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Determinação do Tempo de Resposta de Pequenas Bacias Urbanas da Cidade


de Coimbra

Conference Paper · October 2010

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0 52

6 authors, including:

João L. M. Pedroso de Lima Jorge Temido


University of Coimbra Buggy Power
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Determinação do Tempo de Resposta de Pequenas Bacias Urbanas
da Cidade de Coimbra
João L. M. P. DE LIMA (1,2); Jorge TEMIDO (1,2); M. Isabel P. DE LIMA (1,3); Romeu
GERARDO (1,2); Sílvia CARVALHO (1,2)

RESUMO
A estimativa do tempo de concentração do escoamento superficial em ambiente urbano
reveste-se da maior importância para a reabilitação de sistemas de drenagem de águas
pluviais urbanas. No entanto, a dificuldade em estimar tempos de concentração de bacias
urbanas deve-se, em particular, à dependência do tempo de concentração relativamente ao
período de retorno definido para projectos urbanos.
Este trabalho integra-se num estudo mais geral que tem por objectivo principal efectuar uma
análise comparativa de diferentes metodologias de determinação do tempo de
concentração, baseadas na estimativa de tempos de trajecto do escoamento superficial.
Foram realizados trabalhos de campo em dez locais dentro de bacias de drenagem da zona
urbana de Coimbra, incluindo superfícies urbanas com diferentes graus de
impermeabilização e declives. Efectuaram-se medições in situ do tempo de trajecto e da
velocidade média do escoamento superficial em cada troço seleccionado, recorrendo a
traçadores.
Este estudo, do qual se relatam resultados preliminares, pretende contribuir para o avanço
do conhecimento na área de hidráulica urbana, no que respeita à elaboração de planos
gerais de drenagem de águas pluviais. Os resultados obtidos mostram que a complexidade
do tecido urbano deve ser considerada na aplicação de métodos conducentes a estimativas
do tempo de concentração de bacias de drenagem urbanas, em particular, de pequenas
bacias urbanas.

PALAVRAS-CHAVE:
Bacias urbanas, Drenagem pluvial, Escoamento superficial, Tempo de concentração.

__________________________________________________________________________
(1) Centro do Mar e Ambiente do Instituto do Mar (IMAR-CMA), Portugal.
(2) Departamento de Engenharia Civil (DEC), Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCTUC),
Universidade de Coimbra, Rua Luís Reis Santos, Pólo II, 3030-788 Coimbra, Portugal.
plima@dec.uc.pt, jtemido@sapo.pt, romeu.gerardo@gmail.com, silviacpc@gmail.com
(3) Departamento de Recursos Florestais, Escola Superior Agrária (ESAC) - Instituto Politécnico de
Coimbra (IPC), Bencanta, 3040-316 Coimbra, Portugal. iplima@esac.pt

1
1 INTRODUÇÃO
A estimativa do tempo de concentração, do tempo de resposta e das isócronas de bacias
urbanas reveste-se da maior importância para a reabilitação de sistemas de drenagem de
águas pluviais em áreas urbanas, bem como para a avaliação das suas condições de
operação.
O tempo de concentração é um parâmetro fundamental em estudos hidrológicos,
nomeadamente para a determinação do caudal de ponta de cheia e do hidrograma de
escoamento superficial de bacias de drenagem urbana. Este parâmetro constitui a base de
cálculo dos caudais de dimensionamento de qualquer órgão ou estrutura hidráulica (por
exemplo, canais, valetas, descarregadores e bacias de retenção). Além da ocupação do
solo, o tempo de concentração depende das outras características da bacia hidrográfica, tais
como a área, forma e inclinação da bacia, redes de drenagem e características geológicas.
Em particular, realça-se também a dependência do tempo de concentração relativamente ao
período de retorno definido para projectos urbanos. Todos estes factores contribuem para
dificultar a estimativa dos tempos de concentração de bacias urbanas.
Alguns dos problemas práticos que se colocam quando se pretende fazer a estimativa de
tempos de concentração de bacias de drenagem urbanas resultam da escassez de
trabalhos dedicados ao estudo da dinâmica do escoamento superficial em pequenas bacias
deste tipo, nomeadamente para as características dos aglomerados urbanos em Portugal.
Realça-se a sensibilidade dos sistemas de drenagem urbana às consequências da
urbanização; nomeadamente, a impermeabilização do solo está tipicamente associada à
diminuição da capacidade de infiltração e ao consequente aumento do volume de
escoamento superficial. Este factor tem grande influência na magnitude e frequência de
inundações em meio urbano.
A estimação/determinação do tempo de concentração em bacias urbanas pode ser feita por
vários processos (e.g., de Lima, 2010):
i) aplicando fórmulas empíricas de natureza cinemática (e.g., Giandotti, Témez, Kirpich)
aplicáveis normalmente a terrenos livres, envolvendo variáveis como, por exemplo, o
comprimento da bacia medido ao longo do talvegue principal e a diferença de nível entre o
ponto mais a montante da bacia e a secção em estudo (e.g., Wong, 2005);

