Você está na página 1de 8

Microbiologia Clínica – R592 Profa. Ângela Veras Unifor - 2021.

Prática de Laboratório
Prática Nº6
CULTURA DE URINA

A cultura de urina é o padrão ouro para o diagnóstico laboratorial das infecções


do trato urinário-ITUs. A urinocultura permite, além da contagem e identificação do micro-
organismo infectante, a realização de teste de sensibilidade aos antimicrobianos para
tratamento adequado. Permite também o controle do tratamento e acompanhamento de
pacientes assintomáticos com maior risco de infecção.
É considerada infecção do trato urinário a invasão microbiana de qualquer tecido do
trato urinário, desde a uretra até o rim. Incluem-se também nesta definição as infecções da
próstata e do epidídimo. A infecção do trato urinário (ITU) é uma das doenças infecciosas
mais comuns, levando a hospitalização de milhares de pacientes anualmente. A via de
aquisição mais comum é a ascendente, embora a via hematogênica seja também importante,
principalmente em pacientes neonatais.

As ITUs acometem homens e mulheres em qualquer idade apresentando, entretanto,


frequência diferenciada nos sexos feminino e masculino dependendo da faixa etária.

Micro-organismos causadores de ITUs têm características que os tornam mais ou menos


uropatogênicos. Entretanto, o hospedeiro pode apresentar fatores que, além de predispor
à infecção, contribuem para que a mesma seja mais complicada. Dentre os micro-organismos
mais comuns encontram-se: Bacilos Gram-negativos (BGN) pertencentes à ordem
Enterobacteriales: Escherichia coli – ( > 85% ITU comunitária e 50% hospitalares); Klebsiella
spp.; Proteus spp.; Enterobacter spp.; Serratia spp.; BGN não-fermentadores: Pseudomonas
spp., Acinetobacter spp.; Cocos Gram-positivos: Enterococcus e Staphylococcus
saprophyticus; Em pacientes imunossuprimidos podemos encontrar ainda as leveduras.

Objetivos de Aprendizagem
Microbiologia Clínica – R592 Profa. Ângela Veras Unifor - 2021.1

OBJETIVO GERAL

Promover o crescimento bacteriano a partir da semeadura de amostras de urina em meios


não seletivos e diferenciais para a quantificação e identificação de patógenos com vistas ao
diagnóstico de infecções das vias urinárias.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Semear a amostra de urina nos meios apropriados para promover o cultivo, isolamento e
identificação de agentes bacterianos causadores de ITUs;
 Utilizar os critérios de aceitação e rejeição das amostras de urina para cultura;
 Avaliar e interpretar a cultura de urina levando em consideração os dados clínicos,
epidemiológicos, tipo e situação do paciente, idade e, sempre que possível, os parâmetros
laboratoriais bioquímicos, hematológicos, culturais e genotípicos para liberação de um
laudo seguro e confiável.

Estrutura da Atividade

MINIAULA

Contextualização sobre o tema.

METODOLOGIA -
A turma será dividida em 8 duplas e cada dupla receberá uma amostra de urina para
processar juntamente com um caso clínico compatível com a bactéria presente na amostra
a ser analisada. O resultado do caso clínico será apresentado na atividade 5 juntamente com
o portfólio.
Cada dupla irá elaborar um portfólio fazendo o registro fotográfico de todas as
atividades práticas. O portfólio será entregue parcialmente a cada unidade, sendo avaliado
para compor a nota da prova e no final do semestre valerá uma nota de 0 a 10 compondo a
nota da NP.

ATIVIDADE 1

1.Amostra
Microbiologia Clínica – R592 Profa. Ângela Veras Unifor - 2021.1

1.1 Coleta: Fazer a higienização e coletar o jato médio da primeira urina da manhã ou o jato
médio de qualquer urina com intervalo de 3-4 horas após a última micção. Coletar
preferencialmente antes de iniciar o uso de antibióticos. Caso a medicação tenha sido
iniciada, anotar o nome do antibiótico. Só abrir o frasco esterilizado após o asseio e no
momento em que for coletar a urina.
1.2 Tipo de Amostra: primeira urina da manhã ou com intervalo de no mínimo 3-4 horas após a
última micção. Colher no máximo 20 ml e no mínimo 1 ml. Jato médio da primeira urina da
manha ou de 3-4 horas após a última micção, urina de coleta supra púbica, cateterização, de
sonda uretral, ou amostra de jato total em saco coletor. Os frascos devem ser esterilizados e
fornecidos pelo laboratório ou saco coletor estéril.

1.3 Armazenamento e transporte: Colocar a urina coletada no refrigerador a 2-8C até enviar ao
laboratório. O tempo de coleta e entrega do material não deve exceder 2 horas. Se não for
possível o processamento imediato da amostra, esta deverá ser refrigerada por até 24horas.

