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Curso de Áudio e Amplificadores Profissionais WR Kits

Módulo 3 Aula 6

Projeto de Amplificador em Classe AB.

Autor: Eng. Wagner Rambo

Até o presente momento em nossos estudos sobre classes de amplificação, analisamos


exclusivamente as etapas de potência, com um sinal já intenso aplicado diretamente nas bases
dos transistores acionadores de potência. O objetivo desta aula é de aplicarmos os
conhecimentos vistos até aqui no módulo 3 para um projeto completo de amplificador de
potência em classe AB, servindo como excelente base para projetistas e profissionais de
manutenção destes equipamentos. Passamos inicialmente para o estudo do circuito de
acionamento da etapa de potência.

Acionador EC: antes da etapa de saída, necessitamos de um circuito chamado de


acionador. Um exemplo de acionador emissor comum pode ser visto na Figura 1.

Figura 1 - Acionador EC com acoplamento direto.

O transistor 𝑄1 consiste em uma fonte de corrente para ajustar a corrente DC de


polarização pelos diodos. Sendo 𝑅2 um resistor variável, onde através de seu ajuste
conseguimos controlar a corrente de emissor de 𝑄1 que circulará por 𝑅4 . Aplicando um sinal AC
na base de 𝑄1 ele se comportará como um amplificador com realimentação parcial. O sinal é
invertido no coletor e irá acionar as bases de 𝑄2 e 𝑄3 .
Na grande maioria dos casos a impedância de entrada dos transistores de saída será alta
o suficiente para aproximarmos o ganho do estágio acionador para
𝑅3
𝐴𝑉 =
𝑅4
Uma outra forma de acionar a saída é realizar uma realimentação parcial para os dois
𝑉𝐶𝐶
estágios, como na Figura 2. O resistor 𝑅2 polariza 𝑄1 em DC com a tensão e também funciona
2
como realimentação negativa para um sinal AC, estabilizando a polarização e o ganho do
amplificador.

Figura 2 - Dois estágios com realimentação negativa para acionador EC.

Existem diversas outras topologias para acionar uma etapa de potência em Classe AB,
no projeto que desenvolveremos utilizaremos um outro recurso, que é o acionamento direto a
partir de uma carga ativa de coletor (que também funcionará como amplificador de tensão) e
mais uma etapa de amplificação em emissor comum.
Projeto de Amplificador Classe AB completo: a estrutura típica de um circuito
amplificador de potência completo, pode ser vista na Figura 3.

Figura 3 - Estrutura de um amplificador de potência completo.

O sinal presente em input normalmente consiste na saída de um circuito pré-


amplificador. Logo na entrada do amplificador, podemos observar o amplificador de tensão,
responsável por dar mais um pouco de ganho de tensão ao sinal que chega do pré-amplificador.
É comum na indústria elaborar-se um estágio de entrada em par diferencial com ganho unitário,
antes do amplificador de tensão, para contornar alguns problemas e estudaremos isso no
módulo 4 aqui do curso. A seguir temos o circuito de acionamento, que pode ser uma das
topologias apresentadas aqui neste texto ou outras. Finalmente, o sinal amplificado chega na
etapa de potência que irá dar o ganho de corrente necessário para acionar uma carga de baixa
impedância, como um alto-falante.

Ao contrário do que muitos possam pensar, o projeto de um amplificador se inicia pela


etapa de potência, passando para o circuito de acionamento, após o amplificador de tensão e
finalmente a entrada em par diferencial (caso houver). Depois que o pré-amplificador é
projetado. Traremos mais detalhes sobre etapas de um projeto completo no módulo 4.

