Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PAPIA4(2).6-18(1996) ., \ - '
ÁS LÍNGUAS GERAIS SUL-AMERICANAS j ,-•••*
. Aryon D. Rodrigues ' ^—-TíiScCUüSÍ^0!
Universidade de Brasília \MAT6^ wO^SORBBI
^ 3<> i
^..introdução. ..;, . ^ÇfSSss^ss^
sSundo oWetSo
segundo objetivo do ;arttgo
"SaS.COnCePfoef carece*
eapontar algumas **andamento
características histórico elingüíW.
sociolingüístícas eestruturaO
' doetS^SsTnatT *?* ^.*«**« •Wo*** íalguma 3S
S2 i q / uí U0 a3lnda d£ investiSa?ão sistemática sobre essas línguas nem
o apena ZJ^^T' " Ç'^tico-histôrico. Oque apresento £3
outros invStSdoÍr' ' " " deSenV°,VÍd° "" °Utr°S ^ ^ ?0r «te 0U P«
1-As línguas gerais.
:' menos fr&Í^f° ^ ^^ d° SU' Pe,°S Portu8ueses eP^* espanhóis houve pelo
mS^TJSZ? Cm qUe 3mlsclSenaÇ- e- Snmde escala de homens europeus com
! S5?VaSal?a^mTnSeqfnda*rápÍda f°rmaÇa° de P°Pu,aÇ5es me^ «k
ofdla" Su sÍe cn? ' -^r dSS mSeS £nã° ' ,íngUa CUr°PéÍa d0s Pais- I«o se deu
«toUXSÍs díS" r1^3- ^ ÍníCÍ0' Pred°mi—-te por homens
; hermTn , l . mUlheres atuando sobre um Povo indígena numeroso e socialmente
berto ao estabelec.mento de alianças matrimoniais com os forasteiros'. Essas condiçTes se '
iisf$F<'-'*:{--^^SS^^ - ;t1!^^^Wi^: •:<r^||^^
Aryon-D. Rodrigues
\
As LInguas Gerais Sul-americanas MATER! ALEXCLUSI\ Ô{
2, A língua geral paulista.. ,. 'ROFESSORESJ
DATA:
dessa, região pelos portugueses reproduziu-se em linhas gerais asituação que caracterizou a
relação entre portugueses, é tupis em;S.ãp.I?aulo..A;.fqrte;-interação dos colonos e soldados
2ig2iS£2!E?P2l25^ ^àVS^Í^S^^^^^ mães, otupinambá Na
sociedade mestiça ou cafibcía resultante alíngua foi pro^ressiíamente-íeajnsmndo^se eàife-
renciando-se do tupinambá falado pelos índios que sobreviveram até meados do século
Cr*!? I^i^P-^-l^gMoicharnada língua geral já nos tempos.coloniais^(foi chama
da também brasiliano, nome que Édelweiss [1969:109-1J1] propôs-recentemente^ fixasse
para asua fase setecentista). f^^s^^l^Júigua geralpaulista chamamos4He língua
«2&22gÊÍÍSS^ século XVH aLGA acompanhou ?
expansão portuguesa na AmazÔnia? tendA-se.estend.idp.seu uso ao longo de todo o vale do
rio Amazonai.e péne^ pelo Rio Negr0j alcançou tant0
aAmazônia venezuelana como.a colombiana. Diferentemente daLGP, da qual só".existem
muito poucòs.documentos e^ue.jinão:'s.e fala mais,.a.LGA foi registrada em documentos
alguns bastante.substanciais, nos séculos XVIII, XLX e XX, .o.continuà a ser falada ainda
ioje: Apartir da.segunda metade do século XLX passou aser chamada^tembéíri'àznheehga-
tú, nome introduzido naliteratura por Couto de Magalhães (1876), que também a.rotulou de
'língua ta^W; Tastevin (.1910) chamou-a também de ''língua tapXhiya" (tapy'fia.'índio,
tapuio'). Pelos missionários franciscanos do século XVIII foi chamada não só língua geralj
mas também brasiliano (cf. Edel^eiss 1969:109ss.)..Na Colômbia e na Venezuela é cha
mada "lengua yeraV\ nome em que. se.baseou a sigla YRL para a LGA no"catálogo de lín
guas do mundo organizado por B. Grimes (1992).
