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Possíveis temas de redação do CFO 2019

1) A importância da comunicação para a atividade policial.


2) A utilização das mídias sociais como ferramentas de prevenção a criminalidade.
3) O relacionamento da PMMG com a imprensa.

DISCURSO DO PARANINFO DA TURMA DE ASPIRANTES DE 2018 (30/11/2018)

Há poucos dias estive aqui com vocês para um bate-papo informal, uma resenha, em que tivemos
oportunidade de trocar ideias sobre nossas atividades públicas, sobre a vida em geral, e confesso
que saí daqui bastante estimulado pelo excelente nível da nossa conversa, por verificar ‘in loco’ que
a Polícia Militar de Minas Gerais está cuidando com carinho e competência da formação de seus
quadros atuais e futuros.

Volto hoje como paraninfo da turma e, por uma dessas felizes coincidências que a vida pública nos
oferece, estou aqui na condição de governador em exercício do Estado de Minas Gerais, fruto de
uma tripla gentileza do governador Fernando Pimentel, do vice-governador Antônio Andrade e do
presidente da Assembleia Legislativa, deputado Adalclever Lopes, três fraternos amigos.

Mas, naturalmente, não vou me dirigir a vocês na condição de governador ou de presidente do


Tribunal de Justiça, cargo que motivou o convite. Vou lhes falar mesmo na condição de paraninfo,
que é sinônimo de padrinho, que, por sua vez, é a pessoa capaz de substituir a condição paterna.
Nessa condição, meus queridos afilhados, não terei a pretensão de lhes dar conselhos, mas terei a
liberdade de lhes pontuar com franqueza o que penso da nossa vida de servidor público, que todos
somos.

Já na semana passada, quando estive aqui, eu toquei no fato de que vejo muita similaridade
entre as carreiras da Polícia e as do Judiciário, ou pelo menos entre os servidores de uma e
de outra instituição. A primeira e talvez mais importante semelhança está na missão de
ambas, essencialmente voltada para a pacificação social, ainda que por caminhos diferentes.
Esse, aliás, foi um dos aspectos que mais destaquei em meu discurso de posse, há menos de
seis meses, e que venho repetindo com insistência. A missão do Poder Judiciário é a de
mediador de conflitos, em busca da pacificação social.

Não vejo grandes diferenças no que entendo ser a missão da Polícia, em especial da Polícia
Militar, no formato em que ela está configurada na estrutura de Segurança brasileira. Nosso
conceito de segurança pública evoluiu bastante nesses últimos anos, levando as forças
responsáveis pela segurança a se pautar e se responsabilizar também, em grande dose, pela
questão social.

Vejo com satisfação, por exemplo, no documento que me foi enviado pelo comandante da Academia
de Polícia Militar, coronel Márcio Flávio Linhares, que a grade curricular de disciplinas do Curso de
Formação de Oficiais, que vocês estão concluindo, contempla 32 competências técnicas e 61
de “competências comportamentais”. Vejam bem, vocês cursaram quase o dobro em
disciplinas comportamentais, o que significa, certamente, um direcionamento do seu
comando para o fato de que o comportamento de todos, daqui para a frente, deverá estar
dirigindo os seus passos.

Reporto-me novamente ao documento enviado pelo coronel Márcio Flávio, em que ele informa que
ao investir na formação de seus futuros comandantes, dentre s quais muitos de vocês, a Polícia
Militar quer que todos estejam preparados para, abro aspas, “promover a segurança pública
por meio de operações de coordenação, controle e monitoramento das metas de segurança
pública [...] no cenário da desejável redução incessante da criminalidade”. Fica claro para mim
– e creio que está suficientemente claro também para vocês, caros afilhados – que o resultado
esperado de seu trabalho é uma sociedade pacificada.

Ou seja, nós, no Judiciário e na Polícia Militar, temos metas – ou missões – similares e ambas
convergem para a busca de uma sociedade mais justa, menos desigual.

Para isto, naturalmente, é preciso que estejamos tecnicamente preparados e institucionalmente


respaldados. Volto à grade curricular do Curso de Formação de Oficiais e anoto novamente que lá
estão as 32 competências técnicas que vocês estão obrigados a assimilar, para o correto
desempenho das novas funções que passarão a desempenhar daqui para a frente.