Nesta aula iremos demonstrar como projetar os blocos conforme Figura 3, começando
pela etapa de potência. Vamos assumir que nosso alto-falante terá uma impedância de 8Ω,
portanto

𝑅𝐿 = 8Ω
Vamos arbitrar inicialmente a potência do amplificador

𝑃𝑜𝑢𝑡 = 5𝑊
Agora podemos calcular a amplitude de saída pois

𝑉𝑃2
𝑃𝑜𝑢𝑡 = ∴ 𝑉𝑃 = √2𝑅𝐿 𝑃𝑜𝑢𝑡
2𝑅𝐿

𝑉𝑃 = √2 × 8 × 5 ∴ 𝑉𝑃 = 8,94𝑉
Portanto

𝑉𝑃𝑃 = 2𝑉𝑃 = 17,88𝑉


É recomendável arbitrar-se para a fonte de alimentação um valor tipicamente próximo
ao dobro de 𝑉𝑃𝑃 , para garantir que o sinal excursione sem distorção no valor de pico previsto
para o projeto. Neste caso, arbitraremos um valor próximo porém ligeiramente inferior

𝑉𝐶𝐶 = 30𝑉
Utilizaremos fonte de alimentação simples. Em caso de potências mais elevadas (acima
de uns 20𝑊) já é mais aconselhável optar por fonte simétrica para o projeto.

A potência drenada da fonte pode ser calculada como


𝑉𝐶𝐶 × 𝑉𝑃 30 × 8,94
𝑃𝐷𝐶 = = ∴ 𝑃𝐷𝐶 = 10,67𝑊
𝑅𝐿 × 𝜋 8×𝜋
O que resulta em uma eficiência teórica de
𝑃𝑜𝑢𝑡 5
𝜂= × 100% = × 100% ∴ 𝜂 = 46,86%
𝑃𝐷𝐶 10,67
Como pode-se observar, a eficiência está menor que 50%, pode-se reduzir o valor da
fonte de alimentação para tentar obter uma eficiência acima de 50% nesse caso, ou
primeiramente observar se na prática a eficiência será mesmo abaixo da faixa típica para
amplificadores em classe AB.

Outra observação importante é a de amplificadores em classe AB normalmente serem


implementados com transistores Darlington na etapa de potência, para permitir o controle de
altas correntes a partir de corrente de polarização muito baixa. A dissipação de potência máxima
em cada transistor será

𝑀𝑃𝑃2 302
𝑃𝐷(𝑚𝑎𝑥) = = ∴ 𝑃𝐷(𝑚𝑎𝑥) = 2,81𝑊
40𝑅𝐿 40 × 8
Os transistores escolhidos são o par Darlington complementar TIP122 e TIP127 que
podem dissipar até 65W de potência a 25°C, apresentam uma corrente de coletor de 5A e um
ℎ𝐹𝐸 típico de 1000, de acordo com o datasheet do fabricante.

Nossa etapa de potência já está definida, podendo ser vista na Figura 4.

Figura 4 - Etapa de potência com transistores Darlington.


Como pode-se observar na Figura 4, não foi definido ainda o circuito responsável pelo
acionamento dos transistores de potência. Outro ponto importante que não deve ser
negligenciado é o fato dos transistores dificilmente apresentarem o mesmo ℎ𝐹𝐸 . Na prática, o
ganho dos dispositivos certamente terá uma divergência, podendo provocar desbalanceamento
no controle da corrente de saída. O artifício utilizado para realizar este tipo de controle é utilizar
resistores de emissor, com baixos valores de resistência (tipicamente entre 0,1Ω e 1Ω) com
intuito de compensar essa divergência entre os transistores complementares. Estes resistores
também influenciarão na impedância de saída do amplificador.

Segundo CORDELL (2011) a impedância de saída do estágio será tipicamente a soma da


resistência interna de emissor 𝑟𝑒′ e a resistência de compensação externa. Os resistores externos
de emissor têm portanto a função de estabilizar a corrente quiescente do estágio de saída.
Ainda, estes resistores devem ser capazes de suportar a potência adequada. Para calcular a
potência, inicialmente utiliza-se a seguinte equação
𝑃𝑜𝑢𝑡 × 𝑅𝐸
𝑃𝑅𝐸 𝑎𝑣 =
𝑛𝑅𝐸𝑆 × 𝑅𝐿
Onde

𝑃𝑅𝐸𝑎𝑣 é a potência média dissipada pelo resistor;

𝑅𝐸 é a resistência selecionada (tipicamente 0,1Ω a 1Ω);

𝑛𝑅𝐸𝑆 é o número de resistores utilizados (será o mesmo número de transistores de potência);

𝑅𝐿 é a resistência de carga.

