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Sumário
1- Apresentação..................................................................2
2- Prólogo...........................................................................5
3- Capítulo 1: Abdução de
Davi.......................................14
4- Capítulo 2: Abdução de Richard..................................27
5- Capítulo 3: A
conspiração............................................34
6- Capítulo 4: Abdução de John.......................................70
7- Capítulo 5: A fuga.......................................................79
8- Capítulo 6: A fusão......................................................89
9- Capítulo 7: A simulação............................................103
10- Capítulo 8: Siga, iQuant............................................112
11- Capítulo 9: O resgate.................................................126
12- Capítulo 10: Recíproca verdadeira............................137
13- Capítulo 11: Abdução de Diana.................................147
14- Capítulo 12: O confronto...........................................153
15- Capítulo 13: “Cavalo de Tróia”
quântico...................165
16- Epílogo.......................................................................176
17- Considerações finais..................................................178
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Apresentação:
Esta obra, inicialmente chamada Mente Alienígena e
posteriormente chamada iQuant, é baseada em um sonho que
tive pouco antes do falecimento do meu cachorro, o Milo, que
morreu em 03/10/2009.
Na primeira parte do sonho foi onde tive o maior tempo.
Acordei às5:54 da manhã, impressionado com o sonho, que na
verdade era um pesadelo. Pensei em anotar tudo, pois havia
anteriormente lido uma matéria sobre sonhos que dizia que as
pessoas assim que acordam lembram-se deles apenas nos
primeiros dez minutos, após isso ele vai se desfazendo ao
longo do dia até que deixa apenas rastros ou mesmo nada de
lembrança. Mas estava com muito sono, desisti da anotação e
voltei a dormir. Então o sonho continuou, coisa que é
considerada rara — e eu sou uma prova viva disso, apenas três
vezes ao longo dos meus trinta e três anos isso me aconteceu.
Então eu acordei me recordando de exatamente tudo do
sonho, detalhe por detalhe. A estação de trem, os trens
alienígenas, o condutor, os homens de terno, Diana e John.
Obviamente que seus nomes foram adaptados.
Isso ficou me corroendo por todo esse dia, pois as cenas
ficavam se passando na minha cabeça o tempo todo.
No dia seguinte, a primeira coisa que eu pensei quando
acordei foi nesse sonho, então fui para o computador e comecei
a digitá-lo. Daí surgiu a ideia de transformá-lo em um livro.
No meu sonho andava por uma estação de trem à noite.
Entrei na mesma por uma passagem gradeada, fugindo de algo,
e encontrei “Diana” no condutor. Alguns flashes me mostraram
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a beijando, tinha olhos azuis, pele amarela e cabelos negros,


levemente cacheados, assim como os da minha esposa.
Eu sempre fui uma pessoa que tive sonhos fantásticos, já
busquei informações a respeito, entretanto não consegui muitas
informações relevantes, a não ser que pessoas com a mente
muito criativa são propensas a ter sonhos desse tipo. E como eu
sempre tive o dom de desenhar e uma ótima criatividade para
isso, entendi essa visão. Fora que eu sempre fui apaixonado por
astronomia, arqueologia e física, bem como astrofísica,
robótica e tecnologia, embora não as estude, apenas leio como
hobby. E na fantasia, sempre admirei muito alienígenas e
invasões. Além disso, sempre acreditei em vida fora da Terra,
não importa como ela seja, inteligente, primitiva ou a nível
microrgânico. O fato é que eu não acredito que nesse infinito
universo existamos apenas nós, narcisa e arrogantemente.
Eu tive esse sonho, posteriormente sonhei com a segunda
parte e anos depois com a terceira. E o livro, que seria apenas
uma história, tornou-se uma trilogia na qual eu ainda trabalho.

Sinopse:
Há anos cogita-se a possibilidade de haver vida fora
da Terra. Milhares de pessoas dizem ter avistado OVNIS e
algumas outras afirmam terem sido abduzidas. Já vimos
milhares de reportagens falando sobre Agroglifos, ou círculos
em plantações, supostamente deixados por alienígenas. Mas
tudo não passa de mera especulação.
Porém... Davi Onorato, um jovem policial militar,
teve uma experiência, que realmente trouxe a prova da
existência de vida fora do planeta. E o pior: eles estão há
séculos por aqui... Escravizando humanos... Formando um
exército... Para acabar com a Terra? Não! Para combater uma
raça ainda maior e mais poderosa que pretende controlar todos
os universos observáveis, controlar as três pedras da vida.
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Entretanto o policial entrou no caminho dessa raça


que habita a Terra para tentar impedir que tomasse posse do ser
humano e transformasse nossa raça em um exército controlado
por chips quânticos.
A Terra, que estava em meio ao fogo cruzado, agora passa a
ser um dos alvos e somente uma tecnologia será capaz de dar-
lhe força para combater de igual para igual.
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Em um lugar do universo existe um planeta chamado


Níbiru, liderado por Gênesis, um líder da raça Anunnaki. A
nação de Níbiru está prestes a conquistar um novo planeta e
deixar o seu de origem por detectarem que o mesmo está
prestes a tomar uma rota em direção a outro planeta, e que se
chocará em pouco tempo. Esse novo planeta foi percebido
durante alguns milhões de anos posicionado em uma área
mediana na galáxia, nem tão perto e nem tão longe de sua
Estrela, com condições climáticas agradáveis dispensando a
necessidade de tecnologia para a sobrevivência de várias
espécies. Um planeta batizado de “Terra”.
Gênesis, um ser que tem aproximadamente sessenta e
sete milhões e duzentos mil anos de existência, foi um dos
seres que chegou à beira da perfeição da evolução das espécies.
Nesse e em qualquer universo, sua aparência é extremamente
divina. Um ser de pele acinzentada, corpulento, olhos
vermelhos, cabelos longos, lisos e negros, o único em sua raça
portador das quatro asas, e extraordinariamente mais
inteligente e forte fisicamente, enquanto os demais irmãos
portam uma asa simples, não menos bela, mas percebe-se que,
a partir dele, uma nova evolução de espécie se desencadeia.
Gênesis envia uma nave para o planeta Terra com um
líder global, que é um de seus irmãos, e alguns colonos ainda
sem consciência, para que se adaptem àquele planeta, e
algumas cápsulas com células vivas para que sejam lançadas ao
mar a fim de que se permita a evolução de sua espécie. Antes
disso, no entanto, sua equipe de cientistas precisou enviar
sondas para mapear e conhecer esse planeta e perceberam que
se tratava de um planeta já habitado, mas não por seres
pensantes e sim por um tipo de réptil gigantesco, sendo preciso
acabar com aqueles seres antes mesmo de enviar suas formas
de vida.
— Enki, desvie alguns milhares de rochas em direção à
Terra! — ordena Gênesis. — Precisamos limpar aquela área
antes de acamparmos, e esses seres podem ser formas de
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evolução dos reptilianos, mas pelo visto o planeta foi


abandonado.
— Claro, meu senhor! — Enki responde. — Farei isso
agora.
— Decodificamos mensagens do cosmos. Várias
civilizações estão em busca de seres inteligentes — Genesis
continua. — e algumas delas não são amigáveis, estão em
busca da Tenokran e parece que farão o que for necessário para
conseguir. Não sei quanto tempo demorarão até nos encontrar,
mas precisamos nos fortalecer para recebê-los e precisamos,
principalmente, perpetuar nossa espécie deixando-os crescer
autonomamente.
— Como sabem da Tenokran, Genesis? — Enki
questiona.
— Não sei afirmar, meu irmão, mas de uma coisa eu
tenho certeza: não podemos, em hipótese alguma, permitir que
ela vá parar em mãos erradas. Eu a protegerei até que não sobre
uma gota de suor.
Enki dirige-se à sala de ações meteorológicas e ordena a
sua equipe que envie uma série de comandos para que seus
satélites mandem informações para gerar gravidade em um
cometa a fim de que esse atraia os demais.
Algumas horas depois um aglomerado de rochas se
forma em volta do planeta Terra. Em seguida são enviados
contra a mesma causando uma catástrofe e abatendo todos
aqueles répteis que lá habitavam.
Tempos depois, com a poeira da Terra menos densa,
Gênesis ordena o ingresso de Enki para começar a colonização.
Sua equipe usa sua magnífica tecnologia para levá-los,
criando dois pontos magnéticos, um próximo ao planeta Níbiru
e outro próximo ao planeta Terra, e, então, usam uma segunda
dimensão para transmitir uma intensa gravidade nos dois
pontos traçando uma linha entre si, fazendo com que um
atraísse o outro. Esse processo durou várias horas até que o
tecido espacial se curvasse e um ponto se unisse ao outro
criando uma enorme explosão, e ali estava aquela grande
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maravilha, um enorme rasgo no espaço tempo, que permitia


observar de perto o planeta Terra.
Enki e sua colônia partiram em sua nave em direção ao
enorme rasgo, que ao ser cruzado, simplesmente desapareceu,
fechando-se.
Olhando da perspectiva da nave, era como se estivessem
em um enorme túnel, onde tudo passava em disparada.
Emaranhados luminosos eram observados. Esse túnel
permitiria sua chegada ao outro ponto em pouco tempo.
Horas depois...
— Senhor, chegamos ao ponto final. Estamos próximos
da Terra — informa Enki à Gênesis.
— Sim, Enki, agora preciso que você faça exatamente o
que programamos. Nenhuma tecnologia deve permanecer na
Terra, precisamos de sua evolução natural, pois não poderemos
usá-la para não sermos detectados. Você precisará doutrinar
esses colonos que terão consciência assim que semearem a
Terra. Leve-os para o lado escuro do satélite natural desse
planeta e estabeleça a colônia para observar de perto. Você será
o tutor e, a partir daí, será o responsável pela Terra. Assim que
suas evoluções começarem, desçam ao planeta e doutrinem em
seus primeiros passos. Após isso, deixe-os seguirem sozinhos
até o nosso regresso. Interceda caso haja necessidade.
— Sim, senhor! Já estou ciente de todo o funcionamento.
Entraremos agora na atmosfera, ficarei incomunicável e
desligarei os sensores da nave para que nossa presença não seja
percebida até — diz Enki.
A nave adentra a atmosfera terrestre, procura a área mais
profunda do mar e então submerge para a descarga das
partículas. Em seguida, dirige-se ao lado escuro do satélite
natural para dar origem à colonização de observação.
— Eu nomeio esse satélite de Lua — informa Enki aos
seus súditos.
A operação fora um sucesso.
Alguns milhões de anos após ter conquistado seu
vigésimo terceiro planeta habitável, o último da via láctea, um
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dos maiores planetas já encontrados, chamado Porion, e tê-lo


tornando seu planeta base, Gênesis estava pronto para unir seus
vinte e dois irmãos para começar a buscar por outras galáxias,
quando intempestivamente seu planeta base é atacado por
piratas do espaço. Logo sua base recebe informações de que a
guerra havia começado mais cedo que se imaginava e todos os
seus planetas estavam sendo massacrados, inclusive Sumério.
— Enki, saia da Lua, agora! — ordena desesperadamente
Gênesis. — Estamos sendo atacados! Leve essa colônia para
alguns milhares de anos luz daqui! Precisamos deixar a via
láctea.
Sem entender, Enki questiona:
— Mas o que aconteceu, senhor? Quem nos atacou?!
— Seres semelhantes a répteis — Genesis prossegue. —
tomaram todos os nossos planetas, escravizaram a todos e estão
entrando aqui, nesse momento. Com certeza serei preso, não
tenho como escapar, mas você sim, saia e salve nossa
civilização!
— Ok, senhor, considere feito. Mas, e o senhor? — Enki
insiste
— Não se preocupe comigo! Conquiste planetas, forme
aliança, busque nações amigas e, se puder, resgate-nos. Sei que
será quase impossível, mas acredito que será capaz.
Enki alerta a todos os colonos da Lua para que deixem
tudo e entrem em suas naves por conta dos ataques. A nave
mãe se forma a partir de cada nave da colônia.
Assim que formada por completo, Enki prepara-se para
usar o mesmo recurso que distorce o espaço-tempo para fugir
daquele local, mas já era tarde, seus inimigos já haviam
anulado qualquer tipo de envio de informação de qualquer tipo
de nave localizada na Via Láctea.
Não tendo mais opções, ele só encontrou uma solução:
desacoplou sua nave da nave mãe e, com apenas alguns
colonos, dirigiu-se à Terra para estabelecer-se nela.
O que sobrou da nave mãe foi utilizado numa técnica
emergencial que criou um buraco negro que a tragou
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imediatamente, jogando seus destroços em qualquer dimensão


mais remota do universo, pois não poderiam haver rastros.

***

Ao perceberem algo fora do comum, os nativos olham


para céu, onde veem uma grande explosão e uma enorme bola
de fogo adentrando o planeta.
Esse objeto se aproxima cada vez mais, causando
alvoroço naquele povo, pois nunca haviam visto nada parecido;
alguns procurando refúgios, outros curiosos, porém
estarrecidos.
O objeto desce em alta velocidade e aterrissa em um
lugar descampado. Alguns dos nativos não seguram sua
curiosidade e correm em direção ao local da aterrissagem e lá
avistam o enorme objeto luminoso. Os nativos ficaram cada
vez mais estarrecidos, tentando associar aquilo à alguma coisa,
alguma divindade, talvez —, coisa que até aquele momento
não existia para eles, — mas como explicar tal acontecimento?
Não poderiam.
Todos observam a movimentação do objeto luminoso,
avistam um compartimento se abrindo, de onde descem vários
seres estranhos, enormes e atrás uma figura diferente das
demais, deslumbrante e colossal, desembarcando junto.
Todos usavam trajes estranhos algo envolvendo seus
corpos e suas cabeças, menos aquele ser divino. Ele usava
apenas um belo traje de tecidos finos — algo que para os
nativos também era surreal. — sobre um traje metálico e
robusto e duas enormes asas da cor de seus cabelos negros e
grandes, sendo associado por aqueles homens a um grande
pássaro — o homem pássaro.
Então se retiram e voltam correndo ao povoado para
alertar aos demais nativos.
Todos os Sumerianos desembarcam da nave e admiram a
beleza daquele lugar.
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— Enki, aconteceu o que não queríamos: fomos


avistados por nativos. O que devemos fazer? — pergunta um
de seus colonos, o que tivera se destacado dentre os outros,
aquele que Enki escolheu como seu braço direito tornando-o
capitão de defesa.
— Não tivemos outra alternativa, Even — responde
Enki. — Agora leve o resto dos colonos a eles, apresente-se,
ensine nossa língua e lidere-os. Nunca diga de onde viemos.
Nunca! Submergirei nossa nave e lá permanecerei com todos
os sensores desligados, intercedendo apenas quando
necessário. Faça isso! — ordena.
— Sim senhor! Farei o que me ordena — assente Even.
— Deveremos permanecer aqui até que haja uma
possibilidade de eu conseguir recuperar algumas tecnologias de
comunicação interestelar. Prepararei seus corpos para se
adaptar a esta atmosfera sem a necessidade dos capacetes e
armaduras. Após quatro dias retornem a esta mesma área para
que seja feita a adaptação — o capitão assente meneando a
cabeça e segue em direção aos aldeões nativos para apresentar-
se.
Ao chegar à aldeia, ele e seus colonos são recebidos a
tiro de flechas e lanças, que nenhum efeito surte, pois suas
armaduras são criadas com os mais nobres metais existentes no
espaço.
Sua equipe fica imóvel durante alguns minutos enquanto
continuam a ser atacados e suas armaduras não recebem um
arranhão. Até que um daqueles aldeões se curva diante de Even
suplicando por suas vidas.
— Senhor, não nos machuque, por favor! — implora
aquele homem com o rosto tomado por marcas de expressão e
pele precocemente envelhecida por demasiada exposição ao
sol.
— Aproxime-se rapaz! — ordena Even com um tom
brando em sua voz.
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O homem se aproxima vagarosamente, de cabeça baixa e


seus olhos quase que atravessando sua nuca, envergando os
olhos em direção ao ser a sua frente.
— Meu nome é Even. Estou aqui em nome de Sumério e
seu líder. Fui enviado para liderar essa colônia e passar a vocês
nossos conhecimentos. Estabeleceremos aqui nossa aldeia,
vocês serão nossos discípulos, e passarão de geração para
geração tudo o que lhes for ensinado.
Logo toda aquela aldeia estava curvada diante dos
Anunnakis que começam a construir sua casa, mas sem auxílio
de tecnologias, a partir de materiais utilizados pelos nativos,
como madeira e cipós.
Quatro dias depois, retornam ao local solicitado por Enki
para fazer a adaptação. Toda a operação durou em torno de
duas horas.
O capitão e seus colonos retornam à aldeia, mas agora
sem aqueles trajes metálicos e sem seus capacetes, formando
ali a primeira civilização, os Sumérios.
Começara o trabalho de doutriná-los, ensinando-os o
básico sobre civilização, engenharia, arquitetura, alquimia,
física e astronomia, sem que a presença de Enki fosse
percebida, apenas seus discípulos tinham contato direto com os
nativos, pois eram as criaturas que mais chegavam perto de
suas aparências por serem híbridos. Havendo necessidade de
aparecer algumas vezes para impedir catástrofes naturais que
impedisse o desenvolvimento da civilização.
Suas aparições eram tidas como divinas, uma vez que
não poderiam explicar tal figura exuberante. Cada aparição de
Enki era marcada em paredes e blocos de pedra, sua nave
reproduzida em metais, pedras e madeiras, deixando a desejar o
pedido de seu Irmão de esconder dos nativos todo e qualquer
tipo de tecnologia para que nunca questionassem de onde
vieram.
Enki e seus discípulos viveram naquele planeta cerca de
quatrocentos anos, até que se enfraqueceu, pois não tinha mais
a tecnologia que regenerava suas células para que continuasse
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vivendo, então convocou seus discípulos e saíram em disparada


para fora da Terra, sendo sua nave, mais uma vez, avistada por
Sumérios que pintaram em paredes e replicaram em metais
pela última vez.
Ao sair da atmosfera, percebeu que não aguentaria mais e
precisou usar a mesma técnica que outrora usara para destruir a
nave mãe, destruindo também sua nave com seus corpos
dentro.
A Suméria cresceu de tal forma, que não conseguiu
acompanhar toda a doutrina imposta, gerando várias outras
civilizações adiante, algumas delas levando essa bagagem,
outras não. E nunca deixando de associar Enki e sua nave à
divindades, fazendo com que a crença no homem pássaro e seu
objeto voador e brilhante se propagasse pelo mundo e sendo
modificada por cada civilização.
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Após um grande dia de conquista, no Morro do Alemão,


comunidade do Rio de Janeiro que estava prestes a receber
uma Unidade de Polícia pacificadora, Davi, subtenente do
Batalhão de Operações Especiais, um dos protagonistas dessa
conquista, descansa, ainda sentindo em seu corpo a agonia de
subir um dos mais perigosos morros do Rio de Janeiro.
Solteiro, ele prefere ficar em casa e acompanhar pela televisão
o desfeche desse episódio alternando entre seus clássicos do
rock e algumas latas de cerveja.
Seu telefone toca, ele o olha, mas está longe de seu
alcance e sua preguiça o impede de pegá-lo imediatamente. A
chamada do telefone insiste durante alguns infinitos segundos,
até que ele se levanta.
— Ah. É você... — Ele vê a foto de seu amigo. — Alô.
— atende.
— Fala, Davi. De bobeira?
— Sim. Cai pra cá — Davi responde. — Estou
entornando umas aqui e ouvindo um som.
— Estou aqui no portão, estacionando o carro.
— Só entrar, não está trancado.
Segundos depois a porta se abre, o rapaz se depara com
Davi sentado, sem camisa e com as pernas sobre uma mesa de
centro, uma lata de cerveja na mão, um largo sorriso e
estendendo a mão, apontando para a cozinha.
— Pega uma lá.
O rapaz não pensa duas vezes e segue até a cozinha,
abrindo a geladeira e uma lata antes de fechar a primeira,
deixando o som audível para Davi. Ele retorna para a sala,
senta-se ao lado do amigo, olhando para a televisão ligada, sem
som e passando a reportagem sobre a operação e ao som de
Holy Diver, de Ronie James Dio, que vinha de seu
computador. Embora seja brasileiro, nunca conseguiu se
adaptar as músicas de seu país.
Davi estende a mão para seu amigo, que a aperta.
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— Largado aqui hoje — Davi começa. — Assistindo a


essa falsa vitória. E você Wagner, como foi o trampo? — ele
perguntou só por perguntar.
Wagner, além de seu amigo, também compartilha da
mesma profissão. Soldado da polícia de vias expressas.
— Nada de mais. O de sempre. Minha vida não tem a
mesma adrenalina que a sua. Ele sorri e dá um gole em sua
cerveja.
— Sabe, cara... Eu fico pensando, eles insistem em
pacificar essas porras de favelas para poderem fazer presença
para gringos, um projeto fadado à falência, e a gente fica no
meio dessa merda toda... Fala tu! — Ele dá um gole na cerveja
e então prossegue. — Recebemos uma miséria, colocamos
nossas vidas em risco por porra nenhuma.
— Sei como é. O pior, daqui alguns meses as forças
armadas saem da comunidade, vocês saem da comunidade e
pra quem vai sobrar isso? Pra nós e para os modernos.
— Comunidade é o caralho, Wagner! Está falando igual
viadinho agora? Favela, porra! — Davi deixa escapar uma
longa risada.
— Pode crê, irmão... — Wagner o acompanha na risada.
— Favela...
Davi interrompe o assunto apontando para a caixa de
som que acabara de começar a tocar The Unforgiven, do
Metallica.
— Aí... Por mim eu ficaria ouvindo isso aí até amanhã.
— declara Davi.
— Nem fala! — Wagner concorda. — Ouvindo e
bebendo, até amanhã. Mas infelizmente o dever vai chamar e a
gente vai ter que atender.
Os dois permaneceram bebendo e conversando durante
longas horas até que Wagner se foi e Davi se organizou para o
trabalho no dia seguinte e se deitou para dormir.
No dia seguinte o jovem acorda e se levanta atrasado, um
dia atípico em sua vida. O despertador já estava tocando há
mais de uma hora.
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Ele corre para o banheiro, toma um rápido banho e pula


dentro da roupa, pega sua mochila e segue para o carro sem
tomar café. Normalmente ele acorda uma hora antes para poder
curtir a sonolência e seu café lentamente antes de um agitado
dia de trabalho.
— Que dia é esse?
Ele abre a porta do carro e senta-se no acento, acostando-
se e com uma das pernas ainda para o lado de fora e respira
profundamente, solta lentamente o ar e, então, fecha a porta.
Em seguida gira a ignição e o carro que nada faz.
— Não acredito! — ele sussurra e abaixa a cabeça. — O
que houve dessa vez? — Ele fala, já com a voz mais ríspida. —
Acordo atrasado e meu carro não funciona. Vai me obrigar a ir
de trem infeliz? — Àquela altura do campeonato, pegar trem
no Brasil e no Rio de Janeiro era tudo o que ele precisava. —
Funciona! — ele vocifera e desfere um soco contra o volante.
Sem tempo para tentar fazer seu carro funcionar,
profundamente irritado e sem entender o que estava
acontecendo, ele segue em direção à estação de trem.
Atrasado muito mais do que a tolerância permite, ele olha
para o relógio contando os segundos, ou melhor, pedindo para
que o tempo pare, quando percebe que de fato o tempo não está
passando, pelo menos em seu relógio.
— Com licença, senhor, pode me informar as horas? —
suando frio e com seus nervos latejando, pergunta a um homem
na entrada da estação.
— São sete e meia — responde o homem, com aquela
voz sonolenta, que, em seguida, boceja, levanta as
sobrancelhas e volta a ler seu jornal.
As veias de sua cabeça começaram levemente a latejar
provocando um princípio de dor de cabeça.
— Obrigado — responde.
Inquieto, aguardando o próximo trem para o Centro e
tentando raciocinar sobre o que poderia ter havido com seu
carro, pois parecia que não havia nada dentro dele, parecia que
só existia lataria.
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— Graças a Deus! — Aponta em uma forma desfocada


no horizonte dos trilhos uma pequena bola cinza e brilhante,
refletindo a luz alaranjada do sol da manhã, era o trem. Ele
enfrenta aquele tumulto que deixara de enfrentar há tempos,
relembrando suas épocas de transeunte, antes de entrar.
Ao tomar o trem Davi encontra, por sorte, um espaço
vazio, então se senta, acomoda-se, alguns minutos depois
adormece...
Horas depois...
— Mas que porra é essa! Que horas são? Perdi meu dia.
Espera aí, que lugar é esse? Aqui não é o ponto final e também
não é nenhum ponto que eu conheça. O que está acontecendo?
— ele grita túrbido e se dirige até a porta, tenta puxá-la sem
resultado. Então ele começa a bater na porta que dá acesso ao
maquinista, mas ninguém atende.
Era um lugar completamente diferente do que ele já
havia visto. O trem não era mais o que ele tivera tomado antes.
Era completamente escuro, de cor grafite, incrustado de led
verde claro, que iluminavam pouco e transformava aquele
ambiente em um local ainda mais fantasmagórico. As portas
estavam trancadas e Davi só conseguia olhar pelas janelas e
havia pessoas do lado de fora, como se estivessem esperando o
próximo trem.
— Ei você, está me ouvindo? Sabe em que estação
estamos? Por favor, ajude-me a sair daqui! — Mas ninguém o
respondia.
Ficando cada vez mais nervoso, transitou pelos vagões e
começou a perceber que não se tratava de um simples engano,
mas que algo de muito errado estava acontecendo. — Inferno!
Essas coisas eram típicas de acontecer com ele, mas realmente
não tinha ciência do realmente acontecera.
— Eu tenho que achar um jeito de sair daqui, mas como?
— Janelas e portas todas blindadas, não havia muito o que
fazer, mas precisava sair de lá. — Ei! Você aí do lado de fora,
está me ouvindo?
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Sem resultados, ele soca as portas para que alguém possa


ouvi-lo.
— Que porra de trem é esse, irmão? — O frenesi toma
conta de sua cabeça, quando de repente uma das portas se abre.
— Quem está ai? — ele questiona. — Responda!
Então ouve passos lentamente entrando no trem, dois
homens de ternos pretos com a aparência pálida e veias
espalhadas por seus rostos, e olhos completamente negros. Um
portando uma arma jamais vista antes, similar a um fuzil, e
outro, com algemas também diferentes das normalmente
usadas pela polícia.
— Caralho, velho, mas o que é isso? Essa porra só pode
ser brincadeira — murmura pasmo e se escora na parede do
fundo do trem. — Quem são vocês e o que querem de mim? Eu
só queria ir trabalhar!
Nesse momento ele pensa: onde está aquele policial
destemido, que encara o problema de frente, que já matou
vários vagabundos?
Os homens, sem se pronunciar, aproximam-se. Um
aponta a arma e o outro se aproxima. A menos de um metro de
distância pega em suas mãos com um olhar completamente frio
e fixado em seus olhos e o tranca com as algemas.
Ao ser preso, percebe que não se trata de uma algema
qualquer, pois a mesma exerce uma atração de acordo com a
força que ele faz, sem ao menos possuir uma corrente. Um
capacete nada familiar é posto em sua cabeça e então recebe
um choque diretamente no cérebro e desmaia.
Algumas horas depois, Davi acorda.
— Nossa como você dormiu, achei que tivesse morrido.
— uma voz sarcástica surge ao fundo.
Com os olhos embaçados e lacrimejando as horas de
sono, enxergando apenas um vulto a sua frente, Davi se afasta
rapidamente gritando:
— Quem é você, que lugar é esse? — Vacilando com os
braços na tentativa de se erguer desajeitadamente.
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— Calma, Calma, eu sou amigo, vim parar aqui da


mesma forma que você. Digamos que nós tenhamos sido
abduzidos por alienígenas — diz a voz novamente num tom de
sarcasmo.
Esfregando as mãos nos olhos e os limpando para poder
enxergar ele diz:
— Você está achando que eu sou otário?! Que palhaçada
é essa aqui?! Você sabe com quem está brincando?!
— Não! — retruca. — Estou falando sério, eles estão
aqui há mais tempo que nós imaginávamos. E outra, pouco me
importa quem você era lá fora. Aqui dentro você é igual a mim.
Um escravo! Bem, meu nome é Richard, e o seu?
Conseguindo finalmente olhar para o rosto da pessoa que
estava a sua frente com clareza, um homem que aparentava ter
no máximo vinte e oito anos, estatura média, cabelos
castanhos, roupa social suja, cara de nerd. Ele responde,
murmurando:
— Onorato... Mas pode me chamar de Davi — ele
responde.
— Então, Davi, como veio parar aqui?
Davi olha para tudo a sua volta, aquela sala de
aproximadamente três por quatro metros, escura, com listras
iluminadas de verde no teto, olha para o chão, desalentado,
apoia seus braços em suas pernas e então olha novamente para
Richard e diz:
— Na verdade eu não sei, eu me lembro que acordei
atrasado para o trabalho, meu carro não funcionou e meu
relógio estava parado, achei estranho, mas fui direto pegar o
trem para não perder o dia e no trem adormeci... — Ele faz
uma pequena pausa, dá de ombros e então continua:
— Daí, só me lembro de ter acordado aqui.
Naquele momento tudo que Davi pedia era para estar em
seu trabalho, tudo que ele havia conquistado nesses últimos
oito anos estava se passando como um filme na sua cabeça e a
trajetória de toda a sua vida difícil, pois seus pais se separaram
quando ele tinha apenas 9 anos. Seu pai era um alcoólatra e sua
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mãe não tinha grande cargo em uma empresa de limpeza que


fornecia serviços terceirizados ao hospital central do exército.
Abandonou o colégio com 15 anos, voltando somente aos 18 e
passou por épocas de rebeldia como todo jovem nessa idade.
Então voltou a estudar e concluiu o colegial, conseguiu uma
vaga para a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro,
na área de engenharia da computação, e conseguiu se formar.
Atualmente estava trabalhando em uma empresa chamada Soft-
D; empresa de desenvolvimento de softwares para máquinas
industriais.

— Vou te contar uma história... Davi, não é? Estou aqui


há alguns dias, eles estão estudando nossa vida, e nos
transformando em um deles, com circuitos introduzidos no
pescoço, eu já os vi fazendo, eu seria o próximo, mas eles me
trouxeram pra cá de volta, não sei o porquê — disse Richard
com um olhar fixo para o nada.
— E você está aqui há quanto tempo? — pergunta Davi,
ainda confuso.
— Há umas duas semanas, não só eu, existem milhares
de pessoas aqui, presas e escravizadas, em partes diferentes —
ele responde.
— E como você está aguentando ficar aqui esse tempo
todo? Não pirou ainda?
— Não se tem muito o que fazer. Até que a comida não é
tão ruim. — Ele lança um sorriso forçado. — Olha Davi, tente
ficar sempre perto de mim, eu já conheço vários desses
caminhos, se eles trouxeram agente pra cá, é porque eles
precisam de nós para alguma coisa... — ele dá uma pausa e o
chama para sentar no chão, pegando em seu braço,
conduzindo-o para baixo, até que se sentam, e então prossegue.
— Davi, você topa fugir daqui? Richard pergunta
tartamudeando e com os olhos percorrendo o rosto de Davi.
— É, mas, como pretende fazer isso? — Davi responde
sem dar muita importância.
24

— Ainda não sei, mas duas cabeças pensam mais que


uma, precisamos bolar uma forma.
No meio da conversa a porta da cela se abre, e entram
dois homens da mesma forma que anteriormente e colocam as
algemas em Davi, novamente, e o levam, sem nada pronunciar.
Passando pelos corredores daquele local, Davi começa a
perceber que realmente se tratava de abdução, pois um humano
jamais planejaria todo aquele cenário somente para raptar uma
pessoa.
— Pra onde estão me levando? O que querem?
Ao sair da cela onde estava, começa a analisar
perplexamente aquele cenário de corredores metálicos e
iluminados, tudo com muita tecnologia. Irresoluto e alheio, ele
anda pelos corredores — que fantástico! —, ele percebe quão
inteligente eles são.
Após alguns metros, saindo por uma porta à direita, eles
se deparam com uma espécie de estação de trem.
Trens saindo e chegando. Alguns com formatos
“alienígenas”, negros com riscos, com luzes esverdeadas,
ligeiramente remetendo à uma placa de circuitos, brilhando
incessantemente, e outros com formatos normais.
Pessoas saindo e vindo, todas quietas, com olhares frios,
uma aparência lúgubre.
Davi é empurrado para dentro de um dos trens com
formato alienígena. Nesse, existem várias outras pessoas, mas
todas com aquele olhar frio, como se estivesse sem coração,
sem cérebro, sem sentimento. Seu interior é escuro restando
remanescentes da luz que bate nas paredes, retornando quase
apagada.
Ele caminha, segurando-se pelos bancos, passando por
várias daquelas pessoas, escolhendo à dedo uma para tentar
perguntar, e para perto de uma senhora, que o olha com um
olhar fixo, como se estivesse morta e pergunta:
— Olá, senhora, para onde nós estamos indo? — Mas
nada é proferido por ela.
Ele então insiste:
25

— Senhora! — Ele a agarra pelos ombros e a sacode. —


Pode me responder? Que diabos está acontecendo?
Ninguém o responde, então ele começa a andar pelos
vagões falando com todos, mas, sem obter qualquer resposta,
ele se senta, leva as mãos aos cabelos, levantando-os da testa
lentamente até a nuca, e olhando para o lado de fora, pensando
que tudo aquilo poderia ser um simples pesadelo.
Quando em uma de suas olhadas, consegue ver em fração
de segundos uma abertura que lhe pareceu ligeiramente
familiar, algumas pessoas conversando, uma criança e carros
passando no meio do nada.
— Deus, o que foi isso que eu vi? — Parecia o mundo do
lado de fora rasgado por outra dimensão.
Sua cabeça fervendo, não de dor, mas por ver todas
aquelas coisas que algumas horas antes quem tocasse no
assunto poderia até dizer dele um cético. Mas não, ele estava,
naquele momento, vendo coisas absurdamente fora deste
mundo que estavam confundindo cada vez mais sua cabeça.
— Primeiro acordo em um lugar estranho, depois entram
dois homens estranhos e me levam pra outro lugar que nunca vi
na minha vida, agora vejo uma outra dimensão. Será que estou
ficando louco ou estou de fato tendo um pesadelo? Não, se eu
estivesse num pesadelo não estaria achando que estou num
pesadelo. Que coisa de louco!
Davi não sabia se o que via era assustador ou fantástico.
Saber que tudo aquilo existe e ninguém sabe. Pelo menos ele
não sabia.
Alguns minutos depois Davi chega a seu local de destino
e é recebido por mais dois homens de terno que o conduzem.
Então ele percebe que o local é cercado por câmeras e sensores
de movimento com alarmes.
Entrando e saindo de portas, os homens o jogam dentro
de outra cela, tão escura quanto a anterior. Ele segue para o
fundo, se senta e diz:
— Eu preciso encontrar o Richard. Será que ele também
viu aquela passagem? Preciso dizer isso a ele.
26

Ele pensa e reflete, quando do lado de fora da cela


acontece uma grande explosão quebrando sua linha de
raciocínio, então se abaixa e põe as mãos sobre a cabeça,
encolhendo-se no canto da cela. A porta novamente se abre e,
para a sua sorte, Richard é jogado dentro da mesma e a porta é
fechada. Rapidamente, ele se levanta e diz:
— Richard, graças a Deus eu te encontrei! Preciso te
contar o que eu vi...
— É Davi e eu tenho que te contar o que eu acabei de ver
— Richard o corta, assustado com o que acabara de ver do lado
de fora. — Mas fala você primeiro, já que está tão empolgado.
Completamente nervoso Davi procura palavras para
descrever o que vira:
— Ok... Então... Richard... Cara... Eu estava dentro do
trem quando vim pra cá e, no meio do caminho, vi como se
fosse outra dimensão, lá fora, em fração de segundos, era como
se houvesse um mundo rasgando...
— Calma... — sem entender, Richard o corta novamente,
no meio do seu relato, coloca a mão sobre os ombros de Davi...
— Calma, Davi, explica isso melhor, eu não estou entendendo
nada, o que você viu dentro desse lugar?
— Não sei muito bem — Davi prossegue, dessa vez mais
de vagar. — Foi muito rápido, o flash que me restou é de umas
pessoas conversando e vários carros passando, mas no meio do
nada, então sumiu, foi coisa rápida — ele diz com os olhos
arregalados, impressionado e suando.
— Tem certeza que não é coisa da sua cabeça? —
Richard retruca.
— Absoluta, eu estou nervoso — confirma. —, mas
ainda não fiquei louco... — Davi abaixa a cabeça. — Não
ainda.
— Então... Fique calmo... Eu acabei de ver uma coisa
que pode nos ajudar muito. Eu os vi atirando em um escravo e,
simplesmente, o corpo virou brasa e evaporou no ar, nós
precisamos pegar essas armas, assim a gente vai conseguir sair
daqui. O que você acha?
27

Otimista, Richard consegue levantar o ânimo de Davi,


que, embora sabendo que essa será uma missão de risco, aceita
de imediato. Já com o clima mais calmo, Richard se senta no
chão.
— Ficaremos por horas aqui, agora — comenta. — Então
sugiro que conversemos para nos conhecer melhor...
— Como sabe disso? — Davi Questiona.
— Costume, Davi. Há dias passo pela mesma coisa,
muda de cela, sai de cela, entra em cela. Só não estou
entendendo o que eles querem com isso. E então, o que você
faz?
— Como assim?
— Porra, cara. O que você faz pra ganhar a vida?
Trabalhava em quê?
— PM — ele responde.
— Porra! — Richard enverga a cara. — PM? Então quer
dizer que eu estou preso aqui dentro dessa merda com um
polícia?
— Por quê? Você é mais um desses nerds
maconheirinhos de merda, que odeia a polícia por tentar
impedir você de financiar o tráfico? — Davi retruca.
— De fato eu não gosto de polícia mesmo não, mas não
sou maconheiro, não uso drogas.
— E odeia a polícia só por esporte, né? Todo o mundo
odeia, vou odiar também. Aí depois vem com aquele papo de
viadinho esquerdista de que policial é corrupto, que é o que
mais mata no mundo e blá, blá, blá.
— Eu não falei mais nada, cara. Você que está colocando
palavras na minha boca. Eu só fiquei puto com um polícia uma
vez por que ele foi me revistar e veio cheio de marra dizendo a
mesma coisa que você acabou de dizer. Que eu tinha cara de
maconheiro.
— Mas você tem. Nerd e maconheiro.
— Todo policial é marrento — Richard afirma.
— Devo concordar com você. Mas falando sério. Como
você acha que um policial enfrenta o crime aqui no Brasil?
28

Acenando uma florzinha? Recitando poemas? Se um bandido


me pegar, ele vai meter uma porra de uma bala bem no meio da
minha cabeça.
— Compreendo.
— Compreende. Será mesmo?! — ironiza Davi
— Bem, não estamos aqui para nos matar antes mesmo
de tentar sair daqui, não concorda? — Richard observa.
— Além de policial Militar eu sou programador.
— Hum. Interessante. Já vi que você ficou mais calmo
e já se ambientou com o local.
— Sou treinado pra isso.
— Não me venha com essa história de treinado. Aqui
você não vai enfrentar bandido, cara. Bandido é criancinha
perto do que nos espera aqui.
— Ok... Ok...Verdade. Meu treinamento vai ajudar,
mas, como nunca passei por isso... Mas, e você, nerd com cara
de maconheiro, como veio parar nessa bosta aqui?
Os dois se olham por alguns segundos, até que
conseguem se acalmar de fato. — Realmente dificilmente
alguém em suas condições conseguiria controlar as emoções.
29
30

— Oi Ri. Vamos sair hoje? — Uma bela menina, com


cabelos castanhos, ondulados e longos adentra o quarto de
Richard, que está fixado na tela de seu computador, sem ao
menos piscar. — Ri?
— Oi, Ju... Desculpa. — Ele a olha, imprensa os olhos
para se adaptar novamente ao ambiente do quarto, boceja e
passa as mãos no rosto. — É que estou terminando esse projeto
de um monomotor e não havia notado sua presença — explica
Richard.
— Nos últimos meses você não tem mesmo notado
minha presença. Richard, eu sei que esse projeto é muito
importante pra você, mas não pode largar sua vida. — Ela se
senta na borda da cama. — Um dia, umas horas não vão fazer
diferença no desenvolvimento do seu projeto. Além do mais,
você precisa um pouco de diversão. Poxa, Ri... Eu sou sua
irmã, minha opinião deve fazer alguma diferença pra você...
— Você tem razão — ele a interrompe e ajeita os óculos.
— Eu juro que estou terminando essa parte e prometo que a
gente sai hoje. Ok?
— Mesmo?
— Mesmo!
A jovem permanece no quarto enquanto Richard digita
algumas palavras em seu computador, respondendo aos seus
amigos em uma conferência por uma rede social. Então ela se
levanta e dá uma fuxicada na tela, em seguida se retira do
quarto.
Mais de uma hora se passa e Richard permanece imóvel,
ainda trabalhando em seu projeto, até que sua irmã o assusta
com o barulho da chave do carro que joga em seu colo. Ela
ajeita os óculos e olha atordoado para a jovem.
— Vamos, agora eu vou tirar você daí. Ela pega em sua
mão e puxa seu braço para trás da cadeira, fazendo-o girar,
então a cadeira é puxada.
— Ju, eu já estou indo, espera...
31

— Já esperei demais — ela o interrompe —, Richard,


vamos agora! A cerveja nos espera e um barzinho com musica
ao vivo, seus amigos também estarão lá. Eu os convidei. Aí
você discute seu projeto bebendo e comendo uns petiscos e, o
melhor, ouvindo musica boa.
— Ok, você venceu. — Richard cede.
— Sua roupa já está arrumada bem aqui. — A jovem
aponta para a cama, Richard avista uma calça Jeans, uma
camisa social preta — exatamente como ele gosta de usar —,
meias e seus sapatos.
— Você quer me ver mesmo longe daqui — ele observa.
— Uhum... Se continuar assim, vai ser um solteirão o
resto da vida.
— E você pode falar alguma coisa de mim? — Richard
retruca e acrescenta: — Todo namorado que arruma consegue
espantar. — Ele dá uma rápida gargalhada.
Ela apenas sorri ruborizada.
— Vai logo, Ri. Vai tomar um banho, você deve estar
fedendo. — Ela faz um sinal de fedor com a mão.
— Já vou! Já vou!

