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O dérbi eterno foi aquilo que faz dele, há mais de 100 anos, um jogo apaixonante. Teve
alternâncias de ascendente, alta tensão, muita luta, uma expulsão e um final
absolutamente caótico, quando o Sporting parecia a caminho de sair da Luz com a
liderança reforçada, o estatuto fortalecido de melhor equipa desta Liga e acabou
derrotado com dois golos já em tempo de compensação.
O dérbi começou por ser o jogo de desencaixes que Ruben Amorim previu. Porque o
Benfica desfez o 3x4x3 do desastroso jogo a meio da semana para a Champions e
recuperou o 4x4x2 ao, qual, apesar de todas as carências que ele tem, está mais
habituado.
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Os encarnados foram melhores durante mais tempo na primeira parte. Mais agressivos
nos duelos e objetivos com bola. Durante os 20 minutos iniciais, as equipas pareciam a
antítese do que os sinais prévios ao dérbi pareciam anteviam. O Benfica uma equipa
governada e hiperconfiante; o Sporting a duvidar de si próprio.
Gradualmente, o Sporting estabilizou. Começou a ter mais bola e a ser mais eficaz na
pressão, impedindo que o Benfica de chegar com a mesma facilidade ao ataque. Depois,
duas ocasiões de Diomande e de Pote – ambas negadas por Trubin – mostraram que os
leões queriam tanto ganhar o jogo como as águias e agarrar o «seis» que Amorim não se
cansara de repetir na conferência da véspera.
Foi dele o soberbo passe que deixou Pote na cara do guarda-redes do Benfica e seria
dele, após deixar o lateral-esquerdo Morato para trás de forma brilhante, o lançamento
para o golo de Gyökeres na última jogada da primeira parte de um dérbi nervoso e
intenso.
O dérbi dos desencaixes mudou aos 51 minutos, quando Gonçalo Inácio foi expulso por
acumulação de amarelos após falta sobre Rafa. A partir daí, a bola foi do Benfica e o
jogou-se sobretudo nas imediações da área de Antonio Adán.
Até aos derradeiros instantes, altura em que o dérbi ganhou uma dimensão que
transcende a lógica que o Futebol insiste em fintar, o melhor que o Benfica tinha feito
após ter estado em superioridade foram remates perigosos de João Mário e de Di María,
mas os dois de fora da área.
No quarto de seis minutos de compensação dados por Artur Soares Dias, as clareiras
que começavam a ver-se nas bancadas da Luz denunciavam a desistência dos adeptos de
uma equipa.
Só que a equipa, mesmo com todos os seus (muitos) defeitos, não desistiu. Trubin subiu
à área leonina em duas bolas paradas seguidas e, na segunda, o melhor do Benfica na
noite elevou-se também à categoria de melhor em campo, repetindo Alvalade na época
passada: João Neves.
Aí, acendeu-se a luz da esperança. Acendeu-se também a Luz para segundos finais de
absoluta loucura.
E o Benfica frágil tornou-se no Benfica campeão nacional que é. Numa equipa com
alma e chama imensa.
No último fôlego do dérbi eterno, os mais de 60 mil adeptos nas bancadas assistiram a
um plot-twist digno das melhores produções de ficção de Hollywood. Aursnes, o lateral-
direito adaptado, a cruzar para que Tengstedt, o último dos avançados na hierarquia do
plantel, fosse herói improvável e decidisse, com o selo do VAR, um dérbi que será
lembrado por muito tempo e que terminou com um novo líder do campeonato.
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