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Bárbara Kristensen2
1. INTRODUÇÃO
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Paper desenvolvido na disciplina de Produção da (a)normalidade e processos educativos do Curso
de Mestrado em Educação do Instituto Federal Catarinense - Campus Camboriú, sob a orientação
dos professores Dr. Alexandre Vanzuita e Dra. Idorlene da Silva Hoepers.
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Bolsista da CAPES e mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação no Instituto Federal
Catarinense – Campus Camboriú – SC.
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A Declaração Mundial sobre Educação para Todos foi elaborada a partir da Conferência Mundial
sobre Educação para Todos, realizada em 1990 em Jomtien, na Tailândia. O evento, organizado pela
UNESCO, contou com a participação de agências internacionais (entre elas o Banco Mundial),
governos, associações, ONGs e autoridades do mundo inteiro. No total, 155 países (entre eles o
Brasil) subscreveram à Declaração assumindo o compromisso de promover a educação básica todas
as pessoas (FLACH, 2014).
exclusão. Para isso, após uma breve abordagem, passaremos também a utilizar o
termo in/exclusão. Sob essa perspectiva, pretende-se questionar os processos
inclusivos, em especial no que se refere aos processos educativos, indo além de
uma visão superficial e buscando compreendê-los e questioná-los, em especial no
contexto de uma sociedade neoliberal.
2. DESENVOLVIMENTO
Neste sentido, ambas não são categorias em si, mas são formadas pela
mesma substância, constituindo-se na própria relação (SAWAIA, 1999b). Sob essa
perspectiva, aproveitamo-nos do termo usado por Lopes e Fabris (2013); Veiga-Neto
e Lopes (2007, 2011) e outros autores, que contemplam essa duplicidade:
in/exclusão.
Lopes e Fabris (2013) explicam-no, indicando que o termo parte do
pressuposto de que, apesar de os sujeitos estarem incluídos em espaços físicos e
presentes nas estatísticas4, grande parte dos indivíduos é vítima das práticas de
inclusão excludentes, sofrendo por fazerem parte de grupos discriminados e
impedidos de participar das práticas que os grupos dominantes participam.
Veiga-Neto e Lopes (2011) complementam, explicando que usar esse termo
indica que as formas atuais de inclusão e de exclusão consistem em um modo
contemporâneo de operação que não opõe essas ideias, mas as articulam de
maneira que uma só opera na relação com a outra e por meio do sujeito. Neste
sentido, a in/exclusão define-se como a presença de todos nos mesmos espaços
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A respeito das estatísticas, Rech (2013) faz uma observação interessante ao considerá-las uma
espécie de estratégia para convencer a população da necessidade de incluir a todos, seja oferecendo
dados que indicam a exclusão, seja oferecendo dados que indicam a inclusão posterior a algumas
políticas, sendo utilizada, então como um recurso que se mostra, equivocadamente, como uma
construção social.
fisicamente, mas também pelo “[...] convencimento dos indivíduos de suas
incapacidades e/ou capacidades limitadas de entendimento, participação e
promoção social, educacional e laboral” (VEIGA-NETO; LOPES, 2011, p. 131). Ou
seja, como indica Ribeiro (1999), de alguma forma, lutar pela inclusão é, também,
lutar para manter a sociedade que produz a exclusão.
No âmbito da educação, essa relação se configura através de uma espécie de
“sedução” da população (RECH, 2013), que passa a aceitar e defender a
in/exclusão, sem questionar e muitas vezes sem considerar os caminhos para
consegui-la, bem como as suas consequências. Esta sedução pode ser percebida
em práticas cotidianas que fomentam o utópico ideal de educação para todos, sem
que se possa acessar e compreender os verdadeiros discursos que orientam esse
ideal (RECH, 2013).
Como alertam Veiga-Neto e Lopes (2011, p. 127), ao ser posta lado a lado
com noções de cidadania, democracia e direitos humanos, a inclusão torna-se
inatacável e inquestionável, especialmente porque se entende que o mundo é
“isotrópico”, ou seja, por si mesmo, em si mesmo, um espaço homogêneo para tudo
o que está nele, algo que, obviamente, não representa a verdade. Assim, como
explicam os autores:
Essa visão acerca da inclusão além de permitir e até mesmo fomentar práticas
excludentes, também traz em si o problema de não estabelecer uma necessária
distinção entre as diferentes categorias excluídas, sendo assim, todos os incluídos
são submetidos aos mesmos processos includentes, de maneira genérica (VEIGA-
NETO; LOPES, 2011).
