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artigo de revisão
TELEVISÃO UNIVERSITÁRIA:
reflexões e contribuições iniciais ao contexto brasileiro
N
o cenário atual as organizações Nesse sentido, apesar das televisões
estabelecem relação com a sociedade universitárias serem veiculadas mediante
da informação, a qual é alicerçada em canal pago no Brasil, denota-se que elas podem
dados, informação e conhecimento e transita estabelecer relação com uma sociedade baseada
no âmbito do constante desenvolvimento das na informação e no conhecimento sendo
tecnologias de informação e comunicação extensão da universidade e do conhecimento
estabelecendo relações com uma série de atores, nela produzido, atuando também como um
e esferas. Corroborando com estas afirmações meio capaz de promover a cidadania e inclusão
Castells (1999, p.573) argumenta que “a social por meios dos programas nela produzidos.
informação representa o principal ingrediente Para Azambuja (2008, p. 15) “a televisão tem um
de nossa organização social, e os fluxos de potencial educador muito grande. Isso porque o
mensagens e imagens entre as redes constituem telespectador é capaz de processar os conteúdos
o encadeamento básico de nossa estrutura social” televisivos e criar suas próprias conclusões e
Nesse contexto as emissoras de televisão ainda de receber formação a partir de programas
universitária são organizações que desempenham de TV”. Para esta autora ainda (2008, p.24)
um papel importante no que tange à “a finalidade das TVs universitárias é de
disseminação de informação, conhecimento, colaborar efetivamente para o desenvolvimento
cultura e educação junto à sociedade, uma vez social, educativo, científico cultural, artístico e
que a televisão é um dos principais meios de econômico do país”. Desse modo é pertinente
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e subseqüente transformação da mídia telefone celular, ou até mesmo por redes sociais
que, de comunicação de massa, passou como o twitter. Ressalta-se neste contexto que o
à segmentação, adequação ao público e telespectador é tido como um interagente, termo
individualização, a partir do momento
em que a tecnologia, empresas e segundo Primo (2003, p.133) “emana a idéia de
instituições permitiram (CASTELLS, interação, ou seja, a ação (ou relação) que acontece
1999, p. 422). entre os participantes. Interagente, pois, é aquele
que age com outro”. Ainda sobre o pensamento
Atualmente cabe ressaltar que no Brasil a de Primo tanto “receptor” e ”usuário” são termos
televisão está em processo gradual de transição que denotam idéias limitadas sobre o processo
do meio analógico para o meio digital desde o interativo. Desse modo, interagente denota uma
ano de 2007, o que deve ocorrer totalmente até relação entre telespectador e mídia.
o ano de 2016, como argumenta Médola (2009).
Cabe denotar que Crocomo (2004 p.50) citado por Hoje, com a diversidade das mídias,
Paschoal Neto e Carvalho (2008, p.61), argumenta com a maior oferta de informação e as
possibilidades interativas, as audiências
que se tornaram migratórias. Não apenas
utilizam várias plataformas ao mesmo
Analógico é a “reprodução de um tempo (televisão, computador mediado
objeto que se assemelha ao original. por internet e celulares, por exemplo),
Tradicionalmente as telecomunicações como migram de uma plataforma
eram analógicas, assim como o áudio, tecnológica a outra, caso não gostem ou
o vídeo e a fotografia. As imagens e os concordem com o conteúdo ofertado.
sons eram gravados de forma direta Além disso, em tempos de mídias
nos suportes”. Oposto ao analógico, digitais, os públicos – independentes de
digital é tudo o que se pode mostrar e gênero ou idade – podem explicitar seu
contar com números. Imagens, sons desejo de participar, interagir com os
e informações são transformados em conteúdos ofertados e mesmo divulgar
seqüências de “zeros” e “uns”. sua produção de conteúdos audiovisuais
digitais (CASTRO, 2010, p.37)
Nesse sentido, em decorrência do
breve contexto apresentado acerca da mídia De acordo com o Convergencer Center
televisão e a sua evolução respectivamente, (2007, p.1) citado por Weirich (2008, p.36) “a
podemos denotar que assim como a televisão, o convergência se refere ao poder das mídias
telespectador e a sua forma de ver a TV também digitais de combinar, voz, vídeo, dado, texto, em
mudou no decorrer de todo este processo, novos aplicativos, dispositivos e redes”. Nesse
uma vez que inicialmente o telespectador era sentido, por meio da convergência é possível, por
tido somente como um receptor do conteúdo exemplo, assistir televisão em um aparelho de
televisivo, denotando assim um cunho de celular, entre outros dispositivos, ou suportes.
passividade por parte do mesmo, em relação ao Pelo exposto podemos perceber o quanto
que a televisão apresentava. A respeito dessa a televisão evoluiu desde sua inserção no Brasil,
relação entre pessoas e mídia, Bechelloni (2000, bem como o evoluiu a visão para o telespectador.