Para o nosso projeto, arbitraremos o valor comercial de 0,47Ω para cada resistor, logo
5 × 0,47
𝑃𝑅𝐸𝑎𝑣 = ∴ 𝑃𝑅𝐸𝑎𝑣 = 147𝑚𝑊
2×8
Precisamos considerar também a potência de pico nos resistores, a corrente de pico na
saída será
𝑉𝑃 8,94
𝐼𝑃 = = ∴ 𝐼𝑃 ≅ 1,12𝐴
𝑅𝐿 8
Em situações práticas considera-se que cada resistor de emissor tenha a capacidade de
suportar essa corrente (se fossem 4 resistores em 4 transistores, seria metade da corrente),
logo, em nosso projeto

𝑃𝑅𝐸 = 𝐼𝑃2 × 𝑅𝐸 = 1,122 × 0,47 ∴ 𝑃𝑅𝐸 = 590𝑚𝑊

O mais indicado para esta aplicação seria utilizar pelo menos resistores para dissipação
de 1𝑊 de potência e nada impede do projetista utilizar até mesmo 2𝑊 ou mais. Dependerá, é
claro, do orçamento disponível para o projeto. A etapa de potência já com os resistores de
emissor devidamente projetados, está explícita na Figura 5.
Figura 5 - Etapa de potência com resistores para compensação.

O próximo passo consiste em projetar o circuito de acionamento dos transistores de


potência, onde teremos uma corrente e uma tensão de polarização. Como sabemos existem
muitas formas de se projetar uma fonte de corrente, inclusive pela utilização de um simples
resistor. Neste caso, com intuito de ter mais estabilidade, projetaremos uma fonte de corrente
com transistor (Figura 6). Vamos arbitrar uma corrente de polarização típica de 5𝑚𝐴

𝐼𝑏𝑖𝑎𝑠 = 5𝑚𝐴

Figura 6 - Fonte de corrente constante com transistor.

Para esta aplicação selecionamos o transistor BC337 que permite excursionar uma
corrente de coletor até 800mA. Este dispositivo foi selecionado para que o mesmo possa
trabalhar com bastante folga e também para possível atualizações onde o amplificador poderá
necessitar de uma corrente de polarização maior. Como a corrente desejada é 5𝑚𝐴, precisamos
de uma tensão de emissor coerente. Para 𝑅3 , normalmente arbitra-se o valor comercial da
ordem de dezenas de Ohms, então

𝑅3𝑎𝑟𝑏 = 100Ω

Com e Lei de Ohm, calcularemos a tensão de emissor, pois

𝑉𝐸3 = 𝐼𝑏𝑖𝑎𝑠 × 𝑅3 = 5𝑚 × 100 ∴ 𝑉𝐸3 = 500𝑚𝑉


Para garantir uma tensão de emissor igual a 500𝑚𝑉, a tensão de base 𝑉𝐵3 deverá ser

𝑉𝐵3 = 𝑉𝐸3 + 𝑉𝐵𝐸 = 0,5 + 0,7 ∴ 𝑉𝐵3 = 1,2𝑉


Com intuito de obter uma tensão de base estável, vamos utilizar um diodo Zener na
polarização. No entanto, para tensões mais baixas, poderemos utilizar diodos de silício ligados
como Zener, sabendo que cada diodo tem queda entre 0,6𝑉 e 0,7𝑉 poderemos utilizar 2 de
modo a garantir uma tensão próxima de 1,2𝑉 na base (Figura 7).

Figura 7 - Fonte de corrente constante com transistor e Zener para polarização da base.

O próximo passo consiste em determinarmos o valor de 𝑅4 . A corrente de base, sabendo


que o ℎ𝐹𝐸 médio do BC337 segundo o datasheet é 280, será

𝐼𝐶 5 × 10−3
𝐼𝐵 = = ∴ 𝐼𝐵 = 178,5𝜇𝐴
ℎ𝐹𝐸 280
Vamos arbitrar uma corrente bem baixa para circular pelos diodos

𝐼𝑍 = 500𝜇𝐴
Pela Lei de Kirchhoff das correntes:

𝐼𝑅4 = 𝐼𝐵 + 𝐼𝑍 = 178,5𝜇 + 500𝜇 = 678,5𝜇𝐴


A queda de tensão em 𝑅4 será

𝑉𝑅4 = 𝑉𝐶𝐶 − 𝑉𝐵3 = 30 − 1,2 ∴ 𝑉𝑅4 = 28,8𝑉

O resistor 𝑅4 calculado será


𝑉𝑅4 28,8
𝑅4 = = ∴ 𝑅4 = 42,446𝑘Ω
𝐼𝑅4 678,5 × 10−6
O 𝑅4 comercial mais próximo a este valor é

𝑅4 = 47𝑘Ω
Poderíamos utilizar 43𝑘Ω ou fazer uma associação para obter o valor calculado, mas
pode-se utilizar o valor comum mais próximo, uma vez que a corrente nesse ramo irá varia muito
pouco. A fonte de corrente de polarização totalmente projetada pode ser vista na Figura 8.

Figura 8 - Fonte de corrente de polarização projetada.

A tensão de polarização, para que os transistores de potência situem-se um pouco acima


da região de corte, pode ser obtida através do tradicional arranjo com diodos. É importante
ressaltar que para transistores Darlington (Figura 9), este valor deve ser próximo de 2,8𝑉 pois
podemos considerar uma 𝑉𝐵𝐸 típica de 1,4𝑉 para cada transistor.
Figura 9 - Transistor Darlington circuito equivalente simplificado.

De modo a obter um melhor controle da tensão de polarização e também para viabilizar


o ajuste da corrente de repouso em nosso amplificador, vamos optar por uma configuração
conhecida como multiplicador de 𝑉𝐵𝐸 (Figura 10), o que garante também maior estabilidade
para variações de temperatura.

Figura 10 - Multiplicador de 𝑉𝐵𝐸 .

A equação que determina a tensão 𝑉𝐶𝐸 para polarização dos transistores de potência é
𝑅5 + 𝑅6
𝑉𝐶𝐸 = 𝑉𝐵𝐸 × ( )
𝑅6
Rearranjando os termos para isolar 𝑅5 :
𝑉𝐶𝐸 𝑅5 + 𝑅6
=
𝑉𝐵𝐸 𝑅6
𝑉𝐶𝐸 𝑅6
= 𝑅5 + 𝑅6
𝑉𝐵𝐸
𝑉𝐶𝐸 𝑅6
𝑅5 = − 𝑅6
𝑉𝐵𝐸
Geralmente arbitra-se um valor comercial da ordem alguns 𝑘Ω para os resistores do
multiplicador de 𝑉𝐵𝐸 , nesse caso

𝑅6 𝑎𝑟𝑏 = 2,2𝑘Ω

Calculando 𝑅5
2,8 × 2200
𝑅5 = ( ) − 2200 ∴ 𝑅5 = 6,6𝑘Ω
0,7
Poderíamos utilizar estes valores para garantir uma tensão de 2,8𝑉 entre as bases dos
transistores da etapa de potência, mas é preferível aplicarmos um trimpot de ajuste, que
viabilizará um controle mais preciso do ponto de operação, conforme Figura 11.

Figura 11 - Multiplicador de 𝑉𝐵𝐸 projetado.

No caso selecionamos um trimpot no valor de 10𝑘Ω com resistores de 2,2𝑘Ω o que


viabilizará o ajuste para os seguintes casos máximos e mínimos:
(𝑅5 + 𝑅𝑉1 ) + 𝑅6 14400
𝑉𝐶𝐸(𝑚𝑎𝑥) = 𝑉𝐵𝐸 × [ ] = 0,7 × ∴ 𝑉𝐶𝐸(𝑚𝑎𝑥) = 4,58𝑉
𝑅6 2200

𝑅5 + (𝑅𝑉1 + 𝑅6 ) 14400
𝑉𝐶𝐸(𝑚𝑖𝑛) = 𝑉𝐵𝐸 × [ ] = 0,7 × ∴ 𝑉𝐶𝐸(𝑚𝑖𝑛) = 0,826𝑉
𝑅6 + 𝑅𝑉1 12200

O que resulta em um ótimo range para ajustarmos a polarização na prática e também a


corrente de repouso. Selecionamos o transistor BD139 do tipo NPN que assegura uma dissipação
de potência de 1,25𝑊 a uma temperatura ambiente de 25°C de acordo com o datasheet do
fabricante. Com isso concluímos o projeto da etapa de potência com todo o circuito de
polarização, conforme pode ser visto na Figura 12.