***

Ao chegarem ao bar, os irmãos encontram alguns


amigos, inclusive os que estão envolvidos no projeto de
Richard. O mais extrovertido já ergue a mão para
cumprimentar.
— Aí! Chegou o cara de travesseiro. Fala, Juliana! Tudo
bom?
— Fala, Júlio! — responde Richard. — Bom te ver
também.
— Oi, Júlio! — cumprimenta Juliana.
— Finalmente tirou esse travesseiro da cara. — A voz
soa de trás de todos.
— Olha quem está aqui! — diz Juliana com um sorriso
malicioso. — Caíque, tirou a cara do travesseiro também?
32

— Com um convite desses — responde o rapaz negro,


alto com um boné bem estiloso, uma bela jaqueta que de longe
chamava atenção. —, quem negaria? Não tem um projeto de
engenharia que vença essa beleza. — Juliana fica sem graça e
põe a mão no rosto.
— Está faltando a...
— Estava. — Chega uma menina morena de cabelos
curtos, uma tatuagem de escorpião no ombro e uma rosa em
um dos seios. — Só fui ao toalete. A primeira rodada é por
conta de quem? Cara de travesseiro?
— Vocês cismaram com isso, Rosa — Richard reclama.
— Eu não tenho cara de travesseiro.
— Então por que toda vez que decide sair de casa vem
com essa cara amarrotada? Porque estava no travesseiro —
Rosa ironiza.
— Você sabe que não é verdade — retruca Richard. —
Estou... Melhor, estamos trabalhando no projeto do
monomotor. Fala pra ela aí, Júlio!
— Camarada, fale por você, eu sempre estou aí, mesmo
no projeto — responde Júlio.
Nesse momento o garçom aparece com uma bandeja com
quatro garrafas de cerveja e, logo em seguida, um outro
aparece com petiscos. Todos tomam uma cadeira em volta de
uma mesa. Juliana se apressa para sentar-se ao lado de Caíque
em sincronia com Richard, que busca o lado de rosa.
— Olha, galera, não é para vocês formarem casal aqui
não, senão eu fico sobrando — observa Júlio.
Todos sorriem.
— Fica tranquilo, cara de travesseiro dois — responde
Richard enquanto encaixa o abridor na tampa da cerveja, em
seguida serve todos os copos e derrama um copo inteiro. —
Esse foi para matar a sede.
— Já quer ficar doidão, cara? — pergunta Caíque.
— Nada, acostumado — responde.
Todos sorriem.
33

Em seguida uma música lenta começa a tocar. Juliana


olha para a cara de Richard e faz um sinal com os olhos que
todos percebem. Richard se finge de desentendido. Juliana
insiste.
— Vem dançar comigo, Rosa? — Richard se levanta e
estende a mão.
— Ai, que brega, gente. Sério? — Rosa fica sem graça e
completamente ruborizada.
Nesse momento, a única coisa que Richard vê é aquele
escorpião descendo e cortando os fios que prendiam o belo
decote de Rosa para deixar à mostra ainda mais aquela rosa
tatuada em seus seios. A moça pega nas mãos do jovem,
enquanto todos observam e tiram sarro, se levanta e parte para
o meio do bar, onde se encontravam outros casais. Júlio
oferece a honra da dança para uma menina desconhecida que
gentilmente aceita, deixando na mesa apenas Juliana e Caíque.
— Sobramos apenas nós dois. — Caíque estende a mão.
Juliana, tímida pousa suas mãos sobre a do rapaz e então
seguem para o centro do bar, e todos dançam ao som da famosa
I Don’t Wanna Miss a Thing, de Aerosmith.
Richard mal podia acreditar estar tão colado com Rosa.
— Juliana é foda, cara! — ele deixou escapar.
— O que? — Rosa perguntou sem entender o que seu par
havia dito.
— Nada. Pensei alto — Richard respondeu sem saber o
que dizer, mas não poderia deixar escapar a oportunidade. —
Sabe, rosa...
Ela vira o rosto e cola o ouvido na boca do rapaz.
— Fala — pede rosa.
— Tanto tempo que eu te observo...
— Verdade?
— Sim. Eu sei que... é...
— Você é tímido, não é?
— Você percebeu, não é?
— Não tem como não reparar. — Ela sorri. — Mas sabia
que eu gosto disso em você?
34

— Sério?
Ela maneia a cabeça, esfregando sua testa com a de
Richard.
— Sim. Eu sou a malvada e você o bobão.
— Assim você me insulta, Rosa.
— Não mesmo. Eu já vi o quanto você fica abobalhado
ao meu lado.
— Você é muito observadora. Percebi.
— Acabou de admitir que é um bobão — ela ironiza.
— Eu sou um bobão, mas quero você hoje.
— Só hoje?
— A princípio sim. Não sei se vou gostar de você — ele
ironiza dessa vez.
— Além de bobão, é convencido. Vamos começar assim.
— Ela retira os óculos de Richard e os coloca no bolso dele. —
Melhorou cinquenta por cento. Vejamos agora. — A jovem
põe a mão na cabeça do rapaz e bagunça seu cabelo. E ele
apenas assente os gestos. — Agora sim, ficou noventa e nove
por cento.
— Noventa e nove? — Indigna-se Richard. — Por que
não cem por cento?
— Por que você é muito lesado — ela responde
sarcasticamente, chega seu corpo ainda mais perto, puxa sua
nuca e o beija, causando uma reação em seus amigos.
Ao fim da música todos retornaram aos seus lugares,
dessa vez parece que todos estavam em casal.
— Gente, essa aqui é a Bruna, acabei de conhecer e
quero lhes apresentar — diz Júlio.
Todos olham para a menina mulata, cabelos cacheados
quase que no formato black power, então a cumprimentam e
ela rapidamente ela se integra ao grupo.
— Olha, Rosa! — Richard aponta para o céu, enquanto
passava, em fração de segundos, um cometa.
— Uma estrela cadente — a jovem responde. — Acho
lindo estrela cadente, embora não olhe muito para o céu.
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— Na verdade não é uma “estrela cadente”, é apenas um


cometa de adentrou a atmosfera.
— Às vezes você precisa ficar um pouco longe dos livros
para ser mais romântico — Rosa observa.
— Verdade — ele admite. —, estraguei o clima.
— Não chegou a estragar, gosto disso em você também.
— O que? Eu ser nerd o tempo todo?
— Sim. — Ela sorri e ele retribui. — Se eu não fosse o
oposto a você em todos os sentidos, como haveria atração entre
nós?
— Isso eu tenho que concordar.
Algumas horas mais tarde, depois de toda a farra, todos
se despedem. Richard está levemente embriagado, no entanto,
sai do local dirigindo. A seu lado, dessa vez, está rosa e não
sua irmã, que partira juntamente de Caíque. Em meio à
madrugada eles seguem em direção à um motel quando uma
intensa luz ofusca suas visões. Richard pisa no freio
imediatamente causando um enorme barulho de derrapagem.
Eles ficam dentro do carro por alguns segundos sem reação e a
luz permanece até que Richard sai do carro.
— Richard, volta para o carro! — ordena Rosa. Mas O
jovem não atende.
A moça decide, então, sair do carro. Então os dois
permanecem olhando para o alto e avistam um objeto de
aproximadamente dois metros de diâmetro radiante como o sol.
Só é possível passar o olho por frações de segundos antes de
ficarem completamente ofuscados. Em seguida uma potente
força emana do objeto, lançando o carro e Rosa para longe, e
Richard desaparece. Em frações de segundos, o objeto
desaparece em meio a um pulso eletromagnético.
36
37
38

— Venha, Davi, sente-se! Precisamos achar um


jeito de sair dessa merda.
Davi Encosta na parede e deixa seu corpo escorregar até
o chão, então olha nos olhos de Richard que por sua vez pensa
numa forma de agirem.
Um silêncio toma conta de todo o aposento naquele
momento, ficando apenas um olhando para o outro.
Richard estuda as portas e Davi com os cotovelos
apoiados em suas pernas, recostado naquela parede metálica e
fria, mesmo assim, suado e com rosto tomado de fuligem.
“Pelo menos não me machucaram... ainda.” — Davi pensa. —
E a exaustão já consumindo seu corpo, quando a voz de
Richard abruptamente retoma posse do ambiente, dizendo:
— A única forma é... — diz Richard. Davi lança um
rápido olhar em sua direção, então ele prossegue. — Quando
eles entrarem aqui, nós os derrubamos e pegamos a arma.
— Vamos devagar! A gente precisa bolar um plano. Tem
que ser perfeito, eles não vão hesitar em acabar com a nossa
raça — Davi observa.
— Certo, mas a gente também não tem muito tempo —
retruca Richard.
— Simples... — Davi dá uma breve pausa, olha
disfarçadamente para a câmera e continua. — Cada um senta
de um lado da porta, não do lado da porta, mas na parede,
próximo à porta, como quem não quer nada. Assim que a porta
se abrir, nós os golpeamos e pegamos suas armas, a gente só
vai ter uma chance, então, sugiro que seja perfeito ou diga
adeus — ele diz, levantando uma de suas sobrancelhas,
balançando a cabeça e com um tom de insegurança.
— Ou podemos fazer da seguinte forma — opina
Richard. —, eu conheço mais ou menos como eles agem.
Sempre vem o guarda com arma na frente e o outro atrás com a
algema, você fica no fundo da cela para distrair a atenção, eu
vou ficar escondido bem próximo à porta e então eu vou tentar
derrubá-lo, aí você pega a arma e atira no segundo e depois no
39

primeiro, mas vê se não vai me acertar, hein! — ele tenta


quebrar aquele clima tenso.
— Vamos rezar para que eles vão diretamente a você.
— É arriscado, mas é a única forma, então vamos ficar
sempre posicionados. Em seguida os arrastamos para o canto e
procuramos todos os dispositivos que eles usam para acessar as
portas e os trens, daí em diante seja o que Deus quiser.
— Ok, quando eu ouvir o barulho da porta, me escondo e
a gente começa a ação.
— Certo.
Tudo está pronto para a ação de desarmar os guardas
daquele local. O nervosismo toma conta de seus corpos, as
mãos de Davi apoiadas no chão para impulsioná-lo quando for
a hora exata, uma gota de suor percorrendo seu rosto e seus
dedos tremendo, enquanto que Richard, nada diferente, fica
sentado, recostado à parede ao lado da porta e sentindo o calor
do nervosismo queimando seu corpo, uma queimação em seu
estomago e subindo para sua garganta deixando sua boca
acerba.
Contam os segundos com seus cérebros retesados
maquinando as mesmas cenas a todo instante, quando um
barulho de passos chama atenção de seus ouvidos e logo em
seguida param em frente à porta.
— É agora! Prepare-se! — diz Richard, com seu coração
pulsando e se levantando levemente.
Um sibilar cibernético soa, em seguida um leve barulho
de tranca destravando. Richard se posiciona onde combinado, a
porta então se abre e acontece exatamente como havia previsto.
Entra o guarda apontando a arma para Davi e antes que o
segundo entrasse, Richard chuta exatamente em seu pulso,
fazendo com que a arma desprenda de sua mão caia no chão
fazendo um estardalhaço.
— Davi, pegue a arma! — grita Richard.
Davi desfere um chute linear com toda a potência na
garganta do guarda que desaba para trás sobre o outro
desestabilizando-o. Em seguida, pula rolando no chão e pega a
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arma. Richard, por sua vez age com velocidade ao ver que o
outro guarda estava vulnerável, e o golpeia com um chute
diretamente em seu abdômen, lançando-o ao solo.
Em questão de segundos a porta estoura seu tempo limite
de abertura e se fecha automaticamente. Richard os puxa para o
fundo da cela enquanto Davi aponta a arma.
— Quietinhos aí, os dois! — ele ordena, coisa que já é
acostumado a fazer em seus patrulhamentos de rotina.
— Quem são vocês e de onde vieram? — pergunta
Richard com um ar de alívio por saber que a situação fora
contornada, pelo menos naquele momento.
Inertes, no chão, os guardas não pronunciam uma só
palavra, Richard surra os dois com socos. Furtivamente um dos
guardas aciona um alarme ensurdecedor.
— Deus... Vamos sair logo daqui, Richard! — sugere
Davi. Então eles começam a procurar os dispositivos nos
paletós dos guardas e encontram um objeto, semelhante a um
tablete, porém, bem menor, e com alguns botões físicos em
suas laterais, e nada mais. Eles sabiam que a qualquer
momento mais alguém poderia abrir a porta.
Com o aparelho em suas mãos, Richard se levanta e se
afasta.
Davi, por sua vez, atira em cada um dos guardas, fazendo
com que seus corpos virassem pequenas partículas de cinzas
incandescentes, pairando em círculos por todo o aposento.
— Isso é incrível! — exclama o jovem policial,
maravilhado com tamanha tecnologia, quando Richard corta
seu devaneio dizendo:
— Davi, achei esse aparelho aqui, a gente vai ter que
saber mexer nisso.
— Leve-o! A gente vai testando no caminho, só temos
que sair daqui. Agora!
Richard procura pelo aparelho o botão que acionou o
alarme — mas são tantos. — E se tocar em alguma coisa errada
pode complicar ainda mais suas situações.
41

— Bem, nos filmes sempre são os botões vermelhos —


observa Richard. — e tem um bem aqui.
Sem pensar duas vezes ele o pressiona. Em segundos
aquele barulho ensurdecedor se adormece.
— Graças a Deus! Certo, vamos sair daqui!
— E agora, Richard, o que a gente faz? Pra onde nós
vamos? — Davi pergunta sem nada em mente.
— Vamos ver onde fica essa tal abertura de que você
falou e tentar sair daqui por ela — responde.
— Mas não podemos deixar o resto das pessoas aqui. Se
nós conseguimos essa arma, podemos conseguir outra pra você
e então resgatamos o resto.
— Olha, Davi, nós somos apenas dois perto de milhares
de zumbis alienígenas. Eles agem por instinto, vão nos matar
sem dó, nós não somos super-heróis. Não mesmo! — ele diz
maneando a cabeça negativamente e olhando para a porta.
— Você acha que simplesmente sair daqui vai resolver
nossos problemas ou você já esqueceu que eles pegaram você
lá do lado de fora? Se estamos aqui é porque deveríamos estar
aqui, como se fossemos escolhidos e vamos até o fim! Vamos
tentar recolher mais pessoas pra nos ajudar a destruí-los, seja lá
quem for. Deve existir mais pessoas como a gente aqui — ele
insiste.
— Não sei... Não sei... Essa história de “escolhidos”. —
Richard torce a cara, abaixa a cabeça deixando escapar um
breve suspiro. — Sinto muito, mas não acredito nisso, não,
meu amigo. Cara, eu estou apavorado. Enquanto eu só ficava
sendo trocado de cela e recebendo comida estava bom, mas
agora eu estou os desafiando, isso significa que a qualquer
momento eu posso tomar um tiro com essa coisa bem na minha
testa e virar pó, e...
— Cara... — Davi o interrompe. — Pensa... Raciocina...
— Ele gesticula. — Não tem jeito, se a gente sair daqui sem ao
menos tentar fazer alguma coisa, eles vão buscar a gente lá fora
e dessa vez pra matar, pois agora nós sabemos seus segredos e
poderemos torná-los públicos.
42

— É, olhando por esse ponto, até que você está certo e...
Novamente Richard é interrompido, mas não por Davi,
mas sim por barulhos de passos próximos à porta, só que dessa
vez em maiores proporções. Eles se olham e engolem seco.
— Dê-me a arma, Davi, rápido! E fica no fundo — ele
diz, já a pegando de sua mão.
— Eu de novo? Por que não vai você? — ele pergunta,
prendendo a arma. — O policial aqui sou eu, porra, você está
maluco?
— Davi, solte a arma, confie em mim — diz entredentes,
quase que sussurrando e olhando freneticamente para os seus
olho. Se encaram por alguns segundos. — Não precisa ser um
profissional pra atirar a essa distância, muito menos com essa
arma, e, além do mais, eu já os conheço, você não. Solta essa
merda logo!
— Puta que pariu, cara! — Davi esbraveja, solta a arma e
se recolhe para o fundo da cela novamente. Em seguida o
barulho da porta soa novamente. — É agora! Vai, vai! — ele
sussurra num ato de nervosismo.
A porta, então, novamente se abre e os guardas entram
correndo em direção a Davi, dessa vez são quatro homens.
Richard não pensa duas vezes e atira nos dois guardas armados
pelas costas. Os demais, instintivamente olham para trás e
voltam em direção a Richard. Davi, por sua vez, agarra a arma
de um dos soldados paralisados e mata os outros dois guardas,
transformando aquele aposento num “show pirotécnico de fim
de ano”, com toda aquela cinza incandescente girando pelo ar.
Em seguida eles se escondem cada um de um lado da porta
com as armas em punho e mais uma carreira com quatro
guardas passa a porta e todos são abatidos.
Eles saem da cela deixando para trás remanescente de
cinzas.
O corredor que eles percorrem é enorme e logo percebem
que em cima também há corredores para outros lugares, celas e
salas.
43

Richard está confuso sobre o que Davi havia dito, mas


sabe, também, que fazer isso pode significar o mesmo que se
dirigir à morte, e ao mesmo tempo ele entende que se fugir,
com certeza ele não permanecerá do lado de fora por muito
tempo, pois passara a acreditar que estavam ali por algum
motivo, não sabe qual e nem entende o porquê, mas algum
motivo muito forte os reuniu ali. Então ele segue dizendo:
— Se vamos fazer isso, precisamos de mais pessoas, e eu
tenho certeza que aqui há mais. A gente vai ter que descer para
a estação, lá existem milhares de escravos humanos com chip,
talvez nós encontremos alguém em nossas condições. Vamos
ficar cada um de um lado do corredor, um dando cobertura ao
outro. — Richard parte para o outro lado. E Davi assente.
Eles então correm pelos corredores e tentam voltar para a
estação do trem, passando diante de celas vazias.
Embora achem que estão sozinhos, existem milhares de
câmeras herméticas espalhadas pelos corredores.
— Cuidado! — grita Davi e se joga para o meio do
corredor, desviando-se de um tiro, em seguida atirando na
direção de um dos corredores de cima: Mais um guarda é
abatido.
Richard, por sua vez, protege o outro corredor acima de
Davi, mas não há ninguém. Eles rapidamente se posicionam
para revidar qualquer tentativa de investida.
Ao chegarem ao cruzamento dos corredores, uma carreira
de guardas aparece atirando em suas direções. Escondidos nas
colunas de ferro eles olham um para o outro com aqueles
olhares vidrados, suas testas suando e dedos ainda tremendo.
Os tiros acertam as paredes e partes das colunas onde eles
estão, alguns passando por eles, que observam aquela espécie
de laser vermelho. Estilhaços caem diante de seus pés. Então
eles se jogam, rolando para fora da coluna atirando em alguns
guardas, que não conseguem corresponder a suas velocidades e
são abatidos. Em seguida se escondem novamente na coluna,
um parando na posição em que o outro estava, dessa vez
44

abaixados, e então, por de trás dessa coluna, eles disparam tiro


a tiro, abatendo o resto deles.
— Ufa... — suspira Davi, finalmente conseguindo
soltando o ar. — Essa foi por pouco. Vem cá, você atira bem,
hein!
— Eu estava pensando o mesmo de você — Richard
responde. — Mas também, se atirasse mal, iria duvidar do seu
sucesso na profissão. — Ele dá um sorriso.
— Serviu ao Exército? — Pergunta Davi.
— Sim. Monto e desmonto uma arma como ninguém.
— Eu também... Era PQD. Na minha farda do BOPE tem
o brevê. — Ele faz uma breve pausa olhando para baixo,
pensando, e continua. — Na verdade, quase nada do que
aprendi no exército eu usei na vida, apenas depois que entrei
para a polícia. Serviço militar obrigatório no Brasil só serve
para formar bandidos.
Richard o olha arregalando os olhos.
— Não tiro sua razão. Muitos traficantes usam isso para
recrutar seus soldados e sem gastar munição e tempo. Eu
sempre gostei de atirar. Tenho armas de Air soft em casa.
— Nerd, cara de maconheiro, mas atira bem e serviu o
exército. — Davi libera um sorriso. — Até que você é um cara
maneiro.
— É... Posso dizer o mesmo de você. Marrento igual a
todo polícia, mas até que é gente fina. E, quem diria, estudado.
— Vamos cara, estamos brincando muito aqui — alerta
Davi, Richard assente meneando a cabeça.
Eles seguem para o outro lado do cruzamento, cada um
apontando sua arma para um lado, e então o fim do corredor se
assoma a eles dando acesso a uma bifurcação de um corredor
curvo, como se formasse um círculo, no entanto, eles seguem
pelo mesmo corredor, ainda cada um de um lado.
— Espero que não estejamos num labirinto — murmura
Davi.
Ao meio do corredor, eles encontram uma porta.
45

— Olha isso aqui! É uma porta com símbolos


alienígenas. Aqui está cercado desses símbolos — diz Richard
passando a mão em um dos símbolos. — Vários que aparecem
aqui são idênticos aos agroglífos encontrados do lado de fora.
— Agro o quê? — pergunta Davi pensando “como seria
bom se eu tivesse dado mais importância a isso quando passava
na TV” — mas não, ele ria da cara do repórter.
— Agroglífos são marcas supostamente deixadas por
alienígenas em plantações de trigo entre outras — explica
Richard. — Dê-me cobertura. Vou testar logo isso aqui para
ver se dá certo.
Richard pega o aparelho que retirara da posse dos
guardas e o posiciona em um aparelho digital redondo, no meio
do hieróglifo, e no centro da porta. Os dois se comunicam
fazendo pequenos sons como se fossem de dígitos. Segundos
depois, acontece algo fantástico, coisa nunca vista em todos os
seus dias de vida até aquele momento, exceto nos filmes de
ficção: Eles observam a porta se dividindo em camadas e
girando para lados opostos e aquele hieróglifo marcado no
centro da porta brilhava como o sol, de várias cores, logo
depois as camadas da porta se fixam fazendo um suave “click”
e a porta se abre lateralmente, dividida em duas partes a partir
do centro. Então a luz posterior começa a manar em suas
direções.
— Vai! Entra! — diz Richard.
Eles então se deparam com um pequeno saguão com três
elevadores, sendo o do meio com um hieróglifo em alto relevo.
— Vai! Tenta o aparelho ai de novo — Davi diz
esperançoso, mas ao mesmo tempo espavorido. — Que é que
nós estamos fazendo?
Richard testa o aparelho, mas nada acontece naquela
porta, apenas ouve alguns bips. Então diz:
— Não está dando certo.
— Tenta as outras portas. Com certeza essa porta nos
levaria a eles e não seriam idiotas o suficiente para nos deixar
entrar assim.
46

Eles olham para as portas, suando frio e sem saber o que


fazer.
— Que porta a gente abre? — pergunta Richard.
— Vai nessa mesmo! As duas descem ou sobem, e a
gente nem sabe pra onde nenhuma delas vai, só sei que temos
que descer. — ele responde, indeciso e inseguro.
Então Richard posiciona o aparelho em frente ao
dispositivo da porta, que se abre em duas camadas, a primeira
horizontalmente e a segunda verticalmente. Os dois dão um
olhar estarrecido e recíproco. Richard entra primeiro, seguido
de Davi, que entra de costas e apontando sua arma para o lado
de fora.
— Aqui também tem uma câmera — Davi diz, com sua
cabeça reta, porém, seus olhos colados em direção a ela.
— Agora seja o que Deus quiser, já que começamos.
— Você sempre foi tão religioso assim? — questiona
Davi usando um tom irônico.
— Não, virei hoje — Richard responde sarcasticamente.
— Está parando, prepare-se! — alerta Davi, ansiando o
momento depois da abertura da porta, imaginando o que
poderia estar aguardando por eles do lado de fora, imaginando
alienígenas pulando para todos os lados e guardas atirando em
suas direções. “O que era fantasia agora se torna real”.
A porta se abre. Eles saem e se deparam com um enorme
saguão circular altamente iluminado, com detalhes luminosos
em azul turquesa, com uma porta de frente a eles do outro lado
do saguão, duas portas à esquerda e mais duas à direita. Eles
percebem um movimento na porta central, então,
instintivamente, correm para a esquerda.
— Vai Richard, coloca esse aparelho aí, rápido — ordena
Davi apontando sua arma em direção à porta central. Richard o
faz e a porta imediatamente responde abrindo-se bruscamente,
unilateralmente da direita para a esquerda. Eles entram e a
fecham, ficando imóveis e observando um corredor curvo com
uma iluminação bem menor e com os mesmos detalhes
luminosos do saguão. Então suas pernas começam a ganhar
47

vida novamente e andar com toda a cautela e com suas armas


em punho. Dessa vez Richard na frente e Davi na retaguarda
dando-lhe cobertura, olhando minuciosamente para todos os
lados. — aquilo parecia um enorme labirinto.
Então eles seguem a parede vagarosamente quando se
deparam com a primeira porta, com uma pequena abertura de
vidro na parte superior. Sorrateiramente eles olham pelo vidro
e dentro daquele aposento veem os mesmos hieróglifos
refletindo as luzes do local, várias cápsulas dispostas como um
freezer expositor. Cada uma com um ser estranho dentro, como
se fosse uma incubadora, e no fundo da sala um objeto análogo
a um computador. Richard novamente usa o aparelho e a porta
se destranca fazendo um longo barulho cibernético, fazendo
com que suas atenções se dobrem, olhando para todos os lados
e apontando as armas, na expectativa de que alguém ou algo
aparecesse, mas nada apareceu. Então eles entram na sala,
completamente estupefatos com cada imagem que veem. Um
ambiente escuro, o que resta são reflexos de luzes das pequenas
iluminações esverdeadas, porém com a temperatura muito mais
agradável, se não fosse o fato de estarem completamente
imundos. Eles passam pelas galerias de incubadoras, vendo
fetos relativamente pequenos e outros bem grandes e
repugnantes. No fim da sala avistam novamente o objeto.
— Será que essa porra é um computador? — pergunta
Davi.
Completamente diferente do que via de costume, uma
espécie de tela em três dimensões surge ao se aproximarem, o
símbolo de um átomo surge com dois elétrons orbitando seu
núcleo, a imagem parecia flutuar. Os jovens ficam
boquiabertos com o que presenciam. Um tipo de sensor em
formato circular com um feixe de luz verde chama atenção.
— E isso aqui parece ser um dispositivo de biometria.
Ao lado, mais uma porta.
Na tela havia apenas códigos binários, coisa que
ofuscavam os olhos de Richard, e já eram mais claro aos olhos
48

de Davi, que olha com familiaridade, chamando a atenção de


seu amigo.
— Você está entendendo isso? — Richard pergunta
curioso.
Davi permanece quieto e olhando fixamente para a tela,
depois o encara novamente.
— Não me olha com essa cara, não. Eu não vou mexer
nessa porra, não, parceiro! — exclama Davi. — Isso pode dar
merda.
— Davi, se você conseguir invadir esse sistema a gente
pode saber muito mais e talvez possa descobrir o que eles
querem ou algum ponto fraco, não é o que você queria? Agora
está se recusando a cooperar?
— Olha, cara, eu posso demorar horas ou talvez dias
aqui, eu conheço Linux, Windows, Macintosh, mas sistema
alienígena eu não me lembro de ter estudado, não — ironiza.
— apesar de se tratar de códigos binários, mas eu não sei
depois que estivermos dentro sistema. Fora que essa merda
tem biometria, provavelmente está bloqueado.
— Pelo menos tenta! — Richard insiste.
— Ok, mas me dê um tempo. Eu posso ficar horas aqui e
não conseguir nada, mas vamos lá. Deixa-me pôr a mão nisso
aqui. E você pega essa porra de arma e aponta para a porta.
Davi então posiciona seu dedo sobre o sensor. Logo todo
aquele amontoado de números desaparece da tela e aparecem
vários daqueles hieróglifos flutuando, mas dessa vez em
movimento, percorrendo a tela, e tudo está escrito em códigos
do GRUB facilitando a pesquisa de Davi que começa a testar o
sistema alienígena. Um teclado virtual surge na sua frente e,
sem pensar, ele começa a dar comandos. À medida que vai
mexendo, ele encontra coisas mais familiares.
— Esse sistema é em Linux, o nome do sistema é Grey
Linux, produzido por Doutor John Steve, então há mais
homens trabalhando aqui e podem estar sãos. Ele não teria
posto seu nome se estivesse completamente dominado por eles.
49

— Não disse? — Comenta Richard, retomando seu


ânimo. — Vasculha mais.
— Esse sistema foi criado no intuito de manter a
temperatura dessas criaturas como se estivessem no útero da
mãe — explica Davi. —, ele é ligado a um switch por cabos
coaxais que faz toda a distribuição dessa sala. Precisamos
encontrar esse John Steve.
— E o que pretende fazer?
— Não sei, mas vou tentar desativar o sistema. Parece
que eles estão gerando alienígenas em massa para conseguirem
fazer uma quantidade suficiente de população, só não sei com
que intuito eles estão fazendo isso. — Ele continua analisando
o sistema e se aprofundando cada vez mais. — Bom, achei
aqui. Essa área determina a quantidade de cápsulas existentes
na sala. — Salta uma sequência de números flutuando. — Eu
vou tentar desligá-las e ver o que acontece. — Davi digita
alguns comandos. — Aqui nessa sala existem quinhentas
cápsulas. — Ele olha para Richard, em seguida, para sua arma.
— Cara, olha pra sua arma. — Ele se distraiu e deixou a arma
descer aos poucos sem perceber. — Fica com a porra da arma
apontada para a merda da porta enquanto eu faço isso! —
esbraveja.
— Ok... — ele responde, sem graça, e aponta novamente.
Davi parece estar se familiarizando com o sistema
alienígena e a cada passo, uma nova descoberta.
— Bem, vou interromper a conexão com três cápsulas
agora. — Ele digita mais comandos. As cápsulas então se
apagam e o líquido que está dentro delas começa a descer pelos
cabos coaxais. Alguns segundos depois, as criaturas sentem a
mudança brusca de temperatura e a falta do líquido e começam
a agonizar. — Maravilha! Agora vou mudar a temperatura de
todas as cápsulas e pôr no máximo, assim eles morrerão mais
rápido.
Ele então aumenta a temperatura de todas as cápsulas e
desativa as restantes, deixando somente o calor insuportável
que transpassava pelos vidros.
50

— Davi, há como acessar outras salas por esta?


