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O fluminense do diniz não joga, baila.

Um baile que figura entre o esplendido e o infarto, entre


belas jogadas de um Ganso inspirado a um temerário Fábio espinafrando uma grama numa
bola recuada em um jogo mata-mata qualquer. Mas o Fluminense segue. Entre vitórias e
derrotas, sobressaem-se as primeiras. Diniz imprime um estilo de jogo ao seu time que lhe
permite se fingir de caça quando é caçador. Tem consigo um domínio grande dos espaços de
campo e usa como receita aquilo que não é recomendável desde os idos das escolinhas de
futebol: não cruze a bola na frente da sua grande área; Aproximação? só no vazio: evite o
drible na defesa, a lista não encerra aqui. Tinhoso, Diniz quer provar-nos que aprendemos
errado. Tal qual qualquer outra ciência, seus mitos fundadores hão de cair. Mas futebol não é
só ciência, decerto estaria mais na seara dos deuses, do improvável, do místico, da fé, do
inimaginável. Esta é a natureza do futebol para aqueles que somos apaixonados. Não se
apresse pois que não quero, com isso, desprezar o tanto de político que paira sobre esta
mística.

Óbvio que traço estas mal versadas linhas após mais uma vitória. Jogo épico. Místico,
inimaginável. Como há de ser. O time adversário- o Olímpia- entrou com jogadores a mais,
impulsionados por uma torcida apaixonada que lotava o estádio. Mas mesmo isto não era
páreo a mística do Flu. Os primeiros minutos foram tensos, flu tocava a bola enquanto o
Olímpia agredia com suas inúmeras bolas altas para a área. Olímpia, fosse grego seria
olimpo,mas paraguaio que é fez baixar os deuses guaranis e um gigante de 1,94m
amedrontava a defesa tricolor com uma presença quase fatal.

Mas do lado de cá tinha axé, tinha Tupã, tinha o sobrenatural de almeida, tinha Diniz, tinha até
Jesus. Contra o gigante, o flu lançou mão de um foguete em forma de jogador, cujo nome
remonta a história dos Estados Unidos: John Kenedy. Se ali havia um gigante, do lado de cá
havia saci. Pouco depois saci tropeçaria. Quiseram os Deuses que num corte na ponta
esquerda do olímpico jogador, Samuca- o gigante de pernas curtas- ganhará asa e voará, ao
léu. Uma batida seca na bola que resvala na canela de titânio do zagueiro Nino e para no
fundo da rede da muralha mais antiga do futebol: o semi-intransponível Fábio.

O segundo tempo começa e o Olímpia, com doze jogadores, volta a carga contra o Flu.
Seu atacante perde duas, marcado de perto pelo sobrenatural de almeida e mais ninguém. De
repente ele, de novo JK, tal e qual um foguete mal construído pela nasa, rabeia de um lado,
bambeia de outro e, desavisadamente encontra Lima escapando que, agarrado pelo
adversário, leva à sua expulsão. Aí eram 11 contra 11. Talvez 11 contra 10,5, a expulsão
arrefece os ânimos da torcida adversária. Se eu fosse um dos aguerridos 2 mil tricolores
presentes ao estádio, certamente diria: 11,5 contra 10! Mas não fui. Abatidos, os deuses
guaranis entendem que aquela conjunção mágica que paira do outro lado resplandeceria, e
deram a sua licença. JK- o jogador foguete- novamente no comando do ataque, recebe a bola-
mas parece que é pipa e ‘dibica’- explosivamente corta para um lado e em velocidade chuta a
bola que explode na trave inversa. um suspense de milissegundos assoberba-se

Houvesse música, não seria valsa, mas como bailarino que é, German Cano, Deus do um
toque-só, de coxa arremata para o gol. 2x1. André desfilava suas vestes sagradas, Nino afinava
as cordas enquanto Alexander afinava os tambores, felipe melo tornou-se o gênio da
temperança, Ganso o maestro da orquestra, Samuca a guitarra base quando sola, diogo
barbosa a nota menor, keno o sopro estalido do metal, e Árias deus da guerra colombiano.
Logo a seguir, como parte do ritual, Lima, mais escorregadio do que pedra molhada, encontra
Cano, ele mesmo o artilheiro, que se desengonça com a bola antes de cortar o goleiro e bater
no fundo do gol; numa rede que parece tijolo. 3x1. O jogo termina, nada mais importa. O
futebol agradece, o flu segue mais uma vez. Será campeão, já foi campeão. O que o Flu faz em
campo agrada aos deuses do futebol e deve ser louvado pela razão.

Diniz é a dialética suave entre o Deus ameríndio de nome Maracanã junto à sabedoria
de um pagão qualquer que lhe calha o nome de João Saldanha.

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