Como utilizamos uma fonte de corrente elaborada a partir do transistor NPN com
referência para o GND e polarização zener, o sinal chegará à etapa de potência na base do
transistor NPN TIP122.
Figura 12 - Etapa de saída projetada em Classe AB.

Para o estágio de entrada, que será o amplificador de tensão, selecionaremos a


topologia já bastante conhecida: amplificador emissor comum. Porém, com o intuito de acionar
diretamente o estágio de saída, aplicaremos um novo artifício, que é o que utiliza uma carga
ativa no coletor, através de um transistor PNP, que também funcionará como amplificador de
tensão. Na Figura 13 podemos verificar o diagrama esquemático do amplificador de tensão a ser
projetado.
Figura 13 - Amplificador de tensão emissor comum com carga ativa de coletor.

O transistor 𝑄6 é do tipo PNP e será responsável por acionar o estágio de saída do


amplificador. Selecionamos o BD140 que é complementar ao BD139. Como seu emissor está
ligado diretamente em 𝑉𝐶𝐶 teremos uma tensão no coletor de 𝑄5 de

𝑉𝐶5 = 𝑉𝐶𝐶 − 𝑉𝐵𝐸6 = 30 − 0,7 ∴ 𝑉𝐶5 = 29,3𝑉


Neste caso particular 𝑅10 pode ser arbitrado para o valor da ordem de alguns 𝑘Ω e terá
a função de polarizar a base de 𝑄6

𝑅10 𝑎𝑟𝑏 = 2,7𝑘Ω

A corrente de coletor será arbitrada

𝐼𝐶5𝑎𝑟𝑏 = 2,5𝑚𝐴

A corrente de emissor, considerando um transistor BC547, tem o valor

𝐼𝐶5 𝐼𝐶5 2,5 × 10−3


𝐼𝐸5 = = = = 2,5077𝑚𝐴 ≈ 2,5𝑚𝐴
𝛼 ℎ𝐹𝐸5 0,9969
ℎ𝐹𝐸5 + 1
A resistência interna no emissor de 𝑄5 será


𝑉𝑇 25𝑚
𝑟𝑒5 = = ∴ 𝑟 ′ = 10Ω
𝐼𝐸5 2,5𝑚 𝑒5
Para garantir maior estabilidade no sistema completo, como diminuir a sensibilidade do
circuito e distorção, aplicaremos uma realimentação negativa, conforme Figura 14, que já
contém outros implementos a serem explanados mais adiante.
Figura 14 - Circuito com realimentação negativa.

Observe que o mesmo resistor 𝑅9 , além de ser responsável pela polarização DC de


emissor, colherá uma amostra do sinal de saída, que “enxergará” um divisor de tensão entre 𝑅9
e 𝑅12 apenas em AC, devido à ação do capacitor de desvio 𝐶3 . Como já salientamos no módulo
2, o uso da malha de realimentação aumenta consideravelmente a estabilidade do circuito,
tendo como “preço” a se pagar, a diminuição do ganho e também a complexidade do projeto.

Inicialmente, vamos arbitrar uma sensibilidade de 500𝑚𝑉 para a entrada do


amplificador. Portanto o ganho final de tensão já considerando a realimentação deverá ser
𝑉𝑃 8,94 𝑉
𝐴𝑉 = = = 17,88
𝑣𝑖𝑛 0,5 𝑉
O ganho reverso pode ser calculado como
𝑅12
Β=
𝑅12 + 𝑅9
O ganho final do circuito também pode ser calculado da seguinte forma
Α
𝐴𝑉 =
1 + ΑΒ
Sendo Α o ganho total dos estágios formados por 𝑄5 e 𝑄6 em malha aberta.
O ganho de tensão provocado por 𝑄6 será
𝑅𝐶6
𝐴𝑉6 =
𝑅𝐸6
A resistência interna de emissor é a carga 𝑅𝐸6 a ser considerada nesse estágio


𝑉𝑇
𝑅𝐸6 = 𝑟𝑒6 =
𝐼𝐸6
A corrente no emissor de 𝑄6 é a mesma corrente de polarização, portanto


𝑉𝑇 25𝑚
𝑟𝑒6 = = = 5Ω
𝐼𝑏𝑖𝑎𝑠 5𝑚
Para determinarmos a carga de coletor em 𝑄6 , será necessário recorrer à análise do
circuito com o estágio de saída (Figura 15).

