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Universidade
Estadual
de
Campinas
Instituto
de
Artes
“ASSOCIACIONISMO
SEGUNDO
A
FILOSOFIA
PERENE”
Fruto
do
Projeto
de
Pesquisa
“Estudos
em
Sound
and
Symbol
de
V.
Zuckerkandl.”
Felipe
Fayad
Lesage
RA:
070804
Curso:
Composição
ORIENTAÇÃO:
Prof.
Dr.
Silvio
Ferraz
Cidade
Universitária
“Zeferino
Vaz”
Campinas
–
SP
Novembro,
2012
PROJETO
FINAL
DE
GRADUAÇÃO
–
MU999
SUMÁRIO
1
Agradecimentos
......................................................................................................................
3
2
Introdução
..............................................................................................................................
4
3
Objetivos
.................................................................................................................................
6
4
Justificativa
.............................................................................................................................
7
5
Metodologia
...........................................................................................................................
8
6
Discussão
................................................................................................................................
9
7
Conclusão
..............................................................................................................................
19
8
Referências
...........................................................................................................................
21
Agradeço
a
meu
professor
Silvio
Ferraz,
por
quem
desviei
meu
caminho
de
estudos
de
São
Paulo
a
Campinas.
Por
essa
mudança
de
cursos
é
que
tenho
para
contar
o
que
consta
nas
páginas
a
seguir.
Sou
enormemente
grato
ao
prof.
Roberto
Mallet,
que
me
colocou
em
contato,
entre
tantas
outras
coisas,
com
a
obra
de
Viktor
Zuckerkandl.
Agradeço
por
consequência
ao
prof.
Olavo
de
Carvalho,
cuja
coragem
e
sabedoria
é
responsável
por
eu
estar
começando
a
aprender
a
falar.
Meu
amigo
e
professor
Douglas
Novais
também
é
responsável
por
isso,
sou
grato
a
ele
também.
Dedico
este
trabalho
a
minha
família,
que
participou
de
minha
graduação
com
o
suporte
de
seu
amor
e
apoio
material.
Também
dedico-‐o
a
você,
leitor.
Espero
que
o
tempo
por
você
empregado
nessa
leitura
possa
lhe
aportar
bons
frutos.
Este
é
um
projeto
final
de
graduação.
Seu
caráter
conclusivo
me
fez
supor,
desde
o
início
de
sua
elaboração,
que
ele
deveria
conter
em
síntese
aquilo
que
de
mais
significativo
eu
possa
haver
aprendido
durante
minha
graduação
em
música,
e
que,
por
uma
exigência
que
em
nada
me
desagrada,
não
deveria
elaborar-‐se
em
forma
musical,
mas
enquanto
discurso.
Ao
dizer
que
o
discurso
me
agrada,
já
exponho
a
você,
leitor
deste
trabalho,
uma
característica
que
me
acompanha
desde
muito
antes
de
eu
me
matricular
no
Instituto
de
Artes
e
que
não
quis
me
largar,
passados
esses
seis
anos:
tenho
um
prazer
(e
quiçá
uma
vocação)
pela
fala,
pela
conversa,
a
escuta.
Assumo
ser
preguiçoso
para
ler
(vício
que
hei
de
vencer!),
mas
o
aprendizado
oral,
por
via
do
mestre
que
enuncia,
do
amigo
que
confessa,
para
isso
eu
tenho
uma
paciência
e
um
gosto.
Esse
prazer
é
sempre
um
fator
de
tensão
com
aquilo
a
que
me
dedico
profissionalmente:
a
música.
São
dois
elementos
que
eu
raramente
equilibro
em
bons
termos,
pois
não
sei
falar
de
música,
nem
muito
menos
tento
tocar
discursos,
ou
ideologias.
Dado
o
desafio
de
elaborar,
entretanto,
um
trabalho
de
20
páginas
em
que
fosse
tratada
a
música
en
vedette,
não
padeci
das
dores
dessa
tensão
pungente,
senão
que
de
uma
certa
motivação.
Explico:
foi
há
dois
anos
atrás
que
o
professor
Roberto
Mallet
(depto.
de
Artes
Cênicas
–
IA)
me
indicara
o
livro
“Sound
and
Symbol”,
de
Viktor
Zuckerkandl,
que
trata,
como
o
próprio
autor
define,
da
“música
e
o
mundo
exterior”.
