Você está na página 1de 15

6 - Amplificadores

A maioria dos sinais elétricos com os quais a eletrônica se dedica, como


por exemplo, aqueles vindo de sensores e antenas, são sinais de pequena
intensidade, da ordem de µV (microvolt – 10-6 V) até mV (milivolt – 10-3 V). Por
isso, devem ser amplificados por circuitos amplificadores a fim de se tornarem
úteis para alguma aplicação. Um amplificador normal produz um sinal de saída
que é uma versão ampliada do sinal de entrada. Isso requer que o circuito
amplifique todas as frequências contidas no sinal de entrada com a mesma
magnitude, ou seja:

(26) Vsaida (t) = AVentrada (t ) ,

em que A é o fator de amplificação ou o ganho de tensão. Ele deve ser


independente de t (tempo) e de Ventrada, ou seja, tal qual os divisores de tensão
vistos até agora, os amplificadores são circuitos lineares.
Quando se fala de amplificadores temos pelo menos quatro os
parâmetros importantes que definem a aplicação que será dada ao circuito:
ganho, largura da banda, impedância de entrada e impedância de saída.

3
Ganho

0
0 2 4 6 8
fsup
f
inf Frequência (Hz)

Fig. 15 – Diagrama de ganho em função da


freqüência de um circuito amplificador.

O ganho de tensão do circuito e sua largura de banda estão


representados na figura 15, em que finf e fsup são os limites inferior e superior de
freqüência em que o amplificador mantém suas características. Os limites de
freqüência inferior e superior são determinados em função da redução no
ganho do amplificador. De modo geral, os limites de freqüência são definidos
pelas frequências em que o ganho foi reduzido de 3 dB.
O conhecimento das impedâncias de entrada e de saída também é
significativo para a determinação do funcionamento adequado de um circuito
amplificador. Pode-se pensar que o amplificador funciona como uma fonte de
tensão com uma determinada resistência interna, a impedância de saída (Zsai).
A impedância de saída vai determinar o valor da resistência (ou impedância) de
carga que pode ser ligada na saída do amplificador de modo que ele mantenha
suas características. O mesmo vale para a impedância de entrada (Zent), que
indica a carga que o amplificador representa para o estágio anterior, ou seja, a
fonte de sinal.

6.1. Amplificadores Operacionais

Um amplificador operacional é um amplificador com entrada diferencial e


saída amplificada em um único terminal. A Figura 16 mostra o símbolo usado
em diagramas elétricos.

V+ +alimentação
entrada saída
V-
alimentação

Fig. 16 – Símbolo do Amplificador Operacional


empregado em diagramas esquemáticos.

Na Fig. 16, os terminais (-) e (+) são as entradas inversora e não


inversora, respectivamente. O amplificador operacional tem duas conexões
para fonte de alimentação, uma positiva e outra negativa com relação a alguma
referência, o terra.
O termo “amplificador operacional” descreve um circuito importante que
pode formar a base de amplificadores de áudio e vídeo, filtros, amplificadores
de instrumentação, comparadores de tensão, osciladores além de muitos
outros circuitos analógicos. O amplificador operacional é comumente chamado
de op-amp, da abreviação em inglês – operational amplifier. Muito embora um
op-amp seja um circuito formado a partir de componentes discretos, eles são
sempre encontrados encapsulados num chamado circuito integrado (CI). O
ganho de um op-amp pode ser muito alto, da ordem de 100.000x ou mais (>
100 dB). A tensão de saída em um amplificador operacional será a diferença
das tensões aplicadas à entrada (V+ - V-) multiplicada pelo ganho e é isso que
significa dizer que o op-amp possui entrada diferencial. Se a entrada não
inversora tiver um potencial mais alto que a inversora a saída será positiva e
vice-versa. Como o ganho de um op-amp é muito alto, as tensões na entrada
diferencial devem ser muito baixas, pois a tensão na saída é limitada pela
tensão das fontes de alimentação.
De modo geral, um op-amp deve ter uma realimentação a fim de que ele
execute alguma função útil. A maioria das configurações usa uma
realimentação negativa para controlar o ganho e gerar uma operação linear.
Realimentação negativa significa conectar, através de componentes discretos,
parte do sinal da saída na entrada inversora. Circuitos não lineares, tais como
comparadores e osciladores, usam uma realimentação positiva conectando a
saída à entrada não inversora através de componentes como resistores e/ou
capacitores.
No símbolo da Fig. 16 estão previstos terminais para a ligação da
alimentação do Operacional. Na maioria das vezes usa-se uma fonte de tensão
simétrica para a alimentação. Isso significa que, para o funcionamento do
circuito, deve ser ligada a ele uma fonte positiva e outra negativa com relação a
um potencial de referência, em geral, ambas de mesmo módulo.
O interessante de um op-amp é que não é necessário familiarizar-se
com os detalhes do circuito interno. Contudo, um conhecimento mínimo em
termos das propriedades de entrada e saída auxilia em muito a compreensão
dos circuitos montados utilizando op-amp. As características de um
amplificador operational ideal são:
• Impedância de entrada Zent: ∞
• Impedância de saída Zsai: 0
• Ganho de tensão Av: ∞
• Largura da banda LB: ∞
• Tempo de resposta tR: 0
• Tensão de saída nula quando V+ = V-, independente dos valores de V+ e
V-
• Todas as características acima independentes da temperatura.