(a) na sua origem intervieram homens eirrppeus e mulheres indígenas — estas, nos. três
casos, pertencentes a povos de cultura e língua tupi-guarani; . ..;r:H r.t«:.
(b) em uma primeira fase, que pode terrse estendido por duas gerações (30 a 60 anos) ou
mais, manteve-se o convívio dos casais mistos çpm a correspondente comunidade.indí
gena, mas esse convívio foi aos poucos, tornando-se menos intenso e menos freqüente,
até deixar de existir completamente (em parte devido à exünção das comunidades indí
genas puras, em parte devido à constituição.de povoados só de mestiços e europeus);..
(c) -4Ç-S.íe ° início as comunidades de língua geral apresentaram uma situação de bilin-
güismo parcial com a respectiva língua européia (português nos casos da LGP.e-da
LGA, espanhol no caso do GNC), com uma maioria de monolíngües na língua geral e
urna minoria de bilíngües; •**•••'• -- - • ......
(d) não houve, em nenhum momento, interrupção na transmissão dessas línguas, isto é, *' oo oi
PS9. °c.orreu mudança de língua .{language shiff) nos descendentes mestiços dos euro
peus e das índias tupi-guaranis:os primeiros pais europeus aprenderam a língua indí-
geria como segunda língua, tendo-se tornado bilíngües; parte das mães indígenas pode
ter aprendido a língua européia como segunda língua, mas seus filhos ou ficaram mo-
10
nolíngüesnà língua indígena (que pouco apouco foi-se transforma,, - n-
ou aprenderam alíngua européiacomo segLaííngua- ^í"18**™^0 ™}«W* B**).
em grande parte dos territórios onde prevaleceram, as línguas gerais se' fA™.™ >,
^.^.^P2.?^fc!?Me contacto dos c^op^TS^^^^^^
outros povos indígenas alcançâdoslièíatfre^^
traste com uma forma não marcada para caso: (1) Tl-poí$r 'ele tem contas (de colar)
i-poXr-a opáB 'as contas dele.se acabaram' (contraste entre po?yr, nome em função
de predicado, sem sufixo casual, epoQr-a, nome em função de argumento, com osu-
12
£^S£S£'?i3:£S^££3S^ ^S'J»U>JtiA~Ii
aryon D. Rodrigues
fixo -a do caso argumentativo); LGA aé urikú pufra 'ele tem- contas', i-puíra upáwa
'as contas dele se acabaram'; GNC ha?é owerekói-pofy (ou ha?è ku \-pò7y) 'ele tem
contas', i-poPy opá 'as contas dele se acabaram'; (2) T t-ubisáB-do-sém /ò chefe saiu',
sjé r-úB-a ojkó tuBisáb-amo 'meu pai e um chefe', lit. 'meu pai.vive (está em movi
mento) na qualidade de chefe' (contraste entre nome em função argumentativa e nome
em função predicativa, este com o sufixo -amo do caso predicativo), LGA fuSáwa u-
sému 'o chefe saiu', se pája (u-ikú) íuSáwa ;m'eu"paf é chefe'; GNC iüyiSá o-se) 'o
chefe saiu', Se r-ú ha'é tuviSá 'meu pai é çheie';.(3) X^a?á-pe '(situado em um lugar)
no mato*, kaPá-Bo '(espalhado ou em movimento).no mato':, (contraste entre caso loca-
tivo puntual, com o sufixo -pe> e caso Iocativo difuso, corri o sufixo -Bõy LGA ka?á
upé 'no mato', GNC kaPawy-pe 'no mato'-, T.oré rúB-a 'nosso (excl.) pai', oré rúB 'ó
nosso (excl.) pai!' (contraste entre caso argumentativo, com o sufixo -à, é"çaso vocati-
vo, com sufixo zero); LGA janépája 'nosso> pai\ janépája 'ó nosso pai!';.GNC oré r-
ú 'nosso (excl.) pai', oré r-ú *ó nosso (excl.) pai!'. . . . .
