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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO 2
2. BIOGRAFIA 2
3. CONTO - ÍNTEGRA 3
4. ANÁLISE DO CONTO 6
4.1 Análise estrutural e da relação do texto com o Realismo 6
4.2 Análise socioeconômica e social do século XIX 7
4.3 Análise mental 8
4.4 Análise filosófica e moral 9
5. DETALHAMENTO DA APRESENTAÇÃO 10
6. CONCLUSÃO 13
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 14
RELATÓRIO 15
1. APRESENTAÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo apresentar o conto ‘’A Carteira’’ de


Machado de Assis, que gira em torno de uma carteira achada pelo protagonista
Honório, um homem endividado e o seu dilema moral em devolvê-la para o seu dono
ou não.
Dentro dessa proposta analisaremos mais concretamente a estrutura
semântica e morfológica, os elementos da história e os personagens de vários
pontos de vista (linguístico, filosófico, histórico, geográfico e biológico).
A metodologia utilizada foi a obra em si, enriquecida com algumas pesquisas,
tais como da sociedade retratada, a saúde mental de pessoas devedoras e as
analogias/discussões filosóficas.

2. BIOGRAFIA

Machado de Assis (1839-1908) foi um escritor brasileiro, um dos nomes mais


importantes da literatura brasileira do século XIX. Destacou-se principalmente no
romance e no conto, embora tenha escrito crônicas, poesias, crítica literária e peças
de teatro. O Autor escreveu nove romances. Os primeiros – Ressurreição, A Mão e a
Luva, Helena e Iaiá Garcia -, apresentam alguns traços românticos na
caracterização dos personagens.
A partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas, teve início sua fase propriamente
realista quando revelou seu incrível talento na análise do comportamento humano,
descobrindo, por trás dos atos bons e honestos, a vaidade, o egoísmo e a hipocrisia.

Infância e adolescência
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu na Chácara do Livramento no Rio de
Janeiro, no dia 21 de junho de 1839. Foi o primeiro filho do mulato Francisco José
de Assis, um pintor e decorador de paredes, e da imigrante portuguesa Maria
Leopoldina.
Machado de Assis passou sua infância e adolescência no bairro do Livramento.
Seus pais viviam na chácara do falecido senador Bento Barroso Pereira e sua mãe
era a protegida da dona da casa, D. Maria José Pereira.
Machado fez seus primeiros estudos na escola pública do bairro de São
Cristóvão. Tornou-se amigo do padre Silveira Sarmento, o ajudava nas missas e
familiarizava-se com o latim.
Quando tinha dez anos perdeu sua mãe. Seu pai resolveu sair da chácara e foi
morar em São Cristóvão com Maria Inês da Silva, só vindo a casar-se em 1854.
Sua madrasta trabalhava como doceira em uma escola e levava o enteado para
assistir algumas aulas. À noite, Machado ia para uma padaria, local onde aprendia
francês com o forneiro. À luz de velas, Machado lia tudo que passava em suas mãos
e já escrevia suas primeiras poesias.
Em busca de um emprego, com 15 anos, Machado conheceu Francisco de Paula
Brito, dono da livraria, do jornal e da tipografia da cidade. No dia 12 de fevereiro de
1855, a “Marmota Fluminense”, jornal editado por Paula Brito, trazia na página 3, o
poema “Ela”, de Machado de Assis. Daí por diante, Machado não parou de escrever
na Marmota e de fazer amizades com os políticos e literatos, frequentadores da
livraria, onde o assunto principal era a poesia.
Em 1856, Machadinho, como era conhecido, entrou para a Imprensa Oficial
como aprendiz de tipógrafo, mas além de mau funcionário, escondia-se para ler tudo
que lhe interessava.
O diretor decidiu incentivar o jovem e o apresentou a três importantes jornalistas:
Francisco Otaviano, Pedro Luís e Quintino Bocaiuva.