O
que
descobri
ali,
entre
tantas
outras
coisas
ainda
por
encontrar,
foi
um
minucioso
cruzamento
das
noções
atuais
que
se
têm
a
respeito
da
música
–
pode-‐se
dizer
o
senso
comum
-‐
com
a
filosofia
dita
“perene”
–
ou
seja,
Como
acima
confesso,
sou
um
mau
leitor.
A
leitura
de
Sound
and
Symbol,
traduzido
do
alemão
para
um
inglês
além
do
meu
entendimento,
me
tomou
um
ano
e
Tendo
o
presente
trabalho
sido
iniciado
no
primeiro
semestre
de
2011,
quase
todas
suas
etapas
consistiram
da
tentiva
de
melhor
compreender
a
obra.
Não
só
os
impedimentos
linguísticos,
mas
também
filosóficos
e
conceituais
foram
barreiras
a
ser
transpostas
neste
processo
de
compreender
corretamente
a
investigação
de
Zuckerkandl.
Formaram
as
etapas
desse
estudo:
•
Leitura
das
duas
primeiras
partes
da
obra:
“Tone”
–
onde
se
encontra
o
capítulo
“Associationism”
-‐
e
“Motion”;
• Preparação para uma possível exposição oral do conteúdo aqui exposto.
“Os
sons
emitidos
pela
fala
são
símbolos
das
paixões
da
alma,
[ao
passo
que]
os
caracteres
escritos
[formando
palavras]
são
os
símbolos
dos
sons
emitidos
pela
fala.
Como
a
escrita,
também
a
fala
não
é
a
mesma
em
toda
parte
[para
todas
as
raças
humanas].
Entretanto,
as
paixões
da
alma,
elas
mesmas,
das
quais
esses
sons
falados
e
caracteres
escritos
(palavras)
são
originalmente
signos,
são
as
mesmas
em
toda
parte
[para
toda
a
humanidade],
como
o
são
também
os
objetos
dos
quais
essas
paixões
são
representações
ou
imagens.”[ARISTÓTELES]
De
maneira
análoga,
notas
dispostas
de
modo
a
fazerem
sentido
compõem
uma
melodia.
Claro
está
entretanto
que
o
sentido
de
uma
melodia
não
aponta
à
realidade
externa
como
“rato”
o
faz.
Embora
essa
questão
seja
tratada
com
minúcia
pelo
autor,
Aquilo
que
não
tem
sentido
encerra-‐se
em
si
mesmo,
tal
como
um
conjunto
de
letras
sem
significado
1
que
não
aponta
para
nada
senão
que
para
seus
próprios
sons.
Contemplemos
também
o
teor
ético
dessa
afirmação,
com
a
qual
nos
é
dado
entender,
mutatis
mutandis,
que
o
sentido
de
toda
e
qualquer
existência
é
o
tender
a
algo
externo
a
si;
um
convite
à
compreensão
da
virtude
da
caridade,
pois
“se
alguma
coisa
tem
sentido,
é
porque
o
sentido
está
fora
dessa
coisa”[AZEVEDO]
Fig
1
-‐
L.
van
Beethoven
-‐
Sinfonia
9
(mv.
4
-‐
Ode
à
Alegria)
Mi
tem
um
sentido
diferente
de
Ré,
isto
é
bem
claro,
mas
porquê?
Com
certeza
não
é
pelas
frequências
em
Hertz
das
ondas
que
as
compõem;
transponha-‐se
a
mesma
melodia
de
Ré
Maior
para
Fá
Maior,
e
as
mesmas
frequências
terão
sentidos
completamente
distintos.
Se
Mi,
grau
2
da
melodia
parece
tender
a
Ré,
grau
1,
Ré
parece
apontar
para
“nada
mais”,
tem
um
sentido
conclusivo.
O
segundo
grau
é
grafado
então
como
,
indicando
não
apenas
sua
posição
na
escala
diatônica
como
tambêm
suas
tendência
de
movimento,
e
o
primeiro
grau
é
por
sua
vez
notado
como
Temos
por
compreendido,
então,
ainda
que
de
maneira
breve
e
elíptica,
que
existem,
em
uma
melodia,
tendências
de
uma
nota
em
direção
a
outra,
uma
nota
contra
a
outra,
uma
nota
em
direção
ao
silencio
etc.
São
essas
as
qualidades
dinâmicas
das
notas.
