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PUC-SP
São Paulo
2012
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
São Paulo
2012
2
Banca examinadora
_____________________________________________
Profª. Drª. Dieli Vesaro Palma
_____________________________________________
Profª. Drª. Nílvia Therezinha da Silva Pantaleoni
_____________________________________________
Prof. Dr. José Everaldo Nogueira Junior.
3
Aos meus pais,
4
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
À minha mãe,
por ter acreditado em mim e pelo suporte
psicológico, emocional e material,
imprescindível para a finalização deste
trabalho.
Ao Vitor,
pelo amor, cumplicidade e muito
companheirismo. Pela paciência e conforto nos
momentos em que mais precisei.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Profª. Drª. Dieli Vesaro Palma, quem eu escolhi para ser minha
orientadora por ter, em primeiro lugar, acreditado em meu trabalho, por ter me
orientado com valiosas sugestões e correções realizadas no decorrer do processo.
Pela paciência, apoio e carinho dedicados à minha pesquisa.
À Profª. Drª. Nílvia Pantaleoni, por quem também tenho muito carinho desde
a graduação e cujas contribuições melhoraram meu trabalho na qualificação e que
me ajudaram a chegar até aqui.
À minha eterna professora, a Profª Drª Valeuska França Cury Martins, que
me acompanha desde a graduação e sempre me acolheu nos momentos em que
mais precisei. Sem ela, sem dúvida, eu não teria chegado até aqui.
À Christiane Gally, por todo apoio que me deu desde que nos conhecemos,
na pós-graduação. Por ter se disposto a revisar este trabalho, mesmo com pouca
disponibilidade de tempo, e ter feito o possível e impossível para fazê-lo.
6
“Quem não lê não sabe o que está
perdendo, pois a leitura dá um sentido
espiritual à vida, abre horizontes, dá uma
visão melhor e mais ampla do mundo e da
sociedade em que vivemos, estimula a
imaginação e o sonho, cria possibilidades
antes impensadas de reivindicar mudanças
em nossa sociedade, corrigindo as injustiças
sociais e políticas que nos afligem.”
José Mindlin
7
A Pedagogia da Leitura: análise de material didático na perspectiva da
Educação Linguística
Resumo
8
Reading pedagogy: schoolbook analysis under the Linguistic Education perspective
Abstract
9
Sumário
Introdução ................................................................................................................... 12
10
2.3.2. O livro didático (LD)................................................................. 106
11
INTRODUÇÃO
O episódio nos fez refletir sobre o poder que o domínio da língua materna
nos dá e o que a falta dele, nos tira. A história, a nosso ver, pode ilustrar a
importância que o aprendizado de Língua Portuguesa tem em nossa sociedade
letrada.
O mais grave, e que nos preocupa, é saber que aquela situação não é
exclusiva àquele homem. O Brasil é marcado pelo alto índice de analfabetismo
funcional, aferido por diversos sistemas de avaliação. Crianças não sabem o que
deveriam saber na idade em que se encontram e, mesmo assim, formam-se no
Ensino Médio, sem o conhecimento mínimo para poder desenvolver-se
intelectualmente e ter as mesmas oportunidades que uma pessoa plenamente
alfabetizada.
13
exemplo, praticamente se universalizou, graças ao maior acesso e permanência
na escola.”3
3
http://www.ipm.org.br/ipmb_pagina.php?mpg=4.02.01.00.00&ver=por&ver=por, acessado em 24
de abril de 2012.
4
http://www.ipm.org.br/ipmb_pagina.php?mpg=4.02.01.00.00&ver=por&ver=por, acessado em 24
de abril de 2012.
14
A EL seria o conjunto de atividades de ensino/aprendizagem, formais ou
informais, que levam uma pessoa a conhecer o maior número de recursos da sua
língua e a ser capaz de usar tais recursos de maneira adequada para produzir
textos a serem usados em situações específicas de interação comunicativa para
produzir efeito(s) de sentido pretendido(s).
Quase sempre essa etiqueta social – norma de uso que configura o que se
tem chamado de gramática normativa – não é calcada em critérios linguísticos,
mas nas razões de prestígio social (econômico, político, cultural). Assim a EL
deve alertar para a existência das variedades linguísticas, suas características, e
quão adequado é o seu uso. A EL formal, ou seja, a aprendida na escola, é a
15
responsável quase sempre pela aquisição da variedade escrita da língua, em
oposição à variedade falada.
16
capazes não só de interferir e de transformar a realidade em que vivem, mas
também que sejam capazes de lutar por uma vida autêntica, autônoma e
autorregulada, a fim de exercerem sua cidadania plena, com liberdade. Paulo
Freire (1989: 88) assegura que queremos “uma educação para decisão, para a
responsabilidade social e política.”
17
descreveremos como se dá o processo de aprendizagem, individual e
socialmente, entre o ensinante e o aprendente – lembrando do papel importante
da família e da escola no processo; e a Linguística.
18
Acreditamos ter atingido nosso objetivo proposto para este trabalho, uma
vez que constatamos o modelo de leitura que subjaz a proposta do LD analisado
e analisamos de que forma os autores tentam acionar o conhecimento prévio dos
aprendentes.
19
CAPÍTULO I
EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA
Paulo Freire (1989, 1996 e 2005), Alicia Fernández (1991, 2001a, 2001b e
2012), Roberto Freire (1987, 1988, 2006) e Sara Paín (2008 e 2009) acreditam na
educação como prática da liberdade, ou seja, uma educação que, em vez de
servir à dominação e à preservação do sistema político-econômico no qual
estamos inseridos e de inibir a criatividade das pessoas, seja transformadora.
Uma educação que favoreça o desenvolvimento de sujeitos, de pessoas críticas,
capazes não só de interferir e transformar a realidade em que vivem, como
também de lutar por uma vida autêntica, autônoma e autorregulada, a fim de
exercerem sua cidadania plena, com liberdade. “Uma educação para decisão,
para a responsabilidade social e política.” (FREIRE, 1989: 88).
20
respectivamente –, defendem uma ideia comum: a liberdade do ser humano, por
meio da autoria de pensamento e da criticidade.
Paulo Freire, pedagogo, que trabalhou por muitos anos com Educação de
Jovens e Adultos, dedicava-se à alfabetização, por meio dos círculos de leitura.