ii) através da estimativa da velocidade média do escoamento superficial na bacia, até à


secção em estudo, atendendo ao declive e à rugosidade da superfície. O estabelecimento
da velocidade média de escoamento superficial deve ser efectuado por troços, resultantes
da divisão da bacia em sub-áreas com características homogéneas em termos de cobertura
do solo e de declive. O tempo de concentração é definido como a soma dos tempos de
percurso correspondentes aos diferentes troços;
iii) efectuando a determinação directa utilizando traçadores. Esta determinação é feita
através da medição da variação temporal da concentração de traçadores adicionados ao
escoamento superficial;
iv) recorrendo a valores tabelados publicados na bibliografia.

2
A complexidade dos processos envolvidos e a sua variabilidade no tempo e no espaço são
responsáveis pelo grau de incerteza associado à determinação do tempo de concentração
de bacias hidrográficas.
O objectivo geral deste estudo é contribuir para o avanço do conhecimento na área de
hidráulica urbana, no que respeita à elaboração de planos gerais de drenagem de águas
pluviais. No âmbito deste trabalho foram efectuados trabalhos de campo com o objectivo de
estimar o tempo de entrada do escoamento superficial no sistema de drenagem (sumidouro
ou sarjeta) usando traçadores.
A estimativa do tempo médio de trajecto do escoamento superficial baseou-se na
determinação dos tempos médios de residência de um traçador no escoamento; ver a
metodologia descrita, por exemplo, em Kendal e McDonnell (1998), Käss (1998), Dunkerley
(2001) e Fang et al. (2008).

2 METODOLOGIA
Este estudo visou a medição in situ do tempo de trajecto e da velocidade média do
escoamento superficial em troços seleccionados dentro do tecido urbano de Coimbra,
recorrendo a traçadores.
2.1 Descrição dos locais dos ensaios
Foram realizados trabalhos de campo em 10 locais dentro de bacias de drenagem da zona
urbana de Coimbra, seleccionados tendo em consideração o grau de impermeabilização e o
declive das superfícies urbanas. Os locais seleccionados (Figura 1 e Quadro 2) enquadram-
se nas 6 categorias definidas no Quadro 1, resultantes da combinação de 2 graus de
impermeabilização (superior a 50% e inferior a 50%) e 3 classes de declive (superiores a
8%, entre 1,5 e 8%, e inferiores a 1,5%).

Quadro 1. Situações a estudar em função do grau de impermeabilização e do declive das


superfícies urbanas.

Situação Impermeabilização Declive


1 Áreas muito inclinadas (> 8%)
Superfícies urbanas com
2 Áreas inclinadas (1,5% a 8%)
impermeabilização superior a 50%
3 Áreas planas (< 1,5%)
4 Áreas muito inclinadas (> 8%)
Superfícies urbanas com
5 Áreas inclinadas (1,5% a 8%)
impermeabilização inferior a 50%
6 Áreas planas (< 1,5%)

Os trabalhos de campo foram efectuados na margem esquerda do Rio Mondego, nas


freguesias de São Martinho do Bispo (Piscina Luís Lopes da Conceição, Escola Superior

3
Agrária de Coimbra e Escola Inês de Castro) e de Santa Clara (Tulha), e na margem direita,
na freguesia de Santo António dos Olivais (Pólo II da Universidade de Coimbra, Vale das
Flores e Quinta da Portela). Aos vários locais dos ensaios foi atribuído um número,
apresentando-se no Quadro 2 a correspondência com a designação toponímica ou outra
referência de identificação.

