mundo moderno mais 1infenso a mudanças. Sou
souber responder é porque sua caixa de memórias está apenas um quarentão, e praticamente nenhum objeto
vazia. Essas memórias são muito importantes. Sem elas de minha infância existe mais em sua forma primiti-
não poderíamos nos virar na vida. Estaríamos sempre va. De máquinas como telefone, automóvel, etc., nem
perdidos. é bom falar. Mil pequenos objetos de uso mudaram de
forma, de cor, de material; em alguns casos, é verdade,
6
As memórias com vida própria, ao contrário, não ficam
para melhor; mas mudaram.
quietas dentro de uma caixa. 7São como pássaros em
voo. Vão para onde querem. E podemos chamá-las que O guarda-chuva tem resistido. Suas irmãs, as sombrinhas,
elas não vêm. Só vêm quando querem. Moram em nós, já se entregaram aos piores 2desregramentos futuristas
mas não nos pertencem. O seu aparecimento é sempre e tanto abusaram que até caíram de moda. Ele perman-
uma surpresa. É que nem suspeitávamos que estives- eceu 3austero, negro, com seu cabo e suas invariáveis
sem vivas! A gente vai calmamente andando pela rua e, varetas. De junco fino ou 4pinho vulgar, de algodão ou
de repente, um cheiro de pão. E nos lembramos da 8mãe de seda animal, pobre ou rico, ele se tem mantido digno.
assando pães na cozinha. Reparem que é um dos engenhos mais curiosos que o
homem já inventou; tem ao mesmo tempo algo de ridí-
(...)
culo e algo de fúnebre, essa pequena barraca ambulante.
Uma leitora enviou-me um e-mail em inglês. Descul-
Já na minha infância era um objeto de ares antiquados,
pou-se. É egípcia. Vive no Brasil, entende bem o portu-
que parecia vindo de épocas remotas, e uma de suas car-
guês, mas tem dificuldades em se expressar. Disse-me
acterísticas era ser muito usado em enterros. Por outro
que gostava das coisas que escrevo. Escreveu-me para
lado, esse grande acompanhador de defuntos sempre
dizer que uma palavra, uma única palavra que eu havia
teve, apesar de seu feitio grave, o costume leviano de
escrito a apunhalara. Numa crônica que eu escrevera
se perder, de sumir, de mudar de dono. Ele na verdade
para minhas netas, contando como era a vida na roça,
só é fiel a seus amigos cem por cento, que com ele saem
disse que não havia eletricidade. Portanto não havia todo dia, faça chuva ou sol, apesar dos 5motejos alheios;
geladeiras. As comidas eram guardadas num armário a estes, respeita. O freguês vulgar e ocasional, este o ir-
de tela chamado “guarda-comida”. Essa foi a palavra rita, e ele se aproveita da primeira distração para sumir.
que a apunhalou. Como é que uma palavra tão banal
Nada disso, entretanto, lhe tira o ar honrado. Ali está
pode apunhalar? Não foi a palavra. Foi a lembrança. Ela
ele, meio aberto, ainda molhado, choroso; descansa
já havia se esquecido de que essa palavra existia. Aí,
com uma espécie de humildade ou paciência humana;
quando ela a leu, um passado longínquo retornou. Ela
se tivesse liberdade de movimentos não duvido que iria
se viu menina na cozinha de sua casa no Cairo. Lá havia
para cima do telhado quentar sol, como fazem os uru-
um guarda-comida...
bus.
(...)
(http://tiatiz.wordpress.com/2009/11/06/sobre-as-memorias-rubem-alves/
Entrou calmamente pela era atômica, e olha com ironia a
Acesso em 04/01/2013.) arquitetura e os móveis chamados funcionais: ele já era
funcional muito antes de se usar esse adjetivo; e tanto
Vocabulário: que a fantasia, a inquietação e a ânsia de variedade do
5
Mal de Alzheimer: A doença de Alzheimer provoca deteri- homem não conseguiram modificá-lo em coisa alguma.
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

oração das funções cerebrais, como perda de memória, da (...)


linguagem, da razão e da habilidade de cuidar de si próprio. (BRAGA, Rubem. Ai de ti, Copacabana. Rio de Janeiro: Record, 1993.)
Vocabulário
6. (CP2) Observe: “Ao chegar a um hotel, a recep- Infenso: contrário, oposto
1

cionista nos entrega uma ficha para ser preenchida.” 3


Austero: rígido, severo
(ref. 3) 4
Pinho: madeira do pinheiro
5
Motejo: zombaria
Qual é o valor semântico da oração adverbial em des-
taque? 7. (CP2) No terceiro parágrafo do texto (ref. 2), existe
uma relação de causa e consequência entre duas ora-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: ções.
Transcreva somente a oração que expressa a conse-
Coisas antigas
quência.
(...)

23
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: 9. (UFMG) Leia estes trechos, atentando para os conec-
tivos neles destacados:
Trem de aço
TRECHO 1
1
Viajar de trem me dá saudade de coisas que não vivi. É
também diante de um trem, estando eu dentro ou fora
Ouvimos o ferrolho da porta que dava para o corredor
dele, que revejo cenas que não presenciei e histórias
interno; era a mãe que abria Eu, uma vez que digo tudo,
que incluem pessoas que nem sempre conheci. 2Gen-
digo aqui que não tive tempo de soltar as mãos da mi-
te esperando na plataforma, dando adeus aos amigos,
nha amiga...
beijando a namorada, enxugando uma lágrima, mas
fingindo sorrir. São como muitas imagens que povoam MACHADO DE ASSIS, J. M. Dom Casmurro.
os nossos sonhos e que, 3ao nos lembrarmos delas, fica- São Paulo: Globo. 1997. p. 67.
mos em dúvida sobre sua vivência real ou sonhada. Se
TRECHO 2
estou dentro de um deles, imediatamente me acomodo
junto à janela, para ver o desfile das pequenas cidades, Fomos jantar com a minha velha. Já lhe podia chamar
as crianças acenando, as mulheres suspendendo por um assim, posto que os seus cabelos brancos não o fossem
instante o que estão fazendo 4e assim, com os olhos todos nem totalmente; e o rosto estivesse comparati-
cheios de sonhos, se postarem nas janelas e nos quin- vamente fresco...
tais, suspirando por uma vida bonita como uma viagem
de trem. MACHADO DE ASSIS. J. M. Dom Casmurro,
São Paulo: Globo, 1997. p.165.
[...]
a) Reescreva cada um desses trechos, substituindo o
Uma viagem, qualquer uma, curta ou longa, seja por conectivo destacado por outro de igual valor e fazen-
um meio, seja por outro, sempre nos deixa imagens de do as adaptações necessárias.
vida que ficam para sempre. Mas as que fazemos de
b) Explicite o tipo de relação que cada um desses co-
trem perduram muito além das outras. Num avião, por
nectivos estabelece entre as orações, nos trechos em
exemplo, não temos paisagem. É como se viajássemos
que estão empregados.
dentro de um tubo de ensaio. Num navio existe sempre
a monótona solidão do oceano que parece não ter fim. 10. (CP2)
5
O trem, ao contrário, nos enriquece os olhos e a imagi-
nação, com as múltiplas imagens desfilando diante de
nós, como no cinema.
Muitas vezes viajei no “trem de aço”, como era cha-
mado o comboio que fazia o trajeto entre São Paulo e
Rio, ainda que o nome oficial fosse Santa Cruz. Quantos
enredos foram vividos ali, 6nas viagens quase semanais
que eu fazia para participar do Grande Teatro. Muitas
na companhia ocasional de Caymmi, do Cyro Montei-
ro, da Aracy de Almeida, entre outros. No carro-restau-
rante rolavam uísque e boas histórias. 7Fui testemunha
de romances que começaram e que terminaram nessas
viagens. Quantas lágrimas felizes e infelizes vertidas na
madrugada. Numa dessas viagens presenciei a bofeta-
da de uma amante, indignada e raivosa com suposta
traição, em seu parceiro. E em meio a essas cenas, quan-
do nos dávamos conta, já era dia claro. Então corríamos
às nossas cabines, para um simples cochilo que fosse e
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

que nos devolvesse uma aparência melhor para enfren-


tar o dia que estava começando. Muitos de nós viajáva- Reescreva a oração “que gera gentileza”, do texto,
mos de trem por economia. Outros, por medo de voar, substituindo o pronome relativo pelo termo anteceden-
como o próprio Cyro Monteiro, que chamava o trem de te, a fim de construir um período simples.
“avião dos covardes”. [...]
(CARLOS, Manoel. Revista Veja Rio, Editora Abril, 31/10/12, p. 130.)

8. (CP2) No primeiro parágrafo da crônica Trem de aço,


lê-se:
“(...) ao nos lembrarmos delas, ficamos em dúvida sobre
sua vivência real ou sonhada.” (ref. 3)
a) Reescreva a oração destacada, desenvolvendo-a.
b) Qual é o valor semântico da oração usada para
responder ao item a?

24
ENTRE
LETRAS

2
LINGUAGENS
CÓDIGOS
INTERPRETAÇÃO
DE TEXTOS
e suas tecnologias

U.T.I.
SEMÂNTICA – ELEMENTOS DE ANÁLISE I

Já que se fala a todo o momento de semântica no curso de § Bonito ≠ feio


Gramática, nada melhor do que apresentá-la logo no início § Alto ≠ baixo
do material de Interpretação (já que ela é parte essencial dos
processos interpretativos). A semântica é o campo de estudos
linguísticos que cuida dos significados das palavras e dos tex-
Paronímia
tos. Ela está presente em praticamente todos os outros cam- Temos parônimos quando as palavras são muito parecidas,
pos gramaticais (com exceção dos estudos básicos de fonéti- mas seus sentidos são diferentes.
ca e fonologia, ligados à ortografia e à acentuação). Pode ter Exemplos: comprimento (largura)
certeza de que, onde há acepções de sentido, há semântica. e cumprimento (saudação)
Além de sua presença em várias áreas da Gramática, a discriminar (separar) e descriminar
semântica possui seus próprios elementos de análise, que (absolver)
conheceremos a seguir.
Hiperonímia e hiponímia
Sinonímia São fenômenos que operam relações de abrangência entre
Ocorre sinonímia quando temos palavras com significados palavras (palavras que englobam outras ou que são englo-
idênticos ou muito semelhantes a outras. badas). As palavras que englobam são conhecidas como
hiperônimos; as englobadas, como hipônimos.
§ Cão = cachorro
Exemplos: Comprei um bacalhau para preparar na
§ Jerimum = abóbora
semana santa. Esse peixe é bastante salgado. (Peixe
A sinonímia tem forte relação com a paráfrase (possibilidade é uma palavra mais abrangente, que dá conta de ba-
de se reconstruir uma frase ou texto com outras palavras simi- calhau e de outros diversos peixes, portanto, podemos
lares) e nos ajuda nos processos de coesão textual (por meio afirmar que peixe é hiperônimo de bacalhau, e baca-
de sinônimos, evitamos a repetição de termos em um texto). lhau é hipônimo de peixe.)
Houve um aumento da gasolina. Esse fato deixou os bra-
Antonímia sileiros irritados. (Fato é uma palavra que dá conta de au-
Ocorre antonímia quando temos palavras com significados mento da gasolina, portanto, podemos afirmar que fato é
contrários a outras. hiperônimo do trecho sublinhado.)

SEMÂNTICA – ELEMENTOS DE ANÁLISE II


U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Homonímia 3. Homônimo homófono homógrafo (pronúncia igual


– escrita igual)
Ocorre homonímia quando temos palavras de grafia igual Exemplo: rio (substantivo) e (eu) rio (verbo)
ou pronúncia igual, mas com significado diferente. Isso nos
dá três tipos de homônimos: Polissemia
1. Homônimo homófono heterógrafo (pronúncia igual
– grafia diferente) Temos polissemia em palavras que preservam sua classe
Exemplo: acento (marca gráfica de tonalidade) e as- gramatical, mas que possuem significados múltiplos.
sento (local para se sentar) Exemplos: natureza (meio ambiente) e natureza (es-
sência de algo)
2. Homônimo homógrafo heterófono (escrita igual –
pronúncia diferente) banco (local onde se senta) e banco (instituição financeira)
Exemplo: jogo (substantivo) e jogo (verbo)

26
Denotação e conotação (prosa, poesia, crônica, entre outros) e as canções. Mas
também podemos encontrar esse sentido em outros tipos
É dentro do campo da semântica que verificamos também de gênero, dependendo das intenções do autor. Costu-
os processos de denotação e conotação, fenômenos lin- mam ser textos de natureza mais complexa, que exigem
guísticos que nos permitem entender a amplitude de sig- um trabalho de leitura mais profundo, para que se possa
nificação existente em nossa língua, ou, em termos mais apreender o que o autor quis expressar nas entrelinhas da
claros, é o estudo da denotação e da conotação que nos mensagem. Trabalha-se aqui com conhecimentos amplos
permite perceber o quanto os significados podem variar de vocabulário.
por conta do interesse dos interlocutores. Vejamos alguns
exemplos:
Ambiguidade
§ Filho, você tem que comer todo seu jantar, ou não terá Tratar do tema da ambiguidade é tratar de um problema
sobremesa. que interfere diretamente nas possibilidades de interpreta-
§ O piloto fez o adversário comer poeira. ção de textos. Isso porque a ambiguidade é o fenômeno
que faz com que uma palavra ou frase possua mais de um
É possível perceber nas frases apresentadas que o verbo
direcionamento de sentido, provocando ruídos na interpre-
‘comer’ foi usado com dois sentidos diferentes. Na primeira,
tação. No português nós possuímos dois tipos de ambigui-
temos comer sendo usado na sua acepção mais comum,
dade: a lexical e a sintática.
que é alimentar-se. Já no segundo caso, temos o verbo co-
mer sendo usado para “figurar” a ideia de alguém comen-
do poeira, mas não porque isso esteja ocorrendo de ver-
Ambiguidade lexical
dade, e sim porque se tenta passar a ideia de que o piloto Temos ambiguidade lexical quando em alguma composi-
passou tão rápido pelo adversário que levantou poeira, e ção linguística existe uma palavra que aponta para mais
quem está atrás a teria “comido”. de um sentido diferente. É um tipo de ambiguidade que
estabelece relações diretas com o fenômeno da polissemia
No primeiro caso, a palavra comer foi usada em seu senti-
e da homonímia. Vejamos o exemplo a seguir, retirado de
do dito literal, ou o sentido padrão (primeiro) dessa palavra.
uma canção de Chico Buarque:
Quando isso ocorre, temos uma palavra em sentido deno-
tativo. Já no segundo exemplo, o verbo comer foi usado em "O homem sério que contava dinheiro parou,
sentido figurado, tentando figurar/representar uma situação O faroleiro que contava vantagem parou,
(alguém comendo poeira). Quando isso ocorre, temos uma
palavra em sentido conotativo. A namorada que contava as estrelas parou"
Para ver, ouvir e dar passagem.”
(Chico Buarque. A Banda)
Sentido denotativo
Nessa canção percebemos que o compositor brinca com as
Como vimos anteriormente, entende-se por sentido denota- acepções de sentido existentes na palavra “contar”, cujo
tivo o sentido primeiro de uma palavra. Seu sentido básico, significado pode ser o ato de enumerar (contar dinheiro e
de dicionário. Entender bem o funcionamento do sentido contar estrelas) e também de “narrar” (contar vantagem).
denotativo nos ajudará, mais adiante, a entender como são Nesse caso, há duplo entendimento de um mesmo termo
operados alguns processos de interpretação em gêneros que vem colocado sequencialmente nos versos da canção.
textuais do português, como os textos científicos e também De qualquer modo, não é dos fenômenos mais complexos
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os jornalísticos, que são textos cujo objetivo é transmitir in- que temos no português. Havendo domínio razoável do lé-
formações exatas e precisas ao leitor. Um texto denotativo xico, é possível identificar ambiguidades de cunho lexical,
evita palavras às quais se possam atribuir sentidos variados. que podem ser desfeitas com uma simples substituição da
Pensando no que aprendemos na aula anterior, os textos de- palavra problemática.
notativos evitam trabalhar com textos polissêmicos.

Sentido conotativo Ambiguidade


Entende-se por sentido conotativo aquele que explo-
sintática (ou estrutural)
ra os múltiplos significados que uma palavra pode ter. Temos ambiguidade sintática quando uma construção frasal
Em um texto conotativo, não importa muito o senti- apresenta dois caminhos interpretativos diferentes. Ocorre
do primeiro da palavra, e sim a sua capacidade de “su- mesmo quando a frase apresenta as corretas colocações de
gerir” interpretações variadas. Os gêneros que habi seus elementos constitutivos (sujeito, verbo, complementos
tualmente trabalham com conotações são os literários e adjuntos). Trata-se de um fenômeno que, em alguns casos,

27
é de complexa identificação, exigindo bom conhecimento Inferir: é o ato de deduzir fatos ou raciocínios partindo
semântico e algumas estratégias interpretativas. Pode ser de indícios previamente apresentados.
desfeita por meio da reorganização das estruturas sintáticas.
Comparar: é o ato de estabelecer relações entre dois
Exemplos: textos, buscando aproximá-los ou distanciá-los. As re-
O pai falou com o filho caído no chão. (Não conseguimos saber lações comparativas podem ocorrer a partir de intertex-
quem está caído no chão. Pode ser o pai ou pode ser o filho) tualidades, bem como a partir de recursos linguísticos,
Eu li a notícia sobre a greve na faculdade. (Não se sabe se tal qual as figuras de linguagem, a exemplo dos textos
a greve é na faculdade ou fora dela) literários, sobretudo.
O Papa abençoou os fiéis da janela. (Não é possível de- Explicar: é o ato de fazer com que algo fique claro
terminar a posição do Papa; ele pode estar na janela e compreensível; descomplicar uma ambiguidade.
mandando bênçãos para os fiéis, ou pode estar na rua
Associar: é o ato de aproximar coisas, uni-las, juntá-las,
mandando bênçãos para aqueles que estão na janela)
reunir, ou mesmo determinar combinações entre elas.

Semântica - os comandos Substituir: é o ato de usar uma coisa no lugar de ou-


tra, ou mesmo trocar/colocar algo ou alguém no lugar
de interpretação de outra coisa ou pessoa.

Na aula introdutória de nosso curso de interpretação de Identificar: é o ato de distinguir ou ter a capacidade de
textos, vimos que grande parte dos vestibulares, hoje em reconhecer (alguém, alguma coisa ou um argumento), sen-
dia, trabalha suas questões de compreensão textual a par- do capaz de expressar ou evidenciar suas particularidades.
tir de determinados comandos, ativados especialmente por Explicitar: é o ato de retirar a ambiguidade, retirar o duplo
comandos verbais. Desse modo, conhecer bem o que cada sentido, de fazer com que algo se torne explícito e claro.
verbo nos aponta enquanto relação de sentido pode nos
ajudar a realizar um processo de interpretação mais efe- Reconhecer: é o ato de observar um elemento verbal
tivo, sem que precisemos ficar presos à multiplicidade de ou não-verbal a fim de distinguir algum detalhe através
dados que nos traz uma questão. Vamos, primeiramente, de certos caracteres.
relembrar os comandos verbais vistos na aula 1 do curso: Contextualizar: é o ato de mostrar as circunstâncias
Comandos que estão ao redor de um fato, acontecimento, situa-
ção. Entender ou interpretar algo tendo em conta as
circunstâncias que o rodeiam, colocando num contexto.
Analisar Inferir Associar Explicitar O Enem, por exemplo, em seu grupo de competências e ha-
Relacionar/
bilidades, apresenta um conjunto de exigências pedagógicas
Dialogar Comparar Substituir Reconhecer para elaboração de questões que partem de estruturas ver-
bais. Ou seja, o segredo para conseguir realizar uma interpre-
Citar Explicar Identificar Contextualizar tação de textos eficiente estaria em conseguir compreender
a semântica do verbo que conduz o enunciado da questão.
Analisar: é o ato de averiguar, estudar ou explorar algu-
ma coisa de maneira minuciosa, com riqueza de detalhes:
Outros recursos para
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só aceitará a proposta depois de analisar as possibilida-


des. Comentar criticamente; subjugar ou criticar. Fazer
uma apreciação ou julgamento de algo, alguém ou de si
interpretação de textos
mesmo: antes de falar do outro, você precisa se analisar. § Nem sempre o comando verbal estará explícito
Relacionar/dialogar: é necessário conectar informa- no texto
ções de matrizes distintas dentro de um texto, ou mes- Para que haja uma maior eficácia em sua prática de
mo verificar como as informações de um texto “conver- interpretação de textos, é necessário que saibamos
sam” com informações contidas em alternativas. que os já comentados comandos verbais de inter-
Citar: é o ato de reportar-se a um texto ou às palavras pretação (aulas 1 e 12) nem sempre estarão explici-
de alguém com o intuito de fundamentar aquilo que tados nos textos. Ainda assim, pela própria disposi-
se diz, ou mesmo para Informar ou notificar alguém a ção do enunciado, é possível identificarmos de que
respeito de algo. verbo se trata.

28
§ Recursos morfológicos e sintáticos como su- comportam relações de sentido (possuem semântica)
porte interpretativo por conta disso, eles são usados como ponto chave
para exercícios de interpretação.
Também, conforme já havíamos informado na aula de
abertura do curso, um bom conhecimento de recursos § Substantivos que contêm ideias verbais
gramaticais, especialmente morfológicos e sintáticos,
Algo que é necessário estar atento é o fato de que o
contribui bastante para que realizemos de forma mais
comando verbal de interpretação pode estar, no enun-
precisa nossas interpretações de texto. Não podemos
ciado, constituído como se fosse um substantivo.
nos esquecer de que os elementos morfossintáticos

TEXTOS EM VERSO, EM PROSA E CRÔNICAS

Textos em verso ban-ban!


Vêm logo operários, meninas, cafuzas,
Muitos vestibulares, atualmente, fazem uso dos gêneros lite- mulatos, portugas, vem tudo pra ali.
rários para construir questões de interpretação de textos. Ou Vem tudo, parecem formigas de asas
seja, as questões não abordam necessariamente um conhe- Rodando, rodando em torno da luz.
cimento profundo sobre a obra (seu enredo), mas exigem do Nos bancos da Praça conversas acesas,
candidato um trabalho mais acurado com as questões es- apertos, beijocas, talvezes.
truturais e também com a compreensão do conteúdo de al- D. Pedro II espia do alto.
gum poema ou trecho de livro. Nessa primeira aula, daremos (As barbas tão alvas
ênfase às características dos textos em verso (os poemas). tão alvas nem sei!)
E os pares passeiam,
O poema parece que dançam,
que dançam ciranda,
O poema é um gênero textual de cunho bastante subjeti- em torno do Rei.
vo, que se constrói não apenas com ideias ou sentimentos, (Jorge de Lima. Poemas negros. Cosac Naify,
página 41, 2014).
mas que articula combinações de palavras que, na maioria
dos casos, constituem sentidos variados. Essas combina- § Verso: entende-se por verso uma sucessão ou sequên-
ções de palavras costumam ser distribuídas em um “cor- cia de sílabas que mantém determinada unidade rítmica
po” bastante complexo, dotado de vários elementos que e melódica em um poema, correspondendo, habitual-
conheceremos mais adiante, como o verso, a estrofe (ele- mente, a uma linha do poema. No poema apresentado,
mentos estruturais), a rima, o ritmo (elementos sonoros), cada linha do poema corresponde a 1(um) verso, então
entre outros. O jogo de palavras realizado nos poemas (de temos um total de 21 versos.
fortes marcas denotativas), muitas vezes, imprime dificul- § Estrofe: entende-se por estrofe um agrupamento de
dades de interpretação. Vejamos os elementos do poema: versos realizado pelo autor do poema. Os agrupamentos
a) O verso e a estrofe podem variar bastante, de acordo com a forma do poe-
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Para entendermos com mais precisão o que são esses


ma (forma fixa ou forma livre). Por exemplo, no poema
dois elementos, vejamos o poema a seguir, do escritor
Jorge Lima:
de Jorge de Lima que foi apresentado, opta-se por uma
forma mais livre, com agrupamentos variados. Temos na
Retreta do Vinte abertura duas estrofes de 3 versos (conhecidas como
O cabo mulato balança a batuta, tercetos), seguidas por uma de 6 versos (sexteto). Em se-
meneia a cabeça, acorda com a vista guida, temos um agrupamento com 2 versos (chamado
os bombos, as caixas, os baixos e as trompas. dístico), seguido de outro de 3 (mais um terceto). O po-
(No centro da Praça o busto de D. Pedro escuta.) ema é finalizado com um grupo de 4 versos (quarteto).
Batuta pra esquerda: relincham clarins,
requintas, tintins e as vozes meninas da banda do 20. Atenção às formas fixas!
Batuta à direita: de novo os trombones São conhecidos como formas fixas aqueles poemas
e as trompas soluçam. E os bombos e as caixas: que apresentam um padrão pré-determinado em sua

29
construção. Existem vários tipos de forma fixa, como o § A contagem deve ser encerrada na última sílaba tônica
vilancete (um terceto mais dois outros tipos de estrofe da última palavra do verso.
à escolha do poeta), o haicai (poema de origem japo-
Vejamos um exemplo com os dois primeiros versos da segunda
nesa que se constrói com três versos e um número pré-
estrofe do poema de Carlos Drummond que foi apresentado:
-determinado de sílabas) ou as redondilhas (formas
fixas de 5 ou 7 versos). A mais tradicional dessas formas Que/ ro/ que/ meu/ so/ ne/ to,/ no/ fu/ tu/ ro,
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
é o soneto. Ele possui uma forma estruturada a par-
tir do agrupamento de duas estrofes de 4 versos (dois não/ des/ per/ te em/nin/ guém/ ne,/ nhum/ pra/zer
quartetos) e outras duas de 3 versos (dois tercetos), to- 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

talizando 14 versos. Em sua composição, costuma ser


Pode-se notar que o primeiro verso que escolhemos é um
desenvolvida uma ideia ou discussão que perpassa os
13 primeiros versos e encontra sua resolução/fecho no decassílabo perfeito. A contagem, como dito, deve ser en-
último verso. Vejamos um exemplo de soneto: cerrada na última sílaba tônica da última palavra do ver-
so (a palavra “futuro” é paroxítona; sua tônica é a sílaba
Oficina Irritada “-tu”). Já no segundo verso encontramos outra regra que
Eu quero compor um soneto duro deve ser obedecida (sublinhada no verso): a junção da vo-
como poeta algum ousara escrever. gal final de uma palavra com a vogal inicial de outra (des-
Eu quero pintar um soneto escuro, -per-te em). Também é um verso decassílabo. De acordo
seco, abafado, difícil de ler. com a variabilidade de sílabas poéticas, as estrofes terão
nomes diferentes:
Quero que meu soneto, no futuro,
não dxxesperte em ninguém nenhum prazer. § 5 sílabas poéticas: pentassílabo ou redondilha menor
E que, no seu maligno ar imaturo, § 7 sílabas poéticas: heptassílabo ou redondilha maior
ao mesmo tempo saiba ser, não ser. § 10 sílabas poéticas: decassílabo
Esse meu verbo antipático e impuro § 11 sílabas poéticas: endecassílabo
há de pungir, há de fazer sofrer, § 12 sílabas poéticas: dodecassílabos ou alexandrinos
tendão de Vênus sob o pedicuro. O processo de contagem e separação de sílabas poéticas
recebe o nome de escansão.
Ninguém o lembrará: tiro no muro,
cão mijando no caos, enquanto Arcturo,
claro enigma, se deixa surpreender. Ritmo
ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. O ritmo corresponde a uma “melodia” que se cria no cor-
52. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003
po do poema por conta da acentuação de certas sílabas
Temos aí um soneto de estilo clássico, que além de apresen- que há nos versos. Usando novamente os versos acima
tar o agrupamento de estrofes que comentamos (dois quar- apresentados, podemos perceber que há um conjunto de
tetos e dois tercetos), apresenta elementos de métrica e rima sílabas mais fortes nas mesmas posições de cada verso (no
bastante determinados. Aliás, é importante nesse momento caso, a segunda, a sexta e a décima são as mais fortes).
conhecermos um pouco melhor esses outros elementos. Esse padrão cria um ritmo que dá certa musicalidade ao
poema, quando este é recitado.
Elementos estruturais do poema Que/ ro/ que/ meu/ so/ ne/ to,/ no/ fu/ tu/ ro,
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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Métrica não/ des/ per/ te em/nin/ guém/ ne,/ nhum/ pra/zer


8 9 10
A métrica é a medida dos versos, ou, em termos mais cla- 1 2 3 4 5 6 7

ros, a quantidade de sílabas de cada linha que compõe o


poema. No entanto, a contagem de sílabas poéticas
segue um padrão diferente da separação de síla- Rima
bas tradicional. Na contagem de sílabas poéticas deve- A rima é um recurso sonoro que também atribui musicali-
mos proceder da seguinte maneira: dade ao poema. Constrói-se a partir da semelhança sonora
§ Contam-se as sílabas de maneira habitual, mas devem de palavras no final de versos. Novamente:
ser contadas como uma única sílaba a vogal final + a Eu quero compor um soneto duro
vogal inicial de duas palavras. como poeta algum ousara escrever.

30
Eu quero pintar um soneto escuro, § Conto: entende-se por conto uma composição textual
seco, abafado, difícil de ler. em prosa mais curta que a novela ou o romance. Por
Quero que meu soneto, no futuro, possuir um espaço de desenvolvimento menor, o conto
não desperte em ninguém nenhum prazer. costuma apresentar uma estrutura bastante fechada,
E que, no seu maligno ar imaturo, em que o enredo se desenvolve com maior velocidade,
ao mesmo tempo saiba ser, não ser. sem desdobramento de conflitos secundários (como
Destacamos o sistema de rimas do poema de Drummond. habitualmente acontece com o romance). Caracteriza-
Fica evidente que é um esquema de rimas em que os ver- -se por deixar várias questões a cargo da interpretação
sos se alternam “-uro” e “-er”. Essa sequência de versos do leitor, e também por possuir um clímax mais pró-
alternados também garante musicalidade ao poema. ximo de seu fim. Trata-se de um gênero muito traba-
lhado por prosadores brasileiros, pois seus processos
Textos em prosa de ficcionalidade costumam alcançar tanto elementos
mais “materiais”, quanto elementos mais fantasiosos
Denominamos prosa um texto construído prioritariamente (os contos fantásticos, por exemplo). Há autores que
com parágrafos (se escrito em versos, teremos um texto desenvolveram a totalidade de suas obras em contos,
poético), que apresenta maior extensão que um poema, como é o caso do escritor Murilo Rubião. Outros gran-
por exemplo. des contistas brasileiros são Machado de Assis, Mário
§ Romance: entende-se por romance uma composição de Andrade, Clarice Lispector e Guimarães Rosa.
textual longa, em prosa, que desenvolve algum tipo de § Drama: entende-se por drama uma composição tex-
enredo, linear ou fragmentado, que costuma apresentar tual em prosa que realiza uma figuração/representação
volume significativo de informações ao leitor. Não há de ações ou histórias. Habitualmente, são textos para
regras pré-determinadas para a composição das partes serem encenados em peças (no teatro). Sua estrutura
de um romance, mas o final, por exemplo, costuma ser pode ser dividida em capítulos denominados “atos” (1º
uma espécie de enfraquecimento dos vários elementos ato, 2º ato etc.), e apresenta dimensões variadas, que
que foram sendo “amarrados” na história. No romance levam em conta o tempo de apresentação da obra ao
não costuma haver clímax ao final da narrativa. Na pro- público. Muito se discute a respeito das diferenças que
sa brasileira são conhecidas como romances obras como podem existir entre o texto dramático escrito e aquilo
Memórias póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro, Vi- que é representado em um palco. A ideia geral seria
das secas, Capitães da areia, Iracema, Til. Ou seja, textos que se seguisse o mais fielmente possível o texto que
narrativos de maior extensão, com enredo variado, que foi produzido pelo autor, no entanto, os diretores de pe-
apresentam algum tipo de “amarração” em sua estrutura. ças têm a liberdade de realizar modificações variadas
§ Novela: entende-se por novela uma composição textu- no enredo ou nas composições cenográficas. Não é dos
al em prosa de menor extensão do que o romance, mas gêneros mais trabalhados pelos prosadores brasileiros,
costumeiramente maior que um conto. Em relação ao embora existam produções de grande qualidade que
romance, podemos dizer que a novela apresenta maior se tornaram famosas por virarem filmes. É o caso das
economia de recursos narrativos. Já em comparação ao peças Lisbela e o prisioneiro, de Osman Lins, O auto da
conto, pode-se dizer que a novela possui um maior de- compadecida, de Ariano Suassuna, ou Eles não usam
senvolvimento tanto de enredo, quanto de personagens. black-tie, de Gianfrancesco Guarnieri.
Dessa maneira, podemos concluir que a novela seria
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uma forma intermediária entre o conto e o romance. Em Os tipos de narrador que conduzem a obra
geral, trata-se de uma narrativa em que as ações giram
em torno de um único personagem (o romance costuma Qualquer dos tipos de texto em prosa que foram apre-
apresentar maior número de tramas e linhas narrativas). sentados costuma ser conduzido por um narrador, que é
Não é um gênero muito praticado entre os prosadores a figura que transmite as mensagens e conta a história.
brasileiros, embora tenhamos, mais contemporaneamen- Existem dois tipos-padrão de condução narrativa: a narra-
te, grandes obras nesse estilo, como A hora da estrela, de tiva em primeira pessoa, que é um modo em que a história
Clarice Lispector; Um copo de cólera, de Raduan Nassar; é narrada por personagens que falam sobre e para si mes-
ou O invasor, de Marçal Aquino. Na Europa, esse gênero mos. Já a narrativa em terceira pessoa apresenta alguém
deu origem a grandes clássicos, como A metamorfose, que conta a história de algum personagem de “fora para
de Kafka; Morte em Veneza, de Thomas Mann; e A morte dentro”. Esses dois modelos apresentam algumas subdivi-
de Ivan Ilitch, de Tolstói. sões que conheceremos a seguir.

31
Narrador em primeira pessoa § Narrador observador: é aquele que presencia a his-
tória que está narrando. Não deve ser confundido com
§ Narrador-personagem: é aquele que, não apenas a modalidade “onisciente”, pois o narrador observador
conta a história em primeira pessoa, mas também faz não tem a visão de tudo. Ele conhece apenas um ângu-
parte da narrativa (por isso, narrador e também per- lo da história que narra. Funciona como uma testemu-
sonagem). Suas principais características estão na evi- nha dos fatos, mas não faz parte de nenhum deles. Não
denciação de fortes marcas subjetivas e emocionais do apresenta nenhum tipo de conhecimento em relação à
narrador no decorrer da obra. O texto é constantemen- intimidade de qualquer personagem.
te pautado pela emissão de opiniões a respeito dos
fatos que ocorrem na história. A narrativa conduzida
por esse tipo de narrador costuma ser entendida como Crônicas
uma narrativa parcial, pois os eventos são contados a A crônica é um gênero que transita entre a literatura e o jorna-
partir do ponto de vista de quem os narra (não temos lismo. É conduzido a partir da observação subjetiva de fatos
outros pontos de vista). Por esse motivo, tem-se uma cotidianos que são relatados ao leitor. Há, por parte do cronis-
visão limitada dos fatos, o que pode contribuir para o ta, um desejo de oferecer não apenas um relato de um acon-
efeito de suspense sobre os fatos da obra, pois o leitor tecimento, mas uma reflexão/interpretação sobre o ocorrido.
faz descobertas junto com a personagem. Nesse sentido, a crônica acaba por revelar ao leitor elementos
§ Narrador-protagonista: é aquele que é não apenas que estão por trás das aparências ou que não são percebidos
o narrador, mas também a personagem principal da his- pelo senso comum. Trata-se de um gênero marcadamente
tória. É uma narrativa marcada por forte subjetividade, opinativo, em que a subjetividade do escritor vem à tona.
pois todos os eventos giram em torno desse personagem
principal. É também um tipo de narrativa parcial, pois o Contexto de circulação
leitor é induzido a criar uma empatia com os sentimen-
tos de satisfação ou insatisfação vividos pela persona- As crônicas circulam habitualmente em sessões específicas
gem. Isso tudo dificulta a visão geral da história. de jornais e também em revistas. Tratam de temas variados
do cotidiano, mas também podem tratar de temas bem
§ Narrador-testemunha: trata-se de uma personagem
específicos se circularem em revistas especializadas (por
que conta uma história por ela vivenciada, mas da qual
exemplo, uma revista cuja temática seja a beleza feminina,
não era a personagem principal. Também há nessa mo-
terá crônicas que tratem de temas femininos).
dalidade o registro dos fatos por uma visão subjetiva,
com a diferença de que a carga emocional sobre este Posteriormente, muitas crônicas publicadas por grandes
é menor, tendo em vista que não é a personagem prin- autores podem vir a ser reunidas em livros. Foi o que acon-
cipal da trama. teceu com escritores como Carlos Drummond de Andrade
ou Rubem Braga, autores cujas crônicas, de fortes marcas
Narrador em terceira pessoa literárias, passaram do jornal ao livro.
§ Narrador onisciente: é aquele que sabe de todos os
fatos a respeito da história e das personagens, incluídos Recepção da crônica
aí os pensamentos e sentimentos destes. Por conta des-
sa amplitude de conhecimento, esse tipo de narrador é As crônicas são procuradas por um público variado, especial-
capaz de fazer descrições sobre coisas que acontecem mente as jornalísticas. A menos que sejam crônicas produzi-
das, como dito anteriormente, em publicações especializadas.
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simultaneamente em lugares diferentes.


§ Narrador onisciente neutro: é aquele que relata os
fatos e descreve detalhes das personagens, mas sem in- Estrutura da crônica
fluenciar o leitor com observações ou opiniões dos even- Embora não apresente estrutura completamente fixa, a crô-
tos narrados. Esse tipo de narrador costuma evidenciar nica possui algumas marcas de condução textual que são
somente os fatos que são essenciais para a compreen- seguidas por boa parte dos autores. São elas:
são da narrativa.
§ Observação mais subjetiva a respeito de acontecimen-
§ Narrador onisciente seletivo: é aquele que, ten-
to cotidiano.
do conhecimento dos pensamentos e sentimentos das
personagens, seleciona aqueles aos quais dará maior § Evocação de experiências pessoais ou de pessoas mui-
ênfase nas revelações. Desse modo, é um narrador que to próximas para circunstanciar sua opinião.
tenta influenciar o leitor a tomar algum posicionamen- § Há uma conclusão que, em certa medida, retoma os ele-
to em relação a algum personagem. mentos centrais discutidos na crônica.

32
De maneira geral, a crônica costuma ser organizada por Os pronomes meu, meus, minha, minhas, nosso, nos-
meio de um movimento reflexivo, que parte de uma expe- sos, nossa, nossas no discurso direto passam para seu,
riência particular, e que tem como objetivo alcançar signifi- seus, sua e suas no discurso indireto.
cado mais amplo, que atinja um número maior de pessoas
Os pronomes nós, nos, conosco no discurso direto pas-
e as faça refletir.
sam para eles, elas, os, as, lhes no discurso indireto.
Linguagem da crônica A 1.ª pessoa no discurso direto passa para a 3.ª pessoa
A linguagem da crônica é marcada por certo grau de in- no discurso indireto.
formalidade, embora suas bases se construam dentro da
gramática normativa. Esse choque linguístico se dá justa-
mente por conta de ser um tipo de publicação veiculada
Mudança na pontuação das frases
em um jornal/revista (meio de comunicação em que, habi- Frases interrogativas, exclamativas e imperativas
tualmente, se usa a norma-padrão), mas que é dotada de no discurso direto passam para frases declarativas no
fortes marcas subjetivas. discurso indireto.

Discursos Mudança dos advérbios e


Em um texto narrativo, o autor pode optar por três tipos de adjuntos adverbiais
discurso, que podem aparecer separados ou juntos.
§ Direto – a produção se dá de forma integral, na qual Este, esta e isto no discurso direto passam para aquele,
os diálogos são retratados sem a interferência do aquela, aquilo no discurso indireto.
narrador; trata-se de uma transcrição fiel da fala dos
Amanhã no discurso direto passa para no dia seguinte
personagens, e, para introduzi-las, o narrador utiliza
no discurso indireto.
alguns sinais de pontuação, aliados ao emprego de
alguns verbos de elocução (dizer, perguntar, responder, Ontem no discurso direto passa para no dia anterior no
indagar, exclamar, ordenar etc.). discurso indireto.
§ Indireto – ocorre quando o narrador, em vez de re- Hoje e agora no discurso direto passam para naquele
tratar as falas de forma direta, reproduz com as suas dia e naquele momento no discurso indireto.
próprias palavras, colocando-se na condição de inter-
mediário frente à ocorrência. Aqui, aí, cá no discurso direto passam para ali e lá no
discurso indireto.
§ Indireto livre – as formas direta e indireta se fundem
por meio de um processo em que o narrador insere dis-
cretamente a fala ou os pensamentos do personagem Mudança de tempos verbais
em sua fala.
Imperativo no discurso direto passa para pretérito im-
discurso direto discurso indireto perfeito do subjuntivo no discurso indireto.
Emprego de 1a pessoa Emprego de 3a pessoa
Presente do indicativo no discurso direto passa para
Verbos no: Verbos no:
pretérito imperfeito do indicativo no discurso indireto.
• presente do indicativo • pretérito imperfeito do indicativo
• pretérito perfeito • pretérito imperfeito do subjuntivo
do indicativo • pretérito mais-que-perfeito
Pretérito perfeito do indicativo no discurso direto
passa para pretérito mais-que-perfeito do indica-
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• imperativo (simples ou composto)


Pronomes demonstrativos Pronomes demonstrativos tivo no discurso indireto.
(maior proximidade) (menor proximidade)
Futuro do presente do indicativo no discurso direto

Regras para passagem passa para futuro do pretérito do indicativo no discur-


so indireto.
do discurso direto para Presente do subjuntivo no discurso direto passa para
discurso indireto pretérito imperfeito do subjuntivo no discurso indireto.
Futuro do subjuntivo no discurso direto passa para pre-
Mudança das pessoas do discurso térito imperfeito do subjuntivo no discurso indireto
Os pronomes eu, me, mim, comigo no discurso direto
passa para ele, ela, se, si, consigo, o, a, lhe no dis-
curso indireto.

33
LEITURA DE IMAGENS

Quadrinho e tirinhas
As histórias em quadrinhos são um conjunto narrativo (entendido como uma forma de arte sequencial gráfica) que mescla
linguagem verbal (texto) e linguagem não verbal (imagem). É um gênero bastante popular entre crianças e adolescentes, e
tem se tornado cada vez mais popular também entre os adultos, especialmente pela capacidade que as histórias possuem
de representar uma quantidade significativa de situações sociais.
As histórias em quadrinhos são, em geral, publicadas no formato de revistas, livros ou em tiras veiculadas em revistas e
jornais. Aliás, tendo em vista as dimensões do vestibular (elaborado com provas que não possuem grande espaço), o tipo
mais comum de quadrinho que encontramos são as “tiras”.

As tiras
São entendidas como tiras os segmentos de história em quadrinhos publicados em jornais ou revistas num curto espaço de pá-
gina, habitualmente na horizontal (atualmente, há também formatos verticais ou com duas ou mais tiras). É um gênero textual
que surgiu nos Estados Unidos para dar conta da falta de espaço que havia nos jornais para a publicação de cruzadas e outros
passatempos. O nome "tira” (ou “tirinha", como a conhecemos no Brasil) remete ao formato do texto, que parece um "recorte"
horizontal de jornal.
Trata-se de um gênero textual que mais comumente apresenta temática humorística, mas também encontraremos (espe-
cialmente no vestibular) tirinhas de cunho social ou político, satíricas ou metafísicas (que propõem reflexões existenciais).
Vejamos alguns exemplos:

(Tirinha de humor – “Níquel Náusea” de Fernando Gonsales)

Mais recentemente, as tiras (e os quadrinhos como um todo) têm sido objeto de inúmeras pesquisas sobre comunicação em
cursos de graduação e pós-graduação. Encontram-se com facilidade artigos e outras publicações destinados aos estudos
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deste gênero. Por esse motivo, os quadrinhos tem sido muito explorados no vestibular.

Charges e cartuns
Charges e cartuns são elementos comunicativos que se assemelham aos quadrinhos por trabalharem com os campos de
comunicação verbal (texto) e não verbal (imagem), mas, ao mesmo tempo, se diferenciam por não constituírem um processo
narrativo. Tanto a charge, quanto o cartum, focalizam situações de comunicação específicas, geralmente focalizadas em um
único quadro.

A charge
Charge é um termo de origem francesa que significa “carga”. Recebe esse nome por conta da “carga” satírica que sua
informação comporta. A função da charge é relatar costumes humanos, satirizando situações que são parte

34
de um contexto cultural, político, econômico e social bastante específico. Por essa razão, para que consiga-
mos entender a charge, é necessário que conheçamos os “alvos” que elas procuram atingir; em geral, pessoas ligadas à
vida pública, como políticos, artistas, atletas, entre outros.
O fato de a charge tratar de contextos muito específicos faz com que ela possua um caráter mais perecível, pois, fora de
seu contexto de origem, ela provavelmente perderá parte de força comunicativa; no entanto, por conta mesmo da relação
contextual, funciona como um valoroso elemento de registro histórico.
Trata-se, portanto, de um gênero que, trabalhando com as linguagens verbal e não verbal, precisa estar em consonân-
cia com os conhecimentos de mundo do interlocutor, uma vez que o entendimento da mensagem só será efetivado se
houver compreensão de contextos determinados.

(Charge de Laerte Coutinho cuja compreensão depende de conhecimento histórico sobre os processos de colonização em território brasileiro.)

O cartum
O cartum é conhecido por ser uma espécie de anedota gráfica, que, assim como a charge, mescla linguagem verbal e não
verbal para atingir seus objetivos. A diferença crucial entre a charge e o cartum reside no fato de que sua finalidade discursiva
é a de satirizar costumes humanos, valendo-se de personagens que representam pessoas comuns, sem que
haja a preocupação com um contexto específico, atual ou momentâneo.
Em relação à charge, pode-se dizer que o cartum tem um caráter mais universal, pois aborda situações atemporais, que
seriam reconhecidas por qualquer pessoa, independentemente do contexto abordado.
Trata-se, portanto, de um gênero que, trabalhando com as linguagens verbal e não verbal, não depende de conhecimento de
mundo mais específico, pois aborda situações mais amplas. Vejamos alguns exemplos:

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(Novamente um trabalho de Laerte. É possível notar que o tema do cartum tem caráter mais universal. Neste caso, percebemos um processo
de proletarização por conta da redução contínua de salários, algo que pode acontecer em qualquer lugar do mundo, a qualquer tempo.)

Imagens
Podemos entender por imagem qualquer tentativa de representação, reprodução ou imitação da forma de uma pessoa ou de
um objeto, cujo objetivo é comunicar algo a partir de alguma intencionalidade. É um processo que pode ser prioritariamente
visual, ou pode também mesclar linguagem verbal e não verbal. O conceito de imagem abarca todo e qualquer objeto que
possa ser percebido, tanto visualmente, quanto esteticamente.
Historicamente, tivemos duas fortes teorias filosóficas que tentaram dar conta da “ideia” de imagem. A primeira foi concebi-
da por Platão, que considerava a imagem, como sendo uma projeção que aparecia em nossa mente. Mais adiante, Aristóte-
les considerou a imagem como sendo um movimento de aquisição pelos sentidos, a representação mental de um objeto real.
Embora seja uma controvérsia bastante antiga, ela dura até os dias de hoje, com acepções positivas, pois contribui para um

35
entendimento mais amplo e preciso de um conceito que envolve domínios ligados à arte, ao registro fotográfico, à pintura,
ao desenho, à gravura ou qualquer outra forma visual de expressão da ideia (propagandas, placas, infográficos, entre outros
elementos).
No momento contemporâneo, há um grande volume de imagens circulando em nossa sociedade, que chegam até nossos
olhos por meio de diversos estímulos visuais: anúncios publicitários, cartazes, ou qualquer outro material impresso; os memes
de internet, transmissões televisivas, obras artísticas, imagens arquitetônicas, e até mesmo representações sagradas.

Linguagem visual e seus processos de análise


Realizar a análise de um estímulo visual requer bastante atenção ao seu conjunto. Se na análise discursiva precisamos estar
atentos a outros fatores para além do texto, como quem é o autor, o gênero selecionado, a data da publicação ou o período
em que um trabalho foi realizado; para a análise visual devemos, também, considerar tudo que compõe a imagem: se o tipo
de traço remete a algum período, se é colorida ou em preto e branco, se sua composição é simples ou mais complexa, suas
marcas de autoria, entre outros fatores.
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U.T.I. - Sala Era incomodado pelo pensamento de que toda aquela
beleza estava condenada à extinção, pois desapareceria
1. (FUVEST 2019) Considere os textos para responder no inverno, e assim também toda a beleza humana e
à questão. tudo de belo e nobre que os homens criaram ou po-
deriam criar. Tudo o mais que, de outro modo, ele teria
I. A tônica é que os pequenos jogadores da equipe de amado e admirado, lhe parecia despojado de valor pela
futebol Javalis Selvagens estão tranquilos e até confor- transitoriedade que era o destino de tudo.
táveis, bem cuidados na caverna pela numerosa equipe Sabemos que tal preocupação com a fragilidade do que
internacional que tenta retirá-los dali, e que têm muita é belo e perfeito pode dar origem a duas diferentes
vontade de voltar a comer seus pratos favoritos quan- tendências na psique. Uma conduz ao doloroso cansa-
do voltarem para casa. ço do mundo mostrado pelo jovem poeta; a outra, à
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/07/07/ rebelião contra o fato constatado. Não, não é possível
internacional/1530941588_246806.html. Adaptado. que todas essas maravilhas da natureza e da arte, do
nosso mundo de sentimentos e do mundo lá fora, ve-
II. Bem, minha vida mudou muito nos últimos dois anos. nham realmente a se desfazer. Seria uma insensatez e
O mundo que explorei mudou muito. Eu vi muitas paisa- uma blasfêmia acreditar nisso. Essas coisas têm de po-
gens diferentes durante as turnês, e é realmente inspi- der subsistir de alguma forma, subtraídas às influências
rador ver o quão grande é o mundo. Eu quero explorar destruidoras.
e experimentar diferentes partes da natureza, mas eu Ocorre que essa exigência de imortalidade é tão clara-
não gosto do deserto, sinto muito pelas plantas! Ou tal- mente um produto de nossos desejos que não pode rei-
vez eu goste disso… te deixa com sede de olhar para vindicar valor de realidade. Também o que é doloroso
ele… pode ser verdadeiro. Eu não pude me decidir a refutar a
http://portalaurorabr.com/2018/09/16/eu_sou_feminista_porque_ transitoriedade universal, nem obter uma exceção para
sou_mulher_diz_aurora_em_entrevista_ao_independent/ o belo e o perfeito. Mas contestei a visão do poeta pes-
III. simista, de que a transitoriedade do belo implica sua
desvalorização.
Pelo contrário, significa maior valorização! Valor de
transitoriedade é valor de raridade no tempo. A limita-
ção da possibilidade da fruição aumenta a sua preciosi-
dade. É incompreensível, afirmei, que a ideia da transi-
toriedade do belo deva perturbar a alegria que ele nos
proporciona. Quanto à beleza da natureza, ela sempre
volta depois que é destruída pelo inverno, e esse re-
torno bem pode ser considerado eterno, em relação ao
nosso tempo de vida. Vemos desaparecer a beleza do
rosto e do corpo humanos no curso de nossa vida, mas
essa brevidade lhes acrescenta mais um encanto. Se
existir uma flor que floresça apenas uma noite, ela não
nos parecerá menos formosa por isso. Tampouco posso
compreender por que a beleza e a perfeição de uma
obra de arte ou de uma realização intelectual deveriam
ser depreciadas por sua limitação no tempo. Talvez che-
a) Quanto ao sentido, a palavra “bem”, destacada gue o dia em que os quadros e estátuas que hoje ad-
nos três textos, desempenha a mesma função em miramos se reduzam a pó, ou que nos suceda uma raça
cada um deles? Justifique. de homens que não mais entenda as obras de nossos
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b) Reescreva o trecho “Eu quero explorar e experi- poetas e pensadores, ou que sobrevenha uma era geo-
mentar diferentes partes da natureza, mas eu não lógica em que os seres vivos deixem de existir sobre a
gosto do deserto, sinto muito pelas plantas!”, empre- Terra; mas se o valor de tudo quanto é belo e perfeito é
gando o discurso indireto e fazendo as adaptações determinado somente por seu significado para a nossa
necessárias. Comece o período com “Ela disse que”. vida emocional, não precisa sobreviver a ela, e portanto
independe da duração absoluta.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
(Introdução ao narcisismo, 2010. Adaptado.)
Leia o trecho do ensaio “A transitoriedade”, de Sigmund 2. (UNESP 2019)
Freud (1856-1939), para responder à(s) questão(ões) a
seguir. a) Explique sucintamente a diferença entre a visão de
Freud e a visão do jovem poeta sobre a transitorieda-
Algum tempo atrás, fiz um passeio por uma rica pai- de do belo.
sagem num dia de verão, em companhia de um poeta b) Transcreva do segundo parágrafo uma oração em
jovem, mas já famoso. O poeta admirava a beleza do ce- que a ocorrência de vírgula indica a supressão de um
nário que nos rodeava, porém não se alegrava com ela. verbo. Identifique o verbo suprimido nessa oração.

37
3. (UFU) Não sei – respondeu dona Carochinha – mas Por céus de ouro e de púrpura raiados,
tenho notado que muitos dos personagens das minhas Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...
histórias já andam aborrecidos de viverem toda a vida
presos dentro delas. Querem novidade. Falam em correr Delineiam-se, além, da serrania
mundo a fim de se meterem em novas aventuras. Ala- Os vértices de chama aureolados,
dino queixa-se de que sua lâmpada maravilhosa estaì E em tudo, em torno, esbatem derramados
enferrujando. A Bela Adormecida tem vontade de espe- Uns tons suaves de melancolia...
tar o dedo noutra roca para dormir outros cem anos. O Um mundo de vapores no ar flutua...
Gato de Botas brigou com o marquês de Carabás e quer Como uma informe nódoa, avulta e cresce
ir para os Estados Unidos visitar o Gato Félix. Branca de A sombra à proporção que a luz recua...
Neve vive falando em tingir os cabelos de preto e botar
rouge na cara. Andam todos revoltados, dando-me um A natureza apática esmaece...
trabalhão para contê-los. Mas o pior eì que ameaçam Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
fugir, e o Pequeno Polegar já deu o exemplo. Surge trêmula, trêmula... Anoitece.
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. 33. ed. (Poesia completa e prosa, 1961.)
São Paulo: Editora Brasiliense, 1982. p. 11.
5. (UNESP)
a) Explique como se dá o processo de intertextualida-
a) Que processo o soneto de Raimundo Correia retrata?
de no texto de Monteiro Lobato.
b) A primeira estrofe do soneto é composta por três perí-
b) Transcreva um exemplo de sequência textual nar-
rativa e um exemplo de sequência textual descritiva, odos simples em ordem indireta (“Esbraseia o Ocidente
retiradas do texto. na agonia / O sol”; “Aves em bandos destacados, / Por
céus de ouro e de púrpura raiados, / Fogem”; e “Fecha-
4. (UFU) -se a pálpebra do dia”). Reescreva esses três períodos
em ordem direta.
TEXTO I
Enciclopédia

Hécate ou Hécata, em gr. Hekáté. Mit gr. U.T.I. - E.O.


Divindade lunar e marinha, de tríplice
forma (muitas vezes com três cabeças e
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
três corpos). Era uma deusa órfica,
parece que originária da Trácia. Enviava Leia o trecho inicial do artigo “Artifícios da inteligên-
aos homens os terrores noturnos, os fantasmas cia”, do físico brasileiro Marcelo Gleiser (1959- ), para
e os espectros. Os romanos a veneravam responder à questão.
como deusa da magia infernal.
CESAR, Ana Cristina. Enciclopédia. In: Destino: poesia. Organização Considere a seguinte situação: você acorda atrasa-
de Italo Moriconi. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 2016. p.35. do para o trabalho e, na pressa, esquece o celular em
casa. Só quando engavetado no tráfego ou amassado
TEXTO II no metrô você se dá conta. E agora é tarde para vol-
I tar. Olhando em volta, você vê pessoas com celular em
punho conversando, mandando mensagens, navegando
Enquanto leio meus seios estão a descoberto. É difícil
na internet. Aos poucos, você vai sendo possuído por
concentrar-me ao ver seus bicos. Então rabisco as folhas
uma sensação de perda, de desconexão. Sem o seu ce-
deste álbum. Poética quebrada pelo meio.
lular, você não é mais você.
II
A junção do humano com a máquina é conhecida como
Enquanto leio meus textos se fazem descobertos. É difícil “transumanismo”. Tema de vários livros e filmes de fic-
escondê-los no meio dessas letras. Então me nutro das
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ção científica, hoje é um tópico essencial na pesquisa


tetas dos poetas pensados no meu seio. de muitos cientistas e filósofos. A questão que nos inte-
CESAR, Ana Cristina. Sem título. In: Destino: poesia. Organização ressa aqui é até que ponto essa junção pode ocorrer e o
de Italo Moriconi. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, 2016. p.39.
que isso significa para o futuro da nossa espécie.
a) Explique, em um parágrafo, de que maneira a fun-
Será que, ao inventarmos tecnologias que nos permi-
ção metalinguística se presentifica no texto I.
tam ampliar nossas capacidades físicas e mentais, ou
b) A respeito do texto II, explique, em um parágrafo, a
mesmo máquinas pensantes, estaremos decretando
relação que se estabelece entre seios e textos.
nosso próprio fim? Será esse nosso destino evolucioná-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: rio, criar uma nova espécie além do humano?
É bom começar distinguindo tecnologias transumanas
Para responder à questão, leia o soneto de Raimundo
Correia (1859-1911). daquelas que são apenas corretivas, como óculos ou
aparelhos para surdez. Tecnologias corretivas não têm
Esbraseia o Ocidente na agonia como função ampliar nossa capacidade cognitiva: só
O sol... Aves em bandos destacados, regularizam alguma deficiência existente.

38
A diferença ocorre quando uma tecnologia não apenas 3. (UNICAMP 2019) O xeque-mate – do persa shâh mât:
corrige uma deficiência como leva seu portador a um o rei está morto - ocupa uma função controversa nas
novo patamar, além da capacidade normal da espécie leis do jogo de xadrez. Trata-se de uma expressão que
humana. Por exemplo, braços robóticos que permitem designa o lance final - é quando um dos reis não tem
que uma pessoa levante 300 quilos, ou óculos com len- mais qualquer possibilidade de movimento. De saída, e
tes que dotam o usuário de visão no infravermelho. No nisso consiste o primeiro traço de ambivalência da ex-
caso de atletas com deficiência física, a questão se tor- pressão, a rigor, o rei não morre. Pode-se dizer até que
na bem interessante: a partir de que ponto uma prótese o rei agoniza - mas de seu destino quase nada sabemos.
como uma perna artificial de fibra de carbono cria con- Em resumo, o xeque-mate é exatamente, negando o que
dições além da capacidade humana? Nesse caso, será enuncia a expressão, o lance anterior ao que podemos
que é justo que esses atletas compitam com humanos chamar de morte. Diferentemente do senso comum,
sem próteses? que vê grandeza naquele que luta até o último instante
– a saber, até a morte –, o jogador de xadrez deve ter
Poderia parecer que esse tipo de hibridização entre tec- a medida de seu esforço. Saber abandonar uma partida
nologia e biologia é coisa de um futuro distante. Ledo no momento certo, portanto, é uma demonstração de
engano. Como no caso do celular, está acontecendo domínio da própria derrota. A morte, por jamais tornar-
agora. Estamos redefinindo a espécie humana através -se concreta, fica sendo pura potência. Talvez seja este
da interação – na maior parte ainda externa – com tec- caráter inacabado – o jogo acaba sempre antes de aca-
nologias que ampliam nossa capacidade. bar - que concede, afinal, ao jogo de xadrez, na forma
Sem nossos aparelhos digitais – celulares, tabletes, lap- de rito, a possibilidade de um eterno recomeçar.
tops – já não somos os mesmos. Criamos personalida- (Adaptado de Victor da Rosa, “Xeque-mate”. Disponível
des virtuais, ativas apenas na internet, outros eus que em http://culturaebarbarie.org/sopro/verbetes/
xequemate.html. Acessado em 04/09/2018.)
interagem em redes sociais com selfies arranjados para
impressionar; criações remotas, onipresentes. Cientis- a) Victor da Rosa afirma que há uma ambivalência na
tas e engenheiros usam computadores para ampliar expressão “xeque-mate”. Explique-a.
sua habilidade cerebral, enfrentando problemas que, há b) Explique, com dois argumentos, por que a posição
apenas algumas décadas, eram considerados impossí- do autor quanto à grandeza do jogo de xadrez con-
veis. Como resultado, a cada dia surgem questões que traria o senso comum.
antes nem podíamos contemplar.
4. (UNICAMP 2019)
(Folha de S.Paulo, 01.02.2015. Adaptado.)
Alguém já escreveu que a internet é um instrumento
1. (UNESP) democrático. Tomada ao pé da letra, essa afirmação é
a) Para o físico Marcelo Gleiser, o que distingue as falsa. Eu gostaria de corrigi-la, acrescentando: a internet
tecnologias transumanas daquelas apenas correti- é um instrumento potencialmente democrático. Para fa-
vas? Justifique sua resposta. zer uma pesquisa navegando na web, precisamos saber
b) Cite dois termos empregados em sentido figurado como dominar os instrumentos do conhecimento: em ou-
no primeiro parágrafo do artigo. tras palavras, precisamos dispor de um privilégio cultural
que é ligado ao privilégio social.
2. (FUVEST 2019)
As escolas precisam da internet, mas a internet precisa
Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever de uma escola onde o ensino real acontece. A internet
Mas o correio andou arisco não apenas faz referência aos livros, mas pressupõe li-
Se me permitem, vou tentar lhe remeter vros. A leitura fragmentada em palavras e frases isoladas
Notícias frescas nesse disco do contexto integral sempre foi parte da leitura de cada
Aqui na terra tão jogando futebol um, mas o livro é o instrumento que nos ensina a domi-
Tem muito samba, muito choro e rock’n’roll nar a extraordinária velocidade da internet – para ser
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Uns dias chove, noutros dias bate sol capaz de usá-la, você precisa aprender a “ler devagar”.
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Não consigo imaginar que alguém possa aprender so-
A Marieta manda um beijo para os seus
zinho, sem modelos, a prática profundamente artificial
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças da leitura lenta. Daí a internet pressupor não apenas os
O Francis aproveita pra também mandar lembranças livros, mas também aqueles que ensinam a ler livros – ou
A todo pessoal seja, professores em carne e osso.
Adeus
(Adaptado de “Carlo Ginzburg: a internet é um instrumento
Meu caro amigo. Chico Buarque e Francis Hime, 1976. potencialmente democrático”. Disponível em http://www.fronteiras.com/
artigos/carlo-ginzburg-ainternet-nao-apenas-remete-aos-livros-como-
a) Levando em conta o período histórico em que a le- tambem-pressupoe-livros-1427135419. Acessado em 02/09/2018.)
tra da música foi composta, justifique o uso do plural
no terceiro verso. a) De que argumentos o autor se vale para refutar a afir-
b) A letra da canção apresenta características de qual mação de que a internet é um instrumento democrático?
gênero discursivo? Aponte duas dessas característi- b) Explique por que a internet pressupõe “professores
cas. em carne e osso” e livros.

39
5. (UERJ) – Que cidade é esta? – perguntou, esforçando-se para
dar às palavras o máximo de cordialidade.
Rio 40 graus
Nem chegou a indagar pelas mulheres, conforme pre-
Cidade maravilha
tendia. Pegaram-no com violência pelos braços e o fo-
Purgatório da beleza e do caos ram levando, aos trancos, para a delegacia de polícia:
Capital do sangue quente do Brasil
– É o homem procurado – disseram ao delegado, um
Capital do sangue quente sargento 4espadaúdo e rude.
Do melhor e do pior do Brasil
(...)
Cidade sangue quente
O sargento chegara a uma conclusão, entretanto diva-
Maravilha mutante
gava:
O rio é uma cidade de cidades misturadas
– O telegrama da Chefia de Polícia não esclarece nada
O rio é uma cidade de cidades camufladas
sobre a nacionalidade do delinquente, sua aparência,
Com governos misturados, camuflados, paralelos idade e quais os crimes que cometeu. Diz tratar-se de
Sorrateiros ocultando comandos elemento altamente perigoso, identificável pelo mau
(...) hábito de fazer perguntas e que estaria hoje neste lu-
FERNANDA ABREU / FAUSTO FAWCETT / gar.
LAUFER ABREU, F. LA 2 be sample. EMI, 1992.
(...)
O rio é uma cidade de cidades misturadas 5
Cinco meses após a sua detenção, ele não mais espera
O rio é uma cidade de cidades camufladas (v. 9-10) sair da cadeia. Das suas grades, observa os homens que
passam na rua. Mal o encaram, amedrontados, apres-
a) Nos versos acima, a fragmentação da cidade é ex-
sam o passo.
plorada por meio de dois recursos linguísticos. Identi-
fique um desses recursos. Pressente, às vezes, que irão perguntar qualquer coisa
aos companheiros e fica à espreita, ansioso que isso
b) Em seguida, relacione-o com essa fragmentação.
aconteça. Logo se desengana. Abrem a boca, arrepen-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: dem-se, e se afastam rapidamente.
Caminha, dentro da noite, de um lado para outro. E, ao
A CIDADE avistar o guarda, cumprindo sua ronda noturna, a exa-
minar se as celas estão em ordem, corre para as grades
Destinava-se a uma cidade maior, mas o trem permane-
internas, impelido por uma débil esperança:
ceu indefinidamente na antepenúltima estação.
– Alguém fez hoje alguma pergunta?
Cariba acreditou que a demora poderia ser atribuída a
algum 1comboio de carga descarrilado na linha, aciden- – 6Não. Ainda é você a única pessoa que faz perguntas
te comum naquele trecho da ferrovia. Como se fizesse nesta cidade.
excessivo o atraso e ninguém o procurasse para lhe ex- MURILO RUBIÃO. Obra completa.
plicar o que estava ocorrendo, pensou numa provável São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
desconsideração à sua pessoa, em virtude de ser o úni-
co passageiro do trem.
1
comboio – trem
valise – mala de mão
3

Chamou o funcionário que examinara as passagens e 4


espadaúdo – de ombros largos
quis saber se constituía motivo para tanta negligência
o fato de ir vazia a composição. 6. (UERJ) Leia os trechos abaixo, que apresentam, respec-
tivamente, um fragmento do texto e sua reescritura:
Não recebeu uma resposta direta do empregado da es-
trada, que se limitou a apontar o morro, onde se dispu- 1. Apanhou as malas e se dispôs a subir as íngremes
nham, sem simetria, dezenas de casinhas brancas. ladeiras que o conduziriam ao povoado. (ref. 2)
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

– Belas mulheres? – indagou o viajante. 2. Apanhou as malas e se dispôs a subir as íngremes


ladeiras que o conduziam ao povoado.
– Casas vazias.
Percebeu logo que tinha pela frente um cretino. 2Apa- Explique a diferença de sentido entre as duas constru-
nhou as malas e se dispôs a subir as íngremes ladeiras ções. Justifique, ainda, a opção do autor pela primeira
que o conduziriam ao povoado. formulação, tendo em vista o desenrolar da narrativa.
(...)
Durante todo o percurso, desde as vias secundárias à TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
avenida principal, os moradores do lugar observaram Um estudo sobre contestações do povo dirigidas ao go-
Cariba com desconfiança. Talvez estranhassem as 3vali- verno na primeira década do século XX, registradas em
ses de couro de camelo que carregava ou o seu paletó uma coluna de jornal, revela a atitude do cidadão em
xadrez, as calças de veludo azul. Mesmo sendo o seu momentos não críticos, em seu cotidiano de habitante
traje usual nas constantes viagens que fazia, achou pru- da cidade do Rio de Janeiro. A conclusão do estudo é
dente desfazer qualquer mal-entendido provocado pela que quase só pessoas de algum modo relacionadas com
sua presença entre eles: a burocracia do Estado se queixavam, quer os próprios

40
funcionários e operários, quer as vítimas dos funcioná- Pelo prazer de chorar e pelo “estamos aí”
rios, especialmente da polícia e dos fiscais. Reclamavam Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir
funcionários, artesãos, pequenos comerciantes, uma ou Um crime pra comentar e um samba pra distrair
outra prostituta. Deus lhe pague
Mas as queixas não revelavam oposição ao Estado. O Por essa praia, essa saia, pelas mulheres daqui
conteúdo das reclamações girava em torno de proble- O amor malfeito depressa, fazer a barba e partir
mas elementares, como segurança individual, limpeza Pelo domingo que é lindo, novela, missa e gibi
pública, transporte, arruamento. Permanece, no entan- Deus lhe pague
to, o fato de que entre as reivindicações não se colo-
cava a de participação nas decisões, a de ser ouvido Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
ou representado. O Estado aparece como algo a que se Pela fumaça, desgraça, que a gente tem que tossir
recorre, como algo necessário e útil, mas que permane- Pelos andaimes, pingentes, que a gente tem que cair
ce fora do controle, externo ao cidadão. Ele não é visto Deus lhe pague
como produto de concerto político, pelo menos não de Por mais um dia, agonia, pra suportar e assistir
um concerto em que se inclua a população. É uma vi- Pelo rangido dos dentes, pela cidade a zunir
são antes de súdito que de cidadão, de quem se coloca E pelo grito demente que nos ajuda a fugir
como objeto da ação do Estado e não de quem se julga Deus lhe pague
no direito de a influenciar.
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
Como explicar esse comportamento político da popula- E pelas moscas-bicheiras a nos beijar e cobrir
ção do Rio de Janeiro? De um lado, a indiferença pela E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
participação, a ausência de visão do governo como res- Deus lhe pague
ponsabilidade coletiva, de visão da política como es- www.chicobuarque.com.br.
fera pública de ação, como campo em que os cidadãos
8. (UNESP) Considere as definições dos seguintes con-
se podem reconhecer como coletividade, sem excluir a
ceitos:
aceitação do papel do Estado e certa noção dos limites
deste papel e de alguns direitos do cidadão. De outro, 1. Autonomia: direito de um indivíduo tomar decisões
1
o contraste de um comportamento participativo em livremente; independência moral ou intelectual; capaci-
outras esferas de ação, como a religião, a assistência dade de governar-se pelos próprios meios.
mútua e as grandes festas em que a população parecia 2. Heteronomia: sujeição de um indivíduo a uma ins-
reconhecer-se como comunidade. tância externa ou à vontade de outrem; ausência de
Seria a cidade a responsável pelo fenômeno? Neste autonomia.
caso, como caracterizá-la, como distingui-la de outras? a) Qual dos conceitos mostra-se mais adequado para
Entramos aqui na vasta e rica literatura sobre o fenô- descrever a existência retratada pela letra da canção?
meno urbano, em particular sobre a cultura urbana. Justifique sua resposta, com base no texto.
JOSÉ MURILO DE CARVALHO Adaptado de Os b) Considerando o contexto histórico-social em que
bestializados: o
Rio de Janeiro e a República que não a canção foi composta, a quem ou a que se refere o
foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. pronome “lhe” em “Deus lhe pague”?
7. (UERJ) o contraste de um comportamento partici- 9. (UNESP) “Deus lhe pague”: pedido a Deus para que
pativo em outras esferas de ação, como a religião, a abençoe alguém por algo bom que esse alguém praticou.
assistência mútua e as grandes festas em que a pop- Carlos Alberto de M. Rocha e Carlos Eduardo P. de M. Rocha.
ulação parecia reconhecer-se como comunidade. (ref.1) Dicionário de locuções e expressões da língua portuguesa, 2011.
Nesse fragmento, o autor emprega duas vezes a pala-
vra como, estabelecendo relações coesivas distintas em Considerando a definição da expressão “Deus lhe pa-
cada uma de suas ocorrências. gue”, é correto afirmar que o compositor se apropriou
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

ironicamente dessa expressão em sua canção? Justi-


Aponte o tipo de relação estabelecida, respectivamen- fique sua resposta, valendo-se de três versos da letra
te, em cada emprego. Em seguida, reescreva o trecho da canção.
sublinhado, substituindo como por uma palavra ou ex-
pressão de sentido equivalente. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Benedict Anderson (1991) define a nação como uma co-
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
munidade política imaginada, porque há uma espécie
Para responder à(s) questão(ões) a seguir, leia a letra da de ficção no vínculo entre seus membros, que, em sua
canção “Deus lhe pague”, do compositor Chico Buar- maioria, nunca estabelecerão qualquer contato, mas
que (1944- ), composta em 1971. cujo imaginário é de uma relação horizontal compar-
tilhada. Há identificação, mesmo sem laços pessoais.
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir Anderson (1991) faz uma análise das origens dessa
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir imaginação comunitária e considera indiretamente a
Por me deixar respirar, por me deixar existir consolidação do Estado moderno o fato desencadeador
Deus lhe pague do surgimento do imaginário nacional. [...]

41
Apesar de ser apenas uma entre muitas possibilidades
de se imaginar uma comunidade política, a nação se
consolidou na História como se não fosse uma constru-
ção social, mas um elemento natural de vínculo entre
os indivíduos. Essa solidez só foi possível porque o Es-
tado-nação nasceu com um imaginário de eternidade,
constantemente reproduzido por discursos de identida-
de nacional que sustentam a dimensão imaginada da
comunidade política (Balibar, 2004a).
Natio era a deusa da origem na Roma Antiga, onde a
palavra era usada para se referir a grupos unidos por
laços culturais, tradições e costumes, mas sem organiza-
ção política (Habermas, 1998). A nação, nesse sentido, é
pré-política. Na era moderna, porém, o Estado territo-
rial, de fronteiras bem definidas e administração cen-
tralizada, tornou-se a estrutura política que dá forma a
uma memória supostamente atemporal. Na medida em
que nação e Estado se uniram como o principal modelo
de organização política [...], o sentido de nação se am-
pliou. 1Ela não significava mais apenas um grupo com
origens culturais comuns, mas também um conjunto
de indivíduos sujeito às mesmas regulamentações do
Estado. A partir da Revolução Francesa, a nação, como
define Habermas, passou a ser a escora da soberania e
também a base para a definição dos deveres e direitos
dos indivíduos do Estado: a cidadania.
Disponível em: <http://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/19264/19264_3.
PDF>. p. 24-27. Acesso em: 23 jul. 2015. Adaptado.

10. (PUC-RJ)
a) Explique, com suas próprias palavras, o conceito
de “comunidade imaginada”, que, segundo Benedict
Anderson, está implicado na definição de “nação”.
b) Mantendo o sentido das frases abaixo, reescreva-
-as sem usar a palavra mesmo. Faça as modificações
necessárias.
i) Há identificação, mesmo sem laços pessoais.
ii) Há, mesmo, identificação sem laços pessoais.
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

42
ENTRE
LETRAS

2
LINGUAGENS
CÓDIGOS
LITERATURA
e suas tecnologias

U.T.I.
ESTÉTICA ROMÂNTICA: POESIA

As gerações do Romantismo Canção do exílio é um dos mais conhecidos poemas de


Gonçalves Dias, escrito em Coimbra, em julho de 1843.
Tradicionalmente, são apontadas três gerações de escrito- Além dele, há também o poema indianista I - Juca Pirama,
res românticos. a história do último descendente da tribo tupi feito prisio-
neiro dos timbiras. O guerreiro seria sacrificado e devorado
Essa divisão, contudo, compreende, principalmente, os au-
numa festa canibal. Pelo amor ao pai, já velho e cego, o
tores de poesia.
prisioneiro implora ao chefe dos timbiras que o liberte para
Os romancistas não se enquadram muito bem nessa divi- cuidar do pai. Julgando-o um covarde, o chefe timbira de-
são, uma vez que suas obras apresentam traços caracterís- siste do sacrifício e solta o prisioneiro.
ticos de mais de uma geração.
§ Primeira geração: nacionalista, indianista e religio- 2.ª Geração
sa, com destaque para Gonçalves Dias e Gonçalves de
Magalhães. Álvares de Azevedo
§ Segunda geração: marcada pelo “mal do século”,
Álvares de Azevedo (1831-1852) é o principal nome da
apresenta egocentrismo exacerbado, pessimismo, sa-
geração ultrarromântica de nossa poesia. Paulista, fez os
tanismo e atração pela morte. Foi bem representada
estudos básicos no Rio de Janeiro e cursava o quinto ano
por Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes
de Direito, em São Paulo, quando sofreu um acidente (que-
Varela e Junqueira Freire.
da de cavalo), cujas complicações o levaram à morte, antes
§ Terceira geração: formada pelo grupo condoreiro, de completar 21 anos.
desenvolve uma poesia de cunho político e social. A
O escritor cultivou a poesia, a prosa e o teatro. Os sete livros,
maior expressão desse grupo é Castro Alves. Duran-
discursos e cartas que produziu foram escritos em apenas
te o Segundo Reinado, os românticos foram firman-
quatro anos, período em que era estudante universitário.
do o projeto de uma literatura autenticamente na-
cional, liberta da portuguesa. Houve três momentos Além disso, o autor também se utilizou constantemente
no desenvolvimento da poesia romântica brasileira, da ironia, empregada pelo poeta como recurso para
cujos poetas reúnem distintas gerações com carac- quebrar a noção de ordem e abalar as convenções do
terísticas em comum. mundo burguês.
Enquanto o lado Caliban do poeta se situa em uma das
1.ª Geração linhas que compõem o Romantismo – a linha orgíaca e
satânica –, a ironia levada às últimas consequências dos
Gonçalves de Magalhães poemas de Álvares de Azevedo acessa um veio novo: o
O médico, diplomata, poeta e dramaturgo Domingos José antirromântico, o que constitui outro paradoxo. O mais ro-
Gonçalves de Magalhães (1811-1882) foi o iniciador do mântico dos nossos românticos lançou o germe da própria
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Romantismo na literatura brasileira. Sua meta foi imple- superação do Romantismo, ao ironizar algumas das atitu-
mentar a nova corrente literária no País, com o apoio do des mais caras à sua geração, como a pieguice amorosa e
imperador D. Pedro II. a idealização do amor e da mulher.

Gonçalves Dias Casimiro de Abreu


Gonçalves Dias criou o indianismo romântico, impondo-se Casimiro de Abreu (1839-1860) é um dos poetas român-
como uma das maiores figuras da nossa literatura. Seus ticos mais populares. Natural de Barra de São João, no Rio
versos carregavam eloquência, lirismo, grandiosidade e de Janeiro, escreveu a maior parte de sua obra poética, Pri-
harmonia. Sua obras poéticas são: Primeiros cantos, Se- maveras, em Portugal. Apesar de ligado à segunda geração
gundos cantos, Últimos cantos, Sextilhas de Frei Antão, Di- da poesia romântica, Casimiro contribuiu para desanuviar
cionário da língua tupi, Os timbiras; as teatrais são: Beatriz o ambiente noturno que Álvares de Azevedo deixara ao
Cenei, Leonor de Mendonça, Boabdil e Patkul. morrer, sete anos antes.

44
3.ª Geração atitudes ingênuas das gerações anteriores, como a idealiza-
ção amorosa e o nacionalismo ufanista, substituída por pos-
turas mais críticas e realistas. Transição porque a perspectiva
Castro Alves mais objetiva e crítica com que trata a realidade aponta para
Castro Alves (1847-1871), o “poeta dos escravos”, é consi- o movimento literário subsequente, o Realismo.
derado a principal expressão condoreira da poesia brasilei- Castro Alves cultivou a poesia lírica e social, de que são
ra. Nascido em Curralinho, hoje Castro Alves (BA), estudou exemplos Espumas flutuantes e A cachoeira de Paulo Afon-
Direito em Recife e em São Paulo. Na evolução da poesia so; a poesia épica: Os escravos; e o teatro: Gonzaga ou
romântica brasileira, sua obra representa um momento de Revolução de Minas. Seus poemas tratavam das questões
maturidade e de transição. Maturidade em relação a certas sociais, da arte engajada e também da temática lírica.

ESTÉTICA REALISTA E REALISMO EM PORTUGAL

Realismo Romantismo
Objetivismo Subjetivismo
Descrições e adjetivação objetivas, voltadas para a captação do Descrições e adjetivação idealizantes, voltadas para a elevação
real como ele é. do objeto descrito.
Linguagem culta e direta. Linguagem culta, e estilo metafórico e poético.
Idealização da mulher com qualidades e defeitos. Idealização da mulher, anjo de pureza e perfeição.
Amor e sentimentos subordinados aos interesses sociais. Amor sublime e puro, acima de qualquer interesse.
Casamento, instituição falida, não passa de contrato de inter-
Casamento centrado no relacionamento amoroso.
esses e conveniências.
Herói em conflito, enfraquecido, com manias e incertezas. Herói íntegro, de caráter irrepreensível.
Narrativa lenta, ao ritmo do tempo psicológico. Narrativa de ação e de aventura.
Personagens moldadas psicologicamente. Personagens planas cujos pensamentos e ações são previsíveis.
Universalismo. Individualismo, culto do eu.

Realismo cientificista Realismo em Portugal


Aproximar a verdade social da verdade artística, privile- Foi com a Questão Coimbrã, em 1865, polêmica literária
giando o cotidiano do homem também brutal e animali- travada pelos jornais de Coimbra, que o Realismo começou
zado, foi um dos objetivos do Realismo. Conceitualmente, a ganhar vida em Portugal. Naquela mesma data, o poeta
Realismo e Naturalismo confluíram para o ideal positivista romântico Antônio Feliciano de Castilho, representante da
do final do século XIX. Era pressuposto desses movimentos Escola de Lisboa, fez elogios num posfácio à obra Poema
submeter o texto artístico à realidade. Ao artista importa- da mocidade, de Pinheiro Chagas, e censurou o estilo po-
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

vam a observação e a experiência, não a idealização da ético defendido pela Escola Coimbrã, citando os nomes de
realidade que caracterizou o Romantismo. Antero de Quental e Teófilo Braga. Foi o quanto bastou
Em tempos de industrialização e da vitória do capitalismo, para que Antero de Quental lhe respondesse mediante fo-
o culto à ciência criou o ambiente contrário ao sentimen- lhetos denominados Bom senso e bom gosto e A dignida-
talismo romântico. A ciência passou a ser considerada o de das letras e as literaturas oficiais.
único veículo legítimo de conhecimento da realidade, não
mais a emoção. Uma literatura “científica”, um recurso de Linhas de pensamento do Realismo/
conhecimento da realidade, um espelho fiel do universo. Naturalismo em Portugal
O pensamento positivista do francês Augusto Comte
(1798-1857) marcou a atmosfera realista cujo foco foi o Estas observações procuram sintetizar a produção literária
saber à luz das leis científicas, superior ao saber teológico do Realismo/Naturalismo português.
ou metafísico.

45
§ Crítica ao tradicionalismo vazio da sociedade interesse do público. Nas cartas, os escritores contam a
portuguesa história de um sequestro. Na época, os leitores acredi-
De acordo com os jovens de Coimbra, o tradicionalismo tavam tratar-se de fato verídico.
era resultado de uma educação romântica, convencio- § Segunda fase – de 1871 a 1888 –, chamada Real-
nal e distante da realidade. O escritor tinha uma missão ismo Agudo, deu-se após a publicação de O crime do
a cumprir: a de comprometer-se com a verdade social. padre Amaro e Os Maias. Seu objetivo foi assim ex-
§ Crítica ao conservadorismo da Igreja presso por Eça de Queirós em carta ao amigo Teófilo
Braga: [...] “pintar a sociedade portuguesa e mostrar-
Tendo em vista a importância do catolicismo em Por-
lhe, como num espelho, que triste país eles formam.
tugal, os realistas criticavam seu conservadorismo vol-
[...] destruir as falsas interpretações e falsas realizações
tado para o passado, que impedia o desenvolvimento
que lhe dá uma sociedade podre”.
natural da sociedade. A corrupção, as imoralidades e
a quebra do celibato eram também tematizados em § Terceira fase – de 1888 a 1900 –, considerada a fase
escopo crítico. de “nacionalismo nostálgico” ou “realismo fantasia”, em
§ Visão objetiva e natural da realidade que suas obras focam o tradicionalismo das origens de
Portugal e uma tentativa de fazer as pazes com o país
O escritor realista construía seus personagens median-
te tipos concretos, criados pela observação da relação que tanto criticou. É o caso de A ilustre casa de Ramires.
deles com o meio. Seu comportamento deveria ser O protagonista Ramires procura colocar-se à altura de
definido pelos caracteres psicossociais influenciados e seus antepassados medievais e a recompor a própria
adquiridos no ambiente em que viviam. história. Esta fase compreende também A correspondên-
cia de Fradique Mendes e o romance A cidade e as serras.
§ Preocupação com a reforma da sociedade
Desejo de democratização do poder político median- Principais obras
te amplas reformas sociais; diagnóstico de problemas
sociais e sugestões de soluções reformistas de caráter O crime do padre Amaro (1875)
socialista.
Primeiro romance do Realismo português tem o enredo
§ Representação da vida contemporânea ambientado em Leiria, cidade interiorana do norte de Por-
Estabelecimento de conexões rigorosas de causa e efei- tugal, onde o ingênuo padre Amaro Vieira vai assumir sua
to entre os fenômenos observados da realidade social paróquia. Hospedado inicialmente na casa da Senhora Joa-
neira, acaba por se envolver amorosamente com sua filha
Eça de Queirós Amélia. Seus colegas padres não estranham tal relação, o
que leva o jovem pároco a perceber que agiam cinicamente.
José Maria Eça de Queirós (1845-1900) estudou Direito na
Universidade de Coimbra, onde conheceu a geração que re- O primo Basílio (1878)
volucionou a literatura. Aos 21 anos participou ativamente
das Conferências do Cassino Lisbonense. Ingressou na vida Jorge e Luísa são um casal da burguesia lisboeta. Convivem
diplomática e atuou como cônsul em Cuba e na Grã-Breta- num círculo de amizades formado, entre outros, pelo Consel-
nha, onde escreveu O crime do padre Amaro e O primo Basí- heiro Acácio, homem apegado a convenções sociais; Dona
lio, romances de maior repercussão em sua carreira literária. Felicidade, que nutre uma paixão por ele; e Sebastião, o mel-
hor amigo de Jorge.
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

As três fases de Eça de Queirós Jorge sai em uma viagem de trabalho e durante sua ausência,
Luísa recebe a visita de Basílio, seu primo, residente em Paris.
A obra de Eça de Queirós pode ser organizada em três fases:
Admirado com a beleza da moça, Basílio envolve Luísa em
§ Primeira fase – de 1865 a 1871 – é considerada a um jogo de sedução, que faz com que ela se imagine vivendo
fase de aprendizado, com a produção dos folhetins de uma das aventuras amorosas de suas leituras românticas.
gosto popular, reunida mais tarde sob o título de Pro- Eles se tornam amantes, passando a trocar cartas de amor.
sas bárbaras. Neles revela influência de Victor Hugo e Luísa encontra estímulo na amiga Leopoldina, mulher casa-
Mechelet, uma vez inclinado para os temas históricos. da, colecionadora de casos extraconjugais. Toda a movimen-
Também em folhetins nasceu seu primeiro romance –
tação da casa é observada pela governanta Juliana, sempre
O mistério da estrada de Sintra (1871) –, escrito em
às voltas com planos de enriquecimento rápido.
parceria com Ramalho Ortigão. O método epistolar da
escrita – troca de cartas entre os autores – despertou o A cidade e as serras (1901)

46
José Fernandes narra uma história que tem como protagoni- grandes reivindicações urbanas que já haviam triunfado nos
sta um grande amigo seu: Jacinto. Estados Unidos e na Europa. A aristocracia rural entrava em
Jacinto, que nasceu e sempre viveu em Paris, é rico e herdeiro decadência e a monarquia mostrava-se um regime superado.
de fidalgos portugueses, vive a suposta felicidade que uma
grande renda mensal lhe proporciona. Vive num palacete nos Principais autores
Campos Elísios, no número 202, rodeado por luxo e conforto, Machado de Assis
mas não está satisfeito e passa boa parte do tempo entedi-
ado, mesmo considerando a cultura e a tecnologia os únicos Órfão aos dez anos, o menino mestiço do Morro do Livra-
meios de se chegar a suprema felicidade. mento, no Rio de Janeiro, estudou em escolas públicas e
Devido a um acidente na capelinha da propriedade de Ja- tratou de instruir-se por conta própria, interessado que era
cinto, em Tormes, Portugal, onde estão enterrados os ossos pela leitura. Inteligente e esforçado, Joaquim Maria Mach-
de seus avós, o rico herdeiro retorna à terra natal de seus ado de Assis (1839-1908) aproximou-se de intelectuais
antepassados. Ao sentir-se útil pela primeira vez, Jacinto e de jornalistas que lhe deram oportunidades. Aos dez-
esseis anos empregou-se na tipografia de Paula Brito. Aos
reencontra uma grande alegria de viver. Assim, realiza uma
dezenove já era colaborador assíduo de jornais e revistas
série de reformas.
cariocas: Correio Mercantil, O espelho, Diário do Rio de Ja-
Na propriedade constrói boas casas para os empregados, au- neiro, Semana Ilustrada, Jornal das Famílias.
menta seus salários e proporciona médico e remédios. Dev-
ido a essa atitude, mudanças acontecem em toda a região Em 1867, foi nomeado oficial da Secretaria de Agricultu-
ra, enquanto sua carreira de escritor mostrava-se cada vez
e trazem prosperidade. Jacinto une-se em matrimônio com
mais promissora. Casou-se aos trinta anos com a portugue-
a prima de José Fernandes, Joaninha, e juntos têm um casal
sa Carolina Xavier de Novais.
de filhos. Passe a ser organizado e responsável e nunca mais
volta a Paris. Na passagem do Império para a República, Machado de As-
sis já era um intelectual respeitável. Formado escritor à luz

Realismo no Brasil
do Romantismo, com o tempo enveredou para o Realismo,
o que, a depender da fase, sua obra seja caracterizada ou
romântica, até 1880, ou realista, de então em diante.
O contexto brasileiro
A lição dos contemporâneos portugueses, notadamente Eça Primeira fase: ciclo romântico
de Queirós, e franceses, Stendhal de preferência, foi decisiva Ao analisar os romances e os contos de Machado de Assis
para os autores realistas brasileiros fortemente influencia- considerados românticos, já se revela a característica que
dos por eles. A crise matrimonial, o papel da mulher nas haveria de marcar sua obra. Os acontecimentos são nar-
relações sociais e o operariado passam a ser temas e per- rados sem precipitação, entremeados de explicações aos
sonagens nessa literatura. Retratar a vida em sociedade, leitores por parte do narrador e cheios de considerações
descrever cenas, ambientes e comportamentos passa a sobre os comportamentos.
fazer parte considerável das obras literárias. Registrar a
realidade torna-se uma prioridade. Os oportunismos dis- Seus personagens não são lineares como os dos demais
românticos. Têm comportamentos imprevistos, fazem ma-
farçados, as falsas devoções e a moral de aparência são
quinações, não são transparentes, mas interesseiros.
temas que passam a integrar o universo do romance.
Tal como em Portugal, o Realismo/Naturalismo no Brasil A estrutura narrativa, no entanto, ainda é linear: tem
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esteve muito ligado às ideias estéticas, científicas e filosófi- começo, meio e fim bem demarcados. Fazem parte do ciclo
cas europeias – positivismo, darwinismo, comunismo, ci- romântico as obras Ressurreição, A mão e a luva, Helena e
entificismo – que provocaram bastante repercussão. As Iaiá Garcia e os livros de contos Histórias da meia-noite e
mudanças que o tempo impôs coincidiram, por sua vez, Contos fluminenses.
com o rápido declínio do Segundo Império de Pedro II, após
a Guerra do Paraguai. Não só o abolicionismo foi contem- Segunda fase: ciclo realista
porâneo ao Realismo/Naturalismo. O movimento Republi-
Com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas,
cano, em 1870, também propunha trocar o trabalho escra-
em 1881, Machado de Assis mudou o rumo de sua obra.
vo pela mão de obra imigrante.
Amadureceu como escritor e passou a escrever para leitores
As campanhas abolicionista e republicana tiveram início mais exigentes. Seus personagens tornaram-se mais elab-
a partir de 1870 e formaram um movimento político que orados, pois eram compostos à luz da Psicologia. Além dis-
dominou o Brasil e toda a América Latina, voltado para as so, a técnica de composição do romance foi aperfeiçoada:

47
REALISMO NO BRASIL: MACHADO DE ASSIS

os capítulos e frases passam a ser mais curtos a fim de es- Logo, os seus defeitos vão aparecendo a cada página, entre-
tabelecer maior contato com o leitor. cortadas por situações de ironia e pessimismo. Seus pensa-
mentos são amorais na viagem que faz pela memória de sua
Observa-se também uma apurada análise da sociedade
própria vida. A esse gênero literário dá-se o nome de sátira
brasileira do final do Segundo Império, ambiente no qual o
menipeia, no qual um morto se dirige aos vivos para criticar
casamento começa a ser um grande alvo da crítica tecida
a sociedade humana.
pelo autor. As estruturas narrativas fogem à linearidade, en-
tremeadas de digressões temporais, intromissões do narrador
e a análise apurada dos acontecimentos. Memórias póstu- Dom Casmurro (1900)
mas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Esaú e
Publicado em 1900, Dom Casmurro é um romance narrado
Jacó, Memorial de Aires são romances do ciclo realista.
em primeira pessoa. A partir de um flashback da velhice para
Além dos romances, Machado publica cerca de duzentos a adolescência, Bentinho conta sua própria história.
contos a partir de 1869, começando com os Contos flumi-
Órfão de pai, cresceu num ambiente familiar muito carinhoso
nenses, publicados em pleno Romantismo. Suas narrativas
– tia Justina, tio Cosme, José Dias. Recebeu todos os cuida-
curtas estão reunidas em Histórias da meia-noite, Papéis
dos da mãe, D. Glória, que o destinara à vida sacerdotal.
avulsos, Histórias sem data, Várias histórias, Páginas recol-
hidas, Relíquias da casa velha. Sem vocação, Bentinho não quis ser padre. Namora a viz-
Merecem destaque os contos A cartomante, Missa do galo, inha Capitu e quer se casar com ela. D. Glória, presa a uma
O alienista, O espelho, Cantiga de esponsais, Noite de al- promessa que fizera, aceita a ideia inteligente de José Dias de
mirante, A igreja do diabo, entre outros. enviar um escravo ao seminário para ser ordenado no lugar
do Bentinho.
A produção poética de Machado de Assis está reunida em
Falenas, Crisálidas, Americanas, Ocidentais. Destacam-se Livre do sacerdócio, o moço forma-se em Direito e acaba
as peças de teatro Queda que as mulheres têm para os casando-se mesmo com Capitu.
tolos, Quase ministros e Lição de botânica. O casal vive muito bem. Bentinho vai progredindo, mantém
amizade com Escobar, antigo colega de seminário, e Sancha,
Principais obras sua esposa. A vida segue seu curso. Nasce-lhe um filho, Eze-
quiel.
Memórias póstumas de Brás Cubas (1881)
Escobar morre e, durante o enterro, Bentinho começa a achar
Memórias póstumas de Brás Cubas é o romance iniciador Capitu estranha. Surpreende-a contemplando o cadáver de
do Realismo na literatura brasileira, assim como da segunda uma forma que ele interpreta como apaixonada.
fase do escritor. É, sem dúvida, uma das mais importantes
obras da literatura brasileira, como marco inicial do Realis- A partir do episódio, Bentinho consome-se em ciúme e o
mo, bem como um desfile de genialidade da escrita do autor. casamento entra em crise. Cada vez mais Ezequiel torna-se
parecido com Escobar – o que precipita em Bentinho a cer-
As memórias de Brás Cubas não são cronológicas, optando teza de que ele não é seu filho. O casal separa-se, Capitu e
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pelo estilo livre e digressivo. Machado se separa definitiva- Ezequiel vão para a Europa e algum tempo depois ela morre.
mente do Romantismo, e no próprio Realismo coloca em
prática seu estilo pessoal que escolhe como o personagem Já moço, Ezequiel volta ao Brasil para visitar o pai, que com-
principal um defunto que vai contar suas memórias. Brás prova a semelhança do filho com Escobar. Ezequiel morre no
Cubas decide contar aos leitores o que foi sua vida sem es- estrangeiro. Cada vez mais fechado em sua dúvida, Bentinho
conder nenhuma das mais profundas verdades. Essa sinceri- ganha o apelido de “Casmurro” e põe-se a escrever a histó-
dade, livre das moralidades e falsidades sociais, só existiam, ria de sua vida.
porque ele estava morto.

48
NATURALISMO NO BRASIL

Não é de hoje que a cidade do Rio de Janeiro é dividida § linguagem popular e coloquial – emprego de ter-
entre ricos e pobres, morro e asfalto. Basta ler o romance O mos e sentidos comuns ao das personagens cotidiana;
cortiço (1890), obra-prima de Aluísio Azevedo (1857-1913), linguagem é simples, natural e clara;
para perceber que os contrastes sociais já faziam parte do
§ cientificismo – caracterização e análise objetivas das
dia a dia dos cariocas desde o século XIX.
personagens, consideradas casos a serem analisados;
A história revela um efervescente ambiente urbano, construí-
§ personagens patológicas – mórbidas, adúlteras, as-
do à luz da observação do cotidiano e sob a influência da
sassinos, bêbadas, miseráveis, doentes, prostitutasprocu-
literatura francesa – notadamente do romance L’assommoir
(A taberna), 1877, do francês Émile Zola (1840-1902), inspi- ram comprovar a tese determinista sobre o ser humano.
rador do naturalismo francês do qual Azevedo é seguidor.
Aluísio Azevedo
Burguesia versus proletariado Nasceu em São Luís, no Maranhão, e posteriormente se
A segunda metade do século XIX foi caracterizado pela mudou para o Rio de Janeiro. Produziu folhetins românti-
consolidação do poder da burguesia, do materialismo e cos para jornais. Memórias de um condenado e Mistérios
do crescimento do proletariado. De um lado, o progresso, da Tijuca foram alguns deles ditados pelas necessidades
representado pelo crescimento das cidades; de outro, o de sobrevivência. Escreveu também obras mais bem elab-
crescimento dos bairros pobres onde residiam os operários. oradas à luz da estética realista-naturalista, como Casa de
Enquanto a burguesia lutava pelo dinheiro e pelo poder, o pensão e O cortiço, que consolidaram seu prestígio.
operário manifestava sua insatisfação e promovia as primei-
ras greves. Nessa conjuntura nasceram e desenvolveram-se Fase romântica
as ciências sociais, preconizando o desenvolvimento científ-
Dentre os seus folhetins românticos destacam-se Uma
ico, que levaram à substituição o idealismo e o tradicional-
lágrima de mulher; Memórias de um condenado ou A
ismo pelo materialismo e racionalismo.
Condessa Vésper; Filomena Borges; A mortalha de Azira;
O método científico passou a ser o meio de análise e com- Mistério da Tijuca ou Girândola de amores.
preensão da realidade. Teorias desse naipe deram funda-
mentos ideológicos à literatura realista-naturalista, quais
sejam: teoria determinista, de Hippolyte Taini (1825-1893), Fase naturalista
encarava o comportamento humano como determinado Romances: O mulato; Casa de pensão; O homem; O coruja;
pela hereditariedade, pelo meio e pelo momento; e a teo- O cortiço; O livro de uma sogra e os contos Demônios; Pega-
ria evolucionista, de Charles Darwin (1809-1882) defendia das; O touro negro.
a tese de que o homem descende dos animais. As carac-
Considerado o mais importante dos naturalistas brasileiros,
terísticas do naturalismo literário são ligadas à realidade da
em sua obra não há excesso de exploração da patologia
época cujo tom deixa de ser tão poético e subjetivo, como
humana, como ocorre, por exemplo, na obra do paradigma
nas escolas precedentes. Os romances naturalistas revelam: francês Émile Zola.
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§ veracidade – as narrativas buscam seus correspon- Aluísio prefere a observação direta da realidade da qual
dentes na realidade; ressalta, sobretudo, a influência que o meio exerce sobre o
§ contemporaneidade – essa realidade retratava com homem, segundo a teoria determinista de Hippolyte Taine.
fidelidade as personagens reais, vivas, não idealizadas;
§ detalhismo – a caracterização das personagens e am-
O cortiço (1890)
bientes é minuciosa; o amor é materializado; e a mulher João Romão é um ganancioso comerciante de origem por-
passa a ser vista como objeto de prazer masculino; tuguesa, dono de um armazém, de uma pedreira e de um
terreno de bom tamanho, no Rio de Janeiro, onde constrói
§ determinismo e causalidade – busca da explica-
casinhas de baixo custo para alugar.
ção lógica para o comportamento das personagens;
consideração da soma de fatores que justificam suas Bertoleza, uma ex-escrava negra, vive com o português e o
atitudes; visão de mundo determinista e mecanicista; ajuda no armazém.
homem próximo ao animal (zoomorfismo);

49
Aos poucos, o cortiço que vai se formando e passa a inco- mo, ficando a sua arte como a expressão típica, na literatura
modar o vizinho Miranda, dono de uma loja próxima. Chefe brasileira, do estilo impressionista. Sua obra mais conhecida
de uma família composta pela esposa Estela e pela filha Zu- é O ateneu.
lmira, Miranda sempre reclama da situação sórdida do lugar.
João Romão, por sua vez, também não aprecia o vizinho e O Ateneu (1888)
com ele mantém constante rivalidade.
O romance O Ateneu tem cunho memorialista e ressalta em
Quando Jerônimo, um operário português que trabalha na seu eixo fundamental o estudo psicológico de um adoles-
pedreira, muda-se com a esposa Piedade para lá, a situação cente. O foco narrativo é centrado em Sérgio, personagem
começa a sofrer alterações. Jerônimo apaixona-se pela mu- constantemente em conflito com os valores impostos pela
lata Rita Baiana, comprometida com o capoeirista Firmo. direção do internato.
Com a evolução dessa paixão, Firmo e Jerônimo acabam
Surgem no romance os problemas criados pela educação
se enfrentando e o português leva uma navalhada do ca-
convencional: a homossexualidade, as revoltas e a corrup-
poeirista. Nesse ínterim, João Romão começa a se interessar
ção. Oscilando entre ser um diário e um romance, o livro é
por Zulmira, filha do comerciante Miranda – sonha casar-se
recheado das experiências do menino Sérgio no internato,
com ela e mudar de condição social. Jerônimo, que acaba
dirigido pela mão de ferro do diretor Aristarco de Ramos.
se juntando a Rita Baiana, arma uma cilada para Firmo e o
assassina a pauladas. Trata-se de quadros narrativos que vão sendo expostos ao
leitor. Personagens e situações do colégio são apresentados,
Moradores do cortiço vizinho, o “Cabeça-de-Gato”, ateiam
desvendando-se um mundo de hipocrisias e falsidades em
fogo ao cortiço de João Romão, para vingar a morte do ca-
que até amigos tornam-se delatores. A história do interna-
poeirista. O incêndio, indiretamente, auxilia o português, que
to passa pela formação sexual e intelectual do adolescente
o reconstrói, fazendo um cortiço mais novo e mais próspero.
como um reflexo da sociedade e focaliza, ao mesmo tempo,
Com o tempo, João Romão aproxima-se cada vez mais de a decadência do regime monárquico-escravocrata brasileiro.
Miranda. Só resta tirar a escrava Bertoleza do caminho.
Ameaçada de voltar ao cativeiro, a negra suicida-se. João No colégio há um sistema de “proteções”, estudantes mais
velhos tomam a guarda de mais novos. O sistema esconde
Romão casa-se com Zulmira.
todo tipo de baixeza, inclusive o assassinato provocado pela
criada Ângela. A atmosfera saturada e falsa, forjada pelo di-
Raul Pompeia retor Aristarco, contamina a todos, com exceção de D. Ema,
A posição de Raul Pompeia, ficcionista de alturas geniais, na esposa do diretor, que é pessoa de muito boa vontade e
literatura brasileira é controvertida. A princípio, a crítica o jul- vem a ser alvo de uma paixão platônica do menino Sérgio.
gou pertencente ao Naturalismo, mas as qualidades artísticas A obra termina com um incêndio provocado pelo estudante
presentes em sua obra fazem-no aproximar-se do Simbolis- Américo.

PARNASIANISMO E SIMBOLISMO

Parnasianismo tura métrica e sonora de seus versos era perfeita, uma vez
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

que predominava neles a técnica do bom versejar em vez


da inspiração.
Escola literária exclusiva da França e do Brasil, o Parnasia-
nismo originou-se com as antologias poéticas publicadas No Brasil, o movimento é contemporâneo ao Realismo-Na-
na França a partir de 1866, sob o título Le Parnasse con- turalismo, uma vez que os poetas parnasianos compuse-
temporain (O Parnaso contemporâneo). ram suas obras entre o final do século XIX e o começo do
século XX, adotando a moda importada da França.
Os parnasianos interessaram-se apenas por poesia e foram
A partir de 1878, no Diário do Rio de Janeiro, os simpati-
guiados pela estética da “arte pela arte”, proposta pelo
zantes do Realismo entraram em polêmica aberta contra os
precursor da escola, o poeta francês Théophile Gautier
do Parnasianismo. Esse desentendimento ficou conhecido
(1811-1872).
como Batalha do Parnaso e acabou servindo para divul-
A “arte pela arte” estava voltada para o ideal clássico de gar a estética parnasiana, logo alcunhada de “ideia nova”,
beleza e harmonia de formas. Para os parnasianos, a estru- nos meios artísticos do País.

50
Características da poesia parnasiana De acordo com o determinismo, os acontecimentos na
vida de uma pessoa, bem como suas vontades, escolhas e
§ Objetividade no tratamento dos temas abordados, ba- comportamentos, eram causados por influência do meio.
seados na realidade sem subjetivismo e emoção. Em razão disso, as pessoas eram consideradas resultado
§ Impessoalidade do escritor que não interfere na abor- direto do meio, destituídas de plena liberdade, decisão e
dagem dos fatos. escolha. Nascido nesse mesmo contexto, o Impressionismo,
§ Valorização da estética e busca da perfeição, da beleza movimento artístico francês, caracterizou-se pelo estilo fun-
em si e da perfeição estética. damentalmente sensorial, no qual a natureza era encarada
§ Preferência pelas rimas esteticamente ricas. não de forma objetiva, mas interpretada. Prevalecia, portan-
§ Linguagem rebuscada e vocabulário vernáculo. to, a verdade do artista.
§ Temas frequentes ligados à mitologia grega e à cultura
clássica. Características da literatura simbolista
§ Preferência pelos sonetos. § A teoria das correspondências.
§ Valorização da metrificação rigorosa dos versos. § A realidade ambígua.
§ Valorização da descrição de cenas e objetos. § A musicalidade.
§ Metáforas e analogias sensoriais.
Parnasianos no Brasil
Simbolismo em Portugal
“A estética parnasiana cristalizou-se entre nós depois da
O marco inicial do Simbolismo em Portugal foi Oaristos, de
publicação de Fanfarras, de Teófilo Dias, livro em que o
Eugênio de Castro, em 1890. O prefácio traz um verdadeiro
movimento antirromântico começa a se definir no espíri-
programa de estética simbolista, com base nas ideias do
to e na forma dos parnasianos franceses”, explica Manuel
poeta francês Jean Moréas.
Bandeira, em estudo dedicado ao movimento.
O término do Simbolismo português deu-se em 1915,
Coube, no entanto, à chamada tríade parnasiana, formada quando Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro lançaram
por Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac, a a revista Orpheu, que deu início ao movimento modernista.
consolidação do Parnasianismo brasileiro.
Simbolismo no Brasil
Simbolismo Como o Parnasianismo, o movimento simbolista também
O Simbolismo correspondeu a uma resposta artística à crise se projetou no século XX, sendo que sua influência esten-
de civilização burguesa da Europa industrializada. Foi uma deu-se pelo Pré-modernismo e Modernismo, considerando
revolta contra a ideologia tecnocrática do Naturalismo e que houve modernistas neossimbolistas.
contra certos dogmas, como o determinismo, por exemplo, O decadentismo do final do século XIX reflete-se no Sim-
que sufocavam a criatividade artística. bolismo do Brasil, se considerar estas três orientações que
Essa luta foi instintiva e afetiva, bem como pessimista. O o nortearam:
artista dos últimos anos do século XIX negava os valores da § Orientação humanístico-social adotada por Cruz e
sociedade burguesa de forma problemática e autodilaceran- Sousa e continuada, mais tarde, por Augusto dos Anjos:
te, e, além disso, parecia estar descontente consigo mesmo. preocupação com os problemas transcendentais do ser
humano.
A arte simbolista apresentou significativa elaboração estéti-
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

ca. Apesar de se referir a um mundo decadente, suas formas § Orientação místico-religiosa adotada por Alphon-
eram bastante refinadas: procuram servir de refúgio ao ar- sus de Guimaraens: temas religiosos distantes do eso-
tista diante de um mundo marcado pelas práticas burgue- terismo europeu.
sas. Por valorizar o mundo inteiro e os valores espirituais, a § Orientação intimista-crepuscular adotada por pré-
atitude da arte simbolista é subjetivista, muito semelhante -modernistas e modernistas, como Olegário Mariano,
a dos românticos da metade do século XIX. Porém, os sim- Guilherme de Almeida, Ribeiro Couto, Manuel Bandeira
bolistas vão mais além, atingindo as camadas do inconsci- e Cecília Meireles: temas relacionados com o cotidiano,
ente e do subconsciente. Eles retomam o misticismo, o son- sentimentos melancólicos e gosto pela penumbra.
ho, a fé, numa tentativa de encontrar novos caminhos. Na A produção em prosa não vingou no Simbolismo brasileiro,
trilha do desconhecido, o movimento explora a possibilidade mesmo com a poesia em prosa de Cruz e Sousa, por exem-
de estabelecer relações entre o mundo visível e o invisível, plo. Ficou voltada para a poesia em um momento histórico
o universo que se pode sentir, mas não revelar, exceto pela em que o país estava marcado por frustrações, falta de per-
representação de sensações. spectiva, angústias.

51
PRÉ-MODERNISMO

Um período de transição com perspectivas diferentes. Graça Aranha renegou gradati-


vamente o passado para se tornar uma das personalidades
O momento histórico das duas primeiras décadas do século da Semana de Arte Moderna.
XX criou uma literatura social, cuja ênfase recaiu sobre a Euclides da Cunha repensou o interior do País, completa-
análise da realidade nacional com preocupações sociocul- mente afastado do ufanismo social. Em Os sertões, trouxe
turais. Voltada para os problemas sociais do País, essa nova uma voz inconformada com o massacre de Canudos e um
literatura buscava o nacional autêntico sem a idealização retrato realista da situação do homem sertanejo.
das fórmulas europeias importadas. O Pré-modernismo
Lima Barreto foi o mais radical dos renovadores. Posicionou-
abrangeu um período literário de transição compreendido
-se contra a literatura acadêmica e fez ressaltar a realidade
entre 1902 e 1922, cujo marco inicial foi a publicação de
triste dos subúrbios cariocas e as problemáticas atitudes de
Canaã, de Graça Aranha, e de Os sertões, de Euclides da
políticos tiranos e ineficazes.
Cunha, ambos em 1902.
A Semana de Arte Moderna de 1922 em São Paulo, marcou Monteiro Lobato fez uma literatura de advertência, sob a
o fim do Pré-modernismo e a inauguração do movimento óptica da caricatura, denunciando a miséria campesina e
modernista no Brasil. buscando uma sociedade moderna, como revelado neste
trecho de Zé Brasil:
Como em qualquer fase de transição, no Pré-modernismo
coexistiram tendências opostas. O elemento novo leva tem- Zé Brasil era um pobre coitado. Nasceu e sempre viveu em
po para ser implantado. As novidades injetadas na literatura casebres de sapé e barro, desses de chão batido e sem
social por Graça Aranha e Monteiro Lobato, por exemplo, mobília nenhuma – só a mesa encardida, o banco duro,
foram sendo assimiladas aos poucos. o mocho de três pernas, os caixões, as cuias... Nem cama
Desse modo, a linguagem ornamental do Parnasianismo tinha. Zé Brasil sempre dormiu em esteira de tábua. Que
persistiu em muitos poetas daquele período, que escreviam mais na casa? A espingardinha, o pote d’água, o caco de
ao gosto do público das camadas dominantes sem finalida- cela, o rabo de tatu, a arca, o facão, um santinho na parede.
Livros, só folhinhas – para ver as luas e se vai chover ou não,
de de denúncia, de análise ou de crítica.
e aquele livrinho na Fontoura com história de Jeca Tatu. –

Perspectivas nacionalistas Coitado desse Jeca! – dizia Zé Brasil olhando para aquelas
figuras. Tal qual eu. Tudo que ele tinha, eu também tenho.
e renovação A mesma opilação, a mesma maleita, a mesma miséria e
até o mesmo cachorrinho. Pois não é que o meu cachorro
Típicas dessa fase de transição foram as obras de Graça também se chama Joli?...
Aranha, Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Loba- (Monteiro Lobato. Zé Brasil. In: LAJOLO, Marisa.
to. Todos produziram literatura de caráter nacionalista, mas Monteiro Lobato. São Paulo: Abril Educação, 1981).

TEORIA DA VANGUARDA
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Na Europa, não houve uma arte moderna uniforme, mas um No Brasil, não poderia ser diferente. Víamos o exato momen-
conjunto de tendências artísticas – provenientes de países to da história em que as manifestações artísticas vinham
diferentes – com propostas específicas, embora certos traços crescendo no País espelhadas nas tendências europeias, fos-
aproximassem-nas, como o sentimento de liberdade criado- se para imitá-las, fosse para combatê-las.
ra, o desejo de romper com o passado, a expressão da sub-
As vanguardas europeias passaram pela Literatura Brasileira
jetividade e certo irracionalismo. Paris era o principal centro
e deixaram sua contribuição. A Semana de Arte Moderna e o
cultural europeu da época, onde as novas ideias artísticas
movimento modernista vieram romper com a antiga estética
irradiavam para o resto do mundo ocidental. Essas tendênias,
que até então reinava por aqui.
surgidas na Europa antes, durante e depois da Primeira Guer-
ra Mundial, foram consideradas correntes de vanguarda.

52
Futurismo: arte em movimento § A intimidade e a vivência da dor derivam do sentido
trágico da vida e causam uma deformação significativa,
§ Destruição da sintaxe e da disposição das “palavras em torturada.
liberdade”. § A arte desvincula-se do conceito de belo e feio e torna-
§ Emprego de verbos no infinitivo com vistas à substanti- -se uma forma de contestação.
vação da linguagem. § Linguagem fragmentada, elíptica, frases nominais sem
§ Abolição dos adjetivos e dos advérbios. sujeito, aglomeração de substantivos e adjetivos.

§ Emprego de substantivo composto em lugar de substan- § Despreocupação com a organização do poema em es-
tivo acompanhado de adjetivo: praça-funil, mulher-golfo. trofes, rimas ou musicalidade.

§ Abolição da pontuação e substituída por sinais da mate- § Temas voltados para o combate à fome, à inércia e aos
mática (+, –, :, =, >, <) e sinais musicais. valores do mundo burguês.

§ Destruição do eu psicologizante.
Dadaísmo
Cubismo Durante a Primeira Guerra Mundial, a Suíça, que tinha se
mantido neutra no conflito, recebeu em Zurique artistas e
O movimento cubista teve início na França, em 1907, com intelectuais de todos os pontos da Europa. Esses “fugidos
o quadro “Les demoiselles d’Avignon”, do pintor espanhol da guerra” reuniam-se no Cabaret Voltaire, ponto de encon-
Pablo Picasso. A partir de então, em torno de Picasso e do tro e espaço cultural, no qual nasceu o movimento dadaísta.
poeta francês Apollinaire, formou-se um grupo de artistas
que cultivaria as técnicas cubistas até o término da Primeira Criado a partir do clima de instabilidade, medo e revolta
Guerra Mundial, em 1918. provocados pela guerra, o movimento dadá pretendia ser
uma resposta à nítida decadência da civilização represen-
A convivência entre os escritores e artistas plásticos des- tada pelo conflito. Dessa postura, provêm a irreverência, o
se grupo favoreceu uma rica troca de ideias e técnicas, de deboche, a agressividade e o ilogismo dos textos e manifes-
modo que os poetas familiarizavam-se com técnicas pictó- tações dadaístas.
ricas, enquanto os pintores assimilavam ideias filosóficas e
poéticas.
Os pintores cubistas opõem-se à objetividade e à linearida-
Surrealismo
de da arte renascentista e realista. Buscam novas experiên- O combate à razão Nascido na França, o movimento surrea-
cias com a perspectiva, procuram decompor os objetivos re- lista apareceu com a publicação do Manifesto do Surrealis-
presentando-os em diferentes planos geométricos e ângulos mo (1924), de André Breton. Interessados nas propostas de
retos, em espaços múltiplos e descontínuos, que se intercep- Breton, que, psicanalista, procurava unir arte e psicanálise,
tam e se sucedem, de tal forma que o olhar do espectador diversos pintores aderiram ao movimento, que optou por
possa retomá-los e obter uma visão do todo, de face e de experiências criadoras automáticas e pelo imaginário extraí-
perfil, como se tivesse dado uma volta em torno deles. Outra do do sonho como linhas de atuação. Freud, na psicanálise,
técnica introduzida pelos cubistas foi a colagem, que consis- e Bérgson, na filosofia, já haviam destacado a importância
te em montar a obra a partir de diferentes materiais: figuras, do mundo interior do ser humano, as zonas pouco ou pro-
jornais, madeiras etc. priamente desconhecidas da mente humana. Encaravam o
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inconsciente, o subconsciente e a intuição como fontes ines-

Expressionismo
gotáveis e superiores de conhecimento humano, legando a
segundo plano o pensamento sensível, racional e consciente.
O automatismo artístico consiste em extravasar, sem contro-
Liberdade de expressão le algum da razão ou do pensamento, os impulsos criadores
do mundo interior do subconsciente. Ao proceder assim, o artista leva para a
tela ou para o papel seus desejos interiores profundos sem
§ A realidade que circunda o artista é horrível; por isso,
se importar com coerência, significados, adequação etc. Na
ele a deforma ou a elimina, criando a arte abstrata.
literatura, esse procedimento recebeu o nome de escrita au-
§ A razão é objeto de descrédito. tomática.
§ A arte é criada sem obstáculos convencionais; represen- Outra linha de atuação surrealista, a onírica, busca a trans-
ta repúdio à repressão social. posição do universo dos sonhos para o plano artístico.

53
MODERNISMO PORTUGUÊS I

Características do Vanguardismo:
Modernismo em Portugal o Cubofuturismo e o Surrealismo
Entre os movimentos europeus de vanguarda que influen-
Crise do progressismo ciaram o Modernismo português, devem ser citados o Cubis-
mo e o Futurismo, que, já de início, foram adotados princi-
burguês e intuicionismo palmente pelos poetas.
A instabilidade europeia do início do século XX atingiu Por- A Primeira Guerra Mundial havia assolado a Europa e mui-
tugal e representou um período de grande insatisfação e de tos artistas portugueses regressaram a Portugal.
crise da sociedade liberal burguesa. Em 1917, o poeta e pintor Almada-Negreiros ressaltou a
Nessa época, imperou um novo individualismo, que os pri- necessidade de transformações, no inflamado Ultimatum
meiros modernistas cultivaram como determinação do pró- futurista, que o poeta, vestido de operário, apresentou na
prio eu, e não como algo imposto pela sociedade. Surgiu conferência Ultimatum futurista às gerações portuguesas do
também o intuicionismo, como um conhecimento do mun- século XXI.
do que vem da espontaneidade, de forma natural, não pela
ciência ou pela técnica.

MODERNISMO PORTUGUÊS II

Os heterônimos de Álvaro de Campos


Álvaro de Campos nasceu no extremo sul de Portugal, em
fernando pessoa Tavira, a 15 de outubro de 1890. Estudou Engenharia Naval,
na Escócia. Todavia, não exerceu a profissão por não supor-
Verdadeiro mestre da poesia, a genialidade de Pessoa evi- tar viver confinado em escritórios.
denciou-se também com seus heterônimos: Alberto Caeiro,
Homem sujeito à máquina, à cegueira de seus semelhantes,
Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Desse modo, o poeta as-
de espírito inconformado com o tempo, é completamente
sumia outras personalidades literárias ao compor como se inadaptado ao mundo que o rodeia; vive marginalizado,
fossem pessoas reais, ou seja, heterônimos são os vários no- sendo uma personalidade do não.
mes usados por Pessoa. Não se trata de pseudônimos, mas
“Tabacaria” é um dos mais importantes poemas de Álvaro
heterônimos, pois são várias projeções do eu, cada qual com
de Campos, em que ele faz jus à ideia de um poeta ina-
personalidade, biografia, estilo e características específicas e daptado, negativo. O longo poema é exemplo marcante do
distintas do seu brilhante criador, Fernando Pessoa.
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

desalento que o caracteriza.

Alberto Caeiro Ricardo Reis


Dentro da heteronímia, o poeta Alberto Caeiro tem uma tra- Ricardo Reis é natural do Porto, nasceu a 19 de setembro de
jetória de vida e características que o identificam. Era órfão 1887. Teve formação em escolas de jesuítas e estudou Medi-
de pai e mãe, só teve instrução primária e viveu quase toda cina.
a vida no campo, sob a proteção de uma tia. Monarquista, autoexilou-se no Brasil por não concordar com
Poeta bucólico, em contato direto com a natureza, Caeiro a Proclamação da República em Portugal. Foi profundo admi-
dá importância às sensações, registrando-as sem a media- rador da cultura clássica, tendo estudado latim, grego e mito-
ção do pensamento. Para Caeiro, “tudo é como é”, todo “é logia. O poeta latino Horácio foi um grande inspirador de sua
assim porque assim é” – o poeta reduz tudo à objetividade, poesia, principalmente no que diz respeito à filosofia do carpe
diem, isto é, de usufruir o momento. Sua musa inspiradora se
sem nenhuma necessidade de pensar.
chamava Lídia.

54
Bernardo Soares U.T.I. - Sala
É conhecido como um heterônimo incompleto de Fernando
Pessoa. Aparece na obra “O livro do desassossego”, assi- 1. (UFBA) AVES DE ARRIBAÇÃO
nando aforismos e fragmentos. Seu estilo de escrita é similar
IV
ao do poeta Fernando Pessoa.
É noite! Treme a lâmpada medrosa
Velando a longa noite do poeta...
Além, sob as cortinas transparentes
Ela dorme... formosa Julieta!
Entram pela janela quase aberta
Da meia-noite os preguiçosos ventos
E a lua beija o seio alvinitente
- Flor que abrira das noites aos relentos.
O Poeta trabalha!... A fronte pálida
Guarda talvez fatídica tristeza...
Que importa? A inspiração lhe acende o verso
Tendo por musa - o amor e a natureza!
E como o cáctus desabrocha o medo
Das noites tropicais na mansa calma,
A estrofe entreabre a pétala mimosa
Perfumada da essência de sua alma.
No entanto Ela desperta... num sorriso
Ensaia um beijo que perfuma a brisa ...
... A Casta-diva apaga-se nos montes ...
Luar de amor! acorda-te, Adalgisa!
(ALVES, Castro. OS MELHORES POEMAS DE CASTRO ALVES.
Seleção de Lêdo lvo. 4 ed. São Paulo: Global Ed., 1988. p. 78.)

Quais as características da lírica romântica - conteúdo e


linguagem - presentes na poesia de Castro Alves?
Escreva um texto sobre essas características, ilustran-
do-as com exemplos retirados do poema anterior.

2. (UEL 2018) Analise as figuras a seguir.

U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

55
tardio sonhando em retornar à semente da qual veio ao
galho. [...] O desejo de saltar para aquém do cárcere do
pensar se pode compreender – e até cultivar – em cer-
ta medida, mas o lado de fora não há. A consciência é
irreparável; dela, como do tempo, ninguém torna atrás
ou se desfaz. Desmorder a maçã não existe como opção.
(Trópicos utópicos, 2016.)
4. (UNESP 2020)
a) No ensaio, o que o autor entende por “simples existir”?
b) Considere os seguintes trechos de poemas de Fernando
Pessoa:
1. De resto, nada em mim é certo e está
De acordo comigo próprio. As horas belas
São as dos outros ou as que não há.
2. O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa.
Com base nas imagens, nos conhecimentos sobre as
artistas brasileiras Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, e 3. O meu misticismo é não querer saber.
considerando que são, respectivamente, herdeiras dos É viver e não pensar nisso.
movimentos expressionismo e cubismo, discorra sobre Não sei o que é a Natureza: canto-a.
as diferenças entre esses dois movimentos. 4. Venho de longe e trago no perfil,
Em forma nevoenta e afastada,
3. (UEL 2018) O Dadaísmo foi, principalmente, um mo- O perfil de outro ser que desagrada
vimento artístico de contestação e desencanto, ali- Ao meu atual recorte humano e vil.
mentado pelo impacto da Primeira Guerra Mundial. As
intenções dos artistas que participaram do movimento Em quais trechos se observa “a intenção de se livrar da
são intensificadas em ações orientadas para provocar autoconsciência visando a completa imersão no fluxo es-
percepções das potências destrutivas e sem sentido do pontâneo e irrefletido da vida”? Justifique sua resposta.
homem.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Discorra sobre as características do movimento dadaís-
ta e suas ideias de contestação. Leia o excerto do romance Clara dos Anjos, de Lima Barreto.
Cassi Jones, sem mais percalços, se viu lançado em
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: pleno Campo de Sant’Ana, no meio da multidão que
Leia o ensaio de Eduardo Giannetti a seguir. jorrava das portas da Central, cheia da honesta pressa
de quem vai trabalhar. A sua sensação era que estava
A maçã da consciência de si. – O labrador dourado numa cidade estranha. No subúrbio tinha os seus ódios
saltando com a criança na grama; o balé acrobático do e os seus amores; no subúrbio, tinha os seus compan-
sagui; a liberdade alada da arara-azul cortando o céu heiros, e a sua fama de violeiro percorria todo ele, e, em
sem nuvens – quem nunca sentiu inveja dos animais qualquer parte, era apontado; no subúrbio, enfim, ele
que não sabem para que vivem nem sabem que não tinha personalidade, era bem Cassi Jones de Azevedo;
o sabem? Inveja dos seres que não sentem continua- mas, ali, sobretudo do Campo de Sant’Ana para baixo,
mente a falta do que não existe; que não se exaurem e
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

o que era ele? Não era nada. Onde acabavam os trilhos


gemem sobre a sua condição; que não se deitam insones da Central, acabava a sua fama e o seu valimento; a
e choram pelos seus desacertos; que não se perdem nos sua fanfarronice evaporava-se, e representava-se a si
labirintos da culpa e do desejo; que não castigam seus mesmo como esmagado por aqueles “caras” todos, que
corpos nem negam os seus desejos; que não matam os nem o olhavam. [...]
seus semelhantes movidos por miragens; que não se Na “cidade”, como se diz, ele percebia toda a sua in-
deixam enlouquecer pela mania de possuir coisas? O ferioridade de inteligência, de educação; a sua rustici-
ônus da vida consciente de si desperta no animal huma- dade, diante daqueles rapazes a conversar sobre coisas
no a nostalgia do simples existir: o desejo intermitente de que ele não entendia e a trocar pilhérias; em face
de retornar a uma condição anterior à conquista da da sofreguidão com que liam os placards1 dos jornais,
consciência. – A empresa, contudo, padece de uma con- tratando de assuntos cuja importância ele não avaliava,
tradição fatal. A intenção de se livrar da autoconsciên- Cassi vexava-se de não suportar a leitura; comparando
cia visando a completa imersão no fluxo espontâneo e o desembaraço com que os fregueses pediam bebidas
irrefletido da vida pressupõe uma aguda consciência de variadas e esquisitas, lembrava-se que nem mesmo o
si por parte de quem a alimenta. Ela é como o fruto nome delas sabia pronunciar; olhando aquelas senho-

56
ras e moças que lhe pareciam rainhas e princesas, tal Que minha alma ilumine, e com pureza
e qual o bárbaro que viu, no Senado de Roma, só reis, Só ame um Deus, que vive eternamente.
sentia-se humilde; enfim, todo aquele conjunto de cois-
(José da Natividade Saldanha.
as finas, de atitudes apuradas, de hábitos de polidez Poemas oferecidos aos amantes do Brasil. 1822.)
e urbanidade, de franqueza no gastar, reduziam-lhe a
personalidade de medíocre suburbano, de vagabundo SONETO
doméstico, a quase coisa alguma.
(Clara dos Anjos, 2012.) Podre meu Pai! A Morte o olhar lhe vidra.
1
placards: nome que se dava às tabuletas que traziam resultados
Em seus lábios que os meus lábios osculam
de competições esportivas, publicados nos jornais. Micro-organismos fúnebres pululam
Numa fermentação gorda de cidra.
5. (UNESP 2020) Duras leis as que os homens e a hórrida hidra
a) No excerto, o narrador contrapõe dois espaços. A uma só lei biológica vinculam,
Identifique-os. E a marcha das moléculas regulam,
b) Na poesia árcade também ocorre a contraposição Com a invariabilidade da clepsidra!...
de dois espaços, o que vem a ser um importante tópi- Podre meu Pai! E a mão que enchi de beijos
co dessa poesia. Quais são esses espaços? Roída toda de bichos, como os queijos
Sobre a mesa de orgíacos festins!...
Amo meu Pai na atômica desordem
U.T.I. - E.O. Entre as bocas necrófagas que o mordem
E a terra infecta que lhe cobre os rins!
1. (FUVEST) “Ao cabo, era um lindo garção, lindo e au- (Augusto dos Anjos. Eu. 1935.)
daz, que entrava na vida de botas e esporas, chicote na
mão e sangue nas veias, cavalgando um corcel nervoso, IDEALISMO E REALISMO
rijo, veloz, como o corcel das antigas baladas, que o ro-
mantismo foi buscar ao castelo medieval, para dar com Eu sou pois associado a estes dois movimentos, e se
ele nas ruas do nosso século. O pior é que o estafaram ainda ignoro o que seja a ideia nova, sei pouco mais ou
a tal ponto, que foi preciso deitá-lo à margem, onde o menos o que chamam aí a escola realista. Creio que em
realismo o veio achar, comido de lazeira e vermes, e, por Portugal e no Brasil se chama realismo, termo já velho
compaixão, o transportou para os seus livros.” em 1840, ao movimento artístico que em França e em
Inglaterra é conhecido por “naturalismo” ou “arte expe-
a) É possível considerar o texto como uma apologia rimental”. Aceitemos, porém, realismo, como a alcunha
do Realismo? Justifique sua resposta. familiar e amiga pela qual o Brasil e Portugal conhecem
b) Que tem o Romantismo brasileiro a ver com a Ida- uma certa fase na evolução da arte.
de Média? Exponha seu ponto de vista a respeito do (...)
problema.
Não - perdoem-me - não há escola realista. Escola é a
2. (FUVEST) Em 1881 foram publicados dois romances imitação sistemática dos processos dum mestre. Pres-
supõe uma origem individual, uma retórica ou uma
importantes no Brasil, com os quais se inicia um novo maneira consagrada. Ora o naturalismo não nasceu da
movimento literário na prosa brasileira. estética peculiar dum artista; é um movimento geral da
arte, num certo momento da sua evolução. A sua ma-
a) Quais são esses romances?
neira não está consagrada, porque cada temperamento
b) Com que movimento literário eles rompem?
individual tem a sua maneira própria: Daudet é tão dif-
erente de Flaubert, como Zola é diferente de Dickens.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Dizer “escola realista” é tão grotesco como dizer “es-
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

SONETO cola republicana”. O naturalismo é a forma científica


que toma a arte, como a república é a forma política
Os teus olhos gentis, encantadores, que toma a democracia, como o positivismo é a forma
Tua loira madeixa delicada, experimental que toma a filosofia.
Tua boca por Vênus invejada, Tudo isto se prende e se reduz a esta fórmula geral:
Onde habitam mil cândidos amores: que fora da observação dos factos e da experiência dos
Os teus braços, prisão dos amadores, fenômenos, o espírito não pode obter nenhuma soma
Os teus globos de neve congelada, de verdade.
Serão tornados breve a cinza!... a nada!... Outrora uma novela romântica, em lugar de estudar o
Aos teus amantes causarão horrores!... homem, inventava-o. Hoje o romance estuda-o na sua
Céus! e hei-de eu amar uma beleza, realidade social. Outrora no drama, no romance, conce-
Que à cinza reduzida brevemente bia-se o jogo das paixões a priori; hoje, analisa-se a pos-
Há-de servir de horror à Natureza!... teriori, por processos tão exactos como os da própria
Ah! mandai-me uma luz resplandecente, fisiologia. Desde que se descobriu que a lei que rege os

57
corpos brutos é a mesma que rege os seres vivos, que 3. (UNESP) Uma das linhas de força do Naturalismo é
a constituição intrínseca duma pedra obedeceu às mes- baseada nos princípios mecanicistas e deterministas
mas leis que a constituição do espírito duma donzela, que influenciaram a cultura na segunda metade do sé-
que há no mundo uma fenomenalidade única, que a lei culo XIX e que podem ser sintetizadas nas palavras do
que rege os movimentos dos mundos não difere da lei fisiologista Claude Bernard:
que rege as paixões humanas, o romance, em lugar de O determinismo é absoluto tanto para os fenômenos
imaginar, tinha simplesmente de observar. O verdadeiro dos corpos vivos como para os dos corpos brutos.
autor do naturalismo não é pois Zola - é Claude Ber-
(Armand Cuvillier. “Pequeno ocabulário da língua filosófica”.)
nard. A arte tornou-se o estudo dos fenômenos vivos e
não a idealização das imaginações inatas... Releia os textos de Augusto dos Anjos e de Eça de Quei-
(Eça de Queirós. “Cartas Inéditas de Fradique Mendes”. rós e, a seguir,
In: Obras de Eça de Queirós.) a) considerando que, em seu texto, Eça de Queirós
PREFÁCIO INTERESSANTÍSSIMO defende e assume os princípios mecanicistas e deter-
ministas na composição literária, explique o que ele
24
Belo da arte: arbitrário, convencional, quer dizer com a frase seguinte sobre a técnica de
transitório - questão de moda. Belo da composição da narrativa realista: “Outrora no drama,
natureza: imutável, objetivo, natural - tem a no romance, concebia-se o jogo das paixões a priori;
eternidade que a natureza tiver. Arte não hoje, analisa-se a posteriori, por processos tão exac-
tos como os da própria fisiologia.”;
consegue reproduzir natureza, nem este é seu
b) localize no soneto de Augusto dos Anjos a estrofe
fim. Todos os grandes artistas, ora consciente
que traduz basicamente a mesma ideia determinista
(Rafael das Madonas, Rodin do Balzac,
defendida por Eça de Queirós e consubstanciada na
Beethoven da Pastoral, Machado de Assis do frase citada de Claude Bernard.
Brás Cubas), ora inconscientemente (a grande
maioria) foram deformadores da natureza. 4. (UFSCAR) O luar através dos altos ramos,
Donde infiro que o belo artístico será tanto mais Dizem os poetas todos que ele é mais
artístico, tanto mais subjetivo quanto mais se Que o luar através dos altos ramos.
afastar do belo natural. Outros infiram o que Mas para mim, que não sei o que penso,
quiserem. Pouco me importa. O que o luar através dos altos ramos
* É, além de ser
25
Nossos sentidos são frágeis. A percepção das O luar através dos altos ramos,
coisas exteriores é fraca, prejudicada por mil É não ser mais
véus, provenientes das nossas taras físicas e Que o luar através dos altos ramos.
morais: doenças, preconceitos, indisposições, (Fernando Pessoa, “Obra Poética”.)
antipatias, ignorâncias, hereditariedade,
As bolas de sabão que esta criança
circunstâncias de tempo, de lugar, etc... Só Se entretém a largar de uma palhinha
idealmente podemos conceber os objetos como São translucidamente uma filosofia toda.
os atos na sua inteireza bela ou feia. A arte Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,
que, mesmo tirando os seus temas do mundo Amigas dos olhos como as cousas,
objetivo, desenvolve-se em comparações São aquilo que são
afastadas, exageradas, sem exatidão aparente, Com uma precisão redondinha e aérea,
ou indica os objetos, como um universal, sem E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
delimitação qualificativa nenhuma, tem o poder Pretende que elas são mais do que parecem ser.
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

de nos conduzir a essa idealização livre, (...)


musical. Esta idealização livre, subjetiva, (Fernando Pessoa, “Obra Poética”.)
permite criar todo um ambiente de realidades
ideais onde sentimentos, seres e coisas, belezas Ambos esses poemas são atribuídos a Alberto Caeiro,
e defeitos se apresentam na sua plenitude um dos heterônimos de Fernando Pessoa.
heroica, que ultrapassa a defeituosa percepção a) O que caracteriza esse heterônimo?
dos sentidos. Não sei que futurismo pode existir b) O que há de comum nesses dois poemas em ter-
em quem quase perfilha a concepção estética de mos de estilo? Justifique a sua resposta.
Fichte. Fujamos da natureza! Só assim a arte
5. (UNIFESP) Leia os versos de Cruz e Sousa.
não se ressentirá da ridícula fraqueza da
fotografia... colorida. Ó meu Amor, que já morreste,
(Mário de Andrade. “Pauliceia Desvairada”. Ó meu Amor, que morta estás!
In: Poesias completas. 1987.) Lá nessa cova a que desceste

58
Ó meu Amor, que já morreste, Não quero funeral comunidade,
Ah! nunca mais florescerás? Que engrole “sub-venites” em voz alta;
Ao teu esquálido esqueleto, Pingados gatarrões, gente de malta,
Que tinha outrora de uma flor Eu também vos dispenso a caridade:
A graça e o encanto do amuleto
Ao teu esquálido esqueleto Mas quando ferrugenta enxada edosa
Não voltará novo esplendor? Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
a) Identifique no poema dois aspectos que remetem Lavre-me este epitáfio mão piedosa:
ao Romantismo.
b) Exemplifique, valendo-se de elementos textuais, “Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
por que, em certa medida, os poetas simbolistas, Passou vida folgada, e milagrosa;
como Cruz e Souza, se aproximam dos parnasianos. Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro”.

6. (UFG) Leia os fragmentos do poema “Violões que (BOCAGE, Manuel Maria Barbosa du. In: LAJOLO, Marisa.
(Org.) Literatura Comentada: Bocage. São Paulo: Abril
choram...”, de Cruz e Sousa. Cultural, 1980. p. 91. Ortografia atualizada.)
[..]
TEXTO II
Vozes veladas, veludosas vozes,
Volúpias dos violões, vozes veladas, LEMBRANÇA DE MORRER
Vagam nos velhos vórtices velozes Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas. Que o espírito enlaça à dor vivente,
[...] Não derramem por mim nem uma lágrima
Velhinhas quedas e velhinhos quedos, Em pálpebra demente.
Cegas, cegos, velhinhas e velhinhos,
Sepulcros vivos de senis segredos, E nem desfolhem na matéria impura
Eternamente a caminhar sozinhos; A flor do vale que adormece ao vento:
[...] Não quero que uma nota de alegria
SOUSA, Cruz e. “Broquéis, Faróis e Últimos sonetos”. Se cale por meu triste passamento.
2a ed. reformulada. São Paulo: Ediouro, 2002.
p. 78 e 81. (Coleção Super Prestígio).
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Com base na leitura desses fragmentos, explicite a figu- Do deserto, o poento caminheiro
ra de linguagem predominante nas estrofes e explique
– Como as horas de um longo pesadelo
sua função na estética simbolista.
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
7. (UNIRIO) Como o desterro de minh’alma errante,
Onde o fogo insensato a consumia:
CANTIGA OUTONAL
Outono. As árvores pensando... Só levo uma saudade – é desses tempos
Tristezas mórbidas no mar... Que amorosa ilusão embelecia.
O vento passa, brando, brando...
[...]
E sinto medo, susto, quando
Escuto o vento assim passar...
(Cecília Meireles) Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
a) Apesar de modernista, a autora apresenta tendên-
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

cias de outro movimento literário, evidentes no texto.


Que movimento é esse? Foi poeta – sonhou – e amou na vida.
b) Retire do texto uma passagem que justifique a sua
resposta anterior e, a seguir, cite a característica que Sombras do vale, noites da montanha
ela apresenta. Que minha alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
8. (UFJF-Pism)
E no silêncio derramai-lhe canto!
TEXTO I
Mas quando preludia ave d’aurora
SONETO DO EPITÁFIO
E quando à meia-noite o céu repousa,
Lá quando em mim perder a humanidade Arvoredos do bosque, abri os ramos.
Mais um daqueles, que não fazem falta, Deixai a lua pratear-me a lousa!
Verbi-gratia – o teólogo, o peralta,
(AZEVEDO, Álvares de.Lira dos Vinte anos. In: Obra completa.
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade: Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2000. p. 188-189.)

59
Com base nos textos I e II, responda:
a) Quais são as características do soneto de Bocage (tex-
to I) que nos permitem identificá-lo como satírico?
b) Os poemas de Bocage (texto I) e Álvares de Azevedo
(texto II) tratam diferentemente do mesmo tema. Identi-
fique esse tema e explicite as maneiras como cada autor
o trata, relacionando-as com o contexto de época.
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

60
ENTRE
FRASES

2
LINGUAGENS
CÓDIGOS
REDAÇÃO
e suas tecnologias

U.T.I.
PARÁGRAFO PADRÃO

Qual é a estrutura do parágrafo-padrão?


Anúncio da ideia a ser trabalhada no parágrafo. É mais curto e mais opinativo. Sempre pressupõe
TÓPICO-FRASAL
explicações.

Desenvolvimento da ideia anunciada. É composto por explicações, comprovações e relações consti-


DESENVOLVIMENTO
tuídas a partir do tópico frasal.

Trata-se do fechamento dessa ideia principal, que pode ser feita de modo mais livre. Pode ser uma
CONCLUSÃO consequência de todo o processo descrito, uma observação crítica das ideias apresentadas ou, até
mesmo, no caso do ENEM, o anúncio de uma intervenção que poderia amenizar o problema.

Exemplo
Parágrafo do tema “Desafios para a promoção do lazer nas periferias” (redação modelo).

Nessas circunstâncias, outro desafio surge: o lazer para a população periférica passa a
TÓPICO-FRASAL
ser um objeto exclusivo dos moradores com maior renda.

Isso ocorre, pois – diante de tantas ausências – o entretenimento e a diversão tornam-se possíveis
apenas para aqueles que podem pagar por ingressos ou que conseguem se deslocar até as áreas com
mais recursos, e assim, transformam o que deveria ser um direito em uma questão de privilégio social.
DESENVOLVIMENTO
A canção “Fim de semana no parque”, do grupo Racionais MCs, retrata esse cenário, pois mostra a
frustração de um garoto da periferia impedido de acessar a piscina de um clube em virtude de sua
condição econômica.

Embora seja uma obra de ficção, a experiência apresentada se torna uma constante, já que a maior
parte da população desses espaços é de baixa renda e, com isso, permanece excluída da pos-
CONCLUSÃO
sibilidade de se divertir e de se entreter, precisando, muitas vezes, criar alternativas,
inseguras para tal fim, como empinar pipas nas ruas da cidade e a nadar em águas.
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

62
ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS I

Estratégias argumentativas

§ São técnicas voltadas para a construção do parágrafo padrão, que ajudam a organizar as ideias numa sequência lógica.
§ De modo geral, elas são combinadas ao longo da composição do parágrafo

1. EXPLICAÇÃO Desenvolve-se as causas do que foi anunciado no tópico frasal.


Sob outro prisma, é válido analisar que o controle de dados na internet fomenta a alienação da socie-
dade. Essa problemática ocorre porque quando conteúdos previamente selecionados, descontex-
tualizados ou alterados são a maior parte das informações acessíveis ao público, este passa a reproduzir
EXEMPLO: os comportamentos esperados pelos órgãos manipuladores e influencia as pessoas ao seu redor por
apresentar tais fatos como verdades, o que gera um estado de desinformação.
(Trecho extraído de redação nota máxima do ENEM 2018 – Cartilha do participante ENEM 2019)

EXPRESSÕES QUE § Tal cenário deve-se ao fato de...


AJUDAM A CRIAR § Essas atitudes ocorrem em virtude de...
OS PERÍODOS § Isso se torna constante na sociedade, pois...

2. EXEMPLIFICAÇÃO Apresenta-se um exemplo da realidade.


Outro fator que reforça a precariedade do saneamento é gestão interesseira de parte das
autoridades competentes. Por acreditarem que as obras constantes não trazem visibilidade política,
muitos desses representantes realizam iniciativas positivas na área apenas às vésperas das eleições, bus-
EXEMPLO: cando, assim, obter um número maior de eleitores para si. Prova desse modelo de política pública
clientelista são as obras de canalização de córregos ou de limpeza de áreas transformadas em lixões,
que – em vez de ocorrerem cotidiana e preventivamente, como determina a Lei de Saneamento brasileira,
promulgada em 2007 – são realizadas, em suma, em anos eleitorais.
EXPRESSÕES QUE § Essa situação é observada...
AJUDAM A CRIAR § Um exemplo dessa relação conflituosa é...
OS PERÍODOS § Prova desse uso desmedido ocorre em São Paulo...