Otaviano e Pedro dirigiam o Correio-Mercantil e para lá foi Machado de Assis, em


1858, como revisor de provas. Colaborava também para outros jornais. Estreou
como crítico teatral na revista “Espelho”.
Com 20 anos, Machado de Assis já frequentava os círculos literários e
jornalísticos do Rio de Janeiro, capital política e artística do Império.

3. CONTO – ÍNTEGRA

A Carteira
Machado de Assis

...DE REPENTE, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-
la e guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que
estava à porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo:
-- Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez.
-- É verdade, concordou Honório envergonhado.
Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de
pagar amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo
recheado. A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que
advoga; mas todas as quantias são grandes ou pequenas, segundo as
circunstâncias, e as dele não podiam ser piores. Gastos de família excessivos, a
princípio por servir a parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia aborrecida
da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta cousa mais, que não havia
remédio senão ir descontando o futuro. Endividou-se. Começou pelas contas de
lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a um, trezentos a outro,
quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a darem-se, e os jantares a
comerem-se, um turbilhão perpétuo, uma voragem.
-- Tu agora vais bem, não? Dizia-lhe ultimamente o Gustavo C..., advogado e
familiar da casa.
-- Agora vou, mentiu o Honório.
A verdade é que ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes
remissos; por desgraça perdera ultimamente um processo, com que fundara
grandes esperanças. Não só recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou
alguma cousa à reputação jurídica; em todo caso, andavam mofinas nos jornais.
D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios.
Não contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de
prosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma ou
duas pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os trechos de
música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava
com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política.
Um dia, a mulher foi achá-lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos, e
viu-lhe os olhos molhados; ficou espantada, e perguntou-lhe o que era.
-- Nada, nada.
Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as esperanças
voltavam com facilidade. A idéia de que os dias melhores tinham de vir dava-lhe
conforto para a luta. Estava com, trinta e quatro anos; era o princípio da carreira:
todos os princípios são difíceis. E toca a trabalhar, a esperar, a gastar, pedir fiado
ou: emprestado, para pagar mal, e a más horas.
A dívida urgente de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis de carros.
Nunca demorou tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; e, a rigor, o
credor não lhe punha a faca aos peitos; mas disse-lhe hoje uma palavra azeda, com
um gesto mau, e Honório quer pagar-lhe hoje mesmo. Eram cinco horas da tarde.
Tinha-se lembrado de ir a um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar
pela Rua. Da Assembléia é que viu a carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e
foi andando.
Durante os primeiros minutos, Honório não pensou nada; foi andando, andando,
andando, até o Largo da Carioca. No Largo parou alguns instantes, -- enfiou depois
pela Rua da Carioca, mas voltou logo, e entrou na Rua Uruguaiana. Sem saber
como, achou-se daí a pouco no Largo de S. Francisco de Paula; e ainda, sem saber
como, entrou em um Café. Pediu alguma cousa e encostou-se à parede, olhando