A seguir, apresentamos algumas considerações sobre os amplificadores


operacionais reais.

Ganho de Tensão

Este parâmetro tem valores reais que vão desde alguns poucos
milhares até cerca de cem milhões em amplificadores operacionais
sofisticados. Normalmente, Av é o ganho de tensão diferencial em corrente
contínua.

Tensão de "Off-set"

A saída de um amplificador operacional ideal é nula quando suas


entradas estão em curto circuito, ou seja, quando V+ - V- = 0. Nos
amplificadores reais, devido, principalmente, a um casamento imperfeito dos
dispositivos de entrada, a saída do amplificador operacional pode ser diferente
de zero quando ambas as entradas estão no potencial zero. Isso significa dizer
que há uma tensão C.C. equivalente, na entrada, chamada de tensão de
"offset". O valor da tensão de "offset" nos amplificadores comerciais está
situado na faixa de 1 a 100 mV. Os componentes comerciais são normalmente
dotados de entradas para ajuste da tensão de "offset", mas não estão no
diagrama da figura 16.

Largura da Banda

Nos amplificadores reais, esta freqüência pode estar na faixa de 1 kHz


até 100 MHz. Muito importante nos amplificadores operacionais é a faixa de
passagem a plena potência. Essa faixa de freqüências é definida como aquela
em que uma onda senoidal pode ser obtida na saída sem distorção apreciável.
Geralmente a faixa de passagem à plena potência é especificada para uma
dada saída, tipicamente 10 V. De modo geral, o ganho de um circuito que
utiliza um op-amp é reduzido conforme a figura 17. Observe, na figura, que
quanto maior o ganho requerido, menor é a faixa de frequências em que o op-
amp mantém suas características de ganho.

Fig. 17 – Máximo ganho de tensão de um


amplificador operacional em função da freqüência
do sinal de entrada.

Impedância de Entrada

Nos amplificadores operacionais reais ela não é infinita, mas da


ordem de 108 Ω em operacionais convencionais e podem chegar 1012 Ω em
operacionais com entradas dotadas de FET (discutidos nos próximos
capítulos).

Impedância de Saída

A impedância de saída não é nula, como seria no op-amp ideal.


Nos operacionais mais comuns, os valores podem ir de alguns ohms até cerca
de 3 kΩ .
Ainda que se vá trabalhar com op-amp reais, as suas características
ideais nos permitem usar duas regras para entender o funcionamento de
circuitos baseados em Amplificadores Operacionais, as chamadas regras de
ouro:
1. A saída “tenta fazer” tudo o que é necessário para que a diferença de
tensão entre as entradas seja zero. Em um circuito com realimentação, a
saída “olha” os terminais de entrada e varia a tensão nos terminais de
saída de modo que a rede externa de realimentação traga a entrada
diferencial para zero, se possível.
2. A entrada não exige nenhuma corrente. Isto, obviamente, é uma
idealização já que a impedância de entrada (Zent) de um Operacional é
finita. [A corrente de entrada pode ser calculada como sendo a razão
entre a tensão de entrada pela impedância de entrada, Vent/Zent, como
Zent é da ordem de 107 Ω e a tensão de entrada em circuitos usuais é da
ordem de 1 V, a corrente de entrada seria da ordem de 10-7 A, ou seja,
muito pequena, para a maioria das aplicações.]

A seguir serão descritos alguns circuitos típicos com amplificadores


operacionais. Circuitos lineares como os amplificadores inversores, não
inversores e conversores tensão/corrente, além de circuitos não lineares que
nos permitem realizar cálculos como os circuitos Integradores e
Diferenciadores.

6.1. Circuitos Lineares Usando Amplificadores Operacionais

Quando avaliamos a resposta de um circuito eletrônico como os


descritos a seguir, deve-se determinar como será a tensão de saída em função
da tensão de entrada. Aqui serão discutidos circuitos que possuem uma
relação linear entre as tensões de entrada e saída. Nos diagramas elétricos dos
circuitos descritos a seguir, as fontes de alimentação não foram discriminadas
para não “poluir” o diagrama. No entanto, para que qualquer circuito eletrônico
funcione corretamente, ele deve ser alimentado.
27

6.3.1. Amplificador Não-Inversor

Na montagem não inversora, como o representado na Figura 19, a


malha de realimentação é constituída pelos resistores com resistências R1 e
R2.