1.4 Amostras inadequadas


 Amostra acondicionada em frasco não estéril;
 Amostra com mais de 2 horas apos a coleta, transportada à temperatura ambiente;
 Amostra com mais de 24 horas após a coleta, mesmo acondicionada sob refrigeração;
 Amostra coletada sem higienização prévia;
 Urina coletada com coletor e contaminada com fezes;
 Amostra coletada da bolsa coletora de pacientes com sonda.

1.5 Interferentes
 O uso de antibióticos e diuréticos pode diminuir sensivelmente o
crescimento bacteriano;
 Amostras coletadas sem a devida higienização poderão apresentar
contaminação bacteriana pela microbiota normal da uretra e/ou
da região vaginal;
 Amostras não refrigeradas poderão apresentar um aumento de
crescimento de bactérias contaminantes, simulando uma cultura
positiva.

2. Material: Meio de cultura CLED para a semeadura primária e


meios para provas bioquímicas. Alça bacteriológica calibrada e
bateria para coloração de Gram.

3. Procedimento

3.1Separar uma placa de CLED, identificar e numerar. Esterilizar a alça


calibrada de 0,001ml em bico de Bunsen, deixar esfriar (10-20seg.) ou
usar alça descartável, homogeneizar a urina e introduzir a alça de forma
vertical na urina duas a três vezes para neutralizar o efeito da tensão
superficial. A amostra é semeada de forma central e vertical no agar, Fig.1.Técnica para a semeadura da urina
do centro para cima e do centro para baixo, e a seguir, de forma para urocultura. Bailey & Scott's
Diagnostic Microbiology, 12th Edition
perpendicular à linha original e bem próxima uma da outra, até cobrir
todo o agar. Incubar em estufa a 35-37C durante 18-24 horas.
3.2Após incubação, realizar a avaliação da cultura, contagem de colônias e proceder à
identificação da(s) bactéria(s) isolada(s).
Microbiologia Clínica – R592 Profa. Ângela Veras Unifor - 2021.1

3.3Realizar a bacterioscopia da urina não centrifugada, colocando 10ul da amostra em lâmina


previamente limpa sem espalhar. Deixar secar ao ar ou em estufa e corar pelo Gram.
A presença de um ou mais micro-organismos/campo está correlacionada com uma contagem
≥ 105U.F.C/mL.
A presença de muitas células epiteliais e de mais de um tipo de micro-organismos no Gram,
sugere contaminação da amostra de urina em decorrência de coleta inadequada.
Se na coloração de Gram da gota de urina não centrifugada forem visualizados CGP em cadeia
e/ou diplococos (suspeita de Streptococcus ou Enterococcus) semear a amostra também em
agar sangue para visualização do padrão hemolítico.

Resultado da bacterioscopia da gota de urina não


centrifugada:____________________________.

ATIVIDADE 2

4. Avaliação da cultura e Identificação das Bactérias isoladas


Após o período de incubação, analisar a cultura, considerando: pureza da cultura, o aspecto
do meio (se há fermentação ou não da lactose), as características das colônias (pequenas,
grandes, mucoides, etc.), o número e tipos de colônias, e sempre correlacionar o resultado
da cultura com o do Gram da gota de urina e da cultura.
Ângela Veras© Ângela Veras©

BGN - Colônias médias, Lac + (amarelas), circulares, bordos BGN - Colônias grandes, Lac + (amarelas), circulares,
irregulares, planas de translúcidas a opacas: E.coli.em Agar CLED. convexas, translúcidas, brilhosas, bordos regulares e
mucoides: K. pneumoniae. Em Agar CLED.

BGN - Colônias médias, cor de rosa escuro, circulares, bordos BGN - Colônias grandes, azuis, circulares, convexas,
irregulares, planas de translúcidas: E.coli em Agar cromogênico translúcidas, brilhosas, bordos regulares e mucoides:
CPS. A coloração da colônia é devido à reação de uma enzima K. pneumoniae em Agar Cromogênico CPS. A
produzida pela bactéria e seu substrato. coloração da colônia é devido à reação de uma enzima
produzida pela bactéria e seu substrato.
Microbiologia Clínica – R592 Profa. Ângela Veras Unifor - 2021.1

Ângela Veras© Ângela Veras©

BGN - Colônias médias, Lac - (incolores e meio azul-esverdeado), CGP - diplococos e pequenas cadeias - Colônias
circulares, bordos irregulares, brilhosas e translúcidas: Proteus puntiformes, Lac + (amarelas), circulares, bordos
mirabilis. regulares, convexas e brilhosas: Enterococcus sp.