Francisco Weffort (1989:5) ressalta, na introdução do livro Educação como prática
da liberdade, de autoria de Paulo Freire, a importância da liberdade em sua
pedagogia:
Seu trabalho teve foco na alfabetização de adultos que, como ele mesmo
dizia, “transcendia a superação do analfabetismo e se situava na necessidade de
21
superarmos também a nossa inexperiência democrática.” (FREIRE, 1989: 94).
Pensava em um “trabalho com que tentássemos a promoção da ingenuidade em
criticidade, ao mesmo tempo em que alfabetizássemos”. (FREIRE, 1989: 104).
22
notamos apenas seus efeitos. A escravidão negra ou as ditaduras foram
substituídas por um processo de lenta e progressiva diminuição do poder
crítico e da autonomia das pessoas, gerando seres dóceis e passivos.
Essa domesticação do ser humano começa desde a infância,
estendendo-se pela adolescência até atingir a vida adulta, criando
homens e mulheres apáticos e acomodados, sem espírito de luta.
Educadas por meio de uma pedagogia alienante, a maioria dos jovens
torna-se obediente e submissa. (MATA, 2001: 35).
1
Fernández (2001) traz em sua obra os termos aprendente e ensinante, os quais adotamos neste
trabalho. Para a autora, os dois termos se interrelacionam, um depende do outro para existir. A
criança aprende sozinha, por mais que a intenção do ser ensinante seja prioritária no processo de
aprendizagem.
23
competente. Ela domina, oferecendo menos elementos às crianças para
pensar, pois seu domínio depende da manutenção da ignorância. É o
colonialismo no nível de aula.
24
c. Repressora: a garantia da sobrevivência específica do sistema que rege
uma sociedade, instrumento de controle e de reserva do cognoscível;
d. Transformadora: modalidades de militância transmitidas por meio de um
processo educativo que consiste não apenas na doutrinação e em
propaganda política, mas também nas formas peculiares de expressão
revolucionária.
26
consciência para funcionar. A suas falhas são emitidas por meio de sinais para
nossa consciência, em forma de dor, espirro, asfixia etc.
27
Tanto a inteligência quanto o desejo são estruturas que fabricam o
conhecimento nos níveis da objetividade e da subjetividade, respectivamente.
Elas se diferenciam pelas suas construções, ou seja, o modo como se dão os
seus mecanismos, suas operações e seus resultados. Enquanto a objetividade
instaura a realidade, a subjetividade se instaura na irregularidade. Tal realidade
se constitui por aquilo que está fora de nós, que não podemos modificar, é a
realidade do que é possível. Paín (2009: 19) diz que o subjetivo
28
los, para conhecê-los. Para passar da matéria ao pensamento, algo tem
de se converter.
29
alcançar um domínio do próprio corpo capaz de agir de maneira eficaz”. (PAÍN,
2009: 29).
30
constrói-se pela experiência de vida na história do sujeito. O saber está
sempre em construção.
31
ferramentas e espaço adequado (lúdico) onde seja possível a construção do
conhecimento.” (FERNÁNDEZ, 2001: 31).
32
para tal, seja por meio de ferramentas, de orientação, mas, sobretudo pela
confiança depositada nele.
33
mesmo – ele também deve reconhecer-se autor de pensamento e, portanto, livre
para pensar.
O autor é aquele que cria uma obra e, reciprocamente, se faz autor pela
obra. Conforme cria, dá-se conta de que é autor. De novo aprende com o que sua
própria obra lhe mostra, coisa que não conhecia antes de criá-la. A aprendizagem
que compreendemos aqui neste trabalho é o ato de produção, o processo
construtivo do autor e da obra. Neste momento, é que se desenvolve o conceito
de autoria: “em um entre, entre a obra e seu produtor (que, por sua vez, é
produzido como autor pela obra), pelo reconhecimento que o mesmo possa fazer
de si mesmo a partir do ato de encontrar-se em sua obra.” (FERNÁNDEZ, 2001:
97).
Assim, fica claro qual deve ser o eixo da EL. Diferente do ensino de língua
estrangeira, em que o aprendente deve ser apresentado às estruturas básicas da
39
nova língua a ser alcançada e a expressões diárias de comunicação (requisitos
que o falante nativo de uma língua domina), o ensino de língua materna deve
mostrar a adequação de uso da sua própria língua, tanto no aspecto formal como
no social. O usuário, em comunidade linguística, não aprende todos os recursos
de como e quando se devem usar determinadas expressões, nem as diversas
variações que sua língua apresenta.
Lomas (op. cit.), ao se dirigir aos professores de língua materna, diz que o
bom resultado depende de uma mudança de postura em relação às suas aulas,
ou seja, eles devem refletir cotidianamente se suas ações têm contribuído, de
40
fato, para o desenvolvimento da competência comunicativa de seus aprendentes.
Ele recomenda que o professor-mediador pense em que medida o conteúdo
linguístico selecionado e a forma como é abordado colabora para o aprendizado
das habilidades comunicativas do falar, escutar, ler, entender, escrever, no âmbito
não apenas escolar, mas social, do estudante.
Para ficar ainda mais clara a dimensão linguística da EL, como mencionado
anteriormente, apresentaremos, a seguir, alguns de seus elementos: linguagem,
língua, norma, variação linguística, gêneros textuais e texto.
1.2.1.1. Linguagem
41
A segunda visão entende a linguagem como comunicação, portanto o que
está em jogo é a mensagem que se quer transmitir a outrem. A língua é vista
como estrutura – Saussure (2006) a chamaria de langue, vista de acordo com a
concepção estruturalista da língua, e Chomsky de competência, vista segundo a
concepção gerativo-transformacional.
Como lembra Carvalho (2010: 16), atualmente, parece que o ensino da
Língua Portuguesa, nas escolas brasileiras, tem-se baseado nessa concepção de
linguagem, pois “grande parte das aulas é dedicada ao ensino da gramática, mais
especificamente, de nomenclatura gramatical, ou seja, da língua como estrutura,
um código, sincrônico, homogêneo.”
Finalmente, a que vê a linguagem como forma ou processo de interação,
em que a realidade fundamental da língua é o diálogo, no lato sensu. A
enunciação depende das situações de comunicação, dos interlocutores e do
efeito de sentido que se quer conseguir. As linhas de pesquisas que trabalham
com essa perspectiva são todas as que, de alguma forma, estão ligadas à
Pragmática. É essa a perspectiva adotada pela EL, pois considera a linguagem
para além da estrutura da língua; a vê como uma construção, que se dá no
momento da interação.