p.67) argumenta que “cada um de nós, habitante Obviamente que a maioria das televisões
da contemporaneidade, usa a mídia de maneira brasileiras tem em seu bojo a questão comercial
distinta, independentemente das vontades e e lucrativa do “fazer” TV. Entretanto existem
das intenções dos emissores para dar sentido televisões que estão preocupadas em prover
a própria vida, construir significados, buscar acesso à educação, à cidadania, ao pensamento
participação”, eximindo assim,o caráter de crítico de modo a propiciar desenvolvimento
passividade que do telespectador. social a partir da informação e do conhecimento,
No cenário atual, com os constantes como é o caso das televisões educativas e ou
avanços tecnológicos, bem como com o advento universitárias.
da televisão digital e a convergência tecnológica Por sua vez, os meios de comunicação
das mídias, o telespectador ultrapassa a linha estão inseridos e estabelecem relações com
de mero espectador de conteúdo áudio visual, e uma esfera pública. Nesse sentido, Habermas
passa a interagir com o mesmo, seja participando (1974) argumenta que a esfera pública é uma
de enquetes via e-mail, mensagens de texto via esfera estabelecida no diálogo entre a sociedade,
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concernindo em um espaço de debate expresso concebidas por iniciativa do governo para suprir
coletivamente, no qual existe geração de opinião a demanda por educação”.
pública, pautada em um agir comunicativo. A De acordo com Ramallho (2010) a situação
força da opinião pública gerada é que faz com educacional no Brasil era crítica, o analfabetismo
que seja possível exercer pressão nos sistemas se fazia presente em massa no país, e isso entre
com os quais a esfera pública se relaciona. outros fatores, levou o governo a institucionalizar
Reportando este conceito para o contexto na radiodifusão a modalidade de Tv educativa,
das organizações - publicas, ou não- podemos “sendo a primeira em 1967, na Universidade
argumentar que as mesmas estabelecem diálogos Federal de Pernambuco (TV Universitária de
com a sociedade, seja direta ou indiretamente. Recife)” como aborda Ramalho (2010, p.38)
Nesse cenário é importante destacar os meios de
comunicação enquanto mediadores do diálogo
2.2 TV universitária no Brasil
entre a sociedade, pois os meios de comunicação
podem levar a formação de uma opinião pública. A respeito do contexto da televisão
Assim, pode-se destacar que: universitária no Brasil e com base em dados da
Associação Brasileira de Televisão Universitária
A esfera pública deve possuir o
diálogo entre os indivíduos e as suas
(ABTU) Belda (2009, p.54) argumenta que “há no
organizações para formar e reunir Brasil cerca de 120 emissoras universitárias de
a articulação de oferecimento de televisão, sendo a maioria regulamentada a partir
serviços num processo de melhoria de da Lei 8.977 de janeiro de 1995, conhecida como
qualidade de vida. A comunicação é um Lei da Cabodifusão” segundo a qual a operadora
importante trabalho desenvolvido no
princípio da esfera pública, e as regiões
local de televisão a cabo deve disponibilizar um
que souberem desenvolver o diálogo de seus canais básicos (obrigatórios em quaisquer
entre a sociedade e o estado realizarão dos pacotes oferecidos) para o compartilhamento
uma política de melhorias para as suas entre as universidades daquele município.
comunidades (CALDAS, 2008, p.63).
Além das educativo-culturais, que já
O papel da comunicação é importante pertenciam ao sistema de radiodifusão,
em canal aberto. A lei incentivou
nesse processo de debate, visto que promove a implantação de TVs em âmbito
um agir comunicativo, que na concepção municipal, já que o benefício é concedido
de Habermas “é uma forma privilegiada de para instituições ou entidades que
relacionamento entre os sujeitos que permite a estejam localizadas no município-sede da
articulação de valores, elaboração de normas operadora (RAMALHO, 2010, p.40)
e o questionamento das mesmas”. Segundo
Azambuja (2008, p.36) “a comunicação emerge Belda (2009, p.52) argumenta que as redes
de um processo de mediação”, ou seja, uma universitárias de televisão são emissoras nas
constante relação entre emissor e receptor dentro quais “a programação deve refletir conteúdos
de um contexto social, relação esta que propicia educativos, culturais e de promoção da cidadania,
a construção de conhecimentos. Nesse sentido na forma de uma atividade de extensão do ensino
Azambuja (2008, p.36) aborda que “o conteúdo superior, possibilitando o acesso às informações e
das emissoras de televisão é capaz de transformar aos conhecimentos produzidos pela instituição”.
