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ocage foi um poeta português do período neoclássico (setecentismo ou do arcadismo) e

um dos precursores do Romantismo em Portugal. Foi considerado um dos mais


importantes poetas e sonetistas portugueses do século XVIII. Junto aos poetas Camões e
Antero de Quental, Bocage forma o trio dos maiores sonetistas líricos da literatura
portuguesa.

Bocage na nota de 100 escudos (1981),


Portugal

Biografia
Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage nasceu em Setúbal, dia 15 de Setembro
de 1765. Filho do advogado José Luís Soares de Barbosa e de Mariana Joaquina Xavier
l'Hedois Lustoff du Bocage, ambos descendentes da região da Normandia.
Bocage era um dos seis filhos do casal e como previsto, teve uma boa educação,
estudando línguas (francês, latim, italiano) e literaturas.
A despeito disso, o poeta apresentava um comportamento inquieto, aventureiro e
polêmico, e mais tarde chegou a ter uma vida boemia.
Na infância passou por momentos difíceis, posto que seu pai foi preso quando tinha
apenas seis anos e ficou órfão de mãe, aos 10 anos.
Fez parte do exército e da marinha portuguesa. Viajou para o Brasil, África, China e na
Índia e exerceu o posto de guarda-marinha. Em 1790, retorna a Lisboa iniciando sua
vida literária, da qual se dedicou até o resto de seus dias.
Nesse mesmo ano, participou das Arcádias, denominadas as associações literárias da
época, onde foi convidado e aderindo à "Academia das Belas Letras" ou "Nova
Arcádia".
Foi um dos mais influentes poetas portugueses donde adota o pseudônimo Elmano
Sadino. Foi perseguido e preso pela Inquisição, de forma que satirizou a Igreja e o poder
clerical. Nesse momento sua obra reflete tendências pré-românticas.
Faleceu em Lisboa, dia 21 de Dezembro de 1805, vítima de aneurisma. Na casa onde
arrendou e viveu com sua irmã, no Bairro Alto, em Lisboa, localizada na Travessa
André Valente, n.º 25, possui uma lápide dedicada ao poeta: “Aos 21 de Dezembro de
1805 faleceu nesta casa o poeta Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage”.
Principais Obras
Já dizia o próprio poeta: “Rasga meus versos. Crê na eternidade”. A obra de Bocage
está repleta de lirismo, erotismo, individualismo e sátiras com uma linguagem
neoclássica, ou seja, clara, abreviada, correta e pomposa. Os temas mais explorados são:
bucólicos, pastoris e da mitologia clássica.
Além disso, realizou traduções e escreveu poesias eróticas, burlescas e satíricas e outros
gêneros literários como odes, canções, idílios, epístolas, fábulas. Algumas de suas
obras:
 Morte de D. Ignez de Castro
 O Triunfo da Religião
 A Pavorosa Ilusão
 A Virtude Laureada
 À Puríssima Conceição de Nossa Senhora
 Elegia
 Convite à Marília
 Improvisos de Bocage
 Idílios Marítimos
 Mágoas Amorosas de Elmano
 Queixumes do Pastor Elmano Contra a Falsidade da Pastora Urselina
Poemas de Bocage
Segue abaixo o poema “A Rosa” e os sonetos “Autorretrato” e “Ó Formosura!”.
A Rosa
Tu, flor de Vénus,
Corada Rosa,
Leda, fragrante,
Pura, mimosa,
Tu, que envergonhas
As outras flores,
Tens menos graça
Que os meus amores.
Tanto ao diurno
Sol coruscante
Cede a nocturna
Lua inconstante,
Quanto a Marília
Té na pureza
Tu, que és o mimo
Da Natureza.
O buliçoso,
Cândido Amor
Pôs-lhe nas faces
Mais viva cor;
Tu tens agudos
Cruéis espinhos,
Ela suaves
Brandos carinhos;
Tu não percebes
Ternos desejos,
Em vão Favónio
Te dá mil beijos.
Marília bela
Sente, respira,
Meus doces versos
Ouve, e suspira.
A mãe das flores,
A Primavera,
Fica vaidosa
Quando te gera;
Porém Marília
No mago riso
Traz as delícias
Do Paraíso.
Amor que diga
Qual é mais bela,
Qual é mais pura,
Se tu, ou ela;
Que diga Vénus...
Ela aí vem...
Ai! Enganei-me,
Que é o meu bem.
Autorretrato
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.
Ó Formosura!
Piolhos cria o cabelo mais dourado;
Branca remela o olho mais vistoso;
Pelo nariz do rosto mais formoso
O monco se divisa pendurado:
Pela boca do rosto mais corado
Hálito sai, às vezes bem asqueroso;
A mais nevada mão sempre é forçoso;
Que de sua dona o cu tenha tocado:
Ao pé dele a melhor natura mora,
Que deitando no mês pode gordura,
Féitdo mijo lança a qualquer hora:
Caga o cu mais alvo merda pura;
Pois se é isto o que tanto se namora,
Em ti mijo, em ti cago, ó formosura!
Frases
 “Os Homens não são maus por natureza; atractivo interesse os falsifica, A utilidade ao
mal, e ao bem o instinto Guia estes frágeis entes.”
 “Triste quem ama, cego quem se fia.”
 “Nas paixões a razão nos desampara.”
 “Amores vêm e vão, mas o verdadeiro amor nunca sai do coração.”
 “Morrer é pouco, é fácil; mas ter vida delirando de amor, sem fruto ardendo, é padecer
mil mortes, mil infernos.”
 “De quantas cores se matiza o Fado! Nem sempre o homem ri, nem sempre chora, Mal
com bem, bem com mal é temperado.”
Curiosidades
 Bocage era primo de segundo grau do zoólogo do português José Vicente Barbosa du
Bocage (1823-1907).
 Em homenagem ao sonetista português, dia 15 de setembro, data de seu nascimento, é
feriado na cidade natal de Bocage, Setúbal.

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