42
Uma língua viva implica, necessariamente, a ideia de mudança e de
variação, isso porque, para que tenha esse status, ela precisa ser posta em uso
por seus usuários, e eles, enquanto estiverem vivos, estão suscetíveis às
mudanças sociais. Portanto, pode-se concluir que, conforme afirma Leite (2005:
183), “o uso propicia variações linguísticas”.
43
É essa norma prescritiva, chamada culta, ensinada na escola, que possui
grande prestígio social e é considerada, hierarquicamente, superior às outras
normas. Se, por acaso, o falante desconhece a norma culta e faz um uso
inapropriado segundo a visão da comunidade, ele é repreendido, apesar das
variadas possibilidades de uso que a língua oferece.
Embora a língua culta seja somente uma das muitas normas existentes em
uma comunidade, ela ganha um caráter que a difere das outras a partir do
momento em que ganha prestígio social e se torna parâmetro de maior, ou menor,
44
conhecimento da língua. Quanto mais se domina essa norma, mais domínio se
tem dela.
45
existe uma linguagem comum usada pelos falantes cultos que mistura tanto
características de usuários da língua tanto de baixa como de alta escolaridade.
48
Bazerman (2009) também acata a mesma concepção, quando, ao
examinar o texto na sociedade, destaca que os gêneros textuais, por serem
categorias sócio-históricas, estão sempre em constante mudança e são o que as
pessoas reconhecem como gêneros em um determinado momento do tempo – ou
seja, estão intrinsecamente ligados à vida social e às transformações vividas em
sociedade. Esse autor observa que o homem, como ser social integrado a uma
determinada sociedade, deve agir colaborativamente, e os gêneros são formas
textuais típicas com finalidades específicas, utilizadas pelo ser humano em
determinadas situações com o objetivo de compartilhar significados, tendo em
vista propósitos práticos, ou seja, facilitar a comunicação no meio cultural a que
se encontra vinculado.
O autor destaca a origem dos gêneros que, na sua grande maioria, têm
como base a oralidade. Alguns deles são desmembramentos de gêneros
fundadores que vão se desenvolvendo num processo histórico-cultural interativo
dentro de instituições e atividades preexistentes. Nesse sentido, como Bakhtin
destaca, é importante trabalhar-se com a compreensão de seu funcionamento na
sociedade e na sua relação com indivíduos situados em uma determinada cultura
e suas instituições.
Para Dolz & Schneuwly (2010), é, por meio dos gêneros textuais, que as
práticas de linguagem se materializam na escola e fornecem suporte para a
atividade nas situações de comunicação fora dela, constituindo-se numa
referência para os aprendentes. Comprova-se, dessa forma, a afirmação de
Schneuwly (idem) de que se aprende a escrever a partir da apropriação dos
utensílios da escrita.
50
antes, como orientação. O que se quer hoje para a educação básica é o ensino
da língua materna, visando a formar cidadãos críticos e não teóricos linguistas.
51
escolares. Isso, porém, não é um problema novo, pois já faz tempo que se
questiona a viabilidade de os professores colocarem em prática o que os
pesquisadores constatam em suas investigações acerca de educação e ensino de
língua. Há muitos avanços das teorias; no entanto, eles não têm interferido ou
influenciado em mudanças na dinâmica dentro das salas de aula.
1.2.1.4. Texto
Ele pode ser tomado no sentido amplo (lato) como toda e qualquer
manifestação da capacidade do ser humano de expressar-se, como uma música,
um filme, uma escultura, um poema etc. Em se tratando de linguagem verbal, há
o discurso – atividade comunicativa que engloba o conjunto de enunciados
produzidos pelo locutor (ou pelo locutor e interlocutor, no caso dos diálogos) e o
evento de sua enunciação. (cf. FÁVERO, 2009).
52
Em sentido estrito, o discurso é manifestado, linguisticamente, por meio de
textos. Nesse caso, o texto consiste em qualquer passagem falada ou escrita que
forma um todo significativo, independente de sua extensão. Trata-se de um
contínuo comunicativo contextual caracterizado pelos princípios de textualidade.
(cf. KOCH & FÁVERO, 2007: 26). Quando concebido como resultado parcial de
nossa atividade comunicativa, o texto realiza-se por meio de processos,
operações estratégicas que têm lugar na mente humana e são postos em ação
em situações concretas de interação social. Koch & Vilela (2001) destacam que
Ingedore Villaça Koch e Vanda Maria Elias (2008) afirmam, no livro Ler e
compreender os sentidos do texto, que o texto é
53
1.2.2. Dimensão pedagógica
54
um conteúdo do conhecimento, tendo sido designado como saber
a ensinar, sofre então um conjunto de transformações adaptativas
que vão torná-lo apto a tomar lugar ente os objetos de ensino. O
trabalho que, de um objeto de saber a ensinar faz um objeto de
ensino, é chamado transposição didática.
55
a transposição didática significa uma maneira de expressar o verdadeiro
espírito de vigilância intelectual na prática educativa. [grifo do autor] [...]
No contexto educacional, interessa destacar o problema da transposição
das práticas sociais para o contexto escolar. [...] Proporcionar uma
educação mais próxima da realidade e minimizar os efeitos impositivos
da uma “cultura escolar”, nem sempre legítima do ponto de vista social.
(PAIS, 2010: 44).
56
razão, os estudantes estão acostumados a ser cobrados e a ter também
determinadas ações e reações específicas.
Apesar de a maior parte das regras ser implícita, elas não deixam de ser
coercitivas e cumpridas. Em alguns momentos, elas podem ser explicitadas, como
na apresentação de uma atividade específica, em que se fará necessário o
estabelecimento do que o professor espera do estudante para o trabalho e os
critérios utilizados para a correção. Essa definição de regras, inclusive, faz parte
da apresentação do curso aos educandos.
57
autor vê a base do trabalho didático na problematização e tem como hipótese que
se “aprende por adaptação a um meio que produz contradições e desequilíbrios.”
(FREITAS, 2010: 78).
58
Outra característica essencial das situações didáticas é a independência
dos estudantes no processo de aprendizagem, sem o controle direto do professor
sobre o conteúdo ministrado. O mestre poderá passar aos aprendentes a
responsabilidade da pesquisa, criando condições para se apropriarem da
situação. Esta é, segundo Brousseau (idem), a chamada situação adidática,
associada à proposta construtivista no sentido de levar o aprendente à produção
de conhecimento, ou seja, a ser autor de novos conhecimentos por meio da
pesquisa. As situações adidáticas não podem ser confundidas com situações não-
didáticas, aquelas que não foram planejadas visando à aprendizagem.
