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POÉTICA

Manuel Bandeira MANUEL BANDEIRA


Um olhar terno para o cotidiano
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado Nasceu em Recife, em 1886. Em 1904, um
Do lirismo funcionário público com livro de ponto ano após iniciar os estudos na Escola Politécnica de
[expediente protocolo e manifestações de São Paulo, abandonou o curso para se dedicar ao
[apreço ao Sr. Diretor. tratamento da tuberculose, doença incurável, na
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no época.
[dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo. A poesia era um escape para o desconsolo
Abaixo os puristas em que vivia. Ele refletiu sobre a vida, suas
memórias de menino, registra cenas do cotidiano e,
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais acima de tudo, aprende a lidar com a ameaça da
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção doença e da morte.
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis Ironicamente, viveu até o dia 13 de
outubro de 1968, até os 82 anos.
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de
[si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de cossenos secretário do Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
[amante exemplar com cem modelos de (Embora a manhã já estivesse avançada).
[cartas e as diferentes maneiras de agradar Chovia.
[às mulheres, etc. Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite.
Quero antes o lirismo dos loucos Então me levantei,
O lirismo dos bêbados Bebi o café que eu mesmo preparei,
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e fiquei pensando..
O lirismo dos clowns de Shakespeare - Humildemente pensando na vida e nas mulheres que amei.

– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação. Jaime Ovalle (1894-1955): compositor, poeta e boêmio por quem
Bandeira nutria grande admiração.

ANÁLISE DO “POEMA SÓ PARA JAIME OVALLE”

1. O eu lírico inicia o poema caracterizando a manhã. Que elementos ele destaca no momento em que acordou?

2. A referência a esses elementos contribui o tom “melancólico” do poema?

3. A chuva é caracterizada como “triste” e “de resignação”. Considerando que esse é o “olhar” do eu lírico para a
chuva, o que essas expressões simbolizam?

4. Qual o sentido, no poema, da expressão “resignação”?

5. A morte sempre foi um “fantasma” na vida de Manuel Bandeira. De que maneira o verso que caracteriza a chuva
reflete, de forma lírica, a postura do poeta diante da morte?

6. A manhã se opõe à noite no poema. Que característica marca essa noite?

7. Por que a chuva, nesse caso, significa um consolo?

8. Explique por que no verso “Bebi o café que eu mesmo preparei” o trecho destacado é o recurso utilizado pelo eu
lírico para se referir à sua solidão.

9. Que outros elementos dos versos finais revelam essa solidão do eu lírico?

10. No verso final, como pode ser interpretada a expressão “humildemente” no contexto do poema?

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