— Não sei, deixe-me ver se acho alguma coisa. — Ele dá
mais e mais comandos.
— Cuidado! — ele grita, empurrando-o para o lado, em
seguida jogando-se ao solo.
Richard vislumbra duas sombras passando pela porta,
mas dessa vez diferentes, não são aqueles guardas com
aparência humana controlada, são guardas enormes, trajando
uma espécie de armadura de metal e um canhão em um de seus
braços.
Eles correm para trás de uma das vitrines e começam a
atirar. As criaturas se aproximam, seus movimentos são
completamente rápidos e não se intimidam com os tiros
lançados a eles.
Richard lança um furioso olhar em direção a Davi
quando percebe que seus tiros não surtem efeito e as criaturas
andam rapidamente. Os jovens correm dentro da sala cruzando
as vitrines de cápsulas em meio aos tiros que as acertam
explodindo-as e arremessando estilhaços para todos os lados.
Um calor insuportável que já estava tomando conta da sala. As
criaturas atiram em suas direções não se preocupando com
nada em ao seu redor.
— Davi, corre pra porta! — vocifera Richard, abaixando
por trás dos escombros. — Vamos tentar despistá-los!
Davi corre em direção à porta, Richard em seguida,
empurrando vitrines em cima das criaturas que não parecem se
incomodar e as interceptam, lançando-as de um lado para o
outro.
— Eles são muito fortes! — grita Richard. Contudo,
conseguem chegar à porta da sala, mas, ao sair do aposento, se
deparam com mais seis criaturas que os deixam completamente
cercados.
Todas as criaturas apontam para eles um tipo de arma
colossal, jamais vista, acoplada em um de seus braços.
Então, por trás das criaturas surge um tipo de androide,
três vezes maior que uma pessoa normal. Mas não se tratava de
51

um robô e sim de uma armadura com alguém dentro. Então um


forte barulho de gás soa e a parte do tórax da armadura se abre.
Uma plataforma surge até o chão com um homem em cima.
Ele então caminha em direção aos jovens e logo seu rosto
fica mais claro, um senhor com cabelos grisalhos e lisos, nem
magro e nem gordo, barbudo. Sua barba também é grisalha. De
repente surge uma voz falha, como se estivesse há muito tempo
sem falar, e com um sotaque estrangeiro dizendo:
— Olá, eu sou o Dr. John Steve. Vocês são muito
corajosos, mas acho que a coragem de vocês não vai permiti-
los viver por mais tempo aqui dentro.
— O que você faz aqui? — questiona Davi enquanto
Richard está paralisado.
— Quem faz as perguntas aqui sou eu, rapaz! Como
chegaram até aqui? — John olha para um e depois para o outro,
aguardando uma resposta. Mas ninguém diz nada. — Sem
problemas. Vocês terão alguns minutos para falar, antes de eu
os transformá-los em zumbi escravos. — Os jovens
permanecem inertes.
John fala com as criaturas em uma língua que eles nunca
ouviram, então duas delas se aproximam e os prendem com
duas pulseiras que se atraem. O resto se retira, seguindo até o
fim do corredor e entrando na porta. John retorna à sua
armadura e então eles são conduzidos a uma sala. Em seguida
as outras duas criaturas também se retiram.
— Enfim... Sós. — John põe uma das mãos nos bolsos de
seu jaleco, a outra alisa sua barba. — E então, rapazes, a que
devo a honra desta ilustre visita? — pergunta John em um tom
sarcástico.
— Dr. John, você é um humano? — questiona Davi com
uma breve esperança.
— É lógico! Você não está me olhando, não está
conversando comigo? Veja se eu tenho pernas e braços
longos...
— Então é você que está por trás de tudo isso seu velho
filho da puta? — exclama Richard, interrompendo-o. — Não
52

percebe o que está fazendo com essas pessoas? No que você


quer transformar nosso planeta?
— Ei, rapaz, não se esqueça de que você está sob minha
custódia agora! Eu posso acabar com vocês em questão de
segundos. — John se irrita e aponta um dos canhões de sua
armadura, que brilha intensamente e gira em várias camadas,
uma oposta a outra, e soa um sibilar análogo ao das turbinas de
um avião, deixando-os apavorados. O clima fica tenso. Vários
segundos depois seu brilho cessa, suas camadas vão parando de
girar e o doutor diz:
— Venham comigo! — Sua armadura emite alguns
“clicks”, com todo aquele espetáculo que ela produz ao se
abrir, várias camadas se deslocam umas das outras, até que o
doutor fica completamente visível em meio a todo aquele
metal, a plataforma desce e ele sai novamente da armadura.
— Então vocês desarmaram as incubadoras da área
quarenta e um. Se conseguiram fazer isso significa que
provavelmente um de vocês é programador, correto? —
pergunta John.
— Sim, sou eu — murmura Davi
— E você, Richard, é engenheiro mecânico, estou certo?
— Como você sabe disso? — ele questiona
indignadamente.
— Aqui eu sei de tudo, aqui é minha casa — John
responde dando as costas. — Venham! Vamos andando.
Eles o seguem, e a armadura se fecha e também o segue.
— Pra onde vai nos levar? — Pergunta Richard.
— Não me faça perguntas! E ande logo! Não quero
aquecer meu canhão com meras criaturas insignificantes como
vocês.
Eles prosseguem sem saber para onde estão indo. Isso
deixa Davi profundamente irritado e estarrecido. A sensação de
impotência os consome, no entanto, suas cabeças maquinam
possibilidades. “Essa porra é só um coroa, sem aquela
armadura ele não é nada”. Pensa Davi. John não parece ser
amigável, por mais que não tenham sido mortos, eles não
53

esperam outa coisa senão a escravidão e isso os apavora a


ponto de permanecerem mudos a partir dali.
Andando praticamente arrastados naquele imenso
corredor, eles percebem dezenas de salas de experiências,
máquinas, robôs, objetos esféricos e mais salas com
incubadoras e dezenas de hieróglifos fixados em meio a duas
listras luminosas azul turquesa na parte superior de algumas
portas. Nesse momento passa pela cabeça de Richard que John
possa saber sobre os Agroglífos, e o intuito de os fazerem em
plantações. Mas ele não perguntaria isso, naquele momento.
— Bem, aqui estamos.
O canhão da armadura é apontado para um sensor
análogo ao do computador da sala de incubadora, que brilha e
faz abrir a porta. Ao entrarem na sala eles se deparam com
milhares de cápsulas, mas dessa vez não tinham alienígenas e
sim seres humanos. Davi e Richard olham indignados e não se
conformam.
— Dá pra tirar isso da gente? — exige Richard,
referindo-se às algemas.
— Ah, sim, claro — John diz delicadamente. Ele mexe
em algo na algema e em seguida a pressão desaparece. Elas se
abrem. Richard as retira de seus punhos e as coloca numa mesa
próxima. Davi faz o mesmo, segurando seu pulso e
massageando-o.
— Por que você faz isso Doutor? — Davi pergunta
indignado e com um tom de tristeza em seu rosto pálido. — Pra
que fazer isso com essas pessoas? Pra que acabar com sua
própria espécie?
— Bem, aqui não tem câmeras, não tem aparelhos de
escuta, essa sala é só minha... — diz John tentando inflar ainda
mais seu ego. — Essa enorme sala é apenas minha e me foi
dada por eles. No começo eu fui obrigado, assim como vocês,
abduzido da mesma forma, mas depois eles me deram a
oportunidade que lá fora nunca me dariam. Eu trabalho para
eles faço tudo que eles me mandam fazer, em compensação
terei o conhecimento de toda essa tecnologia. É... — Ele
54

balança a cabeça. — Einstein estava certo...Ou melhor, certo e


errado. Sua teoria do buraco de minhoca para nós é uma pratica
constante, mas existem algumas variáveis que ele não
considerava, um erro, ao meu ver. Se ele considerasse a
existência de outras dimensões, com certeza ficaria mais
próximo de realizar um... — ele gesticula com os dois dedos.
— entre aspas... Teletransporte. E Darwin. — Ele dá uma
singela risada e continua. — Esse estava completamente errado
com sua teoria evolução das espécies.
Richard olha para Davi, assustado, com medo do que
possa ouvir dali pra frente, percebendo que o assunto não está
coerente, de acordo com tudo o que acreditara e estudara.
— Na verdade, errado e certo. Quero dizer... a evolução
realmente aconteceu, mas não pra nós.
— Eu não estou conseguindo seguir seu raciocínio,
doutor, dá pra explicar melhor? — sugere Davi.
— Uhum. — Richard concorda.
— A espécie humana na verdade é um ser hibrido.
— Como assim, hibrido? — questiona Richard.
— Vocês. Quero dizer... Nós, somos descendente de uma
raça alienígena que viveu aqui muito antes de nós, há cerca de,
pelo menos, quatrocentos mil anos atrás.
— Mas o que o senhor está dizendo? — Indigna-se
Richard. — Isso é teoria da conspiração.
— Isso é um fato, garoto da mecânica. Nós somos
descendentes dos Anunnakis.
— Não pode ser! — diz Davi. — Essa porra é tudo uma
brincadeira. O senhor está zoando com a nossa cara.
— Não, não estou — John retruca. — Enquanto a Terra
está começando a descobrir a mecânica quântica, nós já a
dominamos juntamente da inteligência artificial. Nós ainda não
sabemos como surgiu a vida, mas sabemos de onde surgiu, e é
muito mais complexo de se imaginar, uma vez que as
partículas da vida surgiram em outro universo e não nesse.
Estão aqui por acidente. Dominamos o que vocês chamam de
Bosson’s Higgs ou seja a menor partícula. O que vocês ainda
55

não sabem é que existem duas partículas ainda menores e na


Terra ela só será descoberta daqui a uns, deixe-me ver... — Ele
põe a mão no queixo levantando uma de suas sobrancelhas
num tom irônico — mil e quinhentos anos, se continuar nessa
velocidade. Vocês sempre achavam que estávamos sozinhos. É
natural, eu também duvidava disso, mas o fato é que existem
vidas em outros planetas, nessa e em várias outras galáxias,
não só nesse, mas em outros milhares universos...
Davi o interrompe, completamente estarrecido e sentindo seu
coração pulsando, quase saindo por sua garganta, dizendo:
— Como é? vários universos?
— Sabem, Davi e Richard — retoma o doutor —, o fato
é que estamos em guerra, uma guerra inter universal, e a Terra
está no meio do fogo cruzado sem saber. Vocês já ouviram
falar nos reptilianos?
— Sim — confirma Richard ainda mais estupefato, pois
era muitas informações para serem digeridas naquele
momento.
— Já ouvi falar bastante — diz Davi. — Mas nunca levei
a sério.
— Então, meus caros — prossegue John. —, eles são
conhecidos até na Terra, pois é a maior nação universal que já
se descobriu até hoje. E também porque seus fosseis são
encontrados a cada dia.
Dessa vez ele é interrompido por Richard que pergunta:
— Fósseis de reptilianos?
— Sim — John responde —, os dinossauros são animais
de origem reptiliana que foram implantados aqui para manter o
planeta habitado. Mas depois, por algum motivo, o
abandonaram. Eles possuem quatro universos e milhares de
galáxias povoadas, nós, os Greys, possuímos três universos
com milhares de galáxias povoadas...
Então Davi o interrompe novamente e diz:
— Por que você diz “nós”? — questiona Richard —
Você não faz parte deles.
56

— Ah, faço sim, agora. Eu, você e Davi fazemos parte.


Uma vez conectados, jamais será desfeito.
— Como assim conectado? — questiona Davi.
— Assim que todos entram nessa dimensão, eles
precisam respeitar os parâmetros físicos local, ou seus corpos
não aguentariam. Essa dimensão é muito irregular. Hora ela
passa mais rápido que na Terra, hora muito mais lento. Ou seja,
se estão aqui há três horas, significa que já estão há dias
desaparecidos na dimensão natural. Nós usamos uma injeção
de nano robôs que liberam reagentes químicos que modificam
suas células tornando-os parte da espécie Grey. Agora são
híbridos de três raças e suas próximas gerações carregaram
esse DNA.
— Então, eu que já estou há semanas...
— Você, mecânico — John interrompe Richard —, já
está desparecido há meses, ou anos, quem sabe. Continuando...
— ele diz, ajeitando seus óculos no rosto. — Não existem
apenas essas duas civilizações, existem várias outras bem
menores, uma delas é a Terra, que é o vigésimo segundo
planeta de sua civilização.
— Como é, vigésimo segundo? E qual é o primeiro? —
pergunta Davi, sem saber se acredita ou não no doutor.
— Sumer. Esse é seu primeiro planeta, ou seja, nós
somos uma civilização herdade dos Anunnakis na intenção de
continuar a povoar planetas e galáxias a fim de se prepararem
para a guerra, mas, coitados, não aguentaram nem seu início,
— Ele dá uma breve risada. — Foram varridos e feitos de
escravos em cada planeta. E seu líder, Gênesis, está preso em
Porion, o último planeta da Via-Láctea.
— Você disse Gênesis? — pergunta Davi.
— Sim, Gênesis! — John confirma.
— Mas esse é o nome do prim...
John Interrompe Richard dizendo:
— Sim, o primeiro livro do antigo testamento das
escrituras cristãs. Esse nome foi dado por que Even, o braço
direito de Enki, irmão de Gênesis, não podia tocar no assunto
57

de sua existência, então ele dizia para seu povo, os Sumérios,


que gênesis era o começo de tudo. E realmente era. Da mesma
forma que ele dizia que apocalipse era o fim de tudo, e esse é o
nome do líder supremo dos Reptilianos, que sempre odiaram os
Annunakis até mais que os Greys, tudo por causa do poder. Daí
em diante, com crescimento da crença pelo mundo, essa
história se propagou até gerar o que vocês veem hoje.
— Então Deus não...
John interrompe Davi novamente e diz:
— Bom, esses deuses criados pelo homem... — Ele
balança a cabeça negativamente. — Isso foi tudo um mal-
entendido criado pela civilização suméria, pois não poderiam
explicar uma bola de fogo caindo do céu e saindo um monte de
seres de lá. Ah... — ele diz, recordando-se. — Essa história de
gigante, das escrituras, também foi criada por eles, pois Enki
perto deles era um gigante, com quase três metros de altura. Já
Even era alto, porém bem menor.
— E como você sabe de tudo isso? — questiona Richard
desconfiado.
— Os Greys me prepararam para ser seu braço direito na
Terra, mantendo suas criações todas em perfeito estado e
avançando para a criação do exército na Terra, pois a qualquer
momento a batalha vai começar. Então passei a ter acesso a
alguns dados... Administrativos, digamos. Conhecendo cada
raça e suas histórias para que eu pudesse ajudar ainda mais.
Virei uma espécie de Presidente da unidade alienígena na
Terra. Pois ou damos conta, montando esse exército na Terra e
escravizado humanos, ou perdemos a batalha e, mesmo assim,
a humanidade será varrida por eles, não temos escolha. — John
anda de um lado para o outro, meio que mostrando insegurança
para expressar as próximas palavras, ficando mudo por alguns
segundos, enquanto os jovens olham atentamente, aguardando
cada palavra. — Sabem, garotos... Eu não acredito que eles me
tornem seu braço direito. Da mesma forma que são
inteligentes, eles são persuasivos e mentirosos. De qualquer
58

forma, os descendentes de Gênesis serão destruídos se nada for


feito.
— Onde o senhor quer chegar com essa história, Doutor?
— questiona Davi.
— Estou aqui há vinte e cinco anos — ele continua. —
Quando cheguei, havia acabado meu mestrado em astrofísica,
pude aprender mais aqui do que lá fora, a inteligência deles é
indubitável. Vocês viram aquelas armaduras no corpo de
nossos aliens? — Antes mesmo deles responderem, o doutor
continuou. — Obra minha. Nada penetra aquele material, ou
melhor, apenas eu tenho a arma que penetra aquele material.
Vocês sabiam que eles nunca morrem? Só seus corpos, tudo
que o cérebro armazena durante uma vida de trezentos e
cinquenta anos, que é a média de vida deles, são armazenados
no computador central e passados para outros corpos de
alienígenas artificialmente produzidos. Isso facilita o
desenvolvimento e nenhum deles precisa reaprender tudo. Isso
explica toda essa inteligência e tecnologia que nós, meros lixos
tóxicos, não temos. Eles são imensuravelmente mais
inteligentes. Em compensação, eles se acham a aberração, se
consideram uma falha, Suas aparências não os agradam. Por
isso querem tomar forma Anunnaki ou seja, humana, e eu os
ajudo a fazer isso criando corpos humanos inanimados. Nossas
primeiras tentativas foram catastróficas, a pele envelheceu em
menos de um mês e a criatura ficou ainda pior, mas hoje está
perfeito.
— E como nós saberemos que você não é um deles já na
forma humana? — pergunta Richard.
— Essa dúvida vocês terão que carregar consigo por um
tempo, todavia, a resposta virá à medida que formos nos
conhecendo — ele responde.
— E como você vai saber se depois de fazer tudo isso por
eles, não será morto ou completamente controlado por eles? —
pergunta Davi.
— Não temos escolhas, meus caros, já está feito —
responde com um tom de tristeza. — Bem, na verdade foi por
59

isso que eu trouxe vocês até aqui. Davi, você se lembra que ao
acordar seu carro não funcionava?
— É, lembro, né, por isso fui para aquela maldita estação
— murmura.
— Eu mandei uma de nossas sondas, que conseguiu
captar informações sobre seu cérebro e percebeu que seus
neurônios se comunicam com mais velocidade que as demais
pessoas e assim foi diretamente a você. Emitiu descargas
eletromagnéticas que neutralizam a energia de qualquer coisa
num raio de dez metros. Ou seja, eu convoquei você. — Ele
coloca a mão sobre seu ombro. — O mesmo fiz com Richard
— Com a outra mão, aponta para ele. —, que foi abduzido por
uma dessas sondas que fez uma descarga, afetando diretamente
o seu cérebro e o deixou inconsciente. Isso explica os fatos de
abdução que um dia já ouviram falar.
— Mas como é que ninguém vê essas coisas perto da
nossa casa, seria no mínimo algo estranho, como um óvni —
Davi observa.
— Nossas sondas são inusitadas, meus caros. Esses
animais que vocês acham estranhos e enigmáticos, como
cigarras, gatos, corujas, morcegos, vagalumes e grilos, na
verdade, não são animais naturais da Terra, são sondas, claro,
não todas, mas as necessárias, que foram modificadas usando
mecânica quântica associada à inteligência artificial e
nanotecnologia, ou seja, são robôs biológicos.
— Já não estou entendendo mais nada — diz Richard,
balançando a cabeça. — E pra que nós fomos chamados aqui?
— Porque eu já sabia da capacidade de vocês. Digamos
que foram os escolhidos. Bem, vou explicar. Com todos esses
anos que estive aqui, pude perceber que se eu conhecesse a
tecnologia alienígena, talvez pudesse enriquecer lá fora, mas
nunca tive a ousadia de tentar sair antes do previsto. Nesses
vinte e cinco anos, eu pude ter acesso a várias tecnologias
alienígenas, coisa que vai nos impulsionar no mundo, do lado
de fora, entendem?
60

— Na verdade eu ainda não estou conseguindo captar, dá


pra explicar melhor? — diz Richard com sua cabeça fervendo
com tantas informações.
— Eu também não sei aonde você quer chegar, doutor,
seja direto... — Davi dá uma pausa, gesticula, então continua...
— Seja mais claro!
— Eu quero dizer que vocês são os homens escolhidos
para combater essa raça na Terra junto a mim, para que eles
não consigam dominar nosso planeta, pelo menos por
enquanto. Se for pra morrer, que seja lutando e tentando
defender o que é nosso — explica John.
— Espera aí, agora que eu já não estou mais entendendo
nada — diz Davi confuso. — Então quer dizer que você está do
nosso lado?
Antes que Davi pudesse prosseguir, Richard o interrompe
perguntando e olhando para as cápsulas:
— E essas pessoas que você mantém incubadas?
— Não são pessoas, são apenas os corpos inanimados
dos quais falei antes, que criamos para o processo de
transferência neural. Foram criados com perfeição e os
governantes alienígenas tomarão posse desses corpos —
explica — Os corpos de Hinni e seus irmãos já estão
perecendo, mas eles só irão renascer quando o computador
central terminar de transferir todos os dados. São cinco horas
no total. Eu aproveitei essa sorte de eles estarem fazendo a
transferência comigo aqui para pôr meu plano em prática, pois
ali eles ficam inertes e a gente tem tempo para tentar impedir.
Esses corpos inanimados serão levados à sala principal, onde
está sendo feita a transferência, então temos pouco tempo.
— E como funciona essa transferência? — pergunta
Richard agoniado, já sabendo que o doutor está impaciente de
responder tantas perguntas.
— Richard... — ele faz uma pequena pausa, o olha e
então responde respirando fundo. — Tudo que temos no nosso
corpo, se mantem ligado por eletricidade e o corpo é apenas
uma máquina, mecânica e biológica, que precisa dessa
61

eletricidade, além dos seus equipamentos para funcionar.


Inclusive suas memórias são armazenadas por eletricidade e
nós podemos não só acessá-las, como podemos armazená-las,
deletá-las, copiá-las e transferi-las para um outro cérebro. E os
corpos, nós criamos a partir do bosson’s higs, que é formado
pela fusão de dois elementos, chamados pré-hig. Conseguimos
criar moléculas, átomos, células e tecidos. Podemos criar,
também, o DNA e o RNA ou simplesmente copiá-los. E os
corpos são formados em nossa câmara chamada de CCI,
câmara de corpos inanimados. Eu dou o tipo de anatomia,
colocando o corpo de uma pessoa, ou de um alien, e ela...
Digamos... — ele faz uma breve pausa para achar uma palavra,
e então prossegue. — E ela copia, e imprime, digamos assim.
Mas com um DNA aleatório que ela mesma monta, caso não
queiramos copiar. O processo dura algumas semanas, pois ele
nasce como um feto que é levado direto à incubadora até seu
nascimento, depois, ele é levado para a câmara de aceleração,
então cresce rapidamente até como se tivesse vinte anos.
Depois disso, o processo de aceleração é interrompido e o
corpo preservado para a transferência neural que liga o corpo.
— John suspira. — Acho que já respondi o suficiente. Agora
precisamos nos apressar, temos pouco tempo até o fim da
transferência.
— Confesso que não sei o que dizer, nem o que sentir —
diz Davi —, mas parece que estou mais confortado agora.
Quanto tempo temos?
— Quatro horas. Talvez menos. Durante esse processo
nós poderemos circular aqui, eles não podem ser desligados do
computador, não agora que já estão no processo, então, mesmo
sabendo de nós, eles continuarão o processo, mas ainda terão
um pouco de capacidade de enviar exército atrás de nós, por
isso devemos ser cautelosos. Bem, primeiramente eu terei que
levá-los à sala de mecânica, teremos que ir para a estação de
trem. Fiquem com suas armas. Eu conheço tudo aqui, caminho
por caminho, eu tenho acesso a todas as portas, vocês só terão
que me dar cobertura caso eles descubram algo. Lá eu darei a
62

você, Davi, minha obra prima, uma armadura chamada iQuant,


e a minha arma de Raio-Z. Ah, essa é mais uma de minhas
obras primas, uma arma com tiro de plasma gerado à partir de
uma explosão de nêutrons. Em outras palavras, você terá em
suas mãos o poder da explosão de uma estrela de nêutrons.
Destrói o que vir pela frente.
Ele dá um suspiro de alivio e pergunta:
— Estão prontos?
— Mas por que a armadura vai para o Davi? E eu ganho
alguma? — Richard interrompe indignado.
— Eu comparei suas habilidades e cheguei à conclusão
de que Davi é mais habilidoso com armas, mais veloz, ótimo
em estratégia e lógica. Ou seja, pronto para ser um soldado.
Enquanto que você é mais criativo, paciente e habilidoso com
engenharia, e com um QI muito avançado. Embora seja,
também, um ótimo atirador e tenha um porte físico muito bom.
Mas preciso que você me ajude a terminar de construir o portal
paralelo, que vai nos ajudar a sair, e levar meus equipamentos
para o lado de fora, para continuarmos lá.
A sala é tomada por um longo e agoniante silêncio
enquanto Davi lança um olhar para Richard, um olhar que se
parecia a mistura de medo e esperança. Logo sua expressão
muda e aparece um olhar de dúvida. Richard por sua vez,
olhando para John sem palavras, sem saber se deveria apostar
as fichas nele, mas sabendo, também, que não teriam mais
alternativas. Até que o silêncio é quebrado por Davi.
— Vem cá, você está falando sério mesmo? — Ele olha
colericamente para John. — Parece que está de onda com a
nossa cara! E se aqueles aliens tivessem nos matado lá fora?
— Eu mudei aquelas armas. Eles estavam atirando
somente ondas eletromagnéticas que, ao tocarem os seus
corpos, os deixariam inconscientes por alguns minutos. Eu
posso mudar a função de cada uma das armas que estão com
eles somente com esse aparelho aqui. — John mostra um
aparelho no formato de um telefone celular, mas sem botões,
completamente touch screen, que muda as combinações das
63

armas e controla as armaduras. — Criei isso caso eles queiram


se voltar contra mim. Tudo que eu ajudei a criar aqui, eu
adicionei um dispositivo de escape por precaução.
— Richard, mostra pra ele o aparelho que a gente pegou
dos guardas, é parecido com esse, só que maior — diz Davi.
— Ah, sim — ele responde retirando de seu bolso o
equipamento e mostra ao doutor.
— Isso não tem serventia, só serve para as celas e acesso
aos elevadores externos que dão acesso a todas as celas da
torre. Esse que eu tenho abre tudo, menos, é claro, a porta
principal, onde fica a sala de Hinni e seus irmãos. Vamos
agora! Não temos mais tempo.
Os jovens assentem, seguem junto a John, dando
cobertura por aquela imensa fortaleza alienígena, sabendo que,
a partir de agora, realmente foram escolhidos para essa missão,
uma missão que os marcará pelo resto de suas vidas — se
saírem vivos. Então todos seguem em direção à sala de
mecânica, aparentemente presos por algemas, mas essas sem
magnetismo.
Passando por corredores agora menores e circulares, um
ambiente metálico e futurista, paredes com vários hieróglifos
artisticamente produzidos. A testa de John estava suando, pois,
pela primeira vez, tentara se virar contra seus líderes, ele não
esconde que está nervoso, “confio em suas capacidades, mas
não nas suas coragens”, pois se algo der errado tudo estará
acabado, não só para eles que estão ali dentro, mas para toda
humanidade.
— Pessoal, este elevador foi projetado por mim,
descendo por ele, nós chegaremos diretamente ao saguão, que
nos levará às estações, evitando todos aqueles corredores pelos
quais vocês passaram — explica John, andando em passos
rápidos.
— Ué, mas onde está o elevador? Pergunta Davi.
Uma enorme sala espelhada os cerca, aquele lugar
confundiria qualquer um, mas John a conhecia como as palmas
de suas mãos.
64

— Está atrás deste espelho. — Posiciona sua mão sobre o


totem metálico fosco, que surge sutil e delicadamente do chão,
quando detecta sua presença, em frente a um dos espelhos, que
aparentemente parecia inútil.
O totem então começa a brilhar e começa a aparecer o
formato de uma mão, uma luz azul turquesa.
O totem estava analisando suas digitais para confirmar a
requisição de abertura da porta. O espelho então se abre,
dividindo-se em duas partes, fazendo com que um corredor
secreto apareça e ao fim dele havia uma porta de elevador.
— Este elevador tem características bem peculiares, pois
ele não só se movimenta para cima e para baixo, como também
de um lado para o outro, para frente e para trás — explica —
Vamos! Entrem!
Todos passam pela porta, que se fecha, formando um
grande silêncio análogo ao de uma cabine acústica. Era
possível ouvir o próprio batimento cardíaco. Então o doutor
quebra o silêncio.
— Vou avisar aqui! Assim que você adquirir a armadura
e o canhão de Raio-Z, nós daremos início à batalha contra
todos eles, pois saberão que eu estou os apoiando, ou melhor,
que vocês estão me apoiando.
— Sim, claro, mas explique tudo para nós — diz Davi
um pouco mais empolgado; Richard apenas olha, ainda
estarrecido.
A caminho da sala de mecânica, mas ainda com milhares
de dúvidas, já que tudo aquilo era muito novo para eles, pois
ouvir lendas, falar sobre crenças em aliens, eram apenas teorias
para meros terráqueos. Mas a partir desse momento já não se
trata mais apenas de crenças, não era mais nada teórico. Eles
não só estão vendo, como estão, agora, lutando contra eles e
tentando impedir que o planeta Terra seja destruído por
alienígenas.
— Bem, chegamos à estação. Eu continuarei
transportando vocês como presidiários até a sala.
65

— Doutor, o que é aquilo? — Davi já havia passado por


essa área, a estação, mas não havia reparado que lá existiam
vários tipos diferentes de transportes e nota, dessa vez, um tipo
de veículo cercado por vidros e com várias cadeiras,
enfileiradas, de duas em duas, com várias pessoas, ele se
locomove sobre apenas um trilho cilíndrico, e ele observa
pessoas, embaixo, aguardando sua hora de entrar.
— Ah, aquilo são condutores. Ali entram apenas pessoas
que já estão com chips, pois aquela linha leva diretamente para
o lado de fora desta dimensão, ou seja, de volta para o nosso
mundo, eles estão indo para viver suas vidas normais, mas
sempre coletando informações, existem já alguns milhares de
pessoas controladas por chips do lado de fora, chips quânticos
é claro. Humanos não têm capacidade de descobri-los, mas eles
não ficam normais, ficam com algumas sequelas, como se
estivessem esquizofrênicos.
— Então quer dizer que se entrarmos ali nós sairemos
daqui? — pergunta Richard.
— É isso ai! — ele responde.
— Minha vontade é de entrar naquela porra e partir pra
casa.
— Não faça isso! — exclama Davi e põe-se na frente de
Richard. — A gente já conversou sobre isso. Sabe que se
deixarmos essa cidade sem acabarmos o que começamos, não
viveremos lá fora.
— E é como eu disse: apenas quem entra nesse transporte
é quem já está controlado pelo chip. Você seria jogado para o
lado de fora e será preso — avisa John.
— Preciso ver isso de perto. — Richard caminha para
próximo do condutor.
— Richard, não ponha nossa missão em risco! — diz
John — O termo “a curiosidade matou o gato” aqui é bem real.
— Fique tranquilo, serei cauteloso.
John baixa a cabeça enquanto que Davi prende a fala em
sua garganta.
66

Richard anda disfarçadamente em direção à fila e observa


como funciona o condutor, na verdade nem ele mesmo sabe
por que está ali, mas queria ver de perto, ter contato, mesmo
que invisível, com sua dimensão, ele se esconde em uma
coluna para não chamar atenção. Observa cada pessoa
pensando, “bem que eu poderia estar com o chip também! O
que seria melhor, viver como louco no meu mundo ou viver
lúcido nesse mundo nada fantástico?”.
O condutor remete bastante à uma montanha russa,
entretanto nada agradável. Ela desce, pega os “passageiros”,
em seguida segue um percurso circular, como um parafuso, e
entra em um portal, sumindo por completo, retornando em
outro portal, instantaneamente, bem do lado.
John observa juntamente de Davi, dando cobertura,
posicionados atrás de algumas caixas de metal que,
provavelmente, será transportada, mas que viera a calhar
naquele momento.
— Davi, não tenha dó, se alguém o vir, não os deixe
chegarem perto dele, pois não terá como se defender.
— Ok! — ele responde.
Davi e John apontam suas armas observando e
analisando a cada movimento do local, cada sacada dos
corredores na expectativa. Davi se lembra de suas incursões
nos morros e aquela posição já era algo que fazia de costume,
mas não com essa condição.
— Espero que, a partir de agora, ele se convença de que
não adianta fugir — John acrescenta.
Richard observa cada movimento que o condutor faz,
girando em torno de uma grande coluna cilíndrica de metal,
subindo no formato de uma espiral, partindo do zero a uma
velocidade inimaginável, e fica imaginando toda a engenharia
por trás daquela beleza.
— Como eu imaginaria que realmente haveriam seres
extraterrestres de verdade e com a tecnologia muito mais
avançada. Isso é incrível! — ele diz quando observa o condutor
desaparecendo em meio a uma névoa negra com as bordas
67

ligeiramente azuladas, espessa e tomada por pulsos


eletromagnéticos incessantes. Em seguida entrando do outro
lado, circulando outra coluna de metal, descendo até o solo, sua
velocidade diminui suavemente, como se fosse uma pena. Em
seguida compartimentos se abrem de uma forma
surpreendente, as pessoas que aguardam do lado de fora
ocupam os assentos, os compartimentos se fecham e o
condutor repete todo o processo. Quando em meio à sua
observação, ele é abruptamente interrompido por um tiro, que
passa tirando fino de seu rosto, fazendo-o congelar e se arrepiar
dos pés à cabeça.
— Ele foi atacado — grita Davi. — Mas não estou vendo
quem foi.
Ele aponta sua arma para todos os lados e percorre o
local, John dá cobertura.
Nesse momento, Richard corre em direção a eles, então
os guardas aparecem por trás da coluna por onde o condutor
circula.
— Ali! — Aponta John e desfere alguns tiros. Ignorando
a fila de pessoas próximas à coluna.
Uma carreira de guardas se aproxima, ditam uma ordem
e toda aquela gente que estava no local se retira correndo
enquanto eles disparam vários tiros em direção ao grupo de
Davi.
Eles revidam contra os guardas para derrubá-los antes de
o alarme ser acionado, mas como Davi não conseguiu uma
mira muito boa, Richard ainda estava desarmado, John não era
muito bom em tiro, a quantidade de guardas era grande e o
alarme foi acionado.
Richard pula para o solo refugiando-se dos tiros,
enquanto os guardas são abatidos aos poucos, pega sua arma.
Em seguida Davi abriga-se atrás de uma coluna, onde teve uma
melhor visão e começou a fazer disparos certeiro; Richard se
abrigou atrás de Davi e também conseguiu tiros certeiros; John
atirava sem precisão, mas conseguiu abater uma boa
68

quantidade, entretanto, eles perceberam que quanto mais eles


abatiam, mais guardas apareciam.
No meio da intensa troca de tiro, Richard teve tempo
para observar que o condutor cessou sua velocidade
abruptamente ao perceber a presença de seres em seu local de
passagem. Mas seu devaneio e cortando.
— Davi, é inútil — observa John — Quanto mais
matarmos, mais deles irão aparecer, e se continuarmos aqui
chamaremos atenção das unidades soldados. Temos que sair
daqui agora! — ele ordena.
— Vai você primeiro, John, nós damos cobertura, em
seguida Richard e depois eu — diz Davi mostrando o espirito
de liderança que possui para comandar sua equipe da polícia.
Em seguida os três conseguem empreender fuga em
direção aos trens.
— Bom agora nós precisamos destruir os trens
alienígenas, pois a guerra começou antes do previsto! —
exclama John ofegante, enquanto Davi continua na contenção
impedindo o avanço dos guardas.
— E como faremos isso? — pergunta Davi de costas
estirando.
— Nós vamos ter que jogar os trens uns contra os outros
e usar um dos trens alienígenas que fica na última linha,
digamos que seja um trem presidencial.
— Ok! — Davi responde.
— Olha, pessoal — Richard tenta se explicar. —, me
desculpem por tentar sair, é que...
— Depois conversamos sobre isso — interrompe Davi
— Por enquanto só atira, precisamos ganhar tempo para John.
— Agora só precisamos chegar à sala de John.
Ao chegarem às linhas, John aciona as portas dos trens
com seu aparelho, todas elas se abrem de baixo para cima,
dando acesso às outras plataformas.
— Prestem atenção: são seis linhas contando com a linha
mestre. — John gesticula tremendo — Eu abri todas as linhas.
Vocês deverão abrir o painel, é um botão vermelho
69

posicionado ao lado do GPS, quando aberto vocês deverão


cortar todos os cabos azuis que são pilotos automáticos,
apertem o botão amarelo que deixará as portas abertas e cortem
os fios verdes para que as portas não se fechem, não
poderemos fazer de forma sincronizada. Davi irá se posicionar
no primeiro trem, Richard no segundo e eu no terceiro. O
primeiro a cortar será Davi. Corte e acene para Richard, que
deverá esperar cinco segundos antes de começar a cortar, em
seguida acionem as alavancas para baixo para que os trens
corram em direção aos outros, esses cinco segundos permitirão
que vocês passem pelos trens antes que eles peguem
velocidade e corram para a linha seis, e, por favor, não se
confundam com as cores, ok?
— Tudo certo — responde Davi e Richard assente
maneando a cabeça.
— Revisando — diz John. — Cortem os azuis, apertem o
botão amarelo, depois cortem o fio verde. Após Davi fazer
isso, acene; cinco segundos depois, Richard faz o
procedimento. Agora vamos!
Davi se posiciona no primeiro trem, Richard no segundo
e o doutor no terceiro, fazendo exatamente como explicado.
Eles conseguem executar o plano com sucesso. Os trens partem
em direção aos outros, eles ultrapassam por dentro do vagão
dirigindo-se à linha seis e conseguem tomar o trem. Em
seguida, as composições se chocam causando uma enorme
explosão com feixes de um tiro de laser verde, que destrói tudo
o que encontra pela frente e por pouco não atinge a composição
onde está a equipe de Davi, no entanto, eles sentem parte do
impacto, que os lança no chão.
Algumas dezenas de guardas se aproximam, entretanto
não conseguem chegar a tempo e acionam o alarme, ficando
para trás, parados como zumbis, com olhares fixos e braços
abaixados. Alguns deles desferindo tiros em suas direções.
— Conseguimos! — confirma John se recuperando da
queda. — Corram para o vagão dianteiro e vamos rezar para
não sermos interceptados por soldados aliens, pois se isso
70

acontecer, digam Adeus. Nós não precisaríamos passar por isso


se não fosse pela maluquice do nosso amigo aí de se aproximar
do condutor — esbraveja olhando para Richard com um olhar
de um juiz acusando um réu.
— Eu já pedi desculpas. — Richard tenta se explicar.
— Calma, pessoal — intercede Davi —, vamos nos
preocupar com a nossa fuga primeiro, depois decidimos o que
fazer com Richard.
— O que fazer comigo? — esbraveja Richard — Está
achando que ficou por cima depois que esse cara aí falou que
vai te dar uma armadura? Vai achando...
— Sabe qual é o seu problema, nerd maconheiro? —
interrompe Davi — Você é um camarada muito inconsequente,
sabia do risco e mesmo assim quis ir lá. — Davi se levanta —
Você fez a merda e agora quer cantar de galo?
Richard desfere uma rasteira intempestiva em Davi, que,
sem esperar, cai no chão e rola para cima de Richard o
agarrando pelo pescoço e aplicando um mata-leão.
— Calma, Davi. — John intercede pondo a mão em seu
ombro.
— E então, otário? — diz Davi entredentes apertando o
pescoço de Richard que tosse, seu rosto está vermelho de tanto
esforço e de falta de ar — Você não é valentão? Hein? Filho da
puta! Não parece tão valente agora. — Richard tosse ainda
mais forte, tentando falar algo e Davi aperta ainda mais. —
Achou que eu fosse o quê, babaca? Um policial sedentário que
só sabe assaltar trabalhador no trânsito e comer pizza em
serviço?
— Davi, por favor, solte ele! — pede John.
— Eu sou lutador também, pela-saco. — Davi ignora
John. Richard Bate duas vezes na costela de Davi e também é
ignorado — Está batendo é? Seu merdinha! Maconheiro! Você
vai aprender a ser homem agora? — Richard cada vez mais
vermelho e já lento, maneia a cabeça rápida e positivamente —
Vai mesmo? — Richard assente, então Davi o solta, ele cai no
chão respirando desesperadamente.
71