Segundo Houaiss & Villar (2003: 204), a epistemologia tem dois possíveis
significados: o primeiro é o “estudo do conhecimento, especificamente o
conhecimento científico, sua natureza, seu processo de aquisição, seu alcance e
seus limites, e das relações entre o objeto do conhecimento e aquele que o
busca; a teoria do conhecimento”; o segundo é o “estudo sobre o conhecimento
científico, seus diferentes métodos, suas teorias e práticas, sua evolução na
história e no desenvolvimento das sociedades; teoria da ciência”.
61
contemporâneos afirmam que, ao longo do desenvolvimento do conhecimento
científico, produzem-se mudanças muito importantes e inesperadas.
No entanto, foi Brousseau (1983 apud IGLIORI, idem: 123) quem trouxe esse
conceito para a Educação Matemática, como meio de identificação de causas de
dificuldade de aprendizagem, constitutivo de um saber mal-adaptado e como
ferramenta de análise para erros recorrentes e, portanto, não aleatórios cometidos
por estudantes. A partir desses estudos, o erro passou a ser visto de outra forma:
o que antes era tomado como ignorância ou incerteza começou a ser considerado
“efeito de um conhecimento anterior, que tinha seus interesses, seus sucessos,
mas que agora se revela falso ou simplesmente mal adaptado”. (BROUSSEAU,
1998: 119 apud IGLIORI, 2010: 126).
Duroux (1982, apud IGLIORI, 2010: 128) reitera essa nova perspectiva sobre
os obstáculos epistemológicos, outrora considerados erros e sinais de ignorância,
afirmando que
62
adaptadas num certo contexto, frequentemente reencontrado. Mas ele
engendra respostas falsas a esse contexto.
63
diferentes de representação. Esse tópico são os registros de representação
discutidos a seguir.
64
representado). “(...) são relativas a um sistema particular de signos,
linguagem natural, língua formal, escrita algébrica ou gráficos
cartesianos, figuras” (Duval, 1994: 3, apud Damm, 2010: 173). (...)
Elas têm a função de comunicar as representações mentais, são
essenciais para as atividades cognitivas do pensamento. (idem,
Ibidem: 177) Essas representações conscientes do sujeito, são os
recursos da língua que vamos adquirindo e aprendendo no decorrer
da vida por meio de processos formais de aprendizagem, como na
escola.
65
A teoria dos campos conceituais de Vergnaud (1990: 133 apud FRANCHI
(2010: 191), é definida como
Nessa teoria, Vergnaud (1995 apud FRANCHI, 2010: 174), ainda explica
que os processos cognitivos são processos de longo prazo e são entendidos
como “aqueles que organizam a conduta, a representação e a percepção, assim
como o desenvolvimento de competências e de concepções de um sujeito”.
66
Um conceito não se limita a uma simples definição dada por meio de um
texto, mas o que há subjacente às competências e permite que a ação do sujeito
seja, cognitivamente, operatória. Sua operacionalidade abrange diversas
situações, “manifestando-se sob uma variedade de ações e de esquemas”
(FRANCHI, 2010: 200) – formas estruturais da atividade, organizações invariantes
da atividade do sujeito sobre uma classe de situações dadas.
67
da pesquisa em didática varia, desde escritório de trabalho, sala de aula, escola,
sociedade, a própria história.
68
- descrever cada escolha local feita (eventualmente, relacionando-as às
escolhas globais) e as características da situação adidática decorrentes
de cada escolha;
- analisar qual o desafio da situação para o aluno, decorrente das
possibilidades de ação, de escolha, de decisão, de controle e de
validação de que ele disporá durante a experimentação;
- prever os comportamentos possíveis e mostrar no que a análise
efetuada permite controlar o sentido desses comportamentos; além
disso, deve-se assegurar que, se tais comportamentos ocorrem,
resultarão do desenvolvimento do conhecimento visado pela
aprendizagem. (MACHADO, 2010: 243).
69
Caracterizada a Educação Linguística, no próximo capítulo, trataremos da
pedagogia da leitura.
70
CAPÍTULO II
PEDAGOGIA DA LEITURA
A pedagogia da língua não pode ser concebida como uma receita pronta e
acabada ou uma simples aplicação de instrumentos pedagógicos em aula.
Baseando-se na visão de língua plural e na importância da sua apropriação, em
situações adequadas de uso, Figueiredo (2004: 12) propõe uma pedagogia da
língua concebida “como um acto de construção da prática pedagógica sempre
renovada”.
71
literários como de não literários. Dessa maneira, o ensinante terá uma tarefa
muito importante: a de transmitir ao aprendente o desejo de ler. Dessa forma, ele
construirá sua autonomia, sendo cidadão capaz de continuar a desenvolver-se
social, intelectual e profissionalmente.
Muita gente, hoje em dia, acha que a leitura já não é tão necessária
quanto foi no passado. O rádio e a televisão acabaram assumindo as
funções que outrora pertenciam à mídia impressa, da mesma maneira
que a fotografia assumiu as funções que outrora pertenciam à pintura e
72
às artes gráficas. Temos de reconhecer – é verdade – que a televisão
cumpre algumas dessas funções muito bem; a capacidade do rádio em
transmitir informações enquanto estamos ocupados – dirigindo um carro,
por exemplo – é algo extraordinário, além de nos poupar muito tempo.
No entanto, é necessário questionar se as comunicações modernas
realmente aumentam o conhecimento sobre o mundo à nossa volta.
73
internet, vídeo-game etc... Para superar o desafio, apresentamos as motivações
para a leitura e o que a faz ser atraente aos leitores.
74
2. a leitura impulsiona o uso e treino de aptidões intelectuais e espirituais,
como a fantasia, o pensamento, a vontade, a simpatia, a capacidade de
identificar etc;
75
Ler é identificar-se com o apaixonado ou com o místico. É ser um pouco
clandestino, é abolir o mundo exterior, deportar-se para uma ficção, abrir
o parêntese do imaginário. Ler é muitas vezes, trancar-se (no sentido
próprio e figurado). É manter uma ligação através do tato, do olhar, até
mesmo do ouvido (as palavras ressoam). As pessoas lêem com seus
corpos. Ler é também ser transformado de uma experiência de vida, é
esperar alguma coisa. É sinal de vida, um apelo, uma ocasião de amar,
sem a certeza de que se vai amar. Pouco a pouco o desejo desaparece
sob o prazer.