para fora. Tinha medo de abrir a carteira; podia não achar nada, apenas papéis e
sem valor para ele. Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das reflexões, a
consciência perguntava-lhe se podia utilizar-se do dinheiro que achasse. Não lhe
perguntava com o ar de quem não sabe, mas antes com uma expressão irônica e de
censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida? Eis o ponto. A
consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à polícia,
ou anunciá-la; mas tão depressa acabava de lhe dizer isto, vinham os apuros da
ocasião, e puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a cocheira. Chegavam
mesmo a dizer-lhe que, se fosse ele que a tivesse perdido, ninguém iria entregar-
lha; insinuação que lhe deu ânimo.
Tudo isso antes de abrir a carteira. Tirou-a do bolso, finalmente, mas com medo,
quase às escondidas; abriu-a, e ficou trêmulo. Tinha dinheiro, muito dinheiro; não
contou, mas viu duas notas de duzentos mil-réis, algumas de cinqüenta e vinte;
calculou uns setecentos milréis ou mais; quando menos, seiscentos. Era a dívida
paga; eram menos algumas despesas urgentes. Honório teve tentações de fechar os
olhos, correr à cocheira, pagar, e, depois de paga a dívida, adeus; reconciliar-se-ia
consigo. Fechou a carteira, e com medo de a perder, tornou a guardá-la.
Mas daí a pouco tirou-a outra vez, e abriu-a, com vontade de contar o dinheiro.
Contar para quê? Era dele? Afinal venceu-se e contou: eram setecentos e trinta mil-
réis. Honório teve um calafrio. Ninguém viu, ninguém soube; podia ser um lance da
fortuna, a sua boa sorte, um anjo... Honório teve pena de não crer nos anjos... Mas
por que não havia de crer neles? E voltava ao dinheiro, olhava, passava-o pelas
mãos; depois, resolvia o contrário, não usar do acha- do, restituí-lo. Restituí-lo a
quem? Tratou de ver se havia na carteira algum sinal.
"Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar-me do dinheiro,"
pensou ele.
Esquadrinhou os bolsos da carteira. Achou cartas, que não abriu, bilhetinhos
dobrados, que não leu, e por fim um cartão de visita; leu o nome; era do Gustavo.
Mas então, a carteira?... Examinou-a por fora, e pareceu-lhe efetivamente do amigo.
Voltou ao interior; achou mais dous cartões, mais três, mais cinco. Não havia
duvidar; era dele.
A descoberta entristeceu-o. Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar um ato
ilícito, e, naquele caso, doloroso ao seu coração porque era em dano de um amigo.
Todo o castelo levantado esboroou-se como se fosse de cartas. Bebeu a última gota
de café, sem reparar que estava frio. Saiu, e só então reparou que era quase noite.
Caminhou para casa. Parece que a necessidade ainda lhe deu uns dous empurrões,
mas ele resistiu.
"Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer."
Chegando a casa, já ali achou o Gustavo, um pouco preocupado e a própria D.
Amélia o parecia também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma
cousa.
-- Nada.
-- Nada?
-- Por quê?
-- Mete a mão no bolso; não te falta nada?
-- Falta-me a carteira, disse o Gustavo sem meter a mão no bolso. Sabes se alguém
a achou? -- Achei-a eu, disse Honório entregando-lha.
Gustavo pegou dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. Esse
olhar foi para Honório como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a
necessidade, era um triste prêmio. Sorriu amargamente; e, como o outro lhe
perguntasse onde a achara, deu-lhe as explicações precisas.
-- Mas conheceste-a?
-- Não; achei os teus bilhetes de visita.
Honório deu duas voltas, e foi mudar de toilette para o jantar. Então Gustavo sacou
novamente a carteira, abriu-a, foi a um dos bolsos, tirou um dos bilhetinhos, que o
outro não quis abrir nem ler, e estendeu-o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula,
rasgou-o em trinta mil pedaços: era um bilhetinho de amor.