(i) •. redução das distinções feitas pelo sistema de referência dêitica; •••-.-.
(j):\ apagamento da distinção entre posse reflexiva e riãorreflexiva de 3a. pessoa;
(k) desenvolvimento de um marcador de orações finais a partir da forma "futura" de um
nominalizador, em substituição,à cònsrniçãd fíhal com gerúndio: T à-só sjé r-úB-a r-
epják-a, LGA a-sú a-ma?ã rã se pája; GNÇ a-há a-heSá haNwã Se r-ú\
(1) redução do uso das partículas evidenciais;..: .• =;.
(m) desenvolvimento de partículas pluralizadorâsdos nomes: LGA itá (< T -elá 'ser mui
tos'), GNC kwéra (< guarani antigo -favér-à\'coletivo');
(n) adoção de diversas conjunções do português.é do.espanhol;
(o), adoção de nomes de números do português e.do espanhol a partir de. 4 ou 5;
(p) adoção de empréstimos lexicais e decalques fraseoldgicos do português-(LGP.e LGA)
e do espanhol (GNC), não só pára conceitos da cultura de tipo ocidental, mas também
para alguns conceitos nãó culturais ou universais. "v ;' '':"" '
NOTAS
Referência a alguns desses usos fez recentemente Rosa (1992), num artigo era que ela mesma pretende que
a expressão língua geral tenha sido aplicada no século XVI à língua nativa dos índios tupi-guaranis que
habitavam a costa, portanto a que aqui chamamos de língua tupinainbá (Rosa 1992:85). Não se devem con
fundir declarações dos cronistas de que tal língua era geral, ou a mais geral, ou ainda a mais usada em cena
regiãoV"com a expressão lexicalizada língua geral. Sobreas duas línguas gerais do Brasil, veja-se Rodrigues
' V9SÕ:99-109); sobre a do Paraguai, veja-se Melíà 1992:51-67.
Para as principais publicações descritivas, veja-se Magalhães 1876, Sympson 1877, Tastevin 1910, Stra-
delli 1929, Borges 1981, Moore et ai. 1993; para os principais vocabulários ou dicionários publicados, Vo
cabulário Português-Brasílico, Diclonnario Portuguez e Brasiliano, Caderno da Língua, Tastevin 1810,
Stradelli 1929, Grenand e Ferreira 1989; para as principais coletâneas de textos, Magalhães 1876, Rodri
gues 1890, Amorim 1928 e Hartt 1938.
A contribuição mais significativa sobre a história externa da língua geral amazônica é a de Freire (1983);
especificamente sobre essa língua no século XVIIIi há informações e observações relevantes em Edelweiss
(1969); sobre o guarani criollo veja-se Melià (1992) e os estudos anteriores aí citados.
Na verdade pesaram no surgimento rápido de substanciais populações mestiças não só as alianças matri
moniais, mas também a escravidão de mulheres e crianças indígenas e o amplo concubinato cultivado pelos
portugueses, sobretudo cm São Paulo, e pelos espanhóis no Paraguai.
13
"^'K.^ífeS&^i^&A^vi^
5 Eu trabalho com a hipótese de que tanto os tupinambás como os tupis chegaram ao litoral atlântico, provin
do uns e outros da bacia do rio Paraná, mas tendo tomado os primeiros provavelmente o curso do rio Gran
de e os segundos o do Tietê.