A leitura pode ser vista por meio de três paradigmas distintos, cujas
abordagens e a relação da leitura no ambiente escolar serão apresentadas no
próximo tópico.
76
também a interação entre leitor, texto e autor. Nesse paradigma, existe mais de
uma abordagem: as que veem a relação entre leitor e texto e as que veem a
relação entre leitor, texto e autor.
77
Apesar de as pesquisas acadêmicas apontarem a abordagem tradicional
como ultrapassada, a prática delas nas escolas ainda se mantém. Segundo Saveli
(2007: 107),
78
Ariane Mieco Sugayama (2011: 11), em sua dissertação de mestrado sobre
as práticas sociais de leitura de texto literários, afirma que
O leitor não tem voz. O único que tem poder é o professor que, por sua
vez, é legitimado pelo livro didático, pois apenas reproduz o que ele aponta como
correto. “Nesta distorcida visão da educação, não há criatividade, não há
transformação, não há saber.” (FREIRE, 2005: 67). Na visão “bancária da
educação,
o “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada
saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais de
ideologia da opressão – a absolutização da ignorância, que constitui o
que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se
encontra sempre no outro. O educador, que aliena a ignorância, se
mantém em oposições fixas, invariáveis. Será sempre o que sabe,
enquanto os educandos serão sempre os que não sabem. A rigidez
destas posições nega a educação e o conhecimento como processos de
busca. (FREIRE, 2005: 67).
79
Assim, como forma de contrapor o paradigma tradicional de ensino-
aprendizagem da leitura, surgem outros paradigmas, a partir de pesquisas
interacionistas, como o paradigma cognitivista de leitura que analisaremos na
seção a seguir.
80
Dentre seus aspectos, está o raciocínio – relações dentro de uma série de
afirmações ou estado de coisas –, a inferência, a solução de problemas – que
relaciona estados de coisas existentes a estados desejados –, a classificação, a
categorização e a formação de conceito – todos impõem e examinam relações
entre afirmações ou estado de coisas.
81
Nesse processo de pensamento, a elaboração de sentidos é resultado
de uma colaboração singular entre o autor e o leitor, no qual o primeiro
antecipa a atuação do segundo e dissemina indícios que precisam ser
interpretados para adquirir sentido. O sentido de uma palavra é a soma
de todos os eventos psicológicos que a palavra desperta em nossa
consciência. É um todo complexo, fluido e dinâmico, que tem várias
zonas de estabilidade desigual. (SAVELI, 2007: 125).
82
ela, porque ler o sentido e decifrar as letras correspondem as duas atividades
diversas, mesmo que se cruzem.” (SAVELI, 2007: 124).
Toda leitura “modifica o seu objeto. O sentido do texto é, com efeito, uma
construção do leitor. Essa afirmação esclarece que a leitura de um texto oferece
uma pluralidade indefinida de significações” (SAVELI, 2007: 126) A leitura é uma
prática criadora e criativa do leitor no momento de sua interação com o texto ou
com o autor, por meio de seu texto. Os leitores são singulares e, portanto, irão ou
poderão fazer interpretações também singulares, possibilitando ao texto diversas
significações, sobre essa afirmação. Chartier (1996, apud SAVELI, 2007: 126-7)
diz que
83
A leitura, nesta abordagem, considera o leitor um sujeito complexo, com
muita relevância na construção de sentido do texto. Kleiman (2008: 23) aponta, no
livro Oficina de leitura – teoria e prática, a importância da experiência de vida do
leitor durante o processo:
84
Durante a leitura, ocorrem dois movimentos dos olhos: progressivo e
regressivo. O regressivo seria uma espécie de releitura que fazemos, antes de
avançarmos no texto – quanto mais fácil a leitura, menos movimento regressivo
se faz. Um leitor eficiente controla seu processo de compreensão e retrocede a
leitura cada vez que não a entende. “No início, a leitura será muito mais difícil
para o leitor e por isso fica quase que limitada à decodificação” (KLEIMAN, 2008:
35).
85
semântico, de forma comunicativa, interagindo com o aprendente por meio de
perguntas e fazendo comentários.
Para uma leitura eficaz, que atinja a compreensão do texto lido, o leitor
deverá estar consciente de seu processo, deverá entrar em um estágio
estratégico. Esse estado se caracteriza “pela necessidade de aprender, resolver
dúvidas e ambiguidades de forma planejada e deliberada” (SOLÉ, 1998: 71-2),
processo designado por Kleiman (2008) de alerta perceptual. A leitura é prática
criadora, “atividade produtora de sentidos não pretendidos e, portanto, singulares,
inusitados.” (SAVELI, 2007: 125).
86
2.2.2.1.2. Modelo descendente (Top-down) de leitura
O leitor que faz mais uso desse modelo de leitura é, por um lado, aquele
que “apreende facilmente as ideias gerais e principais do texto, é fluente e veloz,
mas, por outro, lado faz excessos de adivinhações, sem procurar confirmá-las
com os dados do texto, através de uma leitura ascendente” (KATO, 1999: 50).
87
deve dominar tanto o processo de decodificação, como as estratégias de
compreensão de um texto.
88
manejar com destreza as habilidades de decodificação e aportar
ao texto nossos objetivos, ideias e experiências prévias;
precisamos nos envolver em um processo de previsão e
inferência contínua, que se apóia na informação proporcionada
pelo texto e na nossa própria bagagem, e em um processo que
permita encontrar evidência ou rejeitar as previsões e
interferências antes mencionadas. (SOLÉ, 1998: 23).
89
das estratégias que o leitor utiliza para intensificar a compreensão e a
lembrança do que lê, assim como para detectar e compensar os
possíveis erros ou falhas de compreensão. Essas estratégias são as
responsáveis pela construção de uma interpretação para o texto e, pelo
fato de o leitor ser consciente do que entende e do que não entende,
para poder resolver o problema com o qual se depara. (SOLÉ, 1998: 71).
90
Quando autor e leitor trabalham em um mesmo objetivo, terão êxito caso
cooperem entre si. Adler & Doren (2010: 27) afirmam que
91
2.2.3.1. Abordagem da leitura como prática social
92
A compreensão do que se lê é construída pelos participantes do evento no
momento em que ele ocorre. Os significados não são pré-estabelecidos; dão-se
no momento em que há troca, quando todos se ouvem, discutem, negociam e
chegam a um acordo consensual. O critério usado para tal acordo não está
relacionado com a ideologia, valores e visão de mundo apenas do professor, mas
do próprio grupo de estudantes.