3. CONTRA-
Apresenta-se uma ideia para depois desconstruí-la, invalidá-la ou mostrar como ela não ocorre.
ARGUMENTAÇÃO
Em primeira análise, convém avaliar que os entusiastas da redução da maioridade possuem argumentos
válidos, que se baseiam na capacidade do jovem de responsabilizar-se por seus atos e na impunidade.
Contudo, essa visão alimenta uma disputa entre a sociedade e o crime que só resulta em perdas, pois
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

o desejo de punir o jovem infrator não atua no cerne da questão, que é a necessidade de garantir segurança
EXEMPLO para a população. Isso ocorre, pois as prisões não possuem capacidade de reabilitar o presidiário, de con-
tribuir para sua melhora como cidadão, além do índice de reincidência criminal ser elevado e esses locais
funcionarem como escolas do crime, já que pequenos infratores podem criar contato com as grandes máfias.
(Trecho extraído de redação nota máxima do FAMEMA 2020 – Estatísticas
dos aprovados no curso de medicina da FAMEMA em 2020.)

EXPRESSÕES QUE § Muitos grupos asseguram que... Entretanto...


AJUDAM A CRIAR § Inicialmente, cabe ressaltar que a legislação brasileira assegura... No entanto...
OS PERÍODOS § Embora parte da classe trabalhadora defenda..., muitos ignoram a existência...

63
ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS II

Emprego de algum dado/registro histórico que auxilie na composição de um argumento.


1. DADOS HISTÓRICOS A informação incorporada ao texto deve contribuir para a criação de uma linha lógica (e
cronológica) entre o fato pregresso apresentado e o contemporâneo que se deseja discutir.

Ademais, a influência de milhares de usuários se dá pela negligência e abuso de poder governamental.


Durante a Era Vargas, a manipulação comportamental dos brasileiros foi uma realidade a partir
da criação do Departamento de Imprensa e Propaganda que possuía a função de fiscalizar os conteúdos
que seriam divulgados nos meios de comunicação usando o controle da população. Nos dias atuais,
EXEMPLO com o auxílio da internet, as pessoas estão mais expostas, uma vez que o governo possui aces-
so aos dados e históricos de navegação que possibilitam a ocorrência de uma obediência influenciada
como ocorreu na Era Vargas. Desse modo, urge a extrema necessidade de alterações estruturais para a
ocorrência de uma liberdade comportamental de todos.
(Trecho extraído de redação nota máxima do ENEM 2018 – Cartilha Redação a mil 2018)

§ Durante... a hostilidade era comum, pois... Nos dias de hoje, essa mesma lógica pode ser vista,
uma vez que...
EXPRESSÕES QUE § No período colonial, os brasileiros... Atualmente, de modo análogo, a situação também ocor-
AJUDAM A CRIAR re, pois...
OS PERÍODOS § O cenário contemporâneo é análogo ao período... pois, assim como na época, a popula-
ção se vê obrigada a...
§ Tal cenário tem suas raízes em...

2. REFERÊNCIAS Emprego de referências ou citações que encontramos em obras literárias, cinematográficas,


FICCIONAIS teatrais, entre outras.
Em primeiro plano, a liberdade dos cidadãos de terem suas próprias opções é prejudicada por essa mazela.
Dessa forma, é imprescindível citar que no livro 1984, de George Orwell, o “Grande Irmão”
observa e controla o comportamento do corpo social por meio de uma “teletela“. Sob essa ótica, a
internet manipulada tem papel parecido no período atual, em que o internauta fica refém de
EXEMPLO imagens, de notícias e de assuntos baseados em algoritmos definidos por programas de computador. Desse
modo, o indivíduo, majoritariamente, tem apenas uma falsa sensação de liberdade, uma vez que torna-se
alienado pela rede e não tem verdadeira capacidade de escolha.
(Trecho extraído de redação nota máxima do ENEM 2018 – Cartilha Redação a mil 2018)

§ Na obra... o personagem enfrenta... De modo análogo ao livro, atualmente, as pessoas...


§ Essa situação está representada na obra..., já que... Apesar de ficcional, a história evi-
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

dencia o quanto...
EXPRESSÕES QUE § No filme... o protagonista se recusa a... Não distante da ficção, essa situação também
AJUDAM A CRIAR ocorre...
OS PERÍODOS § O filme “O som ao redor” evidencia esse contexto ao... Na sociedade atual, de modo
semelhante, ...
§ A série “Sob pressão” retrata esse cenário, pois mostra...
§ A canção ”construção” de Chico Buarque aborda esse universo ao fazer referência...

64
Sustenta-se a opinião a respeito de um assunto evidenciando também conhecimentos
3. ARGUMENTO DE expressos por alguém que possui domínio técnico ou teórico sobre o tema apresentado.
AUTORIDADE Usualmente, empregam-se conceitos de várias áreas do conhecimento para legitimar os
argumentos, como a filosofia, a sociologia, a história, a geografia entre outras.

Ademais, outra dificuldade na democratização do acesso ao cinema no Brasil é a falta de estímulo à busca
por conhecimento. Nesse cenário, os indivíduos são manipulados a permanecerem com pensamentos ba-
seados no senso comum, e os filmes transmitidos às massas colaboram com esse processo. Isso é explicado
porque nos cinemas são exibidos sempre os mesmos gêneros, que se resumem a terror, romance, animação
EXEMPLO e ficção científica, e geralmente tornam as pessoas espectadores passivos, impossibilitados de desenvol-
ver ideias críticas. Nessa perspectiva, eles não conseguem sair do estado de menoridade, proposto por
Immanuel Kant, em que o indivíduo é incapaz de pensar por si mesmo. Logo, os conteúdos
divulgados nos cinemas não permitem que os sujeitos adquiram autonomia de pensamento.
(Trecho extraído de redação nota 980 do ENEM 2019 – Aluna Hexag)

§ Segundo o filósofo(...) Nesse sentido, é possível dizer...


§ De acordo com o sociólogo.... Nessa mesma linha, pode-se afirmar que...
EXPRESSÕES QUE
§ O historiador... afirma que “...” A frase do autor evidencia como esse problema...
AJUDAM A CRIAR
§ O filósofo... assegura que... Essa concepção pode ser relacionada ao...
OS PERÍODOS
§ Essa situação confirma a ideia de Kant de que..., pois...
§ Tal cenário corrobora a afirmação de... sobre ... já que...

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO I: COMPOSIÇÃO

Composição da intervenção – Sugestão de base estrutural


1. RETOMADA DO
Fica evidente, portanto, que nem todos têm acesso ao cinema como entretenimento.
PROBLEMA

Nesse contexto, cabe ao Ministério da Cultura – órgão responsável pelo sistema cultural brasileiro
2. DESCRIÇÃO DA – garantir à população a oportunidade de frequentar um cinema, por intermédio de políticas de des-
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

INTERVENÇÃO contos na compra de ingressos de acordo com a renda, a fim de incluir toda sociedade no “mundo
cinematográfico”.

3. FECHAMENTO
ESPECIAL
(DETALHAMENTO Dessa forma, os brasileiros verão o direito garantido pela Constituição como uma realidade próxima.
DA PROPOSTA DE
INTERVENÇÃO)
Trecho extraído de redação nota 1000 do ENEM 2019, publicada na cartilha “Redação a Mil 2.0”

65
Descrição da intervenção – Análise dos elementos
Agente
§ O Ministério da Economia deve ampliar a oferta de empregos formais...
§ Cabe às instituições de ensino promover...
§ É necessário que o Poder Legislativo enrijeça a punição...

Ação (mais ampla – usualmente iniciada com verbos no infinitivo)


§ As Universidades devem capacitar os professores das redes pública e privada...
§ O Ministério da Saúde deve informar a população a respeito da importância da doação de órgãos...
§ As Escolas devem ampliar a discussão a respeito das DSTs com os alunos....

Meio (mais específico – Usualmente descrito com o emprego de substantivos)


§ Tal ação pode ser feita por meio de cursos de formação continuada que abordem a valorização da plurali-
dade linguística...
§ Essa ação deve ser realizada através de propagandas que desmistifiquem...
§ ... a partir de debates, palestras com profissionais especializados e leitura de livros que tratem do as-
sunto...

Finalidade/resultado (Os exemplos estão com detalhamento)


§ a fim de que os professores estejam aptos a lidarem com diferenças linguísticas em sala de aula, podendo
valorizar as variantes de cada aluno.
§ com objetivo de aumentar o número de doadores, reduzindo o tempo de espera por um órgão.
§ com o intuito de aumentar a prevenção entre os adolescentes, evitando novos casos de contaminação...

DETALHAMENTO
Ao menos um dos elementos da sua redação precisa ser detalhado. Veja os exemplos:

Além disso, é de suma importância que as instituições educacionais promovam, por meio de campanhas
de conscientização, para pais e alunos, discussões engajadas sobre a imprescindibilidade de sa-
DETALHAMENTO ber usar, de maneira cautelosa, a internet, entendendo a relevância de uma “polarização
DA AÇÃO digital” para a concretização da razão comunicativa, com o intuito de utilizar o meio virtual para o
desenvolvimento pleno da sociedade.
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Trecho extraído de redação nota mil do ENEM de 2018. Fonte: Cartilha: Redação a 1000

Governo Central deve impor sanções a empresas, em especial as virtuais, que criam perfis de usuários para
influenciar suas condutas, por via da instauração de Secretarias planejadas para a atuação no
DETALHAMENTO ambiente digital, uma vez que tais plataformas padecem de fiscalizações efetivas, com o fito
DO MEIO
de minorar o controle de comportamentos por particulares.
Trecho extraído de redação nota mil do ENEM de 2018. Fonte: Cartilha: Redação a 1000
Às escolas desenvolverem a percepção dos perigos da “cognição preguiçosa” para a formação da visão
de mundo dos seus alunos, mediante aulas de informática unidas à disciplina de Sociologia – voltadas
DETALHAMENTO para uma educação não só técnica, mas social das novas tecnologias –, a fim de ampliar nos jovens
DA FINALIDADE o interesse por diferentes opiniões e, consequentemente, reduzir os efeitos adversos da
problemática.
Trechos extraídos de redação nota mil do ENEM de 2018. Fonte: Cartilha: Redação a 1000

66
Fechamento especial
(Pode ser usado como detalhamento da finalidade)
Para encerrar a redação, recomenda-se que o aluno escreva um período conclusivo curto no qual ele afirme o que poderá
melhorar a partir das ações informadas. Trata-se de algo bem conciso e mais amplo que pode, inclusive, fazer referência–
histórica, filosófica, literária, sociológica, entre outras – a algum dado trabalhado, geralmente, na introdução do texto. Assim,
além de garantir o cumprimento do detalhamento descrito, ele consegue estabelecer o paralelismo com algo que foi abor-
dado ao longo da redação.

Exemplo

“Embora a Constituição Federal de 1988 assegure o acesso à cultura como direito de todos os cidadãos,
percebe-se que, na atual realidade brasileira, não há o cumprimento dessa garantia, principalmente no
INTRODUÇÃO
que diz respeito ao cinema. Isso acontece devido à concentração de salas de cinema nos grandes centros
urbanos e à condição cultural de que a arte é direcionada aos mais favorecidos economicamente.

PERÍODO DE Feito isso, a sociedade brasileira poderá caminhar para completude da democracia no âmbito cultural.”
FECHAMENTO
ESPECIAL Trechos extraídos de redação nota mil do ENEM de 2019. Fonte: Cartilha: Redação a 1000 - 2.0

§ Desse modo, será possível...


SUGESTÕES DE § Feito isso, a sociedade poderá ...
ESCRITA § Dessa maneira os desafios... poderão ser atenuados.
§ Diante dessas medidas, os indivíduos poderão...

U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

67
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO II : OS AGENTES DA INTERVENÇÃO

Sempre procure conhecer os atores sociais para definir quais ações eles podem executar em sua intervenção.

AGENTE AÇÃO
§ Reduzir e prevenir riscos e agravos à saúde da população; (SAÚDE)
§ Ampliar o acesso da população a medicamentos; (SAÚDE)
§ Valorizar os profissionais da educação; (EDUCAÇÃO)
§ Estimular a articulação entre pós-graduação, núcleos de pesquisa e cursos de formação para pro-
fissionais da educação; (EDUCAÇÃO)
§ Proteger áreas ameaçadas de degradação; (MEIO AMBIENTE)
§ Acompanhar o estado e a qualidade do ambiente; (MEIO AMBIENTE)
1. MINISTÉRIOS § Combater a violência institucional, com ênfase na erradicação da tortura e na redução da letalida-
de policial e carcerária; (MULHER, FAMÍLIA E DIREITOS HUMANOS)
§ Fortalecer os princípios da democracia e dos Direitos Humanos nos sistemas de educação básica,
nas instituições de ensino superior e nas instituições formadoras; (MULHER, FAMÍLIA E DIREITOS
HUMANOS)
§ Ampliar o controle e o rastreamento de armas de fogo, munições e explosivos, (JUSTIÇA E SEGU-
RANÇA PÚBLICA)
§ Elevar o nível de percepção de segurança da população; (JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA)

§ Cobrar das autoridades uma posição...


2. SOCIEDADE CIVIL § Denunciar os casos...
§ Informar-se a respeito da...

§ Oferecer capacitação aos profissionais


3. UNIVERSIDADE § Aprimorar o currículo dos alunos na área da...
§ Reavaliar as formas de ingresso na instituição...

§ Discutir com os alunos sobre...


4. ESCOLAS § Promover melhor interação entre alunos, professores e profissionais...
§ Fortalecer o contato do aluno com...

§ Reavaliar os processos de contratação...


5. EMPRESAS § Aprimorar a qualidade do ambiente profissional...
§ Oferecer postos de trabalho destinados...

§ Ajudar a população a encontrar...


6. ONGs (parcerias) § Oferecer auxílio durante...
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

§ Criar projetos voltados...

7. MINISTÉRIO § Investigar as irregularidades...


PÚBLICO § Ampliar a fiscalização acerca...

§ Enrijecer punição contra os indivíduos que...


8. PODER LEGISLATIVO
§ Facilitar o acesso da população aos...

68
CONCLUSÃO: OUTROS VESTIBULARES

Resumo
§ O objetivo da conclusão é encerrar a discussão realizada ao longo do texto, a partir da recuperação da abordagem inicial.
§ Trata-se de um parágrafo mais livre, cabendo ao aluno decidir qual é forma de conclusão que melhor convém a cada tema.

Sugestão de estrutura da conclusão


A. RETOMADA DA TESE Inicia-se o período com uma reafirmação da posição inicial, sugerida pela tese.

B. (OPÇÕES)
B1. RETOMADA DOS ARGUMENTOS Retoma-se os argumentos para endossar o posicionamento.
B2. SOLUÇÃO Apresenta-se uma solução para o problema discutido.
B3. REMISSÃO A TEXTOS Trata-se de uma referência a um autor/obra apresentado ao longo do texto.
B4. REFLEXÃO CRÍTICA Apresenta uma ponderação sua a partir de todas as ideias apresentadas.

Crie um período curto, no qual você faça uma sugestão, uma ressalva em rela-
C. FECHAMENTO ESPECIAL (OPCIONAL)
ção ao que já foi dito ou uma previsão futura a respeito do cenário discutido.

COESÃO SEQUENCIAL

Coesão sequencial é aquela que cria – dentro do texto – condições para que a leitura possa avançar ou progredir. São
responsáveis por esse tipo de coesão as flexões verbais (tempo e modo) e as conjunções, também chamadas de conectivos.
Estes são os principais responsáveis por articular a coesão no interior da dissertação argumentativa.

TABELA DE CONECTIVOS
APLICAÇÃO/EXEMPLO
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

VALOR SEMÂNTICO CONECTIVOS (Trechos extraídos de redações nota máxima do ENEM 2019,
disponíveis na Cartilha Redação a mil 2.0.)
Ademais, a aceitação da restrição da cidadania por parte dos bra-
Em adição, além disso, ade-
ADIÇÃO sileiros provém de um ensino ineficaz e muitas vezes inexistente que
mais, outrossim
acarreta falta de conhecimento sobre os direitos individuais.
Primeiramente, em primeiro
Em uma segunda análise, a alienação social contribui para a per-
ENUMERAÇÃO lugar, segundo, em segundo
sistência da disparidade no acesso ao cinema.
lugar, inicialmente
Nesse sentido, há, de fato, uma visão elitista advinda dos donos de sa-
Como resultado, por esta ra-
las de exibição, que muitas vezes precificam ingressos com valores aci-
CONSEQUÊNCIA zão, por conta disso, em de-
ma do que classes populares podem pagar. Consequentemente, a
corrência disso
população de baixa renda fica impedida de frequentar esses espaços.

69
Ademais, as escolas e as universidades, mediante palestras e debates,
A fim de, com o propósito de,
devem informar a população a respeito da importância do cinema,
FINALIDADE para que, com o intuito de,
com o objetivo de configurar um comportamento crítico quanto às
com o objetivo de,
falhas da sociedade.
De acordo com os iluministas Diderot e D’Alembert, autores da
“Enciclopédia”, a democratização da educação é fundamental no
combate à alienação dos cidadãos, garantindo aos mesmos sua efe-
Conforme, segundo, de acordo
CONFORMIDADE tiva liberdade. Dessa forma, entende-se que o cinema torna-se um
com
instrumento educacional importante na medida em que apresenta o
entretenimento como meio de reflexão social, o que contribui com a
construção de cidadãos críticos dentro da democracia brasileira.
O cinema, considerado a sétima arte, é um importante meio de difu-
são do conhecimento, entretenimento e cultura. Por oferecer tamanha
Entretanto, porém, contudo, carga intelectual, ele deveria ser de fácil acesso a todos. No Brasil, en-
OPOSIÇÃO
no entanto, todavia. tretanto, percebe-se que, no decorrer dos anos, o acesso a essa arte
tornou-se pouco democrático devido a fatores históricos e à reduzida
a atuação estatal para resolver essa problemática.
“O filme “Bastardos Inglórios”, ao contextualizar cenas em meados
do século XX, retrata o caráter elitista das exibições de cinema, uma
vez que eram espaços de socialização das classes ricas da época. Na
contemporaneidade, embora seja mais amplo, ainda há entraves a
Embora, apesar de, ainda que,
CONCESSÃO serem superados quanto à democratização do acesso às salas cine-
por mais que, mesmo que.
matográficas no Brasil. Nesse sentido, os resquícios de uma herança
segregacionista no que diz respeito à frequência de locais de cinema,
geram dificuldade de manter esse hábito em grande parte da popula-
ção, o que perpetua a problemática.
Além disso, a insuficiência de recursos destinados a exibições em te-
atros populares é um fator que dificulta a democratização do cinema
no Brasil. Isso porque, apesar de Steve Jobs, um dos fundadores
Isso porque, em virtude de, já da empresa “Apple”, ter corroborado com a i deia do mundo virtual
EXPLICAÇÃO
que, uma vez que, pois, como influenciador ao constatar que a “tecnologia move o mundo”,
as redes sociais não são utilizadas pelos órgãos públicos para divulgar
apresentações cinematográficas nos centros culturais, presentes em
diversas regiões do país.

A título de exemplo, o Brasil — segundo a ANCINE — é um país


Um exemplo disso, a exemplo
que possui elevados í ndices de segregação quanto ao acesso ao uni-
EXEMPLIFICAÇÃO disso, por exemplo, prova dis-
verso cinematográfico. Destarte, é necessário maior protagonismo por
so
parte dos governantes.

Assim, logo, portanto, desse Logo, é fundamental que o poder público desenvolva medidas, como
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

CONCLUSÃO modo, dessa forma, em sínte- a construção de mais espaços destinados aos espectadores, com o
se, em suma, destarte intuito de que os anseios do artigo 215 tenham realmente vigor.

Segundo o filósofo grego Aristóteles, a arte desempenha o papel de


Nessa mesma linha, nesse sen- imitar a realidade, permitindo àquele que a aprecia experimentar ou-
CONTINUAÇÃO tido, sob esse mesmo viés, sob tras visões do real e aprender com elas. Nesse sentido, o cinema,
tal ótica uma vez que se constitui como forma de arte, tem a função não só de
entretenimento, mas também de ferramenta de ensino.

70
COESÃO REFERENCIAL

Coesão referencial é aquela em que um componente da superfície do texto faz remissão a outro(s) elementos(s) nela
presentes ou inferíveis a partir do universo textual. Em outras palavras, trata-se do ato de fazer referências a termos que já
apareceram no texto sem se valer do uso de repetições. A coesão referencial pode ser empregada a partir do uso de artigos,
pronomes, numerais, sinônimos e hiperônimos e termos genéricos.

PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DE COESÃO REFERENCIAL APLICADAS NA DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA


APLICAÇÃO
ESTRATÉGIA MECANISMOS (Trechos extraídos de redações nota máxima do ENEM
2019, disponíveis na Cartilha Redação a mil 2.0.

§ ELE/ELA (Sujeito) Dessa forma, a ampliação do acesso à cultura por meio do cinema
1. PRONOMES
§ O(S)/A(S) e variações (Ob. direto) é imperativa para alertar os brasileiros sobre sua condição de
PESSOAIS
§ LHE/LHES (Ob. indireto) marginalização cultural e para inseri-los no acesso à arte.

a) Catafórico: anuncia o termo. Esse cenário é presente no Brasil pois não há a democratização
2. PRONOME
de eventos cinematográficos, pois estes ocorrem em espaços eli-
DEMOSTRATIVO b) Anafórico: retoma o termo mais pró- tizados, como shoppings, e com preços inacessíveis à comunidade
ESTA/ESTE ximo. de baixa renda.

§ Portanto, cabe ao Ministério da Educação, com a finalidade


de ampliar o senso crítico ao democratizar o acesso à cultu-
ra, promover sessões de cinema gratuitas em locais públicos,
como em praças, em parques e em centros culturais. Essa ini-
ciativa deve ser realizada por meio do auxílio de empresas
privadas relacionado a artes visuais, que devem oferecer todo
3. PRONOME a) Retoma termo/oração anterior
o aparato necessário.
DEMOSTRATIVO acompanhado de substantivo:
ESSA/ESSE/ISSO § Ademais, o problema existe também em locais onde há salas
b) *Isso – retoma orações inteiras.
de cinema, uma vez que o custo das sessões é inacessível às
classes de renda baixa. Isso se deve ao fato de o mercado
ser dominado por poucas empresas exibidoras. Conforme te-
orizou inicialmente o pensador inglês Adam Smith, o preço
decorre da concorrência: a competitividade força a redução
dos preços, enquanto os oligopólios favorecem seu aumento.
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Ação: atividade, processo, realização,


operação. Em primeiro plano, a ineficiência do Estado em aplicar leis que
Contexto: cenário, conjuntura, situa- garantam o acesso à cultura restringe a cidadania dos indivíduos.
ção Seja pela dificuldade em administrar recursos em um território de
dimensões continentais, seja pela falta de interesse dos órgãos
4. SINÔNIMOS Ideia: posicionamento, acepção, posi-
públicos em promover o desenvolvimento sociocultural demo-
ção, consideração.
crático das regiões afastadas do centro vanguardista nacional,
Pessoas: indivíduos, cidadãos, sujeitos. existe uma parcela significativa da população sem acesso
População: Sociedade civil, pessoas ao cinema.
de modo geral

71
PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DE COESÃO REFERENCIAL APLICADAS NA DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA
APLICAÇÃO
ESTRATÉGIA MECANISMOS (Trechos extraídos de redações nota máxima do ENEM
2019, disponíveis na Cartilha Redação a mil 2.0.

“A terceira fase do Modernismo vigorou, no Brasil, durante o Pe-


ríodo Liberal-Democrático, apresentando como uma de suas pro-
postas artísticas a retratação das “Sociedades Liminares” – tradi-
(Trata-se da retomada de um termo cionalmente excluídas do projeto cultural brasileiro – nas obras
5. HIPERÔNIMOS específico por um termo mais abran- cinematográficas. Tal movimento, conhecido como “Cinema
gente) Novo”, embora objetivasse a integração de povos historicamente
invisibilizados, não obteve êxito na democratização do cinema no
país, haja vista o não comparecimento daqueles aos cinemas da
época.

Decerto, o processo de urbanização brasileiro ocorreu de forma


Termos que podem retomar os varia- acelerada e desorganizada, provocando o surgimento de aglome-
dos tipos de palavras ou orações. rados no entorno dos centros urbanos. Diante dessa conjuntu-
§ essa condição ra, essas periferias sofrem, de modo geral, históricas negligências
§ tal situação
governamentais, como a escassez de infraestrutura básica, de
escolas e de hospitais.
6. TERMOS § esse cenário
GENÉRICOS § tal processo
Efetivamente, é notório o desacordo que existe entre o que é as-
segurado pela Constituição e a realidade do país, uma vez que
§ esse contexto
muitos municípios não possuem cinemas ou espaços destinados
§ essa conjuntura à exposição de filmes, séries e documentários. Esse nefasto pa-
§ tal relação radigma atesta, sobretudo, uma grande desigualdade no acesso
§ esse paradigma à cultura do país, tendo em vista que em grandes cidades, como o
Rio de Janeiro, o cinema é mais valorizado.

PROGRESSÃO TEMÁTICA

Seguir o projeto de texto


U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Apresentar informações úteis à tese

O QUE FAZER
PARA GARANTIR
Não deixar enunciados soltos
A PROGRESSÃO
TEMÁTICA?

Não fazer saltos temáticos

Organizar a ordem de aparição das informações

72
SUGESTÕES DE ESTRATÉGIAS PARA PROGRESSÃO TEMÁTICA NOS PARÁGRAFOS DE DESENVOLVIMENTO
(2º, 3º OU 04º PARÁGRAFOS)

Ao elaborar o seu planejamento, organize a apresentação desses parágrafos da maneira que for
mais lógica para a compreensão do corretor. Por exemplo: devo falar primeiro da família e depois
1. APROXIMAÇÃO TEMÁTICA do Estado? Devo falar primeiro da educação e depois do trabalho? Devo falar primeiro da so-
ciedade civil e depois das empresas? Essa escolha não pode ser aleatória. Observe qual é o melhor
caminho e depois siga esse planejamento.

Uma das formas de progressão temática mais comum é a articulação entre causa e consequência.
Tal relação pode ser facilmente empregada em diferentes propostas de vestibular, já que consiste na
apresentação das razões que motivam determinada ideia ou problema e, em seguida,
2. CAUSA/ CONSEQUÊNCIA
dos efeitos que tal situação provoca. No entanto, é preciso cuidado: o parágrafo de consequ-
ência não pode ser completamente expositivo. É fundamental, nesse caso, que o autor realiza uma
avaliação crítica do efeito apresentado.

Em algumas propostas, é possível identificar argumentos que são muito plausíveis de serem abor-
3. ARG. MAIS EVIDENTE/ dados, já que estão indiretamente sugeridos por meio da análise da coletânea. Nesse sentido, para
comprovar a tese, o candidato pode dividir seus parágrafos começando com um argumento
ARG. MENOS EVIDENTE mais previsível e depois aprofundando sua análise num argumento menos evidente,
mas que também se mostra muito pertinente à questão.

O uso da divisão entre passado e presente no desenvolvimento das redações também não é uma
novidade. Em alguns temas, torna-se fundamental analisar o passado para entender as causas de
4. PASSADO/ PRESENTE determinada situação e, assim, comprovar a tese. Por uma questão lógica, é preciso primeiro
apresentar as relações com o passado para depois mostrar como ela ainda engendram
uma relação com o presente.

Nesse caso, cabe ao candidato apresentar uma ideia no primeiro argumento que se des-
5. DESDOBRAMENTO dobrará na ideia apresentada no segundo argumento. Este, por sua vez, pode levar a
uma outra ideia a ser trabalhada num terceiro parágrafo de desenvolvimento.

U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

73
Discussão temática: o ensino superior no brasil e a proposta
de cobrança de mensalidades nas universidades públicas
Acervo A proposta também defende que o valor máximo das mensalidades
seria a média dos valores cobrados pelas universidades particulares
TEXTO 1 da região, e o valor mínimo, a a metade disso. O texto também pon-
tua que esse montante precisaria passar por estudos.
PEC 206: entenda o texto que propõe mensalidades em
universidades públicas Entidades e oposição criticam a PEC

A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 206/2019, apresentada Na última década, a implementação das cotas socioeconômicas e
raciais levou para as universidades alunos de perfil socioeconômico
na Câmara dos Deputados, tem gerado comentários nas redes sociais,
mais vulnerável. Pesquisa da Associação Nacional dos Dirigentes das
por propor a cobrança de mensalidades em universidades públicas
Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), de 2018, indica
brasileiras. A matéria também enfrenta resistência da oposição. que 70,2% dos alunos estão na faixa de renda mensal familiar per
O texto estava na pauta de hoje da CCJC (Comissão de Constitui- capita de 1,5 salário mínimo. Alunos que cursaram ensino médio em
ção e Justiça e de Cidadania), mas não será mais debatido nesta escolas públicas foram maioria absoluta (64,7%) - os que cursaram
terça-feira (24). em particulares representaram 35,3%.
A aprovação na CCJC é a primeira fase de tramitação de um proje- Nas redes sociais, entidades como a União Nacional dos Estudantes
to, na qual são analisadas apenas questões técnicas, e é autorizada (UNE) e Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG) criticaram
ou não a sua tramitação. Depois, o texto segue para uma comissão a proposta. “Nós não vamos pagar nada! Uma educação pública,
especial que discutirá o seu mérito. Só depois a proposta pode ser gratuita e de qualidade é direito assegurado pela nossa Constitui-
levada para duas votações na Câmara e no Senado. ção!”, escreveu a UNE nas redes sociais.

Entenda o que propõe a PEC Também pelas redes sociais, a líder do PSOL na Câmara, a depu-
tada Sâmia Bomfim (SP) rebateu o argumento que embasa a PEC.
Atualmente, a “gratuidade do ensino público em estabelecimentos
“Contra as mentiras daqueles que querem destruir a universidade
oficiais” é garantida pelo artigo 206 da Constituição Federal, e vale
pública e gratuita, espalhe a verdade: maioria dos estudantes das
para qualquer estudante aprovado em universidade pública. Não há,
universidades federais é de baixa renda! #PEC206Não”, escreveu a
portanto, recorte de renda, raça, cor ou gênero.
parlamentar, no Twitter.
A PEC 206/2019 propõe alterar esse trecho para que essas unidades
Posição do relator
públicas de ensino passem a cobrar mensalidades, garantindo o não
pagamento a estudantes que não tiverem recursos suficientes. A PEC é de autoria do deputado federal General Peternelli (União
Brasil-SP). O relator, deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP), divul-
Segundo o texto, cada universidade teria sua própria comissão de
gou uma nota em que pretende “esclarecer alguns pontos”.
análise para definir as gratuidades a partir de um corte de renda es-
tabelecido pelo Poder Executivo. A proposta, no entanto, não explica Segundo o parlamentar, é “absolutamente falso” que todos os alu-
como isso seria feito. nos passem a pagar mensalidade a partir da promulgação da PEC.
O deputado também negou que a medida seja o mesmo que uma
Com isso, a mudança faria o texto ficar assim: privatização dos centros de ensino.
§ Art. 1º O art. 206, inciso IV, da Constituição Federal passa a com a
seguinte redação: “Quem não pode pagar, não paga, e o que é arrecadado com quem
“Art. 206.[...] pode pagar ainda pode ser revertido em auxílios e bolsas para quem
IV - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais, não pode pagar”, defendeu.
ressalvada a hipótese do art. 207, § 3º;” (NR) Kim Kataguiri também garantiu que cada universidade estabeleceria
§ Art. 2º O art. 207 da Constituição Federal passa a vigorar acrescido seus próprios critérios de cobrança o que, segundo ele, “se justifica
ao considerarmos a enorme disparidade social entre diferentes re-
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

do seguinte § 3º:
“§ 3º As instituições públicas de ensino superior devem cobrar giões do país”.
mensalidades, cujos recursos devem ser geridos para o próprio “PEC 206: entenda o texto que propõe mensalidades em universidades
custeio, garantindo-se a gratuidade àqueles que não tiverem públicas” https://educacao.uol.com.br/noticias (24.05.2022)

recursos suficientes, mediante comissão de avaliação da própria


instituição e respeitados os valores mínimo e máximo definidos TEXTO 2
pelo órgão ministerial do Poder Executivo.” A proposta de cobrar pelo acesso a universidades públicas
O texto explica que a cobrança de mensalidade “seria uma forma
Câmara discute PEC que cria mensalidade para alunos de maior ren-
de diminuir as desigualdades sociais em nosso país”. Isso porque,
da. Debatido há anos, tema é levantado pela direita com bandeira
segundo o relator, “a maioria dos estudantes dessas universidades
de justiça social, enquanto críticos veem preâmbulo de privatização
acaba sendo oriunda de escolas particulares e poderiam pagar a
do ensino superior
mensalidade”.
“O gasto público nessas universidades é desigual e favorece os mais A Câmara dos Deputados discute uma PEC (proposta de emenda à
ricos. Não seria correto que toda a sociedade financie o estudo de Constituição) que pretende estabelecer a cobrança de mensalidades
jovens de classes mais altas”, defende o texto. nas universidades públicas do país. Na terça-feira (24), a Comissão

74
de Constituição e Justiça da Casa aprovou a realização de uma au- No documento, Peternelli também afirma que “em 2017, o Ban-
diência pública para debater o tema, ainda sem data marcada. co Mundial divulgou um estudo demonstrando que a cobrança de
mensalidade nas universidades públicas brasileiras seria uma forma
O fim do ensino superior gratuito universal é discutido há anos no
de diminuir as desigualdades sociais” no país.
Brasil. A proposta atual é defendida por parlamentares mais à direita
do espectro político como medida de justiça social. Relator do texto, O documento do Banco Mundial mencionado abrange diversas
o deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP) destaca que as mensali- áreas do gasto público e, ao entrar no tema da Educação, propõe a
dades serão cobradas “só dos mais ricos”. Parlamentares de outros cobrança de mensalidade a partir da ideia de que “os gastos públi-
partidos, no entanto, consideram que a restrição da gratuidade das cos com o ensino superior beneficiam majoritariamente os estudan-
universidades acabaria afetando negativamente toda a sociedade. tes das famílias mais ricas”.

Neste texto, o Nexo explica o que propõe a PEC, organiza os ar- A avaliação usa dados de 2015 e não considera nem os sistemas
gumentos que o debate sobre o financiamento do ensino superior de cotas raciais e sociais, que mudaram o perfil dos estudantes de
envolve, e mostra o perfil dos estudantes que atualmente têm acesso universidades públicas no país, nem o impacto social da produção
às universidades públicas. científica dos pesquisadores das universidades públicas.

O que diz a PEC O perfil dos universitários

A Constituição estabelece a “gratuidade do ensino público em es- A ideia de que um acesso amplo ao ensino superior, abrangendo a
tabelecimentos oficiais”, independentemente do poder aquisitivo do população pobre, é necessário ao desenvolvimento do país é funda-
aluno ou de sua família. A PEC, de autoria do deputado paulista Ge- mentada em números. Estudos mostram que aqueles formados em
neral Peternelli, também do União Brasil, quer mudar esse cenário. faculdades têm menos chance de ficar desempregados e ganham
bem mais do que quem tem apenas o ensino médio.
A proposta estabelece que as instituições públicas de ensino su-
perior não só podem, como “devem” cobrar mensalidades, com a O quadro demonstra que o ensino superior é uma demanda do mer-
ressalva de que a gratuidade permanece para estudantes “que não cado de trabalho nacional, conforme escreveu o economista Naércio
Menezes Filho, professor do Insper e da USP (Universidade de São
tiverem recursos suficientes”.
Paulo), no jornal Valor Econômico.
Atualmente, cobranças nas universidades públicas são feitas apenas
Por décadas as universidades públicas foram ocupadas por alunos
em pós-graduações lato sensu (cursos de especialização, diferentes
com maior poder aquisitivo, que eram os que tinham maiores chan-
de mestrados ou doutorados), conforme autorizou o Supremo Tri-
ces de passar no vestibular. No entanto, desde a implementação da
bunal Federal em 2017. No julgamento, os ministros entenderam
Lei de Cotas em todo o âmbito federal, em 2012, o perfil dos estu-
que a garantia da gratuidade se refere apenas a atividades “de
dantes universitários do país mudou muito.
manutenção e desenvolvimento do ensino”, não abarcando nem as
atividades de pesquisa, nem as de extensão universitária, como é o Um levantamento da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes
caso das especializações (focadas no aperfeiçoamento profissional das Instituições Federais de Ensino Superior) e do Fonaprace (Fó-
dos estudantes). rum Nacional de Pró-Reitores de Assistência Estudantil) mostrava
em 2019 que a grande maioria dos estudantes das universidades
O texto deixa para os governos federal e estaduais definir a renda
federais é de baixa renda.
máxima de um aluno para que ele tenha direito à gratuidade. A ideia
é que cada universidade deverá ter uma comissão para avaliar a O Mapa do Ensino Superior no Brasil publicado em 2021 pelo Ins-
situação de cada aluno. tituto Semesp também revela que 60% dos estudantes nas insti-
tuições públicas de ensino superior em geral (federais e estaduais)
Quem defende a mudança argumenta que o serviço público das
fizeram o ensino médio na rede pública de ensino.
universidades é predominantemente usado por pessoas mais ricas,
enquanto os custos desse serviço são arcados por todos, inclusive A oposição à proposta
pelos mais pobres, via tributação. A ideia defendida, portanto, é a Deputados do PT, PSB, PSOL e PSD são contra a proposta, pois a
de que os mais pobres estariam pagando com seus impostos para veem como um preâmbulo da privatização do ensino público. Nessa
os mais ricos estudarem, numa espécie de “distribuição de renda perspectiva, a possibilidade de financiamento privado deixaria os
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

ao avesso”. governos mais à vontade para fazerem cortes ou represamentos de


Para Kataguiri, por exemplo, a educação brasileira é atualmente recursos para o ensino e a pesquisa científica — áreas que, apesar
“uma máquina de desigualdade social (tirando dos pobres e dando de essenciais para o desenvolvimento do país, não costumam gerar
para os ricos)”. Ele defendeu ser preciso “investir na educação bási- ganhos eleitorais imediatos.
ca e ampliar o acesso dos pobres na universidade”. Nesse mesmo sentido, Gregório Grisa, doutor em educação e profes-
General Peternelli também sugere que a cobrança de mensalidades sor do IFRS (Instituto Federal do Rio Grande do Sul), defende que a
vai afastar estudantes mais ricos das universidades públicas, dando derrubada da garantia constitucional da gratuidade das universida-
lugar aos mais pobres. “A gratuidade generalizada, que não consi- des públicas deixa o acesso ao ensino superior à mercê de decisões
“do governante da vez”.
dera a renda, gera distorções gravíssimas, fazendo com que os es-
tudantes ricos – que obviamente tiveram uma formação mais sólida “Abre-se a porta para cobranças de toda sorte, para decisões arbitrá-
na educação básica – ocupem as vagas disponíveis no vestibular rias que não irão encontrar mais o impeditivo do princípio constitu-
em detrimento da população mais carente, justamente a que mais cional. Tirar da carta magna e deixar a mercê de instrumento jurídico
precisa da formação superior, para mudar sua história de vida”, disse de baixa densidade (decidido só pelo Executivo) seria um erro histó-
ele na proposta. rico”, escreveu Grisa no Twitter.

75
Os deputados contrários à PEC também argumentam que, a depen-
der dos critérios de renda estabelecidos, a cobrança de mensalidade
TEXTO 3
pode afastar estudantes das universidades públicas ou levar famílias Veja o que diz quem é contra e quem é a favor da cobrança
ao endividamento. de mensalidade em universidades públicas

Existe ainda uma preocupação com a criação de “castas” nas facul- Programa Timeline, da Gaúcha, ouviu o general Peternelli (União
dades, enfraquecendo a união dos estudantes na “busca por melho- Brasil-SP), que é autor da PEC, e Marcus Davi, presidente da Andifes
res condições de ensino”, como disse o PSB em nota. e reitor da UFJF

Embora os defensores da PEC se digam preocupados com o acesso Em discussão na  Câmara dos Deputados, a Proposta de Emenda
dos mais pobres à educação superior, o PSOL destaca que a pro- Constitucional (PEC) 206/2019, que pretende instituir a cobrança de
posta “ignora a ampliação de cotas sociais e raciais para o ensino mensalidade em universidades públicas brasileiras, divide opiniões.
superior e ignora a discussão de políticas públicas a fim de viabilizar O assunto chegou a ser pautado para votação na última terça-feira
(24), mas, em razão da ausência do relator, Kim Kataguiri (União-SP),
a matrícula e permanência de estudantes provenientes das classes
teve a discussão adiada. 
sociais mais vulneráveis”.
Foi aprovado, no entanto, um requerimento da deputada Maria do
Instituições de ensino federais também se manifestaram contra a
Rosário (PT-RS), para que ocorra uma audiência pública para discutir
proposta, enfatizando que não foram consultadas sobre o assunto.
a PEC 206 antes da votação pelo colegiado, ainda sem data marca-
Em nota, a reitoria da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), da. Se aprovada a proposta na Comissão de Constituição, Justiça e
a maior universidade federal do país, junto com gestores de outras Cidadania da Câmara, a proposta vai a plenário e precisa da apro-
nove instituições do Rio, afirmou que “a cobrança de mensalidades vação de três quintos dos deputados em dois turnos de votação.
não resolverá o problema do subfinanciamento das universidades Depois, segue para o Senado. Se o texto for aprovado nas duas casas
públicas, porém reforçará a desigualdade social”, criando diferenças sem alterações, é promulgado em forma de emenda constitucional
entre os alunos. A nota cobra que a Câmara se dedique a recompor em sessão do Congresso Nacional.  
o Orçamento público para o ensino e a pesquisa.
O programa  Timeline, da rádio  Gaúcha, ouviu, nesta quinta-fei-
O papel dos impostos
ra (26), duas opiniões distintas sobre o tema: o general Peternelli
Os críticos à PEC também apontam que as universidades não teriam (União Brasil-SP), que é autor da PEC, e Marcus Davi, presidente
como dar conta de avaliar de forma eficiente as condições econômi- da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de
cas de todos os alunos, para decidir de quem cobrar. Ensino Superior (Andifes) e reitor da Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF).
“Imagina uma pessoa de 25 anos que mora com os pais, qual renda
vai ser levada em consideração: a dela ou da família? E se uma pes- General Peternelli (União Brasil-SP), autor da PEC
soa de 18 anos é independente e mora sozinha? E uma pessoa de Responsável pela autoria da PEC, Peternelli argumenta que a iniciati-
40 anos que mora com o pai e recebe uma mesada?”, afirmou ao va diminuiria a desigualdade, já que o pagamento seria feito apenas
site BBC Brasil Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC (Socieda- por quem teria condições de arcar com o custo.
de Brasileira para o Progresso da Ciência) e ex-ministro da Educação. — Sempre se falou que era importante a distribuição de renda e que
Janine propõe que, em vez de “criar todo um sistema burocrático deveríamos cobrar dos mais ricos. Sempre se comentou que a uni-
para colocar tudo isso em prática e obter um ganho muito peque- versidade pública, se tivesse mais recurso, teria melhor possibilidade
no”, um governo preocupado com justiça fiscal no país deveria se de pesquisa, desenvolvimento, ciência, tecnologia, e, dessa forma,
preocupar com uma reforma estrutural do Imposto de Renda, para é que nós apresentamos essa proposta. Ela teve por base dizer o
que os mais ricos do país passassem a contribuir mais com o Orça- seguinte: numa universidade pública, quem pode, paga. E quem não
mento público em geral. pode, não paga — argumenta.
Economistas da esquerda à direita, incluindo o ministro da Econo- De acordo com o deputado federal, os valores sugeridos para cada
mia Paulo Guedes, apontam que o Imposto de Renda no Brasil, em curso deveriam oscilar na média do preço de mercado daquele cur-
razão das faixas existentes e dos sistemas de isenção fiscal, acaba so, entre 50 e 70%. A determinação de quem pagaria ou não para
cobrando proporcionalmente menos dos mais ricos do que dos mais estudar na universidade seria feita em análises caso a caso, com
pobres. Em 2021, aprovou uma reforma do Imposto de Renda, mas base em fatores como custo do curso, renda, estrutura familiar. Os
o projeto está travado no Senado. critérios seriam estabelecidos por cada instituição:
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A deputada Tábata Amaral (PSB-SP), inspirada no modelo austra- — Esse recurso vai totalmente pra universidade, que vai poder colo-
liano, propõe uma cobrança tributária especificamente das pessoas car para pesquisa, desenvolvimento, para investimento da universi-
que frequentaram universidades públicas. Na proposta da parla- dade. Então, todos os alunos ganhariam com isso, não só aquele que
mentar, seriam tributados os profissionais que, depois de formados, está pagando, mas aquele que não paga porque não tem condições
passassem a auferir renda acima de um determinado limiar, ainda a e vai estar usufruindo. A ideia é permitir uma melhora daquela ati-
ser definido, “como forma de retribuir à sociedade” os ganhos que vidade. 
conseguiram a partir do ensino superior gratuito. Segundo Peternelli, a proposta não visa substituir a verba oriunda
Defensor do modelo defendido pela parlamentar, Paulo Meyer Nas- do governo.
cimento, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) afirmou — Tem que continuar entrando todo o dinheiro federal ou esta-
ao jornal O Globo que esse tipo de cobrança poderia render R$ 5 dual, porque quem tem que custear o salário, a atividade orgânica
bilhões ao ano aos cofres públicos. Autor da PEC em debate, General daquela universidade, é o ente público. Esse dinheiro vai entrar na
Peternelli afirmou ser favorável a esse modelo também. universidade para ser investido exatamente em pesquisa, ciência,
“A proposta de cobrar pelo acesso a universidades públicas” tecnologia, desenvolvimento, porque esse tipo de pesquisa ajuda
https://www.nexojornal.com.br (26.05.2022) toda a população que está pagando aquela universidade — afirma.

76
Marcus Davi, presidente da Andifes e reitor da UFJF Nem sempre os dados divulgados no “Education at a Glance”, tam-
Contrário à PEC, em entrevista à Gaúcha, Marcus Davi, que é presi- bém conhecido pela sigla EAG, são os mais atuais, pois a organiza-
dente da Andifes e reitor da UFJF, argumenta que “a proposta tem ção privilegia a comparabilidade internacional.
um equívoco em sua essência”: A seguir, alguns destaques do EAG 2019 sobre a educação superior
 — A universidade não é um sistema cujo cliente é um aluno. A uni- no Brasil.
versidade é um sistema do qual a sociedade é a beneficiária. O nos- Acesso
so grande indicador não é o aluno formado. É a nossa participação
de jovem com uma formação educacional de qualidade pra construir Apesar de a porcentagem de jovens adultos (25-34 anos) com diplo-
um país desenvolvido, econômico e socialmente. Quando eu perce- ma superior ter dobrado no prazo de uma década, o Brasil permanece
bo desse jeito, fica claro que educação pública é uma política pública com taxas de atendimento abaixo da média da OCDE e de outros
e, sendo uma política pública, tem que ser financiada pelo Estado. países latino-americanos.
O presidente da Andifes afirma que, uma pesquisa feita pela associa- Segundo o EAG 2019, no ano de 2008, 11% dos brasileiros de 25-
ção, em 2018, indicou que 70% dos alunos de universidades públi- 34 anos tinham diploma de nível superior. Em 2018, eram 21%. O
cas brasileiras são provenientes de um segmento social cuja a renda dado brasileiro é comparável ao do México, mas está abaixo de outros
per capita familiar é inferior a 1,5 salário mínimo e que o Ensino países latino-americanos, como Chile (25%) e Argentina (36%). Essa
Superior é um sistema “naturalmente caro”. porcentagem corresponde à metade da média dos países da OCDE. 
 — Hoje, uma faculdade particular de alto nível, você vê que ela Um dos pontos para a cobertura aqui é analisar as causas do baixo
tem como público apenas uma parcela muito pequena da socieda- acesso ao ensino superior no Brasil – o que está ligado às baixas taxas
de, com condição de acesso a ela. A classe média brasileira que tem de conclusão do ensino médio e à concentração da oferta de vagas
a possibilidade de oferecer educação superior de qualidade para os em instituições privadas (estas correspondem a 75% da matrícula.
seus filhos conta com universidade pública também. «Mas ele vai Conclusão
conseguir pagar». Não, não vai. Se eu colocar tarifa pública como
a lei determina que cubra todos os custos, ele se torna inacessível.  As taxas de conclusão da educação superior no Brasil são mais baixas
do que na média da OCDE, o que remete a uma discussão sobre a
Davi afirma que o sistema de cobrança de mensalidade para quem
eficiência do sistema e sobre a permanência dos estudantes.
pode pagar seria complexo pela possibilidade de variação de renda
dos estudantes ao longo do período de graduação, que varia de qua- Segundo o EAG 2019, somente 33% dos estudantes que entram
tro a seis anos, e questiona como seria a gestão da instituição com numa graduação terminam no tempo esperado. A porcentagem é me-
pagantes e não pagantes.  nor do que a média entre os países investigados no EAG 2019: 39%.
 —  Você já imaginou uma universidade com dupla entrada? Eu Quando se considera um período de três anos adicionais, 50% conclui
tenho os alunos que pagam e os alunos que não pagam? As uni- o curso de graduação, ante a uma média de 67% nos países do EAG
versidades federais hoje com um grande arrocho orçamentário que 2019.
nós estamos vivendo e nós não podemos perder. Eu até acredito
que o deputado possa ter a boa intenção de estar pensando em Dos estudantes que não concluem neste prazo, um terço abandonam
em recursos adicionais pras universidades, mas lamentavelmente as o sistema sem se formar.
experiências que nós temos é que, quando são identificadas novas Acesso a mestrado e doutorado
fontes orçamentárias, a primeira ação do governo é cancelar a sua
dotação original.  No Brasil, a proporção de pessoas que fazem mestrado ou doutrado
“Veja o que diz quem é contra e quem é a favor da é menor do que a média da OCDE. Aqui como lá, é uma minoria
cobrança de mensalidade em universidades públicas” que chega a esses níveis, mas no Brasil a seletividade é ainda maior.
https://gauchazh.clicrbs.com.br/ (26.05.2022)
Segundo o EAG 2019, somente 0,8% dos brasileiros entre 25 e 64
anos têm título de mestre. Na OCDE, a média é de 13%.
TEXTO 4
A porcentagem dos que chegam ao doutorado é ainda menor: 0,2%
Estudo da OCDE revela desafios da educação superior no
da população de 25 a 64 anos. Na OCDE, a média é de 1,1%.
Brasil
Relatório “Education at a Glance” 2019 delineia um cenário mar- Condições de ensino
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

cado por gargalos de acesso na graduação, mestrado e doutorado, As instituições públicas oferecem melhores recursos de ensino do que
somado a um investimento por aluno menor que a média dos países as particulares.
da organização
Nas instituições privadas, foram computados 42 alunos por professor.
O relatório “Education at a Glance 2019” da OCDE (Organização
Esta taxa é a mais elevada no conjunto de países analisados e mais
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), lançado nesta
de 2,5 maior do que a média da OCDE (16 alunos por professor).
terça-feira (9/9)  enfoca prioritariamente a educação superior e traz
um série de análises que permitem colocar a educação brasileira em Nas públicas, em 2017, havia 11 alunos por professor – uma das
perspectiva no cenário internacional.  taxas mais baixas dos países analisados no EAG 2019 (a média é
 O estudo é divulgado anualmente e, nesta edição, foram analisados de 15).  Esse desempenho, segundo a OCDE, pode ser explicado por
dados de 46 países – 36 integrantes da OCDE e Argentina, Brasil, causa da forte presença da pós-graduação no ensino superior públi-
China, Colômbia, Costa Rica, Índia, Indonésia, Federação Russa, Ará- co, que costumam ter uma relação aluno-professor menor do que na
bia Saudita e África do Sul.  graduação.
Os dados do Brasil são compilados pelo Inep (Instituto Nacional de As instituições publicas respondem por 80% das matrículas nos pro-
Estudos e Pesquisas Educacionais), conforme a demanda da OCDE. gramas de mestrado e doutorado.

77
Gasto por aluno em instituições públicas de educação su- cratização do acesso à educação superior, ainda que persistam im-
perior portantes desigualdades. Mas esse processo pode estar ameaçado
pelas atuais políticas para o setor.
Segundo a OCDE, o gasto público com as instituições públicas de
ensino superior aumentou 19% entre 2016 e 2017.  O Brasil gastou, No início do século 21, além do crescimento e melhoria do mer-
em 2016, US$ 14,2 mil por aluno das instituições públicas de ensino cado de trabalho, que afetam as decisões de gasto das famílias, a
superior.  Apesar do aumento significativo, o investimento médio por subfunção educação superior teve um crescimento real acentuado.
aluno nos países da OCDE é de US$ 16,1 mil. Foram criados/expandidos o Reuni (Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais), as ações
Vale destacar que o cenário descrito no relatório não contempla o afirmativas, o Pnaes (Programa Nacional de Assistência Estudantil),
impacto do teto de gastos, pois analisa o período entre 2010 e 2016, o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), o Prouni (Programa Uni-
ou seja, não considera o efeito do contingenciamento de recursos versidade para Todos) e o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil).
para as instituições federais de ensino superior, que respondem pela
Já o gráfico seguinte mostra a evolução da participação de estudan-
maior parte da oferta de vagas na graduação e pós-graduação no
tes de graduação que estão entre os 70% mais pobres e os 30%
sistema público.
mais ricos da distribuição de renda per capita familiar de acordo com
Gênero a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) (2001-2015)
e a Pnad Contínua (2012-2017). Nota-se clara tendência à maior
 O estudo mostra que, no Brasil, o grau de escolaridade das mulheres
participação dos 70% mais pobres, que desacelera recentemente e
é maior que o dos homens. Segundo o estudo da OCDE, as chances
mostra um novo afastamento das curvas a partir de 2016.
de uma mulher adulta (25-64 anos) tenha diploma superior é 34%
maior do que os homens. As mulheres também são maioria das pes-
soas com título de doutor - 54%.
O diploma de nível superior tem um efeito direto sobre a emprega-
bilidade para homens e mulheres no país, acima da média da OCDE.
No entanto, considerando os dois gêneros, a taxa de empregabilida-
de dos homens é de 89% e a das mulheres, 82%. 
Documentos
Além do relatório geral, a OCDE divulga as country notes (notas de
países), que compilam os destaques referentes a cada país. O rela-
tório e a country note do Brasil estão disponíveis no site da OCDE,
em inglês.
A OCDE realizou, com apoio da Jeduca, um webnário sobre os dados
referentes ao Brasil no EAG 2019. A apresentação feita pela OCDE
durante o evento pode está disponível aqui.
Os dados utilizados pela OCDE para compor o relatório são forneci- A inclusão ocorre também no plano racial: pretos e pardos (negros)
dos pelos próprios países. No caso do Brasil, o Inep é o responsável passam de 21,9% dos estudantes em 2001 para 43,5% em 2015.
por fornecer dados. que são extraídos do  Censo Escolar da Educação Pela Pnad Contínua, seguiu a tendência de redução da participação
Básica, Censo da Educação Superior, pesquisa Talis (estudo interna- dos brancos como total dos estudantes, mesmo com a crise a partir
cional da OCDE sobre ensino e aprendizagem), Pisa (Programa Inter- de 2015. E isso aconteceu apesar de as famílias negras terem sido
nacional de Avaliação de Estudantes, também da OCDE), além de in- mais atingidas pela crise que as brancas, um indicativo de que as
formações fornecidas pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento políticas públicas para inclusão na educação superior com enfoque
de Pessoal de Nível Superior)  sobre mestrado e doutorado e dados nessa população foram importantes, como mostra o gráfico a seguir.
demográficos do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Nesse sentido, apesar da permanência de desigualdades raciais,
houve uma convergência nesse aspecto do perfil dos estudantes de
No site do Inep existe uma área dedicada ao EAG, onde é possível
graduação com o perfil do brasileiro médio.
acessar a publicação “Panorama da Educação”, produzida pelo ins-
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

tituto, que aprofunda alguns aspectos dos dados referentes ao Brasil.

“Estudo da OCDE revela desafios da educação superior no Brasil”


https://jeduca.org.br (10.09.2019)

TEXTO 5
Educação superior brasileira: inclusão interrompida?
Os dados mostram significativa redução das desigualdades no aces-
so ao ensino superior no século 21, mas esse processo vem desa-
celerando
É anacrônico o argumento de que a educação superior brasileira
serve apenas à elite. Nos últimos anos, observa-se uma “deselitiza-
ção” dessa etapa e uma convergência entre o perfil do estudante e
o perfil médio da população brasileira, o que configura uma demo-

78
Quanto às regiões, no gráfico abaixo percebe-se a ampliação da Ana Luíza Matos de Oliveira é doutora em desenvolvimento econômico pela Unicamp
(Universidade Estadual de Campinas) e professora visitante da Flacso Brasil (Faculdade
participação do Norte e do Nordeste no número de estudantes de
Latino-Americana de Ciências Sociais)
graduação, processo que foi mais rápido no início do século 21 e que Marcio Pochmann e Pedro Rossi são professores do Instituto de Economia da Unicamp.
também desacelera nos anos recentes.
Educação superior brasileira: inclusão interrompida?
https://www.nexojornal.com.br/ (01.06.2019)

É IMPORTANTE SABER
I. DADO ESTATÍSTICO RELEVANTE
Marcus Davi, presidente da Andifes e reitor da UFJF , afirma que, uma
pesquisa feita pela associação, em 2018, indicou que 70% dos alunos
de universidades públicas brasileiras são provenientes de um segmen-
to social cuja a renda per capita familiar é inferior a 1,5 salário mínimo
e que o Ensino Superior é um sistema “naturalmente caro”.
“Veja o que diz quem é contra e quem é a favor da
cobrança de mensalidade em universidades públicas”
https://gauchazh.clicrbs.com.br/ (26.05.2022)

II. DADO HISTÓRICO RELEVANTE


O ensino superior brasileiro constituiu um acontecimento tardio,
Ou seja, os dados mostram uma redução das desigualdades no quando comparado com os do contexto europeu e latino-america-
acesso à educação superior muito clara, pelo menos até 2015, com no. As primeiras universidades na América Latina foram criadas nos
uma aproximação do perfil dos estudantes de graduação brasileiros séculos XVI e XVII, quando já existiam várias universidades na Eu-
ao da população brasileira em termos de renda, cor/raça e região. ropa. Ao contrário da colonização espanhola, na América Latina, os
portugueses mostravam-se hostis à criação de escolas superiores e
Mas, a partir de 2015, para além da crise no mercado de trabalho,
de universidades em sua colônia brasileira. As primeiras instituições
há cortes no orçamento da educação superior com fortes impactos
de ensino superior (IES) no Brasil foram criadas somente no início do
nas políticas públicas, que afetam a capacidade financeira das fa-
século XIX, com a transferência da corte portuguesa, em 1808, para
mílias. O quadro é agravado pela Emenda Constitucional 95/2016,
a colônia. Elas tinham por objetivo apenas fornecer quadros profis-
que provoca competição entre as áreas sociais, pois, para que uma
sionais para desempenhar diferentes funções ocupacionais na corte.
área tenha aumento real em seus gastos, é preciso que outra perca.
Clarissa Eckert Baeta Neves2 E Carlos Benedito Martins “ENSINO
Também, na prática, a medida desvincula os gastos com saúde e SUPERIOR NO BRASIL: UMA VISÃO ABRANGENTE”http://
educação: o mínimo para os gastos públicos da União com educa- repositorio.ipea.gov.br/ (Acesso em 20.01.2020)
ção, estabelecido pelo artigo 212 da Constituição, é de 18% da RLI
(Receita Líquida de Impostos), mas com a nova regra o gasto federal III. ARGUMENTO DE AUTORIDADE
real mínimo com educação foi congelado no patamar de 2017 (R$ Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Pro-
49 bilhões), caindo ao longo do tempo em proporção da RLI e do gresso da Ciência (SBPC), afirma que a argumentação apresentada
PIB (Produto Interno Bruto). Como as despesas com educação cres- pela PEC 206 para a cobrança de mensalidades está “desatualizada”.
ceram acentuadamente acima do mínimo constitucional nos últimos
“A ideia de cobrar poderia fazer sentido no passado, mas não faz
anos, há espaço para cortes ainda maiores.
mais porque a Lei de Cotas mudou o perfil da universidade. Não é
Quanto aos dados sobre o perfil dos estudantes de graduação, se mais verdade que não tem negros e pobres, porque hoje metade das
a inclusão enquanto processo teve sua velocidade no mínimo re- vagas são reservadas a quem vem de escola pública”.
duzida a partir de 2015, a inclusão enquanto resultado em 2017 “Mensalidade na universidade pública? O que está em debate
ainda mostra um quadro muito menos desigual que no início dos no Congresso” https://www.bbc.com/ (25.05.2022)
anos 2000. No máximo foram mantidas tendências já em curso, em
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

especial devido a políticas que ainda não sofreram regressão. Uma VI. EXEMPLOS DO COTIDIANO
dessas medidas é a ação afirmativa para o ingresso nas IES. Outras Podemos dizer que 50% dos alunos das universidades federais são
políticas importantes, no entanto, como o Reuni e o Fies sofreram pessoas em vulnerabilidade social. E sabemos que, na sociedade
graves cortes desde 2015. como um todo, as famílias têm sido muito impactadas”, afirma Isa-
Sobre os dois fatores principais que provocam desaceleração no bel Hartmann, pró-reitora de graduação da Universidade Federal de
crescimento da inclusão (crise no mercado de trabalho e cortes nas São Paulo (Unifesp) e integrante da Andifes, a associação de reitores
políticas), enquanto a situação no mercado de trabalho pode em das universidades federais do país.
teoria melhorar e impactar a capacidade das famílias de manter in- Alesandro de Brito Filho, de 23 anos, é um destes casos. Estudante
tegrantes na educação superior, a austeridade impede o aumento do de medicina da Universidade Estadual de Pernambuco (UPE), ele
orçamento da política pública nos próximos 20 anos. O quadro se conta que a renda familiar foi impactada com a pandemia. Os custos
agrava, agora, em 2019, com a queda da arrecadação do governo e aumentaram com a conta de luz e a alimentação, agora que passa
o contingenciamento de despesas na área. o tempo todo em casa.
*Fonte dos gráficos: Oliveira, A. L. M. (2019) Educação Superior brasileira no início do Antes, Alesandro ficava o dia todo na universidade e comia em res-
século XXI: inclusão interrompida? Tese de Doutorado, IE/Unicamp.

79
taurantes populares, que estão fechados.
“Desistir sempre passa pela cabeça quando não se tem todos os ma-
teriais necessários para se manter estudando e no mesmo ritmo dos
companheiros de classe. Agora eu tendo a me desdobrar”, afirma.
“Nº de alunos que abandonam faculdade deve subir após
a pandemia, e setores poderão enfrentar falta de mão
de obra” https://g1.globo.com/ (13.09.2020)

multimídia: ler
VIII. LEGISLAÇÃO Fonte: Jornal da USP
Art. 43. A educação superior tem por finalidade: A cobrança de mensalidades nas universidades públicas
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científi-
co e do pensamento reflexivo;
II - formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos
para a inserção em setores profissionais e para a participação no
desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua forma-
ção contínua;
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação científica, vi-
sando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da criação e
difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o entendimento do
homem e do meio em que vive;
multimídia: ler
IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos Fonte: scielo
e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar Expansão do ensino superior: contextos, desafios,
o saber através do ensino, de publicações ou de outras formas de possibilidades
comunicação;
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e pro-
fissional e possibilitar a correspondente concretização, integrando os
conhecimentos que vão sendo adquiridos numa estrutura intelectual
sistematizadora do conhecimento de cada geração;
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo presente,
em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializa-
dos à comunidade e estabelecer com esta uma relação de recipro-
cidade; multimídia: ler
VII - promover a extensão, aberta à participação da população, vi- Fonte: Ipea
sando à difusão das conquistas e benefícios resultantes da criação
Ensino superior no brasil: uma visão abrangente
cultural e da pesquisa científica e tecnológica geradas na instituição.
VIII  - atuar em favor da universalização e do aprimoramento da
educação básica, mediante a formação e a capacitação de profis-
sionais, a realização de pesquisas pedagógicas e o desenvolvimento
de atividades de extensão que aproximem os dois níveis escolares.
(Incluído pela Lei nº 13.174, de 2015)

“A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e a


U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

educação superior”https://www.portaleducacao.com.br

multimídia: ver
Fonte: Youtube
Programas de incentivo à educação superior | De Olho
na Educação

multimídia: ler
Fonte: Uol
Entidades científicas criticam propostas de SUS pago e de
mensalidade em universidades públicas

80
Proposta Enem
TEXTO 1
O Censo da Educação Superior de 2019, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), mostrou que nos últimos dez
anos o número de matrículas aumentou 43,7%, passando de 5,9 milhões para 8,6 milhões. Desse total, 75,8% dos alunos de graduação estudam
em instituições privadas e os 24,2% restantes cursam universidades públicas.
Ainda que em termos quantitativos o aumento do número de universitários seja uma informação importante, do ponto de vista qualitativo ele tem
de ser visto com cuidado. Entre outros motivos, porque o Censo detectou que, de dez alunos que ingressaram no primeiro ano do ensino superior
em 2019, quatro optaram por se matricular em cursos de graduação a distância.
O Censo também revela que as matrículas no ensino a distância vêm crescendo a cada ano, enquanto as dos cursos presenciais vêm se reduzindo.
Em 2009 o número de ingressantes nos cursos virtuais representava 16,1% do total de calouros no ensino superior. Em 2018, já eram 39,8% do
total. E, no ano passado, foram 43,8%, o que equivale a cerca de 1,6 milhão de estudantes. Por causa da pandemia, as estimativas são de que o
próximo Censo registrará um crescimento ainda mais vigoroso do ensino remoto em todos os anos da graduação, uma vez que a política de isola-
mento suspendeu as aulas presenciais em todo o País.

“O censo da educação superior” https://opiniao.estadao.com.br/ (22.12.2020)

TEXTO 2
A partir de 2004, com a implementação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – Sinaes, a Educação Superior passou (e tem
passado) por mudanças significativas, sempre com o objetivo de aperfeiçoamento e qualificação das Instituições de Educação Superior (IES) e de
seus respectivos cursos.
Nesse cenário, as Instituições de Ensino Superior (IES) necessitam, a cada momento, se renovar e se adequar às necessidades dos alunos, às expec-
tativas do mercado de trabalho, bem como atender às exigências dos órgãos competentes, como por exemplo, o Ministério da Educação.
São diversos os desafios a serem enfrentados por uma IES. No âmbito privado, tais desafios estão relacionados, por exemplo, com a necessidade
de oferecer ensino de qualidade e com a necessidade de ser reconhecida no mercado e de captar e formar alunos.
“Alguns desafios da educação superior brasileira” http://www.resultadoenade.com/ (Acessado em 20.01.2021)

TEXTO 3

“Estudante usa charges para compartilhar dramas da vida universitária ” https://educacao.uol.com.br/ (Acesso em 12.01.2020)
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

TEXTO 4
Requer-se para formação da graduação enquanto etapa de formação profissional que exista constantes e profundas mudanças por parte das institui-
ções de ensino superior (IES). Exige-se que a atualização de métodos de aprendizagem e também dos conteúdos aptos a capacitar o corpo discente.
Temos realmente de realizar nova abordagem pela IES, de modo a assegurar que seus egressos tenham adquirido a capacidade de investigação
e de “aprender a aprender” [9]. Este objetivo exige o domínio dos modos de produção de saber na respectiva área, de modo a criar as condições
necessárias para o processo de educação continuada.

Gisele Leite. “Desafios da Educação Superior no Brasil” https://www.jornaljurid.com.br/ (17.07.2019)

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumen-
tativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema, AS DIFICULDADES NO ENSINO SUPERIOR NO BRASIL apresentando
proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa
de seu ponto de vista.

81
Proposta Vestibular
TEXTO 1
Atualmente, a “gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais” é garantida pelo artigo 206 da Constituição Federal, e vale para qualquer
estudante aprovado em universidade pública. Não há, portanto, recorte de renda, raça, cor ou gênero.
A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 206/2019 propõe alterar esse trecho para que essas unidades públicas de ensino passem a cobrar
mensalidades, garantindo o não pagamento a estudantes que não tiverem recursos suficientes.
Segundo o texto, cada universidade teria sua própria comissão de análise para definir as gratuidades a partir de um corte de renda estabelecido
pelo Poder Executivo.
O texto explica que a cobrança de mensalidade “seria uma forma de diminuir as desigualdades sociais em nosso país”. Isso porque, segundo o
relator, “a maioria dos estudantes dessas universidades acaba sendo oriunda de escolas particulares e poderiam pagar a mensalidade”.
“O gasto público nessas universidades é desigual e favorece os mais ricos. Não seria correto que toda a sociedade financie o estudo de jovens de
classes mais altas”, defende o texto.
“A proposta de cobrar pelo acesso a universidades públicas” https://www.nexojornal.com.br (26.05.2022)

TEXTO 2
Para Gregório Grisa, doutor em educação e professor do IFRS (Instituto Federal do Rio Grande do Sul), a derrubada da garantia constitucional da
gratuidade das universidades públicas deixa o acesso ao ensino superior à mercê de decisões “do governante da vez”.
“Abre-se a porta para cobranças de toda sorte, para decisões arbitrárias que não irão encontrar mais o impeditivo do princípio constitucional. Tirar
da carta magna e deixar a mercê de instrumento jurídico de baixa densidade (decidido só pelo Executivo) seria um erro histórico”, escreveu Grisa
no Twitter.
Os deputados contrários à PEC também argumentam que, a depender dos critérios de renda estabelecidos, a cobrança de mensalidade pode afastar
estudantes das universidades públicas ou levar famílias ao endividamento.
“A proposta de cobrar pelo acesso a universidades públicas” https://www.nexojornal.com.br (26.05.2022) 

TEXTO 3
A cobrança de mensalidades nas universidades públicas já começa a causar polêmica entre os especialistas. Dentre os motivos para se manter a
gratuidade do ensino superior público, podem ser destacados dois. Primeiro, se a instituição é pública, o ensino tem de ser gratuito. Para um grupo
de pensadores, é uma questão de seguir a Constituição, cujo artigo 206 determina “gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais”.
Segundo, ricos devem pagar mais impostos em vez de pagar mensalidade. O professor Paulo Rizzo, presidente do Sindicato Nacional dos Docentes
das Instituições de Ensino Superior, defende que o problema de recursos seja resolvido com reforma fiscal: os ricos devem pagar proporcionalmente
mais impostos do que os pobres. “Fazer os mais ricos pagarem pela educação superior é um paliativo que não muda em nada a realidade”, afirma.
Para o professor Otaviano Helene, da Usp, “é preciso cobrar impostos sobre altas rendas, grandes patrimônios, herança, e transferir a renda desses
setores para o setor educacional”.
(Thiago Varella. “Afinal, cobrar pelo ensino superior público é uma boa ideia?”. http://educacao.uol.com.br, 26.01.2016. Adaptado.)

TEXTO 4
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Por que não acabar com o ensino superior gratuito, que é um mecanismo de injustiça social? Pagará quem puder, receberá bolsa quem não tiver
condições para tal. Funciona assim, e bem, no ensino privado e em países avançados, com muito mais centros de excelência universitária que o Brasil.
O momento é oportuno para se debater a sério o ensino superior público pago. Até porque é entre os mecanismos do Estado concentradores de
renda que está a universidade pública gratuita, pois ela favorece apenas os ricos, de melhor formação educacional, donos das primeiras colocações
nos vestibulares. Já o pobre, com formação educacional mais frágil, precisa pagar pelo ensino privado, que, em muitos casos, é de mais baixa qua-
lidade. Assim, completa-se uma gritante injustiça social, nunca denunciada por sindicatos de servidores e centros acadêmicos. Levantamento feito
pela Folha de S.Paulo, em 2014, constatou que 60% dos alunos da USP poderiam pagar mensalidades na faixa das cobradas por estabelecimentos
privados. Quanto aos estudantes de famílias de renda baixa, receberiam bolsas. Além de corrigir uma distorção social, a medida ajudaria a equilibrar
os orçamentos deficitários das universidades e contribuiria para o reequilíbrio das contas públicas.
(“Crise força o fim do injusto e nsino superior gratuito”. http://oglobo.globo.com, 24.07.2016. Adaptado.)
Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a norma-padrão
da língua portuguesa, sobre o tema:
COBRAR MENSALIDADE DOS ALUNOS MAIS RICOS NO ENSINO SUPERIOR PÚBLICO É UM MECANISMO DE JUSTIÇA SOCIAL?

82
Discussão temática: a questão das drogas e o tratamento da
dependência química

Acervo 8 – Em Portugal, que descriminalizou o uso de todas as drogas,


em 2001, estudos mostram que o consumo diminuiu justamente na
faixa etária em que o consumo se inicia, dos 15 aos 24 anos.
TEXTO 1 9 – No Uruguai, onde, a partir de 2012, passou-se a regular todo o
Drogas, legalização e descriminalização: desfazendo mitos
processo, da produção ao consumo, cerca de 3 mil pessoas já estão
Pelo artigo 28 da Lei de Drogas, comete crime aquele que “adqui- cultivando a cannabis e consumindo o que cultivam. Um dos efeitos
rir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para da regulação é que menos dinheiro circula no narcotráfico, não foi
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com registrado aumento do consumo de drogas e, entre adolescentes, o
determinação legal”. As penas não envolvem prisão, mas o acusado consumo caiu.
sofre todas as consequências de um processo penal e, se condenado, 10 – Indicadores apontam que, em uma comparação com o álcool,
deixa de ser réu primário. Os defensores da descriminalização argu- este causa muito mais prejuízos, seja sobre a saúde do usuário, seja
mentam que impedir o indivíduo de portar droga para o uso próprio no que diz respeito à violência, doméstica, no trânsito, decorrente
viola o princípio da intimidade e da vida privada, ferindo o que está do seu uso.
expresso na Constituição.
11 – Há estudos buscando a utilização na cannabis como droga
No seminário Maconha: Usos, Políticas e Interfaces com a Saúde
substituta para o álcool, nos casos de tratamento de alcoólicos, com
e Direitos, realizado em julho, no Rio de Janeiro, pela Fiocruz em
menos danos, menor custo econômico e redução de índices de vio-
parceria com a Escola de Magistratura do Rio de Janeiro (Emerj),
lência.
uma conclusão foi unânime: o modelo repressivo às drogas produziu
efeitos opostos àqueles a que se propunha. Em vez de preservar 12 – A descriminalização e a legalização possibilitam controle do
vidas, vem causando mais mortes do que poderia causar o consumo Estado sobre a oferta, a circulação e a qualidade do produto a ser
dessas substâncias. O caminho defendido por legisladores, gestores, consumido.
estudiosos, pesquisadores, integrantes de movimentos sociais é o 13 – A atual legislação brasileira não estabelece critérios objetivos
da legalização e da descriminalização, não só da cannabis, mas das para diferenciar usuário e traficante. A decisão fica, na prática, na
outras drogas consideradas ilícitas. Um passo pode ser dado nesse mão do policial que faz a abordagem.
sentido, com a votação da inconstitucionalidade do artigo 28. 14 – Há um perfil preferencial de quem é considerado traficante –
Veja o que é preciso saber para desfazer alguns mitos e jovem, pobre, negro ou pardo – e um perfil preferencial dos que são
integrar esse coro (informações extraídas das exposições dos par- tidos como usuários – brancos, de classe média, com maior poder
ticipantes do seminário Maconha: Usos, Políticas e Interfaces com a aquisitivo.
Saúde e Direitos). 15 – A maior parte das pessoas detidas por envolvimento com
entorpecentes é flagrada sozinha e desarmada, tendo como única
1 – Não há evidências científicas de que o consumo de drogas au-
mentará e acarretará mais mortes, com a descriminalização. testemunha do caso o policial que faz a prisão e cuja palavra é va-
lorizada pelo Judiciário.
2 – A violência decorrente da guerra às drogas mata muito mais
do que o uso de drogas. Por conta da repressão às drogas morrem 16 – Na maior parte dos casos, ainda, a pessoa apreendida porta
usuários, traficantes, policiais e aqueles que nada têm a ver com isso. pequena quantidade de drogas.

3 – Apesar da guerra e das mortes, o consumo e o tráfico nunca 17 – A atual política de drogas criminaliza a pobreza e deixa em
diminuíram. Desde a promulgação da Lei 11.343/2006, o comércio último plano a promoção de políticas sociais de acesso a equipa-
e o consumo de entorpecentes e o número de pessoas presas por mentos educacionais, sanitários e de serviço social.
tráfico vêm aumentando. 18 – A abordagem penal marginaliza pessoas que poderiam pro-
4 – Entre os consumidores adultos, somente uma parcela muito curar auxílio se a aproximação se desse do ponto de vista social,
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

pequena faz o que se chama de uso problemático de drogas, com caracterizando-se uma violação ao direito à informação, previsto na
prejuízos à saúde. Constituição (art. 5º).
5 – A classificação das drogas entre lícitas e ilícitas não obedece “Drogas, legalização e descriminalização: desfazendo mitos”
a qualquer evidência científica. Trata-se de critérios políticos ou, https://cee.fiocruz.br/ (11.08.2015)
simplesmente, de falta de critérios. As drogas consideradas ilegais
foram assim classificadas em uma convenção das Nações Unidas, TEXTO 2
em 1961, sem base na ciência.
Descriminalização de drogas para uso pessoal é aposta
6 – A maioria das drogas em circulação é legal (como exemplo, o
tabaco, o álcool e medicamentos como a ritalina, os ansiolíticos e contra encarceramento desnecessário
antidepressivos, entre outros). As drogas ilícitas são uma minoria. Uma das principais – e mais polêmicas – novidades do anteprojeto
7 – Descriminalizar o consumo é apenas um ponto de partida. A de reforma da Lei de Drogas apresentado à Câmara dos Depu-
legalização e a regulação devem envolver também a produção e a tados no início do mês de maio é a proposta de descriminalização
comercialização. Na Holanda, onde o consumo é descriminalizado da aquisição, posse, armazenamento, guarda, transporte ou compar-
desde os anos 1970, a origem da droga não é regulada. tilhamento de entorpecentes para uso pessoal, limitado à quantia

83
de dez doses (a quantidade de cada dose por tipo de droga será para consumo próprio pode gerar a aplicação da pena de morte. Há
definida pelo Poder Executivo). modelos que descriminalizam e legalizam, como o do Uruguai, que
criou uma autarquia para regular esse novo mercado.
Segundo o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Rogerio
Schietti Cruz, vice-presidente da comissão de juristas que elaborou Algum desses modelos internacionais foi mais inspirador?
o anteprojeto, a descriminalização é uma tendência mundial e foi
incluída no texto após discussão com especialistas e análise da ex- Rogério Schietti – Todos os estudiosos do assunto e a literatura
periência de vários países. especializada colocam Portugal como o modelo que mais deu certo
em relação a uma nova política relacionada a drogas ilícitas. Reco-
Ao mesmo tempo em que busca reforçar o combate ao grande nhecemos que o Brasil não tem condições de dar o mesmo pas-
tráfico de drogas e ao seu financiamento (leia na entrevista do so, por isso demos um passo tímido com a descriminalização do
ministro Ribeiro Dantas, presidente da comissão de juris- uso limitado. É o que achamos possível para nossa realidade. Há
tas), o anteprojeto estabelece diretrizes para políticas públicas de quem defenda a legalização do comércio, mas há uma deficiência
prevenção ao uso de drogas e de redução de danos, para prevenção do Estado em fornecer e controlar serviços, então não poderíamos
ao uso problemático de entorpecentes e também para tratamento deixar o Estado administrar isso. Simplesmente não vamos mais cri-
de dependentes. minalizar a conduta das pessoas que fazem uso dessas substâncias
O ministro Rogerio Schietti comenta na entrevista abaixo alguns sem consequências maiores a terceiros. A proposta é não mais punir
pontos da redação final do anteprojeto, com destaque para a pro- criminalmente usuários quando flagrados na posse de até dez doses.
posta de descriminalização do uso pessoal. De acordo com o ma-
Qual o parâmetro adotado para a definição desse limite
gistrado, que preside a Terceira Seção do STJ (especializada em ma-
de dez doses?
térias de direito penal), a legislação atual contribui para que o país
tenha um alto grau de encarceramento, o que acaba servindo de Rogerio Schietti – É muito difícil estabelecer o parâmetro. Em
estímulo para o crescimento das organizações criminosas. alguns países o limite é cem gramas de cannabis; em outros, 40.
Outros fixam limites por dias de consumo. É importante destacar que
“Cerca de 30% dos homens condenados cumprem pena por crimes
estabelecemos uma presunção que pode ser desconsiderada pela
ligados ao tráfico, e entre as mulheres esse percentual chega a 70%.
realidade dos fatos. O juiz pode avaliar se é realmente caso de usu-
As facções se alimentam da mão de obra que entra nos presídios por
ário ou se é um traficante com pequena quantidade. Futuramente,
crimes pequenos”, diz o ministro.
esse quantitativo deverá ser definido pela Agência Nacional de Vigi-
Uma das preocupações do anteprojeto é estabelecer di- lância Sanitária (Anvisa). Como essa regulamentação pode demorar,
ferença entre dependência e uso problemático de drogas. o anteprojeto estabeleceu um limite provisório.
Essa distinção é nova? No Brasil, a questão das drogas leva ao encarceramento em massa.
Rogerio Schietti – Todo nosso trabalho é fruto de leitura e consul- Isso também pesou na hora de formular as propostas?
ta a pessoas que nos trouxeram o que há de mais atual no mundo Rogerio Schietti – Também. Nós observamos que na vigência da
sobre o tema. A questão das drogas ilícitas envolve uma miríade de lei atual o grau de encarceramento em geral aumentou muito, e os
classificações. Existe o usuário eventual, esporádico, que não neces- crimes relacionados ao tráfico tiveram um aumento muito maior.
sariamente se torna dependente. Há os dependentes e há aqueles Atualmente, cerca de 30% dos homens condenados cumprem pena
que, mesmo não sendo dependentes, acabam tendo problemas por crimes ligados ao tráfico, e entre as mulheres esse percentual
pessoais por causa do uso frequente: perdem o emprego, têm con- chega a 70%. Pior que a superlotação do sistema penitenciário são
flitos familiares, enfim, geram situações que lhes trazem problemas as condições de cumprimento de pena. As facções se alimentam da
e por isso são definidos como usuários problemáticos. Tentamos dar mão de obra que entra nos presídios por crimes pequenos. Esses
respostas correspondentes a cada uma das situações, mantendo ao pequenos flagrantes não afetam o comércio de drogas, pois quem
mesmo tempo um tratamento rigoroso ao tráfico. é preso logo é substituído na função. São pessoas que poderiam
ter outra resposta punitiva do Estado e, no anteprojeto, procuramos
Foi nesse contexto que surgiu a proposta de descrimina-
tratar cada situação de tráfico com a respectiva gravidade, dosando
lização?
as penas de modo proporcional.
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Rogerio Schietti – Sim, para a pessoa que faça uso até um limi-
Há também uma preocupação com a política de redução
te de dez doses, propomos sua retirada do sistema criminal, pois é
de danos. De que forma esse conceito está presente no
um problema individual e, eventualmente, de saúde pública. Esta-
anteprojeto?
mos respeitando a autodeterminação do indivíduo. Se o uso causar
problemas, pode haver a intervenção do Estado, mas o indivíduo Rogerio Schietti – No texto apresentado, há uma afirmação da
somente será alcançado pelas garras da Justiça quando se envolver política de redução de danos para as hipóteses de intervenção social
com o tráfico de drogas. A tendência mundial é essa. Se nós estiver- do Estado para que, na medida do possível, uma eventual depen-
mos errados, o mundo todo também estará. dência seja vencida ou, ao menos, controlada, conforme cada caso.

Quais foram os modelos internacionais observados pela co- É possível prever os efeitos que a descriminalização pode
missão para a definição da proposta da descriminalização? ter sobre o consumo de drogas e a criminalidade em geral?
Rogerio Schietti – Foram analisados vários modelos no mundo Rogerio Schietti – Este é um tema sobre o qual estamos sem con-
todo, desde os que não punem na esfera criminal e usam apenas dições de fazer prognósticos seguros. São vários fatores que levam
sanções cíveis, como a multa, até os modelos mais draconianos uma sociedade a conviver com drogas e crimes. É possível que haja
inspirados na iniciativa de “guerra às drogas”, em que uma dose no primeiro momento um aumento no consumo, pela eliminação de

84
uma resposta muito drástica que possa inibi-lo, porém o que importa Tendo isso em mente: Dependência é o mesmo que vício? - O ter-
é que esses usuários não mais serão tratados como criminosos. Deixa- mo vício foi superado e hoje considera-se que a terminologia mais
mos muito claro na apresentação do anteprojeto que é preciso uma adequada a ser empregada nesse contexto é dependência química,
política forte do Estado em relação às drogas da mesma forma como conceito esse que não traz consigo qualquer tipo de implicação de
foi feito com o cigarro. O consumo do tabaco diminuiu drasticamente ordem ético-moral para o indivíduo. Consequentemente, transpõe-
nos últimos anos. O número de fumantes no Brasil caiu cerca de 36% -se a natureza do transtorno por uso de substâncias, deixando de ser
nos últimos dez anos porque há uma campanha muito forte que alerta uma questão moral e de desrespeito às normas sociais, passando a
para os riscos desse produto. Nenhum de nós quer um filho ou parente enquadrar-se enquanto doença tratável, ainda que incurável.
como usuário de drogas, e por isso eles devem ser alertados dos riscos. Levando tais mudanças em consideração, pode-se definir a depen-
“Descriminalização de drogas para uso pessoal é aposta contra dência como um transtorno por uso de substâncias psicoativas, que
encarceramento desnecessário” https://www.stj.jus.br/ (07.03.2019) devido à recorrência do consumo poderá induzir no sujeito o desen-
volvimento de um padrão comportamental patológico, alterações
TEXTO 3 físicas e psiquiátricas.

Segundo UNODC, 35 milhões de pessoas sofrem transtor- Quais são as dependências químicas mais comuns no Brasil?
nos de dependência às drogas - A crescente classe média do Brasil tem se envolvido cada vez mais
Parte dos dependentes clínicos precisa do apoio de uma clínica para com drogas como, por exemplo, a cocaína. O país consome hoje
efetuar o melhor tratamento e restituindo o depende à sociedade. 18% da oferta mundial anual da droga, com 2,8 milhões de brasi-
leiros, ou 1,4% da população, fazendo uso de um total de 92.000
O problema do uso de substâncias afeta muitas pessoas no Brasil e quilos em 2010, segundo estimativas fornecidas pelo Escritório das
no mundo. Segundo dados de 2019 do Escritório das Nações Unidas Nações Unidas sobre Drogas e Crime.
sobre Drogas e Crime (UNODC), 35 milhões de pessoas sofrem de
transtornos decorrentes do uso de drogas e necessitam de tratamen- Visto esses números expressivos: Quais são as drogas mais
to em clínicas para dependentes químicos. comuns no Brasil e quais os efeitos mais graves dessas subs-
tâncias?
No Brasil, a situação não é diferente: de acordo com estudos or-
ganizados pela Lenad Família, instituição que faz levantamentos a - As drogas mais comumente consumidas no Brasil são o álcool e
respeito do uso de drogas no Brasil, quase 30 milhões de cidadãos o tabaco. Segue-se a eles a maconha, a cocaína e seus derivados.
brasileiros conhecem um familiar que seja dependente químico. A intoxicação aguda do álcool e cocaína podem levar a óbito. Já o
Além disso, de acordo com outras pesquisas da OMS, cerca de 6% uso crônico de todas as substâncias supracitadas pode desencade-
da população brasileira atual tem alguma dependência química. Isso ar inúmeras alterações biopsicossociais, podendo levar o usuário à
morte. Levando-se em conta o álcool, substância de maior abuso ob-
totaliza um contingente de 12,4 milhões de pessoas.
servado na população brasileira, poderá ser responsável por signifi-
Por isso, o médico Luiz Antonio Marques de Mendonça, que trabalha cativas morbidades físicas. O usuário crônico poderá sofrer desnutri-
na Clínica Cleuza Canan, que há mais de 30 anos trata dependentes ção severa, insuficiência pancreática e hepática, desenvolvimento de
químicos e outros transtornos mentais no Paraná irá oferecer escla- gota, osteoporose, hipertensão arterial, entre outras complicações
recimentos. fisiológicas, além de alterações psiquiátricas graves, como intoxica-
ção alcoólica, síndrome de abstinência do álcool, alucinose alcoólica,
O que é dependência química? - A dependência química é carac-
depressão, podendo ampliar o risco de suicídio do indivíduo.
terizada pelo uso repetido e incontrolável de drogas de uma forma
que ameaça a saúde e o bem-estar físico e mental do indivíduo, bem Qual o melhor tratamento para dependentes químicos?
como a segurança física e o bem-estar emocional das pessoas ao seu
- A abordagem terapêutica para a dependência química é muito va-
redor. De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatística (DSM), o
riável. Afinal, cada dia há novas descobertas científicas que promo-
sistema de classificação da Associação Americana de Psiquiatria para
vem o conhecimento e permitem novas e eficazes abordagens me-
distúrbios psiquiátricos, uma pessoa pode ser considerada dependen-
dicamentosas e terapêuticas. Mas, por outro lado, um ponto-chave
te se três ou mais dos seguintes itens estiverem presentes:
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

do tratamento é o reconhecimento do próprio dependente químico


1) Tolerância a uma substância psicoativa de que ele passa por uma doença que precisa ser controlada diaria-
mente no intuito de promover a satisfação de seu viver.
2) Sinais e sintomas de abstinência
3) Tomar a substância em quantidades maiores ou durante um pe- As clínicas para dependentes químicos oferecem uma série de abor-
ríodo de tempo maior do que o pretendido dagens a fim de restabelecer o equilíbrio nas mais variadas partes
do ser humano: biológica, psíquica, social e até mesmo espiritual.
4) Esforços infrutíferos para reduzir ou controlar o uso da substância
Hoje em dia, caiu-se por terra a abordagem reducionista que insiste
5) Muito tempo gasto em atividades necessárias para a obtenção em dizer que o problema é só psicológico ou somente social. Na
da substância realidade os transtornos químicos surgem de contextos complexos
6) Atividades sociais, ocupacionais ou recreativas importantes aban- e multifatoriais.
donadas ou reduzidas devido ao uso de substâncias Diante da dificuldade que os pacientes com doenças quimicamen-
7) Uso continuado da substância, apesar de ter problemas físicos ou te dependentes devem manter a abstinência para aumentar suas
psicológicos persistentes ou recorrentes que possam ser causa- chances de sucesso no processo de tratamento, é necessária uma
dos ou exacerbados pela substância. conduta cautelosa e completa.

85
Quais são os requisitos para o dependente controlar o uso O contexto de um orçamento da União cada vez mais apertado, de
de substâncias e ter uma vida funcional? forma geral, ajuda a explicar a redução nos gastos com a política
de drogas. Mas o cenário de arrocho revela também as priorida-
- Antes de mais nada, é imprescindível que o usuário se mantenha
des, como aponta o coordenador da área de Justiça, cidadania e
abstinente. Para isso, deve-se buscar auxilio profissional especiali-
segurança pública do Ipea, Alexandre Cunha, responsável pelo le-
zado, dar início à psicoterapia, suporte medicamentoso administra-
vantamento.
do por um psiquiatra quando necessário e prescrito. A abordagem
terapêutica mais indicada pela American Psychological Association “Isso reflete prioridades, mesmo num contexto de redução (de
(APA) para o tratamento da dependência química é a Terapia Cog- despesas), que nunca é linear. Algumas políticas sofreram cortes ex-
nitivo-Comportamental, metodologia focada na prevenção de reca- pressivos, como de saúde mental. Outras tiveram aumento, como de
ídas, desenvolvimento de habilidades sociais e mudança de hábitos repressão”, afirmou em entrevista à BBC News Brasil.
que possam levar o indivíduo ao consumo de substâncias depen-
dógenas.

Onde procurar ajuda para dependentes químicos?


- A primeira etapa da recuperação é criar consciência de que o uso
de substâncias se tornou um problema na vida da pessoa, o que
está perturbando a qualidade de sua vida. Isto pode resultar em
deficiências na escola, no trabalho, social, recreativo ou em outras
áreas importantes da função.
Assim que um indivíduo reconhece o impacto negativo de uma
substância em sua vida, uma ampla gama de opções de tratamento
está disponível. Uma delas é usar um regime de internação em uma
clínica especializada.
“Segundo UNODC, 35 milhões de pessoas sofrem
transtornos de dependência às drogas”
https://www.terra.com.br/noticias (19.05.2021) Com base nos dados do levantamento, solicitado pelo próprio go-
verno federal, Cunha aponta que, até o fim do governo do ex-presi-
TEXTO 4 dente Lula havia “pouco investimento do governo federal em políti-
ca sobre drogas - quer em repressão, quer em prevenção”.
Menos saúde, mais repressão: prioridades mudam no com-
A partir de 2013, já no governo Dilma Rousseff, há um “claro au-
bate a drogas no Brasil
mento da despesa em tema de política sobre drogas, que tem a
Diferente de outros investimentos na política de drogas, gastos fede- ver com aumento na repressão, mas principalmente um aumento
rais com repressão tiveram aumento nos últimos anos expressivo em política de prevenção e cuidado”, segundo ele.

O investimento do governo federal em políticas de drogas teve uma Depois, no último ano da gestão Temer, isso muda. “Aí você tem alte-
queda abrupta nos últimos anos: saiu de um patamar de mais de R$ ração substancial do tipo de gasto feito em prevenção e cuidado - o
1,8 bilhão em 2017 para um valor 75% menor no último ano do sentido da política de prevenção e cuidado muda, acompanhado de
governo Michel Temer (R$ 447 milhões) e no primeiro ano de Jair desfinanciamento - e o aumento do gasto com repressão não chega
Bolsonaro (R$ 476 milhões). perto do que você cortou nos recursos destinados à prevenção e
cuidado”, diz Cunha.
Esses dados fazem parte de levantamento inédito produzido por
pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Despesa no Ministério da Saúde com política de drogas
Eles analisaram as despesas do governo federal com essa área, em tem menor nível
diferentes ministérios, em 15 anos (2005 a 2019).
As despesas do Ministério da Saúde com políticas voltadas a essa
No âmbito do governo federal, os gastos com políticas de drogas área tiveram, em 2019, seu menor nível em 15 anos, com R$ 22,6
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

incluem ações em diferentes frentes (e espalhadas em vários mi- milhões. Quando comparado ao orçamento total da pasta, o percen-
nistérios): coordenação nacional da política sobre drogas, repressão tual é de apenas 0,02%, que também é o menor patamar da série
ao tráfico internacional de drogas, atenção à saúde dos usuários, histórica. De 2014 a 2017, quando ficou por volta de R$ 1,5 bilhão,
políticas de educação para prevenção e compra de leitos em comu- esse percentual superava 1%.
nidades terapêuticas.
No Ministério da Saúde, o aumento durante o governo Dilma é expli-
Além da constatação sobre a queda geral no gasto com política de cado, segundo Cunha, por uma política de fortalecimento das redes
drogas, a análise de como os recursos foram distribuídos entre es- de atenção psicossocial e ações no campo de saúde mental.
sas diferentes áreas também revela uma mudança na lógica dessa
“Na Saúde, os gastos com políticas sobre drogas estão misturados
política no Brasil.
com gastos de saúde mental, e existem destinações específicas para
Nos últimos anos, houve redução em verbas destinadas ao Minis- drogas, principalmente o financiamento de CAPSAD (Centro de
tério da Saúde, responsável por políticas de atenção à saúde dos Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), que é a atenção especializada
usuários, ao mesmo tempo em que foi verificado valor recorde nos a dependentes de álcool e outras drogas. E foi no governo Dilma que
recursos destinados ao Ministério da Justiça, responsável por ações houve articulação da rede e financiamento para estruturação dessa
de repressão. política em atenção à saúde mental”.

86
Desde o governo Temer, houve uma mudança de orientação e hoje A leitura da Bíblia é uma atividade diária em 89% delas, e a partici-
esse modelo também não é prioridade do governo Bolsonaro. pação em cultos e cerimônias religiosas é obrigatória em 55%. Leia
“Na medida em que o governo Temer muda a orientação política na mais nesta reportagem da BBC News Brasil, que revelou, em 2019,
área de saúde mental no Ministério da Saúde, começa a haver des- que o governo federal financiava entidades para dependentes quí-
monte forte das redes de atenção psicossocial e do financiamento micos denunciadas por maus-tratos e irregularidades, com denún-
a esse tipo de atenção. Então esse movimento no gráfico tem a ver cias como violação de correspondências, prisão dentro de quartos,
com essa política ser estruturada e, depois, desestruturada.” trabalhos forçados e punições por faltas a cultos religiosos.
Cunha diz que a política de atenção ao usuário de drogas e outras “A lógica do sistema anterior, de atenção ambulatorial ao depen-
drogas dentro da lógica de redução de danos foi “abortada”. “Não dente, trabalha dentro da lógica de redução de danos. E o modelo da
chegou efetivamente a estar estruturada e a gente ainda não tem comunidade terapêutica é o da abstinência. Então, é uma transição
distância suficiente para avaliar êxito. Para avaliar política pública, de modelo que era calcado na melhora da vida do dependente mes-
precisamos de pelo menos cinco anos de implementação da política mo que ele não deixasse de usar droga, para o um modelo em que
para fazer avaliação para medir impacto”, diz. o fundamental é a abstinência - tornar-se limpo é requisito para ter
Procurado pela reportagem para comentar a redução na verba, o direito à assistência”, diz Cunha.
Ministério da Saúde respondeu que o atendimento de saúde mental
e o tratamento especializado para dependência química é oferecido Despesa no Ministério da Justiça com política de drogas
pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Disse ainda que, em 2020, a tem maior nível sob Bolsonaro
pasta investiu R$ 476 milhões nesses atendimentos.
Foco em comunidades terapêuticas
O modelo anterior de atendimento vem sendo substituído pelas
chamadas comunidades terapêuticas. Essa política, que foi iniciada
por Dilma, vem se tornando o principal mecanismo de combate à
dependência química da gestão Bolsonaro.
Em , uma lei sancionada por Bolsonaro fortaleceu as comunidades
terapêuticas, instituições normalmente ligadas a organizações reli-
giosas. O texto facilitou internações involuntárias em unidades de
saúde.2019
A lei também diz que esses locais devem oferecer “projetos terapêu-
ticos ao usuário ou dependente de drogas que visam à abstinência”,
deve ter um “ambiente residencial, propício à formação de vínculos,
com a convivência entre os pares, atividades práticas de valor edu-
cativo e a promoção do desenvolvimento pessoal”, e estabelece que Diferentemente de outras áreas, os recursos destinados à política de
esses locais devem servir de “etapa transitória para a reintegração drogas no Ministério da Justiça bateram recorde: os mais de R$ 420
social e econômica do usuário de drogas”. milhões em 2019 representam o maior patamar dos 15 anos pes-
Assim, existem três tipos de internações: a voluntária, a involuntária quisados. Em proporção ao orçamento total da pasta, ficou em 3%.
(quando o dependente é levado pela família ou por um agente de Nessa área, o Ministério da Justiça é responsável por ações de com-
saúde) e a compulsória - quando há determinação da Justiça. bate ao crime organizado, tráfico internacional e pelo financiamento
de vagas relacionadas a esse tipo de delito no sistema penitenciário
Procurado pela reportagem, o Ministério da Cidadania informou que
federal.
o investimento subiu de R$ 40,9 milhões em 2018 (2.900 vagas
financiadas) para R$ 153,7 milhões em 2019 (10.833 vagas finan- Procurado pela reportagem, o Ministério da Justiça informou que,
ciadas). A pasta hoje mantém contratos com 483 instituições. desde 2019, com a aprovação da Nova Política Nacional Sobre Dro-
gas, as ações da pasta “são voltadas para gestão da política, pesqui-
O governo já informou que o Ministério da Cidadania busca aumen-
sa e, sobretudo, a redução da oferta de drogas através da descapita-
tar esse orçamento, hoje em R$ 146,2 milhões, para R$ 330 milhões.
lização das organizações criminosas, com leilão de bens apreendidos
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Esse gasto com comunidades terapêuticas estava originalmente no


do crime”.
Ministério da Justiça até 2018 e em 2019 passou para o orçamento
do Ministério da Cidadania. Entre os investimentos, também estão, segundo a pasta, o sistema
de radiocomunicação na fronteira do Brasil com o Paraguai (“que
“Um dos objetivos da nova política é acolher e tratar usuários de
causou um prejuízo de quase R$ 3 bilhões aos criminosos e apreen-
drogas por meio da desintoxicação e fortalecimento das comunida-
deu, desde 2019, cerca de 900 toneladas de droga”), a Escola Na-
des de tratamento, integrando políticas nacionais e internacionais,
cional de Cães de Faro, (“que será inaugurada em breve, com foco
tomando iniciativas públicas e privadas e reconhecendo as diferen-
em aumentar a capacidade de detecção de drogas por parte dos
ças entre o usuário, o dependente e o traficante de drogas, tratando-
policiais”), e a nova unidade de pesquisa sobre o mercado de drogas
-os de forma diferenciada”, disse o Ministério da Cidadania.
(Centro de Excelência em Redução de Oferta de Drogas Ilícitas).
Uma das principais críticas feitas por especialistas e procuradores
O presidente e seus aliados defendem a ação contra o tráfico como
ao modelo passa pela relação entre o tratamento de dependentes
política fundamental para conter a criminalidade no país - ao mes-
químicos e proselitismo religioso. Das quase 2 mil comunidades te-
mo tempo em que estudiosos do tema apontam que “a guerra às
rapêuticas no país, segundo outro estudo do Ipea, 82% disseram ter
drogas”, realizada há décadas, não vem mostrando resultado na
ligação com igrejas e organizações religiosas (40% pentecostais e
redução da violência.
27% católicas).

87
Em 2020, por exemplo, Bolsonaro e aliados comemoraram apreen-
sões recordes de centenas de toneladas de drogas (principalmente
É IMPORTANTE SABER
maconha).
No âmbito do debate sobre apreensões, a Polícia Federal reconheceu
I. DADO ESTATÍSTICO RELEVANTE
o impacto limitado das apreensões de drogas para combater o trá- “Cerca de 30% dos homens condenados cumprem pena por crimes
fico, destacando como ações de maior relevância as operações que ligados ao tráfico, e entre as mulheres esse percentual chega a 70%.
conseguem atingir o comando das organizações criminosas por trás As facções se alimentam da mão de obra que entra nos presídios por
desse mercado ilegal. crimes pequenos”, diz o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
Rogerio Schietti Cruz.
A tendência gradual de liberação do uso da maconha no mundo “Segundo UNODC, 35 milhões de pessoas sofrem
também é frequentemente apontada pelos especialistas no tema - transtornos de dependência às drogas”
hoje, o uso recreativo é permitido em países como Uruguai, Canadá https://www.terra.com.br/noticias (19.05.2021)

e Geórgia e em vários Estados americanos.


Por que é desafiador calcular (e fiscalizar) quanto o Brasil gasta com II. DADO HISTÓRICO RELEVANTE
política de drogas? A história da sua criminalização no país remonta ao início do século
Mensurar os gastos em todas essas áreas da política relacionada às passado, embora a sua proibição, no caso do Rio de Janeiro, venha mais
drogas é desafiador por alguns motivos. de longe. Já em 1830, no Império, o código de posturas da Câmara
Municipal estabelecia a proibição da venda e do uso do Pango.
O primeiro é que o Brasil não reúne todas as políticas sobre drogas
em um mesmo órgão. Então, além de o orçamento estar espalhado Reportagem do GLOBO, publicada em outubro de 1930, lembrava que,
entre os ministérios, existem ações orçamentárias que não são exclu- cem anos antes, a Câmara do Rio já havia fixado punições para “os
sivamente para políticas de drogas, o que torna difícil identificar cada contraventores”. No grupo estavam incluídos o vendedor do Pango, que
uma e diferenciar os gastos lá dentro. pagaria multa, e “os escravos e mais pessoas que delle usarem (sendo
punidos) em três dias de cadeia”. Mas o código dos primórdios do Impé-
“Fizemos uma garimpagem, dentro de cada ação orçamentária, rio parecia letra morta. Segundo a reportagem, a “Diamba” era vendida
sobre o que ia para política sobre drogas e o que não ia”, explicou no início dos anos 30 em herbanários da então capital da República,
Cunha. “como O GLOBO demonstrou, adquirindo-a, por baixo preço, num des-
Os pesquisadores dividiram as modalidades de gastos entre diretos ses estabelecimentos commerciaes”, na Rua São José 23.
e indiretos, mas em alguns casos, dizem, era impossível diferenciar “‘Pito do Pango’ na década de 30, maconha era vendida em
exatamente o que foi direcionado para política de drogas. Por isso, herbanários do Rio” https://acervo.oglobo.globo.com (23.07.2014)

Cunha diz que é possível que se gaste com políticas sobre drogas
em ações que não foram desagregadas - o que significa que o gasto III. ARGUMENTO DE AUTORIDADE
pode ser maior.
“Acredito que há um avanço significativo no debate sobre drogas no
O estudo sugere uma metodologia para o orçamento nessa área, de Brasil, porém, o peso da justiça criminal ainda não deu espaço à aborda-
forma que os gastos sejam previamente divididos em cinco eixos: 1. gem da saúde pública, e a repressão precisa ser focada no crime organi-
Prevenção, 2. Tratamento, cuidado e reinserção social, 3. Redução da zado e no tráfico violento de drogas, não nos usuários. Além disso, a cri-
oferta, 4. Pesquisa e avaliação, 5. Governança, gestão e integração. minalização gera corrupção de agentes públicos e violações de direitos
humanos”, avalia a pesquisadora uruguaia Viviana Porto, doutoranda
Isso porque, da forma que é hoje, os pesquisadores apontam que
em Ciências Políticas na Universidade Nacional Autônoma do México
é difícil mensurar e, por consequência, analisar a efetividade. “Uma
e especialista no tema. O Uruguai, país natal de Viviana, foi o primeiro
melhor distinção de diversas atividades voltadas para as políticas
país do mundo a legalizar a venda de maconha para uso recreativo.
sobre drogas iria contribuir para uma melhor implementação e fisca-
lização dessas políticas públicas.” “Devemos regular ou proibir o uso de drogas no Brasil?”
https://www.uol.com.br/ecoa (19.01.2021)
Outro ponto importante quando se pretende analisar o conjunto das
políticas de drogas no Brasil é considerar o papel de Estados e muni-
cípios, que não está contabilizado aí. Um exemplo claro são as ações
IV. EXEMPLOS DO COTIDIANO
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da Polícia Civil e Militar de todo o país, que não entram na conta do Em 4 de julho de 2020, um jovem de 28 anos foi encontrado des-
governo federal com repressão. maiado em um presídio em Minas Gerais e, no mesmo dia, morreu
de covid-19. Ele fora condenado sob a acusação de ter vendido R$
Pesquisadores do Ipea trabalham, agora, em levantamento específi-
10,00 em drogas.
co com esses gastos estaduais.
Neste ano, pesquisa do Centro de Estudos de Segurança e Cidada- Embora a Lei de Drogas (Lei no 13.840) — em vigor desde 2006 e
nia (Cesec) apontou que, em um ano, as instituições do sistema de alterada em 2019 — avance ao excluir a prisão das penas possíveis
justiça criminal dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo consumi- para o usuário de drogas, ela não chega a descriminalizar o uso
ram mais de R$ 5,2 bilhões com a política de proibição das drogas. nem fixa critérios objetivos para diferenciar o uso do tráfico, lacuna
que possibilita o entendimento de juízes e delegados pela punição
“Menos saúde, mais repressão: prioridades mudam no combate
mais grave. Enquanto países como Portugal e Colômbia estabelecem
a drogas no Brasil” www.bbc.com.br (12.5.2021)
quantidades de droga que diferenciam usuários e traficantes, no
Brasil, a norma e a prática judicial privilegiam o encarceramento de
jovens portadores de entorpecentes, mesmo em pequenos volumes.
(“Uso ou tráfico”. Folha de S.Paulo, 16.08.2020. Adaptado.)

88
V. ANALOGIA LITERÁRIA IV- ampliar as alternativas de inserção social e econômica do usu-
ário ou dependente de drogas, promovendo programas que
Todo mundo experimenta o cachimbo da floresta priorizem a melhoria de sua escolarização e a qualificação pro-
Dizem que é do bom fissional;
Dizem que não presta (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
Querem proibir, querem liberar V- promover o acesso do usuário ou dependente de drogas a to-
E a polêmica chegou até o congresso dos os serviços públicos;
(Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
Tudo isso deve ser pra evitar a concorrência
VI- estabelecer diretrizes para garantir a efetividade dos progra-
Porque não é Hollywood mas é o sucesso
mas, ações e projetos das políticas sobre drogas;
(...)
(Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)

Na delegacia só tinha viciado e delinquente VII- fomentar a criação de serviço de atendimento telefônico com
Cada um com um vício e um caso diferente orientações e informações para apoio aos usuários ou depen-
Um cachaceiro esfaqueou o dono do bar porque ele dentes de drogas;
Não vendia pinga fiado (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
E um senhor bebeu uísque demais, acordou com um travestí VIII- articular programas, ações e projetos de incentivo ao emprego,
E assassinou o coitado renda e capacitação para o trabalho, com objetivo de promover
Um viciado no jogo apostou a mulher, perdeu a apostaE ela foi se- a inserção profissional da pessoa que haja cumprido o plano
questrada individual de atendimento nas fases de tratamento ou acolhi-
mento;
Era tanta ocorrência, tanta violência que o índio (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
Não tava entendendo nada IX- promover formas coletivas de organização para o trabalho,
Ele viu que o delegado fumava um charuto fedorento redes de economia solidária e o cooperativismo, como forma
E acendeu um “da paz” pra relaxar de promover autonomia ao usuário ou dependente de drogas
Mas quando foi dar um tapinha egresso de tratamento ou acolhimento, observando-se as es-
Levou um tapão violento e um chute naquele lugar pecificidades regionais;
(Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
Foi mandado pro presídio e no caminho assistiu um X- propor a formulação de políticas públicas que conduzam à efeti-
Acidente provocado por excesso de cerveja: vação das diretrizes e princípios previstos no art. 22;
Uma jovem que bebeu demais atropelou (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
Um padre e os noivos na porta da igreja XI- articular as instâncias de saúde, assistência social e de justiça
E pro índio nada mais faz sentido no enfrentamento ao abuso de drogas; e
Com tantas drogas porque só o seu cachimbo é proibido? (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
(Gabriel O pensador, In: “Cachimbo da paz”) XII- promover estudos e avaliação dos resultados das políticas so-
bre drogas.
(Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019
VI. LEGISLAÇÃO
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2007/lei-11445-
São objetivos do Plano Nacional de Políticas sobre Drogas, dentre ou- 5-janeiro-2007-549031-normaatualizada-pl.html
tros: (Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
I- promover a interdisciplinaridade e integração dos programas,
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

ações, atividades e projetos dos órgãos e entidades públicas


e privadas nas áreas de saúde, educação, trabalho, assistência
social, previdência social, habitação, cultura, desporto e lazer, vi-
sando à prevenção do uso de drogas, atenção e reinserção social
dos usuários ou dependentes de drogas;
(Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
II- viabilizar a ampla participação social na formulação, implemen-
tação e avaliação das políticas sobre drogas;
(Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)
III- priorizar programas, ações, atividades e projetos articulados
com os estabelecimentos de ensino, com a sociedade e com a
família para a prevenção do uso de drogas;
(Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019)

89
multimídia: ver multimídia: ver
Fonte: Youtube Fonte: Youtube
Ilona Szabó - Política de Drogas Cortina de Fumaça (2010) - Direção: Rodrigo Mac Niven

multimídia: ler multimídia: ler


Fonte: Uol Fonte: Nexo
Devemos regular ou proibir o uso de drogas no Brasil Saúde mental e políticas de atenção a usuários de drogas

multimídia: acessar
Fonte: Drogas: quanto custa proibir
Projeto - Drogas: quanto custa proibir
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Proposta Enem
TEXTO 1
Aproximadamente 10% dos brasileiros já utilizaram alguma substância ilícita durante a vida, de acordo com o III Levantamento Nacional sobre
o uso de drogas. Durante a pandemia, a situação agravou-se ainda mais. Segundo os dados do Ministério da Saúde, nas redes credenciadas
pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o socorro por uso de alucinógenos cresceu 54% de março a junho de 2020 quando comparado ao mesmo
período do ano anterior. Com poucas políticas públicas de combate ao uso de drogas, milhares de famílias sofrem por amar alguém que perdeu
o controle sobre a própria vida.
“Dependência química” https://www.nsctotal.com.br/ (01.06.2021)

TEXTO 2
A dependência química é uma doença do cérebro e está relacionada com o sistema de recompensa do nosso sistema nervoso. Nosso sistema
nervoso é constituído de células nervosas (neurônios) que se comunicam através de sinais elétricos e sinais químicos, chamados de neurotrans-
missores, que enviam informações ao corpo.
Um dos principais neurotransmissores do corpo humano é a dopamina, responsável pela sensação de prazer. “Sempre que experimentamos algo
prazeroso, como comer ou fazer sexo, os neurônios disparam uma sensação de prazer e somos incentivados a repetir a ação. É o que chamamos
de sistema de recompensa”, explica o psiquiatra Ricardo Amaral, coordenador do Programa de Álcool e Drogas do Instituto de Psiquiatria (IPq)
da Universidade de São Paulo (USP).
A dependência acontece quando o desejo incontrolável se sobrepõe ao prazer. “O estímulo que a substância produz no cérebro dificilmente será
obtido com outras experiências e, com o uso contínuo, é possível que a pessoa fique muito vinculada emocionalmente à substância e deixe de
fazer outras atividades que não trazem tanto prazer”, explica o psiquiatra Ricardo Amaral.
Na dependência, a pessoa perde a capacidade de lidar com problemas, a capacidade de decisão e de organização.
“Demi Lovato revela dificuldade para ficar sóbria após overdose; entenda por que deixar a dependência química é tão difícil”
https://g1.globo.com/ (21.03.2021 )

TEXTO 3 TEXTO 4

https://d.emtempo.com.br/charges/81246/charge-
do-agora--13-de-outubro-2017--malika U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

TEXTO 5
Apesar dos avanços, a política de atenção a usuários de drogas tem sido objeto de questionamento desde 2016, e diversas medidas vêm sendo
tomadas com vistas ao seu desmonte, envolvendo a retomada de internações (inclusive forçadas) de usuários de drogas em clínicas e comunidades
terapêuticas, com apoio de recursos públicos. Neste cenário de mudanças, o debate público sobre o tema e a tomada de decisões baseadas em
evidências tornam-se indispensáveis. Além disso, os governos subnacionais assumem papel decisivo, uma vez que dispõem de relativa autonomia
frente ao governo federal para sustentarem a oferta de serviços assistenciais a pessoas afetadas por usos problemáticos de drogas que resguardem
seus direitos fundamentais.
“Saúde mental e políticas de atenção a usuários de drogas” https://www.nexojornal.com.br (23.03.2021)
A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto disser-
tativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema O ENFRENTAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA
NO BRASIL, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa,
argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

91
Proposta vestibular
TEXTO 1
Publicada em agosto de 2006, a Lei de Drogas (nº 11.343) define os crimes e as normas para a repressão ao tráfico de entorpecentes no Brasil.
Segundo o artigo 33 da lei, a pena é de cinco a 15 anos para quem “importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à
venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas”.

O texto trata ainda da posse para o consumo pessoal no artigo 28, que não estabelece pena de prisão. A norma define que a pessoa receberá uma
advertência sobre os efeitos das drogas, poderá ser condenada à prestação de serviços à comunidade ou deverá comparecer a um curso educativo
sobre o tema. “A Lei de Drogas de 2006 retirou a pena de prisão do usuário, mas continua tratando desta questão dentro da esfera criminal. Como
resultado, o sistema prisional está superlotado e várias violações de direitos humanos são cometidas em nome da guerra contra as drogas”, avalia
a pesquisadora uruguaia Viviana Porto, doutoranda em Ciências Políticas na Universidade Nacional Autônoma do México e especialista no tema.
“Devemos regular ou proibir o uso de drogas no Brasil?” https://www.uol.com.br/ecoa (19.01.2021)

TEXTO 2
Os problemas envolvendo o uso de drogas no Brasil devem ser vistos como “questão de saúde, não de polícia”. É o que defendeu a ministra do
Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia em participação gravada para o evento Cannabis Affair, que será transmitida nesta quarta-feira. A
jurista participou da mesa de abertura do evento, que trata de questões sociais relacionadas à maconha, e falou sobre as consequências da atual
política de drogas para o sistema prisional do Brasil.

— Quem porta droga e faz uso da droga não necessariamente comete um crime que pode ser equiparado a práticas que são realmente nocivas à
sociedade e às pessoas, como o tráfico, a comercialização — disse a ministra do STF.

Ela defende que há uma preocupação na Corte de não criminalizar em excesso delitos relacionados ao uso de drogas, pois há uma “população
carcerária enorme” no país. Ao prender um mero usuário, ele seria colocado pra dentro do mundo do crime, ficando em situação de vulnerabilidade
e se tornando refém do tráfico de drogas.

— É preciso que o poder público brasileiro invista em políticas de saúde para aqueles que estão em uma situação de vício, e que seja pelo álcool ou
por outro tipo de droga, que ele receba um tratamento. Porque essa é uma questão de saúde, não de polícia — afirmou Cármen Lúcia.
“Uso de drogas ‘é questão de saúde, não de polícia’, afirma ministra Cármen Lúcia” https://oglobo.globo.com/ (09.06.2021)

TEXTO 3
Os discursos a favor da descriminalização do uso de drogas têm se inspirado na suposição enganosa de que, uma vez liberadas, menos árduo será o
seu combate. Apoiam-se, por exemplo, no argumento de que proibir o consumo de drogas seria, de fato, uma forma de incentivá-lo, pois o proibido
é sempre desejado.

Nenhuma pessoa medianamente esclarecida poderá discordar, no atual estágio dos progressos científicos, do que propaga a Medicina: usar drogas
é arruinar a saúde. Retrato fiel dos malefícios que a disseminação dos entorpecentes causa ao indivíduo e à sociedade é feito pelo ex-Ministro da
Justiça Alfredo Buzaid: “A predisposição a estados neuróticos e psicóticos e à criminalidade, a desagregação da família e o abandono dos princípios
éticos de convivência social são alguns dos efeitos nocivos da utilização indevida dessas substâncias”.

Assim, ao lado da repressão, urge promover campanhas educacionais permanentes sobre os males causados pelo uso de drogas, que se inscrevem
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entre os piores de que há memória na Humanidade.


(Carlos Biasotti. “Descriminalização do uso de drogas: objeções”. https://jus.com.br, fevereiro de 2019. Adaptado.)

TEXTO 4
Ao se tratar da questão das drogas, é necessário separar o joio do trigo. É preciso tirar o usuário da esfera criminal, liberar esses recursos da segu-
rança para outra coisa. E, mesmo dentro da categoria tráfico, devemos entender quem é a pessoa que está na produção, no embalar, no transporte,
na venda e qual é a gradação disso, para depois vermos quem são as pessoas que de fato são uma ameaça à sociedade, que estão matando, que
estão fazendo controle de território. São coisas diferentes.

Então, o que tem que ser feito para ontem é: tirar o consumo da esfera criminal, até que a gente consiga de fato entender que o foco precisa ser
no crime violento.

‘“Poucos falam pela descriminalização das drogas, mas entre quatro paredes é diferente”’ Ilona Szabó , diretora-
executiva do Instituto Igarapé, em entrevista ao Jornal El País. https://brasil.elpais.com/ (24.07.2017)

92
TEXTO 5
No caso brasileiro, a descriminalização não pode ser implementada sem que haja qualquer planejamento estratégico previamente. À medida que
se entende que o consumo das drogas é na verdade um grave problema de saúde pública e, não somente, da justiça criminal, parece importante
que possamos tentar diminuir o estigma e a discriminação contra indivíduos com transtornos por uso de substâncias. Ao mesmo tempo, é preciso
investir em ações para estimular a implementação de programas efetivos de prevenção primária e de tratamento baseados em evidências científicas.
Os estudos em prol da descriminalização, aliás, parecem ser ainda muito frágeis. As boas publicações sobre o tema mostram resultados controversos
e as preocupações têm recaído sobre a diminuição da percepção de riscos do uso de substâncias por adolescentes. Não adianta flexibilizar as legis-
lações sem termos feito as “tarefas de casa” fortemente necessárias para que que o intuito inicial da descriminalização, que é proteger o usuário de
drogas, seja de fato atingido. Caso haja mudança na legislação, o poder público não poderá se omitir de fornecer tratamento e recursos necessários
para aqueles que adoecem (usuários e seus familiares) com o consumo contumaz e problemático de drogas.

Alessandra Diehl, psiquiatra, educadora sexual, escritora, especialista em Dependência Química e Sexualidade Humana.
“Descriminalização das drogas sem planejamento pode não nos levar a lugar algum” Opinião. https://www.gazetadopovo.com.br (07.11.2019)

Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando a
norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:

O BRASIL DEVE DESCRIMINALIZAR O PORTE DE DROGAS PARA USO PESSOAL?

U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

93
BETWEEN
ENGLISH AND
PORTUGUESE

2
LINGUAGENS
CÓDIGOS
INGLÊS
e suas tecnologias

U.T.I.
ESTUDO DA LÍNGUA INGLESA

U.T.I. - Sala group of people who share a cultural outlook. Accord-


ing to Dr. Vineeta Chand of the University of Essex, if we
have a positive perception of a particular community
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
then we tend to have equally positive views of the lan-
guage they speak. Language value and attractiveness
is, she explains, linked to the prestige of the speaker.
In other words, the socioeconomic and mobility ad-
vantages the language affords. Chinese, for example,
is gaining in popularity because it is seen as an area
of economic growth and speaking that particular tonal
tongue means better job prospects. Languages spoken
by a community that are less economically powerful
may not be seen in the same positive light.
Similarly, we value languages that allow us to speak
to a wider audience. English, therefore, is seen as more
valuable because it gives us the ability to communicate
outside of a small regionally defined context, whereas a
language that is spoken by a much smaller community,
such as Hawaiian, is not seen as important or appeal-
ing. “There is nothing in the sound of the language that
makes it less or more attractive,” insists Chand. “Some
sounds are more common across the world but that
doesn’t link to the specific perceptions we have about
French and Italian. The idea that a language is more
melodic, romantic, poetic and musical is derived from
those communities and regions.”
1. (UEG) Rewrite the following sentence, replacing the There are, however, specific sounds in many foreign
underline pronouns by appropriate equivalents. languages that a native English speaker may find alien
I`m the only one in my family that is computer literate. and therefore harder on the ear. Languages that have
different linguistic structures, such as using tones or
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: sounds that are not found in a listener’s native tongue,
What makes a language attractive – its sound, national are probably going to sound less enticing. “English
identity or familiarity? speakers are drawn to the melody of a language such
as French or Italian,” explains Dr. Patti Adank, a lecturer
The allure of a language may have more to do with per-
on speech, hearing and phonetic sciences at University
ceptions of that country’s status and social values than
College London (UCL). “In comparison, languages such
its actual sound
as Thai or Mandarin can sound harsh because they are
Je t’aime, ti amo, te quiero mucho! Sounds nice, doesn’t using tonal distinctions. It sounds very unnatural and
it? If you swoon over sweet nothings whispered in unexpected.”
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

French, Italian or Spanish, you’re not alone. But while


In his book Through the Language Glass: Why the World
learning to speak a language famed for its romance
Looks Different in Other Languages Israeli linguist Guy
may increase your sex appeal, the reason for your pref-
Deutscher agrees that if a language includes rarer
erence of one vernacular over another may have little to
sounds, it is more likely to be perceived as less attrac-
do with how the sounds roll off the tip of your tongue.
tive to those unfamiliar with it. The same, he writes, ap-
Polyglot Roman emperor Charles V declared: “I speak plies to unusual sound combinations such as consonant
Spanish to God, Italian to women, French to men, and clusters. He cites the combination “lbstv” in “selbstver-
German to my horse.” While the 16th century ruler’s ständlich” – the German word for “obvious” – as an
views may still hold true to some today, his unflattering example of how strange phonetics can grate on a for-
opinion of the latter language is more likely to be influ- eign ear. Deutscher explains: “Italian, for example, has
enced not by the power and status of the country at the very few, if any, sounds that are not shared by other
time than the tone of its speakers. European languages, and few consonant clusters, and it
Sociolinguists believe the attractiveness of a language is widely considered a beautiful language. This may not
is determined by how positively we view a particular be a coincidence.”

96
Despite many people’s fascination with the subject, Fortunately, a number of charities and non-governmen-
there has been surprisingly little research conducted tal organizations have put forward campaigns to help
to explore it further. Chand says the biggest hurdle to the populations in poor areas of our planet, to lend a
understanding why some languages sound more invit- hand to life. This is a way through which food, money
ing than others is separating subjective opinion from and medical help can be provided and thus counterbal-
scientific fact. Labelling certain languages as ugly or ance the suffering faced by the ill, the homeless, the
beautiful is also a dangerous game many linguists are poor. And providing aid to these less fortunate popu-
keen not to play. lations can be seen, according to the same song, as the
greatest gift of all. The song continues, saying that
She says: “We spend a lot of time in linguistics dispelling
myths and the notion of hierarchical languages in terms We can’t go on pretending day by day
of attractiveness, grammar and rules. There is less re- That someone, somehow will soon make a change
search on this because it is opening a can of worms you We are all a part of God’s great big family
don’t really want to encourage. “There hasn’t been any
research that I know of that has directly exploited the And the truth, you know, love is all we need
attractiveness of a language and didn’t eventually tie The call for help and the claim for responsibility to-
it back to the social evaluation of the speaking com- wards the needs of the poor is made to every human
munity.” being, then everybody should do something because
(JENKIN, Matthew. What makes a language attractive – its we are all a part of God’s great big family.
sound, national identity or familiarity?
Disponível em: <http:// My question is, in fact, what reasons really motivate us
www.theguardian.com/education/2014/jul/17/what-makes-a-
to help other people? To what extent are we motivated
language-attractive>. Acesso em: 18 set. 2014. Adaptado)
by the arguments presented in the song? Or are there
2. (UFES) Complete the following sentences taking into other reasons involved in solidarity?
account the meaning of the underlined words as they The chorus tells us that
appear in the text.
There’s a choice we’re making
1. While I fully understand your point of view, ________ We’re saving our own lives
_______________________________.
It’s true we’ll make a better day, just you and me
2. Despite repeated assurances that the product is safe,
but I would question such choice as motivated by the
_________________________________.
desire for a better world that includes everybody, a
3. When your parents are angry with you, they are more world with no big social differences. Perhaps that we
likely to ___________________________. actually see solidarity as a way to literally save our own
lives, and that you and me would not include as many
4. If a student is too shy to participate in class, _______
people as it should. Rather than thinking about so many
__________________________________. people who need help, we engage in charity and make
5. Although computer games may be extremely enticing, donations for our own benefit, to build up an image of
_________________________________. solidarity from which we could end up as beneficiaries.
Not to feel guilty, to sort of “buy a place in heaven”.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
We certainly need more than romantic love to commit
On Solidarity: Who is helped when someone is helped? ourselves to true solidarity.

There comes a time 3. (UNESP) Qual o significado da expressão the greatest


When we heed a certain call gift of all? A que essa expressão se refere?
When the world must come together as one
There are people dying 4. (UNESP) Examine a tira para responder, em portu-
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

And it’s time to lend a hand to life guês, aos itens a e b.

Poverty, starvation, diseases, among other social prob-


lems, still make many people suffer in different parts of
the world, despite the advances in agricultural devel-
opments, in medicine and in technology. And, as point-
ed out in the verses above, from the song We are the
world (www.lyrics007.com), there comes a time when
we heed a certain call / when the world must come
together as one. It seems, however, that such time is
and will always be the present time, since there has al-
ways been people dying, people suffering physical and
psychological oppression. Conversely, aid is always and
continuously necessary.

97
RAS-koo) or Brazilian barbecue was the traditional
staple food of the gaúchos or cowboys of Southern
Brazil __________ centuries before it spread to Rio de
Janeiro and São Paulo. It has become very fashionable
and there are excellent churrascarias (restaurants spe-
cializing ______ Brazilian barbecue) all over Brazil and
________ the world. These are called churrascaria de
rodízio because waiters move _________ table to table
bringing different types of meats on skewers ________
which they slice portions onto your plate.
The meat was originally cooked _________ coals, usu-
ally in a pit dug in the ground, skewered in metal spits.
(Garry Trudeau. www.theguardian.com) The only seasoning was coarse salt and each gaúcho
a) De acordo com o Dr. Dan, como um incorporador had his own churrasco knife which he used to cut pieces
imobiliário gentrifica uma área? _______ meat from the spit. People in southern Brazil
b) A resposta do Dr. Dan no quarto quadrinho revela have churrasco pits built _________ their backyards
que ele se preocupa com o bem-estar dos moradores with bricks or incorporated into a wall _______ decora-
de baixa renda? Justifique sua resposta. tive tile around the edges. (In the US, we use a gas grill!)
http://www.maria-brazil.org/barbecue.htm - Access: Apr. 2006.
5. (UEL) Leia o anúncio a seguir.
GLOSSARY:
Skewer: (Noun) A long metal or wooden stick for put-
ting through pieces of meat while cooking them.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Leia o texto para responder, em português.

What is Gentrification?

(Disponível em: <http://www.redcmarketing.net/wp-content/


uploads/2011/02/DIVA-magazine-press-ad_F.jpg>.
Acesso em: 12 jul.2013.)
a) Um dos objetivos do texto é divulgar um evento.
Responda que evento é esse, onde e quando ele
acontece.
b) Estabeleça a relação entre a imagem veiculada, o
Gentrification is a general term for the arrival of high-
nome da organização e a frase “Save future genera-
er-income people in an existing working-class urban
tions of girls from hating their bodies”.
district, causing a related increase in rents and property
values, and changes in the district’s character and cul-
U.T.I. - E.O. ture. The term is often used negatively, suggesting the
displacement of low-income communities by affluent
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

1. (UFMG 2007) FILL IN the blanks in the text with one outsiders. But the effects of gentrification are complex
of the words from the box below. and contradictory, and its real impact varies.
Attention: You may need to use some of the words more Many aspects of the gentrification process are desir-
than once. Not all words from the box will necessarily able. Who wouldn’t want to see reduced crime, new in-
be used. vestment in buildings and infrastructure, and increased
(The first one is done for you as an example.) economic activity in their neighborhoods? Unfortu-
AT / BESIDE / FOR / FROM / IN / OF / OUT / OVER / WITH / nately, the benefits of these changes are often enjoyed
AROUND disproportionately by the new arrivals, while the estab-
lished residents find themselves economically and so-
MARIA’S COOKBOOK
cially marginalized.
MARIA - BRAZIL
Although there is not a clear-cut technical definition of
Brazilians were the first to raise cattle__ IN__ South gentrification, it is characterized by several changes:
America, imported from Cape Verde to São Paulo - Demographics: An increase in median income, a de-
_________ the 1530s. Churrasco (pronounced shoo- cline in the proportion of ethnic minorities, and a re-

98
duction in household size, as low-income families are cago, organized primarily by the Anarchist International
replaced by young singles and couples. Working People’s Association. Businesses and the state
- Real estate markets: Large increases in rents and home were terrified by the increasingly revolutionary char-
prices, increases in the number of evictions, conversion acter of the movement and prepared accordingly. The
of rental units to ownership (condos) and new develop- police and militia were increased in size and received
ment of luxury housing. new weapons financed by local business leaders. Nev-
- Land use: A decline in industrial uses, an increase in of- ertheless, by May 1st, the movement had won gains for
fice or multimedia uses, the development of live-work many Chicago clothing cutters, shoemakers, and pack-
“lofts” and high-end housing, retail, and restaurants. ing-house workers. But on May 3rd, 1886, police fired
into a crowd of strikers at the McCormick Reaper Works
- Culture and character: New ideas about what is desir- Factory, killing four and wounding many. Anarchists
able and attractive, including standards (either informal called for a mass meeting the next day in Haymarket
or legal) for architecture, landscaping, public behavior,
Square to protest the brutality.
noise, and nuisance.
(http://archive.pov.org. Adaptado.) The meeting proceeded without incident, until only a
2. (UNESP) Examine a tira e releia o texto What is Gentri- few hundred people remained. It was then that 180
fication? para responder, em português, aos itens a e b. cops marched into the square and ordered the meet-
ing to disperse. As the speakers climbed down from the
platform, a bomb was thrown at the police, killing one
and injuring seventy. Police responded by firing into the
crowd, killing one worker and injuring many others.
Although it was never determined who threw the
bomb, eight of Chicago’s most active anarchists were
charged with conspiracy to murder in connection with
the Haymarket bombing. A kangaroo court found all
eight guilty, despite the lack of evidence (the only one
at the meeting was on the speakers’ platform), and they
were sentenced to die. Albert Parsons, August Spies, Ad-
olf Fischer, and George Engel were hanged on Novem-
ber 11th, 1887. Louis Lingg committed suicide in prison.
The remaining three were finally pardoned in 1893.
It is not surprising that the state, business leaders,
mainstream union officials, and the media would want
to hide the true history of May Day, portraying it as a
holiday celebrated only in Moscow’s Red Square. In its
attempt to erase the history and significance of May
a) Os quadrinhos numerados de 1 a 4 ilustram qual item Day, the United States government declared May 1st
apresentado no terceiro parágrafo do texto What is Gentri- to be “Law Day”, and gave Americans instead a Labor
fication? Justifique sua resposta. Day in September - a holiday devoid of any historical
b) Qual item apresentado no terceiro parágrafo do significance.
texto pode ser associado ao último quadrinho? Justi- Adapted from “http://flag.blackened.net/daver/anarchism/mayday.html”.
fique sua resposta. Access: April 2005.
3. (UFMG 2006) CONNECT the sentences by using a
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
word from the list below, according to what you read in
MAY DAY - THE REAL LABOR DAY the text “May Day - the Real Labor Day”. (The first one
is done for you.)
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

May 1st, International Workers’ Day, commemorates


the historic struggle of working people throughout the that / who(m) / when / where / which / whose
world, and is recognized in every country except the
a) May 1st started in the US. They do not recognize
United States, Canada, and South Africa. This despite
that holiday.
the fact that the holiday began in the 1880s in the Unit-
ed States, with the fight for an eight-hour work day. THE U. S., WHERE MAY 1st STARTED, DO NOT RE-
COGNIZE THAT HOLIDAY.
In 1884, the Federation of Organized Trades and Labor
b) In 1884, a Federation of Unions passed a resolution.
Unions passed a resolution stating that eight hours
That resolution demanded an eight-hour working day.
would constitute a legal day’s work after May 1st, 1886.
The resolution called for a general strike to achieve the In 1884, a Federation of Unions ______________
goal, since legislative methods had failed. With work- ______________________________________
ers being forced to work ten to fourteen hours a day, c) In 1886, Chicago was an industrial center. The he-
support for the eight-hour movement grew rapidly. By art of the movement was there.
April 1886, 250,000 workers were involved in the May In 1886, Chicago _________________________
Day movement. The heart of the movement was in Chi- ______________________________________

99
d) The Chicago police and militia were increased in a) Language is constantly changing.
size. They received new weapons. Writers should be as updated as possible.
The Chicago police and militia _______________ (besides – rather than – therefore)
______________________________________ b) Prejudice against linguistic innovations exists.
e) There was a protest meeting on May 4th, 1886. The Stephen Fry is a strong defender of the free use of lan-
police fired into the crowd that day. guage.
There was a protest meeting ________________ (despite – moreover – otherwise)
______________________________________
c) Many people are against nouns becoming verbs.
f) Seven people were charged. Those people were not
Stephen Fry often makes use of nouns changed into verbs.
present at the meeting.
(although – instead – then)
Seven people ____________________________
______________________________________ d) Picasso, Stravinsky and Eliot were once considered
ugly.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Today they are thought to be great artists.
O texto abaixo apresenta algumas inadequações quan- (due to – however – thus)
to ao uso de adjetivos e de advérbios em língua inglesa. e) Most educated people are obsessed about linguistic
Leia-o para responder à(s) questão(ões). inadequacy.
No Cell Phone Restrictions! Stephen Fry is not obsessed about that.
It seems that I constantly hear the same thing: “Cell (furthermore – in order to – unlike)
phones are dangerous. We need to severely restrict
them. People are dying because of cell phones.” Well, TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
I think cell phones themselves aren’t the problem. I’m THE NEW YORK TIMES
completely opposed to restrictions on them.
THE OPINION PAGES
People say cell phones are dangerous to health, so they
should be limited. Some studies show that cell phones Op-Ed Contributor
produce radiation that is harmful to users. About this,
When Teachers Talk Out of School
there is no real proof. It sounds like just another study
that isn’t meaning anything. By Jonathan Zimmerman
A lot of teachers are proposing that cell phones should
not be allowed in classes because they’re a distraction.
I feel pretty angrily about this.
People argue that using a cell phone while driving is
dangerous. I disagree. It’s no more dangerously than
turning on the car radio or eating a sandwich. The law
says you must have one hand on the steering wheel.
It’s possible to use a cell phone correct with one hand.
I use my cell phone careful; I always keep one hand on
the wheel. This has always been a free country. I hope it In 1927, Helen Clark, a schoolteacher in Secaucus, lost
her teaching license. The reason? Somebody had seen
stays that way. her smoking cigarettes after school hours. In commu-
Maurer, Jay. General English – Advanced- Applied Grammar nities across the United States, that was a ground for
by Pearson Education, Inc., 2006. (adapted) dismissal. So was card-playing, dancing and failure to
attend church. Today, teachers can be suspended, and
4. (UEMA 2014) No trecho “People say cell phones are even fired, for what they write on Facebook.
dangerous to health, so they should be limited.”, rees-
Just ask Christine Rubino, the New York City math teach-
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

creva a frase, substituindo a palavra “so” por outra pa-


lavra, em inglês, sem alteração de sentidos. er who may soon be dismissed for posting angry mes-
sages about her students. Last June, just before summer
5. (UFES 2012) Join the two sentences in each item by vacation began, a Harlem schoolgirl drowned during a
using one of the words in parentheses. Make changes field trip to a beach. Ms. Rubino had nothing to do with
when necessary. that incident, but the following afternoon, she typed a
quick note on Facebook about a particularly difficult
group of Brooklyn students under her responsibility.
“After today, I’m thinking the beach is a good trip for
my class,” she wrote. “I hate their guts.” One of Ms.
Rubino’s Facebook friends then asked: “Wouldn’t you
throw a life jacket to little Kwami?” “No, I wouldn’t for
a million dollars,” Ms. Rubino replied. As a consequence,
Christine Rubino was pulled from the classroom in Feb-
ruary and may even lose her job.

100
Ms. Rubino’s online outburst was only the latest exam- they don’t refer to specific children. When I became a
ple of its kind. In April, a first-grade teacher in Pater- teacher, I did not give up my right to free speech. While
son, NJ, was suspended for writing on her Facebook not in the classroom, teachers should have the right to
page that she felt like a “warden” overseeing “future make stupid, tasteless remarks, just like everybody else.
criminals.” In February, a high school English teacher in MICHAEL H.
suburban Philadelphia was suspended for a blog entry Alameda, CA, June 4th, 2011
calling her students “rude, disengaged, lazy whiners.”
To the Editor:
Such teachers have become minor Internet celebrities,
applauded by their fans for exposing students’ insolent The problem, it seems to me, is not with teachers,
manners and desultory work habits. But these defend- but with the illusion of privacy created by Facebook
ers have it backward. The truly scary restrictions on and similar online sites. Just like adolescents, who are
teacher speech lie inside the schoolhouse walls, not shocked to discover that the supposedly private com-
beyond them. And by supporting teachers’ right to rant ments they make on the Web are now public knowledge,
against students online, we devalue their status as pro- these teachers have been fooled into thinking they are
fessionals and actually make it harder to protect real speaking privately, when in fact, anything posted on
academic freedom in the classroom. Facebook is literally there for the world to see.
ROBERT BEECH
All professionals restrict their own speech, after all, New Haven, CT, June 4th, 2011
reflecting the special purposes and responsibilities (adapted from: http://www.nytimes.com)
of their occupations. A psychologist should not dis-
cuss his patients’ darkest secrets on a crowded train, Glossary
which would violate the trust and confidence they have ground: reason
placed in him. to be fired/dismissed: to lose one’s job
Outside school, teachers must also avoid public lan- to drown: to die under water
guage that mocks or demeans the children they in- warden: prison guard
struct. Cruel blog posts about lazy or disobedient stu- to have it backward: to be mistaken
dents echo the irreverent and offensive culture of cable to rant: to complain angrily
TV talk shows. And they are unacceptable in a truly to vent: to speak freely
democratic dialogue. to trade it for the world: to exchange it for something
vitriol: bitter and frustrated
Jonathan Zimmerman, a professor of education and Reading Comprehension
history at New York University, is the author of “Small
Wonder: The Little Red Schoolhouse in History and The text is divided into two parts: the first is an editorial
Memory”. published in the New York Times and the second is a
group of three letters to the editor, commenting on the
THE NEW YORK TIMES editorial. Both texts are argumentative, as they present
THE OPINION PAGES the writers’ views on a particular issue.
Editorial: Teachers Who Vent 6. (UFF 2012) In the first letter to the Editor, the ad-
To the Editor: jectives tiring, frustrating, difficult and discouraging are
I am a teacher, and I do not understand adults writing contrasted with another adjective.
every mundane or angry thought that crosses their a) What adjective are they contrasted with?
minds, in a public forum, for all to see. What is it about b) What connecting word is used to establish the con-
posting this kind of stuff on Facebook? I understand trast?
when a 14-yearold does it, but an adult? Teachers who
wrote these things, in public, on the Internet, what were TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
you thinking? Sure, teaching can be tiring, frustrating, HOW TO CLOSE THE ACHIEVEMENT GAP
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

difficult, discouraging at times, but it is also something


amazing and I wouldn’t trade it for the world. If you are
feeling this much vitriol for your students, you need to
get out, and soon – it is not fair to your students for you
to be their teacher. They deserve better than you.
LYNNIN
NY, June 4th, 2011

To the Editor:
Teachers must be allowed to participate in the public
conversations that our society should be having. In-
cluding, “Cruel blog posts about lazy or disobedient All over the world, your chances of success in school and
students.” I wonder about whether or not a teacher life depend more on your family circumstances than any
who posts such remarks should be teaching, but they other factor. By age three, kids with professional par-
certainly have the right to say what they like as long as ents are already a full year ahead of their poorer peers.

101
They know twice as many words and score 40 points Third, pour lots of effort into training teachers. Studies
higher on IQ tests. By age 10, the gap is three years. By in the United States have shown that kids with the most
then, some poor children have not mastered basic read- effective teachers learn three times as much as 6those
ing and math skills, and many never will: this is the age with the least effective. Systems such as Singapore’s are
at which failure starts to become irreversible. choosy about recruiting; they invest in training and con-
A few school systems seem to have figured out how to tinuing education; they evaluate teachers regularly; and
erase these gaps. Finland ensures that every kid com- they award bonuses only to the top performers.
pletes basic education and meets a rigorous standard. Finally, recognize the value of individualized attention.
One Finnish district official, asked about the number of In Finland, kids who start to struggle receive one-on-
children who don’t complete school in her city, replied, one support from their teachers. Roughly one in three
“I can tell you their names if you want.” In the Unit- Finnish students also get extra help from a tutor each
ed States, KIPP (Knowledge Is Power Program) charter year. If we can learn the lesson of what works, we can
schools enroll students from the poorest families and build on it.
ensure that almost every one of them graduates high MOURSHED, Mona; WHELAN, Fenton. How to close the
school – 80 percent make it to college. Singapore nar- achievement gap. Newsweek, New York, Aug. 23&30, 2010. p. 33.

rowed its achievement gap among ethnic minorities peers: companheiros.


from 17 percent to 5 percent over 20 years.
These success stories offer lessons for the rest of us. First, 7. (UFBA 2012) Make all the necessary changes, follow-
get children into school early. High-quality preschooling ing the instructions below.
does more for a child’s chances in school and life than
any other educational intervention. 1One study, which § “One study, which began in the 1960s, tracked
began in the 1960s, tracked two groups of students two groups of students” (ref. 1)
from disadvantaged backgrounds. 2Some were given
the opportunity to attend a high-quality preschool;4oth- § Ask a question so that the phrase in bold is the
ers were not. 3Thirty-five years later, the kids who went answer.
to preschool were earning more, had better jobs, and
were less likely to have been in prison or divorced.
§ “Some were given the opportunity to attend a
high-quality preschool; (ref. 2)
Second, recognize that the average kid spends about
Change this sentence into the Active Voice:
half his waking hours up until the age of 18 outside of
school – don’t ignore that time. KIPP students spend 60 § “Thirty-five years later, the kids who went to
percent more time in school than the average American
student. They arrive earlier, leave later, attend more reg-
preschool were earning more, had better jobs,
ularly, and even go to school every other Saturday. Sim- and were less likely to have been in prison or
ilarly, in 1966, Chile extended 5its school day to add the divorced.” (ref. 3)
equivalent of more than two more years of schooling. Give the opposites of the boldfaced words.

