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Peguemos nas quatro semanas entre a derrota imposta pelo Bayern ao

Benfica, a 5 de Abril de 2016 (1-0, Vidal) na primeira mão dos quartos-de-


final da Champions League, e 3 de Maio, quando foram eliminados pelo
desempate de golos marcados fora de casa pelo Atlético. Entre essas
datas, o Bayern sofreu a sua última derrota sob as ordens de Pep (1-0,
frente ao Atlético, em Madrid), apenas a sua 19ª derrota em 161 encontros
e apenas a quarta da temporada.

UMA EQUIPA À SACCHI

Defesa é sobre atacar o ataque do adversário.


Arrigo Sacchi

Munique, 4 de Abril de 2016


"São uma máquina com a melhor organização defensiva da Europa da
actualidade e nem sequer são uma equipa defensiva. Bem pelo contrário!
Eles posicionam a sua linha defensiva bem alta no relvado e estão
constantemente a pressionar, fechando todos os caminhos para que não
haja sequer espaço para um cabelo entre as duas linhas mais recuadas.
Têm avançados super-rápidos e todos aqueles jovens, Renato Sanches…
As pessoas aqui na Alemanha não têm a tendência de assistir a jogos da
Liga portuguesa, que também não tem muita cobertura em Inglaterra ou
Espanha. Por isso, ninguém aprecia quão verdadeiramente bom é o
Benfica. Mas digo-vos que eles são uma imagem das equipas de Sacchi".

Durante 12 dias, Pep mal deixou a sua secretária. Tem estado a analisar
o adversário do Bayern nos próximos quartos-de-final da Champions
League e apenas deixou o seu escritório para visitar a família de Johan
Cryuff em Barcelona. A morte do holandês, a 24 de Março, foi um golpe
devastador para o catalão, que perdeu uma figura tutelar no futebol, assim
como o seu maior mentor.

Passou os 12 dias a dissecar dez jogos do Benfica: os seus encontros


em casa e fora com o Sporting, Atlético Madrid, Zenit, Sporting Braga e FC
Porto. Ele assiste aos jogos em visão panorâmica completa – todo o
relvado à vista durante todo o tempo, para que possa procurar os mais
ínfimos pormenores. Carles Planchart fez, também ele, uma análise
exaustiva e deu a Pep as suas conclusões, mas como acontece sempre
antes de um jogo importante, o técnico quer fazer a sua própria avaliação
detalhada, que depois comparará com o trabalho de Planchart e com o
trabalho da restante equipa técnica. Pep já está a pagar um preço pelos
seus 12 dias de intenso planeamento à secretária e sente rigidez e dores
em várias zonas das suas costas. Um dos fisioterapeutas do clube teve
que tentar libertar-lhe alguma tensão, mas não resultou. As suas costas
ainda estão uma confusão (especialmente na zona lombar, na parte
superior das costas e no músculo psoas-ilíaco) e tem dificuldades em
andar.

"Não saí deste lugar nos últimos 12 dias e não fiz qualquer exercício
físico. Não é de estranhar que me encontre neste estado".

Ele estudou o Benfica por todos os ângulos e agora sente que


compreende perfeitamente o seu tipo de futebol. Ele também mudou a sua
rotina por forma a dedicar-se a planear como convencer os seus jogadores
do perigo que o Benfica representa e, pela primeira vez em três anos, não
treinou a equipa. Os seus homens conseguiram ontem uma vitória 'in
extremis' sobre o Eintracht Frankfurt (1-0), naquele género de jogo
discreto, com nada de significativo que surge algumas vezes após uma
pausa para os jogos de selecções. Tendo dito isto, o golo de pontapé de
bicicleta de Ribéry foi extraordinário e Lahm, Xabi Alonso e Bernat
estavam em melhor forma do que nunca. Os jogadores ofensivos do
Bayern, habitualmente tão fiáveis, haviam, contudo, sido lentos e sem
brilho.

