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BIOFÍSICA E

FISIOLOGIA

Juliano Vieira da Silva


O coração e o ciclo cardíaco
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Listar as funções básicas do sistema cardiovascular.


„„ Identificar as estruturas cardíacas.
„„ Descrever o percurso do fluxo sanguíneo através do coração.

Introdução
O ciclo cardíaco é considerado o período entre o início de um batimento
cardíaco e o começo do próximo do batimento. Para que ele ocorra, é
necessária a contração e o relaxamento do músculo mais importante
do corpo, o coração, além da participação de outros elementos que
proporcionam a ele realizar esse trabalho. Esses elementos, entre eles o
sangue e os vasos sanguíneos, formam, junto com o coração, o sistema
cardiovascular.
Neste capítulo, você vai estudar as funções básicas do sistema cardio-
vascular. Também vai aprender sobre as estruturas cardíacas e o percurso
do fluxo sanguíneo através do coração.

Funções básicas do sistema cardiovascular


O sistema cardiovascular, também conhecido como sistema circulatório, é um
dos mais importantes aparelhos do corpo humano, abrangendo-o de forma
completa. Esse sistema é regulador de todas as funções em nosso organismo,
pois seus componentes, como o sangue e o coração, estão envolvidos nos
mais variados processos do corpo. Sendo assim, essas funções precisam ser
realizadas com grande eficiência para que tudo funcione corretamente na
“máquina da vida”.
Vamos começar enumerando as funções do sistema cardiovascular, de
modo a ampliar seus conhecimentos sobre a fisiologia humana.
2 O coração e o ciclo cardíaco

Fox (2007) aponta que as funções do sistema cardiovascular são as seguintes:

„„ transporte de nutrientes;
„„ transporte de gases oxigênio (O2) e dióxido de carbono (CO2);
„„ transporte de produtos de excreção das células para órgãos excretores;
„„ transporte de hormônios e produtos metabólicos;
„„ regulação da temperatura corpórea;
„„ defesa contra agentes patogênicos.

O transporte é a principal função do sistema cardiovascular, pois todas


as substâncias essenciais para o metabolismo celular são transportadas pela
circulação. Essas substâncias podem ser classificadas da seguinte forma
(FOX, 2007):

„„ Respiratórias: os eritrócitos fazem o transporte de oxigênio às células


e a eliminação do gás carbônico realizada pelos pulmões. Nos pul-
mões, o oxigênio do ar inalado se ligar às moléculas de hemoglobina
no interior dos eritrócitos e é transportado às células para a respiração.
Já o dióxido de carbono produzido na respiração celular é transportado
pelo sangue aos pulmões, sendo eliminado quando o ar é exalado pela
boca ou narinas.
„„ Nutritivas: os nutrientes ingeridos pelo sistema digestório são
igualmente levados pelo sangue aos órgãos e tecidos do organismo.
Na digestão há a decomposição química e mecânica do alimento, que
é absorvido da parede intestinal para o interior dos vasos sanguíneos.
Assim, o sangue transporta os nutrientes através do fígado para as
células.
„„ Excretórias: as nossas células também produzem resíduos que precisam
ser eliminados do corpo. Dessa forma, os produtos da decomposição
metabólica (como a ureia), o excesso de água e de íons e outras molé-
culas igualmente desnecessárias para o organismo são transportados
pelo sangue para os rins, sendo, na sequência excretados, pela urina.

Além dessas três funções relacionadas ao transporte, há ainda a distribuição


de outras substâncias que, quando armazenadas ou produzidas, podem ser
liberadas na corrente sanguínea para serem utilizadas em outras regiões, como
o caso da quebra de glicogênio, que fica armazenado no fígado e, posterior-
mente, serve como fonte de energia para o corpo.
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A segunda função do sistema cardiovascular é a regulação. Segundo Fox


(2007), esse sistema contribui para duas regulações do nosso corpo, conforme
indicado a seguir.