Quadro 2. Locais em que foram realizados os ensaios de campo, dentro da zona urbana de
Coimbra (ver Figura 1 e Anexo).
Situação função do grau de
Identificação Designação toponímica ou de impermeabilização e do
do local referência declive das superfícies
urbanas – Quadro 1
1 Piscina Luís Lopes da Conceição 1
2 Escola Superior Agrária de Coimbra 1
3 Pólo II da Universidade de Coimbra 1
4 Quinta da Portela (I) 1
5 Vale das Flores 2
6 Quinta da Portela (II) 2
7 Quinta da Portela (III) 3
8 Escola Inês de Castro 4
9 Tulha 5
10 Quinta da Portela (IV) 6

Figura 1. Identificação dos diversos locais onde se efectuaram os trabalhos de campo


(Google Maps, 2009).

4
A escolha dos locais onde se realizaram os ensais de campo teve em conta a necessidade
da proximidade de uma fonte de alimentação de água adequada (boca-de-incêndio ou boca-
de-rega) para gerar o escoamento superficial pretendido.
Após a identificação dos locais de estudo definiu-se, para cada caso, o ponto de lançamento
do traçador e o ponto de amostragem (ponto de medição).
Para apoio ao trabalho desenvolvido definiram-se “Fichas de Trabalho de Campo” com a
seguinte estrutura: identificação do local (e.g., localização, grau de impermeabilização e
declive médio da superfície), dados de base e condições do ensaio (e.g., perfil longitudinal
do local, fonte de alimentação de água e caudal utilizado no ensaio) e resultados (e.g.,
tempo de trajecto e velocidade média do escoamento superficial). Foi usado o mesmo
modelo para todos os casos estudados e ensaios realizados. No Anexo apresenta-se a ficha
do local 5, como exemplo da caracterização detalhada dos locais de estudo e dos resultados
obtidos.
Os locais de estudo com grau de impermeabilização superior a 50% são os que poderão dar
origem aos maiores caudais de escoamento superficial resultantes da ocorrência de
precipitação. Os tipos de superfície de escoamento estudados são: revestimento
betuminoso, revestimento a betão, calçada à Portuguesa, calçada de blocos de tijolo, terra
batida e solo nu.
Nos ensaios realizados no âmbito deste trabalho a distância geométrica percorrida pelo
escoamento superficial varia entre cerca de 18 e 106 m.

2.2 Métodos e medições


A estimativa do tempo médio de trajecto do escoamento superficial, que constitui o principal
objectivo do trabalho realizado, baseou-se na determinação dos tempos médios de
residência de um traçador no escoamento superficial. O escoamento superficial foi gerado
recorrendo a uma fonte de alimentação de água (e.g., boca-de-incêndio).
Para que os resultados obtidos nos ensaios de campo, relativos ao tempo de trajecto,
traduzam situações naturais decorrentes da ocorrência da precipitação, foi necessário
assegurar que as condições do trabalho de campo respeitassem as condições típicas de
humidade no solo quando ocorre precipitação. Deste modo, para reproduzir teores elevados
de humidade no solo ao longo do trajecto da água, manteve-se o escoamento superficial,
até se verificar a saturação do solo e, assim, garantir que a resposta obtida do sistema
corresponda à situação mais desfavorável (o caudal foi medido e comparado no ponto de
lançamento e no ponto de recolha). Foram efectuadas três medições e considerado o valor
médio.
O traçador utilizado foi o cloreto de sódio (NaCl). Este é um produto solúvel na água, e é
inócuo para o Homem e para o meio ambiente, nas condições dos ensaios. Por se tratar de
um sal, a sua presença na água pode ser detectada através da medição da condutividade
eléctrica das amostras de água recolhidas, o que foi feito com um condutivímetro digital.
Assim, as medições incidiram sobre a condutividade eléctrica da água e não directamente