6 Éconveniente deixar claro ouso que aqui estou fazendo dos termos tupinambá e tupi. Uso o primeiro para
a l^gua.fala^pelos_índios„abrangidos pela expressão de Anchieta "desde os Tamoyos* dó" Rio" de janeiro
alé os Pitiguares da Parahyba" (Anchieta 1595:1-2), com ampliação para os índios da mesma cultura e lín
gua que se encontravam ou vieram a encontrar-se na costa brasileira, do Rio Grande do Norte até o Pará, e
empregoj^i para a língua doç'"tup,is .de .São Vicente" do. mesmo Ancruetaf Ésté uso difere' ligeiramente do
que vinha'fazehWãhtèriormènte'(á páríir de Rodrigues 1959), em que tupinambá incluía também os tupis
de São Vicente e que acompanhava a extensão desse termo proposta por Métraux em sua contribuição ao
',•-• Handbook ofSouth American Indicns (Mátraux 1950:95), para os povos tupi-guaranis que nos séculos XVI
e XVII se estendiam desde Cananéia, ao sul, até a costa do Maranhão e Pará, ao norte. O uso queaqui faço
do termo tupi difere substancialmente do uso que fez Edelweiss (1969), ao aplicá-lo especialmente à língua
documentada (segundo ele, uniformizada) nas obras dos missionários jesuítas dos séculos XVI e XVII, a
qual é a mesma que denominamos tupinambá (com a ressalva, de que o texto recentemente publicado do
Diálogo da Fé de Anchieta [1988] revela queeste, como seriade esperar, escreveu primeiramente em tupi e
só mais tarde, inclusive na versão final, publicada, de sua gramática, em tupinambá), e que não distingui
mos da língua documentada pelos franceses no Rio de Janeiro e no Maranhão, à qual exclusivamente ele re
servaeste:úlámonome (na verdade, Edelweiss usa este nome só e especificamente.para a língua dos índios
chamados tupinambá (ou tupinambá) nas fontes dos séculos XVI e XVII, portanto também para os tupi
nambás da Bahia, paraos quais não há documentos franceses). As diferenças que Edelweiss assinalou entre
a língua documentada pelos franceses no Rio de Janeiro e no Maranhão e a língua das- obras dos jesuítas
portugueses se devem, a meu ver, essencialmente a uma interpretação equivocada das fontes francesas.
7 "Outra [povoação na Capitania de São Vicente] está doze legoas pella terra dentro chamada SamPaulo, que
edifícaram os Padres da Companhia, ondeha muitos vizinhos, e a maior parte delles são nascidos das índias
naturaes da terra, e filhos de Portuguezes." (Gândavo [1576]1964:33).
8 A informação de Vieira é obviamente de segunda mão, visto que ele não esteve em São Paulo. A essa in
formação, entretanto, acrescenta Sérgio Buarque de Holanda vários testemunhos diretos da mesma época,
os quais mostram que não houve nenhum exagero na formulação daquele jesuíta, nem quanto à natureza da
situação, nem quanto à época em que ela ainda perdurava. Dentre esses testemunhos, destaca Holanda o do
governador Artur de Sáe Meneses, de 1698, portanto mais de 150 anos após iniciada a formação da popu
lação mameluca: "... a mayor parte daquella Gente se não explica em outro ydioma, e principalmente o sexo
feminino e todos os servos, e desta forma se experimenta irreparável perda, como hoje se ve em São Paulo
com o novo Vigário que veio provido naquella Igreja, o qual ha mister quem o interprete..." {apua Holanda
[1948] 1973:89). Sobre a situação lingüística de São Paulo é muito informativo o estudo de Sérgio Buarque
de Holanda "A língua-geral em S. Paulo", originalmente publicado em 1945 e reproduzido a partir da se
gunda edição (1948) àz Rates do Brasil (Holanda [1948]1973:S8-96).
9 O relato clássico da história das missões jesuíticas no Guairá é a Conquista Espiritual de Antônio Ruiz de
Montoya (Ruiz de Montoya [1639]1892), de que há tradução abreviada (e algo modificada) para o guarani
• è versão desta para o português (Nogueira 1879). Para ampla documentação e a interpretação desta , veja-se
a obra Jesuítas e Bandeirantes no Guairá (Cortesão 1951).