6.2 – Interpretações:
Essa
explicação
nos
é
tão
pouco
estranha,
e
tão
congruente
com
tudo
o
mais
que
compõe
a
atual
maneira
de
ver
o
mundo
que,
a
princípio,
qualquer
exame
crítico
acerca
dela
pode
vir
a
ser
recebido
com
estranhamento
e,
ironia
das
ironias,
sofrer
a
pecha
de
“obscuro”.
É
o
momento
então
de
tratarmos
de
um
dos
componentes
da
filosofia
perene,
pois,
ainda
que
Zuckerkandl
cite
o
trabalho
de
diversos
grandes
autores
da
tradição
filosófica
em
sua
obra,
não
é
isso
o
que
o
torna
um
filósofo
inscrito
na
tradição,
senão
que
seu
estilo
de
investigação
e
lide
com
os
distintos
pontos-‐de-‐
vista.
Zuckerkandl
trata
suas
questões
filosóficas
como
Quaestio
Disputata.
Talvez
seja
a
Quaestio
Disputata
a
forma
das
mais
perfeitas
tomadas
pela
investigação
dialética,
na
qual
o
recolhimento
das
diversas
opinões
é
seguida
de
um
exame
cuidadoso
(amoroso)
e
objetivo,
ou
seja,
em
que
a
verdade
factual
deve
sobrepor-‐se
a
quaisquer
tipos
de
gosto,
preferência
ou
preconceito
do
filósofo,
com
vistas
a
uma
síntese
que
traga
em
si
um
conhecimento
de
maior
credibilidade.
Mesmo
o
tema
de
tais
questionamentos
deve
inscrever-‐se
nessa
objetividade,
como
o
exemplifica
Tomás
de
Aquino
em
suas
Sumas:
ainda
que
fosse
um
grande
santo,
e
que
portanto
não
duvidasse
da
existência
de
Deus,
parte
de
sua
Summa
Theologica
dedica-‐
se
à
exposição
dos
fundamentos
racionais
para
a
Sua
existência
através
de
5
vias
lógicas
[AQUINO],
não
sem
antes
meditar
sobre
as
principais
objeções
colocadas
ao
problema
(e
que,
diga-‐se
de
passagem,
seguem
sendo
as
mesmas
até
os
dias
de
hoje).
O
mesmo
ponto
de
vista
pode
ser
aplicado
a
todos
os
tons
do
sistema
tonal.
O
que
acontece,
assim
nos
dizem,
é
que
simplesmente
ouvimos
tantas
vezes
esses
tons
em
conexões
e
sequências
típicas,
que
com
eles
nos
parecem
acompanhar
as
correspondentes
sensações
de
tensão
e
relaxamento,
expectativa
e
resolução.
Deste
modo,
o
sistema
tonal
inteiro
é
entendido
por
muitos
psicólogos
como
a
projeção
de
expectativas
e
resoluções
distintamente
orientadas.
O
tom
musical
reduz-‐se
portanto
em
dois
componentes,
um
vindo
de
fora,
o
fenômeno
acústico,
e
outro
vindo
de
dentro,
o
estado
do
ouvinte,
enquanto
condicionado
pela
experiência,
que
se
conecta
com
o
tom
-‐
quer
pensemos
de
maneira
mais
antiquada
utilizando
termos
como
estado
de
espirito
e
sentimentos,
quer
nos
expressemos
de
maneira
moderna
e
científica,
em
termos
de
sensações
corpóreas
internas
de
pressão
e
tensão.
A
qualidade
do
tom,
que
havíamos
enunciado
como
propriamente
musical
é,
em
todo
caso,
algo
a
ser
adicionada
ao
fenômeno
pelo
ouvinte:
é
o
ouvinte
quem
faz
a
música.
"A
unidade,
portanto,
que
marca
a
diferença
entre
uma
mera
sucessão
de
estímulos
tonais
discretos
e
uma
melodia,
surge
não
dos
tons
em
si:
ela
é
distribuída
por
um
ato
do
ouvinte"[BINGHAM].
Psicólogos
portanto
referem-‐se
ao
processo
mental
envolvido
na
escuta
de
uma
melodia
como
representações
produzidas:
nós
apreciamos
aquilo
que
nós
mesmos
2
Para
um
maior
aprofundamento
no
estudo
das
ciências
estritamente
fenomênicas
ou
materiais,
bem
como
seus
efeitos
na
estrutura
intelectual
das
sociedades
modernas,
ver
GUÉNON.
