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Antonio Botto

António Tomás Botto foi um escritor e poeta português que ficou bastante
conhecido devido aos temas sobre o qual ele se debruçava, tais como: a
homossexualidade, a sexualidade no geral e problemas sociais. Este nasceu
no dia 17 de agosto de 1897, na vila de Concavada, uma freguesia que se situa
aqui perto de nós, no concelho de Abrantes, mas em 1913 mudou-se para
Lisboa para estudar na Escola de Belas-Artes, sendo que mais tarde
abandonou o curso para seguir a carreira literária.
O seu primeiro livro de poesia: “Cantigas de Amigo”, foi lançado em 1917 e foi
bem recebido pelos críticos e o publico num todo, no entanto foi o seu segundo
livro: “Canções”, publicado em 1921, que lhe trouxe fama e polemica, visto que
este continha poemas que tratavam da homossexualidade, um assunto tabu
naquela época, sendo bastante criticado pelos conservadores na altura. Em
1930 os seus trabalhos entraram em desgraça visto que Portugal tornou-se
mais conservador sobre a ditadura de Salazar, sendo acusado de imoralidade e
decadência, e os seus livros acabaram por ser proibidos e queimados. Ainda
assim ele contínuo a escrever, mas não recuperou a mesma fama que teve no
século 20.
Além de sua poesia, Botto também escreveu vários romances, peças de
teatro e ensaios. Foi um membro ativo dos meios literários e artísticos de
Lisboa, onde fez amizade com outros escritores proeminentes como Fernando
Pessoa e José Régio, aqui temos algumas palavras de Pessoa sobre Botto,
passo a citar:

“A elegância espontânea do seu pensamento, a dolência latente de sua emoção


asseguram-lhe facilmente, conjugando-se, a mestria nesta espécie de lirismo […]
Distingue-se pela simplicidade perversa e pela preocupação estética destituída
de preocupações. Foge da complicação com o mesmo ardor com que se esconde
da intenção directa. É em verdade singular que se seja simples para dizer
exactamente outra coisa, e se vá buscar as palavras mais naturais para por meio
delas ter entendimentos secretos.
Certo é que o que António Botto escreve, em verso ou em prosa, há que ser lido
sempre com a intenção posta em o que não está lá escrito”

Antonio Botto mudou-se para o Rio de Janeiro, no Brasil, em 1952, mas em


1959 veio a falecer pois foi vítima de um atropelamento. Nas décadas
seguintes à sua morte, o seu trabalho foi redescoberto e reavaliado por
estudiosos e críticos. É hoje considerado um dos mais importantes poetas do
movimento modernista português, sendo a sua obra reconhecida pela
franqueza, originalidade e qualidades subversivas, bem como pelo seu papel
como um dos primeiros defensores dos direitos LGBTQ+ em Portugal. Apesar
de ter enfrentado críticas e censuras durante a sua vida, as obras de Botto
continuam a ser celebradas e estudadas em Portugal e além fronteiras.
Análise do poema
Dos diversos poemas de António Botto o que eu decidi ler foi “A Noite
Suavemente Descia”, passo a ler:
“A noite / Suavemente descia; / E eu nos teus braços deitádo / Até sonhei que morria. // E via /
Goivos e cravos aos mólhos; / Um Christo crucificado; / Nos teus olhos, / Suavidade e frieza; /
Damasco rôxo, cinzento, / Rendas, velludos puídos, / Perfumes caros entornados, / Rumôr de
vento em surdina, / Insenso, rézas, brocados; / Penumbra, sinos dobrando; / Vellas ardendo; /
Guitarras, soluços, pragas, / E eu... devagar morrendo. // O teu rosto moreninho, / Eu achei-o
mais formoso, / Mas, sem lagrimas, enxuto; / E o teu corpo delgado, / O teu corpo gracioso, /
Estava todo coberto de lucto. // Depois, anciosamente, / Procurei a tua boca, / A tua boca
sadía; / Beijámo-nos doidamente... / - Era dia! / E os nossos corpos unidos, / Como corpos sem
sentidos, / No chão rolaram... e assim ficaram!...

O poema retrata uma noite de paixão, sensualidade e de mortalidade. O


poema consiste em 5 estrofes com rima métrica irregular e nenhum esquema
de rima tico preciso, o que nos leva a uma realidade surreal e mais fluida.
A primeira estrofe não tem grande mistério, sendo apenas uma breve
descrição do momento e do tempo, começando com o orador deitado nos
braços do seu amante ao cair da noite, e eles sentem-se tão consumidos pelo
momento que sonham em morrer.
Já a segunda estrofe continua com uma descrição, mas esta é muita mais
objetiva e detalhada, visto que o orador olha em volta e vê flores e um crucifixo
nos olhos de seu amante (que me deu a entender a morte do seu amante ou
talvez a saudade). Esta parte inicial da estrofe é rica em detalhes sensoriais,
incluindo cores, texturas e aromas, criando uma atmosfera vívida e sensual.
Posteriormente o poema continua com descrições dos arredores, incluindo
tecidos roxos e cinzas, rendas e perfumes caros. A utilização da palavra
"brocados" sugere muita riqueza e luxo, realçando ainda mais a sensualidade
da cena. Os sons do vento sussurrante, orações e sinos contribuem para a
perceção de que estão num sonho.
Na terceira estrofe, a imagem muda para um tom mais sombrio quando o
orador se apercebe que o rosto de seu amante está seco, sem lágrimas, e o
seu corpo está coberto por um traje de luto. A sobreposição de alegria e tristeza
cria um contraste doloroso, destacando a natureza breve das emoções e
experiências humanas.
A quarta estrofe volta à sensualidade quando o orador busca ansiosamente a
boca de seu amante para um beijo apaixonado, que parece durar até o
amanhecer. A última linha da estrofe, "Era dia!", marca o fim da noite e o início
de um novo dia e sugira um sentimento de angústia pelo momento ter passado.
A estrofe final descreve o resultado da noite da paixão, com os corpos dos
amantes caídos no chão como se estivessem sem vida. O uso da frase "corpos
sem sentidos" acrescenta uma sensação de vazio e finalidade, ressaltando a
natureza fugaz da noite apaixonada e a inevitabilidade da mortalidade.
No geral, "A Noite Suavemente Descia” é um poema que explora as
complexidades das emoções humanas, sensualidade e mortalidade. As
imagens vívidas e sensuais, a atmosfera surreal e a justaposição de alegria e
tristeza criam uma representação comovente e evocativa de um momento
breve de paixão e amor.

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