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Não sei se algum de nós, de alguma forma, em maior ou menor

escala, não tenha cometido uma traição, seja em pensamento,


palavras ou atitudes. Dependendo da dimensão, ela é aterradora!
Destrói a confiança.

Agora, uma coisa é certa. Em Deus podemos confiar


irrestritamente porque Ele não nos trai, o que não podemos dizer de
nós mesmos! Alguém disse que “a Bíblia compara a idolatria com o
adultério, porque só devemos ter um Deus”.

O que Jesus disse a Judas retrata exatamente isto. No caso de


Judas foi assim. Ele era um religioso camuflado, “camaleão”. O
dinheiro era seu ídolo:

● “Enquanto ele ainda falava, apareceu uma multidão conduzida


por Judas, um dos Doze. Este se aproximou de Jesus para
saudá-lo com um beijo. Mas Jesus lhe perguntou: "Judas, com
um beijo você está traindo o Filho do homem?" (Lc 22:47-48).
Quando se fala em termos políticos hoje, a dor da traição está
triturando muitos sentimentos e desmontando muitas amizades que
antes pareciam uma confiança em base sólida.

O Salmista sente isto na pele — para nós se torna tão atual —


que ele faz um forte desabafo:

● “Se um inimigo me insultasse, eu poderia suportar; se um


adversário se levantasse contra mim, eu poderia defender-me;
mas logo você, meu colega, meu companheiro, meu amigo
chegado, você, com quem eu partilhava agradável comunhão
enquanto íamos com a multidão festiva para a casa de Deus [o
Templo]!” (Sl 55:12-14).

O Salmista talvez hoje diria que se fosse um “pagão”, um “ateu”


ou outro “à toa”, ele aguentaria o “tranco”, mas um “crente” que
compartilhava da mesma fé consigo no mesmo Templo [nossa
denominação hoje], era, por demais, incompreensível e chocante!
Veja! É a Bíblia mencionando tal fato! “Ela é o único livro em que o
Autor está sempre presente”, dito por alguém.

Outro salmista implora a Deus por justiça:

● “Faze-me justiça, ó Deus, e defende a minha causa contra um


povo infiel; livra-me dos homens traidores e perversos” (Sl
43:1).

E há um “ai” específico para o traidor:

● “Ai de você, destruidor, que ainda não foi destruído! Ai de


você, traidor, que não foi traído! Quando você acabar de
destruir, será destruído; quando acabar de trair, será traído” (Is
33:1).
Em outra versão, temos:

● “Ai de ti, que destróis sem que tenhas sido destruído, e que
ages de modo traiçoeiro sem que tenhas sido traído! Quando
acabares de destruir, serás destruído; quando acabares de agir
de modo traiçoeiro, serás traído” (Is 33/A21).

Semana que vem, (07-09/2023), considera-se que seja uma semana


santa. Em si, todas as semanas devem ser santas para os crentes, não
estamos falando em perfeição, o que seria bom, mas somos todos
pecadores, mas de andarmos como escolhidos de Deus [gr. “hagiezestai”
= “santos” = “escolhidos”] em Jesus pela conversão a Ele como Único
Senhor e Salvador pessoal.

Eu vou repassar aqui um ótimo estudo de um professor de


Bíblia, o Presbítero André Sanchez, muito competente, embora que
não concorde cem por cento em algumas hermenêuticas
[interpretações] bíblicas suas, especialmente no tange à Escatologia.
Todavia, não diminui a importância de muitos estudos tais como este
a seguir.

Certa feita, alguém lhe fez uma pergunta muito interessante e


que ele respondeu com muita propriedade:

“Pergunta: Eu vi uma pregação de um pastor dizendo que


Judas participou da Santa Ceia que Jesus fez com os apóstolos,
porém, a meu ver, ele deve ter saído antes, pois como Jesus
poderia permitir na Santa Ceia uma pessoa endemoninhada como
Judas? O que você me diz sobre isso?

Esse é um tema bem interessante e que exige de nós analisar


a cronologia dos fatos dentro dos evangelhos. Depois de fazermos
isso, conseguiremos compreender se Judas participou ou não e
ainda o motivo de Jesus deixá-lo estar com eles mesmo sabendo
dessa traição.
A primeira coisa a pontuar é que temos em 3 dos evangelhos
(Mateus, Marcos e Lucas) detalhes mais profundos a respeito
dessa última Ceia de Jesus com os apóstolos. Vamos analisar cada
uma das narrativas para entender se Judas participou desse
momento.