Claro
está,
pela
leitura
dos
capítulos
anteriores,
que
a
tese
de
Ockham
padece
da
mesma
deficiência
em
seus
argumentos
(e
que
no
fundo
trata
do
mesmo
equívoco)
que
os
associacionistas,
adiantado
em
algun
séculos:
ora,
é
impossível
que
se
possa
coletar
diversos
“violinos”
singulares
formando
um
conceito
universal
a
posteriori
sem
que,
em
cada
“violino”
singular
que
experienciamos,
já
não
seja
inteligida
sua
identidade
e,
por
conseguinte,
seu
referencial
genérico.
É
logicamente
impossível
uma
tal
associação.
Tão
impossível
quanto
a
associação
das
notas
musicais.
Também
Ockham
é
responsável
por
um
início
de
empirismo,
afirmando
este
ser
o
único
meio
para
o
conhecimento
verdadeiramente
real
e
confiável.
Ora,
o
próprio
filósofo
não
poderia
provar
empiricamente,
quer
fosse
para
si
quer
para
um
interlocutor
qualquer,
o
fato
de
o
empirismo
ser
o
meio
verdadeiro
de
se
atingir
o
conhecimento
verdadeiramente
confiável
(Leibniz
viria
a
afirmar,
séculos
mais
tarde,
que
somos
empíricos
em
apenas
¾
daquilo
que
fazemos).
Estamos
também,
é
claro,
falando
da
antecipação
de
um
problema
que
mora
nos
princípios
da
filosofia
do
conhecimento,
problema
este
que
em
muitos
momentos
reduz
a
ciência
a
um
Ora,
pela
leitura
de
Zuckerkandl
pude
perceber
que
a
aplicação
de
uma
tal
ciência
no
universo
da
música,
fenômeno
que
por
excelência
traz
em
seu
conteúdo
algo
de
inabarcável
pelos
ponteiros
de
qualquer
instrumento
que
seja,
resulta
com
frequência
em
conclusões
ora
simplesmente
enfadonhas,
ora
realmente
equivocadas.
Foi
este
último
gênero
de
resultado
que
tentei
expor
aqui
neste
trabalho
e,
como
convite
ao
leitor,
afirmo
que
Zuckerkandl
o
faz
de
maneira
mais
detalhada,
extensa
e
convincente
em
sua
obra.
Ainda
que
termine
minha
exposição
apenas
em
negativas,
sem
trazer
ao
amigo
leitor
uma
alternativa
quanto
àquilo
que
afinal
a
música
é,
creio
que
se
possa
chegar
ao
fim
deste
trabalho
com
certo
sentimento
de
esperança;
antes
de
mais
nada
a
refutação
de
uma
teoria
alucinatória
como
é
a
associacionista
nos
abre
um
pouco
mais
à
realidade,
percebendo
nossas
vidas
cotidianas
como
plataforma
para
o
conhecimento
que
nasce
das
experiências
íntimas
diárias.
Brilha
pois
no
horizonte
de
nossos
dias
a
máxima
de
São
Tomás:
“O Fato é soberano”.
ARISTÓTELES , Da Interpretação in Órganon. São Paulo: Edipro, 2010 p.81
Idem,
Metafísica
AQUINO,
Tomás
de;
Suma
de
Teología.
Madrid:
Biblioteca
de
Autores
Cristianos,
2001
p.
105
AZEVEDO
JR,
Pe
Paulo
Ricardo
Visão
Histórica
in
“Revolução
e
Marxismo
Cultural”
in
padrepauloricardo.org/aulas
BERTIN
DIAS,
Guiherme
“Conhecer
é
Amar”,
in
Grupo
de
Estudos
Metafísica
da
Ação
Poética,
1a
ed,
Campinas
2012,
p9.
BINGHAM,
William
VanDyke
Studies
in
Melody.
Baltimore:
The
Review
Publishing
Company
1910
CARVALHO,
Olavo
Conhecimento
e
Moralidade
–
Curso
em
6
módulos.
Colonial
Heighs:
Centro
de
Conferências
Margarita
Noyes,
maio
de
2012.
CHESTERTON,
Gilbert
Saint
Thomas
Aquinas:
The
Dumb
Ox,
1933,
p.41
in
http://www.catholicprimer.org/chesterton/st_thomas.pdf
GUÉNON, René Le Regne de la Quantité et le Signe des Temps. Paris: Gallimard 1945
Idem, Sound and Symbol – Music and the External World. Princeton: University Press, 1956
( http://www.leffa.pro.br/textos/abnt.htm )
Local e Data de conclusão deste trabalho: Campinas, 30 de novembro de 2012
ANEXOS