„„ Hormonal: os hormônios são produzidos pelo sistema endócrino e,


para chegarem aos órgãos-alvo, eles são distribuídos pelo sangue a esses
tecidos distantes, podendo assim desempenhar as funções reguladoras
em nosso corpo.
„„ Temperatura: a regulação da temperatura corporal é bastante auxiliada
pelo desvio do sangue dos vasos cutâneos mais profundos para os
superficiais — e o contrário também ocorre. Esse processo ocorre da
seguinte maneira: quando a temperatura do ambiente é alta, o desvio
do sangue vai dos vasos mais profundos para os mais superficiais,
ajudando a resfriar o corpo. No entanto, quando a temperatura do am-
biente é baixa, o desvio ocorre de forma contrária, ou seja, dos vasos
superficiais para os profundos, ajudando a manter o corpo aquecido.

Tarini et al. (2006) afirmam que a temperatura ideal do corpo para que os órgãos se
mantenham aquecidos é de, aproximadamente, 37°C. Quando a temperatura baixa em
torno de 2°C desse valor, pode ocorrer hipotermia, que provoca calafrios, convulsões
e pode até levar a morte. Um valor mais alto que o ideal resulta em uma hipertermia,
capaz de gerar um colapso no organismo.

A terceira função do sistema cardiovascular pode ser identificada como


a de proteção. De acordo com Fox (2007), esse sistema protege contra a
perda sanguínea ocasionada por lesões e contra toxinas ou microrganismos
estranhos ao corpo. Veja, a seguir, suas funções (FOX, 2007; SILBERNAGL;
DESPOPOULOS, 2009).

„„ Coagulação: o processo de coagulação protege o corpo quando


ocorre uma lesão em algum vaso, que acarreta perda de sangue. Esse
processo também é chamado de homeostasia. Após o rompimento
do vaso, ocorre a vasoconstrição, que é a contração do vaso afetado.
A seguir, as plaquetas formam uma espécie de tampão na região lesada,
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impedindo um maior vazamento de sangue para fora da região. Com a


coagulação ocorre a transformação de substâncias, sendo a trombina
e a vitamina K as principais responsáveis pela regeneração do vaso
lesado, fechando a ruptura.
„„ Imunológica: esta função é igualmente realizada pelo sangue a partir
de sua função protetiva. Os leucócitos (também chamados de glóbulos
brancos) são um grupo de várias células, que protegem o nosso corpo
dos agentes patogênicos, que nos causam doenças. Além disso, as
plaquetas participam ativamente do processo de coagulação sanguínea
anteriormente descrito.

Estruturas cardíacas
Quando usamos o termo estruturas cardíacas, logo o associamos ao principal
órgão do sistema cardiovascular, que é o coração. No entanto, para que o
coração possa realizar bem suas funções, outros elementos são fundamentais,
como o sangue e os vasos sanguíneos. Por isso, antes de falarmos do coração,
vamos abordar brevemente esses dois importantes componentes desse sistema.

Sangue e vasos sanguíneos


Conforme Fox (2007), o sangue é composto por duas porções: uma celular,
também denominada elementos figurados, e outra líquida, conhecida como
plasma. Os elementos figurados são células transportadas pelo plasma. Entre
as células mais numerosas estão os eritrócitos, os leucócitos e as plaquetas.
Os eritrócitos, também chamados de hemácias, são as células vermelhas
do sangue, que contêm hemoglobina e transportam oxigênio. Os leucócitos
são as células brancas e atuam na defesa do corpo contra microrganismos
invasores. As plaquetas são fragmentos celulares que atuam na coagulação
sanguínea (STANFIELD, 2013).
Já o plasma é um líquido de cor palha constituído por água, proteínas e
solutos dissolvidos (FOX, 2007).
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O sangue representa em torno de 7 a 8% do peso corporal total de um adulto médio,


sendo assim, um adulto com 80 quilos vai ter em torno de 6 litros de sangue.

O sangue é transportado em nosso corpo pelos vasos sanguíneos. Ele segue


um percurso circular, saindo do coração em direção ao mais diversos órgãos
para depois retornar ao coração. Segundo Stanfield (2013, p. 421) os vasos
sanguíneos “[...] se ramificam repetidamente, tornando-se mais numerosos e
de menor diâmetro, como os ramos de uma árvore se tornam menores e mais
numerosos ao se afastarem do tronco.”
Os três principais tipos de vasos sanguíneos são os arteriais, os capilares e
os vênulas. O arterial é o vaso que recebe o sangue do coração e distribui para
os demais órgãos e leva o sangue até os vasos capilares. Nas paredes finas dos
capilares ocorre a difusão de gases e metabólitos. Em seguida, esse sangue irá
para as vênulas, que levam o sangue de volta ao coração (STANFIELD, 2013).