— Porra, Davi! — esbraveja John — Você está ficando


maluco? Quase matou o rapaz. — Davi, ofegante, com uma
expressão de ódio e medonha, olha nos olhos de John sem nada
pronunciar. — Eu preciso de vocês dois vivos, vão querer se
matar aqui dentro? — Richard se levanta e senta no chão,
encostado em um dos assentos, ainda ofegante — Esperem
pelo menos a gente sair daqui e resolvam seus problemas
pessoais, agora vamos para o vagão da frente agora!
Davi parte primeiro, John por sua vez estende a mão para
Richard, que apenas o olha, debruça os braços sobre o assento
e se ergue, em seguida anda lentamente em direção ao início do
vagão ignorando a presença de John que o acompanha.
— Falta muito ainda pra chegarmos? — pergunta
Richard.
— Não, restam em torno de três minutos apenas —
responde o Doutor.
Depois de toda essa tensão eles conseguem seguir em
direção à sala de mecânica, contudo, no meio do caminho, são
interceptados por alienígenas, que começam a atirar contra o
trem. A mesma linhagem de alienígenas que estava junto com
John quando se encontraram. Todos sentem o impacto e o
estrondo de suas armas e garras.
— Fodeu pessoal! Eles chegaram! — diz John apoiando
se nas paredes, e tentando pensar em uma solução. —
Protejam-se como puderem! Não poderemos sair do trem com
eles lá fora!
— E o que nos sugere fazer? — pergunta Richard.
Irritado, Davi desfere um soco na parede e grunhe. Mais
estrondos são ouvidos, o trem treme e todos se escoram.
— Bem, esses trens possuem sistema de autodestruição,
ao explodir ele libera milhares de partículas de Raio-Z refinado
em uma pedra quântica que eles possuem, isso significa que o
feixe de luz, exatamente como aquele que nós vimos quando
batemos as composições, é pelo menos dez vezes mais forte
que o Raio-Z convencional. Ele causará um impacto tão grande
a ponto de destruí-los. Somente dessa forma conseguiremos
72

abater os soldados aliens de classe E, que foram aqueles que


vocês viram. Eu os... —
Sua explicação é interrompida por vários estrondos e
barulhos de metal sendo rasgado, então ele se abaixa e
prossegue falando rápida e desesperadamente.
— Eu os classifiquei dessa forma. Os de classe E são os
alienígenas mais burros e fracos de todas as linhagens...
Novamente ele é interrompido por uma garra que
atravessa a lataria de cima e a rasga, passando diante dos seus
olhos, que a acompanham lentamente. A garra então sobe e ele
continua a explicação, falando ainda mais rápido:
— Depois vem a D, C, B, A e a classe AA, essa é a
classe líder, mais inteligente, com essa classe nem mesmo eu
tive contato, a não ser Hinni, é claro. Não temos mais tempo,
eu vou reduzir a velocidade do trem, vou trancá-los aqui
dentro, todos nós vamos ter que pular, colocarei apenas dez
segundos para a explosão, pulem e corram o máximo que
puderem! — ele alerta.
Enquanto John explica como tudo funciona, os soldados
conseguem entrar nos vagões, e correm em direção a eles.
— Mas isso é tempo de mais, eles vão voltar pelo lado
que eles furaram — diz Davi, atirando em direção a eles e ao
mesmo tempo tremendo, juntamente a Richard.
— Negativo, eles não raciocinam, simplesmente vão
ficar tentando perfurar apara sair novamente. É agora, vou
acionar, pulem!
A porta se abre, todos pulam, ela se fecha um segundo
depois. Eles caiem antes de seu destino. Ao se passar o tempo
determinado o trem explode liberando o mesmo Raio de cor
verde e destruindo todos os soldados. Mas um deles estava do
lado de fora do trem e, sem que eles percebessem, ele pula para
a plataforma rapidamente e corre em direção a Richard, o
agarra e desfere tiros na direção dos demais, que desviam e
continuam fugindo, em seguida o alien o leva sob custódia.
— Você está bem Doutor? — pergunta Michael após se
levantar.
73

— Eu acho que torci meu pulso — John reclama,


massageando o pulso. — Ele capturou Richard e fugiu.
Acrescenta.
— Não acredito que nós o perdemos! Mas que desgraça!
Isso não poderia ter acontecido! Ficou só um para o lado de
fora, poderia ter me levado em vez dele — Davi diz baixando a
cabeça, com um calafrio e sentindo um vazio por dentro, uma
sensação de impotência.
— Só teremos que torcer para que eles não o matem.
Bem, não vão matar, se quisessem já o teriam feito, e não
temos como correr atrás, primeiro porque não temos arma para
combater e segundo porque esses alienígenas conseguem correr
a mais de cem quilômetros por hora e saltar por cima de uma
casa. Nossa sorte foi que sobrou apenas ele, senão estaríamos
todos presos, aí... Meu camarada... Estaríamos todos perdidos e
a missão correria por água abaixo.
John procura uma parede próxima e desaba se escorando
nela, Davi faz o mesmo. John segue pensando no dia em que
fora parar na cidade dimensional e começa a desabafar com
Davi.
74
75

Considerado a mente mais brilhante não só de suas


turmas, mas de toda a universidade, após cursar engenharia, no
California Institute of Technology, e física, com pós e
mestrado em astrofísica, em Harvard, em Cambridge,
Massachusetts, John Steve fez uma viagem para o Brasil para
ajudar uma equipe de engenheiros a construir um mega
telescópio que os permitiria ir além dos que já existiam para
fins de estudos de alguns planetas ainda em descoberta. Pelo
fato de John ser uma pessoa bem reservada, não tinha muitos
amigos e dividia seu tempo entre seu cachorro Bolinha, um
Bull Terrier, e seus livros e quadros, escrevendo expressões
matemáticas. Depois de seis anos no Brasil, com muitas
dificuldades, principalmente financeiras, na área da ciência, o
telescópio estava finalmente concluído.
— É, John, finalmente poderemos observar planetas com
a qualidade merecida, tudo por sua causa — diz Paula, sua
amiga de equipe.
— Não atribua essa conquista somente a mim, existem
outros cientistas muito brilhantes aqui, e você é uma delas —
John afirma e sorri. Paula retribui o sorriso.
— E então, quem vai ser o primeiro a avistar Vênus? —
pergunta Fábio.
— Olha, eu já fiz milhares de testes e já avistei muitos
planetas. Sinceramente, até enjoei de olhar para a cara disso.
— moteja John. — Eu voto em Paula. — John a olha e solta
um pequeno e simpático sorriso.
— Realmente, as mulheres primeiro — concorda Fábio.
— O resto da equipe já se foi, senão ficaríamos por horas aqui
decidindo isso. Aproveita que a coordenada está exata.
— Na verdade, eu prefiro ver Saturno. Além de amar seu
anel, eu já consultei o mapa estelar e já sei onde localizá-lo. —
Ela sorri.
— Ah... Então a senhorita já tinha tudo planejado, não é?
— ironiza Fábio. — Mulheres e suas certezas das vitórias. —
Paula sorri mais alto e John a acompanha.
76

— O que posso fazer, né, amor? — Ela puxa um tipo de


pergaminho, o abre na mesa e começa a apontar. — Levando
em consideração que a Terra gira em torno do Sol em um ano,
e Saturno leva em torno de vinte e nove anos e meio, essa
época do ano, presume-se que ele esteja próximo da
Constelação de Libra e poderemos achá-lo facilmente — ela
conclui.
— E exatamente hoje ele está em oposição ao sol — diz
John.
— Sim — ela responde e se posiciona no telescópio,
localizando. Fica por vários segundos até encontrá-lo. — Olha
essa beleza! — A moça permanece alguns segundos.
— Deixa eu ver também! — Fábio toma seu lugar. —
Simplesmente magnifico! Venha, John! Veja esse belo anel!
— Esse é o planeta mais romântico ao meu ver. Quando
eu me casar, quero esse anel de presente — declara Paula.
— Vamos, deixe-me ver também essa beleza! — diz
John, se posicionando. Segundos depois, John percebe algo
diferente. — Pessoal, não estou vendo Saturno.
— Você mexeu nisso, John? — pergunta Fábio.
— Não, simplesmente tem um outro objeto luminoso na
minha visão.
— Ai, fiquei arrepiada. — Paula se assusta.
— Deixa eu ver isso! — Fábio pula para o telescópio. —
Mas o que é isso? — pergunta ele boquiaberto.
— Posso ver? — perguntou Paula, já se posicionando. —
Meu Deus, o que é isso?!
— Vamos para a cobertura! — diz John — Tragam a
luneta!
John sobe as escadas do prédio e chega à cobertura.
Segundos depois sobem Fábio, com a luneta na mão, seguido
de Paula. Fábio arma o tripé.
— Me dá isso aqui! — John apanha a luneta da Mão de
Fábio. Paula olha para o céu na tentativa de avistar a olho nu.
— Não vejo nada.
77

— Deixa eu posicionar aqui no tripé. — Paula adapta a


luneta e a posiciona —, realmente, não tem nada mais lá.
— Será que pode ter sido algum problema na lente do
telescópio? — pergunta Fábio.
— Não! — John responde veementemente — Eu fiz
centenas de testes, está perfeito.
— Olhem, John, Fábio... Aquilo!
Os dois olham para cima e todos veem um tipo de objeto
análogo a uma nave completamente escura no céu, não muito
grande, pouco perceptível, principalmente pelo fato de a Lua
não estar iluminando o céu. O objeto se aproximou, deixando
os amigos estarrecidos, porém nenhum deles quis sair do local,
aquela oportunidade era única. Intempestivamente uma luz
tremeluziu até que se estabilizou, um verde cítrico. Logo o
objeto planou sobre os três amigos, que olhavam
incessantemente para cima. Um feixe de luz foi disparado e
pegou a todos de uma vez, fazendo com que desaparecessem.
A luz se apagou e o objeto saiu em disparada, simplesmente
ignorando a força gravitacional e a inércia.
Horas depois John acordou em um local análogo a um
laboratório, mas estava meio lento, não conseguia discernir o
real da fantasia que vivera. Ele agonizava em seu leito tentando
se levantar e acordar de fato. Até que algo é aplicado em seu
corpo, e alguns segundos depois, sua visão volta ao normal e
ele acorda totalmente, olhando tudo à sua volta, percebendo
que seus amigos não estavam ali.
— Alguém aí? — perguntou olhando toda a sala.
Um ser estranho, humanoide e acinzentado, sai de trás de
uma coluna e diz algumas coisas que ele não entende.
— Olá. Onde estou? O Senhor é? — John pergunta, mas
sem obter respostas.
Outros dois seres exatamente idênticos adentram o
aposento e se dirigem a John com um jaleco e o entregam. Em
seguida colocam uma algema sem corrente, que atrai uma a
outra.
— Para onde estão me levando?
78

Eles nada dizem e continuam encaminhando o rapaz.


Depois de passarem por vários corredores, portas e
elevadores, John é apresentado a cinco seres vestindo
armaduras altamente sofisticadas e tecnológicas.
— Olá, John. Sente-se! — diz um dos seres com uma
voz robótica e grave.
— Você fala minha língua?
— Sim, falo — assente. — Meu nome é Hinni, esses são
meus irmãos. Somos líderes do universo U.P.2, eu sou rei do
planeta Irion, estamos aqui em busca de uma pedra que nos foi
roubada e trazida para cá, não temos intensão de machucá-los,
mas precisamos da pedra.
— E aonde eu entro nessa história? — pergunta John
estarrecido.
— Você é o homem que irá localizá-la — Hinni
responde.
— E por que vocês mesmos não a pegam?
— Não podemos permanecer nesse planeta, precisamos
voltar a nossos planetas. Nós só viemos para garantir a chegada
da colônia Irioniana, e, até nos estabelecermos, precisamos de
um humano liderando essa colônia.
— E por que eu? — questiona John.
— Você não sabe de seu potencial, não é?
— Sim, conheço tudo que sou capaz! — afirma John.
— Está vendo toda essa tecnologia que estamos
vestindo? Tudo que compõe essa sala? A engenharia da nave
que o raptou? Tudo isso pode ser seu. Você dominará tudo
isso, John. Venha, acompanhe-me, quero lhe mostrar uma
coisa.
Ele segue a sós com Hinni para outra sala e aponta para
uma cápsula.
— Está vendo essa cápsula? — John assente maneando a
cabeça — Ela é capaz de torná-lo imortal. Você gostaria de
viver para sempre, John?
— Claro que sim! — ele responde — Sem sombra de
dúvidas.
79

— Eu posso ensiná-lo tudo isso, basta você me ajudar —


disse Hinni
— O que eu preciso fazer? — John pergunta.
— Gostei da pergunta — ele responde — Sua
curiosidade é maior que seu medo e isso é ótimo, mostra que
você tem exatamente a capacidade que preciso para liderar
minha colônia dimensional. Simples, John. Eu quero sua
aparência. Você fará todo o teste necessário para criarmos
corpos inanimados humanos, para que eu e meus irmãos
tomemos posse. Esse planeta está em paz, meu universo está
em guerra, nossa raça poderá sucumbir a qualquer momento e
eu garantirei a eternidade dela, nem que eu precise começar do
zero. O planeta Terra faz parte de um código de conduta
interestelar que diz que toda forma de vida primitiva ou em
desenvolvimento não poderá ser atacada. Bem, não estou
atacando, apenas estou me estabelecendo aqui enquanto
colônia, mas, por enquanto, eu não posso ficar, apenas virei
quando os corpos humanos inanimados estiverem prontos.
Com todas essas coisas que preciso poderei dar continuidade à
raça e terei a tecnologia para transferência neural, que é passar
uma pessoa de um corpo para outro. Está disposto a fazer isso
em troca de toda essa tecnologia?
— E como saberei que irá me passar tudo mesmo?
— Você será levado a nosso instrutor. Ele será seu tutor,
explicará o funcionamento exato do universo, nossa cultura e
as das demais raças conhecidas, conhecerá a história, saberá de
exatamente tudo, inclusive de onde vieram.
— E de onde viemos?
— Hinni ignora a pergunta de John enquanto olha para a
porta, até que uma criatura a cruza, e caminha em suas
direções.
— Esse é Saiphy, o Gray que irá ensiná-lo tudo, desde a
ciência às culturas. — John avista um ser relativamente baixo,
corcunda, usando um tipo de óculos bem diferente, metálico e
sem divisão ou lente, um tipo de roupa anatômica e uma
ombreira de cor grafite que cobria também sua boca —
80

Quando você estiver em nosso nível, John, o terá como seu


novo pai.
John estende a mão para cumprimentá-lo. Saiphy Apenas
o Olha e maneia a cabeça.
— Não ligue, John. Ele não é humano. Lembre-se, por
mais que saiba de suas culturas e costume, não é de nosso
costume cumprimentar apertando a mão — explica Hinni. —
Vocês humanos honram uma coisa chamada dinheiro, certo? O
que aprenderá aqui, o deixará tão rico que poderá mandar em
qualquer líder desse planeta, poderá comprá-lo, inclusive.
Saiphy, apresente a ele seu novo laboratório.
Todos saem da sala e passam por corredores. Uma sala
chama atenção de John e ele para em frente, olhando por uma
pequena tira de vidro.
— O que é aquilo? Pergunta John.
— Bem, deixarei vocês à vontade, se conhecendo, e
seguirei meu rumo. Qualquer coisa, é só chamar — diz Hinni
seguindo para o fim do corredor.
— Tudo bem Hinni — diz Saiphy com uma voz robótica
e fina. — São corpos inanimados Greys. — responde a John.
— E para que servem?
— Como Hinni havia dito, esses corpos são para a
reposição neural dos Greys que estão morrendo. Em pouco
tempo eles estarão vivendo aqui dentro dessa colônia
dimensional. Serão lançados para todo o tipo de área, exército,
laboratório, mecânica e outras diversas áreas.
Descendo por um elevador, Saiphy continua sua
explicação do funcionamento da colônia, até que chegam a
uma estação de trem e caminham para uma composição negra
exibindo feixes de luz verde cítrico, então eles a tomam. Ao
entrar no trem, o jovem percebe a alta tecnologia Gray ficando
boquiaberto e sem conseguir proferir uma só palavra durante
vários minutos enquanto a composição se move.
— Esse trem não tem um atrito — diz John quebrando o
silêncio.
— Desculpe? — Saiphy não entende.
81

— Eu disse que esse trem não sacode nem bate nos


trilhos.
— Esses trilhos são apenas um efeito colateral da criação
da fenda espacial, nós precisamos de um lugar onde nos
pudesse reduzir o tempo geral de trabalho e a estação foi
perfeita, nós apenas forjamos algo parecido com o que vocês
utilizam para transportar algumas coisas, mas nossos trens não
estão sobre os trilhos, eles estão flutuando, por isso não têm
atrito, e você aprenderá essa tecnologia. — Os olhos de John
brilham a ponto de fazê-lo esquecer completamente do mundo
exterior.
A composição para suavemente, as portas se abrem e eles
saltam em direção a uma sala.
— Chegamos — disse Saiphy — Esta será sua sala,
John. Não é uma simples sala, é um local imenso onde poderá
pôr em prática tudo aquilo que aprender, organizará da forma
que quiser e terá o que precisar para seu trabalho.
A porta se abre e eles entram.
— Realmente é muito grande, mas eu percebi uma coisa
que me incomoda — disse John.
— Diga.
— Não gosto de ser espionado, não consigo trabalhar
dessa forma — ele revela.
— Sem problemas — Saiphy responde. — Hinni, o
hóspede solicitou que retirássemos as câmeras de sua sala, não
consegue trabalhar pensando estar sendo espionado —
informa Saiphy por meio de comunicação remota e Hinni o
responde. — CM duzentos e oitenta e três a duzentos e oitenta
e nove, desligar. — Saiphy ordena e as câmeras se
desprendem em queda livre, em seguida planam no ar por meio
de hélices minúsculas e os sobrevoam, saindo da sala.
— Tudo isso é fantástico — assume John.
— E será tudo passado a você em breve. Agora quero lhe
apresentar alguns de nossos soldados, que zelam pela nossa
segurança. Unidades B, C, D e E, apenas os lideres, venham
até minha posição — ele ordena e em menos de um minuto,
82

soldados com armaduras extraordinariamente tecnológicas


aparecem, um mais exuberante que o outro. — A partir de hoje
vocês devem obediência a John, ele será o líder da colônia
dimensional. Tudo o que for solicitado, deverá ser
imediatamente acatado, são ordens expressas de Hinni.
— Sim, senhor! — diz a unidade B com um som
robótico e grave. — Seja bem-vindo, humano. — John apenas
maneia a cabeça.
— Estão dispensados — diz Saiphy.
— Você citou a unidade B, C, D e E, mas não falou
unidade A. Existe alguma? — John pergunta com curiosidade.
— Sim, a unidade A protege o sétimo andar da torre
central, onde fica a sala de Hinni. Ele não sai dali para nada,
nem mesmo para se alimentar, tudo que faz é levado a ele por
uma unidade C específica autorizada. — Saiphy lança um
objeto no chão que gera um feixe de luz, e uma imagem
aparece, um ser extremamente imponente, com a armadura
negra com traços de luz vermelhos. — Essa é a unidade A.
— E Hinni se enquadra em que escala? — pergunta
John.
— Bem, eu me enquadro em unidades B+, somente eu
aqui possuo essa condição. Hinni e seus irmãos se enquadram
nas unidades AA — conclui — Venha! Deixe-me apresentar o
resto das instalações.
John e Saiphy seguem colônia afora para conhecer todo
seu ambiente novo de trabalho, John na expectativa de
aprender novas tecnologias e sem ligar muito para o que possa
gerar do lado de fora da dimensão.
83
84
85

Davi está ainda inconsolável. Então olha para o outro


lado para seguir em frente, quando percebe uma movimentação
do outro lado da estação, no fim daquele corredor. Pessoas
carregando caixas de metal, uma espécie de drone levitando
enquanto descarrega as caixas. Ele olha novamente para John.
— Aí, o que aquelas pessoas estão fazendo? — pergunta.
— São escravos — responde John. — São controlados e
só trabalham transportando essas caixas de metal, que estão
lotadas de cápsulas com trilhares de materiais de outros
planetas, materiais não encontrados aqui na Terra.
Davi olha atentamente para os escravos que trabalham
como zumbis, com movimentos repetitivos e incansavelmente,
quando seus olhos grudam em uma mulher com
comportamento diferente dos demais.
— Olha aquela mulher lá no meio, ela não parece estar
sendo controlada. Vamos dar uma olhada — diz Davi.
— Vai fazer como o Richard, Davi? Pôr a missão em
risco por causa de uma mulher que você nem sabe se está
lúcida?
— Olhe você mesmo! Venha aqui. — Ele puxa John e o
posiciona a sua frente para que ele possa ter ângulo para
enxergá-la.
A mulher passava de um lado para o outro no ângulo de
uma porta do outro lado da plataforma. Eles percebem que ela
apresenta movimentos próprios, olhando para um lado e para
outro o tempo todo, parecia ter medo de algo.
— É, realmente ela parece estar lúcida. Mas, como isso
aconteceu? Somente quem trabalha ali, são escravos que já
passaram pela inserção do chip. Há quanto tempo essa mulher
está ali sem ser percebida? — pergunta John.
— Se você não sabe, camarada, imagine eu! — responde
Davi. — Posso ir, John? — ele pergunta já mostrando
impaciência e posicionado com sua arma.
— Não sei... Não sei — John nega, mas no fundo
também quer saber do que se trata.
86

— Não podemos deixá-la aqui, se ela estiver mesmo


lúcida. Talvez ela possa nos ajudar.
— Ok, Davi — John assente — Espero não me
arrepender. Vai que eu te dou cobertura. O pulso está doendo,
mas dá pra atirar. Seja rápido! Estamos sendo perseguidos, não
podemos ser encontrados novamente, os recursos já foram
esgotados.
— Ok... ok... eu já sei disso — ele diz, já andando para o
outro lado, apontando sua arma todas as direções.
— E tome cuidado com o drone! Ele também dispara
alarmes. — John informa.
— Tudo bem — assente Davi, escondendo-se atrás de
colunas e paredes. Ele olha para os lados do outro lado do
corredor e não vê ninguém, então acena com a mão para trás
um sinal de positivo. Em seguida para no fim da parede a fim
de observar se existe algum guarda ou alien, abaixando-se e
apontando a arma, e nada vê. Ele caminha lentamente, saindo
de trás da parede e desce no vão do trilho, pulando sobre ele,
parando no outro canto embaixo da plataforma. Em seguida
sobe novamente e rola até a parede. Se levanta e anda pelo
corredor, lentamente, o que permite uma melhor visão daquela
área. Ao fim, ele se depara com uma outra plataforma e
algumas caixas esperando para serem levadas. Ele segue em
direção àquele amontoado de caixas de metal e se esconde,
apenas observando aquela bela moça que aparentava ter uns
vinte e quatro anos, olhos azuis, cabelos negros e ondulados,
abaixo dos ombros, pele amarela, vestindo calça jeans e uma
camisa social branca, que, na verdade, já estava marrom de
sujeira, rosto coberto de fuligem deixando seus olhos ainda
mais azuis.
Ele repara em seus movimentos e percebe que de fato
não está controlada, pois os demais escravos tinham olhar fixo,
vidrado, não piscavam, pareciam estar olhando para o nada.
Enquanto que ela já mudava seu olhar de direção e piscava, às
vezes olhava de um lado para o outro expressando o medo de
ser descoberta. Então ele a chama com uma voz baixa:
87

— Ei... Ei... Menina... psiu...


Um drone aparece fazendo com que ele se abaixe, então
apenas ouve um barulho agoniante e aterrorizante, como se
fosse o som robótico de uma grande abelha, vários segundos
depois ele percebe que o drone se afasta, então sobe lentamente
e olha entre as caixas novamente.
— Ei você...! Olhe pra cá! — Agora num tom um pouco
mais alto, chamando a atenção da moça que, automaticamente,
olha e vê uma pessoa entre as caixas com uma arma apontada.
— Não atire em mim, por favor! Não me leve para eles!
— implora a moça.
Ele sai de perto das caixas com o dedo em direção à
boca. — Xiu...Xiu... Fale baixo! Eu vim para tirar você daqui.
Vem comigo! — Ela olha fixamente para ele, sem entender o
que está acontecendo. — Agora! Rápido! — ordena.
— Está bem — responde desconfiada.
Ela o segue sem questionar e estende o braço para que
ele a ajude a subir na plataforma. Ele anda à frente, com sua
arma apontada, e vislumbrando John de longe, que acena para
que ele possa ir. Eles correm pelo corredor em direção à outra
plataforma, Davi desce em seguida a ajuda a moça a fazer o
mesmo, então sobe para o outro lado, da mesma forma
estendendo a mão e a puxando.
— Vem... Vem comigo. — Ele dá a mão à ela e a
conduz até a parede, então seguem em direção a John. — Eu
disse a você que ela não estava sendo controlada — diz Davi,
satisfeito por mostrar que seu faro policial ainda é aguçado.
— Qual seu nome? — pergunta John.
— Diana — ela responde olhando para os dois, deixando
evidente seu nervosismo e com as mãos tremendo.
— Eu sou Davi e esse é John. Vem com a gente! No
meio do caminho a gente conta a história toda.
Ela assente meneando a cabeça de forma rápida e
engolindo em seco.
88

Eles caminham em direção ao seu destino passo a passo,


se escondendo por entre as colunas e paredes enquanto Diana
sussurra algumas perguntas:
— Quem são vocês? São humanos? Onde nós estamos?
Posicionada entre Davi e John, mas sempre direcionando
as perguntas a Davi e o olhando para as partes que conseguia
ver de seu rosto quando virava para trás.
— Olhe... — Davi faz uma pequena pausa, como se
tivesse esquecido seu nome, olha para o rosto belo daquela
moça de perfil, olhando de canto, com seus olhos arregalados e
vermelhos com toda aquela tensão e retoma. — Diana, esse
não é um bom lugar para você fazer perguntas. — Uma gota de
suor escorre em seu rosto consumido por fuligem. — Estamos
sendo seguidos por esses alienígenas e precisamos chegar na
sala de John para ficarmos mais seguros. Até lá, por favor, sem
perguntas.
O doutor concorda com um ligeiro gesto de cima para
baixo com a cabeça e dividindo o olhar entre Davi e Diana.
A moça então percorre o rosto de Davi com os olhos,
avistando aquele cabelo liso e negro molhado de suor, se
perguntando se ele sempre fora grosso daquela forma ou se era
somente a tensão. Mesmo estarrecida, estava com um pouco de
esperança de sair “daquilo”.
Um flash rapidamente surge em sua mente, lembrando-se
de sua vida feliz fora dali e focando no exato dia em que fora
abduzida. Então volta para a realidade piscando rapidamente
seus olhos, quando seu devaneio entrega seu olhar novamente
para o rosto de Davi ainda a fulminando com os olhos.
— Tudo bem — ela diz com uma voz doce, porém triste.
— Desculpa, vamos seguir.
Os três continuam a caminho da sala de John, observando
todo aquele trabalho, objetos esféricos flutuando sem fazer um
som de motor, retirando aquelas caixas da plataforma e as
levando para um tipo de nave cromada com luzes azul
turquesa, que flutuava sem ao menos fazer um ruído.
89

— Davi! — chama John em tom de sussurro ao chegar


em um cruzamento dos corredores daquela estação.
— Fala — ele responde enquanto a moça para,
assustada, e olha para os dois.
— Nesse ponto existem soldados fazendo a segurança do
local, provavelmente já estão em alerta, eu vou na frente e você
me dá cobertura. Esses soldados aqui são os de classe D, são
fortes, raciocinam, mas ainda são burros e podemos enganá-
los.
Davi assente meneando a cabeça e voltando para trás de
John, que avança mais rápido e com sua arma em punho,
caminhando junto à parede, passo a passo. Ao fim, coloca sua
cabeça lentamente para fora, olhando para a outra parte do
corredor e lá avista três unidades posicionadas, com uma
armadura metálica, não tão robusta, que reluzia e refletia tudo
ao seu redor, com os olhos acesos, uma luz de cor vermelha,
então John recolhe rapidamente sua cabeça e lança um olhar
para Davi, dobrando seus lábios deixando transparecer seu
nervosismo. Davi, por sua vez, levanta a cabeça num breve
questionamento do que se passava do outro lado, Diana apenas
observa a comunicação dos dois e completamente estarrecida.
— Crianças, eles estão em alerta — diz John — Sabem
de nós! — conclui.
— Como sabe disso? — questiona Diana com um olhar
assustado e Davi dá um passo para trás pegando apoio em sua
perna e apontando a arma.
— Eles estão com os olhos vermelhos, isso significa que
eles estão em alerta contra invasores, pois o normal de seus
olhos é um azul turquesa — John responde — Precisamos de
um plano. Alguma sugestão, soldado?
Davi olha para o Doutor e depois para Diana, que
devolve o olhar. O jovem policial, então, pega no colarinho de
John e, lentamente, o puxa para trás de si ficando agora na
frente, e levemente deixa um de seus olhos escaparem para fora
da parede vislumbrando os soldados, rapidamente recolhendo a
cabeça e novamente olhando para John.
90

— Doutor, você os conhece, nós não. Se alguém tem que


ter alguma ideia aqui, esse alguém é você.
— Já sei! — revida John lembrando-se do seu controle e
pedindo para que ainda esteja com todos os seus comandos
funcionando. — Meu controle... Talvez eu possa desligar suas
armaduras e travá-las, eles ficarão presos nela.
— Vai... Vai... Vai... — exclama Diana sacudindo
rapidamente as mãos.
— Vai doutor, ficarei aqui dando cobertura, ou tentando,
pelo menos — diz Davi com um sorriso de lado, pegando a
arma de John e empurrando nas mãos de Diana. — Já usou
alguma arma na vida?
— Nunca peguei numa arma na vida — Diana responde
num tom de nervosismo com os olhos arregalados e suas mãos
tremendo. — O que tenho que fazer?
— Mira e aperta o gatilho, só isso — responde.
— Está bem, vou tentar. — Ela copia os movimentos de
Davi.
— O bom dessa arma é que não tem recuo — explica
John.
— O que é recuo, meu Deus? — ela pergunta com a
cabeça confusa.
— É aquele coice que as armas tradicionais dão no nosso
ombro... Saca? — Davi explica gesticulando.
— Ah, sim, agora sim, melhor ainda — ela diz mais
aliviada e não menos aterrorizada com o que estava passando.
Enquanto isso John mexe em seu aparelho e envia sinais
para aquelas três unidades ali paradas.
— Vamos ver se vai dar certo. Enviei sinais para desligar
suas armaduras. A sala de mecânica está a alguns lances dali e
acredito que os soldados de classe C e B podem sentir esse
sinal, assim que as armaduras desligarem, se desligarem,
precisamos correr o máximo que pudermos, pois eles são seres
pensantes e são infinitamente mais fortes. Preparem-se! Dê-me
a arma, menina.
91

John pega sua arma e passa à frente de Davi, novamente,


e olha para os soldados, aguardando uma reação do sinal
enviado. Então as luzes nos olhos das unidades vão ficando
menos intensas até que voltam novamente àquele brando tom
azulado-turquesa e depois ficam completamente negros.
— É agora pessoal, vamos! — ele grita já correndo em
direção à sala.
Diana no meio e Davi atrás. Todos correm, passando
pelo cruzamento e apontando suas armas, cada um para um
lado, para checar qualquer ameaça ali presente, então passam
pelos soldados parados. Davi e Diana admirando aquilo que
estavam vendo naquele momento, ainda perplexos com tanta
tecnologia. Em seguida eles se dividem entre os lados da
parede, um dando cobertura ao outro, Diana, dessa vez, atrás
de Davi, e correm rapidamente até um próximo cruzamento,
quando, de repente, um tipo de laser vermelho corta o espaço
passando do lado de Diana, Davi, em seguida John, iluminando
seus rostos e também todo o local por onde eles passam,
fazendo um forte sibilar e em seguida chocando-se contra a
parede e a despedaçando.
— Corram! — grita John revidando com alguns tiros
para trás. Já sabendo do que se trata. — A porta é aquela.
Davi e Diana correm em direção à porta, escondendo-se
pelas colunas e sem olhar para trás e o doutor corre com seu
aparelho, enviando um sinal para a porta, que se abre
rapidamente. Enquanto isso mais tiros são desferidos, atingindo
várias colunas e paredes, alguns passando de raspão em todos e
um dos tiros acerta a arma de John que voa de suas mãos,
derrubando também seu aparelho. Os soldados correm
atirando, em alta velocidade em direção a eles, que conseguem
pular dentro da sala, primeiro Davi, Diana em seguida John,
então a porta se fecha. O som dos tiros acertando e criando
protuberâncias na porta, o estrondo é ouvido por dentro
daquele aposento, deixando a todos completamente
estarrecidos. John corre em direção a um computador e digita
92

alguns comandos, vários segundos depois o som dos ataques


simplesmente desaparece.