Assim, no domingo de 3 de Abril, Domènec Torrent conduz o treino, ao


passo que Pep prepara um conjunto de vídeos focados na estrutura de
jogo do Benfica. Ao meio-dia, quebra outra tradição e convoca os seus
comandados para a sala de reuniões, situada no andar acima do
balneário. Então, passa 45 minutos a dar-lhes uma exaustiva
desconstrução do 4-4-2 do Benfica: a sua linha defensiva subida,
posicionada quase no grande círculo; a sua fabulosa marcação e a forma
como se apoiam uns aos outros; quão juntas estão as suas duas linhas
mais recuadas (é quase impossível conseguir um passe limpo entre elas);
a forma como forçam os seus adversários a caírem em fora-de-jogo; e a
qualidade da sua capacidade pelo ar. É uma análise meticulosa da equipa
portuguesa, possivelmente a explanação mais detalhada que Pep ofereceu
aos seus homens durante os seus três anos em Munique e, ao deixarem o
centro de treinos nessa tarde, ninguém tem dúvidas que irão defrontar um
adversário dotado e perigoso.

A sessão de treino de segunda-feira começa 35 minutos mais tarde


porque o treinador continua à procura da forma como quer que o Bayern
desarme o Benfica. Nesta ocasião, não haverão três palestras antes do
jogo. Ele quer quatro e torna-se cada vez mais óbvia quão séria é para
Guardiola a ameaça que este considera ser o Benfica. Ele apenas
consegue ver uma forma de derrotá-los e explica a sua estratégia à sua
equipa. "Não poderemos fazer um jogo directo, à procura de Lewy
[Lewandowski] e de Müller, porque terminaremos em fora-de-jogo. Lewy e
Müller, vocês terão que sacrificar-se. Vão precisar de fazer arrancadas,
arrastarem os defesas convosco, mas sem nunca procurarem receber a
bola. A bola terá que circular de dentro para as alas, mas quero que vocês
façam algo diferente do habitual. Não quero que o extremo tente fugir e
avance com a bola em drible. Eles anular-nos-ão se jogarmos dessa
forma. Não, o extremo que receber a bola, terá que devolvê-la a alguém
que estiver por dentro e esse jogador terá que bater o adversário e voltar a
movimentar a bola para o exterior. Esperemos que, ao fazermos isto, os
possamos confundir e eles acabem fora de posição. Rapazes, irá ser
complicado, mas é isto que quero que vocês façam: dentro-fora-dentro-
finta-fora até que cheguemos ao momento certo para podermos marcar".

É mais fácil dizer que fazer, tal como veremos, na noite de terça-feira, na
Allianz Arena, particularmente com os pontas-de-lança do Bayern a
parecerem trapalhões e lentos. Apenas Ribéry se apresenta em grande
forma.

De regresso ao relvado nº2 de Säbener Strasse, toda a gente trabalha


no duro durante uma sessão realizada à porta fechada e a equipa treina o
modelo que Pep propôs. Thiago Alcantara, Lahm, Xabi Alonso, Alaba e
Vidal parecem ter entendido perfeitamente mas a sua finalização é fraca.

"Pai, como é que falhaste isso?", grita o filho de Arturo Vidal, Alonso.

"Não consigo marcar um caralho de um golo", queixa-se o médio


chileno.

Ele não é o único. Os pontas-de-lança parecem tão letárgicos que Pep


começa a ficar em pulgas. "Foda-se, rapazes! Ainda não conseguimos
marcar um cabrão de um golo! Ninguém se vai embora até que se marque
um golo".

"Amanhã, Pep. Amanhã vamos marcá-los", assegura-lhe Müller.

Durante a conferência de imprensa, Manuel Neuer e Douglas Costa


mostram todo o seu profundo conhecimento sobre o Benfica e também
Guardiola parece com vontade de falar de tácticas e abordar o modelo de
jogo que é provável que o Benfica aplique. Como costuma fazer quando
está com este espírito, Pep partilha muito daquilo que sabe sobre o jogo
do seu adversário e torna-se óbvio o quanto investiu na sua análise pré-
jogo. Não estou, no entanto, seguro de que esta seja a abordagem mais
sensata. Às vezes, é preciso mantermos as nossas cartas o mais próximas
possível do peito.
Um dos jornalistas alemães classifica o Benfica de equipa defensiva e
Pep elucida-o: "Mas quantos jogos seus é que você viu"?

"De facto, muito poucos"

"Não. Não 'muito poucos'. Não viu nenhum. Claramente que não os viu
jogar, porque, se os tivesse visto, não diria que eles são uma equipa
defensiva. O Benfica é uma equipa com uma grande organização
defensiva, mas eles jogam um futebol de ataque, ofensivo".

