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Um velho índio dizia ao neto:

Sinto-me como se tivesse dois lobos a lutar no meu coração.

Um é um lobo irritado, violento, vingativo.

O outro está cheio de amor e compaixão.

O neto perguntou:

Avô, qual dos dois vai ganhar a luta?

O avô respondeu:

Aquele que eu alimentar.


Terapias narrativas

“o conhecimento é construído e não descoberto”

a experiência humana não tem um único significado,


não há a “verdade” ou “uma” verdade
o significado dado resulta da forma como são
destacados, organizados e compreendidos
os elementos que compõem a vivência/evento
“As histórias que contamos a nós próprios são poderosas
porque determinam o que nós “vemos” , recordamos,
e como encaramos o futuro”

Numa tentativa de compreender, controlar e prever,


criamos categorias, selecionamos o que confirma as
nossas “teorias” e desvalorizamos o que as contradiz

A abordagem clínica clássica destaca a ideia de


pessoa-problema, família-problema,
facilitando uma “leitura” e uma história pessimista, negativa
Na intervenção com vítimas
o terapeuta
não vai descobrir a(s) verdade(s), nem a(s) realidade(s)

Apenas tem acesso a narrativas


que são construções de significados
com atribuições de valor
mediadas pelos discursos sociais dominantes (culpa; “coitadinha”;
visão fatalista e desgraçada do futuro)
Discursos sociais dominantes e vitimação

- a vítima é culpada – por quem é, pelo que faz; “dou muito trabalho”;

“não fiz o que ele queria/mandou”

- a vítima é sedutora – a culpa é minha vs um homem não é de ferro;

-a vítima porta-se mal: eu mereço o “castigo” vs “a paciência tem

limites”

- a vítima cansa: “sou um fardo”

- a vítima devia saber que corria risco –”põe-se a jeito”


Discursos sociais dominantes e vitimação

-Culpa: sou a culpada/responsável

-É uma pessoa muito deprimida

- É muito agressiva

- É muito ansiosa/assustada

- Coitada!

- Que vai ser da vida dela?


Terapias narrativas

 colaboração e escuta revelando interesse pela história da pessoa;


 Procura de situações da história da pessoa em que esta foi forte e com recursos;
 Recurso a questões que, numa atitude de respeito e sem imposição, levam à
construção de uma nova narrativa/história
 nunca rotular a pessoa, mas respeitá-la como tendo uma história pessoal única
 ajudar as pessoas a separarem-se dos discursos culturais dominantes que
internalizaram,
abrindo as portas a histórias alternativas
 as pessoas não são os problemas
 o problema, através da externalização surge como entidade
separada
 o problema é...o problema
a culpa
o medo
a tristeza
 evitar emitir juízos sobre o que é normal e anormal
 as narrativas são construídas, podem ser desconstruídas:
identificando alternativas mais úteis e positivas
os sujeitos são encorajados a “educar” e a “corrigir” o terapeuta
este não é o especialista sobre quem é aquela pessoa
Terapias narrativas: objetivos

 através da co-construção (co-autor) com os sujeitos,


permitem que estes transformem as suas identidades
de “imperfeitos” a “heróicos”
 centrando o problema no problema
separando-o da pessoa,
permite que todos os elementos da família
combatam um inimigo comum
 analisando as histórias da família/indivíduo, procuram os
“resultados únicos” ou “acontecimentos fulgurantes”
(quando as pessoas conseguem resistir, contrariar,
o problema, ser mais fortes que este)
Terapias narrativas: 1º sessão

 rotinas da pessoa; que tipo de história/ narrativa ele usa


permite-se que a pessoa descreva a sua história
saturada pelo problema;
mas com o terapeuta a usar a linguagem de externalização,
remetendo para o impacto e não para a causa do problema
 ver as suas competências e talentos
 Zimmerman e Dickerson convidam as pessoas a colocarem
questões sobre eles e as notas que vão tirando
Terapias narrativas: condições para a mudança
 libertar as pessoas
identificando o problema e separando-se dele
e das histórias saturadas sobre o problema
 retirar o poder aos temas culturais internalizados
 abrir espaço a histórias e pontos de vista alternativos positivos
sobre si próprio e o seu percurso de vida
através das Desconstrução e da Reconstrução
 terapeuta interessa-se genuinamente pela história da pessoa e é
seguramente otimista
Terapias narrativas: estratégias

 Externalização

 manutenção da nova identidade, pela


confirmação e reforço das novas narrativas, percepções
audiências: clubes
ligas
cartas
diplomas
Terapias narrativas: questões
 externalização
 o que permitiu que a raiva dominasse a tua vida?
 qual é o efeito da culpa na sua vida e nas suas relações
com os outros?
 de que modo o medo o leva a ignorar os seus próprios
recursos para o convencer que não consegue e a
sentir-se impotente?
 Que influência tem este problema sobre si? Em casa, na
escola / trabalho, nas suas relações com os outros? Na
sua perceção de si mesmo?
 Como vê esta influência? É algo positivo ou negativo?
Terapias narrativas: questões
 resultados únicos/momentos fulgurantes (questões de exceção da
TCS)
 houve alguma vez em que o medo não conseguiu controlar
o teu comportamento?
 como te preparaste para enfrentar a raiva?
 descreve em pormenor o que aconteceu quando foste
capaz de fazer isso
Terapias narrativas: cartas
 de predição
“ esta é a minha predição para o futuro próximo de A.B., residente
em... Ela pode conhecer esta predição seis meses a partir de hoje, ou
seja a 15 de Junho de 1988, ou em qualquer data depois desta.
A minha predição é a seguinte: A. continuará a adotar a nova postura
que começou a ativar nos últimos seis meses. Com o decorrer do
tempo vai começar a sentir-se menos predisposta para se mostrar
como pouco inteligente e irá cada vez mais aceitar a sua inteligência e,
portanto, aceitar-se a si própria....
Eu, D.E. fiz esta predição em A.,
no dia 15 de dezembro de 1987
D. Epston ”
Terapias narrativas: cartas para o futuro
escritas pelas próprias vítimas (e.g. carta a um amigo)
“Olá amigo, estou a escrever-te para que saibas que eu ultrapassei o
problema e a minha vida agora é muito melhor. Estou num ambiente
seguro, com pessoas seguras, e fazendo coisas seguras. Nunca percas a
esperança em ti mesmo, pois podes fazer o que decidires com
determinação. Não deixes ninguém, nem nenhum problema, deitar-te
abaixo, nunca! Eu sei como nos sentimos quando alguém ou alguma
coisa nos “empurra” para baixo.
Então, sê forte. Quando um problema surgir na tua vida, fala com
alguém, familiar, amigo. Drogas ou bebida não vão controlar o
problema, só vão aumentar o poder do problema. Se enfrentares o
problema e conversares sobre ele com alguém, será mais fácil. Por isso,
sê forte e nunca deixes que nada nem ninguém te derrube.”
Terapias narrativas: cartas
 breves

- pensamentos que surgem na pós-sessão


- quando o terapeuta precisa de ajuda (ex. esclarecimentos)
- recrutamento de audiências
- esquematizando a influência

“Cara T.
Durante algum tempo, a culpa controlava 99% da tua vida. Tu apenas
controlavas 1% do teu território. Disseste que atualmente já
conseguiste obter 25% do controlo sobre a culpa....”
Terapias narrativas
certificados e diplomas
ritual
declarações
da Coragem

assinatura
assinatura

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