8. (FUVEST 2017)
U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

Baseando-se na tirinha cômica “Mama Taxi”, responda, em português, ao que se pede.


a) A que se refere a pergunta feita no segundo quadro pela motorista à passageira? Justifique sua resposta.
b) Qual foi a resposta dada pela passageira à pergunta feita pela motorista no segundo quadro? Qual foi a ação assumida
pela passageira na sequência de sua resposta?

102
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

9. (UERJ 2017) No último quadrinho, Calvin esclarece a dúvida de seu pai. O mesmo quadrinho também traz implícita
uma crítica à escola.
Identifique o esclarecimento apresentado por Calvin e explicite, também, a crítica relacionada à escola.

10. (UNICAMP 2014)

a) Qual é, ironicamente, a desvantagem do telefone celular que aparece no cartum? O que ele seria capaz de controlar?
b) O que esse celular permitiria que seu usuário fizesse com relação ao tempo?

U.T.I. 2  LINGUAGENS, CÓDIGOS e suas tecnologias

103
HISTÓRIA

2
CIÊNCIAS
HISTÓRIA GERAL
HUMANAS
e suas tecnologias

U.T.I.
BAIXA IDADE MÉDIA

As Cruzadas (1095-1270) Cruzadas do Ocidente:


As Cruzadas foram expedições de cunho religioso-militar que
a Guerra de Reconquista
ocorreram a partir dos últimos anos do século XI com o intui- Em 711, os árabes muçulmanos haviam conquistado e
to de combater os inimigos da cristandade. As Cruzadas tam- submetido ao seu poder a península Ibérica, com exceção
bém atuaram como uma forma de aliviar as pressões provo- das Astúrias, onde se formaram os pequenos reinos cris-
cadas pelo aumento populacional ocorrido a partir do século tãos de Leão, Castela, Aragão e Navarra. Reunidos, esses
X. Uma de suas principais consequências foi a reabertura reinos iniciaram no século XI a Guerra de Reconquista.
do Mediterrâneo ao comércio europeu. Ao lado do fer-
As terras reconquistadas dos muçulmanos foram doadas
vor religioso, fatores de ordem econômica, social e política
ao clero ou incorporadas pela nobreza. Esses territórios fo-
atuaram como elementos determinantes das Cruzadas.
ram explorados segundo as regras do sistema feudal de
Com o fim das invasões bárbaras no século X, a Europa pas- produção. Da Guerra de Reconquista, resultou a formação
sou por um período de relativa tranquilidade.Com a diminui- das monarquias nacionais de Portugal e Espanha.
ção das guerras e o quase desaparecimento das epidemias,
Na Itália, os muçulmanos haviam conquistado a Sicília, a
criou-se um ambiente favorável à estabilidade social, que
Córsega e a Sardenha. A Guerra de Reconquista na Itália
favoreceu o crescimento populacional.
teve início no século X. Entretanto, o contato entre cristãos
As novas técnicas agrícolas permitiram o aumento da pro- e muçulmanos, inicialmente bélico, assumiu gradualmente
dução, e os excedentes passaram a ser comercializados. Por um caráter mercantil e resultou na reabertura do Mediter-
outro lado, bens produzidos fora da Europa passaram a ser râneo para os europeus.
adquiridos. Os mercados bizantino e muçulmano também
passaram a demandar matérias-primas e gêneros alimentí-
cios ocidentais. O incremento desse comércio de ambos os
Cruzadas do Oriente
lados do Mediterrâneo favoreceu muito as cidades italianas § Primeira Cruzada (1095-1099): As peregrina-
de Veneza e Gênova, que viram suas condições econômicas çõesde cristãos ao Santo Sepulcro não eram raras. Os
aumentarem, bem como suas possibilidades de desempe- califas árabes não se opunham às visitas, que acaba-
nharem um papel importante, quando não fundamental, nas vamsendo lucrativas paras os muçulmanos. Contudo,
Cruzadas. nasegunda metade do século XI, os turcos domina-
A produção do excedente agrícola permitia que os campo- ramgrande parte da Ásia ocidental, expulsaram os
neses vissem no comércio uma alternativa mais vantajosa. cristãose proibiram suas peregrinações no local.
A vida urbana passou a ser expressão da liberdade em con- O papa Urbano II incentivou a Primeira Cruzada sob o pre-
traposição à vida rural ligada à servidão. Essa situação fez texto de libertar a Terra Santa e impedir o avanço muçul-
aumentar a população que buscava viver do comércio e das mano na Europa oriental.
atividades artesanais.
As terras conquistadas dos muçulmanos foram organiza-
O contexto político do período criou um ambiente favorável das em Estados cristãos: o reino de Jerusalém, o principa-
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para que os nobres despossuídos ou empobrecidos engros- do de Antioquia e os condados de Edessa e Trípoli. Nesses
sassem o contingente de voluntários a atender os desejos da Estados, doados a nobres europeus, foi implantada uma
Igreja de lutar contra os heréticos e pagãos como modo de estrutura essencialmente feudal, comparável à da Europa
manter seu poder, conquistar novas terras e riquezas e con- medieval.
trolar uma população cada vez mais difícil de ser dominada.
Foram fundadas novas ordens religiosas, integradas por
Para a Igreja romana, a conquista dos locais santos da Ásia
soldados religiosos, entre os quais os mais importantes
ocidental pelas Cruzadas configurava-se instrumento de ex-
eram os hospitalários, os cavaleiros da Ordem Teutônica e
pansão do cristianismo, da supremacia do papado sobre o
os templários, que se alojaram no local do antigo templo
Império e da expansão de sua influência religiosa.
de Jerusalém. Em 1140, os muçulmanos passaram à con-
O movimento das Cruzadas teve como causa imediata o blo- traofensiva e reconquistaram o condado de Edessa. Pres-
queio à peregrinação dos cristãos ao Santo Sepulcro (túmulo sionados, os Estados cristãos recorreram aos europeus.
de Cristo em Jerusalém), dominado pelos muçulmanos.

106
Fonte: <pt.slideshare.net/LUCAO1NAVARRO/as-cruzadas-set-final>.

§ Segunda Cruzada (1147-1149): em 1147, Luis VII, para seu financiamento, Veneza exigiu a destruiçãode
rei da França, Conrado III, imperador do Sacro Império,e Zara, cidade cristã e sua rival mercantil no comérciono
um grupo formado por europeus do norte – ingleses, Mar Adriático.
flamengos e frísios – organizaram a Segunda Cruzada.
Depois da destruição de Zara, os cruzados marcharam so-
Esse terceiro grupo atravessou a península Ibérica aju-
bre Constantinopla. A Quarta Cruzada assinalou o declínio
dando os cristãos a expulsarem os muçulmanos de Lis-
mercantil de Constantinopla, região que passou a ser co-
boa. Entretanto, os integrantes dessa segunda cruzada
nhecida por Império Latino, e a ascensão das cidades italia-
foram derrotados pelos turcos na Ásia Menor em 1148.
Algumas décadas mais tarde, em 1187, Saladino, um nas, que passaram a monopolizar o comércio de especiarias
sultão muçulmano, reconquistou Jerusalém, causando no Mediterrâneo.
grande comoção na Europa. § Quinta Cruzada (1217-1221): tornou-se conhecida
§ Terceira Cruzada (1189-1192): com a notícia da- como a Cruzada das Crianças. Para justificar as derrotas
perda da Terra Santa, o papa passou a preparar a anteriores, foi difundida a lenda de que o Santo Sepulcro
Terceira Cruzada. Os três mais importantes soberanos só poderia ser conquistado por crianças, uma vez que
da Europaatenderam ao chamado do papa. Em 1190, suas almas eram puras e livres de pecados. Em 1212,
FredericoBarba Ruiva, do Sacro Império, Felipe Augusto, foram reunidas 20 mil crianças alemãs e 30 mil france-
da França, e Ricardo Coração de Leão, da Inglaterra, li- sas em uma cruzada que seria enviada para Jerusalém.
deraram a Cruzada dos Reis. Barba Ruiva avançou por As que não foram exterminadas foram aprisionadas ou
terra, venceuos turcos na Ásia Menor, mas morreu aci- vendidas como escravas nos mercados do Oriente.
dentalmente aobanhar-se em um rio. Ricardo e Felipe
§ Sexta Cruzada (1228-1229): organizada por André
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Augusto seguirampor mar. Obtiveram algumas vitorias


II, rei da Hungria, e comandada por Frederico II, do Sacro
na Síria, mas Felipe decidiu retornar à França. Ricardo
Império, a Sexta Cruzada resultou em um acordo com
Coração de Leãonão conseguiu retomar Jerusalém. No
o sultão, que determinava a posse de Jerusalém pelos
entanto, obtevedo sultão Saladino a autorização para
cristãos durante dez anos. Mais tarde, os muçulmanos
que os cristãospudessem peregrinar até Jerusalém.
dominaram a região e o acordo foi rompido. Jerusalém
§ Quarta Cruzada (1202-1204): com o ardor religioso voltou a ser controlada pelos turcos até 1917.
já bastante arrefecido, os comerciantes de Gênovae Pisa,
enriquecidos pelo comércio com o Oriente, pretendiam § Sétima (1248-1250) e Oitava Cruzadas (1270):
conquistar os portos de suas cidades rivais. Em1200, a Sétima e a Oitava Cruzadas foram organizadas entre
durante o pontificado de Inocêncio III, foi organizada a 1248 e 1270, sob o comando de Luís IX, rei da Fran-
Quarta Cruzada. Desvirtuada de seus objetivos,tornou- ça. Ambas foram um fracasso. Luis IX morreu vítima da
-se a primeira cruzada contra cristãos. Como condição peste, em Tunis, e foi canonizado pela Igreja.

107
Consequências das Cruzadas te essa situação. De um lado, houve enfraquecimento da
aristocracia feudal e da servidão como forma de traba-
Do ponto de vista econômico, a maior conquista das Cru- lho; de outro lado, ocorreu o fortalecimento da burgue-
zadas foi a reabertura do Mediterrâneo à navegação sia comercial, bem como o reaparecimento do comércio,
e ao comércio da Europa, fator que permitiu o reatamen- que se intensificou com a reabertura do Mediterrâneo,
to das relações entre Ocidente e Oriente, interrompidas propiciando o renascimento das cidades e o crescimen-
pela expansão muçulmana, e contribuiu para acelerar o to da burguesia mercantil. Em síntese, o renascimento
renascimento comercial no ocidente da Europa. comercial e urbano da Europa ocidental, a decadência
O malogro das Cruzadas acelerou indiretamente a de- do feudalismo, o declínio do poder da nobreza e o forta-
cadência do sistema feudal. A conjugação de fatores lecimento da burguesia foram, direta ou indiretamente,
políticos, econômicos e sociais agravou significativamen- consequências das Cruzadas.

Renascimento comercial
Principais rotas comerciais da Europa, durante o renascimento comercial

Fonte:<slideshare.com.br/slide/1865844>.

Ao possibilitarem as condições para o desenvolvimento O Mediterrâneo voltou a ser a via principal das atividades
incipiente da atividade mercantil, as Cruzadas, conju- mercantis. As cidades italianas de Veneza, Gênova e Pisa
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gadas às condições intrínsecas ao modo de produção redistribuíam pela Europa os produtos vindos do Oriente.
feudal, impulsionaram o que se transformou no renas- Ao norte da Europa florescia outro eixo comercial im-
cimento comercial. A abertura do mar Mediterrâneo aos portante. Os produtos vindos do mar Báltico e do Norte
mercados da Europa ocidental restabeleceu as relações encontravam na região de Flandres (parte das atuais Ho-
entre Ocidente e Oriente e dinamizou as atividades co- landa e Bélgica) um dinâmico polo comercial nas suas
merciais. principais cidades, Bruges e Antuérpia.
O comércio se desenvolveu principalmente por rotas A região de Champagne, no leste da França, passou a ser
fluviais e marítimas, devido às péssimas condições das um ponto de confluência entre Flandres e a Itália. Merca-
estradas. Os mares Mediterrâneo, ao sul, e do Norte e dores de todo o continente se dirigiam para Champagne,
Báltico, ao norte, foram os eixos econômicos da Europa o que dinamizava um comércio intenso e diversificado. As
entre os séculos XI e XIV. feiras realizadas em Champagne ganharam fama.

108
Os últimos dias das feiras eram dedicados às transações o único fator do renascimento urbano, foi, sem dúvida,
financeiras (faziam-se empréstimos, liquidavam-se velhas o fator principal. Prova disso é o fato de as cidades res-
dívidas e movimentavam-se letras de câmbio). A terra surgirem com mais intensidade onde primeiro renasceu o
deixava de ser a única riqueza na Europa Ocidental. Essa comércio: Itália e Flandres.
verdadeira revolução econômica enfraquecia a nobreza,
À medida que o comércio se ampliava, surgiam cidades.
ligada à terra, e fortalecia a burguesia, ligada ao comér-
Nas cidades medievais, conhecidas genericamente como
cio e às finanças.
burgos, foi-se formando uma nova classe social ligada ao
As associações de artesãos comércio, que passou a ser conhecida como burguesia.

e comerciantes Para criar condições básicas para a expansão da nova


economia mercantil e monetária, era preciso abolir as
Os artesãos organizaram-se em associações para defen- relações de vassalagem e o direito consuetudinário, bem
der seus interesses. Todos que trabalhavam em uma mes- como unificar o mercado, diminuir os impostos, padronizar
ma atividade juntavam-se e formavam uma associação a legislação, a moeda, os pesos e as medidas. Para isso,
denominada corporação de ofício. seria necessário subordinar a nobreza e fortalecer o poder
As corporações tinham o objetivo de regulamentar a centralizador do rei, que poderia impor essas reformas.
profissão evitando excesso de pessoas no mesmo ofício,
A formação do Estado moderno, como expressão do mo-
controlar a qualidade e o preço do produto dificultando a
nopólio do poder e da força, seria, no plano político, a res-
concorrência, dirigir o aprendizado da profissão e ampa-
posta para os novos problemas que impediam a expansão
rar os artesãos necessitados.
do comércio e das cidades.
Os mercadores também associaram-se para defender

Crise do século XIV e


seus interesses. No século XII, as hansas ou guildas aglu-
tinavam mercadores de diversas cidades. A mais pode-
rosa de todas foi a Hansa Teutônica ou Liga Hanseática,
que reuniu cerca de noventa cidades do norte da Europa. decadência do feudalismo

Renascimento urbano e A partir do início do século XIV, uma profunda crise se dis-
seminou pela Europa. Fome, pestes, guerras e rebeliões
formação da burguesia camponesas atingiram a essência do sistema feudal já
bastante desgastado. Ao fim do século XV, as monarquias
O processo de reurbanização da Europa, caracterizado nacionais estavam consolidadas, a nobreza enfraquecida
pelo ressurgimento das cidades, está estreitamente ligado e as obrigações feudais contestadas pelas frequentes re-
ao renascimento comercial, que, embora não tenha sido voltas camponesas.

RENASCIMENTO CULTURAL E TRANSIÇÃO PARA A IDADE MODERNA U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

As importantes transformações econômicas, sociais, po- economia internacional, em cooperação, a princípio, com
líticas, artísticas e culturais que a Europa experimentou as monarquias. Em termos culturais, o período é marca-
entre os séculos XI e XIV promoveram uma gradativa do pela negação dos valores medievais e o surgimento do
reorganização estrutural e o redimensionamento do seu chamado Renascimento Cultural, a partir do século XIV.
entendimento do mundo, no qual os saberes técnicos e Os homens do Renascimento paulatinamente separaram
filosóficos ganharam destaque dentro das renascentes o mundo da religião do centro das suas preocupações, a
cidades comerciais. ponto de abraçarem ideais humanistas. Contudo, o respei-
to à religião, diferente do que se pensa, na maior parte das
No bojo dessas mudanças, o renascimento urbano, oriundo
vezes foi mantido.
da dinamização comercial, assistiu ao surgimento de uma
nova classe social: a burguesia mercantil. Coube a essa
classe a unificação dos Estados nacionais e dinamizar a

109
§ Naturalismo: ao individualizar e decompor as partes,
chegou-se à aguda análise e percepção da natureza.
§ Hedonismo: valorização do prazer e da felicidade ter-
renas, sem medo de pecar ou da punição divina.

Comércio medieval: surgimento das cidades modernas

A prática de mecenato foi fundamental para se compreen-


der a criação e a difusão das obras renascentistas. Tal práti-
ca consiste no financiamento de artistas e intelectuais pela
burguesia mercantil da época, a qual queria representar seu
nascente poder econômico e político em obras filosóficas
e artísticas, promovendo, assim, enormes dispêndios nas
mentes brilhantes do período. É evidente que outros grupos
sociais, como o clero, recorriam aos intelectuais do período, Homem Vitruviano, de Leonardo Da Vinci
mas não na mesma escala em que a burguesia o fazia. Não foi por acaso que o Renascimento teve origem na Itá-
De uma maneira geral, a cultura renascentista nega e se lia. Exatamente lá o capitalismo mercantil ganhou forças
opõe aos valores clericais teocêntricos e dogmáticos me- para se desenvolver – renascimento comercial e urbano.
dievais, com destaque a tais características: A península Itálica era o centro do ativo comércio medi-
terrâneo, que interligava os entrepostos orientais à rota de
§ Antropocentrismo: valorização de temas do coti- Champagne e do mar do Norte. Os centros urbanos tor-
diano humano, da realidade vivida dentro das cidades naram-se ativos, onde germinavam grandes companhias
europeias. Sem se esquecer da importância divina, o comerciais e grupos financeiros.
pensamento passa a se ater à realidade secularizada
Com uma economia dinâmica, mercantil, geradora de
do Homem e não aos dogmas sacralizados.
excedentes que pudessem ser investidos na produção
§ Racionalismo: o conhecimento da realidade deveria cultural, houve condições para o Renascimento. Com o
ser pautado pela razão humana, isto é, do que conse- desenvolvimento mercantil surgiu uma nova classe social:
guimos captar da realidade a partir de nossos sentidos. a burguesia italiana, que passa a mobilizar capitais para
A observação científica, os métodos experimentais e a o patrocínio de artistas e intelectuais buscando projeção
organização racional da vida social alimentariam uma social e a legitimação de seus valores.
vida humana menos teológica.
Na literatura, destaca-se Dante Alighieri, com a sua princi-
§ Negação dos valores medievais: com os desenvol- pal obra A divina comédia, revolucionária por ter sido escrita
vimentos técnicos e científicos do período, instituições em dialeto toscano e não no erudito latim. No âmbito da
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medievais passaram a perder importância social. A pró- filosofia política, há Nicolau Maquiavel, autor de O príncipe,
pria filosofia escolástica, que primava pela conciliação considerado por muitos o pai da ciência política moderna
entre fé e razão, viu-se desdenhada por diversos renas- por recolocar a racionalidade na política e alijar preceitos te-
centistas. ológicos. Na arte, há figuras notáveis como Giotto, Sandro
§ Valorização da cultura clássica: tanto na arte quan- Botticelli e Michelangelo.
to na filosofia, os renascentistas buscaram uma reapro- Porém, nenhuma outra figura ganhou tamanha importân-
ximação ao humanismo e racionalismo greco-romanos. cia e relevo histórico do que Leonardo Da Vinci. Cientista,
§ Individualismo: o Renascimento refletiu a realidade engenheiro, excelente artista, especialista em fortificações
do capitalismo nascente, que estimulava o individua- e em artilharia, inventor, anatomista e naturalista, transfe-
lismo, a concorrência, o acúmulo de riquezas e a cria- riu para suas pinturas a cuidadosa observação da natureza,
tividade. combinada com uma poderosa percepção psicológica.

110
Renascimento Científico O alemão Johannes Kepler fez estudos sobre o movi-
mento dos astros e observou as órbitas dos planetas em
O pensamento renascentista estimulou as ciências, os estu- torno do Sol, comprovando que são elípticas e não circu-
dos da natureza e a busca de explicações racionais para os lares, como se imaginava até então. Os estudos do cor-
fenômenos naturais. Em oposição aos dogmas e verdades po humano intensificaram-se, estimulando descobertas e
incontestáveis impostas pela fé, foram estimulados o co- avanços na medicina.
nhecimento racional, a observação e a experiência como
Leonardo da Vinci realizou estudos de anatomia huma-
fontes de conhecimento.
na, assim como o médico flamengo André Vesálio, que
Nicolau Copérnico negou a teoria geocêntrica (a Terra pesquisou o corpo humano pela dissecação de cadáveres.
como centro do universo), na obra De revolutionibus orbium
celestium (Sobre a revolução dos globos celestes), propon- O francês Ambroise Pare descobriu uma nova maneira de
do o heliocentrismo, segundo o qual o Sol sim é o centro, estancar hemorragias, enquanto o médico espanhol Miguel
em torno do qual giram a Terra e todos os outros planetas. de Servet descreveu o mecanismo da pequena circulação.
Essa teoria foi confirmada pelo italiano Galileu Galilei, que Merecem destaque, também, o suíço Paracelso (pseudô-
se serviu de uma luneta para estudar os movimentos dos as- nimo de Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von
tros e acabou descobrindo os satélites de Júpiter. É importan- Hohenheim), que abriu caminho para a doutrina dos medi-
te lembrar de que Galileu foi julgado pelo Tribunal da Inquisi- camentos específicos e da farmacologia, e o médico inglês
ção por confirmar o heliocentrismo. Para escapar da pena de Willian Harvey, que descobriu o retorno do sangue ao
morte, abriu mão de suas ideias, negando-as publicamente. coração pelos vasos sanguíneos.

REFORMA E CONTRARREFORMA

O mundo passou por grandes transformações na transição Denomina-se Reforma o movimento de revolução espiritual
da Idade Média para a Idade Moderna, com especial desta- da época moderna, uma profunda revisão religiosa e política
que para a Europa, onde ocorreram o renascimento comer- que, no século XVI, deu origem ao protestantismo. Uma das
cial e urbano, o desenvolvimento do capitalismo, o fortaleci- causas importantes da Reforma foi o chamado humanismo
mento das monarquias nacionais e o renascimento cultural. evangelista, que era profundamente crítico da forma em que
o catolicismo operava e, portanto, defensor de uma renova-
Estas transformações geraram modificações na visão de
ção para aproximá-lo do cristianismo primitivo.
mundo dos homens e criaram uma realidade que se desco-
nectava da Igreja católica, alicerçada em bases medievais, as Havia um enorme abismo entre o que a Igreja católica pre-
quais condenavam, por exemplo, o lucro e a usura, elemen- gava e o que fazia. Os membros da alta hierarquia do clero
tos fundamentais do capitalismo nascente, gerando atritos viviam luxuosamente, totalmente alheios ao povo. O voto
com a burguesia. Havia problemas de relacionamento entre de castidade era habitualmente esquecido, causando escân-
a Santa Sé e os reis absolutistas, que não mais admitiam dalos entre a população. Vendiam-se as relíquias sagradas
interferência em seus estados nacionais. (objetos supostamente tocados por Cristo, Maria ou santos)
e cargos eclesiásticos, práticas conhecidas como simonia.
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O desenvolvimento do capitalismo e dos Estados nacionais


provocou um natural enfraquecimento do poder da nobreza, Mas o comércio de indulgências foi o abuso que promoveu
que passou a cobiçar as terras da Igreja como alternativa de maior reação. As indulgências eram documentos assinados
reforçar seu poder. O comportamento de membros do clero pelo papa, que absolviam o comprador de alguns pecados
passou a ser alvo de críticas contundentes com o objetivo cometidos, diminuindo o tempo de sua pena no purgatório.
de contestar a Igreja católica, enfraquecendo-a e abrindo Outra importante razão que impulsionou o movimento re-
espaço para a quebra de sua hegemonia. formista foi a formação das monarquias nacionais. Na época
do feudalismo, a Europa se apresentava fragmentada em
Inserida nesse contexto, a reforma religiosa foi responsável
inúmeros pequenos feudos, onde as relações com as regi-
pela quebra da unidade cristã ocidental e o fim da hegemo-
nia da Igreja católica na Europa, bem como pelo surgimento ões vizinhas eram pouco comuns. As pessoas de então não
de novas Igrejas integradas às novas realidades para a bur- tinham uma consciência muito clara de nacionalidade, isto
guesia e os monarcas absolutistas. é, não se imaginavam habitantes de um país. Nos séculos

111
XV e XVI, formaram-se nações com um rei que exercia total O fiel passaria a prescindir do sacerdote para entrar em
autoridade sobre os limites do território. As pessoas que aí contato e interpretar a palavra divina, o que ajuda a re-
habitavam falavam a mesma língua e tinham consciência forçar o caráter individualizante do luteranismo.
de sua nacionalidade. A Igreja, por possuir terras e proprie-
dades espalhadas por toda a Europa, passou a ser conside-
rada uma potência estrangeira. Lentamente, começou a se
formar uma reação contra as possessões eclesiásticas e a
arrecadação de impostos ou taxas pelo clero, que os remetia
para Roma. Essa situação motivou o declínio da autoridade
papal, pois o rei e a nação passaram a ser mais importantes.
A ascensão da burguesia é outra causa não menos impor-
tante da Reforma. A burguesia precisava mudar os dogmas
da Igreja católica que proibiam o lucro e a usura. Ela preci-
sava de uma nova religião, que justificasse seu amor pelo di-
nheiro e incentivasse novas atividades ligadas ao comércio.
Na ideologia católica, a única forma de riqueza era a terra. O
dinheiro, o comércio e as atividades bancárias eram práticas
pecaminosas, indignas de um cristão. Trabalhar para satisfa-
zer as necessidades era justo, mas fazê-lo para lucrar, que é Bíblia traduzida para o alemão, por Lutero
a essência do capital, era pecado.
Pelas profundas mudanças pregadas, Lutero foi com-
A doutrina protestante, criada pela Reforma, pregava exa- batido pelo papado e pelo imperador Carlos V, na
tamente o oposto destas ideias. A riqueza, materializada Dieta de Worms (1521), e só não foi executado por re-
principalmente no dinheiro, era um dom de Deus. A doutrina fugiar-se na Saxônia, junto ao duque Frederico, o sábio. O
estabelecida pela Reforma estava perfeitamente adequada cerco católico aumentou sobre os nobres protestantes, em
aos anseios da nova classe burguesa, que se encontrava em 1529, quando o mesmo Carlos V impôs o catolicismo a to-
fase de expansão. dos os príncipes, que prontamente se rebelaram, recebendo
a alcunha de protestantes.

Principais vertentes Como resposta, em 1530, através da Confissão de Au-


gsburgo, Melanchton constituiu a nova Igreja protestante,
do protestantismo assim como a formação de laços sólidos entre os príncipes
protestantes contra o imperador católico. Finalmente, em
1555, uma nova Dieta de Augsburgo pôs fim ao conflito
Luteranismo religioso alemão, permitindo aos príncipes e seus súditos
A reforma religiosa teve início no Sacro Império Romano- liberdade de escolha religiosa.
-Germânico, em parte da atual Alemanha, sob a liderança
de Martinho Lutero (1483-1546). Filho de camponeses, Calvinismo
nascido na Saxônia, cursou Filosofia na Universidade de Aproveitando-se da relativa paz religiosa na Suíça, o discípu-
Erfurt, quando se tornou monge, ingressando na Ordem de lo do luteranismo e francês João Calvino publicou uma série
Santo Agostinho, em 1505. Em 1512, doutorou-se em Te-
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de obras na defesa do protestantismo, sendo a mais conheci-


ologia e passou a lecionar na Universidade de Wittenberg. da a instituição cristã (1534). Calvino manteve as premissas
Lutero se incomodava com o comportamento de integran- básicas de Lutero inalteradas, embora as tenha radicalizado
tes do clero e com o apego aos bens materiais por parte no âmbito espiritual e institucional. A sua Reforma implan-
da Igreja. tou uma censura rígida na cidade de Genebra, agindo de
Para ele e seus seguidores, a salvação da alma não se forma intolerante contra os potenciais adversários.
alcança pelas obras, mas pela fé, pela confiança na bon- Contudo, as ideias de Calvino foram rapidamente espalha-
dade de Deus e pelo sofrimento interior do fiel. Sendo das pelo continente europeu, uma vez que sua doutrina
assim, o culto às imagens sacras ou quaisquer símbolos casou-se harmonicamente com os preceitos burgueses de
objetivos é rechaçado pelo luteranismo: a fé residiria na acumulação material. O ponto central do calvinismo é a sua
consciência de cada cristão. Daí o feito inédito de Lutero doutrina da predestinação, na qual alguns indivíduos recebe-
de ter traduzido a Bíblia do latim para o idioma alemão. riam a bênção da salvação e os demais, a maldição eterna.

112
Os sinais da predestinação seriam visíveis na fruição de bens Os bens da Igreja católica foram confiscados, passando
materiais ou cargos de prestígio. Logo, quanto mais abasta- para as mãos da nobreza. Assim, os barões ingleses viram
do o indivíduo, mais evidente que sua alma se salvará. suas terras aumentadas a ponto de facilitar a expansão da
Práticas burguesas condenadas pela Igreja católica, como criação de ovelhas, num momento em que a lã começava a
a usura e o estímulo ao trabalho, seriam não só legítimas, ser procurada pelas manufaturas de tecidos.
mas benquistas pelos adeptos do calvinismo. Por isso,
diversos agrupamentos calvinistas surgiram na Europa
ocidental, sendo os huguenotes franceses e os puritanos
Contrarreforma
britânicos exemplos de destaque.

Anglicanismo
A reforma religiosa na Inglaterra teve um caráter extrema-
mente político. Conduzida pelo rei Henrique VIII, levou à
formação de uma Igreja nacional, que serviu de instrumen-
to de consolidação do absolutismo real no país.
O poder econômico da Igreja católica e sua influência na
Inglaterra fugiam ao controle do Estado. A Igreja acumula-
va riquezas através de tributos impostos à população e o
clero ampliava cada vez mais seus domínios e suas rendas
oriundas das vastas terras. Esta situação provocava um for- Jesuítas na América: educação e utilização de trabalho indígena
te sentimento antipapal nos meios políticos do país.
A Reforma protestante minou o monopólio das almas cris-
Em 1530, o rei inglês Henrique VIII solicitou a anulação de tãs no Ocidente. A perda de fiéis se traduzia na perda de
seu casamento com Catarina de Aragão ao papa Clemente poder político e econômico, o que impeliu a Igreja católica
VII, pois desejava casar-se com Ana Bolena, sob a justifi- a agir com um conjunto articulado de medidas contra a ex-
cativa de sua esposa não lhe dar um filho homem para pansão protestante, criando então sua Contrarreforma.
herdar o trono. Diante da negação papal, o rei deu início a O conteúdo das reformas, primeiramente exposto no Con-
um processo de ruptura com a Igreja católica na Inglaterra. cílio de Trento, em 1530, possuía teor majoritariamente
O soberano aproveitou as questões relacionadas a seu ca- repressivo, embora não somente. Eis algumas medidas da
samento para acabar com o poder da Igreja católica na Contrarreforma:
Inglaterra que, de certa forma, concorria com seu poder. O § O combate à corrupção do clero, com a proibição da
parlamento aprovou o Ato de Supremacia, em 1534, venda de indulgências e de cargos eclesiásticos, além
colocando a Igreja sob a autoridade do rei. Nascia a Igreja da obrigatoriedade dos clérigos frequentarem seminá-
nacional inglesa – a Igreja anglicana, que tinha como chefe rios antes de sua ordenação.
supremo o monarca inglês. Adotou-se parcialmente a dou-
§ Reativação do Tribunal do Santo Ofício ou Santa Inqui-
trina calvinista, mantendo, porém, a hierarquia episcopal e
sição, com o objetivo de julgar e punir as heresias.
a formalidade do catolicismo no culto.
§ A criação do Index Librorum Prohibitorum, uma lista de
livros cuja leitura estava proibida aos católicos, dentre
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eles alguma obras de autores renascentistas e de orien-


tação religiosa protestante e calvinista.
§ A busca de novos fiéis, através do estímulo à atuação
de ordens religiosas, especialmente no recém-desco-
berto continente americano.
No tocante à busca de novos fiéis, merece destaque a atu-
ação da Companhia de Jesus ou Ordem dos Jesuítas,
fundada em 1534 por Inácio de Loyola. A ordem era ca-
racterizada pela rígida disciplina e respeito pela hierarquia,
lembrando uma organização militar, o que fez com que
Henrique VIII ficassem conhecidos como “soldados de Cristo”.

113
ANTIGO REGIME: ABSOLUTISMO E MERCANTILISMO

Estado moderno
Na transição da Idade Média para a Idade Moderna, ocor-
reu o processo de formação dos Estados modernos, em
contraposição aos domínios feudais, marcados pelo predo-
mínio político do poder local e diretamente ligado à pos-
se da terra. Os Estados modernos mantiveram as velhas
estruturas feudais, como o predomínio político e social da
nobreza e do clero, que obtiveram privilégios fiscais e jurídi-
O Leviatã, de Thomas Hobbes
cos, associadas a novos elementos, como a centralização do
poder político e práticas econômicas intervencionistas, que O autor mais utilizado na defesa do absolutismo foi
revelam o fortalecimento das monarquias nacionais. Hobbes, através de sua obra O Leviatã. Para o filósofo,
nas sociedades primitivas sem Estado nem leis, os ho-
A montagem da estrutura burocrática dos Estados moder- mens viviam em conflitos sociais, matando-se uns aos
nos exigia vultosas quantias financeiras, o que os incenti- outros por motivos banais, conflitos esses que compro-
vava a uma crescente necessidade de tributos diretamente metiam a própria existência da humanidade, fenômeno
arrecadados e administrados pelo governo central. Este que inspirou a célebre máxima do autor: “o homem é o
também regulava atividades comerciais mediante práticas lobo do próprio homem”. Num raro momento de lucidez
intervencionistas, fundamentais para impulsionar a acu- e em face de um sentimento de preservação da espécie,
mulação de capital por meio do comércio e das atividades as sociedades organizaram-se em forma de Estado e con-
artesanais. cederam-lhe poderes, a fim de que tivesse força suficiente
para impor a ordem. Contra aquela situação de anarquia,
Eram características do Estado moderno: território defini-
os homens firmaram um pacto – o “contrato social” –,
do, moeda nacional, idioma comum, centralização política, renunciaram à liberdade e aos direitos em troca de sua
organização da burocracia estatal e exército nacional. Os conservação. Portanto, impõe-se que o Estado seja todo
poderes locais da nobreza, por sua vez, seriam submetidos poderoso, um Leviatã absolutista para que imponha a or-
à autoridade do monarca, que passou a impor tributos e dem social e garanta a vida.
regras nacionais.

Para garantir a manutenção da autoridade real, os exércitos Absolutismo francês


nacionais eram disciplinados, remunerados e diretamente A consolidação do absolutismo na França sofreu graves so-
controlados pelos reis, que os usavam para impor sua auto- lavancos devido às guerras religiosas no século XVI, entre
ridade e garantir o respeito às suas ordens em todos seus huguenotes (calvinistas) e católicos, representados então
domínios, além de garantir a defesa do território contra ini- pelo Estado francês. A tensão entre os dois grupos acabou
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migos externos. se transformando em sangrentos conflitos durante o reina-


do de Carlos IX (1560-1574).

Absolutismo Até que Carlos IX completasse a maioridade, a regência foi


ocupada por sua mãe, Catarina de Médici, católica fervoro-
Teóricos e pensadores fundamentaram o poder absolutista, sa e resolvida a exterminar os huguenotes. Em 1572, hou-
justificando sua origem e o comportamento autoritário dos ve a fatídica Noite de São Bartolomeu (24 de agosto),
reis. Os principais teóricos do absolutismo foram Nicolau quando foram mortos cerca de 30 mil huguenotes.
Maquiavel, Jacques Bossuet, Jean Bodin e Thomas Hobbes. A paz na França só foi restabelecida no reinado do Bourbon
Cada um possuía suas especificidades e era constantemen- Henrique IV, mediante o Edito de Nantes (1598), que
te relido por aqueles que defendiam o abuso pessoal dos concedia liberdade de culto e o direito de admissão dos pro-
monarcas. testantes em cargos públicos.

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Segundo a tradição da monárquica francesa, somente um dades eclesiásticas na Inglaterra, fato que ampliou ainda
católico poderia assumir o trono. Henrique de Navarra, que mais seu poder perante outros grupos políticos. Após a sua
era protestante, só pôde ser coroado Henrique IV depois de morte, o trono recaiu sob Maria I, uma católica fervoro-
se converter ao catolicismo, oportunidade em que suposta- sa que praticou inúmeros morticínios em nome da sua fé.
mente teria dito a famosa frase “Paris bem vale uma missa”. Porém, o fato de Maria ter se casado com Fernando I, rei
da Espanha, promoveu inquietações na elite inglesa, uma
Quando da morte de Henrique IV, Luís XIII assumiu o tro-
vez que o país ibérico era um dos principais concorrentes
no e logo retomou a perseguição aos protestantes dentro
econômicos da Inglaterra.
de seu território. Porém, externamente, apoiou os Habsbur-
gos na guerra dos Trinta Anos (1618-1648), visando ga- Em 1558, Maria morreu e deu lugar à sua irmã e filha
rantir a hegemonia francesa na Europa continental. Com de Henrique VIII, Elizabeth I. Seu reinado consolidou a
a vitória, a França de fato logrou transformar-se na maior Inglaterra como a maior potência do mundo. Conseguiu
potência militar do continente. se relacionar pacificamente com o parlamento e, simulta-
neamente, arrefecer as perseguições religiosas dentro do
Seu sucessor, Luís XIV, é visto como herói protetor das ar-
território inglês. A agricultura inglesa perderia suas carac-
tes, defensor da Igreja católica, legislador, defensor dos fracos
terísticas de agricultura feudal – produção de subsistência
contra os fortes. Encarnou o Estado, cujos interesses estão
– e transformou-se em agricultura capitalista com inte-
acima de todos os individualismos. Conhecido como rei Sol,
resses ligados ao comércio. O resultado desse fenômeno,
promoveu a ascensão da burguesia, da qual recrutou alguns
conhecido como cercamentos (enclosures), que resultou
ministros, como Colbert, das finanças. Para controlar a nobre-
na expulsão de uma multidão de camponeses famintos e
za, atraiu-a para a corte e ofereceu-lhe luxo, festas e pensões.
miseráveis às cidades inglesas. Criavam-se assim as condi-
No campo religioso, Luís XIV revogou o Edito de Nantes, ções favoráveis ao desenvolvimento do trabalho assalaria-
em 1685, quando o protestantismo foi proibido. Cerca do e das manufaturas.
de 150 mil pessoas viram-se obrigadas a abandonar o
Em 1601, pretendendo exercer mais controle sobre os po-
país. Em seguida, deu um golpe na Igreja católica, sub-
bres ingleses, Elizabeth I assinou a famosa Lei dos Pobres
metendo-a aos seus desígnios e obrigando o clero fran-
(Poor Law), que os obrigava a trabalhar em “oficinas de ca-
cês a pagar impostos ao rei. Essas medidas visavam re-
ridade” que abasteciam de mão de obra barata todas as
afirmar a autoridade real perante a população francesa.
manufaturas inglesas.
Contudo, nos últimos anos do governo de Luís XIV e no
reinado de Luís XV, a crise do absolutismo só fez piorar e
assumir proporções catastróficas no governo de Luís XVI,
Mercantilismo
quando, a partir de 1789, o Antigo Regime foi destituído
O mercantilismo foi uma doutrina econômica que se tra-
pela Revolução Francesa.
duzia em práticas executadas pelo Estado nacional com o
objetivo de auferir ganhos e promover o seu fortalecimento.
Absolutismo inglês No entanto, como contava com a burguesia para executar a
Na Inglaterra, a consolidação e o apogeu do absolutismo política econômica, favorecia o enriquecimento e, paralela-
ocorreram durante a dinastia Tudor (1485-1603), que as- mente, o ganho de poder dessa nova classe social.
cendera ao poder no final da guerra das Duas Rosas Sendo assim, o mercantilismo foi uma política econômica
(1455-1485). Nessa guerra civil, as duas mais poderosas que representava a aliança entre os monarcas e a burguesia
famílias da nobreza inglesa – a família Lancaster, repre- comercial. Tais eram as principais práticas mercantilistas:
sentada por uma rosa vermelha, e a família York, por uma
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§ Metalismo: a riqueza de um país media-se pela quan-


rosa branca – disputaram o poder. Terminada a guerra,
tidade de metais preciosos dentro de suas fronteiras.
Henrique Tudor, descendente dos Lancaster, casou-se com
Quanto mais ouro e prata houvesse no país, mais rico e
Elizabeth, de York, unindo sob sua direção as duas famílias.
poderoso ele seria. Com metais preciosos, os governos
Anos mais tarde, seu filho, nomeado Henrique VIII, pas- compravam armas, contratavam soldados, construíam na-
sou a impor seu poder aos nobres feudais, com a ajuda da vios, pagavam funcionários e custeavam as guerras. Para
burguesia, carente de apoio na sua expansão comercial. A acumularem os metais preciosos, era preciso não só im-
partir desse momento, o poder passou a centralizar-se cada pedir a saída de ouro e prata, mas provocar sua entrada.
vez mais na figura do rei.
§ Balança comercial favorável: esse princípio mer-
Este rei rompeu com a Igreja católica, apoderando-se de cantilista está intimamente ligado ao anterior. Consiste
todos seus bens e fundando outra Igreja, a anglicana. A em vender mercadorias pelo maior valor possível para
vitória contra os católicos deu-lhe o controle das proprie- o exterior e comprar pelo menor valor. O valor total das

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exportações deveria sempre superar o das importações. balança comercial ficava sempre favorável à metrópole.
Essa era uma das formas de um país provocar a entrada
§ Monopólios: graças ao pacto colonial, somente a
de metais preciosos e de se promover o metalismo.
metrópole poderia comercializar com seus domínios. O
§ Protecionismo: para manter uma balança comercial monopólio era condição fundamental para o desenvol-
favorável, o Estado nacional deveria incentivar as ex- vimento do comércio e das manufaturas, uma vez que
portações observando uma série de medidas: desvalori- constituía a única forma possível de realizar grandes
zação da moeda, proibição da exportação de matérias- empreendimentos. Os capitais uniam-se para controlar
-primas e, principalmente, desestímulo às importações, com exclusividade um ramo da produção manufaturei-
cujas tarifas alfandegárias deveriam ser sobretaxadas e ra, o comércio de uma localidade ou o comércio colo-
caras para o consumidor nacional.
nial. O monopólio, no entanto, pertencia ao Estado que,
§ Sistema colonial (colonialismo): com o objetivo de em troca de pagamento, transferia aos burgueses.
fortalecer o Estado nacional e, consequentemente, o
§ Intervencionismo estatal: visava o fortalecimento
poder do rei, alguns países lançaram-se nos séculos XV
do poder nacional. O Estado intervinha na economia
e XVI à conquista de novas terras a fim de fazer crescer
suas fontes de riquezas. Essa era a função fundamental mediante incentivo e proteção das manufaturas, altas
das colônias da América e da África: enriquecer as me- tarifas alfandegárias e garantia dos monopólios, da fi-
trópoles. Das colônias, as metrópoles poderiam retirar xação de uma política de controle sobre os salários, os
as mercadorias de que necessitassem, metais preciosos preços e a qualidade das mercadorias. O restabeleci-
e produtos tropicais, e ao preço que quisessem. Parale- mento da escravidão na época moderna movimentava
lamente, poderiam obrigar a colônia a adquirir produtos grande quantidade de capitais, por isso mesmo era uma
manufaturados da metrópole ao preço que ela determi- importante fonte de aceleração da acumulação primiti-
nasse. A essa relação desigual entre metrópole e colô- va de capital, que, ao lado dos demais fatores, compu-
nia deu-se o nome de pacto colonial, mediante o qual a nha a etapa de constituição do capitalismo.

REVOLUÇÕES INGLESAS DO SÉCULO XVII E REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

O Estado absolutista inglês e a política econômica mercanti- O sucessor de Jaime I, seu filho Carlos I (1625-1648), inten-
lista foram os principais responsáveis pelo grande desenvol- sificou os conflitos, especialmente com o parlamento, majori-
vimento econômico alcançado pela Inglaterra, que trouxe tariamente burguês e puritano. Revoltoso, os parlamentares
prosperidade para os grupos ligados à atividade mercantil travavam qualquer tentativa do monarca criar novos impos-
inglesa, como a burguesia comercial e financeira, armado- tos, fazendo com que Carlos I o dissolvesse. O parlamento só
res, nobres enriquecidos com a política dos “cercamentos” foi reaberto em 1640, quando o rei necessitou convocá-lo a
e corsários. No seio desses grupos mercantis, crescia a reli- título de obter aprovação de mais recursos ao exército, que
gião puritana, mais sintonizada com os anseios burgueses. lutava contra revoltosos presbiterianos escoceses.
Já entre a nobreza tradicional, prevaleciam o catolicismo e
o anglicanismo.
Em 1603, com a morte da rainha Elisabeth I, deu-se o fim
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da dinastia Tudor, uma vez que a rainha não deixou herdei-


ros. Em virtude do parentesco, o trono inglês foi entregue
ao rei da Escócia, Jaime I, que deu início à dinastia Stu-
art. O novo monarca inglês defendeu a implantação de
um regime absolutista fundamentado na Teoria do Direito
Divino e se aliou à nobreza anglicana como forma de viabi-
lizar seu fortalecimento político.
Os resultados foram intensos confrontos com o parlamen-
to, que o renegava por sua nacionalidade escocesa, além
de violentas perseguições a católicos e puritanos, que in-
centivaram a emigração dos puritanos para a América, a
Brasão Stuart
partir de 1603.

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Logo após sua reabertura, Carlos I tentou fechar o parla-
mento. Dessa vez, no entanto, foi impedido pelos deputa- Revolução Industrial
dos e pela população de Londres. O desfecho da situação
criada por Carlos I mobilizou os cavaleiros, e os “cabeças
redondas”. Cavaleiros constituíam as tropas reais, compos-
ta de católicos e anglicanos ligados à nobreza tradicional,
que defendiam o regime absolutista. Já os “cabeças re-
dondas” eram constituídos por parlamentares, burgueses,
puritanos e parcela da nobreza progressista, isto é, grupos
ligados aos interesses do capitalismo comercial.
Liderados por Oliver Cromwell, os “cabeças redondas”
obtiveram seguidas vitórias que propiciaram a vitória na Indústria em Manchester, na Inglaterra
guerra civil. Com a ascensão de Cromwell ao poder, hou-
A Revolução Industrial é um processo histórico de profun-
ve a queda da monarquia e a proclamação da República.
das mudanças técnicas, econômicas, sociais e culturais, sen-
O rei Carlos I foi preso e executado, selando a vitória da
do, portanto, um conceito bastante amplo. Contudo, deve
Revolução Puritana (1649).
ser analisada nos termos de sua formação. Como qualquer
Com a República, começou a segunda fase da Revolução fenômeno histórico, não surgiu de imediato, mas de um
Gloriosa, a Commonwealth, ou seja, a ideia de comu- processo longo e encadeado de relações materiais e inte-
nidade britânica. Surtos nacionalistas regiam o governo lectuais.
Cromwell, a exemplo de seu Ato de Navegação (1651), que
Em termos técnicos, a Revolução Industrial teve seu germe
garantia monopólio de embarcações inglesas nos atos de
na manufatura, resultado da ampliação do consumo, o
importação do país. A medida provocou conflito militar com
que levou muitos artesãos a aumentarem sua produção,
os Países Baixos, tendo a Inglaterra superado seus rivais.
bem como muitos comerciantes a se dedicarem à produção.
A morte de Cromwell, que governou ditatorialmente, gerou Nesse caso, o comerciante manufatureiro distribuía a maté-
instabilidade política, visto que seu sucessor e filho Richard ria-prima para que os artesãos trabalhassem em suas casas,
não lograva de reputação junto ao corpo militar. O parla- recebendo pelo trabalho um pagamento previamente com-
mento, temeroso de revoltas populares, em 1660, ajudou binado. Com isso, a produtividade do trabalho aumentou
a empossar Carlos II, filho do rei decapitado, Carlos I, que devido à divisão social da produção, isto é, cada trabalhador
prometeu governar mantendo a tolerância religiosa e res- se especializava em apenas uma etapa da produção.
peitando o parlamento e as relações de propriedade.
A maquinofatura foi a etapa final. Nela, o trabalhador
Contudo, Carlos II converteu-se publicamente ao catoli- estava submetido ao regime de funcionamento da máquina
cismo, provocando o descontentamento da população e a e à gerência direta do supervisor. Com a introdução da má-
retomada da luta por parte do parlamento. Seu sucessor, quina e a perda total da independência dos trabalhadores,
Jaime II, continuou o processo de repressão absolutista ca- consolidava-se o que se denominou Revolução Industrial.
tólica, até que o parlamento revoltou-se e chamou Maria
Temporalmente, a Revolução Industrial foi um fenômeno
Stuart e seu marido, Guilherme de Orange, dos Países
inglês, depois espalhando-se pela Europa. As razões para
Baixos, para assumir o governo em lugar do rei, que fugiu
o pioneirismo inglês podem ser sintetizadas nestes tópicos:
à França, dando início à Revolução Gloriosa.
Guilherme só foi proclamado rei depois de se submeter à § Acumulação primitiva de capital: a riqueza pro-
Declaração de Direitos, que foi aceita pelo rei, em 1689. duzida pelo comércio de seus produtos manufaturados,
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Essa declaração eliminava a censura política e reafirmava aliada às vantagens militares e comerciais do Estado
inglês, propiciou o enriquecimento da burguesia e do
o direito exclusivo do parlamento de estabelecer impostos
Estado inglês.
e de apresentar livremente petições. O recrutamento e a
manutenção do exército somente seriam admitidos com a § Supremacia naval: após o Ato de Navegação e a vitó-
aprovação do parlamento. As reuniões parlamentares e as ria contra os Países Baixos, o Império Britânico conquis-
eleições seriam regulares; o orçamento anual seria votado tou protagonismo no transporte de mercadorias.
pelo parlamento; as contas reais seriam controladas por § Dotação natural: requeria novas fontes de matéria-
inspetores e os católicos seriam afastados da sucessão. Em -prima e de energia, que eram encontradas em profu-
1694, foi criado o Banco da Inglaterra, com o que se são no subsolo inglês, como carvão e ferro; o algodão
organizou o tripé fundamental para o desenvolvimento do para as tecelagens era proveniente das áreas coloniais,
capitalismo na Inglaterra: Parlamento, Tesouro e Banco como os atuais Estados Unidos, e a lã era encontrada
da Inglaterra. nos campos britânicos e nas colônias.

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§ Cercamentos: a política de cercamentos permitiu o au- Todas as transformações citadas repercutiram em altera-
mento da criação de ovelhas nos campos, fornecendo lã à ções sociológicas profundas nas sociedades industriais,
indústria e, concomitantemente, povoou as cidades com como no caso da Inglaterra. O trabalhador livre e assalaria-
trabalhadores livres para operar a maquinaria industrial. do (proletário) vendia sua força de trabalho no mercado ao
Tinha-se, portanto, insumos e trabalho a preços baixos. industrial (burguês) quase sempre a salários baixíssimos.
§ Instituições modernas: a concretização da Revolu- Com a riqueza recebida, o trabalhador mal conseguia se
ção Gloriosa colocou a burguesia como classe dominan- reproduzir enquanto animal, isto é, comer e se abrigar.
te na Inglaterra. Com ela, veio a garantia à propriedade Com isso, inúmeras revoltas proletárias surgiram no esteio
privada, o desenvolvimento de bancos de financiamen- da Revolução Industrial.
to, de bolsas de valores, operações de seguro e uma
multiplicidade de leis e órgãos que garantissem o cum- O ludismo, movimento de quebra de máquinas, na In-
primento dos contratos. glaterra, foi um dos primeiros atos contra a ferocidade da
§ Desenvolvimento técnico: inúmeras invenções fo- industrialização. Contudo, foi brutalmente reprimido pelo
ram financiadas pelas universidades, pelos industriais e parlamento britânico.
pelo parlamento inglês. A conhecida máquina a vapor, Mais tarde, o cartismo ganhou força nas capitais indus-
por exemplo, foi rapidamente implantada em diversas triais britânicas. Tal movimento reivindicava melhores con-
indústrias inglesas. dições de trabalho, ampliação do direito de sufrágio a todos
§ Ética protestante: a consagração da ética protestan- os homens, melhorias salariais e direito de se representar
te foi decisiva para motivar os agentes econômicos, visto no parlamento. O fato de as reivindicações serem feitas por
que o sucesso material seria sinônimo de dádiva divina, meio de cartas ao parlamento foi o que deu nome ao mo-
diferentemente da ética econômica católica, sempre crí-
vimento.Iluminismo
tica à acumulação de riquezas.

ILUMINISMO E INDEPENDÊNCIA DOS EUA

As origens do movimento iluminista estão na Revolução por excelência, mesmo que dele tenham surgido muitos
Científica do século XVII, período em que ocorreram gran- movimentos de contestação política ao mundo burguês.
des progressos na Filosofia e na Ciência (Física, Química, Ideais iluministas estão no conjunto de fatores que impul-
Matemática e Mecânica), com destaque para o crescente sionaram processos de independência na América e revolu-
desenvolvimento e difusão do método experimental. ções em toda a Europa.
Consiste na veemente crítica ao modo de pensar medieval.
O pensamento iluminista busca compreender os fenôme- Independência dos EUA
nos naturais e sociais através da racionalidade e da ciência.
Trata-se de uma progressiva e poderosa crítica aos para- Como no período mercantilista se dava importância exces-
digmas teológicos que regiam a visão de mundo medieval. siva ao comércio de especiarias tropicais, o governo inglês
não se preocupou em implantar uma grande exploração
Iluminar-se significa racionalizar a relação entre o homem
colonial, como Portugal e Espanha promoveram na Améri-
e o mundo.
ca latina. Essa relação política da Inglaterra com sua colô-
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Politicamente, resultou em teorias liberais e republicanas, nia, fora dos padrões mercantilistas típicos da época, per-
como as de John Locke, Jean Jacques Rousseau e barão de mitiu que os colonos obtivessem maior grau de autonomia.
Montesquieu. A despeito de suas divergências conceituais,
A economia das colônias conseguiu mais lucros e mais
tais autores preconizavam a liberdade e a igualdade na po-
experiência financeira ao se relacionar diretamente com
lítica, oferecendo duras críticas ao absolutismo. Na ciência,
regiões do Caribe, Europa e África sem a interferência do
houve o desenvolvimento do cálculo diferencial e integral,
poder britânico. Esses contatos em forma de triângulos
com a centralidade na figura de Isaac Newton. O período
comerciais eram feitos com as colônias inglesas, que ex-
também presenciou o surgimento da ciência econômica,
portavam peixe, madeira e gado para as Antilhas, de quem
com Adam Smith, em 1776.
compravam açúcar, melaço e rum para revenda na Europa,
Tamanhas mudanças só foram possíveis, dentre outras ra- onde compravam mercadorias manufaturadas. Da África
zões, graças à ascensão política e social da burguesia. Por compravam-se negros, revendidos como escravos nas An-
essa razão, o iluminismo será a corrente filosófica burguesa tilhas ou nas colônias do Sul, a troco do rum como moeda.

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As colônias da Nova Inglaterra e as do centro tinham mais Também, em 1764, foi implantada a Lei da Moeda (Cur-
identidade com a ideologia da Ilustração, uma vez que rence Act), que proibiu a emissão de moeda pelos colonos,
contavam, entre sua população, com exilados intelectu- o que provocou uma crise econômica com a elevação dos
ais, críticos do absolutismo europeu, bem como fugitivos preços de produtos agrícolas – base da economia sulista.
protestantes. Nessas colônias houve a adoção do trabalho A Lei do Selo (Stramp Act), criada em 1765, impunha aos
livre assalariado, que aumentava a produtividade do traba- colonos a obrigatoriedade de selar ou carimbar os inúme-
lhador em relação a do escravo, bem como contribuía com ros papéis ou documentos de circulação na colônia, pagan-
a formação de um mercado consumidor mais ativo. do um imposto para a coroa. Outro problema originou-se
Já nas colônias sulinas, estabeleceu-se a plantation, orga- quando o governo inglês criou a Lei do Aquartelamento
nização bastante semelhante à plantation brasileira, mas ou do Alojamento, de 1765, que consistia na exigência
sem o monopólio comercial e a complementaridade do inusitada de que os colonos deveriam pagar a estadia dos
pacto colonial. Eram, assim, voltadas para o mercado ex- soldados ingleses em território estadunidense nas missões
terno e contavam com a monocultura do algodão, do fumo militares de repressão sobre os próprios colonos, que ob-
e do anil como principais atividades econômicas. viamente intensificaram mais ainda as rebeliões.
Diante dessas diferenças, o comércio entre as duas zonas A política de exploração britânica continuou, em 1767,
não só foi possível, como bastante intenso. Ambos enrique- com as Leis Towshend, que consistiam, novamente, em
ceram com o processo, mas como fora dito, com o desta- exigir que os colonos pagassem taxas à Inglaterra quando
que para o Sul. Diante de um cenário de relativa liberdade importassem mercadorias vendidas pela própria Inglaterra.
política e econômica, quais seriam as causas, então, da A Lei do Chá (Tea Act) de 1773, que previa o estabele-
emancipação das colônias? cimento do monopólio do comércio desse produto à po-
No século XVIII, a economia britânica entrou em choque pulação estadunidense pelo governo inglês, desencadeou
com a francesa e o governo inglês buscou conquistar áre- uma reação inusitada dos colonos: lançar diversos carre-
as em várias partes do globo terrestre que pertenciam aos gamentos de chá da metrópole ao mar. Essa rebelião foi
Bourbons, como aquelas localizadas nas Índias Orientais e denominada de Festa do Chá de Boston (Boston Tea
Party) e provocou dura reação do Império Britânico, que
na América do Norte. Para tal, na América, recebeu ajuda
promulgou a Lei dos Intoleráveis. A Inglaterra fechou
dos colonos para derrotar os franceses, o que não foi difícil,
o porto de Boston, ocupou Massachusetts e cobrou altís-
pois os estadunidenses já pretendiam ocupar terras próxi-
simas indenizações. Os estadunidenses estavam sufocados
mas aos Apalaches.
e passaram a trilhar um caminho de enfrentamento legal
Em troca do apoio, a Coroa britânica prometeu ceder terras ou militar com os britânicos, o que resultou na luta pela
aos colonos que lutassem sob a liderança militar de George soberania.
Washington. No entanto, os britânicos não cumpriram o
À medida que a exploração inglesa mostrava-se mais abu-
trato, ludibriando os colonos.
siva, os colonos influenciados e liderados por ideólogos
Além disso, com o intuito de buscar capital para pagar como Thomas Jefferson, Benjamin Franklin, Samuel Adams,
as dívidas contraídas com a guerra dos Sete Anos (1756- Thomas Paine e Charles Dickson, criaram a chamada Con-
1763), a Inglaterra iniciou uma política de aumento exces- venção da Filadélfia, em 1774. Dois anos após sua
sivo da exploração sobre as treze colônias por intermédio fundação e ainda sob certos impasses, em 1776, suscitou
de leis que se assemelhavam ao pacto colonial, o qual, se textos, como o Common Sense, de Thomas Paine, que cla-
implantado, destruiria a relativa liberdade econômica dos mava pela revolta armada como um direito pela liberdade
colonos, ou seja, seria o fim da negligencia salutar, da republicana e cidadã contra um governo despótico.
negligência britânica ao desenvolvimento de suas colônias. Em 4 de julho de 1776, elaborada pelos representantes da
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A Lei do Açúcar (Sugar Act) de 1764 pode ser um indi- Virgínia, foi publicada a Declaração de Independência,
cativo da tentativa britânica de implantação do monopólio redigida por Thomas Jefferson. Com a separação instituída,
comercial próprio do pacto colonial mercantilista, aumen- o líder militar George Washington foi indicado pelo parla-
tando excessivamente os impostos alfandegários. Esta lei mento para ser o primeiro presidente dos Estados Unidos.
proibiu as treze colônias de comprar açúcar e melaço das A Declaração de Independência tornou-se a espinha dor-
Antilhas, que eram produtos baratos e de excelente qua- sal da Constituição de 1787. Adotou ideias iluministas
lidade em relação ao de beterraba inglês que os colonos, como a República, o presidencialismo, a divisão dos três
nesse momento, estavam forçados a comprar. poderes e o voto censitário.

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REVOLUÇÃO FRANCESA

As sociedades da Era Moderna eram estamentais, mas e consequente agravamento da fome. O rei Luis XVI inicia-
também continham o germe da sociedade de classes. A as- va, assim, uma série de tentativas de reformas econômicas
censão da burguesa era resultado do desenvolvimento do e sociais para salvar a França, mas todas elas encontravam
capitalismo comercial. Essa classe social apresentava duas sempre forte resistência dos setores sociais.
tendências marcantes: ou procurava ingressar na nobreza Somado ao cenário de crise no final do século XVIII, as res-
por meio da compra de títulos, ou tentava se impor a partir trições e regulamentações mercantilistas eram sentidas pela
de critérios econômicos de hierarquização social, em substi- burguesia enriquecida e ávida pelo estabelecimento das
tuição ao critério do nascimento.
condições para o desenvolvimento do capitalismo na França.
Por outro lado, o desenvolvimento manufatureiro criara uma Todavia, para isso era necessário derrubar o absolutismo e as
nova classe de trabalhadores urbanos, que teria enorme restrições mercantilistas, criando condições para uma maior
importância nos movimentos revolucionários dirigidos pela igualdade social e jurídica. O contato direto com os filósofos
burguesia. No campo, reformas formaram uma classe de da ilustração e com suas ideias permitiu à classe burguesa
pequenos produtores independentes, ávidos por se livrarem transformar seus interesses particulares em interesses gerais
dos encargos feudais. de toda a sociedade francesa. A luta contra o absolutismo, o
Na França – como na Inglaterra –, a monarquia absoluta já mercantilismo e os privilégios sociais do clero e da nobreza
cumprira seu papel, promovendo a expansão marítima, a ex- também interessava aos camponeses, artesãos e outras ca-
ploração colonial, a acumulação primitiva de capitais e a mo- madas sociais.
dernização do Estado. Porém, tanto o clero quanto a nobreza Em virtude da grave crise que se abateu sobre a França, Luis
estavam em paulatina crise e, sistematicamente, tentavam XVI criou a Assembleia dos Notáveis, apoiada por refor-
se defender, seja pela religião quanto pela repressão. Por mistas como Necker, Turgot e Breinne. Eles propuseram uma
isso, aos burgueses e trabalhadores, as duas classes repre- taxação sobre a nobreza e clero no intuito de cobrir o deficit
sentavam anacronismos. As revoluções inglesas já deram o do Estado e financiar projetos que melhorassem a vida do
exemplo de que seria possível suplantar tal estado de coisas. terceiro Estado. Essa proposta, no entanto, foi recusada pela
A sociedade francesa era dividida em três Estados: o pri- elite do antigo regime. Pressionado, o rei Luis XVI convocou,
meiro Estado representava o clero e contava com 150 mil em 1789, a Assembleia dos Estados Gerais, que se tra-
integrantes; o segundo Estado era a nobreza, com 350 tava de uma instituição política formada por representantes
mil componentes – ambos eram isentos de impostos e de dos três Estados para assessorar o monarca em momentos
todas as obrigações feudais; cerca de 24 milhões de pessoas de crise.
faziam parte do terceiro Estado, composto por burgueses, Em 5 de maio de 1789, os Estados Gerais se reuniram em
pequenos burgueses, profissionais liberais, camponeses e Versalhes. O terceiro Estado reivindicava que as votações
sans-culottes – camada heterogênea de pequenos artesãos fossem feitas individualmente, mas os outros dois pregavam
e proletários. a manutenção de apenas um voto por Estado. Revoltado, o
terceiro Estado reuniu-se e ameaçou não se dispersar, en-
quanto Luis XVI não aceitasse uma constituição que limitas-
se seus poderes.
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O rei cedeu, dando origem à Assembleia Nacional Cons-


tituinte. O medo do terceiro Estado era muito grande e, em
julho de 1789, na tentativa de dissolver a assembleia, os par-
tidários da monarquia inflamaram as descontentes massas
sans-culottes, o que definiu a tomada da Bastilha, em 14
Diante da perda de territórios coloniais para a Inglaterra, na de julho – era a revolução.
guerra dos Sete Anos (1756-1763), e das despesas pró- A primeira fase da Revolução Francesa é marcada pela a
prias de qualquer conflito, além da colaboração decisiva para Assembleia Nacional e a monarquia constitucional
garantir a vitória estadunidense na luta pela independên- (1789-1792). A França passava a ser uma monarquia cons-
cia e dos custos elevados para manter a corte, a economia titucional, com a presença de uma assembleia composta por
francesa enfrentava uma séria crise. Fator agravante foi um deputados, cujos mandatos eram de dois anos. Os eleitores
grave problema climático em 1787, que provocou uma seca precisavam de uma renda mínima para exercer o voto, o que

120
dava um caráter burguês a essa primeira fase revolucionária.
Já em 26 de agosto de 1789, fez-se a Declaração dos Di-
reitos do Homem e do Cidadão, documento escrito com
base nas ideias do iluminismo em defesa do direito de todos
à liberdade, à propriedade e à igualdade jurídica.
Tendo Luis XVI se recusado a reconhecer a declaração, o
povo de Paris, a chamada comuna, marchou ao palácio de
Versalhes, trazendo o rei à cidade. Em 1790, o antigo regime
levou outro golpe, com a criação da Constituição Civil do
Clero, que nacionalizava as propriedades da Igreja a favor
do Estado. No governo, os jacobinos impuseram o Edito do Máximo, ta-
Finalmente, em 1791, a constituição francesa foi redigida, belando o preço dos produtos. Taxaram os ricos, obrigando-os
mas também rechaçada pelo rei. Após ser obrigado a reco- a pagar mais impostos, protegendo os pobres e desampara-
nhecê-la, tentou fugir da França para iniciar um processo dos. A educação tornou-se gratuita e obrigatória. As proprie-
contrarrevolucionário, mas foi preso novamente. dades dos emigrados foram confiscadas e postas à venda
Se a constituição representava um avanço em relação ao para cobrir despesas do Estado. Evidentemente, ocorreram
absolutismo do antigo regime, também deixava a desejar as revoltas contra essas medidas e os jacobinos responderam
aspirações radicais dos sans-culottes, uma vez que o voto era com a execução de mais de 30 mil suspeitos de conspiração,
censitário. As reivindicações das camadas pobres não foram o que recebeu o nome de o Grande Terror jacobino.
satisfeitas, notadamente a distribuição de riquezas e o fim da Consequência: os sans-culottes, amedrontados com o au-
escravidão nas colônias, como a do Haiti. mento da violência, deixaram de apoiar os jacobinos, que
No parlamento francês, os deputados dividiram-se em fac- ficaram isolados no poder. Rapidamente, os girondinos con-
ções que identificavam os grupos políticos divididos ideologi- seguiram se reerguer e derrubar o jacobinismo. Robespierre e
camente. À direita, na parte de baixo da Assembleia, estavam seus pares foram guilhotinados no episódio conhecido como
os girondinos, representantes da alta burguesia e influen- o Golpe do Nove Termidor, em julho de 1794, conhecido
ciados pelas ideias de Montesquieu. À esquerda, estavam os como a Reação Termidoriana, que marcou a queda da con-
jacobinos, também chamados “montanha”, uma vez sen- venção e a volta da alta burguesia girondina ao poder.
tados no local mais alto. Liderados por Robespierre, foram A terceira fase da revolução, o Diretório (1794-1799) é re-
fortalecidos pelos cordeliers, mais radicais, Danton e Marat. presentada politicamente pelos girondinos. Instaurou-se uma
Representavam a pequena burguesia e as camadas popula- República que destruiu os avanços sociais consolidados pelos
res, defendiam a República, o voto masculino universal e o jacobinos, bem como as possibilidades de retorno das forças
tabelamento de preços. retrógradas do antigo regime. Para consolidar os privilégios
As reações externas à revolução engendraram uma contrar- burgueses, foi criada uma nova constituição: a Constituição
revolução, na qual participaram Estados absolutistas, como a do Ano III (1795), que extinguiu o tabelamento de preços e
Áustria e a Prússia, encabeçados por parte da nobreza fran- fez voltar a escravidão nas colônias; esvaziou o Comitê de
cesa. Como retaliação, a população parisiense, liderada por Salvação Pública e desmoralizou o Tribunal Revolucionário.
Danton e Marat, promoveu o massacre de setembro: invadiu O voto universal foi substituído pelo censitário, para revolta
o palácio das Tulherias e matou nobres, exigindo novas elei- dos sans-culottes. O Diretório extinguiu a Lei do Máximo e
ções por voto universal. franqueou a volta da elevação de preços das mercadorias
populares, promovendo o retorno da liberdade econômica,
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Após o conflito com o exército francês, a Áustria e a Prússia


própria do liberalismo.
foram derrotadas e o Partido Jacobino assumiu o poder re-
publicano, ao guilhotinar o rei Luis XVI, após um julgamento A estrutura política ficou nas mãos de cinco diretores, cujo
forjado a portas fechadas e cheios de arbitrariedades. Inicia- papel era chefiar o Poder Executivo. O Legislativo era com-
-se, então, a segunda fase da Revolução Francesa, a Con- posto pelo Conselho de Anciãos e pelo Conselho dos 500,
venção (1792-1794). modelo esse que criou condições para o enfraquecimento do
Nesse ambiente de extremos, foi realizada uma eleição na- governo. Os diretores brigavam entre si pela defesa de seus
cional em que as forças de esquerda venceram com o voto interesses e pelo poder. Não conseguiam barrar a corrupção
universal masculino. De maioria jacobina, o novo parlamen- nem eram eficientes na administração pública e na constru-
to implantou na França a República, em 22 de setembro de ção das obras públicas.
1792, cujos novos mandatários foram os radicais Danton, Ma- Sem legitimidade, em 1795, o governo abortou um golpe
rat e Saint-Just, sob a liderança de Robespierre. realista em Paris. No ano seguinte, foi a vez de sufocar um

121
movimento popular de tendência socialista, a Conjuração Bonaparte. Ao sair do Egito, seguido de alguns generais
dos Iguais, cujo líder, Graco Babeuf, defendia a soberania po- fiéis, reembarcou para a França, onde, com o apoio de dois
pular e a supressão da propriedade privada. Preso, Babeuf foi diretores, de toda a alta burguesia e dos sans-culottes, que
guilhotinado, em 1797. o viam como uma espécie de salvador, assumiu o poder no
A burguesia, completamente encurralada, sabia que a única Golpe do 18 Brumário, em novembro de 1799. Esse fato
instituição que poderia proteger seus interesses seria a ala do gerou o início de uma pacificação interna e de confirmação
exército, liderada pelo jovem e popular general Napoleão dos interesses da burguesia francesa.

ERA NAPOLEÔNICA E O CONGRESSO DE VIENA

Era Napoleônica aprovada em plebiscito pela imensa maioria da população


francesa e que substituía o regime de consulado pelo de
Diante do instável cenário político, Napoleão procurou fa- império. A coroação de Napoleão, em Paris, marcou o iní-
zer uma política de reconciliação, tomando várias medidas cio do segundo período de Napoleão no poder: o Império
para estabelecer a paz e garantir a segurança dos franceses. (1804-1815).
A Constituição de 1799, que foi submetida a plebiscito
e aprovada por mais de três milhões de votos, deu a Na-
poleão poderes ilimitados, sob a aparência de um regime
republicano. Daí seria iniciado o seu primeiro período de
governo: o Consulado (1799-1804).
A constituição aprovada restituía o voto universal. Fazia-se
uma lista dos candidatos mais votados, entre os quais o
governo escolhia os encarregados às funções públicas. O
Poder Legislativo, tão fraco que sua existência era só for-
Napoleão Bonaparte
mal, era composto por quatro assembleias: o Conselho de
Estado, que preparava as leis; o Tribunal, que as discutia; o Rapidamente, em âmbito interno, legalizou a reforma
Corpo Legislativo, que as votava; e o Senado, que velava agrária, estimulou a indústria, desenvolveu os códigos
pela sua execução. O Poder Executivo, confiado a três côn- comercial e penal. A infraestrutura do Estado francês foi
sules nomeados pelo Senado por dez anos, era o mais forte ampliada e sofisticada, bem como monumentos aparece-
dos poderes. O primeiro-cônsul, cargo mais poderoso, era ram para esbanjar a riqueza e o poderio da França. Por
de Napoleão. outro lado, Napoleão tornou-se cada vez mais despótico.
Garantias constitucionais, como as liberdades individuais
Após dez anos de instabilidade política, Napoleão assinou,
e políticas, foram desrespeitadas; a imprensa, censurada; o
em 1802, a Paz de Amiens, que redefiniu fronteiras colo-
conteúdo das universidades, subvertido. Ou seja, Napoleão
niais, como as do Egito e das Guianas, transmitindo a falsa
aproveitou-se do bom momento econômico e de sua boa
sensação de que a França tinha perdido o desejo de expan-
reputação para imprimir abusos.
são intercontinental.
A política externa nos tempos de império sofreu profunda
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Internamente, Napoleão fundou o Banco da França,


inflexão. O imperador Bonaparte, a despeito de ter assina-
emissor de papel-moeda e receptor dos impostos estatais,
do com a Inglaterra a Paz de Amiens, passou a ameaçá-la
que começaram a ser coletados com maior eficiência. O
constantemente. Abriram-se então quatro coligações entre,
ensino secundário foi organizado para instruir a burocracia
principalmente, Áustria, Rússia, Prússia e Inglaterra para o
pública. A principal obra napoleônica foi o Código Civil, ins-
combate a Napoleão. Porém, a superioridade francesa era
pirado no Direito Romano, nas Ordenações Reais e no Direi-
clara: nas batalhas de Ulm, na Prússia, e em Austerlitz, do
to Revolucionário. Em 1901, Napoleão restabeleceu a paz
Sacro Império Romano-Germânico, Napoleão derrotou as
com a Igreja católica, ao assinar a Concordata, pela qual a
tropas austríacas e russas. Como consequência da vitória
Igreja aceitaria o confisco de seus bens pelo Estado francês,
napoleônica em Austerlitz, Napoleão suprimiu o que resta-
em troca da não intervenção estatal em assuntos religiosos.
va do Sacro Império Romano-Germânico e criou, em 1806,
Com forte aceitação de todas as classes sociais france- a Confederação do Reno, que reunia a maioria dos Estados
sas, em 1804 foi promulgada a Constituição do Ano XII, alemães dos quais se autodenominou protetor.

122
Em 1806, Napoleão decretou o Bloqueio Continental Moscou não passava de um amontoado de entulho e cin-
contra a Inglaterra, acreditando que, ao fechar-lhe os mer- zas. Napoleão, dessa forma, teve que partir em rápida retira-
cados europeus, provocaria uma crise em sua indústria e, da do território russo, mas em pleno inverno. O resultado foi
consequentemente, uma crise social sem tamanho. O de- assustador: apenas 10 mil soldados franceses retornaram
creto proibia os países europeus, sob domínio francês ou com vida.
aliados da França, de adquirirem produtos ingleses ou de
Enfraquecido, o exército francês não resistiu à nova con-
receberem embarcações da Inglaterra em seus portos.
tenda contra seus inimigos e ruiu na conhecida Batalha
Com a derrota de todas as quatro coligações criadas para de Leipzig, em 1813. No mesmo ano, Paris foi invadida e
destruir seu exército e da invasão da península Ibérica, Na-
Napoleão, obrigado a renunciar, sendo encarcerado na ilha
poleão tornou-se o grande senhor da Europa continental.
de Elba. No governo francês, foi empossado Luís XVIII, da
Nomeou seus irmãos José, Luís e Jerônimo, respectivamen-
dinastia Bourbon e irmão de Luís XVI.
te, reis de Espanha e Nápoles, da Holanda e da Vestfália. Por
onde seus exércitos passavam, a velha ordem era destruída: Da cadeia, Bonaparte recebia notícias do chamado Gover-
implantavam-se constituições, divulgava-se o Código Civil e no dos Cem Dias. Sabia das arbitrariedades cometidas
modernizavam-se as estruturas econômicas. pelo recém-empossado rei, e, com a ajuda de alguns mi-
Com suas economias arruinadas, Inglaterra e Rússia pas- litares, retornou à França e retomou seu posto. A princípio,
saram a transacionar secretamente mercadorias, informa- logrou vitórias contra mais uma coligação absolutista, mas
ção que de prontidão chegou a Napoleão. Como punição seu combalido exército não resistiu à Batalha de Water-
à Rússia, enviou 600 mil homens para destruí-la. Os russos, loo, contra a Inglaterra e a Áustria, sendo definitivamente
utilizando a tática de terra-arrasada, conseguiram atrair o derrotado e enviado ao cárcere na ilha de Santa Helena,
exército francês até a incendiada Moscou. Com a tática, onde morreu por causas naturais.

Congresso de Viena

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Depois da primeira abdicação de Napoleão, em 1814, todos os governantes se reuniram no Congresso de Viena para discu-
tirem a reorganização política e territorial da Europa, após a Revolução Francesa e as guerras napoleônicas. Presidido pela
representação austríaca em 1815, o Congresso decidiu restaurar as dinastias destronadas até então, garantindo o Princípio
da Legitimidade, formulado pelo francês Talleyrand. A definição das novas fronteiras nacionais privilegiariam Prússia, Rússia e
Áustria. Em âmbito mundial, a Inglaterra se beneficiaria das colônias orientais e ocidentais, em detrimento da Holanda, França,
Espanha e Turquia.
O Congresso de Viena pode ser visto como uma instituição reacionária, pois permitiu a restauração do antigo regime, ou pelo
menos o absolutismo, em diversas nações europeias. Além disso, para manter novo ordenamento europeu, sancionado pelo
Congresso de Viena, Áustria, Prússia e Rússia criaram a Santa Aliança. O objetivo central era combater movimentos liberais
e republicanos nacionalistas no continente. O novo governo francês, embora uma monarquia constitucional, também foi sig-
natário da Santa Aliança.

123
IDEOLOGIAS DO SÉCULO XIX

Liberalismo da sociedade. Toda atividade econômica que resulte em


benefício pessoal, beneficia, por extensão, a sociedade
Durante a Revolução Industrial, os interesses dos burgue- em seu conjunto.
ses foram defendidos pelos economistas e filósofos liberais
(também chamados clássicos), que produziram uma série
de teorias justificadoras do capitalismo e da não interven- Cartismo
ção do Estado. Filosoficamente, destaca-se a figura de John Na Inglaterra do século XIX, a classe trabalhadora, após vá-
Locke e, na economia, nomes como David Ricardo, Adam rias constatações de que os governos e o parlamento não
Smith e Thomas Malthus. demonstravam interesse algum pela defesa de seus interes-
ses, passou a reivindicar o direito ao voto para que pudesse
eleger os legisladores e, assim, influir na elaboração de uma
legislação que favorecesse também os trabalhadores e não
só os patrões.
Para conseguirem eleger seus representantes no parlamen-
to, no entanto, necessitavam fortalecer seus sindicatos, à
época apenas uma evolução das antigas associações de
jornaleiros. Para isso, organizaram-se até conseguirem inte-
grar-se nas chamadas Trade Unions.

Caricatura sobre a relação entre liberalismo, imperialismo e exploração

Dentre os princípios do liberalismo, destacam-se:


§ Não intervenção do Estado na economia: obe-
diência às leis naturais da economia. Da mesma forma
que o universo físico, a economia é governada por um
conjunto de “leis naturais” que determinavam e condi-
cionavam os negócios. A economia se autorregula e se
autogoverna naturalmente, sem a necessidade de qual- Cartismo
quer interferência do Estado.
Foram muitos os abaixo-assinados enviados ao parlamento
§ Liberdade de contrato: o montante do salário e a ex- até que, em 1838, a classe dos trabalhadores, representada
tensão da jornada de trabalho, segundo os economistas pela Associação Geral dos Operários de Londres, remeteu ao
clássicos, devem ser fixados livremente pela negociação parlamento seu programa sintetizado na Carta do Povo. As
direta entre empregador e empregado, sem nenhuma principais reivindicações do Movimento Cartista eram:
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interferência do Estado. § Sufrágio universal para os homens


§ Liberdade de comércio e produção: a função prin- § Pagamento aos membros eleitos da Câmara dos Co-
cipal do Estado deve ser a manutenção da ordem, a pre- muns (o que tornaria possível aos pobres candidata-
servação da paz e a proteção da propriedade privada. rem-se ao posto)
§ Inviolabilidade da propriedade privada e indivi- § Parlamentos anuais
dualismo econômico: a propriedade privada é um di-
§ Nenhuma restrição de propriedade para os candidatos
reito natural do ser humano, sagrado e inviolável; o que
é herdado ou adquirido confere ao indivíduo o direito § Sufrágio secreto, para evitar intimidações
de usá-lo livremente em seu proveito. Para os econo- § Igualdade dos distritos eleitorais
mistas clássicos, não há conflito algum entre os inte- HUBERMAN, Leo. Historia da riqueza do homem.
resses particulares do indivíduo e os interesses gerais 15. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1979, p. 201.

124
Socialismo científico Em 1867, passa a ser publicado o primeiro volume de O
capital: análise crítica da produção capitalista. Os segun-
A ideia de uma distribuição equitativa de bens na socieda- do e terceiro volumes foram publicados por Engels, depois
de foi defendida por Thomas Morus, o autor renascentista da morte de Marx. O quarto volume foi publicado por Karl
de Utopia (1516). Durante a Revolução Francesa, certos Kaustsky.
ideais socialistas tomaram forma – como o de que os bens Nessa obra, Marx e Engels dedicam-se ao estudo e à análise
deveriam ser coletivos – com as propostas de Rousseau, da origem, desenvolvimento e apogeu do capitalismo, deta-
Marat, Hebert e, sobretudo, de Graco Babeuf. lhando a complexidade desse sistema; focaram nas institui-
ções econômicas do passado e do presente, com o objetivo
Mas, as origens mais claras do socialismo estão nas condi-
de descobrir o que ordenava e movimentava a sociedade
ções subumanas a que foram submetidos os trabalhadores
capitalista.
no processo de consolidação do capitalismo, como os siste-
mas econômico, político e social, pela Revolução Industrial.
Antes de o socialismo científico ser gestado, houve amplo
Princípios do Socialismo
desenvolvimento de ideais socialistas, principalmente na científico (marxismo)
França, no início do século XIX. Seus representantes foram § Materialismo histórico: a economia (condições ma-
classificados posteriormente de socialistas utópicos, por teriais de existência) forma a base, a infraestrutura da
acreditarem que a mudança social viria meramente por sociedade, sobre a qual se ergue uma superestrutura
uma mudança na consciência dos homens, e não por uma política, jurídica, filosófica, religiosa, moral etc. Em razão
mudança material e econômica. Seus principais represen- disso, as transformações ocorridas nessa superestrutura
tantes foram Saint-Simon, Charles Fourier, Louis Blanc e eram determinadas, em última instância, pelas mudan-
Robert Owen. ças ocorridas nas forças econômicas da sociedade.
Os alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels § A luta de classes é o motor da história: a divisão
(1820-1883) fundaram o socialismo científico. Para eles, da sociedade em classes seria determinada por fatores
o proletariado era visto como a classe revolucionária en- de ordem econômica, sobretudo pela existência da pro-
carregada a derrubar o Estado capitalista. Se a sociedade priedade privada. Os interesses econômicos antagôni-
capitalista detinha suas próprias regras, elas deveriam ser cos dão origem e sustentam o conflito entre as classes
conhecidas e analisadas cientificamente sob o crivo da sociais e essa luta entre dominantes (donos dos meios
história e da economia política. Conhecidos a natureza de produção e do capital) e dominados (proprietários
e o funcionamento da sociedade capitalista, seriam pro- tão somente da sua força de trabalho, que é vendida ao
postas as condições de sua transformação. capitalista e constitui a força motriz das grandes trans-
formações históricas).
Em fevereiro de 1848, publicaram o Manifesto comunis-
ta, no qual descreveram a luta de classes como propulso-
ra da história e do advento do capitalismo; estabelecem
a crítica ao socialismo utópico e traçam um programa
político conclamando as classes trabalhadoras a uma re-
volução para a derrubada do sistema capitalista.
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Representação da luta de classes

§ O proletariado é o agente revolucionário de


transformação da sociedade capitalista: como
classe subalterna, deve assumir o papel de agente
transformador, assim como fizera a burguesia contra
a nobreza ao derrubar o antigo regime durante a Re-
volução Francesa. Cabe-lhe ser agente de uma revolu-
ção social que cria condições para a transformação da
sociedade capitalista e burguesa em um novo tipo de
sociedade. Segundo Marx, a libertação da classe traba-
Karl Marx
lhadora é uma obra dos próprios trabalhadores.

125
§ O Socialismo é uma fase de transição para o Co- –, no fim da exploração do homem pelo homem, na
munismo: da luta entre as classes operária e burguesa construção de uma sociedade sem classes e no desapa-
surge a sociedade socialista, mediante a qual o prole- recimento gradual do Estado.
tariado se apodera do poder político – ditadura do
§ Mais-valia: diferença entre o volume da riqueza pro-
proletariado – e converte em propriedade coletiva os
duzida pelo trabalhador e o montante do salário rece-
meios de produção pertencentes à burguesia. Nessa so-
bido pelo trabalho realizado. Como o salário é sempre
ciedade socialista ainda existem o Estado e a diferença
inferior à riqueza produzida, essa diferença, correspon-
entre o trabalho manual e intelectual. O socialismo seria
dente ao trabalho não pago, dá origem ao lucro ob-
a fase intermediária de transição, da passagem do ca-
tido pelos capitalistas. O processo de acumulação de
pitalismo para o comunismo – baseado na propriedade
riquezas pela burguesia tem por base a exploração do
social dos meios de produção – fábricas, terras, bancos
trabalho.

REVOLUÇÕES DE 1830 E 1848 E SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

No início do século XIX, forças sob o comando da burguesia Após o Governo dos Cem Dias, a casa dos Bourbons re-
liberal, inspiradas pela Revolução Francesa e lideradas por tornou ao poder da França, com Luís XVIII. Contudo, a
Napoleão Bonaparte, invadiram grande parte da Europa, en- restauração não significou a volta à política absolutista. A
fraquecendo, com isso, o antigo regime. Com a derrota de partir de 1815, Luís XVIII adotou uma política moderada,
Napoleão em Waterloo, configurou-se um ambiente propício procurando conciliar a restauração do absolutismo com
ao retorno das casas reais absolutistas, cenário em que nas- a manutenção de algumas conquistas da Revolução de
ceu o conservador Congresso de Viena (1815), que recusou 1789, como a igualdade jurídica dos cidadãos franceses.
os ideais revolucionários. Contudo, as forças de oposição rea- Outorgou uma constituição instaurando uma assembleia
gruparam-se e passaram a se rebelar contra o próprio regime que seria eleita pelo voto censitário.
absolutista. Foi o caso da deflagração da Revolução Liberal Inspirados pelo chamado “terror branco”, passaram a
do Porto (1820), em Portugal, que estabeleceu a monarquia perseguir os liberais, partidários da Revolução Francesa,
constitucional e subordinou o poder do rei João VI ao parla- e os bonapartistas, mediante ações que se caracterizaram
mento lusitano. Em outras áreas europeias, desenhava-se o como verdadeiros massacres. Os excessos cometidos pelos
mesmo cenário de busca pela liberdade. No entanto, como o ultrarrealistas obrigaram Luís XVIII a dissolver a Câmara e
Congresso de Viena havia legitimado as invasões territoriais convocar novas eleições, vencidas pelos constitucionalistas,
da Áustria, Prússia e Rússia sobre algumas regiões da Euro- partidários da plena aplicação da Constituição.
pa, a luta pelo ideal de liberdade e pelo liberalismo burguês
passou a incluir também a luta pela independência daquelas Após a morte de Luís XVIII, em 1824, ascendeu ao trono
regiões, acendendo a luz do nacionalismo. seu irmão Carlos X, chefe do Partido Ultrarrealista, que, em
1830, apoiado pela nobreza, desfechou um golpe de Esta-
do, com a intenção de aniquilar a oposição liberal burguesa
e restaurar o absolutismo no país.
Essas medidas foram criticadas pelo povo parisiense, que criou
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barricadas nas ruas durante os “Três Dias Gloriosos”. Lutaram,


assim, contra as tropas fiéis ao rei. Na madrugada de 29 de
julho de 1830, a revolução mais uma vez triunfou na França.
Carlos X, temendo o mesmo fim de Luís XVI, fugiu para a In-
glaterra, deixando o trono para seu neto menor de idade.
Naquele momento, a burguesia francesa, ao contrário de par-
te da população de Paris, queria uma monarquia constitucio-
nal. Por isso, os burgueses nomearam rei da França o duque
de Orleans, Luís Filipe, cuja família mantinha estreitas relações
com os grandes banqueiros. A proximidade de Luís com os
Napoleão Bonaparte banqueiros gerou-lhe a alcunha de Luís, o rei banqueiro.

126
Essa revolução repercutiu na Europa e a burguesia passou desenvolvimento industrial acelerado, que fortaleceu
a propagandear seus ideais, que foram sendo assumidos a burguesia industrial e comercial. Por outro lado, a
pela maioria da população das pequenas nações na luta situação dos operários era de extrema miséria, de bai-
pela liberdade política (liberalismo), pelo nacionalismo e xos salários e de jornada de trabalho com mais de 14
crítica às decisões do Congresso de Viena. Com isso, um horas diárias.
solo fértil para agitações políticas foi gestado, ocasionando Os oposicionistas ao governo de Luís Filipe organizaram-se
nas revoluções de 1848. em vários partidos: legitimista, constituído pela nobreza, de-
De modo geral, foram três os fatores das revoluções de sejosa de restaurar o poder dos Bourbon, depostos em 1830;
1848: o liberalismo, contrário às limitações impostas bonapartista, formado pela pequena burguesia e liderado por
pelo absolutismo; o nacionalismo, que procurou unir po- Luis Bonaparte, sobrinho de Napoleão; socialista, composto
liticamente os povos de mesma origem e cultura; e o so- por diversas facções que procuravam organizar a classe ope-
cialismo, força nova, nascida nos movimentos de 1830, rária; republicano, de tendência nacionalista, que encontrava
que pregou a igualdade social e econômica mediante re- apoio entre a classe média e os profissionais liberais.
formas radicais. Seguido pela população da cidade e por alguns setores
Além desses, podem ser mencionados também como fato- da Guarda Nacional, o proletariado parisiense rebelou-se.
res das revoluções de 1848: Foram três dias de luta nas barricadas. No dia 24 de feve-
reiro, Luís Filipe abdicou, quando então estabeleceu-se um
§ as péssimas colheitas na Europa, entre 1846 e 1848,
governo provisório que proclamou a República. Sob pres-
fazendo com que os preços dos produtos agrícolas su-
são dos trabalhadores, foram criadas as oficinas nacionais,
bissem muito, agravando a situação das camadas mais
empresas dirigidas e sustentadas pelo Estado. Para pagar
pobres; e
os salários dos trabalhadores dessas oficinas, os impostos
§ as crises na indústria – notadamente a têxtil – e agríco- foram elevados, o que provocou uma crise ainda maior na
la, que desencadearam o empobrecimento dos campo- economia francesa. As oficinas foram fechadas.
neses e diminuíram ainda mais o consumo de tecidos,
gerando superprodução e desemprego. Nesse ambiente de radicalização, a Segunda República foi
implantada, o voto universal instituído, para temor da bur-
guesia, mas imprescindível para que ela obtivesse o apoio
da população e não se mantivesse isolada, permitindo o
crescimento político dos grupos radicais. A burguesia apro-
veitou-se da situação para indicar o sobrinho de Napoleão
Bonaparte para a presidência do país, graças à sua populari-
dade, herdada do tio, e às suas ligações com o pensamento
liberal. Luís Bonaparte venceu a eleição pelo voto universal
e a burguesia continuou a controlar a administração pública.
Em 1851, a burguesia notou que o governo de Luis Napo-
leão tinha possibilidade de acabar com a radicalização da
República, uma facção da burguesia apoiou-o numa espécie
de segundo Golpe de 18 de Brumário que implantou um
Barricada na rua Soufflot (1848), de Horace Vernet plebiscito e tornou-o “imperador” com o título de Napo-
leão III no Segundo Império. Politicamente, o Segundo
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

No caso específico da França, quando Luís Filipe assumiu


Império caracterizou-se pelo cesarismo de Napoleão III, que
o poder, um político francês comentou: “De hoje em dian-
governou ditatorialmente por meio de vários plebiscitos.
te governarão os banqueiros”. Ele tinha razão. Todas as
facções da burguesia – pequenos burgueses, industriais, No âmbito social, empreendeu vigoroso programa de
comerciantes etc. – haviam participado da luta contra o modernização do país, com a construção de estradas de
poder absolutista e a velha aristocracia, mas quem assu- ferro, portos, canais e estradas. O prefeito Haussmann
miu o poder foi apenas uma parte da burguesia ligada ao mudou a fisionomia de Paris, ampliando suas avenidas e
capital financeiro. reurbanizando a cidade.
Em relação ao governo anterior, houve pequenos pro- Podemos considerar a revolução de fevereiro de 1848, na
gressos sociais: direito de voto muito pouco ampliado, França, como o estopim para o início de um período revo-
embora mantivesse a imprensa censurada e a oposi- lucionário no resto da Europa. A Itália viu-se sacudida por
ção reprimida. Mesmo assim, a França conseguira um movimentos que se estenderam do Sul ao Norte. Na Ale-

127
manha, por exemplo, a Prússia viveu um grande movimen- a ser utilizada em processos produtivos até, finalmente,
to popular. O mesmo ocorreu no Império Austríaco, quando chegar ao consumo diário da população.
a capital foi totalmente tomada pelos revolucionários.

Desenho de uma região industrial, em meados do século XIX

A partir da Segunda Revolução Industrial, o capitalismo


industrial foi gradualmente cedendo lugar ao capital finan-
ceiro e passando para os grandes bancos o controle das
empresas industriais e comerciais. As finanças conquista-
ram a supremacia sobre a produção e a circulação de mer-
cadorias. Nessa etapa, os grandes bancos investiram na
Napoleão III
compra de ações e foram assumindo o controle acionário
Concomitantemente às agitações políticas, germinava das empresas. Por outro lado, os empréstimos e financia-
em solo europeu a Segunda Revolução Industrial. mentos também contribuíram para submeter às empresas
Enquanto a primeira fase da Revolução Industrial concen- à inteira dependência das instituições financeiras.
trou-se na produção de bens de consumo, particularmente
Surgiram fenômenos de mercado, tais como:
de têxteis de algodão, na segunda fase a indústria pesada
passou a ser o centro do sistema produtivo. A produção de § trustes – formam-se graças à eliminação ou absorção
aço superou a de ferro e os preços caíram consideravel- de pequenos concorrentes por grandes empresas, que
mente. O descobrimento dos processos eletrolíticos estimu- passam a monopolizar a produção de certo produto, e
lou a produção de alumínio. Na indústria química, o grande são regularmente resultados da fusão de empresas do
avanço foi representado pela obtenção de métodos mais mesmo ramo;
baratos para produção de soda cáustica e ácido sulfúrico,
§ cartéis – são anomalias de mercado formadas median-
particularmente importantes para a fabricação de papel e
te acordo entre grandes empresas, que, para evitar os
explosivos e para a vulcanização da borracha.
desgastes da concorrência, convencionam entre si for-
A construção e expansão das ferrovias exigiram que os mas de manutenção dos preços e de divisão dos mer-
bancos e as companhias de ações mobilizassem seus ca- cados, deixando sempre a salvo a autonomia de cada
pitais; os efeitos multiplicadores desse processo foram a uma delas;
dinamização da produção de ferro, dormentes, cimento,
locomotivas e vagões. A invenção do barco a vapor, em § holdings – consistem na aceitação do controle de uma
1808, revolucionou a navegação marítima. grande companhia sobre inúmeras outras, mediante a
compra da maior parte de suas ações, o que lhes per-
A agricultura adaptou-se às novas condições impostas pela
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

mitem passar a atuar de forma coordenada.


sociedade de massa, que incorporou novos produtos e no-
vos instrumentos de trabalho e intensificou os rendimen- Outra consequência importante da Segunda Revolução In-
tos, adequando a produção ao mercado consumidor. dustrial e da era do capitalismo financeiro ou monopolista foi
Fundamental para o período foi o desenvolvimento do o desenvolvimento do Imperialismo e o Neocolonialismo. Em
motor a combustão interna, que abriu caminho para a busca de novos mercados consumidores e de insumos para
utilização do petróleo em larga escala. Ele passou a ser suas indústrias, os países europeus promoveram uma expan-
utilizado como força motriz em navios e locomotivas, são territorial a partir de intervenções violentas na Ásia e na
criando também condições para o aparecimento do au- África. Tal ânimo expansionista explica, em parte, as causas
tomóvel e do avião. Além disso, a energia elétrica passou da Primeira Guerra Mundial, já no século XX.

128
U.T.I. - Sala 4. (UFRJ) Quando o amor-próprio [egoísmo] começou
a crescer na terra, então começou o Homem a decair.
Quando a humanidade começou a brigar sobre a terra,
1. (UERJ) Na pintura “O século das luzes“, observam-se e alguns quiseram ter tudo e excluir os demais, forçan-
elementos representativos do movimento intelectual do-os a serem seus servos: foi essa a Queda de Adão.
denominado iluminismo. Em 1784, o filósofo alemão
Adaptado de: HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça.
Immanuel Kant definiu esse movimento como um pro- São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 169.
cesso de esclarecimento que permitiu ao homem che-
a) Explique por que podemos associar o texto acima
gar à sua maioridade.
às correntes mais radicais que atuaram na Revolução
Inglesa de 1640.
b) O texto acima pretende, à luz da Bíblia, discutir
algumas tensões próprias da sociedade inglesa do
século XVII. Cem anos antes, o mesmo procedimen-
to esteve presente nas rebeliões dos camponeses
anabatistas alemães. Analise uma diferença entre o
ideário anabatista e o luterano no que se refere à au-
toridade dos príncipes.

5. (FUVEST) Durante o século XVIII, na Europa, constitu-


íram-se dois polos dinâmicos: um de dimensão cultural,
“O século das luzes“, de Raymond Dumoux. representado pela França, e outro de dimensão econô-
VAINFAS, Ronaldo et al. História. vol. 2. São Paulo: Saraiva, 2011. mica, representado pela Inglaterra.
Identifique na imagem dois elementos representativos Descreva aspectos referentes ao:
do pensamento iluminista. Associe, também, um desses a) primeiro polo.
elementos a uma característica do iluminismo. b) segundo polo.
2. (UNICAMP) Observe a imagem abaixo. 6. (UFRJ) Em Sheffield, cidade famosa pela produção
de tesouras, foices, facas e navalhas, 769 metalúrgicos
enviaram petição ao Parlamento, em 1789, contra o
comércio de escravos.
“[...] sendo os artigos de cutelaria enviados em grandes
quantidades para a costa da África a título de paga-
mento por escravos, supõe-se que os interesses de seus
peticionários possam ser prejudicados se tal comércio
for abolido. Mas, uma vez que seus peticionários sem-
“A pesca das almas“ (1614), de Adriaen van de Venne. pre compreenderam que os nativos da África nutrem
Rijksmuseum, Amsterdã, Holanda (detalhe). grande aversão pela escravidão no exterior, consideram
a) A imagem representa a disputa entre calvinistas e o caso das nações africanas como se considerassem o
católicos. Como estão representados os calvinistas na seu próprio.”
obra do artista holandês? Adaptado de: HOCHSCHILD, Adam. Bury the Chains.
Boston: Houghton Miffflin, 2004.
b) Explique a importância econômica da Holanda
como potência marítima no contexto europeu do sé- De acordo com uma visão recorrente na historiografia,
culo XVII. a Inglaterra teria abolido o tráfico de escravos para
suas colônias, em 1807, com o objetivo de ampliar o
3. (UNICAMP) A base da teologia de Martinho Lutero mercado para seus produtos industrializados.
reside na ideia da completa indignidade do homem,
Explique de que maneira o trecho acima questiona
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

cujas vontades estão sempre escravizadas ao pecado. A


essa visão.
vontade de Deus permanece sempre eterna e insondá-
vel e o homem jamais pode esperar salvar-se por seus
7. (UFSCAR) Os palácios de fada eram um incêndio de
próprios esforços. Para Lutero, alguns homens estão
luzes, antes que a pálida madrugada deixasse ver as
predestinados à salvação e outros, à condenação eter-
monstruosas serpentes de fumo espraiando-se sobre
na. O essencial de sua doutrina é que a salvação se dá
Coketown. Um barulho de sapatos pesados na calçada,
pela fé na justiça, graça e misericórdia divinas.
um tilintar de sinetas e todos os elefantes melancoli-
Adaptado de: SKINNER, Quentin. As fundações do pensamento político camente loucos, polidos e oleados para a rotina diária,
moderno. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 288-290. recomeçavam a sua tarefa.
a) Segundo o texto, quais eram as ideias de Lutero Stephen, atento e calmo, debruçava-se sobre o seu tear,
sobre a salvação? formando como os outros homens perdidos naquela
b) Quais foram as reações da Igreja católica à Refor- floresta de máquinas um contraste com a máquina po-
ma protestante? derosa com que trabalhava.

129
Umas tantas centenas de operários na fábrica, umas Descreva a conjuntura política da Inglaterra, em me-
tantas centenas de cavalos-vapor de energia. Sabe-se ados do século XVII, e aponte duas características da
até ao mais pequeno pormenor aquilo que a máquina teoria de Estado formulada por Hobbes.
é capaz de fazer. Não existe qualquer mistério na má-
quina, porém, no mais mesquinho dentre esses homens 10. (UNICAMP) Da Idade Média aos tempos moder-
existe um mistério jamais decifrado. nos, os reis eram considerados personagens sagrados.
Os reis da França e da Inglaterra “tocavam as escrófu-
O dia clareou e mostrou-se lá fora, apesar das luzes bri- las”, significando que eles pretendiam, somente com o
lhantes do interior. As luzes apagaram-se e o trabalho contato de suas mãos, curar os doentes afetados por
continuou. Lá fora, nos vastos pátios, os tubos de esca- essa moléstia. Ora, para compreender o que foram as
pamento do vapor, os montes de barris e ferro-velho, monarquias de outrora, não basta analisar a organi-
os montículos de carvão ainda acesos, cinzas, por toda zação administrativa, judiciária e financeira que essas
parte, amortalhavam o véu da chuva e do nevoeiro. monarquias impuseram a seus súditos, nem extrair dos
O trabalho continuou até a sineta tocar o meio-dia. grandes teóricos os conceitos de absolutismo ou direito
Mais barulho de sapatos nas calçadas. Os teares, as ro- divino. É necessário penetrar as crenças que floresce-
das e as mãos paravam durante uma hora. ram em torno das casas principescas.
Adaptado de: BLOCH, Marc. Os reis taumaturgos.
Stephen saiu do calor da fábrica para o frio e a umida- São Paulo: Companhia das Letras, 1993, p. 43-44.
de da rua molhada. Vinha cansado e macilento. Dando
as costas ao seu bairro e aos companheiros, levando a) De acordo com o texto, como se pode compreen-
apenas um naco de pão, dirigiu-se à colina, onde residia der melhor as monarquias da Idade Média e da Idade
o seu patrão numa casa vermelha com persianas pre- Moderna?
tas, cortinas verdes, porta de entrada negra, onde se lia b) O que significa “direito divino dos reis”?
Bounderby, numa chapa de cobre. c) Caracterize a política econômica das monarquias
DICKENS, Charles. Tempos difíceis. São Paulo: Clube do Livro, 1969. europeias entre os séculos XVI e XVIII.

a) Identifique o contexto histórico descrito no texto. 11. Durante o período das Cruzadas, São Bernardo de
b) A partir da interpretação do texto, escreva sobre os Claraval (1090-1153) escreveu:
aspectos econômicos e sociais do contexto histórico “Mas os soldados de Cristo combatem confiantes nas
citado. batalhas do Senhor, sem nenhum temor de pecar por
pôr-se em perigo de morte e por matar o inimigo. Para
8. (UNIFESP) Com a Reforma e a Contrarreforma, os
eles, morrer ou matar por Cristo não implica qualquer
dois protagonistas principais de uma e de outra foram
crime, pelo contrário, traz a máxima glória. (...) Em out-
Calvino e Inácio de Loyola.
ras palavras: o soldado de Cristo mata 98 com a con-
Comente o papel e a importância de: sciência tranquila e morre com a consciência mais tran-
a) Calvino, para o protestantismo. quila ainda.”
b) Inácio de Loyola, para o catolicismo. (São Bernardo de Claraval apud COSTA, Ricardo da.
Apresentação: A Cruzada Renasceu? BLASCO VALLÈS, Almudena,
9. (UERJ) A ilustração abaixo está estampada na folha e COSTA, Ricardo da (coord.). Mirabilia 10. A Idade Média e
as Cruzadas. jan.-jun. 2010/ISSN 1676- 5818, p. XIII)
de rosto da obra Leviatã, de Hobbes, publicada em
1651, na Inglaterra. A figura do leviatã é proveniente de No que se refere às Cruzadas no período medieval, de-
mitologias antigas, sendo empregada para personificar termine quem eram esses soldados de Cristo referen-
o Estado absolutista europeu. ciados no trecho acima, quais as motivações para em-
preender suas batalhas e quais as suas consequências
para o mundo ocidental daquele período.

U.T.I. - E.O.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

1. (UFRJ) Durante a guerra dos Trinta Anos (1618-1648),


o atual território da Alemanha perdeu cerca de 40% de
sua população, algo comparável, na Europa, apenas às
perdas demográficas decorrentes das ondas de fome e
de epidemias do século XIV. No século XVII, tal catástro-
fe populacional abarcou apenas a Europa central. Para
o historiador francês Emmanuel Le Roy Ladurie, isso se
deveu ao fato de a Germânia desconhecer o fenômeno
do Estado Moderno.
Explique um aspecto político-militar próprio do Estado
moderno, cuja ausência contribuiu para a catástrofe de-
Fonte: <http://cdhi.mala.bc.ca>. mográfica ocorrida na Germânia, no século XVII.

130
2. (UFRJ) A sociedade feudal era uma estrutura hi- 5. (UNICAMP) As primeiras vítimas da Revolução Fran-
erárquica: alguns eram senhores, outros, seus servi- cesa foram os coelhos. Pelotões armados de paus e foi-
dores. Numa peça teatral da época, um personagem ces saíam à cata de coelhos e colocavam armadilhas em
indagava: desafio às leis de caça. Mas os ataques mais espetacu-
— De quem és homem? lares foram contra os pombais, castelos em miniatura;
dali partiam verdadeiras esquadrilhas contra os grãos
— Sou um servidor, porém não tenho senhor ou cava-
dos camponeses, voltando em absoluta segurança para
leiro.
suas fortalezas senhoriais. Os camponeses não estavam
— Como pode ser isto? Retrucava o personagem. dispostos a deixar que sua safra se transformasse em ali-
Adaptado de: HILL, Christopher. O mundo de ponta-cabeça. mento para coelhos e pombos e afirmavam ser a “vonta-
São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 55. de geral da nação” que a caça fosse destruída. Aos olhos
de 1789, matar caça era um ato não só de desespero,
No século XVI, a sociedade rural inglesa, até então rela- mas também de patriotismo, e cumpria uma função sim-
tivamente estática, estava se desagregando. bólica: derrotando privilégios, celebrava-se a liberdade.
Apresente um processo socioeconômico que tenha con- Adaptado de: SCHAMA, Simon. Cidadãos: uma crônica da Revolução
tribuído para essa desagregação. Francesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1989, p. 271-272.
a) De acordo com o texto, por que os camponeses
3. (UERJ) (...) Minuciosas até o exagero são as descrições defendiam a matança de animais?
das operações manuais de Robinson: como ele escava
b) Cite dois privilégios senhoriais eliminados pela Re-
a casa na rocha, cerca-a com uma paliçada, constrói um
volução Francesa.
barco (...) aprende a modelar e a cozer vasos e tijolos.
Por esse empenho e prazer em descrever as técnicas
6. (UERJ) O rei é vencido e preso. O Parlamento tenta
de Robinson, Defoe chegou até nós como o poeta da
negociar com ele, dispondo-se a sacrificar o exército.
paciente luta do homem com a matéria, da humildade e
A intransigência de Carlos, a radicalização do exérci-
grandeza do fazer, da alegria de ver nascer as coisas de
to, a inépcia do parlamento somam-se para impedir
nossas mãos. (...) A conduta de Defoe é, em Crusoé (...),
essa saída “moderada”; o rei foge do cativeiro, afinal,
bastante similar à do homem de negócios respeitador
e uma nova guerra civil termina com a sua prisão pela
das normas que na hora do culto vai à igreja e bate no
segunda vez. O resultado será uma solução, por assim
peito, e logo se apressa em sair para não perder tempo
dizer, moderadamente radical (1649): os presbiteria-
no trabalho.
CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos.
nos são excluídos do parlamento, a câmara dos lordes
São Paulo: Companhia das Letras, 1998. é extinta, o rei decapitado por traição ao seu povo
após um julgamento solene sem precedentes, procla-
Daniel Defoe, no romance Robison Crusoé, deixa trans- mada a República; mas essas bandeiras radicais são
parecer a influência que as ideias liberais passaram a tomadas por generais independentes, Cromwell à tes-
exercer sobre o comportamento de parcela da socieda- ta, que as esvaziam de seu conteúdo social.
de europeia ainda no século XVIII. RIBEIRO, Renato Janine. In: HILL, Christopher. O mundo de
Com base no fragmento citado, identifique um ideal li- ponta-cabeça: ideias radicais durante a Revolução Inglesa
beral expresso nas ações do personagem Robinson Cru- de 1640. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

soé. Em seguida, explicite como esse ideal se opunha à O texto faz menção a um dos acontecimentos mais im-
organização da sociedade do antigo regime. portantes da Europa no século XVII: a Revolução Puri-
tana (1642-1649). A partir daquele acontecimento, a In-
4. (PUC-RJ) A “Declaração dos Direitos do Homem e do glaterra viveu uma breve experiência republicana, sob
Cidadão”, votada em 1789 pela Assembleia Nacional a liderança de Oliver Cromwell. Dentre suas realizações
Constituinte, foi um ato fundamental da Revolução Fran- mais importantes, destaca-se a decretação do primeiro
cesa e contém os princípios que inspirarão muitas consti- Ato de Navegação.
tuições modernas. Em seus primeiros artigos, afirma que
Explique a importância do Ato de Navegação para a
“os homens nascem livres e iguais em direitos” e que as
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

economia inglesa e aponte duas ações políticas da Re-


distinções devem se basear na “utilidade comum”.
pública Puritana.
Em 1948, a ONU aprovou a “Declaração Universal dos
Direitos do Homem” e retomou em sua abertura as pa- 7. (UERJ) Relações entre a pregação protestante e as
lavras dos revolucionários franceses: “Todas as pessoas estruturas políticas então existentes foram muitas vez-
nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São do- es decisivas tanto para os destinos da pregação em si
tadas de razão e consciência e devem agir em relação quanto para os rumos afinal tomados pela organização
umas às outras com espírito de fraternidade”. das novas Igrejas.
a) Identifique dois direitos reivindicados pela Declara- FALCON, Francisco José Calazans. In: RODRIGUES, Antonio
ção de 1789 e explique por que eram revolucionários, Edmilson M.; FALCON, Francisco José C. Tempos modernos: ensaios
de história cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
para a época.
b) Indique uma instituição ou agência criada nos úl- O texto acima se refere a processos da Reforma Religio-
timos sessenta anos para a defesa internacional dos sa ocorridos na Europa. O movimento reformista, entre-
direitos humanos. tanto, conheceu diferentes reações em distintas áreas.

131
Indique duas causas para a Reforma Religiosa na 9. (UNICAMP) Em 1348, a peste negra invadiu a Fran-
Inglaterra e uma consequência econômica desse ça e, dali para a frente, nada mais seria como antes.
movimento. Uma terrível mortalidade atingiu o reino. A escassez
de mão de obra desorganizou as relações sociais e
8. (UFRJ) A observação do trabalho dos mestres retra- de trabalho. Os trabalhadores que restaram aumen-
tistas da aristocracia ajuda a compreender os cenários taram suas exigências. Um rogo foi dirigido a Deus,
políticos e sociais de variados momentos históricos. Na e também aos homens incumbidos de preservar Sua
primeira tela, referente aos primórdios do século XVI, ordem na Terra. Mas foi preciso entender que nem
um aristocrata europeu é apresentado como senhor a Igreja nem o rei podiam fazer coisa alguma. Não
da guerra. Na segunda, de 1798, o nobre, mesmo não era isso uma prova de que nada valiam? De que o
abrindo mão de insígnias militares, surge como compo- pecado dos governantes recaía sobre a população?
nente da elite política e administrativa, pois lida com Quando o historiador começa a encontrar tantas mal-
documentos e livros. dições contra os príncipes, novas formas de devoção
e tantos feiticeiros sendo perseguidos, é porque de
repente começou a se estender o império da dúvida
e do desvio.
Adaptado de: Georges Duby. A Idade Média na França
(987-1460): de Hugo Capeto a Joana D’arc. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1992, p. 256-258.

a) A partir do texto, identifique de que maneira a pes-


te negra repercutiu na sociedade da Europa medieval,
em seus aspectos econômico e religioso.
b) Indique características da organização social da Eu-
ropa medieval que refletiam a ordem de Deus na Terra.

10. (UFRJ) Na realidade, a prudência recomenda que


não se mudem os governos instituídos há muito tempo
por motivos leves e passageiros; e, assim sendo, toda
experiência tem mostrado que os homens estão mais
dispostos a sofrer, enquanto os males são suportáveis,
do que a se desagravar, abolindo as formas a que se
acostumaram. Mas quando uma longa série de abusos
Tiziano Vecellio di Gregorio –
e usurpações, perseguindo invariavelmente o mesmo
O eleitor João Frederico, duque de Saxônia,
Museu do Prado. Fonte: <http://pintura.aut.org>. objeto, indica o desígnio de reduzi-los ao despotismo
absoluto, assistem-lhes o direito, bem como o dever, de
abolir tais governos e instituir novos guardas para sua
futura segurança.
Declaração de Independência dos Estados Unidos
da América (4 de julho de 1776)

O fragmento faz menção a medidas de natureza coerci-


tiva impostas pela Inglaterra às Treze Colônias, após a
guerra dos Sete Anos (1756-1763).
a) Cite e explique uma destas medidas.
b) Identifique e explique um princípio, presente no
texto, derivado da mentalidade democrática e liberal
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

da época.

MarianoSalvadorMaella–DonFroilándeBerganza(1798),
Museu do Prado. Fonte: <http://pintura.aut.org>.

Explique duas mudanças ocorridas nos sistemas po-


líticos das sociedades europeias entre os séculos XVI
e XVIII.

132
HISTÓRIA

2
CIÊNCIAS
HISTÓRIA DO BRASIL
HUMANAS
e suas tecnologias

U.T.I.
PRIMEIRO REINADO (1822-1831)

brasileiro de dois milhões de libras, dinheiro este oriundo de


empréstimo inglês. Logo, em 1826, a Inglaterra reconheceu
a independência do Brasil, mas, em troca, procurou obter
vantagens econômicas exigindo a manutenção das tarifas al-
fandegárias preferenciais de 15% para os produtos ingleses.
Um novo país necessita de uma nova constituição. Das 19
províncias brasileiras, apenas 14 enviaram representantes
para a Assembleia Constituinte, em 1823. D. Pedro e
seus aliados defendiam que o imperador tivesse a centra-
lização política. O projeto constitucional, cujo relator foi
Antônio Carlos de Andrada e Silva, ficou conhecido como
bandeira do Império brasileiro
Constituição da Mandioca, uma vez que estabelecia o
Diferente do que se costuma afirmar, o processo de voto censitário: a participação política, de acordo com uma
independência do Brasil não foi pacífico. Algumas províncias, renda anual equivalente aos alqueires de mandioca planta-
como Bahia, Maranhão, Grão-Pará, Piauí e Cisplatina rebe- dos. Além disso, as eleições seriam indiretas e mantidas as
laram-se e não reconheceram a autoridade do imperador D. bases econômicas coloniais, destacando-se a escravidão. O
Pedro I. Estado seria tripartite: Legislativo, Executivo e Judiciário. Ha-
O fato dessas províncias serem governadas por portugueses veria um relativo predomínio do Legislativo sobre o Executivo
fez com que as autoridades quisessem manter-se fiéis às cor- – o imperador não poderia vetar as decisões do Legislativo
tes e aos interesses portugueses. e determinava que portugueses não poderiam ocupar cargos
públicos.
Visando manter a integridade territorial e a paz, D. Pedro I
lançou mão da repressão militar a todas as províncias revol- Descontente, D. Pedro I desentendeu-se com os irmãos An-
tosas. Pelo fato de não possuir exército próprio, endividou-se drada e vários outros deputados constituintes e determinou
ao contratar forças mercenárias, legando uma enorme dívida o fechamento da Assembleia, que permaneceu reunida sob
externa ao recém-formado país. Resolvida a questão interna, protesto. Na noite do dia 11 para 12 de novembro de 1823,
restava a questão externa. esse episódio ficou conhecido por Noite da agonia.

Para que o Brasil pudesse estabelecer relações políticas e O imperador, então, nomeou um Conselho de Estado com-
econômicas com o exterior, era necessário que sua indepen- posto por dez membros, com a função de elaborar, sob sua
dência política fosse reconhecida por outros países. Apesar supervisão pessoal, um novo projeto constitucional para o
da Inglaterra mostrar-se interessada, esse foi um processo Brasil. Apesar de ter adotado alguns pontos do projeto da
lento e difícil. Cabe lembrar de que a maioria dos países eu- Constituição da Mandioca, a nova constituição ficou pronta
ropeus apoiava a postura política antiliberal e recolonizadora em 1824 e foi outorgada (imposta) por D. Pedro I, em 25
da Santa Aliança, que previa a intervenção militar em países de março com as seguintes características:
ou colônias europeias onde ocorressem movimentos de ca- § Monarquia hereditária constitucional; unitarismo,
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

ráter liberal. centralização do poder político; províncias sem auto-


Dessa forma, os Estados Unidos foram o primeiro país a re- nomia com presidentes nomeados pelo poder central;
conhecer oficialmente a independência do Brasil, em 1824, quatro poderes: Legislativo, Executivo, Judiciário e Mo-
em virtude da Doutrina Monroe, que defendia a “América derador.
para os americanos”, ou seja, o direito à soberania dos povos § Eleições eram realizadas de forma indireta, censitá-
americanos em oposição aos interesses antiliberais da Santa ria e em dois níveis; eleitores homens maiores de 21
Aliança. Além disso, os EUA ambicionavam reduzir a influên- anos com renda mínima anual de 100 mil réis para os
cia inglesa no continente e obter relações favoráveis com a eleitores de paróquia (primeiro grau) e de 200 mil réis
ampliação de seus mercados consumidores. para os eleitores de província (segundo grau); eleitores
O reconhecimento inglês dependia do posicionamento de deputados e senadores, renda mínima de 400 e 800
português, que só veio em 1825 mediante ao pagamento mil réis, respectivamente.

134
§ Senadores vitalícios: morto um senador, convoca- dância dessa última fez com que o Brasil lhe declarasse
vam-se eleições; a lista dos mais votados era apresen- guerra, dando início à guerra da Cisplatina. Em 1828,
tada ao imperador, que nomeava um deles. diante da intervenção diplomática da Inglaterra, Brasil e
§ Religião católica adotada como oficial pelo Estado; Argentina desistiram da Cisplatina, que se tornou Estado
independente: a República Oriental do Uruguai.
proibidos templos e manifestações públicas de quais-
quer outras religiões, apenas culto privado. Após inúmeros conflitos e imerso em grave crise econômi-
§ Padroado: Igreja católica subordinada ao Estado. ca, D. Pedro passou a ser contestado. Para melhorar sua
imagem, resolveu realizar uma viagem de visita a algumas
§ Beneplácito: leis da Igreja com a autorização do im- províncias, onde poderia manter contato com a população.
perador. A viagem começou por Minas Gerais, onde o imperador foi
A arbitrariedade do imperador suscitou revolta em diversos recebido friamente: os sinos das igrejas tocavam um som
setores da sociedade brasileira. A mais marcante foi a Con- fúnebre e várias casas tinham panos pretos exibidos em
suas janelas, demonstrando luto pela morte do jornalista
federação do Equador (1824), formada principalmente
Libero Badaró. Insatisfeito e contrariado, D. Pedro I resolveu
pela província de Pernambuco e que levou figuras como
voltar ao Rio de Janeiro.
Cipriano Barata e Frei Caneca a se manifestarem publica-
mente contra D. Pedro I e suas atitudes. Para animar o imperador e manifestar seu apoio, os portu-
gueses prepararam uma festa de boas-vindas, no dia 13 de
O governo imperial organizou imediatamente uma violen-
março. Sabendo da recepção, os brasileiros oposicionistas
ta repressão contra Pernambuco e as demais províncias
foram ao local da festa, entrando em conflito com os por-
nordestinas envolvidas até derrotar completamente o mo- tugueses, na chamada Noite das Garrafadas.
vimento, em novembro de 1824. Muitos foram presos e
inúmeros rebeldes morreram em combate. Frei Caneca, por Já em profunda contestação, D. Pedro I resolveu, então,
exemplo, foi preso e condenado à forca. abdicar do trono brasileiro, no dia 7 de abril de 1831, em
nome de seu filho D. Pedro de Alcântara, que na época
Para piorar a situação do império, em 1825, alguns líderes tinha apenas cinco anos de idade. A medida pôs fim ao
separatistas da Cisplatina, comandados por Juan Lavalleja, primeiro reinado e há quem veja nela a consolidação da in-
proclamaram a independência da província em relação ao dependência do Brasil, afastando definitivamente o perigo
Brasil e solicitaram sua anexação à Argentina. A concor- da recolonização.

PERÍODO REGENCIAL (1831-1840)

O período regencial é um dos mais conturbados da his- As principais medidas adotadas por essa regência provisó-
tória política do Brasil, marcado por séria crise econômi- ria, nos dois meses e meio em que esteve no poder, foram:
ca, instabilidade política e revoltas em várias províncias,
§ reintegração do Ministério Brasileiro, que havia sido
que ameaçavam a unidade do território brasileiro. Apesar
extinguido por D. Pedro I;
das dificuldades, as elites nacionais assumiram o controle
§ anistia aos prisioneiros políticos;
do poder político e afastaram definitivamente o risco de
§ obrigação de estrangeiros deixarem o Exército;
recolonização do Brasil, consolidando o Estado nacional.
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§ suspensão do Poder Moderador, que era exclusivo do


Assim, para que o país não ficasse sem governo, os de-
imperador; e
putados e senadores que estavam no Rio de Janeiro or-
§ aprovação da Lei da Regência, que proibia os regentes
ganizaram, em caráter de urgência, uma regência trina
de dissolver a câmara, decretar guerra ou conceder tí-
provisória, que governaria o país até a câmara eleger a
tulos de nobreza.
regência permanente.
Após a regência provisória, foi definida a regência trina
Os regentes foram escolhidos segundo o critério de con-
permanente (1831-1835): representando a elite agrária
templar os partidos políticos existentes e as forças arma-
nordestina foi escolhido o deputado pela Bahia e marquês
das. Desse modo, foram escolhidos: um liberal, o senador
de Monte Alegre, José da Costa Carvalho; o deputado
Nicolau Pereira de Campos Vergueiro; um conservador, o
maranhense João Braulio Menezes; e pelo Sul e Sudeste,
senador José Joaquim Carneiro de Campos; o marquês de
o senador pelo Rio de Janeiro general Francisco de Lima e
Caravelas; e um militar, o general Francisco de Lima e Silva.
Silva, o barão de Barra Grande, que também representava

135
o Exército como responsável pela manutenção da ordem
política e social do país.
Cabanagem (Grão-Pará, 1835-1840)
A economia do Grão-Pará baseava-se no extrativismo de
Ao padre Diogo Antônio Feijó, deputado moderado, coube drogas do sertão, de madeira e na produção de cacau e arroz
a pasta de ministro da Justiça, para a qual exigiu e recebeu à custa da exploração da mão de obra indígena. Havia ainda
dos regentes autonomia de ação, para poder enfrentar os um pequeno comércio controlado por portugueses e seus
motins que se espalhavam e multiplicavam pelo território. descendentes. A maioria da população era composta por
Para reprimi-los, em 1831, foi criada a Guarda Nacional, mestiços, brancos pobres e índios destribalizados que viviam
uma força paramilitar centralizada na localidade. de forma miserável em casas de palafitas, razão pela qual os
Ainda em face aos graves conflitos políticos que assolavam rebeldes eram chamados de cabanos.
o país, o governo regencial aprovou o Ato Adicional de No início de 1835, os revoltosos tomaram o poder da capital
1834. Ele introduziu mudanças significativas na constitui- da Província, chefiados pelo fazendeiro Félix Clemente Mal-
ção de 1824, como a extinção do Conselho de Estado – cher, que entrou em atrito com cabanos mais radicais e jurou
órgão que assessorava o governo imperial, substituído pela lealdade ao império. Foi deposto e executado pelos rebeldes.
criação das Assembleias Legislativas Provinciais, com O poder passou para Francisco Pedro Vinagre, quando se in-
poderes para legislar a respeito da organização local. O pre- tensificou a repressão do governo regencial.
sidente da província, ou seja, o chefe do Poder Executivo Em 21 de fevereiro, Vinagre foi derrotado pelas forças re-
continuava a ser indicado pelo imperador ou regente. genciais, mas outro líder, Eduardo Angelim, conseguiu arre-
A regência trina permanente foi substituída por uma re- gimentar cerca de três mil homens e atacar Belém, em 14 de
gência una, eletiva e temporária, para qual o regente se- agosto de 1835. Derrotou as forças fiéis ao governo regente
ria eleito por voto censitário e direto para um mandato de e foi aclamado presidente da Província pelos cabanos da Re-
quatro anos. O ato adicional estabeleceu, ainda, a transfor- pública Independente do Pará. A partir disso, a Cabanagem
mação da cidade do Rio de Janeiro como município neutro, espalhou-se pela região.
onde ficaria a corte, definindo como sede da província do Os conflitos estenderam-se até 1840, caracterizados pela
Rio de Janeiro a cidade de Niterói. violência crescente praticada por ambos os lados, notada-
Na eleição de 1835 para regente uno, saiu vencedor o ex- mente pelas das tropas revoltosas. Já no início do segundo
-ministro da Justiça padre Feijó. Porém, sob dificuldades ad- reinado, a província foi finalmente pacificada.
ministrativas e movimentos rebeldes, como a Cabanagem No início da revolta, a província do Pará contava com 100 mil
e a Farroupilha, Feijó entregou seu cargo ao ministro do habitantes, dos quais entre 30 e 40 mil morreram durante a
império Araújo Lima, já em 1837. O também padre Araú- guerra. Os rebeldes desejavam a implantação de uma Re-
jo Lima chamou para o gabinete de governo opositores de pública, uma reforma agrária e a luta contra desigualdades.
Feijó, a exemplo de Bernardo Pereira de Vasconcelos, que A Cabanagem foi o único movimento genuinamente popular
criou o Imperial Colégio Dom Pedro II e fundou o Instituto do período imperial em que camadas populares tomaram e
Histórico e Geográfico. Em 23 de julho de 1840, o Golpe da mantiveram por certo tempo o poder em uma província.
Maioridade pôs fim ao governo regencial.
Sabinada (Bahia, 1837-1838)
Revoltas regenciais Liderada pelo médico Francisco Sabino Álvares da Rocha
Vieira, a Sabinada teve início em setembro de 1837, como
Levante dos Malês (Bahia, 1835) resultado da insatisfação de segmentos sociais médios de
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Salvador com a realidade da província, esquecida pelo po-


O movimento foi a mais importante revolta de escravos da der central e atravessando séria crise econômica.
história da Bahia. Os malês eram negros muçulmanos afri-
Revoltados com o centralismo político, proclamaram a
canos. A rebelião contava com aproximadamente 600 parti-
República Bahiense, que separou-se do império brasileiro
cipantes e repercutiu fortemente no império, permanecendo provisoriamente até que D. Pedro II alcançasse a maiorida-
por longo tempo na memória das classes dominantes da de. Os grandes proprietários rurais baianos não apoiaram
Bahia e da corte, que tomaram diversas medidas para im- a revolta e auxiliaram a repressão governamental ao mo-
pedir que outro movimento similar ocorresse. vimento, que acabou sufocada. Casas foram incendiadas e
A repressão aos envolvidos foi violenta: foram condenados rebeldes atirados às fogueiras. As estatísticas apontam para
às penas de prisão simples, prisão de trabalho, açoites, mor- mais de dois mil mortos. O líder médico Sabino foi degreda-
te e deportação para a África; dos 16 condenados à morte do para Goiás, de onde foi para Mato Grosso, onde morreu
por fuzilamento, doze conseguiram a comutação da pena. algum tempo depois.

136
Balaiada (Maranhão, 1838-1840) Os revoltosos queriam mais autonomia provincial e o direito
de escolher seus governantes mais sensíveis aos problemas
Nas primeiras décadas do século XIX, a economia mara- da região e comprometidos com a solução dele. Por isso,
nhense enfrentava uma séria crise em virtude principalmen- a revolta foi encabeçada pelos grandes estancieiros, char-
te da concorrência estadunidense na produção e exporta- queadores, comerciantes e representantes da cúpula militar
ção de algodão. A retração econômica agravava a fome e a rio-grandense, interessada em atender aos interesses dessa
miséria de grande parte da população local. elite, com caráter separatista, republicana, sem preocupação
O poder político da província era disputado por liberais social e divergências entre os farroupilhas.
(“bem-te-vis”) e conservadores, que frequentemente recor- Os preocupados com questões sociais e econômicas, inclusi-
riam à violência para alcançar seus objetivos. Era comum a ve a abolição da escravidão, confrontavam-se com os defen-
impunidade pelos crimes políticos, o que agrava a violência sores de seus interesses pessoais.
de ambas as partes. A instabilidade política e social favo- Insatisfeitos, os estancieiros formaram uma tropa que atacou
recia as constantes fugas de escravos para quilombos que, Porto Alegre, depôs o presidente da província e proclamou
para sobreviver, saqueavam as fazendas. a República Rio-grandense ou República de Piratini, nome-
A revolta teve início quando o vaqueiro Raimundo Gomes, ando Bento Gonçalves para presidente. A República gaúcha
ligado aos “bem-te-vis”, e alguns companheiros atacaram estimulou a criação de gado e a exportação do charque e
a cadeia para libertar seu irmão preso e acusado de assas- de couro.
sinato. Alguns soldados reuniram-se a eles e iniciaram uma A resposta do governo regencial foi imediata: enviou tro-
marcha que receberia adesão por onde passava, notada- pas para a região, que venceram os rebeldes em batalha
mente de mulatos, escravos, quilombolas, chefiados pelo próxima a Porto Alegre; prenderam Bento Gonçalves e con-
negro Cosme e por artesãos, dentre eles Francisco dos Anjos duziram-no a uma prisão na Bahia. Lá, foi ajudado pelos
Ferreira, de cujo ofício – fazer e vender balaios – derivou o rebeldes da Sabinada, conseguiu fugir da prisão e retornar
nome da revolta. ao Rio Grande do Sul, onde reassumiu a presidência da Re-
O movimento não tinha objetivos bem definidos, uma vez pública de Piratini.
resultado da insatisfação das camadas populares com a A partir de 1837, as forças rebeldes passaram a contar com
pobreza e a miséria vigentes e da falta de compromisso a ajuda do mercenário italiano Giuseppe Garibaldi, que, au-
das autoridades. Mesmo desorganizados, os rebeldes con- xiliado pelo estancieiro Davi Canabarro e seus homens, con-
seguiram tomar a cidade de Caxias, promovendo saques e seguiram estender a revolução até Santa Catarina, em 1839.
ataques a várias vilas. Em 1840, ao mesmo tempo em que teve início o segundo
Luis Alves de Lima e Silva, futuro barão de Caxias, foi nome- reinado, a Revolução Farroupilha perdia força, declinava,
ado presidente da província, em 1840, promovendo forte bem como agravavam-se as discordâncias entre os revolto-
repressão aos revoltosos. Quando ascendeu ao trono, D. sos. Define-se então sua divisão em dois grupos: os “majori-
Pedro II concedeu anistia aos rebeldes que ainda restavam tários”, progressistas, de um lado, e os “minoritários”, con-
e pôs fim ao movimento. servadores, de outro, favoráveis ao status quo do Rio Grande
do Sul como província do Império.
Revolução Farroupilha (Rio Grande Luís Alves de Lima e Silva foi nomeado pelo imperador, em
1842, presidente e comandante de armas da província com
do Sul e Santa Catarina, 1835-1845) a determinação de que conseguisse a paz na região e a rein-
O mais longo movimento revolucionário ocorrido no Brasil tegração do Rio Grande do Sul e Santa Catarina ao império.
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teve início no Rio Grande do Sul e, posteriormente, esten- Com esse objetivo em mente, traçou uma estratégia dúbia,
deu-se para Santa Catarina, onde foram proclamadas, res- oscilando entre violentos combates e concessões aos rebel-
pectivamente, as Repúblicas de Piratini e Juliana. des.
A Guerra dos Farrapos foi motivada pela insatisfação dos es- A posição social de prestígio e o poder econômico das lide-
tancieiros (criadores de gado) e dos charqueadores com os ranças rebeldes fizeram o império tratar a Revolução Far-
altos impostos cobrados pelo poder central. No Rio Grande roupilha de maneira diferente dos outros movimentos po-
do Sul, o conflito foi agravado pelo imposto sobre o char- pulares. Procurava-se uma solução negociada, atendendo a
que, dificultando a concorrência com o charque platino, pela diversas reivindicações dos rebeldes, o que não foi feito com
excessiva centralização política do império, que nomeava outros movimentos populares.
presidentes para a província sem consultar e, não raro, sem O conflito foi finalizado a partir de um acordo entre as lide-
agradar aos vários setores da elite local. ranças imperiais e rebeldes, firmado, em 1845, o Acordo de

137
Poncho Verde, que estabelecia: 4. Devolução de terras confiscadas durante a guerra
1. Anistia dos envolvidos gaúchos 5. Proteção ao charque gaúcho da concorrência exter-
2. Incorporação dos farrapos ao Exército imperial na com sobretaxa sobre o charque importado
3. Permissão para escolher o presidente de província 6. Libertação dos escravos envolvidos

SEGUNDO REINADO

Política interna (1840-1889) Após relativa paz política garantida pelo golpe da maiori-
dade, eclodiu, em Pernambuco, a chamada Revolução
Graças ao Golpe da Maioridade, em julho de 1840, Praieira de 1848. Inspirados nas movimentações políticas
D. Pedro II tornou-se imperador do Brasil com apenas 14 iluministas europeias, os revoltosos eram críticos em relação
anos. O golpe foi realizado pelos liberais, que desejavam à profunda centralização política do império brasileiro.
retomar o controle do poder central, do qual foram afas-
tados desde a ascensão do regente Araújo Lima. Por inter-
médio da figura do imperador, visavam conseguir resgatar
a estabilidade política, controlando as rebeliões que amea-
çavam a integridade do território.
O segundo reinado caracterizou-se pela disputa política
e alternância à frente dos ministérios e gabinetes entre os
Partidos Liberal e Conservador, que representavam ba-
sicamente os mesmos grupos sociais: grandes proprietários
rurais, comerciantes e funcionários públicos ávidos pelo
poder. Embora as diferenças entre os partidos não fossem
marcantes, seus programas apresentavam pontos que os
distinguiam. Os liberais defendiam: mais autonomia provin-
cial, justiça eletiva, separação da política e da justiça, redu-
ção do poder moderador, eleição direta nas cidades maiores,
senado temporário, abolição da Guarda Nacional, liberdade
de consciência, de educação, do comércio e da indústria. A
composição social dos liberais contava com profissionais li-
berais, comerciantes e donos de terras de São Paulo, Minas
Gerais e Rio Grande do Sul, majoritariamente.
Os conservadores defendiam o fortalecimento do poder
central e moderador, assim como o controle centralizado Dom Pedro II
da magistratura e da polícia. Coube a eles imprimir o tom e
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definir o conteúdo político ao Estado imperial. Os conserva- A política pernambucana era controlada pelos Cavalcanti,
dores eram, em geral, donos de terras e burocratas. que comandavam tanto o Partido Liberal quanto o Conser-
vador, garantindo sua perpetuação no poder. Os liberais,
No Brasil, o imperador utilizava-se do Poder Moderador
revoltados com a situação, fundaram um novo partido de
para nomear o primeiro-ministro e os demais ministros
oposição aos latifundiários. Como a sede do novo partido
para depois convocar eleições. Se o primeiro-ministro
ficava situada no prédio do jornal Diário Novo, na Rua da
fosse conservador, procurava-se a qualquer custo garan-
Praia, no Recife, o partido ficou conhecido como Partido
tir a vitória dos conservadores; se fosse liberal, fazia-se
da Praia, e seus membros como os praieiros. Suas ideias
o mesmo para garantir a maioria liberal no Legislativo.
comportavam propostas do socialismo utópico. Reivindica-
Por funcionar de maneira diferente do modelo clássico
vam: República; federalismo; voto universal; liberdade de
inglês, o parlamentarismo brasileiro era chamado de par-
imprensa; nacionalização do comércio; extinção do senado
lamentarismo às avessas.
vitalício e do Poder Moderador; independência dos pode-

138
res; garantia de emprego para os brasileiros; expulsão dos estendeu cabos telegráficos até a região do combate para
portugueses; e reforma do Poder Judiciário, de forma a as- facilitar as comunicações.
segurar os direitos individuais dos cidadãos. Sob seu comando, ocorreram as vitórias brasileiras de Itoro-
O programa não trazia proposta de grandes mudanças nas ró, Avaí e Lomas Valentinas. Em 1869, Assunção foi tomada
estruturas sociais, como abolição da escravatura ou limites e Solano López retirou-se para o interior, de onde continuou
ao latifúndio, mesmo porque era liderado por membros da a resistir. Alegando problemas de saúde, Caxias solicitou seu
elite revoltados com o autoritarismo e o centralismo do im- desligamento do comando das tropas e foi substituído pelo
pério e na província. genro de D. Pedro II, Gastão de Orleans, o conde d’Eu. Perse-
Foram travados combates em Recife, Olinda e no interior, guiu Solano López até Cerro Corá, onde, derrotado, o ditador
com constantes derrotas dos rebeldes, numa das quais paraguaio suicidou-se e o conflito encerrou-se definitivamente.
morreu Nunes Machado. Decidiram atacar a Paraíba, onde A guerra custou ao Paraguai consequências devastadoras:
Pedro Ivo ofereceu resistência até ser preso em 1850 e Bor- dizimação quase total da sua população (99% da popu-
ges da Fonseca foi morto. lação adulta masculina e 55% da feminina morreram),
Evitando futuros distúrbios, foi concedida liberdade de im- economia em ruínas, perda de parte de seu território para
prensa na província e, logo em 1852, os rebeldes presos o Brasil e Argentina, que passaram a fazer ingerências em
foram anistiados, encerrando definitivamente o movimento suas questões internas. Mergulhado em grave crise eco-
e inaugurando um período de paz e estabilidade no segun- nômica, converteu-se em um exportador de produtos de
do reinado. pouca importância e nunca mais conseguiu recuperar-se.
A vitória na guerra consolidou a hegemonia do Brasil no con-

Política externa tinente, mas agravou sua situação econômica, em virtude da


elevação da dívida externa e do aumento da dependência do
(1840-1889) país para a Inglaterra. O Exército saiu fortalecido. Grande par-
te de seus membros assumiu posições abolicionistas assim
Durante o segundo reinado, a política externa brasileira como republicanas e passou a contestar o regime imperial.
foi marcada pela aproximação mais estreita com a Ingla-

Economia (1840-1889)
terra, aumentando a dependência em relação ao capital
britânico, especialmente após a guerra do Paraguai. Tal
dependência não foi minorada mesmo após a chamada A partir dos anos 1850, o Brasil passou por um conjunto de
Questão Christie, quando do rompimento diplomático
transformações econômicas e sociais; em virtude da expan-
entre os países.
são cafeeira, foi assumindo definitivamente a liderança das
Indubitavelmente, a guerra do Paraguai (1864-1870) foi exportações, conjugada às transformações do capitalismo
a principal guerra do período. O estopim do maior e mais internacional. De fato, o café, embora um gênero agrário,
sangrento conflito na América do Sul teve início com o ato exigiu uma miríade de ações que resultou em uma moder-
de represália do ditador paraguaio Solano Lopes ao Bra- nização do conjunto da população e em melhorias na infra-
sil contra a deposição de seu aliado, Atanásio Aguirre, do estrutura e no desenvolvimento do mercado interno (bancos,
Partido Blanco, no Uruguai. portos, ferrovias, urbanização, iluminação, comércio).
Em novembro de 1864, Lopez determinou a apreensão do As somas iniciais investidas no plantio eram significativas.
navio brasileiro Marquês de Olinda, que navegava pelo rio Os pioneiros na implantação das culturas cafeeiras foram,
Paraguai em direção ao Mato Grosso e não atendeu ao ul- em geral, os comerciantes da capital, enriquecidos pela
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timato brasileiro pela libertação do navio. Rompeu relações intermediação de compra e venda de produtos agrícolas.
com o império brasileiro, em dezembro de 1864, e atacou o Comercializavam a própria produção e retinham a maior
sul do Mato Grosso e do Rio Grande do Sul. parte da renda gerada.
Em maio de 1865, foi firmada uma aliança militar entre As condições gerais da economia favoreciam a lavoura
Argentina, Brasil e Uruguai, chamada Tríplice Aliança, cafeeira. Havia mão de obra escrava ociosa graças à deca-
e apoiada pela Inglaterra. Em 1867, as tropas aliadas pas- dência das minas. As terras continuavam à disposição em
saram a ser comandadas por Luís Alves de Lima e Silva, larga escala e a baixo preço. A facilidade de obtenção dos
o barão de Caxias. Naquele mesmo ano, Argentina e fatores de produção encorajou os investidores a tentarem
Uruguai retiraram-se da guerra alegando problemas eco- o café. Além disso, não havia grandes opções para inver-
nômicos, restando Brasil e Paraguai no confronto. Caxias sões dos capitais obtidos no comércio. Ao mesmo tempo,
reorganizou e reaparelhou as tropas, comprou armas e difundia-se o hábito de beber café. O produto brasileiro ga-
canhões, filtros de água para evitar a epidemia de cólera e nhava os mercados da Europa e dos Estados Unidos.

139
conhecida como lei para “inglês ver”, deveria aplicar-se
em 15 anos. Entretanto, em virtude da falta de ação eficaz
do Brasil para reprimir o tráfico, e em represália à Tarifa Al-
ves Branco, o parlamento inglês aprovou o Bill Aberdeen,
em 1845. A lei dava à marinha inglesa a permissão para
aprisionar navios negreiros, prender os traficantes, libertar
os cativos e afundar o navio utilizado no tráfico.
Essa medida foi considerada arbitrária pelos brasileiros,
pois afetava a soberania do país em suas águas territo-
riais. Diante da situação, o governo brasileiro resolveu
aprovar, em 1850, a Lei Eusébio de Queirós, que de-
terminou a extinção definitiva do tráfico internacional de
escravos. Uma vez aprovada, a lei trouxe como conse-
quência imediata o tráfico interprovincial de escravos da
Escravos no cafezal
região Nordeste para o Sudeste, especialmente para os
Resultado: nas três últimas décadas do século XIX, a região cafezais do Vale do Paraíba e do Oeste Paulista.
do Oeste Paulista tornou-se a principal área produtora e ex- Ao perceber a proximidade do fim da escravidão no Bra-
portadora de café do país e os fazendeiros da região passa- sil, mesmo porque o tráfico interprovincial não consegui-
ram a amealhar mais poder econômico e prestígio político, ra atender à demanda de escravos para os cafezais, os
o que lhes favoreceria o predomínio político nacional. prósperos fazendeiros do Oeste Paulista começaram a
Contudo, o desenvolvimento econômico brasileiro esbar- pensar na possibilidade de importar trabalhadores bran-
rou em duas questões: as tarifas alfandegárias e a sus- cos europeus para substituírem os escravos.
tentação do trabalho escravo. Desde a independência, o Paralelamente aos projetos em gestação de promoção da
Brasil adotava taxas alfandegárias baixas para os produtos imigração, duas semanas depois de aprovada a Lei Eusébio
importados, reflexo dos tratados de 1810, assinados entre de Queirós, o governo fazia aprovar a Lei de Terras, de
Portugal e Inglaterra. Este “liberalismo alfandegário” foi 1850, que determinava que as terras devolutas (desocu-
extinto em 1844 com a entrada em vigor da Tarifa Alves padas) passariam para o controle do Estado, que poderia
Branco, que elevava as taxas alfandegárias brasileiras a vendê-las. A Lei de Terras subiu o custo para a aquisição e
dois patamares: 20% a 30% sobre o valor dos produtos regularização da terra, de acordo com seu objetivo: criar
importados não produzidos no Brasil, com variação para obstáculos para o acesso às terras pelas populações pobres
alguns produtos especificados; 60% sobre o valor dos pro- nacionais, notadamente pelos imigrantes.
dutos importados que fossem produzidos no Brasil. Primeiramente, a implantação dos trabalhadores imigrantes
A questão escravista era um problema corriqueiro que as veio com o sistema de parceria, mas, pelos seus abusos,
elites brasileiras tinham que se deparar. A Lei Antitráfico de não vingou. O sistema foi substituído pelo de colonato. A
1831, promulgada pela regência trina permanente, mais tabela a seguir sintetiza a diferença entre os dois sistemas.