À imagem do lendário Milan de Arrigo Sacchi, uma equipa que jogava


um futebol defensivo sem ser uma equipa defensiva. O Milan de Sacchi
era superiormente organizado defensivamente, porque as suas estrelas
eram todos atacantes. E Sacchi usou-os para produzir um jogo com o qual
iludia constantemente os adversários levando-os a considerar o Milan
como uma equipa defensiva, quando, na realidade, eram precisamente o
contrário.

UMA GRANDE DOR-DE-CABEÇA

É competir bem, mesmo quando não estás em forma.


Lorenzo Buenaventura

Munique, 5 de Abril de 2016


Hoje, a constituição de equipa de Pep apenas tem uma variável: qual dos
seus grandes médios ficará no banco. Ele tem tido este 'problema' há já
algum tempo: apenas há espaço na equipa para dois médios. Desta vez,
será Xabi Alonso quem não jogará, apesar de o treinador reflectir sobre a
sua decisão até ao último momento possível. Durante o aquecimento, a
paixão de Xabi Alonso pelo jogo é tão óbvia que, enquanto os outros
suplentes fazem um mini-meiinho, ele assiste durante alguns minutos a
imagens de jogos históricos do Bayern exibidos no ecrã gigante do
estádio. Parece hipnotizado.

Noutro lado, Müller treina, como habitual, cabeceamentos com Lahm,


mas está fora de forma. Apenas consegue converter em dois dos oito
cruzamentos do defesa-lateral. É um desempenho melhor do que o
conseguido durante o aquecimento para o jogo com a Juventus (zero em
oito tentativas), mas ele parece distraído e com um olhar sem expressão.

O jogo começa com um impressionante golo do Bayern. Os jogadores do


Benfica vêem-se a perseguir a bola de um lado para o outro do relvado e,
então, Douglas Costa faz um longo passe diagonal para Ribéry, que
endossa a bola a Lewandowski, o qual, por seu turno, a passa a Bernat,
cujo cruzamento é desviado de cabeça para o fundo das redes por Vidal,
que entretanto acabara de chegar à área. O su filho aplaude efusivamente
a partir das bancadas.

"Os jogadores que já estiverem na grande-área não conseguem marcar


frente a este tipo de equipas", explica Pep, mais tarde, durante o jantar.
"São os gajos que chegarem precisamente no momento certo que
operarão a sua magia".

O jogo desenrola-se precisamente como Guardiola havia previsto. O


Benfica joga num compacto e altamente eficaz 4-4-2. Como o Bayern vai
tentando arrastar o Benfica das suas posições, a própria equipa muda o
seu próprio formato, embora se mantenha estoicamente organizada.
Conforme haviam sido instruídos, os jogadores do Bayern não procuram
Lewandowski ou Müller, mas sim por Ribéry e Douglas Costa, por forma a
que Thiago ou Vidal possam fazer as suas cuidadosamente planeadas
subidas velozes à área e ficarem em posição de receber a bola. A equipa
da casa passa os primeiros 20 minutos a fazer passes longos de um lado
ao outro e está claramente a perturbar o jogo do adversário, mas coisas
começam, entretanto, a correr mal. Os comandados de Pep parecem
emaranhados na teia de aranha elaborada pelo técnico Rui Vitória, o jogo
do Bayern deteriora-se, acima de tudo, começam a perder o seu ritmo.

Os jogadores do Bayern reagrupam-se ao intervalo, decepcionados com


o seu jogo até à altura. Manuel Estiarte conversa com Valentí Guardiola, o
pai de Pep, que se encontra de visita à cidade.

"Não estamos a jogar bem", diz Valentí.

"E o nosso ritmo está lento", concorda Estiarte.

Pep volta a relembrar a estratégia no balneário e a equipa regressa ao


relvado com as instruções ainda a repercutirem-se nos seus ouvidos:
colocar a bola nas alas, passar de novo para dentro e devolver para fora,
novamente. Mas, agora, o Benfica está a fazer mais passes longos e altos,
sabendo que a altura de Mitroglou lhe dá uma vantagem sobre Kimmich.
Guardiola retira Kimmich e coloca, no seu lugar, Javi Martínez, que diria
mais tarde: "Doi-me o crânio por todas as bolas que tive de aliviar de
cabeça".