10 "Como los conquistadores no habían llevado mujeres de Europa y tenían necesidad deellas, tomaron índias,
ya como esposas, ya comoconcubinas. Algunos no se contentaron con una sola y tomaron muchas a Ia vez.
Tal sabemos, entre otros, dei mismo jefe principal Irala, que había tenido hijos de siete indias, que eran
hermanas, scgún declara 61 mismo en su testamento, que he leído." (Azara [1809] 1923:252-253). "...los es-
panoles dei Paraguay y sus vecinòs los habitantes dei districto de Ia ciudad de Comentes proceden princi
palmente de Ia mezcla de sus antepasados con lãs indias, como hemos dicho. Por esto habían guarani, y solo
Ias personas instruídas y los hombres de Ia villa de Curuguaty entienden ei espanol" (Azara
[1809] 1923:280). "En Ia colônia propiaraente dicha, Ia ausência, que puede calificarse de total, de Ia mujer
blanca, en los primeiros tiempos, fué importante factor determinante dei mencionado mestizaje en masa.
(...) Esto dió como resultado que no solo en ei período más acusado de ausência de mujer blanca (1537-
1555) sino también déspués, durante mucho tiempo, imperase como institución generalizada una poligamia
sui generis... (...) Cada alianza con èl aborigen se traducía en ei ingreso de nuevas mujeres en Ia casa dei
!- colono." (Pia 1970:8).
14:
Aryon d. Rodrigues
11 Melià .cita uma passagem do Pe. Dobrizhoffer, do século XVIII, muito expressiva sobre osurgimenío dessa
terceira língua no Paraguai colonial: 'Todo-ei vulgo, aun Ias mujeres de rango, ninos y ninas, habían eua-
rani como su lengua natal, aunque los más hablen bastante bien ei espanol. Adecir verdad, mezclan ambas
lenguas ynoentienden bien ninguna. Pues después que los primeros espanoles se apoderaran de esta pro
víncia, que antes eslaba habitada por los carios oguaranies, tomaron en matrimônio Ias hijas de los habitan
tes por falta de ninas espanolas, ypor ei trato diário los maridos aprendieron ei idioma de Ias esposas yvi-
ceversa, Ias esposas Ia [sic] de los maridos, pero, como suele ocurrir generalmente cuando aun en Ia vejez se
aprende idiomas, los espanoles corrompían miserablemenle Ia lengua india y Ias indias Ia espanola. Yasí
nació una lercera o seaIa que usan hoy en dia." (apud Melià 1992:60).
12 Vejam-se os seguintes títulos de manuscritos do século XVIHconservados na biblioteca da Universidade de
Coimbra e ainda inéditos: "Grammatica da lingua geral do Brasil com hum diccionario dos "vocábulos mais
usuaes para a inteligência da dita lingua" (ms. 69); "Diccionario daJingua geral do Brasil que se falia em
to^JS vfflas, lugares e^deas deste vastíssimo Estado. Escrito na "cidade do Par'á,'anno 1771" (ms. 81);
"DoutrVáchristãVém Hhgua"geral dos índios do Estado do Brasil eMaranhão,, composta pelo P. Philippe
Bettendorff, traduzida em Iingoa irregular, e vulgar uzada nestes tempos" (ms. 1089).
13 Sobre o desenvolvimento desde o século XIX da literatura em GNC, veja-se'a seção "La literatura para-
guaya enguarani" da excelente obra La lengua guarani dei Paraguay (Melià 1992:194-240).'
14 "A emigração portuguesa para a Amazônia, no decorrer de dois séculos, não foi intensa" (Reis 1960:269).
