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XVI Congreso de la Asociación Latinoamericana de

Investigadores de la Comunicación (ALAIC)


La Comunicación como Bien Público Global:
Nuevos lenguajes críticos y debates hacia el porvenir
Buenos Aires, Argentina, 26 al 30 de septiembre de 2022
Organizan
❖ Asociación Latinoamericana de Investigadores de la Comunicación (ALAIC).
❖ Federación Argentina de Carreras de Comunicación Social (FADECCOS).

Ponencia presentada al GT 16 Estudos sobre Jornalismo

Impactos da pandemia no jornalismo produzido por TVs


universitárias de Minas Gerais: o ponto de vista dos produtores
Impactos de la pandemia en el periodismo producido por las TV
universitarias de Minas Gerais: el punto de vista de los productores
The impacts of the pandemic on journalism produced by university TVs in Minas Gerais:
the producer’s point of view

Debora Cristina Lopez1


Kelen Barros2

1
Debora Cristina Lopez. Universidade Federal de Ouro Preto, Doutora em Comunicação e Cultura
Contemporâneas, Brasil, e-mail: debora.lopez@ufop.edu.br.
2
Kelen Barros. Universidade Federal de Ouro Preto, Mestranda em Comunicação, Brasil, e-mail:
kelen.barros@aluno.ufop.edu.br
Resumo: Neste artigo, analisamos os impactos da pandemia de COVID-19 na produção de
jornalismo das emissoras de televisão universitárias do estado de Minas Gerais. Através de
um questionário enviado às 23 TVs mineiras que integram o Mapa 4.0 das TVs Universitárias
do Brasil, foram identificados padrões de produção de jornalismo e jornalismo científico nas
emissoras durante os anos de 2020 e 2021. Consideramos os contextos político, econômico
e social das universidades brasileiras e seu impacto na amostra.

Palavras-Chave: Comunicação universitária, Televisão, Pandemia.

Abstract: In this article, we analyze the impacts of the COVID-19 pandemic on the
journalism production of university television stations in the state of Minas Gerais. Through
a questionnaire sent to the 23 TVs that make up the Map 4.0 of University TVs in Brazil,
patterns of production of journalism and scientific journalism were identified in the
broadcasters during the years 2020 and 2021. We considered the political, economic and
social contexts of Brazilian universities and its impact on the sample.

Key words: University communication, Television, Pandemic.