Javi está a fazer o seu 100º jogo pelo Bayern e, agora que está em
campo, o Benfica perde a sua vantagem de estatura. Mais tarde, contudo,
as estatísticas mostrarão que o Benfica venceu 56% dos duelos aéreos. A
equipa portuguesa apenas dispõe de duas oportunidades de golo nos 90
minutos, mas ambas consistiram em excelentes remates. Javi Martínez
bloca o primeiro com o seu estômago e Neuer defende o segundo com o
seu braço. O Bayern desperdiça cinco grandes oportunidades, quando, um
após o outro, Müller, Vidal, Ribéry e Lewandowski (este por duas vezes)
não conseguem colocar a bola no fundo das redes… Müller falha no
cumprimento da sua promessa a Pep e os pontas-de-lança continuam,
decididamente, a parecer inconstantes. Apenas Ribéry impressiona.
Durante o jantar, Guardiola aborda o assunto. "Estas coisas acontecem.
Nunca se conseguem prestações consistentes de um ponta-de-lança. Eles
não são como os médios. Eles tendem a passar por altos e baixos. As
secas não duram eternamente, mas é um pouco preocupante que três
deles estejam em baixa ao mesmo tempo".

Lewandowski está particularmente fora de forma. Aos 88 minutos,


encontra-se sozinho perante Ederson, o guarda-redes do Benfica. Ele
contorna-o, ultrapassa-o e depois decide passar a Lahm em vez de
rematar ele próprio. Deveria ter sido só encostar, mas, ao invés, falha
completamente o passe e Lahm não tem possibilidade de chegar a bola e
marcar. Um segundo golo teria dado ao Bayern uma robusta vantagem na
eliminatória e também significaria o primeiro tento de Lahm na Champions
League.

Pep sabe que tem um problema por resolver. "O Lewy parecia abatido
em campo. Ele precisa de descanso. Müller também. Acho que apenas
farei jogar um deles em Estugarda, no sábado. O outro poderá descansar
e, depois, jogar em Lisboa. Jogaremos com quatro a meio-campo e
apenas um avançado no jogo com o Benfica. Esperemos que dessa forma
possamos atacar melhor do que fizemos hoje".

Quem ficar no banco em Estugarda jogará de certeza em Lisboa.

O resultado de 1-0 deixa os adeptos do Bayern bastante decepcionados,


apesar de, talvez, já se esperasse este desfecho. A maior parte das
pessoas não estava nada convencida pelos avisos que Guardiola fizera a
respeito da equipa portuguesa. Ele sempre soube que eles seriam difíceis
de bater.

"Não vos tinha dito? O Benfica é uma equipa forte. As pessoas tendem a
pensar que se uma equipa não é espanhola, alemã ou inglesa, deverá ser
uma porcaria. Se as pessoas reparassem mais na Liga portuguesa, dar-
se-iam conta que eles têm algumas equipas mesmo muito boas".

Guardiola passa alguns minutos imediatamente após o apito final a falar


com Douglas Costa ainda no relvado, mas já fora das quatro linhas. O
rendimento do jogador caiu tanto que o treinador sugere-lhe que precisa
de pensar seriamente sobre como corrigir os seus erros. Diz-lhe que ele
precisa de se concentrar nas suas áreas mais fracas e de melhorar a
qualidade do seu futebol, que fez alguns erros graves durante o jogo
quanto ao pressing e à marcação individual. Pep precisa dele de volta à
forma cintilante que já mostrara durante a época. Os dois falam sobre isso
e, depois, trocam um abraço.

Pep é, inclusivamente, a pessoa que está menos decepcionada com a


exibição de hoje do Bayern: "Eu tinha-vos dito como é que o Benfica
jogava, não foi? Jogámos bem, mas falhámos as nossas oportunidades.
Estamos com dificuldades na frente e posso agradecer à nossa estrelinha
da sorte que o Franck está em grande forma. Vejamos se um pouco de
descanso funciona para os nossos pontas-de-lança".