5
sobre a concentração de traçador. No entanto, a relação entre a condutividade e a
concentração do sal é linear e conhecida (e.g., Rodrigues et al., 2006).
No campo, este traçador foi aplicado “instantaneamente”, no momento t0, injectando um litro
de uma solução de NaCl previamente preparada, de concentração conhecida, no
escoamento superficial. A partir deste instante procedeu-se ao registo da variação da
condutividade eléctrica ao longo do tempo no final do troço em estudo (ponto de recolha das
amostras de água), para intervalos de tempo constantes (∆t). Este processo terminou
quando os valores da condutividade obtidos foram iguais aos valores iniciais (condutividade-
base; corresponde à concentração de sais presentes/dissolvidos na água e no solo). Este
registo permite calcular o tempo de trajecto do escoamento superficial desde o ponto de
lançamento do traçador até ao ponto de recolha das amostras de água. Em cima foram já
dadas referências sobre o método utilizado neste cálculo. A partir do valor do tempo de
trajecto do escoamento superficial observado em cada caso foi determinada a
correspondente velocidade média de escoamento, assumido uniforme.
Complementarmente, como controlo, efectuou-se também uma estimativa da velocidade
utilizando um traçador colorido orgânico, introduzido no escoamento superficial. O
movimento da frente visível da mancha colorida reflecte a velocidade máxima do
escoamento (e.g., Dunkerley, 2001). A medição desta velocidade foi feita cronometrando o
tempo necessário para que o traçador colorido introduzido no escoamento superficial
percorresse a distância de um metro, o que foi avaliado através de observação visual
directa.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram realizadas 15 determinações de tempos de trajecto do escoamento superficial
(Quadro 3), fora do sistema público de drenagem de águas pluviais (não canalizado), em 10
locais da zona urbana de Coimbra.
No Quadro 3 apresentam-se, de forma sucinta, os resultados obtidos para os diferentes
parâmetros analisados em cada local: grau de impermeabilização; declive; distância
geométrica percorrida pelo escoamento; tipo de superfície; caudal utilizado; concentração da
solução de cloreto de sódio adicionada (traçador NaCl); duração total do ensaio; tempo de
trajecto e velocidade média do escoamento superficial.
No Anexo apresentam-se, a título de exemplo e para o ensaio realizado no local 5, os
elementos-base para a determinação do tempo de trajecto e velocidade média do
escoamento superficial, incluindo o gráfico que mostra a variação no tempo do valor da
condutividade eléctrica da água na secção de recolha de amostra de água, após subtracção
do valor da condutividade-base. Este registo temporal permite estimar o tempo médio de
trajecto do escoamento superficial, através da avaliação do tempo de residência do traçador
que se desloca no sistema (i.e. escoamento).
A Figura 2 apresenta um diagrama que mostra a velocidade média do escoamento
superficial, observada para diferentes valores do declive do terreno e do caudal utilizado nos

6
ensaios. Observa-se que os resultados dos ensaios estão fortemente condicionados pela
magnitude do caudal de escoamento superficial utilizado.
Assim, em dois locais seleccionados, foram executados ensaios para caudais variáveis (ver
Quadro 3) com o objectivo de explorar esta questão. Foram seleccionados o local 1 (Piscina
Luís Lopes da Conceição) e o local 8 (Escola Inês de Castro); pertencem à mesma classe
de declive e apresentam características distintas de impermeabilização. A Figura 3
representa o tempo de trajecto em função dos diversos caudais escoados e a Figura 4
mostra a velocidade média de escoamento observada para diferentes caudais, nos troços
estudados no local 1 (impermeabilizado) e local 8 (mais permeável).

18,00

16,00
0,1
14,00
Piscina
0,35
12,00 0,12 Escola Superior Agrária
Pólo II
Declive médio (%)

10,00
0,17 Quinta da Portela I
0,21 Vale das Flores
8,00
Quinta da Portela II
6,00 0,25
0,07 Quinta da Portela III

4,00 Escola Inês de Castro


0,54
Tulha
2,00 Quinta da Portela IV
0,78
0,51
0,00
0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70
-2,00
Velocidade com NaCl (m/s)

Figura 2. Velocidade média do escoamento superficial (em m/s) estimada recorrendo ao


traçador cloreto de sódio (NaCl) para diferentes valores do declive médio do terreno (em %)
e do caudal utilizado (em l/s). O tamanho das marcas é proporcional ao caudal usado num
dado ensaio. Para os locais 1 e 8 só são apresentados os resultados de um dos ensaios
realizados.

7
6
Caudal afluente ao troço (l/s)
5 Local 1 - Zona Impermeável

4 Local 8 - Zona Permeável

0
0 10 20 30 40
Tempo de trajecto (min)

Figura 3. Relação entre o caudal afluente ao troço impermeabilizado (Local 1) e troço mais
permeável (Local 8) e o tempo de trajecto. As curvas de interpolação foram adicionadas
somente a título ilustrativo.

0.9
0.8
velocidade média (m/s)

0.7
0.6
0.5 local 1
0.4 local 8
0.3
0.2
0.1
0
0 1 2 3 4 5 6
Caudal (l/s)

Figura 4. Relação entre o caudal afluente ao troço impermeabilizado (Local 1) e troço mais
permeável (Local 8) e o tempo de trajecto. As curvas de interpolação foram adicionadas
somente a título ilustrativo.