Este artigo integra uma pesquisa que busca entender como as TVs universitárias de Minas
Gerais mapeadas pela Associação Brasileira de Televisão Universitária (ABTU) foram
impactadas pela pandemia de Covid-19 nos anos de 2020 e 2021. Analisamos como o
jornalismo praticado por estas emissoras foi afetado pelas alterações impostas pela
pandemia - seja em relação às rotinas ou à própria organização da programação.
Em 26 de abril de 2021, o Brasil somava 14,34 milhões de casos confirmados e 390.797
mortes pelo novo coronavírus, segundo o levantamento do Our World in Data (BRAZIL,
2021). O vírus, detectado pela primeira vez no país em fevereiro de 2020, levou a mudanças
nas rotinas de trabalho, de circulação de pessoas, de consumo e de relacionamento que
afetaram também as universidades.
As instituições de ensino superior tiveram suas rotinas alteradas, paralisando atividades
temporariamente e/ou adotando rotinas de trabalho remoto a partir de duas normas
federais que entraram em vigor no Brasil ainda em 2020, a Lei 13.979 e a Medida Provisória
934, que dispõem sobre as providências de enfrentamento à crise emergencial de saúde
pública e a necessidade de adoção de normas excepcionais pelas instituições de ensino
(BRASIL, 2020).
Essa realidade, somada à redução de investimentos em ciência e tecnologia no país que
ocorre desde 2015, impactou diretamente as rádios e TVs universitárias brasileiras.
Partimos do pressuposto de que, ainda que a pandemia tenha afetado a prática destas
emissoras, a informação local e a divulgação científica passaram a ser mais valorizados e
apresentados nas grades de programação e nas produções jornalísticas.
Para verificar quais foram esses impactos, realizamos um estudo exploratório nos sites e
páginas de redes sociais das 23 TVs universitárias do estado de Minas Gerais, que estão
listadas no Mapa 4.0 das TVs Universitárias desenvolvido pela Associação Brasileira de TVs
Universitárias (ABTU) e disponível para acesso livre. Além disso, também foi encaminhado
um questionário às emissoras.
Buscamos dimensionar a amostra da pesquisa e subsidiar o que definimos, a partir de Flick
(2009), como os caminhos para criar uma fotografia instantânea do fenômeno observado.
O questionário, respondido por equipes de produção e pelas gerências das TVUs, discute
mudanças nas rotinas e impactos no conteúdo das emissoras. Assim, adotamos questões
abertas que permitem expor a multiplicidade de interpretações marcada no objeto
analisado (YIN, 2016). Ainda que o questionário apresentado se organize em nove seções,
neste artigo exploramos principalmente três: a) quadro de funcionários; b) panorama da
cobertura jornalística, quadros e/ou programas que tenham como foco o combate e
prevenção à Covid-19 e c) percepção do conceito de divulgação científica. A partir destes
três eixos buscamos compreender os impactos nas práticas e no conteúdo jornalístico das
TVs.
O questionário foi enviado às 23 TVUs entre os meses de abril e junho de 2021. Três não
retornaram nenhuma das tentativas de contato; uma alegou não se encaixar no perfil de TV
Universitária, e ser apenas um canal da web para veiculação de conteúdo institucional; uma
afirmou ser apenas retransmissora e não ter programação própria; uma afirmou problemas
burocráticos e nunca ter de fato operado; e duas responderam ao contato, mas não o
questionário.

O que é TV Universitária?
As definições dos conceitos de TV educativa e de TV universitária no Brasil ainda são pautas
constantes para pesquisadores da área. A TV educativa está prevista na legislação da TV
aberta, disposta no Código Brasileiro de Telecomunicações (Lei 4117/62), e modificada por
meio do decreto-lei 236/67, que traz, no Artigo 13, a seguinte definição: “A televisão
educativa se destinará à divulgação de programas educacionais, mediante a transmissão de
aulas, conferências, palestras e debates” (BRASIL, 1967). Outro detalhe importante trazido
no parágrafo único do Artigo 13 é a proibição de qualquer propaganda ou patrocínio na TV
educativa, já que ela não tem caráter comercial. O mesmo decreto-lei expõe ainda, no
artigo 14, que as únicas instituições que podem executar o serviço de televisão educativa
no país são: a União; os estados, territórios e municípios; as universidades brasileiras, e as
fundações constituídas no Brasil, cujos estatutos não contrariem o Código Brasileiro de
Telecomunicações (BRASIL, 1967).
No entanto, a abordagem acadêmica da TV universitária difere da legal, o que dificulta a
unificação do olhar sobre o objeto. Magalhães (2021), um dos fundadores da ABTU, explica
que legalmente não existem TVs universitárias em sinal aberto, mas TVs educativas
administradas por universidades. Ele ainda acrescenta que há também TVs comerciais que
pertencem a universidades e que podem estar no sinal aberto ou a cabo. Por isso, o conceito
de TV universitária é ainda mais abrangente e complexo que o de TV educativa e não possui
uma especificidade legal exclusiva. Nesse contexto, a ABTU desenvolveu um conceito que
ultrapassa aspectos tecnológicos e legais, para definir com maior precisão o que é a TV
universitária, em vez de buscar explicar onde ela está (MAGALHÃES, 2021).
Esse conceito foi desenvolvido e aprimorado dentro da elaboração de mapas dos veículos
universitários brasileiros realizado pela associação. Com a finalidade de identificar as TVUs
e, assim, incentivar políticas públicas e privadas, a ABTU elabora os mapas dessas TVs no
país. Foram realizados quatro levantamentos de 2002 a 2009. O último publicado recebe o
nome de Mapa 4.0 e ainda se encontra em fase de finalização e é realizado em parceria com
instituições de ensino superior do país. Para definir o que é a TV universitária a ABTU
estabeleceu uma lista com seis critérios. As emissoras que se encaixam em todos eles, são
incluídas no mapa.
Assim, foram adotados os seguintes critérios para a classificação de TVU: a) autointitulação
e identidade própria; b) produção regular; c) ênfase em ensino, pesquisa e extensão; d)
caráter formador; e) linguagem televisiva; f) vinculada a uma IES (pública ou privada)
(OLIVEIRA, 2020, p. 30).
De acordo com o último levantamento do Mapa 4.0, 183 TVs universitárias estão em
atividade no Brasil, o que corresponde a 6,8% das instituições de ensino superior do país.
Também foi constatado um aumento no número de TVUs de 21,1% em relação ao Mapa
3.0 e 117 dessas TVs estão operando exclusivamente na internet. O mapeamento foi
realizado por meio de “pesquisa bibliográfica e documental, busca nos sites das IES e das
TVUs, visita técnica em evento do segmento, entrevistas exploratórias presenciais com
coordenadores de emissoras, troca de mensagens com dirigentes e envio de e-mails e de
formulário online” (MAPA 4.0, 2021).