"A mão-de-obra com que se contava era, quase unicamente, a do indígena. Sob a forma de escravo ou não,
era êle o caçador, o remador, o serviçal da casa, o coletor de "drogas", o identificador de variedades da flora
e da fauna, o operário dos estaleiros, o lavrador, o soldado das unidades militares. Não se dava um passo
sem êle, que era a força material e a inteligência pragmática para ávida local. Mestiçando à larga com o
reinol, permitiu a formação de uma sociedade que pôde amoldar-se, intensamente, às exigências do meio
tropical. Nãohouve necessidade, na Amazônia, de apelar para o" contingente africano..."(Reis 1960:269).
15 Como exemplos das ações belicosas de Mem de Sá vejam-se as seguintes passagens "de um seu relatório de
1570: (a) "... e logo comecei a fazer guerraem Jaguaripe, que é da outra banda da Bahia, onde se destruíram
muitas aldeias, cativaram e mataram muitos Índios." (b) "... e ante manhã, duas horas, dei na aldeia e a
destruí e matei todos os que quiseram resistir, e à vinda vim queimando e destruindo todas as aldeias que
'• ficaram atrás..."; (c) "... e ante manhã dei na fortaleza e a entramos, matando todos os que quiseram defen
der, e nos deixaram as casas com todos seus mantimenlos e mais falo, que nela tinham, e daí entrei e rodeei'" "'•
. .todo o Peroaçu [= Paraguaçu], tendo muitas pelejas e lhes destruí cento e trinta e tantas aldeias, e me retor
nei a embarcar..." (Sá [1570] 1906).
16 "... Duarte Coelho, o qual deu tanta guerra aos índios com favor de um clérigo que se tinha por nigromanti-
co', que destruiu toda a sua capitania e assim desde o rio de S. Francisco até lá, que são 50 léguas, não ha
povoação de'Indios..."(Anchieta [1584] 1988:314).
17 • "A capitania de Porto Seguro é do Conde de Aveiro. A dos Ilhéus é de Francisco Giraldes. Houve guerra
com os índios naturais em ambas; mas com as ajudas que tiveram dos Governadores da Baía se defenderam
e estão agora em paz. Verdade é que se foi consumindo o gentio daquelas terras, chamado Tupinaquis, oue
era muito e mui guerreiro, parte com doenças, parte com o maliratamento dos Portugueses, como em todas
as partes, menos São Vicente, de maneira que ficaram sem gentio." (Anchieta [1584]1988:316).
18 . Sobre a destruição maciça da população indígena em decorrência de epidemias e outros agravos, veja-se á~..
seguinte passagem de um informe do Pe. Anchieta: "A gente que de 20 anos a esta parte é gastada nesta v
•Bahia, parece cousa, que se não pode crer, porque nunca ninguém cuidou, que tanta gente se gastasse nun
ca, quanto mais em tão pouco tempo, porque nas 14 igrejas, que os Padres tiveram, se juntaram 40.000 al
mas, estas por.conta, e ainda passaram delas coma gente, com que depois se forneceram, das quais se agora
as três igrejas que há tiverem 3.500 almas será muita." (...) "No mesmo ano de 1562, por justos juizos de
Deus, sobreveiou uma grande doença aos índios e'escravos dos Portugueses, e com isto grande fome, em
que morreu muita gente, e dos que ficaram vivos muitos se vendiam e iam se meter por casa dos Portugue
ses e se fazer escravos, vcndendo-se .por um prato de farinha, e outros diziam, que lhes pusessem ferrctes,
que queriam ser escravos: e foi tão grande á morte que deu neste gentio, que se dizia que entre escravos e
índios forros morreriam 30.000 almas no espaço de 1 ou 3 meses." (Anchieta 1986).'
19 "Em resumo, ... nos fins do século XVI e começo do século XVII, apesar da pobreza das informações ex
plícitas, pode-se presumir ser muito pequeno o contingente dos Tupinambá na população aborígene que vi
via, na Bahia, junto com os brancos." (Fernandes s.d.[1949]:38).