Parceria (fracasso) Colonato (sucesso)


Primeiro sistema introduzido (1847) Oeste Paulista (1870), subvencionada pelo governo

Trabalho familiar camponês Trabalho familiar camponês


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Colono dividia lucros e prejuízos e ficava com metade do produzido Camponês recebia dois salários: um fixo anual e outro por produtividade

Colonos endividavam-se (passagens, mantimentos, juros elevados) Governo paulista pagava as passagens
Permitida uma pequena roça ao imigrante Garantido um pedaço de roça para subsistência ou comércio

Fonte: PRADO JUNIOR, Caio. História econômica do Brasil. p. 190-191.

140
CRISE DO IMPÉRIO

A partir de 1870, o império brasileiro começou a sofrer brasileira pregava a submissão da Igreja católica pelo Es-
diversas críticas e contestações. Um dos fatores para a tado brasileiro. As contradições provadas por essa aliança
sua futura dissolução foi a Questão Social, relacionada entre Estado e Igreja vieram à luz já em 1860. Nessa épo-
à questão abolicionista. Durante o período, foram funda- ca, o papa Pio IX publicou a Bula Syllabus, proibindo que
dos clubes e sociedades abolicionistas que denunciavam membros da Igreja pertencessem à Maçonaria. Dom Pedro
as arbitrariedades da escravidão e recolhiam apoio junto à II nunca deu consentimento à bula, mas bispos de Olinda
sociedade civil em prol da libertação dos escravos. e Belém suspenderam irmandades que não cumpriram os
ditames papais. A partir disso, maçons reclamaram junto
O movimento atuava de várias formas. Era comum a rea-
ao imperador e os bispos presos, inaugurando um período
lização de rifas e leilões, além do reconhecimento de doa-
de instabilidade entre Estado e religiões.
ções para a compra de escravos e concessão de alforria a
estes. Na imprensa e na literatura, intelectuais criticavam a Além das questões já comentadas, houve também a
escravidão, lembrando a vergonha que era para o Brasil ser Questão Militar. Desde o período regencial, o exército
o único país americano a possuir escravos e o atraso que brasileiro ocupava uma posição secundária em relação à
isso representava. Vale lembrar que a maioria dos solda- Guarda Nacional. Porém, a guerra do Paraguai exigiu do
dos que atuavam na guerra do Paraguai era de negros e Brasil um exército moderno e profissional para vencê-la e,
grande parte do Exército passou a defender abertamente a após o conflito, oficiais passaram a cobrar mais valorização
abolição, inclusive prestando homenagens a integrantes do da corporação, constantemente subfinanciada. Munidos
movimento abolicionista. de ideais positivistas e republicanos, os militares geraram
Os grandes proprietários rurais estavam divididos: enquan- um clima de incompatibilidade entre sua corporação e o
to uma parcela dos fazendeiros nordestinos e paulistas Estado imperial brasileiro.
percebia a necessidade de adotar o trabalho livre em apoio Dessa forma, o mais longo governo brasileiro, sob o co-
à abolição, representantes das lavouras mais tradicionais, mando de D. Pedro II, enfrentava sérias dificuldades para
como os donos de velhos engenhos nordestinos e os ca- manter a estabilidade. Proliferavam-se agremiações repu-
feicultores do Vale do Paraíba, eram contrários à abolição. blicanas, contrárias ao império. Em dezembro de 1870, foi
O movimento abolicionista ganhou força e se cristalizou em publicado no Rio de Janeiro o Manifesto Republicano,
alterações jurídicas e institucionais a partir da década de que defendia o federalismo em oposição ao unitarismo
1860. Em 1871, foi assinada a Lei Visconde do Rio Branco, que caracterizava o império. Em 1873, numa convenção
conhecida como Lei do Ventre Livre, que declarava livres na cidade de Itu, foi fundado o Partido Republicano
os escravos nascidos a partir de setembro daquele ano. Já Paulista (PRP), que capitaneou a propaganda republicana
em 1885, o governo decretou uma lei que libertava os es- e veio a ser o mais forte da chamada Primeira República,
cravos com mais de 60 anos de idade, por isso chamada de dominado pelos grandes cafeicultores do Oeste Paulista.
Lei dos Sexagenários.
Já no ano de 1889, que foi marcado por grandes agitações
Tal lei foi considerada desnecessária e alvo de severas e va- políticas nos meios civis e militares brasileiros, o movimen-
riadas críticas. Dificilmente um escravo chegava e essa ida-
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to republicano crescia e a cada dia ganhava mais adeptos,


de e, se chegasse, provavelmente não teria mais condições enquanto o império fraquejava e D. Pedro II perdia bases
de trabalhar. Além disso, os escravos sexagenários teriam políticas. Em 15 de novembro do mesmo ano, a câmara
de trabalhar de três a cinco anos para indenizar seu senhor. de vereadores do Rio de Janeiro reuniu-se sob liderança
Já sem condições de manter a escravidão por mais tempo, de José do Patrocínio e lavrou a ata de Proclamação da
o governo imperial acabou extinguindo totalmente a es- República.
cravidão no Brasil no dia 13 de maio de 1888, quando a D. Pedro II estava em Petrópolis e voltou imediatamente
princesa regente Isabel sancionou a Lei Áurea. para o Rio de Janeiro, mas não conseguiu reverter a situ-
A Questão Religiosa também foi uma das causas da ação. A República já era um fato consumado e o segundo
queda do império. Isso, pois desde 1824, a constituição reinado chegava ao fim.

141
REPÚBLICA DA ESPADA (1889-1894)

Proclamada a República em 1889, iniciou-se um governo


provisório, com um ministério composto por republicanos
históricos, positivistas e militares, mas não revolucionários.
Rui Barbosa (Fazenda), almirante Eduardo Wandenkolk
(Marinha), tenente-coronel Benjamin Constant (Guerra),
Demétrio Nunes Ribeiro (Agricultura), Campos Sales (Jus-
tiça), Quintino Bocaiúva (Relações Exteriores) e Aristides
Lobo (Interior) compunham o ministério.
As principais medidas desse governo provisório foram:
§ Naturalização em massa de estrangeiros residentes no Proclamação da República
Brasil, que residiam no Brasil no dia 15 de novembro
Para as eleições, fixou-se o sistema de voto direto e uni-
de 1889 e que não declarassem, no período de seis
versal e suprimiu-se o censo econômico (voto censitário).
meses após entrar em vigor a constituição, o desejo de
Foram considerados eleitores todos os cidadãos brasileiros
conservar a nacionalidade de origem.
maiores de 21 anos, com exceção dos analfabetos, men-
§ Separação entre Estado e Igreja digos, praças militares e religiosos de ordens monásticas.
§ Administração de cemitérios pelas prefeituras No período, Rui Barbosa tentou realizar uma reforma fi-
§ O catolicismo deixou de ser a religião oficial no Brasil, nanceira com o objetivo de desenvolver a industrialização
onde passou a haver livre culto de crenças religiosas do Brasil, reduzir a dependência em relação ao capital
§ Criação do registro civil para nascimento e falecimento estrangeiro e aumentar o meio circulante – quantidade
das pessoas de moeda em circulação no país. Para conseguir realizar
§ Instituição do casamento civil
seus objetivos, o governo adotou uma política de emissão
§ Criação da bandeira da República, mantidas as cores
monetária para garantir a circulação monetária e o paga-
da bandeira do império
§ Mudança do nome do país para República dos Estados mento dos operários, bem como para facilitar a concessão
Unidos do Brasil, de caráter francamente federalista de créditos para a criação de empresas. As tarifas alfande-
§ Reforma financeira de Rui Barbosa (Encilhamento) gárias foram elevadas e a entrada de matérias-primas no
§ Promulgação da Constituição de 1891 país foi facilitada.
Contudo, o efeito dessa política, chamado de encilhamen-
Promulgada em 24 de fevereiro de 1891, a nova constitui-
to, foi economicamente nefasto. Devido à alta liquidez da
ção brasileira preconizava ampla autonomia aos Estados economia, empresas fantasmas vendiam desenfreadamente
brasileiros. Cada Estado teria o direito de ter sua própria ações na bolsa de valores. Da noite para o dia, especuladores
constituição, eleger governadores, criar orçamento e im- acumularam grandes fortunas à custa do dinheiro de pesso-
postos, contrair empréstimos ao exterior e organizar forças as ludibriadas. A inflação batia recorde histórico, o que gerou
militares próprias. descontentamento dos trabalhadores e dos importadores.
À União caberia cobrar os impostos de importação, criar
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bancos emissores de moeda, organizar as forças armadas Governo Deodoro da


Fonseca (1891)
nacionais e intervir nos Estados para restabelecer a ordem,
a fim de que se mantivesse a forma republicana federativa,
e em outras situações. O primeiro presidente brasileiro, ex-chefe do governo provi-
Politicamente, a constituição estabeleceu os três poderes sório, foi eleito indiretamente a contragosto de um congres-
– Executivo, Legislativo e Judiciário – “harmônicos e in- so pressionado pelo Exército, que evitou o uso da força e
dependentes entre si”. O Executivo seria exercido por um divergências entre o Executivo e o Legislativo. Alvo de várias
presidente da República, eleito por um período de quatro críticas, especialmente pelo autoritarismo e pelas acusações
anos. Como no império, o Legislativo foi dividido em câma- de corrupção que envolviam membros do governo, Deodoro
ra dos deputados e senado, mas os senadores deixaram de também era apontado como responsável direto pela crise
ser vitalícios. econômica e pela inflação herdadas do encilhamento.

142
Sem o apoio da maioria do Legislativo, indispensável para resposta, o “Marechal de Ferro” exonerou, afastou e até
a administração pública, Deodoro dissolveu o congresso, prendeu alguns desses generais.
no início de novembro de 1891, e decretou estado de sí-
Outra contestação à continuidade de Floriano Peixoto na
tio, para fortalecer o Executivo. Contestado por membros
presidência da República constituiu a Segunda Revolta da
da Marinha, o estado de sítio levou-os a organizar uma
Armada (1893-1895), também liderada pelo contra-almi-
revolta – Primeira Revolta da Armada –, liderada pelo
rante Custódio de Melo, que clamava pela convocação de
contra-almirante Custódio de Melo.
eleições presidenciais, para as quais ele desejava candida-
A situação tornou-se insustentável para o presidente, que tar-se. Assim como haviam feito com Deodoro, Melo esta-
preferiu renunciar ao cargo, em 23 de novembro de 1891. cionou navios de guerra na baía de Guanabara e ameaçou
A presidência da República foi assumida pelo vice-presi- bombardear o Rio de Janeiro, caso Floriano não renuncias-
dente, o marechal Floriano Peixoto. se. A resposta do “Marechal de Ferro” foi diferente da de
seu antecessor: decretou estado de sítio e ordenou o deslo-
Governo Floriano Peixoto camento de tropas do Exército para o litoral para combater

(1891-1894) os rebeldes e defender a cidade.


Com uma esquadra formada de velhos navios adquiridos
Logo que assumiu a presidência da República, Floria- nos Estados Unidos e Inglaterra e adaptados para o com-
no Peixoto determinou a reabertura do Congresso Na- bate, Floriano iniciou, em março de 1894, a ofensiva final.
cional, suspendeu o estado de sítio e destituiu todos Centenas de rebeldes, muitos deles vitimados pelo beribéri,
os presidentes dos Estados que apoiaram o golpe de abandonaram as armas e pediram asilo em navios portu-
Deodoro da Fonseca. Para aliviar os efeitos da crise gueses ancorados no Rio de Janeiro.
econômica que o país atravessava, o novo presidente
adotou medidas de incentivo à indústria, como a isen- Peixoto também teve que lutar no Sul do Brasil, quando do
ção de impostos para a importação de máquinas. O conflito entre castilhistas e federalistas, no Rio Grande do Sul,
presidente adotou ainda medidas de grande alcance e que se estendeu até o Paraná. As tropas federais consegui-
popular, como o tabelamento de preços de aluguéis e ram derrotar os rebeldes que tentaram fugir ou pediram asilo
alimentos, o que lhe garantiu apoio de setores milita- a Portugal, que foi concedido. Em represália, Floriano Peixoto
res e das oligarquias agrárias. rompeu relações diplomáticas com os portugueses.

No entanto, Floriano sofria contestações em virtude do Com o fim desses conflitos, muitos duvidavam da possibili-
artigo 42 da Constituição de 1891, que estabelecia que dade do Marechal de Ferro abdicar ao seu poder e respei-
se faltassem mais de dois anos para que se completas- tar as programadas eleições. Mas, contrariando temores,
se o mandato, o vice-presidente deveria convocar novas Floriano Peixoto convocou eleições para o seu sucessor no
eleições. A primeira contestação à permanência de Floria- prazo legal e passou regularmente a faixa presidencial para
no Peixoto na presidência foi um manifesto assinado por Prudente de Morais, que venceu as eleições, garantindo a
treze generais, tornado público em abril de 1892. Como ascensão dos cafeicultores ao comando do poder federal.

REPÚBLICA OLIGÁRQUICA: ASPECTOS POLÍTICOS E ECONÔMICOS


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A retomada do poder pelas oligarquias rurais iniciada no governo Prudente de Morais, primeiro presidente civil eleito dire-
tamente, consolidou-se no governo de Campos Salles, quando se estruturou um vigoroso sistema político de colaboração
em instâncias municipais, estaduais e federal, com a finalidade de garantir o predomínio do grupo hegemônico no poder.
A política econômica promovia a defesa do setor agroexportador especialmente com a valorização artificial do café, prática
constante naquele período, desencorajava investimentos em outras áreas e contribuía para o agravamento de problemas
econômicos, como a recessão, a inflação e o crescimento da dívida externa.
Nesse ambiente de aviltamento das condições de vida da população pobre somado à falta de regulamentação dos
salários pelo Estado e de leis que regulamentassem as relações entre capital e trabalho, nasceu as contestações sob
a influência dos movimentos anarquistas e socialistas trazidos da Europa pelos imigrantes europeus. Portanto, estava

143
claro mesmo que, talvez, de maneira inconsciente para Contudo, foi a partir de seu governo que se consolidou a
boa parte da população, que a República não havia se chamada República do café com leite, isto é, o controle
constituído para todos os brasileiros. do Estado brasileiro pelas elites agrárias de Minas Gerais e
de São Paulo. Mais ricos e maiores produtores e exportado-
res de café, os dois Estados reuniam mais de um terço da
população brasileira e o maior colégio eleitoral do país.
Também durante o governo Campos Salles, reinou a cha-
mada política dos governadores. Tratava-se de um
pacto oligárquico entre as frações e facções da elite domi-
nante, cujo objetivo era assegurar o domínio político das
oligarquias estaduais e garantir ao poder central o governo
do país acima dos interesses das demais classes sociais,
particularmente os interesses dos trabalhadores. Em troca
desse apoio, essa mesma oligarquia apoiaria irrestritamen-
Desembarque de imigrantes no porto de Santos (SP), 1907 te as decisões do governo federal no Legislativo, garantin-
do a eleição dos candidatos oficiais para o Congresso.

Governo Prudente de Dessa forma, a política dos governadores foi criada para
realizar as promessas feitas durante a propaganda republi-
Morais (1894-1898) cana ao defender o federalismo: garantir o poder local e os
interesses das chamadas oligarquias, das frações e facções
O cafeicultor paulista Prudente de Morais foi o primeiro da elite dominante, com o objetivo de obter o apoio das
presidente civil do Brasil eleito pelo voto direto. Conhecido oligarquias dos Estados ao governo federal, nas mãos das
como “pacificador”, foi responsável pela pacificação do oligarquias paulista e mineira.
Rio Grande do Sul, onde ainda havia foco de tensão entre
republicanos e federalistas. Na política externa, o governo Uma das bases fundamentais de sustentação do domínio
caracterizou-se pela restauração das relações diplomáticas oligárquico na Primeira República, ou República velha, foi
com Portugal, rompidas no governo Floriano Peixoto. o coronelismo, o mesmo que mandonismo local, poder
e controle políticos exercidos pelos grandes proprietários
Com a Argentina foi solucionada a Questão de Palmas,
rurais (coronéis) em suas regiões. Cada “coronel” arranjava
território localizado entre os Estados do Paraná e de Santa
empregos e os mais variados benefícios para elementos de
Catarina, cuja definição de fronteiras causara litígio entre
sua clientela (daí a política de “clientelismo”), tornando-se
os dois países.
compadre de uma infinidade de pessoas. Nessa estrutura
do favor e do compadrio, os protegidos de um “coronel”
Governo Campos Salles lhe deviam principalmente fidelidade política, manifestada,
em especial, no momento das eleições.
(1898-1902) As eleições eram, por sua vez, marcadas pelo voto de
A preocupação central do Brasil era a busca de estabilida- cabresto. Nele, todos acompanhavam as determina-
de econômica. As finanças públicas ruíram após os confli- ções políticas do coronel e eram obrigados a votar nele
tos militares de Floriano e da guerra de Canudos; a inflação ou no seu candidato. Não era possível nem permitido
distorcia o sistema de preços da nação. Com isso, mesmo contrariar a vontade do coronel, principalmente em
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antes de assumir, Salles viajou à Inglaterra para contrair seus domínios, inclusive pelo fato do voto ser aberto,
empréstimos – evento chamado funding loan – e equacio- ou seja, publicamente revelado. Votar contra o coronel
nar os problemas nacionais. significaria restrições ou penas. Assim, cada coronel
controlava seu curral eleitoral, ou zona de influência.
O Brasil teria treze anos para pagar a dívida, com o com-
Política do café com leite (federal)
promisso de não contrair novos empréstimos durante o votos
verbas e
e apoio
período de carência dos juros. Além disso, o Estado de- político autonomia
Política dos governadores (estadual)
veria cortar gastos públicos e combater a inflação, me-
verbas e
diante a contenção da emissão monetária e da retirada votos
poder
Coronelismo (poder local/municipal)
de dinheiro de circulação. Com isso, Salles tornou-se um
presidente altamente impopular, legando desemprego e
obras subfinanciadas.

144
Governo Rodrigues Alves são, cujo objetivo era manter o câmbio em baixas cotações,
a fim de beneficiar as exportações de café. Para atender
(1902-1906) à crescente necessidade de mão de obra nos cafezais, o
presidente incrementou a política imigratória europeia sob
O novo presidente havia sido ministro da Fazenda de Pru- o lema “governar é povoar”. Para favorecer o escoamento
dente de Morais e foi eleito pela coligação dos Partidos da produção de café, foram construídos, ampliados e mo-
Republicano Paulista e Republicano Mineiro, que vence- dernizados portos e ferrovias.
ram sem dificuldades. Alves ficou conhecido por entregar Em 1907, o Brasil participou da Conferência de Paz, na
ao prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, o comando cidade de Haia, na Holanda, para a qual o Brasil foi repre-
da execução do projeto de saneamento e urbanização da
sentado pelo jurista Rui Barbosa.
cidade, que alargou ruas e avenidas e abriu outras tantas.
Os cortiços do centro da cidade foram demolidos (“bota Em 1909, faleceu antes de concluir seu mandato, sendo
abaixo”) e deram lugar a ruas e praças, e seus moradores, sucedido pelo vice-presidente Nilo Peçanha.
despejados e deslocados para a periferia. A insatisfação
popular, portanto, atingiu grande intensidade.
Foi também no governo de Rodrigues Alves que o Brasil
Governo Nilo Peçanha
consolidou a anexação do Acre. À época, o território acre- (1909-1910)
ano pertencia à Bolívia, embora o látex de suas florestas
vinha sendo explorado por brasileiros, especialmente por Seu governo foi marcado pela criação do Serviço de Pro-
nordestinos retirantes da seca e do desemprego. Em 1901, teção ao Índio (SPI), cujo comando foi entregue ao mare-
as tensões agitaram a região. O governo boliviano conce- chal Cândido Mariano da Silva Rondon. Mais marcante, no
deu a exploração dos seringais acreanos a uma empresa entanto, foi a cisão da política do café com leite. Fez com
estadunidense, a Bolivian Sindicate of New York, que ex- que o PRP e o PRM apoiassem candidatos diferentes, Rui
pulsou os brasileiros da região. Em busca de garantir seus Barbosa e Hermes da Fonseca, respectivamente.
interesses, em 1903, o Brasil passou a negociar com a Bo- Pressionado, o presidente Nilo Peçanha deu apoio a Her-
lívia a compra do território, negociações essas feitas pelo mes da Fonseca, o que praticamente garantiu sua vitória,
ministro barão do Rio Branco, que levaram à assinatura graças às fraudes eleitorais.
de um acordo entre os dois países: o Tratado de Petró-
polis. A partir de então, a região fez parte do Brasil.
No final do mandato de Rodrigues Alves, com o apoio dos Governo Hermes da
presidentes de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro
para a aprovação do Convênio de Taubaté, os cafeiculto- Fonseca (1910-1914)
res forçaram uma política de valorização do café, em face Logo no início do seu governo, o gaúcho marechal Hermes
das constantes quedas de preço do produto, em grande da Fonseca enfrentou dificuldades em virtude da Revolta
produção, superior à demanda internacional. Com essa do Batalhão Naval e da Revolta da Chibata, no Rio de Ja-
medida, foi fixado um preço mínimo para a saca de café, neiro, além do movimento chamado de Contestado, seme-
e os governos dos três Estados comprometeram-se a re- lhante ao de Canudos, na região fronteiriça dos Estados do
alizar empréstimos no exterior, com vistas a comprar e Paraná e de Santa Catarina.
estocar o excedente de café não vendido.
As consequências da política de valorização do café foram Além dessas, ocorreram movimentos sediciosos no Ceará,
amplas. Algumas delas apareceram já nos primeiros mo- Bahia e Pernambuco como resultado da Política das Sal-
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mentos de sua aplicação. A nação como um todo conti- vações. Tratava-se da intervenção do governo federal nos
nuou a pagar os prejuízos do café (socialização das per- Estados para derrubar as velhas oligarquias e favorecer a
das), sob a alegação de manter o nível de renda nacional. ascensão de novas ligadas diretamente ao presidente da
E, no longo prazo, essa política revelou-se desastrosa. República, dispostas a fortalecer o poder central e a reduzir
a influência política do senador Pinheiro Machado.
Governo Afonso Pena Durante seu governo, as exportações de borracha che-

(1906-1909) garam ao apogeu. No entanto, foi um fenômeno ilusório,


pois logo veio a concorrência das eficientes plantações no
O mineiro Afonso Pena assumiu a presidência com o intui- Ceilão e na Malásia. Rapidamente, a produção brasileira
to de favorecer os cafeicultores, o que de fato aconteceu. passou a ter um papel insignificante, fazendo com que a
Apoiou o Convênio de Taubaté e criou a caixa de conver- pobreza voltasse com força na região amazônica.

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Governo Venceslau passou a produzir vultosa quantidade de produtos indus-
triais, que antes eram importados.
Brás (1914-1918) Na época, foram favorecidas as indústrias têxtil – líder –,
O governo de Venceslau Brás, que coincidiu com a Pri- de alimentação, bebidas e roupas. A indústria têxtil, sobre-
meira Guerra Mundial, sofreu forte influência para o tudo a de tecidos de algodão, foi a verdadeiramente fabril
desenvolvimento econômico do país. A Primeira Guerra graças à concentração de capital investido e ao número de
Mundial trouxe consequências econômicas altamente operários. Mas a industrialização não veio acompanhada
positivas para o Brasil: cresceram as exportações de pro- de leis trabalhistas, como regulamentação da carga horária
dutos primários – café, borracha e carne; ganhou estímu- de trabalho, descanso semanal, férias remuneradas, apo-
lo um processo de substituição de importações; o Brasil sentadoria etc.

REPÚBLICA OLIGÁRQUICA: MOVIMENTOS SOCIAIS

Canudos (1896-1897) Contestado (1912-1916)


A guerra do Contestado resultou de um processo seme-
lhante ao de Canudos. Ocorreu na divisa do Paraná com
Santa Catarina, durante os governos de Hermes da Fon-
seca e de Venceslau Brás. A área onde se formou a comu-
nidade era disputada pelos governos dos dois Estados, e
ambos não escondiam os interesses pela exploração da
madeira e da erva-mate.
No período, a concessão da construção pelo governo de
uma estrada de ferro ligando São Paulo ao Rio Grande do
Sul contribuiu para o aquecimento das tensões na região,
Representação de Canudos pois desapropriou uma larga faixa de terra e atraiu um con-
tingente significativo de gente para suprir a necessidade
Foi um movimento ocorrido na Bahia, entre 1896 e 1897.
de mão de obra. Porém, com o fim das obras da estrada
Caracterizou-se pela intensa religiosidade, visto que seu
líder, Antônio Conselheiro, era considerado por seus segui- de ferro, o contingente de desempregados em condições
dores – normalmente pobres, prostitutas e bandidos – um precárias criou um cenário ideal para difusão de ideais
messias. Ele pregava a salvação das almas e estimulava a messiânicos, capitaneados por José Maria.
população a construir igrejas e cemitérios, além de criticar Camponeses expropriados de suas terras e desemprega-
as autoridades constituídas e os altos impostos cobrados dos dispuseram-se a seguir José Maria e a formar uma co-
pelo governo. Cada vez mais popular, passou a ser preocu- munidade, àquela altura única alternativa de vida para eles.
pação para as autoridades. Com medo de uma nova Canudos, a reação do governo
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federal, das elites e da própria Igreja não tardou. Dessa


Conselheiro e seus seguidores foram acusados e estigma-
forma, em 1914, sob o comando do general Setembrino de
tizados de monarquistas, fanáticos, assassinos, ladrões, he-
Carvalho, seis mil soldados, que contavam com artilharia,
reges e criminosos. Estavam criadas as justificativas para a
atacaram os crentes. Embora estes tenham sido resistentes,
repressão e a extinção de Canudos. Com isso, o governo
o massacre das tropas federais se fez valer em 1916.
enviou diversas expedições militares para combatê-los,
contudo, sem sucesso.
O arraial de Canudos contava com artilharia pesada Revolta da Vacina (1904)
e canhões. O cerco ao arraial foi seguido de intenso A origem dessa revolta ocorrida no Rio de Janeiro deve ser
bombardeio, envolvendo-o em chamas. Depois de resis- procurada na questão social gerada pelas desigualdades so-
tir por quase um mês, a comunidade inteira e Antônio ciais e agravada pela reurbanização do Distrito Federal pelo
Conselheiro foram assassinados.

146
prefeito Pereira Passos, apadrinhado por Rodrigues Alves. do Batalhão Naval. O governo agiu com energia e rapidez:
Além disso, o grande destaque do período foi a Campanha sufocou o movimento e ordenou a prisão dos revoltosos.
de Saneamento, no Rio de Janeiro, dirigida por Oswaldo
Cruz. À prefeitura, interessava o combate à varíola, que seria
realizado graças à vacinação em massa da população. Greve de 1917
Já revoltada com as ações do governo e amedrontada pela A industrialização brasileira não foi acompanhada de leis
oposição, que mais a desinformava do que esclarecia, afir- trabalhistas, como a regulamentação das horas de trabalho
mando, por exemplo, que a vacina sim causaria a doença, diário, da obrigatoriedade do descanso semanal, das férias
a população passou a se recusar a receber as brigadas sa- remuneradas e da aposentadoria. A exploração dos trabalha-
nitárias, bem como a vacina. Em virtude desse impasse, o dores manifestava-se pelas longas jornadas de trabalho, que
governo conseguiu a aprovação no congresso de uma lei chegavam a 15 horas diárias, baixos salários e precárias condi-
que tornava a vacinação obrigatória e permitia que as bri- ções de trabalho. Não poupava o trabalho feminino e infantil,
gadas sanitárias invadissem as casas para efetuá-la, des- submetidos a salários mais baixos que os dos homens.
respeitando direitos individuais e a propriedade privada.
A maioria dos operários do período era de estrangeiros e
Diante de tantas arbitrariedades, em novembro de 1904,
tinha conhecimento dos ideários socialista e anarquista,
eclodiu a Revolta da Vacina ou do “Quebra-Lampião”, que
base da prática sindical e anarcossindicalista, voltados para
tomou conta das ruas do Rio de Janeiro com apoio de mi-
litares positivistas, intelectuais e opositores do governo. Fo- a pressão sobre os patrões com o objetivo de obter melhores
ram erguidas barricadas em várias ruas, atacados prédios salários e condições de trabalho, bem como leis trabalhistas.
públicos e depredados postes de iluminação pública. Houve Dentre as principais reivindicações dos revoltosos, temos:
mortes e ferimentos graves de ambos os lados e várias pri-
§ libertação de todas as pessoas detidas devido à greve;
sões foram efetuadas. A reação popular levou o governo a
suspender a obrigatoriedade da vacina e a declarar estado § respeito ao direito de associação dos trabalhadores;
de sítio para controlar a situação, o que enfim aconteceu, em § proibição do trabalho de menores de 14 anos nas fá-
virtude de outras ações governamentais, como a compra de bricas e oficinas;
ratos da população por agentes de saúde como forma de
§ abolição do trabalho noturno para mulheres;
conter a proliferação de doenças transmitidas por eles.
§ aumento de 35% nos salários inferiores a $5.000 e de

Revolta da Chibata (1910) 25% para os mais elevados; e


§ jornada diária de oito horas.
Ocorreu no Rio de Janeiro, sob o comando do marinheiro ne-
Após a morte de um trabalhador pela polícia de São Paulo,
gro João Cândido. Contra seus aviltantes cotidianos, rechea-
operários de outras fábricas aderiram ao movimento e a
dos de repressão e jornadas exaustivas, os marinheiros toma-
paralisação transformou-se em greve geral, que levou os
ram dois modernos encouraçados, ameaçando bombardear a
operários a fazerem várias exigências trabalhistas. O mo-
capital, caso suas reivindicações não fossem atendidas.
vimento grevista espalhou-se pelos Estados de São Paulo,
O presidente aceitou as exigências e enviou oficiais para
Paraná, Santa Catarina, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia
assumir o controle dos navios, o que encerrou a revolta.
e Rio Grande do Sul.
Mas, em seguida, ordenou a prisão de marinheiros envol-
vidos na revolta na ilha das Cobras ou em campos de tra- Após violenta repressão policial e complexas negociações,
balhos forçados no Norte. Pouco depois do fim da Revolta foi selado um acordo que pôs fim à greve: os salários se-
riam aumentados em 20% e os grevistas presos seriam
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da Chibata, ocorreu uma revolta entre os fuzileiros navais,


aquartelados na ilha das Cobras, conhecida como Revolta libertados sem sofrer retaliação.

CRISE DA REPÚBLICA OLIGÁRQUICA

Governo Epitácio Pessoa (1919-1922)


Ao assumir a presidência da República, Epitácio Pessoa contraiu um empréstimo, junto aos EUA, para promover a remodelação do
centro do Rio de Janeiro e, posteriormente, recorreu a novo empréstimo destinado à construção de ferrovias, açudes e barragens

147
no Nordeste, como forma de combater a seca na região. Em Os intelectuais e artistas modernistas valorizavam temas
1920, foi criada a Universidade Federal do Rio de Janeiro. e aspectos nacionais, redimensionando o nacionalismo
A década de 1920 foi marcada pelo processo de declínio do brasileiro relacionado ao cotidiano, na tentativa de pro-
domínio oligárquico, tal como fora organizado e herdado do moverem a aproximação das artes de um público maior.
império, que passou a ser contestado pela burguesia indus- Sinal evidente disso foi a linguagem coloquial utilizada por
trial em desenvolvimento, uma fração da própria classe do- escritores e poetas, sem “macaquear a sintaxe lusíada”,
minante, mas com novos interesses e com ambições e neces- conforme afirmou Manuel Bandeira; na literatura, os índios
sidades que as facções e frações da antiga classe dominante foram valorizados de modo mais realista e menos românti-
não conseguiam atender. O operariado e as camadas médias co; em Macunaíma, Mario de Andrade construiu seu “herói
urbanas apresentavam suas reivindicações e organizavam-se sem caráter”, baseado em lendas de várias regiões do país.
politicamente. O movimento tenentista e a Semana de Arte Também em 1922, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) foi
Moderna são exemplos das inquietações daquele período. fundado. Após sucessivas greves operárias em 1917 e da en-
Esses segmentos sociais contestavam o domínio oligárquico trada de ideais socialistas e anarquistas, o movimento operário
de várias maneiras: brasileiro amadureceu. Prova disso foi, sem dúvida, a fundação
do PCB, que seguia as orientações gerais da União Soviética.
§ A burguesia industrial, contrária às constantes políticas
de valorização do café, exigia mais participação política.
§ O movimento operário exigia leis trabalhistas e con-
Tenentismo
testava as medidas de valorização do café, que pro- O movimento tenentista nasceu na baixa oficialidade do
moviam o aumento de impostos e a inflação desen- Exército, congregando especialmente tenentes recém-saídos
freada, causadora da corrosão dos salários. da Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, e capitães
recém-promovidos ao posto, insatisfeitos com a realidade
§ As camadas urbanas criticavam as fraudes eleitorais e se
política, econômica e social do país, com a situação dos mili-
revoltavam contra elas, contra a inflação e contra os altos
tares e a demora das promoções no Exército.
impostos, reflexos das políticas de valorização do café.
A renovação iniciada no Exército tendeu a agravar as divi-
Durante o governo Epitácio Pessoa, ocorreu entre os dias 11
sões entre “velhos” e “novos” oficiais. Os “velhos”, geral-
e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo,
a Semana de Arte Moderna. Foi o ponto culminante do movi- mente de patente superior, apresentavam-se acomodados
mento modernista em franco desenvolvimento, particularmen- ao sistema oligárquico e ao papel pouco importante nele
te em São Paulo. Figuraram entre seus promotores e partici- desempenhado pelas Forças Armadas. Os “novos” culpa-
pantes: as pintoras Anita Malfatti e Tarsila do Amaral e o pintor vam a organização política pela situação de atraso do país
Di Cavalcanti; os escritores Mario de Andrade, Menotti Del e reivindicavam, para a corporação militar, um papel de re-
Pichia, Graça Aranha, Manuel Bandeira e Oswald de Andrade; levo na condução dos negócios públicos.
o músico Heitor Villa-Lobos; e o escultor Victor Brecheret. O tenentismo contestava os vícios políticos, a corrupção, as
Os artistas brasileiros viam o movimento modernista como uma fraudes eleitorais, o voto de cabresto e o domínio oligárqui-
forma de representar, na cultura e nas artes, todas as trans- co que marcavam a República velha. O movimento apre-
formações observadas na realidade, bem como criar padrões sentava-se com uma missão salvadora defendendo o voto
culturais genuinamente nacionais, rompendo com os padrões secreto, a reforma do ensino – que deveria se tornar gratui-
europeus. O movimento também foi porta-voz de crítica à socie- to – e o fim da socialização das perdas, reivindicações que
dade burguesa e um protesto contra a situação política do país. coincidiam com os interesses das camadas médias urba-
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nas. Defendiam também a autonomia do Poder Judiciário


e o nacionalismo em defesa dos recursos naturais do país.

Crise das cartas falsas e Revolta


do Forte de Copacabana (1922)
A indicação do mineiro filiado ao PRM, Artur Bernardes,
não agradou as oligarquias do Rio Grande do Sul, Bahia,
Rio de Janeiro e Pernambuco, que se aliaram e lançaram
a candidatura de Nilo Peçanha (Reação Republicana), re-
presentando a oposição ao candidato “café com leite”, ou
seja, do PRP e PRM.
Cartaz da Semana de Arte Moderna

148
Com o intuito de tumultuar o processo eleitoral e conquis- movimento. Houve troca de tiros e os rebeldes foram mor-
tar o apoio do Exército ao candidato Nilo Peçanha, o jornal tos. Sobreviveram apenas os tenentes Siqueira Campos e
carioca Correio da Manhã publicou cartas atribuídas a Ar- Eduardo Gomes.
tur Bernardes, nas quais ele tecia uma série de ofensas aos
militares e ao presidente do Clube Militar e ex-presidente
da República, o marechal Hermes da Fonseca. Governo Artur Bernardes
Artur Bernardes negou a autoria das cartas, que foram (1922-1926)
submetidas a criteriosas análises e declaradas falsas. Mes-
O governo do mineiro Artur Bernardes foi um dos mais tu-
mo assim, os militares exigiram que Bernardes renunciasse
multuados da história republicana brasileira, quando o país
à sua candidatura. Não atendidos, assumiram a oposição,
esteve constantemente em estado de sítio, devido à insta-
declarando que não aceitariam a posse de Artur Bernardes
bilidade política e constantes ameaças de golpe, levantes
na Presidência da República. Mas as eleições foram vencidas
militares em São Paulo e no Rio Grande do Sul e a oposição
por ele.
do Exército, desde o processo eleitoral.
Em meio às agitações no cenário político nacional, no con-
No Rio Grande do Sul, ocorreu a Revolução Liberta-
texto das eleições para a escolha do sucessor de Epitácio
dora de 1923, liderada por Assis Brasil – fundador da
Pessoa, ocorreu um levante militar em Pernambuco entre
Aliança Libertadora –, em oposição ao oligarca Borges de
militares que se opunham às oligarquias locais. O presiden-
Medeiros, velho patriarca do Partido Republicano Gaúcho.
te do Clube Militar, marechal Hermes da Fonseca, apoiou
Ele controlou o poder político no Estado e se beneficiou
o movimento, pelo que foi preso por 24 horas e o Clube
da constituição gaúcha, que permitia reeleições ilimitadas
Militar, fechado.
para a Presidência do Estado. Depois de intensos comba-
Em reação aos fatos, em 5 de julho de 1922 ocorreu o pri- tes, foi firmado o Pacto de Pedras Altas, que confirmou Bor-
meiro levante tenentista no Forte de Copacabana, ges de Medeiros na Presidência do Estado, sem direito a
sob comando de Euclides da Fonseca, filho do marechal nova reeleição, que foi retirada da constituição do Estado.
Hermes da Fonseca, imediatamente apoiado por outras Em São Paulo, no dia 5 de julho de 1924, várias guarnições
guarnições militares do Rio de Janeiro e do Mato Grosso. rebelaram-se sob o comando dos generais Isidoro Dias Lo-
A reação governamental foi imediata e o levante foi ra- pes e Miguel Costa e dos tenentes Joaquim e Juarez Távora
pidamente controlado nos outros quartéis, à exceção do e Eduardo Gomes. Os rebeldes forçaram a fuga do gover-
Forte de Copacabana, onde estavam as principais lide- nador Carlos de Campos e ocuparam a cidade durante 22
ranças do movimento: o tenente Siqueira Campos e o ca- dias, exigindo a derrubada de Bernardes, uma Constituinte
pitão Euclides da Fonseca. Decidiram permitir quem não e mudanças políticas, como o voto secreto.
quisesse resistir e ficaram apenas 29 rebeldes. Tropas legalistas avançavam para a capital paulista, que
passou a sofrer bombardeios aéreos ordenados por Ber-
nardes. No dia 27 de julho, em meio aos combates, os re-
beldes começaram a se retirar rumo ao interior do Paraná,
onde se juntariam com uma coluna vinda do Rio Grande
do Sul, comandada pelo capitão Luís Carlos Prestes.

Coluna Prestes (1924-1927)


U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

O comando da coluna foi assumido pelo major Miguel


Costa, a divisão paulista, pelo tenente Juarez Távora e a
Movimento de tenentes, após ocupação de quartel no Rio de Janeiro
gaúcha, pelo capitão Luís Carlos Prestes, aclamado chefe
Ao tentar negociar com o alto comando militar, Euclides do Estado-maior da coluna que recebeu seu nome.
da Fonseca foi preso. Alguns de seus companheiros deci- Percorrendo o interior do país e combatendo as forças gover-
diram deixar o Forte de Copacabana e enfrentar as forças namentais e oligárquicas, a Coluna deslocou-se aproxima-
governamentais. Eram 17 homens liderados pelo tenente damente 25 mil quilômetros pelo território de nove Estados,
Siqueira Campos, que marcharam pela Avenida Atlântica, ao longo de pouco mais de dois anos. Além de combater as
onde receberam a adesão do civil Otávio Corrêa. tropas designadas para destruí-las, a Coluna Prestes tentava
Os 18 do Forte de Copacabana marcharam para se en- conscientizar a população rural dos vícios e males do domí-
contrar com as tropas federais designadas para conter o nio oligárquico e derrubar o presidente Artur Bernardes.

149
O presidente Washington Luís desejava realizar uma re-
forma monetária no Brasil baseada na adoção do padrão-
-ouro, com a substituição do inflacionado mil-réis, por uma
nova moeda, o cruzeiro. Sua iniciativa, porém, foi frustrada
em razão da crise de 1929.
Profundamente marcado pela crise mundial capitalista, o
ano de 1929 também foi agitado no Brasil pelo início do
processo eleitoral para a escolha do novo presidente da
República. Segundo o acordo da política do “café com lei-
A Coluna, com Prestes sentado embaixo
(terceiro da esquerda para a direita) te”, o presidente Washington Luís, que pertencia ao PRP,
deveria indicar um candidato do PRM, o presidente de Mi-
Em fevereiro de 1927, já no governo de Washington Luís, a
nas Gerais, Antônio Carlos de Andrada.
Coluna Prestes retirou-se para a Bolívia, onde se dissolveu.
Restavam dela aproximadamente 600 homens esfarrapa- Inesperadamente, no entanto, Washington Luís rompeu
dos, famintos e atingidos pela cólera. com o acordo e indicou para sua sucessão o presidente de
São Paulo, do PRP, Júlio Prestes. Revoltado, Antônio Car-

Governo Washington los de Andrada procurou apoio político em outros Estados


e aliou-se às oligarquias de Paraíba e do Rio Grande do
Luís (1926-1930) Sul. Insatisfeitos com o alijamento do poder, formaram a
Aliança Liberal, que apresentou como candidatos Getú-
Após eleito, Washington Luís procurou concentrar poderes lio Vargas e João Pessoa.
políticos em suas mãos e promover a pacificação interna.
Suspendeu o estado de sítio, atenuou a censura à imprensa Em seu programa político, a Aliança Liberal propunha a
e libertou vários presos políticos. adoção do voto secreto e do voto feminino, anistia política
e reforma agrária. Contava com o apoio de membros do
Em contrapartida, adotou uma série de medidas repressivas.
movimento tenentista, de oligarquias dissidentes e de ca-
Famoso pela frase “A questão social é um caso de polícia” a ele
atribuída, mas nunca provada como sua, seu governo aprovou madas médias urbanas.
a Lei Celerada, que estabelecia repressão às atividades políticas Após a contagem dos votos, o candidato Julio Prestes, do
e sindicais operárias, particularmente às ligadas aos comunis- PRP, foi declarado vencedor e deveria assumir a Presidên-
tas, por considerá-las nocivas à ordem social e econômica. cia da República, em novembro daquele ano.

REVOLUÇÃO DE 1930
Dentre alguns políticos de oposição, Getúlio Vagas e João O movimento teve início no Rio Grande do Sul, em 3 de
Pessoa aceitaram a derrota eleitoral da Aliança Liberal, mas outubro de 1930, sob a chefia de Getúlio Vargas e Oswal-
a maioria dos opositores, inconformados com o resultado, do Aranha. O poder federal foi assumido por uma junta
passaram a planejar uma conspiração. No entanto, no dia militar composta pelo almirante Isaías Noronha e pelos
26 de julho de 1930, João Pessoa foi assassinado por João generais Mena Barreto e Tasso Fragoso. Um mês depois
Dantas, em Recife, por questões de ordem pessoal. O crime do golpe, a chefia do governo foi entregue a Getúlio Var-
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somou-se às acusações de fraude nas eleições presiden- gas, que tomou posse como chefe do governo provisório.
ciais e ao descontentamento popular com a crise econô- Estava consumada a chamada Revolução de 1930, que
mica, dando margem para o ataque ao Governo Federal. coroava a derrota das forças representadas pelos PRP e
PRM e a política do “café com leite”. Tinha início a Era
Vargas, que se estendeu até 1945.

Vargas, após a Revolução

150
GOVERNO PROVISÓRIO DE GETÚLIO VARGAS (1930-1934)

Um mês depois da revolução, a junta militar que assumira garquias afastadas do poder e do controle político federal
o poder transferiu a chefia do governo provisório a Getúlio e estadual, visto que o Estado passou a ser governado pelo
Vargas, que imediatamente decretou: interventor João Alberto.
§ a suspensão parcial da Constituição de 1891; Getúlio Vargas o havia nomeado interventor de São Pau-
§ o fechamento do Congresso Nacional, das assembleias lo, logo que assumiu a chefia do governo provisório, para
legislativas e das câmaras municipais; substituir o general Hastinfilo de Moura, ligado ao Parti-
§ a destituição dos presidentes de todos os Estados e a do Democrático (PD), que havia apoiado a Revolução de
indicação de interventores ligados ao movimento te- 1930. Essa medida afastou o PD de Vargas e definiu sua
nentista para os respectivos governos, exceto para Mi- aliança com o PRP em oposição ao governo provisório. Jun-
nas Gerais, uma vez que o governador Olegário Maciel tos, passaram a exigir a convocação de eleições e a imedia-
havia apoiado a Revolução de 1930; ta reconstitucionalização do Brasil.
§ a formação de um ministério por representantes dos A coalizão entre o Partido Republicano Paulista, (PRP) e o
grupos políticos vencedores; Partido Democrático (PD) sustentou a formação da Frente
§ a criação dos Ministérios do Trabalho, Indústria e Co- Única Paulista (FUP), que se tornou porta-voz das reivindi-
mércio, da Educação e Saúde. cações de reconstitucionalização e de autonomia adminis-
trava para o Estado de São Paulo. Além disso, a FUP passou
Outra medida importante do novo governo foi a criação do
a articular junto aos meios militares e entidades de classe
Conselho Nacional do Café (CNC), que passaria a controlar
paulistas a preparação de um movimento armado contra o
a produção e o comércio do principal produto de exporta-
governo provisório.
ção brasileiro no período, o que denotou certo acordo com
os representantes da oligarquia cafeeira. Como tentativa de arrefecer o movimento, em fevereiro de
O governo provisório foi marcado pela criação das primei- 1932 foi apresentado o novo Código Eleitoral e marcadas
ras leis trabalhistas, estratégia política com a finalidade de as eleições para maio de 1933.
atender às reivindicações dos movimentos operários, ao O recuo de Vargas não foi suficiente para aplacar a exal-
mesmo tempo em que os neutralizava, retirando suas ban- tação da FUP e dos paulistas, que promoviam grandes
deiras de luta e fazendo parecer uma “doação” do gover- manifestações contra o governo provisório, reivindicando
no ao operariado. A jornada de trabalho foi limitada a oito a imediata volta do país à normalidade constitucional. Em
horas diárias, com obrigatoriedade de descanso semanal uma dessas manifestações, no dia 23 de maio de 1932,
remunerado e direito a férias anuais de quinze dias úteis soldados fiéis a Vargas atiraram contra a multidão reuni-
sem prejuízo dos vencimentos. Todos esses itens consta- da na Praça da República e mataram quatro estudantes
vam das pautas de reivindicações dos operários. secundaristas: Mário Martins de Almeida, Euclides Bueno
Paralelamente à transformação das reivindicações traba- Miragaia, Dráusio Marcondes de Souza e Antônio Américo
lhistas em leis, o governo cerceava a liberdade sindical, Camargo de Andrade.
concentrando em suas mãos o papel de controlador dessa
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

atividade e determinando aos funcionários do Ministério


que assistissem às assembleias dos sindicatos. A legalidade
de um sindicato dependia do reconhecimento do Ministé-
rio do Trabalho, que poderia cassá-lo, caso se verificasse o
não cumprimento de uma série de normas.

Revolução Constitucionalista
de São Paulo (1932)
Cartaz sobre as mortes de Mário Martins de Almeida,
As medidas governamentais e a publicação do Código Euclides Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de
Eleitoral, em 1932, não foram suficientes para acalmar os Souza e Antônio Américo Camargo de Andrade
ânimos dos opositores paulistas ao governo provisório, oli-

151
Indignados, os paulistas se organizaram em um enorme
esforço de guerra. As indústrias mobilizaram-se para pro-
Governo constitucional de
duzir armamentos, estimuladas pela Federação das Indús- Getúlio Vargas (1934-1937)
trias de São Paulo (Fiesp). A população civil, notadamente O início da década de 1930 no Brasil foi marcado pela po-
as mulheres, engajou-se na Campanha “Ouro para o Bem larização ideológica entre esquerda e direita, que defen-
de São Paulo”, que arrecadava joias para levantar recursos diam, respectivamente, o comunismo e o fascismo, reflexo
necessários ao esforço de guerra. Também elas formavam interno da situação internacional notadamente europeia. A
grupos de voluntários que costuravam fardas e agasalhos, polarização provocou intensos conflitos e disputas ideoló-
arrecadavam alimentos e medicamentos e cuidavam dos gicas em âmbito nacional entre a Ação Integralista Brasilei-
soldados feridos. ra (AIB) e a Aliança Nacional Libertadora (ANL).
As forças legalistas de Getúlio partiram de Minas Gerais e
bloquearam o porto de Santos, facilitando a repressão. Em
1º de outubro, os paulistas renderam-se. Apesar da derrota
militar, seus objetivos políticos foram atendidos: em 1933,
houve eleições para a formação de uma Assembleia Nacio-
nal Constituinte, responsável pela promulgação, em 1934,
de uma nova constituição para o Brasil.

Constituição de 1934
A nova constituição brasileira, promulgada no ano de
1934, preconizava:
§ Regime presidencialista, com mandato presidencial de
quatro anos sem direito à reeleição.
§ Extinção do cargo de vice-presidente.
§ Representação estadual no congresso por dois sena-
dores, com mandato de oito anos, e por um número de
deputados proporcional à população do Estado, com
mandato de quatro anos.
§ Voto secreto e universal para ambos os sexos, alfabeti-
zados e maiores de 18 anos.
§ Voto profissional (deputados classistas) escolhidos pe-
los sindicatos.
Cartaz integralista
§ Criação da Justiça Eleitoral.
Fundada em 1932 por Plínio Salgado, a Ação Integralista
§ Ensino primário obrigatório e gratuito. Brasileira liderava a associação e pregava o combate brutal
§ Obrigatoriedade das empresas estrangeiras emprega- ao comunismo, nacionalismo extremado e à formação de
rem no mínimo 2/3 de brasileiros. um Estado totalitário. Extremamente conservadores e intole-
§ Monopólio do Estado dos recursos hidrominerais. rantes, os integralistas defendiam a disciplina e a hierarquia
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social, a censura, particularmente às atividades artísticas. Ti-


§ Nacionalização das companhias de seguro estrangeiras.
nham como lema: “Deus, pátria e família”. Os integrantes
§ Criação da Lei de Segurança Nacional e instituição do vestiam camisas verdes que exibiam a letra grega ∑ (sigma)
mandato de segurança. e cumprimentavam-se com a saudação “anauê” (salve). Ins-
§ Incorporação das leis trabalhistas – limitação da jor- pirados pelo fascismo europeu, defendiam o monopartida-
nada de trabalho para oito horas diárias, salário míni- rismo e o regime totalitário de governo.
mo, descanso semanal obrigatório, férias remuneradas, A Aliança Nacional Libertadora era uma frente ampla
indenização para demissão sem justa causa e licença- antifascista que reunia várias tendências: sociais demo-
-maternidade de 60 dias para as mulheres. cratas, socialistas, anarquistas, comunistas, sindicalistas e
Além desses pontos, com a aprovação da nova constitui- antigos membros do tenentismo. Liderada por Luís Carlos
ção, Vargas garantiu-se no poder pelo menos até 1938, Prestes, a ANL tinha como lemas: “Pão, terra e liberdade” e
quando deveria haver novas eleições. “Todo poder à ANL”. Seu programa político defendia:

152
§ Nacionalização de empresas estrangeiras
§ Suspensão do pagamento da dívida externa
§ Realização de reforma agrária
§ Garantia das liberdades agrárias
§ Criação de um governo popular
Além de antifascista, a ANL opunha-se ao governo autori-
tário de Vargas, que, baseado na Lei de Segurança Nacio-
nal, determinou, em julho de 1935, o fechamento da ANL
e a prisão de vários de seus líderes, após discurso de Luís
Carlos Prestes com críticas ao governo.
Em reação ao fechamento da ANL, seus membros passa-
ram a atuar na clandestinidade e a organizar, com o apoio
do Partido Comunista, um golpe para derrubar Getúlio Var-
gas da Presidência e preparar a implantação do comunis- Olga Benário Prestes
mo no Brasil. Essa organização constituiu a chamada In-
Contudo, no mesmo ano, autoridades militares teriam
tentona Comunista, com início em novembro de 1935,
descoberto e divulgado um suposto plano comunista para
quando ocorreram levantes nas cidades de Natal, Recife e
tomar o poder no Brasil, derrubar Getúlio e assassinar polí-
Rio de Janeiro.
ticos – o Plano Cohen. Tratava-se de um plano comunista
O governo Vargas usou a Intentona para justificar a im- que visava à tomada do poder à custa de assassinatos, luta
plantação do estado de sítio e recorrer a instrumentos re- armada, invasão de lares e outras tantas violências. Consti-
pressivos – torturas, prisões arbitrárias de comunistas ou tuído em pretexto para o golpe, esse plano era uma frau-
acusados de esquerda, até a identificação e total desarticu- de forjada pelo capitão Olímpio Mourão Filho, membro do
lação deles. Prestes foi preso em 1936 e sua mulher, a judia movimento integralista.
comunista alemã Olga Benário Prestes, depois de presa, foi
No entanto, a mentira cumpriu seu propósito: os parlamen-
extraditada para a Alemanha, morrendo na prisão Barni-
tares aceitaram o pedido de implantação do estado de sítio
mstradebe, um recinto prisional feminino.
solicitado por Vargas, que fechou o Congresso Nacional, no
Já em 1937, foram marcadas eleições presidenciais para dia 10 de novembro de 1937, e outorgou uma nova consti-
a escolha de um sucessor para Getúlio Vargas. Seu man- tuição para o Brasil, que consumou o golpe de Estado e inau-
dato de quatro anos aproximava-se do final e, de acor- gurou a ditadura do Estado Novo até 1945. Os partidos
do com a Constituição de 1934, não havia possibilidade políticos foram proibidos, inclusive a AIB, que havia apoiado
dele ser reeleito. Vargas chegou a indicar o candidato que o golpe, instalou-se a censura, avançaram as perseguições
apoiaria: o paraibano José Américo de Almeida. Plínio políticas e a tortura. Iniciava o flerte de Vargas com a Alema-
Salgado e Armando Salles de Oliveira também lançaram nha nazista, observado de perto pelos Estados Unidos.
candidatura à Presidência.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

153
U.T.I. - Sala a) Explique por que a “nuvem da emancipação” não
parava de crescer naquela conjuntura.
b) Com base na ilustração e nos seus conhecimentos,
1. (FUVEST) A extinção do tráfico de escravos africanos
identifique dois argumentos utilizados por uma par-
no Brasil ocorreu em 1850. Com relação a esse marco
cela dos proprietários de escravos para se oporem ao
histórico:
crescimento da “nuvem da emancipação”.
a) explique o papel da Inglaterra nessa decisão.
b) relacione-o com a chegada de imigrantes. 5. (FUVEST) “Canudos não se rendeu. Exemplo único em
toda a História, resistiu até ao esgotamento completo.
2. (UNICAMP) São Paulo, quem te viu e quem te vê! [...] Caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus
Tinhas então as tuas ruas sem calçamento, iluminadas últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro
pela luz baça e amortecida de uns lampiões de azei- apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na
te; tuas casas, quase todas térreas, tinham nas janelas frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil solda-
umas rótulas através das quais conversavam os estu- dos.”
dantes com as namoradas; os carros de bois guincha- Euclides da Cunha, Os sertões.
vam pelas ruas carregando enormes cargas e guiados
Relacione o movimento de Canudos com:
por míseros cativos. Eras então uma cidade puramente
paulista, hoje és uma cidade italiana!! Estás comple- a) os problemas econômico-sociais da região.
tamente transformada, com proporções agigantadas, b) a crença religiosa e a luta política da população.
possuindo opulentos e lindíssimos prédios, praças vas-
tas e arborizadas, ruas todas calçadas, cortadas por di- 6. (UNICAMP) “Com 800 mil habitantes, o Rio de Janei-
versas linhas de “bond”, centenas de casas de negócios ro era uma cidade perigosa. Espreitando a vida dos ca-
e a locomotiva soltando seus sibilos progressistas. riocas estavam diversos tipos de doenças, bem como
Adaptado de: PINTO, Alfredo Moreira. A cidade de São Paulo em 1900. autoridades capazes de promover sem qualquer cer-
São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, 1979, p. 8-10. imônia uma invasão de privacidade. A capital da jovem
República era uma vergonha para a nação. As políticas
a) Cite duas transformações mencionadas no texto de saneamento de Oswaldo Cruz mexeram com a vida
que marcam a oposição entre atraso e progresso. de todo mundo. Sobretudo dos pobres. A lei que tor-
b) De que formas a economia cafeeira contribuiu para nou obrigatória a vacinação foi aprovada pelo governo
as transformações observadas pelo autor? em 31 de outubro de 1904; sua regulamentação exigia
comprovantes de vacinação para matrículas em esco-
3. (FUVEST) A vitória do regime republicano no Brasil las, empregos, viagens, hospedagens e casamentos. A
(1889) e a consequente derrubada da monarquia po- reação popular, conhecida como Revolta da Vacina, se
dem ser explicadas, levando-se em conta diversos fato- distinguiu pelo trágico desencontro de boas intenções:
res. Entre eles, explique: as de Oswaldo Cruz e as da população. Mas em nenhum
a) a importância do Partido Republicano. momento podemos acusar o povo de falta de clareza
b) o papel dos militares apoiados nas ideias positi- sobre o que acontecia à sua volta. Ele tinha noção clara
vistas. dos limites da ação do Estado.”

4. (PUC-RJ) A capa da Revista Ilustrada do ano de 1880 Adaptado de: CARVALHO, José Murilo de. “Abaixo a vacina!”.
Revista Nossa História, ano 2, n. 13, novembro de 2004, p. 74.
apresenta a ilustração de Ângelo Agostini intitulada
“Emancipação uma nuvem que não para de crescer”. A partir da leitura do texto e de seus conhecimentos,
responda às questões a seguir.
a) De que maneira as medidas sanitárias, no Rio de
Janeiro do início do século XX, “mexeram com a vida
de todo mundo, sobretudo dos pobres”?
b) Indique dois fatores que restringiam a participação
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

política dos trabalhadores na primeira República.

154
7. (FUVEST) 10. (UERJ)

Essa ilustração foi publicada em 1865, durante a guerra


do Paraguai, e reflete o posicionamento de vários mem-
bros das elites intelectuais brasileiras favoráveis à guerra.
Apresente dois argumentos, utilizados na época, para jus-
tificar a participação do Brasil nesse conflito.

U.T.I. - E.O.
1. (PUC-RJ) A desagregação da ordem escravista ocor-
reu de modo diverso no Império do Brasil e nos Estados
Unidos da América, no decorrer da segunda metade do
século XIX.

Esses dois quadros, pintados em datas muito próximas,


indicam a placidez de São Paulo (1827) e a agitação do
Rio de Janeiro (1832) nessa época. Considerando os
contextos sugeridos pelas duas pinturas responda:
a) Quais as principais características das duas cida-
des, em termos econômicos? a) Tendo como referência os seus conhecimentos e
b) Quais as diferenças existentes entre elas em ter- a charge reproduzida a seguir, caracterize uma dife-
mos políticos e culturais? rença entre escravistas, emancipacionistas e abolicio-
nistas no Império do Brasil, nas duas últimas décadas
8. (UFRJ) “D. Pedro I, por graça de Deus e unânime da escravidão.
aclamação dos povos, Imperador Constitucional e b) No caso dos EUA, a extinção da escravidão ocor-
Defensor Perpétuo do Brasil: Fazemos saber a todos reu em condições históricas marcadamente diferentes
os nossos súditos, que tendo-nos requerido os povos daquelas verificadas na sociedade imperial brasileira.
deste Império, juntos em Câmaras, que nós quanto an- Descreva essas condições.
tes jurássemos e fizéssemos jurar o Projeto de Consti- 2. (UFRJ) “Os paulistas não fazem resistência (...) do que
tuição (...).” eles fazem questão séria (...) é da substituição e per-
(Preâmbulo da Constituição Política do Império do Brazil, 1824.) manência no trabalho, e desde que o governo cure seria-
mente de empregar os meios que facilitem a substituição
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Identifique, no preâmbulo da Constituição de 1824, do trabalho escravo, desde que facilite a aquisição de
uma passagem que expresse a incorporação de certas braços livres que garantam a permanência do trabalho
inovações políticas que caracterizavam a Europa desde (...) os paulistas estarão satisfeitos e não farão questão
fins do século XVIII. Justifique sua resposta. de abrir mão de seus escravos sem indenização (...)”.
(Discurso de Prudente de Moraes em Santos, J.M. “Os
9. (UFRJ) A Lei Euzébio de Queiroz e a Lei de Terras, am- Republicanos Paulistas e a Abolição”. SP: Martins, p. 225.)
bas de setembro de 1850, são consideradas marcos na
modernização da sociedade brasileira. A posição defendida pelos cafeicultores paulistas, em
relação ao problema da mão de obra, acabou sendo im-
a) Explicite o conteúdo de cada uma dessas leis. portante para a substituição do escravo por um tipo de
b) Explique os motivos pelos quais ambas as leis são trabalhador não cativo.
consideradas marcos na modernização da sociedade
a) Apresente uma razão para a escolha do trabalha-
brasileira. dor europeu (e não do asiático ou do nacional) no
processo de substituição do escravo.

155
b) Explique o questionamento existente ao termo No período regencial (1831-1840), uma série de confli-
“abolicionista” para caracterizar leis como a do tos surgiu em algumas províncias brasileiras. Sobre esse
“Ventre Livre” (1871) ou dos “Sexagenários” (1885). contexto, responda ao que se pede.

3. (UNICAMP) A fotografia assume um papel importante na a) Cite e analise duas características do contexto no
construção da imagem de um Brasil muito mais ligado com qual ocorreram esses conflitos assinalados no mapa.
o futuro imperial do que com o seu passado colonial. A ne- b) Eleja um desses conflitos e analise-o.
cessidade da experiência visual é uma constante no século
6. (UFRJ) “Convênio entre os estados do Rio de Janeiro,
XIX. Numa sociedade em que a grande maioria da popu-
Minas Gerais e São Paulo, para o fim de valorizar o café,
lação era analfabeta, tal experiência possibilitava um novo
regular o seu comércio, promover o aumento do seu
tipo de conhecimento, mais imediato, mais generalizado, ao
consumo e a criação da Caixa de Conversão, fixando o
mesmo tempo que habilitava os grupos sociais a formas de
valor da moeda.
auto-representação até então reservadas à pequena parte
da elite que encomendava a pintura de um retrato. Art. 10. Durante o prazo que foi conveniente, os Esta-
Adaptado de: MAUAD, Ana Maria. “Imagem e autoimagem dos contratantes obrigam-se a manter nos mercados
do segundo reinado”. In: ALENCASTRO, Luiz Felipe de nacionais, o preço mínimo de 55 a 65 fr. em ouro, em
(Org.). História da vida privada no Brasil. São Paulo: moeda corrente do país, ao câmbio do dia, por saca de
Companhia das Letras, 1997, vol. 2, p. 187-189. 60 quilos de café (...).”
a) Segundo o texto, quais eram as funções da fotogra- [“Documentos Parlamentares. Valorização do Café, tomo I”, (1895-
fia no Brasil do século XIX? 1906). RJ: Tipografia do Jornal do Comércio, 1915, p. 228.]
b) Cite duas características do “passado colonial” O ano de 2006 assinala os cem anos da assinatura do
que permaneceram durante o Império. Convênio de Taubaté, marco fundamental das políticas
4. (UNICAMP) Iniciada como conflito entre facções da de valorização do café que se reproduziram até o final
elite local, a Cabanagem, no Pará (1835-1840), aos pou- dos anos 20 do século passado.
cos fugiu ao controle e tornou-se uma rebelião popu- a) Explique como seria alcançado o objetivo formula-
lar. A revolta paraense atemorizou até mesmo liberais do no Art. 10.
como Evaristo da Veiga. Para ele, tratava-se de gental- b) Aponte as razões que impediram a continuidade
ha, crápula, massas brutas. Em outras revoltas, o con- das valorizações do café, tal qual se davam, até en-
flito entre elites não transbordava para o povo. Trata- tão, a partir do final dos anos 1920.
va-se, em geral, de províncias em que era mais sólido
o sistema da grande agricultura e da grande pecuária. 7. (UFMG) Em 1897, o Exército contratou o fotógrafo
Neste caso está a revolta Farroupilha, no Rio Grande do Flávio de Barros para documentar aquela que viria a ser
Sul, que durou de 1835 a 1845. a última expedição militar contra os seguidores de Antô-
Adaptado de: CARVALHO, José Murilo de. nio Conselheiro. Em meio à luta, o brigadeiro Marcos
“A construção da ordem: a elite imperial. Teatro de sombras: a política Evangelista Villela Júnior, que combateu os rebelados
imperial”. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 252-253. de Canudos nesse ano, disse que a população de Belo
a) Segundo o texto, o que diferenciava a Cabanagem Monte era composta por “vinte e cinco mil bandidos em
da Farroupilha? armas”, o que, na sua opinião, impunha a necessidade
b) Quais os significados das revoltas provinciais para de se exterminar o movimento liderado por Conselheiro.
a consolidação do modelo político imperial? Observe esta fotografia, produzida, nesse mesmo ano,
c) O que levava as elites agricultoras e pecuaristas a logo após a vitória das tropas republicanas sobre os re-
se rebelarem contra o poder central do Império? belados de Canudos:

5. (UFJF) Observe o mapa.


U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

a) Com base na composição e nas informações dessa


fotografia, estabeleça uma relação entre o que se vê
nela e a afirmativa do brigadeiro Marcos Evangelista
Villela Júnior a respeito do movimento de Canudos.
b) Cite e analise dois argumentos que levaram muitos
contemporâneos do movimento de Canudos a classifi-
cá-lo como um obstáculo à consolidação da república.

156
8. (UFF) “O coronelismo é um sistema político, uma
complexa rede de relações que vai desde o coronel
até o presidente da República, envolvendo comprom-
issos recíprocos. O coronelismo, além disso, é datado
historicamente. Na visão de Vitor Nunes Leal ele surge
na confluência de um fato político com uma conjuntu-
ra econômica. O fato político é o federalismo implan-
tado na República (...) A conjuntura econômica era a
decadência econômica dos fazendeiros.”
Adaptado de: CARVALHO, José Murilo de. “Mandonismo, coronelismo
e clientelismo: uma discussão conceitual”. In: ______. “Pontos
e Bordados”. Belo Horizonte: UFMG, 1998, p. 131-32.

Com base no texto apresentado:


a) indique o período da História do Brasil em que o
coronelismo teve o seu auge.
b) Levando-se em conta as transformações políticas
verificadas no Brasil, sobretudo após a implantação
da ditadura do Estado Novo em 1937, compare os
regimes políticos baseados no coronelismo e no au-
toritarismo.
9. (PUC-RJ) As transformações ocorridas no centro da
cidade do Rio de Janeiro, resultantes das reformas ur-
bana e sanitária implementadas pelo prefeito Pereira
Passos, no início do século XX, alteraram a fisionomia
da cidade e as vidas de seus habitantes.
a) Cite duas transformações ocorridas, relacionando-
-as a uma dessas reformas.
b) Identifique e explique uma reação popular à re-
forma sanitária implementada durante o governo do
prefeito Pereira Passos, na cidade do Rio de Janeiro.

10. (FUVEST) A vitória do regime republicano no Brasil


(1889) e a consequente derrubada da monarquia po-
dem ser explicadas, levando-se em conta diversos fa-
tores. Entre eles, explique:
a) a importância do Partido Republicano.
b) o papel dos militares apoiados nas ideias positi-
vistas.

U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

157
ENTRE
PENSAMENTOS

2
CIÊNCIAS
FILOSOFIA
HUMANAS
e suas tecnologias

U.T.I.
EMPIRISMO

John Locke (1632-1704) O conceito de propriedade, para ele, é bastante diferente de


seus predecessores. Numa concepção genérica, designava
“Supomos, pois, que a mente é, como dissemos, um papel simultaneamente a vida, a liberdade e os bens; tudo isso se
branco, desprovida de todos os caracteres, sem quaisquer constituiria como direitos naturais do ser humano. Em ter-
ideias; como ela será suprimida? De onde lhe provém este mos especificamente materiais, ao incorporar o seu traba-
vasto estoque, que a ativa e que a ilimitada fantasia do lho à matéria bruta que se encontrava em estado natural, o
homem pintou nela com uma variedade quase infinita? De homem tornava-a sua propriedade, estabelecendo sobre ela
onde apreende todos os materiais da razão e do conhe- um direito próprio do qual estavam excluídos todos os outros
cimento? A isso respondo, numa palavra, da experiência. homens. O trabalho era, pois, na concepção de Locke,
Todo nosso conhecimento está nela fundado e dela deriva o fundamento originário da propriedade.
fundamentalmente o próprio conhecimento” Para Locke, o estado de natureza não é um estado de
(Locke, Ensaio sobre o entendimento humano) guerra, como preconizava Hobbes, mas uma condição em
que o homem vive em plena liberdade e igualdade, sem su-
bordinação e sem ver-se submetido a qualquer autoridade
legal. O exercício da razão e da virtude, além da fruição da
propriedade, ocorreriam com plenitude. Nessa situação, nin-
guém teria mais do que necessita para viver plenamente.
Contudo, o estado de natureza, relativamente pacífico, não
está isento de inconvenientes, como a violação da proprie-
dade que, na falta de lei estabelecida, de juiz imparcial e de
força coercitiva para impor a execução de sentenças, coloca
os indivíduos singulares em estado de guerra uns contra os
outros. É a necessidade de superar esses inconvenientes que,
John Locke segundo Locke, leva os homens a se unirem e estabelecerem
livremente o contrato social, que realizava a passagem do
estado de natureza para a sociedade política e civil. Esta é
Os dois tratados sobre formada por um corpo político único, dotado de legislação,
de judicatura e da força concentrada da comunidade.
o governo civil O objetivo central da autoridade política seria o de preser-
John Locke é considerado como um dos autores clássicos var a propriedade privada, ou seja, o direito natural dos
do liberalismo. Sua concepção da natureza humana e da indivíduos, além de proteger a comunidade de perigos
ordem político-social é tida como base para diversos au- internos e externos. Vale salientar que, para o filósofo, o
tores dessa corrente. Em seu primeiro tratado sobre o go- contrato social é um pacto de consentimento: os homens
verno civil, Locke desenvolveu uma visão crítica a respeito concordam livremente em formar a sociedade civil para
da teoria divina do direito dos reis, rechaçando a ideia de preservar seus direitos. Logo, nenhum membro da so-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

que a autoridade política fora concedida por Deus a Adão ciedade estaria acima do contrato social.
e transmitida, por sucessão, a seus descendentes.
Locke afirmava que o mundo era constituído por três estra-
tos: Deus, o homem e as coisas. Nesse sentido, a relação
entre os homens está definida nos termos da propriedade.
A liberdade, por consequência, seria aquela condição em
que cada um coordena suas ações e dispõe de suas pos-
ses e pessoas como julga oportuno; portanto, a liberdade
opera quando a relação entre os homens não obstaculiza
a relação entre os homens e as coisas. O gozo da proprie-
dade privada constitui a liberdade natural dos indivíduos.
Londres

160
Para ele, a vantagem da sociedade política é tanto maior
quanto mais eficientemente protege, sob o amparo da lei, O empirismo de Bacon
a liberdade e os bens dos súditos, isto é, princípios incom- Bacon acreditava que somente a experimentação e a ex-
patíveis com o Absolutismo. periência concreta do indivíduo seriam formas válidas de
“Considero, portanto, poder político o direito de fazer leis busca pelo conhecimento. O filósofo rejeitava qualquer
com pena de morte e, consequentemente, todas as pena- formulação racionalista, abstrata (distanciada da realidade
lidades menores para regular e preservar a propriedade, prática) e rebuscada para a realização do conhecimento.
de empregar a força da comunidade na execução de tais Para Bacon, a mente humana (e a razão humana, portanto)
leis e na defesa da comunidade de dano exterior; e tudo distorce a realidade. O pensador conclui, a partir daí, que
isso tão-só em prol do bem público.” a razão não é confiável ao se tentar responder às grandes
questões da humanidade.
(Locke, Segundo tratado sobre o governo civil)

O método de Bacon
Para Locke como nenhum indivíduo ou grupo está acima
do contrato social, um governo que constantemente viola a
lei estabelecida e atenta contra a propriedade, torna-se ile- Bacon tenta, em seu projeto filosófico, compreender quais
gal, ou seja, degenera-se em tirania, visto que não atende são os obstáculos que se apresentam aos seres humanos
mais ao bem público. Sob tais circunstâncias, Locke defen- para a compreensão do mundo em que vivemos. O pen-
de a doutrina da legitimidade da resistência, confe- sador deseja propor um método que não se sujeite a tais
rindo ao povo o legítimo direito de resistência armada aos obstáculos. Em sua obra, Bacon chama tais obstáculos de
que atentam contra os direitos individuais e naturais. Tal ídolos, em referência a tudo aquilo que é ilusório.
doutrina ajudou a insuflar inúmeras revoluções liberais que
eclodiram posteriormente na Europa e na América. Como vimos, a utilização indiscriminada da razão humana
(ídolo da tribo) é um destes ídolos, pois esta tem a pro-
priedade de distorcer a realidade. A enorme diversidade
Francis Bacon encontrada no intelecto dos homens e as dificuldades de
comunicação (palavras com múltiplos significados, ambi-
guidades etc.) com que se deparam muitos pensadores
são dois outros ídolos (ídolo da caverna e ídolo do foro)
apontados por Bacon. Por fim, o autor aponta como último
ídolo (ídolo do teatro) teorias e doutrinas filosóficas que
concebem mundos imaginários e apresentam ideias que
não encontram correspondência na realidade.
Qual é, então, o método proposto por Bacon para que a
ciência não incorra nestes ídolos? Para o pensador, o mé-
todo em questão é o método indutivo, caracterizado pela
observação criteriosa dos fenômenos. Essa observação da
realidade vai permitir ao cientista identificar regularidade
nos fenômenos em questão e, a partir desta regularidade,
elaborar uma lei geral capaz de explicar situações parti-
culares. Dessa forma, diz Bacon, é possível produzir co-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

nhecimento sólido e seguro, de modo a produzir avanços


Francis Bacon foi um pensador inglês nascido em 1561,
técnico-científicos.
em Londres, e falecido em 1626. É considerado por mui-
tos um dos primeiros grandes pensadores modernos. Vale notar que o método indutivo já havia sido proposto por
Aristóteles, mas Bacon diverge do pensamento aristotélico
Fortemente influenciado pelo espírito de sua época, Bacon
em alguns aspectos, propondo portanto algo original. Para
se dedica ao desenvolvimento de um método experimen-
Aristóteles, a mente humana possuía uma disposição inata,
tal que rejeitasse formulações especulativas e distantes
da realidade cotidiana. Suas principais obras são Novum natural para o conhecimento; para Bacon, como vimos, era
Organum, em que o autor tece uma crítica à metodologia necessário preparar previamente a mente humana para o
empregada por Aristóteles em seu pensamento, e O pro- conhecimento, eliminando os ídolos que poderiam compro-
gresso do saber, na qual o autor explana sua concepção metê-lo.
de método científico.

161
David Hume Embora para o filósofo a impressão seja a causa direta da
ideia, podemos por vezes criar uma ideia que não exista na
realidade; é o caso de anjos e outras criaturas mitológicas,
que existem apenas na imaginação, pois não passam de
produto da mente humana. Repare que, no exemplo do
anjo, as asas vêm de uma impressão simples (a observação
de uma ave, por exemplo, que existe na realidade) e o corpo
de homem vem de outra impressão simples. Por isso, Hume
diria que um anjo é uma ideia complexa: algo inexistente
na realidade, formado por uma composição de impressões
simples. Como veremos adiante, Hume detalha estes tipos
de raciocínio para embasar seu método, que consiste em ve-
rificar se as diferentes concepções e ideias humanas teriam
David Hume foi um filósofo escocês nascido em Edimbur- correspondência na realidade. Essa investigação é o grande
go, no ano de 1711, e falecido em 1776. O filósofo se tor- projeto filosófico de Hume.
nou notável por, entre outras coisas, seu empirismo radical
e sua influência na obra de outro importante pensador, O método de Hume
Immanuel Kant. Por ter vivido durante o período do Ilumi-
Como vimos, o método de Hume consiste em verificar se as
nismo, o chamado “século das luzes”, o filósofo foi con-
ideias humanas encontram amparo na realidade, na vida
temporâneo de pensadores como Voltaire, Montesquieu e
cotidiana. O filósofo acreditava que de nada vale produzir
Rousseau. Com apenas 28 anos, Hume publica sua obra
um pensamento extremamente sofisticado caso este seja
mais importante, Tratado sobre a natureza humana.
abstrato ou não se verifique ou encontre correspondência
na realidade. No caso de a ideia não passar pelo crivo da
O empirismo de Hume realidade, ela é falseada e deve ser descartada.
Seguindo a tradição empirista, David Hume acreditava que
somente a reflexão acerca da vida cotidiana e a experimen-
tação do mundo poderiam fornecer as respostas buscadas
pela humanidade.
O filósofo dizia que noções falsas, raciocínios abstratos... Em
suma, tudo aquilo que não passasse de mero produto da
mente e da imaginação humana deveria ser eliminado antes
de se iniciar o processo de busca pelo conhecimento. Qual-
quer forma de raciocínio rebuscado seria incapaz de explicar as
questões com as quais a humanidade tipicamente se preocu-
pa. O verdadeiro conhecimento seria encontrado na observa-
ção e experimentação da realidade, da vida cotidiana, dizia ele.

Os tipos de raciocínio
para Hume
Mas como, exatamente, Hume propunha fazer isso? O
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

filósofo se perguntava, antes de tudo, de onde vinha de-


Hume afirma que existem dois tipos de raciocínio humano: terminada ideia (ou seja, de quais impressões ela vinha).
as impressões e as ideias. A impressão seria, para ele, a Dessa maneira, Hume poderia criticar qualquer ideia que
percepção imediata que temos da realidade exterior a nós; fosse absurda ou demasiadamente abstrata.
a ideia, diz, é a lembrança dessa impressão. Se comermos
uma maçã, no momento da mordida teremos uma impres-
são. Ao nos lembrarmos de seu gosto, teremos uma ideia.
A questão do divino
A impressão, diz Hume, é sempre mais forte e vívida do que Hume diz que, quando imaginamos Deus, criamos na
a ideia, pois esta última não passa de mera lembrança da nossa mente a imagem de um ser complexo. Isso porque
primeira, desbotada e corroída pelo tempo. Hume diz ainda atribuímos a Deus diversas características provenientes de
que ambos os tipos de raciocínio, as impressões e as ideias, múltiplas impressões simples (podemos dizer, por exemplo,
podem ser simples ou complexas. que Deus é infinitamente bondoso, sábio e inteligente).

162
Embora faça tal afirmação, Hume rejeita qualquer tentativa Partindo deste raciocínio, é razoável supor que a mente de uma
de demonstrar a existência ou inexistência de Deus. Essa criança de 3 ou 4 anos, que teve pouco contato com o mundo
recusa faz sentido, uma vez que a tentativa de comprovar real, funciona de maneira diferente da de um homem adulto,
uma religião por meio de lógica e razão humana é um pro- que provavelmente já encara o mundo como algo banal.
jeto tipicamente racionalista.
Pode se dizer, portanto, que a posição de Hume em relação a
Deus era de agnosticismo. Ele não rejeitava a ideia do divino,
Lei da causalidade
mas acreditava ser impossível comprová-la por meio do co- Como vimos, a mente de uma criança funciona de ma-
nhecimento humano. Para ele, Deus era simplesmente uma neira diferente da mente adulta. Isso porque a mente
questão de fé. Em outras palavras: Hume não acreditava em adulta já experimentou infinitas situações da realidade,
Deus por jamais ter tido contato (experimentado, portanto) enquanto a mente infantil é como uma “folha em bran-
com nenhuma divindade, mas também não rejeitava sua co”, livre de opiniões preconcebidas e preconceitos. Se
existência por jamais ter experimentado o fato de Deus não perguntarmos a um adulto o que aconteceria se alguém
existir. soltasse um copo de cristal no chão, ele responderia que
com toda a certeza o copo cairia e se despedaçaria. E

A identidade para Hume mais: o adulto ficaria chocado caso isso não acontecesse
(imagine que o copo flutuasse suavemente, por exemplo,
De maneira análoga à ideia de Deus, a nossa identidade, até encontrar o chão, e nele repousasse intacto). Se um
ou o eu, é bastante complexa, pois é formado a partir de bebê observasse essa cena extraordinária, contudo, ele
múltiplas ideias simples (uma pessoa pode ser inteligente, provavelmente não ficaria tão espantado assim. Isso por-
atraente, maldosa...), e de forma alguma é imutável, está- que o bebê ainda não adquiriu a noção plena daquilo
tica. A personalidade de um indivíduo se altera de acordo que chamamos de leis naturais, e não teria como saber
com suas experiências, sendo moldada pela vida cotidiana que um copo flutuante as contraria (no caso, a gravida-
e pela realidade à sua volta. Hume afirma que estamos de). Como diria Hume, a natureza ainda não se tornou
em constante mudança enquanto indivíduos. Não somos habitual para ele; assim, o bebê percebe o mundo e o
os mesmos de 5 ou 10 anos atrás, e provavelmente não experimenta tal como ele é – sem acrescentar qualquer
seremos os mesmos em 30 anos. coisa às suas experiências.

U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Em sua obra, Hume dá o exemplo da bola de bilhar para cri- primeira colocar a segunda em movimento – mas jamais a
ticar a ideia de causalidade: ao bater uma bola de bilhar em verdadeira causa. Essa argumentação pode parecer dema-
outra bola de bilhar, nós esperamos que a primeira coloque a siadamente rigorosa à primeira vista, mas é importante pois
segunda em movimento, pois vimos isso acontecer inúmeras evidencia que, para Hume, a expectativa da segunda bola
vezes. É a força do hábito que nos faz prever o movimen- ser colocada em movimento pela primeira reside na consci-
to da segunda bola. Devemos lembrar que, para Hume, um ência humana – assim como reside na consciência humana
empirista inveterado, só podemos ter certeza daquilo que a expectativa do copo cair e se quebrar ao ser solto no ar. É,
experimentamos. Mas ninguém experimenta a causa pela portanto, um resultado de nossas experiências; nenhum ser
qual a segunda bola começa a se movimentar: o que experi- humano nasce com a expectativa de um copo cair no chão e
mentamos inúmeras vezes é um evento seguindo-se a outro, se quebrar ao ser solto, mas sim a adquire à medida em que
ao observarmos repetidamente duas bolas se chocarem e a experimenta o mundo, o vivencia.

163
ILUMINISMO FRANCÊS

Voltaire (1694-1778) te todo o conhecimento humano reunido em vários campos


até aquele ponto. Com vinte e oito volumes – dezessete tex-
O principal satírico do Iluminismo, François-Marie Arouet, tos, onze ilustrados – a Encyclopédie editada por Diderot foi
mais conhecido por seu pseudônimo Voltaire (1694-1778), publicada, um volume de cada vez, de 1751 a 1772. Diderot,
entrou no mundo literário como dramaturgo. Ele rapi- assistido pelo matemático francês Jean Le Rond d'Alembert
damente tornou-se famoso por sua inteligência e sátira, por parte do projeto coletou meticulosamente o máximo de
bem como as alegações de difamação, que muitas vezes conhecimento da era iluminista possível. Depois do envolvi-
lhe resultaram punições, dentro e fora da França. Voltaire mento de Diderot, sete volumes adicionais foram completa-
passou um período de exílio na Inglaterra durante o qual dos, mas o próprio Diderot não os editou.
ele foi introduzido para as obras de Locke e Newton. Os
dois pensadores tiveram um profundo impacto no jovem
Voltaire, que se tornou extremamente prolífico nos anos
que se seguiram, sendo autor de mais de sessenta peças e
romances e inúmeras outras letras e poemas.
Voltaire era um deísta declarado, acreditando em Deus,
mas odiando a religião organizada. Como resultado, ele
tornava o cristianismo – que ele chamou de “superstição
glorificada“ – um alvo frequente de sua inteligente crítica.
Voltaire também foi um fervoroso defensor da monarquia
Denis Diderot
e passou um tempo considerável trabalhando na reforma
judicial. Além de apenas fatos, definições e explicações, a Ency-
Mais tarde, depois de saltar para vários países e trabalhar clopédie também incluiu espaço para que os philosophes
com vários contemporâneos notáveis, Voltaire escreveu a discutissem seus pensamentos sobre vários tópicos – em-
sátira Cândido (1759), que desde então se destacou como bora até mesmo essas opiniões tenham sido filtradas pelas
uma das obras literárias mais influentes da história. lentes do colapso científico. Um verdadeiro estudioso da
era do Iluminismo e que contribuiu para a coleção, in-
Embora faltasse a Voltaire a amplitude prática de alguns
cluindo Montesquieu, Voltaire e Rousseau. Devido à sua
de seus contemporâneos – ele não se interessava por vá-
natureza altamente científica – e, portanto, não tradicional
rios campos científicos –, compensou-o com o volume de
– a Encyclopédie encontrou uma quantidade significativa
seu trabalho. Usando seu engenho brilhante e sarcástico
de desprezo. Diderot foi amplamente acusado de plágio
para analisar tudo, da filosofia à política e ao direito, ele
e imprecisão, e muitos consideraram a coleção como um
exaltou a virtude da razão sobre a superstição e a intole-
ataque aberto à monarquia e à Igreja.
rância e, efetivamente, se tornou a voz do Iluminismo. Além
disso, seu estilo satírico permitiu que ele fizesse críticas A Encyclopédie foi um dos principais veículos pelos quais as
incrivelmente pontudas, enquanto geralmente evitava um ideias do Iluminismo se espalharam pelo continente euro-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

processo sério por parte daqueles que ele atacava. Embora peu, pois foi o primeiro trabalho a coletar todos os inúmeros
os detratores se queixem de que Voltaire nunca ofereceu conhecimentos e desenvolvimentos que o Iluminismo tinha
soluções para os problemas que criticou, ele nunca aspirou promovido. No entanto, a obra teve sucesso não porque ex-
a fazê-lo. No entanto, simplesmente apontando problemas plicitamente tentou persuadir as pessoas a se inscreverem
e criticando diferentes filosofias, ele causou mudanças con- nas ideias do Iluminismo, mas por simplesmente tentar apre-
sideráveis no ambiente intelectual da época. sentar todo o conhecimento acumulado do mundo ocidental
em um único lugar, permitindo que os leitores tirassem suas

Diderot (1713-1784) próprias conclusões. Não é de surpreender que a instituição


de poder na Europa tenha desaprovado a ideia de as pesso-
Outra grande figura do Iluminismo francês foi Denis Diderot as tirarem suas próprias conclusões; a Igreja e a monarquia
(1713-1784), escritor e filósofo mais conhecido por editar e odiavam a Enciclopédia, pois implicava que muitos de seus
montar a Encyclopédie, uma tentativa de coletar praticamen- ensinamentos e doutrinas eram “fraudulentos”. Em resposta

164
às tentativas de proibições, Diderot imprimiu cópias adicio-
nais em segredo, escapando das punições. Teoria de separação
de poderes
O estudo de Montesquieu dedicado à separação de pode-
res se inicia com a colocação de um problema fundamental
para a realização da liberdade: o poder político, que pode e
deve garantir a liberdade, constitui em si mesmo um perigo
a ela. De fato, todo homem que detém o poder sente-se
inclinado a abusar dele. A questão, portanto, reside em
encontrar uma forma de limitar o poder que não
invalide sua função de garantir a liberdade dos ci-
dadãos. Para o autor, esse é o problema a que pretende
Jean Le Rond d'Alembert dar resposta a Constituição inglesa – vista por ele como
base de inspiração. Ela foi arquitetada em um sistema de

Montesquieu (1689-1755) distribuição jurídica e social das funções de Estado, com o


intuito de que o poder contrarie o poder.
O objeto do pensamento político de Montesquieu, expresso em
O sistema jurídico deve distribuir o poder de Estado em
sua principal obra O Espírito das Leis, é elaborar uma física das
três órgãos: o Legislativo, representante da vontade
sociedades humanas. Seu modelo, tanto em conteúdo quanto geral do povo e que se expressa por meio das leis; o Exe-
em metodologia, está mais na linha teórica experimental do cutivo, encarregado de dar o cumprimento da vontade
que especulativa. Adota, para tal, a análise histórica, basean- popular e das leis; o Judiciário, que julga os delitos e
do-se em comparações; o autor retira dos fatos históricos suas as diferenças entre particulares. Mas, para além disso, o
variações para, a partir delas, extrair leis da realidade política. sistema compreenderia uma série de faculdades e proce-
Nessa obra, Montesquieu oferece, além das peculiaridades dimentos que permitiriam que esses órgãos – Executivo,
nacionais, explicação das diversas formas de governo, que Legislativo e Judiciário – de participarem parcialmente de
para ele estariam conectadas à história de cada povo, ao outro poder. O Legislativo, por exemplo, teria a faculdade
seu clima, suas leis antigas, costumes e tradições. Dessa de examinar as ações do Executivo e acusar os ministros
forma, separa-se da tradição jusnaturalista, que atribui o ou o presidente de não atuarem em conformidade com
fundamento das leis na arbitrariedade dos legisladores. as leis. O Executivo participaria do Poder Legislativo por
Considerava que as leis procedem de relações necessárias meio do direito a veto, que o permite a rejeitar as re-
derivadas da natureza das coisas e das relações sociais, soluções dos legisladores. Do mesmo modo, ambos os
aproximando-se da metodologia de um físico. poderes podem decidir ações em comum, como questões
militares e orçamentárias. Por fim, o Poder Judiciário pode
“O homem, como é um ser físico, é do mesmo modo que os
julgar as ações legislativas e executivas, caso ambas não
demais corpos, governado por leis invariáveis. Como ser inte-
andem em conformidade com a constituição.
ligente, viola incessantemente as leis que Deus estabeleceu,
e modifica as que ele próprio estabelece. Deve ele mesmo Vê-se que Montesquieu preconiza a ideia de que nenhum
conduzir-se: e, no entanto, é um ser limitado; é sujeito à igno- poder deve sobrepor-se aos demais. Ambos gozam de cer-
rância e ao erro, como todas as inteligências finitas; e, mais ta autonomia, mas sob a observância dos outros. Tal é a
ainda, perde os conhecimentos escassos que possui. Como maneira de garantir que não haja arbitrariedades e tendên-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

criatura sensível, torna-se sujeito a mil paixões.” cias despóticas na consecução das políticas. O princípio da
O Espírito das Leis. In: WEFFOR, F. Os Clássicos da
divisão dos poderes utiliza, assim, o poder contra o poder
Política. Vol. 1. São Paulo: Ática, 2006, p. 123. com o intuito de garantir estabilidade, vista como condi-
ção necessária à liberdade para o autor.
Cada povo teria a forma de governo e as leis que seriam
próprias à sua idiossincrasia histórica e não haveria, desse
modo, uma melhor forma de governo, aplicável a todas as
sociedades. Não significa dizer que Montesquieu defendia
qualquer forma de governo: era um feroz crítico de governos
despóticos. Preocupava-se, como Locke, em pensar maneiras
de conter as arbitrariedades dos governantes. O seu princípio
de separação dos poderes surgiu justamente desse anseio.

165
JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-1778)

Rousseau, diferentemente dos iluministas de sua época, de qualquer regra instintiva ou natural – nenhum animal
argumenta que as ciências e as artes não aprimoraram a é capaz de fugir de sua pauta instintiva, seguindo regras
humanidade, mas ajudaram a corrompê-la, contribuindo fixas de comportamento. A segunda característica particular
para criar sociedades desiguais e dotadas de inúmeros ma- dos homens seria a perfectibilidade, ou a capacidade hu-
les. O filósofo, então, tentará distinguir o homem autêntico, mana de transformarem radicalmente suas vidas (tanto em
o homem ainda não corrompido pela sociedade, isto é, o âmbito individual quanto social). Os animais, pelo contrário,
homem em seu estado de natureza do homem organizado não variam seu modo de ser ao longo de suas vidas.
em um estado civil. Para ele, tal estado é a situação em
No geral, o Rousseau defende que o homem é bom por
que se encontrariam os homens antes da criação das so-
natureza. Porém, ele se torna mau quando encontrado em
ciedades organizadas, em que somente houvesse direitos
sociedade, pois esta é repleta de vícios, corrompendo os in-
naturais para guiá-los. Já o estado civil representa a socie-
divíduos. Em sociedade, portanto, que o homem seria o lobo
dade política organizada, com leis e governo. Em sua obra,
do homem – o oposto, portanto, do que prega Hobbes.
procura responder à questão: Por que o homem nasceu
livre, mas por toda parte encontra-se agrilhoado?
Contrato social
Estado de natureza Se esse estado natural conserva a natureza humana em seu
melhor aspecto, por qual motivo, então, o homem passaria
Rousseau diz que não podemos observar os homens em es-
a viver em estado civil, com leis e Estado?
tado de natureza, pois tal estado já não existe; e mais: pode
nunca ter existido. Para pensar na natureza humana, o autor Rousseau diz que, em um primeiro momento, os homens
procura excluir tudo aquilo que a sociedade nos impõe: desi- descobriram que a união lhes proporcionava certas vanta-
gualdade econômica e política, paixões, desejos, artes, ciên- gens para defender seus interesses. O costume de viverem
cias, convenções sociais etc. O que sobraria dessa exclusão unidos criou-lhes laços afetivos e paixões antes desconheci-
seria o homem natural, o homem em estado de natureza. das, como o amor conjugal e paterno. Depois, em segundo
Dessa forma, eliminadas as convenções e os artifícios sociais momento, surgiu a propriedade privada, que trouxe consigo
que recobrem a natureza humana, Rousseau aponta que: o trabalho forçado, a rivalidade, interesses difusos e inse-
gurança. Por conta da instituição da propriedade privada
§ em estado de natureza, os homens vivem isolados, já que a e pela desigualdade por ela gerada, portanto, é que os
única comunidade natural é a família e esta somente existe homens constituíram Estados, governos e leis. Em sua obra
durante o tempo em que os filhos precisam de seus pais; Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade
§ dado que em estado de natureza os homens ainda não entre os homens, ele diz:
foram corrompidos, os seres humanos são, em sua maioria, “O primeiro que, tendo cercado um terreno, se lembrou de
fortes, sãos e autossuficientes; dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas bastante simples
§ nesse estado, os homens são basicamente iguais, já que as para acreditar, foi o verdadeiro fundador da sociedade ci-
desigualdades existentes seriam somente de ordem física; vil. Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores
não teria poupado ao gênero humano aquele que, arran-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

§ em estado de natureza, os homens se movem por duas


cando as estacas ou tapando os buracos, tivesse gritado
paixões: o desejo e de autoconservação – que o leva a
aos seus semelhantes: “Livrai-vos de escutar esse impostor;
tentar satisfazer suas poucas necessidades naturais e a
estareis perdidos se esquecerdes de que os frutos são de
piedade ou compaixão – capacidade de identificar-se com
todos, e a terra de ninguém!”
os seus semelhantes.
ROUSSEAU. Discurso sobre a origem e os fundamentos da
As características anteriores seriam compartilhadas entre desigualdade entre os homens. In: WEFFOR, F. Os clássicos
da política. Vol.1. São Paulo: Ática, 2006, p. 201.
os seres humanos e os animais. Contudo, há traços que
nos distinguem de qualquer outra espécie; e justamente Por isso, Rousseau propôs reformular as sociedades, visando
essas peculiaridades humanas que degeneram os homens a criar um modo de organização política que permita man-
a ponto de criarem uma comunidade política. Tais caracte- ter as vantagens de viver em sociedade, mas que estivesse
rísticas são a liberdade natural, isto é, a capacidade dos de acordo com a natureza humana – isto é, que permitis-
seres humanos escolherem o que querem fazer, à margem se a conservação da liberdade e da igualdade das quais o

166
homem natural gozava. Para levar a cabo essa reforma, é Tal corpo político, quando legisla, é chamado de soberano.
necessário encontrar um modo de organização na qual o Dado que as leis são criadas pela vontade geral, a soberania
indivíduo se submeta à lei, mas sem perder sua liberdade residiria na vontade geral. Para o autor, a soberania é ina-
anterior. Esse problema se resolve pelo contrato social. lienável e indivisível. Se o povo colocar sua capacidade de
O contrato social consistirá em um acordo mediante o qual decidir em outras mãos, logo se tornaria escravo. Liberdade,
cada contratante se submeta inteiramente à vontade geral, portanto, é agir conforme as leis criadas pela vontade geral
sob a condição de que cada um dos demais faça o mesmo. do povo.

A vontade geral pode ser definida como a vontade que Não é fortuito que muitas das revoluções liberais dos sé-
surge da união entre os indivíduos, estabelecendo leis que culos XVIII e XIX se utilizaram das teorias rousseaunianas.
serão aplicadas igualmente a todos. Desse modo, ao referir- Elas alimentaram toda a crítica ao Antigo Regime e serviram
de base para diversas outras correntes socialistas, principal-
-se a todos os indivíduos, os interesses particulares desapa-
mente na França. Trata-se de um exemplo patente de como
recem e o bem comum se instaura. O contrato social, com
as ideias podem ganhar rapidamente força política.
isso, produz um corpo moral e coletivo ou corpo político.

ILUMINISMO ALEMÃO

os de tradição empirista inglesa, como Hume e Locke. Este


fato é importante porque, como veremos adiante, Kant é
responsável por elaborar uma síntese entre estas duas es-
colas, pondo um fim ao caráter dicotômico (racionalismo
versus empirismo) existente até então.

Kant e o papel da
razão e dos sentidos
Colocando uma pedra sobre o embate acalorado entre os
racionalistas franceses e os empiristas ingleses, Kant afir-
ma que tanto os sentidos como a razão desempenham
um papel fundamental na maneira como o ser humano
experimenta o mundo.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

O filósofo Immanuel Kant nasceu na Prússia Oriental, no


ano de 1724, na cidade de Königsberg (atual Kaliningra-
do). Criado em um lar extremamente cristão, suas convic-
ções religiosas viriam a ser importantíssimas em sua obra:
um dos grandes projetos filosóficos de Kant era salvar os O filósofo concorda, por exemplo, com os empiristas ingle-
fundamentos de sua fé. ses quando estes afirmam que tudo aquilo que se pode
conhecer sobre a realidade é proveniente de experiências
Tendo sido professor de filosofia na universidade de sua sensoriais. Mas ressalva, contudo, que a razão também
cidade, Kant possuía um vasto domínio da tradição filosófi- contém pressupostos importantes para a maneira como se
ca. Tinha intimidade com praticamente todas as obras dos pode descobrir o mundo à nossa volta. Isso porque, para
filósofos que o precederam; teve contato com os trabalhos Kant, existiriam fatores condicionantes que determinariam
tanto de filósofos racionalistas, como Descartes, como com como enxergamos e percebemos a realidade. Um bom

167
exemplo é se imaginar utilizando óculos com lentes azuis:
você passaria prontamente a enxergar tudo que o cerca
em tons azulados. As lentes, para Kant, seriam o correspon-
dente à razão: são fatores que condicionam sua percepção,
a percepção da realidade à sua volta. São pressupostos
subjetivos, isto é, dizem respeito ao sujeito, a quem usa os
óculos. Mas quais seriam, exatamente, estes pressupostos?

As formas intuitivas
Kant argumenta que estes pressupostos são o tempo e
o espaço. Não importa o que se perceba, diz ele, tudo
será percebido como um fenômeno temporal e espacial.
Em sua obra, tempo e espaço correspondem às duas for-
mas intuitivas que todo ser humano possui. O filósofo
enfatiza que as formas intuitivas se fazem presentes na
consciência humana antes de qualquer experiência; são
formas inatas a qualquer ser humano. A lei da causalida- A importância de Kant para a Filosofia ocidental pode ser
de defendida por Hume, inclusive, é uma parte da razão percebida pela existência deste selo postal alemão.
humana (vimos que o filósofo inglês David Hume defende

“Das Ding an sich” e


que os seres humanos são incapazes de experimentar tal
lei, lembra-se?), argumenta Kant.
“Das Ding für mich”:
“Revolução copérnica” duas categorias importantes
Conforme visto anteriormente, Kant diz que, de antemão,
Dando continuidade ao seu projeto de entender os limi-
pode-se afirmar que qualquer humano perceberá as coisas
tes do conhecimento, Kant defende que é impossível a um
como processos temporais e espaciais. Este é o pressuposto
indivíduo saber, com total certeza, como o mundo é “em
racional intrínseco a todo ser humano. Para o filósofo, nossas
si” (em alemão, “an sich”). Kant também chama o mundo
impressões sensoriais se moldam às formas intuitivas. É as-
sim que se dá o processo de conhecimento para Kant: ele co- como ele realmente é de mundo numênico. Para o filóso-
meça, antes de tudo, na própria razão humana – ainda que fo, é impossível que conheçamos o mundo numênico. Um
deva fazer uso também do empirismo. Isso equivale a dizer, indivíduo pode, no máximo, saber como o mundo se apre-
de certa maneira, que nossa consciência, a consciência hu- senta para ele (mundo fenomênico, o mundo dos fenôme-
mana, não apenas responde passivamente à realidade, mas nos), isto é, como ele percebe o mundo por meio de seus
se impõe ativamente à nossa visão de mundo. A consciência próprios sentidos (em alemão, “für mich” significa “para
humana se adapta à realidade, mas a realidade também se mim”). Uma pessoa daltônica naturalmente perceberá o
adapta à consciência humana. Para Kant, a consciência é mundo de maneira diferente de uma pessoa com a visão
uma instância ativa e transformadora. perfeita, já que elas experimentarão o mundo de maneira
diferente. Mas isso não significa que a árvore que a pessoa
O fato de se colocar a razão e a consciência humana em daltônica vê não tenha, objetivamente, folhas verdes. Há,
posição tão central (e não mais a realidade exterior) é uma
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

portanto, duas categorias: “a coisa em si” (das Ding an


concepção tão revolucionária para o pensamento filosófico
sich) e a “coisa para mim” (das Ding für mich).
que Kant passa a chamá-la de revolução copérnica (em
alusão ao astrônomo polonês Nicolau Copérnico, pai da Note que, apesar de tal diferença, Kant afirmaria de ante-
teoria heliocêntrica). Antes de Kant, os filósofos faziam mão, como já vimos, que ambos perceberão os processos
afirmações sobre a realidade sem antes refletir sobre as ca- com base nas formas intuitivas, tempo e espaço. Podemos
tegorias razão e experiência – bem como sobre quais são dizer, portanto, que apesar de jamais sabermos como a
suas possibilidades e limitações. Kant argumenta que isso realidade realmente é, por percebermo-la de maneira di-
é um erro dos mais vulgares. Aqui fica bastante claro um versa (imagine, por exemplo, um oriental e um ocidental
dos outros grandes projetos filosóficos de Kant: perguntar- debruçados sobre a mesma questão: é muito provável que
-se o que é possível saber, compreendendo assim os limites suas culturas distintas influenciam suas percepções), todo
do conhecimento (a área que estuda este tipo de questão, ser humano formulará suas percepções (das Ding für mich)
ligada à própria ciência, chama-se epistemologia). sobre o mundo com base nestas categorias. Mas o filósofo

168
vai além: não só todo ser humano pensa os processos com exterior, chega a nós somente por meio das experiências.
base nas formas intuitivas, como também possui intrinse- Quando se trata de questões deste tipo, entretanto, Kant
camente o desejo de investigar as causas dos fenômenos afirma que jamais teremos material suficiente para elabo-
que observa (embora afirme que a razão, que é condição rar uma resposta satisfatória. Não teremos, por exemplo,
para este entendimento, precise de tempo até amadurecer contato com Deus (ao menos enquanto estivermos vivos)
o suficiente, desenvolvendo-se com o passar do tempo). para experimentar sua presença e provar, assim, sua exis-
tência. É simplesmente impossível, afirma ele.
A epistemologia de
Kant: um resumo Kant e o esclarecimento
Em linhas gerais, podemos resumir o pensamento episte- Como vimos, Kant considera que todo ser humano ma-
mológico kantiano da seguinte forma: há duas condições duro é dotado de razão e tem, portanto, capacidade para
que orientam a maneira com a qual a humanidade percebe formular questões e buscar suas respostas. Mas como o
a realidade à sua volta. Vejamos a seguir quais são elas: homem alcança, entretanto, essa maturidade?

a. A condição interior, ou intrínseca ao ser humano, que é Em sua obra, Kant tenta responder a pergunta “O que
a percepção com base nas formas intuitivas (tempo e é esclarecimento?”. Segundo ele, o esclarecimento é a
espaço) e que segue sempre a lei causal. Esta condição saída do homem de sua menoridade – isto é, condição de
é reconhecida de antemão, e pode ser entendida como incapacidade de fazer uso da razão sem a orientação de
a razão em si. É chamada também de forma do conheci- outro indivíduo.
mento, pois é a maneira como ele se apresentará a qual- O interessante é que, para Kant, o culpado por essa condi-
quer ser humano. ção pode ser o próprio indivíduo, no caso de sua motivação
b. A condição exterior, sobre a qual não se pode saber ser a falta de coragem de utilizar-se da razão por si mesmo.
nada de antemão; ela só pode ser conhecida no mo- Para o filósofo, todo indivíduo vive uma situação de me-
mento em que se a sente e experimenta. Pode ser noridade em algum momento de sua vida: neste caso, a
chamada também de material do conhecimento, e en- menoridade é natural, pois é o mesmo que imaturidade.
tendida como a realidade em si (tudo aquilo que nos O filósofo diz que nenhum ser humano nasce inteiramente
rodeia, que é objetivo, isto é, alheio e exterior à nossa pronto para o raciocínio; uma criança demora até atingir
subjetividade). a autossuficiência, por exemplo. Kant critica, contudo, au-
toridades (especialmente religiosas) que, através do medo
Outro importante desdobramento do entendimento de
ou constrangimento, deliberadamente mantêm seus segui-
Kant sobre os limites do conhecimento é a sua afirmação
dores em menoridade – bem como ironiza indivíduos que
de que a humanidade jamais poderá conhecer a resposta
vivem uma situação de menoridade “autoimposta” (neste
de questões sobre a natureza da alma humana (mortal ou
caso, por comodismo). Kant afirma, explicitamente, que a
imortal), se há ou não um Deus, se o universo é finito ou
infinito etc. Veremos a seguir o porquê de tal afirmação. preguiça e a covardia são os grandes motivos pelos quais
tantos homens continuam presos à menoridade – e frisa

O conhecimento no limite
que, caso seja de sua vontade (e caso não haja barreiras
para isso, como restrições à liberdade), todo e qualquer
Kant afirma que, quando fazemos indagações do tipo homem é capaz de abandonar a menoridade e concluir o
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

“Deus existe?” ou “seria o universo infinito?”, fazemo-las processo de esclarecimento.


porque formular este tipo de pergunta é parte da nature- Conforme dito anteriormente, Kant ressalta que, para ha-
za humana. Sempre podemos formular qualquer tipo de ver esclarecimento, a liberdade é condição fundamental:
questão, sobre qualquer coisa – e possivelmente sempre o só se pode raciocinar se o direito ao questionamento for
faremos. Isso porque, como vimos, todo ser humano madu- amplamente garantido. O filósofo reconhece, contudo,
ro é dotado de razão (condição intrínseca) e formular estas que as restrições à liberdades são bastante comuns (ain-
perguntas é, por sua vez, parte integrante da razão. da mais em sua época). Finalmente, o filósofo conclui que
A razão, contudo, é por si só insuficiente para o processo ter esclarecimento não se trata somente de se adquirir um
do conhecimento. Vimos que precisamos de duas condi- profundo conhecimento sobre determinado tema, mas sim
ções para conhecer o mundo (condição exterior e interior, combinar este conhecimento à conquista da autonomia e
ou intrínseca). O material do conhecimento, a condição da emancipação humana.

169
A fé para Kant Kant, contudo, não concorda com Hume. Seguindo a tradi-
ção racionalista, ele afirma que a capacidade de tal distinção
Nestes casos, em que as perguntas tratam de questões se encontra, sem dúvida, na razão humana. Para ele, todo
tão complexas que abrangem toda a realidade (como os ser humano sabe o que é certo e o que é errado: este co-
questionamentos sobre a infinitude do universo, do qual nhecimento é intrínseco à condição humana. Kant diz que
somos apenas uma pequena parte) esbarramos na razão todos somos dotados de uma razão prática, isto é, de uma
pura – e seu único desdobramento possível é a angústia de capacidade racional inata de discernir o que é certo e o que
formular perguntas sem respostas possíveis. Não é possível é errado.
emitir nenhum juízo seguro sobre estas questões, afirma o O filósofo vai além: a capacidade de discernimento é tão ina-
filósofo. ta quanto qualquer outra faculdade da razão. Tal afirmação
À luz da razão pura, afirma ele, é tão razoável dizer que tem desdobramentos importantes. O mais óbvio é o fato de
Deus existe ou afirmar o contrário. Para Kant, qualquer afir- a ética kantiana ser baseada na ideia de que há algo como
mação dessa natureza se trataria simplesmente de especu- uma lei moral universal, tão absoluta quanto qualquer lei
lação. E é aí que o filósofo abre caminho para um de seus natural. Tal lei seria, segundo Kant, válida para qualquer mo-
maiores projetos filosóficos: resgatar os fundamentos da fé mento histórico, sociedade e situação. E seria também impe-
da qual ele próprio professava, a fé cristã. rativa, pois não se pode escapar dela. Kant a formula, por-
tanto, como um imperativo categórico. E um de seus maiores
Para o filósofo, o vazio que por vezes é deixado pela razão
e pela experiência (como é o caso quando estas são in- pressupostos, juntamente com a ideia de que a moralidade
suficientes para responder questões do tipo discutido) só está relacionada à maneira universal de se agir, é a proibição
poderia ser preenchido pela fé religiosa, por meio de pos- de se utilizar outrem como meios para atingir quaisquer ob-
tulados – isto é, algo que não se pode comprovar, apenas jetivos: todos devem ser tratados como um fim em si mesmo.
crer. Kant chama ainda a atenção para três postulados que Pode-se entender a lei moral kantiana como a manifestação
considera fundamentais: a crença em Deus, a crença em da própria consciência humana – que também é intrínseca
uma alma imortal e a crença no livre-arbítrio. Para o filóso- a todo homem e não pode ser comprovada racionalmente,
fo, estes três postulados (chamados por ele de postulados apesar de ser possível conhecê-la.
práticos) são importantes para a moral humana, isto é, ne-
Kant diz que, muito mais importante para a moralidade do
cessários para que a humanidade caminhe bem.
que se perguntar o que fazer, é se perguntar o motivo pelo
qual se faz alguma coisa. Imaginemos a seguinte situação:
Ética kantiana uma pessoa é abordada na rua por um pedinte e, ao sen-

(ou ética do dever) tir pena de sua situação, lhe dá uma esmola. Uma segunda
pessoa também é abordada pelo pedinte e, apesar de não
se compadecer de sua situação, lhe oferece ajuda mesmo
assim. Kant diria que a segunda pessoa agiu mais moral-
mente do que a primeira. Por quê? Simplesmente porque a
segunda pessoa agiu de maneira descolada de suas próprias
emoções. Ela ofereceu ajuda ao pedinte porque sabia que
aquilo era o certo a se fazer, porque era seu dever (por essa
razão, inclusive, a ética kantiana também é chamada de ética
do dever); a primeira pessoa, por sua vez, ofereceu ajuda
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

por pena, pela maneira como se sentiu. Da mesma forma


Kant veria alguém que pratica boas ações para se promo-
ver socialmente ou ficar bem aos olhos de Deus. Se esta é a
Kant também dedicou grande parte de sua obra a questões motivação de suas boas ações, ele diria, elas de nada valem.
relativas à esfera moral. Aqui, o filósofo David Hume também
influencia de maneira substancial sua obra: segundo o em-
pirista, não seria possível determinar o que é certo e o que é Kant e a liberdade humana
errado; não é possível, segundo Hume, realizar a passagem Kant, como vimos anteriormente, postula que o ser humano
de sentenças positivas para sentenças normativas (isto é, do é dotado de livre-arbítrio. Entretanto, o filósofo afirma algo
“ser” para o “dever ser”). Isso porque, para o filósofo britâ- que pode parecer um tanto contraditório: por mais que de-
nico, a razão humana e a suas experiências não são capazes sejemos a liberdade, não podemos ser totalmente livres. Isso
de tal discernimento: isso ficaria a cargo das emoções. porque, segundo ele, sempre seremos regidos por alguma

170
lei, ainda que seja uma lei natural ou uma imposição física Somente agindo de acordo com a lei moral é que somos
(como a necessidade de ir ao banheiro ou se alimentar, por livres, pois quando nos submetemos a ela, somos nós mes-
exemplo). Como conciliar estas duas afirmações, então? mos que estamos determinando qual lei nos governará,
diria o filósofo.
Para Kant, dado que seremos sempre regidos por uma lei,
só há uma maneira de ser verdadeiramente livre: escolher Podemos escolher machucar um homem indefeso ou não;
qual lei seguir. Se formos capazes dessa escolha, seremos podemos escolher ajudar alguém em necessidade ou não.
livres. E qual é a única lei a que podemos espontaneamen- Se fizermos a escolha certa, diz Kant, somos livres. E so-
te escolher seguir? A lei moral. Pois para estar em conso- mente agiremos com moralidade se fizermos a escolha
nância com essa lei, temos de fazer uma escolha racional. certa pelos motivos certos.
E a capacidade de fazer uma escolha é a própria liberdade.

A ÉTICA DO DEVER - IMPERATIVO CATEGÓRICO

A maioridade intelectual de (e caso não haja barreiras para isso, como restrições à
liberdade), todo e qualquer homem é capaz de abandonar
Em sua obra O que é o esclarecimento?, o filósofo Imma- a menoridade e concluir o processo de esclarecimento.
nuel Kant esclarece que, quando o indivíduo consegue pos- Conforme dito anteriormente, Kant ressalta que, para ha-
tular suas próprias ideias e críticas, ele atinge a maiorida- ver esclarecimento, a liberdade é condição fundamental:
de intelectual, saindo de um estágio de menoridade, só se pode raciocinar se o direito ao questionamento for
ou seja, esse ser consegue sair da condição de incapacida- amplamente garantido. O filósofo reconhece, contudo, que
de de fazer uso da razão sem a orientação de outro indiví- as restrições às liberdades são bastante comuns (ainda
duo. Esse alcance do esclarecimento não tem uma ligação mais em sua época). Finalmente, o filósofo conclui que
direta com a idade biológica desse sujeito. ter esclarecimento não se trata somente de se adquirir um
profundo conhecimento sobre determinado tema, mas sim
combinar esse conhecimento à conquista da autonomia e
da emancipação humana.

O uso público e o uso


privado da razão
Kant considera que a razão pode ter modalidades de uso,
ou seja, a razão pode ser útil publicamente e particularmen-
te. O uso público da razão é a condição na qual o conhe-
cimento humano, a ciência e a filosofia, é apresentado ao
interesse do grande público letrado. O progresso científico
e filosófico depende do compartilhamento de ideias e de
O interessante é que, para Kant, o culpado por essa condi-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

debates a respeito dos saberes apresentados. Por isso, os


ção pode ser o próprio indivíduo, no caso de sua motivação
doutos, os letrados, os especialistas, os esclarecidos devem
ser a falta de coragem de utilizar-se da razão por si mesmo.
apresentar os saberes da razão para a sua crítica. Quando
Para o filósofo, todo indivíduo vive uma situação de me-
ocupamos algum cargo privado ou um posto público, exer-
noridade em algum momento de sua vida: nesse caso, a
cendo uma tarefa que nos foi dada, devemos cumprir as
menoridade é natural, pois é o mesmo que imaturidade.
ordens daquele cargo e daquela instituição em que pres-
O filósofo diz que nenhum ser humano nasce inteiramente
tamos um serviço. Eis o uso privado da razão, somos como
pronto para o raciocínio; uma criança demora até atingir a
parte de um todo, uma engrenagem no funcionamento de
autossuficiência, por exemplo.
um maquinário institucional, obrigados a obedecer a or-
Kant afirma que a comodidade e a covardia são os denamentos. Podemos raciocinar se concordamos ou não
grandes motivos pelos quais tantos homens continuam com as tarefas que nos foram submetidas, mas, enquanto
presos à menoridade – e frisa que, caso seja de sua vonta- exercemos o dever, devemos nos ater ao procedimento ao

171
qual fomos requeridos. Há momentos, situações e espaços Kant, válida para qualquer momento histórico, sociedade
para a realização de críticas, sugestões e melhorias. Esses e situação, e seria também imperativa, pois não se pode
momentos e espaços destinados à mudanças e críticas são escapar dela. Kant a formula, portanto, como um impera-
da esfera pública da sociedade. tivo categórico, e um de seus maiores pressupostos, jun-
tamente com a ideia de que a moralidade está relacionada

A paz perpétua (1795) à maneira universal de se agir, é a proibição de se utilizar


outrem como meios para atingir quaisquer objetivos: todos
Em 1795, Kant escreveu essa obra, com o objetivo de apre- devem ser tratados como um fim em si mesmo.
sentar como os Estados nacionais poderiam estabelecer en- Pode-se entender a lei moral kantiana como a manifes-
tre si um quadro de paz perpétua, tendo como força motriz
tação da própria consciência humana – que também é
a racionalidade, conjunto com os requisitos da maioridade
intrínseca a todo homem e não pode ser comprovada ra-
intelectual. Diante disso, todos os países devem respeitar
cionalmente, apesar de ser possível conhecê-la. Kant diz
um pacto de não agressão, visando a uma ética universal,
que muito mais importante para a moralidade do que se
que respeita todos os seres humanos existentes no plane-
perguntar o que fazer é se perguntar o motivo pelo qual se
ta, sem violar as regras locais de seus respectivos países.
faz alguma coisa.
Com essas teorias, Kant antevê as ações da Organização
Imaginemos a seguinte situação: uma pessoa é abordada
das Nações Unidas (ONU), que visa a assegurar que os Es-
na rua por um pedinte e, ao sentir pena de sua situação,
tados compactuem um acordo de paz e não iniciem um
lhe dá uma esmola. Uma segunda pessoa também é abor-
conflito armado. A formulação da União Europeia, após II
dada pelo pedinte e, apesar de não se compadecer de sua
Guerra Mundial e declínio da Guerra Fria, dá-se, em grande
situação, lhe oferece ajuda mesmo assim. Kant diria que a
medida, pelas contribuições de autores como Kant, princi-
segunda pessoa agiu mais moralmente do que a primeira.
palmente nas áreas do direito e diplomacia.
Por quê? Simplesmente porque a segunda pessoa agiu de
maneira descolada de suas próprias emoções. Ela ofereceu
ajuda ao pedinte porque sabia que aquilo era o certo a se
fazer, porque era seu dever (por essa razão, inclusive, a
ética kantiana também é chamada de ética do dever); a
primeira pessoa, por sua vez, ofereceu ajuda por pena, pela
maneira como se sentiu. Da mesma forma, Kant veria al-
guém que pratica boas ações para se promover socialmen-
te ou ficar bem aos olhos de Deus. Se essa é a motivação
de suas boas ações, ele diria, elas de nada valem. A ética
do dever (imperativo categórico) é guiada por princípios
bandeira das Nações Unidas
racionais que visam à universalidade, não permite adap-
tações circunstanciais e não é pautada pelos resultados. A
A ética kantiana deontologia (estudo do dever) é fundamental para a com-

(ou a ética do dever) preensão de sua obra Crítica da Razão Prática.

Kant também dedicou grande parte de sua obra a questões


relativas à esfera moral. Segundo o filósofo, todo ser huma-
A liberdade para Kant
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

no sabe o que é certo e o que é errado: esse conhecimento A concepção de liberdade para Kant não se liga à felici-
é intrínseco à condição humana. Isso ocorre porque Kant dade nem é determinada por um bem externo a ela – a
diz que todos somos dotados de uma razão prática, isto liberdade está atrelada ao homem. Diante disso, o bem é o
é, de uma capacidade racional inata de discernir sobre o que resulta da razão, à medida que ela determina a ação.
que é certo e o que é errado. Assim, o homem precisa submeter-se às leis éticas, que vi-
sem a um respeito universalista e que condicionem a esse
O filósofo vai além: a capacidade de discernimento é tão
ser uma maioridade. Por isso, a liberdade para Kant é
inata quanto qualquer outra faculdade da razão – tal afir-
uma autonomia para o sujeito.
mação tem desdobramentos importantes. O mais óbvio é
o fato de a ética kantiana ser baseada na ideia de que Dessa forma, a liberdade é a autonomia de cumprir seu
há algo como uma lei moral universal, tão absolu- dever, de acordo com as leis da natureza – com isso, somos
ta quanto qualquer lei natural. Tal lei seria, segundo donos de nós mesmos e de nossas ações.

172
Compreendo, porém, como uso público da razão aquele simultaneamente como membro de uma comunidade,
que é feito por alguém, como douto, perante o mundo ou mesmo da própria sociedade civil mundial, que, como
letrado. Por uso privado, entendo aquele que o douto douto, dirige-se ao público, seguindo seu próprio enten-
pode fazer em um posto civil ou público. Contudo, para dimento por meio de seus escritos, ele pode raciocinar
algumas ocupações, que lidam com assuntos de inte- o quanto quiser, sem que sejam prejudicadas as ocupa-
resse geral, faz-se necessário um mecanismo por meio ções em que está inserido parcialmente como membro
do qual alguns membros da comunidade precisam se passivo. Seria muito prejudicial se um oficial, ao receber
comportar passivamente, para que, com uma unanimi- uma ordem de seu superior, começasse a questionar ex-
dade artificial, possam ser conduzidos pelo governo em plicitamente a conveniência ou utilidade dessa ordem;
prol de fins públicos, ou para que ao menos estes fins ele deve obedecer.
públicos sejam preservados. Neste caso, seguramente, KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: O que é Esclarecimento?
não é permitido raciocinar; é necessário obedecer. Mas, Retirado de: MARCONDES, Danilo.
a medida em que essa peça de engrenagem se veja Textos básicos de ética. Zahar. RJ - 2007.

TEMPESTADE E ÍMPETO

O sentimento vence a razão Destacam-se nesse período: os poetas alemães Schlegel


(1772-1829), Novalis (1772-1801); os escritores alemães
No século XVIII, o movimento cultural que predominava na Schiller (1759-1805) e Goethe (1749-1832); os composi-
Europa era o Iluminismo, que colocava a razão acima de tores alemães Beethoven (1770-1827), Schumann (1810-
tudo. Diante da sombra da Aufklärung (Iluminismo/Esla- 1856) e Brahms (1833-1897), o austríaco Schubert (1797-
recimento), desenvolve-se na Alemanha (e em outras regi- 1828) e o polonês Chopin (1810-1849).
ões da Europa), no final do século XVIII e início do XIX, uma
nova forma de sensibilidade e de valores artísticos – surge
o Romantismo, cuja versão conceitual é o idealismo.
Tudo começou com o Sturm und drang (Tempesta-
dee ímpeto), um movimento de jovens poetas alemães
que reagiu violentamente contra a aridez racionalista da
Aufklärung, enaltecendo o sentimento contra a razão. O
nome Sturm und drang deriva da peça homônima de Frie-
drich Klinger (1752-1831).
pintura com os retratos de Goethe e Schiller.

As principais características desse movimento cultural são:


§ liberdade política, de expressão e de pensamentos;
§ individualismo e subjetivismo;
§ gosto pelo mistério;
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

§ imaginação e sonho;
§ culto pelo exótico;
§ nacionalismo;
§ valorização do passado;
§ desejo de reforma e engajamento político.
Peça de Klinger - Tempestade e Ímpeto.
A literatura alemã passa a ser original com esse movimen-
Esse movimento ficou marcado por combater a influência to, espalhando uma nova forma de arte para o mundo. O
francesa na cultura alemã. Com uma oposição ao Classi- movimento romântico será fundamental para a formação
cismo francês, a essência do movimento alemão consiste dos processos revolucionários nacionalistas, destacando a
na criação baseada no impulso irracional, valorizando o Primavera dos Povos (1848) e as unificações nacionais da
sentimento. Itália (1870) e da Alemanha (1871).

173
Da arte à liberdade Em sua obra Cartas sobre a educação estética do homem,
de 1794, apresenta essa ideia de educar o homem com
O poeta e filósofo Friedrich Schiller (1759-1805) acreditava o auxílio da arte.
que os homens não estavam preparados para a liberdade,
pois não sabiam, de forma inata, como lidar em plenitude
com ela. Assim, é preciso educar o homem para a li-
berdade através da arte. O ser humano é um indivíduo
que participa tanto do mundo sensível como do inteligível,
de modo que existe uma oposição entre matéria e forma,
necessidade e liberdade – e esses conflitos geram um jogo
de caráter lúdico que os reconcilie, tendo como objetivo o
belo. A arte, nessa medida, prenuncia a possibilidade da
realização da liberdade, pois ela possibilita os meios para
alcançá-la.
Segundo Schiller, a harmonia entre o homem e o mundo
foi rompida quando o ser humano decidiu se ver diferente Monumento Goethe-Schiller
da ordem natural, com a ordenação racional e iluminista de
querer transformar e dominar a natureza. Nesse momento,
a crítica aos racionalistas e aos iluministas é bem nítida e
O problema da estética
direta. Essa postura radical refere-se ao instante em que o A problemática da arte na filosofia não é um assunto sur-
gido no período pós-iluminismo. Desde a Grécia antiga, os
ser humano, ao acreditar cegamente no poderio da razão,
pensadores tratavam em discutir essa temática.
sente-se superior aos outros seres e acima da própria na-
tureza, criando uma dicotomia – de um lado, a natureza e, Platão, por exemplo, criticava veementemente a
de outro, a razão. arte, propagando-a como um elemento inferior à natu-
reza, pois tenta imitar a própria natureza por meio da mi-
mésis. Aristóteles, por sua vez, acreditava que o belo
não pode ser desligado do homem, e o que represen-
ta a arte é a simetria, a proporção, ou seja, a justa medida.
Entretanto, para o filósofo Kant, o questionamento da arte
é diferente – ele não questiona em que medida uma obra
de arte pode nos comunicar ou se a arte tem um compro-
misso com as coisas pensadas. Para Kant, os juízos de
gosto, que seriam a opinião das pessoas sobre a
beleza, são relevantes, tornando o belo uma forma
sensível e subjetiva. Como resposta a esse pensamento,
emergem os românticos alemães, que apresentam a
arte como um caminho para reordenação do mun-
do, guiando para um mundo sensível, onde o sentimento
é algo bom para o ser humano.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

É mediante a cultura ou educação estética, quando se


encontra no “estado de jogo” contemplando o belo, que
o homem poderá desenvolver-se plenamente, tanto em
Friedrich Schiller suas capacidades intelectuais quanto sensíveis [...] “Pois,
para dizer tudo de vez, o homem joga somente quando
Para o filósofo, só a arte pode reconciliar essas duas é homem no pleno sentido da palavra, e somente é ho-
forças (natureza e razão), porém, a arte, que não pode mem pleno quando joga”. No “impulso lúdico”, razão e
mais ser ingênua – como era na Grécia antiga – deve ser, sensibilidade atuam juntas e não se pode mais falar da
tirania de uma sobre a outra. Através do belo, o homem
agora, sentimental. é como que recriado em todas as suas potencialidades e
Sentimental significa para Schiler o ato da reflexão pelo recupera sua liberdade.
MÁRCIO SUZUKI
qual o sujeito, ao voltar-se para si mesmo, reconcilia-se A educação estética do homem. São Paulo: Iluminuras, 2014, p. 14.
com a harmonia da totalidade.

174
HEGEL

Georg Wilhelm Friedrich


Hegel (1770-1831)

Selo com o retrato de Hegel.

A dialética hegeliana
Para Hegel, o movimento da história é o confronto de ideias
diferentes, sendo um contínuo devir composto por três mo-
mentos: tese, antítese e síntese.
Retrato de Hegel
É um movimento circular que não se fecha, ou seja, um mo-
Friedrich Hegel nasceu na cidade alemã de Stuttgart, em vimento em espiral, pois cada momento final, que seria a sín-
1770. O seu pensamento foi determinante para a filosofia tese, se torna a tese de um movimento posterior, de caráter
contemporânea, apesar de difundi-lo de modo rebuscado mais avançado. Sendo que, para compreender essa dialética,
e num grau de complexidade elevada, sendo construído é necessário buscar o Absoluto, superando o entendimento
no racionalismo – faz parte do círculo que corresponde ao comum atingindo a certeza completa e global.
idealismo alemão.
Vivenciando as mudanças históricas de seu tempo, como a
Revolução Francesa (1789), Hegel observou o dinamismo
das coisas e como os atos e as ideias estão interligados,
de modo que não podemos separar tais elementos. Entre-
tanto, esses elementos podem sofrer alterações, por não
serem fixos, ao passo que o momento histórico carrega
consigo elementos culturais e ideais de tal período, sofren-
do mudanças ao longo do tempo.
Assim, segundo o filósofo, cada época tem seu próprio Espiral da tese-antítese-síntese
tipo de sabedoria, na qual não podemos menosprezar o
conhecimento do passado. Aqui, vemos que, para Hegel,
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

a filosofia e a história estão entrelaçadas, sem uma O espírito se expressa na arte


separação nítida. Na arte, o saber se configura como expressão sensível do
Tendo uma influência kantiana, Hegel salienta que a histó- espírito. O homem se liberta de sua sujeição natural, da fi-
ria da humanidade é a história da emancipação dos indiví- nitude entendida como submissão à natureza. O espírito
duos, diante de uma elevação gradual de suas liberdades vê-se livre para criar, e essa criação manifesta uma
individuais, atingindo uma maioridade intelectual. Porém, o disposição para o absoluto.
que move essa elevação gradual é ocasionada pelo “espí- Mas a arte, segundo Hegel, é ainda dependente da maté-
rito do tempo” (zeitgeist, em alemão), que impulsiona as ria. Na escultura, arte simbólica por excelência, a liberdade
ações e as ideias, algo como um movimento que atinge a do espírito encontra o limite no material bruto. A liberdade
humanidade. O filósofo entende a realidade como espírito, já é bem maior na música e na pintura, nas quais o grau
como substância, mas também como sujeito. de abstração permite ao espírito uma ampla variabilidade

175
de formas expressivas. Mas é no domínio da palavra que se Assim, a arte é um momento do espírito, em que este pro-
realiza a liberdade expressiva da arte: a palavra não é som cura adequar-se ao elemento sensível para expressar o
ou grafia, mas o sentido que veicula. Na palavra atinge-se saber.
o grau máximo de abstração, e o alcance das construções
espirituais é praticamente infinito.

ÉTICA UTILITARISTA

O utilitarismo é considerado como uma doutrina que afir- § identificação artificial dos interesses de alguém: dian-
ma que as ações são boas quando tendem a promover a te desta característica, o indivíduo entenderá o outro
felicidade, ao passo que também podem produzir ações como relevante na sociedade, ou seja, os interesses de
negativas quando não propiciam a felicidade. um é o mesmo de todos.

Jeremy Bentham (1748-1832)


Segundo a filosofia de Bentham, o princípio da utilidade é
algo que não admite provas diretas, não sendo necessa-
O filósofo inglês Bentham salientava que a natureza huma- riamente um problema, pois alguns princípios explicativos
devem começar em algum lugar, tendo como base a ob-
na era governada por dois elementos soberanos – prazer
servação.
e dor –, num movimento constante de busca pelo prazer
e de fuga da dor. Esse pensamento utilitarista apresenta vantagens numa
filosofia moral, pois permite que as decisões sejam discu-
O pensador promulgou o princípio da utilidade como pa-
tidas por todos, com o mesmo interesse coletivo, o inte-
drão de ação correta por parte dos indivíduos e pelo Es-
resse do bem, visando à felicidade. Aqui, notamos
tado, de modo que essas ações ganham uma validade/ uma orientação de que todos os sujeitos da sociedade são
aprovação, quando desencadeiam a felicidade, enquanto relevantes e iguais na construção de um bem coletivo. Com
outras ações são inválidas/reprovadas, quando causam a isso, a filosofia moral, ou a ética, pode ser descrita como
infelicidade ou a própria dor. uma orientação que dirige a ação do homem para
maior quantidade possível de felicidade.
A filosofia utilitarista dialoga com princípios hedonistas do
epicurismo, pois visa a maximização da felicidade e a dimi-
nuição das dores. O utilitarismo preocupa-se com decisões
que resultem em ações concretas para a alegria do maior
número possível de pessoas. É uma ética consequencialista
e pragmática, diferente da ética kantiana do dever e dos
princípios universalistas do idealismo alemão.
A liberdade, para o filósofo, consistia na ausência da restri-
ção, podendo ter uma liberdade plena, sem o impedimen-
to dos outros, sendo que essa liberdade não é “natural”
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

(no sentido de existir antes da vida social), pois as pessoas


sempre viveram em sociedades, isto é, essa liberdade surge
com o próprio sujeito.
retrato de Jeremy Bentham
A utilização das leis arbitrárias se torna negativa porque,
As características de sua filosofia são: por natureza, restringe a liberdade do sujeito, sendo, na
sua essência, prejudicial ao indivíduo. Entretanto, a lei é
§ maior princípio de felicidade: promove a felicidade em
necessária para orientar a ordem social, e as boas leis se-
geral, sendo o princípio que aprova ou desaprova a ação;
rão essenciais. Isso ocorre quando o controle pelo Estado
§ o egoísmo universal: prevalece o pensar numa ação é limitado, deixando o indivíduo livre, pois o protegerá de
voltada para o coletivo, seguindo uma lógica utilitaris- qualquer dano em sua liberdade e na própria liberdade co-
ta; o utilitarismo visa a imparcialidade para vencer os letiva. Isso dá uma utilidade positiva, pois expressa a von-
interesses particulares que afetam a felicidade coletiva. tade do soberano, que o próprio grupo social.

176
Pensamento contra a Declaração pode exercer a tirania. Assim, as restrições impostas ao in-
divíduo, seja pela lei ou pela opinião, deveriam ser basea-
dos Direitos do Homem e do Cidadão das num princípio coletivo.
Bentham foi contrário às declarações do ideal contratualis- A liberdade é um bem em si mesmo como num meio para
ta da Revolução Francesa – ao firmar um pacto de direitos, a felicidade e o progresso. O Estado e suas instituições não
limitando valores morais e éticos, priva o indivíduo de viver devem, pois, ditar regras sobre a vida dos indivíduos e cer-
a vida na sua totalidade, pois não há escolha consciente e cearem suas liberdades. A liberdade é um bem maior e só
coletiva. Segundo Bentham, a Revolução Francesa, princi- deve possuir alguma sanção segundo o princípio do dano,
palmente em sua fase jacobina, apegou-se aos ideais abs- evitando males para outros indivíduos.
tratos dos direitos e afastou-se da realidade dos indivíduos.
A crítica
John Stuart Mill (1806-1873) O pensamento de Mill sofre uma crítica porque, em seu
O filósofo inglês Stuart Mill foi seguidor de Bentham, em- zelo pela liberdade e em sua oposição à extensão da in-
bora discordasse de algumas de suas afirmações. terferência do Estado, ele deu pouca importância à justi-
Para Mill, os prazeres possuem um quadro de satisfação, ça e ao bem-estar, elementos que podem comprometer
como numa escala de valores. Por exemplo, o prazer inte- a liberdade. Stuart Mill viu com entusiasmo o surgimento
lectual é de um tipo melhor que os prazeres que são sen- do socialismo e considerava que aspectos dessa ideologia
suais ou instintivos. Essa condição é direcionada indutiva- poderiam ser úteis para o aprimoramento da sociedade.
mente, pois Mill questiona: “Quem preferiria ser um jabuti No entanto, Mill possuía posições criticas ao ideal de uma
feliz, vivendo uma vida extremamente longa, do que ser sociedade comunista. Seu entusiasmo estava mais próximo
uma pessoa vivendo numa vida normal?”. de certos aspectos do socialismo utópico.
Embora Bentham e Mill partam de um entendimento se-
melhante em relação ao conceito de utilidade, o utilitaris-
mo de Bentham enfatiza a moralidade da ação, enquanto
o de Mill busca entender em que consistiria a avaliação
moral da ação e a moralidade das próprias normas.
Uma simples observação deveria bastar contra a confu-
são dos ignorantes que supõem que aqueles que defen-
dem a utilidade como teste do certo e do errado usam
este termo no sentido restrito e meramente coloquial em
que o útil se opõe ao prazer. Devemos desculpas aos
filósofos opositores do utilitarismo por confundi-los,
ainda que momentaneamente, com pessoas capaz de
retrato de Stuart Mill
uma concepção tão absurdamente errada; o que se
torna ainda mais extraordinário na medida em que a
O princípio do dano acusação contrária, de remeter tudo ao prazer, e isso da
forma mais grosseira, é uma das mais comuns contra o
O princípio do dano assegura que cada indivíduo tem o utilitarismo. ... Aqueles que sabem um pouco sobre essa
direito de agir como quiser, desde que suas ações não pre- questão estão cientes de que todos os autores, de Epicu-
judiquem as outras pessoas. Se a ação afeta diretamente ro a Bentham, que defenderam o princípio da utilidade o
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

apenas a pessoa que a está realizando, então a sociedade entenderam não como algo a ser contraposto ao prazer,
mas sim como o próprio prazer, untamente com a au-
não tem o direito de intervir. Entretanto, Mill argumenta sência de dor. E ao invés de opor o útil ao agradável ou
que os indivíduos devem ser prevenidos (alertados) de fazer ao ornamental, sempre declararam que o útil também
algo ruim para si mesmos, afinal, não vivemos plenamente significa essas eentre outras coisas. E, contudo, o reba-
isolados e nossas ações podem afetar outros indivíduos. nho, inclusive o "rebanho dos escritores", não apenas
em jornais e outros periódicos, mas em livros de peso
e pretensão, estão perpetuamente cometendo esse erro
A liberdade do indivíduo superficial. Tomam a palavra utilidade e não sabem so-
bre ela nada além de seu som. Habitualmente, expres-
A liberdade de expressão, oral e escrita, é proeminente
sam por meio dela a rejeição, ou o descuido, do prazer
entre as condições de um bom governo. Só que essa liber- em algumas de suas formas: a beleza, o ornamento, a
dade, num governo popular, baseado no voto, não garante diversão. E o termo não é apenas mal aplicado por ig-
a liberdade, pois um governo baseado na vontade popular norância em sentido depreciativo, mas ocasionalmente

177
até mesmo como um cumprimento, como se significasse
algo de superior à frivolidade ou aos meros prazeres mo-
mentâneos. Este uso pervertido é o único pelo qual essa
palavra é popularmente conhecida, e é desse uso que a
nova geração está adquirindo seu único entendimento
desta palavra.
...
O credo que aceita como fundamento da moral o Útil
ou Princípio da Máxima Felicidade, considera que uma
ação é correta na medida em que tende a promover a
felicidade, e errada quando tende a gerar o oposto da fe-
licidade. Por felicidade entende-se o prazer e a ausência
da dor; por infelicidade, dor, ou privação do prazer; Para
proporcionar uma visão mais clara do pradrão moral es-
tabelecido por essa teoria, é preciso dizer muito mais;
em particular, o que as ideias de dor e prazer incluem
e até que ponto essa questão fica em aberto. Mas as
explicações suplementares não afetam a concepção de
vida em que essa teoria da moral se fundamenta: a sa-
ber, que o prazer e a ausência de dor são as únicas coisas
desejáveis como fim, e que todas as coisas desejáveis
(que são numerosas no esquema utilitarista, como em
qualquer outro) o são ou porque o prazer é inerente a Cartaz do Movimento das Mulheres Alemãs
elas, ou porque consistem em meios de promover o pra- reivindicando o direito ao voto, 1914.
zer e evitar a dor.
O objetivo do ensaio foi mostrar que o princípio que re-
STUART MILL gula as relações sociais existentes entre os dois sexos - a
Textos básicos de ética, editora Zahar,
4ª edição, autoria de Danilo Marcondes.
subordinação legal de um sexo ao outro - é errado em si
mesmo, e um dos principais obstáculos para o desenvol-
vimento humano e que deveria ser substituído por um
Mill e o sufrágio feminino princípio de perfeita igualdade, não admitindo poder ou
Muitos volumes dos escritos de Mill tratam de assuntos privilégio de um lado, nem incapacidade de outro. Isso
de interesse social e político. Estes incluem escritos sobre mostra como Mill apela tanto para a patente injustiça dos
problemas políticos específicos na Índia, América, Irlan- arranjos familiares contemporâneos quanto para o impac-
da, França e Inglaterra, sobre a natureza da democracia to moral negativo desses arranjos sobre as pessoas dentro
e sobre a civilização, sobre escravidão, sobre direito e ju- deles. Em particular, ele discute as maneiras pelas quais a
risprudência, sobre o local de trabalho e sobre a família e subordinação das mulheres afeta negativamente não ape-
o status das mulheres, um importante trabalho na história nas as mulheres, mas também os homens e as crianças da
do feminísmo. família. Essa subordinação dificulta o desenvolvimento mo-
ral e intelectual das mulheres ao restringir seu campo de
A natureza radical da reivindicação de Mill pela igualdade atividades, empurrando-as para o autossacrifício ou para o
das mulheres é, muitas vezes, esquecida para nós depois egoísmo e a mesquinhez.
de mais de um século de protestos e mudanças de atitudes
Os homens, por sua vez, tornam-se brutais através de seus
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

sociais. No entanto, a subordinação das mulheres aos ho-


mens, quando Mill estava escrevendo, continua marcante. relacionamentos com mulheres ou se afastam de projetos
Entre outros indicadores dessa subordinação estão os se- de crescimento pessoal para buscar a "consideração" so-
guintes: (1) as mulheres britânicas tinham menos motivos cial que as mulheres desejam.
para o divórcio que os homens até 1923; (2) os maridos É importante notar que a preocupação de Mill com o status
controlavam as propriedades de suas esposas como se fos- das mulheres se encaixa com o restante de seu pensamen-
sem deles até 1882; (3) as crianças eram consideradas do to – não é um problema desconectado. Por exemplo, seu
marido; (4) o estupro era visto como impossível dentro de apoio à igualdade das mulheres foi reforçado pelo asso-
um casamento; e (5) as esposas careciam de características ciacionismo, que afirma que as mentes são criadas por leis
cruciais da personalidade jurídica, uma vez que o marido associativas que operam na experiência. Isso implica que,
era considerado o representante da família (eliminando, se mudarmos as experiências e a educação das mulheres,
assim, a necessidade do sufrágio feminino). suas mentes mudarão.

178
MATERIALISMO FILOSÓFICO

Tendo como uma recusa do idealismo de Hegel, emergiu o Sua estrutura filosófica consiste em valorizar o indivíduo
materialismo, uma visão material da realidade. Entre como elemento criador das ideias, ou seja, o pensamen-
os contestadores, o pensador que teve maior destaque foi o to surge do homem, e não o ser humano que surge do
alemão Ludwig Feuerbach. pensamento.
O seu interesse filosófico está no processo de formação
Ludwig Feuerbach (1804-1872) da ideia de Deus no pensamento humano. A religião, para
Feuerbach, representa o reflexo fantástico da natureza hu-
O pensamento do filósofo alemão Feuerbach se caracteriza mana. O seu pensamento pode ser resumido na máxima:
pelo materialismo, ateísmo e humanismo. O pensador ataca “Não é Deus quem cria o homem, mas o homem quem
a ideia de imortalidade e afirmava que, após a morte, o ser criou Deus”.
humano é absorvido pela natureza.