Ângela Veras©

CGP - Colônias pequenas, Lac + (amarelas), ou LAC-


(incolores), circulares, bordos regulares, brilhosas e
opacas: S.saprophyticus.

5. Cálculo do número de colônias/mL


O resultado da cultura de urina é quantitativo em unidades formadoras de colônias
(U.F.C)/mL de urina. Para a contagem de colônias, multiplica-se o número de colônias pelo
fator de diluição. O volume coletado e semeado pela alça de 1µL (0,001mL) corresponde a
uma diluição de 1:1000. O fator de diluição será o inverso da diluição, que é igual a 1000.
Sendo assim, cada colônia representará 1000 U.F.C/ml. Contar o número de colônias na placa
e multiplicar pelo fator de diluição (1000). Temos assim, a quantidade de U.F.C)/mL. Caso a
alça seja de 10µL ( 0,01mL), o fator de diluição passa a ser 100.
Quando a urina for coletada por punção supra púbica, as colônias são contadas sem
multiplicar pela diluição, já que não há necessidade de utilizar alça calibrada.

6. Interpretação crítica dos resultados:


Embora exista um valor de referência (100.000 ou 105U.F.C/mL) de acordo com os
critérios de Kaas (1957), a continuidade da cultura dependerá da história do paciente
(crônico ou recorrente, controle de tratamento, idoso, criança, imunossuprimido,
cateterizado, etc), do tipo de coleta e dos dados do sumário de urina e coloração de Gram
(presença ou ausência de leucócitos, bactérias, quantidade de células epiteliais, etc).
Obs. A presença de várias células epiteliais de descamação é típica de contaminação pelo
conteúdo vaginal, sendo recomendável nova amostra, independente do número total de
bactérias.
Microbiologia Clínica – R592 Profa. Ângela Veras Unifor - 2021.1

Atente para os critérios interpretativos:


Ausência de crescimento:
 Incubar por mais 24 horas.
 Se continuar negativa relatar “cultura negativa”.

Crescimento de até 10 colônias (104UFC/ml)


 Grande probabilidade de contaminação – Analisar a história do paciente e ver os dados
do sumário e bacterioscopia da urina. Se necessário e possível, contatar o médico,
buscando dados que justifiquem a continuidade da cultura;
 Atenção especial a amostras de pacientes pediátricos, idosos, imunossuprimidos e
controle, levando-se sempre em consideração a presença ou não de leucócitos e
células epiteliais na amostra.
 No caso de punção suprapúbica e paciente com síndrome uretral aguda, considerar
qualquer crescimento e realizar a identificação e antibiograma (exceto para SCN
diferente de S.saprophyticus); É aconselhável sempre atentar para a requisição do
paciente.
 Identificar qualquer contagem de Streptococcus agalactiae, principalmente em se
tratando de mulheres grávidas ou em idade de engravidar.

Crescimento de 10 a 100 colônias (104 a 105UFC/ml)

 Registra-se o número de bactérias/ml de urina:


 Se há predominância de um único micro-organismo: Identificar;
 Se há uma mistura de dois ou mais tipos e não há justificativa clínica, relatar “microbiota
mista” – Conversar com o médico e se necessário, solicitar nova amostra.

Obs. O percentual de amostras com microbiota mista deve ser reduzido e é um bom indicador da
qualidade das coletas, do armazenamento e do transporte da amostra.

Crescimento de mais de 100 colônias (>105UFC/ml)


 Se um único micro-organismo
o Identificar e fazer TSA;
 Se mais de um ou dois tipos de colônia estão presentes em números elevados;
 Suspeitar de contaminação, especialmente se leucócitos ausentes e células epiteliais de
descamação estão presentes no Gram. Pode tratar-se de coleta inadequada.
 Entretanto, esta situação pode estar presente na urina da bexiga de pacientes com
cateteres ou com lesões obstrutivas do trato urinário inferior. Em tais casos, o médico
deve ser consultado ou atentar para os dados da requisição.
 É aconselhável sempre ter em mãos a requisição com os dados do paciente.

ATIVIDADE 3

2. Procedimento para identificação


 Após avaliação da cultura, fazer coloração de Gram das colônias:
____________________________________________________________
 Se forem visualizados bacilos Gram-negativos (BGN) realizar, a partir de uma colônia
isolada, a prova da Oxidase, realizar as provas bioquímicas para identificação de BGN;
Ver anexo sobre identificação de BGN e o capítulo sobre as provas bioquímicas. Atente
Microbiologia Clínica – R592 Profa. Ângela Veras Unifor - 2021.1

para a possibilidade de uma bactéria não fermentadora, principalmente em caso de


oxidase positiva e ausência de fermentação no CLED ou nas provas bioquímicas.

Obs. Não esqueça a importância das características das colônias e de suas reações com o meio na
identificação das bactérias.