Figura 15 - Análise com estágio de saída.

Calculando 𝑉𝐶6 conseguiremos determinar a carga no coletor de 𝑄6 pela Lei de Ohm.


Desprezando a resistência de emissor 𝑅2 de 0,47Ω, teremos uma tensão de base de 𝑄1 igual a
𝑉𝐶𝐶 15
𝑉𝐵1 = − 𝑉𝐵𝐸1 = − 0,7 ∴ 𝑉𝐵1 = 14,3𝑉
2 2
𝑉𝐶6 = 𝑉𝐵1 + 𝑉𝑏𝑖𝑎𝑠 = 14,3 + 2,8 ∴ 𝑉𝐶6 = 17,1𝑉
𝑉𝐶6 17,1
𝑅𝐶6 = = ∴ 𝑅𝐶6 = 3420Ω
𝐼𝑏𝑖𝑎𝑠 5 × 10−3
O ganho de tensão no estágio de 𝑄6 será
3420 𝑉
𝐴𝑉6 = = 684
5 𝑉
De modo análogo, o ganho do estágio de 𝑄5 será
𝑅𝐶5
𝐴𝑉5 =
𝑅𝐸5
A carga de coletor de 𝑄5 pode ser calculada da seguinte forma

𝑅𝐶5 = 𝑅10 ∥ (ℎ𝑓𝑒6 × 𝑟𝑒6 )

𝑅𝐶5 = 2700 ∥ (150 × 5)


𝑅𝐶5 = 586,95Ω
A carga de emissor ainda precisa ser determinada e será

𝑅𝐸5 = (𝑅9 ∥ 𝑅12 ) + 𝑟𝑒5

𝑅9 e 𝑅12 também são os resistores responsáveis pela malha de realimentação.

Considerando

Α = 𝐴𝑉5 × 𝐴𝑉6 ≈ 𝐴𝑉6


Poderemos deduzir que
Α
𝐴𝑉 =
1 + ΑΒ
Α
1 + ΑΒ =
𝐴𝑉
𝐴
ΑΒ = −1
𝐴𝑉
𝐴
𝐴𝑉 − 1
Β=
Α
Calculando o ganho reverso aproximado
684
17,1 − 1
Β= = 0,057
684
Agora poderemos deduzir o valor dos resistores 𝑅10 e 𝑅9 , inicialmente isolando 𝑅9
𝑅12
Β=
𝑅12 + 𝑅9
𝑅12
𝑅9 = − 𝑅12
Β
O valor de 𝑅12 pode ter o valor típico de algumas dezenas de Ω até 𝑘Ω, arbitraremos

𝑅12𝑎𝑟𝑏 = 470Ω
Calculando 𝑅9
470
𝑅9 = − 470
0,057
𝑅9 = 7775,61Ω
O ganho reverso deve ser ligeiramente maior, quando considerarmos o ganho do estágio
de 𝑄5 na equação, por este motivo podemos arbitrar um comercial ligeiramente inferior para
𝑅9 , sendo assim

𝑅9 𝑎𝑟𝑏 = 6,8𝑘Ω

Calculando o ganho do estágio de 𝑄5


𝑅𝐶5 586,95
𝐴𝑉5 = = ∴ 𝐴𝑉5 = 1,3054
𝑅𝐸5 (6800 ∥ 470) + 10
O ganho total em malha aberta será

Α = 𝐴𝑉5 × 𝐴𝑉6 = 1,3054 × 684 ∴ Α = 892,89


O ganho reverso considerando os resistores determinados
470
Β= ∴ Β = 0,064
6800 + 470
O ganho total em malha fechada será
Α 892,89
𝐴𝑉 = = ∴ 𝐴𝑉 = 15,35
1 + ΑΒ 1 + (892,89 × 0,064)
Ficou um pouco abaixo do que havíamos determinado mas é um valor satisfatório, o que
permitirá o aumento da amplitude de entrada do sinal a ser aplicado no amplificador.