O elo intermediário
O pensamento de Feuerbach constitui o elo intermediário
entre a filosofia de Hegel e a de Marx. O materialismo de
Feuerbach seria um materialismo metafísico, pois repudia-
va a dialética hegeliana; entretanto, não compreendia a
importância da atividade prática revolucionária.
Esse pensamento de Feuerbach influenciou a filosofia de
Karl Marx e Friedrich Engels, que se utilizou da essência
retrato de Feuerbach.
fundamental do materialismo transformando-o em uma
teoria prática denominada materialismo histórico.
Ele qualificou o idealismo de Hegel como uma “especula-
ção vazia”, pois não trata do ser real, das coisas reais e dos
homens concretos, sendo um pensamento muito abstrato e
fora da realidade necessária para o período histórico.
Essa estrutura de pensamento se fez pelo momento histó-
rico em que vivia o filósofo alemão, pois a Europa estava
passando por uma turbulenta mudança ideológica e de or-
dem prática. Em 1815, surgiu o Congresso de Viena, com o
objetivo de redesenhar o mapa político do continente, em
conjunto com uma onda de revoluções de cunho liberal e
nacionalistas, como as revoluções de 1830 (Revoluções Li-
berais) e 1848 (Primavera dos Povos). Assim, a filosofia Retrato de Engels, Marx e Feuerbach.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

precisava associar-se com a realidade, precisava


sair do campo das ideias e ir para o mundo prático. A principal qualidade do pensamento de Feuerbach, des-
tacada por Marx e Engels, foi ir contra as instituições po-
líticas existentes na época, como a religião, a teologia e a
A filosofia materialista metafísica, sendo um crítico dessas instituições pela força
da alienação diante dos indivíduos em sociedade, que con-
Feuerbach propõe que a filosofia deveria partir do concreto,
dicionam de forma negativa os seres.
da realidade, de forma que o ser humano precisava ser con-
siderado como um ser natural e social, e não só no campo Entretanto, Marx e Engels se desencantaram com esse mate-
ideológico. Só que, apesar de conter esse caráter mais práti- rialismo, pois observaram que a crítica de Feuerbach perante
co, essa filosofia ainda não atinge completamente as ações a religião não passava de uma simples luta contra frases, não
práticas, sendo uma relação menos abstrata, porém, ainda tendo uma efetividade concreta, a fim de destruir completa-
longe da praticidade real. mente essa dominação perante o ser humano.

179
Segundo Marx e Engels, Feuerbach compreende o homem
como máquina, tornando-se incapaz de perceber o mundo U.T.I. - Sala
como processo, como matéria em via de desenvolvimen- 1. (UNESP)
to histórico. Feuerbach foi um importante adversário do Texto 1
idealismo alemão e abriu possibilidades para o retorno ao Um dos elementos centrais do pensamento mítico e de
debate filosófico da materialidade como fundamento das sua forma de explicar a realidade é o apelo ao sobre-
relações humanas. Marx e Engels avançaram essa discus- natural, ao mistério, ao sagrado, à magia. As causas dos
são para as bases econômicas do funcionamento da vida fenômenos naturais, aquilo que acontece aos homens,
tudo é governado por uma realidade exterior ao mundo
humana. Por isso, em sua obra A Ideologia Alemã, Marx
humano e natural, a qual só os sacerdotes, os magos,
afirma que os filósofos, até então, haviam se preocupado os iniciados são capazes de interpretar. Os sacerdotes,
em entender o mundo e em descrevê-lo; para Marx, era os rituais religiosos, os oráculos servem como inter-
preciso modificar o mundo e não apenas compreendê-lo. mediários, pontes entre o mundo humano e o mundo
divino. Os cultos e os sacrifícios religiosos encontrados
O modo de produção da vida material condiciona o proces- nessas sociedades são, assim, formas de se agradecer
so da vida social, política e intelectual. Não é a consciência esses favores ou de se aplacar a ira dos deuses.
dos homens que determina o seu ser; ao contrário, é o seu (Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001. Adaptado.)
ser social que determina sua consciência.
Texto 2
MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política.
Editora Expressão Popular, São Paulo, 2008.
Ao longo da história, a corrente filosófica do Empir-
ismo foi associada às seguintes características: 1.
Negação de qualquer conhecimento ou princípio in-
ato, que deva ser necessariamente reconhecido como
válido, sem nenhuma confirmação ou verificação. 2.
Negação do ‘suprassensível’, entendido como qualquer
realidade não passível de verificação e aferição de
qualquer tipo. 3. Ênfase na importância da realidade
atual ou imediatamente presente aos órgãos de veri-
ficação e comprovação, ou seja, no fato: essa ênfase é
consequência do recurso à evidência sensível.
(Nicola Abbagnano. Dicionário de filosofia, 2007. Adaptado.)
Com base nos textos apresentados, comente a oposi-
ção entre o pensamento mítico e a corrente filosófica
do empirismo.

2. (UEL) Hume considerou não haver nenhuma razão


para supor que, dado o que se chama um “efeito”, deva
haver uma causa invariavelmente unida a ele. Observa-
mos sucessões de fenômenos: à noite sucede o dia, ao
dia, a noite etc.; sempre que se solta um objeto, ele cai
no chão etc. Diante da regularidade observada, concluí-
mos que certos fenômenos são causas e outros, efeitos.
Entretanto, podemos afirmar somente que um aconteci-
mento sucede a outro – não podemos compreender que
haja alguma força ou poder pelo qual opera a chamada
“causa”, e não podemos compreender que haja algu-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

ma conexão necessária entre semelhante “causa” e seu


suposto “efeito”.
(FERRATER-MORA, J. Dicionário de Filosofia,
Tomo I, São Paulo: Loyola, 2000, p.427.)

a) Com base na filosofia de Hume, explique a impor-


tância do conceito de causalidade para o conheci-
mento dos fenômenos naturais.
b) Explicite a leitura que Hume faz do empirismo.

3. (UFU) Tentemos, pois, uma vez, experimentar se não


se resolverão melhor as tarefas da metafísica, admitin-
do que os objetos se deveriam regular pelo nosso con-
hecimento, o que assim já concorda melhor com o que
desejamos, a saber, a possibilidade de um conhecimen-

180
to a priori desses objetos, que estabeleça algo sobre 6. (UNESP) Do ponto de vista do Iluminismo, a ilusão
eles antes de nos serem dados. deixa de ser uma simples deficiência subjetiva, e passa
KANT, Immanuel. Crítica da Razão Pura. Tradução de Manuela a enraizar-se em contextos de dominação, de onde a
Pinto dos Santos. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, ilusão deriva e se incumbe de estabilizar. O preconceito
Prefácio da Segunda Edição, B XVI-XVII, p. 20. – a opinião falsa, não controlável pela razão e pela ex-
Com base no texto acima e em seus conhecimentos so- periência – revela seu substrato político. É no interesse
bre a filosofia de Kant, responda: do poder que a razão é capturada pelas perturbações
a) O que é a Revolução Copernicana operada pelo fi- emocionais, abstendo-se do esforço necessário para li-
lósofo? bertar-se das paixões perversas, e para romper o véu
b) A que se refere o conhecimento a priori, segundo das aparências, que impedem uma reflexão emancipa-
Kant? tória. Deixando-se arrastar pelas interferências, a razão
não pode pensar o sistema social em sua realidade. Pri-
4. (UNESP) Se um estranho chegasse de súbito a este sioneira do dogmatismo, que nem pode ser submetido
mundo, eu poderia exemplificar seus males mostran- ao tribunal da experiência nem permite a instauração
do-lhe um hospital cheio de doentes, uma prisão ap- desse tribunal, a razão está entregue, sem defesa, às
inhada de malfeitores e endividados, um campo de imposturas da religião e de todos os outros dogmas le-
batalha salpicado de carcaças, uma frota naufragan- gitimadores.
do no oceano, uma nação desfalecendo sob a tirania, (Sérgio Paulo Rouanet. A razão cativa, 1990. Adaptado.)
fome ou pestilência. Se eu lhe mostrasse uma casa ou
um palácio onde não houvesse um único aposento con- Considerando o texto e o título sugestivo do livro de
fortável ou aprazível, onde a organização do edifício Rouanet, explique as implicações políticas do cativeiro
fosse causa de ruído, confusão, fadiga, obscuridade, e da razão e defina o que significa a reflexão emancipa-
calor e frio extremados, ele com certeza culparia o pro- tória referida pelo autor.
jeto do edifício. Ao constatar quaisquer inconveniências 7. (UEL) Segundo Descartes, o bom método é aquele
ou defeitos na construção, ele invariavelmente culparia
que nos permite conhecer o maior número possível de
o arquiteto, sem entrar em maiores considerações.
coisas, com o menor número de regras. Deste modo, ele
(David Hume. Diálogos sobre a religião natural, 1992. Adaptado.) pretende estabelecer um método universal inspirado
a) Explicite o tema filosófico abordado no texto e sua no rigor da matemática e no encadeamento racional.
relação com a criação do mundo. Para ele, pautado no ideal matemático, o método deve
b) Explique como os argumentos do filósofo eviden- converter-se em uma mathesis universalis: conhecimen-
ciam um ponto de vista empirista (fundamentado na to completo e inteiramente dominado pela razão.
experiência) e cético (baseado na dúvida), em con- Adaptado de: JAPIASSU, H. “O racionalismo cartesiano”.
traste com uma concepção metafísica sobre o tema. In: REZENDE, A. (org.) Curso de Filosofia. 14.ed. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p.104-105.

5. (UNESP) Com base no texto e nos conhecimentos sobre o Discurso


Texto 1 do Método, de Descartes, enumere e descreva as quatro
Todo ser humano tem um direito legítimo ao respeito regras apresentadas pelo filósofo para o método.
de seus semelhantes e está, por sua vez, obrigado a re-
speitar todos os demais. A humanidade em si mesma 8. (UNESP)
é uma dignidade, pois um ser humano não pode ser Texto 1
usado meramente como um meio (instrumento) por Karl Popper se diferenciou ao introduzir na ciência
qualquer ser humano. a ideia de “falibilismo”. Ele disse o seguinte: “O que
(Immanuel Kant. A metafísica dos costumes, 2010. Adaptado.) prova que uma teoria é científica é o fato de ela ser
Texto 2 falível e aceitar ser refutada”. Para ele, nenhuma teoria
Ao se assenhorar de um Estado, aquele que o conquista científica pode ser provada para sempre ou resistir para
deve definir as más ações a executar e fazê-lo de uma sempre à falseabilidade. Ele desenvolveu um tipo de te-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

só vez, a fim de não ter de as renovar a cada dia. Deve- oria de seleção das teorias científicas, digamos, análo-
se fazer as injúrias todas de um só golpe. Quanto aos ga à teoria darwiniana da seleção: existem teorias que
benefícios, devem ser concedidos aos poucos, de sorte subsistem, mas, posteriormente, são substituídas por
que sejam mais bem saboreados. outras que resistem melhor à falseabilidade.
(Nicolau Maquiavel. O príncipe, 2000. Adaptado.) MORIN, Edgar. Ciência com consciência, 1996. Adaptado.

a) Considerando o texto 1, explique por que a ética Texto 2


de Kant apresenta um alcance universalista. Justifi- O paralelismo entre macrocosmos e microcosmos, a
que sua compatibilidade com o Iluminismo filosófico. simpatia cósmica e a concepção do universo como um
b) Considerando o texto 2, explique a posição assumi- ser vivo são os princípios fundamentais do pensamento
da por Maquiavel em relação à manipulação política. hermético, relançado por Marcílio Ficino com a tradu-
Justifique a incompatibilidade entre a ética de Kant e ção do Corpus Hermeticum. Com base no pensamento
os procedimentos recomendados por Maquiavel para hermético, não há qualquer dúvida sobre a influência
a manutenção do poder político. dos acontecimentos celestes sobre os eventos humanos

181
e terrestres. Desse modo, a magia é a ciência da inter-
venção sobre as coisas, os homens e os acontecimentos, U.T.I. - E.O.
a fim de dominar, dirigir e transformar a realidade se-
gundo a nossa vontade. 1. (UNESP) As freiras da Congregação das Pequenas Ir-
mãs da Sagrada Família, de Cascavel (PR) e, em parti-
REALE, Giovanni. História da filosofia, vol. 2, 1990. cular, a Irmã Kelly Favareto, poderão aparecer com os
Baseando-se no conceito filosófico de empirismo, des- véus que cobrem cotidianamente suas cabeças na foto
creva o significado do emprego da palavra “ciência” da Carteira Nacional de Habilitação (CNH). A decisão é
nos dois textos. Explique também o diferente emprego da Justiça Federal, que aceitou recurso da Irmã contra a
do termo “ciência” em cada um dos textos. Resolução do Conselho Nacional de Trânsito que proíbe,
por razões de segurança, que na foto da CNH o condu-
9. (UFU) Suporei, portanto, que há não um Deus ótimo,
tor apareça usando óculos, bonés, gorros, chapéus ou
fonte soberana da verdade, mas algum gênio maligno, e
qualquer outro item que cubra parte do rosto ou cabe-
ao mesmo tempo, sumamente poderoso e manhoso, que
ça, dificultando sua identificação. “Eu só ando de véu,
põe toda a sua indústria em que me engane: pensarei
que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e que é um sinal de consagração a Deus, não é um acessó-
todas as coisas externas nada mais são do que ludíbrios rio que posso tirar quando quiser”, alegou a Irmã.
dos sonhos, ciladas que ele estende à minha credulidade. (Evandro Fadel. Freira ganha direito de usar hábito na foto
da CNH. O Estado de S.Paulo, 10.02.2012. Adaptado.)
DESCARTES, R. Meditações sobre Filosofia Primeira.
Primeira Meditação /12/, Tradução de Fausto Castilho. Comente o significado filosófico do fato noticiado,
Campinas: IFCH-Unicamp, 1999, p. 25
abordando a relação entre indivíduo e Estado, e expli-
a) Qual é, para Descartes, a relação existente entre que a relação entre esse fato e o movimento filosófico
o gênio maligno e a coisa pensante (Res cogitans)? iluminista do século XVIII.
b) Que argumento é utilizado por Descartes para afir-
mar a existência do Mundo? 2. (UNICAMP) Na segunda metade do século XVIII, pen-
sadores importantes, como Denis Diderot, atacaram os
10. (UFMG) Leia a seguinte passagem do texto de Hume, próprios fundamentos do imperialismo. Para esse filóso-
Do padrão do gosto: fo, os seres humanos eram fundamentalmente formados
Procurar estabelecer uma beleza real, ou uma defor- pelas suas culturas e marcados pelas diferenças cultu-
midade real, é uma investigação tão infrutífera como rais, não existindo o homem no estado de natureza. Isso
procurar determinar uma doçura real ou um amargor levava à ideia de relatividade cultural, segundo a qual
real. Conforme a disposição dos órgãos do corpo, o os povos não podiam ser considerados superiores ou
mesmo objeto tanto pode ser doce como amargo, e o inferiores a partir de uma escala universal de valores.
provérbio popular afirma com muita razão que gostos (Adaptado de Sankar Muthu, Enlightenment Against Empire.
não se discutem. É muito natural, e mesmo absoluta- Princeton: Princeton University Press, 2003, p. 258, 268.)
mente necessário, aplicar este axioma ao gosto mental,
além do gosto corpóreo, e assim o senso comum, que a) Segundo o texto, como as ideias de Denis Diderot
tão frequentemente diverge da filosofia [...], ao menos se opunham ao imperialismo?
num caso está de acordo em proferir idêntica decisão. b) No pensamento de Jean-Jacques Rousseau, qual
(HUME, David. Do padrão do gosto. In: Os Pensadores. a relação entre a ideia de “homem no estado de na-
São Paulo: Abril Cultural,1992, p. 262). tureza” e a organização das sociedades civilizadas?
O trecho acima corresponde a uma passagem na qual 3. (UNESP) “O Iluminismo é a saída do homem de um
Hume procura descrever a posição de alguns filósofos estado de menoridade que deve ser imputado a ele
seus contemporâneos para os quais o gosto é uma ex- próprio. Menoridade é a incapacidade de servir-se do
pressão de certos sentimentos e, desse modo, não com- próprio intelecto sem a guia de outro. Imputável a si
porta uma decisão em termos de verdade ou falsidade, próprios é esta menoridade se a causa dela não depen-
como ocorre no caso de outros juízos nos quais emitimos de de um defeito da inteligência, mas da falta de deci-
nossas opiniões. Essa posição, caso fosse correta, impos- são e da coragem de servir-se do próprio intelecto sem
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

sibilitaria o estabelecimento de um padrão de gosto, ou ser guiado por outro. Sapere aude! Tem a coragem de
seja, de uma regra capaz de conciliar as diversas opiniões servires de tua própria inteligência!”
dos homens no que diz respeito ao valor de uma obra de (Immanuel Kant, 1784.)
arte, por exemplo. Segundo Hume, essa posição coincide
com o famoso provérbio de que gosto não se discute, o Esse texto do filósofo Kant é considerado uma das mais sin-
qual, por sua vez, parece refletir o pensamento da maior téticas e adequadas definições acerca do Iluminismo. Justi-
parte das pessoas, ou seja, do senso comum. fique essa importância comentando o significado do termo
“menoridade”, bem como os fatores sociais que produzem
a) A partir do que foi dito acima, e com base em outras essa condição, no campo da religião e da política.
informações contidas no texto, APRESENTE os argumen-
tos de Hume que problematizam esse famoso provérbio. 4. (UFF) O filósofo alemão Immanuel Kant, no século
b) Com base em suas próprias experiências, APRESENTE XVIII, assim define o “Esclarecimento” ou “Iluminismo”:
e JUSTIFIQUE a sua posição pessoal em relação a esse
“O Esclarecimento é a saída do homem de sua menori-
mesmo provérbio.
dade pela qual ele mesmo é responsável. A menoridade

182
é a incapacidade de fazer uso de seu próprio entendi- sobre os mesmos, através do que o nosso conhecimento
mento sem a imposição de outrem. O próprio homem é seria ampliado, fracassaram sob esta pressuposição."
responsável por sua menoridade quando a causa desta (Kant. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Nova Cultural,
não for a falta de entendimento, mas a falta de decisão 1987. p.14. Coleção "Os Pensadores")
e coragem de conduzir-se sem a imposição de outrem.
A partir desta citação, explique em que consiste a Revo-
Tenha coragem para usar o seu próprio entendimento!
lução Copernicana realizada por Kant na filosofia.
Eis o lema do Esclarecimento”.
(Immanuel Kant, “Resposta à Pergunta: Que é ‘Esclarecimento’ ?”) 10. (UFU) "O hábito é, pois, o grande guia da vida hu-
mana. É aquele princípio único que faz com que nossa
Com base no texto de Kant, comente a importância na
experiência nos seja útil e nos leve a esperar, no futuro,
vida de cada um de nós de “ter coragem para usar o seu
uma sequência de acontecimentos semelhantes às que
próprio entendimento”.
se verificaram no passado."
5. (UDESC) Levando-se em conta as diferentes correntes (Hume, São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 146)
filosóficas que estudam a questão do conhecimento, es- Comente, acerca do conhecimento verdadeiro, a crítica
tabeleça a distinção entre Racionalismo e Empirismo. que Hume fez aos limites da experiência sensível e ao
princípio da causalidade vigente na filosofia moderna.
6. (UDESC) O ponto de partida da filosofia de Rousse-
au é uma concepção de natureza humana representa-
da pela famosa ideia segundo a qual “O homem nasce
bom, a sociedade o corrompe”.
(Contrato Social, livro I, cap. 1) (MARCONDES,
D., Iniciação à história da Filosofia, p. 200)

Explique a afirmação acima.

7. (UFU) Ao discutir sobre a noção de esclarecimento,


I. Kant em sua obra Resposta à pergunta: que é “Escla-
recimento”? ressalta: “Para este esclarecimento [“Au-
fklärung”] porém nada mais se exige senão LIBERDA-
DE. E a mais inofensiva entre tudo aquilo que se possa
chamar liberdade, a saber: a de fazer uso público de
sua razão em todas as questões.”
KANT, I. .Resposta à pergunta: que é .Esclarecimento.?. In: Textos
Seletos. 2 ed. Trad. de Raimundo Vier. Petrópolis: Vozes, 1985, p. 104.

Responda:
Por que o uso público da razão está em oposição à
menoridade do entendimento humano?

8. (UFU) Locke foi um dos principais representantes do


liberalismo político. Sobre a passagem do estado de na-
tureza para a sociedade civil, o autor, a respeito desse
tema, fez a seguinte afirmação:
“Assim os homens, apesar de todos os privilégios do
estado de natureza, mantendo-se em más condições
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

enquanto nele permanecerem, são rapidamente leva-


dos à sociedade.”
LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o governo. São Paulo:
Abril Cultural, 1983. Coleção “Os Pensadores”. p. 83.
Responda:
O que leva os homens a escolher a vida em sociedade civil?

9. (UFU) O comentário abaixo foi feito por Kant (1724-


1804) para justificar o início do novo estágio da filosofia
moderna, almejado com a sua obra Crítica da Razão Pura.
"Até agora se supôs que todo nosso conhecimento ti-
nha que se regular pelos objetos; porém, todas as ten-
tativas de mediante conceitos estabelecer algo a priori

183
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

184
ENTRE
SOCIEDADES

2
CIÊNCIAS
SOCIOLOGIA
HUMANAS
e suas tecnologias

U.T.I.
ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL E SUAS FORMAS

Estratificação Social é o agrupamento dos membros de uma


sociedade em camadas ou estratos superpostos e hierarqui-
zados segundo algum critério de importância sociológica.
Praticamente todas as sociedades desenvolvem sistemas
de relações hierárquicas ou estratificação social. Se não
existisse estratificação em uma sociedade, esta, necessaria-
mente, possuiria uma população pequena e homogênea.
Suas ocupações seriam de tal natureza, que não existiria
qualquer divisão de trabalho, nem haveria competição,
nem conflito. É difícil imaginar uma sociedade que aten- Uma das características que marcaram a estratificação social
da a estas condições, a não ser em circunstâncias muito hindu foi a hereditariedade; o nascimento era a condição
incomuns ou realmente primitivas, pois uma sociedade mal básica para se definir uma dada posição na ordem social.
consegue durar sem uma divisão de suas funções sociais. A hierarquização dava-se também com base na heredita-
riedade e nas profissões, que definiam os indivíduos como
A origem básica da estratificação repousa na tendência
pertencentes a grupos de status diferentes. Nem sempre o
universal para avaliar socialmente as diferenças conse-
caráter hereditário e o profissional convergiam. Por exemplo,
quentes às distinções biológicas e culturais das pessoas.
dois indivíduos podiam desempenhar a mesma profissão,
Estas variações socialmente significativas conduzem a
mas pertencer a castas diferentes por hereditariedade, o que
posições diferenciadas que acarretam doses distintas de
não os colocava em condições de igualdade.
prestígio e consideração. Já que algumas destas diferen-
ças estão ligadas às posições na sociedade, o respeito, a Os pertencentes à casta inferior eram considerados impuros
consideração, o prestígio e o poder ficam associados a ela. e não podiam nem sequer prestar serviços aos membros das
outras castas superiores. A ideia era de que tudo o que os
A sociedade de Castas impuros tocassem ficava contaminado, seja alimento, água
ou roupa.
A sociedade de castas é marcada pela rigidez na hierarqui- Apenas as castas puras (superiores) eram consideradas ap-
zação. Baseia-se na hereditariedade, na profissão, na etnia, tas a desempenhar funções públicas e a participar de deter-
na religião, determinando uma situação de respeitabilidade. minadas atividades religiosas. As castas impuras eram prati-
A definição desses critérios ocorre a partir de um conjunto de camente segregadas, a elas não sendo permitido frequentar
valores, hábitos e costumes definidos pela tradição. escolas, templos e outros espaços sociais.
O sistema de castas assenta-se numa relação de privilégios Diante disso, as castas inferiores consideradas totalmente
que alguns indivíduos possuem em detrimento dos demais. impuras não podiam entrar nos pátios dos grandes templos.
Esse tipo de organização social parte do pressuposto de que Na região de Maratha, a sombra de um impuro não podia
os direitos são desiguais por natureza, uma vez que os ele- atingir um membro de uma casta superior. Existiam regiões
mentos que os caracterizam são definidos fora dos indiví- na Índia que estabeleciam que as castas inferiores tinham
duos – por exemplo, o critério para a definição de cargos e de manter uma distância de 24 passos dos brâmanes para
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

profissões se dava pela hereditariedade (o guerreiro, o sacer- que a sombra de um membro de uma casta inferior não se
dote fariam os seus filhos também guerreiros e sacerdotes). projetasse jamais sobre um elemento de uma casta superior.
Pode-se dizer que, nas sociedades antigas, a organização
social baseava-se no sistema de castas. As desigualdades
políticas, jurídicas, religiosas, entre outras, expressavam-se
através do lugar que o indivíduo ocupava na estrutura de
cargos e profissões, definidos pela hereditariedade, em pri-
meiro plano.
Ainda hoje, existe na Índia o sistema de castas, embora
modificado, pois coexiste com um sistema de classes sociais;
Disponível em: < http://www.universiaenem.com.br/
mesmo assim, o estudo dessa sociedade pode nos oferecer sistema/faces/pagina/publica/conteudo/texto-html.
vários elementos para a compreensão dessa ordem social. xhtml?redirect=65586078235577153116103251880>

186
Mas como se apresentam as relações entre as castas na conjunto de valores culturais vigentes (disseminados e sus-
atualidade? Pode-se dizer que são mantidos nitidamente os tentados pela Igreja Católica), a ideia de que determinados
costumes e as tradições apontados anteriormente, quase na indivíduos estavam, pela tradição, acima dos demais; o que
sua totalidade, entre os brâmanes – casta superior a todas não queria dizer que a aceitação das regras de dominação
– e entre os sudras – que formam as castas mais inferiores, abolia a possibilidade de revolta ou o uso da força. O esta-
consideradas impuras. No entanto, entre as castas interme- mento mais importante corresponde à nobreza, detentora
diárias há algumas diferenças, uma delas é a não clareza de da terra, o clero tem a supremacia ideológica devido à
hierarquia. igreja e os servos trabalham na terra. Esses últimos são o
Permanecem, porém, os elementos ligados à dieta, que indi- estado subordinado aos outros dois.
ca a posição da casta na estrutura social. As castas superiores, As lutas entre os estratos sociais existiam, uma vez que
por exemplo, não comem alimentos preparados pelos impu- a desigualdade de direitos levava, em determinados mo-
ros, e um brâmane só se alimenta na companhia de indivídu- mentos, a rebeliões que não desmantelavam a forma de
os que fazem parte de sua casta. dominação vigente, mas tentavam impor alguns limites às
Outro fator relevante na definição das posições das castas, na condições de privilégios de alguns estratos em detrimento
organização social hindu, na atualidade, é o trabalho, já que dos demais.
as atividades consideradas degradantes são vistas como fa- A reciprocidade entre o servo (aquele que pagava um tributo
tores que rebaixam as posições das castas na estrutura social. pela utilização de um feudo) e o senhor feudal (aquele que
detinha largas extensões de terra) fundava-se na relação es-
Sociedade estamental tabelecida entre servir e proteger: Não ter um senhor que lhe
desse proteção fazia com que o indivíduo fosse considerado
A sociedade feudal, que vigorou do século IX ao XIV, tinha desprotegido pela lei.
a sua organização social baseada em estamentos. A tra-
Ressalte-se que a propriedade e o uso da terra no feuda-
dição contava como um dos elementos fundamentais na
lismo implicava contrair uma diversidade de obrigações,
definição do conjunto de relações estabelecidas entre os
fazendo com que o proprietário estivesse ligado a uma tra-
diferentes estamentos: nobreza, clero e servo. A honra, a
ma de relações não apenas com o servo. Do proprietário,
hereditariedade e a linhagem eram os elementos organiza-
por exemplo, o rei podia exigir serviços militares. Um nobre
dores dos estamentos.
proprietário poderia exigir a outro proprietário de terras,
em nome do rei, um número determinado de cavaleiros
para atuar na guerra. Dessa forma, para manter posições
de poder, a nobreza exigia obrigação militar de todos os
senhores feudais através dos seus vassalos.
No modo de produção feudal, o que alinhava as relações
entre os diversos estratos ou estamentos era a vassalagem.
Esta se fundava, como diz Max Weber, no livro Economia e
sociedade, numa relação pessoal de fidelidade. O vassalo
contraía inúmeras obrigações, que tinham sua contraparti-
da nas obrigações que o senhor assumia perante ele. Es-
sas obrigações iam além da submissão a um determinado
proprietário de terras: era um juramento de fidelidade que
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

repousava também na força das armas.


Dessa forma, vê-se que o senhor feudal era um tirano sem
A sociedade estamental correspondeu a um dado momen- leis, nos piores casos, ou, nos melhores, um pai despótico.
to da história econômica e política da humanidade. As ati- As obrigações entre eles eram diversas, podendo se enu-
vidades sociais que cada estamento desempenhava nessa merar a ajuda de guerra, os ofícios de escudeiro, as funções
ordem social eram encaradas como funções necessárias à da criadagem doméstica, etc.
manutenção da sociedade.
Existia uma hierarquia de vassalagem que se superpunha
Essa relação de privilégios, que tinha fundamento na hon- a todos os estamentos e os interligava; do estrato mais in-
ra, só era possível porque os estratos não privilegiados ferior (os servos) até o topo da pirâmide social, todos se
também reconheciam, na hereditariedade, na linhagem, a encontravam ligados por uma trama de obrigações, reci-
honra do outro. Ou seja, os dominantes incorporavam, pelo procidade e fidelidade.

187
O nobre proprietário (também denominado suserano ou
senhor feudal), embora possuísse diversos vassalos, era tam-
bém um vassalo do rei. Este último era o suserano maior e a
ele todos deviam obrigações baseadas na vassalagem.

Já para Max Weber, em vista da posição em que se situa-


vam em relação ao mercado – se vendedores ou compra-
dores de bens, serviços ou força de trabalho –, os indivídu-
os poderiam se constituir em uma ou outra classe. Weber
Max Weber afirma que o feudalismo é uma estruturação chamou isso de “situação de classe”, ou seja, uma situa-
política patrimonialista por excelência. Isso quer dizer que ção que dependeria da posição (comprador ou vendedor)
a organização política obedecia a uma hierarquização na momentaneamente ocupada. Sendo variável, a posição
qual a relação de subordinação se dava a partir das obri- ocupada na estrutura produtiva não poderia ser o único
gações contraídas entre os diversos estratos com base na fator de estratificação social, nem mesmo estar na origem
das revoltas políticas que levariam ao fim do capitalismo,
posse e no uso da terra (daí a designação patrimonial).
como vimos em Marx.

As Classes Sociais
As classes sociais propriamente ditas expressam as de-
sigualdades e um modo de interpretação das diferenças
sociais intimamente ligados à mentalidade moderna e à
sociedade capitalista. A complexidade desse tipo de orga-
nização social define relações que aparecem para os indi-
víduos de forma nebulosa. Aos indivíduos imersos nessa
sociabilidade, só são visíveis e palpáveis as desigualdades
gritantes. As relações que produzem essas desigualdades,
contudo, permanecem obscuras, isto é, os fundamentos de
sua existência e as formas como elas se reproduzem.
Disponível em: <http://cafecomsociologia.com/2016/01/
Numa linha de análise marxista, podemos dizer que a estratificacao-social-segundo-octavio.html>
apropriação e a expropriação são elementos básicos que

Classes Sociais (IBGE)


vão delinear o traçado de uma estruturação social desigual.
O expropriado é aquele que produz, que age diretamen-
te no processo de produção. O capitalista apropria-se do
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

resultado dessa produção de forma privada. O modo de A visão governamental das classes sociais, utilizada pelo
produção capitalista levaria progressivamente à produção IBGE no censo populacional a cada dez anos, é baseada
de interesses opostos, antagônicos, como parte do próprio no número de salários mínimos. Mais simples, divide em
movimento interno da sua estrutura social. As classes se apenas cinco faixas de renda ou classes sociais, conforme a
definem como antagônicas tanto no plano econômico tabela abaixo, válida para este ano (salário mínimo em R$
quanto no político. Econômico, no nível da apropriação/ 937,00 em 2017).
expropriação; político, no nível da dominação/submissão. Trata-se de um critério de cálculo fácil e objetivo, mas que
A divisão da sociedade em classes sociais não é um dado leva somente em consideração o salário atual da pessoa
acidental, casual, mas produzido pelas relações entre os e ignora eventuais conquistas e patrimônio. Mudanças re-
homens. Os sujeitos básicos dessas classes são a burguesia pentinas de salário para cima ou para baixo podem dar
(personificação do capital) e o operariado (personificação um viés ao resultado e torná-lo impróprio para algumas
do trabalho assalariado). finalidades.

188
Classes Sociais por Faixas de Salário-Mínimo (IBGE)
Classe Número de Salários-Mínimos (SM) Renda Familiar (R$) em 2017
A Acima de 20 SM R$ 18.740,01 ou mais
B De 10 a 20 SM R$ 9.370,01 a R$ 18.740,00
C De 4 a 10 SM R$ 3.748,01 a R$ 9.370,00
D De 2 a 4 SM R$ 1.874,01 a R$ 3.748,00
E Até 2 SM Até R$ 1.874,00

CULTURA

Definição de cultura culturas consideram as atividades intelectuais mais elevadas.


Para a sociedade helênica clássica, por exemplo, o esporte
O conceito de cultura compreende, de um modo geral, a era considerado uma reverência aos deuses, o que tornava
soma das atividades humanas (e dos produtos dessas ati- as atividades esportivas muito importantes. Nesse contexto,
vidades) que surgem no âmbito da sociedade. Isto é, toda não faria sentido dizer que um filósofo tem “mais cultura”
ação humana é, em algum nível, uma ação cultural. O uso da do que um maratonista: o maratonista também era respon-
palavra em diferentes contextos, no entanto, torna esse pro- sável por desempenhar uma atividade cultural das mais va-
blema mais complexo. Por isso, o teórico inglês Terry Eagle- lorizadas. Já no Brasil atual, não se costuma dizer que um
ton afirma: “‘cultura’é uma das duas ou três palavras mais ótimo jogador de futebol tem “mais cultura” do que um
complexas da língua inglesa”. Já em outros idiomas, como o grande filósofo somente porque ele joga futebol muito bem.
alemão, o termo correlato a “cultura” (“kultur”) pode tam- Ou seja: a ideia de cultura também se define culturalmente
bém significar “sociedade”. Afinal, então, o que é “cultura”? – também, digamos, varia de cultura para cultura.
A princípio, pode-se dizer que tudo faz parte da cultura, na
medida em que qualquer ato humano se insere em uma
ambiente social específico. Ir ao banheiro, por exemplo, é
um ato da cultura: só se vai a um banheiro, porque a ideia
Alta cultura e cultura popular
de “banheiro” foi inventada por seres humanos como Pode-se dizer que a ideia de “alta cultura” remete às ati-
uma forma socialmente (e culturalmente) aceita de realizar vidades sociais muito valorizadas – as quais, muitas vezes,
suas necessidades fisiológicas. Do mesmo modo, só se vai exigem grande competência em determinado domínio. Isso,
ao banheiro de uma forma X ou Y porque essa é a forma no entanto, não basta para classificar um fenômeno cultural.
socialmente (e culturalmente) aceita de ir ao banheiro. Ou Mozart, por exemplo, costuma ser associado à alta cultura,
seja: não existe uma ação humana que não seja um ato da assim como os grandes músicos clássicos. Já um músico do
cultura. Tudo é cultural. pagode brasileiro costuma ser associado ao domínio da cul-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Por outro lado, a palavra “cultura” costuma ser empregada tura popular, independentemente do quão hábil seja com
de diferentes formas. Vejamos: seu instrumento. Isso é particularmente curioso quando pen-
samos que o próprio Mozart custou a se estabelecer como
Quando uma pessoa apresenta um repertório vasto, de-
um músico clássico, já que suas peças eram tidas como
monstrando conhecer muitos dados literários, filosóficos e
excessivamente populares ou mesmo vulgares pelo gosto
artísticos, diz-se que ela tem “muita cultura”. Isso porque,
europeu do século XVIII.
historicamente, determinadas atividades humanas – como
as atividades intelectuais (a arte, a filosofia, a técnica etc.) – Podemos dizer, então, que todas as atividades humanas são
podem ser mais valorizadas do que outras. Dizer, portanto, atividades culturais, mas apenas algumas são classificadas
que uma pessoa tem “mais cultura do que outra” significa como “alta cultura”. Essa classificação é estabelecida pelas
dizer que essa pessoa está associada a atividades social- instituições da própria cultura – como universidades, veícu-
mente mais valorizadas do que outras. Mas dizer isso, por los de crítica, etc – e pode variar conforme variem outros
outro lado, é – por si só – um ato cultural. Pois nem todas dados da própria cultura.

189
Já ao domínio da cultura popular, costumam ser associados Quando se trata de costumes, porém, certamente alguns
quaisquer outros fenômenos sociais que se tornem comuns fenômenos da cultura adquirem maior importância do que
e recorrentes e/ou se transformem em costumes. Assim, per- outros, à medida que se tornam mais corriqueiros e so-
tencem à cultura popular não apenas o pagode e o samba, cialmente mais constantes e/ou relevantes. Esses costumes
mas também o futebol, a feijoada e assim por diante. podem não serem classificados como “alta cultura”, mas
Certamente isso não quer dizer que a “alta cultura” e a “cul- podem chegar até mesmo a ser fundamentais para uma
tura popular” sejam domínios fechados e impenetráveis. A comunidade (como um país).
cultura é extremamente fluida. Frequentemente ambos os Isso não necessariamente quer dizer que esses costumes
domínios interagem e se interpenetram. O músico paulista- sejam “bons”. Em uma sociedade machista, por exemplo,
no Paulo Vanzolini, por exemplo, compôs a canção “samba é costume deixar o trabalho doméstico para as mulheres.
erudito”, mesclando o estilo mais popular da música brasi- Esse fato é profundamente enraizado na cultura brasileira,
leira a elementos da música erudita. Inúmeros outros exem- mas está sendo cada vez mais questionado e combatido.
plos existem nesse sentido. Além do mais, como Mozart, um Pois essa é outra característica da cultura: ela é um terreno
dado da cultura pode passar do domínio da “alta cultura” de constante e interminável disputa.
para o da “cultura popular” e vice-versa.

Aculturação
Como já vimos, portanto, as culturas se formam em meio à
interação dos seres humanos entre si e com a natureza –
ou seja: acompanham os processos sociais. Eventualmente,
porém, diferentes culturas podem se chocar, o que dá ori-
gem a conflitos.
Um exemplo de choque cultural muito significativo foi a
colonização da América Latina. Nesse processo histórico,
a cultura indígena entrou em conflito aberto com a cultura
europeia: os indígenas possuíam sua própria religião, sua
própria língua, sua própria arte, sua própria culinária, sua
Mozart: músico já foi considerado popular própria economia, seus próprios costumes – enfim, sua
própria cultura; e o mesmo era válido para os portugueses

Cultura e costumes e espanhóis.


Esse conflito era, sobretudo, um problema econômico, pois
Como já vimos, tudo faz parte da cultura: não apenas as os europeus desejavam, como se sabe, colonizar o chama-
artes ou atividades intelectuais, mas também os atos mais do “novo mundo”, dominando-o economicamente. Nesse
triviais (como ir ao banheiro). Nesse sentido, o acarajé, o cenário, a solução foi a mais violenta possível: os europeus
chinelo, o pandeiro e o campeonato brasileiro de futebol impuseram sua cultura sobre os indígenas, proibindo ele-
são elementos da cultura popular brasileira. E o fato do mentos da cultura destes e os exterminando. Com o passar
grande músico erudito Heitor Villa-Lobos fazer parte do
do tempo, os indígenas assimilaram a cultura do domi-
domínio da “alta cultura” nacional não faz com que ele
nador, passaram a falar sua língua, a adorar seus deuses,
seja “mais” ou “menos” parte da cultura como um todo.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

adotar seus costumes e assim por diante. A esse processo


dá-se o nome de “aculturação”.
Contudo, até hoje a cultura indígena permanece viva. Mas,
dada a profundidade da destruição violenta desta pelo eu-
ropeu, hoje é preciso que ela lute para sobreviver. Nesse
sentido, a cultura indígena se tornou um dado a ser preser-
vado, sob o risco de se extinguir.
Existem inúmeros exemplos de aculturação na História.

Feijoada: elemento da cultura brasileira

190
Conflitos culturais Contracultura
O conflito entre indígenas e europeus durante a coloniza- Determinadas culturas são hegemônicas – isto é: deter-
ção é apenas um exemplo de embate cultural entre muitos. minadas culturas têm seus elementos compartilhados e
Hoje, os choques culturais ainda causam muitos problemas. aceitos pelo conjunto de uma comunidade. A constituição
Em 2010, por exemplo, o Senado francês aprovou uma lei dessa hegemonia pode se dar, inclusive, por um processo
que proibiu as mulheres muçulmanas de usarem a burca muito violento (como é o caso do conflito entre europeus
e o nicabe, espécies de véus islâmicos que cobrem todo e indígenas, o qual já conhecemos). Isso, porém, não quer
o rosto, diferentes do hijab e do xador, que não cobrem dizer que essa hegemonia não possa ser enfrentada. Nes-
a face. O debate sobre o uso de vestimentas islâmicas ses casos, têm-se o que se chama de “contracultura” –
para as mulheres causa grande polêmica em outros pa- isto é, a constituição de elementos alternativos que bus-
íses europeus que têm iniciativas legislativas parecidas, cam se opor aos elementos dominantes.
como a Itália, a Holanda, algumas regiões da Bélgica e Um exemplo: a Rebelião de Stonewall foi uma série de
da Alemanha. violentas manifestações espontâneas de membros da co-
munidade LGBT contra uma invasão da polícia de Nova
York que aconteceu nas primeiras horas da manhã de 28
de junho de 1969, no bar Stonewall Inn, localizado no
bairro de Greenwich Village, em Manhattan, em Nova
York, nos Estados Unidos. Esses motins são amplamente
considerados como o evento mais importante que levou
ao movimento moderno de libertação gay e à luta pelos
direitos LGBT no país. Neles, os homossexuais, transexu-
ais e demais grupos da comunidade LGBT, se opunham
à repressão de sua cultura, que se expressava, em sua
forma mais violenta, na invasão de seus bares pelos poli-
ciais. Nesse caso, os policiais representavam a imposição
de uma cultura hegemônica – pois a sociedade norte-a-
mericana expressava severos sinais de homofobia. Já a
rebelião de Stonewall representa a emergência de uma
contracultura, isto é, de uma cultura que se opõe à cultura
dominante.
Mulher usa burca na Alemanha

Para os muçulmanos, logicamente, esse dado significa uma


violência, uma proibição à própria cultura. Nesse sentido,
muitas pessoas argumentam também que a proibição do
véu estimula o preconceito. Já para os proponentes da lei
em questão, esta se trataria de uma importante medida de
prevenção ao terrorismo, já que o véu cobre a face, poden-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

do facilitar a fuga de praticantes de atos terroristas.


A questão se torna ainda mais polêmica quanto determi-
nadas práticas culturais são, em si, colocadas em questão Rebelião de Stonewall
pelos valores de outras culturas. Nesse caso, por exemplo,
muitas pessoas argumentam que o véu é uma instituição Inúmeros exemplos contraculturais existem e, hoje, ad-
machista da cultura islâmica cuja função é reprimir a mu- quirem maior visibilidade e relevância. São esses os casos
lher. Mas, mesmo que assim seja, isso permite a uma outra feminista, LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais),
cultura proibi-lo? Fazer isso não seria um gesto de intole- negro (contra o racismo e pela igualdade racial), contra
rância à cultura do outro? a xenofobia, contra a proibição das drogas, entre muitos
outros.

191
ANTROPOLOGIA E ETNOCENTRISMO

A antropologia é uma ciência compreensiva que estuda o poderosas, dessa forma, estariam no auge do processo civili-
Homem e sua cultura no passado e no presente. Em linhas zatório, enquanto as outras exprimiriam atraso e estagnação.
gerais, a Antropologia aborda temas como costumes, há- Morgan deixa bem claro que “Ao estudar as condições de
bitos, aspectos físicos, mitos e religiões de diversos povos tribos e nações nesses diversos períodos étnicos, estamos
que habitaram e ainda habitam o planeta. A consolidação lidado, substancialmente, com a história antiga e com as
da Antropologia como ciência deu-se em meados do sécu- antigas condições de nossos próprios remotos ancestrais.”
lo XIX, concomitantemente às expansões neocoloniais das
potências industriais europeias, que buscavam recursos na- Períodos Condições
turais na Ásia, África e Oceania.
Período Inicial da Da infância da raça humana até
Os europeus, imersos em um otimismo exacerbado em Selvageria o começo do próximo período
relação ao desenvolvimento técnico e material, aproxima-
vam-se cada vez mais de métodos científicos para expli-
Da aquisição de uma dieta
car tanto a realidade física quanto social. Paralelamente a
Período intermediário de subsistência à base de
essa euforia, havia um sentimento de superioridade racial
de selvageria peixes e de um conheci-
e cultural com relação aos colonizados. Uma espécie de
mento do uso do fogo.
darwinismo social reinava nas análises: os europeus esta-
riam em um estágio evolutivo superior aos outros povos.
Tal premissa permeou a fundamentação da Antropologia. Período final de selvageria Da invenção do arco e flecha.

O Evolucionismo Cultural: Período inicial de barbárie Da invenção da cerâmica.

uma teorização etnocêntrica Da domesticação de animais


no hemisfério oriental e, no
Período intermediário
Um autor proeminente entre os evolucionistas e, por isso, es- ocidental, do cultivo irrigado
de barbárie
de milho e plantas, com o uso
colhido por nós para demonstrar tal teoria foi Lewis Morgan.
de tijolos de adobe e pedras.
Lewis Henry Morgan (1818-1881) nasceu nos Estados Uni-
dos e desde jovem interessou-se na cultura dos iroqueses, Da invenção do processo de
Período final de barbárie fundir minério de ferro, com
grupo indígena que vivia próximo a seu estado natal, Nova
uso de ferramentas de ferro.
Iorque. Ao ter contato com esses indígenas e com inúmeros
Da invenção do alfabeto
documentos históricos e relatos etnográficos1, sistematizou
fonético, com o uso da escrita,
uma classificação de diferentes estágios evolutivos das so- Status de civilização
até o tempo presente (Europa
ciedades. Em suas palavras, “Duas linhas de investigação
e nações desenvolvidas).
convidam assim, nossa atenção. Uma passa por invenções
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

e descobertas; a outra, por instituições primárias. Com o co-


O princípio do autor é etnocêntrico, pois os povos tribais
nhecimento propiciado por essas linhas, podemos esperar in-
da América, da África, Ásia e Oceania foram classificados
dicar os principais estágios do desenvolvimento humano.”2. como menos evoluídos, enquanto os europeus foram
Com isso, Morgan classificou as sociedades humanas em três classificados no estágio mais elevado da sociabilidade
estágios evolutivos: Selvageria, Barbárie e Civilização. humana. O próprio critério materialista de Morgan e seus
Para ele, todas as sociedades humanas passariam inevita- discípulos demonstra um lado eurocêntrico, o que nos
velmente pelos três estágios. As sociedades capitalistas mais permite indagar: será mesmo que o progresso material é o
1 Etnografia é um relato detalhado da cultura e hábitos de uma sociedade. cerne da preocupação dos outros povos tanto quanto para
Era muito comum que alguns viajantes europeus descrevessem as minúcias os europeus?
dos comportamentos de outros povos e publicassem tais escritos.

2 A Sociedade Antiga, Lewys Morgan. Texto disponível em Evolucionismo


Cultural, organizado por Celso Castro e editado pela Editora Zahar.

192
Bronislaw Malinowski dutas, esquemas linguísticos e mitos revelam a existência
de padrões comuns a todas elas. Para ele, o enfoque dos
(1884-1942) estudos antropológicos deve centrar-se principalmente nas
demandas de ordem social. Graças aos seus estudos, há
Como teórico, é considerado o fundador do funcionalismo, hoje uma tendência de se rechaçar enfoques etnocêntricos
escola antropológica que pretende analisar as instituições dentro das pesquisas – significa dizer que comparar socie-
sociais em termos de satisfação coletiva de necessidades dades em termos de níveis tecnológico e material não faria
individuais (principalmente biológicas), considerando cada mais sentido.
sociedade como um sistema fechado e coerente. Por isso, Para Lévi-Strauss, a antropologia estrutural é o estudo cien-
opõe-se à aplicação reducionista dos pensadores evolucio- tífico dos subprodutos gerados pelas operações incons-
nistas. cientes do espírito humano. As operações mentais, isto é,
O objeto do funcionalismo e sua base fundamental é con- as estruturas, representam o significado real da cultura. A
siderar que todas as partes da sociedade humana estão abordagem estruturalista evita os perigos do relativismo,
na medida em que as diferentes culturas são consideradas
relacionadas entre si e cumprem uma função dentro de
como meros subprodutos distintos do espírito humano –
um sistema. Por tal premissa, as sociedades não devem ser
nem melhores nem piores uns que os outros. Deste modo,
comparadas. Cada uma deve ser observada em sua visão
os indivíduos estudados são considerados como meros ge-
particular de mundo e dentro de sua lógica de funciona-
radores-portadores de cultura: as suas ações são vazias de
mento. Assim, não se pode julgar o diferente do europeu
todo o sentido que não seja o sentido subjacente que lhes
como atrasado, uma vez que ele reproduz outras visões de
é proporcionado pelas estruturas universais inconscientes.
vidas e de necessidades.
No caso da aplicação do estruturalismo na cultura, o proble-
Malinowski realizou diversos trabalhos de campo, visitando
ma consiste em descobrir o conjunto constante de relações
inúmeras sociedades in loco. Em sua obra Os argonautas do
existentes entre os elementos básicos que se manifestam
pacífico ocidental, o autor estuda a sociedade Trobriandesa,
como fenômenos culturais. Segundo Lévi-Strauss, a vanta-
onde hoje se encontra a Papua Nova Guiné. Seu objeto de
gem de seu estudo das formas primitivas de organização
estudo é a instituição Kula, um sistema de trocas circular,
reside no fato delas possibilitarem um acesso fácil às es-
místico e destituído de noção de posse permanente, que truturas lógicas elaboradas pelo pensamento inconsciente.
influencia a vida e as instituições dos nativos em quase sua A estrutura “proporciona os meios para integrar aqueles
totalidade. Além de descrever detalhadamente o Kula e sua fatores irracionais surgidos do acaso e da história”. Assim,
função, mostra, nessa obra, raro rigor metodológico e lógico a busca das estruturas lógicas subjacentes à diversidade
na construção de uma etnografia. Para ele, o antropólogo dos fenômenos culturais exige necessariamente um estu-
não deve contentar-se com uma mera observação dos fa- do sincrônico dos costumes, isto é, um estudo da natureza
tos, mas exercer uma observação participante, isto é, “ser intrínseca dos fenômenos culturais, antes de passar ao estu-
um deles”. do das influências de elementos externos que operaram as
transformações históricas (estudo diacrônico): “Ao mostrar

Estruturalismo de
as instituições no seu processo de transformação, a história
torna possível abstrair a estrutura que subjaz às manifes-

Lévi-Strauss (1908-2009) tações e que permanece idêntica através da sucessão dos


acontecimentos”.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Claude Lévi-Strauss foi um intelectual radicado na França, Dessa forma, ao rejeitar a primazia do estudo histórico,
considerado o fundador da Antropologia Estrutural e intro- que “organiza os seus dados em relação com as expres-
dutor, nas ciências sociais, do enfoque estruturalista base- sões conscientes da vida social”, a antropologia estru-
ado na linguística de Saussure. Dado o peso de sua obra, tural “dedica-se a examinar os seus fundamentos (ou
dentro e fora da antropologia, é visto como um dos inte- estruturas) inconscientes”.
lectuais mais influentes do século XX. Entre 1935 e 1939
viveu no Brasil, onde levou a cabo seu primeiro trabalho
etnográfico, organizando expedições periódicas no Mato
Grosso e na floresta amazônica.
Lévi-Strauss conquistou proeminência no mundo intelectual
ao afirmar que as diferentes culturas humanas, suas con-

193
INDÚSTRIA CULTURAL E PATRIMÔNIO DO ESPETÁCULO

Indústria cultural Guy Debord (1931-1994)


O conceito de Indústria Cultural foi originalmente formula- De origem filosófica, o francês Guy Debord apresenta uma
do na década de 1940 por dois autores alemães, Theodor crítica para a sociedade contemporânea, a chamada socie-
Adorno (1903–1969) e Max Horkheimer(1895–1973), que dade do consumo.
pertenciam à chamada Escola de Frankfurt. Esses autores, no
livro denominado Dialética do Esclarecimento: o Iluminismo
como mistificação das massas, de 1944, desenvolveram o
conceito de Indústria Cultural.
Os teóricos da primeira geração da Escola de Frankfurt as-
sistiram e vivenciaram a ascensão do nazismo na Europa e
adotaram os fenômenos da cultura como objeto de estudo
para entender o tempo presente nos aspectos da domina-
ção/alienação e emancipação em relação aos mecanismos-
de controle social.
Para os autores, o que se repete na história é a violência
associada ao progresso. Segundo essa concepção, as guer-
Em seu livro mais famoso, intitulado A sociedade do Es-
ras são resultados do desenvolvimento tecnológico. Nesse
petáculo, lançado em 1967, Debord faz uma crítica feroz
contexto a ciência e a técnica não têm um objetivo humano.
contra essa sociedade do consumo, ganhando popularida-
Na sociedade globalizada em que vivemos, tudo se reveste de entre artistas e estudantes.
de um caráter mercadológico, no qual se omite a história so-
Nesse livro, o autor apresenta como a sociedade reproduz
cial da produção dos objetos. Disso resulta a descrença dos
as ações e os fatos, desencadeando uma repetição cons-
integrantes da Escola de Frankfurt na ciência e na técnica
tante e levando os indivíduos a uma massificação ordena-
como meio de emancipação social. da, transformando-se em meros espectadores contempla-
Por procurar um público o mais amplo possível (para que a tivos de suas próprias vidas. Sendo guiados pelas imagens
lucratividade aumente), a Indústria Cultural produz um tipo que ordenam o seu cotidiano, os seres humanos ficam
especifico de cultura – a cultura de massa – que se define anestesiados com os fatos a sua volta.
por ser uma cultura homogênea transformada em mercado- O autor define o espetáculo como o conjunto das relações
ria destinada ao consumo das grandes massas (inclusive em sociais mediadas pelas imagens, estando esse fenômeno
nível global) que formam a sociedade de consumo. A socie- presente em todas as sociedades onde há classes sociais.
dade de consumo, que possibilita que as massas consumam
produtos em grandes quantidades, só é possível na socie- Debord ilustra como a nossa sociedade está constituída
dade industrial capitalista, dada a ampliação da capacidade pelo espetáculo, seja midiático ou político, de modo a con-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

produtiva. fundir a nossa realidade com a mera ficção.


A alienação do espectador em proveito do objeto con-
Produz-se em larga escala um único tipo de produto, homo-
templado (que é o resultado da sua própria atividade
gêneo, que se coloca acima das diversidades culturais e sim- inconsciente) exprime-se assim: quanto mais ele con-
plifica os conteúdos e significados das expressões artísticas templa, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se
para ser consumido pelo maior número de pessoas possível. nas imagens dominantes da necessidade, menos ele
A homogeneização dos produtos e gostos constitui-se no compreende a sua própria existência e o seu próprio
principal mecanismo de reprodução da indústria cultural, o desejo. A exterioridade do espetáculo em relação ao ho-
mem que age aparece nisto, os seus próprios gestos já
que faz com que ela continue existindo independentemente não são seus, mas de um outro que lhes apresenta.
das vontades individuais.
DEBORD, Guy
A Sociedade do Espetáculo, 1967, p. 25-26.

194
MICHEL FOUCAULT

Michel Foucault (1926-1984) nizar os hábitos desses sujeitos, atuando como instituições
disciplinares.
Com formação em filosofia e psicologia, o francês Michel Segundo Foucault, esse “poder disciplinar” é notado pelos
Foucault tratou de compreender o indivíduo e as suas in- elementos semelhantes que encontramos nesses ambien-
ter-relações, como o poder, a sexualidade, a punição e a tes, como regras pré-definidas, grades e câmeras de segu-
loucura social. rança. Nesse momento, o poder é físico e simbólico, pois
condiciona as futuras ações desse indivíduo caracterizando
uma forma de controle social, pois apresenta uma forte
disciplina em conjunto com uma plena vigilância para con-
ter possíveis violações das regras impostas.
Para ilustrar essa forma de disciplina e vigilância, Foucault
cita o exemplo do Panóptico utilizado em prisões. Trata-se
de uma estrutura circular, com uma plataforma de observa-
ção erguida no meio.
Foucault modificou o foco das análises tradicionais acerca Essa estrutura possibilita ao observador central um con-
da sociedade, a partir de um olhar interdisciplinar, inter- trole maior sobre os prisioneiros, que tem a sensação de
ligando os campos da história, filosofia, sociologia e psi- serem vigiados durante todo o tempo. O objetivo desse
cologia. panóptico era criar uma aparente onipresença do inspetor
de vigilância nas mentes dos vigiados, assegurando o fun-
História da loucura na Idade Clássica cionamento automático do poder. O sucesso dessa ação se
faz pelo olhar hierárquico, uma sanção normalizadora e o
Nessa obra, publicada em 1961, Foucault apresenta como
exame avaliativo.
o termo loucura modificou-se ao longo do tempo. Na Idade
Média, a loucura era sinônimo de liberdade, em muitos ca- Foucault enfatiza a questão do controle disciplinar, corri-
sos, era considerada sagrada; durante o Renascimento, por gindo o comportamento desviante, isto é, o propósito des-
sua vez, a loucura foi vista como uma outra forma de razão. se poder é controlar, dominar os seres e não propiciar uma
reformulação das práticas sociais.
No período da Modernidade, entre os séculos XVI e XVII,
momento histórico denominado por Foucault como Idade Como consequência disso, temos o ser humano configu-
Clássica, a loucura ganha uma definição de antirrazão, rado como “corpos dóceis”, ou seja, corpos que mediante
aqueles considerados loucos deveriam ser enclausurados, a tanta punição, submetidos ao poder disciplinar, aceitam a
prática do confinamento passou a ser adotada. A partir do total submissão, sendo dominados completamente, sem
século XVIII, a loucura foi associada à doença, sendo que o nenhum tipo de resistência contra esse poder. Diante disso,
louco deveria ser medicado. Ao refletir sobre como as dife- o corpo humano tornou-se uma máquina prestes a obede-
rentes sociedades tratam aqueles que foram considerados cer a qualquer regra ou norma dominante.
como loucos, Foucault chama a atenção para a construção
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

social do conceito de normalidade. De origem filosófica, o


francês Guy Debord apresenta uma crítica para a socieda-
de contemporânea, a chamada sociedade do consumo.

Vigiar e punir:
História da violência nas prisões
No texto, publicado em 1975, Foucault reflete sobre o sis-
tema penal e a relação de poder. O filósofo analisa que
existe um “poder disciplinar” para regular a vida dos indi-
víduos, contido nas estruturas de base da sociedade (nos
hospitais, nas prisões e nas escolas) com o intuito de orga-

195
História da sexualidade moderna de, salientando um poder ilusório, uma disputa criada entre
os seres, com o intuito também de dominação e controle.
Nesse estudo, publicado em 1976, Foucault interliga a se-
O poder não opera em um único lugar, mas em lugares
xualidade com as estruturas de poder na sociedade. Ao pen- múltiplos: a família, a vida sexual, a maneira como se tra-
sar o poder não como uma coisa, mas como relações, assu- ta os loucos, a exclusão dos homossexuais, as relações
me que o poder é algo que se exerce; poder como um feixe entre os homens e as mulheres... todas essas relações
de relações. Assim, o corpo também é um espaço de poder. são relações políticas. Só podemos mudar a sociedade
A norma produz condutas e gestos com o intuito de reprimir sob a condição de mudar essas relações.
a própria sexualidade, classificando o comportamento sexual FOUCAULT , Michel. Diálogo sobre o poder. Estratégia, podersaber.
desviante da norma como um crime, ferindo os padrões mo- Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.

rais de uma sociedade. Parece-me que, no final do século XVIII, a arquitetura co-
meça a se especializar, ao se articular com os problemas
Para Foucault, com essa regulação da vida dos indivíduos, da população, da saúde, do urbanismo. Outrora, a arte de
desenvolveu-se uma naturalização da sexualidade reprimida construir respondia sobretudo à necessidade de manifes-
no cotidiano, gerando no indivíduo, com a sexualidade repri- tar o poder, a divindade, a força. O palácio e a igreja cons-
mida, um ser com várias neuroses. Para evitar esses traumas, tituíam as grandes formas, às quais é preciso acrescentar
o pensador apresenta que é necessário ter uma maior liber- as fortalezas; manifestava−se a força, manifestava-se o
soberano, manifestava−se Deus. A arquitetura durante
dade da sexualidade na sociedade.
muito tempo se desenvolveu em torno destas exigências.
Ora, no final do século XVIII, novos problemas aparecem:
trata-se de utilizar a organização do espaço para alcançar
objetivos econômico−políticos. Aparece uma arquitetura
específica. Philippe Ariès escreveu coisas que me parecem
importantes a respeito do fato da casa, até o século XVIII,
continuar sendo um espaço indiferenciado. Existem pe-
ças: nelas se dorme, se come, se recebe, pouco importa.
Depois, pouco a pouco, o espaço se especifica e torna-se
funcional. Nós temos um exemplo disto na edificação das
cidades operárias dos anos 1830−1870. A família operá-
Microfísica do poder ria será fixada; será prescrito para ela um tipo de moralida-
Nesse livro, publicado em 1978, Foucault apresenta diversas de, através da determinação de seu espaço de vida, com
uma peça que serve como cozinha e sala de jantar, o quar-
formas de poder existentes na sociedade. O poder está em
to dos pais (que é o lugar da procriação) e o quarto das
todo lugar, tendo os saberes e os discursos como elementos crianças. Às vezes, nos casos mais favoráveis, há o quarto
diretos desse poder social. O poder não está centralizado nas das meninas e o quarto dos meninos. Seria preciso fazer
grandes instituições, ele age em todos os lugares, atua sobre uma "história dos espaços" − que seria ao mesmo tempo
os indivíduos. uma "história dos poderes" − que estudasse desde as
grandes estratégias da geopolítica até as pequenas táticas
Essa dominação pode estar contida na relação macro, do habitat, da arquitetura institucional, da sala de aula ou
apresentada pela força do Estado diante de seus cidadãos, da organização hospitalar, passando pelas implantações
orientando regras e normas de submissão para a manu- econômico-políticas. É surpreendente ver como o proble-
tenção de uma hierarquia pré-concebida. Nesse momento ma dos espaços levou tanto tempo para aparecer como
Foucault dialoga com a filosofia política de Maquiavel. problema histórico-político.
FOUCAULT , Michel.
Fora dessa relação macro, coexistem diversas relações de Microfísica do Poder. São Paulo: Graal, 2008, pp. 211-212.
micropoder, entre os próprios indivíduos dentro da socieda-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

O PROBLEMA DA VIOLÊNCIA

A Sociologia se debruça sobre como a violência afeta as rela- O Brasil ainda é um país onde a violência permeia o seu co-
ções humanas, tendo a preocupação em analisar os fenôme- tidiano. Segundo o Índice Global da Paz de 2019, dos 163
nos recorrentes na sociedade (não só tratando da violência países analisados, o Brasil ocupa o 116.º lugar entre os países
física, mas também da violência simbólica). A Sociologia pre- mais pacíficos.
cisa estudar esses dados que tendem a ser mascarados ou
abordados com excessiva sutileza.

196
Violência urbana a aceleração do crescimento de todas as modalidades
delituosas. Crescem mais rápido os crimes que envolvem
a prática de violência, como os homicídios, os roubos,
A constituição da sociedade brasileira, no olhar sociológico,
os sequestros, os estupros. Esse crescimento veio acom-
tem a violência como pano de fundo, demonstrada pelos panhado de mudanças substantivas nos padrões de cri-
“fatos sociais” que são reproduzidos pelas gerações. Se- minalidade individual bem como no perfil das pessoas
gundo os dados da Embrapa, de 2017, 84,3% da popula- envolvidas com a delinquência. [...] Recente estudo so-
ção brasileira vivem nas áreas urbanas. bre as tendências do homicídio, para o país em seu con-
junto, constatou que: o número de homicídios causados
A definição para violência urbana é o fenômeno social de por armas de fogo vem crescendo desde 1979; b) esse
comportamento agressivo e transgressor exercido por in- número cresce mais que a população. No Distrito Fede-
divíduos ou coletivamente nos limites do espaço urbano. ral, em 1980, a taxa de homicídios era de 13,7 por cem
mil habitantes; em 1991, isto é, onze anos após, saltou
Os fatores para a existência da violência urbana são:
para 36,3. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte,
§ Instituições frágeis: os órgãos fiscalizadores sociais, o crescimento dos homicídios foi da ordem de 31,21%
regidos por regras que sofrem alterações por aqueles no período de 1991-96, segundo dados do Ministério
que precisam segui-las, condicionam hábitos de des- da Saúde. A consequência mais grave desse processo
em cadeia é a descrença dos cidadãos nas instituições
credibilidade nessas próprias instituições. Conjunto
promotoras de justiça, em especial encarregadas de
com o rompimento facilmente das normas jurídicas, distribuir e aplicar sanções para os autores de crime e
seja por parte do Estado ou da própria sociedade civil. de violência. Cada vez mais descrentes na intervenção
§ Mal funcionamento dos mecanismos de contro- saneadora do poder público, os cidadãos buscam saídas.
le jurídico: as falhas no exercício da coerção legal, o Aqueles que dispõem de recursos apelam, cada vez mais,
que impede a realização das normas legais da socie- para o mercado de segurança privada, um segmento
dade. que vem crescendo há, pelo menos, duas décadas. Em
contrapartida, a grande maioria da população urbana
§ Invisibilidade social: quando uma parcela da po- depende de guardas privados não profissionalizados,
pulação se torna invisível socialmente, perdendo a sua apoia-se perversamente na “proteção” oferecida por
relevância na constituição social e alimentando uma traficantes locais ou procura resolver suas pendências
desesperança no indivíduo, que perde a certeza do seu e conflitos por conta própria. Tanto num como noutro
caso, seus resultados contribuem ainda mais para enfra-
potencial de transformação.
quecer a busca de soluções proporcionada pelas leis e
§ Desigualdade social: a violência não tem sua causa pelo funcionamento do sistema de justiça criminal.
na pobreza, mas na desigualdade social, evidenciando ADORNO, Sérgio.
uma segregação socioespacial maior em regiões com Crime e violência na sociedade brasileira contemporânea.
Jornal de Psicologia-PSI, n. abr/jun, pp. 7-8, 2002.
maior desigualdade econômica.

Violência doméstica
§ Tradição cultural violenta: a repetição cultural da
violência entre os indivíduos, seja pela forma verbal de
tratamento, seja pelo contato físico. Como consequên- Na sociedade brasileira, a violência doméstica ainda é um
cia de uma prática histórica, que trata uma parcela dos tema alarmante, estando presente em todas as classes so-
membros da sociedade com uma violência cotidiana, ciais, mas com uma frequência maior nas classes menos
naturalizada com o tempo.
favorecidas, sendo a maior parcela das vítimas crianças, mu-
lheres e idosos.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Com a formação social imersa num sistema arcaico de pa-


triarcado, o homem adulto pratica a maioria dos delitos, se-
gundo as estatísticas oficiais. O perfil desse agressor é carac-
terizado pelo autoritarismo, falta de empatia, irritabilidade,
grosserias e xingamentos constantes, geralmente acompa-
nhado do uso de drogas lícitas e ilícitas.
Charge que retrata a violência do Estado perante a população. Com o objetivo de promover a proteção integral da criança
Desde meados da década de 1970, vem-se exacer- e do adolescente, surge, em 1990, o Estatuto da Criança e
bando, no Brasil, o sentimento de medo e insegurança. do Adolescente (ECA). E, com o objetivo de combater a vio-
Não parece infundado esse sentimento. As estatísticas lência contra a mulher, foi aprovada a Lei Maria da Penha,
oficiais de criminalidade indicam, a partir dessa década, em 2006.

197
Violência psicológica Podemos definir o extermínio como a prática ou o pro-
pósito de eliminar fisicamente os indivíduos pertencen-
Podendo estar inserida também no âmbito da violência tes a determinado grupo social. Quando o grupo vítima
dessa prática está definido por um critério étnico, usa-se
doméstica, inclui-se a violência psicológica, onde se destrói
então o termo genocídio. [...] Na realidade brasileira, o
a moral e a autoestima do indivíduo, desencadeada por
extermínio se apresenta, por exemplo, como uma prática
ações repetitivas de injúrias e humilhações. contra criminosos, pessoas acusadas de cometerem cri-
mes ou, de forma mais ampla, grupos cujos integrantes
Violência sexual são considerados como criminosos potenciais. Assim, ao
invés de prender os suspeitos e colocá-los à disposição
A violência sexual configura-se mediante abuso, violação da justiça criminal, eles são sumariamente executados.
e assédio sexual, de modo que não existe consentimen- Este padrão encaixa dentro de uma tradição de controle
to do ato de violação, sendo uma agressão focalizada na social através da violência extrema, que encontra suas
sexualidade da pessoa. Segundo as estatísticas, a maioria raízes históricas no tratamento dos escravos no perío-
das vítimas desse tipo de violência são mulheres e crian- do colonial. Os alvos deste controle social violento são
ças, onde o agressor geralmente é conhecido pela vítima. tradicionalmente os integrantes dos grupos sociais mais
Apesar de esse crime estar previsto na lei, infelizmente as desfavorecidos, isto é, negros e pessoas de baixo status
situações de violência sexual continuam a aumentar nas socioeconômico. Por sua vez, indivíduos das classes mé-
últimas estatísticas na sociedade brasileira. dias e altas que cometem crimes apresentam uma chan-
ce muito maior de serem tratados conforme a lei, isto
é, de serem submetidos ao sistema de justiça criminal.
CANO, Ignacio; DUARTE , Thais. Práticas de extermínio:
o papel das milícias no Rio de Janeiro.
In: Violência e Dilemas Civilizatórios.
Campinas: Pontes Editores, 2011, pp.59-60

Campanha da prefeitura de São Leopoldo-RS denuncia


a violência contra a mulher em 2018.

A QUESTÃ0 DE GÊNERO

A sociedade vem modificando a sua abordagem em rela- meio da educação formal ou informal, dos valores de juízo,
ção à questão de gênero. A relação entre os indivíduos no construindo o que é ser homem ou o que é ser mulher na
agrupamento social é desenvolvida e naturalizada median- sociedade, como as relações entre ambos devem ser, quais
te as ações coletivas. são os seus papéis no meio social.
No pensamento sociológico, é amplamente aceita a distin- Simone de Beauvoir, na obra O segundo sexo (1949), faz
ção entre sexo e gênero. Sexo concerne ao conjunto de ca- uma profunda análise sobre o papel designado à mulher
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

racterísticas fisiológicas e anatômicas que definem o corpo dentro da sociedade e sobre a construção do que é ser
masculino e o corpo feminino, situando-se no âmbito na mulher, estabelecendo uma importante distinção entre os
biologia. Já o gênero refere-se às diferenças sociais, cul- conceitos de gênero e sexo que a leva a sua clássica con-
turais e psicológicas entre homens e mulheres, sendo so- clusão: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. Beau-
cialmente produzidas, situando-se no âmbito sociocultural. voir acrescenta: “Nenhum destino biológico, psíquico, eco-
Portanto, o gênero corresponde ao conjunto de caracte- nômico define a forma que a fêmea humana assume no
rísticas sociais, culturais, políticas, psicológicas, jurídicas e seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora
econômicas que a sociedade atribui ao que considera mas- esse produto intermediário entre o macho e o castrado,
culino ou feminino. que qualificam de feminino”.
Assim, o sujeito não nasce pronto ou determinado, esse Assim, a questão do gênero está fundada nos fatores so-
condicionamento social naturaliza as nossas relações, por ciais que legitimam determinadas visões de mundo, que

198
são responsáveis por criar comportamentos e hábitos das
mulheres e homens na sociedade, desenvolvendo condutas
de gêneros, determinando um padrão específico e classifi-
cando a subjetividade da pessoa. Essas condutas sofrem
modificações ao longo do tempo.

Em suas pesquisas, concluiu que o ideal Arapesh é o ho-


mem dócil e suscetível, enquanto para Mundugumor o ho-
mem e a mulher são mais violentos e agressivos, e para os
Tchambuli, o papel da mulher é o de controladora, enquan-
to o homem é totalmente dependente. Diante disso, a an-
tropóloga constatou que os papéis sexuais são construídos
Durante o período neolítico, as definições de masculino e fe- de acordo com as expectativas e as suas relações entre si.
minino começaram a surgir. Nas sociedades agrícolas, ocor-
O pensamento de Mead teve um papel crucial na progres-
reu uma divisão sexual voltada para a divisão do trabalho,
siva liberação sexual que ocorreria no Ocidente nas déca-
colocando a mulher na posição de cuidar, pela capacidade
das finais do século XX.
reprodutora da mulher, enquanto o homem desenvolvia tra-
balhos mais relacionados à força física, consolidando uma
sociedade patriarcal, ou seja, fundada na figura masculina. A identidade de gênero
Na Revolução Industrial, a dinâmica social se transforma; po- A identidade de gênero é a maneira como alguém se sen-
rém, a desigualdade entre homens e mulheres só aumenta, te e se apresenta para si e para as demais pessoas. Esse
com as mulheres ganhando salários inferiores aos homens. reconhecimento está presente nas nossas ações, no nosso
Apesar do surgimento de leis, no início do século XXI, que modo de falar e de vestir.
proíbem essa prática nas empresas, essa condição de desi- Podemos nos identificar conforme os diversos gêneros: fe-
gualdade de gênero continua presente na sociedade atual. minino, masculino, bigênero, não binário, pangênero, gen-
derfluid, transgênero, etc.
O papel da sociologia na questão do gênero é observar
como as sociedades se modificam; mas essa ciência não Os que se propõem a codificar os sentidos das pala-
pode ser omissa em relação ao desrespeito ao ser humano. vras lutam por uma causa perdida, porque as palavras,
como as ideias e as coisas que elas significam, têm uma
Considerando que, independentemente dos gêneros, todos história. Nem os professores da Oxford nem a acade-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

os integrantes da sociedade precisam ser reconhecidos e res- mia Francesa foram inteiramente capazes de contro-
peitados pelas regras jurídicas dessa sociedade. lar a maré, de captar e fixar os sentidos livres do jogo
da invenção e da imaginação humana. Mary Wortley

Margaret Mead (1901-1978)


Montagu acrescentava a ironia à sua denúncia do
“belo sexo” (“meu único consolo em pertencer a este
gênero é ter certeza de que nunca vou me casar com
A antropóloga cultural estadunidense Margaret Mead de- uma delas”) fazendo uso, deliberadamente errado, da
dicou seus estudos a essa temática do gênero. Em seu livro referência gramatical. Ao longo dos séculos, as pessoas
Sexo e temperamento em três sociedades primitivas, de utilizaram de forma figurada os termos gramaticais para
evocar traços de caráter ou traços sexuais. Por exemplo,
1935, Mead discute os papéis sexuais de homens e mulhe-
a utilização proposta pelo Dicionário da Língua Francesa
res naquelas sociedades. Em sua pesquisa, foram analisa- de 1876, era: “Não se sabe qual é o seu gênero, se é
das as três sociedades primitivas da Nova Guiné, que eram: macho ou fêmea, fala-se de um homem muito retraí-
Tchambuli, Mundugumor e Arapesh. do, cujos sentimentos são desconhecidos”. E Gladstone

199
fazia esta distinção em 1878: “Atena não tinha nada do distinções ou agrupamentos separados. No seu uso mais
sexo, a não ser gênero, nada de mulher a não ser for- recente, o “gênero” parece ter aparecido primeiro entre
ma”. Mais recentemente – recentemente demais para as feministas americanas que queriam insistir no caráter
que possa encontrar seu caminho nos dicionários ou na fundamentalmente social das distinções baseadas no
enciclopédia das ciências sociais – as feministas come- sexo. A palavra indicava uma rejeição ao determinismo
çaram a utilizar a palavra “gênero” mais seriamente, no biológico implícito no uso de termos como “sexo” ou
sentido mais literal, como uma maneira de referir-se à “diferença sexual”. O gênero sublinhava também o as-
organização social da relação entre os sexos. A relação pecto relacional das definições normativas das feminili-
com a gramática é ao mesmo tempo explícita e cheia dades. As que estavam mais preocupadas com o fato de
de possibilidades inexploradas. Explícita, porque o uso que a produção dos estudos femininos centrava-se sobre
gramatical implica em regras formais que decorrem da as mulheres de forma muito estreita e isolada, utilizaram
designação de masculino ou feminino; cheia de possibili- o termo “gênero” para introduzir uma noção relacional
dades inexploradas, porque em vários idiomas indoeuro- no nosso vocabulário analítico. Segundo esta opinião, as
peus existe uma terceira categoria – o sexo 3 indefinido mulheres e os homens eram definidos em termos recí-
ou neutro. Na gramática, gênero é compreendido como procos e nenhuma compreensão de qualquer um pode-
um meio de classificar fenômenos, um sistema de distin- ria existir através de estudo inteiramente separado.
ções socialmente acordado mais do que uma descrição SCOTT , Joan.
objetiva de traços inerentes. Além disso, as classificações Gênero: Uma categoria útil para análise histórica.
sugerem uma relação entre categorias que permite Artigo publicado em 1986.

MOVIMENTOS SOCIAIS
Os movimentos sociais definem-se como ações coletivas § Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST):
praticadas por grupos da sociedade com a finalidade de seguindo a mesma lógica jurídica do MST, o movimento
modificar ou conservar determinados aspectos cultu- urbano surge na década de 1990, com o intuito de rei-
rais, econômicos e políticos ou mesmo de transformar o vindicar o direito à moradia nos grandes centros urbanos.
conjunto da realidade sociopolítica. De maneira geral, os
movimentos sociais expressam alguma insatisfação so-
ciopolítica ou características pontuais de sua organização, A luta por reconhecimento
articulando segmentos da sociedade em pautas reivindica- Essa forma, que abrange os movimentos sociais, pretende
tórias que aspiram à realização de mudança ou de perma- corrigir ou eliminar injustiças culturais, como a humilhação, o
nência social, econômica, política e cultural, considerada desrespeito e a negação de direitos. Assim, esses movimentos
necessária e justa. buscam reivindicar direitos atrelados à ordem política e cultural
Os movimentos sociais emergem quando um grupo de do agrupamento social ao qual pertencem. Os exemplos dos
pessoas atua para transformar algum aspecto da socieda- movimentos sociais que se utilizam dessa forma de luta são:
de, com o objetivo de se adquirir reconhecimento e direi- § Movimento LGBTQI+: esse movimento (que repre-
tos do Estado. De modo que ocorre um embate político e
senta lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e
cultural. Dentro dos movimentos sociais existem formas de
transgêneros, queer, intersexuais e outros que englobam
luta, seja para distribuir direitos ou para reconhecê-los.
o movimento) luta contra a homofobia e a favor da livre
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

expressão sexual. Além de defender o reconhecimento na


A luta por redistribuição sociedade como cidadãos, com direitos respeitados.

Essa forma de organização dos movimentos sociais consis- Entretanto existem os movimentos sociais bivalentes, que
te em corrigir ou eliminar o que os membros do movimen- buscam ao mesmo tempo redistribuição e reconhecimento.
to consideram injustiças. Os exemplos dos movimentos § Movimento feminista: movimento com diversos seg-
sociais que se utilizam desse tipo de luta são: mentos, luta pela igualdade social, trabalhista e cultural
§ Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra do gênero feminino, cobrando do Estado políticas de
(MST): com influência da Liga Camponesa, a partir da igualdade entre os gêneros, seja na área trabalhista ou
década de 1970 o MST, fundamentando-se em artigos no âmbito da política. Além disso, dedica-se ao combate
da Constituição Federal, reivindica a redistribuição de à violência contra a mulher e defende a descriminalização
terras. do aborto.

200
§ Movimento negro: com o intuito de combater as § Cultural-acionalista: esse movimento luta por mudan-
ideias racistas, o movimento negro também abrange di- ças pontuais, fugindo do estereótipo de luta de classes, en-
versos segmentos, luta por igualdade política, social e tra- fatizando a identidade e a solidariedade entre as pessoas.
balhista para os negros, além do reconhecimento social Exemplo: Movimento Passe Livre.
da história da resistência negra.
§ Esquerda pós-moderna: esse movimento nega a he-
§ Movimento indígena: movimento que luta pelo re- rança marxista e a vitalidade dos partidos e sindicatos.
conhecimento dos povos indígenas, pelo direito de pre- Exemplo: Os movimentos de 2013 no Brasil e os movi-
servação cultural. Grande parte da luta indígena se dá mentos ativistas virtuais.
pela demarcação das tradicionais terras indígenas, assim
§ Segmentos marxistas e comunistas: esse movi-
como pela resistência às investidas de garimpeiros, fazen-
mento incorpora as lutas de classes e as formas de orga-
deiros e projetos governamentais de invasão das terras e
nização marxista na atualidade. Esse movimento consis-
reservas indígenas.
te em possibilitar apreender a essência dos fenômenos,
visando a uma práxis revolucionária.
Os novos movimentos sociais Exemplo: Ações virtuais, como as manifestações no
Chile em outubro de 2019.
A vida política não acontece apenas dentro do esquema
O exame das formulações sobre os “novos movimentos
ortodoxo dos partidos políticos, da votação e da represen-
sociais” permitiu-nos perceber que não existe uma única
tação em organismos legislativos e governamentais. O
definição do que sejam os movimentos sociais, contudo,
que geralmente ocorre é que alguns grupos percebem que
é possível notar que nas discussões, predominam as ex-
esse esquema impossibilita a concretização de seus obje-
plicações dos novos movimentos presentes na sociedade
tivos ou ideais, ou mesmo os bloqueia efetivamente. [...]
contemporânea que se limitam a mudanças relaciona-
Às vezes, a mudança política e social só pode ser realizada
das às questões culturais e pontuais. Ao se distanciar da
recorrendo-se a formas não ortodoxas de ação política.
análise envolvendo a relação contraditória entre capital e
GIDDENS, A. Sociologia. 4. ed. Tradução Sandra Regina Netz. trabalho, os “novos movimentos sociais” acabam reali-
Porto Alegre : Artmed, 2008. zando ações isoladas e focalizadas, fato este, que levará a
Esses “novos” movimentos sociais surgem como uma es- manutenção do status quo existente e consequentemente
do sistema capitalista. Neste sentido, faz-se necessário um
tratégia alternativa e complementar aos movimentos de
olhar atento em torno das abordagens relacionadas aos
classes tradicionais e aos partidos políticos. Porém, não “novos movimentos sociais”, pois, acreditamos que tais
existe uma única definição do que sejam esses “novos” abordagens podem mascarar a real contradição que en-
movimentos sociais, ainda sendo uma área estudada pelos volve a sociedade capitalista.
sociólogos da atualidade. CRAVEIRO , Adriéli Volpato; HAMDAN , Karina Omar.
Os novos movimentos sociais: uma análise crítica em
Existem três linhas de análise desses novos movimentos torno desta temática. Londrina, 2015, pp.7-8.
sociais:

IDENTIDADE

Na sociologia, a identidade é compreendida como o conjun- Máscaras sociais


U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

to de características próprias que dão uma particularidade


a um determinado agrupamento social, podendo atingir as Inserido num agrupamento social que tem elementos de
áreas culturais e morais dessa sociedade. identificação, codificando uma identidade cultural, o indiví-
duo mantém uma relação subjetiva consigo mesmo, poden-
Essas particularidades podem ser compartilhadas entre os- do entrar em conflito com a identidade do grupo.
grupos de uma sociedade por meio de uma infinidade de
A sociedade moderna se aperfeiçoou na criação de máscaras
símbolos e signos que possibilitam uma identificação com sociais, direcionando para que o indivíduo cumpra determi-
o outro, resultando em uma prática de alteridade, ou seja, nadas posturas e atitudes condicionadas pelo agrupamento
partindo da ideia de que todo ser humano social interage. social, de uma forma coercitiva.
Assim, esses elementos particulares caracterizam os grupos Segundo o sociólogo canadense Erving Goffman (1922-
sociais, dando-lhes uma autonomia em relação à própria so- 1982), a interação social condiciona quais atos e papéis es-
ciedade e criando condições para individualizar cada grupo. colhemos perante o outro.

201
Criamos condições rituais sociais para revelar aos poucos cimento na sociedade mediante uma luta social, ou seja,
parte da nossa imagem para o outro, como um complexo uma luta que precisa obrigatoriamente seguir as normas
teatro, que vai revelando aos poucos as cenas. legais da sociedade.
Honneth demonstra que a interação social, no âmbito do
reconhecimento do agrupamento social, depende da atu-
ação nas instituições jurídicas. Sua ideia central baseia-se
em rês diferentes dimensões de reconhecimento intersub-
jetivo, ue geram outras três dimensões particulares:
AMOR DIREITO SOLIDARIEDADE
autoconfiança autorrespeito autoestima

O seu livro rapidamente se converteu num referencial te-


órico imprescindível para as discussões que englobam a
compreensão da lógica e das dinâmicas implícitas nos
conflitos e movimentos sociais contemporâneos. Na obra,
Honneth desponta com uma originalidade própria dos que
têm compreendido que o ecleticismo disciplinar auxilia o
O receio do julgamento do outro diante de nossas expres-
conhecimento sociológico e a explicação dos fenômenos
sões de surpresa, raiva, alegria, ironia ou desgosto faz com
sociais.
que nossas ações sejam monitoradas por nossa consciência.
Assim, desrespeito moral, conflito social e reconhecimento
Só que esse monitoramento contém um propósito, um ob-
podem constituir-se na tríade conceitual do marco teórico
jetivo a ser cumprido: buscamos uma boa inserção social.
e analítico apresentado por Honneth. As contribuições de
Construímos de uma maneira subjetiva e psíquica um com-
Honneth resultam indispensáveis para todos aqueles que
portamento que não nos traga problemas ou embaraços so-
pretendam analisar e compreender relações sociais confli-
ciais, como evitar passar vergonha diante dos outros. Quan-
tuosas e a dinâmica de ação dos diferentes movimentos
do conseguimos atingir esse objetivo, mantemos o espírito
sociais e políticos atuais. Toda análise de um eventual pro-
de sobrevivência social, sem arranhões em nossa imagem
cesso de construção de uma identidade que diagnostica
criada dentro dessa sociedade.
uma relação desigual no tratamento dos seus traços parti-
culares (a negritude, o feminino, o indígena, o jovem, etc.)
Axel Honneth (1938) nas interações cotidianas deve considerar a importância
dos aportes teóricos de Honneth.
O sociólogo alemão da “terceira geração” da Escola de
No entanto, para torná-lo plausível, seria necessária uma
Frankfurt estuda sobre como os grupos sociais são reco- descrição totalmente diferente do processo social que
nhecidos na sociedade. teria lugar sob as condições artificiais de um estado de
natureza entre os homens:"O direito é a relação da pes-
soa em seu procedimento para com o outro, o elemento
universal de seu ser livre ou a determinação, limitação
de sua liberdade vazia. Essa relação ou limitação, eu não
tenho por minha parte de maquiná-la ou introduzi-la de
fora, o próprio objeto é esse produzir do direito em geral,
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

isto é, da relação que reconhece [...]".. Por conseguinte,


logo após a frase em que indicará o significado da "re-
lação que reconhece", segue a afirmação francamente
programática: "No reconhecer o si cessa de ser esse sin-
gular; ele está juridicamente no reconhecer, isto é, não
está mais em seu ser-aí imediato. O reconhecimento é
reconhecimento com válido imediatamente, por seu ser,
mas precisamente esse ser gerado a partir do conceito;
é ser reconhecido".
Em sua obra Luta por reconhecimento: a gramática mo- HONNETH, Axel.
Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais.
ral dos conflitos sociais, Honneth trata, seguindo uma es- São Paulo: Editora 34, 2009, pp.84-85.
trutura hegeliana, de como os agrupamentos sociais que
contêm elementos de identidade adquirem o seu reconhe-

202
U.T.I. - Sala provocou, é o genocídio de que foram vítimas os in-
dígenas americanos que mais chama a atenção. Desde
o descobrimento da América em 1492, foi posta em
1. Policiais forçam mulher a tirar burkini em praia da funcionamento uma máquina de destruição de índios.
França Essa máquina continua a funcionar, lá onde subsistem,
Uma foto divulgada nas redes sociais nesta semana in- na grande floresta amazônica, as últimas tribos ‘sel-
tensificou os debates na França acerca da proibição dos vagens’. Ao longo dos últimos anos, massacres de ín-
burkinis, traje de banho usado por algumas mulheres dios têm sido denunciados no Brasil, na Colômbia, no
muçulmanas. A imagem, feita por um fotógrafo francês, Paraguai. Sempre em vão.”
mostra uma muçulmana sendo abordada por policiais (CLASTRES, Pierre. 2011. Arqueologia da violência.
na beira da praia e, aparentemente, sendo obrigada a São Paulo: Cosac Naify.)
tirar parte de sua roupa. O território onde hoje se situa o Brasil era uma área
No último mês, o burkini foi proibido em pelo menos 15 densamente povoada antes da chegada dos portugue-
cidades litorâneas da França, como uma suposta pre- ses. Estudiosos costumam afirmar também que havia
venção a tumultos ligados ao radicalismo islâmico. (...) uma enorme diversidade de populações indígenas nes-
Outra muçulmana, de 34 anos, também relatou ter sido se território, mesmo que os dados quantitativos não
abordada de forma violenta pela polícia, quando estava sejam tão precisos assim. Segundo Clastres, no trecho
com seus dois filhos na praia de Cannes. “Eu estava us- acima, um intenso processo de “genocídio” provocou e
ando um véu clássico e não tinha intenção de nadar”, ainda provoca a morte de muitos dos povos ameríndios.
disse à agência de notícias AFP. “Não estava vestindo Indique possíveis causas para a persistência desse fenô-
um burkini, nem uma burca e não estava nua. Então, meno nos dias atuais.
considerei a minha roupa apropriada”, afirmou.
4. (UEMA) Cultura é uma das principais temáticas tra-
(...) balhadas pela sociologia. Refere-se, segundo Giddens
Veja, 25 ago. 2016. Disponível em: <http://veja.abril.
(2014, p. 38-39), “às formas de vida dos membros de
com.br/mundo/policiais-forcam-mulher-a-tirar-burkini-
em-praia-da-franca/>. Acesso em 30 ago. 2016. uma sociedade ou de grupos dentro da sociedade” regi-
Responda: das por normas e valores que “mudam frequentemente
através do tempo”. Um exemplo dessas mudanças é
a) Por que a polícia abordou a mulher muçulmana? que “(...) Muitas normas que consideramos hoje natu-
Isso é uma forma de violência? Explique a partir dos rais em nossas vidas pessoais – como casais vivendo
conceitos estudados nas aulas de sociologia. juntos sem serem casados – contradizem valores comu-
b) Pense e descreva uma possível solução para o pro- mente sustentados há poucas décadas”.
blema relatado na notícia acima. Fonte: GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: ARTMED, 2014.

2. (UFU) Durante o mês da consciência negra, uma es- Considerando as ideias apresentadas sobre cultura
cola de Ensino Fundamental na cidade de Uberlândia no texto,
decidiu promover uma campanha contra o preconceito a) dê um exemplo de mudança nos valores culturais
racial, adotando como alusão ao tema as frases: “Só da sociedade brasileira que tenha desencadeado uma
existe uma raça: a raça humana” e “Não precisamos mudança na legislação do país. Explique.
de um dia da consciência negra, branca, parda, amarela b) dê um exemplo de mudança na legislação brasilei-
etc. Precisamos de 365 dias de consciência humana”. ra que tenha provocado mudanças nos valores cultu-
a) Tendo em vista os ideais defendidos pelo movimen- rais da sociedade nacional.
to negro brasileiro, especialmente no que se refere à 5. (UFU) Por muito tempo, os antropólogos acreditaram
adoção de políticas públicas de ação afirmativa, expli- (com argumentos muito parecidos com aqueles utiliza-
que como a forma com que a escola abordou o tema dos pela teoria apocalítica da indústria cultural) que o
diverge desses ideais. mundo caminha para a homogeneização definitiva. Por
b) Como seria a campanha contra o preconceito isso a pressa de estudar as outras culturas antes que elas
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

racial na escola, caso se adotassem as bandeiras desapareçam, antes que tudo fique igual para sempre. O
defendidas pelo movimento negro brasileiro? estudo de fenômenos como o mundo funk carioca mos-
tra que novas diferenças podem ser criadas a qualquer
3. (UFJF-PISM) “Criado em 1946 no processo de Nurem- momento, mesmo dentro de uma realidade “controla-
berg, o conceito jurídico de genocídio é a consolidação da” pelas multinacionais do disco e da televisão.
no plano legal de um tipo de criminalidade até então
desconhecido. (...) Embora o genocídio antissemita dos VIANNA, Hermano. Funk e cultura popular carioca. Estudos
Históricos, Rio de Janeiro, vol. 3, n. 6, 1990, p. 244-253.
nazistas tenha sido o primeiro a ser julgado em nome
da lei, não foi o primeiro a ser perpetrado. A história a) De acordo com o texto, o movimento funk pode ser
da expansão colonial no século XIX, a história da con- considerado uma expressão cultural criada pelos jovens
stituição de impérios coloniais pelas grandes potências brasileiros? Cite duas razões que justifiquem a resposta.
europeias, está pontuada de massacres metódicos de b) A partir da concepção antropológica de cultura,
populações autóctones. Todavia, por sua extensão con- haveria uma forma de hierarquizar estilos musicais?
tinental, pela amplitude da queda demográfica que Explique.

203
6. (UFJF-PISM) O exercício do governo envolve sempre a contar com análises advindas do campo das ciências
relações de poder entre governantes e governados. A sociais, que também começavam a se constituir em
democracia, com o ideal do autogoverno, oferece uma terreno nacional. Um dos mais destacados autores do
base de legitimação para o exercício do poder político, período foi Sérgio Buarque de Holanda, que escreveu,
fundamentada em princípios de que todo o poder ema- em 1936, o clássico ensaio Raízes do Brasil, que aborda
na do povo e todos são iguais politicamente. Porém, em aspectos fundamentais acerca da colonização nacional
várias partes do mundo, há descontentamento popular e da formação de características da cultura política
com os governantes. Esse descontentamento, muitas
brasileira. Muito conhecida é sua formulação acerca do
vezes, assume a forma de protestos e manifestações.
homem cordial.
A imagem abaixo retrata um momento das manifesta-
ções ocorridas no Brasil no ano de 2013. Com base nessas considerações, disserte sobre como a
cordialidade do brasileiro, descrita por Sérgio Buarque
de Holanda, influi na relação entre o público e o privado
na sociedade brasileira.

8. (UEMA) O Estado democrático deve garantir direitos


iguais para seus cidadãos e suas cidadãs, independen-
temente de valores e crenças pessoais, a exemplo da
recente aprovação pelo Conselho Nacional de Justiça
(CNJ) da resolução que obriga todos os cartórios civis
do Brasil a oficializar o casamento civil entre pessoas
do mesmo sexo.
Fonte: Disponível em: <www.redebraislatual.com.br/
EXPLIQUE como esta imagem exibe, ao mesmo tempo, cidadania/2013/05/justica-obriga-cartorios-a-transformar-
as forças e as fraquezas da democracia em nosso país. uniao-homoafetiva-em-casamento>. Acesso em: 24 nov. 2014.

7. (UEL) O decênio de 1930 viu florescer um gênero Considerando o exemplo da decisão do CNJ favorável à
novo de textos sobre o Brasil. O país, que já havia sido extensão dos mesmos direitos dos casais heterossexuais
interpretado anteriormente em livros de gênero literá- aos casais homossexuais, explique a necessidade da laici-
rio (como em Os Sertões, de Euclides da Cunha), passou dade do Estado para a garantia da igualdade na diferença.

9. (UFPR) Dos 10 maiores resgates de trabalhadores em condições análogas à de escravos no Brasil em cada um dos
últimos quatro anos (2010 a 2013), em 90% dos flagrantes os trabalhadores vitimados eram terceirizados, conforme
dados obtidos a partir do total de ações do Departamento de Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae) do Ministério
do Trabalho e Emprego.
Repórter Brasil, 24 de junho de 2014.
Certamente você ouviu denúncias sobre essas modalidades de trabalho no Brasil. O texto parece sugerir uma forte
relação com o fenômeno da terceirização. Por que a terceirização tende a favorecer formas de trabalho precarizadas?

10. (Uel 2018) Analise o quadro a seguir.

Anos de Estudo das vítimas de homicídios de 20 a 29 anos de idade e


probabilidade (%) de vitimização por homicídio. Brasil, 2014.
População na Faixa Probabilidade
Anos de Vítimas de Homicídio de Anos de Estudo diferencial de
Estudo
Número % Taxa %000 Número % homicídio (%)
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

de 0 a 3 3.713 22,4 264,0 1.406.481 4,5 6.516


de 4 a 7 8.234 49,6 198,0 4.158.042 13,3 4.863
de 8 a 11 4.339 26,2 23,9 18.137.213 57,9 500
12 e mais 305 1,8 4,0 7.643.609 --
Total 16.591 100,0 52,9 31.345.345
Nota: O símbolo %000 representa “por 100.000” indivíduos da população de referência. (WAISELFISZ,
J. J. Educação: blindagem contra a violência homicida? Recife: FLACSO, 2016. p.7.)

Um princípio explicativo das desigualdades sociais é o fato de o suprimento total de recursos socialmente valorizados
ser acessado e distribuído de forma desigual, levando a sociedade a se organizar hierarquicamente.
Com base no quadro e nessa afirmação, explique a “probabilidade diferencial de homicídio”, encontrada na última
coluna, como um exemplo dos efeitos da desigualdade social.

204
U.T.I. - E.O. 4. (Ufu) “Embora se proponha objetivos concretos, o
feminismo atual representa menos um programa defi-
nido de reivindicações do que uma visão renovada do
1. A mobilidade social nas sociedades capitalistas é que poderia e talvez deveria ser uma sociedade na qual
maior do que nas divididas em castas ou estamentos, indivíduos de ambos os sexos pudessem conviver em
mas não é tão ampla quanto pode parecer. As barrei- condições de igualdade.”
ras para a ascensão social não estão escritas nem são
declaradas abertamente, mas estão dissimuladas nas (SINGER, Paul. “O feminino e o feminismo.” In: Paul Singer
e Vinicius Caldeira Brant (org.). O Povo em Movimento.
formas de convivência social.
São Paulo, Petrópolis: Vozes, 1983, p. 113/114)
TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o ensino médio.
São Paulo: Saraiva, 2010, p. 76
Tendo em vista o texto acima, cite duas reivindicações
Quais barreiras para a ascensão social existem no Brasil do feminismo atual, relacionando-as às mudanças nas
atualmente? Cite três e explique pelo menos uma delas. relações sociais na sociedade contemporânea.
2.
Texto 1 5. (UFPR) Considere os seguintes dados da Retrospecti-
va da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, referente
Pretos, pardos e brancos deveriam ser tratados como ao período de 2003 a 2013:
iguais uma vez que são iguais. Mas, historicamente, a
eles não foi dado o mesmo tratamento. Encarar, por-
A taxa de desocupação de 2013 (média de janeiro a de-
tanto, pessoas com níveis de direitos diferentes como
iguais é manter o nosso bizarro status quo. Não basta zembro) foi estimada em 5,4%. Esta taxa era de 12,4%
cotas em universidades. Temos que avançar para reser- em 2003. [...] A pesquisa apontou disparidade entre os
vas de vagas em cargos da administração pública, no rendimentos de homens e mulheres e, também, entre
sistema judiciário e em outras instâncias. Não eterna- brancos e pretos ou pardos. Em 2013, em média, as
mente, mas até conseguirmos corrigir o imenso fosso mulheres ganhavam em torno de 73,6% do rendimen-
que separa brancos e negros. to recebido pelos homens. A menor proporção foi a re-
Leonardo Sakamoto. Disponível em: <http://blogdosakamoto. gistrada em 2003, 70,8%. O rendimento dos trabalha-
blogosfera.uol.com.br/2012/06/29/o-censo-reafirma-no- dores de cor preta ou parda, entre 2003 e 2013, teve
brasil-e-mais-facil-ser-branco/>. Acesso em 16 nov. 2012.
um acréscimo de 51,4%, enquanto o rendimento dos
Texto 2 trabalhadores de cor branca cresceu 27,8%. A pesquisa
Apresentadas como maneira de reduzir as desigualda- registrou, também, que os trabalhadores de cor preta
des sociais, as cotas raciais não contribuem para isso, ou parda ganhavam, em média, em 2013, pouco mais
ocultam uma realidade trágica e desviam as atenções da metade (57,4%) do rendimento recebido pelos tra-
dos desafios imensos e das urgências, sociais e educa- balhadores de cor branca. [...] Destaca-se que, em 2003,
cionais, com os quais se defronta a nação. E, contudo, não chegava à metade (48,4).
mesmo no universo menor dos jovens que têm a opor- (BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Retrospectiva
tunidade de almejar o ensino superior de qualidade, as da Pesquisa Mensal de Emprego 2003 a 2013.
cotas raciais não promovem a igualdade, mas apenas Disponível em: <Http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/
acentuam desigualdades prévias ou produzem novas trabalhoerendimento/pme_nova/retrospectiva2003_2013.pdf>.

desigualdades. Acesso em: 20 ago. 2016. Texto adaptado).

Reinaldo Azevedo. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/blog/ Escreva um texto apontando as conclusões a que se
reinaldo/documentos/racismo-1-cento-e-treze-cidadaos-anti- pode chegar com a interpretação dos dados apresen-
racistas-contra-as-leis-raciais/>. Acesso em 16 nov. 2012.
tados.
A respeito da discussão sobre a instituição de cotas ra-
ciais nas universidades brasileiras, responda: 6. (UFPR)
Há algum ponto em comum entre o argumento do Texto
1 e o argumento do Texto 2? Justifique sua resposta.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

3. (UFU) O respeito à diversidade cultural tornou-se con-


senso entre os cientistas sociais a partir dos estudos re-
alizados em diferentes sociedades. Posteriormente tal
atitude foi incorporada como um princípio por órgãos
internacionais como a ONU (Organização das Nações
Unidas). Porém, os mesmos pesquisadores concluíram
também que o respeito à diferença cultural não é a for-
ma comum de os indivíduos atuarem no cotidiano. O
etnocentrismo e o racismo são atitudes recorrentes em
muitas sociedades.
a) Qual a diferença conceitual entre racismo e etno-
centrismo?
b) Por que os cientistas sociais e órgãos internacio-
nais entendem que tais práticas são inaceitáveis?

205
Desde que surgiu numa manifestação na cidade norte-
-americana de São Francisco, em 1978, a bandeira do
arco-íris, hoje mundialmente símbolo do movimento
LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais), nunca
foi patenteada. Seu criador, Gilbert Baker, recusou-se
Na primeira imagem, uma cena do filme Tempos Mo- a registrá-la e a se beneficiar financeiramente dela.
dernos, com Charles Chaplin, retrata o trabalho nas fá- “Foi um presente para o mundo”, confidenciou a um
bricas fordistas no século XX, considerado o século da amigo. Baker morreu durante o sono, na madrugada
produção em massa. Na segunda imagem, observa-se
de 31 de março de 2017. Ele criou o símbolo a pedi-
a produção de automóveis realizada por robôs. Estabe-
do de Harvey Milk, líder gay de São Francisco. Cinco
leça uma comparação entre o fordismo e a acumula-
meses depois, Milk, juntamente com o prefeito da ci-
ção flexível, ressaltando os problemas tecnológicos e
dade, George Moscone, viria a ser assassinado por um
econômicos que explicam as mudanças na maneira de
rival, o político Dan White. Em 2015, quando a Supre-
trabalhar e produzir no século XXI.
ma Corte americana legalizou o casamento gay nos
7. (UEL) Leia o fragmento a seguir, de Sobrados e Mu- Estados Unidos, 26 milhões de usuários do Facebook
cambos, de 1936, do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre. criaram uma foto para o perfil que incluía as cores da
bandeira. O presidente Barack Obama ordenou que as
Os engenhos, lugares santos donde outrora ninguém se
cores do movimento LGBT iluminassem a Casa Branca
aproximava senão na ponta dos pés e para pedir algu-
naquela noite histórica.
ma coisa – pedir asilo, pedir voto, pedir moça em casa-
Adaptado de: baixomanhattan.blogfolha.uol.com.br.
mento, pedir esmola para a festa da igreja, pedir comi-
da – deram para ser invadidos por agentes de cobrança, Nos últimos anos, o movimento LGBT tem ganhado
representantes de uma instituição arrogante da cidade espaço na luta por direitos no mundo Ocidental, como
– o Banco – quase tão desprestigiadora da majestade indica a medida aprovada nos E.U.A., em 2015, e asse-
das casas-grandes quanto a polícia. Houve senhores gurada anteriormente no Brasil, em 2013.
que esmagados pelas hipotecas e pelas dívidas encon-
Aponte um significado político da bandeira no contexto
traram amparo no filho ou no genro, deputado, minis-
em que ela foi criada. Cite, ainda, outro direito legal-
tro, funcionário público. O Estado foi afinal o “grande
mente reconhecido à população LGBT no Brasil.
asilo das fortunas desbaratadas da escravidão”.
Adaptado de: FREYRE, G. Sobrados e Mucambos:
decadência do patriarcado rural e desenvolvimento urbano. 9. O Brasil, por sua vez, é um país fortemente estrati-
14.ed. São Paulo: Global, 2003. p.121-123. ficado: a desigualdade sempre foi a marca da nossa
Com base no texto e nos conhecimentos sociológicos sociedade. Somos um misto de sociedade de “castas”
sobre o Brasil, cite, no mínimo, três características da com meritocracia. O indivíduo pode, por esforço e ta-
descrição de Freyre a respeito do processo de moderni- lento próprios, mudar de casta sem reencarnar – mas a
zação que se instalou no País. posição relativa das “castas” há de ser mantida.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Durante o governo Lula essa estrutura começou a se


8. (UERJ 2018)
alterar e, aparentemente, gerou grande mal-estar:
os ricos estavam se tornando mais ricos e os pobres,
menos pobres. Por seu turno, as camadas médias tra-
dicionais olhavam para a frente e viam os ricos se
distanciarem; olhavam para trás e viam os pobres se
aproximarem. Sua posição relativa se alterou desfavo-
ravelmente. Se os rendimentos dessas camadas mé-
dias não perderam poder de compra medido em bens
materiais, perderam-no quando medido em serviços.
HADDAD, Fernando. Vivi na pele o que aprendi nos livros. Um
encontro com o patrimonialismo brasileiro. Piauí. Edição129. Jun
2017. Disponível em: <http://piaui.folha.uol.com.br/materia/vivi-
na-pele-o-que-aprendi-nos-livros/> Acesso em 07 jun. 2017.

206
A partir do trecho acima, responda:
a) O que diferencia a estratificação por classe social
da estratificação por castas?
b) Por que o autor considera que o modelo de castas
explica melhor a sociedade brasileira que o modelo
de classes sociais?

10. (UFU) Os debates em torno do chamado “infanticí-


dio indígena” – o assassinato de crianças portadoras de
deficiência física ou mental, ou de crianças gêmeas, pra-
ticado por determinadas comunidades indígenas – têm
gerado polêmica entre aqueles interessados na questão
indígena no Brasil. Atualmente, tramita no Senado Fe-
deral um projeto de lei que visa combater esta prática,
tida como uma “tradição cultural cruel”, sob a alegação
de que se deve garantir o direito à vida das crianças in-
dígenas. Defensores dos direitos indígenas alegam que
o projeto desrespeita a autonomia dos povos indígenas
no Brasil, e seus modos de vida, além de criminalizá-los.
a) A partir da leitura do trecho, aponte três exemplos
de concepções etnocêntricas em relação aos povos
indígenas.
b) Defina e exemplifique o conceito de relativismo
cultural.

U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

207
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

208
GEOGRAFIA

2
CIÊNCIAS
GEOGRAFIA 1
HUMANAS
e suas tecnologias

U.T.I.
DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS II

Formações Arbustivas Biomas


1. Domínio das depressões interplanálticas do semi-árido Formações florestais: vegetação com árvores de grande porte.
do nordeste. § Floresta Amazônica.
§ clima quente e seco; § Mata Atlântica.
§ relevo com predomínio de depressões; § Floresta de araucárias.
§ vegetação xerófila e caducifólia;
Formações arbustivas e herbáceas: constituída por
§ solos ricos em sais minerais e pobre em húmus; arbustos dispersos e isolados por vegetação rasteira.
§ ocorrência de brejos em regiões mais úmidas; § Cerrado.
§ produção de frutas; § Caatinga.
§ rios intermitentes em sua maioria. § Campos.
2. Domínio dos chapadões recobertos por cerrados e pene- Formações complexas: ocorrem em áreas de tran- sição
trados por mata de galeria.
entre formações e apresentam características de duas ou
§ clima tropical (chuvas no verão e estiagem no inverno); mais dessas formações.
§ relevo planáltico com chapadas; § Mata dos cocais.
§ solos com baixa fertilidade (alta concentração de alumínio); § Pantanal.
§ 45% devastado em função da expansão agropecuária; § Mangue.
§ nascentes de rios importantes como o São Francisco.

Problemas Urbanos
Formação Herbácea
§ Efeito estufa
Domínio das Pradarias mistas do Rio Grande do Sul.
Efeito estufa Efeito estufa é um fenômeno natural de
§ clima frio e úmido;
aquecimento térmico da Terra. É imprescindível para
§ terras baixas com colinas (cochilias) manter a temperatura do Planeta em condições ideais de
§ vegetação de gramíneas; sobrevivência. Ao atingirem a Terra, os raios provenientes
§ imensa pastagem (favoreceu a pecuária de corte); do Sol têm dois destinos. Parte deles é absorvida e trans-
§ rizicultura. formada em calor, mantendo o Planeta quente, enquanto
outra parte é refletida e direcionada para o espaço, como
Formações complexas.
radiação infravermelha. Cerca de 35% da radiação é re-
§ Pantanal. fletida de volta para o espaço, enquanto os outros 65%
§ Mata dos Cocais. ficam retidos na superfície do Planeta, em razão da ação
§ Manguezais. refletora de uma camada de gases terrestres, os gases es-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Brasil: domínios morfoclimáticos tufa. Eles agem como isolantes, por absorver uma parte
da energia irradiada, e são capazes de reter o calor do Sol
na atmosfera, formando uma espécie de cobertor em tor-
no do Planeta e impedindo que ele escape de volta para
o espaço. Nas últimas décadas, contudo, a concentração
natural desses gases isolantes vem aumentando dema-
siadamente pela ação do homem, em razão da queima
de combustíveis fósseis, do desmatamento e da ação das
Amazônic
OCEAN
indústrias, o que faz aumentar também a poluição do ar.
Os principais gases que provocam esse fenômeno
o Cerrado
O
ATLÂNTI
Mares de
CO
Morros Caatinga
Araucárias
são: dióxido de carbono (CO2 ); óxido nitroso (N2O);
Pradarias
0 280 km metano (CH4 ).

210
§ Inversão térmica rios são alterados em razão de aplicações múltiplas,
Trata-se de um fenômeno atmosférico muito comum como a geração de energia, navegação, contaminação
nos grandes centros urbanos industrializados, sobretu- por resíduos sólidos e esgoto.
do naqueles localizados em áreas cercadas por serras
§ Problemas no espaço agrário
ou montanhas. Esse processo ocorre quando o ar frio
Entre os problemas no campo, podemos citar os agro-
(mais denso) é impedido de circular por uma camada de
tóxicos, a contaminação do solo, a perda de nutrientes
ar quente (menos denso), provocando uma alteração
do solo e a desertificação produzida pelo manejo ina-
na temperatura. Outro agravante da inversão térmica é
dequado do solo.
a retenção da camada de ar fria nas regiões próximas à
superfície terrestre, com uma grande concentração de
poluentes. A dispersão desses poluentes fica extrema-
mente prejudicada, formando uma camada acinzenta-
Protocolos Internacionais
da, oriunda dos gases emitidos pelas indústrias, pelos Para o Meio Ambiente
automóveis e outros emissores. Esse fenômeno intensi-
fica-se durante o inverno, época em que, em virtude da Fatos que fortaleceram a educação e a difusão da consci-
perda de calor, o ar próximo à superfície fica mais frio ência ambiental:
que o da camada superior, influenciando diretamente § 1972: Conferência de Estocolmo;
na sua movimentação.
§ 1973: no Brasil, a criação da Secretaria Especial do
§ Chuva ácida Meio Ambiente – SEMA;
São chuvas com poluentes ácidos ou corrosivos produ-
§ 1975: a Unesco cria o Programa Internacional de Edu-
zidos por reações químicas na atmosfera, em função da
cação Ambiental – PIEA;
mistura de diversos tipos de gases com a água existen-
te no ar, originando chuvas com pH mais ácido. § 1977: Conferência Intergovernamental em Educação
Ambiental, na Geórgia;
§ Ilha de calor
Outra alteração ambiental que a industrialização acar- § 1983: no Brasil, foi promulgado o decreto que regulamen-
reta nos centros urbanos é a formação de um microcli- ta a implantação de políticas de meio ambiente e da cria-
ma específico nessa área, denominado clima urbano. ção de estações ecológicas e áreas de proteção ambiental;
A elevação das médias térmicas dos centros urbanos § 1987: Congresso Internacional sobre Educação Ambien-
ocorre por diversos fatores, tais como o efeito estufa tal, em Moscou, que define a inclusão da educação am-
provocado pelo aumento do gás carbônico na atmos- biental nos currículos escolares dos países participantes;
fera, o asfaltamento de ruas e avenidas, as massas de
§ 1992: Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
concreto e a ausência de vegetação.
Ambiente e Desenvolvimento, ECO-92, Brasil;
§ Carência de áreas verdes § 1994: I Congresso Ibero-Americano de Educação Am-
Um dos problemas ambientais das grandes e das mé- biental, em Guadalajara;
dias cidades brasileiras é a carência de áreas verdes, de
reservas florestais, parques e praças com muitas árvo- § 1997: Conferência Internacional sobre Meio Ambiente
res. Essa carência agrava ainda mais a poluição do ar e Sociedade, que resultou na Declaração Thessaloniki;
e torna mais restritas as opções de lazer da população, § 2002: Encontro da Terra, Rio+10, em Johanesburgo;
pois tais áreas são, em geral, locais de recreação, de
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

§ 2012: Conferência das Nações Unidas sobre Desen-


esportes, de passeios ou de descanso.
volvimento Sustentável, Rio+20.
§ Problemas no abastecimento de água e polui- § 2015: Acordos de Paris
ção dos rios.
Os rios possuem grande capacidade de depuração das Protocolo de Montreal
águas – capacidade de tornar pura uma água poluída
– através da oxigenação que ocorre em quedas d’água § Sobre substâncias que destroem a camada de ozônio.
e com o recebimento de águas de melhor qualidade de
seus afluentes e subafluentes. Mesmo com essa dispo- Agenda 21
sição à depuração, as águas superficiais são as mais § Gestão de recursos naturais;
atingidas pelos poluentes produzidos pelas atividades
§ Desenvolvimento de uma agricultura sustentável;
urbanas e industriais. Desde as áreas de nascentes, os

211
§ Incentivo à concepção de cidades sustentáveis; Protocolo de Kyoto
§ Construção de infraestruturas com vistas à integração
Os países industrializados reduziriam suas emissões com-
regional;
binadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% em
§ Redução das desigualdades sociais; relação aos níveis de 1990 entre os anos de 2008 e 2012.
§ Potencialização da ciência e da tecnologia voltadas
para a sustentabilidade.

REGIONALIZAÇÃO DO ESPAÇO BRASILEIRO

Meio natural São exemplos de critérios que podem ser utilizados na di-
visão regional:
O meio natural corresponde ao período em que o emprego
das técnicas esteve diretamente vinculado à dependência § Continente
sobre a natureza, da qual o homem fazia uso sem propiciar § Ricos e pobres
grandiosas transformações. Assim, as ações de interferência
§ Desenvolvidos e subdesenvolvidos
sobre o meio eram, sobretudo, locais, e a participação das ati-
vidades antrópicas, bem como as suas transformações, era li- § Culturas
mitada pela harmonização e preservação da própria natureza. § Economia
§ Aspecto histórico
Meio técnico
§ Recursos hídricos
O meio técnico representa a emergência do espaço mecanizado,
com a introdução de objetos e sistemas que provocaram a in- § Regiões metropolitanas
serção das tecnologias no meio produtivo. Podemos citar como
exemplo mais determinante a Primeira Revolução Industrial,
mesmo que antes disso já houvesse algumas técnicas em que Macrorregião
a atuação mecânica existisse e agisse sobre o meio geográfico.
A divisão por macrorregião foi organizada pelo IBGE (Insti-
tuto Brasileiro de Geografia e Estatística) e é adotada como
Meio técnico-científico-informacional oficial do Brasil.
O meio técnico-científico-informacional representa, então,
1990
a atual etapa na qual se encontra o sistema capitalista de RR AP

produção e transformação do espaço geográfico, estando


relacionado, sobretudo, à Terceira Revolução Industrial, que, AM
NORTE PA MA
CE
NORDESTE RNPB
não por acaso, passou a ser reconhecida como Revolução
PE
Científica Informacional, cujo impacto se manifestou de for- AC
TO
PI AL
RO SE
ma mais intensa a partir dos anos 1970. Nesse momento MT
BA
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

ocorreu uma união entre técnica e ciência, guiadas pelo CENTRO-OESTE DF


funcionamento do mercado, que, graças aos avanços tecno- GO MG
lógicos, expande-se e consolida o processo de Globalização. MS SUDESTE
ES

RJ

SP

Regionalizações do brasil
PR

SUL
RS SC

Os critérios e os desafios para regionalizar


Cada tipo de regionalização é feito a partir de um único ou
mais critérios. Pode-se dividir uma área em regiões naturais
a partir do clima, do relevo ou da vegetação ou até por
aspectos econômicos e ou históricos.

212
Regiões geoeconômicas Meio técnico-científico-informacional
Outra divisão regional foi elaborada pelo geógrafo Pedro (os 4 "Brasis")
Pinchas Geiger, no ano de 1967, e é nomeada regiões O critério estabelecido foi o meio técnico-científico-infor-
geoeconômicas ou complexos regionais. macional, que trata da diferença do grau de modernização,
informação e das finanças no território brasileiro. Essa divi-
são foi criada em 1999 pelo geógrafo Milton Santos.

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio


de Janeiro: IBGE, 2013, 6 ed.

SISTEMAS AGRÁRIOS

Agrossistemas portação. As plantations são herança do período colonial


de vários países das Américas, África e Ásia, quando eram
Agrossistemas ou sistemas agrários são tipos ou modos responsáveis pela produção de produtos tropicais muito
de produção agropecuária em que se observa diversos ti- apreciados na Europa. Nas plantations, a mão de obra era
pos de cultivo ou criação que são praticados, quais são as escrava e explorava negros trazidos da África.
técnicas utilizadas e como é a relação da agricultura ou
pecuária com o espaço geográfico. Os sistemas agrícolas e
a produção pecuária podem ser classificados como inten- Agricultura de jardinagem
sivos ou extensivos.
Também conhecida como rizicultura inundada (plantio de ar-
Os sistemas agrários se diferenciam a partir do tamanho roz), é uma agricultura tradicional em vários países da Ásia.
da área cultivada e do índice de produtividade alcançada As áreas cultivadas são minifúndios e o trabalho é manual e
bastante minucioso (por isso, o nome jardinagem); a produ-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Agricultura itinerante ou coivara ção é comercializada com a população.

É um método agrícola tradicional que consiste em derrubar tre-


chos das florestas e, depois, atear fogo aos resíduos do corte,
processo que vulgarmente é chamado de “queimada”. A plan-
Revolução Verde
tação, portanto, inclui o corte, a derrubada e a queima da flo- Esse processo de desenvolvimento tecnológico voltado
resta nativa, em que o fogo desempenha papel fundamental. para a agricultura trouxe pontos positivos e negativos. Se
de um lado a produção de alimentos aumentou, por outro
Plantations lado, o uso de produtos químicos tóxicos trouxe o aumento
de doenças e até a morte. Vamos conferir um pouco mais
São grandes propriedades rurais monocultoras, ou seja, sobre os benefícios e os malefícios da Revolução Verde.
cultivam uma única cultura com produção destinada à ex-

213
Pontos positivos: Pontos negativos:
§ aumento na produção mundial de alimentos; § desmatamento;
§ desenvolvimento tecnológico; § erosão e esgotamento do solo;
§ avanços nas pesquisas; § alteração do ecossistema para o plantio de monocultura;
§ barateamento dos alimentos básicos. § utilização de agrotóxicos prejudiciais à saúde humana;
§ priorização dos latifúndios em detrimento da agricul-
tura familiar;
§ êxodo rural.

AGROPECUÁRIA BRASILEIRA

§ A agricultura no Brasil é historicamente uma das


principais bases econômicas do país; Cultivo orgânico
§ Inicialmente produtora de cana-de-açúcar, depois café, § Visa a produção de alimentos sem uso de fertilizantes
apresenta-se como uma das maiores exportadoras do e agrotóxicos;
mundo em diversas espécies. § Os orgânicos estão presentes nas pequenas e médias
propriedades e a maioria dos produtores estão organi-
Questões agrárias zados em associações e coperativas;
§ Desde sua origem, o Brasil possui uma grande concen- § O estado com maior número de produtores é a Bahia,
tração de terras; seguida por Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do
Sul, Paraná e Espírito Santo.
§ Sesmarias;
§ Capitanias hereditárias
A evolução do agronegócio brasileiro
§ Lei de Terras de 1850;
§ Os conflitos rurais atingiram seu ápice em 1996 com o § O Brasil é o terceiro maior exportador agrícola do mundo;
Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará. § Melhoria nos insumos;
§ Políticas públicas de incentivo a exportação;
Infraestrutura agrícola § Diminuição da carga tributária;
§ Taxa de câmbio real que permitiu estabilidade de preços;
§ Dentre os principais itens de infraestrutura nas ativida-
des agrícolas estão o transporte, os estoques regula- § Aumento da demanda em países asiáticos;
dores, armazenagem, política de preço mínimo, defesa § Triplicaram o número de empresas por região;
fitossanitária, entre outros. § Fez crescer a concentração de terras.

Agricultura familiar no brasil Pecuária


U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

§ É responsável direta pela produção da maior parte


dos produtos agrícolas brasileiros; § A carne, ovos, leite e mel são os principais produtos ali-
mentares oriundos da atividade pecuária;
§ Na década de 1990, a agricultura familiar cresceu cerca
de 75% contra 40% da agricultura patronal, em virtu- § Couro, lã e seda são exemplos de fibras usadas na in-
dústria de vestimentas e calçados;
de do Pronaf, que abriu uma linha especial de crédito
para o financiamento do setor. § As subdivisões da pecuária são: suinocultura (porcos),
ovinocultura (ovelhas), bovinocultura (bois) e caprino-
§ O País ocupa a terceira posição mundial no uso de se-
cultura (cabras).
mentes transgênicas;
§ O Brasil tem hoje um rebanho de aproximadamente
§ As principais culturas que usam dessa biotecnologia
193 milhões de cabeças criadas em 220 milhões de
são a soja, o algodão e o milho.
hectares;

214
§ A produção pecuária de bovinos é partilhada, principal- § Arrendatário: é o agricultor que não possui terra,
mente pelo Centro-Oeste, Sudeste e Sul, cabendo ao mas tem recursos financeiros para arrendar ou alugar a
Nordeste o predomínio sobre as criações de caprinos propriedade por um período determinado;
e muares. § Trabalhador assalariado ou temporário: são tra-
balhadores rurais que recebem salário, mas que traba-
Estrutura fundiária brasileira lham apenas uma parte do ano, durante as colheitas;
§ Grileiro: quem falsifica documentos para, ilegalmente,
§ Corresponde ao modo como as propriedades rurais
tomar posse da terra;
estão dispersas em um determinado território e seus
§ Trabalhador escravo: é o trabalhador sem garantias
respectivos tamanhos, facilitando a compreensão das
de direitos trabalhistas, que não recebe salário, ou que se
desigualdades que acontecem no campo.
endivida com o proprietário e fica impedido de ir embora.

O trabalho e a terra no brasil As ligas camponesas


§ Módulo rural: É o imóvel rural que é direta e pesso- § Movimento de luta pela reforma agrária iniciado na
almente explorada pelo agricultor e sua família, e que década de 1950;
absorva toda força de trabalho dessa família, garantin-
§ “Reforma agrária na lei ou na marra”;
do-lhes a subsistência e o progresso social e econômi-
co. A área mínima fixada vai depender da região, do § "As reivindicações das ligas camponesas foram fortale-
tipo de exploração e do número de pessoas da família. cidas durante o governo do presidente João Goulart;"
É portanto, a dimensão mínima, ou seja, é indivisível. § Sofreram forte repressão da polícia durante a ditadura
militar.
§ Latifúndio:

Movimentos sociais no campo


Pode ser:
a) latifúndio por exploração: imóvel rural cujas di-
mensões equivalem a 600 módulos rurais e que seja § Principais bandeiras: reforma agrária, melhoria nas con-
inexplorado em relação as suas possibilidades fiscais, dições de trabalho no campo e combate ao processo de
econômicas e sociais do meio, com fins especulativos; substituição do homem pela máquina no meio agrário;
b) latifúndio por dimensão: imóvel que, explorado ra-
§ As principais frentes são: as ligas camponesas e o MST
cionalmente ou não, possua dimensões superior a 600
(Movimento do Trabalhadores Rurais Sem Terra);
módulos rurais da região em que se situa.
§ O MST atua através de ocupação de grandes latifún-
§ Minifúndio: Uma propriedade de terra cujas dimen-
dios e terras improdutivas, constituindo assentamentos.
sões não perfazem o mínimo para configurar um mó-
Além de criar pressão para que o Estado ofereça con-
dulo rural. As dimensões são mínimas por vários fato-
dições de infraestrutura, o movimento também oferece
res, mas principalmente por causa da situação regional
apoio às famílias, criando escolas e cursos de formação
onde os espaços são reduzidos. Está atrelado principal-
política e de técnicas de cultivo e agricultura familiar,
mente a economia de subsistência. As atividades eco-
estimulando, assim, a organização de pequenos produ-
nômica nos minifúndios (agricultura familiar) respon-
dem por 70% do PIB agrícola do Brasil, dedicando-se tores rurais em cooperativas.
principalmente a policultura para o mercado interno.
§ Expropriação: é a venda obrigatória da terra por Fronteira agrícola no brasil
um pequeno proprietário rural endividado para pagar
§ Designa o avanço da produção agropecuária sobre o
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

suas dívidas, geralmente adquiridas por grandes fa-


zendeiros próximos; meio natural;
§ Êxodo rural: é o deslocamento de trabalhadores ru- § Inicialmente, localizava-se na região do Cerrado, mas
rais com destino aos centros urbanos em razão da falta atualmente encontra-se na região Norte, adentrando a
de trabalho no campo ou das condições precárias de floresta Amazônica;
sobrevivência; § Tem como primeiro processo a frente de expansão, rea-
§ Posseiros: são trabalhadores rurais que ocupam e/ou lizada por pequenos produtores sobre terras devolutas;
cultivam terras devolutas ou não exploradas; § Frente pioneira, representada pelo avanço dos grandes
§ Parceria: é a junção entre dois trabalhadores ou pro- produtores rurais representantes do agronegócio, ge-
dutores rurais, onde um possui a propriedade da terra e ralmente através da grilagem de terras;
o outro apenas a força de trabalho, que cultiva a terra § Imediata devastação da vegetação;
e divide uma parte da produção; § Aumento dos latifúndios.

215
TIPOS DE INDÚSTRIA

Indústria de base ou de § Semiduráveis

bens de produção
§ Siderurgia, metalurgia, química e petroquímica

§ Não duráveis

Indústria de bens de consumo


§ Duráveis

Tipos de industrialização
§ Industrialização clássica.
§ Industrialização planificada.
§ Industrialização tardia ou periférica.
§ Industrialização por plataforma de exportação.

Formas de organização produtiva no capitalismo


Taylorismo Fordismo Toyotismo
Produção Em massa, de bens homogêneos. Em massa, de bens homogêneos. Pequenos lotes, produção diversificada.
Baseado no ritmo das Baseada na demanda e
Ritmo de trabalho Baseado no rendimento individual.
máquinas e da esteira. trabalho em grupo.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Economia De escala. De escala. De escopo.


Estoque Manutenção de grandes estoques. Manutenção de grandes estoques. Não fazem estoque.
Objetivo de produção Voltada para recursos. Voltada para recursos. Voltada para a demanda.
Os testes de qualidade são feitos Os testes de qualidade são feitos
Controle de qualidade O controle é integrado no processo.
no final da linha de montagem. no final da linha de montagem.
O trabalhador realiza
Tarefas O trabalhador realiza uma única tarefa. O trabalhador realiza múltiplas tarefas.
uma única tarefa.
Autonomia de trabalho Alta subordinação aos gerentes. Subordinação levemente atenuada. Exercida de forma estrutural.
Espaço de trabalho Divisão espacial. Divisão espacial. Integração espacial.
Ideias Estado de bem-estar social. Estado de bem-estar social. Estado Neoliberal.
Demandas Coletivas Coletivas Individuais.
Poder Estado e sindicatos detém o poder. Estado e sindicatos detém o poder. Poder financeiro e individual.

216
Concentrações financeiras Conglomerado

Monopólio Cartel

Oligopólio
Truste

INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL

O processo de preparação do Brasil para o capitalismo, pas- houve uma aliança entre cafeicultores do oeste paulista
sou por 4 etapas: com capital inglês, principalmente em infraestrutura, com
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

§ 1ª fase: ocorreu entre os anos de 1500 e 1808, quando a construção de estradas de ferro e a modernização dos
o Brasil ainda era colônia e, portanto, a metrópole não portos;
tinha uma política que comportasse a implantação de § 3ª fase: período entre os anos de 1930 e 1955. Com o
manufaturas, onde a produção ainda possui um caráter acúmulo de capital da economia cafeeira, houve investi-
artesanal; mentos na ampliação e construção de vias de circulação
de mercadorias e matéria-prima. Início da criação das
§ 2ª fase: entre os anos de 1808, com a chegada da famí-
indústria de base CNS cia vale petrobrás;
lia real portuguesa no Brasil, até a década de 1930. Um
fator importante foi a expansão da economia cafeeira § 4ª fase: teve início por volta de 1955, no governo de
para o oeste paulista, quando os ricos fazendeiros co- Juscelino Kubitschek, que implantou uma política econô-
meçam a diversificar seus empreendimentos, investindo mica que permitiu a entrada de recursos em forma de
numa insipiente industrialização e no setor financeiro, empréstimos e também em investimentos com a instala-
promovendo uma dinamização da economia. Além disso, ção de empresas multinacionais.

217
Desconcentração industrial Fatores locacionais das indústrias
§ Transporte.
§ A partir da década de 1970, o poder público iniciou
§ Energia.
uma série de planos com o objetivo de criar uma maior
democratização espaço industrial no País. § Mercado consumidor.
§ Incentivos fiscais oferecidos por governos estaduais; § Matérias-primas.
§ Guerra fiscal dos lugares. § Mão de obra.
§ Migração de empresas para regiões interioranas e ci- § Incentivos fiscais.
dades médias. § Ciclo do produto.
§ Deseconomia de escala. § Disponibilidade de capital.

TRANSPORTES I

Rodovias § Produtos leves.


§ Com urgência de entrega.
§ A consolidação do transporte rodoviário ocorreu com o § Com alto valor agregado.
desenvolvimento da indústria automobilística.
§ Envolve altos custos (se comparado ao transporte hi-
Transporte dutoviário
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

droviário e ferroviário) no frete, decorrente do preço do


combustível e da manutenção periódica dos veículos e
Sistema de transporte por dutos (canos)
das vias terrestres.

Transporte aéreo
É o que mais contribui para a diminuição do espaço tempo
É utilizado preferencialmente para:
§ Transporte de pessoas.
§ Produtos perecíveis.
§ Produtos delicados. Duto subterrâneo

218
Críticas ao transporte
público no brasil
§ Passagens caras;
§ Baixa qualidade dos serviços prestados;
§ Insuficiência na rede (estações e terminais);
§ Más condições de manutenção e conservação.
Duto terrestre

Duto terrestre (suspenso)

Dutos submarinos

Vantagens
§ Baixo custo operacional.
§ Menor índice de perda ou roubo.
§ Mais rápido.
§ Fluxo contínuo.
§ Não precisa de embalagens.
§ Menor impacto ambiental.
Desvantagens
§ Número limitado de serviços.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

§ Baixa flexibilidade de rotas.


§ Necessidade de grandes investimentos
Principais dutovias no Brasil
§ Oleoduto: entre Paulinia (SP) e Brasília.
§ Mineroduto: entre Mariana (MG) e Ponta do Umbu
(ES).
§ Gasoduto: GASBOL, entre Canoas (RS) e Santa Cruz
de la Sierra (Bolívia).

219
U.T.I. - Sala é preciso poder contar com uma rede de transportes
bem estruturada.
1. Com o mapa “regiões geoeconômicas” , destaque as Há muito tempo, nosso país sofre perdas constantes
características de cada região. nesse setor, em virtude do alto custo dos investimentos.
(ALMEIDA; RIGO- LIN, 2005, p. 500).
2. (UERJ) A localização de uma indústria está relacio- Considerando o texto e os conhecimentos sobre a articu-
nada à busca de vantagens que lhe confiram melhores lação e a racionalização dos meios de transportes, no Brasil,
condições em relação à concorrência. Assim, quanto • justifique o porquê da necessidade de criação de
menores os custos envolvidos, maiores as possibilida- uma rede de transportes adequada e eficiente, em
des de lucros. Os principais fatores levados em conta um país de dimensões continentais, incluído en-
para a instalação de uma fábrica são: mercado consumi- tre as grandes economias do mundo e que almeja
dor, matéria-prima, rede de transportes, água, energia e crescer ainda mais;
mão de obra. A ação do Estado também pode influen-
• relacione dois problemas ligados ao planejamento
ciar na localização das indústrias.
imprevidente das vias de transporte, originados de
Adaptado de SUCENA, I. S.; SAMPAIO, S. F. Geografia: projetos políticos que, muitas vezes, sobrepõem os
ensino médio. São Paulo: Edições SM, 2010.
interesses individuais e econômicos aos coletivos.
Ao longo do tempo, os fatores que interferem na escol-
ha da localização de uma indústria variam de importân- 5. (UERJ)
cia, podendo inclusive surgir novos fatores.
Explique a diminuição da importância, nos dias de hoje,
da localização das indústrias nas proximidades de re-
cursos energéticos. Em seguida, indique uma ação do
Estado que pode exercer influência na instalação de
uma unidade fabril.

3. (UFJF) A Rio+20 será uma das mais importantes re-


uniões globais sobre desenvolvimento sustentável de
nosso tempo.
No Rio, nossa visão deve ser clara: uma economia verde
sustentável que proteja a saúde do meio ambiente e
apoie o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do
Milênio através do crescimento da renda, do trabalho
decente e da erradicação da pobreza.
Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon

O desenvolvimento sustentável não é uma opção! É


o único caminho que permite a toda a humanidade
compartilhar uma vida decente neste único planeta. A No Brasil, o setor agropecuário se caracteriza tanto por
Rio+20 dá à nossa geração a oportunidade para escol- áreas que ainda adotam práticas tradicionais como por
her este caminho. aquelas em que há forte presença de modernização,
Sha Zukang, Secretário-Geral da Conferência Rio+20
como se observa no mapa.
Disponível em: http://www.onu.org.br/rio20/img/2012/03/ Aponte o complexo regional que concentra o uso mais
Rio+20_Futuro_que_queremos_guia.pdf. intenso de práticas agropecuárias modernas e a que
Acesso em: 12 mar. 2012. concentra o uso menos intenso. Em seguida, cite duas
características presentes no processo de modernização
a) O que é desenvolvimento sustentável? agropecuária do país.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

b) Em 2000, a Organização das Nações Unidas


(ONU), ao analisar os maiores problemas mundiais, 6. (UFTM) Os grandes proprietários e fazendeiros
estabeleceu 8 Objetivos do Milênio (ODM), que no são, antes de tudo, homens de negócio, para quem a
Brasil são chamados de 8 Jeitos de Mudar o Mundo. utilização da terra constitui um negócio como outro
Cite um dos Objetivos do Milênio. qualquer (...). Já para os trabalhadores ru- rais, para a
c) Em Uganda, uma transição para uma agricultura massa camponesa de proprietários ou não, a terra e as
orgânica gerou receita e renda para pequenos agri- atividades que nela se exercem constituem a única fon-
cultores e beneficiou a economia, a sociedade e o te de subsistência para eles acessível.
meio ambiente. Como a agricultura orgânica benefi- (C. Prado Junior. A questão agrária no Brasil, 2000.)
cia o meio ambiente?
a) Caracterize a estrutura fundiária brasileira.
4. (UFBA) Os transportes são fundamentais para que um b) Explique o que é reforma agrária para a massa
país tenha competitividade no mercado internacional. camponesa de proprietários ou não.
Na era dos blocos econômicos e da luta por mercados,

220
U.T.I. - E.O.
1. Analise os mapas com as diferentes formas de regionalização do Brasil:

Defina as duas formas de regionalização, destacando os critérios utilizados.

2. (FUVEST) Considere o mapa esquemático do rodoanel na região metropolitana de São Paulo.

Com base no mapa e em seus conhecimentos, atenda ao que se pede.


a) Identifique um impacto ambiental e um impacto social que poderão ocorrer nessa região com a construção do trecho
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

norte do rodoanel. Explique.


b) O Estado de São Paulo é um importante produtor/exportador de laranja e de seus derivados. Cite uma área com impor-
tante produção no Estado e identifique, a partir do mapa, os trajetos rodoviários mais utilizados para o escoamento dessa
produção até o seu principal porto de exportação.

3. Para planejar um sistema eficiente de transportes para 5. Discorra sobre o Protocolo de Kyoto, seus objetivos e
a circulação de mercadorias e pessoas, quais modais de- desdobramentos.
vem ser priorizados para o deslocamento de grandes e
6. (UFU) Somente a partir de meados da década de 1960,
pequenas distâncias? Justifique sua resposta.
a agricultura brasileira inicia o processo de modern-
4. O setor agropecuário é responsável por 13% do PIB ização, com a chamada Revolução Verde. Emergem, nes-
brasileiro. Indique dois importantes cultivos para ex- sa década, com o processo de modernização da agricul-
portação, o principal estado produtor e as principais tura, novos objetivos e formas de exploração agrícola,
características de produção. originando trans- formações tanto na pecuária quanto

221
na agricultura. Como consequências do processo, são
aponta- das, além da acirrada concorrência no que diz
respeito à produção, os efeitos sociais e econômicos sof-
ridos pela população envolvida com atividades rurais.
Disponível em: <http://www.seer.ufu.br/index.php/campoterritorio/
article/download/11787/8293.>
Acesso em: 17 de fev. 2016.
A partir do texto e de seus conhecimentos sobre o
assunto, responda:
a) No contexto apresentado, quais foram as principais
alterações sofridas nas relações de trabalho em virtude
do desenvolvimento do capitalismo no campo brasi-
leiro?
b) Como esse processo contribuiu para a ampliação
de periferias nas cidades?
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

222
GEOGRAFIA

2
CIÊNCIAS
GEOGRAFIA 2
HUMANAS
e suas tecnologias

U.T.I.
ANTIGA ORDEM MUNDIAL

Reordenação geopolítica 4. Momentos de tensão na Guerra Fria:


• Divisão da Alemanha.
mundial • Construção do muro de Berlim – 1961; Espionagem:
CIA e KGB.
1. Fim da Segunda Guerra Mundial (1945) • Crise dos mísseis em Cuba – 1961; Guerra da Coreia.
2. Guerra Fria: • Revolução Sandinista.
• Comunismo – União Soviética e China. • Corrida espacial.
• Corrida armamentista.
• Capitalismo – EUA, Europa ocidental e Japão.
5. Fim da Guerra Fria:
3. Organizações militares:
• Crise econômica e política na URSS.
OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte: fun- • Revoltas em repúblicas socialistas (Ex.: Hungria e Polônia).
dada em 1949 pelos países capitalistas. • Queda do muro de Berlim.
Pacto de Varsóvia: formado pela URSS, em 1955. • Capitalismo mundializado.
• Crescimento da influência da ONU como poder mundial.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

O mundo bipolar: 1948-1991


129

224
NOVA ORDEM MUNDIAL

A expansão do capitalismo gerou duas concepções do poder: 3. Países semiperiféricos: possuem grandes concentrações
de renda, mas em menor proporção, compara- dos aos países
§ Ordem unipolar: poder centralizado nos EUA, devido,
periféricos; patamar intermediário de bem-estar; conseguiram
principalmente, a seu grande poder bélico.
constituir uma densidade de industrialização significativa.
§ Ordem multipolar: poder dos EUA estaria sendo divi- Exemplos: Brasil, México, Argentina, Chile e Tigres Asiáticos.
dido com a Europa (sobretudo a Alemanha) e o Japão.
Índice de desenvolvimento humano (IDH): índice
Descolonização da Ásia e da África: Divisão norte-sul proposto pelo PNUD (Programa das Nações Unidas para
– desenvolvidos e subdesenvolvidos. o Desenvolvimento).
1. Países Centrais: países que concentram as sedes de § Função – comparação da qualidade de vida entre os países.
grandes empresas globais, indústrias e bancos; Exemplos: § Três dimensões:
EUA, grande parte dos países da Europa e Japão. 1. Riqueza (ou renda per capita).
2. Países periféricos: baseados em economia agroex- 2. Educação.
portadora / latifúndio; concentração de renda. Exemplos: 3. Esperança média de vida (ou saúde).
parte dos países africanos, da América latina e Ásia.

GLOBALIZAÇÃO

Processo de transformação mundial que se iniciou no final


do século XX. Blocos econômicos
Principais características § Acordo entre os países membros para maior fluxo
comercial, rompendo barreiras alfandegárias.
§ Poder do mercado financeiro em nível mundial.
§ Formas de integração:
§ Aumento do fluxo de transportes em grandes distâncias.
1. Zona de livre comércio.
§ Fenômeno da transnacionalização – fragmentação da
2. União aduaneira.
produção em nível mundial.
3. Mercado comum.
§ Diminuição da soberania nacional aos interesses inter-
4. União monetária.
nacionais.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

§ Blocos:
§ Não há benefício igualitário a todos os países – maior
concentração de renda.
§ Seus críticos dizem que a globalização é responsável
pelo crescimento das desigualdades.

225
1. União Europeia
Países membros da União Europeia

Fonte: Atlas Escolar. IBGE: 201

Estágio: união monetária – euro (exceto Bulgária, Hungria, Croácia, Polônia, República Checa, Romênia, Suécia e Dinamarca).
Após três anos e meio de muitas idas e vindas, o Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, foi oficializado às 23h
(20h no horário de Brasília) do dia 31 de janeiro de 2020.

2. NAFTA: Tratado Norte-Americano de Livre Comércio.


Países membros do NAFTA
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Fonte: Atlas Escolar. IBGE: 2014

Estágio: livre comércio.

226
3. APEC: Cooperação da Ásia e do Pacífico.
Países membros da APEC

Fonte: Atlas Escolar. IBGE: 2014

4. ASEAN: Associação das Nações do Sudeste Asiático.


Países membros do ASEAN

U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Fonte: Atlas Escolar. IBGE: 20145. Mercosul: Mercado Comum do Sul.

227
Países membros do Mercosul

Fonte: Atlas Escolar. IBGE: 2014

§ OMC: Organização Mundial do Comércio


Objetivo: estímulo ao comércio mundial, empenhando-se em derrubar as taxas (importação/exportação) impostas
pelos Estados.
§ G7: países mais desenvolvidos (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Japão, Itália e Reino Unido).
Esses países se reúnem eventualmente para discutir temas de ordem mundial.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

228
COMÉRCIO INTERNACIONAL

A Globalização e o Acordos internacionais


comércio internacional § Estabelecimento dos blocos econômicos;
§ G7.
§ Surto de multinacionais no mundo após a Segunda
Guerra Mundial. § G20.
§ OEA.
§ Aumento das relações internacionais entre os países:
1. dispersão das multinacionais.
2. desenvolvimento dos meios de transportes.
OMC
§ A Organização Mundial do Comércio é um mecanismo
3. Nova Divisão Internacional do Trabalho.
internacional fundado, em 1995, em substituição ao
§ O fluxo de mercadorias em âmbito internacional ocor- antigo GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio).
re majoritariamente por meio de transporte marítimo, § Tem como objetivo promover a liberação do comércio
movimentando 75% do volume de carga no mundo. mundial, diminuindo ou restringindo as barreiras comer-
ciais e alfandegárias para facilitar trocas econômicas em
âmbito internacional.

REGIÕES SOCIOECONÔMICAS MUNDIAIS I: AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA

Características da américa Estados Unidos e Imperialismo


anglo-saxônica
Relevo
§ Dobramentos Modernos (Oeste).
§ Planície Central.
§ Dobramentos antigos (leste).
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Clima
§ Predominância de clima temperado. A expansão dos Estados Unidos
§ Clima frio ao norte. § Expansão para o Oeste (século XIX);
§ “América para os americanos” – Doutrina Monroe.
Vegetação
§ Século XX: Estados Unidos com poder político e militar.
§ Pradaria (centro).
§ Floresta de coníferas e tundra (norte).

229
Aspectos econômicos
Agricultura
§ Cinturões Agrícolas (belts).
§ Características: grande produtividade e ampla mecanização.