Esta noite, o Bayern igualou o recorde de 2013/14 do Real Madrid de 11


vitórias consecutivas para a Champions League. O Bayern acabou
instantes antes de somar o seu 11º triunfo europeu consecutivo e
Guardiola completou o seu 150º jogo ao comando da equipa alemã.
Venceu 114 partidas, empatou 18 e perdeu 18. Ele debita estes números
ao seu pai, dizendo-lhe de uma forma radiante: "Pai, 76% foram vitórias.
Melhor do que com o Barça". (Conseguiu 72,4% de triunfos em Barcelona).

Valentí também tem um sorriso de orelha a orelha. Está orgulhoso do


seu filho, mas também espera bastante dele. Pep aprendeu a feroz ética
de trabalho do seu pai e sempre se considerou um treinador com um
talento limitado, que tem que trabalhar mais que os outros para compensar
essas limitações. Valentí, que trabalhou na construção civil, sempre
instilou no seu filho a importância do trabalho árduo e esse é um valor que
Pep tem aplicado ao longo da sua carreira. Esta noite não é diferente e a
sua mente ainda está a trabalhar, a pensar em tudo o que necessita ser
feito nos próximos dias. "O jogo de hoje deu-nos tanta informação
adicional sobre o Benfica… Já não precisamos de depender de vídeos,
pois agora vimo-los em primeira mão e os meus jogadores compreendem
muito mais agora do que percebiam ontem. Temos que usar esse
conhecimento para melhorar o nosso jogo quando os reencontrarmos. Eles
perderam o Jonas para o jogo da segunda mão e eu próprio também
pretendo fazer algumas alterações".

Pep está interessado em saber se a magnífica organização defensiva do


Benfica é resultado do recente trabalho de Rui Vitória ou se pertencem a
Jorge Jesus as ideias-mestras do seu jogo. Miguel Lourenço Pereira, um
bastante respeitado jornalista português. "Acho que é uma mistura de
ambos. Quando ele dirigia o Vitória Guimarães, Rui Vitória era famoso pela
sua forte defesa. Na altura, usava um 4-4-1-1 com vários jovens jogadores
e a sua actual equipa do Benfica parece bastante aquela equipa do Vitória
Guimarães que venceu o Benfica de Jorge Jesus no final da Taça de
Portugal. Nesse dia, também foram soberbos a defender. E Jesus também
trabalhou bastante para melhorar a sua defesa nos últimos anos que
passou no clube. Ele começara com um Benfica com um estilo de jogo
bastante ofensivo e a sua defesa era várias vezes negligenciada e, como
tal, ficava exposta. Nos últimos anos, isso mudou bastante e tinha um
conjunto fixo de defesas que formaram um quarteto forte, mas que
também sabiam como ajudar o meio-campo a pressionar e a fechar
espaços. Sei que Lindelöf, Nélson Semedo, Ederson e Renato Sanches se
estrearam pela equipa principal esta época, mas a verdade é que já
treinavam com Jesus na época passada e foi sua a ideia de transformar
André Almeida num defesa-lateral e de usar Samaris e Pizzi para ajudar a
fortalecer o bloco defensivo. Por isso, pode provavelmente dizer-se que o
Benfica actual é o resultado de um soberbo legado, que foi desenvolvido e
melhorado por um treinador que conseguiu retirar o melhor de um jovem
plantel".

Pep está fascinado. Ele não aprendeu nada que possa usar para bater o
Benfica na segunda mão, mas ajudou-o a compreender melhor a evolução
da equipa portuguesa.

"Eu admire verdadeiramente aquilo que Jorge Jesus conseguiu. Ele fez
um grande trabalho. E Rui Vitória também ajudou a equipa a evoluir. Eles
são ambos dois treinadores do caralho. Entre eles, conseguiram criar outra
equipa ao estilo de Sacchi".

Uma semana depois, Lewandowski fica sentado no banco do Estádio da


Luz e Müller joga, tal como o treinador havia planeado. O Bayern elimina
os campeões portugueses e qualifica-se para a sua quinta meia-final
consecutiva da Champions League (duas com Jupp Heynckes e três com
Pep Guardiola). É a sexta meia-final do clube em sete anos, desde que,
em 2010, chegaram à final com Louis van Gaal e quase igualaram o Real
Madrid (seis meias-finais consecutivas) e o Barcelona (sete em nove
anos).

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