Na Figura 16, podemos ver os estágios praticamente projetados por completo, restando
apenas calcularmos os resistores de polarização de base.
Figura 16 - Estágios iniciais parcialmente projetados.

Como 𝑅9 polariza o emissor (podemos considerar como um terra virtual para DC o ponto
ligado na saída), a tensão no emissor de 𝑄5 pode ser calculada como

𝑉𝐸5 = 𝑅9 × 𝐼𝐸5 = 6800 × 2,5 × 10−3 ∴ 𝑉𝐸5 = 17𝑉


E a tensão de base será

𝑉𝐵5 = 𝑉𝐸5 + 𝑉𝐵𝐸 = 17 + 0,7 ∴ 𝑉𝐵5 = 17,7𝑉


Em DC, consideraremos o divisor de tensão cuja equação é
𝑅8
𝑉𝐵 = × 𝑉𝐶𝐶
𝑅8 + (𝑅11 + 𝑅7 )
Isolando para 𝑅11 + 𝑅7
𝑅𝐵
(𝑅11 + 𝑅7 ) = ( × 𝑉𝐶𝐶 ) − 𝑅8
𝑉𝐵
Arbitraremos um valor de centenas de 𝑘Ω para 𝑅8 , buscando não influenciar muito na
impedância de entrada:

𝑅8 𝑎𝑟𝑏 = 220𝑘Ω

220000
(𝑅11 + 𝑅7 ) = ( × 30) − 220000 ∴ (𝑅11 + 𝑅7 ) = 152,88𝑘Ω
17,7
O capacitor 𝐶2 tem a função de filtrar eventuais ondulações de baixa frequência que
poderão surgir da fonte de 30𝑉, poderá apresentar valores entre 1𝜇𝐹 e 50𝜇𝐹.
Podemos dividir os 152𝑘Ω entre 𝑅11 e 𝑅7 , neste caso iremos considerar

𝑅11 = 100𝑘Ω
𝑅7 = 36𝑘Ω
A tensão de base irá aumentar um pouco com 𝑅7 menor, mas não prejudicará o
funcionamento geral do circuito. A impedância de entrada do circuito será

𝑍𝑖 = 𝑅11 ∥ 𝑅8 ∥ {(ℎ𝑓𝑒5 + 1) × [𝑟𝑒5 + (𝑅9 ∥ 𝑅12 )]}

𝑍𝑖 = 100000 ∥ 220000 ∥ {326 × [10 + (6800 ∥ 470)]}


𝑍𝑖 = 46,8𝑘Ω
O amplificador totalmente concluído pode ser visto na Figura 17.

Figura 17 - Amplificador de Potência Darlington Classe AB projetado.

Para o capacitor de entrada 𝐶1 , utilizou-se o valor típico de 10𝜇𝐹 para permitir a


excursão do sinal em frequências abaixo de 80𝐻𝑧, conforme cálculos das aulas do módulo 2. O
mesmo critério foi utilizado para selecionar o capacitor 𝐶3 de bypass. O capacitor de saída 𝐶5
deve ser o maior possível, para permitir a excursão de frequências mais graves, uma vez que sua
função é eliminar o nível DC, evitando a queima do alto-falante. Um componente inédito no
projeto é o capacitor Miller 𝐶4 , responsável por filtrar sinais de RF. Seu valor é de 10𝑝𝐹 e pode-
se considerar para o cálculo como um filtro passa-altas, com resistor igual à carga de emissor de
𝑄6 :
1
𝑓𝐶4 = ≈ 5𝑀𝐻𝑧
2𝜋𝑅𝐶6 𝐶4
Exercícios Propostos:

1) Simule o amplificador da Figura 17 no LT Spice e compare os valores teóricos com os da


simulação.
2) Experimente projetar um amplificador nessa mesma topologia, para os parâmetros que
você desejar.

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