 Se forem visualizados, cocos Gram-positivos (CGP), realizar, a partir de colônias isoladas,


a prova da catalase:
 Se o resultado da prova da catalase for positivo, realizar a prova da coagulase (ver
procedimento no capitulo Provas bioquímicas).
 Caso a prova da coagulase seja negativa, realizar a prova da sensibilidade à novobiocina.
Registrar o micro-organismo identificado de acordo com o resultado das provas. Ver
anexo o fluxograma para identificação de Staphylococcus.
 Se o resultado da catalase for negativo e:
o Se a hemólise das hemácias for total (-hemolíticas), realizar a prova da
bacitracina, Sulfametoxazol + trimetoprim, CAMP, bile esculina e NaCl 6,5% ou
identificar no aparelho de automação. Caso o laboratório disponha do kit
sorológico, realizar a sorologia para confirmação do grupo de Lancefield. Se não,
reportar o resultado de acordo com as provas manuais para a identificação
presuntiva dos grupos ou de acordo com a automação.
 Ver anexo sobre: Esquema para identificação de Streptococcus spp. e
Enterococcus spp.
o Se a hemólise observada for parcial (-hemólise), realizar as provas da
optoquina, teste de tolerância ao NaCl 6,5 % (caldo hipercloretado) e bile
esculina. Ver anexo sobre: Esquema para identificação de Streptococcus spp. e
Enterococcus spp.
o Se a hemólise observada for γ (colônias não hemolíticas), realizar as provas da
bile esculina e teste de tolerância ao NaCl 6,5%.
o Comparar os resultados com o fluxograma para identificação dos Streptococcus
spp. e Enterococcus spp.;

Resultados das provas e bactéria identificada:


_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
______________________

 Fazer TSA
o Quando a urina for coletada por punção suprapúbica, realizar a semeadura em
CLED com alça não calibrada e inocular de 1 a 5 ml de urina em frasco anaeróbico
(se o laboratório dispuser de automação). Incubar o frasco no equipamento e as
placas na estufa a 35-37C.
 Se no sumário de urina forem observadas “numerosas bactérias” e não houver
crescimento bacteriano na placa semeada:
o Fazer bacterioscopia de uma gota de urina não centrifugada.
o Se confirmada pela bacterioscopia a presença de numerosas bactérias, semear a
urina em agar CLED, Agar-sangue e frascos anaeróbios.

ATIVIDADE 4
Microbiologia Clínica – R592 Profa. Ângela Veras Unifor - 2021.1

3. Leitura das provas bioquímicas e identificação da bactéria isolada.

9. Resultado:
- Cultura negativa: Não houve crescimento bacteriano;
- Cultura positiva: Reportar a contagem de colônias, o nome do patógeno e o resultado
do TSA. Ex: >100.000UFC/ml de Escherichia coli;

- Se Microbiota mista, sugestiva de contaminação, reportar: “cultura contaminada,


repetir coleta” anexando as instruções corretas de coleta, acondicionamento e
transporte da amostra.

ATIVIDADE 5
Apresentação do caso clínico da prática e portfólio

Apresentação dos casos clínicos juntamente com o portfólio de urinocultura e socialização


dos procedimentos realizados para identificação da bactéria isolada.

Sugestão de leitura

Brasil. Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária. Microbiologia clínica para o controle de


infecção relacionada à assistência à saúde. Módulo 4: Procedimentos laboratoriais: Da
requisição do exame à análise microbiológica e laudo final. – Brasília: Anvisa, 2013. 95 p.
(http://s.anvisa.gov.br/wps/s/r/Y0M). Acesso: 22 de janeiro de 2015.
Brasil. Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária. Microbiologia clínica para o controle de
infecção relacionada à assistência à saúde. Módulo 6: Detecção e identificação de bactérias
de importância médica. – Brasília: Anvisa, 2013. 150 p. (http://s.anvisa.gov.br/wps/s/r/Y0M).
Acesso: 22 de janeiro de 2015.
Brasil. Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária. Microbiologia clínica para o controle de
infecção relacionada à assistência à saúde. Módulo 3. Principais síndromes infecciosas.
Brasília: Anvisa, 2013.154 p. Disponível em
https://www.saude.go.gov.br/images/imagens_migradas/upload/arquivos/2017-
02/modulo-3---principais-sindromes-infecciosas.pdf Acesso 23 de fev de 2021.

KONEMAN, E.W. et al. Diagnóstico microbiológico: Texto e atlas colorido. 5. ed. Rio de
Janeiro: Médica e científica, 2001. 1465 p.

OPLUSTIL, C. P. et al. Procedimentos básicos em microbiologia clínica. 4. Ed. São Paulo/SP:


Sarvier, 2019.

Você também pode gostar