No caso da escola, Rech (2013), baseando-se nos ensinamentos de Foucault,
alerta a respeito da discussão que considera necessária uma escola de massas,
explicando que sua existência tem como propósito o de controlar uma população
que precisa ser vigiada, regulada e normalizada, indicando que a educação,
inicialmente acessível a indivíduos privilegiados, foi se reorganizando para conter
uma massa que precisava de maior “condução”.
Veiga-Neto e Lopes (2007), sob essa mesma perspectiva, e a partir dos
conceitos de governamento, biopoder, norma e governamentalidade, argumentam
que as políticas de inclusão – em especial no âmbito escolar– são dispositivos
biopolíticos para o governamento e o controle das populações. Assim, ao se
fomentar uma educação para todos, o que se está fazendo é promover uma inclusão
que exclui as diferenças, reforçando aquilo que se quer apagar. Essa situação,
então, seria uma propulsora de uma nova visão da escola que, a partir de uma
narrativa do respeito às diferenças, usaria a inclusão como uma espécie de
compensação das diferenças sociais (MICHELS, 2006).
É importante observar que, considerando a in/exclusão sob essa perspectiva
crítica, pode-se cair no equívoco de, de alguma forma, demonizá-la,
desconsiderando os passos avançados até então e os seus aspectos positivos. A
respeito disso, Nunes e Neira (2011, p. 1213) reforçam que o problema, em si, não é
lutar contra as desigualdades sociais e em prol da promoção de sujeitos
desprivilegiados de bens e produtos, mas sim o fato de que as políticas de inclusão,
em geral, consideram as diferenças como diversidade, vistas sob um enfoque
relativista como um conjunto de múltiplas identidades em que cada uma tem que ser
tolerada. O problema, portanto, reside no fato de que
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A Teoria do capital humano, surgida nos Estados Unidos na década de 1950, teve como principal
representante Theodore W. Schultz. Para ele, o trabalho qualificado pela educação é responsável
pelo aumento de produtividade e, consequentemente, dos lucros do capital. A partir dessa premissa,
a teoria afirma que a educação adquirida se incorporara ao ser humano como seu capital, o que
aumentaria sua capacidade de gerar renda. Assim, os trabalhadores são considerados capitalistas
visto que, por meio dos investimentos na sua educação, adquirem capacidades que têm valor
econômico. Dessa forma, a teoria contribui com a crença na eficácia da educação como solução para
distribuição de renda e igualdade social (AGUIAR, 2010). Como alerta Sanfelice (1999), esta teoria é
a que melhor serve aos interesses neoliberais, visto que enxerga a educação sob uma perspectiva
economicista.
AGUIAR, 2010), dando à in/exclusão um certo tom de perversidade, típica do
mecanismo neoliberal.
Embora pareça contraditório, foi a partir do desenvolvimento das políticas
neoliberais, em especial a partir da década de 1990, que a inclusão passou a ser um
tema recorrente, mesmo contrastando com a exclusão social necessária para a
manutenção desse sistema econômico (FREITAS, 2002). Neste sentido, vale
ressaltar o que explica Martins (1997), quando indica que a exclusão nasce com a
sociedade capitalista, visto que ela tem como lógica desenraizar e excluir a todos,
pois tudo deve ser considerado um produto, já que, só assim, podem ser submetidos
às leis do mercado que, por sua vez, é livre. Nas suas palavras:
Essa perspectiva de Martins (1997) dialoga com Lopes e Rech (2013), que
consideram que um dos objetivos do neoliberalismo é a produção de sujeitos que
estejam dispostos e saibam jogar o jogo do livre-mercado. É através do estímulo ao
desejo de comprar e da exaltação da competitividade que os sujeitos se inserem
nesse tipo de sociedade em que tudo é um produto. Sob essa ótica, é imprescindível
que todos os sujeitos estejam incluídos (embora também por mecanismos de
exclusão) nas diversas instâncias da sociedade, ainda que – ou principalmente
porque – tenham diferentes graus de participação.
3. CONCLUSÃO
4. REFERÊNCIAS
AGUIAR, L. C. Um legado do século XX para a política educacional do século XXI: a
teoria do capital humano. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, SP, v. 10, n. 40,
p. 126–144, 2012. Disponível em:
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8639810.
Acesso em: 12 jan. 2022.