Esse é outro ponto fundamental a que quero me referir. Vocês ingressam a partir de agora em uma
nova etapa de sua carreira profissional, em que passarão a ocupar funções e missões cada vez com
maior relevância, pois estarão em postos de comando. Atentem sempre para o fato de que o
posto de comando não será apenas um estágio hierarquicamente superior ao de seus
subordinados, mas um lugar em que as repercussões sociais de suas decisões serão
imensamente maiores. Se a atitude de um soldado no enfrentamento de determinada situação
vai repercutir talvez em uma ou em apenas um grupo de cidadãos, a opção de comando de
quem está à frente de um batalhão, com certeza repercutirá sobre um conjunto social muito
mais amplo.
Isto não é um conselho, é apenas a constatação de quem, como eu, está exercendo uma função em
que cada decisão, cada escolha feita, irá afetar a vida de muitas pessoas, milhares de pessoas, às
vezes. Procuro me pautar por esta reflexão a cada sentença que tenho que prolatar e sinto-me à
vontade para recomendar a vocês que ao fazer suas escolhas profissionais, cuidem de não ferir
o aprendizado técnico e muito menos a lei, mas não deixem de pesar e sopesar a repercussão
social que elas terão.

Sei que é um tanto quanto redundante essa minha pregação em torno da imperiosa necessidade de
nos voltarmos sempre para a questão social, pois tenho a certeza de que a maioria de vocês tem
contato com essa realidade no dia-a-dia do seu trabalho e a maioria, como eu, é oriunda das
camadas menos favorecidas da nossa sociedade. Creio que já lhes relatei em nosso último encontro
que iniciei minha vida de servidor público como office boy de cartório em Patos de Minas e fiz todo o
trajeto de escrivão e juiz, até chegar ao posto de desembargador. Não foi uma trajetória fácil, como,
tenho certeza, não tem sido fácil a trajetória de vocês.

Sei bem o que tem sido a luta de vocês, desde o primeiro concurso para ingresso na carreira até
chegar à condição de Aspirantes a Oficial, que atingem hoje. Quantos dias, noites e fins de semana
de trabalho e estudos longe da família, quantas noites mal dormidas, quanta ansiedade. Sei bem o
que isso representa e posso lhes afirmar com tranquilidade que só a soma de trabalho e dedicação é
capaz de nos fazer resistir e superar as dificuldades.

Ao meditar na vida de vocês, lembrei-me do episódio do General Pompeu, da Roma antiga, algumas
décadas antes de Cristo. Ele tinha como missão comandar as naus que iam até a Sicília buscar o
trigo das províncias para alimentar os romanos. Naqueles tempos, os riscos de navegação eram
grandes, em virtude das limitações tecnológicas e dos vários ataques piratas que aconteciam com
relativa frequência. Sendo assim, os tripulantes daquela viagem viviam um grave dilema: salvar a
cidade de Roma da grave crise de abastecimento causada por uma rebelião de escravos, ou fugir
dos riscos da viagem mantendo-se confortáveis na cidade de Sicília. Foi então que, questionado por
um soldado se não seria melhor ficarem na Sicília, o general Pompeu proferiu a frase “Navegar é
preciso, viver não é preciso”. Essa frase, hoje cantada em prosa, verso e música, tem um significado
enorme, pois representa que nossa missão muitas vezes será superior à própria vida.

E vocês optaram por ter não apenas uma profissão, um ganha-pão, mas sim por um sacerdócio, por
ter uma missão diferenciada na vida. Certamente, esperamos que vocês jamais precisem optar entre
o navegar e o viver, pois sempre será possível a convivência entre ambos, desde que jamais nos
afastemos da ideia de que cumprimos aqui uma missão.
Parabéns a todos, portanto, por terem feito essa escolha e levem consigo minha bênção de padrinho
e meus votos de que sejam bem-sucedidos na profissão e na vida.

Permitam-me, finalmente, encerrar esta minha oração com a citação de versos do grande poeta
Thiago de Melo: “Fica permitido que o pão de cada dia tenha no homem o sinal de seu suor. Mas
que sobretudo tenha sempre o quente sabor da ternura.”
Muito obrigado.

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