TV universitária e comunicação pública da ciência


Partindo de três critérios de classificação de TV universitária elaborados pela ABTU, que
são: a ênfase no ensino, pesquisa e extensão; vinculação à uma IES e caráter formador; é
possível inferir uma relação direta do conteúdo produzido por uma TVU à prática da
divulgação científica, já que é dentro dessas instituições de ensino superior onde se realiza
grande parte da produção de ciência de uma nação e o trabalho dessas emissoras consiste
na publicação dessas atividades. Para Yurij Castelfranchi (2010), a comunicação pública da
ciência e tecnologia, além de ter implicações econômicas e políticas, contribui para o bom
funcionamento da democracia, já que inúmeros debates que envolvem a sociedade civil
perpassam por discussões científicas e técnicas:
O cidadão participa, de forma indireta (com suas escolhas como consumidor, eleitor,
educador etc.) ou de forma direta (protestos, lobbies, greves, referendos etc.) em tomadas
de decisões sobre temas importantes e tão variados como transporte, tratamento de lixo,
drogas, políticas sanitárias, experimentações médicas, comida transgênica, pesticidas,
usinas hidrelétricas e nucleares, gestão das áreas indígenas, manejo florestal e inúmeras
outras. Para tanto, precisa de uma informação cada vez mais aprofundada e de qualidade
(CASTELFRANCHI, 2010, p.14).
A produção de conteúdos veiculados pelas TVUs, que tenha como objetivos o interesse
público e a divulgação científica, ganha ainda mais importância no contexto da pandemia
do coronavírus, em que notícias sobre pesquisa, ciência e tecnologia se tornaram um dos
focos centrais das pautas televisivas. O mundo inteiro mobilizou-se na busca por tentar
entender o comportamento do vírus e desenvolver uma vacina eficaz contra a Covid-19,
doença causada pelo coronavírus. Nesse panorama, as descobertas científicas sobre o tema
são de interesse social em todo o mundo. Além disso, o reconhecimento e a legitimação
dos estudos e experimentos relacionados a essas descobertas ganham ainda mais
visibilidade, já que por meio da divulgação científica, qualquer cidadão tem a possibilidade
de acompanhar os processos científicos desenvolvidos em tempo real.
No entanto, a comunicação da ciência, atualmente, é um “ecossistema complexo, em que
os canais tradicionais da educação e divulgação (ensino, museus, divulgação e jornalismo)
têm um papel importante, mas não único” (CASTELFRANCHI, 2010). Isso quer dizer que,
cada vez mais, o público não especializado e seus inúmeros nichos e comunidades
participam de forma ativa da produção e divulgação de ciência sem, necessariamente, a
presença de um mediador. Yurij Castelfranchi (2010) exemplifica esse crescimento
participativo da população por meio de blogs, redes sociais, grupos organizados,
movimentos sociais que, cada vez mais, trocam informações científicas e técnicas entre si,
seja convidando especialistas para contribuir com a causa ou incentivando seus membros a
também se tornarem especialistas.
Essa participação ativa de outros atores sociais na produção e divulgação de ciência no
cenário de pandemia do coronavírus é de suma importância na contribuição do diálogo
entre as diversas instituições da sociedade, sejam elas científicas, políticas, educacionais,
médicas ou empresariais, já que todas essas instâncias também sofrem com os impactos
negativos da pandemia. De acordo com Graça Caldas (2011), o modelo mais aceito de
Comunicação Pública da Ciência, que foi desenvolvido após a década de 1990 e persiste até
os dias atuais é o de “participação pública”, que reconhece e valoriza a opinião do público,
assim como o seu direito de participar das decisões relacionadas às políticas públicas de
ciência, tecnologia e inovação. É também considerado um modelo dialógico, pois presume
a existência de fóruns de debate com a participação de cientistas e do público.