***

A unidade segue mantendo Richard sob custodia e


chegam a um saguão onde existem várias outras unidades.
Junto desses há um diferente, com sua armadura branca com
listras azuis turquesa e reluzentes, muito mais robusta que as
dos que estão o mantendo sob custódia.
Richard está desesperado, mas, ainda assim, tem frieza
para reter cada detalhe que vê. As unidades se aproximam
desse soldado de armadura branca, então produzem um tipo de
som em direção a ele, que retribui produzindo um som
semelhante, porém um pouco mais grave. Então eles partem
novamente em direção à outra sala.
Ao passarem pela porta, que se abriu automaticamente,
ele observa um aposento com vários hieróglifos no chão em
alto relevo, várias estátuas das formas originais dos aliens,
outras assustadoras de gatos gigantescos, e algumas delas com
suas armaduras, de cada lado. E, no fim do aposento, três
portas que parecem ser elevadores, com duas estátuas menores
de gatos, uma do lado da porta esquerda e outra do lado da
porta direita, em cima da porta do meio há uma estátua de uma
coruja em pleno voo. Ao se aproximarem, a porta central se
abre, os soldados o empurram e entram, a porta se fecha e
aquele aposento começa a se mover em várias direções,
fazendo com que Richard fique perdido, agora sem saber onde
está e pra onde será levado.
A porta se abre e novamente eles andam por corredores
e saguões, todos, dessa vez, vigiados por aqueles soldados que
portava a armadura branca, então um deles anda em direção a
Richard e seus algozes e novamente produzem aquele som, ali
ficando por alguns instantes, se comunicando, até que as
unidades voltam, deixando-o, agora, sob custódia desses outros
soldados que continuam andando por corredores, lugares sem
93

nenhuma janela, nenhum contato com o lado de fora, uma


fortaleza. E nesse momento Richard se lembra de Davi e John,
sonhando com um possível resgate. Todos passam por uma
porta que dá acesso a um tipo de cela, uma delas se abre, eles o
empurram dentro e saem novamente deixando-o sozinho.
Finalmente, menos desesperado, pelo menos por aqueles
instantes, mas tomado de ódio por não estar lá fora com seus
amigos, começa a analisar a porta da cela e as paredes em
busca de alguma falha. Mas, sem resultados, ele se senta no
chão, acostando-se na parede do fundo, coloca a mão na cabeça
e a passa no cabelo, com milhares de pensamentos explodindo
sua cabeça. Um silêncio insuportável, sendo possível ouvir seu
coração batendo e o som da sua respiração, o que o estava
fazendo ficar novamente desesperado com a possibilidade de
nunca mais sair dali.
— Deus, o que vou fazer? Vou conversar comigo
mesmo para não ficar maluco ou ficarei maluco por conversar
comigo mesmo? Como vou fazer pra sair daqui? Será que Davi
e John estão bem? Espero que sim, eles precisam me tirar
daqui.
Vários minutos depois um som é ouvido novamente,
disparando o coração de Richard. A porta se abre e dois
soldados brancos aparecem e produzem aquele som. Richard
deduz que o estejam chamando, levanta-se e segue em direção
às unidades que aguardam com toda a paciência.
— Para onde vão me levar? — ele pergunta — O que
querem de mim? — Mas as unidades não se pronunciam.
Então seguem novamente cruzando alguns corredores e
entram numa sala onde ele vê vários aliens sem armadura
dentro de um tipo de robô e controlando-os. Nos braços dos
mesmos não tinham canhões, mas sim alguns tipos de
ferramentas, pareciam cirúrgicas, o que não deixou Richard
ainda menos confortável. Quando se aproximou, percebeu
alguns corpos nas macas. Os soldados novamente produziram o
som e os aliens começaram a falar com eles na mesma língua,
o som que dessa vez vinha era mais claro, vindo das cordas
94

vocais do alien. Um deles foi em direção a Richard. Uma haste


se desacopla do trapézio da máquina, uma luz acende na ponta
e é direcionada aos seus olhos. Ele resiste e um dos soldados
agarra sua cabeça, a posicionando em frente à haste, em
seguida ela segue e posiciona-se em sua nuca, alguns segundos
depois se recolhe novamente. Depois disso, se comunica com o
soldado, que o transporta novamente para a cela, trancando-o
95
96

— O que aconteceu? — pergunta Diana sentindo seu


coração pulsar em sua garganta.
— Levei a gente para o que eu chamo de dimensão
secreta. Abri esse portal porque sabia que um dia precisaria
dele, mas não podemos ficar aqui por muito tempo, pois nessa
dimensão existe somente nessa sala, o resto do lado de fora, é
um verdadeiro nada e cair ali pode nos levar a ficar vagando
até a morte em uma dimensão vazia. Ficaremos aqui até que
complete o seu processo, Davi. E até que terminemos o portal.
— Portal? — pergunta Diana, sendo interrompida por
Davi.
— Processo?!
Diana anda em direção a uma cadeira olhando para toda a
sala, que mais se parecia com um enorme galpão, e senta-se,
fechando os olhos, respirando fundo e finalmente conseguindo
relaxar seu corpo, abrindo-os em seguida e começando a olhar
todo aquele aposento completamente branco e iluminado,
vários robôs enfileirados, máquinas de todas as formas, coisas
que jamais vira algum dia. Davi compartilha do mesmo olhar,
analisando cada máquina ali parada do lado direito e, do lado
esquerdo, várias cápsulas com corpos humanos como se fosse
uma prateleira de supermercados, deixando-os cada vez mais
assustados e com um certo tom de desconfiança de John.
— Ele pode estar nos trazendo para uma emboscada. —
Davi pensa, quando seu devaneio é cortado.
— Sim, Diana, eu preciso terminar o portal que estou
construindo, que já está em fase final, para poder transportar
tudo o que existe nessa sala para o lado de fora, isso aqui são
todos esses anos que eu dediquei da minha vida à essa
dimensão, tudo aqui foi criado por mim, aqui está tudo o que
eu tenho e não posso deixar para trás. Mas eu precisaria do
Richard para acelerar o processo, agora voltei para a estaca
zero, quanto ao portal.
— Eu sou física, mestre, talvez possa ajudar em alguma
coisa — Diana responde pensativa.
97

— Ótimo, claro que ajuda! Não sei como veio parar aqui,
mas pelo menos serviu para algo. — Diana faz uma careta. —
E, sim, Davi, agora respondendo à sua pergunta — diz John,
ajeitando os óculos no rosto e olhando fixamente para uma
grande cápsula de vidro com partes de metal em cima e em
baixo, com uma luz verde clara cintilando incessantemente, ele
aponta com a cabeça e continua. — Ali está minha obra prima.
— Obra prima? — Ele olha em direção a cápsula e Diana
gira a cadeira para olhar.
— Exatamente — confirma — Ali está a mais complexa
armadura que já criei, e que você tenha visto em toda sua vida.
Essa armadura desmorona tudo o que você tem como lógica na
sua cabeça. Ela é simplesmente fora deste mundo, algo que
foge à sua capacidade de compreensão. Você não entende.
— Agora você está me assustando — Davi confessa.
— Mas não poderia dá-la na mão deles. Essa era a única
forma que eu poderia ter para sair daqui, mas eu não posso usá-
la, já estou velho pra isso e foi por isso que eu trouxe você até
aqui.
— Não melhorou nada, John, você me está me
assustando ainda mais.
— Não se assuste, Davi, você é perfeito para ela.
— E porque você acredita que eu a usaria? — Davi
pergunta em um forte tom de negação.
— Simples: por que você quer sair daqui, tanto quanto
eu.
— E o que tem essa armadura que você não pode usar?
— ele insiste.
— Isso é o que há de mais tecnológico, é uma harmonia
entre inteligência artificial, mecânica quântica e o DNA.
Digamos que essa armadura esteja viva e ela percorre cada veia
que você tem, cada célula, cada átomo, e cada molécula, Davi.
A engenharia dessa armadura é tão perfeita que ela constrói a
menor partícula que você tem no seu corpo, é como se fosse
um hospedeiro. Entretanto, uma vez fundido a ela, jamais será
desfeito, você ficará com o equivalente a força de uma
98

máquina, velocidade de um veículo, dependendo da dimensão


em que estiver terá esse número quadruplicado. Com alguns
equipamentos que eu criei, você será capaz de fazer coisas
incríveis, como andar sobre a água ou andar dentro d’água
como se estivesse fora, utilizar o tiro de Raio-Z, dar zoom na
sua visão, calcular seus movimentos e os movimentos de seu
inimigo, criar buracos negros, abrir dimensões, torcer o espaço
tempo, usar o recurso que dei o nome de Supernova e utilizar o
que eu chamo de arma do apocalipse.
Diana olha para John, boquiaberta e fica se perguntando
o que estava fazendo naquele local, vendo toda a sua vida
passar como um filme. Sabia que depois daquele dia nunca
mais seria a mesma se sobrevivesse.
— O que é essa arma do apocalipse? — pergunta Davi, já
com um semblante de rejeição à possibilidade de unir-se ao
iQuant.
— A arma do apocalipse simplesmente abre um portal
para uma dimensão que eu detectei onde sua força fica quatro
vezes maior e leva todos que estão num raio de cem metros
quadrado junto. Mas a dimensão só responde a essa armadura,
o resto fica muito mais lento por conta da alta gravidade, já que
fica muito próxima de um buraco negro, e seu nome é
apocalipse. Ninguém pode ficar nela mais de cinco minutos,
pois o portal se fecha levando toda a energia da armadura.
Você só precisa empurrá-los para o mais longe possível do
portal e pegá-lo de volta. Sua energia só será retomada do lado
de fora, caso contrário você ficará nessa dimensão até que seja
esmagado pela gravidade. Mas essa arma tem um efeito
colateral, iQuant fica completamente sem energia e
provavelmente desprotegerá seu corpo.
— Isso vai se fundir a mim? — questiona Davi.
— Sim, vai! — responde John secamente.
— Não existe a possibilidade de eu fazer isso, doutor,
sinto muito — responde o jovem, virando as costas e apoiando
uma de suas mãos em uma das cápsulas que ali estava,
99

pensando como seria sua vida dali para frente, tornando-se um


robô, quando é, novamente, surpreendido por John:
— Você não tem escolha, Davi. De todas as pessoas
que analisei, é o único que tem capacidade de suportar a fusão
com essa armadura, não o trouxe aqui em vão, sinto muito, mas
basta um comando aqui para que todas essas máquinas acabem
com você em apenas um segundo. — Diana o olha assustada
— Não me force a fazer isso, por favor. Você terá uma vida
normal mesmo fundido à armadura, ela não ficará exposta,
somente quando estiver em perigo, é como eu disse, essa
armadura é inteligente. Venha, Davi, acompanhe-me.
John anda em direção à cápsula, sempre com suas mãos
nos bolsos, Davi percebe, mas, sem ter o que fazer, o segue;
Diana se levanta e segue Davi. Todos passam entre as
máquinas e as cápsulas até o fundo do corredor e param em
frente àquela aterrorizante cápsula.
— Então quer dizer que é assim? — Davi exclama —
Você me convence a vir até aqui com você, e agora me diz que
sou obrigado a me fundir com isso?
— Davi, veja bem...
— Veja bem você, babaca. — Davi arma um soco e
desfere em John com toda força, entretanto o soco é contido
por um androide das unidades exemplares de John, que em
seguida o empurra para o chão. Davi se levanta com um
movimento rápido e revida, com uma tentativa frustrada de
rasteira no androide que salta apara trás do rapaz e o imobiliza.
Davi grunhe e se sacode na tentativa de se soltar.
— John, faz ele parar — grita Diana agoniada.
— Calma, moça! — diz John — Vou apenas aguardá-lo
ficar mais calmo. Ele está muito irritado. Na verdade, ele tem
provado que é bem irritadinho para o meu gosto, parece um
moleque atrás de briguinha no fim do colégio. — Davi o olha
com uma feição de ódio. — Você, soldado, tem que aprender a
se controlar! Não aprendeu isso na sua corporação?
— Soldado é o caralho, seu velho imundo! — retruca
Davi. — Tenente... Tenente, pra você.
100

— Você, tenente que não é mais tenente, agora não é


merda nenhuma! É apenas um merdinha querendo chamar
atenção. Eu estava redondamente enganado quanto a você,
talvez o Richard deva ocupar o seu lugar com iQuant.
— Eu quero que você se foda com essa sua armadura!
— Gente, eu estou aqui — lembra Diana — Dá para me
respeitarem? Eu sou uma mulher!
Davi, ofegante e ainda tenta se livrar dos braços duros
daquele androide, mas ele, além de pesado, tem uma força fora
do comum, deixando pouco espaço até para Davi fazer o
mínimo de movimento.
— Desculpa, menina...
— Ah, ele sabe pedir desculpas — ironiza John.
— Eu não pedi a você, pedi a ela — Davi responde. — Eu
estou desesperado. John, você sabe o que é acordar, sair como
um molambo de casa e ser raptado? Porra, cara, eu ainda não
comi nada até agora, você tem noção de como está meu
cérebro agora?
— Na verdade, eu sei sim. — John olha para um monitor
que exibe imagens de frequências — Sua dopamina está
esbarrando no chão, o seu nível de cortisol, por sua vez, está no
topo e sua adrenalina se assoma com o seu nível de cortisol...
Isso significa que você, além de estar muito estressado, está
com um nível de ansiedade altíssima, sugiro que coma, eu
tenho comida à vontade nessa sala, Davi. Eu como também,
não sou um robô, só preciso que coma rápido, não temos mais
tempo. Tente relaxar, eu vou lhe aplicar uma injeção de
dopamina e injetar nano robôs que eliminarão esse cortisol e
adrenalina, para que você possa pensar com mais clareza. —
John caminha ao fim do corredor e vira à esquerda
desaparecendo da visão dos jovens. Alguns segundos depois
ele retorna com uma pequena mala que a coloca no chão, a
abre e retira duas seringas, ele as injeta em Davi. — Não vai
demorar para isso que você sente acabar. Porcaria! Perdi a
merda do meu controle do lado de fora, terei que fazer tudo por
comando no computador... É... Pensando bem, eu acho que
101

tenho outro por aqui. — Ele caminha em direção a uma mesa


com um computador e abre algumas gavetas revirando alguns
objetos eletrônicos — Ah, aqui está! Sabia que não estava
ficando louco. — Ele inicia o aparelho que instantaneamente se
transforma em uma esfera que salta de sua mão e flutua a seu
lado — Esse aqui eu criei para andar junto comigo, mas eu tive
que aposentá-lo, pois ninguém poderia saber dos meus projetos
pessoais, agora finalmente poderei usá-lo. Bolinha, traga a
geladeira aqui! — ele ordena.
— Bolinha? — questiona Davi, em meio a gargalhadas.
Diana também riu. — Uma porra dessa que flutua, recebe
comando por voz e você dá um nome desse? Tinha que pôr um
nome foda na porra do treco.
— Esse era o nome do meu cachorro que eu deixei
quando fui abduzido para cá, que hoje já está morto. Mas eu
gostava muito dele.
— Ai, John, não sabia que você era tão sensível assim.
— Os olhos de Diana encheram de lágrimas.
— Ô sensível, dá pra você pedir a essa coisa para me
soltar agora?
Um robô arredondado, aparece assomando-se ao grupo,
andando sobre uma roda.
— Vai se comportar? — John ironiza.
— Anda doutor, esse cara está me machucando.
— Unidade, solte-o! — John ordena e a unidade
obedece, e retorna para seu local de origem.
— Até que enfim. — Davi massageia sua nuca e um de
seus ombros.
O robô que acabara de chegar abre uma comporta, exibe
um prato farto de comida. Davi o pega e começa a comer de
pé.
— Sente-se Davi, aquela mesa ali foi feita para isso.
— Disse para eu comer rápido — Davi fala com a boca
cheia.
Em seguida mais dois pratos saem, Diana pega um e
John, o outro. Todos se sentam à mesa.
102

— Porra, John, essa comida é muito boa, quem prepara?


— elogia Davi.
— Também achei — confirma Diana — a comida
servida aqui sempre foi muito boa, pelo menos disso eu não
posso reclamar. O que incomoda é comer olhando para esse
bando de cadáveres ao meu redor.
— Não são cadáveres, são apenas corpos inanimados.
São biológicos, mas produzidos artificialmente. Eles foram
projetados para eternizar a vida, em outras palavras,
imortalidade. Eu posso pegar suas informações e repassar para
aquele corpo, você poderá voltar a ter seus vinte anos, depois
que estiver à beira da morte, basta suas informações neurais
estarem intactas para isso — conclui — Agora, com relação à
comida, todo alimento é cultivado por escravos humanos em
outra dimensão. Os alimentos são todos cem por cento naturais.
Por isso vocês veem a diferença no sabor. Mas quem prepara é
ele aí. — John aponta para o robô. — Eu apenas tenho o
trabalho de pegar o material e jogar todo dentro, o resto ele se
encarrega.
— Quando gente sair eu quero um desses pra mim, não
aguento mais fazer comida em casa — diz Diana.
— Eu que o diga! — diz Davi — Moro sozinho, não sei
fazer comida direito, gasto mais dinheiro em pensões do que
comigo mesmo. — Ele sorri.
— Se Davi nos tirar daqui, eu terei o prazer de fabricar
um desse para cada um — diz John.
— Mas também sinto pena desses escravos, afinal, fui
uma — observa Diana.
— Só fico pensando agora, enquanto estamos aqui
comendo, saciando nossa fome, Richard está lá preso e
provavelmente faminto — diz Davi arrependendo-se da briga
que tivera com seu novo amigo.
— Não se preocupe com isso — John o consola. —
Provavelmente ele receberá comida enquanto estiver sob
custódia.
103

Alguns minutos depois todos terminam a refeição e se


levantam, John segue primeiro.
— Venha, Davi, precisamos de você. Eu juro que se
tivesse outra alternativa, eu a faria. Pense apenas da seguinte
forma, se ficar aqui morrerá de qualquer forma, se topar se
fundir ao iQuant, terá uma vida normal, com relação à sua
aparência, e uma vida de um super-humano, poderá fazer
coisas do dia a dia sem ajuda de nada nem de ninguém.
— Sim, eu vou, John, estou convencido — Davi
concorda — Não tenho escolha, eu mesmo já havia assumido
esse papel de o escolhido antes mesmo de encontrá-lo. Vamos.
Todos caminham em direção à cápsula, então Davi para
de frente a ela e a admira com um certo respeito e temor. Ele
pensa em tudo o que viveu até esse dia, se lembra do dia de sua
formatura tanto na polícia quanto em sua faculdade.
— E então? — John o olha com uma certa pressa.
— Vamos acabar logo com isso! — Ele se aproxima da
cápsula.
— Davi, tem certeza de que vai fazer isso? — pergunta
Diana com um olhar de medo lançado diretamente aos olhos do
jovem, em seguida deixando escapar uma rápida olhada para
John.
— Você ouviu, não tenho escolha — ele responde.
— Claro que sim! — Diana insiste — Você acha que
ele vai matar a única alternativa que ele tem para sair daqui? —
Ela pega em sua mão. John levanta uma das sobrancelhas,
entorta a boca e solta um longo suspiro. — Morreremos todos
aqui, tem que ter outra alternativa.
— Não, não tem! — o doutor responde num tom
agressivo. — Mocinha, você não viu o que veio atrás de nós?
Não viu a força que aqueles aliens têm? Você ainda não viu
nada. Aqueles ali são soldados classe C. Nenhuma dessas
máquinas que eu tenho tem capacidade de destruir soldados
classe B, muito menos os classe A, que ficam na torre central,
onde está acontecendo a transferência neural nesse exato
momento, que por sinal, deixe-me ver... — John olha para seu
104

relógio e retoma. — faltam apenas três horas e vinte minutos


para que isso aconteça. Em seguida, a primeira coisa que eles
farão é nos caçar, e Hini e seus irmão não terão dificuldade de
achar essa dimensão. E você acha que será morta? Não, será
escravizada! — ele mesmo responde. — Assim como os que
você viu lá fora, então, por favor, não se intrometa! Nossa
única chance é o Davi e a armadura iQuant. E então, Davi, vai
fazer a coisa certa ou seguir sua amiga e ser escravizado?
Diana deixa uma lágrima escorrer de seus olhos
dividindo olhares entre John e Davi, sem ter mais o que falar.
Então todos permanecem em silêncio por alguns instantes até
que é quebrado.
— Sentirei muita dor? — pergunta o jovem.
— Não mentirei. Sim, Davi, sentirá sim — responde
John com uma expressão de pena, mas ao mesmo tempo de
alívio. — Você precisa ser forte, pois a iQuant vai mudar todas
as células do seu corpo, ela e você serão apenas um, se não
aguentar será fatal, você morrerá junto com ela e eu também
não terei mais o que fazer, a não ser o suicídio.
Diana arregala os olhos desaba no chão e cai em prantos.
Davi olha para ela desanimado, coloca uma das mãos na
cápsula.
— Vamos começar logo com isso — diz Davi.
John digita alguns comandos em um teclado touchscreen
fixado à cápsula, do seu lado esquerdo, então ela se abre,
produzindo um sibilar cibernético, e acende.
— Não, Davi não... — Diana grita em meio a soluços de
choro enquanto Davi põe um de seus pés dentro da cápsula. —
Tem que ter outro jeito, tem que ter.
A jovem se levanta e novamente pega a mão de Davi
coloca a mão em seu rosto, dá um beijo no rosto do jovem e
sussurra em seu ouvido:
— Por favor, volta. Volta pra nós.
Aquela reação foi tão intempestiva que nem mesmo ela
entendia o que estava havendo consigo, tampouco Davi, que a
olha assustado. Mas em sua cabeça... Em sua mente, parecia
105

que ela o conhecia, mas não de um lugar incomum, ou do


colégio, parecia algo mais intenso. Enquanto os dois se
olhavam por um breve momento, era nítido que a reciproca era
verdadeira.
— Voltarei, não se preocupe.
John os olha, também confuso, muito embora não tenha
muito tempo para analisar aquela situação.
Então ela solta a mão de Davi, que sobe, colocando seu
outro pé dentro da cápsula e entra, virando-se para frente.
Automaticamente o vidro se fecha e as luzes se apagam, em
seguida começam a surgir listras luminosas no tom de um
verde intenso percorrendo por toda a cápsula que começa a
fazer um som robótico e estridente, então a a mesma acende
novamente e seu interior começa a ser tomado por uma névoa
branca. Diana novamente se derrama em prantos colocando
uma de suas mãos no rosto. John dá passos para trás, suando e
visivelmente assustado, pois era a primeira vez que realmente
testara seu projeto em um humano. Por mais que a matemática
esteja certa, é inevitável seu anseio.
— Diana, é melhor você não ver isso. Fique lá na frente,
deixe a fusão estar concluída, tenho certeza que ele aguentará.
Sem dizer nada, Diana caminha em direção ao início da
sala imaginando que dali sairá uma espécie de monstro e que
nunca mais verá o verdadeiro Davi novamente, e que talvez
não poderá interpretar aquilo que acontecera com eles há
pouco.
O processo começa e John começa a suar frio. Em sua
cabeça só se passava a possibilidade de algo dar errado,
naquele momento não conseguia ser otimista. Os segundos
corriam e nenhuma reação de Davi, coisa que o preocupa.
— O que está acontecendo? Será que fiz algo errado?
Não, não é possível! Esse projeto foi orquestrado durante dez
duros anos a todo sigilo e testado em um alien classe F,
considerado animal irracional, mas inteligência não interfere e
sim resistência, e tudo ocorreu bem, tirando o fato de que
precisei matá-lo em seguida, mas, sim, tudo ocorreu bem.
106

Ele olha para baixo e põe a mão no queixo para tentar


pensar em mais possibilidades passíveis de falha, quando
escuta o primeiro barulho, então olha para a cápsula e vê uma
das mãos de Davi apoiada no vidro. Seus olhos, então,
começam a brilhar de esperança e ao mesmo tempo medo de
algo dar errado. Ele olha para Diana, ainda em prantos com a
cabeça abaixada e com as mãos no rosto e seus cabelos
deslizando entre seus dedos, então o Doutor olha para a cápsula
novamente e os gritos abafados começam juntamente a tosses e
murros no vidro. John percebe seu sofrimento e agonia, ficando
com o corpo completamente imóvel e rígido, como se estivesse
tentando suportar aquela dor por Davi. Na verdade ele não
sabia o tamanho dessa dor e nem quanto tempo isso duraria.
Novamente escuta gritos longos e muitas tosses e mais
murros e isso se prolongou por eternos cinco minutos, então
um último grito é proferido e os barulhos cessam
completamente, um silêncio agoniante toma conta da cápsula e
mais nenhuma reação é vista. John fica cada vez mais nervoso,
o suor começa a escorrer pelo seu rosto, mais uma vez lança
um olhar em direção à Diana, que ainda está na mesma
posição, e rapidamente olha para a cápsula novamente na
esperança de alguma reação, mas nada acontece.
O doutor digita alguns comandos no painel para tentar
abrir o vidro, mas parece estar emperrada, nesse momento um
novo barulho dentro da cápsula é ouvido, e John volta a olhar
com esperança quando vislumbra a mão de Davi aparecendo no
canto do vidro e, sem fazer esforço, o abre. Por conta dos
barulhos nas engrenagens da cápsula, John percebe que a porta
realmente estava emperrada devido ao atrito da fusão. Uma
perna surge completamente nua então a outra também aparece
descendo da cápsula e deixando aparecer finalmente o corpo de
Davi, aquela névoa começa a escapar e se dissipar no ar.
Davi dá dois passos em direção à John, que percebe que
seu nariz, braços e umbigo estão ensanguentados. O jovem,
então desaba, instintivamente, John o segura. Davi é recostado
em uma coluna e o doutor começa a verificar sua respiração e
107

pulsação e percebe que está tudo normal, respirando fundo,


mas ainda sem ver se o resultado realmente foi satisfatório.
Então Davi quebra o silêncio com algumas tosses, despertando
a atenção de Diana, que lança um olhar em direção à cápsula
percebendo que a mesma não está mais ocupada. Sem perceber
a presença de qualquer um dos dois, ela rapidamente se levanta
e corre em direção a esta, quando vê Davi acostado no chão e
John abaixado com a mão em seu pulso.
— O que aconteceu? — a jovem indaga. — Ele Morreu?
Não deu certo, não é? Seu velhote, você matou o Davi, você o
matou! — ela grita, cruza os braços e anda de um lado para o
outro olhando para Davi. John apenas olha para Diana com um
olhar também assustado sem conseguir dar uma explicação que
a aliviasse. — E agora, vai me matar também? — Ela apoia o
ombro nas costas de uma das armaduras enfileiradas.
Então começa a acontecer algo com o corpo do jovem
policial que os deixa mudos e imóveis. Seu corpo está, nesse
momento, tendo uma reação inusitada. Sua pele começa a
mudar de textura em algumas partes, num tom esbranquiçado,
que deslizava de um lado para outro progredindo em
minúsculas camadas hexagonais.
— É o iQuant, seu corpo está respondendo! — o doutor
diz euforicamente enquanto que Diana estava mais tranquila
por não encontrar um monstro.
— E agora, o que vai acontecer? — ela pergunta.
— Não sei, preciso que ele desperte para eu dar um
diagnóstico melhor, pelo que vi ele reagiu bem à fusão. — Ele
olha para o relógio e em seguida para Davi novamente,
ansiando seu despertar. — Vamos, Davi, acorde! Estamos
ficando sem tempo.
Novamente Davi tosse e apoia uma de suas mãos na
perna de John, que imediatamente a segura. Diana se aproxima
assustada.
— Que agonia! Ele não fala nada — diz Diana.
108

— Davi, você está bem? — pergunta John olhando em


seus olhos. E percebe que o jovem ainda não está lúcido. Seu
corpo continua mole e seus olhos abrindo bem pouco e virados
para cima.
— Davi, responde! — grita Diana.
Então Davi abre lentamente seus olhos vislumbrando
uma figura em sua frente, e continua piscando até conseguir
enxergar John.
Diana se joga no chão, sentando-se ao seu lado e pega
sua outra mão e lança-lhe um beijo desesperado e rápido no
rosto.
— Davi, você voltou! Você voltou! — Ela chora e sorri
ao mesmo tempo.
E finalmente John respira aliviado, somente aguardando
sua recuperação, que sabe que a partir daí será muito mais
rápida, então se levanta deixando-o a sós com Diana e segue
em direção ao seu computador para preparar o check-up de seu
corpo e detectar onde está o iQuant.
109
110

Davi, ainda com uma expressão de cansaço em seu rosto,


coloca a mão no chão e com a outra mão apoia em Diana para
se levantar. Ela o ajuda a se erguer, ele segue tremendo até
ficar de pé. Em seguida, esboça uma reação de mal estar e
começa a vomitar, deixando-a novamente desesperada.
— Doutor! Doutor! Venha rápido!
— O que houve Diana? — John levanta a cabeça por
cima do monitor olhando em direção a eles.
— É o Davi. — Ela se esforça para segurá-lo. — Ele está
vomitando muito.
— Não se preocupe, isso é normal, é uma rejeição ao
iQuant. Logo, logo ele estará normal — explica.
Davi segue sem dizer nada, vacilando com as pernas e
com a ajuda de Diana, em direção a John e aos poucos vai se
recuperando.
— Apresse-se rapaz, preciso examinar você.
Davi murmura algumas palavras que nenhum dos dois
entende.
— O que você disse, Davi? — pergunta Diana num tom
brando.
Davi então ele diz mais algumas palavras, chegando
perto de John.
— Ele está falando a língua Hiruk, é a língua dos Greys.
— John, o que aconteceu? — pergunta Davi,
tartamudeando, agora em sua língua.
Diana, nesse momento, está ainda mais confusa, mas
feliz com a presença e recuperação do jovem.
— Agora o iQuant está configurando a linguagem. Davi,
você, agora, passará por algumas adaptações. Preciso verificar
seu corpo e depois explicarei tudo, aproxime-se e sente-se —
diz o doutor. — Ei, garoto — John pega no ombro de Davi e
sacode levemente. —, eu não disse que você aguentaria? —
Ele dá um sorriso, Davi o olha ainda confuso, mas deixa
escapar um breve sorriso — Agora você vai saber o que é ser
sobre-humano.
111

Davi assente e Diana o conduz a uma cadeira. O doutor


pega um dispositivo em forma de um pequeno bastão achatado
e transparente e passa pelo corpo do jovem. A medida que
passava, o aparelho exibia a estrutura interna do corpo. Depois
John aponta uma lanterna em seus olhos, aproxima seu rosto e
percebe suas pupilas estão dilatando e retraindo e a íris girando
e mudando de cor. — Elas estão se ajustando. — ele diz em
voz baixa.
— Oi? — pergunta Diana, sem compreender o que John
disse.
— Não... Nada! — responde. — Pronto, seu corpo está
em perfeito estado, você reagiu muito bem à fusão e o iQuant
está agora no seu cérebro, você agora terá uma inteligência fora
do normal, equiparado às unidades classe A, e poderá falar
qualquer língua já conhecida por nós. Você está conseguindo
me entender, Davi?
— Sim, prossiga — ele responde esboçando reações
estranhas.
— Então, meu caro, preciso explicar o funcionamento do
iQuant. Na verdade, é como se ele fosse um ser habitando
dentro de você, algumas vezes ele poderá realizar algumas
ações por você, caso ele perceba uma reação mal aplicada. Seu
corpo poderá regenerar qualquer parte, inclusive membros, mas
nesse caso, é um processo que pode levar meses. Como eu
disse, ele é uma armadura quântica inteligente, podendo
defendê-lo de qualquer tipo de ataque, mas, como todo corpo,
esse também tem um limite, por isso evite receber ataques
poderosos, como os do Raio-Z. Soldados classe D, agora, não
fazem cócegas em você, os de classe E possuem Raio-Z mas
não chegam à sua velocidade e nem raciocínio, por isso será
fácil. Já os C e B, você precisará de estratégia para vencê-los,
por isso adicionarei todos aqueles recursos que lhe expliquei
anteriormente, pois eles são muito fortes, inteligentes e rápidos,
mas você ainda tem superioridade, o problema é que nunca
será um contra um, serão sempre dezenas. Já os de classe A,
meu amigo — John meneia a cabeça —, eu não os conheço
112

cem por cento, apenas me incumbi de tentar copiá-lo enviando


sondas e o escaneando e fazendo a engenharia reversa, mas
nunca os vi em ação. Ele fica na torre central, é apenas um
liderando um exército de classe B. Seu trabalho é vigiar o
computador central e os cinco irmãos, impedindo até mesmo a
mim de entrar naquela sala. Os demais vigiam toda a torre.
Davi, não deixe o iQuant receber muito dano, pois caso isso
aconteça ela se retrairá e protegerá apenas seus órgãos vitais,
deixando seu corpo vulnerável, lembre-se, ele é um organismo
e também sente dor.
— Tomarei cuidado — Ele responde, enquanto seus
olhos andam rapidamente de um lado para o outro, e giram
rapidamente, ocasionando um breve susto em John.
— A única coisa que posso te apresentar daquela sala são
fotos retiradas das sondas, aqui estão. — John mostra as
imagens no monitor, em seguida olha para Davi entre os
óculos. Diana se aproxima para, também, olhar as imagens.
Davi olha e percebe que enxerga uma imagem nítida e
definida, de uma forma que nunca conseguira enxergar
anteriormente, notando que a imagem está fixada em sua
mente, lembrando-se de cada detalhe sem olhar novamente.
— Leve isso com você — aconselha John.
— Não há necessidade, já sei como é a sala, o iQuant
criou uma imagem em 3D pra mim a partir dessas fotos.
— Perfeito, já havia esquecido disso, você está com
iQuant — o doutor diz sorridente e orgulhoso de sua invenção.
— E nós John, pra onde vamos? — pergunta Diana.
— Nós ficaremos aqui aguardando ansiosamente o
retorno de Davi, enquanto isso trabalharemos no portal, ele
precisa estar pronto.
— E se eles nos encontrarem, Doutor? — Diana
pergunta.
— Só quem pode encontrar essa dimensão são os
Soldados classe B e os Classe A. Os B demorariam para
encontrar e eu tenho recursos para mantê-los longe, caso
aconteça, e o A, não pode sair da torre central, então descarto
113

essa possibilidade — John esclarece — Davi, já pode se


levantar?
— Sim... Acho que sim.
— Então venha comigo, não temos mais tempo,
mostrarei os equipamentos que se acoplarão ao iQuant.
Todos seguem para o fim do corredor e entram na ala das
máquinas e no fim há uma cápsula com uma armadura que
simula o iQuant ativo e algumas armas acopladas e uma roupa
do lado. John Abre uma cápsula e retira a roupa.
— Tome! Vista-se! — Aponta o uniforme em direção a
Davi, que o segura. — Esse uniforme é de uma malha que
adere à sua pele permitindo com que você não a sinta e muito
menos o incomode.
Enquanto Davi se veste, John abre a outra cápsula e retira
um canhão, no formato de um fuzil, mas completamente
diferente dos que Davi havia usado na polícia. Robusto, e não
havia projéteis. John o entrega na mão do jovem, que o segura.
O canhão reage com o interior do cano brilhando, em seguida
desperta o iQuant, sua pele sofre uma mutação que parte do
canhão para o resto do corpo da mesma forma gradativa e em
formato hexagonal, fazendo-o ficar irreconhecível. Como um
robô, branco, com listras em seu corpo luminosas e
esverdeadas, a face completamente branca e depois de alguns
segundos, surge uma luz verde na direção de seus olhos e
percorrem dois riscos, da mesma cor, até o fim da mandíbula.
John fica maravilhado em ver sua criação ali na sua frente e
Diana fica impressionada com aquilo, coisa que nunca pensou
que pudesse existir.
— E então, doutor, como estou? — pergunta Davi com
um som robótico, e nada diferente de seus amigos, também
maravilhado.
— Davi, você está incrível! — diz Diana colocando uma
mão sobre o canhão e a outra passando em seu rosto.
— É, Davi, realmente estou impressionado com minha
própria criação — diz John num tom de brincadeira. — Dentro
desse canhão existem apenas cinco bombas de alta gravidade,
114

que você deve saber a hora certa de usar. É como eu disse, essa
bomba tem o poder de colar em qualquer objeto ou corpo onde
ela for arremessada e sua explosão cria um buraco negro com
um raio de dois metros a partir de seu centro, sugando para o
centro e reduzindo a destroços. — Ele faz uma pausa e retoma.
— Lançando-o sabe-se lá para onde. Já a Supernova é um
recurso que você poderá usar apenas uma vez a cada pelo
menos trinta minutos. Pois ele consome muita energia do
iQuant. Por ser um ser hibrido, ou seja, mecânico e biológico,
ele também cansa. Dentro do canhão tem três gatilhos, o
primeiro do Raio-Z, o segundo das Bombas de alta gravidade e
o terceiro da Supernova. Para ativá-la, basta segurar o gatilho
até que o iQuant concentre todos os nêutrons em um só ponto
no centro do seu corpo, e, com ajuda da sua força física, ela é
liberada, destruindo tudo o que for biológico ou robótico, que
estiver em um raio de dez metros. Esqueci de alguma coisa? —
Ele para alguns segundos para pensar. — Ah, claro, para a sua
defesa basta estender a mão esquerda ou posicionar-se em
defesa para que o iQuant crie um campo de força em sua volta,
mas esse campo também é limitado, pois todos esses recursos
exigem muito dele. Essa armadura possui um sistema de visão
noturna. Assim que a luz se apaga, a visão é ativada
automaticamente, mas não pense você esse é um tipo de visão
noturna como você conhece, por que não é. Essa simplesmente
simula todas as cores do ambiente e você tem a imagem real do
local, na verdade, você nem percebe que o local está escuro,
por último, você pode viajar pelas dimensões, assim como nós
viajamos para essa, basta você pensar onde quer estar que
iQuant saberá interpretar, criará uma fenda no espaço-tempo e,
por meio de um buraco de minhoca, o levará ao local que você
deseja. O resto são apenas reforços para ajudar a proteger esse
ser que habita dentro de você, é uma sobre armadura, embora
seja muito robusta, é tão leve quanto papel, esse material é
encontrado em alguns planetas habitados pelos Greys, e ao se
conectar com iQuant, fará parte dele. — John mostra um tipo
de mochila quadrada de cor branca metálica. — Capacete,
115

peitoral, manoplas e botas. Nesse momento basta tocar para


que ela se conecte a você. Leve-a como uma mochila, assim
que o iQuant detectar perigo, a mochila se desfará e a armadura
tomará seu corpo, esteja sempre com ela.
Davi toca a mochila que começa a emitir um brilho verde
e intenso fazendo com que John e Diana coloquem suas mãos
na frente dos rostos para tentar amenizar a ofuscação. A
armadura se une a mão de Davi andando por seu corpo da
mesma forma que o iQuant, em formato hexagonal e
esbranquiçado, então cada parte salta para fora conectando-se
em seus respectivos lugares. O iQuant está completo. Davi
observa que várias miras em formato de círculos começam a
calcular o lugar, um deles se posiciona no rosto de John o
identificando, outro em Diana, em ambos as miras ficaram
verdes, mostrando que não eram inimigos.
— Bem, acho que já falei demais — diz John dando um
breve sorriso. — Vamos ao simulador, você precisará aprender
a usar isso, antes de sair daqui. Venham, não podemos perder
mais tempo.
Todos seguem para a ala de simulação. O doutor na
frente, seguido de Davi e depois Diana, que anda como zumbi
admirando aquela tecnologia andando do seu lado, e
completamente perplexa. Ao chegarem, John se senta em uma
cadeira com um computador exatamente idêntico ao que eles
encontraram anteriormente na sala das incubadoras. Davi se
senta ao lado oposto.
— Davi! — chama John.
— Diga — responde Davi com a voz robótica.
— Está pronto?
— Sim, estou — ele responde com firmeza.
— Posicione sua mão aí.
John mostra uma esfera com o formato de uma mão que
está em cima de sua mesa, e imediatamente Davi o faz. Alguns
comandos de voz são dados:
116

— Iniciar simulação — diz John ao computador — e


Davi entra na realidade virtual, tudo que se passa aparece em
uns óculos que John usa, em seguida dá outro para Diana.
— Davi, está me escutando? — pergunta John.
— Sim — ele responde.
— Tudo aí parece real, mas não é. Você sentirá dor,
ignore, pois você estará de frente com eles de verdade quando
sair daí, procure os Soldados classe B e C, e veja como eles
funcionam.
— Ok — responde.
— Vou liberar os bots — afirma John.
Davi está em um lugar muito parecido com a estação de
trem e percebe tudo sendo inserido no cenário, é tudo
perfeitamente real, completamente diferente da realidade
virtual que vira em um de seus jogos de vídeo game. Aquilo
era tão assustador quanto o mundo real. A luz se apaga e
imediatamente o iQuant aciona a visão noturna. Davi começa a
andar em busca de soldados, sempre apontando seu canhão,
então ele percebe o primeiro ataque vindo de trás, que é
calculado como um tiro de baixa intensidade. Davi
simplesmente levanta uma de suas mãos e detém o tiro sem
esforço.
Então começa uma sequência de ataques vindo de todos
os lados, todos interceptados facilmente por ele que começa a
correr em busca dos Classe C e B. Ele sente sua velocidade
cada vez maior, dá um salto pulando uns destroços, trens
parados e, ao cair, é recebido a tiros por soldados classe C.
iQuat calcula que o soldado tem força moderada e a mira que o
acompanha aonde ele vai, dessa vez é vermelha.
— Agora a brincadeira vai começar — ele diz
euforicamente e começa a desviar dos tiros.
Davi aponta seu canhão e percebe que a mira agora está
acompanhando o movimento da arma. Em alta velocidade ele
parte para cima com tiros de Raio-Z misturado com luta
corporal, arrancando o capacete de uma unidade C e jogando
contra a unidade B, que reage com um potente tiro. Dessa vez
117

iQuant calcula o tiro de força alta e desvia-se sem que Davi


pudesse pensar. Então este procura somente os soldados classe
C e os elimina até que sobram apenas soldados classe B.
Várias unidades correm em direção a ele, que não pensa
duas vezes e atira algumas bombas de alta gravidade. Quando
chegam perto, Davi dá um salto explosivo deixando apenas as
unidades, que são completamente sugadas pelos buracos
negros. O resto das unidades, novamente, partem em direção a
ele e o cercam, cada um atirando de um lado. Ele desvia de
alguns tiros, mas outros o acertam, então salta por cima das
unidades e corre pensando em uma estratégia. As unidades, por
sua vez, correm atrás atirando e saltando, até que ele entra em
uma sala, desaparece e permanece imóvel. As unidades partem
para dentro desse aposento vagarosamente, quando, de repente,
uma grande explosão acontece, levando o resto das unidades
ali presentes, era a Supernova. Então ele se retira do aposento,
olha para um lado e percebe tudo tranquilo. Quando olha para
o outro, vislumbra uma unidade de cor preta, robusta e com
listras luminosas, vermelhas, e um tiro já caminhando em sua
direção, não foi possível ser detectado pelo iQuant. O tiro o
acerta fazendo-o desconectar-se da realidade virtual e voar de
um lado para o outro da sala de John, chocando-se contra as
máquinas que caem como pinos de boliche. Então surgem dois
gritos sincronizados:
— Davi! — Todos correm em direção a ele, que ali está,
jazendo em meio às máquinas e imóvel.
118
119