• Judas participou da instituição da Ceia do Senhor?

(1) Mateus nos narra que Jesus fala a respeito do traidor


enquanto comiam:

• “E, enquanto comiam, declarou Jesus: Em verdade vos digo


que um dentre vós me trairá” (Mt26:21).

Judas, ou de forma falsa, ou achando que o que fazia não era


uma traição, diz algo a Jesus e recebe uma resposta do Mestre:

• “Então, Judas, que o traía, perguntou: Acaso, sou eu, Mestre?


Respondeu-lhe Jesus: Tu o disseste” (Mt 26:25).

Logo na sequência, Mateus narra a instituição da Ceia do


Senhor, o que indica que na narrativa de Mateus, Judas estava
presente:

• “Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o


partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu
corpo” (Mt 26:26).

(2) Na narrativa de Marcos, temos a mesma sequência citada


em Mateus. Marcos narra Jesus falando sobre a traição e Judas
estava ali presente, pois Jesus diz:

• “Quando estavam à mesa e comiam, disse Jesus: Em verdade


vos digo que um dentre vós, o que come comigo, me trairá” (Mc
14:18).

Na mesma sequência de Mateus, temos Marcos mostrando


Jesus partindo o pão e repartindo também o cálice. Aqui temos
também que Judas parece estar presente na instituição da Ceia.

Mas o texto que resolve essa questão de forma mais clara


ainda é o que está na narrativa de Lucas.

(3) Na narrativa de Lucas, temos inserido em meio à Ceia, a


fala a respeito do traidor, o que indica que Judas, de fato, estava
ali.

Observe que depois de partir o pão, Jesus fala sobre o cálice:

• “Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo:


Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor
de vós” (Lc 22:20).

Depois disso, na sequência, Lucas mostra a fala de Jesus


sobre a traição, o que coloca Judas sim no meio da instituição da
Ceia do Senhor:

• “Todavia, a mão do traidor está comigo à mesa” (Lc


22:21).

(4) Na narrativa de João, não temos detalhamentos a respeito


da instituição da Ceia em si; porém, João fala a respeito do traidor e
mostra alguns detalhes adicionais. Judas, após comer um pedaço
de pão, é possuído pelo diabo:

• “E, após o bocado, imediatamente, entrou nele Satanás.


Então, disse Jesus: O que pretendes fazer, faze-o depressa” (João
13:27).
João narra na sequência que, após comer, é que Judas saiu e
foi concretizar todo o seu plano:

• “Ele, tendo recebido o bocado, saiu logo. E era noite” (Jo


13:30).

Percebemos que Judas deixa a cena após comer a Ceia,


logo, ele participou dela.

• Mas por que Jesus permitiu ele participar da Ceia, esse


momento tão especial?

(5) Temos de compreender que o ensino de Jesus sobre o joio


no meio do trigo é real. O joio muitas vezes estará ali com o trigo,
ficará ali por algum tempo, mas no tempo certo será arrancado.

Judas foi arrancado para que ficasse claro quem era


de Deus e quem não era! Mas isso tinha de acontecer no
momento certo, no momento de Deus!

Judas comeu a Ceia, porém, não participou espiritualmente


dela, pois estava vazio em sua vida com Deus. Comer da Ceia não
faz de alguém automaticamente um discípulo verdadeiro.

João mostra isso claramente quando apresenta Satanás


guiando Judas, mesmo ele tendo comido da ceia! [Portanto, nem
todos que estão numa denominação evangélica se deixam guiar por
Jesus tão somente/PN].

Assim como também hoje muitas pessoas comem do pão e


bebem do cálice indignamente, vemos que ali Judas comeu-a
indignamente. Isso foi um exemplo do que não fazer!

Jesus permitiu para que houvesse total clareza sobre a


verdadeira vida com Ele e a vida só de aparências!

Comer sem ser servo verdadeiro e depois trair Jesus! Isso


ficou registrado como exemplo da falsidade religiosa!

O mais triste de tudo isso é que ainda hoje muitos vão até à
Mesa de Cristo e são, na verdade, traidores Dele! [Imagine de
nós!].

Não devemos agir como traidores daquele que nos deu o pão!
[E acima de tudo, pagou na Cruz uma dívida que não era d’Ele, mas
minha e sua! /PN].

• André Sanchez

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