Os cinturões agropecuários

Indústria Questões Políticas


§ Cinturão da maquinofatura (manufacturing belt) – In- § Movimento separatista de Quebec.
dústria pesada.
§ Sun Belt – Indústria “leve” (robótica, softwares, bélica,
etc.) e petrolífera;
§ Poder dos Estados Unidos no mundo contemporâneo.
§ Poder político.
§ Influência cultural.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

Canadá
§ País de dupla influência: britânicos e franceses.
§ Franceses são minoria, concentrados, em grande parte,
na província de Quebec.
§ Há também populações autóctones (indígenas), além
de migrantes de diversos países.

230
REGIÕES SOCIOECONÔMICAS MUNDIAIS II: AMÉRICA LATINA

Relevo Questões político-econômicas


§ Cadeia de montanhas a oeste (Dobramentos modernos). § Transnacionais – agentes econômicos e sociais de
grande influência nos países latino-americanos;
§ Relevo antigo no leste (dobramentos antigos).
§ Dívida externa.
§ Regiões de bacia sedimentar: Bacia Amazônica, Platina
e do São Francisco. § Crise econômica e modelo neoliberal:
– Empréstimos ao FMI.
Citlaltepe
tl 5 610
Mar do
– Privatização de empresas estatais;
m Caribe – Corte de gastos em programas sociais.
Pico da
Neblina 2 994 § MERCOSUL:
m
Is. Galápagos
– Origem do bloco: 1991.
Planície Amazônica – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
§ Narcotráfico:
– Países com maior incidência: Peru, Colômbia e Bo-
lívia.
OCEANO Aconcágu
PACÍFICO a 7 000 m § Subdesenvolvimento dos países latino-americanos:
– Concentração de terras.
– Práticas rudimentares de produção.
– Problema da reforma agrária.
Estreito de Magalhães Is.
Terra Falkland
do (Malvinas
Mapa físico da América do Sul.

Clima
§ Região de grande diversidade climática: temperado nas
encostas montanhosas e clima tropical na porção leste
e parte do sul do continente.
§ No sul da América do Sul, temos o clima subtropical.
§ Há também regiões de clima desértico, como é o caso
do Atacama.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

231
REGIÕES SOCIOECONÔMICAS MUNDIAIS III: EUROPA

Relevo Tipos climáticos


§ Planícies na região norte. § Clima de Montanha.
§ Maciços antigos – Montes Urais. § Temperado Oceânico.
§ Dobramentos modernos: Pirineus, Alpes, Apeninos,
§ Temperado Continental.
Cárpatos, Cáucaso, Dinários e os Balcãs.
§ Subpolar.

Hidrografia § Mediterrâneo.

§ Grande importância dos rios como meio de transporte,


principalmente pela proximidade de grandes centros eco-
nômicos.
§ Principais rios: Reno, Ródano, Volga e Danúbio.

Polar

Frio de montanha

Temperado

Frio

Semiárido

Mediterrâneo

Vegetação União europeia


§ Tundra.
§ Floresta de conífera.
Estágios
1. BENELUX – Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Redução de
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

§ Floresta temperada.
tarifas aduaneiras.
§ Vegetação mediterrânea.
2. CECA – Comunidade do Carvão e do Aço. Composta por
BENELUX, França, Itália e Alemanha Ocidental (1952) – Eu-
Demografia ropa dos seis.
§ Cerca de 750 milhões de pessoas. 3. Mercado Comum Europeu (MCE) ou Comunidade Econô-
mica Europeia (CEE), além dos países da CECA, passam a inte-
§ Densidade demográfica – 72 hab/ Km².
grar: Inglaterra, Irlanda, Dinamarca, Grécia, Espanha e Portugal.
§ Diminuição do crescimento vegetativo – Envelhecimen- 4. Tratado de Maastrich: Criação da União Europeia em 1991.
to da população. Em 2007 são compostos pelos países Malta, Chipre, Polônia,
§ Forte ciclo migratório – crescimento da xenofobia. Hungria, Republica Tcheca, Eslováquia, Eslovênia, Bulgária, Es-
§ Países mais populosos – Rússia, Alemanha e Turquia. tônia, Letônia e Lituânia e Romênia (além dos anteriores Brexit).

232
Características Economia europeia
§ Livre circulação de pessoas, mercadorias, bens e serviços. § Indústria bem desenvolvida, com alto poder tecnológi-
§ A moeda única (euro) é colocada em circulação a partir co e diversificada.
de 2002. § Destaque na produção de diversos produtos agrícolas.
§ Questão turca e a entrada para a União Europeia; Técnicas modernas e elevada produtividade e incenti-
§ BREXIT. vos governamentais.
§ Pecuária intensiva com elevada produtividade.
§ Produtos minerais de destaque:
– Carvão.
– Petróleo.
– Minério de ferro.
– Mercúrio.

Mapa com os países que atualmente compõem a Europa dos 27.

REGIÕES SOCIOECONÔMICAS MUNDIAIS IV: RÚSSIA E ÁSIA CENTRAL

Rússia Clima e vegetação


§ Por sua extensão territorial, possui clima e vegetação
Aspectos físicos diversificado: ártico, subártico, temperado e subtropical.
§ Invernos longos e com neve, primavera temperada, verão
Relevo curto e com temperaturas amenas e outono chuvoso.
§ Uma planície no leste europeu e outra na parte oeste,
§ Subpolar na Sibéria, onde aparece a tundra, que cres-
separadas pelos montes Urais.
cem nos alagados no período da primavera e do verão.
§ Planaltos e montanhas na porção meridional.
§ A sul, o clima é mais quente, havendo campos e estepes.
§ Na região central encontram-se florestas com carva-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

lhos, divididas por estepes.

233
Hidrografia § Êxodo rural.

§ 18% do território é coberto por rios e lagos, com desta- § Insatisfação da classe operária e da burguesia nacional.
que para os rios Volga, Don e o rio Neva, que deságua § Ideais socialistas ganham força.
no golfo da Finlândia.
§ Repressão do governo às greves.
§ Possui a maior bacia hidrográfica, a bacia do Ob.
§ “Domingo Sangrento” (1905).
§ O lago Baikal é o mais importante corpo d’água.

Domingo Sangrento

§ Revolução Russa (1917).


§ Teses de abril: diretrizes propostas por Vladimir Lênin
Aspectos históricos para fundamentar um plano concreto na revolução.
§ Rússia czarista.
§ Socialista.
§ Economia atrelada ao feudalismo.
§ Reformas instituídas: estatização dos bancos e indús-
§ Dependência com a Inglaterra e França. trias; reforma agrária; sistema unipartidário (Partido
§ Pequenos avanços na indústria. Comunista).
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

234
U.T.I. - Sala Com base na análise dos mapas, identifique duas mu-
danças nas fronteiras políticas ocorridas de forma pací-
fica entre 1980 e 2014. Em seguida, aponte dois exem-
1. O que são blocos econômicos? Discorra sobre dois plos de separatismo ocorridos nesse mesmo período,
blocos econômicos e suas principais características. nos quais aconteceram conflitos armados.
2. A globalização é um fenômeno que se estruturou a
partir do término da Guerra Fria. Descreva as principais 5. (UFJF-PISM 3)
características do processo de globalização.

3. O desempenho do mercado de trabalho americano


em setembro de 2015 foi decepcionante, levan- tando
dúvidas sobre o ritmo de expansão da economia dos
EUA. A criação de empregos ficou muito abaixo do es-
perado, os salários ficaram estagnados em relação a
agosto do mesmo ano e há uma fatia muito expressiva
d população fora do mercado de trabalho. Dois dos pro-
blemas são o dólar forte e o fraco crescimento global
(...).
Valor Econômico, 3 de outubro de 2015. Sérgio Lamuci, A9.
Como o fraco crescimento global interfere na criação
de empregos nos Estados Unidos?

4. (UERJ) O continente europeu passou por uma série Por que o comércio e os investimentos chineses na Áfri-
de mudanças territoriais a partir do final da década de ca configuram um novo império colonial?
1980, com o surgimento, ressurgimento e desapareci-
mento de vários países.
MAPA POLÍTICO DA EUROPA CENTRAL E ORIENTAL

U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

235
U.T.I. - E.O. costumes, pelas instituições e pelas redes, aos quais
os estrangeiros só tinham acesso por intermediários
locais. Uma boa ilustração dessa combinação são as
1.
imensas ZPEs que o governo da China ergueu do nada
e que hoje abrigam dois terços do total mundial de tra-
balhadores em zonas desse tipo.
(Adaptado de Giovanni Arrighi, Adam Smith em Pequim: origens e
fundamentos do século XXI. São Paulo: Boitempo, 2008, p.362.)

a) Indique duas ações políticas do governo chinês que


produziram as condições internas para a ascensão
econômica do país.
b) Aponte as estratégias geopolíticas utilizadas pela
China para a obtenção de recursos naturais em dis-
tintas partes do mundo, que possibilitam a manuten-
ção do atual modelo de produção industrial em larga
No mapa, o conjunto das áreas em laranja e o conjunto escala no país.
em azul representam, cada um, metade do Produto In- 3. (UFG) A cultura chinesa sempre foi motivo de estudos,
terno Bruto (PIB) norte-americano distribuído por todo haja vista as grandes contribuições que trouxe para a hu-
o território do país.
manidade, tais como a invenção do papel, da bússola e
Justifique a grande concentração espacial da riqueza da pólvora. Nos dias atuais, a China é a segunda econo-
norte-americana nas áreas em laranja. Cite, ainda, duas mia do planeta e responde por quase 10% do PIB mun-
atividades econômicas relevantes, realizadas nessas dial anual. O cenário se deve ao fato de o governo chinês,
áreas, que favorecem a concentração espacial do PIB. após a morte de Mao Tsé-tung, em 1976, ter intensifica-
do reformas econômicas, abrindo o país para o mercado
2. (UNICAMP) Graças ao tamanho continental e à imen- mundial. Considerando a China neste contexto,
sa população do país, as políticas implemen- tadas pelo
governo permitiram à China combinar as vantagens da a) cite o nome do modelo de organização econômica
industrialização voltada para a exportação, induzida do país e apresente duas características desse mo-
em grande parte pelo investimento estrangeiro, com as delo;
vantagens de uma economia nacional centrada em si b) apresente apenas uma das iniciativas do governo
mesma e protegida informalmente pelo idioma, pelos chinês para reduzir as emissões de carbono.

4. (UERJ 2018)
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

No gráfico, a área de cada país é proporcional à porcentagem do seu Produto Interno Bruto (PIB) em relação ao tamanho
da economia global. As economias mais relevantes do mundo possuem uma parcela superior a 0,4% do PIB global.
Aponte o continente com o menor número de países nessa situação de relevância.
Em seguida, identifique o setor da economia mais importante para a composição do PIB das nações desenvolvidas,
apresentando uma justificativa para o destaque desse setor.

236
5. (UFU 2018) “Para a União Europeia, nada muda. A 8. (UFJF-PISM) Leia os textos a seguir.
Espanha continua sendo nosso único interlocu- tor.” A
mensagem nas redes sociais do presidente do Conselho Texto 1
Europeu, Donald Tusk, é a primeira reação de peso à de-
Com apenas 11 anos, Nada al-Ahdal, do Iêmen, parecia
claração da Catalunha: a UE não reconhece a indepen-
condenada ao destino de milhões de jovens mulheres
dência. A equipe de Tusk advertiu que é preciso evitar
em países muçulmanos: o casamento arranjado. Mas,
uma “escalada”, o que seria uma péssima notícia “para contrária à decisão dos pais, ela decidiu fugir de casa
os catalães, para a Espanha e para a Europa”. para evitar o enlace. Gravou um vídeo denunciando a
Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/27/ situação que em apenas dois dias foi visto por mais de
internacional/1509120610_062639.html> 5,6 milhões de pessoas no YouTube. Mesmo que pouco
Acesso em: 27 de mar, 2017. tempo depois tenha passado a ser questionado, com
Considerando-se o contexto geopolítico do movimento denúncias de que a família da menina já teria recusado
separatista da Catalunha, responda. a proposta de casamento antes mesmo de ela virar uma
celebridade, o episódio iniciou um debate sobre a liber-
a) Por que esse movimento separatista representou e dade das mulheres no mundo islâmico.
ainda representa uma ameaça para os outros países
Fonte: Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Revista/
integrantes da União Europeia? noticia/2014/04/internet-por-tras-do-veu.html>.
b) Apresente dois argumentos utilizados pelos sepa- Acesso em: 1 dez. 2014.
ratistas da Catalunha para justificar sua independên-
cia da Espanha. Texto 2

6. (UEL) Analise o mapa a seguir. “Se você digita mulher muçulmana no Google o que
mais vê são imagens estereotipadas de mulheres de
burca, em um cenário de guerra ou machucadas, com
hematomas, vítimas de violência doméstica”, (...).
“O que não é mostrado são aquelas de terno, mesmo
que com a cabeça coberta por escolha própria, ou as
antenadas nas últimas tendências da moda, com ma-
quiagem imaculada, mulheres admirando uma obra de
arte, dando aulas, promovendo arte de rua ou fechando
negócios”.
Fonte: Disponível em: <http://revistagalileu.globo.com/Revista/
noticia/2014/04/internet-por-tras-do-veu.html>.

a) Identifique o grupo de países que formam o BRICS Acesso em: 1 dez. 2014.
e o principal objetivo desse grupo. a) Com base nos textos, responda: Por que a internet
está se tornando mais importante que a televisão no
b) Indique e descreva três características geográficas
desenvolvimento de identidades culturais globais?
desses países destacados no mapa, chamados de
“potências emergentes”. b) Com base nos textos, explique a proposição de
Manuel Castells: “A rede não garante a liberdade,
7. (PUC-RJ) mas torna mais difícil a opressão. A censura permite
identificar e punir o mensageiro, mas não pode deter
a mensagem”.
Fonte: Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/
noticia/2013/06/a-rede-torna-mais-dificil-a-opressao-diz-manuel-
castells-4164803.html>.
Acesso em: 2 dez. 2014.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS HUMANAS e suas tecnologias

a) Explique como o Acordo de Schengen criou, de


fato, uma comunidade regional europeia.
b) A partir do cartograma, associe os espaços regio-
nais europeus não participantes, sob nenhuma condi-
ção, do Acordo aos problemas lá vivenciados desde o
fim da Guerra Fria.

237
BIOLOGIA

2
CIÊNCIAS DA
BIOLOGIA 1
NATUREZA
e suas tecnologias

U.T.I.
BIOMAS

Introdução Os biomas brasileiros


Com o intuito de organizar a abordagem, será realizada uma Os biomas são conjuntos de ecossistemas que interagem
pequena revisão sobre ecologia e os níveis de organização formando uma unidade paisagística coerente. Cada bio-
por ela estudados. Em seguida, serão abordados os temas ma terrestre se caracteriza pelo tipo vegetal ou estrato
biomas e biociclos. dominante: árvores (arbóreo), ervas (herbáceo), arbustos
(arbustivo), formações mistas, etc. Com efeito, o bioma é
§ O conjunto de organismos da mesma espécie que um grupamento de fisionomia homogênea e independente
interagem e habitam uma dada região durante um da composição florística. Trata-se de uma área geográfica
certo período de tempo constitui uma população. grande e sua existência é controlada pelo macroclima.
§ O conjunto de populações de espécies diferentes que
interagem e habitam uma dada área durante um perí-
odo de tempo forma uma comunidade biológica,
biota ou biocenose.
§ O conjunto formado pela interação da biota com o
meio físico no qual ela vive é denominado ecossis-
tema, que se caracteriza por dois processos: fluxo
de energia e ciclo de matéria. Assim, um lago, um rio
poluído, uma floresta, um campo, uma praia ou uma
caverna são exemplos de ecossistemas.
§ O conjunto de vários ecossistemas interdependen-
tes e que interagem é denominado bioma. A Mata
Atlântica, a Amazônia, o Cerrado, a Caatinga e o Distribuição geográfica dos biomas brasileiros
Pantanal são exemplos de biomas, uma vez que
são constituídos por diversos tipos de ecossistemas Floresta Amazônica
associados. Trata-se de um ecossistema frágil. A floresta vive do seu
§ O conjunto de vários biomas com características parti- próprio material orgânico. O ambiente é úmido e as
culares é denominado biocora. Por exemplo, a Mata chuvas são abundantes. Na Amazônia, vivem e se re-
Atlântica, a Amazônia e a Taiga são formações flo- produzem mais de um terço das espécies existentes no
planeta. Ela é um gigante tropical de 5,5 milhões de km2,
restais inseridas no biocora das florestas, apesar de
dos quais 60% estão em território brasileiro.
suas dinâmicas, estruturas e composição de espécies
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

serem diferentes.
§ O conjunto de biocoras com características particula-
res de um dado compartimento da Terra denomina-se
biociclo. Por exemplo, os biocoras marinhos consti-
tuem o biociclo marinho ou talassociclo; os bio-
coras terrestres constituem o biociclo terrestre ou
epinociclo; e os biocoras de água doce constituem o
biociclo dulcícola ou limnociclo.
§ O conjunto de todos os biociclos chama-se biosfera,
que também pode ser entendida como a camada ou
superfície do planeta, coberta ou não por água, que
sustenta, mantém e contém vida. Localização da Floresta Amazônica

240
Além de 2.500 espécies de árvores (um terço da madeira
tropical do mundo), a Amazônia também abriga muita
Cerrado
água. O rio Amazonas − a maior bacia hidrográfica
do mundo, que cobre uma extensão aproximada de 6
milhões de km2, corta a região para desaguar no oceano
Atlântico, lançando no mar, a cada segundo, cerca de 175
milhões de litros de água. Esse número corresponde a
20% da vazão conjunta de todos os rios da Terra.
A diversidade em espécies vegetais se repete na fau-
na da região.

Mata Atlântica
A Mata Atlântica é uma das florestas tropicais mais
ameaçadas do mundo. Cobria 1 milhão de km2, ou
12% do território nacional, estendendo-se do Rio Gran-
de do Norte ao Rio Grande do Sul. Hoje, está reduzida a
apenas 7% de sua área original. Apesar da devastação Localização geográfica do Cerrado
sofrida, é espantosa a riqueza das espécies animais e ve-
getais que ainda se abrigam na Mata Atlântica. A extensa região central do Brasil é constituída por um
mosaico de tipos de vegetação, solo, clima e topogra-
Em algumas regiões remanescentes de floresta, os níveis
fia bastante heterogêneos. O cerrado é a segunda maior
de biodiversidade são considerados os maiores do pla-
neta. Em contraste com essa exuberância, as estatísticas formação vegetal brasileira, superado apenas pela flores-
indicam que mais de 70% da população brasileira ta Amazônica. São 2 milhões de km2 espalhados por dez
vive na região da Mata Atlântica. Além de abrigar a estados. O cerrado é uma “savana” tropical, na qual a ve-
maioria das cidades e regiões metropolitanas do país, a getação herbácea coexiste com mais de 420 espécies de
área original da floresta sedia também os grandes polos árvores e arbustos esparsos.
industriais, petroleiros e portuários do Brasil, responden- O solo, antigo e profundo, ácido e de baixa fertilidade, tem
do por nada menos de 80% do PIB nacional.
altos níveis de ferro e alumínio. Contudo, o cerrado tem
a seu favor o fato de ser cortado por três das maiores
bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins,
São Francisco e Prata), o que favorece a manutenção
de uma biodiversidade surpreendente.
Estima-se que a flora da região possua dez mil espécies
de plantas diferentes (muitas delas usadas na produção
de cortiça, fibras, óleos, artesanato, além do uso medi-
cinal e alimentício). Isso sem contar as 400 espécies de
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

aves, 67 gêneros de mamíferos e 30 tipos de morcegos


catalogados na área. O número de insetos é surpreen-
dente: apenas na área do Distrito Federal, há 90 espécies
de cupins, mil espécies de borboletas e 500 tipos diferen-
tes de abelhas e vespas.

241
Caatinga

Localização geográfica do Pantanal

Localização geográfica da Caatinga Na época das cheias, esses “corpos” se comunicam e se


mesclam com as águas do rio Paraguai, renovando e fer-
Os cerca de 20 milhões de brasileiros que vivem nos 800 tilizando a região.
mil km2 de caatinga nem sempre podem contar com as
chuvas de verão. Quando não chove, os habitantes do ser- Campos
tão sofrem muito. Precisam caminhar quilômetros em bus- Além de florestas tropicais, do Pantanal, do cerrado e da caa-
ca da água dos açudes. A irregularidade climática é um dos tinga, os campos também fazem parte da paisagem brasilei-
fatores que mais interfere na vida do sertanejo.
ra. Esse tipo de vegetação é encontrado em dois lugares dis-
Mesmo quando chove, o solo raso e pedregoso não con- tintos: os campos de terra firme (savanas de gramíneas
segue armazenar a água que cai, e a temperatura elevada baixas) são característicos do norte da Amazônia, Roraima,
(médias entre 25 ºC e 29 ºC) provoca intensa evaporação. Pará e ilhas do Bananal e de Marajó, enquanto os campos
Por isso, somente em algumas áreas próximas às serras, limpos (estepes úmidas) são típicos da região Sul.
onde a abundância de chuvas é maior, a agricultura se
torna possível.
Na longa estiagem, os sertões são, muitas vezes, semideser-
tos nublados, mas sem chuva. O vento seco e quente não
refresca, incomoda. A vegetação xeromorfa adaptada
ao clima apresenta muito escleromorfismo, que a protege.
As folhas, por exemplo, são finas ou inexistentes. Algumas
plantas armazenam água, como os cactos, outras se carac-
terizam por terem raízes praticamente na superfície do solo
para absorver rapidamente o máximo da chuva. Algumas das
espécies mais comuns da região são a amburana, aroeira,
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

umbu, baraúna, maniçoba, macambra, mandacaru e juazeiro.

Pantanal Localização geográfica do bioma Campos


O Pantanal é um dos mais valiosos patrimônios naturais
De modo geral, o campo limpo é destituído de árvores,
do Brasil. Maior área úmida continental do planeta, com
bastante uniforme e com arbustos espalhados e disper-
140 mil km2 em território brasileiro, destaca-se pela ri-
sos. Já nos campos de terra firme, as árvores, baixas e
queza da fauna, em que dividem espaço 650 espécies
espalhadas, integram-se totalmente à paisagem.
de aves, 80 de mamíferos, 260 de peixes e 50 de répteis.
No Pantanal, são comuns as chuvas fortes. Os terrenos, Em ambos os casos, o solo é revestido de gramíneas,
quase sempre planos, são alagados periodicamente subarbustos e ervas. Entre o Rio Grande do Sul e Santa
por inúmeros córregos e vazantes entremeados de lagoas Catarina, os campos formados por gramíneas e legumi-
e leques aluviais, isto é, muita água. nosas nativas se estendem como um tapete verde por

242
mais de 200.000 km2, tornando-se mais densos e ricos ou médio teor de salinidade, os bosques de mangues, fixa-
nas encostas. Nessa região, com muita mata entremeada, dos sobre terreno lodoso, apresentam características fisio-
as chuvas se distribuem regularmente pelo ano todo, e nômicas e funcionais muito particulares. São típicas deles
as baixas temperaturas reduzem os níveis de evaporação. os seguintes fatores: temperaturas tropicais; áreas constan-
Essas condições climáticas acabam favorecendo o cresci- temente sobo controle e o fluxo das marés; depósitos
mento de árvores. Muito diferentes, por sua vez, são os volumosos de silte, areia fina, argila e grande quantidade
campos que dominam as áreas do Norte do país. de matéria orgânica.
Em geral, os manguezais se localizam fora dos litorais de
Manguezais mar aberto. Eles estão sempre associados às áreas de for-
Os manguezais são ecossistemas estuarinos que se desen- tes marés; no entanto, abrigados dos fortes ventos e das
volvem em terras planas, baixas e de substrato lodoso, lo- ressacas, caracterizam-se também por uma vegetação
calizadas nas costas litorâneas das regiões tropicais, junto halófita (plantas terrestres adaptadas a viver no mar ou
aos desaguadouros dos rios, no fundo de baías e nas ense- perto dele) tropical de mata, com poucas espécies que
adas. Quando os manguezais estão em terrenos de baixo crescem na vasa marítima da costa ou estuária dos rios.

BIOMAS AQUÁTICOS

Ambientes aquáticos § Nécton – comunidade formada pelos animais livre-na-


tantes, representados por peixes, polvos, mamíferos
marinhos e tartarugas, entre outros.
Biociclo marinho ou talassociclo
É o maior de todos os biociclos. Trata-se de um grande am- Biociclo dulcícola ou limnociclo
biente contínuo, bastante homogêneo em função de sua
extensão e, por isso, o conceito de bioma não deve ser apli- Águas lênticas ou estacionárias
cado a estes ambientes. São os ambientes constituídos por águas paradas que, na
A luz vai sendo absorvida pelos seres autótrofos, as algas, à verdade, estão sendo sempre renovadas. As águas lênticas
medida que penetra na água; assim, as radiações que mais correspondem desde a uma poça-d’água formada pelas
penetram são azul e violeta. Costuma-se distinguir no mar chuvas até a lagoas e grandes lagos.
três regiões em função da presença da luz:
§ Eufótica – recebe luz diretamente e, geralmente, chega Águas lóticas ou correntes
até 200 m. Estas águas compreendem os riachos, córregos e rios. Ne-
§ Disfótica – recebe luz difusa e pode chegar a 300 m. las podemos encontrar três regiões distintas: nascente,
curso médio e curso baixo (foz). O curso superior ou
§ Afótica – é a região geralmente abaixo de 300 m, que nascente é pobre em seres vivos devido à violência das
não recebe luz. águas, não ocorre plâncton, podendo ocorrer algas fixas
ao fundo, larvas de insetos etc.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Comunidades aquáticas –
classificação dos organismos § De acordo com os nutrientes, podem ser classifica-
dos em: eutróficos (alta produtividade, águas ricas
§ Plâncton – Podemos dividir o plâncton em duas cate- em nutrientes); mesotróficos (ecossistemas que
gorias: fitoplâncton, constituído por algas representadas, possuem valores intermediários entre um ecossistema
principalmente, pelas diatomáceas e pelos dinoflagela- eutófrico e oligotrófico); e oligotrófico (baixa produ-
dos (pirrófitos); e o zooplâncton, constituído por inúme- tividade, águas pobres em nutrientes).
ros seres heterotróficos como os protozoários, além de
§ De acordo com a temperatura, podem ser classifica-
larvas de crustáceos e de peixes, entre outros represen-
dos em: epilímnio (águas superficiais, mais quentes e
tantes do reino metazoa.
circulantes, alto teor de oxigênio); termoclino (águas
§ Bentos – comunidade correspondente àqueles seres intermediárias, ocorre variação na taxa de oxigênio e
que vivem no fundo do mar, fixos ou movendo-se no temperatura com a profundidade); e hipolímnio (águas
fundo. inferiores, águas não circulantes, pobres em oxigênio).

243
CICLOS BIOGEOQUÍMICOS

O ciclo da matéria e o O ciclo do carbono e os


seus desdobramentos
fluxo de energia
O carbono é o elemento essencial na composição da
Nossa biosfera é alvo de um fluxo contínuo de ener- matéria orgânica, sendo, pois, fundamental a sua recircu-
gia, em consequência da qual ocorre uma circulação lação na natureza. Encontra-se disponível, no ar atmos-
intermitente dos materiais constituintes da superfície férico, na forma de gás carbônico. Esse carbono, que é
terrestre. A fonte preponderante dessa energia é a ra- utilizado diretamente pelas plantas verdes na construção
diação solar. O movimento dos elementos e compos- de matéria orgânica vegetal − fotossíntese –, deverá
tos essenciais à vida pode ser designado como ciclo ser devolvido ao meio, novamente na forma de gás car-
biogeoquímico. bônico, ao final de um ciclo vital, sob pena de diminuírem
progressivamente, na natureza, as fontes primárias do
Os ciclos biogeoquímicos elemento carbono. Assim sendo, a matéria orgânica, que
foi sintetizada pelo vegetal, será comida por um animal,
As relações entre espécies e ambiente físico caracterizam-
o qual, por sua vez, poderá servir de alimento a outros
-se por uma constante permuta de elementos, em uma ati-
tipos de animais.
vidade cíclica, a qual, por compreender aspectos de etapas
biológicas, físicas e químicas alternadas, recebe a denomi- Atualmente, o maior reservatório de carbono é constituído
nação geral de ciclo biogeoquímico. pelos carbonatos existentes nas águas e no solo. Basi-
camente, os processos de fotossíntese e respiração
Em um estudo global da biosfera, pode-se reconhecer dois
celular seriam suficientes para manter as concentrações
tipos de ciclos biogeoquímicos: os ciclos gasosos e os ci-
dos compostos de carbono na biosfera, porém, não é bem
clos sedimentares. No primeiro caso, o reservatório está
assim que acontece.
situado na atmosfera, enquanto que o segundo localiza-se
na crosta terrestre. As atividades da sociedade humana moderna exigem
cada vez mais a queima de combustíveis fósseis, o
O ciclo da água e os seus que causa uma diminuição intensa de carbono fixado
desdobramentos em seres vivos vegetais e no solo, representados por
madeira, carvão e petróleo, respectivamente. Posterior-
Mais conhecido como ciclo hidrológico, ele represen- mente, devemos lembrar que a combustão desses com-
ta o percurso da água desde a atmosfera, passando por postos orgânicos libera gás carbônico para a atmosfera,
várias fases, até retornar de novo à atmosfera. Essas cujas altas concentrações estão associadas ao aumento
fases englobam, basicamente, a precipitação, escoa- do efeito estufa, que pode vir a ser responsável pelo
mento superficial, infiltração, escoamento subterrâneo aquecimento da Terra.
e a evaporação.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Representação da interação entre os ciclos do carbono, água e oxigênio


Representação do ciclo hidrológico

244
O ciclo do oxigênio e os reciclados. Porém, grande parte desse fósforo vai chegar aos
mares e oceanos, onde se perde nos sedimentos mais pro-
seus desdobramentos fundos. Acredita-se que essa parcela sedimentada nos mares
Este ciclo envolve a quantidade de oxigênio produzido volte ao ciclo muito lentamente, não acompanhando a ve-
anualmente pela fotossíntese e o consumo no proces- locidade das perdas de fósforo que são muito mais intensas.
so de oxidação da glicose − respiração, através das Atualmente, o homem se preocupa mais com fosfato dis-
plantas e dos animais. A oxidação provoca a formação
solvido nas águas interiores em função de sua importân-
de gás carbônico, o qual é utilizado no processo de fotos-
cia em termos de qualidade. Nesse aspecto, o fósforo
síntese. A fotossíntese consiste na utilização da luz pelos
tem papel relevante na eutrofização, podendo, como
organismos dotados de clorofila, como fonte de energia,
consequência, causar prejuízo à água para fins de abas-
para sintetizar compostos orgânicos, produzindo oxigênio
tecimento público.
como subproduto.

O ciclo do nitrogênio e os
seus desdobramentos
O nitrogênio proveniente dos componentes celulares dos
seres vivos, como os aminoácidos e as bases nitrogenadas,
é decomposto no solo ou nos rios, passando de orgânico a
inorgânico, sob a ação das bactérias decompositoras
ou através do sistema de excreção dos próprios organismos
superiores. O nitrogênio nas formas de amônia e nitrato é Representação do ciclo do fósforo
mais utilizável como nutriente pelas plantas, ainda que as ou-
tras formas de nitrogênio possam ser usadas por diferentes
organismos, completando a ciclo. O ar está constantemente
O ciclo do enxofre os seus
recebendo nitrogênio devido à ação de bactérias desni- desdobramentos
trificantes, sendo daí continuamente retirado pelas ações A principal fonte de enxofre para os seres vivos é constitu-
das bactérias fixadoras de nitrogênio, além de cianobactérias ída pelos sulfatos; absorvidos pelas plantas, são incorpo-
e reações provocadas pelas descargas elétricas atmosféricas. rados nas proteínas, portanto, na própria estrutura da ma-
téria viva. Em geral, a água potável não deve ultrapassar
um teor de 250 ppm em SO​  2-
4
​.  Teores superiores poderiam
causar diarreia nas crianças. Os resíduos orgânicos são de-
compostos por bactérias heterotróficas, que libertam H2S
utilizando os sulfatos como fonte de energia. Inversamen-
te, outras bactérias reoxidam o H2S em SO​  2-
4
​,  tornando o
enxofre disponível para outros seres vivos.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Representação do ciclo do nitrogênio

O ciclo do fósforo e os
seus desdobramentos
O fósforo é liberado pela decomposição de compostos or-
gânicos até a forma de fosfatos, passível de ser aprovei-
tado pelos vegetais. Ao contrário do nitrogênio, o grande
reservatório de fósforo não é o ar, mas sim as rochas, for-
madas em remotas eras geológicas.
A decomposição por fenômenos de erosão gradativamente
libera os fosfatos, que entram nos ecossistemas onde são

245
PROBLEMAS AMBIENTAIS

Impacto da atividade Impacto da atividade


humana sobre os solos humana sobre a atmosfera
Com a remoção da cobertura vegetal original, ace- Uma vez que a atmosfera é um sistema contínuo e único,
lera-se o processo erosivo, alterando os processos pode-se concluir que as mudanças são transmissíveis em
geomorfológicos. Com a intensificação destes processos, toda sua extensão; assim, uma alteração em pequena es-
podemos falar em desertificação. cala pode ter consequências globais.

Os solos tropicais não são, via de regra, férteis e a biodiversida- A atmosfera recebe, anualmente, milhões de toneladas
de que eles sustentam está associada a altas e rápidas taxas de de gases tóxicos, como monóxido de carbono, dióxido de
decomposição de matéria orgânica pelos seres decomposito- enxofre, óxido de nitrogênio e hidrocarbonetos, além de
partículas que ficam em suspensão. As principais fontes
res e pela absorção e incorporação vegetal desses nutrientes.
geradoras de poluição atmosférica são os motores dos au-
A excessiva irrigação, por outro lado, pode provocar a sali- tomóveis, as indústrias (siderúrgicas, fábricas de cimento e
nização de certos tipos de solos, como os do semiárido, papel, refinarias etc.), a incineração de lixo doméstico e as
tornando-os impróprios para cultivos de interesse econômi- queimadas de florestas para expansão da lavoura.
co, assim como para o desenvolvimento de uma vegetação O monóxido de carbono (CO) é um gás incolor, inodoro,
natural. Nesses solos, a drenagem é muito rápida, e a água um pouco mais leve do que o ar e muito tóxico.
utilizada contém diversos sais, levando a uma concentração
O dióxido de enxofre (SO2) é um gás venenoso, prove-
salina comprometedora à agricultura tradicional. Isto impõe
niente da queima industrial de combustíveis como o carvão
desafios criativos de natureza tecnológica para a região.
mineral e o óleo diesel, que tem enxofre como impureza. O
Destacam-se entre as fontes de poluição do solo aquelas dióxido de enxofre, juntamente com o óxido de nitrogênio,
derivadas da atividade humana: reage com vapor d’água na atmosfera, podendo formar
ácidos sulfúrico e nítrico, que se precipitam com a umidade
§ Poluição devida a resíduos sólidos domésticos, hospita-
e formam as chuvas ácidas.
lares e industriais;
§ Poluição devida a resíduos líquidos sanitários e industriais; Inversão térmica
§ Poluição devida à urbanização e ocupação do solo; Em certas épocas do ano, principalmente no inverno, pode
§ Poluição devida à agropecuária extensiva e a acidentes ocorrer o fenômeno atmosférico denominado inversão
térmica, causado pela interposição de uma camada de
no transporte de cargas.
ar quente entre camadas de ar frio em certa altitude. A
camada quente impede a dispersão de poluentes, que
Impacto da atividade humana ficam aprisionados junto à superfície. Nessas ocasiões,
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

ocorre grande aumento de casos de irritação das muco-


sobre a comunidade biológica sas e problemas respiratórios.
Agricultura, urbanização, industrialização, projetos de as-
sentamento (colonização), projetos de desenvolvimento
(estradas, hidroelétricas, usinas nucleares e mineração),
extrativismo vegetal, exportação de madeira, produção de
carvão, entre outros, impactam intensamente os habitats,
comprometendo diretamente a sustentabilidade da fauna.
A fauna com pequena população natural e habitat muito
restrito é particularmente propensa à extinção, como
resultado da atividade humana. Isso pode acelerar um Representação da inversão térmica comparada
processo natural ou reverter uma tendência natural. ao fluxo normal de gases na atmosfera

246
Efeito estufa Os oceanos são considerados um excelente depósito de
efluentes e resíduos sólidos devido a sua grande capacidade
A maior parte da radiação solar que atinge o solo é reirradiada
de autodepuração, que é limitada como de qualquer ambiente.
na forma de radiação infravermelha. O vapor d’água, o gás car-
bônico, o metano e outros gases atmosféricos absorvem essas Como impacto direto da extratividade realizada pelas indús-
radiações e reirradiam infravermelho em todas as direções, trias geradoras de matérias-primas, podemos citar: perfura-
inclusive de volta para a superfície terrestre, que se aquece. ções petrolíferas; extração de enxofre, de areia, de pedregulho,
de magnetita, de diamantes, de ouro, de cromita, de fosfato,
O aumento da concentração de gás carbônico, devido à quei-
de tungstênio e de nódulos de manganês.
ma de combustíveis fósseis e desmatamento, é considerado o
responsável pela tendência mundial do aquecimento climático. Além disso, há o impacto direto na fauna ocasionado pela
Indústria pesqueira que não respeita diversos pontos das
desses
legislações nacional e internacional.
A poluição térmica produzida pela água utilizada no sistema
de refrigeração das usinas de energia também reduz a solubi-
lidade do oxigênio em rios e lagos.
A poluição representa uma ameaça real à qualidade da
água, à saúde e ao meio ambiente.

Saneamento básico
Esquema dos processos de radiação, absorção e O saneamento básico é um aspecto da área da saúde pú-
reflexão da energia solar na atmosfera
blica que lida com o controle ambiental, a prevenção e o
combate a doenças infecto-contagiosas.
Buraco na camada de ozônio
A camada de ozônio, é uma das camadas de nossa atmos- Eutrofização
fera, que está localizada a cerca de 50 km da superfície do Quando um corpo de água recebe uma grande quantidade de
Planeta. É constituída, basicamente, de ozônio (O3), formado efluentes com matéria orgânica, dizemos que ele foi eutrofiza-
na seguinte reação: do − alimentado. Efluentes são resíduos líquidos de atividades
O2 + 1/2O2 + ultravioleta → O3 de origem humana, sobretudo domésticos e industriais.
A partir do lançamento de efluentes orgânicos, basicamente
isto quer dizer que na formação do ozônio, as radiações ultra-
ocorrerá decomposição aeróbica (presença de O2), que
violeta A e B (UVA / UVB) são consumidas, não atingindo a
aumentará a quantidade de nutrientes (nitratos e fosfatos),
superfície terrestre.
favorecendo o crescimento acelerado de algas e plantas
A destruição da camada de ozônio é consequência da libe- aquáticas – floração.
ração de gases denominados clorofluorcarbonos (CFC)
Esse crescimento de algas pode formar na superfície uma
para a atmosfera. Os CFCs, ao chegarem à camada de ozô-
barreira à entrada de luz, levando à morte de outros organis-
nio, catalisam a degradação destas moléculas.
mos autótrofos que reduzirá as taxas de O2 na água, devido a

Impacto da atividade humana decomposição, matando grande parte dos peixes. Essa mor-
tandade de peixes aumenta ainda mais a matéria orgânica.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Portanto, segue-se a decomposição, porém anaeróbica des-


sobre a água doce e oceanos ta vez, que libera novamente nutrientes, acelerando o cres-
Os oceanos são fundamentais no processo de controle dos cimento de algas, dando cor, sabor e odor desagradáveis à
fluxos globais de energia devido principalmente ao “alto água, tornando difícil o tratamento para a potabilização.
calor específico” da água que retém calor. Representam,
desta forma, papel fundamental nos processo climáticos Maré vermelha
globais, como pode ser exemplificado pelos fenômenos El
Fenômeno que, assim como a eutrofização, envolve a flo-
niño e La niña, que resultam provavelmente do aquecimen-
ração, ou seja, o crescimento acelerado nas populações de
to diferenciado de massa de águas oceânicas.
algas e plantas - neste caso, as populações de dinoflage-
Por outro lado, o papel do fitoplâncton oceânico é fundamental lados. Ocorre alteração da cor da água (tons de vermelho)
no controle atmosférico do carbono fixando-o a partir da at- em virtude de presença de toxinas liberadas por estas algas,
mosfera e produzindo cerca de 75% do oxigênio atmosférico. em condições específicas.

247
Magnificação trófica INFLUÊNCIAS DE ÁREAS URBANA E RURAL NO CLIMA
É um processo de acúmulo progressivo de substâncias como Vento mais fraco mais forte Mais obstáculos
metais pesados e certos inseticidas nos organismos ao longo Nebulosidade maior menor Mais núcleos
da cadeia alimentar, de forma que a concentração atinge valor Radiação menor maior
Mais nuvens
máximo nos predadores de topo. na cidade

Reaproveitamento dos esgotos Principais problemas


A melhor solução para o problema dos esgotos é seu reapro-
veitamento. Eles devem ser tratados de modo que os micro-
ambientais brasileiros
-organismos sejam mortos e as impurezas, eliminadas. A água No Fórum Nacional de Secretários Estaduais de Meio Am-
proveniente de esgotos, uma vez removidas as impurezas, biente, realizado na cidade de Belo Horizonte, em 20 de
pode ser reaproveitada. Os resíduos semissólidos, resultantes outubro de 1999, a Abema – Associação Brasileira de En-
do tratamento dos esgotos, podem ser utilizados como fertili- tidades de Meio Ambiente, definiu os principais problemas
zantes, enquanto o gás metano, produzido pela putrefação da ambientais brasileiros, que fazem parte de suas prioridades
matéria orgânica, pode ser utilizado como combustível. de ação. São eles:
1. Escassez de água pelo mau uso, pela contaminação e
Indicadores de qualidade por mau gerenciamento das bacias hidrográficas;
2. Contaminação de corpos hídricos por esgotos sanitários
INFLUÊNCIAS DE ÁREAS URBANA E RURAL NO CLIMA
e por outros resíduos;
CLIMA CIDADE CAMPO MOTIVO
3. Degradação dos solos pelo mau uso;
Perda mais lenta
Temperatura maior menor de energia para 4. Perda de biodiversidade devido ao desmatamento e às
a atmosfera queimadas;
Temperatura−
Umidade menor maior
vegetação 5. Degradação da faixa litorânea por ocupação desorde-
nada;
Chuva mais menos Mais núcleos
6. Poluição do ar nos grandes centros urbanos.

TIPOS DE REPRODUÇÃO E CICLOS DE VIDA

Reprodução molecular Nos organismos pluricelulares, a mitose adiciona células


que levam ao crescimento dos tecidos. Nos organismos
A reprodução molecular pode ocorrer através da síntese unicelulares, a mitose é classificada de acordo com os tipos
e acúmulo ou duplicação de substâncias (água, enzi- de células que origina:
mas, DNA, RNA etc.). Implica no aumento do tamanho
da célula e pode ser seguida pela reprodução (divisão) Divisão binária
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

celular que, nos eucariotos, consiste de duas etapas


a) Simples: Divisão de uma célula em duas células filhas
consecutivas, a divisão do núcleo (cariocinese) e do ci-
com tamanho aproximadamente semelhante. Ocorre
toplasma (citocinese).
na maioria dos casos.

Reprodução celular b) Brotamento: Divisão de uma célula, resultando em


duas células de tamanho muito distinto. Ocorre princi-
(divisão celular) palmente nas leveduras (fermentos).
Enquanto em procariontes a divisão celular ocorre apenas
por divisão binária, nos eucariontes é possível distinguir ba- Divisão múltipla
sicamente dois tipos de divisão celular: a mitose e a meiose O núcleo se divide várias vezes e posteriormente o cito-
plasma se divide, originando várias células.
O resultado final da mitose é a formação de duas células
filhas geneticamente idênticas.

248
Reprodução do Organismo § Gera, de forma precisa, organismos bem adaptados a
ambientes favoráveis e estáveis;
A reprodução do organismo como um todo consiste na
§ Vantagens econômicas, do ponto de vista da pro-
separação e desenvolvimento de unidades reprodutivas
dução vegetal, permitindo selecionar variedades de
derivadas do organismo parental. Distinguem-se três tipos:
plantas e reproduzi-las em grande número, de modo
I. vegetativa;
rápido e conservando as características selecionadas.
II. espórica;
III. gamética. Reprodução assexuada
Desvantagens da reprodução assexuada
A reprodução gamética é classificada em dois tipos básicos Processos mais comuns
§ A reprodução assexuada não assegura a variabilidade gené-
quanto a morfologia dos gametas envolvidos: isogamia e
tica, o que pode ser perigoso para a sobrevivência da espécie.
heterogamia.
Reprodução assexuada
§ Isogamia – quando os dois gametas são idênticos mor- Processos

fologicamente. Essa classe envolve, geralmente, gametas mais comuns

móveis. Bipartição Gemulação


Divisão
Múltipla
Multiplicação
vegetativa Partenogénese Esporulação Fragmentação

§ Heterogamia – quando os dois gametas são distintos


morfologicamente. Existem dois tipos de heterogamia:
a) Anisogamia – quando um dos gametas é maior que
o outro, não diferindo na forma e presença de flagelos.
b) Oogamia – quando os gametas diferem na forma,

Reprodução sexuada
sendo um muito pequeno (flagelado ou não) em rela-
ção ao outro, que é sempre imóvel.
Para ultrapassar as incertezas do meio e assegurar a produção Biologicamente, pensar em reprodução sexuada é pensar
de novas gerações, a natureza adotou numerosas estratégias em fecundação, que é a combinação de material genético
de reprodução, que podem se agrupar em dois processos bá- de dois ou mais indivíduos ou de gametas do mesmo indi-
sicos: reprodução assexuada e reprodução sexuada. víduo, no caso da autofecundação.
Quando os gametas se fundem, o número de cromossomos
Reprodução assexuada da célula resultante é o dobro do presente em cada um dos
A reprodução assexuada permite a formação de novos gametas. A reprodução sexuada implica a alternância regular
indivíduos a partir de um só progenitor, sem que haja a de dois eventos críticos: meiose e fecundação.
intervenção de células sexuais — os gametas. Des- Fecundação
DIPLOBIONTE
Zigoto Fecundação
HAPLOBIONTE HAPLOIDIPLOBIONTE
Fecundação Zigoto

te modo, não há fecundação e, consequentemente, não


+ Zigoto +
+
2n
2n

ocorre formação do zigoto. Neste tipo de reprodução,


2n

2n

os descendentes desenvolvem-se a partir de uma célula ou


2n

de um conjunto de células do progenitor. Logo, todos os Meiose Meiose Meiose

indivíduos são geneticamente iguais. ORGANISMO DIPLONTE ORGANISMO HAPLONTE ORGANISMO HAPLODIPLONTE

A monotonia que se verifica na descendência é consequ-


ência do processo de divisão celular que está na base da Reprodução sexuada e variabilidade
reprodução assexuada — a mitose.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

A principal vantagem da reprodução sexuada em relação


Muitos dos organismos que se reproduzem assexuada- à assexuada, é o aumento da variabilidade genética da
mente também o podem fazer sexuadamente, sempre que descendência. Os mecanismos que contribuem para essa
as condições do meio forem favoráveis. Os seres vivos em variabilidade são:
que os dois tipos de reprodução alternam periodicamente 1. Segregação independente dos cromossomos homólogos
possuem alternância de gerações no seu ciclo de vida.
2. Crossing-over
Vantagens da reprodução assexuada 3. Fecundação
§ Possibilita que organismos isolados originem descen- 4. Mutações
dência, sem necessidade de parceiro; A variabilidade genética dos indivíduos de uma popu-
§ Origina uma descendência numerosa, num curto lação contribui para o seu sucesso evolutivo, uma vez que,
espaço de tempo, o que permite a colonização rápi- num ambiente em mudança, pelo menos alguns dos mem-
da de um habitat; bros da população estarão aptos a sobreviver.

249
REINO FUNGI

A importância de estudar os fungos de reprodução sexuada. Na fase sexuada, a produção de


esporos se dá através do processo de meiose. Nesse pro-
Além de realizarem a decomposição da matéria orgânica cesso, inicialmente, as hifas haploides, oriundas de micélios
juntamente com as bactérias, os fungos são causadores de diferentes, aproximam-se e ocorre a fusão do citoplasma
diversas doenças que afetam os metazoários. (denominado de plasmogamia), sem que ocorra a fusão
Desde a antiguidade os fungos são usados pela humanida- dos núcleos. Dessa forma, em um mesmo citoplasma há
núcleos haploides, o que caracteriza um estágio denomi-
de, como forma de alimento. Posteriormente, também na
nado heterocariótico (n + n). Depois de certo tempo, acon-
indústria alimentícia, para a produção de cervejas, vinhos,
tece a fusão dos núcleos haploides produzindo um núcleo
pães e queijos. Mais tarde, descobriram-se produtos pro-
diploide (cariogamia), o qual entra em meiose, produzindo
duzidos pelos fungos, como a Penicilina, e com o auxílio da
esporos haploides e recomeçando o ciclo.
biotecnologia, permitiu-se produzir esses metabólitos, em
larga escala, em laboratório.
Nutrição e metabolismo
Morfologia Os fungos são considerados seres heterotróficos, não pro-
duzem o próprio alimento, necessitando de materiais orgâ-
Os fungos podem ser formados por uma única célula (uni-
nicos já formados. Devido à parede celular, a nutrição é re-
celulares), formando pequenas colônias ou podem ser
alizada por absorção de nutrientes resultantes do processo
formados por muitas células (indivíduos pluricelulares). Os
de digestão extracorpórea.
fungos pluricelulares são caracterizados por corpos sésseis
(talo), geralmente constituídos de hifas. As hifas, no geral, § Saprófitas obrigatórios − fungos que retiram seus nu-
podem ser classificadas em septadas (com septo) ou ceno- trientes da matéria orgânica morta, e não são parasitas.
cíticas (sem septo). O conjunto de hifas que forma o talo dos § Parasitas facultativos ou saprófitas facultativos
fungos é denominado de micélio, o qual é muito ramificado, − fungos que, dependendo das condições do meio,
compondo, às vezes, corpos macroscópicos complexos. podem atuar como saprófitos ou parasitas (causando
doenças em plantas e animais).
Parede celular § Parasitas obrigatórios − fungos que dependem de
O constituinte mais comum da parede celular de fungo é o outros seres para viver.
polissacarídeo quitina.
§ Simbiontes − como as micorrizas (associação mutua-
lística entre fungos e raízes de plantas) e liquens (asso-
Substância de reserva ciação mutualística entre fungos e algas).
O glicogênio é a principal substância de reserva dos
fungos.
Classificação
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Reprodução O Reino Fungi apresenta, como principais grupos, os fi-


los Chytridiomycota (quitridiomicetos), Zygomycota (Zi-
O ciclo de vida dos fungos é separado em duas etapas: um gomicetos), Ascomycota (Ascomicetos) e Basidiomycota
processo assexuado e um processo sexuado. A reprodução (Basidiomicetos).
assexuada tem um papel importante na multiplicação e
na dispersão (em um intervalo relativamente pequeno de
tempo, várias gerações são produzidas), e a reprodução se-
xuada é responsável pela variabilidade genética.
Características básicas
Durante a fase assexuada ocorre a produção de esporos
dos fungos verdadeiros
por mitose, esses esporos podem ser móveis chamados de § Eucarióticos.
zoósporos, ou imóveis do tipo aplanósporos (transportados
pelo vento) ou conidiósporos (conídias). Muitos fungos de- § Parede celular contendo quitina.
pendem de alterações no ambiente para iniciarem a fase § Reserva na forma de glicogênio

250
§ Nutrição por absorção (sem clorofila e heterotróficos). § Agricultura − através de uma associação simbionte
§ Sem tecidos verdadeiros. mutualística entre fungos e raízes de plantas, chama-
das de micorrizas.
§ Reprodução de esporos meióticos (sexual) e mitóticos
(assexual). § Pecuária e saúde pública − podem parasitar animais
levando a prejuízos na pecuária.
Importância dos fungos § Alimentação do homem − Saccharomyces cerevi-
siae (levedura, fermento) é muito usado na indústria
Os fungos são de importância vital para a sobrevivência
alimentícia.
dos ecossistemas e do homem.
§ Ecologia − são decompositores da matéria orgânica. § Medicina e ciências − os fungos são de fundamental
Em algumas situações geram prejuízos para o homem, importância para o homem, pois fabricam os antibióti-
pois são, muitas vezes, a causa do apodrecimento de cos (Penicillium − penicilina). Vale ressaltar que os anti-
alimentos e da madeira. É importante destacar tam- bióticos participam da seleção de linhagens resistentes
bém os líquens. de bactérias através do seu uso pela sociedade.

BRIÓFITAS E PTERIDÓFITAS

Divisão bryophyta Ciclo de vida e morfologia


A Divisão Bryophyta abrange vegetais terrestres morfologi- As briófitas possuem um ciclo de vida com alternância de
camente simples, denominados popularmente como “mus- gerações heteromórficas entre gametófito verde fotossinteti-
gos” ou “hepáticas”. São indivíduos eucariontes e plurice- zante independente e esporófito parcialmente ou completa-
lulares (apenas as estruturas reprodutivas são unicelulares). mente dependente do gametófito.

Características básicas Classificação


§ Presença de pigmentos fotossintetizantes como cloro- Atualmente, briófitas são classificadas pela maioria dos au-
fila a e b. tores em três filos: Hepatophyta (hepáticas), Anthocerophyta
(antóceros) e Bryophyta (musgos). Outros autores abordam
§ Apresentam parede celular de celulose. esses três filos como classes ou divisões, seguindo tendên-
§ Presença de cutícula. cias pautadas no conhecimento da filogenia desses grupos.
§ Substância de reserva: amido.
§ Ciclo de vida haplodiplobionte (esporófito dependente Importância das briófitas
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

parcial ou completamente do gametófito). § Dentro da ecologia, as briófitas são importantes porque


§ Reprodução oogâmica. são espécies pioneiras na colonização, instituindo condi-
ções para a disposição posterior de outros indivíduos. Por
§ Esporófito não-ramificado (possui um único esporângio
esse motivo, são plantadas em locais sujeitos à erosão.
terminal).
§ Gametângios e esporângios englobados por camadas § O gênero Sphagnum possui uma grande capacidade
de células estéreis. de absorver e reter líquidos, por isso é muito utilizado
na horticultura.
§ Ausência de vasos condutores.
§ A turfa, usada como combustível é originária da depo-
sição de Sphagnum em lagos de ascendência glacial no
Ocorrência hemisfério norte. A turfa também é usada na destila-
O habitat mais comum das briófitas é o ambiente terrestre ção do uísque escocês, o que fornece a essa bebida seu
úmido. São sempre dependentes da água. aroma característico.

251
Introdução às plantas vasculares esporos caem em uma região propícia podem germinar,
produzindo, por mitose, um gametófito bissexuado (n), ver-
As traqueófitas são plantas que possuem tecidos vas- de e denominado prótalo. Esse prótalo possui rizoides, o
culares que realizam o transporte de água, sais minerais e que garante a estabilidade do gametófito no substrato, e a
outras substâncias através do corpo do vegetal; estão nes- absorção de nutrientes e água.
se grupo as pteridófitas, gimnospermas e angiospermas.
O gametófito possui o arquegônio (n), local de produção da

Pteridófitas oosfera (n), e o anterídeo (n), região de produção dos ante-


rozoides (n). O anterozoide flagelado, na presença de água,
nada até alcançar o arquegônio e encontrar a oosfera. Dessa
Ciclo de vida e morfologia forma, ocorre a fusão da oosfera e do anterozoide, o que
O ciclo de vida das pteridófitas é alternância de gerações, designa o processo de fecundação, e a formação de um zi-
possuindo uma fase haploide (n), denominada gametófito goto (2n). O zigoto cresce por mitose, desenvolvendo-se em
embrião, que inicia seu desenvolvimento, o qual necessita
e uma fase diploide (2n), chamada de esporófito, a qual é a
do gametófito por um pequeno período tempo. O embrião
fase duradoura do ciclo. O esporófito é a parte mais desen-
realiza sucessivas mitoses se transformando em esporófito
volvida e tem como constituintes, raiz, caule (tipo rizoma) e
(2n), o qual se fixa no solo e inicia um novo ciclo.
folha. Não há flores nem frutos nesse grupo.
As pteridófitas possuem dois tipos de ciclo de vida: a ho- Classificação
mosporia (gametófito monoico) e a heterosporia (game-
As pteridófitas estão divididas em dois filos. No filo Lico-
tófito dioico).
phyta, encontram-se diversas epífitas, além de espécies
As samambaias possuem em suas folhas um conjunto de de florestas temperadas. Os esporófitos das licófitas têm
esporângios chamados de soros, estruturas especializadas corpo pequeno, com caules bem próximos ao solo e espo-
que surgem como pequenos pontos pretos na superfície da rofilos agrupados em estróbilos. Os principais representan-
folha. As células do esporângios (2n) sofrem o processo de tes são as selaginelas. Já o filo Pterophyta contém a maior
meiose produzindo os esporos (n). A liberação dos esporos parte das espécies deste grupo, incluindo as samambaias,
ocorre em dias quentes com baixa umidade. Quando os avencas e cavalinhas.

GIMNOSPERMAS

Fanerógamas: o termo refere-se aos vegetais que apresen- truturas femininas e o prefixo “micro” para designar estru-
tam órgãos de reprodução nitidamente visíveis. As faneróga- turas masculinas. Os microsporângios são as estruturas
mas também são chamadas de espermatófitas, porque masculinas fabricantes de esporos masculinos (micrós-
produzem sementes. A semente é uma estrutura adaptativa poros), que originarão os grãos de pólen, os quais repre-
muito eficiente para a disseminação do esporófito que está sentam os gametófitos masculinos jovens ou micro-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

inativo no formato de embrião, o que é um dos maiores avan- prótalos. As folhas que suportam essas estruturas são
ços evolutivos dos vegetais. Esses grupos também se tornaram
denominadas de microsporófilos, cujo conjunto forma a
independentes da água para reprodução devido a formação
pinha ou o cone masculino, (microstróbilo). Os esporângios
de grão de pólen, de onde se desenvolve o tubo polínico.
produtores de óvulos são chamados megaesporângios,
As fanerógamas podem ser divididas em dois grandes as folhas que os suportam, são denominadas de megas-
grupos: as gimnospermas (pinheiros), e as angiospermas porófilos e o conjunto forma a pinha ou cone feminino
(plantas fabricantes de frutos). As fanerógamas possuem
(megastróbilo).
tecidos vasculares, ou seja, são traqueófitas.
Os estróbilos, cones ou pinhas presentes nas gimnosper-

Morfologia mas podem ser unissexuados, ou seja, possuem uma par-


te masculina ou feminina (mas não as duas) e reúnem os
Os esporângios são as folhas modificadas e fabricantes esporófilos. As espécies deste grupo podem ser monoicas
de esporos. Usam-se os prefixos “mega” para designar es- e dioicas.

252
§ Monoicas – na mesma planta existem estróbilos mas-
culinos e femininos. Diversidade e classificação
Exemplo: Pinus sylvestris. Atualmente existem quatro grupos com representantes vivos:
Cycadophyta, Ginkgophyta, Conipherophyta e Gnetophyta.
§ Dioicas – estróbilos apenas de um sexo são encontra-
dos em uma mesma planta. A interação fauna-planta
Exemplo: Araucaria angustifolia. No Brasil, há grande concentração de gimnospermas na cha-
As gimnospermas têm duas gerações: uma geração es- mada mata de araucária (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande
porofítica duradoura (corresponde à planta propriamente do Sul, manchas esparsas, no sul de São Paulo, Minas Gerais e
dita) e uma geração gametofítica, a qual cresce dentro do Rio de Janeiro). A polinização, em gimnospermas, ocorre pelo
esporófito (constituída pelo gametófito feminino, o saco vento. Já a disseminação da semente da araucária é realizada
embrionário, e gametófito masculino: o grão de pólen). especialmente pela gralha-picaça, gralha-azul, e cutia.

ANGIOSPERMAS

As Angiospermas são fanerógamas, ou seja, têm estruturas A planta observada na natureza é o esporófito (2n), a qual
reprodutivas evidentes (flores), na qual são produzidas as está organizada em raiz, caule e folha. Os gametófitos (n)
sementes envoltas pelos frutos. Este grupo foi o último gru- das angiospermas são dioicos (sexos separados), muito
po de plantas que se diferenciou na escala evolutiva. São reduzidos, dependentes do esporófito e crescem dentro
comumente terrestres, mas possuem representantes aquáti- da flor. Define-se por gametófito feminino o saco embri-
cos. Podem ser arbóreas lenhosas, herbáceas e arbustivas. onário (megaprótalo) contido no óvulo, o qual não forma
Atualmente é o grupo com maior número de representantes arquegônio e tem uma única oosfera (gameta feminino).
(gênero, espécies e indivíduos), amplamente distribuído pelo Já o gametófito masculino imaturo corresponde ao grão de
mundo e também mais utilizado pelo homem. As angio- pólen, e o maduro é o que chamamos de tubo polínico (mi-
spermas, no geral, dividem-se em dois grupos: as Eudico- croprótalo), no qual se formam dois núcleos espermáticos
tiledôneas e as Monocotiledôneas. A angiosperma apresenta
(gametas masculinos). Assim como ocorria nas gimnosper-
um ciclo de alternância de gerações, com meiose espórica ou
mas, não dependem de água para a fecundação.
intermediária, no qual a fase duradoura é o esporófito.

Flor
estigma

antera
estame filete
estilete carpelo
pétala
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

óvulo ovário

receptáculo floral
sépala

pedúnculo floral

© BlueRingMedia/Shutterstock

Estruturas vegetativas e reprodutivas da flor

Androceu
O aparelho reprodutor masculino é composto por um conjunto de estames. Na antera (parte fértil) ocorre a formação de es-
poros, por meiose, que darão origem aos grãos de pólen. A germinação do grão de pólen gera o tubo polínico (gametófito
masculino adulto ou microprótalo).

253
Gineceu
O gineceu é composto por folhas transformadas chamadas carpelos ou pistilos. O óvulo não é o gameta feminino; no caso
das angiospermas é uma estrutura dentro da qual será formada a oosfera (gameta feminino). No interior do óvulo, a célula-
-mãe dos megásporos (2n) divide-se por meiose e forma quatro megásporos (n), 3 degeneram restando 1 megásporo
fértil. O megásporo germina ao mesmo tempo que seu núcleo se divide por três mitoses consecutivas, levando à formação de
oito células, que organizam o saco embrionário (gametófito feminino). Este tem uma célula denominada oosfera, ao lado
desta há duas células chamadas sinérgides. No lado oposto à oosfera, há três células denominadas de antípodas e, no
centro, dois núcleos denominados núcleos polares.

núcleo haploide

ovário óvulo

meiose
estas células
degeneram

oosfera (n) antípodas (n)


megásporo
funcional (n) secundina
núcleos célula-mãe de primina
polares isolados megásporo (2n)
gametófito feminino mitose
(saco embrionário)

mitose mitose

sinérgides micrópila

Formação do megásporo e do saco embrionário

Fecundação
nto
A primeira fecundação gera o zigoto (2n), o qual se dá a env
olv
ime
des
partir da fusão de um núcleo espermático e da oosfera.
A segunda fecundação, entre um núcleo espermático e germinação

dois núcleos polares gera um núcleo 3n, chamado de


endosperma (ou albúmen) que nutrirá o embrião até
que germine. tegumento (casca)
embrião
2n

ESPORÓFITO
Depois da fecundação, ocorre um murchamento e que- endosperma (3n) óvulo

semente
da das sépalas, pétalas, e estames. O óvulo fecundado secção

desenvolve-se e produz a semente. Já o ovário se de- antera


ovario
semente
senvolve formando o fruto.
célula-mãe de
fruto micrósporos

Polinização DIPLOIDE
(2n) pistilo

Polinização é o fenômeno de condução do grão de pó- (2n)


U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

HAPLOIDE
len desde a antera, local da sua produção, até o estig- (n)

ma do gineceu, para fusão com o gameta feminino. A


polinização pode ser direta (autopolinização) e indireta
tubo polinico
(cruzada).
micrósporos

Os agentes polinizadores GAMETÓFITO (n)

Os vegetais terrestres são fixos ao substrato e, assim, são


inibidos de se locomover de um lugar para o outro, seja
para encontrar abrigo, alimento, ou parceiros para a re- saco
embrionário oosfera
produção. As angiospermas têm uma série de adaptações núcleos megasporo
gaméticos funcional
(n)
da flor como cor, cheiro e nectar que são atrativos para
atrair agentes polonizadores, o que possibilitou o suces-
so reprodutivo na procura do parceiro. As gimnospermas
são polinizadas passivamente pela ação do vento.
254
U.T.I. - Sala tos de ação estrogênica. Numa pesquisa, analisaram-se
três grupos de peixes quanto à produção de VTG:
1. (UERJ) Fêmeas de espécies de crustáceos do gênero • peixes provenientes de água limpa e mantidos nes-
Daphnia sp., importantes componentes do zooplâncton, sa condição:
podem se reproduzir a partir de dois processos distintos: • peixes provenientes de água limpa que receberam
injeção de estrógeno; e
• partenogênese, quando há condições ambientais • peixes provenientes de águas poluídas.
muito favoráveis, gerando uma prole composta ape-
nas por fêmeas; Decorrido certo tempo, foram determinados o número
• reprodução sexuada padrão formando ovos dor- de machos e fêmeas e a presença de VTG no sangue de
mentes que eclodem quando as condições se tor- cada um dos indivíduos desses três grupos experimen-
nam novamente favoráveis. tais. Os resultados obtidos nesse estudo estão repre-
sentados neste gráfico:
Observe o esquema:

Considerando as informações contidas nesse gráfico,


faça o que se pede.
Defina o processo de reprodução por partenogênese.
a) Assinalando a assertiva apropriada, identifique o
Aponte, também, uma vantagem, para esses animais,
grupo de peixes — I, II ou III — que foi coletado em
da realização da partenogênese sob condições ambien-
local poluído. Justifique sua resposta.
tais favoráveis.
( ) Grupo I.
Em seguida, indique dois impactos negativos, um genéti-
( ) Grupo II.
co e outro ecológico, para uma população de Daphnia sp.
que realize apenas partenogênese por muitas gerações. ( ) Grupo III.
b) Explique a presença de fêmeas não produtoras de
2. (FUVEST) As algas apresentam os três tipos básicos VTG no Grupo II.
de ciclo de vida que ocorrem na natureza. Esses ciclos
diferem quanto ao momento em que ocorre a meiose e 4. (FUVEST) Nos anos de 1970, o uso do inseticida DDT,
quanto à ploidia dos indivíduos adultos. No esquema a também chamado de 1,1,1-tricloro-2,2-bis (para-cloro-
seguir está representado um desses ciclos. fenil)etano, foi proibido em vários países.
Essa proibição se deveu à toxicidade desse inseticida,
que é solúvel no tecido adiposo dos animais. Para mon-
itorar sua presença em um ambiente marinho do litoral
canadense, amostras de ovos de gaivotas, recolhidos
nos ninhos, foram analisadas. O gráfico abaixo mostra a
variação da concentração de DDE (um dos produtos gera-
dos pela degradação do DDT) nos ovos, ao longo dos anos.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

a) Identifique as células tipo I, II e III.


b) Considerando que o número haploide de cromossomos
dessa alga é 12 (n = 12), quantos cromossomos os in-
divíduos X, Y e Z possuem em cada uma de suas células?

3. (UFMG) A vitelogenina (VTG) é uma proteína presente


nos peixes, cuja síntese é induzida pelo estrógeno. A
presença dela no sangue de machos indica a exposição
desses animais a compostos estrogênicos. Portanto, um
peixe genotipicamente macho sofrerá feminização se,
durante a diferenciação sexual, for exposto a compos-

255
Um estudo realizado no litoral dos EUA mostrou que a Explique por que a reprodução sexuada foi inicialmente
concentração total de DDT e de seus derivados na água selecionada nos caramujos e, ainda, por que a volta à
do mar era cerca de 5 × 10-5 no fitoplâncton, 4 × 10-2 em reprodução assexuada pode ser vantajosa para esses
peixes pequenos, 0,5 ppm; em peixes grandes, 2 ppm; e, moluscos.
em aves marinhas, 25 ppm. 3. (UNICAMP) Os fungos são organismos eucarióticos
Dê uma explicação para o fato de a concentração des- heterotróficos unicelulares ou multicelulares. Os fungos
sas substâncias aumentar na ordem apresentada. multicelulares têm os núcleos dispersos em hifas, que
podem ser contínuas ou septadas, e que, em conjunto,
5. (UNICAMP) O processo de regeneração pode ocorrer formam o micélio.
tanto em organismos unicelulares como pluricelulares,
a) Mencione uma característica que diferencie a célu-
conforme já demonstrado em vários experimentos. O la de um fungo de uma célula animal, e outra que di-
resultado de um desses experimentos pode ser obser- ferencie a célula de um fungo de uma célula vegetal.
vado na figura A, que mostra a regeneração de apenas b) Em animais, alguns fungos podem provocar into-
um fragmento da alga unicelular Acetabularia. A figura xicação e doenças como micoses; em plantas, podem
B mostra a regeneração de todos os fragmentos de uma causar doenças que prejudicam a lavoura, como a
planária (platelminto). ferrugem do cafeeiro, a necrose do amendoim e a
vassoura de bruxa do cacau. Entretanto, os fungos
também podem ser benéficos. Cite dois benefícios
proporcionados pelos fungos.
4. (UFSCAR) Muitas das características que surgiram
ao longo da história evolutiva das plantas permitiram a
conquista do ambiente terrestre. Considere os musgos
e as samambaias;
a) cite uma característica compartilhada por esses
dois grupos que torna essas plantas dependentes da
água para a fertilização.
a) Por que no experimento com Acetabularia não b) compare os dois grupos com relação à presença
houve regeneração de todos os segmentos? de um sistema vascular para transporte de água e
b) Explique por que o processo de regeneração das nutrientes.
planárias difere daquele que ocorre na Acetabularia. 5. (UFC) As primeiras manifestações da vida vegetal
no planeta Terra tiveram lugar em ambientes aquáti-
cos. Organismos procariontes evoluíram para formas
U.T.I. - E.O. eucarióticas, dentre as quais os seres autotróficos al-
cançaram graus elevados de complexidade biológica.
1. (UEMA) Um artigo publicado na revista online PloS Neste cenário evolutivo, a aparição da sexualidade
ONE descreve a ação dos fungos e o comportamento de e da meiose constituiu o fenômeno mais importante
formigas infectadas. Após a infecção feita por meio de para acelerar a evolução orgânica e, consequentemen-
esporos, as formigas têm seu sistema nervoso atingido te, o desenvolvimento dos distintos ciclos biológicos.
e passam a ser controladas pelo parasito. Cada fungo A distância entre a singamia e a meiose expressou o
possui necessidades diferentes, mas todos direcionam desenvolvimento de gerações alternantes de natureza
as formigas para o local mais adequado à reprodução esporifítica e gametofítica.
de sua espécie. As formigas abandonam suas atividades Considerando que os esquemas a seguir representam
na colônia e, como verdadeiros “zumbis”, dirigem-se ao ciclos biológicos de uma linhagem de organismos que
local determinado e, com o avanço da ação fúngica, os evoluíram a partir de seres com sistema fotossintético
baseado nas clorofilas a e b, analise os diagramas A, B, C
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

insetos morrem em alguns dias.


Fonte: Disponível em:http://www. tudolevaapericia.blogspot.com/.../ e D. Observe a seguinte forma de diagramação:
cientistas descobrem quatro novas. Acesso em: 12 nov. 2014. (adaptado)

Explique o ciclo de vida de fungos no caso citado.

2. (UERJ) As populações de um caramujo que pode se


reproduzir tanto de modo assexuado quanto sexuado
são frequentemente parasitadas por uma determina-
da espécie de verme. No início de um estudo de longo
prazo, verificou-se que, entre os caramujos parasitados,
foram selecionados aqueles que se reproduziam sexua-
damente. Observou-se que, ao longo do tempo, novas
populações do caramujo, livres dos parasitas, podem
voltar a se reproduzir de modo assexuado por algumas
gerações.

256
Ciclo biológico A - Organismo primitivo. 8. (UFRJ) Uma espécie de peixe da família Serranidae é
Ciclo biológico B - Organismo com estruturas repro- morfologicamente hermafrodita mas fisiologicamente
dutivas não diferenciadas. unissexual. Estudos populacionais para caracterizar o
sexo fisiológico dos indivíduos em função do compri-
Ciclo biológico C - Organismo com condições mor-
mento do corpo apresentam os seguintes resultados:
fofisiológicas para que ocorra a polinização.
Ciclo biológico D - Organismo com específico proces-
so de fecundação.

Responda as seguintes questões:


I. Em que grupo de organismos atuais observa-se o ciclo
biológico A?
II. No diagrama do ciclo biológico A, os números 1
Explique o benefício decorrente do padrão de diferen-
e 2 representam, respectivamente: __________ e
ciação sexual observado.
___________.
III. Qual o nome das estruturas indicadas, respecti- 9. (UNICAMP) Até há algum tempo, considerava-se que
vamente, pelos números 1 e 2 do ciclo biológico B? fungos e bactérias pertenciam ao reino vegetal. Com o
_________ e __________. reconhecimento das diferenças entre eucariotos e proca-
IV. Cite uma função ecofisiológica da estrutura 1 do ci- riotos, as bactérias foram separadas, mas os fungos per-
clo biológico C. maneceram incluídos no reino vegetal. Mais recentemen-
V. Comparando os ciclos biológicos C e D, que carac- te, porém, tornou-se claro que os organismos agrupados
terística biológica distingue os dois processos de sin- como fungos definitivamente não são plantas.
gamia? a) Apresente uma característica comum a bactérias e
VI. Do ponto de vista genético, qual a diferença entre a fungos que permitiu considerá-los como plantas.
estrutura 3 do ciclo biológico D e a estrutura 1 do ciclo b) Apresente uma característica das bactérias que
biológico C? demonstra serem elas pertencentes a outro reino. Qual
é esse reino?
c) Cite duas características das plantas que não são en-
6. (UEG) Observe a figura a seguir e faça o que se pede: contradas nos fungos.

10. (UFV) A figura abaixo ilustra três espécies (I, II e


III) de um mesmo grupo taxonômico de plantas, con-
hecido como “traqueófitas”, que se destaca pela sua
importância filogenética e botânica.

a) O organismo representado na figura pertence ao


reino ‘Fungi’. Cite duas características que são funda-
mentais para a sua inclusão nesse reino. a) Qual a divisão taxonômica que engloba essas três es-
b) Qual é a forma de reprodução apresentada pelo pécies vegetais?
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

“bolor do pão”? b) Cite uma característica básica desse grupo de plantas.


c) Que nome recebe a estrutura indicada pela seta em
7. (UFRJ) No ciclo reprodutivo da maioria dos vegetais I e II?
observa-se uma alternância de gerações que é mostra-
da, de forma simplificada, no esquema a seguir. 11. (UFAL) Compare o esporófito de uma samambaia ao
esporófito de um musgo.

12. (UNESP) Fungos e bactérias têm sido considerados,


por muitos, os “vilões” entre os seres vivos. Sabemos,
entretanto, que ambos apresentam aspectos positivos
e desempenham importantes funções ecológicas.
Em qual das fases - gametófito ou esporófito - não a) Cite uma forma pela qual bactérias e fungos podem
encontramos pares de cromossomos homólogos? contribuir para a reciclagem de nutrientes minerais.
b) Cite um exemplo de conquista científica no com-
Justifique sua resposta.
bate a infecções que foi possível a partir da utilização
de fungos.

257
13. (UFES) A escassez de água é um problema cada vez mais severo em todo o mundo. Na região Norte do Brasil, a
interação entre a floresta e os recursos hídricos, associada ao movimento de rotação da Terra, transfere, anualmente,
cerca de 8 trilhões de metros cúbicos de água para outras regiões do país. Essa água, que não é utilizada pela popu-
lação que vive na região Norte, representa um serviço ambiental colossal prestado ao país pelo principal bioma dessa
região, uma vez que sustenta o agronegócio brasileiro e o regime de chuvas, responsável pelo abastecimento do
lençol freático e dos reservatórios produtores de hidroeletricidade nas regiões Sul e Sudeste do país.
(Disponível em: <http://agencia.fapesp.br/19541#.U-4B59h3YTc>. Acesso em: 18 ago. 2014. Adaptado).
a) Identifique o bioma da região Norte do Brasil, mencionado no texto, que fornece água para outras regiões do país.
b) Explique qual é a contribuição dos seres vivos para o ciclo da água.
c) Explique como o desmatamento afeta o regime de chuvas mencionado no texto.

14. (UEL) “Não tem jeito de alimentar as pessoas sem fixar quantidades enormes de nitrogênio da atmosfera, e esse
nitrogênio está, no momento, aplicado a plantas de cultivo de forma muito ineficiente”, explicou Paul Falcowski,
membro de uma equipe de estudos da Universidade de Rutgers, em New Jersey. “Muitos dos fertilizantes a base de
nitrogênio que são usados mundialmente são mal aplicados. Como resultado, cerca de 60% do nitrogênio presente
nos fertilizantes não chega a ser incorporado pelas plantas, ficando livre para escorrer além das zonas de raízes e
então poluir rios, lagos, aquíferos e áreas costeiras, levando à eutrofização”, afirmam outros pesquisadores.
Adaptado de: <http://hypescience.com/nitrogenio-e-apontado-como-novo-vilao-do-ecossistema/>. Acesso em: 7 jun. 2014.
a) Quais são as etapas e a consequência do processo de eutrofização dos ambientes aquáticos mencionados no texto?
b) Embora existam consequências negativas graves para o meio ambiente, decorrentes das atividades humanas relacionadas
à fixação e à utilização do nitrogênio, este elemento é essencial à vida. Determine as classes de moléculas orgânicas que são
sintetizadas pelas plantas a partir dos produtos da fixação do nitrogênio.

15. (UFJF-PISM) Crescimento da população nas cidades, falta de planejamento no saneamento urbano, conexões clan-
destinas com a rede de esgoto e indústrias que despejam resíduos indevidos. São várias as razões para a poluição de
grandes rios ao redor do mundo. Mas também existem muitos exemplos de rios que foram recuperados com sucesso.
Um dos mais famosos é o Rio Tâmisa, que corta Londres, na Inglaterra. A poluição no rio era tanta que ele chegou a
ser chamado de “O Grande Fedor”. Isso lá no século XIX. Desde essa época, os ingleses tentam conter a sua degra-
dação. Mas o que resolveu mesmo foi a construção de sistemas de tratamento de água ao longo do rio, que começou
na década de 60. Hoje o Tâmisa está recuperado, e cenas de pessoas remando, grupos pescando e embarcações são
comuns no local. De forma similar, o rio Han, na Coreia do Sul, importante fonte de abastecimento da capital Seul,
também foi recuperado.
Fonte: Super interessante, disponível em: http://super.abril.com.br/crise-agua/solucoes.shtml
O texto mostra a preocupação com a restauração de ambientes aquáticos degradados. Com base no texto e na atual
crise da água, responda:
a) Que nome se dá ao despejo de grande quantidade de nutrientes na água, desequilibrando as teias alimentares aquáticas,
podendo levá-las à extinção?
b) Se a água faz parte de um ciclo, teoricamente ela não poderia acabar. Explique por que a água potável está cada vez mais
rara para a população humana.
c) O que ocorre nos níveis tróficos da cadeia alimentar, em relação à acumulação, quando certas substâncias tóxicas são intro-
duzidas no ecossistema aquático?

16. (UERJ) Considere três ecossistemas: deserto, floresta tropical perenifólia e mar aberto.
Os gráficos abaixo indicam as medidas obtidas nesses ecossistemas em relação a três diferentes parâmetros:
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Identifique o ecossistema correspondente à floresta tropical perenifólia, justificando sua resposta.


Identifique, também, qual é o ecossistema A e explique por que a luz pode ser considerada o fator abiótico que limita
a produtividade primária líquida média neste ecossistema.

258
BIOLOGIA

2
CIÊNCIAS DA
BIOLOGIA 2
NATUREZA
e suas tecnologias

U.T.I.
MOLUSCOS

O surgimento do celoma e maioria dos moluscos têm vida aquática, com grande
distribuição marinha; alguns caramujos levam vida in-
do sistema circulatório teiramente terrestre. O filo apresenta oito classes, sendo
que as principais são: Gastropoda (ex.: caramujos), Bi-
Os moluscos compõem um dos filos mais abundantes valvia (ex.: ostras), Cephalopoda (ex.: lulas), Scaphopo-
em número de espécies e parecem ter surgido antes dos da (ex.: dentálios) e Polyplacophora (ex.: quítons).
anelídeos. No estudo a seguir, é importante reconhecer
Observe na imagem a diversidade de tipos morfológicos
exemplos e particularidades nesses animais. Do ponto de
existente entre os moluscos:
vista evolutivo, lembre-se de que já apareceram sistemas
digestivo, respiratório e nervoso. Nesses animais, no desen-
volvimento embrionário, surge uma cavidade totalmente
revestida por mesoderme, o celoma. Acredita-se que o
celoma representa uma ampliação do espaço dentro do
animal, o que permitiu o desenvolvimento e o alojamento
de mais órgãos e sistemas.
Acelomado Pseudocelomado Celomado

Exemplo da biodiversidade de moluscos

Fisiologia: tegumento
e esqueleto
O tegumento é formado por um epitélio simples, às vezes
Caracterização e classificação ciliado e contendo grande número de células mucosas. A
parte do tegumento que recobre a massa visceral forma
o manto ou pálio, uma dobra que secreta a concha. Ca-
ramujos e caracóis apresentam uma concha univalve, ou
seja, formada por uma só peça; ostras e mariscos possuem
a concha bivalve, que apresenta duas peças (valvas) que se
adaptam e se articulam. De natureza calcária, a concha é
um exoesqueleto que protege o corpo mole.

Digestão
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Lesma marinha
O sistema digestório é completo e compreende boca, farin-
Os moluscos (do latim molluscus = mole) são animais ge, esôfago, estômago, intestino e ânus. A faringe ou cavi-
possuidores de um corpo mole, viscoso, não segmenta- dade bucal apresenta, inferiormente, a rádula, uma placa
do e sem patas. Apresentando simetria bilateral, o corpo recoberta por dentículos quitinosos utilizada para raspar o
é dividido em três partes: cabeça, pé e massa visceral. A alimento. Ostras e mexilhões são filtradores, retendo nas
cabeça é bem nítida nos caramujos e polvos, mas não é brânquias algas microscópicas, protozoários e bactérias
diferenciada nas ostras. O pé é uma massa musculosa usados como alimento. Os não filtradores, como caracóis,
e ventral que se constitui num órgão locomotor, fixador polvos e lulas, são herbívoros ou carnívoros.
e cavador, também servindo de base para a classifica- A rádula, estrutura raspadora ausente nos filtradores, é
ção dos moluscos. A massa visceral contém os órgãos e projetada para frente e retraída para trás graças a múscu-
pode ser protegida por um exoesqueleto, a concha. A los protatores e retratores, respectivamente.

260
Digestão inicialmente extracelular no estômago e finaliza
nas glândulas digestivas como digestão intraceulular. Lulas Sistemas nervoso
e polvos digestão exclusivamente extracelular.
e sensorial
Respiração
O sistema nervoso é do tipo ganglionar, contendo três pa-
res de gânglios: cerebroides (centros sensoriais), pedio-
A respiração pode ser cutânea (fig. A), branquial (fig. B) ou sos ou pedais (centros locomotores) e viscerais (centros
pulmonar (fig. C). As brânquias estão alojadas na cavidade vegetativos), ligados por conectivos. Como elementos sen-
palial, espaço situado entre o manto e o corpo. A respira- soriais aparecem olhos, estatocistos (equilíbrio), osfrádios,
ção pulmonar ocorre nos gastrópodes terrestres (caracóis), células táteis e quimioreceptores.
em que o pulmão é constituído pela cavidade palial com
parede intensamente vascularizada e comunicada com o
exterior através de um orifício (pneumóstoma). Reprodução
Em geral, os moluscos são unissexuados (dioicos), com

Circulação alguns casos de hermafroditismo, como é o caso do ca-


racol de jardim. Nas espécies terrestres e nos cefalópodes,
Possuem sistema circulatório lacunar ou aberto, com o a fecundação é interna com cópula (primeira figura), sen-
coração situado dorsalmente no interior de uma cavidade do o desenvolvimento direto a partir de postura de ovos
pericárdica. Apenas nos cefalópodes o sistema circulatório (segunda figura). Nos demais, a fecundação é externa e o
é fechado. desenvolvimento indireto, por meio de larvas ciliadas deno-
minadas trocóforas.

Excreção
O sistema excretor é formado por um órgão especializado,
com dois pares de metanefrídeos que têm aspecto pareci-
do com o rim e são constituídos por nefrídios, que filtram
o sangue na cavidade pericárdica, retirando os resíduos e
fonte: http://brasilescola.uol.com.br/doencas/
eliminando-os para o exterior. caramujo-transmissor-doencas.htm

U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

261
ANELÍDEOS

Introdução Boca
Prostômio
Peristômio

Poro
Os anelídeos (do latim: annulatus = anel + eidos, do grego
= forma) são animais vermiformes, de simetria bilateral, Poro
caracterizados pela segmentação ou metamerização Boca

(metameria). O corpo é segmentado, ou seja, formado Cerdas


por uma sucessão de anéis, denominados segmentos ou ventrais
metâmeros. São organismos que vivem em ambiente ter-
Clitelo
restre, marinho e dulcícola. Possuem o corpo alongado,
Clitelo
cilíndrico e metamerizado, cuja divisão ocorre tanto exter-
na como internamente. Cada anel abriga diversos órgãos
individualizados como nervos, estruturas musculares e Cerdas laterais
excretoras. Compreendem três classes: oligoquetosBoca Peristômio
(minhocas), poliquetos (vermes marinhos) e hirudíneos Prostômio Ânus
(sanguessugas). Utiliza-se como critério a presença Poroou
quantidade de cerdas ao longo do corpo:
Poro
Boca
§ Oligoquetos (poucas cerdas) – minhoca (Lumbri-
cus terrestris), minhoca-louca (Pherentima hawaiana)Cerdas
e
ventrais
a minhocoçu (Glossoscolex giganteus).
§ Poliquetos (várias cerdas) – Eunice viridis e Nereis
Clitelo
sp. Clitelo

§ Aquetos (sem cerdas) ou hirudíneos – sangues-


suga (Hirudo medicinalis). Cerdas laterais

Ânus

Poliquetos A capacidade de regeneração é elevada quando o ani-


Vermes marinhos de corpo nitidamente segmentado, no mal é, acidental ou experimentalmente, seccionado em
qual se destaca uma cabeça com olhos, palpos e tentá- fragmentos. Esses animais exercem importante papel na
culos. Em cada segmento há um par de parapódios que agricultura, arejando o solo, através das galerias escava-
auxiliam na locomoção. das e distribuindo fragmentos vegetais que apodrecem e
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

fertilizam o solo.

Oligoquetos – as minhocas
Colaboram também com a adubação orgânica produzindo
húmus, além de serem incluídas em rações animais como
fonte de proteínas.
É a classe em que encontramos as minhocas, animais de
corpo segmentado, sem cabeça e parapódios, além de
poucas cerdas; o tamanho médio é de 15 cm. Nos animais Hirudíneos – as sanguessugas
sexualmente adultos, encontramos, na região anterior, o Os hirudíneos, vulgarmente chamados de sanguessugas, não
clitelo, um espessamento mucoso que serve para unir dois apresentam cerdas em pequenas quantidades ou ausentes,
animais em cópula e formar o casulo protetor dos ovos. assim como tentáculos e parapódios. O corpo é dorsoven-
tralmente achatado com duas ventosas, uma em cada extre-
midade.

262
Caracterização geral do clitelo e desloca-se para a extremidade da minhoca,
onde recebe o espermatozoide de outra e ocorre a fecun-
dação. Após a fecundação, o casulo separa-se do corpo, e
A digestão em seu interior os óvulos são fecundados e desenvolvem-
-se originando minhocas jovens sem estágio larval. Obser-
O tubo digestivo é completo.
ve o esquema de reprodução de minhoca:

A circulação Reprodução em minhocas


Receptáculos seminais Clitelo
O sistema circulatório é do tipo fechado.

A respiração
A maioria dos anelídeos tem respiração cutânea, isto Clitelo troca de
3 2 1
espermatozóides
é, as trocas gasosas são efetuadas através da pele. Entre
os representantes aquáticos existem as brânquias, que
um dos vermes
retiram o O2 dissolvido na água por difusão. já separado
fecundação saída de óvulos casulo mucoso

A excreção saída do casulo


com os ovos
O sistema excretor é constituído por unidades excretoras
denominadas metanefrídeos.

O sistema nervoso Aspectos embriológicos


São organismos triblásticos, celomados (são os únicos ver-
Os anelídeos são portadores de um sistema nervoso do
mes com esta característica) e possuem simetria bilateral.
tipo ganglionar ventral.

A reprodução Formação da metameria


Quanto à reprodução, os poliquetos são dioicos, com fe- § Importância da metameria – Os efeitos locais da
cundação externa e desenvolvimento indireto a partir da musculatura em formas metamerizadas são mais vi-
larva trocófora. Oligoquetos e hirudíneos são monoicos, gorosos e, assim, mais eficientes, pois cada metâmero
com fecundação externa (dentro de um casulo) e cruzada torna-se uma unidade de função especializada, nota-
com desenvolvimento direto. A capacidade de regeneração damente para cavar, como os anelídeos.
é geralmente elevada. Muitas espécies de anelídeos pos-
§ Importância do celoma – O celoma fornece uma
suem clitelo. Esta estrutura produz um casulo do qual são
área para a ampliação da superfície dos órgãos internos.
eliminados os óvulos maduros. O casulo então desliga-se

ARTRÓPODES
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Caracterização Os grupos de maior sucesso na face da Terra são organ-


ismos triblásticos, protostômios, celomados e de
Todos os artrópodes têm em comum o fato de terem pa- simetria bilateral.
res de apêndices articulados (patas, antenas, quelí-
Existem cerca de 900.000 espécies adaptadas para a vida
ceras, palpos etc.), corpo segmentado e um esqueleto
externo rígido, revestido por quitina (exoesqueleto no ar, na terra, no solo, em água doce e salgada. Podemos
quitinoso). Com a presença de exoesqueleto, a difi- citar como principais representantes deste filo as classes:
culdade do crescimento foi resolvida com a presença de § Crustáceos – camarão, lagosta, siri, caranguejo, tatuzi-
mudas ou ecdises. Assim, os artrópodes, na ocasião da
nho-de-jardim, microcrustáceos (dáfnia, copépodes etc.).
muda, aumentam rapidamente o volume de seu corpo,
rompendo a camada fina de quitina que não foi reabsor- § Aracnídeos – aranha, escorpião, ácaro, carrapato,
vida. Logo, começa a reestruturação dessa proteção. opilião;

263
§ Insetos – traça-de-livro, tesourinha, barata, gafa-
nhoto, louva-a-deus, cigarra, libélula, formiga, cupim,
A excreção
abelha, besouro, borboleta, mariposa, pulga, piolho, Em crustáceos e aracnídeos encontramos como órgãos ex-
mosca, mosquito. cretores especializados: as glândulas verdes (crustáceos) e
coxais (aracnídeos). Insetos, diplópodes e quilópodes ex-
§ Diplópodes – piolho-de-cobra (embuá).
cretam através dos tubos de Malpighi.
§ Quilópodes – lacraia.
Os sistemas nervoso e sensorial
Caracteres morfológicos Os artrópodes apresentam um sistema nervoso ganglionar
A principal característica dos artrópodes é a presença de e ventral, semelhante ao dos anelídeos.
apêndices.
A reprodução
Segmentação A reprodução dos artrópodes é sexuada. Geralmente, os
Nos artrópodes, a segmentação é heterônoma, porque os artrópodes são unissexuados; as cracas são crustáceos her-
segmentos são diferentes, muitas vezes fusionados, per- mafroditas. É comum o dimorfismo sexual, sendo as fêmeas
mitindo a divisão do corpo em partes distintas. maiores do que os machos. Na maioria, a fecundação é inter-
na; apêndices modificados funcionam como órgãos copula-
Exoesqueleto dores. O desenvolvimento pode ser direto ou indireto. Formas
partenogenéticas ocorrem entre crustáceos (cladóceros) e
O corpo dos artrópodes é revestido por um exoesqueleto,
insetos (abelhas).
constituído por uma cutícula quitinosa, secretada pela epi-
derme. A couraça quitinosa protege o animal, mas impede
o crescimento. Daí a ocorrência da muda ou ecdise.
Classificação
A principal consequência do exoesqueleto nos Artrópodes
é o crescimento descontínuo, que pode ser observado e
entendido no gráfico a seguir.
Crustáceos
Crescimento descontínuo em artrópodos
Apresentam corpo segmentado em cefalotórax e abdô-
men, cinco ou mais pares de patas e dois pares de antenas.
§ Sistema Digestório – completo.
§ Sistema Circulatório – aberto ou lacunar, plasma
provido de hemocianina para transporte de gases.
§ Sistema Respiratório – branquial.
§ Sistema Excretor – glândula verde.
§ Sistema Reprodutor – dioicos, fecundação interna,
A digestão desenvolvimento direto ou indireto com sucessivos es-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

tágios larvais.
O sistema digestivo é completo.

A respiração Aracnídeos
As brânquias aparecem nos crustáceos; traqueias ocorrem Apresentam corpo dividido em cefalotórax e abdômen,
em insetos, diplópodes e quilópodes. Nos aracnídeos as quatro pares de patas, que saem do cefalotórax e não apre-
traqueias situam-se no interior de dilatações saculiformes sentam antenas. No entanto, encontramos apêndices pró-
denominadas pulmões foliáceos. ximos à boca, chamados de palpos e as quelíceras, que nas
aranhas, contêm uma glândula de veneno. No abdômen
das aranhas encontramos fiandeiras, que secretam um fio
A circulação ou teia. Nos escorpiões, a glândula de veneno está localiza-
O sistema circulatório é do tipo aberto, constituído por co- da no último segmento do abdômen (télson). As garras de
ração, artérias e hemoceles. um escorpião correspondem a palpos modificados.

264
§ Sistema Digestivo – completo.
§ Sistema Circulatório – aberto, com hemocianina Eclosão do LARVA
para transporte dos gases. sofre
OVO ECDISES
§ Sistema Respiratório – composto por pulmões foli-
áceos ou filotraqueias.
§ Sistema Excretor – através de glândulas coxais e, em
algumas exceções, por túbulos de Malpighi.
§ Sistema Reprodutor – dioicos, fecundação interna e Mudanças
desenvolvimento direto. na
Imago
adulto
PUPA

Insetos
Representam a maior variedade de espécies na face da Ter- Ovo
ra. Apresentam um corpo dividido em três partes: cabeça,
tórax e abdômen. No tórax, saem três pares de patas e
podem desenvolver dois pares de asas. Apresentam um par
Adulto Larva
de antenas.
§ Sistema Digestivo – completo.
§ Sistema Circulatório – aberto ou lacunar, dorsal, au-
sência de pigmentos respiratórios.
§ Sistema Respiratório – traqueal.
§ Sistema Excretor – túbulos de Malpighi.
§ Sistema Reprodutor – dioicos, fecundação interna,
desenvolvimento direto ou indireto. Pupa

Outra particularidade é o tipo de desenvolvimento do ovo


até chegar ao adulto. Veja os tipos a seguir:
Diplópode
§ Ametábolos – sem metamorfose. O ovo eclode e libe-
ra o indivíduo jovem com forma semelhante ao adulto. Como o embuá ou piolho-de-cobra, apresentam um
corpo com uma cabeça, contendo um par de olhos e de
Ex.: traça. antenas. Na maioria desses segmentos há dois pares de
OVO → FORMA JOVEM → ADULTO patas. Esses animais caminham lentamente e têm hábito
(semelhante ao adulto) detritívoro.
§ Hemimetábolo – com metamorfose incompleta: o
ovo eclode e libera uma ninfa (forma jovem diferente do Quilópodes
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

adulto), sem asas e sem órgão sexuais. Esta ninfa sofre Como as lacraias ou centopeias, também apresentam cor-
ecdises sucessivas adquirindo características adultas. po dividido em cabeça e tronco, mas há apenas um par de
Exs.: gafanhoto, barata, louva-a-deus, cigarra, libélula. patas por segmento. São animais que caminham rápido,
predadores e com um par de apêndices, as forcípulas que
OVO → eclosão → NINFA → mudas → ADULTO
(forma jovem)
injetam veneno.

§ Holometábolo – com metamorfose completa. O ovo


eclode, liberando uma larva que cresce e realiza mudas,
originando a pupa (casulo ou crisálida) que sofre gran-
de transformações adulta.
Exs.: formiga, cupim, abelha, besouro, borboleta, mari-
posa, pulga, piolho, mosca, mosquito.

265
EQUINODERMOS

Os equinodermos correspondem a um grupo de animais


que só habitam os mares. Apresentam como característi-
Os crinoides
cas básicas um corpo revestido por espinhos, com um Os crinoides, vulgarmente conhecidos por lírios-do-mar,
esqueleto interno (endoesqueleto) calcário. Apresentam são equinodermas tipicamente fixados ao substrato. O corpo
uma simetria radial, quando adultos, mas as larvas têm é constituído por uma parte central, o cálice, do qual partem
simetria bilateral. São animais triblásticos, celomados e cinco braços ramificados e um pedúnculo segmentado.
deuterostômios.
Os asteroides
Sistema ambulacrário Os asteroides compreendem as estrelas-do-mar, que de-
vem seu nome à forma do corpo, constituído por um disco
ou hidrovascular central do qual partem cinco braços radialmente dispostos.
As estrelas-do-mar notabilizam-se pela elevada capacida-
As estrelas, os ouriços e as holotúrias locomovem-se atra-
de de regeneração, podendo um fragmento de braço pro-
vés de pequenos pés tubulosos, conhecidos como pés
duzir um indivíduo completo.
ambulacrais. A particularidade desse sistema é o fato de
que a musculatura se move em função da água, pois os pés
tubulosos estão ligados a um sistema de canais cheios de
Os ofiuroides
água. A água penetra pela placa madrepórica, distribuin- Os ofiuroides são vulgarmente conhecidos por serpen-
do-se pelos canais radiais. tes-do-mar; apresentam o corpo formado por um disco
Pés ambulacrais central bem diferenciado dos braços. Os braços, em número
de 5, são cilíndricos, delgados, simples ou ramificados, com
Placa madrepórica
movimentos serpenteantes, vindo daí o nome da classe.

Os equinoides
Os equinoides são os ouriços-do-mar, que apresentam
Canal
pétreo Ampola
um corpo hemisférico, rígido, desprovido de braços e reco-
berto por espinhos. A face superior é abaulada, enquanto a
ventral é achatada, apresentando na parte central uma área
membranosa contendo a boca, fechada por cinco dentes.
Canal circular Pés
Canal radial ambulacrários Os holoturoides
Os holoturoides, vulgarmente conhecidos por pepinos-
Regeneração -do-mar, são animais de simetria bilateral, corpo cilíndrico
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

e achatado. A boca, situada na extremidade anterior, é cir-


As estrelas apresentam grande capacidade de regeneração,
cundada por tentáculos, simples ou ramificados.
e por muito tempo, causaram prejuízos à comercialização
de pérolas, pois, sendo predadoras de ostras perolíferas,
os pescadores, ao encontrarem esses animais na criação
desses bivalves, quebravam a estrela em algumas partes
A digestão
O sistema digestivo é completo.
e as jogavam de volta ao mar agravando o problema, pois
surgiam mais e mais estrelas.
A respiração
Caracterização e classificação Nos equinodermas as trocas respiratórias são realizadas
O filo dos equinodermas é dividido em cinco classes: crinoi- pelo sistema ambulacrário. Brânquias pequenas e dérmicas
des, asteroides, ofiuroides, equinoides e holoturoides. ocorrem nos asteroides e equinoides.

266
A circulação A reprodução
Não existe sistema circulatório. Os equinodermas são animais unissexuados sem dimorfismo
sexual. A fecundação é externa e o desenvolvimento indireto,
A excreção com formação de larva com simetria bilateral.

Não existem órgãos excretores. Os catabólitos são absorvidos


por amebócitos e eliminados em diversas regiões do corpo.

Os sistemas nervoso e sensorial


Não existem gânglios. Na região oral aparece um anel
nervoso, do qual partem nervos radiais. Células sensoriais
aparecem dispersas na epiderme.

CORDADOS

Caracterização Vertebrados com


geral e classificação mandíbula (gnatostomados)
O Filo dos Cordados compreende animais que apre-
sentam, pelo menos durante uma fase da vida, uma Os primeiros vertebrados
estrutura chamada de notocorda. Outras caraterísti- com mandíbula: os peixes
cas são: a presença de um tubo nervoso na região
dorsal, fendas branquiais na faringe e cauda
pós-anal.
Os peixes cartilaginosos
Esses peixes, também conhecidos como elasmobrân-
O anfioxo é classificado como pertencente ao subfilo dos
quios, apresentam um esqueleto interno formado de car-
cefalocordados.
tilagem, mais leve que esqueleto ósseo. Como exemplos
As ascídias apresentam notocorda apenas na fase larval típicos temos os tubarões, as raias e as quimeras. Esses
móvel e, quando adultos, são fixas, com dois sifões por peixes respiram por brânquias. Em cada lado do corpo ob-
onde a água é bombeada e filtrada. São representantes do servam-se fendas branquiais (5 ou mais).
subfilo urochordata.
O estudo dos cordados é focado nos seres vertebrados, em Os peixes ósseos
que há presença de coluna vertebral. Esses peixes apresentam um esqueleto interno ósseo, com
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algumas cartilagens e o corpo pode ser revestido por esca-


Vertebrados sem mandíbula mas ou por couro. São peixes que colonizaram ambientes
marinhos e de água doce, entretanto, alguns são capazes
(agnatos): os ciclóstomos de migrar do mar aos rios para se reproduzirem e os filho-
tes fazem o caminho inverso.
Os ciclóstomos são animais alongados, sem mandíbula. Só
existem representantes aquáticos. Os representantes mais Os peixes ósseos respiram também por brânquias, mas apre-
comuns são as lampreias e as feiticeiras. A maioria desses sentam uma membrana óssea (opérculo) que as protege.
animais sobrevivem como parasitas externos de outros ver- Estes animais apresentam uma vesícula gasosa interna de-
tebrados, especialmente peixes. nominada bexiga natatória, que ao se encher de ga-
Embora ainda não apresentem coluna vertebral, foram tra- ses, vindos do sangue, torna o peixe mais leve. Isso permite
dicionalmente classificados como vertebrados por possuí- que ele controle o movimento vertical na água, podendo
rem vértebras rudimentares. parar facilmente.

267
Muitos desses peixes vivem em cardumes e conseguem se
manter equilibrados pela presença de uma linha late- Principais adaptações
ral, de cada lado, que permite captar as vibrações na água.
dos répteis
O início da colonização dos
Ovos com casca calcária são vantajosos para animais
terrestres, já que esse material é capaz de proteger os
embriões contra a desidratação, pois são impermeáveis,
ambientes terrestres além da maior proteção contra choques mecânicos. Na
pelos vertebrados formação do embrião, surgem anexos embrionários que
permitem o desenvolvimento do animal com menor per-
turbação no ambiente.
Os anfíbios Cório
Bolsa amniótica

Os estudos indicam que os primeiros vertebrados a ocupar


Cheia de líquido, essa bolsa
Anexo que protege o embrião e protege o embrião quanto a
todos os demais anexos. Na choques mecânicos (tremores)

o ambiente terrestre foram os anfíbios, na verdade os ances-


região ligada ao alantoide, e contra a desidratação.
permite a passagem de ar.

trais dos atuais, os primeiros tetrápodes. Parte desse sucesso Alantoide

Anexo que armazena as excretas


deve-se ao esqueleto com duas cinturas de ossos (escapular Âmnio
geradas pelo embrião até a eclosão
do ovo. Por ele ainda ocorre a troca
gasosa, isto é, permite a passagem
e pélvica) de onde se ligam membros (patas). de ar para o embrião, vindo de fora.

Al

esqueleto de salamandra

EMBRIÃO

Saco vitelino

Anexo que armazena nutrientes


até o desenvolvimento completo
do embrião até (eclosão do
ovo).

Esses animais só são encontrados em ambientes de água Ovo amniótico e anexos embrionários
doce ou terrestre úmido. Os anfíbios como os sapos, as
pererecas, as salamandras, entre outros, quando jovens, vi- A importância da pele modificada
vem na água e podem, quando adultos, ocupar o ambiente
As glândulas mucosas não estão presentes na pele e a epider-
terrestre, embora muito úmido. Os sapos e pererecas são
me é seca e cornificada. Também há a presença da quera-
chamados de anuros (sem cauda); as salamandras, urode-
tina no epitélio dos répteis, o que foi essencial para seu maior
los (com cauda) e as cobra-cegas, ápodes (sem patas).
sucesso fora d’água com menor taxa de transpiração.
Apresentam fecundação externa e desenvolvimento indire-
to (larva aquática). Ectotermia
Os répteis são ectotérmicos – dependem da temperatura

A ocupação dos ambientes


ambiental para manter a corpórea. Além da regulação com-
portamental, os répteis também podem dissipar ou reduzir a
perda de calor corporal necessária através da regulação da
terrestres pelos répteis quantidade de sangue que flui pela pele.
O que permitiu este grande passo foram itens como ovo
com casca calcária (ovo amniótico), protegendo o embrião
Classe Reptilia –
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de desidratação, mesmo quando em ambientes sem água, a


presença da pele mais resistente e seca que tem a van- características gerais
tagem de impedir a perda de água por transpiração como
ocorre com os anfíbios, além de fecundação interna. As tartarugas, jacarés, tuataras, anfisbenas, lagartos e serpen-
tes, todos bem conhecidos, juntamente com os dinossauros e
Os répteis são divididos em ordens: outras espécies extintas, são répteis (do latim repto, rastejar).
1. Quelônios ou Testudines: tartarugas (aquáticas), os São capazes de viver em ambientes secos. Embora alguns
cágados (terrestres) e jabutis (água-doce), com uma tenham se readaptado à vida aquática, depositam seus
carapaça rígida (plastrão). ovos na terra, a menos que sejam vivíparos, como as ser-
2. Crocodilianos: jacarés e crocodilos. pentes marinhas.
3. Squamatas: lagartos, serpentes. A distribuição geográfica dos répteis é limitada, principal-
mente pela sua incapacidade de manter a temperatura
4. Rincocéfalos: tuataras.
corporal mais elevada do que a do ambiente (ectotermia).

268
Reprodução Nutrição
Os répteis reproduzem-se por reprodução sexuada, O sistema digestório é do tipo completo. As aves granívoras
como em outros cordados. As fêmeas defendem seus ovos (que se alimentam de grãos) apresentam moela e papo.
com violência até os filhotes nascerem. A maioria dos rép- No papo o alimento é amolecido. Daí o alimento vai para o
teis é ovípara, isto significa que colocam ovos. proventrículo (estômago químico), passando a seguir para
a moela (estômago mecânico), que é muito musculosa e
Sistema circulatório substitui a falta de dentes nas aves. A cloaca é uma bolsa
onde são lançadas as fezes, a urina e os gametas, portanto
O coração tem três câmaras, o ventrículo único dos rép-
constitui o final de vários aparelhos e sistemas.
teis é parcialmente dividido ou intraventricular , o que tor-
na a mistura de sangue arterial e venoso apenas parcial, Sistema respiratório
por isso a circulação é dupla e incompleta.
A respiração é pulmonar. Os pulmões são do tipo parenqui-
A exceção é a circulação dos répteis crocodilianos. O matoso, com vários canais de arejamento, ligados a cinco
ventrículo desses animais é completamente dividido, e o pares de sacos aéreos, ligados às cavidades dos ossos
coração perfaz quatro câmaras: dois átrios e dois ventrí- pneumáticos.
culos. Entretanto, na emergência das artérias pulmonar e
aorta, há uma comunicação, o forame de Panizza, pelo Sistema circulatório
qual ainda ocorre mistura de sangue arterial e venoso. A circulação é fechada, dupla e completa. O coração
tem quatro cavidades. O arco aórtico, em contraste
Sistema excretor com o dos mamíferos, é o voltado para o lado direito.
Enquanto peixes e anfíbios apresentam rins mesonefros (toráci-
cos), dos répteis em diante, os rins serão metanefros (abdo- Sistema excretor
minais), melhorando muito a capacidade filtradora do sangue. Os rins são metanefros.

A extensão dos domínios Os mamíferos


terrestres pelas aves Os mamíferos são vertebrados muito ativos e ágeis, com
alto nível metabólico. Eles têm poucos filhos, mas investem
e mamíferos tempo e energia consideráveis na proteção dos mesmos.
As aves e os mamíferos apresentam pelo menos duas ca-
racterísticas em comum, que permitem esses animais so- Principais adaptações dos mamíferos
breviverem em regiões mais frias: uma camada adiposa (de A característica que dá nome a esse grupo é a presença
gordura), sob a pele e o controle interno da temperatura do de glândulas mamárias. Além delas, também é exclu-
corpo (homeotermia). sividade dos mamíferos a presença de pelos, glândulas
sebáceas e sudoríparas.
As aves Mecanismos de regulação da temperatura
A adaptação ao voo impôs uma certa uniformidade na es-
trutura básica e na fisiologia de todas as aves. Todas as Eles são endotérmicos. O calor é produzido internamente,
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aves são endotérmicas. Quando não estão no ar, as aves através do alto nível metabólico. A sua perda é reduzida,
vivem sobre o solo ou na água, ou em ambos, estando bem devido a uma camada subcutânea de gordura e a pelos
que fornecem uma camada de isolamento de ar próximo à
adaptadas a estes habitats.
pele. O calor pode ser perdido por um aumento na quan-
tidade de sangue que flui através da pele e por um res-
Regulação térmica
friamento devido à evaporação do suor produzido pelas
As aves permaneceram com as escamas córneas dos rép- glândulas sudoríparas ou pela respiração ofegante, que
teis em algumas áreas de suas pernas, nos seus pés e, de é a evaporação da água através das vias respiratórias.
maneira modificada, como uma cobertura de seus bicos.
A água, um excelente condutor de calor, não consegue pene-
Locomoção e coordenação
trar por entre as penas devido à existência de uma secreção As mudanças em todos os sistemas de órgãos estão inti-
oleosa produzida pela glândula uropígea localizada perto mamente relacionadas ao aumento de atividade, que se
da base da cauda. As aves não têm glândulas sudoríparas. torna possível com a endotermia.

269
Padrões mais complexos de locomoção e, provavelmente, Classificação dos mamíferos
o comportamento mais explorador e ágil requerem uma
musculatura mais complexa e sistemas sensitivo e nervoso. § Os monotremados − Os animais deste grupo são os ma-
Acredita-se que o olfato e a audição eram muito aguçados míferos que põem ovos ou prototérios, que não possuem
nos mamíferos primitivos. lábios nem dentes. Os filhotes alimentam-se da secreção de
um tipo de leite que a mãe produz. Ex.: ornitorrinco.
O cérebro é extraordinariamente bem desenvolvido. Ele é
muito grande e o córtex cinza contém centros associados § Os marsupiais − Conhecidos também como metaté-
ao receptor sensorial dos órgãos dos sentidos e a impor- rios ou mamíferos com bolsa. Durante o primeiro pe-
tantes centros motores. O cerebelo também é mais desen- ríodo de seu desenvolvimento, o embrião permanece
volvido, pois a coordenação motora é mais complexa. no interior da mãe; depois de pouco tempo o filhote
sai ao exterior e se refugia dentro da bolsa da fêmea,
A liberação de excretas conhecida também como marsúpio ou bolsa ventral,
onde estão as mamas. Ex.: canguru, gambá e cuíca.
Excretas são produtos residuais derivados do metabolismo
celular, o que é diferente de secreção. A secreção é uma § Os eutérios − A principal característica deste grupo é
substância eliminada pela célula, que pode ter um fim es- que as fêmeas formam placentas, e, por causa disso, o
pecífico no organismo. embrião e, depois o feto, desenvolvem-se plenamente no
interior da mãe. Para facilitar o estudo, existem várias or-
§ Osmorregulação − O organismo apresenta mecanis- dens dentro desse grupo que também são denominados
mos de controle da concentração de água e sais no san- como placentários. Ex.: cavalo, baleia, morcego, huma-
gue, que são detectados pelo sistema nervoso, que aciona nos.
os diversos sistemas permitindo o reequilíbro orgânico.

EMBRIOLOGIA

Embriologia animal § ovovivíparos – o embrião desenvolve-se no interior do


corpo da fêmea, à custa de suas reservas energéticas, até
o nascimento. Isso garante mais proteção ao embrião.
Zigoto Exemplo: alguns invertebrados e peixes e alguns répteis.
§ vivíparos – o embrião adquire oxigênio e nutrientes
Mórula diretamente do sangue materno, e elimina suas excretas
pela placenta. Exemplo: mamíferos.

Blástula Fertilização
Na fecundação ou fertilização ocorrem vários eventos no
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Gástrula citoplasma do óvulo, incluindo a cariogamia, fusão do


pró-núcleo feminino e do pró-núcleo masculino, o que
resulta na união dos cromossomos de origem materna
órgãos Nêurula tecidos e paterna, formando o zigoto. Após a fusão dos núcleos,
entram em atividade diversas substâncias e moléculas, as
Desenvolvimento embrionário
quais acionam o processo de mitose no zigoto, dando ori-
O embrião pode se desenvolver de distintos modos, varian- gem à estrutura denominada blastômero. Assim, inicia-se o
do com o nível de cuidado materno-fetal: desenvolvimento embrionário.
§ ovíparos – a fêmea libera o ovo fecundado interna-
mente, que se desenvolve fora do corpo da fêmea à Ovócito
custa de suas reservas nutritivas. Exemplo: maioria dos Devido a grande quantidade de citoplasma presente no
répteis e das aves e muitos invertebrados. ovócito, essa é a maior célula do corpo humano.

270
§ Oligolécito ou isolécito – contém uma quantidade
reduzida de vitelo, espalhado de maneira uniforme pelo Clivagem
citoplasma. O grau de dependência do embrião pela mãe Depois da formação do zigoto, esse sofre mitose, dando
aumenta quanto menor for a quantidade de reserva nu- origem a duas células-filhas, cada uma das quais é deno-
tritiva presente no ovo. Nesse tipo de ovo a segmentação minada de blastômero.
é holoblástica. Exemplos de organismos que possuem
esse tipo de ovo: mamíferos placentários, anfioxos e mui- Quando eleva o número de blastômeros, o conjunto celular
tos invertebrados, como esponjas, corais e equinodermos. adquire uma forma esférica, compacta, cujo aspecto lem-
bra uma amora, razão pela qual essa fase é denominada
§ Heterolécito ou mesolécito – Nesse ovo o vitelo de mórula.
preenche grande parte do volume citoplasmático de
forma não-homogênea (polo vegetativo). A segmen- Depois do estágio de mórula vem a fase de blástula, re-
tação nesse tipo de ovo é total e desigual. Exemplos: sultante do arranjo dos blastômeros em volta de uma cavi-
anelídeos, peixes, anfíbios e moluscos. dade cheia de líquido, a blastocele.
§ Telolécito ou megalécito – o vitelo nesse ovo ocupa
quase todo citoplasma, e a segmentação é meroblásti- Tipos de segmentação
ca, isto é parcial e discoidal (somente no pólo animal). O tipo de segmentação varia nos diferentes tipos de ovos.
Exemplos: moluscos, peixes, répteis, aves, mamíferos A clivagem é mais lenta quando a quantidade de vitelo
ovíparos (ornitorrinco e equidna). presente é maior. Assim, ovos com uma quantidade me-
§ Centrolécito – o vitelo está na região central da célu- nor de vitelo têm uma segmentação mais homogênea, ao
la. A segmentação é meroblástica e apenas parcial. Ex- contrário dos ovos com maior quantidade de vitelo, onde a
emplo: artrópodes. segmentação é heterogênea.

Quantidade
Tipo de ovo Distribuição do vitelo Tipo de clivagem Animal
de vitelo
equinodermos, anfioxo
Oligolécito pequena homogênea total igual
e mamíferos
Mesolécito ou heterogênea
média total desigual anfíbios
Heterolécito (pólo e vegetativo)
heterogênea
Megalécito ou Telolécito grande parcial discoidal peixes, répteis e aves
(ocupa a maior parte do ovo)
heterogênea
Centrolécito grande parcial superficial insetos
(no centro do ovo)

Mamíferos: desenvolvimento tipos: o trofoblasto – camada de células externas e del-


gada, que tem como função a penetração e aderência do
Na maioria dos mamíferos, o desenvolvimento embrionário embrião na parede do endométrio, e é responsável também
ocorre no interior do corpo da fêmea, especificamente, no pela organização da parte embrionária da placenta; e o em-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

útero. Há mamíferos que geram ovos (ornitorrinco e equid- brioblasto – massa celular interna que possui no centro
na), o restante forma uma placenta, órgão composto pela um grupo de blastômeros, o qual originará o embrião.
parede interna vascularizada do útero chamado endomé- A placenta é composta de tecidos maternos e embrioná-
trio. Através da placenta, os nutrientes, oxigênio, anticorpos rios, e ela não envolve o embrião. Essa função é desem-
e hormônios atravessam o sangue materno para o embrio- penhada pelo âmnio (bolsa de água que contém o líquido
nário, e o embrião transfere para a mãe o gás carbônico, amniótico), e no seu interior o embrião fica imerso.
as excretas. Na espécie humana, o ovo é oligolécito, e a
Posteriormente ao encontro dos gametas, ocorre a geração
segmentação é total e igual (fase de mórula). O embrião na
da célula-ovo, que sofre sucessivas mitoses, designando a
fase de mórula migra para o útero , onde inicia-se a fase de
fase de mórula e, em seguida, ocorre a fase blástula. A
blástula, que, nos mamíferos, é nomeada de blastocisto.
próxima fase é denominada de gástrula, onde acontece a
Dentro da cavidade blastocística há um fluido, que aumenta formação de três folhetos embrionários: ectoderme, me-
na cavidade, e leva a separação dos blastômeros em dois soderme e endoderme, as quais darão origem aos teci-

271
dos e órgãos do animal. Devido a diferença na velocidade triblásticos são classificados de acordo com a presença
de clivagem, formam-se macrômeros (células maiores) e ou ausência de celoma:
micrômeros (células menores), e esta ultima célula possui § Acelomados: a cavidade interna não é revestida pela
um intenso ritmo de divisão, e assim o polo inferior da blás- mesoderme. Representados pelos platelmintos;
tula é levado em direção ao polo superior. Esse processo
§ Pseudocelomados: a cavidade interna é revestida
acarretará em uma nova fase embrionária, denominada de
parcialmente pela mesoderme. Representados pelos
gastrulação. Dessa forma, ocorre uma mudança no for-
nematelmintos;
mato do embrião de uma esfera oca para uma hemisfera
de parede dupla. Essas alterações causam a produção de § Celomados: a cavidade interna é totalmente revestida
uma nova cavidade denominada de arquêntero (intes- pela mesoderme. Representantes: anelídeos, artrópo-
tino primitivo). O arquêntero possui uma abertura que se des, moluscos, equinodermas e os cordados.
comunica com o exterior, o blastóporo. Existem classifi-
cações dos animais baseadas na embriologia. Veja abaixo: Os anexos embrionários
1. Números de folhetos embrionários Em animais ovíparos, o desenvolvimento embrionário
§ Diblásticos – Apenas dois folhetos embrionários estão acontece dentro de um ovo, que tem casca protetora cal-
presentes. Como é o caso dos cnidários que apresen- cária porosa, o que possibilita trocas gasosas, e também
tam apenas endoderme e ectoderme. protege o embrião de condições desfavoráveis do meio. Já
§ Triblásticos – Apresentam os três folhetos embrioná- o desenvolvimento dos mamíferos placentários acontece
rios (endoderme, mesoderme e ectoerme). Exemplo: dentro do corpo da mãe, no útero.
anfioxo, maioria dos invertebrados, cordados. Na conquista do meio terrestre ocorreu seleção da fecun-
dação interna e do desenvolvimento dos anexos embrioná-
2. Blastóporo rios (âmnio, o cório, o saco vitelínico e a alantoide). Apesar
§ Protostômios – O blastóporo origina primeiro a boca. de não fazer parte do corpo do embrião, são imprescindí-
Ex.: maioria dos invertebrados, com exceção dos equi- veis para o seu desenvolvimento.
nodermos. O saco vitelínico é um anexo embrionário, que está li-
§ Deuterostômios – O blastóporo origina primeiro o ânus. gado ao intestino do embrião. Para se desenvolver o
Ex.: equinodermo e cordata. embrião vai consumindo o vitelo, e assim, consequen-
temente, o saco vitelínico vai diminuindo até desapa-
Nêurula recer por completo. Todos os répteis e aves, além do
saco vitelínico, exibem outros três anexos embrionários:
Concluída a gastrulação, o embrião já exibe formato ovoide, a alantoide, o âmnio e o cório.
e na região dorsal acontece um achatamento nas células da
Alantoide tem como funções:
ectoderme, produzindo o desenvolvimento de uma placa
chamada de placa neural. Gradualmente, a placa neural § armazenar a excreção do embrião (ácido úrico);
afunda e células da ectoderme irão cobrir e esconder essa § passar para o embrião os sais de cálcio da casca;
placa na região dorsal do embrião. Ao passar do tempo, as § realizar trocas gasosas;
bordas da placa neural juntam-se e ela passa a ser chamada
§ transferir para o embrião as proteínas da clara.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

de tubo neural, o qual originará o sistema nervoso.


O âmnio é uma membrana que circunda o embrião, e forma
A mesoderme e a notocorda uma cavidade (amniótica) com um líquido chamado de líqui-
do amniótico. O âmnio e a cavidade amniótica constituem a
Na mesoderme (teto do arquêntero) inicia-se a separa- vesícula amniótica, que tem papel de amortecer os choques,
ção de grupos celulares no embrião, resultando na sua mobilidade do embrião, permitir a flutuação e evitar a desi-
diferenciação em somitos e notocorda. A notocorda dratação.
será substituída, parcialmente ou totalmente, pela co- O último anexo embrionário é o cório, membrana que está
luna vertebral, que tem como função a sustentação envolta do âmnio, da alantoide e do saco vitelínico, e está
e formação do eixo céfalo-caudal. Os somitos pa- próxima à casca. Também participa do processo de trocas
recem bolsas esféricas, localizados ambos aos lados do gasosas.
eixo produzido pelo tubo neural e pela notocorda. A ca-
vidade de cada somito denomina-se celoma. Os animais

272
SISTEMA LOCOMOTOR

É responsável pelo movimento esquelético, é composto por


três sistemas: o sistema esquelético (alavancas de movi- Sistema articular
mento); o sistema muscular (realiza os movimentos através Articulações ou juntas são os meios pelos quais os ossos se
da contração muscular); e o sistema articular (possibilita conectam entre si para compor o esqueleto. São compostas
graus distintos de movimentos do esqueleto).
por tecido conjuntivo denso e podem ser imóveis ou
possibilitar movimentos. São separadas em três grupos, de
Sistema esquelético acordo com a natureza do material situada entre os ossos.

O esqueleto humano é composto por 206 ossos.


Sistema muscular
Estrutura dos ossos longos O músculo é um órgão com vasos sanguíneos, conexões
A disposição do tecido ósseo, esponjoso (interno e menos com neurônios e principalmente tecido muscular, que pode
rígido) e compacto (duro e externo), em um osso longo é o ser liso, estriado esquelético ou estriado cardíaco.
que confere sua resistência. Os ossos longos possuem regiões § Tecido muscular liso: tecido de contração involuntá-
de crescimento e regiões de remodelação, além de estruturas
ria, que está localizado nos órgãos internos: aparelho
associadas às articulações. As partes de um osso longo são:
reprodutor e grandes vasos sanguíneos. O sistema ner-
voso autônomo controla a contração muscular.
Cartilagem articular
Epífise § Tecido muscular estriado esquelético: músculo
proximal Linha epifisária associado aos ossos de contração voluntária.
§ Tecido muscular estriado cardíaco: músculo estri-
Metáfise
Osso esponjoso
ado sob contração involuntária. Essa musculatura tem
a propriedade de autoestimulação, as próprias células
do coração geram as contrações, o sistema nervoso
apenas controla o ritmo.

Endósteo A contração do músculo esquelético é voluntária acontece,


Osso compacto assim como nos demais músculos pelo deslizamento dos
Periósteo filamentos de actina sobre os de miosina (processo que
Cavidade medular necessita de ATP e cálcio).
Diáfise
Artéria nutrícia em Actina
forâmen nutrício
Miosina
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Sarcômero
relaxado

H
Linha Z
A I
Actina Miosina
Metáfise

Sarcômero
Epífise contraído
distal
Cartilagem articular
H
Linha Z
Estrutura de um osso longo A I

273
Eventos da contração:
1. O retículo sarcoplasmático e o sistema T liberam
íons Ca2+ e Mg2+ para o citoplasma.
2. Na presença desses dois íons, a miosina adquire uma
propriedade ATP-ásica, isto é, hidrolisa (quebra) o ATP,
liberando a energia de um radical fosfato.
3. A energia liberada provoca o deslizamento da actina
entre os filamentos de miosina, caracterizando o encur-
Através do impulso nervoso inicia-se a contração muscular, tamento das miofibrilas.
que chega à fibra muscular por meio de um nervo motor.
Na junção neuromuscular (porção terminal ao axônio +
fenda sináptica + placa motora), o impulso nervoso leva a
ocorrência de contração muscular.
bainha de mielina

axôno motor

vesiculas contendo
moléculas transmissoras
mitocôndrias
(neurotransmissores)

placa
motora

fibra muscular esqueletica

SISTEMA CARDIOVASCULAR
É composto por uma rede de vasos sanguíneos (veias, § Transporte de hormônios – os hormônios são eli-
artérias e capilares), que comunicam todas as partes do minados das células, porém são produtos que serão
corpo. Nos vasos está o sangue, que circula através das utilizados por outras células ao longo do corpo, o siste-
contrações rítmicas do coração. No homem, o coração é ma circulatório leva-os para os locais-alvo.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

formado por 4 cavidades. O sistema circulatório tem as se- § Transporte de calor – o sangue também é usado na
guintes funções: distribuição homogênea de calor pelas várias partes do
corpo, contribuindo para a manutenção de uma tem-
§ Transporte de gases – participam das trocas gaso- peratura adequada em todos os locais do organismo.
sas nos alvéolos. Assim, age na termorregulação do organismo.
§ Transporte de nutrientes – após o processo de § Distribuição de mecanismos de defesa – pelo
digestão, os nutrientes são absorvidos, caem na cor- sangue circulam leucócitos e anticorpos, membros da
rente sanguínea, e são distribuídos para todo o corpo. defesa contra agentes patogênicos.
§ Transporte de resíduos metabólicos – as células § Coagulação sanguínea – há plaquetas circulantes,
eliminam resíduos referentes ao seu metabolismo, os que atuam diretamente na coagulação sanguínea.
quais devem ser eliminados do organismo. O sangue Assim, devido aos fatores de coagulação no sangue,
leva essas substâncias até os órgãos excretores. o corpo é capaz de bloquear eventuais hemorragias
causadas pelos rompimentos dos vasos.

274
Componentes do sistema cardiovascular
Coração

veia cava superior


artéria aorta

artéria pulmonar esquerda

artéria pulmonar
direita tronco pulmonar

átrio esquerdo

átrio direito

veias pulmonares esquerdas

veias pulmonares
direitas
veia cardíaca

artéria coronária

ventrículo esquerdo

veia cava inferior

ventrículo direito

Coração humano

O átrio direito através da veia cava superior e inferior valva bicúspide (mitral). O sangue sai do ventrículo esquerdo e
recebe sangue venoso do corpo. A veia cava superior traz vai para o corpo através da artéria aorta, maior artéria do corpo.
sangue da parte superior do corpo; já a veia cava inferior O sangue circula para as artérias coronárias, que são rami-
traz sangue das partes inferiores do corpo (membros infe- ficações da aorta, nutrindo o coração; o restante do sangue
riores e abdômen). O sangue sai do átrio direito e vai para que passa para o arco da aorta vai para a aorta descenden-
o ventrículo direito através da abertura de uma válvula de- te, levando o sangue para o resto do corpo.
nominada tricúspide, que tem esse nome porque possui
O pericárdio é a membrana que reveste e protege o co-
três cúspides.
ração, permitindo liberdade de movimentação para contra-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

O átrio esquerdo recebe o sangue já oxigenado (san- ções vigorosas e rápidas.


gue arterial), através de quatro veias pulmonares. O
sangue vai do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo Ciclo cardíaco
através da valva bicúspide ou mitral, que possui apenas
Ele inclui todos os processos e ventos relacionados aos ba-
duas cúspides.
timentos cardíacos. No ciclo cardíaco normal, enquanto os
O ventrículo direito é a maior parte anterior do coração. dois átrios se contraem, os dois ventrículos relaxam e vice-
Ligando o átrio direito ao ventrículo direito está a valva -versa. A sístole do coração é fase de contração; e, ao con-
tricúspide, que tem como função impedir que o sangue re- trário, a fase de relaxamento, é denominada de diástole.
torne do ventrículo para o átrio. O sangue sai do ventrículo
direito e vai para os pulmões. Automatismo cardíaco
O ventrículo esquerdo forma o ápice do coração. O sangue Os batimentos contínuos do coração são resultado de uma
vai do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo através da atividade elétrica, que intrínseca e rítmica, originada em uma

275
rede de fibras musculares do próprio coração denominadas As veias são vasos que retornam ao coração, carregando
de células autorrítmicas ou marca-passo cardíaco, sendo o sangue dos órgãos e tecidos. As veias de maior calibre
essas autoexcitáveis. O impulso elétrico começa no nodo si- têm válvulas para impedir o refluxo de sangue, garantin-
no-atrial (SA). Esse impulso propaga-se ao longo das fibras do que a circulação ocorra em um único sentido. Posterior-
musculares atriais, até que o potencial de ação chegue no mente à passagem do sangue pelas arteríolas e capilares, a
nodo atrioventricular (AV). Depois de ser transportado pressão sanguínea reduz, alcançando valores muito baixos
ao longo do feixe AV, o potencial de ação chega aos ramos no interior das veias. O retorno sanguíneo ao coração deve-
direito e esquerdo, que atravessam o septo interventricular, se, principalmente, às contrações dos músculos esqueléti-
em direção ao ápice cardíaco. Por fim, as miofibras condu- cos, os quais comprimem as veias, possibilitando que o
toras ou fibras de Purkinje, transportam rapidamente o sangue desloque-se em seu interior. Graças às válvulas, o
potencial de ação, primeiramente ao ápice do ventrículo e sangue tem um fluxo unidirecional no coração.
posteriormente para o restante do miocárdio ventricular.
Os capilares sanguíneos são vasos de pequeno calibre
que conectam as arteríolas às vênulas.
Controle nervoso do
batimento do coração A evolução do coração em vertebrados
A inervação parassimpática no coração: Aurícula
Artéria pulmonar
Cone arterial
Veia pulmonar

1. reduz a velocidade de condução dos impulsos e aumenta


Aorta

Veia pulmonar Aurícula direita


Aurícula esquerda
Ventrículo
Ventrículo

o tempo de retardo entre a contração atrial e a ventricular; Veia cava


Aurícula direita
Artéria pulmonar
Aorta
Veia pulmonar

Aurícula direita
Aurícula esquerda

Artéria pulmonar

2. reduz a frequência dos batimentos cardíacos;


Veia cava Ventrículo esquerdo
Ventrículo
Ventrículo direito
Cone arterial Aurícula esquerda Aorta

3. reduz o fluxo de sangue nos vasos coronários que mantêm a


Circulação
pulmonar
Circulação branquial

Circulação

Circulação
pulmonar

pulmonar
Capilares
Capilares Capilares pulmonares
Capilares pulmonares pulmonares
branquiais

nutrição do próprio músculo cardíaco. Circulação sistémica

Circulação sistémica

Circulação sistémica
Capilares Capilares Capilares
Capilares sistémicos
Circulação

sistémicos sistémicos
sistémica

Estimulação dos nervos simpáticos proporciona efeitos sistémicos

opostos (antagônicos) àqueles observados pela ação do


Seio venoso
Peixe Anfíbio Réptil Ave/Mamífero

Sangue venoso Sangue arterial

sistema parassimpático sobre o coração: Os diferentes tipos de coração em vertebrados


1. eleva frequência cardíaca; Quando há mistura de sangue arterial e venoso no cora-
2. eleva força de contração; ção chamamos essa circulação de incompleta. Esse tipo de
3. eleva velocidade de condução dos impulsos, reduz o circulação é encontrada nos anfíbios e répteis. No entanto,
tempo de retardo entre a contração atrial e a ventricular; quando não ocorre a mistura de sangue venoso e arterial
denomina-se de circulação completa, observada, nas aves
4. eleva o fluxo sanguíneo através dos vasos coronários.
e mamíferos.

Vasos sanguíneos Outra classificação do tipo de circulação é referente ao


número de vezes em que o sangue passa pelo coração.
Existem 3 tipos básicos de vasos sanguíneos: artérias, ve- Quando o sangue passa uma única vez pelo coração,
ias e capilares. denominamos essa circulação de simples, observada nos
As artérias são vasos de parede densa que saem do coração peixes. Os demais cordados possuem circulação dupla, na
carregando sangue para os órgãos e tecidos do corpo. qual o sangue passa 2 vezes pelo coração.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

O sangue
Composição plasmática Funções plasmáticas

Água Transporte de nutrientes às células

Sais (Na+, Cℓ–, HCO–3, Ca++) Transporte de gases respiratórios

Glicose Transporte de hormônios e de anticorpos

Aminoácidos Distribuição de calor

Proteínas (fibrinogênio, protrombina, anticorpos, albumina) Remoção de resíduos metabólicos das células

Lipoproteínas (LDL e HDL) Coagulação

276
Composição plasmática Funções plasmáticas

Lipoproteínas (LDL e HDL) Coagulação


Triglicérides Defesa
Hormônios
Ureia
Gases (O2 e CO2)

Os elementos do sangue

Quantidade
Tipos Funções Variações
média/mL
Glóbulos Diminuição: anemia (verminoses, hemorragias, deficiências de
homem: 5,4 milhões
vermelhos Transporte de O2 e CO2 vitamina B12).
zmulher: 4,8 milhões
hemácias) Aumento: pessoas que vivem em regiões de grande altitude.

Glóbulos brancos Defesa fagocitária Diminuição: lesões na medula óssea e algumas infecções.
4 mil a 11 mil
(leucócitos) e imunitária Aumento: infecções e leucemia.

Plaquetas
250 mil a 400 mil Coagulação do sangue Diminuição e aumento provocados por certas doenças.
(trombócitos)

Coagulação sanguínea pequenas passam na parede capilar, entrando nos tecidos.


A perda de água torna o sangue mais concentrado, logo, a
Quando ocorre um ferimento, as plaquetas iniciam um pro- pressão osmótica se torna maior que a pressão sanguínea. Na
cesso de coagulação sanguínea. O coágulo conserva uma extremidade próxima à veia, acontece o retorno da água, que
eventual hemorragia. traz consigo nutrientes e também resíduos metabólicos.

O sistema linfático
Tecidos com Plaquetas
lesões aglomeradas

Através do sistema linfático, o resto de líquido intercelular


Tromboplastina proveniente dos capilares sanguíneos retorna à circulação
sanguínea. Qualquer proteína, dentre outras substâncias,
Fígado que tenha deixado os capilares será devolvida à circulação.
Ca++ (Plasma)
Vitamina K O sistema linfático possui vasos finos, chamados de capi-
Protombina Trombina lares linfáticos, que possuem capacidade de contração,
(Plasma)
e se reúnem formando vasos progressivamente maiores,
Fibrina Fibrinogênio
que resultam na formação do ducto torácico. O fluxo
(Coágulo) (Plasma)
de linfa é unidirecional e é auxiliado por válvulas que im-
A protrombina é produzida no fígado com auxílio de vitamina K, pedem seu retorno. Para esse fluido retornar à circulação
vitamina sintetizada por bactérias que vivem no nosso intestino.
venosa, a linfa coletada passa antes por linfonodos ou
nódulos linfáticos (local de concentração de linfócitos).
As trocas entre sangue e tecidos
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Caso os patógenos sejam fagocitados, são desencadeadas


A constituição do líquido intersticial (extracelular) é semelhan- reações inflamatórias nos linfonodos, causando um inchaço,
te à do sangue, com exceção dos elementos figurados. Grande denominado íngua. Os edemas linfáticos são o excesso
parte do fluido que deixa os capilares tende a retornar a esses de líquido intersticial devido ao excesso de filtração ou,
ainda, obstrução desses vasos. As tonsilas palatinas são
vasos. A movimentação desse fluido é decorrente de diferen-
constituídas por tecido linfoide, onde também pode acon-
tes pressões, que agem de modo diferente em cada trecho do
tecer reação imunológica a microrganismos, resultando em
mesmo vaso sanguíneo. A pressão sanguínea impulsiona a sa-
amigdalite, inchaço das tonsilas.
ída de água e substâncias nela dissolvidas pelas paredes dos
capilares, e a pressão osmótica, quando alta, estimula o retor- Os órgãos linfoides incluem o timo (maturação de linfócito),
no de água. O intercâmbio de substâncias se dá pela relação os linfonodos e o baço.
entre a pressão osmótica e a pressão sanguínea. Na extremi- Além das funções acima, o sistema linfático também é res-
dade do capilar situada próxima à artéria, a pressão sanguínea ponsável pela absorção de lipídios, derivados da digestão
é maior do que a pressão osmótica. Assim, água e moléculas de gorduras, absorvidos no intestino.

277
U.T.I. - Sala se contorce e o animal esconde partes frágeis como o
tronco, a cabeça e as patas no interior de uma dura car-
apaça – que se fecha e fica em formato de bola.(1)
1. (UFES) A figura abaixo ilustra o corte sagital do em-
brião de um metazoário na fase de gástrula, estando aí Natural da caatinga, o tatu-bola não é grande nem é fér-
indicados os folhetos germinativos a, b e c. Com relação til. Tem cerca de 60 cm de comprimento, pesa no máximo
aos tipos de embriões de metazoários, faça o que se 1,8kg e sua carapaça é feita de um tecido ósseo flexível,
pede. parecido com a pele do crocodilo. Sua gestação dura cer-
ca de quatro meses e tem apenas um descendente por
ninhada. Delicado, não tem forças para cavar buracos.
Passa o dia dormindo em tocas abandonadas por out-
ros animais. Por precaução, prefere a noite para caçar. É
quando sai atrás de seu alimento preferido: o cupim.(2)
(1)
Extraído de http://www.olhardireto.com.br Acesso em 13/09/2012.
(2)
Roberto Katz, in Revista O GLOBO. 14/10/2012. p.22-27.
A partir do texto acima e, de acordo com conceitos de
ecologia:
a) indique as partes do texto que apresentam carac-
terísticas do tatu em relação ao seu ambiente, como
habitat, nível ocupado na cadeia alimentar, nicho
ecológico e hábitos de vida.
b) explique por que o tatu-bola corre grande risco de
desaparecer da natureza.
a) Cite um grupo de metazoário que apresente um
4. (UFPR) A criação de modelos animais alterados ge-
embrião com as características descritas acima e indi-
neticamente permite o estudo de diversas doenças.
que os nomes dos folhetos a, b e c.
Esses animais são chamados knock-out quando o gene
b) Explique o papel do folheto c na formação do cor-
estudado é silenciado (deixa de funcionar), e knock-in
po de um metazoário adulto.
quando o gene que desencadeia a doença é inserido em
c) Explique a diferença entre um embrião de metazo- seu genoma. Geralmente, para a criação de um animal
ário e um embrião de cnidário. knock-in faz-se a inserção de células transformadas em
laboratório, contendo o gene a ser estudado, em blástu-
2. (PUC-RJ) Com relação aos animais tetrápodes, escreva
las que são, então, implantadas no útero de uma “mãe
o que se pede nos itens abaixo:
de aluguel” (uma rata, por exemplo). Um dos motivos
a) Diga quais são os tetrápodes, listando as principais de serem usadas blástulas é o fato de que as células
características desse grupo. dessa fase são pluripotentes e indiferenciadas.
b) Enumere as características desses animais que lhes a) Por que a inserção das células mutadas (produzi-
permitem melhor adaptação à vida em ambientes se- das no laboratório) não é feita em fases anteriores ou
cos, dando exemplos dos tetrápodes mais bem adap- posteriores à de blástula, além dos motivos já citados?
tados a esses ambientes.
b) Por que os animais nascidos são considerados qui-
3. meras genéticas?

5. (FUVEST) Piaimã virou o herói de cabeça para baixo.


Então Macunaíma fez cócegas com os ramos nas orelhas
do gigante (...). Chegaram no hol. Por debaixo da escada
tinha uma gaiola de ouro com passarinhos cantadores. E
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

os passarinhos do gigante eram cobras e lagartos.


Mário de Andrade, Macunaíma.
a) Suponha que o gigante Piaimã tenha encontra-
do os ovos de lagarto e os tenha posto para chocar,
A escolha do tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), um ani- pensando que fossem de aves. O exame dos anexos
mal “genuinamente brasileiro”, como mascote da Copa embrionários dos ovos desses dois grupos de animais
do Mundo de 2014, animou ambientalistas do país, já permite diferenciar se eles são de lagartos ou de pas-
que a espécie integra a lista de espécies da fauna bra- sarinhos? Justifique.
sileira ameaçadas de extinção. Esta seria uma forma de b) Considere que a gaiola esteja embaixo da escada
divulgar informações sobre a espécie pouco conhecida em local frio e úmido, e com alimento disponível. Que
e que corre grande risco de desaparecer da natureza. animais – cobras, lagartos ou passarinhos – teriam
maior dificuldade para sobreviver por período muito
A relação desta espécie de tatu com o futebol é o forma- longo nessas condições? Justifique.
to de bola que adquire ao se defender de predadores.
Ao perceber a presença de onças ou raposas, seu corpo

278
U.T.I. - E.O. c) Mais de 70% do sangue que entra pelo átrio es-
querdo é proveniente de vários órgãos, exceto dos
pulmões e da pele.
1. (UERJ) No gráfico, está indicado o tamanho de um
d) Um animal cujo coração é semelhante ao ilustrado na
animal terrestre ao longo de um determinado período
figura tem a pele bastante vascularizada e sempre ume-
de tempo, a partir de seu nascimento.
decida pela secreção das glândulas secretoras de muco.