— Davi você está bem? — Diana se aproxima e pergunta


assustada.
Ele olha para ela, depois para John, confuso e tonto.
— Sim, estou — ele responde.
John percebe o iQuant inibido no corpo do jovem e
circulando de um lado para o outro. Os equipamentos que
auxiliariam estão desativados e desconectados do seu corpo, o
impacto foi tão grande que lançou o capacete próximo à
cápsula do iQuant. Então estende sua mão para que Davi a
pegue como apoio. Então o ergue.
— Não entendo — diz John, tentando decifrar o ocorrido
e mais assustado que antes. — Aquilo era a Unidade A, mas eu
não a implantei na simulação, como ela foi parar ali? — ele
questiona — Então ela é muito mais forte que eu imaginava.
O doutor volta ao seu computador seguido de seus
amigos e começa a falar alguns comandos:
— Exibir última imagem. — O último flash da imagem
aparece, nela está a visão do raio disparado pela unidade e logo
à frente a unidade aparece com o canhão apontado e seus olhos
vermelhos como sangue, não é possível ver detalhes, pois ela
está atrás de alguns destroços e em movimentos muito mais
rápidos que os frames do simulador.
— Não é possível, como pode a unidade aparecer no meu
simulador e se movimentar mais rápido do que tudo o que foi
programado? — John envia outro comando de voz — Exibir
código!Um amontoado de números aparece flutuando na tela
virtual — Não há nada de errado, nem com o código original e
nem com o log da sua simulação. Para o meu sistema, a
unidade A simplesmente não apareceu e você nunca foi
atingido. Na verdade, eu não posso perder o meu tempo com
esse quebra cabeça. Davi, percebemos que essa unidade está
muito acima das expectativas, portanto você precisará de uma
estratégia brilhante que encontrará quando enfrentar a unidade
A. Você é inteligente, não foi à toa que o rastreei. Eu acho que
eles conseguiram implantar essa unidade na minha simulação
mesmo estando presos à transferência neural. Você tem todo o
120

mapa dessa cidade dimensional e a planta de todas as torres


inclusive a central. Você precisa resgatar o Richard e depois
seguir para ela para entrar na sala principal, destruir o
computador, mas antes, acima desse computador existe a Pedra
chamada Mudokran. Ela é semelhante a um cristal, você
precisa trazê-la pra mim. Davi, é um dos seus principais
objetivos, não volte sem ela, pois de nada adiantará. Essa pedra
é um condutor de qualquer tipo de informação, seja ela
quântica ou elétrica, sem contar que é uma infinita fonte de
energia e quando usada com alguns equipamentos, tem
capacidade de integrar uma máquina a um ser biológico,
fazendo com que seus movimentos sejam perfeitos, todas as
respostas são imediatas, tornando a inteligência artificial em
inteligência biológica sintética. Com ela, consegui criar o
iQuant, e todas essas unidades, além de todos esses corpos
prontos para receber vida, pois com ela podemos clonar as
informações de qualquer ser e criar qualquer organismo. Com
aquela poderei criar um exército deles do lado de fora para
combater essa invasão que está por vir. Não pense que esse
computador é como um normal, desses nossos. Ele é diferente
e só serve para a transferência neural, como você pode ver
nessa estrutura no centro da sala.
Ele aponta novamente para a tela com a imagem da sala.
Uma enorme estrutura no centro daquela sala redonda, que vai
do chão ao teto, com uma grande cápsula de vidro e uma
espécie de energia de cor ligeiramente esverdeada, ligada por
vários cabos coaxais, logo acima uma microcápsula. A que
sustenta a Mudokran.
— Preserve-a, precisamos dela intacta — conclui. —
Você compreendeu tudo, Davi?
— Lembro de cada letra que você disse, John.
— Perfeito. — Ele se vira para a bela jovem — Diana,
por favor, reúna novamente os equipamentos do iQuant para eu
analisar rapidamente — O doutor pede gentilmente. — Davi
precisa partir!
— Sim, estou indo — Assente a jovem.
121

Davi tenta, ainda, entender o que havia acontecido. Por


mais que o iQuant tivesse tomado seu corpo e sua força,
inteligência e agilidade estivessem maiores, não conseguira
detectar a presença daquela unidade. Seu ataque realmente fora
perturbador, não só para ele como também para John, que
realmente não entendia como ela fora parar lá.
— Doutor, essa unidade A, me pareceu muito poderosa,
acho que o iQuant não dará conta dela — Davi diz e vira as
costas. — O senhor não tem nenhuma carta na manga?
— Infelizmente não, Davi. Por anos acreditei que o
iQuant era uma cópia exata da unidade A. Mas se aquilo que
aconteceu realmente for verdade, você terá que ser criativo e só
terá uma chance. Ela não o deixará viver, tenha certeza disso.
— Qual seria essa chance? — John é interrompido por
Diana, com o capacete de Davi nas mãos.
— É, doutor, qual é essa chance? — Davi reforça.
John tira seus óculos pega uma pequena parte de seu
jaleco e limpa as lentes, em seguida põe novamente no rosto,
olha para Davi.
— Você precisa aprender a controlar o iQuant, e essa
tarefa não se resume em algumas horas, nem minutos de
treinamento. Talvez isso leve semanas, talvez meses, por isso
terá que ser criativo. Acredite em si — ele conclui. — Passe o
capacete para cá, Diana, por gentileza.
— Controlar o iQuant...
Essa informação realmente perturba Davi, pois ele
entende que, por mais sobre-humano que esteja, ainda faltam
patamares a subir. É como um jogo de vídeo game, o
personagem nunca começa forte e, até que fique, apanha de
tudo e de todos. Ele duvida tanto da facilidade das outras
unidades quanto da dificuldade da unidade A. Ela pode ser
ainda mais forte que isso. Essa hipótese o deixa ainda mais
pensativo, enquanto o iQuant percorre seu corpo e começa,
novamente, a cobri-lo. Diana acompanha cada movimento da
armadura enquanto John examina as demais partes do reforço.
Com o mesmo aparelho que John usara antes para examinar
122

Davi, ele o examina agora, sendo que em coisas não biológicas,


sua função muda não só enxergando o equipamento por dentro,
mas detectando micro rachaduras e a repara quando necessário.
— Ah, esqueci de falar, Davi, essa armadura possui,
também, o Raio-X, você pode enxergar por de trás das paredes,
assim ficará mais fácil localizar Richard. Para ativá-lo basta
usar o comando de voz raio-x.
— Raio-x! — Davi o ativa imediatamente, iQuant
novamente ganha estabilidade e cobre seu corpo ativando o
Raio-x. — Então ele olha Diana de cima para baixo
instintivamente.
— Davi, o que está fazendo?! — ela esbraveja, com seu
rosto ruborizado, ao perceber que ele está usando o Raio-X
para observar seu corpo, em seguida desfere um tapa em seu
rosto metálico.
— Desculpe, Diana... — Ele põe a mão na cabeça. — Foi
sem querer.
— Sem querer uma ova! — ela reclama.
— Diana, não se preocupe. — John apenas deixa escapar
uma risada. — Davi não sabe controlar o Raio-x e
provavelmente só tenha visto seus ossos, ou quem sabe nem a
tenha visto. Esse recurso é tão poderoso que é capaz de
eliminar a barreira que impede a visão. Ele poderá decidir o
que ele quer remover da imagem que vê, mas isso levará tempo
e ele pode remover no máximo dez barreiras.
Embora tenha ficado completamente sem jeito com a
ação de Davi, Diana não conseguia esconder de si mesma que,
na verdade, tinha gostado da situação. Ela luta com seu próprio
cérebro tentando entender o porquê dessa atração repentina.
Davi, por sua vez, a olha com pesar pela situação, mas
também não sabe explicar o que acontece. Porém ambos não
tocam no assunto.
— Crianças, estamos perdendo muito tempo com
brincadeiras — observa John e prossegue sua explicação. —
Assim que eu retornar à dimensão, você já precisa estar pronto
para pular para fora da porta. Eles estarão lá, não deixe
123

ninguém entrar. Assim que sair, voltaremos para essa dimensão


e você seguirá. Não se preocupe, eu sempre saberei onde você
está, tenho acesso à sua localização, enquanto o iQuant estiver
vivo, eu tenho essa espécie de GPS para localizá-lo. — Ele
puxa uma esfera transparente do bolso com uma pequena luz
verde. — À medida que você se afasta de mim essa luz verde
começa a piscar, quando mais longe, maior a intermitência, e
sempre apontando a direção. Se o iQuant for desativado, a luz
fica vermelha, e se for destruído, ela some.
— Se não fosse o iQuant, John, eu não sei como gravaria
tudo isso que você me falou hoje, mas o fato é que me lembro,
agora, de coisas de quando eu tinha um ano de idade, e cada
detalhe. Isso tudo é fantástico! — diz Davi ainda sem acreditar.
— Daria tudo pra ter essa sensação, Davi — diz Diana
com um brilho nos olhos e pegando sua mão.
— Bem — responde Davi —, Diana, isso não é tão bom
assim, pois agora, lembro-me de coisas que não gostaria de
lembrar...
— Delete — John diz sorrindo e interrompendo a
conversa.— Davi, seu cérebro, agora, é um HD, basta você
organizar suas informações e apagar o que é inútil. Agora você
também tem acesso a coisas do seu subconsciente.
— Acho que ficaria dias deletando — ele responde e dá
uma gargalhada e Diana sorri, pensando, “Eu estou gostando
desse cara só por que ele me resgatou? Que idiota!”.
— Bem, meninos, acabou a farra, precisamos correr. —
Ele olha para o relógio — Faltam apenas duas horas e
cinquenta minutos para que a consciência seja totalmente
transferida. Está pronto?
— Sim! — Davi responde andando, em seguida fica em
posição de ataque e aponta seu canhão para a porta.
— Uma última coisa — ele diz, tirando a atenção de
Davi da porta. — Entregue essa esfera a Richard, isso o
protegerá e o guiará até aqui.
— Ok, John, farei isso. — Davi pega a esfera e retoma a
atenção para a porta e apontando seu canhão. — Na polícia
124

nosso lema era “servir e proteger”. Meu lema a partir de agora


é “caçar e eliminar!” Vou resgatar Richard e tirar a gente
daqui, custe o que custar.
— Fico feliz em ouvir isso — responde John.
O doutor lança alguns comandos em seu computador e a
dimensão começa a se desfazer. Os sensores de Davi buscam
por seres biológicos, mas na transição de dimensão nada é
detectado, até que barulhos são ouvidos na porta da sala e os
sensores começam a mirar, iQuant detecta vinte e uma
unidades D.
— Diana, afaste-se! Vá para o fundo da sala! — sugere
John.
— Ok. — Ela corre em para o fundo e se esconde atrás
da cápsula do iQuant, deixando apenas um olho de fora para
observar.
John deixa um comando já digitado aguardando a saída
de Davi para executar e levá-los novamente para aquela
dimensão. Davi percebe a porta criando protuberâncias por
conta dos tiros e ataques desferidos pelos soldados e lança um
tiro em direção à mesma, que a destrói de uma vez, fazendo
com que as unidades que estavam por detrás fossem lançadas
violentamente contra a parede, então numa explosão o jovem
pula para o lado de fora avistando todas as unidades E, que, ao
perceberem sua presença, pulam em sua direção atirando.
Todas ficam a menos de quatro metros de distância de sua
posição e lançando tiros em alta velocidade até que uma grande
fumaça começa a ganhar espaço onde está Davi. As unidades
continuam a atirar até que ele some completamente em meio à
névoa. Sem verem reação partindo do rapaz, as unidades param
de atirar por alguns instantes. Em seguida todas são
surpreendidas por tiros vindos de trás, sem tempo de reação,
são atingidas e destruídas. Por tiros poderosos e velozes.
Davi olha para dentro da sala para se certificar de que
não havia nenhuma unidade dentro, abana a cabeça com um
sinal positivo e parte. John, por sua vez, executa o comando
que os leva novamente para a outra dimensão.
125

Enquanto Davi corre em alta velocidade, percebe em sua


visão o iQuant buscando inimigos, ele consegue distinguir o
que é objeto mecânico, inteligência artificial ou seres vivos,
mesmo que por trás de armaduras. Ele para e acessa o mapa da
estação para localizar as torres, então prossegue até que é
surpreendido por tiros vindos em sua direção, que
imediatamente revida até que avista mais unidades. Em meio
às trocas de tiro vislumbra novamente aquela quantidade de
gente controlada, pensando na possibilidade de libertá-los.
Mais unidades aparecem, entretanto são todas facilmente
abatidas por ele, que segue ao lado de um trem que se direciona
às torres. Aumentando sua velocidade, deixa o trem para trás e
segue pelos trilhos quando iQuant detecta uma fenda no
espaço. Davi então para bruscamente, deslizando e destruindo
os trilhos, retorna parando em frente à fenda e se lembra de
quando estava no trem sendo conduzido coercitivamente.
Lembra-se que vira o lado de fora e julgou ser ali a saída, mas
ainda precisaria resolver aqueles objetivos.
Em meio aos seus pensamentos o iQuant percebe a
presença do trem vindo em sua direção. Instintivamente ele
salta deixando-o passar por baixo, em seguida cai na
plataforma e pula de volta em cima do trem. Alguns metros
depois uma energia é lançada dentro da composição, o que a
faz explodir gradativamente da frente para trás, lançando Davi
novamente para a plataforma, chocando-se contra uma coluna.
Eram unidades D. Alguns tiros são direcionados a ele que, num
ato de desespero, aciona o campo de força, evitando o ataque.
As unidades se aproximam, então ele se levanta e os encara de
frente, todos parados por alguns instantes. Davi engole seco,
iQuant nesse momento calcula centenas de possíveis ataques.
Ele sabia que naquela hora não se tratava de simulação, mas
sim de uma batalha real, o que fazia com que seu estresse
ficasse ainda maior. Ao detectar, iQuant absorve o cortisol
injetado aliviando a tensão.
Então aquele silêncio acaba e Davi desfere tiros em
direção às unidades, que revidam e correm entre as colunas da
126

estação, escondendo-se. A luta continua e Davi percebe que


eles são rápidos e fortes, então ele pensa em estratégias, seus
pensamentos agora funcionam como um computador. Logo ele
começa a utilizar os recursos do iQuant, abrindo fendas e
saindo de um lado para o outro, desviando-se dos tiros, até que
cria uma dimensão e, dentro dela, torce o espaço, lançando
uma sequência de tiros que sai por trás das unidades acertando-
as em cheio, lançando-as contra outras unidades. Então começa
a correr novamente entre as colunas e é perseguido pelas
demais unidades, quando avista novamente um trem passando
e corre em sua direção, e as unidades atrás.
— Esses caras são fortes, mas, como disse o John, são
burros demais, porém são muitos, parece que abriram as portas
do inferno — ele diz antes de desferir um tiro na frente da
composição destruindo sua lataria, em seguida, entra, corre
para o fundo e se apoia em uma das laterais, desaparecendo aos
olhos das unidades que, por sua vez, entram e correm pelos
vagões, algumas delas pulam e correm por cima.
Davi energiza seu Raio-Z e, ao perceber a proximidade
das unidades, desfere um potente e luminoso tiro que as
arremessa para trás, as destruindo e destruindo o que encontra
pela frente. Em seguida abre uma fenda no espaço-tempo na
frente do trem, que o engole, em seguida fecha a fenda,
rasgando o trem ao meio, então torce novamente o espaço-
tempo, fazendo com que a parte engolida retorne de forma
contrária chocando-se de frente e causando uma intensa
explosão destruindo as demais unidades.
Davi surge em meio à explosão saltando para a
plataforma, corre e se esconde, agachado junto à uma parede,
então olha para um lado e para o outro, não avistando mais
nenhuma unidade, ele olha um pouco mais acima das salas e
avista as torres em meio a um céu acinzentado e sombrio.
Automaticamente o iQuant mira na torre, a mede e calcula sua
distância. Cinco quilômetros. Então ele parte em direção a ela,
deixando todo aquele destroço incendiado e fumegante para
trás.
127

Após perceberem a presença de um ser superior na


cidade dimensional, as unidades classe B fazem uma corrente
de vigia em volta das torres e uma corrente reforçada na torre
central.
Várias máquinas e naves dão apoio às unidades, a guerra
começou.
Davi se aproxima, dessa vez mais devagar e com cautela,
escondendo-se entre as paredes, colunas e sucatas de trens,
apontando sua arma e avistando cada movimentação quando
percebe alguns drones circulando, provavelmente a sua
procura.
— Agora ficou sério, não posso mais dar bobeira, tenho
que fazer o suficiente para não se detectado. — Avistando uma
porta de acesso a uma sala, ele corre em direção a ela e a abre
com um pequeno empurrão que quebra a tranca, entra na sala,
se agacha para pensar em uma estratégia e se concentra.
Um dos drones percebe a porta aberta e segue em direção
a ela, para em frente por alguns instantes, lança uma pequena
esfera prateada, que flutua suavemente e a abre por completo,
em seguida entra no aposento. A nave procura pelo invasor
cômodo a cômodo, mas nada encontra, porém, insiste, e
quando entra em um último cômodo, é recebido por uma
sequência de tiros que o explode e o lança no chão ocasionando
estrondos. A ação chama atenção dos demais drones, que se
dirigem ao local com algumas unidades C, passando pela porta
em fila indiana, todas apontando seus canhões, mas nada
encontrando, então vagarosamente seguem pelos corredores
passando por todos os cômodos. As unidades avistam o drone
abatido destroçado no chão, e continuam vasculhando aqueles
aposentos. De repente outro drone desaba, uma das unidades
olha em direção e lança um tiro, mas não há ninguém. Então
ela segue em direção a uma sala, com sua arma em punho,
passando pelo corredor, e coloca metade do corpo, com o
canhão apontado, na porta; do outro lado, outra unidade faz o
mesmo, enquanto que as demais unidades invadem o aposento,
128

mas nada encontram. Outro drone, as unidades olham


rapidamente, mas nada veem.
— Você o viu? — pergunta uma das unidades
— Não — responde a outra.
— Você sabe do que se trata?
— Não, não sei o que está havendo, estamos tendo uma
baixa em nossas unidades, uma baixa muito grande. As
unidades E foram quase todas destruídas.
— Isso é coisa daquele doutor. Sabia que nunca
deveríamos confiar nele, mas o que foi que ele criou que está
acabando com nossas unidades? Acha que sozinho vai impedir
a escravização da sua raça? Não sei o que ele está querendo.
— Vamos! — ordena a unidade D. — Temos que
encontrá-lo e levar sua cabeça para Hini.
Nesse momento uma unidade desaba causando uma
reação de desespero nas demais. que disparam a esmo e
acabam acertando o outro drone.
— Ele está aqui! — informa uma das unidades. — Mas o
que está acontecendo?! — Todas se abrigam no fundo da sala
apondo seus canhões em busca do invasor.
— Precisamos de re... — Uma série de disparo é
desferida contra as últimas unidades, abatendo-as e
interrompendo seu pedido de reforço. Todas desabam ao chão.
Em seguida os últimos drones.
Davi se retira vagarosamente daquela sala, com sua arma
em punho, e o iQuant começa a buscar presenças e começa a
identificar algumas, então calcula suas formas, classe e
distância, em seguida busca os melhores caminhos.
Em segundos tudo está calculado indicando para que o
jovem desça da plataforma e siga agachado pelos trilhos. Um
novo trem aparece e o cálculo é feito imediatamente sugerindo
que se agarre embaixo do mesmo, e a dica é seguida à risca.
A composição parte deixando todas aquelas unidades
para trás. Alguns minutos depois estaciona e Davi sai
lentamente de baixo, agachado e recosta-se na parede para
novamente calcular as presenças. Assim que termina, ele
129

percebe dezenas de unidades entre classe C e D e mais dezenas


de máquinas e drones cercando as torres. Máquinas com altura
de em média três metros, robustas, portando dois imensos
canhões, um pouco diferente da que John usara no momento e
que os rendeu, pois essa tem capacidade de flutuar usando
turbinas nas costas e nos pés. Os drones arredondados com
uma hélice no centro, portando quatro canhões dois de cada
lado, sendo os da ponta mais grossos, uma calda curta e
curvada, e com uma luz vermelha na ponta, uns com dois
metros circunferentes em média, outros com um metro. O
iQuant não consegue calcular um caminho, pois a estratégia de
defesa foi muito bem aplicada nas torres.
— Só tenho uma alternativa, espero que funcione. — ele
diz, respirando fundo, e aparece, as unidades o detectam
imediatamente e Davi ouve um medonho som de máquina
mudando de posição, todas apontam seus canhões. Em seguida
o jovem salta para a plataforma e iQuant começa a brilhar
intensamente e Davi se aproxima passando por algumas
unidades ignorando-as.
— Pare e se entregue! — diz a unidade C de uma cor
diferente das demais, essa é vermelha enquanto que as demais
são de cor grafite, levantando a mão ordenando que não atirem
— Não sei o que você é, mas sua jornada acaba aqui!
Davi ignora, continua andando e com um brilho
esverdeado cada vez mais ofuscante. Todas as unidades armam
novamente seus canhões e apontam.
— Venham todos! — grita Davi.
Todas as unidades disparam contra o jovem policial,
entretanto, são bloqueadas por um forte campo de força que o
protege, então as unidades partem para cima, de todas as
direções e quando chegam perto, acontece uma intensa
explosão arrastando tudo o que havia em volta. A Supernova
destrói todas as unidades, sobrando algumas máquinas e naves
que acabaram de chegar para reforçar.
As unidades desferem tiros de um tipo de plasma azul em
direção ao jovem, que, por sua vez, desvia pulando e rolando
130

no chão. Alguns torpedos são lançados pelas unidades que,


quando se chocam contra o chão, ocasionam fortes explosões
de plasma. O jovem desvia com dificuldade, sendo lançado
para trás com o impacto, então ele revida o ataque criando
fendas e atira dentro. Logo os disparos as surpreendem por
detrás das unidades restantes, que são destruídas deixando
finalmente a porta da torre central liberada.
Davi segue para dentro e as unidades que vigiavam as
outras três torres partem para a torre central. O rapaz procura
um lugar para se refugiar até que se recupere da Supernova,
entrando pelo saguão da torre. Então ele percebe várias portas e
três elevadores, assim como vira anteriormente quando preso.
— Raio-X! — Davi ordena e o recurso é ativado.
O iQuant começa varrer aquele andar em busca de
unidades e de um lugar seguro. Ele percebe que algumas salas
não têm nenhum caminho de acesso, somente algumas sub
salas e algumas outras dão acesso a corredores. O cálculo de
onde esse corredor sai é feito em segundos e é enviada a
informação de que a torre em que está é ligada por corredores e
sub salas formando um anel. Uma sala é informada como
isolada e de difícil acesso. Perfeita para despistar as unidades
que estariam por vir até sua recuperação.
Davi então dirige-se para lá, passando por uma porta
próxima ao elevador direito, entrando em uma sala com alguns
aparelhos nada conhecidos, logo no fim uma porta é avistada,
ele corre em direção a ela e a abre, vislumbrando um corredor
levemente curvo com algumas portas. iQuant aponta a segunda
porta à esquerda para que Davi abra, e ele o faz. Outro
corredor, dessa vez reto, é encontrado e ao fim uma nova porta
de metal. Ele se aproxima e percebe um dispositivo de leitura
digital com uma luz vermelha. Automaticamente, o iQuant
começa a lê-lo e o jovem começa a enxergar alguns comandos
que são lançados, então a luz fica verde e a porta se destranca.
Ele a abre lentamente, apontando seu canhão, e avista
aquela sala escura com pequenos feixes de iluminação
esverdeada, parecia a mesma sala em que estivera
131

anteriormente com Richard. A sala redonda com várias


cápsulas com fetos de aliens de um lado, e a diferença é que
essa tem cápsulas com fetos humanos.
Por ali, ele permaneceu por alguns minutos com o Raio-
X ativado, enquanto o iQuant escaneava os setores próximos.
Alguns segundos depois uma marcação aprece em seu
visor. Ele aproxima sua visão e vislumbra uma forma humana
em um local pequeno e isolado — é o Richard! — O percurso é
calculado apontando uma torre secundária e no sétimo andar.
— Preciso partir para lá. — Ele segue em direção ao
outro lado da sala onde havia uma porta, então a abre e se retira
do aposento, olhando para um lado e para o outro, na
expectativa de algum ataque surpresa.
Ele precisava se recuperar da supernova, mas sua
ansiedade de resgatar Richard era maior, não poderia imaginar
o que estaria acontecendo com seu amigo.
Ele segue pela parede da direita, como mostra o trajeto
que o iQuant informou, avistando outro corredor, também,
levemente curvo. Ele contorna a sala e com seu canhão
apontado. No fim, uma nova porta, com o mesmo dispositivo
digital. Davi segue cautelosamente e se aproxima, então
percebe também estar trancada, no entanto, iQuant destrava
sem nenhuma dificuldade. Atrás dessa porta, há um corredor
reto que o leva, coercitivamente, para a esquerda e no fim outra
porta de metal bloqueada. Davi se aproxima e a abre dando
acesso a um outro saguão.
— Essa é a torre em que Richard está — ele diz, parado à
porta, com seu corpo dividido entre o corredor e o saguão e
mirando em direção às portas daquele aposento, e no fim, mais
três elevadores, iQuant calcula e mostra que para chegar a
Richard, é necessário acessar o elevador do meio.
Davi parte em direção ao elevador, que se abre ao
detectar sua presença, então entra e segue para o sétimo andar.
132
133

As unidades chegam ao saguão da torre principal, sem ter


pistas de por onde ele está e começam a se comunicar,
formando estratégias para interceptá-lo. Nesse momento as
unidades mais inteligentes já perceberam não se tratar de
apenas um pequeno problema, mas que alguém muito poderoso
estava penetrando nas torres.
— Vamos formar uma equipe de dez, vocês e vocês. —
A unidade comandante aponta para um grupo de outras
unidades. — Sigam pelas portas da direita, e vocês, vão pelas
da esquerda, nós iremos pelos elevadores. Vocês pela esquerda,
vocês pela direita. — Ela aponta para as demais unidades. —
Nós vamos pelo meio. Quero o invasor ainda vivo, preciso
interrogá-lo para apontar o paradeiro do doutor, aí sim,
mataremos os dois e quem mais entrar no nosso caminho.
Agora vão! — o comandante ordena.
— Sim! — todas as unidades subordinadas gritam em
uníssono.
As unidades vasculham todos os acessos, sem encontrar
qualquer vestígio, minutos depois, algumas já retornam para o
saguão.
— Não encontramos nada — diz o líder de um dos
grupos por comunicação remota.
— Aqui também não há nada — responde outras
unidades que retornam.
— Voltem e reforcem as demais equipes — ordena o
comandante.
— Sim, senhor! — eles respondem.
Ao chegarem ao saguão, as unidades seguem para as
portas próximas ao elevador e seguem pelos corredores
tentando cercá-lo quando, de repente, o líder de uma das
equipes percebe uma porta entreaberta.
— Comandante, ele está aqui! — diz o soldado —
Encontramos as portas dos corredores de acesso às demais
torres aberta.
— Vasculhem e deem sua posição, vamos esperá-lo por
aqui — ordena o comandante.
134

— Sim! Estamos na sala de experiência do doutor,


dirigindo-nos para a torre secundária C. Provavelmente está
indo em direção ao preso para resgatá-lo.
— Sigam para lá imediatamente. Unidades do sétimo
andar, reforcem a segurança, retirem o preso e o levem para
torre B. Agora! — ordena o comandante.
Uma unidade líder do sétimo andar recebe o comunicado
e lança um sinal de alerta.
— Unidades! — ele faz uma pausa e aguarda a atenção
de todos, então prossegue. — Reforcem o corredor para a torre
B. Precisamos transportar o preso para lá. Fiquem atentos, há
um invasor desconhecido na cidade dimensional, ao que tudo
indica, é alguma criação do doutor humano. — Ela acena para
as unidades para que sigam em direção à cela. As demais
guardam as portas dos corredores, duas unidades de cada lado
da porta em cada saguão e mais unidades patrulhando.
A porta se abre e Richard, que está sentado ao fundo, se
levanta. Então uma unidade se dirige a ele, que se apoia na
parede, assustado, enquanto seu rosto começa a suar. Um
sentimento de agonia o toma, pois percebe que dessa vez há
algo diferente. A unidade se aproxima e levanta a mão para
segurar Richard, quando, de repente, ela desaba diante de seus
olhos, dando espaço para avistar uma outra unidade atrás, com
uma arma apontada. Mas dessa vez uma unidade diferente,
nada parecida com aquelas que a prendeu e com nenhuma das
que ele tivera visto no decorrer de sua estadia.
— Richard, você está bem? — a unidade pergunta coma
voz robótica.
— Davi, é você? — ele pergunta enquanto desperta um
longo sorriso em seu rosto. Então estende a mão para apertar a
de seu amigo. — Nunca fiquei tão feliz em ver você! — O
jovem com aquela armadura estende sua mão, também, para
Richard.
— Eu também estou feliz em ver você vivo e bem —
Davi admite — John pediu para que eu entregasse isso a você.
— Davi mostra uma esfera de cor grafite e com dois polos
135

luminosos de cor azul turquesa — e disse que isso o protegeria.


E disse também para que você saia daqui imediatamente e os
procure, lá você ficará mais seguro.
— Que armadura é essa? — pergunta Richard
impressionado.
— Esse é o iQuant — o jovem responde — Não temos
tempo agora, Richard, depois John explica tudo a você, tome.
Isso ajudará você a chegar até eles. — Ele entrega a esfera.
Ao pegar o objeto, o mesmo desaparece desfazendo-se
gradativamente em sua mão, um dos polos azuis turquesa
caminha pelo corpo do jovem e se posiciona em sua testa,
enquanto que o outro percorre e se posiciona em seu peito. Em
seguida uma mancha cor grafite percorre seus membros até
estacionar em seu peito em volta da luz azul, logo expandindo
para todo o corpo, que em alguns segundos fica coberto,
formando uma armadura de um tipo de metal leve e forte,
listras luminosas em azul turquesa percorrer a armadura.
— Caralho, meu... — Richard impressiona-se com o que
acabara de ver, olhando para seus braços, em seguida para seu
corpo. — Mas cadê minha arma? — ele questiona com uma
voz, também robótica.
— E.. hmm... — Davi se confunde ao responder. — O
doutor não falou nada disso, não. — Dá uma pequena pausa,
olha para a unidade jazida no chão, em seguida olha para
Richard que por sua vez, também olha para a unidade
entendendo o recado.
— Vamos ver se dá certo. — Richard se agacha e
desencaixa o canhão do braço da unidade e em seguida encaixa
seu braço percebendo ser muito mais fino que o encaixe. Mas
surpreendentemente a armadura reage e se adapta ao canhão e
se prende. — Maneiro aí — ele diz lentamente e novamente
impressionado, nada diferente de Davi. — Esse John é o cara.
É normal que Richard fique bem mais impressionado que
Davi. Afinal, como poderia um engenheiro mecânico não se
impressionar com tamanha tecnologia?
136