4. ANÁLISE DO CONTO

4.1 Análise estrutural e da relação do texto com o Realismo


O texto lido é um conto chamado "a carteira" de José Maria Machado de Assis que
conta com os personagens Honório, Amélia e Gustavo. A história se passa em
vários ambientes: em um café, na rua em que ele acha a carteira e na casa de
Honório. Ele é relatado por um narrador onisciente, ou seja, que conta em terceira
pessoa e tem total conhecimento dos fatos e das personagens, percebemos isso em
trechos como: "Durante os primeiros minutos, Honório não pensou nada...". Os fatos
são apresentados através do tempo psicológico, não obedecendo a ordem
cronológica (com ordem temporal: início, meio e fim) e o passado, presente e futuro
podem se misturar, já que o texto é relatado por meio das lembranças de Honório. É
uma obra de fácil compreensão, mas por ter sido escrita em 1884 contém aspectos
e palavras características dessa época, como:
1. Mil reis - Nos tempos da colonização e mesmo com a independência do Brasil, em
1822, os réis se impuseram como unidade monetária vigente;
2. Mirreis (Mil Réis) - R$ 123,00;
3. Cousa - Sinônimo de coisa, tudo o que existe ou possa existir, de natureza
corpórea ou incorpórea;
4. Eis- Usa-se para apresentar algo ou alguém, geralmente presente ou próximo dos
interlocutores; aqui está, aqui estão
5. Dous- numeral um mais um, o número imediatamente após o 1;
6. Cinqüenta- Número cardinal, escrita utilizada antigamente para se representar 50;
7. Esborrou - Reduzir a pó; tornar friável: o gelo esboroa as rochas mais duras;
8. Pilhéria - chiste, graça, piada.
A obra apresenta vários traços do realismo, cuja manifestação objetivava
proporcionar um olhar mais realista e exato das coisas, representando pessoas
comuns, muitas vezes às voltas com problemas de um cotidiano massacrante.
Começamos com o autor Machado de Assis tendo um olhar objetivo e imparcial
sobre os fatos, também abordando todas personagens psicologicamente para
esclarecer o ponto de vista e a realidade das mesmas. A linguagem culta utilizada
no texto segue a norma-padrão para a época, seguindo estruturas sintáticas
complexas.
Os tipos sociais daquele tempo procuram ser retratados de forma exímia, como a
precariedade da sorte humana representada por Honório; a astúcia presente em
Amélia e também o amor subordinado ao dinheiro, afinal a esposa faz o marido
gastar o que não podia em regalias. Isso põe um fim nas idealizações antes
carregadas pelo romantismo, como um dos seus princípios.
De tal forma, Machado de Assis torna as suas obras repletas de interferências,
fluxos de pensamento, memórias, digressões de todos os tipos e um toque de ironia
ante às críticas sociais, o que aproxima a prosa da maneira como a mente de fato
funciona.

4.2 Análise socioeconômica e social do século XIX


Primordialmente percebemos que, por Honório considerar a possibilidade de pegar a
carteira do chão, torna-se evidente que o mesmo não tinha condições financeiras
elevadas. O texto nos mostra logo em sequência que ele era um grande devedor,
pois devia quatrocentos-mil-réis (valor que o dinheiro da carteira ultrapassara).
Contudo, por exercer a profissão de advogado, mesmo trabalhando em poucos
casos (os quais não recebia muito dinheiro) e tendo perdido um deles, ele não
pertencia à classe média baixa, pois tinha condições mínimas para constantemente
gastar em bailes, vestuários e restaurantes (atividades econômicas que fazem parte
do setor terciário: serviços). Gastos esses considerados excessivos em relação às
condições que Honório vivenciara com sua esposa, afinal, foi nesse momento em
que os empréstimos começaram. Além disso, ele nunca havia passado por uma
situação de tal nível antes, mesmo que ele deixasse para pagar a dívida no último
dia disponível, devido sempre gastar com jantares.
Observamos através do texto que Honório é uma pessoa consumista, ou seja, ele
gasta compulsivamente, esse é um fenômeno social que é impulsionado pelo
capitalismo, caso não fosse, a pessoa compraria apenas o que é necessário e o
ciclo de consumo se encerraria. Existem estratégias que a classe dominante (que
controla os meios de produção) usa para que seu status social seja favorecido pelas
coisas que você tem, assim muitas pessoas gastam mais do que possuem para ter
algum tipo de reconhecimento na sociedade, como aconteceu com o personagem.
A sociedade atual é semelhante à de 1884, uma sociedade superficial e materialista,
que valoriza mais o "parecer" do que o "ser". Algo já condenado pelas pessoas na
época era a traição, que aconteceu às escondidas. O Rio de Janeiro havia crescido
bastante, no final do século XIX contava com 800.000 habitantes, havia problemas
sanitários e de desemprego. Possuía uma enorme desigualdade: grandes mansões
ao lado de bairros miseráveis. Na rua do Ouvidor podiam-se encontrar as últimas
novidades de Paris, enquanto doenças como a febre amarela e a varíola dizimavam
a população pobre.