93
2.2.3.2. Eventos e práticas sociais de leitura
Uma das práticas de leitura usada como ferramenta pedagógica nas aulas
de língua portuguesa que apresentamos na próxima seção é a chamada Pensar
Alto em Grupo.
94
2.2.3.2.1. Pensar alto em grupo (PAG)
1
Termo utilizado para designar um professor que está em constante troca com os estudantes,
também ensinantes-aprendentes, ao mesmo tempo em que ensinam, aprendem. Ver em
Fernandez (2001).
95
perceber as unidades de sentido, a fazer previsões sobre o texto, com atividades
prévias à leitura, destacando palavras-chave, contextualizando-o sobre o tema
discutido. Dessa forma, o leitor em formação terá condições de identificá-las,
algumas vezes até de imediato, facilitando o árduo processo inicial entre a
decodificação e a compreensão.
96
A compreensão da leitura não se dá, necessariamente, no seu ato, mas,
sim, no instante em que se realizam as atividades de reflexão sobre a leitura junto
do professor, momento este em que a criança retoma o texto. Essas tarefas
propiciarão a formação do leitor, de modo que ele construa seu próprio saber
sobre a leitura.
97
A ação de decifração de palavras, que a escola chama de leitura, passa
longe da definição de leitura dada por Bellenger (1978)2. Também não
acreditamos que a mera decifração seja leitura, mesmo que autenticada pela
tradição escolar. Várias atividades escolares em torno da leitura servem de
desestímulo para a formação de leitores. Na sociedade, há muitos eventos sociais
que envolvem leitura e escrita, como concursos para cargos públicos, colégios,
universidades, que exigem dos candidatos conhecimentos fragmentados, apenas
estruturais da língua e raramente a abordagem global, baseada no uso da língua.
Por essas ações negativas que vêm acontecendo nas aulas de Português,
acreditamos na formação teórica de professores na área de leitura. Vejamos
algumas práticas, desastrosamente, feitas em aula:
2
Ver seção O que é ler? Por que ler?, deste trabalho.
98
uma visão redutora, pois não faz o estudante ir além do texto, mas,
sim, reduzir a leitura, provocando o desinteresse em ler, associando-
o ao dever e não ao prazer;
• a visão autoritária de leitura,na qual se considera apenas uma forma
de interpretação. Normalmente, essa voz é a do professor ou a do
livro didático. Nesse sentido, o leitor em formação é desvalorizado e,
mais uma vez, desestimulado a gostar da leitura.
99
relevância do texto jornalístico na sociedade. Qual a sua veracidade? Porque
antes de tudo, ele deve ser aceito como fonte de informações e novidades,
fazendo as funções que normalmente em culturas pouco letradas, são praticadas
oralmente por membros da família e pela comunidade imediata.
100
dar atenção devida a cada aluno, conhecê-los como deveríamos e fazer uma
análise cognitiva e lograr um resultado eficiente de aprendizado de leitura?
“Apesar de seu foco mental, a linguística cognitiva pode, sim, ser descrita como
social cultural e contextual”. (LANGACKER, 1997: 240, apud MARCUSCHI,
2004a: 54). Nesse ponto, o estudo da linguística cognitiva tem um papel muito
importante na melhoria da nossa educação básica.
101
favorecendo o seu desenvolvimento cognitivo, deixando-o apto a obter sua
autonomia quando se trata de aprendizado. A aquisição ou desenvolvimento da
leitura depende da interação explicitamente dirigida, comumente proporcionada
pelo professor, que deve manter esse processo ao longo de toda a escolaridade,
não apenas nas séries iniciais, como tem sido feito nos dias atuais.
Devemos frisar também que não é e nem deve ser papel exclusivo da
escola o de ensinar e fomentar a leitura para a criança, pois a família tem grande
responsabilidade nessa empreitada. Escola e família precisam trabalhar em
102
conjunto. Anteriormente à escola, existem “as situações de convívio com
materiais escritos, vividas no ambiente familiar.” (ANTUNES, 2009: 188).
A palavra escrita “permeia hoje quase todas as práticas sociais dos povos
em que penetrou.” (MARCUSCHI, 2007: 19). A escrita e a leitura são diferentes
facetas que se complementam. Quem escreve, escreve para um possível leitor.
Para se escrever bem, dizem, é necessário que se leia bastante, porque, para
que se desenvolvam bons textos, precisa-se ter informações relevantes sobre
determinados temas. Vale lembrar que a competência escrita não se desenvolve
apenas com a da leitura, é necessária muita prática.
103
2.3.1. Gêneros textuais no ambiente escolar: sequências
didáticas
104
Assim, uma sequência didática tem, precisamente, a finalidade de ajudar o
aprendente a dominar melhor um gênero de texto, permitindo-lhe escrever ou
falar de uma maneira mais adequada numa dada situação de comunicação.
Portanto, são responsáveis por permitir que os aprendentes tenham acesso às
práticas de linguagem novas ou de difícil apropriação.
105
Ora, como essa é uma proposta de metodologia elaborada, inicialmente,
por professores-pesquisadores da Universidade de Genebra, Suíça, motivados a
descobrir novas formas de sanar as dificuldades dos aprendentes na aquisição da
língua materna, há de se ter muito cuidado, para que não se torne, no Brasil, mais
uma teoria/metodologia pronta, fechada e imposta.
106
Marcuschi (2004: 259) comenta que nunca se pensou, discutiu e investigou
tanto o ensino da Língua Portuguesa como agora. Bezerra (2010: 40) diz que
muitas teorias têm influenciado a metodologia do ensino da língua materna, umas
com mais destaque do que outras. As mais relevantes, segundo Marcuschi, são
as mais atuais
107
A abertura da escola para atender às classes populares – não dominadoras da
língua de prestígio – deveria ter transformado o perfil das aulas, mas não foi o que
aconteceu.
108
Os parâmetros, que seguem as atuais tendências teórico-educacionais,
dão respaldo ao professor que queira se adaptar às novas pesquisas no campo
do ensino da Língua Portuguesa e mudar a sua didática, baseando-se nas
práticas sociais de linguagem. Dessa forma, a EL está sintonizada hoje com
mudanças educacionais e propõe uma nova forma de se ensinar a língua
materna, além de abrir um novo campo de pesquisa.
109
CAPÍTULO 3
METODOLOGIA E ANÁLISE
110
1. Qual o modelo de leitura que subjaz à proposta do LD?
2. De que forma os autores tentam acionar o conhecimento
prévio dos aprendentes?