O fato é que impressionados ou não, não havia tempo


para admirar tecnologias, pois a transformação de Hini em ser
humano estava cada vez mais próxima.
— Deu certo — diz Davi e em seguida olha em direção a
porta. — Vamos, Richard, eles estão vindo para cá! Siga-me!
Eles saem da cela cada um escoltando um lado da porta.
Ambos apontando suas armas.
— Richard, faça o que eu falei, não venha comigo,
procure o doutor, ele precisa de você lá, essas unidades são
muito fortes e essa armadura que eu tenho é algo muito
diferente, não se trata apenas de uma armadura. Te darei
cobertura — Richard assente maneando a cabeça, embora seu
senso de justiça não queira permitir que seu amigo segure todo
esse fardo sozinho.
Eles seguem pelo corredor passando pelas celas até
chegar ao cruzamento. Davi aciona o Raio-X para detectar
unidades atrás das paredes mas não avista nenhuma. Em
seguida acena para Richard, que corre apontando o canhão para
a esquerda, enquanto que Davi sai pela direita. Seu amigo o
segue por outro corredor que dá em uma porta, Então Davi
para, apontando o canhão. Richard, por sua vez, de trás de
Davi, aponta, também o seu, dando cobertura.
— O que houve? — questiona Richard.
— Tem unidades vindo em nossa direção! — responde.
— E como você sabe? — Richard novamente questiona.
— Tenho uma espécie de Raio-X que me permite
enxergar entre as paredes.
— Hum. Entendi — ele responde e tira a atenção de
Davi.
— Cuidado! — O jovem da armadura quântica se joga
para trás empurrando seu amigo no chão depois de iQuant
informar. — Uma sequência de tiros passa raspando por eles.
— Encontramos, comandante! Eles estão na torre B, na
área das celas — diz a unidade líder.
Os jovens percebem a quantidade de unidades e olham
pra trás com o pensamento de voltar e ir para o outro lado do
137

corredor, quando avistam que mais unidades estão do outro


lado cercando-os.
Todas as unidades apontam seus canhões acoplados em
seus braços e o líder anda vagarosamente em direção a eles.
Do outro lado, a unidade líder percebe as demais
unidades se aproximando.
— Acabou, comandante, os cercamos!
— Excelente! — responde o comandante das unidades C
— Prendam-nos e os tragam para mim.
— Invasores, temos ordem de levá-los vivos para o
comandante. Sugiro que não resistam. Vocês não têm saída,
entreguem-se — sugere a unidade líder.
Naquele momento só havia preocupações com relação à
Richard na cabeça de Davi, pois sabia que aquela armadura não
aguentaria tantas unidades. Em contrapartida, o jovem
engenheiro estava com sangue nos olhos, ansioso para
atacarem. O iQuant começa a calcular possibilidades de fuga
ou ataque estratégico, mas já havia gasto muita energia nas
batalhas anteriores, ainda faltavam dez minutos para que
conseguisse um novo ataque com a Supernova e ele sabia que
não havia todo esse tempo.
— E então, Davi, o que vamos fazer? — Richard
pergunta analisando cada uma das unidades e completamente
imóvel.
— Ainda não sei — Davi Responde, olhando para um
pelotão e depois para o outro.
— E então, invasores, vão se entregar? — pergunta a
unidade, parada e apontando o canhão, cuidadosamente.
Os jovens continuam imóveis, sentados de costas, um
para o outro e com seus canhões abaixados.
— Fique quieto, Richard! Eles precisam de nós vivos.
Não vão atirar se ficarmos parados. Enquanto isso, estou
pensando em algo.
— Vamos, humanos! — a unidade insiste. — O que
vocês ganhariam defendendo aquele velho? Se vierem conosco
agora, terão a possibilidade de ser soldados de verdade. Vocês
138

nunca sairão daqui, e se saírem, o que os aguarda do lado de


fora não será nada agradável.
Davi ignora e consulta recursos do iQuant, mas o mesmo
não dá informações, eles realmente estavam cercados e ele
precisaria de uma estratégia épica para conseguir se livrar de
tantas unidades C.
— Acho que não temos muita escolha, Davi, olha a
quantidade de soldados, mais de vinte de um lado e a mesma
coisa do outro — observa Richard bolando uma estratégia.
— E então, invasores. Não tenho muito tempo.
Entreguem-se! — diz a unidade já com um tom de voz não tão
agradável e expressando visivelmente sua impaciência.
— Richard, nós vamos fazer uma viagem.
— O que?! Como?! — ele responde com a voz trêmula
por não saber do que se trata.
— Estou bolando uma estratégia.
— Explica isso melhor, cara, e rápido!
— Richard, apenas ouça e não perca tempo! Faça
exatamente o que eu disser e não questione... Ok?
— Ok... Vou tentar.
— Não adianta vocês tramarem, invasores — diz a
unidade líder, já sem paciência. — Estão cercados, darei a
vocês cinco segundos e atiraremos contra vocês. Um... — O
soldado inicia a contagem.
— Levante-se junto comigo, lentamente. E quando eu
correr, me dê cobertura — ordena Davi
— Dois... — diz a unidade.
— Sim — responde Richard.
Davi se levanta lentamente e ergue seus braços, a arma
em sua mão direita virada para cima, como se estivesse se
rendendo, e Richard faz o mesmo.
— Sábia decisão, parasitas...
O discurso da unidade é interrompido por Davi que corre
em sua direção, atirando. Richard o segue dando cobertura. A
ação provoca a reação das unidades que correm em direção a
eles, também atirando. Em um dos seus tiros Davi abre uma
139

fenda no espaço tempo e entra junto com seu amigo,


desaparecendo diante de todos. Vários tiros desferidos pelas
unidades perdem seu alvo e passam direto, uns acertando os
outros, várias unidades são destruídas, contudo as líderes
desviam facilmente.
— O que aconteceu? — pergunta uma das unidades líder.
— Nã... — Novamente a unidade é interrompida, mas
dessa vez com um tiro disparado por Davi que reapareceu do
outro lado, próximo à porta, permitindo a fuga de Richard para
os elevadores.
Uma das unidades líder desaba no chão. As demais
olham para trás e vislumbram o jovem com canhão apontado.
— Agora podem vir! — ele diz um pouco mais aliviado
por liberar seu amigo.
Espero que você não encontre unidades fortes, irmão. —
Davi pensa.
As unidades começam a atacá-lo com tiros e golpes,
algumas delas com garras. Davi se defende e abate uma a uma,
utilizando as paredes, pulando de uma para a outra para desviar
dos tiros e devolvendo o ataque. A única unidade líder que
sobrou fica de longe, apenas observando a luta e enviando
detalhes ao comandante.
— Comandante, ele é muito poderoso, não sei o que é
isso — diz a unidade líder — Conseguiu destruir todas as
unidades facilmente e deu refúgio ao preso que estava usando
um tipo de armadura com nossos metais raros. Estou me
retirando.
— Não é possível, seus inúteis — o comandante dá um
grito tomado de ódio. — Eu terei que sair daqui para acabar
com isso?!
Em seguida todas as unidades são abatidas restando
apenas a líder, que, ao perceber que só restaram os dois, recua
para a porta do corredor. Davi por sua vez o segue disparando
tiros.
Assim que a unidade chega próximo à porta, uma forte
luz cresce do outro lado, Assustado, o jovem interrompe a
140

corrida deslizando no chão, em seguida pula com um salto


mortal para trás para evitar bater de frente com aquilo que ele
não sabia o que era. Essa luz, então, acerta a unidade líder com
tanta violência que a arremessa de volta para o corredor por
metros, até parar aos pés de Davi, completamente dilacerada.
Então Davi observa a unidade jazida à seus pés, em seguida
olha para o escombro fumegante da porta que foi lançada no
meio do corredor. Logo, ele olha para o fim do corredor e
avista uma unidade surgindo das sombras da porta. Uma
unidade ainda mais diferente e robusta, incrivelmente maior, de
cor levemente azulada com listras brilhosas brancas. Um
canhão diferente acoplado a um de seus braços, com quatro
garras em sua ponta exibindo estalos elétricos e uma esfera
luminosa, também branca, o circulando verticalmente, como a
Lua orbitando a Terra.
— Agora a coisa ficou séria! — diz Davi, suando frio
enquanto iQuant mede seu tamanho e força média.
A unidade se aproxima lentamente, seus olhos vermelhos
cintilantes aterrorizam o jovem, que apenas o observa sem
esboçar nenhuma reação.
— Então você é o tal invasor? O que destruiu todas as
nossas unidades — pergunta a unidade em um tom grave e
irônico, então abaixa seu canhão e dá um passo à frente saindo
totalmente da porta. Davi não diz nada, apenas observa.
— Então, meu caro invasor, quem é você e o que você
quer? Foi o doutor que o mandou aqui? — Davi continua
imóvel e sem dizer uma palavra. — Vou fazer você falar.
Unidades, ataquem-no!
Mais unidades surgem pela porta passando à frente do
comandante e apontando seus canhões. Então correm e
começam a atacar. Davi usa seu recurso de abrir fendas e
dobrar o espaço-tempo, levando algumas unidades para outra
dimensão, as deixando presas e atirando em outras,
rapidamente aquelas unidades são destruídas.
— Percebi que você é muito forte, tem uma ótima
tecnologia, parabéns! — novamente a unidade ironiza. — Tudo
141

isso foi criado pelo John? — Davi continua sem responder. —


Agora, acabou a brincadeira.
A bola de energia se aproxima e começa a disparar raios
azulados e altamente velozes e poderosos em direção a Davi,
que desvia com muita dificuldade se jogando ao solo e rolando.
O jovem percebe que o raio muda de posição à medida que ele
se mexe, o que torna muito mais difícil a esquiva. Em seguida
mais raios seguem em sua direção e um deles o acerta em cheio
causando instabilidade no iQuant e lançando-o à parede
formando um buraco com rachaduras, em seguida ele escorre
pela parede até desabar no chão. O comandante anda vagarosa
e cautelosamente em direção à ele.
— Desculpe, não me apresentei a você. Meu nome é
Barot, sou comandante das unidades B à D, zelo pela proteção
das torres B,C e D, aqueles que você destruiu, são Hirot e
Bronn, capitães das unidades C. Qual seu nome?
Davi ainda caído no chão e o iQuant instável deixando
transparecer algumas partes do seu corpo, mas não diz uma só
palavra. Apenas permanece estático sentindo a dor daquele
ataque.
— “Se aquela esfera já está fazendo esse estrago,
imagine quando ele começar, realmente a lutar. Devo desistir?”
— Ele pensa. Mas não há possibilidade dessa hipótese, minutos
antes ele prometera a seus amigos que iria até o fim.— “Ainda
tem a Diana... Aquela linda garota... tenho a impressão de já
conhecê-la há anos. Preciso descobrir sua história... Minha
família do lado de fora... Essa dor... Eu nunca senti na vida.
Anos combatendo o tráfico de drogas naqueles morros,
trocando tiro com traficantes, mas isso aqui? Nunca
imaginaria... O que são traficantes perto dessa máquina na
minha frente pronta a me incinerar?”
— Você é durão mesmo. — Barot corta seu devaneio. —
Mas não vai adiantar muito ficar quieto e morrer. Onde está o
Doutor? — Ele dá mais uns passos à frente com seu canhão,
ainda abaixado e sem se preocupar.
142

O iQuant se recupera lentamente recobrindo o corpo do


jovem, mas, ainda sem forças, levanta-se lentamente, uma
leitura é feita detectando a bola de força que atrás. Ela emite
um som de centelha causando-lhe um pequeno susto.
— “Que impacto foi esse, nenhum dos ataques que recebi
tinha tamanha força, então essa é a unidade B, acho que não
tenho chances contra ele, quem dirá contra a unidade A.
Desculpe John, mas nosso plano falhou” — ele diz pra si
mesmo em pensamento, e completamente desanimado.
— E então, garoto? — novamente a unidade B corta seu
devaneio. — Não tenho todo o tempo do mundo. Onde está
John? — Ele dá mais alguns passos aproximando-se e sua
esfera de energia desfere mais um tiro pelas costas do jovem,
lançando-o aos seus pés. Ele o agarra pela cabeça e o suspende.
— Gostei dessa armadura, mas é muito fina para mim.
Ele o lança violentamente contra a parede e sua esfera de
energia desfere uma saraivada de tiros criando um rombo e
lançando-o a metros torre afora, fazendo com que se choque
contra a parede da sala central, do outro lado, que também é
perfurada com o impacto, e o jovem cai dentro dela. Barot pula
em alta velocidade, planando no ar, para a sala e o encontra em
meio aos escombros de pedras, metais, restos de cápsulas
destruídas e fetos alienígenas, e sem a armadura.
143
144

Richard desce do elevador e sai pelo saguão,


cautelosamente apontando seu canhão. Sem ter ideia do que
acontecera ali, dirige-se até a porta e sai da torre, se
deparando, então, com um cenário desastroso: várias unidades
jogadas ao chão em meio à máquinas destruídas e fumegantes,
e, no trilho, escombros de trens destruídos e em chamas, um
verdadeiro caos.
— Deus! — ele dá alguns passos, perplexo — O que
aconteceu aqui? Será que o Davi causou tudo isso? O que é
aquilo que ele está usando. — Sua armadura interrompe seu
devaneio mostrando o caminho, em vermelho, em sua visão,
para a sala de John. Ele então segue em meio aos escombros,
olhando para todos os lados. Não avistando mais nenhuma
atividade, ele parte de volta para a sala de mecânica.
Alguns lances de salas depois ele percebe os escravos
ainda trabalhando, mas sem nenhum drone ou nave à escolta.
Ele pensa na possibilidade de libertá-los, assim como Davi
pensara, mas segue em diante e avista cada vez mais soldados,
androides e drones jogados ao chão, quando passa por cima de
uma unidade e sente algo segurar sua perna. Ele aponta o
canhão para baixo e avista um ser, com sua armadura
completamente destruída em seu corpo, com um olhar de
desespero, parecia medo de morrer, deixando escapar uma
listra de sangue que escorre da sua boca.
Então ele diz algumas palavras das quais Richard não
consegue compreender, mas em alguns segundos uma frase
aparece no display de seu visor dizendo:
“Salve-me, por favor.”
Richard o olha e diz:
— Você é um soldado, por que o salvaria?
Um gemido agoniante é proferido pelo alien soltando
mais sangue pela boca.
— Infelizmente não posso fazer nada por você, nem levá-
lo comigo, mas vou deixá-lo mais confortável. — Richard
retira o escombro de uma máquina que estava sobre ele, pega-o
em seus braços e o leva para dentro de uma sala. — Se eu
145

pudesse o salvaria — ele diz com um sentimento de piedade,


mesmo sabendo que aquele fora seu inimigo. O alien nada diz.
Richard se retira da sala e segue seu caminho pulando no
trilho.
— Já que o Davi já acabou com eles, não tenho por que
me preocupar, então vou direto.
Sua velocidade aumenta e ele percebe o poder da
armadura que está usando.
— Preciso achar John, essa armadura é boa, mas ele tem
motivos para pedir para que eu vá direto. — Uma luz vermelha
começa a piscar em seu visor. — O que é isso? — De repente
uma explosão nas suas costas, que o lança para o chão,
deslizando sobre o trilho e destruindo-o até que para vários
metros à frente.
— O que foi isso? — Ele olha para trás e vê drones e
robôs se assomando. Ainda sentado, ele desfere alguns tiros e
em seguida se levanta.
As unidades seguem em direção ao jovem atirando e
cercando-o. Um dos robôs pula em sua direção desferindo um
potente soco e Richard consegue desviar, mas o deslocamento
de ar causado pelo movimento da unidade faz com que ele seja
arremessado alguns metros à frente rodopiando até cair.
— O que foi isso? — Richard diz.
Em seguida a unidade desfere um tiro que o acerta em
cheio, deixando-o caído no chão, inerte.
O androide anda em sua direção e o segura. Tonto e
confuso, ele não consegue reagir. O robô, mais robusto e com
apenas um olho iluminado de vermelho, o agarra, e quando
está sendo, novamente, levado, um tiro arranca o braço da
unidade fazendo com que Richard caia no chão, novamente
sem entender. Então as unidades começam a ser todas
destruídas e ele vislumbra uma forma embaçada em cima de
uma das salas da plataforma, em seguida desce, aproximando-
se de Richard que por sua vez aponta seu canhão.
— Esperai aí, você não é aquele alien que eu ajudei? —
Richard pergunta.
146

O alien diz algumas coisas novamente não entendidas por


Richard e, segundos depois, em seu visor, aparece a tradução
que diz:
— Você me ajudou, agora eu ajudo você. — O alien
coloca a mão na barriga e cospe uma bola de sangue.
— Cara, não sei se você está entendendo o que estou
falando, mas muito obrigado, eu iria morrer se não fosse você.
Novamente o alien fala algumas palavras que são
traduzidas:
— Posso acompanhar você? Não posso ficar aqui, Hinni
sabe que o ajudei e agora vai querer me matar.
— Se conseguir, siga-me. — Richard acena com a mão
para o que o alien o siga. — John vai querer me matar, mas não
posso deixar esse cara aqui, se ele me salvou então não temos
motivos para negá-lo. — Então seguem pelo trilho.
Minutos depois correndo, o alien não aguenta e desaba.
Richard olha para trás e se aproxima.
— Ei, E.T, você está bem? Estamos chegando, não falta
muito.
O alien começa a falar em sua língua, em seguida fala
uma frase em português:
— Estou... — Ele faz uma força para suportar a dor em
seu corpo, e continua. — Muito fraco. Vá, você.
— Nunca! — Richard responde com veemência. —
Agora você vem comigo! — Ele o ajuda a se levantar —
Amigo, vou tirar o que sobrou da sua armadura, para que fique
leve.
— Espere! — O alien toca as partes que sobraram da
armadura, suas luzes se apagam e ela se desprende.
Richard, então, começa a soltar a armadura do alien que
em alguns minutos fica somente com sua roupa anatômica que
também está rasgada e toda manchada de sangue. Como o Gray
é muito mais magro que um homem normal e com a ajuda de
sua armadura, Richard não teve dificuldade em colocá-lo em
suas costas e correr alguns metros que faltava para a sala de
mecânica.
147

Assim que chegam, ele olha para a sala e percebe que


não há nada ali, somente o lado de fora, como se nunca tivesse
existido uma sala, então os detalhes da armadura de Richard
começam a brilhar intermitentemente e em seu visor aparece
uma luz verde que envia uma informação para John.

***

O doutor está espiando a localização de Davi, agoniado e


Diana dormindo aquelas horas trabalhadas, quando recebe o
sinal enviado. Dando um espasmo na cadeira, pegando seus
óculos e o colocando desajeitadamente no rosto.
— É Richard! — ele grita.
— O que houve doutor? — Diana acorda com um susto,
com os olhos vermelhos, entreabertos e sonolenta. — Você me
assustou.
— É Richard! Ele está aqui! Estou voltando a sala para a
cidade dimensional, para que ele entre.
Os comandos são dados e então a sala retorna àquela
dimensão. Richard percebe um vulto distorcido dentro da sala
que começa a ficar cada vez mais claro e gradativamente vai
conseguindo ver uma porta aparecendo, até aparece por
completo. O doutor corre para a porta e a abre, do lado de fora,
Richard aponta seu canhão.
— Venha, Richard, entre... Rápido. — Então o doutor
percebe o alien em suas costas. — Mas o que é isso? — ele
pergunta assustado.
Richard anda para dentro da sala, John e Diana abrem
espaço para que eles passem, mas o doutor olha
fulminantemente aquele alien em suas costas.
— Pode ajudá-lo, John? — pergunta Richard.
— Primeiro vai me dizer o que significa isso! —
responde secamente.
— Não temos tempo, doutor, ele pode morrer! Ajude-o,
enquanto isso te explico.
148

— Espera, precisamos sair daqui! — John corre para seu


computador e faz todo o procedimento, começando a sair da
dimensão novamente, retorna em seguida.
— Deixa eu ver o que houve, coloque-o nessa maca. —
Ele puxa uma haste metálica, aciona um botão na ponta. Mais
duas hastes aparecem de dentro dessa, cada uma anda para um
lado, presas por uma haste horizontal, em seguida lançam outra
haste horizontal, uma delas revelando mais uma haste vertical,
formando um retângulo que é a base da maca, até que
emaranhados de um material azul e desconhecido aos olhos de
Richard começa a se formar gradativamente, formando o
apoio, onde o alien será deitado.
Richard coloca o alien sobre a maca e John começa a
analisar seu corpo.
— Enquanto isso, tenho todo o tempo do mundo para
ouvir o que tem a dizer sobre isso. — Richard retira o canhão
de seu braço e a armadura começa a se retrair, circulando seu
corpo até chegar em sua mão no formato de esfera. — Dê-me
isso aqui. — John pega a esfera e a coloca numa cápsula em
sua mesa. — Vamos lá, quero ouvir.
— Se não fosse esse alien — Richard começa —, eu
estaria morto agora. Ele me ajudou destruindo umas naves e
uns androides do mal lá fora. Eu já estava dominado por eles.
— explica.
— Aí você o traz pra cá? — John diz desconfiado,
levantando uma de suas sobrancelhas e o olhando por cima dos
óculos.
— Não me olhe com essa cara, não, vovô — ironiza. —
Você acha que eu ia deixar o cara lá fora pra morrer? Ele disse
que o tal de Hinni, o mataria, porque sabia que ele estava me
ajudando. Não tive outra escolha — justifica-se Richard .
— Ok, entendo... — Ele fica calado por alguns segundos,
analisando a situação, observando o alien. — Não deveria, mas
entendo. Amigão, antes de te ajudar, preciso conferir umas
coisas. — Ele pega um objeto parecido com o que antes
analisara Davi, um pequeno bastão achatado com um feixe de
149

luz branca e passa sobre todo o corpo do alien. — Alguns ossos


fraturados... Costelas... omoplata... baço... O baço está bem
danificado. Vamos para a área apropriada para isso.
John empurra a maca para o fim do corredor, Richard e
Diana o seguem. Então viram à esquerda, onde há vários
equipamentos hospitalares e medicamentos. Embaixo de um
monitor tradicional ele abre uma gaveta e retira uma seringa,
segue para uma grande porta e a abre deixando aparecer
centenas de medicamentos, então ele saca uma ampola,
introduz a agulha, puxa o medicamento e injeta em seu
paciente.
— O que é isso, John? — pergunta Diana.
— Analgésico, mas não como o que vocês são
acostumados. — Ele sorri. — Esse aqui realmente tira a dor em
segundos — conclui.
John começa a cortar sua roupa até sua cintura, então as
feridas aparecem.
— Bem, ele está gravemente ferido. — John se comunica
com alien em sua língua.
— O que aconteceu com você, como se feriu assim?
— Você sabe o que fez isso comigo, John — o alien
responde ironicamente.
Richard e Diana se olham reciprocamente sem entender.
O doutor olha para baixo, entorta a boca e respira fundo.
— Sua criação nos abateu facilmente — continua o
Alien. —, mas o que me feriu assim não foi ele, e sim uma
máquina que caiu sobre mim quando ele a abateu. Seu tiro é
tão poderoso que destruiu minha armadura quando me acertou.
Minha sorte que não foi em cheio... — Ele dá uma pequena
pausa e então continua. — Então era pra isso que você exigiu
uma sala só pra você? Inteligente da sua parte, mas saiba, você
comprou uma briga com os Greys e deve se preparar.
— Eu sei disso e já estou me preparando, agora tudo
depende de Davi. Agora pare de falar por que preciso
escancear sua estrutura interna.
150

John o empurra para baixo de um equipamento que


escaneia todo seu corpo para analisar estado interno. A
máquina exibe no próprio corpo do paciente sua estrutura
interna.
— Você está bem danificado por dentro... pulmão
perfurado, alguns órgãos esmagados, dano no cérebro.
— E então, doutor, vai dar pra salvá-lo? — pergunta
Richard agoniado.
— Sim. — Ele põe a mão sobre o ombro de Richard. —
Nano reparadores.
— O que é isso? — ele pergunta novamente.
— São tipos de remédios que utilizam nano-robôs
medicinais e células tronco. Assim que eu injetar o
medicamento, esses nano reagentes seguirão para as partes
danificadas e as repararão, deixando-as tão fortes quanto eram
antes dano. Mas ainda levam algumas horas para o reparo total.
— Hum, entendi. Mas, fala aí, John, quem é a boneca aí
mesmo? Não tive tempo de me apresentar. Sou Richard. — Ele
estende a mão.
— Sou Diana — ela responde ruborizada.
— Mas pode tirar seu cavalinho da chuva, Richard, ela é
namoradinha do Davi — brinca John.
— Não sou nada! — responde ainda mais encabulada. —
De onde tirou essa ideia?
— É melhor deixar quieto — diz John.
— É, né... fiquei preso, me dei mal até nessa —
resmunga Richard.
Diana ri e põe as mãos tampando o rosto.
— Homens.
— É, meu amigo, fique aí e espere sua recuperação, aqui
estará seguro — diz o doutor, andando em direção à área dos
computadores, deixando Richard e Diana se conhecendo.
— E então... Diana, não é? Como veio parar aqui, com
John e Davi?
— Então, eu estava escravizada, por algum motivo
aquele chip que eles implantaram em mim não funcionou, mas
151

eu não tinha o que fazer, apenas copiei o que as demais pessoas


escravizadas estavam fazendo. Foi quando Davi apareceu
escondido em meio às caixas, me chamou e me tirou de lá.
— E quanto tempo está aqui?
— Dois dias — ela responde lembrando-se de seu
trabalho como física. Lembrando, também, de seu trabalho
como voluntária em uma ong que ajudava crianças especiais e
sua querida mãe. — Mas e você, como chegou aqui e quanto
tempo está aqui?
— Duas semanas. Sou Engenheiro mecânico, mais
precisamente aeronáutico, estava em um barzinho relaxando
quando de repente... “Puf”... — Ele gesticula com a mão um
gesto de explosão. — apareci aqui. Segundo esse cara aí —
Acena para John com a cabeça. —, ele me escolheu para vir
aqui ajudar a salvar sua vida e o Davi também. Por falar nisso,
você está mesmo namorando o Davi? — pergunta deixando
escapar um sorriso amarelo.
— Não estou namorando ninguém. Esse cara é louco! —
ela responde e anda em direção à John, Richard a acompanha.
— E aí, doutor, vai dizer o que é aquilo que o Davi está
vestindo ou não? — questiona Richard
— Por falar nisso, Richard, como o Davi estava quando
te resgatou?
— Ah, com aquela armadura, ele estava ótimo, ele me
levou para outra dimensão que me deixou do outro lado das
unidades que nos cercava. Depois disso, segui para cá e não o
vi mais. O que é aquela armadura? — ele insiste.
— É o iQuant — John responde.
— iQuant?
— Sim, uma armadura que é mistura de inteligência
artificial com mecânica quântica e nano tecnologia. Em outras
palavras, é uma armadura viva, inteligente, que está fundida ao
corpo de Davi para sempre.
— Como é que é? Para sempre? — Impressiona-se
Richard.
152

— Sim, Richard, para sempre. O iQuant retirou todas as


células do organismo de Davi e substituiu pelas suas, tornando-
os um só ser.
— Quer dizer que ele vai ficar assim pra sempre? Como
um robô?
— Não, da mesma forma que a armadura que te dei se
retrai no seu corpo, o iQuant também faz, mas de forma muito
mais surpreendente e fica estacionada no cérebro do
hospedeiro quando não está sob ameaça.
— Agora, doutor, a pergunta que não quer calar: por que
o Davi para usar o iQuant e não eu?
— Simples, meu caro: ele é um combatente, sua
habilidade é a guerra. Por mais que ele seja tão inteligente
quanto você, isso é um dom, ele é militar, ótimo em estratégia,
por isso o iQuant foi disponível para ele, você foi escalado para
outra missão, ajudar no portal, sua capacidade de engenharia é
infinita, e eu preciso de alguém como você para terminá-lo e
sairmos daqui. Agora precisamos nos apressar. Quando Davi
realizar sua missão, preciso estar com tudo pronto para sairmos
daqui. Diana, como é física, sua ajuda será imprescindível para
a conclusão. Enquanto isso, gostaria de saber como a senhorita
veio parar aqui se eu não a convoquei. Você se lembra?
153
154

Mais um dia comum na vida de Diana, onde passa maior


parte do seu tempo dividido entre seu curso de mestrado em
física e seu trabalho no laboratório.
Dia comum entre aspas, pois, nesse mesmo dia, a jovem
passou por todo o período em que saía para a rua sentindo que
estava sendo perseguida, porém, sempre achando que fosse da
sua cabeça.
— Vamos almoçar, Rômulo? — Diana já estava faminta
e cansada, pois o estudo já consumira muito de sua força.
— Sim, estou terminando apenas esse tópico e iremos —
responde o jovem rapaz, pardo, de cabelos negros e cacheados,
estatura média, que, além de amigo de longas datas, ainda era
colega de turma e de trabalho.
Diana segue em direção à janela do prédio e percebe algo
estranho naquele dia, algo que a estava incomodando. Ela abre
mais, com os dedos, a persiana que já estava aberta e observa o
movimento dos carros, pessoas andando. Barulhos de sirene.
Um avião voando na mesma direção em que uma pessoa
planava de parapente chamou sua atenção, ela ficou presa
naquela cena por alguns segundos, até que uma mão pega em
seu ombro. Ela esboça um espasmo de susto.
— Vamos? — chama Rômulo. — O que aconteceu com
você hoje, Diana? Está meio desanimada — ele observa — Eu
percebo as coisas, ainda mais quando é a seu respeito.
— Não é nada. — Ela olha para baixo e caminha junto ao
jovem. — Sabe aqueles dias que você não está para nada e nem
para ninguém?
— Sei... Sei exatamente — ele responde. — Quer que eu
a deixe sozinha?
— Não...
— Se eu estiver te atrapalhando — Rômulo a interrompe
—, é só me dizer que...
— Não, Rômulo — Diana o interrompe —, não é isso.
Vamos almoçar juntos e depois ir para o trabalho, eu apenas
estou assim... Gosto da sua companhia.
155

— Tudo bem... — Rômulo dá uma pausa olhando,


roborizado para Diana, então prossegue. — Pensou sobre o que
a gente conversou?
— Essa não é a melhor hora para isso, Rômulo — a
jovem responde secamente.
— Tudo bem, esquece.
Diana o olha com um olhar de tristeza. Ela sabe que ele é
loucamente apaixonado por ela, mas o sentimento não é
recíproco e ela gostaria que isso fosse apenas uma fase, e que
ela passasse o mais rápido possível. — Mas há cinco anos? —
Como ela poderia lidar com isso durante tanto tempo? Às
vezes pensa em se afastar de seu amigo para sua própria
felicidade.
— E como anda a ONG? — ele muda de assunto.
— Bem, ajudo sempre que posso, mas ando estudando
tanto que mal tenho tempo para as crianças, talvez eu deva
visitá-los mais.
Eles tomam o elevador e, ao chegar ao primeiro andar, se
dirigem para o estacionamento. Diana continua sentindo a
sensação de que alguém a está perseguindo e de tempo em
tempo olha para todos os lados, o que acaba incomodando
Rômulo.
— Diana, devo insistir. — Ele para de frente para a
amiga e pega sua mão, — Tem certeza de que está tudo bem?
Estou vendo você olhar para os lados o tempo todo. Alguém
está perseguindo você?
— Não, já disse! — ela esbraveja. — Apenas não acordei
em um dia bom. Esse seu excesso de proteção às vezes me
incomoda, sabia? Parece minha mãe.
— Desculpa, Diana. — O jovem chateia-se com o que
acaba de ouvir. — Entendo... Tudo bem, não toco mais no
assunto. Devo estar sendo um carrasco.
— Não foi o que eu quis dizer, tente entender.
O bip do alarme do carro soa destravando-o.
— Não vamos no meu? — pergunta Rômulo
— Não, quero dirigir! — ela afirma.
156

— Não é uma boa ideia, sabia? — Rômulo insiste.


— Se quiser almoçar comigo, entra logo nesse carro.
— Tudo bem, moça, seu desejo é uma ordem. — Ele
presta continência de forma irônica e anda em direção à porta
do motorista, abre e estende a mão para que ela entrasse, logo
depois se dirigiu para o lado do carona e entrou no carro.
— Hum... Obrigada, cavalheiro. — Ela finalmente libera
um sorriso. — Vou ligar para a minha mãe.
A jovem pegou seu celular, abriu o “flip” e digitou
alguns números. O telefone tocou durante bastante tempo. A
primeira ligação caiu e ela ligou novamente. Depois de chamar
bastante, sua mãe finalmente atendeu:
— Oi, filha... Tudo bem?
— Mãe, por que demorou tanto para atender? — a jovem
questionou, sabendo que sua mãe normalmente não desgruda
do telefone.
— Estou ocupada, meu amor, fazendo o almoço. Você
almoça na rua, mas sua mãe tem que fazer o que come. — Ela
deu gargalhadas.
Diana sorriu aliviada por mais um dia ouvir sua amada
mãe sorrindo. A jovem tem todo esse cuidado com sua mãe,
pois perdeu seu pai aos dezesseis anos e todos sempre foram
muito grudados. Desde então, Diana evitou até casamentos
para não se separar de sua mãe.
— Liguei só para saber como a senhora está — a jovem
informa.
— Estou bem, minha filha — sua mãe responde —
Quero a senhorita aqui no sábado, ok?
— Sim, mãe, eu vou — Diana confirma.
— Cadê a minha filha? — Diana ouve batidas pelo
telefone, como de alguém batendo na porta. — Que voz é essa?
— O Rômulo disse a mesma coisa. — Seu amigo a olha,
sem saber em que seu nome foi citado. — Não acordei muito
disposta hoje, mas não é nada. Amanhã passa, está bem?
— Tudo bem, minha filha.
157

— Mãe, preciso desligar, estou indo almoçar e depois


vou para o trabalho. Te amo, tchau.
— Tchau, mamãe te ama.
Diana desliga o telefone e segue junto de seu amigo.
Enquanto a jovem dirige pelas ruas, avista algo estranho
no céu e segue com os olhos durante alguns segundos, de
repente um forte impacto, os Air bags saltam para fora e o
carro capota pela pista. A jovem não desmaia, mas vê seu
amigo desacordado e algo estranho acontecera: aquele dia claro
estava como noite. Algo partiu o carro ao meio e a removeu
das ferragens, seu amigo falecera no local, e ela teve apenas
alguns arranhões.
Diana olha para todos os lados e vislumbra um ser escuro
com enormes asas e pensou ser um ajo da morte. Em seguida,
um objeto branco, que reluzia em listras de verde fluorescente,
lançou-lhe um tipo de raio, fazendo com que ela desaparecesse
daquele local.
O ambiente clareou novamente e dezenas de pessoas
estavam em volta do carro, transito interditado, viaturas da
polícia e da guarda municipal atendiam a ocorrência.
Diana foi deixada em uma estação de trem macabra,
desacordada. Dois seres estranhos se aproximaram e a levaram.
Alguns minutos depois ela acorda e percebe estar deitada
em um leito, presa por anilhas de metal, ela tenta se mexer e
falar, mas está em uma alucinação causada por uma catalepsia
induzida. Ela consegue ver tudo o que se passa, mas não
consegue interagir, essa maca muda de posição deixando seu
corpo em vertical, em seguida um braço mecânico dispara algo
em sua nuca.
Segundos depois a jovem desperta da catalepsia e não diz
nada, apenas observa toda a movimentação. Um dos seres se
aproxima, aponta um tipo de lanterna em seus olhos, e em
seguida se comunica com sua equipe.
Ela observava tudo, mas na verdade não sabia se aquilo
estava realmente acontecendo ou se era um pesadelo. A jovem
se lembrou de seu amigo, não sabia se ele estava vivo, não
158

sabia porque estava ali. Mas uma coisa ela tinha certeza: o
mesmo objeto que lhe tirou a atenção foi o que a salvou do
acidente.
Assim que ela fora liberada da maca, olhou para o lado e
percebeu outros seres humanos na mesma situação, mas esses
estavam como se estivessem dominados. — e estavam! —
Todos fazendo o mesmo movimento. Ela copiou os demais, e
fazia exatamente como todos faziam e se perguntava: “por que
eu não fiquei como eles? Por que comigo não funcionou?”.
Mas pra quem ela perguntaria? Sua única esperança era
encontrar alguém na mesma situação que a sua.
A jovem foi encaminhada para um setor de trabalho e
imitou exatamente o que todos faziam, mas sempre se
perguntando o que seria tudo aquilo. Para ela, que estudava
física, ver naves voando sem ao menos uma hélice, turbina,
apenas um agoniante e contínuo zumbido, estava fora de sua
capacidade de compreensão e sua mente ficava entre como
sairia dali e como poderia estudar aquela tecnologia.
Assim ela permaneceu por dois dias, dividida entre
trabalho, alimentação de seis em seis horas e recolhimento à
noite.
159
160

Barot se aproxima de Davi e percebe que aquela máquina


não passava de um humano ousado e egocêntrico. No entanto,
em seu interior, reconhece seu potencial. O segundo na
hierarquia da cidade dimensional Grey, ele sempre alertara
Hini sobre John, que nunca lhe deu ouvidos, se mostrava
sempre confiante com relação à ele.
— Então esse é você? Um humano inútil? — diz Barot
— Esse seu couro não vai aguentar minha esfera enérgica. O
que devo fazer? — ele fala lenta, gentil e ironicamente.
Barot percebe que a situação está controlada e apenas
resolve brincar com sua presa.
— Quebrar osso por osso, para que você me diga onde
está John? — Ele coloca as garras de seu canhão no rosto de
Davi — Ou devo enfiar minhas garras no seu peito, ou melhor,
descarregar meu canhão na sua cabeça. Quem sabe, eletrocutá-
lo até que eu possa ouvir essa voz imunda clamando por
socorro?
Davi sua frio, respirando rapidamente e gemendo de
medo, pois o iQuant não está protegendo seu corpo, apenas
seus órgãos internos, assim como dissera John anteriormente.
Então o jovem fecha seus olhos. Um filme passa pela sua
cabeça, de toda sua trajetória de vida, cada conquista na
corporação. Tudo isso, para simplesmente acabar ali, na frente
de um alienígena, inerte e inútil. Quando de repente, seu
devaneio lhe proporciona percorrer por cada veia de seu corpo,
ele começa a controlar sua respiração, ignorando o inimigo.
Davi já não ouve mais sua voz e, aos poucos, começa a se
acalmar a um ponto que não sente mais a presença de Barot.
Segundos depois, Davi busca iQuant em todos os seus órgãos
vitais e ele lentamente volta a circular em seu corpo
novamente, o jovem consegue controlar sua armadura,
movimentando-a para onde queria, até que seu pensamento
entra em harmonia com iQuant. A íris de seus olhos começa a
girar em torno da pupila, com um pequeno brilho.
Davi e iQuant agora são apenas um. Sua armadura
começa a cobrir novamente seu corpo. Ao perceber, Barot
161

lança um potente soco em linha reta em direção ao seu rosto. O


jovem por sua vez calcula sua intenção de ataque e sua
armadura corre até suas mãos, que impedem o golpe
segurando-o, em seguida rola para trás e dá um salto, ficando
ainda mais longe de seu oponente. A armadura recobre
totalmente seu corpo.
— Você queria que eu me apresentasse? — Barot olha
fixamente para ele. — Meu nome... — Ele dá uma pausa, a luz
de seus olhos muda de verde para vermelho. — É iQuant!
Barot pula em direção ao jovem armando um novo e
potente soco com suas garras. iQuant segura o canhão de seu
adversário, enviando o máximo de força para suas mãos e
então o empurra violentamente contra a parede, em seguida
parte para cima de seu oponente desferindo dezenas de golpes,
então agarra as garras de seu canhão lançando-o para o
corredor fazendo-o rolar, as faíscas do atrito entregam a
violência do golpe.
O jovem rola em direção à sua arma e a pega novamente.
A esfera de energia da unidade desfere tiros em sua direção,
que desaparece, confundindo-a fazendo com que atire para
todos os lados e em seguida é engolida por uma fenda.
Davi reaparece novamente. Seu oponente se levanta e
começa a desferir tiros em sua direção, que, por sua vez,
começa a desaparecer e aparecer rapidamente, chegando cada
vez mais perto, deixando-o embaralhado sem saber para onde
atirar.
Logo começam a surgir centenas tiros de Raio-Z de todas
as direções o acertando em cheio e causando um enorme
nevoeiro. iQuant, então, para de atacar e espera a densidade do
nevoeiro diminuir. Então vê a unidade caída no chão, com sua
armadura trincada, ainda assim se levanta com dificuldade.
— O que é você? — pergunta Barot temendo um
próximo ataque.
— Eu sou sua morte! — iQuant responde friamente.
— Você não entende mesmo, não é? — retruca Barot. —
Faltam quarenta minutos para a consciência de Hinni ser
162

transferida, ele não é somente um soldado, ele detém toda a


tecnologia existente aqui e em diversos planetas, e galáxias, e
até mesmo universos. Ele é o ápice da evolução Grey. O que
você pensa que vai fazer sozinho, junto com aquele velhote?
Entregue-se a Hinni e talvez seja poupado lutando do nosso
lado.
— Você já falou demais — diz o jovem — M...muito
obrigado por informar o tempo que tenho, só assim percebo
que não tenho mais tempo a perder com você.
iQuant desfere uma sequência de tiros, destruindo
completamente a armadura de seu oponente e lançando-o no
fundo do corredor, deixando somente aquela figura fina e de
cabeça protuberante derrubada no chão. Em seguida abre uma
fenda que engole metade do seu corpo, rasgando-o pelo meio,
deixando-lhe um último suspiro de vida. Barot morre com os
olhos abertos, olhando para iQuant, que se vira, simplesmente
ignorando sua morte. Em seguida, segue em direção à torre A.
Passando novamente pelos corredores e dessa vez
derrubando as portas com violentos socos, rapidamente ele
chega à torre A e passa pelo saguão avistando algumas
unidades remanescentes, contudo segue correndo em direção à
sala ignorando suas presenças. As unidades, por sua vez, o
avistam e desferem tiros em sua direção, que são desviados por
fendas e distorções no espaço-tempo, criados pelo jovem que
voltando contra elas e as destroem.
iQuant segue em um corredor, levemente iluminado por
uma luz verde tremeluzindo, andando com seu canhão
abaixado, sem se preocupar com nada. No fim, uma porta. Seu
sensor indica que ali está seu objetivo principal, depois indica
que ali há uma unidade. iQuant segue para a porta, a atravessa
e lá está, a temida unidade A, com uma armadura super
robusta, negra com riscos luminosos em vermelho, olhos da cor
de sangue, exatamente como no simulador. A unidade o olha
de imediato.
Sem levantar seu canhão ele diz numa voz grave e
monstruosa:
163

— Estava esperando por você!