4.3 Análise mental


É muito comum dividas ocasionarem comportamentos ansiosos e depressivos
(ambas doenças que ocorrem devido um desiquilíbrio de serotonina no cérebro).
Segundo uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, “The Employer’s Guide to
Financial Wellness” de 2019, pessoas que estão constantemente preocupadas com
falta de dinheiro são 4 vezes mais propensas à depressão e têm 3,4 mais chances
de ter ataques de pânico ou ansiedade. Podemos observar isso no trecho em que
Honório chora enquanto beija sua filha no rosto, infere-se que era o medo do futuro
e o horror a miséria, esse cenário de incerteza causa sentimentos de angústia e
melancolia. Além desses efeitos, pessoas endividadas tem a tendência a tomar
piores decisões financeiras, notamos isso no texto pois ao invés da personagem
economizar e pagar suas dívidas, ela gasta mais do que pode e acaba complicando
a sua situação monetária. Mesmo esse sendo um problema que afeta muitas
pessoas, esse tema ainda é tabu e um pequeno número de pessoas se sentem
confortáveis para falar sobre as dificuldades que estão passando, observamos isso
no trecho: "D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus
negócios. Não contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em
um mar de prosperidades.". Além disso, pessoas emocionalmentes fragilizadas tem
a tendência de usar as compras e os gastos excessivos como valvúla de escape,
que é o caso da mulher de Honório que sempre reclamava da solidão e como forma
de recompensar ele a agradava com coisas materiais.
Em um trecho Honório entra em um conflito de que se ele quem tivesse perdido a
carteira, ninguém a devolveria, como uma forma de aliviar sua consciência por
cogitar gastar o dinheiro da carteira para pagar sua dívida, podemos relacionar isso
ao hormônio Oxitocina que está associado a honestidade. A Oxitocina que também
conhecida como “hormônio do amor” é um hormônio produzido pelo hipotálamo, mas
que também funciona como um neurotransmissor e é armazenado na hipófise
posterior que faz com que as pessoas tenham comportamentos desonestos para
ajudar quem elas tenham algum tipo de laço afetivo. Por isso podemos levantar a
dúvida de que: se a carteira não fosse de seu amigo Gustavo C., ele a devolveria?
Já que quitar essa dívida ajudaria Honório com o seu futuro e o de sua familia.

4.4 Análise filosófica e moral


O texto também pode ser relacionado ao "Anel de Giges", uma história contada por
Platão para se refletir se o homem agiria corretamente caso tivesse o poder em
mãos, pudesse fazer maldades sem ser percebido. Podemos notar isso no conto
quando Honório vê a carteira no chão e a pega sorrateiramente sem ser percebido,
no texto vemos que Honório é um correto, extremamente endividado, precisa muito
do dinheiro contido na carteira para quitar suas dívidas, porem fica em dúvida se
deveria devolver a carteira ou não, e se encontra em constante briga com a sua
consciência, mas ao descobrir que a carteira pertence ao seu amigo, depois de um
grande exame ético resolve devolve-la ao dono e continua com suas dívidas e sem
dinheiro. Através disso podemos perceber que mesmo com o poder em mãos
Honório devolveu a carteira, não se deixou levar pela ganância ou atos maliciosos,
pensou no próximo tendo um ato ético, de respeito com o amigo, ele teve o poder
em suas mãos e agiu corretamente, mas foi quase levado pelo desejo.
Conseguimos relacionar isso também a deusa da fortuna, figura da mitologia grega
que era associada a fertilidade, prosperidade, agricultura e as mulheres, mas
também podia significar falta de sorte ou inconstância dela. Vemos isso no texto e
podemos relaciona-la ao anel de Giges da seguinte forma: Honório é um homem
que apresenta inconstância de sorte, endividado, não ia bem no trabalho, sua
relação com sua mulher era de extremos gastos. Em meio a tudo isso, Honório
encontra a solução para seus problemas: a carteira. Num momento de prosperidade
acha algo que poderia fazer com que ele prosperasse mesmo que seja fazendo o
mal e seguindo das ideias de Platão: fazer maldades sem ser percebido revela sua
natureza, e que no final das contas o homem só pensar em si próprio e nunca no
próximo comprova a teoria do anel de Giges, mas nesse caso, Honório se abdica de
toda a prosperidade a ele concedida no momento, decidindo não fazer o mal sem
ser percebido, pensando no próximo e devolvendo a carteira mesmo estando em
uma situação de extrema necessidade, provando-se um homem justo.
Podemos relacionar a teoria filosófica da liberdade a história de Honório, já que ele
achou a carteira, foi livre para fazer tudo que quisesse com ela, mas acabou não
abrindo os bilhetes, não ficando com o dinheiro e decidiu devolvê-la por livre e
espontânea vontade, porém ele poderia ter feito escolhas diferentes. Além disso, ele
continua gastando seu dinheiro mesmo percebendo que estava ficando endividado,
entra em contato com agiota, foi livre para tomar essas decisões e
consequentemente teve que arcar com as responsabilidades. Honório tem liberdade
para fazer suas escolhas, podendo fazer algo ou não, não sendo preso a nada, sem
estar submetido a pressão alguma de outra pessoa.
5. DETALHAMENTO DA APRESENTAÇÃO