\Ü XlüSivôj
\3TA DE PROFESSORE^L
IDATA: / /
^tój&vgSSféfcSS^
20 Nas fórmulas' que se seguem, os parênteses indicam os limites de uma palavra ou unidade morfossintáiica;
dentro deles, o sinal + indica as fronteiras de morfemas no interior das palavras. As abreviaturas usadas são:
ADJ ='adjetivo, DESCR = raiz descritiva, NOM = raiz nominal, N2R = afixo nominalizador, OBJ = afixo
marcador de]referência ao objeto direto, REL = partícula marcadora de oração relativa, S -7-afixo marcador
de sujeito. Nas transcrições,'}' é a vogai alta anterior não arredondada e os demais símbolos são os do Alfa-
"''""' beto Fonético Internacional (IPA).
BIBLIOGRAFIA
Anchieta, Joseph.de. 1.595. Arte, de grammatica da lingua mais usada na costa do Brasil
Coimbra.
Anchieta, Joseph de. 1986. Cartas, informações, fragmentos históricos é sermões. (Coleção
Reconquista do Brasil). Belo Horizonte: Livraria Itatiaia/Editora da Universidade de
São Paulo.
Anchieta, Joseph de. 1988. Diálogo da Fé: texto tupi e português. (Obras completas, vol.
8). São Paulo: Edições Loyola.
Anônimo. (1621)1952-1953. Vocabulário na língua brasilica. 2a. ed., por Carlos Drumond.
2 volumes. São Paulo: Universidade de São Paulo.
Azara, Félix de. (1809)1923. Viajes por Ia América Meridional. Trad. de F. B. de Aragón.
Madri: Espasa- Calpe.
Borges, Luís Carlos. 1991..A.Língua Geral Amazônica: aspectos de sua fonêmica. Disserta
ção de mestrado, Universidade Estadual de Campinas. Campinas.
Chmyz, Igor, Cecília Westphalen e Axyon D. Rodrigues. 1995. Curitiba: origens, fundação,
nome. (Boletim Informativo da Casa Romário Martins, vol. 21, n. 105). Curitiba: Fun
dação Cultural de Curitiba.
Cortesão, Jaime. 1951. Jesuítas e bandeirantes no Guairá (1549-1640). Rio de Janeiro:
Biblioteca Nacional, Divisão de Obras Raras e Publicações.
Edelweiss, Frederico G. 1947. Tupis e Guaranis: estudos de etnonímia e lingüística.
(Publicações do Museu da Bahia, n. 7). Bahia: Secrretaria de Educação e Saúde.
Edelweiss, Frederico G. 1969. Estudos tupis e tupi-guaranis. Rio de Janeiro: Livraria Bra
siliana Editora.
Fernandes, Florestai). s.d.(1949). A organização social dos Tupinambá. São Paulo: Ipê.
Figueira, Luís. (1687)1878. Arte de grammatica da lingua brasilica. Reprodução facsimilar
por J. Platzmann sob o título Grammatica da lingua do Brasil. Leipzig: B. G. Teubner.
Freire, José Bessal 1983, "Da 'fala boa' ao português na Amazônia brasileira". Ameríndia
8. -
Gandavo, Pero de Magalhães. (1576)1964. história da Província de Santa Cruz, 2Tratado
da Terra do Brasil. (Cadernos de História, 2). São Paulo: Editora Obelisco.
Grenand, Françoise, e Epaminondas H. Ferreira. 1989. Pequeno dicionário da língua geral.
. (Série Amazonas, Cultura Regional, 6). Manaus: SEDUC.
Grimes, Barbara (org.). 199x. Ethnologue: Languages ofthe World. 12a. ed. Dallas: Sum-
mer Institute of Linguistics.
Hartt, Charles Frederik. 193.8. "Notas sobre a lingua geral ou tupi moderno do Amazonas".
Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, vol. 54. Rio de Janeiro: Biblioteca
Nacional.
16
arYon v. Rodrigues
18