Portanto, os nossos objetivos ao desenvolvermos este trabalho são:
1. Constatar qual o modelo de leitura que subjaz a proposta do
LD analisado.
2. Analisar de que forma os autores tentam acionar o
conhecimento prévio dos aprendentes.
111
científicas e culturais. Stella Maris Bortoni-Ricardo (2008) aponta que “desde
meados do século XIX, a teoria da ciência começou a confundir-se com a
própria teoria do conhecimento, de tal forma que todo conhecimento
considerado legítimo passou a ter sua fundamentação na pesquisa científica.”
Outros grandes precursores intelectuais da tradição cientificista, como lembra
Chizzotti (2011), são Francis Bacon (1561-1621), René Descartes (1596-1650),
Galileu Galilei (1564-1642), Hobbes (1588-1678), Isaac Newton (1642-1727),
John Locke (1632-1704), Berkley (1685-1753), David Hume (1711-1776) e
John Stuart-Mill (1806-1873).
112
novos olhares teórico-metodológicos para com a realidade” (Sugayama, 2011:
66).
113
Dentre tantas posturas epistemológicas que a pesquisa qualitativa
acolhe, Thomas A. Schwandt (2006) escolhe três delas – o interpretativismo, a
hermenêutica e o construcionismo social – e aprofunda-se em um exame
descritivo e comparativo. Schwandt (2006: 195) diz que
114
3.2.1. Pesquisa interpretativista crítica
115
Definir o que é documento não é fácil, porém torna-se muito importante,
por constituir a história de todas as ciências sociais. André Cellard (2010: 296-
7), na tentativa de definir o que é documento, afirma que
116
Bastos e Palma (2008: 15) afirmam que “o historiógrafo do tempo
presente deve definir com rigor seu campo de investigação, seu método, as
fontes disponíveis e as posições que assume frente à história da qual foi
participante”, pois dessa forma, traz mais objetividade ao estudo, uma vez que
o pesquisador está inserido no tempo, no contexto que se analisa.
3.2.2.1. O contexto
117
3.2.2.2. O autor ou os autores
Levando em conta que quem escreve algo, escreve para ser lido por
alguém, ou seja, escreve pensando em um leitor ideal, é importante que se
saiba qual a natureza do texto, para quem o texto é dirigido. A natureza do
118
texto orientará a forma como o autor se exprimirá. “Efetivamente, a abertura do
autor, os subentendidos, a estrutura de um texto podem variar enormemente,
conforme o contexto no qual ele é redigido” (CELLARD, 2010: 302).
3.2.2.6. A análise
119
Fundamental, dos autores William Roberto Cereja e Thereza Cochar
Magalhães.
3.1.1.1. Contexto
120
Analisar criticamente os diferentes discursos, inclusive o próprio,
desenvolvendo a capacidade de avaliação de textos:
121
b. Extrair informações não explicitadas,
apoiando-se em deduções;
c. Estabelecer a progressão temática;
d. Integrar e sintetizar informações,
expressando-as em linguagem própria,
oralmente ou por escrito;
e. Interpretar recursos figurativos tais como:
metáforas, metonímias, eufemismos,
hipérboles etc.;
o Delimitando um problema levantado durante a leitura
e localizando as fontes de informação pertinentes
para resolvê-lo;
Seja receptivo a textos que rompam com seu universo de
expectativas, por meio de leituras desafiadoras para sua
condição atual, apoiando-se em marcas formais do próprio
texto ou em orientações oferecidas pelo professor;
Troque impressões com outros leitores a respeito dos textos
lidos, posicionando-se diante da crítica, tanto a partir do
próprio texto como de sua prática enquanto leitor;
Compreenda a leitura em suas diferentes dimensões – o
dever de ler, a necessidade de ler e o prazer de ler;
Seja capaz de aderir ou recusar as posições ideológicas que
reconheça nos textos que lê.
(BRASIL, 1998: 49-51)
122
o Formular hipóteses a respeito do conteúdo do texto,
antes ou durante a leitura;
o Validar ou reformular as hipóteses levantadas a partir
das novas informações obtidas durante o processo
da leitura;
o Avançar ou retroceder durante a leitura em busca de
informações esclarecedoras;
o Construir sínteses parciais de partes do texto para
poder prosseguir na leitura;
o Inferir o sentido de palavras a partir do contexto;
o Consultar outras fontes em busca de informações
complementares (dicionários, enciclopédias, outro
leitor);
Articulação entre conhecimentos prévios e informações
textuais, inclusive as que dependem de pressuposições e
inferências (semânticas, pragmáticas) autorizadas pelo texto,
para dar conta de ambiguidades, ironias e expressões
figuradas, opiniões e valores implícitos, bom como as
intenções do autor;
Estabelecimento de ralações entre os diversos segmentos do
próprio texto, entre o texto e outros textos diretamente
implicados pelo primeiro, a partir de informações adicionais
oferecidas pelo professor ou consequentes da história de
leitura do sujeito;
Articulação dos enunciados estabelecendo a progressão
temática, em função das características das sequências
predominantes (narrativa, descritiva, expositiva,
argumentativa e conversacional) e de suas especificidades no
interior do gênero;
Estabelecimento da progressão temática em função das
marcas de segmentação textual, tais como: mudança de
capítulo ou de parágrafo, títulos e subtítulos, para textos em
prosa; colocação em estrofes e versos, para textos em
versos;
Estabelecimento das relações necessárias entre o texto e
outros textos e recursos de natureza suplementar que o
acompanham (gráficos, tabelas, desenhos, fotos, boxes) no
processo de compreensão e interpretação do texto;
Levantamento e análise de indicadores linguísticos e
extralingüísticos presentes no texto para identificar as várias
vozes do discurso e o ponto de vista que determina o
tratamento dado ao conteúdo, com a finalidade de:
o Confrontá-lo com o de outros textos;
o Confrontá-lo com outras opiniões;
o Posicionar-se criticamente diante dele;
Reconhecimento dos diferentes recursos expressivos
utilizados na produção de um texto e seu papel no
estabelecimento do estilo do próprio texto ou de seu autor.
123
pela Universidade de São Paulo, doutor em Linguística Aplicada e Análise do
Discurso na PUC-SP.
3.1.1.3. Natureza do LD
124
As páginas de abertura se destinam ao aquecimento do tema da
unidade no que diz respeito ao gênero discursivo, que será abordado no
decorrer das demais páginas. Com alguma imagem e textos curtos, a abertura
tem também a seção Fique ligado! Pesquise!, que sugere atividades,
pesquisas possíveis de serem realizadas em classe ou extraclasse. Por
exemplo, assistir a filmes, ler livros, pesquisas na internet, ouvir músicas etc.