Nosso grupo tomou por escolha a apresentação de uma paródia da música


‘’Eduardo e Mônica” (primeira letra a seguir) do Legião Urbana, em função de contar
a história do conto ‘’A Carteira’’.

Eduardo e Mônica
‘’Quem um dia irá dizer que não existe razão
Nas coisas feitas pelo coração
E quem me irá dizer que não existe razão
Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque
No outro canto da cidade, como eles disseram
Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
Carinha do cursinho do Eduardo que disse
Tem uma festa legal e a gente quer se divertir
Festa estranha, com gente esquisita
Eu não tô legal, não aguento mais birita
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto só pensava em ir pra casa
É quase duas e eu vou me ferrar
Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver um filme do Godard
Se encontraram então no Parque da Cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo
Eduardo e Mônica era nada parecido
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
De Van Gogh e dos Mutantes
De Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol-de-botão com seu avô
Ela falava coisas sobre o Planalto Central
Também magia e meditação
E o Eduardo ainda tava no esquema
Escola, cinema, clube, televisão
E, mesmo com tudo diferente
Veio meio de repente
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia
Como tinha de ser
Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia
Teatro e artesanato e foram viajar
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar
E ela se formou no mesmo mês
Que ele passou no vestibular
E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos muitas vezes depois
E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa
Que nem feijão com arroz
Construíram uma casa uns dois anos atrás
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana, seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram
Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade dá saudade no verão
Só que nessas férias não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo
Tá de recuperação ah-ah-ah
E quem um dia irá dizer que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração
E quem me irá dizer
Que não existe razão’’
Letra da paródia – A Carteira

‘’Honório, um dia, encontra no chão


Uma carteira em que o dono aparenta não estar perto não
Honório a apanhou, mas um homem o avistou
Disse pra sumir com ela dali
Envergonhado ele concorda e sai de perto da loja
Pensando ser seu dia de sorte
Endividado
Mas também não preocupado em se quitar
Endividado
Mas também não preocupado nas suas dívidas pagar
Bailes, restaurantes
Gastos e mais gastos......
De onde tira e não bota
Acaba virando grota
Passou a mexer com agiota
Escondia a situação da mulher e do seu amigo
Pra todos fingia estar tranquilo
Desabado, chorando, abraçando sua filha
Pego preocupado com suas dívidas
(QUATROCENTOS MIL RÉIS)
Endividado
Mas agora preocupado em se quitar
Endividado
Mas agora preocupado nas suas dívidas pagar
Sai sem rumo na cidade
Perdeu à dianteira
Foi ai que encontrou a carteira
Para pagar suas dívidas a quantia era além
Mas conferiu se havia o nome de alguém
Achou cartas que não abriu,
Bilhetinhos que não leu
Até que viu um cartão e tudo entendeu
A carteira era do Gustavo
Que recebe ressabiado depois que Honório a devolveu
Endividado
Mas agora sem dinheiro pra se resolver
Endividado
Mas a carteira que achou decidiu devolver