Vent Vsat
R2

R1

Fig. 19 – Amplificador não inversor

Considerando que o op-amp amplifica a diferença de potencial entre as


entradas V+ e V- e, levando em conta a regra de ouro no 1, teremos:

(27) (V +
)
−V − = 0 ,

mas V + = Vent .

Por outro lado, observando o circuito, R2 e R1 formam um circuito divisor


de tensão e a saída do divisor de tensão (VR1) está ligado à entrada inversora
(V-), ou V − = VR1 . Então
R1
(28) V − = VR1 = Vsai .
R1 + R2

Voltando os valores de V+ e V- na equação (27), ela pode ser reescrita como

R1
(29) 0 = Vent − Vsai ,
R1 + R2

e, finalmente, isolando a Vsai da equação (29) teremos

 R2 
(30) Vsai = 1 + Vent ,
 R1 
Desse modo, lembrando a definição de ganho na equação (26), o ganho
do amplificador não inversor é
 R2 
(31) A =  1+ .
 R1 

Nessa análise, estamos assumindo que o operacional não está saturado,


ou seja, que o produto A.Vent é menor que a tensão de alimentação. Percebe-
se claramente que esse circuito é um circuito linear, ou seja, a tensão de saída
é linearmente proporcional à tensão de entrada. Na equação (30) que relaciona
as tensões de saída com entrada não há nenhuma limitação de freqüência ou
amplitude do sinal de entrada. No entanto, devemos ter sempre em mente o
diagrama da Figura 17, ou seja, quanto maior for o ganho que estabelecermos
para o amplificador, menor será a largura da banda em que as características
lineares serão mantidas.
Nesse circuito, a impedância de entrada é da mesma ordem da
impedância do amplificador operacional, ou seja, entre 108 e 1012 Ω, conforme
o op-amp usado. Caso seja necessário reduzir a impedância de entrada, pode-
se ligar um resistor em paralelo com a entrada, ou seja, do terminal V+ para o
terra.

6.3.2. Amplificador Inversor

O diagrama elétrico do amplificador inversor está mostrada na Fig. 20

R2

R1 +
Vent
Vsai
UA741

Fig 20 – Diagrama do amplificador inversor.

Analisando o diagrama verificamos que V+ = 0, então, pela regra de ouro



no 1, V = 0. Já pela regra de ouro no 2, a corrente que entra no op-amp via V-
é nula. Usando a regra dos nós de Kirchoff, temos que a soma das correntes
que cruzam pelos resistores R1 e R2 e chegam ao nó, ao qual está ligado V-
deve ser nula, ou

(32) I R1 + I R2 = I =0
V−

Mas
VR1 R2 V
(33a) I R1 = R1 e (33b) I R2 = R2 ,

além disso
(34a) V R1 = V ent e (34b) V R2 = V sai ,

logo
V sai V ent
(35) =−
R2 R1

ou
R2
(36) V sai= − V
R1 ent .

Portanto o ganho do amplificador inversor é

R2
(37) A= −
R1 .

O sinal negativo que acompanha ganho, dá conta de que a tensão na


saída tem sinal contrário ao da entrada. Por esse motivo, esse amplificador
ganha o nome de inversor.
A impedância de entrada desse circuito é igual à resistência R1 e,
novamente, deve-se fazer uma ressalva com relação a largura da banda, tal
qual aquela do amplificador não inversor.

6.3.3. Conversor Tensão/Corrente ou Amplificador de Corrente

A idéia básica desse circuito é, como o nome diz, transformar uma


tensão em uma corrente proporcional a essa tensão, independente da
resistência de carga. Nesse circuito, o operacional se encarrega de ajustar a
tensão sobre a carga para de manter a corrente determinada pela tensão de
entrada. Isso tudo considerando que o operacional não trabalhe saturado.
O diagrama da fonte de corrente está na Fig. 21. Note que sua
configuração é muito parecida com a do amplificador não-inversor. A diferença
é que o resistor R2 na configuração não inversora (figura 19), é substituído pela
resistência de carga.
Vent +

Rcarga

Fig. 21 – Diagrama de uma fonte de corrente ou o


conversor tensão/corrente.

Como as entradas não exigem corrente, temos IRcarga = IR. Além disso,
como a diferença de potencial entra as entradas deve ser nula, pela regra no 1,
vem:

V ent
(38) I R=
R

ou
V ent
(39) I Rc arg a = .
R

Perceba que a corrente sobre a carga depende apenas da tensão de entrada e


do valor da resistência R do resistor de controle, sendo independente do valor
da carga. Claro que a corrente que passa pela carga nunca será maior do que
a corrente que o operacional pode fornecer, ou seja, uns poucos mA. Caso seja
necessário, pode-se aumentar a corrente sobre a carga com o uso de
transistores de potência, o que será visto mais adiante.