Os resultados obtidos mostram que é importante considerar a ocorrência de caudais de


escoamento superficial de diferentes magnitudes, correspondentes a vários períodos de
retorno. Ensaios de campo podem contribuir para clarificar a dependência do tempo de
trajecto do valor do caudal de escoamento superficial.

8
4 CONCLUSÕES
O conhecimento dos tempos de concentração do escoamento superficial em ambiente
urbano pode dar um contributo fundamental para a resolução de vários problemas de
Hidrologia Urbana. No entanto, existe uma clara dificuldade em estimar tempos de
concentração de bacias urbanas devido, em particular, à dependência do tempo de
concentração relativamente ao período de retorno definido para projectos urbanos. Neste
contexto, existe a necessidade de definir, à priori, o caudal de escoamento superficial em
função do período de retorno, para o estudo em causa.
Os resultados obtidos mostram que a complexidade do tecido urbano deve ser considerada
na aplicação de métodos conducentes a estimativas de tempo de concentração de bacias
de drenagem urbanas, nomeadamente quando estejam em causa pequenas bacias
urbanas. Este tipo de bacias é sobejamente conhecido pela sua grande sensibilidade ao tipo
de ocupação do solo e, consequentemente, pela propensão que poderá apresentar à
ocorrência de cheias.
Neste sentido, revela-se a necessidade de elaborar mais estudos, que combinem a
realização de trabalhos de campo e a modelação hidrológica/hidráulica, de modo a
definirem-se esses tempos de concentração para as bacias urbanas, contemplando o tempo
de trajecto da água antes de entrar no sistema de drenagem e o tempo de trajecto no
próprio sistema de drenagem (e.g., valas, valetas e colectores).

9
Quadro 3. Resumo dos resultados obtidos nos trabalhos de campo efectuados para estimar tempos de trajecto e velocidades médias de
escoamento superficial, utilizando o traçador cloreto de sódio (NaCl).

Distância Concentração Duração


Declive Caudal Tempo de
Imperm. Tipo de geométrica da solução de total do Velocidade
Identific. médio utilizado trajecto
(%) superfície percorrida pelo NaCl adicionada ensaio média (m/s)
(%) (l/s) (min)
escoamento (m) (g/l) (min)

0,10 13,00 5,75 0,22


Revestimento
1 > 50 14,84 77,0 2,00 15 3,83 2,05 0,62
betuminoso
3,75 2,58 1,56 0,82
Revestimento a
2 > 50 12,17 105,6 0,12 15 8,00 3,36 0,52
betão
Revestimento a
3 > 50 9,08 53,3 0,17 12 4,00 1,49 0,60
betão
Calçada à
4 > 50 8,45 18,6 0,21 15 6,50 1,87 0,17
Portuguesa
Calçada de blocos
5 > 50 6,37 28,4 0,25 15 6,50 2,18 0,22
de tijolo
Revestimento
6 > 50 5,69 18,4 0,07 15 6,50 1,98 0,16
betuminoso
Revestimento
7 > 50 0,84 18,7 0,78 15 8,50 1,98 0,16
betuminoso
0,16 60,92 37,58 0,04
Solo com
0,35 27,00 12,43 0,11
8 < 50 características 12,60 85,1
2,33 30 7,83 5,06 0,28
aluvionares
5,00 6,92 4,29 0,33
Terra batida
9 < 50 3,64 40,0 0,54 40 15,00 6,39 0,10

Terra batida
10 < 50 0,73 21,0 0,51 40 11,00 2,54 0,14

10
AGRADECIMENTOS
Este estudo assenta no trabalho intitulado "Determinação do tempo de resposta de
pequenas bacias urbanas da Cidade de Coimbra” (de Lima, 2009), solicitado pela Empresa
Águas de Coimbra, E.M., no âmbito de um protocolo com a Associação para o
Desenvolvimento da Engenharia Civil (ACIV), e foi elaborado pelo Laboratório de Hidráulica,
Recursos Hídricos e Ambiente do DEC/FCTUC. Os trabalhos de campo foram executados
pelos seguintes elementos: Mestre Carla Vaz (Vaz, 2008), Mestre Romeu Gerardo, Mestre
Sílvia Carvalho e Sr. Joaquim Cordeiro. A definição dos ensaios de campo contou também
com o apoio de técnicos da empresa Águas de Coimbra, E.M..