Pergunta se a reconheceu, pede licença


Se retira e vai ao banheiro
Lá pega o bilhete, vai em direção à Amélia
Pra declarar seu amor por ela
Amélia trêmula e ansiosa, também hostil,
A parte em trinta mil
Endividado
Mesmo assim sua esposa não deixou de o amar
Endividado
Pois mesmo sem dinheiro,
Amor não ia faltar.”

6. CONCLUSÃO

Ao fim do trabalho, pode-se concluir que a pesquisa realizada ampliou nossos


conhecimentos sobre vários aspectos. Foi possível aprender o contexto histórico e a
linguagem do século XIX, além de outros elementos linguísticos, teorias filosóficas
que explicam a liberdade do ser humano, fatos científicos relacionados ao
consumismo e a honestidade, como a falta de dinheiro pode ocasionar doenças
mentais e como o capitalismo influencia o alto consumo.
Além disso, o trabalho nos permitiu desenvolver nossas competências de
organização, comunicação e trabalho em equipe.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Biografia Machado de Assis – Disponível em


https://www.ebiografia.com/machado_assis/

Conto ‘’A Carteira’’ completo – Disponível em


http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000169.pdf
Análise estrutural e da relação do texto com o Realismo –
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/realismo.htm#Caracter
%C3%ADsticas+do+realismo
https://docs.google.com/document/d/1aTdrda-e-
wzuSK5ZTjUIe3y__rxApsbTrfKxVqN3WEI/edit

Análise mental –
https://gauchazh.clicrbs.com.br/geral/noticia/2014/04/oxitocina-pode-fazer-pessoas-
mentirem-mais-aponta-estudo-4462654.html
https://institutonascer.com.br/saiba-mais-sobre-a-ocitocina-o-hormonio-do-parto-e-
do-amor/
https://rhpravoce.com.br/colab/a-falta-de-dinheiro-entre-as-principais-causas-de-
depressao-e-suicidio/
https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2022/08/17/medo-de-nao-ter-
dinheiro-para-pagar-contas-pode-causar-depressao.htm
https://assistemed.com/doencas-relacionadas-a-falta-de-dinheiro/

Análise filosófica e moral –


https://filosofianaescola.com/metafisica/liberdade-e-determinismo/

Letra ‘’Eduardo e Mônica’’ –


https://www.letras.mus.br/legiao-urbana/22497/
RELATÓRIO

Cecília Ribeiro – Realizou a análise mental, complementou a parte socioeconômica


e ajudou na correção das demais;
Gabriel Gualberto – Realizou uma pesquisa inutilizada no trabalho, por não ter nexo
com o que foi pedido, e não foi atrás de contribuir em nada com o trabalho;
Giovanna Fernandes – Compôs juntamente com Cecília a análise mental,
complementou a parte socioeconômica e ajudou na correção das demais, além de
fazer a análise estrutural do texto e a conclusão do trabalho;
Gustavo Lima – Fez a análise socioeconômica, relacionou o conto com o realismo,
confeccionou a letra da música, formatou e revisou o trabalho e formulou a
introdução;
Hilton Lucas – Pesquisou sobre a parte da análise da sociedade da época;
José Eustáquio – Listou as palavras presentes no texto que eram específicas
daquela época, e relacionou o texto lido à história do Anel de Giges, ao
Determinismo, liberdade e outros diversos pensamentos filosóficos;
Leandro Meireles – Pesquisou sobre as virtudes e atitudes morais de cada
personagem;
Thiago Santos – Compôs juntamente com Gustavo a análise socioeconômica,
também as devidas correções nas demais, confeccionou a letra da música e ajudou
na formatação do trabalho.

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