6.3. Circuitos Não Lineares Usando Amplificadores


Operacionais

Nessa secção serão discutidos circuitos que NÃO possuem uma relação
linear entre as tensões de entrada e saída. Esses circuitos nos permitem
realizar operações de cálculo, como por exemplo, integração ou diferenciação
de um sinal elétrico.
6.3.1. Circuito Integrador

O circuito integrador, como o próprio nome indica, gera, em sua saída,


uma tensão que é proporcional à integral da tensão de entrada. Sua
configuração é similar àquela do amplificador inversor, mas aqui o resistor R2
(da figura 20) é substituído por um capacitor.

Vent R Vsai

uA 741

Fig. 22 – Diagrama de um integrador usando


amplificador operacional.

Pelas mesmas razões descritas para o amplificador inversor, o


operacional ideal teria IC = - IR. Então:

dQ C V ent
(40) =− .
dt R

Como a carga sobre o capacitor é QC = CVC e como VC = Vsai, vem:

1
(41) dV sai = − V dt .
RC ent

Integrando ambos os lados da equação acima temos:

1
RC ∫
(42) Vsai = − Vent dt .

Note que a tensão de saída é proporcional à integral no tempo da tensão


de entrada e o ganho é inversamente proporcional ao produto RC.
Por exemplo, se a tensão de entrada fosse tipo seno, a saída do
amplificador seria um co-seno, mais especificamente: seja Vent = Vo sen(2πf .t ) ,
onde f é a freqüência, Vo sua amplitude e t o tempo. Quando essa tensão for
aplicada a um circuito integrador a saída será
1
RC ∫
Vsai = − Vo sen (2πf .t )dt

Vo
Vsai = cos(2πf .t )
2πfRC
Graficamente:

10 Vent
Vsai
5
Tensão (V)

-5

-10

0 1 2

Tempo (s)

Figura 23 – A curva em preto representa a


variação no tempo do sinal (tensão) aplicado à
entrada do circuito integrador, enquanto a
vermelha representa a tensão de saída.

6.3.2. Diferenciador

Esse circuito estabelece em sua saída uma tensão proporcional à


derivada no tempo da tensão de entrada. A figura 24 apresenta seu diagrama
elétrico. Pode-se analisar o circuito de forma similar ao integrador acima, pois a
configuração é muito semelhante. Note que apenas as posições do capacitor e
do resistor foram invertidas.
31
R
C

uA 741

Fig. 24 - Diagrama de um circuito diferenciador


usando amplificador operacional.

A regra de ouro n. 2 estabelece que a corrente pelo terminal V- é nula,


logo, a regra dos nós de Kirchoff, para o caso fica IC = - IR, ou:

dQC V sai
=− .
dt R

A carga sobre o capacitor é QC = CVC. Mas como VC = Vent, vem:

dV ent
V sai= − RC .
dt

Note que a tensão de saída é proporcional à derivada no tempo da


tensão de entrada e o ganho é proporcional ao produto RC. Um exemplo das
tensões de entrada e saída estão na figura abaixo.

10 Vent
Vsai
5
Tensão (V)

-5

-10

0 1 2

Tempo (s)

Figura 25 – A curva em preto representa a


variação no tempo do sinal (tensão) aplicado à
entrada do circuito integrador, enquanto a
vermelha representa a tensão de saída.
Exercícios

1. Mostre que o ganho de tensão para o circuito abaixo é (Vo/Vi) = (1 +


(R2/R1))(-R4/R3).

2. Usando Operacionais ideais projete um amplificador com ganho -10 e


impedância de entrada de 1 kΩ.

3. Usando Operacionais ideais, projete um amplificador com ganho 10 e


impedância de entrada de 1 kΩ.

4. Usando Operacionais ideais projete um amplificador com ganho -10 e


impedância de entrada infinita.

5. Determine a função transferência do circuito com amplificador


operacional mostrado abaixo.
R

U1
R IDEAL
V1
R Vout
V2

6. (a) Qual a função transferência do circuito abaixo? (b) Mostre, em um


gráfico, qual a forma de onda da saída do circuito. Considere R = 10 kΩ e C =
10 nF.

V1
-1/1V
R

1MHz
uA 741

Figur
7. (a) Qual o ganho do amplificador abaixo (figura a esquerda)? (b) Qual a
tensão máxima na saída do gerador de funções para que ele mantenha o
funcionamento correto? (c) Se a curva de ganho é aquela da figura (à
direita), qual a freqüência máxima de operação desse circuito?

RF
100k
Vcc
+12V
Vin
0/0V RI U1
10k + UA741

10kHz
RL
25k
-12V
Vee

Você também pode gostar