Assim, podendo ampliar o conhecimento prévio dos aprendentes sobre
determinado gênero.
125
trocando ideias e ler é um prazer/ emoção/ descoberta/
diversão/ reflexão;
Produção de texto: Trata de trabalhar com diversos gêneros do
discurso de ampla circulação social, essa seção mantém o
diálogo com o tema da unidade e com os textos estudados no
capítulo. É dividida em duas partes: a primeira em que são
caracterizadas as características do gênero e a segunda em que
os aprendentes deverão produzir seu próprio texto, de acordo
com o gênero determinado, denominada de Agora é a sua vez;
Para escrever/ falar com adequação/ expressividade/
coerência e coesão: É uma seção que varia o nome, de acordo
com que é pedido. Trata de exercitar aspectos específicos da
língua como vocabulário, grau de informatividade, ambiguidades,
discursos citados, valores estilísticos de pontuação etc.
A língua em foco: Nessa seção, são estudados os aspectos
linguísticos da Língua Portuguesa. Neste momento, os
aprendentes realizam exercícios gramaticais, porém desde
outra perspectiva, espera-se que o aprendente deixe de
apenas descrever a língua, conforme a variedade culta e
passe a operar a língua como um todo, isto é, aproprie-se de
seus recursos de expressão, orais e escritos, e utilizá-los de
forma consciente. Ela apresenta os tópicos: Construindo o
conceito, conceituando, A categoria gramatical estudada
na construção do texto e Semântica e discurso.
De olho na escrita: Essa seção trabalha os aspectos
notacionais da língua, como a ortografia e a acentuação.
Está presente em dois ou mais capítulos de cada unidade.
126
Vejamo
os na figura a seguir o su
umário do
o livro, p ara ilustrrar a
estrutura do livro que descrevem
d mos:
127
128
129
130
131
132
3.1.1.3.2. Análise da apresentação da coleção Português:
Linguagens – Ensino Fundamental
133
Cereja & Magalhães (2006: 2) propõe um material didático de ensino de
língua, que a veja “como um instrumento de comunicação, de ação e de
interação social”, que dê um novo um novo tratamento aos conteúdos, agora
vistos a partir da “semântica, da estilística, da linguística e da análise do
discurso”. Pensam um trabalho integrado entre produção de leitura, de textos e
reflexão sobre a língua.
134
desenvolver habilidades de leitura de textos não verbais, tais como observar,
comparar, levantar hipóteses, inferir, identificar, explicar, estabelecer relações
de causa e conseqüência.
135
tenta-se induzir os aprendentes a ativar o seu conhecimento prévio acerca das
histórias fantásticas, em que aparecem os personagens do plano de fundo, no
entanto, essa tarefa parece estar prejudicada uma vez que a imagem não está
clara.
136
quanto para ativar o conhecimento prévio dos alunos, antes que eles
iniciem o capítulo 1, o estudo sistematizado dos contos maravilhosos.
Portanto, estimule os alunos a relatar suas impressões e experiências com
a leitura.
137
138
139
140
141
Termina
ada a parte
e introdutó
ória, passa
amos à aná
álise das qquestões sobre
s
leitura do primeiro cap
pítulo Era uma vez
z, da Unidade 1. P
Para que nos
conttextualizem
mos, antes das q uestões, apresenta
amos o primeiro texto
analisado: O ganso
g de ouro.
142
143
144
1. O texto “O ganso de ouro” conta uma história. O texto que conta
uma história chama-se texto narrativo. Todo texto narrativo
apresenta fatos em sequência: um fato, que dá origem a outro fato,
e assim por diante. No conto em estudo, por exemplo, João Bocó
divide seu lanche com um homem velho.
a. Que efeito esse fato causa no destino de João? João recebe um
ganso de ouro por recompensa e sai pelo mundo em busca de aventuras.
145
2. Uma história pode ser vivida por pessoas, animais e, às vezes, até
por objetos. Quem vive uma história, chama-se personagem. Leia o
boxe ao lado e responda:
a. No conto “O ganso de ouro”, quem é o protagonista? João
Bocó.
Os dois últimos itens estão ligados entre si, pois perguntam sobre a
mesma personagem: a protagonista. No item C, o estudante é levado a
recorrer ao seu conhecimento prévio (heróis que já conhece), para poder
comparar com o conhecimento novo (o novo herói, João Bocó). No último item,
ele volta a fazer uma interpretação, e identificar as características do João
Bocó, que estão presentes no livro.
146
b. Compare o modo como o pai e a mãe de João Bocó o tratam
e como eles tratam os outros filhos. Há alguma diferença
nessa forma de tratamento? Justifique sua resposta com
elementos do texto. Sim; o pai acha os dois irmãos espertos e
inteligentes e considera João um bobo; a mãe prepara um lanche com bolo e
vinho para os filhos mais velhos e um lanche com pão e água para o João.
5. Apesar de João Bocó ter feito a princesa rir, o rei não cumpriu sua
palavra e submeteu o herói a duas provas que estavam além da
capacidade dele.
a. Que tipo de ajuda o João teve para vencê-las? Nas duas provas,
João Bocó teve a ajuda do velho mágico. Na primeira, o velho mágico
provavelmente se transformou em no homem faminto e, na segunda, deixou
em seu lugar o barco.
147
6. Que outro título você daria para esse conto? Resposta pessoal.
148
149
150
3.2. Discussão dos resultados
151
CONSIDERAÇÕES FINAIS
152
leitor informações que não estão no texto, dependem do seu conhecimento
enciclopédico. Elas requisitam do leitor reflexão e estabelecimento de relações
entre o novo (o que ele está lendo) e o velho (informações já adquiridas em outras
leituras de mundo ou textuais).
É importante salientar que o leitor que faz mais uso desse processamento
em detrimento do outro tende a ser vagaroso e pouco fluente, pois tem dificuldade
de sintetizar as ideias do texto, uma vez que pode não saber distinguir o que é
mais relevante do que é secundário, considerando apenas o ilustrativo ou o
redundante. (KATO, 1999).
153
pouco, por meio de poemas, imagens, e indicações de livros e filmes sobre a
temática, foram sendo reunidos aspectos e características do gênero.
154
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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qualitativa. São Paulo: Parábola editorial.
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