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Nome: Thiago Ferreira Medeiros

TEXTO: GOMES, P. C. Costa. Um lugar para a geografia: contra o simples, o banal e o


doutrinário. IN: Espaço e Tempo: complexidade e desafios do pensar e do fazer
geográfico. Curitiba: ADEMAN, 2009.

Paulo César da Costa Gomes, é graduado em Geografia pela Universidade Federal do


Rio de Janeiro (1980), mestre em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(1988) e Docteur en Géographie pela Sorbonne - Université de Paris IV (1992). Professor
convidado em diversas Universidades da França (La Rochelle, Pau, Lyon e Reims),
bolsista-pesquisador na Universidade de Ottawa, Canadá (1995 e 2002), Pós-Doutorado na
Université de Paris III (2005), Visiting Scholar do Consortium TEMA-Erasmus Mundus
(2014), visiting Scholar da École de Hautes Études en Sciences Sociales (2014/2015)
atualmente é professor associado na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência
nas áreas de Teoria e Métodos em Geografia, com ênfase em História do Pensamento
Geográfico, Epistemologia da geografia e Geografia Política, atuando principalmente nos
seguintes temas: espaço público, território, epistemologia da geografia, cidadania e cultura.

O autor, inicia o seu texto nos dizendo que, a utilização da palavra “epistemologia” no
contexto atual está se tornando uma expressão corriqueira e na Geografia está sendo
frequentemente utilizada para talvez demonstrar certo rigor em seus discursos. E, esse uso
corriqueiro da expressão “epistemologia” está a transformando naquilo que Bachelard
denominou de “obstáculo epistemológico”, e assim, causando uma ruptura e,
consequentemente, levando a expressão a se tornar uma frase que pode tanto se situar tanto
no senso comum quanto no conhecimento científico e, assim, fazendo com que a expressão
perca a capacidade de operar com o devido rigor da ciência.

O autor, então, nos fala, que tendo essa expressão nascida do conflito e do desacordo
com a ciência positivista, visando constituir um campo de discussão, de questões sobre
métodos e limites de validade, é, portanto, uma grande contradição e ironia esta palavra estar
sendo usada sem o devido cuidado, pois em sua origem ela queria alertar e prevenir sobre os
perigos de adotarmos tais atitudes no discurso científico. Pois ela pretendia ser um domínio
aberto ao reconhecimento da pluralidade de recursos e orientações nas diferentes disciplinas
cientificas, principalmente na Geografia, ou seja, através da epistemologia, poderíamos olhar
e analisar o mundo com os nossos próprios olhos, sem precisarmos ficar agarrados a uma
única e exclusiva forma de ver e pensar o mundo.
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Assim sendo, o autor nos fala, que foi a partir dos anos 70 que começaram a aparecer
algumas discussões epistemológicas na Geografia a respeito de qual rumo ela deveria tomar e,
só depois dos anos 80, que começaríamos a ver despontar uma nova Geografia, mais aberta ao
diálogo, à pluralidade e aos conflitos dentro da sua própria Geografia, pois querendo ou não a
divisão da Geografia Física e da Geografia Humana estava lá naquele momento. Embora, ele
fale que é preciso abandonar essa divisão para só assim podermos desenvolver um campo
verdadeiramente epistemológico na Geografia, ou seja, a Geografia, seja ela física ou humana,
a partir das ideias de Gomes (2009), não existiria se fosse baseada nesta divisão.

Inclusive, ele fala, que o primeiro ponto a ser seguido para alcançarmos um campo
verdadeiramente epistemológico na Geografia, é encontrar características e atributos que
atuem como constituintes essenciais da geografia, o que o autor chama de “ontologia do saber
geográfico” ou “qualitativo geográfico”. Esse qualitativo geográfico, portanto, deve responder
pela identidade da Geografia.

No entanto, mesmo a Geografia achando o seu “qualitativo geográfico”, a todo


momento ela passava por uma crise, principalmente, por não ter uma base teórica sólida e
estar pautada principalmente em um conhecimento empírico e isso levou muitos autores, a
partir dos anos 50, a questionarem e reconhecerem que as bases da Geografia Clássica eram
insuficientes para sustentar a Geografia como ciência e, que era necessária uma mudança. E
para realizar esta mudança seria necessário gerar instrumentos de análise abstratos e fundar
um campo de discussões teóricos, ou seja, passaríamos de uma Geografia de elementos,
meramente descritiva, para uma Geografia que olhasse o todo, seria a “construção de uma
verdadeira ciência geográfica”.

Mas para isso acontecer, segundo o autor, foi necessário encontrar um objeto de
estudo, e o objeto de estudo encontrado foi o espaço. Foi então que, esse objeto, o espaço, se
tornou, o salvador da Geografia. Mas outras áreas do conhecimento também depositavam sua
atenção sobre este objeto, mas de formas e maneiras particulares e diferenciadas. É, aí, então,
que surgem dois grandes problemas. O primeiro era que outras disciplinas já analisavam o
espaço e o segundo era o de definir qual tipo de espaço que seria analisado pela Geografia.

Para o primeiro problema foi apresentado uma tentativa de solução, onde se


apresentou a diferença do espaço geográfico em relação ao espaço estudado pelas outras
disciplinas, sendo, então, essa tentativa de solução que acarretou o segundo problema, pois
não adiantava ter o espaço como objeto de estudo se não sabia como analisá-lo.
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Foi então que, segundo o autor, para resolver esse problema de análise do espaço, foi
denominado a ideia de que há um arranjo físico das coisas, das pessoas e fenômenos, os quais
são orientados seguindo um plano de dispersão sobre o espaço, ou seja, a reflexão que a
Geografia tem a oferecer é de ordem espacial, e que a busca pelo entendimento do espaço se
dá por meio da análise da relação homem\natureza, sem distinção de Geografia Física ou
Geografia Humana. Há, portanto, “uma análise geográfica quando o centro de nossa questão é
a ordem espacial”.

O autor ainda nos diz que, se a composição espacial colabora essencialmente nos
fenômenos, a análise das posições, das implicações relacionais delas no sistema locacional
constitui uma dimensão fundamental para a compreensão dos fenômenos. Em outras palavras,
isso funda um plano de análise autônomo, um verdadeiro campo de questões, um domínio
epistemológico. Isso significa que ao ignorar ou negligenciar esse plano perdemos a
oportunidade de desvendar toda uma ordem de sentidos e significações fundamentais que
constituem os fenômenos.

Enfim, o autor, então, nos fala que a importância da ordem espacial, não ficou
confinada apenas na Geografia e, que outros autores de outras áreas foram levados a analisar
essa dinâmica. E que o desafio da Geografia é iluminar um novo campo de questões e
demonstrar sua pertinência e importância.

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