4. (UFPR) Após a fecundação, o zigoto humano passa por


um período de intensa proliferação celular, denominado
clivagem, originando um concepto multicelular conheci-
do como blastocisto. Mais tarde, esse concepto sofrerá
o processo de gastrulação e prosseguirá em diversas
etapas de desenvolvimento, com uma duração média to-
tal de 38 semanas contadas a partir da fecundação.
a) Em que locais do aparelho reprodutor feminino
humano normalmente ocorrem a fecundação, a cliva-
Nomeie o filo a que esse animal pertence, justificando gem e a gastrulação?
sua resposta. b) Que partes dos embriões humanos estão formadas
ao final da gastrulação?
Nos pontos indicados pelas setas, ocorre um processo
c) Se a duração do desenvolvimento humano é de 38
relevante para o desenvolvimento desse animal até a
semanas em média, por que, clinicamente, são consi-
fase adulta. Nomeie esse processo e aponte a razão de
deradas 40 semanas?
sua importância.
5. (UEG) Os vertebrados constituem o maior e mais
2. (PUC-RJ) O desenvolvimento embrionário pode ser
complexo grupo de espécies dentre os cordados, sendo
usado para organizar os filos animais de acordo com as encontrado em todos os habitats. Uma das característi-
diferentes sequências de estágios e graus de complexi- cas desse grupo é a presença de membranas chamadas
dade corporal gerados. de anexos embrionários. Essas estruturas contribuíram
Descreva as fases iniciais do desenvolvimento embri- para a adaptação dos vertebrados ao ambiente terres-
onário dos animais e diferencie animais diploblásticos tre? Justifique sua resposta.
de triploblásticos, protostômios de deuterostômios e
celomados de acelomados e pseudocelomados. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO.
“Cientistas buscam remédios no mar” é o título de uma
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. reportagem (O Estado de S. Paulo, 02/05/2005, p. A16)
sobre pesquisas que identificaram moléculas com ativ-
idade farmacológica presentes em animais marinhos,
como esponjas e ascídias, contra agentes patogênicos
causadores de tuberculose, leishmaniose e candidíase.
Os agentes patogênicos causadores das doenças cit-
adas na reportagem são, respectivamente, bactérias,
protozoários e fungos.
6. (UNICAMP) Notícias sobre animais marinhos estão
sempre em destaque na imprensa, como exemplificam
a reportagem citada e as notícias listadas a seguir.
I. Uma lula gigante foi capturada em Macaé (RJ) e leva-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

da para Niterói. A lula pesa 130 quilos e mede aproxi-


madamente 4 metros. (em www.estadao.com.br/vidae/
not_vid71173,0.htm, 26/10/2007.)
II. A presença de uma medusa mortal levou à inter-
3. (UNB) Considerando a figura acima, que ilustra o rupção das filmagens de um longa-metragem na Aus-
mecanismo de funcionamento de um coração, julgue os trália. (em www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ul-
itens a seguir. t90u69858.shtml, 30/03/2007.)
a) Os 4% de sangue que saem do átrio direito para o III. Cientistas do Museu Victoria, na Austrália, divulgaram
ventrículo possuem maior concentração de O2 que os hoje imagens da menor estrela-do-mar do mundo, que
10% que saem do átrio esquerdo. mede menos de 5mm. (em noticias.terra.com.br/ciencia/
b) Um animal cujo coração é semelhante ao ilustrado na interna/0OI2039629-EI8145,00.html, 01/11/2007.)
figura pertence a uma classe do domínio Eukaria cujos a) Agrupe os filos aos quais pertencem os animais ci-
representantes ocupam, durante a fase larval, ambientes tados (esponjas, ascídias, lulas, medusas e estrelas-do-
aquáticos dulcícolas e, em geral, respiram por brânquias. -mar), de acordo com a presença de tecidos verdadeiros

279
e o número de folhetos germinativos. Caracterize cada 12. (UNICAMP) O uso das células tronco embrionárias
grupo formado segundo o critério indicado. tem levantado muitas discussões. As células embrioná-
b) A diferenciação dos folhetos germinativos no de- rias, geradas nos primeiros dias após a fecundação do
senvolvimento embrionário permite a formação de oócito pelo espermatozoide, não estão diferenciadas e
uma cavidade do corpo, o celoma. Que folheto germi- podem se transformar em qualquer célula do organis-
nativo está diretamente relacionado com a formação mo. A célula-tronco prototípica é o zigoto.
do celoma? Dê uma vantagem que a formação do (Adaptado de “Isto é”, 20 de outubro de 2004.)
celoma trouxe para os animais.
a) Após a formação do zigoto, quais são as etapas do
7. (UNESP) A Falsa Tartaruga suspirou profundamente desenvolvimento até a formação da notocorda e tubo
e enxugou os olhos com o dorso de uma patinha. Ela nervoso nos embriões?
olhou para Alice e tentou falar, mas, durante um ou dois b) Em que fase do desenvolvimento embrionário as cé-
minutos, soluços impediram-na de dizer qualquer coisa. lulas iniciam o processo de diferenciação?
(“Alice no País das Maravilhas”, Lewis Carroll.) c) O desenvolvimento embrionário é uma das formas de di-
Suspeita-se que o autor criou tal personagem observan- vidir os filos em dois grandes grupos. Dê duas diferenças no
do tartarugas marinhas que derramam “lágrimas” ao desenvolvimento dos protostomados e deuterostomados, e
desovar nas praias. A que correspondem as “lágrimas” indique em qual desses grupos os humanos estão incluídos.
das tartarugas marinhas e por que essas tartarugas
13. (UFPA) Os tecidos - grupos de células de mesma ori-
“choram”?
gem e semelhantes entre si em estrutura e função - são
8. (UFRJ) No processo evolutivo, centenas de espécies originados nos seres humanos a partir dos três folhetos
podem ser criadas em um tempo relativamente curto. embrionários. Cite três tipos de tecidos humanos com
Esse fenômeno é conhecido como radiação adaptativa. suas respectivas funções.
No grupo dos répteis, ocorreu uma grande radiação
adaptativa após o aparecimento da fecundação interna 14. (UFSCAR) Os répteis possivelmente surgiram no fi-
e do ovo amniótico; muitas espécies desse grupo surgi- nal do período Carbonífero, a partir de um grupo de an-
ram e ocuparam o habitat terrestre. fíbios, e tiveram grande diversificação na era Mesozoi-
Explique por que o ovo amniótico facilitou a ocorrência ca. Com o surgimento da fecundação interna e do ovo
dessa radiação adaptativa. adaptado ao ambiente terrestre, os répteis superaram
a dependência da água para a reprodução.
9. (UFAL) Os equinodermas são animais marinhos que a) Por que a fecundação interna e o ovo adaptado ao
apresentam, em sua maioria, simetria radial. ambiente terrestre tornaram a reprodução dos répteis
a) Por que a simetria radial dos equinodermas é con- independente da água?
siderada secundária? b) Quais adaptações ocorreram nos embriões dos
b) Compare o esqueleto dos equinodermas com o dos répteis com relação à alimentação e excreção?
artrópodes, quanto à localização e à composição.
15. (UFG) Várias aves apresentam dispersão, que é uma
10. (UFU) Existe(m) diferença(s) de origem embriológica forma de deslocamento dependente de fatores como
(folhetos embrionários) entre as glândulas sebáceas, a barreiras geográficas.
pleura e o epitélio da bexiga urinária? a) Os pinguins, que nadam desde o sul da Argentina até o li-
Justifique sua resposta. toral do Rio de Janeiro, não apresentam dispersão. Explique.
b) Explique duas adaptações das aves para o voo que
11. (UNICAMP) Recentemente pesquisadores brasileiros tenham relação com o peso corporal.
conseguiram produzir a primeira linhagem de células-
-tronco a partir de embrião humano. As células-tronco 16. (UFMG) O caramujo africano (Achatina fulica),
foram obtidas de um embrião em fase de blástula, de mostrado na figura abaixo, foi introduzido no Brasil,
onde foram obtidas as células que posteriormente foram ilegalmente, na década de 1980, com o intuito de se ex-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

colocadas em meio de cultura para se multiplicarem. plorar comercialmente essa espécie como iguaria gas-
a) As células-tronco embrionárias podem solucionar pro- tronômica. De lá para cá, o Achatina fulica espalhou-se
blemas de saúde atualmente incuráveis. Quais caracte- por vários estados brasileiros, mas não como uma alter-
rísticas dessas células-tronco permitem que os pesquisa- nativa econômica, pois seu gosto não foi tão apreciado
dores possam utilizá-las no futuro para este fim? como o escargot verdadeiro (Helix aspersa).
b) Blástula é uma etapa do desenvolvimento embrio-
nário de todos os animais. Identifique entre as figuras
a seguir qual delas corresponde à fase de blástula e
indique uma característica que a diferencia da fase an-
terior e da posterior do desenvolvimento embrionário.

280
1. EXPLIQUE por que uma espécie exótica como essa
pôde se tornar rapidamente uma praga em diversos
ecossistemas brasileiros.
2. CITE duas consequências da introdução de espécies
exóticas num ecossistema.
3. Um hábito popular para matar lesmas e caramujos
consiste em jogar sal de cozinha sobre seus corpos.
a) EXPLIQUE o processo pelo qual, nesse caso, o sal
leva à morte.
b) Apesar de popular, o extermínio de lesmas e cara-
mujos por adição de sal não é uma prática recomen-
dada para uso em hortas e jardins.
JUSTIFIQUE essa afirmativa.

17. (UNICAMP) As figuras A e B representam o útero de


duas mulheres grávidas de gêmeos.
a) Diferencie os tipos de gêmeos representados nas
figuras A e B e explique como são originados.
b) Que sexo os fetos podem apresentar em cada um
dos úteros?
c) O cordão umbilical liga o feto à placenta. Quais são
as funções gerais da placenta?

18. (UFC) Cite duas características dos anfioxos, perten-


centes ao táxon Cephalochordata, que são utilizadas
para embasar as relações filogenéticas com os verteb-
rados. Em que se baseia a denominação do táxon? Diga
em qual etapa do desenvolvimento embrionário é recon-
hecida a característica que denomina o táxon e descreva
como esta característica se origina embriologicamente.

19. (UFU) De todos os grupos de vertebrados, as aves


possuem o maior número de adaptações para que pos-
sam realizar o voo. Cite as adaptações que são encon-
tradas nos sistemas:
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

a) dérmico.
b) esquelético.
c) respiratório.
d) excretório.

281
BIOLOGIA

2
CIÊNCIAS DA
BIOLOGIA 3
NATUREZA
e suas tecnologias

U.T.I.
MEIOSE E VARIABILIDADE GENÉTICA

Meiose: caracterização dos cromossomos, seriam portadores de duas combinações


gênicas: A e B ou a e b. Com a ocorrência de crossing-over,
e importância fenômeno que acontece com os cromossomos já duplicados,
formam-se quatro combinações gênicas: AB, Ab, aB e ab.
A meiose é o tipo de divisão celular em que uma célula
diploide (2n), depois de duplicar os cromossomos, sofre
duas divisões sucessivas, produzindo quatro células-filhas
Fases do processo meiótico
haploides (n) totalmente diferentes geneticamente. As- Em vertebrados, a meiose ocorre apenas em células diploides
sim, a meiose é responsável por aumentar a variabilidade das linhagens germinativas localizadas nas gônadas (testículos
genética das populações. e ovários) e é constituída por duas divisões celulares: meiose I
e meiose II. Antes do início da meiose I, as células passam por
um processo semelhante ao que ocorre durante a interfase das
células somáticas. Elas passam pela interfase G1, que se carac-
Interfase teriza principalmente pelo processo de síntese proteica; em se-
guida, ocorre a fase S, ou seja, a duplicação do material genéti-
co; por fim, ocorre a fase G2, em que também ocorre síntese de
Meiose
proteína, porém em menor escala. A primeira divisão meiótica
(meiose I) é denominada reducional, pois reduz o número de
cromossomos de uma célula diploide (2n) e forma duas células
haploide (n) (separação dos cromossomos homólogos). A se-
gunda divisão (meiose II) é denominada equacional, pois forma
mais duas células-filhas com o mesmo número haploide de cro-
mossomos (separação das cromátides-irmãs).
Formação de células haploides (n)
Meiose: visão geral
Organismo
2n

Mitose

Meiose
Zigoto 2n

Óvulo n

Espermatozoide n
Constância cromossômica
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

A recombinação gênica é um evento exclusivo da meiose


e também aumenta a variabilidade genética das populações.
É caracterizada pelo crossing-over ou permutação, que
consiste na troca de partes entre cromátides não irmãs de cro-
A meiose e a diversidade
mossomos homólogos, contribuindo para que haja novas com- genética
binações gênicas e aumentando a variabilidade das espécies. Na meiose, as células produzidas na divisão I são genetica-
Observe a seguir de que maneira o crossing-over origina novas mente diferentes por duas razões. A primeira é a ocorrên-
combinações gênicas ou recombinações. Suponha a existência cia de crossing-over, que produz cromossomos com novas
de um organismo heterozigoto para os genes A e B; em um dos combinações gênicas. A segunda é a disjunção, totalmente
cromossomos homólogos estão os alelos dominantes (A e B), ao acaso, dos homólogos para as células-filhas. Exemplifi-
e no outro homólogo estão os alelos recessivos (a e b). Se não cando: no núcleo diploide, existem dois pares de cromosso-
houvesse crossing-over, os gametas, que recebem apenas um mo designados por 1 e 2. Para a célula-filha, existem várias

284
possibilidades. Assim, ela pode receber o cromossomo 1
materno e o 2 paterno, ou o 1 paterno e o 2 materno, ou,
Importância biológica
então, ambos maternos ou ambos paternos. § A meiose permite que o número de cromossomos pa-
Meiose - Divisão Reducional (R!) drão de cada espécie permaneça o mesmo, isto é, cons-
Meiose: divisão reducional (R!)
tante ao longo das gerações.
§ A meiose garante, por meio da disjunção (separação)
ao acaso dos cromossomos homólogos e do crossin-
g-over, a formação de 4 células-filhas haploides total-
mente diferentes entre si.
§ As espécies que sofrem meiose em seu ciclo de vida
Etapas dameiose
Meiose apresentarão grande variabilidade genética em suas
Etapas da populações, sejam animais que formam gametas ou
Meiose 1 2n = 4
vegetais que formam esporos.

Interfase
Interfase Prófase
Prófase I I Metáfase
Metáfase I I Anáfase
Anáfase I
Meiose 2 2n = 4

Telófase
Telófase II Metáfase
Metáfase IIII Anáfase
Anáfase II II Telófase
Telófase II II

COMPARAÇÃO ENTRE MITOSE E MEIOSE


Mitose (E!) Meiose (R!)
Ocorre em células somáticas e promove Ocorre em células germinativas e promove a formação
crescimento e regeneração. de gametas em animais e esporos em vegetais.
Células (n) ou (2n) podem sofrer mitose e originam Apenas células (2n) podem sofrer meiose e originam
duas células idênticas geneticamente. 4 células totalmente diferentes geneticamente.
Uma duplicação cromossômica para uma divisão celular. Uma duplicação cromossômica para duas divisões celulares.
Células-filhas com o mesmo número de cromossomos Células-filhas com a metade do número de cromossomos
da célula-mãe (divisão equacional). da célula-mãe (divisão reducional).
Não há crossing-over. Há crossing-over.
Não promove variabilidade genética. Promove grande variabilidade genética.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Não há separação dos cromossomos homólogos, Há separação dos cromossomos homólogos na divisão I
apenas de cromátides-irmãs. e de cromátides-irmãs na divisão II.
Não há pareamento de cromossomos homólogos. Há pareamento de cromossomos homólogos.

285
GAMETOGÊNESE

Sistema genital masculino


Anatomia

Anatomia interna do sistema genital masculino

Sistema genital feminino


Anatomia
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Anatomia interna e externa do sistema genital feminino

Gametogênese
Gametogênese é o fenômeno de produção dos gametas. Nos animais, esse processo ocorre nas gônadas, órgãos que também
sintetizam os hormônios sexuais e originam o desenvolvimento de características sexuais secundários, que diferenciam os ma-
chos das fêmeas.
A gametogênese feminina (ovulogênese ou ovogênese) e a gametogênese masculina (ou espermatogênese) possuem etapas se-
melhantes.

286
Espermatogênese

}
Espermatogênese

Célula germinativa 2n

geminativo
Mitose

Período
Espermatogônias 2n 2n

Mitose
2n 2n 2n 2n
Espermatogônias

}
Crescimento

crescimento
sem divisão

Período de
celular
Espermatócito I 2n

}
Meiose I
Esquema do testículo
Espermatócito II n

Ovogênese
Período de
maturação
n

Meiose II

n n n n
Espermátides

Espermatozoides
n

Ovogênese
n n n
} diferenciação
Período de
O processo de formação do óvulo é dividido em 3 etapas: pe-
ríodo germinativo, período de crescimento e período de ma-
Ovogênese turação.

}
Célula germinativa 2n § Período Germinativo – Ovogônias (2n), as células ger-
Mitose
minativas, dividem-se por mitose originando outras ovogô-
geminativo

Ovogônias 2n 2n
nias (2n). Esse processo termina próximo ao nascimento
Período

Mitose
nas fêmeas de mamíferos.
Ovogônias 2n 2n 2n 2n

}
Crescimento § Período de Crescimento – Nesse período não ocorre
sem divisão
mitose, param as divisões celulares, ocorre aqui o cresci-
crescimento

celular
Período de

Ovócito I 2n mento em volume da ovogônia (2n), que passa a ser cha-

}
Meiose I Glóbulo polar mada de ovócitos I, ou ovócitos primários ou de primeira
Ovócito II n n ordem.
Período de
maturação

Meiose II
§ Período de Maturação – Cada ovócito I (2n) agora so-
Óvulo n n n n
fre divisão meiótica. A meiose I resulta em duas células de
Glóbulos polares
tamanhos diferentes, uma maior chamada de ovócito II (n),

Espermatogênese ou ovócito secundário ou de segunda ordem, a qual tem


praticamente com todo o citoplasma do ovócito I, e outra
A espermatogênese inicia-se na puberdade e ocorre ao longo muito pequena chamada de primeiro corpúsculo polar ou
de toda vida do homem. glóbulo polar (n). Na meiose II, o ovócito II dá origem a uma
célula maior, o óvulo (n), e outra célula menor, o segundo
O processo de formação do espermatozoide é dividido em 4
glóbulo ou corpúsculo polar (n). O primeiro glóbulo polar
etapas: período germinativo, período de crescimento, período
pode dividir-se, resultando em dois corpúsculos polares.
de maturação e período de diferenciação.
§ Período germinativo – As células germinativas masculi-
nas diploides, as espermatogônias, dividem-se ativamente
Principais diferenças entre
por mitose, originando outras espermatogônias também espermatogênese e ovogênese
diploides. Nos machos de mamíferos, esse período pode 1. O período germinativo é mais longo na espermatogênese
acontecer durante toda a vida do indivíduo. do que na ovogênese.
§ Período de crescimento – Nesse período cessam as di-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

2. O período de crescimento é mais demorado na ovogênese.


visões celulares e não ocorre mitose. Ocorre o crescimento
3. A quantidade de gametas finais produzidos é diferente. No
em volume da espermatogônia (2n), que passa a ser cha-
período de maturação, cada espermatócito I dá origem a
mada de espermatócito I (2n) ou espermatócito primário
quatro espermatozoides, enquanto cada ovócito I produz
ou de primeira ordem.
apenas um óvulo.
§ Período de maturação – Cada espermatócito I (2n) sofre
4. Na ovogênese, não existe o período de diferenciação.
divisão meiótica. Depois da meiose I, as duas células resul-
tantes dessa divisão celular são denominadas espermató-
citos II (n) ou espermatócito secundário ou de segunda or- Fecundação
dem. Cada espermatócito II, depois do processo de meiose
Para a formação de um novo indivíduo, os gametas fun-
II, dá origem a duas células denominadas espermátides (n).
dem-se aos pares, um masculino e outro feminino, cujos pa-
§ Período de diferenciação – As espermátides (n) sofrem mar- péis são diferentes na formação do descendente. Essa fusão
cante diferenciação e são transformadas em espermatozoides. é a fecundação ou fertilização.

287
HISTOLOGIA

O corpo de um organismo multicelular é composto por dis- § Zona de oclusão


tintos tipos de células, especializadas em funções diferentes.
§ Zônulas de adesão
A histologia é a ciência que estuda os tecidos biológicos: ori-
gem, característica, tipo de célula e funcionamento. § Desmossomos
§ Hemidesmossomos
Tipos básicos de § Junções gap ou comunicantes
tecido e suas funções § Interdigitações: aumento da superfície de contato
Os animais vertebrados possuem 4 tipos básicos de teci-
dos: muscular, nervoso, conjuntivo e o epitelial. Classificação de epitélios
§ Epitélio – é o revestimento superficial externo do cor-
po (faz parte da pele), dos órgãos e das cavidades cor-
porais internas. Também possui o papel secretor.
§ Conjuntivo – composto por vários tipos células e Simples pavimentoso Simples cúbico
Simples colunar
por farta matriz extracelular, secretada pelas próprias
células desse tecido. A função do tecido é sustentar,
preencher e transportar as substâncias.
§ Muscular – as células desse tecido são multinuclea-
das, alongadas e com características contráteis. Estratificado
Estratificado Pseudoestratificado
§ Nervoso – as células desse tecido exibem longos pro- cúbico
pavimentoso colunar
longamentos citoplasmáticos e realizam a função de
receber, gerar, codificar e transmitir impulsos nervosos.

Tecido epitelial
Simples pavimentoso Simples cúbico
Simples colunar
Reveste a superfície externa e as cavidades internas corpo-
rais dos animais. Realiza distintas funções no organismo: li-
bera substâncias úteis (glândulas), absorve íons e moléculas
(epitélio intestinal), proteção e percepção de estímulos (pele). Epitélio de
Estratificado transição
As células dos tecidos epiteliais ou epitélios são justapostas Pseudoestratificado
Estratificado cúbico
e conectadas por pequena quantidade de substância ex- colunar
Diferentes morfologias das células epiteliais
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

pavimentoso
tracelular. As células possuem uma grande aderência entre Os epitélios podem ser classificados em relação ao número
si, devido às junções intracelulares. de camadas celulares e formato das células.
Os epitélios não sangram se feridos, porque não são vascu-
larizados. As células são nutridas por difusão que ocorre a Classificação dos epitélios quanto
partir dos capilares presentes no tecido conjuntivo próximo ao número de camadas celulares
ao epitélio.
§ Epitélios simples ou uniestratificados
Especialização das § Epitélios estratificados
células epiteliais § Epitélios pseudoestratificados
O que mantém a união das células dos tecidos epiteliais
são junções celulares.

288
Classificação dos epitélios quanto à forma § Glândulas exócrinas – lançam seus produtos através
de duto para uma cavidade interna. Exs.: lacrimais, su-
§ Pavimentoso – Células achatadas como ladrilhos;
doríparas, glândulas salivares, mamárias e sebáceas.
§ Cúbico – Células com forma de cubo;
§ Glândulas endócrinas – lançam seus produtos di-
§ Prismático – Células alongadas com forma de coluna. retamente na corrente sanguínea. Exs.: glândulas da
tireoide, hipófise e adrenais.
Classificação dos § Glândulas mistas – possuem regiões endócrinas e
epitélios quanto à função exócrinas. Ex.: pâncreas (porção exócrina secreta en-
Os epitélios podem ser classificados em epitélios de reves- zimas digestivas no intestino; a porção endócrina se-
timento e epitélios glandulares. creta os hormônios insulina e glucagon no sangue).
As glândulas também podem ser classificadas em relação
Epitélios de revestimento à forma como eliminam suas secreções.
As funções desse epitélio englobam proteger e revestir as
superfícies externas e internas, secretar diversos produtos,
absorver substâncias, remover impurezas e pode apresen-
Tecido conjuntivo
tar receptores sensoriais. Formado pelos diferentes tipos de células imersas em ma-
terial extracelular (substância amorfa ou matriz), que é
Pele: órgão de contato produzido pelas próprias células do tecido. Essa matriz, de
aspecto transparente e gelatinoso, é constituída, principal-
Histologia da pele mente, por água, glicoproteínas e fibras proteicas.
A pele é um órgão composto de epiderme e derme nos De acordo com o tipo celular e a proporção relativa entre
mamíferos. os componentes da matriz extracelular, os tecidos conjunti-
O excesso de queratina mata as células superficiais, os vos podem ser classificados em:
quais formam um revestimento resistente ao atrito e im- § Tecido conjuntivo propriamente dito: frouxo, denso
permeável à perda de água. modelado e denso não modelado;
Outras células da epiderme são os melanócitos, que pro- § Tecido conjuntivo com propriedades especiais: adipo-
duzem melanina (pigmento marrom-escuro) que protege a so e sanguíneo;
pele contra a ação dos raios ultravioletas.
§ Tecido conjuntivo de consistência rígida: cartilagino-
Sensores da pele so e ósseo.

Diferentes tipos de estruturas sensoriais conferem à pele


a função de relacionamento com o meio ambiente. Dis-
Tecido conjuntivo frouxo
tribuídas por toda a pele, há terminações nervosas livres, Preenche espaços vazios. Também age, de certo modo,
responsáveis pela captação de estímulos ambientais.
como barreira contra a entrada de elementos estranhos
nos tecidos. O tecido conjuntivo frouxo possui maior quan-
Anexos da pele
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

tidade de células quando comparado às fibras.


Pelos, que participam do isolamento térmico; glândulas se-
báceas, que lubrificam a pele, e glândulas sudoríparas, que Tipos de fibra
regulam a temperatura corpórea.
Colágenas, elásticas e reticulares são os tipos de fibra que
fazem parte do tecido conjuntivo frouxo.
Tecido epitelial glandular
As células do tecido epitelial glandular são produtoras de Tipos de célula
substâncias.
O tecido conjuntivo frouxo é composto por dois fundamen-
De acordo com a forma de secretar substâncias, as glându- tais tipos de célula: macrófagos e fibroblastos.
las de origem epitelial podem ser classificadas em exócri-
As células mesenquimatosas e os plasmócitos são células
nas, endócrinas ou mistas.
também presentes nesse tecido.

289
Tecido conjuntivo denso Glóbulos vermelhos
Nesse tecido predominam os fibroblastos e as fibras colágenas. Chamados de hemácias ou eritrócitos. Células sem núcleo, que
parecem um disco bicôncavo. Possuem uma grande quanti-
Esse tecido tem em sua maioria fibras colágenas, quan- dade de hemoglobina (proteína transportadora de oxigênio).
do comparado com a quantidade de células presentes. Ele
pode ser classificado com relação à organização dessas
fibras em:
Glóbulos brancos
Denominados de leucócitos, são células do sangue relacio-
§ Não modelado – as fibras estão em feixes posiciona- nadas com a defesa do organismo.
dos em direções diferentes, o que o confere resistência à
tração em várias direções, além de grande elasticidade.
Tecido conjuntivo ósseo
§ Modelado – as fibras estão em feixes posicionados
Tem como função sustentar e compor os ossos do esque-
na mesma direção; aqui o movimento de rotação é li-
leto dos vertebrados. É um tecido rígido devido à matriz
mitado, porém existe uma grande resistência à tensão
rica em sais de cálcio, fósforo, magnésio, além de fibras de
em uma certa direção.
colágeno, que aferem certa flexibilidade ao osso.

Tecido conjuntivo adiposo


Cartilagem articular

OpenStax College
Epífise proximal

No tecido adiposo, a substância intracelular está em menor Metáfise Tecido ósseo esponjoso

quantidade, e as células estão cheias de lipídios, as quais Disco epifisários


Medula vermelha
são chamadas de adipócitos.
As células adiposas possuem vacúolo grande e central de
gordura, que altera o volume conforme o metabolismo.
Cavidade ou canal medular

Tecido conjuntivo
Diáfise Medula amarela
Perióstio

cartilaginoso Arteria nutricia

Algumas de suas funções são revestir superfícies articula-


res para facilitar movimentos, auxiliando na sustentação, Metáfise
e é imprescindível para o crescimento dos ossos longos.
As cartilagens são avasculares e não possuem nervos. As Epífise distal
cartilagens estão localizadas em grande parte no sistema Cartilagem articular

respiratório (nariz, traqueia, brônquios, epiglote etc.), al-


gumas partes da laringe, na orelha externa e nos discos
cartilaginosos entre as vértebras, que abrandam o cho-
que dos movimentos sobre a coluna vertebral.
Nas cartilagens há dois tipos celulares: os condroblastos,
que secretam as fibras colágenas e a matriz, e os condró-
osso esponjoso
citos, que estão alojados em lacunas da cartilagem e pos-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

suem uma atividade baixa (são condroblastos “velhos”). osteócitos canal de Havers
perióstio
osso compacto

Tecido conjuntivo sanguíneo


É formado por células (parte figurada), imersas num meio Tipos de células do osso
líquido, o plasma (parte amorfa). Osteoblastos são células jovens. Possuem longas projeções
citoplasmáticas. Quando secretam a matriz intercelular ao
Plaquetas seu redor, os osteoblastos permanecem retidos dentro,
torna-se maduros, transforma-se em osteócito, perdendo
As plaquetas ou trombócitos são produzidas por frag- os prolongamentos citoplasmáticos. Há ainda outro tipo
mentação dos megacariócitos, células grandes da medula celular nesse tecido, os osteoclastos, que são células prin-
óssea. Possuem substâncias ativas do processo de coagu- cipalmente ativas na destruição das áreas envelhecidas e
lação do sangue, que inibe a ocorrência de hemorragias. das áreas lesadas do osso.

290
A remodelação e o crescimento normais dependem de: Tipos de fibras musculares
§ Fabricação dos hormônios responsáveis pela atividade estriadas esqueléticas
do tecido ósseo.
§ Lentas ou vermelhas (tipo 1): Têm mioglobina
§ Quantidades adequadas de cálcio e fósforo na dieta
(proteína que conduz e estoca oxigênio para os tecidos
alimentar.
musculares) e mitocôndrias. Altamente resistente à fadi-
§ Quantidade adequada de vitaminas, como vitamina D, que ga, assim, estão adaptadas a movimentos duradouros e
auxilia na deposição de cálcio e fósforo na matriz óssea. lentos. Para sua atividade utilizam a energia proveniente
do processo de respiração celular normalmente.

Tecido muscular § Rápidas ou brancas (tipo 2): São fibras mais claras,
pois possuem pouca mioglobina e mitocôndrias. Estão
Fundamental na locomoção, na contração do coração e das adaptadas a movimentos rápidos e potentes. A energia
artérias (vasos sanguíneos), dos órgãos do tubo digestório para a atividade dessa fibra vem de processos anaeró-
e outros. Fibras musculares são as células dos tecidos mus- bios, como a fermentação, normalmente.
culares, que são alongadas e têm o nome de miócitos.

Tipos de tecido muscular Tecido muscular estriado cardíaco


Apresenta células musculares estriadas com núcleos cen-
Existem três tipos de tecido muscular: estriado esquelético,
trais. Esse tecido é encontrado apenas no coração, e possui
estriado cardíaco e liso.
uma contração potente, rítmica e involuntária.

Tecido muscular estriado O processo de autoestimulação é realizado pelas células


musculares cardíacas (isso ocorre independente de um es-
esquelético tímulo do sistema nervoso).
Recobre completamente o esqueleto e está conectado aos
ossos. É um tecido com contração voluntária. Célula com
vários núcleos periféricos. No citoplasma encontram-se
Tecido muscular liso ou não estriado
as fibras contráteis, miosina (grosso) e actina (fina). Es- As células musculares lisas não possuem estriação.
sas proteínas são organizadas de modo que originam as Os miócitos são uninucleados, têm contração lenta e in-
bandas transversais (claras e escuras), particularidades das voluntária. Esse tipo de tecido é encontrado em grande
células musculares estriadas esqueléticas e cardíacas.
parte do sistema digestório (esôfago, estômago e intesti-
Sarcolema Mitocôndria Miofilamentos
nos), que é responsável pelo peristaltismo nesse sistema.

Linha Z Linha Z
Tecido nervoso
Miofibrilas
Banda I Banda A Banda I
Os seres vivos interagem com o meio e reagem aos es-
Retículo Linha Z
Sarcômero
Linha Z tímulos ambientais. No tecido nervoso praticamente não
Fibra Túbulos T Sarcoplasmático
Núcleo há substância intercelular. Seus fundamentais constituintes
celulares são os neurônios e as células da glia.
Filamento grosso

Filamento delgado
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Troponina
§ Neurônios – São células nervosas que recebem, codi-
ficam e transmitem estímulos nervosos, permitindo ao
indivíduo responder a mudanças do meio.
Actina Tropomiosina

Organização da fibra muscular


§ Células da glia – Os tipos de glia diferem na forma
Músculo
Sarcômero estirado e função, assim cada tipo tem um papel diferente no
organismo.
estirado

ATP + Ca2+ + Mg2+ Actina


§ Os astrócitos alimentam a rede de circuitos nervo-
Músculo
Miosina sos e fornecem suporte mecânico.
contraído

§ Os oligodendrócitos fazem função semelhante às


células de Schwann: sintetizam bainhas protetoras
Sarcômero contraído sobre os neurônios.

291
§ A micróglia é um tipo especializado de macrófago, O estímulo causador do impulso nervoso necessita ser su-
fagocita detritos e restos celulares do sistema nervoso. ficientemente forte, acima de um certo valor, que discrepa
§ Células de Schwann são células especiais que envol- entre os tipos de neurônios, para levar à despolarização
vem certos tipos de neurônios. Enrolam-se dezenas que modifica o potencial de repouso em potencial de ação.
de vezes em torno do axônio e formam uma capa Esse estímulo chamamos de estímulo limiar. Dessa manei-
membranosa chamada bainha de mielina. ra, não há variação de intensidade de um impulso nervoso
devido ao aumento do estímulo; esse processo obedece à
regra do “tudo ou nada”.
Transmissão do impulso nervoso
A transmissão do impulso nervoso propaga-se através de
Os estímulos nervosos propagam-se sempre no mesmo
uma região denominada sinapse. Não há contato entre as
sentido: são recebidos pelos dendritos, continuam pelo cor-
membranas das duas células que se comunicam via sinap-
po celular, passam pelo axônio, a qual transmite à célula
se. Os mediadores químicos, chamados neurotransmisso-
seguinte, prosseguindo com a transmissão.
res, são liberados na porção terminal do axônio, através de
vesículas secretoras. Ao cair na fenda sináptica, esses
neurotransmissores geram os impulsos nervosos na célula
subsequente.

RESPIRAÇÃO CELULAR E FERMENTAÇÃO

A energia obtida pelas células para fazer suas funções Ao receberem elétrons e hidrogênios, NAD, NADP+ e FAD
não deriva diretamente dos compostos orgânicos, mas ficam reduzidos.
através das moléculas “intermediárias” geradas, comu- ←
mente com a energia obtida da “quebra” dessas sub- NAD+ (forma oxidada)   NADH (forma reduzida)

stâncias orgânicas. ← NADPH (forma reduzida)
NADP+(forma oxidada)   ←
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

O ATP armazena energia em duas de suas ligações-fosfato, ← FADH (forma reduzida)


FAD (forma oxidada)   ←
2
que se desprende assim que uma delas se rompe.

Respiração celular
O processo para fabricação de energia é denominado res-
piração celular, e gasta O2 e produz CO2.
C6H12O6 + 602 → 6CO2 + 6H2O + energia (calor) A respiração celular é basicamente um processo de ex-
tração de energia química armazenada em moléculas de
substâncias orgânicas. Para retirar efetivamente dos nu-
Transportadores de elétrons trientes a energia imprescindível à atividade celular, são
NAD+, NADP+ e FAD são moléculas complexas que cap- necessários três mecanismos: a glicólise (ocorre no citosol,
turam elétrons e átomos de hidrogênio desprendidos de não precisa de oxigênio - processo anaeróbio), o ciclo de
reações químicas no interior das células, e onde ocorrem a Krebs e a fosforilação oxidativa (ocorrem nas mitocôndrias
produção e degradação de substâncias orgânicas. e no caso da última usa-se oxigênio).

292
Glicólise ATP sintase
Processo anaeróbio em que há modificação gradual da Um gradiente de prótons entra na matriz mitocondrial. Os
molécula de glicose realizada por um conjunto de enzimas, prótons acumulados tendem a voltar para a matriz, cruzando
resultando, ao final na produção de duas moléculas de um a enzima ATP sintase, localizada na membrana interna mito-
“subproduto”, o ácido pirúvico. O saldo da glicólise é 2 condrial, onde também se encontram as enzimas e proteínas
ATP a cada molécula de glicose. que fazem parte da cadeia transportadora de elétrons.

Ciclo de Krebs ou ciclo Fermentação


do ácido cítrico É a oxidação incompleta da glicose sem necessidade de
O ácido pirúvico que resulta da glicólise penetra na mitocôn- oxigênio que é feita por alguns seres vivos. Nesse processo
dria, dando início à fase aeróbia da respiração. Depois de denominado de fermentação, a quebra da glicose (glicó-
passar por reações enzimáticas, o ácido pirúvico perde CO2 lise) completa-se com a fabricação de apenas dois ATPs.
e hidrogênio, respectivamente, por descarboxilação e desidro-
genação, com consequente redução do NAD+ à NADH. Em Fermentação lática
seguida, esse ácido liga-se à coenzima A formando a acetil-
É a oxidação anaeróbica parcial de carboidratos que leva
-coenzima A, ou Acetil-CoA. Esta, por sua vez, combina-se
com o ácido oxalacético e dá origem a uma molécula com seis a produção final de ácido lático e de outras substâncias
átomos de carbono, o ácido cítrico. Este também passa por orgânicas. É um processo microbiano muito importante
uma série de transformações – descarboxilações e desidroge- usado na fabricação de laticínios, picles, chucrutes e na
nações – até originar o ácido oxalacético, que reinicia o ciclo. conservação de forragens. Porém, é responsável pela dete-
rioração de diversos produtos agrícolas.

Cadeia respiratória
Acontece nas cristas mitocondriais. Na glicólise e no ciclo
de Krebs ocorrem a liberação de hidrogênios como resul-
tado da progressiva degradação de glicose. Os hidrogênios
foram aceptados por substâncias especiais, o NAD e o FAD, O rendimento em ATP da glicólise sob condições anaeróbi-
e reduzidas a NADH e a FADH2. NADH e FADH2 devem cas – 2 ATP por molécula de glicose – é muito menor que
ligar-se ao oxigênio para que, com a transferência dos hi- o obtido na oxidação completa da glicose sob condições
drogênios, forme-se água. aeróbicas.

A ligação dos aceptores com oxigênio não é direta, os


hidrogênios em vez de serem entregues diretamente ao
Fermentação alcoólica
oxigênio são transferidos de uma substância para outra, As leveduras usadas em cervejarias, em padarias, pela rea-
para compor uma cadeia que possibilita a liberação gra- lização de fermentação alcoólica, fermentam a glicose em
dativa de energia, usada para a produção de ATP, a partir etanol e CO2. Os fungos (leveduras) empregados na produ-
de ADP e fosfato. Depois que a energia foi utilizada para ção de vinho e pães são anaeróbicos facultativos, isto é, se,
produção de ATP, decorrente de sucessivas oxidações, diz- em ambiente oxigenado, realizam respiração aeróbica, e se
se que ocorreu fosforilação oxidativa. em ambiente sem oxigênio, realizam fermentação.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

FOTOSSÍNTESE E QUIMIOSSÍNTESE

Os seres autótrofos podem fazer fotossíntese ou quimi- O conjunto de reações da fotossíntese pode ser divid-
ossíntese para produzir matéria orgânica. ido em duas fases: fase fotoquímica (fase clara) e fase
A fotossíntese, nas células eucariontes, ocorre em uma química (fase escura).
organela específica chamada de cloroplasto. É um con- Primeiro vamos caracterizar os sistemas envolvidos nesse
junto de reações químicas, interdependentes, em que o processo para auxiliar na compreensão dos eventos:
gás carbônico, água e energia luminosa reagem gerando
glicose (C6H12O6) e oxigênio.

293
§ Fotossistemas – uma estrutura que contém pigmentos NADPH (nicotinamida-adenina-dinucleotídeo fosfato- redu-
fotossintetizantes como a clorofila, e carotenoides associa- zido) e o ATP; e também ocorre a fotólise da água. Nessa
dos a proteínas, nos tilacoides. Assim, um fotossistema está etapa a energia luminosa se transforma em energia química.
envolvido no processo de absorção da luminosidade e na § Fotólise da água – é a quebra de molécula de água
transformação dessa energia luminosa em energia quími- frente à luz, levando à produção de oxigênio (O2), de
ca. Existem, basicamente, dois fotossistemas, que foram prótons e de elétrons. É uma das primeiras reações que
nomeados de fotossistema I e II. O primeiro absorve luz no ocorrem na fotossíntese.
comprimento de onda até 700 nm e transfere elétrons para
o aceptor final NADP+. E o fotossistema II absorve luz no § Transporte de elétrons – a energia luminosa absor-
comprimento de onda até 680 nm e é o responsável pela vida pela clorofila excita-a, fazendo com que os elétrons
fotólise da água (quebra da molécula de água). se afastem do núcleo escapando da molécula clorofila.
§ Fotofosforilação cíclica – elétrons perdidos pela
§ Citocromos – são aceptores de elétrons da cadeia
clorofila do fotossistema I percorrem cadeia de trans-
transportadora. São moléculas coloridas.
portadores, porém voltam para a mesma clorofila de
§ Ferrodoxina, quinona e plostocianina – são out- onde saíram.
ros aceptores de elétrons.
Cadeia de ATP
transporte

Etapas da fotossíntese Elétrons


excitados
de elétrons

Energia para
(2 e) produção

Fase clara (fotoquímica) de ATP


Transportador de elétrons
Luz
Essa primeira fase depende da presença da luz, porém inde- CLOROFILA
pende da temperatura. Resumidamente, através de reações
químicas são produzidos dois transportadores de energia: o Representação da fotofosforilação cíclica

§ Fotofosforilação acíclica – tem a participação dos dois fotossistemas (P700 e P680), da molécula de H2O e o do NADP,
e assim, ocorre a produção de O2, NADPH e ATP. O fotossistema I recebe elétrons liberados da clorofila do fotossistema
II, que se oxida, porém retorna à forma reduzida ao capturar elétrons provenientes da fotólise da água.
Os elétrons saem da clorofila do sistema (P700) por aceptores de elétrons e a última molécula é o NADP+ que, ao mesmo
tempo, capta íons H+, resultantes da fotólise água, e assim, forma NADPH. Durante esse transporte entre os aceptores
de elétrons, esses liberam energia utilizada para a formação de ATP.
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Representação da fotofosforilação áciclica

294
Fase escura (química) O aumento de CO2 eleva a taxa de fotossíntese até que
ocorra saturação das enzimas do ciclo de Calvin.
Essa fase não depende diretamente da luz. Usa-se o ATP
e NADPH oriundos da fase fotoquímica. Aqui acontece a § Temperatura
conversão do CO2 em um composto orgânico (glicídio), o Intensidade de fotossíntese
que ocorre através de um ciclo de reações, chamado ciclo
das pentoses, ou ciclo de Calvin-Benson. Nesse ciclo há
etapas importantes catalisadas pela enzima rubisco. A fase
escura acontece no estroma do cloroplasto e no citosol de
bactérias fotossintetizantes.

T (ºC)

Quimiossíntese
É um processo em que a energia utilizada na formação de
compostos orgânicos, a partir de gás carbônico (CO2) e da
água (H2O), provém da oxidação de substâncias inorgâni-
cas. A quimiossíntese é realizada por algumas bactérias e
lhes conferem o nome de bactérias quimiossintetizantes.
Elas podem viver em ambientes sem luz e O2.
As moléculas de gliceraldeído-3-fosfato (PGAL) produzidas
nesse ciclo são convertidas em glicídio, o principal produ-
to da fotossíntese. A glicose pode ser oxidada e utilizada
Esquema do processo
como fonte de energia no processo de respiração celular, de quimiossíntese
ou ainda pode ser armazenada na forma de amido ou ser
convertida em celulose, que vai constituir a parede celular. § Primeira etapa
oxidação substâncias inorgânicas → compostos
Fatores que inorgânicos oxidados + energia química
influenciam a fotossíntese
§ Segunda etapa
§ Intensidade luminosa
Intensidade de CO2 + H2O + energia química → substâncias orgânicas
fotossíntese

Fotossíntese

Respiração
celular

1 2 3 Intensidade
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luminosa

A taxa de fotossíntese aumenta na presença de luz, até a


saturação das clorofilas (3).
§ Gás Carbônico
Taxa de fotossíntese

Concentração de CO2

295
GENÉTICA: PRIMEIRA LEI DE MENDEL

Herança monoíbrida nos Variações da primeira lei de


estudos de Mendel mendel – interações
Quando o indivíduo apresenta dois alelos idênticos, ele é entre alelos – a dominância
denominado homozigoto, como no caso dos indivídu-
os AA e aa, e quando o indivíduo apresenta apenas uma
incompleta ou parcial
cópia de cada alelo, é denominado heterozigoto (Aa). Existem outros tipos de interações, como a dominância in-
completa. Neste tipo de interação a característica codificada
Mendel demonstrou que cada característica é determinada
por um alelo não se sobrepõe à característica determinada
por dois fatores,(posteriormente chamados de alelos) e que
por outro alelo. Assim, o que observamos é o surgimento de
durante a formação dos gametas esses fatores se segregam
uma característica intermediária na prole. Abaixo, o exemplo é
(separam-se), ou seja, cada gameta possui apenas um fa-
a Mirabilis jalapa, conhecido popularmente como maravilha:
tor. Com isso a primeira lei de Mendel também é conhecida
como lei da segregação dos fatores.. P

Genética - o Mendelismo Vermelha (VV) Branca (BB)

e o vocabulário atual F1
Rosa (VB)

Fenótipo
F2
É a característica expressa no organismo, que é re-
sultante da interação do genótipo e do ambiente
(FENÓTIPO = GENÓTIPO + AMBIENTE). O fenótipo pode ser: Vermelha Rosa Rosa Branca
(VV) (VB) (VB) (BB)
§ Dominante: O alelo dominante é aquele que se ex-
{
1 : 2 : 1
pressa mesmo na presença de outro alelo diferente.
Maravilha: caso de herança sem dominância
O indivíduo pode apresentar genótipo heterozigoto e/
ou homozigoto. Observação: nem sempre o fenótipo
dominante é o mais apto ao meio. Interações entre alelos –
§ Recessivo: o alelo que só se expressa em dose dup-
la, ou seja, em homozigose. Dessa maneira, exibe um a codominância
único genótipo. Outro tipo de interação é a Codominância, é o caso de do-
minância completa, mas diferentemente dos casos estuda-
Cruzamento - Teste dos por Mendel, existe mais de um alelo dominante. Assim,
quando ambos os alelos estão presentes em um mesmo
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

É usado para descobrir se um indivíduo com fenótipo domi-


indivíduo, esse, por sua vez, expressa as características de
nante é homozigoto ou heterozigoto. O cruzamento-teste é
ambos os alelos. Principal exemplo de codominância em
um cruzamento entre um indivíduo dominante, que se deseja
humanos é o sistema sanguíneo ABO, em que os alelos A e
saber o genótipo, e um indivíduo recessivo. Através da análise
B são dominantes e o alelo O é recessivo.
da proporção da prole pode se determinar o genótipo.
A_ x aa
Obtendo-se 100% de indivíduos dominantes, o testado é, Interações entre alelos –
com certeza, homozigoto - AA. a letalidade
Obtendo-se 50% de dominantes e 50% de recessivos, en-
Em algumas situações a combinação entre alelos pode ge-
tão o testado é heterozigoto - Aa.
rar indivíduos inviáveis. Normalmente esta condição é
Quando é utilizado o genitor recessivo para o teste, o pro- condicionada pela homozigose de um determinado alelo,
cesso é chamado retrocruzamento ou back-cross. assim denominamos esse de alelo letal.

296
Analisando heredogramas

Herefograma representado a herança de um caráter autossômico dominante

Herefograma representado um caráter autossômico recessivo.


U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

297
Probabilidade § Acondroplasia – é determinada por um alelo domi-
nante. Pessoas com essa anomalia têm uma diminuição
O estudo da genética admite calcular a probabilidade de no crescimento ósseo, o que resulta em fenótipo anão;
ocorrência de eventos nas gerações futuras. § Polidactilia – também devido a um gene dominante,
É possível determinar probabilidade (P) como sendo o re- os portadores têm um dedo extra (seis dedos), um
sultado da divisão do número de vezes em que um evento fenótipo raro;
esperado pode acontecer (r) pelo número total de resulta-
dos possíveis (n):
r
P=
n

A primeira Lei de Polidactilia

Mendel e a genética humana § Braquidactilia – devido a um alelo dominante raro,


Algumas anomalias humanas são de natureza genética, consiste em dedos curtos;
como, por exemplo: § Doença de huntington – também causada por
§ Fenilcetonúria (PKU) – indivíduos homozigotos re- um alelo dominante, leva a degeneração do sistema
cessivos não processam o aminoácido fenilananina, o nervoso, o que leva a perda de memória e de controle
qual se acumula no indivíduo e transforma-se em ácido dos movimentos do corpo, podendo ocasionar à morte.
fenilpirúvico. Esse ácido interfere no desenvolvimento Manifesta-se por volta dos 40 anos.
harmonioso do cérebro, o que leva ao retardamento
mental;
§ Albinismo – os indivíduos recessivos são acometidos
por essa anomalia, os quais não produzem melanina,
pigmento que confere cor à pele humana e animal.

EXPRESSÃO GÊNICA E ALELOS MÚLTIPLOS

Na maioria dos indivíduos, todas as células do corpo hu-


mano têm o mesmo conjunto de cromossomos (“manual
Controle transcricional
de como construir o indivíduo”), que são responsáveis pe- da expressão gênica
las características e funcionamento de todo o organismo.
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Mas o que faz com que a célula do cabelo tenham suas


características específicas e as células do olho, as delas? A
resposta é: expressão gênica diferencial. Apesar de todas
as células terem o mesmo conjunto de genes, esses não
estão ativos o tempo todo nem em toda célula.

Controle gênico 1. Acessibilidade do DNA – para ligar os genes é


necessário um estímulo específico, já que normalmente os
§ Controle espacial genes estão desligados. Os genes podem estar desligados
§ Controle temporal de duas maneiras:
§ Controle ambiental

298
A. O empacotamento
Controle gênico posterior
à transcrição
Cromatina não
condensada Depois da transcrição, quando já se formou o RNA men-
sageiro, essa molécula pode representar outro ponto da
regulação da expressão gênica.
A. Splicing do RNA – Antes do RNA mensageiro entrar
no ribossomo para ser lido é necessária a retirada desse
material não codificante presente nessa molécula de RNA
Cromatina que, nesse caso, é o íntron.
condensada
B. Silenciamento do mRNA
C. Data de validade dos mRNA

Controle gênico na tradução


A. Local da tradução: alguns genes apresentam a tradu-
B. Repressores ção restrita em locais específicos do citoplasma.
2. Regulação por outros genes – há genes que B. Modificações que ocorrem durante a tradução
podem aumentar as taxas de transcrição ou podem
diminuir essa taxa, assim podem regular a expressão
dos genes.
Alelos múltiplos
Alelos múltiplos ou polialelia ocorre quando existem mais
3. Hormônios – são substâncias normalmente produzi- de 2 alelos para um mesmo gene (mesma característica).
das longe do seu local de ação, então são liberadas na cor- São clássicos os exemplos de polialelia: da cor da pelagem
rente sanguínea para atingir os alvos (podem afetar vários em coelhos (exemplo acima), além da já citada determi-
tecidos ao mesmo tempo). nação do sistema ABO em humanos.

SISTEMA ABO

Determinação dos grupos sanguíneos - sistema ABO


Grupo A B AB O
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Tipos de
hemácias

Aglutinogênios Nenhum
presentes
Aglutinogênio A Aglutinogênio B Aglutinogênio A e B

Anticorpos Nenhum
presentes
Anti-B Anti-A Anti-A & Anti-B

Tipos sanguíneos do sistema ABO. Os aglutinogênios estão na membrana das hemácias.

299
A herança dos grupos
sanguíneos no sistema ABO
Entre os alelos que determinam o tipo sanguíneo ocorrem
dois tipos de relação: dominância e codominância. A pro-
dução de aglutinogênios A e B é determinada, respectiva-
mente, pelos genes IA e IB, enquanto o alelo i, condiciona
a não produção de aglutinogênios. Fica claro que se trata
de um caso de alelos múltiplos. Entre os genes IA e IB há
codominância (IA = IB), mas cada um deles domina o gene
i (IA > i e IB > i). Observe a tabela.
Fenótipo Bombaim
Possíveis fenótipos e genótipos do sistema ABO As glicoproteínas A e B, que podem estar presentes na he-
Fenótipos Genótipos mácia dos indivíduos, são produzidas com o auxílio de uma
enzima que transforma uma substância precursora em an-
A IAIA, IA i
tígeno H, e depois este virará antígeno A ou B. Indivíduos
B IBIB, IB i com os genótipos HH ou Hh, produzem o antígeno H e,
AB IAIB consequentemente, podem produzir os antígenos A e B. Já
um indivíduo hh não produz antígeno H e não pode produ-
O ii
zir o antígeno A nem o B.
Para descobrir o tipo sanguíneo usa-se um método teste
§ Genótipo do indivíduo: HH ou Hh e IAIA OU IAi (tipo A).
de amostras de sangue com aglutininas anti-A e anti-B.
Observe na ilustração: § Genótipo do indivíduo: hh e IAIA OU IAi (falso tipo O).
Grupo O A relação acima vale pra os demais tipos sanguíneos (B, AB
e o próprio O).
Esse é o fenótipo Bombaim, descoberto na cidade de mesmo
nome. Para descobrir o fenótipo do falso, basta pingar uma
Soro anti-B Soro anti-A gota de seu sangue em uma lâmina e colocar o anticorpo
anti-H. Se ocorrer aglutinação, o indivíduo possui o antígeno
H e é um “sangue verdadeiro”. Se não ocorrer aglutinação,
Grupo A não existe o antígeno H; assim, o indivíduo é hh, um falso
O. O fenótipo Bombaim é extremamente raro, pois o gene h
tem uma frequência muito baixa na população.

Soro anti-B Soro anti-A

Grupo B
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Soro anti-B Soro anti-A

Grupo AB

Soro anti-B Soro anti-A

Em transfusões sanguíneas, é de suma importância obser-


var as características particulares de cada tipo sanguíneo.

300
U.T.I. - Sala Os resultados obtidos estão representados no gráfico.

1. (UFG) Para manterem-se vivos e desempenharem as


funções biológicas, os organismos necessitam de ener-
gia presente, principalmente, nos carboidratos e lipí-
dios dos alimentos. Dentre os carboidratos, a glicose é
a principal fonte de energia para a maioria das células e
dos tecidos. Apesar da dieta cotidiana conter pouca gli-
cose livre, proporções consideráveis desse carboidrato
são disponibilizadas a partir da ingestão de amido, um
polissacarídeo presente nos alimentos.
Com relação a esses carboidratos, descreva:
Explique o aumento da concentração de lactato sanguí-
a) o processo de digestão do amido ao longo do sis- neo observado e justifique a importância de sua pro-
tema digestório humano; dução para que as reações químicas da glicólise não
b) o metabolismo da glicose no interior das células sejam interrompidas.
até a formação de CO2, H2O e ATP.
6. (UFTM) Considere uma célula com o genótipo a se-
2. (UFPR) Nas prateleiras de um supermercado pode- guir e suponha que ela entre em divisão meiótica.
mos encontrar vinagre, iogurte, pão, cerveja e vinho.

a) Que processo biológico está associado à produção


de todos esses itens?
b) Que grupos de microrganismos são necessários
para produção do iogurte e da cerveja?
c) Que células do corpo humano realizam processo
semelhante? Em que situações?

3. (UFPR) Na síndrome de Down, geralmente ocorre


uma trissomia do cromossomo 21, ou seja, a pessoa a) Qual será a composição de alelos nessa célula ao
apresenta três cópias (cromátides) desse cromossomo, final da fase S da interfase? Justifique sua resposta.
ao invés de apenas duas. Na maioria dos casos de sín- b) Suponha que ao final dessa meiose não tenha ocor-
drome de Down, a terceira cópia do cromossomo 21 rido crossing-over ou mutação. Qual fenômeno pode-
é originada devido a um erro durante a formação dos ria ocorrer na meiose que promoveria um aumento na
gametas do pai ou da mãe. Que tipo de erro, durante a variabilidade genética dos gametas formados? Expli-
formação dos gametas do pai ou da mãe do portador que esse fenômeno.
de síndrome de Down, leva a uma trissomia como essa?

4. (UERJ) Probióticos, como os Lactobacillus e Bifi-


U.T.I. - E.O.
dobacterium, são microrganismos vivos que, quando 1. (UFPR) No heredograma abaixo, os indivíduos afeta-
administrados adequadamente, favorecem o sistema dos por uma anomalia genética apresentam-se pinta-
imune por sua capacidade, por exemplo, de ativar os dos de preto.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

macrófagos locais e diminuir as respostas aos antíge-


nos dos alimentos, evitando muitas alergias.
Apresente duas ações dos macrófagos ativados que po-
dem trazer benefícios imunológicos para quem faz uso
dos probióticos.

5. (UERJ) A concentração de lactato no sangue de uma


pessoa foi medida em três diferentes momentos:
1) antes do início de um intenso exercício muscular;
2) ao final desse exercício;
3) algumas horas após seu final.

301
a) Proponha uma hipótese para explicar genetica- a) O aquário foi mantido, por certo tempo, em ambien-
mente essa anomalia, abordando o número de genes te escuro. Nova amostra de água foi retirada (amostra
envolvidos e o tipo de interação alélica e de herança 2) e, ao se adicionar o indicador de pH, a coloração foi
cromossômica (sexual ou autossômica). diferente da observada na amostra 1. Explique o que
b) Indique os genótipos dos indivíduos afetados e de provocou a diferença de pH entre as amostras 1 e 2.
seus pais. b) A adição excessiva de ração para peixes levou ao
aumento da população de decompositores no aquá-
indivíduo afetado genótipo pais genótipo rio. Que coloração é esperada ao se adicionar o in-
II:1 I:1 dicador de pH a uma amostra de água do aquário
II:3 I:2 (amostra 3)? Justifique sua resposta.
II:5 I:3 6. (UNIFESP) Charles Darwin explicou o mecanismo
III:2 I:4 evolutivo por meio da ação da seleção natural sobre a
III:3 II:8 variabilidade dos organismos, mas não encontrou uma
explicação adequada para a origem dessa variabilida-
2. (UNICAMP) Mecanismos de controle de pH são fun- de. Essa questão, no entanto, já havia sido trabalhada
damentais para a vida. Um mecanismo bastante efici- anos antes por Gregor Mendel e, em 2015, comemo-
ente de controle de pH por organismos vivos envolve ram-se os 150 anos da publicação de seus resultados,
moléculas doadoras e aceptoras de prótons, que são conhecidos como Leis de Mendel.
ácidos e bases que atuam em conjunto equilibrando al- a) A que se refere a Segunda Lei de Mendel? Por que ela
terações de pH às quais os organismos estão sujeitos. explica o surgimento da variabilidade dos organismos?
Que consequências para o processo de respiração celu- b) Cite e explique um outro processo que também
lar a alteração na estrutura de proteínas envolvidas tenha como resultado a geração de variabilidade no
com o ciclo de Krebs pode trazer? nível genético.
3. (UFG) O heredograma é a representação gráfica das 7. (UFU) O gráfico a seguir apresenta o efeito da lu-
relações de parentesco entre os indivíduos de uma minosidade sobre as taxas de respiração e fotossíntese
família e das características particulares de seus mem- das plantas I e II. Cada uma delas tem diferentes ne-
bros. Com base na análise da figura, interprete o heredo- cessidades quanto à exposição à luz solar, sendo uma
grama apresentado a seguir, considerando o grau de par- delas umbrófita (planta de sombra) e a outra heliófita
entesco, a manifestação genética dos traços hereditários, (planta de sol).
a reprodução e a sobrevivência dos indivíduos.

4. (UEG) A pele é um órgão importante na manutenção do


metabolismo basal nos mamíferos e apresenta uma com- a) Qual é o ponto (A, B ou C) de compensação fótico
plexidade em células especializadas e de diferentes tipos da planta II? Justifique sua resposta.
de tecidos. A respeito do assunto, responda ao que se pede.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

b) A partir de qual ponto as plantas I e II, respectiv-


a) Quais os tecidos constituintes desse órgão? amente, conseguem acumular matéria orgânica que
b) Relacione a função das glândulas presentes na pele poderá ser disponibilizada para os níveis tróficos dos
consumidores? Justifique sua resposta.
enquanto característica adaptativa dos mamíferos ao
c) Como as plantas I e II podem ser classificadas,
ambiente terrestre.
respectivamente, quanto à exposição à luz solar?
5. (FUVEST) A solução de azul de bromotimol atua como Justifique a classificação dada a partir do ponto de
indicador de pH. Em meio ácido, sua cor fica amarela e, compensação fótico das plantas.
em meio básico, azul. Para valores de pH entre 6 e 7, a
8. (UDESC) Em bovinos leiteiros da raça holandesa o
solução fica verde.
padrão da cor da pelagem pode ser preto e branco, ou
Considere um aquário de água doce, iluminado e mon- vermelho e branco. A herança da cor preta ou vermelha
tado com peixes e plantas aquáticas. Retirou-se uma deste padrão de cor é codificada por um gene que possui
amostra de água desse aquário (amostra 1) e a ela adi- dois alelos: o alelo dominante (D), que codifica a cor pre-
cionou-se solução de azul de bromotimol (indicador de ta do padrão preto e branco; e o alelo recessivo (d), que
pH), observando-se a cor verde. codifica a cor vermelha do padrão vermelho e branco.

302
Um touro de raça holandesa de pelagem preta e branca foi acasalado com três vacas desta mesma raça e produziu:
com a vaca A, que é de pelagem preta e branca, um descendente vermelho e branco; com a vaca B, que é de pelagem
vermelha e branca, um descendente vermelho e branco; e com a vaca C, que também é vermelha e branca, um de-
scendente preto e branco.
Cite os genótipos do touro e das vacas A, B e C para esta característica.

9. (UFPR) As figuras abaixo apresentam esquemas da estrutura da parede de três tipos de vasos sanguíneos encon-
trados em mamíferos:

a) Indique o nome de cada um dos vasos:


b) Relacione, para cada vaso, características da estrutura de sua parede com a sua função.

10. (UEG) O heredograma a seguir refere-se a uma família com braquidactilia. Os indivíduos portadores dessa ano-
malia tem os terminais ósseos bem curtos nos dedos em comparação com os de uma mão normal, em decorrência da
manifestação de um alelo.

a) A braquidactilia é ocasionada por um gene dominante ou recessivo?


b) Qual a probabilidade do casal I ter filho normal?

11. (Unesp) Tadeu adora iogurte natural, mas considerando o preço do produto industrializado, vendido em copos plás-
ticos no supermercado, resolveu construir uma iogurteira artesanal e produzir seu próprio produto. Para isso, adaptou
um pequeno aquário sem uso, no qual havia um aquecedor com termostato para regular a temperatura da água. Nesse
aquário, agora limpo e com água em nível e temperatura adequados, colocou vários copos nos quais havia leite fresco
misturado à uma colherinha do iogurte industrializado. Passadas algumas horas, obteve, a partir de um único copo de
iogurte de supermercado, vários copos de um iogurte fresquinho.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Explique o processo biológico que permite ao leite se transformar em iogurte e explique por que Tadeu precisou usar uma
colherinha de iogurte já pronto e um aquecedor com termostato na produção do iogurte caseiro.
12. (UFJF) O casal Marcos e Rosane consulta um médico geneticista. Marcos, 48 anos, é calvo, enquanto que Rosane,
46 anos, não é calva. O casal relata que tem uma filha de 20 anos, Maria, que é calva, e Vinícius, 17 anos, que não é
calvo.
a) Dê o genótipo do casal.
b) Qual será a probabilidade de o casal ter uma nova criança do sexo masculino e calva?
c) Qual será a probabilidade de o casal ter uma criança do sexo feminino e também calva?

303
13. (UERJ) Algumas funções metabólicas opostas são realizadas por células eucariotas específicas. Nos compartimen-
tos I, II e III de uma dessas células, ilustrados no esquema a seguir, ocorrem reações que levam tanto à degradação de
glicose, gerando CO2, quanto à síntese desse carboidrato, a partir do CO2.

Nomeie os compartimentos celulares I, II e III. Em seguida, identifique o compartimento que mais produz ATP e o que
mais consome ATP.

14. (UDESC) Para montar um simulador de modelos 16. (UDESC) As complicações cardiovasculares resul-
anatômicos é necessário conhecer a anatomia dos seres tam de fatores genéticos, do envelhecimento que
vivos. O organismo humano é constituído de vários provoca a constrição de vasos sanguíneos (artérias e
sistemas que desempenham funções importantes para veias), do sedentarismo, de maus hábitos alimentares
a manutenção da vida. e de drogas sociais, que provocam, como por exemplo,
A respeito do sistema esquelético humano, cite: a arteriosclerose. Como consequência dessas compli-
a) duas funções do sistema esquelético; cações cardiovasculares, na maioria das vezes, ocorre
b) onde está localizada a medula óssea no organismo a alteração na pressão arterial e na frequência dos ba-
humano; timentos cardíacos.
c) três células produzidas pela medula óssea. Pergunta-se:
a) O que é arteriosclerose?
15. (UERJ) Em um experimento, foram removidas as
membranas externas de uma amostra de mitocôndrias. b) Qual a pressão arterial de uma pessoa jovem, nor-
Em seguida, essas mitocôndrias foram colocadas em um mal, e quantos batimentos cardíacos por minuto tem
meio nutritivo que permitia a respiração celular. Uma das em média?
curvas do gráfico a seguir representa a variação de pH c) Qual a diferença entre veias e artérias quanto às
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

desse meio nutritivo em função do tempo de incubação. características histológicas?


Observe:
17. (UDESC) A gordura em excesso é um fator de aler-
ta em relação às condições de saúde dos indivíduos.
Profissionais que atuam na área de Fisioterapia Derma-
to-funcional têm demonstrado a eficácia no tratamen-
to de gordura localizada pela aplicação de ultrassom
em células adiposas do tecido subcutâneo. Essa técnica
permite o rompimento das membranas das células de
gordura.
Em relação ao contexto acima, cite:
a) duas funções do tecido adiposo em nosso corpo;
Identifique a curva que representa a variação de pH do
meio nutritivo no experimento realizado. Justifique sua b) dois tipos de lipídios contidos no organismo humano
resposta.

304
FÍSICA

2
CIÊNCIAS DA
FÍSICA 1
NATUREZA
e suas tecnologias

U.T.I.
CINEMÁTICA ANGULAR

Medidas de ângulos Período e frequência


​ 1 ​ ou T = __
f = __ ​ 1 ​ 
T f
S

Movimento
circular uniforme
​º​
​ arco AB​
q = ______ ​ ​  
  ​  __S  ​

= Du = 2p
v = ___ ​ 2p ​  
​ Du ​  ⇒ v = ___
raio R T
Dt = T Dt
​ 2pR
u = ____ ​  = 2p rad, que equivale a 360°
R
​ 1 ​ ⇒ v = 2pf
Sendo T = __
2p rad ; 360° e p rad ; 180° f

​ 2pR
v = ____
Deslocamento angular e T
 ​
    ou  v = 2pRf

velocidade angular no M.C.U.


Função horária angular
∆S

DS = Du · R

v = ___
​ Du ​  ⇒
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Dt

Du = v · Dt ⇒

u – u0 = v · (t – t0) ⇒

u = u0 + v · t

vm = ___
​ Du ​ 
Dt
v=v·R

306
Aceleração centrípeta
​ v  ​ ou a
2
acp = __   = v2R
R cp

TRANSMISSÃO DE MOVIMENTO CIRCULAR

Transmissão de movimento
circular uniforme

Contato entre rodas ou engrenagens. Neste caso,


há inversão do sentido do movimento.
Polias coaxiais.
wA = ωB
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

fA = fB

Ligação por correia. Polias e correia movimentam-se no mesmo sentido.

vA = vB

fARA = fBRB

307
CINEMÁTICA VETORIAL

Velocidade vetorial
___ ___ ___
média
​› ​› ​›
Aceleração vetorial
d ​
​   = r​2 ​   – r​1   tangencial e centrípeta
_​__› _​__› _​____›
a ​
​   = a​ t ​  + a​ cp ​  

a2 = at2 + acp2

​___› t

​____›
v​ m ​  = ​  ​     ​ 
___d ​
Dt

Velocidade
vetorial instantânea

_​›_ _​›_ _​›_


v ​
​ 1   Þ v ​
​ 2   Þ v ​
​ 3  

Aceleração vetorial média


U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

​_›_
_​›_ _​›_
​___› v ​​    – v ​
​   
​ m   = ___
a ​ D​ v ​
​   ​ = ______


​  2  ​1   
Dt t2 – t1

308
INTRODUÇÃO ÀS LEIS DE NEWTON

Lei da inércia A aceleração de um corpo é diretamente proporcional à


força resultante que atua sobre ele, inversamente propor-
cional à sua massa e tem a mesma direção e o mesmo
Todo corpo em estado de repouso ou de movimento retilíneo
sentido da força resultante.
uniforme permanece nesse estado até que seja forçado a mu-
dar seu estado por forças que atuam sobre ele.
_​›_ ​___›
F ​
​ R   = m · a ​
​   

FR = m · a
_​›_ _​›_ _​›_ _​›_
F ​
​ R   = F ​
​ 1   + F ​
​ 2   + ... F ​
​ n  

Terceira Lei de Newton

Para toda ação existe uma reação igual e oposta, ou as


ações mútuas de dois corpos, um sobre o outro, são iguais
Segunda Lei de Newton ou
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

e dirigidas a partes opostas.

princípio fundamental da dinâmica

309
FORÇA-PESO, FORÇAS NORMAL E DE TRAÇÃO E SISTEMA DE CORPOS

Peso de um corpo A força normal

P=m∙g

Frequentemente, as palavras “peso” e “massa” são usadas


como sinônimos. Por exemplo, é comum alguém dizer: “O
meu peso é de 80 quilos”. Porém, “quilo” não é uma uni-
dade de medida, mas apenas um prefixo que significa 103.
Também é dito comumente: “O meu peso é de 80 quilo-
gramas”. Fisicamente, a expressão é incorreta. Peso é uma
força, e não uma medida da massa, e deve ser dado em
unidades de força.
Força de tração em um fio

A força-peso e o
lançamento de projéteis

Uso das polias


U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

310
Força de contato

Lembre-se que FAB = FBA.

Equilíbrio
§ 1° tipo: equilíbrio estático
_​›_ ___›
v ​  = 0   ⇒ equilíbrio estático (repouso)

§ 2° tipo: equilíbrio dinâmico


P = 2n ⋅ F __› ___›
v ​  = constante ≠ 0   ⇒ equilíbrio dinâmico (MRU)

DECOMPOSIÇÃO DE FORÇAS E PLANO INCLINADO

Componentes perpendiculares de uma força


y
F F
Fy Fy

θ
x
Fx Fx

cateto oposto __Fy


senθ = _________________
​   ​  = ​   ​ ⇒ Fy = F ⋅ senθ

hipotenusa F
F
cateto adjacente __
cosθ = ___________________
  
​   ​  = ​  x ​ ⇒ Fx = F ⋅ cosθ
hipotenusa F

Plano inclinado
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Px = P ⋅ senθ
Py = P ⋅ cosθ
FN = Py
Px = m ⋅ a
P ⋅ senθ = m ⋅ a
mg ⋅ senθ = m ⋅ a ⇒ a = g ⋅ senθ

311
FORÇAS DE ATRITO

Força de atrito cinético Valores aproximados dos coeficientes


de atrito estático e cinético para
alguns pares de materiais
Material μe μC
madeira sobre madeira 0,4 0,2

aço sobre aço 0,7 0,6

gelo sobre gelo 0,1 0,03

FA = μC ⋅ FN borracha sobre concreto seco 1,0 0,8

teflon sobre teflon 0,04 0,04


Coeficientes de atrito cinético para
alguns pares de materiais Observação
material μC Em geral, a intensidade máxima da força de atrito estático
madeira sobre madeira 0,2 é maior que a intensidade da força de atrito dinâmico. Essa
diferença se deve a algumas ligações entre as moléculas
aço sobre aço 0,6
do bloco e as moléculas da superfície de apoio, enquanto
gelo sobre gelo 0,03 o bloco permanece em repouso; e para que se inicie o mo-
vimento, essas ligações devem ser desfeitas, o que exige
borracha sobre concreto seco 0,8
uma força maior.
​  FA ​ 
μc = __
FN
Força de atrito e movimento
Força de atrito estático

A força de atrito estático se opõe à tendência de deslizamento.

Força de resistência dos fluidos


U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

F1

F1

FA1 = F1 F2

FA2 = F2

F­A, máx = μe ⋅ FN R=k⋅v R = k ⋅ v2

312
LEI DE HOOKE

x = L – L0 Resultante centrípeta
​ v  ​ 
2
Fc = m · __
R

​ v  ​ 
2
ac = __
R

(vR)2 v2R2
​ v  ​ = _____
2
ac = __ ​   ​  = ____
​   ​  = v2R
R R R

F=k⋅x

U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

313
U.T.I. - Sala a) Observa-se que o bloco 1 desce. Faça os diagramas
de forças que atuam nos blocos 1 e 2.
b) Partindo do repouso, o bloco 1 desce a rampa
1. (UNESP) Um cilindro oco de 3,0 m de comprimento,
atingindo a base com uma velocidade escalar final de
cujas bases são tampadas com papel fino, gira rapid-
2,5 m/s. Qual é o tempo gasto na descida?
amente em to seu eixo com velocidade angular con-
stante. Uma bala disparada com velocidade de 600 m/s, c) Qual deveria ser o valor da razão m2/m1 para que o
paralelamente ao eixo do cilindro, perfura suas bases bloco 1 descesse com velocidade constante?
em dois pontos, P na primeira base e Q na segunda. Os 4. Ao fazer compras num supermercado, uma mulher
efeitos da gravidade e da resistência do ar podem ser utiliza dois carrinhos. Empurra o primeiro, de massa
desprezados. m, com uma força F, horizontal, o qual, por sua vez,
a) Quanto tempo a bala levou para atravessar o cilindro? empurra outro de massa M sobre um assoalho plano
b) Examinando as duas bases de papel, verifica-se que e horizontal.
entre P e Q há um deslocamento angular de 9°. Qual é
a frequência de rotação do cilindro, em hertz, sabendo
que não houve mais do que uma rotação do cilindro
durante o tempo que a bala levou para atravessá-lo?

2. O motor elétrico de uma máquina de costura industri-


al é capaz de girar a 80 Hz e transmite seu movimento
por meio de uma correia de borracha que, mantida esti-
cada, não permite escorregamentos.

Desprezando o atrito entre os carrinhos e o assoalho,


determine a força aplicada sobre o segundo carrinho.

5. O bloco de massa m = 1,0 kg está em movimento.


Sabendo que o coeficiente
__ de atrito dinâmico entre o


___3 ​  
plano e o bloco é ​   ​  e g = 10 m/s2, calcule as intensi-
10
Se a ponta do eixo do motor está solidariamente liga- dades F1 e F2 das forças paralelas ao plano para fazer,
da a uma polia de diâmetro 1,5 cm e a polia por onde respectivamente, o bloco subir e descer o plano com
passa a correia no volante da máquina tem diâmetro velocidade constante.
6,0 cm, uma vez que a cada volta completa do volante a
máquina dá um ponto de costura, determine o número
de pontos feitos em um segundo, quando o motor gira
com rotação máxima?

3. (PUCRJ) Um sistema de dois blocos é montado


como mostrado na figura. A polia e o fio são ideais. A
configuração inicial do sistema é tal que o bloco está
inicialmente a uma altura vertical h = 3,0 e a uma dis-
tância de d = 5,0 m em relação à base da rampa. Há
atrito entre o bloco 1 e a rampa, com coeficiente de
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

atrito cinético μ = 0,25.


Considere g = 10 m/s2

314
U.T.I. - E.O. 5. Na figura, temos um sistema formado por três polias,
A, B e C, de raios respectivamente iguais a RA = 10 cm,
RB = 20 cm e RC = 15 cm, que giram conjuntamente, en-
1. Considere um modelo atômico em que um elétron costadas uma na outra e sem que haja escorregamento
descreve em torno do núcleo um movimento circular e entre elas.
uniforme com velocidade de módulo igual a 2,0 ∙ 106 m/s
e raio de órbita igual a 5,0 ∙ 10–11 m. Determine:
a) o módulo da velocidade angular do elétron;
b) o período orbital do elétron (adote π = 3);
c) o módulo da aceleração do elétron.

2. Um móvel M parte de um ponto P percorrendo, no


sentido horário, uma trajetória circular de raio r igual
a 2,0 m, como representa a figura. A velocidade escalar
A polia A é a polia motriz que comanda as demais e gira
do móvel é constante e igual a 3,0 π m/s.
no sentido horário com rotação uniforme e frequência
de 30 rpm.
Seja X o ponto de contato entre as polias A e B e Y um
ponto da periferia da polia C.
Determine, adotando-se π = 3:
a) os módulos das velocidades lineares dos pontos X e Y;
b) o sentido de rotação e a frequência de rotação da
polia B;
c) o sentido de rotação e o período de rotação da polia C.

a) Qual é o intervalo de tempo, em segundos, gasto 6. Uma vassoura, de massa 0,4 kg, é deslocada para a
pelo móvel M para percorrer o trecho de P a Q? direita sobre um piso horizontal como indicado na fig-
b) Qual é o valor da velocidade angular do móvel M, ura. Uma força, de módulo F(cabo) = 10 N, é aplicada
em radianos por segundo? ao longo do cabo da vassoura. Calcule a força normal
que o piso exerce sobre a vassoura, em newtons. Con-
3. Sobre uma circunferência, uma partícula descreve sidere desprezível a massa do cabo, quando compara-
um movimento periódico de frequência 0,25 Hz, no da com a base da vassoura.
sentido horário. Num dado instante, uma outra par-
tícula, em repouso, situada a meia volta da primei-
ra, passa a ser acelerada uniformemente à razão de
π rad/s2, também no sentido horário. A contar do início
do movimento da segunda partícula, o primeiro encon-
tro entre ambas se dará após?

4. Um disco de raio r gira com velocidade angular v 7. Na figura têm-se três caixas com massas m1 = 45,0 kg,
constante. Na borda do disco, está presa uma placa fina m2 = 21,0 kg, e m3 = 34,0 kg, apoiadas sobre uma super-
de material facilmente perfurável. Um projétil é dis- fície horizontal sem atrito.
parado com velocidade v em direção ao eixo do disco,
conforme mostra a figura, e fura a placa no ponto A. En-
quanto o projétil prossegue sua trajetória sobre o disco,
a placa gira meia circunferência, de forma que o projétil
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

atravessa mais uma vez o mesmo orifício que havia per-


furado. Considere a velocidade do projétil constante e
sua trajetória retilínea. a) Qual a força horizontal F necessária para empurrar
Determine o módulo da velocidade v do projétil. as caixas para a direita, como se fossem uma só, com
uma aceleração de 1,20m/s2?
b) Ache a força exercida por m2 em m3.

8. Ao ser solicitado por uma força horizontal F, um blo-


co A move-se com velocidade constante de 36 km/h.
Para aumentar sua velocidade, a força é acrescida de
20%. Sabendo-se que a força resistência total ofere-
cida ao movimento é igual a 15% do peso do bloco A
e independe de sua velocidade, determine a distância
percorrida pelo bloco, desde o instante em que a força
aumentou até atingir a velocidade de 72 km/h.

315
9. Quando o cabo de um elevador se quebra, os freios 12. O sistema representado na figura é abandonado
de emergência são acionados contra trilhos laterais, sem velocidade inicial. Os três blocos têm massas ig-
de modo que esses passam a exercer, sobre o elevador, uais. Os fios e a roldana são ideais e são desprezíveis os
quatro forças verticais constantes e iguais a f , como atritos no eixo da roldana. São também desprezíveis os
indicado na figura. Considere g = 10m/s2. atritos entre os blocos (2) e (3) e a superfície horizontal
na qual estão apoiados.

O sistema parte do repouso e o bloco (1) adquire uma


aceleração de módulo igual a a. Após alguns instantes,
rompe-se o fio que liga os blocos (2) e (3). A partir de
então, a aceleração do bloco (1) passa a ter um módulo
igual a a'.
Suponha que, numa situação como essa, a massa total
do elevador seja M = 600kg e que o módulo de cada Calcule a razão a' / a.
força f seja |f| = 1350N.
13. Um homem empurra uma caixa de massa M sobre__​›
Calcule o módulo da aceleração com que o elevador de- um piso horizontal exercendo uma força constante F ​​  
sce sob a frenagem dessas forças. que faz um ângulo θ com a direção horizontal, confor-
me mostra a figura abaixo. Considere que o coeficiente
10. Os fios são inextensíveis e sem massa, os atritos são
de atrito cinético entre a caixa e a superfície é µ e que a
desprezíveis e os blocos possuem a mesma massa. Na
aceleração da gravidade é g.
situação 1, da figura, a aceleração do bloco apoiado
vale a1. Repete-se a experiência, prendendo um terceiro
bloco, primeiro, ao bloco apoiado, e, depois, ao bloco
pendurado, como mostram as situações 2 e 3 da figura.
Os módulos das acelerações dos blocos, em 2 e 3, valem
a2 e a3, respectivamente.

a) Utilizando as grandezas e símbolos apresentados


no enunciado, deduza __
​›
uma equação literal para o
módulo da força F ​ ​   exercida pelo homem de modo
que a caixa ___
​›
se movimente com velocidade escalar
constante V ​ ​   para a direita.
Calcule a2/a1 e a3/a1. b) Escreva a equação para o módulo da força, para o
caso particular
​___›
em que o ângulo θ é igual a zero, isto é,
11. Um banco e um bloco estão em repouso sobre uma a força F ​
​   é paralela ao piso
mesa conforme sugere a figura:
14. Na figura, considere os atritos e as massas dos fios e
roldanas desprezíveis. As massas A, B, e C são, respecti-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

vamente, 10 kg, 4 kg e 2 kg. A aceleração da gravidade


pode ser considerada 10m/s2.

Identifique todas as forças que atuam no banco, calcu- a) Determine a aceleração de cada bloco.
lando seus valores. b) Determine as forças que cada fio exerce em cada bloco

316
15. Os esquemas mostram um barco sendo retirado de Suponha que o bloco não deslize sobre o plano inclina-
um rio por dois homens. Em A, são usadas cordas que do e que a aceleração da gravidade seja g = 10 m/s2.
__
transmitem ao barco forças paralelas de intensidades Usando a aproximação √ ​ 3 ​  > 1,7, calcule o módulo e
F1 e F2. Em B, são usadas cordas inclinadas de 90° que indique a direção e o sentido da força de atrito exercida
transmitem ao barco forças de intensidades iguais às pelo plano inclinado sobre o bloco.
anteriores. No caso A, a força resultante transmitida
ao barco é 700 N. No caso B, a força resultante trans- 19. A partir de janeiro de 2014, todo veículo produzi-
mitida ao barco é 500 N. do no Brasil passou a contar com freios ABS, que é um
sistema antibloqueio de frenagem, ou seja, regula a
pressão que o condutor imprime nos pedais do freio,
de modo que as rodas não travem durante a frenagem.
Isso, porque, quando um carro está em movimento e
suas rodas rolam sem deslizar, é o atrito estático que
atua entre elas e o pavimento, ao passo que, se as ro-
das travarem na frenagem, algo que o ABS evita, será
o atrito dinâmico que atuará entre os pneus e o solo.
Considere um veículo de massa m, que trafega à veloci-
dade v, sobre uma superfície, cujo coeficiente de atrito
Determine as forças aplicadas pelos dois homens. estático é µe e o dinâmico é µd.
a) Expresse a relação que representa a distância per-
16. Desprezando o atrito, determine a intensidade da corrida (d) por um carro até parar completamente,
aceleração do sistema abaixo e a intensidade da força numa situação em que esteja equipado com freios ABS.
aplicada pelo corpo B sobre A e a tensão na corda.
b) Se considerarmos dois carros idênticos, trafegando
mA = 15 kg, mB = 5 kg, mC = 20 kg à mesma velocidade sobre um mesmo tipo de solo,
por que a distância de frenagem será menor naquele
equipado com os freios ABS em relação àquele em
que as rodas travam ao serem freadas?

20. Um bloco de madeira de massa m = 2 kg encontra-


-se sobre um plano inclinado de 1 m de comprimento,
0,6 m de altura, fixo no chão. O coeficiente de atrito es-
tático entre o bloco e a superfície do plano inclinado é
µ = 0,40 e g = 9,8 m/s2. Calcule a menor força F com que
se deve pressionar o bloco sobre o plano para que ele
17. Na figura, os objetos A e B pesam, respectivamente, permaneça em equilíbrio.
40 N e 30 N e estão apoiados sobre planos lisos, ligados
entre si por uma corda inextensível, sem peso, que pas-
sa por uma roldana sem peso. Determine o ângulo u e a
tensão na corda quando houver equilíbrio.

U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

18. Um bloco de massa 2,0 kg está sobre a superfície de


um plano inclinado, que está em movimento retilíneo
para a direita, com aceleração de 2,0 m/s2, também para
a direita, como indica a figura a seguir. A inclinação do
plano é de 30° em relação à horizontal.

317
FÍSICA

2
CIÊNCIAS DA
FÍSICA 2
NATUREZA
e suas tecnologias

U.T.I.
INTRODUÇÃO À ÓPTICA GEOMÉTRICA

Óptica geométrica Princípios da


Classificação dos raios luminosos óptica geométrica
§ Lei da propagação retilínea da luz
A luz se propaga em linha reta nos meios homogêneos
e transparentes.
Feixe paralelo § Reversibilidade dos raios luminosos
A trajetória seguida pelo raio de luz em um sentido é
igual, se o sentido do raio de luz for invertido.
§ Lei da Independência dos raios luminosos
Feixe divergente A trajetória de um raio luminoso não é afetada por ou-
tro que cruza essa trajetória. Os raios de luz seguem
trajetórias independentes, mesmo que se cruzem.

Feixe convergente Propagação retilínea da luz


Classificação dos meios

Meio transparente Sombra e penumbra


U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Meio translúcido

Meio opaco

320
Eclipse solar Eclipse lunar

Câmara escura de orifício

_​  y ​ = __y'


​   ​ 
x x'

Reflexão e refração da luz

U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

A cor de um corpo

321
ESPELHOS PLANOS

Leis da reflexão Imagem formada por


espelho plano
i=r

FM​ X
​ XX 
​XXX = F'M​=d

Espelhos
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Imagem de um objeto extenso

322
Translação de um
espelho plano

Rotação de um espelho plano

PP' = 2d
PP" = 2(d + x) = 2d + 2x

D = PP" - PP'
D = 2d + 2x – 2d
D = 2x

Associação de dois D + 2a = 2b
D = 2b – 2a
espelhos planos
D = 2(b – a)
D=2a

U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

​ 360º
n = ____  ​  – 1
u

323
ESPELHOS ESFÉRICOS

Reflexão em
espelhos esféricos

Espelho esférico côncavo

Luz incidente e luz refletida Luz incidente e luz refletida em


no espelho esférico convexo. um espelho esférico côncavo.

Espelho esférico convexo

O ponto P’ é imagem do ponto P.

Focos de um espelho
Seção meridional de um espelho esférico
esférico e raios notáveis

As restas r e s são eixos secundários


Espelho côncavo: foco real Espelho convexo: foco virtual
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Espelho côncavo Espelho convexo

Representação de um espelho côncavo

​ R ​ 
f = __
Representação de um espelho convexo 2

324
Caso 3: objeto entre o
centro de curvatura e o foco

Espelho côncavo Espelho convexo

A F

Espelho côncavo com objeto entre o centro de curvatura e


o foco: imagem real, invertida e maior que o objeto.

Espelho convexo Caso 4: objeto entre o foco e o vértice

Espelho convexo: imagem direita, virtual e menor do que o objeto. Espelho côncavo com objeto entre o foco e o vértice:
imagem virtual, direita e maior que o objeto

Espelho côncavo Caso 5: objeto sobre o foco


Caso 1: objeto antes do
centro de curvatura

Espelho côncavo com objeto sobre o foco: imagem imprópria

Espelho côncavo com objeto antes do centro de curvatura:


Equações dos espelhos esféricos
imagem real, invertida e menor que o objeto.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Caso 2: objeto sobre o


centro de curvatura

Espelho côncavo com objeto sobre o centro de curvatura:


imagem real, invertida e de mesmo tamanho que o objeto. Coordenas do objeto e da imagem em um espelho côncavo

325
–p'
__ ​ 1 ​ + __
​ 1 ​ = __ ​  1  ​   e  ​ oi  ​ = ___
A = __ ​  p ​  
f p p'

A = __i f
____
o​    ​ → A = ​     ​  
f–p

Se o e i tiverem o mesmo sinal, a imagem é direita. Se os


sinais forem invertidos, a imagem é invertida.
§ Quando p’ > 0, a imagem será real e passível de ser
projetada.
§ Quando A > 0, a imagem será direita.
§ Quando A < 0, a imagem será invertida.
Coordenadas do objeto e da imagem em um espelho convexo
§ Se |A| < 1, a imagem será menor que o objeto.
p = posição do objeto no eixo das abscissas
§ Se |A| = 1, a imagem será do mesmo tamanho que o
p’ = posição da imagem no eixo das abscissas
objeto.
o = altura do objeto
i = altura da imagem § Se |A| > 1, a imagem será maior que o objeto.
f = distância focal = posição do foco no eixo das abscissas

REFRAÇÃO DA LUZ

Leis da refração

O raio incidente, o raio refratado e a normal, no ponto


de incidência, estão no mesmo plano.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

A refração da luz ocorre quando a luz é transmitida entre


meios com diferentes velocidades de propagação da luz. nA · senqA = nB · senqB

Índice de refração Formação de imagens


​ c  ​ 
nA = v__
A

​  nA ​ 
nAB = __n B

​  vB  ​
nAB = v__
A

326
Lâmina de faces paralelas

A D
B C

A D

O vidro usado em janelas é um exemplo de lâmina de faces paralelas.


Dioptro plano

n
______ p’
​  nobservador
 ​  
 = __
​  p ​ 
objeto

Observe que a imagem aparente do peixe A’ é


virtual e mais próxima da superfície S.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Ângulo limite – reflexão total Observe que apenas a parte do lápis atrás da lâmina parece
estar deslocada em relação ao resto do lápis.

sen (i – r)
d = ________
​  cos r ​  
·e

n nmenor
senL = n__
​  B ​ = ____
n​   ​ 
A maior

327
Prisma óptico

Elementos do prisma

Prismas de reflexão total


Prismas de Amici

Os raios incidentes sofrem desvio de 90º.

Prismas de Porro

Equações do prisma
a) Abertura A
A = r + r’

b) Desvio angular total D Os raios incidentes sofrem desvio de 180º.


U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

D = D1 + D2
Dispersão da luz
Substituindo
D1 = (i – r)
D2 = (i’ – r’)
o desvio angular total é:
D = i + i’ – (r + r’)
D = i + i’ – A
Dispersão da luz em um prisma
vvermelha > vvioleta  ⇒ nvermelha < nvioleta

328
A aparência molhada da pista se deve à refração
total da luz vinda do céu as camadas de ar com, que
atravessa
diferentes temperaturas e, portanto,
diferentes índices de refração.
No arco-íris, milhões de gotas produzem o espectro visível da luz solar.

Isaac Newton foi um estudioso da luz e seus fenômenos


Fata Morgana
relacionados. Entre os anos de 1670 e 1672, demonstrou,
utilizando prismas, que a luz branca era formada por to-
das as cores do arco-íris.

Refração da luz na atmosfera

U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Deserto no Egito, onde se observa, ao fundo,


uma miragem de solo molhado.

329
LENTES ESFÉRICAS

Exemplos do uso de lentes no nosso cotidiano: lente de contato,


um conjunto de lentes de máquina fotográfica e uma lupa.

Classificação das lentes lente convergente        lente divergente

Focos principais de
uma lente esférica
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

330
Raios luminosos particulares

divergente

convergente

convergente

divergente

divergente

Construção geométrica
convergente
de imagens
1º caso: lentes convergentes
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

divergente

convergente

331
2º caso: lentes divergentes

ESTUDO ANALÍTICO DAS LENTES ESFÉRICAS

Convenção de sinais
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

A imagem real de um objeto fica do lado oposto ao objeto, enquanto que a imagem virtual fica do mesmo lado que o objeto.

Equações das lentes esféricas


​ 1 ​ = __
__ ​ 1 ​ + __
​  1  ​    (equação de Gauss)
f p p'

i p' ____ f
A = __ __
o​    ​ = – ​  p ​ = f​  – p  ​

332
Elementos geométricos
das lentes esféricas
§ C1 e C2: centros de curvatura de cada uma das faces;
§ R1 e R2: raios de curvatura de cada uma das faces;
§ O eixo principal é definido pela reta C1C2;
§ V1 e V2: vértices de cada uma das faces
§ e: espessura da lente (distância entre V1 e V2).
§ O: centro óptico da lente.
Associação de lentes esféricas
1º caso: associação convergente-convergente

Fórmula dos
fabricantes de lentes 2º caso: associação convergente-divergente

__
f (
​  1  ​ =   
​ ​__
n1 – 1 R1 R2) ( 
n1   ​    ​ ⋅ ​ __
​  1  ​ + __
)
​  1  ​   ​

§ face côncava: R < 0 (raio de curvatura negativo)


§ face convexa: R > 0 (raio de curvatura positivo)

O OLHO HUMANO

§ coroide: camada pigmentada e vascularizada, respon-


o sável pela circulação sanguínea do órgão.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

§ retina: membrana nervosa de células sensitivas da


visão. Essas células ligam-se ao centro da visão do cé-
rebro pelo nervo óptico.
normal
objeto
lente

imagem

Observe, na figura, a imagem formada pela lente (projetada nitidamente sobre


§ esclerótica: camada exterior opaca e esbranquiçada. a retina de um olho normal) e o esquema geométrico da formação da imagem.
Essa camada é mais abaulada e transparente, na parte
anterior, formando a córnea.

333
Acomodação visual Hipermetropia

Duas situações distintas da visão: os músculos


ciliares ajustam a lente para observar

objetos relativamente distantes (acima); ajuste para


observar objetos mais próximos ao olho (abaixo).

Ilustração produzida com base em: CUTNELL, J. D.; JOHSON,


K. W. Física. 6. ed. Rio de Janeiro; LTC, 2006. v. 2. p. 301.

Defeitos da visão Os raios paralelos passam pela lente e convergem,


depois passam pelo olho e convergem mais.

Miopia
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Os raios paralelos passam pela lente e divergem (se afastam),


depois passam pelo olho e convergem (se aproximam).

334
U.T.I. - Sala 4. Um prisma de vidro tem os três lados iguais e índice
de refração n = d​ XX
2 em relação
  ao do ar, para um deter-
minado comprimento de onda l . Um raio luminoso de
1. Um feixe de luz vermelha propaga-se no ar (índice de comprimento de onda l incide no prisma formando um
refração igual a 1,0) e incide sobre uma barra de vidro, ângulo de 45º com a normal. Calcule o ângulo de des-
formando um ângulo de 49° com a vertical, conforme vio do raio que emerge do prisma em relação ao raio
figura a seguir. incidente.

5. Um vaso cilíndrico contém água até uma altura de


2 h. Uma lente convergente é mantida à altura h acima
A barra de vidro possui índice de refração igual a 1,5 do nível da água, presa em flutuadores. A distância fo-
e está sobre um tanque que contém um líquido com cal da lente é h. No fundo do vaso existe uma pequena
índice de refração desconhecido. Observa-se que a luz lâmpada L. A partir de um certo instante t = 0 faz-se
diminui sua velocidade pela metade ao sair do vidro e escoar a água do vaso de modo que o nível desça com
entrar no líquido. Admitindo-se que a velocidade da luz rapidez v constante.
no ar é de 3 × 108 m/s, determine:
lente
lente
flutuadores
a) o ângulo u que o raio de luz faz com a vertical ao
flutuadores
h
entrar no líquido.
b) a velocidade da luz dentro do vidro.
c) o índice de refração do líquido. 2h

Dados:
sen 49° = 0,75
sen 30° = 0,5
sen 60° = 0,87
A que altura H acima do nível da lente estará formada
cos 49° = 0,66 a imagem da lâmpada, no instante em que a metade da
cos 30° = 0,87 água houver escoado? O índice de refração da água é 4/3.
cos 60° = 0,5

2. Sentado na cadeira da barbearia, um rapaz olha no


espelho a imagem do barbeiro, em pé atrás dele. As
dimensões relevantes são dadas na figura. A que dis-
tância (horizontal) dos olhos do rapaz fica a imagem do
barbeiro? U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

3. Uma lente convergente projeta uma imagem real a


0,72 m da posição do objeto. Qual é a distância focal da
lente, em cm, sabendo-se que a imagem é 5 vezes maior
que o objeto?

335
U.T.I. - E.O.
1. A figura representa o gráfico do desvio (d) sofrido por um raio de luz monocromática que atravessa um prisma de
vidro imerso no ar, de ângulo de refringência A = 50º, em função do ângulo de incidência u1.

É dada a relação (d) = u1 + u2 – A, em que u1 e u2 são, respectivamente, os ângulos de incidência e de emergência do


raio de luz ao atravessar o prisma (pelo princípio da reversibilidade dos raios de luz, é indiferente qual desses ângulos
é de incidência ou de emergência, por isso há no gráfico dois ângulos de incidência para o mesmo desvio ).
Determine os ângulos de incidência (u1) e de emergência (u2) do prisma na situação de desvio mínimo, em que
dmin = 30º.

2. Em uma demonstração em sala de aula, um professor de física utilizou um espelho esférico côncavo para projetar a
imagem nítida da chama de uma vela na parede. A altura da chama era de 1,5 cm e a da imagem projetada era 6,0 cm.
a) No esquema inserido no campo de Resolução e Resposta, a linha tracejada representa o eixo óptico principal do
espelho e o raio de luz representado em azul é paralelo a esse eixo. Localize graficamente o foco principal do espelho,
utilizando o raio de luz fornecido.

b) Sendo a distância entre a chama e a sua imagem projetada na parede igual a 75 cm, calcule a distância focal do
espelho, em centímetros.

3. A figura mostra um raio de luz monocromática que se propaga pelo ar, penetra no álcool e, depois, no vidro. As
superfícies de separação ar-álcool e álcool-vidro são paralelas. Os índices de refração absolutos do ar, do álcool e
do vidro são, respectivamente, 1,00, 1,36 e 1,50.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

a) Sendo a velocidade de propagação da luz no vácuo igual a 3,0 × 108 m/s, qual a velocidade, em m/s, com que a luz se
propaga no vidro?
b) Sabendo que o sen a = 0,68, calcule o valor do seno do ângulo u.

336
4. Uma calota esférica é refletora em ambas as faces, 6. A figura mostra uma lâmpada retilínea, de compri-
constituindo, ao mesmo tempo, um espelho côncavo mento 90 cm, fixa horizontalmente no teto de uma sala,
e um espelho convexo, de mesma distância focal, em 200 cm acima da superfície plana e horizontal de uma
módulo. A figura 1 representa uma pessoa diante da mesa. Um disco circular opaco foi colocado horizontal-
face côncava e sua respectiva imagem, e a figura 2 rep- mente entre a lâmpada e a mesa, a 180 cm da lâmpada,
resenta a mesma pessoa diante da face convexa e sua sendo esta a maior distância para que ele não projete
respectiva imagem. sombra sobre a mesa. A reta r, mostrada na figura, é
Figura 1 vertical e passa pelo ponto médio da lâmpada e pelo
centro do disco.

Figura 2

a) Calcule o diâmetro do disco, em centímetros.


b) Considere que o disco seja substituído por uma
lente delgada, esférica e convergente, cujo eixo prin-
cipal coincida com a reta r. Sabendo que essa lente
foi colocada em uma posição em que projeta, sobre a
superfície da mesa, uma imagem nítida da lâmpada
quatro vezes menor que ela, calcule a distância focal
a) Considerando as informações contidas na figura 1, da lente, em centímetros.
calcule o módulo da distância focal desses espelhos.
b) Na situação da figura 2, calcule o aumento linear 7. O triângulo ABC da figura representa a secção trans-
transversal produzido pela face convexa da calota. versal de um prisma de vidro transparente, em repouso
e parcialmente imerso na água. Um raio de luz mono-
5. Uma pessoa observa uma moeda no fundo de uma cromático propaga-se pelo ar no mesmo plano vertical
piscina que contém água até a altura de 2,0 m. Devido à que contém esse triângulo e incide perpendicularmente
refração, a pessoa vê a imagem da moeda acima da sua no lado AB, passando a propagar-se pelo prisma. Con-
posição real, como ilustra a figura. Considere os índices siderando o índice de refração absoluto do ar igual a
de refração absolutos do ar e da água iguais a 1,0 e 4/3, 1,0, o da água igual a 1,3, o do vidro igual a 1,5 e os
respectivamente. valores indicados na tabela, calcule:
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

a) Considerando sen u = 0,80, qual o valor do seno


do ângulo b?
b) Determine a quantos centímetros acima da posição
real a pessoa vê a imagem da moeda a) a redução percentual da velocidade de propagação
do raio luminoso quando ele passa do ar para o vidro.
b) o menor valor do ângulo u para que o raio inci-
dente no lado AB emerja totalmente do prisma pelo
lado BC.

337
8. A figura representa um espelho esférico de Gauss, de Figura 1
vértice V, foco principal F e centro de curvatura C. O ob-
jeto real O, colocado diante dele, tem altura 5,00 cm e
sua respectiva imagem conjugada, situada no anteparo
A, tem altura igual a?

Determine o ângulo u entre o espelho E e o fundo do


recipiente.

10. A luz de um feixe paralelo de um objeto distante


atinge um grande espelho, de raio de curvatura R = 5,0
m, de um poderoso telescópio, como mostra a figura a
seguir. Após atingir o grande espelho, a luz é refletida
por um pequeno espelho, também esférico e não plano
como parece, que está a 2 m do grande. Sabendo que a
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
luz é focalizada no vértice do grande espelho esférico,
Aceleração da gravidade = 10 m/s2 faça o que se pede nos itens seguintes.
Calor específico do ar = 1,0 × 103 J/kgK
Constante da gravitação universal =
6,7 × 10-11 Nm2/kg2
Densidade do ar = 1,25 gk/m3
Índice de refração da água = 1,33 ≈ 4/3
Índice de refração do ar = 1
Massa do Sol = 2,0 × 1030 kg
Raio médio da órbita do Sol = 3,0 × 1020m
1 ano = 3,14 × 107 s
a) O objeto no ponto F, para o pequeno espelho, é real
1 rad = 57° ou virtual? Justifique sua resposta.
sen 48,75°= 0,75 b) Calcule o raio de curvatura r do pequeno espelho.
π = 3,14 c) O pequeno espelho é côncavo ou convexo? Justi-
fique sua resposta.
9. No fundo de um recipiente com determinada
quantidade de água, encontra-se um espelho plano 11. A figura 1 mostra uma escultura metálica com alto
E. Um raio de luz incide sobre a superfície de sepa- grau de polimento que funciona como um grande espe-
ração do ar e da água, com um ângulo de incidência lho esférico. Considere que o diâmetro dessa escultura
i = 53,13°, cujo cosseno vale 0,6, penetrando na água seja de 2,4 m e que uma pessoa esteja parada a 3 m de
com ângulo de refração r. distância de sua superfície, conforme indicado na figura 2.
A figura 1 apresenta a superfície refletora do espelho Figura 1 Figura 2
paralela ao fundo do recipiente. Nesta situação, o raio
de luz emerge com um ângulo a de valor igual ao de
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

incidência.
A figura 2 apresenta a superfície do espelho inclinada
em um ângulo u, em relação ao fundo do recipiente.
Nesta situação, o raio de luz emerge paralelamente à
superfície da água.
Figura 1

a) A que distância da superfície da escultura essa pes-


soa vê sua imagem refletida?
b) Se em 5 segundos essa pessoa caminhar horizon-
talmente sobre uma linha reta contida em um plano

338
vertical que passa pelo centro da escultura até chegar Sendo n = 1,5 o índice de refração da lâmina em
a 1,8 m de distância de sua superfície, qual será o relação ao ar e c = 3,0 x 108 m/s a velocidade da luz
módulo da velocidade escalar média, em cm/s, com no ar, determine:
que a imagem da pessoa se movimentará?
a) a velocidade da luz no interior da lâmina.
12. Para a determinação do índice de refração b) variando-se o ângulo de incidência θ, varia o desloca-
(n1) de uma lâmina de vidro (L), foi usado o dispositivo mento d sofrido pelo raio de luz i. Qual é o valor máximo
da figura, em que C representa a metade de um cilin- que esse deslocamento pode assumir? Justifique.
dro de vidro opticamente polido, de índice de refração
15. Três blocos em formato de paralelepípedo retân-
n2 = 1,8. Um feixe fino de luz monocromática é feito
gulo, numerados de 1 a 3, são empilhados conforme
incidir no ponto P, sob um ângulo a, no plano do papel.
mostra a figura. Os blocos são feitos de substâncias
transparentes, de índices de refração absolutos n1 , n2 e
n3 , respectivamente. A figura mostra uma visão lateral
desse empilhamento, uma malha quadriculada para re-
ferência e a trajetória de um raio de luz monocromática
que segue paralela ao plano das faces exibidas.

Observa-se que, para a ≥ 45°, o feixe é inteiramente


refletido na lâmina. Qual é o valor de n1?

13. A figura mostra um objeto luminoso colocado sobre


o eixo principal de um espelho esférico côncavo, que
obedece às condições de Gauss, e dois raios de luz, 1 e
2, que partem do objeto e incidem na superfície refle-
tora do espelho. Considere que o raio 1 seja paralelo
ao eixo principal do espelho e que os pontos C, F e V
correspondam, respectivamente, ao centro de curvatu-
ra, ao foco principal e ao vértice do espelho.

a) Sabendo que o índice de refração absoluto do meio


1 vale 1,5 e que a velocidade de propagação da luz
no vácuo é c = 3 × 108 m/s, determine a velocidade
da luz no meio 1 e o índice de refração do meio 2.
b) Observando o comportamento do raio de luz que,
a partir do meio 2, dirige-se ao meio 3, responda se o
meio 3 é mais refringente ou menos refringente que
a) Na figura que se encontra no campo de Resolução o meio 2 e, em seguida, determine o valor do índice
e Resposta, esboce as trajetórias dos raios 1 e 2 após de refração relativo do meio 3 em relação ao meio
refletirem no espelho. 2, n3/n2 .
b) Sabendo que a distância focal do espelho é 30 cm,
que a distância do objeto ao espelho é 90 cm e que 16. Sobre uma das faces de um prisma de índice de
a altura do objeto é 6,0 cm, calcule a distância da refração √2 e ângulo de refringência 75°, mergulhado
imagem ao espelho e a altura da imagem, ambas em no ar (índice de refração do ar igual a 1,00), incide um
centímetros. feixe de raios luminosos monocromáticos paralelos.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Determine o ângulo de incidência para que estes raios


14. A figura abaixo representa um raio de luz i que at- possam emergir do prisma através da face BC.
ravessa uma lâmina de faces paralelas de espessura e,
imersa no ar, sofrendo deslocamento d.

339
17. A figura mostra um raio de luz monocromática que se a) A partir da figura, determine a distância focal da lente.
propaga por um meio A, incide na superfície de separa- b) Determine o tamanho e a posição da imagem de
ção desse meio com um meio B, a atravessa e passa a se um objeto real de 3,0 cm de altura, colocado a 6,0 cm
propagar pelo meio B. Em seguida, incide na superfície da lente, perpendicularmente ao seu eixo principal.
de separação entre o meio B e um meio C. As linhas tra-
cejadas indicam as retas normais às superfícies de sepa- 20. Na figura a seguir, em escala, estão representados
ração dos meios, nos pontos de incidência do raio de luz. uma lente L delgada, DIVERGENTE, com seus focos F, e
um espelho plano E, normal ao eixo da lente. Uma fina
haste AB está colocada normal ao eixo da lente. Um
observador O, próximo ao eixo e à esquerda da lente,
mas bastante afastado desta, observa duas imagens da
haste. A primeira A1B1, é a imagem direta de AB formada
pela lente. A segunda, A2B2, é a imagem, formada pela
lente, do reflexo A'B' da haste AB no espelho E.

Os índices de refração absolutos dos meios B e C va-


lem, respectivamente, nB = 2,00 e nC = 1,50. Considere
sen 30º = 0,50, sen 45º = 0,71, sen 49º = 0,75 e
sen 60º = 0,87.
a) Calcule o índice de refração absoluto do meio A.
b) Determine o que ocorre com o raio de luz após
atingir a superfície de separação entre o meio B e o
meio C. Justifique sua resposta

18. Para medir a distância focal de uma lente conver-


gente, procede-se do seguinte modo: coloca-se a lente a) Construa e identifique as duas imagens: A1B1 e A2B2
num banco óptico diante de um espelho plano perpen- b) Considere agora o raio R, indicado na figura, par-
dicular a seu eixo principal e, do lado oposto, uma lâm- tindo de A em direção à lente L. Complete a trajetória
pada de pequenas dimensões sobre o eixo principal. deste raio até uma região à esquerda da lente. Dife-
rencie claramente com linha cheia este raio de outros
raios auxiliares.

Verifica-se, por tentativas, que quando a lâmpada for


colocada a uma distância d igual a 20 cm da lente, a
imagem da lâmpada conjugada pelo sistema lente-es-
pelho se formará sobre a própria lâmpada, qualquer
que seja a distância entre a lente e o espelho. Qual é a
distância focal da lente?

19. Na figura, MN representa o eixo principal de uma


U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

lente divergente L, AB o trajeto de um raio luminoso


incidindo na lente, paralelamente ao seu eixo, e BC o
correspondente raio refratado.

340
FÍSICA

2
CIÊNCIAS DA
FÍSICA 3
NATUREZA
e suas tecnologias

U.T.I.
ASSOCIAÇÃO DE RESISTORES

Resistência equivalente U = U1 + U2
U = U1 + U2 + U3 + ... + Un

A soma das resistências associadas em série em um circui-


to é igual à resistência equivalente desse circuito.

Req = R1 + R2 + R3 + ... + Rn

Para R1 = R2 = ... = Rn = R. Desse modo, a resistência do


circuito é:
tensão do gerador
__________________
Req =   
  
​  ​ U ​ ⇒ U = Req · i
 ​ = __ Req = n · R
intensidade da corrente i

Associação de Observação: na associação de resistores em série, a


resistência equivalente sempre terá um valor maior que
resistores em série qualquer resistência individual que participe da associação.

Dois resistores em série


Associação de resistores
em paralelo

Três resistores em série

A soma das tensões parciais de cada resistor em uma as-


sociação em série é igual à tensão total U fornecida pelo
gerador.

Propriedades da associação
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

de resistores em série

342
Casos particulares

R ·R
Req = ______
​  1 2   
 ​
R1 + R2

produto
Req = ______
​   

soma ​

§ Se o circuito for formado por n resistores idênticos, ou


seja, de mesma resistência R, então a resistência equiv-

Propriedades da associação alente é dada por:

de resistores em paralelo ​ nR ​ 


Req = __

A soma das intensidades da corrente elétrica em cada


resistor de uma associação em paralelo é igual à inten-
sidade da corrente elétrica total no extremo da ligação
dos resistores.

​  1  ​ = __
___ ​ 1 ​ + __
​ 1 ​ = __
​ 2 ​ [ Req = __
​ R ​  ​  1  ​ = __
___ ​ 1 ​ + __
​ 1 ​ + __ ​ 3 ​ [ Req = __
​ 1 ​ = __ ​ R ​ 
Req R R R 2 Req R R R R 3
i = i1 + i2 + i3 Dois resistores idênticos em paralelo Três resistores idênticos em paralelo

A tensão elétrica nos extremos de resistores associa-


dos em paralelo é a mesma para todos os resistores da
Associação mista
associação.

U1 = U2 = U3 = U

​ U  ​;   i = __
i1 = __ ​ U  ​;   i = __
​ U  ​ 
R1 2 R2 3 R3
Exemplo de associação mista de resistores.
i = i1 + i2 + i3
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

​  U  ​ = __
___ ​  U  ​ + __
​  U  ​ + __
​  U  ​ 
Req R1 R2 R3

​  1  ​ = __
___ ​  1  ​ + __
​  1  ​ + __
​  1  ​ 
Req R1 R2 R3

A soma do inverso das resistências de resistores associa-


dos em paralelo é igual ao inverso da resistência equiva-
lente dessa ligação em paralelo.

343
POTÊNCIA DISSIPADA POR EFEITO JOULE

Reostato

Potência elétrica
Curto-circuito

A potência P é o trabalho realizado para movimentar as


cargas durante um intervalo de tempo.

P = Ui

​ U  ​ 
2
P = Ri2  e  P = __
R
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Energia dissipada
por efeito Joule
E = P · Dt

E = R · i2 · Dt

VA – VB = Ri ⇒ VA – VB = 0 ⇒ VA = VB

344
AMPERÍMETRO, VOLTÍMETRO E PONTE DE WHEATSTONE

Amperímetro ideal Equilíbrio da


ponte de Wheatstone
Amperímetro ideal é um medidor de intensidade de cor-
rente, cuja resistência elétrica é nula (RA = 0).

(Esquerda) Resistores em série, antes de se inserir o amperímetro.


(Direita) Após a inserção do amperímetro, a intensidade
da corrente elétrica não foi alterada.

Na ponte de Wheatstone em equilíbrio, o

Voltímetro ideal
amperímetro não acusa corrente elétrica.

R1 · R3 = R2 · R4

Voltímetro ideal é um medidor de tensão com resistência


elétrica infinitamente grande (RV → `).

Na ponte em equilíbrio,
não passa corrente
elétrica pelo resistor
central, no diagonal BC.
(Cima) Resistores em série, antes de se inserir o voltímetro.
(Baixo) Após a ligação em paralelo do voltímetro com
R2, não há alteração da d.d.p. e corrente elétrica.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Ponte de Wheatstone

Na ponte em equilíbrio,
a lâmpada não acende,
pois a d.d.p. entre B e C
é nula. Não há corrente.

345
ESTUDO DO GERADOR

Gerador ideal Potência no


gerador elétrico
U = « – ri  ⇒  Ui = ei – ri2
Pu = Ui

Pt = «i
Gerador ideal (U = E)
Pd = ri2

Características dos geradores P U


h = __
​  u ​ = __
​   ​
Pt «
Força eletromotriz (f.e.m.)

« = ___
​  t   ​ 
DQ

A bateria é a fonte de f.e.m. «, e r é sua resistência interna.


U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

O farol faz parte do circuito externo (resistência R).

U = « – ri Lei de Pouillet
Observação
Essa equação representa um gerador elétrico real. Para
um gerador ideal, não ocorre dissipação interna de ener-
gia, e, portanto, r = 0. Para o gerador ideal, a d.d.p. e a
f.e.m. são iguais ( U = «).

346
Potência útil fornecida

« = (R + r)i

Corrente de curto-circuito A = Pu
em um gerador Pu = Ui = «i – ri2
Pu (i) = «i – ri2

Associação de geradores
U = « – ri  ⇒  0 = « – ricc  ⇒ icc = __
​ «r ​ 
Associação em série
Curva característica + - + - + - + -

de um gerador
A B
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

A figura representa quatro pilhas associadas em série.

​ tg a N​ ≅ __
​  « ​   ⇒ ​ tg a N​ ≅ r
icc

347
«s = «1 + «2 + ... + «n
Us = U1 + U2 + ... + Un
Ps = P1 + P2 + ... + Pn
rs = r1 + r2 + ... + rn

Associação em paralelo
+ -

+ -
A B

+ -

A figura representa três pilhas associadas em paralelo.

__ 1 __ 1 __ 1 __1
r​  p ​ = r​  1 ​ + r​  2 ​ + ... + r​ n ​ 
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

__ 1 __1 __1 __1 1 __n


__ __r
r​  p ​ = ​  r ​ + ​  r ​ + ... + ​ r ​   ⇒ ​ rp ​ = ​  r ​   ⇒ rp = n​    ​ 

348
RECEPTORES

Um modelo para o receptor Potência

U = «’ + r’ · i
U’ = «’ + r’i  ⇒ 
U’i = «’i + r’i2  ⇒ 
Pt = Pu + Pd ⇒
P
h = __​  u ​    ⇒
Pt
h = ___
​ «'i ​    ⇒ 
U'i
h = __ ​ «' ​ 
U'
N
r' = tg a

Circuitos elétricos com receptor U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Gerador: U = « – r . i
Receptor: U = «’ + r’ . i
« – r · i = «’ + r’ · i ⇒
« – «’ = r · i + r’ · i ⇒
« – «’ = (r + r’) · i ⇒
« = «’ + (r + r’) · i ⇒
« – «’ = (R + r + r’) · i

349
CAPACITORES

Q=C·U
ou
Q
C = __
​   ​  ​ A ​ 
C = k · «0 · __
U d
Seção transversal do capacitor plano. A é a placa
plana positiva, e B, a placa plana negativa.
Energia de um capacitor
Carga elétrica e capacitância carga

O U ddp
Gráfico da tensão durante o carregamento do capacitor
Q·U
​ b · ​h  ⇒ W = ____
W = A = ____ ​   ​
  
2 2

​ C ·  ​
W = _____ U²  
2

Gráfico da tensão durante o descarregamento do capacitor


O capacitor no circuito elétrico

Gráfico da carga em função da d.d.p.


U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

ASSOCIAÇÃO DE CAPACITORES
A
A

A A
B B
C C

B B
Associação de capacitores em paralelo Associação de capacitores em série

350
Capacitor equivalente Outras propriedades da
associação em série
Q Q Q
U1 = __
​  1 ​   U
  = __
​  2 ​   
  U3 = __
​  3 ​ 
C1 2 C2 C3

UAB = U1 + U2 + U3

​  1  ​ = __
___ ​  1  ​ = __
​  1  ​ + __
​  1  ​ + ... + __
​ 1  ​ 
Ceq C1 C2 C3 Cn

Em uma associação de capacitores em série, o inverso da


Capacitor equivalente capacitância equivalente é igual à soma dos inversos das
capacitâncias parciais.
Qeq = Qassoc = Q
Q
C = Qeq · U  ou  Ceq = __
​   ​ 
U

Associação de capacitores em paralelo

Três capacitores em paralelo

Na associação em paralelo, a d.d.p de todos os capacito-


res é igual.

Ceq = C1 + C2 + ... + Cn

A capacitância equivalente de uma associação em parale-


lo é igual à soma das capacitâncias parciais.

Associação de capacitores em série U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Q1 = Q2 = Q3 = Q

A carga elétrica de uma associação de capacitores em sé-


rie é igual a carga Q de cada um dos capacitores.

351
U.T.I. - Sala 4. Dado o circuito abaixo, determine o valor do resistor
Rx para que o galvanômetro da figura não seja atraves-
sado por corrente elétrica.
1. Analise o circuito representado abaixo e resolva os
itens propostos.

5. Numa associação mista de vinte geradores de f.e.m.


8 V e resistência interna 0,2 Ω em quatro ramos, cada
um contendo cinco geradores em série, determine:
a) a f.e.m. e a resistência do gerador equivalente;
Determine:
b) a corrente que atravessa cada ramo da associação,
a) resistência equivalente do circuito. quando esta é ligada a um resistor de 4,75 Ω.
b) a intensidade da corrente elétrica total que passa
pelo circuito.
c) a d.d.p. entre os pontos A e C.
d) a d.d.p. entre os pontos C e D.
e) a intensidade da corrente elétrica que passa pelo
resistor R3.

2. No circuito representado no esquema a seguir, os re-


sistores R1, R2 e R3 têm valores iguais a 12 ohms.

De acordo com o esquema, CALCULE qual seria a lei-


tura do amperímetro A, em amperes, e a leitura do
voltímetro V, em volts.

3. No esquema a seguir, temos uma fonte de tensão


« = 120 V, duas lâmpadas L1 e L2 e uma resistência R. L1
só acende com 120 V e L2 só acende com 40 V aplicados,
caso em que L1 dissipa 120 W e L2 dissipa 80 W.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Calcule R para que as duas lâmpadas estejam acesas.

352
U.T.I. - E.O. 5. Determine o valor de R para que a corrente na bate-
ria seja de 1 A, sabendo que E = 18 V.
1. Em um laboratório de eletrônica, um aluno tem à sua
disposição um painel de conexões, uma fonte de 12 V e
quatro resistores, com resistências R1 = 10 Ω, R2 = 20 Ω,
R3 = 30 Ω e R4 = 40 Ω. Para armar os circuitos dos itens
abaixo, ele pode usar combinações em série e/ou para-
lelo de alguns ou todos os resistores disponíveis.
a) Sua primeira tarefa é armar um circuito tal que a
intensidade de corrente fornecida pela fonte seja de
0,8 A. Faça um esquema deste circuito. Justifique.
b) Agora, o circuito deve ter a máxima intensidade de
corrente possível fornecida pela fonte. Faça um es- 6. Considere o circuito da figura abaixo em que as resis-
quema do circuito. Justifique. tências são dadas em Ω e a bateria é considerada ideal
com uma força eletromotriz de 12 Volts.
c) Qual é o valor da intensidade de corrente do item b?

2. Os seis resistores do circuito esquematizado são ôh-


micos. A resistência elétrica de cada resistor é igual a R.
Considerando A e B como terminais da associação, qual
é a resistência elétrica do conjunto?

a) Qual é a diferença de potencial no resistor R2?


b) Qual é a potência dissipada pelo circuito?
3. Qual é o valor (em ohms) da resistência equivalente c) A resistência R3 agora é retirada do circuito e subs-
RAB da associação de resistores representada abaixo? tituída por um fio sem resistência. Qual é a nova cor-
rente que passa por R1?

7. No circuito representado a seguir, o amperímetro A,


ideal, indica I = 2 A.

U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Dados:
4. O esquema abaixo mostra três fios entre os quais se • Bateria 1: f.e.m. E1 = 9 V; resistência interna r1 = 1,5 Ω
ligam algumas lâmpadas iguais. • Bateria 2: f.e.m. E2 = 3 V; resistência interna r2 = 0,5 Ω
• Bateria 3: f.e.m. E3 = 12 V; resistência interna r3 = 2
Ω, R1 = 2 Ω, R2 = R3 = 4 Ω, R4 = 12 Ω, R5 = 1 Ω
Determine:
a) o valor da resistência R;
b) a quantidade de calor desenvolvida em R5, num
a) Qual é a tensão aplicada às lâmpadas quando o intervalo de tempo igual a 10 minutos.
“fio neutro” está ligado?
b) Se o fio neutro quebrar no ponto P, qual é a tensão
que será aplicada às duas lâmpadas de baixo?

353
8. Um fio metálico homogêneo tem comprimento L e mente, o voltímetro V indica 3,0 volts.
área de secção transversal constante. Quando submeti-
do a uma diferença de potencial de 12 V, esse fio é per-
corrido por uma corrente elétrica de intensidade 0,1 A
conforme a figura 1. Esse fio é dividido em três partes,
A, B e C de comprimentos __L​  , ​  __
​ L  ​  e __​ L ​  respectivamente, as
6 3 2
quais, por meio de fios de resistências desprezíveis, são
conectadas entre si e submetidas à mesma diferença de
potencial constante de 12 V conforme a figura 2.

a) Qual será a indicação do amperímetro A?


b) A lâmpada L “queima”. Qual será, depois disso, a
indicação do voltímetro V?
11. Cinco resistores iguais, cada um com resistência R –
100 Ω, são ligados a um gerador G de tensão constante
VG – 250 volts, conforme o circuito abaixo. A é um am-
perímetro de resistência interna desprezível. Qual é a
corrente indicada por esse instrumento?
Com base no circuito representado na figura 2, calcule:
a) a resistência equivalente, em Ω.
b) a potência total dissipada, em W.

9. Algumas residências recebem três fios da rede de ener-


gia elétrica, sendo dois fios correspondentes às fases e o
terceiro ao neutro. Os equipamentos existentes nas resi-
dências são projetados para serem ligados entre uma fase
e o neutro (por exemplo, uma lâmpada) ou entre duas 12. No circuito esquematizado, a indicação do am-
fases (por exemplo, um chuveiro). Considere o circuito a perímetro ideal A é igual a?
seguir, que representa, de forma muito simplificada, uma
instalação elétrica residencial. As fases são representadas
por fontes de tensão em corrente contínua e os equipa-
mentos, representados por resistências. Apesar de simpli-
ficado, o circuito pode dar uma ideia das consequências
de uma eventual ruptura do fio neutro. Considere que to-
dos os equipamentos estejam ligados ao mesmo tempo.

13. A corrente que corresponde à deflexão máxima do


ponteiro de um galvanômetro é de 1,0 mA e sua re-
sistência é de 0,5 Ω. Qual deve ser o valor da resistência
que precisa ser colocada nesse aparelho para que ele
se transforme em um voltímetro apto a medir até 10 V?
Como deve ser colocada essa resistência, em série ou
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

a) Calcule a corrente que circula pelo chuveiro. em paralelo com o galvanômetro?


b) Qual é o consumo de energia elétrica da residência, 14. No circuito, a d.d.p. entre os terminais A e B é de 60
em kWh, durante quinze minutos?
V e o galvanômetro G acusa uma intensidade de cor-
c) Considerando que os equipamentos se queimam
rente elétrica zero.
quando operam com uma potência 10% acima da nor-
mal (indicada na figura), determine quais serão os eq-
uipamentos queimados, caso o fio neutro se rompa no
ponto A.

10. O esquema abaixo representa um circuito formado


por um gerador ideal G de força eletromotriz E = 6,0
volts, por uma lâmpada L e por dois resistores R1 e R2
com 100 e 50 ohms de resistência, respectivamente. Um
voltímetro V e um amperímetro A, ambos ideais, estão
ligados ao circuito, como indicado no esquema. Inicial-

354
Determine:
a) o valor de R.
b) o valor de R, para quando a d.d.p. entre os termi-
nais A e B for duplicada e o galvanômetro continuar
acusando zero.

15. No circuito esquematizado, R1 = 210 ohms, R2 = 30 ohms,


AB é um fio homogêneo de seção constante, resistência 50
ohms e comprimento 500 mm. Obteve-se o equilíbrio do
galvômetro para L = 150 mm.

20. O amperímetro A indicado no circuito abaixo é ide-


al, isto é, tem resistência praticamente nula. Os fios de
ligação têm resistência desprezível. Determine a inten-
sidade de corrente elétrica indicada no amperímetro A.

Determine o valor de x.

16. Um circuito elétrico constituído de dois resistores R1 e


R2 é alimentado por quatro geradores iguais, ligados em
série, cada um de 12 V e resistência interna 0,25 Ω. Estes
geradores alimentam o circuito com corrente de inten-
sidade 16 A. Os resistores são percorridos por diferentes
intensidades de corrente e o valor de R2 é o dobro do
valor de R1. Determine os o valores de R1 e R2 (em ohms).

17. O esquema representa duas pilhas ligadas em para-


lelo, com as resistências internas indicadas. Pergunta-se:

a) Qual o valor da corrente que circula pelas pilhas?


b) Qual é o valor da diferença de potencial entre os pon-
tos A e B e qual o ponto de maior potencial?
c) Qual das duas pilhas está se “descarregando”?

18. Um técnico dispõe de duas baterias iguais. Efetuando


U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

experiências com elas, verificou que, quando as baterias


são associadas em série e o conjunto é ligado a um re-
sistor de 10 Ω, circula uma corrente de 0,4 A; quando são
associadas em paralelo e aplicadas ao mesmo resistor,
circula 0,25 A no resistor. Determine a f.e.m. (em volts) e
a resistência interna (em ohms) das baterias.

19. No circuito elétrico a seguir, é necessário que, ao


se ligar a chave K no ponto P, a lâmpada L, de especifi-
cações nominais 0,50 W — 2,0 V, permaneça acesa sem
problemas. Sabe-se que, ao se ligar a chave K no ponto
M, o amperímetro ideal A indica uma intensidade de cor-
rente de 500 mA, e, ao se ligar no ponto N, a indicação
é de 4,0 A. Para que sejam atendidas rigorosamente as
especificações da lâmpada, é necessário que o resistor
R, associado em série a ela, tenha resistência elétrica de?

355
QUÍMICA

2
CIÊNCIAS DA
QUÍMICA 1
NATUREZA
e suas tecnologias

U.T.I.
ÁCIDOS

De maneira geral, os ácidos apresentam as seguintes ca- Por exemplo:


racterísticas: água
HCℓ → H+ + Cℓ–
§ Têm sabor azedo; água
H2SO4 → 2 H+ + SO2–
4
§ A grande maioria é tóxico e corrosivo; água
HNO3 → H+ + NO3–
§ Quando em solução aquosa, os ácidos conduzem ele-
água
tricidade; H3PO4 → 3 H+ + PO3–
4

§ Os ácidos alteram a cor de indicadores. Os indicadores Uma outra maneira mais correta de escrever os quatro
têm a propriedade de mudar a cor do meio, conforme exemplos anteriores é:
o caráter ácido ou básico das soluções (exemplo de in-
dicadores: papel tornassol, fenolftaleína, entre outros). HCℓ + H2O → H3O+ + Cℓ–

Segundo Arrhenius, ácidos são compostos que se ionizam H2SO4 + 2 H2O → 2 H3O+ + SO2–
4
em solução aquosa e originam como o único íon positivo
HNO3 + H2O → H3O+ + NO3–
o cátion hidrônio ou hidroxônio (H+ ou H3O+). O H+ é o
responsável pelas propriedades comuns a todos os ácidos, H3PO4 + 3 H2O → 3 H3O+ + PO3–
4
sendo este o radical funcional dos ácidos.

Classificação dos ácidos


1. Presença de oxigênio

Classificação Oxigênio Exemplos


hidrácidos não possuem HC𝓵, HCN, H2S
oxiácidos ou oxoácidos possuem HNO3, H2SO4, H3BO3

2. Hidrogênios ionizáveis
Hidrogênios ionizáveis em oxiácidos são os hidrogênios que se ligam a um átomo de oxigênio.

Número de hidrogênios
Classificação Exemplos
ionizáveis
monoácidos ou monopróticos 1 HC𝓵, HCN, HNO3
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

diácidos ou dipróticos 2 H2S, H2SO4, H2CO3


triácidos ou tripróticos 3 H3PO4, H3BO3
tetrácidos ou tetrapróticos 4 H4SiO4

Exceções: quando um átomo de hidrogênio se liga diretamente ao átomo central, esse hidrogênio não é ionizável.
Por exemplo:
§ Ácido fosforoso (H3PO3) é um diácido.

358
§ Ácido hipofosforoso (H3PO2) é um monoácido.

3. Volatilidade
Volatilidade é a capacidade de uma substância passar para o estado gasoso. Substâncias voláteis, em geral, apresentam
pontos de ebulição baixos.
Classificação Ponto de Ebulição Exemplos
fixos alto São apenas 3 ácidos: H2SO4, H3PO4, H3BO3
voláteis baixo Os demais ácidos: HC𝓵, H2S, HCN, HNO3...

4. Força
Δ = n° de oxigênios – n° de hidrogênios ionizáveis
HC𝓵O4 ⇒ Δ = 4 – 1 = 3 ⇒ forte
H2SO4 ⇒ Δ = 4 – 2 = 2 ⇒ forte
HNO2 ⇒ Δ = 2 – 1 = 1 ⇒ moderado
HC𝓵O ⇒Δ = 1 – 1 = 0 ⇒ fraco
Exceção: O ácido carbônico (H2CO3), embora apresente um Δ = 1 , ele é considerado um ácido fraco por ser um ácido
instável.
Classificação Hidrácidos Oxiácidos
fortes HC𝓵, HBr, HI Δ = 2 ou 3
moderados HF Δ=1
fracos H2S, HCN e demais Δ=0

Nomenclatura
Ácido + (nome do elemento) + sufixo
O sufixo segue este padrão:
Classificação Sufixo Exemplos Ânion
HC𝓵 ácido clorídrico C𝓵- cloreto
hidrácido -ídrico H2S ácido sulfídrico S2- sulfeto
HCN ácido cianídrico CN- cianeto
-ico H2SO4 ácido sulfúrico SO​ 2-4​ sulfato
NO​ 3-  ​nitrato
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

(o ácido que você precisa lembrar) HNO3 ácido nítrico


oxiácido
oso H2SO3 ácido sulfuroso SO​2- 3​   sulfito
(o ácido com um oxigênio a menos) HNO2 ácido nitroso NO 2-​  nitrito

E há também os prefixos, especialmente em oxiácidos, que formam mais de dois ácidos (comumente visto em ácidos que
contêm halogênios):

Prefixo Sufixo Fórmula Exemplo Ânion


per- -ico HXO4 HC𝓵O4 ácido perclórico C𝓵O 4- ​perclorato
- -ico HXO3 HC𝓵O3 ácido clórico C𝓵O 3- ​ clorato
- -oso HXO2 HC𝓵O2 ácido cloroso C𝓵O 2- ​ clorito
hipo -oso HXO HC𝓵O ácido hipocloroso C𝓵O- hipoclorito

359
BASES

Apresentam as seguintes características:


§ Possuem sabor adstringente, que “amarra” a boca, como é possível perceber ao se comer uma fruta “verde”;
§ São, em geral, tóxicas;
§ Formam soluções aquosas condutoras de eletricidade;
§ Mudam a cor dos indicadores (conforme os exemplos comparativos da função ácidos).
Segundo Arrhenius, bases são compostos que, por dissociação iônica, originam como único íon negativo o ânion hidróxido [OH-].

Classificação
1. Número de hidroxilas/hidróxidos
Classificação Número de hidroxilas Exemplos
monobase 1 NaOH, KOH, AgOH
dibase 2 Mg(OH)2, Ca(OH)2, Fe(OH)2
tribase 3 A𝓵(OH)3, Fe(OH)3
tetrabase 4 Sn(OH)4, Pb(OH)4

2. Força
Classificação Caracterização
Hidróxidos dos metais alcalinos (grupo 1), como NaOH, KOH etc. e dos me-
Forte tais alcalino-terrosos (grupo 2), como Ca(OH)2, Ba(OH)2 e Sr(OH)2.
O Mg(OH)2 é uma exceção à regra, uma vez que constitui uma base fraca e praticamente insolúvel.
Hidróxidos de todos os demais metais, em geral metais dos grupos 3 ao 14.
Fraca
Aqui se incluem o Mg(OH)2, Be(OH)2 e o NH4OH.

3. Solubilidade
Classificação Caracterização
Solúveis Hidróxidos dos metais alcalinos (grupo 1), como NaOH, KOH etc. e o NH4OH.
Hidróxidos dos metais alcalino-terrosos (grupo 2), como Ca(OH)2,
Pouco solúveis
Ba(OH)2 e Sr(OH)2. Exceção: o Mg(OH)2 e Be(OH)2.
Praticamente insolúveis Os demais hidróxidos: Fe(OH)2, Pb(OH)4 etc., além do Mg(OH)2.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Nomenclatura Se o cátion tiver mais de uma valência:


hidróxido de + (nome do cátion Cx+) +
Para uma base genérica, C(OH)x, sua nomenclatura será: (valência em algarismo romano)
hidróxido de + (nome do cátion Cx+) ou
hidróxido de + (nome do cátion Cx+) + ico [maior valência]
Exemplos:
oso[menor valência]
NaOH – hidróxido de sódio
Exemplos
Ca(OH)2 – hidróxido de cálcio
Fe(OH)2 – hidróxido de ferro (II) ou hidróxido ferroso
A𝓵(OH)3 – hidróxido de alumínio
Fe(OH)3 – hidróxido de ferro (III) ou hidróxido férrico
Sn(OH)2 – hidróxido de estanho (II) ou hidróxido estanoso
Sn(OH)4 – hidróxido de estanho (IV) ou hidróxido estânico

360
SAIS

Reação de neutralização total Se o cátion tiver mais de uma valência:

Uma reação é de neutralização total, se todos os H+ do nome do ânion + de + nome do cá-


ácido reagirem e todos os OH– da base também reagirem. tion + (valência do cátion)
Por exemplo: ou
NaOH + HC𝓵 → NaC𝓵 + H2O nome do ânion + de + nome do cátion + oso
Mg(OH)2 + H2SO4 → MgSO4 + 2 H2O [menor valência] ou ico [maior valência]

2 NaOH + H2SO4 → Na2SO4 + 2 H2O


Exemplos:
Reação de neutralização Fe2+ [cátion ferro (II) ou ferroso] + C𝓵 – [ânion cloreto] FeC𝓵2
parcial do ácido cloreto de ferro (II) ou cloreto ferroso.

A proporção em mols da base e do ácido é de tal forma que Fe3+ [cátion ferro (III) ou férrico] + C𝓵 – [ânion cloreto] FeC𝓵3
nem todos os H+ serão neutralizados. O sal formado é clas- cloreto de ferro (III) ou cloreto férrico.
sificado como hidrogenossal e este apresenta caráter ácido.
Por exemplo:
Hidrogenossais
Os hidrogenossais diferem-se apenas pelo fato de a quan-
NaOH + H2SO4 → NaHSO4 + H2O
tidade de hidrogênios ionizáveis ser indicada pelos prefixos
(que pode ser omitido) mono, di, tri etc., seguida da palavra
Reação de neutralização hidrogeno, no começo do nome do sal, ou palavra ácido,
parcial da base logo depois do nome do ânion.
A proporção em mols da base e do ácido é de tal forma § KHSO4: sulfato monopotássico ou sulfato (mono) ácido
que nem todos os OH– serão neutralizados. O sal formado é de potássio ou (mono) hidrogenossulfato de potássio.
classificado como hidroxissal e este apresenta caráter básico.
§ NaH2PO4: fosfato monossódico ou fosfato diácido de
Por exemplo:
sódio ou diidrogenofosfato de sódio.
Ca(OH)2 + HC𝓵 → Ca(OH)C𝓵 + H2O
Se o hidrogenossal for originário de um ácido com dois
hidrogênios ionizáveis, o prefixo hidrogeno pode ser subs-
Nomenclatura tituído por bi.
nome do ânion + de + nome do cátion § NaHSO4: bissulfato de sódio.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

§ NaHCO3: bicarbonato de sódio.


Exemplo:
A𝓵3+ [cátion alumínio] + C𝓵– [ânion cloreto] → A𝓵C𝓵3 Hidroxissais
cloreto de alumínio
Já nos hidroxissais a nomenclatura segue a mesma regra
O ânion pode ser identificado através do seu ácido de ori- dos hidrogenossais, trocando as palavras hidrogeno por
gem, portanto, segue-se a seguinte regra: hidróxi ou palavra ácido por básico.

Terminação do ácido Ânion § CaOHC𝓵: cloreto básico de cálcio ou (mono) hidróxi-


-ídrico -eto -cloreto de cálcio.
-oso -ito § MgOHBr: brometo básico de magnésio ou (mono) hi-
-ico -ato dróxi-brometo de magnésio.

361
Solubilidade dos sais
Ânion do sal Solubilidade Exceções
Nitrato (NO ​)  -
3 
Nitrito (NO​  ​) -
2  Acetato de prata, de chumbo (II) e de mercúrio (I) são
Solúveis
Cloratos (CøO 3- ​)  parcialmente solúveis.
Acetatos (H3C – COO-)

Cloretos (Cø-)
Brometos (Br-) Solúveis Ag+, Pb2+, Hg​ 22+​  
Iodetos (I-)

Sulfatos (SO​4 2-​)   Solúveis Ca2+, Sr2+, Ba2+, Pb2+

Sulfetos (S2-) Insolúveis Grupo 1 e NH​ +4​  

Outros ânions (CO​ 32-​  , PO​ 43-​  etc.) Insolúveis Grupo 1 e NH​ +4​  

ELETRÓLITOS

Conduzem corrente outros tipos de substâncias), baseando-se no seu grau


de ionização: quanto mais o ácido é forte, maior será o
1. Ácidos em solução aquosa; seu grau de ionização (α) e será um eletrólito forte e
2. Compostos iônicos em solução aquosa ou fundida; vice-versa.

3. Metais no estado sólido ou líquido.


Óxidos
Não conduzem corrente São compostos binários (formados por apenas dois ele-
mentos químicos), e o elemento mais eletronegativo pre-
1. Gases em condições ambientes; sente é sempre o oxigênio.
2. Compostos iônicos no estado sólido; Exemplos: CO2, Na2O, SO2, CaO, etc.
3. Água pura e ácidos puros;
Nomenclatura
4. Demais substâncias covalentes.
óxido + de + [nome do elemento]
Grau de ionização
Usa-se os prefixos mono, di tri etc. para indicar a quanti-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

Grau de ionização, representado pela letra α (alfa), se de-


dade de oxigênios e do outro elemento presente no óxido
fine como a razão entre o número de moléculas ionizadas
(o prefixo mono na frente do elemento ligado ao oxigênio
(ou dissociadas) e o número total de moléculas dissolvidas:
é opcional).
número de partículas ionizadas (ou dissociadas) Se o elemento tiver uma única valência, ou seja, se houver
α = ____________________________________
    
​       ​
número de partículas dissolvidas somente uma forma de ligar-se ao oxigênio e formar so-
mente um tipo de óxido, não é necessário usar os prefixos
Quando α tem valor próximo de zero, significa que a subs- antes do nome do elemento.
tância está pouco ionizada, sendo chamado de eletrólito
fraco. Quando α se aproxima de 1, a substância está bas- Quando o óxido é formado por elemento com mais de uma
tante ionizada, sendo chamada de eletrólito forte. valência, usa-se ou número romano para indicar a valência
do elemento ligado ao oxigênio ou usa-se os sufixos: -oso
O grau de ionização é muito útil principalmente para de- para o metal de menor valência ou -ico para o metal de
terminar a força dos ácidos (embora possa ser usado para maior valência.

362
Fórmula Nome do óxido § Óxidos anfóteros – possuem esse nome por seu ca-
CO2 Dióxido de carbono
ráter duplo, ou seja, reagem tanto com ácido quanto
com base originando como produto sal e água. (Exem-
SO3 Trióxido de enxofre
plo: A𝓵2O3, ZnO, PbO)
Na2O Óxido de sódio
SiO2 Dióxido de silício § Peróxidos – composto formado por ânion peróxido
P2O5 Pentóxido de difósforo (​O​22-​  ​). Nesta classe os compostos reagem com água
produzindo base e água oxigenada; quando reagem
FeO Óxido de ferro (II) ou óxido ferroso
com um ácido, produz um sal e água oxigenada.
Fe2O3 Óxido de ferro (III) ou óxido férrico
(Exemplo: Na2O2).
C𝓵2O7 Heptóxido de dicloro

Reações Inorgânicas
Tipos de óxidos Na Química Inorgânica, um critério que é muito adotado é
Os óxidos podem ser classificados de acordo com o ele- classificar as reações de acordo com a quantidade de subs-
mento ligado ao oxigênio. São dois tipos: óxidos iônicos e tâncias que reagem e que são produzidas, agrupando as rea-
óxidos moleculares: ções da seguinte forma: reações de síntese (ou adição), rea-
ções de análise (ou decomposição), reação de simples troca
§ Óxidos iônicos – são óxidos formados por metais,
(ou deslocamento) e reação de dupla troca (ou metátese).
havendo a presença de ligação iônica (entre um metal
e um ametal). Exemplos para este caso são o óxido de § Reação de síntese ou adição: é aquela que dois
sódio (Na2O), óxido de magnésio (MgO), óxido de alu- ou mais reagentes formam um único produto.
mínio (A𝓵2O3), entre outros. Genericamente: A + B + C + ... → P
Exemplo:
§ Óxidos moleculares – são óxidos formados por
Formação da amônia: N2 + 3H2 → 2NH3
ametais, havendo a presença de ligação covalente (en-
tre ametais). Exemplos para este caso são os óxidos § Reação de análise ou decomposição: este tipo
de carbono (CO e CO2), óxidos de enxofre (SO2 e SO3), de reação é o oposto da reação de síntese. Um único
óxidos de nitrogênio (NO, N2O e NO2), entre outros. reagente forma dois ou mais produtos.
Genericamente: R → A + B + C + ...
Classificação dos óxidos Exemplo:
Decomposição do dicromato de amônio:
Os óxidos podem ser classificados de acordo com o seu
(NH4)2Cr2O7 → N2 + 4 H2O + Cr2O3
comportamento químico:
§ Reação de simples troca ou de deslocamento:
§ Óxidos ácidos – são também conhecidos por anidri-
nessas reações uma substância simples reage com uma
dos, e reagem com água produzindo um ácido e reagem
substância composta, originando uma nova substância
com base formando sal e água. A maioria dos óxidos
simples e uma nova substância composta pelo desloca-
ácidos é os óxidos moleculares (Exemplo: CO2, SO3).
mento entre seus elementos.
§ Óxidos básicos – estes compostos reagem com água Genericamente:
formando uma base e reagem com ácidos produzindo M + CA → MA + C ou M + CA → CM + A
sal e água. A maioria dos óxidos básicos é os óxidos Mas, para que isso ocorra, a substância simples, no caso
iônicos (Exemplo: Na2O, CaO). simbolizado por M, deve ser mais reativo que o ele-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

§ Óxidos neutros – estas substâncias não reagem com mento que será deslocado do composto (represen-
água, ácido ou base. São eles: CO, NO e N2O. tado por C ou A), transformando-se em uma nova substân-
cia simples, do contrário a reação não ocorrerá.
Para saber se a reação de deslocamento irá ocorrer, é necessário olhar a fila de reatividade dos metais e ametais:

Fila de reatividade dos metais


aumenta a reatividade
Li > K > Ca > Na > Mg > Aℓ > Zn > Cr > Fe > Ni > Sn > Pb > H >Cu > Hg > Ag > Pt > Au
aumenta a reatividade
F > O > N > Cℓ > Br > I > S
* um membro de uma dessas filas, se for mais reativo, desloca outro elemento, membro da mesma família.
Um membro de uma fila nunca deslocará um membro da outra.