a cultura, e que os grupos sociais produzem
A TV universitária se identifica como
cultura na interação com a TV” . Nesse sentido os meio de extensão quando em vez de
meios de comunicação podem ser instrumentos somente transmitir valores ou prestar
desse agir comunicativo ao qual Habermas se serviços, abre espaço para as expressões
refere. da comunidade, fazendo a mediação
entre as demandas da sociedade e o
Desse modo no que tange a televisão
conhecimento acadêmico (RAMALHO,
enquanto meio promotor da cultura, cidadania 2010, p. 72)
e educação, por volta de 1960, de acordo com
Ramalho (2010, p.38), “conteúdos informativos, Desse modo, é possível fazer um recorte
culturais e de entretenimento já eram oferecidos ao contexto da televisão universitária, enquanto
pelas Tvs comerciais, e as Tvs públicas foram agente que deve privilegiar a mediação da
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confiabilidade dessas fontes, e principalmente lidar com o fluxo informacional demando por
das informações nelas contida. seu trabalho, fazendo o uso mais assertivo das
Pelo exposto, entendemos que a televisão fontes de informação e tecnologias de informação
universitária pode ser um instrumento de ação e comunicação neste contexto e por conseqüência
para a information literacy pois, ao mesmo tempo agregando mais qualidade ao conteúdo
em que atua como um espaço midiático no qual informacional produzido.
é possível verificar e identificar os elementos que Nesse sentido acredita-se que a Ciência
caracterizam a information literacy, pode propiciar da informação a qual possui uma natureza
também a disseminação dos princípios da mesma interdisciplinar como argumenta Saracevic (1996),
para seus interagentes. pode oferecer aportes ao estudo da information
literacy no cenário informacional apresentado.
Acredita-se ainda que a televisão universitária
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS constitui-se em um rico espaço de atuação para
o profissional da informação, visto que o mesmo
As televisões universitárias estão é quem possui as competências necessárias
inseridas em uma Sociedade da Informação, para que seja implantado e posteriormente
sendo permeadas por intensos fluxos avaliado um programa de information literacy
informacionais e de conhecimento, bem como neste contexto. Cabe ressaltar que o profissional
pelo desenvolvimento constante das tecnologias da informação não irá trabalhar sozinho, ele
de informação e comunicação. As televisões obviamente precisará compreender o contexto
universitárias consistem em um dos elos entre de atuação – no caso o contexto da televisão
a universidade e a sociedade, estabelecendo universitária – bem como atuar em conjunto
o diálogo entre as mesmas, levando assim com a equipe responsável pela elaboração dos
mais que conteúdos voltados ao contexto do conteúdos, a fim de elaborar e aplicar da melhor
que é produzido na universidade, porém, maneira possível, os instrumentos e técnicas de
principalmente, informação e conhecimento que coleta de dados que lhe permitam conhecer e
promovam a cidadania e inclusão social por meio compreender a information literacy no contexto
da televisão. da televisão universitária.
Devido a tais características se faz Pelo exposto denota-se a necessidade de
importante compreender a competência em pesquisas na área da Ciência da Informação, no que
informação neste contexto, pois o cerne do concerne ao estudo da competência em informação
trabalho do profissional ligado a produção de no contexto das televisões universitárias. Nesse
conteúdos neste contexto, é a informação e sentido, cabe ressaltar que como passo inicial a
conhecimento, logo, espera-se que tal profissional estes estudos pesquisa de Doutorado já está sendo
possua certa competência em informação para desenvolvida neste contexto.
Abstract The university television station is a communication vehicle that incorporates principles of social
structure from the diffusion of culture, knowledge and education dissemination which may lead
to the formation of behaviors and opinions instilling critical thought in individuals and promoting
the dialogue between society and university by disseminating the knowledge produced in the
academic environment. In this way it is pertinent to know and understand the information
literacy of professionals working in this context when it comes to content production for university
television station. For this initial discussion are addressed the concepts of university television
station as well information literacy in order to establish relations between the two thematic
mentioned, the relevance of studies in this scenario in relation to the Information Science context.
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Regina Célia Baptista Belluzzo, Luciane de Fátima Beckman Cavalcante
através de redes interdisciplinares. Inf. & 2010. 173 f. Tese (Doutorado em Ciências da
Soc.:Est., João Pessoa, v.18, n.3, p. 59-72, set./dez. Comunicação) – Escola de Comunicações e Artes,
2008 Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
PAWLEY, C. Information Literacy: a contraditory WEIRICH, E.J. Gestão das redes de comunicação
coupling. Library Quarterly, v.73, n. 4, p. 422- eletrônica multimídia convergentes e o
452, oct. 2003. cenário da televisão digital brasileira. 2008.
101f.Dissertação (Mestrado). Centro de
RAMALHO, A.R. O perfil da Tv universitária desenvolvimento Sustentável, Universidade de
e uma proposta de programação interativa. Brasília, Brasília, 2008.
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