As TVUs no Brasil e em Minas Gerais


De acordo com as informações que constam no Mapa 4.0 da ABTU, das 23 TVUs de Minas
Gerais, 11 emissoras transmitem a programação apenas pelos canais da web; seis
transmitem pela web e por canais de TV a cabo; três realizam as transmissões pela web, por
canais da TV aberta e por canais da TV a cabo; e outras três transmitem pela web e em TV
aberta. É importante destacar que todas elas disponibilizam sua programação de alguma
forma pela web, por meio de plataformas digitais. Em relação à gestão das emissoras, nove
TVs encaixaram-se na categoria pública federal, oito como fundação privada sem fins
lucrativos, quatro como fundação privada com fins lucrativos e duas como pública estadual.
No que diz respeito ao ano de fundação, observamos aquelas que foram abertas
anteriormente e posteriormente à implementação da Lei do Cabo, instituída em 1995, e
que, como apontou Ramalho (2010), foi responsável pelo crescimento de 755% das TVs
universitárias dos anos de 1995 à 2009. De acordo com o Mapa 4.0, 20 TVUs de Minas Gerais
foram inauguradas após o ano de 1995, enquanto apenas três começaram a funcionar nos
anos anteriores a 1995. No entanto, no período de 1995 a 2009, o número de TVUs em
Minas saltou de três para sete, o que não aponta a Lei do Cabo como grande
impulsionadora. Por isso, vale destacar aqui, outra característica que chama atenção: o
advento da web 2.0 e a evolução da televisão dentro do conceito de ecologia de mídia.
Com foco, principalmente, no crescimento dos sites das redes sociais, que agora passaram
a ser vistos como plataformas, como apontou Tim O’Reilly em 2004, e no entendimento
dessa web como “participativa” (HELMOND, 2019), podemos também inferir que esse
advento foi um facilitador da transmissão e interação que favoreceram o surgimento das
TVU’s em Minas Gerais, já que 18 delas surgiram após o ano de 2004, ou ainda, 16 dessas
emissoras só começaram a funcionar a partir de 2010. Essa evolução ao longo dos anos
pode ser relacionada ao conceito de ecologia de mídia apontado por McLuhan, que está
voltado para a forma como o sujeito percebe a mídia e como o indivíduo molda os
instrumentos de comunicação e, ao mesmo tempo, é remodelado por ele, considerando a
mídia como um ambiente em que nos movemos como “um peixe na água” (SCOLARI, 2015).
É preciso considerar que a transmissão tradicional da televisão em formato broadcasting,
em que todos os públicos recebem a mensagem simultaneamente, mudou com o advento
das plataformas digitais e a produção televisiva realizada dentro delas, migrando para a
transmissão em modelo de streaming. Essa plataformização, vista principalmente no fato
de que todas as 23 TVs universitárias pesquisadas neste artigo possuem canais como o
Youtube e as redes sociais como meios de comunicação com a audiência, alterou as formas
de consumo, de produção do conteúdo, de relacionamento com o público e dos modelos
de negócios dentro dessas TVs. Não é novidade que as TVUs sempre tiveram problemas de
ordem econômica e burocrática, que dificultaram sua consolidação nas IES brasileiras. Na
tentativa de aumentar o alcance de públicos e driblar a falta de investimentos, as TVUs,
cada vez mais, ocupam o espaço online, para conseguirem cumprir a sua missão de levar
conhecimento e produção científica para a população de forma cada vez mais democrática
(OLIVEIRA, 2020).
Ao perceber o aumento intensificado do uso dessas novas mídias, também é pertinente a
apresentação do conceito teórico de plataforma apresentado por José van Dijck, Poell e