363
Exemplos: As reações de dupla troca só ocorrem quando obede-
cem pelo menos uma das seguintes condições: um dos
Zn + Cu(NO3)2 → Zn (NO3)2 + Cu
produtos (MA ou CD no caso acima), quando compara-
A reação acima ocorre porque o zinco (Zn) é mais reativo do aos reagentes, deve se apresentar como alguma das
que o cobre (Cu), deslocando o cobre. formas abaixo:
Cu + Zn (NO3)2 → Não reage § Ser mais volátil (produz gás);
A reação acima não ocorre porque o cobre (Cu) é menos § Menos ionizado ou dissociado, tornando-se mais fraco;
reativo que o zinco (Zn), não conseguindo deslocar o zinco.
§ Ser insolúvel (ou seja, há formação de um precipitado
C𝓵2 + 2Nal → 2 NaC𝓵 + I2 ao final da reação).
A reação acima ocorre porque o cloro (C𝓵) é mais reativo Exemplos:
que o iodo (I), deslocando o iodo.
2 NaCN + H2SO → Na2SO4 + 2 HCN
I2 + NaC𝓵 → Não reage
A reação acima ocorre porque forma um produto menos
A reação acima não ocorre porque o iodo (I) é menos rea- ionizado (HCN é ácido fraco) em relação a um dos reagen-
tivo que o cloro (C𝓵), não conseguindo deslocar o cloro. tes (H2SO4 é ácido forte).
§ Reação de dupla troca (ou metátese): duas subs- NaHCO3 + HC𝓵 → NaC𝓵 + H2O + CO2
tâncias compostas reagem originando outras duas
A reação acima ocorre porque um dos produtos formados
substâncias compostas.
é um gás (nesse caso, CO2).
Genericamente: MD + CA → MA + CD
Pb(NO3)2 + 2 KC𝓵 → 2KNO3 + PbI2
A reação acima ocorre porque um dos produtos formados
é insolúvel (nesse caso, PbI2).
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

364
U.T.I. - Sala 3. (UNICAMP) O tratamento da água é fruto do desen-
volvimento científico que se traduz em aplicação tec-
nológica relativamente simples. Um dos processos mais
1. (UNESP) O monóxido de carbono é um dos poluen- comuns para o tratamento químico da água utiliza cal
tes gasosos gerados pelo funcionamento de motores a virgem (óxido de cálcio) e sulfato de alumínio. Os íons
gasolina. Segundo relatório recente da Cetesb sobre a alumínio, em presença de íons hidroxila, formam o hi-
qualidade do ar no Estado de São Paulo, nos últimos dróxido de alumínio, que é pouquíssimo solúvel em
vinte anos houve uma redução no nível de emissão des- água. Ao hidróxido de alumínio formado adere a maio-
te gás de 33,0 g para 0,34 g por quilômetro rodado. Um ria das impurezas presentes. Com a ação da gravidade,
dos principais fatores que contribuiu para a diminuição ocorre a deposição dos sólidos. A água é então separa-
da poluição por monóxido de carbono foi a obrigatorie- da e encaminhada a uma outra fase de tratamento.
dade de produção de carros equipados com converso-
res catalíticos. Responda por que o monóxido de carbo- a) Que nome se dá ao processo de separação acima
no deve ser eliminado e explique quimicamente como descrito que faz uso da ação da gravidade?
atua o conversor catalítico nesse processo. b) Por que se usa cal virgem no processo de trata-
mento da água? Justifique usando equação(ões) quí-
2. (UEL) Dois eletrodos conectados a uma lâmpada fo- mica(s).
ram introduzidos em uma solução aquosa, a fim de que c) Em algumas estações de tratamento de água usa-
a luminosidade da lâmpada utilizada avaliasse a con- -se cloreto de ferro (III) em lugar de sulfato de alumí-
dutividade da solução. Desta forma, foram feitos dois nio. Escreva a fórmula e o nome do composto de ferro
experimentos, (A) e (B) conforme segue. formado nesse caso.
No experimento (A) uma solução de NH4OH 0,1 mol/L
foi adicionada a uma solução aquosa de HC𝓵 0,1 mol/L. 4. (FMJ 2020 - Adaptado) Um experimento para produ-
zir dióxido de carbono (CO2) e comprovar sua formação
No experimento (B) uma solução de NaOH 0,1 mol/L foi pode ser realizado da seguinte maneira:
adicionada a uma solução aquosa de HC𝓵 0,1 mol/L.
1a etapa: adicionar uma solução X a um funil de decan-
Ordem decrescente de condutividade iônica na solução: tação e gotejá-la sobre bicarbonato de sódio (NaHCO3).
H+ > OH- > NH​4+ ​  > Na+ Nesse processo observa-se a produção de CO2.
a) Com base no enunciado, associe os experimentos 2a etapa: por meio de uma mangueira acoplada a um ki-
(A) e (B) com as figuras I e II, a seguir, que represen- tassato, o CO2 produzido é borbulhado em uma solução
tam a variação contínua da luminosidade da lâmpada saturada de hidróxido de cálcio (Ca(OH)2), produzindo
ao longo do volume adicionado de solução. um precipitado de carbonato de cálcio (CaCO3), de acor-
do com a seguinte reação:
CO2 + Ca(OH)2 → CaCO3 + H2O
A figura mostra o equipamento utilizado na realização
desse experimento.

Funil de
decantação
Suporte de argola

Rolha com furo


CO2
Mangueira acoplada
Kitassato
Bicarbonato de Sódio
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

1ª etapa Água de cal

2ª etapa

(Adonis Coelho et al. Rev. Virtual Qui., 2014. Adaptado.)

Para a realização desse experimento, dispõe-se de


soluções aquosas de hidróxido de amônio (NH4OH), clo-
reto de sódio (NaCℓ) e ácido clorídrico (HCℓ).
Qual das soluções disponíveis pode ser utilizada para
a realização da 1a etapa do experimento? Qual o íon
responsável por reagir com o bicarbonato de sódio e
b) Explique o fenômeno observado nas figuras I e II e produzir a efervescência?
descreva suas respectivas equações químicas.

365
5. (UNICAMP) Ácido clorídrico comercial, vendido com b) A fórmula estrutural do ácido fosforoso. Indique,
o nome de ácido muriático, é muito empregado na lim- por meio de círculos, quais são os hidrogênios ion-
peza de pisos de pedra. Entretanto, ele não deve ser izáveis neste ácido.
usado em piso de mármore, devido à reação que ocorre
entre esse ácido e o carbonato de cálcio constituinte 6. (UFSCAR) A figura apresenta o esquema de um
do mármore. experimento.
a) Escreva a equação química que representa essa reação.
Na limpeza de uma casa, acidentalmente, caiu um pou-
co de ácido muriático sobre o piso de mármore. O dono
da casa agiu rapidamente. Absorveu o ácido com um
pano e, a seguir, espalhou sobre o local atingido um dos
seguintes "produtos" comumente encontrados numa
residência: vinagre, água, amoníaco ou sal de cozinha.
Dentre essas opções o dono escolheu a melhor.
b) Qual foi essa opção? Justifique sua resposta.

U.T.I. - E.O. O tubo A, contendo NaHCO3, é aquecido a seco e o gás


liberado é coletado em solução saturada de Ba(OH)2 no
tubo B. O gás produzido na decomposição do sal foi
1. (UDESC) A água pura e o ácido clorídrico puro são
péssimos condutores de corrente elétrica. Explique evidenciado ao reagir com a solução, produzindo um
como uma solução diluída de ácido clorídrico em água precipitado branco, o BaCO3. O gás do experimento é
pode ser boa condutora de corrente elétrica. o mesmo gás cuja concentração na atmosfera vem au-
mentando a cada dia, juntamente com outros gases, o
2. (UNESP) As moléculas de N2 e de CO2, presentes na que resulta num problema ambiental bastante sério.
atmosfera, apresentam momento dipolar resultante O compromisso de reduzir a emissão desses gases foi
igual a zero. Em contato com a água, cujas moléculas assumido em Kyoto, num encontro sobre mudanças
apresentam momento dipolar resultante diferente de climáticas. Para que este protocolo entrasse em vigor, era
zero (solvente polar), uma fração considerável do CO2 necessária a ratificação de países industrializados que
atmosférico passa para a fase aquosa, enquanto que representassem pelo menos 55% das emissões globais
o N2 permanece quase que totalmente na atmosfera. de 1990. O boicote americano, principal emissor, não
Desenhe a estrutura da molécula de CO2 e explique, uti-
permitia atingir esse índice de adesão. Para comemo-
lizando equações químicas, a passagem do CO2 para a
ração dos ambientalistas, o governo da Rússia aderiu ao
fase aquosa.
tratado em 05.11.2004, atingindo-se a adesão exigida, e
3. (UFRJ) A queima do enxofre presente na gasolina e no o protocolo entrou em vigor em fevereiro de 2005.
óleo diesel gera dois anidridos que, combinados com a a) Escreva as equações devidamente balanceadas das
água da chuva, formam seus ácidos correspondentes. reações ocorridas no experimento.
Escreva a fórmula desses ácidos e indique o ácido mais b) De que problema ambiental esta questão trata?
forte. Justifique sua indicação. Cite a principal fonte emissora desse gás no Planeta.

4. (UFLA) O H2S, também conhecido como gás sulfídrico 7. (UFV) Complete o quadro a seguir com as fórmulas e
e gás-do-ovo-podre, é produzido pela decomposição de nomes corretos, correspondentes.
matéria orgânica vegetal e animal. Na atmosfera, em
Fórmula do Nome do
contato com o oxigênio, o H2S transforma-se em dióxi- Cátion Ânion
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

composto composto
do de enxofre e água.
NH+4 Cℓ-
a) Escreva a equação que representa a reação com-
Cℓ- BaCℓ2
pleta e balanceada do gás sulfídrico com oxigênio.
b) O trióxido de enxofre reage com água (umidade do Ag +
Nitrato de prata
ar) e forma um dos ácidos responsáveis pelo fenôme- Fe3+
S2-

no da chuva ácida. Escreva a fórmula molecular e o Fe2+ OH-


nome desse ácido.
8. (UFV) Complete as equações das reações a seguir e
5. (UFU) Sabendo-se que uma solução aquosa de ácido preencha a tabela com os nomes e funções das substân-
fosforoso (H3PO3) é boa condutora de eletricidade, e
cias indicadas:
que o ácido fosforoso é classificado como um diácido,
pede-se: a) H3PO4 + Mg(OH)2 → _________+_________
a) As etapas do processo de ionização do ácido, indicando b) BaCℓ2 + Na2CO3 → __________+_________
as equações de suas etapas e a equação global. c) Na2O + H2O → _____________________

366
Substâncias Função Nome 12. (UNESP – Adaptada) Os corais, animais marinhos en-
contrados unicamente em mares tropicais, são dotados
H3PO4 de um esqueleto formado por carbonato de cálcio. O
Mg(OH)2 carbonato de cálcio é capaz de reagir com água e com o
gás carbônico nela dissolvido para formar o sal solúvel
BaCℓ2
bicarbonato de cálcio.
Na2CO3 Escreva a equação balanceada de dissolução do car-
Na2O bonato de cálcio, segundo a reação mencionada, indi-
cando o estado físico de cada reagente.
9. (UFV) Considere a reação de neutralização total entre
o ácido fosfórico e o hidróxido de cálcio. 13. (UNESP) Quando se adiciona uma solução aquosa de
carbonato de sódio a uma solução aquosa de mesma
a) Complete a equação da reação com as fórmulas
concentração, em mol/L, de cloreto de bário, forma-se
dos reagentes:
um precipitado branco. Adicionando-se ácido nítrico,
_________ + _________ → Ca3(PO4)2 + H2O ocorre a dissolução do precipitado.
b) Dê o nome do sal formado na reação: a) Escreva a equação química da reação de formação
____________________________________ do precipitado, identificando-o.
b) Escreva a equação química da reação de dissolução
c) Escreva a equação balanceada da reação represen- do precipitado.
tada no item a:
____________________________________ 14. (UNICAMP) Tem-se uma solução aquosa que pode
conter apenas os nitratos de alumínio, magnésio e zin-
d) O termo MASSA MOLECULAR é usado para substân- co. Essa solução foi submetida ao seguinte tratamento:
cias moleculares. Para substâncias iônicas como Ca3(PO4)2 I. Adicionou-se solução de NaOH em excesso. Formou-se
o nome mais apropriado é MASSA-FÓRMULA. um precipitado A, que foi separado por filtração.
Calcule a MASSA-FÓRMULA do Ca3(PO4)2. II. Ao filtrado do item I, adicionou-se HNO3 diluído até o
Dados: Ca = 40u; P = 31u; O = 16u meio ficar ácido. A seguir, juntou-se solução de NH4OH
____________________________________ em excesso, formando-se um precipitado B que foi sep-
e) Qual o tipo de ligação química existente na molécula arado por filtração. Restou uma solução C.
de água (H2O)? Com base nas informações acima e na tabela a seguir
____________________________________
NH4OH NaOH HNO3
10. (UFRJ) Reações de deslocamento ou simples troca são Cátion em em diluído em
aquelas em que uma substância simples de um elemento excesso excesso excesso
mais reativo desloca outro de uma substância composta.
Aℓ3+ precipita solúvel solúvel
Um exemplo de reação de deslocamento, em que o cál-
Mg 2+
precipita precipita solúvel
cio desloca o hidrogênio, é apresentado a seguir:
Zn2+
solúvel solúvel solúvel
Ca(s) + 2 HNO3(aq) → Ca(NO3)2(aq) + H2(g)

a) Qual o nome do sal formado nessa reação? a) Escreva a equação química da reação de precipi-
tação de A.
b) Por analogia, apresente a equação da reação em que
o alumínio desloca o hidrogênio do ácido clorídrico. b) Considerando a solução aquosa inicial, qual cátion
não se pode ter certeza que exista nela? Justifique.
11. (UNESP) Considere as seguintes experiências de
15. (UNESP) Três frascos sem rótulo contêm, separada-
laboratório:
mente, soluções aquosas de carbonato de potássio, clo-
I. Adição de uma solução aquosa de brometo de sódio
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

reto de potássio e sulfato de potássio.


a uma solução aquosa de nitrato de prata, ambas de
mesma concentração em mol/L. a) Indique como se pode distinguir o conteúdo de
cada frasco através de reações com soluções diluídas
II. Adição de uma solução aquosa de ácido sulfúrico a de ácido nítrico e cloreto de bário.
um pedaço de zinco metálico.
b) Justifique escrevendo as equações químicas bal-
III. Adição de um pedaço de sódio metálico à água. anceadas das reações envolvidas.
IV. Borbulhamento de cloreto de hidrogênio em água.
V. Adição de uma solução aquosa concentrada de clo-
reto de bário a uma solução aquosa, de igual concen-
tração em mol/L, de carbonato de sódio.
a) Escreva as equações químicas balanceadas corre-
spondentes às experiências nas quais há formação de
precipitado.
b) Escreva os nomes oficiais dos precipitados formados.

367
QUÍMICA

2
CIÊNCIAS DA
QUÍMICA 2
NATUREZA
e suas tecnologias

U.T.I.
FUNÇÕES ORGÂNICAS

Grupo
Função Nomenclatura Exemplo Nome
funcional
metanol
Álcool R – OH Prefixo + infixo + Sufixo OL CH3– OH
(álcool metílico)

OH
hidróxibenzeno
Fenol Ar – OH Hidróxi + HC ligado ao OH
(fenol comum)

Enol C = C – OH Prefixo + EN + Sufixo OL H2C = CH – OH etenol

O O ácido etanoico
Ácido carboxílico R– C Prefixo + Infixo + Sufixo OICO CH3– C
OH OH (ácido acético)

O O metanal
Aldeído R– C Prefixo + Infixo + Sufixo AL H –C
H H (formaldeído)

O O propanona
Cetona Prefixo + Infixo + Sufixo ONA
R–C–R H3C – C – CH3 (dimetilcetona/acetona)

Menor radical + óxi metóxietano


Éter R–O–R CH3– O – CH2– CH3
Maior radical + ano (eno/ino) (éter etil-metílico)

O Lado c/ carbonila + OATO de O


Éster R– C H3C – C etanoato de metila
O–R Radical ligado ao O + ILA O – CH3

O O
R– C H3C– C
Amida N –R Prefixo + Infixo + Sufixo AMIDA N–H etanamida
R H

R R CH3
N Radicais ligados ao N (ordem N
Amina benzil-metilamina
alfabética) + AMINA H
R

O Cloreto de Prefixo + Infixo O


Cloretos de ácido R–C H3C – C cloreto de etanoila
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

halogênio + Sufixo OILA Cℓ

Haletos
R–X Halogênio + HC ligado ao X CH3– CHI– CH2– CH3 2-iodobutano
Orgânicos

Nitrilas R – CN Prefixo + Infixo + Sufixo NITRILA CH3– CH2– CN propanonitrila

Nitrocompostos R – NO2 Nitro Prefixo + Infixo + Sufixo O CH3– CH2– CH2– NO2 1-nitropropano

Ácido + HC ligado ao
Ácidos sulfônicos R – SO3OH CH3– CH2– CH2– CH2 –SO3H ácido butanossulfônico
SO3H + Sulfônico

370
ISOMERIA

De função Exemplos:
De posição CH3 – CH – CH2 – CH2 – CH3 e CH3 – CH2 – CH – CH2 – CH3
Plana De cadeia | |
Metameria CH3 CH3
2-metil-pentano 3-metil-pentano
Isomeria Tautomeria

Geométrica
CH2 = CH – CH2 – CH3 e CH3 – CH = CH – CH3
Espacial
but-1-eno but-2-eno
Óptica

§ Metameria ou isomeria plana de compensação


Isomeria plana
Trata-se de um caso especial de isomeria de posição. Na me-
§ Isomeria de função tameria há uma diferença na posição de um heteroátomo.
Os isômeros pertencem a funções diferentes. Os exem- Exemplos:
plos mais comuns são entre:
CH3 – O – CH2 – CH2 – CH3 e CH3 – CH2 – O – CH2 – CH3
a) álcool × éter
metóxi-propano etóxi-etano
OH
§ Tautomeria ou isomeria dinâmica
H3C CH2 álcool
Trata-se de um caso particular de isomeria de função. Os
H3C O CH3 éter isômeros coexistem em equilíbrio dinâmico em solução
e diferem pela posição de um átomo de hidrogênio na
b) aldeído × cetona molécula.
O Exemplos:
O
H3C – C – CH3 H3C – CH2 – C a) cetona × enol (tautomeria ceto-enólica)
propanona propanal H ▶
H O HO
▶ ▶
c) ácido carboxílico × éster

H2C — C — CH3  H2C = C — CH3
O O propanona propan-1-en-2-ol
H3C – CH2 – C H3C – C
OH O – CH3 b) aldeído × enol (tautomeria aldo-enólica)
ácido propanoico etanoato de metila
H ▶
▶HO
O


§ Isomeria plana de cadeia H2C — C H
 2C = C
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

H H
etanal etenol
Os isômeros pertencem à mesma função, mas apresen-
tam diferentes tipos de cadeia, cadeias com classifica-
ções diferentes. Os mais comuns são: Isomeria espacial
a) normal × ramificada § Isomeria geométrica (cis-trans)
b) aberta (acíclica) × fechada (cíclica)
Isômeros geométricos ou cis-trans são moléculas que
c) homogênea × heterogênea
têm a mesma fórmula molecular, mesma fórmula estrutu-
§ Isomeria plana de posição ral plana, cujas estruturas espaciais, no entanto, diferem.
Os isômeros pertencem à mesma função, têm o mesmo As condições necessárias para ocorrer isomeria geomé-
tipo de cadeia, mas diferem pela posição de um radical trica (cis-trans) é ter dupla ligação entre dois átomos de
(grupo metil, etil etc.), de um grupo funcional ou de carbono com ligantes diferentes em cada um dos dois
uma insaturação. átomos de carbono que “cercam” a dupla ligação.

371
Moléculas com grupos de maior peso em lados opos- § substâncias opticamente inativas, que não des-
tos num plano traçado horizontalmente são chamados viam o plano de vibração da luz polarizada (é o caso
de trans, enquanto os grupos de maior peso do mesmo das misturas racêmicas, que é uma mistura em quan-
lado são chamados de cis. tidades iguais de dois enantiómeros de uma molécula
quiral, cuja atividade óptica não desvia o plano da luz
I II
H H H Cℓ polarizada nem para a esquerda levogiro, nem para a
C=C C=C direita dextrogiro); e
Cℓ Cℓ Cℓ H
Cis Trans § substâncias opticamente ativas, que desviam o
plano de vibração da luz polarizada, denominadas dex-
§ Isomeria óptica trogiras ou levogiras, se o desvio de tal plano for para a
É o caso de isomeria espacial, em que os isômeros direita ou para a esquerda, respectivamente.
apresentam mesma fórmula molecular, mesma fórmu-
Número de isômeros Número de
la estrutural plana, ou seja, são por ela indistinguíveis, opticamente ativos racêmicos
mas diferem pela atividade óptica.
2n 2n-1 = 2n / 2
§ Isomeria óptica em compostos com carbono
assimétrico (C*)
Carbono assimétrico ou quiral (C*) é o que se liga a
quatro ligantes diferentes entre si. Esses ligantes po-
dem ser átomos, grupos (radicais metil, etil etc.) ou
grupos funcionais.

NH2 H2N
O O
H3C — C* — C C — C* — CH3
OH HO
H H
ESPELHO

As substâncias atravessadas pela luz polarizada podem


ser classificadas em dois grupos:
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

372
U.T.I. - Sala
1. (UNESP) Considere os quatro compostos representados por suas fórmulas estruturais a seguir.

a) Dê o nome da função orgânica comum a todas as substâncias representadas e indique qual dessas substâncias é classificada
como aromática.
b) Indique a substância que apresenta carbono quiral e a que apresenta menor solubilidade em água.

2. (UNIFESP) Alimentos funcionais são alimentos que, além de suprir as necessidades diárias de carboidratos, proteínas,
vitaminas, lipídios e minerais, contêm substâncias que ajudam a prevenir doenças e a melhorar o metabolismo e o
sistema imunológico.
O quadro a seguir apresenta dois compostos funcionais investigados pela ciência.

Alimentos Componentes Ativos Propriedades

ação antioxidante,
sálvia, uva, soja, maçã antisséptica e vaso
constritora

U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

sardinha, salmão, redução do colesterol e


atum, truta ação anti-inflamatória

a) Em relação à molécula de tanino, qual é o grupo funcional que une os anéis aromáticos ao anel não aromático e qual é o
grupo funcional que confere características ácidas a esse composto?
b) Escreva a equação química da reação entre o ácido alfa-linolênico e o metanol.

373
3. (Enem PPL) Em algumas regiões brasileiras, é co-
mum se encontrar um animal com odor característico, U.T.I. - E.O.
o zorrilho. Esse odor serve para proteção desse animal,
afastando seus predadores. Um dos feromônios re- 1. (UFPR) Armadilhas contendo um adsorvente com pe-
sponsáveis por esse odor é uma substância que apre- quenas quantidades de feromônio sintético são utiliza-
senta isomeria trans e um grupo tiol ligado à sua cadeia. das para controle de população de pragas. O inseto é
A estrutura desse feromônio, que ajuda na proteção do atraído de grandes distâncias e fica preso no artefato
zorrilho, é por meio de um adesivo. O verme invasor do milho eu-
ropeu utiliza o acetato de cis-11-tetradecenila (figura)
a) como feromônio de atração sexual. Isômeros de posi-
ção e geométrico desse composto têm pouco ou ne-
nhum efeito de atração.

b)

Responda:
c) a) A que função orgânica pertence o composto
orgânico?
b) Forneça o nome oficial pela norma IUPAC do isô-
mero geométrico do feromônio da figura.
d) 2. (UNESP) As fórmulas apresentadas a seguir, numera-
das de 1 a 6, correspondem a substâncias de mesma
fórmula molecular.

e)

4. (UERJ) Em um experimento, foi analisado o efeito do


número de átomos de carbono sobre a solubilidade de
alcoóis em água, bem como sobre a quiralidade das
moléculas desses alcoóis.
Todas as moléculas de álcoois testadas tinham número
Determine a fórmula molecular dessas substâncias e es-
de átomos de carbono variando de 2 a 5 e cadeias car-
creva a fórmula estrutural completa do álcool primário
bônicas abertas e não ramificadas.
que apresenta carbono assimétrico (quiral).
Dentre os alcoóis utilizados contendo um centro quiral,
aquele de maior solubilidade em água possui fórmula 3. (UFSC) “[...] Era o carro do Fábio que tinha acabado o
estrutural correspondente a: freio. Mandei que ele apertasse o pedal e vi que ia até o
fundo. Percebi que era falta de fluido. [...] Perguntei ao
a)
Luis se ele tinha fluido de freio e ele disse que não ti-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

nha. E ninguém tinha. Então falei com o Antonino que o


jeito era tirar um pouco de cada carro, colocar naquele
b) e ir assim até chegar numa cidade”.
FRANÇA JÚNIOR, Oswaldo. Jorge, um brasileiro. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. p. 155-156.

c)
O fluido para freios, ou óleo de freio, é responsável por
transmitir às pastilhas e lonas do sistema de freios a
força exercida sobre o pedal do automóvel quando se
d) deseja frear. Em sua composição básica há glicois e ini-
bidores de corrosão.
Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/consumidor
/produtos/fluidos.asp> [Adaptado].
Acesso em: 26 out. 2011.

374
Considere as informações acima e os dados da tabela
abaixo, obtidos sob pressão de 1 atm e temperatura
de 20 °C:

Nome IUPAC Ponto de ebulição (°C)


I. Etan-1,2-diol 197
II. Propan-1,2-diol 187
III. Propan-1,3-diol 215
Com base no texto acima e na estrutura do enalapril,
Escreva: responda:

a) o nome da função orgânica presente nos compos- a) Quais as quatro funções químicas oxigenadas e ni-
tos apresentados na tabela. trogenadas presentes na estrutura do enalapril?
b) a fórmula estrutural de cada um dos compostos, b) Quantos átomos de carbono assimétrico (quiral) ex-
conforme a ordem da tabela I, II e III. istem nessa estrutura? Utilize um asterisco (*) para desta-
car esse(s) átomo(s) de carbono na estrutura do enalapril.
c) o nome da força intermolecular responsável pelo eleva-
c) Qual a hibridação dos átomos de carbono do enal-
do valor do ponto de ebulição dos compostos citados.
april indicados pelos algarismos de 1 a 4 na estrutura
4. (UEG) As aminas pertencem a uma classe de moléculas apresentada?
orgânicas que, em muitos casos, encontra grande aplica- 7. (UDESC) O desenvolvimento das técnicas de síntese,
ção biológica. Abaixo, são apresentados exemplos dessas em química orgânica, proporcionou a descoberta de mui-
substâncias que rotineiramente são encontradas nos la- tas drogas com atividades terapêuticas. A estrutura a se-
boratórios de química. guir representa as moléculas do antibiótico tetraciclina.
H3C CH3
H3C OH N
OH

NH2
Após a análise dessas estruturas químicas, forneça
OH
a) o nome oficial (IUPAC) das duas moléculas;
O OH O O
b) uma explicação para a diferença dos pontos de
ebulição desses compostos. a) Transcreva a estrutura apresentada e circule as fun-
ções orgânicas, identificando-as.
5. (UDESC) O ácido acetilsalicílico é empregado como b) Indique o(s) anel(éis) aromático(s) presente(s) no
princípio ativo em diversos medicamentos. Estes medi- composto.
camentos são consumidos pela população mundial para c) Qual a hibridização do carbono pertencente à
aliviar dores de cabeça, reumatismo e controlar a febre. O função amida?
mais conhecido deste medicamento é a Aspirina. Na rea-
ção abaixo está descrita a síntese do ácido acetilsalicílico. 8. (UEMA) A canela (Cinnamonum zeylanicum) é uma
especiaria muito utilizada em pratos típicos do período
junino, tais como a canjica e o mingau de milho, por ter
um sabor picante e adocicado e aroma peculiar. Essas
características organolépticas são provenientes do al-
deído cinâmico (3-fenil propenal) que apresenta duas
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

estruturas distintas em razão de sua isomeria geométri-


ca, uma cis e a outra trans.
Em relação ao contexto, responda: A partir da nomenclatura oficial desse aldeído, desenhe
a) Quais são as funções orgânicas presentes no ácido as duas estruturas isoméricas. A seguir, identifique as
acetilsalicílico? estruturas cis e trans, respectivamente. Justifique sua
b) Qual é a fórmula molecular do ácido salicílico? resposta.
c) A qual função orgânica pertence o composto nú- 9. (UERJ) A adrenalina é um hormônio neurotransmissor
mero 1, da reação acima? produzido pelo organismo sob determinadas condições.
Observe sua fórmula estrutural:
6. (UFJF) Enalapril é um profármaco utilizado no trata-
mento da hipertensão e também nos casos de insufi-
ciência cardíaca. Depois de administrado, o enalapril é
absorvido e sofre uma hidrólise ácida, transformando-
-se em enalaprilato, que é a forma ativa.

375
Indique o número de isômeros opticamente ativos da a) Escreva o nome sistemático (IUPAC) dessa substância.
adrenalina e indique seus grupos funcionais. b) Calcule o número de estereoisômeros possíveis
para essa substância.
10. (UERJ) O cravo-da-índia e a noz-moscada são condi-
c) Escreva a função química a que pertence essa sub-
mentos muito utilizados na culinária, e seus principais con-
stância.
stituintes são, respectivamente, o eugenol e o isoeugenol.
Observe suas fórmulas estruturais: 14. (PUC-RJ) Considere o composto orgânico a seguir,
representado de duas formas:
O O
ou H3C – CH2 – C
H H

Aponte o tipo de isomeria plana que ocorre entre essas Sobre ele, responda:
duas moléculas e nomeie aquela que apresenta isomeria a) Esse composto pertence a que função?
espacial geométrica. b) Faça a representação estrutural, em bastão do
Em seguida, indique o número total de carbonos as- isômero de função, que apresenta cadeia carbônica
simétricos, quando retira-se a dúpla da cadeia alifática alifática e saturada.
e adiciona-se bromo em cada um dos carbonos.
15. (UFTM) A substância conhecida como fenolftaleí-
11. (UDESC) As moléculas orgânicas (I), (II), (III) e (IV) na foi, por muitos anos, utilizada amplamente como
abaixo, possuem importantes funções fisiológicas e far- princípio ativo de laxantes. Atualmente, seu principal
macológicas para os animais. uso é como indicador ácido-base. A seguir, são apresen-
tadas a fórmula estrutural da fenolftaleína e algumas
informações sobre sua solubilidade.

solubilidade em água: 0,092 g/L a 20 °C


a) Indique (se houver) o heteroátomo em cada molécula. solubilidade em etanol: 14 g/L a 20 °C
b) Quais funções orgânicas estão presentes em cada a) Indique, na fórmula estrutural, os nomes e os
molécula? agrupamentos característicos das funções orgânicas
12. (UEL) No dia 31 de janeiro de 2012, quatro pessoas presentes na fenolftaleína.
morreram e dezesseis foram hospitalizadas com intoxica- b) Com base em interações moleculares, explique o
ção após a liberação de uma massa de gás ácida em um fato de a solubilidade da fenolftaleína em etanol ser
acidente ocorrido num curtume em Bataguassu (MS). Em maior do que em água, à mesma temperatura.
nota, o Corpo de Bombeiros em Mato Grosso do Sul, infor-
mou que o acidente aconteceu durante o descarregamen-
to de 10 mil litros de ácido dicloro-propiônico em um dos
três tanques instalados no curtume. O ácido dicloro-pro-
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

piônico ou dicloro-propanoico tem ação desinfetante e é


usado no tratamento do couro e na retirada de excessos
e gorduras. Esse ácido, em contato com ar ou água, pode
formar o ácido clorídrico, que causa irritação e intoxicação.
a) Escreva a fórmula estrutural do ácido propanoico
(propiônico) e dos possíveis isômeros do seu derivado
dicloro-propanoico.
b) Um desses isômeros pode apresentar atividade óptica.
Desenhe sua estrutura e destaque o carbono assimétrico.
13. (UFES) A substância abaixo é o componente princi-
pal do feromônio sexual e de agregação de uma espé-
cie de besouro do gênero Gnathotricus.

OH

376
QUÍMICA

2
CIÊNCIAS DA
QUÍMICA 3
NATUREZA
e suas tecnologias

U.T.I.
SOLUBILIDADE

Curvas de solubilidade § Soluções saturadas – massa (soluto dissolvida) = Cs

Curvas de solubilidade são gráficos que indicam a va- § Soluções supersaturadas – massa (soluto dissolvi-
riação dos coeficientes de solubilidade das substâncias em da) > Cs
função da temperatura.
CS

A x

T' T

Na temperatura T' temos soluções:


B (estável): saturada
Observe: a solubilidade da maioria das substâncias au-
C (estável): insaturada
menta com a elevação da temperatura. São substâncias
com uma dissolução endotérmica, que ocorrem com ab- A (instável): supersaturada
sorção de calor.
Para o Ce2(SO4)3, a solubilidade diminui com o aumento da Solubilidade de gases em líquidos
temperatura; portanto, trata-se de uma dissolução exotér-
mica, que ocorre com liberação de calor. Lei de Henry
Coeficiente de solubilidade (Cs) A solubilidade (S) de um gás num líquido é diretamente
ou solubilidade (S) proporcional à pressão (P) que o gás exerce sobre esse
Em determinadas condições de temperatura e pressão, coe- líquido.
ficiente de solubilidade ou solubilidade é a medida da capa-
cidade de um soluto de se dissolver numa quantidade pa- Essa lei é válida desde que não haja reação química entre
drão de um solvente. Em outras palavras, sob determinadas o gás (soluto) e o líquido (solvente).
temperatura e pressão, é a máxima quantidade de soluto
A expressão matemática dessa lei é:
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

que pode ser dissolvida numa quantidade fixa de solvente.


A 20 °C, por exemplo, a quantidade máxima de sal de S=k·P
cozinha (cloreto de sódio, NaCø) que se dissolve em
100 gramas de água são 36 g. Portanto, o coeficiente de Da qual, k é uma constante de proporcionalidade que de-
36 g NaCø
___________ pende da temperatura e do gás considerado: ao abrir uma
solubilidade do NaCø a 20 °C é igual a   
​    ​. garrafa de refrigerante, a pressão sobre a solução diminui.
100 g de água
Diminuída a solubilidade, as bolhas de gás carbônico tor-
Classificação das soluções nam-se visíveis e escapam do líquido.
sob saturação A solubilidade de um gás num líquido diminui com o au-
Tomamdo-se como base o Cs as soluções podem ser: mento de temperatura. É por isso que, se aquecido, o gás de
um copo de refrigerante será expulso da solução.
§ Soluções insaturadas ou não saturadas – massa
(soluto dissolvida) < Cs.

378
CONCENTRAÇÕES, DILUIÇÃO E MISTURAS

Concentrações Título (τ) e porcentagem em


massa (%m) e em volume (%V)
Concentração comum (c) Uma forma de concentração que utiliza apenas massas na
sua definição, ou seja, que não depende da temperatura é
​ m ​ 
C = __ o título ou porcentagem em massa.
V
Relaciona a massa do soluto presente numa dada massa
C – concentração em grama por litro (g/L)
de solução.
m – massa de soluto em gramas (g) m
τ = ___
​ m1 ​ 
V – volume da solução em litros (L)
Da qual:

Concentração molar (M) ou m1 – massa do soluto, em gramas, quilogramas etc.

em quantidade de matéria m – massa da solução, em gramas, quilogramas etc.

M = __​ n  ​ Observe que o título sempre será um número adimensional


V (sem unidades) com valores dentro do intervalo 0 < t < 1,0
ou
​  m  ​  
M = _____ O título pode ser expresso em porcentagem, por isso pode
M .V ser chamado de porcentagem em massa do soluto.
m
M – concentração em mol por litro (mol/L) %m = ___​ m1 ​ ·100 = t·100
n – quantidade de mol (“número de mols”) de soluto (mol) Com os valores dentro da faixa:
V – volume da solução em litros (L)
0 % < %m < 100%
m – massa de soluto em gramas (g)
M – massa molar do soluto em gramas por mol (g/mol) Relações entre as unidades
de concentração
Relação entre concentração comum
e concentração em mol por litro C = M . M = 1000 . d . t

C=M·M Da qual:
C – concentração comum (g/L)
C – concentração em grama por litro (g/L)
M – massa molar do soluto (g/mol)
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

M – massa molar do soluto em grama por mol (g/mol)


M – concentração em mol/L
M – concentração em mol por litro (mol/L)
d – densidade (g/mL) ou (g/cm3)

Densidade τ – título ou porcentagem em massa (%)

​ m ​ 
d = __
V Partes por milhão (ppm)
Da qual: As partes por milhão são usadas para soluções extrema-
d – densidade da solução, em g/cm3 (g·cm–3) ou em mente diluídas, que apresentam uma quantidade muito
g/mL (g · mL–1) pequena de soluto dissolvida em uma quantidade muito
m – massa da solução (soluto + solvente) em grama (g) grande de solvente (ou de solução).
V – volume da solução (soluto + solvente) em centímetros É a quantidade em gramas de soluto por 10 gramas de
cúbicos (cm3) ou mililitros (mL) solução.

379
A qualidade do ar atmosférico, por exemplo, torna-se ina-
dequada se houver mais de 0,000015 g de monóxido de Termoquímica
carbono (CO) por grama de ar.
De forma simplificada: Processo exotérmico e
Unidade Unidade equivalente
endotérmico
ppm mg/L Todas as reações químicas e todas as mudanças de estado
ppb µg/L físico liberam ou absorvem calor.
§ Processos exotérmicos – liberam calor (todas as
Diluição combustões, as dissoluções em água da maioria dos
ácidos etc.).
Diluir uma solução consiste em adicionar uma quantidade
§ Processos endotérmicos – absorvem calor (síntese
de solvente puro a uma solução pré-existente. Isso altera
do monóxido de nitrogênio, decomposição do carbona-
apenas a quantidade do solvente, sem mudança na quan-
to de cálcio etc.).
tidade de soluto.
Ci ∙ Vi = Cf ∙ Vf
Variação de entalpia (ΔH)
De forma análoga:
O ΔH corresponde ao calor liberado ou absorvido durante
Mi ∙ Vi = Mf ∙ Vf o processo, à pressão constante. O cálculo da variação da
entalpia é dado pela expressão genérica:
di ∙ ti ∙ Vi = df ∙ t f ∙ Vf
ΔH = Hfinal – Hinicial

Mistura de soluções ΔH em reações exotérmicas


com mesmo soluto
Nas reações exotérmicas, como ocorre na liberação de ca-
Cf ∙ Vf = CA ∙ VA + CB ∙ VB lor, a entalpia dos produtos (HP) é menor do que a entalpia
concentração comum (g/L) dos reagentes (HR). Com isso, conclui-se que:

Mf ∙ Vf = MA ∙ VA + MB ∙ VB ΔH < 0
concentração molar (mol/L)
ΔH em reações endotérmicas
df ∙ tf ∙ Vf = dA ∙ tA ∙ VA + dB ∙ tB ∙ VB
Nas reações endotérmicas, como ocorre na absorção de
título em massa
calor, a entalpia dos produtos (HP) é maior do que a ental-
pia dos reagentes (HR).
Misturas de soluções ΔH > 0
(reação química)
Neste caso, os exercícios são resolvidos como na estequio-
Equação termoquímica
metria. § Reações endotérmicas (ΔH > 0)
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

§ Primeiro passo – montar a equação compreendida reagentes + calor → produtos


na mistura, balanceá-la e relacionar os coeficientes Exemplo:
com quantidades em mols de reagentes e produtos. 1
H2O(ℓ) + 286 kJ → H2(g) + _ O2(g)
§ Segundo passo – determinar a quantidade em mols 2
de cada soluto nas soluções que vão ser misturadas. § Reações exotérmicas (ΔH < 0)
reagentes → produtos + calor
§ Terceiro passo – verificar se a quantidade de cada
reagente (em mols) está na proporção indicada pela Exemplo:
equação do problema.
C(s) + O2(g) → CO2(g) + 394 kJ
Considerar sempre um possível agente limitante na reação.

380
Reação exotérmica
Energia de ligação
A energia de ligação A – B é aquela absorvida na ruptura
de 1 mol dessas ligações no estado gasoso.
Exemplo
H2 (g) → 2H(g) → H – H
energia de ligação H – H = +437 kJ

Reação endotérmica
Cálculo do DH
A energia de ligação pode ser determinada experimen-
talmente. Nesta tabela, estão relacionadas as energias de
algumas ligações.
Energias de ligação (kcal/mol) medidas a 25 ºC
N—N 39 C—O 85,5

N=N 100 C = O (no CO2) 192,0

Fatores que influem nas entalpias N;N 225,8 C—S 65

(ou calores) das reações C—C 82,6 C=S 128

C=C 145,8 N—H 93,4


1. Quantidade de reagentes e de produtos
C;C 199,6 P—H 76
A quantidade de calor de um processo (∆H) é direta-
mente proporcional à quantidade de matéria (mols) de C—N 72,8 C—H 98,8
seus participantes. C=N 147 O—H 110,6

C;N 212,6 S—H 83


2. Estado físico dos reagentes
Por convenção, a entalpia padrão de substancias sim-
Conhecendo os valores das energias de ligação presentes
ples – formadas por um único elemento químico – no
nos reagentes e nos produtos de uma reação, pode-se cal-
estado físico mais estável é zero (N2, H2, Fe, Mg etc.).
cular o DH dessa reação:
3. Forma alotrópica DH = (energia absorvida na quebra das li-
Se o elemento formar alótropos – substâncias simples gações presentes nos reagentes)
diferentes –, a forma mais estável – menos energética – +
tem entalpia zero (O2 e O3, Cgrafite e Cdiamante etc.). (energia liberada na formação das liga-
ções presentes nos produtos)

Exemplo
CH4(g) + 3Cℓ2(g) → HCCℓ3(g) + 3HCℓ  DH = ?
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

H Cℓ
| Cℓ — Cℓ |
H—C—H + Cℓ — Cℓ → H — C — Cℓ + 3 H — Cℓ
| Cℓ — Cℓ |
H Cℓ
Dados:
Ligação Energia (kJ)
C—H 413,4

C — Cℓ 327,2

Cℓ — Cℓ 242,6

H — Cℓ 431,8

381
Energia absorvida nas quebras de ligações:

4 (C — H) = 4 (413,4) = 1.653,6 kJ
3 (Cℓ — Cℓ) = 3 (242,6) = 727,8 kJ
energia total absorvida = 2.381,4 kJ

Energia liberada nas formações das ligações:

1C — H = 1 (413,4) = 413,4 kJ
3C — Cℓ = 3 (327,2) = 981,6 kJ
3H — Cℓ = 3 (431,8) = 1.295,4 kJ
energia total liberada = 2.690,6 kJ

Uma vez que a energia liberada é maior que a absorvida, a


reação será exotérmica e seu valor absoluto:
2.381,4 – 2.690,6 = –309,2 kJ
reagente produto

Portanto:

CH4(g) + 3Cℓ2(g) → HCCℓ3(g) + 3HCℓ DH = –309,2 kJ


U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

382
U.T.I. - Sala 3. (SANTA CASA) A hidroponia consiste no cultivo de
vegetais sem solo, ou seja, as raízes das plantas ficam
mergulhadas em uma solução nutritiva que contém os
1. (FAMEMA 2020) O iodo (I2) pode ser obtido a partir
sais minerais necessários para seu desenvolvimento.
de iodatos encontrados em depósitos de nitratos. Após
Como o controle individual da concentração de cada
realizar a separação dos nitratos e iodatos, submete-se
um dos sais minerais é muito trabalhoso e, muitas ve-
o iodato (IO3–) a um processo de oxirredução, conforme
zes, financeiramente inviável, realiza-se um controle
a equação a seguir:
dessa concentração por meio da medida da conduti-
vidade elétrica da solução nutritiva. A tabela a seguir
IO3–(aq + 5 I(aq)

+ 6 H+(aq) → 3 I2(s) + 3 H2O(ℓ)
apresenta a concentração de alguns sais minerais exis-
A solubilidade do iodo em água varia com a temperatu- tentes em uma solução nutritiva para hidroponia.
ra, conforme a tabela a seguir.
Substância Concentração (mg/L)
Volume de água necessário
Temperatura Ca(NO3)2 738
para dissolver 1 g de I2
KNO3 505
20 °C 3.450 mL
a) Qual a relação entre a condutividade elétrica e a con-
50 °C 1.250 mL centração de sais na solução? Se a condutividade elé-
Ao ser adicionado a solventes orgânicos, o iodo forma trica estiver alta, qual componente da solução deve ser
soluções de coloração marrom em solventes oxigena- adicionado?
dos e soluções de coloração violeta em solventes não b) Qual cátion apresenta maior concentração, em mol/L,
oxigenados. na solução nutritiva?
Dado: I = 127
4. (UERJ) Considere os seguintes valores das ental-
a) Indique a cor de uma solução preparada pela adição pias-padrão da síntese do HCℓ, a partir dos mesmos
de iodo em etanol. Classifique a dissolução do iodo em regentes no estado gasoso.
água em relação ao calor envolvido.
b) Considere que todo o IO3– dissolvido em 1 L de so- HCℓ(g): ∆H0 = 92,5 kJ∙mol-1
lução aquosa 0,1 mol/L desse íon, à temperatura de
HCℓ(ℓ): ∆H0 = – 108,7 kJ∙mol-1
50 ºC seja convertido em I2. Calcule a massa de iodo
que precipitará. Calcule a entalpia-padrão, em kJ∙mol-1 de vaporização
do HCℓ, e nomeie duas mudanças de estado físico dessa
2. (UFJF-PISM) É comum a adição de metabissulfito
substância que sejam exotérmicas.
de sódio (Na2S2O5) como substância conservante em
vinhos. Essa prática é amparada pela legislação e
5. (UFG) A variação de entalpia (∆H) é uma grandeza
tem procedimentos regulamentados. Um dos pro-
relacionada à variação de energia que depende apenas
blemas com esse procedimento é que a decompo-
dos estados inicial e final de uma reação. Analise as se-
sição desse conservante gera SO2, que pode causar
guintes equações químicas:
reações adversas nos consumidores. Responda aos
itens abaixo. I. C3H8(g) + 5O2(g) → 3CO2(g) + 4H2O(ℓ) ∆H0 = - 2 220 kJ
a) Escreva a equação química balanceada para decom-
posição térmica do metabissulfito de sódio em sulfito II. C(grafite) + O2(g) → CO2(g) ∆H0 = – 394 kJ
de sódio e dióxido de enxofre. Dado: íon sulfito = SO3​2- III. H2(g) + 1/2 O2(g) → H2O(ℓ) ∆H0 = – 286 kJ
b) Uma maneira de se determinar a concentração de
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

dióxido de enxofre em vinhos é através da reação Ante o exposto, determine a equação global de formação
com iodo em meio aquoso, que gera ácido iodídrico e do gás propano e calcule o valor da variação de entalpia
ácido sulfúrico. Escreva a equação química balancea- do processo.
da que representa a reação entre SO2 e I2 em água.

U.T.I. - E.O.
c) A concentração máxima permitida para o SO2 em
vinhos é de 260 ppm. Se para reagir completamente
com 5 mL de uma amostra de vinho forem utilizados
13,5 mL de uma solução 0,001 mol·L-1 de iodo, cal- 1. (UFRN) A solubilidade do NaCℓ aumenta com a tem-
cule a concentração de SO2 no vinho. Esse vinho tem peratura. Sabe-se que, a 0°C, 60 g do sal formam, com
concentração de SO2 dentro do limite imposto pela água, 260 g de solução saturada. Aquecendo-se a solu-
legislação? Justifique a sua resposta. ção a 80°C, a saturação só será mantida se forem acres-
centados 20 g do sal.
A partir desses dados,
a) escreva a equação química de dissolução do NaCℓ

383
b) construa (no gráfico a seguir) a curva de solubili- 5. (UERJ) A equação química abaixo representa a reação
dade do sal. da produção industrial de gás hidrogênio.

H2O(g) + C(s) → CO(g) + H2(g)

Na determinação da variação de entalpia dessa reação


química, são consideradas as seguintes equações ter-
moquímicas, a 25ºC e 1 atm:

H2(g) + __1
​   ​  O → H2O(g) ∆H0 = –242,0 kJ
2 2(g)
C(s) + O2(g) → CO2(g) ∆H0 = – 393,5 kJ
O2(g) + 2 CO(g) → 2 CO2(g) ∆H0 = – 477,0 kJ

Calcule a energia, em quilojoules, necessária para a pro-


2. (UFPR) Antes de consumir frutas com casca e tam- dução de 1 kg de gás hidrogênio.
bém verduras e hortaliças cruas, é recomendada a hi-
gienização desses alimentos deixando-os de molho em
soluções à base de cloro ativo, ou água sanitária. Para 6. (UFPR) “Concentração de CO2 na atmosfera pode ul-
a solução de molho, a proporção recomendada pelo trapassar 400 ppm em maio.
Ministério da Saúde é de uma colher de sopa de água
A concentração de dióxido de carbono (CO2) na at-
sanitária para 1 litro de água. O teor de cloro ativo pre-
sente na água sanitária especifica a porcentagem de mosfera poderá ficar acima das 400 partes por milhão
hipoclorito de sódio e o seu valor típico é 2,0%. (ppm) em boa parte do Hemisfério Norte já em maio
deste ano. Será a primeira vez em mais de três milhões
Dados:
de anos que a barreira dos 400 ppm será ultrapassada.”
Massas molares(g mol-1) Cℓ: 35,5; Na: 23; 0:16;
1 colher de sopa equivale a 10 mL (Disponível em <http://www.institutocarbonobrasil.org.br/
densidade da água sanitária = 1 g mL-1 noticias2/noticia=733827>. Acesso em abr. 2013)

a) Qual característica química do “cloro ativo” é re- Dados:


sponsável pela higienização? Pressão atmosférica = 1 atm.
b) Qual o valor da concentração (em mol ∙ L­-1) de hipo- Massa molar (g∙mol-1): C=12, O=16.
clorito de sódio na solução recomendada pelo Ministério Massa molar média do ar = 29.
da Saúde para higienização? Volume molar = 24 L∙mol-1

3. (UFES) A embalagem do "sal light", um sal de cozinha O dado fornecido de concentração se refere a partes
comercial com reduzido teor de sódio, traz a seguinte in- por milhão de volume seco (ppmv).
formação: "Cada 100 gramas do sal contém 20 gramas
de sódio". Determine: a) A concentração considerada normal de CO2 é 380 ppm.
Calcule o acréscimo na pressão parcial de CO2 (em atm)
a) a porcentagem (em massa) de C nesse sal; ao atingir 400 ppm.
b) a quantidade de íons sódio existentes em 10,0 b) Caso a concentração fornecida de 400 ppm fosse
gramas desse sal;
em parte por milhão em massa, calcule qual seria o
c) a concentração de NaCℓ (em mol/L) em uma solução
valor de concentração de CO2 em mol por litro.
preparada pela dissolução de 10,0 gramas desse sal
em 25,0 gramas de água, sabendo que a densidade da
7. (UFG) Analise a tabela a seguir, a qual apresenta as
solução resultante foi de 1,12 g/cm-3;
massas de algumas substâncias comumente encontra-
4. (PUC-RJ) O mercúrio tem número atômico igual a 80 das a cada 100 mL de água mineral.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

e é o único metal líquido na temperatura ambiente.


O mercúrio pode ser produzido a partir da decom- Substâncias Massas
posição do seu óxido HgO, que tem massa molar igual a
216,6 g·mol-1. A decomposição de uma quantidade de Nitrato 5 mg
HgO liberou 40 kJ de energia. Considerando o mercúrio Sulfato 10 mg
e a reação de decomposição de seu óxido indicada
abaixo, faça o que se pede. Carbonato 15 mg
HgO(s) → Hg(ℓ) + 1/2 O2(g) ∆H = –200 kJ Bicarbonato 30 mg
Dado: R = 0,082 atm L·mol-1·k-1
A partir das informações apresentadas,
a) Calcule a massa de HgO que se decompôs.
a) calcule as concentrações, em mol∙L-1, de bicarbon-
b) Calcule o volume que O2(g) produzido ocupa a 1 atm
e 25 ºC. ato e de nitrato na água mineral;
c) Indique o número de nêutrons do isótopo 200 Hg b) escreva as fórmulas iônicas para os íons carbonato
d) Calcule a percentagem em massa de Hg no HgO. e sulfato.

384
8. (UNIFESP) Soluções aquosas de nitrato de prata do veículo, pois o princípio de funcionamento dos
(AgNO3), com concentração máxima de 1,7% em massa, bafômetros fundamenta-se em reações químicas. Al-
são utilizadas como antisséptico em ambiente hospitalar. guns compostos cetônicos, frequentemente encontra-
A concentração de íons Ag+ presentes numa solução dos no ar exalado por diabéticos, por exemplo, podem
aquosa de AgNO3 pode ser determinada pela titulação ser interpretados como concentrações elevadas de ál-
com solução de concentração conhecida de tiocianato cool pelo bafômetro.
de potássio (KSCN), através da formação do sal pouco Considerando o texto acima e aspectos a ele relaciona-
solúvel tiocianato de prata (AgSCN). Na titulação de dos, julgue o item a seguir.
25,0 mL de uma solução de AgNO3, preparada para uso
hospitalar, foram utilizados 15,0 mL de uma solução de Se, no sangue de um indivíduo, a concentração de álcool
KSCN 0,2 mol∙L–1, para atingir o ponto final da reação. etílico (C2H6O) for igual a 1 ∙ 10-4 mol/L, isso significará
que essa concentração é maior que 0,05 mg/mL.
a) Determine, em mol∙L–1, a concentração da solução
preparada de AgNO3.
12. (PUC-RJ) Combustível é todo produto utilizado com
b) Mostre, através de cálculos de concentração, se a a finalidade de produzir energia a partir de sua queima
solução de AgNO3 preparada é adequada para uso ou combustão. O etanol (C2H5OH) é um combustível que,
hospitalar. Considere que a massa molar de AgNO3
quando injetado nas câmaras de combustão dos veícu-
seja igual a 170 g∙mol–1 e que a densidade da solução
aquosa seja igual a 1 g∙mL–1. los, reage com oxigênio e libera energia. A quantidade
de calor liberada pela combustão completa de 1 mol de
9. (PUC-RJ) O vinagre utilizado como tempero nas sala- etanol é 295 kcal.
das contém ácido acético, um ácido monoprótico muito a) Escreva a reação balanceada de combustão completa
fraco e de fórmula HC2H3O2. A completa neutralização do etanol (reação do etanol com o O2).
de uma amostra de 15,0 mL de vinagre (densidade igual b) Calcule a energia produzida, na forma de calor,
a 1,02 g/mL) necessitou de 40,0 mL de solução aquo- pela combustão de 1 kg de etanol.
sa de NaOH 0,220 mol/L. A partir dessas informações,
c) Calcule a massa de CO2 produzida pela combustão
pede-se:
completa de 46 g de etanol.
a) a porcentagem em massa de ácido acético no
vinagre; 13. (UNESP) A regeneração do ácido sulfúrico (H2SO4)
b) o volume de KOH 0,100 mol/L que contém quan- em geral não é economicamente vantajosa, mas é uma
tidade de íons OH− equivalente ao encontrado nos imposição das leis ambientais. Nessa regeneração, nor-
40,0 mL de solução aquosa de NaOH 0,220 mol/L. malmente se utiliza o ácido proveniente de sínteses
orgânicas, que está diluído e contaminado.
10. (UFJF) O chumbo e seus derivados têm muitas apli- (Mariana de Mattos V. M. Souza. Processos inorgânicos,
cações: baterias, tubulações, solda, cerâmica, protetor 2012. Adaptado.)
contra radiações (Raio X), entre outras. Entretanto, é
tóxico para o organismo, sendo preciso muito cuidado O processo de regeneração é feito em três etapas
com seu manuseio. principais:

a) Um dos compostos que pode ser usado para prepa- Etapa I


rar sais de chumbo é o óxido de chumbo. Usando as H2SO4(aq) → SO2(g) + H2O(g) + 1/2O2(g) ∆H = +202 kJ/mol
reações abaixo, encontre a variação de entalpia para
a formação do óxido de chumbo sólido, a partir do Etapa II
chumbo metálico e do oxigênio gasoso. SO2(g) + 1/2O2(g) → SO3(g) ∆H = –99 kJ/mol
Pb(s) + CO(g) → PbO(s) + C(s) ∆H = - 106,8 kJ
0
Etapa III
2 C(s) + O2(g) → 2 CO(g) ∆H0 = - 221,0 kJ SO3(g) + H2O(g) → H2SO4(ℓ) reação exotérmica
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

b) A reação de formação do PbO(s) é exotérmica ou en- a) Classifique as etapas I e II como endotérmica ou


dotérmica? Justifique sua resposta. exotérmica.
c) Se 310,5 g de chumbo metálico reagirem com b) Calcule a massa mínima de SO3(g) que deve reagir
oxigênio suficiente para formar óxido de chumbo, qual completamente com água para obtenção de 98 g de
a quantidade de calor (em kJ) envolvida no processo? H2SO4(ℓ) na etapa III.
Esse calor é absorvido ou liberado?
Dados: H = 1; S = 32; O = 16
11. (UNB) O novo Código de Trânsito Brasileiro faz re-
strições ao consumo de bebidas alcoólicas por con- 14. (UFJF) O hidrogênio cada vez mais tem ganhado
dutores de veículos. Se, no exame do bafômetro, o atenção na produção de energia. Recentemente, a em-
condutor de um veículo automotor for flagrado com presa britânica Intelligent Energy desenvolveu uma
quantidade superior a 0,1 mg de álcool por litro de tecnologia que pode fazer a bateria de um smartphone
ar expelido, ele fica sujeito a penalidades. Entretanto, durar até uma semana. Nesse protótipo ocorre a reação
o resultado apontado pelo bafômetro pode não cor- do oxigênio atmosférico com o hidrogênio armazenado
responder ao real estado de intoxicação do condutor produzindo água e energia.

385
a) Escreva a equação química da reação descrita acima e calcule a sua variação de entalpia a partir dos dados abaixo.
Ligação H–H H–O O=O
Energia de ligação
437 463 494
(kJ mol-1)
b) Um dos grandes problemas para o uso do gás hidrogênio como combustível é o seu armazenamento. Calcule o volume
ocupado por 20 g de hidrogênio nas CNTP
Dado: H = 1; V(molar) = 22,4 L
c) Atualmente, cerca de 96% do gás hidrogênio é obtido a partir de combustíveis fósseis, como descrito nas reações
abaixo.
Carvão: C(s) + H2O(ℓ) → CO(g) + H2(g)
Gás natural: CH4(g) + H2O(ℓ) → CO(g) + 3 H2(g)
Essa característica é considerada uma desvantagem para o uso do hidrogênio. Justifique essa afirmativa.

15. (FAMEMA 2019) A figura representa as etapas de produção de NaCℓ(s) a partir das substâncias Na(s) e Cℓ2(g).

4 Cℓ(g) + e– → Cℓ(g)

3 Na(g) → Na + e+
(g)

495,8 kJ/mol -348,6 kJ/mol

2 1/2 Cℓ2(g) → Cℓ(g) 122,0 kJ/mol


1 Na(s) → Na(g) 5 Na+(g) + Cℓ(g)

→ NaCℓ(s)
107,3 kJ/mol
-787,0 kJ/mol
Reação global:
Na(s) + 1/2 Cℓ2(g) → NaCℓ(s)
∆H = X

http://chemistryjee.blogspot.comAdaptado.)
(http://chemistryjee.blogspot.com. .Adaptado.)

a) Em qual das etapas representadas na figura uma substância simples passa por mudança de estado físico? Qual o nome
dessa mudança de estado?
b) Calcule o valor de X. Classifique a reação de produção de NaCℓ(s) com base na variação da energia envolvida no processo.

16. (FMJ 2022 - ADAPTADA) Na religião católica, habemus papam é a expressão, em latim, que anuncia à comunidade
a escolha de um novo papa. Esse anúncio é acompanhado da produção de uma fumaça branca que sai da chaminé da
Capela Sistina, no Vaticano, onde ocorre a votação para a escolha do papa. A fumaça branca é resultado da reação de
clorato de potássio com lactose ou sacarose, além de uma resina conhecida como colofônia ou breu. A reação entre o
clorato de potássio e a sacarose é representada pela equação a seguir.

8KCℓO3(s) + C12H22O11(s) → 8KCℓ(s) + 12CO2(g) + 11H2O(ℓ)

As equações termoquímicas de oxidação da sacarose e do cloreto de potássio estão, respectivamente, representadas


a seguir.
U.T.I. 2  CIÊNCIAS DA NATUREZA e suas tecnologias

C12H22O11(s) + 12O2(g) → 12CO2(g) + 11H2O(ℓ) ∆H = –5640 kJ


2KCℓ(s) + 3O2(g) → 2KCℓO3(s) ∆H = +92 kJ

Calcule a quantidade de calor liberada na reação completa de 0,2 mol de KCℓO3 com sacarose em quantidade sufi-
ciente.

386
MATEMÁTICA

2
MATEMÁTICA
e suas tecnologias
MATEMÁTICA 1

U.T.I.
FUNÇÃO POLINOMIAL DO 2º GRAU

Função f: R é R dada por f(x) = ax2 + bx + c, com a, Se D < 0, a função não possui raízes reais, portanto, não
b e c reais e a ≠ 0. intercepta o eixo x:

Concavidade
a > 0: concavidade para cima a < 0: concavidade para baixo

Se D = 0, a função possui apenas uma raiz real x1 = x2,


portanto, intercepta o eixo x em apenas um ponto, tangen-
ciando o eixo x:

Zeros de uma função


quadrática
Os zeros ou raízes da função quadrática f(x) = ax2 + bx + c
são as raízes da equação do 2° grau ax2 + bx + c = 0.

Estudo do discriminante (D)


§ Se D > 0, a equação do segundo grau possui duas ra-
ízes reais distintas.
§ Se D < 0, a equação do segundo grau não possui ra- Vértice da parábola
ízes reais;
​ b  ​  e  y
xv = – __   = – __
​ D  ​ 
§ Se D = 0, a equação do segundo grau possui uma raiz 2a v 4a
real.
Sendo D = b² – 4ac, em que a, b e c são os coeficientes de Valor mínimo ou valor máximo
uma função do segundo grau f(x) = ax² + bx + c. da função quadrática
Se D > 0, a função possui duas raízes distintas x1 e x2, por-
§ Se a > 0, y = – __
​ D  ​ é o valor mínimo da função.
tanto, intercepta o eixo x em dois pontos distintos: 4a
__
§ Se a < 0, y = – ​ D  ​ é o valor máximo da função.
4a
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

Crescimento e decrescimento
de uma função quadrática
a>0 a<0

f(x) é crescente para f(x) é crescente para

{ 
​ x [ R | x > – __
2a }
​ b  ​  ​ {  }
​ b  ​  ​
​ x [ R | x < – __
2a

f(x) é decrescente para​ f(x) é decrescente para

{ x [ R | x < – __
2a }
​ b  ​  ​ { ​ b  ​ ​
​ x [ R | x > – __
2a }
388
Forma fatorada de uma
função quadrática
Uma função do segundo grau f(x) = ax² + bx + c
pode ser escrita em função de suas raízes x1 e x2 da se-
guinte forma:
f(x) = ax² + bx + x = a(x – x1)(x – x2)

EQUAÇÕES E FUNÇÕES EXPONENCIAIS

Equações exponenciais
Chama-se equação exponencial toda equação que contém
incógnita em seu expoente.

Exemplo:
§ Resolva a equação 4x = 512.
Usando as propriedades das potências, vamos transfor-
mar o 1° e o 2° membro da equação em potências de
mesma base:
x
​​ ​4x = (22) = 22x            512 = 29 (fatoração)​ Função exponencial de
∴ ä 22x = 29 ä 2x = 9 ä x = __ ​ 9 ​  base a com 0 < a < 1
2
§ Domínio R; contradomínio R+.

O conjunto-solução é S = ​__
2 {  }
​ 9 ​   ​ § Contínua em todo o domínio.
§ A função é estritamente decrescente em R e, portanto,
injetiva.
Função exponencial § Não tem zeros. O gráfico intercepta o eixo das ordena-
A função f : R é R dada por f(x) = a (com a > 0 e a ≠ 1)
x das no ponto (0,1).
é denominada função exponencial de base a.
§ Admite a assíntota horizontal y = 0 quando x é + Ü.

Função exponencial de base a com a > 1 § Não tem assíntotas verticais nem oblíquas.

§ Domínio R; contradomínio R+.


§ Contínua em todo o domínio.
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§ A função é estritamente crescente em R e, portanto,


injetiva.
§ Não tem zeros. O gráfico intercepta o eixo das ordena-
das no ponto (0,1).
§ Admite a assíntota horizontal y = 0 quando x é –Ü.
§ Não tem assíntotas verticais nem oblíquas.

389
INEQUAÇÕES EXPONENCIAIS

Com base no crescimento e no decrescimento da função f(x) = ax, com a [ R*+ – {1}, podemos comparar quaisquer dois de
seus expoentes.

PROPRIEDADES DOS LOGARITMOS

Propriedades operatórias Fórmula para mudança de


dos logaritmos base de um logaritmo
Se b > 0, c > 0, m [ R, a > 0 e a Þ 1 valem as proprie- ​  logc b 
 ​ 
dades dos logaritmos: loga b = _____
logc a
loga (b · c) = loga b + loga c

loga __​ bc ​ = loga b – loga c Consequências da fórmula


​ 1 ​ = – loga b
loga __ de mudança de base
b
​  1   ​ ou log
loga b = _____   a · loga b =1
loga bm = m · loga b logb a b

__
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log (b) __
​  1  ​ · loga b
loga ​√  b ​ = __ logam (b) = ______ ​  1  ​ loga (b)
m
m ​  ma  ​  
=m
log b
loga b = _____ ​  c  ​  
logc a
1
_____
loga b = ​     ​  ou logab ∙ logba = 1
logb a
logam (b) = __ ​ 1  ​ loga (b)
m

390
MUDANÇA DE BASE DO COLOGARITMO

Cologaritmo
​  1  ​
cologa N = – loga N  ou  cologa N = loga __
N

FUNÇÃO LOGARÍTMICA

Para todo número real positivo a Þ 1, a função exponen- Veja, a seguir, o gráfico da função exponencial g(x) = 10x
cial f: R → R*,
+ f(x) = a é uma correspondência biunívo-
x
e da função logarítmica f(x) = log(x). Veja a simetria em
ca entre R e R+*. Ela é crescente, se a > 1, decrescente, relação à reta h(x) = x, pois f(x) e g(x) são funções inversas:
se 0 < a < 1, e tem a seguinte propriedade:
f(x1 + x2) = f(x1) · f(x2), ou seja ax1 + x2 = ax1 · a x2
Essas considerações garantem que f possui uma função inversa.

Gráfico da função logarítmica


f(x) = log2 x

§ O gráfico da função logarítmica passa pelo ponto (1, 0),


ou seja, f(1) = 0, ou, ainda, loga 1 = 0;
§ O gráfico nunca toca o eixo y nem ocupa pontos dos
quadrantes II e III, pois seu domínio é R*;
+

§ Quando a > 1, a função logarítmica é crescente


(x1 > x2 ⇔ loga x1 > loga x2);
f(x) = log x
§ Ao contrário da função exponencial f(x) = a x com
a > 1, que cresce rapidamente, a função logarítmica
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log a x com a > 1 cresce muito lentamente.

391
EQUAÇÕES LOGARÍTMICAS

Igualdade entre um logaritmo e um número real


Utilizamos então a definição do logaritmo:
loga(x) = b
Então ab = x.

Igualdade entre logaritmos de mesma base


loga (x) = loga (y) ⇒ x = y

INEQUAÇÕES LOGARÍTMICAS

1º caso: inequações redutíveis 2º caso: inequações redutíveis a


a uma desigualdade de uma desigualdade
logaritmos de mesma base entre um logaritmo e
um número real
Para resolver este tipo de inequação logarítmica, simples-
mente a transformamos em uma inequação do 1º caso.
Para isso, utilizamos uma propriedade dos logaritmos:

k = logb(bk), para k ∈ R, b ∈ R, b > 0 e b ≠ 1

3º caso: inequações que utilizam


substituição
por uma incógnita auxiliar
Algumas inequações exigem uma substituição de variável,
de modo a facilitar sua manipulação algébrica. Igualmente
ao segundo caso, a ideia é reduzir a inequação a uma ine-
quação do 1º caso.
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Se c > 1: logcb > logca ⇒ b > a  (o sinal se mantém)


Se 0 < c < 1: logcb < logca ⇒ b > a   (o sinal inverte)

392
FUNÇÃO COMPOSTA

Definição
Chamamos de função composta de g com f a função g + f: A → C tal que:
(g + f)(x) = g[f(x)].

Na forma de diagrama, temos:

Notação
A função composta de g e f será indicada por g º f (lê-se: g círculo f).

(g º f)(x) = g(f(x))

FUNÇÕES TRIGONOMÉTRICAS

Gráfico da função seno


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393
Resumo sobre a função seno
1. Função seno é a função de R em R definida por f(x) = sen x.
2. A função seno tem D = R e Im = [–1, 1].
3. A função seno não é injetiva nem sobrejetiva.
4. A função seno é função ímpar, isto é, –sen x = sen (–x), ∀ x ∈ R.
5. A função seno é periódica p = 2p.
6. sen x = 0, para x = kp, com k [ Z.
7. sen x > 0, para x do 1º e 2º quadrantes e sen x = 1 para x = __
​ p ​ + 2kp, com k [ Z.
2
8. sen x < 0, para x do 3° e 4° quadrantes e sen x = –1 para x = ___​ 3p ​  + 2kp, com k [ Z.
2

Estudo da função cosseno


Gráfico da função cosseno

Observações sobre a função cosseno

1. A cossenoide não é uma nova curva, mas uma senoide transladada ​ __ p ​ unidades para a esquerda. Observe no
2
gráfico da senoide que, se o eixo y for inscrito no ponto de abscissa x = __
​​ p ​​ , obtém-se exatamente o gráfico
2
daquela cossenoide. Resultado: a maioria dos aspectos relevantes da função cosseno é a mesma da função
seno.
2. O domínio é o mesmo: f: R é R tal que f(x) = cos x tem D = R.
3. A imagem é a mesma: f: R é R tal que f(x) = cos x tem Im = [–1, 1].
4. O período é o mesmo: a função cosseno é periódica de período p = 2p.
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5. A função cosseno não é injetiva nem sobrejetiva.

394
Estudo da função tangente
Gráfico da função tangente

À luz desse gráfico, é possível fazer algumas afirmações sobre a função tangente:

{ 
§ Tem D(f) = ​ x [ R | x ≠ __
​ p ​ + kp, com k [ Z ​e Im(f) = R.
2 }
§ A função tangente não é injetiva e é sobrejetiva.
§ A função tangente é função ímpar, isto é, tg (–x) = –tg x, ? x [ D(f).
§ A função tangente é periódica p = p, isto é, tg x = tg (x + kp), com k [ Z e x [ D(f).

Funções cossecante, secante e cotangente


​  1 x ​, para sen x ≠ 0
____
§ cossec x = sen

​  1 x ​, para cos x ≠ 0
____
§ sec x = cos

​ cos xx ​, para sen x ≠ 0


____
§ cotg x = sen

​  1  ​. 
Se sen x ≠ 0 e cos x ≠ 0, pode-se também escrever cotg x = ___
tg x

Função cossecante
Gráfico de f(x) = cossec x
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395
Função secante
Gráfico de f(x) = sec x

Função cotangente
Gráfico de f(x) = cotg x

Papel das constantes a, b, c e d


As características das funções do tipo f(x) = a + b · trig (cx + d) podem ser relacionadas com as funções trigonométricas e
seus gráficos padrão.
As constantes a e b alteram a imagem da função (valores de y), e as constantes c e d alteram as características relacionadas
com os valores de x. Desta forma:
§ a constante a translada o gráfico padrão em a unidades. Se a > 0, o gráfico “sobe” a unidades, e, se a < 0, o gráfico
“desce” a unidades.
§ a constante b comprime ou dilata verticalmente o gráfico. Se |b| > 1, o gráfico dilata, e, se 0 < |b| < 1, o gráfico comprime.
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Se b = –1, o gráfico fica invertido. Se b < 0, o gráfico fica simétrico (em relação ao eixo x) ao original, com b > 0. O valor
de b é, muitas vezes, chamado de amplitude do gráfico;
§ a constante c altera o período padrão da função trig, ou seja, comprime ou dilata horizontalmente o gráfico padrão. Se
|c| > 1, f(x) fica comprimido horizontalmente em |c| unidades. Se 0 < |c| < 1, f(x) fica dilatado horizontalmente em |c|
ptrig
unidades. O novo período é dado por py = ___
​ ​ c  ​;
​   e

     
§ a constante d translada o gráfico padrão em ​__​ dc ​  ​unidades horizontais. Se d > 0, o gráfico translada para a esquerda ​__​  dc ​  
unidades.

396
Funções trigonométricas inversas
§ Função arco-seno é a função de [–1, 1] em ​ – __
2 2 [ 
​ p ​,  __
​ p ​  ​, tal que y = arcsen x.
]
§ Função arco-cosseno é a função de [–1, 1] em [0, p], tal que y = arccos x.

§ Função arco-tangente é a função de R em – __ ]


​ p ​,  __
2 2 [
​ p ​​ , tal que y = arctg x.

MÓDULO

Módulo de um número real Condição de existência


​ x ​= –2
Definição Não possui solução, visto que o módulo de um número
Dado um número real x, define-se o módulo de x (ou valor real é sempre maior ou igual a zero. Veja a seguinte equa-
absoluto) representado por ​ x ​ como: ção:
x se x for positivo ou nulo ​ x – 5 ​= –2x + 1
​ x ​ =
–x se x for negativo Para que a igualdade seja possível, temos a seguinte
Interpretação geométrica condição:
–2x + 1 $ 0
Geometricamente, podemos assumir que o módulo de um
Portanto, x #  ​ __1 ​. 
número real x é igual à distância do ponto que representa 2
a imagem do número x na reta real até o ponto 0.
Veja na reta real o módulo dos números –5 e 3: Equações com mais de um módulo
​ 1 – 2x ​– ​ x + 3 ​= 4
Neste caso, analisamos cada módulo, separadamente:

Propriedades importantes 1 – 2x,  se 1 – 2x $ 0


(I) ​ 1 – 2x ​ = ou  
Para quaisquer x [ R e y [ R, valem as seguintes pro-
–(1 – 2x),  se 1 – 2x < 0
priedades:
P1: ​ x ​ $ 0 ​ 1 ​ 
1 – 2x,  se x ≤ __
2
P2: ​ x · y ​= ​ x ​. ​ y ​ ⇒ ​ 1 – 2x ​ = ou
P3: ​ x + y ​ # ​ x ​+ ​ y ​    –1 + 2x,  se x > __ ​ 1  ​ 
2
(A esta propriedade damos o nome de desigualdade
triangular.) x + 3,  se x + 3 $ 0
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

(II) ​ x + 3 ​ = ou  


P4: ​ x – y ​ $ ​ x ​– ​ y ​
–(x + 3),  se x + 3 < 0
P5: ​ x ​² = x²
__
P6: √
​ x2 ​ = ​ x ​ x + 3,  se x $ –3
⇒ ​
 x + 3 ​ = ou
Equações modulares –x – 3,  se x < –3
​ x – 1 ​= 2
Uma equação como esta chamamos de equação modular.
​ x ​= ​ y ​  ⇒  x = y  ou  x = –y

397
Como cada módulo é definido de uma maneira diferente para cada intervalo, faremos uma tabela para analisar cada caso:

Substituindo cada expressão na equação original, temos: ​ 1  ​: 


§ para x $ __
2
§ para x < –3: ​ 1 – 2x ​– ​ x + 3 ​= 4
​ 1 – 2x ​– ​ x + 3 ​= 4 (–1 + 2x) – (x + 3) = 4
(1 – 2x) – (–x – 3) = 4 x–4=4
–x + 4 = 4 x=8
x=0 ​  1 ​; 
Novamente, o valor x = 8 está dentro do intervalo x $ __
2
portanto, também faz parte do conjunto solução.
Como estamos analisando o intervalo x < –3, o resultado
encontrado x = 0 não convém. Finalmente, encontramos dois valores que obedecem seus
respectivos intervalos em cada etapa e que satisfazem à
§ para –3 # x < __​ 1 ​: 
2 equação. O conjunto solução S é:
​ 1 – 2x ​– ​ x + 3 ​= 4
S = {–2, 8}
(1 – 2x) – (x + 3) = 4
–3x – 2 = 4
x = –2
​ 1 ​;  por-
O valor x = –2 está dentro do intervalo –3 # x < __
2
tanto, faz parte do conjunto solução.

INEQUAÇÕES MODULARES

§ ​ x ​> a ⇔ x > a ou x < – a § ​ x ​ # a ⇔ –a # x # a

§ ​ x ​ $ a ⇔ x $ a ou x # – a Lembre-se que a inequação –a # x # a pode ser escrita


como um sistema de inequações:
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

x $ –a
§ ​ x ​< a ⇔ –a < x < a –a # x # a ⇒  e
x#a

398
FUNÇÕES MODULARES

Definição Análise de gráficos


A uma função f: IR → IR, definida por f(x) = ​ x ​, dá-se o
nome de função modular. Construção de gráficos
x,  se x $ 0 § g(x) = f(x) ± k
f(x) = ou Considerando uma função real f(x) e uma constante real
-x,  se x < 0 positiva k, o gráfico de f(x) + k desloca-se k unidades
Uma maneira rápida de construir o gráfico de uma função “para cima” em relação ao gráfico de f(x), aumentando
composta com a modular do tipo: em k unidades todos os pontos-imagem de f(x). Analoga-
mente, o gráfico de f(x) – k se desloca “para baixo” k
f(x) = |g(x)|
unidades.
é construir o gráfico da função g(x) = x2 – 4 e “espelhar”
Por exemplo, para a função f(x) = x2, veja os gráficos de
a parte que possui imagem negativa para a parte positiva.
f(x) + 4 e f(x) – 4:

Pelo gráfico, vemos que a função é negativa para –2 < x < 2.


Sendo assim, traçamos a parte do gráfico compreendida en-
tre –2 e 2, novamente de maneira simétrica ao eixo x:
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

399
§ g(x) = f(x ± k) § g(x) = f(–x)
Considerando novamente uma constante real posi- Considerando uma função real f(x) e seu gráfico, o gráfico
tiva k e uma função real f(x) qualquer, o gráfico de de g(x) = f(–x) será simétrico em relação ao eixo y:
f(x + k) desloca-se para a esquerda no plano cartesiano,
enquanto que o gráfico de f(x – k) desloca-se para a direi-
ta no plano.
Por exemplo, considere a função real f(x) = x2 e os gráficos
das funções f(x + 2) = (x + 2)2 e f(x – 2) = (x –2)2:

Tabela de gráficos de funções

§ g(x) = –f(x)
Considerando o gráfico de uma função real f(x), a função
g(x) = –f(x) será simétrica em relação ao eixo x ao gráfico
de f(x):
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

400
Análise de imagem e domínio

Para determinar o conjunto imagem da função a partir


do gráfico, encontramos os pontos máximo e mínimo
da função (em y). Ao analisar o gráfico, vemos que o valor
mínimo que a função atinge é –7, enquanto que o valor
máximo é 7; portanto, o conjunto imagem é:
Crescimento e decrescimento Im(f) = [ –7, 7 ]
Através do gráfico de uma função, podemos analisar os in-
tervalos em que a função cresce ou decresce. Veja o exem- Para a determinação do domínio, analisamos o intervalo
plo a seguir: ao longo do eixo x ao qual a função está definida. Para a
função f(x) apresentada, a função existe de x = –5 até
x = 6; portanto, seu domínio é:
D(f) = [ –5, 6 ]

Pelo gráfico, podemos ver que, entre os pontos A e B, a


função é crescente; à medida que ocorre um incremento
em x há um aumento consequente em y. Enquanto isso,
entre os pontos B e C, a função é decrescente.
Os pontos B e C são máximo e mínimo locais, respecti-
vamente, enquanto que os pontos D e A são, respectiva-
mente, máximo e mínimo globais.
U.T.I. - Sala puderam acompanhar a entrada dessas substâncias nas
hemácias, como mostra o gráfico apresentado a seguir.
1. Seja f(x) = 4x – 6 ∙ 2x + 8.
a) Calcule f(0).
b) Encontre todos os valores reais de x para os quais
f(x) = 168.
c) Encontre todos os valores reais de x para os quais
f(x) < 0.

2. (UEG) Um capital é emprestado a taxa de 8% ao ano,


no regime de juros compostos. Determine o tempo
necessário de aplicação, de modo que o montante seja
80% superior ao capital emprestado inicialmente.
Para os cálculos, se necessário, utilize as aproximações:
log 1,8 = 0,255 e log 1,08 = 0,035.
Seja x a concentração de substância B no meio extrace-
3. (ITA) Seja f a função definida por f(x) = log(x+1)(x2 – 2x - 8). lular e y a velocidade de transporte. Observando-se o
Determine: formato da curva B e os valores de x e y em determina-
a) O domínio Df da função f. dos pontos, podemos concluir que a função que melhor
b) O conjunto de todos os valores de x∈Df tais que relaciona essas duas grandezas é
f(x) = 2. 4 + log2(x)
c) O conjunto de todos os valores de x∈Df tais que a) y = _____________
​​   ​​   
2
f(x) > 1. b) y = 1 – log2(x + 1)

4. Resolva, em R, a equação |2x – 3| + |x + 2| = 4. c) y = 8__


​​    ​​(1 – 2-2x)
3
d) y = 3x – 1
5. (FUVEST) Determine para quais valores reais de x é
verdadeira a desigualdade 3. Três populações de bactérias começam a ser culti-
vadas no mesmo dia por um biólogo. Os gráficos se-
|x2 – 10x + 21| ≤ |3x – 15| guintes mostram a evolução do número de bactérias ao
longo dos dias:
6. (UNESP) Num determinado ambiente convivem duas
espécies, que desempenham o papel de predador (C) e
de presa (H). As populações dessas espécies, em milhares
de indivíduos, são dadas pelas seguintes equações:
__
C(t) = 1 + __1 ( π ​    ​​
​​   ​​  cos ​​  ​√2 ​t    + ​ __ )
2 4
__
​​  1__  ​​  sen ​​√
H(t) = 1 + ____
2​√2 ​  
( 
​ 2 ​t  + __ π
)
​   ​   ​​
4

onde t é o tempo em meses. Determine qual a duração


do ciclo de crescimento e decrescimento das popula-
ções, isto é, a cada quanto tempo as populações voltam,
simultaneamente, a ter as mesmas quantidades de in-
divíduos de t = 0.
2

U.T.I. - E.O.
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

1. Considere a função f(x) = 101+x + 101-x, definida para


todo número real x
__
a) Mostre que f(log10(2 + √
​​ 3 ​​ )) é um número inteiro.
b) Sabendo que log102 ≅ 0,3 encontre os valores de x
para os quais f(x) = 52.

2. Em um laboratório, hemácias de um animal foram colo-


10

cadas em meio de cultura em vários frascos com diferen-


tes concentrações das substâncias A e B, marcadas com
isótopo de hidrogênio. Dessa forma os pesquisadores

402
A partir da informação dos gráficos, responda: 6. (UEMA - Adaptado) Seja f(x) = 3x-4 + 3x-3 + 3x-2 + 3x-1, qual
a) Em que dia o número de bactérias da população C o valor de x para que se tenha f(x) = 40?
ultrapassou o da população A?
7. (UNESP) Numa plantação de certa espécie de árvo-
b) Qual foi a porcentagem de aumento da população
re, as medidas aproximadas da altura e do diâmetro do
de bactérias B, entre o final do dia 2 e o final do dia 6?
tronco, desde o instante em que as árvores são plan-
c) Qual foi a porcentagem de aumento da população tadas até completarem 10 anos, são dadas, respectiva-
total das bactérias (colônias A, B e C somadas) entre o mente, pelas funções:
final do dia 2 e o final do dia 5?
altura: H(t)= 1 + (0,8)log2 (t + 1)
4. (UFMG - Adaptada) O pH de uma solução aquosa é diâmetro do tronco: D(t)= (0,1) . 2t/7​​ com H(t) e D(t) em
definido pela expressão metros e t em anos.
pH = – log [H+], a) Determine as medidas aproximadas da altura, em
metros, e do diâmetro do tronco, em centímetros, das
em que [H+] indica a concentração, em mol/L, de íons árvores no momento em que são plantadas.
de hidrogênio na solução e log, o logaritmo na base 10. b) A altura de uma árvore é 3,4 m. Determine o di-
Ao analisar uma determinada solução, um pesquisador âmetro aproximado do tronco dessa árvore, em cen-
verificou que, nela, a concentração de íons de hidrogê- tímetros.
nio era [H+] = 5,4 · 10–8 mol/L. Para calcular o pH dessa
solução, ele usou os valores aproximados de 0,30, para 8. (UNICAMP) Suponha que o preço de um automóvel
log 2, e de 0,48, para log 3. tenha uma desvalorização média de 19% ao ano sobre
Qual o valor que o pesquisador obteve para o pH dessa o preço do ano anterior. Se F representa o preço inicial
solução? (preço de fábrica) e p(t), o preço após t anos, pede-se:
a) a expressão para p(t);
5. (Unicamp) O sistema de ar condicionado de um ôni- b) o tempo mínimo necessário, em número inteiro de
bus quebrou durante uma viagem. A função que de- anos, após a saída da fábrica, para que um automóvel
screve a temperatura (em graus Celsius) no interior do venha a valer menos que 5% do valor inicial.
ônibus em função de t, o tempo transcorrido, em horas, Se necessário, use: log 2 > 0,301 e log 3 > 0,477.
desde a quebra do ar condicionado, é
9. (IBMEC – Adaptada) Considere:
T(t)= (T0 – Text)10 -t/4​​ + Text
log2(x2 – x + 4) ≤ log2 (x – 2) + 3.
onde T0 é a temperatura interna do ônibus, enquanto a
refrigeração funcionava, e Text é a temperatura externa Dê o conjunto solução dessa inequação.
(que supomos constante durante toda a viagem). Sa-
bendo que T0 = 21ºC e Text = 30°C, responda às questões 10. Determine o conjunto solução, em R, das equações:
abaixo. a) |x + 1| – |x| = 2x + 1
a) Calcule a temperatura no interior do ônibus trans- |x| |x – 1|
corridas 4 horas desde a quebra do sistema de ar b) ___
​​  x ​​   = ______
​​   ​​  

(x – 1)
condicionado. Em seguida, esboce abaixo o gráfico c) |x2| + |x| – 6 = 0.
de T(t).
11. (UNIFENAS – MG) Qual é o produto das raízes da
equação abaixo?
_________
​​ √ (x2 + 2x)4 ​​=  
4
|3x + 6|

12. (Unifor-CE) Se x > 4, quantos números inteiros satis-


|20 – 5x|
fazem a sentença a _________
​​   ​​ 
– 
8x ≥ – 136?
(4 – x)
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

13. (FEI – ADAPTADA) Considere os valores inteiros de


x que satisfazem simultaneamente as desigualdades
|x – 2| ≤ 5 e |x – 1|> 3 . Qual é a soma desses valores?

14. (Fuvest)
a) Represente no sistema de coordenadas os gráficos
b) Calcule o tempo gasto, a partir do momento da (x + 7)
quebra do ar condicionado, para que a temperatura das funções f(x) = |4 – x2| e g(x) = ______
​​   ​   ​.
2
subisse 4 ºC. Se necessário, use log10 2 ≈ 0,30, (x + 7)
log10 3 ≈ 0,48 e log10 5 ≈ 0,70. b) Resolva a inequação |4 – x2| ≤ ______
​​   ​​   .
2

403
15. (UFPA–PA) Um professor de Matemática Aplicada 19. (UNESP) Em uma pequena cidade, um matemático
enviou a seguinte mensagem ao seu melhor aluno, um modelou a quantidade de lixo doméstico total (orgâni-
estudante chamado Nicéphoro, que gostava muito de co e reciclável) produzida pela população, mês a mês,
desenhar e traçar gráficos: durante um ano, através da função:

Prezado Nicéphoro,
Estive analisando cuidadosamente aquele problema de
π
f(x) = 200 + (x + 50) cos ​​ __ (  4π
​   ​   x – ​___
3 )
   ​  ​​
3
Matemática e percebi que ele é regido por uma função onde f(x) indica a quantidade de lixo, em toneladas,
pulso-unitária definida por produzida na cidade no mês x, com x inteiro positi-
vo. Sabendo que f(x), nesse período, atinge seu val-
or máximo em um dos valores de x no qual a função
Trace, por favor, usando os seus conhecimentos, o gráfi- (  π
cos ​​ __ ) 4π
​   ​   x – ___
3
​   ​   ​​atinge seu máximo, determine o mês x
3
co desta função e o envie para mim. para o qual a produção de lixo foi máxima e quantas
toneladas de lixo foram produzidas pela população
Um abraço e saudações matemáticas nesse mês.
Euclides Arquimedes.
20. (UFPR) Suponha que a expressão P = 100 + 20 sen(2πt)
Desenhe o gráfico enviado por Nicéphoro. descreve de maneira aproximada a pressão sanguínea
P, em milímetros de mercúrio, de uma certa pessoa du-
16. (UFLA-MG - Adaptada) Dê o conjunto de todos os rante um teste. Nessa expressão, t representa o tempo
valores reais de x, para os quais o gráfico de P(x) = 8 – x2 em segundos. A pressão oscila entre 20 milímetros de
está acima do gráfico de Q(x) = 3x2 (isto é, P(x) > Q(x)). mercúrio acima e abaixo dos 100 milímetros de mer-
cúrio, indicando que a pressão sanguínea da pessoa
(2x + 1) é 120 por 80. Como essa função tem um período de
17. (FEI) Sendo f(x) = ________
​​   ​​  

obter f(f(x)). 1 segundo, o coração da pessoa bate 60 vezes por mi-
(x – 2)
nuto durante o teste.
18. (UFPR) Considere
__
as funções reais
f(x) = 2 + √
​​ x ​​ e g(x) = (x2 – x + 6) (2x – x2). a) Dê o valor da pressão sanguínea dessa pessoa em
t = 0 s; t = 0,75 s.
a) Calcule: (f o g)(0) e (g o f)(1).
b) Em que momento, durante o primeiro segundo, a
b) Encontre o domínio da função (f o g)(x). pressão sanguínea atingiu seu mínimo?
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

404
MATEMÁTICA

2
MATEMÁTICA
e suas tecnologias
MATEMÁTICA 2

U.T.I.
JUROS SIMPLES E COMPOSTOS

Uma razão percentual pode ser representada também na Observe que:


forma decimal ou como taxa: J=C·i·t
​  1   ​ = 0,01 = 1%
___ M = C + J ⇒ M = C + C · it ⇒ M = C(1 + it)
100
​  10  ​ = 0,1 = 10%
___
Juros simples
100
​  25  ​ = 0,25 = 25%
___
Um capital aplicado a um regime de juros simples possui
100
Vimos, também, que um aumento percentual pode ser cal- seus juros calculados sempre em relação à quantia ini-
culado facilmente através do fator de atualização f, na cial, os juros gerados em cada período são sempre iguais.
qual f = (1 ± i). M = C + C · i · t = C(1 + i · t)
Um valor A é atualizado para outro valor B da seguinte
forma B = f · A. Juros compostos
§ Para aumentar o valor A e obter B, temos B = (1 + i ) · A.
O regime de capitalização mais utilizado atualmente é o
§ Para diminuir o valor A e obter B, temos B = (1 – i ) · A.
de juros compostos. Nele, os juros são aplicados sempre ao
montante do período imediatamente anterior.
Juros Se um capital C é aplicado a juros compostos à taxa de
Os juros em um período de tempo são calculados da se- juros i por t períodos de tempo, o montante M final será
guinte forma J = C · i · t. de M = C(1 + i)t.
No caso de um empréstimo, o valor total a ser pago, cha- A principal característica do regime em juros compostos é
mado montante M, é calculado pela soma do capital com seu crescimento exponencial.
os juros M = C + J.

CONCEITOS TRIGONOMÉTRICOS

Arcos e ângulos Determinação de quadrantes


Relação entre o comprimento ℓ e a medida a (em graus)
do arco:
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

ℓ = ___
​  a   ​ · 2pr,
360

Arcos côngruos (ou congruentes)


Dois arcos são côngruos ou congruentes quando suas
medidas diferem de um múltiplo de 2p rad ou 360º.

406
cos x x

1 ​ 
​ __ ​ __
p ​  (60º)
2 3

0 ​ __
p ​  (90º)
2

–1 p (180º)

0 3p ​ (270º)
​ ___
2

1 2p (360º)

A ideia de seno, cosseno e


tangente de um número real Valores notáveis de tangentes
tg x x
​ sen
sen2 a + cos2 a = 1 e tg a = _____ a​
cos a  
0 0
Valores notáveis do seno ___dXX
​  ​ 3 ​ ​   ​ __
p ​  (30º)
3 6
Veja a tabela com os valores notáveis do seno:
1 ​ __
p ​  (45º)
4
sen x x __
​​√3 ​​  ​ __
p ​  (60º)
3
0 0
' ​ __
p ​  (90º)
2
​  1 ​ 
__ ​ __
p ​  (30º)
0 p (180º)
2 6

dXX 3p ​ (270º)
​ ___
​  ​ 2 ​ ​  
___ ​ __
p ​  (45º) '
2
2 4

dXX
0 2p (360º)
​  ​ 3 ​ ​  
___ ​ __
p ​  (60º)
2 3

1 ​ __
p ​  (90º)
2 Redução ao 1º quadrante
0 p (180º) da 1ª volta positiva
–1 3 p ​
​  ___   (270º)
2 1º caso: a está no 2º quadrante
(​  __​ p2 ​ < a < p )​
0 2p (360º)

O ponto P’ é o simétrico de P em relação ao eixo y.


Valores notáveis do cosseno
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

Veja a tabela com os valores notáveis do cosseno:

cos x x

1 0

dXX
​  ​ 3 ​ ​  
___ ​ __
p ​  (30º)
2 6

dXX
​  ​ 2 ​ ​  
___ ​ __
p ​  (45º)
2 4

407
sen a = sen (p – a)

tg a = tg (a – p)
cos a = – cos (p – a)
3º caso: a está no 4º quadrante
(​ ​ ___   a < 2p )​
3p ​<
2

O ponto P’ é o simétrico de P em relação ao eixo x.

tg a = – tg (p – a)

2º caso: a está no 3º quadrante


(p < a < ___
​ 3p ​)  
2
O ponto P’ é o simétrico de P em relação ao ponto O.
sen a = – sen (2p – a)
y

P’

 2- 
x
0 A

sen a = – sen (a – p) cos a = cos (2 p – a)


U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

cos a = – cos (a – p) tg a = – tg (2p – a)

408
TRANSFORMAÇÕES TRIGONOMÉTRICAS

Fórmulas de adição Fórmulas do arco metade


e subtração Expressão para o cálculo de cos __a​   ​  
2
Expressão de sen (a + b)
sen (a + b) = sen a · cos b + sen b · cos a
(  )
​  a ​   ​= _______
cos2 ​ __
2
​ 1 + cos
2
 ​ a 

Expressão de sen (a – b) Expressão para o cálculo de sen __a​   ​  


sen (a – b) = sen a · cos b – sen b · cos a
2
(  )
​  a ​   ​= _______
sen2 ​ __
2
​ 1 – cos
2
 ​ a 

Expressão de cos (a + b)
Fórmulas de transformação de
cos (a + b) = cos a · cos b – sen a · sen b

Expressão de cos (a – b) produto (fórmulas de prostaférese)


cos (a – b) = cos a · cos b + sen a · sen b
Forma fatorada de sen x +
Expressão de tg (a + b) sen y e sen x – sen y
tg a + tg b
tg (a + b) = ___________
​    ​   x+y x–y
1 – tg a · tg b sen x + sen y = 2 · sen ____
​   ​  · cos ____
​   ​  
2 2
Expressão de tg (a – b) x–y
sen x – sen y = 2 · sen ____
x+y
​   ​  · cos ____
​   ​  
tg a – tg b 2 2
tg (a – b) = ___________
​    ​  
1 + tg a · tg b
Forma fatorada de cos x +
Fórmulas do arco duplo cos y e cos x – cos y
sen 2a = 2 · sen a · cos a x+y x–y
cos x + cos y = 2 · cos ____
​   ​  · cos ____
​   ​
  
2 2
cos 2a = cos2 a – sen2 a
x+y x–y
2 · tg a
tg 2a = _______
​   ​ 
  cos x – cos y = –2 · sen ____
​   ​  · sen ____
​   ​
  
1 – tg2 a 2 2
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

409
RELAÇÕES FUNDAMENTAIS TRIGONOMÉTRICAS

Relações fundamentais § cos a = cos b

sen2 x + cos2 x = 1 para todo x [ R sen

​ senxx ​ para todo x ≠ __
____
tg x = cos ​ p ​ + kp
2
cotg x = sen​ cos xx ​ para todos x ≠ kp
____

sec x = cos​  1 x ​ para todo x ≠ __


____ ​ p ​ + kp
2
cossec x = sen ​  1 x ​ para todo x ≠ kp
____

tg2 x + 1 = sec2 x para x ≠ __ ​ p ​ + kp, k [ Z


2
cotg2 x + 1 = cossec2 x para x ≠ kp, k [ Z
cos a = cos b ⇒ a = ± b + 2 kp
cotg x = ___​  1  ​ para x ≠ __ ​ p ​ + kp e x ≠ p
tg x 2 § tg a = tg b
+ kp, ou seja, x ≠ ___ ​ kp ​,  k [ Z
2

Equações trigonométricas
Equações do tipo sen a = sen b,
cos a = cos b, tg a = tg b
Da redução ao 1° quadrante, temos:
§ sen a = sen b

a = b + 2 kp
tg a = tg b ⇒ ⇒ a = b + kp
a = p + b + 2 kp

cos

a = b + 2 kp
sen a = sen b ⇒
a = p – b + 2 kp
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

410
INEQUAÇÕES TRIGONOMÉTRICAS

Uma inequação trigonométrica é uma desigualdade, em 0 # x < ___ ​ 7p ​  


cujas incógnitas aparecem funções trigonométricas. 6
 1 ​ ä ou
senx > ​– __
Como não há um padrão único para resolvê-las, vamos ex- 2
​ 11p
____ ​  < x # 2p
por suas resoluções no seguinte exemplo de aplicação. 6
​ 1​  ​ 
§ sen x > – __ Logo, a solução geral é:
2
No intervalo [0, 2p] há:
sen ​​ 7p ​​  + 2kp
S = ​{ x [ R / 0 + 2kp # x < ___
6
11p
____
ou ​  6 ​​  + 2kp < x # 2p + 2 kp}​

cos

PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA CONTAGEM

Análise combinatória etapas eventos independentes um do outro (a escolha de


uma maneira da primeira etapa não altera a escolha da
segunda), temos que o total de maneiras T que o evento
Princípio fundamental pode ocorrer é dado pelo produto:
da contagem (PFC): T=a∙b
Suponha um determinado evento constituído de duas
etapas sucessivas, sendo que a primeira pode acontecer Podemos estender esta definição para qualquer número de
de a maneiras e a segunda de b maneiras. Sendo as duas etapas sucessivas.
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FATORIAL E PERMUTAÇÃO SIMPLES

Fatorial
Dado um número natural n > 2, definimos o fatorial de n (indicado por n!) como sendo o produto de todos os números
naturais menores ou iguais a n e maiores que zero. Isto é:
n! = n · (n – 1) · (n – 2) · (n – 3) · ... · (2) · (1)

411
Exemplo:
§ 5! = 5 · 4 · 3 · 2 · 1 = 120
Permutação simples
Definimos as permutações de um conjunto A de n ele-
§ 2! = 2 · 1 = 2
mentos como todas as sequências distintas possíveis de n
Em particular, temos dois casos importantes: elementos formadas pelos elementos de A.
0! = 1  e  1! = 1 Pn = n!

ARRANJOS SIMPLES

​  n!   ​ 
An, p = ______
(n – p)!

PERMUTAÇÕES COM REPETIÇÃO

A permutação de n elementos dos quais a é um tipo, b é outro e g é outro ainda, como a + b + g = n, é dada por:
n!    
Pna, b, g = ​ _______
a!b!g!
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412
U.T.I. - Sala 2. (UERJ) Considere o teorema e os dados a seguir para
a solução desta questão. Se a, β e α + β são três ângu-
π
los diferentes de __
​​   ​​ + kπ, k ∈ , então
1. (FUVEST) Sejam x e y dois números reais, com 2
tg α + tg β
0 < x < __π π
​​  ​​  e __ 4 ​​   e
​​   ​​  < y < π, satisfazendo sen y = __​​  tg(α + β) = ________________
  
​​      ​​.
2 2 5 1 – (tg α)(tg β)
11 sen x + 5 cos(y – x)= 3. Nessas condições, determine:
a, b, c são três ângulos agudos, sendo tg b = 2 e
a) cos y.
tg(a + b + c) = __4
​​   ​​ .
b) sen 2x. 5
Calcule tg(a – b + c).
2. (UECE – ADAPTADA) Se x é um arco localizado no se-
3 3. (FUVEST) Um arco x está no terceiro quadrante do
gundo quadrante e cos x = – __​​   ​​ , então qual é o valor de
5 círculo trigonométrico e verifica a equação
cos x + sen x + tg x + cotg x + sec x + cossec x? 5 cos (2x) + 3 sen (x) = 4. Determine os valores de sen x
e cos x.
3. (UNICAMP 2017) Sabendo que k é um número real,
​^​
considere a função f(x) = k sen x + cos x, definida para 4. (FUVEST) No quadrilátero plano ABCD, os ângulos A​​B ​​C 
​^​ ——
todo número real x. e A​​D ​​C  são retos, AB = AD = 1, BC = CD = 2 e BD​​
​​ ​ ​ é uma
^

a) Seja t um número real tal que f(t) = 0. Mostre que diagonal. Dê a medida do cosseno do ângulo B​​C ​​D  .

f(2t) = –1.
5. (UNIFESP) Um jogo eletrônico consiste de uma pista
b) Para k = 3, encontre todas as soluções da equação
retangular e de dois objetos virtuais, O1 e O2, os quais
f(x)2 + f(–x)2 = 10 para 0 ≤ x ≤ 2π.
se deslocam, a partir de uma base comum, com O1 sem-
4. (FUVEST) pre paralelamente às laterais da pista e O2 formando
a) Quantos são os números inteiros positivos de quatro
um ângulo x com a base, x∈ ​​ 0, π (  )
​ __  ​  .​​ Considere v1 e v2
2
os módulos, respectivamente, das velocidades de O1 e
algarismos, escolhidos sem repetição, entre 1, 3, 5, 6, 8, 9?
O2. Considere, ainda, que os choques do objeto O2 com
b) Dentre os números inteiros positivos de quatro algar- as laterais da pista (lisas e planas) são perfeitamente
ismos citados no item a), quantos são divisíveis por 5? elásticos e que todos os ângulos de incidência e de re-
c) Dentre os números inteiros positivos de quatro algar- flexão são iguais a x.
ismos citados no item a), quantos são divisíveis por 4?
a) Exiba o gráfico da função y = f(x) que fornece o
5. (UFPR) Um cadeado com segredo possui três engre- módulo da componente da velocidade de desloca-
nagens, cada uma contendo todos os dígitos de 0 a 9. mento do objeto O2, no sentido do deslocamento do
Para abrir esse cadeado, os dígitos do segredo devem ser π ​   .​​
colocados numa sequência correta, escolhendo-se um ( )
objeto O1, em função do ângulo, x ∈ ​​  0, ​ __
2
dígito em cada engrenagem. (Exemplos: 237, 366, 593...) b) Se v1 = 10 m/s e v2 = 20 m/s, determine todos os
Quantas possibilidades diferentes existem para a escol- (  )
π
valores de x, x ∈​​ 0, __
​   ​    ​​, para os quais os objetos O1 e
2
ha do segredo, sabendo que o dígito 3 deve aparecer O2, partindo num mesmo instante, nunca se choquem.
obrigatoriamente e uma única vez?

6. (UFMG) Permutando-se os algarismos do número


123456, formam-se números de seis algarismos.
Supondo-se que todos os números formados com esses
seis algarismos tenham sido colocados numa lista em
ordem crescente,
a) DETERMINE quantos números possui essa lista.
b) DETERMINE a posição do primeiro número que
começa com o algarismo 4. x
c) DETERMINE a posição do primeiro número que ter-
x
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

mina com o algarismo 2. x base


O 1 O2

U.T.I. - E.O. 6. (ITA) Determine os valores de θ ∈ [0,2π] tais que


logtgθ esen θ ≥ 0.
1. (PUC-RS-Adaptada) Em Londres, Tales andou na Lon-
don Eye, para contemplar a cidade. Esta roda gigante 7. (UNIFESP) Sabe-se que, se b > 1, o valor máximo da
de 135 metros de diâmetro está localizada à beira do expressão y – y b, para y no conjunto R dos números
rio Tamisa. Suas 32 cabines envidraçadas foram fixadas reais, ocorre quando y = __1
1/(b – 1)
​​   ​​   . Qual é o valor máximo
à borda da roda com espaçamentos iguais entre si. En- b
tão, qual é a medida, em metros, do arco formado por que a função f(x) = sen(x) sen(2x) assume, para x vari-
cinco cabines consecutivas? ando em ?

413
8. (UNICAMP) Um recipiente cúbico de aresta α e sem b) A figura a seguir mostra um modelo trigonométrico que,
tampa, apoiado em um plano horizontal, contém água por meio da função cosseno y = A + B9 cos (mx +n), ajuda
até a altura 3/4 α. Inclina-se lentamente o cubo, giran- a prever a magnitude de terremotos em uma ilha do Pací-
do-o em um ângulo θ em torno de uma das arestas da fico. Nesse modelo, y indica a magnitude do terremoto, e
base, como está representado na figura abaixo. x indica o ano de ocorrência, sendo x = 1 correspondente
ao ano 1980, x = 6 correspondente ao ano 1990, x = 11
correspondente ao ano 2000, e assim sucessivamente.

θ
a) Supondo que o giro é interrompido exatamente antes
de a água começar a derramar, determine a tangente
do ângulo θ.
b) Considerando, agora, a inclinação tal que tg(θ) = 1/4,
com 0 < θ < π/2 , calcule o valor numérico da expres- Determine domínio, imagem e período da função cujo
são cos(2θ) – sen(2θ). gráfico está indicado na figura. Em seguida, determine
9. (FGV) Uma fórmula que mede a magnitude M de um os valores dos parâmetros A, B, m e n da lei dessa função.
terremoto pode ser escrita como M = 0,67 9 logE – 3,25,
 ​ xπ
10. (UFPR) Considere a função f(x) = 4 cos ​​___ ( )
 ​    ​​– 3, com
sendo E a energia mecânica liberada pelo abalo, medi- 4
x ∈(–∞, +∞)
da em Joules.
a) Calcule, por meio da fórmula dada, a energia mecânica a) Qual é o valor mínimo que a função f atinge?
liberada por um terremoto de magnitude 2,11. b) Para que valores de x temos f(x) = –1?

11. (UNIFESP) Os pontos T e U deslocam-se sobre retas paralelas r1 e r2 de tal forma que TU passe sempre pelo centro
C de um quadrado PQRS de lado 2, e forme um ângulo de medida a com r1 conforme indica, como exemplo, a sequên-
cia de cinco figuras.

a) Calcule as medidas de TU nas situações em que a = 45º e a = 90º


b) Denotando TU por y, determine y em função de a e o respectivo domínio dessa função no intervalo de a em que a
posição de T varia de P até Q.
12. (UFU - Adaptada) Um projeto-piloto desenvolvido em um curso de Engenharia Mecânica prevê a construção do
robô “Eddie”, cujos movimentos estão limitados apenas a andar para frente (F) e para a direita (D). Suponha que
Eddie está na posição A e deseja-se que ele se desloque até chegar à posição B, valendo-se dos movimentos que
lhe são permitidos. Admita que cada movimento feito por Eddie o leve a uma posição consecutiva, conforme ilustra
um esquema a seguir, em que foram realizados 10 movimentos (as posições possíveis estão marcadas por pontos
e o percurso executado de A até B, é representado pela sequência ordenada de movimentos (D F D D F F D F F D).
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

414
Com base nas informações acima, qual o número de O nome Google é derivado de googol, número definido
maneiras possíveis de Eddie se deslocar de A até B, sem por 10100, ou seja, o número 1 seguido de 100 zeros. A
passar pelo ponto C? partir do googol, define-se o googolplex, corresponden-
te a 10googol, ou seja, o número 1 seguido de 10100 zeros.
13. (UFRN) O quadro de avisos de uma escola de ensi-
De acordo com dados do Google, o sítio mais acessado
no médio foi dividido em quatro partes, como mostra a
atualmente é o Facebook, a maior rede social da Inter-
figura a seguir. net. De agosto de 2010 a agosto de 2011, o número de
usuários dessa rede social passou de 598 milhões para
753 milhões. A previsão de receita do Facebook para
2011 é de 4,27 bilhões de dólares, um crescimento de
115% em relação a 2010.

16. (UNB) A partir dessas informações, julgue os itens


subsequentes.
No retângulo à esquerda, são colocados os avisos da ​​  10    ​​ é 
100
a) A soma dos divisores naturais de ________ um
diretoria, e, nos outros três retângulos, serão colocados, 290 × 5100
número primo.
respectivamente, de cima para baixo, os avisos dos 1º, b) A quantidade de anagramas da palavra googolplex
2º e 3º anos do ensino médio. que começam por consoante é superior a 105.
A escola resolveu que retângulos adjacentes (vizinhos) c) De agosto de 2010 a agosto de 2011, a taxa de
fossem pintados, no quadro, com cores diferentes. Para crescimento da quantidade de usuários do Facebook
isso, disponibilizou cinco cores e solicitou aos servi- foi inferior a 25%.
dores e alunos sugestões para a disposição das cores
no quadro. 17. (UNICAMP) O perfil lipídico é um exame médi-
Determine o número máximo de sugestões diferentes co que avalia a dosagem dos quatro tipos princi-
que podem ser apresentadas pelos servidores e alunos. pais de gorduras (lipídios) no sangue: colesterol
total (CT), colesterol HDL (conhecido como “bom
14. (UFG) Uma pessoa dispõe de R$ 800,00 para com- colesterol”), colesterol LDL (o “mau colesterol”) e
prar camisas e calças, de modo a obter exatamente triglicérides (TG). Os valores desses quatro indica-
vinte trajes distintos. Cada traje consiste de uma calça e dores estão relacionados pela fórmula de Friedewald:
uma camisa, que custam R$ 110,00 e R$ 65,00, respec- CT = LDL + HDL + TG/5. A tabela abaixo mostra os va-
tivamente. Considerando-se que cada peça pode fazer lores normais dos lipídios sanguíneos para um adulto,
parte de mais de um traje, calcule o número de camisas segundo o laboratório SangueBom.
e de calças que a pessoa comprará sem ultrapassar a Indicador valores normais
quantia em dinheiro de que dispõe.
CT Até 200 mg/dl

15. (UERJ) Para montar um sanduíche, os clientes de LDL Até 130 mg/dl
uma lanchonete podem escolher: HDL Entre 40 e 60 mg/dl

• um dentre os tipos de pão: calabresa, orégano e TG Até 150 mg/dl


queijo; a) O perfil lipídico de Pedro revelou que sua dosagem
• um dentre os tamanhos: pequeno e grande; de colesterol total era igual a 198 mg/dl, e que a de
• de um até cinco dentre os tipos de recheio: sardinha, triglicérides era igual a 130 mg/dl. Sabendo que todos
atum, queijo, presunto e salame, sem possibilidade os seus indicadores estavam normais, qual o intervalo
de repetição de recheio num mesmo sanduíche. possível para o seu nível de LDL?
b) Acidentalmente, o laboratório SangueBom deixou
Calcule:
de etiquetar as amostras de sangue de cinco pessoas.
a) quantos sanduíches distintos podem ser montados; Determine de quantos modos diferentes seria possível
b) o número de sanduíches distintos que um cliente relacionar essas amostras às pessoas, sem qualquer
pode montar, se ele não gosta de orégano, só come informação adicional. Na tentativa de evitar que todos
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

sanduíches pequenos e deseja dois recheios em cada os exames fossem refeitos, o laboratório analisou o tipo
sanduíche. sanguíneo das amostras, e detectou que três delas eram
de sangue O+ e as duas restantes eram de sangue A+.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO. Nesse caso, supondo que cada pessoa indicasse seu tipo
sanguíneo, de quantas maneiras diferentes seria possível
O Google, mecanismo de buscas na Internet, indexa tril- relacionar as amostras de sangue às pessoas?
hões de páginas web, de modo que os usuários podem
pesquisar as informações de que necessitarem usando 18. (UFJF-PISM) João nasceu no dia 15/12/1951 e decid-
palavras-chave e operadores. O funcionamento do Goo- iu usar os algarismos de sua data de nascimento para
gle é embasado em algoritmos matemáticos, que anal- produzir a senha de sua conta bancária.
isam a relevância de um sítio pelo número de páginas e
pela importância dessas páginas.

415
a) Quantas opções de senha João terá, ao formar uma pintados de azul e se for possível, por meio de mov-
sequência de oito dígitos, usando apenas os algaris- imentos horizontais e verticais entre quadrados adja-
mos de sua data de nascimento? centes, sair de Q1 e chegar a Q2 passando apenas por
b) Para acessar a conta pela internet, o banco de João quadrados pintados de azul.
exige uma senha de quatro dígitos Sabendo que João
deseja usar apenas os seis últimos dígitos de sua data
de nascimento, quantas opções de senha ele terá?

19. (UERJ) Com o objetivo de melhorar o tráfego de


veículos, a prefeitura de uma grande cidade propôs a
construção de quatro terminais de ônibus. Para esta-
belecer conexão entre os terminais, foram estipuladas
as seguintes quantidades de linhas de ônibus:
• do terminal A para o B, 4 linhas distintas;
• do terminal B para o C, 3 linhas distintas; a) Se n = 2, de quantas maneiras distintas será pos-
• do terminal A para o D, 5 linhas distintas; sível pintar o quadriculado de modo que o quadrado
• do terminal D para o C, 2 linhas distintas. Q1 do canto inferior esquerdo esteja conectado ao
quadrado Q2 do canto superior direito?
Não há linhas diretas entre os terminais A e C.
b) Suponha que n = 3 e que o quadrado central este-
Supondo que um passageiro utilize exatamente duas
ja pintado de branco. De quantas maneiras distintas
linhas de ônibus para ir do terminal A para o terminal C,
será possível pintar o restante do quadriculado de
calcule a quantidade possível de trajetos distintos que
ele poderá fazer. modo que o quadrado Q1 do canto superior esquer-
do esteja conectado ao quadrado Q2 do canto supe-
20. (FUVEST 2017) Um quadriculado é formado por rior direito?
n× n quadrados iguais, conforme ilustrado para n = 2 e c) Suponha que n = 3. De quantas maneiras dis-
n = 3. Cada um desses quadrados será pintado de azul tintas será possível pintar o quadriculado de modo
ou de branco. Dizemos que dois quadrados Q1 e Q2 do que o quadrado Q1 do canto superior esquerdo esteja
quadriculado estão conectados se ambos estiverem conectado ao quadrado Q2 do canto superior direito?
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416
MATEMÁTICA

2
MATEMÁTICA
e suas tecnologias
MATEMÁTICA 3

U.T.I.
POLÍGONOS

Chama-se polígono A1, A2,A3,...An a figura formada pela octógono — 8 lados


união dos n segmentos consecutivos não colineares.
eneágono — 9 lados
decágono — 10 lados
undecágono — 11 lados
dodecágono — 12 lados
pentadecágono — 15 lados
icoságono — 20 lados
O ponto da região interior do polígono regular que equi-
dista dos vértices é denominado apótema. Na figura a
seguir, temos um pentágono regular e seu apótema
representado por a:

§ Vértices do polígono: A1, A2, A3, ..., A8.


   
§ Lados do polígono: ​A1A2 ,​ ​A2A3 ​, ..., ​A7A8 ​, ​A8A1 .​
§ Vértices adjacentes: dois vértices A5 e A6 são adja-

A 
centes se, e somente se, A​PQ​
5 6 é lado.

§ Diagonal de um polígono: é um segmento de reta


que une dois vértices não adjacentes.

Classificação dos polígonos Soma dos ângulos internos


de um polígono convexo
Quanto à região
Si = (n – 2) ⋅ 180º
§ Polígono convexo: uma reta qualquer só corta o
polígono em dois pontos.
§ Polígono não convexo: uma reta qualquer pode Soma dos ângulos externos
cortar o polígono em mais de dois pontos.
de um polígono convexo
Quanto à quantidade de lados
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ae = 360º
De acordo com o número de lados, os polígonos podem
receber as denominações:
triângulo — 3 lados
Número de diagonais de
quadrilátero — 4 lados
pentágono — 5 lados
um polígono convexo
hexágono — 6 lados
n ⋅ (n – 3)
d = ​ _______
 ​   
heptágono — 7 lados 2

418
ÁREA DOS QUADRILÁTEROS E RAZÃO
DE SEMELHANÇA PARA ÁREAS

Quadriláteros notáveis B + b1
Base média = Definir que M e N são pontos médios = ______
​  1  ​
  
2
Quadrilátero é um polígono que possui 4 lados. B –b
Mediana de Euler = PQ = ______
​  1  ​1  
2
De acordo com as características que determinado quadriláte-
ro possui, podemos classificá-lo de diversas formas:
§ Trapézio
( )
B +b
Área (ABCD) = S = ​______
 ​  1  ​ 1  
2
h​

§ Paralelogramo
Paralelogramo
Um paralelogramo é um quadrilátero convexo que possui
§ Losango
seus lados opostos paralelos.
§ Retângulo
§ Quadrado

Trapézio
Um trapézio é um quadrilátero convexo que possui pelo
menos dois lados paralelos.

Características do paralelogramo ABCD


§ Quadrilátero que tem os lados opostos paralelos.
§ Os lados opostos são congruentes.
§ Os ângulos opostos são congruentes.
§ As diagonais cruzam-se no ponto médio.
Características do trapézio ABCD § As diagonais de um paralelogramo determinam nele
quatro triângulos de área iguais.

Área (ABCD) = a · h
Losango
Um losango é um quadrilátero convexo que possui os quatro lados congruentes.
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419
Características do losango ABCD Quadrado
§ As diagonais cruzam-se no ponto médio. Um quadrado é um quadrilátero convexo que possui os
§ As diagonais de um losango determinam nele quatro quatro ângulos internos congruentes e os quatro lados
triângulos de áreas iguais. congruentes.

§ As diagonais são perpendiculares. Características do quadrado ABCD


§ As diagonais são bissetrizes. § É um paralelogramo equiângulo e equilátero, isto é,
regular.
§ Os ângulos opostos são congruentes.
§ As diagonais são congruentes.
§ As diagonais cruzam-se no ponto médio.
§ As diagonais de um quadrado determinam nele quatro
triângulos de áreas iguais.
§ É simultaneamente retângulo e losango.
§ As diagonais são perpendiculares.
§ As diagonais são bissetrizes.

2x ⋅ 2y
​ D ⋅ ​
Área (ABCD) = ____ d 
 = ______
​   ​   = 2xy
2 2
Retângulo
Um quadrilátero convexo possui os quatro ângulos inter-
nos congruentes, isto é, os ângulos internos são retos.
§ As diagonais são congruentes.
§ As diagonais cruzam-se no ponto médio. __
Diagonal = CA = BD = a​√2 ​ 
Área (ABCD) = a2

Resumo das áreas:

B = base maior
(B + b)h
Trapézio Área = _______
​   ​    b = base menor
2
h = altura

b = base
Paralelogramo Área = b ⋅ h
h = altura

D = diagonal maior
Losango ​ D ⋅  d 
Área = ____ ​ 
2 d = diagonal menor
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a = base
Retângulo Área = a ⋅ b
b = altura

Quadrado Área = ø2 ø = lado

420
Razão de semelhança para áreas
A razão entre as áreas de dois triângulos semelhantes é igual ao quadrado da razão de semelhança.
Esta conclusão pode ser estendida para qualquer par de polígonos semelhantes.

ÁREA DO CÍRCULO, SETOR E SEGMENTO CIRCULAR

Área de um círculo Área de um setor circular

Fórmula da área do círculo


AC = pR2 ​ d · ​
Área do setor circular = S = ____ R  
2

Área de uma coroa circular


Área de um segmento circular
§ Área (segmento circular) = S = Área (setor POQ) –
Área (triângulo POQ).
§ Área (segmento circular) =
S = ​ ​ ____
( ) ​ R · R · ​,
a  ​   ​ · pR2 – _________ sen a 
a em graus.

360º 2

Área da coroa circular = S = pR2 – pr2 = p · (R2 – r2)


U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

421
POLIEDROS E NOÇÕES DE GEOMETRIA
MÉTRICA DE POSIÇÃO
Postulados § Um reta e um ponto fora dela: enquanto existem
infinitos planos que contêm uma determinada reta, ex-
§ Postulado da existência: existem pontos, retas e iste um único plano que contém uma reta e um ponto
planos. Sua existência é aceita sem prova. fora dela.
§ Em uma reta existem infinitos pontos;
§ Em um plano existem infinitos pontos. Posições relativas entre reta e plano
§ Postulados de determinação § Reta contida no plano: uma reta está contida em
§ Dois pontos distintos determinam uma única reta. um plano se, e somente se, todos os pontos da reta
também estão contidos no plano.
§ Reta paralela ao plano: uma reta é dita paralela a
um plano se, e somente se, entre eles não existir pontos
em comum.
§ Três pontos não colineares determinam um único plano. § Reta concorrente ao plano: uma reta é concor-
rente a um plano se, e somente se, existir somente
um único ponto em comum entre eles.

Posições relativas entre planos


§ Planos coincidentes: dois planos são coincidentes,
Posições relativas entre retas se todos os seus pontos são coincidentes.
§ Retas paralelas: duas retas são paralelas se, e so- § Planos concorrentes (ou secantes): dois planos
mente se, ou são coplanares sem pontos em comum não coincidentes são concorrentes, se sua intersecção
ou são coincidentes. apresentar uma única reta.
§ Planos paralelos: dois planos são paralelos, se sua
intersecção for vazia.

Perpendicularismo
§ Retas concorrentes: duas retas são concorrentes se, e
somente se, sua intersecção apresentar um único ponto. § Entre reta e plano: uma reta r e um plano α são per-
pendiculares, quando qualquer reta do plano α que con-
§ Retas reversas: duas retas são reversas se, e somente tém o ponto de intersecção P é perpendicular à reta r.
se, não existir plano que contenha ambas.
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Determinação de planos
§ Três pontos distintos: como já exposto, três pontos
distintos determinam um único plano.
§ Duas retas concorrentes: duas retas concorrentes
determinam um único plano.
§ Duas retas paralelas distintas: existe apenas um
único plano que contém duas retas paralelas distintas.

422
§ Entre planos: dois planos são perpendiculares, se um
deles contém uma reta que é perpendicular ao outro. Poliedros
Denomina-se poliedro o sólido limitado por polígonos, de
modo que:
Dois polígonos adjacentes não estão no mesmo plano;
Cada lado de um polígono é comum a somente dois polígonos..

Projeção ortogonal
§ Entre ponto e plano: a projeção ortogonal P’ de um No poliedro ABCDEFGH, temos que:
ponto P sobre um plano α é a intersecção entre a reta
perpendicular a α que passa por P. § ABCD, CDHG,..., EFGH são as faces do poliedro;
   
§ AB​
​ , BC​
​ , CD​ ​  são as arestas do poliedro;
​ , ..., GH​
§ A, B, C,..., H são os vértices do poliedro.

Observe que:
§ faces são polígonos;
§ arestas são segmentos de reta;
§ vértices são pontos.

§ Entre reta e plano: Poliedros convexos


§ se a reta é perpendicular ao plano: a projeção
ortogonal de uma reta r sobre um plano perpendi-
cular a r é um ponto.
§ se a reta não é perpendicular ao plano: a proje-
ção ortogonal r’ de uma reta r sobre um plano α é a
intersecção entre o plano α e o plano perpendicular a
Poliedros convexos
α que contém a reta r.
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Ângulos
§ Ângulo entre reta e plano: o ângulo θ formado por
uma reta r e um plano α (não paralelos) é o ângulo
entre a projeção ortogonal r’ sobre α e r.
§ Ângulo entre planos: o ângulo entre os planos α e
β é o ângulo formado por r e a sua projeção ortogonal
r’ em α. Poliedros não convexos

423
Relação de Euler Poliedros regulares
V–A+F=2
Um poliedro convexo é regular quando todas as faces
são regiões poligonais regulares e congruentes e em
Soma dos ângulos das faces todos os vértices concorre o mesmo número de arestas.

de um poliedro convexo
S = (V – 2) ⋅ 360º

V é o número de vértices do poliedro.

PRISMAS

Prismas retos
O prisma é reto quando as arestas laterais são perpen-
diculares às bases, e oblíquo, quando não o são.

d = a​dXX
3  

Área da superfície de um prisma


Prisma reto Prisma oblíquo
§ Superfície lateral: é formada pelas faces laterais;
§ Superfície total: é formada pelas faces laterais e pe-
Cálculo da diagonal de um las bases;
paralelepípedo retângular e § Área lateral (Al): é a área da superfície lateral;
de um cubo
§ Área total (At): é a área da superfície total.

Volume do paralelepípedo
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

retângulo ou bloco retangular

d = d​ XXXXXXXXXX
a2 + b2 + c2 ​  
V=a∙b∙c

424
Observações Princípio de Cavalieri
1. É possível também indicar o volume do paralelepípe-
U
do retângulo assim: β S1 β>
U S2

V = Abh

Vamos considerar os sólidos S1 e S2 apoiados em um plano


Em que Ab = ab (área da base); h = c (altura corres- horizontal a. Consideremos também o plano b, paralelo a
pondente). a, que, ao seccionar S1, também secciona S2, determinando
duas regiões planas de áreas A1 e A2. Se para todo plano b
2.
temos A1 = A2, então:
V = a ⋅ a ⋅ a  ou  V = a3
Volume S1 = volume S2

Volume do prisma
Para calcular o volume de um prisma qualquer, aplica-
mos o princípio de Cavalieri.

3. Figuras geométricas semelhantes de razão k entre suas


grandezas lineares terem volumes com razão k3.

Volume em litros
Um litro é definido como o volume de um cubo de 1 decí- Volume do prisma = área da base · altura
metro de aresta (10 centímetros), portanto, 1 dm3.
V = Abh

U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

Algumas relações importantes acerca do litro:


1 ℓ = 1 dm3
1 000 ℓ = 1 m3
1 mℓ = 1 cm3

425
PIRÂMIDES E TRONCOS DE PIRÂMIDES

Pirâmide regular Área da superfície


Polígono regular é o que tem todos os lados e todos os de uma pirâmide
ângulos internos congruentes. Ele pode sempre ser inscri- Do mesmo modo que foi visto nos prismas, nas pirâmides
to numa circunferência, cujo centro é considerado tam- também temos:
bém centro do polígono regular.
§ Superfície lateral: é formada pelas faces laterais (tri-
angulares);
Observação
§ Área lateral: é a área da superfície lateral;
Em toda pirâmide regular devemos destacar quatro im- § Superfície total: é formada pelas faces laterais e pela
portantes triângulos retângulos, nos quais aparecem: a base;
aresta da base (ø), a aresta lateral (ø1), o raio da base
§ Área total: é a área da superfície total.
(r), o apótema da pirâmide (a), o apótema da base (a1)
e a altura da pirâmide (h).
Caso particular importante:
Veja, em uma pirâmide regular pentagonal, a aplicação da o tetraedro regular
relação de Pitágoras nesses triângulos:
Uma pirâmide particular formada por quatro regiões trian-
gulares congruentes e equiláteras é o tetraedro regular (te-
tra: quatro; edro: face).

Tetraedro regular
Planificado
      
DOMA DVMA

() ()
2
r2 = a12 + ​ ​ __
ø ​   ​ ø ​   2​
ø12 = a2 + ​ ​ __ Nele, qualquer uma das faces pode ser considerada base. O
2 2 tetraedro regular é um caso particular de pirâmide regular.
      
Cálculo do volume de uma
pirâmide qualquer
Ah
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

V = ___
​  b  ​ 
3

Tronco de pirâmide
h ____
V =​ ___1 ​ (AB + √
DVOA DVOM
​ ABAb ​ + Ab)
3
ø​ 21​ = h2 + r2 a2 = h2 + a​ 21​ 

426
CILINDRO

Secções de um cilindro Em particular, se a secção meridiana for um quadrado, di-


zemos que o cilindro é equilátero.
Nesse caso, h = 2R
Secção transversal
É a intersecção do cilindro com um plano paralelo às suas
bases.
A secção transversal é um círculo congruente às bases.

cilindro equilátero

Área da superfície de
Secção meridiana um cilindro reto
É a intersecção do cilindro com um plano que contém o
seu eixo.

  
planificado
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A secção meridiana de um cilindro reto é um retângulo

montado

427
A superfície total do cilindro é formada pela superfície late-
ral mais as superfícies das duas bases.
Assim:
Área lateral ⇒ Aø= 2prh
Área das bases = 2Ab = 2pr2
Área total ⇒ At = 2pr(h + r)

Volume do cilindro
Volume do cilindro = área da base . altura V = p . r² . h

CONES E TRONCOS DE CONE RETO

O cone
Vamos considerar um plano a, uma região circular R nesse
plano e um ponto P não pertencente a a.

O eixo do cone é o segmento de reta que liga o vértice ao


centro da base.
Se o eixo é perpendicular à base, o cone denomina-se
cone reto.
Se o eixo é oblíquo à base, o cone é chamado cone oblíquo.
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

A reunião de todos os segmentos que ligam cada ponto de


R ao ponto P é um sólido chamado cone circular.
A superfície do cone é formada por uma parte plana, a
região circular, que é a sua base, e uma parte curva, “arre-
dondada”, que é a sua superfície lateral.
A altura h do cone é o segmento de reta perpendicular
traçado do vértice ao plano da base. No caso do cone reto,
a medida do eixo coincide com a da altura h.

428
No cone reto, cada segmento que liga o vértice a um ponto
da circunferência da base é chamado geratriz do cone.
Secção meridiana
A secção meridiana é a intersecção do cone com um plano
que contém o seu eixo.

Um cone reto pode ser obtido gerando-se uma região tri-


angular, cujo contorno é um triângulo retângulo em torno
de uma reta que contém um dos catetos.
Por esse motivo, o cone reto é considerado um sólido ou
corpo de revolução e é chamado cone de revolução.
A secção meridiana de um cone reto é um triângulo isósceles.

Em particular, se a secção meridiana for um triângulo


equilátero, diremos que o cone é equilátero. Nesse caso,
g = 2r e h = r​dXX
3 ​. 

Secções do cone
Secção transversal
A secção transversal é a intersecção do cone com um plano
paralelo à sua base.
A secção transversal do cone é um círculo.
Área da superfície
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

de um cone reto

Montado Planificado

429
A superfície total do cone reto é formada pela superfície Então, para um cone circular de raio r altura h, podemos
lateral (um setor circular) mais a superfície da base (um dizer que:
círculo), isto é, At = Aø + Ab.
Inicialmente, calculamos a área do setor (Aø).
A área de um setor circular é proporcional à área do círculo
correspondente, de forma que:
A
____
agraus arad
​  setor2 ​  = ____
​   ​  = ___
​   ​ = ____
​  ø   ​  
pR 360º 2p 2pR
Assim, podemos calcular a área do setor como

Asetor = ____
​  ø   ​  · pR2.
2pR
No caso do cone, temos ø = 2pr e R = g. Logo:
​ 2pr ​ · pg2 = prg
Aø = ____
2pg
A área da base é a área do círculo de raio r: Ab = pr2.
Logo, a área total do cone reto é:
At = prg + pr2 = pr(g + r). ​ 1 ​ Abh    V= __
V = __ 1 ​ pr2h
​ 
3 3
Resumindo, para um cone reto de geratriz g e raio da base
r, temos:
Aø = prg    Ab = pr2    At = pr(g + r) Tronco de cone reto
Volume do cone Vamos considerar um cone circular reto de vértice V e al-
tura h e um plano a paralelo a base que secciona o cone,
Mais uma vez, usaremos o princípio de Cavalieri. conforme a figura:

Consideramos um cone de altura H e base de área A con-


tida em um plano horizontal a.
Consideramos também uma pirâmide de altura H, base de
área A, também contida em a.

Nesse caso, obtemos dois sólidos; um cone, de vértice V


e altura d, e outro sólido, chamado tronco do cone inicial:

Se um plano horizontal b com distância h dos vértices


secciona os dois sólidos, determinando regiões planas de
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

áreas A1 e A2, temos:


__A1 h2 __ A2 h2 A2 A1
​   ​ = __
​  2  ​ e ​   ​ = __
​  2  ​ ⇒ ​ ​ __ ​  ​= __
​   ​ ⇒ A1 = A2
A H A H A A
Pelo princípio de Cavalieri, podemos afirmar que o cone e a
pirâmide iniciais têm o mesmo volume. Como já sabemos
AbH
o volume da pirâmide ​ V = (3 )
  ​, o volume do cone tam-

bém é o mesmo.

área da base · altura 


Vcone = ________________
​     ​
3

430
No tronco do cone, destacamos:
Volume do tronco de cone reto

§ duas bases: a base maior (base do cone inicial) e a base


menor (secção determinada por a);
§ a altura (h1), que é a distância entre as bases
(h1 = h – d);
Vtronco = Vcone maior – Vcone menor ⇒
§ a geratriz, cuja medida (g1) é obtida pela diferença das
medidas das geratrizes dos dois cones. ​ 1 ​ pR2h – __
Vtronco = __ ​ 1 ​ pr2d
3 3
§ g1 = g – g2 em que g: geratriz do cone inicial e g2:
= __
​ p ​ (R2h – r2d) = __
​ p ​ [R2h – r2(h – h1)]
geratriz do cone determinado por a. 3 3
= __
​ p ​ [R2h – r2h + r2h1]
3
Observação
= __p
​   ​ [(R2 – r2) h + r2h1]  (I)
O tronco de cone pode ser considerado de forma análo- 3
ga ao tronco de pirâmide. Assim como acontece com
Analogamente ao tronco de pirâmide, calculando h em
as pirâmides, um plano paralelo à base que secciona o
função de h1, substituindo na fórmula (I) e simplificando
cone original, de forma que para os dois cones podem
temos:
ser usadas todas as relações de semelhança: lineares, ph
de área e de volume. Vtronco = ___
​   ​1  (R2 + Rr + r2)
3
Assim: Assim como no caso do tronco de pirâmide, você poderá
r1 g escolher entre calcular o volume do tronco do cone pela
​ h ​ = __
__ ​   ​ = g__
r ​    ​ 
d 2 2 fórmula ou subtrair os volumes dos cones semelhantes (o
Ab
() original e menor).
2
​ ​ __h ​   ​ = __ ​   ​ 
d AB

em que Ab é a área da base menor e AB é a área da


base maior

()
3
​ ​ __h ​   ​ = __
​ V  ​ 
d V2
em que V é o volume do cone inicial e V2 é o volume do
cone determinado por a
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431
U.T.I. - Sala U.T.I. - E.O.
1. (FUVEST) Os vértices de um tetraedro regular são 1. (CP) Uma piscina na forma de um bloco retangular tem
também vértices de um cubo de aresta 2. A área de uma suas dimensões representadas na figura a seguir. Após
face desse tetraedro vale: uma limpeza, a piscina encontra-se totalmente vazia.

2. Para fazer uma caixa sem tampa com um úni-


co pedaço de papelão, utilizou-se um retângulo de
16 cm de largura por 30 cm de comprimento. De cada
um dos quatro cantos desse retângulo foram retirados
quadrados de área idêntica e, depois, foram dobradas
para cima as abas resultantes. a) Determine o volume da piscina, em litros.
Determine a medida do lado do maior quadrado a ser corta- b) Considere que uma bomba jogue água na piscina
do do pedaço de papelão, para que a caixa formada tenha: a uma vazão constante, isto é, que o volume de água
a) área lateral de 204 cm2; bombeado a cada minuto para a piscina é sempre o
b) volume de 600 cm3. mesmo. Se em 12 minutos foram bombeados 960 litros
de água para a piscina, determine o tempo necessário,
3. (ITA) Seja C1 uma circunferência de raio R1 inscrita em horas, para que a piscina fique com 80% de sua ca-
num triângulo equilátero de altura h. Seja C2 uma se- pacidade. (Suponha que não saia água da piscina.)
gunda circunferência, de raio R2, que tangencia dois
lados do triângulo internamente e C1 externamente. 2.
(R1 – R2)
Calcule ________
​​  . 

h
4. (UFSCAR) A figura indica__ um__ paralelepípedo __ re-
to-retângulo de dimensões ​​√2 ​​  × ​​√2 ​​  × ​​√7 ​​  , sendo A, B, C
e D quatro de seus vértices.

A peça da figura, de volume a2, é o resultado de um


corte feito em um paralelepípedo reto retângulo, reti-
rando-se um outro paralelepípedo reto retângulo. Qual
é o valor de a, na figura?
3. (UNICAMP) Ao serem retirados 128 litros de água
de uma caixa d'água de forma cúbica, o nível da água
baixa 20 centímetros.
a) Calcule o comprimento das arestas da referida caixa.
b) Calcule sua capacidade em litros (1 litro equivale a
Qual deve ser a distância de B ate o plano que contem
1 decímetro cúbico).
A, D e C?
4. (UNESP) Um bloco maciço com a forma de para-
5. (FGV) Uma pirâmide de base quadrada é seccionada lelepípedo reto-retângulo tem dimensões 8 m,
por um plano paralelo à sua base, distante 2 m dela. 12 m e 10 m. Em duas de suas faces, indicadas por A
A área total da pirâmide menor, obtida pela secção, é e B na figura, foram marcados retângulos, de 2 m por
igual à metade da área total da pirâmide original. 3 m centralizados com as faces do bloco e com lados
a) Calcule a altura da pirâmide original. paralelos às arestas do bloco. Esses retângulos foram
b) Calcule o volume do tronco de pirâmide obtido utilizados como referência para perfurar totalmente o
pela secção para o caso em que a aresta da base da bloco, desde as face A e B até as respectivas faces opos-
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

pirâmide maior mede 3 m. tas a elas no bloco.


6. (UFPR) Uma jarra de vidro em forma cilíndrica tem 15
cm de altura e 8 cm de diâmetro. A jarra está com água
até quase a borda, faltando 1 cm de sua altura para
ficar totalmente cheia.
a) Se uma bolinha de gude de 2 cm de diâmetro for
colocada dentro dessa jarra, ela deslocará que volu-
me de água?
b) Quantas bolinhas de gude de 2 cm de diâmetro
serão necessárias para fazer com que a água se des-
loque até a borda superior da jarra?

432
Calcule o volume e a área total do novo sólido, que re- 8. (PUC-MG) Uma piscina tem 25 m de largura, 50 m de
sultou após a perfuração do bloco. comprimento, 1,5 m de profundidade na parte mais rasa
e 2,5 m na outra extremidade. Seu fundo é um plano in-
5. (UNICAMP) O quadrilátero formado unindo-se os clinado. A partir desses dados, qual deve ser o volume
pontos médios dos lados de um quadrado é também dessa piscina, em metros cúbicos?
um quadrado.
9. (UFMG) Nesta figura, estão representados o cubo AB-
a) Faça uma figura e justifique a afirmação anterior. CDEFGH e o sólido OPQRST:
b) Supondo que a área do quadrado menor seja de
72 cm2, calcule o comprimento do lado do quadrado
maior.

6. (UERN) A peça geométrica, desenvolvida através de


um software de modelagem em três dimensões por um
estudante do curso de engenharia e estagiário de uma
grande indústria, é formada a partir de dois prismas de
base hexagonal regular e assemelha-se ao formato de
uma porca de parafuso.

Cada aresta do cubo mede 4 cm e os vértices do sólido


OPQRST são os pontos centrais das faces do cubo.
Calcule a área lateral total do sólido OPQRST.

10. (UFES) A base de uma piscina de paredes verticais é


formada por duas plataformas retangulares horizontais,
situadas em níveis diferentes, as quais correspondem
à parte rasa e à parte funda da piscina, além de uma
rampa também retangular, interligando as plataformas,
Considerando que o lado do hexágono maior mede 8 cm, conforme mostra a figura a seguir. A largura da piscina
que o comprimento do prisma é igual a 35 cm e que o é de 5 m, as duas plataformas têm comprimento de 4
lado do hexágono menor mede 6 cm. O volume da peca, m e 6 m, respectivamente, e o comprimento da piscina
em cm³, de forma que se possa calcular, posteriormente, é 12 m. A água da piscina está em repouso, o nível de
a quantidade de matéria-prima necessária a sua pro- água na parte rasa é 0,5 m e o nível da água na parte
dução em massa em determinado período de tempo é? funda é 1,5 m.
__
(Considere √
​​ 3 ​​   = 1,7.)

7. (UERJ) No toldo da barraca de seu Antônio, decorado


com polígonos coloridos, destaca-se um dodecágono,
cujos vértices são obtidos a partir de quadrados con-
struídos em torno de um hexágono regular, conforme
mostra o desenho a seguir. Determine
a) o volume da água na piscina, em litros.
b) o volume de água, em litros, que é necessário despejar
na piscina para elevar o nível da água em 10 cm.

11. (UEL) Um engenheiro deseja projetar um bloco vaza-


do, cujo orifício sirva para encaixar um pilar. O bloco,
por motivos estruturais, deve ter a forma de um cubo
de lado igual a 80 cm e o orifício deve ter a forma de
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

um prisma reto de base quadrada e altura igual a 80


cm, conforme as figuras seguintes. É exigido que o vol-
ume do bloco deva ser igual ao volume do orifício.

a) Demonstre que o dodecágono ABCDEFGHIJKL é


um polígono regular.
b) Tomando o quadrado de lado AB como unidade de
área, calcule a área desse dodecágono.
Calcule o valor “L” do lado da base quadrada do
prisma reto.

433
12. (FUVEST) O volume de um paralelepípedo reto a) Determine a área do triângulo EFH.
retângulo é de 240 cm3. As áreas de duas de suas faces b) Calcule a área do quadrilátero EGIH.
são 30 cm2 e 48 cm2. A área total do paralelepípedo, em c) Determine o volume da pirâmide de vértices E, G, I, H
cm2, é? e F, cuja base é o quadrilátero EGIH.
13. (FUVEST) Deseja-se construir um anel rodoviário cir- 18. (UNIFESP) A figura indica uma pirâmide regular
cular em torno da cidade de São Paulo, distando aprox- quadrangular reta cujas faces laterais são triângulos
imadamente 20 km da Praça da Sé. equiláteros. A aresta da base dessa pirâmide mede 12 cm.
a) Quantos quilômetros deverá ter essa rodovia? V
b) Qual a densidade demográfica da região interior
do anel (em habitantes por km2), supondo que lá resi-
dam 12 milhões de pessoas. Adote o valor π = 3.

14. (UFSC) Calcule a área, em cm2, de um triângulo retân-


gulo, cuja hipotenusa mede 10 cm e cujo raio da circun- C
D
ferência inscrita mede 1 cm.

15. (FUVEST) Na figura abaixo, cada uma das quatro A B


circunferências externas tem mesmo raio r e cada uma
delas é tangente a outras duas e à circunferência inter- Duas formigas, F1 e F2, partiram do ponto médio da
na C. aresta —VA— para o ponto médio da aresta —VC—,
sempre caminhando por faces, arestas, ou cruzando ar-
estas. Dentre todos os caminhos possíveis ligando os
dois pontos, a formiga F1 escolheu o mais curto deles.
Já a formiga F2 escolheu o caminho mais curto dentre
todos que passam pela base ABCD da pirâmide. Calcule:
a) a distância percorrida pela formiga F1.

Se o raio de C é igual a 2, determinar:


a) o valor de r.
b) a área da região hachurada.
sugestão de planificação F1
16. (UNICAMP) Em um triângulo com vértices A, B e C,
inscrevemos um círculo de raio r. Sabe-se que o ângulo
b) a distância percorrida pela formiga F2.
A tem 90° e que o círculo inscrito tangencia o lado BC
no ponto P, dividindo esse lado em dois trechos com
comprimentos PB = 10 e PC = 3.
a) Determine r.
b) Determine AB e AC.
c) Determine a área da região que é, ao mesmo tem-
po, interna ao triângulo e externa ao círculo.

17. (FUVEST) Considere um tetraedro regular ABCD cu-


jas arestas medem 6 cm. Os pontos E, F, G, H e I são os
sugestão de planificação F2.
pontos médios das arestas AB, BC, AC, BD e CD respec-
U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

tivamente.
19. (UFU) O rendimento teórico de uma tinta é a quan-
tidade necessária para pintar um metro quadrado de
área e serve apenas para determinar o custo por metro
quadrado da tinta. O rendimento real de uma tinta é
calculado no final do trabalho executado que leva em
conta o número de demãos (números de camadas de
tintas necessárias para obter o resultado esperado) e
as perdas decorrentes da preparação e do método de
aplicação. Admita que as perdas usando os diferentes
métodos de pintura são estimadas em: pincel 10%, rolo
20% e pistola pneumática 25%.

434
Um pintor vai pintar toda a superfície de um tanque de
combustível na forma de um cilindro circular de 10 m
de altura e raio da base igual a 2 m. Sabe-se que a tinta
a ser usada tem rendimento teórico de 20 m2 por litro e
que são necessárias duas demãos.
Determine a quantidade, em litros, de tintas necessárias
para pintar esse tanque utilizando a pistola pneumáti-
ca. Dado: Use π = 3,14.

20. (UFMG) O lucro bruto de uma empresa é a diferença


entre a receita obtida com as vendas e o custo de pro-
dução. Um determinado fabricante de cerveja só vende
latas cilíndricas de alumínio, fechadas, cheias de cer-
veja, com 12 cm de altura e 3 cm de raio. O custo da
produção de certo número de latas cheias de cerveja é
de 1 real por litro de cerveja e mais p reais por metro
quadrado de alumínio utilizado na fabricação das latas.
A receita da empresa por cada litro de cerveja vendido é
de dois reais por litro. Considerando estas informações:
I. DETERMINE a receita gerada pela venda de cada lata
de cerveja.
II. DETERMINE o custo total de produção de cada lata
de cerveja em função de p.
III. DETERMINE o valor máximo do preço p do alumínio
para que o fabricante não tenha prejuízo.

U.T.I. 2  MATEMÁTICA e suas tecnologias

435

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