Coração
Segundo Vilela (2018) o coração se caracteriza por ser um órgão muscular
oco, localizado na parte central do tórax, levemente deslocado à esquerda. Em
um adulto, seu peso gira em torno de 400 g, tendo a dimensão aproximada
de um punho fechado. O coração chega a bombear cinco litros de sangue por
minuto, mesmo tempo que leva para o sangue circular por todo o corpo e
voltar (FOX, 2007).
O coração é envolvido por um saco membranoso bastante resistente, cha-
mado de pericárdio, e é coberto pelo músculo cardíaco, chamado de miocárdio
(SILVERTHORN, 2017).
Stanfield (2013) afirma que a função do coração é gerar força, que move o
sangue ao longo dos vasos sanguíneos para chegar aos demais órgãos. Ward
e Linden (2014) apontam que o coração tem um marca-passo intrínseco, que
faz com que ele não necessite de estímulo nervoso para bater normalmente,
embora seja regulado pelo sistema nervoso autônomo.
A estrutura do coração é formada por quatro câmaras: duas superiores e
duas inferiores. As câmaras superiores são chamadas de átrios, e é nessa
região que entra o sangue que retorna ao coração pelos vasos. Nas câmaras
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inferiores, também denominadas ventrículos, o sangue chega dos átrios ge-


rando a força que move o mesmo do coração para os vasos (STANFIELD, 2013).
Além de ser dividido em câmaras, o coração também pode ser separado
por lado: metade direita e metade esquerda. O átrio e o ventrículo direito
formam o coração direito, enquanto o átrio e o ventrículo esquerdo formam
o coração esquerdo. Essa divisão é importante porque a comunicação entre
as cavidades ocorre somente entre átrios e ventrículos que estão do mesmo
lado, não havendo outra forma de comunicação no coração. O coração direito
se comunica a partir da válvula tricúspide e o coração esquerdo a partir da
válvula bicúspide ou mitral.
Acompanhe na Figura 1 uma ilustração dessas estruturas do coração.

Figura 1. Estrutura do coração.


Fonte: Silverthorn (2017, p. 445).
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Os átrios e ventrículos de cada lado são separados por uma parede chamada
de septo. Essa parede tem a função de impedir a mistura do sangue do coração
direito com o sangue do coração esquerdo. O septo interatrial separa os
átrios e o septo interventricular separa os ventrículos. Outros importantes
elementos estruturais do coração são o seu polo superior, chamado de base,
e o seu polo inferior, que é mais estreito, chamado de ápice.
A seguir, vamos compreender como funciona o fluxo de sangue ocorrido
no coração.

Percurso do fluxo sanguíneo


Stanfield (2013) afirma que, embora o número de vasos sanguíneos torne
complexa a estrutura do sistema cardiovascular, a disposição do sistema é
conceitualmente simples. Essas vias por onde ocorre a circulação sanguínea
pode ser dividida em dois grandes sistemas: a grande circulação, ou circulação
sistêmica, e a pequena circulação, ou circulação pulmonar.
A circulação sistêmica leva o sangue oxigenado para órgãos e tecidos, en-
quanto a circulação pulmonar leva o sangue para ser oxigenado pelos pulmões.
Outra diferença entre os circuitos são os lados: o coração direito vai enviar o
sangue para a circulação pulmonar, já o esquerdo para a sistêmica, sendo que
o sangue de um lado nunca se mistura com o outro (WARD; LINDEN, 2014).
Em comum, ambos possuem uma densa rede de capilares, onde vai ocorrer
a troca de nutrientes e gases. Sobre essa atividade, Stanfield (2013, p. 421)
discorre:

Nos capilares pulmonares, o oxigênio se move do ar para o sangue nos pulmões,


enquanto o gás carbônico sai do sangue. Ao sair dos capilares pulmonares, o
sangue é relativamente rico em oxigênio e é denominado sangue oxigenado.
Os leitos capilares do circuito sistêmico se localizam em todos os órgãos
e tecidos. Nesses órgãos e tecidos, as células consomem oxigênio e geram
gás carbônico; assim, enquanto o sangue percorre os capilares sistêmicos,
o oxigênio sai do sangue e o gás carbônico entra no sangue. O sangue que
deixa os capilares sistêmicos é denominado sangue desoxigenado, por ser
relativamente pobre em oxigênio.