Waal (2018) ao defini-las como uma arquitetura programável projetada para organizar as
interações entre os usuários. A autora ainda levanta um prisma importante sobre essas
atividades online, pois muito além de facilitar essas interações, as plataformas moldam a
forma como vivemos e a nossa própria organização social (VAN DIJCK et al, 2018). Nesse
aspecto, começamos a vislumbrar o porquê da forma de produzir e consumir TV
universitária ter se voltado tanto para a internet nos últimos anos. Na sociedade atual, uma
instituição ou meio de comunicação que não pode ser encontrado na web, perde uma
enorme parcela de visibilidade, pois é como se ela não fizesse parte da nossa estrutura
social.
Outra consideração relevante são as diferentes affordances que a TV transmitida por
broadcasting e streaming apresentam. Partindo do pressuposto apresentado por Hutchby
(2001) de que as tecnologias possuem diferentes recursos e esses recursos restringem a
forma como elas podem ser interpretadas e utilizadas pelos indivíduos, é possível perceber
que as limitações das TVs que estão fora e dentro da web são bastante distintas. Enquanto
a interação com o público na TV em formato broadcasting é restrita aos programas que
oferecem, de alguma forma, durante a transmissão, um serviço de atendimento e
comunicação, como número de telefone, correspondência ou e-mail para o público entrar
em contato com a emissora, a TV por streaming, que está no espaço online, principalmente
nas redes sociais, permite uma comunicação mais facilitada e direta, por meio de
comentários nas páginas e vídeos, avaliação da audiência por meio de botões como "curtir"
e “gostei”, e canais para trocas de mensagens simultâneas, via chats, por exemplo.
Buscando compreender o panorama das TVUs em Minas Gerais durante a pandemia do
coronavírus, conseguimos contatar 20 emissoras do estado e o questionário foi respondido
por 15 TVUs entre os meses de abril e junho. Dentre elas, três não retornaram nenhuma
das tentativas de contato; uma alegou não se encaixar no perfil de TV Universitária, e ser
apenas um canal da web para veiculação de conteúdo institucional; uma afirmou ser apenas
retransmissora e não ter programação própria; uma afirmou problemas burocráticos e
nunca ter de fato operado; e duas responderam ao contato, mas não responderam ao
questionário posteriormente. Nos 15 questionários respondidos, 13 TVUs afirmaram ter
produzido conteúdos específicos sobre o coronavírus e duas emissoras responderam
negativamente.
No que concerne à adoção do trabalho remoto, sete emissoras afirmaram ter atuado de
forma híbrida alternando entre o home office e o trabalho presencial, cinco responderam
ter atuado de maneira totalmente remota, e três responderam ter mantido o trabalho
presencial, mas em ritmo e quantidade de produções reduzidos.
Além disso, todas as 15 TVUs responderam veicular o conteúdo da emissora pela internet,
por meio de sites e redes sociais. Também foi perguntado para as emissoras se, com a
pandemia, elas mudaram a percepção do que é ciência e do que é divulgação científica. Por
ter se tratado de uma pergunta aberta, as respostas foram diversas. Quatro emissoras
afirmaram ter mudado de percepção; duas não souberam responder a pergunta, afirmando
não trabalhar com o tema; e outras nove afirmaram não ter mudado essa percepção, mas
sete delas reconheceram que a pandemia fez com que considerassem o assunto ainda mais
importante, seja por ter aumentado o desejo de produzir e consumir mais divulgação
científica no país, ou ainda por terem percebido mais possibilidades de fazer divulgação
científica por meio da tecnologia.