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
de Lima J.L.M.P. (Coord.) (2009). Determinação do tempo de resposta de pequenas bacias
urbanas da Cidade de Coimbra, RELATÓRIO TÉCNICO para a empresa Águas de Coimbra,
E.M., ACIV/FCTUC, 78 pp.

de Lima J.L.M.P. (2010). Hidrologia Urbana – Conceitos Básicos. Série Cursos Técnicos 1,
ERSAR, Lisboa, 187 pp.

Dunkerley D. (2001). Estimating the Mean Speed of Laminar Overland Flow Using Dye
Injection-Uncertainty on Rough Surfaces. Earth Surface Processes and Landforms 26, 363-
374.

Fang X., Thompson D., Cleveland T., Pradhan P., Malla R. (2008). Time of Concentration
Estimated Using Watershed Parameters Determined by Automated and Manual Methods.
ASCE - Journal of Irrigation and Drainage Engineering 134(2), 202-211.

Google Maps (2009). http://www.maps.google.com/ [Consultado em 12/01/09].

Käss W. (1998). Tracing Technique in Geohydrology. A.A. Balkema, Rotterdam, The


Netherlands.

Kendall C., McDonnell J.J. (1998). Isotope tracers in catchments hydrology. Elsevier,
Amsterdam, The Netherlands.

Rodrigues N.E.V., da Cruz F.F., de Lima J.L.M.P. (2006). Transporte de solutos em meios
fracturados - do Laboratório para a definição de perímetros de protecção. 8º Congresso da
Água, Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos, Figueira da Foz (13-17 Março), 13 pp.

Wong T. (2005). Assessment of Time of Concentration Formulas for Overland Flow. ASCE -
Journal of Irrigation and Drainage Engineering 131(4), 383-387.

11
Vaz, C.S.S.V. (2008). Determinação do Tempo de Resposta de Pequenas Bacias Urbanas
da Cidade de Coimbra. Dissertação do Mestrado Integrado em Engenharia Civil, DEC-
FCTUC, Universidade de Coimbra, 80 pp.

ANEXO - Exemplo de FICHA DE TRABALHO DE CAMPO

 IDENTIFICAÇÃO - LOCAL 5
Local: Bacia Urbana do Vale das Flores, Coimbra
Data de realização: 18/06/08
Operadores: Carla Vaz, Joaquim Cordeiro e Romeu Gerardo
Grau de impermeabilização: próximo de 100%
Declive médio da superfície: 6,37%

Figura A1 - Localização do trabalho de campo 5 (circunferência a preto) na Bacia de


Drenagem Urbana da Ribeira do Vale das Flores (linha divisória topográfica aproximada -
linha a vermelho) (excerto da carta militar 241).

12
Lançamento do
traçador

Recolha das
a) amostras de água

b)

Figura A2 - Local onde foi realizado o trabalho de campo 5: a) Fotografia de satélite com o
trajecto de água assinalado a vermelho e o sentido de escoamento (seta) e b) Fotografia do
local com indicação do ponto de lançamento do traçador e do ponto de recolha das
amostras de água.

13
 DADOS DE BASE E CONDIÇÕES METODOLÓGICAS

Figura A3 - Perfil longitudinal do local onde foi realizado o trabalho de campo 5.

Quadro A1 - Principais características referentes ao local onde foi realizado o trabalho de


campo 5.

Distância geométrica percorrida


Troço Declive (%) Tipo de superfície
pelo escoamento (m)
1 4,00 2,9
Calçada de blocos de tijolo
2 24,40 6,9

Quadro A2 - Condições metodológicas do trabalho de campo realizado no local 5


(Caudal = 0,25 l/s).

Condições metodológicas
Fonte de alimentação de água Boca-de-rega
Ponto de recolha das amostras de água Sumidouro
Caudal utilizado (medição volumétrica) 0,25 l/s
Tipo de traçador Cloreto de sódio (NaCl)
Concentração da solução de NaCl adicionada
15 g/l
(injecção instantânea)
Volume de solução adicionado ao escoamento 1 l
Duração total do ensaio 6,50 minutos

14
 RESULTADOS

3,00
Condutividade eléctrica (μS)

2,50

2,00

1,50

1,00

0,50

0,00
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5

Tempo (min)

Figura A4 - Condutividade eléctrica da água ao longo do tempo após subtracção do valor da


condutividade-base (Caudal = 0,25 l/s).

Quadro A3 - Características do escoamento superficial determinadas utilizando como


traçador o cloreto de sódio.

Resultados
Tempo de trajecto 2,18 minutos
Velocidade média 0,22 m/s

15

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