O sangue oxigenado tem coloração vermelha viva, e o desoxigenado é mais


escuro. Na literatura, o sangue desoxigenado, para ser diferenciado, recebe
o nome de sangue azul, pois confere à veia uma coloração azulada. Segundo
Stanfield (2013), o fluxo em série ocorre da seguinte forma:
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„„ através da aorta, o ventrículo esquerdo bombeia o sangue oxigenado


aos capilares de todos os órgãos e tecidos da circulação sistêmica;
„„ o sangue se torna desoxigenado nos capilares sistêmicos, retornando
ao coração pelas veias cavas; a veia cava superior conduz o sangue que
está acima do músculo diafragma, e a inferior, o sangue que está abaixo;
„„ do átrio direito, o sangue atravessa a válvula atrioventricular direita e
entra no ventrículo direito;
„„ o ventrículo direito bombeia a partir da valva do tronco pulmonar em
direção ao tronco pulmonar, levando sangue desoxigenado aos pulmões;
„„ o sangue se torna oxigenado nos pulmões, viajando ao átrio esquerdo
pelas veias pulmonares, que são as únicas veias que conduzem sangue
oxigenado;
„„ do átrio esquerdo, o sangue atravessa a valva atrioventricular esquerda
em direção ao ventrículo esquerdo, seu ponto de partida, repetindo
assim todo o ciclo.

A Figura 2 ilustra a via do fluxo sanguíneo.


Para resumir, o sangue na circulação sistêmica sai do coração pelo ventrículo
esquerdo, vai pela artéria aorta e é levado aos sistemas corporais, onde ocorre
a troca gasosa (o oxigênio fica nos tecidos e o dióxido de carbono é drenado),
e volta ao coração pelas veias cavas com dióxido de carbono, entrando no
átrio direito.
Na circulação pulmonar, o sangue sai do coração pelo ventrículo direito pela
artéria pulmonar com dióxido de carbono, chega aos pulmões, onde ocorre a
troca gasosa (dióxido de carbono por oxigênio) e volta ao coração pelas veias
pulmonares com oxigênio, entrando pelo átrio esquerdo.

Acesse o link a seguir e veja um vídeo com mais detalhes sobre o fluxo sanguíneo da
circulação sistêmica e pulmonar.

https://qrgo.page.link/QA2ne
O coração e o ciclo cardíaco 9

Figura 2. Via do fluxo sanguíneo no sistema cardiovascular.


Fonte: Stanfield (2013, p. 422).
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FOX, S. I. Fisiologia humana. 7. ed. Barueri, SP: Manole, 2007.


SILBERNAGL, S.; DESPOPOULOS, A. Fisiologia: texto e atlas. 7. ed. Porto Alegre: Artmed,
2009
SILVERTHORN, D. Fisiologia humana: uma abordagem integrada. 7. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2017.
STANFIELD, C. L. Fisiologia humana. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013.
TARINI, V. et al. Calor, exercício físico e hipertermia: epidemiologia, etiopatogenia,
complicações, fatores de risco, intervenções e prevenção. Revista Neurociências, v. 14, n.
3, p. 144−152, 2006. Disponível em: http://revistaneurociencias.com.br/edicoes/2006/
RN%2014%2003/Pages%20from%20RN%2014%2003-5.pdf. Acesso em: 18 ago. 2019.
VILELA, A. L. M. Anatomia e fisiologia humanas: sistema cardiovascular. Brasil, 2018.
Disponível em: http://www.afh.bio.br/cardio/Cardio2.asp. Acesso em: 18 ago. 2019.
WARD, J.; LINDEN, A. Fisiologia básica: guia ilustrado de conceitos fundamentais. 2. ed.
Barueri, SP: Manole, 2014.

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