Considerações finais
É possível concluir que, dentro da amostra pesquisada de 15 TVs Universitárias de Minas
Gerais que responderam às perguntas da pesquisa, 86,6% das entrevistadas produziram
conteúdos relacionados à Covid-19 e essa mesma porcentagem afirmou seguir as diretrizes
do jornalismo em seus conteúdos, mesmo que eles não sejam efetivamente publicados
dentro de um jornal. Esse alto índice valida o fato de que as TVUs prezam pela informação
de qualidade, pautada na apuração e checagem dos fatos e infere o jornalismo como uma
das estratégias comunicativas centrais das TVs universitárias de Minas Gerais na pandemia
Além disso, também 86,6% delas entendem o que é divulgação científica e buscam
trabalhar com o conceito na produção de conteúdo das emissoras
Destacando o caráter essencial da radiodifusão universitária, que é a sua relação com a
comunidade e a divulgação científica, é preciso considerar também que a aproximação e
formação dos públicos não se dá somente por meio da ciência, mas também pela
abordagem dos problemas cotidianos e dos contextos vivenciados pela audiência
(KISCHINHEVSKY; LOPEZ; BENZECRY, 2021), característica que conecta o jornalismo
desenvolvido em meios universitários e a comunicação de ciência em si.
Deve-se considerar ainda a participação dos pesquisadores das IES na produção do
conteúdo destas emissoras e também como fontes dos produtos que elas veiculam, já que
em 66,6% delas o corpo acadêmico da instituição tem participação direta no
desenvolvimento das pautas trabalhadas nos programas e em cerca de 93% os professores
e estudantes participam de alguma maneira da programação, o que permite concluir que o
fazer acadêmico está presente na televisão universitária e que existe uma ampliação dessa
participação pelo fato das TVUs estarem próximas das instituições de ensino superior. Pôde-
se concluir também que os acadêmicos são fontes acessadas com frequência não somente
nos telejornais, mas nos mais diversos programas criados pelas emissoras.
As TVUs, observamos na análise, foram afetadas pela pandemia em suas rotinas, mas
assumiram, em grande medida, seu lugar de diálogo com a comunidade e de afetação de
seu cotidiano. Através do jornalismo produzido por estas emissoras observou-se a
ampliação da voz dada aos pesquisadores e o reforço do vínculo entre emissora
universitária e instituição de ensino, pesquisa e extensão, destacando seu lugar de agente
do processo de construção social. Ainda que não tenhamos observado o crescimento do
número de programas jornalísticos, principalmente de perfil informativo, percebemos o
crescimento do conteúdo de ciência, que integra estratégias de divulgação e de jornalismo
científico. Assim, seja através da utilidade pública, da atribuição de voz às fontes, da
atualização informativa ou do aprofundamento de informações e combate à infodemia,
percebemos o jornalismo como uma das estratégias comunicativas centrais das TVs
universitárias de Minas Gerais na pandemia.

Referências
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