— Eu também estava ansioso para conhecê-lo — devolve
o jovem.
— Meu nome é Toro, unidade quântica A, General das
unidades na Terra.
— Unidade quântica? — pergunta Davi.
iQuant analisa seu oponente, medindo sua altura, força e
composição e confirma que a unidade realmente é quântica.
— Sim, ou você acha que é o único iQuant aqui? —
responde Toro.
A unidade estende um de seus braços e sua armadura
começa a percorrer seu corpo retraindo-se e percorrendo até
seu braço, exatamente como iQuant, transformando-se em uma
esfera que flutua em sua mão, deixando visível sua verdadeira
aparência: Um alien acinzentado com membros relativamente
finos, porém muito mais forte e alto que os demais. Em seguida
a esfera se desfaz e retorna ao seu corpo como se alguém
tivesse jogado um balde de água de sua cabeça até os pés.
— Bela apresentação — diz iQuant —, mas eu preciso
entrar nessa sala! — Ele anda em direção a seu inimigo, passo
a passo, vagarosa e cautelosamente e apontando seu canhão.
— Sem passar por mim, essa sala você não terá o prazer
de visitar. — responde sarcasticamente.
Davi faz como Toro e retrai sua armadura, para provar
que também a controla. Ela circula por seu corpo e segue para
sua mão e nela fica como uma manopla.
— Você não pode retirá-la do seu corpo, não é mesmo?
— Ele dá uma enorme, longa e medonha risada — É uma pena,
vai morrer junto com ela.
Toro retrai pequenas partes de sua armadura, que se
transforma em mini esferas girando ao seu redor.
iQuant observa e põe-se de lado, em posição de defesa,
colocando seu braço esquerdo na frente do corpo e seu canhão
apontado, apoiado sobre seu bíceps. A defesa é ativada.
— O que foi, iQuant... Ou devo dizer, Davi? — ele faz
uma pequena pausa, seguida de um breve riso, e prossegue. —
164

Está com medo de me enfrentar? — Ele estende sua mão


esquerda em direção ao jovem.
Davi sua por dentro, por saber que unido a iQuant não
terá alternativa senão lutar e lembrando-se do furioso ataque
que recebera da unidade A em sua simulação.
— Gostou de minha apresentação na sua simulação? —
O pensamento de Davi, nesse momento é interrompido por
Toro que em seguida dá uma longa risada.
— Consegue ler meu pensamento? — Assusta-se Davi.
Toro dá outra alta e longa risada.
— Apenas um cálculo da possibilidade de você estar
pensando naquela cena. Sua pergunta está errada. A certa seria:
Como você conseguiu entrar em meu simulador? — E continua
rindo, sarcasticamente. — Sabe, Davi... John acha que está
sozinho, mas está sendo vigiado, tenho acesso aos seus
computadores. Lancei um vírus quântico espião neles, que
envia as informações para mim independente de sua rede, pois
ele usa o próprio espaço tempo, e dimensões paralelas para se
locomover. Não precisa ser moderado e desmoderado. Ele
ainda terá uma surpresa dentro daquela sala, que ele diz estrar
segura.
Nesse momento, Davi sente um forte batimento em seu
coração que quase salta pela garganta, imaginando o que seus
amigos possam estar passando e, por um breve segundo, passa
em sua mente a possibilidade de eles estarem mortos.
— Bem, vamos parar de conversa e ver qual unidade
quântica é a mais forte. — Toro Estende a mão em direção à
iQuant e suas esferas disparam em alta velocidade em sua
direção. iQuant, por sua vez, desvia de todas, usando fendas no
espaço-tempo.
— Você é rápido! — admite Toro.

As esferas retornam para seu corpo. Em seguida a


unidade mira seu canhão, que brilha uma intensa luz vermelha
desferindo um poderoso tiro em formato de um vortex,
deixando rastros esféricos de energia.
165

iQuant, por sua vez, novamente cria uma fenda para


desviar, mas abruptamente o braço de Toro entra em sua
dimensão e o agarra, puxando-o para fora dela, levantando-o,
esmagando seu corpo e trazendo-o de volta para a direção do
tiro, que o atinge em cheio, lançando-o contra a parede, logo
após desabando no chão.
iQuant não parece estar muito preocupado com Toro e
desfere uma sequência de tiros na porta da sala principal. Toro,
então, pula em direção a ele e lança-lhe um golpe com o
joelho, que novamente o atira às paredes. O jovem desaparece
e reaparece novamente na porta, desferindo potentes socos
criando várias protuberâncias, então é novamente interceptado
por seu inimigo que desfere um tiro, dessa vez diferente, um
tiro negro, deixando rastros de névoas negras que atravessa seu
corpo, arrastando-o, de forma parabólica, até o alto, em seguida
mantendo-o flutuando e recebendo descargas elétricas. iQuant
fica comprometido com a descarga, falhando no corpo de Davi,
em seguida cai novamente.
— O que houve, iQuant? — pergunta a unidade — Já vai
desistir?
iQuant fica circulando o corpo do jovem, que se levanta
lentamente. Sua armadura está instável, aparecendo e
desaparecendo. Davi vacila com as pernas, mas consegue se
manter em pé. iQuant está se esforçando para voltar a se
estabilizar e, aos poucos, consegue. Toro apenas observa.
Quando consegue se estabilizar novamente, o jovem abre
uma fenda e dispara quatro de suas cinco bombas de alta
gravidade, que surgem uma de cada lado atingindo-o.
— Acertei!
As bombas explodem criando pequenos buracos negros
em volta da unidade, desestabilizando sua armadura, causando
centelhas e tentando sugá-la. Mas o tempo de sua atividade se
acaba e iQuant percebe que nada acontece, deixando uma
brecha para uma nova risada de Toro.
166

— E então, iQuant, é só isso que você tem pra mim? Eu


pensava que John fosse inteligente, mas estava errado. — Toro
desdenha da capacidade de iQuant.
Davi fica arrasado. iQuant busca uma solução para
aquele problema, então parte diretamente para cima de Toro
desferindo velozes golpes, fazendo com que ele desvie, em
seguida continua a lançar golpes cada vez mais velozes,
abrindo fendas e transportando-se para vários lados, mas Toro
desvia e defende todos.
Quando em uma dessas fendas, iQuant lança a última
bomba de alta gravidade que passa despercebida e segue
diretamente para a porta da sala central, enquanto os golpes
continuam. Segundos depois a bomba explode e traga a porta
da sala, deixando passagem livre. Toro se distrai olhando para
a porta e um dos socos desferidos por iQuant o acerta, uma
forte luz verde emana de seu punho, lançando-o contra a
parede.
— Maldito, estava tirando minha atenção. — Indigna-se
Toro.
— É isso aí, ET filho da puta, você não é tão inteligente
quanto se diz. — Davi retrai o iQuant somente de sua cabeça,
deixando mostrar seu rosto de satisfação, assopra seu punho,
ironicamente, em seguida cobre o rosto novamente.
Criando uma nova fenda no espaço, Davi se transporta
em direção à sala central, mas dentro da dimensão é
interceptado por Toro, que a invade direcionando um potente
soco que o atinge em cheio, jogando-o para fora da dimensão
pela mesma fenda, e reaparece diante do jovem.
— Você não vai impedir a transferência, Davi, desista!
— ele diz, aponta sua mão e seu canhão se remonta em seu
braço, em seguida começa a desferir vários tiros.
iQuant, por sua vez, energiza e corre em direção aos
tiros, ignorando-os, recebendo alguns. Ao chegar mais
próximo, explode a Supernova que lança a unidade
violentamente contra a parede, em seguida aciona, finalmente a
última arma.
167

— Só tenho essa alternativa, espero que dê certo.


A arma do Apocalipse os lança em outra dimensão. Os
movimentos de Toro começam a ser prejudicados e iQuant fica
muito mais rápido, lançando uma saraivada de tiros em sua
direção, que não consegue desviar, recebendo todos em cheio.
Sua armadura começa a se quebrar. Em seguida o jovem entra
em luta corporal, desferindo vários socos com a mesma energia
de antes e mostrando muita superioridade em seus golpes, o
que quebra ainda mais a armadura da unidade.
iQuant o mantem ocupado até que percebe que seus
movimentos começam a ser prejudicados pela gravidade e
entende que aquela é a hora de sair. A posição da fenda é
indicada em seu visor e ele corre em sua direção, deixando
Toro, que já está fraco, para trás, sendo lentamente tragado
pela gravidade. Então Davi consegue cruzar a fenda, caindo no
corredor e lançando um olhar para a porta da sala central,
dirigindo-se para ela, e quando a cruza, percebe a perfeita
semelhança entre a sala real e a imagem 3D que iQuant
produzira para ele.
Deparando-se com o computador central, ele anda para o
outro lado da sala, e lá vê cinco aliens encápsulados.
— Qual deles é o tal Hinni? Também, não importa, vou
foder com todos esses filhos da puta. — Novamente ele olha
para o computador, então olha para seu topo e lá consegue ver
a Mudokran, Uma pedra semelhante a um cristal, negra e
levemente roxa em suas bordas, presa dentro de uma cápsula.
Quando se prepara para resgatá-la, uma grande distorção
aparece no espaço criando centelhas em meio a névoas, então
uma fenda aparece seguida de um potente tiro que acerta Davi
em cheio, lançando-o no fundo da sala.
— M... Mas que porra é essa?
Toro reaparece deixando o jovem perplexo e sem mais
alternativas.
— Desista, eu já disse! — grita a unidade — A
transferência está quase concluída, ainda há tempo de você
desistir e ser poupado por Hinni — sugere a Unidade.
168

— Dispenso seus conselhos — ele diz, já se levantando,


então ergue seu canhão para o computador que está entre ele e
Toro.
— Mesmo que destrua o computador, você não tem
capacidade de impedir a escravização de sua raça, sozinho.
Davi, não seja ingênuo! — insiste a unidade — Você acha
mesmo que pode acabar sozinho com uma raça que domina
vários planetas de várias galáxias e de outros universos? — Ele
começa a rodear a sala em torno do computador e Davi se
move junto apenas ouvindo. — Eu realmente subestimei você,
mas, insisto, está do lado errado, sua raça será extinta, não
importa o que faça, todos se tornarão escravos zumbis, porém
você pode mudar o rumo de sua vida lutando junto a nós!
Intempestivamente o iQuant começa a se retrair e circular
pelo corpo de Davi sentindo a presença da Mudokran. Então se
desconecta de seu corpo transformando-se em dezenas de
esferas que pairam em sua frente, deixando todo o corpo de
Davi visível. Nesse momento, toro transporta-se para a frente
de Davi, pondo-se entre ele e o computador.
— Não tenho mais tempo, Toro, saia da minha frente! —
ordena o rapaz com um olhar diabolicamente avermelhado.
— O que é isso? Esse humano tem uma capacidade
incrível evoluir sua força, isso não pode ser normal... O que
John fez com ele? — impressiona-se Toro dizendo para si
próprio. — Quem é esse John? Esse iQuant não é uma
armadura normal como a minha, ela parece estar viva. Que tipo
de tecnologia é essa que nem nós possuímos?
Nesse momento as esferas o atacam em uma velocidade
tão alta que a unidade quase não consegue perceber e desvia
dos ataques pulando para trás, com muita dificuldade, porém
algumas o atingem.
Davi percebe a intensão de iQuant que continua a atacar
Toro de forma independente, afastando-o, e segue para o
computador central, subindo em sua mesa e em seguida
desconectando a Mudokran da cápsula.
169

Um tiro é desferido por Toro em direção a ele, fazendo


com que desequilibre e caia de cima do computador, mas com
a pedra em sua mão. Então se levanta, corre novamente para o
fundo da sala.
iQuant reúne-se em apenas uma esfera e retorna para seu
hospedeiro, que estende sua mão, deixando-o entrar
novamente, e cobrir seu corpo. Toro, então, começa a desferir
tiros em direção a ele, mas iQuant os bloqueia facilmente sem
ao menos se mover, apenas com campos de força.
Assim que toma totalmente seu corpo, a armadura segue
para a outra mão de Davi e toma a Mudokran, que se retrai
para seu corpo, e, gradativamente, de sua mão passa para o
resto do corpo, mudando da armadura, que fica completamente
negra com riscos roxos, muito mais reluzentes e robusta que
antes. Sua arma também fica muito mais robusta, reluzente e se
acopla em seu braço. Em seguida o jovem desfere um tiro
negro, envolto por uma névoa roxa, em formato de um vortex
em direção a seu oponente, que desvia, jogando-se para o lado
e rolando. O tiro, então, se curva e segue novamente em sua
direção. A unidade se transporta abrindo uma fenda, entretanto
o tiro adentra a dimensão e gera um tipo de explosão,
lançando-o para o lado de fora com o resto de sua armadura
aos pedaços. Ele se levanta, ainda com mais dificuldade e
observa os destroços de sua armadura no chão.
— O que é isso?! — ele exclama quando avista um novo
tiro em sua direção. Desviando novamente, correndo em torno
da sala, usando o resto de energia que lhe resta.
— E agora Toro? Sou páreo para você? — pergunta
Davi, estendendo sua mão esquerda, gerando várias esferas da
mesma cor do tiro, que começam a orbitar seu corpo.
Toro se descuida e o tiro que o perseguia o acerta,
lançando-o contra o computador central, provocando uma
rachadura no vidro da cápsula. As esferas são disparadas em
sua direção, explodindo em seu corpo fixando-o, por alguns
segundos, na cápsula, em seguida caindo. Mais esferas são
disparadas, mas dessa vez nas cápsulas dos irmãos e no
170

computador central. Toro, nesse momento, começa a brilhar,


ainda caído ao solo, atraindo iQuant que, sem resistir à
gravidade, é fortemente arrancado do chão sendo lançado em
sua direção. Em seguida se chocam e um tipo de laser é
lançado de cima da cápsula de Hinni, abrindo uma fenda no
espaço e tragando os dois para outra dimensão. Toro então
explode uma energia devastadora, que lança iQuant a metros
de distância, destruindo algumas partes da proteção e o
deixando inconsciente, retraindo-se para os órgãos vitais de seu
hospedeiro. Davi, então, volta a assumir o controle total. Toro
está com sua armadura completamente destruída, sem
funcionamento, mas se levanta novamente.
— Agora somos apenas você e eu — diz o alien. — Sem
iQuant e sem unidade A.
— Não tenho tempo para essa palhaçada — diz o jovem
enquanto parte para a luta corporal.
Toro se defende do ataque e o contra-ataca, afastando-o
em seguida, distanciando-se. Sem poder usar canhões ou
equipamentos, ele os retira, e Davi faz o mesmo com sua
proteção.
A luta é retomada e fica equilibrada, entre golpes e
defesas. Enquanto isso, o tempo se passa e a transferência está
para ser concluída.
Davi intensifica os ataques, que já não são
acompanhados por Toro, que começa a deixar passar alguns
golpes. O alien percebe que sua energia não é mais a mesma,
principalmente por estar sem sua armadura em uma atmosfera
hostil, então começa a ser golpeado violentamente. Não
suportando o ataque, ele desaba no chão. Davi se aproxima e
desfere golpes violentos em seu rosto, causando sangramentos
intensos, alguns instantes depois ele percebe o corpo de Toro
flácido.
— Está desmaiado, essa é minha chance. — Ele corre em
direção às proteções de sua armadura. — Vamos, iQuant, essa
é a hora! Leve-me de volta!
171

A Mudokran ressurge em meio ao peitoral da proteção e


começa a brilhar intensamente, transferindo informações para
iQuant, que abre uma fenda no espaço, lançando-os
violentamente de volta para a sala principal, onde Davi cai
desacordado. Em seguida a pedra dispara raios negros, roxos e
verdes por toda a sala destruindo o computador central que
imediatamente causa uma enorme explosão, destruindo toda a
sala principal e, consequentemente, todo o sétimo andar.
172
173

John, Richard e Diana apressam-se no término do portal,


em que faltam apenas alguns ajustes, quando um pequeno
“bip” soa. O doutor olha seu dispositivo e analisa imagens dos
setores e da sala principal, observando por alguns minutos que
iQuant ficou desativado, em seguida desaparecendo. Ao
observar as salas percebe que o computador central está
desligado e a conexão com Hinni e seus irmãos, estava,
também desativada. John corre em direção à sala de
computadores, despertando espanto em Richard e Diana, em
seguida volta sua sala para a dimensão natural e tenta conexão
com iQuant, mas nada acontece. Ele olha com olhar de
desespero para Richard e Diana, de sua testa escorre suor como
uma cachoeira.
— O que aconteceu? — perguntam, estarrecidos, Diana e
Richard em uníssono.
— É o Davi... — Ele olha novamente para seu
dispositivo, então olha para eles com os olhos arregalados, em
seguida para a maca onde está o alien, põe a mão em sua barba
e a alisa. — iQuant não responde, simplesmente sumiu.
— E o que isso significa? — pergunta Diana, já com os
olhos brilhando prometendo um choro.
— Fala alguma coisa doutor, porra! — grita Richard,
dando um susto em John e o despertando.
— Se ele sumiu! Isso só significa uma coisa.
— Está morto? — pergunta Richard levantando-se de sua
cadeira.
— Nãaaao... — Diana desaba em choro e coloca a mão
na boca, em seguida leva a outra mão ao rosto e as suspende
até o cabelo, apoiando os cotovelos na mesa. — Não pode ser.
— Pessoal, eu sei que esse momento é duro — diz John
secamente. —, mas precisamos sair daqui, com a morte de
Hinni, essa dimensão vai fechar, deixando-nos aqui para
sempre, presos. Preciso da ajuda de vocês.
Nesse momento, algo estranho acontece na sala. Uma
pequena bola de energia surge do simulador de John
iluminando aquele enorme portal, no formato da letra U com
174

uma base, todos cor branca, com detalhes em azul turquesa.


Todos olham para trás e a veem, assustados.
— O que é isso, John? — pergunta Richard.
— Não... Faço a mínima... ideia! — ele responde
boquiaberto. Diana se esconde atrás do portal.
Todos permanecem inertes observando aquela esfera
luminosa do tamanho de uma bola de golfe que, em seguida, se
divide em quatro menores esferas. De repente todas elas
seguem para quatro das unidades enfileiradas na sala, que
foram criadas pelo doutor. As unidades então ganham vida.
John saca a esfera de seu bolso e a lança para Richard.
— Use, Richard! O iForte te dará força de uma unidade
C+.
Diana corre, histérica, para o fundo da sala, onde há
algumas cápsulas parecidas com a do iQuant, e se encolhe.
— Diana!! — grita John. Ela o olha desesperada,
enquanto uma das unidades corre em sua direção. — Acione
esse Botão de emergência, rápido! — Outra unidade avança
sobre John, a outra para Richard e a quarta segue para o portal.
Diana avista o botão de cor verde e o aperta,
instantaneamente a cápsula libera uma energia que a atinge e a
traga para dentro, no momento em que a unidade desfere um
forte golpe com uma espécie de garra, que acerta a cápsula,
porém não causa-lhe nenhum arranhão. Em seguida surgem
anilhas de dentro da cápsula que prendem todo o corpo da
jovem, um pulso eletromagnético atinge seu cérebro deixando-
a desacordada.
Assim que o iForte toma o corpo de Richard, ele recebe
um golpe que o lança próximo ao portal, então olha para o lado
e avista John desprotegido e prestes a ser decapitado O jovem
desfere um tiro que pega a unidade de surpresa, lançando-a
contra as cápsulas com corpos inanimados humanos, dando
tempo para John seguir para um de seus robôs.
O doutor entra em um deles e desfere uma descarga
magnética no formato de um raio atingindo a unidade que
tentava destruir o portal, atraindo-a para si, como se fosse uma
175

corrente. Em seguida lançando-a para o alto. Enquanto isso,


Richard está em luta corporal contra seu inimigo.
A unidade que atacara John se levanta novamente e
desfere tiros em direção ao rapaz pegando-o também de
surpresa e lançando-o longe. Em seguida os dois partem para
cima do doutor desferindo tiros que impedem seu movimento.
As outras duas unidades ajudam, desferindo saraivadas de
tiros, quando os canhões do robô de John começam a se
iluminar e girar. Dois potentes tiros luminosos, branco e suas
bordas ligeiramente avermelhadas acertam dois deles,
lançando-os contra a parede, quebrando parte dos membros e
as inutilizando. Enquanto Richard acerta outra das unidades
que estavam de costas com tiros azulados energizados, o
doutor aproveita e lança sua corrente magnética, novamente
prendendo uma das unidades e atraindo-a para si novamente,
encravando uma garra, que ele forjara de seu canhão, no
abdômen da unidade, que agoniza em meio às centelhas, em
seguida indo ao chão. Resta apenas uma, que se levanta, mas é
abatida por Richard, que desfere uma intensa sequência de
tiros.
As quatro esferas de energia saem das unidades e,
novamente, pairam pela sala.
— Isso não vai ter fim? — grita Richard.
John lança potentes tiros usando todos os recursos de seu
robô, destruindo as unidades de exposição que estão na sala.
Richard entende a ideia e o ajuda lançando sequências de tiros.
As esferas continuam pairando por alguns instantes até que se
unem novamente. Richard e John observam atentamente,
aguardando um possível ataque, mas nada acontece. Segundos
depois a energia diminui a intensidade, ficando cada vez
menor, até que desaparece em meio a uma centelha.
John se descontrai e Richard faz o mesmo, finalmente
conseguindo soltar o ar, um olhando para o outro assustados.
— O que foi isso, doutor? — pergunta Richard.
176

John sai de dentro de seu robô e Richard ganha confiança


para retrair o iForte, e o entrega novamente a john, e seguem
para próximo do portal.

— Não sei bem, Richard... Mas pelo que percebi, isso


está me parecendo um vírus quântico, alguém o implantou
aqui, não sei como, mas sei com que finalidade. O que
acontece é que esses vírus são voláteis, precisam de um corpo
para se manter ligados, do contrário desaparecem, e, como nós
destruímos as unidades que haviam aqui, ele não teve mais pra
onde correr.
— Depois dessa, eu já nem sei mais onde paramos —
observa Richard.
— Bom, felizmente o portal não foi danificado, isso é o
que importa, só precisamos, agora, transportar algo.
— E como saberemos que estará na dimensão normal?
— pergunta.
— Câmera!
— Aí sim. Mas mudando de assunto... E a Diana? —
Richard não consegue parar de pensar na moça.
— Não precisamos dela agora, já está tudo pronto, assim
que estivermos para sair eu a retiro da cápsula, é bom que ela
descansa e nos poupa de histeria. — John sorri.
— Mas John, é o Davi, não é histeria... Eu também estou
sentindo... Ele pode ter morrido.
— Richard, ouça! — John desvia sua atenção do portal
para seu amigo. — Mesmo que ele tenha morrido, você não vai
querer sair daqui?
— Sim, mas...
— Então, deixemos para nos questionar sobre o que
houve com Davi do lado de fora.
— Mas se ele estiver desacordado, a gente vai deixá-lo
aqui? — retruca.
— Vou deixar uma coisa bem clara para você, meu caro!
iQuant é um ser vivo e eu tenho controle sobre sua vida. Se ele
morrer, me avisa deixando de enviar sinal, e infelizmente eu
177

não tenho sinal dele. Então de duas, uma: Ou ele está morto ou
já está na dimensão natural, pois é a única dimensão que eu não
dei suporte à frequência dos sinais. Quando estivermos do lado
de fora, saberemos se ele realmente está morto. Se estivesse
inconsciente, iQuant continuaria enviando informação,
entendeu, agora?
— Sim... Ok... Mas não impeça Diana de sentir, e nem a
mim! — exclama Richard estendendo o assunto. — Você só
quer conseguir seus objetivos, não importa quantas pessoas
morram por isso!
— Richard, eu perdi a Mudokran, está bom para você?
— O que é essa tal Mudokran?
— É um minério que não é encontrado na Terra e é raro
no espaço, ela só existe no universo natural dos greys, eu nunca
terei a sorte de encontrar outra, e se eu não achá-la, nós
morreremos de qualquer forma do lado de fora, pois como eu
disse antes, essa pedra tem a capacidade de conduzir qualquer
tipo de energia, inclusive gerar energia limpa e infinita, fundir
partículas sem a utilização do enorme LHC. Com ela eu
poderia gerar um átomo e adicionar elétrons com facilidade,
podendo criar qualquer tipo de elemento, inclusive os que
vocês não conhecem — ele acrescenta. — Ela tem capacidade
de transformar máquinas em seres vivos e é dela que iQuant é
feito. Somente com ela eu poderia criar o exército que
combateria o exército gray que provavelmente virá por conta
do que aconteceu aqui. Consegue compreender? Agora preciso
continuar.
Ao mesmo tempo em que Richard entende o doutor, não
consegue aceitar tanta frieza, muito embora ele saiba o tempo
em que John vivera na cidade dimensional e a falta de
comunicação direta com seres humanos provavelmente
proporcionou essa situação. Mas sua cabeça só consegue
pensar na morte de seu amigo. No entanto, não tem o que fazer,
não poderia sair sozinho a procura dele. “é melhor ouvir John...
Pelo menos a Diana está viva... Eu não acredito que estou
dizendo isso.”
178

O doutor se movimenta de forma brusca, despertando


Richard, pega um pequeno drone redondo, liga o portal que
imediatamente emite fortes centelhas, até gerar um forte pulso
eletromagnético. Após isso o espaço-tempo começa a se
contorcer e abrir uma grande fenda, deixando transparecer a
dimensão natural. Eles observam a mesma estação de trem,
porém, tomada de pessoas circulando.
John põe o drone sobre a base do portal e dá alguns
comandos, segundos depois o objeto é o sugado para dentro,
desaparecendo e encerrando a atividade. O doutor segue para
um monitor e Richard o acompanha. A tela exibe a imagem do
mundo exterior durante os cinco segundos de conexão entre a
dimensão natural e a cidade dimensional.
— Perfeito! Não danificou o drone, saiu como eu
imaginava — diz John apressando-se.
— Como vai fazer pra transportar tudo isso?
— Não se preocupe, essa sala toda está ligada a esse
portal, quando sairmos daqui, ela se compactará, usando
dimensões alternativas, pois na verdade, estamos dentro de um
pequeno container, de forma compactada. Deixaremos agora a
sala, precisamos abrir alguns portais para enviar aquele povo
para o lado de fora.
John se dirige ao fundo da sala, onde está a cápsula com
Diana, e aciona o mesmo botão que antes ela acionara. A
jovem recebe uma descarga e acorda, lenta e com dificuldade
para entender o que estava acontecendo. Quando consegue
recobrar a consciência e percebe estar dentro de uma cápsula
presa por braçadeiras mecânica, e entra em desespero. Percebe
Richard e John do lado de fora e milhares de pensamentos a
metralham, quando John aponta o dedo na frente da boca
sinalizando silêncio, e abre a cápsula ao tocar novamente o
botão. As braçadeira a soltam, uma por uma, e a garota desce
da cápsula, ofegante.
— O que houve. — ela fala em meio a tosses. — Pensei
que fossem fazer algo comigo... O que aconteceu?
— Não se lembra, Diana? — pergunta Richard.
179

— Não — ela responde.


— Fomos atacados por um vírus quântico que roubou
nossas unidades, eu a prendi nessa cápsula, pois aí eu sabia que
estaria segura — explica o doutor.
A bela jovem olha em torno da sala e avistando grande
parte destruída, então olha para o portal e percebe estar
trabalhando.
— O portal está pronto? — ela pergunta
— Sim, terminamos e testamos — responde John. —
Agora precisamos abrir os portais do lado de fora para retirar
todos daqui e preciso de sua ajuda.
— Então vamos — diz Diana. — Eu não aguento mais
ficar aqui nesse lugar... Espera ai...! — John olha para Richard
que devolve o olhar. — Onde está Davi?
— Ih, fodeu, lá vem histeria de novo! — Richard ironiza.
— Diana, eu já havia lhe falado que o sinal de iQuant
não está mais enviando informação, não sabemos o que
aconteceu com ele — explica John.
— Não saio daqui sem ele, vamos procurá-lo! — Diana
insiste.
— Não podemos — diz Richard atropelando a tentativa
de John falar. — Essa cidade dimensional vai se fechar,
ficaremos todos aqui. John me disse que há uma possibilidade
de Davi estar do lado de fora e é nisso que eu acreditei, você
precisa acreditar também.
Lágrimas percorrem o rosto da jovem. Richard e John
não entendem esse sentimento repentino, na verdade nem
mesmo ela entende. Ela se vê diante de um agoniante
sentimento de reencontro e perda, algo que já sentira, e algo
que retirou um pouco seu sentido de viver, e agora o sintoma
está ainda pior.
— Vamos, agora! — chama John andando em direção à
porta.
— Mas... e o E.T? — pergunta Richard.
— Ah, já ia me esquecendo. — John retorna.
180

O doutor corre em direção ao Alien, então abre seu


compartimento de medicamentos e retira uma ampola, pega
uma seringa e aplica o medicamento.
— Pra que serve isso, John? — pergunta Diana.
— Para ele acordar. A essa hora sua ferida já está
cicatrizada, ficarão somente os hematomas, já poderá andar
normal, sentirá apenas um pouco de dor. Até o fim do dia
estará perfeito.
Logo o Alien acorda e olha para todos que estão à sua
volta. John o ajuda a se levantar.
— Segura isso aqui, não perca por nada. Ele entrega uma
esfera parecida com seu dispositivo que recebe informações do
iQuant.
— O que é isso? — pergunta o Alien.
— É um transportador. Assim que todos tiverem saído
daqui, acione-o e esconda-se, não deixe de forma alguma as
pessoas do exterior o encontrarem e espere meu contato, eu o
encontrarei.
— Sim, John... Muito obrigado pelo que fez por mim,
agora não poderei voltar ao meu planeta — agradece o alien
— Não se preocupe — diz John — Estou enviando tudo
o que está aqui para o fundo do mar, retornarei minhas
experiências, mas agora em nossa dimensão de origem. E farei
a transferência da sua consciência para um dos corpos
inanimados que possuo.
— Não estamos entendendo nada que vocês estão
falando, dá para traduzir doutor?
John explica a Diana e Richard sobre a conversa.
— Mas está tudo destruído, John! — afirma Richard.
— Como eu havia dito, essa sala possui vários
compartimentos em dimensões alternativas. Isso que eu tinha
aqui, era apenas algumas amostras para uso local, tenho outras
dezenas de unidades, robôs e corpos inanimados.
— Hum... Entendi — responde Richard.
— Qual seu nome? — pergunta John ao alien.
181

— S-Aid, ou Sabahoo, embora eu não seja mais um


soldado de Hinni, portanto, Sabahoo — informa.
John envia alguns comandos que criam dezenas de
fendas no espaço-tempo, por toda a extensão da estação, em
seguida dirige-se para a porta novamente.
— Venham, os escravos com certeza já acordaram, pois
seus chips estão anulados com a sala principal destruída.
Preciso impedir um pânico generalizado — diz John.
— E como pretende fazer isso? — pergunta Richard.
— Reativarei seus chips e vocês me ajudarão a
encaminhá-los para as fendas que criei.
John olha para Diana, que novamente está em prantos,
segura firmemente em seu braço e diz:
— Diana! Preciso que você reaja! — Ele a sacode. —
Preciso que me ajude nessa missão de retirar aquela gente
daqui. — Ele olha firmemente em seus olhos, percorrendo todo
o seu rosto. — Compreende?
Ela passa suas mãos pelo rosto, limpando as lágrimas e
maneia rapidamente a cabeça com sinal positivo. John lança
mais comandos em seu computador e diz:
— Já reativei seus chips e enviei comando para que eles
cruzem a fenda. Assim que essa dimensão desaparecer, seus
chips perderão o contato e eles voltarão ao normal. Abri fendas
aleatórias, pois eles não podem aparecer em massa para não
chamar muita atenção das autoridades. Como esses chips são
de nano tecnologia quântica, nunca serão descobertos por
nenhum médico ou cientista. Richard, essa esfera é sua,
precisaremos dela lá fora, toma. — Ele a entrega, Richard a
pega e assente.
— Nós iremos para a fenda principal, para que possamos
fechá-la. Se a deixarmos aberta, assim que essa dimensão
fechar, pode haver um paradoxo e algo nada agradável pode
acontecer.
Eles deixam a sala para partir em direção à fenda quando
John percebe que uma das torres já não existe mais. Sua
182

esperança na sobrevivência de Davi acabara naquele momento,


e também sua esperança de adquirir a pedra quântica.
Ele olha para todo aquele cenário de guerra, tudo
destruído e em chamas e começa a pensar que algumas horas
antes era apenas um robô vivo trabalhando para alienígenas e
uma de suas naves está ali os esperando. Todos tomam a nave
em seguida partem em direção à fenda.
Alguns segundos depois, chegando, eles avistam os
escravos adentrando às fendas e desaparecendo. Sua nave fica
pairando diante da fenda principal, eles desembarcam e param
diante daquele fenômeno. O espaço-tempo começa a se
contorcer lentamente e a fenda principal se abre. Os últimos
prisioneiros passam. O alien aciona o dispositivo que John
entregara a ele e uma fenda é criada, tragando-o para o lado de
fora.
— Quem vai primeiro? — pergunta Richard.
— Primeiro Diana, quero ter certeza que ela estará a
salvo — ordena John.
Diana assente e, sem pensar, encaminha-se para a fenda.
Então a olha bem de perto, analisando toda aquela “loucura”
pela última vez. Ela posiciona sua mão na matéria destorcida
da fenda e recebe um leve choque. Com curiosidade ela
atravessa apenas sua mão, olha para trás, dando-lhes um breve
adeus. John assente para que ela vá, e, assim, Diana adentra a
fenda, desaparecendo por completo. Em seguida, Richard
andou sem que John o pronunciasse. Mesmo estando
completamente estarrecido, ele adentrou o portal sem
cerimônia. John, por sua vez, se afasta da fenda, olhando o que
sobrou das torres, não sabia se sentiria saudade ou alívio, ao
mesmo tempo medo do que estaria para vir, e torcendo para
que realmente sua suspeita esteja certa.
— Davi precisa estar na dimensão natural e com a
Mudokran. Senão... — Ele olha para aquele céu soturno, faz
uma pausa por vários segundos. — Estaremos todos perdidos.
183
184

Enquanto a torre explodia, o resíduo da transferência


neural foi concluído apenas na cápsula do novo corpo, agora
humano, de Hinni. A cápsula se quebrou deixando-o cair no
chão e inconsciente. Segundos depois uma esfera pairou sobre
ele, em seguida se juntou ao seu corpo e o retraiu para dentro
de si formando novamente uma esfera, depois se retirou em
meio às explosões.
Nesse momento, iQuant conseguiu se recuperar com o
poder da Mudokran e cobriu novamente o corpo de Davi que
estava inconsciente, formando uma esfera negra, com sua
borda levemente roxa e deixou a torre segundos antes dela
desabar, levitando em alta velocidade, disparando um raio que
abriu uma fenda no espaço permitindo sua travessia, levando-o
para sua dimensão normal.
John partiu da cidade dimensional sem saber ao certo se
sua criação está viva ou morta, se a Mudokran está em perfeito
estado e se a encontrará algum dia, mas de uma coisa ele tem
certeza: A batalha está apenas começando.
185

- Considerações finais -
Gostaria de agradecer algumas pessoas que se fizeram
importantes para mim nesses últimos instantes de
desenvolvimento dessa obra, mesmo que indiretamente.
Agradecimento especial à Amanda Luna de Carvel,
David Pierre e Vilmar Freitas do Nascimento por serem meus
“betas”, dando ideias, corrigindo, e orientando a como
prosseguir, Francélia Pereira por me dar ótimos contatos para a
conclusão dessa obra, Rita Flores, que era simplesmente a
revisora dessa obra, mas que acabou se tornando uma ótima
amiga, Helen Pezutto, por sempre dizer palavras que confortam
as pessoas, e acaba levando-as a acreditar no próprio potencial.
Gostaria de pedir a todos que não levem em
consideração algumas falhas na física, pois sou amador na área,
além de marinheiro de primeira viagem.
186

Biografia:

Morador do rio de janeiro, Carioca da gema, como


dizem por aí, eu sempre fui uma criança com sonhos e
imaginações um tanto quanto diferente das demais. Nas minhas
mãos sempre estiveram presentes os lápis de cor, mas não para
pintar um desenho dado pela "tia" da escola, mas sim para criar
meus próprios desenhos e pintá-los de forma criativa e
coerente, o que era difícil de acontecer com uma criança de
oito a dez anos.
Minha juventude foi tomada por desejos de criar
personagens, escrever histórias e criar quadrinhos, além de
desenvolver aptidão para música, quando comecei a tocar
violão clássico, o que complementou ainda mais meu lado
artístico.
Sempre fui um rapaz que olhava para o alto, ou seja,
para o céu. Sempre admirei as estrelas e a história por de trás
delas, assim como toda a história do universo. Todos sempre
disseram que eu vivia no mundo da lua, e de certa forma, eles
estavam certos. Eu vivia de fato, não só no mundo da lua, mas
no mundo do universo. Sempre admirei constelações, galáxias,
astronomia de um modo geral.
Seguida desse amor pela astronomia, veio o amor pela
astrofísica. Sempre gostei de ler artigos que explicam a
mecânica do universo e sempre fui fascinado por isso. E todos
os dias à noite eu me pego olhando para o céu, as mesmas
estrelas, mas que parecem estar cada dia mais belas.
Mesmo amando tudo isso, nunca tive a intenção de ser
profissional na área, apenas leio por amor.

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